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Do infantil ao terror,
sem perder o humor.
Um dos maiores e
mais prolficos artistas
que o Brasil j viu,
atuando tanto nos
quadrinhos quanto na
ilustrao editorial por
mais de 40 anos.
Autor de uma incontvel
e quase inacreditvel
quantidade de trabalhos
abordando os mais
variados temas, do infantil
ao terror, passando pelo
ertico e o religioso.
E como se isso no
bastasse, tambm um
excelente professor,
lembrado com carinho
por todos os seus alunos.
Examinar sua obra
examinar boa parte
da histria das artes
grficas no Brasil.
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Na verdade Mussolini s o
fez porque acreditava que
a vitria alem sobre os Aliados
(Inglaterra, Estados Unidos e
Unio Sovitica) seria rpida.
Mas as coisas no aconteceram
exatamente como o Duce previa:
o povo italiano passou por muitos
momentos de sofrimento nos
cinco anos seguintes. A comear pelas
famlias que enviaram seus
homens para o front, de onde
muitos jamais voltaram. Ou, pelo
forte racionamento de quase tudo,
que deixava os italianos em
situao de quase misria.
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Muitos europeus
deixaram seus pases
no ps-guerra.
A vida, que j era difcil
durante o conflito,
em muitas instncias
se tornou ainda pior.
No ps-guerra, a cidade
de So Paulo vivia uma
grande efervescncia nos
negcios e com certeza
a Brasilgrfica
estava a todo vapor.
Nico, Tina,
Gianluigi e Valeria Rosso
pouco antes de se
mudarem para o Brasil.
Os Rosso perderam
praticamente todo o seu
patrimnio e decidiram
que era hora de buscar
um novo lugar para
recomear sua vida.
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Logo, passaram a aparecer tambm mais histrias abordando temas da Histria do Brasil
ou de uma maneira branda, a luta contra o comunismo, um assunto quente nos anos 50.
Isso provavelmente aconteceu, porque boa parte dos professores e do clero eram contra
as histrias em quadrinhos, mas esta era uma revista editada por uma ordem religiosa,
que deve ter achado melhor se adaptar ao conceito de educativo para evitar crticas de
seus prprios pares. Alm disso, O Jornalzinho no era uma revista vendida em banca,
vivia de assinaturas e vendas diretas nas igrejas.
As colaboraes de Nico Rosso foram ficando mais esparsas medida em que findavam
os anos 50. Mais e mais, a revista foi publicando histrias estrangeiras, provavelmente
por economia. Os trabalhos de Nico Rosso s voltaram a aparecer no final anos 60, em
reprises, j perto da ltima fase da revista no Brasil, encerrada em 1972.
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interessante notar
a simplicidade de
algumas capas e
a extrema elaborao
grfica de outras.
Olhando o conjunto
muito fcil perceber
quais capas ele
realmente gostou de
fazer e quais no,
o que mostra tambm
seu gosto literrio.
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Outra srie de livros da Saraiva com capas de Rosso foi a Coleo Cinzenta, com
histrias policiais de diversos autores americanos e europeus no melhor estilo noir.
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Paralelamente ao
trabalho na Saraiva,
Rosso tambm trabalhou
na Melhoramentos, na
poca uma das maiores
editoras brasileiras,
especializada em livros
didticos. Ele ilustrou a
famosa Cartilha Braga,
de Erasmo Braga, principal concorrente da
at hoje utilizada Caminho Suave,
da professora Branca Alves de
Lima. Nos anos seguintes, Rosso voltaria a trabalhar para
essa editora em diversos
projetos, principalmente
de literatura infantil,
que acabou se tornando o
carro-chefe da casa.
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Enquanto o volume
de trabalho crescia
mais e mais no
Brasil, continuaram
a sair na Itlia
vrios livros com
ilustraes de Rosso,
feitas antes do final
da guerra, como
Il Viaggio in Una
Bolla di Sapone, que
tem uma peculiaridade tcnica, o uso do
aergrafo, bastante
raro em sua obra.
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Nos dois anos seguintes, a revista seguiu publicando material americano, mas no nmero 24, de
junho de 1950, os leitores se depararam com uma novidade, a quadrinizao do romance brasileiro
O Guarani, de Jos de Alencar, com lindos desenhos em aguada do artista haitiano Andr LeBlanc.
Casado com uma brasileira, Elvira, que escreveu o texto desta adaptao, LeBlanc havia se radicado
no Rio de Janeiro naquela altura. Seis meses depois de O Guarani, saiu Iracema
no nmero 31 de janeiro de 1951. Mais de um ano depois em maro de 1952, O Tronco
do Ip no nmero 46 e em outubro do mesmo ano, Ubirajara no nmero 57. Todas
adaptaes do mesmo escritor, Jos de Alencar e trs delas de temtica indianista.
