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Saidenberg
Introdução
Parte I – 17/8/1980
Palavra e Traço Através dos Tempos
A palavra e Traço no Brasil
História em Quadrinhos
A Primeira História em Quadrinhos
Parte II – 24/8/1980
Palavra e Traço no Século das Luzes
A Sátira Política sob a Forma de Charge
O Humor no Final do Século XIX
Parte IV – 7/9/1980
Os Novos “Vehicullos” de Comunicação
A Caricatura Política
Os Quadrinhos Brilhavam
Os Quadrinhos e a 2ª Guerra Mundial
Parte V – 14/9/1980
O Estado Novo
Jayme Cortez e os Quadrinhos Nacionais
A Renovação das Histórias em Quadrinhos
Parte VI – 21/9/1980
Bota o Retrato do Velhinho no Mesmo Lugar
Entre Golpes e Contragolpes, Surgem “JK”… e “JQ”
A Segunda “Época de Ouro” dos Quadrinhos
Os Grandes Desenhistas Começam a Brilhar
Parte IX – 12/10/1980
A Renovação do Humor
O Salão Internacional de Humor
CRÁS! – A Explosão dos Quadrinhos
Os pulos do “Pererê”
As palhaçadas de “Sacarrolha”
Parte X – 19/10/1980
Figueiredo e a “abertura”
Os Quadrinhos Atingem a Maturidade
Quadrinhos Experimentais e de Vanguarda
Esta série de colunas foi originalmente publicada no extinto Jornal de Hoje, de Campinas, de
17 de agosto a 26 de outubro de 1980. Nelas, meu pai descreve de modo bastante conciso a
história do humor político e de costumes feita de tinta e papel, e das histórias em quadrinhos,
desde seus primórdios no final do século XIX até os anos 1980 do século XX.
Reproduzo-as aqui do modo mais fielmente possível, e espero que o texto a seguir seja do
interesse dos leitores destas linhas.
Parte I – 17/8/1980
História em Quadrinhos
Paralelamente à arte da charge ou cartum (do inglês, cartoon: desenho, caricatura) surgia
também no século XIX a História em Quadrinhos. A 25 de fevereiro de 1894, o jornal NY World
publicou uma “história em imagens” que mostrava um bêbado usando uma máscara de teatro
chinês para assustar a todos, num bar, e assim poder esvaziar a prateleira.
Todavia, a primeira história em quadrinhos oficialmente reconhecida como tal é de autoria
de Richard Felton Outcault, com seu “The Yellow Kid” (O Menino Amarelo), também publicada
no NY World, a 16 de fevereiro de 1896.
“The Yellow Kid” ainda não é uma obra dentro dos padrões atuais, mas é uma predecessora
imediata do gênero. Foi somente em 12 de dezembro de 1897 que o New York Journal
apresentou uma série de desenhos em quadrinhos, feita por um principiante, Rudolph Dirks:
“Os Sobrinhos do Capitão”, mostrando as traquinagens de dois garotos terríveis, Hans e Fritz,
que são publicadas até hoje!
Depois dos pioneiros Manuel Araújo Porto Alegre e Victor Larée, surgiram ilustradores que,
na maioria das vezes, não assinavam seus trabalhos, ficando anônimos, ou só assinavam um
sobrenome ou pseudônimo. No catálogo da exposição de 1881, promovida pelo Comendador
José Tomas de Oliveira Barbosa, no Rio de Janeiro, há uma série de 13 estampas litografadas
por Lopes e de autor anônimo (talvez o próprio Lopes).
Mas o grande litógrafo da época foi Frederico Guilherme Briggs, que se instalou no Rio de
janeiro em 1837. Suas obras são anônimas, de um modo geral, mas há uma, de 1840, que é
atribuída a Rafael Mendes de Carvalho, denominada “O Sapateiro Eleitor”. Briggs não era autor
das charges que litografava, já que era uma prática comum o trabalho em dupla: um redator ou
jornalista criava a charge e um litógrafo apenas a executava graficamente.
