Você está na página 1de 16

2

112 d o s
Uso i n h o s
d r
Qua i n o d a
E n s g r a
n o a N e
l t u r
Cu en Chin
Nobu

u r s o
C i n h os
u a dr
q
s a la
em
a u la
de
1. apresentação

O atual sistema de ensino prevê que as dis- Durante todo o curso, que finalizamos ago-
ciplinas sejam ensinadas de modo a interagir ra, discutimos e aprendemos que os quadrinhos
umas com as outras e que alguns temas sejam constituem uma linguagem versátil capaz de tra-
transversais a várias delas. Não é possível falar tar os mais variados assuntos, em inúmeras abor-
da história de um país, sem levar em conta sua dagens, estilos e soluções visuais. Por ser uma
geografia, sua cultura ou suas características so- linguagem híbrida, com elementos textuais e vi-
ciais. Isso torna o aprendizado mais completo, suais, eles são poderosas ferramentas para apre-
de mais fácil assimilação, pois é mais próximo de sentar a cultura afro-brasileira de forma lúdica,
como acontece na realidade. atraente e eficaz.
Um tema que permite perfeitamente essa Falta muito pouco para concluirmos essa
transversalidade é a diversidade étnica, as- travessia. Segure firme o timão, abra as velas
sunto da maior atualidade e relevância que pres- e o coração e navegue nesse weboceano que
supõe atenção, respeito e valorização das ma- é todo seu:

g . b r
nifestações artísticas e culturais dos diferentes

. o r
a.fdr
grupos sociais da população brasileira.

av
Aqui, abordaremos a cultura afro-brasilei-
ra e seu ensino, dentro do que é estabelecido
pela Lei nº 10.639/2003, buscando formas de
como as histórias em quadrinhos podem con-
tribuir, na condição de recurso didático, no
alcance desse objetivo.

178
2. Brasil, um país

Mes t i ç o
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a 2017, mostram que os negros no Brasil detêm os
(IBGE) classifica como negros todos aqueles que se piores índices em quesitos como renda, seguran-
autodeclaram pretos ou pardos. Segundo os da- ça, educação e trabalho. Séculos de exploração e
dos de 2017, extraídos da Pesquisa Nacional de discriminação formaram esse cenário e a maneira
Amostras de Domicílios (PNAD), 54,9% da popu- mais eficaz de combatê-lo é a conscientização.
lação brasileira se autodeclaram preta ou parda,
ou seja, mais da metade dos habitantes do país
são assumidamente afrodescendentes. A
população negra brasileira é formada basicamente
por descendentes de escravos trazidos para a colô-
nia a partir do século XVI até o fim do século XIX.
Não existem registros precisos sobre quantos escra-
vos foram trazidos da África para o Brasil, pois não
houve esforço em manter esse tipo de informação.
Pelo contrário, em resolução de 14 de dezembro
de 1890, Ruy Barbosa, na época, presidente do
Tribunal do Tesouro Nacional, ordenou a destrui-
ção de todos os documentos sobre escravidão. Os
números variam muito, conforme a fonte consul-
tada. Segundo Francisco Luna e Herbert Klein, no
livro Escravismo no Brasil, cerca de 10,5 milhões de
As péssim
africanos foram traficados para a América e, desse as condiç
ões dos na
vios negr
total, estima-se que 4,9 milhões para o Brasil. eiros.

Com a abolição da escravidão, em 1888, ini-


ciou-se um processo para “embranquecer” a socie-
dade brasileira pela substituição dos escravos por
imigrantes europeus e asiáticos. Os negros foram
expulsos das fazendas e nos centros urbanos, onde
antes ocupavam funções como barbeiros e vende-
dores ambulantes, também foram “empurrados”
para as periferias, para as “margens”. Esses fatores
desenharam as condições para o quadro atual de
marginalização e desvalorização de grande parte

179
da população negra no Brasil. Dados do Fundo de
População das Nações Unidas (UNFPA), referentes
d a C u l t u r a

a
ã o
3. A Contribuiç

o-brasileir
afr nç a negra nã
o se vê ref letida
nos quadrinh
os.

