Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
março de 2008
Secos &
Molhados
Stuart Immonen + Érika Martins + Andross Editora
Uma vez uma pessoa me perguntou como conseguia levar tantos nomes interessantes
para as páginas do Elebu, sendo ele “apenas” um fanzine. Respondi que tudo era uma questão
de ego: o do entrevistado e o nosso. Tem gente que só fala com os grandes porque o ego dele é
assim ou talvez a assessoria oriente e determine dessa forma. E têm aqueles que estão acima
dessas questões e prestigia quando acham o veículo interessante, independente do alcance que
ele tenha. O ego nosso diz respeito à confiança no próprio trabalho. Acho que o Elebu é bom o
suficiente para ter em suas páginas tanto a banda de garagem do vizinho quanto a Marisa
Monte. O tesão de tentar realizar uma boa matéria é o mesmo com o grande e com o pequeno.
Conseguir trazer essas pessoas para as páginas é o não ter medo de levar uma resposta
negativa ou de ser ignorado. Oras, essas coisas acontecem e podem vir de qualquer um. O
segredo é apenas esse: não ter receio de tentar e nem de errar.
Também não existe uma lista de nomes a serem trabalhados aqui. As pautas surgem das
mais diversas formas. É comum, inclusive, eu lançar uma edição e não ter a menor idéia do que
vou falar na próxima. De repente o universo conspira e faz dessa “próxima” algo especial.
Eu considero esta edição 31 um marco para o Elebu. A história dela começou em
dezembro. Enviei mensagens para os leitores que recebem o zine diretamente no e-mail e
perguntei qual foi a matéria e a capa mais legal de 2007. Um deles, o Luis Fernando Xavier, fez
seu comentário e no meio da mensagem disse que se o zine fizesse algo com os Secos &
Molhados, ele nos amaria para sempre. Achei graça do jeito descontraído, mas aquilo ficou na
cabeça. Puxa, seria mesmo um barato apesar de, naquela época, achar que era um delírio.
A edição de fevereiro (a primeira deste ano) foi lançada uma semana antes de janeiro
terminar. Queria apressar logo a de março porque carnaval é dia perdido. Pois não é que só
consegui trabalhar no zine após a quarta-feira de cinzas? De concreto, tinha duas semanas para
a produção e algumas idéias em curso. Os colaboradores começavam a apontar o que queriam
nessa época. Se tivesse ficado só naquele planejamento, já renderia uma bela edição com Érika
Martins, Et Circenses, Andross Editora e etc.
Mas o ego sentiu que podia tentar o delírio. Daí voltou à cabeça o que o Luis escreveu.
Secos & Molhados ecoou igual àquela propaganda “compre Batom”. Por que não tentar o João
Ricardo? Entrei em contato e ele topou a entrevista, que ficou ótima. A partir dali, as coisas
tomaram uma outra dimensão. Por que não falar com o Gerson Conrad e o Ney Matogrosso para
produzir o especial que faria o Luis nos amar para sempre? O Gerson também nos atendeu e
prestou um grande depoimento, assim como o Willy Verdaguer, apesar de o dele não ter sido
uma entrevista. O Fernando Rosa, mais uma vez, foi de uma grande gentileza e deixou sua
visão. A assessoria do Ney não retornou para dizer nem que sim, nem que não. Tudo bem! A
nossa alegria já estava completa. A matéria de capa está aí fruto do não ter medo de ir atrás do
delírio, e da integração fundamental entre veículo e leitor.
Qual a matéria que faria você nos amar para sempre?
editorial & expediente
ELEFANTE BU N° 31
EDIÇÃO, DIAGRAMAÇÃO, PRODUÇÃO E Fernando Rosa, Luiz Carlos “Barata” Cichetto, Tânia,
TEXTOS NÃO ASSINADOS: Annete Conrradi, Érika Martins, Pablo Huascar,
Felipe Gurgel, Rita Maria Félix, Helena Gomes,
Djenane Arraes Cláudio Brites, Edson Rossatto, Stuart Immonen.
CAPA: CONTATO:
Georgiana Calimeris, Leonardo de Moura, All I Want Is You, Barry Louis Polisar (a trilha de
Washington Ribeiro, Dewis Caldas, Rúbia Cunha e Juno parece um vício); Canciones de Amor, Julieta
Marcelo Leite. Venegas (essa é uma das melhores canções pop
dos últimos anos); Ballad of Bilbo Baggins, Leonard
AGRADECIMENTOS: Nimoy (é o sr. Spock cantando música sobre o tio do
Frodo, hahahahahaha); Noite no Baile, Et
João Ricardo, Gérson Conrad, Willy Verdaguer, Circensis; Fala, Secos & Molhados.
Capa/ Ziniando:
Érika Martins
Et Circensis
Conexão Hellcity:
Dona Izaldina
Meu Jardim
Narciso Brasileiro
A Educação Foi Pro Brejo
Andross Editora
Mundo Geek:
Stuart Immonen
Heróis Voadores
Ilustração: Stuart Immonen
sumário
S&M
do lado de fora...
Fernando Rosa
Olha, Secos & Molhados foi a primeira banda, grupo de rock, de massas que vi na vida.
Aquele tipo de coisa, só tinha visto na televisão. O nosso mundo já era "independente", ou
seja de bandas menores, como ... Os Mutantes, por exemplo. Mesmo Roberto Carlos não
tinha aquele apelo que beirava a histeria. De repente, surgem aqueles malucos, pintados
feito uns índios, performáticos. A única vez que os vi ao vivo foi essa a sensação. Foram
uma espécie de Beatles versão tropical... Mas durou pouco, apesar do belo primeiro disco.
