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Aquisição e desenvolvimento da

Aquisição e desenvolvimento da linguagem:


linguagem
- linguagem e cognição
- linguagem e comunicação
- forma
- conteúdo
- uso
Etapas de desenvolvimento da linguagem:
- Comunicação não-verbal;
- Produção dos sons;
- Estrutura das sílabas;
- Estrutura de frases;
- Diálogo;
- Brincadeira. MOUSINHO, Renata et al . Aquisição
e desenvolvimento da linguagem:
Dificuldades no percurso: dificuldades que podem surgir neste
- Atraso simples de linguagem; percurso. Rev. psicopedag., São Paulo
- Desvio fonológico; , v. 25, n. 78, p. 297-306, 2008 .
Disponível em
- Distúrbio específico da linguagem (DEL); http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?s
- Fluência; cript=sci_arttext&pid=S0103-
- Alterações semântico-pragmáticas. 84862008000300012&lng=pt&nrm=iso
 A aquisição da linguagem depende de um aparato neurobiológico e
social, ou seja, de um bom desenvolvimento de todas as estruturas
cerebrais, de um parto sem intercorrências e da interação social
desde sua concepção.

 Apesar de longas discussões sobre o fato da linguagem ser inata ou


aprendida, hoje a maior parte dos estudiosos concorda que há uma
interação entre o que a criança traz em termos biológicos e a
qualidade de estímulos do meio.

 Alterações em qualquer uma dessas frentes pode prejudicar sua


aquisição e seu desenvolvimento.
Para entendermos a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, temos que
considerar dois aspectos:  a linguagem ajuda na cognição e na comunicação.

• Linguagem e cognição: pensamos bastante por meio da linguagem depois que


desenvolvemos esta habilidade. A memória, a atenção e a percepção podem ter ganhos
qualitativos com ela. Por exemplo, memorizamos melhor quando fazemos associações
de ideias. Ela também ajuda na regulação do comportamento. Na infância, podemos
observar o desenvolvimento da linguagem como apoio à cognição a partir dos dois
anos, em média, principalmente por meio da forma como a criança brinca.

• Linguagem e comunicação: temos a intenção comunicativa, e podemos nos


comunicar de diversas formas diferentes, através de gestos, do olhar, de desenhos, da
fala, entre outros. A estruturação da linguagem nos permite lançar mão de recursos
cada vez mais sofisticados, a fim de aprimorar nossas possibilidades de comunicação.
Também é importante percebermos que podemos dividir, didaticamente, a
linguagem, considerando sua forma, seu conteúdo e seu uso.

• Forma: engloba a produção dos sons, como se emite o fonema, e também a estrutura
da frase, se tem todos os componentes e se a ordem é aceitável pela língua - níveis
fonético-fonológico e morfossintático (classifica cada palavra; e em relação umas às
outras).

• Conteúdo: diz respeito aos significados, que podem estar na palavra, na frase ou no
discurso mais amplo - nível semântico (significado).

• Uso: refere-se ao uso social da língua; não basta emitir sons, estruturar uma frase e
saber o significado, tem que adequar tudo isso ao contexto em que está sendo
empregado - nível pragmático.

Passadas estas considerações, vamos pensar em algumas etapas de desenvolvimento.


Etapas de Desenvolvimento da
Linguagem
• Comunicação não-verbal: desde muito cedo já pode ser
observada, como as variações do tônus
(contração/descontração muscular) entre a mãe e o bebê, o olho
no olho, as expressões faciais.

O apontar por volta dos 11 meses é um marco, podendo


inicialmente ter a intenção apenas de "mandar" (apontar para
algo que quer) e depois pode ter a intenção de compartilhar a
atenção com alguém (apontar para que outra pessoa possa
acompanhar aquele momento).

• Produção dos sons: os primeiros fonemas da língua são


aqueles produzidos com os lábios, como /b/ /m/ /p/.
Logo depois surgem /n/ /t/ /l/ , e, em seguida, /d/ /c/ /f/ /s/ e /g/
/v/ /z/ /R/ /ch/ /j/.
Só mais tarde observamos a produção adequada de alguns
fonemas como /lh/ /nh/ /r/. A combinação destes fonemas nas
sílabas podem ser complicadores.
• Estrutura das sílabas: as formações silábicas mais simples
são consoante-vogal (CV), como PA, LO, etc; ao se inverter
essa ordem (vogal-consoante), já se tornam um pouco mais
difíceis, como AR, US, etc. Quanto maiores, mais difíceis se
tornam. Para ilustrar, podemos apresentar palavras com
sílabas consoante-vogal-consoante LAR, RIS, etc. e
consoante-consoante-vogal FRA, BRI, etc. No português,
temos sílabas como TRANS (consoante-consoante-vogal-
consoante-consoante), dentre outras, com enorme
dificuldade de produção para crianças menores.