Certamente LeBlanc estava apaixonado por esse tema, pois dois personagens com
os quais ele trabalhava na mesma poca tambm traziam o tema de aventuras nas
florestas brasileiras, Morena-Flor, de sua prpria autoria
e O Capito Atlas, adaptao de um seriado radiofnico que fazia muito sucesso naqueles anos. Dono de excelente tcnica, LeBlanc teve uma
prestigiosa carreira internacional, passando muito tempo nos Estados
Editora Brasil-Amrica (EBAL) | Apesar de ainda manter uma relao firme com a editora das Irms
Paulinas, para a qual ainda faria muitas ilustraes e capas nos anos seguintes,
The Spirit e muitas mais, quase sempre de forma annima. Para a tristeza
Nico Rosso teve boa parte de seu volume de trabalho reduzido em O Jornalzinho
de Adolfo Aizen, que adorava seu trabalho, LeBlanc mudou-se de vez para
na segunda metade dos anos 50. Isso fez com que comeasse a aceitar ofertas
Fundada em 1945, a EBAL tinha entre suas publicaes uma srie de quadri-
vilhosa. No nmero 12, em abril, foi a vez de A Ilha do Tesouro. A tima repercusso das duas foi o
sinal verde para Aizen lanar a Edio Maravilhosa como revista autnoma. O primeiro nmero, num
Menotti Del Picchia, Ribeiro Couto, Pedro Bloch, Jorge Amado, Dinah
formato um pouco menor que o usual, foi publicado em julho de 1948, com Os Trs Mosqueteiros.
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Outra mudana bem visvel na revista foram as capas. Os desenhos a trao das capas originais americanas deram lugar a belas pinturas de Antnio Euzbio Neto, um dos maiores
ilustradores brasileiros de todos os tempos - e que, na poca, era funcionrio da EBAL. Ele
ilustrou nada menos que 45 capas de Edio Maravilhosa - quase sempre, num nvel bastante superior aos desenhos das pginas internas. Outros grandes artistas da poca tambm
marcaram presena nas capas da Edio Maravilhosa, como Monteiro Filho, Ramn Llampayas e
Nico Rosso. Vale lembrar que essas ilustraes de
capa eram produzidas mesmo quando o material
interno no era originalmente escrito e desenhado no Brasil por encomenda da EBAL.
Em termos de texto, as adaptaes normalmente
deixavam a desejar: eram transposies quase literais dos romances. No havia grandes alteraes
na linguagem, nenhuma adaptao para o meio,
o que tornava a leitura bastante arrastada. Alm
disso, nem sempre os desenhistas eram to bons
quanto Andr LeBlanc e Nico Rosso, que estreou
nas Edies em 1957. So dele as adaptaes de A
Morgadinha dos Canaviais, de Jlio Dinis (nmero 147), A Conquista, de Coelho Neto (nmero
154), Fruta do Mato, de Afrnio Peixoto (nmero
160), Corao de Ona, de Oflia e Narbal Fontes
(nmero 168), Dona Xepa, de Pedro Bloch (nmero 172), Moleque Ricardo, de Jos Lins do Rego (nmero 182) e As Minas de Prata, de
Jos de Alencar (nmero 188). Para todas estas, Nico Rosso tambm produziu as capas.
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Um detalhe que empobrece um pouco o estilo dos desenhos de diversas publicaes da EBAL da poca
o uso de letreiramento linotipogrfico, ao invs de manual. As famosas linotipos da editora foram responsveis por gerar alguns dos bales mais feios do quadrinhos, feitos no departamento de arte da casa. Uma
escolha dos Aizen motivada por economia de tempo e dinheiro, mas que
infelizmente estragavam belos originais como os de Nico Rosso.
No que diz respeito ao trabalho de Nico Rosso para a Edio Maravilhosa, ele seguiu um padro temtico bastante parecido com o que ele
j fazia em O Jornalzinho, com histrias em que bandeirantes se encontravam com ndios, cenrios coloniais, florestas, etc. No deve ter
sido nem um pouco difcil para ele trabalhar nisso e seguramente a
qualidade do material que entregava fez com que a EBAL o chamasse
para ser o principal desenhista de uma outra srie, Grandes Figuras,
com biografias em quadrinhos de personagens histricos, cuja primeira edio data de 1957.
Nico Rosso desenhou 11 dos 20 nmeros que a compe: Tamandar, Raposo Tavares, Anchieta, Osrio, Visconde de Mau, Pedro II, Caxias,
Monteiro Lobato, Pedro Amrico, Jos Bonifcio e Santos Dumont. Os textos eram da Professora Nair da
Rocha Miranda e de Pedro Ansio, um colaborador de Aizen desde os tempos do Suplemento Juvenil.
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(Agncia Periodstica Latino Americana), ofereceu aos La Selva um material novo que estava fazendo bastante sucesso nos Estados Unidos, histrias
de terror de uma revista chamada Beyond.
O ttulo da publicao americana no foi
aproveitado, mas suas histrias tinham tudo
a ver com o ttulo que j estava sendo editado, O Terror Negro. Assim, em agosto de
1951, foi para as bancas a primeira revista
brasileira de quadrinhos genuinamente de
terror, com um ttulo usado mas material
totalmente indito. Foi um imenso sucesso.
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O Anjo da Guarda e
Pedrinho, Tico e Alice.
O filho de Gianluigi, Luiz Roberto Rosso, hoje tambm ilustrador, imagina que
o pai no usou o nome italiano por conta do nacionalismo da editora, que estampava
em todas as capas uma frase afirmando que aquelas revistas eram totalmente produ-
zidas no Brasil por artistas brasileiros. Pode ser verdade que a editora preferisse assim,
afinal Giorgio Scudellari tambm teve seu primeiro nome traduzido para Jorge.
Mas os estrangeiros estavam l, comeando por Jayme Cortez. De toda forma,
Gianluigi Rosso publicou algumas histrias de terror na editora mas trocou os quadrinhos
pela qumica industrial logo depois. Do ponto de vista artstico foi uma pena, pois apesar de uma
inegvel influncia de Nico Rosso, ele desenhava muito bem. Melhor inclusive do que boa parte de
Ela e Nico Rosso formaro uma grande dupla, mas no nestes primeiros tempos. Outro roteirista famoso que
trabalhava para a Continental/Outubro era Gedeone Malagola, mas ele preferia entregar suas histrias j
desenhadas, embora esse no fosse seu forte.
