Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 há uma expressão japonesa 一期一会 ichi-go ichi-e, um período, um encontro. Habitualmente rela-
cionada aos princípios da cerimônia de chá, que tem como mestre Sen no Rikyu do século XVI, ela se
Dez pessoas dez cores, Monica J. Terada e Gabriel Kerhart, 2016 fundamenta na transitoriedade zen budista e lembra que um encontro é único e não volta a se repetir.
foto: Juliana Kase Mesmo que as mesmas pessoas voltem a se encontrar, a ocasião nunca é a mesma. Panta rei, tudo flui,
como disse Heráclito.
A escrita-corpo no pixo muitas vezes utiliza vários corpos para grafar uma PARA ALÉM DO OBJETO, A ESPACIALIDADE PRENHE DE TEMPO
palavra, com os pés nas costas, por exemplo, ou na emblemática ação conjunta que
durou oito horas, com cinco turmas de pixação - Porões, Dominios, Viela13, Je e A noção de espaço para o shodô e para a pixação não é um grau zero.
Exorcity- para pintar as iniciais OS+IM, da griff Os + Imundos, na fachada do prédio Papel e parede não são suportes equivalentes a um fundo neutro onde a letra pode
localizado à Rua dos Timbiras, centro de São Paulo em 2009. Na escrita-corpo do se destacar. No pixo, a cidade é que recebe a letra e isso inevitavelmente levanta
shodô o praticante logo nota que tentar escrever somente com a mão e o punho é debates sociais, confrontos entre diferentes concepções de público/privado, de
um equívoco. Uma única tentativa em qualquer uma dessas escritas revela a neces- cultura e de arte. O muro privado em seu lado público recebe a tinta e mostra quão
sidade de perceber o corpo em sentido ampliado e o posicionamento intuitivo da fina é a camada que divide essas esferas. No shodô, o espaço é tão importante
postura em relação ao espaço e aos instrumentos de caligrafia. Esse entendimento, quanto a tinta preta. A idéia de que o branco ou o invisível é nulo, vazio, não existe
no entanto, deriva da prática. na cultura japonesa. O que não é visível na verdade coincide com o que é muito
valorizado*1, no Japão o que tem valor é recôndito. O antagonismo figura/fundo,
tradicional nas artes visuais de tradição européia, perde assim valor, já que não há
fundo neutro, há uma relação dinâmica e interdependente entre os elementos. Não
é possível falar de pixação e de shodô sem atentar para o contexto e as noções
espaço-temporais que as constituem. O calígrafo atento desenha com o suporte
que é ao mesmo tempo social, plástico e ontológico no shodô e na pixação.
Dois exemplos. Os poucos centímetros do papel deixados sem tinta no
trabalho de Morimoto sensei em que ele escreve a palavra 無“mu”, o nada zen-bu-
dista, revelam a potência do vazio. Eles testemunham que a negritude do papel ad-
vém da tinta, que foi conduzida pelo papel mesmo após o gesto terminado. A tinta
sedimentada no fino papel por sua vez, aponta para esse percurso fluido iniciado
pelo movimento e pelos traços que compõe a palavra無. Nas intervenções urbanas
de Zero hum, os elementos arquitetônicos e os espaços também escrevem como as
letras, ela parece ressaltar mais o entorno do que sobrepô-lo, o que torna a relação
entre grafia e cidade entrelaçada ao ponto dos limites de ambas se perderem de
vista.
Os + Imundos, Porões, Dominios, Viela13, Je e Exorcity, 1 Para mais sobre o assunto ver sobre o conceito de 奥“oku”, o interior, o fundo de um lugar como a
Rua dos Timbiras, São Paulo, 2009 casa e também do coração.
無, Mu, Morimoto sensei
itijisho, 61x91cm
PARA ALÉM DO OBJETO, O SABER-FAZER, O SABER-OLHAR
Com toda a natureza não objetual do pixo e do shodô e os encontros em
andamento, realizados desde o começo de 2016, decidimos para a mostra privi-
legiar o processo e focar no que foi produzido nos encontros através de vídeos,
originais e fotos. No dia da montagem na Casa das Rosas, um dos trabalhos fixados
temporariamente no painel para visualização caiu no vão, entre o painel e a mesa
expositora, fixa. Se o fato ocorrera em um contexto aurático de arte1, se constituiria
um problema de difícil resolução. Mas a solução partiu da oportuna presença de
Monica, que havia feito o trabalho ‘perdido’ . Fazer outro.
“O que importa no shodô não é o shodô. O que importa no pixo não é o
pixo.” Assim escreveu Gabriel no pixo realizado na rua e transmitido ao vivo para a
Casa das Rosas, na abertura do evento no dia 5 de abril de 2016.
