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Anais

A n a i s B i b l i o t e c a Nac i o n a l vo l . 1 4 0
da
B i b l i ot e c a
Nacional
Vol. 140 • 2020

Rio de Janeiro, 2022


2020
Anais da
Biblioteca
Nacional
Vol. 140 • 2020

Rio de Janeiro
2022
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Eliane Alves
Anais da Biblioteca Nacional, v. 140, 2020
Diagramação e Tratamento de Imagem
Editores Eliane Alves
Hudson de Lima Rabelo
Pedro Vinícius Asterito Lapera

Biblioteca Nacional (Brasil)


Anais da Biblioteca Nacional. – Vol. 1 (1876). – Rio de Janeiro : A Biblioteca, 1876-
v. : il. ; 17,5 x 26 cm.
Continuação de: Anais da Biblioteca Nacional de Rio de Janeiro.
Vols. 1-50 publicados com o título: Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro.
ISSN 0100-1922
1. Biblioteca Nacional (Brasil) – Periódicos. 2. Brasil – História – Fontes. I. Título.
CDD- 027.581
22 ed.
Sumário

Apresentação�������������������������������������������������������������������������������������������� 5
O Latim nas Obras Raras: contexto e
fundamentos teórico-metodológicos de um
curso de latim instrumental para bibliotecários��������������������������������������� 9
Fábio Frohwein de Salles Moniz
Glossário de topônimos latinos do Brasil em
Historia navigationis in Brasiliam: breves comentários��������������������������� 39
Lucia Pestana da Silva
Fábio Frohwein de Salles Moniz
As Heroinae, de Júlio César Escalígero:
seleção e tradução����������������������������������������������������������������������������������� 49
Thamara Martins Santos de Morais
Fábio Frohwein de Salles Moniz
Tradução de Speculum stultorum, de Nigel de Longchamps�������������������� 65
Josué Gabriel de Freitas Kahanza Zito
Fábio Frohwein de Salles Moniz
Os Rudimenta grammatices, de Nicolò Perotti���������������������������������������� 73
Marcelle Mayne Ribeiro da Silva
Fábio Frohwein de Salles Moniz
Edição comentada da correspondência
entre Paolo Manuzio e Marc Antoine Muret������������������������������������������ 83
Esther da Silva Martins
Fábio Frohwein de Salles Moniz
Segurança patrimonial em bibliotecas universitárias:
relato de experiência no Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Minas Gerais���������������������������������������������������� 91
Wellington Marçal de Carvalho
Anália das Graças Gandini Pontelo
Diná Marques Pereira Araújo
Resistência no papel: a imprensa de oposição
à ditadura civil-militar no Brasil no acervo
da Fundação Biblioteca Nacional���������������������������������������������������������� 103
Bruno Brasil
Preciosidades do Acervo����������������������������������������������������������������������� 251
A produção verbovisual de Raul Pompeia
no acervo da Biblioteca Nacional��������������������������������������������������������253
Gilberto Araújo de Vasconcelos Júnior
Apresentação

Em tempos pandêmicos bastante conturbados, é uma alegria concluir mais


um volume dos Anais da Biblioteca Nacional. Fruto do árduo trabalho do
Centro de Pesquisa e Editoração (CPE) da Fundação Biblioteca Nacional e
contando com a ajuda de outros setores para sua publicação, o volume 140
apresenta nove artigos de temas muito diversos que abarcam a pluralidade do
acervo da instituição.
Os seis primeiros artigos do presente volume são frutos do trabalho exe-
cutado pelo professor Fábio Frohwein de Salles Moniz junto à Fundação Bi-
blioteca Nacional, ao lado de seus orientandos, no grupo de pesquisa Crítica
Textual, no âmbito do projeto de extensão Núcleo de Documentação em
Línguas Clássicas, realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ).
No artigo “O Latim nas Obras Raras: contexto e fundamentos teóri-
co-metodológicos de um curso de latim instrumental para bibliotecários”,
Frohwein narra a experiência do curso de latim oferecido a bibliotecários a
partir de um pedido do Planor (Plano Nacional de Obras Raras), setor da Bi-
blioteca Nacional, visando à melhoria na catalogação do acervo da instituição.
O autor expõe, ainda, os fundamentos teórico-metodológicos para o livro
didático de latim instrumental dirigido a bibliotecários (e também a arquivis-
tas), valendo-se de obras pertencentes ao acervo da Biblioteca Nacional, tal
como a Bíblia de Mogúncia, tendo em vista a experiência profissional deste
público no tratamento técnico de acervo em Latim.
Em “Glossário de topônimos latinos do Brasil em Historia navigationis
in Brasiliam: breves comentários”, escrito pelo referido professor em parceira
com Lúcia Pestana da Silva, os autores analisaram os topônimos latinos en-
contrados na obra Historia navigationis in Brasiliam, escrita pelo missionário
francês Jean de Léry (1536-1613) e o contexto sociocultural na qual ela foi
produzida e disseminada.
Os autores se debruçaram sobre o esforço de Léry em seu trabalho de tra-
dução em adaptar alguns termos caros às línguas nativas dos povos originários
que habitavam a região da Baía de Guanabara e do atual estado do Rio de
Janeiro para o latim, pensando na estrutura desta última e em seus casos e
declinações e debatendo as variações que aparecem no texto de Léry.
Por sua vez, em “As Heroinae, de Júlio César Escalígero: seleção e tradu-
ção”, escrito por Frohwein em conjunto com Thamara Martins Santos de
Morais, os autores apresentam uma proposta de tradução para a obra Julii
Caesaris Scaligeri, viri clarissimi, poemata omnia in duas partes divisa (1621),
custodiada pelo setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional.
6 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Para tanto, situam a recuperação da obra e da figura de Escalígero no con-


texto cultural do Renascimento e na difusão da língua latina ocorrida no perío-
do. Também destacam algumas características da obra, como a reunião de 107
poemas cujos títulos remetem a personagens femininas mitológicas, antigas e
contemporâneas ao autor e debatem a respeito das possibilidades de tradução
literal ou literária. Ao fim, apresentam a tradução do poema Ariadna.
Já em “Tradução de Speculum stultorum, de Nigel de Longchamps”, escrito
em coautoria com Josué Gabriel de Freitas Kahanza Zito, apresenta a propos-
ta de tradução de outra obra também custodiada pelo setor de Obras Raras
da Biblioteca Nacional. Ao analisarem a obra e a trajetória de Longchamps,
os autores destacaram sua imersão na vida intelectual durante a Idade Média
e dentro do horizonte do pensamento eclesiástico cristão.
Os autores também ressaltaram a existência da obra em diversas bibliotecas
pelo mundo, dentre elas a Biblioteca Nacional. A respeito de sua narrativa,
enfatizam o papel do zoomorfismo no percurso de seus protagonistas e no
retrato da relação entre natureza e cultura. Ao fim do artigo, apresentam a
tradução de um trecho da referida obra.
O artigo “Os Rudimenta grammatices, de Nicolò Perotti”, de autoria do
professor Frohwein e Marcelle Mayne Ribeiro da Silva, mostra uma discus-
são filológica a respeito dos Rudimentae grammatices que, segundo os autores,
circularam pela Europa entre os séculos XV e XVI. Mais precisamente, focam
em uma peça custodiada pelo setor de Obras Raras da Biblioteca Nacional: a
gramática latina de Nicolò Perotti.
Ao longo do artigo, os autores defendem que há uma intersecção entre o
italiano e o latim no texto de Perotti, sinalizando ainda que, por ocasião das
traduções da obra, os trechos em latim permaneceram inalterados. Os autores
também destacam que a obra se destinava a jovens italianos já alfabetizados,
isto é, iniciados na língua latina, além da inserção do latim no momento
sócio-histórico de produção da obra.
No artigo “Edição comentada da correspondência entre Paolo Manuzio e
Marc Antoine Muret”, de autoria de Fábio Frohwein e Esther da Silva Mar-
tins, os autores reconheceram a importância do diálogo entre Manuzio e Mu-
ret para pesquisadores da área de latim e também de tipografia, disso derivan-
do os esforços na recuperação da correspondência entre eles.
Ao apresentarem Manuzio como editor de obras latinas e Muret como um
professor e estudioso da poesia grega clássica, os autores narram como se en-
contraram e desenvolveram um trabalho em conjunto, mais precisamente a
impressão da obra de Muret sobre o poeta grego Catulo. Tendo como fontes as
correspondências impressas entre 1589 e 1592, os autores destacam a dispersão
delas por diferentes obras e, em razão disso, a dificuldade no seu mapeamento.
Continuando o presente volume, no artigo “Segurança patrimonial em
bibliotecas universitárias: relato de experiência no Sistema de Bibliotecas da
Anais da Biblioteca Nacional • 140 7

Universidade Federal de Minas Gerais”, de autoria de Wellington Marçal de


Carvalho, Anália das Graças Gandini Pontelo e Diná Marques Pereira Araú-
jo, os autores se debruçam sobre casos de furtos de acervo de obras raras da
biblioteca da Universidade Federal de Minas Gerais, além das estratégias ado-
tadas pela universidade na recuperação dessas peças.
Os autores narram a formação do acervo da referida biblioteca para, em
seguida, examinarem detidamente um caso de furto de acervo no qual um
usuário, que se apresenta como bibliófilo, passa a frequentar a biblioteca da
universidade e ganha a confiança dos bibliotecários. Em um momento poste-
rior, é revelado que ele havia guardado obras em sua casa e até mesmo comer-
cializado algumas delas. Finalmente, relatam as providências tomadas após o
caso, tais como a realização de um inventário do acervo recuperado e adoção
de medidas de segurança para o acesso às obras raras.
O artigo “Resistência no papel: a imprensa de oposição à ditadura civil-
-militar no Brasil no acervo da Fundação Biblioteca Nacional”, de autoria de
Bruno Brasil, se debruça sobre a coleção de imprensa alternativa depositada
no setor de Publicações Seriadas da Biblioteca Nacional, que abarca cerca de
450 periódicos que circularam entre os anos 1960 e 1980.
Em um primeiro momento, o autor situa os periódicos no contexto da
ditadura civil-militar no Brasil e também no da própria formação da coleção.
Em seguida, reflete sobre a diversidade de propostas editoriais e de atuação
dos referidos periódicos. Ao final, apresenta uma lista alfabética completa,
contendo o título do periódico, uma breve descrição e o localizador da peça
no acervo da instituição.
Encerrando o volume, apresentamos o artigo “A produção verbovisual
de Raul Pompeia no acervo da Biblioteca Nacional”, de autoria de Gilberto
Araújo de Vasconcelos Júnior, que também é a fonte do nosso Caderno de
Imagens. Tendo como base a produção do referido escritor, o autor tem como
foco a relação entre o texto e as imagens que também eram produzidas por
Pompeia.
Araújo realiza uma catalogação das imagens de diferentes tipos – caricatu-
ras, desenhos, ilustrações, capas de livros e poemas ilustrados – para produzir
uma reflexão sobre os diferentes efeitos estilísticos obtidos com o uso delas.
Além disso, também situa essas imagens em sua atuação como capista para
obras de outros autores importantes do período abordado, e.g. Aluísio Azeve-
do e Pedro Rabelo.
Desejamos a todas e todos uma ótima leitura!
O Latim nas Obras Raras:
contexto e fundamentos teórico-
metodológicos de um curso de latim
instrumental para bibliotecários

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
O objetivo deste ensaio é apresentar o contexto e os fundamentos teórico-metodológi-
cos do curso O Latim nas Obras Raras, destinado a complementar a formação técnica
de bibliotecários de acervos raros. Para tal, organizamos nosso texto em duas partes:
1) Do contexto, em que narramos os fatores externos que influenciaram a concepção e
elaboração do curso; e 2) Dos fundamentos teórico-metodológicos, em que apresenta-
mos os fatores internos, isto é, a metodologia empregada na concepção e realização do
curso, fundamentada nos conceitos de língua instrumental consoante Hutchinson &
Waters (1987), Strevens (1988); e de Pragmática, apoiada em Austin (1962), Van Dijk
(1981), Searle (2002), Armengaud (2006), Levinson (2007), Charaudeau & Maingue-
neau (2016).
Palavras-chave: Língua latina. Obra rara. Ensino de língua instrumental. Pragmática.
Fundação Biblioteca Nacional.

Abstract
The aim of this essay is to present the context and theoretical-methodological foundations
of the course O Latim nas Obras Raras (Latin in the Rare Books collection) aimed at
complementing the technical training of librarians of rare collections. To this end, we
organized our text in two parts: 1) About the context, in which we narrate the external
factors that influenced the conception and elaboration of the course; and 2) About the
theoretical-methodological foundations, in which we present the internal factors, that is,
the methodology used in the conception and implementation of the course, based on the
concepts of teaching language for specific purposes according to Hutchinson & Waters
(1987), Strevens (1988); and Pragmatics, supported by Austin (1962), Van Dijk (1981),
Searle (2002), Armengaud (2006), Levinson (2007), Charaudeau & Maingueneau
(2016).
Keywords: Latin language. Rare book. Teaching language for specific purposes.
Pragmatics. Fundação Biblioteca Nacional.
Do contexto
O elemento mais importante para se compreender o contexto de concep-
ção e desenvolvimento de “O Latim nas Obras Raras, curso de latim instru-
mental voltado a bibliotecários de acervos especiais”, é o atual entendimento
de extensão universitária. A última Constituição brasileira, promulgada em
1988, estabeleceu que as universidades devem respeitar a relação indissociá-
vel entre ensino, pesquisa e extensão. Embora seja desnecessário discutirmos
aqui o conceito de ensino e pesquisa, a ideia de extensão merece algumas
palavras nossas.
O primeiro documento em que apareceu o conceito de extensão universi-
tária foi o decreto-lei 19.851, de 11 de abril de 1931, que, em seu artigo 42,
estabeleceu que “a extensão universitária será realizada por meio de cursos e
conferências de caráter educacional ou utilitário, uns e outras organizados
pelos diversos institutos da Universidade” (BRASIL, 1931).
Em outras palavras, a extensão universitária começou como atividades em
que a comunidade acadêmica – somente professores, no início – apresentava
à sociedade o conhecimento científico produzido por seus institutos.
Com a lei básica da reforma universitária de 28 de novembro de 1968
(BRASIL, 1968), a extensão universitária passou a abarcar “programas de
melhoria das condições de vida da comunidade e no processo geral de de-
senvolvimento”. Dessa forma, a extensão deixou de ser somente a comu-
nicação do conhecimento científico produzido pela universidade para ser
também a aplicação do conhecimento aos problemas da sociedade. Mas foi
na resolução do Conselho Nacional de Educação, de 18 de dezembro de
2018, que se registrou oficialmente um fator de extrema importância para
o atual entendimento sobre a extensão universitária: o diálogo entre uni-
versidade e sociedade. Essa resolução estabeleceu que a extensão é um “pro-
cesso interdisciplinar educativo, cultural, científico e político que promove
a interação transformadora entre as instituições de ensino universitário e
outros setores da sociedade” (BRASIL, 2018). Dito em outras palavras, a
extensão deve gerar, ao mesmo tempo, mudanças na sociedade e também
na universidade.
Atualmente, o entendimento da ideia de extensão abarca as seguintes di-
retrizes: 1) processo educativo, cultural e científico; 2) relação transformado-
ra entre universidade e sociedade; 3) articulação entre ensino e pesquisa; 4)
espaço de elaboração da práxis de conhecimento acadêmico; 5) intercâmbio
sistematizado de conhecimentos acadêmicos e populares; 6) produção de co-
nhecimento desde o contato com a realidade brasileira; 7) democratização
do conhecimento acadêmico; 8) participação da comunidade na atividade
da universidade; 9) visão integrada da sociedade. A Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), em resolução interna de 2013, estabeleceu que seus
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alunos devem realizar 10% da carga horária total dos cursos em atividades de
extensão, que podem ser programas, projetos, cursos ou eventos.
Com respeito às atividades de extensão para alunos de Bacharelado ou
Licenciatura em Português-Latim e de Português-Grego, o Departamento de
Letras Clássicas da UFRJ vem proporcionando a possibilidade de atuação em
vários projetos, cursos e eventos. Dedicar-nos-emos, aqui, à atividade que
mais nos interessa devido ao objeto de nossos comentários: o Núcleo de Do-
cumentação em Línguas Clássicas. Esse projeto foi pensado a partir de duas
observações fundamentais: em primeiro lugar, notamos que, nas bibliotecas e
arquivos brasileiros, há muitos itens biblioteconômicos e arquivísticos escritos
em latim ou grego antigo. Esses documentos abarcam um grande período de
tempo do conhecimento científico ocidental e também da história do Brasil
– como, por exemplo, cartas, leis, decretos etc., que registram, em latim, a
memória do povo brasileiro. Em segundo lugar, verificamos que há, no Brasil,
o crescimento expressivo de pesquisas, publicações, cursos, museus e laborató-
rios sobre Antiguidade, Idade Média, Renascimento e outros temas relaciona-
dos, o que fez com que os cursos de Graduação e Pós-Graduação melhorassem
a estrutura de assessoria, pesquisa e formação de pessoas especializadas. Essas
mudanças deram como resultado a formação de cerca de trinta grupos de
pesquisa sobre Antiguidade, Idade Média e Renascimento somente no estado
do Rio de Janeiro. Muitos desses grupos têm revistas científicas e promovem
congressos, conferências, cursos etc., em que se apresentam professores e alu-
nos, inclusive de outros países, o que mostra o potencial do Brasil para os
estudos sobre Antiguidade, Idade Média e Renascimento. Com isso, houve
também um aumento expressivo da busca por fontes primárias e secundárias
de pesquisa em nossas bibliotecas e arquivos que estão em línguas clássicas.
Nesse mesmo contexto, o Plano Nacional de Recuperação de Obras Raras
(Planor), sediado na Fundação Biblioteca Nacional, vem desenvolvendo um
catálogo online com descrições de obras raras depositadas em várias institui-
ções brasileiras. O intitulado Catálogo do Patrimônio Bibliográfico Nacional
(CPBN) reúne, atualmente, cerca de 235 instituições participantes e contém
mais de 32.667 registros de obras raras, das quais uma parcela significativa se
encontra em latim. Mas a maior dificuldade de se obter e reunir informações
sobre os livros em latim é o fato de que os bibliotecários, em geral, não têm
conhecimento de língua latina.
No Brasil, o latim deixou de ser obrigatório no ensino básico com a Lei
de Diretrizes e Bases (LDB), que reformou a educação em 1961, o que deu
ensejo a que escolas públicas e particulares retirassem a disciplina de seus cur-
rículos. Depois de 1961, houve outra LDB em 1996, a mais recente, que não
alterou a situação do latim no currículo do ensino básico. Isto é, todos os
brasileiros que tenham cursado até o Ensino Médio desconhecem a gramática
latina. Atualmente, o latim é ensinado somente em algumas faculdades de
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Letras e de Direito, geralmente públicas. Por isso, catalogar obras raras em


latim exige que o bibliotecário conheça um idioma que não fez parte de sua
formação básica nem superior. O objetivo do Núcleo de Documentação em
Línguas Clássicas é, portanto, promover a integração entre a Faculdade de Le-
tras da UFRJ e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), empregando o conhe-
cimento de latim e de grego antigos para 1) a melhoria dos registros de livros
e itens de arquivo abarcados pelo projeto; e 2) o aperfeiçoamento técnico dos
profissionais de biblioteconomia e arquivística.
Nosso curso de latim instrumental para bibliotecários foi desenvolvido
para atender a um pedido do Planor, que, além do CPBN, promove também
cursos de aperfeiçoamento técnico dos profissionais que trabalham com acer-
vos raros. O curso deveria realizar-se em uma semana para reduzir os gastos
com estadia, transporte e alimentação feitos pelos alunos que viriam de outras
cidades. Coletamos uma amostra de 100 obras raras digitalizadas pela FBN
para identificar o conteúdo gramatical de maior utilidade para os bibliotecá-
rios no seu trabalho com páginas de rosto, incipits, explicits e colofões. O curso
foi oferecido presencialmente, em 2018 e 2019, no auditório Machado de As-
sis (FBN). Em 2020, devido à pandemia de Covid-19, o curso foi dividido em
nove módulos para ser ministrado de maneira remota por meio de plataforma
digital. Na próxima seção, trataremos dos pressupostos teórico-metodológicos
que nos serviram de ferramenta para a concepção e elaboração de nosso curso
de latim instrumental para bibliotecários.

Dos fundamentos teórico-metodológicos

Devido às necessidades muito específicas de nosso público-alvo, optamos


por não elaborar O Latim nas Obras Raras a partir de um livro-didático de
latim já existente no mercado, mas por criar um livro didático mais coerente
com o contexto dos alunos para servir de base ao planejamento das aulas. Al-
bert Sidney Hornby, gramático e lexicógrafo inglês dedicado ao ensino, define
livro didático como “Um livro que dá instruções em um ramo da aprendiza-
gem” (HORNBY et al., 1984, p. 1).1 Nessa perspectiva, podemos considerar
o livro didático uma ferramenta útil tanto ao aluno, para guiá-lo no apren-
dizado de determinado conteúdo, quanto ao professor, para auxiliá-lo a pre-
parar e ministrar aulas. Hornby adverte que a eficiência do material didático
depende de que seus objetivos sejam estabelecidos e desenvolvidos a partir das
necessidades do aluno.

1. “A book that gives instruction in a branch of learning”. Todas as traduções neste texto são de
nossa autoria.
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Conforme exporemos mais adiante, essa abordagem de Hornby deman-


dou-nos um constructo metodológico em que se mesclaram pressupostos
teóricos tomados do campo da Educação e da Pragmática. Partir das necessi-
dades do aluno para elaborar um livro didático implica, antes de mais nada,
reconhecer como gênese dessa ferramenta didática o contexto de enunciação
em que interagem professor e aluno. Por essa ótica, o aluno é entendido não
apenas como um receptor passivo, mas como coenunciador, na medida em
que também é autor do discurso emitido pelo professor, uma vez que esse
último elabora seu discurso em função do primeiro. Por esse prisma pragmá-
tico, compreendemos que o aluno também é autor do enunciado formado
pelo professor e, ainda mais, do próprio conteúdo presente no material, já
que este foi construído com base em suas necessidades. É mister, portanto,
conhecermos as demandas do aluno para elaborarmos um livro didátio capaz
de auxiliar professor e discente no processo de ensino e aprendizagem. Além
disso, importa que estejamos atentos ainda para outras questões: a) identifica-
ção do que deve ser ensinado ou aprendido; b) reflexão acerca dos métodos a
serem usados; c) fornecimento de material necessário; d) auxílio ao professor
ou ao aluno na explicação.
Neville Grant, autor também atuante no campo da Educação, especializa-
do em formação de professores, classifica os livros didáticos em duas catego-
rias: livros de cursos tradicionais e livros de cursos comunicativos (GRANT,
1989, p. 8). Na primeira categoria, o livro didático tem por objetivo central
fazer com que os alunos aprendam o idioma como um sistema. Ainda confor-
me Grant, livros didáticoss de curso tradicional caracterizam-se por enfatizar
regras gramaticais, formas ou padrões de linguagem mais do que funções co-
municativas da linguagem, concentrando-se em atividades de leitura e escrita
em vez de atividades de escuta e fala. Em geral, livros didáticos dessa categoria
abordam o sistema gramatical da primeira língua, pautam-se pela importância
da “correção” de flexões e construções, concentram-se em programas e exames
e acabam por despertar o interesse de alguns professores porque parecem mais
fáceis de serem usados. Os livros didáticos de curso de comunicação, por sua
vez, buscam explorar as funções comunicativas da linguagem e habilidades na
utilização do idioma, priorizando as necessidades e os interesses dos alunos
mais desejosos de aprender o idioma da vida cotidiana. Comumente, livros
didáticos dessa categoria propõem atividades práticas em grupos ou pares,
são muito específicos em seus objetivos e buscam o equilíbrio entre as quatro
habilidades linguísticas (ouvir, falar, ler e escrever), embora alguns valorizem
a escuta e a fala em detrimento das demais.
Com relação às questões técnicas do livro didático abordadas por Hornby
e Grant, partimos do pressuposto de que nossa proposta deveria pautar-se por
uma metodologia de ensino e aprendizado em nível de língua instrumental.
Em nosso entendimento, esse modelo se coaduna mais com a necessidade
Anais da Biblioteca Nacional • 140 15

prática, imediata e contextual do aluno do que um método que priorize o


aprendizado exaustivo de regras que podem não se verificar no contexto do
discente e que, por isso, venham a se mostrar supérfluas ou incompreensíveis.
Tom Hutchinson observa que, originalmente, o ensino de língua instrumen-
tal surgiu do English for specific purpose (“Inglês com objetivos específicos”),
um tipo de curso de inglês como segunda língua, normalmente destinado a
estudantes universitários ou pessoas já empregadas, que explora vocabulário
específico e habilidades de que esse público-alvo necessita (HUTCHINSON,
1987). Dessa forma, o ensino de língua instrumental concentra-se em uma
ocupação ou profissão, como inglês técnico, inglês científico, inglês para mé-
dicos, inglês para turismo, entre outras.
No caso de nossa proposta, era fundamental, portanto, priorizar vocabulá-
rio, expressões e estruturas gramaticais latinas presentes em páginas de rosto,
colofões, incipits e explicits de obras raras, ou ainda palavras relacionadas ao
universo da biblioteconomia, de preferência vocabulário, expressões e estrutu-
ras gramaticais latinas recolhidas de poetas e prosadores da Latinidade clássica,
como em geral fazem os autores de livros didáticos de latim existentes no mer-
cado. Desse modo, até o estudo de uma língua clássica como o latim pode se
voltar a uma determinada ciência em que se deseja empregar o conhecimento
linguístico, seja a teologia, a história antiga, a filosofia, a filologia ou, como o
proposto aqui, a biblioteconomia. O indivíduo que trabalha nesse campo não
necessariamente carece de conhecimento aprofundado de língua latina que o
permita ler, traduzir e estudar autores latinos clássicos, mas pode adquirir o
suficiente para o exercício de sua profissão, e, por meio desse conhecimento-
-base, até mesmo lançar-se a um saber mais aprofundado, caso deseje.
Segundo Peter Strevens, o ensino de língua instrumental pode se restringir
a habilidades específicas de acordo com as necessidades do aluno, como, por
exemplo, a leitura, o que vai mais ao encontro das demandas técnico-profis-
sionais de bibliotecários (STREVENS, 1988, p. 1-13). Nossa proposta de
livro didático, portanto, priorizou a leitura, no sentido de buscar desenvolver
no público-alvo (coenunciadores) estratégias de localização e compreensão de
informações biblioteconômicas em páginas de rosto, colofões, incipits e expli-
cits por meio de determinadas palavras e expressões latinas. Os capítulos de
nosso livro didático, portanto, foram estruturados de maneira a alcançar esse
objetivo em termos de habilidade linguística, e apresentam essencialmente: 1)
problematização inicial, feita a partir de algum dado linguístico recolhido de
uma obra rara, que despertaria a curiosidade do leitor moderno e desconhece-
dor do latim; 2) exposição de regras gramaticais do latim a fim de responder
à problematização inicial e atividades práticas com resposta ao final do livro
didático; e 3) aplicação do conteúdo gramatical à leitura e compreensão de
vocábulos e expressões latinas recorrentes em páginas de rosto, colofões, inci-
pits e explicits, juntamente com atividades práticas mais voltadas ao universo
16 Anais da Biblioteca Nacional • 140

do bibliotecário de acervos raros, também com respostas ao fim do livro. Es-


cusado dizermos que as atividades propostas de versão de frases ou pequenos
textos do português para o latim não tinham a pretensão de desenvolver a
habilidade da escrita, mas tão somente de exercitar regras da gramática latina
que serão úteis à leitura.
Ainda quanto à classificação de Grant, elaboramos um livro didático de
natureza mista, apresentando ao mesmo tempo características de livros didá-
ticos de cursos tradicionais e de cursos comunicativos devido às necessidades
específicas do público-alvo. Por um lado, importava que o aluno conhecesse
regras básicas do sistema gramatical latino, dentro de um recorte conteudís-
tico estabelecido com base no levantamento de vocabulário e expressões feito
a partir de páginas de rosto, colofões, incipits e explicits, conforme exporemos
mais adiante nesta seção. No entanto, era imprescindível que o aluno soubesse
aplicar esse conhecimento gramatical à compreensão de funções comunica-
tivas de palavras e expressões latinas que identificam autor e título de obra,
impressor/livreiro, ano, local, privilégio e licença de impressão/venda do livro.
Em suma, o desenvolvimento de nosso curso de latim instrumental para
bibliotecários foi precedido pela elaboração de um livro didático de latim
voltado a uma finalidade muito particular: o uso pragmático da língua latina
no contexto técnico-profissional de bibliotecários de acervos raros. Empre-
gamos aqui o adjetivo “pragmático(a)” em estreita relação com a Pragmá-
tica,2 disciplina dos estudos da linguagem que, para Françoise Armengaud,
interessa-se, basicamente, por dois objetos: fenômenos relativos à dimensão
pragmática (falante e contexto da fala), a exemplo dos efeitos do discurso
sobre os falantes-ouvintes; e a relação entre uso e significado de palavras/frases
(ARMENGAUD, 2006).
Um dos principais contributos da Pragmática para a concepção de nossos
livros didáticos e curso de latim instrumental para bibliotecários foram os
conceitos de ato, contexto e desempenho. As primeiras reflexões sobre ato
(de fala ou de linguagem) encontram-se em How to do things with words
(1962), de John Langshaw Austin. Nessa obra, rejeitando a tradicional di-
cotomia fala versus ação, o filósofo da linguagem britânico preferiu partir da
hipótese de que dizer é mais do que transmitir informações acerca de algo,
“mas é também ‘fazer’, isto é, tentar agir sobre o interlocutor e mesmo sobre
o mundo circundante” (Ibidem, p. 72). Austin observou que existem deter-
minados verbos, como batizar e jurar, que não exercem a função exatamente

2. Em nosso entender, uma das primeiras distinções a serem feitas sobre a palavra “pragmática”
diz respeito ao seu “valor muito instável, pois permite designar ao mesmo tempo uma subdisci-
plina da linguística, uma certa corrente de estudo do discurso ou, de modo mais amplo, uma certa
concepção de linguagem” (CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2016, p. 393). Portanto, grafa-
remos a palavra com inicial maiúscula sempre que a empregarmos como substantivo designativo
da referida disciplina.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 17

de descrever a realidade, mas de instaurar uma realidade, ou seja, não vei-


culam informações verdadeiras ou falsas. Essas palavras compõem enuncia-
dos performativos que designam a própria enunciação, contrariando a visão
que se tinha até então da linguagem cuja função essencial “seria representar
estados do mundo” (MAINGUENEAU, 1996, p. 6). Inicialmente, Austin
distinguia, portanto, a enunciação constativa, que “descreve um estado de
coisas independentemente do ato enunciativo” (Idem, ibidem) da enuncia-
ção performativa, estritamente vinculada ao presente pontual e ao sujeito da
enunciação. No entanto, essa distinção foi posteriormente abandonada pelo
teórico, que passou a compreender que não existem enunciados puramente
constativos, despojados de valor performativo.
De acordo com Maingueneau, “a teoria dos atos de linguagem afirma que
qualquer enunciado esconde uma dimensão ilocutória. Esse componente se-
mântico, porém, não se apresenta da mesma maneira que seu conteúdo pro-
posicional” (Ibidem, p. 15). Na enunciação, o sujeito busca realizar três tipos
de ato: 1) locutório, que objetiva executar uma série de sons dotada de sen-
tido; 2) ilocutório,3 cuja motivação fundamenta-se na intenção ao produzir
certo enunciado; e 3) perlocutório, que consiste nos desdobramentos em uma
situação, causados pelo enunciado. Conforme ainda Maingueneau, uma sim-
ples pergunta como “O senhor poderia detalhar melhor as informações?”, não
obstante a intenção de esclarecer uma situação (ato ilocutório), interromperia
ou embaraçaria alguém durante uma reunião (ato perlocutório).
Em sua teoria, Austin chegou a cinco categorias básicas de atos ilocutórios:

1. VEREDITIVOS: “consistem na pronúncia de um veredito, oficial ou


não oficial, sobre a evidência ou as razões relativas a valor ou fato, tanto
quanto estes se possam distinguir” (AUSTIN, 1962, p. 151);
2. EXPOSITIVOS: “são usados em atos de exposição que envolvem a ex-
planação de concepções, a condução de argumentos e o esclarecimento
de usos e referências” (Ibidem);
3. EXERCITIVOS: consistem em “proferir uma decisão favorável ou
desfavorável a uma certa linha de ação ou advogá-la” (Ibidem);
4. COMPORTATIVOS: incluem “uma noção de reação ao comporta-
mento e à sorte de outras pessoas, e a noção de atitude e expressão de
atitude diante da conduta passada ou iminente de alguém” (Ibidem);
5. COMPROMISSIVOS: consistem em “comprometer o falante com
uma certa linha de ação” (Ibidem).

3. Além do adjetivo ilocutório, empregam-se ainda, em português, os adjetivos ilocucional e ilo-


cucionário para a tradução do termo em inglês illocutionary, empregado originalmente por Austin.
18 Anais da Biblioteca Nacional • 140

John R. Searle, por sua vez, reviu a taxonomia e os conceitos de Austin em


seu ensaio Expressão e significado (2002), publicado em 1979. Na concepção
e elaboração do livro didático aqui proposto, utilizamos Searle, para quem
existem os seguintes atos ilocutórios:

1. ASSERTIVOS: comprometem “o falante […] com a verdade da pro-


posição expressa” (SEARLE, 2002, p. 19);
2. DIRETIVOS: “tentativas […] do falante de levar o ouvite a fazer algo”
(Idem, p. 21);
3. EXPRESSIVOS: expressam “um estado psicológico, especificado na
condição de sinceridade, a respeito de um estado de coisas, especifica-
do no conteúdo proposicional” (Idem, p. 23);
4. DECLARAÇÕES: “a característica definidora dessa classe é que a rea-
lização bem-sucedida de um de seus membros produz a correspondên-
cia entre o conteúdo proposicional e a realidade, a realização bem-su-
cedida garante a correspondência entre o conteúdo proposicional e o
mundo […]” (Idem, p. 26);
5. COMPROMISSIVOS: sem revisão do conceito de Austin; Searle ape-
nas retira dessa categoria alguns verbos incluídos pelo teórico anteces-
sor, como shall (haver de), intend (ter a intenção de), favor (favorecer);
de qualquer forma, Searle, similarmente a Austin, entende que os atos
ilocutórios compromissivos comprometem “o falante […] com uma
linha futura de ação” (Idem, p. 22).

Como vemos, os estudos sobre os atos ilocutórios fizeram com que a Prag-
mática possibilitasse pesquisas interdisciplinares, unindo esforços da linguís-
tica aos de outras disciplinas para o estudo dos usos da linguagem. Outra
contribuição da Pragmática muito útil à concepção e elaboração de nossos
livros didáticos e curso de latim instrumental foi o conceito de contexto –
isto é, tudo o que cerca a enunciação, tanto de natureza linguística (ambiente
verbal) quanto não-linguística (contexto situacional, social, cultural). Comu-
mente, contexto é conceituado de maneira mais específica como a “situação
concreta em que os atos de fala são emitidos, ou proferidos, o lugar, o tempo,
a identidade dos falantes etc., tudo o que é preciso saber para entender e ava-
liar o que é dito” (ARMENGAUD, 2006, p. 13). Tradicionalmente, a rela-
ção entre texto e contexto era pensada com base numa concepção unilateral,
segundo a qual o primeiro elemento do binômio sempre exerce a função de
determinar o segundo. Porém, teóricos mais recentes, como Duranti e Goo-
dwin, na esteira de Van Dijk, buscaram observar o dialogismo entre texto e
contexto, de modo que esse último deixou de ser compreendido como um
delimitador da linguagem, já que também “é ele próprio delimitado por ela.
[…] O contexto não restringe simplesmente a linguagem, mas é também
Anais da Biblioteca Nacional • 140 19

um produto de seu uso” (DURANTI; GOODWIN apud CHARAUDEAU;


MAINGUENAU, 2016, p. 128).
Além disso, importa discernir aqui três tipos de contexto, que foram le-
vados em consideração em nossa proposta de livro didático: 1) contexto de
enunciação, isto é, de produção do enunciado – em nosso caso, o momento
em que se dá a interação entre professor e aluno que tem uma finalidade
específica para adquirir o conhecimento de latim; 2) contexto histórico, em
que atuam fatores que influencia(ra)m o contexto de enunciação, como, por
exemplo, os fatores que leva(ra)m à necessidade de se ensinar latim para pro-
fissionais de acervos raros; 3) contexto literário, em que se expressam enun-
ciados em contextos de enunciação fictícios mas que refletem, de alguma ma-
neira, contextos de enunciação reais, a exemplo das páginas de rosto, incipits,
colofões e explicits, em que há o diálogo entre impressor/editor da obra e
leitor e, consequentemente, o espelhamento do contexto de enunciação em
que foram produzidas as obras raras. É nesse último que devem ser buscados
os significados de uma série de novas palavras latinas ou de todo um voca-
bulário clássico ressignificado, conforme exporemos mais adiante. Convém
salientarmos que o contexto literário, em uma análise pragmática, diz respeito
à construção do mundo estilizado no interior de uma obra, e diferencia-se do
conceito de contexto literário empregado na análise historiográfica, que se
relaciona a uma série de fatores que permitem o surgimento da obra.
Para além de fornecer simplesmente dados acerca da situação enunciativa,
o estudo do contexto auxilia-nos ainda no discernimento das condições de re-
alização do ato de fala. O conhecimento do contexto, portanto, favorece o de-
sempenho do enunciador, terceiro conceito da Pragmática que empregamos
na concepção e elaboração de nossos livros didáticos e curso de latim instru-
mental. Conforme Duranti e Goodwin, o desempenho diz respeito ao saber
e domínio das regras por parte do enunciador, “seja integrando o exercício
linguístico a uma noção mais compreensiva, como a de competência comuni-
cativa” (Ibidem). O contexto figura, portanto, como um acervo de condições
para que o enunciador logre sucesso nos atos de fala. O enunciado será bem-
-sucedido se, e somente se, estiver bem inscrito na realidade do enunciatário,
muito embora o enunciador não pretenda tão somente descrever essa reali-
dade, mas, e sobretudo, levar o enunciatário a ser coatuante na enunciação
e tornar-se coenunciador: “Qualquer um não pode dizer qualquer coisa em
qualquer circunstância, e esse conjunto de condições torna o ato de lingua-
gem pertinente ou não, legítimo ou não” (MAINGUENEAU, 1996, p. 10).
Como dissemos inicialmente, esses conceitos de ato, contexto e desem-
penho nortearam a concepção e elaboração do livro didático que serviu de
ponto de partida para o desenvolvimento de nosso curso de latim instrumen-
tal para bibliotecários. Em sua instância discursiva, entendemos o livro didá-
tico, antes de mais nada, como um extenso enunciado preponderantemente
20 Anais da Biblioteca Nacional • 140

motivado pelo ato ilocutório declarativo, isto é, pela intenção de produzir um


enunciado em que, conforme Searle, haja “correspondência entre o conteú-
do proposicional e a realidade” do enunciatário. Nesse sentido, partimos do
pressuposto de que: 1) o livro didático é, antes de mais nada, um macroato4
de linguagem, isto é, um extenso enunciado cujo objetivo é ensinar o todo
necessário por meio dos vários atos de linguagem que o compõem e que são
possíveis de serem consultados pelo enunciatário; 2) cujo conteúdo proposi-
cional compõe-se, essencialmente, de explicações acerca de regras do sistema
gramatical do latim; mas, 3) para que tenhamos competência comunicativa,
esse enunciado deve estar inscrito na realidade do enunciatário, ou seja, em
seu contexto, que é pensado, nesta Tese, em sua natureza linguística, isto é, o
ambiente verbal a que o enunciatário está exposto.
Nessa linha de raciocínio, compreendemos que o ambiente verbal relacio-
nado à língua latina a que está exposto o bibliotecário de acervos raros são
as fontes documentais manipuladas por ele para fins técnico-profissionais –
identificar informações biblioteconômicas e extrair termos-tópico de assunto.
Sendo assim, buscamos maior desempenho discursivo, tomando por base as
mesmas fontes com as quais esse enunciatário lida no exercício de sua profis-
são – folhas de rosto, colofões, incipits e explicits de obras raras em latim –,
com base em que procedemos à identificação e estudo de vocabulário, estru-
turas sintáticas e usos de linguagem a serem trabalhados no livro didático e,
consequentemente, no curso de latim instrumental.
O levantamento e seleção das fontes em que nos baseamos levou em con-
sideração o próprio recorte do acervo de obras raras digitalizado e disponi-
bilizado on-ine em arquivo PDF pela Fundação Biblioteca Nacional em sua
Biblioteca Digital (bndigital.bn.gov.br). Entendemos que esses itens refletem,
simbolicamente, tanto para a referida instituição quanto para os bibliotecários
de acervos especiais que compõem seus quadros, o que há de mais representa-
tivo em termos de obras raras. Em primeiro lugar, observamos que várias pá-
ginas de rosto, incipits, explicits e colofões de obras raras em latim apresentam
alguns traços muito característicos de grafia: redução do ditongo ae, variações
de grafia, reduções, linea nasalis entre outros sinais diacríticos, além do uso de
ligaduras. À guisa de exemplo, transcrevemos abaixo o início da bíblia de Gu-
tenberg, mais conhecida como Bíblia de Mogúncia, cujos exemplares de 1461
e 1462 integram o acervo da Divisão de Obras Raras da FBN:

4. Teun Van Dijk (1981) entende o texto como complexa unidade pragmática, em que se
articulam vários atos de fala funcionalmente interrelacionados, denominando-o, por isso, de
macroato de fala.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 21

Incı epa ſcì iheronimi ad paulınū ſbiterū


de oib diuine hıſtoıe lıbrıs · ca · pmū· i
Frater ambroſıus tua michi munuſcula
ferens · detulıt ſımul et ſuauiſſımas las: q¯
a pincıpio amicicia fıdem bate iam fıdeı:
et veteris amıcicie noua ferebant. Vera enì
ılla neceſſıtudo ē · et xı glutıno copata: q
non vtılitas rei famıliaris · non ntia tantū
copoū · non ſubdola & palpās adulacō: ß dei
timo et diuına ſcriptura ſtudia cıliāt. Legi
ın veterıb hiſtorijs · quoſdā luſtraſſe uìcıas ·
nouos adijſſe os · marıa t¯nſıſſe: ut eos quos
ex libris nouerāt: coam z uıderent.

Fonte: transcrição do autor.

No excerto acima, destacamos os símbolos que representam reduções par-


ciais ou totais de palavras: _cıliāt = concilĭant (conciliam), veterıb_ = ueterĭbus
(em velhas […]), diuına_ = diuinarum (das sagradas […]), legi_ = legĭmus
(lemos), & = et (e). Há casos em que sutis diferenças no traçado de uma le-
tra implicam prefixos distintos – _ferens = perferens (cumpridor) X _bate =
probatae (“com comprovada […]”). Mencionamos, ainda, a presença da linea
nasalis, isto é, do traço diacrítico empregado em substituição às letras “n” ou
“m” pós-vocálicas: enì > enim (de fato); tantū > tantum (somente); nō > non
(não); palpãs > palpans (elogioso). Esse traço diacrítico nada tem a ver com
quantidade vocálica, embora se assemelhe graficamente ao mácron. Ainda no
que diz respeito ao traço diacrítico, observamos seu uso em reduções de uma
ou mais consoantes, como em ē, redução do verbo est (é; está; existe), que
poderia ser confundida com a preposição latina e.
Outras peculiaridades gráficas que merecem destaque são: uso da letra “v”
minúscula para grafar a vogal “u”: vtilitas (utilĭtas) e vltimus (ultĭmus); uso da
letra “j” para representar a vogal “i”: hiſtorijs (historĭis), adijſſe (adiisse); influ-
ência de línguas modernas na grafia de palavras modernas: ex. diuine hiſtoie
(divinae historĭae), amicicia (amiciciarum em lugar de amicitiarum), adulacō
(adulacĭo em lugar de adulatĭo) por influência da língua italiana, michi (michi
em lugar de mihi) e nichil (nichil em lugar de nihil) por influência da língua
alemã; diversas grafias alternativas devido a hipóteses etimológicas da época
– por exemplo, coelum, author e sylva em lugar de caelum, auctor e silva, entre
outras. Importante salientarmos que essas grafias não são devidamente expli-
cadas em livros-didáticos, dicionários, tratados, gramáticas e cursos de língua
latina existentes no mercado. Frente a isso, tivemos de incluir, no conteúdo do
22 Anais da Biblioteca Nacional • 140

livro didático e do curso de latim instrumental, esses usos gráficos presentes,


sobretudo, em incunábulos e pós-incunábulos, não podendo nos limitar à
mera apresentação do alfabeto e pronúncia do latim clássico.
No campo do léxico, verificamos, inicialmente, dois fenômenos básicos: 1)
palavras que não vinham do latim clássico ou 2) palavras advindas do léxico
clássico, mas que aparecem na documentação de obras raras com novos sig-
nificados. Para enfrentar ambos os fenômenos, foi necessária a utilização de
glossários e estudos sobre latim renascentista, além de glossários técnicos de
Biblioteconomia. O advento da imprensa de tipos móveis deu-se em pleno
Renascimento italiano, em que houve a renovação lexical do latim patente em
neologismos de forma e de significado que se encontram na documentação
de obras raras a que o bibliotecário de acervos raros está exposto. O contex-
to do mundo moderno refletiu-se no latim renascentista por meio de novos
substantivos e adjetivos inexistentes na Latinidade clássica, relacionados a
nomes de autores, impressores, países, cidades, profissões, ciências etc., que
incrementam as páginas de rosto, colofões, incipits e explicits das obras raras.
Além do conhecimento do sistema gramatical latino, é essencial, portanto,
apresentar ao nosso público-alvo empregos de expressões latinas nas obras
raras, para que seja desenvolvida a habilidade de se identificarem informações
de nome de autor, título de obra, impressor, local, ano, privilégio e licença de
impressão. Há ainda expressões que trazem detalhes técnicos sobre o livro,
como características da tiragem/edição, mês e dia da impressão etc., e que
complementam as informações de autor e título da obra, impressor, licença,
privilégio, ano e local de impressão.
Em sua história do Renascimento, Jacob Burckhardt aborda a febre latina
que assolou os nomes próprios na época:
Também a pura e simples tradução de um nome para o latim ou grego
(que, na Alemanha, tornou-se hábito quase generalizado) é perdoável a uma
geração que falava e escrevia latim e que necessitava de nomes não apenas de-
clináveis, como também apropriados à prosa e ao verso. Censurável e amiúde
ridículo era, isso sim, a mudança parcial de um nome, tanto de batismo quan-
to de família, com o intuito de conferir-lhe tom clássico e novo significado
(BURCKHARDT, 2009, p. 236-237).
Assim, as páginas de rosto das obras raras exibem nomes como Ameri-
cus Vesputĭus, Carolus Linnaeus e Johannes Keplĕrus, em lugar de Amerigo
Vespucci, Carl von Linné e Johannes Kepler. Mas não só os nomes dos auto-
res são latinizados. Os próprios impressores se rebatizaram em latim – Aldus
Manutĭus (Aldo Manúzio), Christianus Wechelus (Christian Wechel), Chris-
tophŏrus Plantinus (Chistophe Plantin), Christophŏrus Froschouĕrus (Chistoph
Froschauer), Johannes Baptista Bidellĭus (Giovanni Battista Bidelli), Antonĭus
Maximilianus (Anton Maximilian Heiss), Erasmus Kempferĭus (Erasmus
Kempfer), Isaacus Elsevinus (Isaac Elsevin) –, entre outros profissionais da
Anais da Biblioteca Nacional • 140 23

tipografia. Vinculados a esses nomes, figuram substantivos designativos de


atividades artísticas e intelectuais ou de profissões tão antigas como poeta
(poeta), magister (professor), philosŏphus (filósofo), mathematĭcus (matemá-
tico), medĭcus (médico) quanto muito recentes como impressor (impressor) e
typographus (tipógrafo). Ainda a despeito do surto de latinidade em nomes,
Burckhardt refere um fator acima de modismos, intrínseco ao funcionamento
do latim: uma vez que a língua latina era o veículo de internacionalização do
conhecimento, os renascentistas precisavam de nomes declináveis. Dessa for-
ma, os nomes de autor podiam vir expressos na página de rosto, flexionados
nos casos do sistema gramatical latino:

a. genitivo antes ou depois do título da obra – Johannis Kepplĕri Harmonĭces


Mundi (As harmonias do mundo, de Johann Kepler), Publĭi Virgilĭi
Maronis opĕra (Obras, de Públio Virgílio Maro), Pauli Maccĭi emblemăta
(Emblemas, de Paolo Maccio), Tractatus summularum logĭcae Pauli
Veneti (Tratado das súmulas da lógica, de Paolo Veneto), Navigatĭo
ac itinerarĭum Johannis Hugonis Linscotani in orientalem (Navegação
e itinerário para o Oriente, de Jan Huygen van Linschoten), Tabŭlae
astronomĭae Alfonsi Regis (Pranchas de astronomia, do rei Afonso).
b. ablativo, junto a auctor, oris (autor) também no ablativo, na clássica
construção de ablativo absoluto – Antonĭo Ludovico auctore; auctorĭbus
Hippolyto Ruiz et Josepho Pavon. As traduções ipsis littĕris dessas
expressões são, respectivamente, “sendo o autor Antonio Luiz” e “sendo
os autores Hipólito Ruiz e José Pavon”, mas propomos ao público-
alvo uma tradução mais funcional e sintética: “de Antonio Luiz” e “de
Hipólito Ruiz e José Pavon”. Assim: Hymnus tabaci auctore Raphaele
Thorĭo (Hino do tabaco, de Raffaele Torio); Flora Brasilĭae, auctore
Augusto de Saint-Hilaire (Flora do Brasil, de Auguste de Saint-Hilaire).

Nomes de autor são acompanhados frequentemente de substantivos


designativos de profissões, títulos ou distinções, como doctor (doutor),
magister (professor), episcŏpus (bispo), presbĭter (presbítero), mathematĭcus
(matemático), philosŏphus (filósofo), civis (cidadão), rex (rei) etc.: Fabritĭi
Paduanĭi philosophi ac medĭci tractatus (Tratado de Fabrizio Padovani, filósofo e
médico); Anagrammătum tractatus authore magistro Angĕlo de Ominĕis (Tratado
dos anagramas, do professor Angelo de Omineis). Títulos e distinções podem
ser referidos também por meio de adjetivos junto ao nome do autor, como
eruditus (estudioso), litteratus (culto), ingeniosus (talentoso), claris (famoso),
illustris (conhecido), dignis (distinto), disertus (eloquente), solers (engenhoso).
Em geral, esses adjetivos se constroem com o substantivo vir (homem), de
tradução desnecessária, já que seu uso, no neolatim, fazia-se apenas para
imitar o estilo dos autores latinos clássicos, que não adjetivavam antropônimos
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diretamente: Opĕra & arte mirifĭca viri solertis Johannis Hammau de Landoĭa
(E obras de admirável arte do engenhoso [homem] Johannes Hammau de
Landoia); Ingeniosus vir Johannes Grunĭger (O talentoso [homem] Johann
Grüniger). Por vezes, esses adjetivos encontram-se no superlativo para exaltar
as qualidades do autor da obra, bem ao estilo retórico dos renascentistas –
eruditissĭmus (estudiosíssimo [ou muito estudioso]), litteratissĭmus (cultíssimo
[ou muito culto]), ingeniosissĭmus (talentosíssimo [ou muito talentoso]),
clarissĭmus (famosíssimo [ou muito famoso]), illustrissĭmus (conhecidíssimo
[ou muito conhecido]), dignissĭmus (distintíssimo [ou muito distinto]),
disertissĭmus (eloquentíssimo [ou muito eloquente]): Epigrammăta clarissĭmi
disertissimique viri Thomae Mori (Epigramas do famosíssimo e eloquentíssimo
[ou muito famoso e eloquente] Thomas More).
São muito comuns também adjetivos pátrios antigos e modernos junto
a nomes de autor – Petri Nonĭi Salaciensis opĕra (obras de Pedro Nunes
salaciense [natural de Alcácer do Sal (Portugal), antiga Salácia]), De idololatrĭa
magĭca dissertatĭo, Johannis Filesaci, theolŏgi Parisiensis (Dissertação sobre a
idolatria mágica, de Jean Filesac, teólogo parisiense [natural de Paris]). Outros
exemplos são: Basiliensis (da Basileia), Chilensis (do Chile), Conimbricensis
(de Coimbra), Eborensis (de Évora), Vercellensis (de Vercelli), Peruvianus (do
Peru), Vlyssiponensis (de Lisboa).
Em títulos de obra, são muito recorrentes substantivos em nominativo
singular ou plural que designam o gênero da obra ou seções do livro – articŭlus
(artigo), tractatus (tratado), opus (obra), liber (livro), epistŏla (carta), nota (nota),
commentarĭus (comentário), interpretatĭo/traductĭo (tradução), index (índice),
vocabularĭum (vocabulário), tabŭla (prancha), tabella (tabela), argumentum
(argumento), observatĭo (observação), introductĭo (introdução), praefatĭo
(prefácio), annotatĭo (anotação), catalŏgus (lista), prohemĭum (proêmio), sermo
(discurso), compendĭum (compêndio), dissertatĭo (dissertação), descriptĭo
(descrição), icon/imago (imagem) entre outros.
A esses, podem se vincular:

1. Antropônimos no genitivo ou ablativo para indicar autoria, conforme


exposto anteriormente;
2. Substantivos comuns no genitivo para restringir o gênero ou abrangên-
cia temática da obra: Tabŭlae astronomĭae (Pranchas de astronomia),
Disciplina et institutĭo puerorum (Disciplina e ensino dos meninos),
Tractatus summularum logĭcae (Tratado de súmulas da lógica);
3. Expressões de + substantivo no ablativo para indicar o tema da obra:
Petri Nonĭi Salaciensis, de crepuscŭlis liber (Livro sobre os crepúscu-
los, de Pedro Nunes Salaciense); Prohemĭum de proprietatĭbus rerum
fratris Bartholomĕi (Proêmio sobre as propriedades das coisas do frei
Anais da Biblioteca Nacional • 140 25

Batolomeu). Em alguns títulos, a expressão reduz-se a de + substanti-


vo no ablativo: De senectute Marci Tulĭi Ciceronis (Sobre a velhice, de
Marco Túlio Cícero); De sacramentis in genĕre (Sobre os sacramentos
em gênero).

Também são muito ocorrentes, em títulos de obra, adjetivos relacionados


ao assunto abordado pelo autor. Nos livros em se que exploram questões
científicas, verificam-se, obviamente, adjetivos oriundos dos nomes das
ciências – Rudimentorum cosmographicorum Johannis Honteri Coronensis libri
III cum tabellis geographĭcis (Três livros de rudimentos cosmográficos, de
Johannes Honter da Coroneia, com pranchas geográficas); Anatomĭa corpŏrum
humanorum amplĭus explicata, multisque novis anatomĭcis inventis, chirurgicisque
observationĭbus aucta a Guilielmo Cowper (Anatomia dos corpos humanos
explicada mais amplamente com novas descobertas anatômicas e ampliada
com observações cirúrgicas por Guilielmo Cowper). Outros exemplos de
adjetivos desse tipo são physĭcus (físico), medĭcus (médico), chymĭcus (químico),
mathematĭcus (matemático), zoologĭcus (zoológico), zootomĭcus (zootômico),
ethnographĭcus (etnográfico) etc. Da mesma forma, em obras sobre religião,
são recorrentes adjetivos relacionados à temática religiosa: Cor deo devotum
Iesu (Coração devoto a Deus Jesus); Missale romanum, ex decreto Sacrosancti
Concilĭi Tridentini restitutum (Missal romano, restituído conforme o decreto
do Sacrossanto Concílio de Trento).
Personalidades famosas no mundo das ciências e da religião emprestam
seus nomes à formação de novos adjetivos latinos: Flora Peruviana, et Chilensis,
sive descriptiones et icones plantarum Peruvianarum, et Chilensĭum, secundum
systema Linneanum digestae (Flora peruana e chilena ou descrições e imagens de
plantas peruanas e chilenas, conforme o sistema lineano [de Carl von Linné] de
classificação); Ad articŭlos Calvinianae, de sacramento eucharistĭae, traditionis,
ab eius ministris Francĭa Antarctĭca evulgatae responsiones (Respostas aos artigos
sobre o sacramento da eucaristia de tradição calviniana [de João Calvino],
divulgadas por seus mensageiros na França Antártica). Outro manancial de
novos adjetivos são técnicas e instrumentos modernos, como a calcografia
(calcographĭa) ou calcogravura, empregada para reprodução de gravuras
por meio de matrizes de metal – calx, neologismo de sentido –, de onde se
originou o adjetivo calcographĭcus, ou o astrolábio (astrolabĭum), desenvolvido
no século XV para a navegação com base em teorias matemáticas antigas, de
onde surgiu o adjetivo astrolabĭcus.
Há adjetivos que remetem especificamente a procedimentos adotados
na elaboração da obra/livro, cuja maioria deriva de verbos: exprimĕre
(reproduzir) → expressus (reproduzido), corrigĕre (corrigir) → correctus
(corrigido), illustrare (explicar) → illustratus (explicado), recognoscĕre
(examinar) → recognĭtus (examinado), emendare (corrigir) → emendatus
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(corrigido), augere (aumentar) → auctus (aumentado), explicare (explicar)


→ explicatus (explicado), conferre (cotejar) → collatus (cotejado), confirmare
(restabelecer) → confirmatus (restabelecido). Em geral, esses adjetivos se
constroem com advérbios ou com substantivos no ablativo com ou sem
preposição para informar circunstâncias de determinado expediente
aplicado à produção do livro: partim emendatus, partim explicatus, partim
confirmatus: denique, omnĭbus suis membris collatus (corrigido em algumas
partes, explicado em outras, restabelecido em outras: por fim, cotejado em
todas suas partes); editĭo multis novorum experimentorum problematis aucta
(edição aumentada com muitos problemas de novos experimentos); Vivae
imagĭnes partĭum corpŏris humani aerĕis formis expressae (Imagens vivas das
partes do corpo humano reproduzidas por meio de figuras de bronze);
Cicĕro collatus cum ethnĭcis, & sacris scriptorĭbus (Cícero cotejado com
escritores pagãos e cristãos); Theodori Pulmanni Craneburgĭi studĭo correcta,
& argumentis illustrata ([edição] explicada por argumentos e corrigida graças
à dedicação de Theodor Pulmann). Junto a esses adjetivos, podem ocorrer
também antropônimos ou substantivos comuns no ablativo antecedidos por
a/ab, que identifica o responsável pelo referido procedimento: ab authore
recognĭta, emendataque (examinada e corrigida pelo autor).
É comum que alguns verbos relacionados a expedientes realizados na
produção do livro venham flexionados no pretérito perfeito, a exemplo de
disponĕre (organizar), describĕre (desenhar), colligĕre (reunir), revisĕre (revisar),
curare (cuidar, zelar), augere (desenvolver), entre outros. Em geral, esses
verbos têm por sujeito personalidades que atuaram como autores primários
ou secundários: disposŭit et descripsit Ignatĭus a Born (Ignaz von Born
organizou e desenhou); collegit et descripsit Dr. Johannes Baptista de Spix (o
dr. Johann Baptist von Spix desenhou e reuniu); primum tabŭlas revisit, denŭo
imprimendas et emendatis colorĭbus imbuendas curavit Dr. Carolus Fredericus
Philippus de Martĭus (Primeiramente, Carl Friedrich Philipp von Martius
revisou as pranchas e, depois, zelou para que fossem pintadas com as cores
corrigidas e impressas); ad calcem auxit pater Carolus Musart (o padre Charles
Musart desenvolveu para a prensa).
Em obras com vários tomos, volumes ou livros, costumam aparecer os
adjetivos prior (anterior), posterĭor (posterior) ou complectens (que abrange)
entre outros, para indicar a organização interna: Tomus primus sex priores
libros complectens (Tomo primeiro que abrange os seis primeiros livros); Tomus
secundus sex posteriores libros complectens (Tomo segundo que abrange os seis
livros posteriores). É comum que, a partir da segunda edição, a obra informe,
na página de rosto, sua peculiaridade frente à(s) anterior(es) por meio de
adjetivo no comparativo de superioridade: editĭo altĕra auctĭor et emendatĭor
(segunda edição mais ampliada e corrigida); editĭo quarta priori emendatĭor
(quarta edição mais corrigida do que a anterior).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 27

Em títulos de incunábulos, são muito comuns os verbos incipĕre (começar) e


explicĕre (terminar), empregados, respectivamente, para indicar início e fim da
obra. Em geral, esses verbos aparecem na voz ativa do presente do indicativo,
na terceira pessoa do singular (incĭpit, começa; explĭcit, termina) ou do plural
(incipĭunt, começam; explicĭunt, terminam): incĭpit compendĭum breve et utĭle
[…] (começa o útil e breve compêndio […]); explĭcit liber apocalypsis beati
Johannis apostŏli (termina o livro do apocalipse do beato apóstolo João);
explicĭunt tabŭlae tabularum astronomĭcae divi Alfonsi Romanorum (terminam
as pranchas das pranchas astronômicas do divino Alfonso dos romanos). Em
lugar de explicĕre, às vezes aparece o verbo finire (concluir) na voz passiva
(finitur, é concluído(a) ou conclui-se): finitur scriptum super Alchabitĭum
ordinatum per Johannem de Saxonĭa in villa Parisiensi (conclui-se o escrito
sobre o matemático Al-Qabisi por João da Saxônia na vila parisiense).
Importante aqui chamarmos atenção para a frequência de formas verbais
passivas sem agente da passiva, conforme o último exemplo do parágrafo
anterior (finitur = conclui-se). Esse uso da voz passiva assemelha-se à passiva
sintética do português (por exemplo, “vendem-se carros”, “contratam-se
atendentes”): Johannis Nicolăi antiqui professoris in academĭa Tubingensi libri
V de sepulchris Hebraeorum: in quibus variorum populorum mores proponuntur,
multa obscura loca enucleantur, usus approbantur & abusus rejiciuntur, genuina
Hebraeorum sepulchrorum forma ostendĭtur, illorumque ritus in illis exhibentur
et figuris aenes illustrantur (Cinco livros sobre sepulturas de hebreus, de
Johannes Nicolaus, antigo professor da academia de Tübingen, nos quais se
expõem os hábitos de vários povos, examinam-se muitos pontos obscuros,
reconhecem-se usos, rejeitam-se abusos, apresenta-se o formato genuíno
das sepulturas dos hebreus, e exibem-se, neles, seus ritos e ilustram-se com
figuras de bronze).
O local de impressão é expresso por topônimos latinos de cidades, que
aparecem geralmente no antigo locativo. Os mais encontradiços são de cidades
europeias: Antuerpĭa (Antuérpia, Bélgica), Basilĕa (Basileia, Suíça), Bononĭa
(Bolonha, Itália), Bruxellae (Bruxelas, Bélgica), Francofurtum (Frankfurt,
Alemanha), Monachĭum (Munique, Alemanha), Parisĭi (Paris, França),
Patavĭum (Pádua, Itália), Ulysbona/Olyssipponis/Ulixbonis/Ulyssiponis (Lisboa,
Portugal), Venetĭae (Veneza, Itália). Embora o locativo tenha se consagrado
internacionalmente no mundo tipográfico, registram-se expressões in +
topônimo em ablativo, forma menos clássica para circunstância de lugar: in
Verona (em Verona), in Brasilĭa (no Brasil).
Alguns nomes compostos de cidade apresentam adjetivosgentílicos em
genitivo plural referentes ao povo que habitou historicamente a região:
Lugdunum Batavorum (Leiden dos Batavos [nome histórico da cidade
holandesa de Leiden em referência aos batavos, povo da antiga região da
Batavia, localizada atualmente nos Países Baixos]); Lutetĭa Parisiorum (Lutécia
28 Anais da Biblioteca Nacional • 140

dos Parísios [nome latino da cidade de Paris, que alude aos parísios, povo
que habitou as margens do rio Sena até a dominação romana]); Mantŭa
Carpetanorum (Mântua dos Carpetanos [nome latino da cidade italiana de
Mantova, situada na antiga região da Carpetania e habitada inicialmente pelos
carpetanos]); Augusta Vindelicorum (Augusta dos Vindélicos [cidade fundada
pelo imperador Augusto na região da Vindelícia, habitada antigamente pelos
vindélicos e onde se situa atualmente a cidade alemã de Augsburg]).
A informação de impressor/livreiro aparecia ao final da obra, nos explicits
dos incunábulos (século XV), mas já nos pós-incunábulos (século XVI)
migrou para a página de rosto, podendo vir repetida ou complementada no
colofão. Em geral, a indicação do impressor é feita por meio de expressões
ex/in + substantivo – a exemplo de officina (oficina), typographĭa (tipografia)
e aedis (casa ou loja) – em ablativo + antropônimo em genitivo:ex officina
Isaaci Elzeviri typogrăphi (da oficina do tipógrafo Isaac Elzevir), in aedĭbus
Antonĭi à Marĭis (na loja de António de Mariz). Registra-se também o uso do
substantivo typus, i (tipo) em ablativo plural sem preposição: typis Gabrielis de
Sancha (com os tipos de Gabriel de Sancha).
Merecem menção expressões com os substantivos bibliopola (livreiro),
typogrăphus (tipógrafo) e impressor (impressor) no acusativo. Esses substantivos
também se constroem com antropônimos e são preposicionados por apud, que
rege o acusativo e significa “em” ou “em casa de”, em acepção mais clássica. No
universo da tipografia, a preposição adquire o sentido de “à venda em casa de,
na loja de”: apud bibliopolam Antonĭum Barneoud (à venda na loja do livreiro
Antoine Barneoud), apud Logdovicum Rotorigĭum typogrăphum (à venda na
loja do tipógrafo Luís Rodrigues); apud impressores Camerales (à venda na loja
dos impressores Camerales).
Verifica-se também o uso do verbo vendĕre (vender) na voz passiva junto a
expressões com apud, com sentido semelhante à voz reflexiva do português,
como já observamos: Itinerarĭum Exstatĭcum Kircherianum, Physĭca Curiosa,
& Technĭca Curiosa, venduntur Francofurti & Norimbergae, apud Johannem
Andrĕam Endterum, & Wolfgangi Juniores Haerĕdes (Vendem-se o Itinerário
Estático, a Física Curiosa e a Técnica curiosa de Kircher em Frankfurt
e Noruega, na loja de Johann Andrea Endter, e dos jovens herdeiros de
Wolfgang). Outros verbos usados para indicar o nome do impressor são
premĕre e seu composto imprimĕre, que costumam aparecer na terceira pessoa
do singular do pretérito perfeito do indicativo – impressit, pressit (imprimiu) –
em colofões e explicits: pressit apud Argentoracos hoc opus ingeniosus vir Johannes
Grunĭge (o talentoso Johann Grüninger imprimiu esta obra em Strasburg);
impressit hoc opus Angĕlus Britannĭcus die IIII Julĭi MCCCCLXXXVII (Angelo
Britannico imprimiu esta obra no dia 4 de julho de 1487); impressit hoc
opus Laurentĭus Hayus (Laurentius Hayus imprimiu esta obra). Registram-
se, ainda, variantes de uso de imprimĕre em que se emprega a voz passiva
Anais da Biblioteca Nacional • 140 29

do pretérito perfeito do indicativo: Impressum est hoc opus in Cesaraugusta


inclyta civitate justu et auctoritate octo virorum Aragoniae regni deputatorum
(esta obra foi impressa na ilustre cidade de Saragoça por ordem e autorização
dos oito avaliadores do reino de Aragão); impressum est hoc opus Avenioni per
Johannem de Channey anno 1525 (esta obra foi impressa em Avignon por
Jean de Channey no ano de 1525); hoc opus impressum est Bononĭae Dominĭco
Lapĭo Bononiensi procurante ab exemplari ipsĭus Galeotti. Anno MCCCCLXXVI
(Esta obra foi impressa em Bolonha editando Domenico Lapio Bolonhês a
partir do exemplar do próprio Galeoto).
Convém observarmos que nem sempre se verifica, nessas expressões
verbais, a regra do latim clássico segundo a qual o agente da passiva vem
em ablativo precedido da preposição a/ab para seres animados. Em grande
parte das passivas de imprimĕre que indicam o impressor da obra, o agente da
passiva vem em acusativo regido pela preposição per, conforme os exemplos
supracitados e os seguintes: Impressum est hoc opus per Henricum de Sancto Urso,
in Vicentĭa, MCCCCLXXXVI (Esta obra foi impressa por Enrico di Santorso,
em Vincenza, em 1486); impressum est hoc opus per Richardum Pynson regis
impressorem (esta obra foi impressa por Richard Pynson impressor do rei); hoc
opus impressum est per Simonem de Luere (esta obra foi impressa por Simone
da Lovere). Por fim, encontram-se, em indicações de impressor, expressões
com o verbo excudĕre (produzir, compor), que remetem à composição das
pranchas tipográficas com as quais a obra foi impressa. Nesse caso, o verbo
aparece na terceira pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo,
excudebat (compunha [a impressão], isto é, imprimia): ex. excudebat Johannes
Alvărus typogrăphus regĭus (imprimia João Álvaro, tipógrafo real); excudebat
Christianus Wechelus, sub scuto Basilensi, in vico Jacobaĕo (imprimia Chrétien
Wechel, no bairro de Saint Jacques); Clemens Ferronĭus superiorum permissu
excudebat (imprimia Clement Ferroni com a permissão dos superiores).
É importante termos em mente que, durante muito tempo, os próprios
impressores vendiam seus livros. Portanto, o impressor por vezes era também
livreiro, motivo para a preposição apud se generalizar e para serem dispensados
os substantivos typogrăphus e impressor: apud Sebastianum Cramoisy (à venda
na loja de Sebastian Cramoisy), apud Johannem Baptistam Bellagambam (à
venda na loja de Giovanni Battista Bellagamba), apud Johannem Baptistam
Bidellĭum (à venda na loja de Giovanni Battista Bidelli). Mas havia livros que
não eram comercializados por seu impressor: ex officina Christophŏri Plantini,
apud Johannem Moretum (da oficina de Christophe Plantin, à venda na loja
de Johann Moret), ex officina Gerardi Morbĭi, apud Collegĭum Sorbonae (da
oficina de Gerard Morb, à venda no Colégio de Sorbonne). Em lugar de apud,
ocorre também per, preposição igualmente de acusativo que significa “por” ou,
mais adequadamente ao âmbito das imprentas, colofões e explicits, “impresso
por”: per Johannem Rubĕum Vercellensem (impresso por Giovanni Rivio de
30 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Vercelli), per Petrum Pernam (impresso por Pierre Perna), per Johannem Lufft
(impresso por Johann Lufft).
O local de venda da obra às vezes é informado com o verbo prostare (estar
à venda ou em exposição), em geral na terceira pessoa do plural do presente
do indicativo, porque remete aos exemplares do livro: Prostant Norimberae
apud dictos Endteros ([os exemplares] estão à venda na Noruega, na loja dos
conhecidos Endters); prostantque apud Aegidĭum Elsevirum (e [os exemplares]
estão à venda na loja de Aegidio Elsevier; reliqui omnes prostant Francofurti,
apud Johannem Arnoldum Cholinum, & apud Haeredes Johannis Godefridi
Schönvvetteri (todos os [exemplares] restantes estão à venda em Frankfurt, na
loja de Johann Arnold Cholinus e na loja dos herdeiros de Johann Gottfried
Schonwetter); prostant in via Jacobĕa apud Claudĭum Chevallon sub Sole Aurĕo
et apud Johannem Parvum sub Lilĭo Aurĕo ([os exemplares] estão à venda na
rua Saint Jacques, na loja de Claude Chevallon sob o Sol de Ouro e na loja
de Jean Petit sob o Lírio de Ouro). Registra-se ainda, na indicação do local de
venda da obra, expressões com est venalis (é o vendedor): apud quem est venalis
(à venda na loja de quem é o vendedor).
A indicação de impressor pode ser feita também por meio de
adjetivosderivados de nomes de tipógrafos famosos, como Christophe Plantin
(Plantinianus), Aldo Manuzio (Aldinus), Sébastien Nivelle (Nivellianus),
Henric Fetter (Fetrinus), Chrétien Wechel (Wechelianus), Johann Froben
(Frobenianus), Johann David Zunner (Zunnerianus): ex officina Plantiniana
(da oficina de Plantin), in officina Aldina (na oficina de Aldo), ex officina
Nivelliana (da oficina de Nivelle), ex accuratissĭma officina Frobeniana (da
apuradíssima oficina de Froben). Esses adjetivos verificam-se comumente
quando a imprenta indica que o livro saiu da oficina de um impressor, mas
quem o imprimiu foi outra pessoa, na maioria das vezes seu descendente: ex
officina Frobeniana per Hyeronĭmum Frobenĭum et Nicolaum Episcopĭum (da
oficina de Froben, impresso por Hyeronimus Froben e Nicolaus Episcopio
[filhos de Johann Froben]); ex officina Frobeniana, per Ambrosĭum et Aurelĭum
Frobenĭos, fratres (da oficina de Froben, impresso pelos irmãos Ambrosius e
Aurelius Froben [netos de Johann Froben]). Há casos de livros que não se
encontram à venda na livraria de quem o imprimiu: in officina Wecheliana,
apud Danielem et Davidem Aubrĭos et Clementem Schleichĭum (impresso
na oficina de Whechel, à venda na livraria de Daniel e David Aubri e de
Clemens Schleich); ex officina Plantiniana, apud Franciscum Raphelengĭum (da
oficina de Plantin, à venda na livraria de Frans van Ravelingen); ex officina
Plantiniana, apud Christophŏrum Raphalengĭum (da oficina de Plantin, à
venda na livraria de Christopher van Ravelingen); ex officina Zunneriana,
apud Johannem Adamum Jungĭum (da oficina de Zunner, à venda na livraria
de Johann Adam Jung); ex officina Nivelliana, apud Sebastianum Cramoisy (da
oficina de Nivelle, à venda na livraria de Sébastien Cramoisy).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 31

Em algumas obras raras, consta a informação de livreiro junto à de impressor,


por meio dos substantivos impensa, ae (custas) e sumptus, us (gastos). Essas
palavras verificam-se no ablativo plural e acompanhadas de antropônimos
em genitivo para indicar o(s) impressores: apud Jacobum Lunam: Impensis
Leonardi Parasoli & sociorum (à venda na loja de Giacomo Luna: às custas
de Leonardo Parasoli e sócios), apud Antonĭum Augerellum, impensis Johannis
Parvi & Galeoti à Prato (à venda na loja de Antoine Augereau, às custas de Jean
Petit e Galliot Du Pré), apud Antonĭum Fulgonĭum sumptĭbus Stephani Borgĭae
Cardinalis (à venda na loja de Antonio Fulgoni, às custas do cardeal Stefano
Borgia), sumptĭbus Venantĭi Monaldini, ex typographĭa Octavĭi Puccinelli (às
custas de Venancio Monaldini, da tipografia de Octavio Puccinelli). Há ainda
imprentas que trazem três informações: impressor, financiador e livreiro –
ex officina Alberti Henrici. Impensis authoris & Cornelĭi Nicolăi, prostantque
apud Aegidĭum Elsevirum (da oficina de Albert Henri. Às custas do autor e de
Cornelio Nicolau, e à venda na loja de Aegidius Elsevier).
A obra rara pode trazer também a informação do bairro do impressor/
livreiro, por meio da expressão in + vicus, i (bairro) em ablativo +
antropônimo em genitivo: in vico Sancti Jacobi (no bairro de Saint-Jacques,
isto é, Quartier Saint Jacques [Bruxelas, Bélgica]), in vico Sancti Petri (no
bairro de São Pedro [Pádua, Itália]). Registram-se expressões via, ae (rua)
em ablativo + antropônimo em genitivo para indicar a rua do livreiro:
via Sancti Jacobi (na rua Saint-Jacques [Paris, França]), via Sancti Severini
(na rua de Saint-Séverin [Paris, França]), via Richellĭi (na rua de Richelieu
[Paris, França]). Merecem menção ainda expressões sub + scutum, i (escudo)
ou signum, i (sinal) em ablativo + substantivo em genitivo ou simplesmente
sub + substantivo em ablativo, designativas de sinais que identificavam a
fachada da livraria: sub scuto Florentĭae (sob o escudo de Florença, i.e., na
livraria de Jean Foucher), sub scuto Venetiarum (sob o escudo de Veneza, i.e.,
na livraria de Jean Petit), sub signo Salamandrae (sob o sinal da Salamandra,
i.e., na livraria de Denis Moreau), sub Ciconĭis (sob as Cegonhas, i.e., na
livraria de Sébastien Nivelle), sub flore Lilĭo (sob a flor do Lírio, i.e., outra
livraria de Jean Petit).
Nas indicações de endereço do impressor/livreiro, o substantivo via
constrói-se, por vezes, com o adjetivo participial dictus (chamado), de tradução
desnecessária, e anuncia o nome do logradouro: via dicta Des Mathurins, S.-
J., no 14 (na rua [chamada] Des Mathurins, Saint-Jacques, no 14); via dicta
Sainte-Anne, no. 55 (na rua [chamada] Saint-Anne, no 55). Em lugar de dictus,
pode ocorrer o adjetivo derivado do próprio nome da rua, como a vie de Saint-
Jacques, que em latim era conhecida como via Iacobaĕa (rua de Jacques), lugar
disputado por tipógrafos e livreiros devido à vizinhança com a universidade
de Sorbonne. Há ainda designações em que se emprega o substantivo vicus
(bairro) em lugar de via: in vico Iacobaĕo (no bairro de Jacques).
32 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Para indicar o ano de impressão, as páginas de rosto, colofões e explicits


de obras raras traziam a expressão annus, i (ano) em ablativo singular + nu-
meral romano: anno MDCXXIII (no ano de 1623), anno MDCI (no ano de
1601). Por vezes, annus vem suprimido ou reduzido pelas abreviaturas an.
ou ao. A numeração romana padrão compõe-se, essencialmente, de sete letras
maiúsculas: I (1), V (5), X (10), L (50), C (100), D (500) e M (1000). Para
os demais números, empregam-se princípios de adição e/ou de subtração. Se
o número à direita for menor ou igual ao da esquerda, somam-se seus valores:
ex. XI: 10 + 1 = 11. Caso contrário, subtrai-se o menor do maior valor: XC:
100-10 = 90. Há ainda o princípio de não se repetir um número lado a lado
por mais de três vezes: ex. 300 = CCC, mas 400 = CD.
No entanto, na indicação do ano de impressão das obras raras, usam-se, às
vezes, formas aditivas como IIII e VIIII em lugar das subtrativas IV e IX. Esse
sistema alternativo de numeração, na verdade, foi utilizado na Roma antiga
em inscrições oficiais e prolongou-se pela Idade Média. Convencionalizou-se,
na Idade Moderna, juntamente com a numeração padrão, a exemplo do reló-
gio da Catedral de Wells, em que constam IIII para quatro horas, mas IX para
nove horas. Assim, são frequentes as grafias IIIIII e XXXXX em lugar de VI
e LX. Outra forma alternativa de numeração é o apostrŏphus, que consiste no
uso de pares de “c” para representar múltiplos de 1000 e 500:

cIɔ 1.000 ccIɔɔ 10.000 cccIɔɔɔ 100.000


Iɔ 500 Iɔɔ 5.000 Iɔɔɔ 50.000
cIɔIɔ 1.500 ccIɔɔIɔ 10.500 ccIɔɔIɔɔ 15.000
cccIɔɔɔIɔ 100.500 cccIɔɔɔIɔɔ 150.000

Fonte: o autor.

Além do ano de impressão, há obras raras que informam o mês em que


foram impressas. Em geral, essa informação localiza-se no explicit ou colofão,
onde se verifica a expressão mensis (mês) + nome do mês. A divisão do ano em
doze meses corresponde ao calendário adotado pelos romanos após a reforma
de Júlio César, no século I a.C. Em latim, nomes de mês podem ser substan-
tivos ou adjetivos.
Na indicação do mês de impressão, esses substantivos se constroem em
genitivo singular junto a mensis no nominativo singular: mensis Januarĭi (mês
de janeiro), mensis Februarĭi (mês de fevereiro), mensis Martĭi (mês de março),
mensis Aprilis (mês de abril) etc. Enquanto adjetivos, nomes de mês podem
ser de 1ª classe (Januarĭus, a, um; Februarĭus, a, um; Martĭus, a, um; Maĭus,
a, um; Junĭus, a, um; Julĭus, a, um; Augustus, a, um) e de 2ª classe triforme
(September, bris, bre; October, bris, bre; November, bris, bre; December, bris,
bre) ou biforme (Aprilis, e). Na expressão do mês de impressão, esses adjetivos
Anais da Biblioteca Nacional • 140 33

vêm flexionados no masculino e singular, concordando com o substantivo


masculino mensis (mês), que pode estar no ablativo ou genitivo: mense Aprili
(no mês de Abril), mense Januarĭo (no mês de Janeiro), mense Septembri (no
mês de Setembro); Calendis mensis Aprilis (nas calendas do mês de Junho),
Idĭbus mensis Januarĭi (nos idos do mês de Janeiro), Nonnis mensis Septembris
(nas nonas do mês de Setembro).
Há obras raras que trazem ainda o detalhe do dia de impressão. Essa in-
formação também se encontra comumente no explicit ou no colofão do livro,
mas pode vir expressa de maneiras variadas. A forma clássica de se indicar o
dia do mês utiliza os substantivos Kalendae ou Calendae (calendas), Nonae
(nonas) e Idus (idos), que nas obras raras aparecem frequentemente abrevia-
dos: kal., cal., calen., non. Esses substantivos representavam, na Antiguidade
latina, três referências para a contagem dos dias:

dia meses
kalendae 1o quaisquer
nonae 5o Januarĭus, Februarĭus, Aprilis, Junĭus, Augustus,
September, November, December
7o Martius, Maius, Julĭus, October
idus 13o Januarĭus, Februarĭus, Aprilis, Junĭus, Augustus,
September, November, December
15o Martius, Maius, Julĭus, October
Fonte: o autor.