Em fins do século XIX, surge a publicação: “Bazar Volante” (1863/67), com a colaboração de
Henrique Aranha, A. Seelinger, Flúmen Junius e Pinheiro Guimarães. A 28 de abril de 1867,
passou a se chamar “O Arlequim”, com charges de Flúmen Junius, J. Mill, V. Mola e outros.
Em1868, no dia 7 de janeiro, surgia “Vida Fluminense”, em substituição ao “Arlequim”, onde
colaboram Ângelo Agostini, Candido Aragonês de Faria, Pinheiro Guimarães, e o italiano Luigi
Borgomainerio, autor da famosa charge “Empréstimo Inglês – A Transfusão de Sangue”
(20/2/1875).
Em 19 de setembro de 1869, iria aparecer “O Mosquito – Jornal Caricato e Crítico”. Esse
antecessor de “O Pasquim” estendeu-se até 1877 e teve como colaboradores Cândido Faria,
Flúmen Junius, Pinheiro Guimarães e Antônio Augusto do Vale, cujo periódico “O Lobisomem”
se fundiu com “O Mosquito” em 14 de abril de 1871. Ângelo Agostini e Rafael Bordalo Pinheiro
passam a integrar o corpo de colaboradores e “O Mosquito” engloba outras publicações, tais
como: “A Comédia Social” (1870/71) e “O Mefistófeles” (1874/75). O primeiro era desenhado
por Pedro Américo, Aurélio de Figueiredo e Décio Vilares. Foi o fabuloso Pedro Américo o autor
de uma charge famosa: “O Que Deveria Fazer a Humanidade” (“A Comédia Social” – 29/9/1870)
– caricatura profética, pois mostra, enforcados, o Imperador da Alemanha, Bismark, e Napoleão
III, responsáveis pela Guerra Franco-Prussiana de 1870. Antecipa, assim, o Julgamento de
Nuremberg, de quase um século depois.
Ainda no Rio, surgiu o famoso “Ba-ta-clan” (1867/71), curiosíssimo periódico redigido em
Francês! Seu diretor era Charles Berry e trazia charges de cartunistas franceses importados
pelo periódico e aqui residentes. Alf. Michon foi o grande cartunista dessa revista curiosa.
Em 1875, surgiu “O Mequetrefe”, que duraria até 1893, com trabalhos de Cândido Faria,
Antônio Alves do Vale, Pereira Neto, Joseph Mill e Aluízio Azevedo, nele estreando Bambino
(Artur Lucas) em 1891. Nesse período ainda tivemos as revistas “Psitt” (1877), “O Besouro”
(1873), “O Ganganelli (1876) e a “Zigue-Zague” (1878). Depois vieram “O Binóculo” (1881) e
“Rataplan” (1886).
Ao apagar das luzes do século, surgiria “Dom Quixote” (1895) e ainda se destacariam os
artistas Julião machado, Hilarião Teixeira, Bento Barbosa e Antonio do Vale, encerrando um
ciclo da antiga caricatura brasileira e iniciando um novo, após a proclamação da República.
Parte III – 31/8/1980
Em fins do século XIX já era grande o número de publicações que traziam charges e textos
de humor, em sua maioria do tipo que hoje seria chamado de jornais alternativos. Talvez os mais
expressivos fossem “O Mosquito”, “O Mequetrefe”, a “Revista da Semana” e o “Dom Quixote”.
Vigorava, principalmente, a caricatura política e social, tal como nos tempos atuais.
Durante o período da Regência, desde 1823 até a maioridade de D. Pedro II, a imprensa se
viu sujeita a intensa censura, o que iria determinar uma ampla reação em fins do século XIX,
quando os artistas e jornalistas acabaram por conseguir ampla liberdade de imprensa. Com a
proclamação da República, essa liberdade chegou a ser quase completa, dando surgimento a
novos artistas de valor inquestionável. Mudava o século e mudavam as mentalidades
retrógradas, a imprensa se aperfeiçoava e renovam-se as esperanças.