Na verdade, eles não eram uma banda, no sentido clássico. Era o Ney na frente de tudo, e
uma cozinha de "convidados" geniais, com destaque Zé Rodrix (teclados), John Flavin
(genial guitarrista, que depois tocou na Patrulha do Espaço, com Arnaldo Baptista) e Willy
Verdaguer (no baixo, ex-Beat Boys, banda de garagem mezzo-argentina-mezzo-brasileira,
que acompanhou Caetano Veloso em Alegria Alegria)... Sim, João Ricardo, especialmente,
teve a sua importância como compositor, mas menor em relação ao conjunto da obra.
Uma banda histórica e um disco clássico.
dia "D", as coisas atrasaram e ele chegou para o show ainda com a
maquiagem pesada do personagem que fazia. Luli gostou do visual e
acrescentou purpurina. João e Gerson resolveram entrar na brincadeira
e pintaram o rosto. Deu no que deu. A platéia ficou assombrada, mas
adorou e, a partir do acaso, a Secos & Molhados tornou-se a maior
1973
manifestação da estética glitter do Brasil.
Faltava a pose andrógena que também era característica.
Isso daí era personificada de forma natural em Ney
Matogrosso, que usava a sua sexualidade dúbia de forma
inteligente. Chocava os adultos, mas fez sucesso com a
1974
criançada que se amarrava nas caras pintadas, nas roupas
extravagantes, nas dancinhas e também no humor de
versos como "vira, vira homem/ vira, vira lobisomem".
Assim como os conservadores, os militares não
gostaram (o que não era surpresa). Não havia um só
resquício de subversão e afrontamento direto ao
Fácil é falar do imperfeito. Detonar os defeitos, governo daquela época no primeiro disco da Secos &
desdenhar... como é simples! Então digo que fazer Molhados. Foram os fardados que bateram de frente
comentários do disco de 1974 dos Secos & Molhados é com o trio. Procuraram mensagens escondidas nas
manha porque não tem a mesma força de seu músicas e censuraram. Vai ver que "nos fios tensos
antecessor. Não chega nem aos pés. Já começa
da pauta de madeira/ as andorinhas gritam por
repetindo o tema da latinidade na mesmíssima primeira
falta de uma clave de sol" era um código sinistro
faixa. Por mais que Sangue Latino e Tecer Mundo sejam
que provocaria a revolução da esquerda no Brasil
músicas distintas com ritmos diferentes, o detalhe não
e derrubaria os militares. Em Brasília, invocaram
passa desapercebido, além do fato que segunda ser
mesmo ruim. Por outro lado, se for pensar bem, o disco de com o peito nu e o rebolado do Ney. Apagaram as
1974 é bem decente quando comparado a muitos dos luzes, mas foi temporário porque a força da
lançados na mesma época, isso estabelecendo uma relação banda era maior. Para se apresentar fora do
apenas com os grandes nomes. Flores Astrais, a mais forte, país, precisaram até ser interrogados. Detalhes
traz uma linha de baixo, bateria e piano lindíssima. Se aqui e acolá de censura foram enchendo e, aí
escutasse o verso "um verme passeia na lua cheia" de outra sim, provocaram uma resposta direta. Ela veio
maneira, chamaria de lixo. Aliás, já chamei quando o RPM nos shows e no segundo disco, ainda que
regravou (e na época eu nem sabia quem era Secos & sussurrada. "Diga que eu não sei de nada, nem
Molhados). Há outras muito bonitas ali também de letra e, posso saber", é o que cantaram em Toada &
principalmente, de melodia. Destaques que vão para Rock & Mambo & Etc.
Delírio..., Oh! Mulher Infiel e Não: Não Digas Nada. O resto Burrice dos militares em querer implicar
fica no "bacana" e no "ok". Agora phoda é encontrar com a banda sem mensagens partidárias. Ainda
palavras para descrever o que é quase perfeito e o disco de por se tratar de um raro grupo dos anos 70 que
1973 está nesse patamar. Parece até coletânea das trabalhava de cara limpa. Os músicos até
melhores músicas, daquelas que você não consigue poderiam experimentar seus ácidos e baratos
apontar como sendo mais ou menos. Tudo é ótimo, até afins em casa ou nas festas, mas nunca na hora
aquelas pequenas que parecem mais vinhetas. O disco de
dos shows. Inclua na lista "porque não deveriam
1973 é o que tem Rosa de Hiroshima e, sobretudo, Fala,
mexer comigo", a popularidade. Um milhão de
aquela que arrisco dizer ser a música mais extraordinária
pessoas levaram Ney, João e Gerson para casa em
da banda. Arranjo lindo do Zé Rodrix, Ney sendo mais
melodioso que nunca, e uma letra que na sua
forma de LP. Pelo menos esse é o número
simplicidade traz uma mensagem poderosa. Dá para especulado entre os integrantes. Um recorde
ficar com lágrimas nos olhos. estrondoso na época, e para os padrões atuais. O
disco das famosas quatro cabeças foi gravado em
apenas 15 dias e lançado pela Continental. A quarta
cabeça é do baterista Marcelo Frias. Reza a lenda,
uma das muitas que envolve a Secos & Molhados,
que todos os músicos acompanhantes foram
convidados a integrarem oficialmente a banda. Era
gente do calibre de Willy Verdaguer (baixo) e John
Flavin (guitarra e violão). O Zé Rodrix também
gravou. Mas só o Marcelo topou ser oficializado. O
negócio é que depois da foto da capa e do projeto
gráfico pronto, ele mudou de idéia. Não
quiseram fazer outro.
O milhão que comprou o disco ficou até
do lado de dentro...