Para indicar o dia anterior às Calendae, Nonae ou Idus, usava-se o advér-


bio pridĭe (na véspera): pridĭe Calendas Novembris (na véspera das calendas
de novembro, isto é, em 31 de outubro), pridĭe Calendas Maĭi (na véspera
das calendas de maio, isto é, em 30 de abril). Os demais dias eram indicados
por meio da expressão ante dies (dias antes) + número de dias + nome do dia
referência mais próximo em acusativo + nome do mês em genitivo: ante dies
IV Nonas Septembris = 4 dias antes das nonas de setembro, isto é, em 2 de se-
tembro; ante dies IV Nonas Octobris = 4 dias antes das nonas de outubro, isto
é, em 4 de outubro. No entanto, essa expressão se simplificou com o tempo,
de modo que, em colofões e explicits de obras raras, às vezes não se verifica ante
dies. Ainda assim, contam-se os dias retrospectivamente: IX Calen. Novembris
= 9 dias antes das calendas de novembro, isto é, em 24 de outubro; IX Calen.
Julĭi = 9 dias antes das calendas de julho, isto é, em 23 de junho. No entanto,
há colofões e explicits que documentam uma contagem de dias mais moder-
na, isto é, progressiva. Em lugar de Calendae, Nonae e Idus, usa-se dies (dia)
em ablativo + número de dias + [mensis] + nome do mês em genitivo: die 14
34 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Augusti (no dia 14 de Agosto), die 21 mensis Januarĭi (no dia 21 do mês de Ja-
neiro), die XIIII Maĭi (no dia 14 de Maio), die XXIX Julĭi (no dia 29 de Julho).
No que diz respeito à licença de impressão, sabemos que sua concessão, as-
sim como a elaboração de listas de livros proibidos e a fiscalização de livrarias,
bibliotecas e tipografias, era incumbência do Conselho Geral da Inquisição.
A partir de 1575, visitas anuais às tipografias passaram a ser feitas por ordem
do cardeal português D. Henrique I, para coibir a impressão de livros não au-
torizada pelo Conselho Geral da Inquisição. Integravam esse órgão os padres
superiores da Companhia de Jesus (Superiores Societatis Jesu), referidos pelo
adjetivo superĭor, comparativo de superioridade de supĕrus (alto, elevado), que
significa o mais alto ou elevado e, portanto, o superior. A licença de impressão
vem indicada no início ou ao final do livro, por meio de expressões cum ou
ex/e + substantivo – gratĭa, ae (obséquio); permissus, us (permissão), auctorĭtas,
atis (autorização); facultas, atis (permissão); approbatĭo, onis (aprovação) – em
ablativo + inquisitor, oris (inquisidor) em genitivo: cum facultate inquisito-
ris (com a permissão do inquisidor), ex auctoritate inquisitorum (conforme
a autorização dos inquisidores), cum facultate & approbatione inquisitorum
(com a permissão e aprovação dos inquisidores). Comumente, o substantivo
permissus não vem preposicionado: inquisitoris permissu (com a permissão do
inquisidor). Na indicação da licença de impressão das obras raras, é muito
comum o adjetivo superĭor vir em genitivo plural (superiorum): superiorum
permissu (com a permissão dos superiores), ex auctoritate superiorum (confor-
me a autorização dos superiores), cum facultate superiorum (com a permissão
dos superiores). A licença de impressão pode ser expressa ainda por meio dos
verbos imprimĕre (imprimir) ou reimprimĕre (reimprimir), na terceira pessoa
do singular do presente do subjetivo voz passiva (imprimatur, imprima-se;
reimprimatur, reimprima-se). Essas formas verbais são empregadas no sub-
juntivo para que seja registrada a vontade/concessão das autoridades de que se
imprima ou reimprima uma determinada obra.
Por fim, o privilégio de impressão consistia na cessão do direito de
exclusividade para impressores publicarem e comercializarem uma obra
perpetuamente ou por determinado tempo. Essa prática, iniciada na Itália em
1469, retirava a obra de domínio público, proibia sua importação e protegia
os impressores dos concorrentes, impedindo que seus trabalhos fossem
reproduzidos. Em Portugal, o primeiro privilégio de impressão data de 1502
e foi destinado à impressão do Livro de Marco Pólo. A indicação de privilégio
vem no início ou no final do livro, por meio de expressões cum + privilegĭum,
i (privilégio) em ablativo [+ substantivo em genitivo]: por exemplo, cum
privilegĭo (com privilégio), cum privilegĭis (com privilégios), cum privilegĭo
regis (com o privilégio do rei). Há ainda indicações de privilégio detalhando o
tempo de duração por meio da expressão ad annos + numeral (até […] anos):
cum privilegĭo ad annos XV (com privilégio até 15 anos).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 35

Nas indicações de privilégio de impressão, é frequente o uso de adjetivos


designativos de autoridade como regĭus (real) – por exemplo, cum privilegĭo
regĭo (com o privilégio real). Registra-se ainda o adjetivo caesarĕus, desviado de
seu sentido clássico – relativo a César (Caesar) – e empregado como sinônimo
de regĭus: por exemplo, cum gratĭa & privilegĭo caesarĕae majestatis (com o fa-
vor e o privilégio da autoridade real), cum privilegĭo caesarĕo ad annos xv (com
o privilégio real até 15 anos).
No campo da sintaxe, nossa proposta de livro didático e de curso de latim
instrumental privilegiou os empregos sintáticos casuais mais recorrentes na
documentação de obras raras, seguindo a orientação metodológica de Albert
Sidney Hornby. Com relação ao nominativo, observamos seu uso limitado
a sujeito em frases verbais ou, em frases nominais, a núcleo de sintagma no-
minal designando a ideia central da informação presente no teor da página
de rosto. Depois do nominativo, o genitivo é um dos casos mais importantes
para o trabalho técnico do bibliotecário, já que, em geral, aparece em nomes
de autor, sobretudo quando em posição tópica na página de rosto. Outro
uso bastante encontradiço é o genitivo de matéria que, em vez de informar
o material de que se compõe um objeto, apresenta o assunto ou a delimita-
ção temática de que trata a obra. O acusativo tem sua maior frequência em
expressões preposicionadas (apud, per, ad etc.). Dessa forma, aproveitamos a
seção em que explicamos o acusativo para fazer uma explanação inicial sobre
a preposição latina e suas peculiaridades gramaticais. Encontramos também
o acusativo com per com um valor muito próximo ao de agente da passiva, o
que mostramos na seção destinada à construção da voz passiva dos verbos lati-
nos, em especial, quando tratamos das regras de construção de agente da pas-
siva. O ablativo apresenta-se também em muitas expressões preposicionadas
(ex, sub, cum etc.), o que nos ensejou a complementar as informações sobre a
proposição latina apresentadas por meio do estudo iniciado com o acusativo.
Além disso, existem outros usos sintáticos do ablativo que detectamos na do-
cumentação, relacionados a local, tempo, modo, meio, instrumento e agente
da passiva. No que diz respeito a local, verificamos a preferência pelo antigo
locativo quando se trata de nome de cidade (Romae, Parisiis, Lugduni etc.),
razão para dedicarmos no livro didático e no curso uma seção dedicada ao lo-
cativo e, sobretudo, elaborarmos uma tabela com os nomes das principais ci-
dades em locativo para facilitar o trabalho do bibliotecário. Quanto ao dativo,
verificamos poucos usos no corpus analisado, entre os quais como objeto in-
direto e complemento nominal de adjetivo. Por fim, o vocativo quase inexiste
na documentação analisada, razão para não termos planejado um capítulo do
livro didático ou uma aula para abordá-lo especificamente, muito embora o
mencionemos quando apresentamos uma visão panorâmica do sistema casual.
Frente a esse levantamento de características lexicais e morfossintáticas iden-
tificadas no corpus analisado e com base nas questões teórico-metodológicas
36 Anais da Biblioteca Nacional • 140

anteriormente expostas, buscamos definir os temas centrais dos capítulos do


livro didático e dos módulos do curso. Uma de nossas principais preocupações
foi conciliar as explicações acerca de fenômenos gramaticais com explana-
ções que atendessem demandas técnicas da catalogação de um livro em nível
básico. Dessa forma, optamos por organizar tanto o livro didático quanto o
curso em nove módulos, a partir da eleição de nove temas mais coerentes com
o universo do bibliotecário que, ao fim e ao cabo, se encontram articulados
com nove temas gramaticais. À guisa de conclusão, apresentamos a seguir o
organograma básico do curso “O Latim nas Obras Raras”, que resultou da
aplicação dos pressupostos teórico-metodológicos e dos dados obtidos da aná-
lise do corpus discutidos neste ensaio.

MÓDULO 1: Nome de autor


Objetivo: Desenvolver a habilidade de identificar e recuperar a informação
de nome de autor em páginas de rosto e incipit’s de obras raras em latim.
Ementa: Nome de autor na documentação de obras raras em latim; subs-
tantivo latino; conceitos de declinação e de caso latino; caso genitivo.
Programação das aulas
MÓDULO 2: Nome de impressor
Objetivo: Desenvolver a habilidade de identificar e recuperar a informação
de nome de impressor em páginas de rosto, incipit’s, colofões e explicit’s de
obras raras em latim.
Ementa: Nome de impressor na documentação de obras raras em latim;
substantivo latino; preposições latinas; caso acusativo.
MÓDULO 3: Privilégio, licença e local de impressão
Objetivo: Desenvolver a habilidade de compreender expressões de licença
e privilégio de impressão, além de outras expressões recorrentes em páginas
de rosto e incipit’s de obras raras em latim.
Ementa: Expressões de licença e privilégio de impressão; outras expressões
recorrentes em páginas de rosto; caso ablativo; preposições de ablativo.
MÓDULO 4: Expressão de saudação
Objeto: Desenvolver a habilidade de compreender a fórmula de saudação
em incipit’s de incunábulos.
Ementa: Fórmula de saudação em incipit’s de incunábulos; o dativo nas
cinco declinações.
MÓDULO 5: Variantes de expressões
Objetivo: Desenvolver a habilidade de identificar o plural de substantivos
em variantes de expressões estudadas nos módulos anteriores e em títulos
de páginas de rosto e incipit’s de obras raras em latim.
Ementa: Variantes de expressões recorrentes em páginas de rosto e incipit’s
de obras raras em latim; o plural de substantivos das cinco declinações.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 37

MÓDULO 6: Prática de leitura de páginas de rosto I


Objetivo: Exercitar a leitura e análise de títulos de páginas de rosto e inci-
pit’s de obras raras em latim.
Ementa: Prática de leitura e de análise de títulos de página de rosto e in-
cipit’s de obras raras em latim; tipos e classes de adjetivos; paradigma dos
adjetivos.
MÓDULO 7: Data de impressão
Objetivo: Desenvolver a habilidade de identificar e recuperar a informação
de data de impressão em páginas de rosto, colofões, incipit’s e explicit’s de
obras raras em latim.
Ementa: Data de impressão em páginas de rosto, colofões, incipit’s e expli-
cit’s de obras raras em latim; números e numerais romanos.
MÓDULO 8: As expressões de nihil obstat, incipit, imprimatur e reimprimatur
Objetivo: Desenvolver a habilidade de compreender expressões nihil obs-
tat, imprimi potest, imprimatur, reimprimatur, e impressus, a, um est na do-
cumentação de obras raras em latim.
Ementa: Expressões nihil obstat, imprimi potest, imprimatur, reimprimatur
e impressus est na documentação de obras raras em latim; verbo latino.
MÓDULO 9: Prática de leitura de páginas de rosto II
Objetivo: Exercitar a prática de leitura de páginas de rosto, incipit’s, co-
lofões e explicit’s de obras raras em latim e a recuperação de informações
básicas para catalogação.
Ementa: Estratégias de leitura e compreensão de frases nominais e verbais
em latim; pronomes demonstrativos e relativos.

Referências
ARMENGAUD, Françoise. A pragmática. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
AUSTIN, John Langshaw. How to do things with words. Cambridge: Harvard
University Press, 1962.BRASIL. Governo Federal. Decreto no 19.851, de 11 de abril
de 1931. Dispõe que o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferencia, ao systema
universitario, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização
technica e administrativa das universidades é instituida no presente Decreto, regendo-
se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos
do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras. Disponível em: https://www2.
camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-19851-11-abril-1931-505837-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 29 jan. 2022.
BRASIL. Governo Federal. Lei no 5.540, de 28 de novembro de 1968. Fixa normas
de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola
média, e dá outras providências. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/
fed/lei/1960-1969/lei-5540-28-novembro-1968-359201-publicacaooriginal-1-pl.
html#:~:text=Fixa%20normas%20de%20organiza%C3%A7%C3%A3o%20
38 Anais da Biblioteca Nacional • 140

e,m%C3%A9dia%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20
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tem,de%20profissionais%20de%20n%C3%ADvel%20universit%C3%A1rio. Acesso
em: 22 jan 2022.
BRASIL. Ministério da Educação/Conselho Nacional de Educação/Câmara de
Educação Superior. Resolução no 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as
Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na
Meta 12.7 da Lei no 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE
2014-2024 e daí outras providências. Disponível em: <https://www.in.gov.br/materia/-/
asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/5587780>. Acesso em: 29 jan 2022.
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009. p. 236-237.
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do
discurso. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
GRANT, Neville. Making the most of your textbook. New York: Longman, 1989.
HORNBY et al. Textbook. Oxford advanced learners’ dictionary of current English.
Heineman Educational Press, 1984.
HUTCHINSON, T.; Waters, A. English for Specific Purposes: A Learning-centered
Approach. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.
LEVINSON, Stephen C. Pragmática. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MAINGUENEAU, Dominique. Pragmática para o discurso literário. São Paulo:
Martins Fontes, 1996.
SEARLE, John R. Expressão e significado: estudos da teoria dos atos da fala. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
STREVENS, P. ESP After Twenty Years: a Re-appraisal. In: TICKOO, M. (Ed.). ESP:
state of the art. Singapore: Regional Language Centre, 1988. pp. 1-13.
VAN DIJK, Teun A. Studies in the pragmatic of discourse. The Hague: Mouton, 1981.
Glossário de topônimos latinos do
Brasil em Historia navigationis in
Brasiliam: breves comentários

Lucia Pestana da Silva


Graduada em Português-Latim pela UFRJ e mestranda em Letras Clássicas pelo Programa
de Pós-graduação em Letras Clássicas da UFRJ. Foi monitora do Departamento
de Letras Clássicas da UFRJ

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
Este artigo objetiva apresentar o processo de elaboração e os resultados do projeto de
Iniciação Científica “Glossário de topônimos latinos do Brasil em Historia navigationis
in Brasiliam”. O corpus selecionado para investigação foi Historia navigationis in Brasi-
liam, obra do pastor, missionário e escritor francês Jean de Léry (c.1536-1613), devido
à quantidade significativa de topônimos latinos do Brasil. A obra encontra-se depositada
no acervo da Divisão de Obras Raras da Fundação Biblioteca Nacional, que desenvolve
o projeto de extensão “Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas”, coordenado
pelo Prof. Dr. Fábio Frohwein de Salles Moniz. Neste texto, exporemos o levantamento
lexical feito a partir do corpus e temáticas que envolveram o processo de elaboração da
pesquisa. Apresentaremos, ainda, alguns dos verbetes estudados que irão compor o glos-
sário proposto.
Palavras-chave: Língua latina. Topônimos latinos no Brasil. Jean de Léry. Historia navi-
gationis in Brasiliam. Fundação Biblioteca Nacional.

Abstract
We aim to present the process of elaborating a glossary of Latin toponyms in Brazil, based
on data collected in “Historia navigationis in Brasiliam” (LÉRY, 1586). The construction
of a specific glossary (BORBA, 2003) aims to make easier the work of those who deal
with rare works, researchers and historians who deal with the works or subjects covered
in the lexicon presented with the glossary. We will present the preliminary studies that
are necessary and relevant in the process of elaboration of the proposed glossary with the
data researched in the mentioned work.
Keywords: Latin language. Latin toponyms in Brazil. Jean de Léry. Historia navigationis
in Brasiliam. Fundação Biblioteca Nacional.
Trataremos neste texto de alguns aspectos que envolvem a pesquisa intitu-
lada “Glossário de topônimos latinos do Brasil em Historia navigationis in Bra-
siliam”. A pesquisa vincula-se ao grupo de pesquisa Crítica Textual (CNPq/
FBN) e desdobrou-se a partir das atividades desenvolvidas no projeto de ex-
tensão Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas coordenado pelo Prof.
Dr. Fábio Frohwein de Salles Moniz em parceria com a Fundação Biblioteca
Nacional (FBN). Nosso trabalho objetiva auxiliar profissionais, pesquisadores
e demais interessados nos assuntos relacionados à obra, tais como território
brasileiro, Renascimento, representação da cultura ameríndia, língua latina,
entre outros. A proposta apresentada é a de elaboração de um glossário de
topônimos e neologismos latinizados referentes ao território brasileiro presen-
tes na obra do viajante francês Jean de Léry (1536-1613).
A obra referida teve sua primeira publicação em francês com o título de
Histoire d’un Voyage faict en la terre Du Brésil e, posteriormente, no ano de
1586, foi traduzida para o latim com o título de Historia navigationis in Brasi-
liam (HNB), conforme desejo de Jean Léry. O autor veio para o Brasil acom-
panhando um grupo de missionários protestantes que tinha como destino a
Baía de Guanabara; mais precisamente a colônia francesa fundada por Nico-
las Durand de Villegagnon (1510-1571) e mantida com recursos financeiros
enviados por Gaspar de Coligny (1519-1572), almirante francês e líder cal-
vinista. A viagem, que aconteceu no ano de 1556, serviu de repertório para a
narrativa de sua primeira vinda à América (MARIZ; PROVENCAL, 2015).
HNB foi escrita sob as influências de uma relevante fase histórica que se
iniciou no séc. XIV e se prolongou até o séc. XVI na Itália: o Renascimento.
De acordo com Jacob Burckhardt (2009), no homem da Renascença desper-
taram o individualismo, o interesse pela essência do espírito humano e pelas
pesquisas científicas, o que proporcionou, por exemplo, as grandes navegações
que levaram os europeus a descobrirem novos lugares e saberes.
O Renascimento italiano suscitou um interesse pela Antiguidade clássica,
em uma busca por respostas para as questões emergentes da época. Com isso,
o homem da Renascença italiana redescobriu o mundo clássico e o latim pas-
sou a ser a língua franca da elite europeia. As personagens mais conhecidas
dessa época eram os humanistas, os príncipes e os cortesãos. O convívio entre
esses indivíduos se dava, sobretudo, no âmbito da corte renascentista, que,
por sua vez, não se tratava de um lugar propriamente dito, mas, no entender
de Peter Burke, de “um grupo de pessoas”, isto é, da “‘família’ de um sobera-
no ou de qualquer outra pessoa importante” (1991, p. 103). Na maioria das
vezes, a circulação e produção de textos latinos, fora do contexto religioso,
resultaram desse convívio.
A partir de então, o latim clássico passou a ser o modelo usado pelos huma-
nistas que enfatizaram o estilo de escrita e uso de vocábulos de Cícero, célebre
autor clássico. Esses humanistas integravam o grupo dos ciceronianos, que
42 Anais da Biblioteca Nacional • 140

menosprezavam qualquer construção ou uso vocabular que não tivesse sido


empregado por Cícero nos textos clássicos. No entanto, as descobertas cientí-
ficas e expedições que levaram o homem ao descobrimento de novos lugares,
culturas, povos e espécies demandavam dos escritores palavras e conceitos não
explorados por Cícero. Dessa forma, o uso restrito do léxico ciceroniano não
daria conta das demandas de comunicação entre os homens de ciência.
Assim, uma segunda geração de humanistas, contrários ao uso limitado do
latim, opôs-se aos ciceronianos, tornando-se conhecidos como os não-cicero-
nianos. Com isso, novas palavras foram criadas ou latinizadas para suprir a ne-
cessidade de representação linguística de novos termos e conceitos, além dos
lugares e culturas recém descobertos. Surgiram, então, os neologismos latinos.
Escrever em latim a serviço da ciência foi de fundamental importância
para a propagação internacional do conhecimento. Os escritores precisavam,
portanto, se expressar com clareza e objetividade para não atrapalharem o
entendimento do leitor. A utilização de neologismos como recurso de comu-
nicação em latim, no entanto, por vezes causava problemas na transmissão de
sentidos e conceitos mais restritos a uma determinada cultura. Nesse sentido,
Johann Ramminger afirma que:

O conflito entre culturas que só podiam afirmar sua incompreensão mútua não
podia ser resolvido apenas por estratégias verbais monolíngues; até mesmo o ne-
olatim – há muito usado para integrar unidades semânticas vernaculares em um
contexto global – nem sempre conseguia lidar com a divisão semântica iniciada
pelo contato com os mundos estrangeiros no Oriente e no Ocidente. (NEO-
-LATIN, 2014, tradução nossa).1

O conflito citado por Ramminger não foi diferente no contexto de HNB.


No século XVI, um viajante francês encontrou-se com os habitantes do Brasil
que eram, predominantemente, tupis. Os europeus tiveram um novo contato
com povos, culturas, línguas, fauna e flora bem diferentes das já conhecidas.
Em obras como HNB, podemos perceber a visão dos estrangeiros em relação
aos habitantes nativos e seu hábitat. Por muitas vezes, ao se tratar de uma
palavra específica do território brasileiro, o autor latinizou a palavra de acordo
com os recursos gramaticais da língua latina para empregá-la no texto. Por
outras, o autor preferiu manter a palavra conforme a língua de partida. Preo-
cupado com a transmissão correta de sentidos, sempre que o autor tratava de

1. “The clash of cultures which could only affirm their mutual incomprehension was not to be resolved
by monolingual verbal strategies alone; even Neo-Latin – long used to integrate vernacular semantic
units into a global context – could not always cope with the semantic divide opened up by the contact
with the foreign worlds in the East and West”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 43

um novo conceito desconhecido do público-alvo de HNB, uma anotação nas


marginálias foi feita explicando seu conceito.
Listamos alguns exemplos de palavras referentes ao território brasileiro em-
pregadas em HNB que integram o glossário de nosso trabalho. As palavras a
seguir não foram alteradas pelo autor para serem encaixadas no texto latino.
Parece-nos que o autor buscou representá-las conforme sua fonética: talvez
por serem características demais à cultura indígena, o autor tenha buscado
retransmiti-las conforme sua experiência.

— acaraouassou peixe cará grande. “Acaraouassou, piscis delicatissimus”


(LERY, 1586, p. 343) (Acaraouassou, peixe muito gostoso). Do tupi: akara +
uçu (grande).
— araroye adorno usado no corpo feito de penas de avestruz. “Itaque fit
pennarum fasciculus quem sua lingua Araroye appellant.” (LERY, 1586, p. 86)
(E assim, o pequeno feixe feito das penas que é chamado na sua língua de
araroye.).
— canide caninde, arara; do tupi: kaninde.
— genipat jenipapo; do tupi: ianypaba.
— ianouare onça; do tupi: iaguara.
— kaagerre espírito que atormenta os índios; do tupi: kaa (mato) + guara
(comedor; pegar).
— maniot mandioca, raiz usada para fazer o cauim, uma bebida fermenta-
da usada em rituais indígenas.
— manobi amendoim; do tupi: mandubi.
— orapat arco; do tupi: urapar-a; em tupinambá: uru-pa.
— paco banana; do tupi: pakoba; em tupinambá: pako.2

A seguir, trataremos da estrutura e elaboração de alguns exemplos que


compõem o glossário proposto.
Exemplo 1: Ouetacas é um substantivo latinizado, ou seja, foi adaptado
para as convenções gramaticais da língua latina e inserido no texto em latim.
Seu referente na língua tupi é guai-t-aka. Ouetaca refere-se à tribo indígena
localizada na extensão do rio Paraíba do Sul e do rio Macaé, onde atualmente
se localiza a cidade de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro. Esse substan-
tivo foi empregado em HNB com as seguintes variantes: Ouetacas, Ouetacates,
Ouetacati, Ouetacatibus e Ouetacatium. De acordo com o conhecimento gra-
matical latino, observamos que a palavra Ouetacas e suas variantes estão se-
guindo um padrão de substantivos latinos, que é o de mudar sua forma, a

2. Trabalhamos com os dicionários de Barbosa (1951) e Carvalho (1987) para a melhor compre-
ensão dos termos em tupi.
44 Anais da Biblioteca Nacional • 140

depender da função sintática que ele venha a exercer na construção textual,


fenômeno denominado tradicionalmente de declinação ou flexão de caso.
Destacamos que não é nosso interesse, nesta pesquisa, abordar a gramática
latina. Por isso, não nos aprofundamos nos conceitos gramaticais do latim.
Buscamos, com nosso glossário, atender a um amplo público de interessados
nos assuntos em questão e não apenas pesquisadores e profissionais que co-
nheçam latim. Por isso, optamos por empregar termos preferenciais e remissi-
vas na composição de nosso glossário. A exemplo de Ouetacas:

— Ouetacas s. Ouetaca; Goitaca; Guaitaka. Tribo inimiga das tribos Tupi,


localizados na extensão do rio Paraíba do Sul e do rio Macaé. Por serem en-
contrados em uma das regiões do interior do Rio de Janeiro, originou-se o
nome do local atualmente conhecido como Campos dos Goytacazes. Do tupi:
guai-t-aka.
— Ouetacates cf. Ouetacas.
— Ouetacati cf. Ouetacas.
— Ouetacatibus cf. Ouetacas.
— Ouetacatium cf. Ouetacas.

Podemos perceber, nos exemplos acima, que uma mesma palavra pode
variar sua forma. Como dissemos, essa característica da língua latina aconte-
ce a depender da função sintática da palavra e número que ela apresenta na
frase ou expressão. No nosso glossário, o termo preferencial dos substantivos
é representado por sua forma de nominativo singular3 “Ouetacas”, seguida
de sua classe gramatical “s” (substantivo) e, por fim, a acepção da palavra. As
entradas remissivas indicam ao leitor o termo preferencial do verbete, “cf.”;
sendo assim, se referem às demais formas latinas. As remissivas também foram
utilizadas quando uma palavra apresenta uma variação ortográfica, como no
exemplo a seguir.
Exemplo 2: As palavras a seguir não variam a forma a depender de sua
função sintática. No entanto, na obra, podemos perceber que elas apresentam
flutuações ortográficas. Representamos essas variantes como entradas remissi-
vas de um termo preferencial.

— agoti s. cutia, pequeno roedor. Do tupi: ako-ti.


— agouti cf. agoti.
— caouin s. cauin, bebida alcoólica indígena feita de milho ou de raízes.
Do tupi: kaui.

3. O nominativo é a forma latina da palavra que atribui uma função mais geral ao seu emprego.
Esta forma é empregada, por excelência, na função de sujeito. Nos dicionários de língua latina,
a forma como um substantivo é apresentado na entrada do verbete corresponde ao nominativo.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 45

— caou-in cf. caouin.


— caouini cf. caouin.

Exemplo 3: A palavra caouin é empregada no texto com a mesma forma


em diferentes construções sintáticas, ou seja, o autor optou por não latinizá-
-la. Observemos seu termo preferencial novamente seguir:

— caouin s. cauin, bebida alcoólica indígena feita de milho ou de raízes.


Do tupi: kaui.

A palavra caouin, porém, apresenta em HNB algumas derivações que des-


tacamos a seguir:

— caouinando cf. *caouinare.


— caouinandum cf. *caouinare para cauinar.
— caouinantes cf. *caouinare aqueles que bebem cauin.
— Caouinantium cf. *caouinare.
— *caouinare v. cauinar, beber cauim. “ad caouinandum frequentes bar-
bari conuenerant” (LERY, 1586, p. 260) (Os bárbaros se reuniam muitas vezes
para cauinar); “strepitu barbarorum saltantium et caouinantium” (LERY, 1586,
p. 249) (com o barulho de bárbaros que dançam e que bebem cauin).

As palavras derivadas caouinando, caouinandum, caouinantes e caouinan-


tium são formas nominais de um verbo que indicam relação com a ação de
beber caouin. Sua forma de infinitivo verbal não é representada em nenhuma
construção durante a obra. A partir das informações analisadas e do nosso
conhecimento gramatical da língua latina, contudo, conjecturamos qual seria
sua forma infinitiva. O infinitivo foi a forma escolhida para o termo preferen-
cial de um verbo em nosso glossário.
Quando o termo preferencial não foi encontrado em HNB, optamos por
usar didaticamente um “*” (asterisco) antes do verbete, indicando nossa con-
jectura para essa forma.
Observemos, a seguir, mais um exemplo de derivação da palavra caouin:

— *caouinatio s. ação de beber cauim.


— caouinationibus cf. *caouinatio.

Desta vez, a partir de caouin, o autor construiu um substantivo que clara-


mente apresenta uma forma plural dos substantivos latinos “caouinationibus”.
Apesar de seu nominativo singular não ter sido utilizado em HNB, conjectu-
ramos sua forma e, assim, usamos o padrão escolhido de termos principais e
remissivas no glossário.
46 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Ressaltamos que nossas escolhas para o glossário latino são pensadas não
apenas para um público-alvo que saiba a língua latina, uma vez que, para
entender um glossário ou dicionário latino, deve-se ter determinado conheci-
mento gramatical sobre a língua para seu devido uso. Como o nosso público-
-alvo é bastante heterogêneo, elaboramos os verbetes do glossário, visando,
sobretudo, a facilitar a leitura de quem não tem conhecimento de língua lati-
na ou o hábito de pesquisar em dicionários latinos.
Com este trabalho, buscamos contribuir para o tratamento e divulgação
de obras raras em latim que narram nossa história e que pertencem ao nosso
patrimônio biblioteconômico. Nossa pesquisa de Iniciação Científica é uma
pequena colaboração para a difusão da importância do acervo de obras raras
da FBN, que guarda livros fundamentais para conhecermos nossa própria
história – como HNB, obra que nos possibilita analisar a visão dos europeus
diante dos ameríndios, de sua cultura e ambiente.4

Referências
BARBOSA, A. Lemos. Pequeno vocabulário tupi-português. Rio de Janeiro: Sao Jose,
1951.
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. Trad. Sergio
Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
BURKE, Peter et al. O homem renascentista. Direção de Eugenio Garin. 1. ed. Lisboa:
Presença Editorial, 1991.
CARVALHO, Moacyr Ribeiro de. Dicionário tupi (antigo) português. Salvador: BCB,
1987.
LERY, Jean de. Historia navigationis in Brasiliam: qva describitvr avtoris nauigatio,
quaeque in mari vidit memoriae prodenda: Villagagnonis in America gesta: Brasiliensium
victus & mores, a nostris admodum alieni, cum eorum linguae dialogo: animalia etiam,
arbores, atque herbae, reliquaque singularia & nobis penitus incognita. Geneve: Suiça,
1586.
LERY, Jean de . Histoire d’um Voyage fait em la terre du Brésil. La Rochelle: Antoine
Chuppin, 1578.
MARIZ, Vasco; PROVENCAL, Lucien. Os franceses na Guanabara: Villegagnon e a
França Antártica. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
NEO-LATIN: Character and Development. In: Brill’s Encyclopaedia of the Neo-Latin
World. Brill: Leiden, 2014. p. 21-36.

4. Os assuntos abordados neste texto são desenvolvidos no trabalho de conclusão do curso de


Letras-Latim da Universidade Federal do Rio de Janeiro pela concluinte Lucia Pestana da Silva e
orientado pelo prof. dr. Fábio Frohwein de Salles Moniz (SILVA, 2019).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 47

SILVA, Lucia Pestana da. Glossário de topônimos latinos do Brasil em Historia


navigationis in Brasiliam. 2019. 59f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em
Letras) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2019. Disponível em: https://ndlcufrj.wixsite.com/home/post/gloss%C3%A1rio-de-
top%C3%B4nimos-latinos-do-brasil-lucia-pestana-da-silva. Acesso em: 5 set. 2020.
As Heroinae, de Júlio César
Escalígero: seleção e tradução

Thamara Martins Santos de Morais


Graduada em Português-Latim pela UFRJ. Foi monitora do Departamento
de Letras Clássicas da UFRJ

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar a nossa pesquisa “As Heroinae, de Júlio César Es-
calígero: seleção e tradução”. A ideia de traduzir a obra surgiu do fato de que ela é inédita
em português. Buscávamos também contribuir para a divulgação de uma obra rara do
acervo da Fundação Biblioteca Nacional, colaborando com pesquisadores de obras raras
em latim e do Renascimento. A principal fonte de informação de nossa pesquisa é Julii
Caesaris Scaligeri, viri clarissimi, poemata omnia in duas partes divisa (1621), cujo exem-
plar consultado se encontra no acervo do setor de Obras Raras da FBN. Apresentaremos
também nossas traduções de sete poemas das Heroinae.
Palavras-chave: Língua latina. Renascimento. Júlio César Escalígero. Heroinae. Funda-
ção Biblioteca Nacional.

Abstract
The aim of this article is to present our research “As Heroinae, de Júlio César Escalígero:
seleção e tradução” (“The Heroinae of Juliuis Scaliger: selection and translation”).
The idea of translating this work arose from the fact that it remains unstranslated to
Portuguese. We also sought to contribute to the dissemination of the Fundação Biblioteca
Nacional rare books collection, collaborating with researchers who deal with rare works
in Latin and Renaissance literature. The main source of information of our research is
Julii Caesaris Scaligeri, viri clarissimi, poemata omnia in duas partes divisa (1621), which
can be found in the FBN Rare Books Division. We will also present our translations for
seven poems from the Heroinae.
Keywords: Latin language. Renaissance. Giulio Cesare Scaligero. Heroinae. Fundação
Biblioteca Nacional.
Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar nossa pesquisa de Iniciação Cien-
tífica “As Heroinae, de Júlio César Escalígero, seleção e tradução”. A ideia de
traduzir a referida obra surgiu do nosso interesse em conhecê-la no original e
do fato de que ela se encontra ainda inédita em português. Além disso, buscá-
vamos desenvolver uma pesquisa que pudesse contribuir para a divulgação de
uma obra rara do acervo da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), colaboran-
do com determinados setores da sociedade, a saber, pesquisadores e profissio-
nais que lidam com obras raras em latim e com a literatura do Renascimento.
A principal fonte de informação de nossa pesquisa é Julii Caesaris Scaligeri,
viri clarissimi, poemata omnia in duas partes divisa (1621), que se encontra de-
positada na Divisão de Obras Raras da FBN. Em nossa pesquisa, procedemos
ao estudo sobre o autor, a obra em questão e seu contexto histórico-cultural.
Simultaneamente, procedemos à tradução de sete poemas selecionados das
Heroinae, que apresentaremos ao final deste trabalho. Esta pesquisa vincula-se
ao grupo de pesquisa Crítica Textual (CNPq/FBN) e desdobrou-se do projeto
de extensão Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas, realizado em
parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a FBN.

Autor, período histórico e obra

Júlio César Escalígero (1484-1558) acompanhou de perto um dos mo-


mentos culturais mais importantes para a história da Europa, o Renascimento.
Segundo Jacob Burckhardt (2009, p. 145-176), esse momento histórico-
-cultural deve ser entendido à luz de dois conceitos-chave: individualismo
e modernidade. Para o historiador, foi na Renascença italiana que o homem
começou a se entender como indivíduo, o que possibilitou o advento de um
movimento singular nas artes e letras que marcou uma profunda ruptura
com a Idade de Média e se caracterizou, essencialmente, pela busca de mo-
delos tomados da Antiguidade clássica. Historiadores mais recentes, como
Peter Burke (2014, p. 17-52), recusam a ideia de que o homem do Renasci-
mento rompeu, abruptamente, com padrões comportamentais e culturais do
Medievo, preferindo trabalhar com as noções de continuidade e hibridismo
culturais aplicados ao entendimento da sociedade renascentista.
Uma característica do Renascimento que muito interessa para esta pes-
quisa é o fato de que houve nesse período uma primeira geração de humanis-
tas que criticou veementemente o latim e a literatura medievais, propondo
a retomada do latim e dos gêneros literários clássicos (NUÑEZ GONZÁ-
LEZ, 1991, p. 229-257). Dessa forma, intelectuais como Leonardo Bruni,
Pietro Bembo e Escalígero julgavam que o latim medieval era um produto
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degenerado do latim clássico devido à contaminação causada pelo contato


com as línguas bárbaras, em termos de pronúncia, vocabulário e construções
sintáticas. Em nossos comentários à tradução do poema selecionado para esta
apresentação, retomaremos essa questão do purismo linguístico, presente na
linguagem de Escalígero. Além da língua, houve também a recuperação dos
principais gêneros literários antigos, como a epopeia, a comédia, a ode, a pas-
toral, a elegia, entre outros. A formação educacional de um intelectual da Re-
nascença compunha-se, essencialmente, de gramática, retórica e dialética, isto
é, de estudos voltados às formas “corretas” de se falar uma língua, discursar em
público e formular o pensamento, pois se acreditava que a principal distinção
entre homem e animal se dava com o domínio da linguagem. Além disso, o
sistema educacional preparava o indivíduo para falar, ler e escrever em latim
clássico, língua não somente de prestígio social na corte renascentista, mas
também de grande importância para comunicação internacional. Para desen-
volver a habilidade da escrita em latim, uma importante etapa do aprendizado
consistia na imitação do vocabulário, expressões, sintaxe e estilo dos autores
considerados modelares, como Cícero ‒ daí os escritores renascentistas cicero-
nianos ‒, e de gêneros literários como epístolas e discursos, entre outros, com
o intuito de assimilar o modelo para igualá-lo ou até mesmo o ultrapassá-lo
(BURCKHARDT, 2009, p. 203-207).
Considerado um dos maiores eruditos do Renascimento italiano, Júlio
César Escalígero possui uma trajetória marcada por muitas incertezas. Na
mais recente biografia do autor (HALL JR, 1950), lemos que Escalígero
alegava descender dos Della Scala de Verona, família oriunda de uma li-
nhagem de heróis e príncipes da época de Átila, o Huno ‒ daí que ele se
auto-intitulasse um Lescale: em latim, Scaliger. Hall nos conta ainda que
Escalígero teria passado algum tempo na Universidade de Bolonha quando
estava estava no auge de sua fama que ele tenha estudado medicina e línguas
antigas; e que, aos 40 anos, devido à fragilidade de sua saúde abandonou
a carreira militar para se dedicar à produção de epístolas. Ainda conforme
Hall, o autor das Heroinae conquistou reputação internacional como mé-
dico, o que fez com que muitas pessoas o procurassem para aprender medi-
cina. Alguns de seus epigramas foram dedicados a alunos, como o escritor
francês François Rabelais. No entanto, Paul Kristeller (1952, p. 394-396),
em resenha ao livro de Hall, pondera que a biografia de Escalígero apresenta
contradições de fatos históricos e geográficos conhecidos e que, sobretudo,
não pode ser confirmada por evidências documentais. Kristeller salienta que
nenhum registro foi encontrado até então sobre suas conquistas militares,
sua ligação com a corte do imperador Maximiliano ou mesmo acerca de seus
estudos universitários em Bolonha.
Com relação às obras de Escalígero, destacamos os seguintes livros pu-
blicados em vida: Discurso a favor de Cícero contra o Ciceroniano de Erasmo
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(1531); Sobre os limites do cômico (1539); Treze livros sobre os casos da língua
latina (1540); Dois livros contra os dois livros de Aristóteles sobre as plantas
(1556); e Exercitações públicas acerca da sutileza contra Cardano (1557). Após
sua morte, foram impressos: Seis livros poéticos (1561); Comentários e adver-
tências contra o De causis plantarum de Teofrasto (1566); Sete livros sobre a
sabedoria e a felicidade (1573); Primeiros tomos de miscelâneas acerca das causas
e efeitos das coisas (1570); O livro da história dos animais de Aristóteles, com tra-
dução para o latim e comentários (1584); e, enfim, Epístolas e discursos (1600).
A julgar pelos títulos, podemos notar que Escalígero dedicou-se não somente
a gêneros literários diversificados ‒ poesia, oratória, epístola ‒, bem como a
áreas do conhecimento variadas, como crítica literária, gramática, música,
botânica, zoologia e filosofia, o que vai ao encontro do espírito do intelectual
renascentista, interessado em todos os assuntos que dizem respeito ao ser
humano. Embora Escalígero seja considerado um dos maiores expoentes da
primeira geração de humanistas renascentistas, nenhuma de suas obras foi
ainda traduzida no Brasil, o que confere originalidade e relevância acadêmica
à nossa proposta de pesquisa.
Os poemas cuja tradução apresentaremos ao final deste trabalho integram
a obra Heroinae, uma coletânea de poemas publicada nos Seis livros poéticos
de Escalígero. Em Heroinae, o autor reuniu 107 poemas em dístico elegíaco
com extensão variável entre 4 e 28 versos. Todos esses poemas são intitula-
dos com nomes de personagens mormente femininas que podemos classificar
basicamente em três tipos: personagens históricas antigas, personagens his-
tóricas modernas e personagens mitológicas/lendárias. A título de exemplo,
mencionamos, dentre as inúmeras personagens históricas antigas: Cornélia
Tibério Graco, Cleópatra, Cornélia Túria, Hortênsia, Julia Pompei e Safo. As
personagens históricas modernas ocorrem em menor número e são da época
de Escalígero: Constância Rangonia, Ângela Nogarola, Verônica Gambara,
Laura Schiopa, Cecília Bergamina e Berenica Lodronia. No grupo das per-
sonagens mitológicas ou lendárias, encontramos muitas figuras do imaginá-
rio greco-latino: Níobe, Penélope, Circe, Alcmena, Briseida, Dejanira, Hero,
Lavínia, Manto, Dido, Hécuba, Andrômeda, Polixena, Pentesileia, Hipólita,
Cassandra, Alcíone, Ariadne, Medusa, Alceste, Creusa e Lucrécia.
As Heroinae ilustram, de maneira exemplar, como os autores renascentis-
tas praticavam conscientemente os procedimentos de imitação e emulação
literárias, uma vez que essa coletânea poética mantém estreita ligação com
o modelo ovidiano, embora não sem apresentar inovações. A proposta de
um livro de poemas em dísticos elegíacos inspirados em personagens femini-
nas mitológico-lendárias ou históricas foi também realizada pelo poeta latino
elegíaco Públio Ovídio Naso por meio das Heroides, compilação de 18 epís-
tolas em versos escritas por heroínas a seus amantes, com perspectivas “qua-
se sempre trágicas” (CITRONI, 2006, p. 589) de seus futuros. Além dessas
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epístolas, existem três respostas de amantes às heroínas, de modo que a obra


de Ovídio apresenta um total de 21 epístolas com os seguintes pares de reme-
tente-destinatário: Penélope-Ulisses, Fílis-Demofoonte, Briseida-Aquiles, Fe-
dra-Hipólito, Enone-Páris, Hipsípile-Jasão, Dido-Eneias, Hermíone-Orestes,
Dejanira-Hércules, Ariadne-Teseu, Cânane-Macareu, Medeia-Jasão, Laodâ-
mia-Protesilau, Hipermnestra-Linceu, Safo-Fáon, Helena-Páris, Páris-Hele-
na, Leandro-Hero, Hero-Leandro, Acôncio-Cídipe e Cídipe-Acôncio.

Nossa proposta de tradução

Ao traduzirmos um texto, precisamos ter em mente que a mensagem con-


tida no texto original terá um correspondente na língua-alvo. Para isso, pre-
cisamos conhecer tanto as estruturas linguísticas presentes no texto original
quanto seus correspondentes na língua-alvo. As vantagens e desvantagens da
tradução literal e da tradução literária ainda são muito discutidas. A tradução
literal pode acarretar certas dificuldades de compreensão por parte do lei-
tor. Por outro lado, recriar completamente o texto, tendo como preocupação
apenas seu conteúdo, prejudica a percepção da identidade da obra em sua
tradução. Além desses dois tipos de tradução, há também a tradução técnica,
ou seja, uma proposta tradutória voltada à recuperação de termos técnicos
presentes na cultura e na língua de um povo relativos a um tema específico ou
um determinado texto literário.
Para Susan Bassnett (2002), existem três tipos de tradução: interlingual, a
intralingual e a intersemiótica. O primeiro tipo se caracteriza pela relação que
o tradutor busca fazer entre diferentes códigos linguísticos, isto é, o tradutor
estabelece uma correspondência entre signos verbais da língua de partida e
signos da língua de chegada. Na tradução intralingual, por sua vez, o tradutor
interpreta signos verbais presentes na língua de partida por meio de outros
signos dessa mesma língua ‒ ou seja, o tradutor reformula a obra na sua lín-
gua de origem. A tradução intersemiótica consiste na interpretação de signos
verbais através de um sistema de signos não-verbais. Em outras palavras, o
tradutor adapta o texto literário antigo para outro código, como uma peça
teatral, filme, quadrinho etc.
No que diz respeito especificamente à poesia, Bassnet (Idem) entende que
há quatro tipos de tradução: fonêmica, literal, métrica e interpretativa. O
primeiro tipo pretende reproduzir o som da língua de partida na língua de
chegada, fazendo assim uma paráfrase de sentido. A tradução literal é aquela
em que o tradutor se centra na tradução palavra por palavra, o que, por con-
sequência, deturpa o sentido e a sintaxe do texto original. A tradução métrica
é aquela em que existe a emulação da métrica original no texto traduzido,
a exemplo das traduções que Carlos Alberto Nunes fez da Ilíada, Odisseia e
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Eneida, utilizando os chamados versos núnicos ou hexâmetros portugueses.


Bassnet (Idem) assevera que esse tipo de tradução geralmente implica alte-
ração de sentido, valor comunicativo e sintaxe do texto original. Por fim, a
tradução interpretativa é aquela em que a essência do texto permanece, mas a
forma é modificada.
Heloísa Gonçalves Barbosa (1989, p. 53-75) propõe outra forma de classi-
ficação dos tipos de tradução, trabalhando com a dicotomia tradução direta X
tradução oblíqua. A primeira equivale, na verdade, à tradução literal, ou seja, à
tradução palavra por palavra, que pode apresentar três procedimentos básicos:
1) empréstimo (transcrição/transliteração de palavras ou expressões da língua
de partida sem equivalentes na língua de chegada), 2) decalque ou aclimata-
ção (tradução literalmente de sintagmas do texto original para o texto traduzi-
do) e 3) tradução literal propriamente dita (adequação da morfossintaxe para
as regras gramaticais da língua-alvo, mantendo a semântica).
Já a tradução oblíqua prescinde da literalidade, uma vez que o tradutor não
pretende exaurir os significados, estruturas e elementos culturais presentes no
texto de partida. Portanto, essa tradução é usada para suprir o que a tradução
direta não abrange, como: desfazer mal-entendidos, significados e incompre-
ensões. Na tradução oblíqua, o tradutor opera com quatro procedimentos
básicos: 1) transposição (mudança de categoria gramatical), 2) modulação
(expressão do sentido na língua de origem para a língua-alvo), 3) equivalência
(substituição de palavras ou expressões na língua de origem para expressões
com o mesmo valor semântico na língua-alvo) e 4) adaptação (recriação do
texto da língua-alvo para não haver um equivalente semântico direto, trazen-
do assim a leitura para mais perto do leitor).
Além desses procedimentos básicos citados, o tradutor pode ainda lançar
mão de outros recursos: explicação (eliminação dos estrangeirismos, substi-
tuindo-os pelas suas explicações para facilitar a leitura do texto); transferência
(inserir no texto traduzido o conteúdo do texto original); melhorias (corrigir
possíveis erros cometidos na língua de origem para a língua-alvo); reconstru-
ção de períodos (redivisão e reorganização do texto na língua original para a
língua-alvo, para deixá-lo sintaticamente organizado); compensação (repro-
dução, na língua-alvo, dos recursos estilísticos utilizados na língua de origem,
utilizando outros recursos equivalentes); explicitação (explicitar um elemento
devido à estrutura da língua-alvo); omissão (omitir elementos da língua de
origem por serem repetitivos ou desnecessários) e a tradução palavra por pa-
lavra (manutenção das categorias gramaticais na mesma ordem sintática do
texto de partida e utilização de vocábulos com o mesmo valor semântico dos
presentes na língua de origem).
Diante de tantos tipos de tradução e procedimentos tradutórios, nossa
proposta de tradução dos poemas selecionados das Heroinae de Escalígero
centrou-se na tentativa de emular, em português, dois elementos essenciais:
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conteúdo e estilo de linguagem. Por conteúdo, referimo-nos à mensagem ori-


ginal e, sobretudo, às imagens poéticas elaboradas pelo autor por meio de
figuras de linguagem como metáforas e metonímias, entre outras. Dessa for-
ma, buscamos reconstruir essas imagens em português, preocupando-nos em
explicitá-las e, assim, torná-las mais perceptíveis ao leitor. No poema dedicado
a Safo, por exemplo, traduzimos a passagem em que o eu-lírico descreve o
voo do deus Amor pelos cumes nevados dos montes (“Marmora praepetibus
transuolat alta uiis”, v. 3), empregando, para marmora, “picos marmóreos” em
lugar de “mármores”, que seria uma tradução mais literal: “[Amor] atravessa
picos marmóreos elevados por vias aladas”.
Com relação à linguagem, nossa proposta reflete a preocupação de emu-
larmos, em português, o estilo classicizante de Escalígero. Como mostramos
anteriormente, houve, no Renascimento italiano, um grupo de humanistas
que defendiam a imitação de Cícero, os chamados ciceronianos ortodoxos.
Por extensão, esses humanistas somente concediam a qualidade de bom latim
(latinitas) aos autores do tempo de Cícero, considerada a fase de perfeição da
língua latina, de modo a restringirem o léxico às palavras utilizadas pelo ora-
dor ou por outro autor de sua época e a condenarem taxativamente a criação
de neologismos e, inclusive a formação de palavras derivadas. Os ciceronia-
nos mais radicais chegavam a recriminar formas flexionadas de uma palavra
que não estivessem documentadas em obras da época de Cícero. No poema
“Cleópatra”, por exemplo, Escalígero dá claras mostras de subscrever ao puris-
mo linguístico dos ciceronianos ortodoxos ao não empregar o termo tyranna,
que seria neologismo, para concordar em gênero com Cleópatra, preferindo
ater-se à palavra tyrannus, mais em conformidade com o vocabulário clássico.
Dessa forma, em nossa proposta de tradução, priorizamos uma seleção vo-
cabular que refletisse essa obsessão ciceroniana pelo clássico. Para tal, busca-
mos sinônimos de substantivos, adjetivos e verbos que conferissem ao texto
traduzido um estilo de linguagem mais próximo da poesia brasileira do sé-
culo XIX, como, por exemplo, no poema “Ariadne”: “Dura abitum ex patria
miserum cui fata dissent,/ In patriam reditum fila dedere mea”, v. 1-2 (Duros
fados obrigaram da pátria o triste exílio/ a quem meus fios concederam o
retorno à pátria). Para traduzir o substantivo fata, optamos por “fados” ao
invés de “destinos”. Um segundo recurso que utilizamos para atingir esse
efeito estilístico, que já pôde ser verificado também no excerto anterior, é a
preferência pela inversão sintática: “da pátria o triste exílio” em lugar de “o
triste exílio da pátria”, bem ao gosto de nossos poetas novecentistas. Outro
exemplo é: “Impia fatali turgens insania luctu/ Militiam stolida miscet utran-
que nece”, v. 1-2 do poema “Briseida” (Inchando-se de luto fatal, a ímpia
insânia/ milícias imigas mescla em estúpido morticínio). Notemos a cons-
trução “milícias imigas mescla” em lugar de “mescla milícias imigas”, além da
opção por “imigas” em detrimento de “inimigas”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 57

À guisa de conclusão, apresentamos a tradução dos sete poemas seleciona-


dos, bem como em suas respectivas notas, que proporcionarão ao leitor não
especializado o conhecimento das personagens abordadas (Ariadne, Briseida,
Dejanira, Hero, Laodâmia, Penélope e Safo) e a compreensão de alusões sutis
presentes em palavras e expressões.

ARIADNA
Dura abitum ex patria miserum cui fata dissent,
In patriam reditum fila dedere mea.
Perfide complexu ex patrio miseram abstrahis ergo:
Vt peream trucibus perdita praeda feris?
Haec ego commerui laeso patre, fratre perempto.
Qui meruisse facit, quid meruisse putes?
Haec merui, at per te. quin seruatrice relicta
Qui scelus his addit, quid meruisse putes?

ARIADNE1
Duros fados obrigaram da pátria o triste exílio
a quem meus fios concederam o retorno à pátria.
Portanto, arrancas, ó pérfido, uma desgraçada ao paterno abraço.
Como eu, exasperada presa, fugirei de bravias feras?
Tudo isto, eu mereci, porque ultrajei meu pai e matei meu irmão.2
Que pena mereceria quem fez por merecer?
Tudo isto, mereci, mas por tua causa. E quem desprezou sua libertadora,
um crime a mais, que pena mereceria?

1. De acordo com Pierre Grimal (2005), Ariadne era filha do rei Minos e de Pasífae. Apaixonou-
-se por Teseu e, por isso, ajudou-o a encontrar o caminho pelo labirinto para matar seu irmão, o
Minotauro, dando-lhe um novelo de fio. Após isso, fugiu com Teseu para escapar da ira de Minos,
mas foi abandonada por seu companheiro na ilha de Naxos. Em seguida, foi encontrada por Baco,
que logo se apaixonou e se casou com ela. Juntos, tiveram quatro filhos: Toas, Estáfilo, Enópion
e Peparetos. Fontes primárias para o estudo de Ariadne: Apollodorus, Epitome, I, 9; Plutarchus,
Theseus, 20; Pausanias, I, 20, 3; X, 29, 4; Catullus, carmen LXIV, 116 e s.; Ovidius, Heroides, X;
Metamorphoses, VIII, 174 e s.; Hyginus, Fabulae, 43; cf. Odyssea, XI, 321 e s.; Propertius, elegia
I, 3, 1 e s., Eratosthenes, Catasterismi, 5. Cf. A Von Salis, Theseus und Ariadne, Festschr. der Arch.
Ges. zu Berlin, 1930; A. M. Marini, Il mito di Arianna..., A. e R., 1932, p. 60-97; 121-142, Ch.
F. Herberger, The Thread of Ariadne, The labyrinth of Calendar of Minos, New York, 1972; R. E.
Eisner, Ariadne in religion and myths, prehistory to 400 BC, bin. Stanford Univ., 1971.
2. Provavelmente, Escalígero emprega aqui o substantivo frater em referência ao Minotauro, filho
bastardo de Pasífae com o touro de Creta. Conforme nota acima, Ariadne ajudou Teseu a matar
o Minotauro e, neste poema, portanto, a personagem feminina sente-se responsável também pela
morte de seu “meio” irmão.
58 Anais da Biblioteca Nacional • 140

BRISEIDA3
Impia fatali turgens insania luctu
Militiam stolida miscet utranque nece.
Pro Graeca moriens mordet Troianus arenam.
Et pro Troiano crimine Graecus obit.
Fas fuerat repeti praedas ex hoste: sed inter
Ciues unanimes bella ciere, quid est?

BRISEIDA
Inchando-se de luto fatal,4 a ímpia insânia
milícias imigas mescla em estúpido morticínio.
Por uma grega,5 um troiano,6 morrendo, morde a areia.
E, por um crime troiano, morreu um grego.7
Permitido fora retormar despojos do inimigo.
Mas, entre cidadãos concordes, o que incitará guerras?

DEIANIRA
Omnis uita tibi8 mortis famulatur honore:
Viuentem contra uiuere nil potuit.
Mortua res perimit, tot pestibus ante peremptis.
Dum non extaret, quod superesset, erat.
Vnum aueo fecisse meum: simul omnia perdo.
Qualis amor docuit, posse necare uirum?

3. De acordo com Pierre Grimal (ibidem), Hipodâmia ou Briseida –̶ designação a partir do nome
de Briseu, seu pai –̶ era casada com Minês, assassinado por Aquiles na Guerra de Troia. Após a
morte de seu marido, Briseida foi tomada por Aquiles com espólio de guerra, tornando-se a es-
crava favorita do guerreiro grego, além de ter sido também amada por ele. Fontes primárias para
estudo de Briseida: Ilíada, I, 318 e II, 688 e ss.; scol., XIX, 291; Quintus Smyrnaeus, III, 522 e s.;
scol. ad Ilíada, I, 392; Eusthatius, ad Homerum, 77, 30; Tzetzez, ad Lycophronem, 345; Anteh., 350
e s,; Pausanias, V, 24, 11; X, 25, 3; Ovidius, Heroides, 3.
4. Provavelmente, Escalígero alude aqui ao luto que Briseida sentiu pela morte de seu marido
Minês, assassinado por Aquiles durante a guerra de Troia.
5. Helena, esposa de Menelau.
6. Heitor, que morreu em combate singular contra Aquiles, tentando proteger Helena.
7. Pátroclo, um dos gregos que lutou na guerra de Troia e foi assassinado por Heitor após se passar
por Aquiles, quando o mesmo se recusou a lutar.
8. Hércules, herói casado com Dejanira.
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DEJANIRA9
Tua vida inteira escraviza-se por honrosa morte;
a um ser vivo, impossível viver contrariamente.
O peso morto10 aniquila-te, mesmo aniquilados antes tantos flagelos.
Desde que não subsistisse, teria restado o que existia.
Desejo tê-lo tornado unicamente meu: ao mesmo tempo, tudo perco.
Qual amor ensinou que é possível matar um homem?

HERO
Parce Venus uiduam mitis facere alma puellam:
Inque tuo saltem sint tua regna mari.
Posthabita an ne dolens, magno cum crimine poenas
Sumpsisti pelago uindice saeua tuo?

HERO11
Ó alma Vênus, não prives a garota de quem lhe é caro:
E que, ao menos em teu mar, existam teus reinos.

9. Segundo Pierre Grimal (ibidem), Dejanira era filha de Eneu, rei de Cálidon, e de Alteia (alguns
afirmam que ela pode ser filha de Dionísio/Baco). Dejanira era conhecida pela sua destreza nas
artes da guerra. Casou-se com Hércules quando ele, ao descer aos infernos para cumprir um de
seus trabalhos, encontrou Melagro, irmão morto de Dejanira, que ao ver o herói, pediu-lhe que
desposasse sua irmã para mantê-la a salvo. Assim, ao retornar dos infernos, Hércules cumpriu sua
promessa e casou-se com Dejanira (mas não antes de derrotar um outro pretendente da jovem).
Hércules e Dejanira tiveram um filho chamado Hilo. Após algum tempo, o herói apaixonou-se
por Iole. Dejanira, querendo o amor de seu marido de volta, colocou em sua túnica uma droga
que supostamente era um filtro do amor (droga esta que lhe havia sido dada pelo centauro Nesso,
assassinado por Hércules: antes de morrer; Nesso deu a Dejanira a droga produzida com o sangue
envenenado de sua própria ferida, dizendo-lhe que era um filtro do amor). Logo que colocou a
túnica, Hércules começou a pegar fogo, e Dejanira, percebendo o que acabara de fazer, suicidou-
-se. Fontes primárias para o estudo de Dejanira: Apollodorus, I, 8, 1; 3; II, 7, 5 e s.; Hyginus,
Fabulae, 31; 33; 34; 36; 129; 162; 174; 240; 243; scol. ad Apollonium Rhodium, Argonautica, I,
1212; Bacchylides, V, 165 e s.; Ovidius, Metamorphoses, VIII, 532; IX, 5 e s.; Heroides, IX; Anto-
ninus Liberalis, Transformationes, 2; scol. ad Iliada, IX, 584; XXI, 194 (citando um fragmento de
Píndaro), Pausanias, I, 32 5; VI, 19, 9; Servius, ad Virgilium, Aeneis, VIII, 30; Diodorus Siculus,
IV, 34, 1 e s.; Seneca, Hercules Oetaeus.
10. Possível referência ao centauro Nesso, que produziu uma droga com seu sangue antes de mor-
rer assassinado por Hércules. Nesso deu essa droga a Dejanira, dizendo-lhe que era uma poção do
amor. Cf. nota acima.
11. Segundo Pierre Grimal (ibidem), Hero era uma jovem apaixonada por Leandro, que todas as
noites atravessava nadando o estreito que separava Sesto (atual comuna italiana da região do Tren-
tino-Alto Ádige, província de Bolzano), e Abido (atual comuna francesa na região administrativa
da Nova Aquitânia) para ver sua amada. Fontes primárias para o estudo de Hero: Ovídio, Heroides,
XVIII; XIX; Museu, Hero, ed. Ronge, Munique, 1939; Anth., V, 231; 263; IX, 215; 387; Virgílio,
Georgicas, III, 258.
60 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Desprezada ou indiferente, puniste-a com irascível decisão,


sendo o teu pélago atroz vingadora?

LAODAMIA
Hector, ego saeuum non deprecor esse marito
Quippe decet fortem sorte perire sua.
Fata trahunt. cadat ille suis obnoxius ausis.
At nostrae mortis gloria parua tibi est,
Ille potest periisse tuis interritus armis.
Ast ego, quid? dextra tam procul una tua.

LAODÂMIA12
Heitor,13 eu não te demovo das crueldades contra meu marido:
De fato, convém a um bravo morrer por seu próprio destino.
Os fados arrastam. Que ele, fraco, morra devido a sua ousadia.
Mas, para ti, é pouca a glória de nossa morte,
ele ter morrido intrépido às tuas armas.
Então, que posso eu tão longe de tua destra?

PENELOPE
Atrides repetit uario dum funere moecham:
Ah sese moechum fecit habere domi.
Vincere bis Laertiade14 est: qui uiceris hostem,
Hostem victorem nullum habuisse tori.

12. Segundo Pierre Grimal (ibidem), Laodâmia era um nome comum entre várias heroínas, entre
as quais a filha de Belerofonte, que teve um filho com Zeus chamado Sarpédon e morreu jovem,
vítima de uma flecha lançada por Ártemis. A outra era filha de Acasto e mulher de Protesilau
(primeiro grego a morrer em Troia); ela, ao saber da morte de seu marido, pediu aos deuses que
lhe concedessem mais três horas com ele. Passadas essas horas, Laodâmia suicida-se nos braços de
Protesilau. Fontes Primárias para o estudo da Laodâmia: Apollodorus, Bibliotheca, III, 7, 3; Pau-
sanias, I, 39, 2; IX, 5, 13; 8, 6; 9, 5; 10, 3; cf. Herodotus, V, 61.
13. A referência a Heitor aqui se deve provavelmente ao fato de que foi ele que matou o marido de
Laodâmia, Protesilau, o que nos leva a crer que Escalígero trabalha aqui com a segunda Laodâmia
mencionada na nota acima.
14. Notar a monotongação do ditongo -ae (Laertiadae > Laertiade), terminação de genitivo singu-
lar de 1ª. declinação, fenômeno encontradiço em textos medievais e renascentistas.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 61

PENÉLOPE15
Enquanto o Atrida16 reclama a adúltera,17 matando abundantemente,
ah! fez o adúltero18 se esconder em casa.
Vencer duas vezes é próprio de um Laercíada19: oh tu que vencerás o inimigo,
que não tens um rival vencedor de teu leito.

SAPPHO
Ales Amor nuper Paphio tener editus antro:
Qua Geniale cauis murmurat aequor aquis:
Visurus iuga Castalidum secreta Sororum,
Marmora praepetibus transuolat alta uiis.
Inde per Aonias deuexis tractibus oras,
Qua leuis aura grauem Lesbis oberrat humum,
Aera Pierium secum pernicibus alis
Pertulit, hinc pennae dat tibi iura suae.
Blandus Amor, mitis tellus, lenissimus aurae
Tractus, dant Sappho dulcia scripta tibi.

15. Segundo Pierre Grimal (ibidem), Penélope era filha de Icário e da náiade Peribeia. Casou-se
com Ulisses, rei de Ítaca, e tornou-se conhecida graças a sua fidelidade conjugal (mesmo que esta
seja refutada) durante os 20 anos em que seu marido esteve longe, lutando na Guerra de Troia.
Quando Ulisses foi convocado para a contenda, Penélope tinha acabado de dar à luz a Telêmaco,
motivo pelo qual o herói grego se fez de louco para não partir; mas ele acabou sendo forçado a ir e
deixou sua casa e sua esposa nas mãos de Mentor, um velho amigo. Depois da partida de Ulisses,
Penélope começou a ser cobiçada por muitos pretendentes (cerca de 129) que continuavam em seu
palácio mesmo após serem rejeitados, gastando sua fortuna. Por mais que Penélope os rejeitasse,
eles continuavam a vir. Por isso, ela elaborou um plano: declarou que escolheria um dos preten-
dentes como marido assim que terminasse de tecer a mortalha de Laertes (pai de Ulisses) - mas,
para que esse dia não chegasse, todas as noites ela desmanchava o trabalho que havia feito durante
o dia. Fontes primárias para o estudo de Penélope: Odisseia, passim; Apollodorus, Bibliotheca, III,
10, 6; 8; Epitome, III, 7; VII, 26 e s., Pausanias, III, 1, 4; 12, 1 e s.; 20, 10 e s.; VIII, 12, 5 e s.;
Servius, in Vergilii carmina commentarii, II, 44; Tzetzez, ad Lycophronem, 772; 792; scol. ad Pinda-
rum, Olympia, IX, 85; Eusthatius, ad Odysseam, I, 344, p. 1472, 7 e s.; scol. ad Euripidem, Orestes,
457; Pherecydes, in scol. a Odisseia, XV, 16; Ovidius, Heroides, I; Plutarchus, Quaestiones Graecae,
48; Aristoteles, Poetica, 25; M. M. Mactoux, Penélope, légende et mythe, Paris, 1975.
16. Menelau, filho de Atreu.
17. Helena, esposa de Menelau, que fugiu com Páris para Troia.
18. Páris, filho de Príamo e irmão de Heitor.
19. Ulisses, filho de Laertes.
62 Anais da Biblioteca Nacional • 140

SAFO20
O alado Amor anunciou-se terno há pouco no antro de Vênus,
como o murmúrio do abundante mar em suas águas profundas;
o Amor, que há de se submeter aos jugos secretos das irmãs Castálides21,
atravessa picos marmóreos elevados por vias aladas.
Daí, através das regiões da Aônia, inclinando-se para baixo,
percorre, como leve brisa, o nobre solo de Lesbos.
Trouxe consigo, nas ágeis asas, uma nuvem da Piéria;
em seguida, concede-te os direitos de sua pena.
Um brando Amor, uma terra tranquila, o sopro muito suave da brisa
concedem-te, Safo, doces escritos.

Referências
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recategorização. Dissertação (Mestrado em Letras). Faculdade de Letras, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989.
BASSNETT, Susan. Translation studies. 3. ed. London and New York: Routledge,
2002.
BERMAN, Antoine. A Tradução e a Letra ou o Albergue do Longínquo. Tradução: Marie-
Hélène Catherine Torres, Mauri Furlan, Andreia Guerini. Rio de Janeiro: 7 Letras,
2007.
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento na Itália: um ensaio. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.
BURKE, Peter. O cortesão. In: GARIN, Eugenio (dir.). O homem renascentista. Direção
de Eugenio Garin. Lisboa: Presença Editorial, 1991. p. 99-120.
BURKE, Peter. O Renascimento. Tradução: Rita Canas Mendes. 2. edição. Lisboa: Texto
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CITRONI, Mario et al. Literatura da Roma Antiga. Tradução: Margarida Miranda e
Isaías Hipólito. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2006.
DUGGAN, Christopher. História concisa da Itália. Tradução: Natalia Petroff. Belo
Horizonte: Edipro, 2016.

20. A poetisa Safo nasceu em Éreso, na costa ocidental de Lesbos, mas viveu em Mitilene; e, du-
rante alguns anos, esteve exilada na Sicília. Era casada com Cercilas, rico comerciante de Andrós e
teve uma filha, abordada em sua poesia com grande afeto. O amor e a homoafetividade são temas
recorrentes na poesia de Safo, e o alto teor de erotismo provocou a censura de suas obras na Idade
Média. Safo é considerada a maior poetisa do gênero lírico na Antiguidade.
21. As irmãs Castálides são as Musas. É provável que Escalígero empregue metapoeticamente essa
referência às Musas, aludindo às convenções temáticas e formais dos gêneros poéticos, isto é, às
regras do gênero literário a que Amor deverá se submeter.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 63

EASTERLING, P.E.; KNOX, B.M.W. Historia de la literatura clásica: Literatura griega.


Tradução: Federico Zaragoza Alberich. Madrid: Editorial Gredos, 1990.
GIGLIO, Stefania Sansone Bosco. Cavaleiros, de Aristófanes: estudo de uma proposta de
tradução. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2017.
GRIMAL, Pierre. Dicionário da mitologia grega e romana. 5. ed. Tradução de Victor
Jabouille. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 2005.
HALL JR., Vernon. Life of Julius Caesar Scaliger. Filadélfia: The American Philosophical
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HERBERMANN, Charles George (ed.). Catholic Encyclopedia. S.l.: Robert Appleton
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OVÍDIO. Heroides. Tradução: Dunia Marinho Silva. São Paulo: Landy Editora, 2003.
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SILVIA, Marcia Regina de Faria da. O trágico nas Heroides de Ovídio. Rio de Janeiro:
UFRJ/Faculdade de Letras, 2008.
Tradução de Speculum stultorum,
de Nigel de Longchamps

Josué Gabriel de Freitas Kahanza Zito


Graduando em Português-Latim pela UFRJ. Foi monitor do Departamento de Letras
Clássicas. Atua nos projetos de extensão Cursos de Línguas Abertos à Comunidade (Clac) e
Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar a proposta da pesquisa “Tradução de Speculum
stultorum, de Nigel de Longchamps”. A ideia de traduzirmos a obra surgiu de nosso in-
teresse em conhecê-la no original e do fato de ela ser inédita em português. Além disso,
buscávamos desenvolver uma pesquisa que pudesse contribuir para a divulgação de uma
obra rara do acervo da Fundação Biblioteca Nacional, colaborando com determinados
setores da sociedade; a saber, pesquisadores e profissionais que lidam com obras raras
em latim e com a literatura do Medievo. Dedicamos os cinco meses iniciais ao levanta-
mento e leitura de livros e artigos sobre o autor, a obra e seu contexto histórico-cultural.
Simultaneamente, procedemos a uma tradução dos primeiros 30 versos, cujo excerto foi
selecionado para esta apresentação como amostragem inicial de nosso trabalho.
Palavras-chave: Língua latina. Idade Média. Nigel de Longchamps. Speculum stulto-
rum. Fundação Biblioteca Nacional.

Abstract
The aim of this article is to present the research proposal called “Tradução de Speculum
Stultorum, de Nigel de Longchamps”. We decided translating such literary work by
examining the original because we don’t have such text in Portuguese translated directly
from latin and that it remains untranslated to Portuguese. In addition, we wanted to
present a research that could contribute to the development and the dissemination of
a rare work of the FBN (Fundação Biblioteca Nacional) collection, collaborating with
certain sectors of society, namely researchers and professionals who deal with rare works
in Latin and with the literature of the Medievo. Hitherto, in our research, we dedicated
the initial five months to the survey and reading of books and articles about the author,
the literary work in question and its historical-cultural context. Simultaneously, we
translated the first 30 verses, the excerpt of which was selected for this presentation as an
initial sampling of our work.
Keywords: Latin language. Middle Ages. Nigel de Longchamps. Speculum stultorum.
Fundação Biblioteca Nacional.
Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar a proposta da pesquisa Tradução
de Speculum stultorum, de Nigel de Longchamps. A ideia de traduzirmos a
referida obra surgiu de nosso interesse em conhecê-la no original e do fato de
que ela se encontra ainda inédita em português. Além disso, buscávamos de-
senvolver uma pesquisa que pudesse contribuir para a divulgação de uma obra
rara do acervo da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), colaborando com
determinados setores da sociedade ‒ a saber, pesquisadores e profissionais que
lidam com obras raras em latim e com a literatura do Medievo. Até agora, em
nossa pesquisa, dedicamos os cinco meses iniciais ao levantamento e leitura
de livros e artigos sobre o autor, a obra em questão e seu contexto histórico-
-cultural. Simultaneamente, procedemos a uma tradução dos primeiros 30
versos, excerto que foi selecionado para esta apresentação como amostragem
inicial de nosso trabalho. Esta pesquisa vincula-se ao grupo de pesquisa Crí-
tica Textual (CNPq/FBN) e desdobrou-se do projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas, realizado em parceria entre a Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a FBN.

Autor, período histórico e obra

As poucas informações biográficas sobre Nigellus de Longo Campo, nome


latinizado de Nigel de Longchamps, referem-no como um monge de Canter-
bury (Inglaterra) que esteve ligado a personagens da corte do rei Henrique II.
O sobrenome do autor talvez indique que ele tenha nascido em Longchamps,
na Normandia. Seu pai, Gilbert Longchamps, foi membro da família Sarneis,
que se estabeleceu em Canterbury durante a primeira metade do século XII.
Não se sabe como foi exatamente o início da carreira de Nigel, senão o fato
de que ele visitou Paris e viveu durante um tempo na Normandia. Por volta
de 1170, o autor teria se fixado no monastério de Christ Church, em Canter-
bury, onde permaneceu como monge até sua morte, no início do século XIII
(LONGCHAMPS, 1960, p. 1-2).
Além de Speculum stultorum, Nigel escreveu: Tractatus contra curiales et
officiales clericos; Miracula sanctae dei genitricis virginis Mariae, verificae; Passio
sancti Laurentii martyris; e alguma correspondência. Sua única obra em prosa
foi o Tractatus, uma extensa queixa direcionada ao clero inglês devido à ne-
gligência com o sagrado. Em várias obras de Nigel, é notável a influência do
neoplatonismo e de sua concepção de homem dividido em corpo e alma, cuja
ascensão deve se dar em direção ao plano das ideias, desprezando o mundo
sensível. Segundo Abbagnano, esse embate neoplatônico entre anseios carnais
e espirituais retomava a concepção dualista de Platão, que opunha o mundo
68 Anais da Biblioteca Nacional • 140

sensível ao mundo das ideias, e se mesclava com os conceitos de vida espiritual


e carnal difundidos pelo Cristianismo ao longo da Idade Média. A oposição
entre ideia e sensação verificava-se tanto no neoplatonismo quanto no cristia-
nismo: quanto mais se aproximar do mundo espiritual, mais o homem terá
controle e entendimento do mundo carnal. Para os pensadores cristãos, as
imperfeições e distorções do mundo carnal não valiam a pena e eram muito
inferiores se comparadas com os benefícios do mundo espiritual (ABBAG-
NANO, 1984, p. 9-15).
De forma geral, Nigel manifestou em suas obras o incômodo com a cres-
cente mudança de comportamento de determinados segmentos do clero,
cada vez menos devotados à vida espiritual. Desafiando dois dos mais pode-
rosos eclesiásticos de sua época, Gilbert Foliot e William de Longchamps, o
autor de Speculum stultorum demonstrou seu inconformismo quanto às prá-
ticas mundanas que corrompiam a Igreja e reagiu contra tudo o que ele con-
denava por meio de seus sofisticados textos, que continham mensagens sutis,
a serem interpretadas para além do sentido literal. O conjunto de sua obra
transmite o engajamento na luta pela integridade da Igreja e pelos princípios
da vida monástica, não só registrando referências da literatura moralista e
hagiográfica da Idade Média, mas também de autores latinos clássicos, como
Ovídio e Virgílio. Sua crítica, por vezes bem-humorada, reflete o gosto pela
poesia satírica, a exemplo de Juvenal e Pérsio (MANN, 1975; MOZLEY,
1929; RAYMO, 1955).
Com relação especificamente a Speculum stultorum, nosso objeto de inte-
resse, foram localizados, até o momento, trinta manuscritos depositados em
bibliotecas de diversas cidades europeias: Bruxelas, Dublin, Copenhagem,
Lincoln, Londres, Munique, Oxford, Paris, Praga, Vaticano, Viena, Volfem-
butel e Breslávia. A editio princeps da obra data de 1474, impressa por Nico-
laus Ketelaer e Gerardus de Leempt, em Utrecht, após a qual se seguiram seis
edições em 1483-1484, 1490, 1490-1492, 1498-1499, 1506 e 1662. Moder-
namente, a obra foi editada em 1872, 1960 (edição crítica) e 2003, tendo sido
traduzida em alemão por Karl Langsoch (1982); em inglês por Graydon W.
Regenos (1959) e por Eve Graham (1963); e em italiano por Francesca Albini
(2003). Entre os principais estudos sobre Speculum stultorum, mencionamos
os de Jean Batany (1969, 1993), André Boutemy (1933, 1934-1935), Jill
Mann (1975, 2007), John Henry Mozley (1929, 1930), Robert R. Raymo
(1955) e Jan M. Ziolkowski (1993).
Como podemos perceber pela abundância de testemunhos escritos, Spe-
culum stultorum (“O espelho dos tolos”, em português) é, sem dúvida, a obra
mais famosa de Nigel. Nela, sobressai o asno Brunellus, o protagonista da
narrativa poética que representa, de maneira expressiva, o contexto histórico-
-cultural em que viveu o autor. A personagem reúne em si características cri-
ticadas no decorrer da trama, o que nos possibilita tomar conhecimento do
Anais da Biblioteca Nacional • 140 69

ambiente repudiado pelo autor. Segundo os editores críticos John H. Mozley


e Robert R. Raymo (1960), Speculum stultorum foi elaborado entre novembro
de 1179 e março de 1180. O poema foi dedicado a William de Longchamps,
provável parente de Nigel, que foi bispo da cidade de Ely (Inglaterra), entre
outras funções.
A obra em questão organiza-se em duas partes que, para a plena compreen-
são, demandam ser interpretadas conjuntamente. A primeira diz respeito à in-
quietação de Brunellus que, numa fútil saga, deseja alongar sua cauda, receber
uma educação universitária e, finalmente, entrar para uma ordem religiosa. O
protagonista empreende uma grande jornada a fim de alcançar os seus desejos
mais íntimos. A segunda parte da obra narra o resgate que Galienus, mestre
de Brunellus, realizou de três animais selvagens e de um homem rico. Os ani-
mais demonstram sua gratidão a Galienus por meio de presentes. Por outro
lado, o homem rico não se mostra agradecido para com seu salvador, embora
ele tivesse prometido compartilhar sua riqueza, enquanto estava em perigo. A
personagem somente honra sua palavra quando se vê obrigada pelo rei.
Três anedotas ilustrativas são narradas ao longo das aventuras de Brunellus.
A primeira fala sobre duas vacas cujas caudas foram congeladas na terra por
uma geada. Uma delas espera pacientemente pelo descongelamento e a outra,
imprudente, corta sua cauda, sofrendo ataques de moscas e, por fim, morren-
do. A segunda anedota diz respeito ao filho de um sacerdote que fere um galo
vingativo e é, posteriormente, atacado por ele. Finalmente, a terceira anedota
narra a história de três videntes que insultam profundamente membros da no-
breza por rejeitarem seus pedidos, embora tenham concedido favores a uma
menina camponesa.
Um dos primeiros aspectos que mais nos chamaram a atenção em Speculum
stultorum é o fato de que as personagens de animais manifestam características
humanas, lembrando o gênero fabulístico, muito embora o poema tenha sido
escrito em dísticos elegíacos. De acordo com Jean Batany (1993), entender-
mos o processo de humanização dessas personagens, isto é, o zoomorfismo
construído por Nigel, é crucial para que percebamos como o autor dissimu-
lou certas ideias que, em um primeiro momento, podiam ser extremamente
perigosas na sociedade em que vivia. Esse expediente literário é utilizado por
Nigel para camuflar o verdadeiro sentido que deseja transmitir, adotando uma
estratégia de preservação de sua integridade pessoal e de exposição de suas
críticas sem que fosse punido de alguma forma.
É inegável que autores medievais transferiram, através de sua escrita, even-
tos e conflitos humanos para o mundo dos animais. Talvez isso possa ser expli-
cado pelo modo como esses autores interpretavam tais acontecimentos, uma
vez que era inconcebível pensar neles como realizações de ordem humana.
Para eles, o mundo dos homens era visto como superior ao mundo dos ani-
mais, ou seja, a partir do momento que tais eventos humanos são transpostos
70 Anais da Biblioteca Nacional • 140

para o mundo animal, os autores que se apropriam desse recurso estão sinali-
zando o quão reprováveis eles são.
Para Batany (1969, p. 241-252), um dos possíveis papéis que o zoomorfis-
mo desempenha em Speculum stultorum é o de representar a espécie humana
com seu lado animal aflorado, enfatizando a irracionalidade humana em de-
trimento de sua racionalidade (ibidem). Na obra de Nigel, esse ser zoomórfico
é indubitavelmente uma metáfora pejorativa de tudo aquilo que o homem
deve evitar ao máximo. Os conflitos que atormentam Brunellus dizem res-
peito a seres animalizados, pois não é possível (ou, pelo menos, não deveria
ser) relacioná-los ao homem. Nessa ótica, o mundo animal é entendido como
o ambiente característico de embates e o mundo humano, como o espaço da
racionalidade. Em outras palavras, as personagens de animais de Speculum
stultorum simbolizam a fragmentação do homem, que ora se mostra racio-
nal, ora irracional. Dessa forma, a irracionalidade do homem é explorada por
Nigel de modo que o leitor conclua que ela não é algo louvável. A atribuição
de comportamentos humanos a animais serve ao propósito de desumanizar o
homem, elevando essa desumanização e bizarrice fantasiosa ao mais alto grau,
a fim de repudiar fortemente esses aspectos condenados.
Batany (idem, p. 256-257) entende ainda o zoomorfismo de Nigel como
meio de empregar a derrisão para criticar não só o homem em abstrato, mas
zombar de determinadas personalidades da época que, com sua selvageria bes-
tial, ameaçavam a sociedade com o risco da guerra (ibidem). Sendo assim,
as personagens de Speculum stultorum trazem em si traços comportamentais
comumente atribuídas a seres humanos, por mais que elas sejam animais.
É como se o autor quisesse que os leitores entendessem o enredo como um
autorretrato da sociedade na qual eles estavam inseridos e que questionassem
a si mesmos quanto aos papeis que encenam cotidianamente. Para Batany
(ibidem), Niguel objetiva, em última instância, levar os leitores a uma refle-
xão sobre suas próprias atitudes (ibidem). Dessa forma, Speculum stultorum
apresenta uma trama em se relativiza a interrelação entre natureza e cultura na
sociedade da época.
Para concluirmos, apresentaremos a seguir um excerto extraído do início
de Speculum stultorum acompanhado por uma proposta inicial de tradução,
a fim de detalharmos o argumento da obra. Trata-se da passagem em que o
protagonista Brunellus inicia sua jornada para alongar a cauda e tem suas pre-
tensões frustradas pela personagem Galienus.

De asĭno qui volŭit caudam suam longiorem fieri (v. 81-88)


Aurĭbus immensis quondam donatus asellus
Institŭit ut caudam posset habere parem.
Cauda suo capĭti quia se conferre nequibat,
Altĭus ingemŭit de brevitate sua,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 71

Non quia longa satis non esset ad utilitatem.


Ante tamen quam sic apocopata foret,
Consulŭit medĭcos, quia quod natura nequibat
Artis ab officio posse putabat eos.

Responsio Galieni (v. 89-100)


Cui Galienus ait: «Satis est bipedalis asello
Cauda, quid ulterĭus poscis, inepte, tibi?
Suffĭcit ista tibi, nam quo productĭor esset,
Sordidĭor fieret proximiorque luto.
Hac nisi contentus fuĕris, dum forte requĭris
Prolongare nimis, abbreviabis eam.
Quod natura dedit non sit tibi vile, sed illud
Inter divitĭas amplĭus esse puta.
Crede mihi, vetus est tibi cauda salubrĭor ista
Natĭbus innata quam foret illa nova.
Nec placet ista tamen, sed habere cupis meliorem,
Artĭbus et curis insĭta pejor erit.

Sobre o asno que quis que seu rabo maior (v. 81-88)


Certa vez, um asno decidiu que poderia ter um rabo do mesmo tamanho que
suas imensas orelhas. O asno se lamentava o mais possível, porque seu rabo, como
era curto, não chegava até a cabeça, embora tivesse o tamanho ideal para exercer
a função de rabo. Antes de cortá-lo, porém, o asno buscou consultar os médi-
cos,  visto  que  não  se sentia confiante para tal feito e julgava-os aptos a fazê-lo
devido ao ofício.

Resposta de Galienus (v. 89-100)


Galienus  disse-lhe:  “Um rabo de 60cm é o suficiente para um asno. Por que,
exiges, meu tolo, um rabo mais longo? Esse rabo basta para ti. Na verdade, para
que seja alongado, ele ficaria mais próximo do chão e, com isso, mais sujo. Se
tu não te contentares com ele, vais acabar encurtando-o, ao invés de conseguir
alongá-lo. Não consideres vil o que a natureza te concedeu, mas o que há de mais
rico entre as riquezas. Crê-me: esse velho rabo é mais útil a ti do que se surgisse
um novo em teu traseiro. No entanto, se esse não te agrada e desejas possuir um
melhor, um pior será colocado por meio de artifícios e medicamentos”.

Os próximos passos de nossa pesquisa serão continuar a leitura e tradução


de Speculum stultorum e de alguns artigos sobre a obra já localizados, a exem-
plo de Does an author understand his own text? Nigel of Longchamp and the
Speculum stultorum, de Jill Mann (2007). Pretendemos, ainda, seguir com o
levantamento bibliográfico acerca de assuntos relacionados a esta pesquisa e
72 Anais da Biblioteca Nacional • 140

consultar estudos sobre teoria da tradução, a fim de definirmos nossa proposta


final de tradução para a obra em tela.

Referências
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MOZLEY, John Henry. On the text of the Speculum stultorum. Speculum, n. 4, v. 4,
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MOZLEY, John Henry. On the text and manuscripts of the Speculum Stultorum: II.
Speculum, n. 5, v. 3, 1930, p. 251-263.
RAYMO, Robert R. Gower’s Vox clamantis and the Speculum Stultorum. Modern
Language Notes, n. 70, v. 5, 1955, p. 315-320.
ZIOLKOWSKI, Jan M., Talking Animals: Medieval Latin Beast Poetry, 750-1150.
Philadelphia: University of Pennsylvania Press (Middle Ages), 1993.
Os Rudimenta grammatices,
de Nicolò Perotti

Marcelle Mayne Ribeiro da Silva


Graduada em Português-Latim pela UFRJ e mestranda em Letras Clássicas pela UFRJ.
Foi monitora dos departamentos de Letras Clássicas e de Letras Vernáculas

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar alguns resultados da pesquisa de Iniciação Científica
“A nomenclatura do sistema nominal latino nos rudimenta grammaticae dos séculos XV
e XVI”. Na pesquisa, buscamos investigar compêndios de latim dos séculos XV e XVI,
marcos do do Renascimento italiano, a fim de mapear o pensamento linguístico da épo-
ca. Para tanto, analisaremos as nomenclaturas utilizadas no sistema nominal da língua
latina, aliando-as à contextualização social dos compêndios em questão. O corpus de
trabalho, a obra Rudimenta grammatices, de Nicolò Perotti (Roma, 1473), suscitou-nos
indagações acerca do contexto social em que o latim era ensinado, bem como da finali-
dade de tal ensino.
Palavras-chave: Língua latina. Renascimento. Nicolò Perotti. Rudimenta Grammatices.
Fundação Biblioteca Nacional.