Antes do terror, Nico Rosso ainda passa pelos cowboys da casa, nenhum criado por ele. Desenhou O Vingador,
um mascarado tipo Lone Ranger, Dakota Jim, um mestio que vive aventuras
pulando de cidade em cidade e o Pistoleiro Fantasma, um personagem calcado
obviamente no Ghost Rider da Timely Comics. Aos poucos comeou a produzir
histrias de terror, com 4 ou 5 pginas em mdia, para os ttulos de terror da
Outubro: Selees de terror, Histrias Macabras, Histrias Sinistras, Histrias do
Alm e Clssicos de Terror. Para o nmero 5 desta ltima produz com desenhos
lindssimos uma adaptao de
Desenhos de Gianluigi Rosso
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A Escola
Panamericana
de Arte e
sua origem.
Principalmente por causa de seu clima agradvel e da proximidade com Nova York, a cidade litornea de Westport,
Connecticut, nos Estados Unidos desde o comeo do
sculo XX famosa por abrigar as casas e atelis de diversos
artistas. Num belo dia de 1948, dois dos mais famosos, os
ilustradores Al Dorne e Norman Rockwell, se encontraram
para um caf. Ao final do bate-papo, tinham tido a ideia de
fundar um curso de ilustrao por correspondncia. Nascia
a Famous Artists School, que funcionava assim: durante
24 meses o aluno recebia em casa uma apostila com instrues e um exerccio, que ele enviava pelo correio e
que seria corrigido e comentado por um artista e ento
devolvido ao aluno. Podia-se optar por uma das trs modalidades: pintura, ilustrao ou quadrinhos.
O sucesso de um curso assim, obviamente, dependia muito
de quem fazia as apostilas e da qualidade dos comentrios.
Para que desse certo, Dorne e Rockwell recrutaram a nata
dos ilustradores e cartunistas de Westport: Austin Briggs,
Stevan Dohanos, Robert Fawcett, Peter Helck, Fred Ludekens,
Al Parker, Ben Sthal, Harold Von Schmidt, Jon Whitcomb, Al
Capp, Milton Caniff e Rube Goldberg, alm deles prprios.
Com um verdadeiro dream-team de professores como esse,
o curso logo se tornou um imenso sucesso e existe at hoje.
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Em 1951 um pintor argentino chamado Enrique Lipszyc tentou, sem muito sucesso, montar uma escola de arte, a Escuela Norteamericana de Arte, que anunciava um mtodo baseado no desenho de
Alex Raymond (?!), criador de Flash Gordon.
Algum tempo depois, Lipszyc, grande f de ilustrao e quadrinhos, lanou um livro que ficaria
muito famoso em seu pas intitulado El Dibujo a Travs del Temperamento de 150 famosos artistas.
Com o sucesso obtido por seu livro, resolveu colocar em prtica na Argentina a mesma ideia de
Rockwell e Dorne e reuniu um grande time de famosos artistas que seriam os primeiros professores
da Escuela Panamericana de Arte: Enrique Vieytes, Daniel Haupt, Angel Borisoff, Alberto Breccia,
o brasileiro Joo Mottini, o italiano Hugo Pratt, Pablo Pereyra, Carlos Garaycochea, Carlos Roume,
Luiz Dominguez, Narciso Bayon e o espanhol Carlos Freixas. O ano era 1955.
As diferenas com o curso da Famous Artists School no eram muitas. A principal que eram apenas
12 meses de curso por correspondncia. A ideia de uma escola assim teve na Argentina o mesmo
sucesso que nos Estados Unidos, ajudando a formar uma nova gerao de grandes artistas argentinos. Tudo ia bem at o incio da dcada de 1960, quando uma grande crise de mercado fez com que
diversas editoras tivessem que fechar as portas e muitos desenhistas tivessem que ir buscar trabalho em outros pases. Esse foi o caso de Jos Delb, Rodolfo Zalla e Eugnio Colonesse, que vieram
para o Brasil. Com a crise, o nmero de interessados em cursar a escola caiu muito, e Lipszyc resolveu tambm tentar a sorte no mercado brasileiro.
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Em 7 de abril de 1963, a Escola Panamericana de Arte abriu suas portas em So Paulo, com
anncios em diversas revistas em quadrinhos. Os anncios tambm tinham forma de quadrinhos, desenhados por Luis Dominguez, Enrique Vieytes e Hugo Pratt e j tinham sado na
Argentina. No comeo Lipszyc tentou aqui tambm o esquema de aulas pelo correio, mas
logo percebeu que isso no iria ser um grande sucesso e pouco tempo depois, nos anncios
j aparecia um adendo que dizia: Ateno, aulas em classe, matrculas abertas.
Para lanar a escola aqui em So Paulo, sua primeira sede era na Rua Augusta, nmero 59,
Lipszyc importou da Argentina Enrique Vieytes e Hugo Pratt, que moraram em So Paulo cerca um ano. E claro, logo ele contatou tambm aqui, vrios famosos artistas, como os pintores
Danilo Di Prete e Aldemir Martins e os ilustradores e quadrinistas Jos Luiz Bencio, Jayme
Cortez, Flvio Colin, Getlio Delphin, Manoel Victor Filho, Joo Gargiulli, Olavo Pereira,
Ivan Wasth Rodrigues e Ziraldo.