Uma cria

Mesmo os negros constituindo mais de 50%


da população brasileira, sua presença nos diver-
sos meios de comunicação não chega perto des-
sa proporção. Alguém pode perguntar: “Mas por
que é importante que existam personagens negros
no cinema, na televisão, na literatura e nos qua-
drinhos?” Vamos lá: a infância é uma fase crucial
na formação da personalidade do indivíduo. Ainda
que a genética responda por uma parcela de suas
características, seu desenvolvimento depende de
exemplos de comportamento e de valo-
res que serão assimilados e reproduzidos em sua
existência, com especialidade, nos seus primei-
ros anos de vida.
Uma criança negra que nos gibis só vê
personagens e heróis brancos, não se sentirá
representada e não terá um modelo a ser seguido.
O filme Pantera Negra, por exemplo, lançado em construíram uma sociedade ultramoderna e os ci-
2018, teve um efeito positivo na elevação da au- dadãos demonstram valores como força, inteligên-
toestima da audiência afrodescendente ao aban- cia, liberdade e autodeterminação. Obviamente,
donar estereótipos e mostrar, mesmo que numa não basta que se tenham personagens de pele es-
peça de ficção, uma realidade em que os negros cura para que uma cultura se sinta representada.

para curiosos
o negro”,
la vr a “g ib i” si gnif icava “menin
Originalmente, a
pa equen-
m en te , em bo ra aparecesse fr foi
“negrinh o”. Ironica tu lo da revista Gibi
, ele nu nca
ju nt o ao tí os.
te mente hi st ória em quad rinh
de um a
personagem

180 Logot
ipo do G
ibi
Os afro-brasileiros têm um conjunto de hábitos, conhecimentos preservados pelos descendentes
costumes e valores herdados de seus ancestrais, dos escravos. Sem contar as crenças religiosas que,
um legado, que está presente no dia a dia de nossa mesmo perseguidas e praticadas de forma disfar-
sociedade, às vezes, sem nos darmos conta disso. çada, conseguiram resistir e sobrevivem até hoje.
Palavras como “cachimbo”, “dengo” e “marim- Toda essa riqueza precisa ser transmitida para
bondo”, incorporadas ao nosso vocabulário, têm os mais jovens e cabe também às escolas essa fun-
origem em idiomas africanos. A culinária, a músi- ção. Um meio atraente e promissor para fazer isso
ca e a dança brasileiras receberam influência dos são os quadrinhos.

i v e r s i d a d e
r i n h o s e aD
4. Os Quad

Ét n i c a
Em 2003, o Governo Federal promulgou a Lei
nº 10.639, que instituiu a obrigatoriedade do
ensino da cultura afro-brasileira nas esco-
las de ensino básico em todo o território nacio-
nal. Posteriormente, ela foi substituída pela Lei nº
11.645, de 2008, para abranger também a cultura
indígena. Nos primeiros anos de sua implantação,
muitos professores reclamavam da falta de material
didático e não sabiam como aplicar a lei: “em que
disciplina? de que forma? como atribuir nota?” Tais
dúvidas surgiram no III Fórum do Ensino Superior so-
bre os Desafios para o Ensino de História e Cultura
Africana e Indígena, realizado em 2011. De lá para
cá, algumas editoras publicaram livros para atender
publicadas em quadrinhos. Nesse caso, a Unesco
a essa demanda. Também houve um aumento no
não apenas endossou os títulos, mas apoiou a pu-
interesse pela utilização dos quadrinhos como fer-
blicação e disponibilizou a versão em PDF gratuita-
ramenta de ensino. Nesse sentido, vale acrescen-
mente em seu site.
tar que a Organização das Nações Unidas para a
Portanto, existe a necessidade de um material
Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhece
mais interessante para ensino da cultura afro-bra-
os quadrinhos como meios válidos para se transmi-
sileira e comprova-se a validade dos quadrinhos
tir adequadamente uma informação. Bastante sig-
como meios apropriados para uso em sala de aula.
nificativa é a série Mulheres na História da África,