Abstract
This article aims to explore the Latin nominal system in the Rudimenta Grammatices, by
Nicolò Perotti (Rome, 1475), in order to reflect on Latin teaching in Italian Renaissance
and to restore linguistic ideas included in this compendium. For this purpose, we
compare Perotti’s nomenclature with that employed by Servius, Priscianus and Donatus,
Late Antiquity authors whose works were used to teach Latin during Middle Ages. Then,
we will propose a short discussion about points of rupture and continuity between the
Latin taught in the Middle Ages and in the Renaissance.
Keywords: Latin language. Renaissance. Nicolò Perotti. Rudimenta Grammatices. Fun-
dação Biblioteca Nacional.
Este artigo surgiu a partir da pesquisa de Iniciação Científica “(Des)con-
tinuidades na tradição gramatical do sistema nominal latino: os Rudimenta
grammatices de Nicolò Perotti”, desenvolvida desde 2017 sob a orientação do
prof. dr. Fábio Frohwein de Salles Moniz e vinculada ao grupo de pesquisa
Crítica Textual (CNPq/FBN). A pesquisa tem por objetivo comparar alguns
dos chamados Rudimenta grammaticae/grammatices produzidos e utilizados
durante os séculos XV e XVI, que compreendem parte do Renascimento, a
fim de mapear e estudar noções linguísticas e gramaticais vigentes naquela
época. Tal pesquisa originou-se, por sua vez, do contato com o projeto de
extensão “Os clássicos no Acervo de Obras Raras da Fundação Biblioteca Na-
cional (FBN)” e desenvolveu-se ao longo da realização do projeto de extensão
Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas, também coordenado por Fá-
bio Frohwein de Salles Moniz. Em ambos os projetos, prestamos serviços para
a Divisão de Obras Raras (Diora) da FBN no sentido de ajudar na catalogação
correta das obras em latim do referido acervo.
Este trabalho é interessante tanto para a instituição de guarda dessas obras
quanto para os estudantes que integram o projeto. Enquanto os bibliotecá-
rios conseguem mais eficácia e rigor na catalogação das obras ‒ visto que, ao
compreender as informações ali contidas, conseguem obter informações cru-
ciais, como data de publicação da obra, nome do autor, impressor, licença de
impressão etc. ‒ os estudantes de Latim conseguem perceber, concretamente,
que o idioma dos antigos romanos foi utilizado por muitos séculos e, como
toda língua viva, passou por mudanças através do tempo. Além disso, após o
surgimento dos romances e, por conseguinte, das línguas neolatinas, o latim
foi usado como língua de cultura, de transmissão e divulgação do conheci-
mento científico. Nesse sentido, os referidos projetos de extensão possibilitam
que o estudante tenha uma visão holística dos usos do latim, já que na gradua-
ção em Letras, por exemplo, aborda-se, por questões de tempo, principalmen-
te, o latim clássico do primeiro século antes da era cristã.
A partir do contato com as obras da Diora, podemos conhecer vários as-
suntos abordados em latim, tais como Matemática, Filosofia, Literatura, His-
tória, Gramática etc. Uma obra em particular chamou atenção: os Rudimenta
grammatices, de Nicolò Perotti (Sassoferato, 1429 ‒ Sassoferato, 1480). Pri-
meiramente, porque era uma obra sobre a gramática do latim, assunto que
sempre nos interessou; depois, por causa da época em que a gramática foi
escrita, o Renascimento italiano, período em que o latim já não era mais uma
língua vernacular. Então, a curiosidade de saber como o latim era ensinado
como língua não-materna nos levou a conhecer melhor a referida obra. Fo-
lheando o compêndio, a primeira peculiaridade que notamos foi a nomen-
clatura utilizada para apresentar a língua, iniciando pelo sistema nominal;
aquela nomenclatura era bastante diferente da que aprendemos na faculdade,
em manuais de gramática latina contemporâneos. Por exemplo, aprendemos
76 Anais da Biblioteca Nacional • 140

na Graduação que os nomes em latim podem ser de três gêneros: masculino,


feminino ou neutro. No livro de Perotti, os nomes são divididos em sete gêne-
ros: masculino, feminino, neutro, comum, todo, promíscuo e incerto.1 Assim,
surgiu a pesquisa de Iniciação Científica. Decidimos investigar a nomenclatu-
ra do sistema nominal latino nos Rudimenta grammatices, de Nicolò Perotti,
para compreender que tipo de latim e de que maneira o latim era ensinado ‒ e
aprendido ‒ no Renascimento italiano.
Para tanto, precisamos, em um primeiro momento, proceder a uma con-
textualização histórica. Os Rudimenta grammatices tiveram sua primeira im-
pressão em Roma no ano de 1473. O livro fez tanto sucesso que foi reimpres-
so inúmeras vezes e contou até com adaptações. A segunda impressão saiu
um pouco depois da primeira, em maio de 1474, por Giovanni Fillipo La
Legname. Em 1475, houve seis reimpressões. Depois disso, houve uma suces-
são de reimpressões da obra por impressores de muitas regiões da Itália: em
1476, por Pannartz, em Roma; em 1475, Pádua e Veneza; em 1478, Milão e
Bolonha; em Veneza foi impresso duas vezes, em 1475 e 1476, por Gabriele
di Pietro; em 1980, Toscolano; em 1475, 1476 e 1478, impressos por Mattia
Moravo, Sixtus Riessinger e um anônimo, respectivamente, em Nápoles; em
1475, impresso por Johannes de Salsburga, em Barcelona; em 1476, impresso
por Nicolaus Spindeler e Peter Brun, em Tortora. Os Rudimenta foram visivel-
mente muito bem recebidos em toda a Itália e em algumas partes da Espanha.
Esse sucesso se expandiu por quase toda a Europa, a começar pela França (Pa-
ris primeiramente em 1477 e 1479), e depois Antuérpia e Lovânia (Bélgica),
Basileia (Suíça), Colônia (Alemanha), Estrasburgo (França).
Quanto às adaptações, destacamos que, na obra, há palavras, sintagmas e
até frases inteiras em italiano, principalmente na parte de estilo, em que o au-
tor ensina como bem escrever em latim. É interessante notar que só foram tra-
duzidos os trechos em vernáculo, permanecendo inalteradas as passagens em
latim. Assim, por exemplo, na edição alemã de Bernard Perger, há a tradução
do conteúdo em italiano para o vernáculo local. Tal adaptação foi chamada
Grammatica nova e publicada em 1479. Na França, uma adaptação foi feita
por Badius Ascensius e, segundo Phillipe Renouard veio a público em 1504,
ganhando posteriormente 13 reimpressões.
Em relação ao autor da obra, sabe-se que Nicolò Perotti era religioso e foi
arcebispo em Siponto, cidade ao sul da Itália. Além das funções religiosas, Pe-
rotti sempre deu aulas e chegou a lecionar na Universidade de Bolonha. Além
de gramática, o arcebispo escreveu também sobre métrica, literatura clássica
e algumas obras de caráter didático. Dentre as últimas, estão os Rudimenta

1. Em latim: masculinum, femininum, neutrum, commune, omne, promiscuum et incertum. Todas as


traduções do latim são de minha autoria.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 77

grammatices. No prefácio dos Rudimenta, temos informações a respeito da


justificativa da obra, além da dedicatória:

Que vós cedais espaço, agora, deixando a prolixidade rebuscada de Prisciano, Sér-
vio e Donato, para experimentar, de igual modo, uma obra muito clara e nova de
Nicolò Perotti, Arcebispo de Siponto. Nela, pois, há toda suavidade e leveza. Com
efeito, como parece bem a Quintiliano e também aos mais velhos, a gramática é
interessante aqui. Toda útil. Toda clara. A concisão se deveu tanto quanto, verda-
deiramente, a suprimir coisas supérfluas; não omitir as coisas necessárias, de fato
convenientes.2 (PEROTTI, 1475, p. [1]).

O autor apresenta sua obra como uma alternativa mais clara e didática
do que os compêndios existentes e dedica-a ao seu sobrinho Pyrrho e aos
“adolescentes de bem que têm preocupação com o maior aprofundamento de
gramática com o propósito de excelência”.3 A partir dessas informações, po-
demos situar a obra como um manual para jovens já alfabetizados, que talvez
estivessem saindo do quadrivium4 e iniciando seus estudos mais aprofundados
no trivium.5 Ainda no prefácio, há uma menção negativa a Prisciano, Sérvio e
Donato, grandes gramáticos da Antiguidade Tardia e do Medievo.
É interessante notar que a crítica a esses gramáticos foi feita no período
denominado Renascimento, em que comumente se aprende que há uma rup-
tura com os ideais da Idade Média e um retorno à Antiguidade clássica (BUR-
CKHARDT, 2009). Dessa forma, foi necessário estudar um pouco sobre esse
período para entender a motivação de tal crítica. O primeiro ponto que deve
ser considerado é a questão da ruptura com a Idade Média e o retorno à Anti-
guidade. Se olharmos mais atentamente, veremos que muitos dos costumes da
Antiguidade continuaram a existir na Idade Média, principalmente no que diz
respeito ao ensino e à gramática de latim. Segundo Peter Burke (2014), “como
outros filhos que se rebelam contra a geração dos pais, estes homens deviam
mais do que julgavam à ‘Idade Média’ que tão frequentemente denunciavam”

2. Vt jam Prisciani Servii et Donati molesta prolixitate relicta ad praeclarissimum opus et nouellum
Nicolai Peroti Archiepiscopi Sypontini degustandum pariter concedatis. In eo enim omnis suauitas
atque jocunditas. Siquidem ut placet Quintiliano etiam senibus jocunda est grammatice hic omnis
utilitas. Omnis claritas. Breuitas vero tanta quanta debuit superflua tollere et resecare. Necessaria uero
commoda non omittere. Hic breui poteritis ad summum grammatices euadere.
3. [V]osque omnes ingenui adolescentes quibus grammatices exquisitissime cura est tanquam de specula.
(Idem, ibidem).
4. O quadrivium era o primeiro passo da educação formal tanto na Antiguidade, quanto na Ida-
de Média e no Renascimento; corresponderia ao Ensino Fundamental contemporâneo (BLACK,
2003).
5. O trivium, por sua vez, corresponderia, grosso modo, ao Ensino Médio contemporâneo; era o
último passo da educação formal antes da universidade (que, convém lembrar, só surgiu no século
XII) (Id., Ibid.).
78 Anais da Biblioteca Nacional • 140

(BURKE, 2014, p. 10-11). É importante, pois, que se pense em rupturas e


continuidades. É preciso ainda que se atente ao fato de que já na Idade Média
‒ mais especificamente na baixa Idade Média ‒ os studia humanitatis estavam
em alta na Península Itálica. Consoante Le Goff (2018), houve o chamado
“intelectual da Idade Média”, homem citadino atualizado com as descobertas
científicas da época, um mestre erudito cujo ofício era ensinar aquilo que
aprendia. O surgimento das primeiras universidades, no século XII, também
favoreceu o uso da língua latina, visto que era por meio dela que o conheci-
mento circulava. Apesar de já existirem os romances, o latim era o idioma
preferido no meio acadêmico, pois dificilmente um europeu bem instruído
não o entenderia. Para que fossem conhecidas e divulgadas, portanto, as ideias
deveriam circular em latim.
Convém, no entanto, destacar que o latim usado na Idade Média era uma
língua pragmática, adaptada de acordo com a situação. Utilizavam-se neolo-
gismos, palavras clássicas tinham seus significados alterados para dar conta
das novas tecnologias, além de a sintaxe sofrer influência do idioma nativo de
cada região em que se utilizava o latim. Importa sublinhar aqui que a Igreja
detinha o poder em quase todas as esferas da sociedade, inclusive na educação.
Tal fato aponta para um ensino com finalidade religiosa, ou seja, o latim era
usado para ler os doutores da Igreja, como santo Agostinho, principalmente,
e o que não estava diretamente ligado à Igreja era compreendido através dos
ensinamentos dela.
No Renascimento italiano, o desejo de retorno aos ideais clássicos trouxe
desdobramentos com relação à língua. Diferentemente da Idade Média, o hu-
manista renascentista dedicava-se ao estudo da dialética, retórica e gramática
não mais voltado exclusivamente para fins religiosos, mas como um fim em si
mesmo. Apesar de, nessa época, já se terem fixados alguns vernáculos, a cir-
culação de conhecimento ainda era feita em língua latina. O idioma dos an-
tigos romanos, portanto, desfrutava de prestígio frente às línguas modernas.
Contudo, deve-se prestar atenção ao latim utilizado no Renascimento. Nuñes
González (1991) explica que, nesse período, havia pelo menos dois usos de
latim concorrentes entre si, devido ao embate entre gerações antagônicas de
humanistas: os ciceronianos e os não ciceronianos.
Na tentativa de fazer ressurgir o latim e assumindo que o idioma havia se
contaminado com barbarismos, os ciceronianos chegaram à solução de que,
através da imitação dos clássicos, poderiam retomar o latim correto, mais
puro. E o meio para chegarem a isso eram os textos clássicos e o estudo da gra-
mática com base neles; usavam, pois, a frase de Quintiliano: “A gramática não
se apoia na razão, mas no exemplo” (QUINTILIANO, 2015, p. 97).6 Nesse
sentido, os ciceronianos defendiam que o padrão de língua latina a ser seguido

6. “[G]rammatica non ratione nititur, sed exemplo”.


Anais da Biblioteca Nacional • 140 79

era o que se encontrava nas obras de Cícero. Então, a morfologia, o léxico e


a sintaxe foram restringidos com a finalidade de combater qualquer tipo de
barbarismo. Foram feitos glossários de palavras e também tratados de normas
sintáticas com base nos textos do orador latino. É interessante observar que os
ciceronianos entendiam que mais do que o uso de determinados vocábulos, o
latim puro era uma questão de estilo sintático, isto é, a ideia é a de que a posi-
ção dos vocábulos na frase influencia bastante o grau de “pureza” do latim. Os
não ciceronianos, por sua vez, utilizavam o latim como um idioma “diferente
do latim clássico ou do latim bárbaro, com suas próprias características, no
qual a complexidade dos antigos é substituída pela agilidade moderna”, isto
é, como um neolatim. Os não ciceronianos criticavam, sobretudo, o fato de o
latim de Cícero ser entendido como norma de latinidade e não somente como
o estilo do autor. Também entendiam que o latim dos ciceronianos, antes de
servir a uma forma correta de se falar ou escrever em latim, era uma espécie de
arqueologia do estilo ciceroniano.
Com relação à sociedade da época, os historiadores do Renascimento ob-
servam a configuração de um microcosmo social em torno dos líderes polí-
ticos (príncipes, tiranos etc.), denominado de “corte renascentista”. Segundo
Burke (1991), a corte compunha-se, além do líder político e de sua família,
de pessoas que o rodeavam como seus agregados. Essas recebiam seus favores
e viviam sob sua proteção.
Resumindo, a corte era uma instituição onde conviviam muitas funções
diferentes. Não era só a família do soberano, mas também um verdadeiro
instrumento de governo. Para além disso, o facto de o príncipe e dos seus
companheiros sentirem necessidade de se distraírem à noite com a poesia ou
com a música, ou jogando xadrez ou jogos de azar, ou mesmo inventando
anagramas, divisas, adivinhas ou cortejando as damas, favoreceu a transfor-
mação da corte em centro cultural (BURKE, 1991, p. 107).
Enquanto ambiente de intensa vida cultural, a corte servia de espaço para
o surgimento de um novo perfil de estudioso: o humanista renascentista. Essa
personagem não apenas se dedicava aos estudos de humanidades, como gra-
mática, retórica, dialética, filosofia, mas também exercia funções relacionadas
à administração da corte, a exemplo de secretários, historiadores, redatores de
discursos e correspondências, entre outros. Dessa forma, havia humanistas da
Renascença que ganhavam o sustento trabalhando para os líderes políticos, o
que lhes garantia a possibilidade de se dedicar ao estudo e, até mesmo, de se
retirar para o campo a fim de se aprofundar em suas pesquisas, caracterizadas
por uma atividade intelectual muito individualizada e fechada em si mesma.
Como se pode observar, a corte renascentista foi um ambiente profícuo
para usos sociais do latim. Nesse ambiente social, aprender latim revestia-se
de pragmatismo: era uma maneira de se destacar no ambiente da corte e até
mesmo de obter uma oportunidade de ascensão social. Com base no que
80 Anais da Biblioteca Nacional • 140

expomos até agora, encontramo-nos em meio a algumas perguntas, que ten-


taremos responder ao decorrer da pesquisa: qual tipo de latim era utilizado
nessas cortes, o latim dos ciceronianos ou o latim dos não ciceronianos? Além
disso, até que ponto o latim usado no Renascimento era uma ruptura com
o latim “bárbaro” do Medievo? Em que lugar estão ‒ se estão ‒ os pontos de
continuidade? Se, porventura, o latim “bárbaro” e o latim dos ciceronianos
coexistiam no Renascimento italiano (mais especificamente, no século XV),
qual latim era usado e em que contexto? Na perspectiva do ensino, também
há algumas indagações: em que medida o ensino de latim consiste em uma
das continuidades da Idade Média no Renascimento? O latim pensado e en-
sinado como língua de cultura, de transmissão do conhecimento, com seus
empréstimos bárbaros e neologismos, estava presente no ensino básico? Até
que ponto as polêmicas entre ciceronianos e não ciceronianos influenciavam
o ensino básico de latim?
Dessa forma, como próximos passos da pesquisa, pretendemos explorar os
Rudimenta grammatices, de Nicolò Perotti, para investigar que tipo de latim
estaria circulando entre os estudantes de época em que a obra foi impressa
pela primeira vez. Devido ao grande sucesso dos Rudimenta, imaginamos que
seu conteúdo foi ensinado em muitos lugares e a muitos estudantes. Desse
modo, estudar as nomenclaturas apresentadas no manual é importante para
conhecer que tipo de latim se ensinava no período em que os Rudimenta esti-
veram em alta. Além disso, recorreremos aos compêndios de gramática do la-
tim mais famosos desde a Antiguidade até a Idade Média ‒ a saber, De lingua
latina, de Varrão; Ars Minor, de Donato; Commentarius in artem Donati, de
Sérvio; Institutiones grammaticae, de Prisciano; e as contribuições de Quinti-
liano nas Institutio oratoria ‒ a fim de mapear uma tradição da nomenclatura
do sistema nominal latino, o que permitirá perceber rupturas e continuidades
em tal tradição. Ainda, estudaremos não só a nomenclatura, mas também o
pensamento linguístico/filosófico que baseia a nomenclatura. Para tanto, re-
correremos aos gregos e ao surgimento de uma teoria gramatical no Ocidente.

Referências
BLACK, Robert. Humanism and education in Medieval and Renaissance Italy.
Cambridge: Cambridge, 2003.
BURCKHARDT, Jacob. A cultura do Renascimento da Itália. Tradução de Sérgio
Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
BURKE, Peter. O que é a corte? In: GARIN, Eugenio (Org.). O homem renascentista.
Lisboa: Editorial Presença, 1991.
BURKE, Peter. O Renascimento. 2. ed. Lisboa: Texto & Grafia, 2014.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 81

LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. Tradução de Marcos de Castro. 9.


ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2018.
NUÑES GONZÁLEZ, Juan Maria. “Ciceronianismo y latín renascentista”. In:
Minerva: Revista de Filologia Clássica. n. 5. Espanha, 1991. p. 229-258.
PEROTTI, Nicolò. Rudimenta grammatices. Roma[e]: per [...] Vuendellinu[m] de
Vuilla, 1475.
QUINTILIANO, Marco Fábio. Instituição oratória. Tradução de Bruno Fregni Basseto.
São Paulo: Unicamp, 2015. Tomo I.
Edição comentada da
correspondência entre Paolo
Manuzio e Marc Antoine Muret

Esther da Silva Martins


Graduando em Português-Italiano pela UFRJ. Atuou nos projetos de extensão Os clássicos
no acervo de obras raras da FBN e Núcleo de Documentação em Línguas Clássicas

Fábio Frohwein de Salles Moniz


Graduado em Português-Latim, com doutorado em Literatura Brasileira e em Letras
Clássicas pela UFRJ, onde é professor adjunto. Coordena o projeto de extensão Núcleo de
Documentação em Línguas Clássicas junto à FBN
Resumo
Este trabalho objetiva apresentar a proposta da recém-começada pesquisa de Iniciação
Cientítica “Edição comentada da correspondência entre Paolo Manuzio e Marc Antoine
Muret”. A pesquisa partiu do pressuposto de que a reconstituição do diálogo epistolar
entre Paolo Manuzio (1512-1574) e Marc Antoine Muret (1526-1585) é de suma im-
portância para pesquisadores que lidam com obras raras em latim e com a história do
livro ou da tipografia. Nossas fontes de informação para a recomposição desse diálogo
epistolar são: 1) Paulli Manutii epistolarum livri XII [...], (Pavia, 1589); e 2) Marci An-
tonii Mureti [...] orationes, epistolae, hymnique sacri [...], (Verona, 1592). Exemplares das
referidas obras encontram-se depositados no acervo da Fundação Biblioteca Nacional.
Palavras-chave: Língua latina. Cartas. Paolo Manuzio. Marc Antoine Muret. Fundação
Biblioteca Nacional.

Abstract
This presentation aims to show the proposal of the recently started Scientific Initiation
research “Edição comentada da correspondência entre Paolo Manuzio e Marc Antoine
Muret”. The research was based on the reconstitution of the epistolary dialogue between
Paolo Manuzio (1512-1574) and Marc Antoine Muret (1526-1585), which has great
importance for researchers who deal with rare books in Latin and with the history of
the book and the typography. Our sources of information for the recomposition of this
epistolary dialogue are: 1) Paulli Manutii epistolarum livri XII [...], (Pavia, 1589) and
2) Marci Antonii Mureti [...] orationes, epistolae, hymnique sacri [...], (Verona, 1592).
Copies of these works are deposited in the Fundação Biblioteca Nacional collection.
Keywords: Latin language. Letters. Paolo Manuzio. Marc Antoine Muret. Fundação
Biblioteca Nacional.
Este trabalho objetiva apresentar a proposta da recém-iniciada pesquisa
“Edição comentada da correspondência entre Paolo Manuzio e Marc An-
toine Muret”. A pesquisa partiu do pressuposto de que a reconstituição do
diálogo epistolar entre o impressor italiano Paolo Manuzio (1512-1574) e o
humanista francês Marc Antoine Muret (1526-1585), duas personalidades
representativas do humanismo renascentista, é de suma importância para um
determinado setor da sociedade, a saber, pesquisadores e profissionais que
lidam com obras raras em latim e com a história do livro ou da tipografia.
Em sua fase inicial, a pesquisa procedeu ao levantamento de obras raras que
contenham as correspondências ativa e passiva de Manuzio e Muret. Na se-
quência, buscaram-se as principais referências bibliográficas sobre os autores
e seu período histórico-cultural, o Renascimento italiano. As fontes de infor-
mação que utilizaremos para recompor o diálogo epistolar entre os missivistas
são: 1) Paulli Manutii epistolarum libri XII [...], impressos em Pavia (Itália)
em 1589; e 2) Marci Antonii Mureti [...] orationes, epistolae, hymnique sacri
[...], impressas em Verona (Itália) em 1592. Exemplares das referidas obras
encontram-se depositados no acervo da Divisão de Obras Raras da Fundação
Biblioteca Nacional (FBN). Esta pesquisa vincula-se ao grupo de pesquisa
Crítica Textual (CNPq/FBN) e desdobrou-se do projeto de extensão Núcleo
de Documentação em Línguas Clássicas, realizado em parceria entre a Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro e a FBN.
Paolo Manuzio e Marc Antoine Muret acompanharam de perto um dos
momentos culturais mais importantes para a história da Europa, o Renas-
cimento. Segundo Jacob Burckhardt, esse momento histórico-cultural deve
ser entendido à luz de dois conceitos-chave: individualismo e modernidade
(BURCKHARDT, 2009, p. 145-176). Para o historiador, foi na Renascença
italiana que o homem começou a se entender como indivíduo, o que possibi-
litou o advento de um movimento singular nas artes e nas letras, que marcou
uma profunda ruptura com a Idade de Média e se caracterizou, essencialmen-
te, pela busca de modelos tomados da Antiguidade clássica. Historiadores
mais recentes, como Peter Burke, recusam a ideia de que o homem do Renas-
cimento rompeu, abruptamente, com padrões comportamentais e culturais
do Medievo, preferindo trabalhar com as noções de continuidade e hibridis-
mo culturais aplicados ao entendimento da sociedade renascentista (BURKE,
2014, p. 7-16).
Um fator do Renascimento que muito interessa para esta pesquisa é a in-
venção da imprensa de tipos móveis que, inicialmente, esteve muito associada
à impressão de obras clássicas, desdobramento do interesse humanístico pela
Antiguidade greco-latina. Os humanistas renascentistas, por meio de suas au-
las e conferências em várias universidades da Europa, difundiram o conheci-
mento acerca dos autores antigos e contribuíram para a formação e expansão
de um público leitor de clássicos e, consequentemente, de uma demanda por
86 Anais da Biblioteca Nacional • 140

livros. Diferentes formatos e edições de obras clássicas eram produzidas por


impressores famosos, como Aldo Manuzio (1449-1515), de maneira a am-
pliar o espaço de contribuição dos humanistas para o esclarecimento de textos
jamais vistos, por meio de notas e comentários.
Paolo Manuzio foi, sem dúvida, um impressor muito importante na his-
tória da Renascença italiana. Editor, escritor, pesquisador, tipógrafo e huma-
nista, era reconhecido por ser especialista na edição de textos latinos, sempre
buscando conservar os estilos das obras, porém era também inovador na for-
ma de imprimir seus livros. Bastante conhecido por causa do nome de sua
família, chegou a monopolizar todo o mercado livreiro de Roma e de cidades
vizinhas. Era o filho mais novo de Aldo Manuzio, responsável pela criação da
letra cursiva (itálica), do livro de bolso, das coleções temáticas e dos conselhos
editoriais. Aldo engrandeceu e aumentou a produção livreira de tal forma que
foi um dos responsáveis pela impulsão dos estudos helenísticos na Itália re-
nascentista. Tornou-se, assim, muito respeitado e o manteve em destaque por
séculos no âmbito de impressão de livros clássicos gregos e latinos.
Não obstante o sucesso, Aldo faleceu em 1515, deixando seu filho Paolo,
na época com três anos, aos cuidados do avô paterno Andrea, que cuidou dos
negócios da família até sua morte em 1529. Logo após o falecimento de Aldo,
a casa passou a ser conduzida por seus filhos, entre os quais Paolo, que esteve
envolvido com a oficina do falecido pai de 1533 até 1540, quando decidiu
abrir seu próprio negócio, também em Veneza. A partir dessa data, publicou
por conta própria uma série de trabalhos de Cícero, iniciando com as obras
De oratore, Brutus e Orator, impressas de 1540 a 1546, com suas próprias
correções, o que as tornava uns dos produtos mais refinados da tipografia da
época. Em seguida, imprimiu também comentários nas Epistolae ad Atticus
(1557), no Brutus e Quintus (1557) e no Pro Sextio (1556). Publicou, ainda,
suas cartas italianas entre 1556-1560 e suas Epistolae et praefationes (epístolas e
prefácios) latinas em 1558, quando também trabalhou em nome de Federico
Badoer da tipologia da Accademia della Fama.
A partir de 1561, abriu uma filial de sua tipografia em Roma, no Capitó-
lio, onde passou a viver e assumiu a Stamperia del Popolo Romano, estabele-
cida no mesmo ano pelo Papa Pio IV. Dessa forma, Paolo conquistou os pri-
vilégios de impressão relativos aos textos mais importantes aprovados pelo
Concílio de Trento, incluindo o Catecismo e o Missal. Ainda em Roma,
produziu escólios do Pro Archia em 1571-1572, das Epistolae ad familiares
e de comentários sobre os discursos de Cícero, esses últimos de impressão
póstuma. Merecem menção, ainda, vários trabalhos sobre antiguidades ro-
manas, a que havia se dedicado como estudioso. Tiraboschi, que se refere
aos elogios a ele prestados por Muret e outros, o descreve como “digno
de uma vida muito mais longa, e ainda mais digno de lembrança imortal”
(SANDYS, 1908, p. 101).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 87

Marc-Antoine de Muret chegou aos 25 anos de idade a Paris em 1551, já


famoso devido ao seu trabalho como professor e a suas palestras sobre Catulo.
Muret havia sido adotado pela nova escola de poetas franceses que se denomi-
nava Brigada, da qual faziam parte, especialmente, Joachim Du Bellay, Jean-
-Antoine de Baffi e Pierre Ronsard, que aspiravam a criar uma nova poesia
integrando a tradição literária francesa aos autores clássicos, à poesia neolatina
e à italiana (MORRISON, 1956; SILVER, 1966). Perto do final de 1553,
Muret fugiu de Paris devido a acusações de heresia e de conduta sexual inade-
quada, indo para Veneza, onde contou com a colaboração de Paolo Manuzio
para imprimir, em 1554, sua famosa edição comentada dos poemas de Catulo.
Segundo Julia Haig Gaisser (2007), os comentários de Muret refletem, por
um lado, a polêmica entre os humanistas italianos do século XVI acerca da
obra de Catulo, mas registram, também, a influência do programa estético dos
poetas da Brigada. Os leitores do século XV haviam conhecido inicialmente
os poemas de Marcial, por meio de quem tiveram as primeiras notícias acerca
da obra de Catulo, redescoberta posteriormente. Devido à ênfase de Marcial
aos poemas catulianos licenciosos, os humanistas renascentistas negligencia-
ram, em um primeiro momento, a profundidade emocional da poesia de Ca-
tulo e sua relação com a poética alexandrina, à exceção – talvez única – de
Poliziano, que se interessou por comparar poemas alexandrinos e catulianos.
Muret e os poetas franceses da Brigada propuseram uma abordagem exegética
revolucionária da obra de Catulo, divorciando-a do ponto de vista de Marcial.
Lançando mão de seus conhecimentos de poesia grega, Muret dedicou-se,
em especial, ao estudo dos poemas de Catulo com influência de poetas arcai-
cos e alexandrinos, como o 51, 63, 66 e 68. Um de seus maiores contributos
ao estudo da poesia catuliana, sem dúvida, foi ter identificado que o fragmen-
to 31 de Safo serviu de modelo para Catulo elaborar o poema 51, publicando
ambos em sua edição comentada de 1554. Não obstante sua importância
como comentador, Muret não é considerado um editor de destaque, já que
se limitou a trabalhar, ao que parece, com somente um manuscrito do corpus
catullianum. Além disso, o estudioso francês inseriu três poemas de temática
priápica após o 17, que foram numerados como 18, 19 e 20 nas edições pos-
teriores. Somente no século XIX, o filólogo alemão Karl Lachmann baniria
esses poemas do cânone catuliano, embora persista até hoje essa lacuna entre
os poemas 17 e 21 nas edições modernas.
Manuzio e Muret trocaram cartas em latim ao longo de quase 20 anos. A
correspondência desses dois humanistas é muito conhecida desde a época em
que ambos estavam vivos, já que várias cartas foram selecionadas e impressas
em antologias pelo próprio Paolo e mais tarde reeditadas por seu filho Aldo
II (1547-1597). Pietro Lazzari (1710-1789), jesuíta e bibliotecário do Co-
légio Romano da Companhia de Jesus, colaborou para ampliar o conjunto
de cartas publicadas, recuperando textos inéditos encontrados na Biblioteca
88 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Maior do Colégio Romano, por meio de manuscritos que continham várias


missivas endereçadas pelo impressor italiano ao estudioso francês. Além da
recuperação de inéditos, Lazzari emendou, com base nos originais manuscri-
tos, o texto de cartas publicadas por Paolo, em muitos casos sem indicações
de datas e com algumas passagens ou nomes pessoais suprimidos.
Para Lorenzo Mancini (2015), o trabalho de Lazzari talvez tenha caído no
esquecimento. É o que sugere a edição da correspondência de Manuzio e Mu-
ret editada por Ester Pastorello em 1957. Nesse inventário, Pastorello atribuiu
datas às cartas a partir do conteúdo, mas sem considerar as adições de Lazzari.
No entender de Mancini, urge um cotejo entre o trabalho de Pastorello e as
emendas e acréscimos de Lazzari para que se faça a edição crítica dessa corres-
pondência, até o presente momento não elaborada.
Como informamos no início desta apresentação, nossas fontes primárias
de pesquisa são as edições que contêm as correspondências de Paolo e de Mu-
ret impressas, respectivamente, em 1589 e 1592. É importante salientarmos
que o conjunto da correspondência trocada pelos missivistas não se encontra
plenamente divulgado em cada uma dessas obras; isto é, na edição de 1589,
há o epistolário de Paolo, da mesma forma que, na edição de 1592, foram
compiladas as missivas de Muret. Em poucos casos, no epistolário de Muret
figuram cartas de Paolo, mas a recíproca não é verdadeira. Embora os cabe-
çalhos das cartas de Muret mencionem quais missivas de Paolo estão sendo
respondidas, nem sempre essas são apresentadas.
Desta forma, um dos primeiros problemas que nossa pesquisa vem bus-
cando resolver é sequenciar essas cartas para que se recomponha o diálogo
epistolar. Essa recomposição é de extrema importância, sobretudo, para o en-
tendimento do texto, já que há passagens de uma carta que retomam ipsis
litteris trechos de uma missiva anterior. O recorte de corpus pelo qual optamos
consiste na correspondência trocada por ambos os missivistas a respeito do
trabalho de Muret quando da elaboração dos comentários acerca dos poemas
de Catulo. Como mencionamos acima, Paolo imprimiu, em 1554, os poemas
de Catulo comentados por Muret, mas a correspondência entre o impressor
italiano e o estudioso francês registra a continuidade do diálogo entre ambos
sobre o trabalho escolástico acerca dos poemas catulianos. De fato, os comen-
tários de Muret ao corpus catullianum tornaram a ser impressos em 1558,
1559 e 1562, com alterações que a correspondência Manuzio-Muret talvez
possa nos ajudar a compreender.
Os próximos passos de nossa pesquisa serão, portanto: 1) confrontar as
datas atribuídas por Lazzari e Pastorello à correspondência Manuzio-Muret,
para podermos adotar critérios de sequenciamento das mesmas em nossa pro-
posta de edição; 2) compilar essas cartas por meio de um editor texto e 3) dar
prosseguimento às leituras que nos auxiliarão na produção dos comentários a
essas cartas.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 89

Referências
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Sérgio Tellaroli. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
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& Grafia, 2014.
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439-460.
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MARCOLLIN, Neldson. Tecnologia e arte: Há 511 anos, o italiano Aldo Manuzio
começava a reinventar o livro impresso. Revista Pesquisa: FAPESP. Edição 116, Out.
2015. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/tecnologia-e-arte. Acesso em: 10
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Antoine de Muret. Bibliothèque d'humanism et renaissance, n. 18, 1956, p. 240-274.
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(Treccani – Dizionario Biografico Degli Italiani) Disponível em: https://www.treccani.
it/enciclopedia/paolo-manuzio_%28Enciclopedia-Italiana%29. Acesso em: 10 fev.
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PASTORELLO, Ester. L’Epistolario Manuziano: inventario cronologico-analitico, 1483-
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SANDYS, John Edwin. A History of classical scholarship. Cambridge: Cambridge
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STERZA, Tiziana. Paolo Manuzio: Editore a Venezia (1533-1561). 2018. 45f.
Dissertação (Graduação em Letras Modernas) – Annali della Facoltà di Lettere e
Filosofia dell’Università degli Studi di Milano, Milão, 2008.
Segurança patrimonial em bibliotecas
universitárias: relato de experiência
no Sistema de Bibliotecas da
Universidade Federal de Minas Gerais

Wellington Marçal de Carvalho


Doutor e mestre em Letras - Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC-Minas.
Pós-doutorando em Estudos Literários (FALE/UFMG).
Bibliotecário-documentalista da UFMG

Anália das Graças Gandini Pontelo


Mestre em Administração, especialista em Políticas Públicas.
Bibliotecária-documentalista da UFMG

Diná Marques Pereira Araújo


Mestre em Ciência da Informação pelo Programa de Pós-graduação em Ciência
da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais. Bibliotecária-documentalista
da UFMG, também é conservadora-restauradora
Resumo
O artigo apresenta as experiências de furto e atividades suspeitas com o acervo anti-
go, raro e especial do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG). Cita os momentos regulatórios, específicos da legislação brasileira, sobre o
patrimônio cultural relacionados ao comércio e segurança de bens, divulgados pelo Ins-
tituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Detalha o contexto vivenciado em
bibliotecas da UFMG em situações de furto de livros, bem como os desdobramentos
legais que se seguiram até a recuperação dos bens para a Universidade. Destaca o investi-
mento institucional para garantir infraestrutura, recursos humanos e pesquisa para a pre-
servação e acesso às coleções especiais da UFMG com destaque para o Gerenciamento de
Risco como instrumento de apoio à segurança de acervos institucionais. O texto encerra
com reflexões sobre a conscientização institucional e profissional em prol da segurança
de acervos e a importância da transdisciplinaridade para transposição dos desafios que a
segurança de acervos bibliográficos patrimoniais impõe.
Palavras-chave: Biblioteca universitária – Universidade Federal de Minas Gerais. Livros
raros. Furto. Segurança.

Abstract
This paper presents the experiences of theft and suspicious activities regarding the ancient,
rare, and special collections in the Library System of Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Initially, it mentions the regulatory moments, specific to Brazilian
law, about cultural heritage linked to commerce and asset security, broadcasted by the
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Afterward, it details the
situation experienced in the UFMG libraries in the situation of book theft, as well as
the following legal steps until the asset is returned to the University. It highlights the
institutional investment to secure the infrastructure, human resources, and research for
the preservation and access of UFMG’s special collections, with special attention given
to Risk Management as an available tool to support the safety of institutional archives.
The text closes with reflections on institutional and professional awareness in favor of the
safety of special collections and the importance of transdisciplinarity to overcome the
challenges presented by the safety of heritage bibliographic collections.
Keywords: University library – Universidade Federal de Minas Gerais. Rare books.
Theft. Safety.
Introdução
A história das bibliotecas universitárias no Brasil é também a história do
ensino superior no país. A constituição de universidades e suas bibliotecas
em todo o território nacional, respeitados os contextos históricos, políticos,
econômicos e culturais, é semelhante em todo solo brasileiro. Ao refletirmos
sobre as histórias das formações de coleções especiais nessas bibliotecas uni-
versitárias, também podemos identificar uma série de semelhanças. Dentre
elas, a reunião de acervos antigos para guarda especial, as formações de co-
leções bibliográficas da memória institucional, as coleções especiais oriundas
de doações de professores, intelectuais, bibliófilos e políticos que se relacio-
nam com a instituição que recebe a doação. No cenário de possibilidades de
conceituação das coleções especiais em bibliotecas universitárias brasileiras,
um dos desafios sempre presente é a segurança dos documentos patrimoniais
resguardados pela instituição.
Ao lermos o livro A arte de furtar (1652) (COSTA, 2001), é possível
identificar brevemente uma gama de tipologias de furtos e as modalidades
e situações que ensejam o crime, todos eles entrelaçando dinâmicas da vida
cotidiana, nas teias sociais, comerciais, políticas e culturais da sociedade. Sem
querer entrar nas questões históricas associadas a essa publicação da literatura
portuguesa, convocamos a obra para exemplificar as diversas manifestações
do furto, cientes de que essa prática permeia a sociedade há séculos. A arte de
furtar, desse modo, para nós, configura-se em um texto que poderia ser lido e
relido por profissionais da informação, sobretudo bibliotecários, em tempos
de ameaças visíveis e, até mesmo, invisíveis de furtos e do comércio ilícito de
nossa herança bibliográfica.
Como ponto de partida, citamos instantes específicos da legislação brasi-
leira sobre o patrimônio cultural relacionada ao comércio e segurança de bens.
Em seguida, apresentamos, rapidamente, a constituição de parte das coleções
especiais do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal de Minas Gerais
(SB-UFMG), apontamos questões relacionadas a furtos de livros nos acervos,
em períodos e situações distintas. Intercalamos esses “momentos críticos” com
as soluções encontradas para lidar com aquelas situações, fazendo considera-
ções analíticas sobre as práticas de segurança adotadas desde a década de 1990
no SB-UFMG. Por fim, apontamos perspectivas e desafios vivenciados para
a proteção do patrimônio bibliográfico resguardado pela instituição. Assim,
nossos olhares buscam soluções para a segurança de acervos e nos impulsio-
nam para apresentarmos e refletir sobre casos relacionados às coleções espe-
ciais das unidades acadêmicas da UFMG e às coleções especiais alocadas no
prédio da Biblioteca Central da Universidade.
94 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Movimentos regulatórios no Brasil


Iniciamos com a legislação brasileira referente ao patrimônio cultural.
Uma lista disponibilizada e reunida pelo Instituto de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) demonstra que, desde 1932, questões sobre a segu-
rança do patrimônio são previstas normativamente no ordenamento jurídico
brasileiro. Dessa enumeração, poderíamos destacar:

• Decreto no 21.981, de 19 de outubro de 1932 – Regula a profissão de


Leiloeiro ao território da República;
• Decreto-lei, no 25, de 30 de novembro de 1937 – Organiza a proteção
do patrimônio histórico e artístico nacional;
• Lei no 3.924, de 16 de julho de 1961 – Dispõe sobre os monumentos
arqueológicos e pré-históricos;
• Lei no 4.845, de 19 de novembro de 1965 – Proíbe a saída, para o exte-
rior, de obras de arte e ofícios produzidos no país até o fim do período
monárquico;
• Lei no 5.471, de 9 de julho de 1968 – Dispõe sobre a exportação de
livros antigos e conjuntos bibliográficos brasileiros;
• Artigos 215 e 216 da Constituição da República Federativa do Brasil
– Seção II, Da Cultura;
• Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991 – Dispõe sobre a política nacio-
nal de arquivos públicos e privados e dá outras providências;
• Lei no 9.613, de 3 de março de 1998 – Dispõe sobre os crimes de
“lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da uti-
lização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras – Coaf e dá outras
providências;
• Instrução Normativa 01/2007 do Instituto de Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional (Iphan) – Dispõe sobre o Cadastro Especial dos
Negociantes de Antiguidades, de Obras de Arte de Qualquer Nature-
za, de Manuscritos e Livros Antigos ou Raros, e dá outras providências;
• Instrução Normativa dos leiloeiros de 2010 – Dispõe sobre o processo
de concessão de matrícula, seu cancelamento e a fiscalização da ativida-
de de Leiloeiro Público Oficial e dá outras providências.

As leis mencionadas são documentos de referência para o Cadastro de Ne-


gociantes de Antiguidades e Obras de Arte (Cnart), mantido pelo Iphan. Essa
estratégia gerencial do Instituto visa consolidar
Anais da Biblioteca Nacional • 140 95

um cadastro nacional via web que tem por objetivo disponibilizar em um só lugar
o cadastro de comerciantes e agentes de leilão que negociam objetos de antigui-
dade, obras de arte de qualquer natureza, manuscritos e livros antigos ou raros.
É um instrumento que auxilia o IPHAN a desenvolver a política de prevenção à
lavagem de dinheiro por meio de obras de arte (conforme Lei no 9.613/1998 e
Portaria IPHAN no 396/2016) e também a conhecer os objetos de valor histórico
e artístico que são comercializados no país, o que colabora para identificar os que
são passíveis de reconhecimento como patrimônio histórico e artístico nacional
(conforme Decreto-lei no 25/1937 e Instrução Normativa no 01/2007). (CADAS-
TRO, 2018).

A leitura da legislação brasileira, feita de maneira não exaustiva, revela que


as normativas estão à disposição mas, apesar disso, grande parte das práticas
sociais, profissionais e patrimoniais das bibliotecas institucionais padecem de
ausências e de não efetividade de seu cumprimento, tanto na realização do
controle legal dos bens bibliográficos quanto na condução das políticas de
preservação em nosso país.

Acervos bibliográficos raros e especiais


da UFMG: escorço histórico1

Nossa abordagem neste ensaio pretende refletir, ainda que brevemente,


sobre a segurança de acervos em coleções especiais de bibliotecas universitá-
rias – especificamente, no contexto das bibliotecas da UFMG. A realidade
vivida nas coleções especiais da UFMG no tocante a casos de furtos e roubos
de livros antigos e raros possibilita avaliar de forma pontual as práticas pro-
fissionais e institucionais em torno da preservação de acervos antigos e raros.
Permitem, também, a elaboração de ações para transpor desafios impostos às
bibliotecas em nosso país, por vezes marcado pela ausência de infraestrutura
física, financeira, e profissional adequada para o funcionamento desses equi-
pamentos de cultura. Desse modo, o presente relato de experiência é uma ava-
liação crítica das práticas nas quais os bibliotecários são atores, mas é também
uma forma de compartilhar vivências institucionais para encontrar novas for-
mas de compreensão e aprimoramento da segurança em acervos de coleções
especiais e de obras raras.
A Universidade de Minas Gerais (UFMG) foi criada, em 1927, em Belo
Horizonte,

1. Texto reelaborado a partir de palestra proferida por Diná Marques Pereira Araújo no “Encontro
sobre Segurança de Acervos Raros e Especiais”, que teve lugar na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo em 24 de outubro de 2017.
96 Anais da Biblioteca Nacional • 140

pela reunião de quatro escolas de nível superior. A mais antiga delas é a Faculdade
de Direito, fundada em 1892, em Ouro Preto, e transferida para a nova capital
Belo Horizonte em 1898. As outras três são a Escola de Odontologia, criada em
1907, a Faculdade de Medicina, em 1911, e a Escola de Engenharia, também de
1911. No mesmo ano, o curso de Farmácia é incorporado à Escola de Odontolo-
gia. (CASTRO, 2007).

As quatro escolas reunidas para formar a Universidade tinham suas pró-


prias bibliotecas, inclusive suas próprias coleções de livros antigos e raros. A
união das faculdades não reuniu acervos bibliográficos em espaço físico úni-
co. Os documentos arquivísticos da Biblioteca Universitária apontam que em
1930 – quando a Reitoria ficava localizada no prédio da Faculdade de Direito
– foi criada uma sala de livros raros. Podemos identificar esse “gabinete de
raridades” da Reitoria por meio da consulta ao livro de tombo que registra os
livros que essa sala reunia. O registro desse acervo foi feito apenas em 1941,
no Instituto Nacional do Livro, com a indicação de que aquela era a primeira
“biblioteca de livros raros” da Instituição. Esse espaço de raridade cresceu por
meio de doações e compras realizadas pela instituição.
Na década de 1960, a Universidade recebeu doações de coleções bibliográ-
ficas especiais, feitas por bibliófilos brasileiros e professores da instituição. A
transferência do prédio da Reitoria, do centro da cidade de Belo Horizonte
para o campus Pampulha, tornou possível a recepção de coleções e ampliação
de acervos especiais ao lado, fisicamente, das salas da Administração Central.
Na década de 1980, com a construção do prédio da Biblioteca Central, as
coleções bibliográficas especiais foram transferidas para o novo edifício com
o objetivo de otimizar espaços de guarda patrimonial (equipe técnica de pro-
fissionais, instalações físicas adequadas para o armazenamento e segurança
dos livros, infraestrutura para controle de temperatura e umidade).2 O novo
espaço para coleções especiais ensejou a convocação para que as bibliotecas
das unidades acadêmicas transferissem suas coleções especiais e livros anti-
gos e raros para o novo prédio. Algumas transferências permanentes foram
realizadas, mas a grande maioria das unidades decidiu manter as coleções de
forma descentralizada.3

2. Para saber mais acerca da DICOLESP/BU/SB-UFMG, recomenda-se a leitura de Araújo; Car-


valho; Pontelo (2015).
3. Para saber mais sobre a história do Sistema de Bibliotecas da UFMG, ver: Carvalho; Pontelo;
Gomes (2017).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 97

Incidentes críticos
Na década seguinte, a de 1990, um “pesquisador” silenciosamente inicia
seu contato semanal com profissionais das bibliotecas, requisitando material
nas coleções especiais das unidades acadêmicas. Ele se identifica como “bi-
bliófilo” e pesquisador de livros raros. Gentil e seguidor das normas de uso e
acesso indicadas pelas bibliotecas, ele conquista a confiança das equipes. Com
o passar dos meses, ele passou a fiar-se na confiança que conquistou e a equipe
“confiava que podia confiar”. Rotinas sutilmente reveladas, hábitos de acesso
pouco cerimoniosos, locais de guarda lentamente mapeados: por dias, sema-
nas e meses, esse foi o foco do dito pesquisador-bibliófilo.
Na primeira década dos anos 2000, livros da UFMG começam a ser co-
mercializados entre livreiros de Belo Horizonte que, talvez preocupados com
as sanções oriundas do controle de venda de livros antigos, denunciaram que
havia um fluxo sui generis de livros com marcas de proveniência do acervo bi-
bliográfico da UFMG e de outras bibliotecas da cidade. As autoridades com-
petentes iniciam as buscas, e o “colecionador” fiel e confiante publiciza o fruto
do seu “labor”: em sua casa havia uma quantidade significativa de livros de
bibliotecas com acervos patrimoniais de Minas Gerais.
Vejamos trechos de uma reportagem na qual se veicula entrevista feita com
o então diretor da Biblioteca Universitária / Sistema de Bibliotecas da UFMG:

Obras raras foram tema de julgamento no Tribunal Regional Federal da 1a


Região.

Recentemente, a 3ª Turma condenou um homem a um ano e oito meses de reclu-


são e 10 dias-multa pelo furto de três livros raros, de alto valor histórico e cultural,
pertencentes à Biblioteca do Museu da História Natural da Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG).
O jovem foi preso em sua casa pela Polícia Militar. Além dos três livros subtraídos
da UFMG, ele tinha em seu poder 11 livros sem identificação de procedência e
mais 108 obras subtraídas das seguintes instituições: Biblioteca da UFMG, Bi-
blioteca Pública Municipal/BH/MG, Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa,
Faculdade de Ciências Médicas, Colégio Arnaldo e Instituto Santo Inácio.
O diretor da Biblioteca da UFMG, Wellington Marçal de Carvalho, ressalta que
o furto de obras raras consiste não apenas em prejuízo financeiro mas, sobretudo,
em dano ao patrimônio cultural público, cujo valor é inestimável, já que os livros
constituem o alicerce do saber, do conhecimento e da história da humanidade.
A decisão do TRF1 foi comemorada pelo diretor da Biblioteca da UFMG. ‘Avalio
positivamente o impacto que a divulgação dessa decisão trará para sensibilizar a
comunidade em geral sobre a importância do uso responsável de um acervo que
é, por natureza, de toda a sociedade’, disse Wellington Marçal.
98 Anais da Biblioteca Nacional • 140

A ação que requereu a condenação do rapaz pela prática dos crimes de furto e fal-
sidade ideológica foi movida pelo Ministério Público Federal (MPF). Em primei-
ra instância, o caso foi analisado pela 4a Vara da Seção Judiciária de Minas Gerais,
que condenou o réu a pena de um ano e oito meses de reclusão e 10 dias-multa
pelo crime de furto, absolvendo-o dos demais.
O Ministério Público e o réu recorreram ao TRF da 1a Região. O MPF requereu a
revisão da sentença para que o réu também fosse condenado pela prática do delito
de deterioração de bem integrante do patrimônio cultural com a aplicação da
circunstância agravante prevista no artigo 61, II, b, do Código Penal (ter o agente
cometido o crime para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunida-
de ou vantagem de outro crime).
O condenado, por sua vez, argumentou em sua defesa a atipicidade da conduta
em relação ao delito de furto, sob o argumento de que, para se configurar o refe-
rido tipo penal, além do dolo – vontade de agente de subtrair coisa alheia móvel
–, exige o elemento subjetivo do tipo específico, qual seja, a posse do bem, para
si ou para outrem, de forma definitiva, pelo que requer a desclassificação para o
delito de furto de uso.
Ele alegou também que todos os bens materiais, como os livros, possuem valores
quantitativos, ‘sendo infundada a atribuição de valor inestimável, fazendo-se ne-
cessária a aplicação do princípio da insignificância’.
Com relação ao pedido feito pelo MPF, a Turma sustentou que decorreram mais
de oito anos entre o recebimento da denúncia e o tempo presente, razão pela qual
houve prescrição da pretensão punitiva. Sobre os argumentos apresentados pelo
réu, a Turma esclareceu que, no caso em questão, ‘descabe falar em furto de uso
em virtude da grande quantidade de livros apreendidos em poder do acusado e da
comprovação de diversos danos nos volumes com o intuito de impedir ou dificul-
tar a identificação da origem das obras’.
A Turma também descartou a aplicação do princípio da insignificância, conforme
requereu o acusado. ‘O princípio da insignificância não incide quando é furtada
uma grande quantidade de livros antigos, raros e de inestimável valor histórico-
-cultural’, diz a decisão. (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO,
2015).

Após a “resolução” dos furtos do ponto de vista legal, as medidas seguintes


na UFMG foram: inventariar os acervos; realizar transferências de livros an-
tigos e raros para a Divisão de Coleções Especiais, localizada no quarto andar
da Biblioteca Central; implementar medidas restritivas de acesso para segu-
rança dos acervos. Muitas unidades, entretanto, no tocante a suas respectivas
bibliotecas setoriais, decidiram permanecer com as coleções especiais. Nesse
sentido, destacamos os pontos de atenção que perpassaram o gerenciamento
adotado para mitigar esse aspecto:
Anais da Biblioteca Nacional • 140 99

• divulgação exígua do ocorrido entre profissionais no Estado de Minas


Gerais;
• fragilidade no controle de acesso físico aos livros;
• ausência de catalogação integral de acervos – o que aumentou o tempo
de identificação de livros ausentes no acervo nos inventários bianuais.

No prédio da Biblioteca Central, ainda na primeira década dos anos 2000,


a bibliotecária Marlene Vieira estruturou e implantou várias ações para am-
pliar, aperfeiçoar e reformar as instalações físicas para a guarda permanente
das coleções especiais e livros raros da Divisão de Coleções Especiais. Por
meio de editais de fomento do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-
nômico e Social (BNDES), Petrobras, Instituto Nacional de Estudos e Pes-
quisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (Fapemig), as reformas físicas foram seguidas de
projetos de conservação preventiva e restauração de livros. Foi possível a ins-
talação de uma reserva técnica e a criação de um laboratório de conservação.
Um dos vários benefícios oriundos daqueles projetos foi a catalogação inte-
gral de livros datados do século XVI ao XX (livros raros, antigos e especiais).
Uma série de projetos de ensino, de pesquisa e de extensão com foco no
acervo da Divisão de Coleções Especiais permitiu aumentar a divulgação de
livros e documentos. Os registros com a descrição bibliográfica desses livros
estão disponíveis no catálogo online da instituição e as normas de segurança
são, efetivamente, seguidas.
Em 2012, dentre os projetos realizados na Divisão, citamos o estudo de
Gerenciamento de Risco implementado pelo professor Willi de Barros Gon-
çalves e pela discente Carolina Concesso (do curso graduação em Conservação
Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFMG).
Dentre os benefícios oriundos do projeto, destacamos apenas uma parte do
relatório, especificamente a que diz respeito aos riscos de furto e de roubo:
“Brechas existentes em termos das rotinas de segurança do setor e/ou da infra-
estrutura podem ocasionar a perda parcial ou total de exemplares” (ARAÚJO;
GONÇALVES, 2012).
No verão de 2013, dois homens circulavam periodicamente pelo prédio
da Biblioteca Central, simpáticos e amigáveis. Eles primeiro conversaram
muito com os porteiros, fizeram amizade com os estagiários. Membros da
equipe da Divisão de Coleções Especiais, que circulam em todo o prédio,
perceberam os visitantes mais próximos dos estagiários da Divisão. O fato de
eles sempre saírem da Sala de Pesquisa após a chegada de servidores do setor
não causou, na época, nenhum estranhamento. Uma tarde, às 17:30 horas,
avistaram-se os dois usuários de pé, na Sala de Pesquisa, folheando um dos
livros raros da Universidade. Eles estavam tensos, e um deles folheava o livro
e parecia fazer anotações em um caderno brochura pequeno. Esse cenário
100 Anais da Biblioteca Nacional • 140

não era comum para o acesso aos livros raros do setor. Ao serem abordados
por servidores do setor, apenas um deles apresentou a ficha de atendimento.
Ele não quis conversar, não respondeu a perguntas sobre o livro. Eles apenas
se entreolharam, calados.
Novamente, precisamos identificar fragilidades. Após esse novo incidente,
modificamos rotinas da Divisão com anuência da Diretoria do SB-UFMG:
delimitamos responsabilidades patrimoniais no organograma de servidores do
setor; avisamos sobre os riscos para as coleções especiais nos campi UFMG;
instalamos e ampliamos o parque tecnológico de segurança (câmaras, alarmes,
sensores de presença); ampliamos as restrições de acesso físico e obrigatorie-
dade do acesso digital.
Quais foram, enfim, as fragilidades identificadas? Quais rumos precisam
ser tomados? Depender completamente das tecnologias não nos parecia ser o
caminho mais adequado. Novas perspectivas foram, feliz e necessariamente,
desenhadas:

• Monitorar o controle de acesso (equipe e usuários): controlar exceções


de acesso, não permitir “carteiradas”, não permitir acessos diferencia-
dos, nem mesmo para membros da equipe. Não há privilégios de aces-
so, há controle de acesso;
• Restringir as possibilidades de acesso interno;
• Implementar a capacitação e atualização de equipe periodicamente;
• Realizar inventário anual;
• Estabelecer níveis de acesso físico;
• Buscar a modificação do senso comum segundo a qual apenas um pro-
fissional é o responsável pela gestão de segurança do acervo. As respon-
sabilidades são coletivas, nunca individuais.

O plano de ação que foi implantado a partir dessas experiências teve tam-
bém como referência o Guidelines regarding security and theft in special collec-
tions (revisão de 2017) da American Library Association (Association of College
and Research Libraries – Rare Books and Manuscripts Section); Galbraith &
Smith (2012), Berger (2014), além de manuais e orientações publicadas por
instituições brasileiras como Fundação Biblioteca Nacional – Biblioteca Na-
cional: plano de gerenciamento de riscos: salvaguarda & emergência (SPINELLI;
PEDERSOLI JR., c2010) – e Museu de Astronomia e Ciências Afins – Polí-
tica de Preservação de Acervos Institucionais (MUSEU DE ASTRONOMIA E
CIÊNCIAS AFINS, 1995).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 101

Considerações para permanente reflexão


Esse recuo no tempo buscou refletir sobre pontos fortes e aspectos po-
tencialmente favoráveis no âmbito institucional. Obviamente isso não quer
dizer que é um momento mea culpa; deseja, antes, ser um exercício cons-
ciente de reflexão sobre as responsabilidades que assumimos ao gerir acervos
bibliográficos especiais. No horizonte de possibilidades de aprimoramento
das estratégias de segurança de acervos bibliográficos especiais estão as pes-
soas. A manutenção de espaços coletivos de debate, tais como eventos cien-
tífico-profissionais, somados às iniciativas institucionais, como o curso de
Segurança de Acervos oferecido pelo Museu de Astronomia e Ciências Afins
(Mast); as ações institucionais iniciadas pelo Ministério da Cultura para in-
tegrar práticas de prevenção ao tráfico ilícito de bens culturais, iniciadas em
2015, que contam com representantes do Arquivo Nacional (AN), Fundação
Biblioteca Nacional (FBN), Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Iphan,
Ministério das Relações Exteriores, Secretaria da Receita Federal, Departa-
mento da Polícia Federal –, são, todas elas, iniciativas que unem “pessoas”.
Como dito no início deste artigo, as normas estão postas, e aqueles que
furtam e roubam o patrimônio bibliográfico em nosso país as conhecem mui-
to bem. Além disso, dedicam-se ao estudo dos profissionais, das rotinas, dos
acervos e dos eventos que se promovem sobre coleções especiais em institui-
ções públicas no Brasil.
Muitos são os obstáculos e o maior deles recai, em nossa análise, sobre a
expectativa de resolução que deve ter como centro as pessoas. É necessário
conscientizar e reunir os diversos profissionais que atuam em bibliotecas com
acervos raros, antigos e especiais. É necessário ainda integrar profissionais para
promover a segurança dos acervos, envolvendo advogados, arquitetos, restau-
radores, historiadores, arquivistas, museólogos para a elaboração e aplicação
de medidas sistêmicas para a segurança de nossos acervos.
Uma medida imperiosa para transpor os desafios para a segurança em co-
leções especiais em bibliotecas universitárias brasileiras é a adoção de coopera-
ção institucional, formação de grupos de trabalho de profissionais para troca
de experiências e informações. Há muito para se fazer: prossigamos!

Referências
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special collections. Association of College and Research Libraries. Rare Books and
Manuscripts Section, 2017. Disponível em: rbms.info/committees. Acesso em: 30 jun.
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102 Anais da Biblioteca Nacional • 140

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Jusbrasil, 2015. Disponível em: https://trf-1.jusbrasil.com.br/noticias/202434794/
especial-riqueza-recuperada. Acesso em: 24 jan. 2022.
Resistência no papel:
a imprensa de oposição à ditadura
civil-militar no Brasil no acervo da
Fundação Biblioteca Nacional

Bruno Brasil
Jornalista com especialização em Comunicação e Imagem pela PUC-Rio, é técnico em
documentação e curador de acervo na FBN, onde pesquisa a história da imprensa brasileira
Resumo
Fruto de pesquisa realizada entre 2006 e 2010, este artigo procura descrever e contextua-
lizar um tipo de imprensa periódica que circulou no Brasil durante o período autoritário
que assolou o país entre 1964 e 1985: a imprensa de oposição ao regime militar, a miúdo
dita “nanica” tanto por sua precariedade quanto por seus contornos de insolência infan-
til. Para tanto, apresenta os processos de concepção, evolução, subdivisão e derrocada
do gênero, citando casos específicos de publicações de maior ou menor vulto no cenário
da resistência intelectual e ideológica ao status quo de seu tempo. Adicionalmente, este
trabalho apresenta uma lista suscintamente descritiva de 446 títulos de jornais e revistas
da imprensa de resistência à ditadura militar presentes no acervo da Coordenadoria de
Publicações Seriadas da Fundação Biblioteca Nacional – de um total de cerca de 1.132
periódicos do mesmo tipo que, calcula-se, tenha existido durante os chamados “anos de
chumbo”.
Palavras-chave: Ditadura militar brasileira. Imprensa de resistência. Censura e repressão
estatal. Liberdade de imprensa.
Abstract
Product of research carried out between 2006 and 2010, this article seeks to describe and
contextualize a kind of periodical press that circulated in Brazil during the authoritarian
period that devastated the country between 1964 and 1985: the free press in opposition
to the military regime, often called “nanica” (“brat” press) both for its precariousness
and for its contours of childish insolence. For this purpose, it presents the processes
of conception, evolution, subdivision and overthrow of the genre, citing specific cases
of publications of greater or lesser importance in the intellectual and ideological scene
of resistance to the status quo of its time. Additionally, this work presents a succinctly
descriptive list of 446 titles of newspapers and magazines of the resistance to the military
dictatorship present in the collection of the Serial Publications Coordination of the
Brazilian Fundação Biblioteca Nacional – from a total of about 1.132 periodicals of the
same kind that, as we estimate, existed during the so-called Brazilian “lead-years”.
Keywords: Brazilian military dictatorship. Free press. Censorship and state repression.
Freedom of press.
Era uma manhã ensolarada de novembro de 1975. Num sobrado no bairro
paulistano do Bixiga, Mylton Severiano, Palmério Dória e Hamilton Almeida
Filho estavam prestes a fechar mais uma edição do jornal Ex-. Até o momento
em que dois agentes da Polícia Federal entraram na casa, o trio não imaginava
que o material com o qual trabalhavam, na verdade, nunca circularia. Os po-
liciais anunciaram que, daquele momento em diante, se o jornal continuasse
a circular, seria sob censura prévia, algo impensável para os editores de Ex-.
Também disseram que seria apreendida a edição especial Extra – o melhor do
Ex- e que os responsáveis pelo periódico, Mylton e Hamilton, deveriam com-
parecer à sede da Polícia Federal, na rua Xavier de Toledo, no centro de São
Paulo, para prestarem esclarecimentos.
Era tácito que a visita dos policiais se devia ao que tinha sido publicado no
número 16 de Ex-: a notícia, em primeira mão, e uma reportagem profunda
sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog nos porões da ditadura civil-
-militar no Brasil (1964-1985). Um “furo”, já que o assunto passou em bran-
co pelo restante da imprensa brasileira. Quando publicado, o número esgotou
sua tiragem inicial, de 30 mil exemplares, e também a segunda, de 20 mil. Em
contrapartida, os raros anunciantes do jornal, por medo, passaram a cancelar
seus anúncios, ao passo que leitores começaram a suspender suas assinaturas.
O ano de 1976 já havia se iniciado quando, numa tarde nublada, Mylton
Severiano e Hamilton Almeida Filho compareceram à Polícia Federal. Entre
alguns impropérios, ouviram certo coronel Barreto dizer: “Olhem, ou vocês
param com isso, ou eu não respondo mais pela integridade física de vocês”.
O exemplo havia sido dado justamente com Herzog. E, assim, Ex- deixou de
ser publicado.
Trinta anos mais tarde a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) incluiria a reportagem de Ex- sobre o assassinato no livro 10 reporta-
gens que abalaram a ditadura, onde o jornal era o único da “imprensa nanica1”
e figurava ao lado de periódicos da chamada “grande imprensa”.
Ser um veículo assim, independente e inconformado, tinha um preço: Ex-
tinha distribuição pouco eficiente, muitas vezes dependente da venda de mão
em mão. Os almoços de sua equipe normalmente eram sanduíches de mor-
tadela no restaurante mais próximo e o telefone de sua redação era o orelhão
da esquina. Cada um dos jornalistas tinha uma quantidade limitada de fichas
para telefonar – a não ser que o administrador do jornal acertasse no jóquei,
ocasião em que liberava mais algum dinheiro (NITRINI; SEVERIANO;
CHIODI, 2010).

1. O apelido decorria do formato pequeno adotado pela maioria das publicações similares, à preca-
riedade de seus modelos de produção e à “insolência infantil” de suas pautas e propostas editoriais,
habitualmente dispostas a tocar nas feridas do regime.
106 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Se é válida a máxima de Millôr Fernandes – “imprensa é oposição, o resto


é armazém de secos e molhados” –, pode-se afirmar que a imprensa de resis-
tência à ditadura civil-militar brasileira, da qual Ex- fazia parte, possuía um
traço de legitimidade jornalística crucial, enquanto não subjugada ao aparelho
repressor. É bem verdade que seus pendores militantes mandavam para escan-
teio critérios de isonomia, isenção, imparcialidade e objetividade: faculdades,
na verdade, problemáticas em qualquer órgão de comunicação. Mas o que
dizer a respeito da constituição de um jornalismo crítico, atuante junto à
opinião pública? Em certos aspectos, foi ela (e não a grande imprensa, salvo
exceções, já durante a redemocratização) que, naquele período autoritário,
seguiu a tradição do primeiro jornal brasileiro, o Correio Braziliense (Lon-
dres, 1808), de Hipólito José da Costa, crítico à Coroa portuguesa no Brasil
e editado, por essa e outras razões, no exílio. Foi essa “imprensa nanica” a
descendente direta dos pasquins panfletários de crítica virulenta durante o
Primeiro Reinado e da imprensa operária e anarquista que circulou no Brasil
entre as duas últimas décadas do século XIX e as duas primeiras do século XX
(KUCINSKI, 2003, p. 21). Por isso mesmo, ela não deveria ser considerada
uma imprensa “alternativa”, termo que pressupõe que ela seria uma espécie
de “lado B” do jornalismo impresso, colocada em segundo plano em relação
a periódicos de maior envergadura financeira e administrativa: ela foi, afinal,
a imprensa do momento. Suas semelhanças com jornais como O Debate (Rio
de Janeiro, 1917), editado por Adolpho Porto e Astrojildo Pereira em franca
oposição ao governo de Venceslau Brás (1914-1918), e mesmo com o rigor
denunciativo atualmente encontrado na internet, sobretudo em blogs e em
redes sociais, nos fazem crer que o jornalismo-ativismo, de combate político,
não é exatamente um fenômeno datado. No debate sobre a violência policial
no Brasil, o caso Herzog encontra ecos, por exemplo, nos casos de Amarildo
Dias de Souza (2013) e Cláudia Ferreira Silva (2014). Paralelos da imprensa
de resistência à ditadura com gêneros de imprensa mais antigos já foram feitos
por Márcio Bueno (1986, p. 47) e, com o jornalismo de um passado recente,
pós-2000, por Rivaldo Chinem (2004, p. 130-131). Afinal, as pautas e o mo-
delo editorial de uma parte considerável da imprensa de oposição à ditadura
permitem que hoje possamos dizer que ela não foi propriamente “alternativa”,
na acepção jornalística que pressupõe valores de questionamento. E, nesse
aspecto, o exemplo de Ex- é fundamental, pois sintetiza a “corda bamba” em
que se encontravam os nanicos, daquele e de outros períodos: sobre um fosso
de terror e precariedade, na luta pela liberdade de expressão e pela democracia.
O que nos permite identificar a imprensa de resistência brasileira durante
a ditadura civil-militar é, principalmente, o seu combate não só ao regime,
mas também a tudo que o representava e o alimentava: o imperialismo e o
capital estrangeiro, a falta de democracia, a violência de Estado e a moral
burguesa (KUCINSKI, 2003, p. 16). Vale ressaltar que aqui entendemos
Anais da Biblioteca Nacional • 140 107

por “imprensa de resistência” os órgãos de informação não pertencentes a


grandes empresas de mídia, estando eles, em muitos casos, mas não necessa-
riamente, relacionados a movimentos e correntes políticas de esquerda e/ou
a ideologias libertárias e contestadoras, no sentido de traduzir e repensar não
só a política, mas os costumes, a linguagem, o comportamento, a sexualida-
de, a mente, a arte, a saúde, a espiritualidade, a intelectualidade. Nesse caso,
inserem-se no grupo publicações ligadas a movimentos sociais e à contracul-
tura (ARAÚJO, 2000, p. 21).
Heterogênea, propondo e experimentando novos modelos de se fazer jor-
nalismo, de tratar da política, do sexo, da arte, da expansão da consciência,
de formas de ativismo e de outras questões, a imprensa de resistência foi além
da dicotomia em que algumas vezes a inscrevem: de um lado, como simples
grupo de periódicos e coletivos editoriais de oposição que se dividia em uma
vertente estritamente política, nacionalista, popular e marxista, que criticava
principalmente o sistema político autoritário; e, de outro, ligada a movimen-
tos internacionais de contracultura, ao “desbunde”, à rejeição da hipocrisia
da classe média e do moralismo nos costumes, ao orientalismo e à anarquia,
sendo esta linha pouco adepta do dogmatismo das esquerdas, voltando-se,
por vezes, ao existencialismo (KUCINSKI, 2003, p. 14-15). Alguns dos ór-
gãos de resistência, porém, não se situavam precisamente em nenhuma dessas
correntes. É o caso de Jornalivro (São Paulo, 1971), Ovelha Negra (São Paulo,
1976) ou O Matraca (Cotia, 1981). Outros, por sua vez, estavam inseridos
em ambas. Como O Pasquim (Rio de Janeiro, 1969) e Singular & Plural (São
Paulo, 1978).
Todavia, um traço unia os periódicos de resistência: a busca por uma ma-
neira diferente de se fazer imprensa, ultrapassando a reportagem convencional
(SMITH, 2000, p. 64). Naturalmente, essa vontade tinha grandes percalços:
pouco ou nada dependente de financiamentos, essa imprensa foi em geral
produzida com saúde financeira, sistemas de impressão e distribuição precá-
rios. Se essa fragilidade era óbvia para pequenas publicações artesanais, roda-
das a mimeógrafo e passadas de mão em mão, valia também para os periódicos
mais profissionais do gênero, que, quando tinham circulação nacional e boa
aceitação por parte do público leitor, acabavam arruinados por intimidações
diretas do Estado: processos judiciais, censura prévia, boicote de anunciantes,
apreensão de edições, ameaças de empastelamento e prisões (quando não a
execução de tais medidas, sem contar atentados à bomba), além do risco para
o leitor (de figurar em listas de assinantes) e da pressão para que bancas de
jornal não os vendessem (SMITH, 2000, p. 60). Era essa instabilidade a jus-
tificava principal para a efemeridade da maior parte dos periódicos do gênero.
Entre os jornais e revistas de resistência, havia desde rústicos boletins da-
tilografados e mimeografados em folhas de papel sulfite, sem grandes cuida-
dos com estilo textual ou preocupações com diagramação – caso de Aquarius
108 Anais da Biblioteca Nacional • 140

(Nobres, sem data), O Beco (São João del-Rei, 1976), Boletim Cultural (Rio de
Janeiro, 1972), Conclave (João Pessoa, 1979) e Carta Geral (Manaus, 1980)
–, até propostas estéticas de vanguarda, verdadeiras ousadias editoriais válidas
tanto para o plano visual quanto para o escrito – como em Bondinho (São
Paulo, 1971), Tribo (Brasília, 1972), Corpo Extranho (São Paulo, 1976), Poesia
Livre (Ouro Preto, 1977), Boca do Inferno (Salvador, 1976)2 e o próprio Ex-.
Anne-Marie Smith traz uma importante reflexão nesse sentido:

A grande imprensa buscava a conformidade, e seus modelos de sucesso eram in-


contestáveis. A imprensa alternativa, por outro lado, era heterogênea e buscava
incessantemente novos modelos. Suas categorias e critérios eram amplos e impre-
cisos, pois se encontravam em processo de definição. Os resultados eram variadís-
simos – de excelente jornalismo ao lixo absoluto, da análise profunda à bobagem
total. (SMITH, 2000, p. 61-62).

Essa heterogeneidade ganhou corpo conforme a imprensa de oposição


avançava pela cronologia da ditadura, relacionando-se com setores direta-
mente atingidos pelo autoritarismo: sindicatos, movimentos sociais, jornalis-
mo em geral, partidos políticos clandestinos, arte contestadora, entre outros.
Bernardo Kucinski, autor do estudo mais completo sobre a imprensa de que
estamos tratando, deixa claro que esta viveu sete momentos distintos, apesar
de interligados. O primeiro deu-se durante os primeiros anos do regime dita-
torial, quando a imprensa de resistência foi articulada e/ou integrada por figu-
ras egressas de periódicos que apoiavam o governo João Goulart (1961-1964)
e que foram fechados com o golpe de 1964: experiências como as de Brasil
Urgente (São Paulo, 1963), O Semanário (São Paulo, 1956), Binômio (Belo
Horizonte, 1952) deram origem a Pif-Paf (Rio de Janeiro, 1964) e Folha da
Semana (Rio de Janeiro, 1965). A partir de 1967, a influência da Revolução
Cubana sobre os meios estudantis levou ao lançamento de outros impressos –
alguns clandestinos, outros editados por indivíduos já no exílio – que tinham
o propósito de atrair jovens para a guerrilha (KUCINSKI, 2003, p. 34). Neste
grupo, os de maior destaque são Amanhã (São Paulo, 1967), Poder Jovem (Rio
de Janeiro, 1968) e O Sol (Rio de Janeiro, 1967).
Num terceiro momento, iniciado no final de 1968, depois do Ato Ins-
titucional número 5 (AI-5), a imprensa de resistência passou a sofrer mais
com a repressão. Paradoxalmente, foi quando surgiram O Pasquim, Opinião
(Rio de Janeiro, 1972), Politika (Rio de Janeiro, 1971) e Jornal de Debates
(Rio de Janeiro, 1973), semanários de circulação nacional – dos quais os dois
primeiros eram vistos como alguns dos mais importantes do gênero. Os peri-
ódicos que sobreviveram – ou que nasceram nesse período – voltavam-se para

2. O único do gênero a ganhar um Prêmio Esso de Jornalismo, no ano de 1977.


Anais da Biblioteca Nacional • 140 109

a contraposição à grande imprensa, sobretudo quanto ao “milagre econômi-


co”, entre 1968 e 1973 (KUCINSKI, 2003, p. 14). Havia neles a crítica ao
crescente endividamento externo e a denúncia do agravamento de problemas
sociais. Simultaneamente a esta terceira fase da imprensa de resistência, já apa-
recia a quarta, representada por Grilo (São Paulo, 1971) e Balão (São Paulo,
1972): entre 1971 e 1972, influenciados por O Pasquim e pela contracultu-
ra, surgiram periódicos voltados ao humor crítico, com grande incidência de
quadrinhos (KUCINSKI, 2003, p. 34).
Com a decretação da Lei de Segurança Nacional, em 1969, os censores
passaram a atuar com mais vigor, até que o Decreto-lei 1.077, de 1970, pas-
sou a submeter veículos de informação considerados importantes à censura
prévia. Este filtro, no entanto, não impedia que edições ainda continuassem
a ser apreendidas e que jornalistas fossem presos. Somente a partir de 1974,
a distensão política do governo Geisel deu certo fôlego aos periódicos de re-
sistência. Nesta quinta fase, como o apelo revolucionário das guerrilhas havia
sido sufocado, a pauta da imprensa nanica deslocou-se da política de oposição
clandestina para a política de espaço público (KUCINSKI, 2003, p. 16). Sur-
gem então jornais-ativistas, como Movimento e Versus (São Paulo, 1975). Em
seguida, o assassinato de Vladimir Herzog, em 1975, desencadeou críticas ao
padrão complacente da grande imprensa (KUCINSKI, 2003, p. 36), e inspi-
rou o lançamento do jornal De Fato (Belo Horizonte, 1976) e do CooJornal
(Porto Alegre, 1975).
Então em seu apogeu, a imprensa de resistência passou a abarcar movi-
mentos populares de base e a se subdividir em temas: questões femininas,
raciais, indígenas, de gênero etc. No final da década de 1970, outros fatores
ainda a influenciaram: a luta pela anistia aos perseguidos pela ditadura, as
greves do ABC paulista, a organização do Partido dos Trabalhadores (PT) e do
Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) na legalidade. É esse
período que, segundo Kucinski, caracteriza a sétima fase da imprensa de resis-
tência: quando esta passou a funcionar como espaço de reorganização política
e ideológica de grupos marxistas. Com o “surto” de publicações provocado
pela reabertura, a trajetória do movimento de esquerda no Brasil se confundiu
com a história desses periódicos (KUCINSKI, 2003, p. 17). Foi o exemplo
de Versus, que, tendo abrigado o Partido Socialista dos Trabalhadores (PST),
teve em suas páginas lançada, em 1978, a primeira proposta para a criação de
um partido socialista legal. E também o de Duarte Brasil Lago Pacheco Perei-
ra, da Ação Popular (AP), ao lançar e desenvolver a primeira e mais robusta
campanha pela Assembleia Nacional Constituinte naquele período, através de
Movimento (São Paulo, 1975).
Na virada da década de 1970 para 1980, surgiram Hora do Povo (Rio de
Janeiro, 1979), porta-voz do Movimento Revolucionário Oito de Outubro
(MR-8); Tribuna da Luta Operária (São Paulo, 1979), do Partido Comunista
110 Anais da Biblioteca Nacional • 140

do Brasil (PCdoB); Voz da Unidade (São Paulo, 1980), do Partido Comunista


Brasileiro (PCB); e Jornal dos Trabalhadores (São Paulo, 1982), do Partido dos
Trabalhadores (PT), todos jornais partidários, oficiosos, às vezes encarados
como pertencentes ao gênero da imprensa nanica ou como seu desdobramen-
to, já na imprensa partidária (BUENO, 1986, p. 55). O mesmo processo de
aproximação ocorreu com a nova imprensa sindical do período, inserida no
mesmo campo político que, aos poucos, se modificava. Assim, figuras

(...) com experiência profissional na chamada grande imprensa e/ou imprensa


alternativa vão para dentro dos sindicatos, antes reduto exclusivo de burocratas,
médicos ou advogados, e provocavam significativas mudanças. (VERDELHO,
1986, p. 82).

Por vezes, independentemente do momento ou da inclinação temática, a


“imprensa nanica” foi contraditória. Nela, se, por um lado, havia experiências
editoriais coletivas, sem hierarquias – formais, como em CooJornal, o primeiro
jornal brasileiro a ser gerido por cooperativa, ou informais, como em Ex- –,
por outro, havia a imprensa de resistência calcada em grandes figuras, como,
por exemplo, o Pif-Paf, de Millôr Fernandes; O Pasquim, de Millôr, Ziraldo,
Jaguar e Ivan Lessa; o Versus, de Marcos Faerman; o traço de Raimundo Perei-
ra em Opinião e Movimento.
Dentro das experiências coletivas, muitos jornais e revistas contavam com
conselhos editoriais compostos por inúmeros jornalistas, militantes e/ou inte-
lectuais, como acontecia em Opinião, Movimento ou Argumento, deflagrando
certo rigor democrático nos rumos de cada publicação, apesar de haver, em
alguns casos, a necessidade de se manter algumas questões em segredo. Afinal,
a noção daquilo que havia de se manter alheio à vigilância oficial acabava
sendo incorporada ao cotidiano de muitos jornais e revistas, que encaravam o
sigilo sobre certas informações como necessário à sobrevivência dos partidos
de esquerda clandestinos que incorporavam grupos editoriais de resistência
(KUCINSKI, 2003, p. 20).
Nesses termos, o exemplo de Movimento é notável. Apesar de sua propos-
ta de independência e pluralidade, o jornal já nasceu vinculado ao Partido
Comunista do Brasil (PCdoB) e, mesmo que em suas sucursais, espalhadas
por todo o Brasil, fossem encontrados remanescentes e integrantes de grupos
como Política Operária (Polop), Ala Vermelha, Colina, Centelha (na sucursal
de Belo Horizonte), Aliança Libertadora Nacional (ALN), AP, PCB, entre
outros, a publicação tinha um líder clandestino, Duarte Lago Brasil Pacheco3,

3. Segundo Kucinski (2000), algumas das contribuições de Duarte Lago Brasil Pacheco podem ser
vistas nos textos assinados pelo seu pseudônimo, Eduardo Neto.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 111

da Ação Popular (AP), que era responsável por conduzir secretamente a linha
política e ideológica daquela folha (idem, p. 21).
Além das contradições, cabe ressaltar que, seguindo a lógica das distintas
fases tratadas por Kucinski e os apontamentos de Anne-Marie Smith, a im-
prensa de resistência durante o regime foi ampla e diversa, e estabeleceu rela-
ções complexas com instituições, movimentos e políticas pré e pós-ditadura
civil-militar. Suas muitas facetas, imbricadas conforme os desejos de experi-
mentação e contestação de seus responsáveis, tornaram sua caracterização um
exercício difícil. Se nos ativermos às delimitações expostas acima, estaremos
tratando desde impressos clandestinos editados por grupos engajados na guer-
rilha a periódicos sindicais, acadêmicos, institucionais, estudantis, de grupos
de esquerda, literários, de arte postal etc., que mesclam as características bási-
cas daquilo que chamamos de imprensa nanica.
O próprio termo, cunhado em inspiração ao uso recorrente do formato
tablóide, perde um pouco da força frente à diversidade de formas em que
essa imprensa se apresentou: jornais de tamanhos diversos, revistas, fanzines,
folhetos, boletins e mesmo folhas de papel ofício grampeadas. Cada formato
correspondia a diferentes métodos de produção e organizações editoriais. Fo-
ram de resistência desde a publicação literária artesanal de poesia Pirauá (São
Paulo, 1982), com a poesia marginal de autores fora do mercado editorial,
ao tablóide popular sensacionalista Repórter (Rio de Janeiro, 1977), com seus
violentos casos de polícia e mulheres nuas.
É importante lembrar ainda da apropriação que este tipo de imprensa so-
freu por movimentos sociais que já existiam antes de 1964, mas que renova-
vam suas forças com a distensão política de 1974 e formavam as imprensas de
resistência negra, homossexual, feminina, indígena, ambientalista, campesina,
estudantil, entre outras. Na maior parte dos casos, essas publicações conta-
vam não com jornalistas buscando voz fora da imprensa de massa ou com
militantes organizados, mas com indivíduos diretamente envolvidos com os
movimentos a que se propunha representar. Daí seu destaque, já que, segundo
Maria Paula Nascimento Araújo, essa imprensa:

(...) representava uma novidade em relação aos outros tipos de publicação existen-
tes, inclusive a imprensa alternativa de esquerda. Ela vinculava-se a movimentos
de novo tipo, recém-surgidos no cenário brasileiro, sob influência de ideias in-
ternacionais. Esforçando-se por se fazer presentes na vida política do país, esses
movimentos criavam seus próprios jornais, que funcionavam não apenas como
porta-vozes de seus interesses e posições, mas que na maioria das vezes representa-
vam o principal espaço de organização de seus militantes e de formulação de sua
política e de sua visão de mundo. (ARAÚJO, 2000, p. 29).
112 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Na imprensa negra estavam Tição (Porto Alegre, 1978), Sinba (Rio de


Janeiro, 1979), Nêgo (Salvador, 1981), Koisa de Crioulo (Rio de Janeiro,
1981). Na imprensa ltda., destacavam-se Gay Press Magazine (Rio de Janeiro,
1977), Lampião da Esquina (Rio de Janeiro, 1978), Ello (Salvador, 1978),
Boca da Noite (Rio de Janeiro, 1980), Iamuricumá (Rio de Janeiro, 1981),
Dialogay (Aracaju, 1982). A vertente feminista era representada por Brasil
Mulher (Londrina, 1975), Nós Mulheres (São Paulo, 1977), Maria Quitéria
(São Paulo, 1977), Mulherio (São Paulo, 1981). O grupo dos periódicos de
ênfase indígena contava com Porantim (Manaus, 1978), Varadouro (Rio Bran-
co, 1977), Mensageiro (Belém, 1979), Luta Indígena (Curitiba, 1980), Ni-
muendajú (Rio de Janeiro, 1979), Borduna (Rio de Janeiro, década de 1980)
e Informe Chimbangue (Xanxerê, década de 1980), sendo que alguns desses
exploravam também questões ambientais – foco principal de Paranapanema
(São Paulo, 1977), Pensamento Ecológico (São Paulo, 1978), Meio Ambien-
te (Brasília, 1978), Folha Alternativa (Rio de Janeiro, 1979), Jornal do Verde
(Rio de Janeiro, 1981), Movimento Ecológico (Rio de Janeiro, 1982). A ver-
tente estudantil era vasta e contava com Política Operária (São Paulo, década
de 1960), Amanhã (São Paulo, 1967), Silêncio (Belo Horizonte, década de
1970), Kaostigo (Curitiba, 1976), Alicerce da Juventude Socialista (São Paulo,
1978), Voz Ativa (Rio de Janeiro, 1979). Voltados a questões agrárias e à rea-
lidade camponesa estavam: Cotrijornal (Ijuí, 1973), Jornal Cambota (Francis-
co Beltrão, 1975), Realidade Rural (São Paulo, 1976), Conceição do Araguaia
(Conceição do Araguaia, 1979), O Posseiro (Santa Maria da Vitória, 1980),
Lamparina (Santarém, 1980), Sem-Terra (São Paulo, 1981) etc.
Algumas das publicações acima, além do comprometimento com suas cau-
sas mais explícitas, também seguiam (ou pelo menos flertavam com) diretrizes
de grupos ou partidos de esquerda. Isso aconteceu com jornais estudantis e
com periódicos relacionados às lutas negra e feminina, ou mesmo com folhas
de instituições religiosas, a exemplo de alguns periódicos indigenistas e cam-
pesinos editados por grupos pastorais inspirados na Teologia da Libertação.
Afinal, encampando a luta de comunidades oprimidas, a reforma agrária e o
indigenismo, os jornais eclesiásticos também integraram a imprensa de resis-
tência, como: Porantim, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ins-
tituição ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Nós
Irmãos (Rio Branco, 1971), da Arquidiocese de Rio Branco; Pastoral Operária
(São Paulo, 1979), da Comissão para a Caridade, Justiça e Paz da CNBB;
Paneiro (Manaus, 1979), da Regional Norte I da Comissão Pastoral da Terra
(CPT), órgão da CNBB; Aconteceu (Rio de Janeiro, 1981), do Centro Ecumê-
nico de Documentação e Informação (Cedi); entre outros.
Cabe frisar que existem ainda diferenças entre os impressos de resistên-
cia quanto ao pendor político: as publicações que não eram de movimentos
políticos ou sociais, nem de contracultura, não pendiam necessariamente à
Anais da Biblioteca Nacional • 140 113

esquerda. O tablóide Beijo (Rio de Janeiro, 1977), por exemplo, em alguns


momentos não só se mostrou crítico à esquerda como à própria imprensa
de oposição (KUCINSKI, 2003, p. 131). Se mesmo entre os periódicos de
resistência existiam disputas e dissidências frente às diferenças ideológicas vi-
vidas pelos grupos editoriais, algo inerente à própria natureza da organização
partidária – lembrando que, em muitos casos, tais periódicos serviram como
verdadeiros partidos –, havia ainda a imprensa anarquista. Folhas com essa
inclinação circularam durante períodos distintos do regime: Dealbar (São
Paulo, 1965), O Protesto (Porto Alegre, 1967), Soma (São Paulo, 1974), O
Inimigo do Rei (Salvador, 1977), Víbora (Brasília, 1981), Barbárie (Salvador,
1979), A Todo Vapor (Rio de Janeiro, 1979), Autogestão (São Paulo, 1980),
Afrodite Perdeu o Rumo (São Paulo, 1982).
Nos casos em que se foi além do mero patrocínio via publicidade, há que
se considerar ainda o papel de instituições públicas e privadas no universo da
imprensa de oposição ao regime durante o período de distensão política. Bon-
dinho foi inicialmente um jornal da rede de supermercados Pão de Açúcar (daí
o seu nome), e o feminista Mulherio só pôde ser concebido através do apoio da
Fundação Carlos Chagas. Impressos de ênfase mais literária, como O Carretão
(Lages, 1980), Contos & Novelas (Florianópolis, 1978) e Literaçu (Blumenau,
1978), contaram com suporte de secretarias municipais de cultura ou de uni-
versidades. Política e Cultura (Marília, 1982) e Política (Marília, 1984), por
sua vez, foram editados pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho (Unesp), no campus de Marília (SP).
Adicionalmente, a heterogeneidade da imprensa de resistência também se
dava por razões regionais. Fosse na denúncia de problemas locais ou na avalia-
ção de questões internacionais, havia diferenças entre Cidade Livre (Brasília,
1977), Verbo Encantado (Salvador, 1971), O Cometa Itabirano (Belo Horizon-
te, 1979) – o mais duradouro dos periódicos de oposição ao regime –, Con-
testado (Florianópolis, 1977), Varadouro, O Pasquim e CooJornal, explicadas
pela profunda identificação que tinham com as cidades onde eram editados.
Nesse plano das territorialidades, no amplo panorama da imprensa de re-
sistência à ditadura há ainda um grupo em particular: o de periódicos produ-
zidos por exilados. Estes compreendiam formatos que iam desde a tradicional
imprensa partidária, com veículos porta-vozes de grupos – como a Ação Po-
pular Marxista-Leninista (APML) ou a Política Operária (PO) –, à divulgação
de atividades artísticas e culturais de presos políticos ou exilados do Brasil.
Assim, a imprensa de resistência no exílio costumava reunir “documentos de
organizações, artigos temáticos, informações e estudos sobre a situação social
e econômica brasileira, denúncias da ditadura, de tortura e de prisão política,
notícias do Brasil” (ROLLEMBERG, 2002, p. 453-454).
Se, por um lado, o exilado político estaria livre da perseguição estatal e
teria sua integridade física e seu direito de ir e vir conservados (desde que se
114 Anais da Biblioteca Nacional • 140

mantivesse fora do país de origem), sua condição como desterrado também


traria isolamento, um “limbo” provocado tanto pelo afastamento da reali-
dade social e das bases militantes de seu país quanto por sua inaptidão ao
exercício de atividades políticas no exterior, conforme previsto pela legisla-
ção internacional. Para que esse indivíduo encontrasse legitimidade frente aos
seus comuns e também frente ao estrangeiro (o sujeito “anfitrião”), a marca
da inconformidade e da denúncia poderia preencher um espaço fundamen-
tal. Marca pouco nítida, cabe destacar: afinal, se, para o exilado brasileiro
no Chile de Salvador Allende, a convicção do sucesso da revolução socialista
poderia gerar certo discurso, após o golpe de 11 de setembro de 1973, esse
mesmo indivíduo, possivelmente na Europa, estaria engajado em outra frente:
na denúncia do terrorismo de Estado, na urgência da anistia e da democrati-
zação, na importância dos movimentos sociais como nova forma de se fazer
política etc. No exílio, portanto, a imprensa de resistência também veio a ser
uma ferramenta importante. E, dentro do gênero, apresentou peculiaridades,
conforme destaca Denise Rollemberg:

(...) as publicações (de exilados) não se dedicaram exclusivamente a responder


ao que ocorria no país. A esquerda recebeu, no exílio, a influência de processos
políticos e movimentos sociais que contribuíram para a revisão de seus valores e
referências. O próprio deslocamento em direção a vários e diferenciados países
enriquecia e multiplicava as experiências pessoais, políticas e intelectuais. Viam
outras cidades, conviviam com outras culturas, falavam e ouviam outros idiomas,
participavam de outros processos sociais. Assim, as temáticas e abordagens que
vão surgindo, ao longo dos anos, eram também fruto da vivência do exílio e ga-
nharam, de certa forma, uma autonomia em relação às discussões sobre assuntos
brasileiros. (ROLLEMBERG, 2002, p. 457).