Luiz Dominguez
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Enrique Vieytes
Hugo Pratt
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Algum tempo depois de lanada a escola, houve baixas nesta equipe, saindo primeiro Di Prete e Martins, os pintores. Quase a metade dos
demais professores morava no Rio de Janeiro e
quando a escola abandonou o esquema de cursos por correspondncia, houve outras baixas.
Foi ento que entraram alguns professores que
no constavam do corpo docente inicialmente
anunciado. Eles passaram a lecionar na Panamericana durante os anos seguintes e apareceram num dos primeiros folhetos promocionais
da escola. Nico Rosso foi um destes, ele comeou na escola cerca de um ano aps sua abertura e trabalhou l at o dia em que teve um AVC
muitos anos depois.
Muita gente que seguiu carreira no mundo da
ilustrao, quadrinhos e publicidade passou
pelas aulas de Nico Rosso, j que ele dava uma
matria essencial, Desenho Bsico, no primeiro ano da escola (ao abandonar o formato de aulas por correspondncia, o curso passou a ter a
durao de dois anos). Foi lecionando esta matria que Nico Rosso descobriu alguns jovens
talentos como Josmar Fevereiro, Wanderley
Magro e Kazuhiko Yoshikawa, que se tornaram
seus assistentes. Este ltimo foi o que mais tempo ficou trabalhando com ele, at pouco tempo
antes do AVC. Hoje, os assistentes de Nico Rosso so respeitados ilustradores. Alguns deles
continuaram nos quadrinhos, outros migraram
para a ilustrao editorial ou para a publicidade. Todos, sem dvida, carregam em si muita
gratido pelos ensinamentos, no s na escola,
mas no dia-a-dia de um estdio.
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Ilustraes de
J Fevereiro
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A GEP | Algum tempo depois de deixar a Outubro, Miguel Penteado fundou a GEP (Grfica
Editora Penteado) em 1965. Sua primeira publicao foi uma revista de piadas e pin-ups,
Salo de Barbeiro. Logo ele se tornou um dos
mais importantes editores de quadrinhos
nacionais da poca, lanando Lobisomem,
Mmia, Frankenstein, Superargo, Raio Negro,
Fantar, Estrias Negras, Dirio de Guerra,
Histrias Caipiras de Assombrao, Esporas
de Ouro e vrias outras, publicando trabalhos
de Gedeone Malagola, Srgio Lima, Rodolfo
Zalla, Rubens Cordeiro, Edmundo Rodrigues,
Eugnio Colonesse, entre outros. A GEP publicou tambm, pela primeira vez no Brasil, alguns personagens da Marvel: X-men, Capito
Marvel e Surfista Prateado, que a EBAL no
quis publicar na poca e que lhe foram oferecidos por baixo preo. Apesar de conhecer
Penteado h bastante tempo, desde a La Selva,
Nico Rosso trabalhou muito pouco para a GEP,
talvez para no se indispor com o pessoal da
Taka, de quem Penteado era desafeto. De toda
forma, fez algumas capas importantes, entre
elas a do nmero 1 de uma das principais revistas da casa, Lobisomem, de Gedeone e Srgio Lima, que ele viria a desenhar alguns anos
depois para outro editor.
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Tudo acertado, Lucchetti resolveu convidar seu parceiro favorito, Nico Ros-
so, a quem admirava, para desenhar a revista. Foram feitas histrias onde o
atores e atrizes dos filmes de Mojica. Nico Rosso preparou uma bela capa usando uma colagem fotogr-
fica complementada por uma ilustrao a guache e assim, em janeiro de 1969, o primeiro nmero da
revista O Estranho Mundo de Z do Caixo chegou s bancas. Era impressa num papel de boa gramatura
em tamanho grande. O preo alis, tambm era grande, em mdia trs vezes o preo de uma revista
grande f de quadrinhos,
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mas no foi bem assim. Ele que se queixou publicamente do acordo que havia feito com a editora
e de que estaria recebendo muito pouco pela revista. Disse tambm que no tinha qualquer contrato com
a Preldio e que os direitos eram totalmente dele e que tinha inclusive em mos uma histria prontinha
escrita por Lucchetti e desenhada por Nico Rosso. Essa ltima afirmao era verdadeira.
Reinaldo de Oliveira enxergou a uma grande oportunidade comercial e resolveu propor a Mojica uma
porcentagem maior sobre a venda. Foi constituda a Editora Dorkas que lanou o nmero cinco da revista
em junho de 1969 e em seu expediente consta a frase publicada em convnio com Jos Mojica Marins.
Um sexto nmero saiu logo em seguida, com roteiros de Lucchetti creditados indevidamente ao prprio
Jos Mojica Marins e desenhos de Rodolfo Zalla. Lucchetti, compreensivelmente desgostoso, rompeu com
Mojica na poca, mas reatou sua amizade com ele algum tempo depois. Nem Lucchetti, nem Rosso foram
pagos pelo trabalho. Encaixaram o golpe e partiram para outras empreitadas. A revista na Dorkas no teve
o mesmo sucesso que na Preldio, mas isso no teve a ver com a mudana de equipe, como consta no livro
sobre Mojica. O perodo de tempo foi muito curto e provvelmente a imensa maioria dos leitores sequer percebeu a mudana de editor, mesmo a revista da Dorkas sendo um pouco menor. O problema que depois de
seis meses, nem a revista nem Z do Caixo eram mais novidade. E ento Mojica fez das suas de novo: procurou a Preldio e props que eles voltassem a publicar sua revista. E sabe o que eles fizeram? Toparam. S que
o ttulo havia sido registrado pela Dorkas e a Preldio teve que mudar o nome da revista para Z do Caixo
no Mundo do Terror, novamente com histrias de Lucchetti e Rosso, que durou apenas mais dois nmeros.