181
Nada mais natural que juntar as duas coisas.
de biografias de grandes personalidades femininas,
e n s N e g r o s n o s
5. Os Personag

s
Quadrinhos

Brasileiro
A presença de personagens negros ini- de Maurício de Sousa, durante anos foi um mero
cia-se com os próprios quadrinhos brasileiros. Até coadjuvante e somente em 2018 tornou-se pro-
meados dos anos 1980 eram bem poucos, ocu- tagonista. O álbum Jeremias: Pele, com roteiro de
pando papéis subalternos ou de pouca expressão. Rafael Calça e desenhos de Jefferson Costa, trata
Todos, com raras exceções, eram caracterizados de de racismo de uma forma muito sensível e direta.
forma estereotipada, com olhos esbugalhados e lá- A primeira personagem negra voltada ao pú-
bios exagerados. Nesse período, o mais famoso foi blico infantil a ter revista própria foi Luana, criada
o Pererê, de Ziraldo, que figurou em revista própria por Aroldo Macedo. Mais recentemente, com a
no começo dos anos 1960. explosão do quadrinho autoral, surgiram publica-
O cartunista Henfil criou alguns dos persona- ções com personagens negros bem desenvolvidos,
gens negros mais memoráveis, como a Graúna, como as graphic novels Aú, o Capoeirista, de Flávio
O Preto-que-ri e o Cabôco Mamadô. Jeremias, o Luiz, e Beco do Rosário, de Ana Luiza Koehler.
único personagem negro da Turma da Mônica,

182 Personagens negros nos


quadrinhos nacionais
para curiosos
Personag
primeiro ens negro
gr os es tã o presentes já no s na prim
eira histó
Os personagens
ne ia em ria em qua

co ns id erad a a primeira histór drinhos b


rasi leira.
e é es-
painel daquela qu N hô Q ui m , de A ngelo Agostini,
rasi l. cena,
quad rinh os do B iro de 18 6 9 e, em sua primeira
jane sua família
treou em 30 de ed it o se despedindo da us pais.
ia do B en
mostra o cr despede de se
qu anto N hô Q uim também se
en

6. fazer e

a p r e n d e r
r aos alunos um texto
Uma sugestão é passa ne-
de aplicar os quadri- alguma personalidade
Existem duas maneiras pri- sobre racismo ou sobre rar
ltura afro-brasileira. A a pa rtir dessa leitura, elabo
nhos no ensino da cu as. gr a de de sta qu e e, -
obras já publ ic ad hos de duas a quatro pá
meira é trabalhar com bi- uma história em quadrin em a
o passo é consultar a ginas. Ou, ainda, suge
rir que eles próprios cri
Nesse caso, o primeir a e a
da escola mais próxim de suas vidas que tenh
blioteca pública ou a ulo s re- partir de algum episódio
escolher quais tít
consultar o acervo para su - a ver com o tema.
m en da r. No s tó pic os mais abaixo, seguem
co ções
respectivas recomenda
gestões de livros com s de
feito, além de exemplo
de como isso pode ser
alunos.
exercícios dirigidos aos
z o mais interessante e
O segundo passo, talve de
alunos a oportunidade
envolvente, é dar aos Uma
s em quadrinhos.
criar suas história os alu nos
s possibilita que
boa oficina de quadrinho ita-
s, respeitando-se as lim
elaborem seus trabalho . O
tuais faltas de material
ções individuais e even es pe-
r profissional, e nem
resultado não precisa se sen-
principal objetivo é de
ramos que seja, pois o na rr ati-
a capacidade
volver e incentivar

183
va dos estudantes.
7. No Ensino de

Literatura Capa d
e Jubia

As adaptações de obras literárias para os qua-


drinhos existem há muito tempo. Vários romances
que abordam temas ligados à cultura afro-brasileira
já foram adaptados para os quadrinhos. Uma des-
sas quadrinizações é a que o artista Spacca fez
de Jubiabá, de Jorge Amado, conhecido romancis-
ta baiano, que narra as desventuras do lutador de
boxe Antonio Balduíno. A trama traz elementos do
candomblé e, curiosamente, o nome da obra se re-
fere não ao protagonista, mas ao pai-de-santo do
terreiro que ele frequenta e que prevê seu futuro.
O romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, foi
adaptado para os quadrinhos por Ivan Jaf e Rodrigo
Rosa. Nele, destacam-se duas personagens negras:
a Bertoleza e a Rita Baiana. É interessante notar o
contraste entre a representação de uma e de ou-
tra. A primeira em traços mais grosseiros e a se-
gunda delineada de forma mais delicada e sensual.
O texto é um retrato tão fiel quanto possível das
condições da vida urbana das classes menos favo-