Alguns dos títulos mais expressivos lançados por brasileiros expatriados fo-
ram Front Brasileiro de Informações (Argel, 1969), Correio Operário Norte Ame-
ricano (Washington, 1969), Debate (Paris, 1970), Cartas Chilenas (Santiago
do Chile, 1971), Guerrilha Operária (sem local, 1971), Combate – Órgão do
Partido Operário Comunista (sem local, 1971), Campanha (Santiago do Chile,
1972), Conjuntura Brasileira (Paris, 1974), Brasil Socialista (Lausanne, 1975),
Reflexo da Cultura Brasileira no Exílio (Estocolmo, 1978), Correio Sindical de
Unidade (sem local, década de 1970, possivelmente 1978 ou 1979), Fragmen-
to (Estocolmo, 1979).
Entre o período da redemocratização e os momentos finais da imprensa
“nanica”, surgiu ainda um gênero totalmente diverso – tanto no sentido espa-
cial quanto no ideológico – dos periódicos dos exilados ou dos que buscavam
uma articulação partidária formal pela esquerda. Essa outra categoria dos “na-
nicos” também se inscrevia na resistência, mas se armava de forma diferente
Anais da Biblioteca Nacional • 140 115

para o combate: eram os periódicos de literatura marginal, que existiam desde


a década de 1970, mas que ganhavam força nos anos 1980, sobretudo quan-
do se desdobraram nos fanzines (publicações de “fãs”). Modestos, impressos
por mimeógrafos ou fotocopiadoras já por novas gerações, eles nasceram da
chamada poesia marginal, gênero oriundo da contracultura, da Tropicália e
de bases contestadoras do regime na década de 1970 (CAMPEDELLI, 1995,
p. 13-14), e traziam nomes como os de Torquato Neto, Roberto Piva, Waly
Salomão, Cacaso, José Carlos Capinam, Roberto Schwarz, Zulmira Ribeiro
Tavares, Geraldo Carneiro, Antônio Carlos Secchin, Chacal, Leila Míccolis,
entre outros. Alguns desses autores formam aquela que se convencionou cha-
mar de “geração mimeógrafo”, basicamente composta por artistas marginais,
ou seja, excluídos do mercado editorial e de círculos acadêmicos, que rodavam
seus livros de forma artesanal para vendê-los pessoalmente nas ruas, em bares,
em eventos culturais ou pelo correio (BEHR, 1979). Muitos foram colabo-
radores de periódicos como Ponto 1 (Rio de Janeiro, 1967), A Cigarra (Santo
André, 1982), Clarinadas Líricas (Aracaju, 1979), Gaveta (Olinda, década
de 1970), Conclave (João Pessoa, 1979), Cogumelo Atômico (Brusque, 1975),
Almanaque Biotônico Vitalidade (Rio de Janeiro, 1976), Jecoaba (São Paulo,
1978), A Toca do Poeta (Guarabira, 1982), entre outros, muitos deles mimeo-
grafados ou fotocopiados.
Partindo de dentro do movimento do poema processo, bebendo de fon-
tes iconoclastas e marcadas por rigores de subjetividade, coloquialidade,
oralidade, espontaneidade, experimentação rítmica, musicalidade, retrata-
ção do cotidiano urbano e exploração da cultura de massa, a imprensa de
poesia marginal ganhou novos contornos quando passou a explorar univer-
sos diferentes no início da década de 1980. Com o aumento da circulação
dos impressos mimeografados por escritores independentes e o crescimento
do intercâmbio artístico pelo correio naquele período – quando poetas e ar-
tistas visuais divulgavam suas obras em caixas postais espalhadas pelo Brasil
ou fora dele, experimentando o que viria a ser conhecido como “arte postal”
(NUNES, 2004, p. 73) –, uma parte do gênero começou a flertar com a
cultura pop de uma forma mais estreita do que nas propostas do poema-
-processo, que já era nutrida pela chamada cultura de massa. Novas gera-
ções de periódicos artesanais iam, então, além da literatura, mesclando seus
interesses também com rock’n’roll, quadrinhos, ambientalismo, movimento
anarcopunk, movimentos underground em geral, entre outros. Na época,
jovens editores passaram a divulgar poesia marginal junto a homenagens a
seus ídolos, que, a exemplo do poeta Jairo Nogueira Luna (ou ainda “Jairo
Jade Galahade”) no seu Mimeógrafo Generation (São Paulo, 1985), iam de
Oswald de Andrade a John Lennon.
Foi assim que aqueles que até então eram apenas periódicos artesanais lite-
rários se confundiram com um conceito recém-chegado, o de fanzine. Nesse
116 Anais da Biblioteca Nacional • 140

grupo, pode ser citado o Wop-Bop Fanzine (São Paulo, 1977), Barata (Santos,
1979), Gilete Press (Goiânia, 1985), Psiu Quadrinhos (Brasópolis, 1982), entre
outros, que, muitas vezes, exerciam críticas e incredulidade quanto à revitali-
zação do regime democrático, ainda visto como inexistente frente aos percal-
ços da Nova República. Essa falta de crença alimentada pela cultura punk e
misturada à marginália era responsável pela “estética do esculacho”, presente
ainda nos fanzines atuais:

O esculacho está ligado ao princípio da economia, que pode gerar também for-
mas esteticamente mais acabadas, quando o zineiro parece “escolher” o papel a
ser transformado em envelope. (...) Geometria, simplicidade, estilo infantil, non-
sense, grotesco são algumas das referências possíveis na criação de logotipos por
zineiros. (ALBERNAZ; PELTIER, 2002, p. 4-5).

Os periódicos citados acima, no entanto, não tiveram a mesma projeção


que Ex-, Verbo Encantado, O Pasquim, Opinião, De Fato, Navilouca (Rio de
Janeiro, 1974), Resistência (Belém, 1978), Enfim (Rio de Janeiro, 1979) ou
outros considerados importantes nomes da imprensa de resistência. Mas suas
semelhanças com os “grandes nanicos” são flagrantes. Poderiam ser conside-
rados, portanto, a oitava fase da imprensa de resistência? E é possível afirmar
que essa fase significava a decadência do gênero?
Indo contra o senso comum e na mesma linha de Bernardo Kucinski (2003,
p. 25) e de Márcio Bueno (1986, p. 47), entende-se aqui que esse “fim” da
imprensa de resistência, na verdade, pouco tem a ver com o argumento de
que os nanicos tinham na ditadura civil-militar sua razão de ser. Ocorre que
o próprio caráter provisório e experimental da imprensa de resistência contri-
buiu para sua crise com o fim do regime ditatorial. Divergências e rivalidades
internas acabaram se somando às fragilidades administrativas e financeiras
de coletivos editoriais e à apropriação de pautas anteriormente exclusivas dos
nanicos por parte da imprensa de massa.
Nas palavras de Kucinski, o que abalou definitivamente a imprensa de re-
sistência foi seu próprio “modelo ético-político”, mais próximo de uma tenta-
tiva de formação de uma ideologia contra-hegemônica do que de um projeto
pontual de resistência ao regime:

Mas qual era o modelo ético-político da imprensa alternativa? Tinha como com-
ponente básico o repúdio ao lucro e, em alguns jornais, até mesmo o desprezo
por questões de administração, organização e comercialização. Paradoxalmente,
a insistência numa distribuição nacional antieconômica, a incapacidade de for-
mar bases grandes de leitores-assinantes, certo triunfalismo em relação aos efei-
tos da censura, tudo isso contribuiu para fazer da imprensa alternativa não uma
Anais da Biblioteca Nacional • 140 117

formação permanente, mas uma coisa provisória, frágil e vulnerável não só aos
ataques de fora como às suas próprias contradições. (KUCINSKI, 2003, p. 25).

Na prática, isso se refletia na queda de qualidade. Smith esclarece:

[...] a análise aprofundada deteriorava para um marxismo pop e generalizações


abrangentes sem fundamento em dados. O jornalismo meticuloso era substituído
pelo desejo de acabar com o jornalista como filtro ou mediador. Houve um in-
cremento do jornalismo cru, tipificado por transcrições colhidas com microfones
abertos. O sensacionalismo tomava por vezes o lugar da investigação. A disposi-
ção de analisar a sociedade transformou-se em fascínio apolítico por tendências
e comportamento. O humorismo politicamente desafiador foi substituído pelo
humor abusadamente sexista e racista. A liberdade virou licenciosidade e acabou
se tornando interesseira. (SMITH, 2000, p. 63-64).

Ao passo que, no plano econômico, a crise financeira da década de 1980


dificultava o aparecimento de novos empreendimentos editoriais “alternati-
vos”, o fim da ditadura trazia uma mudança na forma de se enxergar a utopia,
a transformação social e a ação coletiva. O jornalismo crítico se instituciona-
lizou na imprensa tradicional, os coletivos engajados já eram compostos por
outros indivíduos e a ligação entre jornalismo e política mudou de lugar social
– as oposições ao sistema agora podiam se transformar em partidos. Para so-
breviver, a imprensa de resistência teria que se recriar.
Por fim, buscando contribuir para novas pesquisas sobre o tema aqui abor-
dado brevemente, é importante destacar os acervos públicos que reúnem a
imprensa de resistência à ditadura. Em pesquisa realizada na Coordenadoria
de Publicações Seriadas da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), levantou-se
que, só neste acervo, existem cerca de 450 periódicos do gênero, lançados
entre 1964 e 1985.
Ainda em relação à FBN, mas, como que em capítulo à parte, cumpre
ressaltar que esta, assim como a Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (IFCH) da Universidade de Campinas (Unicamp), conta com re-
produções em microfilme da coleção “Brazil’s Popular Groups”4, organizada
pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e definida por esta como
uma tentativa de documentar movimentos sociais que se desenvolviam no
Brasil durante a ditadura e a Nova República – possivelmente para fins de
monitoramento ideológico junto a órgãos de segurança americanos.
O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) possui acer-
vo semelhante ao da FBN: seu conjunto documental intitulado “Imprensa

4. A Coleção “Brazil’s Popular Groups” é abordada ineditamente por Rafaella Bettamio, na tese:
“Brazil’s Popular Groups: história e significados de uma coleção da Library of Congress”.
118 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Alternativa” tem quantidade considerável de periódicos, que foram doados


à instituição em 1992 pela Fundação Rioarte, vinculada à Secretaria Mu-
nicipal das Culturas da Cidade do Rio de Janeiro. Esse material, listado e
descrito em catálogo editado pelo próprio AGCRJ, foi reunido por iniciativa
de Maria Amélia Mello, então diretora do extinto Centro de Imprensa Al-
ternativa e Cultura Popular da Rioarte. Outros arquivos públicos, de estados
como Minas Gerais, Paraná e São Paulo, possuem pastas temáticas de órgãos
da repressão, disponibilizadas a partir da abertura de parte dos arquivos do
Deops, no caso paulista, e dos escritórios locais do Dops, nos outros dois
estados – disponibilizando, portanto, alguns periódicos de resistência apre-
endidos durante o regime.
Os arquivos da Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra) também
contam com jornais e revistas de resistência à ditadura, naturalmente mais
voltados a questões relativas a políticas agrárias, movimentos sociais campo-
neses, direito agrário, conflitos por terras, ambientalismo, agricultura popu-
lar e familiar, agronegócio, problemas na região amazônica etc. A Associação
Brasileira de Imprensa (ABI), por ter sido considerada um “porto seguro” para
jornalistas durante os anos de chumbo, também reúne acervo considerável.
Fora do Brasil, a Bibliotèque de Documentation Internationale Contemporaine
(BDIC), da Universidade de Paris, guarda rico material, em geral produzido
por exilados latino-americanos antes ou depois de seu desterro.
Finalmente, cabe lembrar outro acervo que reúne quantidade significativa
de títulos da imprensa de resistência: a coleção Archivio Storico del Movimento
Operario Brasiliano (Asmob), localizada no Centro de Documentação e Me-
mória (Cedem) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(Unesp). Tal acervo, que posteriormente somou-se os fundos Astrojildo Pe-
reira e Roberto Morena (os conjuntos documentais de ambos os militantes),
nasceu por iniciativa de exilados brasileiros na Itália que, na década de 1970,
buscavam a preservação da memória dos movimentos sociais e democráticos,
sob ameaça devido à política de Estado repressora no Brasil. Com panfle-
tos, periódicos, livros e outros documentos, a coleção foi, aos poucos, sendo
formada por doações de militantes de diversos partidos e organizações que
estiveram exilados entre as décadas de 1960 e 1970. José Luiz Del Roio, mili-
tante que, junto com Carlos Marighella, ajudou a fundar a Ação Libertadora
Nacional (ALN), foi o principal articulador dessa ação, além de ter sido ainda
o responsável pela recuperação de importante parte do acervo documental
do Partido Comunista Brasileiro (PCB) durante o período de ilegalidade. O
partido conseguiu clandestinamente retirar do Brasil seu acervo, que, após a
passagem de Del Roio por diversos países, acabou se estabelecendo em Mi-
lão, onde o militante fixou residência. Foi esse o embrião do Asmob, sob a
organização do mesmo Del Roio. O Arquivo de Memória Operária do Rio
de Janeiro (Amorj), do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da
Anais da Biblioteca Nacional • 140 119

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conta com parte da coleção


do Asmob em microfilme.

Periódicos de resistência à ditadura civil-militar


brasileira presentes no acervo da FBN

Entre 2006 e 2010, na Coordenadoria de Publicações Seriadas da FBN,


procurou-se realizar uma relação detalhada das publicações editadas no Brasil
entre 1964 e 1985 que fossem explicitamente contrárias ao regime militar e/
ou ao que o mesmo representava. Pretendeu-se identificar exatamente quais
foram esses periódicos – independentemente de sua presença no acervo da
casa – e como se deu sua história e caracterização, apontando-se suas carac-
terísticas gerais em textos específicos a respeito de cada um deles: são esses
os seus chamados “históricos”. Até janeiro de 2010, 1.127 títulos diferentes
haviam sido levantados em fontes bibliográficas e catálogos institucionais di-
versos; deste total, a FBN possui 441, listados abaixo (cada um acompanhado
de seu histórico). Aqui, encontram-se periódicos clandestinos, sindicais, aca-
dêmicos, de instituições, estudantis, de organizações e partidos políticos de es-
querda, exclusivamente poéticos, de arte postal, mimeografados etc. Trata-se
de jornais, revistas, fanzines, mimeógrafos, boletins e mesmo simples folhas
de papel ofício fotocopiadas.
A coleção geral de imprensa de resistência na FBN possui certo recorte
temporal: se concentra em impressos editados a partir da redemocratização.
Mais precisamente: lembrando dos sete momentos da imprensa de resistên-
cia, segundo Bernardo Kucinski, a instituição quase não possui periódicos da
primeira e da segunda fases, e poucos da terceira e da quarta – possivelmen-
te, tal coleção complementa sobremaneira a do Centro de Documentação
e Memória da Unesp, que parece concentrar impressos das duas primeiras
fases. Muitos desses periódicos parecem ter sido doados à FBN por acaso,
sem grandes planejamentos, haja vista a grande incidência de títulos incom-
pletos, com esparsas edições inseridas em pastas de “miscelâneas”, e muitos
casos de apenas uma edição por título. Raros são os periódicos em seu acervo
claramente identificados como “editados clandestinamente”. Cabe destacar: a
FBN sempre foi uma instituição governamental, fato que, durante a ditadura,
provavelmente afastava a casa de potenciais editores independentes cientes da
Lei de Depósito Legal e doadores de acervo. Por que deveriam, afinal, arriscar
a própria pele, entregando seu material “subversivo” a um órgão que poderia
encaminhar denúncia ao aparelho repressor? Ao fim deste texto, todavia, se-
gue a relação completa de todos os títulos identificados como pertencentes ao
gênero de resistência ao regime militar presentes no acervo da Coordenadoria
de Publicações Seriadas da FBN.
120 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Neste projeto, nenhum periódico pesquisado foi ou é diretamente filiado


a grandes e tradicionais grupos de comunicação – exceto, talvez, o jornal Ex-,
que, em um momento de crise, chegou a ser distribuído pela Editora Abril.
Algumas publicações aqui estudadas, no entanto, são produtos de editoras
estabelecidas – caso de O Pasquim, da Editora Codecri; da Revista Civilização
Brasileira, da Editora Civilização Brasileira; e de Argumento, da Editora Paz e
Terra. Esses periódicos contrastam com inúmeros casos de publicações edita-
das “na cara e na coragem” por poucas pessoas, muitas vezes amadoras na im-
prensa e praticamente sem caixa, mas que não deixam de possuir fatores que
as identifiquem como inseridas no amplo gênero da resistência. Em outros
casos, as publicações analisadas podem possuir vínculos ou mesmo pertencer
a instituições – universidades, cooperativas, movimentos sociais, grupos re-
ligiosos ou órgãos públicos culturais (como no caso de algumas publicações
exclusivamente literárias) –, mas, sem dúvida, possuem linhas editoriais en-
caixadas nas propostas abaixo. Daí, os critérios usados para caracterizar as pu-
blicações estudadas como alternativas giram em torno dos seguintes tópicos:

1. Emprego de temática baseada no movimento contracultural dos anos


1960 e 1970 (crítica de costumes, difusão de culturas orientais no oci-
dente, uso de drogas, sexo livre, rock’n’roll etc.);
2. Abordagens sociopolíticas de crítica e engajamento, questionamento
de ordens (políticas, culturais, sociais) preestabelecidas e mobilizações
populares (seja em torno das Eleições Diretas em 1984 ou da simples
instalação de saneamento básico em comunidades de periferia);
3. Denúncias e/ou reivindicações frente às arbitrariedades cometidas du-
rante o regime militar (ocasionando, em alguns casos, censura, atenta-
dos e outras formas de intimidação violenta);
4. Públicos-alvo em comunidades e/ou grupos sociais oprimidos, como
mulheres, homossexuais, negros, indígenas, trabalhadores rurais e
operários;
5. Manutenção e difusão de posturas ideológicas de esquerda ou anar-
quistas (englobando filiações partidárias, independentemente de suas
orientações);
6. Exploração de temáticas ligadas ao movimento estudantil e questões
de ensino;
7. Propostas humorísticas e satíricas com foco em questões sociopolíticas;
8. Intenções editoriais de ruptura com a metodologia da chamada “gran-
de imprensa”;
9. Abordagens culturais e artísticas contemporâneas tidas como inseridas
na estética “marginal”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 121

Os periódicos estudados nesse contexto não necessariamente apresentam


todas essas nove características; podem ter apenas uma ou quase todas. É
aí que reside a complexidade da imprensa alternativa. Separá-la em apenas
dois eixos – o de política, luta armada, resistência e doutrinas de esquerda
e o de contracultura, crítica de costumes e “desbunde” – seria uma atitude
descuidada.
Tal pesquisa foi iniciada, em 2006, a partir da leitura de bibliografia espe-
cífica sobre a imprensa alternativa durante a ditadura militar (ver referências
bibliográficas). Ao fim dessa etapa, um artigo foi produzido exclusivamente
para os Anais da Biblioteca Nacional, edição no 124 – válida para o ano de
2004, mas publicada somente em 2007. Ainda dentro da pesquisa biblio-
gráfica, históricos específicos de diversos títulos da imprensa de resistência
começaram a ser delineados para cada periódico, isoladamente. A partir daí,
mostrou-se necessária a identificação de quais desses periódicos estariam pre-
sentes no acervo da Biblioteca Nacional; devidamente consultados, seus his-
tóricos individuais, onde procurava-se destacar o máximo de informações de
cada edição ou coleção, puderam ser aprimorados. Os títulos disponíveis em
acervo, enfim, tiveram seus exemplares separados para consulta, em processo
de análise de conteúdo iniciado em janeiro de 2007. Em sua leitura e análise
foram destacados informações tocantes a data e local de publicação, aspectos
editoriais em geral, tipo e organização de conteúdo, periodicidade, autoria/di-
reção/editoração, locais de distribuição, tempo de circulação, contextualização
histórica e política, filiações ideológicas e/ou institucionais, temas abordados,
matérias de destaque e repercussão, aspectos gráficos, quantidade de páginas,
formato, locais e formas de impressão, corpo redatorial e colaborativo, preço
de capa e de assinatura, ocorrência de censura ou outras formas de repressão,
aspectos econômicos e administrativos, curiosidades e fatores determinantes
de fechamento. Muitas vezes, trechos de editoriais – normalmente textos es-
peciais de lançamento – são integrados aos históricos dos periódicos. Alguns
históricos, tratando de periódicos obscuros, com poucas edições e informa-
ções sobre seu corpo editorial, não passam de poucas linhas – por outro lado,
textos a respeito de periódicos bem documentados, como: O Pasquim, Movi-
mento e Opinião se estendem por laudas e laudas. Não cabe aqui transcrever
tais históricos, por amizade à concisão; mas, a título de amostra, os textos
focados nos periódicos de resistência Opinião e Varadouro estão disponíveis
para leitura no site da Biblioteca Nacional Digital5.
Poucos fanzines da década de 1980 acabaram entrando nesta pesquisa,
muito porque a Biblioteca Nacional possui relativamente poucos em seu acer-
vo – ao menos em comparação à quantidade de fanzines que circularam no

5. Seus links são, respectivamente: http://bndigital.bn.gov.br/artigos/opiniao/ e http://bndigital.


bn.gov.br/artigos/acervo-da-bn-varadouro-um-jornal-das-selvas/.
122 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Brasil naquela época. Mas isso ocorre também pelo fato de muitos terem sur-
gido depois do fim da ditadura militar – Quadrix e Mimeógrafo Generation são
exceções. Os zines que entraram neste estudo, além de importantes, são de
uma época em que o formato ainda estava evoluindo a partir de publicações
artesanais de poesia. Portanto, alguns mal eram reconhecidos como fanzines,
mas como integrantes da “imprensa nanica” de uma forma geral. Para saber-
mos até que ponto se confundem, é necessário avaliá-los individualmente.
Com certeza valeria a pena tê-los inserido aqui, mas as dimensões dessa pes-
quisa ficariam, assim, grandes demais.
Aqui aparecem ainda alguns jornais e revistas de vínculos acadêmicos (pro-
duzidos por departamentos de universidades ou jornais-laboratórios). Isso
certamente compõe um gênero à parte, distinto da imprensa alternativa, mas,
nos casos das publicações acadêmicas mostradas aqui, os dois gêneros se mes-
clam. Logo, temos publicações que tanto trazem ensaios, resenhas e artigos
acadêmicos como textos/reportagens de rigor crítico e politizado, literatura
marginal etc. O mesmo ocorre com jornais universitários e jornais-laborató-
rios, produzidos por estudantes. Apenas os que tratam de política, reivindi-
cações do movimento estudantil ou arte e cultura foram levados em conta,
excluindo-se os boletins informativos sobre a vida acadêmica das faculdades.
Os jornais de resistência aqui levantados não apresentam, necessariamente,
uma postura explicitamente contrária à ditadura militar, muito embora os
periódicos com esta característica façam imediatamente parte da categoria de
imprensa alternativa. Alguns, por exemplo, priorizam assuntos como arte e
cultura, sem posicionamentos políticos aparentes, muito menos denúncias
e reivindicações – mas que arte era essa? Muitos, a exemplo de mimeógrafos
literários que proliferaram, sobretudo, na década de 1980, serviam para di-
vulgação de escritores ou poetas engajados em rupturas estéticas, inscritos na
proposta “marginal”: a arte “maldita”, afinal, atinge sua condição como tal
sobretudo em confronto com a moral burguesa.
Quanto à longevidade, os seis periódicos seguintes ainda circulavam em
2012: Nós Irmãos, criado em dezembro de 1971; Pastoral da Terra, de 1975
e ainda circulando, e Porantim, de maio de 1978; O Cometa Itabirano (este
sim produzido sem a administração de um órgão superior), de novembro de
1979; Mensageiro, de 1979 (outro periódico indigenista sob a responsabilida-
de do Conselho Indigenista Missionário); e O Perú Molhado, de Armação de
Búzios (RJ), lançado em fevereiro de 1981. Até então, o nanico considerado
mais longevo tem sido O Pasquim, certamente um dos mais famosos da im-
prensa independente dos anos 60 e 70 (durou 21 anos). A rigor, os jornais
Nós Irmãos, Pastoral da Terra e Porantim são os impressos de resistência mais
longevos dentre os surgidos na ditadura, aparentemente sem terem sofrido
interrupções. Entretanto, considerar isso implica repensar o significado da
imprensa “independente”, posto que os mesmos são editados por instituições
Anais da Biblioteca Nacional • 140 123

(pela Comissão Pastoral da Terra ou pelo Conselho Indigenista Missionário,


órgão filiado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e contaram com
o respaldo destas desde os seus lançamentos, ao contrário de muitos outros
apresentados nesta pesquisa. Creio que devemos considerar Pastoral da Terra
e Porantim jornais de resistência, externos ao eixo da grande imprensa, mas
cabe ao leitor considerá-los ou não “verdadeiramente” independentes, já que
refletem, invariavelmente, posicionamentos ideológicos de certos setores da
Igreja Católica. Ainda na discussão acerca da longevidade das publicações al-
ternativas dos tempos da ditadura, convém ressaltar ainda jornais que foram
editados por longos períodos, mas sofreram interrupções – como o jornal
paraense Resistência, que, mesmo tendo circulação interrompida em inúmeras
ocasiões, foi publicado por cerca de 25 anos, através da Sociedade Paraense
de Defesa dos Direitos Humanos. É mais ou menos o mesmo caso de Hora
do Povo, criado pelo MR-8 em 31 de agosto de 1979 e que ainda circulava
em 2020, e do Papa-Figo, lançado no Recife em agosto de 1984 e editado ao
menos até a década de 2010.
Uma conclusão que se pôde tirar durante a elaboração deste trabalho foi
de que a historiografia da imprensa alternativa brasileira é frágil e ainda é
rasa. Talvez isso se dê, em parte, pela complexidade de definição deste gênero
impresso, apontada no parágrafo anterior. Nesse sentido, de qualquer forma,
os dados apresentados nesta pesquisa podem conter erros ou imprecisões. Isso
se dá por uma série de razões: relativa falta de bibliografia sobre a imprensa
alternativa; falta de informações nos próprios periódicos pesquisados etc. Ou-
tro desafio é a magnitude geográfica do Brasil: por mais que sejam artesanais,
impressos produzidos em grandes centros urbanos normalmente estão mais
visíveis ao pesquisador; no entanto, o imenso interior brasileiro guarda infin-
dáveis surpresas. Existem ainda falhas consideráveis nas coleções presentes na
Biblioteca Nacional (que recebia poucas publicações “subversivas” justamente
por ser, durante o regime militar, uma instituição governamental), na heme-
roteca da Associação Brasileira de Imprensa, no Arquivo da Cidade do Rio
de Janeiro e no Centro de Documentação e Memória da Unesp, os quatro
grandes acervos institucionais tomados, aqui como base.
Em alguns momentos, no que concerne à produção de históricos de impres-
sos da resistência, algumas informações bibliográficas, quando confrontadas,
apresentaram discordâncias. Nesse sentido, é emblemático o caso do jornal
belenense Resistência: em setembro de 1983, vítima de severa crise financei-
ra, política e administrativa, o jornal fechou. Bernardo Kucinski, no livro
“Jornalistas e Revolucionários: nos tempos da imprensa alternativa” (2003),
a principal obra de referência na historiografia da imprensa de resistência à
ditadura militar da atualidade, afirma que, na ocasião, o editor Luiz Maklouf
e os profissionais diretamente envolvidos com o jornal haviam se rebelado
contra os métodos de manipulação do PCdoB, que alegadamente controlava
124 Anais da Biblioteca Nacional • 140

a publicação. Consultado, Maklouf afirma que tal revolta nunca existiu. Tudo
isso revela que ainda há muito o que se discutir e entender não só sobre a im-
prensa alternativa durante os anos de chumbo, mas também sobre a própria
cultura de resistência e seus principais agentes. O período autoritário ainda
deve render futuros estudos.

Lista de periódicos de resistência no acervo da FBN

ABCD Jornal – São Bernardo do Campo (SP), 1976


Fundado em São Bernardo do Campo (SP), em data oficial de 25 de mar-
ço de 1976. Era composto por antigos militantes da chamada Ala Vermelha,
sendo dedicado à reivindicação operária dos municípios de Santo André, São
Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema, da região metropolitana de
São Paulo. Aparecida Fátima Carvalho Leite assinava como sua editora. Trazia
temática trabalhista aliada a problemas do cotidiano das localidades por onde
circulava. Discutia questões políticas, salariais, jurídicas, ambientais, educati-
vas, culturais, entre outras, trazendo depoimentos e denúncias à tona. Formal-
mente apresentava-se como publicação da ABCD Sociedade Cultural.
® BIN: 50597-8

Abertura Cultural – Rio de Janeiro (RJ), 1974


Jornal mensal cultural, criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1974 (possivel-
mente em outubro). Mobilizante, trazia slogans como “Pela renovação po-
pular do teatro nacional”. Circulava como publicação do Movimento Teatro
ao Encontro do Povo, um movimento teatral fundado pelo escritor e ativista
ecológico austríaco Otto Buchsbaum, em parceria com sua esposa Florence
Buchsbaum. O periódico foi dirigido tanto por Florence quanto por André
Delano Buchsbaum. Serviu ainda como porta-voz ao movimento político-
-ambientalista “Resistência Ecológica”, fundado por Otto Buchsbaum na dé-
cada de 1970.
® BIN: 95150

Abre Alas – Juiz de Fora (MG), 1981


Jornal cultural, poético, humorístico e experimental lançado em Juiz de
Fora (MG) por volta de 1981. Era uma publicação quinzenal, lançada pela
Sociedade Articultura, trazendo basicamente poesias de diversas tendências e
ilustrações. Produzido por um coletivo editorial, era inicialmente mimeogra-
fado. Posteriormente impresso em offset, o periódico adquiriu regularmente
14 páginas e passou a possuir tiragem de 1.500 exemplares por edição. Ao
longo de seu tempo de vida, contou com o trabalho de Fernando Fábio Fiore-
se Furtado, João Batista Jorge, José Alexandre Marino, Rejane Villanova, José
Anais da Biblioteca Nacional • 140 125

Henrique da Cruz, Leila Miccolis, P. J. Ribeiro, Suraia Mockdece, Alcides


Buss, Cláudio Feldman, Teresinha Pereira, entre outros.
® BIN: 48224-2

Aconteceu – Centro Ecumênico de Documentação e Informação, Rio


de Janeiro (RJ), 1981
Periódico lançado pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informa-
ção (Cedi) no início da década de 1980 no Rio de Janeiro (RJ). Tratava-se de
um “acompanhamento das lutas levadas por diversos setores populares. As
notícias da semana estão agrupadas em: trabalhadores urbanos, trabalhadores
rurais, índios, movimentos populares, igrejas, política nacional, notícias in-
ternacionais e outras”. Editado por Jorge Luiz Carrera Jardineiro em 1987 e
por Xico Teixeira de 1988 até a década de 1990, trazia ainda, em expediente,
os nomes que compunham o Conselho de Publicações do Cedi. Durante sua
existência, Aconteceu editou ainda um suplemento especial chamado Aconte-
ceu – Povos Indígenas no Brasil (BIN: 44598-3). O Cedi possuía também uma
revista chamada Tempo e Presença, o periódico Aconteceu no Mundo Evangélico
e os Dossiês Constituintes, sendo estes dois volumes de textos sobre a discussão
de questões nacionais envolvendo a Assembleia Constituinte.
® BIN: 464406

Afrodite Perdeu o Rumo – São Paulo (SP), 1982


Revista anárquica experimental, próxima a um fanzine. Literária, cultural
e política, foi lançada em 1982 em São Paulo (SP). Editada por Januário So-
limões, Márika América, Ana Baiola, Firmino Müeller, Hermes, Edmílson,
Gaia, Inês, Narciso, entre outros, era pouco organizada, graficamente modes-
ta e era vendida de mão-em-mão por seus próprios editores. Sua postura, no
entanto, era crítica, sem censura, caricata, irreverente e libertária, focada na
juventude. Costumava trazer fragmentos textuais de intelectuais como Frie-
drich Engels, Tomás Antônio Gonzaga e Friedrich Nietzsche.
® BIN: 25512-2

Agora – Divinópolis (MG), 1967


Jornal cultural-literário lançado em Divinópolis (MG) em 1967. Publicava
contos, poesias, notícias sobre literatura, artigos, fotos, textos críticos, entre
outros. Seus participantes iniciais foram J. Belizário, Lázaro Barreto, Adélia
de Freitas, Regina Debrieu, Kátia Bento, Afonso Ávila, Neiva Maria, Joaquim
Branco, entre outros. O jornal dera origem a uma publicação homônima mais
semelhante à imprensa convencional: surgido em 1o de junho de 1971, o
Agora Regional fora oficialmente fundado por Vanir Vasconcelos de Menezes,
José Lúcio Alves, Fernando Teixeira, Jaques Guimarães, Márcio Sena, Lázaro
126 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Barreto, Ivan Silva, Antônio Eustáquio Rodrigues e Pedro Magalhães de Faria.


Posteriormente, seu nome mudou para Jornal Agora: o diário da região.
® BIN: 5801-7 (Agora Regional) e 57760-0 (Jornal Agora: o diário da região)

Ágora – DA Bastos Terra, da UFF, Niterói (RJ), 1975


Jornal universitário criado em Niterói (RJ) em 1975 pelo Diretório Aca-
dêmico Bastos Terra da Universidade Federal Fluminense (UFF). Contendo
o subtítulo “Um jornal muito do porreta!”, trazia assuntos relativos à política
estudantil, críticas à política nacional, entre outras coisas. Anárquico e ama-
dor, Ágora era editado com poucos recursos. Sua circulação foi suspensa por
volta de 1981 até outubro de 1982. Após este período, ao ser retomada na 13ª
edição, sua produção contou com participantes identificados apenas como
João “Guará”, Ailson, Dráurio, Marquinhos, Hugo, Hilton, Coelho, Valéria,
entre outros.
® BIN: 49985-4

Aldeia – São Paulo (SP), 1981


Jornal cultural, experimental, politizado e crítico. Lançado em São Paulo
(SP) por volta de 1981, trazia, na maior parte do seu conteúdo, poesias,
ilustrações, quadrinhos, contos, entrevistas e ditos e textos da cultura popu-
lar. Consistia em um espaço aberto para manifestações artísticas e intelec-
tuais, autoproclamado um veículo para a publicação da literatura indepen-
dente. Era produzido por um coletivo: Roberto Bonafé, Wilson Campos,
Maria Eliana, Maria Cristina, Mônica Ximenes, Célio Pires, Paulo Negui-
nho e Nivaldo Rigo. Era publicação da Associação Aiuri Pró-Cultura, Arte
e Educação.
® BIN: 44419-7

Alfa Centauri – Belo Horizonte (MG), 1973


Revista lançada em Belo Horizonte (MG) em 1973(?). Editada por Zul-
mira Lins, a publicação trazia poesias, ilustrações, críticas, artigos, textos li-
terários, notícias variadas, artigos (sobre meio ambiente, cinema, arte etc.),
entrevistas, entre outras coisas.
® BIN: 13199-7

Alguma Poesia – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Revista literária lançada no Rio de Janeiro (RJ) em junho de 1978, cir-
culando como publicação da empresa Mayti Comunicação. Visava apresen-
tar poemas e crítica literária prioritariamente nacionais e de cunho marginal,
algo que não excluía de suas páginas textos de autores estrangeiros. Dirigida
e editada por Marcio R. Schiavo e Carlos Lima. Posteriormente, o projeto
da revista converteu-se em um jornal: Alguma Poesia: Jornal surge em agosto
Anais da Biblioteca Nacional • 140 127

de 1983, em edições bimestrais (este primeiro número era relativo a agosto e


setembro daquele ano).
® BIN da revista: 44302-6 e BIN do jornal: 50729-6

Almanaque – São Paulo (SP), 1976


Revista cultural lançada através da editora Brasiliense em São Paulo (SP)
no ano de 1976. Seu subtítulo, “Cadernos de Literatura e Ensaio”, antecipava
seu conteúdo principal. Em texto de apresentação na 1ª edição, a publicação
se apresenta como um “(...) exercício anti-econômico, sem programa, errante,
sem precedente, sempre excedente – do prazer e da liberdade da escrita, da
imaginação e do pensamento: ensaios de contra-dicção. (O leitor) Verá que
são Cadernos de efeito. Inútil indagar por suas causas”. Editado por Walnice
Nogueira Galvão e Bento Prado Jr., o periódico apresentava boa quantidade de
textos teóricos e literários. Impressa inicialmente na empresa Paika Realizações
Gráficas, depois na Poligráfica Ltda. e na Monsanto Editora Gráfica Ltda.
® BIN: 41560-0

Almenara – Londrina (PR), sem data


Publicação literária criada em Londrina (PR) pelo Centro de Poesia da
Academia de Letras, Ciências e Artes de Londrina. Sua data de fundação é
indefinida. O periódico era editado por João Soares Caldas e trazia poemas,
trovas e, eventualmente, textos em prosa.
® BIN: 45916-0

Alternativa Comunitária – Recife (PE), 1980


Tabloide mensal fundado em julho de 1980 no Recife (PE). Ligado a mo-
vimentos de base, era dirigido por Sebastião Barreto Campelo. Doutrinário
de esquerda, desfavorável ao neoliberalismo e à voracidade das multinacionais
no Brasil, abordava temas como direitos do operariado e dos trabalhadores
rurais, indústria nacional, modelos de autogestão, direitos do consumidor,
desemprego, salário mínimo, urbanização, problemas de comunidades locais
etc. Composto e finalizado na Editora Comunicarte, era impresso na Compa-
nhia Editora de Pernambuco.
® BIN: 57683-2

Alternativo – São Sebastião do Paraíso (MG), 1980


Jornal mensal fundado, em 1980, no município de São Sebastião do Pa-
raíso (MG). Sua 8ª edição é datada de junho de 1981. De temática cultural e
política, continha notícias do cotidiano local, pequenas reportagens e entre-
vistas, poesias, artigos opinativos e reivindicativos, charges, fotos, anúncios
publicitários, entre outras coisas. Alternativo foi um periódico assumidamente
de esquerda, favorável ao Partido dos Trabalhadores (PT). Era editado por
128 Anais da Biblioteca Nacional • 140

João Batista da Silveira, José Roberto Cosini e Sebastião Furlan, sob a respon-
sabilidade do jornalista Fernando Antonio de Alverga Grossi.
® BIN: 58672-2

Alto Falante – Rio de Janeiro (RJ), 1973


Jornal minitabloide fundado em março de 1973 no Rio de Janeiro (RJ).
A publicação falava sobre música: trazia notícias, entrevistas, fotos, peque-
nos artigos opinativos, perfis, novidades e lançamentos de discos, ilustrações,
charges, letras de músicas, anúncios publicitários, entre outras coisas. Publi-
cação da empresa Edições Musicais Templo Ltda., possuía tiragem de 50 mil
exemplares, em distribuição gratuita. Editado por Afonso Pena, o jornal con-
tava com Vera Caldas, Vanda Viveiros de Castro, Ana Maria Bahiana, Cau-
los, Henfil, Glauco Oliveira, entre outros. Foi composta na gráfica Jet Press,
impressa pela Editora Mory.
® BIN: 6015-1

Amanhã – São Paulo (SP), 1977


Jornal de temática política e cultural, fundado em São Paulo (SP) em 15
de dezembro de 1977. Foi baseado em outro jornal, de título homônimo (lan-
çado em 1967 e editado por Raimundo Pereira), e tinha Chico de Oliveira
e Ricardo Maranhão como alguns de seus principais articuladores. Nascido
de uma cisão do grupo que mantinha o jornal Em Tempo (BIN: 46491-0) e
editado por um grande grupo (no qual se destacou a figura de Juca Kfouri),
o periódico reunia marxistas simpatizantes do Partido Comunista Brasileiro
(PC), militantes do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e do grupo
Debate. Amanhã contou com personalidades de destaque no jornalismo, na
política e na intelectualidade do Brasil. Em expediente, apresentava uma in-
finidade de redatores-proprietários. Com seus respectivos editores, a divisão
das seções do jornal dava-se em “Movimentos Sociais”, com Ricardo Ma-
ranhão; “Questões de Democracia”, com Antonio Mendes Júnior e Carlos
Alberto Dória; “Cultura”, com Luiz Roncari; “Internacional”, com Wolfgang
Leo Maar; “Economia”, com Chico de Oliveira e “Arte”, com Carlos Clémen.
José Álvaro Moisés figurava como o jornalista responsável.
® BIN: 49672-3

A Amazônia Brasileira em Foco – Comissão Nacional de Defesa e pelo


Desenvolvimento da Amazônia (CNDDA), Rio de Janeiro (RJ), 1967
Publicação da Comissão Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da
Amazônia (CNDDA). Lançada no Rio de Janeiro (RJ) em 1967, através da
Comissão de Divulgação do Plano Global para a Amazônia (Codiplam), pos-
suía tonalidades patrióticas, críticas e analíticas. Como a CNDDA era presidi-
da por Arthur Cezar Ferreira Reis (presidente de honra, professor universitário
Anais da Biblioteca Nacional • 140 129

e ex-Governador do Estado do Amazonas) e pelo general Tácito Lívio Reis


Freitas, que também figurava inicialmente na direção de A Amazônia Brasileira
em Foco (após sua morte, o cargo passou a Orlando Valverde), o periódico era
editado por Henrique Miranda. Em determinado período de sua existência, a
publicação passou a lançar um suplemento chamado Amazônia Urgente!.
® BIN: 6034-8

Amazônia, Hoje – Rio de Janeiro (RJ), 1980


Tabloide lançado em outubro de 1980 no Rio de Janeiro (RJ), como
“Órgão oficial da Campanha Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento
da Amazônia”. Editado por José Nilo Tavares e Mário Vila Ramos, em tons
essencialmente nacionalistas, trazia questionamentos e argumentações a res-
peito dos valores socioeconômicos e ambientais da Amazônia, o interesse es-
trangeiro na região, reforma agrária, problemáticas indígenas, iniciativas de
extrativismo (como o Projeto Carajás, desenvolvido por uma subsidiária da
Cia. Vale do Rio Doce, a Amazônia Mineração – AMZA) etc.
® BIN: 48233-1

Amazônia Urgente! – suplemento de A Amazônia Brasileira em Foco,


Rio de Janeiro (RJ), 1979
Publicação lançada no Rio de Janeiro (RJ) pela Comissão Nacional de De-
fesa e pelo Desenvolvimento da Amazônia (CNDDA). Circulou em torno do
final da década de 1970 (esta descrição é baseada em um exemplar de julho
de 1979). Em forte teor político e denunciativo, trazia artigos, reportagens,
ilustrações e fotos em prol dos interesses da região amazônica. Era impresso
em sistema offset e em formato minitabloide.
® BIN: 6034-8

Americanto – Recife (PE), 1981


Publicação cultural e literária fundada no Recife (PE) em novembro de
1981. Especializada em literatura marginal, continha notícias, pequenas no-
tas, entrevistas, poesias, ilustrações, cartuns, cartas de leitores. Dirigido por
Fátima Ferreira e Hector Pellizzi, contava ainda com a colaboração de Cae-
sar Sobreira, Alberto da Cunha Melo, Ana Lúcia Bandeira, Daniel Santiago,
Andréa Mota, Wir Caetano, Kátia Bento, Sérgio Lima Silva, Nicolas Behr,
Ulisses Tavares, Leila Miccolis, Cláudia Juhareiz Correya, Cláudio Feldman,
Jorge Verdi, entre outros.
® BIN: 44577-0

Amplitude – Nova Iguaçu (RJ), sem data


Revista bimestral que publicava somente poemas. Mimeografada em Nova
Iguaçu (RJ), não trazia informações sobre sua data de publicação. Sua 2ª
130 Anais da Biblioteca Nacional • 140

edição, ano I, editada quatro meses após o no 1, já circulava em offset e ha-


via sido composta e impressa na Gráfica MEC Editora Ltda. Neste mesmo
número, o periódico trazia em sua última página um anúncio do Centro de
Atividades de Nova Iguaçu pertencente à Administração Regional do Serviço
Social do Comércio (Sesc). Era dirigida por André Borges e Dejair Esteves
da Silva, editada por Airton R. Oliveira. Lirian Rozendo dos Santos foi sua
coordenadora.
® BIN: 37097-5

Ananda – Salvador (BA), 1972


Revista de pequeno formato, esotérica e espiritual, lançada em Salvador
(BA) em março de 1972. É publicada pela Casa Sri Aurobindo, uma socie-
dade sem fins lucrativos focada na divulgação dos ensinamentos dos mestres
espirituais Sri Aurobindo e A Mãe e em trabalhos educacionais através de filo-
sofias espiritualistas. Tanto a revista quanto a sociedade foram fundados pelo
coreógrafo e dançarino alemão Rolf Gelewski. Em 2003, ocorreu um acúmu-
lo de atrasos na edição da revista, de forma que sua administração optou por
“pular” este ano na numeração da revista. Aparentemente, a revista circulou
até 2004. Foi editada inicialmente em Salvador (BA), depois em São José do
Rio Preto (SP), depois em São Paulo (SP), depois novamente em Salvador
(BA), e finalmente em Belo Horizonte (MG).
® BINs: 35842-8, 49978-1, 49977-3, 49979-0

Anistia – Comitê Brasileiro pela Anistia, Rio de Janeiro (RJ), 1978


Jornal mensal lançado no Rio de Janeiro (RJ) em outubro de 1978, circulou
como órgão oficial do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA, grupo formado
em julho de 1978). No formato tabloide, impresso em offset e com cerca de
oito páginas, o jornal possuía linha essencialmente política e combativa, con-
trária à ditadura militar e a favor de presos e exilados políticos. Sem censura,
circulava com manchetes e chamadas de capa despudoradas. Em seu expedien-
te, constando como “Diretoria”, figuram nomes que provavelmente atuavam
na direção do próprio Comitê Brasileiro pela Anistia: Eny Raimundo Moreira,
Arthur Müller, Jorge Eduardo Saaveda Durão, Iramaya Queiroz Benjamim,
Pedro Cláudio Bocaiúva, Abgail Paranhos e Iná Meirelles.
® BIN: 45793-0

Aparte – alunos do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da UFF,


Rio de Janeiro (RJ), 1978
Publicação estudantil lançada no Rio de Janeiro (RJ), no ano de 1978 (data
de sua edição no 0). Seu subtítulo: “Revista dos alunos do Instituto de Ciên-
cias Humanas e Filosofia”, da Universidade Federal Fluminense (UFF). Servia
de instrumento de divulgação de estudos e debates gerados pelos alunos, já
Anais da Biblioteca Nacional • 140 131

que “[...] a estrutura universitária, não adequada aos propósitos de livre re-
flexão e manifestação, aliada à falta de articulação entre iniciativas isoladas,
obstruíam a possibilidade de se superar a distância existente entre um espaço
a ser preenchido e sua efetiva ocupação”. Era editado modestamente.
® BIN: 32214-8

Apenas – Bauru (SP), 1980


Idealizada em 27 de julho de 1980 e lançada em agosto do mesmo ano, em
Bauru (SP), foi uma revista literária mimeografada. Seu conteúdo, composto
especialmente por poemas, trazia ainda ilustrações, pequenas resenhas e notas
sobre lançamentos de livros. Com distribuição gratuita e tiragem inicial de
1.500 exemplares, era editada por um grupo também denominado “Apenas”,
criado em 10 de maio de 1980 e composto por Reginaldo Tech, Raul Gon-
çalves Paula, Marco Antônio (Kako), Luís Vítor Martinello, Alberto Sérgio
Sanchez, André Luiz Mizokami e Luiz Carlos de Oliveira. Já em 1981, a
publicação passa a ser impressa em sistema offset pela gráfica Joarte. Em 1981,
um novo Apenas foi lançado em Catanduva (SP).
® BIN: 51008-4

Aqui Ficção – Salvador (BA), 1979


Minitabloide lançado em Salvador (BA) em setembro de 1979, como pu-
blicação oficial do Clube de Ficção. De acordo com editorial da 1ª edição, o
jornal “[...] não nasceu para combater o hermetismo, mas tão somente para
dar ao povo a opção de ler o que gosta, escrito por autores brasileiros, baianos
em particular. E para, dessa forma, tentar aumentar o mercado de leitura neste
país”. Coordenado por Luiz Ademir Souza.
® BIN: 51112-9

Aqui Prá Nós – Belo Horizonte (MG), 1982


Minitabloide produzido para encarte em jornais diversos, editado em Belo
Horizonte (MG) pela Editora Comunicação Ltda. Foi lançado em agosto de
1982, com um expediente que destacava a valorização da imprensa interio-
rana mineira. Circulando apenas aos domingos, circulou, pelo menos, até o
final da década de 1980.
® BIN: 52741-6

Arca – Campo Mourão (PR), 1985


Periódico de arte, cultura e ambientalismo surgido em Campo Mourão
(PR) em 1985(?), como informativo do Clube da Arca. Editado por Eloyr
Doin Pacheco e Yara R. Pacheco (no ano de 1987, Hugo Ramirez Filho pas-
sa a integrar esse grupo). Ao longo de sua edição, Arca perdeu seus vínculos
com Campo Mourão. A 6ª edição, de fins de 1986, já apresenta um endereço
132 Anais da Biblioteca Nacional • 140

para correspondências em Londrina (PR). Foi lá que o Clube da Arca passou


a contar com a assessoria editorial da empresa Evidência, que passou a editar
Arca com maior qualidade.
® BIN: 44767-6

Argumento – Rio de Janeiro (RJ), 1973


Surgida no Rio de Janeiro (RJ) em outubro de 1973, foi uma revista de
cunho cultural e político, lançada por Fernando Gasparian. Empresário co-
nhecido por financiar e dirigir outros projetos de jornais alternativos, Gaspa-
rian investira em Argumento pela compra da então falida editora Paz e Ter-
ra, no mês de outubro de 1973. Decidira lançar a revista após a experiência
traumática que vivera em Opinião (BIN: 12330-7). Inspirada em The New
Statesman, era dirigida por Barbosa Lima Sobrinho e trazia ensaios, grandes
reportagens, entrevistas, análises, resenhas e textos opinativos de alta qualida-
de, de autoria de personalidades e intelectuais trazidos de Opinião. Boa parte
desse conteúdo era quase acadêmica, crítica e engajada. Argumento obteve
sucesso entre os meios intelectuais, muito pela qualidade de seus textos. En-
tretanto, não chegou a um ano de publicação. Por conta da apreensão da 3ª
edição, de janeiro de 1974, pelos órgãos de segurança da ditadura militar, a
revista foi suspensa quando seu no 4, de fevereiro, já estava no prelo.
® BIN: 44601-7

Arjuna – Rio de Janeiro (RJ), década de 1980


Revista de vanguarda lançada no Rio de Janeiro (RJ), circulou no início da
década de 1980. Essencialmente política, libertária e inventiva, com o subtítu-
lo “O Canto Guerreiro”, a publicação possuía linha cultural, focada priorita-
riamente na poesia e na música popular brasileira. Temas como cultura negra e
magia também eram recorrentes. Editada por Paulo Luís Barata, contava com
textos de Paulo Leminski, Jorge Mautner, Augusto de Campos, Gilberto Gil,
Caetano Veloso, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Antonio Risério, entre outros.
® BIN: 41755-6

Aroeira – nome completo “É a volta do cipó de Aroeira no lombo de


quem mandou dar”, Paranavaí (PR), 1965 ou 1966
Minitabloide universitário que circulou em Paranavaí (PR) a partir de me-
ados da década de 1960, possivelmente criado em 1965 ou 1966. Criado
como publicação dos alunos da Fundação Faculdade Municipal de Educação,
Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa), saía através do Diretório Acadêmico
Tristão de Athayde (Data). Foi lançado pela gestão Tempo Novo (1983/1984),
sob presidência de Edmílson Donizete Botéquio.
® BIN: número ainda não fornecido
Anais da Biblioteca Nacional • 140 133

Aroeira – Regional Mato Grosso da CPT, Cuiabá (MT), 1979


Modesto periódico criado em 1979(?) em Cuiabá (MT), como informati-
vo da Regional Mato Grosso da Comissão Pastoral da Terra. Sua preocupação:
“a grave situação do campo brasileiro”.
® BIN: 47465-7

Arrastão – Rio de Janeiro (RJ), 1965


“Jornal de arte”, criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1965(?). Publicado em
formato minitabloide, trazia artigos sobre cinema, dança, música, literatura,
teatro, artes visuais, filosofia, eventos, exposições, movimentos artísticos e per-
sonalidades da cultura etc. Paralelamente, contos, crônicas e anúncios publi-
citários também eram publicados. Dirigido por Airton Lima Barbosa e José
Carlos Avellar, o jornal contou com colaboradores como Sergio Cabral, Regina
Werneck Monteiro, Fernando Serpa, Fernando Py, Nélida Piñon, entre outros.
® BIN: 6542-0

Arsenal de Cultura – Fortaleza (CE), 1981


Revista de vanguarda lançada em janeiro de 1981, em Fortaleza (CE), após
a edição do periódico experimental que o originara: Arsenal de Literatura,
veiculado em novembro de 1980. Com o subtítulo/slogan “Órgão oficioso
da Oh!?! Posição”, era politicamente engajada e tratava essencialmente de lite-
ratura e cultura. Seu editor era Floriano Martins. Contava com um conselho
editorial composto por Airton Monte, Nilto Maciel, Batista de Lima, Gentil
Barreira, Paulo Barbosa e Lauro Maciel Severiano Júnior. Circulava através da
editora Cariri Produções e Comunicação Ltda., do Crato. Publicou material
de outros periódicos do gênero, como Poesia Livre e Nação Cariri.
® BIN: 44403-0

Arsenal de Literatura – Fortaleza (CE), 1980


Revista literária de vanguarda lançada em Fortaleza (CE) em novembro de
1980. Focada na literatura cearense, publicou contos, poesias, resenhas, arti-
gos críticos, ilustrações e ensaios fotográficos. Editada por Floriano Martins,
possuía um conselho editorial com Airton Monte, Batista de Lima e Paulo
Barbosa.
® BIN: 44403-0

Arte, Afinal – São Paulo (SP), 1985


Revista cultural lançada em São Paulo (SP) em 1985(?). Mensal, a publi-
cação era dirigida por Gastão Armando Soares, saindo através da S&S Lança-
mentos Gráficos. Edson Warren Soares e Tide Hellmeister assinavam, respec-
tivamente, como editor de texto e de arte, sendo Elizabeth Lopes Guaraldo
a jornalista responsável. Focada em artes gráficas, a revista trazia ilustrações,
134 Anais da Biblioteca Nacional • 140

perfis de artistas, técnicas de pintura e desenho, artigos sobre cinema, estudos


de símbolos e logotipos, propaganda de gráficas e anúncios em geral, notas so-
bre outras publicações, poemas, entre outras coisas, incluindo chamadas para
concursos, exposições e demais novidades do mundo artístico. Tinha tiragem
de 8 mil exemplares.
® BIN: 51114-5

Arte Agora – Franca (SP), 1979


Revista lançada em setembro de 1979 no município de Franca (SP), onde
circulou inicialmente como publicação cultural da Fundação Municipal Má-
rio de Andrade. De sua 3ª edição até a 35ª, período que engloba meados da
década de 1980 a 1989, saiu como suplemento cultural do Laboratório de
Artes de Franca (devido à censura, o periódico não pôde continuar sendo vin-
culado à Fundação Municipal Mário de Andrade, cabendo a sua editoração a
uma instituição independente de governos locais). Publicava artigos opinati-
vos, ensaios, críticas, pesquisas, quadrinhos, cartuns e ilustrações. Entre seus
responsáveis figuravam Maria Atalie R. Alves e Mauro Ferreira. Arte Agora
deixou de ser publicada em 1989, por volta de sua 35ª edição.
® BIN: 42054-9

Artebahia – Salvador (BA), 1985


Minitabloide bimestral criado em Salvador (BA) como publicação do Mo-
vimento Cultural Contemp. Seu fundador e diretor foi Luiz Ademir Souza.
Em editorial, o jornal se apresenta como um meio de difusão de escritores e
demais artistas, esperando “preencher uma lacuna literária”. O mesmo texto
ainda apresenta o Movimento Cultural Contemp, entidade lançadora de mais
de 700 autores em cerca de 370 títulos. Artebahia contava com um conselho
editorial composto por Raimundo Moreira Filho, Aurivaldina de C. P. Gley-
ser, Germano Machado,Vera Gondim, Antonio Luiz Amorim, Leny Mara
Souza, Osmar de Azevedo Moreira, Maria das Graças Sena e Gláucia Guerra
de Oliveira.
® BIN: 51099-8

Arte em Revista – Centro de Estudos de Arte Contemporânea, São


Paulo (SP), 1979
Periódico teórico e debatedor criado pelo Centro de Estudos de Arte Con-
temporânea em São Paulo (SP). Lançado em janeiro de 1979, em edição tri-
mestral, válida até março daquele ano, pretendia “[...] divulgar documentos
que possam servir de subsídio para repensar a história da arte brasileira: textos
de análises e manifestos – esgotados ou de difícil acesso –, ao lado de en-
trevistas ou depoimentos inéditos de artistas e críticos”. Buscava resgatar o
pensamento reprimido durante os anos de forte censura da ditadura militar.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 135

Editada por Otília Beatriz Fiori Arantes, Celso Fernando Favaretto e Matinas
Suzuki Júnior, tocava em assuntos diversos da cultura brasileira. Publicou no-
mes de peso: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Glauber Rocha, Hélio
Oiticica, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Paulo Emílio Salles Gomes, Anto-
nio Candido, Haroldo de Campos, Rogério Sganzerla, Lúcio Costa, Augusto
Boal, entre outros. Circulava sob o selo da Kairós Livraria e Editora Ltda.
® BIN: 32510-4

Artefato – Campinas (SP), 1985


Minitabloide cultural lançado em Campinas (SP) em junho de 1985, foi
fundado por Adílson Siqueira, Beatriz Sampaio Azevedo, Nivaldo Alves e Sil-
via Baliélo. Com Davi William assinando como jornalista responsável, era im-
presso em offset pela Venus Composição Jornalística e Gráfica Ltda. Proposto
como uma forma de divulgar e discutir a cultura local, o “[...] Jornal Artefato
nasceu através da constatação que Campinas não contava com um jornal que
registrasse, permanentemente, as atividades culturais aqui realizadas”.
® BIN: 51109-9

Arte-Manha – Rio de Janeiro (RJ), 1981


Lançado no Rio de Janeiro (RJ), em novembro de 1981, era um jornal de
linha cultural, com críticas a eventos e mostras, opiniões da classe artística ou
sobre a importância de determinadas instituições culturais e a profissionaliza-
ção do artista, entrevistas, dicas de leitura, roteiros culturais, cartas de leitores
e textos debatedores de novidades do cinema, do teatro, da dança, da música,
das artes visuais e da literatura. Julgava-se apartidário, apesar das inclinações
políticas de vários de seus colaboradores ou artistas retratados. Roberto Al-
meida assinava como editor responsável, e os demais editores eram Elaine M.
Pires, Telma Monteiro e Apolônio Neto. Saía pela Farpa Editores Ltda.
® BIN: 49566-2

Arte Nossa – Rio de Janeiro (RJ), 1984


Distribuída gratuitamente e focada em artistas visuais profissionais e ama-
dores, era uma publicação da Arte Nossa Assessoria e Planejamento Ltda.
Inicialmente composta na empresa Hipotenusa Comp. Gráficas e impressa
em sistema offset pela Editora Dois Irmãos. Paulo A. P. Cavalcanti como edi-
tor e redator chefe. Carlos J. Lopes Nunes era o responsável pela arte e pela
assessoria gráfica.
® BIN: 43082-0

Arte Quintal – Belo Horizonte (MG), década de 1980


“Jornal-Revista”, o periódico explicitava em seu editorial inaugural sua
definição e seus anseios: “[...] uma publicação dedicada exclusivamente à
136 Anais da Biblioteca Nacional • 140

arte, ocupando uma área praticamente inexplorada, ao mesmo tempo ten-


tando mostrar o trabalho e o talento de muita gente que produz arte e que
não tem espaço para divulgação. Nosso propósito não é fazer um jornal re-
vista com informações e artigos que não seja (sic) apenas do interesse de uma
elite pseudointelectualizada”. Fundado por Ecivaldo John, Rogério Salgado
e Virginia Reis.
® BIN: 44851-6

artes: – São Paulo (SP), 1965


Jornal mensal em formato standard – seu título vinha sempre com a inicial
minúscula. Inicialmente impresso em tipógrafo, em uma rotoplana da Gráfica
São José, seu lançamento oficial foi no dia 12 de novembro de 1965 no Mu-
seu de Arte de São Paulo (Masp). Essencialmente vanguardista, era dirigido
por Carlos Von Schmidt. De enfoque cultural múltiplo e refinado, um tanto
sisudo e erudito, predominantemente abordava cinema, teatro e artes visuais,
trazendo excelentes artigos, ensaios, entrevistas e críticas de arte. Terminan-
temente contrário à repressão militar sobre as artes, chegou a se manifestar
inúmeras vezes contra a censura. Assuntos como violência, problemas sociais
e arbitrariedades do regime militar apareciam ocasional e discretamente – por
outro lado, passou por certa fase de empolgação com a contracultura. Foi
extinto apenas em 1991.
® BIN: 50173-5

Artis – Porto Alegre (RS), 1982


Publicação lançada em novembro de 1982 em Porto Alegre (RS), com o
subtítulo “Revista mensal de arte e cultura”. Circulava como produto da Inco-
mum Editora e Comércio Ltda. Dirigida e editada por Sérgio Moita, trazendo
perfis, comentários e portfólios de artistas, entrevistas, críticas de arte, notícias
gerais sobre cultura, pequenas resenhas, artigos sobre técnicas ligadas às artes
visuais, ensaios fotográficos, programações culturais, poesia, cartas de leitores,
classificados relativos à arte, anúncios publicitários, entre outras coisas.
® BIN: 41863-3

Ases do Volante – Fortaleza (CE), 1984


Jornal, de acordo com seu subtítulo, “elaborado pelo Movimento de Va-
lorização Profissional”. Independente e reivindicativo, com textos críticos e
opinativos em linguagem popular, possuía conteúdo político/trabalhista. In-
formava sobre colocações e questões sindicais, embora se manifestasse clara-
mente contra a filiação sindical dos motoristas profissionais. Produzido por
um coletivo editorial, foi inicialmente uma publicação mensal, em formato
minitabloide.
® BIN: 48699-0
Anais da Biblioteca Nacional • 140 137

Atualidade Agrícola – São Paulo (SP), 1976


Tabloide surgido em São Paulo (SP) em agosto de 1976, com subtítulo
“Comunicação a serviço da agropecuária brasileira”. Quinzenário, circulando
através da Editora Brasileira de Agricultura, o jornal se colocava como defensor
das classes rurais e da reforma agrária, publicando artigos, reportagens e notí-
cias gerais sobre assuntos que afetam diretamente o produtor agrícola: política,
legislação, economia, flutuações de mercado, ciência, programas e propostas de
associações de classe, depoimentos de autoridades, lançamentos de produtos,
notas de encontros e congressos, especializações acadêmicas etc. Era dirigido
por Lauriston Von Schmidt, que contava com o diretor comercial Luiz Edegar
de Castro e o diretor tesoureiro Willer Carlini. Como editor, Jorge Aguiar.
® BIN:48401-6

O Avatar – Niterói (RJ), 1970


Publicação dedicada à ciência espiritual lançada em Niterói (RJ) em
1970(?) como órgão do Colégio Capitular Saint Germain, da Fraternidade
Rosa Cruz Antiqua de Niterói. Em seu quarto ano de existência, passou a per-
tencer formalmente à Fundação Cultural Avatar e a ser coeditada pela Funda-
ção Educacional e Editorial Universalista (FEEU, baseada em Porto Alegre)
e a ser publicada com nova numeração – ou seja, um novo no 1 em março
de 1974 – e com o subtítulo “Boletim de estudos de ciência espiritual”. Era
dirigido por Jayme Treiger (antigo diretor do Colégio Saint Germain) e con-
tava com conselho editorial composto por João Carvalho, Amarília da Silva
Carvalho, Délcio Pereira, Paulo César Pereira Braz e Conrado José Uzeda. Por
volta de 1988, O Avatar foi substituído pelos “Cadernos Fundação Cultural
Avatar” (BIN: 54016-1), que, por sua vez, deu espaço aos “Cadernos Avatar”
(BIN: 54462-0). Neste período, Tânia Araújo chegou a assumir a edição.
® BIN: 43255-5

Babel – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Tabloide humorístico lançado, em outubro de 1978, no Rio de Janeiro
(RJ), por Sylvio Rodrigues Abreu Filho. Claramente inspirado em O Pasquim,
possuía o subtítulo “Jornal de Humor”, além do slogan “Um órgão vibrante
sempre por dentro”. Circulando como propriedade da Sinopse Edições Ltda.,
o periódico era focado na sátira e na crítica política, social e de costumes.
® BIN: 51150-1

Bagaço – João Pessoa (PB), 1983


Modesta publicação cultural lançada no início de 1983 em João Pessoa
(PB). Sua 1ª edição, dedicada à poesia erótica e pornográfica, circulou datada
apenas do primeiro semestre daquele ano. Editado por Luiz Fernandes da
Silva, o periódico trazia poemas de autores como Glauco Mattoso, Franklin
138 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Jorge, Denise Teixeira Viana, Brasigóis Felício, Leila Míccolis, Réca Poletti,
entre outros, além de notas sobre literatura marginal, pequenas resenhas, dicas
de livros e ilustrações. Era datilografado e reproduzido por fotocópia.
® BIN: 44578-9

Bagaço – Rio de Janeiro (RJ), 1976


Publicação opinativa, política, cultural, debatedora e poética criada no Rio
de Janeiro (RJ), em dezembro/janeiro de 1976/1977. Nascera sob a indigna-
ção diante das violações dos direitos humanos e publicava reportagens, notí-
cias, poemas, fotos, entrevistas, e artigos sobre denúncias operárias, questões
indígenas, o cotidiano de moradores de rua, futebol, entre outros assuntos.
Era editado por um coletivo composto por Altair Thury Filho, Ives Stavele Ta-
vares, Ronaldo Lapa, Fábio Júlio, José Eurides, Luís Arnaldo, Narciso Lobo,
Paulo Fortes e Júlio César Regis. Foi fechado por denúncia do dono da gráfica
Jornal Hoje, de Nova Iguaçu (RJ), onde era impresso.
® BIN: 58066-0

O Bandeirante – Rio de Janeiro (RJ), 1982


“Jornal verdade do Estado do Rio de Janeiro”, segundo seu próprio sub-
título, foi um tabloide surgido em junho de 1982 no Rio de Janeiro (RJ).
Circulava mensalmente através da Sociedade de Notícias e Artes (SNA). Diri-
gida por João Barroso de Menezes, a empresa que o editava era presidida pelo
militar Dalmo Honaiser, com João Ferreira da Silva como superintendente.
Honaiser foi candidato a deputado federal pelo Partido do Movimento De-
mocrático Brasileiro (PMDB) em 1982.
® BIN: 49122-5

Bandeira Vermelha – PC, Rio de Janeiro (RJ), 1966


Informativo do Diretório Regional do PC. Continha informações gerais
sobre campanhas políticas da esquerda brasileira, comitês, filiações, mobili-
zações e notícias variadas ligadas ao PC e ao esquerdismo nacional. De início
clandestino, teve periodicidade irregular, sobretudo em virtude da ilegalidade
de partidos de esquerda durante a ditadura militar no Brasil.
® BIN: 48594-2

Barata – Santos (SP), 1979


Publicação criada em 31 de outubro de 1979 em Santos (SP). Estudantil
e marginal, combativo e descontraído, de inspiração anarcopunk (quase um
fanzine), trazia quadrinhos, contos, poesias, letras de músicas, humor, erotis-
mo, listas de fanzines, entre outras coisas. Editada por um conselho composto
por Flávio Calazans, Fernando Colaferri Pithon, José Antônio Leal Nogueira,
Cláudio Luís Ratto Pereira, Orleyd Rogéria Neves Faya e Nilo Pinto da Silva
Anais da Biblioteca Nacional • 140 139

Neto, defendia ideais libertários, pacifistas, ambientalistas, antiburocráticos,


anticapitalistas, antirreligiosos, antiimperialistas.
® BIN: 44579-7

Barbárie – Salvador (BA), 1979


Revista lançada em 1o de julho de 1979 em Salvador (BA) a partir de um
racha ocorrido entre os editores da publicação anarquista O Inimigo do Rei.
Possuía linha político-cultural, com tendências também anarquistas. Seguia
um padrão analítico, teórico. Trazia críticas tanto ao regime militar quanto às
propostas políticas de esquerda, explorava temas como pedagogia libertária,
política nacional e internacional, mobilização operária, movimentos revolu-
cionários, o ideal anarquista de autogestão. Era editada por Edmundo Sento
Sé, Hilda Braga, Eduardo Nunes, Washington José de S. Filho, Nelson Abran-
tes, Celene Fonseca, Tereza Farias, Roque Tavares, Júlio César Lobo, Gideon
Rosa, Renato Carvalho, Luís Alfredo Galvão, Amoros Sólon, Carlos Pita, Dil
Assis, entre outros.
® BIN: 50744-0

Beija-Flor – Clube dos Trovadores Capixabas, Vitória (ES), 1981


Contendo trovas, propagandas de publicações dos autores filiados ao clube
indicado no título, homenagens a escritores, informes de seminários e encon-
tros de literatura, notas de lançamentos de livros, informações gerais sobre o
clube, reproduções de conteúdo de outras publicações, informes para leito-
res associados, notícias sobre cultura e projetos de lei relativos à trova, entre
outras coisas, a publicação era editada pelo presidente do clube, Clério José
Borges de Sant’Anna (que continuaria no cargo até a década de 1990), secre-
tariado por Luís Carlos Braga Ribeiro.
® BIN: 43926-6

Beijo – Rio de Janeiro (RJ), 1977


Tabloide mensal cultural, político e opinativo de alto nível intelectual.
Lançado no Rio de Janeiro (RJ), em novembro de 1977, por Júlio César
Montenegro, Ronaldo Brito, Genilson Cezar e Caio Túlio Costa, discutia po-
lítica, comportamento, sociologia, arte contemporânea, sexualidade, literatu-
ra, música, libertação da mulher, luta de classes, capitalismo, medicinal social,
violência, direitos humanos, cinema, artes visuais, questões agrárias, intelec-
tualidade e cultura marginais, Assembleia Constituinte, entre outros temas.
® BIN: 57546-1

Berro – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Tabloide mensal sindical de esquerda, denunciativo e político. Foi lançado
no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 1978. Focava em campanhas salariais,
140 Anais da Biblioteca Nacional • 140

repressão policial, movimentos de base, medidas econômicas do governo, po-


pulações marginalizadas, ações de sindicatos, desemprego, anúncios de greve
etc. Editado sob a responsabilidade de Nilo Sérgio S. Gomes, era produzido
formalmente pela Editora Equipe, que contava com um coletivo composto
por Enock Cavalcanti, Luiz Gonzaga, Ricardo David, Carlos Eduardo, Fer-
nanda Jocenir, entre outros.
® BIN: 57545-3

Berro da Baixada Fluminense – Nova Iguaçu (RJ), 1978


Minitabloide semanal lançado em Nova Iguaçu (RJ) em março de 1978.
Editado pela Equipe Produções, Publicidades e Representações Ltda. Abor-
dava prioritariamente assuntos críticos do cotidiano local, lançando mão de
manchetes e títulos repletos de indignação. Tinha conselho editorial compos-
to por Adalberto Cantalice, Enock Cavalcanti, Luis Ferrão, Everaldo Maciel
Monteiro e Jocenir Cruz Ribeiro.
® BIN: 58520-3

Bloco – São Paulo (SP), 1979


Jornal mensal, de temática política. Surgido em 1o de maio de 1979, tinha
como público-alvo o proletário, era defensor dos direitos dos trabalhadores.
Editado por Edmilson Silva Costa, era propriedade da Editora Juruá Ltda.;
tinha formato standard e distribuição nacional. Noticiava, discutia e denun-
ciava assuntos como tortura e morte de presos políticos, corrupção e escân-
dalos da política nacional, desastrosos pacotes econômicos, greves e demais
manifestações sindicais, movimentos populares, dificuldades do operariado,
tentativas de intimidação a líderes sindicais, contratos de risco, a agressividade
de multinacionais etc.
® BIN: 58236-0

Boca de Cena – Rio de Janeiro (RJ), 1980


Publicação cultural, de entretenimento e variedades, lançada em julho de
1980 no Rio de Janeiro (RJ). Trazendo artigos, reportagens, notícias, fotos,
anúncios e notas e comentários sobre espetáculos e atividades culturais, não
tinha expediente. Na década de 1990 o Sindicato dos Artistas e Técnicos em
Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated/RJ) passou a
editar um jornal também chamado Boca de Cena, provavelmente inspirando-
-se na publicação homônima da década de 1980.
® BINs: 54392-6 e 54394-2

Boca no Trombone – DCE da UFF, Rio de Janeiro (RJ), 1976


Tabloide político-estudantil lançado no Rio de Janeiro (RJ) em junho de
1976. Era focado primordialmente em assuntos relativos ao ensino e consistia
Anais da Biblioteca Nacional • 140 141

em uma publicação universitária cultural e política produzida por estudantes


do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e do Diretório Acadêmico da
Universidade Federal Fluminense (UFF), e por membros do Centro Acadê-
mico Roquette Pinto, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio).
® BIN: 49119-5

Bolão – Rio de Janeiro (RJ), 1970


Minitabloide esportivo semanal lançado no Rio de Janeiro (RJ) em agosto
de 1970. Apesar de especializado em futebol, trazia abordagens diferenciadas
do restante das publicações esportivas da época: intelectualizava e politizava
o tema. Criado e dirigido pelos editores d’O Pasquim, circulava nos mesmos
moldes do tabloide humorístico: era um semanário crítico, irônico, informal,
irreverente, criativo e popular, repleto de gírias e piadas. Formalmente pre-
sidido por Tarso de Castro e dirigido por Paulo Francis e José Grossi, tinha
Sérgio Cabral como editor chefe. Bolão ainda possuía um conselho editorial
composto por João Luiz de Albuquerque e Hélio Macedo Soares. Era pro-
priedade da Editora O Bolão Ltda., produzido pela Cosanostra Produções
Jornalísticas Ltda.
® BIN: 6883-7

Boletim – Banca Nacional de Literatura Independente, Rio de Janeiro


(RJ), 1983
Publicação modesta lançada pela Banca Nacional de Literatura Indepen-
dente, no Rio de Janeiro (RJ) em junho de 1983. Editada por Douglas Car-
rara e Jania Cordeiro, funcionava, sobretudo, como um espaço de venda e
distribuição de livros, com dezenas de anúncios de obras, seus preços e pe-
quenas citações. Paralelamente, o periódico apresentava pequenos informes
do mundo literário marginal, poemas, anúncios de lançamentos e concursos,
divulgações de projetos culturais. A publicação fora substituída em dezembro
de 1987 pelo periódico Banca do Pó-Etá (BIN: 46701-4), que circulava atra-
vés da Ribro Arte Editora.
® BIN: 42875-2

Boletim Cultural – Rio de Janeiro (RJ), 1972


Modesto periódico mensal criado e editado no Rio de Janeiro (RJ) a partir
de janeiro de 1972. Foi fundado e inicialmente editado por Paulo Carneiro,
sob a coordenação de L. Paula Lopes. A publicação continha o subtítulo
“Mensário de Divulgação Literária”, e possuía “Tiragem reduzida, somente
para colaboradores, mantenedores e centros culturais”, tendo, de acordo com
o seu editorial de 1ª edição, “[...] um corpo de colaboradores mantenedo-
res, com contribuição mínima, apenas para cobrir a despesa do papel e da
142 Anais da Biblioteca Nacional • 140

impressão”. O Boletim Cultural basicamente consistia em folhas de papel


ofício grampeadas.
® BIN: 30602-9

Boletim do DCE UFF – Niterói (RJ), 1972


Jornal estudantil lançado por volta de 1972 pelo Diretório Central dos
Estudantes da Universidade Federal Fluminense (UFF), o DCE Livre Fernan-
do Santa Cruz, em Niterói (RJ). Reproduzido inicialmente a partir de folhas
datilografadas em fotocópia, para num segundo momento sair a offset, teve
periodicidade muito irregular.
® BIN: 495085

Boletim do DCE UFRJ – Rio de Janeiro (RJ), década de 1980


Jornal criado no Rio de Janeiro (RJ) na década de 1980. De cunho políti-
co, reivindicativo, de crítica, denúncia e opinião, era relativo ao movimento
estudantil e à vida acadêmica da UFRJ. Com cartuns e diagramação simples,
circulava em formato minitabloide.
® BIN: 48697-3

Boletim do Grupo Gay da Bahia – Salvador (BA), 1982


Criado em Salvador (BA) em 1982 (provavelmente no mês de junho),
foi um jornal mimeografado com notícias gerais para o público homossexu-
al, bissexual e transexual. Trazia denúncias, opiniões, informes gerais, letras
de músicas, apelos contra a discriminação e o preconceito, as conquistas do
Movimento Brasileiro de Libertação Homossexual e do Grupo Gay da Bahia,
bem como endereços e divulgações de encontros, paradas e outros grupos e
associações LGBTQIA+.
® BIN: 41627-4

Boletim Informativo UNE – São Paulo (SP), 1980


Lançado em São Paulo (SP), em dezembro de 1980, como um informa-
tivo sobre as atividades e ações da União Nacional dos Estudantes, gestão
1980/81. Continha resoluções, avaliações, plataformas de lutas e de políti-
cas gerais do movimento estudantil, assim como relatórios sobre encontros e
congressos e convocações para mobilizações e boicotes. Do número 1 ao 4,
consistia em folhas de papel A4 grampeadas. A partir do número 5, passou
a ter diagramação simples e a ser identificado como produzido pelo Centro
Acadêmico de Filosofia e Comunicação da PUC de São Paulo, reproduzido
por prensa em formato minitabloide.
® BIN: 48712-0
Anais da Biblioteca Nacional • 140 143

Boletim Literário – Jacareí (SP), 1981


Minitabloide cultural lançado em 1981(?) no município de Jacareí (SP).
Possuía o título adicional “Boletim Literário Lebem”, já que formalmente
pertencia à editora Lebem Publicações Ltda. Dirigido por Francisco S. Ba-
tista, secretariado por Neusa Silveira, o jornal era definido como “Órgão sem
periodicidade de propaganda de livros”. Trazia entrevistas com autores inde-
pendentes, críticas de livros, resumos, resenhas e notas de lançamentos, entre
algumas fotografias. Sua composição e produção ficavam por conta da gráfica
Proposta Editorial.
® BIN: 41874-9

Boneca do Leblon – Rio de Janeiro (RJ), 1975


Tabloide lançado no Rio de Janeiro (RJ) em dezembro de 1975. Publicado
pela Boneca Editora, circulou com José Antonio Duque como chefe de reda-
ção e um conselho editorial composto por Fernando Lopes, Laércio Alves e
Otelo Caçador. Apesar de sua proposta de jornal de bairro, relativo apenas ao
Leblon, o periódico tratou de assuntos gerais, normalmente ligados à cultura
e ao humor.
® BIN: 20759-4

Borbulhando Poesia – Rio de Janeiro (RJ), 1985


Pequeno informativo cultural, criado em 1985(?) no Rio de Janeiro (RJ).
Trazendo poesia marginal e pequenos informes, o periódico era editado como
panfleto, medindo 21 x 10 cm (era na verdade uma folha de 29,5 x 21 cm
dobrada em três). Sua reprodução era feita por fotocópia, artesanalmente.
Provavelmente ligado ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, era edi-
tado por Victor Moraes.
® BIN: 44979-2

Botequim – Rio de Janeiro (RJ), 1983


“Um jornal da noite”, surgido no Rio de Janeiro (RJ) em julho de 1983.
Crítico e irreverente, tratava de temas como política, cultura, boemia, hu-
mor e intelectualidade. De certa forma, procurava reproduzir a fórmula de
sucesso de O Pasquim, então em franca decadência. Dirigido inicialmente
pelo trio Alcino Soeiro (o editor responsável), Arthur Mangueira Aguilar e
Ricardo Sousa, o jornal circulava através da empresa L,S & Associados, como
mensário.
® BIN: 50585-4
144 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Brasil Democrático – Centro Brasil Democrático (Cebrade), Rio de


Janeiro (RJ), 1978
Tabloide lançado pelo Centro Brasil Democrático (Cebrade), uma or-
ganização de discussão política fundada por Oscar Niemeyer em 1978,
sob influências do Partido Comunista Brasileiro (PCB) – a entidade era a
responsável pelo show que sofrera o popularmente chamado “atentado do
Riocentro” em 1981. Lançado em novembro de 1978, durante o mandato
inicial de Niemeyer na presidência da instituição, o jornal trazia o nome
do mesmo em seu expediente, como diretor. Era favorável ao Movimento
Democrático Brasileiro (MDB) e à Frente Nacional de Redemocratização
(FNR). Editado inicialmente por Renato Guimarães, continha, sobretudo,
informes sobre as atividades do Cebrade junto a movimentos e congressos
de mobilização política. Muitas notícias se baseavam em trabalhos e discus-
sões apresentados em encontros de classe. Em paralelo, figuravam em suas
páginas reportagens, entrevistas, artigos de opinião, relatos de encontros,
debates, denúncias, comentários, fotos, cartas de leitores, anúncios de even-
tos e de publicidade.
® BIN: 48749-0

Brasil Hoje – São Paulo (SP), 1981


Revista mensal de temática predominantemente política, surgida em ou-
tubro de 1981 em São Paulo (SP). Criada por filiados ao Movimento Revo-
lucionário 8 de outubro (MR-8), com apoio de grupos da antiga esquerda
nacionalista, circulou como produto da Editora Quilombo Ltda. A publica-
ção foi dirigida por Ricardo Lessa, Nilson Bueno de Camargo, Walter Codo
e Cláudio Campos. Codo era o diretor responsável, enquanto Lessa assumia
a edição e Camargo, a direção de redação. Altamente nacionalista, costumava
discutir – em linguagem direta e contundente – assuntos como política na-
cional e internacional.
® BIN: 54975-4