Willy Verdaguer
Posso começar dizendo que, ter participado dessa alucinante e
meteórica avalanche chamada Secos & Molhados, me enche
de orgulho e de recordações maravilhosas...
pálido diante da massa que viu a
Todo músico de rock and roll, sonha com estádios lotados,
banda na televisão e a ouviu nas
aparelhagem poderosa e público enlouquecido. Era o que
rádios. Só de megahits foram três: O Vira, acontecia quando a gente se apresentava.
Rosa de Hiroshima e Sangue Latino. Músicas que A adrenalina já começava na saída do hotel...na hora de
se tornaram eternas, parte do inconsciente ir ao local do show...e no percurso de automóvel com
coletivo brasileiro. Os três apareceram no batedores da polícia na frente...e a chegada...e o
Fantástico e na Discoteca do Chacrinha. Virou público...e corredores de guardas até os camarins...e
histeria generalizada após uma apresentação no os camarins...e os três se maquiando...os rostos se
Maracanãzinho para 25 mil pessoas no dia 23 de transformando de simples mortais em eternos
fevereiro de 1974. Outra lenda diz que esse show andróides...e os treinos vocais...os nossos dedilhados
foi agendado e organizado poucos dias antes, no baixo e na guitarra para aquecimento...o baterista
questão de uma semana. Eles, inclusive, tamborilhando nas paredes com suas baquetas...e as
eternizaram o momento em forma de disco. brincadeiras...e as risadas...euforia talvez só
Secos & Molhados virou matéria na Billboard, comparável à entrada de um time numa final de
vendeu 250 mil LPs no México. Foi na terra da campeonato...
Frida que surgiu a lenda do Kiss, aquela dos Depois, a nossa entrada (o quinteto de músicos) no
empresários estadunidenses que apareceram palco para posicionamento sob palmas e gritos...e a
por lá, mas estavam interessados em um poderosa introdução musical...e o público pegando
negócio mais pesado. Meses depois apareceu o fogo...e a entrada dos três provocando uma ovação e
um delírio em massa...realmente inesquecível!
Kiss com cara pintada e o tal lance do heavy
...e duas horas de som e canções inigualáveis (no meu
metal.
entender!)...e o fim do show...o suor feliz...nossos
A verdade é que a turnê no México seria
próprios comentários sobre tudo que aconteceu
a primeira etapa de longa, programada para durante...”e aquela hora...?”
durar nove meses, onde Ney, Gerson e João “...você viu aquilo...?” “...que legal!”...e blá blá blá...
fariam a América, a Europa e o Japão. Não ...e um monte de gente querendo entrar nos camarins...e
aconteceu por problemas nos bastidores. Do a prioridade para artistas consagrados que estavam nos
México, foram para São Paulo fazer show em bastidores para conversar com a gente...
Osasco. O segundo disco seria gravado pouco A saída nos carros...os batedores...o restaurante...a volta
depois desses eventos. Outra lenda diz que o ao hotel...o quarto...
combinado era produzi-lo ao longo da turnê
internacional, só que isso não aconteceu, Acho que a vida dos Secos, apesar de curta, foi tão intensa,
então João mostrou um disco pronto com que me faz agora ficar divagando nas situações.
músicas suas, exceto Delírio, que é do Parece que foram “aventuras incríveis num mundo de
Gerson. O fim chegou no dia 4 de agosto de fantasias”, feito um 'Peter Pan' ou 'Gulliver'...
1974, quando Ney e Gerson anunciaram
que deixariam o grupo às vésperas do E você. Djenane, me desculpa se por descuido saí do foco.
lançamento televisivo do segundo disco.
Flores Astrais foi o último hit de uma Quanto ao lado da produção, a colocação dos músicos da
banda que, em menos de um ano, banda, embora muito divertida, foi também muito criteriosa e
responsável e criativa. Cada um deles, com um domínio pleno
revolucionou tudo. Elevaram a um outro
de seus instrumentos e com uma postura musical firme e
patamar o conceito de popularidade, de
ousada.
vendas, de shows, de personalidade.
As canções, na maioria de João em parceria com grandes
Cada um seguiu a sua vida. Ney poetas, já vinham até nós com os vocais dos três bem
Matogrosso é o que tem carreira solo ensaiados...cabia a nós agora fazer os arranjos para a banda.
mais sólida e bem-sucedida. João Nessa parte, tive grande influencia ao orientar os músicos e ao
Ricardo ainda faz discos e Gerson apontar o caminho musical do grupo. Considero quatro pontos
Conrad toca quando quer. fundamentais para o Secos & Molhados ter alcançado tamanho
Não importa o quanto foram sucesso: as canções, a voz do Ney, os arranjos, o desempenho
breves, a Secos & Molhados deixou um dos músicos.
legado enorme para a música brasileira.
Uma música que continua moderna e Tenho recebido incontáveis mensagens de fãs do grupo, depois
atual. É coisa que não vai envelhecer de tantos anos, confirmando minhas palavras.
nunca.