Capa de
recidas no século XIX.
Já o livro Clara dos Anjos, do autor negro Lima

O
Cortiço
Barreto, adaptado por Lélis e Wander Antunes,
tem como foco o racismo e a condição da mulher
negra na sociedade machista e preconceituosa.
Nele, Clara, filha de pai branco e mãe negra, sofre
preconceito ao ficar grávida de um jovem branco
da classe média e é rejeitada pela família do rapaz.
Outra obra que não é uma adaptação, mas tem
um caráter literário é o livro Carolina, com roteiro
de Sirlene Barbosa e arte de João Pinheiro. Trata-
se da biografia quadrinizada da escritora negra
Carolina de Jesus, autora do romance Quarto de
Despejo, famoso por narrar a dura vida da autora,
Capa de C

que era catadora de papelão.


184
lara dos A
njos
O poeta abolicionista Castro Alves também
teve uma de suas composições vertidas para a lin-
guagem dos quadrinhos em Cachoeira de Paulo
Afonso, adaptada por André Diniz num estilo grá-
fico muito particular.
Todas essas adaptações em quadrinhos permi-
tem trabalhar os textos literários em exercícios de
interpretação de texto, de narrativa e até de ex-
pressão linguística.

7.1. Sugestão de
Exercícios
Solicite aos alunos que pesquisem sobre arte
africana e comparem com o desenho de André
Diniz em Cachoeira de Paulo Afonso. Explique a
relação desse estilo com o poema.
Em Jubiabá, a maioria do que aparece escrito é
em falas, mas há recordatórios e partes cantadas.
Um bom exercício é descrever como o desenhista
diferenciou visualmente esses três tipos de texto.
Compare o tipo de desenho de Bertoleza e de
Rita Baiana em O Cortiço.. Qual o significado sim-
bólico de tão diferente representação?

ABRA A SUA MENTE


!
da
cara pinta
r branco com a
Minstrel: ato

hu mor grá-
es en ta çã o dos negros no
A re pr ) deriva
tu ns , ch ar ges e quad rinh os
fico (c ar pintavam
in st re ls , at or es brancos que
dos m vam os
co m ti nt a pr eta e contorna re-
a face erada. Esse tipo de
fo rm a ex ag vigo-
lábios de estereótipo que
çã o cr io u um
presenta
rou por décadas.

185
o d e S o c i o l o g ia/
8. Ensin

Rel i g i ã o Capa d
e Casa
Grand
e & Se
nzala e
m Qua
drinho
s

O grande clássico brasileiro da sociologia é Casa


Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, que explica a
formação do povo brasileiro a partir da contribui-
ção de três grandes grupos étnicos: os índios, os
portugueses e os negros. Embora traga conclusões
refutadas por outros estudiosos, é uma obra fun-
damental que, pela primeira vez, deu importância,
ainda que de forma controversa, à participação
dos negros na sociedade. Casa Grande & Senzala
em quadrinhos, uma adaptação de 1981, tem ro-
teiro de Estêvão Pinto e desenhos de Ivan Wasth
Rodrigues. Nessa versão, que tenta ser fiel ao origi-
nal, a integração entre brancos e negros teria sido
pacífica e sem atritos. Vários autores, no entanto,
denunciam a falácia dessa democracia racial.
Um traço importante que caracteriza a cultura
de um povo ou de um grupo social é a sua religião.

Capa de
No caso dos negros, os cultos de matriz africana
são representados pelo candomblé, com seus ri-

Orixás d
tuais e culto aos orixás. O álbum Orixás do Orum
ao Ayê, de Alex Mir, Caio Majado e Omar Viñole,

o Orum a
conta a história dessas divindades em quadrinhos,
relatando a cosmogonia e as crenças praticadas

o Ayê
em algumas regiões da África e que foram manti-
das, ainda que clandestinamente, pelos escravos e

Capa de En
descendentes.
Um tema muito sensível e polêmico é o racis-
mo. Um comportamento arcaico e condenável,
cruzilhada

que deveria estar extinto há muito tempo, infeliz-


mente, ainda se manifesta em pleno século XXI.
Marcelo D’Salete é autor de “Encruzilhada”, his-
tória que dá título a um álbum homônimo, com
várias narrativas curtas, e que relata um episódio
real de preconceito em que os seguranças de um
hipermercado abordaram e espancaram um ho-