A Careta, fundada a 6 de junho de 1908, iria dar novo impulso ao humor brasileiro. J. Carlos
fez a capa do número I, caricaturando Afonso Penna. Logo, grandes nomes da literatura, como
Olavo Bilac, se uniam a grandes nomes da ilustração e cartum. Em a Careta trabalharam:
Martins Fontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, J. M. Goulart de Andrade,
Emílio Meneses, Bastos Tigre, Luis Edmundo e muitos poetas parnasianos. J. Carlos foi o grande
ilustrador dos trabalhos desses imortais da literatura.
Em 1907 já surge a revista FON-FON!, logo seguida pelas revistas Illustração Brasileira e
Para Todos Nessas publicações trabalharam: K. Lixto, Raul e J. Carlos, além de Nair de Teffé, a
primeira cartunista mulher do Brasil e talvez do mundo, mais conhecida pelo pseudônimo Rian,
a “portrait-chargista”. Já era o feminismo em marcha, no início do século XX.
A Caricatura Política
No período de 1910 a 1930, a charge brasileira passa a ser mais de crítica política do que de
costumes. Surge Nássara, um capítulo à parte na história do nosso humor, pois, além de
cartunista, era compositor e marchinhas de carnaval de grande sucesso, como Alá-lá-ô.
Nássara, testemunha ocular da história, ainda está vivo, no momento em que redigimos estas
mal traçadas linhas. Nássara ainda ilustrava suas composições, sendo que a última delas, de
grande sucesso, foi “Mulher Só Depois dos 30”.
K. Lixto nos brindou, já em 1909, com uma grande charge política, criticando as eleições da
época, na revista FON-FON!. Numa charge que continua muito atual, ele mostrava o povo e
uma caveira lado a lado com o seguinte subtítulo: “ELEICÕES – Os dois mais legítimos
representantes da moderna Soberania Nacional, os únicos, talvez, a quem será permitido hoje o
exercício do sagrado Direito de Voto”.
Em 1912, o cartunista Seth apresentava outra charge política de grande força, na revista O
Garoto, mostrando um túmulo com a seguinte inscrição: “Aqui jaz a Verdade Eleitoral –
assassinada a golpes de Penna Mallat. Orae por Ella”. Ao lado do túmulo, um carneiro
representando “o povo soberano” (5) p. 189.
Eram já os sintomas da insatisfação contra o sistema eleitoral sem o voto secreto, que
resultaria na Revolução de 1930.
Os Quadrinhos Brilhavam
E foi de 1930 a 1940 que os quadrinhos brasileiros atingiram sua primeira “Época de Ouro”.