Gerson Conrad é o
responsável por musicar
Rosa de Hiroshima, o belo
poema de Vinícius de
Morais. Do trio, era o que
tinha fama de ser o mais
“pé-no-chão”. Hoje é um
músico veterano, bem
resolvido, que não omite
opinião.
evolução contínua
O resultado sai em forma de CD ainda neste Enquanto ele não está no mercado, é possível
semestre pela Toca Discos e distribuído pela conferir algumas mostras dessa nova fase no myspace da
Warner Music. Taí uma forma de trabalhar que cantora. São músicas como a própria Sacarina que ainda
Érika julga ser muito esperta, uma vez que carrega reflexos da Penélope na interpretação e no rock
aproveita a distribuição e marketing de uma colorido de versos do tipo "margarina só se preocupa
grande gravadora com a visão mais artística do quando aquece". Diferente de outras como Ainda Queima a
selo. Mas ele levou um tempo comprido para ser Esperança, de Raul Seixas e Mauro Motta, conhecida na voz
feito. Há notícias a respeito desde 2006 e há de Diana, que fez parte da coletânea de sucessos bregas
canções que já caíram na boca do povo. Sacarina, dos anos 70 Eu Não Sou Cachorro, Mesmo. Ali Érika dá
por exemplo, é hit desde antes Érika se apresentar mostras evidentes de sua evolução como cantora. E ainda
no Festival Porão do Rock. Lento, a música de tem a balada Vou Te Esperar, feita para agradar gregos e
trabalho, foi gravada há um bom tempo e recebeu troianos. Lento não está lá no myspace, mas é importante
uma remixagem em dezembro do ano passado. A falar dela. É uma versão do lindo clássico da Julieta
produção leva a assinatura de Carlos Eduardo Venegas, onde Érika divide os vocais com a própria. Quem
Miranda, Tomás Magno e a ex-parceira de deu a idéia para ela fazer uma versão em português foi o
Penélope, Constança Scofield. Um trabalho em saudoso Tom Capone. As duas cantoras foram
grupo que, para Érika, foi muito proveitoso. "O apresentadas e aproveitaram a oportunidade para gravar
Miranda tem mais uma visão geral, a Constança é juntas durante uma passagem de Julieta no Rio de Janeiro.
minimalista e destrinchou música por música, e o Parece que, sem querer, a música personificou bem o
Tomás coloca a mão na massa - é o responsável processo do disco e da evolução de Érika. "Ser dedicado e
por todos os timbres maravilhosos do disco". esperar/ quero tempo para te dar tudo o que tenho".
festa no salão
Por alguma razão estranha, tem gente que
acha que este é um zine de Fortaleza. É bem
sucederam até chegar na última faixa, Teus Sinais.
Duas coisas chamam atenção para a Et
verdade que tenho amigos, informantes e afins de lá Circensis. A primeira, lógico, é a sonoridade. É um
e, de um jeito ou de outro, sempre aparece algo da rock com o selo autêntico do alternativo. Nada perto
capital cearense no Elebu. A questão é que por das tentativas fracassadas de vanguarda que
essas, comecei a receber mensagens a respeito de continuam ruins de escutar mesmo após décadas. O
festas que nunca irei, de shows que só vou ver se alternativo aqui diz respeito a uma música que não
filmarem e mandarem o DVD para Brasília ou foi feita para rádio comercial mesmo, ainda assim,
colocarem os vídeos no youtube. Me mandam até muito boa de se ouvir, com soluções e arranjos
mensagens de associação de moradores (risos). O criativos. Noite no Baile, a minha preferida, é uma
pior é que 98% desse montante de informações nem história triste de amor carnavalesco muito
pode ser aproveitado para quem sabe talvez um dia interessante, onde a tensão progride de acordo com
noticiar no zine. De qualquer forma, acabo as lendo o ritmo. Começa com valsinha, tem seu momento
para saber qual é o programa do fim de semana... de carnaval no refrão (ou quase) e ainda tem direito a
lá. Entre festas, micro-festivais e shows regulares, solo de piano e guitarra para dar um drama. E com
havia um nome freqüente: Et Circensis. Despertou a essa mesmíssima música é possível introduzir a
minha curiosidade e fui procurar saber qual era a do segunda boa coisa que chama atenção para a banda:
pessoal. Achei a banda no Trama Virtual. Tinha a letra. Pablo Huascar (baixo), Gustavo Portela (voz
recém disponibilizado o primeiro disco, e guitarra) e Fabrício Vital (guitarra) são os
Homônimo. Ouvi música que estava no topo da compositores mais freqüentes, e pode se dizer com
lista, A Outra, e achei interessante. Fui para a toda convicção que a moçada é competente no
próxima, Ana, e também aprovei. E as coisas se ofício. "Aquela linda dama que dançou ao meu redor/
sua mão ela me deu, roubei um beijo e foi só/ pois ela essa relação quando compram ou ganham um CD. A
fugiu com um galante capitão/ com tapa-olho de relação com as canções pode se dar por qualquer mídia
pirata e com um gancho na mão". Antes que se perca e ser bastante visceral: ouvindo um mp3 player,
o ritmo, Et Circensis tem mais dois integrantes. É o escutando música no som do carro, fazendo streaming
Eduardo Pontes, na bateria, e o Juliano Estevam, nos num site da internet. Mas a relação com o artista ainda
teclados. passa por um contato mais próximo que pode, por
O disco Homônimo é de muita qualidade exemplo, se tornar mais palpável a partir de um CD".
