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e e bu N°31

março de 2008

Secos &

Molhados
Stuart Immonen + Érika Martins + Andross Editora
Uma vez uma pessoa me perguntou como conseguia levar tantos nomes interessantes
para as páginas do Elebu, sendo ele “apenas” um fanzine. Respondi que tudo era uma questão
de ego: o do entrevistado e o nosso. Tem gente que só fala com os grandes porque o ego dele é
assim ou talvez a assessoria oriente e determine dessa forma. E têm aqueles que estão acima
dessas questões e prestigia quando acham o veículo interessante, independente do alcance que
ele tenha. O ego nosso diz respeito à confiança no próprio trabalho. Acho que o Elebu é bom o
suficiente para ter em suas páginas tanto a banda de garagem do vizinho quanto a Marisa
Monte. O tesão de tentar realizar uma boa matéria é o mesmo com o grande e com o pequeno.
Conseguir trazer essas pessoas para as páginas é o não ter medo de levar uma resposta
negativa ou de ser ignorado. Oras, essas coisas acontecem e podem vir de qualquer um. O
segredo é apenas esse: não ter receio de tentar e nem de errar.
Também não existe uma lista de nomes a serem trabalhados aqui. As pautas surgem das
mais diversas formas. É comum, inclusive, eu lançar uma edição e não ter a menor idéia do que
vou falar na próxima. De repente o universo conspira e faz dessa “próxima” algo especial.
Eu considero esta edição 31 um marco para o Elebu. A história dela começou em
dezembro. Enviei mensagens para os leitores que recebem o zine diretamente no e-mail e
perguntei qual foi a matéria e a capa mais legal de 2007. Um deles, o Luis Fernando Xavier, fez
seu comentário e no meio da mensagem disse que se o zine fizesse algo com os Secos &
Molhados, ele nos amaria para sempre. Achei graça do jeito descontraído, mas aquilo ficou na
cabeça. Puxa, seria mesmo um barato apesar de, naquela época, achar que era um delírio.
A edição de fevereiro (a primeira deste ano) foi lançada uma semana antes de janeiro
terminar. Queria apressar logo a de março porque carnaval é dia perdido. Pois não é que só
consegui trabalhar no zine após a quarta-feira de cinzas? De concreto, tinha duas semanas para
a produção e algumas idéias em curso. Os colaboradores começavam a apontar o que queriam
nessa época. Se tivesse ficado só naquele planejamento, já renderia uma bela edição com Érika
Martins, Et Circenses, Andross Editora e etc.
Mas o ego sentiu que podia tentar o delírio. Daí voltou à cabeça o que o Luis escreveu.
Secos & Molhados ecoou igual àquela propaganda “compre Batom”. Por que não tentar o João
Ricardo? Entrei em contato e ele topou a entrevista, que ficou ótima. A partir dali, as coisas
tomaram uma outra dimensão. Por que não falar com o Gerson Conrad e o Ney Matogrosso para
produzir o especial que faria o Luis nos amar para sempre? O Gerson também nos atendeu e
prestou um grande depoimento, assim como o Willy Verdaguer, apesar de o dele não ter sido
uma entrevista. O Fernando Rosa, mais uma vez, foi de uma grande gentileza e deixou sua
visão. A assessoria do Ney não retornou para dizer nem que sim, nem que não. Tudo bem! A
nossa alegria já estava completa. A matéria de capa está aí fruto do não ter medo de ir atrás do
delírio, e da integração fundamental entre veículo e leitor.
Qual a matéria que faria você nos amar para sempre?
editorial & expediente

ELEFANTE BU N° 31

EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, PRODUÇÃO E Fernando Rosa, Luiz Carlos “Barata” Cichetto, Tânia,
TEXTOS NÃO ASSINADOS: Annete Conrradi, Érika Martins, Pablo Huascar,
Felipe Gurgel, Rita Maria Félix, Helena Gomes,
Djenane Arraes Cláudio Brites, Edson Rossatto, Stuart Immonen.

DIAGRAMAÇÃO “PORÃO WEB”: BLOG PARA DOWNLOAD:

Washington Ribeiro http://elefantebu.poraki.com.br

CAPA: CONTATO:

Foto retirada do site oficial de João Ricardo. elefantebu@yahoo.com.br

COLABORADORES: CANÇÕES E AFINS:

Georgiana Calimeris, Leonardo de Moura, All I Want Is You, Barry Louis Polisar (a trilha de
Washington Ribeiro, Dewis Caldas, Rúbia Cunha e Juno parece um vício); Canciones de Amor, Julieta
Marcelo Leite. Venegas (essa é uma das melhores canções pop
dos últimos anos); Ballad of Bilbo Baggins, Leonard
AGRADECIMENTOS: Nimoy (é o sr. Spock cantando música sobre o tio do
Frodo, hahahahahaha); Noite no Baile, Et
João Ricardo, Gérson Conrad, Willy Verdaguer, Circensis; Fala, Secos & Molhados.
Capa/ Ziniando:

Secos & Molhados


Ziniando:

Érika Martins
Et Circensis
Conexão Hellcity:

Grito Rock Cuiabá


Porãoweb:

Lost e Literatura Inglesa


O Guia:

Dona Izaldina
Meu Jardim
Narciso Brasileiro
A Educação Foi Pro Brejo
Andross Editora
Mundo Geek:

Stuart Immonen
Heróis Voadores
Ilustração: Stuart Immonen

sumário
S&M

Foi uma carreira fulminante onde dez meses se


transformaram e mais de 30 anos de lendas,
segundo as palavras de Gerson Conrad. A verdade é
ziniando

que Secos & Molhados conseguiu em tão pouco tempo


o que muita gente não faz numa carreira de décadas.
Uma história de rusgas, equívocos e confusões, mas
também de uma música belíssima e uma marca que
jamais será apagada.
Djenane Arraes Se não tivesse brigado. Se não fosse o dinheiro. Se não
fosse a teimosia. Se não fosse a gravadora. Se não fosse o
rasgo na meia. Se não fosse a borboleta que bateu as asas na
China ao meio-dia. Se não fosse uma gama de situações
complexas, a Secos & Molhados seria a maior banda
brasileira da história do pop mundial. Teria conquistado
Estados Unidos, Europa e Japão. Mas isso não
aconteceu, e a grande verdade é que é impossível
prever com exatidão o que poderia ter sido. A não ser
que alguém invente uma máquina do tempo e
modifique o passado, ou que exista algum aparelho
que dê para espiar dimensões paralelas (que coisa
mais nerd). A Secos & Molhados não teve tempo
para chegar próximo do seu potencial como banda,
ainda assim, com uma breve história, foi um divisor
de águas. Uma conquista grandiosa para algo que
durou menos de um ano.
Os primórdios dessa saga datam a partir de
1970, quando o jornalista, músico e português
João Ricardo foi tocar violão com vizinho dele, o que
ainda não era arquiteto Gerson Conrad. O bairro era
o Bela Vista de São Paulo. Formaram a Eric
Exportação que foi digna de nota: uma única que
saiu no jornal Última Hora. Com uma banda assim,
era melhor estudar para garantir o futuro numa outra
profissão. Mas a dupla não desistiu tão fácil. Mal sabiam
que tudo iria mudar de figura assim que a cantora folk
Luli desse a notícia de um cara que tinha uma voz
maravilhosa, natural de Mato Grosso, chamado Ney de
Sousa Pereira. João e Gerson pegaram um trem para
conhecê-lo no litoral no Rio de Janeiro, onde o tal cantor
estava. Ney foi para São Paulo em novembro de 1971 e assim
surgiu a formação fundamental da banda.
Após muitos ensaios - cerca de um ano preparando e
amadurecendo o som - chegou o dia da grande estréia da Secos &
Molhados na Casa de Badalação e Tédio, que era o bar-restaurante
do teatro Rush Escobar. O Ney trabalhava como ator e estava com
uma peça em cartaz inspirada nOs
Lusíadas nesse
mesmíssimo
teatro.
No

do lado de fora...
Fernando Rosa

Olha, Secos & Molhados foi a primeira banda, grupo de rock, de massas que vi na vida.
Aquele tipo de coisa, só tinha visto na televisão. O nosso mundo já era "independente", ou
seja de bandas menores, como ... Os Mutantes, por exemplo. Mesmo Roberto Carlos não
tinha aquele apelo que beirava a histeria. De repente, surgem aqueles malucos, pintados
feito uns índios, performáticos. A única vez que os vi ao vivo foi essa a sensação. Foram
uma espécie de Beatles versão tropical... Mas durou pouco, apesar do belo primeiro disco.
Na verdade, eles não eram uma banda, no sentido clássico. Era o Ney na frente de tudo, e
uma cozinha de "convidados" geniais, com destaque Zé Rodrix (teclados), John Flavin
(genial guitarrista, que depois tocou na Patrulha do Espaço, com Arnaldo Baptista) e Willy
Verdaguer (no baixo, ex-Beat Boys, banda de garagem mezzo-argentina-mezzo-brasileira,
que acompanhou Caetano Veloso em Alegria Alegria)... Sim, João Ricardo, especialmente,
teve a sua importância como compositor, mas menor em relação ao conjunto da obra.
Uma banda histórica e um disco clássico.
dia "D", as coisas atrasaram e ele chegou para o show ainda com a
maquiagem pesada do personagem que fazia. Luli gostou do visual e
acrescentou purpurina. João e Gerson resolveram entrar na brincadeira
e pintaram o rosto. Deu no que deu. A platéia ficou assombrada, mas
adorou e, a partir do acaso, a Secos & Molhados tornou-se a maior

1973
manifestação da estética glitter do Brasil.
Faltava a pose andrógena que também era característica.
Isso daí era personificada de forma natural em Ney
Matogrosso, que usava a sua sexualidade dúbia de forma
inteligente. Chocava os adultos, mas fez sucesso com a