Novos nomes surgiram, tais como Luis Teixeira da Silva (“Gregório vai à lua”, 1939 – Mirim),
Luna e Martins (“Os Ciclones de Inferno”, 1938 – Mirim, “O Volante Milionário”, 1939 – Mirim,
e “Rodolfo Matias em Indianápolis”, 1940 – Suplemento Juvenil), Mario Pacheco (“Grandes
Figuras do Brasil”, 1937 – Suplemento Juvenil, e “Descobrimento do Brasil”, 1937 – Suplemento
Juvenil), Mario Jaci (“O Tesouro de Ricardo”, 1938 – O Tico-Tico), Max Yantok (“Barão de
Rapapé”, 1935 – O Tico-Tico, “Pandareco, Parachoque e Viralata”, 1939 – O Tico-Tico), Messias
de Mello (“Pão-Duro”, 1935 – Gazetinha, “Sherlock Holmes”, 1936 – Gazetinha, “Audaz, o
Demolidor”, 1938 – A Gazetinha, e Os Três Mosqueteiros, 1938 – Gazetinha), Nino Borges
(“Jonjoca e Rabicó”, 1934 – O Tico-Tico, e “Bolinha e Bolonha”, 1939 – O Tico-Tico), Olavo
Pereira (“Edy, o Repórter”, 1938 – A Gazetinha) Oscar Brener (“O Tesouro Perdido”, 1939 –
Mirim), Paulo Affonso (“Azarias”, 1940 – O Tico-Tico, e “Chiquinho”, 1940 – O Tico-Tico), Renato
Silva (“O Garra Cinzenta”, 1937 – A Gazetinha, e “Nick Carter X Fantasma”, 1937 – Suplemento
Juvenil), Sigismundo Walpeteris (“Tom Corrigan”, 1939 – A Gazetinha, “O Cado Mamming”,
1939 – A Gazetinha, e “Dick Peter”, 1940 – Álbum Café Jardim), Theo (“Chico Farofa”, 1934 – O
Tico-Tico, e “Tinoco, Caçador de Feras”, 1938 – O Tico-Tico). Destaca-se ainda, nesse período, a
forte influência dos quadrinhos norte-americanos que, além de já tomarem parte do mercado de
trabalho de nossos artistas, levavam-nos a imitá-los, consciente ou inconscientemente.
Também o cartum passa por uma renovação, pois agora a moda era satirizar Vargas. Foi Gip
(Luis) quem retratou melhor o homem que iria governar o País por 15 anos, sendo considerado
herói, tirano, líder popular, salafrário, inimigo dos paulistas, fascista, etc. Numa grande charge,
publicada no Suplemento de Bom Humor (1934), Gip mostra Vargas sobre um elefante, com um
cartaz nas mãos onde se lê: “Brevemente, programa novo!” – e, sob o desenho, em versos, o
seguinte texto: “A GRANDE ESTREIA – Vinde ver que eu, sem barulho,/ Consegui com os meus
engodos/ Amansar tigres, panteras,/ Que eu sou de circo e me orgulho/ De ser o maior de todos/
Os domadores de feras./ Em mim ninguém dá rasteira/ Nem há quem me engane/ Quem é bom
já nasce feito…/ Comigo não tem bandeira./ Junto de mim, Sarrasani,/ Tu és criança de peito…”
(Obs: Sarrasani era o dono do maior circo da época – I.S.).
O Estado Novo
Na Europa, Hitler e Mussolini pregam e executam abertamente o nazifascismo. Vargas, a
princípio titubeante, marca eleições, mas prepara um golpe de Estado. Dias antes do golpe, J.
Carlos em a Careta (1937), nos mostra, como numa bola de cristal, quem será o futuro
presidente. A charge se intitula “NO MEIO, A VIRTUDE”. Os nomes dos candidatos formam,
num acróstico, ao centro, o nome de Getúlio, que diz: “Sim, haverá ‘sucessão’, isto é, sucesso
grande! O vencedor está entre esses nomes!” – Não deu outra…
“O Retrato do Mal” foi publicado pela primeira vez em 1960, pela Editora Outubro, pequena
firma que, juntamente com a Editora Continental e a Editora La Selva, publicaria histórias em
quadrinhos desde o gênero infantil até o juvenil e adulto, principalmente as Histórias de Terror.
Por volta de 1950, esse gênero foi proibido nos USA, por ser considerado “nocivo” à formação
da juventude. As revistas como Terror Negro, Contos de Terror e outras, que publicavam
material importado, foram forçadas a contratar artistas nacionais para dar continuidade às suas
publicações. Dentre esses muitos, o autor destas linhas foi um deles, trabalhando na parte de
argumentos, ao lado de Luis Saidenberg (meu irmão), Júlio Shimamoto, Getúlio Delphim,
Mauricio de Souza, Edmundo Rodrigues, Flávio Colin, João Batista Queiroz e outros, que
renovaram os quadrinhos brasileiros.