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EDREL | Muito mais pelos temas do que publicava do que pela qualidade das histrias e dos desenhos, a EDREL (Editora De Revistas e Livros),
fundada por Minami Keizi, Jinki Yamamoto e Salvador Bentivegna, ganhou uma inesperada estatura entre o final dos anos 60 e o comeo dos 70.
Foi uma editora cheia de jovens talentos que ainda
eram quase amadores na poca, e que transitou
por diversos gneros, do Super-heri ao Terror.
A principal bandeira da editora era o foco em histrias adultas e isso significava sexo, drogas,
enfoques diferenciados que fugissem ao lugar comum de qualquer gnero. Isso e mais um pzinho
no estilo mang, at ento indito por aqui fora da
colnia japonesa, fez com que a editora decolasse.
Nico Rosso e R. F. Lucchetti fizeram algumas histrias de terror para Minami Keizi e elas tem um
layout bem moderno, farto uso de distores e a
tal temtica adulta, psicolgica. Mas as histrias
da dupla so claramente diferentes de todo o material que compe as revistas da EDREL.
impossvel no notar que Rosso e Lucchetti eram
os nicos profissionais de verdade ali, em que pesem os talentos no refinados que havia em volta
deles e que s iriam realmente se profissionalizar
nos anos seguintes. A EDREL no duraria muito,
derrotada por divergncias entre os scios e problemas graves com a censura do regime militar,
mas Nico Rosso voltaria a trabalhar para Minami
Keizi algum tempo depois, dessa vez desenhando
alguns de seus melhores trabalhos.
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Editora Taka | O cenrio dos quadrinhos nacionais mudou muito com o final da Editora
Outubro. Algum tempo depois da sada de Sidekerskis, que iria abrir as editoras Regiart
e Jotaesse, Victor Chiodi tambm a deixou. A direo geral da Taka passou a ser exercida
por Manoel Csar Cassoli e Heli Otvio de Moura Lacerda e essa foi a configurao socie-
tria at o fechamento da empresa, j no final dos anos 1970. Para o lugar de Cortez como
diretor artstico foi contratado, a principio, o artista argentino Rodolfo Zalla. Ele estava
no Brasil h bem pouco tempo e colaborava com eles desenhando Colorado, um cowboy
herdado de um outro artista argentino, Jos Delb, que tinha estado no Brasil de passagem e acabara de
se mudar para Nova York. Delb viria a ter uma longa carreira nos Estados Unidos, desenhando de tudo,
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Um detalhe nessa histria toda que vale a pena lembrar, que, embora mulheres-vampiro j tivessem
aparecido muito antes nos quadrinhos, tanto Mirza quanto Naiara estrearam nos quadrinhos bem antes
de Vampirella, que s apareceu em 1969. E embora Mirza fosse mais tradicional em seus trajes, Naiara
usava uma roupinha sexy, como a que Vampirella s iria usar quase dois anos depois.
A dupla ainda iria criar mais uma vampira: Sivanara, a baronesa-vampiro, surgida tambm numa his-
tria do Drcula, de quem se torna inimiga mortal. Apesar de seguir o mesmo preceito das histrias
de Naiara, as personagens so bem diferentes, Sivanara uma mulher mais real, usa roupas comuns e
conta com a ajuda de seu marido, o Baro, cujo nome e sobrenome nunca foram revelados na histria.
lembrar que j havia existido uma uma filha de Drcula, desenhada por Scudellari nos
tempos da Outubro, mas ela havia durado apenas uma histria e, alm disso, Naiara
mais higinico.
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Alm delas, trabalhavam para a Taka tambm Francisco de Assis Pereira da Silva, Antonio Martin e R.F. Lucchetti. Com Assis, Nico Rosso
fez algumas histrias avulsas de terror, como a quadrinizao de Avatar,
livro de Thephile Gautier que trata de reencarnao. Assis era um timo
roteirista e tambm chegou a escrever Drcula para o desenho de Rosso
em algumas histrias memorveis. Uma delas, para um almanaque com
mais de 100 pginas, contando uma nova verso para a histria do
rei dos vampiros. Com os outros dois argumentistas, Nico Rosso
tambm fez trabalhos importantes e emblemticos.
Terrir! Histrias de terror que vo fazer voc morrer
de rir! como foi anunciada, foi um sucesso.
Pela revista, cujo nome inteiro era Selees de Terrir, desfilavam Lucivalda, uma bruxa
moderna que voa de aspirador de p, ao invs da
vassoura e o pai de santo Nicolau Praxedes. Outro
personagem frequente na publicao era o Lobisboy.
As aventuras, escritas por Antonio Martin, sobre quem
muito pouco se sabe, so exatamente o que o anncio diz:
histrias satricas com pitadas de terror. Para estas histrias,
Nico Rosso criou um estilo que misturava figuras levemente
caricatas luz e sombra tpicas das histrias de terror.
A revista durou 12 nmeros, o primeiro saiu em 1966. Mas,
como tudo mais da editora, muito difcil precisar o ms.
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J A Cripta era uma revista bem frente de seu tempo. A comear pelo formato grande, 22 por 30
centmetros. Ela foi concebida por R.F. Lucchetti e Nico Rosso como um veculo para histrias mais
adultas, onde o erotismo era muito presente em todas as histrias.