(mesmo), todo ele, porque as boas características se O show de lançamento aconteceu em janeiro
repetem ao longo das faixas. Não da mesma forma, deste ano, num evento de casa cheia no anfiteatro do
Centro Dragão do Mar, em Fortaleza. Teve ainda a
claro. Além disso, a voz de Gustavo Portela é muito
participação de Nina Becker (Orquestra Imperial)
agradável. A produção ficou na responsabilidade de
dividindo os vocais na música Nós Dois
Fernando Catatau e Régis Damasceno, ambos da
(Namoradinha). “Conheci a Nina quando a vi cantando
Cidadão Instigado. Foi lançado pelo Pisces Records num show no Studio SP em São Paulo. Foi o Regis
(www.piscesrecords.com.br), onde está disponível Damasceno quem apresentou. De imediato, fiquei
para download. A política do selo veio de encontro fascinado com a voz e a presença de palco da Nina. O
com a iniciativa do quinteto, que havia tempo passou e guardei essa lembrança. Nos dias que
disponibilizado as músicas na Trama Virtual e em antecederam o show de lançamento, o Regis comentou
outros locais. "Hoje é impossível ficar alheio a quase que ela vinha passar alguns dias de férias em
infinita possibilidade de divulgação que a internet Fortaleza. De imediato me veio a idéia de convidá-la
propicia. O interesse é que o máximo de pessoas, nos pra participar do show. Pedi ao Regis que
mais diversos lugares, conheça o trabalho", disse intermediasse o convite e ele o fez. Pra nossa felicidade
Pablo. Mas a banda também o tem Homônimo em CD ela aceitou. Em Fortaleza, a Nina se mostrou muito
numa tiragem de apenas mil cópias. "Não acho que o amável e sempre bastante solícita. A participação foi
CD em si seja um artigo do passado. As várias formas muito bonita e trouxe um brilho enorme para aquele
de se relacionar com as músicas ainda vão conviver, ao momento. Agora estamos tentando viabilizar um show
menos por algum período. Nesse sentido, a tiragem que dela aqui em Fortaleza. Estamos trabalhando e
fizemos é bem pequena, mas tem sua função. Ainda torcendo para dar certo", finalizou Pablo.
acredito que as pessoas que tem um contato mais Parece que as coisas vão caminhando bem para
próximo com a banda, seja vendo um show ou a Et Circensis. Nada mais justo. Taí uma banda com um
conhecendo algum dos integrantes, pessoalizam mais bom trabalho que merece destaque.
Acho que não tenho propriedade pra falar do outras pessoas, como o Junior Boca e o pessoal do Soul
nordeste como um todo, mas posso dizer algo sobre o Zé, que também foram e estão tentado tocar os seus
Ceará. De início, tenho que dizer que o Ceará tem muito trabalhos, mas a vida de ninguém é fácil. É sempre uma
mais do que o forró. E mesmo muito mais forró do que o batalha para conseguir espaço.
que costuma se exportar. O forró de exportação é o que Sobre o nordeste ser como sul do país nos anos
se consolidou em uma industrial cultural fortíssima. 90, eu não saberia te responder. Porém acho que esse
Indústria que gera muito dinheiro, mas que, como em tipo de comparação acaba não permitindo enxergar as
todo processo industrial, não divide os espólios de forma singularidades de cada momento. Talvez o mais
justa e igualitária. Há donos de banda (sim, proprietários importante, para além de fazer comparações, seja tentar
mesmo) que ganham muito, proprietários de casas de aprender que devires, que linhas de fuga, e,
show que também lucram bastante, cantores, cantoras e principalmente, que perigos passaram por momentos
alguns instrumentistas que recebem um bom salário, como esse. Isso, pra mim, ganha uma funcionalidade
pois são aqueles com quem o público estabelece uma prática, pois serve para pensar o hoje. O que estamos
relação direta, e uma grande massa de músicos, técnicos fazendo hoje? Como estamos fazendo? Que perigos
e operários em geral que são explorados da mesma corremos? Que vitórias podemos conseguir? No Ceará,
forma que em toda relação trabalhista vinculada a uma por exemplo, não há nenhum movimento cultural, ao
produção de mercado. menos não que eu saiba, que aglutine de algum modo as
Como em toda indústria cultural há uma enorme pessoas como foi o Manguebeat em Pernambuco. Cada
pasteurização das músicas e um eterna corrida atrás das um está tentando fazer as suas coisas, mas ainda de
tendências que estão com melhores vendas e resposta forma individual. O que não significa que as pessoas por
de público. Mas, anterior a isso tudo, existe um forró que aqui não se encontrem, troquem idéias e tentem se
se mostra como uma expressão mais genuína da cultura ajudar na medida do possível.
local e que não chega nem perto do nível de exposição Uma movimentação bacana que continua rolando
que o forró de exportação tem. O Waldonys, um é o Soma (Coletivo da Música Independente de
sanfoneiro muito conhecido por aqui e pelo Brasil a fora, Fortaleza). Um movimento que surgiu como contraponto
é um artista que acho muito bacana nesse sentido. Um ao fechamento de vários espaços alternativos de
cara que sinto que mantém a sinceridade no que faz. Fortaleza e que acabou fazendo um festival muito bonito.
Retomando: o Ceará tem muito mais do que o Bonito não só pela organização e atrações, mas pelo
forró. Há música muito boa sendo produzida aqui, mas modo como foi construído. Foi concebido e efetivado
que não consegue grande destaque por estar fora do eixo coletivamente e isso foi uma grande novidade por aqui.
Rio – São Paulo. Tanto é que, quem se aventura a ir pro Talvez esse seja o grande benefício que podemos tirar
Sudeste, consegue uma repercussão bacana. Alguns dessa movimentação de cearenses pelo mundo afora:
exemplos recentes são o Montage e o Quarto das Cinzas. fazer bons amigos e tentar ser solidário. Acabar com
O Fernando Catatau foi um pioneiro nessa migração e uma visão parasitária de tentar tirar proveito dos outros,
conseguiu construir uma carreira. Hoje ele tem um auferir o máximo de lucros, e tentar conquistar
grande respeito da crítica, além de gravar e fazer confiança e ajuda mútua. Mais um pensamento idealista
parcerias com um monte de artistas legais (Nação e até arriscado no meio dessas respostas, mas talvez
Zumbi, Vanessa da Mata, Otto, Los Hermanos). Tem seja por aí que estamos tentando caminhar.
Pablo Huascar é baixista da Et Circensis e
um dos principais compositores da banda.