186
mem negro no estacionamento do local, por sus-
peitarem que ele tentava roubar um automóvel e
não acreditarem que o carro era dele.
8.1. Sugestão
de Exercícios
Reconhecer, no álbum Orixás do Orum por que o autor escolheu esse tipo de ângulo para
ao Ayê, quais elementos visuais o desenhista representação, em vez de mostrar o personagem
utilizou para mostrar que o personagem Oxalá na altura dos olhos, por exemplo.
está embriagado. Na adaptação de Casa Grande e Senzala, há um
Na cena do interrogatório da história quadrinho em que um menino branco e um negro
“Encruzilhada”, o homem sentado é mostrado brincam juntos. Discutir essa cena com os alunos.
como se fosse visto de cima para baixo. Discutir

9. no Ensino de

História Capa d
e Revo
lta dos
Malês

Durante séculos, a participação dos negros em


importantes acontecimentos históricos foi sim-
plesmente omitida. Segundo o livro As Injustiças
de Clio, de Clóvis Moura, eles foram apagados
da história oficial como se dela nem tivessem
participado. Somente em anos recentes o papel
dos negros em episódios históricos foi resgata-
do e valorizado, inclusive nas histórias em qua-
drinhos. O cartunista Maurício Pestana é autor
de uma coleção de histórias contando algumas
dessas passagens. As revistas foram produzidas
e editadas para o projeto socioeducativo do gru-
po Olodum. A Revolta dos Búzios, A Revolta dos
Capa de

Malês e a Revolta da Chibata são os volumes já


publicados. Na mesma linha, Pestana publicou o
Balaiada

álbum Revolução Constitucionalista de 1932 em


Quadrinhos, sobre a participação de um batalhão
, a Guerr

formado por soldados negros.


O álbum Balaiada, a Guerra do Maranhão, ro-
a do Mara

teirizado por Iramir Araújo e ilustrado por Ronilson

187
Freire e Beto Nicácio, também retrata um levante
nhão

contra o regime imperial e que teve como protago-


nistas um líder negro.
A figura negra mais cultuada da história bra-
sileira é, sem dúvida, Zumbi dos Palmares.
Existem diversas versões em quadrinhos sobre
esse personagem, desde produções voltadas ao
público infantil, como Resistência e Coragem, de
Antonio Cedraz, até a mais recente narrativa sobre
Palmares, Angola Janga, uma obra de fôlego do
artista Marcelo D’Salete. O mesmo autor lançou
o álbum Cumbe, que também narra episódios de
fuga de negros para os quilombos.

a
ngola Jang
9.1. Sugestão

Capa de A
de Exercícios
Em Revolução Constitucionalista de 1932 em
Quadrinhos, um menino e uma menina aparecem
constantemente, mas não fazem parte da história
que está sendo contada. Discuta a função desses
personagens e o porquê de o autor escolher duas
crianças para essa função.
Compare Resistência e Coragem e Angola
Janga, que têm Zumbi como personagem central.
Debata com os alunos as diferenças no traço e no
tipo de história contada.
Em Balaiada, entre as páginas 10 e 11, há uma
sequência quase sem palavras, mas que diz muito.
Discuta o que essas cenas representam e por que
são importantes para a trama.

para curiosos
o personagem
qu ad rinizações com
Existe m pelo m en os se is ntes autores.
ép oc as di st intas e por difere e dese-
Zu mbi feitas em do hi st or ia dor Clóvis Mou ra
rote iro quad ri-
Uma delas te m a, pi on ei ro da s pesquisas em
Moy
nh os de Álvaro de
nh os no Bra si l.

