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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

THAIZA CALDEIRA MARTINS

O DESIGN GRÁFICO NA MODA: PRODUTO E COMUNICAÇÃO.


UMA ANÁLISE DA COLEÇÃO “TUDO É RISCO DE GIZ”, DE RONALDO FRAGA.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

MESTRADO EM DESIGN
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

São Paulo, março/ 2011.


UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

THAIZA CALDEIRA MARTINS

O DESIGN GRÁFICO NA MODA: PRODUTO E COMUNICAÇÃO.


UMA ANÁLISE DA COLEÇÃO “TUDO É RISCO DE GIZ”, DE RONALDO FRAGA.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação


Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design.

Orientadora: Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos

São Paulo, março/2011


UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

THAIZA CALDEIRA MARTINS

O DESIGN GRÁFICO NA MODA: PRODUTO E COMUNICAÇÃO.


UMA ANÁLISE DA COLEÇÃO “TUDO É RISCO DE GIZ”, DE RONALDO FRAGA.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação


Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design:

Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos


Orientadora
Mestrado em Design Anhembi Morumbi

Profa. Dra. Sandra Maria Ribeiro de Souza


Examinadora Externa
Universidade de São Paulo

Profa. Dra. Kathia Castilho


Examinadora Interna
Universidade Anhembi Morumbi

São Paulo, março/ 2011


Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem autorização do autor.

THAIZA CALDEIRA MARTINS

Graduada em Propaganda e Marketing pela


Universidade Paulista (2000). Especialização em
comunicação corporativa pela Universidade de
São Paulo (2004). Larga experiência profissional
em comunicação visual, especialmente em moda.


M347d Martins, Thaiza Caldeira
Design gráfico na moda: produto e comunicação. Uma
análise sobre a coleção “Tudo é risco de giz” de Ronaldo
Fraga. / Thaiza Caldeira Martins. – 2011.
122f.: il.; 30 cm.

Orientador: Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos.


Dissertação (Mestrado em Design) – Universidade Anhembi
Morumbi, São Paulo, 2011.
Bibliografia: f.115-122.

1. Design gráfico. 2. Moda. 3. Comunicação.


4. Movimento. Título.
CDD 741.6
Dedico este trabalho aos meus pais Delpho e Tereza,
às minhas irmãs Carolina e Erika, ao meu grande amor
Edgard e à minha querida vovó Lucia.
Agradeço aos meus pais Delpho e Tereza,
e à minha irmã Carolina, por todo o amor e incentivo.

Agradeço ao meu grande amor Edgard, por seu companheirismo e paciência

Agradeço à minha querida vovó Lucia, por sua eterna ternura.

Agradeço às minhas tias Iracema e Malu, por sempre me ajudarem.

Agradeço aos meus sogros Elza e Luiz Antonio, pelo carinho.

Agradeço especialmente à minha orientadora


Profa. Dra. Gisela Belluzzo de Campos.

Agradeço ao coordenador Jofre Silva e aos professores Kathia Castilho,


Claudia Teixeira Marinho e Mauro Baptista,
pelos ensinamentos transmitidos.

Agradeço aos meus amigos Gustavo Reis e Simone Assis,


por inúmeras conversas, apoio e incentivo.

Agradeço a todos os meus colegas de curso, que de alguma forma me ajudaram e


me incentivaram, em especial à Annelise da Fonseca, Ary Scapin,
Heloísa Omine, Kenny Zukowski e Maria Luiza Mariano.

Agradeço ao meu amigo José Roberto e sua esposa Silvia, pela grande ajuda.

Agradeço ao professor Aníbal Foco, por ter concedido a


oportunidade de realizar meu estágio docência em suas aulas.

Agradeço à Antonia por toda atenção, respeito e prontidão


em me ajudar e sanar minhas dúvidas.

Agradeço à Universidade Anhembi Morumbi.

Agradeço à CAPES por ter viabilizado, por meio de uma bolsa de estudo,
o meu grande sonho de realizar esse Mestrado.

Obrigado a Deus e Nossa Senhora Aparecida.


Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades.
Lembrai-vos de que as grandes proezas da história
foram conquistas do que parecia impossível.

Charlie Chaplin
RESUMO

Esta pesquisa tem como propósito abordar a participação do design


gráfico na moda, contribuindo com o desenvolvimento de produto e
a comunicação da marca. Para a realização desse enfoque, analisamos
as inserções gráficas no produto e os materiais gráficos desenvolvidos
para as campanhas de comunicação da marca. Analisamos com especial
enfoque o trabalho realizado pelo estilista Ronaldo Fraga em sua coleção
“Tudo é risco de giz” para o outono/inverno 2009.

PALAVRA-CHAVE: Design gráfico, moda, comunicação.

ABSTRACT

This research is intended to address the participation of graphic


design in fashion, contributing to product development and brand
communication. To accomplish this approach, we analyzed the
insertions in the graphic product and graphic materials developed for
the brand communication campaigns. Reviewed with special focus the
work of the designer Ronaldo Fraga in his collection “Everything’s
scratch of chalk” for autumn/winter 2009.

KEYWORDS: Graphic design, fashion, communication.

-9-
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 14

1 DESIGN GRÁFICO E MODA 20

1.1 Marca e produto 21

1.2 O design gráfico e de superfície nos produtos de moda 36

1.3 O design gráfico na comunicação de uma coleção de moda 48

1.3.1 Branding 49

1.3.2 Convites 52

1.3.3 Lookbook e catálogo 56

1.3.4 Embalagens 61

1.3.5 Materiais diversos 65

2. MARCA, IDENTIDADE VISUAL E ESTILO NO DESIGN GRÁFICO PARA MODA 68

3. A UNIDADE CONCEITUAL DA COLEÇÃO APLICADA NA MARCA RONALDO FRAGA 86

3.1 Ronaldo Fraga 87

3.2 Coleção “Tudo é Risco de Giz” 95

CONSIDERAÇÕES FINAIS 110

BIBLIOGRAFIA 115

- 10 -
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Coleção Dzarm Primavera/Verão 2008-2009 022


Figura 2 Desfile Fabia Bercsek Primavera/Verão 2007/2008. 022
Figura 3 Desfile Christian Dior Primavera/Verão 2004-2005. 022
Figura 4 Gráfico Unidade Conceitual da Coleção. 024
Figura 5 Caixa personalizada Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2007. 025
Figura 6 Desfile Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2007 Coleção “China”. 025
Figura 7 Desfile Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2007 Coleção “China”. 025
Figura 8 Camiseta personalizada para Ronaldo Fraga. 028
Figura 9 Camiseta Nike personalizada. 028
Figura 10 Botão flexível de metal. 029
Figura 11 Botão personalizado. 029
Figura 12 Desfile Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2005. 032
Figura 13 Exemplo de caderno de esboço. 033
Figura 14 Ronaldo Fraga no Instituto. 033
Figura 15 Desfile Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2009/2010. 034
Figura 16 Camiseta Prada e Pradalphabet. Foto divulgação. 037
Figura 17 Estampa bolacha Maria. 038
Figura 18 Sapatos Christian Louboutin. 039
Figura 19 Parede interna da loja Ronaldo Fraga São Paulo. 040
Figura 20 Fachada Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2010. 040
Figura 21 Passarela Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2006/2007. 040
Figura 22 Desfile Ronaldo Fraga Coleção Primavera/Verão 2010/2011. 043
Figura 23 Estampa localizada Ronaldo Fraga. 044
Figura 24 Botões diversos. 044
Figura 25 Desfile Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2009/2010. 045
Figura 26 Bermuda Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2009/2010. 045
Figura 27 Detalhe para o botão personalizado. 045
Figura 28 Botão calça Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2006/2007. 045
Figura 29 Detalhe do botão Primavera/Verão 2006/2007. 045
Figura 30 Botão com uso da marca. 045
Figura 31 Botão com uso da marca. 045
Figura 32 Etiqueta informativa. 046
Figura 33 Etiqueta padrão ecológico. 046
Figura 34 Etiqueta informativa sobre a peça. 046
Figura 35 Etiquetas em couro. 047
Figura 36 Etiqueta interna. 047
Figura 37 Etiqueta interna. 047
Figura 38 Etiqueta interna. 047
Figura 39 Filigranas. 047
11
Figura 40 Rebite personalizado. 048
Figura 41 Puxadores em metal. 048
Figura 42 Puxadores para zíperes. 048
Figura 43 Etiqueta, botão e postal Acne. 050
Figura 44 Ronaldo Fraga. Foto Marcelo Barroso. 051
Figura 45 Marca Ronaldo Fraga. Designlândia. 051
Figura 46 Cartão Ronaldo Fraga. Designlândia. 051
Figura 47 Convites Christian Lacroix. 052
Figura 48 Convite Ronaldo Fraga Inverno 2007. 053
Figura 49 Convite fechado Ronaldo Fraga Verão 2008/2009. 053
Figura 50 Convite aberto Ronaldo Fraga Verão 2008/2009. 053
Figura 51 Convite fechado Ronaldo Fraga Verão 2006/2007. 054
Figura 52 Convite aberto Ronaldo Fraga Verão 2006/2007. 054
Figura 53 Release Ronaldo Fraga Verão 2006/2007. 055
Figura 54 Release Ronaldo Fraga Verão 2008/2009. 055
Figura 55 Catálogo C&A Verão 2009/10. 058
Figura 56 Lookbook Prada Inverno 2010. 060
Figura 57 Embrulho camisetas Eco Polo e Techno Polo. 062
Figura 58 Tags camisetas Eco Polo e Techno Polo. 062
Figura 59 Projeto embalagem Havaianas Ronaldo Fraga. 063
Figura 60 Embalagem finalizada Havaianas Ronaldo Fraga. 063
Figura 61 Embalgem fechada linha infantil Ronaldo Fraga. 063
Figura 62 Embalgem aberta linha infantil Ronaldo Fraga. 063
Figura 63 Embalagem Ronaldo Fraga feita em tecido. 064
Figura 64 Papel de seda Ronaldo Fraga. 064
Figura 65 Sacola Ronaldo Fraga. 064
Figura 66 Linha Tok&Stok Ronaldo Fraga. 065
Figura 67 Embalagem Miolo e Ronaldo Fraga para o verão 2009. 066
Figura 68 Campanha Miolo e Ronaldo Fraga para o verão 2009. 066
Figura 69 Embalagem Miolo e Ronaldo Fraga para o inverno 2009. 066
Figura 70 Campanha Miolo e Ronaldo Fraga para o inverno 2009. 066
Figura 71 Lata Neve Ronaldo Fraga. 067
Figura 72 1º Encontro de estilo, elegância e equilíbrio. 080
Figura 73 Desfile Ronaldo Fraga Outono/Inverno 2007. 083
Figura 74 Desfile Ronaldo Fraga Primavera/Verão 2010. 083
Figura 75 Coração “rendado” usado pear ilustrar o convite. 084
Figura 76 Coração “rendado” aplicado na peça. 084
Figura 77 Divulgação Feira de Passira 2010. 090
Figura 78 Frente tag para coleção Primavera/Verão 2011. 090
Figura 79 Verso tag com coleção Primavera/Verão 2011. 090
Figura 80 Tag para a coleção infantil Ronaldo Fraga. 091
Figura 81 Tag para a coleção Outono/Inverno 2010. 091
Figura 82 Desfile Coleção Primavera/Verão 2010/2011. 092
Figura 83 Fachada da loja Ronaldo Fraga em São Paulo. 092
Figura 84 Croquis Ronaldo Fraga para filhotes. 093
12
Figura 85 Camiseta Ronaldo Fraga para filhotes. 093
Figura 86 Sapato feminino Ronaldo Fraga para filhotes. 093
Figura 87 Croquis Ronaldo para coleção “Rio São Francisco”. 093
Figura 88 Camiseta Ronaldo Fraga “liga pontos”. 093
Figura 89 Sapato feminino Ronaldo Fraga coleção Nara Leão. 093
Figura 90 Roupas e acessórios Ronaldo Fraga Chiclets. 094
Figura 91 Cartaz primeira montagem Giz. 096
Figura 92 O logo do Grupo Giramundo. 096
Figura 93 O cartaz nova montagem Giz. 096
Figura 94 Transporte Giramundo para espetáculo Giz. 096
Figura 95 Imagem Liliane P. Pré-estréia do espetáculo “Giz”. 097
Figura 96 Imagem Liliane P. Bastidores do espetáculo “Giz”. 098
Figura 97 Imagem Liliane P. Bastidores do espetáculo “Giz.
 099
Figura 98 Desenhos de Álvaro Apocalypse para o espetáculo Giz. 099
Figura 99 Painel formado pelos desenhos do Álvaro Apocalypse. 099
Figura 100 Desfile “Tudo é Risco de Giz”. 099
Figura 101 Desenhos Apocalypse para o espetáculo Giz. 100
Figura 102 Desenhos Apocalypse para o espetáculo Giz. 100
Figura 103 Pré-estréia do espetáculo “Giz” 100
Figura 104 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 101
Figura 105 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 101
Figura 106 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 102
Figura 107 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 102
Figura 108 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 102
Figura 109 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 102
Figura 110 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 102
Figura 111 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 103
Figura 112 Desfile inverno 2009 coleção “Tudo é risco de giz”. 103
Figura 113 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 114 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 115 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 116 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 117 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 118 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 119 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 120 Acessórios desfile coleção “Tudo é risco de giz”. 105
Figura 121 O lado lúdico do desfile de Ronaldo Fraga. 106
Figura 122 Convite e release da coleção “Tudo é risco de giz”. 106
Figura 123 Convite e release da coleção “Tudo é risco de giz”. 106
Figura 124 Convite e release da coleção “Tudo é risco de giz”. 106
Figura 125 Convite e release da coleção “Tudo é risco de giz”. 106
Figura 126 Convite e release da coleção “Tudo é risco de giz”. 106
Figura 127 Ronaldo Fraga passarela do desfile “Tudo é risco de giz”. 107
Figura 128 Fachada da loja Ronaldo Fraga em São Paulo. 109
Figura 129 Fachada da loja Ronaldo Fraga em Belo Horizonte P 109
13
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

O design gráfico está inserido no universo da moda1 de diversas


1. No contexto dessa maneiras e permeia momentos distintos da prática profissional:
dissertação, entendemos moda
como uma atividade que vai no projeto, no desenvolvimento e na veiculação dos produtos.
além da concepção, fabricação
e comercialização de roupas Considerando as aplicabilidades na vestimenta e na forma como esse
e acessórios. Trata-se de uma
indústria importante para a produto é comunicado para venda aos seus consumidores, é possível
economia de diversos países,
porém a fabricação de seus identificar a forte presença do design gráfico na moda, sobretudo em
produtos envolve inúmeras
outras questões que não
dois momentos: na criação ou formação do estilo e na construção da
somente as possibilidades comunicação da marca.
industriais. A moda é também
uma forma de expressão Esta pesquisa visa trabalhar a questão da inserção do design
influenciada por questões
sociais e culturais. gráfico na moda e sua presença como uma atividade fundamental para a
formação de uma identidade e conceito de marca. Cada empresa possui
seu sistema ou forma de trabalho e gestão de sua marca. Não temos aqui
a pretensão ou objetivo de determinar uma sistematização ou modo
como o design gráfico deve atuar dentro de uma organização. Nossa
proposta é investigar de que maneira o design gráfico contribui para a
criação de uma coleção de moda, tanto na esfera do produto como na
comunicação com seus públicos internos e externos.
Para tanto serão analisadas peças gráficas integrantes das
roupas – estampas, etiquetas, botões, tags, ferragens – e peças gráficas
que compõem a campanha de comunicação de uma coleção de moda
– convites, embalagens, catálogos, etiquetas, lookbooks, entre outras.
A realização desses produtos e materiais impressos é concebida com a
participação intensa do design gráfico.
A motivação para pesquisar esse assunto deu-se, principalmente,

2. A palavra moda também


pelas constantes relações que normalmente são estabelecidas entre
caracteriza produtos que as duas áreas – design gráfico e moda – na cadeia de produção, na
se destacam por seu alto
grau de consumo como, por configuração visual da marca e na venda do produto. Também é possível
exemplo, telefones celulares,
superfícies estampadas para observarmos o design gráfico em outros produtos que compõem o
eletrodomésticos, relógios,
notebooks e, até mesmo, carros. segmento de consumo de moda2, além dos acima mencionados. Nosso
especial interesse está em avaliar a participação do design gráfico nas
3. A criação de uma coleção marcas fabricantes de roupas e acessórios.
de moda é resultado do
desenvolvimento de um Em moda, a criação de uma coleção3 é baseada nos princípios da
conjunto de peças de roupas
para uma determinada estação. identidade da marca e estabelecida pelo viés do estilo adotado por essa
- 15 -
marca. A união dessas duas bases faz com que o tema e o conceito da
coleção estejam acima de tudo associados aos princípios da empresa e
imagem da marca.
A representação de um tema aliado ao seu conceito de criação
é, normalmente, o que determina os caminhos a serem seguidos para o
desenvolvimento dessa coleção. Os produtos – roupas e acessórios – são
realizados com base na sustentação do tema escolhido.
O processo de criação é elaborado conforme a atuação de cada
designer. Independente da forma como cada estilista trabalha, esse
processo perpassa por alguns pontos inevitáveis para o desenvolvimento
de qualquer coleção de moda. A determinação do tema, do conceito, e
a pesquisa de materiais e estampas, são alguns dos pontos de destaque
para a realização de qualquer coleção. No decorrer da execução dessas
tarefas, o design gráfico compõe diversas etapas agregando valor na
criação dos produtos.
As referências imagéticas baseadas no tema e conceito da coleção
são representadas de diversas formas. Essas podem ser referenciadas no
design da roupa, nos materiais escolhidos, nos tecidos, nas estampas,
na apresentação do desfile, nos convites, entre outras possibilidades.
O resultado adquirido com o uso dessas referências pode caracterizar
algumas criações gráficas que, possivelmente, serão reproduzidas do
início ao fim do processo de concepção do produto e comunicação para
venda da coleção.
A utilização do mesmo desenho ou imagem por áreas distintas
é uma prática corriqueira no mercado da moda. Estampas de roupas
viram convites, botões são transformados em carimbos, croquis são
usados como estampas ou adesivos para decoração de superfícies, e
embalagens de produtos viram estampas, tudo com uma certa facilidade.
Esses intercâmbios facilitam o processo de concepção de uma unidade
criativa. A representação gráfica dessas imagens em diferentes suportes
– da roupa à comunicação – traduzem e transmitem os propósitos do
tema e do conceito estabelecido pela coleção.
A proposta de mostrar como as etapas – produção e comunicação
– estão ligadas pelo viés do design gráfico determina o aspecto estratégico
desse último. A criação do produto e a comunicação da marca estão
- 16 -
relacionadas entre si. Uma depende da outra para seus respectivos
desenvolvimentos.
Investigamos, nesta dissertação, as possíveis formas de criação
de uma coleção, buscando mostrar a importância de uma direção de
criação única, que esteja envolvida em todas as etapas e nas quais reforce
seus alicerces criativos. O design gráfico nesse contexto se faz presente
nas diversas etapas do processo, desde os primeiros passos criativos até a
comercialização do produto, passando por sua produção.
Diante dessas possibilidades, nosso objetivo é evidenciar
a participação estratégica do design gráfico e a importância de
uma unidade de criação na qual produto e comunicação estejam
envolvidos. A perspectiva para análise do design gráfico, como parte do
desenvolvimento de produto de uma coleção e criação de imagem de
marca de uma indústria de moda, foi realizada especialmente com base
no trabalho desenvolvido pelo estilista Ronaldo Fraga.
Diversos autores escreveram sobre moda e design gráfico, mas
poucos são os que relacionam as duas áreas do modo proposto acima.
Normalmente a relação entre esses temas restringe-se ao uso do design
gráfico na padronagem de superfícies, limitando-se aos padrões de
desenvolvimento de produto têxtil, ou pelo uso de suas embalagens.
Na presente dissertação, tratamos do design gráfico, presente na
concepção para o desenvolvimento do produto e na comunicação para
comercialização, como parte da gestão estratégica da indústria de moda.
Ao relacionar o design gráfico à moda e sua marca, o principal
problema concernente ao tema pode ser resumido em duas questões
principais: a primeira diz respeito às contribuições gráficas que formam o
estilo e atuam na comunicação do produto para a conceituação da marca
junto ao seu público; a segunda estabelece de que forma a identidade da
marca e o conceito da coleção podem ser representados graficamente a
ponto de agregar valor e contribuir para a comunicação estabelecida na
construção da imagem da marca.
De um modo geral, as equipes de estilo têm como objetivo
criativo dar vida aos conceitos predeterminados para a futura coleção.
Já, com as vendas, cabe aos departamentos de comunicação e marketing
acompanhar esse processo criativo, de modo que possam transmiti-lo
- 17 -
ao consumidor. O trabalho de divulgação da coleção será resultado da
articulação de todos os processos de comunicação para transmissão dos
conceitos de criação da marca. O foco da pesquisa está, justamente, em
apresentar a inserção do design gráfico na moda, seja na área de estilo,
seja na comunicação da marca.
As hipóteses levantadas não são muitas, mas vitais para a
confirmação da participação estratégica do design gráfico na moda. Nossa
perspectiva de análise é mostrar que o design gráfico de fato agrega valor
ao produto de moda, e que por conta disso, é uma ferramenta estratégica
para o desenvolvimento de novos produtos.
Na esfera da comunicação, nossa análise pretende avaliar a
participação do design gráfico na construção da marca e sua contribuição
para a formação de uma identidade visual.
Nosso objetivo geral é mostrar a relevância da aplicação do
design gráfico de modo coerente e integrado às várias etapas de criação
de uma coleção de moda. Como objeto de estudo será pesquisado e
analisado o desenvolvimento da marca Ronaldo Fraga.
A escolha por estudar a marca Ronaldo Fraga deu-se
principalmente por conta do trabalho realizado pelo estilista. As coleções
realizadas por Fraga, repletas de referências imagéticas, são resultado de
um processo criativo que traz à moda uma proposta diferente daquela a
que o mercado nacional está acostumado.
A marca Ronaldo Fraga é uma fonte singular para a investigação
do design gráfico aplicado à moda. As roupas produzidas pela marca estão
sempre carregadas de informações visuais e simbolismos relacionados
ao tema proposto pelo estilista. A marca une à proposta do estilo um
resultado elaborado de peças gráficas de comunicação e divulgação.
Para a compreensão dessa relação entre moda e design gráfico é
necessária a elucidação de alguns conceitos básicos de ambas as áreas.
Desse modo propomos no capítulo 1 a abordagem dos conceitos de
design gráfico e de moda. No capítulo 2 tratamos dos temas de identidade
de marca, identidade visual e estilo. O capítulo 3 traz uma análise do
trabalho realizado pelo estilista Ronaldo Fraga, mais especificamente da
coleção “Tudo é risco de giz” para a temporada de inverno de 2009.
Para elucidação da relação do design gráfico com a moda, o
- 18 -
presente estudo utiliza bases interdisciplinares como premissa para a
fundamentação teórica. Desse modo, levantamos conceitos de gestão de
design, definição de estilo, de marca, identidade visual, design gráfico,
design de superfície e desenvolvimento de produto. Como objetos de
análise, exploramos exemplos de produtos e peças de moda nas quais
o design gráfico participa de modo efetivo. Para uma abordagem do
design e linguagem visual, a pesquisa se apoia nos conceitos utilizados
por autores tanto da área de design gráfico como de moda, uma vez que
a proposta é abordar não somente a participação do design gráfico na
concepção das roupas, mas também em sua comercialização.
Como procedimentos práticos foram realizadas visitas a lojas de
diferentes marcas, especialmente à de Ronaldo Fraga, para observação
de produto e consumo. Com base em todas as análises estabelecidas e
nos exemplos avaliados, essa dissertação mostra-se relevante, dados os
poucos estudos que tratam da relação entre o design gráfico e a moda.

- 19 -
CAPÍTULO I
DESIGN GRÁFICO E MODA
CAPÍTULO I
DESIGN GRÁFICO E MODA
1.1 Marca e Produto

As relações entre a moda e o design gráfico são a cada dia mais


frequentes e evidentes. Nesta dissertação, observamos a participação do
design gráfico na moda sob o aspecto do desenvolvimento de produtos
para uma coleção de moda e sua consequente promoção e divulgação.
Esta pesquisa aponta e analisa situações e produtos em que essa relação
se estabelece, focando exemplos e estudos de caso, com o intuito de
verificar e explicitar a importância dos recursos gráficos e, em especial,
do design gráfico, para o universo da moda, tanto no que diz respeito ao
seu produto quanto no que concerne à comunicação de sua marca.
É possível observar que a moda, tal como a entendemos aqui, não
4. A relação entre
moda e design gráfico prescinde do design gráfico para a constituição de seu estilo ou para a
estabelecida neste trabalho
se refere, especialmente, afirmação da marca que a representa4. O design gráfico está presente no
ao conceitos relacionados
a contemporaneidade. No universo da moda constituindo um conjunto de informações atuantes na
entanto, historicamente
podemos observar já no veiculação de seus produtos em anúncios, blogs, websites, embalagens e,
século XIX o início da
idéia de marca registrada, a cada dia de modo mais intenso, também na configuração dos produtos
assinadas por etiquetas
personalizadas da maison de
propriamente ditos em tags, etiquetas, superfícies, estampas corridas e
Charles Frederick Worth. localizadas, entre outros.
Outro exemplo importante
é com relação à marca Louis Podemos dizer que, em alguns casos, essa atuação é de tal
Vuitton. Já no início de sua
trajetória, o sucesso dos modo importante e significativa, que o design gráfico aplicado à
produtos da marca fizeram
com que outras empresas moda é parte imprescindível para o desenvolvimento de uma coleção.
passassem a imitá-la. Para
impedir as falsificações A construção dessa coleção de moda apoiada nos princípios de sua
e marcar sua autoria, o
fundador Louis Vuitton proposta de criação, bem como na sua identidade como marca, só
desenvolveu desenhos
diferenciados nos produtos.
é possível graças a uma unidade de ideias, a qual chamaremos de
Em 1896, o monograma das unidade conceitual da coleção.
letras “L” e “V” foram criados
em conjunto com símbolos A palavra unidade quando aplicada na literatura e nas artes tem
que reproduziam flores. O
monograma continua sendo como significado a combinação ou coordenação das partes ou elementos
usado até hoje como marca
da empresa e o conjunto de uma obra de tal modo que constitua um todo harmonioso e produza
de símbolos constitui a
identidade visual da marca. um efeito singular. Podemos entender dessa forma que uma coleção de
Fonte: Wikipédia. Disponível
em: http://pt.wikipedia.org/ moda é como uma obra acabada. Nesse sentido, a coleção é desenvolvida
wiki/Louis_Vuitton Acesso
com base numa unidade conceitual na qual o design gráfico se faz presente
em: 05 jan. 2011
- 21 -
como um elemento capaz de contribuir para esse todo harmonioso, seja
Figura 1 – Coleção Dzarm pelo viés do produto ou da comunicação.
Primavera/Verão 2008-2009
Fotos divulgação. O conjunto de peças que compõem uma coleção de moda é
Disponível em: <http://
anba.achanoticias.com.br/ desenvolvido com base na determinação de um tema previamente
noticia_modaefranquia.
kmf?cod=7769973&indice=20>. escolhido. O corte das roupas, os tecidos, os materiais, os acessórios, as
Acesso: 27 nov. de 2010
estampas e os acabamentos são escolhidos conforme a proposta da
coleção, de forma que sejam coerentes com o tema determinado. O tema
é a base da unidade conceitual, sem ele não há como criar nada. Porém,
o tema sozinho não é capaz de determinar todos os aspectos da coleção.
Para a criação de uma unidade conceitual da coleção é preciso estabelecer
um conceito e uni-lo ao tema escolhido. O tema, basicamente, é o que
dá nome à coleção.
O conceito determina a ideia, a sensação que o estilista pretende
Figura 2 – Desfile Fabia transmitir com a coleção. Um mesmo tema pode ser explorado de
Bercsek Primavera/
Verão 2007/2008.
diferentes formas; é o conceito da coleção que irá distingui-lo. Tomamos
Disponível em: <http://chic. a titulo de exemplo o Egito antigo como tema da coleção. Podemos
ig.com.br/materias/438001-
438500/438457/438457_1. observar três estilistas que utilizaram o mesmo tema, mas que o retrataram
html>.
Acesso em: 27 nov. de 2010 de diferentes formas em suas coleções. A estilista Fabia Bercsek e a
marca Dzarm lançaram em diferentes estações coleções inspiradas no
Egito antigo. Outro exemplo que contempla o mesmo tema foi o desfile
de alta costura no ano de 2004 realizado pelo
estilista John Galliano para Christian Dior. O
fato de escolherem o mesmo tema não significa
que as coleções terão resultados semelhantes.
As marcas citadas possuem propostas
diferenciadas e desenvolveram coleções com
conceitos distintos. Nesses casos, não se trata
Figura 3 – Desfile John
Galliano para Christian Dior somente da escolha do tema, mas de como este
Coleção Primavera/Verão
2004-2005. Fotos Agencia
é abordado. Trata-se da união do conceito que
Reuters de Paris. Disponível cada proposta de coleção deseja transmitir com a identidade da marca.
em: <http://moda.terra.com.
br/interna/0,,OI256722- Os três exemplos acima demonstram como o mesmo tema pode
EI1119,00.html>.
Acesso em: 27 nov. de 2010. ser desenvolvido de diferentes formas e transmitir mensagens distintas. O
Egito da Dzarm é esportivo, jovem e descontraído. Fabia Bercsek mostra
uma mulher forte e sensual, e o Egito de John Galliano é glamoroso
e nobre. Os conceitos – esportivo, sensual e glamoroso – foram o que
- 22 -
determinou o teor de cada coleção. Para que o conceito seja representado
em toda a coleção até sua venda, é preciso criar uma integração ou
unidade incorporada a todas as peças, que é a unidade conceitual.
Cada estilista ou indústria de moda tem uma forma de trabalhar.
Estabelecer uma unidade conceitual nem sempre faz parte de um
processo sistematizado. Com o termo unidade conceitual, estamos
querendo demonstrar que, independente da forma como cada coleção de
moda é desenvolvida, para que ela seja coerente ao seu tema e proposta
de criação, percebemos a presença de um conceito capaz de guiar e
transmitir uma unidade de mensagem.
O desfile desenvolvido para apresentação da coleção é composto
por inúmeros recursos que, ao estarem alinhados à unidade conceitual,
transmitem com maior intensidade à proposta sugerida pela marca.
Glória Kalil demonstra a unidade conceitual desenvolvida por Ronaldo
Fraga para a realização dos desfiles:

5. KALIL, Gloria. Depois de se apaixonar por um tema, Ronaldo cuida


Mulheres Fictícias. In:
pessoalmente da cenografia, sempre surpreendente e
FRAGA, Ronaldo.
coleção Moda Brasileira completamente diversa da apresentação anterior, escolhe a
Ronaldo Fraga. São Paulo:
Cosac Naify, 2007, p.8. trilha sonora com carinho de quem tem uma ligação forte e
antiga com a música, pensa no cabelo e na maquiagem que
seus produtos vão usar, para depois vesti-los5.