Em conversa com Mitty Nakamura, educadora do espaço, sucessora de
Luciana Felix, que já não trabalhava mais ali, ela me relatou que as pessoas per-
guntavam sobre o por quê da aproximação. O que poderia apontar era apenas a
importância do como e do onde e dos por quês. Não se pode dizer que o pixo
e o shodô sejam narrativos, mas a apreciação dessas escritas são conduzidas em
uma duração que está sintetizada na imagem escrita. Como não objetuais, o que
importa na letra é aquilo à que remete, seja o movimento, o tempo, o espaço, o
sentimento, a experiência de vida condensada em gesto no momento da escrita ou
todos os elementos juntos, pois não se separam. De fato, há uma busca de simbio-
se entre todos os elementos que compõe essas escritas. Como há uma busca de
Zero1, bairro da Liberdade, São Paulo, 2016 diálogo na aproximação anacrônica em Pisho Xodô.
Dez pessoas dez opiniões. Nem por isso a convivência é impossível.
julio mendonça
na escrita interessa o que não é escrita, diria o signatari. a cultura ocidental é marca-
da por oposições excludentes e antíteses esquizofrênicas e uma das mais decisivas
delas é a que se deu e se dá entre escrita e imagem. a natureza motivada, icônica e não linear da escrita ideogrâmica permite uma escri-
o exercício escolar padronizado estendeu o acesso à prática letrada para uma par- ta mais sensível, concreta e multidirecional que, (re)descoberta por artistas e poetas
cela muito maior da população, ao mesmo tempo que disseminou uma visão lo- ocidentais, contribuiu para dar novas formas ao signo icônico, reprimido na escrita
gocêntrica que só encontra resistência na cultura popular e entre artistas e poetas. ocidental – isto é, aquilo que em nossa cultura letrada se convencionou chamar de
somos adestrados, de maneira complementar, para o trabalho – que “nos dignifi- “o indizível” (ou “inefável”). “indizível” porque não pode ser expresso (apenas) por
ca” – e para a escrita – que passamos a considerar o repositório último e necessário palavras.
do sentido. a cultura oriental desenvolveu essa milenar e maravilhosa tradição – uma tradição
eric e. havelock, no seu grande livro a revolução da escrita na grécia, observa que que inclui e [até onde conheço] não reprime a experimentação – da escrita intima-
a invenção da escrita trouxe uma condição física, material, para a linguagem, mas mente associada à imagem, que podemos observar na arte caligráfica e na pintura
logo depois, na própria grécia antiga, constata-se um crescente intelectualismo: chinesas e japonesas e na arte caligráfica árabe. a partir do final do séc. XIX, a arte
e a poesia experimentais do ocidente passaram a beber dessa outra fonte (dessa
“um discurso escrito vem a ser separado daquele que o pronunciou, e assim tam- outra bolha).
bém o conteúdo das declarações feitas. estas vêm a ser objetivadas como pensa- a poesia experimental brasileira – principalmente, a poesia concreta – estudando
mentos, idéias, noções que têm existência própria.” e questionando essas duas diferentes tradições, passou a explorar os caminhos da
verbivocovisualidade e da intersemiose. uma poesia de misturas, de hibridismos,
desta forma, havelock flagra na grécia do séc. V o surgimento da tendência oci- que tem transitado entre uma linguagem de leitura rápida e instantânea como num
dental à abstração e ao logocentrismo. foi preciso que, no ocidente, voltássemos a cartaz e a (i)legibilidade de alguns experimentos intersemióticos. entre a ortogo-
observar os aspectos físicos e materiais da escrita, estudar a história de suas trans- nalidade construtivista e a informalidade e o brutalismo de muitos experimentos
formações e comparar com a história da escrita em outras culturas – notadamente, caligráficos.
na cultura oriental – para que pudéssemos começar a por a cabeça fora de nossa para a experimentação poética pós-concreta, esse caminho inclui não só a pesquisa
bolha. dos suportes materiais de uma escrita que não se quer apenas mensagem/sentido,
a tendência ocidental à abstração e, consequentemente, ao logocentrismo, tem mas também uma relação direta, física, da linguagem com o corpo – uma dimensão
origem na realidade física de organização de sua escrita: a natureza arbitrária, con- performática de uma escrita que é mais/menos que escrita. uma escrita que não
vencional e linear dos elementos básicos da escrita alfabética. o desenvolvimento quer dizer. na escrita interessa o que está depoisagorantes do seu escreviver. uma
da lingüística e da semiótica, a pesquisa histórica comparada sobre as transforma- excrita que (in)diz.
ções materiais da escrita e sua confrontação com a cultura oral e o advento das
experimentações na poesia moderna ocidental lançaram luz sobre outras formas de
escrita no oriente, principalmente o ideograma chinês.
初Hatsu (A primeira vez) e a letra "A", Andre Luis Vieira
瑞氣集門 zui ki shu mon (boas energias que se avizinham), Monica J. Terada
realizados durante a abertura de Pisho Xodô, Casa das Rosas, São Paulo, 2016
Transmissão ao vivo de pixação realizada durante a abertura de Pisho Xodô,
Casa das Rosas, São Paulo, 2016
Sobre a caligrafia japonesa, o corpo e a expressão
Rafael Miyashiro
1.
No Ocidente, a caligrafia é vista como a prática de uma escrita bonita – di-
retamente ligada à origem da palavra grega, que une κάλλος kalli (beleza) e
γραφή graphẽ (escrita). A caligrafia japonesa, no entanto, vai além da escrita bela.