1974
criançada que se amarrava nas caras pintadas, nas roupas
extravagantes, nas dancinhas e também no humor de
versos como "vira, vira homem/ vira, vira lobisomem".
Assim como os conservadores, os militares não
gostaram (o que não era surpresa). Não havia um só
resquício de subversão e afrontamento direto ao
Fácil é falar do imperfeito. Detonar os defeitos, governo daquela época no primeiro disco da Secos &
desdenhar... como é simples! Então digo que fazer Molhados. Foram os fardados que bateram de frente
comentários do disco de 1974 dos Secos & Molhados é com o trio. Procuraram mensagens escondidas nas
manha porque não tem a mesma força de seu músicas e censuraram. Vai ver que "nos fios tensos
antecessor. Não chega nem aos pés. Já começa
da pauta de madeira/ as andorinhas gritam por
repetindo o tema da latinidade na mesmíssima primeira
falta de uma clave de sol" era um código sinistro
faixa. Por mais que Sangue Latino e Tecer Mundo sejam
que provocaria a revolução da esquerda no Brasil
músicas distintas com ritmos diferentes, o detalhe não
e derrubaria os militares. Em Brasília, invocaram
passa desapercebido, além do fato que segunda ser
mesmo ruim. Por outro lado, se for pensar bem, o disco de com o peito nu e o rebolado do Ney. Apagaram as
1974 é bem decente quando comparado a muitos dos luzes, mas foi temporário porque a força da
lançados na mesma época, isso estabelecendo uma relação banda era maior. Para se apresentar fora do
apenas com os grandes nomes. Flores Astrais, a mais forte, país, precisaram até ser interrogados. Detalhes
traz uma linha de baixo, bateria e piano lindíssima. Se aqui e acolá de censura foram enchendo e, aí
escutasse o verso "um verme passeia na lua cheia" de outra sim, provocaram uma resposta direta. Ela veio
maneira, chamaria de lixo. Aliás, já chamei quando o RPM nos shows e no segundo disco, ainda que
regravou (e na época eu nem sabia quem era Secos & sussurrada. "Diga que eu não sei de nada, nem
Molhados). Há outras muito bonitas ali também de letra e, posso saber", é o que cantaram em Toada &
principalmente, de melodia. Destaques que vão para Rock & Mambo & Etc.
Delírio..., Oh! Mulher Infiel e Não: Não Digas Nada. O resto Burrice dos militares em querer implicar
fica no "bacana" e no "ok". Agora phoda é encontrar com a banda sem mensagens partidárias. Ainda
palavras para descrever o que é quase perfeito e o disco de por se tratar de um raro grupo dos anos 70 que
1973 está nesse patamar. Parece até coletânea das trabalhava de cara limpa. Os músicos até
melhores músicas, daquelas que você não consigue poderiam experimentar seus ácidos e baratos
apontar como sendo mais ou menos. Tudo é ótimo, até afins em casa ou nas festas, mas nunca na hora
aquelas pequenas que parecem mais vinhetas. O disco de
dos shows. Inclua na lista "porque não deveriam
1973 é o que tem Rosa de Hiroshima e, sobretudo, Fala,
mexer comigo", a popularidade. Um milhão de
aquela que arrisco dizer ser a música mais extraordinária
pessoas levaram Ney, João e Gerson para casa em
da banda. Arranjo lindo do Zé Rodrix, Ney sendo mais
melodioso que nunca, e uma letra que na sua
forma de LP. Pelo menos esse é o número
simplicidade traz uma mensagem poderosa. Dá para especulado entre os integrantes. Um recorde
ficar com lágrimas nos olhos. estrondoso na época, e para os padrões atuais. O
disco das famosas quatro cabeças foi gravado em
apenas 15 dias e lançado pela Continental. A quarta
cabeça é do baterista Marcelo Frias. Reza a lenda,
uma das muitas que envolve a Secos & Molhados,
que todos os músicos acompanhantes foram
convidados a integrarem oficialmente a banda. Era
gente do calibre de Willy Verdaguer (baixo) e John
Flavin (guitarra e violão). O Zé Rodrix também
gravou. Mas só o Marcelo topou ser oficializado. O
negócio é que depois da foto da capa e do projeto
gráfico pronto, ele mudou de idéia. Não
quiseram fazer outro.
O milhão que comprou o disco ficou até
do lado de dentro...
Willy Verdaguer
Posso começar dizendo que, ter participado dessa alucinante e
meteórica avalanche chamada Secos & Molhados, me enche
de orgulho e de recordações maravilhosas...
pálido diante da massa que viu a
Todo músico de rock and roll, sonha com estádios lotados,
banda na televisão e a ouviu nas
aparelhagem poderosa e público enlouquecido. Era o que
rádios. Só de megahits foram três: O Vira, acontecia quando a gente se apresentava.
Rosa de Hiroshima e Sangue Latino. Músicas que A adrenalina já começava na saída do hotel...na hora de
se tornaram eternas, parte do inconsciente ir ao local do show...e no percurso de automóvel com
coletivo brasileiro. Os três apareceram no batedores da polícia na frente...e a chegada...e o
Fantástico e na Discoteca do Chacrinha. Virou público...e corredores de guardas até os camarins...e
histeria generalizada após uma apresentação no os camarins...e os três se maquiando...os rostos se
Maracanãzinho para 25 mil pessoas no dia 23 de transformando de simples mortais em eternos
fevereiro de 1974. Outra lenda diz que esse show andróides...e os treinos vocais...os nossos dedilhados
foi agendado e organizado poucos dias antes, no baixo e na guitarra para aquecimento...o baterista
questão de uma semana. Eles, inclusive, tamborilhando nas paredes com suas baquetas...e as
eternizaram o momento em forma de disco. brincadeiras...e as risadas...euforia talvez só
Secos & Molhados virou matéria na Billboard, comparável à entrada de um time numa final de
vendeu 250 mil LPs no México. Foi na terra da campeonato...
Frida que surgiu a lenda do Kiss, aquela dos Depois, a nossa entrada (o quinteto de músicos) no
empresários estadunidenses que apareceram palco para posicionamento sob palmas e gritos...e a
por lá, mas estavam interessados em um poderosa introdução musical...e o público pegando
negócio mais pesado. Meses depois apareceu o fogo...e a entrada dos três provocando uma ovação e
um delírio em massa...realmente inesquecível!
Kiss com cara pintada e o tal lance do heavy
...e duas horas de som e canções inigualáveis (no meu
metal.
entender!)...e o fim do show...o suor feliz...nossos
A verdade é que a turnê no México seria
próprios comentários sobre tudo que aconteceu
a primeira etapa de longa, programada para durante...”e aquela hora...?”
durar nove meses, onde Ney, Gerson e João “...você viu aquilo...?” “...que legal!”...e blá blá blá...
fariam a América, a Europa e o Japão. Não ...e um monte de gente querendo entrar nos camarins...e
aconteceu por problemas nos bastidores. Do a prioridade para artistas consagrados que estavam nos
México, foram para São Paulo fazer show em bastidores para conversar com a gente...
Osasco. O segundo disco seria gravado pouco A saída nos carros...os batedores...o restaurante...a volta
depois desses eventos. Outra lenda diz que o ao hotel...o quarto...
combinado era produzi-lo ao longo da turnê
internacional, só que isso não aconteceu, Acho que a vida dos Secos, apesar de curta, foi tão intensa,
então João mostrou um disco pronto com que me faz agora ficar divagando nas situações.
músicas suas, exceto Delírio, que é do Parece que foram “aventuras incríveis num mundo de
Gerson. O fim chegou no dia 4 de agosto de fantasias”, feito um 'Peter Pan' ou 'Gulliver'...
1974, quando Ney e Gerson anunciaram
que deixariam o grupo às vésperas do E você. Djenane, me desculpa se por descuido saí do foco.
lançamento televisivo do segundo disco.
Flores Astrais foi o último hit de uma Quanto ao lado da produção, a colocação dos músicos da
banda que, em menos de um ano, banda, embora muito divertida, foi também muito criteriosa e
responsável e criativa. Cada um deles, com um domínio pleno
revolucionou tudo. Elevaram a um outro
de seus instrumentos e com uma postura musical firme e
patamar o conceito de popularidade, de
ousada.
vendas, de shows, de personalidade.
As canções, na maioria de João em parceria com grandes
Cada um seguiu a sua vida. Ney poetas, já vinham até nós com os vocais dos três bem
Matogrosso é o que tem carreira solo ensaiados...cabia a nós agora fazer os arranjos para a banda.
mais sólida e bem-sucedida. João Nessa parte, tive grande influencia ao orientar os músicos e ao
Ricardo ainda faz discos e Gerson apontar o caminho musical do grupo. Considero quatro pontos
Conrad toca quando quer. fundamentais para o Secos & Molhados ter alcançado tamanho
Não importa o quanto foram sucesso: as canções, a voz do Ney, os arranjos, o desempenho
breves, a Secos & Molhados deixou um dos músicos.
legado enorme para a música brasileira.
Uma música que continua moderna e Tenho recebido incontáveis mensagens de fãs do grupo, depois
atual. É coisa que não vai envelhecer de tantos anos, confirmando minhas palavras.
nunca.
Gerson Conrad é o
responsável por musicar
Rosa de Hiroshima, o belo
poema de Vinícius de
Morais. Do trio, era o que
tinha fama de ser o mais
“pé-no-chão”. Hoje é um
músico veterano, bem
resolvido, que não omite
opinião.

Elefante Bu - O que acho curioso é que


muita gente relacionou os Secos &
Molhados com os Beatles por causa do
impacto que a música teve e porque
d e p o i s d e vo c ê s , a r e l a ç ã o d e
popularidade e números de vendagens foi
para outro patamar no Brasil. E fazendo
uma brincadeira de relações entre uma
coisa e outra, a impressão que tenho é que
você foi o "George Harrison" da banda: o
cara mais discreto e que fez uma das
músicas mais bonitas e lembradas. A coisa
é por aí mesmo?