A elaboração dessa unidade conceitual está extremamente


vinculada à concepção da marca e sua construção estratégica. O design
gráfico participa dessa construção por meio do exercício de sua função
tanto no produto como em sua comunicação. O design gráfico se mostra
como um elemento de grande importância para o desenvolvimento da
unidade conceitual de uma coleção e identidade da marca.
Para o melhor entendimento dessa relação estabelecida entre o
design gráfico, a identidade visual da marca, o tema e a conceito da
coleção, construímos um gráfico capaz de demonstrar essa perspectiva
resultando na construção de uma unidade conceitual da coleção.
De maneira semelhante, a concepção que estamos nomeando
unidade conceitual de coleção, Maria Celeste de Fátima Sanches (2008,
p.292) classifica como “Conceito Gerador”, no qual os produtos
- 23 -
representam a essência funcional e de estilo de forma integrada. Sanches
determina que, para a criação desse conceito, é necessário o
desenvolvimento de um planejamento como parte de uma estrutura
projetual traduzida por inúmeras informações (abstratas e concretas),
seguido de análise, síntese e avaliação. Para Sanches (2008, p.291), o
desenvolvimento de produto de moda se faz primeiro pelo viés do
planejamento, que dará subsídios às decisões adotadas no decorrer do
processo. É nessa fase que se cria o conceito capaz de gerar os princípios
funcionais e de estilo do conjunto para a criação e desenvolvimento dos
Figura 4 – Gráfico Unidade
Conceitual da Coleção. produtos, e consequentemente o desenvolvimento de coleção.

6. SANCHES, Maria Celeste [...] o Conceito Gerador será traduzido em referências de


de Fátima. Projetando moda:
diretrizes para a concepção de linguagem visual, captadas a partir daquilo que o estilismo
produtos. In: PIRES, Dorotéia
Baduy. (Org.). Design de normalmente denomina como tema, o qual servirá como fio
moda: olhares diversos. condutor de integração e harmonia do conjunto de produtos
Barueri: Estação das Letras e
Cores, 2008. p. 292 que são lançados simultaneamente6.
- 24 -
A percepção da inserção do design gráfico nas etapas da criação
de um produto e coleção de moda pode ser mais ou menos evidente, mas
nem sempre está clara sua função efetiva. Da concepção do produto a
sua apresentação na passarela, existem inúmeras formas de o design
gráfico marcar sua presença contribuindo para a unidade conceitual. São
Figura 5 - Caixa personalizada
desfile Ronaldo Fraga Outono/ pequenas aparições que, inseridas em um contexto, fazem grande
Inverno 2007. Coleção “China”.
Fotografia recortada do original diferença. Como exemplo, podemos citar o uso de uma simples
de NASEH, Charles. Disponível
em: <http://chic.ig.com.br/
embalagem, que pouco ou quase nada representa isoladamente. No
antigo/materias/412001- entanto, a mesma embalagem no contexto de uma coleção passa a
412500/412374/412374_1.html>.
Acesso em: 15 set. de 2010. adquirir um significado e contribui para dar sentido a uma expressão
criativa. Veremos no exemplo ao lado como a percepção do design
gráfico é potencializada à medida que visualizamos melhor o contexto.
Na primeira imagem, visualizamos uma pequena caixa
personalizada com uma representação gráfica e a assinatura do estilista
Ronaldo Fraga. Isso não diz muita coisa até visualizarmos a segunda e a
terceira imagem, que apresentam maior número de elementos visuais
sobre o contexto da coleção. A ambientação do desfile China – coleção
de inverno 2007 – foi composta por um grupo de pessoas com traços
Figura 6 – Desfile Ronaldo Fraga orientais vestidas com uniformes de trabalho com logotipos de grandes
Outono/Inverno 2007 (1)Coleção
“China”. Fotografia recortada
marcas gravados nas costas dos macacões. Essas pessoas representavam
do original de Charles Naseh. operários de uma fábrica chinesa. O grupo adentrou segurando pequenas
Disponível em: <http://chic.
ig.com.brantigo/materias/412001- caixas típicas de comida japonesa. Todos se posicionaram sentados em
412500/412374/412374_1.html>.
Acesso em: 15 set. de 2010. torno da passarela como se estivessem em volta de uma grande mesa de
almoço de uma fábrica. No decorrer do desfile o grupo simula um
almoço, como se estivessem comendo o conteúdo das caixas típicas de
comida chinesa. O que poderia ser um simples detalhe – as caixas
personalizadas – adquire força de expressão e contribui para contextualizar
o desfile e formar a unidade conceitual proposta pela coleção.
O fato de o design gráfico fazer parte desse todo de forma
atuante, tanto na configuração de seus produtos como na apresentação e
veiculação dos mesmos, coloca-o em uma importante posição dentro do

Figura 7 – Desfile Ronaldo Fraga


campo da moda.
Outono/Inverno 2007 (2) Coleção Para abordarmos essa relação iniciamos nossa pesquisa com
“China”. Fotografia Charles Naseh.
Disponível em: <http://chic. uma definição geral do que entendemos por design gráfico. Uma vez
ig.com.brantigo/materias/412001-
412500/412374/412374_1.html>. que o design gráfico está presente em diversas atividades, antes de
Acesso em: 15 set. de 2010.
- 25 -
relacionarmos especificamente ao universo da moda, primeiramente
faremos uma abordagem generalizada de seu campo de atuação.
Segundo a ADG7, o design gráfico é um processo técnico
7. ADG, Associação do Design
Gráfico, é uma instituição que e criativo que utiliza imagens e textos para comunicar mensagens,
tem como objetivo congregar
profissionais e estudantes para
ideias e conceitos, com objetivos comerciais ou sociais. A definição da
o fortalecimento do design ADG atende de forma global o que é o design gráfico e seus objetivos,
gráfico nacional. Disponível
em: <http://www.adg.org.br/ mas existem diversos autores que articulam suas próprias definições,
adgbrasil.php >.
Acesso em: 04 nov. 2009. especialmente quando relacionadas a outros campos de atuação.
Por se tratar de uma atividade predominantemente prática, é
comum a utilização dessas práticas como suporte para a definição do
design gráfico. No entanto, deve estar claro que a maioria dos autores
não negligenciam sua importância teórica. Segundo Hollis (2000, p.1)
o design gráfico é a arte de criar ou escolher marcas gráficas – como as
linhas de um desenho ou os pontos de uma fotografia – combinando-as
numa superfície qualquer para transmitir uma ideia. Para uma grande
parte dos discursos de profissionais da área, a atividade do design gráfico
está sempre calcada na técnica e na criatividade, explorando tanto o
conhecimento quanto a intuição.
No que diz respeito a seus objetivos, Hollis (2001, p.4) afirma
que a principal função do design gráfico é identificar: dizer o que é e
de onde veio determinada coisa. As funções secundárias e terciárias são
respectivamente informar e promover. Embora suas funções permaneçam
válidas por anos, passar para o papel, ou qualquer que seja o suporte de
utilização, uma mensagem coerente com seus objetivos é trabalhoso e
demanda conhecimentos multidisciplinares. Quando inserida em outro
campo de atuação, essa dificuldade é acrescida da necessidade de se
conhecer as especificidades dessa área. A importância não está somente
no conteúdo da informação, mas em como realizar essa comunicação e
de que forma alcançar o público a que se destina.
Segundo Dwiggings (apud. NEWARK, 2009, p.10) a função do
designer gráfico é apresentar a mensagem de forma clara, transmitindo as
ideias importantes sem deixar de serem percebidas as menos importantes.
Um pouco mais generalista, Newark (2009, p.6) acredita que o design
gráfico realiza diversas funções: classifica, diferencia, informa, atua em
nossas emoções e contribui para dar forma aos nossos sentimentos em
- 26 -
relação ao mundo que nos cerca. Segundo Newark essa característica
determina o design gráfico como universal, pois está por toda parte,
impondo significado ao mundo.
Ao tentarmos compreender para que exatamente serve o design
gráfico, fica claro que existem diversas funções para o mesmo; da venda
de ideias e produtos à orientação de indivíduos em seus ambientes,
muitas são as possibilidades para sua atuação. Alice Twemlow (2007,
p.6) analisa que o design gráfico está presente em todos os aspectos da
vida social, demonstrando a diversidade e penetração de seus produtos.

Os conteúdos de trabalho do design gráfico são: logotipos,


papelaria, design de fontes, layouts de livros e revistas, cartazes,
8. BONSIEPE, Gui. Design anúncios, etiquetas e embalagens, diagramas, sistemas visuais
do material ao digital.
de orientação, exposições, displays, manuais para identidade
Florianópolis: FIESC/IEL,
1997. p.146 corporativa8.

A inserção do design gráfico em diferentes atividades demonstra


sua capacidade de participação em inúmeros suportes, físicos ou virtuais.
Fuentes (2006, p.19) afirma que, seja em seus meios reais, impressos, ou
através de demonstrações virtuais, o design gráfico gerou uma estrutura
capaz de dar existência às atividades humanas compreendidas como
determinantes atuais do “desenvolvimento” social: o marketing, a moda,
as comunicações, o entretenimento e a educação.
Ao analisarmos o raciocínio de Fuentes junto a essas diferentes
atividades, notamos que de fato elas estão intrinsecamente ligadas ao
design gráfico, ou por meio do suporte criativo para seus produtos, ou
como facilitador de uma mensagem e informação. É válido notar que
a compreensão de Fuentes para a atuação do design gráfico esbarra em
9. No contexto dessa
dissertação, abordaremos o
três pilares base para criação dessa dissertação: a moda, o marketing9 e
marketing como uma ação a comunicação.
estratégica voltada para as
vendas, relacionada ao trabalho Todo o entendimento do significado e função do design gráfico
visual e de comunicação de
uma empresa. é importante para a compreensão de suas possibilidades de atuação no
mercado da moda. Para visualizarmos a presença do design gráfico na
moda é preciso somente uma pequena dose de curiosidade investigativa.
Passamos a analisar o que diz respeito à concepção da moda e facilmente
encontraremos a presença do design gráfico nas roupas, nas vitrines,
- 27 -
nos convites e em muitas outras formas nas quais a moda se manifesta.
Porém, visualizar a presença do design gráfico na moda não é o bastante
para compreender de que forma ocorre essa relação.
Mesmo diante de uma visão ampla de suas possibilidades,
identificamos a real presença do design gráfico quando é notório o uso
de um projeto. A realização de um trabalho de design gráfico demanda
um desenvolvimento projetual anterior à sua finalização. O designer,
antes mesmo de iniciar a criação, determina alguns critérios para sua
concepção que vão desde o propósito de criação até os elementos visuais
que pretende utilizar. Essas etapas já determinam o uso de uma ação
projetual. Segundo Villas-Boas (2003, p.11), o design gráfico é uma
Figura 8 – Camiseta atividade profissional e área do conhecimento que tem por objeto
personalizada para Ronaldo
Fraga. Desfile Outono/ a elaboração de projetos para reprodução por meio gráfico de peças
Inverno 2007. Coleção
“China”. Fotografia recortada expressamente comunicacionais.
do original de Charles Naseh.
Disponível em: <http://
Embora essa seja uma especificação ou característica do design
chic.ig.com.br/antigo/ gráfico, a moda pode, por vezes, ser entendida ou usada como um
materias/412001-
412500/412374/412374_1. suporte para comunicar mensagens textuais, verbais ou imagéticas. As
html>. Acesso em:
20 set. de 2010. estampas, por exemplo, podem ser decorativas, mas também caracterizar
uma forma de comunicação impressa em superfícies têxteis que
Figura 9 – Camiseta Nike
personalizada. Disponível transmitem mensagens de diversos teores. As camisetas, por exemplo,
em: <http://www.nike.
servem como forma de comunicação, transmitindo ideias que costumam
com/nikeos/p/sportswear/
pt_BR/view_post?&post=pt_ gerar grande repercussão, dependendo de quem as veste e do teor da
BR/2009/08/26/gianecchini-e-
juliana-didone-prestigiam-o- mensagem – bem humoradas, sociais, de protesto ou simplesmente
nikeid>. Acesso em:
05 jun. de 2010 para divulgar um produto.

- 28 -
As campanhas publicitárias constituem outro exemplo de projeto
reproduzido por meio gráfico e que tem por objetivo a comunicação
e divulgação de produtos de moda. Nesses casos apontados há uma
imbricação de funções, que tornam as divisões em categorias estanques
insuficientes e pouco esclarecedoras para abordar uma coleção como,
por exemplo, a de Ronaldo Fraga.
O entendimento do design gráfico como projeto demonstra sua
necessidade de planejamento, pois não se trata somente da utilização de
elementos visuais. Assim como a moda necessita de um planejamento
para a realização de seu produto, o design gráfico também precisa
planejar o agrupamento dos elementos que compõem seus produtos de
10. Icograda (Conselho
Internacional de Associações modo a alcançar seus objetivos. O design gráfico deve conter fotografias,
do Design Gráfico) é
constituída por profissionais textos, ilustrações e outros elementos devidamente combinados em um
de design e comunicação.
Fundada em 1963, é uma
mesmo trabalho. Porém, podemos indagar se a presença isolada de
reunião voluntária que organiza algum desses elementos pode caracterizar a inexistência de um projeto.
interessados em design gráfico,
comunicação visual, gerência Para Villas-Boas (2003, p.12), baseado no documento final do simpósio
de design, promoção, educação,
pesquisa e o jornalismo. do International Council of Graphic Design Associations (Icograda)10,

11. (morfo+logo2+ia1) Tratado


morfologicamente11, o design gráfico é uma atividade projetual formada
das formas e das figuras, cuja por um conjunto de elementos estéticos visuais reunidos numa área
origem, desenvolvimento,
transformação e leis preponderantemente bidimensional e que resulta exatamente da relação
investiga, segundo o método
comparativo. entre esses elementos. Portanto não caracteriza produto de design gráfico
a existência isolada de um dos elementos.
Por outro lado, no aspecto funcional objetivo, Villas-Boas (2003,
p.13) esclarece que peças de design gráfico são todos os projetos gráficos
Figura 10 – Botão flexível de
metal. Disponível em: http://
que têm por objetivo comunicar através de elementos visuais uma
www.armarinhos25.com.br/ mensagem capaz de persuadir o observador, guiar sua leitura ou vender
produto.php?id_categoria=5&
id_produto=121&idProduto um produto. Nesse aspecto, a possibilidade do uso de um único elemento
Item=5465>. Acesso em:
25 jun. de 2010. não caracteriza a ausência de um projeto.
Vejamos como exemplo a comparação entre dois botões para
distintas coleções. O primeiro foi projetado pela utilização de um texto –
Figura 11 – Botão fashion – mais a inserção
personalizado. Disponível em:
http://www.armarinhos25. de um elemento gráfico
com.br/produto.php?id_
categoria=5&id_produto=1
– desenho de um zíper.
21&idProdutoItem=5465>.
O segundo exemplo
Acesso em: 25 jun. de 2010.
utiliza somente texto.
- 29 -
A ausência de imagem, com o uso solitário do elemento textual não
desqualifica a elaboração de um projeto. O texto composto pelo nome
da marca “union bay” foi totalmente descaracterizado de sua escrita
12. Entendemos como
escrita padrão a forma usual padrão12. A palavra “union” foi divida em duas linhas, e as pontas das
e gramaticalmente correta da
escrita da marca conforme as letras localizadas nas extremidades do botão foram levemente cortadas,
regras gramaticais da língua
inglesa, neste caso: Union Bay. como se ultrapassassem os limites da peça. É notório que nesse exemplo
a inserção do texto não foi aleatória, o que caracteriza o desenvolvimento
de um projeto.
Uma coleção de moda também é um projeto e como tal requer
planejamento. Nossa intenção é demonstrar que o design gráfico, como
parte atuante para execução desse projeto, está presente desde seu
planejamento inicial. O reconhecimento do design gráfico nas várias
etapas do desenvolvimento da coleção requer um melhor entendimento
da moda também como estrutura de produção industrial.
Para a compreensão da moda no seu aspecto industrial, é
válida uma investigação mais aprofundada de seus significados e seus
possíveis desmembramentos. A moda pode ser entendida como uma
13. A palavra tendência vem tendência13 de consumo ou como o uso de uma vestimenta, como uma
do latim tendentia e significa
tender para, ser atraído (a) forma de expressão pessoal ou coletiva. São inúmeras as possibilidades
por algo. Em moda, a palavra
tendência está relacionada
de abordagem do estudo da moda.
a uma visão antecipada do Gilles Lipovetsky (2009, p.12), divide o estudo da moda em duas
que será usado e estará em
voga para futuras estações. partes. A primeira analisa o sentido estrito, fashion; a segunda procura
Hoje as tendências da moda
se estendem para além dos entender a moda inserida em suas múltiplas redes: industrial, cultural,
modelos de roupas. As
tendências ditam os tecidos, os midiática, publicitária, ideológica, informacional e social. Embora
materiais, as cores, os sapatos,
os acessórios, as maquiagens a questão fashion seja a mais visível, o caráter social da moda e seus
e, até, os cortes de cabelos
que estarão na moda para as desmembramentos com as outras redes assinaladas por Lipovetsky, estão
futuras estações. Muitas vezes,
as tendências transmitidas
a cada dia alcançando maiores proporções na sociedade, no mercado
para o mercado nacional são profissional e nas pesquisas acadêmicas.
construídas por influência
dos Estados Unidos e países Assim como as múltiplas redes entendidas por Lipovestsky,
europeus, como França,
Itália e Inglaterra. para Roland Barthes (Apud. CONTI, p.224), a moda é objeto de uma
disciplina diferenciada da roupa, é também objeto tecnológico, do
ornamento, estético, do costume e de pesquisas sociológicas. Não se
trata somente da roupa, a moda vai além da vestimenta e se estabelece
como princípio regulamentador de diferentes bens de consumo, do
carro ao telefone celular, dos móveis ao utensílios domésticos. A moda
- 30 -
está fundamentada junto aos princípios socioculturais que regem uma
sociedade. Essa fundamentação sociológica deve ser compreendida,
pois é a partir dela que podemos visualizar a abrangência com que
a moda exercita seu papel e de que modo o design gráfico participa
dessa atuação.
Para Lipovetsky (2009, p.190), a expansão da forma moda
encontra sua realização final com a incorporação sistemática da
dimensão estética nos produtos industriais. Lipovetsky aponta que
esse avanço remonta aos anos 1920-1930, época em que os industriais
descobriram o papel fundamental que poderia ter o aspecto externo dos
bens de consumo para o aumento das vendas. A estética do produto com
o tempo passou a adquirir cada vez mais importância; com isso, o design
foi introduzido na estrutura industrial da produção.
Avaliando somente o segmento do produto, a classificação
da roupa no seu aspecto industrial pode ser visualizada por diversas
divisões. A começar pela divisão básica, a moda é classificada em “prêt-
14. A expressão prêt-à-porter à-porter”14 e “haute couture”15 . A alta-costura é constituída pelo glamour
vem do francês “prêt” (pronto)
e “à-porter” (para levar), para dos vestidos de festa, entretanto é o prêt-à-porter que faz da moda uma
a moda a expressão se traduz
em “pronto para vestir”. indústria altamente lucrativa. Dentro da classificação básica do prêt-
à-porter, a fabricação dos produtos pode ser dividida, pelo aspecto dos
públicos, em moda jovem, feminina, masculina e infantil. Porém, esse
15. Em português significa
alta-costura. Refere-se à aspecto é somente uma forma primária de divisão; existem ainda muitas
criação em escala artesanal de
modelos exclusivos com alto outras subdivisões que compõem a indústria da moda.
valor de venda. Na França
moderna, o termo haute Outra possibilidade é dividir a indústria da moda em segmentos,
couture goza de proteção
jurídica e pode ser usada
e nesse caso temos a moda tricô, praia, íntima, uniformes, surf wear,
somente por empresas que
esportiva, festa e ainda os acessórios e sapatos. Dentro de cada uma
atendam a determinados
padrões definidos pela dessas divisões, existem as subdivisões que compõem a realização dos
“Federação Francesa da
Costura, do prêt-à-porter, produtos da vestimenta, como os bordados, estamparias, aviamentos,
dos Costureiros e dos
Criadores de Moda”. o couro, jeans, malharia, tecido plano, química têxtil, lã, entre outros.
Todos esses elementos constituem uma indústria específica e são
responsáveis por uma grande diversidade de produtos que compõem o
universo da moda.
Em paralelo à estrutura industrial, o aspecto cultural e social é
muito importante para a concepção dos produtos de moda. As
características de um país, o clima, a cultura popular, a economia, tudo
- 31 -
16. FRAGA, R. Confira isso pode interferir na criação de uma coleção de moda. Somado a esses
entrevista com o estilista
Ronaldo Fraga. Entrevista requisitos está o tema que serve como referência para a coleção e que
concedida a Gesane Lucchesi.
Ragga Drops, seção drops, pode ser qualquer um, desde a cultura de outro país, a obra de um artista,
12 mar. 2009. Disponível
em: <http://www.new. a natureza ou qualquer outro. Ronaldo Fraga16 afirma partir “do princípio
divirta-se.uai.com.br/html/
sessao_16/2009/03/12/ de que tudo pode gerar uma coleção de moda”.
ficha_drops_noticia/id_
sessao=16&id_noticia=8609/
Dentro dessas possibilidades de criação, ainda existem as
ficha_drops_noticia.shtml>. características próprias de cada marca, seus princípios e ideologias
Acesso em: 12 dez. 2009.
que constituem sua identidade. O estilista Ronaldo Fraga, com raras
exceções, procura fazer suas criações baseado em aspectos culturais que
de alguma forma estejam inseridos no cenário social brasileiro. Trata-se
de uma vertente de criação que mantém uma coerência nas propostas
apresentadas por suas coleções.

Figura 12 – Desfile Ronaldo


Fraga Outono/Inverno 2005.
Coleção “Todo Mundo é
Ninguém” Forte expressão
artística com estampas que
transitam pelo universo
específico que o estilista
aborda. Neste exemplo, Carlos
Drummond de Andrade foi
o tema da coleção. Fotografia
Márcia Fasoli. apud FRAGA,
Ronaldo. Ronaldo Fraga:
Coleção Moda Brasileira. São
Paulo: Cosac Naify,
2007, p.92-93

No aspecto da moda e da identidade das marcas, o design gráfico


está presente no produto como parte integrante de sua criação. O tema
da coleção pode estar representado no produto de diversas maneiras:
por meio dos tecidos, das cores, da modelagem, dos acabamentos e
também por intermédio das imagens estampadas e aplicadas nas roupas
e acessórios. A criação dos produtos e projetos gráficos pode ser realizada
com a contribuição de insights criativos, mas não somente dessa forma.
Esse processo é geralmente resultado de um planejamento com base
em pesquisa, conhecimento mercadológico e técnico das ferramentas e
- 32 -
matérias-primas disponíveis para a criação.
17. É importante esclarecer Na moda, a pesquisa17 é extremamente importante para o
que não existe uma forma de
pesquisa pré-determinada desenvolvimento da coleção. A pesquisa, tanto para o designer de moda,
para todos os estilistas ou
designers gráficos para como para o designer gráfico ou de superfície, é sempre muito rica em
a realização do processo
criativo. Os profissionais –
imagens e serve como um importante processo para a criação.
estilistas, designers gráficos Seivewright (2009, p. 14) acredita que, em função de a moda estar em
e de superfície – estabelecem
diferentes formas de constante mudança, é esperado dos estilistas uma constate inovação e,
pesquisa de acordo com suas
necessidades e possibilidades. por conta dessa pressão pelo novo, é necessário que os designers
aprofundem cada vez mais suas pesquisas em busca de novas inspirações
para interpretar suas coleções.

Figura 13 – Exemplo de
caderno de esboço.
SEIVEWRIGHT,
2009, p. 99.

Figura 14 – Ronaldo Fraga


no Instituto de Estudos em
Arquitetura, Moda e Design.
Mostrando seus cadernos de
pesquisa para alunas do curso
de desenvolvimento de produto.
FLORIANI, Kátya. 2009.
Disponível em: <http://www.
As informações obtidas no processo de pesquisa podem ser
orbitato.com.br/pos/2009/05/ colhidas de diversas maneiras: imagens de época ou fotografias atuais,
turma-i-desenvolvimento-
de-produtos-vestuario-com- estudo de comportamento, livros, revistas, internet, museus, cinema e até
ronaldo-fraga/>. Acesso em:
15 jan. 2010. presencialmente. Basicamente a pesquisa é dividida em coletar materiais
e buscar informações visuais para estruturação do tema determinado.

