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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
M347d Martins, Thaiza Caldeira
Design gráfico na moda: produto e comunicação. Uma
análise sobre a coleção “Tudo é risco de giz” de Ronaldo
Fraga. / Thaiza Caldeira Martins. – 2011.
122f.: il.; 30 cm.
Agradeço ao meu amigo José Roberto e sua esposa Silvia, pela grande ajuda.
Agradeço à CAPES por ter viabilizado, por meio de uma bolsa de estudo,
o meu grande sonho de realizar esse Mestrado.
Charlie Chaplin
RESUMO
ABSTRACT
-9-
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1.3.1 Branding 49
1.3.2 Convites 52
1.3.4 Embalagens 61
BIBLIOGRAFIA 115
- 10 -
LISTA DE FIGURAS
- 19 -
CAPÍTULO I
DESIGN GRÁFICO E MODA
CAPÍTULO I
DESIGN GRÁFICO E MODA
1.1 Marca e Produto
- 28 -
As campanhas publicitárias constituem outro exemplo de projeto
reproduzido por meio gráfico e que tem por objetivo a comunicação
e divulgação de produtos de moda. Nesses casos apontados há uma
imbricação de funções, que tornam as divisões em categorias estanques
insuficientes e pouco esclarecedoras para abordar uma coleção como,
por exemplo, a de Ronaldo Fraga.
O entendimento do design gráfico como projeto demonstra sua
necessidade de planejamento, pois não se trata somente da utilização de
elementos visuais. Assim como a moda necessita de um planejamento
para a realização de seu produto, o design gráfico também precisa
planejar o agrupamento dos elementos que compõem seus produtos de
10. Icograda (Conselho
Internacional de Associações modo a alcançar seus objetivos. O design gráfico deve conter fotografias,
do Design Gráfico) é
constituída por profissionais textos, ilustrações e outros elementos devidamente combinados em um
de design e comunicação.
Fundada em 1963, é uma
mesmo trabalho. Porém, podemos indagar se a presença isolada de
reunião voluntária que organiza algum desses elementos pode caracterizar a inexistência de um projeto.
interessados em design gráfico,
comunicação visual, gerência Para Villas-Boas (2003, p.12), baseado no documento final do simpósio
de design, promoção, educação,
pesquisa e o jornalismo. do International Council of Graphic Design Associations (Icograda)10,
Figura 13 – Exemplo de
caderno de esboço.
SEIVEWRIGHT,
2009, p. 99.
- 33 -
Em uma coleção, a pesquisa do designer de moda, assim como
do designer gráfico e de superfície, resulta numa grande quantidade de
material visual. Após coletadas todas as informações, é preciso compilá-
las de uma forma que fique visivelmente fácil entendê-las para um melhor
aproveitamento de todas as informações. Nesse momento, a presença do
designer gráfico pode ser muito útil para o designer de moda. O designer
gráfico pode ajudar tanto na pesquisa de imagens e referências, como na
18. Em palestra “Influência organização visual desse material. Existem inúmeras possibilidades de
Japonesa na Moda”, Erika
Ikezili declarou que montava
trabalhar o processo criativo da coleção. Cada profissional tem a sua
painéis para a compilação forma de trabalhar, alguns montam painéis, outros fazem cadernos de
das informações pesquisadas.
Palestra ministrada do dia 10 esboço, colagens ou desenhos.
de dezembro 2009 no Espaço
Cultural Fundação Japão. A estilista Erika Ikezili18 declarou realizar grandes painéis para
a compilação das fotos, referências e materiais pesquisados. A compilação
19. FRAGA, Ronaldo. Rio
da Arte. Entrevista concedida da pesquisa pode ser tão proveitosa para coleção, como para outros
a Lia Hama. Revista Trip.
n. 194, 17 nov. de 2010.
projetos. Ronaldo Fraga19 declarou no final de 2010 que tem como
Disponível em: <http:// futuro projeto a realização de um livro com seus cadernos de anotações
revistatrip.uol.com.br/
revista/194/reportagens/rio- para as coleções.
de-arte.html>. Acesso em:
15 dez. 2010. Depois de selecionadas todas as informações, os designers passam
a editar suas ideias para o desenvolvimento da coleção. No caso das
estampas, pode ocorrer o desenvolvimento de uma estampa principal e
posteriormente são criadas outras estampas que irão compor a coleção.
Figura 15 – Desfile Ronaldo Mas isso depende muito de cada estilista. Nas coleções realizadas por
Fraga Primavera/Verão
2009/2010.
Ronaldo Fraga, as inúmeras estampas apresentadas em uma coleção
Agência Fotosite. 2009. parecem ter todas o mesmo peso e importância.
Disponível em: <http://ffw.com.
br/desfiles/sao-paulo/verao- Com o refinamento das ideias, os croquis passam de desenhos
2010-rtw/ronaldo-fraga/home/>.
Acesso em: 20 mai. 2010. básicos para ilustrações elaboradas e posteriormente para desenhos
- 34 -
técnicos. Geralmente os croquis são feitos à mão pelos próprios estilistas
e depois transportados para o computador, de modo que fiquem prontos
para futuras inserções gráficas. Nem sempre os estilistas utilizam os
programas gráficos, e o trabalho de repassar os croquis para o computador
e finalizá-los de forma que possam ser impressos em alta resolução pode
ser uma grande perda de tempo para o estilista. Nesses casos, é mais
coerente o uso de um profissional de design gráfico para essa função.