Gerson Conrad - Você não está errada,


comparam mesmo, devido ao sucesso que
fizemos, cativando um público imensurável
de A a Z. Há de se lembrar, de que o grupo
ficou com o estigma de divisor de águas
referente ao mercado fonográfico. Isso,
devido aos números de discos vendidos no
chamado período de lançamento. Explico, em
noventa dias após o primeiro LP ter chegado ao
público consumidor, atingimos mais de 300.000
cópias vendidas. A média até então, "record"
conhecida, era de 50.000 cópias durante o ano,
no mercado nacional, e só alcançada pelo "Rei"
Roberto Carlos. Nem mesmo a Bossa-Nova,
Jovem Guarda e Tropicalismo conheceram tal
número no período acima referido. Quanto à
comparação de minha pessoa com George
Harrison, o que sei, é que apesar de "Ariano,
impetuoso Dragão, no horóscopo Chinês", sempre fui "produção independente" em nosso país. Questão
o mais comedido, entre o Leão (Ney) e o Escorpião de bom senso. Acho que contribuí o suficiente, e
(João Ricardo). Alguém tinha que ter os pés no chão. bem, para que a indústria fonográfica e cultural, as
Sem falsa modéstia, eternizei um poema de Vinícius de chamadas gravadoras, que tanto afirmam de que
Moraes, Rosa de Hiroshima, que talvez, não tivesse o mercado está mudado, me ouvissem. Não o
alcançado a importância, inclusive internacional, se não fizeram. Criaram a expectativa de vendas que
fosse a música por mim composta. representasse a terça parte do que havia
vendido o grupo e sem o menor marketing
direcionado para isso, puro non-sense. Uma
Elebu - Entre os músicos que acompanharam os Secos & coisa era o grupo, outra, seus integrantes. Mas
Molhados estava o grande Zé Rodrix, que já tinha na mão elas continuam contratando e lançando gente e
um disco que hoje é um clássico fundamental da música gêneros de toda a sorte. Confesso que o tempo
brasileira. Como foi tocar com ele na estrada? passou sem que eu tivesse me dado conta. Mas
estou atuante com shows ao longo desses
vinte e poucos anos sem gravar. Fora da
Conrad - Em verdade, o Zé Rodrix só tocou conosco dentro
grande mídia, por razões óbvias. Este ano
do estúdio, durante a gravação da faixa Fala em que ele fez o
devo entrar em estúdio, mas não tenho data
arranjo. Hoje, somos amigos e até nos encontramos com
definida. Tesão! Sempre enquanto Deus "me
certa frequência. Quanto à estrada, teria até, sido um prazer
permitir".
se tivesse acontecido. Na época participamos de um mesmo
evento musical, em Belo Horizonte, mas só.
Elebu - Que tipo de música você gosta de
fazer hoje em dia?
Elebu - Havia muita troca de informação entre os músicos e
os grandes nomes da música naquela época?
Conrad - Minhas composições ou minhas
músicas refletem aquilo que filtro das
Conrad - Não! Acredito que hoje, haja mais essa troca, e esse
informações do cotidiano. Tendências, não
contato entre artistas. Naquela época, encontrávamos
sigo, pois minha obra é universal em sua
ocasionalmente esses grandes nomes ou, nos bastidores das
forma de expressão. Talvez você possa
rádios e televisões durante a gravação ou participação de
defini-la como World Music, ou não. Faço um
programas. Tivemos um breve contato, mais próximo, com os
pop-rock em seu contexto, com pitadas de
baianos. Mais Gal e Gil, durante nossa estadia em Salvador, em
todas as influências que possa ter
Fevereiro de 1974. Era uma época em que cada artista já
assimilado, e me prevaleço do fato de ser
consagrado estava preocupado em conservar seu lugar ao sol,
brasileiro.
e os S&M haviam chegado fazendo muito barulho. Acredito que
isso os assustou um pouco.
Elebu - Do que é produzido hoje entre novas
cantoras pop que fazem samba, bandas emo,
Elebu - Acha que aqueles que fazem parte da mídia
a cena independente e etc, o que te agrada
especializada, pesquisadores e o público afim são justos na
mais?
hora de contextualizar a importância dos S&M com as pessoas
que fizeram parte dessa história?
Conrad - É..., e está difícil! Difícil de
responder porque, ao mesmo tempo em que
Conrad - Não! Deixam muito a desejar nesse quesito. Eu,
se tem uma talentosíssima Ivete Sangalo, nos
por exemplo, às vezes, nem sequer sou citado. Exemplo:
deparamos com aberrações de cunho
Nelson Motta, durante a pesquisa de confecção de seu livro
indefinido, como esse acumulo de bandas
Noites Tropicais me contatou pessoalmente e também
"Axé" salvo, algumas exceções, e coisas do
pessoas envolvidas com seu trabalho, colhendo
tipo, poluindo sem qualidade nossos ouvidos. E
informações, e pedindo autorização para uso de imagem,
pior, sendo-nos imposto pela mídia televisiva.
e no capítulo em que dedica aos Secos&Molhados, omite
Ouvi-los já é difícil, vê-los, é sacanagem.
meu nome. Poderia citar outros exemplos assim, mas
não vem ao caso.
Elebu - Mal ou bem, o seu nome é obrigatório
nas páginas da história da música popular
Elebu - E você está há muito tempo sem lançar um
brasileira. Como você se sente em relação a isso?
disco seu. Não tem tesão de aproveitar as
facilidades de hoje e lançar alguma coisa sua ou
quem sabe mexer com produção ? Conrad - Evidente que gratificado. Como o ditado
popular, "Falem bem ou mal, mas falem de mim!" É
sempre bom ser lembrado! Sem discutir talento ou
Conrad - Estou mesmo, e explico: durante
sorte, estou dicionarizado, logo imortalizado, e isso é
muito tempo fui radicalmente contra a
gratificante, sinal de que minha contribuição por meio de
minha obra, teve seu valor e reconhecimento.
joão ricardo
Principal compositor e fundador da Secos &
Molhados, João Ricardo foi o culpado pela
criação de clássicos. Sempre ativo,
lançou no ano passado o disco solo,
Puto, onde deixa os violões de lado
e explora outras formas do rock.

Elefante Bu - Quando você criou os Secos &


Molhados, já tinha amadurecido a idéia de
toda a sonoridade que queria levar ao
público?

João Ricardo - Se reparar bem o denominador


comum é o violão acrescido dos três músicos
(baixo, batera e guitarra) que criavam as suas
partes comigo (ou não), mas obedecendo à
batida original do violão de 12. Na maior parte
das vezes não gostavam muito dessa obediência,
já que vivíamos o ápice do rock progressivo e os
músicos da época só pensavam nisso.
Naturalmente me tornei um chato pelas limitações
e/ou pedidos que fazia. Há também a participação
do musico Zé Rodrix ao piano, que em várias
canções foi preponderante nas sugestões.

Elebu - Te surpreendeu o fato de vocês terem sido a


banda mais popular naquele início dos anos 70?

JR - Muito. Afinal batemos todos os recordes num


patamar jamais sonhado por nenhum burocrata da
industria fonográfica, quanto mais nós.

Elebu - Pensando nos primeiros discos, penso que eles


continuam absolutamente modernos e muito
complexos. Foram vocês que foram muito à frente ou a
música brasileira de forma geral que acabou se
simplificando por demais?

JR - Nunca pensei nisso dessa forma. Até hoje, com todo o


distanciamento que possa ser possível, parece-me que é a
minha musica com características muito pessoais. Como
fez muito sucesso, entender o porquê passa a ser curioso,
mas acho mesmo que é apenas diferente. Nem fomos muito
à frente, nem a música brasileira se simplificou.

Elebu - Foi lançado em 2003 o disco "Assim, assado - tributo


a Secos & Molhados". Na sua visão de criador, mais velhos não me deram netos, fiz uma filha.
como você recebeu esse disco tributo? Houve
alguma faixa onde você realmente se sentiu
homenageado pelo bom trabalho? Elebu - Você que tinha o sonho de lançar um disco
independente, hoje vive num mercado onde a maioria das
bandas e músicos trabalham dessa forma em decorrência das
JR - Em nenhum momento eu fiz comparações.
mudanças no mercado. Isso sem mencionar que nunca ficou
Eu me senti lisonjeado. Adorei El Rey com o
tão fácil gravar. Quais são os proveitos que você,
Matanza.
particularmente, tira dessa nova realidade?

Elebu - Você gosta daquilo que é popular na


atualidade? JR - Essa nova realidade pra mim é muito proveitosa. Se
antes já não me sentia obrigado à coisa nenhuma (leia-se
obrigações contratuais, gravar deste ou daquele jeito, etc.)
JR - Na verdade nunca quis ser muito popular, ou hoje então e principalmente posso registrar o que quiser,
coisa parecida. Nem sequer ouvia o que era muito sem que me frustre de nenhuma forma. Para um artista é o
popular na época. Hoje então...Ouvidos moucos. paraíso. Claro que não computo o sucesso como essencial,
mas no meu caso isso é compreensivo.

Elebu - Os anos 70 foi um período de muita


produtividade até chegar os anos 80 e 90 quando o Elebu - Essa facilidade em gravar gerou uma cena
espaço. Isso foi mais uma opção sua ou você passou independente cuja oferta é diretamente proporcional à
a ter dificuldades de produção na época? falta de qualidade de muitas bandas. O jornalista
Fernando Rosa disse que isso era uma conseqüência da
falta de referências. Você concorda com ele?
JR - Foram às circunstâncias. É bem verdade que não
sou daqueles compositores que têm milhares de
músicas prontas. Eu quando tenho uma quantidade JR - Faz-me lembrar da época que se dizia que quando
razoável, faço um disco, embora relacionado com a ditadura acabasse o que sairia de obras primas das
minhas exigências e necessidades. Tem uma banda gavetas seria uma grandeza. Não foi bem isso que se
americana o Steely Dan que levou vinte anos para viu. Neste caso, acho a mesma coisa. Como é um
lançar um novo disco. Eu amei. Funciono assim momento de transição e facilidades, é natural que
também. Demoro por causa das tais necessidades. É haja uma profusão de bandas duvidosas. Agora,
uma maneira de ser. Há artistas que gravam muitos concordo com a falta de referências dessa garotada.
discos durante uma carreira. Ou por causa dela. Eu, não. Resta saber por quê. Acho que a maioria não está
nem um pouco interessada.

Elebu - O disco Memória Velha é muito curioso por ter sido


concebido por quatro anos, mas só lançado dez anos Elebu - Dessa nova geração, há alguém que faça
depois. Quando você teve finalmente a oportunidade de uma música onde você é capaz de reconhecer uma
lançar esse material, teve a preocupação ou sentiu a possível influência sua?
necessidade de atualizá-lo de alguma forma?

JR - Eu nunca consegui reconhecer ninguém.


JR - Na verdade ele não demorou quatro anos para ser Claro que já ouvi algumas pessoas dizerem da
concebido. Eu comecei gravando em janeiro de 1990 e com importância da musica dos Secos nos seus
aparição do governo Collor ficou inviável. Deixei de lado, o trabalhos, mas não sou suficientemente cabotino
tempo foi passando, até que comecei trabalhando na idéia do para fazer citações. Sou muito distraído.
Teatro?. Esse seria o meu disco independente por definição.
Além do mais, era apenas com uma guitarra chegando a
essência da música que me interessava. No lançamento fui Elebu - E o seu disco mais recente se chama
abordado pelo diretor da gravadora Eldorado que queria Puto. O título é uma referência especial a
lançá-lo. Eu recusei e como ele insistisse, ofereci-lhe alguma coisa? O que te faz ficar "puto"?
Memória Velha. Tinha algumas inéditas e outras demos.
Misturei tudo e registrei um disco que provavelmente não
JR - Na verdade a referência maior é sobre a
seria lançado em condições normais.
sonoridade do próprio disco. Um hard rock ferrado
que um “Sr.” (ia se chamar assim o disco) faz, e um
Elebu - O que você fez nesse hiato, em especial nos garoto (“puto” em português) chamado Daniel
anos 90? Iasbeck realiza, sem entender o contraponto. Enfim, o
sentimento de Puto passa a estar em mim
essencialmente: como moleque fazendo um disco de rock
JR - Casei de novo, continuei compondo até e puto por ninguém se incomodar a não ser com os clichês
chegar ao Teatro?. E no final, como os filhos habituais.
Djenane Arraes
Fotos: Tomás Rangel
Foi-se o tempo do "espero o dia passar/ não
'tchóque' em mim", ou do "eu não sei se vou namorar/
hoje estou rubra abaixo da cintura". A Érika Martins de
hoje pouco lembra a moleca de saia colorida que quando me identifico, faço intercâmbios. A Julieta, por
saltitava no palco com a Penélope, a banda de Salvador exemplo, temos trocado muitas figurinhas e ela tem me
que formou nos anos 90. A moça trocou a Bahia pelo mostrado vários sons que adorei". Do lado brazuca, disse
Rio de Janeiro, formou o Telecats com Bjorn Hovland, que gosta do Ludov. "Eu e a Vanessa já conversamos
Carla Kieling e Márcio Ribeiro, foi a voz feminina dos algumas vezes quando tocamos juntos. Já gravei com o
Tremendões que tocou junto com o tecladista Lafayette Skank e foi ótimo. Tenho muitas parcerias nas
na banda cover mais comentada do país - e que deve composições também: com o Gabriel (Autoramas),
lançar disco em breve uma vez que as gravações estão Renatinho (Canastra). Acho muito saudável trazer
sendo finalizadas. pessoas diferentes e transformar o meu universo".
A moça também andou conversando com Resumindo, Érika acumulou muita informação
muitas pessoas, mostrando seu trabalho além das após a Penélope, pegou a estrada e cresceu
fronteiras nacionais por meio da internet. Gente como artisticamente. "Fui amadurecendo mesmo, aos poucos.
Kate Nash, Julieta Venegas, e bandas do calibre da No final da Penélope já estava querendo fazer um som um
Yeah Yeah Yeahs, Clap Your Hands And Say Hi e The pouco diferente e o caminho foi natural. Acho que a
Pipettes. Ela ainda garante que o gosto por trocar estrada trouxe muitos benefícios para mim, estou
figurinhas é recíproco com esse pessoal. "Acho muito compondo e cantando melhor e seu exatamente o que
importante conhecer o que está rolando pelo mundo, e quero", disse.