Brasil Mulher – Londrina (PR) e São Paulo (SP), 1975


Tabloide político-feminista fundado em Londrina (PR) em dezembro de
1975 (decretado pela ONU o Ano Internacional da Mulher). Com periodi-
cidade oscilante entre mensal e bimestral, era focado na luta pelos direitos da
mulher brasileira, sempre estimulando debates, ideias e reivindicações. Criado
e editado por Joana Lopes com o apoio do Movimento Feminista pela Anistia
(MFA), entidade fundada por Therezinha Godoy Zerbini, boa parte de sua
redação era composta por mulheres militantes do Partido Comunista do Bra-
sil (PCdoB), da Ação Popular Marxista Leninista (APML) e do Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR8). O periódico possuía ainda vínculos
com o grupo de feministas exiladas conhecido como Círculo de Mulheres de
Anais da Biblioteca Nacional • 140 145

Paris. Em 1976, Joana Lopes transferiu a redação do jornal para São Paulo
(SP), onde criou ainda a Sociedade Brasil Mulher.
® BIN: 49123-3

Brasil Poético – Salvador (BA), 1974


Minitabloide cultural lançado em Salvador (BA) em março de 1974 como
“Órgão a serviço dos trovadores populares do Brasil”. Dirigido por Rodolfo
Coelho Cavalcante, sua periodicidade foi muito irregular. Como não possuía
expediente, o periódico trazia poucas informações sobre sua edição, circulação
e possíveis filiações; a partir de abril de 1980, no entanto, passou a circular
como órgão oficial da Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel.
® BIN: 2798-7

Brasil Socialista – Paris (França), 1975


Rústica revista de pequeno formato criada e editada em Lausanne (Suíça),
a partir de janeiro de 1975, pela Ação Popular Marxista-Leninista (APML),
pela Política Operária (Polop) e pelo Movimento Revolucionário 8 de Outu-
bro (MR-8). Viabilizado pelo trabalho de militantes marxistas brasileiros exi-
lados pelo regime militar, residentes sobretudo em Paris, o periódico circulava
clandestinamente no eixo Europa-Brasil, pretendendo auxiliar a concepção
de uma revolução proletária brasileira. Existiam colaboradores do periódico
residentes no Brasil, mas seu editor legal era de Lausanne: no caso, as Nou-
velles Editions Populaires. A gráfica onde a revista era impressa, a Impression
Nouvelle, também ficava na Suíça, mas na cidade de Le Mont.
® BIN: 529303

Cabeça Feita – Rio de Janeiro (RJ), 1980


Minitabloide de humor, poesia e cultura lançado no Rio de Janeiro (RJ)
em outubro de 1980. Anárquico, satírico e politicamente descompromissa-
do. Impresso na Editora Gráfica Luna (e depois pela Editora Gráfica Prensa).
Editado, redigido e diagramado por José Alberto Nobre Porto, o periódico
contava com programação visual e arte de Sérgio Augusto Porto (que depois
passou o cargo a Kaspar M. Hauser) e arte final de Sandra Costa da Silva.
Flávia Savary assinava como ilustradora. Circulava apenas no Rio de Janeiro
como publicação da Satepub Publicações Ltda.
® BIN: 39065-8

Caderno do Painel – Conjunto Residencial da USP, São Paulo (SP),


1980
Publicação literária universitária criada no início da década de 1980 em
São Paulo (SP), pelos residentes do Conjunto Residencial da Universidade
de São Paulo (Crusp). Suas edições circulavam como resultados do Painel da
146 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Literatura Contemporânea, série de eventos ocorrida no Crusp. Editado por


Roberto Luiz dos Santos, organizador do Painel, o Caderno do Painel chegou a
ser composto por Erorci Santana e a contar com a colaboração de Ana Dinorá
e Eliane Argamin, integrantes da Coordenadoria de Atividades Culturais da
USP. Anteriormente, também em ocasião do Painel da Literatura Contempo-
rânea, o CRUSP havia ainda lançado a publicação Painel da Literatura Mar-
ginal (que a BN não possui).
® BIN: 44688-2

Cadernos da Comissão Pró-Índio – São Paulo (SP), 1979


Publicação iniciada em agosto de 1979 em São Paulo (SP), através do
escritório paulista da Comissão Pró-Índio, entidade criada em 1978. Tra-
tando da problemática indígena, foi fundada para combater a falta de co-
municação existente entre entidades indigenistas. Essencialmente crítico e
denunciativo, visando sempre expor a situação das comunidades indígenas
na atualidade. Era coordenado por uma equipe composta por Lux Vidal,
Lygia Marques, Maria Clara Picchetti, Helena Fany Ricardo, Carlos Edu-
ardo Caldarelli e André Amaral de Toral, e contava ainda com conselho
editorial composto pela diretoria da Comissão Pró-Índio. Esta lançou ainda
um jornal chamado apenas Comissão Pró-Índio (que a BN não possui), no
Rio de Janeiro (RJ).
® BIN: 44038-8

Cadernos de Opinião – São Paulo (SP), 1975


Revista cultural e política lançada e editada em São Paulo (SP), a partir
de junho de 1975, por Fernando Gasparian. Seu conteúdo era crítico, den-
so, por vezes acadêmico, e denunciativo. Circulando como publicação de
conteúdo extraído basicamente do jornal Opinião (e também de periódicos
internacionais), também editado por Gasparian, os Cadernos de Opinião con-
sistiam em coletâneas de ensaios, artigos (em coberturas densas e complexas,
típicas do hard news), resenhas, entrevistas, transcrições de depoimentos e
debates de importantes intelectuais da época. Para evitar problemas com a
censura, a partir de sua 3ª edição (número datado de 1975) o periódico
passou a se chamar Ensaios de Opinião (BIN: 41993-1) e a contar com uma
numeração peculiar, em somatória: 2 + 1 (ou seja, 3). A partir de seu número
12, com a liberação da censura, a publicação voltou a sair com a numeração
normal e com o título original. Na edição de número 2 + 3 (5), passaram a
figurar como editores de Ensaios de Opinião Fernando Gasparian e Flores-
tan Fernandes Júnior, sendo este substituído logo na edição seguinte por
Jean-Claude Bernadet. Bernadet, por sua vez, cede o cargo posteriormente a
Dalva Gasparian e Theo Santiago.
® BIN: 41992-3
Anais da Biblioteca Nacional • 140 147

Cadernos de Poesia – São Paulo (SP), sem data


Publicação literária de vanguarda criada em São Paulo (SP) em data inde-
finida. Lançada e mantida pelo grupo Catequese Poética, originado em 1964
e composto principalmente por Lindolf Bell, Rubens Jardim e Luiz Carlos
Mattos. Sua produção editorial ficava a cargo da empresa Línea Graphica
Planejamento de Jornais, Livros, Revistas, Apostilas.
® BIN: 52337-2

Cadernos Literários – Instituto Cultural Português, Porto Alegre (RS),


década de 1980
Publicação especializada em literatura, elaborada pelo Instituto Cultural
Português em Porto Alegre (RS) e dirigida por António Soares (também di-
retor da instituição, junto com Rovílio Costa). Sua data de lançamento gira
em torno do início da década de 1980 (sua 6ª edição é datada de 1982, sem
registro de mês). Circulou ao menos até o final da década de 1980.
® BIN: 41870-6

Campanha Nacional pela Reforma Agrária – São Paulo (SP), 1983


Modesto periódico que circulou em São Paulo (SP) entre julho de 1983
e 1990. A Campanha Nacional pela Reforma Agrária foi iniciada em 28 de
abril de 1983, no Rio de Janeiro, como “(...) promoção conjunta da Contag
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), Ibase (Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), Abra (Associação Brasileira de
Reforma Agrária), CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e Cimi
(Conselho Indigenista Missionário)”. A publicação era um “Boletim especial
da campanha em S. Paulo”. Inicialmente, o periódico teve ainda a colaboração
do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio (SP).
® BIN: 625060

Campanha Nacional pela Reforma Agrária Informa – Rio de Janeiro


(RJ), década de 1980
Boletim informativo da Campanha Nacional pela Reforma Agrária cria-
do no Rio de Janeiro (RJ) provavelmente na primeira metade da década de
1980. Apresentava-se como produção da Secretaria da Campanha Nacional
pela Reforma Agrária, sob a legenda das organizações Contag (Confedera-
ção Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), CPT (Comissão Pastoral
da Terra), Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária), Ibase (Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), CGT (Comando Geral dos
Trabalhadores) e UNI. A campanha contou ainda com a participação de
outras entidades: Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), Fa-
merj (Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janei-
ro), Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), MST (Movimentos dos
148 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Trabalhadores Rurais Sem Terra), entre outras (ver lista completa de enti-
dades na página 4 da edição no 35, de agosto/setembro de 1989). Parte do
conteúdo transcrito da publicação vinha de periódicos de resistência – como
Porantim, Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, AGEN, Paneiro, Boletim
da CPT, Aconteceu – e jornais da grande imprensa.
® BIN: 45543-1

Canteiro – Salvador (BA), 1983


Modesto periódico cultural surgido em Salvador (BA) em novembro de
1983. Circulando como produto da Editora Grão, era editado por Franklin
Moura e Miguel de Moura Júnior.
® BIN: 44668-8

A Carta – São Paulo (SP), 1976


Jornal semanal opinativo, focado em política e economia. Lançado em São
Paulo (SP) em 1976(?), era propriedade da Editora MM Ltda. e circulava com
o subtítulo “Semanário de política & negócios”. Editado por Cláudio Mar-
ques, o minitabloide contava com o editor-adjunto Ernani Martins Marques,
o secretário Paulo Faria e o redator chefe Antonio Merino. Joaquim Gonzáles
Cáceres assumia a gerência administrativa, Sérgio Orciuolo a gerência comer-
cial e Rudiger Ludemann a gerência de planejamento.
® BIN: 6644-3

Carta Econômica Brasileira – PC, Rio de Janeiro (RJ), 1964


Periódico criado no Rio de Janeiro (RJ), em novembro de 1964 (data de
publicação de edição de no 0). Surgido da iniciativa de jornalistas ligados ao
Partido Comunista (PC), era dirigido por Oscar Noronha Filho e editado
por Saturnino Braga (embora o nome deste não apareça em expediente). Ofi-
cialmente, era uma publicação do Serviço de Pesquisa e Divulgação Sócio-
-Econômica (Sped).
® BIN: 83836

Carta Geral – Manaus (AM), 1980


Periódico mimeografado bimestral literário e poético lançado, em fevereiro
de 1980, em Manaus (AM). Trazia poesias (recebidas por colaboradores ou
transcritas de outras publicações), trovas, contos, ilustrações, dicas de leitura
e curtas notícias gerais sobre literatura independente. Marçal Bezerra e Girão
Alencar figuravam como editores.
® BIN: 44669-6
Anais da Biblioteca Nacional • 140 149

Casa de Literatura – Campinas (SP), 1980


Periódico mimeografado literário mensal, surgido no início da década de
1980, em Campinas (SP). Editado por P. J. Ribeiro, consistia em apenas uma
folha de papel dobrada ao meio, com pequenos textos em prosa, poemas e
poesia visual. Aparentemente, todo o seu conteúdo escrito era produzido pelo
próprio editor.
® BIN: 45004-9

Casseta Popular – Rio de Janeiro, 1978


Inicialmente um fanzine humorístico, rodado em mimeógrafo, surgido no
Rio de Janeiro (RJ) em setembro de 1978, pelo trio Marcelo Garmatter Bar-
retto, Helio Antonio do Couto Filho e Roberto Adler, à época, estudantes da
Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Com medo de represálias, os editores assinaram, respectivamente, como Mar-
celo Madureira, Helio de La Peña e Beto Silva. Extinto em 1992, acabou
sendo um importante periódico humorístico em sua geração, tendo revelado
humoristas que se tornariam reconhecidos em nível nacional, na televisão, por
meio do programa “Casseta & Planeta Urgente!”.
® BIN: 500461

O Catolé – Lavras da Mangabeira (CE), 1978


Periódico cultural e literário fundado por Dias da Silva e José Batista de
Lima em Lavras da Mangabeira (CE) em 8 de outubro de 1978 (apesar de
se dizer editado em Fortaleza). Trazia artigos, ensaios, poesias, trovas, contos,
crônicas, comentários, aforismos, perfis e biografias de escritores, textos infor-
mativos sobre lançamentos da literatura, críticas literárias, resenhas, homena-
gens, manifestos etc., sem possuir sequer uma foto e pouquíssimas ilustrações.
® BIN: 37316-8

Causa Operária – São Paulo (SP), 1979


Periódico inicialmente mimeografado, depois impresso a offset, socialista
trotskista, opinativo e sindical. Lançado em São Paulo (SP) em junho de 1979
(data de edição de seu no 0), trazia artigos e notícias sobre o operariado, mo-
bilizações e movimentos sindicais. Criado por uma dissidência de jornalistas
das publicações O Trabalho (BIN: 15337-0) e Em Tempo (BIN: 46491-0).
Politizado e partidário, não circulava com expediente – na década de 1980,
entretanto, aparecia sob responsabilidade do jornalista Rui Costa Pimenta. O
jornal foi mantido pelo Partido da Causa Operária (PCO), surgido em 1995,
em torno da figura de Pimenta. Ao menos até o final da década de 2000 pos-
suía uma edição eletrônica.
® BIN: 8834-0
150 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Caxias Hoje – Duque de Caxias (RJ), 1980


Minitabloide criado em Duque de Caxias (RJ) em 1980(?) como “Órgão
da Sociedade de Cultura Artística de Duque de Caxias”. Editado por Carlos
Ramos e impresso na Unigráfica Editora Ltda., tratava de temas locais: orça-
mento público de Duque de Caxias, criações de grupos culturais, política na
Baixada Fluminense, infraestrutura local e obras públicas, atividades cultu-
rais, categorias profissionais etc.
® BIN: 57541-0

Caxias Repórter – Duque de Caxias (RJ), 1981


Tabloide lançado em 13 de junho de 1981 pelo editor Santos Lemos, na
cidade de Duque de Caxias (RJ). Foi uma publicação da firma Caxias Recor-
tes – Serviço de Relações Públicas de Cinéia Canuto Lemos. Essencialmente
popular, voltado majoritariamente para casos de polícia e questões sindicais.
® BIN: 57540-2

Ceia Literária – Fortaleza (CE), 1982


Revista lançada em Fortaleza (CE) em 1982 pelo grupo Ceia de Língua
e Literatura (o CLL, fundado por Valdemir Mourão, Felipe Filho e Livardo
Barbosa). Lançada através da Gráfica Editorial Cearense, trazia textos dos três
fundadores da CLL e de outros membros do grupo, como Auriberto Caval-
cante, Fernando Câncio Araújo, Getúlio Farias, Ednardo Gadelha, Cândido
Rolim e Genuíno Sales.
® BIN: 42446-3

Chama – São Paulo (SP), 1982


Publicação literária exclusivamente dedicada à poesia, lançada em março
de 1982 em São Paulo (SP). Continha poemas, resenhas de livros, entrevistas,
notícias gerais sobre literatura independente, divulgação de publicações alter-
nativas, anúncios de concursos literários e eventos culturais e ilustrações. Era
editada por Antonio Palma Filho.
® BIN: 446815

Chão – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Revista trimestral de arquitetura e urbanismo que, de maneira comple-
mentar, abordou criticamente assuntos políticos e culturais. Editada no Rio
de Janeiro a partir de março de 1978 como publicação da Editora Tridimen-
sional Ltda., a publicação pretendia analisar a arquitetura de acordo com sua
inserção em diversos meios sociais (partindo de uma linha denunciativa, com
nuances à esquerda). Os editores do periódico eram Carlos Fernando de Sou-
sa Leão Andrade, Eduardo Campos da Paz Mondolfo e Mauro Kleiman.
® BIN: 32063-3
Anais da Biblioteca Nacional • 140 151

A Chapa – DA de Física da UFF, Niterói (RJ), década de 1980


Periódico estudantil artesanal editado em Niterói (RJ), na década de 1980.
Produzido por alunos do curso de Física da Universidade Federal Fluminen-
se. Tratou de temas como a história da física, pensamentos sobre movimen-
tos de vanguarda da juventude, a situação do ensino brasileiro, problemas e
questões enfrentadas por alunos de exatas durante seus cursos, a necessidade
da criação de uma biblioteca para cursos de exatas, festas, ciclos de debates,
cineclubismo etc.
® BIN: 48881-0

Chapéu de Couro – Fortaleza (CE), 1982


Modesto periódico literário marginal lançado em Fortaleza (CE) em
1982(?). Baseando-se apenas em sua edição no 2, ano 2, de fevereiro de 1983,
era editado por Isaac Rodrigues, Rômulo Júnior e Newton de Miranda, que
assinavam o conselho editorial da publicação (possivelmente os três eram es-
tudantes universitários do curso de Letras).
® BIN: 42182-0

Churros – São Paulo (SP), 1985


Publicação poética lançada em junho de 1985 em São Paulo (SP), editada
por Marciano Vasques em Itaquera, distrito da Zona Leste. Possuía o subtí-
tulo “Boletim literário: poesia” e era impressa em offset, composta e impressa
pela empresa DAPGRAF.
® BIN: 44680-7

Cidade Livre – Brasília (DF), 1977


Tabloide mensal, com reportagens variadas, voltado prioritariamente para
a política e para questões locais. Lançado em Brasília (DF) em janeiro de
1977 (data de registro de seu no 0), funcionava como um espaço para textos
opinativos e de crítica à imprensa convencional. Era influenciado pelo jornal
Movimento (BIN: 31874-4) e trazia o slogan “Um jornal que desconfia”. Di-
rigido e editado por Eduardo Almeida.
® BIN: 47206-9

Ciências Humanas – Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro (RJ),


1977
Revista acadêmica cultural e debatedora, trimestral, lançada no Rio de
Janeiro (RJ) em abril/junho de 1977, através da Universidade Gama Filho.
Priorizando discussões teóricas sobre as ciências humanas, em linguagem for-
mal, a publicação, de acordo com texto editorial, trilhava um caminho de
“análise e debate em torno de temas de interesse intelectual e cultural da atua-
lidade brasileira, abrangendo, também, temas de caráter universalista de nível
152 Anais da Biblioteca Nacional • 140

universitário”. Explorou assuntos como filosofia, política, arte (literatura, ar-


tes gráficas etc.), democracia representativa e suas relações com o governo, re-
lações entre o Estado e a iniciativa privada, psicologia e psicanálise, economia,
comunicação, tecnologia, autoritarismo e liberdade, as relações da arte com a
indústria, desigualdades sociais, capitalismo etc. Foi dirigida inicialmente por
Tarcísio Meirelles Padilha e editada por Beneval de Oliveira.
® BIN: 34941-0

A Cigarra – Santo André (SP), 1982


Periódico mimeografado lançado em Santo André (SP) em maio de 1982
e editado por Jurema Barreto de Souza e Terezinha Sávio, então alunas da Fa-
culdade de Filosofia, Ciências e Letras da Fundação Santo André. Mostrava-se
um canal de divulgação da literatura marginal, pois era articulado com mo-
vimentos de poesia como o Grupo Livrespaço de Poesia, o Projeto Encontro
Poeta/Leitor nas Escolas ou mesmo a União Brasileira de Escritores (UBE).
Foi publicado por mais de 25 anos.
® BIN: 44676-9

Cinema – Fundação Cinemateca Brasileira, São Paulo (SP), 1973


Periódico lançado em mimeógrafo pela Fundação Cinemateca Brasileira,
em São Paulo (SP), e que começou a circular na primavera de 1973. Era
marcadamente crítico, debatedor e engajado, editado com parcos recursos.
Em sua editoria figuravam Alain Fresnot, Alex Yared, Eduardo Poiano, Eliana
Bandeira, Felipe Barcellar de Macedo, Lucila Ribeiro Bernadet, Maria Salma
Buzzar, Reinaldo José Volpato, Sérgio D’Ávila Alamada, Sergio Fiker e Wag-
ner Paula de Carvalho.
® BIN: 44074-4

Cirandinha – Teresina (PI), 1977


Revista inicialmente semestral, lançada em Teresina (PI) no mês de novem-
bro de 1977. Politizada, pretendia “difundir a poesia nova do Piauí”. Editada
por Francisco Miguel de Moura.
® BIN: 8611-8

(Revista) Civilização Brasileira – Rio de Janeiro (RJ), 1965


Publicação de alto nível intelectual, engajada, nacionalista e plural, lançada
por Ênio Silveira no Rio de Janeiro (RJ) em março de 1965. Ligada às bases
intelectuais do Partido Comunista (PCB), era porta-voz do mesmo frente
ao regime militar, ao mesmo tempo em que desenvolvia análises políticas e
críticas ao populismo e às falhas da esquerda brasileira. No gabinete de Ênio
Silveira, chegou a ser organizada uma Frente Ampla, muito pelo trabalho de
Anais da Biblioteca Nacional • 140 153

Renato Archer, ligado à Editora Paz e Terra (um dos selos da Editora Civili-
zação Brasileira).
® BIN: 140597

CLA Informa – Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do


Pará, Belém (PA), 1983
Jornal surgido em Belém (PA) em junho de 1983 como órgão informativo
do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Pará (Ufpa). Com
artigos de temas variados, matérias sobre a vida cultural local e projetos de
extensão da Ufpa, poemas, enquetes e variedades sobre a vida acadêmica local,
era editado por um conselho editorial composto por Ápio Campos, Maria
do Socorro Simões, Afonso Klautau, Claudete Prieto, Nazaré Vieira, Afonso
Lopes Correa, James Burnett, Haydeé Gracy, Célia Brito, Osmar Tadeu, José
Carlos Cunha, Milton Camargo, Eliana Ponçadilha, Hildegard Krause e Mir-
tila Freitas.
® BIN: 39904-3

Clarim – Rio de Janeiro (RJ), 1980


Revista lançada, em 1980, no Rio de Janeiro (RJ). Tratava de política na-
cional e abordava cultura, democracia, políticas partidárias, economia, infla-
ção, eleições, luta de classes, abandono social, legislação, intervenções arma-
das pelo mundo, protestos e marcos da realidade sócio-política internacional.
Dirigida por Raul Soares de Moura Chamma.
® BIN: 36902-0

Clarinadas Líricas – Aracaju (SE), 1979


Modesto periódico mimeografado cultural e literário criado em Aracaju
(SE), aparentemente em setembro de 1979. Editado por Mário R. Barreto
e Celeste Maria Vivas de Souza (que assinava Celmar, deixando a editoria
totalmente para Barreto a partir da 102ª edição, de abril de 1988), circulou
nacionalmente com o subtítulo “Mensageiro poético-cultural”.
® BIN: 45099-5

Cogumelo Atômico – Brusque (SC), 1970


Publicação mimeografada criada em Brusque (SC) na primeira metade da
década de 1970. O periódico abordava predominantemente cultura under-
ground e trazia poemas, indicações de livros ligados à contracultura, notícias,
artigos, fotos, cartuns, fragmentos de livros e artigos transcritos de outras pu-
blicações (como “Frente Ecológica”, órgão do movimento ecológico portu-
guês), listas de representantes da imprensa de resistência.
® BIN: 50273-1
154 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Coisa Nostra – Salvador (BA), 1976


Jornal quinzenal de humor crítico, de temática predominantemente polí-
tica e cultural, fundado em Salvador (BA) em 1976. Trazia notícias, artigos,
opinião, reportagens, poesias, textos de humor, charges, cartuns, ensaios foto-
gráficos etc. Era dirigido por Maria da Graça Costa Olivieri e editado por Hé-
lio Roberto Lage e Josanildo Dias (que também editaram A Coisa, suplemento
do jornal Tribuna da Bahia). Formalmente, circulou sob o selo da Editora A
Coisa Ltda. Claramente inspirado no jornal O Pasquim.
® BIN: 47205-0

O Cometa Itabirano – Belo Horizonte (MG), 1979


Jornal tabloide de humor, política e cultura lançado por um grupo de es-
tudantes em Belo Horizonte (MG) em novembro de 1979. Dentre as pu-
blicações brasileiras surgidas no contexto de resistência ao regime militar, é,
aparentemente, a mais longeva: enquanto algumas fontes de pesquisa susten-
tam que O Pasquim seja detentor de tal marca, com 22 anos de publicação,
O Cometa possui mais de 30, e ainda era publicado regularmente em 2010.
Foi fundado por Luís Eugênio Quintão Guerra (Genin), Lúcio Vaz Sampaio,
Lelinho Assuero e Carlos Cruz – todos, à época, estudantes. Lúcio Sampaio
figurou como o primeiro editor do jornal, e passou o cargo para Marcelo
Procópio em 1988.
® BIN: 57589-5

O Companheiro – Movimento de Emancipação do Proletariado, São


Paulo (SP), 1979
Jornal quinzenal surgido em São Paulo (SP) em 10 de abril de 1979, data
que coincidiu com o aniversário de Lênin e o dia do metalúrgico. Opinativo,
politizado e panfletário, era organizado pelo Movimento de Emancipação
do Proletariado (MEP), uma organização de base que já havia participado
de outras publicações de resistência, como Em Tempo. Era ligado ao Partido
dos Trabalhadores (PT). Seus diretores eram Ronaldo Lapa Aragão (que,
logo após as primeiras edições, abandonou seu posto), Rosane Pinheiros e
Tânia Coelho.
® BIN: 58068-6

Complemento das Artes – Brasília (DF), 1981


Periódico criado em março de 1981 em Brasília (DF), através da editora
Planarte Edições de Arte Ltda. Tinha foco em arte e cultura; era dirigido e
editado por Flávio Marçolla Lott, com Iara Ferreira Lott assumindo sua dire-
toria executiva.
® BIN: 39161-1
Anais da Biblioteca Nacional • 140 155

Comtudo – jornal-laboratório de alunos da Facha, Rio de Janeiro (RJ),


1976
Tabloide universitário lançado no Rio de Janeiro (RJ) em setembro de
1976. Criado como jornal-laboratório da Faculdade de Comunicação e Turis-
mo Hélio Afonso (Facha, atualmente chamada Faculdades Integradas Hélio
Afonso), trazia matérias de enfoque predominantemente estudantil e cultural.
Abordou sobretudo temáticas de interesse do estudante de jornalismo: entre-
vistou grandes nomes da imprensa e da intelectualidade, discutiu a imprensa
independente e os grandes jornais, censura, liberdade, os desdobramentos po-
líticos e culturais do jornalismo, a legislação em torno da imprensa nacional,
quadrinhos brasileiros, linguagem jornalística, deficiências do ensino superior.
® BIN: 48289-7

Comum – Facha, Rio de Janeiro (RJ), 1978


Revista acadêmica de ênfase político-cultural lançada em janeiro de 1978
no Rio de Janeiro (RJ), editada pela Faculdade de Comunicação e Turismo
Hélio Afonso (Facha, atualmente chamada Faculdades Integradas Hélio
Afonso). Discutiu a veracidade no jornalismo, estética, cultura, discursos ide-
ológicos, política, ciências sociais em geral, filosofia, história, educação, cons-
ciência de classe, a formação da comunicação no Brasil, ética, regulamentação
da imprensa, manipulação dos meios de comunicação, nacionalismo, con-
servadorismo, populismo, arte e cultura de massa, uso de drogas, feminismo
etc. Circulava inicialmente sob a responsabilidade de um conselho editorial
composto por Nilson Lage, Sérgio Athayde, José Carlos Rodrigues, Fernando
de Almeida Sá e Carlos Henrique de Escobar.
® BIN: 33592-4

Comunicação – Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Ale-


gre, Porto Alegre (RS), 1975
Tabloide lançado em Porto Alegre (RS), em 1975(?). Circulava como bo-
letim do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre. Crítico, po-
litizado e denunciativo, o jornal apresentava questões sindicais e trabalhistas,
arbitrariedades das empresas de jornalismo do Rio Grande do Sul, problemas
gerais da categoria jornalística e do jornalismo brasileiro, episódios de repres-
são policial. Composto e rodado em offset através da Coojornal, a primeira
cooperativa de jornalistas do Brasil. A diretoria do sindicato de então era ocu-
pada por Antônio Manoel de Oliveira.
® BIN: 46344-2

Comunicação – UFC, Fortaleza (CE), 1979


Jornal-laboratório lançado em 1979(?) em Fortaleza (CE) pelos alunos do
curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará. Em formato
156 Anais da Biblioteca Nacional • 140

tabloide, trazia artigos de opinião, reportagens, entrevistas, notícias, comentá-


rios, fotos etc. Abordou temas como educação, as eleições de 1982, movimen-
tos operários e outras formas de resistência popular, a conscientização política
da juventude, história do jornalismo, cultura brasileira e cearense. Editado
sob a responsabilidade da professora Ivonete Maia.
® BIN: 53627-0

Comunicação IACS – Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF,


Niterói (RJ), 1978
Jornal universitário, lançado em Niterói (RJ) em junho de 1978. “Jornal-
-escola do Instituto de Artes e Comunicação Social” (Iacs) da Universidade
Federal Fluminense, era produzido por alunos como parte da disciplina de
Estágio Supervisionado. Tratou de temas como política, lutas por melhores
salários para o jornalista, sindicalização, julgamento de jornalistas pela Lei de
Segurança Nacional. Teve como coordenadores (ou “orientadores de edição”)
professores como Antonio Theodoro de Magalhães Barros, Merival Júlio Lo-
pes, Manoel José de Mattos, Marialva Carlos Barbosa, Nilson Lage, Muniz
Sodré, João Baptista de Abreu Júnior, José Maria Campos Nascimento, Sônia
Aguiar, entre outros.
® BIN: 48343-5

Comunicação & Política – Centro Brasileiro de Estudos Latino-Ame-


ricanos, Rio de Janeiro (RJ), 1983
Revista acadêmica lançada em março de 1983 no Rio de Janeiro (RJ). Per-
tencia ao Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), uma so-
ciedade civil sem fins lucrativos de pesquisas e intercâmbios multidisciplinares
entre cientistas sociais e políticos, comunicadores, educadores e intelectuais
latino-americanos em geral, em favor de uma via democrática para o desen-
volvimento político-social. Continuava circulando em 2010. Veiculada ini-
cialmente pela editora Paz e Terra, chegou ainda a sair pela Editora Achiamé
e pela Forense-Universitária. Inicialmente, R. A. Amaral Vieira assinou como
seu editor, com um “colégio editorial” composto por Vieira, César Guima-
rães, Herbert José de Souza e Leon Hirszmann.
® BIN: 43352-7

O Comunicador – jornal-laboratório de alunos da PUC de Campinas,


Campinas (SP), 1982
Tabloide surgido em 1982(?) em Campinas (SP), era um “Órgão infor-
mativo e jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, do Instituto de Artes e
Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas”. Era editado
pelo professor José C. Misseno, e tinha a professora Cecília Helena T. Vieira
Anais da Biblioteca Nacional • 140 157

como subeditora. Abordou temas muito variados, como política nacional,


sindicalismo, ecologia etc.
® BIN: 48919-0

Conclave – João Pessoa (PB), 1979


Periódico mimeografado lançado em abril de 1979 em João Pessoa (PB).
Rústico e essencialmente literário, continha poesias, pequenas notícias sobre
o círculo literário marginal brasileiro, informes culturais gerais, críticas de
publicações e poucas ilustrações. Era editado por Luiz Fernandes da Silva.
® BIN: 24487-2

Conflitos de Terra no Brasil – Comissão Pastoral da Terra, Belo Hori-


zonte (MG), 1985
Publicação criada em Belo Horizonte (MG) em 1985(?) pela Comissão
Pastoral da Terra (CPT). Circulando através da Sociedade Editora e Gráfica
de Ação Comunitária (Segrac), o periódico publicava, sobretudo, estatísticas
sobre conflitos fundiários, com grande complexidade de dados. Não trazia
o nome de um editor específico: em 1985, era assinado por Daniel T. Rech,
membro do Conselho Editorial da Segrac e assessor jurídico da CPT.
® BIN: 42083-2

Conhecimento – Curitiba (PR), 1977


Jornal de reflexões filosóficas, científicas, místicas e esotéricas, fundado em
Curitiba (PR) no ano de 1977. Seu subtítulo se formava de uma série de
palavras que deixava clara sua linha discursiva: “Filosofia – Ciência – Gnose –
Antropologia – Psicologia – Esoterismo – Realismo Fantástico”. Dirigido por
Ivete Gusso Lopes e Waldi Hack.
® BIN: 51170-6

Construção – Ceia de Língua e Literatura, Fortaleza (CE), 1982


Publicação literária editada em Fortaleza (CE) pelo grupo Ceia de Língua
e Literatura (CLL). Lançada por Sebastião Valdemir Mourão em julho de
1982, teve subtítulos como “Ceia de Língua e Literatura (C.L.L.)”, “Órgão
de divulgação da C.L.L.” ou “Jornal da Ceia”, abordando, com alguma regu-
laridade, temas comuns no engajamento político à esquerda.
® BIN: 43506-6

O Contestado – Caçador (SC), 1977


Tabloide político criado em Caçador (SC) em 1977(?). Circulou com o
subtítulo “Jornal mensal de opinião” e com o slogan “Independente – Apar-
tidário – Imparcial”. Tocou ainda em temas como política catarinense, a ne-
cessidade da implementação da democracia integral no Brasil, a Guerra do
158 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Contestado, educação no Brasil, as altas taxas de juros na economia nacional,


comunidades indígenas catarinenses, filosofia, assuntos relativos à Igreja Ca-
tólica local e à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) etc. Edita-
do por Guerino Bebber, Nilson Thomé e João Pedro Carneiro.
® BIN: 10167-2

Contexto Cultural – suplemento do jornal A República, Natal (RN),


década de 1970
Suplemento cultural e literário do jornal A República, lançado em Natal
(RN). Embora não expusesse numeração, sabe-se que circulou na década de
1970. Trazia poesias, artigos, contos, ensaios, resenhas e design gráfico expe-
rimental, e contava com inúmeros colaboradores: Manoel Onofre Júnior, J.
Medeiros, Socorro Trindad, Celso Muniz, Manoel Fernandes, Nilson Patrio-
ta, Francisco Sobreira, Luiz Rabelo, Franklin Jorge, Eduardo Antonio Gos-
son, entre outros. A BN não possui BIN específico para Contexto Cultural,
mas possui para A República.
® BIN: 13892-4

Contos & Novelas – Florianópolis (SC), 1978


Revista literária lançada em dezembro de 1978 em Florianópolis (SC),
com o subtítulo/slogan “Revista Catarinense de Ficção”. Era editada por
Glauco Rodrigues Corrêa, que no no 2, datado de 1979, passou a dividir
a função com Silveira de Souza (Pinheiro Neto também viria a ser editor).
Em certo momento teve o apoio da Fundação Catarinense de Cultura, sendo
composto e impresso nas gráficas da Imprensa Oficial do Estado de Santa
Catarina (Ioesc).
® BIN: 36095-3

Convergência Socialista – Movimento Convergência Socialista, São


Paulo (SP), 1978
Tabloide trotskista lançado em São Paulo (SP) em 1978. O Movimento
Convergência Socialista (MCS), ligado a uma das correntes da IV Interna-
cional e dirigido por Nahuel Moreno, surgiu em 1978 do grupo clandesti-
no Liga Operária, formado em 1974 e transformado no Partido Socialista
dos Trabalhadores (PST) em 1978. A partir de 1981, o MCS chegou a
existir como partido político oficial e como tendência interna do Partido
dos Trabalhadores (PT). O periódico foi lançado formalmente pela Editora
Convergência Ltda. Oficialmente, foi dirigido por Jorge Pinheiro, Arnaldo
Schreiner (que permaneceu na direção por boa parte da década de 1980),
entre outros.
® BIN: 51171-4
Anais da Biblioteca Nacional • 140 159

Coojornal – Porto Alegre (RS), 1975


Tabloide mensal predominantemente político, surgido em Porto Alegre
(RS) em 15 de novembro de 1975. Lançado e editado pela Cooperativa dos
Jornalistas de Porto Alegre Ltda., a Coojornal, criada na capital gaúcha em
23 de agosto de 1974 e encabeçada pelo próprio editor-chefe do periódico,
Elmar Bones da Costa, o jornal possuía uma linha ideológica nacionalista e
vários de seus participantes eram ligados ao Movimento Democrático Bra-
sileiro (MDB). Pelo seu estilo sóbrio, chegou a ser chamado de “O Estadão
dos nanicos”. A Coojornal foi a primeira e maior cooperativa jornalística
do Brasil. Chegou a editar, a partir de 10 de maio de 1979, outro jornal
de resistência que obteve relativo destaque, intitulado O Rio Grande (BIN:
582620).
® BIN: 574678

Cordão – Joinville (SC), década de 1970


Publicação literária de linha política e cultural. Lançada em Joinville (SC)
na década de 1970 (possivelmente em janeiro de 1976), trazia artigos, contos,
poesias, notas informativas e indicações de literatura alternativa. Editada por
Alcides Buss.
® BIN: 32506-6

Corpo Extranho – São Paulo (SP), década de 1970


Revista cultural de vanguarda, de linha experimental. Criada em São Paulo
(SP) provavelmente no primeiro semestre de 1976, circulou sob a coorde-
nação editorial de Júlio Plaza e Régis Bonvicino – contando ainda com um
conselho editorial onde figuravam Anna Bella Geiger, Augusto de Campos,
Erthos Albino de Souza, Pedro Tavares de Lima, Regina Silveira e Walter Za-
nini. Era produção da Editora Alternativa.
® BIN: 459038

Correio da Rua – Fortaleza (CE), 1984


Jornal popular e político, de postura fortemente contrária ao governo mi-
litar. Lançado em Fortaleza (CE), em 12 de maio de 1984, era irônico, ácido,
crítico e satírico, semelhante aos pasquins brasileiros do século XIX. Editado
por Aguiar Júnior, o jornal tinha pouco conteúdo, resumido em apenas três
ou quatro pequenas caixas de texto, com pouquíssimas imagens.
® BIN: 46024-9

Correio de Copacabana – Rio de Janeiro (RJ), 1976


Minitabloide crítico e opinativo. Abordava temas como política nacional,
responsabilidades do Estado, arte e cultura, sociedade, entretenimento, se-
xualidade, poesia, moda, questões urbanas do Rio de Janeiro, dívida externa,
160 Anais da Biblioteca Nacional • 140

jornalismo e mídia, altos custos de vida no Brasil, lançamentos de livros e


outras publicações, futebol de praia, comportamento infantil, desordem ur-
bana e poluição, violência e assuntos de polícia, prostituição e variedades do
bairro de Copacabana, tudo em linguagem informal. Era editado por Luiz
Augusto Marones.
® BIN: 46027-3

Correio de Poesia – João Pessoa (PB), 1979


Periódico literário mimeografado, essencialmente poético, lançado em
João Pessoa (PB) em janeiro de 1979. Trazia poemas (em geral enviados pelos
seus leitores), poucas notas sobre o mundo literário, pequenos artigos, in-
formes gerais, resenhas e notícias, e circulava sob a responsabilidade de Luiz
Fernandes da Silva.
® BIN: 46034-6

Correio Sindical de Unidade – Europa (editado por exilados) e São


Paulo (SP), década de 1970
Jornal lançado provavelmente na década de 1970 por exilados brasileiros
na Europa (baseados em Moscou, Paris e Bruxelas). Sua 7ª edição, ano 2, da-
tada de janeiro de 1980, marca uma segunda fase da publicação, quando passa
a ser editada no Brasil, em São Paulo (SP). Fundado por Roberto Morena (fa-
lecido em 1978), o jornal pertencia formalmente à Editora Correio Sindical
Ltda. e era editado inicialmente (ao menos em sua fase brasileira) por Marco
Moro, com Annibal Fernandes assinando como jornalista responsável e Inácio
de Almeida como secretário de editoração.
® BIN: 49135-7

Corrente – Associação Artística Cultural de Pirapora, Pirapora (MG),


sem data
Jornal de caráter político e sociocultural, surgido em Pirapora (MG) em
data indefinida (sabe-se, contudo, que sua 55ª edição é datada de junho de
1981). Publicado formalmente pela Associação Artística Cultural de Pirapora
(ao menos em suas primeiras edições), o periódico tratava essencialmente de
assuntos locais. Dirigido por José Carlos Costa.
® BIN: 57350-7

Cotrijornal – Cooperativa Regional Tritícola Serrana Ltda., Ijuí (RS),


1973
Tabloide criado em Ijuí (RS) em julho de 1973 pela Cooperativa Regional
Tritícola Serrana Ltda. (Cotrijuí). Era um “Órgão de circulação dirigida ao
quadro social, autoridades, universidades e técnicos do setor, no país e ex-
terior”. Crítico, direto e reivindicativo, sempre enxergando o ponto de vista
Anais da Biblioteca Nacional • 140 161

do pequeno produtor rural, explorou reforma agrária, manifestações popu-


lares, lutas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, questões trabalhis-
tas ligadas à atividade rural, luta pelo reconhecimento profissional feminino,
problemas de infraestrutura em comunidades rurais, preservação ambiental,
agricultura sustentável.
® BIN: 53631-8

Crítica – Rio de Janeiro, 1974


Tabloide semanal essencialmente cultural, lançado no Rio de Janeiro em
2 de agosto de 1974. Combativo, crítico, polêmico e nacionalista, dedicava
parte de sua linha editorial a discussões sobre política (nacional e internacio-
nal), música, literatura, contracultura, censura, ideologia, justiça, conflitos
armados, artes visuais, teatro, cinema, comunidades indígenas, questões urba-
nos, sociedade brasileira, economia, filosofia, democracia, educação, religião,
esportes, entre outras temáticas. Ligado ao Movimento Democrático Brasi-
leiro (MDB), era dirigido e editado por Gerardo Mello Mourão, um de seus
fundadores, contando com Inácio de Alencar como chefe de redação.
® BIN: 2848-7

Cultura Guanduense – Baixo Guandu (ES), 1984


Periódico cultural literário, especializado em trovas, lançado em Baixo
Guandu (ES) em setembro de 1984 pelo Clube de Trova e Poesia Guan-
duense – fundado em 26 de maio daquele ano. Em seu primeiro número, a
publicação era editada de maneira artesanal, composta por quatro folhas de
papel ofício mimeografadas em apenas uma face. Trazia, nesta edição, trovas,
registros de lançamentos de livros independentes. Editado por Leonita Bor-
chardt e Alair Pinheiro da Silva.
® BINs: 42762-4 e 57610-7

Cultura & Tempo – Recife (PE), 1977


Publicação cultural lançada no Recife (PE) em 15 de agosto de 1977.
Trazia reportagens, entrevistas, ensaios, transcrições de debates, poemas,
contos, crônicas, pequenas notícias, críticas literárias, resenhas, editais de
concursos literários, e discutiu temas como poesia marginal, revelações da
poesia brasileira, engajamento social na arte, literatura feminina. Entre inú-
meros colaboradores e correspondentes, contava com Clodomir Montei-
ro, Joaquim Branco, Reinoldo Atem, Cinéas Santos, Mário de Oliveira,
Franklin Jorge, Raimundo Caruso, Aristides Klafke, Mauro Motta, Tanussi
Cardoso, Hamilton Faria, David Gonçalves, Jaci Bezerra, Alberto Cunha
Melo, entre outros.
® BIN: 3175-5
162 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Curto Circuito – Niterói (RJ), 1985 ou 1986


Inicialmente um jornal/fanzine focado no cenário musical do rock e do
pop dos anos 80, nacional e internacional, lançado em Niterói (RJ) entre
1985 e 1986. Trazia artigos sobre bandas de rock e respectivas discografias,
letras de músicas, entrevistas, anúncios e críticas de álbuns, propondo-se ain-
da a analisar novas bandas amadoras que enviassem seu conteúdo musical à
redação. Editado por Miguel Vasconcellos, num segundo momento circulou
em formato tabloide.
® BIN: 48221-8

Debate Sindical – Sindicato dos Bancários de São Paulo, São Paulo


(SP), 1983
Lançado em São Paulo (SP) em fevereiro de 1983, era um “Órgão do Sin-
dicato dos Bancários de São Paulo” (não deve ser confundido com o Debate
Sindical,lançado pela Central Única dos Trabalhadores em 1986). Impresso
em offset pela Editora Joruês, com produção gráfica assinada pela empresa Ar-
tes & Ofícios, circulou em formato de revista. Dirigido por Rui Sá Silva Bar-
ros, Luís Antônio Alves Azevedo e Luiz Gushiken, com Júlio de Grammont
como jornalista responsável, era extremamente crítico e anticapitalista, defen-
sor das lutas dos trabalhadores (redução da jornada de trabalho sem arrocho
salarial, estabilidade no emprego, correção salarial conforme inflação etc.),
pregando a transformação social, a organização de um novo poder e a paz.
® BIN: 41457-3

De Fato – Belo Horizonte (MG), 1976


Jornal predominantemente político, surgido em Belo Horizonte (MG) em
janeiro de 1976. Nascido de uma rebelião de um grupo de jornalistas que
trabalhava no Jornal de Minas (onde o editor Afonso Paulino costumava de-
fender os órgãos governamentais de repressão), o periódico fora inspirado em
Binômio (BIN: 6854-3), um jornal crítico e humorístico que incomodava
filões conservadores da política mineira nas décadas de 1950 e 1960, extinto
com o golpe militar de 1964. Criado e editado por Aloísio Morais Martins,
era produto da Editora Textual Ltda.
® BIN: 48053-3

De Olho – Centro de Estudos e Ação Social, Salvador (BA), 1979


Publicação bimestral lançada em 1979(?) em Salvador (BA). Circulou
identificado como suplemento dos Cadernos do CEAS, do Centro de Estudos
e Ação Social, embora fosse vendido de modo avulso. Focava em temas exclu-
sivamente políticos e com ênfase popular, de forma didática e em linguagem
de fácil compreensão.
® BIN: 45403-6
Anais da Biblioteca Nacional • 140 163

Desafio – alunos da Gama Filho, Rio de Janeiro (RJ), 1979


Jornal estudantil lançado em outubro de 1979, no Rio de Janeiro (RJ)
por alunos do Curso de Comunicação Social da Universidade Gama Filho
(UGF). Duramente crítico à universidade, que no dizer de seus editores
censurava matérias que desagradassem à direção do Departamento, discutia
questões do movimento estudantil. Editado por Jackson Nogueira do Nas-
cimento, Nelson Carlos de Souza e Silva, Arlete Bonelli Henrique de Faria,
José Carlos de Mattos Martins, Marcos Teixeira Campos e Sérgio Ney de
Carvalho Cardoso.
® BIN: 49548-4

Desafio de Hoje – Rio de Janeiro (RJ), 1981


Autodefinido como “o jornal do deficiente”, foi um tabloide dirigido so-
bretudo a pessoas com necessidades especiais e lançado em 31 de outubro
de 1981 no Rio de Janeiro (RJ). Fundado no Ano Internacional das Pessoas
Deficientes por Diana Mendes Pimentel Spohn, discutia questões relativas a
direitos humanos. Circulando pela Editora Oásis, era dirigido por Maria The-
rezinha C. L. de Oliveira (que era também gerente administrativa da Editora
Oásis nos primeiros tempos da publicação) e tinha Altenir Rodrigues como
editor-chefe inicial.
® BIN: 48541-1

Dimensão – Uberaba (MG), 1980


“Revista de poesia” de vanguarda surgida em julho de 1980 em Uberaba
(MG). Editada por Guido Bilharinho, trazia sobretudo poemas – o conteúdo
total de algumas edições iniciais – e textos em prosa, mas também notícias so-
bre literatura, artigos sobre cultura (focando novas correntes poéticas, espaços
culturais, arte contemporânea, traduções, órgãos públicos culturais, o ensino
das artes, a arte engajada, movimentos literários, a desvalorização social da
arte, periódicos culturais em Uberaba, entre outros temas).
® BIN: 36759-1

Direto – Rio de Janeiro (RJ), 1980


Mensário fundado no Rio de Janeiro (RJ) em janeiro de 1980 pelo jorna-
lista Stenka do Amaral Calado. Criado por iniciativa de um grupo dissidente
do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi lançado para contestar
o partido, à época liderado pelo governador fluminense Chagas Freitas. Seu
grupo idealizador era formado por lideranças populares emedebistas mais li-
gadas ao pensamento de esquerda (o então deputado federal Lysaneas Maciel
e seguidores de Leonel Brizola e Saturnino Braga). Essencialmente político e
altamente crítico, o jornal por vezes saiu com o subtítulo “A voz do Rio aflito”.
® BIN: 57512-7
164 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Distanteresina – Teresina (PI), 1977


Tabloide de poesia vanguardista, lançado em Teresina (PI) em fevereiro de
1977. Produzido por um coletivo: Ferdinand Cavalcante, Fábio Torres, Fran-
cisco Martins, Cineas Santos, Luís Gomes, Carlos Ramos, Fernando Costa,
Assai Campelo, Carivaldo Marques, Vilson e Nelson.
® BIN: 49595-6

D’Lira – Juiz de Fora (MG), 1983


“Revista de arte, política, literatura, etc.”, de vanguarda, lançada em Juiz
de Fora (MG) em abril de 1983. Composta e impressa em sistema offset na
Esdeva Empresa Gráfica Ltda. Foi inicialmente editada por Fernando Fábio
Fiorese Furtado e José Henrique da Cruz.
® BIN: 44774-9

Ecoação – Instituto de Preservação e Controle Ambiental da Secretaria Es-


pecial do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, Campo Grande (MS), 1985
Periódico ambientalista e educativo definido como “Órgão informativo do
Núcleo de Educação Ambiental” do Instituto de Preservação e Controle Am-
biental (Inamb), órgão da Secretaria Especial do Meio Ambiente do Governo
do Estado de Mato Grosso do Sul. Lançado em Campo Grande (MS), em sua
edição no 1 do ano 1, de setembro de 1985, explorou temas como recursos
naturais renováveis, práticas de educação e fiscalização ambientais para a po-
pulação em geral, questões ambientais na Assembleia Nacional Constituinte,
exploração de recursos minerais, agentes poluentes, ações nocivas do Fundo
Monetário Internacional (FMI) no Brasil e eventos do Inamb. Editado por
João Pedro Cuthi Dias e Lúcia Santos Lopes.
® BIN: 44560-6

EcoZoornal – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Tabloide quinzenal lançado no Rio de Janeiro (RJ) entre 13 a 26 de março
de 1983. Defensor do equilíbrio ecológico, contrário ao extermínio de ani-
mais e à devastação da flora. Editado por Carlos Sampaio, vinha com reporta-
gens sobre políticas ambientais, ecoturismo, saúde, vegetarianismo, medicina
veterinária, animais de estimação etc.
® BIN: 51111-0

Edição do Brasil – Belo Horizonte (MG), 1983


Jornal criado em 1983(?) em Belo Horizonte (MG) através da Editora
Boa Notícia Ltda. (uma cooperativa de jornalistas e publicitários). Além da
política nacional, tratou de temas como política mineira, eleições diretas, o
golpe de Estado de 1964, corrupção, economia, Assembleia Nacional Consti-
tuinte, questões agrárias e indígenas etc. Tinha na diretoria executiva Arthur
Anais da Biblioteca Nacional • 140 165

Luiz Ferreira (jornalista responsável), Eujácio Antônio Silva, Márcio Franco


Vidigal, Ariosto Lauro Ferreira e J. L. Alcântara Sendas.
® BIN: 57741-3

Em Tempo – São Paulo (SP), 1977


Semanário predominantemente político de esquerda criado em São Paulo
(SP) em novembro de 1977. Surgiu a partir de uma grande separação do gru-
po editor de Movimento (BIN: 31874-4). Liderados por Chico de Oliveira, os
dissidentes alinhavam-se à corrente conhecida como “nova esquerda”, então
contrária às concepções editoriais de Movimento. A corrente trotskista Cen-
telha aderiu maciçamente ao novo coletivo editorial, seguindo os exemplos
do Movimento de Emancipação do Proletariado (MEP), da Nova Proposta e
da Liberdade e Luta (Libelu). Outras correntes, como o Movimento Revolu-
cionário 8 de Outubro (MR-8) e o grupo Debate, também participaram do
projeto de Em Tempo, viabilizado através da abertura da empresa Época Socie-
dade Anônima (seus acionistas se espalhavam por 11 Estados). Os membros
do conselho editorial do jornal eram Antonio de Pádua Prado Jr. (Paéco),
Bernardo Kucinski, Jorge Baptista, Roberto Ayres, Tibério Canuto e outros.
® BIN: 46491-0

O Emancipador – Magé (RJ), 1967


Minitabloide fundado em 1o de outubro de 1967 por Sebastião Alfredo
dos Santos, no município de Magé (RJ) – especificamente no bairro de Pia-
betá. Dirigido pelo seu próprio criador, o jornal circulava oficialmente como
publicação de uma instituição conhecida como Centro de Pesquisas e Estudos
Cooperativos (Cenpescoop, também dirigido por Sebastião dos Santos) e era
editado através da Cooperativa Mista de Comunicação e Imprensa Alterna-
tiva (Coomcimpra), uma iniciativa que reuniu ainda os grupos/publicações
“Sinba”, “Tição”, “Jornegro” e “Gana”.
® BIN: 48601-9

Encarte – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPR, Curi-


tiba (PR), 1982
Tabloide cultural universitário, lançado em Curitiba (PR) através do Se-
tor de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Editado por Ivens Fontoura, então chefe do Departamento de Arte
do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, o jornal contava com conselho
editorial: Sérgio Kirdziej, João Osório Brzezinski e José Humberto Bogus-
zewski. Destinado, sobretudo, a estudantes de arte, arquitetura, comunicação
visual e desenho industrial.
® BIN: 51110-2
166 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Encontro – Nova Iguaçu (RJ), 1970


Jornal criado em meados da década de 1970 em Nova Iguaçu (RJ) como
órgão informativo do Movimento Amigos de Bairro de Nova Iguaçu (MAB).
Debatedor, politizado e denunciativo, o jornal abordava de forma direta, co-
loquial, indignada e reivindicativa, sobretudo, problemas locais de ordem po-
lítica e de infraestrutura, sempre valorizando a democracia e a unidade de
ação entre os moradores de Nova Iguaçu.
® BIN: 46492-9

Encontros com a Civilização Brasileira – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Revista mensal de política e ciências sociais criada no Rio de Janeiro (RJ)
em julho de 1978. Abertamente libertária e contrária à ditadura militar, nas-
cera a partir da Revista Civilização Brasileira, lançada por Ênio Silveira no Rio
de Janeiro (RJ) em março de 1965. Diretamente ligada às bases intelectuais do
Partido Comunista Brasileiro (PCB), a revista-matriz colocava-se como porta-
-voz do mesmo frente ao golpe militar, ao mesmo tempo em que desenvolvia
análises políticas e críticas às falhas da esquerda brasileira e ao populismo.
Suspensa em dezembro de 1968, com o AI-5, a Revista Civilização Brasileira
teve continuidade dez anos depois em Encontros com a Civilização Brasileira,
que seguia sua linha editorial e era dirigida também por Ênio Silveira (com
Moacyr Félix como editor-chefe). Uma das diferenças entre as duas publica-
ções residia na censura: como fosse editada já durante o processo de redemo-
cratização, o segundo periódico teve relativamente maior liberdade editorial.
® BIN: 443409

Enfim – Rio de Janeiro (RJ), 1979


Semanário político e denunciativo lançado no Rio de Janeiro em 12 de
setembro de 1979. Como era oficialmente uma publicação do Diário de Petró-
polis, pode-se também considerar que o periódico fora lançado em limites pe-
tropolitanos, na serra fluminense. Presidido e dirigido por Miguel Gabizo de
Faria, era editado por Tarso de Castro, trazendo artigos (predominantemente
sobre política e cultura), entrevistas, crônicas, contos, depoimentos, cartuns,
fotos e páginas de humor. A publicação possuía semelhanças com O Pasquim,
muito devido aos seus colaboradores.
® BIN: 57514-3

Engenho – Associação Catarinense de Escritores, Florianópolis (SC),


1980
Jornal de literatura fundado em Florianópolis (SC) pela Associação Ca-
tarinense de Escritores (ACEs) em fevereiro/março de 1980. Anunciava seu
principal propósito: “Compreensão e síntese da realidade catarinense através
da integração dos escritores do Estado: objetivo maior da ACEs nesta hora
Anais da Biblioteca Nacional • 140 167

de fazer”. Inicialmente editado por Bento Silvério, com conselho editorial


composto inicialmente por Pinheiro Neto (à época, diretor da ACEs), Glauco
Rodrigues Corrêa e Silveira de Souza.
® BIN: 46604-2

Ensaio Geral – jornal-laboratório de alunos da UFSM, Santa Maria


(RS), 1978
Jornal laboratório editado pelos alunos do curso de Comunicação Social
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Circulou em Santa Maria
(RS) a partir 23 de junho de 1978 e explorou temas como questões gerais
que cercam a profissão do jornalismo, sindicalismo, política estudantil, arte
e cultura, educação, reformulações no sistema educacional, concentração de
empregos e renda, direitos humanos, vida estudantil, a participação feminina
na política etc. Editado sob a responsabilidade de professores variáveis – Jorge
Castegnaro, Maria Lúcia do Canto, Gaspar Miotto, Paulo Roberto Araújo,
Euclides Torres e Eunice Olmedo.
® BIN: 51172-2

Escrita – São Paulo (SP), 1975


Revista lançada em São Paulo (SP) em 1o de outubro de 1975, de caráter li-
terário e politizado. Seu surgimento, bem divulgado na mídia, e sua linha – um
sucesso no mercado editorial devido à forma simples como tratava a literatura
– colaboraram com a onda de lançamento de publicações literárias de oposição
ao regime militar na segunda metade da década de 1970, como Ficção, Versus e
Anima. Idealizada e editada por Wladyr Nader e circulando através da Vertente
Editora Ltda., teve destaque tanto pelo resgate de autores no ostracismo quan-
to pelo lançamento de jovens escritores brasileiros e de autores estrangeiros
desconhecidos no Brasil, em especial latino-americanos. Com o passar do tem-
po, duas outras publicações vieram a nascer a partir da revista: Escrita Ensaio e
Escrita Livro. Possuía um corpo redatorial inicial composto por Astolfo Araújo
e Hamilton Trevisan, nomes fortes da publicação logo atrás de Wladyr Nader.
® BIN: 20883-3

Escrita Ensaio – São Paulo (SP), 1977


Publicação política e cultural criada em São Paulo (SP) no ano de 1977.
Formalmente lançada pela editora Vertente, trazia entrevistas, depoimentos,
artigos, fotos, e anúncios publicitários. Cada uma de suas edições apresentava
um tema, normalmente proveniente de aspectos políticos, sociais ou culturais
do Brasil. Originada a partir da publicação Escrita (ver acima), era editada por
Wladyr Nader. Em face à censura imposta pelo regime militar, sabe-se que a
publicação possuía registro na Polícia Federal.
® BIN: 32489-2
168 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Escrita Livro – São Paulo (SP), 1977


Publicação literária bimestral lançada em 1977, em São Paulo (SP), pela
revista Escrita (ver acima). Dedicado exclusivamente a textos de ficção pro-
duzidos por autores brasileiros, o periódico era editado por Wladyr Nader e
saía sob o selo da editora Vertente. Em sua 1ª edição, trazia textos de autores
como Moacyr Scliar, Gilberto Mansur, Samuel Rawet, Ricardo Ramos, Ivan
Ângelo e Osman Lins.
® BIN: 32486-8

O Escritor – União Brasileira de Escritores, São Paulo (SP), 1980


Jornal oficial da União Brasileira de Escritores (UBE), teve publicação ini-
ciada em março de 1980 em São Paulo (SP). Defensor das liberdades de-
mocráticas e sempre politizado (ainda mais após sua 15ª edição de maio de
1982), em maior ou menor profusão discutiu e apresentou temas e ques-
tões como terrorismo de Estado contra a cultura, eleições diretas, Assembleia
Constituinte etc. Quando lançado, em março de 1980, era dirigido por Péri-
cles Prade, então presidente da UBE, e editado por Fernandes Neto.
® BIN: 48609-4

Espaço – Juiz de Fora (MG), 1983


Minitabloide cultural criado em Juiz de Fora (MG) como órgão de di-
vulgação do Espaço Cultural – Livros & Artes Ltda. (surgido em setembro
de 1982). Sua edição inaugural, de no 0, foi datada de julho/agosto de 1983.
Dirigido por Rogério de Campos Teixeira, com Walter Sebastião Barbosa Pin-
to como jornalista responsável, o jornal publicou artigos, agendas culturais,
entrevistas, resenhas etc.
® BIN: 55942-3

Espaço Aberto – DA Barros Terra da UFF, Niterói (RJ), 1982


Tabloide estudantil de cunho político, pertencente ao Diretório Acadêmi-
co Barros Terra da Universidade Federal Fluminense (UFF). Lançado, portan-
to, em Niterói (RJ), por volta de 1982, era produzido artesanalmente, com
muitos de seus textos manuscritos. Com poesias, ilustrações, pequenos contos
e matérias transcritas de outros jornais, o jornal tratava majoritariamente de
questões estudantis reivindicativas.
® BIN: 48704-0

Espaço Científico – Belém (PA), 1982


Publicação surgida em Belém (PA) em 1982, ano de lançamento de uma
edição experimental no 0 (o no 1 só viera a sair em 1985). De acordo com sua
edição inicial, foi editado por Nelson Costa Fonseca, Albanir Freitas e Biratan
Porto, mas, no no 1, os dois últimos foram substituídos por Olavo de Faria
Anais da Biblioteca Nacional • 140 169

Galvão e Luiz Carlos Borges. Abordou questões ambientais e indígenas da


Amazônia, machismo na gramática, ciências sociais e ideologia etc.
® BIN: 41907-9

Espaço Cultural – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Jornal lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 1983, quando surgiu sua edi-
ção no 0, um tabloide intitulado apenas “Espaço”. Circulava através da edi-
tora Maison Graphique Artes e Impressões, e seu no 1 só veio a sair em
agosto de 1985. Com direção geral de Salim Abi-Haila, focava assuntos
predominantemente ligados à cultura e à memória do Rio de Janeiro; sau-
dosista, cobrava atenção das autoridades. Paralelamente, também discutia
política nacional.
® BIN: 43864-2

Espaço Montese – projeto experimental de alunos da UFC, Fortaleza


(CE), 1983
Tabloide de bairro lançado em Fortaleza (CE) em dezembro de 1983
como Projeto Experimental de Jornalismo Impresso do Curso de Comuni-
cação Social da Universidade Federal do Ceará (UFC). Focado em proble-
mas sociais, urbanísticos e infraestruturais do bairro de Montese, discutidos
com profundidade. Apresentava linha crítica, favorável às lutas da comuni-
dade local. Orientado pelos professores Júlia de Miranda Canoco e Souto
Paulino.
® BIN: 55940-7

Essas Folhas – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Mimeógrafo literário lançado em 1983(?), no Rio de Janeiro (RJ). Defini-
do com o subtítulo “Folhetim poético informal”, revelava em seu expedien-
te ser “uma publicação independente, transada por Folhas e Ervas, caminho
poético. Queremos trocar idéias e crescer juntos com todos os que curtirem
essas palavras”.
® BIN: 24846-0

O Estado da UFF – DCE da UFF, Niterói (RJ), 1985


Jornal editado por estudantes da Universidade Federal Fluminense com
apoio do Departamento de Imprensa do DCE e do Departamento de Co-
municação e Artes, ambos da UFF, em Niterói (RJ), a partir de dezembro de
1985. Reivindicativo de questões relativas ao movimento estudantil da UFF e
à educação no Brasil, trazia notas e notícias gerais, artigos de cunho sociopo-
lítico, críticos e opinativos, com fotos e ilustrações.
® BIN: 48604-3
170 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Esteio – Centro Mineiro de Cultura Popular, Belo Horizonte (MG),


1977
Jornal minitabloide essencialmente cultural surgido em setembro de 1977
(data de lançamento de edição no 0), em Belo Horizonte (MG), como publi-
cação do Centro Mineiro de Cultura Popular (CMCP). Crítico e debatedor,
foi dirigido, ao menos inicialmente, por Miguel C. Nunes de Queiroz.
® BIN: 53791-8

Estrela da Terra – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Periódico mimeografado lançado em 1983(?) no Rio de Janeiro (RJ), na
Ilha do Governador. Sua 5ª edição não traz data, sinaliza apenas pertencer
ao ano 2, mas, por conta da exposição da programação do projeto “Passa na
Praça que a Poesia te Abraça”, entende-se que o número tenha sido lançado
em 1984. Editado por Alice da Matta Machado, o periódico trazia poemas,
pequenas notícias sobre literatura independente, convites para eventos cul-
turais, anúncios de outras publicações literárias, ilustrações, entre outras
coisas.
® BIN: 24693-0

Estória – Belo Horizonte (MG), 1965


Revista literária trimestral estritamente dedicada à prosa, lançada em outu-
bro de 1965 em Belo Horizonte (MG). Fundada por Wanda Figueiredo, José
Renato de Pimentel e Medeiros, Luiz Vilela, Luiz Gonzaga Vieira, Fernando
Rios e Sérgio Danilo, saía sob o selo da editora Livraria do Estudante. Trazia
contos, fotos, ilustrações e anúncios publicitários e tinha diagramação simples
e bem acabada, o que, devido ao seu formato, aproximava-a de pequenos li-
vros – com imagens escassas e textos não divididos em colunas.
® BIN: 9859-0

Estudante em Marcha – Ubes, Rio de Janeiro (RJ), 1984


Tabloide lançado oficialmente pela União Brasileira dos Estudantes Se-
cundaristas (Ubes) no Rio de Janeiro (RJ) em abril e maio de 1984. Crítico e
politizado, promovia, divulgava e debatia as lutas do movimento estudantil,
com foco em questões como o movimento pelas eleições diretas, a crise no
sistema de ensino nacional, as políticas ineficazes do governo Figueiredo, o
XXIII Congresso da Ubes, o movimento estudantil secundarista e o papel da
juventude na política nacional, a corrida armamentista e a paz mundial fren-
te ao imperialismo dos países desenvolvidos etc. Dirigido por Marcelo Silva
Mata, secretário de imprensa da Ubes.
® BIN: 48246-3
Anais da Biblioteca Nacional • 140 171

Etapa – Organização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos, Rio


de Janeiro (RJ), 1983
Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em novembro de 1983, foi o “Órgão In-
formativo da Organização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos”. Pos-
suía informes gerais, reivindicações, debates, críticas a estruturas sociais que
prejudicam pessoas com necessidades especiais, informações sobre encontros
e textos sobre saúde e esportes. Editado por Virgínia Cavalcanti e Rosângela
Berman em formato tabloide, tinha linguagem popular e informal.
® BIN: 46495-3

Ex- – São Paulo (SP), 1973


Tabloide político e cultural surgido em São Paulo (SP) em novembro de
1973. Nasceu de equipes de jornalistas remanescentes das revistas Realidade
e Revista de Fotografia e dos jornais de resistência Bondinho e Grilo, principal-
mente a partir de Sérgio de Souza, Narciso Kalili e Eduardo Barreto, também
criadores do coletivo Arte & Comunicação. Era dotado de uma forte linha
crítica e narrativa herdada dos primeiros períodos da revista Realidade, extre-
mamente literária. Paralelamente, a publicação buscava distância de partidos
e organizações políticas de oposição à ditadura militar. O no 16 tanto notabi-
lizou quanto decretou o fim de Ex-, ao trazer uma ampla e completa repor-
tagem sobre o assassinato do jornalista Vladimir Herzog por torturadores do
II Exército – o jornal foi o único da imprensa brasileira a abordar o assunto.
Com a ameaça de censura prévia a ser instalada na redação, a equipe editora
decidiu lançar um jornal substituto, chamado Mais Um, datado da segunda
quinzena de dezembro de 1975, que saiu em apenas uma edição.
® BIN: 58087-2

Existe – Rio de Janeiro (RJ), 1985


Modesto jornal criado no Rio de Janeiro (RJ), por um grupo residente no
Morro do Vidigal em janeiro de 1985. Definido como “Jornal independen-
te”, era focado no cotidiano da comunidade local. Editado por Paulo, Dudu
e Bahia.
® BIN: 24697-2

Experimento – jornal-laboratório de alunos da Ufpa, Belém (PA), 1984


Jornal laboratório dos estudantes de comunicação da Universidade Federal
do Pará (Ufpa), lançado por volta de 1984 em Belém (PA). Crítico, opinati-
vo, político, social e cultural, tratava da realidade da educação brasileira, da
situação profissional dos recém-formados em jornalismo, dos acontecimentos
locais da vida acadêmica da Ufpa, entre outros temas de cunho social. Coor-
denado por Ana Petruccelli, Regina Alves e Rosaly Brito.
® BIN: 48598-5
172 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Expressão – Niterói (RJ), 1981


Minitabloide lançado em Niterói (RJ) em 5 de fevereiro de 1981. Noti-
ciando e discutindo assuntos diversos, como política local, política interna-
cional, eleições em Niterói, a série de atentados à bomba promovidos pela
ditadura militar a bancas de jornais que vendessem periódicos contrários ao
poder, a necessidade do fim do regime, questões sindicais, a mulher e o merca-
do de trabalho, personalidades políticas locais etc. Dirigido por Antônio Eu-
gênio Cunha, com Kátia Silva Souza como diretora e jornalista responsável.
® BIN: 58605-6

Extra - Realidade Brasileira – São Paulo (SP), 1976


Revista de periodicidade irregular e temática variada, essencialmente polí-
tica e social. Lançada em São Paulo (SP) em 7 de dezembro de 1976, explo-
rava de maneira excepcional a linguagem do jornalismo literário e do Novo
Jornalismo. Produzida pela mesma equipe dos jornal de resistência Ex-, foi
dirigida por Moysés Baumstein e Sérgio Fujiwara, trazendo grandes reporta-
gens, entrevistas, depoimentos, comentários, contos, poemas, fotos e artigos
sobre temáticas sociais e históricas brasileiras. Assemelhando-se a livros-repor-
tagem, por trazer reportagens centrais em cada edição, chegou a lançar apenas
quatro números, que circularam nacionalmente. A revista foi colocada sob
censura prévia em março de 1977, fator determinante do seu fim.
® BIN: 511307

Faces – Tubarão (SC), 1978


Revista de cultura e literatura criada em 1978(?) em Tubarão (SC). Sua
edição no 1 não traz data, mas um logotipo da Prefeitura Municipal de Tu-
barão, que colaborou para o lançamento do periódico, traz a indicação do
ano de 1978 (o Catálogo de Imprensa Alternativa do Centro de Imprensa
Alternativa e Cultura Popular da Rio Arte diz que a 3ª edição do periódico é
datada de dezembro de 1974). Editada por Elizabeth Daura Claure, Margari-
da Maria Espíndola e Maria Angélica Silvestre.
® BIN: 42179-0

Fato Novo – São Paulo (SP), 1970


Tabloide semanal político e nacionalista, surgido em São Paulo (SP) em
março de 1970. Formalmente, era propriedade da Editora Verde-Amarelo.
Editado inicialmente por Jorge Figueiredo e Frederico Vasconcellos, que assi-
navam apenas como redatores, o jornal foi conduzido por jornalistas ligados
ao Partido Comunista (PC, então clandestino), sendo um de seus principais
articuladores Milton Coelho da Graça, que não aparecia no expediente.
® BIN: 32680-1
Anais da Biblioteca Nacional • 140 173

Favelão – Rio de Janeiro (RJ), 1981


“Um jornal feito por favelados para os favelados”, lançado em novembro
de 1981 no Rio de Janeiro (RJ) em Parada de Lucas. Editado por Célia Fer-
nandes Correia. Didático, era voltado a questões inerentes à favela: direitos
civis em face à opressão social, direito à posse de terra, particularidades e in-
formações gerais sobre associações de moradores, violência policial, passeatas
e mobilização reivindicativas, movimento negro, movimento feminino, pro-
blemas de infraestrutura, engajamento crítico no samba e na cultura popular,
greves, a importância do voto, questões trabalhistas etc.
® BIN: 495042

Fazendo o Amanhã – São Paulo (SP), 1985


Tabloide contestador, debatedor e à esquerda, remanescente de jornais al-
ternativos dos tempos mais críticos do regime militar. Lançado em São Paulo
(SP), em julho de 1985, por um grupo político dissidente do Partido Co-
munista do Brasil (PCdoB), era editado por Ozeas Duarte de Oliveira, com
Sérgio Weigert assinando como jornalista responsável. Era publicado pela
Editora Outubro Ltda. Com inspirações revolucionárias, era explicitamente
adepto do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalha-
dores (CUT).
® BIN: 51213-3

Feira – Rio de Janeiro (RJ), década de 1980


Criada no Rio de Janeiro (RJ), definida pelo subtítulo “Revista dos poetas
independentes”, foi uma publicação lançada por artistas da Feira de Poesia
que ocorria nas calçadas da Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro, entre
1980 e 1981 (mesmo assim, o endereço da publicação é o do Sindicato dos
Escritores do Rio de Janeiro). Contava com poemas, textos em prosa, artigos,
manifestos culturais (como o Manifesto Pornô), listas de periódicos indepen-
dentes, textos transcritos de outras publicações, ilustrações e anúncios publi-
citários, e trazia trabalhos de Antonio Fraga, Samaral, Lapí, Gilberto Pessoa,
Flávio Nascimento, Erivaldo Casan, entre outros.
® BIN: 44657-2

Ficção – Rio de Janeiro (RJ), 1965


Revista literária lançada em setembro de 1965 no Rio de Janeiro (RJ). Tra-
zia o subtítulo “Histórias para o prazer da leitura” durante todo o seu período
de edição e foi apontada como um dos mais importantes centros de produção
ficcional da década de 1970. Apesar de nunca ter sofrido com a censura dos
órgãos de segurança do regime militar, publicou textos literários engajados em
questões políticas e sociais. A revista tinha postura contrária à ditadura e favo-
rável à liberdade de expressão, à profissionalização do escritor e à valorização
174 Anais da Biblioteca Nacional • 140

de autores nacionais (em segundo plano, à de escritores latino-americanos).