Os desenhos técnicos também devem ser feitos pelo designer gráfico e
servem como fonte de informações detalhadas do produto.
Algumas empresas trabalham com designers gráficos inseridos
em sua equipe e outras terceirizam esse serviço. Seja qual for a situação,
é visível sua importância. Existe ainda a possibilidade de uma empresa
trabalhar com um designer gráfico interno e outros externos. Ronaldo
20. A Designlândia iniciou Fraga utiliza os serviços da Designlândia20 para o desenvolvimento
suas atividades em outubro
de 2002. Formada por duas de todo o material gráfico da empresa e trabalha com diferentes
diretoras – Fabiana Ferraresi e
Paola Menezes – e uma equipe profissionais para a criação das estampas das coleções. Dependendo do
de designers. Já ganharam
diversas premiações nacionais
volume ou estilo de trabalho, o fato de o designer ser terceirizado não
de design, entre elas: 1º lugar compromete o trabalho desenvolvido. Cada empresa deve estar atenta às
no 5º prêmio Max Feffer de
Design na categoria Editorial suas necessidades.
com o livro “Drummond
Selecionado e Ilustrado por Visto que as imagens inseridas nos produtos de moda
Ronaldo Fraga” e Finalista na
8ª Bienal de Design Gráfico normalmente referenciam o tema da coleção, as estampas são as opções
com o livro “Drummond
Selecionado e Ilustrado por mais utilizadas pelos designers de moda para apresentar e demonstrar
Ronaldo. Fraga” Disponível
em: <http://www.designlandia. essas ideias no produto. Mas elas não são as únicas. Veremos adiante
com.br/>. Acesso em:
05 set. de 2009.
que existem outras possibilidades de representar através do produto a
proposta da marca junto a seus consumidores.
Na concepção de moda como projeto de uma coleção, o design
gráfico está definitivamente presente na comunicação e promoção desse
produto. No que diz respeito ao produto em si, o correto é afirmarmos
que os trabalhos gráficos são resultado, na maioria das vezes, do design
de superfície. Isso não quer dizer que o design gráfico não participe da
concepção do produto; ao contrário, a atuação de um pode estar em
muitos momentos relaciona à atuação do outro. Mas é especialmente
pelo viés do design de superfície que o design gráfico interfere na
construção da roupa.
- 35 -
1.2 Design gráfico e de superfície no produto de moda
Figura 17 – Estampa
bolacha Maria.
Coleção Ronaldo Fraga para
Filhotes. Posteriormente a
estampa virou inspiração para a
criação de material gráfico.
Disponível em: <http://
newyorkmodel.blogspot.com/>.
Acesso em: 05 nov. 2010.
Figura 18 – Sapatos
Christian Louboutin.
Fotografia Diário de
Acessórios. Disponível em:
<http://www.diariode
acessorios.com.br/?s=sapato
+christian+louboutin>.
Acesso em: 07 jun. 2010
Figura 32 – Etiqueta
informativa.
Informações obrigatórias
de uma etiqueta segundo
informativo criado pelo site do
PROCON. Disponível em:
<http://www.procon.sp.gov.br/
texto.asp?id=2321>.
Acesso em: 20 jul. 2010.
Figura 33 – Etiqueta
padrão ecológico.
Na imagem da esquerda
a etiqueta informa que o
produto foi feito com algodão
orgânico, sem agrotóxico na
sua produção. Na imagem da
direita, a etiqueta indica que a
peça pode ser reciclada.
Disponível em: <http://
www.helvetia.com.br/
etiquetandoamoda/category/
ecologico/>.
Acesso 20 jul. 2010. Assim como os botões, as etiquetas podem ser feitas de diversos
materiais, com aplicações, recortes e personalizações. A criação da
Figura 34 – Etiqueta etiqueta deve ser realizada conforme o tipo de tecido da peça, o design
informativa sobre a peça.
Arquivo pessoal. e a proporção da roupa. No caso das etiquetas externas, a criação pode
estar relacionada ao tema ou linha da coleção, como collection, jeans
- 46 -
wear, feminino ou masculino. Uma peça de tecido fino requer uma
Figura 35 – Etiquetas em couro. etiqueta também de tecido delicado, caso contrário a etiqueta poderá
Diversos modelos para diferentes
marcas. Disponível em: <http:// estragar o tecido da roupa. As possibilidades são inúmeras e podem
www.etiquetasnacional.com.br/
index.php?option=com_content& abranger diferentes técnicas.
view=article&id=38&Itemid=21>.
Acesso em: 20 jun. 2010.
Figura 39 – Filigranas.
Desenvolvidas pela designer
Ligia Pires para coleção verão
2009 da Cavalera. Disponível
em: <http://lygiapires.
wordpress.com/page/3/>.
Acesso em: 20 abr. 2010. Além das etiquetas, especificamente os jeans contêm um tipo de
design importante para a composição das
calças: trata-se das filigranas33, uma
costura feita para os bolsos de calças. Em
algumas marcas, o uso da filigrana é
bastante variado, com inúmeras
possibilidades de design e aplicações de
fios diferenciados, como prata e ouro.
Nas roupas também existem as
ferragens e aviamentos que podem ser
- 47 -
aplicados nas peças, como: zíperes, chapas de metal decorativas e rebites.
As chapas de metal são pouco usadas; os rebites, inexpressivos quanto
a suas possibilidades de personalização, devido a sua pequena área de
superfície. Já os zíperes estão presentes em um grande número de roupas
Figura 40 – Rebite e acessórios, e podem ser configurados de inúmeras formas, inclusive
personalizado.