evolução contínua
O resultado sai em forma de CD ainda neste Enquanto ele não está no mercado, é possível
semestre pela Toca Discos e distribuído pela conferir algumas mostras dessa nova fase no myspace da
Warner Music. Taí uma forma de trabalhar que cantora. São músicas como a própria Sacarina que ainda
Érika julga ser muito esperta, uma vez que carrega reflexos da Penélope na interpretação e no rock
aproveita a distribuição e marketing de uma colorido de versos do tipo "margarina só se preocupa
grande gravadora com a visão mais artística do quando aquece". Diferente de outras como Ainda Queima a
selo. Mas ele levou um tempo comprido para ser Esperança, de Raul Seixas e Mauro Motta, conhecida na voz
feito. Há notícias a respeito desde 2006 e há de Diana, que fez parte da coletânea de sucessos bregas
canções que já caíram na boca do povo. Sacarina, dos anos 70 Eu Não Sou Cachorro, Mesmo. Ali Érika dá
por exemplo, é hit desde antes Érika se apresentar mostras evidentes de sua evolução como cantora. E ainda
no Festival Porão do Rock. Lento, a música de tem a balada Vou Te Esperar, feita para agradar gregos e
trabalho, foi gravada há um bom tempo e recebeu troianos. Lento não está lá no myspace, mas é importante
uma remixagem em dezembro do ano passado. A falar dela. É uma versão do lindo clássico da Julieta
produção leva a assinatura de Carlos Eduardo Venegas, onde Érika divide os vocais com a própria. Quem
Miranda, Tomás Magno e a ex-parceira de deu a idéia para ela fazer uma versão em português foi o
Penélope, Constança Scofield. Um trabalho em saudoso Tom Capone. As duas cantoras foram
grupo que, para Érika, foi muito proveitoso. "O apresentadas e aproveitaram a oportunidade para gravar
Miranda tem mais uma visão geral, a Constança é juntas durante uma passagem de Julieta no Rio de Janeiro.
minimalista e destrinchou música por música, e o Parece que, sem querer, a música personificou bem o
Tomás coloca a mão na massa - é o responsável processo do disco e da evolução de Érika. "Ser dedicado e
por todos os timbres maravilhosos do disco". esperar/ quero tempo para te dar tudo o que tenho".
festa no salão
Por alguma razão estranha, tem gente que
acha que este é um zine de Fortaleza. É bem
sucederam até chegar na última faixa, Teus Sinais.
Duas coisas chamam atenção para a Et
verdade que tenho amigos, informantes e afins de lá Circensis. A primeira, lógico, é a sonoridade. É um
e, de um jeito ou de outro, sempre aparece algo da rock com o selo autêntico do alternativo. Nada perto
capital cearense no Elebu. A questão é que por das tentativas fracassadas de vanguarda que
essas, comecei a receber mensagens a respeito de continuam ruins de escutar mesmo após décadas. O
festas que nunca irei, de shows que só vou ver se alternativo aqui diz respeito a uma música que não
filmarem e mandarem o DVD para Brasília ou foi feita para rádio comercial mesmo, ainda assim,
colocarem os vídeos no youtube. Me mandam até muito boa de se ouvir, com soluções e arranjos
mensagens de associação de moradores (risos). O criativos. Noite no Baile, a minha preferida, é uma
pior é que 98% desse montante de informações nem história triste de amor carnavalesco muito
pode ser aproveitado para quem sabe talvez um dia interessante, onde a tensão progride de acordo com
noticiar no zine. De qualquer forma, acabo as lendo o ritmo. Começa com valsinha, tem seu momento
para saber qual é o programa do fim de semana... de carnaval no refrão (ou quase) e ainda tem direito a
lá. Entre festas, micro-festivais e shows regulares, solo de piano e guitarra para dar um drama. E com
havia um nome freqüente: Et Circensis. Despertou a essa mesmíssima música é possível introduzir a
minha curiosidade e fui procurar saber qual era a do segunda boa coisa que chama atenção para a banda:
pessoal. Achei a banda no Trama Virtual. Tinha a letra. Pablo Huascar (baixo), Gustavo Portela (voz
recém disponibilizado o primeiro disco, e guitarra) e Fabrício Vital (guitarra) são os
Homônimo. Ouvi música que estava no topo da compositores mais freqüentes, e pode se dizer com
lista, A Outra, e achei interessante. Fui para a toda convicção que a moçada é competente no
próxima, Ana, e também aprovei. E as coisas se ofício. "Aquela linda dama que dançou ao meu redor/
sua mão ela me deu, roubei um beijo e foi só/ pois ela essa relação quando compram ou ganham um CD. A
fugiu com um galante capitão/ com tapa-olho de relação com as canções pode se dar por qualquer mídia
pirata e com um gancho na mão". Antes que se perca e ser bastante visceral: ouvindo um mp3 player,
o ritmo, Et Circensis tem mais dois integrantes. É o escutando música no som do carro, fazendo streaming
Eduardo Pontes, na bateria, e o Juliano Estevam, nos num site da internet. Mas a relação com o artista ainda
teclados. passa por um contato mais próximo que pode, por
O disco Homônimo é de muita qualidade exemplo, se tornar mais palpável a partir de um CD".
(mesmo), todo ele, porque as boas características se O show de lançamento aconteceu em janeiro
repetem ao longo das faixas. Não da mesma forma, deste ano, num evento de casa cheia no anfiteatro do
Centro Dragão do Mar, em Fortaleza. Teve ainda a
claro. Além disso, a voz de Gustavo Portela é muito
participação de Nina Becker (Orquestra Imperial)
agradável. A produção ficou na responsabilidade de
dividindo os vocais na música Nós Dois
Fernando Catatau e Régis Damasceno, ambos da
(Namoradinha). “Conheci a Nina quando a vi cantando
Cidadão Instigado. Foi lançado pelo Pisces Records num show no Studio SP em São Paulo. Foi o Regis
(www.piscesrecords.com.br), onde está disponível Damasceno quem apresentou. De imediato, fiquei
para download. A política do selo veio de encontro fascinado com a voz e a presença de palco da Nina. O
com a iniciativa do quinteto, que havia tempo passou e guardei essa lembrança. Nos dias que
disponibilizado as músicas na Trama Virtual e em antecederam o show de lançamento, o Regis comentou
outros locais. "Hoje é impossível ficar alheio a quase que ela vinha passar alguns dias de férias em
infinita possibilidade de divulgação que a internet Fortaleza. De imediato me veio a idéia de convidá-la
propicia. O interesse é que o máximo de pessoas, nos pra participar do show. Pedi ao Regis que
mais diversos lugares, conheça o trabalho", disse intermediasse o convite e ele o fez. Pra nossa felicidade
Pablo. Mas a banda também o tem Homônimo em CD ela aceitou. Em Fortaleza, a Nina se mostrou muito
numa tiragem de apenas mil cópias. "Não acho que o amável e sempre bastante solícita. A participação foi
CD em si seja um artigo do passado. As várias formas muito bonita e trouxe um brilho enorme para aquele
de se relacionar com as músicas ainda vão conviver, ao momento. Agora estamos tentando viabilizar um show
menos por algum período. Nesse sentido, a tiragem que dela aqui em Fortaleza. Estamos trabalhando e
fizemos é bem pequena, mas tem sua função. Ainda torcendo para dar certo", finalizou Pablo.
acredito que as pessoas que tem um contato mais Parece que as coisas vão caminhando bem para
próximo com a banda, seja vendo um show ou a Et Circensis. Nada mais justo. Taí uma banda com um
conhecendo algum dos integrantes, pessoalizam mais bom trabalho que merece destaque.

Fotos: Analice Diniz


ceará não é o sul
Entre as perguntas que fiz para a Et Circensis respondidas pelo baixista Pablo
Huascar, havia uma onde disse que o Ceará deixou de exportar somente o forró. O
sentido do comentário é a quantidade de bandas que vieram de lá e começam a ter
destaque nacional, em especial a Montage. Mal ou bem, a impressão que começa a
se ter é que Fortaleza desempenha nesse final de década o papel de revelar e ditar
certas diretrizes estéticas no plano independente alternativo do rock, tal como
aconteceu com as bandas gaúchas nos anos 90. A resposta de Pablo foi
longuíssima e muito boa, mas que obrigaria a dar muitas voltas para incluir o
assunto na matéria regular. Não queria deixá-las de fora, por isso aqui está a
explanação do baixista na íntegra.