- 33 -
Em uma coleção, a pesquisa do designer de moda, assim como
do designer gráfico e de superfície, resulta numa grande quantidade de
material visual. Após coletadas todas as informações, é preciso compilá-
las de uma forma que fique visivelmente fácil entendê-las para um melhor
aproveitamento de todas as informações. Nesse momento, a presença do
designer gráfico pode ser muito útil para o designer de moda. O designer
gráfico pode ajudar tanto na pesquisa de imagens e referências, como na
18. Em palestra “Influência organização visual desse material. Existem inúmeras possibilidades de
Japonesa na Moda”, Erika
Ikezili declarou que montava
trabalhar o processo criativo da coleção. Cada profissional tem a sua
painéis para a compilação forma de trabalhar, alguns montam painéis, outros fazem cadernos de
das informações pesquisadas.
Palestra ministrada do dia 10 esboço, colagens ou desenhos.
de dezembro 2009 no Espaço
Cultural Fundação Japão. A estilista Erika Ikezili18 declarou realizar grandes painéis para
a compilação das fotos, referências e materiais pesquisados. A compilação
19. FRAGA, Ronaldo. Rio
da Arte. Entrevista concedida da pesquisa pode ser tão proveitosa para coleção, como para outros
a Lia Hama. Revista Trip.
n. 194, 17 nov. de 2010.
projetos. Ronaldo Fraga19 declarou no final de 2010 que tem como
Disponível em: <http:// futuro projeto a realização de um livro com seus cadernos de anotações
revistatrip.uol.com.br/
revista/194/reportagens/rio- para as coleções.
de-arte.html>. Acesso em:
15 dez. 2010. Depois de selecionadas todas as informações, os designers passam
a editar suas ideias para o desenvolvimento da coleção. No caso das
estampas, pode ocorrer o desenvolvimento de uma estampa principal e
posteriormente são criadas outras estampas que irão compor a coleção.

Figura 15 – Desfile Ronaldo Mas isso depende muito de cada estilista. Nas coleções realizadas por
Fraga Primavera/Verão
2009/2010.
Ronaldo Fraga, as inúmeras estampas apresentadas em uma coleção
Agência Fotosite. 2009. parecem ter todas o mesmo peso e importância.
Disponível em: <http://ffw.com.
br/desfiles/sao-paulo/verao- Com o refinamento das ideias, os croquis passam de desenhos
2010-rtw/ronaldo-fraga/home/>.
Acesso em: 20 mai. 2010. básicos para ilustrações elaboradas e posteriormente para desenhos

- 34 -
técnicos. Geralmente os croquis são feitos à mão pelos próprios estilistas
e depois transportados para o computador, de modo que fiquem prontos
para futuras inserções gráficas. Nem sempre os estilistas utilizam os
programas gráficos, e o trabalho de repassar os croquis para o computador
e finalizá-los de forma que possam ser impressos em alta resolução pode
ser uma grande perda de tempo para o estilista. Nesses casos, é mais
coerente o uso de um profissional de design gráfico para essa função.
Os desenhos técnicos também devem ser feitos pelo designer gráfico e
servem como fonte de informações detalhadas do produto.
Algumas empresas trabalham com designers gráficos inseridos
em sua equipe e outras terceirizam esse serviço. Seja qual for a situação,
é visível sua importância. Existe ainda a possibilidade de uma empresa
trabalhar com um designer gráfico interno e outros externos. Ronaldo
20. A Designlândia iniciou Fraga utiliza os serviços da Designlândia20 para o desenvolvimento
suas atividades em outubro
de 2002. Formada por duas de todo o material gráfico da empresa e trabalha com diferentes
diretoras – Fabiana Ferraresi e
Paola Menezes – e uma equipe profissionais para a criação das estampas das coleções. Dependendo do
de designers. Já ganharam
diversas premiações nacionais
volume ou estilo de trabalho, o fato de o designer ser terceirizado não
de design, entre elas: 1º lugar compromete o trabalho desenvolvido. Cada empresa deve estar atenta às
no 5º prêmio Max Feffer de
Design na categoria Editorial suas necessidades.
com o livro “Drummond
Selecionado e Ilustrado por Visto que as imagens inseridas nos produtos de moda
Ronaldo Fraga” e Finalista na
8ª Bienal de Design Gráfico normalmente referenciam o tema da coleção, as estampas são as opções
com o livro “Drummond
Selecionado e Ilustrado por mais utilizadas pelos designers de moda para apresentar e demonstrar
Ronaldo. Fraga” Disponível
em: <http://www.designlandia. essas ideias no produto. Mas elas não são as únicas. Veremos adiante
com.br/>. Acesso em:
05 set. de 2009.
que existem outras possibilidades de representar através do produto a
proposta da marca junto a seus consumidores.
Na concepção de moda como projeto de uma coleção, o design
gráfico está definitivamente presente na comunicação e promoção desse
produto. No que diz respeito ao produto em si, o correto é afirmarmos
que os trabalhos gráficos são resultado, na maioria das vezes, do design
de superfície. Isso não quer dizer que o design gráfico não participe da
concepção do produto; ao contrário, a atuação de um pode estar em
muitos momentos relaciona à atuação do outro. Mas é especialmente
pelo viés do design de superfície que o design gráfico interfere na
construção da roupa.

- 35 -
1.2 Design gráfico e de superfície no produto de moda

Muito próximo ao entendimento dos meios pelos quais o design


gráfico se apresenta, está a compreensão de seus suportes e superfícies.
Embora o design gráfico tenha como objetivos diferenças relevantes
quando comparado ao design de superfície, ambos caminham muito
próximos. Não falar do design de superfícies quando abordado o design
gráfico na moda pode parecer uma certa negligência conceitual.
O termo conhecido como design de superfície no Brasil é
utilizado pelos norte-americanos como surface design. O design de
superfície está extremamente vinculado ao design têxtil. A superfície
têxtil é certamente a mais preponderante forma de visualizar o uso
gráfico no produto de moda. No entanto, Rubim (2005, p.22) aponta
que o design de superfície abrange o têxtil, o design sobre papéis, sobre
cerâmica, plástico, emborrachados, além de desenhos e/ou cores sobre
utilitários, como louças. Nesse sentido, fica claro que sua atuação é mais
ampla do que somente o uso pela indústria têxtil. Para Ruthschilling
(2008, p.31), as superfícies adquirem cada vez mais importância no
cotidiano, sem um vínculo restrito a um ou outro material.

Design de Superfície é uma atividade técnica e criativa cujo


objetivo é a criação de texturas visuais e tácteis projetadas
especificamente para a constituição e/ou tratamento de
21. RUTHSCHILLING, superfícies, apresentando soluções estéticas simbólicas e
Evelise Anicet. Design de funcionais adequadas às diferentes necessidade ou materiais e
Superfície. Porto Alegre: Ed.
da UFRGS, 2008. p.23 processo de fabricação21.

Aprofundando o propósito dessa abordagem, parece complexo


determinar até onde se estende o limite do design de superfície com
relação ao design gráfico. Se, inclusive, o papel faz parte das possibilidades
de execução do design de superfície, então o que o difere do design
gráfico? Segundo Rubim (2005, p.22), o design de superfície, quando
aplicado no papel, faz o trabalho de complementação ao design gráfico
como fundo de uma peça gráfica. Rubim ainda afirma que o design
gráfico lida com informações organizadas para transmitir dados ao
usuário, enquanto que o design de superfície lida principalmente com
- 36 -
considerações de ordem estética. A menção ao estético, no entanto, não
deve ser considerada como algo meramente decorativo. Para a realização
de um produto esteticamente bem resolvido também é preciso o
desenvolvimento de um projeto que traduza as necessidades e desejos
de seus consumidores.
Embora esclarecidas as diferenças entre os conceitos do design
gráfico e de superfície, é importante destacar que as incursões de ambas
as áreas no que se refere à moda são constantes e válidas, mas devem ser
entendidas cada uma mediante a sua especificidade. A realização de
uma criação para superfície esbarra muitas vezes na atuação do design
gráfico, sendo a recíproca também verdadeira. Ocorre que muitas vezes
um trabalho de superfície pode vir a ser adaptado para um trabalho
gráfico. Em outras ocasiões, um designer gráfico realiza um trabalho de
superfície têxtil.
22. M/M Paris é uma Os designers da M/M Paris22 criaram um alfabeto especialmente
sociedade de consultoria
de arte e design formada desenhado para a Prada. O “Pradalphabet” foi lançado em 2010 com uma
por Mathias Augustyniak e
Michael Amzalag, localizada edição limitada de camisetas, compostas por cinco modelos diferentes.
em Paris e fundada
no ano de 1992.
Cada modelo apresenta uma das cinco letras que compõem o nome
da grife estampada na frente. Alinhadas, as cinco camisetas formam

Figura 16 – Camiseta Prada e


Pradalphabet. Foto divulgação.
Disponível em: <http://www.
trendtips.com.br/?tag=paris>.
Acesso em: 05 junho 2010.

o nome da marca Prada. Nas costas, as camisetas vêm com o logo


PRADA-M. Uma nova proposta do logotipo da marca criado pela M/M.
A Pradalphabet Collector’s Edition foi lançada para venda em uma caixa
acompanhada por um livro com detalhes das 26 letras do alfabeto. Além
- 37 -
das camisetas originais, as letras são disponibilizadas para quem quiser
uma camiseta Prada com dizeres personalizados com o “Pradalphabet” .
Por outro lado, a criação de um convite, por exemplo, pode ser
a extensão de uma superfície têxtil criada para o tecido da coleção em
questão. Compreender essa ligação e seus limites de aplicação é de
extrema importância para o entendimento da unidade conceitual de
uma coleção.

Figura 17 – Estampa
bolacha Maria.
Coleção Ronaldo Fraga para
Filhotes. Posteriormente a
estampa virou inspiração para a
criação de material gráfico.
Disponível em: <http://
newyorkmodel.blogspot.com/>.
Acesso em: 05 nov. 2010.

A concepção da criação de uma superfície têxtil deve ser realizada


em conjunto com o estilista. De acordo com a designer de superfícies
23. RENATA, Rubim. Renata Rubim, em entrevista concedida ao jornal Tribuna de Cianorte,
DESIGN de superfície projeta
moda. Tribuna de Cianorte.
o design de superfície dá para a moda o suporte na criação de peças
Cianorte, 27 abr. 2009. de vestuário ou acessórios. Rubim23 afirma que o designer que cria a
Disponível em: <http://www.
tribunadecianorte.com.br/ estampa não é um estilista, mas está por trás do que irá transformar uma
variedades/noticias/10056/>.
Acesso em: 20 mar. 2010. peça em produto de moda.
As técnicas de impressão, pinturas ou decalque sobre superfícies
têxteis são utilizadas justamente para diferenciar os produtos. O uso
dessas técnicas contribuem para o desenvolvimento do produto e
podem adquirir grande importância para a comercialização da marca.
Segundo Simon Seivewright (2009, p.131), a estampa é fundamental
tanto para o design de uma peça, quanto para a concepção de uma
coleção inteira. Seivewright ainda ressalta que muitos designers de
moda fizeram de suas estamparias o principal destaque e argumento
para as vendas de suas coleções.
O reconhecimento da importância gráfica para a moda é
fundamental para a atividade do design gráfico e de superfície. Como
já vimos, no que diz respeito à vestimenta, o design de superfície não
- 38 -
retrata somente a estampa das roupas. A superfície também faz parte
dos acessórios e aviamentos. O estilista Ronaldo Fraga reserva um
espaço privilegiado para as superfícies que compõem suas coleções.
Em geral, todas as suas coleções apresentam botões personalizados.
Trata-se de um trabalho detalhado e atento com as superfícies que
compõem a roupa.
O design de superfície pode estar literalmente presente “dos
pés à cabeça” em uma composição de moda; dos sapatos ao chapéu,
passando pelas meias e roupas íntimas, em estampas ou tramas. Rubim
(2004, p.22) afirma que o design de superfície abrange, até mesmo, as
cores sobre utilitários. Para a autora as cores têm um enorme poder,
sendo capazes de transformar e enriquecer um trabalho. Um bom
exemplo desse poder na moda são as solas vermelhas criadas pelo
designer de sapatos Christian Louboutin. Em 2008, Louboutin obteve
um reconhecimento mundial com seus modelos de salto alto, nos quais

Figura 18 – Sapatos
Christian Louboutin.
Fotografia Diário de
Acessórios. Disponível em:
<http://www.diariode
acessorios.com.br/?s=sapato
+christian+louboutin>.
Acesso em: 07 jun. 2010

o status da peça é dado sobretudo por sua sola vermelho-sangue, que se


tornou característica imprescindível aos produtos da marca.
Saindo da esfera da vestimenta, as possibilidades de atuação para
o design de superfície na moda são inúmeras e podem ser executadas
tanto por designers gráficos como por designers de superfícies. É válido
demonstrar que essas superfícies também são importantes para a
concepção do projeto conceitual como um todo. São superfícies que
estão presentes da ambientação das lojas ao piso da passarela do desfile.
Nesse sentido, os designers de interiores, gráficos, de superfícies e até os
- 39 -
Figura 19 – Parede interna da cenógrafos podem auxiliar as marcas em todos os campos necessários
loja Ronaldo Fraga São Paulo.
Modos de moda. PAREDE para inserção de uma superfície trabalhada.
interna loja Ronaldo Fraga em
São Paulo. 2007. Em suas lojas, Fraga utiliza algumas paredes internas com
Disponível em: <http://
modosdemoda.wordpress. desenhos próprios, familiarizando seus clientes ao traço de seu trabalho.
com/2007/09/06/a-loja-
paulista-do-ronaldo-fraga/>. Na área externa, a cada troca de estação, é possível visualizar o novo
Acesso em: 05 nov. 2010.

Figura 20 – Fachada Ronaldo


Fraga Outono/Inverno 2010.
Projeto gráfico especialmente
realizado para a fachada da
loja de Belo Horizonte para a
coleção Pina Bausch.
GARCIA, Renata. FACHADA
da loja do Ronaldo Fraga. 2010.
Disponível em: <http://chic.
ig.com.br/moda/noticia/
guia-de-savassi-os-achados-
da-regiao-mais-fashionista-de-
belo-horizonte/fotos>.
Acesso em: 05 nov. 2010.

Figura 21 – Passarela tema da coleção na fachada de suas lojas. Seguindo as considerações


Ronaldo Fraga Primavera/
Verão 2006/2007. já mencionadas por Rubim quanto à ordem estética do design de
Coleção “A cobra que ri”
Fotografia CALFAT, Fernanda. superfície e informacional do design gráfico, podemos entender que o
Retirada do livro: FRAGA,
Ronaldo. coleção Moda trabalho desenvolvido para essas superfícies está totalmente apoiado
Brasileira. São Paulo: Cosac
no design gráfico. Os projetos de superfícies podem lidar com
Naify, 2007, pg. 106-107.
considerações de ordem estética, e também com a organização de
informações para transmissão
de uma mensagem,característica
essa, do design gráfico.
O estilista Ronaldo Fraga
realiza seus desfiles sempre
apoiado pelo conceito da
coleção. A passarela é um dos
componentes que fazem parte
do desfile e, no caso de Ronaldo,
as superfícies utilizadas para a
composição da passarela estão
- 40 -
sempre inseridas na proposta de criação da coleção, como parte da sua
unidade conceitual.
Como já observamos, a realização de superfícies está inserida
em todo um contexto do qual o design gráfico também faz parte. Assim
como os designers gráficos precisam conhecer os materiais e efeitos
visuais com os quais trabalham, os designers de superfície têxtil precisam
ter conhecimento técnico dos tecidos, materiais e softwares utilizados
para o desenvolvimento do produto.
Aliado ao conceito da coleção e ao conhecimento técnico dos
materiais, o design têxtil deve estar baseado nas práticas e objetivos
mercadológicos e empresariais da indústria. Segundo Rubim (2005, p.
59), o designer conhecedor do mercado é aquele que está alinhado com
o departamento de marketing da empresa e que também desenvolve
suas próprias pesquisas. A concepção dessa articulação entre marketing
e projeto gráfico para superfície têxtil deve existir da menor à maior
indústria ou empresa de moda. Mesmo no trabalho conceitual, essa
lógica deve estar inserida no processo de criação.

24. RUBIM, Renata. O departamento de marketing da empresa sempre que possível,


Desenhando a superfície.
São Paulo: Edições Rosari, sinalizará os rumos desejados. A equipe do departamento, a
2004. p.59 equipe de vendas e o designer formam um importante núcleo
gerador de elementos básicos para a criação de um novo
produto24.

25. FRAGA, Ronaldo.


Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia
Usando como exemplo o estilista Ronaldo Fraga, muitos
Luz. Simplesmente Elegante. poderiam pensar que suas criações não têm a ver com objetivos comerciais
31 mai. 2009. Disponível em:
<http://simplesmenteelegante. ou mercadológicos. Porém, esse tipo de pensamento parece não ser
com/?p=3392>.
Acesso em: 11 jun. 2010 verdadeiro. Fraga25 afirma que “[...] Tudo tem que ter um conceito,
caso contrário, não é moda, é só roupa”. Ao que parece, ter um objetivo
mercadológico fundamentado não é contraditório à moda com conceito.
26. op. cit. Segundo Fraga26, essa visão ocorre no Brasil porque aqui “o conceitual
27. FRAGA, Ronaldo. não é comercial”.
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia Os objetivos mercadológicos e comerciais são necessários para a
Luz. Simplesmente Elegante.
31 mai. 2009. Disponível em:
viabilidade no negócio. Fraga27 também afirma que “[...] Sempre vai ter
<http://simplesmenteelegante. o lado comercial. A minha marca e o meu produto são comerciais, pois
com/?p=3392>.
Acesso em: 11 jun. 2010. eu preciso vender, tenho funcionários e uma estrutura”. Não se trata de
- 41 -
optar por metas meramente comerciais, mas por propostas incorporadas
ao estilo da marca. Para sua marca, Fraga parece adotar esse equilíbrio
entre o conceitual e o comercial, que consequentemente determina os
objetivos, missão e valores de sua empresa.
No que diz respeito a superfícies têxteis, as técnicas de
estamparia são muitas e, com o passar do tempo, foram aprimoradas,
proporcionando novas possibilidades. Basicamente elas estão divididas
em dois grandes grupos: estampa artesanal e industrial. A estamparia
artesanal possui muitas técnicas milenares que aos poucos foram se
difundindo pelo mundo, adquirindo novos nomes dentro das culturas
em que eram inseridas.
A estampa industrial pode ser subdivida em três categorias
de produção: quadros, cilindros e impressão digital. O processo de
estamparia industrial envolve muitos detalhes e especificidades. Embora
o conhecimento técnico seja importante, nosso interesse é com relação
ao processo e resultados obtidos por cada procedimento. Cada uma
das técnicas utilizadas possui características próprias, com resultados
algumas vezes semelhantes e outras vezes bastante distintos.
A escolha da técnica deve ser considerada mediante seus
possíveis resultados e estar associada ao conhecimento dos tecidos,
tintas e materiais usados para sua realização. É muito importante que
o tecido seja adequado ao processo de estamparia que se deseja utilizar.
Conhecer os tecidos e as técnicas utilizadas para cada tipo de estampa é
fundamental para que o resultado esteja de acordo com o desejado.
Existem outros pontos que devem ser observados,
independentemente da escolha do processo de estamparia. A escala da
estampa, a proporção das cores, a repetição do desenho e o caimento do
tecido são alguns pontos importantes que podem afetar no resultado
final da roupa. O conhecimento de todos esses dados técnicos serve para
minimizar os riscos e perdas de materiais, potencializando a capacidade
criativa do designer. Todas essas informações, bem como os objetivos
conceituais e mercadológicos, fazem da criação da superfície têxtil um
importante recurso capaz de agregar valor ao produto de moda.
A partir das informações coletadas em sites de empresas
de estamparia e com base nas pesquisas bibliográficas, podemos
- 42 -
entender o processo de estamparia dividido em três grandes grupos
– quadro, cilindro e digital – que podem ser aplicados em estampas
corridas ou localizadas.

28. HOLZMEISTER, O processo de desenvolvimento de uma estampa é complexo


Silvana. A marca da
estamparia nacional.
e precisa estar afinado com a proposta da coleção. Muitas
Disponível em: <http://www2. vezes, o próprio estilista já tem algo em mente e o designer,
uol.com.br/modabrasil/vitoria_
link/rebeca/index2.htm>. então, a transforma em realidade. Em outras, o profissional
Acesso em: 01 jul. 2010.
pesquisa materiais, formas, texturas e cores, inovando no
resultado final28.

Figura 22 – Desfile Ronaldo O conhecimento das técnicas de


Fraga Coleção Primavera/
Verão 2010/2011. estamparia faz com que o designer tenha
Estampa em jacquard de
algodão imitando renda melhores condições de avaliar qual deve
renascença. Fotografia Fotosite.
Disponível em: <http://
ser utilizada no caso de uma estampa
modaspot.abril.com.br/tecidos/ corrida ou localizada. Para cada caso e
tecidos-tecnologia/de-olho-
no-inverno-2011-acabamento- efeito que se deseja obter, existe uma
e-a-aposta-das-tecelagens>.
Acesso em: 05 nov. 2010. técnica mais apropriada para a criação.
As estampas corridas são
realizadas em tecidos planos ou malhas a
metro, compostas por elementos visuais
repetidos por toda a extensão do tecido.
29. MEDEIROS, Jorge. Segundo Jorge Medeiros29, “o segredo
Uma pequena introdução
a estamparia. 21 nov. 2008. da estampa corrida está em confeccionar a arte de forma em que cada
Disponível em: <http://
www.colori.com.br/ batida consecutiva das telas, a emenda de uma batida com a outra não
introducaoaestamparia.pdf >.
Acesso em: 10 jun. 2010. seja percebida”. Os módulos30 que compõem essa batida das telas podem
ser pequenos ou ocupar a tela por inteiro. Além das estampas corridas,
existem também as estampas consideradas falso corrido. Nesse caso, a
30. Módulo é a unidade estampa é desenvolvida sobre um pedaço de tecido já cortado e pode
da padronagem, isto é,
a menor área que inclui não ter continuidade de emenda. Medeiros explica que “trata-se de uma
todos elementos visuais que
constituem o desenho. estampa localizada feita em tecido a metro. Uma estampa localizada,
executada como corrida”.
As estampas localizadas são inseridas em uma determinada região
da superfície têxtil. Elas podem ser realizadas manualmente ou através
de carrosséis automáticos. A produção manual é mais recomendada
para uma pequena quantidade. Quando há necessidade de estampar um
- 43 -
número grande de peças, o ideal é o uso do processo mecanizado, pois é
mais rápido e proporciona menor custo.
Além das superfícies têxteis, existem outras superfícies menores
que estão presentes na moda e podem conter um projeto gráfico
personalizado, contribuindo para um resultado singular no produto final.
Figura 23 – Estampa localizada
Ronaldo Fraga. Disponível
em: <http://finaestampalitoral.
blogspot.com/2010_03_01_
archive.html>.
Acesso em: 15 jul. 2010.

São detalhes que complementam a roupa, demonstrando um maior


cuidado com o acabamento da peça. As superfícies menores, demonstram
a preocupação da marca na associação de sua imagem ou contexto da
coleção, mesmo nos pequenos detalhes da roupa. Botões, etiquetas,
bordados, rebites, ferragens personalizadas são muito usados para a
finalização do produto, contribuindo para agregar valor ao mesmo. O
designer gráfico pode auxiliar o estilista, criando possibilidades exclusivas
para os botões de uma ou mais peças da coleção.
Figura 24 – Botões diversos.
Algumas possibilidades de
botões com aplicação, recortes
e gravação de texto e desenho.
Disponível em: <http://www.
armarinhos25.com.br/produto.
php?CategoriaNome=
Bot%F5es&id_categoria=5>.
Acesso em: 10 jun. 2010.

Os botões podem ser diversos e escolhidos de acordo com a


proposta da roupa, suas proporções e cores. Existem modelos dos mais
simples aos coloridos, estampados, com transparência, recortados, de
- 44 -
diversos materiais, com aplicação de pedra ou personalizados. São muitas
opções para compor a roupa. Fraga costuma usar botões desenhados
para as peças de suas coleções.
Figura 25 – Desfile Ronaldo
Fraga Primavera/Verão
2009/2010.
Fotografia: Charles Naseh.
Coleção “Disneylândia”.
Disponível em: <http://chic.
ig.com.br/moda/noticia/
ronaldo-fraga-ver-o-2010>.
Acesso em: 10 abr. 2010.

Figura 26 – Bermuda Ronaldo


Fraga Primavera/Verão
2009/2010.
Coleção “Disneylândia”
Disponível em: <http://www.
bymk.com.br/itens/241377>.
Acesso em: 20 mar. 2010.

Figura 27 – Detalhe para o


botão personalizado.
Disponível em: <http://www.
bymk.com.br/itens/241377>.
Acesso em: 20 mar. 2010.

Figura 28 – Botão calça


Ronaldo Fraga Primavera/
Verão 2006/2007.
Coleção “A cobra que ri”.
Arquivo pessoal.

Figura 29 – Detalhe do botão


Primavera/Verão 2006/2007.
Desenho da assinatura da
marca do estilista.
Coleção “A cobra que ri”
Arquivo pessoal.

Figura 30 – Botão com uso da


marca. Arquivo pessoal.

Figura 31 – Botão com uso da


marca. Arquivo pessoal.

Além dos botões, outras superfícies importantes na composição


das peças são as etiquetas, que possuem basicamente duas grandes
funções presentes no design gráfico: promover e informar. As etiquetas
externas às roupas promovem a marca e servem como uma espécie
de certificação da mesma. As etiquetas internas possuem a função de
informar o consumidor a respeito do tamanho da peça, tipo de tecido e
forma de lavagem adequada.
- 45 -
31. A palavra ícone vem do No caso das etiquetas internas, o uso de símbolos e ícones31 é
Grego “eikon” e significa
imagem. Nas artes gráficas, recorrente, pois é preciso que a informação seja rapidamente entendida.
o ícone tem como função
básica representar ou indicar Além disso, os ícones fazem parte de um padrão internacional de uso e
rapidamente ao público o que
determinada imagem significa. devem estar de acordo com essas normas. Conforme informa o Idec,
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, a partir de 2007, uma
nova portaria autorizou e recomenda às indústrias desenvolver etiquetas
com instruções por escrito. Embora seja mais fácil o uso dos ícones nas
32. apud. CAMPAGNANI, etiquetas, Márcia Rosa Franco32, chefe da divisão de fiscalização da
Mario. Mudanças nas
etiquetas. 10 jul. 2007. qualidade do Inmetro, explica que “ninguém decora o significado de
Disponível em: <http://
www.idec.org.br/noticia. cada símbolo na etiqueta”. Mas as empresas não são obrigadas, elas
asp?id=8439>.
Acesso em: 20 jul. 2010.
podem ou não usar o texto juntamente com os símbolos, pois os mesmos
são parte de um padrão internacional.

Figura 32 – Etiqueta
informativa.
Informações obrigatórias
de uma etiqueta segundo
informativo criado pelo site do
PROCON. Disponível em:
<http://www.procon.sp.gov.br/
texto.asp?id=2321>.
Acesso em: 20 jul. 2010.

Figura 33 – Etiqueta
padrão ecológico.
Na imagem da esquerda
a etiqueta informa que o
produto foi feito com algodão
orgânico, sem agrotóxico na
sua produção. Na imagem da
direita, a etiqueta indica que a
peça pode ser reciclada.
Disponível em: <http://
www.helvetia.com.br/
etiquetandoamoda/category/
ecologico/>.
Acesso 20 jul. 2010. Assim como os botões, as etiquetas podem ser feitas de diversos
materiais, com aplicações, recortes e personalizações. A criação da
Figura 34 – Etiqueta etiqueta deve ser realizada conforme o tipo de tecido da peça, o design
informativa sobre a peça.
Arquivo pessoal. e a proporção da roupa. No caso das etiquetas externas, a criação pode
estar relacionada ao tema ou linha da coleção, como collection, jeans
- 46 -
wear, feminino ou masculino. Uma peça de tecido fino requer uma
Figura 35 – Etiquetas em couro. etiqueta também de tecido delicado, caso contrário a etiqueta poderá
Diversos modelos para diferentes
marcas. Disponível em: <http:// estragar o tecido da roupa. As possibilidades são inúmeras e podem
www.etiquetasnacional.com.br/
index.php?option=com_content& abranger diferentes técnicas.
view=article&id=38&Itemid=21>.
Acesso em: 20 jun. 2010.

Figura 36 – Etiqueta interna.


Feita em tecido para a marca
Ronaldo Fraga. Arquivo
pessoal.

Figura 37 – Etiqueta interna.


Feita em tecido para a marca
Ronaldo Fraga. Arquivo
pessoal.

Figura 38 – Etiqueta interna.