• Estrutura de frases: inicialmente as crianças usam uma


única palavra funcionando com frase. Mais tarde, surgem as
frases telegráficas, com duas palavras em média. As frases
vão se alongando, passando a ter cada vez mais elementos. A
complexidade também aumenta e surgem possibilidades de
compreender e expressar frases em outras ordenações, como
a voz passiva. As expressões de tempo e espaço passam a
fazer parte do discurso, possibilitando narrar situações que
não estão presentes. As frases mais complexas que exigem
mais conteúdo como as orações com pronomes do tipo "que"
são possíveis a partir dos 3 anos. Ex. ele que pegou meu
carrinho.
• Diálogo: até atingir a capacidade de estabelecer um diálogo (com) alguém, a criança
passa por fases em que depende do adulto para que o mesmo seja possível.

Em um primeiro momento, os adultos tentam adivinhar o que significam as


produções pouco compreensíveis da criança (especularidade). Esta fase inicial
acontece quando a criança começa a emitir sons e sílabas que podem ser
compreendidas como palavras.

Posteriormente, quando as crianças falam mais, aumentando um pouco a quantidade


sons e os adultos podem complementá-las (complementaridade), é quando aparecem
as primeiras combinações de palavras, juntando uma ou duas palavrinhas.

Somente depois, a criança poderá iniciar e manter um diálogo sem um auxílio tão
direto (reciprocidade). Essa primeira estruturação da conversa em diálogo é gradual e,
até o final dos 2 anos, a criança consegue desenvolver bem a troca dialógica destas três
etapas.
• Brincadeira: as brincadeiras podem ser inicialmente construtivas (jogos de
montar/desmontar). Ao mesmo tempo, desenvolvem-se as plásticas (desenho,
massinha, etc.). As projetivas podem começar ao mesmo tempo e vão se
desenvolvendo em subetapas, como a imitação de situações vivenciadas; mais tarde
(surge) o faz de conta até atingir o devaneio (presença de situação imaginária e de
história com sequência, possibilidade de brincar junto e não apenas "ao lado").
Importantes, também, são os jogos com regras que começam simples e vão se
sofisticando.
DIFICULDADES NO PERCURSO
Por que algumas crianças começam a falar
as primeiras palavras entre o primeiro e o
segundo ano de vida e outras demoram a
falar?

Por que algumas quando começam a falar,


falam claramente e outras parecem falar
outra língua?

Existem transtornos que acometem a


criança e causam atraso na aquisição e no
desenvolvimento da linguagem.

A seguir, informações sobre algumas das alterações na área da linguagem nesta fase
do desenvolvimento. Quando são listados sintomas, deve-se ter a clareza de
entender que várias características fazem parte da evolução. Deve-se ficar atento
quando elas se tornam persistentes e passam a atrapalhar alguma área do
desenvolvimento. Normalmente, nem todas as características estão presentes em
todas as crianças.
ATRASO SIMPLES DE LINGUAGEM

O Atraso Simples é encontrado em crianças que apresentam defasagem no


desenvolvimento da linguagem; essas crianças demoram a falar e parecem
imaturas. Aparentemente, esse atraso pode ser ocasionado por dores de ouvido e
complicações respiratórias no período de aquisição da linguagem e/ou estímulos
inadequados para o desenvolvimento da mesma. Seu padrão de linguagem é
compatível com crianças mais novas (menor idade cronológica), mas seguindo a
mesma ordem de aquisição. Algumas crianças podem recuperar o atraso inicial com
orientação adequada. Algumas características:
• Frases simples, mas sem alteração na ordem das palavras;
• Podem combinar sílabas de fonemas diferentes;
• Vocabulário reduzido por falta de experiência;
• Trocas na fala;
• Boa compreensão.
DESVIO FONOLÓGICO

Utilizamos esse nome para caracterizar crianças com idade igual


ou superior a 4 anos, aproximadamente e que apresentam alteração no
desenvolvimento da fala em diferentes graus. Os desvios na fala não se limitam a
alterações na força ou mobilidade dos órgãos responsáveis pela fala, mas são
decorrentes de dificuldades na aquisição das consoantes da sua língua materna.
O nome Desvio Fonológico tem origem na dificuldade de formação desse arquivo de
sons pelo cérebro (sistema fonológico) e irá se caracterizar por trocas na fala
inesperadas para sua idade e tipo de estímulo recebido durante o seu
desenvolvimento. As trocas mais frequentes são:
• S por CH, como chapo ao invés de sapo;
• R por L, balata ao invés de barata;
• V por F, faso por vaso;
• Z por S, sebra por zebra;
• Alterações na ordem das sílabas ou nos sons das palavras: mánica (máquina),
tonardo (tornado);
• Fala ininteligível
DISTÚRBIO ESPECÍFICO DA LINGUAGEM (DEL)