Acho que não tenho propriedade pra falar do outras pessoas, como o Junior Boca e o pessoal do Soul
nordeste como um todo, mas posso dizer algo sobre o Zé, que também foram e estão tentado tocar os seus
Ceará. De início, tenho que dizer que o Ceará tem muito trabalhos, mas a vida de ninguém é fácil. É sempre uma
mais do que o forró. E mesmo muito mais forró do que o batalha para conseguir espaço.
que costuma se exportar. O forró de exportação é o que Sobre o nordeste ser como sul do país nos anos
se consolidou em uma industrial cultural fortíssima. 90, eu não saberia te responder. Porém acho que esse
Indústria que gera muito dinheiro, mas que, como em tipo de comparação acaba não permitindo enxergar as
todo processo industrial, não divide os espólios de forma singularidades de cada momento. Talvez o mais
justa e igualitária. Há donos de banda (sim, proprietários importante, para além de fazer comparações, seja tentar
mesmo) que ganham muito, proprietários de casas de aprender que devires, que linhas de fuga, e,
show que também lucram bastante, cantores, cantoras e principalmente, que perigos passaram por momentos
alguns instrumentistas que recebem um bom salário, como esse. Isso, pra mim, ganha uma funcionalidade
pois são aqueles com quem o público estabelece uma prática, pois serve para pensar o hoje. O que estamos
relação direta, e uma grande massa de músicos, técnicos fazendo hoje? Como estamos fazendo? Que perigos
e operários em geral que são explorados da mesma corremos? Que vitórias podemos conseguir? No Ceará,
forma que em toda relação trabalhista vinculada a uma por exemplo, não há nenhum movimento cultural, ao
produção de mercado. menos não que eu saiba, que aglutine de algum modo as
Como em toda indústria cultural há uma enorme pessoas como foi o Manguebeat em Pernambuco. Cada
pasteurização das músicas e um eterna corrida atrás das um está tentando fazer as suas coisas, mas ainda de
tendências que estão com melhores vendas e resposta forma individual. O que não significa que as pessoas por
de público. Mas, anterior a isso tudo, existe um forró que aqui não se encontrem, troquem idéias e tentem se
se mostra como uma expressão mais genuína da cultura ajudar na medida do possível.
local e que não chega nem perto do nível de exposição Uma movimentação bacana que continua rolando
que o forró de exportação tem. O Waldonys, um é o Soma (Coletivo da Música Independente de
sanfoneiro muito conhecido por aqui e pelo Brasil a fora, Fortaleza). Um movimento que surgiu como contraponto
é um artista que acho muito bacana nesse sentido. Um ao fechamento de vários espaços alternativos de
cara que sinto que mantém a sinceridade no que faz. Fortaleza e que acabou fazendo um festival muito bonito.
Retomando: o Ceará tem muito mais do que o Bonito não só pela organização e atrações, mas pelo
forró. Há música muito boa sendo produzida aqui, mas modo como foi construído. Foi concebido e efetivado
que não consegue grande destaque por estar fora do eixo coletivamente e isso foi uma grande novidade por aqui.
Rio – São Paulo. Tanto é que, quem se aventura a ir pro Talvez esse seja o grande benefício que podemos tirar
Sudeste, consegue uma repercussão bacana. Alguns dessa movimentação de cearenses pelo mundo afora:
exemplos recentes são o Montage e o Quarto das Cinzas. fazer bons amigos e tentar ser solidário. Acabar com
O Fernando Catatau foi um pioneiro nessa migração e uma visão parasitária de tentar tirar proveito dos outros,
conseguiu construir uma carreira. Hoje ele tem um auferir o máximo de lucros, e tentar conquistar
grande respeito da crítica, além de gravar e fazer confiança e ajuda mútua. Mais um pensamento idealista
parcerias com um monte de artistas legais (Nação e até arriscado no meio dessas respostas, mas talvez
Zumbi, Vanessa da Mata, Otto, Los Hermanos). Tem seja por aí que estamos tentando caminhar.
Pablo Huascar é baixista da Et Circensis e
um dos principais compositores da banda.
Além disso, é aquele que responde as
entrevistas para a imprensa. Uma ótima
escolha do quinteto pela clareza de idéias
e boas explanações do músico.
grito! Dewis Caldas
Fotos: Renato Reis

Passando um mês inteiro programando o


festival, a equipe de comunicação dos Voluntários da
Música – Volume, chega ainda a tarde no Clube
Feminino para dar os últimos acertos. O objetivo era
disponibilizar a cobertura do Grito em tempo real, só
que não apenas com fotos e resenhas, mas também
com uma rádio on-line e vídeos postados no youtube,
a partir dessa idéia começa um novo projeto, que
tinha por nome Web TV HellCity.
Logo mais à noite, entrando no Clube
Feminino, tudo já estava pronto: bar, cervejas,
mostras de vídeos, a encenação da Confraria dos
conexão hellcity

Atores, passagem de som, exposição de fotos, tudo ok


com os expositores e a sala de coletivas estava um
brinco. Na sala de imprensa já estava tudo acertado, a
primeira banda, Apostasia, ia começar as 9h30, mas
teve uns 30 mim de atraso, proposital até, para
esperar o público chegar (e foi chegando), a maioria com público renovado aqui em Cuiabá. Antes
deles vestidos de preto. Além da primeira, bandas deles teve Chlli Mostarda, que dali do palco
como Venial e Questions (SP), representavam o saiu em turnê junto com o Rhox pelas cidades
metal e o dia ainda teve muito mais peso. Desde a Uberlândia, Goiânia e Belo Horizonte, que
primeira banda a equipe começou a trabalhar. Corre também promoviam o Grito. A equipe
com um cabo USB pra um lado, câmera fotográfica conseguiu fechar o dia postando todos os
que caiu no chão, gravador de áudio dando erro de vídeos, resenhas e algumas fotos. A primeira
formato, mas tudo ia dando certo, cobertura, foto e etapa estava feita, agora o negócio era pegar
vídeos estavam sendo publicados no blog, lembra que uma carona com alguém, voltar pra casa,
era esse o objetivo? dormir e logo mais voltar direito para o Clube
Pata de Elefante tocou bem tarde, mas muita de novo. A grife alternativa Padam
gente ficou pra ver. Os gaúchos responsáveis por comemorava um ano e a promoção com
fechar o primeiro dia do Grito estão de disco novo e descontos fazia com que toda hora chegasse
mais gente na banquinha, camisetas e
assessórios estava à venda e foi quase tudo
vendido.
O segundo e o terceiro dia tiveram duas
grandes atrações: a abertura do
Movimentando Hip Hop, uma ação
promovida pela Cufa/MT que incluía grafitagem,
break e rap. E a continuação das encenações
dos textos de Rubem Fonseca, feita pela
Confraria do Atores que, mesmo tendo
começado no dia anterior, ganhou mais força no
segundo dia (e mais atenção do público). Ainda
nesses dois dias, além do youtube ter ficado a
madrugada inteira em manutenção (para meu
desespero), o grande quesito das noites foi a
apresentação de duas gerações da cena local no
palco. Se de um lado tinha Ebinho Cardoso,
Lopes e Strauss (todos remanescentes da
década de 90), o contraponto vinha de bandas
como Snorks, Skarros e Aoxin (todas com
menos de dois anos de formação), e todos esses
– sem exceções – fizeram shows bem
trabalhados e com um pequeno público fiel
formado debaixo do palco. Sem sombra de
dúvida os melhores shows desses dois dias
foram Macaco Bong e Ludovic (SP). O como Daniel Belleza e Os Corações em Fúria no Calango de
primeiro vinha de um drama particular: Ynaiã 2005 e o Ludovic em 2006, essa foi uma apresentação que se
Benthroldo está com uma tendinite, que é uma tornou histórica em festivais cuiabanos, os cearenses
inflamação de um tendão (no pulso, mais conquistaram de vez o gosto e um público cativo em Hellcity.
especificadamente) que aparece através do Vanguart se encarregou de fechar num emocionante show que
excesso de repetições de um mesmo teve cara de reencontro, a banda não tocava aqui desde o
movimento. Logo depois da gravação do Calango, e aproveitou para anunciar que um novo clip será feito
primeiro CD Artista Igual Pedreiro, previsto e que pode ser filmado até Abril. Nesse último dia, as equipes de
ainda para o primeiro semestre, o baterista produção estavam a mil ainda, embora o cansaço O bar com
sentiu as dores e começou o tratamento bebidas geladas, a banquinha vendeu mais do que qualquer
médico, depois de ficar dois meses sem pegar outro evento e a equipe de comunicação conseguia o objetivo,
numa baqueta, embarcaram para o Rio de que se tornou histórico para um blog que tem tantos poucos
Janeiro e se apresentaram no Festival Humaitá recursos. Isso é o que se faz quando se quer fazer um trabalho
Pra Peixe, dias depois estão novamente em bem feito com pouca estrutura.
outra grande apresentação. E quem viu aquilo
tudo sabe do que eu digo, um dos melhores
shows do festival quando se fala em postura de
palco, timbres e harmonias fusion, espetacular.
Já Ludovic tinha a incumbência de fazer outro
show incrível, o público que a banda tem aqui
em terras de 40º ainda não esqueceu do que a
banda pode fazer e isso a banda já sabia antes
de subir pra tocar. Jair Neves agora não só
cantava, mas estava também no contrabaixo, o
que fez a banda começar ainda tímida e sem
todo o entrosamento. Não bastou muito para
tudo ficar do jeito Ludovic. O público respondia à
timidez da banda com gritos, Jair joga o
instrumento no chão e entra em transe, desce
do palco e é ovacionado, melhor mesmo é ver o
vídeo feito pela nossa equipe. Tiago Baggio, que
era quem gravava as imagens, estava bem em
cima na hora e você pode ver no Hellcity Blog.
O Montage fez, no quarto e último dia, o
show mais entusiasmado. Logo no início a
galera colou no palco e a música introdutória I
Trust My Dealer foi cantada em côro. Assim
Previously...
Lost é um seriado de TV,
atualmente na quarta temporada,
que relata a vida dos
sobreviventes do vôo 815 da
Ocean Airlines que decolou de
Sidney, na Austrália, com destino
a Los Angeles nos Estados
Unidos. Após algumas horas de
vôo, o avião caiu em uma
misteriosa ilha no Oceano
Pacífico. Lost apresenta algumas
diferenças na narrativa e na
construção dos episódios, pois
trata os personagens no presente,
passado (flashbacks) e futuro
(flashforward), além da ligação
entre eles fora da ilha.

Desde do início de Lost muitas teorias foram apresentadas para explicar os


estranhos fenômenos que acontecem na ilha. Alguns óbvios, outros um tanto
quanto malucos, mas a verdade é que ninguém ainda conseguiu decifrar as
loucuras dos produtores da série. Com mapas, números malditos, monstros
sobrenaturais, curas milagrosas, pessoas que aparecem e sobem, enfim, a série
acaba induzindo o espectador a criar sua própria teoria com base nesses
acontecimentos. Então resolvi entrar para a turma dos malucos e apresento a
minha teoria, maluca ou não, sobre Lost e a sua ligação com a literatura inglesa.
THE TEMPEST
WILLIAM SHAKESPEARE

A peça The Tempest foi escrita por Shakespeare em 1611


e apresentada ao Rei da Inglaterra, que se chamava
A ILHA James I. A peça se passa em uma ilha e é considerada
A ilha pode ser considerada a um lugar mágico e sobrenatural. Na época, na Inglaterra,
imagem da paz espiritual no mundo não havia uma distinção entre a religião e a ciência e
material caótico. Ou um lugar o pessoas utilizavam a religião e a astrologia para
mágico, um mundo estabelecido à explicar doenças e mortes.
parte. Na literatura inglesa vários
autores utilizaram a ilha como EM LOST (A FÉ E A CIÊNCIA)
inspiração. Conheça alguns. Ainda não há uma explicação para a cura de John
Locke. Antes da queda do vôo, Locke estava em uma
cadeira de rodas, resultado de uma queda do 6º andar de
um prédio que o deixou paralítico. Ao chegar na ilha, ele
“O homem não é uma ilha” voltou a andar e atribuiu à ilha este “milagre”. Locke
John Donne utiliza a fé para explicar sua cura e acaba se tornado um
dos lideres do grupo de sobreviventes. Rose Nadler
também se diz curada de um câncer e Sun-Hwa Kwon
engravida do marido, Jin-Soo Kwon, que antes de chegar
na ilha não podia ter filhos.