Isso porque no Oriente, na China e Japão, por exemplo, a escrita é vista como
uma arte refinada, capaz de revelar a presença, força e personalidade de quem
a escreve, o que exige mais que a habilidade técnica de uma escrita harmoniosa.
Fuyubi Nakamura (2006) cita cinco palavras1 que se relacionam à caligrafia japone-
sa, o que mostra também usos distintos a cada uma delas, podendo estar ligadas
ao contexto educacional, religioso ou artístico. No Brasil, as que mais se usam são
shodô, sho e shuji. Embora vários imigrantes japoneses relacionem a caligrafia ja-
ponesa a shuji, que se refere ao aprendizado correto do ideograma, o que lembra
a caligrafia escolar ocidental, no Brasil, shodô é o termo mais conhecido. Formado
pelos ideogramas sho, escrita, e dô, caminho, ou ‘caminho da escrita’ – é uma das
‘artes do caminho’2. Por ter influência zen, o shodô apresenta características como
a experiência do momento presente, o dinamismo e a relação com o espaço (West-
geest, 1997). O presente é valorizado no instante em que se faz a caligrafia, pois o
shodô não permite o retoque, e pede concentração e atenção. O dinamismo afasta
o dualismo presente no Ocidente, propondo unidade entre a escrita e o calígrafo,
o calígrafo e o espaço, a linha e espaço a ser ativado por ela3. Da mesma forma, o
espaço na cultura nipônica tem uma peculiaridade japonesa, o que pode ser visto
no ma, que faz referência a intervalos de tempo, espaço e espaço-tempo, e está
presente nas artes, na arquitetura e no cotidiano, podendo indicar potencialidade
artística4.
Sho tem conotação artística e expressiva, e está ligado ao movimento da caligrafia
moderna no Pós-Guerra no Japão, que buscava novas formas de expressão e que-
ria se desvincular do que considerava uma caligrafia tradicional estagnada. Por isso
denominaram o que faziam como sho, um contraponto ao shodô, fomentando uma
caligrafia na qual a expressividade e a autoria eram mais importantes que a
especificidades, e que falar de caligrafia japonesa requer, antes, perguntar de qual próprio ser emerge com o ideograma e é identificado com o movimento da mão e
caligrafia estamos falando. Uma prática não é melhor que a outra: são apenas es- do corpo, o sho transborda. [...] isto é sho…
Um movimento único e sem volta, que assimila e absorve tudo – ideograma, pincel,
colhas que marcam o percurso de cada um e canalizam seus interesses, objetivos
papel, espaço – em si mesmo… Quando o movimento, que é a convergência de
e afeições.
todas as forças numa única execução, vem à tona, e mais, quando ele é transcen-
dido, e eu, ideograma, pincel, papel, forma, ritmo, tempo, espaço, minha mente,
enfim, quando tudo foi transcendido, tudo existe como um. Neste momento, nada
me segura e eu posso ser eu mesmo (HOLMBERG, 1998).
‘Ser eu mesmo’, por meio da caligrafia, soa zen: não há dicotomia sujeito e objeto.
Isso não acontece sempre – por vezes falta comprometimento, tempo, intimidade,
Lissa Sakajiri, demostração de shodô durante a abertura de Pisho Xodô, e tantas outras coisas que se impõem na nossa vida. A descrição de Morita Shiryû
Casa das Rosas, São Paulo, 2016
não diz respeito a algo que deve ser buscado (no zen o mais importante é o meio, e
2. não o fim), mas, sim, vivenciado – a cada ato de caligrafar, seja nos treinamentos, no
No universo da escrita, a palavra media a comunicação – tanto em situações que aprendizado técnico, na experimentação e na produção artística. ‘Ser eu mesmo’,
requerem clareza, rapidez e eficiência, como naquelas em que seu conteúdo é am- por outro lado, também, requer reconhecer e explorar a subjetividade de cada um,
bíguo e aberto à interpretações. Essa mediação é expressa, visualmente, no que é tecendo relações com as coisas e pessoas ao seu redor. São coisas que potencia-
o próprio ‘corpo’ da palavra ou dos ideogramas, por meio de atributos que lhe dão lizarão a caligrafia japonesa praticada – seja ela um sho ou um shodô – e que trarão
forma e identidade, que podem mostrar beleza, poder ou simplicidade. No caso da caligrafias únicas, singulares e cheias de vida.
caligrafia japonesa, esse corpo belo, poderoso ou simples, pode revelar um outro
corpo, escondido, que é aquele que, com seu sopro, por meio dos seus gestos, cria
a palavra no ato da caligrafia japonesa. Referências bibliográficas
No contexto do sho ou shodô, esse ato envolve o calígrafo, sua realidade psicofísica
HOLMBERG, R. Dragon knows dragon. (Tese de doutorado). Art History Department, Boston University,
e afetiva, os materiais e suas propriedades, o ambiente, a história da escrita, entre
Boston, Estados Unidos, 1998.
outros. Toda essa complexidade se revela por meio da linha, considerada, no shodô MIYASHIRO, R.T. Entre tempos: a criação artística da caligrafia japonesa (Dissertação de mestrado em
e no sho, algo profundo, capaz de revelar a pessoa que a escreveu. Anos atrás, um Artes), Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas, Brasil, 2009.
sensei de caligrafia japonesa, reconhecido internacionalmente, ao ver o ideograma NAKAMURA, F. Creating new forms of “Visualized” Words: An study of Contemporary Japanese Calli-
graphy (Tese de Doutorado em Antropologia Visual), University of Oxford, Oxford, Inglaterra, 2006.