Rubens Francisco Lucchetti j era um colaborador da Outubro e sempre admirara o
trabalho de Nico Rosso, sem nunca ter uma histria sua desenhada por ele. Lucchetti
provavelmente um dos escritores mais prolficos do Brasil, tendo escrito para diversas mdias como cinema, televiso, quadrinhos e livros. Muitas vezes, trabalhou
Esse personagem surgiu quando em outubro de 1967 um jovem desenhista chamado Emilmar DalAlba
sob pseudnimos, como Terence Grey, Vincent Lugosi, Mary Shelby e muitos outros,
Di Tullio bateu porta de Nico Rosso para lhe mostrar um personagem que criara, um super-heri cha-
mado Shatan. Rosso gostou do que viu e logo envolveu Lucchetti, que escreveu um roteiro baseado nas
W.F. Murnau no cinema mudo para contar a histria de Drcula). Mas beber sangue no o que o
Este ento desenhou a histria e Nico Rosso a finalizou com todo cuidado possvel para no interferir no
move e nem sempre ele o protagonista das histrias. Ele est sempre mais interessado em seduzir
estilo bastante pessoal do jovem desenhista. Segundo a trama, Satanik era um agente secreto america-
suas vtimas, mulheres lindssimas desenhadas por Rosso, do que em beber seu sangue. A revista,
lanada em 1968, infelizmente no foi muito bem de venda: acabou no nmero 4. Os editores atribu-
ram isso ao formato e ao preo mais alto. Tentaram relan-la em 1970 no tamanho comum a todas as
revistas da casa, mas a manobra no surtiu o efeito esperado. Mas a parceria de Lucchetti com Rosso,
como j vimos, ainda deu bons frutos em outras editoras e mesmo na Taka, de forma inusitada at,
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Os anos 70 comearam com a Taka ainda vendendo alguns ttulos muito bem, caso de Drcula, mas
recorrendo cada vez mais a reprises. As vendas foram caindo paulatinamente e a apresentao grfica
das revistas comeou a destoar de todas as outras que apareciam nas bancas. As revistas da Taka estavam entre as mais pobres e feias, apesar de no serem as mais baratas. Em setembro de 1976, com o
lanamento de Kripta (com K), da Rio Grfica, que publicava histrias da Warren Comics, o terror voltou a ser um grande negcio editorial e quase todas as
editoras lanaram revistas do gnero, em formatos dos
mais diversos, em preto e branco e em cores, tamanho
grande ou formatinho. A Taka atravs do selo EDITAL
tentou o sucesso lanando lbuns luxuosos, com trabalhos de Nico Rosso. Dois com histrias clssicas de Drcula, um outro em formato gigante com histrias que
tinham sado em A Cripta e mais dois em formato de
livro tambm com histrias da Cripta remontadas para
o formatinho. Eles desapareceram em meio enxurrada
de ttulos das bancas. Eram lbuns que certamente venderiam bem em livrarias e lojas especializadas, coisa
que no existia ainda.
A editora ainda durou mais dois anos at fechar de vez
em 1978. Em junho de 1976, pouco antes da Kripta, os
donos da Taka tentaram lanar uma outra editora, a Spell Produes, que
lanou uma nica edio: Drcula.
No expediente da revista, no constavam os nomes nem de Manoel
Csar Cassoli, nem de Heli Otvio de Moura Lacerda, mas sim os nomes Aracy
Costa Cassoli, esposa de Manoel e Otvio Galvo de Moura Lacerda, filho de Heli.
Seria uma manobra fiscal? Jamais saberemos. O fato que esta nica edio uma
das revistas mais bonitas dos quadrinhos brasileiros.
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com este contrato de trabalho. Pelo que sei a Brasilgrfica fazia, e faz
vida (sem contar o horror que foi a Segunda Guerra) foi um incndio
Logo aps sua chegada vemos Nico Rosso trabalhando bastante para
Sabe quem era G. Basso que assina como argumentista vrias his-
editados. Dado o nvel com que executava suas histrias de terror fica
nh-las. E nunca ouvi - morei alguns anos com ele - nada que contra-
ouvia suas conversas ficava clara a paixo tambm pelo infantil (olha
na Itlia. Acredito que o contato tenha sido feito aqui, e fatores como
poca) em que muitos da rea grfica eram italianos, deve ter influ-
sobre G. Basso (que bem poderia at mesmo ser o elo que o ligaria
s Irms Paulinas).
para ele em So Paulo, mesmo assim ele arrumou tempo para traba-
lhar para a Ebal no Rio. Como foi esse contato, voc sabe?
nos moldes dos que conhecemos tipo Marvel ou DC. O Nico atuou em
fez pouco no foi pelo motivo de ter vivenciado uma, acredito que foi
Consta que Nico Rosso era uma pessoa amvel e bastante socivel.
drinhos, a qual fez jus, para os amantes deste gnero faz todo senti-
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deixou muito mal. Tornando-se mais tarde uma das causas de seu
raro nos quadrinhos. O que voc sabe sobre Helena Fonseca e Maria
Existem algumas histrias assinadas por Luiz Rosso. Era seu pai,
habitual tornando-se, a meu ver, uma das parcerias mais bem suce-
mente influenciado pelo seu av, mas era bastante bom, bem me-
nental (depois Editora Outubro), Nela est meu pai, Gianluigi Ros-
e tornei-me desenhista.