Do lado da ciência temos o Dr. Jack Shephard, um


renomado neurocirurgião, que sempre está ajudando o
grupo dos perigos da ilha. Jack acaba se tornando líder
do grupo ao lado de Locke e criando uma espécie de
batalha entre a fé e a ciência. Antes de chegar na ilha,
Jack opera Sarah que, milagrosamente, volta a andar.

James "Sawyer" Ford

Ele é um golpista, e usa


essas habilidades na ilha para
enganar as pessoas para seu
bem próprio. John Locke
Jack Shephard
Na Literatura Sua paralisia parou
James I, rei da imediatamente depois dele cair
Um pastor, (shepherd em
Inglaterra... na ilha, o que levou-o a acreditar
inglês), é alguém que guia suas
que ele tem alguma conexão
ovelhas, do mesmo jeito que
especial com a ilha.
Jack se tornou o líder.
Na literatura
Na literatura
O escritor John
Jack, o estripador...
Locke...
dona izaldina
Rita
Maria
Felix
da Silva
ilustração de benett-o-matic

Dona Izaldina colecionava notícias de jornais. Tinha milhares delas, baixadas da Rede.
Era seu passatempo.

Nas partidas de pôquer dos sábados, gostava de comentar com as amigas aquelas
notícias que mais lhe chamaram a atenção durante a semana. Ontem saiu com esta:
o guia

- Lá em Dubai, Índia, o X74, o mais inteligente e sensível robô deste século XXII,
destruiu-se atirando na própria cabeça. Dá para acreditar? É o primeiro caso
documentado de suicídio de um robô. Ah, e escutem só isso: não faz nem três meses que
o criador dele recusou-se a reconhecê-lo judicialmente como filho. Rsrsrsrs... Um robô.
Isso lá tem cabimento? Tem horas que a vida fica realmente engraçada...
o meu jardim
Leonardo de Moura

Numa tarde de domingo, sentei em meu jardim para pensar sobre a vida.

Mas era difícil fazer isso, porque tinha muita gente ao redor!

Fazendo barulho!

Correndo e gritando!

Pisando minhas flores!

Ocupadas com outras coisas que não o meu jardim, ou os pensamentos que
lá eu cultivava...

Tomei então uma decisão: coloquei os barulhentos pra fora, mandei os


pressurosos correrem em outro lugar e tirei de perto todos os que estavam
preocupados o suficiente com o próprio umbigo a ponto de não ver que
havia no mundo outras coisas, inclusive o meu jardim.

Pronto!

Ferramentas em punho, agora era só replantar tudo o que havia sido


destruído. Não seria fácil, mas também não seria impossível.

E depois, aqueles que também cultivam seus próprios jardins e sabem olhar
ao redor para ver que há outros por perto, viriam me visitar e admirar o que
eu havia plantado. E eu poderia também, em paz e com tranqüilidade,
admirar os jardins deles.

E o mundo seria um lugar muito mais bonito desse jeito.


narciso
nacional
Marcelo “Addam” Leite

René Magitte

Alberto acorda com sono e culpa o despertador. Levanta cansado e


culpa a manhã. Se arruma irritado e culpa o trabalho. Sai
apressado e, sem um beijo da mulher, culpa o trânsito. De carro, se
atrasa e culpa o transporte público. De ônibus, se atrasa e culpa o
excesso de carros.
Alberto trabalha de mau humor e culpa o salário. Se perde clientes,
culpa os colegas. Se perde o emprego, culpa o chefe. Acima do
peso, culpa a comida. Sai do trabalho deixando muito por fazer e
culpa o relógio. Cansado da vida, culpa a família e sai para um
chopp. Perde a hora e culpa a bebida. Beija outra mulher e culpa a
esposa. Chega tarde em casa e culpa clientes que nunca teve.
É pouco atencioso mas, por isso, culpa os pais. Já que não pode
mais falar com eles, culpa Deus. Tranca a porta, sente medo e culpa
os jornais. Janta sem muita vontade e culpa o estresse. Toma um
antiácido e culpa o estômago. Lembra do salário acabando e culpa
os impostos. Fica com raiva dos impostos e culpa o governo.
Ajudou a eleger o presidente, mas culpa a política. Desliga a
televisão com angústia, culpando o país. Sai do banho chateado e
culpa a água.
Desde sempre, Alberto termina cada noite relembrando todos os
culpados por sua vida. Tem a certeza de que, ao escovar os dentes,
vai encontrar no espelho um homem bom e honrado. Mas não hoje.
Sem saber bem o motivo, desvia o olhar. E, sem pensar a respeito,
Alberto Roberto Brasileiro vai dormir culpando o espelho.
a educação foi pro brejo
Georgiana Calimeris

A natureza humana é realmente estranha, aconteceu, afinal, um ser adulto é quase um deus quando
embora, eu a ache fascinante, diga-se de passagem. se tem uns oito anos. Nem sempre estaremos lá para
Existem coisas que me assustam nesse comportamento proteger nossas crias para que se tornem adultos
cotidiano e rotineiro. Antigamente, empurra-empurra conscientes. Imagino aqui com meus botões que os pais
de recreio era resolvido na coordenação da escola, havia que protegem as crias problemáticas não conseguem ver
algum tipo de punição e tudo se acertava com os que estão criando seres humanos que têm pouco valor à
empurradores devidamente castigados com suas vida humana alheia. Jovens que atacarão outros jovens
"orelhas puxadas" pelos pais. Assim, a vida seguia. Todo numa sessão de barbárie chocante. Ah! Sim, eu ainda me
mundo já parou na coordenação na escola ou, talvez, choco ao ouvir que um jovem foi espancado
não. Enfim, melhor parar de divagar. covardemente por um grupo. Ou melhor, jovens que
Agora, o empurra-empurra que rapidamente se queimam ou espancam pessoas em paradas de ônibus.
resolvia virou um pesadelo para os pais dos que foram Percebo que os pais ou responsável têm se
vítimas, pois, os dos que provocam entram na escola no ausentado de ensinar seus filhos e culpam os transtornos
melhor estilo “VOCÊ SABE QUEM EU SOU?”, e tira a que as crianças possam ter como a hiperatividade para
criança (a que revidou) da sala de aula ou a pega justificar o comportamento bizarro do filho. É difícil lidar
desprevenida nas quadras esportivas para ameaçá-la. A com crianças que inquietas devido a problemas
que ponto chegamos!? Um adulto ameaça uma criança hormonais cerebrais e é justamente aí que os pais devem
de seus sete ou oito anos e a deixa muda ou catatônica, ter o dobro de cuidado e atenção e não ameaçar as
no mínimo. Talvez, o problema real não seja a criança, crianças vítimas dos agressores. Antigamente, era errado
mas os pais que na tentativa de proteger seus filhos agredir e parece que o certo é sair metendo a mão, dando
problemáticos, ameaçam pequenos seres em formação porrada! Talvez, a humanidade nunca devesse ter
que podem levar aquele ato de coação como um fato passado do homem de neanderthal. É uma situação pra lá
traumático pelo resto da vida, além de experimentar de desagradável saber de coisas assim que acontecem
uma sensação de medo desnecessária. com os colegas dos nossos filhos e a gente nem parece se
É, eu sei, todos nós já aprontamos, já nos chocar.
metemos em brigas e já quisemos que nossos pais Acho que uma das coisas mais sérias é quando
tomassem alguma providência. Só que tomar uma isso acontece em uma escola elitizada, em que
providência baseado num diálogo de ameaça nos acreditamos que seja um complemento à educação que
mostra um reflexo cruel de nossa sociedade, um reflexo damos em casa. Ainda estou chocada com as notícias
de que estamos deixando nossos filhos a terra de recentes, imaginando o que pode ser feito para evitar
ninguém. Eu me pergunto como ensinar valores éticos a outros constrangimentos do estilo. Talvez, proibir os pais
uma criança se a escola deixa esse tipo de situação de entrar no perímetro da escola... ainda não sei, mas,
acontecer? ainda me pergunto: como educar com ética quando
É lógico que a criança coagida acaba respeito, educação e pacifismo parecem estar tão
demonstrando aos seus pais que algo de errado errado?
em busca de

Rúbia Cunha
novos talentos
Concursos literários surgem aos montes, condições de publicar seus primeiros textos. O projeto
dando às pessoas prêmios em dinheiro, livros cresceu e conseguiu se manter graças a um modelo de
contendo a publicação, ou apenas o reconhecimento negócio diferenciado, que é a publicação de antologias.
do autor novato. Crônicas, contos e poesias são Hoje a Andross comemora três anos com 25 títulos
estilos encontrados em tais concursos. Essa é a parte publicados e começa a planejar a expansão do seu
fácil. Complicado é quando se resolve publicar um catálogo, alcançando uma diversificação não só de
livro, e as dificuldades tendem a aumentar escritores, mas também do próprio produto. O possível
dependendo do gênero que se escolhe. A temática lançamento ainda neste ano da graphic novel, que já se
medieval, por exemplo, encontra muitos entraves encontra em produção pelo novo selo, Andross Comics. Nos
para conseguir chegar ao mercado. “Tanto novatos, próximos meses também deve chegar ao mercado mais
quanto veteranos sofrem com o pouco espaço dado seis antologias, nas áreas de contos, crônicas, poemas e
ao gênero pelas editoras, com a quase inexistente micro-contos.
atenção dada pela grande mídia ao assunto e até com Anno Domini - Manuscritos Medievais é a mais nova
o descaso de livreiros que, em geral, jogam os livros antologia organizada por Helena e Cláudio. Ela reúne tanto
nacionais do gênero na última estante lá no fundo da contos ambientados na realidade histórica quanto aqueles
livraria”, disse a escritora Helena Gomes. “Apesar de passados em universos mágicos inventados pelos próprios
tudo, vejo o momento atual com esperança. Há autores, tendo a participação especial de Raphael Draccon
autores que estão conseguindo publicar livros de (Dragões de Éter, da editora Planeta), e a capa ilustrada por
fantasia e até por uma ou outra editora grande”, Octavio Cariello (The Queen of the Damned, de Anne Rice),
complementou a escritora que possui obras conceituado desenhista de inúmeras HQs de editoras
publicadas na Rocco, Devir e Idea. americanas, como a DC e Marvel.
Foi pensando em facilitar um pouco a vida “É uma honra. Tenho sorte. No Livro Negro dos
para novos escritores de gêneros que não costumam Vampiros estive ao lado de um grande entendedor do
ter lugar nas grandes editoras que nasceu a Andross assunto, Kizzy Ysatis (Clube dos Imortais, editora Novo
Editora, organizada por Helena Gomes, além de Século), e agora no Anno Domini a parceira é um dos
Edson Rossatto, Cláudio Brites, César Mancini e grandes nomes da literatura fantástica. É uma honra e uma
Carlos Francisco. Tudo começou no campus da grande oportunidade de aprender muito! A Helena é um
Universidade Cruzeiro do Sul (SP), com o objetivo de amor e está num gás contagiante. Todos só temos a ganhar
abrir espaço no mercado aos alunos que não tinham com ela nesse projeto”, comentou Cláudio Brites.
Escrever é Reescrever