Além disso, é aquele que responde as
entrevistas para a imprensa. Uma ótima
escolha do quinteto pela clareza de idéias
e boas explanações do músico.
grito! Dewis Caldas
Fotos: Renato Reis
Dona Izaldina colecionava notícias de jornais. Tinha milhares delas, baixadas da Rede.
Era seu passatempo.
Nas partidas de pôquer dos sábados, gostava de comentar com as amigas aquelas
notícias que mais lhe chamaram a atenção durante a semana. Ontem saiu com esta:
o guia
- Lá em Dubai, Índia, o X74, o mais inteligente e sensível robô deste século XXII,
destruiu-se atirando na própria cabeça. Dá para acreditar? É o primeiro caso
documentado de suicídio de um robô. Ah, e escutem só isso: não faz nem três meses que
o criador dele recusou-se a reconhecê-lo judicialmente como filho. Rsrsrsrs... Um robô.
Isso lá tem cabimento? Tem horas que a vida fica realmente engraçada...
o meu jardim
Leonardo de Moura
Numa tarde de domingo, sentei em meu jardim para pensar sobre a vida.
Mas era difícil fazer isso, porque tinha muita gente ao redor!
Fazendo barulho!
Correndo e gritando!
Ocupadas com outras coisas que não o meu jardim, ou os pensamentos que
lá eu cultivava...
Pronto!
E depois, aqueles que também cultivam seus próprios jardins e sabem olhar
ao redor para ver que há outros por perto, viriam me visitar e admirar o que
eu havia plantado. E eu poderia também, em paz e com tranqüilidade,
admirar os jardins deles.
René Magitte
A natureza humana é realmente estranha, aconteceu, afinal, um ser adulto é quase um deus quando
embora, eu a ache fascinante, diga-se de passagem. se tem uns oito anos. Nem sempre estaremos lá para
Existem coisas que me assustam nesse comportamento proteger nossas crias para que se tornem adultos
cotidiano e rotineiro. Antigamente, empurra-empurra conscientes. Imagino aqui com meus botões que os pais
de recreio era resolvido na coordenação da escola, havia que protegem as crias problemáticas não conseguem ver
algum tipo de punição e tudo se acertava com os que estão criando seres humanos que têm pouco valor à
empurradores devidamente castigados com suas vida humana alheia. Jovens que atacarão outros jovens
"orelhas puxadas" pelos pais. Assim, a vida seguia. Todo numa sessão de barbárie chocante. Ah! Sim, eu ainda me
mundo já parou na coordenação na escola ou, talvez, choco ao ouvir que um jovem foi espancado
não. Enfim, melhor parar de divagar. covardemente por um grupo. Ou melhor, jovens que
Agora, o empurra-empurra que rapidamente se queimam ou espancam pessoas em paradas de ônibus.
resolvia virou um pesadelo para os pais dos que foram Percebo que os pais ou responsável têm se
vítimas, pois, os dos que provocam entram na escola no ausentado de ensinar seus filhos e culpam os transtornos
melhor estilo “VOCÊ SABE QUEM EU SOU?”, e tira a que as crianças possam ter como a hiperatividade para
criança (a que revidou) da sala de aula ou a pega justificar o comportamento bizarro do filho. É difícil lidar
desprevenida nas quadras esportivas para ameaçá-la. A com crianças que inquietas devido a problemas
que ponto chegamos!? Um adulto ameaça uma criança hormonais cerebrais e é justamente aí que os pais devem
de seus sete ou oito anos e a deixa muda ou catatônica, ter o dobro de cuidado e atenção e não ameaçar as
no mínimo. Talvez, o problema real não seja a criança, crianças vítimas dos agressores. Antigamente, era errado
mas os pais que na tentativa de proteger seus filhos agredir e parece que o certo é sair metendo a mão, dando
problemáticos, ameaçam pequenos seres em formação porrada! Talvez, a humanidade nunca devesse ter
que podem levar aquele ato de coação como um fato passado do homem de neanderthal. É uma situação pra lá
traumático pelo resto da vida, além de experimentar de desagradável saber de coisas assim que acontecem
uma sensação de medo desnecessária. com os colegas dos nossos filhos e a gente nem parece se
É, eu sei, todos nós já aprontamos, já nos chocar.
metemos em brigas e já quisemos que nossos pais Acho que uma das coisas mais sérias é quando
tomassem alguma providência. Só que tomar uma isso acontece em uma escola elitizada, em que
providência baseado num diálogo de ameaça nos acreditamos que seja um complemento à educação que
mostra um reflexo cruel de nossa sociedade, um reflexo damos em casa. Ainda estou chocada com as notícias
de que estamos deixando nossos filhos a terra de recentes, imaginando o que pode ser feito para evitar
ninguém. Eu me pergunto como ensinar valores éticos a outros constrangimentos do estilo. Talvez, proibir os pais
uma criança se a escola deixa esse tipo de situação de entrar no perímetro da escola... ainda não sei, mas,
acontecer? ainda me pergunto: como educar com ética quando
É lógico que a criança coagida acaba respeito, educação e pacifismo parecem estar tão
demonstrando aos seus pais que algo de errado errado?
em busca de
Rúbia Cunha
novos talentos
Concursos literários surgem aos montes, condições de publicar seus primeiros textos. O projeto
dando às pessoas prêmios em dinheiro, livros cresceu e conseguiu se manter graças a um modelo de
contendo a publicação, ou apenas o reconhecimento negócio diferenciado, que é a publicação de antologias.