‘boi’ que eu tinha escrito, com traços que aparentavam trazer vida e força ao meu
OKANO, M. Ma, entre espaço da comunicação: Um estudo acerca dos diálogos entre Oriente e Oci-
boi, disse que era um boi triste. Durante muito tempo guardei isso para mim: como
dente (Tese de Doutorado em Comunicação e Semiótica), Pontifícia Universidade Católica, São Paulo,
poderia alguém saber que, por trás daquele boi cheio de traços expressivos, se es- Brasil, 2007.
condia o momento de tristeza sob o qual foi gerado? (E o que era mais admirável, SATO, C. F. Japanese Calligraphy: The Art of Line and Space. Osaka, Mitsuru Sakui, Kaifusha Co, 1999.
como alguém poderia saber isso simplesmente olhando a caligrafia?). O boi triste, WESTGEEST, H. Zen in the fifties: interaction in art between East and West. Zwolle, Waanders Uitgevers,
1997.
nesse caso, revelava mais do que a aparência (‘um simples trabalho de caligrafia’),
Pisho Xodô, vista da exposição, Casa das Rosas, São Paulo, 2016
pixar é humano1
da questão: a poesia pintou à frente ñ só nos livros, mas a duras tintas &
poesia concreta é poesia visual para cegos2 através dos muros. interessa a materialidade das palavras experienciadas
através desta estranha grafia q se projeta em espaço urbano & se propa-
pra q tanto sangue? ga em escala humana, q monta palavras como totens q o olho apalpa &
antes aumentar a produção d tinta!3
q parece transfigurar todas as palavras em poemas, sem facilitar a leitura.
eu vou buscar no pixo (...)
um oriente ao oriente do oriente4 depois d pixar muito concreto veio d presente 1 livro d poesia concre-
ta: relação q incomoda os defensores da muralha & dos bons tapumes. xxxxxxxx
a grande muralha da especialização dificulta a interação entre ≠s realidades: re-
TRANSPIXAÇÃO dundância no sistema: baixa informação: repressão da transa entre linguagens &
gabriel kerhart linguagens são tramas d transformação da percepção humana.
exortara 1 cadeia d signos
quando rei & eu pixamos a frase & eu errei1: o q interessa no pixo ñ é o pixo
/ o q interessa no shodō ñ é o shodō, estávamos querendo assinalar q a não-disci-
toda pixação desencadeia 1 lance d tato & se equilibra na linha tênue plina é indispensável para a sobrevivência & renovação dos ≠s sistemas sígnicos.
entre caligrafia & pintura (pictografia), entre legalidade & ilegalidade espacialização X especialização. assim assassinar a representação & assinar 1 nova
(marginal), entre código & mensagem (criptografia). se comunica era dentro da gente:
através do incomunicável, desenvolve a legibilidade dentro da ilegibi-
lidade. é, à risca, aquela q ñ se ajusta aos ideais restauradores d cultura, ñ é regra, a história do exorcity, como em 1 progressão geométrica fractal, remonta
é exceção & por definição se destina a fornecer informação ñ usual, informação a história da escrita. se, por 1 economia d traços, a letra triangular da turma,
nova, signo novo na quebrada. o signo novo atropela a legislação vigente. & por metamorfoseada em letra redonda, remonta a transformação do quadrado
estas & outras q a pixação divide opiniões. d 1 lado os aduladores & d outro os q a romano em carolíngio. também em relação fractal, a crise da representação no
odeiam. d 1 lado, 1 classe artística disposta a arrancar todas as lascas possíveis do pixo do séc. xx–xxi remonta a crise da representação na arte do séc. xix–xx.
pixo & a todo custo. d outro, 1 parcela conservadora da sociedade, pautada pelo
senso comum, guiada por 1 ideia fixa & d louvor à propriedade privada, q repudia enrascada exemplar 1 - exorcity: cantigas d escárnio
veementemente essa exprayação. enquanto uns se apossariam até do 1º rabisco da
mulher das cavernas, outros estão sempre a reboco da istóriah, neste interregno, 物語: certa vez deu maldizer numa aula d língua portuguesa ao pixar 1
fazer o q? exorcity no cabeçalho da prova sobre cantigas d escárnio. a professora perspicaz ao
: muros são túmulos, merecem epitáfios. visualizar aquela enigmática inscrição deduziu quem pixara sua casa. o q era pra ser
só 1 prova-teste virou 1 fornecimento d provas incriminatórias.