Feita em tecido para a marca
Ronaldo Fraga. Arquivo
pessoal.

33. A palavra filigrana vem do


latim filumm, que significa fio, e
granum, ou fio de grão.

Figura 39 – Filigranas.
Desenvolvidas pela designer
Ligia Pires para coleção verão
2009 da Cavalera. Disponível
em: <http://lygiapires.
wordpress.com/page/3/>.
Acesso em: 20 abr. 2010. Além das etiquetas, especificamente os jeans contêm um tipo de
design importante para a composição das
calças: trata-se das filigranas33, uma
costura feita para os bolsos de calças. Em
algumas marcas, o uso da filigrana é
bastante variado, com inúmeras
possibilidades de design e aplicações de
fios diferenciados, como prata e ouro.
Nas roupas também existem as
ferragens e aviamentos que podem ser
- 47 -
aplicados nas peças, como: zíperes, chapas de metal decorativas e rebites.
As chapas de metal são pouco usadas; os rebites, inexpressivos quanto
a suas possibilidades de personalização, devido a sua pequena área de
superfície. Já os zíperes estão presentes em um grande número de roupas
Figura 40 – Rebite e acessórios, e podem ser configurados de inúmeras formas, inclusive
personalizado.
Arquivo pessoal. com puxadores personalizados.

Figura 41 – Puxadores em metal.


Pequena amostra de diferentes
modelos de puxadores em metal.
Disponível em: <http://www.
hondabutton.com.hk/products/
ZIP%20PULLER/
page%20001.html>.
Acesso em: 20 jul. 2010

Figura 42 – Puxadores
para zíperes.
Pequena amostra em
materiais diversificados. Em todas as categorias citadas, a contribuição de um designer
Disponível em: <http://www.
maxbrindes.com.br/index.php? gráfico pode ser muito valiosa. Basicamente, o objetivo de um design
home=brindestipo&tipoprodu
to=Acess%F3rios%20para%20
gráfico, seja qual for o projeto, é comunicar de maneira eficiente e
Confec%E7%E3o& esteticamente agradável. Em muitos dos exemplos demonstrados, o
produto=Promocionais>.
Acesso em: 20 jul. 2010. trabalho de criação envolve não só uma ordem estética, mas também
a possibilidade de informação e divulgação da marca. As proporções,
cores, materiais, desenhos e mensagens devem ser considerados para a
aquisição de resultados adequados à unidade conceitual da coleção. São
detalhes que fazem a diferença, agregando valor ao produto final.

1.3 O design gráfico na comunicação de uma coleção de moda

Como já expressamos anteriormente, o design gráfico inserido


no produto contribui para criar a unidade conceitual da coleção junto a
sua marca. Nessas próximas páginas abordamos como o design gráfico
atua nos materiais gráficos, contribuindo para enfatizar a identidade da
marca junto a seus consumidores.
34. JANSSON, Jonas. apud
HESS, Jay; PASZTOREK,
Simone; tradução BETTONI, A moda consiste em embalagem. Nós criamos moda, no
Rogério. Design gráfico para
moda. São Paulo: Edições sentido de que o design gráfico e a direção de arte são partes
Rosari, 2010. integrantes da moda34.
- 48 -
1.3.1 Branding

Já foi possível visualizarmos as incursões gráficas no produto


de moda com grande participação do design gráfico e de superfície.
No entanto, no mercado da moda, o design gráfico também expressa
sua potencialidade no branding e materiais de comunicação visual. O
branding é, resumidamente, um processo de construção e gerenciamento
das marcas. No entanto, no que diz respeito ao envolvimento do design
no processo de gerenciamento da marca, Bill Martinez afirma que
o branding é uma forma de desenvolver a construção de uma marca
35. O termo pré-design e aplicada no pré-design e no pós-design.35 Ou seja, a empresa conceitua
pós-design ao qual se refere
Bill Martinez diz respeito para criar um design produzindo uma imagem que consequentemente
ao estudo estabelecido pelo
branding para constituição expresse esse conceito. Para isso, Martinez (MARTINEZ, 2001. apud,
de uma marca. Esse estudo
e construção da marca é
Costa e Silva, 2002, p.13) divide o trabalho de branding em duas partes:
fundamentado por pesquisa. a primeira, analítica de identificação, sistematização e diagnóstico; e a
Para Martinez, o trabalho de
branding se inicia com uma segunda, de expressão, de desenho da marca.
pesquisa e também termina
com uma pesquisa. Com base nessa abordagem do branding aplicado às marcas do
mercado da moda, podemos entender que o design gráfico é parte da
construção desses significados e cria uma relação de integração de seus
produtos com suas formas de comunicação. É preciso que imagem e
produto sejam um extensão do outro, transmitindo o mesmo conceito
capaz de representar uma unidade.
Jonas Jansson (apud HESS, PASZTOREK, 2010, p.18), diretor
de arte da Acne Studios, afirma que a indústria da moda é sensível à
comunicação visual e compreende sua importância com intuito de criar
um look, uma sensação ou uma marca. O Acne Studios é parte integrante
do coletivo multidisciplinar Acne Art Department, que desenvolve ao
mesmo tempo diferentes produções e projetos colaborativos. Dentro
dessa estrutura, o coletivo criou a marca Acne Studios, com o objetivo
voltado para o desenvolvimento de produto de moda. Jansson explica as
vantagens de se trabalhar em um coletivo que tem como cliente a marca
de moda incorporada à mesma empresa. “Somos capazes de tratar o
Acne Studios como se fosse nossa própria marca, e fazemos aquilo que
gostaríamos de ver como consumidores”. A inspiração para o branding
vem do próprio coletivo.
- 49 -
Segundo Daniel Caristen (apud HESS, PASZTOREK, 2010,
p.18), também diretor de arte, eles simplesmente usaram a ideia do
coletivo com todas as suas produções para criar a marca Acne. Para
Jansson, o Acne Studio é parte integrante do processo criativo e do
produto em si. Jansson defende a opinião de que eles criam moda,
ainda que não sejam peças específicas. Esse entendimento descreve a
importante relação do design gráfico com a direção de arte de forma
integrada para a criação do produto de moda.
A extensão do produto para os materiais gráficos vista no trabalho
realizado pela Acne Studio é mais um exemplo da relevância com que o
design gráfico expressa sua força no mercado da moda. Não se trata de
Figura 43 – Etiqueta, botão
e postal Acne. HESS, Jay;
uma tendência, mas de um amadurecimento no trabalho visual gráfico.
PASZTOREK, Simone;
Abaixo apenas um dos muitos exemplos de integração do produto com
tradução BETTONI, Rogério.
Design gráfico para moda. São o material gráfico da empresa. Os botões das roupas são transformados
Paulo: Edições Rosari,
2010. p.21. em carimbo, reforçando a imagem da marca.

Ronaldo Fraga também realiza um trabalho de branding


eficiente, que inicia na concepção da marca e se estende até a conclusão
e apresentação de cada uma de suas coleções. A identidade visual de sua
marca está no logotipo, no cartão, no release da coleção, nos produtos, no
desfile, nas lojas e em sua comunicação. Em todas as formas de expor seu
trabalho, Fraga mantém a identidade da marca. É possível observarmos,
na concepção da marca, a exploração dos valores pessoais do estilista e
suas influências culturais.
Para a criação de seu logotipo, Fraga contou com o trabalho da
- 50 -
36. Em inglês significa culto. Designlândia, que transformou uma característica pessoal – seus óculos
Popularmente, cult é algo
que permanece mesmo após – em símbolo da marca. Muito antes dos óculos de grau virarem “cult” 36
não estar mais em evidência.
Muitas obras e objetos de da moda atual, a marca de Fraga já era representada por esse acessório.
consumo atingem status de cult
depois que suas “vidas úteis” Fraga sempre usou óculos, não por tendência, mas por necessidade37.
supostamente expiraram.
Aquilo que para muitos poderia representar um incômodo, para Fraga
parece até um orgulho; usa diferentes modelos, todos grandes e cheios
de personalidade. A marca ficou registrada de tal forma, que é comum o
37. São 8 graus de miopia e 2
de astigmatismo. Reportagem uso somente do ícone para a assinatura de seus materiais gráficos.
de PAIVA, Fred Melo. Estado
de São Paulo Domingo, 23
No cartão, de um lado constam os contatos com endereços das
jul. 2006 Disponível em: duas lojas, endereço do site e parte dos óculos de seu logotipo. Na
<http://www.estado.com.br/
suplementos/ali/2006/07/23/ outra face do cartão foram aplicadas algumas imagens referentes a
ali-1.93.19.20060723.44.1.xml>.
Acesso em: 12 outubro 2010. suas coleções.

Figura 44 – Ronaldo Fraga.


Foto Marcelo Barroso.
Disponível em: <http://www.
tribunadonorte.com.br/noticia/
ronaldo-fraga-a-moda-e-a-
leitura-do-tempo/144162>.
Acesso em: 12 nov. 2010

Figura 45 – Marca Ronaldo


Fraga. Designlândia. Disponível
em: <http://www.designlandia.
com.br/site.html>. Acesso em:
05 abr. 2010.

Figura 46 – Cartão
Ronaldo Fraga.
Designlândia.
Disponível em: <http://
www.designlandia.com.
br/site.html>. Acesso
em: 05 abr. 2010.

- 51 -
1.3.2 Convite

A apresentação da coleção se faz através dos desfiles, e o convite é


um importante meio de comunicação, capaz de estimular o interesse pelo
evento. Um convite deve retratar a unidade
conceitual da coleção sem fugir da identidade
visual da marca. Quando esse princípio ocorre
continuamente, fica clara a existência da
identidade nas inúmeras peça de comunicação.
Ao juntar vários convites em uma mesa, é
possível identificá-los como sendo todos
da mesma marca, sem que isso demonstre
qualquer tipo de fadiga visual àquele conjunto.
O escritório parisiense Antonie+Manuel faz
isso com maestria para Christian Lacroix. A
linguagem visual usada exacerba a qualidade
produtiva de Lacroix, fazendo de um simples
papel algo tão voluptuoso quanto os belos
modelos criados pelo estilista.
Ao mesmo tempo em que o convite
informa e transmite um pouco do conceito
Figura 47 – Convites que será mostrado na coleção, deve também gerar um certo mistério,
desenvolvidos por
Antonie+Manuel para criar uma curiosidade e expectativa para o evento. Como os desfiles são
diferentes coleções de
Christian Lacroix. para poucos, o número de exemplares a serem produzidos é pequeno, o
Disponível em: <http://www.
antoineetmanuel. que possibilita aos designers a chance de explorar ao máximo técnicas
com/lacroix_haute.htm>.
Acesso em: 05 nov. 2010.
e soluções especiais. Mesmo que o convite tenha uma simplicidade
característica do projeto, ainda assim, sua produção deve ser feita com
qualidade. Esses, no entanto, são casos específicos. No geral, o convite
é uma peça importante e deve ser realizado sem qualquer tipo de
economia gráfica ou financeira. Seja qual for a complexidade do projeto,
a produção do mesmo deve ser impecável. No caso de um projeto gráfico
econômico de recursos visuais, o papel, a impressão, o acabamento são
decisivos para sua perfeita finalização. Para um designer é sempre uma
ótima possibilidade de realizar seu trabalho com grande qualidade de
produção, o que ajuda muito na criação do projeto.
- 52 -
Para a criação de seus convites, Ronaldo Fraga também conta
com a parceria com a Designlândia, o mesmo estúdio responsável pela
criação de sua marca. Os convites realizados para os desfiles estão sempre
associados ao tema da coleção. A representação do tema e sua unidade
conceitual é identificável em diversos aspectos. O envelope para o convite
do desfile “China”, por exemplo, está em tons de vermelho, com imagens
contendo símbolos chineses e palavras escritas em chinês. Ao receber
um envelope como esse, mesmo sem abri-lo, já é possível identificar a
referência à China.
Figura 48 – Convite coleção
“China” Inverno 2007. Ronaldo
Fraga. Disponível em: <http://
www.designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

Outros aspectos também são explorados quanto ao tema e sua


unidade conceitual. Para o convite da coleção “Rio São Francisco”, foi
utilizada uma faca especial contornando o desenho de um peixe que
vinha envolto em um “pedaço de jornal” amarrado por um barbante. A
Figura 49 – Convite fechado
coleção “Rio São Francisco”
Verão 2008/2009. Ronaldo
Fraga. Disponível em: <http://
www.designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

Figura 50 – Convite aberto


coleção “Rio São Francisco”
Verão 2008/2009. Ronaldo
Fraga. Disponível em: <http://
www.designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

- 53 -
escolha de utilizar uma faca especial desenvolvida para o desenho do
peixe, o pedaço de jornal e o barbante cria uma sensação, mais próxima
do real, de que aquele pedaço de papel era realmente um peixe
embrulhado em jornal.
Em todos os convites, os aspectos gráficos estão sempre explorados
para contribuir com o tema e sua unidade conceitual. Essa sincronia
e essência ajudam a compor a identidade visual e o gerenciamento
da marca. Assim como outras peças gráficas realizadas pela marca,
os convites para o desfile possuem qualidade criativa e produtiva que
transcendem o propósito da informação, tornando-se materiais visuais
guardados como recordação.

Figura 51 – Convite fechado


coleção “A cobra que ri” Verão
2006/2007 Ronaldo Fraga.
Disponível em: <http://www.
designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

Figura 52 – Convite aberto


coleção “A cobra que ri” Verão
2006/2007 Ronaldo Fraga.
Disponível em: <http://www.
designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

A coleção “ A cobra que ri”, de Ronaldo Fraga, foi inspirada


na história de amor que se passa entre Riobaldo e Diadorim, do livro
“Grande sertão: veredas”, do escritor Guimarães Rosa. O convite
evidencia a temática da coleção, sem dizer muita coisa sobre ela. Introduz
o convidado ao tema que será abordado pelo estilista. A criação gráfica
já revela algumas dicas, como o grafismo da cobra, que posteriormente
apresenta-se em estampas e na própria superfície da passarela. O ícone
- 54 -
da marca é adaptado à proposta de criação, perdendo sua cor preta e
introduzido na estética visual do convite. A produção gráfica é delicada,
realizada com faca especial, dobras e vincos bem executados. Um convite
aparentemente simples, mas extremamente bem executado.
Em outras coleções, Ronaldo Fraga junto à Designlândia
executou convites graficamente mais elaborados e igualmente bem
resolvidos. A cada nova coleção, uma nova produção e criação em design
gráfico. Em todos os casos, a temática da coleção foi explorada mantendo
seus aspectos gráficos junto à unidade conceitual de cada coleção.
Além dos convites, Fraga encaminha para os jornalistas o release
da coleção que será apresentada. Geralmente os releases elaborados pelas
empresas são produzidos com um material gráfico característico à
papelaria da marca. No que diz respeito aos releases realizados para os
desfiles de Fraga, isso não ocorre. Os releases dos desfiles são visualmente
desenvolvidos conforme os padrões e aspectos gráficos estabelecidos
para a criação dos convites. A marca é adaptada ao tema da coleção,
mantendo a unidade conceitual da coleção.

Figura 53 – Release coleção “A


cobra que ri” Verão 2006/2007
Ronaldo Fraga. Disponível
em: <http://www.designlandia.
com.br/site.html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

Figura 54 – Release coleção


“Rio São Francisco” Verão
2008/2009. Ronaldo Fraga.
Disponível em: <http://www.
designlandia.com.br/site.
html>. Acesso em:
05 mar. 2010.

- 55 -
1.3.3 Lookbook e catálogo

As marcas do mercado da moda, como em outras áreas,


possuem suas particularidades no que diz respeito à comunicação.
Angelo Manaresi (In, SORCINELLI, 2008, p.137) explica que o
verdadeiro problema a ser resolvido, quando se trata de comunicação
nas empresas de moda, é conseguir uma coerência comunicativa com
modas volúveis e produtos em constante mudança. Essa coerência
muito tem a ver com a identidade da marca. Se a marca não possui
uma identidade que a caracterize, certamente a coerência de sua
comunicação estará comprometida.
Comunicar a imagem da marca é um desafio a ser vencido. No
que diz respeito às marcas de moda, o principal intuito de seus programas
de comunicação está ancorado em promover e informar para os clientes
o que está ou estará muito em breve nas lojas. Após a campanha de
lançamento das coleções, as marcas podem optar por ações menores,
campanhas para datas comemorativas e liquidação. O planejamento de
comunicação, marketing e promoção é feito de acordo com o tamanho
da empresa e sua disponibilidade financeira.
A apresentação dos produtos para o público final pode ser
realizada de forma distinta de uma marca para outra. Algumas optam
por campanhas publicitárias em mídia impressa, outras em anúncios
para cinema ou apenas através de envios de catálogos; em alguns casos,
é feito tudo isso ao mesmo tempo. Além dos propósitos financeiros,
essas escolhas também estão relacionadas aos objetivos empresarias.
O estúdio Plug-in Graphic fundado em Tóquio por Naomi
Hirabayashi estabeleceu uma parceria de sucesso com a grife japonesa
Arts&Science. Segundo Hirabayashi (apud. HESS, PASZTOREK,
2010, p.188), seu objetivo com relação à Arts&Science é transmitir
uma mensagem “de alta qualidade, clássica mas moderna, sem gênero”.
38. apud. HESS, Jay; Hirabayashi38 ainda esclarece:
PASZTOREK, Simone;
tradução BETTONI, Rogério.
Design gráfico para moda.
São Paulo: Edições Rosari, A proprietária é criativa e também uma profissional de
2010. p.188. marketing talentosa. Ao invés de gastar uma grande
porcentagem do orçamento em anúncios, ela sabe que é mais
- 56 -
39. “O termo chegou ao Brasil significativo gastar tempo e dinheiro em catálogos e outras
na década de 1990 para designar
os já experientes produtores de ferramentas de marketing. Nesse aspecto, temos o melhor tipo
moda. Devido à dinâmica do
de relacionamento possível entre designer gráfico e cliente.
setor, esta função cresceu em
importância e ganhou novas
feições. O stylist é um criador
de imagens de moda: pessoais, Os catálogos geralmente são realizados para o lançamento de
fotográficas ou em movimento.
Em desfiles, como os do SPFW, uma determinada coleção e têm como princípio apresentar e promover
ele interpreta tendências e as
afina com a assinatura da marca, essa coleção. Normalmente, absorvem uma grande produção para sua
utilizando diversos recursos:
o casting de modelos, a trilha realização, que conta com o trabalho de diferentes profissionais, como
sonora, a edição de looks, a
coreografia e a ambientação
designers, diretores de arte, fotógrafos, modelos, stylist39, produtores,
cenográfica.” RONCOLETTA,
maquiadores, cabeleireiros, entre outros. Além do propósito de informar
Mariana Rachel . Stylist,
produtor ou editor de moda? e promover a coleção, quando bem realizados, os catálogos agregam
17 janeiro 2009. Disponível em:
<http://blog.anhembi.br/site/ valor e prestígio à marca pelo material realizado. Assim como os convites
estilistas/stylist-produtor-ou-
editor-de-moda/>. Acesso em: de desfiles, os catálogos podem exercer um grande fascínio junto aos
20 dezembro 2010. “O stylist é
o profissional que decide junto clientes, que acabam guardando esse material como recordação.
com o estilista, procura entender
o conceito da coleção e mostrar Em geral40, esse tipo de peça gráfica trabalha a visão conceitual
isso de uma forma nova, através
da trilha sonora, do cenário
da coleção, sem deixar de evidenciar a perspectiva comercial da marca.
da passarela, da escolha dos Geralmente, é inviável a apresentação de todos os modelos criados.
modelos, para se chegar a uma
imagem de moda.” Dani Ueda. Nesses casos, é imprescindível o cuidado na escolha dos produtos que
Disponível em: <http://estilo.
uol.com.br/moda/fashionrio/ estarão no catálogo. A escolha desses modelos é importante, pois os
ultnot/ult2976u252.jhtm>.
Acesso em: 15 nov. 2010. catálogos mostram as roupas em um contexto que represente o tema
da coleção e a proposta da marca para aquela estação. Não existe a
40. Essas observações são preocupação de mostrar o produto como um todo, de frente e de
feitas, principalmente, com
base na experiência profissional costas. A finalidade é comunicar uma atitude, um posicionamento de
da autora como designer
gráfica para marcas de moda. marca e estilo.
41. Essas observações são Ao ar livre41, a narrativa é muitas vezes poética, mostrando a
feitas, principalmente, com
base na experiência profissional ambientação da locação onde o ensaio fotográfico foi realizado, um
da autora como designer
gráfica para marcas de moda. detalhe da produção, do produto ou do rosto da modelo. Em outros
casos, existe um trabalho conjunto de desenho e grafismos interferindo
nas fotos. A locação para as fotografias, o contexto que será retratado
e o trabalho de criação dependem do tema escolhido para a coleção e
seu conceito.
42. Essas observações são Quando feitas em estúdio42, as fotografias procuram enaltecer
feitas, principalmente, com
base na experiência profissional suas características através do stylist e direção dos modelos. O resultado
da autora como designer
gráfica para marcas de moda. pode parecer mais sutil e certamente menos figurativo se comparado
aos ensaios realizados em locações externas. No entanto, os ensaios
- 57 -
fotográficos realizados em estúdio possuem um controle muito maior
sobre luz, sombra e tempo. Essas facilidades contribuem para resultados
melhores no que diz respeito aos aspectos técnicos.
Assim como as campanhas publicitárias, os catálogos das grandes
marcas são sempre feitos com uma direção de arte direcionada aos
propósitos da marca. O catálogo procura demonstrar um posicionamento
da coleção mediante um comportamento e atitude que a marca procura
transmitir. A produção desse tipo de material é sempre feita com base
na unidade conceitual da coleção e elege uma fotografia como imagem
conceito da coleção. Além disso, é preciso vender um sonho, um desejo,
uma fantasia sobre os produtos apresentados.
As fotografias para o catálogo da coleção de verão 2009/10 da
loja de departamentos C&A foram realizadas nas cidades do Rio de
Janeiro e Niterói, tendo como cenários os arcos da Lapa, o Museu de
Arte Contemporânea de Niterói, a Fortaleza de Santa Cruz e a praia de
Figura 55 – Catálogo C&A Copacabana. O trabalho gráfico faz alusão ao calçadão de Copacabana,
verão 2009/10. Fotografia
Duto Sperry.
agregando ritmo e movimento ao trabalho fotográfico. O texto
Disponível em: <http://www. acompanha as ondas do mar referenciadas também no piso da orla da
welovemodels.com/cliques/
campanha-ca-verao-2010>. praia. O catálogo como um todo imprime uma sensação agradavelmente
Acesso em:
15 nov. 2010. casual ao verão da cidade maravilhosa.

O lookbook é outro tipo de catálogo realizado pelas empresas de


moda e também tem como finalidade a apresentação da coleção. No
entanto, o lookbook tem uma proposta distinta da do catálogo. As diferenças
começam pelo público: o catálogo é destinado ao consumidor final,
enquanto o lookbook é voltado para os grandes compradores, atacadistas,
- 58 -
multimarcas e também para a imprensa. A intenção do catálogo é criar
desejos, o lookbook serve como ferramenta de vendas do produto para o
mercado atacadista. Apesar dessas diferenças, com o tempo, o lookbook
passou a absorver novas perspectivas mais criativas e menos previsíveis.
Jay Hess e Simone Pasztorek (2009 p.145) definem lookbook
como uma documentação visual de uma temporada, que posteriormente
se torna um arquivo material da grife. Embora os catálogos tenham o
propósito de transmitir informações, seu maior objetivo é promover a
marca e a coleção apresentada. O lookbook tem como objetivo principal
informar a respeito do produto e da coleção.

43. HESS, Jay; PASZTOREK,


Seja ele um veículo puramente funcional de imagens de
Simone; tradução BETTONI, passarela, protegido por uma página decorada com um
Rogério. Design gráfico para
moda. São Paulo: Edições logotipo, ou uma extensão conceitual da coleção, o lookbook
Rosari, 2010. p.145.
é, antes de mais nada, uma ferramenta prática43.

Embora ainda preserve seu objetivo funcional, a concepção do


lookbook mudou sensivelmente. Em suas primeiras edições, a produção
dessa peça gráfica era essencialmente funcional. Seu objetivo era única e
exclusivamente apresentar os produtos e roupas da estação. A produção
das fotografias era mais simples, com pouca ou nenhuma interferência
no produto. O ensaio fotográfico era feito totalmente em estúdio, sem
contexto ou cenário, com modelos posando eretos, de frente e de costas
mostrando o produto por inteiro.
Muitas marcas ainda produzem os dois tipos de material
gráfico, o catálogo e o lookbook. Na maioria das vezes, o catálogo
obteve maior visibilidade na mídia justamente por ser uma peça
de comunicação elaborada com melhor produção gráfica e visual, e
também por ser destinada ao público final. Há mais de cinco anos,
essa dinâmica começou a mudar. As confecções e indústrias da moda
iniciaram um novo processo de desenvolvimento para a realização dos
lookbooks. A proposta ficou mais arrojada e menos óbvia. Em diversos
exemplares, o posicionamento dos modelos para as fotografias
das roupas em frente e verso foi alterado. A ambientação também
não é mais necessariamente feita em estúdio. Houve uma inserção

- 59 -
de elementos gráficos antes quase nunca usados, como desenhos,
grafismos, diferentes imagens e cores.
Um último exemplar que gerou grande repercussão no mercado

44. Disponível em: <http://


da moda foi o lookbook do inverno 2010 da Prada, com a direção criativa
ffw.com.br/noticias/prada- da dupla Alexander Reichert & Fausto Fantinuoli, do escritório de
reinventa-o-conceito-de-
lookbooks-com-remix-de- design OMA. As fotografias que serviram como base para a ilustração
ilustracoes/>. Acesso em:
05 nov. 2010. foram realizadas por Phil Meech. Segundo Romeu Silveira44 colaborador

Figura 56 – Montagem com


do site FFW, os lookbooks da Prada chegam a ser até mais interessantes
parte do lookbook Prada inverno que as próprias campanhas da marca. Ou seja, trata-se de uma inversão
2010. Criado pela OMA.
Disponível em: <http://www. dos valores anteriormente estabelecidos. Nesse exemplo, o design gráfico
prada.com>. Acesso em:
05 nov. 2010 é parte fundamental para a concepção do caderno.

Embora o exemplo da Prada seja inspirador, muito antes já se


produziam bons trabalhos realizados para diversas marcas, inclusive
menos famosas. Foi o caso do lookbook de outono/inverno 2003 da marca
Bernhard Willhelm realizado pelo escritório de design Freudenthal
Verhagen, comandado pela dupla Carmem Freudenthal e Elle Verhagen.
Freudenthal atesta e confirma a evolução desse tipo de material no
decorrer dos anos.

45. FREUDENTHAL,
Carmem. apud. HESS, Jay; Os primeiros lookbooks que fizemos para Bernhard Willhelm
PASZTOREK, Simone; eram apenas uma coleção de fotografias com um grampo
tradução BETTONI, Rogério.
Design gráfico para moda. juntando tudo. Depois de um par de lookbooks começamos a
São Paulo: Edições Rosari,
2010. p.158. pensar sobre leiaute e tipografia para enriquecer o visual45.

- 60 -
1.3.4 Embalagens

As embalagens possuem a função prática e objetiva de armazenar


um produto ou conteúdo garantindo a proteção do mesmo. Kotler (1994,
p.397) define embalagem “como as atividades de design e fabricação de
um recipiente ou envoltório para um produto”. Além de sua importância
básica, no mercado da moda, a função das embalagens está relacionada
a valores que se estendem da visualização da marca à finalização da
experiência de compra. Segundo José Antônio Rosa (ROSA, J. A. 1992,
apud. SARQUIS, 2003, p. 50), “À primeira vista, para o consumidor, o
produto é aquilo que sua embalagem comunica. Não basta que o produto
seja bom, ele tem que parecer bom”.
Embora esteja clara a importância da embalagem para o
produto, em sua pesquisa realizada com empresas/confecções nacionais
de pequeno porte, Sarquis identificou que as funções para as embalagens
dos produtos menos praticadas são “[...] tornar o produto atraente (50%),
diferenciar e tornar o produto de fácil reconhecimento (45,4%) e fazer
propaganda ou promoção de vendas (45,4%)”. Essa pesquisa demonstra
que ainda existe uma negligência por parte das empresas de menor porte
com relação à importância e pontecialidade das embalagens.
Sarquis detectou que “[...] as funções mais utilizadas são facilitar
o manuseio do produto (100%), proteger ou conservar o produto
(95,5%) e transmitir informações sobre o produto/empresa (81,8)”. A
importância em transmitir informações com relação à empresa e ao
produto cria proximidade entre as embalagens e o branding, pois está
diretamente associada à identidade visual da marca. Nesses casos, o
trabalho desenvolvido para a criação das embalagens é feito com base na
construção da marca. A intenção é comunicar por meio das sacolas, caixas
e papéis de presente informações que estejam adequadas à identidade da
marca. Esteticamente, quando relacionadas à marca, é importante que
as embalagens estabeleçam uma capacidade potencial para se manterem
atraentes por mais de uma temporada.

