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DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM: A IMPORTÂNCIA DA

IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DOS SINAIS ATÍPICOS

Fonoaudióloga Kátia Helena Pereira


CENAE/FCEE

Durante os três primeiros anos de vida, a criança apresenta maior plasticidade


cerebral, neste perió do ocorrem aquisições importantes em diversas áreas: motora,
cognitiva, social e principalmente a aquisição e domiń io da linguagem. (MARIA-
MENGEL, LINHARES, 2007; SANDRI, MENEGHETTI, GOMES, 2009; WIETHAN,
MOTA, MORAES, 2016; FERREIRA et al., 2016).

Riscos para o desenvolvimento da Linguagem:

Os fatores de risco para o desenvolvimento da criança podem estar relacionados aos:

 Riscos biológicos pré, peri e pós-natais como: prematuridade, pós-maturidade,


iń dice de Apgar baixo, baixo peso (BP) ao nascer e complicações durante a gravidez e o
parto (RIBEIRÃ O PRETO, 2007; CUSTÓDIO, CREPALDI, CRUZ, 2011; CARNIEL et
al., 2017).
 Fatores ambientais se relacionam ao baixo niv́ el sócio econô mico da família,
como também com a escolaridade, além de ter a influência de viń culos familiares
fragilizados (RIBEIRO; PEDROSA; PADOVANI, 2014; CARNIEL et al., 2017; ZAGO
et al., 2017).
O Ministério da Saúde brasileiro considera, como crianças de risco aquelas que
apresentam, pelo menos, um dos critérios (BRASIL, 2004):

Internamento ou
intercorrê ncia na Baixo peso ao nascer
maternidade ou em
unidade de (< 2.500g)
assistê ncia ao RN

RN com menos de 37
Residê ncia em á rea de
semanas de idade
risco
gestacional (IG)

Haver histó ria de Ser filho de mã e


morte de crianças adolescente
menores de cinco
anos na família (< 18 anos)

Asfixia grave (Apgar < Ser RN de mã e com


7 no 5o minuto de baixa instruçã o
vida) (< 8 anos de estudo)
A identificação dos marcos de desenvolvimento da criança é de fundamental
importância por parte dos pais e profissionais da educação para que sejam realizadas a
identificação e a intervençaõ precoces.

Estar atento ao desenvolvimento da criança permite que os atrasos sejam


identificados precocemente e assim devem ser encaminhadas para outras avaliações e,
caso necessário, para intervenções.

O desenvolvimento da linguagem

A aquisição e desenvolvimento da linguagem pode ser considerado multifatorial,


pois depende da integridade e bom desenvolvimento das estruturas cerebrais, ausência de
intercorrências no perió do pré, peri e pós-parto e da interação social desde a concepçaõ
da criança (MOUSINHO et al., 2008).

ALGUNS MARCOS DA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM – 0 A 5 ANOS


7-9 meses •Início dos jargões e atos comunicativos intencionais
(pedidos através do apontar ou ações para chamar
atenção do interlocutor);

10- 11 •Aperfeiçoamento dos jargões, ganhando a entonação

meses da língua materna;

12-18
•Início das primeiras palavras;
•Inventário fonético ainda é pequeno, mas já
consegue pronunciar palavras com os seguintes
meses fonemas: (/p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/,/m/, /n/);
•Vocabulário com 20 á 40 palavras com estruturas
silábicas simples e ligada à situação imediata;
•Surgem as palavras- frase. Produz oração de 2 a 3

18-24 vocábulos;
•A linguagem começa a ser utilizada para comunicar

meses
ações passadas. Ex: (saiu papai lá), onde criança
relata o acontecido de algum tempo atrás;
•Vocabulario de 50 a 150 palavras;

•Começa a utilizar pronomes 2ª e 3ª pessoa;


2 anos - •Vocabulário de 150 á 200 palavras;
•As frases já começam a conter mais elementos como
duas ou três palavras mais longas;

2 anos e •Começa a desenvolver a habilidade de responder a


duas ordens consecutivas;

meio • Consegue desenvolver o diálogo assumindo a


reciprocidade (pergunta-resposta);

•Inicia o uso do pronome na 1ª pessoa;


•As estruturas frasais comecam a ficar mais
complexas (quatro elementos) ligadas ao passado,
presente e futuro;
•Inicia o uso de: flexões de gênero e número; formas
2 anos e rudimentares dos verbos ser e estar; advérbio de
lugar em emissões simples;

meio-3 •As resposta a ordens simples ficam mais complexas e


já utiliza perguntas com uso de termos como onde,

anos
quando, quem;
•Compreende conceitos de oposições como:
quente/frio, forte/fraco, grande /pequeno
•Evolução crescente do vocabulário, com maior
aquisicao de conceitos e da nomeação daquilo que a
cerca;
•Vocabulário entre 200 a 500 palavras;
•Já adquiriu, em posição inicial e final, os sons /p/,
/b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /x/, /j/, /l/,

3 anos -3
/r/, /m/, /n/;
•Utiliza as conjugação de várias orações e uso do
“e”, “mas”e “porque”;
anos e • O entendimento de perguntas que envolvam os
termos: quem, o que?, onde? quando?

meio •Uso de frases negativas e interrogativas;


•Uso mais elaborado dos tempos verbais, como
particípio do passado e futuro composto;
•Apresenta possibilidade de relatar fatos
vivenciados;
•Vocabulário entre 500 a 1000 palavras.