Cerca de 3 a 10% da população apresenta o Distúrbio Específico de Linguagem


(DEL), que parece acometer um maior número de meninos do que meninas.
O DEL refere-se a crianças que apresentam dificuldade em adquirir e desenvolver
habilidades de linguagem na ausência de deficiência mental, déficits físicos e
sensoriais, distúrbio emocional importante, fatores ambientais prejudiciais e lesão.
Elas apresentam uma visível discrepância entre o desenvolvimento global e o
desenvolvimento de linguagem, mas a comunicação não-verbal costuma estar
intacta.
Podemos encontrar na fala de parte destas crianças (já que existem variações do
problema):
• Pouca memória para uma sequência de sons, por isso tendem a falar em um
primeiro momento basicamente monossílabos;
• Dificuldade no planejamento motor da produção dos fonemas;
• Frases desestruturadas e/ou construídas na ordem inversa;
• Vocabulário reduzido;
• Trocas na fala;
• Dificuldades na compreensão (ou não).
FLUÊNCIA
Existem vários Transtornos da Fluência como pode ser visualizado abaixo:

• Gagueira do desenvolvimento - É considerada um Transtorno da Fluência,


caracterizado por repetições de sílabas ou sons, prolongamentos, bloqueios,
interjeições de sons e uso de expressões como: "éh", "ãh", marcadores discursivos:
"tipo assim", "aí". Acomete 5% da população. A maior parte dos casos se inicia
paralela à aquisição da linguagem e do desenvolvimento neuropsicomotor, entre 2 e
4 anos. No entanto, cabe ressaltar que nessa fase gaguejar pode ser comum
(gagueira fisiológica), mas a criança supera rapidamente. Sinais de risco seriam o
fato de perdurar ou de mostrar sinais muito intensos. A gagueira é involuntária, não
é possível controlar a sua ocorrência, e é de suma importância não chamar a atenção
da criança para os momentos de gagueira, não forçá-la a falar nem constrangê-la.
FLUÊNCIA

• Taquifemia (fala acelerada) - as principais características são: a velocidade de fala


rápida que compromete o entendimento da mensagem, hesitações e disfluências, e
uma irregularidade, momentos de melhora e piora no discurso.
FLUÊNCIA

• Taquilalia (aceleração exagerada do ritmo da fala) - é caracterizada pela


velocidade de fala alta que compromete o entendimento da mesma, porém não
encontramos momentos de disfluências.
ALTERAÇÕES SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS

Podem ser decorrentes de várias dificuldades, incluindo um subtipo de DEL


(distúrbio específico da linguagem), ou características do espectro autístico. Diz
respeito à competência comunicativa. Não basta falar todos os sons da língua e
estruturar fases complexas (estes podem ou não estar prejudicados), deve-se falar o
conteúdo certo para o momento exigido.
ALTERAÇÕES SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS

Como exemplo de alguns comportamentos linguísticos pode-se citar:


• leva o adulto como instrumento para conseguir o que deseja, no lugar de se
manifestar verbalmente ou por gestos ou expressões faciais;
• pouca intenção de iniciar ou manter um diálogo;
• mesmo que se expresse bem, a troca de ideias é restrita (não há reciprocidade na
comunicação);
• mais facilidade para listar palavras ou situações do que para contar histórias;
• dificuldade com a linguagem figurada, incluindo a compreensão de metáforas
e/ou piadas;
• ingenuidade em situações sociais, com dificuldade em se colocar no ponto de
vista dos outros;
• tendência a superfocar em objetos ou assuntos em particular, em detrimento de
uma visão mais global sobre a situação ou assunto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

• O desenvolvimento da linguagem implica na aquisição plena do sistema


linguístico que nos possibilita a inserção no meio social, a possibilidade de assumir
a nossa identidade, além do desenvolvimento dos aspectos cognitivos;
• O atraso "simples" na aquisição da linguagem dificulta o amadurecimento e a
experimentação da linguagem necessária para a aquisição formal da
leitura/escrita. Sua imaturidade linguística irá refletir no vocabulário reduzido e
no conhecimento de mundo restrito. Tal fato trará repercussões na interpretação
de textos e também na elaboração de histórias escritas;
• Falhas na aquisição e no desenvolvimento fonológico, como problemas na
produção dos sons da fala ou discriminação dos mesmos, podem refletir na leitura
e/ou na escrita, podendo levar a criança, por exemplo, a trocar, omitir ou transpor
fonemas ou grafemas. Como consequência, a criança demoraria a adquirir a
autonomia dos processos de leitura e escrita ou culminar com problemas maiores.
• Em relação ao DEL, ao verificarmos a literatura, nos deparamos com a seguinte
realidade: apenas 10% dessas crianças não apresentam nenhum tipo de problema
de leitura. Duas razões para a vulnerabilidade de crianças DEL em relação à
leitura e à escrita: a dificuldade na análise fonológica e memória e dificuldade em
usar a sentença, para que o contexto facilite a compreensão de novas palavras;

• As alterações de ordem semântico-pragmáticas estão associadas à rigidez dos


pensamentos e pouca flexibilidade no raciocínio, à dificuldade em atribuir sentido
além do literal, associar palavras ao seu significado e compreender a linguagem
falada. Desta forma, a aprendizagem não é generalizada e acaba comprometida;

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