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M&C | Em 1972, depois de deixar a EDREL, Minami Keizi fundou com Carlos da Cunha, a Minami
& Cunha Editores (M&C Editores). Logo colocou nas bancas ttulos dos mais diversos, que iam de
revistas de piadas at Modesty Blaise, heris da Marvel como Conan, Kull, Dr. Estranho (traduzido
como Dr. Mistrio), alm de vrias com personagens produzidos no Brasil por diversos desenhistas.
Duas das revistas em que ele resolveu apostar eram Lobisomem e Mmia, grandes sucessos num
passado recente editados pela GEP. A editora de Penteado nesta altura no funcionava mais, pois Miguel Penteado, no aguentando mais ter problemas com a censura, tinha resolvido parar de editar e
apenas imprimir para terceiros (inclusive para a M&C). Gedeone Malagola escreveu novas histrias
para ambas as sries. Mas Srgio Lima, o desenhista original das duas, no se interessou por desenh-las. Nesse tempo, ele estava trabalhando no estdio da Editora Abril, que produzia aqui a maior
parte dos quadrinhos Disney que editava. Srgio Lima tinha se especializado em desenhar as bruxas,
Maga Patolgica e Madame Min, ironicamente. Rodolfo Zalla, outro desenhista que tinha trabalhado em
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ambas as sries, nesta altura estava envolvido com o mundo dos livros didticos
e tambm no se interessou, embora algumas histrias que ele tinha desenhado para a GEP (e que no haviam sido publicadas), tenham sido aproveitadas
por Minami em duas edies de Lobisomem em formatinho. Gedeone ento se
lembrou de Nico Rosso, que tinha desenhado a capa da primeira Lobisomem da
GEP e que ele achava o desenhista ideal para a srie. Na poca Rosso ainda desenhava Drcula para a Taka. Mas como a editora j comeava a dar sinais de
debilidade, recorrendo cada vez mais a reprises, ele topou fazer o Lobisomem.
Ofereceram a Mmia tambm, mas achando que seria trabalho demais, mesmo
para ele, Rosso indicou seu amigo Igncio Justo, que se tornou o desenhista da srie. Apesar de serem
os mesmos personagens j editados pela GEP, as sries eram muito diferentes das originais e a principal diferena era uma presena muito maior de cenas de sexo e mulheres nuas em quase todas as
pginas. As histrias tinham se tornado mais adultas e o terror havia se tornado pano de fundo para a
temtica sexual, certamente uma encomenda de Minami Keizi, que j na EDREL demonstrava claramente uma tendncia nessa direo. Com a habilidade de Nico Rosso para desenhar mulheres bonitas
e sensuais, as histrias de Lobisomem se tornaram algumas das melhores j publicadas no pas.
A revista foi publicada num tamanho maior do que o usual e ele fugiu do layout de pgina tradicional,
buscando algo mais prximo daquele adotado por lbuns europeus. Talvez eles visualizassem uma
possibilidade de venda para o exterior, quem sabe?
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Mas no foi apenas em Lobisomem que Nico Rosso trabalhou para a M&C. Seu trao tambm brindou duas sries que fazem a editora ser lembrada
at hoje: MitoloRia e Chico de Ogum. A primeira
era escrita pelo prprio Minami e mostrava aventuras altamente erticas e humorsticas de personagens da mitologia grega, particularmente Zeus.
As histrias foram desenhadas num estilo limpo e
humorstico por Nico Rosso e Kazuhiko Yoshikawa
e publicadas em preto e branco a principio na revista UAU!, que misturava fotos de mulheres nuas,
quadrinhos e contos erticos.
Sairam tambm numa revista prpria com o nome
MitoloRia. Foram posterior mente
reunidas, coloridas e publicadas em
forma de lbum, que apareceu lacrado nas bancas.
Chico de Ogum era escrito pelo excelente Carlos da Cunha. Como
Nicolau Praxedes, personagem desenhado anos antes na Terrir,
era um pai-de-santo. Mas enquanto Praxedes era um personagem
coadjuvante, Chico de Ogum era o dono da revista, o personagem
principal de todas as histrias e sempre que precisava recorria a
seu padrinho Ogum, conseguindo os poderes que precisava para
resolver qualquer parada, um verdadeiro super-heri da Umbanda.
Os desenhos aqui tambm eram de Nico Rosso e Kazuhiko, mas
em Chico de Ogum eles utilizam um desenho mais despojado, se
preocupando mais com a conduo das histrias.
Infelizmente a barra foi ficando mais e mais pesada para a M&C e
seus constantes problemas com a censura acabaram fazendo com
que vrias de suas revistas acabassem sendo proibidas
de circular. Este foi o caso de Lobisomem e Mmia.
Chico de Ogum foi uma das poucas que teve permisso
para continuar a ser editada a partir de 1974. Ser que foi
porque os censores tiveram medo de mexer com um filho
de Ogum? Pode ser, mas isso no foi o suficiente para
assegurar a sobrevivncia da editora e logo ela no estava
mais publicando coisa alguma, sendo obrigada a
fechar suas portas, melancolicamente.