Parte VI – 21/9/1980
Com o final da Segunda Grande Guerra, terminou também a ditadura de Getúlio Vargas,
assumindo o poder o general Eurico Gaspar Dutra, governante canhestro que causou deflação e
desemprego no Brasil. Praticamente ignorado pelos chargistas, de Dutra podemos destacar
apenas uma charge, denominada “Enfim, Pai!”, publicada no Diário da Noite, em 1950. A
charge critica o tardio lançamento da candidatura de Cristiano Machado, pelo PSD, tendo Dutra
como “pai da criança”. Esse cartum é de autoria de Augusto Rodrigues.
Ziraldo Alves Pinto desponta, no Rio de Janeiro, como o grande desenhista de humor da
época. Seu personagem, o “Pererê”, com temas altamente nacionais, é um sucesso absoluto. É a
“Primavera do Brasil”. Em São Paulo, é Mauricio de Souza quem desponta, com “Bidu e
Franjinha” e, logo depois, “Mônica e Cebolinha”. No gênero adulto, proliferam as histórias de
terror e mistério, quando Luiz Saidenberg nos brinda com uma obra prima, “O Gato Preto”,
adaptação de conto de Edgar Allan Poe. Nesse período, que seria brutalmente truncado pelo
golpe de 1º de abril de 1964, brilham ainda inúmeros valores, como Acácio Alves Pinto
(“Eugênio, o Gênio”, 1959 – Capitão Z), Antonio Vaz (“Mirinho”, 1964 – Anjinho) Álvaro Moya
(“Zumbi”, 1955 – Ed. Maravilhosa, e “MacBeth”, 1959 – Ed. Outubro), Ari Moreira (“O Soldado
Tambor”, 1963 – Anjinho), Carlos Estevão (“Dr. Macarra”, 1962 – O Cruzeiro), Diamantino Silva
(“Simão Brasil”, 1952 – Última Hora, e “Flávio, o Corsário”, 1953 – Ed. Júpiter), Edmundo
Rodrigues (“Jerônimo”, 1959 – Rio Gráfica), Flávio Colin (“O Anjo”, 1961 – Rio Gráfica, “Sepé
Tiaraiu”, 1963 – Coop. Porto Alegre, “O Vigilante Rodoviário”, 1963 – Ed. Outubro), Getúlio
Delphin (“Capitão 7”, 1959 – Ed. Outubro, “Jet Jackson”, 1960 – Ed. Outubro, e “Aba Larga”,
1963 – Coop. Porto Alegre), Gil Brandão (“Raça e Coragem”, 1960 – Sesinho), Gil Coimbra, (“O
Tigre da Abolição”, 1957 – Ed. Maravilhosa), Gutemberg Monteiro (“O Sonho das Esmeraldas”,
1955 – Ed. Maravilhosa, e a Retirada da Laguna, 1956 – Ed. Maravilhosa), Henrique Souza
Filho/Henfil (“Os 2 Fradinhos”, 1964 – Alterosa), Ivan Wasth Rodrigues (“Histórias do Brasil”,
1962 – Ebal, Ivan Saidenberg (“Histórias Macabras”, 1960/64 – Ed. Outubro e La Selva), Jarbas
(“Cão e Gato”, 1958 – Sesinho), Jayme Fonseca (“Espadinha”, 1963 – Anjinho, “Pingo, o
Repórter”, 1963 – Anjinho, e “Lamparina” – Anjinho), Jayme Cortez (“Dick Peter”, 1952 –
Bentivegna, “Sérgio Amazonas”, 1953 – Idem, e “Contos de Terror”, 1960 – Ed. Outubro), José
Del Bó (“Gatinha Paulista”, 1963 – Última Hora, e “Colorado”, 1963 – Ed. Outubro), José
Geraldo (“Charlie Chan”, 1952 – O Cruzeiro, e “Os Meus Balões”, 1955 – Ed. Maravilhosa), José
Lanzellotti (“Raimundo, o Cangaceiro” – 1953 – Bentivegna). Joselito (“Martim Pescador”, 1958
– Sesinho), Juarez Odilon (“Cavaleiro Negro”, 1963 – Rio Gráfica), Luiz Saidenberg (“O
Bandeirante”, 1963 – B. Lessa Produções, e “Histórias de Terror”, 1960/63 – Ed. Outubro),
Manoel Victor Filho (“Capitão Tarumã”, 1963 – B. Lessa Produções) e outros.