Vários autores ao escrever seus textos muitas vezes não


conseguem encontrar seus próprios erros, achando-os perfeitos e
mandam para os editores. Mas não pense que a Andross “engole” os de
baixa qualidade apenas porque o escritor é novo e promissor. “Quando
recebo os textos aqui na Andross, percebo que a maioria dos autores os
envia sem fazer nenhum tipo de retrabalho estilístico ou revisões”,
revelou Edson Rossatto. “Muitos acham que não precisam revisar suas
obras. Ledo engano. Drummond dizia que um bom texto é 10% inspiração
e 90% transpiração.” O alerta não deve ser visto como algo
amedrontador, e sim como um conselho. “Espero tornar oportuna a
primeira publicação literária desses talentos ocultos. É gratificante saber
que por minha escolha - e pelo talento da pessoa, é claro - aquele autor
terá a chance de se tornar conhecido”.
Cláudio Brites faz coro a Edson e defende que os autores precisam
entender a necessidade da reescrita, e que existe também a necessidade
de ajudá-los, pois muitos ainda não estão maduros. “A maioria acha que o
texto bom sai pronto e esquecem que a arte da escrita envolve muita
reescrita. Graciliano fala muito disso, de você lavar e enxugar e bater o
texto até ele ficar limpo. Os escritores não tocam no texto e acabam
deixando a obra como um diamante mal polido. Nós esperamos trabalhos
criativos e autores dispostos. Ou seja, uma obra não precisa vir pronta.
Contos redondos. Mas se a premissa dos contos for boa, mesmo que a
obra ainda precise de ajustes, estamos dispostos a trocar emails com esse
autor e dar dicas para que ela fique bem acabada para a publicação. Se o
autor não estiver disposto a trabalhar, fica difícil”.
Mesmo sabendo que receberão apoio de editoras como a Andross,
para ter alguma chance de publicar, os novatos ainda têm medo e velhas
perguntas acabam surgindo durante o envio de um texto. As mais comuns
dizem respeito aos direitos da obra, ganho financeiro, publicidade e
integridade do texto. Algumas modificações se tornam necessárias,
porém nem todos são aprovados.
De acordo com as regras da Andross, depois de aceitos os
manuscritos que serão publicados, a editora entra em contato,
celebrando “contratos de edição”, que se destacam por manter o autor
como legítimo titular dos direitos autorais sobre a obra, o que não
acontece em “contratos de cessão de direitos autorais”, bastante
conhecido em vários dos concursos literários.
Quanto aos gastos financeiros de ambas as partes, o envio de
obras é gratuito para o autor, contudo, a confecção dos livros gera custos.
Para que estes sejam pagos, o programa desenvolvido pela editora dar-se
da seguinte forma: cada autor se compromete a vender vinte exemplares
do volume em um período de trinta dias, após a data de lançamento do
livro. Os custos de cada um possuem um valor mínimo para que a cota
seja alcançada. Para o autor ter algum retorno financeiro, basta seguir o
conselho da própria editora: vender do livro por alguns reais a mais.
Sendo assim, o escritor tem a certeza de que a editora dará a ele no
mínimo, uma quantidade determinada de livros para o pagamento da
publicação de sua obra, sendo possível uma segunda edição e mais uma
determinada cota é entregue aos autores devido aos seus direitos
autorais.
Portanto, oportunidades não faltam àqueles que desejam ter suas
histórias publicadas. Na Andross os escritores podem iniciar suas
carreiras. Mas o principal conselho continua sendo: tenha carinho por
seus textos, revise-os, dê uma polida e mãos às obras. Você não vai
querer desistir agora, vai?

Serviço:

Telefone: (11) 6943-7687


site: http://www.andross.com.br
e-mail: andross@andross.com.br
arte de

immonen
Leonardo de Moura
Colaboração: Djenane Arraes
Ilustrações: Stuart Immonen

Quem é fã de quadrinhos há algum se ter uma idéia da repercussão de seu talento, basta
tempo certamente já teve em mãos alguma dizer que nestes quinze anos já passaram por suas mãos
história ilustrada por Stuart Immonen, ícones como Superman, Legião dos Super-heróis,
mesmo que não saiba disso. Com um vasto Quarteto Fantástico, Hulk, Thor e X-Men. Vários destes
material publicado, a primeira coisa que trabalhos já foram publicados por aqui, além de outros
salta aos olhos na arte deste canadense é a como A noite final (1997), Homem-Aranha e Gen 13
mundo geek

suavidade de seus traços, e mesmo quem é (1998), Superman: Identidade Secreta (2005) e
familiarizado com seu estilo nunca deixa de Shockrockets (2006).
se surpreender com a beleza de seus Entre os quadrinhos independentes lançados por
desenhos a cada nova publicação que leve ele, destacam-se a série de histórias curtas 50 Reasons
sua assinatura. To Stop Sketching At Conventions, onde ele gentilmente
Sua primeira obra publicada, detalha os motivos pelos quais não faz esboços para fãs
intitulada Playground, foi lançada por conta em convenções, e Never As Bad As You Think, uma HQ
própria em 1988, e possibilitou sua entrada das muitas que produz em parceria com sua esposa e
no mundo dos quadrinistas profissionais. sócia Kathryn Immonen.
Tendo atuado por um período de cinco anos Atualmente, podemos conferir seu trabalho no
para editoras menores, em meados de Brasil nas histórias da Nova Onda, produzidas em
1993, Immonem realizou seus primeiros parceria com o roteirista Warren Ellis, e em breve
trabalhos para a Marvel e a DC Comics. Para também na nova fase de Ultimate Spider-Man.
Elefante Bu – Quem teve a maior influência
no seu estilo?

Stuart Immonen – É difícil responder com


apenas um (ou mesmo com mais de um)
exemplo. É um processo contínuo. Estou
sempre dando uma olhada em trabalhos de
outros artistas, bem como em filmes,
fotografias e no mundo ao meu redor para
achar inspiração. Pode ser arquitetura ou
tipografia ou uma folha... como eu disse, é
difícil de responder.

Elebu – Superman: Identidade Secreta foi o


primeiro trabalho com arte totalmente sua? O
que o levou a tomar a decisão de deixar toda a
arte, inclusive a colorização, a seu cargo?

Immonen – Este foi, e ainda é, o maior


projeto do tipo para mim. Indo direto ao
ponto: eu já havia criado outros quadrinhos,
a maioria coisa pequena e não para grandes
editoras, onde eu tinha o controle em toda a
extensão (n.e: da produção de arte). Essa era
a minha idéia, acho. Em Superman:
Identidade Secreta eu propus uma certa
maneira de desenhar a linha preta, que sobra
muito no desenho - normalmente nos
quadrinhos há uma linha externa em volta de
tudo, mas o jeito que queria desenhar essa
história era uma tentativa de igualar a não
existência de contornos, como no mundo
real. Então seria difícil deixar que outro
artista, independente de seu talento,
interpretasse a cor. O único jeito foi que eu
mesmo fizesse tudo. Deu um monte de
trabalho no final, mas foi muito satisfatório.

Elebu – O seu trabalho na DC/Marvel tem um


estilo diferente de seus trabalhos
independentes, como Never As Bad As You
Think. Um é mais detalhado e outro mais
limpo. Existe uma política na Marvel ou na DC
onde se exige um certo padrão estético? O
que você acha disso?

Immonen – Há diferenças de estilos apenas


nos trabalhos na Marvel e na DC. Minhas
edições de Thor não são parecidas com as do
Superman, nem elas se parecem com
Nextwave ou Legion Of Superheroes. Todas
essas histórias tiveram requerimentos
diferentes, então tentei métodos diferentes
de traços. Isso também vale para os trabalhos
independentes e pessoais – seria inadequado
desenhar Never As Bad As You Think num
jeito naturalista como o de Superman:
Identidade Secreta. Isso depende
inteiramente do assunto e do tom da história.
Também não há muita política de estilo na
Marvel ou na DC – editores têm certos gostos
e preferências que devem ser atendidos, mas
se o artista tem um bom relacionamento com um editor,
acho que é fácil convencê-lo que ele é capaz de algo novo.
Honestamente, acho que essa é uma posição privilegiada
que se ganha depois de muitos anos fazendo coisas sob
encomenda.

Elebu – O que inspirou você fazer Never As Bad As You


Think com sua esposa, Kathryn?

Immonen – Existe um número de comunidades de


websites de ilustração que encoraja a participação por meio
da proposta de um tema e pede aos artistas para mandar
seus resultados. Geralmente há apenas ilustrações
simples. Eu tive a idéia de criar um quadrinho baseado
nesses temas semanais e pedi a Kathryn para fazer isso
comigo. Na primeira semana a palavra proposta foi “vazio".
Kathryn escreveu um pequeno roteiro incluindo a palavra
literal e também em forma temática (uma cadeira vazia) e
eu desenhei, e nós fizemos isso por um ano. No início
pensei que os personagens permaneceriam consistentes http://www.immonen.ca/comics/ - atualmente está na
durante a história, mas Kathryn começou a mudar cenas e página 50, mas eventualmente isso ficará três vezes
introduzir novos personagens de maneiras geniais, o que maior. Além de eventuais requerimentos de capas ou
fez as coisas ficarem mais divertidas para ambos e, acho, outra coisa. Isso é tudo que posso administrar.
para os leitores.
Elebu – É difícil lançar quadrinhos independentes no
Elebu – Quais os projetos em que você está trabalhando Canadá ou nos Estados Unidos?
para este ano?
Immonen – Para nós, as expectativas não são
Immonen – Ultimate Spider-Man, claro. O projeto me extraordinariamente grandes, e como resultado não
mantém muito ocupado. Kathryn e eu fomos convidados temos tido decepções. Imprimimos apenas 500 cópias
para contribuir com a antologia do oeste americano de Never As Bad As You Think, por exemplo, e não
chamada Outlaw Territory, publicado pela Image Comics, oferecemos o material para uma grande distribuidora
mas não acho que será possível até 2009. E Moving de quadrinhos ou livros. Preferimos vender via e-mail,
Pictures, que é o nosso quadrinho on-line - nas convenções e diretamente em algumas lojas que

Moving Pictures
Houve o desaparecimento de um objeto de arte valioso, e quem deve
conhecer o paradeiro é Ila Gardner, uma canadense que trabalha com
curadoria de arte na França junto com sua amiga, Jane Bailly. Apesar de
não se ter certeza, é possível que as duas e Marc, o terceiro elemento da
história, tenham planejado um crime nos porões do museu de arte.
Enquanto Jane e o rapaz decidem deixar o país e insistem para que a Ila
também fosse embora, a moça decide ficar. Inúmeros são os
questionamento a respeito de suas razões para tal. Nada é muito claro.
Jane corre para casa em Ottawa levando o passaporte da amiga (a própria
é que faz a sugestão). Eventualmente, Ila é submetida a um
interrogatório, onde o leitor descobre aos poucos a trama desta história.
Moving Pictures é um quadrinho on-line que ainda está em curso (veja o
endereço na entrevista). O roteiro é de Kathrin Immonen e os desenhos
são do genial Stuart. Eis um trabalho genial em P&B onde os traços simples
e retos de Stuart criam suspense e tensão à história intrigante e bem
escrita, de diálogos felinos, ligeiros. O embate entre o detetive e Ila na sala
de interrogatório, por exemplo, é de tirar o fôlego. (Djenane Arraes)
Elebu – Quais são os quadrinhos que você lê e
recomenda atualmente?