Complementar ao produto, a embalagem pode realçar a


experiência do consumidor de maneira única. Mais do que
- 61 -
46. HESS, Jay; PASZTOREK, um simples receptáculo, ela pode ser vista como o ápice da
Simone; tradução BETTONI,
Rogério. Design gráfico para comunicação visual da grife, imprimindo uma mensagem
moda. São Paulo: Edições
duradoura de valor estético46.
Rosari, 2010. p.223.

47. Joint venture ou Outra possibilidade é criar embalagens limitadas a alguma ação
empreendimento conjunto é
uma associação de empresas, específica ou que estejam associadas a uma temporada. Nesses casos,
que pode ser definitiva ou
não, com fins lucrativos, para a identidade visual da marca é abordada de forma menos evidente. A
explorar determinado(s)
negócio(s), sem que nenhuma
empresa pode estabelecer uma criação limitada ou um joint venture47
delas perca sua personalidade representando um personagem e desenvolvendo um produto específico
jurídica. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/ que requer uma embalagem própria. Existem marcas que criam
Joint_venture>. Acesso em:
02 Jan. 2011. embalagens exclusivas para uma única temporada. Quando isso ocorre, é
provável que essas embalagens estejam formuladas conforme os padrões
do tema e da unidade conceitual da coleção.
Como exemplo de embalagens específicas a um determinado
produto, podemos citar a parceria estabelecida entre o designer Tom
Dixon e a Lacoste, na linha Holliday Collector’s Series. Dixon criou em
parceria com a marca, uma dupla de camisetas que explora a relação
conflitante e ao mesmo tempo complementar estabelecida entre ecologia
e tecnologia. As camisetas foram desenvolvidas com matérias-primas
Figura 57 – Embrulho para
camisetas Eco Polo e Techno
distintas uma da outra. A Eco Polo foi realizada com uma única cor
Polo. Disponível em: <http:// índigo, em algodão orgânico e tingida à mão com corantes naturais da
lovelypackage.com/lacoste-–-
ecotechno-polo-shirts/>. Índia. Já a Techno Polo é cinza escuro, feita a partir da combinação de aço
Acesso em:
02. Jan. 2011. inoxidável, algodão e lurex.

Figura 58 – Tags para


camisetas Eco Polo e Techno
Polo. Disponível em: <http:// Para as duas camisetas foram desenvolvidas embalagens próprias
lovelypackage.com/lacoste-–-
ecotechno-polo-shirts/>. que estabeleciam coerência entre o produto e sua venda, ambas realizadas
Acesso em:
02. Jan. 2011. pelo estúdio Mind Design de Londres. A embalagem da Eco Polo foi
- 62 -
Figura 59 – Projeto embalagem feita em papelão reciclado, sem uso de rótulos e tinta para impressão. O
para Havaianas Ronaldo
Fraga. Disponível em: texto foi inserido em relevo seco. Para a Techno Pólo foi criada uma
<http://gabidesign.blogspot.
com/2009/02/embalagem- embalagem laminada prateada com impressão serigráfica e fechada a
havaianas.html>. Acesso em:
02. Jan. 2011. vácuo. Além das embalagens, foram produzidos tags que exerciam o
mesmo princípio de criação.
No caso de Ronaldo Fraga,
podemos citar como exemplo de joint
venture a parceria estabelecida com a marca
Havaianas. O resultado da parceria foi
determinado pela criação de uma sandália
Havaianas personalizada. Para a criação,
Fraga utilizou como inspiração a coleção
“Rio São Francisco”, bastante propícia ao
Figura 60 – Embalagem
finalizada para Havaianas produto. A ilustração usada nos chinelos
Ronaldo Fraga. Disponível em:
<http://gabidesign.blogspot. veio de uma estampa desenvolvida para a
com/2009/02/embalagem-
havaianas.html>. Acesso em:
coleção. Além do produto foi criada uma
02. Jan. 2011. embalagem específica acompanhada por
um tag que retratava um pouco da coleção.
Ronaldo Fraga também desenvolveu embalagens específicas
para determinadas coleções. Como exemplo, podemos citar a linha
infantil desenvolvida para a coleção de verão 2010. As embalagens que
acompanhavam o produto foram realizadas em papel com formato de
pequenas casas.
Figura 61 – Embalgem fechada
para linha infantil Ronaldo
Fraga. Disponível em: <http://
brasilfashionnews.blogspot.
com/2009/12/noticias-
selecionadas-10-de-dezembro-
de.html>. Acesso em:
02. jan. 2011.

Com relação aos embrulhos utilizados nas lojas, Fraga


Figura 62 – Embalgem aberta
para linha infantil Ronaldo desenvolveu uma linha de embalagem feita em tecido e com tamanhos
Fraga. Disponível em:
<http://brasilfashionnews.
distintos. Cada peça possui uma estampa realizada para uma
blogspot.com/
determinada coleção. Os pacotes contêm no seu interior um papel de
2009/12/noticias-selecionadas
-10-de-dezembro-de.html>. seda branco impresso com pequenos óculos interligados, todos iguais
Acesso em: 02. jan. 2011.
- 63 -
ao óculos utilizado para a identidade visual da marca. Além dos
Figura 63 – Embalagem embrulhos, Fraga desenvolveu uma sacola impressa com uma frase
Ronaldo Fraga feita em tecido.
Arquivo pessoal. criada por um dos seus filhos.

Figura 64 – Detalhe do papel As embalagens deixaram de ser unicamente funcionais e


de seda utilizado dentro da
embalagem de tecido. passaram a incorporar requisitos de influência para o consumo. Relacionar
Arquivo pessoal.
o produto à embalagem é um recurso de coerência visual com o objeto
de consumo. É como se a embalagem fosse uma extensão do produto.
Por outro lado, associar a identidade visual à embalagem cria uma ligação
Figura 65 – Sacola Ronaldo
Fraga. Arquivo pessoal. de consumo com a marca. Faz com que o consumidor sinta de forma
evidente a aquisição de um produto de determinada marca.

O mercado geral está cheio de sacolas com marca. As grifes


48. HESS, Jay; PASZTOREK,
Simone; tradução BETTONI, de moda reconhecem o potencial promocional e o consumidor
Rogério. Design gráfico para
moda. São Paulo: Edições fica feliz em professar publicamente sua aliança e promover a
Rosari, 2010. p.223.
mensagem de aspiração48.

Em ambos casos, quando desenvolvidas com qualidade projetiva,


visual e gráfica, as embalagens se tornam um objeto de recordação ou
adquirem uma nova função. Especialmente as caixas são reaproveitadas
como recipientes para outros objetos, de acordo com o tamanho.
Está claro que qualidade da produção das embalagens é
um fator importante. No entanto, esse fator deve ser considerado
conforme a viabilidade financeira do projeto. As embalagens devem
ser desenvolvidas sem que as mesmas onerem o custo do produto ou se
tornem um prejuízo para a empresa.

- 64 -
1.3.5 Materiais diversos

Existem diversos materiais gráficos realizados para o mercado


da moda que não fazem parte de um padrão de execução, ou seja, não
são usualmente produzidos. São projetos independentes das coleções
realizadas semestralmente, muitas vezes realizados em parceria com
outras empresas, instituições, marcas ou artistas. Embora esse tipo de
projeto não contribua com a coleção apresentada para a estação, esse
tem o poder de divulgar a marca.
Ronaldo Fraga executa inúmeros projetos paralelos à produção
habitual de sua marca. Trata-se de parcerias que contribuem para o
fortalecimento de sua marca e identidade junto ao público consumidor.
Em uma de suas últimas empreitadas, Fraga estabeleceu uma parceira
com a rede Tok&Stok, assinando com exclusividade sete linhas de
49. FRAGA,Ronaldo. apud. acessórios domésticos. Os produtos foram desenvolvidos com superfícies
ALTOÉ, Marcos Eduardo.
Tok&stok e Ronaldo Fraga: que reproduzem estampas desenvolvidas para diferentes coleções de
unidos pelo design. Style-
A-Holic. 27 out. 2010.
Fraga no decorrer de sua carreira. “As linhas trazem registros gráficos de
Disponível em: <http://www. várias coleções. São fragmentos afetivos de histórias para serem usadas
style-a-holic.com/2010/10/
tokstok-e-ronaldo-fraga- na cama, mesa e banho”, declara Ronaldo Fraga. “É a decodificação da
unidos-pelo-design/>.
Acesso em: 18 nov. 2010. moda aplicada democraticamente ao universo Tok&Stok”49.

Figura 66 – Montagem com


parte da linha Tok&Stok As parcerias de Ronaldo Fraga se estendem por diversos meios,
Ronaldo Fraga. Foto divulgação.
Disponível em: <http://
alguns pouco previsíveis. Em parceria com o Grupo Miolo, Fraga
manequim.abril.com.br/blogs/ cedeu seus croquis para “vestir” as garrafas de vinhos. A agência
mesa-de-luz/moda/vista-sua-
casa-de-ronaldo-fraga/>. Competence, que desenvolveu a campanha, adotou o conceito “Miolo
Acesso em: 15 nov. 2010.
- 65 -
veste Fraga”, no qual alia moda e estilo ao charme e sabor de degustar

50. PDV é a abreviação de


um bom vinho. A parceria teve início no verão e prosseguiu durante a
Ponto de Venda. Um local campanha de inverno devido ao grande sucesso. Para a campanha de
específico dentro de uma loja
ou mesmo a loja propriamente inverno, além dos anúncios em revistas segmentadas do setor, revistas
dita. A peças gráficas de PDV
têm o objetivo de chamar a de bordo da TAM e GOL, anúncios no Jornal O Estado de São Paulo
atenção dos clientes dentro do
ponto de venda. e peças de PDV50, os produtos contaram com uma série de embalagens
especialmente desenvolvidas também na campanha de verão. Embora
seja um universo distante do mercado da moda, o uso da imagem de
Fraga agrega valor ao produto vinho e dá credibilidade tanto à marca
de vinhos como a marca Ronaldo Fraga.
Figura 67 – Embalagem
Miolo e Ronaldo Fraga para
o verão 2009. Disponível em:
<http://karinrowell.blogspot.
com/>. Acesso em:
17 nov. 2010.

Figura 68 – Campanha Miolo


e Ronaldo Fraga para o verão
2009. Disponível em: <http://
karinrowell.blogspot.com/>.
Acesso em: 17 nov. 2010.

Figura 69 – Embalagem
Miolo e Ronaldo Fraga para
o inverno 2009. Disponível
em: <http://www.tainafiori.
blogspot.com/>.
Acesso em: 17 nov. 2010

Figura 70 – Campanha Miolo


e Ronaldo Fraga para o inverno
2009. Disponível em: <http://
www.tainafiori.blogspot.com/>.
Acesso em: 17 nov. 2010

Outra parceria inusitada foi realizada com a marca de papéis


higiênicos Neve. Em 2007, chegou às gôndolas de alguns supermercados
do país uma série de latinhas colecionáveis com capacidade para
armazenamento de um rolo de papel higiênico.Os brindes acompanhavam
os pacotes de 16 rolos da marca Neve. Ronaldo Fraga realizou esse
- 66 -
trabalho em conjunto com o escritório de design Designlândia. O
resultado foi tão positivo que a embalagem ficou como finalista na Bienal
de Design 2008.

Figura 71 – Lata Ronaldo


Fraga para Neve. Disponível
em: <http://www.designlandia.
com.br/site.html>.
Acesso em: 05 mai. 2010.

A Designlândia também produziu outros materiais gráficos


para Ronaldo Fraga, todos eles preservando a identidade visual da
marca. Os projetos são inúmeros e todos eles fortalecem a identidade
visual da marca. A moda de Fraga rompeu a fronteira da vestimenta e
se projetou em diversas outras formas de comunicação. Suas coleções
são consideradas pelos críticos de moda como sendo atemporais.
São propostas que se perpetuam sob forma de utensílios domésticos,
campanhas e produtos que nem sempre têm relação direta com a
indústria da moda propriamente dita. Em todos os materiais é possível
ver o uso constante de estampas de quatro, cinco coleções passadas ou
até mesmo do início de sua carreira. A Designlândia, como parceira
no desenvolvimento de seus projetos gráficos, soube captar essa força
criativa, potencializando ainda mais seus registros gráficos.

- 67 -
CAPÍTULO II
MARCA, IDENTIDADE VISUAL E
ESTILO NO DESIGN GRÁFICO PARA MODA
CAPÍTULO II
MARCA, IDENTIDADE VISUAL E
ESTILO NO DESIGN GRÁFICO
PARA MODA
A marca de uma empresa faz parte de seu patrimônio. Não se

51. A expressão “algo único”


trata de algo físico ou palpável, mas que possui valor comercial. Segundo
usada pela autora, representa Costa e Silva (2002, p.153), marca ou brand, como é conhecida na língua
qualquer possibilidade para
aplicação de uma marca: inglesa, é a “soma de todas as características, tangíveis e intangíveis,
produto, serviço, organização
ou a empresa como um todo. que fazem de algo51 único”. Os valores físicos52 de uma empresa estão
52. Os valores físicos é baseados em requisitos tangíveis. Por estar associada a características
contabilizado por tudo o que a
empresa possui de material. intangíveis, não há como medir com precisão o valor de uma marca,
mas há como estimá-los. A Interbrand é uma empresa que calcula
valores de marca segundo algumas lógicas e estudos próprios. Segundo
David Aaker (2002, p.32), os estudos realizados pela Interbrand em
1999 apontam que nove das sessenta maiores marcas globais obtiveram
valores que excediam cinquenta por cento do valor da empresa.
A pesquisa desenvolvida pela Interbrand é um exemplo de
grande magnitude que serve como parâmetro do poder das marcas.
Embora seja uma referência global, esse exemplo ajuda a entendermos a
importância da marca para empresas e produtos. Segundo Aaker (2002,
p.41), os programas de construção de marca servem para implementar
uma identidade de marca e também para auxiliar em sua definição.
Aaker (2002, p.41) define identidade de marca como sendo a “visão de
como aquela marca deve ser percebida pelo seu público-alvo”. Segundo
Andrea Semprini (2006, p.124), a identidade determina “em poucas
palavras a missão, a especificidade e a promessa da marca”.
Em um contexto pós-moderno, Semprini (2006, p.109) afirma
que a marca aparece como uma entidade relacional, em parte por sua
natureza semiótica e, por outro lado, em decorrência de seus mecanismos
de funcionamento. A semiótica, enquanto uma teoria geral dos signos,
prevê que por meio da articulação dos signos se dá a construção do
sentido (NIEMEYER, 2003, p.19). Enquanto signos, as marcas são
passíveis de agregar e veicular diversos significados.

- 69 -
53. SEMPRINI, Andrea. A O poder semiótico da marca consiste em saber selecionar os
marca pós-moderna: poder
e fragilidade da marca na elementos no interior do fluxo de significados que atravessa
sociedade contemporânea.
o espaço social, organizá-los em uma narração pertinente e
São Paulo: Estação das Letras.
Editora, 2006, p. 106 atraente e propô-los a seu público53.

A semiótica nos ajuda a entender melhor como as marcas são


absorvidas por seus consumidores. Santaella (1998, p.16) explica que
“Para Peirce não há, nem pode haver, separação entre percepção e
conhecimento. Segundo ele, todo o pensamento lógico, toda cognição,
entra na porta da percepção e sai pela ação deliberada” A percepção
envolve elementos cognitivos e inconscientes que estariam fora de nosso
controle na maior parte desse processo.
Os indivíduos percebem as marcas por meio de um conjunto
de características carregadas de significados. O consumo, a compra, a
escolha do produto se fazem pela escolha dessas imagens e simbologias.
A sociedade contemporânea como um todo está, a cada dia de forma
mais intensa, à procura de sentido e significado para suas escolhas e
experiências. Desse modo, as escolhas de um carro, um relógio ou de
uma roupa são ancoradas por marcas que representem opções de vida,
necessidades físicas e psicológicas.
O desenvolvimento e criação da identidade da marca são
um processo que pode variar de acordo com a empresa e sua forma
de gestão. Uma possibilidade é a identidade da marca ter início
com a criação do produto. Outra alternativa é o conceito da marca
determinar o padrão para o desenvolvimento do produto. O processo
dessa construção de conceito, marca e produto pode ser realizado
de forma simultânea ou sequencial. Alguns autores têm opiniões
bastante pontuais a respeito do tema.
Semprini (2006, p.23) afirma que “é sempre o Projeto de sentindo
na essência da marca que deve ditar a concepção e o desenvolvimento
dos produtos, e não o contrário”. A empresa determina que seu caráter
de marca é a busca constante pela inovação, dessa forma seus produtos
e serviços serão desenvolvidos com esse princípio valorativo. Embora
Semprini (2006, p.23) não acredite que a construção de uma marca
se estabeleça por consequência da criação de um produto, o autor

- 70 -
esclarece que o produto pode ser elemento-chave da concretização de
um projeto de marca.
A marca que assina cada peça de roupa criada por um estilista
é fundamentada numa série de relações de ordem social, industrial
e cultural. Uma simples assinatura tem, por trás de sua aparente
apresentação, uma estrutura complexa de concepção. Comunicar
ao consumidor o propósito esperado requer muito planejamento.
Uma marca isolada, sem conceito, sem contexto, sem produto e sem
identidade, não significa nada. Assim como em qualquer área de
atuação, as empresas de moda precisam criar esse contexto para o
logotipo, conferindo uma identidade e um significado coerente com
cada produto produzido e campanha desenvolvida.
54. FRAGA, R. Ronaldo Fraga54 aponta a questão da marca relacionada ao conceito e a
Fraga: A moda é a leitura do
tempo. Entrevista concedida a um código capaz de traçar um perfil:
Anna Ruth Dantas. Tribuna
do Norte. 28 mar. 2010.
Disponível em: <http://www. [...] Eu prefiro achar que você tem marcas que são direcionadas
tribunadonorte.com.br/noticia/
ronaldo-fraga-a-moda-e-a- pelo conceito. É determinado grupo que vai comprar aquela
leitura-do-tempo/144162>.
Acesso: 15 out. 2010. roupa pelo que ela expressa, pelo canal de comunicação dela.
Agora sempre a marca, ou a roupa de marca, será um dos
códigos de qualquer sociedade para traçar o perfil.

Como já mencionamos, a marca atua mediante características


intangíveis. Transpor essas características criando uma imagem capaz
de traduzi-las ao seu público consumidor é o que faz da construção
de uma identidade de marca uma tarefa decisiva para a comunicação
empresarial. Os estudos relacionados à gestão estratégica das marcas
disponibilizam diferentes modelos para construção de uma identidade
de marca. Em todos os métodos, a construção da marca depende muito
do trabalho de comunicação exercido pela empresa. No entanto, é
importante observarmos que o significado e a atuação da comunicação
empresarial vêm mudando significativamente, especialmente no
decorrer dos últimos dez anos. Muitos fatores continuam contribuindo
para essas mudanças, desde questões tecnológicas até questões culturais
relacionadas ao consumo.

- 71 -
55. MASCIO, Antonella. Nos últimos anos, o sistema de comunicação de massa passou
Moda e meios de comunicação
de massa. In Estudar a moda: por grandes mudanças, concernentes, sobretudo, às novas
corpos, vestiário, estratégias.
possibilidades de interação entre as redações e seus públicos.
SORCINELLI, Paolo. (Org.);
MALFITANO, Alberto; Em geral, a lógica do contrato de comunicação unilateral,
PRONI, Giampaolo. (Col.);
AMBROSIO, Renato. (Trad.) estabelecido pela relação entre uma emissora e muitos
São Paulo: Senac, 2008, p.169
destinatários, está dando lugar à lógica de network, baseada na
possibilidade de construir uma relação bidirecional55.

Há pouco mais de vinte anos, as possibilidades de comunicação


estavam quase que totalmente vinculadas à prática publicitária das
56. Grande mídias são os grandes mídias56. Com o tempo, surgiram novas mídias e meios de
meios de comunicação com
maior alcance de público, comunicação, gerando novas possibilidades publicitárias. Atualmente,
como: rádio, televisão,
jornais e revistas. podemos observar um esforço por parte de muitas empresas em adequar-
se a essa realidade de modo a comunicar melhor e não necessariamente
em maior quantidade.
57. Nesse caso, estamos nos
referindo, especialmente, aos No mercado da moda nacional, a comunicação por meio das
meios abertos de transmissão e
não aos meios pagos e a cabo. mídias televisivas e radiofônicas57 em atuação interestadual ou nacional
não é uma prática constante, salvo algumas campanhas realizadas pelos
58. Segundo Sarquis (2003, grandes magazines58. Esse tipo de anúncio publicitário pode abranger
p.151) 27,3% das pequenas
empresas de moda anunciam um número elevado de pessoas, dependendo da área de veiculação. No
em TV, rádio ou cinema. No
entanto o autor não esclarece entanto, parte de grande público pode não corresponder ao público-alvo
se a atuação dos anúncios
televisivos se estendem ao
da marca. Outro ponto diz respeito aos alto custo de veiculação para a
campo regional, interestadual realização dos anúncios em rádio e televisão. Para a grande maioria das
ou nacional.
marcas nacionais, os valores cobrados por esses dois meios – televisão e
59. Ao que se refere ao meios rádio – são impraticáveis59.
abertos. Tanto por seu custo de
produção, como pelo seu custo Para o mercado de moda nacional, a comunicação realizada
de veiculação para o mercado
regional, interestadual ou para construção de uma identidade de marca pode ser feita com base
nacional.
em outras mídias menos abrangentes e onerosas, mas não por isso
menos eficazes. Aaker (2002, p.41) explica que para a construção de
uma identidade de marca forte, é preciso uma “execução brilhante”,
que rompe o lugar-comum. A execução brilhante a que se refere Aaker,
depende de ferramentas certas de comunicação que englobam muito
mais do que somente propaganda. A construção de uma identidade de
marca normalmente está alicerçada por diversas fontes de comunicação,
que englobam, além da propaganda, outras ações como: promoções de
vendas, marketing de relacionamento, mídia interativa, relações públicas,
- 72 -
assessoria de imprensa e merchandising.
A integração de diversas ações de comunicação com o objetivo
de transmitir uma mensagem unificada caracteriza a estratégia de um
plano de comunicação integrada. Mascio (2008, p.173) define como
comunicação integrada “[...] aquela comunicação que a empresa
utiliza com o objetivo de realizar a integração de diversas mensagens,
para públicos diferentes (internos e externos).” A imagem da marca
60. MASCIO, Antonella. é construída aos poucos por meio dessas diferentes possibilidades
Moda e meios de comunicação
de massa. In Estudar a moda: de comunicação.
corpos, vestiário, estratégias.
SORCINELLI, Paolo. (Org.);
MALFITANO, Alberto;
PRONI, Giampaolo. (Col.); Geralmente, a imagem da marca, ou da grife, é veiculada
AMBROSIO, Renato. (Trad.) por diferentes canais: a publicidade impressa, os outdoors, as
São Paulo: Senac, 2008,
p.173-174. revistas “monomarca”, os spots, as promoções, os web sites60.

Embora existam algumas regras gerais para a comunicação de


uma empresa com seus públicos, cada mercado de atuação possui suas
especificidades. O que é indicado para a comunicação de uma empresa
de eletrodomésticos não é necessariamente igual para uma marca de
roupa jovem, por exemplo. Seja qual for o meio de comunicação usado,
Aaker61 explica que:

Quando realizada, a identidade de marca deve auxiliar o


61. AAKER, David A.;
JOACHIMSTHALER, Erich. estabelecimento de um relacionamento entre a marca e o
(Trad.). Como construir cliente por meio de geração de uma proposta de valor que
marcas líderes. São Paulo:
Futura, 2002. p.57 potencialmente envolva benefícios funcionais, emocionais ou
auto-expressivos [...]

A construção de uma marca para uma empresa, organização,


instituição, produto ou serviço requer uma identidade visual que traduza
os conceitos e valores dessa marca. Podemos assim entender que a
identidade da marca é o que orienta a criação da identidade visual da
marca. Embora pareça fragmentado, esse processo ocorre geralmente de
forma simultânea; à medida que se constrói uma identidade de marca,
62. COSTA E SILVA, cria-se também uma identidade visual. O resultado de todo esse esforço
Adriana. Branding & design:
identidade no varejo. será visto pelo público de forma unificada, demonstrando que uma é
Rio de Janeiro: Rio Books,
2002. p.155.
extensão da outra. Costa e Silva62 define identidade visual como:
- 73 -
Conjunto sistematizado de elementos gráficos que identificam
visualmente uma empresa, uma instituição, um produto ou um
evento, personalizando-os, tais como um logotipo, um símbolo
gráfico, uma tipografia, um conjunto de cores.