Parte VII – 28/9/1980
Num clima de euforia, os artistas brasileiros criaram histórias nacionais com muito humor no
período em que Jânio Quadros governou. Para os cartunistas, o “homem da vassoura” era um
prato cheio e sua figura exótica prestava-se a todo tipo de charges. Súbito, sem explicações
Jânio renunciou à Presidência da República, a 25 de agosto de 1961, deixando o Brasil inteiro
perplexo. Militares direitistas, uma vez mais, tentam tomar o poder e impedir a posse de João
Goulart, vice-presidente de Jânio, que estava em visita à China. Surge a “Campanha da
Legalidade”, no Rio Grande do Sul, liderada por Leonel Brizola, cunhado de Goulart, e o vice
toma posse sob o regime do parlamentarismo.
E SURGE “O PASQUIM”
No Rio de Janeiro, Jaguar, Millôr, Ziraldo e outros cartunistas e humoristas, sentindo o
mercado de trabalho trancado pelo Golpe Militar de 1964 (e depois pelo AI-5, em 1968),
tentaram lançar revistas próprias, como o Urubu, Pif-Paf e outras, que não conseguiram manter-
se por longo período. Mas, em 1969, uniram-se a Sérgio Cabral, Henfil (Henrique de Souza
Filho), Paulo Francis, Tarso de Castro, Ivan Lessa e outros grandes nomes do humor. A 26 de
junho daquele ano, surgia o semanário O Pasquim.
Esse jornal iria renovar o conceito de humor em nosso país, atingindo a incrível tiragem de
200 mil exemplares por semana, em 1970! Sendo um semanário humorístico de fundo político,
não poderia deixar de criar problemas com a censura então existente, logo de início. Poucos
meses depois de lançado o número 1, dez dos 12 elementos que faziam O Pasquim (Só
escaparam Millôr e Henfil, por não serem localizados) foram presos arbitrariamente, ficando
retidos num quartel durante meses, até que foram impronunciados por um promotor público,
que leu toda a coleção do jornal e declarou nada ter encontrado de atentatório à moral e aos
bons costumes, à Segurança Nacional, etc., mas sim ter quase morrido de tanto rir…
A Renovação do Humor
Os pulos do “Pererê”
Também através da Abril, seria relançado o excelente personagem “Pererê”, de Ziraldo, com
histórias criadas em equipe, sob orientação do autor, que revisava cada história pessoalmente.
De julho de 1975 a abril de 1976, a revista foi publicada, também não atingindo um ano de vida.
Todavia, foi mais um passo importante no lançamento de novos valores, que trabalharam junto
com Ziraldo. Destacamos os seguintes: Brasílio M. da Luz, Paulo José da Silva, Thereza
Saidenberg, Ivan Saidenberg (o autor), Júlio Andrade Filho, Ruy Perotti, criando argumentos,
além de Napoleão Figueiredo, Primaggio Mantovi, Roberto Fukue, Eli Leon, Renato Campello,
nos desenhos, e Euclides de Andrade, Sideral M. Luz, Micchio Yamashita, Ricardo Correa da
Silva, Selma Bertolino, Luiz Podavin e outros, na arte final.