•Surge o som /lh/, os encontros consonantais;


•Uso do sistema pronominal, pronomes possessivos,
flexões verbais mais elaboradas: presente,
pretérito perfeito, futuro composto e passado;
4 anos •Aparição das formas de tempo e espaço, mas nem
sempre adequadas;
•Consolida-se a habilidade narrativa;
•Vocabulário: entre 1500 á 3000 palavras;

•O uso de estruturas mais complexas: passivas,

4 anos e condicionais, circunstanciais de tempo, julgamento


de correção;
•O uso da voz passiva e conexões adverbiais;
meio-5 •Compreendem historias maiores e são capazes de
responder a perguntas simples sobre as mesmas;
anos •Devem apresentar neste momento a fala fluente,
utilizando frases com todos os elementos.
O objetivo de abordar a faixa etária de 0 a 5 anos reflete o desejo de poder ser
identificado precocemente as alterações de linguagem, antes do início da criança no ensino
fundamental, pois quanto mais tempo, maiores serão os déficits a serem trabalhados.
Lembrando também que o desenvolvimento da linguagem tem intíma relação com a
aprendizagem. Ou seja, qualquer atraso ou déficit na linguagem pode interfererir
diretamento no desenvolvimento da aprendizagem da escrita e leitura.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de


compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília:
Ministério da Saúde, 2004.

CARNIEL, C.Z.; FURTADO, M.C.C.; VICENTE, J.B.; ABREU, R.Z.; TAROZZO, R.M.; CARDIA,
S.E.T.R. et al. Influência de fatores de risco sobre o desenvolvimento da linguagem e contribuições da
estimulação precoce: revisão integrativa da literatura. Rev. CEFAC, v.19, n.1, p.109-18, 2017.

CUSTÓDIO, Z.A.O.; CREPALDI, M.A.; CRUZ, R.M. Desenvolvimento de crianças nascidas pré-termo
̃ da produção científica brasileira. Psicologia: Refl. Crítica,
avaliado pelo Teste de Denver II: revisao
v.25, n.2, p. 400-06, 2011.

FERREIRA, P.R.; LUCENA, A.M.; MACHADO-NASCIMENTO, N.; ALVES, R.O.; SOUZA, V.C.A.;
CARVALHO, S.A.S et al. Estratégias de percepção da liń gua materna: do nascimento até um ano de vida.
Rev. CEFAC, v.18, n.4, p.982-91, 2016.

MARIA-MENGEL, M.R.S.; LINHARES, M.B.M. Fatores de risco para problemas de desenvolvimento


infantil. Rev. Latino-Am. Enfermagem, v.15, n.esp., p.837-42, 2007.

MOUSINHO, R.; SCHMID, E.; PEREIRA, J.; LYRA, L.; MENDES, L., NÓBREGA, V. Aquisiçao ̃ e
desenvolvimento da linguagem: dificuldades que podem surgir neste percurso. Rev. Psicopedag., v.25,
n.78, p.297-306, 2008.

RIBEIRÃ O PRETO. Secretaria Municipal de Saúde. Protocolo de Atuação do Serviço de Estimulação


do Desenvolvimento Infantil. 2007. Disponível em:
http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/ssaude/programas/projeto.pdf. Acesso em: 13 jul 2015.

RIBEIRO, D.G.; PEROSA, G.B.; PADOVANI, F.H.P. Fatores de risco para o desenvolvimento de
crianças atendidas em Unidades de Saúde da Famiĺ ia ao final do primeiro ano de vida: aspectos
sociodemográficos e de saúde mental materna. Ciênc. Saúde Colet., v.19, n.1, p.215- 26, 2014.

SANDRI, M.A.; MENEGHETTI, S.L.; GOMES, E. Perfil comunicativo de crianças entre 1 e 3 anos com
desenvolvimento normal de linguagem. Rev. CEFAC, v.11, n.1, p.34-41, 2009.

WIETHAN, F.M.; MOTA, H.B.; MORAES, A.B. Correlações entre a produçaõ de classes fonêmicas e
classes gramaticais no Português Brasileiro. Audiol., Commun. Res., v.21, p.1-9, 2016.

ZAGO, J.T.C.; PINTO, P.A.F.; LEITE, H.R.; SANTOS, J.N.; MORAIS, R.L.S. Associação entre o
desenvolvimento neuropsicomotor e fatores de risco biológico e ambientais em crianças na primeira
infância. Rev. CEFAC, v.19, n.3, p.320-9, 2017.

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