A identidade visual faz parte da construção e gerenciamento da


marca e do branding. No que diz respeito à composição visual dessa
marca, existem diversos elementos que devem ser considerados: as fontes,
as cores, as imagens e, até mesmo, os formatos de publicação. Trata-se da
conjuntura de elementos gráficos que caracterizam a personalidade visual
de uma marca para uma determinada empresa, organização, instituição,
produto ou serviço. Segundo Adriana Costa e Silva (2002, p.113), “a
identidade visual de uma empresa é um dos mais fortes elementos que
compõe sua imagem”.
Em um mercado altamente imagético como o da moda, a
construção de uma identidade visual é importante para estabelecer os
alicerces da identidade da marca. É importante ressaltar que identidade
visual não é o mesmo que identidade de marca. A identidade visual
deve refletir visualmente os propósitos e valores determinados pela
identidade da marca.
A identidade visual é principalmente explorada por meio da
comunicação da empresa, porém, sua aplicabilidade se estende para além
do propósito comunicacional. A instância da identidade visual atinge
também as características do produto. Nesse processo de construção
visual da marca, o design gráfico exerce, especialmente na moda, a
importante função no sentido de compor uma imagem para a marca e
ainda participar da construção de um produto que traduza essa imagem.
O design gráfico, como já apontamos, está presente na moda tanto nos
materiais de comunicação visual, como no produto em si, adquirindo
importância na construção da marca e seus significados.
A marca Ronaldo Fraga desenvolveu uma identidade visual
reconhecível em seus produtos, desfiles e ações de comunicação. Como já
demonstramos, o logotipo da marca foi desenvolvido a partir dos óculos
do estilista. O cartão impresso frente e verso apresenta registros gráficos
de diversas coleções. Os convites dos desfiles, com temas distintos, estão

- 74 -
sempre correspondendo à identidade visual da marca e ao conceito da
coleção. A visão lúdica, o uso de imagens gráficas presentes nas estampas
da coleção, os formatos inovadores, o uso de materiais diferenciados
como tecido e cordão, os acabamentos com dobras e facas especiais, são
alguns dos recursos utilizados para a criação dos convites mantendo o
padrão criativo instaurado na identidade da marca.
O release da coleção acompanha as mesmas características do
63. Originária do grego convite e até mesmo o web site mantém a mesma proposta. Na seção da
“logos” = palavra e “tupos”
= impressão. “Forma gráfica página web composta por suas coleções, apesar da inicial falta do nome
específica para uma palavra,
de modo a caracterizá-la com da coleção, fica fácil identificar através das iconografias utilizadas a qual
uma personalidade própria”
(COSTA E SILVA, 2002,
coleção elas se referem.
p.155). A abreviação “logo”, Para as grandes empresas o trabalho de identidade visual é
usada de modo coloquial,
também caracteriza um geralmente levado muito a sério. Existe um controle rígido para o uso
símbolo gráfico de uma marca
projetado para representá-la. adequado da identidade estabelecida. No mercado da moda, o logotipo63
da empresa e toda sua comunicação visual são um importante fator para
a construção da identidade da marca. Newark (2009, p.124) explica que
o logotipo “é somente uma parte da identidade de uma organização”.
64. Nesse caso, o autor se Newark também explica que “identidade corporativa”64 abrange não
refere à identidade corporativa
em seu aspecto visual e não somente a maneira como o logotipo é utilizado, mas também como os
como identidade de marca. No
mesmo sentido, Costa e Silva
outros elementos o são. Uma vez que uma empresa tem sua marca e
(2002 p.155) utiliza “imagem logotipo aplicados em diversos meios, como produtos, anúncios, convites,
corporativa” e a define como
“Representação formada pelo releases, papelarias e mídia espontânea, é importante estabelecer uma
conjunto das percepções em
relação a uma empresa ou linguagem visual que esteja coerente em todos esses meios.
instituição, tanto a partir de
seus consumidores como de Nas empresas menores, a preocupação pela manutenção da
seus funcionários, ou ainda de
outros grupos de interlocutores linguagem visual pode ser menos praticada. Os administradores das
e do mercado como um todo”.
pequenas empresas nem sempre têm conhecimento da área ou condições
estruturais e financeiras para estabelecer um projeto estratégico para uso
da marca. Além disso, no caso das empresas menores, as possibilidades
de veiculação da marca ou produto são geralmente menos intensas do
que as praticadas pelas empresas de grande porte. No que diz respeito às
pequenas empresas, Sarquis65, afirma que:

A marca e o logotipo podem ser importantes ferramentas


65. SARQUIS, Aléssio B.
Marketing para pequenas de marketing para a pequena empresa, pois são meios de
empresas: a indústria da
confecção. São Paulo: comunicação com o mercado, servem de auxílio às vendas e
Senac, 2003. p.48.
são de fácil utilização.
- 75 -
Seja qual for o tamanho da empresa, existem programas
desenvolvidos para minimizar a dificuldade de manutenção da
identidade visual da marca. As grandes empresas geralmente trabalham
com Manual de Identidade Visual da marca ou Programa de Identidade
Visual. Costa e Silva (2002, p.156) explica que esse nome é um termo
usado para designar “o conjunto de elementos visuais de uma identidade
institucional e suas relações de modo a consolidar, através de um sistema
de normas e padrões, a projeção de uma imagem coordenada”.
Em sua grande maioria, esses manuais são desenvolvidos pelos
designers responsáveis pela criação do logotipo da empresa. Eles servem
como orientação na forma adequada do uso da marca. Os programas
procuram demonstrar previamente possibilidades de aplicação da
marca em diferentes situações. Entre outras aplicações, é comum a
descrição de padrões e referências para realização de cartão de visita,
papel de carta, embalagem, papel de presente, etiquetas adesivas e outras
possibilidades relacionadas, conforme a área de atuação da empresa ou
necessidade de materiais.
A marca Ronaldo Fraga possui uma identidade visual
consolidada. Os elementos visuais utilizados através de um sistema de
normas e padrões estão sempre coordenados. No entanto, essa identidade
visual da marca encontra-se em constante construção. A cada nova
coleção, superfícies diversas com novas imagens, desenhos, bordados,
texturas, recortes e cores são introduzidas nos produtos e nas peças de
comunicação desenvolvidas pela marca. Essa constante inserção de novas
referências visuais não cria nenhum tipo de dissonância com o trabalho
de identidade visual já realizado pela marca. A cada coleção, essas novas
propostas surgem com conceitos bem delineados, sempre em harmonia
com as características estabelecidas pela marca.
A identidade da marca e toda a imagem que esta deseja transmitir
ficam mais compreensíveis quando a empresa é analisada como um
todo, sua comunicação interna e externa, produtos e serviços. No âmbito
da moda, a identidade visual aplicada à comunicação e à roupa ajuda
a compor e é também composta pelo estilo desenvolvido pela marca.
Ao estabelecer um processo de criação da marca, as empresas também
acabam por criar um estilo que vai ao encontro dessa identidade. É
- 76 -
importante e estratégico que a criação desse estilo esteja em coerência
com a marca e seus produtos. Para isso, é importante compreendermos
melhor o que exatamente significa estilo.
Existem diferentes formas de entender o significado de estilo.
Este pode estar relacionado a uma tendência, a uma personalidade ou
a uma associação simbólica. Dependendo do contexto no qual está
inserido, o estilo pode traduzir um ou outro sentido. Afrânio Garcia
descreve o significado original da palavra e o princípio de sua mutação
66. GARCIA, Afrânio. de sentido. Segundo Garcia66, a palavra estilo, do latim stilu(m),
Semântica histórica.
Disponível em: <http://www. significava originalmente uma “pequena haste usada para escrever, um
filologia.org.br/soletras/2/11.
htm> Acesso em: 25 jun. 2010. tipo de caneta antigo”. Garcia ainda afirma que a associação da palavra
com a idéia de escrita, fez com que se desenvolvesse um novo sentido
para estilo, que passou a indicar uma “maneira específica de escrever ou
falar de uma pessoa ou de um grupo de pessoas”. A partir de então, da
literatura às outras áreas, a palavra foi absorvendo novos significados
dentro dos contextos em que estava inserida.

67. COELHO, Luiz Antonio Nas artes e no design, Luis Antonio Coelho67 define estilo como:
L. (Org.). Conceitos-chave
em design. Rio de Janeiro:
PUC-Rio Novas Idéias, Uso sistemático de elementos ou técnicas, através de uma
2008. p. 35.
linguagem ou sistema simbólico, na produção de sentido. O
estilo descreve as várias características que dão a uma coisa
as qualidades que a separam de outras coisas do mesmo tipo.
É um elemento identitário individual, grupal ou relativo a
períodos históricos ou épocas.

O estilo tem a importante função de traduzir uma época ou


qualidade de expressão artística. A tradução dessa expressividade é
realizada através de demonstrações artísticas diversas que contenham
características predeterminadas e que combinadas representem o estilo
criado. Mas o estilo exercido pela atuação artística é de suma importância
para outras áreas, pois tem o poder de influenciar diferentes formas
de produção comercial, como: objetos, artes gráficas, revistas, jóias,
mobiliários, arquitetura, pinturas, entre outros.
Segundo Fayga Ostrower (1996, p.102), o estilo não se refere
somente a uma determinada terminologia. Este abrange diferentes
- 77 -
relações do nosso consciente e inconsciente: a maneira como agimos,
pensamos, sonhamos, sentimos, entre outras possibilidades. Os valores
culturais que nos envolvem possuem uma grande quantidade de
significados. A forma como absorvemos e reagimos a esses valores é
o que constrói nossas visões de vida, e são essas visões que contribuem
para a formação de um estilo.
A construção desses valores culturais é formatada em um
contexto responsável por orientar os rumos da criação. Mesmo que,
para o indivíduo, suas manifestações criativas não derivem de valores
coletivos, é impossível negar a influência cultural coletiva. Segundo
Ostrower (1996, p.102), na arte, qualquer que seja o estilo e a época,
ainda que o criador se utilize de experiências subjetivas, a obra faz
transparecer a consciência ante a realidade vivida. Com o mesmo viés,
Dondis (1991, p.161) afirma que, em termos visuais, o estilo é uma
classe de expressão modelada pelo ambiente cultural. O estilo compõe
uma gama de qualidades que caracterizam uma determinada forma de
criar, expressar e comunicar sentimentos e idéias.
O estilo também pode estar associado a uma determinada época
e região. Para Dondis (1991, p.163), existem muitos estilos artísticos
que identificam um período histórico, uma metodologia criativa ou uma
posição geográfica distinta. As semelhanças entre as obras fazem com
que elas sejam classificadas a um determinado grupo estilístico.
O estilo, quando abordado no campo do design, normalmente
está relacionado aos elementos visuais que lhe conferem uma determinada
personalidade. Porém, existem outras formas de interpretar o estilo no
design. O estilo pode estar ligado ao termo styling, referente a tendência
de estilização norte-americana que sucedeu entre os anos de 1930 e
1940 para estimular o consumo no período da Depressão. Essa tendência
basicamente consistia no tratamento da superfície estética do objeto,
fazendo com que o mesmo produto adquirisse uma nova aparência.
Segundo Lipovetsky (2009, p. 190), a revolução na produção
industrial fez com que o design se tornasse parte da concepção dos
produtos, o que resultou na adoção da perspectiva da elegância e da
sedução por parte da grande indústria. Os produtos passaram a ter
constantes modificações estéticas no intuito de seduzir a cada novo
- 78 -
lançamento. Tratava-se de uma estratégia empresarial da época com o
objetivo de minimizar os efeitos da crise. A investida empresarial fez
com que os produtos passassem a ser substituídos pela modificação
de pequenos detalhes. Lipovetsky (2009, p. 190) denominou esse
comportamento como “obsolescência dirigida”, de modo que um produto
prescrevesse por uma simples alteração de estilo e apresentação.
Apesar de estar relacionada à característica estética, parece
inconsistente que toda e qualquer produção - design de produto - da
época não fosse válida. Cardoso (2008, p. 148) afirma que o termo é
muitas vezes injustamente aplicado de forma sistemática e pejorativa a
muitos bons trabalhos de designers das décadas de 1930 e 1940.
Segundo Quentin Newark (2009, p.18), o estilo no design
gráfico “é o efeito total, a combinação de todas as escolhas específicas
de fontes, uso do espaço, cor e assim por diante”. Newark explica que a
busca por um novo estilo ocorre à medida que a necessidade de uso do
último estilo for satisfeita. Como se o esgotamento de um uso estilístico
ocasionasse a necessidade de criação de um novo estilo.
A concepção de estilo está presente na literatura, música, artes
plásticas e visuais, no design, na moda, em diferentes atividades e
momentos da vida. Sua importância está especialmente relacionada à
função para qual a presença do estilo se faz necessária. Newark descreve
que a função do estilo é limitar escolhas. Ao escolher um estilo, o
designer estaria optando por um padrão e explorando valores que esse
estilo representa.
Ainda no campo do design, Coelho (2008, p. 36) descreve outro
sentido para o estilo, relacionado aos valores atribuídos aos produtos.
Coelho afirma que o “estilo está relacionado ao gosto e à moda”. Ou seja, o
objeto com maior estilo é aquele que está mais ao gosto do consumidor.

[...] Não resta dúvida de que o conceitos como ‘estilo’ e ‘moda’


68. CARDOSO, Rafael. Uma são bastante antigos e que, em muitos séculos, pelo menos,
introdução à história do vêm se desenvolvendo em estreita convivência com questões
design. 3. ed. São Paulo:
Blucher, 2008. p.98 de distinção social e relações de classe ou casta68.

- 79 -
A visão do estilo relacionado à moda e ao gosto do consumidor
é importante, pois por um lado de análise pode caracterizar o sucesso
ou fracasso de um produto. Cristiane Mesquita (2009, p. 6) afirma que
é em torno dos campos do marketing, da publicidade, do design e da
moda, que o estilo está fortemente submetido à circulação.
Tanto o marketing quanto a publicidade são responsáveis por
delinear o estilo como perfis de pessoas e, consequentemente, de
consumidores. Os grupos formados por esses diferentes perfis são
divididos conforme os tipos de personalidades, hábitos de compras e
escolhas pessoais. Sob esse aspecto, o estilo passou a ser uma orientação
da variável do comportamento humano. O propósito principal dessa
“padronização” de estilos de vida é guiar as empresas na fabricação e
Figura 72 – 1º Encontro de venda de seus produtos ou serviços, bem como no relacionamento com
estilo, elegância e equilíbrio
Práticas e reflexões sobre o os diversos tipos de consumidores.
Universo da moda e consumo
contemplando também as Em seu livro Marketing e Moda, o especialista em marketing
necessidades das pessoas com
deficiência visual. Marcos Cobra dedica um capítulo inteiro somente para falar de estilo de
Disponível em: <http://www.
fundacaodorina.org.br/fdnc/
vida e comportamento. Cobra (2007, p.79) esclarece que a importância em
email_mkt/encontro_estilo/ compreender o comportamento do consumidor se deve primeiramente
encontro.html>. Acesso em: 20
mai. 2010 ao fato de as estratégias de marketing estarem baseadas em pesquisas de
comportamento de compra de artigos dominados pelas regras da
moda. Em segundo lugar, porque as estratégias de comunicação
devem considerar o que o consumidor deseja ouvir. E, por fim,
porque a venda deve estar focada no consumidor de moda.

Os resultados dos perfis delineados por pesquisas de mercado,


conceitos de marcas e discursos da mídia produzem existências
codificadas na coletividade, inserções sociais e profissionais,
eus qualificados para circular, e garantidos pela compreensão
69. MESQUITA, Cristiane. dos códigos de comunicação emitidos pelos estilos69.
O império do estilo. Iara –
Revista de Moda, Cultura e
Arte – São Paulo – V.2 No.2
out./dez. 2009 – Dossiê 1. p.6
A necessidade de adequação a novos padrões estéticos faz com
que a moda esteja em transformação, seguindo tendências, mas também
sugerindo novas características. Na moda, a palavra estilo classifica uma
forma de expressão, mas também pode ser utilizada como sinônimo
de classe. Para Gloria Kalil (1997, p.11), o estilo é o que faz de uma
pessoa um ser único. Nesse sentido, ter estilo independe de elegância.
- 80 -
Pode ser um estilo esportivo ou roqueiro, exótico ou descontraído, que
muito pouco ou em nada tem a ver com elegância e classe. Segundo
Seivewright (2009, p.14), a “moda, em sua própria definição, refere-se ao
gosto ou ao estilo popular atual”. Para Seivewright o designer de moda
deve expressar o espírito do tempo em seu trabalho.
70. LAUREN, Ralph. apud.
UDALE, Jenny; tradução Meu conceito sobre roupas para homens e mulheres envolve
Edson Furmankiewicz.
Fundamentos de design de uma pessoa, uma imagem, um conceito. É estilo, não moda70.
moda: tecido e moda. Porto
Alegre: Bookman, 2009, p.89.
O estilo relacionado à moda pode ser entendido como um fator
que ultrapassa o uso da vestimenta. Não se trata somente do uso da
roupa, com sapatos e acessórios, mas de todo um significado que engloba
essa qualidade de expressão. O estilo para a moda está associado a uma
representação do contexto da vestimenta relacionado ao modo ou estilo
de vida de quem a veste. Para Ronaldo Fraga, essa relação do indivíduo
com seu meio é o que determina seu estilo.

71. FRAGA, R. Ronaldo


Fraga: A moda é a leitura do Estilo é marca, é visão de mundo, estilo é a forma como você
tempo. Entrevista concedida a
Anna Ruth Dantas. Tribuna se comunica no seu grupo e não é só a roupa, mas o que você
do Norte. 28 mar. 2010. veste, o que você lê, o que você come, os lugares que você
Disponível em: <http://www.
tribunadonorte.com.br/noticia/ freqüenta, os amigos que você possui. Isso tudo irá desenhar o
ronaldo-fraga-a-moda-e-a-
leitura-do-tempo/144162>. estilo de uma pessoa71.
Acesso em: 15 out. 2010.

Comunicar esse estilo de vida foi uma grande mudança na


forma de vender moda. Kátia Castilho (2004, p.46) explica que antes
dos anos 80, o marketing era realizado com base nas informações que
caracterizavam o produto, a fim de vendê-lo. Castilho explica que
a partir dos anos 90 essa perspectiva mudou, e o marketing passa a
vender emoções, conceitos e estilos de vida intrínsecos às imagens das
empresas. As empresas já não vendiam mais características palpáveis de
seus produtos, mas estilos de vida e imagens de uma marca baseados em
uma identidade.
No caso das empresas de moda, a criação e manutenção do
estilo, da identidade e da imagem transmitida podem estar totalmente
associadas ao diretor criativo da marca. Fraga sempre esteve à frente
da direção criativa da marca, o que pode caracterizar uma facilidade
- 81 -
para a manutenção do estilo e da identidade criada. Quando um estilista
tem seu nome como assinatura de sua marca, a identidade dessa última
normalmente estará associada à identidade do próprio estilista.
Essa não é uma regra, mas especialmente nesses casos, a
identidade da marca está vinculada à personalidade do autor da coleção.
Ser autor é ser agente fundador de alguma coisa, responsável por aquilo
que se criou. Fraga confirma a autoria sobre o trabalho que realiza,
demonstrado sua relação pessoal com a identidade da marca.

72. FRAGA, Ronaldo. Eu acho que se você tem a pretensão de que o seu trabalho seja
Entrevista Ronaldo Fraga:
segunda parte. Charme Funk.
reconhecido e tenha o mínimo de autoria, de criação, não tem
07 abr. 2010 Disponível em: como ele não ser autobiográfico. Não tem como você deixar
<http://charmeefunk.com/
site/2010/04/07/segunda- de registrar no seu trabalho algo do seu olhar pessoal e da sua
parte-ronaldo-fraga/>. Acesso
em: 10 mar. 2010 visão de mundo72.

Por mais pessoal que possa parecer a concepção de uma marca


assinada pelo estilista que a criou, essa não é uma realidade generalizada.
Existem estilistas que assinam criações de coleções que nem sempre
correspondem com sua identidade, estilo ou características pessoais.
Podemos visualizar casos reais no Brasil e no exterior de
empresas que começaram através de um estilista que posteriormente
foi substituído por outros criadores, seja por falecimento, aposentadoria
ou distanciamento voluntário daquele que deu nome à marca. O grande
desafio nessas circunstâncias é fazer com que o novo diretor criativo da
grife mantenha a identidade da marca criada por aquele que a fundou.
Um dos exemplos mais emblemáticos na sucessão de direção
criativa foi de Gabrielle Bonheur Chanel, mais conhecida como Coco
Chanel e fundadora da empresa de vestuário Chanel S.A. Com o
falecimento de Coco em 1971, a Maison Chanel passou por anos de
insucesso até que em 1983 Karl Lagerfeld assumiu a direção criativa
da marca. Na época, a notícia causou um certo receio no mercado da
moda, uma vez que o estilo de Lagerfeld era considerado diferente do
estilo adotado por Coco. Apesar das diferenças, os críticos afirmam que
Lagerfeld conseguiu restaurar a força da marca Chanel, mantendo o
estilo e a personalidade propostos por sua fundadora Gabrielle.

- 82 -
A marca Ronaldo Fraga também mantém sua proposta de estilo
no decorrer de suas coleções. Através do diálogo da cultura brasileira
com o mundo contemporâneo, Fraga criou uma forma muito própria
de fazer moda, com autoria difícil de ser classificada em um estilo já
determinado. No entanto, essa dificuldade em classificá-lo diante das
nomeações de estilos existentes não é exatamente um problema.
Seus desfiles repletos de significados são uma conjunção de
fatores que compõem seu estilo, sua identidade como marca e sua lógica
de criação. Embora Fraga retrate universos muito distintos – do Rio São
Francisco à China –, todos eles tem uma característica muito própria da
marca. A cada nova coleção uma nova proposta, com referências
imagéticas distintas e resultados visuais – silhuetas, estampas, botões,
cabelos, maquiagens, sapatos, acessórios – diferenciados, mas em todos
os casos cumprindo sua mensagem estilística.

Figura 73 – Desfile Ronaldo


Fraga Outono/Inverno 2007
(3) Coleção “China”.
Agência Fotosite.
Disponível em: <http://ffw.
com.br/desfiles/sao-paulo/
inverno-2007/ronaldo-
fraga/home/>.
Acesso em: 20 mai. 2010.

Figura 74 – Desfile Ronaldo


Fraga Primavera/Verão 2010
Coleção “Rio São Francisco”.
Agência Fotosite.
Disponível em: <http://elle.
abril.com.br/desfiles/
ronaldo-fraga/desfiles_
295634.shtml#21>.
Acesso em: 20 mai. 2010.

73. CASTILHO, Kathia. As tendências apresentadas em um desfile compõem o estilo de


MARTINS, Marcelo M.
Discursos da moda: semiótica,
um estilista. O que se apresenta como traço da indumentária,
design e corpo. 2. ed. São quer a cor, quer a forma, quer o tipo de tecido/ material, quer
Paulo: Editora Anhembi
Morumbi, 2005. p. 79. o acessório, perpassa toda a coleção do criador73.

Essa capacidade estilística como um todo faz com que Ronaldo


Fraga tenha como resultado uma identidade reconhecível em todo e
qualquer produto fruto de sua marca. A identidade da marca associada
- 83 -
ao estilo e relacionada ao conceito dos produtos Ronaldo Fraga, é o
que determina a unidade conceitual, tão bem definida em suas coleções.

74. apud. KALIL, Gloria. Embora possa parecer algo simples, o estilo influi de forma decisiva na
Mulheres Fictícias. In:
FRAGA, Ronaldo.
composição da unidade conceitual. A assertividade, no que diz respeito
coleção Moda Brasileira à identidade da marca Ronaldo Fraga, é consequência da proposta de
Ronaldo Fraga. São Paulo:
Cosac Naify, 2007,p.9. criar roupas e produtos baseados no estilo e conceito da marca.

Não peça para eu, mineiro fazer uma roupa de bumbum de


fora e clima de beira de praia. Eu não sei fazer isso74.

Nos produtos, as roupas estão sempre correspondendo ao estilo


Figura 75 – Coração “rendado”.
usado pear ilustrar o convite. e à identidade adotada desde o início de sua carreira. O design das
Convite Designlandia
para desfile Ronaldo Fraga roupas apresentam formas variadas “Longas, arredondadas, soltas,
Primavera/Verão 2005/2006
Coleção “Descosturando cônicas, enviesadas e assimétricas [...]”, mas que segundo Garcia (In.
Nilza”. O convite é
desenvolvido com aplicação de FRAGA, R. 2007, p.79) “abraçam cada corpo por inteiro”. Já as
uma linha que o “costura”. No
interior a impressão do coração
estampas criadas para diversas coleções são carregadas de imagens e
“rendado” usado em corte a simbolismos, que segundo Garcia (In. FRAGA, R. 2007, p.76)
laser nas peças da coleção.
Disponível em: <http://www. correspondem a um “banquete iconográfico” desenvolvido segundo
designlandia.com.br>. Acesso
em: 10 mai. 2010. suas propriedades poéticas.
Figura 76 – Coração “rendado”. As cores, as estampas e os materiais usados por Ronaldo Fraga
aplicado na peça. Desfile
Ronaldo Fraga Primavera/ também são escolhidos mantendo a proposta da unidade conceitual
Verão 2005/2006.
Coleção “Descosturando Nilza”
da coleção. As estampas, em especial, são executadas de diferentes
FRAGA, Ronaldo. Coleção de
formas: localizadas, corridas, bordadas, recortadas a laser, aplicadas ou
moda brasileira:
Ronaldo Fraga. sobrepostas, todas realizadas com uma grande diversidade de materiais.
São Paulo: Cosac & Naify,
2007, p.99-101 Como exemplo, apenas na coleção “Descosturando Nilza” para o verão

- 84 -
de 2005/06, em homenagem à costureira mais antiga de sua equipe,
Fraga utilizou diferentes formas de criar texturas e estampas. Foram
realizados “[...] corações rendados cortados a laser, decalques de flores
e passarinhos e sobreposições que simulavam uma prova de roupa”
(FRAGA, 2007 p.98).
As formas, os volumes, as estampas, os temas e todos os demais
elementos necessários para a criação de uma coleção de moda compõem
uma infinidade de combinações que devem corresponder à proposta da
marca e à unidade conceitual de sua coleção. Diversas possibilidades
de criação geram outras tantas combinações. Considerando que o
mercado da moda lança a cada ano duas coleções compostas por
inúmeros modelos, não é tarefa fácil criar novos produtos com temas
distintos e ainda manter a identidade visual coerente com a proposta
da marca. Toda essa profusão de informações e combinações parece não
causar nenhum problema de identidade ou incoerência criativa para a

75. GARCIA, Carol. Por uma


marca Ronaldo Fraga. Segundo Garcia, Fraga busca por interlocuções
poética do lugar-comum. In: desafiantes, “Enquanto a coerência garante credibilidade e a emoção
FRAGA, Ronaldo. Coleção
de moda brasileira: Ronaldo solidifica vínculos comunicacionais, é a continuidade de tais maneiras
Fraga. São Paulo: Cosac &
Naify, 2007, p.81 de costurar que legitimiza Ronaldo”75.

- 85 -
CAPÍTULO III
A UNIDADE CONCEITUAL DA COLEÇÃO
APLICADA NA MARCA RONALDO FRAGA
CAPÍTULO III
A UNIDADE CONCEITUAL DA
COLEÇÃO APLICADA NA
MARCA RONALDO FRAGA
Ao discorrer sobre o envolvimento do design gráfico junto ao
mercado da moda, avaliamos com especial enfoque o trabalho realizado
pela marca Ronaldo Fraga. Os desenvolvimentos gráficos e visuais
acrescidos aos produtos e utilizados para a comunicação da marca
contribuem para o posicionamento junto ao mercado consumidor. Neste
capítulo, iremos transpor todo os conceitos analisados anteriormente
sob a ótica exclusiva do estilista Ronaldo Fraga. Também avaliaremos o
projeto e resultados adquiridos pela coleção “Tudo é risco de giz” para
o inverno de 2009. Serão analisadas as características da coleção, os
valores culturais que a compõem e as relações estabelecidas entre essas
características e a moda sugerida pelo estilista Ronaldo Fraga.

3. 1. Ronaldo Fraga

O conhecimento e a análise estabelecida sobre o processo


criativo do estilista Ronaldo Fraga para o desenvolvimento de seu
produto e comunicação de sua marca foram feitos com base nas
inúmeras reportagens, entrevistas concedidas pelo estilista, críticas
e comentários de jornalistas e formadores de opinião, e também em
nossa própria observação.
O trabalho criativo realizado por Ronaldo Fraga é bastante
particular. A escolha do tema se mostra fundamental para o
desenvolvimento da coleção. O desenvolvimento do produto é feito com
base no conceito estabelecido para a coleção e nas pesquisas realizadas
sobre o tema. Em uma de suas entrevistas, ao ser questionado sobre suas
escolhas com relação aos temas trabalhados, Fraga76 declarou:

76. FRAGA, R. Rio de Arte.


Lia Hama. Trip 2010. v.194. Escolho tudo aquilo que me dá comichão, o que me dá vontade
17 nov. 2010. Disponível em:
<http://revistatrip.uol.com.br/
de pesquisar sobre o assunto. Em cada desfile, é como se eu
revista/194/reportagens/ estivesse contando uma história. “Ah, vamos falar de Nara
rio-de-arte.html>.
Acesso em: 15 Dez. 2010. Leão?” Aí eu mergulho e leio tudo sobre Nara Leão. Fico
- 87 -
meses pesquisando, conversando com as pessoas, visitando os
lugares ligados àquele tema.

O aprofundamento no tema escolhido resulta em uma criação


fundamentalmente conceitual. Em todas as coleções, o tema e o conceito
unidos ao estilo e à identidade da marca estão presentes como um todo
no produto: no tecido, nas formas, nos aviamentos, nas estampas, nos
bordados, nos recortes, nas cores e nos acessórios que acompanham as
roupas. Fraga77 explica que:

Antes de pensar na roupa, tenho que pensar no contexto da


77. FRAGA, R. Rio de Arte. história que eu quero contar. Com isso definido, naturalmente
Lia Hama. Trip 2010. v.194.
17 nov. 2010. Disponível em: a roupa aparece pedindo para ter determinada cor, determinado
<http://revistatrip.uol.com.br/
revista/194/reportagens/ tecido, volume e comprimento. Por isso que eu digo que não
rio-de-arte.html>. faz sentido ficar acompanhando qual é o hype do momento, o
Acesso em: 15 Dez. 2010.
que está na moda lá fora, entende?