do autor novato. Crônicas, contos e poesias são Hoje a Andross comemora três anos com 25 títulos
estilos encontrados em tais concursos. Essa é a parte publicados e começa a planejar a expansão do seu
fácil. Complicado é quando se resolve publicar um catálogo, alcançando uma diversificação não só de
livro, e as dificuldades tendem a aumentar escritores, mas também do próprio produto. O possível
dependendo do gênero que se escolhe. A temática lançamento ainda neste ano da graphic novel, que já se
medieval, por exemplo, encontra muitos entraves encontra em produção pelo novo selo, Andross Comics. Nos
para conseguir chegar ao mercado. “Tanto novatos, próximos meses também deve chegar ao mercado mais
quanto veteranos sofrem com o pouco espaço dado seis antologias, nas áreas de contos, crônicas, poemas e
ao gênero pelas editoras, com a quase inexistente micro-contos.
atenção dada pela grande mídia ao assunto e até com Anno Domini - Manuscritos Medievais é a mais nova
o descaso de livreiros que, em geral, jogam os livros antologia organizada por Helena e Cláudio. Ela reúne tanto
nacionais do gênero na última estante lá no fundo da contos ambientados na realidade histórica quanto aqueles
livraria”, disse a escritora Helena Gomes. “Apesar de passados em universos mágicos inventados pelos próprios
tudo, vejo o momento atual com esperança. Há autores, tendo a participação especial de Raphael Draccon
autores que estão conseguindo publicar livros de (Dragões de Éter, da editora Planeta), e a capa ilustrada por
fantasia e até por uma ou outra editora grande”, Octavio Cariello (The Queen of the Damned, de Anne Rice),
complementou a escritora que possui obras conceituado desenhista de inúmeras HQs de editoras
publicadas na Rocco, Devir e Idea. americanas, como a DC e Marvel.
Foi pensando em facilitar um pouco a vida “É uma honra. Tenho sorte. No Livro Negro dos
para novos escritores de gêneros que não costumam Vampiros estive ao lado de um grande entendedor do
ter lugar nas grandes editoras que nasceu a Andross assunto, Kizzy Ysatis (Clube dos Imortais, editora Novo
Editora, organizada por Helena Gomes, além de Século), e agora no Anno Domini a parceira é um dos
Edson Rossatto, Cláudio Brites, César Mancini e grandes nomes da literatura fantástica. É uma honra e uma
Carlos Francisco. Tudo começou no campus da grande oportunidade de aprender muito! A Helena é um
Universidade Cruzeiro do Sul (SP), com o objetivo de amor e está num gás contagiante. Todos só temos a ganhar
abrir espaço no mercado aos alunos que não tinham com ela nesse projeto”, comentou Cláudio Brites.
Escrever é Reescrever
Serviço:
immonen
Leonardo de Moura
Colaboração: Djenane Arraes
Ilustrações: Stuart Immonen
Quem é fã de quadrinhos há algum se ter uma idéia da repercussão de seu talento, basta
tempo certamente já teve em mãos alguma dizer que nestes quinze anos já passaram por suas mãos
história ilustrada por Stuart Immonen, ícones como Superman, Legião dos Super-heróis,
mesmo que não saiba disso. Com um vasto Quarteto Fantástico, Hulk, Thor e X-Men. Vários destes
material publicado, a primeira coisa que trabalhos já foram publicados por aqui, além de outros
salta aos olhos na arte deste canadense é a como A noite final (1997), Homem-Aranha e Gen 13
mundo geek
suavidade de seus traços, e mesmo quem é (1998), Superman: Identidade Secreta (2005) e
familiarizado com seu estilo nunca deixa de Shockrockets (2006).
se surpreender com a beleza de seus Entre os quadrinhos independentes lançados por
desenhos a cada nova publicação que leve ele, destacam-se a série de histórias curtas 50 Reasons
sua assinatura. To Stop Sketching At Conventions, onde ele gentilmente
Sua primeira obra publicada, detalha os motivos pelos quais não faz esboços para fãs
intitulada Playground, foi lançada por conta em convenções, e Never As Bad As You Think, uma HQ
própria em 1988, e possibilitou sua entrada das muitas que produz em parceria com sua esposa e
no mundo dos quadrinistas profissionais. sócia Kathryn Immonen.
Tendo atuado por um período de cinco anos Atualmente, podemos conferir seu trabalho no
para editoras menores, em meados de Brasil nas histórias da Nova Onda, produzidas em
1993, Immonem realizou seus primeiros parceria com o roteirista Warren Ellis, e em breve
trabalhos para a Marvel e a DC Comics. Para também na nova fase de Ultimate Spider-Man.
Elefante Bu – Quem teve a maior influência
no seu estilo?
Moving Pictures
Houve o desaparecimento de um objeto de arte valioso, e quem deve
conhecer o paradeiro é Ila Gardner, uma canadense que trabalha com
curadoria de arte na França junto com sua amiga, Jane Bailly. Apesar de
não se ter certeza, é possível que as duas e Marc, o terceiro elemento da
história, tenham planejado um crime nos porões do museu de arte.
Enquanto Jane e o rapaz decidem deixar o país e insistem para que a Ila
também fosse embora, a moça decide ficar. Inúmeros são os
questionamento a respeito de suas razões para tal. Nada é muito claro.
Jane corre para casa em Ottawa levando o passaporte da amiga (a própria
é que faz a sugestão). Eventualmente, Ila é submetida a um
interrogatório, onde o leitor descobre aos poucos a trama desta história.