Arquivo pessoal. com puxadores personalizados.
Figura 42 – Puxadores
para zíperes.
Pequena amostra em
materiais diversificados. Em todas as categorias citadas, a contribuição de um designer
Disponível em: <http://www.
maxbrindes.com.br/index.php? gráfico pode ser muito valiosa. Basicamente, o objetivo de um design
home=brindestipo&tipoprodu
to=Acess%F3rios%20para%20
gráfico, seja qual for o projeto, é comunicar de maneira eficiente e
Confec%E7%E3o& esteticamente agradável. Em muitos dos exemplos demonstrados, o
produto=Promocionais>.
Acesso em: 20 jul. 2010. trabalho de criação envolve não só uma ordem estética, mas também
a possibilidade de informação e divulgação da marca. As proporções,
cores, materiais, desenhos e mensagens devem ser considerados para a
aquisição de resultados adequados à unidade conceitual da coleção. São
detalhes que fazem a diferença, agregando valor ao produto final.
Figura 46 – Cartão
Ronaldo Fraga.
Designlândia.
Disponível em: <http://
www.designlandia.com.
br/site.html>. Acesso
em: 05 abr. 2010.
- 51 -
1.3.2 Convite
- 53 -
escolha de utilizar uma faca especial desenvolvida para o desenho do
peixe, o pedaço de jornal e o barbante cria uma sensação, mais próxima
do real, de que aquele pedaço de papel era realmente um peixe
embrulhado em jornal.
Em todos os convites, os aspectos gráficos estão sempre explorados
para contribuir com o tema e sua unidade conceitual. Essa sincronia
e essência ajudam a compor a identidade visual e o gerenciamento
da marca. Assim como outras peças gráficas realizadas pela marca,
os convites para o desfile possuem qualidade criativa e produtiva que
transcendem o propósito da informação, tornando-se materiais visuais
guardados como recordação.
- 55 -
1.3.3 Lookbook e catálogo
- 59 -
de elementos gráficos antes quase nunca usados, como desenhos,
grafismos, diferentes imagens e cores.
Um último exemplar que gerou grande repercussão no mercado
45. FREUDENTHAL,
Carmem. apud. HESS, Jay; Os primeiros lookbooks que fizemos para Bernhard Willhelm
PASZTOREK, Simone; eram apenas uma coleção de fotografias com um grampo
tradução BETTONI, Rogério.
Design gráfico para moda. juntando tudo. Depois de um par de lookbooks começamos a
São Paulo: Edições Rosari,
2010. p.158. pensar sobre leiaute e tipografia para enriquecer o visual45.
- 60 -
1.3.4 Embalagens
47. Joint venture ou Outra possibilidade é criar embalagens limitadas a alguma ação
empreendimento conjunto é
uma associação de empresas, específica ou que estejam associadas a uma temporada. Nesses casos,
que pode ser definitiva ou
não, com fins lucrativos, para a identidade visual da marca é abordada de forma menos evidente. A
explorar determinado(s)
negócio(s), sem que nenhuma
empresa pode estabelecer uma criação limitada ou um joint venture47
delas perca sua personalidade representando um personagem e desenvolvendo um produto específico
jurídica. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/ que requer uma embalagem própria. Existem marcas que criam
Joint_venture>. Acesso em:
02 Jan. 2011. embalagens exclusivas para uma única temporada. Quando isso ocorre, é
provável que essas embalagens estejam formuladas conforme os padrões
do tema e da unidade conceitual da coleção.
Como exemplo de embalagens específicas a um determinado
produto, podemos citar a parceria estabelecida entre o designer Tom
Dixon e a Lacoste, na linha Holliday Collector’s Series. Dixon criou em
parceria com a marca, uma dupla de camisetas que explora a relação
conflitante e ao mesmo tempo complementar estabelecida entre ecologia
e tecnologia. As camisetas foram desenvolvidas com matérias-primas
Figura 57 – Embrulho para
camisetas Eco Polo e Techno
distintas uma da outra. A Eco Polo foi realizada com uma única cor
Polo. Disponível em: <http:// índigo, em algodão orgânico e tingida à mão com corantes naturais da
lovelypackage.com/lacoste-–-
ecotechno-polo-shirts/>. Índia. Já a Techno Polo é cinza escuro, feita a partir da combinação de aço
Acesso em:
02. Jan. 2011. inoxidável, algodão e lurex.
- 64 -
1.3.5 Materiais diversos
Figura 69 – Embalagem
Miolo e Ronaldo Fraga para
o inverno 2009. Disponível
em: <http://www.tainafiori.
blogspot.com/>.
Acesso em: 17 nov. 2010
- 67 -
CAPÍTULO II
MARCA, IDENTIDADE VISUAL E
ESTILO NO DESIGN GRÁFICO PARA MODA
CAPÍTULO II
MARCA, IDENTIDADE VISUAL E
ESTILO NO DESIGN GRÁFICO
PARA MODA
A marca de uma empresa faz parte de seu patrimônio. Não se
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53. SEMPRINI, Andrea. A O poder semiótico da marca consiste em saber selecionar os
marca pós-moderna: poder
e fragilidade da marca na elementos no interior do fluxo de significados que atravessa
sociedade contemporânea.
o espaço social, organizá-los em uma narração pertinente e
São Paulo: Estação das Letras.
Editora, 2006, p. 106 atraente e propô-los a seu público53.
- 70 -
esclarece que o produto pode ser elemento-chave da concretização de
um projeto de marca.