As palhaçadas de “Sacarrolha”
Figueiredo e a “abertura”
A partir de 1979, com a posse do general Figueiredo na presidência e com a chamada
“abertura”, o humor tornou-se mais livre e, naturalmente, o próprio presidente militar se
tornaria o alvo mais visado pelos cartunistas. No Salão Internacional do Humor, de Piracicaba,
naquele ano, o prêmio “Júri Popular” seria ganho pelo autor destas linhas, juntamente com o
cartunista Pierre Trabbold, aqui do Jornal de Hoje, através de uma charge onde Figueiredo
aparecia em seu retrato oficial, todo sorridente, enquanto um menino pobre, magrinho e roto
perguntava à sua genitora, esta cheia de filhos e nas mesmas condições do garoto: “Manhê, di
que qui o homi tá rindo?”
Caminhos do Humor
Ao lado do humor político, a “abertura” tem proporcionado maior liberdade para o humor
erótico, dando oportunidade ao surgimento de novos cartunistas que têm publicado seus
trabalhos nas revistas especializadas no ramo, como Playboy, Status, Ele Ela, Homem, Exclusive
e outras. Alguns dos nomes dessa nova safra de humoristas são: R. Cardozo, Fausto, Geandré, J.
Caesar, Érico Santos, Arnaldo, ao lado de Ziraldo e outros nomes consagrados.
E os Quadrinhos?
Embora sempre sofrendo a concorrência desleal dos quadrinhos estrangeiros, os brasileiros
muito têm lutado, conseguindo proezas incríveis. O Projeto Tiras, da Editora Abril, é um
exemplo desse trabalho, pois deu oportunidade para muitos artistas brasileiros se expressarem
e publicarem suas obras em jornais de todo o País. Entre outros, trabalharam nesse projeto os
seguintes artistas: Primaggio Mantovi, Waldir Igayara, Jorge Kato, Paulo Paiva, Paulo José,
Carlos Avalone, Napoleão Figueiredo, Henrique Farias, José Claudino Gomes e outros. O mesmo
grupo foi o responsável pela excelente revista Pancada, que, durante quase três anos, divulgou
nossos quadrinhos.
Os Novos Heróis
Diversas tentativas têm sido feitas para o lançamento de novos heróis de histórias em
quadrinhos. Entre eles, “Falcon”, escrito por Thereza Saidenberg e Antonino Homobono, e
desenhado posteriormente por Michio Yamashita. Outro é o “Capitão Valente”, criação do autor
destas linhas, com desenhos de Claudson Ribeiro e José Claudino Gomes. Um grupo de São
Paulo, chefiado por Paulo Paiva, tem também criado heróis para tiras de jornais, entre eles o
cangaceiro “Carcará”. Fausto e Laerte criam quadrinhos sindicais, expondo reivindicações dos
trabalhadores brasileiros.
Os Quadrinhos Eróticos
Como não poderia deixar de ser, também os quadrinhos entraram na onda do erotismo,
especialmente os criados no Paraná, pelo grupo da Grafipar – Gráfica Editora Ltda., composto
por Eros, Maichrowiz, Mozart Couto, Rodval Matias, Watson Portela, Itamar Gonçalves, Gustavo
Machado, Fernando Bonini, Roberto Kussumoto, Fernando Ikoma, Nelson Padrella, Jorge
Fischer, Ataíde Braz, etc., ao lado de artistas consagrados como Shimamoto, Flávio Colin,
Sakita, Luiz Saidenberg, Wilde, Vilachá, Watson Portela, Itamar Gonçalves, Noriyuki, Seabra,
Zenival, Jan Boguslawski e outros.
Autor
IVAN SAIDENBERG
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer meio
(escrito ou eletrônico) sem a prévia autorização por escrito da editora.
Design de Capa
Design Company (design-company@uol.com.br)
Revisão
Leandra Trindade
Saidenberg, Ivan
A história dos quadrinhos no Brasil / Ivan Saidenberg. – Nova Iguaçu, RJ: Marsupial Editora, 2013.
ISBN 978-85-66293-04-3
13-11826 CDD-741.50981
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