Moving Pictures é um quadrinho on-line que ainda está em curso (veja o
endereço na entrevista). O roteiro é de Kathrin Immonen e os desenhos
são do genial Stuart. Eis um trabalho genial em P&B onde os traços simples
e retos de Stuart criam suspense e tensão à história intrigante e bem
escrita, de diálogos felinos, ligeiros. O embate entre o detetive e Ila na sala
de interrogatório, por exemplo, é de tirar o fôlego. (Djenane Arraes)
Elebu – Quais são os quadrinhos que você lê e
recomenda atualmente?
pensamos que seriam receptivas ao trabalho Immonen – Gostaria sim, mas seria necessário haver
independente. As reações das pessoas têm sido muito uma forma de entrar em contato com editores
positivas e tivemos boas críticas. Espero que no final da especializados em projetos como estes e traduzir.
temporada de convenções a gente possa ter vendido todas Estaremos receptivos às propostas, e Never... foi
as cópias dos vários quadrinhos que temos feito, e então traduzida em edição limitada para o italiano e o
vamos começar novas coisas. espanhol, então há um precedente. Acho que
Playground seria voltar demais em nossa história, mas
Elebu – Qual o seu quadrinho favorito entre os que você nossos trabalhos mais recentes são possibilidades.
fez?
Elebu – A nova fase de Ultimate Spider-Man
Immonen – Tenho dificuldade de escolher. Não existem desenhada por você é o seu próximo trabalho a ser
muitos e em alguns casos, gosto de um aspecto da obra, publicado no Brasil. Há algo que gostaria de dizer aos
mas não tudo nela. Acho que Never... foi um experimento fãs brasileiros?
bem-sucedido, e o quadrinho impresso foi muito bem
aceito. Gosto de uma coisa ou duas dos meus quadrinhos Immonen – Espero que eles abracem a mudança de
do Superman, e gosto de Playground, o primeiro que estilo da arte e saibam que Brian Michael Bendis e eu
Kathryn e eu fizemos em 1988. Nada muito além disto, estamos trabalhando duro para criar as melhores
mesmo. histórias que pudermos.
Serviço:
1 - SUPERMAN
2 - MULHER-MARAVILHA
Nem a Supergirl é um equivalente tão bom ao Superman quanto a amazona Mulher-Maravilha. É uma criação de William
Moulton Marston e apareceu para o mundo pela primeira vez em 1941. A princesa Diana saiu direto da mitologia grega,
onde às vezes bate um papo com Athena, para o mundo. Foi a primeira personagem feminina a integrar a Liga da Justiça,
onde pôde aplicar todo seu treinamento entre as amazonas para soltar o braço contra os inimigos. Tem super-força, poder
de regeneração, imunidade contra ilusões e controle da mente, um laço da verdade meio brega, sabe brigar no "mano a
mano" e não hesita em pegar numa arma. É legal por que: teve um seriado maneiro na TV nos anos 70. Defeito: ela não
tem um arquiinimigo decente.
3 - FÊNIX
Stan Lee e Jack Kirby criaram Jean Grey em 1963 para ser a menina da turma de super-heróis e namorada do grande líder.
É um caso onde os criadores subestimaram sua criação. Chris Claremont e John Byrne, ao contrário, acharam que a ruiva
lindinha geniosa poderia ser muito mais e a transformou num dos personagens mais espetaculares dos X-Men. Jean Grey
foi uma das primeiras alunas de Charles Xavier. Chegou lá fraquinha com poderes telepáticos limitados, mas telecinésia
forte o suficiente para que ela conseguir voar. Com o passar dos anos, virou a Fênix que tanto pode salvar o universo ou
destruir sistemas solares dependendo do seu humor. O Wolverine adora! É legal por que: tem um dos uniformes mais
bacanas dos quadrinhos e o "efeito fênix" (a águia de fogo que aparece quando manifesta seu poder) é um barato.
Defeito: ela morre muito.
não tem medo de altura!
4 - MAGNETO
O maior e mais querido vilão da saga dos mutantes. Criado pelas mesmas pessoas e ano que Jean Grey, Erik Lehnsherr é
um judeu sobrevivente ao holocausto que sentiu na pele o preconceito duas vezes. Primeiro por sua religião e depois por
ser mutante. Ficou revoltado e não é surpresa que ele tenha aprontado tanto. Mas Magneto também já foi chamado de
herói e até de anti-herói. E ele também é político: já governou um país e até um asteróide! Tem o poder do magnetismo e
perto dele, ter anemia até que não é tão mal. É legal por que: está na galeria dos vilões mais legais dos quadrinhos, sem
mencionar que é mais interessante que muitos dos mocinhos. Defeito: é sentimentalista demais.
5 - TEMPESTADE
6 - TOCHA HUMANA
7 - CAÇADOR DE MARTE
Seu nome é J'onn J'onzz e ele pode ter a aparência que quiser. Dos personagens da Liga da Justiça, é aquele que consegue
ser tão intrigante quanto o Batman. Olha que isso é uma bela referência. É também um personagem antigo, apareceu em
1955 extraído das mentes de Joseph Samachson e Joe Certa. Tem cara de mau e é sério até demais, mas quem se
importa? É legal por que: é de Marte e é verde. Defeito: não tem antenas.
8 - WILLOW ROSENBERG
É uma heroína que nasceu na televisão e foi com sucesso para os quadrinhos. Não tem codinome, mas não se importa em
ser chamada de "Red" ou "Wills". Criação do Joss Whedon em 1996, Willow é a mais poderosa da gangue que tem a
caçadora Buffy Summers como líder. De todos os seus poderes - e olha que ela é racker, telecinética, tem telepatia
limitada, além de saber uns truques mágicos - o que mais gosta é o de voar. Ela nem se importa em carregar seus amigos,
apesar de ter de suportar os gritos implorando por suas vidas durante a viajem inteira. É legal por que: morou no Brasil.
Defeito: quando fica má, vira emo.