A marca que assina cada peça de roupa criada por um estilista
é fundamentada numa série de relações de ordem social, industrial
e cultural. Uma simples assinatura tem, por trás de sua aparente
apresentação, uma estrutura complexa de concepção. Comunicar
ao consumidor o propósito esperado requer muito planejamento.
Uma marca isolada, sem conceito, sem contexto, sem produto e sem
identidade, não significa nada. Assim como em qualquer área de
atuação, as empresas de moda precisam criar esse contexto para o
logotipo, conferindo uma identidade e um significado coerente com
cada produto produzido e campanha desenvolvida.
54. FRAGA, R. Ronaldo Fraga54 aponta a questão da marca relacionada ao conceito e a
Fraga: A moda é a leitura do
tempo. Entrevista concedida a um código capaz de traçar um perfil:
Anna Ruth Dantas. Tribuna
do Norte. 28 mar. 2010.
Disponível em: <http://www. [...] Eu prefiro achar que você tem marcas que são direcionadas
tribunadonorte.com.br/noticia/
ronaldo-fraga-a-moda-e-a- pelo conceito. É determinado grupo que vai comprar aquela
leitura-do-tempo/144162>.
Acesso: 15 out. 2010. roupa pelo que ela expressa, pelo canal de comunicação dela.
Agora sempre a marca, ou a roupa de marca, será um dos
códigos de qualquer sociedade para traçar o perfil.
- 71 -
55. MASCIO, Antonella. Nos últimos anos, o sistema de comunicação de massa passou
Moda e meios de comunicação
de massa. In Estudar a moda: por grandes mudanças, concernentes, sobretudo, às novas
corpos, vestiário, estratégias.
possibilidades de interação entre as redações e seus públicos.
SORCINELLI, Paolo. (Org.);
MALFITANO, Alberto; Em geral, a lógica do contrato de comunicação unilateral,
PRONI, Giampaolo. (Col.);
AMBROSIO, Renato. (Trad.) estabelecido pela relação entre uma emissora e muitos
São Paulo: Senac, 2008, p.169
destinatários, está dando lugar à lógica de network, baseada na
possibilidade de construir uma relação bidirecional55.
- 74 -
sempre correspondendo à identidade visual da marca e ao conceito da
coleção. A visão lúdica, o uso de imagens gráficas presentes nas estampas
da coleção, os formatos inovadores, o uso de materiais diferenciados
como tecido e cordão, os acabamentos com dobras e facas especiais, são
alguns dos recursos utilizados para a criação dos convites mantendo o
padrão criativo instaurado na identidade da marca.
O release da coleção acompanha as mesmas características do
63. Originária do grego convite e até mesmo o web site mantém a mesma proposta. Na seção da
“logos” = palavra e “tupos”
= impressão. “Forma gráfica página web composta por suas coleções, apesar da inicial falta do nome
específica para uma palavra,
de modo a caracterizá-la com da coleção, fica fácil identificar através das iconografias utilizadas a qual
uma personalidade própria”
(COSTA E SILVA, 2002,
coleção elas se referem.
p.155). A abreviação “logo”, Para as grandes empresas o trabalho de identidade visual é
usada de modo coloquial,
também caracteriza um geralmente levado muito a sério. Existe um controle rígido para o uso
símbolo gráfico de uma marca
projetado para representá-la. adequado da identidade estabelecida. No mercado da moda, o logotipo63
da empresa e toda sua comunicação visual são um importante fator para
a construção da identidade da marca. Newark (2009, p.124) explica que
o logotipo “é somente uma parte da identidade de uma organização”.
64. Nesse caso, o autor se Newark também explica que “identidade corporativa”64 abrange não
refere à identidade corporativa
em seu aspecto visual e não somente a maneira como o logotipo é utilizado, mas também como os
como identidade de marca. No
mesmo sentido, Costa e Silva
outros elementos o são. Uma vez que uma empresa tem sua marca e
(2002 p.155) utiliza “imagem logotipo aplicados em diversos meios, como produtos, anúncios, convites,
corporativa” e a define como
“Representação formada pelo releases, papelarias e mídia espontânea, é importante estabelecer uma
conjunto das percepções em
relação a uma empresa ou linguagem visual que esteja coerente em todos esses meios.
instituição, tanto a partir de
seus consumidores como de Nas empresas menores, a preocupação pela manutenção da
seus funcionários, ou ainda de
outros grupos de interlocutores linguagem visual pode ser menos praticada. Os administradores das
e do mercado como um todo”.
pequenas empresas nem sempre têm conhecimento da área ou condições
estruturais e financeiras para estabelecer um projeto estratégico para uso
da marca. Além disso, no caso das empresas menores, as possibilidades
de veiculação da marca ou produto são geralmente menos intensas do
que as praticadas pelas empresas de grande porte. No que diz respeito às
pequenas empresas, Sarquis65, afirma que:
67. COELHO, Luiz Antonio Nas artes e no design, Luis Antonio Coelho67 define estilo como:
L. (Org.). Conceitos-chave
em design. Rio de Janeiro:
PUC-Rio Novas Idéias, Uso sistemático de elementos ou técnicas, através de uma
2008. p. 35.
linguagem ou sistema simbólico, na produção de sentido. O
estilo descreve as várias características que dão a uma coisa
as qualidades que a separam de outras coisas do mesmo tipo.
É um elemento identitário individual, grupal ou relativo a
períodos históricos ou épocas.