188
Capa de Z
umbi, de
C lóvis Mou
ra e Alvaro
de Moya
r t ís t ic ae

r
ç ã o A

a
u c a
10. Ensino de Ed

ltidisciplin
Mu
Material

A contribuição dos artistas negros para a músi- O mesmo objetivo e intenção tem o álbum
ca é das mais significativas. O samba e a MPB têm A Herança Africana no Brasil, do roteirista
fortes influências dos ritmos africanos. Jackson Daniel Esteves e artes de Wanderson de Souza
do Pandeiro em quadrinhos é uma biografia do e Wagner de Souza. Nele, a história e as tradi-
conhecido sambista quadrinizada por Fernando ções afro-brasileiras são contadas por meio do
Moura e Megaron Xavier. Outro cantor de sucesso, diálogo entre uma senhora negra e sua neta,
Milton Nascimento, teve sua trajetória e a do seu com ênfase no período colonial. Numa mescla
grupo de amigos tematizada no álbum Histórias do de ficção e realidade, a história traz um diálogo
Clube da Esquina, escrito e desenhado por Laudo entre populares e o advogado, jornalista e abo-
Ferreira. Também fazem aparição na história ou- licionista José do Patrocínio.
tros dois artistas negros: a cantora Clementina de Maurício Pestana lançou em 2014 o gibi
Jesus e o percussionista Naná Vasconcelos. Negro: uma outra história (aplicando a Lei
Existem obras em quadrinhos concebidas 10.639/03). O subtítulo deixa explícito o pro-
como material para a Lei nº 10.639/03. Um de- pósito de narrar os séculos de exploração dos
les é o AfroHQ, com pesquisa e textos de Amaro negros. Destaque para as minibiografias de per-
Braga, e artes de Danielle Jaimes e Roberta Cirne, sonalidades afro-brasileiras das artes, da cultura
que traça um panorama geral da história dos ne- e da política como Pixinguinha, Grande Otelo,
gros no Brasil. Ruth de Souza e Clementina de Jesus.

Capa d
e Hist
órias d
o C lub Capa de N
e da E
squina Af roH Q egro: Um
Capa de a Outra H
istória

189
10.1. Sugestão
de ExercoHíc ios de falas têm
Q vários balões
,
No livro Afr ao
s. D is cu ta a in tenção do autor
cores variada
fazer isso. desenho de A H
erança
re o tip o de ória.
Compa ro : uma outra Hist
Br as il e N eg
Africana no os as diferenças no
tipo de
qu e co m os al un te ou
Identifi u se r mais interessan
qu al pa re ce
desenho e
melhor o assunto.
ajudou a entender Clube da Esquina,
, existem
liv ro H ist ór ia s do ique
No ocas distintas. Expl
pa ss am em ép
cenas que se iar o presente
o o de se nh ist a fez para diferenc
com
e o passado.

e s a i b a m a i s!
leia
borou um texto be m
A mesma Unesco ela
Existe material de ex
celente quali- pecíf ico para o Brasil,
interessante, mais es -
dade que trata da cu
ltu ra af rica-
a Cartilha Educação
da Relações Étnico-ra
que pode ser el no link:
na e af ro-b rasileira ciais no Brasil, disponív
amente. O
lido ou baixado gratuit
primeiro deles é a mo
nu mental co- unesdoc.u nesco.org/
32103POR.pdf
leção História Geral
da Áf rica, em images/0023/002321/2
oito volumes, com ce
rca de 800 squisa em Estudos
O Núcleo de Apoio à Pe
páginas cada. Editado
pela Unesco e o Negro Brasileiro
Interdisciplinares sobr
e traduzido no Brasil
com apoio de de São Paulo, pu-
(NE INB), da Universida
da UFMG, que está dis ponível para
blicou a Coleção Perc
epções da Diferença,
s
e abordam diferente
download no link: série com 10 livros qu
étnico-racial. Pode
www.unesco.org/new
/pt/b rasilia/ aspectos da questão
usp.b r/neinb/
about-this-office/sing
le-view/ ser baixado em: www.
or y_ of_africa_ ?page_id=129
news/general_hist
ese_pdf_
190 collection_in_portugu
only/
l u s ã o d e c u rso
11. conc
Assim, alunos e alunas do curso de extensão Parabéns a todos que superaram os obstáculos
Quadrinhos em Sala de Aula: estratégias, e desafios de sua rotina para ficar ao nosso lado
instrumentos e aplicações, concluímos os 12 durante o curso. Chegou a hora da Avaliação Final.
módulos propostos. Esperamos que possamos comemorar a alegria
Esperamos que o estudo tenha sido de má- da certificação de cada um dos milhares de inscritos.
ximo proveito. Para nós da Uane/FDR, esse en- O que nos resta é gratidão.
contro com vocês foi de grande aprendizado. O que fica é a educação!
Acreditamos poder afirmar isso também pelos
nossos valorosos conteudistas. Coordenação Uane/FDR
O entusiasmo, a contribuição, a participação,
a busca do saber e do conhecimento que nós as-
sistimos durante esses últimos meses nos foi en-
corajador e de grande incentivo. Fazemos parte
da vida de vocês, como vocês fazem parte agora
desse patrimônio histórico que construímos du-
rante 35 anos de exercício na dura e encantado-
ra arte de educar.