& pixação & tato & linha & caligrafia & pintura & pictografia & legalidade &
ilegalidade & marginalidade & código & mensagem & criptografia & comunicação re-apresentação x re-presentação
& contracomunicação & legibilidade & ilegibilidade & ideais & cultura & regra &
exceção & informação & signo & lascas & sociedade & exprayação & rabisco & só interessere o q ñ é meu (oa/dp): se duchamp escandalizou o pensamen-
mulher & cavernas & istóriah & interregno &xorcity, tudo isto tem a ver com poesia: to pictórico d sua época ao pixar no alvo mictório sua quase-turma, r. mutt, o q dirá
violência organizada contra a língua (hc). o mercado imobiliário d 1 pixador q assina 1 muro, 1 av. inteira, 1 cidade. a pixação
bebeu da fonte dadá (?), tatuou & tomou para si o q nunca foi dado: são paulo:
1- edimilson marcena d oliveira (1975-1997). terra d arranhacéu.
2 - sampaio sensei
3 - mantive os versos na versão q minha memória distorcera. os versos corretos, do poema: a sierguéi
iessiênin d vladmir maiakovski, na tradução d haroldo d campos, são: para q / aumentar / o rol d suici- 1 - fraseado baseado no poema interessere d décio pignatari. no nervosismo da ação modificamos a
das? / antes / aumentar / a produção d tinta! sintaxe parafraseando a estrutura, q seria: no pixo interessa o q não é pixo, no shodō interessa o q não
4 - paráfrase álvaro d campos in opiário é shodō; erros corretos?
Sho (Escrita) e Exorcity, Monica J. Terada e Reinaldo Daniel
saída de pixo, São Paulo, 2016
marcel expandido em novas escalas & escaladas, injetan- 1 exemplo ainda + complexo d simplificação é o kanji 馬, ‘uma’:
do na circulação sangüínea da city o antídoto contra o prédio: kanji-cavalo: cavá-lo:
obsessivas assassinaturas re-apresentando o vazio: a representação já era: pixo é
risco.
repetição x representação
1 - cito apenas 1 das inúmeras categorias d kanjis (ideogramas): shoukei moji (kanjis pictográficos), shiji
moji (kanjis indicativos), kaki moji (kanjis ideográficos), keisei moji (kanjis fonético-ideográficos), tenchuu
moji (caracteres derivados), kashaku moji (caracteres tomados emprestados)
anedota exemplar 2 - a caminho da escrita pisho x crítico
ao fim do 1º encontro d shodō, depois d tomar aula com joku wakamatsu a pixação ñ é profissionalizável. enquanto os críticos, profissionais, esque-
sensei, recebo 1 texto d rafael miyashiro, vou com juliana kase & cadós sanches à cem o q temos d sensorial, sempre pré-dispostos a caírem na armadilha da repre-
1 exposição d 刻字 no hotel matsubara. longe daquele estereótipo d pessoas q sentação. a pixação se esquiva, esguia.
exercitam 1 estilo tradicional, naquela exposição presencio 1 encontro restrito d
artistas com espírito d vanguarda. lembro do point d pixo, penso naquelas reuniões é d extrema urgência a publicação d material pensamental sobre pixação
lendárias do pesssoal da poesia concreta anos 50/60/70. ao ler o texto do rafael, feita por pixadores. pixadores q por sua vez interajam com outras linguagens.
na volta d trem a caminho d casa, descubro q além do shodō, existe o sho, excrita reinaldo & eu (exorcity) temos feito alguns esforços d ação & reflexão neste sentido.
criada por calígrafos modernos do pós-guerra. os sentidos começam a fazer coisas: realizamos em 2012 exposição no CCJ na zona norte da cidade q relacionava o pixo
não siga as pegadas dos antigos, procure o q eles procuraram (bashō) & o pixo é o à 1 gama d manifestações icônicas, da pedra da roseta aos logotipos da era indus-
levante dos pós do pós-guerra. trial. reinaldo nos últimos 10 anos oxigenou o pixo com suas inovações, 1 delas o
exorstencil, no qual deu 1 salto quântico da caligrafia à tipografia do exorcity. tenho
& por q 書 sho 道 dō ? feito pixo-experimentos no âmbito da performance, da poesia & da tradução. aca-
bamos d fazer para a exposição pisho/xodō talvez o primeiro pisho streaming (com
afael miyashiro em entretempos: a criação artística na caligrafia japone- ajuda d gregório gananian & danielly o.m.m). há também outrxs operárixs do pixo
sa, escreve, citando helen westgeest, q o artista tradicional japonês: “... q se esmeram em dialogar com outras linguagens: barbara (aura). bia (fúria). jack
vê o espaço “ao redor”, o que significa que, durante seu trabalho, ele (parceiros). dina (só minas). penal (os+ativos). tripa (bereta). bruno (locuras). fabio
está consciente do espaço que o permeia. nesse sentido, ele difere do fotorua (fantasmas). kamikase (caligrapixo). djan (cripta), cujo 1 dos seus grandes
pintor ocidental tradicional, que, sob a influência dos princípios da perspectiva, só feitos, num devir duchamp, foi ter pixado o curador: parla!