- 79 -
A visão do estilo relacionado à moda e ao gosto do consumidor
é importante, pois por um lado de análise pode caracterizar o sucesso
ou fracasso de um produto. Cristiane Mesquita (2009, p. 6) afirma que
é em torno dos campos do marketing, da publicidade, do design e da
moda, que o estilo está fortemente submetido à circulação.
Tanto o marketing quanto a publicidade são responsáveis por
delinear o estilo como perfis de pessoas e, consequentemente, de
consumidores. Os grupos formados por esses diferentes perfis são
divididos conforme os tipos de personalidades, hábitos de compras e
escolhas pessoais. Sob esse aspecto, o estilo passou a ser uma orientação
da variável do comportamento humano. O propósito principal dessa
“padronização” de estilos de vida é guiar as empresas na fabricação e
Figura 72 – 1º Encontro de venda de seus produtos ou serviços, bem como no relacionamento com
estilo, elegância e equilíbrio
Práticas e reflexões sobre o os diversos tipos de consumidores.
Universo da moda e consumo
contemplando também as Em seu livro Marketing e Moda, o especialista em marketing
necessidades das pessoas com
deficiência visual. Marcos Cobra dedica um capítulo inteiro somente para falar de estilo de
Disponível em: <http://www.
fundacaodorina.org.br/fdnc/
vida e comportamento. Cobra (2007, p.79) esclarece que a importância em
email_mkt/encontro_estilo/ compreender o comportamento do consumidor se deve primeiramente
encontro.html>. Acesso em: 20
mai. 2010 ao fato de as estratégias de marketing estarem baseadas em pesquisas de
comportamento de compra de artigos dominados pelas regras da
moda. Em segundo lugar, porque as estratégias de comunicação
devem considerar o que o consumidor deseja ouvir. E, por fim,
porque a venda deve estar focada no consumidor de moda.
72. FRAGA, Ronaldo. Eu acho que se você tem a pretensão de que o seu trabalho seja
Entrevista Ronaldo Fraga:
segunda parte. Charme Funk.
reconhecido e tenha o mínimo de autoria, de criação, não tem
07 abr. 2010 Disponível em: como ele não ser autobiográfico. Não tem como você deixar
<http://charmeefunk.com/
site/2010/04/07/segunda- de registrar no seu trabalho algo do seu olhar pessoal e da sua
parte-ronaldo-fraga/>. Acesso
em: 10 mar. 2010 visão de mundo72.
- 82 -
A marca Ronaldo Fraga também mantém sua proposta de estilo
no decorrer de suas coleções. Através do diálogo da cultura brasileira
com o mundo contemporâneo, Fraga criou uma forma muito própria
de fazer moda, com autoria difícil de ser classificada em um estilo já
determinado. No entanto, essa dificuldade em classificá-lo diante das
nomeações de estilos existentes não é exatamente um problema.
Seus desfiles repletos de significados são uma conjunção de
fatores que compõem seu estilo, sua identidade como marca e sua lógica
de criação. Embora Fraga retrate universos muito distintos – do Rio São
Francisco à China –, todos eles tem uma característica muito própria da
marca. A cada nova coleção uma nova proposta, com referências
imagéticas distintas e resultados visuais – silhuetas, estampas, botões,
cabelos, maquiagens, sapatos, acessórios – diferenciados, mas em todos
os casos cumprindo sua mensagem estilística.
74. apud. KALIL, Gloria. Embora possa parecer algo simples, o estilo influi de forma decisiva na
Mulheres Fictícias. In:
FRAGA, Ronaldo.
composição da unidade conceitual. A assertividade, no que diz respeito
coleção Moda Brasileira à identidade da marca Ronaldo Fraga, é consequência da proposta de
Ronaldo Fraga. São Paulo:
Cosac Naify, 2007,p.9. criar roupas e produtos baseados no estilo e conceito da marca.
- 84 -
de 2005/06, em homenagem à costureira mais antiga de sua equipe,
Fraga utilizou diferentes formas de criar texturas e estampas. Foram
realizados “[...] corações rendados cortados a laser, decalques de flores
e passarinhos e sobreposições que simulavam uma prova de roupa”
(FRAGA, 2007 p.98).
As formas, os volumes, as estampas, os temas e todos os demais
elementos necessários para a criação de uma coleção de moda compõem
uma infinidade de combinações que devem corresponder à proposta da
marca e à unidade conceitual de sua coleção. Diversas possibilidades
de criação geram outras tantas combinações. Considerando que o
mercado da moda lança a cada ano duas coleções compostas por
inúmeros modelos, não é tarefa fácil criar novos produtos com temas
distintos e ainda manter a identidade visual coerente com a proposta
da marca. Toda essa profusão de informações e combinações parece não
causar nenhum problema de identidade ou incoerência criativa para a
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CAPÍTULO III
A UNIDADE CONCEITUAL DA COLEÇÃO
APLICADA NA MARCA RONALDO FRAGA
CAPÍTULO III
A UNIDADE CONCEITUAL DA
COLEÇÃO APLICADA NA
MARCA RONALDO FRAGA
Ao discorrer sobre o envolvimento do design gráfico junto ao
mercado da moda, avaliamos com especial enfoque o trabalho realizado
pela marca Ronaldo Fraga. Os desenvolvimentos gráficos e visuais
acrescidos aos produtos e utilizados para a comunicação da marca
contribuem para o posicionamento junto ao mercado consumidor. Neste
capítulo, iremos transpor todo os conceitos analisados anteriormente
sob a ótica exclusiva do estilista Ronaldo Fraga. Também avaliaremos o
projeto e resultados adquiridos pela coleção “Tudo é risco de giz” para
o inverno de 2009. Serão analisadas as características da coleção, os
valores culturais que a compõem e as relações estabelecidas entre essas
características e a moda sugerida pelo estilista Ronaldo Fraga.