Aparecia como editado por Cícero Sandroni, com Antônio Olinto como edi-
tor literário e Roberto Seljan Braga como secretário.
® BIN: 10014-5

Flor do Campus – alunos de Comunicação da PUC-Rio, Rio de Janei-


ro (RJ), 1983
Jornal estudantil lançado no primeiro semestre de 1983 no Rio de Janeiro
(RJ), publicado pelos alunos do curso de Comunicação Social da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Marcos Penido assinava
como editor geral e Maria Cristina Almeida como editora assistente, com su-
pervisão de Fernando Ferreira e Maria Rita Leal. Discutia e noticiava assuntos
e questões em tom crítico e debatedor, algumas vezes denunciativo: políticas
nacional e internacional, luta pelos direitos dos homossexuais, segurança pú-
blica, as relações internacionais promovidas pelos EUA (violentas e imperia-
listas, com ênfase em arbitrariedades e ditaduras na América Latina) etc.
® BIN: 48626-4

Flor do Mal – Rio de Janeiro (RJ), 1971


Tabloide cultural e experimental, poético, lançado no Rio de Janeiro (RJ),
em 4 de novembro de 1971. Fundado pelo jornalista Luiz Carlos Maciel e
pelos poetas Tite de Lemos, Torquato Mendonça e Rogério Duarte, nasci-
do da coluna “Underground” (também chamada “Udigrudi”), que Maciel
mantinha em O Pasquim, o jornal foi, possivelmente, a primeira publicação
brasileira totalmente contracultural. Editado com liberdade criativa extrema.
® BIN ainda não produzido

Folh&tin – alunos da UFRJ, Rio de Janeiro (RJ), 1985


Jornal cultural lançado no Rio de Janeiro (RJ) em julho de 1985, compos-
to em linguagem experimental, feito por alunos da Universidade Federal do
Rio de Janeiro com apoio da Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão
da UFRJ. Continha poesias, ilustrações, textos críticos de arte e textos sobre
a história de artistas, e circulava no formato tabloide. Sua diagramação, sua
periodicidade, seu estilo e seu conteúdo variam muito. Era editado por Anto-
nio Carlos Galetti, Alexandre Correa e Roberto GZB e impresso pelo Serviço
Gráfico da UFRJ.
® BIN: 48711-2

Folha Bancária ABC – Santo André (SP), 1984


Lançado em Santo André (SP), por volta de 1984, foi um tabloide sindical
dos bancários do ABC paulista. Inicialmente semanal, com informes gerais
sobre paralisações, reivindicações, críticas e propostas políticas da luta sindical
Anais da Biblioteca Nacional • 140 175

da classe bancária, possuía filiação com a Central Única dos Trabalhadores


(CUT). Possuía linguagem irreverente, informal e popular. Júlio de Gram-
mont foi seu jornalista responsável.
® BIN: 46484-8

Folha da Baixada – São João de Meriti (RJ), 1984


Tabloide mensal lançado em 28 de junho de 1984 em São João de Meriti
(RJ). Dirigido por Paulo Nascimento, era produto da empresa Briza Nova
Notícias, Publicidade e Responsabilidade Ltda. Reivindicativo e crítico, era
voltado à política e à administração pública na Baixada Fluminense, e des-
tacava desabafos de associações de moradores, carências na infraestrutura e
serviços de utilidade pública locais. Politicamente parecia ser favorável ao Par-
tido Democrático Trabalhista (PDT), com expectativas com relação à Nova
República.
® BIN: 581011

Folha da Luta – DCE da PUC-Rio, Rio de Janeiro (RJ), 1980


Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em abril de 1980, foi um jornal informati-
vo do Diretório Central dos Estudantes da PUC do Rio de Janeiro. De cunho
político, reivindicativo, de crítica e opinião, relativo às lutas do movimento
estudantil, tinha diagramação simples e poucas ilustrações humorísticas. Era
editado em formato tabloide pela Comissão de Imprensa do DCE e por alu-
nos dos cursos de desenho industrial e de comunicação social da PUC.
® BIN: 48592-6

Folha da Semana – PCB, Rio de Janeiro (RJ), 1965


Criada em 2 de setembro de 1965 no Rio de Janeiro (RJ). Jornal político
semanal apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), considerado o
primeiro em protesto à ditadura lançado após o início da mesma. Editado
por Arthur José Poerner, contava com a contribuição de Mauro Lins e Silva,
Sérgio Cabral, Maurício Azêdo (como secretário de redação), Otto Maria
Carpeaux, Ferreira Gullar, Alex Viany, Luis Carlos Maciel, Paulo Francis,
Leandro Konder, entre outros. Não durou muito: acabou sendo fechado em
13 de dezembro de 1966, por pressão do regime. A folha defendeu a anistia
a presos políticos, criticou as concessões feitas ao capital estrangeiro, atacou
a criação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), repudiou a
política de arrocho salarial promovida pelo governo e apoiou a candidatura
de Francisco Negrão de Lima, da coligação entre o Partido Trabalhista Brasi-
leiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD), para o governo do estado
da Guanabara.
® BIN: 100889
176 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Folha de Piqui – Crato (CE), 1983


Tabloide cultural de oito páginas publicado em Crato (CE) a partir de
agosto de 1983. Fundado por um grupo de poetas que o idealizaram no dia
10 de junho daquele ano, circulou pela região do Cariri cearense. Parte dos
textos publicados era produzida por movimentos locais, como o Grupo Cul-
tural Raízes e o Movimento Cultural Flor da Terra. Era dirigida por Carlos
Raphael Dias (responsável pelas finanças) e Leonel Araripe (responsável pela
redação). José Bezerra de Figueiredo Filho assumia ainda a diretoria de arte.
® BIN: 57282-9

Folha Independente – Rio de Janeiro (RJ), 1982


Modesta e politizada publicação literária lançada no Rio de Janeiro (RJ)
pelo poeta Nilo Sérgio Fernandes Oliveira (Nilo Sérgio Fo) em 1982. Tra-
zendo trabalhos de diversos autores, pequenas notas de lançamentos literá-
rios, crítica cultural, comentários reivindicativos em tonalidades pacifistas e
humanistas, programações de eventos culturais, crônicas, notas sobre outras
publicações independentes de poesia, manifestações políticas de indignação,
a publicação era definida como um “fanzine-ego-trip” fundamentado na cul-
tura punk.
® BIN: 47369-3

Folha Sindical – Federação Nacional dos Arquitetos, Porto Alegre


(RS), 1983
Lançado em Porto Alegre (RS) em 1983, foi o jornal da Federação Nacio-
nal dos Arquitetos. Com teor crítico e reivindicativo, trazia discussões e de-
bates sobre questões trabalhistas dos arquitetos brasileiros, convocações para
paralisações e medidas sindicais. Filiado à Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e à Confederação Nacional de Profissionais Liberais, tinha Rafael Gui-
marães como jornalista responsável e era impresso na Editora Proletra.
® BIN: 46497-0

Folhetim da Cultura – Centro de Letras, Artes e Ciências do Vale do


Ivaí, Apucarana (PR), 1985
Fundado pelo Centro de Letras, Artes e Ciências do Vale do Ivaí em Apu-
carana (PR) no ano de 1985(?). Foi um mimeógrafo cultural e literário edi-
tado por Francisco Soares Dias Sobrinho. Trazia poemas, textos sobre profes-
sores e intelectuais locais, informes gerais sobre Apucarana, notícias sobre a
movimentação cultural local, cartas de leitores e listas de endereços de outros
mimeógrafos.
® BIN: 24636-0
Anais da Biblioteca Nacional • 140 177

Folhetim Língua-Viva – São Paulo (SP), 1982


Modesto periódico cultural e literário. Criado pelo Movimento Língua-
-Viva em São Paulo (SP) no mês de julho de 1982. Foi lançado para que “[...]
os poetas possam registrar suas impressões linguais de modo mais duradouro,
e soltá-las por aí, juntamente com a comunicação de recitais e eventos, para ir
de encontro a todas as pessoas que tenham língua e vida”. Trazendo poesias,
textos em prosa, breves perfis de poetas, ilustrações, notícias de eventos cultu-
rais e concursos literários, comentários e dicas de livros, listas de publicações
marginais recebidas por leitores, trechos de trabalhos já publicados e anún-
cios, era editado através da Littera Assessoria Editorial.
® BIN: 43858-8

Folhetim Literário Acauã – Fortaleza (CE), 1985


Periódico criado em Fortaleza (CE) em 1985(?), editado por Sandoval Tei-
xeira e Rinaldo de Fernandes, com Carlos Gilmar Pontes como secretário e
Diogo Fontenelle como redator. Trazia contos, poemas, ensaios, entrevistas,
relações de vencedores de concursos literários, pequenos perfis e críticas de au-
tores independentes, descrições editoriais e endereços para postagem de outras
publicações literárias, ilustrações e fotografias.
® BIN: 44565-7

Fotobahia – Salvador (BA), 1981


Jornal surgido em julho de 1981 em Salvador (BA) através de uma en-
tidade de fotógrafos baianos com o mesmo nome. O grupo focava assun-
tos variados, sempre em torno da fotografia, como práticas de autorretrato,
lambe-lambes, questões trabalhistas da profissão de fotógrafo, perspectivas
da arte no Brasil, associações de classe, exposições, reflexos da inflação em
produtos fotográficos, encontros nacionais de fotografia, convocações para
eventos etc. Era editado por um conselho composto por Adenor Gondin,
Antônio Saturnino, Ieda Marques, Carlos Félix, Isabel Gouvêa, Aristides
Alves, Iraildes Mascarenhas, Renato Marcelo, Rita Barreto, Wilson Besno-
sik, entre outros.
® BIN: 51115-3

Fronteira – Corumbá (MS), 1980


“Um jornal de verdade”, surgido em Corumbá (MS) em 11 de maio de
1980, filiado à Associação Brasileira de Jornais do Interior (Abrajori). Fun-
dado, dirigido e editado por Felipe Porto. Sua linha editorial era essencial-
mente policial e política local, em linguagem crítica, popular e contundente.
Abordava temas como problemas de infraestrutura de comunidades locais,
corrupção, escândalos políticos, violência, justiça, obras e gestões públicas,
178 Anais da Biblioteca Nacional • 140

inaugurações locais, mobilizações populares, integração entre rodovias, eco-


logia, eventos locais etc.
® BIN: 57355-8

Ganga Bruta – Federação dos Cineclubes do Rio de Janeiro, Rio de


Janeiro (RJ), 1978
Jornal reivindicativo sobre o cinema nacional, criado no Rio de Janeiro
(RJ) em agosto de 1978. Lançado sob o selo da Federação dos Cineclubes do
Rio de Janeiro, o periódico é colocado como órgão de defesa do cinema na-
cional. Contém entrevistas e textos crítico-opinativos com relação ao cinema
nacional e à classe trabalhadora cinematográfica, abordando constantemente
as políticas que os regem e restringem. Traz ainda informações gerais e repor-
tagens sobre o meio cinematográfico, suas legislações, as novidades do cinema
brasileiro, catálogos e críticas de filmes e cineclubismo. Era editado por uma
comissão de redação: Maurício Azedo (diretor do grupo), Ana Maria Cava-
lieri, Rubens de Carvalho Neto, Jurandir M. Lopes, Paulo Ubirajara de Jesus,
Nelson Krumholtz e Roberto Houaiss.
® BIN: 51622-8

Gaveta – Olinda (PE), década de 1970


Mimeógrafo literário criado em Olinda (PE), provavelmente na década de
1970. Trazia artigos, poemas, experimentalismo gráfico, pequenas notícias,
quadrinhos, dicas e contatos de publicações e centros culturais alternativos,
textos com perfis e currículos de autores marginais, cartas de leitores e anún-
cios publicitários, e era distribuído gratuitamente através dos “CAMBIU”
(Centros da Arte Marginal Brasileira de Informação e União). De acordo com
sua edição no 10, sem data, os “CAMBIU” foram criados em 1976 pelos po-
etas Marconi Notaro, Unhandei Jara e Paulo Bruscky.
® BIN: 45035-9

Geraes – Centro Cultural Vale do Jequitinhonha, Belo Horizonte


(MG), 1978
Minitabloide lançado em Belo Horizonte (MG) em março de 1978,
“Uma publicação do Centro Cultural Vale do Jequitinhonha” – o CCVJ.
Explorava temas variados, mantendo o foco prioritário em assuntos políti-
cos e sociais do Vale do Jequitinhonha; era favorável a movimentações sindi-
cais, sem, contudo, deixar temas de abrangência nacional de lado. Noticiou
e discutiu política e economia nacional, as Eleições Diretas, lutas e eleições
sindicais, propostas e projetos de políticos locais, os malefícios da ditadura
militar no Brasil, a participação popular na sociedade, questões agrárias,
condições de trabalho para trabalhadores migrantes etc. Inicialmente, o
Anais da Biblioteca Nacional • 140 179

jornal foi editado e redigido por Aurélio Silby, Carlos Albérico Figueiredo,
George Abner e Tadeu Martins.
® BIN: 53532-0

Gilete Press – Goiânia (GO), 1985


Fanzine cultural e politizado publicado em Goiânia (GO) a partir de
1985(?). Representante da “Geração Mimeógrafo”, movimento de mimeó-
grafos literários (com ênfase à poesia marginal) e/ou anarcopunks que movi-
mentou a cultura alternativa brasileira da década de 1970 à década de 1980,
o periódico, além de publicar predominantemente poesia marginal, trazia pe-
quenos manifestos de ordem política à esquerda, em tons pacifistas, culturais
ou ambientalistas. Seu editor: Luiz Antônio de Oliveira (Luiz Fafau).
® BIN: 44967-9

O Grão – Salvador (BA), 1983


Mimeógrafo literário lançado em Salvador (BA) possivelmente em agosto
de 1983. Editado por Francisco Miguel de Moura Júnior e Jorge Ivan Teles de
Sousa, trazia, sobretudo, poesia marginal, além de contos, resenhas, ilustra-
ções, cartuns e anúncios. Na edição no 3, passou a sair sob o selo da Editora
Grão, com também Franklin Morais de Moura como diretor de arte e Fritz
Miguel Morais Moura como assistente de arte.
® BIN: 44682-3

Grilo – São Paulo (SP), 1971


Tabloide de quadrinhos underground, muitas vezes retirados de publi-
cações independentes dos EUA – foi, nesse sentido, a primeira a publicar
Robert Crumb no Brasil. Produto da Espaço-Tempo Veículos de Comunica-
ção Ltda., foi publicado entre 1971 e 1972 em 48 edições. Ligado à contra-
cultura, também deu espaço a cartunistas nacionais. Editado por Sérgio de
Souza e José Carlos Marão, com Narciso Kalili como diretor responsável, era
“Recomendável para adultos”, de acordo com seu conteúdo rebelde, contes-
tador, sensual e pouco inocente. Chegou a ter tiragens de algo entre 30 e 50
mil exemplares, e sofria com a instabilidade administrativa. No seu fim, sua
redação veio a sofrer uma intervenção de censores, o que levou ao seu fecha-
mento. Em novembro de 1973, parte dos colaboradores e editores da revista
fundaram o periódico Ex-.
® BIN: 630373

O Grito – Visconde do Rio Branco (MG), 1982


Jornal estudantil lançado em Visconde do Rio Branco (MG), em 1982(?).
Crítico e politizado, abordava prioritariamente os percalços da política de
sua cidade e de Minas Gerais, em paralelo a notícias e discussões sobre fatos
180 Anais da Biblioteca Nacional • 140

ligados à administração pública – ações de políticos, exonerações, nomeações,


impugnação de vereadores, problemas urbanísticos e falta de infraestrutura
em determinadas localidades (ruas esburacadas, coleta de lixo ineficiente,
trânsito intenso de veículos etc.), obras públicas, corrupção e oportunismo
de autoridades, convenções partidárias, casos de polícia, entre outras coisas.
“Publicação mensal da Frente dos Estudantes Liberais”, dirigido por Aloísio
Soares Lopes (também redator), com Eudes Soares Barboza como “diretor
cultural” e Gladston Luiz Vianna como “diretor jurídico”.
® BIN: 57398-1

Grito da Seca – CNBB, Recife (PE), 1984


Minitabloide lançado em 1984(?) no Recife (PE), através do Setor de Pro-
jetos Alternativos da Regional Nordeste II da Conferência Nacional dos Bis-
pos do Brasil (CNBB). Circulou sob a responsabilidade de Marcos Figueire-
do, Maria Aparecida, Maria José e Paulo Crespo. Trazia reportagens, textos de
apresentação de projetos comunitários, orações de proteção ao povo nordesti-
no, mensagens e paz e esperança, poemas, trovas, notas de falecimento de re-
ligiosos, relações de projetos financiados pela Regional Nordeste II da CNBB,
pautas e avaliações de encontros sobre projetos comunitários, programas de
cursos de capacitação profissional, receitas de soluções caseiras, notícias so-
bre cooperativas etc. Denunciativo e educativo, influenciado pela Teologia da
Libertação, seus assuntos principais eram relativos a trabalhos comunitários
promovidos por instituições variadas, principalmente dioceses e a Regional
Nordeste, mas também sindicatos.
® BIN: 46439-2

HI-SO – Coordenação de Música e Artes Cênicas da UFS, Aracaju


(SE), 1981
“O jornal da sociedade”, minitabloide lançado pela Coordenação de Músi-
ca e Artes Cênicas da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em Aracaju (SE).
Essencialmente cultural, tratou de temas como cinema, festivais (como o IX
Festival Nacional de Cinema), concursos literários etc., publicando artigos,
programas de eventos culturais, fotografias e muitos anúncios publicitários.
® BIN: 48366-4

Hera – Feira de Santana (BA), 1973


Publicação literária lançada em Feira de Santana (BA) em janeiro de 1973
através da Edições Cordel, concebida por um grupo de poetas capitaneado
por Antônio Brasileiro, que assinava em expediente como editor. A revista é
considerada o ponto central da movimentação literária de Feira de Santana
nas décadas de 1960 e 1970.
® BIN: 666327
Anais da Biblioteca Nacional • 140 181

Hoje Cascavel – Cascavel (PR), década de 1970


Minitabloide essencialmente político e social, criado em Cascavel (PR) em
data indefinida (provavelmente meados da década de 1970). Possuía enfoque
majoritariamente local e trazia notícias, artigos, crônicas, notas gerais, páginas
de esportes, horóscopo, fotos, anúncios publicitários, entre outras coisas. Di-
rigido por F. L. Sefrin e editado por Heinz Schmidt.
® BIN: 33267-4

Hora do Povo – MR-8, Rio de Janeiro (RJ), 1979


Semanário político e social, crítico e ideológico, de esquerda. Criado no
Rio de Janeiro (RJ) em 31 de agosto de 1979, foi fundado pelo Movimento
Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), após a experiência deste nas reda-
ções do jornal Em Tempo. Era propriedade formal das Empresa Jornalística
Hora do Povo S. A. ou Hora Serviços Jornalísticos e Editora Ltda. – que
mudou de nome para HP Editora Ltda. no final de março de 1981. Foi, em
seus primeiros anos de publicação, gradualmente radicalizando seu discur-
so (tido como stalinista), e entrou em choque com correntes políticas trot-
skistas, em geral favoráveis ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Em sua fundação, era dirigido por Pedro de Camargo (responsável), João
Urbano de Resende Costa e Cláudio Cardoso, e era editado inicialmente
por Ricardo Bueno. A partir de 1999, Clóvis Monteiro Neto passou a as-
sinar como editor.
® BINs: 58130-5 ou 57044-3

Idéia – São José dos Campos (SP), 1979


Publicação predominantemente cultural surgida em setembro de 1979 em
São José dos Campos (SP), era editada por Paulino Rolim de Moura. Tratava
de política e vida pública locais, ações nocivas de multinacionais, poluição,
corrupção, violência, inflação, concursos literários, conservação de patrimô-
nios históricos, personalidades da política e da cultura joseense, os “descami-
nhos da comunicação” (duras críticas à mídia), literatura, história, problemas
no transporte público local, o futebol profissional como “ópio do povo”, os
males do fumo e do álcool, língua portuguesa e gramática, malefícios da in-
dústria nuclear, a corrida armamentista na Guerra Fria etc.
® BIN: 49161-6

A Ilha – São Francisco do Sul (SC), 1980


Mimeógrafo literário criado em São Francisco do Sul (SC) em junho
de 1980. Inicialmente, foi suplemento literário do jornal O Berro (que a
BN não possui) – como seus editores recebiam muitos textos literários,
decidiram publicá-los em forma de suplemento. Da primeira reunião orga-
nizada entre os autores que haviam enviado textos ao jornal nasceu, assim,
182 Anais da Biblioteca Nacional • 140

o Grupo Literário A Ilha, que se responsabilizou pela publicação de A Ilha


mesmo após o fim de O Berro. Sempre editada por Luiz Carlos Amorim,
“A Ilha” trazia contos, crônicas, perfis de escritores, artigos, informes gerais
e pequenas notícias sobre literatura, ilustrações, dicas de livros e anúncios
publicitários.
® BIN: 44550-9

In-Fin – Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de


SP, São Paulo (SP), 1979
“Boletim informativo dos empregados em financeiras, cadernetas de pou-
pança, bancos de investimentos e sociedades de crédito imobiliário” lançado
em São Paulo (SP) por volta de 1979. Funcionava como o jornal informativo
do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de São Paulo.
Crítico, de caráter político e trabalhista, era dirigido por Antônio Augusto
Oliveira Campos, com Lourdes Fernandes como jornalista responsável. Pro-
duzido pela Oboé Editorial/Jornalismo Sindical, era impresso na Empresa
Jornalística Comércio & Indústria em formato tabloide.
® BIN: 48482-2

Informação: comando jovem da notícia – São Bento do Sul (SC), 1979


Jornal fundado em São Bento do Sul (SC), em 14 de junho de 1979. Ini-
cialmente semanal, depois bissemanal, veiculado às quartas-feiras e sábados.
Depois de um tempo, passou a possuir redação fixada na cidade de Rio Negro
(PR).
® BIN: 57703-0

Informativo CDP – Ferraz de Vasconcelos (SP), 1982


Boletim informativo criado em Ferraz de Vasconcelos (SP) em 1982(?)
pelo Centro de Divulgação da Poesia. Editado por Jacy Gomes de Almeida de
forma artesanal – era um mimeógrafo de cerca de seis páginas formadas por
folhas de papel sulfite dobradas, medindo 21,5 x 16 cm – trazia poemas, tro-
vas, promoções, pequenos perfis de poetas novos, ações do CDP, programação
cultural e listas de publicações independentes recebidas, além de algumas ima-
gens. Dizia-se “Órgão de apoio aos poetas e escritores novos”.
® BIN: 50229-4

Informe Chimbangue – Conselho Indigenista Missionário (CNBB),


Xanxerê (SC), década de 1980
Mimeógrafo indigenista criado pela Regional Sul do Conselho Indigenis-
ta Missionário (Cimi), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil,
no município de Xanxerê (SC). Surgiu possivelmente em meados da década
de 1980. Tratava exclusivamente de questões indígenas, com duras críticas
Anais da Biblioteca Nacional • 140 183

à Fundação Nacional do Índio (Funai), protestos pelo reconhecimento e


demarcação de terras e denúncias de violência e espoliação contra índios e
missionários do Cimi – a saber, roubo de produtos, emboscadas, estupros,
destruição de propriedades, invasão de áreas, ameaças à integridade física,
construção de barreiras em estradas, destruição de patrimônio florestal, em-
boscadas, detenção em cárcere privado, destruição de plantações, questões
judiciais envolvendo colonos e índios, entre outras ações, normalmente a ser-
viço de latifundiários. Cada número trazia textos informativos e/ou denun-
ciativos do próprio Cimi e reproduções de matérias da imprensa em geral, em
duas folhas de papel ofício, grampeadas e em preto-e-branco.
® BIN: 44561-4

Informe CUCA – Circuito Universitário de Cultura do Nordeste


(UFPB), João Pessoa (PB), 1983
Informativo mensal estudantil e cultural, surgiu em João Pessoa (PB)
possivelmente no início de 1983. Enquadrado no Circuito Universitário de
Cultura do Nordeste (Cuca), foi editado pelo Núcleo de Pesquisa e Docu-
mentação da Cultura Popular, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Publicou pequenas notícias, anúncios e informes sobre assuntos como novas
adesões e disposições gerais do Cuca, ações de departamentos artísticos da
UFPB, concursos literários ou de monografias, concursos de composição ou
de roteiros para cinema, prêmios especiais, iniciativas de universidades de fora
da Paraíba, festivais culturais, salões de arte, espetáculos musicais, encontros,
simpósios, pesquisas e trabalhos acadêmicos na área cultural, programações
culturais no circuito universitário, lançamentos de publicações, periódicos
culturais, posse de reitores, reuniões de pró-reitores etc.
® BIN: 41766-1

Inquérito – Curitiba (PR), década de 1980


Fanzine lançado em Curitiba (PR) na década de 1980. Em linguagem mar-
ginal, continha predominantemente elementos da cultura punk dos anos 80,
além de seu caráter crítico e ácido. Composto com a colaboração de vários lei-
tores, tinha diagramação criativa, com várias fotos e ilustrações compostas em
colagens diversas, o que possibilitava um forte impacto visual sobre a revista.
Trazia textos críticos, poesias, textos informativos sobre bandas punks e arte.
® BIN: 48193-9

O Itatiaia – alunos de jornalismo da UFG, Goiânia (GO), 1983


Lançado em Goiânia (GO) em setembro de 1983, foi “Uma publicação
do curso de jornalismo da UFG”, ou seja, um jornal-laboratório produzido
por alunos de jornalismo da Universidade Federal de Goiás, em parceria com
a Associação de Moradores da Vila Itatiaia. Jornal de cunho político, social
184 Anais da Biblioteca Nacional • 140

e cultural, abordava questões locais da Vila Itatiaia, entre outros assuntos ge-
rais: violência, drogas, saúde, saneamento precário, reforma agrária, direitos
humanos, ambientalismo, educação, variedades e descontentamento popular
com diversas questões sociais e políticas. Tinha Maria Beatriz Ribeiro Costa
como professora responsável, entre outros tutores.
® BIN: 48542-0

Jecoaba – São Paulo (SP), 1978


Mimeógrafo literário marginal lançado em São Paulo (SP) no primeiro
trimestre de 1978. Trazia contos e poesias, e era editada por um coletivo com-
posto por Roberto Yutaka, Aristides Klafke, Arnaldo Xavier e Urariano Mota
de Santana. Trazia basicamente contos, poemas, pequenos currículos e infor-
mações sobre os autores independentes publicados e listas com descrições de
periódicos literários marginais.
® BIN: 45034-0

Jerusalém – São Paulo (SP), 1982


Editado pelo jornalista Georges L. Bourdokan. Dedicava-se à denúncia
do genocídio ocorrido no Líbano, e publicou matérias sobre o assassinato
do presidente eleito do pais, entrevistas com residentes no Líbano durante a
guerra e artigos onde se analisavam as consequências da morte do líder árabe
Abdel Nasser.
® BIN: 58187-9

O Jornal de São Miguel Paulista – São Paulo (SP), 1979


Tabloide lançado em São Paulo (SP) em outubro de 1979, aparentemente
com circulação dirigida a São Miguel Paulista, distrito do leste paulistano. Pro-
duzido como jornal-laboratório dos alunos do 6o semestre matutino do Curso
de Jornalismo da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de
São Paulo (USP), foi editado sob a responsabilidade dos professores Carlos Al-
berto Manente, Dulcília H. S. Buitoni, Jomar José Costa Morais, José Coelho
Sobrinho e Paulo Roberto Leandro. Tinha apelo especificamente local, ligado
a problemas sociais e infraestruturais da comunidade de São Miguel: manteve
o foco em personalidades da luta comunitária, problemas de ordem pública
(falta de segurança, educação e atendimento médico), questões agrárias, asso-
ciações de bairro, a recepção dos meios de comunicação, entre outros assuntos.
® BIN: 24844-4

Jornal AQC – Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas, São Pau-


lo (SP), 1985
Minitabloide criado em 1985(?) em São Paulo (SP), pela Associação dos
Quadrinhistas e Caricaturistas (AQC). Editado por um coletivo composto
Anais da Biblioteca Nacional • 140 185

por Gilberto Maringoni (um dos diretores do quadro administrativo da ges-


tão de 1984/85 da AQC, junto com Fortuna e JAL), Marcos Mikio, Worney
de Almeida Souza, José Alberto Lovetro e Marcos Guida de Azevedo, o pe-
riódico era crítico e politizado, assumindo posicionamento sempre ao lado
dos interesses dos quadrinistas em críticas à grande imprensa, com relação ao
tratamento dispensado ao trabalho de artistas nacionais.
® BIN: 17245-6

Jornal Cambota – Associação de Estudos e Assistência Rural, Francisco


Beltrão (PR), 1975
“Um espaço democrático de comunicação e educação popular” criado em
1975(?) no município de Francisco Beltrão (PR). Dirigido pela Associação
de Estudos e Assistência Rural (ASSESOAR), concentrava-se na vida rural,
agricultura e reforma agrária. Discutia política nacional, ações e projetos de
cooperativas, sistemas de crédito, agriculturas familiar e mercantil, economia
nacional, educação rural, assembleias e encontros populares, as condições de
vida no campo em geral, êxodo rural e migração, concentração de terras, a
situação da mulher no campo, biodiversidade e proteção ambiental etc. Sua
equipe editorial era composta por Elir Batistti, Ari de David, Paulo Mayer,
Valdir Duarte e Andréia M. Pires.
® BIN: 53184-7

Jornal da Cidade – Recife (PE), 1974


Semanário criado no Recife (PE) em novembro de 1974. Noticiava e dis-
cutia temas variados, com foco em política, economia e cultura e viés crítico,
popular, denunciativo e debatedor. Editado pela Boca do Povo Serviços Ltda.,
com Ivan Maurício como editor chefe, possuía formato tabloide e distribui-
ção regional. L. A. Rodrigues Alves, C. A. Pereira da Nóbrega e C. G. Peres de
Moura assumiam a direção do periódico.
® BIN: 581569

Jornal da História – CA de História da UECE, Fortaleza (CE), 1983


Minitabloide focado em história, política, cultura e questões sociais cria-
do em Fortaleza (CE), possivelmente no ano de 1983. Editado pelo Centro
Acadêmico de História da Universidade Estadual do Ceará, era viabilizado
pela editora Nação Cariri e pela Livraria Gabriel. Contava com um conse-
lho editorial composto por Beatriz Furtado (presidente do CA de História),
José Olímpio (vice-presidente), Vessilio Monte, entre outros. Trazia arti-
gos críticos altamente engajados, envolvendo temas ou debatendo questões
como o cangaço e a maçonaria na História do Brasil, o ensino de História,
consciência negra e igualdade racial, problemas sociais, fome e miséria, secas
186 Anais da Biblioteca Nacional • 140

no Nordeste, levantes populares, vertentes socialistas, problemas do meio


estudantil etc.
® BIN: 508071

Jornal da Mantiqueira – Poços de Caldas (MG), 1974


Periódico semanal de temática variada e inspiração na esquerda, lançado
em Poços de Caldas (MG) em 7 de julho de 1974. Fundado por Décio Alves
de Morais e editado por Luís Nassif, Rovilson Molina Lopes, Sérgio Manucci
e Victor de Carvalho, circulava formalmente através da Empresa Jornalística
Poços de Caldas. Crítica, denunciativa e combativa, defensora de ideais de-
mocráticos e pretendendo marcar oposição à oligarquia da época, inicialmen-
te, a publicação fazia frente a jornais conservadores da cidade.
® BIN: 8989-3

Jornal da República – São Paulo (SP), 1979


Diário de tamanho standard lançado em São Paulo (SP) em 27 de agosto
de 1979, criado e editado por Mino Carta. Explorando predominantemente
a temática política, fazia a linha de centro-esquerda. Quando lançado, seu no
1, que saiu excepcionalmente com 28 páginas, teve sua tiragem de 72.890
exemplares esgotada. Mesmo com esse início arrasador, com sua boa qualida-
de e com distribuição nacional, o periódico foi extinto poucos meses após sua
fundação, e a publicação foi encerrada em 22 de janeiro de 1980.
® BIN: 194018

Jornal da Taturana – Santo André (SP), 1979


Periódico literário e de humor crítico lançado em Santo André (SP) em
dezembro de 1979 – seu no 1 não trazia registro de data. Editado por Cláu-
dio Feldman e Moacir Torres, circulava como produto da Editora Taturana.
Tinha tom politizado e denunciativo, publicando trabalhos de diversos car-
tunistas brasileiros.
® BIN: 50226-0

Jornal da UEE – União Estadual dos Estudantes, São Paulo (SP), 1978
Tabloide criado pela União Estadual dos Estudantes, em São Paulo (SP)
no ano de 1978(?). Crítico e reivindicativo, anunciado como “Órgão de di-
vulgação e debate da União Estadual dos Estudantes”, o jornal trazia discus-
sões e reflexões sobre o meio estudantil, bem como notícias de atividades da
instituição que o editava. Abordou temas como educação e ensino no Brasil,
concorrência no vestibular, ações da União Nacional dos Estudantes (UNE),
fraudes e corrupção nas universidades, moradia estudantil, passe escolar, au-
mento vertiginoso de mensalidades, restaurantes para estudantes, Anistia In-
ternacional para exilados políticos, estipulações do Ministério da Educação,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 187

invasão de multinacionais no espaço amazônico etc. Vários centros acadêmi-


cos e diretórios de estudantes editavam o tabloide.
® BIN: 48921-2

Jornal da UEE – Rio de Janeiro (RJ), 1982


“Órgão da União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro”. Lançado
na capital fluminense em data indefinida, abordava questões gerais relativas
à classe estudantil, em postura reivindicativa. Baseando-se apenas em uma
edição especial de quatro páginas lançada em setembro de 1982 – relativa ao
IV Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) – o jornal tratou de
encontros estudantis, democratização das universidades, aumentos abusivos
em mensalidades, reivindicações junto ao Ministério da Educação etc.
® BIN: 625035

Jornal DCE – DCE da UFF, Niterói (RJ), 1985(?)


Criado em Niterói (RJ) em 1985(?), foi, segundo seu subtítulo, um “Es-
paço de expressão dos estudantes da UFF”, a Universidade Federal Flumi-
nense. Era de responsabilidade da “Gestão Nada Será Como Antes”. Discutia
assuntos como política e movimento estudantis, Assembleia Nacional Cons-
tituinte, ecologia, eleições para futuros reitores, o sistema de educação do
ensino superior brasileiro, o IV Seminário da UNE para Reforma Universi-
tária, reforma agrária, eleições para prefeitos, precariedade de instalações para
determinados cursos da UFF, a alienação da comunidade estudantil, festivais
de arte e cultura universitários etc.
® BIN: 48758-9

Jornal de Debates – Rio de Janeiro (RJ), 1946 | relançado em 1972


Fundado por Mattos Pimenta, Plínio Catanhede e Mário de Brito no
Rio de Janeiro (RJ) no ano de 1946. Em formato minitabloide, crítico e
politizado, sempre trazia textos de grandes intelectuais e foi revivido por
Limeira Tejo em 1972, após anos ausente das bancas. No ano de 1963, Tejo
havia obtido o título de Mattos Pimenta, reabrindo o jornal nove anos de-
pois. Dois números precários foram lançados em 1972, mas, pouco tempo
depois, o Jornal de Debates ficou quase um ano sem circular. Esta segunda
fase recomeçou em abril de 1973, em São Paulo (SP). Semanal, editado
pelo mesmo Limeira Tejo, o periódico contava ainda com Paulino Rolim
de Moura e com as colaborações de Clóvis Moura, Oswaldo Donádio, Caio
Porfírio Carneiro, Tito Batini, Paschoal Melantônio, Mônica Schmidt, Nel-
son Werneck Sodré e Paulo Francis. Nessa segunda fase, era nacionalista, de
esquerda e positivista, defensor da razão, da ciência e do desenvolvimento
técnico e econômico.
® BINs: 48976-0 ou 58310-3
188 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Jornal de Deboche – Goiânia (GO), 1979


Tabloide predominantemente de crítica sociopolítica e engajamento po-
lítico, com nuances de humor e sátira, lançado em Goiânia (GO) possivel-
mente em abril de 1979. Lançado como uma publicação da Cooperativa dos
Jornalistas de Goiás, a PROJORNAL, foi editado por um coletivo.
® BIN: 491128

Jornal de Poesia – São Paulo (SP), 1983


Minitabloide bimestral de poesia marginal e literatura politicamente en-
gajada. Criado em São Paulo (SP) em fevereiro de 1983, em edição expe-
rimental de no 0, válido por fevereiro e março daquele ano – na capa havia
um desenho de um homem pendurado num pau-de-arara, junto com alguns
livros de poesia, como se fossem roupas secando em um varal –, o periódico
trazia, além de poesia, entrevistas, resenhas, artigos de opinião, ensaios, perfis
de escritores, comentários e pequenos informes do mundo da literatura inde-
pendente, charges, ilustrações e cartas de leitores. Era editado por Candido
Coelho Neto, Christine Greiner, Juarez José Viaro e Sergio Galli.
® BIN: 508080

Jornal do CDA – Comitê de Defesa da Amazônia, Rio de Janeiro (RJ),


1980.
Tabloide bimestral do Comitê de Defesa da Amazônia, lançado no Rio
de Janeiro (RJ) em maio de 1980. Foi um órgão de defesa dos interesses bra-
sileiros, das populações indígenas, da fauna e da flora e das pequenas comu-
nidades posseiras frente às arbitrariedades promovidas pelo governo ou por
empresas na Amazônia. O expediente do Jornal do CDA trazia os nomes
dos membros da diretoria do CDA no Rio de Janeiro, composta por Carlos
Henrique Tibiriçá Miranda (presidente), Márcio Silveira Lengruber (primeiro
vice-presidente) e Valcler Fernandes (segundo vice). Seu foco era em mobili-
zações populares, lutas camponesas na disputa por terras, repressão policial,
indigenismo, as mazelas do Projeto Jari e do Projeto Carajás, os perigos do
turismo para os índios e para o ecossistema amazônicos etc.
® BIN: 531677

Jornal do DCE – DCE da UECE, Fortaleza (CE), 1984


Minitabloide lançado em Fortaleza (CE), em março de 1984, pelo Di-
retório Central dos Estudantes (DCE gestão 1983/1984) da Universidade
Estadual do Ceará (Uece). Reivindicativo, crítico e revoltado, queria “suprir a
necessidade de um veículo de comunicação que, comprometido com a comu-
nidade universitária, saiba se posicionar diante da situação caótica em que se
encontra o país e, como o reflexo, a universidade brasileira, particularmente
a UECE”. Era editado por Ricardo Pinto, que contava com um conselho
Anais da Biblioteca Nacional • 140 189

editorial composto pelo mesmo, Gerardo Vasconcelos, Edelberto, Pedro Ivo


e Marcelo Marques.
® BIN: 55952-0

Jornal do DCE – DCE da Universidade Santa Ursula, Rio de Janeiro


(RJ), 1981
Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em junho de 1981, editado pelo Depar-
tamento de Imprensa do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Marilena
Villas Boas, da Universidade Santa Ursula. Discutindo assuntos de interesse
imediato de universitários ou de conotação política nacional – reajustes no
bolo orçamentário do Ministério da Educação, a falta de um bandejão local
por dificuldades financeiras, assaltos em um ponto de ônibus próximo à Santa
Ursula, assembleias e eleições no DCE, propostas do movimento estudantil,
projetos acadêmicos, problemas de aumento de mensalidades, descaso com
a educação, os ataques terroristas promovidos pela ditadura militar contra
bancas de jornal em 1981 etc.
® BIN: 48942-5

Jornal do DCE – DCE Mário Prata, da UFRJ, Rio de Janeiro (RJ),


1978
Periódico estudantil lançado em agosto de 1978 no Rio de Janeiro (RJ),
pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) Mário Prata, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Combativo e identificado como um “ór-
gão de luta” dos estudantes. Os temas abordados ali eram denúncias gerais
de irregularidades no ambiente acadêmico, política nacional, falta de verbas,
problemas de alojamento e do bandejão, o movimento dos professores, reivin-
dicações e críticas ao sistema educacional e à administração das universidades
públicas, Anistia Internacional, atividades culturais no ambiente acadêmico,
saúde pública, o Congresso Nacional dos Trabalhadores da Indústria, eleições
de 1978 (incluindo a chamada Frente Popular Eleitoral), corrupção, dívida
externa, história do DCE etc.
® BIN: 48864-0

Jornal do Poeta – Salvador (BA), 1982


Publicação criada em Salvador (BA) em abril de 1982, circulou através da
Cooperativa de Poetas e Escritores. Reproduzidas por mimeógrafo ou fotocó-
pia. Trazia poesias, ilustrações, cartuns, anúncios de movimentos de poesia,
se propunha a “divulgar pessoas e ideias ligadas à arte baiana, em particular a
poesia” e era um periódico originado “do Primeiro Encontro Soteropolitano
de Poetas, que aconteceu em março de 1982, visto a necessidade de agrega-
ção para definir formas de atuação conjuntas. No encontro, ficou evidente a
190 Anais da Biblioteca Nacional • 140

carência comum de divulgação de trabalhos e surgiu a ideia de se formar uma


cooperativa de poetas”.
® BIN: 45564-4

Jornal do Poeta – São José do Rio Preto (SP), 1982


Lançado em São José do Rio Preto (SP) em novembro de 1982. Trazia
poemas, textos em prosa, matérias, textos retirados de outras publicações,
cópias de documentos oficiais, citações de grandes intelectuais, ilustrações,
fotografias e homenagens, e sua autoria se devia a uma instituição e a um
movimento cultural nomeados em seu expediente: “Jornal do Poeta – Publi-
cação sem data pré-fixada da ‘Biblioteca Castro Alves’ e do ‘Grupo Pioneiro
Os Renascenfuturistas de Hoje’”. Editado por Raymundo Cortizo Perez Fi-
lho e Mauro Rueda.
® BIN: 51044-0

Jornal do PT – Movimento Pró-Partido dos Trabalhadores, Rio de Ja-


neiro (RJ), 1980
Periódico político partidário criado pelo Movimento Pró-Partido dos Tra-
balhadores no Rio de Janeiro (RJ), com edição no 1, ano 1, lançada em feverei-
ro de 1980. Pouco tempo depois de seu lançamento, passou a ser identificado
em expedientes – que não traziam nomes de editores – como “responsabili-
dade da Executiva Regional Provisória do MPT-RJ”, até que, por volta de seu
no 7, ano 1, de outubro de 1980, seu subtítulo veio a defini-lo simplesmente
como “Publicação do Partido dos Trabalhadores – RJ”. Denunciativo contra
as arbitrariedades da ditadura militar, crítico e reivindicativo, o Jornal do PT
era editado em linguagem simples, popular e injuriada.
® BIN: 49666-9

Jornal dos Bairros – Belo Horizonte (MG), 1976


Tabloide quinzenal criado em Belo Horizonte (MG) em 19 de setembro de
1976 (data de edição do no 0), e que circulou através da Corpo Editora Ltda.
Dotado de linguagem simples e direcionamento basista, focado em problemá-
ticas de bairros carentes do subúrbio da capital mineira, o jornal mostrava-se
importante meio de manifestação e denúncia ao abrir espaço para depoimen-
tos do povo, através de cartas ou sugestões de leitores. Nascido por obra de
cinco jornalistas, Edson Fernandes Martins, Tilden Santiago, Márcia Portela
Antunes, Fernando Soares Miranda e José Amaro Siqueira.
® BIN: 57480-5
Anais da Biblioteca Nacional • 140 191

Jornal dos Trabalhadores – Partido dos Trabalhadores (PT), São Paulo


(SP), 1982
Publicação lançada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), em 1982, em São
Paulo (SP). Partidário e à esquerda, o jornal assumia ares combativos e rei-
vindicativos em uma linguagem simples e direta. Abordando prioritariamente
todo o Brasil (a América Latina e o restante do mundo também eram noti-
ciados), defendia o sindicalismo, o proletariado, as greves e os movimentos
populares, em postura duramente crítica à ditadura militar e às mazelas das
populações humildes. Perseu Abramo assinava como editor responsável.
® BIN: 48404-0

Jornal do Verde – Rio de Janeiro (RJ), 1981


Publicação ambientalista lançada no Rio de Janeiro (RJ) em agosto de
1981. Circulando sob a marca da Gráfica e Editora Itapuí Ltda. em tiragens
de 20 mil exemplares, o periódico vinha em linguagem simples e indigna-
da contra as ações do homem no meio ambiente. Editado por um conselho
composto por Juca Colagrossi, Mário Augusto Jakobskind (o editor formal)
e Paulo Rodrigues (que figurava em expediente como secretário de redação).
® BIN: 45792-2

Jornaleco – alunos da Uerj, Rio de Janeiro (RJ), agosto de 1985


Jornal estudantil de cunho político e reivindicativo, editado por alunos
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Possui textos opinativos e
algumas ilustrações humorísticas. Concentra-se em reivindicações da vida
estudantil da Uerj. Editado por André Miranda Burello e Luis Fernando
Affonso. Com diagramação pobre, consiste em duas folhas grampeadas, em
formato tabloide.
® BIN: 487074

Jornal Indígena – Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações


Indígenas, São Paulo (SP), 1984
Lançado em julho de 1984 em São Paulo (SP). Criado e editado pela Coor-
denadoria de Publicações da Regional Sul das Nações Indígenas (depois identi-
ficado como um produto do Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações
Indígenas), sua temática indigenista abordava tribos de todo o Brasil, em apelo
crítico, inconformado e reivindicativo. Seus editores eram indígenas: Aílton
Krenak assinava como editor geral. O periódico tratou de cultura e identidade
indígena, lideranças indigenistas, questões indígenas frente às políticas sociais
do governo federal e frente à Assembleia Nacional Constituinte, ameaças e
violência sofridas por povoações, movimentos de resistência, questões agrárias,
relações dos indígenas e do indigenismo com o Instituto Nacional de Coloni-
zação e Reforma Agrária (Incra) e com a Fundação Nacional do Índio (Funai),
192 Anais da Biblioteca Nacional • 140

decretos e leis de proteção ao indígena saúde, educação, agricultura e subsistên-


cia de comunidades, exploração de multinacionais etc.
® BIN: 49472-0

Jornalivro – São Paulo (SP), 1971


Tabloide literário mensal, lançado em São Paulo (SP) em dezembro de
1971 (seus exemplares não traziam registro de data). Dirigido por Narciso
Kalili e editado por Roberto Freire (tendo ainda Nagib Elchmer como edi-
tor associado e contando com o trabalho de J. A. Granville Ponce, Wilson
Moherdaui, entre outros), circulava como publicação da Arte & Comuni-
cação Editora, empresa também responsável pelos jornais O Grilo e Bondi-
nho. Jornalivro, fazendo jus a seu subtítulo “O povo lendo”, costumava trazer
textos (por vezes integrais) de escritores consagrados, a preços acessíveis. Boa
parte destes títulos era de clássicos, tanto de autores nacionais quanto estran-
geiros, que já haviam caído em domínio público.
® BIN: 624053

Jornalivro – Sociedade Cultural Jornalivro, São Paulo (SP), 1981


Tabloide de esquerda, altamente politizado e de ênfase latino-america-
na, lançado pela Sociedade Cultural Jornalivro em São Paulo (SP), no mês
de agosto de 1981 (data da edição no 1 do ano 1 – houve ainda um no 0,
lançado previamente com o título “Nicarágua Livre”). Aparentemente, não
estabeleceu nenhuma conexão com outro tabloide com o mesmo título,
também lançado em São Paulo dez anos antes (ver texto acima); de todo
modo, sua proposta era a mesma: popularizar a leitura, editando livros em
formato de jornal e a preços acessíveis. Politizado e denunciativo aos abu-
sos cometidos contra o operariado e classes populares latino-americanas,
o periódico era basicamente formado por trechos mais ou menos longos
e capítulos de livros-reportagem, inéditos ou não. Seu conselho editorial
inicial era composto por Ana Lucia Paes, Dalmo Ribas, Francisco Lopes, Jô
Azevedo, José Carlos Brito, Manoel Del Rio, Pedro Pontual, Regina Festa
e Sueli Bossam.
® BIN: 454559

Jornal Mandacaru – Recife (PE), 1982


Informativo com notas gerais do universo literário e artístico em geral, a
nível local e nacional, lançado em setembro de 1982 no Recife (PE). Reprodu-
zido por mimeógrafo ou fotocópia, era dedicado à trova e à poesia marginal.
Trazia notícias, informes gerais, poemas, trovas e textos em prosa, editoriais
esporádicos (como alguns de 1985, que comentam positivamente o início da
Nova República), artigos de opinião e cartas de leitores, avisos de mostras,
oficinas, concursos, mutirões literários, publicações, lançamentos, encontros,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 193

divulgações de projetos e autores independentes. Editado por Pedro do Ama-


ral Costa e Almicar Batista de Azevedo, era uma publicação filiada à Federa-
ção Brasileira de Entidades Trovistas (FEBET).
® BIN: 51415-2

Jornal Novas Tendências – Rio de Janeiro (RJ), 1985


Periódico cultural, focado em música e em política, criado no Rio de Janei-
ro (RJ) em outubro de 1985. Trazia notícias curtas sobre música pop, cinema
e shows, críticas de discos e grupos de rock, entrevistas, artigos, últimos lan-
çamentos da música, paradas de sucesso, discografias e videografias, letras de
músicas, entre outras coisas, e circulava praticamente sem diagramação, com
apenas um bloco de texto datilografado em cada página, com poucas imagens.
Foi editado inicialmente por José Augusto Gonçalves e Miguel Vasconcellos,
com participação de Márcia Gomes.
® BIN: 508586

José – Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo, São Paulo


(SP), 1981
“Jornal do Sindicato dos Engenheiros”, combativo e reivindicativo em re-
lação às adversidades que envolvem a categoria profissional de engenharia.
Criado em São Paulo (SP) em 1981(?). Priorizando notícias relativas a enti-
dades de classe e à atividade profissional de engenharia, o jornal trazia ainda
artigos sobre democracia, sindicalismo, manifestações, greves, propostas de
chapas e eleições sindicais, política, arrocho salarial, legislação, custos de vida,
desemprego, exploração racional das riquezas amazônicas, entre outros assun-
tos, incluindo arbitrariedades de empresas e questões envolvendo o Conselho
Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo (Crea-SP).
Dirigido por Cid Barbosa Lima Júnior, Horácio Ortiz, Antonio Octaviano,
Alceu Guérios Bittencourt, Luís Dias Ferreira, Eduardo Albertin, Antônio
Marsiglia Netto, Hilton Barlach, André Monteiro de Fazio, Dirce Maria do
Amaral, Candido Pinto de Melo e Jacob Teubl.
® BIN: 48402-4

Labuta – Franca (SP), 1977


Minitabloide fundado por José Eduardo Meneghetti no município de
Franca (SP), no dia 1o de dezembro de 1977. Dizia-se “órgão independente,
político-cultural de opinião que acredita na verdade histórica e luta pela Re-
volução Social com o objetivo de atingir a Autogestão Social [...] contra os
exploradores, opressores, capitalistas, burgueses e imperialistas”. Criado com
o intuito de denunciar abusos da ditadura militar e posicionar-se a favor de
classes operárias, era dedicado ainda à exposição e à crítica de problemas locais
de Franca, além de trazer, em suas edições iniciais, poesias de autores pouco
194 Anais da Biblioteca Nacional • 140

conhecidos. Em 2011, continuava sendo editado, ainda com Meneghetti


como diretor-responsável.
® BIN: 50396-7

Laconicus – Bento Gonçalves (RS), 1973


Publicação quinzenal de caráter político e cultural, altamente irreverente
e direcionada ao público jovem. Diretamente inspirada no semanário carioca
O Pasquim, sendo uma “versão gaúcha” do mesmo, foi lançada em 31 de
março de 1973 no município de Bento Gonçalves (RS). Era editada por
Ademir Antonio Bacca, que, nos primeiros momentos do periódico, contava
ainda com Vilmar Ribeiro e Oscar Biasin, além do diretor de artes identifi-
cado como Wiljámers.
® BIN: 93904

Lado Inverso – Porto Alegre (RS), 1979


Jornal de ênfase predominantemente política, com tendências à esquerda,
lançado em Porto Alegre (RS) em 25 de agosto de 1979. Circulando sob o
selo do Grupo Editorial Terceiro Termo Ltda., era dirigido por Cláudio Al-
meida e Carlos F. Schmaedecke, que, junto de Geraldo Beresford e Roberto
Almeida, formavam uma comissão editorial. O editor responsável pelo jornal
era Sérgio Quintana.
® BIN: 487651

Lampião da Esquina – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Tabloide mensal focado no público homossexual. Lançado no Rio de Janei-
ro (RJ) em abril de 1978, se propunha a ser porta-voz de grupos socialmente
marginalizados em geral, sem ser filiado a nenhum coletivo ativista, corrente
ideológica ou partido político. Lançado através da Esquina Editora de Jornais,
Livros e Revistas Ltda., foi coordenado por Aguinaldo Silva. Embora não
tenha sido o primeiro periódico de conteúdo homossexual do Brasil (o mime-
ógrafo Snob, criado por Agildo Guimarães, e Eros, editado por Frederico Jorge
Dantas, vieram antes), foi o primeiro representante da imprensa gay a obter
destaque e notoriedade, pois estava bem inserido no mercado editorial. Foi
pioneiro ao encarar o sexo como postura política, incentivando a organização
de grupos LGBTQIA+ no Brasil. Sua iniciativa rendeu grande cobertura na
imprensa nacional e boa visibilidade na mídia internacional.
® BIN ainda em processamento.

Liberdade Literária – Belo Horizonte (MG), 1981


Periódico artesanal de literatura marginal criado em Belo Horizonte (MG)
por volta de 1981. Inicialmente circulava mimeografado e seu título era ape-
nas Liberdade. Passou a ser impresso em sistema offset ao fim do ano de 1981
Anais da Biblioteca Nacional • 140 195

(a julgar por sua 10ª edição, datada de dezembro deste ano) e era editado por
Wesley Pioest.
® BIN: 446840

Lida – Rio de Janeiro (RJ), 1981


Revista literária marginal criada no Rio de Janeiro (RJ) no final de 1981,
logo depois de outubro. Era editada por um conselho: Alexandre Medeiros,
Alvanísio Damasceno, Leonel Azevedo e Walter Luiz Saint Martin. Em sua 2ª
edição, no entanto, apenas Alexandre Medeiros e Jocenir Ribeiro apareciam
como editores. Quando lançada, afirmou ter sido criada para combater “o
vazio no campo das revistas literárias, no eixo Rio-São Paulo”. Em editorial,
expunha-se que “enfrentar essa situação, que parecia insuperável, foi justificar
o nome da revista”.
® BIN: 418269

Língua-Viva em Revista – São Paulo (SP), 1983


Pequena revista literária surgida em São Paulo (SP), em abril de 1983,
como continuação da publicação Folhetim Língua-Viva (BIN: 43858-8). Sua
edição inaugural circulou como no 5, já que seguiu a numeração do periódico
antecessor. Pertencendo ao Movimento Língua-Viva, a revista foi editada por
Tarceu Pinto e Moema Cardoso. Na revista havia-se poemas, textos em prosa,
ensaios, pronunciamentos do movimento, listas de publicações independen-
tes recebidas por leitores, artigos culturais, críticas e comentários sobre outros
periódicos literários, divulgações de eventos e trabalhos, notas sobre concur-
sos literários, entre outras coisas.
® BIN: 439177

Literaçu – Blumenau (SC), 1978


Periódico literário lançado em setembro de 1978 em Blumenau (SC), edi-
tado por José Roberto Rodrigues, jornalista e poeta previamente responsável
pelo suplemento dominical do Jornal de Santa Catarina. Lançada através do
Departamento de Cultura da Secretaria de Educação e Cultura da prefeitura
local, em distribuição gratuita, nas comemorações da Semana de Blumenau
de 1978, a publicação tinha o objetivo de mostrar ao público os trabalhos dos
contistas, cronistas, poetas e ensaístas da região.
® BIN: 450367

Literarte – Porto Alegre (RS), 1985


“Um jornal pela arte e literatura”. Lançado em 29 de abril de 1985 em Porto
Alegre (RS), funcionava como “Porta-voz da Casa do Poeta Riograndense – CA-
PORI”, sendo editado pelo então presidente da instituição, Nelson Fachinelli.
® BIN: 566101
196 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Literarte – São Paulo (SP), 1985


Lançado em São Paulo (SP) em maio de 1985, periódico de cultura e varie-
dades, com interesse especialmente voltado à literatura. Por vezes assumindo
ares religiosos e morais, com grande destaque dado a datas como o Natal ou
a Páscoa, foi criado e editado por Arlindo Nóbrega. Sua circulação sempre
foi nacional, com boa adesão de assinantes desde o início. Seu conteúdo era
composto por poesia, artigos sobre temas variados (extrapolando-se a temá-
tica cultural, com educação, questões trabalhistas, comportamento, proteção
a animais, preservação ambiental, política, futebol, jornalismo etc.), home-
nagens, notícias variadas sobre a movimentação artística em São Paulo e no
Brasil etc.
® BIN: 450936

Literatura de Tapume – Rio de Janeiro (RJ), 1977


Pequeno periódico de poesia marginal lançado no Rio de Janeiro (RJ) em
15 de janeiro de 1977. Trazia basicamente poesia, prosa, trovas, pensamentos,
ilustrações e cartuns de seu editor, Gilson de Abreu Marinho, também conhe-
cido como Gilson do Giz ou O Poeta dos Tapumes. Em 1976, Gilson criou
a chamada “literatura de tapume” ao riscar com giz poesia e ilustrações em
tapumes que escondiam obras e reformas em edifícios, pelas ruas do Rio de
Janeiro – nas cercanias, sua marca era desenhar pequenas pegadas que levavam
os transeuntes aos textos e desenhos. Raras vezes trazia textos datilografados;
costumava publicar trovas e poemas de Gilson Marinho manuscritos pelo
próprio, seguindo o padrão estético de suas intervenções nas ruas.
® BIN: 442550

Livrojornal – Movimento Literário Universitário da Ufes, Vitória (ES),


1980
Surgido em agosto de 1980 em Vitória (ES), foi uma publicação literá-
ria estudantil de literatura marginal e socialmente engajada, concebida pelo
“Movimento Literário Universitário da Ufes”, ou seja, relativa ao movimento
estudantil da Universidade Federal do Espírito Santo. Em abril de 1979, o
DCE da Ufes publicou o livro Poesias, com poesias de oito poetas universitá-
rios em torno de um tema comum, o homem no seu meio social; Livrojornal
é uma continuação deste livro, com quatro dos poetas publicados nele, Maria
de Lourdes Brandão Fonseca, Elio de Castro Paulino, Debson Jorge Afonso e
Alvarito Mendes Filho.
® BIN: 48762-7

Livrornal – Manaus (AM), 1978


Tabloide literário lançado em Manaus (AM) em abril de 1978, em edição
que publicava a obra “Os filhos do terremoto”, de Jorge Tufic Alaúzo Júnior.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 197

Era editado pelo próprio Tufic e contava com uma comissão editorial com-
posta por Arthur Engrácio, Max Carphentier, Leonito Cativo Pereira e Aluí-
sio Nobre de Freitas, com colaborações de Márcio Souza.
® BIN: 488011

Luta & Prazer – Rio de Janeiro (RJ), 1981


Tabloide mensal surgido a partir da revista Rádice, lançado no Rio de Ja-
neiro (RJ) por volta de agosto de 1981. Editado por um coletivo capitanea-
do por Carlos Ralph Lemos Viana (o editor geral), Adauri Bastos, Amanda
Strausz e Marcos Moreira, o jornal era essencialmente libertário, trabalhan-
do com diversos temas, em especial psicologia, sexualidade, comportamento,
crítica de costumes, sexualidade, política e cultura. Crítico, sem pudores e
politicamente engajado, não demonstrava grandes vínculos com partidos e
grupos organizados de combate à ditadura militar, sendo contrário ao sectaris-
mo político – à exceção de seu apoio a políticos do Partido dos Trabalhadores
(PT) nas eleições de 1982.
® BIN: 488348

Luta Indígena – Xanxerê (SC), 1976


Periódico criado pela Regional Sul do Conselho Indigenista Missionário
(CIMI), órgão filiado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Editado
por Juracilda Veiga, foi lançado em Xanxerê (SC) em março de 1976. Tinha
circulação anunciada como interna, dirigida a “missionários e indígenas do
Sul do Brasil”. Crítico, aguerrido e engajado, tratava, sobretudo, de ques-
tões agrárias, sociais, políticas e ambientais, com fortes reivindicações e de-
núncias contra injustiças e arbitrariedades gerais cometidas contra indígenas.
Alguns casos pontuais denunciados pela Regional Sul do CIMI e a situação
de algumas etnias específicas eram abordados em suas páginas. Nesta linha,
o periódico encampou lutas por terras de diversas comunidades e combateu
fervorosamente inúmeras políticas indigenistas oficiais.
® BIN: 433942

Mandacaru – Aracaju (SE), 1983


Modesto periódico literário criado em Aracaju (SE) em 1983(?), prova-
velmente no dia 25 de setembro. Foi idealizado e fundado por Almicar B. de
Azevedo e Pedro do Amaral Costa (seu editor), os mesmos criadores do Jornal
Mandacaru (BIN 51415-2), no Recife (PE). Contendo trovas, poesias, anún-
cios de concursos de poesia e trova, listas de publicações de poesia recebidas,
endereços de associações e clubes de trovadores e poetas etc.
® BIN: 47461-4
198 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Manifesto – Pitangui (MG), 1985


Tabloide criado no município de Pitangui (MG), por volta de 1985, como
informativo oficial da Associação Poeta Maior. Editado por Rogério A. Cota,
o periódico chegou a circular nacionalmente. Com poesias, textos informati-
vos sobre o mundo literário, informes gerais, poemas mandados por leitores
e textos filosóficos de cunho social, possuía poucos anúncios e diagramação
pobre, de poucas imagens fotográficas ou ilustrativas.
® BIN: 51416-0

Marca de Fantasia – São Paulo (SP), 1985


Fanzine voltado à divulgação de quadrinhos alternativos, criado simulta-
neamente em São Paulo (SP) e em João Pessoa (PB) em junho de 1985. Seus
editores eram Henrique Paiva de Magalhães e Sandra M. C. Albuquerque
(esta residia em São Paulo, e o primeiro alternava períodos entre a capital pau-
lista e a paraibana). Desde a segunda metade da década de 1970, Magalhães se
destacava na imprensa alternativa como autor da tira em quadrinhos “Maria”,
de rigor crítico, feminista e politizado.
® BIN: 455925

Maré – Angra dos Reis (RJ), 1980


Jornal comunitário lançado em Angra dos Reis (RJ), em 16 de outubro
de 1980, por João Carlos Rabello, seu diretor. Circulando como produto da
Empresa Jornalística Maré Ltda., era um tabloide semanal. Jardel de Azevedo
Júnior foi o seu editor. Quase totalmente voltado a assuntos locais, era um jor-
nal de ênfase comunitária e política. Em suas páginas, abordava administração
pública municipal, problemas e projetos de serviços básicos e infraestrutura
em determinadas localidades de Angra dos Reis, cotidiano policial, economia,
questões trabalhistas e reivindicações salariais, os danos causados pelo uso da
energia nuclear em Angra dos Reis, esportes, variedades etc.
® BIN: 578452

Matéria Prima – Caxias do Sul (RS), 1980


Periódico literário de quatro páginas criado em Caxias do Sul (RS) em data
indefinida (provavelmente 1980 ou 1981). Era editado por um coletivo de
autores caxienses composto por Tony Bel, Valdir dos Santos, Loraine Slomp
Giron, Jayme Paviani, José Clemente Pozenato, Jimmy Rodrigues, Flávio
Chaves, Eliana Inês Facchini, dois Santos dos Santos e Ary Nicodemos. Trazia
sobretudo textos literários de autores locais e era impresso em sistema offset
na gráfica da Universidade de Caxias do Sul, em folhas de papel dobradas em
três – em vez de folheá-lo, o leitor tinha de desdobrá-lo.
® BIN: 395242
Anais da Biblioteca Nacional • 140 199

O Matraca – Cotia (SP), 1981


Jornal criado no município de Cotia (SP) em setembro de 1981. Sua linha
editorial era focada em humor e variedades, como indicava seu subtítulo/
slogan: “A cotia que ruge”. De ênfase política e cultural, o periódico era alta-
mente crítico, de humor por vezes corrosivo. Foi editado por Carlos Melo e
Cassiano Roda, com Laert Sarrumor como “editor de abobrinhas” – todos,
desde então, integrantes do grupo musical-satírico Língua de Trapo, surgi-
do antes do jornal. O Matraca aparecia como propriedade da Editora Cotia
Ltda., impresso na Tipografia Aurora Ltda. Era inspirado no Almanhaque, de
Apparício Torelly (o Barão de Itararé), e no carioca O Pasquim, tanto pela sua
linha editorial de chiste, crítica política, cultura e informação, como pelo seu
apelo visual, com uso de fotomontagens e humor gráfico. Por outro lado, se-
gundo Laert Sarrumor, O Matraca serviu de inspiração ao jornal humorístico
carioca Planeta Diário.
® BIN: 396206

Maturi – Natal (RN), 1976


Fanzine de quadrinhos criado em Natal (RN) em data indefinida, pro-
vavelmente em 1976. Editado inicialmente por Enoch Domingos e depois
por Francisco Alves Sobrinho, era politicamente engajado, de humor crítico e
satírico. Defensor dos quadrinhos nacionais, em 1984 o periódico se mostrava
comprometido com a causa das Eleições Diretas e contrário à exploração de
negros, indígenas e classes trabalhadoras. Fazia jus ao seu subtítulo, “Quadri-
nhos potiguares”, e publicava sobretudo quadrinhos e cartuns underground,
além de pequenos textos de foco histórico, informes, passatempos e anúncios.
® BIN: 425109

Meio Ambiente – Brasília (DF), 1978


Revista ambientalista lançada em Brasília (DF) em junho de 1978. Era
uma “Revista de ecologia e consumo” feita pelo “Equilíbrio responsável entre
o social e a natureza”. Com notas gerais e artigos feitos por colaboradores vo-
luntários, foi editada inicialmente por Victor Melo, (depois Victor Alegria),
sempre produzida pela Thesaurus Editora. Meio Ambiente teve a publicação
suspensa entre 1980 e 1988, e continuou a circular por toda a década de 1990.
® BIN: 50069-0

Mensageiro – Belém (PA), 1979


Criado em Belém (PA) em 1979, foi um jornal de e para a população de
indígena (com o subtítulo “Jornal de índio para índio”). Nasceu por inicia-
tiva de cinco líderes (tuxauas) de etnias diferentes, e era editado inicialmente
como mimeógrafo. Tinha como símbolo uma corneta indígena que os men-
sageiros do Alto Amazonas usavam sempre que traziam notícias. Passando a
200 Anais da Biblioteca Nacional • 140

ser impresso em offset no início dos anos 80, o periódico, em 2011, era uma
revista de linha editorial politizada e reivindicatória: é um dos periódicos de
resistência mais longevos do país, sempre saindo como uma publicação do
Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Circulou inicialmente sob a res-
ponsabilidade do padre Nello Rufaud e da irmã Rebeca Spire. Em suas pá-
ginas, encontra-se discussões e manifestos sobre educação, saúde, questões
agrárias, política, espiritualidade, meio ambiente, cultura e tradição indígena,
trabalho, entre outras coisas.
® BIN: 51102-1

Mensageiro Poético – Rede Intelectual de Correspondentes, Campinas


(SP), 1978
Publicação cultural focada em literatura, criada em Campinas (SP) em
1978(?) como órgão da Rede Intelectual de Correspondentes. Editado por
Paulina M. Frank, o periódico se apresentava como “Divulgador de mensa-
gens do mundo poético em geral”. Era editado modestamente, com apenas
duas páginas sem imagens, datilografadas e fotocopiadas. Possuía apenas duas
colunas de texto, onde figuravam editoriais, cartas de leitores, notícias gerais
sobre literatura marginal, pensamentos, poemas, trovas, notas sobre concursos
literários, listas de jornais recebidos pela editora, pequenos comentários sobre
livros e o teste de adivinhação “Quem é o autor?”.
® BIN: 50851-9

Mesmo – Rio de Janeiro (RJ), 1985


Circulando no Rio de Janeiro (RJ) por volta de 1985, foi um jornal cultu-
ral, focado em música, teatro, cinema e artes visuais. Continha textos críticos
e de apresentação de obras artísticas, notas gerais, agenda cultural, entrevistas
e notícias gerais para a classe artística, tudo em linguagem informal e despo-
jada. Dirigido por José Maria Farias Teixeira e editado por Renato Guima,
Paula Santa Maria e Paulo Neves, era composto na Editora Mesmo e impresso
na gráfica da Tribuna da Imprensa em formato tabloide.
® BIN: 51619-8

Metanóia – alunos da UFBA, Salvador (BA), 1978


Mimeógrafo estudantil criado em 1978(?) em Salvador (BA) por acadê-
micos da Universidade Federal da Bahia. Sua 2ª edição data de abril de 1978
(por sinal, ano em que a publicação divulga um curso de Psicanálise e Teo-
ria da Comunicação). Teve um conselho editorial flutuante, onde figuraram
como fixos nomes como Haroldo Cajazeira, Aristóteles Rocha, Almandra-
de e Marcus do Rio, Gerson Filho também aparece no grupo. A publicação
era financiada por recursos cedidos por alunos, contando ainda com colabo-
rações de alguns professores (as decisões administrativas eram tomadas em
Anais da Biblioteca Nacional • 140 201

conjunto). Como a maior parte de seus editores pertencia à área de Ciências


Humanas, trazia artigos acadêmicos inéditos de estudantes e professores, e
abordava temas e conceitos como educação, filosofia, psicologia e psicanálise,
epistemologia, arquitetura, urbanismo, ideologias, escrita, trabalho e prazer,
religião, sexualidade e sedução etc.
® BIN: 45033-2

Microjornal – São Paulo (SP), 1979


Minitabloide mensal surgido em São Paulo (SP) em junho de 1979. Trazia
textos curtos, repletos de humor e ironia, normalmente comentando episó-
dios de ordem política e social. Continha ainda charges, fotos e cartuns, e era
impresso em sistema offset. Com a exceção do exemplar de no 0, onde Carlos
Acuio assina como editor, Microjornal também foi editado por Vera Lúcia
Moreira. Em circulação regional, chegou a possuir edições nomeadas Micro-
jornal Turismo e Lazer (BIN 41078-0), criada em maio de 1980; Microjornal
Esporte & Turismo (BIN 13045-1), provavelmente lançada em julho de 1980,
e Microjornal Esporte (BIN 40209-5), surgida em janeiro de 1981.
® BIN: 38684-7

Mimeógrafo Generation – São Paulo (SP), 1985


Fanzine de quadrinhos, poesia e rock’n’roll criado em São Paulo (SP), entre
o fim de 1985 e o começo de 1986 – possivelmente janeiro de 1986. Obvia-
mente impresso por mimeógrafo, seu editor era Jairo Nogueira Luna, então
conhecido como Jairo Jade Galahade. Foi um dos primeiros periódicos a se-
rem definidos como “fanzine” no meio editorial alternativo brasileiro. Tratava
de literatura, mesclando-a com rock’n’roll, quadrinhos, ambientalismo, movi-
mento anarcopunk, movimentos underground em geral etc.

Minaz – Ribeirão Preto (SP), 1983


Lançado em Ribeirão Preto (SP), provavelmente em 1983, foi uma revista
de temática cultural e politizada, de aspecto marginal. Abordava temas sociais
e culturais através de ensaios, poesias, ilustrações, entre outras formas textuais.
Publicava partituras de músicas e muitas ilustrações, em diagramação criativa.
Produzido por Ivo Rinhel D’acol e Gisele Ganade, com colaboração de con-
selho editorial, o periódico foi produto da Minaz Produtora Independente
de Arte Ltda., tendo circulado por algumas cidades das regiões Sul, Sudeste,
Nordeste e Centro-Oeste.
® BIN: 44428-6
202 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Mostra Visual de Poesia Brasileira – Campos dos Goytacazes (RJ),


1983
Periódico de poesia lançado oficialmente em Campos dos Goytacazes (RJ)
em setembro de 1983. Criado e editado inicialmente por Artur Gomes e José
César Castro, foi uma publicação ligada às Mostras Visuais de Poesia Brasilei-
ra, ocorridas anualmente no Palácio da Cultura de Campos, ao menos entre
1983 e 1985. Trazia praticamente só poemas, em uma disposição gráfica sim-
ples e moderna, e dava atenção sobretudo a novos autores da poesia brasileira
– contemplando, assim, alguns nomes da poesia concreta, da poesia marginal
e da chamada Geração Mimeógrafo.
® BIN: 444014

Movimento – São Paulo (SP), 1975


Tabloide semanal criado em São Paulo (SP) em junho de 1975. É conside-
rado um dos principais jornais políticos da imprensa de resistência ao período
do regime militar, e influenciou muitos outros do mesmo gênero (que, por
vezes, alguns de seus próprios jornalistas vieram a fundar). Com forte teor
crítico, político e combativo, se propunha a expor e analisar os principais
acontecimentos das esferas política, econômica e cultural nacionais, descre-
vendo a “cena brasileira” e as condições de vida no Brasil. Abordava as lutas
do cidadão em busca de liberdades democráticas, da apuração de episódios
sombrios de corrupção e abusos de autoridade no governo, da melhoria em
sua qualidade de vida, da valorização de sua cultura popular, da preservação
de seus recursos naturais, da denúncia das condições de vida do operariado e
dos movimentos pela posse de terra, entre outras coisas. Em 1975, foi um dos
primeiros (se não o primeiro) órgãos de imprensa do Brasil a defender a con-
vocação de uma assembleia nacional constituinte. Foi lançado e editado pelo
jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, vinculado ao Partido Comunista do
Brasil. O jornal possuía um líder clandestino, Duarte Lago Brasil Pacheco, do
movimento Ação Popular (AP), mas ligado ao PC, que conduzia secretamente
sua linha política e ideológica.
® BIN: 318744

Movimento DCE UFF – Niterói (RJ), 1975


Jornal de linha política mantido pelo Diretório Central dos Estudantes
da Universidade Federal Fluminense (UFF). Criado por volta de 1975, apre-
sentava e discutia questões, lutas e reivindicações estudantis e do movimento
estudantil interno e externo à UFF. Lançava manifestos, informes sobre elei-
ções para o DCE da UFF, ideias levantadas em debates estudantis, e algumas
matérias transcritas de outros jornais.
® BIN: 487023
Anais da Biblioteca Nacional • 140 203

Movimento Ecológico – Rio de Janeiro (RJ), 1982


Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 15 de setembro de 1982, foi um tab-
loide de cerca de oito páginas mantido pela Associação Brasileira de Ecologia.
Era dirigido pelo presidente da entidade, Alberto Monteiro Lemos da Silva, e
contava com Paulo Maurício Millar como diretor superintendente; era crítico,
denunciativo e reivindicativo, de caráter predominantemente ambientalista.
® BINs: 48530-6 e 54262-8

Muda Nordeste – Recife (PE), 1985


Periódico de caráter social e político lançado no Recife (PE) em dezem-
bro de 1985. Era uma publicação do movimento Muda Nordeste, nascido
em Pernambuco da iniciativa de funcionários da extinta Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), em face às críticas e análises sobre
o Programa de Apoio ao Pequeno Produtor Rural, do Projeto Nordeste. O
periódico, portanto, defendia a iniciativa e colocava em debate questões fun-
damentais à sua mobilização, em especial reforma agrária, violência contra
trabalhadores, cooperativismo, conceitos de gestão democrática, legislação e
posturas governamentais quanto a questões agrárias e discriminação à mulher.
® BIN: 487082

Mulherio – São Paulo (SP), 1981


Jornal bimestral de ênfase feminista criado em São Paulo (SP) em março de
1981. Editado por Adélia Borges (jornalista responsável), Fúlvia Rosemberg
e Marília de Andrade, colocava-se como porta-voz das mulheres, da emanci-
pação feminina como um todo e do movimento feminista, além de noticiar e
discutir temas variados voltados a questões sociais, políticas e culturais, sem-
pre a partir de seus pontos de vista. Em seus primeiros momentos, contava
com o patrocínio e o suporte da Fundação Carlos Chagas, já que era editado
por pesquisadores desta instituição. Mesmo com este apoio, o jornal conside-
rava-se independente, assim como considerava-se independente de qualquer
grupo feminista ou sindical. Mulherio acabou sendo o mais duradouro jornal
feminista que iniciou sua circulação durante o regime militar e chegou a cir-
cular até 1988.
® BIN: 459488

Mulher Pernambucana – Federação das Mulheres Pernambucanas, Re-


cife (PE), 1983
Lançado no Recife (PE), aparentemente em 1983, foi o jornal da Federação
das Mulheres Pernambucanas. Circulando em defesa dos direitos da mulher,
crítico, reivindicativo, político e social, trazia entrevistas, reportagens e no-
tas gerais sobre o movimento feminista, encontros, congressos e campanhas.
204 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Editado por Leila Abreu e Marta Arruda, Mulher Pernambucana era impresso
na Companhia Editora de Pernambuco.
® BIN: 48508-0

Mundo Jovem – Rio de Janeiro (RJ), década de 1960


Revista de cultura, comportamento, filosofia, política e variedades criada
no Rio de Janeiro (RJ), possivelmente em 1968 ou 1969. Editada através da
Rio de Janeiro Editorial Ltda., tinha Suzana Lomba como editora e Zózimo
Barrozo do Amaral como diretor-responsável. Com um projeto gráfico mo-
derno e alta qualidade visual, Mundo Jovem era voltada aos temas em voga
em sua época, com foco na jovem elite intelectual urbana. Nesse sentido,
além de ter explorado uma estética próxima a do semanário O Pasquim – ou
seja, despojada, libertária, politicamente engajada, irreverente e de espírito
essencialmente carioca – abordou questões fundamentais à chamada geração
“flower- power”.
® BIN: 119636

Mural – Sindicato dos Jornalistas do Estado de SP, São Paulo (SP),


década de 1970
Boletim sindical criado em São Paulo (SP), na década de 1970, pelo Sin-
dicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, entidade reconhe-
cida pela edição do jornal sindical Unidade, desde 1975. Como bom órgão
sindical, Mural era crítico e reivindicativo, protetor dos direitos dos jornalistas
paulistas sindicalizados. No entanto, não apenas questões da classe jornalísti-
ca entravam na sua pauta – o jornal constantemente se mostrava a favor das
eleições diretas para a Presidência da República e se posicionou com relação à
cobertura da morte de Tancredo Neves na imprensa, entre outras coisas.
® BIN: 448532

Mural da UPES – União Paranaense de Estudantes Secundaristas,


Curitiba (PR), 1984
Jornal mural estudantil criado em Curitiba (PR) em janeiro de 1984.
Identificado como “Órgão de divulgação da Upes”, a União Paranaense dos
Estudantes de 1o e 2o Graus, atual União Paranaense dos Estudantes Se-
cundaristas, o periódico foi idealizado e elaborado pela gestão “Resistência”
de 1983/1984. Como todo jornal mural, consistia em apenas uma folha
impressa em apenas uma face, medindo aproximadamente 64 cm x 43 cm
e impressa em offset, totalmente em preto-e-branco. Mural da UPES era po-
liticamente engajado e crítico. Sua edição inaugural conclamava: “Diretas
urgente!” – “O povo não suporta mais a exploração, a fome, o entreguismo
e a falta de liberdade!”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 205

O Musical – Rio de Janeiro (RJ), década de 1980


Criado em meados da década de 1980 no Rio de Janeiro (RJ), foi um
jornal cultural, especializado em música. Possuía uma edição de número 0,
sem data (possivelmente tendo circulado em 1985), mas seu no 1 foi lançado
na primeira quinzena de janeiro de 1986. Abordava o jazz, o rock nacional
e internacional, o choro, a MPB, o samba e o pop. Com textos de crítica
musical, reportagens e comentários sobre álbuns e artistas – e com anúncios
publicitários variados – era dirigido por Jorge Caetano Dias e Valéria Costa
Dias, editado por Salete Lisboa. Publicado pela editora Som e Imagem Ltda.
® BIN: 48059-2

Mutirão – Fortaleza (CE), 1977


Tabloide criado em Fortaleza (CE) em setembro de 1977, circulou sob
o selo da editora Palma Publicações e Promoções. Editado por Gervásio de
Paula, Célia Guarabira e Silas de Paula, que contavam ainda com o auxílio de
Luís Carlos Antero (membro do conselho editorial do jornal alternativo pau-
listano Movimento), o periódico se posicionava sociocultural e politicamente
de maneira alinhada com movimentos de base e sindicais. Em linhas gerais,
segundo seu editorial de lançamento, a publicação colocava-se como um meio
“[...] à disposição da comunidade, de forma aberta, sem partidarismos de
qualquer espécie [...] veículo de denúncia das arbitrariedades cometidas con-
tra a população”. Em suas páginas, via-se grande variedade temática: futebol,
paz mundial, a vida de camelôs, injustiças sociais etc.
® BIN: 572845

Nação Cariri – Crato (CE), 1980


Tabloide literário e cultural criado em Crato (CE) em abril de 1980. Pu-
blicação especializada em cultura e folclore nordestino, trazia poesias, contos,
ensaios, entrevistas, fotografias, entre outras coisas. Dirigido e editado por
Rosemberg Cariry, além de Firmino Holanda, Carlos Emílio Corrêa Lima
e Oswaldo Barroso, o jornal contava com colaboradores e correspondentes
baseados em outras cidades do Brasil e pelo exterior. Estima-se que tenham
sido publicadas nove edições de Nação Cariri. Posteriormente, o jornal viera a
se transformar em uma revista, com o mesmo nome (contendo capa colorida,
88 páginas e formato 29 cm x 21 cm).
® BIN: 51218-4

Namarra – Cuiabá (MT), 1979


Mimeografado literário, dedicado quase exclusivamente à poesia marginal,
criado em Cuiabá (MS), possivelmente em dezembro de 1979. Composto
de forma rústica em cerca de oito páginas de tamanho ofício, grampeadas,
circulava sob a responsabilidade de Beddi, Euclides Filho e João Bosquo, e
206 Anais da Biblioteca Nacional • 140

contava com a colaboração de autores de diversos cantos do país. Publicando


prosa, poesia, citações e aforismos, críticas e pequenas resenhas de autores
independentes, editoriais e artigos sobre cultura em Cuiabá, Namarra trazia
principalmente textos literários de seus três editores e de colaboradores.
® BIN: 377074

Nave – Niterói (RJ), 1985


Revista de espiritualidade, comportamento, contracultura, astrologia,
ecologia, filosofias orientais e assuntos místicos em geral, editada por Regi-
na Sylvia Pugliero em Niterói (RJ) a partir de setembro de 1978. Circulou
inicialmente mimeografada, produzida de forma rústica e com dificuldades.
Em 1986, deixou de circular. Em fevereiro de 1991, acabou sendo relançada
com nova qualidade, em faceta mais profissional e bem acabada, impressa em
offset, periodicidade bimestral e sistema de distribuição organizado. Embora
não tivesse perdido vínculos com sua fase anterior, a revista, ainda editada por
Regina Sylvia Pugliero, vinha com nova numeração, reiniciada.
® BIN: 504840

Nós – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Interior do Estado de


SP, São Paulo (SP), 1985
No início de junho de 1985, em São Paulo (SP), o Sindicato dos Jorna-
listas Profissionais no Estado de São Paulo criou o tabloide Nós, voltado aos
“Jornalistas profissionais do interior de São Paulo”. O periódico, lançado em
12 de junho em um encontro realizado em Santos, foi viabilizado dentro
do sindicato pela Comissão de Mobilização da Campanha Salarial de 1985,
então integrada por profissionais de imprensa representantes das regiões de
Campinas, ABC Paulista, Guarulhos, Sorocaba, São José dos Campos, Mogi
das Cruzes, Rio Claro e Ribeirão Preto (em um segundo momento, foram
inseridos representantes de Bauru, Santos, Suzano, Piracicaba, Araçatuba e
Americana). Seu editor inicial foi Robson Moreira.
® BIN: 489174

Nimuendaju – Boletim da Comissão Pró-Índio (RJ) Rio de Janeiro


(RJ) 1979
Periódico indigenista lançado em janeiro de 1979 no Rio de Janeiro (RJ)
através da Comissão de Divulgação Cultural da regional fluminense da Co-
missão Pró-Índio. Seu foco estava em questões gerais da condição indígena
brasileira. Era editado por Marcelo Beraba. O nome do periódico foi dado
a partir da história de Curt Unckel Nimuendaju, indigenista e antropólogo
autodidata alemão que viveu com inúmeros povos indígenas brasileiros. Pre-
sidida por Anthony Seeger, a Comissão Pró-Índio de base carioca também se
Anais da Biblioteca Nacional • 140 207

responsabilizou pela edição do jornal Borduna; já em seu braço paulistano,


editou os Cadernos da Comissão Pró-Índio.
® BIN: 864765

Noticiário do Sindicato dos Engenheiros no Estado de Alagoas – Ma-


ceió (AL), 1982
Tabloide criado em 1982(?) em Maceió (AL). Como bom exemplo de im-
prensa sindical, era crítico, direto e reivindicativo, prioritariamente atento aos
interesses de sua categoria. Focou sobretudo o sindicalismo em seu segmento
profissional específico, apresentando, discutindo e/ou incentivando eleições
no sindicato e em outras entidades, reivindicações, montagem de chapas,
conscientização e encontros de classe, apresentação de propostas a autorida-
des, convênios, campanhas, confraternizações, perspectivas e planejamentos
da gestão da época, episódios de impedimento de sindicalização, legislação
nociva às classes trabalhadoras, consciência política nas empresas etc., ou mes-
mo abordando o sindicalismo brasileiro, como um todo. Era dirigido por
Flávio Teles de Farias.
® BIN: 489182

Nós Irmãos – Boletim da Diocese de Rio Branco, Rio Branco (AC),


1971
“Boletim da Diocese de Rio Branco.” Surgido em Rio Branco (AC) em
dezembro de 1971, o periódico foi essencialmente um divulgador da ação
pastoral da Igreja Católica e desempenhou importante papel ao dar voz a
comunidades oprimidas da sua área de atuação. Deu espaço a temas relaciona-
dos a entidades e movimentos sociais; veiculava protestos, críticas, denúncias
de violência e abuso de poder em seringais, fazendas, colônias etc. De certa
forma, o boletim diocesano antecipou as ações do jornal alternativo Varadou-
ro, que surgiria em Rio Branco apenas em 1977. Noticiou prisões, expulsões
e torturas sofridas por padres considerados “subversivos”; revoltas populares;
as injustiças cometidas no Acre por “paulistas”, a gíria local para empreiteiros
e fazendeiros que vieram de fora; diretrizes de mobilizações e grupos eclesiás-
ticos; questões de disputa de terras; reforma agrária; irregularidades em serin-
gais; violência contra trabalhadores; violência policial; catecismo marxista etc.
® BIN: 530670

Nós, Mulheres – São Paulo (SP), 1976


Tabloide que tratava do feminismo e de seus desdobramentos em meios
políticos, culturais e sociais. Criado em São Paulo (SP) em junho de 1976 por
obra de ex-integrantes do Círculo de Mulheres de Paris, um grupo de feminis-
tas exiladas que voltava ao Brasil, era produzido por um coletivo capitaneado
por Marisa Correa. De matriz ideológica marxista, o periódico nasceu a partir
208 Anais da Biblioteca Nacional • 140

de encontros de mulheres militantes articulados pelo Centro de Desenvolvi-


mento da Mulher Brasileira. Tinha Anamárcia Veinsecher e Marisa Correa
como jornalistas responsáveis.
® BIN: 25615-3

Nossa Voz – UNE, Rio de Janeiro (RJ), 1980


Jornal político reivindicativo do movimento estudantil, da União Nacional
dos Estudantes. Com textos críticos e opinativos e ilustrações humorísticas,
tratava principalmente de eleições de DCEs, lutas da UNE, política e situação
estudantil no contexto social brasileiro. Sabe-se que “Nossa Voz” teve mais de
dez anos de circulação.
® BIN: 48636-1

O Nosso – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia,


Salvador (BA), 1980
Minitabloide de Salvador (BA), lançado em 1980(?), foi o “Órgão Oficial
do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Bahia”, o Sinjorba.
Tratava de assuntos como ações gerais do sindicato em defesa da profissão
jornalística, dificuldades enfrentadas pela classe, greves, ações do movimento
estudantil em apoio a jornalistas, Lei de Imprensa e censura, memórias de re-
pórteres, lançamentos de publicações, polêmicas e irregularidades em órgãos
da imprensa, altas no custo de vida, violência policial, entre outras coisas. Não
trazia nomes de editores, apenas de colaboradores: Agliberto Correia Lima,
Antonio Jorge, Clara Chagas, Emialiano José, Heloísa Gerbasi, entre outros.
® BIN: 48763-5

Nova Geração – Porto Alegre (RS), década de 1980


Periódico de poesia, voltado à divulgação de novos poetas e artistas inde-
pendentes, editado artesanalmente em Porto Alegre (RS) no começo da déca-
da de 1980. Além da pura e simples divulgação de poemas, também publicava
textos em prosa, ilustrações, listas de livros recebidos por seus editores (por
permuta entre autores) e listas de publicações artesanais de poesia de todo o
Brasil (com indicações de endereço ou caixa postal).
® BIN: 122564

Novo Jornal – Londrina (PR), 1971


Tabloide lançado em Londrina (PR) em setembro de 1971. Dirigido por
Nilson Rimoli e Cleto de Assis, com coordenação editorial de Leonardo
Henrique dos Santos, era propriedade da Cia. Editora Novo Jornal. Abor-
dou e discutiu casos de polícia no interior do Paraná, políticas nacional
e local, corrupção na administração pública, questões e peculiaridades da
agropecuária e dos negócios locais, as dificuldades impostas ao cidadão pela
Anais da Biblioteca Nacional • 140 209

burocracia na esfera pública, conflitos armados internacionais, golpes de


estado e processos revolucionários em outros países, verbas e projetos para
obras públicas, censura à imprensa, Atos Institucionais, greves, a libertação
da ativista negra Angela Davis, repressão violenta a jornalistas, guerrilhas
na Amazônia, a esquerda brasileira, economia internacional e nacional, o
vencimento do prazo de cassação de direitos políticos imposto pela ditadura
em 1974, questões agrárias etc.
® BIN: 12275-0

Novos na Poesia – João Pessoa (PB), 1981


Pequeno periódico artesanal, exclusivamente dedicado à poesia, lançado
em 1981(?) em João Pessoa (PB). Continha cerca de 24 páginas, reproduzi-
das por mimeógrafo ou fotocópia, e era editada por Luiz Fernandes da Silva.
Trazia basicamente poemas de autores independentes acompanhados de pe-
quenos textos com o perfil e o currículo dos mesmos. Trazia também curtas
notícias sobre literatura alternativa.
® BIN: 45030-8

Número Um – Fenaj, Brasília (DF), 1984


Jornal lançado em setembro de 1984 em Brasília (DF), como órgão ofi-
cial da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Definido com o subtítulo
“Jornal do jornalista” (que era, por sinal, o título de outro jornal da Fenaj),
foi um importante canal denunciativo de censura, repressão violenta e arbitra-
riedades em geral cometidas contra jornalistas, além de possuir um potencial
reivindicativo para as principais lutas da classe e de debater questões funda-
mentais à profissão. Em suas páginas, tiveram grande destaque casos como o
assassinato do jornalista Mário Eugênio, da revista IstoÉ, morto pela polícia
em Brasília, o que gerou pedidos de afastamento do coronel Lauro Reith,
secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
® BIN: 555657

Número – Rio de Janeiro (RJ), 1971


Revista literária lançada no Rio de Janeiro (RJ) em outubro de 1971. Pu-
blicada mensalmente, circulou pelo menos até sua edição no 4, de janeiro
de 1972. Não se sabe se foi publicada além desta data. A rigor, trazia apenas
literatura e dedicava-se a divulgar novos autores: a revista trazia apenas contos,
poemas e outros textos. Trouxe, ao longo das quatro edições consultadas nesta
pesquisa, trabalhos de autores como Ronaldo Werneck, Pedro Novaes Lima,
Manoel Lobato, entre outros.
® BIN: 324590
210 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Olho Nu – Magé (RJ), 1981


Revista literária criada no município de Magé (RJ), em junho de 1981,
com foco principal em artes e artistas locais e na memória popular mage-
ense. Seu lançamento se deu em um evento cultural na então Taberna Cine
Club em Magé no dia 28 de junho e contou com vários escritores mageenses,
músicos e poetas da Feira de Poesia da Cinelândia do Rio de Janeiro. Era
editado por um conselho composto inicialmente por Cláudio Insaurriaga (co-
nhecido como “Gaúcho”), Douglas Carrara, Hernandes Abreu, Ilma Bastos,
Jader “Moreno” Ullmann, Jânia Cordeiro da Silva, Marinete Seixas Chaves,
Ribamar Gomes, Ronaldo Neumann Botelho e Ruy Pereira.
® BIN: 392812

Opinião – Rio de Janeiro (RJ), 1972


Tabloide político, cultural e debatedor, semanal, criado no Rio de Janei-
ro (RJ) em 23 de outubro de 1972. Nasceu da fusão de um projeto edito-
rial de Fernando Gasparian, empresário, ex-membro do Conselho Nacional
de Economia e ligado ao governo deposto de João Goulart, e de Raimundo
Rodrigues Pereira, editor egresso da revista Realidade. Fundado, bancado e
dirigido por Gasparian e editado por Raimundo Pereira, Opinião foi um dos
mais influentes jornais do período da ditadura militar, com participações de
intelectuais e jornalistas renomados da época. Pretendendo-se independente e
amplo, questionava a realidade brasileira através dos seguintes compromissos:
defesa das liberdades democráticas, melhor distribuição de rendas, e da defe-
sa do patrimônio ecológico, da economia nacional e dos direitos humanos.
Objetivava prestigiar a intelectualidade nacional em um momento em que
grandes órgãos de imprensa fechavam-lhe as portas. Pereira mantinha conta-
tos secretos com segmentos da Ação Popular (AP) e com o Partido Comunista
do Brasil (PC), com fins de conduzir ideologicamente o jornal, sem que o
conselho editorial e o dono formal da publicação soubessem.
® BIN: 123307

Outras Palavras – Curitiba (PR), 1978


Revista de cultura e, sobretudo, literatura. Politicamente engajada, foi lan-
çada em Curitiba (PR) em outubro de 1978 e circulava sob o selo da editora
Beija-Flor, que, a rigor, era focada na divulgação de autores paranaenses. No
editorial de seu no 1, onde apresentava o conteúdo da edição em meio a co-
mentários sobre a arte política latino-americana, Outras Palavras dava o tom
de seu engajamento antiautoritário. Era editada por um coletivo composto
por Reinoldo Atem, Fernando Nogueira, Ubirajara Araújo, Fernando Mon-
talvão, Luís Montalvão, Raimundo Fontanelle e Werner Zotz.
® BIN: 498718
Anais da Biblioteca Nacional • 140 211

Ovelha Negra – São Paulo (SP), 1978


Periódico humorístico de circulação nacional criado em São Paulo (SP)
em abril de 1976. Politicamente engajado, enfatizava problemas de ordem
política e social no Brasil de então, era extremamente contrário à censura e
valorizava o humor gráfico brasileiro, especializado em cartuns e charges; tra-
zia também alguns textos de crítica ou humor. Circulava em formato tabloide,
primeiro sob o selo da Editora Alternativa Ltda. Editado inicialmente pela
dupla J. B. de Souza Freitas e Geandré (pseudônimo de Arlindo Rodrigues).
® BIN: 216135

Painel – DCE UFF, Niterói (RJ), 1982


Lançado em Niterói (RJ) em setembro de 1982, Painel foi o tabloide do
DCE Fernando Santacruz, dos estudantes da Universidade Federal Fluminen-
se. Tratava principalmente de política e questões estudantis em geral – além
da mescla entre estes dois tópicos: a política estudantil. O diretor do depar-
tamento de imprensa do DCE, na ocasião do lançamento do jornal, era José
Luiz Sanz.
® BIN: 495913

Palco Aberto – Recife (PE), 1984


Rústico periódico de poesia marginal – com forte inspiração em fanzines
de rock’n’roll – lançado no Recife (PE) e editado pelo poeta Wilson Vieira e
por Zizo, ilustrador. Trazia poemas de Wilson Vieira, Amaro Cavalcanti, Luiz
Carlos Monteiro, Gustavo Moreira e Doca Brandão e era impresso no Estúdio
MM em tiragem de 500 exemplares.
® BIN: 13523-2

Pampulha – Belo Horizonte (MG), 1979


Revista bimestral lançada em Belo Horizonte (MG) em novembro/de-
zembro de 1979. De início, era formalmente editada pela Caminho Novo
Empresa Jornalística e pela editora Panela, e contava com parceria com o De-
partamento Minas Gerais do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-MG).
Politicamente engajada na redemocratização, possuía um conselho editorial
composto primeiramente por Álvaro Mariano Teixeira Hardy, Ana Maria
Schmidt, Eduardo Roberto Tagliaferri, Éolo Maia, Francisco Moreira de An-
drade Filho, entre outros.
® BIN: 415421

Paneiro – CPT, Manaus (AM), 1979


Informativo da Regional Norte I da Comissão Pastoral da Terra (CPT),
órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lançado em
Manaus (AM) provavelmente em 1979. Editado com simplicidade, tinha
212 Anais da Biblioteca Nacional • 140

circulação interna e periodicidade irregular. Além de seu caráter evangelizador


e divulgador da postura da Igreja Católica frente a determinados assuntos,
discutia questões sociais caras à CPT: luta em defesa dos direitos humanos,
engajamento político, indigenismo, reforma agrária, conjuntura nacional de
movimentos populares, movimentos sindicais, direitos trabalhistas, encontros
e congressos de base, preservação do meio ambiente, democracia brasileira ao
fim da ditadura militar, participação popular na Assembleia Constituinte de
1988 etc.
® BIN: 461482