78. Casting em inglês significa O tema e o conceito estão presente na cenografia do desfile, na
distribuição de papéis. Na
linguagem coloquial da moda, composição da trilha sonora, nos convites, na maquiagem do casting78, na
é a formação de um conjunto
de modelos escolhidos para o fachada da loja, na comunicação, nas etiquetas e tags que acompanham
desfile.
as roupas e acessórios de cada coleção realizada pela marca. Trata-se
da composição de sua unidade conceitual feita com a colaboração de
diversos profissionais. Segundo Garcia79:

79. GARCIA, Carol. Por uma Os arabescos são complexos e, talvez por isso, Ronaldo Fraga
poética do lugar-comum. In. não tenha um stylist, mas sim uma rede de colaboradores que
FRAGA, Ronaldo. Coleção
Moda Brasileira Ronaldo vão costurando suas fábulas em várias linguagens a partir da
Fraga. São Paulo: Cosac Naify,
2007. p.81 paisagem conceitual que oferta: designers gráficos, músicos,
arquitetos. É ele próprio, contudo, quem coordena cada
passo: rabisca os cenários, sugere a trilha sonora e propõe as
performances para desfiles emocionantes e espetaculares.

80. FRAGA, Ronaldo. No que diz respeito ao processo de pesquisa e criação desenvolvido
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia para suas coleções, Fraga80 afirma que parte do princípio “[...] de que a
Luz. Simplesmente Elegante.
31 mai. 2009. Disponível em: moda pode estabelecer um diálogo com todas as frentes de cultura” e
<http://simplesmenteelegante.
com/?p=3392>. que a forma como desenvolve suas coleções faz parte desse princípio. O
Acesso em: 11 jun. 2010
estilista finaliza explicando que isso é muito pessoal: “A minha forma de
- 88 -
81. FRAGA, Ronaldo. pesquisar e pensar moda não é a certa, não é única, é a minha forma”81.
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia A pesquisa também está relacionada a diversos itens importantes
Luz. Simplesmente Elegante.
31 mai. 2009. Disponível em: que compõem o produto. A busca por materiais é um desses itens que
<http://simplesmenteelegante.
com/?p=3392>. influenciam diretamente na criação das roupas. Para alguns estilistas, os
Acesso em: 11 jun. 2010.
materiais vêm antes do tema; para outros, vêm depois. Ronaldo Fraga
descreve essas possibilidades ao se comparar com Márcia Ganem82;
82. Márcia Ganem é uma segundo ele, no caso de Ganem “a pesquisa de material é de extrema
estilista baiana, que vem se
destacando no cenário da moda importância; para mim, o material vem depois da pesquisa do tema a
brasileira. “Márcia Ganem
expressa em seu trabalho um ser desenvolvido”83. A opção de pesquisar materiais posteriormente à
diálogo entre moda, arte e
joalheria, com a aplicação de definição do tema, de acordo com Fraga, deve-se ao fato de ele precisar
materiais e técnicas especiais,
resultantes do seu processo de
do tempo, do contexto e do universo referente ao assunto pesquisado.
pesquisa e desenvolvimento.
A pesquisa por tendências também está sempre evidenciada no
Uma destas técnicas, hoje marca
registrada da estilista, é o uso mercado da moda. Fraga revela ter uma visão crítica com relação à moda
da Fibra de Poliamida reciclada,
seja ela na cor natural, tingida criada sob o aspecto do que outros países elegem como tendência.
ou trabalhada com pedras
semi-preciosas” (GANEM. M
Disponível em: <http://www.
marciaganem.com.br/>. Temos, neste caso, duas indústrias fortes: a indústria da roupa e
Acesso em 10 dez. 2010). a indústria da moda. A indústria da roupa fica o tempo inteiro
de olho naquilo que as indústrias estão precisando consumir.
83. FRAGA, Ronaldo. Determinada anilina, que está encalhada, determinado fio,
Entrevista: Ronaldo Fraga. para o qual é preciso estimular uma demanda. A indústria
Entrevista concedida a Márcia
Luz. Simplesmente Elegante. da moda não. Ela tem um olhar sobre o tempo que estamos
31 mai. 2009. Disponível em:
<http://simplesmenteelegante. vivendo84.
com/?p=3392>.
Acesso em: 11 jun. 2010
Segundo Fraga, a busca por tendências é algo que está mudando
com o tempo, e esse comportamento está associado às novas necessidades
84. FRAGA, Ronaldo.
Ronaldo Fraga: moda com do mercado consumidor e à construção da marca de uma empresa. “Há
humor, ousadia e crítica
social. Entrevista concedida a alguns anos, todo mundo só se preocupava com tendências. Hoje há
Marco Lacerda. Dom Total.
12 fev. 2009. Disponível uma valorização do olhar individual de cada estilista. O mercado cobra
em: <http://www.domtotal.
com/entrevistas/detalhes. isso. É urgente a construção da alma da marca”85.
php?entId=14>.
Acesso em: 20 mai 2010
Os elementos do design gráfico apresentados nas superfícies
têxteis, nos produtos e nos materiais de comunicação são resultado
das pesquisas realizadas. São interpretações do tema realizadas por
85. FRAGA, Ronaldo. O
quintal do Ronaldo. Karla meio de elementos visuais e desenvolvidos tanto no produto quanto
Matida. Novidadeiras. 19
jun.2007. Disponível em: na comunicação da marca. Essa prática possibilita a continuidade e
<http://novidadeiras.blogspot.
com/2007/06/o-quintal-do- associação do produto com a comunicação da loja, e de ambos com o
ronaldo.html>. Acesso em:
20 mai 2010 tema da coleção, criando assim uma unidade conceitual.
- 89 -
Figura 77 – Divulgação Feira Em sua coleção “O Turista Aprendiz” lançada para primavera/
de Passira 2010. Disponível
em: <http://aventurapassira. verão 2011, Ronaldo Fraga se inspirou na obra de Mário de Andrade
blogspot.com/search?updated-
min=2010-01-01T00%3A (1893-1945), que entre 1927 e 1929 realizou uma série de viagens
00%3A00-08%3A00&
updated-max=2011-01- etnográficas aos estados do Norte e Nordeste Brasileiro. Os registros da
01T00%3A00%3A00-
08%3A00&max-results=11>.
viagem com hábitos locais e imagens produzidas pelo escritor resultaram
Acesso em: 10 dez. 2010. na criação e publicação do livro O turista aprendiz.
Fraga se diz um turista aprendiz e ao realizar uma viagem baseada
na viagem de Mário de Andrade, o estilista, assim
como o autor, coletou uma série de registros como
forma de transformá-los em referências para o
desenvolvimento da coleção. Esse trabalho de
transposição conceitual traduzido em informação
de moda caracteriza a marca Ronaldo Fraga. Ao

86. FRAGA, R. Turista


mesmo tempo em que o produto traduz a pesquisa, o resultado de tudo
Aprendiz - Verão 2010/2011.
o que foi criado é transportado para a comunicação da marca. O que se
Categoria Release. Blog
Ronaldo Fraga. 22 jun. vê no produto, está presente no desfile, na loja e no material gráfico de
2010. Disponível em: http://
ronaldofraga.com/blog/?p=161 divulgação e informação da coleção.
Acesso em: 10 nov. 2010
Para a coleção “O Turista Aprendiz”, Fraga inspirou-se nos
Figura 78 – Frente tag para
coleção Primavera/Verão 2011 bordados artesanais de Passira, região que faz parte dos caminhos
“O Turista Aprendiz”.
Arquivo pessoal. percorridos por Mário de Andrade. O estilista agregou à sua pesquisa o
trabalho que já desenvolvia junto a um grupo de bordadeiras do Agreste
Figura 79 – Verso tag com
nome bordadeira. Coleção Pernambucano. “Aqui a cultura pernambucana vem costurada, estampada
Primavera/Verão 2011 “O
Turista Aprendiz”. e bordada em linho, seda, bases de algodão e jacquards imitando renda”86.
Arquivo pessoal.
Muitas peças da coleção
foram desenvolvidas com
bordados feito à mão pelas
próprias bordadeiras de
Passira. Para classificá-las, a
marca criou tags específicos
que descreviam a bordadeira
responsável pelo
desenvolvimento da peça.
Os tags foram feitos com
faca especial em formato de
mão. De um lado, continha
- 90 -
87. “O Brasil terno, criativo, desenhos dos bordados desenvolvidos para a coleção. Do outro lado,
emocionante, amoroso,
carinhoso, é feito à mão! É além do crédito com o nome da bordadeira, um texto87 acompanhado
nesse lugar que costuramos
nossa estória” Texto retirado por uma pequena bandeira brasileira sinalizando o produto nacional.
do tag desenvolvido para
as peças feitas pelas
bordadeiras de Passira.

Figura 80 – Tag frente e


verso para a coleção infantil
informando o nome do
artista convidado.

Todo o contexto criado para a composição das roupas é adaptado


para a comunicação da marca. Os materiais gráficos de promoção e
divulgação são realizados com base nos elementos visuais utilizados
para os produtos. Para cada coleção, a marca desenvolve novos tags,
repassando informações diversas referentes ao processo de produção do
produto, à coleção, a forma de lavagem, o procedimento indicado no
caso de avaria, a possível contribuição artística, entre outras informações
consideradas relevantes.

Figura 81 – Tag frente


e verso para a coleção
“Pina Bausch” Outono/
Inverno 2010. A imagem
é a mesma usada no
site e em uma das
estampas da coleção.
Faz referência a uma
de tantas coreografias
desenvolvidas pela
bailarina, a paixão pela
dança, à entrega do corpo.
O texto é composto por
informações a respeito de
lavagem, procedimento
no caso de avaria,
serviço de atendimento
ao consumidor,
procedimento no caso de
troca, produto produzido
no Brasil e, por último,
informação a respeito do
processo de estamparia
sem uso de metais
pesados.
- 91 -
Figura 82 – Desfile “O Turista No decorrer da coleção, a transição do conceito do produto para a
Aprendiz” Coleção Primavera/
Verão 2010/2011 para a comunicação da marca, a mensagem que se pretende transmitir fica mais
semana de moda de São Paulo
SPFW. Disponível em: <http:// facilmente identificada por meio dos elementos visuais associativos. Em
elle.abril.com.br/desfiles/
ronaldo-fraga/spfwverao2011- sua coleção para o verão 2010/2011, Fraga transportou os elementos
563150.shtml#28>. Acesso em:
10 Nov. 2010. visuais da passarela do desfile para a fachada da loja.
A pesquisa, o tema e todos os elementos que ajudam a compor
o contexto e a unidade conceitual são importantes para transmitir
a proposta criada para a coleção. No entanto, no que diz respeito à
característica associativa do produto e sua comunicação, é possível
Figura 83 – Fachada da loja
Ronaldo Fraga, localizada em notarmos que as informações visuais são fundamentais. A linguagem
São Paulo. Coleção Primavera/
Verão 2010/2011 Fotografia
visual é o elemento que contribui para a continuidade informacional,
arquivo pessoal. seja ela aplicada nas estampas das roupas ou na fachada da loja.

Além das peculiaridades de cada coleção, existem também as


características que compõem a identidade da marca. O humor, a diversão
88. FRAGA, Ronaldo.
Entrevista: as boas novas de e as memórias afetivas são características presentes na identidade da
Ronaldo Fraga. Entrevista
concedida à Milene Chaves. marca Ronaldo Fraga. Questionado sobre a ligação de sua linha infantil
Chic News. 15 mai. 2007.
Disponível em: <http://chic.
com a de adultos, o estilista esclarece: “Ela tem o espírito Ronaldo Fraga,
ig.com.br/materias/432001- tem humor, referências de memória afetiva, grafismos, conforto, tecidos
432500/432366/432366_1.
html>. Acesso em: 20 mai 2010 100% algodão”88. Fraga mantém para a linha infantil a mesma proposta
de identidade de marca desenvolvida para as roupas dos adultos.
Ao compararmos as figuras 84/85/86 com as figuras 87/88/89,
relacionando a moda infantil com as coleções de adulto, é possível
- 92 -
Figura 84 – Croquis Ronaldo notarmos o quanto a identidade da marca é preservada em ambos
Fraga para filhotes. Disponível
em: <http://mondomoda. segmentos. O traço do croqui é o mesmo, assim como a tendência pelo
files.wordpress.com/2010/08/
ronaldo-fraga-filhotes-verao- uso de estamparias e grafismos. As camisetas com motivos infantis em
2011-croqui.jpg>.
Acesso em: 10 dez. 2010. estampas localizadas em tecidos 100% algodão estão presentes tanto
nos produtos infantis quanto nos produtos adultos. Por último,

Figura 85 – Camiseta
visualizamos os sapatos desenvolvidos com um ar infantil e humorístico
Ronaldo Fraga para em ambas as coleções.
filhotes. Disponível
em: <http://4.
bp.blogspot.com/_
QVzjBsT0wmk/
TB_rO6-radI/
AAAAAAAAC3I/
ky3HFTlw9jw/
s1600/012ronaldo5.
jpg>. Acesso em:
10 dez 2010.

Figura 86 – Sapato
feminino Ronaldo
Fraga para filhotes.
Disponível em:
<http://guiadobebe.
uol.com.br/
novidades/bibi_
por_ronaldo_fraga_
para_filhotes.htm>.
Acesso em:
10 dez 2010.

Figura 87 –
Croquis Ronaldo
para coleção Rio
São Francisco.
Disponível em:
<http://
namidiacom.
wordpress.
com/2008/06/17/
preview-verao-08-
09-ronaldo-fraga/>.
Acesso em:
10 Dez. 2010.

Figura 88 – Camiseta Ronaldo


Fraga “liga pontos” para adulto. Além da linha infantil, a marca Ronaldo Fraga assina acessórios
Vem acompanhada de caneta
para ligar os pontos. de moda, produtos de papelaria e acessórios para casa. Em todas as
Arquivo pessoal.
possibilidades, a proposta e as características da marca são mantidas. Em
Figura 89 – Sapato feminino
Ronaldo Fraga coleção Nara
alguns casos, as estampas são responsáveis pela criação de outros
Leão. Disponível em: produtos, como já visualizamos na parcerias estabelecidas com as marcas
<htttp://novidadeiras.blogspot.
com/2007_05_20archive.html>. Tok&Stok e Neve. Em outras ocasiões, Fraga é capaz de desenvolver
Acesso em: 20 jul. 2010.
- 93 -
toda uma linha de produtos para atender à demanda de uma nova
proposta de criação. Podemos citar, como exemplo, a parceria estabelecida
no ano de 2009 entre as marcas Ronaldo Fraga e Chiclets.
89. Cadbury é a A Cadbury89 estabeleceu uma parceria com o estilista no intuito
empresa detentora
da marca Chiclets. de aproximar a marca Chiclets do público jovem, com idade entre 14 e
17 anos. O resultado foi a criação de uma coleção com uma mistura de
características dos produtos Ronaldo Fraga e elementos visuais dos
produtos Chiclets. Fraga utilizou o design gráfico das embalagens para
compor estampas idênticas às próprias embalagens e outras com
elementos visuais das mesmas. Nesse caso, o design gráfico é usado
como referência para a criação das peças. As cores e o formato do
produto Chiclets também serviram como referência para a criação de
diferentes estampas.

Figura 90 – Roupas e
acessórios desenvolvidos para
linha Chiclets. Disponível
em: <http://justlia.mtv.uol.
com.br/2010/08/chiclets-by-
ronaldo-fraga/>. Acesso em:
10 Dez. 2010.

- 94 -
3. 2. Coleção “Tudo é Risco de Giz”

Abordamos com mais detalhe a coleção “Tudo é Risco de Giz”


desenvolvida por Ronaldo Fraga para a temporada de inverno 2009. A
escolha do tema, o processo de criação e desenvolvimento do produto, o
desfile e a comunicação serão os itens apontados para a compreensão da
unidade conceitual estabelecida para coleção.
A coleção foi inspirada no espetáculo Giz da obra de Álvaro
90. Pintor, ilustrador, gravador, Apocalypse. Álvaro Brandão Apocalypse90 (1937 – 2003) foi uma
desenhista, cenógrafo,
professor, teatrólogo, personalidade muito importante para a cultura brasileira. Sua
museólogo e publicitário.
contribuição artística tem especial importância junto ao teatro de
marionetes. Em 1970 criou o Grupo Giramundo em parceria com
91. FRAGA, Ronaldo. duas artistas, Terezinha Veloso (sua esposa) e Maria do Carmo
Entrevista: Ronaldo Fraga.
Entrevista concedida a Márcia
Vivácqua Martins.
Luz. Simplesmente Elegante. Vale observarmos algumas características semelhantes entre o
31 mai. 2009. Disponível em:
<http://simplesmenteelegante. trabalho do Grupo Giramundo e o trabalho desenvolvido pela marca
com/?p=3392>.
Acesso em: 11 jun. 2010 Ronaldo Fraga, que procuram resgatar valores culturais brasileiros. Ao
ser questionado sobre o que falta à moda brasileira para ser referência
92. O correio de Lagoa Santa.
08 set.2009. Disponível em: no mundo, Fraga91 é enfático: “cultura”. Por sua vez, Apocalypse92
<http://www.lagoasanta.
com.br/gente_ls/alvaro_ explica que o Grupo Giramundo sempre tenta resgatar valores da
apocalypse_03.htm>. Acesso
em: 10 dez. 2010. cultura nacional.
Outra semelhança consiste em Fraga93 afirmar que, antes mesmo
93.FRAGA, R. Rio de Arte.
de criar uma coleção, ele fica meses pesquisando, conversando com as
Lia Hama. Trip 2010. v.194.
17 nov. 2010. Disponível em: pessoas e visitando os lugares referentes ao tema. Segundo Apocalypse94,
<http://revistatrip.uol.com.br/
revista/194/reportagens/ os espetáculos criados pelo grupo são geralmente o produto final de
rio-de-arte.html>.
Acesso em: 15 Dez. 2010. uma pesquisa. “Na verdade, ele é considerado mais como um Centro de

94. O correio de Lagoa Santa.


Pesquisas e de Criação do que um grupo convencional de teatro”.
08 set.2009. Disponível em: No que diz respeito ao design gráfico, tanto o Giramundo como
<http://www.lagoasanta.
com.br/gente_ls/alvaro_ a marca Ronaldo Fraga valorizam esse trabalho. No decorrer do nosso
apocalypse_03.htm>. Acesso
em: 10 dez. 2010. trabalho, mencionamos diversos exemplos da importância gráfica para a
concepção da coleção e comunicação estabelecida pela marca Ronaldo
95. BARROSO, F.
Arte gráfica_1. Blog do Fraga. Quanto ao Giramundo, Fabiano Barroso95 afirma que o Grupo
Giramundo. 25 nov. 2008.
Disponível em: <http://
também reconhece a importância da arte gráfica e sempre entendeu que
blogdogiramundo.blogspot.
o alcance de um espetáculo é potencializado quando auxiliado por peças
com/2008/11/arte-grfica1.
html>. Acesso em: gráficas eficientes.
12 out. 2010.
- 95 -
96. BARROSO, F. Cartazes, programas, lambe-lambe, ingressos, planfletos,
Arte gráfica_1. Blog do
Giramundo. 25 nov. 2008. sempre tiveram destaque na produção do Giramundo. Nunca
Disponível em: <http://
foram tratados como meros auxiliares de um projeto maior,
blogdogiramundo.blogspot.
com/2008/11/arte-grfica1. que é o espetáculo. Ao contrário, no Giramundo a arte gráfica
html>. Acesso em:
12 out. 2010. se integra com o espetáculo, mantendo obrigatoriamente
afinidades com ele. Tanto é que hoje o grupo conta com setor
específico de arte gráfica96
Figura 91 – Cartaz
criado para a primeira
montagem do espetáculo
Giz. O fundo preto
representa o quadro
negro. A letra G e Z
estão em tom de cinza
claro, enquanto o I está
em branco total. A fonte
I desenhada como um
giz de quadro negro.
Disponível em: <http://
www.giramundo.org/
teatro/index.html#>.
Acesso em: 25 abr. 2010.

Figura 92 – O logo do Figura 93 – O cartaz para Figura 94 – Para a remontagem


Grupo Giramundo nova montagem mantém a do espetáculo, o Giramundo
em vermelho quebra identidade visual da primeira realizou apresentações
a monocromia do montagem, com novas itinerantes e teve o cuidado
branco. Disponível soluções gráficas. A escrita de manter a identidade visual
em: http://1.bp. Giz é levemente falha, como do espetáculo, inclusive no
blogspot.com/ se estive escrito com giz em transporte usado pelo
_1eAYEnQDq9I/ quadro negro. Disponível em: Grupo. Disponível em:
ShWMXWQIYYI/ <http://2.bp.blogspot.com/_ <http://3.bp.blogspot.com/
AAAAAAAAANE/ 0wHHi3IFpCU/SMfaf- _3JXd1Wr4XL8/SNJKP6h
3YMpQ0nvhbQ/s CpV2I/AAAAAAA HZvI/AAAAAAAAAZE/
1600-h/giz.jpg. AKo/1QotXVrr-no/s1600-h/ 4JSSMnCmNGA/s1600-h/
Acesso em: blog_giz+ufmg.jpg>. FotoCaminhaoPedroMotta.jpg>.
25 abr. 2010. Acesso em: 22 abr. 2010 Acesso em: 22 abr 2010.

- 96 -
Figura 95 – Imagem Liliane P. O espetáculo Giz, criado em 1988, é realizado com bonecos
Pré-estréia do espetáculo
“Giz”, do grupo Giramundo grandes, suportados por cabides de madeira. Quase todos os bonecos
Teatro de Bonecos.
13 ago. 2008. http:// são maiores do que os próprios manipuladores, que participam e
www.flickr.com/photos/
lilianep/2764860154/in/set- atravessam a cena, sem qualquer preocupação em serem vistos. Uma
72157608001367024/
Acesso em: 20 ago. 2010.
proposta diferente do que normalmente o Giramundo desenvolvia,
mas a peculiaridade se deve sobretudo à narrativa. O
texto verbal está em segundo plano, e a comunicação
com o público é realizada principalmente através da
visualidade. São imagens e cenas aparentemente
desconexas. Juntando as peças, o espetáculo procura
transmitir a ideia de abandono e fragilidade dentro das
relações familiares.
Em 2008, o espetáculo foi remontado com os
desenhos e a concepção original criada por Álvaro
Apocalypse. Porém, o Grupo fez algumas atualizações
técnicas e estruturais nos projetos. Para essa nova
montagem, Ronaldo Fraga foi responsável pelo
desenho dos figurinos dos marionetistas, uma vez que
97. FRAGA, R. Confira os mesmos ficam tão presentes e visíveis em cena.
entrevista com o estilista
Ronaldo Fraga. Entrevista Segundo Fraga97, com sua participação no processo de
concedida a Gesane Lucchesi.
Ragga Drops, seção drops, remontagem do espetáculo, surgiu a ideia de criar uma coleção baseada na
12 mar. 2009. Disponível
em: <http://www.new.
obra Giz, de Apocalypse. Fraga queria usar o mesmo tema de “abandono
divirta-se.uai.com.br/html/ e desamparo”. Para retratar o universo do espetáculo, o Grupo esclarece
sessao_16/2009/03/12/
ficha_drops_noticia/id_ de que forma o tempo e o abandono se estabelecem na apresentação.
sessao=16&id_noticia=8609/
ficha_drops_noticia.shtml>.
Acesso em: 12 dez. 2009.
É como quando se viaja por muito tempo e para bem longe: se
fecha a casa e se cobrem os móveis com lençóis. O tempo escorre
98. GIRAMUNDO -
CD-ROM, 2001 apud.
e tudo se cobre de poeira. A vida dorme. Ah, o tempo... O tempo
MEDEIROS, Fábio H. N. passa e tanto passa que até as sereias envelhecem. Mas não
Fonteiras invisíveis e territórios
movediços entre o teatro de abandonam o velho charme. Afinal, o amor não é exclusividade
animação contemporâneo e as
artes visuais: a voz do pincel
de belos e lindos. Na casa vazia, os fantasmas da família cultivam
de Álvaro Apocalypse. 2009. zelosamente tédio e neurose. Ora, a humanidade eterniza erros
194f. Dissertação (Mestrado
em Teatro) - Universidade enquanto ratos roem um passado de glórias98.
do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, 2009. p. 77.
Disponível em: <http://www.
tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.
O valor do tempo é outra característica que aproxima o espetáculo
php?codArquivo=1955>. Giz da proposta de trabalho de Ronaldo Fraga. Frequentemente, o
Acesso em: 23 nov. 2010.
- 97 -
estilista refere-se à moda como uma forma de falar de memórias sobre
algo que já passou, como um documento eficiente do nosso tempo.

99. FRAGA, Ronaldo. É nesse universo, nesse diálogo, que vou falar de uma saudade
Entrevista Ronaldo Fraga:
segunda parte. Charme Funk.
de um tempo que se foi, de saudade de um tempo que nem
07 abr. 2010 Disponível em: veio e que provavelmente nem virá. As pessoas vêem isso como
<http://charmeefunk.com/
site/2010/04/07/segunda-parte algo nostálgico, mas não é isso: eu tenho saudade daquilo que
-ronaldo-fraga/>. Acesso em:
10 mar. 2010
eu gostaria de viver no futuro e que eu tenho quase certeza que
a gente não vai viver99.

100. RESENDE, Douglas Essa busca pela memória e passado não resulta numa visão
Giramundo remonta peça
“atemporal”. O Tempo. de moda ultrapassada. Ao contrário, o trabalho realizado por Fraga
Contagem. 15 ago. 2008.
Disponível em: <http://www. como forma de registro desse tempo, faz com que suas coleções sejam
otempoonline.com.br/otempo/
noticias/?IdEdicao=1019&IdC
consideradas atemporais. Segundo Garcia (2007, p.71), “enquanto
anal=4&IdSubCanal=&IdNoti a maioria mirava o horizonte, borbulha de memórias afetivas foram
cia=87722&IdTipoNoticia=1>.
Acesso em: 20 abr. 2010. construindo pontes entre Ronaldo Fraga e o interior de si, do país onde
nasceu e da espécie à qual pertence”.
101. Tyvek® é o não tecido Para a criação do figurino do espetáculo, Fraga100 argumenta
da DuPont composto
por filamentos contínuos
que os desenhos criam a ideia de “operários do futuro”. Segundo o
de polietileno de alta estilista, “Esse espetáculo do Álvaro já traz tudo pronto. Ele tem
densidade, 100% puro,
extraordinariamente forte e uma atemporalidade, poderia acontecer em qualquer época”. Fraga
resistente ao rasgo,
à perfuração e à água. explica que a escolha do tyvek101, material sintético resistente, para a
confecção dos figurinos, se deu pela “instabilidade e inconstância” de
que fala o espetáculo.

Figura 96 – Imagem Liliane P.


Bastidores do espetáculo “Giz”,
do grupo Giramundo Teatro de
Bonecos.
Ronaldo Fraga e
Beatriz Apocalypse, que
assinam, respectivamente, o
figurino dos manipuladores e a
direção da montagem.

13 ago. 2008
Disponível em:
<http://www.flickr.com
/photos/lilianep/27648
59926/in/photostream/>.
Acesso em: 20 ago. 2010.
- 98 -
Figura 97 – Imagem Liliane
P. Bastidores do espetáculo
“Giz”, do grupo Giramundo
Teatro de Bonecos.
Ronaldo
Fraga e Beatriz Apocalypse,
que assinam, respectivamente,
o figurino dos manipuladores e
a direção da montagem.

13 ago. 2008 Disponível em:
<http://1.bp.blogspot.
com/_0wHHi3IFpCU/
SKsqHdYqdVI/AAAAA
AAAAIk/NNLl8Is_DuE/
s1600-h/blog_giz_10.jpg>.
Acesso em: 20 ago 2010.

Figura 98 – Desenhos de
Álvaro Apocalypse para
o espetáculo Giz - Fonte:
Arquivos Giramundo
Apud. MEDEIROS, Fábio
H.N. Fonteiras invisíveis
e territórios movediços
entre o teatro de animação
contemporâneo e as artes
visuais: a voz do pincel de
Álvaro Apocalypse. 2009.
194f. Dissertação (Mestrado
em Teatro) - Universidade
do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis, 2009. p. 82.
Disponível em: <http://www.
tede.udesc.br/tde_busca/arquivo.
php?codArquivo=1955>.
Acesso em: 23 nov. 2010.