3. 1. Ronaldo Fraga
78. Casting em inglês significa O tema e o conceito estão presente na cenografia do desfile, na
distribuição de papéis. Na
linguagem coloquial da moda, composição da trilha sonora, nos convites, na maquiagem do casting78, na
é a formação de um conjunto
de modelos escolhidos para o fachada da loja, na comunicação, nas etiquetas e tags que acompanham
desfile.
as roupas e acessórios de cada coleção realizada pela marca. Trata-se
da composição de sua unidade conceitual feita com a colaboração de
diversos profissionais. Segundo Garcia79:
79. GARCIA, Carol. Por uma Os arabescos são complexos e, talvez por isso, Ronaldo Fraga
poética do lugar-comum. In. não tenha um stylist, mas sim uma rede de colaboradores que
FRAGA, Ronaldo. Coleção
Moda Brasileira Ronaldo vão costurando suas fábulas em várias linguagens a partir da
Fraga. São Paulo: Cosac Naify,
2007. p.81 paisagem conceitual que oferta: designers gráficos, músicos,
arquitetos. É ele próprio, contudo, quem coordena cada
passo: rabisca os cenários, sugere a trilha sonora e propõe as
performances para desfiles emocionantes e espetaculares.
80. FRAGA, Ronaldo. No que diz respeito ao processo de pesquisa e criação desenvolvido
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia para suas coleções, Fraga80 afirma que parte do princípio “[...] de que a
Luz. Simplesmente Elegante.
31 mai. 2009. Disponível em: moda pode estabelecer um diálogo com todas as frentes de cultura” e
<http://simplesmenteelegante.
com/?p=3392>. que a forma como desenvolve suas coleções faz parte desse princípio. O
Acesso em: 11 jun. 2010
estilista finaliza explicando que isso é muito pessoal: “A minha forma de
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81. FRAGA, Ronaldo. pesquisar e pensar moda não é a certa, não é única, é a minha forma”81.
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia A pesquisa também está relacionada a diversos itens importantes
Luz. Simplesmente Elegante.
31 mai. 2009. Disponível em: que compõem o produto. A busca por materiais é um desses itens que
<http://simplesmenteelegante.
com/?p=3392>. influenciam diretamente na criação das roupas. Para alguns estilistas, os
Acesso em: 11 jun. 2010.
materiais vêm antes do tema; para outros, vêm depois. Ronaldo Fraga
descreve essas possibilidades ao se comparar com Márcia Ganem82;
82. Márcia Ganem é uma segundo ele, no caso de Ganem “a pesquisa de material é de extrema
estilista baiana, que vem se
destacando no cenário da moda importância; para mim, o material vem depois da pesquisa do tema a
brasileira. “Márcia Ganem
expressa em seu trabalho um ser desenvolvido”83. A opção de pesquisar materiais posteriormente à
diálogo entre moda, arte e
joalheria, com a aplicação de definição do tema, de acordo com Fraga, deve-se ao fato de ele precisar
materiais e técnicas especiais,
resultantes do seu processo de
do tempo, do contexto e do universo referente ao assunto pesquisado.
pesquisa e desenvolvimento.
A pesquisa por tendências também está sempre evidenciada no
Uma destas técnicas, hoje marca
registrada da estilista, é o uso mercado da moda. Fraga revela ter uma visão crítica com relação à moda
da Fibra de Poliamida reciclada,
seja ela na cor natural, tingida criada sob o aspecto do que outros países elegem como tendência.
ou trabalhada com pedras
semi-preciosas” (GANEM. M
Disponível em: <http://www.
marciaganem.com.br/>. Temos, neste caso, duas indústrias fortes: a indústria da roupa e
Acesso em 10 dez. 2010). a indústria da moda. A indústria da roupa fica o tempo inteiro
de olho naquilo que as indústrias estão precisando consumir.
83. FRAGA, Ronaldo. Determinada anilina, que está encalhada, determinado fio,
Entrevista: Ronaldo Fraga. para o qual é preciso estimular uma demanda. A indústria
Entrevista concedida a Márcia
Luz. Simplesmente Elegante. da moda não. Ela tem um olhar sobre o tempo que estamos
31 mai. 2009. Disponível em:
<http://simplesmenteelegante. vivendo84.
com/?p=3392>.
Acesso em: 11 jun. 2010
Segundo Fraga, a busca por tendências é algo que está mudando
com o tempo, e esse comportamento está associado às novas necessidades
84. FRAGA, Ronaldo.
Ronaldo Fraga: moda com do mercado consumidor e à construção da marca de uma empresa. “Há
humor, ousadia e crítica
social. Entrevista concedida a alguns anos, todo mundo só se preocupava com tendências. Hoje há
Marco Lacerda. Dom Total.
12 fev. 2009. Disponível uma valorização do olhar individual de cada estilista. O mercado cobra
em: <http://www.domtotal.
com/entrevistas/detalhes. isso. É urgente a construção da alma da marca”85.
php?entId=14>.