Papa-Figo – Recife (PE), 1984


Minitabloide criado por Manoel Bione de Souza, José Teles da Silva Filho
e Romildo Araújo Lima (o cartunista Ral) no Recife (PE). Teve a 1ª edição
lançada na primeira semana de agosto de 1984. Lançado como produto da
editora Bioral, era irreverente, despojado, satírico, crítico e nonsense, nota-
bilizando-se tanto por seu humor político quanto por sua faceta “besteirol”.
Fez sucesso na capital pernambucana, onde era distribuído semanalmente às
sextas-feiras. Editado por jovens e bem-recebido sobretudo pelo público estu-
dantil, foi inspirado em O Pasquim. Sem pudores na publicação de palavrões,
com linguagem agressiva e piadas altamente corrosivas, o teor politicamente
incorreto.
® BIN: 13509-7

O Pasquim – Rio de Janeiro (RJ), 1969


Fundado em 26 de junho de 1969 por Tarso de Castro, Carlos Prósperi,
Sérgio Cabral, Claudius Ceccon, e Sérgio Jaguaribe (mais conhecido como Ja-
guar), no Rio de Janeiro (RJ), foi um jornal semanal de cunho político, crítico
e humorístico. Nasceu com a intenção de disseminar um humor e um estilo
de vida cariocas, essencialmente provenientes da elite intelectual boêmia do
bairro de Ipanema. Considerado o mais famoso jornal brasileiro de resistência
à ditadura militar, foi inspirado no tabloide humorístco semanal A Carapuça,
de Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) – por outro lado, inspirou diversos
outros jornais de humor debochado. Editado com extrema informalidade,
refletia a profunda amizade entre seus colunistas e colaboradores: a soma das
individualidades da equipe e a falta de um projeto jornalístico definido forma-
vam uma linha editorial espontânea – O Pasquim é conhecido como o veículo
de informação da “Esquerda Festiva”, a forma como o jornalista Carlos Leo-
nam definia a “patota”. Apesar de formalmente possuir editores, na prática, a
redação não possuía chefia. Inicialmente a redação do jornal contava apenas
com Jaguar, Carlos Prósperi, Claudius, Tarso de Castro e Sérgio Cabral, que
refletiam um tom debochado e inconsequente ao semanário. Contou com
inúmeras colaborações de intelectuais brasileiros exilados. Surgido em um
Anais da Biblioteca Nacional • 140 213

período em que os demais jornais ainda não haviam se recuperado do impacto


inicial do AI-5, O Pasquim revolucionou a linguagem do jornalismo brasileiro
pela oralidade de seus textos, criação de gírias e pela inserção de palavrões no
corpo editorial. Sofreu com a censura e com ataques à bomba em bancas de
jornais cariocas no início dos anos 1980.
® BIN: 124745

Pássaro – UFC, Fortaleza (CE), 1979


Periódico experimental de cultura lançado em maio de 1979 em Fortaleza
(CE). Segundo o subtítulo desta primeira edição, foi uma “Revista de cultura
dos alunos da U.F.C.”, a Universidade Federal do Ceará. Era elaborada inicial-
mente por uma comissão editorial composta por Antônio Álder Teixeira, Car-
los Emílio Corrêa Lima, Marly Vasconcelos, Ezildo Luiz Américo de Souza,
Marcelo Lavor, Márcio Catunda e Natalício Barroso Filho. Tinha o objetivo
de divulgar o trabalho de poetas, escritores, ensaístas e artistas visuais jovens,
estudantes da UFC.
® BIN: 358312

Pastoral da Terra – CPT, Goiânia (GO), 1975


Periódico editado desde dezembro de 1975 em Goiânia (GO) pela Comis-
são Pastoral da Terra (CPT), uma organização criada em junho daquele mes-
mo ano, ligada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Surgiu
quase ao mesmo tempo que a CPT, fundada em junho de 1975 no chamado
Encontro de Pastoral da Amazônia. Em formato de boletim, o periódico era
feito por quem estava na secretaria da CPT e os próprios agentes da pastoral,
ou simplesmente por quem quisesse contribuir. por um tempo, intitulado
apenas Boletim da CPT. Em 2013, circulava com o título Pastoral da Terra,
com basicamente a mesma linha editorial de quando foi criado: em defesa de
comunidades de trabalhadores rurais assalariados submetidos a condições de
semiescravidão, posseiros, quilombolas, indígenas, ribeirinhos etc., contra a
opressão do latifúndio.
® BIN: 555860

Pastoral Operária – São Paulo (SP), 1979


Rústico periódico lançado em São Paulo (SP) por volta de 1979, pelo Se-
cretariado Nacional da Pastoral Operária, uma organização de defesa da classe
trabalhadora urbana que faz parte das pastorais sociais da Comissão para a Ca-
ridade, Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Serviu como um espaço para a reflexão sobre as condições de vida da classe
trabalhadora à luz da chamada Doutrina Social da Igreja Católica. Em para-
lelo, abordava tópicos como manifestações populares, o ativismo negro pela
igualdade racial, questões trabalhistas, reivindicações da classe operária em
214 Anais da Biblioteca Nacional • 140

geral, exploração do trabalhador, sindicalismo, desemprego e arrocho salarial,


atividades gerais e particularidades de pastorais de diversas arquidioceses bra-
sileiras, desigualdade social e concentração de renda, migração de populações
carentes, cidadania e direitos humanos, política nacional, personalidades mar-
cantes do ativismo social católico etc.
® BIN: 535974

Paz e Terra – Rio de Janeiro (RJ), 1966


Revista bimestral lançada no Rio de Janeiro (RJ) em julho de 1966. Diri-
gida por Waldo A. César e editada por Moacyr Felix, se destacava pela linha
editorial combativa aos arbítrios da ditadura militar, focada principalmente
nas ações e nos rumos da esquerda católica brasileira. Estritamente libertário
e aguerrido, o periódico era calcado no conceito de deus como libertador dos
fracos e oprimidos, e tomava como marco teológico a Encíclica Pacem in
Terris de 11 de abril de 1963. Circulou através da Editora Paz e Terra Ltda.,
e era impressa na Cia. Gráfica Lux, com distribuição pela Editora Civilização
Brasileira. Paz e Terra, de certa maneira, era semelhante à Revista Civilização
Brasileira, e pode ser encarada como uma versão católica da última. Moacyr
Felix, a rigor, foi editor de ambos os periódicos, que tiveram papeis significa-
tivos como veículos de resistência intelectual à ditadura.
® BIN: 124958

O Perú Molhado – Armação de Búzios (RJ), 1981


Jornal de linha cultural, humorística, política e de variedades, fundado em
23 de fevereiro de 1981 por Marcelo Sebastián Lartigue e Aníbal Fernando,
no município de Armação de Búzios (RJ). Tabloide quinzenal anárquico em
seus primeiros momentos, trazia irreverentes reportagens sobre o cotidiano de
Búzios, denúncias, críticas, eventos e festivais, colunas sociais, agendas cultu-
rais, entrevistas, comentários e artigos sobre política, arte, celebridades, per-
sonalidades locais, esportes, cultura e variedades, normalmente em linguagem
popular e descomplicada. É um dos jornais de resistência mais longevos entre
os surgidos durante o regime militar.
® BIN: 58056-2

Phoca – jornal laboratório da ECO UFRJ, Rio de Janeiro (RJ), 1982


“Jornal laboratório da Escola de Comunicação” da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (ECO-UFRJ). Criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1982(?)
em formato tabloide, o periódico foi produzido por alunos através das disci-
plinas de Técnicas de Codificação em Jornalismo I e II e Técnicas de Produção
e Difusão em Jornalismo I e II. Seus orientadores foram os professores Nilson
Lage, Evandro Vieira Ouriques e Alaor Barreto. Em artigos e reportagens es-
sencialmente críticas, Phoca abordava prioritariamente assuntos de interesse
Anais da Biblioteca Nacional • 140 215

dos alunos de comunicação: novas tecnologias no jornalismo e nas telecomu-


nicações, censura na mídia, estratégias de marketing de empresas de comuni-
cação, dificuldades do mercado de trabalho, análises técnicas e históricas de
representantes da grande imprensa, jornalismo literário, assuntos referentes à
administração da UFRJ, sindicalização, democracia participativa e movimen-
tos comunitários etc.
® BIN: 49602-2

Phuraphroidy – Jardinópolis (SP), 1985


Revista literária de vanguarda lançada em Jardinópolis (SP), em setembro
de 1985, editada por José Luís Conti e Gabriel de la Puente. Sem trazer seu
nome nas capas ou datas e numeração em suas edições, publicava, sobretudo,
contos breves e ensaios literários, enviados por diversos colaboradores, com o
intuito de divulgar novos autores. Antes de sua fundação como revista, Phu-
raphroidy circulou como uma simples folha de papel.
® BIN: 449261

Picaré – Santos (SP), 1980


Rústico periódico literário especializado em poesia, lançado em outubro
de 1979 em Santos (SP). Surgido de um grupo de poetas marginais tam-
bém denominado Picaré, fundado em junho de 1979, era editado por Ra-
fael Marques Ferreira e Raul Christiano Sanchez, com Osvaldo Silva Costa
como responsável pela arte. Publicava poesia, prosa, cartuns, ilustrações,
críticas de cultura, listas divulgando os livros do grupo Picaré e reflexões e
debates sobre temas variados – como poesia independente, a marginalia e
a geração mimeógrafo, a oposição entre teoria e prática na política revolu-
cionária, a cultura em Santos e no Brasil, censura e abertura política, entre
outros assuntos.
® BIN: 467120

Pif-Paf – Rio de Janeiro (RJ), 1964


Revista mensal de humor e crítica política, criada e dirigida por Millôr
Fernandes no Rio de Janeiro (RJ), em 21 de maio de 1964, a partir da coluna
humorística que possuía na revista O Cruzeiro (BIN 0358-1), dos Diários
Associados. Millôr havia sido demitido dos Associados a partir da polêmica
ocasionada com a publicação do trabalho “A verdadeira história do Paraíso”,
após a qual O Cruzeiro rendeu-se às pressões de um público católico conserva-
dor. Viabilizada através de empréstimo cedido pelo Banco Nacional de Minas
Gerais, Pif-Paf é atualmente considerado um dos periódicos formadores da
linguagem jornalística satírica e inteligente da imprensa alternativa do perío-
do do regime militar. Em expediente, contava com o trabalho de Yllen Kerr e
Eugênio Hirsch, além de colaboradores de peso, como Sérgio Porto, Rubem
216 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Braga, Leon Eliachar, Antônio Maria, João Bethencourt, Reynaldo Jardim,


Campos de Carvalho etc.
® BIN: 12575-0

Pingente – Rio de Janeiro (RJ), 1977


Tabloide mensal de linha humorística e cultural, lançado no Rio de Ja-
neiro (RJ) em junho de 1977. Produzido por um coletivo editorial de dese-
nhistas de humor, circulava pelo selo da Editora Chalaça, em coedição com
a Editora Codecri Ltda., do célebre jornal carioca O Pasquim. Seu slogan
era “Quadrinhos, cartuns, textos de humor, o diabo a quatro”. Os editores
de Pingente foram importantes nomes do humor ilustrado brasileiro: Nani,
Coentro, Carlos Jorge Guidacci da Silveira, Jésus de Almeida Rocha e José
Arimathéa Bastos Duayer.
® BIN: 506559

Pipoca – São Paulo (SP), 1985


Periódico cultural lançado em dezembro de 1985 em São Paulo (SP) por
Monika Alves de Almeida Picanço, poeta marginal, jornalista, cantora e com-
positora conhecida por Monika Pi. Editado com simplicidade, com a assis-
tência de Yara Nantes, trazia poemas, letras de músicas, informes gerais para
a classe artística, cartas de leitores, aforismos e curtas seções de variedades, e
divulgava lançamentos de livros ou discos de artistas independentes, eventos
culturais, concursos literários e contatos de artistas, cursos, espaços culturais,
periódicos alternativos de cultura etc.
® BIN: 443166

Pirata – Recife (PE), 1984


Periódico cultural e literário lançado em 1984 (sem indicação de mês)
no Recife (PE). Era editado por um conselho composto por Alberto Cunha
Melo, Carlos Daconti, Eugênia Menezes, Jaci Bezerra, Lúcia Menezes, Ma-
ria de Lourdes Hortas, Myriam Brindeiro de Moraes Vasconcelos e Zuleide
Duarte; todos, aparentemente, oriundos de um mesmo movimento poético.
® BIN: 446904

Pirauá – São Paulo (SP), 1982


Periódico mimeografado literário lançado em novembro de 1982 em São
Paulo (SP). Editado por Luís Avelima, dedicava-se majoritariamente à poesia
marginal, além de trazer críticas de livros do gênero, pequenos artigos ou
ensaios literários, crítica de cultura, manifestos, publicidade de autores ou
editoriais independentes e algumas ilustrações. Em expediente, colocava-se
como “mais uma publicação alternativa a serviço da nova poesia brasileira”.
® BIN: 446874
Anais da Biblioteca Nacional • 140 217

Planeta Diário – Rio de Janeiro (RJ), 1984


Tabloide humorístico surgido no Rio de Janeiro (RJ), em dezembro de
1984, pelas mãos de Cláudio Paiva, Hubert de Carvalho Aranha e Reinaldo
Batista Figueiredo, egressos de O Pasquim. Extinto em 1992, acabou sendo
o mais importante periódico humorístico de sua geração – certamente mere-
cedor de um lugar de destaque na história da imprensa satírica brasileira –, e
revelou humoristas que se tornaram reconhecidos a nível nacional. Em suas
páginas, satirizava – de forma ácida, fantasiosa, nonsense e exagerada – a vida
de personalidades políticas e artísticas, geralmente colocadas em paralelo às
mazelas do povo brasileiro. Tratava de forma irreverente, crítica e bem-hu-
morada a situação política e social de um Brasil que lentamente se libertava
da ditadura militar, além de satirizar a grande imprensa brasileira e estampar
seu humorismo gráfico em layouts conservadores e sisudos, semelhantes aos
de jornais “sérios”. O propósito desta diagramação era de confundir o jornal
irônico com os periódicos tradicionais, nas bancas: a diferença era que o Pla-
neta Diário costumava trazer na capa manchetes hilárias de duplo-sentido e
fatos inusitados, geralmente falsos e absurdos, acompanhados de fotografias
que potencializavam seus significados.
® BIN: 516317

Poemar – Recife (PE), 1985


Rústico periódico de poesia marginal lançado no Recife (PE), com edição
preliminar no 0 datada de dezembro de 1985. Apesar de sua edição ser sim-
plesmente atribuída a uma “Cooperativa” não identificada, aparentemente,
uma de suas editoras foi Acidália Marisa M. Araújo. Luiz Fernando Oliveira
da Silva e Domingos Sávio de Souza provavelmente também faziam parte do
coletivo editor.
® BIN: 13554-2

Poemarte – Joinville (SC), 1984


Periódico literário rústico, de formato diminuto, lançado em Joinville (SC)
em agosto de 1984. Era editado pelo Grupo Poemarte, fundado em junho
de 1984, composto pelos poetas Celso Carlos Gomes (de Jaraguá do Sul),
Belisário Régis (de Florianópolis), Luiz Saulo Adami, Maria Cristina Rosa (de
Itajaí, assim como Adami), Miguelito Savagé e Luiz Carlos Amorim (ambos
de Joinville). Foi veiculado através do apoio do comércio e de instituições
locais, que anunciavam em suas páginas.
® BIN: 438111

Poesia – Belo Horizonte (MG), 1977


Revista literária simples, de pequeno formato (21,5 cm x 16 cm), lança-
do em Belo Horizonte (MG) em 15 de outubro de 1977. Era dirigido por
218 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Rubens Hosken Ferreira e José Jésus Gomes de Araújo, que contavam com
Maria Norma Negreiros como secretária, com Max de Figueiredo Portes
como responsável pela arte, com Fernando Correia de Araújo Jr. como rela-
ções públicas e com uma comissão para seleção de poemas a serem publicados,
composta por Pascoal Motta, Márcio Almeida e Geraldo Reis. Poesia era uma
publicação da Fundação Brasileira de Bolsas de Estudos (FBBE), que dava
certa estabilidade à sua realização.
® BIN: 126365

Poesia de Oficina – João Pessoa (PB), 1983


Periódico literário lançado em João Pessoa (PB), possivelmente no início
dos anos 1980 – sabe-se apenas que sua 3ª edição, a única consultada nesta
pesquisa, data de 1983. Editada por Antonio Arcela, a publicação circula-
va sob o selo da Edições Macunaíma e era produto das oficinas literárias
promovidas pela Fundação Espaço Cultural da Paraíba (Funesc), coordena-
das pelo próprio Arcela, que, ademais, também editava o periódico Oficina
Literária.
® BIN: 446831

Poesia e Cia – Londrina (PR), 1984


Periódico literário rústico, de formato reduzido, lançado em Londrina
(PR) em fevereiro de 1984. Era editado por Luiz Carlos Leme Franco e Eloyr
Doin Pacheco e circulava como publicação da Casa do Poeta de Londrina.
Esta, à época, era presidida por Leme Franco, com João Soares Caldas e Eloyr
Pacheco como vice-presidentes, Gonçalves Costa como secretário, Ercília
Franco Santos como bibliotecária, Cássio Leite Machado como diretor do
patrimônio, Itamar Magalhães e Mário José Romagnole como assessores, Del-
vide Barbosa Gomes como assessor de imprensa e Irany Leonardo Fernandes
como responsável pelo departamento de trovas.
® BIN: 422622

Poesia e Vida – Rio de Janeiro (RJ), 1982


Tabloide cultural, predominantemente literário, lançado no Rio de Janei-
ro (RJ), em novembro de 1982. Editado por Carlos Augusto Corrêa, com
Ismael Tarocco como diretor administrativo e Valdemiro J. Fernandes como
responsável pela diagramação e pela arte, era impresso através da Midas In-
dustrial Gráfica Ltda. Trazia ensaios e artigos na área da arte e da cultura,
editoriais, ilustrações e, principalmente, poemas, que ocupavam quase a to-
talidade do jornal.
® BIN: 418293
Anais da Biblioteca Nacional • 140 219

Poesia Livre – Ouro Preto (MG), 1978


Periódico de poesia de vanguarda, lançado em Ouro Preto (MG) em abril
de 1977. Foi editado por Guilherme Mansur Barbosa, com conselho edi-
torial composto por Mariza Esteffanio, Otávio Ramos, Romério Rômulo,
Régis A. D. Gonçalves e Petrus. Seu formato, justificado pelo seu caráter ar-
tesanal, era inovador: suas páginas, impressas em papel Kraft, a offset, vinham
soltas dentro de um pacote, também de papel pardo, medindo 24 cm x 10,5
cm. Saía com o apoio de artistas visuais, donos de comércio e entusiastas das
artes locais.
® BIN: 364622

Poetagem – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Rústico periódico literário marginal lançado no início de 1978 no Rio de
Janeiro (RJ). Era produzido por iniciativa de um grupo poético do diretório
central dos estudantes (DCE) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio). Seu conselho editorial era composto por Ana Lúcia de Mi-
randa, Mário Augusto, Clarice Niskier, Carlos Pousa, César Augusto e Marcia
Jacques, integrantes desse grupo, alunos de cursos diferentes da PUC-Rio.
® BIN: 326771

Política – Unesp, Marília (SP), 1984


Simples periódico lançado em Marília (SP) no ano de 1984, através da
Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Documentação da
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), no campus
de Marília, sob responsabilidade do corpo docente do Departamento de Ci-
ências Políticas e Econômicas. Tinha uma comissão editorial composta pelos
professores Alvanir de Figueiredo e Mércia Regina Pampana Basoli. Impresso
na seção de reprografia do campus de Marília, foi integrante de uma coleção
de periódicos lançados pela Unesp naquela época, todos com o mesmo for-
mato, mas com títulos e temas diferentes – Lexicografia, Etnologia (focados
em questões socioculturais indígenas), Política e Cultura (que abordavam a
contracultura e a marginália, entre outras manifestações artísticas de vanguar-
da), Literatura etc. Cada título desta coleção teve poucas edições. Esta coleção
seguia os moldes de editoriais de outro periódico do campus de Marília da
Unesp, o Combinatória – Estudos e Pesquisas.
® BIN: 448362

Política e Cultura – Unesp, Marília (SP), 1982


Simples periódico lançado em Marília (SP) no ano de 1982. Era editado
através da Faculdade de Educação, Filosofia, Ciências Sociais e da Documen-
tação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp),
no campus de Marília, sob responsabilidade do professor César Augusto
220 Anais da Biblioteca Nacional • 140

de Carvalho, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas. Tinha


comissão editorial composta pelos professores Alvanir de Figueiredo e Síl-
via Marta Canevazzi. Era impresso na seção de reprografia do campus de
Marília e foi integrante de uma coleção de periódicos lançados pela Unesp
naquela época, todos com o mesmo formato, mas com títulos e temas dife-
rentes (ver acima).
® BIN: 448346

Política Externa Independente – Rio de Janeiro (RJ), 1965


Revista lançada pela Editora Civilização Brasileira, então responsável pela
importante Revista Civilização Brasileira, no Rio de Janeiro (RJ) em maio de
1965. Trazia basicamente artigos e ensaios de grandes intelectuais brasileiros
e estrangeiros, e seu foco recaía sobre questões de política externa e relações
internacionais. Manifestando apoio a uma política externa independente, na-
cionalista, forte e desenvolvimentista para o Brasil, era um periódico voltado
à elite intelectual politicamente engajada. No seu editorial de lançamento,
colocava-se a cargo de avaliar “as situações, os problemas e as forças da política
internacional, que sempre influíram decisivamente nos destinos do Brasil”.
A publicação originou-se dirigida por Ênio Silveira, o responsável geral pela
Editora Civilização Brasileira. Jayme Azevedo Rodrigues assinava como secre-
tário executivo.
® BIN: 126500

Politika – Rio de Janeiro (RJ), 1971


Tabloide semanal de teor político, criado no Rio de Janeiro (RJ) pelos
jornalistas políticos veteranos como Sebastião Nery, Oliveira Bastos, Jorge
França e Adirson de Barros. Surgido em outubro de 1971 e com o subtítu-
lo “Um jornal sem preconceitos”, tinha uma linha ideológica inspirada no
nacionalismo populista, e evocava visões míticas de Getúlio Vargas, Jusceli-
no Kubitschek e João Goulart. Era editado por uma equipe composta por
Sebastião Nery, Philomena Gibran, Oliveira Bastos e Adirson de Barros, e
abordava política nacional e internacional, temas de maior destaque e reper-
cussão: sucessões de governos, posturas de personalidades políticas, polêmi-
cas e discussões, corrupção e falta de ética na esfera pública, manifestações,
reflexos da política na realidade econômica brasileira e mundial, ações do
Fundo Monetário Internacional (FMI), atitudes arbitrárias ocasionadas por
interesses econômicos, hábitos de consumo do brasileiro, a obra de grandes
intelectuais, questões ambientais, relações entre industrialização e problemas
sociais, cultura, ideologia etc.
® BIN: 12653-5
Anais da Biblioteca Nacional • 140 221

Política Operária – São Paulo (SP), década de 1960


Minitabloide surgido em São Paulo (SP), no Grêmio da Faculdade de Filo-
sofia da Universidade de São Paulo (USP). Lançado em data indefinida, nas-
ceu de uma organização de esquerda também intitulada Política Operária (Po-
lop), conhecida formalmente como Organização Marxista-Leninista Política
Operária. Fundado em 1961, também no grêmio estudantil, o grupo contava
com as lideranças de Teotônio dos Santos e dos irmãos Éder e Emir Sader.
Semiclandestino, o periódico era dirigido por Rui Mauro Marini, baseado em
São Paulo, e por Luís Alberto Dias Lima, na sucursal do Rio de Janeiro.
® BIN: 864595

Pólo Cultural – Curitiba (PR), 1978


Jornal especializado em arte e cultura criado em Curitiba (PR) em 15 de
março de 1978, dirigido por Reynaldo Jardim e editado por Marilu Silveira,
através do Escritório de Promoção da Cultura Paranaense Pólo Cultural. Pa-
recia ser editado com apoio da Secretaria de Estado da Educação e da Cultura
do Paraná e/ou da Fundação Cultural de Curitiba, que apareciam constante-
mente em suas páginas, com suas respectivas programações culturais listadas
e divulgadas. Dedicava-se a divulgar atividades e questões ligadas a órgãos
culturais do município e do estado (museus, espaços culturais, centros educa-
cionais etc.), além de colocar em questão assuntos variados da arte e da cultura
nacionais, expor o panorama artístico e as agendas culturais locais e publicar
prosa e poesia. Em suas edições, vinha com artigos e ensaios culturais de alto
nível, além de reportagens, crítica cultural, perfis de artistas locais, entrevistas,
manifestos, literatura, notas e comentários, arte fotográfica, resenhas de livros,
entre outras coisas.
® BIN: 506605

A Ponte – Maceió (AL), 1985


Lançado em Maceió (AL) em novembro de 1985, foi um jornal cultural,
político e social de linguagem popular e irreverente. Circulava com o subtítulo
“Jornal de literatura e humor e o escambau” e trazia textos opinativos sobre po-
lítica, sociedade e cultura, ensaios, entrevistas, notas gerais, variedades, humor
crítico, entretenimento, poemas, contos humorísticos, contos eróticos e vários
anúncios. Editado por Rubens Jambo, circulava em formato tabloide. Sempre
trazia uma nova frase crítica ou humorística abaixo de seu nome na capa.
® BIN: 51624-4

A Ponte – Florianópolis (SC), 1979


Tabloide de política, economia e cultura editado em Florianópolis (SC),
a partir do final de 1979, através da Editora e Livrarias Lunardelli, dirigido
por Odilon Lunardelli e editado por Oscar Berendt Neto. Abordava diversas
222 Anais da Biblioteca Nacional • 140

questões de âmbito estadual: a situação política partidária de Santa Catari-


na durante a redemocratização, cultura, economia, agricultura, indústria e
comércio, desenvolvimento social e material, personalidades da vida pública
catarinense, saúde pública, questões legais e trabalhistas, obras públicas e in-
fraestrutura, educação, patrimônio histórico etc. Foi inicialmente um jornal
irreverente, de humor crítico e mordaz.
® BIN: 538019

O (.) Ponto – Fortaleza (CE), 1981


Publicação criada em 1981(?) em Fortaleza (CE). Seu subtítulo o definia
como um “Boletim espiritualista mundial”. Editado por Aldenor J. Alencar
Benevides, tratava de temas como espiritualidade, religiões, filosofias ecumê-
nicas, educação, astronomia, trovas, alimentação etc., em artigos, pequenas
notícias, comentários e transcrições de outras publicações, mensagens medi-
únicas, cartas de leitores, listas de publicações recebidas, poemas, frases moti-
vacionais espirituais e de curiosidades, charadas, anúncios, entre outras coisas.
® BIN: 421740

Ponto 1 – Revista de Poemas de Processo – Rio de Janeiro (RJ), 1967


Periódico de poesia de vanguarda focado no poema-processo e na literatura
marginal. Lançado em maio de 1967 no Rio de Janeiro (RJ) por Álvaro de
Sá, vinha sem datas ou numeração definidas, em edições compostas por várias
folhas soltas, impressas a offset em formato flutuante, com tiragem inicial de
mil exemplares. Trazia poesia escrita e visual, ensaios e textos variados sobre
poesia, notícias e fotos. Publicou, assim, o trabalho de Wlademir Dias-Pino,
Moacy Cirne, Neide Dias de Sá, Anselmo Santos, George Smith, Ariel Tacla,
José Luiz Serafini, Nei Leandro de Castro, Dailor Varela, R. Sorribas e An-
chieta Fernandes.
® BIN: 308633

Porantim – Cimi da CNBB, Manaus (AM), 1978


Surgido como mimeógrafo mensal, em Manaus (AM), em maio de 1978,
órgão informativo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi, instituição
ligada à CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), “Em defesa da
causa indígena”. A idealização do jornal surgiu durante um curso de indige-
nismo organizado pelo Conselho em janeiro de 1979; era um projeto viabili-
zado após a implantação da Regional Norte I do Cimi em Manaus. Sua linha
editorial seguia fundamentos político-sociais, e normalmente eram exploradas
temáticas como política indigenista, legislação e organização social de grupos
indígenas, bem como saúde, religião, cultura, mitologia, educação, cidada-
nia, violência, etnocídio, demarcação territorial, natureza, economia, socieda-
de, linguagem e dialetos, lendas, resistência, identidade e autodeterminação
Anais da Biblioteca Nacional • 140 223

destas comunidades. Adicionalmente, discutia-se a extinção de grupos indíge-


nas como povos e nações, conjunturas eleitorais, processos judiciais e embates
dos povos indígenas contra a Funai, denúncias contra latifundiários e autori-
dades, surtos de doenças variadas, línguas indígenas, política e administração
pública, pesquisas científicas diretamente relacionada com a população indí-
gena, preconceito racial etc. Ainda era editado em 2020.
® BIN: 48868-2

Porão – da UFC, Fortaleza (CE), 1980


Revista literária de poesia e artes visuais lançada em 1980, em Fortaleza
(CE), por estudantes da Universidade Federal do Ceará. Concebido como um
produto do chamado projeto Bolsa-Arte, da UFC, na categoria literatura, o
periódico era impresso na Imprensa Universitária local, e elaborado com boa
qualidade gráfica e editorial. Dirigido por José Vanderlou de Oliveira, Laerte
Magalhães e Carlos Brasil, Porão tinha uma comissão editorial composta por
Vanderlou, Laerte Magalhães, Rogéria Vasconcelos, Édson Martins e Virgínia
Crisóstomo.
® BIN: 358347

Povão – Vitória (ES), 1982


Minitabloide popular, de ênfase política, policial e econômica editado em
Vitória (ES) a partir de 1o de novembro de 1982. Diminuto, media apenas
22,5cm x 16 cm, com oito páginas impressas a offset em papel barato, sem
cores; era dirigido por José Roberto Jeveaux. Circulava formalmente através
da Editora Gráfica O Diário S.A. Usava linguagem popular, expunha questões
predominantemente locais, como o cotidiano político partidário do Espírito
Santo, criminalidade, funcionalismo público capixaba, falta de infraestrutura
em determinados locais, crise econômica brasileira, êxodo urbano, mazelas
das classes populares em geral, esportes, entretenimento, horóscopo, novida-
des em geral etc.
® BIN: 573108

PQP – Belém (PA), 1979


Tabloide de humor lançado em 1979 em Belém (PA) por Raymundo Má-
rio Sobral. Altamente debochado, paródico, corrosivo, rebelde, despudorado
e marginal, era especializado na crítica política e de costumes, muito pelo seu
“humor sacana”, de conotação predominantemente sexual. Surgido com tira-
gem semanal de 10 mil exemplares, obteve boa resposta por parte do público
leitor local e circulou como jornal até o final da década de 1990, quando,
“mudando de sexo”, passou ao formato de revista na virada para o ano 2000.
Acabou circulando somente até meados de 2003.
® BIN: 570192
224 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Praxis – Centro de Estudos e Debates do Socialismo e da Cultura, San-


ta Maria (RS), 1984
Revista acadêmica marxista de formato reduzido (20 cm x 11,5 cm) lan-
çada em Santa Maria (RS) no final de 1984 ou no início de 1985 por meio
do Centro de Estudos e Debates do Socialismo e da Cultura (Cedesc). Sua
circulação era dirigida aos sócios da instituição. Editado por Marcos Rolim,
o periódico tinha um conselho editorial composto por Tau Golin, Guilherme
Cassel, Jussara Bordin, Ivete Catani e Dennis Russowisky. Seu planejamento
gráfico era assinado por Cristina Pozzobon, Ivete Catani e Jussara Bordin.
® BIN: 436925

Presença – Itajubá (MG), 1978


Periódico estudantil de literatura marginal lançado em 1978 na cidade de
Itajubá (MG), editado pelo Departamento Literário do Diretório Acadêmico
da Escola Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI), impresso através da edi-
tora da mesma universidade. Seus editores eram inicialmente Alfredo Amaral
Neto, Herbert dos Santos Silva, Luiz Roberto Galhardo Egreja e Phebus de
Canaan Dourado Filho. Num segundo momento, Thales Alfredo D’Ávilla
Carneiro, Henrique Chaguri e Cyro Barbosa Bernardez se juntaram ao grupo.
® BIN: 445177

Presença – São Paulo (SP), 1983


Periódico acadêmico de política e cultura lançado em novembro de 1983
em São Paulo (SP), pela Editora Caetés, inicialmente sob a responsabilidade
de Sérgio Gomes. A sua impressão era feita em Santos, nas oficinas do jornal A
Tribuna de Santos. Crítica ao autoritarismo militar e aos rumos tomados pelo
governo federal de então, disposta a analisar os movimentos sociais que toma-
vam força no Brasil durante os últimos anos da ditadura militar, Presença se
colocava como uma revista sem vinculação a partidos ou formações políticas,
embora desejasse “um futuro democrático e socialista para o nosso povo”.
® BIN: 459534

Primeira Página – Sindicato dos Jornalistas Profissionais de MG, Belo


Horizonte (MG), 1982
Publicação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
(SJPMG), foi um minitabloide lançado em Belo Horizonte (MG), em maio
de 1982 (data de seu no 0). Crítico e politizado, trazia reportagens, artigos
opinativos, entrevistas, debates, ilustrações, cartuns e publicidade, e tocou
em temas como personalidades da política mineira, níveis de inflação e eco-
nomia nacional e mineira, politização de esquerda entre jornais e ameaças
contra jornalistas, falta de comprometimento de grandes proprietários da
imprensa com a informação, a cobertura da política mineira na imprensa,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 225

as dificuldades enfrentadas pela classe jornalística no mercado de trabalho,


censura a jornais e demais ataques à liberdade de imprensa promovidos
pela ditadura militar, consequências nocivas do monopólio empregatício de
grandes empresas em pequenas cidades, história do SJPMG e do jornalismo
mineiro, eleições e debates políticos na TV, inaugurações de obras públicas
como medidas eleitoreiras, questões do jornalismo policial, prêmios para
jornalistas etc.
® BIN: 559725

O Profissional Liberal Hoje – Rio de Janeiro (RJ), 1984


Tabloide editado no Rio de Janeiro (RJ) a partir de julho de 1984 como
“Órgão informativo dos Conselhos Regionais de profissionais liberais reuni-
dos em defesa dos interesses comuns”. Combativo e reivindicativo, criticava
medidas políticas, econômicas e judiciais que refletiam negativamente nas
profissões liberais. Tocava em temas como projetos de lei, seguridade social, as
atualidades dos Conselhos Regionais e suas propostas, fiscalização profissio-
nal, obrigações financeiras específicas que recaíam sobre o profissional liberal
etc., além de trazer informes sobre grupos e encontros de classe. Wagner Si-
queira assinava como diretor responsável pela publicação.
® BIN: 49600-6

O Protesto – Porto Alegre (RS), 1967


Jornal mensal lançado por Maria Pinto Fernández Rodriguez – sua pro-
prietária formal e diretora – em Porto Alegre (RS) em outubro de 1967. Po-
liticamente situado entre o anarquismo e o socialismo libertário, antiimperia-
lista e antiautoritário, moralista e nacionalista, reivindicativo e denunciativo,
pacifista e ateísta, era uma folha altamente crítica, aguerrida e libertária, vol-
tada à juventude. Aparentemente ligado à Comissão Organizadora da União
Socialista Libertária, o periódico veio a lume em formato tabloide pequeno,
circulando assim até sua 4ª edição, de janeiro de 1968, quando passou a tab-
loide comum. Sua circulação foi nacional, mas a sua publicação contínua não
chegou a durar um ano.
® BIN: 128015

Questão de Ordem – Departamento de Artes e Comunicação da UFPB,


João Pessoa (PB), 1982
Jornal lançado em 1982(?) pelo Departamento de Artes e Comunicação da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa (PB), como jornal-
-laboratório para estudantes de Comunicação. Crítico e denunciativo, abor-
dou temas como democracia participativa e movimentos populares, a elei-
ção de Tancredo Neves e o início da Nova República no Brasil, Assembleia
Nacional Constituinte, reforma agrária, movimento estudantil, mercado de
226 Anais da Biblioteca Nacional • 140

trabalho para profissionais da comunicação, seminários e encontros de classe


e de estudantes, mutirões escolares, educação, gêneros jornalísticos, censura
na imprensa, greves e questões sindicais etc.
® BIN: 483940

Quilombo dos Palmares – DCE da PUC-Rio, Rio de Janeiro (RJ), 1975


Jornal estudantil lançado por volta de 1975 no Rio de Janeiro (RJ), aparen-
temente pela Comissão de Imprensa dos Alunos da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Tratava de questões como aumento
de preços na universidade, rumos e questões gerais do movimento estudantil,
assuntos pontuais da política estudantil na PUC, movimentos sociais etc.,
além de lançar informes variados para universitários.
® BIN: 495069

Raiz – Aracaju (SE), 1981


Rústico periódico cultural de arte marginal lançado em Aracaju (SE) no
mês de abril de 1981 pelo Centro de Cultura e Arte da Universidade Federal
de Sergipe. Editado por Nivaldo Menezes Santos, saía inicialmente em forma
mimeografada ou fotocopiada, composto em máquina de escrever comum
e impresso em folhas de papel sulfite grampeadas. Depois de um hiato, em
1987 o periódico retomou publicação, impresso a offset, ainda editado por
Nivaldo Menezes, como produto da Reticências Publicidade e Publicações
Ltda. Como era uma publicação focada em poesia, Raiz divulgava a obra de
diversos autores independentes.
® BINs: 446890 e 468988

Rebu – João Monlevade (MG), 1980


Periódico artesanal de literatura marginal lançado em 23 de maio de 1980
na cidade de João Monlevade (MG), na Associação Regional de Promoção
e Ação Social (Arpas). Editado pelo chamado Grupo Bú, composto por Ge-
raldo Magela Ferreira, Wir Caetano Francisco e Joel Alves da Páschoa, vinha
inicialmente com o subtítulo “Um jornal independente”, circulando em pe-
riodicidade bimestral. Impresso por mimeógrafo ou fotocópia, sua tiragem
inicial foi de apenas 100 exemplares.
® BIN: 447722

Recanto – Belo Horizonte (MG), 1981


Periódico mimeografado cultural e poético que circulou em Belo Horizon-
te (MG) a partir de junho de 1981. Editada pelo grupo Canto Livre de Arte,
a publicação era especializada em prosa e poesia. A partir da edição no 4 de
1982, passou a ter uma diagramação um pouco melhor e mais ilustrações, em
Anais da Biblioteca Nacional • 140 227

formato minitabloide e periodicidade irregular, impresso na empresa gráfica


Lito Cópias Ltda.
® BIN: 44420-0

Refletor – Rio de Janeiro (RJ), 1982


Jornal cultural mensal, lançado no Rio de Janeiro (RJ) em abril de 1982.
Com o subtítulo “O primeiro jornal dedicado ao teatro, show e a música”, cir-
culava através da editora IR-Artes, Jornalismo e Assessoria de Comunicações.
Dirigido por Iale Renan, trazia notícias, entrevistas, perfis, programações cul-
turais, dicas de turismo, frases e reflexões de personalidades variadas, artigos
opinativos, ilustrações, fotografias e anúncios publicitários, sempre focando o
cotidiano cultural da capital fluminense.
® BIN: 51106-4

Reflexos de Universos – Cruz das Almas (BA), 1977


Periódico artesanal de literatura marginal lançado em 1977 na cidade de
Cruz das Almas (BA). Era dirigido por Nelson Magalhães Filho e Luis Car-
los Mendes Santos, com Jorge de Almeida como diretor comercial. Possuía
ainda um conselho editorial onde figuraram Manoel Moacir Costa Macedo,
Alino Matta Sant’Ana, Hermes Peixoto Santos Filho (diretor executivo) e
Wellington Sá.
® BIN: 437166

Repórter – Rio de Janeiro (RJ), 1977


Tabloide inicialmente mensal, de temática variada, lançado no Rio de Ja-
neiro (RJ) em novembro de 1977, fundado por Luiz Alberto Bettencourt,
João Sant’Anna e Paulo Haddad, quando entrevistaram espontaneamente
Thomas Hammarberg, presidente da Anistia Internacional. Como não havia
como publicar o material, a pequena equipe rodou um modesto jornal de
apenas mil exemplares, distribuído pessoalmente em algumas bancas cariocas
com o título Repórter, mas mas que era apenas um embrião do que a publi-
cação efetiva viria a ser. A partir desta experiência inicial, nascia um coletivo
jornalístico que viria a incluir Chico Júnior, Luiz Augusto Gollo, Eduardo
Homem, Elias Fajardo da Fonseca, Alex Solnik, entre outros, muitos egressos
de partidos de esquerda. Formalmente lançado através da Margem Editora,
o jornal teve seu potencial político mascarado por um viés popular, passando
a retratar com ênfase a “miséria do povão” e dando mais voz às populações
anônimas marginalizadas. Dos jornais surgidos na oposição à ditadura militar,
Repórter foi um dos mais sensacionalistas.
® BIN: 49601-4
228 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Repórter Econômico – Associação dos Jornalistas de Economia de Bra-


sília, Brasília (DF), 1981
Minitabloide mensal de ênfase econômica e política editado em Brasília
(DF) a partir de junho de 1981 como “Jornal da Ajoeb”, a Associação dos
Jornalistas de Economia de Brasília, e identificado como “Órgão oficial dos
jornalistas de economia de Brasília”. Tratou de temas como políticas econômi-
cas, crise financeira, arrocho salarial e inflação, políticas salariais, distribuição
de renda e o equilíbrio da balança comercial, administração pública, questões
trabalhistas, imposto de renda, projeções do desenvolvimento econômico,
problemas sociais, a luta da classe jornalística em seu campo de atuação, en-
tre outros assuntos. Heitor Tepedino, presidente da gestão de então, assinava
como o diretor responsável pelo minitabloide; Helival Rios (vice-presidente)
figurava como chefe de redação.
® BIN: 48367-2

A República – Pouso Alegre (MG), 1980


Modesto minitabloide surgido em Pouso Alegre (MG) em 1o de janeiro de
1980. Editado por Coutinho Filho (que, de acordo com anúncios em seu pró-
prio jornal, trabalhava como detetive particular), inicialmente pretendia ser
um inocente jornal sobre colecionismo, memória, pequenas notícias, curiosi-
dades, comportamento, poesias, reflexões, humor, receitas, passatempos, ditos
populares, horóscopo, catolicismo etc. Mas a partir de sua 8ª edição, de 15 de
novembro de 1982, passou a explorar o universo da crítica política (a edição
traz, ao fundo, uma inédita estrela vermelha, que acompanha um empolgado
texto sobre as eleições de 1982).
® BIN: 42626-1

Resistência – Belém (PA), 1978


Jornal lançado em 7 de fevereiro de 1978, em defesa de interesses demo-
cráticos e populares, foi um dos mais proeminentes da oposição à ditadura
militar no norte brasileiro. Nascido em Belém (PA), era essencialmente po-
lítico, debatedor, panfletário e opinativo. Em linguagem popular e inconfor-
mada, seu conteúdo incluía artigos, debates, notícias, reportagens de profun-
didade variada, debates, sátiras de figuras políticas, abaixo-assinados, charges,
ilustrações, fotos, anúncios etc. Fundado por João Marques, entre outros
jornalistas, foi dirigido por Paulo Fontelles e editado por Luis Maklouf Car-
valho (posteriormente substituído por vários outros, como Marcos Soares e
Chiquinho Weyl).
® BIN: 593707
Anais da Biblioteca Nacional • 140 229

Retranca – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí,


Teresina (PI), 1985
Jornal oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Piauí.
Lançado em Teresina (PI) em 1985(?), em formato tabloide, trazia reivindi-
cações, denúncias das condições de trabalho de jornalistas, notícias sobre o
sindicato e o sindicalismo local em geral, editoriais críticos ao regime militar,
notas sobre manifestações e atos públicos, atas de encontros de classe, di-
vulgação de debates, artigos críticos sobre política, socialização dos meios de
comunicação. Roberto John era seu diretor responsável; Kenard Kruel, editor.
® BIN: 49557-3

Revista de Fotografia – São Paulo (SP), 1971


Revista mensal de vanguarda especializada na arte fotográfica. Criada em
São Paulo (SP) em junho de 1971, era editada por Eduardo Barreto, Narciso
Kalili e Sérgio de Souza, com George Love assinando como editor fotográfi-
co, Mylton Severiano Ribeiro como editor de texto, Woile Guimarães como
editor executivo e Roberto Freire como editor de reportagem. Circulava atra-
vés da editora informal Arte & Comunicação, também responsável pelas
publicações Bondinho e Grilo, ambas de sucesso editorial. Além dos artigos,
ensaios fotográficos, reportagens, lançamentos de equipamentos, tabelas de
preços, testes de fotografia e de som e das cartas de leitores, a Revista de
Fotografia trazia depoimentos, divulgação de exposições e eventos culturais
voltados ao universo temático da revista, notas sobre prêmios, anúncios, en-
tre outras coisas.
® BIN: 142964

Revista Letra – Vitória (ES), 1981


Lançada por um grupo literário de mesmo nome em Vitória (ES) em
1981. Era editada por Oscar Gama, Reinaldo Santos Neves e Renato Pacheco,
e tinha periodicidade anual. Sua edição inicial trazia um editorial-manifesto
assinado por José Augusto Carvalho, Reinaldo Santos Neves, Marcos Tavares,
Luiz Busatto, Miguel Marvilla, Renato Pacheco e Oscar Gama, os integrantes
do Grupo Letra. Publicando contos, poemas, pequenas biografias de escrito-
res, artigos, resenhas, ensaios e esparsas ilustrações.
® BIN: 387266

Revista Verdade – Fortaleza (CE), 1984


Rústico periódico mimeografado lançado em Fortaleza (CE) em junho de
1984. Com periodicidade fixada para bimestral, contava cerca de dez páginas
(que eram folhas de papel sulfite tamanho A4 dobradas e grampeadas) e ti-
ragem de dois mil exemplares. Era editado por Wilmer Prado Júnior, Aguiar
Júnior, João Ricardo, Rogério Vinhaes, Ésio Lima, Toinha Guedes e Duciran
230 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Van Marsen Farena, um grupo de estudantes de Direito de universidades cea-


renses denominado Grupo Habeas-Corpus.
® BIN: 425737

O Rio Grande – Porto Alegre (RS), 1979


Tabloide semanal com reportagens de temas variados, lançado em Porto
Alegre (RS) em 10 de maio de 1979. Dirigido por Marco Túlio de Rose e
José Antônio Vieira da Cunha, era editado por Elmar Bones da Costa, Osmar
Trindade, Tânia Krutska, Baru Derkin, Rosvita Sauerssig e Chico Daniel, e
era formalmente uma publicação da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Ale-
gre Ltda., a Coojornal, a primeira cooperativa de jornalismo do Brasil, inicia-
da em 1974, que editava, desde 1975, outro importante jornal de resistência,
também chamado CooJornal. Filiado à Associação dos Jornais e Revistas de
Cooperativas, O Rio Grande trazia conteúdo predominantemente político,
mas também ligado à cultura e ao lazer. Circulando regionalmente, seus mol-
des eram quase idênticos aos do periódico CooJornal.
® BIN: 582620

Rocker Jornal – São Bernardo do Campo (SP), 1985


Lançado em São Bernardo do Campo (SP) em 1985. Cultural e político,
focava prioritariamente bandas de rock nacionais e internacionais da atuali-
dade e variedades para o público jovem. Sua abordagem era franca, despoja-
da, bem-humorada e marginal, baseada nas linguagens e formatos de outros
jornais da imprensa de resistência. Trazendo artigos opinativos, críticas de
discos e reportagens e dicas de bandas e shows, ilustrações, fotografias, qua-
drinhos, cartas de leitores, anúncios, classificados, horóscopo etc. Abordava
temas como censura à cultura, a alienação popular da realidade nacional
frente ao carnaval e ao futebol, manifestações populares, programação de
rádios formais e rádios pirata, shows e casas noturnas, movimento ambien-
talista, eventos culturais.
® BIN: 482374

Rolling Stone – Rio de Janeiro (RJ), 1971


Criada no Rio de Janeiro (RJ) em novembro de 1971, a revista, de forma
semelhante à célebre publicação homônima norte-americana, tratava dos as-
tros da música popular brasileira, em especial os ligados ao rock’n’roll. Tendo
lançado apenas 36 edições, em seu cerca de um ano de vida a revista teve
notável importância como precursora da imprensa musical no Brasil. Em
paralelo, como era destinada à rebelião jovem, era altamente libertária e vol-
tada à crítica de costumes, além do “desbunde”: tinha influência direta da
contracultura e expunha aos leitores uma nova forma de pensar, de falar e de
se relacionar com o mundo – a chamada Nova Consciência, de acordo com a
Anais da Biblioteca Nacional • 140 231

própria revista. A Rolling Stone brasileira foi dirigida e editada por Luís Car-
los Maciel, considerado um dos introdutores da contracultura ao jornalismo
independente brasileiro, muito pelo seu trabalho no semanário humorístico
O Pasquim.
® BIN: 149349

O Saco – Fortaleza (CE), 1976


Publicação mais ou menos mensal criada em Fortaleza (CE) em abril de
1976. Focada em literatura, cada uma de suas edições vinha em uma emba-
lagem, o “saco” propriamente dito, com quatro cadernos impressos a offset,
referentes a quatro tipos de conteúdo: “Prosa”, “Verso”, “Imagens” e “Anexo”
– neste último, eram publicados trabalhos jornalísticos, ensaios fotográficos,
humor, pesquisas etc. O periódico reunia poesias, contos, reportagens, críti-
cas, notícias, ilustrações, depoimentos, entrevistas, cartas de leitores, resenhas,
fotos, anúncios publicitários, entre outras coisas – além da literatura, em di-
versas ocasiões os temas da psicanálise, da psicologia e da psiquiatria eram
abordados. Apesar de sua qualidade, o periódico acabou tendo apenas sete
edições lançadas. Reunindo toda uma geração de artistas e intelectuais cearen-
ses na tentativa da construção de uma cooperativa cultural, a publicação trazia
em expediente os nomes dos fundadores/organizadores: José Jackson Coelho
Sampaio, Carlos Emílio Corrêa Lima, Nilto Fernando Maciel e Manoel Coe-
lho Raposo, que montaram a Opção Editora Promoções e Publicidade Ltda.
para o lançamento de O Saco.
® BIN: 210617

Secreto – Rio de Janeiro (RJ), 1982


Publicação universitária literária criada em 1982(?) no Rio de Janeiro (RJ).
“Semanário da Oficina de Literatura”, era produzido por acadêmicos que par-
ticipavam da referida oficina, na Universidade Santa Úrsula (USU). Trazia
pequenos artigos, poesias, textos em prosa, notícias, ilustrações, entre outras
coisas, e era editado artesanalmente, mimeógrafo em cerca de quatro páginas
de papel ofício grampeadas, em tiragens de 500 exemplares. Editado por Sér-
gio R. Souza (então estudante de Direito).
® BIN: 45539-3

Semanário 1900 – Rio de Janeiro (RJ), 1978


Jornal debatedor, político. Lançado no Rio de Janeiro (RJ) em 30 de agosto
de 1978, em formato standard. Apenas três números do periódico chegaram
a ser editados: o 0, o 1 e o número 2, de 20 de setembro de 1978. Circulando
como publicação da Hecti Editora Ltda., distribuído nacionalmente pela Su-
perbancas, foi impresso nas oficinas da Gráfica Editora Jornal do Commercio
S.A. Tinha rigor crítico e combativo em linguagem franca e direta. Além da
232 Anais da Biblioteca Nacional • 140

política internacional, nacional e regional, explorava temas como cultura, fu-


tebol, criminalidade, violência, conflitos armados e crises internas de vários
países, escândalos, repressão do Estado, abertura democrática, personalidades
da política e da cultura, arte, tecnologia etc.
® BIN: 80195

O Semeador – Nazaré (BA), 1982


Periódico mimeografado literário de poesia, lançado em 2 de fevereiro de
1982 no município de Nazaré (BA). Dirigido por Carlos Alberto Andrade
Silveira e editado por Carlos Galvão, com Anita Cerqueira como secretária-
-tesoureira e Cláudio L. G. Malta como responsável pela divulgação, teve pe-
riodicidade inicial de 600 exemplares, passando a 700 logo em sua 2ª edição.
Trazia praticamente só poemas, ilustrações, pequenas notas e comentários e
pequenos anúncios.
® BIN: 461580

Sem Terra – MST, São Paulo (SP), 1981


Tabloide mensal criado em São Paulo (SP) em 1981 como órgão mensal do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Altamente crítico,
aguerrido e denunciativo, foi uma folha instrutiva na introdução de conceitos
de luta popular por justiça a comunidades rurais. Ao longo de sua publicação,
teve formato variado, bem como subtítulos diferentes: “Jornal dos trabalha-
dores”, “Jornal dos trabalhadores sem terra”, “Jornal dos trabalhadores rurais
sem terra” etc. Em 1985, época em que circulava com tiragem de cerca de 20
mil exemplares, em edições de cerca de 20 páginas impressas a duas cores, era
editado por Flademir Araújo (jornalista responsável) e Sergio C. Canova.
® BIN: 487295

O Sexo Finalmente Explícito – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Periódico feminista lançado 1983 no Rio de Janeiro (RJ). De acordo
com editorial do no 1, “Esse exemplar anterior continha uma parte do mani-
festo apresentado no I Encontro Nacional de mulheres sobre saúde, contra-
cepção e aborto realizado em março de 1983 no Rio de Janeiro. Além disso,
incluía algumas reflexões amadurecidas no decorrer do início da campanha
pela descriminalização do aborto e as questões ligadas ao desejo ou não
de ter filhos, à vigência de sexualidade e da reprodução”. Crítica e debate-
dora, seu conteúdo se fazia de artigos, reportagens, manifestos (não só de
grupos feministas cariocas, mas também do Fórum Feminista de Debate
de São Paulo e do grupo Brasília Mulher), textos educativos, pequenas no-
tícias (sendo recorrentes algumas sobre a Icasc, a Campanha Internacional
pela Contracepção, Aborto e Contra a Esterilização Forçada), informes so-
bre manifestações, anúncios de debates, depoimentos, opiniões de outros
Anais da Biblioteca Nacional • 140 233

grupos e organizações populares em torna da descriminalização do aborto,


quadrinhos, cartas de leitoras etc.
® BIN: 426172

Signos – Faculdade de Educação e Letras do Alto Taquari, Lajeado


(RS), 1975
Minitabloide acadêmico de letras, educação e cultura com cerca de 12 pági-
nas, lançado em Lajeado (RS) em setembro de 1975 como órgão da Faculdade
de Educação e Letras da Fundação Alto Taquari de Ensino Superior (Fates).
Tinha coordenação editorial de Ivete S. Kist Huppes, Roque Danilo Bersch e
Maria Fani Scheibel e era impressa na cidade de Encantado (RS), na impres-
sora Grafen. Abordava temas como questões pedagógicas regionais e do Brasil,
educação universitária, participação da comunidade na escola, filosofia, teoria
literária, características histórico-geográfico-sociais da região do Alto Taqua-
ri, questões trabalhistas, história, psicanálise, abandono social, ciências exatas,
métodos pedagógicos, questões e transformações da sociedade capitalista, mar-
xismo, sexualidade no ambiente escolar, questões econômicas, agricultura etc.
® BIN: 446980

Singular & Plural – São Paulo (SP), 1978


Revista mensal de temática política e cultural, lançada em São Paulo (SP)
em dezembro de 1978 por Audálio Dantas, Rodolfo Konder, entre outros.
Crítica, denunciativa e contrária aos rigores autoritários da ditadura militar,
além de explorar consideravelmente a crítica de costumes, foi viabilizada pela
Global Editora & Distribuidora. Dirigida por Audálio Dantas, focava em
política nacional e internacional, censura, religião, democracia, arte e cultu-
ra de vanguarda, cultura popular, manifestações populares, repressão policial
nas ditaduras latino-americanas, espionagem, exilados políticos, o processo
de redemocratização no Brasil, questões da sociedade capitalista, corrupção,
sexualidade, questões ideológicas, movimento negro e questões raciais, enga-
jamento político e intelectualidade, questões indígenas, questões femininas,
libertação sexual, movimento estudantil, educação infantil, psicologia e psica-
nálise, questões trabalhistas, vida das classes operárias etc.
® BIN: 323993

O Sol – Rio de Janeiro (RJ), 1967


Jornal experimental semanal, de linha crítica e política, lançado em 21 de
setembro de 1967 no Rio de Janeiro (RJ), inicialmente como suplemento do
Jornal dos Sports (BIN 11251-8). Criado por um grupo composto por Zuenir
Ventura, Dedé Gadelha, Ziraldo, Henfil, Reinaldo Jardim (editor), entre ou-
tros, o projeto do jornal fora encabeçado pelo Movimento Nacionalista Re-
volucionário (MNR) sem que vários de seus editores soubessem. Articulou-se
234 Anais da Biblioteca Nacional • 140

com a Frente Ampla, movimento antirregime militar encabeçado por Carlos


Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart. O Sol parou de circular como
encarte em novembro de 1967: boa parte dos sócios do Jornal dos Sports o
achava custoso e contestador demais. Quando se desvinculou do jornal espor-
tivo, em 26 de novembro de 1967, sua equipe de jornalistas, então chefiada
por Zuenir Ventura, realizou um novo planejamento para sua linguagem, dia-
gramação e formatação editorial. Editado independentemente, passou a ter
uma linha política mais crítica e agressiva. Alcançou grande sucesso no meio
jornalístico, tanto por sua diagramação quanto por sua ideologia, ambas ou-
sadas: passou a incitar guerrilhas populares contra a ditadura (um dos projetos
políticos do MNR). Durou apenas alguns meses e foi fechado em 5 de janeiro
de 1968 por pressões políticas do governo militar (ainda circulou como sema-
nário até novembro daquele ano, debilitado).
® BIN: 11251-8 (A BN possui somente as edições suplementares ao Jornal
dos Sports)

So(l) de Versos – Cabo (PE), 1985


Rústico periódico de poesia editado em Cabo de Santo Agostinho (PE),
provavelmente a partir de setembro de 1985, por Natanael Júnior e Paulo Ale-
xandre da Silva, o “Paulo Cultura”. Seu slogan era “Um folhetim que acredita
na força da poesia”. Lançado com o apoio da Secretaria de Educação da Pre-
feitura Municipal do Cabo, aparentemente teve distribuição gratuita e sua pe-
riodicidade foi inicialmente bimestral, mas logo caiu na irregularidade. Após
um hiato em sua periodicidade, voltou a circular no ano de 1990, quando,
com circulação que ia além de Pernambuco, saía em formato maior: impresso
pela Gráfica Premafra.
® BIN: 454931

Solux – São Paulo (SP), 1981


Periódico mimeografado literário de poesia e cultura alternativa, lançado
em São Paulo (SP) em julho de 1981 pelo poeta Luiz Sérgio de Viveiros. Com
tiragens de 1.200 exemplares, chegou a ser distribuído em 180 cidades brasi-
leiras e a ter um sistema de assinaturas. Circulou com o slogan “Um jornal de
palavra”. Publicava poesia e prosa marginal, citações de importantes intelec-
tuais – principalmente no campo da cultura –, divulgação de outras edições
mimeografadas de poesia e de acervos de imprensa independente, ilustrações,
entre outras coisas.
® BIN: 446866

Tablóide – Clube Literário Inácio Quinaud, Pirapora (MG), 1971


Minitabloide cultural e popular, editado pelo Clube Literário Inácio Qui-
naud. Lançado em Pirapora (MG) em agosto de 1971, era dirigido, editado e
Anais da Biblioteca Nacional • 140 235

redigido por Domingos Diniz, e trazia teoria do folclore, relação e descrições


de tipos populares de Pirapora, danças típicas, literatura de cordel, brincadei-
ras populares e adivinhas, artigos sobre grupos culturais tradicionais e folclore
musical de Pirapora, textos de religiões afro-brasileiras etc.
® BIN: 15214-5

Tagarela – Rio de Janeiro (RJ), 1976


Mimeógrafo publicado pela comunidade cristã da Rocinha, no Rio de Ja-
neiro (RJ) a partir de 2 de outubro de 1976. Editado de forma artesanal por
um grupo participante da Ação Social Padre Anchieta (Aspa), contava prati-
camente apenas com alguns textos dispostos de maneiras diversas e algumas
ilustrações, e trazia informes e discussões sobre diversos temas referentes à
Rocinha, algumas vezes em tom crítico e denunciativo: projetos comunitários
e serviços sociais locais, obras e manutenção de construções locais, precária
infraestrutura local, desapropriação em favelas e luta pela posse de terras já
ocupadas, a mobilização de moradores para mudanças na Rocinha etc.
® BIN: 464422

Tempos Modernos – Rio de Janeiro (RJ), 1985


“Jornal mensal de cultura”, criado no Rio de Janeiro (RJ) em maio de
1985. Crítico e contestador, circulava em formato minitabloide, trazendo no-
tícias, reportagens, entrevistas e reflexões sobre política nacional, leis de apoio
à cultura, instituições culturais, mobilizações de classes artísticas, polêmicas
e tendências do mundo cultural, direitos autorais, museologia, cinema, artes
cênicas, artes visuais, música, prosa, poesia, filosofia, ideologia, direitos da
mulher, educação, partidarismo, erotismo na arte, história, tecnologia etc. A
arte-denúncia, engajada e sem censura, era o foco principal da publicação. Foi
dirigido por Alexandre Sávio e Jorge Sávio, sendo editado por Mário Margutti
e tendo Victor V. Passos como jornalista responsável.
® BIN: 511072

Tempos Novos – CPT, São Luís (MA), 1983


Tabloide mensal eclesiástico de base lançado em São Luís (MA), por
volta de 1983. Criado pelo Escritório Regional da Cáritas Brasileira, ór-
gão local ligado à Comissão Pastoral da Terra (CPT), pertencente, por sua
vez, à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), era dirigido a
comunidades e movimentos populares em geral, destacando sobremaneira
questões voltadas a disputas de terra e reforma agrária. Editado inicialmente
pelo padre Marcos Passerini, com Francisco Gonçalves da Conceição como
redator-chefe, se dizia órgão de comunicação também das Comunidades
Eclesiais de Base (CEBs), da Comissão Pastoral dos Pescadores (CPP), do
Conselho Indigenista Missionário (CIMI) local, da Pastoral da Mulher
236 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Marginalizada, da Comissão Justiça e Paz, e da Animação dos Cristãos no


Meio Rural (ACR).
® BIN: 491527

Terceiro Trilho – Associação Profissional dos Metroviários do RJ, Rio


de Janeiro (RJ), 1979
Jornal publicado no Rio de Janeiro (RJ) a partir de outubro de 1979, atra-
vés da Associação Profissional dos Metroviários do Estado do Rio de Janeiro
(Aprom). Tinha contornos sindicais, trabalhistas e culturais. Inicialmente tab-
loide e bimestral, tinha tiragens de cinco mil exemplares e saía pela Lide Edi-
torial e Serviços Jornalísticos Ltda. Era editado por uma comissão composta
por Francisco Parentes Correa, Paulo César Figueiredo, Paulo Martini França,
Fernando Martini França e Alberto Strozemberg.
® BIN: 464171

Terra – Associação Macrobiótica Internacional, Salvador (BA), década


de 1980
Editada através da Associação Macrobiótica Internacional (Amai), revis-
ta lançada na década de 1980 em Salvador (BA), provavelmente em 1985.
Contando com o slogan “Por um mundo de paz”, tinha Ricardo Lisboa como
editor. Publicava artigos, conteúdo de publicações internacionais de macro-
biótica, editoriais, receitas, ilustrações, sugestões de leitura e resenhas, notas e
dicas gerais, informes sobre cursos e atividades voltadas à macrobiótica, bem
como anúncios voltados ao público adepto da macrobiótica etc. Abordava
assuntos e questões como as relações entre saúde e alimentação, medicina
preventiva, os benefícios e particularidades da macrobiótica, os malefícios da
indústria agroquímica, práticas espirituais, alimentação infantil, agricultura
brasileira, contaminação alimentar, novidades sobre a Associação Macrobióti-
ca da Bahia (Amba) etc.
® BIN: 446971

Terra Indígena – Unesp, Araraquara (SP), 1983


Focada no indigenismo, em questões da exploração indígena, em cultura
e dialetos ameríndios e em política, foi uma “Publicação bimestral do Centro
de Estudos Indígenas do Instituto de Letras, Ciências Sociais e Educação”,
mais especificamente do Departamento de Antropologia, Política e Filosofia
do campus de Araraquara (SP) da Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (Unesp). Criada por volta de 1983, circulou sob a coordena-
ção de Miguel Angel Menéndez e Sílvia M. S. de Carvalho, era impressa na
gráfica do próprio campus. Num segundo momento, aparentemente já na dé-
cada de 1990, o periódico passou a ser editado somente por Sílvia Carvalho,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 237

ao passo que o Centro de Estudos Indígenas passou a se chamar Centro de


Estudos Indígenas Miguel A. Menéndez (Ceimam).
® BIN: 469920

Território Livre – São Paulo (SP), 1980


Publicação artesanal de literatura e crítica política lançada em 25 de fe-
vereiro de 1980 em São Paulo (SP), mais precisamente no campus da Uni-
versidade de São Paulo (USP). Mimeografado ou impresso por fotocópia, o
periódico era editado com dificuldade pela Academia de Letras da Faculdade
de Direito de São Paulo, a chamada Arcadas, atualmente identificada como a
Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Direito da USP. Inicialmente
dirigido por Joaquim Nogueira Costa.
® BIN: 397172

Thot – São Paulo (SP), 1975


Editada pela Associação Organização Internacional Nova Acrópole (Oina)
do Brasil, foi uma revista de filosofia, entre outros assuntos teóricos, criada em
São Paulo (SP) em setembro de 1975. Seus editores, todos de início perten-
centes ao Centro de Estudos Filosóficos da Oina do Brasil, foram Lia Diskin,
Primo Augusto Gerbelli (diretor responsável) e Basílio Pawlowicz. Sabe-se que
a publicação chegou a ser registrada em departamentos censores da Polícia
Federal. Abordava assuntos como mitologia, psicologia, vida espiritual, an-
tropologia, esoterismo, alquimia, cosmogênese, moral e costumes, a crise da
civilização ocidental, astrologia, a ruptura com a sociedade tradicional, religi-
ões e espiritualidade orientais, ética, política, ecologia, comportamento, artes
marciais, física, matemática, entre outras coisas.
® BIN: 399540

Tição – Porto Alegre (RS), 1978


Revista focada na luta contra o racismo, no movimento de conscienti-
zação dos direitos dos negros, na construção de uma identidade negra para
o negro brasileiro, no resgate da história afro-brasileira, no destaque à con-
tribuição negra na cultura nacional e em demais questões raciais. Lançada
em Porto Alegre (RS) em março de 1978, era editada por um grupo de
jornalistas, professores, poetas, publicitários e estudantes capitaneados por
Vera Daisy Barcellos e circulava formalmente como publicação da Editora
Paralelo 30 Ltda. Provocativa, a começar pelo seu próprio título, e deba-
tedora, abordava temas recorrentes à cultura e à sociedade afro-brasileiras,
com foco no Rio Grande do Sul e no Brasil. Ali, reconhecia-se e denuncia-
va-se a exclusão econômica, social e política do negro na sociedade brasilei-
ra, ressaltando-se a necessidade da participação do negro para transformar
238 Anais da Biblioteca Nacional • 140

esse quadro, explorando-se, de forma geral, o discurso antiamericano e de


rejeição à autoridade militar.
® BIN: 453196

A Toca do Poeta – Guarabira (PB), 1982


Publicação literária marginal mimeografada mensal lançada em Guarabira
(PB) em maio de 1982 através do Centro Integrado Rui Bezerra Cavalcanti,
pertencente ao Serviço Social do Comércio (Sesc) local. A Toca do Poeta era
editada e redigida por Geraldo Alverga Cabral, poeta de apenas 16 anos, que
contava com a supervisão de sua mãe, Marisa Alverga, e a colaboração de
Moisés Augusto Lopes, Dirceu Peçanha, Henrique Coutinho Eunice Domin-
gos e outros. Como Geraldo havia falecido repentinamente em 25 de agosto
de 1982, Marisa assumiu a publicação na 4ª edição, datada de outubro de
1982. A partir desta edição especial, o periódico passou a se chamar A Toca
do (Meu) Poeta, e a vir com capas impressas em papel especial, sempre com
uma imagem do jovem poeta. Desde então mantido por Marisa Alverga, o
periódico veio a atingir longo tempo de vida, chegando pelo menos até 2010,
sempre lembrando, saudosamente, o poeta Geraldo. Praticamente cada edito-
rial publicado era uma carta de Marisa ao filho.
® BIN: 444413

Toque – Bagé (RS), 1976


Tabloide de política e cultura lançado no final de 1976 no município de
Bagé (RS). Circulou oficialmente como propriedade do Grupo Aquarius de
Cultura e Comunicação, e era dirigido e editado por Cláudio Almeida, com
William Borba como secretário, Roberto Almeida como assistente e Sérgio
Quintana como responsável. Abordou temas e questões como política nacio-
nal e internacional, cultura de massa, economia, patrimônio histórico e cultu-
ral gaúcho, a crise do petróleo no Oriente Médio, atualidades do movimento
musical gaúcho, relações entre cultura e ideologia, movimentos político-cul-
turais de contestação, personalidades politicamente engajadas da cultura bra-
sileira, cinema, censura à arte, a vida em potências comunistas etc.
® BIN: 536733

Torre de Babel – alunos de Comunicação Social da Estácio de Sá, Rio


de Janeiro (RJ), 1985
Jornal universitário, lançado na década de 1980 (provavelmente 1985)
pelos alunos do curso de Comunicação Social da Faculdade Estácio de Sá,
no Rio de Janeiro (RJ). Produzido modestamente, quase como um fanzine,
tratava prioritariamente de questões relativas ao curso, à política estudantil
e aos anseios e reivindicações dos alunos. Trazendo pequenos artigos, entre-
vistas, notícias sobre o cotidiano da faculdade, dicas de leitura, ilustrações,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 239

comentários e propostas do centro acadêmico, o periódico era editado pelas


estudantes Regina Sylvia e Maristela.
® BIN: 49742-8

Trabalhador Gráfico – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias


Gráficas de Fortaleza, Fortaleza (CE), 1983
Minitabloide sindical lançado em julho de 1983 em Fortaleza (CE) pelo
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Gráficas de Fortaleza. Joana Bor-
ges assinava como sua editora responsável. Tratou de temas e questões como
condições dignas de trabalho para a classe gráfica, desemprego e arrocho sa-
larial, o funcionamento do sindicato, campanhas salariais e de sindicalização,
Congressos das Classes Trabalhadoras (Conclat), o problema da seca no Nor-
deste, estabilidade empregatícia para gestantes, creches nas empresas etc.
® BIN: 483184

O Trabalhador Rural – Confederação Nacional dos Trabalhadores na


Agricultura, Rio de Janeiro (RJ), década de 1960
“Revista mensal da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricul-
tura”, a Contag, foi um periódico lançado possivelmente em agosto de 1969
no Rio de Janeiro (RJ). Dirigido por José Francisco da Silva, José Ary Griebler
e Agostinho José Neto, era voltada ao público campesino, em caráter crítico,
denunciativo e instrutivo com relação às lutas camponesas. Vinha com de-
núncias de despejos e das arbitrariedades do latifúndio, exposição de ativida-
des agropecuárias nocivas ao trabalhador do campo, conceitos e importância
da seguridade social, reflexões quanto à distribuição de renda e à injustiça
social, exposição sobre a forma como as terras brasileiras estavam distribuídas,
questões dos trabalhadores sem terra, atividades da Contag, questões sindi-
cais, postura do governo com relação às lutas no campo etc.
® BIN: 153303

O Trabalho – Libelu, São Paulo (SP), 1978


Jornal lançado em São Paulo (SP) em 30 de maio de 1978, por Paulo Mo-
reira Leite (diretor responsável), Edmundo Machado, Sandra Carvalho, Ar-
thur Pereira Filho e Celso Marcondes, seus editores. Com tamanho standard
e periodicidade oscilando entre quinzenal e semanal, a folha possuía caráter
essencialmente político e trabalhista, calcado na esquerda trotskista. Favorável
à autonomia do operariado, crítico, reivindicativo e denunciativo, circulava
formalmente através da Palavra Editora como órgão sob influências da Orga-
nização Socialista Internacionalista (OSI), entidade surgida em 1975, sendo
ainda fortemente ligado à corrente política conhecida como Liberdade e Luta
(Libelu) e ao movimento estudantil brasileiro.
® BIN: 59000
240 Anais da Biblioteca Nacional • 140

O Trabalho – PT, São Paulo (SP), 1979


Publicação de política nacional e internacional, de inspiração trotskista,
lançada em São Paulo (SP) em abril de 1978 por militantes do que viria a
ser o Partido dos Trabalhadores (PT). No início da década de 1980, o perió-
dico mudou de formato, passando a ser uma revista mensal em 1984 – mais
precisamente no mês de abril, na edição no 234, obedecendo à numeração
que vinha sendo mantida desde 1978. Com o slogan “A emancipação dos
trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, o periódico, em seu
relançamento, circulou pela Palavra Editora Ltda., sob a responsabilida-
de de Edmundo Machado Oliveira, contando com conselho de redação
composto por Glauco Arbix, Josimar Melo, Markus Sokol, Ricardo Melo e
Flávio Pachalski.
® BIN: 463680

Transe – Brasília (DF), 1980


Lançado em Brasília (DF) em outubro de 1980, foi um periódico cultural,
com reflexões sobre comportamento, sociedade, política, vida espiritual, na-
turologia, terapias alternativas e ecologia. Voltado à contracultura e à crítica
de costumes, era dirigido por Wanderley Pinho Lopes, e contava com con-
selho editorial composto pelo próprio e por Fernando Lemos, João José Mi-
guel, Bebé Prates e Chacal. Sob forte inspiração de Bhagwan Shree Rajneesh,
também conhecido como Osho, Transe foi produzido através da Tao Livraria
e Editora Ltda., que também lançava livros de Rajneesh.
® BIN: 393045

O Trem das 7 – Recife (PE), 1985


Criado no Recife (PE), provavelmente em 1985, foi um jornal/fanzine do
Raul Rock Club 2. De postura política crítica e ácida, com base ideológica
anarquista, trazia pequenas colunas e notas gerais sobre a vida e a obra de Raul
Seixas, política (sua edição no 13 do ano II, de outubro/novembro/dezem-
bro de 1986, era especialmente dedicada à Central Única dos Trabalhadores),
notícias e informes gerais relativos ao fã-clube, críticas, poesias e pequenas
reportagens, além de pequenos anúncios. Circulava apenas para os associados
ao fã-clube, em periodicidade irregular.
® BIN: 48152-1

Tribo – Brasília (DF), 1972


Tabloide de crítica política e de costumes, de caráter experimental e con-
tracultural, fundamentado em bases anarquistas. Lançado em Brasília (DF)
em fevereiro de 1972. O jornal nascera por iniciativa de estudantes da Univer-
sidade de Brasília (UnB), editado por Airton Garcia de Lima. Em linhas ge-
rais, Tribo trazia entrevistas, ensaios, prosa e poesia, crítica de cultura, citações
Anais da Biblioteca Nacional • 140 241

e aforismos, textos experimentais, ilustrações, fotos, anúncios de publicidade,


entre outras coisas.
® BIN: 496464

Tribuna da Luta Operária – PcdoB, São Paulo (SP), 1979


Tabloide criado em 18 de outubro de 1979 em São Paulo (SP), era ins-
pirado no jornal clandestino A Classe Operária, um dos mais importantes da
história do marxismo nacional. Pertencente ao Partido Comunista do Brasil
(PCdoB), que o criara em âmbito legal por conta da Anistia Internacional,
era focado não apenas na resistência à exploração capitalista, mas na luta pelo
socialismo e pelos direitos dos trabalhadores da cidade e do campo, pelo fim
da ditadura militar (e pelo fim dos resquícios da mesma durante a Nova Repú-
blica) e por uma democracia de tipo popular. Contava com muitos jornalistas
egressos do jornal de resistência ao regime Movimento, naquele momento em
franca decadência. Inicialmente dirigida por Raimundo Pereira e editada pelo
jornalista Walmor Marcelino, com conselho editorial por onde figuraram Ro-
gério Lustosa, Olívia Rangel, Bernardo Joffily e Dilair Fernando de Aguiar,
a Tribuna era uma publicação da Editora Anita Garibaldi Ltda., impressa na
Cia. Editora Joruês. Continha artigos, editoriais, entrevistas, reportagens, car-
tas e plataformas de organizações políticas, reivindicações, versos, fotografias,
ilustrações, cartuns, entre outras coisas. Enfrentou diversas dificuldades, víti-
ma da perseguição política à esquerda durante a ditadura.
® BIN: 311120

Tribuna Metalúrgica – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Me-


talúrgicas, São Bernardo do Campo (SP), 1978
Tabloide sindical criado por volta de 1978 em São Bernardo do Campo
(SP), circulava através do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúr-
gicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diade-
ma. Teve importante participação na grande greve dos metalúrgicos do ABC
Paulista, em 1979, momento em que chegou a tiragens oscilantes entre 20
e 30 mil exemplares por edição. Abordou assuntos trabalhistas inerentes às
classes que representava, além de focar os percalços da política nacional, mo-
vimentos de greve em geral, problemas pontuais dos trabalhadores do ABC,
violência policial, campanhas salariais etc. Durante a década de 1980, foi fi-
liado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).
® BIN: 495727

Tribuna Socialista – PDT, Rio de Janeiro (RJ), 1983


Minitabloide do Grupo de Comunicação do Partido Democrático Traba-
lhista (PDT). Lançado no Rio de Janeiro (RJ), crítico, reivindicativo e irôni-
co, em tons agressivos e linguagem simplificada e popular, o jornal abordava
242 Anais da Biblioteca Nacional • 140

temáticas político-partidárias nacionais e internacionais. Em suas páginas


viam-se propostas e propagandas do PDT, enaltecimentos a Leonel Brizola,
escândalos políticos, polêmicas, artigos críticos ao governo militar, a carta
de princípios do Grupo de Comunicação do PDT (à época coordenado por
Wagner Teixeira, Ronaldo Buarque de Hollanda e Jacques Galinkin), debates,
entrevistas, diretrizes da esquerda nacional, perfis, textos sobre a história do
pensamento marxista nacional, reflexões e notícias sobre políticas educacio-
nais e culturais, notas sobre situações da política nacional, apelos antineoli-
berais, reportagens, textos sobre ideologia, regimentos internos de congressos
políticos, poemas, cartuns, entre outras coisas.
® BIN: 511080

A Trova Carioca – Rio de Janeiro (RJ), 1983


Rústico boletim informativo de periodicidade irregular lançado em 4 de
outubro de 1983 no Rio de Janeiro (RJ), como órgão do Clube Carioca de
Trova (CCT) e da Federação Brasileira de Entidades Trovistas (Febet). Datilo-
grafado e reproduzido por fotocópia ou mimeógrafo, trazia trovas, editoriais,
notícias curtas e comentários sobre o trovismo nacional, ensaios discutindo
ortografia e língua portuguesa, informes em nome da Febet e do CCT, rela-
tos sobre lançamentos de novos clubes de trova, anúncios e regulamentos de
concursos de trovas, endereços de autores e instituições, atas de encontros
trovistas, entre outras coisas.
® BIN: 418307

Um Jornal Sem Regras – alunos da UFC, Fortaleza (CE), 1982


Periódico crítico e satírico criado em Fortaleza (CE) em 1982(?) pelo La-
boratório Independente da Universidade Federal do Ceará (UFC). Criativo e
irônico, focado em poesia, quadrinhos e outros tipos de arte, chegou a possuir
periodicidade bimestral e trimestral, circulando em formato minitabloide.
Além do lado cultural, o rigor político, combativo, desbocado e estudantil do
jornal também era forte. Os editores da publicação assinavam como Falcão e
Flácio D’Independência.
® BIN: 43816-2

Unidade – Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SP, São Paulo


(SP), 1975
Tabloide mensal de ordem política, sindical e social veiculado em São Pau-
lo (SP) a partir de agosto de 1975 pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais
do Estado de São Paulo. Denunciativo e reivindicativo, apontava problemas
e questões envolvendo o mercado de trabalho jornalístico, liberdade de im-
prensa, particularidades da grande imprensa, cursos de comunicação de nível
superior, embates na justiça, o papel do jornalismo na cultura de massa, entre
Anais da Biblioteca Nacional • 140 243

outras coisas. Audálio Dantas foi seu primeiro diretor – era também membro
da diretoria do sindicato àquela época. Unidade nasceu como uma retomada
do jornal Unidade Jornalística, que havia sido fundado pelo Sindicato dos
Jornalistas no Estado de São Paulo em meados da década de 1960 e acabou
extinto às vésperas do Ato Institucional Número 5 (AI-5).
® BIN: 326879

Unidade & Ação – Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Mun. do


Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ), 1977
Tabloide lançado no Rio de Janeiro (RJ) pelo Sindicato dos Jornalistas
Profissionais do Município do Rio de Janeiro em 10 de outubro de 1977.
O periódico acabou sendo substituído pelo jornal Nossa Pauta por volta de
1988. Trazia editoriais, artigos, notícias, crônicas, informes do sindicato, con-
clamações, avaliações de greves e campanhas, planos de ação, reivindicações e
moções produzidas em encontros de classe, fotos, ilustrações, cartas de leito-
res, perfis e homenagens a personalidades da imprensa carioca, serviços a con-
veniados, anúncios publicitários e informativos gerais quanto aos interesses da
classe jornalística local.
® BIN: 443158

Unidade Jornalística – Sindicato dos Jornalistas Profissionais de SP,


São Paulo (SP), década de 1960
Folha do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo em
meados da década de 1960. Lançado no final de 1965 ou logo no início de
1966, era editado por Kioji Suzuki. Quando veio a lume, o sindicato era pre-
sidido por Adriano Campanhole, com Jorge Rodrigues de Mello como vice.
Apresentava e discutia assuntos e questões como a regulamentação da pro-
fissão de jornalista, acordos salariais, a defesa de jornalistas em disputas com
órgãos de imprensa, assistência social à classe, cooperativas jornalísticas, a si-
tuação do jornalista no mercado de trabalho, problemas no campo trabalhista
brasileiro, crítica ao ensino superior de comunicação, denúncia de desrespeito
à legislação de proteção ao trabalho, monopólio da opinião pública, liberdade
de imprensa, atividades recreativas, variedades quanto a outros movimentos
de classe, bolsas e prêmios para jornalistas, convênios e atividades para sindi-
calizados, congressos nacionais etc.
® BIN: 155926

Universidade – UNE, São Paulo (SP), 1985


Tabloide lançado em São Paulo (SP) em fevereiro de 1985 pela União
Nacional dos Estudantes (UNE). Foi publicado sob a responsabilidade de An-
tonio Martins, do Departamento de Imprensa do órgão estudantil, “para di-
vulgar as propostas para o IV Seminário Nacional de Reforma Universitária”,
244 Anais da Biblioteca Nacional • 140

que ocorreu entre 24 e 28 de julho de 1985, na capital paulista. Composto


e impresso nas oficinas da Editora Joruês, além de expor e discutir os tópicos
da UNE para a reforma universitária brasileira, abordou questões como as
influências do capital estrangeiro no meio acadêmico nacional, o estímulo do
governo brasileiro à privatização do ensino, a falência do modelo de educação
no Brasil e a crise do ensino público, problemas econômicos, os reflexos da
arbitrariedade do regime militar, o processo de esvaziamento da universidade
brasileira, a pedagogia com vistas à democracia, desigualdade social etc.
® BIN: 491497

Vade-Mecum Sindical – Rio de Janeiro (RJ), 1968


Periódico sindicalista criado no Rio de Janeiro (RJ). Chegou a possuir uma
edição especial destinada a assuntos de ordem jurídica, datada de novembro
de 1968, chamada Vade-Mecum Sindical – Legislação e Jurisprudência (BIN:
26340-0).
® BIN: 26342-7

O Vagão – Belo Horizonte (MG), 1977


Jornal cultural surgido em Belo Horizonte (MG) em julho de 1977, edi-
tado por Wanderley Batista, com conselho editorial composto por Alvanir
Ferreira Avelino, Apoena Marques, Edson Moreira Resende, Willer Velloso,
Paulinho Assunção e Severino Falcão. Apresentava-se como “uma publicação
aberta às tendências culturais de hoje, à pesquisa e informação, editado e dis-
tribuído por Garimpo – Arte e Pesquisa Editorial”. Circulando como tabloi-
de, era voltado principalmente à arte crítica e politicamente engajada. Não
passou de um ano de existência, encerrando sua publicação possivelmente no
no 7 de abril de 1978.
® BIN: 496812

Varadouro – Rio Branco (AC), 1977


Tabloide político e combativo, surgido em Rio Branco (AC) em maio de
1977. Um dos mais destacados da Região Norte, nascera da pequena empresa
jornalística Macauã Produções Gráficas e Publicações Ltda., montada pelos
sócios Elson Martins da Silveira, Silvio Martinello, Abrahim Farhat Neto,
Luís Carvalho, Célia Pedrina Rodrigues Alves, Alberto Furtado e Arquilau
de Castro Melo. Para sair, a 1ª edição do jornal contou com a ajuda de Dom
Moacyr Grechi, bispo de Rio Branco, que adiantou dinheiro da cúria para
a estreia (as cinco primeiras edições foram financiadas pela Igreja, que não
exerceu controle editorial sobre a publicação). De aspecto rústico e despo-
jado, tanto graficamente quanto em escrita, era crítico e debatedor, repleto
de denúncias e indignações de ordem política e social. Escrito em linguagem
popular, de forma simples e direta, tocava inúmeros temas, sempre referentes
Anais da Biblioteca Nacional • 140 245

às ameaças que sofriam a Amazônia, seus recursos naturais e seu povo. Tratava
primordialmente de questões indígenas, de posseiros, de seringueiros e demais
figuras do povo amazônico, frente ao poderio de empresas agropecuárias e
seus respectivos agentes.
® BIN: 47872

Verbo Encantado – Salvador (BA), 1971


Minitabloide cultural voltado à arte de vanguarda e à marginália. Era
o porta-voz do movimento conhecido como “baianidade”. Contracultural
e tropicalista, passava pela crítica de costumes e pela ruptura com velhas
formas de pensar e agir sem, no entanto, apresentar um posicionamento ide-
ológico definido. Foi criado em Salvador (BA) em outubro de 1971. Tinha
linguagem coloquial, recorria a gírias em seu corpo textual. Era editado em
uma sala de aproximadamente vinte metros quadrados numa casa alugada
numa escadaria entre a Rua Visconde de Mauá e a Avenida Contorno por
Armindo Jorge Bião, Luciano Diniz e Carlos Eduardo Ribas & Ribamar (o
único jornalista profissional de sua equipe), contando ainda com o redator-
-chefe Álvaro César Barbosa Guimarães. Circulava através da Alef Empresa
Jornalística Limitada, criada para editar o periódico e dividida entre Bião,
Guimarães e Ceomara Paim Couto.
® BIN: 656038

Verbo Encarnado – Rio de Janeiro (RJ), 1985


Rústico periódico literário, voltado à divulgação da poesia marginal lan-
çado no Rio de Janeiro (RJ) possivelmente em fins de 1984. Era edita-
do pelo grupo de poesia Verbo Encarnado, criado por volta de outubro
de 1984, que realizava suas atividades na biblioteca do Serviço Social do
Comércio (Sesc) Tijuca, instituição esta apoiadora da publicação. Sua im-
pressão dava-se por fotocópia, provavelmente feita no SESC Tijuca, e suas
edições contavam entre 12 e 24 páginas grampeadas. Aparentemente, o pe-
riódico circulava de mão em mão, gratuitamente. Ataualpa Antonio Pereira
Filho foi um de seus responsáveis.
® BIN: 306568

Verso Reverso – Rio de Janeiro (RJ), 1985


“Revista literária tupiniquim” lançada no Rio de Janeiro (RJ) em 1985(?).
Especializada em poesia, circulava através da editora Uirá, editada por Carlos
Miranda e Evanir Nunes. Trazia poemas, textos em prosa, cordéis, trechos
de romances inéditos, pequenas notícias sobre literatura (destacando-se en-
contros literários, novidades de centros culturais etc.), homenagens a escri-
tores, listas de publicações recebidas, listas de endereços de publicações ou
de grupos culturais ou políticos nacionais e internacionais, ilustrações, fotos,
246 Anais da Biblioteca Nacional • 140

anúncios de publicações alternativas ou de iniciativas ligadas à literatura mar-


ginal (como a Banca Nacional de Literatura Independente) etc.
® BIN: 421871

Versus – São Paulo (SP), 1975


Tabloide debatedor, cultural, crítico e analítico, lançado em São Paulo (SP)
em outubro de 1975, criado e inicialmente dirigido por Marcos Faerman.
Nascera sob o pesar pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, no mesmo
mês em que chegara às bancas pela primeira vez. Com textos opinativos, gran-
des reportagens, páginas de literatura, quadrinhos e entrevistas, todos com
enfoque político e cultural, o jornal possuía boa incidência de ilustrações.
Sua faceta política, discutida através de linguagens metafóricas, não englobava
apenas o Brasil: a América Latina e a África também eram exploradas. Marcos
Faerman, homem-forte da publicação, defendia o uso do Novo Jornalismo
na mídia impressa brasileira, moldando a linguagem de Versus a partir deste
método, possuindo também uma forte linha de jornalismo histórico (onde
se usava do passado para abordar os horrores e injustiças do presente). Em
janeiro de 1978, militantes da Liga Operária vieram a fundar, dentro de Ver-
sus, o partido Convergência Socialista, na primeira proposta para um partido
socialista legal, durante o período de abertura política. Nesta mesma época, o
tabloide testemunha a mudança de nome da Liga Operária (clandestina) para
Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), agora uma iniciativa legal que
mantinha a Convergência Socialista sob seu controle.
® BIN: 77852

Vida & Cultura Alternativa – São Paulo (SP), 1984


Lançada em São Paulo (SP) em novembro de 1984, foi uma revista focada
em temas sociais, educação, medicina, espiritualidade, política, tecnologia,
contracultura, alimentação, terapias alternativas, ufologia, astrologia e socie-
dade brasileira. Dirigida por Marjan Fromer, Hélio Fromer e Mário Inno-
centini, trazia sobretudo grandes reportagens e matérias em tom mais formal
do que a imprensa nanica em geral. Publicado pela Quatro Oceanos Editora
Ltda., o periódico era impresso na Editora Ave Maria Ltda.
® BIN: 44429-4

Viva a Poesia – Joinville (SC), 1982


Rústica revista literária, focada em poesia marginal, lançada em Joinville
(SC) em agosto de 1980 através do Grupo Varal Literário. Em tiragens iniciais
de 500 exemplares, saía em formato 21,5 cm x 15,5 cm, já que era um apanha-
do de folhas de papel sulfite tamanho A4 grampeadas, reproduzidas por mi-
meógrafo. Eunaldo Verdi e Rosiana Roweder eram seus coordenadores gerais.
® BIN: 446858
Anais da Biblioteca Nacional • 140 247

Viva Eu – São Paulo (SP), 1980


Rústica revista cultural de tendências libertárias e anárquicas, lançada em
São Paulo (SP) em novembro de 1980. Embora criada para ser uma única
edição, continuou sendo publicada, mudando de formato a cada número.
Editada por Rauer Ribeiro Rodrigues, Roberto Luís dos Santos e Valéria (apa-
rentemente residentes do Conjunto Residencial da Universidade de São Pau-
lo, o Crusp), trazia poesia, prosa, aforismos, artigos, ensaios, trechos de livros,
ilustrações, entre outras coisas. Anunciava livros alternativos e material para
intercâmbio cultural. Tratava de questões como política, crítica de costumes,
libertação sexual, opressão à arte engajada, literatura, cinema, teatro.
® BIN: 452769

Votu’s – Votuporanga (SP), 1980


Tabloide de cultura, crítica política e variedades locais lançado em Votu-
poranga (SP), possivelmente em 1980 – a edição publicada no dia 8 de agosto
deste ano, a única consultada nesta pesquisa, não trazia numeração. Editado
por José Carlos Pontes e Pretto Morenno, contando com Joel Silveira Leite
como jornalista responsável e com Octávio Viscardi Filho, Edson Longo Jú-
nior, Zito Ferrari e Abílio Fabiano como colaboradores, circulava mensalmen-
te através da GSV Editorial Ltda., sendo composto e impresso na Editora e
Linotipadora Rio Preto Ltda.
® BIN: 496766

Voz Ativa – CA da Faculdade de Economia e Administração da UFRJ,


Rio de Janeiro (RJ), 1979
Periódico estudantil criado no Rio de Janeiro (RJ) em 1979(?). Porta-voz
do Centro Acadêmico da Faculdade de Economia e Administração da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), discutia e divulgava prioritaria-
mente questões ligadas ao cotidiano universitário local, à política estudantil,
à política nacional e à educação. Sua postura reivindicativa e mobilizadora
refletia-se em artigos e poemas críticos sobre temas como sociedade, aliena-
ção, trabalho etc. Alguns dos participantes de “Voz Ativa” assinavam como
Adriano J. P. Rodrigues, Mozart V. de Paiva, Pascotto, Luiz Henrique M. de
Lima, entre outros.
® BIN: 49744-4

Voz da Nação – São Paulo (SP), 1985


Tabloide contestador, político e de esquerda, lançado em São Paulo (SP) em
1 setembro de 1985. Com linguagem crítica remanescente dos jornais de re-
o

sistência do início da ditadura militar, abordava predominantemente assuntos


políticos nacionais e internacionais, atacando ferozmente as injustiças sociais
causadas pelo neoliberalismo, muitas vezes em tonalidades inconformadas de
248 Anais da Biblioteca Nacional • 140

denúncia. Favorável às lutas populares por independência e extremamente


contrário às opressões do imperialismo global – com acentuada antipatia pelo
sionismo –, criticava a imprensa internacional, “controlada e manipulada”.
Foi dirigido por Nilson Dalledone (diretor presidente) e Solange D’Almeida
Borges Dalledone (diretora responsável), com José Gil de Almeida assinando
como jornalista responsável.
® BIN: 512109

Voz da Unidade – PC, São Paulo (SP), 1980


Jornal político de esquerda publicado em São Paulo (SP) a partir de 30
de março de 1980. Representando as ideias do Partido Comunista Brasileiro
(PC), que, mesmo formalmente ainda na ilegalidade, voltava à ativa com a
reabertura política e tinha Luís Carlos Prestes como seu secretário-geral, o pe-
riódico se colocava ao lado de outros criados ao longo da história do partido,
como O Momento, Tribuna Operária, Classe Operária, Voz Operária, Imprensa
Popular e Problemas da Paz e do Socialismo. Como esses outros títulos, dos
quais era herdeiro, veio a lume com a anistia política, aprovada no Congresso
em 22 de agosto de 1979, que fez com que o PC suspendesse a publicação
do seu jornal do momento, Voz Operária, editado fora do Brasil desde 1976.
Na ocasião, o partido juntou forças para a edição de um semanário em novos
moldes, que veio a ser a Voz da Unidade. Este tratava predominantemente de
questões políticas e culturais, sob o prisma das correntes marxistas que tinham
voz no PCB. Mas, em linhas gerais, preocupava-se em defender o retorno da
democracia no Brasil num momento em que a ditadura instituída após o gol-
pe militar de 1964 já agonizava, contando com o trabalho e a colaboração de
militantes comunistas em todo o país.
® BIN: 584754

Voz do Cárcere – detentos do Presídio Central de Porto Alegre, Porto


Alegre (RS), 1981
Jornal criado em 1981(?) em Porto Alegre (RS), como publicação dos
internos do Presídio Central de Porto Alegre. Contestador e debatedor, por
e para detentos, era dirigido pela assistente social Dra. Ema L. Licks, que
contava com o editor Sérgio Antônio Figueiredo. Trazia artigos críticos ao
regime militar e à política nacional, debates sobre a relação entre o poder
público e o presidiário, entrevistas, cartas de leitores, notícias e denúncias
do cotidiano do Presídio Central, apelos de internos, notificações da Secre-
taria da Justiça do Rio Grande do Sul, notas bem-humoradas, poemas, de-
poimentos, contos, entre outras coisas, incluindo textos de temas variados:
direitos e situações emocionais dos internos, dificuldades enfrentadas pelo
egresso das penitenciárias, motivação e fé na liberdade, religião, questões
e projetos sociais, direitos humanos, superlotação nos presídios, trabalho
Anais da Biblioteca Nacional • 140 249

infantil, educação, falhas do Código Penal brasileiro, desemprego, cotidiano


da equipe técnica e auxiliar do serviço social do Presídio Central, mani-
festações de paz, campeonato de futebol dos detentos, festividades e datas
especiais etc.
® BIN: 495689

Zero – Arraial do Cabo (RJ), 1978


Jornal lançado em Arraial do Cabo (RJ) em 5 de janeiro de 1978, priori-
tariamente voltado a assuntos de interesse local, abrangendo as cidades flumi-
nenses de Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio (na
época, Arraial do Cabo ainda fazia parte de Cabo Frio). Crítico, opinativo e
denunciativo, circulando pela Editora Zero Ltda., era dirigido por José Nilo
Tavares, Eduardo Novellino e Euro Luiz Arantes (um dos fundadores do céle-
bre jornal Binômio, em Belo Horizonte).
® BIN: 111341

Zezinho – Vitória (ES), 1985


“O jornal que não entra no pique da Globo”, foi um rústico periódico de
crítica política e cultural, com ênfase em literatura e cultura popular, lançado
possivelmente no primeiro semestre de 1985 em Vitória (ES). Editado por
Eduardo Selga da Silva, saía como órgão informativo do Clube dos Trovado-
res, Poetas e Escritores do Morro do Quadro (Cepemq), que tinha base no no
365 da rua José Machado, no bairro Tabuazeiro. Apesar de sua preocupação
com questões culturais, Zezinho também comentava assuntos como ecologia.
® BIN: 436712

Referências
ALBERNAZ, Bia; PELTIER, Maurício. Almanaque de fanzines: o que são por que são
como são. Rio de Janeiro: Arte de Ler, 2002(?).
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no mundo na década de 1970. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2000.
Arquivos da Polícia Política Mineira – acervo do período de 1927 a 1982. Arquivo
Público Mineiro. Disponível em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/dops/
search.php. Acesso em: 23 mar. 2022.
Arquivo Público do Distrito Federal: Companhia de Desenvolvimento do Planalto
Central. Imprensa alternativa e cultural, 1970-1984: catálogo de títulos. Brasília: Arquivo
Público do Distrito Federal: Codeplan, 1995.
Associação Brasileira de Reforma Agrária. Memória da luta pela reforma agrária no
Brasil: catálogo do acervo da Abra no período 1967 – 1997. Brasília: MDA, Londrina:
UEL, 2007.
250 Anais da Biblioteca Nacional • 140

BEHR, Nicolas. Geração mimeógrafo. Brasília: Navégus, 1979, n, 2, ano 1.