Figura 99 – Painel formado com os desenhos do Figura 100 – Desfile “Tudo é


Álvaro Apocalypse. Fotografia: Bruno Senna - Esp Risco de Giz” Coleção Outono/
EM. Ragga Drops, seção drops, 12 mar. 2009. Inverno 2009. Fotografia: Charles
Disponível em: <http://www.new.divirta-se.uai.com. Naseh Disponível em: <http://chic.
br/html/sessao_16/2009/03/12/ficha_drops_noticia/ ig.com.br/moda/noticia/ronaldo-
id_sessao=16&id_noticia=8609/ficha_drops_noticia. fraga-inverno-2009/fotos>.
shtml>. Acesso em: 12 dez. 2009. Acesso em: 05 mar 2010.
- 99 -
Fraga interpretou todas as informações e características do
espetáculo, e as traduziu em referências de moda para compor a coleção.
102. Release da coleção “Tudo “Nessa coleção, as roupas são desenhadas em volumes sombreados na
é Risco de Giz”. Disponível
em: <http://www.ronaldofraga. tentativa de transportar do quadro negro para a vida real, personagens
com.br/port/index.html>.
Acesso em: 10 jan. 2010 de giz”102. O tema – tudo é risco de giz – e o conceito – atemporal – foi
absorvido do início ao fim da coleção. Assim como o espetáculo Giz,

Figura 101 – Desenhos de Álvaro Figura 102 – Imagem da primeira Figura 103 – Imagem
Apocalypse para o espetáculo Giz - montagem do espetáculo Giz - recordada do original
Fonte: Arquivos Giramundo apud. Fonte: Arquivos Giramundo apud. de Liliane P. Pré-
MEDEIROS, Fábio H. N. Fonteiras MEDEIROS, Fábio H. N. Fonteiras estréia do espetáculo
invisíveis e territórios movediços entre invisíveis e territórios movediços entre “Giz”, do grupo
o teatro de animação contemporâneo e o teatro de animação contemporâneo e Giramundo Teatro de
as artes visuais: a voz do pincel de Álvaro as artes visuais: a voz do pincel de Álvaro Bonecos. 13 ago. 2008.
Apocalypse. 2009. 194f. Dissertação Apocalypse. 2009. 194f. Dissertação Disponível em: <http://
(Mestrado em Teatro) - Universidade do (Mestrado em Teatro) - Universidade do www.flickr.com/
Estado de Santa Catarina, Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Florianópolis, photos/lilianep/276486
2009. p. 69. Disponível em: <http:// 2009. p. 69. Disponível em: <http:// 0154/in/set-7215760
www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo. www.tede.udesc.br/tde_busca/arquivo. 8001367024/>.
php?codArquivo=1955>. php?codArquivo=1955>. Acesso em:
Acesso em: 23 nov. 2010. Acesso em: 23 nov. 2010. 20 ago. 2010.

Fraga aborda o novo e o velho como início e fim do traço. Ao transpor


o quadro negro para roupa, Fraga desenvolveu algumas estampas que
mais parecem riscos de giz em lousas escolares.
Algumas estampas, foram concebidas com base nos esboços
realizados pelo próprio Apocalypse, ainda para a montagem de seu
primeiro espetáculo; outras foram desenvolvidas pela equipe de Fraga.
A quantidade de desenhos usados pelo estilista para compor a coleção
também tem relação com outra característica importante do espetáculo.
A obra Giz tem especial relação com o desenho. Segundo Medeiros
(2009, p.104), no espetáculo Giz o ponto de partida da dramaturgia é
- 100 -
103. RESENDE, Douglas o desenho. Ao invés do texto, o espetáculo originou-se dos desenhos
Giramundo remonta peça
“atemporal”. O Tempo. realizados por Apocalypse. A partir dos desenhos, nasceram os bonecos
Contagem. 15 ago. 2008.
Disponível em: <http://www. e, por fim, estes resultaram numa obra. Essa característica, segundo
otempoonline.com.br/otempo/
noticias/?IdEdicao=1019&IdC Marcos Malafaia103, diretor do Giramundo, “significa uma ruptura na
anal=4&IdSubCanal=&IdNoti
cia=87722&IdTipoNoticia=1>. linguagem do grupo”.
Acesso 20 Abr. 2010.
O giz branco para a escrita dos quadros negros é o principal
item que caracteriza as cores do espetáculo. A cor do giz fez com que
todos os bonecos e demais elementos cenográficos fossem pensados e
concebidos de forma totalmente branca. O que poderia ser um problema,
uma vez que o branco representa a ausência de cor, nesse caso foi fonte
intrínseca de inspiração. Segundo Medeiros (2009), para Álvaro
Apocalypse e o Grupo Giramundo, a percepção do branco é representada
pelo espetáculo Giz.
104. Release da coleção “Tudo A cor branca também não foi problema para a criação da coleção
é Risco de Giz”. Disponível
em: <http://www.ronaldofraga. de inverno realizada por Ronaldo Fraga. Nessa concepção “preto, branco
com.br/port/index.html>.
Acesso em: 10 Jan. 2010 e cinza colorem sedas, linhos, lãs e bases de algodão”104. O fundo preto
representando o quadro negro aparece em cinza e em branco, invertendo
também a cor do rabisco.

Figura 104 – Desfile espetáculo


na apresentação de Ronaldo
Fraga. IG Blog de
Moda, 19 jan. 2009.
Disponível em: <http://
colunistas.ig.com.br/
moda/2009/01/19/desfile-
espetaculo-na-apresentacao-
de-ronaldo-fraga/>. Acesso
em: 30 maio 2010.

Figura 105 – op. cit.

Dando continuidade à característica gráfica de fundo preto e


traço branco, Fraga também desenvolveu estampas com desenhos de
relógios em branco, sugerindo o efeito do tempo. Para contrapor a
- 101 -
dominância do preto, cinzas e branco, cores em tons de rosa e alaranjados
foram inseridas em algumas peças. Além das propostas realizadas com
base nos desenhos de Apocalypse, foram criadas estampas digitais, com
fotografias dos bonecos do espetáculo, também presente nos botões das
roupas. Na composição geral da criação, algumas estampas foram
concebidas de forma localizada e outras, de forma corrida.
A conhecida estampa risca de giz, nessa coleção, adquire uma
característica distinta da convencional. O traço fino e branco sobre fundo
escuro aparece por vezes com tons de areia e cinza claro. A linearidade

Figura 106 – Desfile


espetáculo na apresentação de
Ronaldo Fraga. IG Blog de
Moda, 19 jan. 2009.
Disponível em: <http://
colunistas.ig.com.br/
moda/2009/01/19/desfile-
espetaculo-na-apresentacao-
de-ronaldo-fraga/>. Acesso
em: 30 maio 2010.

Figura 107 – op. cit.


Figura 108 – op. cit.
Figura 109 – op. cit.
Figura 110 – op. cit.
- 102 -
do traço é levemente alterada e sua espessura, engrossada. As riscas
mais parecem traços grossos de giz desenhados nas roupas com linhas
trêmulas verticais e horizontais.
O desfile é uma forma de apresentar à imprensa, aos compradores
atacadistas e também ao público final a proposta da coleção. A
apresentação é realizada de modo conceitual. As perspectivas e
características do desfile são, normalmente, baseadas no tema da coleção
e na proposta de identidade da marca. Trata-se de um espetáculo
carregado de significados e organizado num ambiente propiciamente
controlado. Cada detalhe é pensado. A composição das roupas, a
maquiagem, o cabelo, a luz, a música, tudo pode ser minuciosamente
trabalhado para compor a unidade conceitual da coleção.
No caso do Ronaldo Fraga, as apresentações de suas coleções
são consideradas quase como peças de teatro. Kalil (2007, p.7) diz que
o desfile do estilista “é esperado com mesma ansiedade com que se
Figura 111 –
Desfile espetáculo na
apresentação de Ronaldo
Fraga. IG Blog de
Moda, 19 jan. 2009.
Disponível em: <http://
colunistas.ig.com.br/
moda/2009/01/19/desfile-
espetaculo-na-apresentacao-
de-ronaldo-fraga/>. Acesso
em: 30 maio 2010.

Figura 112 – op. cit.

- 103 -
antecipa um espetáculo teatral ou de dança de um grupo do qual se é
seguidor fiel e encantado”. A produção feita para o desfile “Tudo é Risco
de Giz” recria o contexto do qual Fraga diz precisar.

Depois de se apaixonar por um tema, Ronaldo cuida


pessoalmente da cenografia, sempre surpreendente e
completamente diversa da apresentação anterior, escolhe a
105. KALIL. Mulheres
Fictícias. In: FRAGA, trilha sonora com o carinho de quem tem uma ligação forte
Ronaldo. coleção Moda e antiga com a musica, pensa no cabelo e na maquiagem que
Brasileira Ronaldo Fraga. São
Paulo: Cosac Naify, 2007, p.8. seus personagens vão usar, para depois vesti-los105.

O desfile é muito importante para qualquer marca. É uma


experiência momentânea capaz de criar diferentes sensações. A proposta
de apresentação da coleção “Tudo é Risco de Giz” foi idealizada de modo
a construir uma unidade conceitual. O conceito da coleção é respeitado
em todos os aspectos de sua apresentação: cenário, luz, trilha sonora,
casting, maquiagem.
Embora Fraga se envolva em todas as atividades relacionadas ao
desfile, ele faz isso através da atuação de profissionais especializados. A
cenografia de “Tudo é Risco de Giz” foi realizada por Clarissa Neves e
teve como material de cena os bonecos do espetáculo Giz, acompanhados
por alguns dos seus marionetistas devidamente caracterizados com o
figurino desenvolvido por Fraga.
A trilha sonora dos desfiles é considerada de grande importância
106.FRAGA, R. Rio de Arte. para o estilista. Ao ser questionado a respeito, Fraga106 é direto: “A
Lia Hama. Trip 2010. v.194.
17 nov. 2010. Disponível em: música é a voz da roupa”. Para a coleção “Tudo é Risco de Giz”, a trilha
<http://revistatrip.uol.com.br/
revista/194/reportagens/ foi desenvolvida por Ronaldo Gino, com composições de Marcelo
rio-de-arte.html>.
Acesso em: 15 Dez. 2010.
Pelegrino. O som do piano gera um certo suspense, especialmente
quando acompanhado pelos ruídos de portas que gemem, como quem
107. OROSCO, Dolores. abre uma casa abandonada. O som do piano e o ranger de portas são
Ronaldo Fraga faz história
e leva ‘vovôs’ à passarela da substituídos pela voz de Michael Jackson cantando “Music and Me”. O
SPFW. G1.São Paulo. 2009.
Disponível em: <http:// suspense retorna e na sequência surge a voz de uma criança lendo a letra
g1.globo.com/Noticias/
PopArte/0,,MUL962583-
“Rato” de Paulo Tatit e Edith Derdyck. Na obra de Apocalypse, os ratos
7084,00-RONALDO+FRAG são personagens presentes da casa vazia.
A+FAZ+HISTORIA+E+LEV
A+VOVOS+A+PASSARELA A formação do casting foi pensada de modo a acompanhar a
+DA+SPFW.html>.
Acesso em: 15 jan. 2010. ideia da coleção, como parte de sua unidade conceitual. Fraga107 revela
- 104 -
108. Existem diversas maneiras que estava no aeroporto ouvindo a trilha sonora de “Giz”, enquanto
de definir o significado de
signos. Dentre inúmeras observava as pessoas transitando, momento esse em que ele se deu conta
definições, escolhemos a que
parece mais adequada para do que gostaria em sua passarela. “Na hora pensei: é exatamente isso que
o nosso propósito. Segundo
Santaella (2006, p.58) “[...] quero na passarela: uma movimentação comum, a vida acontecendo”. O
o signo é uma coisa que
representa uma outra coisa: seu modelos adultos eram formados por homens e mulheres acima de 65
objeto. Ele só pode funcionar
como signo se carregar esse
anos, alguns com mais de 80. Em contraponto, as crianças entravam
poder de representar, substituir alternadamente apresentando a coleção Ronaldo Fraga para filhotes.
uma outra coisa diferente dele.
Ora, o signo não é o objeto. Ambas as coleções criadas com o mesmo tema e conceito.
Ele apenas está no lugar do
objeto. Portanto, ele só pode Os acessórios para composição dos figurinos também foram
representar esse objeto de
um certo modo e numa certa pensados conforme a proposta da coleção. A bolsas surgem graficamente
capacidade. Por exemplo: a
palavra casa, a pintura de uma desenhadas como signos108 sobre pequenas lousas de escola, verde e
casa, o desenho de uma casa,
a fotografia de uma casa, o
preta com botões desenhados como sinais matemáticos de somatória
esboço de uma casa, um filme
e divisão. Os anéis, também desenhados como signos sobre superfícies
de uma casa, a planta baixa de
uma casa, a maquete de uma de lousa verde e preta, representam solitários de diamantes. Alguns
casa, ou mesmo o seu olhar
para uma casa, são todos signos colares feitos de pequenos quadros negros formam palavras escritas em
do objeto casa”.
giz branco, enaltecendo qualidades e sentimentos. Outros, compostos
por grandes circunferências, representam pérolas proporcionais aos
diamantes desenhados em lousa. Os brincos foram feitos de pingentes
de giz branco, assim como alguns outros modelos de colares.

Figura 113 – Ronaldo Fraga + Oiti + Giramundo. Follow the Colours,


4 mai. 2009. Disponível em: <http://www.followthecolours.com.
br/2009/05/ronaldo-fraga-oiti-giramundo.html>.
Acesso em: 17 maio 2010.

Figura 114 – op. cit.


Figura 115 – op. cit.
Figura 116 – op. cit.
Figura 117 – op. cit.
Figura 118 – op. cit.
Figura 119 – op. cit.
Figura 120 – op. cit.
- 105 -
Os calçados femininos foram feitos como
sapatilhas que imitam peças de roupas, de saias
plissadas e camisas escolares. Para as crianças, os
sapatos foram concebidos como pequenos ratos
que representam os possíveis roedores presentes
na casa abandonada. Já os acessórios infantis são
formados por bolsas que imitam uma mão e
outra uma boca aberta. Como se falar fosse a
Figura 121 – O lado lúdico única forma de eliminar o silêncio do abandono da casa vazia.
do desfile de Ronaldo Fraga.
Fontografia: Marcos Serra O convite para o desfile foi encaminhado junto a um pôster
Lima. Ego, 19 jan. 2009.
Disponível em: <http:// contendo o release da coleção. O texto descrevia o Grupo Giramundo, o
colunas.ego.globo.com/
emporadademoda/2009/
espetáculo Giz e a coleção inspirada na obra de Apocalypse. A
01/19/o-lado-ludico-do- Designlandia foi responsável pela criação do material gráfico, que
desfile-de-ronaldo-fraga/>.
Acesso 10 mai. 2010. acompanhava a unidade conceitual da coleção.
O convite, em formato de um dos bonecos do espetáculo, vem
vestido com um pequeno “saco” de tecido branco com etiqueta vermelha
assinada pelos óculos da marca Ronaldo Fraga, tudo mantendo as

Figura 122 – Imagens do


convite e release da
coleção “Tudo é risco de giz”
de Ronaldo Fraga para a
temporada de outono/
inverno 2009.
Ronaldo Fraga – Tudo é Risco
de Giz. Fernanda Barbato
14 jul. 2009. Disponível em:
<http://fernandabarbato.
wordpress.com/2009/07/14/
ronaldo-fraga-giz/#more-96>.
Acesso em: 10 jan. 2010.
Figura 123 – op. cit.
Figura 124 – op. cit.
Figura 125 – op. cit.
Figura 126 – op. cit.
- 106 -
mesmas características visuais do release. A faca especial localizada na
altura do pescoço do boneco cria uma abertura capaz de sobrepor o
rosto ao tecido, sugerindo um decote e transformando o pequeno “saco”
em uma vestimenta.
No release, de um lado, o fundo preto representa o quadro negro
das salas de aula com textos e desenhos feitos por giz branco. Do outro
lado, ocorre a inversão, e o fundo em branco aparece com texto e desenhos
em preto. Os desenhos se misturam entre os rabiscos e esboços de
Apocalypse, e as estampas e croquis de Fraga.
A marca comercial do patrocinador – Banco do Brasil Estilo –
aparece em branco no release, mas o nome é escrito como um risco de
109. FRAGA, R. Ronaldo giz, em uma tipologia adequada à proposta visual do convite. Por regra
Fraga: A moda é a leitura do
tempo. Entrevista concedida a contratual ou opção, ao final do desfile, o estilista fez sua entrada na
Anna Ruth Dantas. Tribuna
do Norte. 28 mar. 2010. passarela com uma camiseta fazendo menção ao patrocinador. A camiseta
Disponível em: <http://www.
tribunadonorte.com.br/noticia/
estampada com o desenho de um quadro negro dependurado no peito
ronaldo-fraga-a-moda-e-a- representava uma lousa escrita com o nome do patrocinador em branco.
leitura-do-tempo/144162>.
Acesso: 15 out. 2010. Até mesmo na finalização do desfile, Fraga transmite uma mensagem
Figura 127 – Ronaldo Fraga dentro dos parâmetros criados pela unidade conceitual da coleção.
na passarela do desfile da
coleção “Tudo é risco de Hoje, as informações sobre moda, especialmente sobre os desfiles,
giz”. Contigo. 20 jan. 2010.
Fotografia João Valério.
estão bastante acessíveis ao consumidor final. A semana de moda de
Disponível em: <http:// São Paulo é um dos eventos nacionais que mais gera mídia espontânea.
contigo.abril.com.br/hotsites/
spfw-2009-inverno/noticias/ Fraga109 aponta que “o São Paulo Fashion Week só perde em volume de
spfw2009_listar.shtml>.
Acesso em: 10 dez. 2010. mídia para a final de Copa do Mundo quando o Brasil está jogando”.
Essa possibilidade de informação faz com que
os consumidores saibam rapidamente o que foi proposto
pelas marcas de seu interesse. No entanto, os desfiles são
apresentações conceituais e nem sempre o que está sendo
mostrado é o que estará nas lojas. As roupas apresentadas
nas passarelas, em alguns casos, são representações
conceituais e estão presentes para transmitir uma ideia
ou mensagem. Nessa circunstância, existe a possibilidade
de o consumidor não entender ou não identificar o que
foi mostrado no desfile com o que estará vendendo nas
lojas. Fraga explica essa condição e de que forma trabalha
com relação à sua marca.
- 107 -
Para se entender uma produção onde o conceito é levado
às últimas consequências é preciso ter uma certa cultura de
moda e formação para entender aquilo. Tem duas explicações.
A passarela é o último momento em que a roupa pertence ao
estilista. Daqui a oito minutos ele coloca, além de apresentar o
conceito, transportar as pessoas para dentro daquele universo
proposto. Comprar a roupa, ver a roupa, a pessoa vai ver na
loja, no show room. Agora no caso do Brasil e falo por mim
mesmo, tudo que ponho na passarela está na loja para vender.
A roupa mais absurda que você possa imaginar aparece alguém
querendo comprar. Isso em face da diversidade que é o Brasil e
110. op. cit. o mercado hoje110.

A transição para a loja do que foi mostrado na semana


de moda pode ser feita com alguns recursos de marketing e
comunicação. Não raro, algumas marcas realizam cocktails nas lojas
para o lançamento de suas coleções. O ponto de venda passa a ter
uma grande importância para o consumo dos produtos. Algumas
marcas despendem uma verba elevada para a produção das vitrines,
com profissionais especializados do setor. Existem muitos fatores
que influenciam na estruturação da loja e composição dessas vitrines
com o propósito de aumento das vendas.
As lojas da marca Ronaldo Fraga estabeleceram uma forma
muito própria para a comunicação junto aos seus consumidores.
Ambos os pontos de venda – São Paulo e Belo Horizonte – mantêm
o interior das lojas dentro dos parâmetros da identidade da marca. No
entanto, as fachadas recebem uma cobertura impressa que ocupa por
inteiro a parede de frente das lojas. O design desenvolvido para essa
superfície está sempre relacionado ao tema proposto pela coleção.
O objetivo é justamente transmitir uma mensagem que identifique
e posicione qual coleção está disponível para a venda, a quem está
passando em frente à loja. Essa criação é mantida na superfície da
fachada até que a coleção seguinte seja oferecida para venda.
No caso da coleção “Tudo é risco de giz”, as fachadas
pareciam verdadeiros quadros negros rabiscados de giz branco.
Assim como o release, o design foi realizado usando os desenhos de
- 108 -
Álvaro Apocalypse para o espetáculo Giz misturados aos desenhos
das estampas e croquis feitos por Ronaldo Fraga para a coleção.
Para as pessoas que passavam pelas ruas das duas lojas, ficou fácil
associar aquela arte visual com a coleção apresentada na temporada
de desfiles. Dessa forma, a marca finaliza o processo de criação,
produção, apresentação, comunicação e venda do produto dentro do
contexto da unidade conceitual proposta pela coleção.

Figura 128 – Fotografia da


fachada da loja Ronaldo Fraga
em São Paulo. Arquivo pessoal.

Figura 129 – Fotografia da


fachada da loja Ronaldo Fraga
em Belo Horizonte Paradas
obrigatórias em BH. GNT
Provadoras S.A. 05 nov. 2009.
Disponível em: <http://gnt.
globo.com/platb/files/977/
2009/11/2009-11-04_
ronaldo-fraga-fachada.jpg>.
Acesso em: 10 Mai. 2010

- 109 -
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

No contexto dessa dissertação, nosso objetivo principal foi


compreender a contribuição e a importância do design gráfico na
criação de uma coleção de moda, tanto no âmbito do produto como na
comunicação de sua marca. Através de um gráfico estrutural foi possível
analisarmos em síntese a participação dos elementos que contribuem
para a relação do design gráfico com a moda. O resultado adquirido por
meio da integração estabelecida entre esses elementos é fundamentado
no que determinamos por unidade conceitual da coleção.
Apesar de nos basearmos nessa estrutura gráfica proposta,
deixamos claro que a mesma não deve ser entendida como método de
trabalho. O gráfico serve como parâmetro para visualizar a importância
de alguns conceitos relacionados. Entendemos que os profissionais da
moda se utilizam naturalmente dos elementos propostos no gráfico.
Consideramos que cada profissional tem sua forma de trabalho e
sugerimos o gráfico como uma possibilidade de orientação.
Para compreender essa dinâmica se fez necessário a conceituação
de todos os elementos relacionados. Iniciamos o trabalho analisando
a presença do design gráfico nas diversas superfícies que compõem o
produto. No primeiro capítulo, pudemos observar que tramas têxteis,
estampas, etiquetas, filigranas e diversos aviamentos podem resultar
em inúmeras possibilidades de personalização, contribuindo para o
desenvolvimento do produto de moda.
A criação desenvolvida sobre as superfícies abordadas é
constantemente questionada no que diz respeito à atuação do design
gráfico e design de superfície. Para o melhor entendimento do que
poderia ser resultado de um ou outro, abordamos os conceitos e
funções que qualificam cada um deles. Comparamos as definições
propostas, seus campos de atuação e suas possíveis imbricações.
A partir dessa análise, concluímos que as criações das superfícies
utilizadas na moda podem ser realizadas por meio do design gráfico,
podendo também, a criação de um design gráfico ser fundamentada
por um design de superfície.
- 111 -
Saindo da esfera do produto e adentrando na abordagem da
comunicação utilizada para promover e estabelecer diálogo com seus
públicos, ainda no primeiro capítulo, analisamos uma série de materiais
gráficos desenvolvidos por empresas de moda. A escolha por analisar
determinados materiais deu-se pela importância que esses representam
na construção e comunicação da imagem da marca. Pudemos observar
que a marca e sua identidade visual são pontos relevantes para o
desenvolvimento da relação estabelecida entre a moda e o design
gráfico. Desse modo, concluímos que o trabalho de branding, associado
a produção de convites, catálogos, lookbooks, embalagens e materiais
gráficos específicos é responsável por grande parte da formação da
identidade da marca junto a seus públicos.
Pudemos observar que o design gráfico atua de forma
significativa na transmissão do conceito como parte da construção
da unidade conceitual da coleção. Essa participação é relevante,
porém sua atuação está vinculada a outras atividades igualmente
importantes. Como resultado final de um trabalho bem sucedido,
a concepção de um unidade conceitual é constituída com base na
atuação conjunta da identidade, estilo e comunicação da marca. Para
melhor entendimento sobre todos os pontos abordados, no decorrer
da dissertação exemplificamos o uso do design gráfico através de
diferentes trabalhos e marcas.
Em nosso segundo capítulo, conceituamos e analisamos os
significados de marca, identidade visual e estilo. A identidade da marca
mostrou ser o alicerce para a concepção do produto, do estilo, para a
formação de uma identidade visual e para o desenvolvimento de uma
comunicação bem sucedida estabelecidas com seus públicos. Ao mesmo
tempo, o estilo da marca é o fio condutor para a concepção criativa
do design de produto. Do outro lado, a comunicação cuida para que
todos esses valores sejam repassados com o mesmo conteúdo e sentido
concebido para o produto.
Com base em todos os conceitos abordados, concluímos que para
uma relação coerente entre produto e comunicação de moda é importante
que o design gráfico esteja baseado no estilo e na identidade visual da
marca. Tanto o estilo como a identidade se mostraram determinantes
- 112 -
para a constituição de um projeto de marca que será transmitido aos
seus públicos através de seus produtos e de sua comunicação. Após a
abordagem e compreensão das definições de estilo, marca e identidade
visual, fica claro a importância de todos esses elementos na criação de
uma coleção e na relação estabelecida entre o design gráfico e a moda.
Escolhemos a marca Ronaldo Fraga e a coleção “Tudo é risco de
giz” para um acompanhamento maior dos caminhos percorridos pelo
design gráfico na criação do produto e na comunicação da marca junto
a seus públicos. No trabalho específico dessa coleção, pudemos observar
que o design gráfico é expresso de modo contínuo e coerente com a
proposta e o conceito de criação. A determinação dessa continuidade é
fundamentada na unidade conceitual da coleção.
Para a melhor compreensão da importância da unidade
conceitual, apresentamos a fonte geradora – espetáculo Giz – para
o desenvolvimento específico da coleção “Tudo é risco de Giz”.
Comparamos os princípios valorativos propostos pelo Grupo
Giramundo e suas semelhanças com o trabalho desenvolvido por Fraga.
Identificamos os pontos de maior influência da obra para a concepção
da coleção e demonstramos que o tema – Tudo é risco de Giz – e
o conceito atemporal foram preservados do início ao fim da criação,
expressos nas roupas, nos acessórios e, posteriormente, no desfile.
Pudemos observar que Fraga deixa claro que o resultado desse trabalho
só é possível graças ao processo de pesquisa e por meio da colaboração
de profissionais de design gráfico e de superfície. As coleções criadas
por Fraga demonstram uma coesa relação estabelecida entre produto e
comunicação. Dessa forma, fica mais fácil para o público compreender
os propósitos da criação, sugeridos pelo tema e conceito da coleção.
Com base nesses pontos chegamos à conclusão que a unidade
conceitual não é um método e sim o resultado do esforço da marca em
manter uma proposta criativa do início ao fim da coleção. Adotamos
o nome unidade conceitual como forma de explicar a coerência de
propósito e conceito estabelecida entre o que se cria no produto,
através do estilo, e o que se comunica pela marca, através de sua
identidade visual.
A participação do design gráfico na moda pode ser estabelecida
- 113 -
por meio de inúmeros processos criativos, tanto no produto como na
comunicação. Concluímos que essa atuação está inserida em um contexto
estratégico. Enquanto objeto de investigação e estudo, o design gráfico
se revela na moda como uma ferramenta de criação capaz de agregar
valor ao produto final e contribuir para um melhor posicionamento da
marca perante seus públicos.
O estudo do design gráfico na moda é recente e tem muito
campo para ser explorado. Esta dissertação se propôs a analisar somente
uma de muitas possibilidades investigativas. Nossa intenção é que este
trabalho seja o começo de uma pesquisa mais ampla sobre a relação
estabelecida entre as duas áreas analisadas – design gráfico e moda.

- 114 -
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