Acesso em: 20 mai 2010
Os elementos do design gráfico apresentados nas superfícies
têxteis, nos produtos e nos materiais de comunicação são resultado
das pesquisas realizadas. São interpretações do tema realizadas por
85. FRAGA, Ronaldo. O
quintal do Ronaldo. Karla meio de elementos visuais e desenvolvidos tanto no produto quanto
Matida. Novidadeiras. 19
jun.2007. Disponível em: na comunicação da marca. Essa prática possibilita a continuidade e
<http://novidadeiras.blogspot.
com/2007/06/o-quintal-do- associação do produto com a comunicação da loja, e de ambos com o
ronaldo.html>. Acesso em:
20 mai 2010 tema da coleção, criando assim uma unidade conceitual.
- 89 -
Figura 77 – Divulgação Feira Em sua coleção “O Turista Aprendiz” lançada para primavera/
de Passira 2010. Disponível
em: <http://aventurapassira. verão 2011, Ronaldo Fraga se inspirou na obra de Mário de Andrade
blogspot.com/search?updated-
min=2010-01-01T00%3A (1893-1945), que entre 1927 e 1929 realizou uma série de viagens
00%3A00-08%3A00&
updated-max=2011-01- etnográficas aos estados do Norte e Nordeste Brasileiro. Os registros da
01T00%3A00%3A00-
08%3A00&max-results=11>.
viagem com hábitos locais e imagens produzidas pelo escritor resultaram
Acesso em: 10 dez. 2010. na criação e publicação do livro O turista aprendiz.
Fraga se diz um turista aprendiz e ao realizar uma viagem baseada
na viagem de Mário de Andrade, o estilista, assim
como o autor, coletou uma série de registros como
forma de transformá-los em referências para o
desenvolvimento da coleção. Esse trabalho de
transposição conceitual traduzido em informação
de moda caracteriza a marca Ronaldo Fraga. Ao
Figura 85 – Camiseta
visualizamos os sapatos desenvolvidos com um ar infantil e humorístico
Ronaldo Fraga para em ambas as coleções.
filhotes. Disponível
em: <http://4.
bp.blogspot.com/_
QVzjBsT0wmk/
TB_rO6-radI/
AAAAAAAAC3I/
ky3HFTlw9jw/
s1600/012ronaldo5.
jpg>. Acesso em:
10 dez 2010.
Figura 86 – Sapato
feminino Ronaldo
Fraga para filhotes.
Disponível em:
<http://guiadobebe.
uol.com.br/
novidades/bibi_
por_ronaldo_fraga_
para_filhotes.htm>.
Acesso em:
10 dez 2010.
Figura 87 –
Croquis Ronaldo
para coleção Rio
São Francisco.
Disponível em:
<http://
namidiacom.
wordpress.
com/2008/06/17/
preview-verao-08-
09-ronaldo-fraga/>.
Acesso em:
10 Dez. 2010.
Figura 90 – Roupas e
acessórios desenvolvidos para
linha Chiclets. Disponível
em: <http://justlia.mtv.uol.
com.br/2010/08/chiclets-by-
ronaldo-fraga/>. Acesso em:
10 Dez. 2010.
- 94 -
3. 2. Coleção “Tudo é Risco de Giz”
- 96 -
Figura 95 – Imagem Liliane P. O espetáculo Giz, criado em 1988, é realizado com bonecos
Pré-estréia do espetáculo
“Giz”, do grupo Giramundo grandes, suportados por cabides de madeira. Quase todos os bonecos
Teatro de Bonecos.
13 ago. 2008. http:// são maiores do que os próprios manipuladores, que participam e
www.flickr.com/photos/
lilianep/2764860154/in/set- atravessam a cena, sem qualquer preocupação em serem vistos. Uma
72157608001367024/
Acesso em: 20 ago. 2010.
proposta diferente do que normalmente o Giramundo desenvolvia,
mas a peculiaridade se deve sobretudo à narrativa. O
texto verbal está em segundo plano, e a comunicação
com o público é realizada principalmente através da
visualidade. São imagens e cenas aparentemente
desconexas. Juntando as peças, o espetáculo procura
transmitir a ideia de abandono e fragilidade dentro das
relações familiares.
Em 2008, o espetáculo foi remontado com os
desenhos e a concepção original criada por Álvaro
Apocalypse. Porém, o Grupo fez algumas atualizações
técnicas e estruturais nos projetos. Para essa nova
montagem, Ronaldo Fraga foi responsável pelo
desenho dos figurinos dos marionetistas, uma vez que
97. FRAGA, R. Confira os mesmos ficam tão presentes e visíveis em cena.
entrevista com o estilista
Ronaldo Fraga. Entrevista Segundo Fraga97, com sua participação no processo de
concedida a Gesane Lucchesi.
Ragga Drops, seção drops, remontagem do espetáculo, surgiu a ideia de criar uma coleção baseada na
12 mar. 2009. Disponível
em: <http://www.new.
obra Giz, de Apocalypse. Fraga queria usar o mesmo tema de “abandono
divirta-se.uai.com.br/html/ e desamparo”. Para retratar o universo do espetáculo, o Grupo esclarece
sessao_16/2009/03/12/
ficha_drops_noticia/id_ de que forma o tempo e o abandono se estabelecem na apresentação.
sessao=16&id_noticia=8609/
ficha_drops_noticia.shtml>.
Acesso em: 12 dez. 2009.