Immonen – Não leio muitos e nem dos novos. Gosto


de Trondheim e Dupuy & Sebastian... Baru, Masamune
Shirow... autores que não publicam freqüentemente,
ao que parece.

Elebu – Vários trabalhos seus já chegaram ao Brasil,


desde alguns mais antigos, especialmente em seu
período na DC e na Marvel, e mais recentemente sua
outra parceria com Kurt Busiek em Shock Rockets. Há
intenção de publicar seus trabalhos independentes
como Never As Bad As You Think ou Playground?

pensamos que seriam receptivas ao trabalho Immonen – Gostaria sim, mas seria necessário haver
independente. As reações das pessoas têm sido muito uma forma de entrar em contato com editores
positivas e tivemos boas críticas. Espero que no final da especializados em projetos como estes e traduzir.
temporada de convenções a gente possa ter vendido todas Estaremos receptivos às propostas, e Never... foi
as cópias dos vários quadrinhos que temos feito, e então traduzida em edição limitada para o italiano e o
vamos começar novas coisas. espanhol, então há um precedente. Acho que
Playground seria voltar demais em nossa história, mas
Elebu – Qual o seu quadrinho favorito entre os que você nossos trabalhos mais recentes são possibilidades.
fez?
Elebu – A nova fase de Ultimate Spider-Man
Immonen – Tenho dificuldade de escolher. Não existem desenhada por você é o seu próximo trabalho a ser
muitos e em alguns casos, gosto de um aspecto da obra, publicado no Brasil. Há algo que gostaria de dizer aos
mas não tudo nela. Acho que Never... foi um experimento fãs brasileiros?
bem-sucedido, e o quadrinho impresso foi muito bem
aceito. Gosto de uma coisa ou duas dos meus quadrinhos Immonen – Espero que eles abracem a mudança de
do Superman, e gosto de Playground, o primeiro que estilo da arte e saibam que Brian Michael Bendis e eu
Kathryn e eu fizemos em 1988. Nada muito além disto, estamos trabalhando duro para criar as melhores
mesmo. histórias que pudermos.

Superman: Identidade Secreta


Dentre os trabalhos de Stuart Immonen que saíram no Brasil, certamente se
destaca a história em quatro partes Superman: Identidade Secreta,
publicada a princípio como uma minissérie e depois em versão encadernada
pela Panini. O que mais chama a atenção nesta obra é o cuidado que o artista
teve na finalização de seu trabalho, deixando os contornos menos definidos
pelo traço do que pela cor. É a única de Immonen destinada ao grande
público no qual toda a produção artística ficou a cargo dele, e o resultado é
surpreendente. O cuidado na relação entre o traçado e a cor é tamanho que
diversos quadros chegam a lembrar fotografias ao invés de desenhos. O
próprio artista admitiu que tudo isso deu um trabalho imenso, mas o
resultado não poderia ser menos satisfatório. Além da arte de Stuart
Immonen, Superman: Identidade Secreta conta também com argumento do
renomado Kurt Busiek (Marvels), tornando-se assim uma HQ primorosa em
todos os sentidos.

Serviço:

Superman: Identidade Secreta


Editora: DC/ Panini Comics Brasil
Ano de lançamento (encadernado): 2006
Preço: R$ 19,90
quem sabe voar...
Se você pudesse escolher um poder especial, qual seria? Essa
pergunta já foi levantada algumas vezes e entre uma gama de
variedades, o de voar está sempre nas cabeças. Talvez seja o
delírio de Ícaro que sempre esteve presente na humanidade.
Não importa os avanços tecnológicos, o homem nunca se dá
por satisfeito e sempre quer ir mais alto. Talvez seja por isso
que os personagens em quadrinhos que tem o dom de furar as
nuvens figuram na lista dos mais bacanas e queridos. Aqui foi
listado alguns deles.

1 - SUPERMAN

"É um pássaro, é um avião...", não, é um dos personagem mais


emblemáticos que transpassou os quadrinhos para se tornar um ícone
cultural estadunidense. Criado em 1938 pelo americano Jerry Siegel e
o canadense Joe Shuster, o alienígena de Krypton, Kal-El, foi enviado a
terra às vésperas da destruição do seu planeta natal em decorrência ao
sol moribundo. Na Terra recebeu o nome Clark e foi criado numa
fazenda em Smallville no Kansas pelos Kent. O sol amarelo lhe deu
poderes especiais, como super-força, invulnerabilidade, visão de raio-
x, visão laser, sopro gelado e, é claro, vôo. Conheceu o amor de sua
vida, a encrenqueira Lois Lane, como jornalista no Planeta Diário, onde
trabalha nas horas vagas, uma vez que sua verdadeira ocupação é
salvar o mundo. É legal por que: foi assunto de um dos diálogos mais
geniais do filme Kill Bill, de Tarantino. Defeitos: usa cueca por cima da
calça e às vezes é um tanto ingênuo.

2 - MULHER-MARAVILHA

Nem a Supergirl é um equivalente tão bom ao Superman quanto a amazona Mulher-Maravilha. É uma criação de William
Moulton Marston e apareceu para o mundo pela primeira vez em 1941. A princesa Diana saiu direto da mitologia grega,
onde às vezes bate um papo com Athena, para o mundo. Foi a primeira personagem feminina a integrar a Liga da Justiça,
onde pôde aplicar todo seu treinamento entre as amazonas para soltar o braço contra os inimigos. Tem super-força, poder
de regeneração, imunidade contra ilusões e controle da mente, um laço da verdade meio brega, sabe brigar no "mano a
mano" e não hesita em pegar numa arma. É legal por que: teve um seriado maneiro na TV nos anos 70. Defeito: ela não
tem um arquiinimigo decente.

3 - FÊNIX

Stan Lee e Jack Kirby criaram Jean Grey em 1963 para ser a menina da turma de super-heróis e namorada do grande líder.
É um caso onde os criadores subestimaram sua criação. Chris Claremont e John Byrne, ao contrário, acharam que a ruiva
lindinha geniosa poderia ser muito mais e a transformou num dos personagens mais espetaculares dos X-Men. Jean Grey
foi uma das primeiras alunas de Charles Xavier. Chegou lá fraquinha com poderes telepáticos limitados, mas telecinésia
forte o suficiente para que ela conseguir voar. Com o passar dos anos, virou a Fênix que tanto pode salvar o universo ou
destruir sistemas solares dependendo do seu humor. O Wolverine adora! É legal por que: tem um dos uniformes mais
bacanas dos quadrinhos e o "efeito fênix" (a águia de fogo que aparece quando manifesta seu poder) é um barato.
Defeito: ela morre muito.
não tem medo de altura!
4 - MAGNETO

O maior e mais querido vilão da saga dos mutantes. Criado pelas mesmas pessoas e ano que Jean Grey, Erik Lehnsherr é
um judeu sobrevivente ao holocausto que sentiu na pele o preconceito duas vezes. Primeiro por sua religião e depois por
ser mutante. Ficou revoltado e não é surpresa que ele tenha aprontado tanto. Mas Magneto também já foi chamado de
herói e até de anti-herói. E ele também é político: já governou um país e até um asteróide! Tem o poder do magnetismo e
perto dele, ter anemia até que não é tão mal. É legal por que: está na galeria dos vilões mais legais dos quadrinhos, sem
mencionar que é mais interessante que muitos dos mocinhos. Defeito: é sentimentalista demais.

5 - TEMPESTADE

Se a Tempestade fosse brasileira, não haveria mais


polêmica sobre a transposição do São Francisco. A moça
iria lá no sertão e clamaria "vento, obedeça o meu
comando e traga a chuva...". Não é à toa que no Quênia
lamenta-se até hoje a mudança dessa deusa mutante
para Nova York. Não que ela tenha feito mau negócio,
afinal. Apareceu pela primeira vez em 1975 como parte
da segunda geração de X-Men. Uma idéia de Len Wein e
Dave Cockrum. É legal por que: tem um passado
fenomenal da África como ladra e depois como deusa.
Defeito: até agora só funcionou bem nos quadrinhos.

6 - TOCHA HUMANA

Johnny Storm é quente! Mas isso é ser redundante. É o


grande "pegador" dos quadrinhos apesar de ter a
maturidade de um pré-adolescente. Coitada da irmã
dele, a Mulher Invisível, que tem que livrar a cara do
irmão sempre que apronta. Ainda assim o Tocha
Humana é um dos super-heróis mais simpáticos dos
quadrinhos, que zoneia as aventuras do Quarteto
Fantástico. É legal por que: não tem medo de
atormentar o Coisa. Defeito: às vezes ele cansa a
gente!

7 - CAÇADOR DE MARTE

Seu nome é J'onn J'onzz e ele pode ter a aparência que quiser. Dos personagens da Liga da Justiça, é aquele que consegue
ser tão intrigante quanto o Batman. Olha que isso é uma bela referência. É também um personagem antigo, apareceu em
1955 extraído das mentes de Joseph Samachson e Joe Certa. Tem cara de mau e é sério até demais, mas quem se
importa? É legal por que: é de Marte e é verde. Defeito: não tem antenas.

8 - WILLOW ROSENBERG

É uma heroína que nasceu na televisão e foi com sucesso para os quadrinhos. Não tem codinome, mas não se importa em
ser chamada de "Red" ou "Wills". Criação do Joss Whedon em 1996, Willow é a mais poderosa da gangue que tem a
caçadora Buffy Summers como líder. De todos os seus poderes - e olha que ela é racker, telecinética, tem telepatia
limitada, além de saber uns truques mágicos - o que mais gosta é o de voar. Ela nem se importa em carregar seus amigos,
apesar de ter de suportar os gritos implorando por suas vidas durante a viajem inteira. É legal por que: morou no Brasil.
Defeito: quando fica má, vira emo.

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