está consciente do espaço à frente dele, & observa como que para dentro. nishi-
da kitarô descreveu o modo de sugerir o espaço tradicional como o seguinte: “o
espaço na arte do extremo oriente não é o espaço encarando o ser, mas o espaço pisho
no qual o ser está situado”. xodō
omo em 1 progressão fractal, + 1 vez, a metamorfose permanente dos si-
o shodō reforça a complexidade do pixo. desloca, acrescenta, ou melhor, gnos, ícones, palavras, resulta numa estrondosa coincidência fonética – oci-
destrói pautas além daquelas q tanto têm sido riscadas sobre a pixação: subversão, dente/oriente – entre 2 códigos linguísticos totalmente distintos: o japonês
contextação, liberdade d expressão. revela a questão presencial: corpo=mente: & o português (brasileiro) shodō / sho / pixação / pixo.sho, a grosso modo,
pensamento corporal. quer dizer escrita, & dō, caminho. da mesma forma q os artistas japoneses reduzi-
ram a palavra shodō à palavra shō para diferenciar 1 escrita tradicional d 1 excrita
predominância preto; compressão & expansão do traço; redução, na maio- moderna. aqui no brasil, a palavra pichação q vem d piche virou pixação q virou
ria dos casos, à materialização d apenas 1 kanji, 1 sílaba, 1 palavra, 1 letra para pixo.
construir toda 1 ideia: características bases d ambas as linguagens. 1 antiarte tão
antiga reforça a importância d 1 linhagem tão recente.
Exorcity, pixação realizada durante a abertura Pisho Xodô, São Paulo, 2016
anedota exemplar 3 - identidades d estruturas numa parede d azulejos, a tal letra in(d)icial da turma exorcity (o I d exorcity1) &
monica faz ao lado o kanji radical d shodō, o sho. espantosamente a relação es-
na 1ª aula d shodō do reinaldo (exorcity rei), 1 notável ocorrido: trutural (longe d ser 1 relação óbvia d aparência figurativa) salta aos olhos d todos.
o mesmo tb ocorre quando reinaldo faz em aula 1 com pincel japonês & tinta
monica j. terada ao se deparar com reinaldo reforçando 1 traço d kanji q nanquim em papel washi. aquele , ao lado d outros trabalhos d shodō funciona
havia saído falhado tem 1 reação corporal quase instintiva: toca sutilmente em seu como 1 espécie d ideograma punk-ocidental.
braço dizendo: “nunca reforce o traço.” afinal 1 dos fundamentos do shodō é este,
nunca fazer 2x o mesmo traço porq ñ é 1 questão d resultado final, d reproduzir 1 aproximação dos procedimentos
fôrma no papel, mas 1 questão d forma vital ocupada no tempespaço, corpo, ges-
to, postura & movimento, respiração, vazio. dentre algumas coisas q aparecem no pixo & no shodō 1 delas é a incor-
poração do acaso. a contribuição milionária d todos os erros. se no shodō a sua
no mesmo dia, após a aula, todos para rua experienciar a pixação. nos- caligrafia sai ≠ a cada dia dependendo do seu estado d espírito, na pixação tam-
sos traços (meu & do reinaldo): retilíneos & uniformes, os traços da monica & do bém. sem borracha, sem massagem: o q está feito ñ pode ser desfeito.
rafael: esfumaçados & sinuosos (interessante mistura da não-disciplina do spray &
influência – charme sutil – do shodō) ao meu ver, muito bonitos, mas talvez naquele o comportamento da tinta
momento, aquilo parecia errado para eles, q tentavam assimilar a quase-técnica
do pixo. monica sensei parte para reforçar os traços q havia acabado d fazer & q inta: a diferença básica entrelinguagens se dá principalmente na uti-
saíram com preciosas falhas. instintivo, grito, reverente, d longe, entre ruínas: “ñ lização dos materiais. quando as ≠s escritas são feitas com o mesmo
reforça!”. instrumento aquelas disparidades tão aparentemente óbvias deixam
d existir. ou pelo menos, deixa d existir 1 abismo intransponível entre
estas. para o calígrafo d shodō & para o pixador 1/2 pala basta. tudo é pretexto para
revelar o gestual do traço & a qualidade do material.
o espírito do spray
identidade d istrutura no livro taction : the drama of the stylus in oriental calligraphy, ishikawa
kyuyoh distingue a caligrafia d outras linguagens a partir d duas propriedades:
nesperada relação esta q ocorre ao acaso. depois d 1 relação ñ tão reciprocidade (reciprocity) & simultaneidade (simultaneity). para o autor, a recipro-
bem sucedida, q consiste em deixarmos 1 espaço em branco nos lu- cidade & a simultaneidade táctil são inerentes à caligrafia.