É como quando se viaja por muito tempo e para bem longe: se
fecha a casa e se cobrem os móveis com lençóis. O tempo escorre
98. GIRAMUNDO -
CD-ROM, 2001 apud.
e tudo se cobre de poeira. A vida dorme. Ah, o tempo... O tempo
MEDEIROS, Fábio H. N. passa e tanto passa que até as sereias envelhecem. Mas não
Fonteiras invisíveis e territórios
movediços entre o teatro de abandonam o velho charme. Afinal, o amor não é exclusividade
animação contemporâneo e as
artes visuais: a voz do pincel
de belos e lindos. Na casa vazia, os fantasmas da família cultivam
de Álvaro Apocalypse. 2009. zelosamente tédio e neurose. Ora, a humanidade eterniza erros
194f. Dissertação (Mestrado
em Teatro) - Universidade enquanto ratos roem um passado de glórias98.
do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, 2009. p. 77.
Disponível em: <http://www.
tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.
O valor do tempo é outra característica que aproxima o espetáculo
php?codArquivo=1955>. Giz da proposta de trabalho de Ronaldo Fraga. Frequentemente, o
Acesso em: 23 nov. 2010.
- 97 -
estilista refere-se à moda como uma forma de falar de memórias sobre
algo que já passou, como um documento eficiente do nosso tempo.
99. FRAGA, Ronaldo. É nesse universo, nesse diálogo, que vou falar de uma saudade
Entrevista Ronaldo Fraga:
segunda parte. Charme Funk.
de um tempo que se foi, de saudade de um tempo que nem
07 abr. 2010 Disponível em: veio e que provavelmente nem virá. As pessoas vêem isso como
<http://charmeefunk.com/
site/2010/04/07/segunda-parte algo nostálgico, mas não é isso: eu tenho saudade daquilo que
-ronaldo-fraga/>. Acesso em:
10 mar. 2010
eu gostaria de viver no futuro e que eu tenho quase certeza que
a gente não vai viver99.
100. RESENDE, Douglas Essa busca pela memória e passado não resulta numa visão
Giramundo remonta peça
“atemporal”. O Tempo. de moda ultrapassada. Ao contrário, o trabalho realizado por Fraga
Contagem. 15 ago. 2008.
Disponível em: <http://www. como forma de registro desse tempo, faz com que suas coleções sejam
otempoonline.com.br/otempo/
noticias/?IdEdicao=1019&IdC
consideradas atemporais. Segundo Garcia (2007, p.71), “enquanto
anal=4&IdSubCanal=&IdNoti a maioria mirava o horizonte, borbulha de memórias afetivas foram
cia=87722&IdTipoNoticia=1>.
Acesso em: 20 abr. 2010. construindo pontes entre Ronaldo Fraga e o interior de si, do país onde
nasceu e da espécie à qual pertence”.
101. Tyvek® é o não tecido Para a criação do figurino do espetáculo, Fraga100 argumenta
da DuPont composto
por filamentos contínuos
que os desenhos criam a ideia de “operários do futuro”. Segundo o
de polietileno de alta estilista, “Esse espetáculo do Álvaro já traz tudo pronto. Ele tem
densidade, 100% puro,
extraordinariamente forte e uma atemporalidade, poderia acontecer em qualquer época”. Fraga
resistente ao rasgo,
à perfuração e à água. explica que a escolha do tyvek101, material sintético resistente, para a
confecção dos figurinos, se deu pela “instabilidade e inconstância” de
que fala o espetáculo.
Figura 98 – Desenhos de
Álvaro Apocalypse para
o espetáculo Giz - Fonte:
Arquivos Giramundo
Apud. MEDEIROS, Fábio
H.N. Fonteiras invisíveis
e territórios movediços
entre o teatro de animação
contemporâneo e as artes
visuais: a voz do pincel de
Álvaro Apocalypse. 2009.
194f. Dissertação (Mestrado
em Teatro) - Universidade
do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, 2009. p. 82.
Disponível em: <http://www.
tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.
php?codArquivo=1955>.
Acesso em: 23 nov. 2010.
Figura 101 – Desenhos de Álvaro Figura 102 – Imagem da primeira Figura 103 – Imagem
Apocalypse para o espetáculo Giz - montagem do espetáculo Giz - recordada do original
Fonte: Arquivos Giramundo apud. Fonte: Arquivos Giramundo apud. de Liliane P. Pré-
MEDEIROS, Fábio H. N. Fonteiras MEDEIROS, Fábio H. N. Fonteiras estréia do espetáculo
invisíveis e territórios movediços entre invisíveis e territórios movediços entre “Giz”, do grupo
o teatro de animação contemporâneo e o teatro de animação contemporâneo e Giramundo Teatro de
as artes visuais: a voz do pincel de Álvaro as artes visuais: a voz do pincel de Álvaro Bonecos. 13 ago. 2008.
Apocalypse. 2009. 194f. Dissertação Apocalypse. 2009. 194f. Dissertação Disponível em: <http://
(Mestrado em Teatro) - Universidade do (Mestrado em Teatro) - Universidade do www.flickr.com/
Estado de Santa Catarina, Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Florianópolis, photos/lilianep/276486
2009. p. 69. Disponível em: <http:// 2009. p. 69. Disponível em: <http:// 0154/in/set-7215760
www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo. www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo. 8001367024/>.
php?codArquivo=1955>. php?codArquivo=1955>. Acesso em:
Acesso em: 23 nov. 2010. Acesso em: 23 nov. 2010. 20 ago. 2010.
- 103 -
antecipa um espetáculo teatral ou de dança de um grupo do qual se é
seguidor fiel e encantado”. A produção feita para o desfile “Tudo é Risco
de Giz” recria o contexto do qual Fraga diz precisar.
- 109 -
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
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