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Chico Ansio era desde o incio dos anos 60 um dos comediantes mais populares de TV e em
1975 estava fazendo enorme sucesso na Globo, com o programa Chico City, onde ele apresentava quadros com diversos personagens que ele mesmo representava e com um quadro
semanal no Fantstico, onde ele contava causos engraados no
melhor estilo stand-up comedy. Um dos principais parceiros
de Chico nos dois programas era Arnaud Rodrigues, talentoso
compositor e escritor, que resolveu escrever uma histria com
um personagem que ele criara para Chico e que no estava em
nenhum dos dois programas, o retirante Xixo. Pensou primei-
J Manuel Maria de Barbosa lHedois du Bocage foi um grande poeta portugus que viveu
entre 1765 e 1805. Talvez por ter sido preso pela inquisio por ser desordenado nos costumes, seu nome venha h tanto tempo sendo associado com anedotas de forte contedo
ertico que ele no escreveu. Desde muito tempo portanto, se tornou um personagem sem
qualquer relao com a figura real. H muito tempo tambm que se editam livretos com piadas do Bocage e foi para um destes que a Luzeiro Editora encomendou os trabalhos de R. F.
Lucchetti, que assinou com o pseudnimo R. Bava e Nico Rosso, que pediu ao editor para
permanecer annimo, por achar o contedo do livreto forte demais, mas no foi atendido.
, junto com o lbum de Xixo, um de seus ltimos trabalhos publicados, tendo sado em 1977.
ro em fazer um livro, mas mudou de ideia e achou que aquilo ficaria bem melhor numa histria em quadrinhos. O ttulo
fazia referncia a um livro de muito sucesso na poca, Eram
os Deuses Astronautas? de Erich Von Daniken e por conhecer
e gostar de Chico de Ogum achou que Nico Rosso era o desenhista perfeito para a histria. Ele tinha razo e a histria em
forma de lbum colorido com 54 pginas um dos melhores momentos dessa fase de Nico Rosso. O lbum foi publicado por uma certa Editora Harpan de um certo Henrique
Christfani. No se sabe mais nada sobre este editor e o
lbum que saiu em 1976 no deve ter feito muito sucesso,
pois no houve um segundo.
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Voc tinha ideia quando era garoto de que ele era um ilustrador fa-
coisas assim?
lia. Acho que o foco principal dele sempre foi o desenho, a literatura.
Consta que ele, com 14 anos, frequentava a biblioteca para ler filoso-
minha coleo de HQ, que comecei a dar mais ateno a esses as-
Me lembro que ele fez viagens pelo Brasil, para o nordeste, onde mo-
pela qumica industrial. Voc arrisca um palpite? Acha que pode ter
que ele fazia, dos locais que visitava, situaes cotidianas como uma
Nico Rosso tinha algum hobby que no fosse desenhar e pintar? Gos-
At por ser italiano e por haver nascido numa poca onde a religio
Acho que seu hobby principal era a leitura. Lembro de jogar xadrez
era muito importante, seu av era um bom catlico, segundo seu ir-
com ele. Certa vez, jogando com ele, fiz uma jogada e meu irmo
mais velho comenta que foi uma pssima jogada ou algo assim, que
para o meu irmo que a minha jogada no tinha sido ruim pois mais
-lho dele, mulheres lindssimas e nuas, cenas de sexo, etc. Voc acha
Acho que no. Ou talvez, num caso. Existe uma referncia aos dese-
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nhos que ele fez para a editora Luzeiro, para uma revista com anedo-
que ele pediu para que seu nome no aparecesse nos crditos, por
nhista. Mas no posso negar que tenho muita influncia das artes
mais ertico. Penso que os nus que ele fazia estavam mais para obras
E sua av, como era a relao dela com o trabalho dele? Ela conhecia,
pelo lado de minha tia Valeria, que teve duas filhas, minhas primas
os, como por exemplo o Rodolfo Zalla, comentam que a nonna era a
devolveu ao meu irmo uma parte do arquivo do nonno que lhe havia
Tem alguma histria, alguma coisa sobre seu av que voc gostaria
Ele havia perdido contato com nossa famlia ao longo dos anos, mas
de compartilhar?
ria apenas agradecer por meu nonno ser um grande exemplo. Exem-
purravocs para as artes? E o lado de sua tia Valeria? Voc tem pri-
o torna imortal.
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UMA TARDE TRGICA | Dezembro de 1976. Depois de muitos anos morando no bairro paulistano da Vila Mariana, vamos encontrar Nico Rosso
em sua nova residncia, projetada de acordo com suas necessidades num
novo local, o Planalto Paulista. Nos fundo do terreno, seu amplo e confortvel estdio de onde ele pouco saia, mesmo em suas raras horas vagas,
quando aproveitava para tocar projetos pessoais. Chovia muito em So
Paulo naquela tarde, um sbado, mais do que o normal nessa poca do
ano. Por puro acaso, Nico Rosso no estava em seu estdio, mas sim vendo TV com seu neto Luiz, a poucos metros dal, na residncia que ficava
na parte da frente do terreno. De repente, ouviram um estrondo e quando
se deram conta, uma tragdia havia acontecido: o muro dos fundo cedera provocando uma inundao e um soterramento parcial sobre o estdio
destruindo grande parte do acer vo de Nico Rosso. Depois descobriuse que a causa disso havia sido uma obra irregular no terreno que dava
fundos ao estdio, mas era tarde demais para fazer qualquer coisa. Isso
acarretou um enorme grau de stress a Nico Rosso e ele acabou sofrendo
um AVC. Socorrido a tempo, sobreviveu e acabou recuperando em parte
suas capacidades motoras, mas no o bastante para que voltasse a trabalhar como ilustrador e desenhista. Ele passou os cinco anos seguintes se
dedicando apenas pintura, at que no dia 1 de outubro de 1981 sofreu o
terceiro de uma srie de infartes e no resistiu. Postumamente, em 1990,
foi publicado o livro A Gotinha, escrito e desenhado por ele e que explica
o ciclo das guas para crianas.
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