gares das letras “o” & “i” da palavra ex_rc_ty para serem preenchidas
com caracteres do silabário katakana q correspondem fonéticamente à
1 - se na gramática corrente é regra usar a 1ª letra d 1 nome para abreviá-lo. na pixação, a letra q sinteti-
letra O & I do alfabeto romano respectivamente por monica & rafael, reinaldo faz, sa 1 turma nem sempre é a sua letra inicial, muitas vezes a letra escolhida para corporificar a turma está
no meio da palavra ou em qualquer outra parte dela. no pixo, a letra q define a turma, ou o nome, é a
letra q contém > personalidade gráfica, q emite + informação, 1 letra d destaque q se diferencia das
letras dos outros pixos. o procedimento d escolha desta letra subverte a lógica ocidental. a letra corpo-
reificada passa a existir como 1 radical da palavra, assim como na linguagem ideogrâmica oriental onde
nem sempre o radical do kanji está em seu início.
o calígrafo está constantemente recebendo d volta, através do pincel, parte da corpotexto
energia q ele emiti através do mesmo & q ricochetea no papel. a grosso modo o
calígrafo golpeia o papel através do pincel & através deste mesmo pincel recebe 1 a cidade é texto. o texto é têxtil.
golpe em resposta. esta reciprocidade & simultaneidade d ação & reação anima a 1 A d 5 metros d altura não é + a letra A, é a própria altura.
relação entre calígrafo & caligrafia. 1 questão vetorial.
performance / demonstração / despistamento
ñ à toa no shodō é tão importante a escolha do pincel: 筆, fude. do papel:
和紙, washi. & da tinta: 墨, sumi. para dar ao pincel determinada característica há no panorama das artes cênicas ocidentais a palavra performance pode sig-
cerdas d ≠s animais, há ≠s densidades d tinta, assim como há ≠s texturas & grama- nificar o q há d + avançado em arte não representativa & q rompe com a ideia d
turas d papel. durante 1 treinamento d shodō há 1 alteração do estado sensorial espetáculo. no shodō mesmo a ideia d performance ainda soa excessivamente
devido ao contacto atento com estes materiais. espetacular. os calígrafos preferem usar a palavra demonstração. no shodō, para
o êxito da performance/demonstração é imprescindível q os acontecimentos se
na pixação o mesmo ocorre, mas em outra escala. o estado sensorial é desenrolem d maneira menos performática possível.
alterado devido à multiplos fatores. a relação d reciprocidade & simultaneidade no
pixo se dá não apenas em relação vetorial entre muro, spray & corpo, mas entre os na pixação esta questão da não-performance é ainda + radical. êxodo: para
carros q passam, as pessoas q olham, a possível polícia q chega. entram em campo, o êxito total da performance é melhor q ninguém leia/veja a ação ocorrendo. o
por 1 questão d sobrevivência, visão periférica, audição, sexto sentido. q acontece com esta cidade q está totalmente pixada, mas ninguém vê ninguém
pixando? despistamentos. o pixador é por excelência o escritor da penumbra. q a
se os utensílios do shodō são maravilhas do mundo artesanal, os aparatos leitura se dê ao alvorecer. signo novo na quebrada.
do pixo, sobretudo o spray, são maravilhas da era industrial. durante a feitura d 1
pixo fica muito forte a questão do som & do cheiro. a tinta sintética expelida em 1 enrascada exemplar 5 – o pixo em apuros
jato d ar comprimido ludibria o sentido olfativo d quem faz & d quem flagra. isto é
1 característica inerente da sprayação, assim como o sssssssssom. em 1 aula d shodō, num domingo à tarde etsuko ishikawa sensei se dire-
ciona a mim & diz: “não vai misturar pixação com minha arte. prefiro cortar/vão
o shodō geralmente é praticado em 1 local silencioso q propicie a con- cortar meu pescoço.”1 minha reação ñ poderia ser outra: 1 sorriso extinto: aceno
centração & a busca da perfeita tonalidade do traço. no pixo, o spray em meio ao silente para a sensei, penso: ok, すみません, ごめんなさい, 失礼 し ます sumimas-
turbilhão barulhento da cidade emite 1 som d silêncio. sem, gomenasai, shitsureishimasu. se eu cair, 土下座, não caio d joelhos.
av. paulista, a lista d suspeitos, madrugada, semáforos alternando verde em 1 aula d shodô, num outro domingo à tarde wakamatsu sensei fala a
amarelo vermelho reluzindo a superfície muro, calígrafos embriagados, microtons d todos: “tenho 85 anos, ñ devo viver por muito tempo, é dever d vocês, roubarem/
tinta em projeção, os transeuntes, passam, fazem sombras, vultos excogitam pelos honrarem minha tecnologia do traço.”2 aquilo me arrepia. fico pensando nos
cantos o q a pixação havia dito & aquele cheiro d solvente noir. sirenes. nem me milhares d pixadores q morrem, muitas vezes assassinados, com 1/4 desta idade,
viu já sumi na neblina. somente por estarem assinando 1 muro num mundo onde a propriedade privada
vale + do q 1 vida em plena capacidade libertária d sua expressão.
1 - 1 falha d comunicação entre nós. não pude entender com exatidão se a sensei havia dito ‘prefiro’
ou ‘vão cortar’ meu pescoço. interessante pensar q para adentrar no diálogo pixo / shodō, é preciso
energia, atenção e disponibilidade, já há previamente 1 dificuldade entre línguas, quem dirá entre
linguagens, mas me parece q deste caminho difícil nasce a invenção.