referências
BRASIL. Lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a IBGE. “População chega a 205,5 milhões com menos brancos e
Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece mais pardos e pretos. Disponível em https://agenciadenoticias.
as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/
currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da te- 18282-pnad-c-moradores.html Acesso em: 16 mar. 2018
mática “História e Cultura Afro-Brasileira”, e dá outras provi- LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert S. Escravismo no
dências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Brasil. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial do Estado de São
leis/2003/L10.639.htm. Acesso em: 14 mar. 2018. Paulo, 2010.
BRASIL. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. Altera a Lei MOURA, Clóvis. As injustiças de Clio: o negro na his-
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei nº toriografia brasileira. Belo Horizonte: Oficina de Livros,
10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes 1990
e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História PANTERA Negra. Direção: Ryan Coogler. Estados Unidos:
e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: http:// Marvel Studios, 2018.
www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2008/lei-11645-10-marco- UNFPA – FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS.
2008-572787-publicacaooriginal-96087-pl.html. Acesso em: População negra tem os piores indicadores sociais, aler-
14 mar. 2018. ta UNFPA no Dia pela Eliminação da Discriminação Racial.
CONE – COORDENADORIA DOS ASSUNTOS DA POPULAÇÃO Disponível em http://www.unfpa.org.br/novo/index.php/no-
NEGRA DA PREFEITURA DE SÃO PAULO. III Fórum do Ensino ticias/ultimas/1501-populacao-negra-tem-os-piores-indicado-

191
Superior sobre os Desafios para o Ensino de História e Cultura res-sociais-alerta-unfpa-no-dia-pela-eliminacao-da-discrimi-
Africana e Indígena. São Paulo: Faculdade São Camilo, 2011. nacao-racial Acesso em: 16 mar. 2018
Nobu Chinen (Autor)
é publicitário e professor universitário. Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da
USP (ECA-USP), pesquisador e membro do Observatório de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP, autor de livros cor-
porativos e de obras teóricas sobre Design Gráfico, Comunicação e Histórias em Quadrinhos, entre os quais Linguagem
HQ Conceitos Básicos (2011) e Linguagem Mangá: conceitos básicos (2013), pela Editora Criativo. É coorganizador das
Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos.

CRISTIANO LOPEZ (Ilustrador)


é desenhista, Ilustrador e quadrinista. É desenhista-projetista do Núcleo de Ensino a Distância da Universidade de Fortaleza
e ilustrador e chargista freelancer para o jornal Agrovalor, revista Ponto Empresarial (Sescap-CE) e Editora do Brasil.

Este fascículo é parte integrante do projeto HQ Ceará 2, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Prefeitura Municipal de
Fortaleza, sob o nº 001/2017.

Expediente
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidência | Marcos Tardin Direção Geral | UNIVERSIDADE ABERTA DO
NORDESTE Viviane Pereira Gerência Pedagógica | Ana Paula Costa Salmin Coordenação Geral | CURSO QUADRINHOS EM SALA DE AULA:
Estratégias, Instrumentos e Aplicações Raymundo Netto Coordenação Geral, Editorial e Preparação de Originais | Waldomiro Vergueiro
Coordenação de Conteúdo | Amaurício Cortez Edição de Design | Amaurício Cortez, Karlson Gracie e Welton Travassos Projeto Gráfico |
Dhara Sena Editoração Eletrônica | Cristiano Lopez Ilustração | Emanuela Fernandes Gestão de Projetos ISBN 978-85-7529-853-4 (coleção)
978-85-7529-879-4 (volume 12)

Todos os direitos desta edição reservados à:

Apoio Realização
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP 60055-402 - Fortaleza- Ceará
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax: 3255.6271
fdr.org.br | fundacao@fdr.com.br

Você também pode gostar