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Edições Paulinas, 1986.
Preciosidades do Acervo
A produção verbovisual de
Raul Pompeia no acervo da
Biblioteca Nacional

Gilberto Araújo de Vasconcelos Júnior


Doutor em Letras Vernáculas (UFRJ), onde atua como professor de Literatura Brasileira
no Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas. Foi bolsista-pesquisador
da FBN com projeto dedicado à produção verbovisual de Raul Pompeia
Resumo
Este projeto visa a estudar as obras de Raul Pompeia que promovem a convivência de
signos verbais e visuais, de modo a permitir a análise articulada e sistemática das duas lin-
guagens, aqui componentes de um complexo semiótico pioneiro nas artes brasileiras do
século XIX. Partimos de quatro focos de pesquisa: (1) caricaturas e charges na imprensa
periódica; (2) as ilustrações do romance O Ateneu; (3) os poemas em prosa ilustrados e
(4) capas de livros desenhadas pelo escritor. Alicerçado em material quase inacessível,
este projeto tem como fonte de pesquisa imprescindível a Fundação Biblioteca Nacional,
onde, no caso de Raul Pompeia, ex-diretor da instituição, repousam ainda vários itens
exclusivos, como manuscritos, cartas e desenhos originais.
Palavras-chave: Literatura brasileira. Artes visuais. Periódicos. Ilustrações. Século XIX.
Raul Pompeia.

Abstract
This project aims to study Raul Pompeia’s works which promote the coexistence of verbal
and visual signs, in order to allow an articulated and systematic analysis of both languages,
here components of a pioneering semiotic complex in the Brazilian 19th century arts. We
selected four research focuses: (1) cartoons in the periodical press; (2) the illustrations
for the novel O Ateneu; (3) illustrated prose poems; and (4) book covers designed by the
writer. Based on almost inaccessible material, this project has as a fundamental source
of research the Fundação Biblioteca Nacional, where, in the case of Raul Pompeia,
former director of the institution, there are still several unique items, such as original
manuscripts, letters and drawings.
Keywords: Brazilian literature. Visual arts. Newspapers. Drawings. 19th Century. Raul
Pompeia.
Introdução
O ano de 1888 foi decisivo na carreira de Raul Pompeia, não apenas pela
publicação de O Ateneu, mas também pela abolição da escravatura, causa que,
irmanada ao republicanismo, representava suas lutas máximas. Desfeitas as
ilusões sobre a recém-proclamada República de 1889, a vida de Raul parece
refletir a disforia e a tensão vividas na capital federal, assolada pelo autori-
tarismo de Floriano Peixoto e pelas inúmeras manifestações civis e militares
contra o presidente marechal. Embora difundisse na imprensa críticas ao regi-
me, Pompeia assumiu postura francamente florianista, colhendo inimizades,
inclusive entre antigos parceiros de letras e ideologia, como Olavo Bilac e
Luís Murat. É sob rumores de protegido do ditador que assume, em 1894, a
direção da Biblioteca Nacional, onde permanece até 1895, após a deposição
de Floriano por Prudente de Morais, que também exonerou o escritor da
função de professor de Mitologia na vizinha Escola de Belas Artes. Nesse bi-
ênio conturbado, envolveu-se em muitas querelas na imprensa e desgastou-se
psiquicamente, cometendo suicídio em dezembro de 1895.
Sua breve passagem na Biblioteca Nacional carece de estudo mais acurado.
Seus principais biógrafos – Eloy Pontes, Brito Broca e Camil Capaz – abor-
dam-na celeremente, pois privilegiam as acaloradas discussões na imprensa
nesse período. A lacuna difunde a falsa ideia de uma direção anódina mas,
pelos documentos depositados na Biblioteca Nacional (carentes de investi-
gação pormenorizada), temos acesso à contribuição efetiva de Pompeia, seja
no trabalho exaustivo de Estatística (era também diretor geral de Estatística
na instituição) ou na atualização constante do acervo, aferível nos bilhetes,
cartas, ofícios, circulares e relatórios1, solicitando livros e periódicos recentes,
nacionais ou estrangeiros2, fora o carvão para iluminação elétrica, mapas e
objetos variados3. Pela contingência biográfica, esse “arquivo pessoal” do ex-
-diretor é exclusivo da Fundação Biblioteca Nacional (doravante FBN) e seu
exame incrementa os estudos pompeianos, enaltecendo simultaneamente o
quilate da instituição.
O objetivo deste projeto não é propriamente recuperar os detalhes biográ-
ficos da permanência de Raul como diretor, visto que sua presença no acervo
na FBN é muito mais rica e variada, ultrapassando, com larga folga, a virada
de 1894 para 1895: sua primeira publicação registrada data de 1874, aos 11
anos de idade.

1. Um exemplo encontra-se em http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/


mss1286800/mss1286800.pdf.
2. O fornecimento de jornais estrangeiros pode ser comprovado em http://objdigital.bn.br/acer-
vo_digital/div_manuscritos/mss1296509/mss1296509.pdf.
3. http://bndigital.bn.gov.br/acervodigital e http://bndigital.bn.gov.br/acervodigital.
256 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Sempre abastecidos dos itens alocados na FBN, almejamos estudar, de ma-


neira articulada, as produções verbais e visuais de Raul Pompeia, cuja versati-
lidade gráfica espraia-se para além das famosas ilustrações de O Ateneu ou das
caricaturas desferidas nos periódicos, timbrando presença em charges, capas,
ilustrações e vinhetas. Insistimos na abordagem integrada de letra e imagem,
porquanto se costuma destacar apenas a veia caricatural de Raul, negligen-
ciando-se sutilezas e matizes de sua pena, responsável por intricado sistema de
relações semióticas, inédito na iconografia brasileira. Para desenvolvimento da
empreitada, organizamos a pesquisa e este ensaio em quatro focos de investi-
gação, numerados a seguir.
Ressaltamos que as quatro seções deste estudo podem apresentar alguma
desproporção, justificada pela importância do grupo examinado no conjunto
da obra plástica de Raul. Além disso, muitas imagens localizadas por nós fica-
ram de fora deste trabalho, a exemplo dos desenhos esparsos4, das caricaturas
presentes nos periódicos estudados e algumas avulsas e das ilustrações não
inseridas em O Ateneu. Essa ausência deve-se tanto ao fato de alguns desses
materiais não pertencerem ao acervo da FBN, quanto ao princípio metodo-
lógico: privilegiamos “obras acabadas” para tornar o projeto exequível e, na
medida do possível, consistente. É intenção nossa continuar examinando a to-
talidade dessa produção de Raul Pompeia, mesclando acervos privados e pú-
blicos do país, dentre os quais, pelos motivos aqui expostos, a FBN se destaca.

Charges e caricaturas na imprensa periódica

No colégio Abílio, um bacharel, não agraciado com os “Bancos de honra”,


decidiu questionar o vice-reitor que, incomodado com a ousadia do moço,
convoca dez funcionários (dentre eles, dois inspetores) para espancar o re-
querente até expulsá-lo da instituição. O rapaz denunciou o caso na grande
imprensa, havendo também mobilizado o jornalzinho O Archote, que circu-
lava dentro do colégio. Nele, o enfurecido articulista Fabricius denunciava
“a parcialidade e a injustiça” (POMPEIA, 1874, p. 1) na escola, alegando
que os bancos “não são concedidos a quem os merece”, mas aos “íntimos”
(POMPEIA, 1874, p. 2) dos premiadores. O fato ocorreu em 1874, quando
Fabricius, estudante do Abílio, contava com 11 anos de idade. Foi o primeiro
pseudônimo importante de Raul Pompeia.

4. Alguns exemplos: “Alegoria à passagem do Ano Novo” (http://objdigital.bn.br/objdigital2/


acervo_digital/div_iconografia/icon530918/icon530918.jpg), “D. Quixote de la Mancha”
(http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/icon530917/icon530917.
jpg), “Mme. Quasimodo” (http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_iconografia/
icon530920/icon530920.jpg).
Anais da Biblioteca Nacional • 140 257

Prova de talento precoce nos campos literário, plástico e social, O Archote


é raro periódico manuscrito e ilustrado pelo jovem escritor, e seu último e
raríssimo exemplar, o de número 4, em que se denuncia o episódio acima,
encontra-se fac-similado no acervo da FBN. São apenas 4 folhas – as duas pri-
meiras com textos; as últimas, com desenhos legendados –, talvez o pioneiro
documento público da vocação verbovisual de Pompeia, já que suas criações
anteriores pouco extrapolavam o âmbito doméstico.
Em cabeçalho de letras e traços resplandecentes, O Archote pretende ilu-
minar (por isso o título) a consciência dos estudantes, sendo porta-voz dos
problemas colegiais e incentivador da atuação crítica dos discentes. Na folha,
Fabricius ainda revela preocupação com as desigualdades externas, incitando
os leitores a observar a sociedade, de onde, em verdade, provinham as maze-
las exemplificadas na ocorrência denunciada: “Terminando, apertamos com
efusão a mão do 5o ano e nos despedimos esperando encontrar-mo-nos ou
no 6o ano ou fora do colégio lá na sociedade” (POMPEIA, 1874, p. 2). Em
silenciamento estratégico, o periódico finaliza junto com o calendário letivo,
semeando inquietações nas férias ou no ano seguinte. Passemos a examinar as
imagens do tabloide.
Na primeira faixa, avultam feições borradas dos personagens, distintos pela
compleição, pelos cabelos e pela indumentária. Com ao menos uma perna
flexionada ou as duas entreabertas e os dedos em riste, o vice-reitor porta-se
como lutador de esgrima, em postura de violência glamourosa, já que, a ri-
gor, mantém-se alheio à surra desferida por seus funcionários. É interessante
contrapor a desfiguração dos rostos nas duas primeiras sequências – sobre-
tudo do bacharel, identificado pelo pergaminho, e dos criados – e a precisão
fisionômica na terceira fita de desenhos. Nela, sucedem-se três bustos, todos
em traços arqueados, sugerindo a vergonha dos denunciados. O embate de
proporções entre as cabeças e o restante da página avigora a intenção delatora.
Em sequência narrativa semelhante às histórias em quadrinhos, com le-
gendas em vez de balões, o bacharel vai ao bispo denunciar o acontecimento,
a fim de propagá-lo no Jornal do Commercio. Praxe na obra do artista ateu, a
autoridade religiosa é, em O Archote, caricatural: a mitra pontiaguda aproxi-
ma-o de um burro e seu corpo coleante assemelha-se a um jornal dobrado,
metamorfose concluída na terceira gravura da primeira linha.
O revide resulta anódino, pois o rapaz continua subordinado aos desman-
dos do vice-reitor, que zomba do bacharel, chamando-o “fuão”. Para mais
desprezar a importância do jovem, o docente, em gagueira ofensiva reduplica
as sílabas da palavra “indivíduo”, transformado em “indidivividuduo”, proce-
dimento morfológico que, no campo semântico, pretende solapar a identida-
de do bacharel. Isto é, aquilo que o tornaria único indivíduo) é maldosamente
fragmentado pelo vice-reitor. Em outras palavras, o neologismo divide o que,
ontologicamente, é indivisível.
258 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Coroando essa prepotência, O Archote finaliza com a justaposição irônica


de dois desenhos, ambos em tamanho avantajado: um tamanco, síntese da
truculência dos poderosos, e um aperto de mãos, cumprimento de despedida
e da parceria entre os alunos contra os abusos.
Passado o período escolar, Raul Pompeia ingressa na Faculdade de Direito
de São Paulo, onde encontra a antipatia de professores ultramontanos e a
amizade de Luiz Gama, Silva Jardim, Valentim Magalhães e tantos outros que
o incentivaram a colaborar na imprensa. O batismo ocorreu em A Comédia,
com três meses de duração (PONTES, 1935, p. 74), depois rebatizada de
Entr’acto e enfim de O Bohemio, que consagrou Pompeia como o caricaturista
Rapp (PONTES, 1935, p. 75). Segundo Herman Lima (1963, p. 1.681), em
História da caricatura no Brasil¸ é nesse jornal que se projeta o sucesso de Raul
nas artes gráficas, correlato ao êxito literário decorrido de sua novela abolicio-
nista, Uma tragédia no Amazonas, lançada um ano antes.
Uma das capas da gazeta (a da edição de 8 de outubro de 1881) trazia dese-
nho do nosso autor, em que o rosto do personagem mesclava-se, em clima de
camaradagem boêmia, aos semblantes dos oito integrantes da redação e per-
furava uma tela emoldurada, branca como uma página vazia. A atitude jocosa
e irreverente sublinha a emersão da imagem onde se supunha haver apenas
texto. Boemiamente, o periódico cambaleia entre os dois terrenos.
De fato, O Bohemio compila o maior número de caricaturas inseridas por
Pompeia num único jornal. Neste ensaio, seria impraticável abordar todas, po-
dendo o interessado consultar o catálogo Exposição comemorativa do nascimento
de Raul Pompeia, publicado pela Biblioteca Nacional em 1963, já que esse
material ainda não foi digitalizado. Limitemo-nos, por ora, à ilustração mais
polêmica e que, segundo os biógrafos Eloy Pontes (1935, p. 82) e Camil Capaz
(2001, p. 41), projetou o nome de Raul Pompeia na vida pública de São Paulo.
Em 1881, Miguel Lemos esteve na capital paulista para conferências sobre
o positivismo. Abolicionistas e republicanos, os jovens articulistas, dentre eles
Fontoura Xavier, Raimundo Correia e Teófilo Dias, saudaram e acolheram
o palestrante, levantando a rejeição de jornais escravagistas como Diario de
Campinas e Opinião Liberal. A resposta veio da pena ácida de Rapp, na famosa
charge “Agonia e morte do Diario de Campinas”.
Almejando “criar uma ideia ou realizar um ensinamento sem exigir esfor-
ço” (LIMA, 1963, p. 1.668), a caricatura de Raul Pompeia parodia as cenas
da paixão de Cristo, com alterações risíveis e mordazes: Jesus, substituído pelo
Diario, torna-se um burro cuja coroa é uma ferradura e é anunciado como
“Ecce asinus”. Para além do ateísmo ferrenho de Rapp, a intertextualidade
bíblica não é gratuita, pois, tendo em mira um jornal conservador, ofende o
adversário em uma de suas bases mais fortes, o cristianismo.
No primeiro desenho, canto superior direito, o asno escoiceia vários ma-
nuais de inteligência, dentre eles a gramática, preparando o terreno para que,
Anais da Biblioteca Nacional • 140 259

na segunda estampa, sua estupidez, paródia de Judas, o entregue ao ferino O


Bohemio, convertido em cruz de papel na ilustração central. Sancionado burro
após pedir que o pai o afaste do feixe, remissão irônica ao chicote do segundo
quadro, no quinto, o onagro inicia o Calvário, contorcendo-se e chafurdando
em lixo antes da crucificação.
A palavra “diário” surge em todos os quadros; no sexto, aparece a palavra
“lixo”. No caso específico de “Agonia e morte do Diario de Campinas”, os ele-
mentos verbais funcionam não apenas como legenda ou marcação narrativa,
práticas já verificadas em O Archote e posteriormente extensivas a O Binoculo;
entram, em O Bohemio, como reforçadores irônicos daquilo que a plasticidade
sozinha, dados o excesso de informações visuais ou o pequeno espaço disponí-
vel, não seria capaz de evocar. No 6o fragmento, por exemplo, sob as patas do
burro açoitado, o vocábulo “lixo”, repetido algumas vezes no chão, evidencia
a dificuldade em debuxar, naquele espaço, a sujeira. Além disso, por tratar-
-se de um jornal, representar o lixo em palavra e letras aprimora o deboche
sobre a obtusidade discursiva do Diario. Não há, portanto, apenas a relação
complementar entre texto e imagem, conforme verificado em outras charges;
signos verbais e visuais dialogam também por suplementariedade, buscando
sanar mutuamente suas “insuficiências” expressivas sem que um dependa de
todo do outro.
Nas bordas de cada uma das telas, os tracejados evocam tanto a vegetação
do Jardim das Oliveiras, radicalmente ironizado no último com as flores-ferra-
duras, quanto as chamas do inferno. A presença do fundo, ingrediente tímido
ou ausente em O Archote, amplia a perspectiva do desenho de Raul Pompeia:
sua inequívoca vocação de retratista junta-se a um fundo que fornece luz ao
primeiro plano e agrega elementos narrativos que ampliam a semântica do
centro da imagem, compondo, na verdade, uma cenografia.
Um pouco mais tarde, em O Binoculo, periódico carioca publicado no
biênio 1881 e 1882, o principal desenho de Raul Pompeia intitula-se “Ho-
menagem a Pombal”, ocupando página central do número 31, de maio de
1882. Na ocasião, comemorava-se o centenário do Marquês de Pombal, figura
antipatizada pela gazeta republicana. Em artigo que antecede a charge, A. D.
Lino sintetiza a ojeriza ao déspota lusitano:

Mas, dize-nos cá, bom Júbilo: sabes tu o que significa esta apoteose ao Marquês
de Pombal? Significa o aplauso inconsciente de um povo santamente ignorante
a um estrangeiro que só tendo feito mal ao seu país não podia fazer bem ao dos
outros. (LINO, 1882, p. 3).

O magazine publicou em fascículos o conto “A mona do sapateiro”, assina-


do com o ortônimo do escritor, mas sua “Homenagem a Pombal” é subscrita
por Rapp, cuja identidade O Binoculo não revela.
260 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Passemos à ilustração de Pombal.


Traços longilíneos, sobrancelhas arqueadas, dedos, nariz e abotoaduras
pontiagudos concedem ar diabólico ao português, ladeado pela caveira, alego-
ria da morte que, em companhia de tão horrendo monarca, parece-lhe sub-
serviente, atenta a seu olhar fixo e certeiro. Consoante a outros desenhos de
Pompeia (a exemplo de o Ateneu destruído ou das canções sem metro mais
combativas), a ambientação negativa costuma redundar em superabundância
visual, de forma a circundar as imagens centrais com cenas e objetos coadju-
vantes, além de traçados enérgicos que forjam um décor onírico, próximo da
colagem, como nos quadros de Bosch. Vislumbram-se forcas e cavalos ao fun-
do esquerdo e os corpos sobre os quais se entrona o marquês, cujos membros
inferiores serpenteiam em cima de um braço morto. Evidentemente, a despro-
porção entre Pombal e os outros seres humanos (comparem-se os tamanhos
das cabeças) atesta seu autoritarismo.
Opondo-se à lente focalizada nas figuras em O Archote, os desenhos do-
ravante costumam solicitar movimento duplo dos olhos: concentração nas
imagens centrais e constante deslizamento às informações disseminadas pela
ilustração. É ler a legenda: “O eminente regenerador do Portugal jesuítico,
por meio da forca, da coroa, do terremoto, da fogueira, do cavalo e de outros
instrumentos do progresso...”. À primeira vista dispensável, a inscrição, auxi-
liada pelo título, ressalta o componente irônico da ilustração. Sem as infor-
mações escritas, a imagem preservaria, é certo, a mensagem tétrica, mas não
necessariamente a dicção paródica, uma de suas maiores forças expressivas.
Além disso, a legenda convida o observador a mirar para além do primeiro
plano, ao destacar, por exemplo, a forca, o cavalo, o fogo, este último insi-
nuado pelo arranque de fuga dominante no quadro: pássaros, corcéis, traços,
tudo flameja. Conquanto a ilustração possa ser recebida sem o texto, é dele
que partem as setas que encaminham o observador e potencializam o alcance
semântico da charge.
Eugenio Gomes afirma que

entre os fatores que no século passado [XIX] exerceram influência sobre a fixação
de tipos, cenas, quadros, no romance (...), nenhum teve efeito mais prolongado e
incisivo do que a estampa litográfica em suas variadas feições, naturalmente com
o predomínio da caricatura”. (apud LIMA, 1963, p. 1668-9).

Deveras, muitos dos aspectos discutidos no estudo de O Archote, O Bohe-


mio e O Binoculo alimentaram a verve criativa de Raul Pompeia para fazê-
-la culminar em O Ateneu, vanguarda oitocentista na parceria entre letra e
imagem.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 261

O Ateneu: ler & ver


Na literatura brasileira, o “conjunto de desenhos [de O Ateneu] é talvez
único na visualidade do século passado [XIX], entre nós e isso contribui para
o sucesso que alcançou” (BARATA, 1991, p. 442). Malgrado tal relevân-
cia, essas ilustrações emaranham-se em um dos maiores quiprocós de nossas
letras. O livro foi lançado em 1888, meses depois de seu aparecimento na
Gazeta de Notícias, mas os desenhos só foram inseridos na segunda edição,
capitaneada pela Livraria Francisco Alves dez anos após o falecimento do au-
tor (a folha de rosto apresenta a data de 1905; a capa, 1906). Estiveram sob
os cuidados do editor, que os doou, em 1907, à Biblioteca Nacional, onde
até hoje permanecem.
As 43 imagens constituiriam “apenas” raridade iconográfica, não estives-
sem envolvidas em outro imbróglio ecdótico: elas teriam sido dispostas no
livro segundo determinação de Francisco Alves, não do escritor (COUTI-
NHO, 1981, p. 12). Em junho de 1894, Pompeia vendeu os direitos autorais
à casa editorial mas, como cometeu suicídio em dezembro do ano seguinte,
não pôde acompanhar a edição. O maço de provas teria sido enviado a Paris,
onde foi impressa pela casa Aillaud & Cie, com sede também em Lisboa.
Tratava-se de procedimento recorrente em nossa vida literária, responsável,
segundo Afrânio Coutinho (COUTINHO, 1981, p. 13), por diversas inter-
venções no texto original, normalmente encetadas por revisores portugueses.
No caso de O Ateneu, o texto sofreu inúmeras alterações, extensivas em certo
grau aos desenhos do autor. Originalmente, Raul os traçara a crayon; contudo,
na brochura de 1905, eles aparecem a bico de pena. Segundo Mário Barata,
Herman Lima teria observado que

a técnica usada por Pompeia não permitiria a reprodução direta para clichés, na sua
época, e, parece-me, em certos papéis. Daí se pode concluir que, possivelmente na
França, a Aillaud deve ter pago [sic] um ilustrador profissional e consciencioso a
fim de que transpusesse os originais para bico de penas, de modo a facilitar-lhes a
reprodução. (BARATA, 2016, p. 247).

Conforme discutiremos adiante, essa adulteração, gerada pela zincogravu-


ra, provocou alguns deslizes editoriais ainda não sanados.
Acerca da disposição das imagens no livro, de fato não se pode afirmar
que seja obediente à vontade autoral. No caderno disponível na FBN, a letra
que assina o frontispício, chancelando a doação de Francisco Alves, pode ser
a mesma que, em geral no canto superior direito dos desenhos, indica em que
capítulo cada uma deveria entrar. Não podemos precisar se é a mesma caligra-
fia da primeira página, tampouco nos é permitido assegurar que as orientações
de sequenciamento provieram de Raul Pompeia, cuja letra costuma ser mais
262 Anais da Biblioteca Nacional • 140

desarranjada do que a ali presente. Portanto, defendemos que o estudo inte-


grado das imagens e do texto de O Ateneu deve pautar-se antes pelo diálogo
entre as duas linguagens do que pela duvidosa ordem de entrada dos desenhos
no romance.
A ênfase no encadeamento das gravuras gerou tropeços críticos, mesmo
entre leitores do porte de José Paulo Paes. Em “Sobre as ilustrações d’O Ate-
neu”, de Gregos & baianos (1985), o poeta desenvolve elaborado estudo com
o fito de demonstrar a natureza icônica dos desenhos, pois, argumenta, nem
sempre eles acompanham a trama, desenvolvendo, na verdade, narrativa visu-
al paralela à escrita. Apesar de teoricamente bem arquitetado, o ensaio de Paes
parte de premissa incorreta. José Paulo talvez desconhecesse que os crayons
estivessem na Biblioteca Nacional. Seu estudo, entretanto, é de extrema valia
e permanece insuperável na investigação da obra visual de Raul Pompeia.
Como nosso trabalho precisa contemplar outros títulos do autor, seria im-
pertinente repassar aqui todas as ilustrações do romance. Selecionamos aque-
las que, a nosso ver, são mais significativas para asseverar a originalidade de
Raul Pompeia na tradição iconográfica brasileira.
A despeito das peculiaridades, as imagens se caracterizam pela presença da
sombra; mesmo as mais descritivas e singelas, como duas gaivotas voando ou
uma carta, carregam mancha assombreada que lhes importuna a nitidez e a
totalidade. O resultado é o corte arbitrário das cenas (a que parece faltar um
fundo ou uma continuidade) ou dos corpos, enfocados metonimicamente em
membros desconexos, quando não em traços fisionômicos opacos. Essa visibi-
lidade lacunar não denuncia imperícia ou pressa do desenhista. Ao contrário:
cria atmosfera imprecisa, de todo condizente com a estrutura de uma narrativa
memorialística. Imiscuídas em desejos, traumas e esquecimentos alinhavados
pelo tempo, as lembranças de Sérgio recriam, nebulosa e imperfeitamente, o
cenário escolar e seus personagens. Mesmo ele é flagrado com semblante man-
chado (observe-se, por exemplo no capítulo XII, seu rosto, quando na cama
ao lado de Ema), índice da perpétua procura identitária do rapaz.
Na primeira edição, ainda desprovida das ilustrações, o único registro ico-
nográfico encontra-se no capítulo I (precisamente na página 24).
Note-se, preliminarmente, a discrepância entre o registro verbal (O Athe-
neu, conforme a ortografia vigente) e o não-verbal (o arco O Athenæum). O
léxico latino empresta à instituição moderna e capitalista uma atemporali-
dade respeitosa, como se a língua morta a credibilizasse socialmente, esca-
moteando seu real interesse no lucro. Com efeito, a luz elétrica, provinda
de “foco invisível”, “feria” o letreiro em latim, sugerindo ser a modernidade
intrusa na tradição colegial. Em sentido semelhante, a descrição de Aristarco
nessa passagem é permeada de termos sugestivos de perenidade: “expressão
olímpica”, “banho luminoso da imortalidade”, “bustos eternos, o ambiente
glorioso do Pantheon”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 263

Por outro lado, deve-se considerar que, sob a máscara da tradição, deseja-se,
a rigor, ostentar a luz elétrica, viabilizada pelas vultosas mensalidades, devol-
vidas em espetáculo para aqueles que podem custeá-las. Essa exibição onero-
sa justifica a interrupção do texto pela transcrição do letreiro, franqueando
ao leitor saborear o impacto visual vivenciado pelas pessoas que cruzavam a
fachada do Ateneu. Como os transeuntes paralisados diante da inscrição, o
fluxo da leitura também é suspenso pela legenda arqueada da fachada.
A preocupação em presentificar para o receptor do romance as sensações
experimentadas por Sérgio nos anos de internato é extensiva aos desenhos de
Raul Pompeia para a segunda edição do livro. De fato, as gravuras não exis-
tem apenas para ilustrar passagens da obra, o que conferiria a elas a ingênua
tarefa de deleitar. Na verdade, a composição das imagens funciona como uma
espécie de guia do olhar, desvelando novos meandros da matéria textual. Ob-
servemos o primeiro desenho.
Avistando a paisagem do colégio, pai e filho dispõem-se de costas para o
espectador. A tomada traseira realça contrastes e semelhanças entre Sérgio e
o pai. Além da incontornável variação de estatura, das calças curtas em um e
compridas no outro, deve-se atentar para a diferença na postura das pernas:
o pai dispõe-se em equilíbrio elegante, com um pé à frente do outro, em
pose convicta e serena. A criança tem o pé dianteiro apontado para a escola,
mas o pé traseiro virado para a rua, como quem ameaça retroceder ou fu-
gir, talvez pelo temor diante do novo colégio. Suas calças apresentam torneio
mais maleável do que as do pai, de corte retilíneo, havendo nessa distinção
indumentária o contraponto entre a hesitação infantil e a autoridade paterna.
Nem tudo, porém, é opositivo: os dois botões na roupa de cima coligam os
personagens, vaticinando a futura transformação do menino no homem, não
houvesse no colete de Sérgio um terceiro botão, destoante da simetria cerzida
na vestimenta do pai. Além disso, a clara cabeleira comprida do menino in-
vade a sobriedade escura da jaqueta; ironicamente as madeixas tocam a mão
paterna: fluidez versus firmeza, excesso versus contenção.
O adulto assume-se tutor da criança, haja vista sua mão conduzir, quase
empurrar, o infante para o colégio, duplamente apontado pelo dedo em riste e
pela bengala. Esses traços masculinos são coroados na alta cartola, contrastiva
com a boina escorregadia do menino. A esse empurro para dentro do Ateneu,
Sérgio responde, quiçá involuntariamente, com um aceno para fora, com pés
e pernas abertas. Sua cabeça inclina-se em dúvida acuada, enquanto a paterna
preserva-se ereta, deixando entrever a ponta do bigode, de austeridade nova-
mente avessa às melenas encaracoladas do filho.
Ambos estão na rua, antes da calçada que dá acesso ao Ateneu. Segun-
do frase antológica do pai, dentro da escola o filho encontraria o mundo:
“Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem
para a luta” (POMPEIA, 1981, p. 29). Portanto, nessa cena inicial, os dois
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localizam-se em domínio externo ao microcosmo, fora do mundo, caben-


do ao adulto governar o infante e lançá-lo à vida. Para a criança, sempre
amparada pelos pais, a rua configura-se quase como extensão da “estufa de
carinho que é o regímen do amor doméstico” (POMPEIA, 1981, p. 29).
Desse modo, sair da rua e entrar no colégio é, paradoxalmente, inteirar-se da
vida mas, para tanto, são necessários alguns Virgílios e o primeiro deles é o
pai. Sua mediação é tão relevante que é com frase dele que o narrador abre
o romance. Do ponto de vista sintático, o primeiro período do livro reforça
essa intromissão paterna, ao interpor entre as frases do pai (“Vais encontrar o
mundo” e “Coragem para a luta”) o discurso do filho (“disse-me meu pai, à
porta do Ateneu”). Além disso, a sequência de consoantes oclusivas em “pai”,
“porta”, “Ateneu” como que bloqueia o balbucio infantil que as nasais dupli-
cadas sugeriam em “(...)-me meu”.
A metáfora da luta remete a Herbert Spencer, filósofo inglês que, grosso
modo, estendeu ao campo social o conceito darwiniano de seleção natural:
como na natureza, na sociedade sobreviveriam os mais fortes. A declaração
do pai de Sérgio incita-o a entrar no campo de batalha, gravado visualmen-
te na paisagem obscura e confusa atrás da pilastra. A mata selvagem parece
amedrontar o menino e delimita o portal para um novo mundo, esfumaçado
e encarapinhado, distinto das linhas retas predominantes no primeiro plano,
o da rua. Os contornos lá atrás se volatizam, debuxando cenário sombrio e
ameaçador. Atente-se para o fato de a coluna estar descentralizada à esquerda,
obstando a visão de Sérgio, já minimizado pela dimensão da floresta e do
novo colégio; o adulto, à direita, tem campo de visão menos bloqueado. Nós,
espectadores, dispostos à retaguarda dos observadores, temos percepção ainda
menos livre do espaço, já que entre nós e o colégio estão o pilar, o pai e o filho.
Daí a importância da angulação traseira: o Ateneu é para nós menos conhe-
cido do que para Sérgio, que escreve o livro dois anos depois do incêndio do
colégio. Ao entrar na obra, todavia, o leitor se defronta com um terreno tão
desconhecido quanto o fora para o menino de 11 anos, quando ele avistou o
internato pela primeira vez.
Na composição do quadro, a coluna desempenha outros papéis além de di-
ficultar a percepção infantil. Trata-se de um bloco vertical, único, rigidamen-
te erigido sobre o muro e desconectado de qualquer outro pilar semelhante.
Sem dúvida, a construção espelha a imponência almejada por Aristarco, con-
sagrada pelo vaso. Entretanto, ela ostenta certa clandestinidade, não apenas
por bloquear a visão de Sérgio, mas também por se intrometer entre pai e
filho, fraturando a desejada simetria entre eles. Muito mais alta do que os
dois, é o grande chamariz da ilustração: é para ela que nossos olhos se voltam.
Esse terceiro elemento, intruso, pedra no meio do caminho, paira autoritário
sobre o campo de observação – nosso e dos personagens – e seu contorno
inegavelmente fálico talvez prefigure as vivências homossexuais (de Sérgio)
Anais da Biblioteca Nacional • 140 265

no Ateneu. A construção enxerida entre pai e filho responde ao empurrão


masculinizante do adulto. Diante da pilastra, quase totêmica, a cartola, a
bengala e o dedo se encurtam. Ela é modelo viril e sedução homoerótica para
o menino de compleição algo efeminada. Realmente, sobejam em O Ateneu
podas da possível homossexualidade dos alunos; Sérgio, por exemplo, tem os
cachos cortados e, logo em sua segunda visita ao colégio, quando se entusias-
ma com calorosa apresentação de educação física, é coagido pelo genitor: “Eu
ia carregado no impulso da multidão. Meu pai prendia-me solidamente o
pulso, que me não extraviasse” (POMPEIA, 1981, p. 39). A relação entre os
desenhos e o homoerotismo mereceriam estudo aprofundado, incompatível
com o escopo deste ensaio.
Cruzada a porta, chegamos à fachada. Nas edições mais recentes de O
Ateneu, costuma-se apresentá-la em tonalidade mais nítida e vigorosa. Entre-
tanto, no original de Raul Pompeia, o internato é circundado pela mata, que
o abraça qual bruma, de modo a diluir a precisão de contornos da escola.
Do canto esquerdo da gravura original até seu ponto de fuga, situada na
parte superior direita, as janelas vão se dissipando até quase se perderem na
sombra. Além de imprimir marcas góticas à construção, esse desaparecimento
progressivo anuncia o incêndio final, já que a mata, em primeiro plano folho-
sa, se converte em fumaça ao fundo.
A perspectiva da cena também abriga informações relevantes sobre o ro-
mance. Comparada à ilustração inicial, com Sérgio e pai diante do Ateneu,
esta amplia a dimensão escolar e insinua um observador xereta, quase disposto
atrás da moita, misto de curiosidade e temor. Ademais, o ângulo indicia a vi-
gilância bisbilhoteira comum a alunos, professores e funcionários do colégio,
motivo que explica a abundância de dedos erguidos nas ilustrações, sejam eles
de Aristarco, do pai de Sérgio, dos alunos. Aliás, só o gesto dêitico também
abasteceria interessante estudo dos desenhos de Raul Pompeia.
Na proa desse complexo vigilante, impera o diretor, homem sobranceiro e
ganancioso, que se vale do colégio para alimentar o bolso e a vaidade, confor-
me demonstra sua primeira aparição ilustrada na obra.
O ponto de luz, emanando do canto inferior esquerdo, projeta-se sobre o
rosto de Aristarco e a inscrição da escola, como holofote sobre a soberba do
diretor, deixando à sombra inclusive o nome da instituição, arbitrariamente
cortado antes do fim. O homem é maior que o internato. De costume, o per-
sonagem é retratado de perfil, como modo de caricaturar seu nariz adunco,
farejador de lucro, e também por essa disposição lateral conferir à imagem o
formato de uma efígie ou moeda, o que tanto reforça a empáfia de Aristarco
quanto sua ganância monetária. Não deixa de ser curioso o deslize ortográfico
sobre sua cabeça: em vez de “Athenaeum”, lê-se “Athaen...”: trata-se de um
cochilo do desenhista (sempre atento) ou de uma gralha intencional? De qual-
quer modo, a personalidade do mestre projeta-se em seu gabinete.
266 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Aristarco mais posa do que trabalha; por isso, a cortina levemente aberta
à esquerda inaugura a teatralidade cenográfica. A cadeira curvilínea acompa-
nha seu corpo, mostrando confortável integração com o ambiente; a roupa
ajusta-se perfeitamente ao modelo e os livros são objetos decorativos. Há uma
brochura aberta nas mãos do diretor, mas a leitura é interrompida em favor da
pose para o retratista/observador. Os vasos sobre o chão, a escrivaninha e os li-
vros irmanam-se ao globo terrestre como pontos verticais que se harmonizam
à horizontalidade dos móveis e das pernas de Aristarco.
Como bem observou José Paulo Paes, essa imagem estática será invertida
na última ilustração do livro, após o incêndio. Podemos aqui falar em “últi-
ma”, uma vez que ela remete a um evento ocorrido no desfecho do romance.
No desenho final, alguns móveis e livros destroçados, bem como o globo ter-
restre, destróem a assepsia afetada do gabinete de Aristarco:

A inversão, no caso dos dois desenhos de Pompeia, representaria como se aventou


acima, a vitória da espontaneidade desordeira do natural sobre o artificialismo da
ordem pedagógica que se busca impor-lhe. Ordem que se pretendia de origem
divina, donde o caráter simbólico do globo terrestre que se vê nas duas ilustrações
(...). (PAES, 1985, p. 58).

É ainda maior o alcance paródico do desenho derradeiro.


Pedaços de janela ao fundo, pernas distensas, ombros derreados, camisa
entreaberta, calças suspensas, sapatos frouxos, tudo desmente a pretensa or-
dem higiênica. Da monumentalidade da fachada escolar, resta discretíssimo
pedaço de janela no canto superior esquerdo. A mobiliária associada ao estu-
do – cadeiras, estantes, mesas, escrivaninhas – é literalmente revirada: cadeira
para baixo, mesa para cima, estante enviesada e aberta, contrastando com o
armário fechado no escritório de Aristarco. Esbate-se a fronteira entre pri-
meiro e segundo planos, de forma que os entulhos à frente se estendem ao
colégio em chamas, confundindo interior e exterior, privado e público, limites
bem guarnecidos no claustrofóbico gabinete do diretor pela escura parede ao
fundo. Se antes Aristarco cruzava em avantajada diagonal o desenho, agora
a criança (Sérgio? Américo?) dispõe-se no centro: por mais que sua postura
revele esgotamento, o menino encimar as ruínas confere a ele algum ar vito-
rioso, também vislumbrado por José Paulo Paes. Nessa hipótese, o globo sob
seus pés simbolizaria não somente a derrocada de Aristarco, mas sobretudo o
apocalipse do mundo anunciado pelo pai.
Não menos importante é o trejeito arreganhado do rapaz, compondo o
escancaro geral da cena. Rebatendo as pernas cruzadas do pai de Sérgio e de
Aristarco, a postura, malgrado o timbre melancólico, não deixa de ser acintosa,
mesclando tristeza e certa prostração. Se considerarmos que a compleição do
retratado aparenta-se bastante a outras possíveis representações de Sérgio, é
Anais da Biblioteca Nacional • 140 267

interessante notar que se trata da ilustração em que o rosto do menino logra


maior detalhamento e precisão. Da ausência da face no primeiro desenho (Sér-
gio de costas à porta do colégio), passando pelos traços difusos que de algum
modo embaçavam o semblante do menino (é ver o desenho no 21 do caderno
de Pompeia, com Sérgio e Bento Alves se entreolhando no recreio), chega-se a
este rosto que, sem perder de todo a opacidade, assume a ribalta da imagem,
espelhando, talvez, a progressiva conquista da autonomia do adolescente.
Tal mudança estilística encontra respaldo em passagem de O Ateneu que,
perdoada a extensão, é fundamental para se averiguarem relações entre letra e
imagem na obra de Raul Pompeia. Referimo-nos a fragmento do capítulo VII
em que Sérgio avalia sua capacidade de desenhar:

Para a exposição dos desenhos foram retiradas as carteiras da sala de estudo, forradas
de cetim escuro as paredes e os grandes armários. Sobre este fundo, alfinetaram-se
as folhas de Carson, manchadas a lápis pelo sombreado das figuras, das paisagens,
pregaram-se, nas molduras de friso de ouro, os trabalhos reputados dignos desta
nobilitação. Eu fizera o meu sucessozinho no desenho, e a garatuja evoluíra no meu
traço, de modo a merecer encômios. A princípio, o bosquejo simples, linear, expe-
riência da mão; depois, os esbatimentos de tons que consegui logo como um matiz
de nuvem: depois, as vistas de campo, folhagem rendilhada em bicos, pardieiros
em demolição pitoresca da escola francesa, como ruínas de pau podre, armadas
para os artistas. Depois de muito moinho velho, muita vivenda de palha, muito
casarão deslombado, mostrando as misérias como um mendigo, muita pirâmide de
torre aldeã esboçada nos últimos planos, muita figurinha vaga de camponesa, lenço
em triângulo pelas costas, rotundas ancas, saias grossas em pregas, sapatões em cur-
va, passei ao desenho das grandes cópias, pedaços de rosto humano, cabeças com-
pletas, cabeças de corcel; cheguei à ousadia de copiar com toda a magnificência das
sedas, toda a graça forte do movimento, uma cabra de Tibete! Depois da distinção
do curso primário, foi esta cabra o meu maior orgulho. Retocada pelo professor,
que tinha o bom gosto de fazer no desenho tudo quanto não faziam os discípulos, a
cabra tibetana, meio metro de altura, era aproximadamente obra-prima. Ufanava-
-me do trabalho. Não quis a sorte que me alegrasse por muito. Negaram-me à bela
cabra a moldura dos bons trabalhos; ainda em cima — considerem o desespero!
exatamente no dia da exposição, de manhã, fui encontrá-la borrada por uma cruz
de tinta, larga, de alto a baixo, que a mão benigna de um desconhecido traçara.
Sem pensar mais nada, arranquei à parede o desgraçado papel e desfiz em pedaços
o esforço de tantos dias de perseverança e carinho.
Quando os visitantes invadiram a sala, notaram na linha dos trabalhos suspen-
sas duas enigmáticas pontas de papel rasgado. Estranhavam, ignorando que ali
estava, interessante, em último capítulo, a história de uma cabra, de uma cruz,
drama de desespero e espólio miserando de uma obra-prima que fora. (POM-
PEIA, 1981, p. 185-186).
268 Anais da Biblioteca Nacional • 140

Para receber os desenhos, a sala de estudo é reconfigurada, como outros


espaços do colégio o foram para dar ensejo a solenidades letivas. Se esses tra-
balhos demandavam local de exposição para serem adequadamente aprecia-
dos, o animal desenhado por Sérgio não logra moldura, sofre retoques do
professor, é borrado e enfim rasgado, portando essa desfiguração a bandeira
da inadequação do rapaz ao Ateneu. Por isso, o menino exibe ao público duas
pontas de papel, resquícios irônicos dos chifres da cabra. Os visitantes, satis-
feitos com a contemplação superficial, seriam incapazes de sondar a história
subjacente à imagem, de rastrear tudo aquilo que o desenho oculta. Analo-
gamente, a estrutura romanesca de O Ateneu também é vestigial: de fato, as
memórias e impressões de Sérgio sucedem-se pouco respeitosas à causalidade
e não pretendem, de modo algum, recompor a totalidade da experiência vivi-
da no colégio, a qual corresponderia, na cadeira metafórica aqui desenvolvida,
ao quadro emoldurado, obra-prima acabada e exibida.
Antes, contudo, de expor o insucesso, o narrador se acautela em delinear
o percurso de sua vocação desenhística. A trajetória começou com “bosquejo
simples, linear, experiência da mão”, acusando a espontaneidade do inician-
te e, subrepticiamente, corroborando a importância das mãos no romance,
conforme antes comentado. Esse traçado cru, de torneio realista, nunca se
ausenta das ilustrações de Raul Pompeia, não obstante a atmosfera nebulosa
que viemos destacando. Talvez por isso José Paulo Paes as tenha (a nosso ver,
equivocadamente) considerado acadêmicas (PAES, 1985, p. 54).
Sérgio afirma ter, em seguida, chegado a “esbatimentos de tons (...) como
um matiz de nuvem”, procedendo a uma dissipação da objetividade anterior.
O que o rapaz apresenta como transição pode ser aferido em coexistência no
livro: os desenhos ali enfeixados aliam o contorno preciso à turvação, a reta à
mancha, pluralidade visual correlata à escrita de Raul Pompeia. Mário Barata
ratifica tal ideia:

Evidentemente, o artista marchou a pouco e pouco para uma nova compreensão


estética, valorizando os elementos de diluição das formas na luz ou na distância,
que o Impressionismo francês havia crescentemente destacado. (BARATA, 1991,
p. 443).

Cassiana Carollo vislumbra nisso semelhanças com o estilo de Daumier.


(CAROLLO, s.d.).
Desse modo, a passagem à primeira vista desimportante sintetiza um dos
princípios composicionais do romance; bem a propósito, após apresentar sua
poética, o narrador elenca uma série de exercícios de desenho, facilmente loca-
lizáveis no livro: Sérgio esboçou e estão em O Ateneu “vistas de campo, folha-
gem rendilhada em bicos, pardieiros em demolição pitoresca”, “rotundas an-
cas, saias grossas em pregas”, “pedaços de rosto humano, cabeças completas”.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 269

Mesmo aquilo que não corresponde perfeitamente aos croquis do menino


aparecem, com ligeiras alterações, no volume: afinal, Ângela não encarnaria a
“figurinha vaga de camponesa”? “O casarão deslombado, mostrando as misé-
rias como um mendigo” não repercutiria no colégio em chamas?
Explicitamente, a imagem que une a descrição de Sérgio às vinhetas do
romance é a da cabra de Tibete. De simbologia vasta e diversificada em dife-
rentes tradições, da grega à chinesa, o animal

aparece como símbolo da ama de leite e da iniciadora, tanto no sentido físico


como no sentido místico das palavras. Entretanto, sua conotação caprichosa im-
plicaria também a gratuidade dos dons imprevisíveis da divindade. (CHEVA-
LIER; GHEERBRANT, 2000, p. 157).

A primeira acepção registrada pelos estudiosos encontra pouco eco no li-


vro, a não ser na longínqua remissão da cabra à figura materna, posterior-
mente concretizada em Ema, mulher do diretor. A segunda, todavia, ratifica a
índole presunçosa de Aristarco, que, ameaçada pela sátira de Sérgio, de algum
modo elimina o inimigo; lembremos que o trabalho do rapaz é misteriosa-
mente borrado por uma “cruz de tinta, larga, de alto abaixo”, emblema vi-
goroso (é tinta contra lápis) tanto da divindade quanto do veto. Ao preservar
a ruína desenhada na exposição, Sérgio mantém acesa a força de resistência,
culminada no incêndio.
Cabe, por fim, destacar que as fortes similitudes entre a vocação de Sérgio
para o desenho e as ilustrações do romance projetam a consideração de as
vinhetas provirem não apenas do autor Raul Pompeia, mas do próprio nar-
rador, que, ao escrever suas memórias, as foi concomitantemente ilustrando,
como quem desenhasse num caderno ou diário. Aliás, é hábito partilhado
pelo autor, que, segundo Therezinha Bartholo (2016, p. 477), tinha o hábito
de desenhar em livros. Daí o contorno impreciso, a diferença de dimensão dos
desenhos, encaixando-se entre as letras ou ocupando página inteira? Embora
o escritor não tenha incluído as imagens na primeira edição e não possamos
assegurar a entrada delas no livro, talvez não seja impertinente atribuir a au-
toria dos desenhos a Sérgio, pois, ao julgar pelos espelhamentos assinalados,
Pompeia se esmerou, mesmo que a posteriori, em adequar seu lápis às habi-
lidades do personagem, descritas no capítulo VII. Tratar-se-ia, portanto, não
de uma questão puramente editorial, mas literária, tornando-se imprescindí-
vel qualquer edição de O Ateneu contemplar os desenhos originais do autor,
acondicionados no acervo da FBN.
270 Anais da Biblioteca Nacional • 140

A galeria das canções

Quando, em 1881, Pompeia, até então morador do Rio de Janeiro, passa


a viver em São Paulo e a estudar na famosa Faculdade de Direito, começa a
colaborar assiduamente na imprensa paulista, conforme constatamos em O
Bohemio. Além de artigos políticos, narrativas humorísticas e contos, lança,
no Jornal do Commercio, textos breves, em que o jogo de sons e imagens su-
planta a fabulação rarefeita. Inicialmente intitulados “Contos domingueiros”,
os textos perderiam ainda mais os traços narrativos, transformando-se em pe-
quenas notas líricas, que Pompeia denominou significativamente de “Micros-
cópicas”, divulgadas nos periódicos A Comédia, de São Paulo, e Gazetinha,
do Rio de Janeiro (CAPAZ, 2001, p. 53). Esse material subsidia poemas em
prosa chamados de “canções sem metro”, escritos efetivamente a partir de
1883, estendendo-se até o fim da vida do autor.
Embora cinzelando mais umas do que outras, Pompeia nunca abando-
naria as canções, o que as torna verdadeira obra em progresso; ziguezaguea-
damente, o escritor avança e retrocede, cria e aperfeiçoa, fazendo as Canções
sem metro resistirem a constantes desistências. Apenas para citar dois con-
traexemplos: em 1881, Raul deixou incompleto, em O Bohemio, o romance
Violeta; em 1882, lançou um só capítulo do romance Clarinha das Pedreiras
na Gazeta de Notícias.
Era desejo seu publicar as canções numa edição ilustrada, o que in-
felizmente não ocorreu, já que, tendo se suicidado em 1895, não pôde coor-
denar a primeira edição em livro das canções, lançadas em 1900, em projeto
gráfico acanhado, margens apertadas, nenhuma ilustração. Não obstante se
considere O Ateneu sua obra-prima, as Canções sem metro constituem, na ver-
dade, o grande projeto de Raul, seja pelo tempo a elas devotado, ou pela par-
ceria ainda mais imbricada entre letra e imagem. Lamentavelmente, nenhuma
das edições hoje disponíveis contempla integralmente as poucas ilustrações
que restaram para as Canções5. Por sorte, em 1888, Raul Pompeia publicou
dez poemas em prosa com seus respectivos desenhos no jornal paranaense A
Galeria Illustrada, raridade constante do acervo da FBN.
Nas peças encartadas na revista curitibana, texto e imagem convivem na
página, cortada diagonalmente. Sob a página, unificando o traço e a letra, a
assinatura manuscrita do autor. É significativo o fato de o periódico transcre-
ver a rubrica, já que poderia firmá-la com a mesma tipografia da canção. A
presença da caligrafia assinala, a nosso ver, o conluio intersemiótico presente

5. Para discussão pormenorizada do assunto, tomamos a liberdade de recomendar nossa tese de


doutoramento, intitulada “O poema em prosa no Brasil (1883-1898): das origens à consolidação”
(Faculdade de Letras – UFRJ, 2014). Em 2013, tivemos a satisfação de organizar, para a editora
da Unicamp, a última reedição das Canções sem metro e incluímos algumas ilustrações do autor.
Anais da Biblioteca Nacional • 140 271

nos poemas em prosa: afinal, a assinatura não deixa de ser uma letra dese-
nhada. Em artigo publicado em 1888, Pompeia endossa a importância do
escambo verbovisual:

A imagem pode ser a tautologia reincidente e demorada e pode mesmo desta sorte
representar o gênio, como em Hugo tão frequentemente: o seu papel no estilo é
avigorar o enunciado, esclarecer como a vinheta esclarece o texto. A imagem é um
exemplo, um argumento, a analogia, a comparação, o puro pensamento antes de
ser ideia, é a eloquência primitiva, comovedora e forte, rebelde perpetuamente ao
contrato social dos pedantismos de escola. (POMPEIA, 1991, p. 57).

Estudado por Margueritte Murphy, uma das maiores especialistas em poe-


ma em prosa, a permeabilidade entre o literário e o visual/editorial caracteriza
muitas publicações do gênero tipicamente simbolista, muitas vezes impressas
como livros de arte ou em folhas ilustradas, como é o caso de Raul Pompeia:
“esse intercâmbio ou ‘correspondência’ é particularmente evidente nos luxuo-
sos livros de arte, dispondo texto e imagem nas mesmas páginas” (MURPHY,
1992, p. 75, tradução nossa).
Em estrada semelhante, Renato Barilli, ao investigar as relações entre letra e
imagem no contexto da art nouveau, afirma que, nesse estilo simultaneamente
apegado ao ornamento e à cultura industrial, eliminam-se “todas as distinções
e qualquer tipo de hierarquia nas artes e nos ofícios” (BARILLI, 1991, p. 51).
Ora, nas canções ilustradas de Raul, prepondera (sem exclusividade) o pendor
art nouveau, com adornos florais e movimentos fluidos em escala ascensional.
A formatação gráfica dos poemas em prosa preserva a tipologia sóbria, mas os
arabescos dos desenhos enovelam-se em alguns itens verbais. Os títulos dos
poemas, por exemplo, costumam ser grafados em movimento, acompanhan-
do o traçado da margem que separa o texto da vinheta. Além disso, a letra
capitular pinça elementos visuais da imagem vizinha: veja-se como, em “O
ramo da esperança”, as folhas bordejam “U”.
Conforme se observa na imagem, as paisagens enxugam-se em um item
central – um coqueiro, uma menina (no caso de “As flores da aleluia”), um
vaso de flores (“As violetas de Alina”) – rodeado de poucos elementos. Essa
economia, distinta da pletora visual detectada nos desenhos de O Ateneu, con-
diz com a economia formal requerida pelas Canções sem metro. Seria incorreto
ver nisso uma evolução da pena de Raul Pompeia; afinal, essas imagens foram
publicadas em 1888, ano de lançamento do romance. Trata-se, portanto, de
adequação estilística: o discurso caudaloso e memorialístico de O Ateneu de-
mandava ilustrações ricamente detalhadas e algo nebulosas, ao passo que o
laconismo dos poemas em prosa se harmoniza com os formatos mais sucintos.
Nas canções, o que pode haver de excesso encontra-se nos motivos florais e na
272 Anais da Biblioteca Nacional • 140

tipologia das letras, espelhando, nesse caso, a orgia do significante que carac-
teriza essa obra de Raul Pompeia.
Habitualmente se adornam as margens inferiores do desenho (sobretu-
do no canto esquerdo), de modo a destacar a ideia de margem ou moldura,
criando uma cenografia tensa, como se texto e desenho se integrassem e se
combatessem. Daí talvez o termo “vinheta” com que não raro se designa essas
ilustrações, já que o termo, ao hierarquizar as duas linguagens conferindo al-
guma centralidade ao signo verbal, parece reforçar o embate entre elas. Assim,
em “O ramo da esperança”, vemos as raízes do coqueiro separando imagem de
texto; em “As flores da aleluia” e “As violetas de Alina”, as rosas; em “À morte
de Rosita”, as peças do quarto da moça. Neste último, porém, nota-se maior
contaminação do espaço textual com uma espécie de sobra da imagem, esba-
tendo o limite entre essas searas, mais segregadas, por exemplo, em “O ramo
da esperança”. Esse derramamento imagético reaparece em “Para o Sul!...” e
“A vítima do incolor”.
Em “Para o Sul!...”, há penetração mais ostensiva do campo textual pelo
braço do rapaz morto, cujo dedo toca no alto da letra “d” de “fardas”, como
se apontasse a causa de sua morte. Destacam-se, ademais, o predomínio da
cor escura e o recuo da ornamentação vegetal em prol de letras gotejantes,
indicativas do sangue entornado na guerra. Esse traço chamejante alastra-se
até “A bandeira branca”, composição sintética em que a claridade da bandeira
domina o centro da ilustração, preenchida também por um corpo masculino,
ponto negro sem qualquer especificação fisionômica.
Cassiana Lacerda Carollo detecta dois grupos visuais nas canções de A
Galeria: um primeiro, de tendência art nouveau, floral e curvilíneo, e o ou-
tro, com desenhos de “concepção decadista e satânica, que lembra aquele
satanismo espectral que Baudelaire admirava em Rops” (CAROLLO, s.d.).
Nesta linhagem, estariam “A bandeira branca”, “Noutes pretas” e “Alma
espectro”. Nos dois primeiros, é inegável a digital decadentista; em “Noutes
pretas”; por exemplo, a moldura é invadida por uma folhagem arestada,
aracnídea, e no fundo, borrões enegrecidos. Contudo, “Alma espectro” não
nos parece pertencer ao mesmo nicho: apesar de o texto abolicionista parti-
lhar com os satanistas a censura ao progresso e à sociedade industrial, o de-
senho preserva muito do art nouveau¸ com a flora coreográfica e ascendente,
contraposta, é verdade, às torres enfumaçadas e ao trem no fundo. Estes dois
elementos, todavia, se erguem em retas bem definidas, precisas, em quase
nada lembrando o dinamismo atormentado de “A bandeira branca” ou de
“Noutes pretas”.
Duas alterações são mais flagrantes em “Alma espectro”. Preliminarmen-
te, certa quebra de perspectiva, já que o trem e a indústria invadem a vege-
tação em primeiro plano, incursão, aliás, isomórfica à crítica desenvolvida
neste poema em prosa. Além disso, apesar de ainda haver espaço branco entre
Anais da Biblioteca Nacional • 140 273

texto e imagem, elimina-se a margem entre ambos, procedimento prefigura-


do em “Manhãs helenas”, em que, todavia, a asa de uma gaivota, abaixo, e
um traço ao lado direito de um vaso, acima, delimitavam um pouco mais a
fronteira. Nesse sentido, “Alma espectro” reforça o intercâmbio entre as duas
linguagens, autenticando um dos principais objetivos dos poemas em prosa
de Raul Pompeia. Se considerarmos que ela é a última das dez canções em A
Galeria Illustrada, essas peculiaridades ganham relevância, sobretudo quando
cotejadas ao primeiro texto enfeixado no periódico, “O ramo da esperança”,
em que a margem entre os domínios verbal e não verbal era timbrada mais
veementemente.

Projeto gráfico de capas de livro

Aluísio Azevedo, Lúcio de Mendonça, Pedro Rabelo e Rodrigo Octavio


são alguns dos escritores contemplados pelo talento gráfico de Raul Pom-
peia. Ao contrário da atuação sistemática em outros domínios da ilustração,
as capas não representam o maior nem o mais importante nicho do pincel de
Pompeia. Na verdade, elas parecem ter sido criadas menos por vontade do
desenhista do que por demandas de amizade: afinal, todos os nomes acima
elencados privaram da intimidade de Raul, ainda na época da Faculdade de
Direito de São Paulo e do Recife ou no Rio de Janeiro. O “sim” aos colegas ex-
plica, em parte, o aproveitamento de moldes anteriores e a moderação visual
das capas, incomum em autor assinalado pela exuberância requintada.
Excetua-se a sofisticada capa de uma edição de 1884 de Casa de pensão, de
Aluísio Azevedo (título erroneamente designado no frontispício como A casa
de pensão), sob os auspícios de Faro & Lino. Tratava-se de “edição popular”,
conforme advertência na folha de rosto, o que talvez justifique o arrojo da
ilustração.
Trazendo à ribalta um nu feminino, ainda que de costas, é um dos projetos
gráficos mais ousados de Raul Pompeia que, em geral, retrata as mulheres em
poses melancólicas ou respeitosas, salvo raras exceções, como a Ângela de O
Ateneu ou Ema, em suas primeiras aparições para Sérgio no romance. Agora,
a mulher quase flutua, enovelando-se à letra C, contato sugestivo da rendição
do intelecto ao desejo – lembremos que, no romance, o protagonista Amâncio
viera para o Rio a fim de tornar-se médico, mas sucumbe a um affair. É um
tema tipicamente naturalista, o que elucida o motivo de haver um grande li-
vro emborcado sob os sutis sapatos da dama sedutora que, segundo Ubiratan
Machado, torna-se modelo “a ser seguido de maneira ostensiva e duradoura
durante toda a trajetória naturalista” (MACHADO, 2017, p. 60).
O desenho manifesta tendência à vaporização, pois tudo se agita com o
frêmito emanado do corpo feminino em primeiro plano, frisson que acomete
274 Anais da Biblioteca Nacional • 140

tecidos, flores, folhas, insetos e até o diacrítico em “pensão”. Alheio ao frenesi,


repousa Aluísio Azevedo no canto inferior da página, de costas para a cena
principal. Editado em uma casa popular, que costuma dar destaque à perso-
nalidade civil do escritor como maneira de atrair o público, o decalque talvez
não estivesse previsto pelo capista que, pelo que sabemos, nunca empregou
tal procedimento. Além disso, a linguagem da foto difere do restante da capa
e funciona como espécie de colagem. De qualquer modo, é curioso dispor o
romancista em sentido contrário ao desenho, como se a seriedade do autor (e
do público, de resto), reforçada pela fisionomia austera, estivesse “desculpada”
do escândalo visual, sem falar na polêmica envolvida no fato de o romance
basear-se num assassinato que comovera a sociedade carioca na década ante-
rior. Ademais, exibindo o rosto do responsável pelo estrondoso sucesso de O
mulato (1880), a colagem chancela e propagandeia a qualidade da mercadoria.
Expressão da mesma inclinação antirromântica das décadas de 1870 e
1880, mas sobretudo na poesia, Lúcio de Mendonça lançou Vergastas em
1889, encapado com ilustração de Raul Pompeia.
O amigo de O Bohemio parece ter aproveitado o pendão que adornava
seu poema em prosa “A bandeira branca”, apenas alterando a cor para ne-
gro, o que, em certa medida, confirma a hipótese de Ubiratan Machado de
que atuar como capista era um bico no século XIX. Ao artista devotado ao
apuro artesanal, é curiosa essa reprodução do motivo da bandeira, insinu-
ando socorro apressado em um molde anteriormente elaborado. De fato,
o princípio composicional da capa de Vergastas avizinha-se ao das canções
sem metro de A Galeria Illustrada, publicadas um ano antes do volume de
Lúcio de Mendonça. Em ambos os projetos, uma figura humana central
contraposta a um fundo aberto, letras em movimento, exploração intensa
do claro-escuro. Na ilustração de 1889, preserva-se também o enfoque “ca-
ligráfico” do nome: “Lúcio de Mendonça” corta, em perfeita horizontal, o
canto direito e em tipologia mais alinhada, como uma espécie de assinatura
sobre o frontispício.
É o movimento da bandeira que determina a direção das letras do títu-
lo, sinuosas por ação do vento, que também balança a flâmula, sugerindo a
pulverização das sementes sociais do livro inflamado de Lúcio de Mendonça.
Na mesma direção, observe-se como a arma empunhada pelo soldado asse-
melha-se a uma caneta, dubiedade indicativa do papel missionário de que se
revestiam alguns homens de letras no último quartel do século XIX.
Como no caso de O Ateneu, a perspectiva traseira da cena busca igualar o
ponto de vista do observador ao do personagem: nós, como ele, temos pos-
sibilidade de avistar o futuro à frente graças ao esforço (bélico). A vitória,
conquistada em campo de batalha, oferece utopia ao espectador, incitando-o
a lutar como o personagem, convocação aliás frequente na obra de Lúcio de
Mendonça. Unindo formas arredondadas e pontiagudas, volumes horizontais
Anais da Biblioteca Nacional • 140 275

e verticais, manchas quase rabiscadas, o acúmulo desordenado de objetos e


de informações visuais na base da capa contrasta com a feição clean da parte
superior, preenchida unicamente pelo título e pela bandeira. O desafogo daí
decorrente representa, em nível plástico, a liberdade da mensagem republica-
na, uma das tônicas de Vergastas, o que também explica a fluidez eólica dos
quadrantes superiores. Similarmente, os tons avermelhados do cabeçalho e do
rodapé da capa abrem espaço ao clarão solar no centro, alusivo tanto à explo-
são das canhoneiras quanto, simbolicamente, à aurora vindoura.
Em âmbito pessoal e público, o decênio de 1890 foi um dos mais intensos
da vida de Raul Pompeia. No campo visual, lembremo-nos, é a década em
que ele cede as ilustrações de O Ateneu a Francisco Alves e segue burilando
as Canções sem metro, cada vez mais enxutas. A falta de tempo e o pendor à
economia estilística explicam a parcimônia iconográfica das capas do período,
a exemplo de uma vinculada a Rodrigo Octavio, amigo desde os tempos de
Faculdade. A relação entre os dois gerou um dos trabalhos mais delicados de
Raul Pompeia, infelizmente não contemplado neste ensaio: referimo-nos aos
desenhos a lápis com que Pompeia adornou um livro de estreia do parceiro,
Pâmpanos (1886). Dizemos “um”, pois se trata de exemplar único, ilustrado a
mão, reproduzido no volume X das Obras de Raul Pompeia, organizado por
Afrânio Coutinho. Formas volantes e bailarinas, de contornos leves, acompa-
nham o parnasianismo misterioso dos versos.
Em 1893, Rodrigo lança Festas nacionais, destrinchando a simbologia
– às vezes, perversa – das datas comemorativas brasileiras. Aficionado de
questões cívicas e patrióticas, então incentivadas pelo governo de Floriano,
Raul Pompeia responde ao livro do amigo com a plaquete Carta ao autor das
Festas Nacionais, editada no mesmo ano pela Tipografia Leuzinger. Desse
modo, o projeto gráfico da capa é híbrido, conjugando marcas do título de
Rodrigo Octavio às opiniões de Raul Pompeia. Não podemos afirmar ter
sido ela idealizada e/ou executada pelo angrense mas, de qualquer modo,
a ilustração guarda formas estilísticas dominantes na produção visual de
Pompeia nesse período.
Contrariamente ao temperamento acalorado do capista, o frontispício
apresenta contenção geométrica, quase minimalista. Duas listras – uma ama-
rela e outra verde – cruzam a página, simulando as faixas tiracolares comuns
na indumentária militar (as presidenciais seriam formalizadas em 1910, com
Hermes da Fonseca). As cores do Brasil despontam esmaecidas, como refle-
xo da indisposição de Raul Pompeia com os falsos consagradores simbólicos
de nossa nacionalidade. Para ele, por exemplo, “7 de Setembro – é o sofisma
da nossa libertação, pela astúcia baixa e simples de um autocrata grosseiro”
(POMPEIA, 1893, p. 9). Apesar disso, a plaquete respira certa esperança,
derivada, é claro, do afã republicano do missivista, o que esclarece a figuração
de medalha assumida pela capa como prêmio aos devotos da causa.
276 Anais da Biblioteca Nacional • 140

De autoria sabidamente pompeiana é a capa de Ópera-lírica (1894), do


também amigo Pedro Rabelo. Parceiro do Club Rabelais, sociedade gastro-
nômico-literária fundada por Araripe Júnior, Artur Azevedo, Raul Pompeia e
outros, é hoje nome desconhecido, porém gozou de alguma notoriedade em
seu tempo e foi, com apenas 28 anos de idade, um dos fundadores da Acade-
mia Brasileira de Letras. Mais valorizado na prosa, seus versos caracterizam-se
pela convivência entre forma parnasiana (inclusive é um dos contemplados
por Manuel Bandeira na Antologia dos poetas brasileiros da fase parnasiana) e
temas amorosos e melancólicos, de herança romântica. Tal combinação ressoa
na capa de Raul Pompeia: o floralismo art nouveau da lira se irmana à severi-
dade geométrica dos tipos gráficos, e o embate entre retração e efusão lírica se
patenteia na perna excedente do “R”, extrapolando a linha onde se assentam
as demais letras.
Na capística, a rubrica de Pompeia também revela flutuações: à fluidez
emaranhada no frontispício de Casa de pensão, passa a uma centralização da
imagem na capa de Vergastas, até alcançar a assepsia quase minimalista em
Ópera-lírica. Convém frisar que a verticalidade observada nos projetos gráfi-
cos para Aluísio Azevedo e Lúcio de Mendonça cede passo ao corte diagonal
da página, a exemplo da Carta ao autor das Festas Nacionais ou da coletânea de
versos de Pedro Rabelo. Essa tendência à transversalidade prefigurava-se, nos
livros de Aluísio e Lúcio, na formatação dos títulos, conquanto as imagens or-
ganizavam-se meridionalmente. Nos desenhos para O Ateneu, dominava tam-
bém a estruturação cartesiana do desenho, mais enviesado nas canções sem
metro, para dividir página com os poemas. Desconsideradas as caricaturas em
periódicos, em que o texto tinha função mais narrativa, isso permite concluir
que, sozinhas, as ilustrações de Raul Pompeia parecem restringir-se aos eixos
vertical e horizontal, mas, conjuminadas a signos verbais, acionam na página
a distribuição transversal, seja das letras (nas capas, por exemplo) ou dos dese-
nhos (nas canções sem metro). Tal movimento corrobora o intercâmbio entre
as duas linguagens, dispondo-as em relação tensa e movente, da qual a diretriz
oblíqua possa ser a expressão mais adequada.
Talvez não coincidentemente, já em 1881, na “Galeria do Bohemio”, com
desenhos de Pompeia para cada um dos integrantes do jornal acadêmico de
São Paulo, o ilustrador encartou uma autocaricatura em que sua pena-florete,
índice da prosa aguerrida, corta transversamente o cromo até tocar no título
do único livro que ele então publicara, Uma tragédia no Amazonas. Por trás da
diagonal, zona máxima de articulação, Lauro, pseudônimo de Pompeia, não
por acaso tem uma mão em cada local: a direita pousa em cruz possivelmente
remissiva ao anticlericalismo do artista, enquanto a esquerda segura pena de
dimensão avantajada: por ser uma autocaricatura, é a mesma mão que, a rigor,
desenhou a imagem que ora vemos e escreveu o romance depositado no sopé
da imagem. Ao sair da mão do desenhista e alvejar o texto no solo, de autoria
Anais da Biblioteca Nacional • 140 277

do mesmo artista, a pena conecta os universos verbal e plástico. Sob a com-


posição, está a assinatura manuscrita de Rapp, firma que, conforme vimos no
caso das “canções sem metro” e em diversas outras ocorrências discutidas neste
ensaio, embaralha os limites entre texto e desenho.

Referências
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Raul Pompeia quando era estudante do colégio Abílio. Fonte: O Archote,
p. 3. Acervo da FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manus-
critos/mss1310361/mss1310361.pdf>.
Trecho com charge do jornal manuscrito O Archote, editado e ilustrado por Raul
Pompeia quando era estudante do colégio Abílio. Fonte: O Archote, p. 4. Acervo
da FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1310361/
mss1310361.pdf>. Setor de Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional.
Charge “Homenagem a Pombal”, publi-
cada no periódico O Binóculo, edição de
maio de 1882. Através dela, Raul Pom-
peia amplia a crítica do artigo de autoria de
A.D. Lino à figura do Marquês de Pombal,
homenageado por ocasião do centenário
de sua morte. Fonte: O Binóculo, edição de
06/05/1882. Acervo da FBN: <http://memo-
ria.bn.br/DOCREADER/DOCREADER.
ASPX?BIB=714224&pagfis=268>.
Extraída do caderno com os desenhos originais do romance O Ateneu,
retrata o personagem em sua infância com o pai em frente ao colégio
no primeiro dia de aula. Fonte: Caderno com os desenhos originais de
O Ateneu, p. 2. Acervo da FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digi-
tal/div_iconografia/icon530901.pdf>.
Desenho da fachada do colégio O Ateneu, que
também consta do caderno dos desenhos ori-
ginais de O Ateneu. Fonte: Caderno com os
desenhos originais de O Ateneu, p. 3. Acervo
da FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_di-
gital/div_iconografia/icon530901.pdf>.
Desenho do diretor do colégio, retratado pelo autor como ga-
nancioso e vaidoso. Fonte: Caderno com os desenhos originais
de O Ateneu, p. 4. Acervo da FBN: <http://objdigital.bn.br/
acervo_digital/div_iconografia/icon530901.pdf>.
Desenho do diretor do colégio em seu gabinete de trabalho.
Mais uma vez, retratado de modo irônico pelo autor, que revela
seu lado ambicioso e falsamente apegado às convenções. Fonte:
Caderno com os desenhos originais de O Ateneu, p. 5. Acervo
da FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconogra-
fia/icon530901.pdf>.
Desenho do caderno dos originais de O Ate-
neu retratando o cotidiano dos alunos do co-
légio, profundamente marcado por fofocas,
intrigas e (como a imagem mostra) dedos
em riste. Fonte: Caderno com os desenhos
originais de O Ateneu, p. 6. Acervo da FBN:
<http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_
iconografia/icon530901.pdf>.
A destruição causada pelo incêndio. Fonte: Caderno com os
desenhos originais de O Ateneu, p. 44. Acervo da FBN: <http://
objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon530901.
pdf>.
Ilustração do poema em prosa “O ramo da esperança”, de Raul
Pompeia, publicada no jornal paranaense A Galeria Illustrada.
Fonte: A Galeria Illustrada, edição de 20/11/1888, p. 4. Acer-
vo da FBN: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.
aspx?bib=759090&pesq>.
Poema em prosa “Alma espectro”, de autoria de Raul Pompeia,
publicado no jornal paranaense A Galeria Illustrada. Fonte: A
Galeria Illustrada, edição de 10/04/1889, p. 4. Acervo da FBN:
<http://memoria.bn.br/docreader/759090/83>.
Ângela observa os alunos durante a aula de natação. Fonte: Ca-
derno com os desenhos originais de O Ateneu, p. 10. Acervo da
FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/
icon530901.pdf>.
Professor discursa para o diretor e os alunos, em gesto afetado
e convencional. Fonte: Caderno com os desenhos originais de
O Ateneu, p. 29. Acervo da FBN: <http://objdigital.bn.br/acer-
vo_digital/div_iconografia/icon530901.pdf>.
Desenho com os alunos sofrendo humilhação imposta pela di-
reção do colégio. Fonte: Caderno com os desenhos originais
de O Ateneu, p. 30. Acervo da FBN: <http://objdigital.bn.br/
acervo_digital/div_iconografia/icon530901.pdf>.
Desenho de Ema, esposa do diretor Aristarco. Fonte: Cader-
no com os desenhos originais de O Ateneu, p. 34. Acervo da
FBN: <http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_iconografia/
icon530901.pdf>.
Desenho mostrando os exames realizados pelos alunos durante
sua passagem pelo colégio. Extraído do caderno de desenhos
originais de O Ateneu. Fonte: Caderno com os desenhos ori-
ginais de O Ateneu, p. 35. Acervo da FBN: <http://objdigital.
bn.br/acervo_digital/div_iconografia/icon530901.pdf>.
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