2 - idem. não entendi com exatidão se o sensei havia dito ‘roubar’ ou ‘honrar’. achei perfeita esta con-
fusão. roubar/honrar neste caso, são verbos q se complementam.
finício
este texto foi vocalizado na casa das rosas - 29/04/16 - com trilha de gregorio gananian q por sinal co-
laborou para vários acertos nesta trama têxtil. aproveito também para agradecer pelas urdiduras: irana
gaia, reinaldo daniel, reuben da rocha e walter vetor.
Três poemas, três momentos, três estações, Rafael Miyashiro, 2015
estilo Kimdaishibunsho (poesia moderna)
MONICA J. TERADA pergunta
EXORCITY REI responde
5) Antes da mostra PISHO XODŌ tinha algum contato com a cultura japonesa?
Antes da mostra eu não tinha nenhum contato. Totalmente leigo, sem conhecimento. O
mais próximo que eu cheguei foi cortar sushi, sashimi… (risos)
7) E diferença(s)?
Seguir em frente sempre, defendendo o que se acredita, no que fazemos, porque isso é
o que somos.
9) O que espera?
Aprender, entender, poder me expressar de igual pra igual.
1) Qual era seu conceito sobre pixação antes desta proposta de relacionar pixação com 7) Seria legal transpor o shodō para alguns espaços urbanos, topa ir pintar no “vandal”?
SHODŌ? (risos)
Os pixos chamavam minha atenção e curiosidade; como uma forma original de manifestar, Vou pensar…topo! Rss
de autoafirmação: o pixo pode ser mais.... Por enquanto, na maioria dos trabalhos de shodô
procuro expressar o que acredito. 8) Existem alguns SHODÔS que mesmo quem é japonês não entende ? Como se dá esta
distorção das letras no SHODÔ?
2) Pelo fato da cultura japonesa ser um pouco conservadora em alguns aspectos vc sofreu Sim, quanto mais cursivo (estilo Sosho) ou expressivo (Sho) for, a escrita tende a ficar abstra-
algum tipo de preconceito nesta conexão entre shodō e pixação? ta: distorcendo o próprio formato da letra, simplificando os traços (reduzindo a quantidade
Preconceito direto não; percebi pouca ou nenhuma receptividade em algumas pessoas, mas de traços: de 6 traços para 2, por exemplo), etc.
também simpatia e interesse de muitas outras por acharem a conexão inusitada!
9) O que acontece quando um kanji que é comumente feito com os materiais do shodô é
3) Vc acredita que a arte do shodō pode ser aberta para qualquer indivíduo? Explique essa feito com spray na parede? Por exemplo o kanji de sonho yume, o que muda?
acessibilidade? No shodo, você pode escrever várias folhas até ficar próximo ao que imaginou, dentro da
Sim, pois basicamente é escrever com pincel reproduzindo letras japonesas conforme uma possibilidade e tempo. No pixo é a escrita que saiu na hora, muitas vezes (e pela falta de
amostra ou não. Além disso, para se ter aulas, o valor da mensalidade, ao menos na Associa- experiência) pode não ficar como planejado. Vou escrever Yume na parede e depois digo o
ção Brasileira de Shodô, é abaixo da média, bem que mudou, rss.
menos que 50 Reais por mês. Ressalva: pode ser
difícil para quem quer resultado imediato. 10) Algo a acrescentar ? Curiosidades?
Escritas escolhidas ao acaso ou não para a
4) O que é necessário para prática do shodō? Mostra Pisho Xodo: 十人十色(que mal há em
Treino, perseverança: pois leva-se tempo para ter 10 pessoas=10 visões, experiências, cores
o domínio básico na escrita com pincel de shodô. diferentes!);夢(sonho); 縁(conexão, possibili-
dade); 瑞氣集門(boas energias que se avizi-
5) Eu posso criar kanjis com significados próprios? nham): ilustram o espírito da Mostra...
Pode, mas não saberia dizer se seria considerado
kanji..
Acredito que a questão seja mais fluida do que escrevi acima e que cada indivíduo
construirá os caminhos para que essa resposta torne-se possível e relevante.
Claro que o número de convites que fiz foi limitado por lugares e pessoas que
conhecia e que, certamente a maioria dos pixadores e grafiteiros que lerem esse
texto não irão se identificar com nenhuma dessas pessoas, mas conto esse causo
pois talvez essa minha experiência possa trazer reflexões aos fazedores da escrita
de rua.
Quis apontar nesse texto possíveis caminhos que me influenciaram e que acredito
terem influenciado muitos pixadores, no entanto, como narrei acima, os indivíduos
e seus caminhos são diversos, a classe média e a favela pixam, o japonês e todas
outras etnias também. O pixo tem essa estética cosmopolita, multi-cultural e surgiu
como as culturas populares das colônias, mais espontâneas e compromissadas
demasiadamente com a vida para se comprometerem com a arte.
Rafael Tadashi Miyashiro é designer gráfico e doutor em Artes Visuais pela Unicamp.
Pratica shodô desde 2002 e fez seu mestrado sobre o tema em 2009 na Unicamp