Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
1. Introdução
Seja bem-vindo(a)! Você iniciará o estudo de Estudo dos Elementos
Representativos: Desenho, Processos Escultóricos e Linguagem Pictórica,
uma das disciplinas que compõem os cursos de graduação na modalidade
EaD.
Bons estudos!
3. Informações da Disciplina
Ementa
A área de Estudo dos Elementos Representativos: Desenho, Processos
Escultóricos e Linguagem Pictórica aborda a construção do pensamento e
consciência da expressão por meio do desenho, dos processos escultóricos e
da linguagem pictórica. Inicialmente aborda o desenho da �gura humana co-
mo vínculo construtor de imagens e ideias através da visualidade de formas e
conteúdos. Trata o desenho como instrumento de representação e de compre-
ensão, esboço e estudo das formas lineares e pictóricas das imagens como
signo e parte de um sistema de signi�cação. Para a compreensão da impor-
tância do desenho será apresentado um breve panorama do desenho na arte
ocidental. Estes elementos são importantes para a formação do docente em
arte, pois deverá compreender os elementos que constituem a linguagem do
desenho. Para os processos escultóricos, serão apresentados os aspectos teóri-
cos e estéticos da expressão tridimensional na abordagem da escultura das
mais primitivas expressões ao longo da história, pesquisando a estética, con-
cepção e compreensão do espaço tridimensional no século XX, bem como a
aplicação do suporte e desenvolvimento de métodos e técnicas escultóricas na
construção e experimentação com materiais e princípios contemporâneos. Já
a linguagem pictórica apresenta os conceitos básicos da linguagem pictórica e
os elementos da composição visual, enfatizando a expressão bidimensional.
Contextualiza a pintura na história da arte, desde o impressionismo até a arte
contemporânea, sendo instrumento teórico-prático do arte/educador, desen-
volvendo tanto o fazer e a fruição quanto a análise estética. Além disso, guia o
futuro professor no percurso de conhecer, analisar, re�etir e compreender cri-
térios culturalmente construídos e embasados em conhecimentos teóricos.
Objetivo Geral
A disciplina tem por objetivo geral proporcionar ao futuro pro�ssional docente
uma abordagem sobre o estudo dos elementos representativos: desenho, pro-
cessos escultóricos e linguagem pictórica. O aluno egresso terá os conheci-
mentos necessários para aliar suas práticas pedagógicas e o fazer artísticos.
Além disso, a disciplina se pauta pelos princípios da pesquisa como estratégia
educativa e da formação para o entendimento das demandas educacionais da
atualidade, de modo a formar pro�ssionais comprometidos em seus processos
de auto(trans)formação, da produção acadêmica para a mudança da realidade
e da constituição das identidades e capacidades propositiva, investigativa e
criativa.
Objetivos Especí�cos
• Investigar a representação da �gura humana como vínculo construtor de
imagens e das ideias através da visualidade de formas e conteúdos.
• Analisar o desenho como instrumento de representação e de compreen-
são.
• Analisar o esboço e o estudo; as formas lineares e pictóricas; e as ima-
gens como signo e parte de um sistema de signi�cação.
• Compreender o panorama do desenho na arte ocidental.
• Compreender os aspectos teóricos e estéticos acerca da expressão tridi-
mensional na abordagem da escultura das mais primitivas expressões ao
longo da história.
• Pesquisar a estética, concepção e compreensão do espaço tridimensional
no século 20.
• Investigar a aplicação do suporte e o desenvolvimento de métodos e téc-
nicas escultóricas na construção e na experimentação com materiais e
princípios contemporâneos.
• Re�etir acerca dos conceitos básicos da pintura e dos elementos da com-
posição visual, enfatizando a expressão bidimensional.
• Investigar os eixos de abordagem da pintura no momento da história da
arte, desenvolvendo tanto o fazer e a fruição quanto a análise estética, co-
nhecendo, analisando, re�etindo e compreendendo critérios cultural-
mente construídos e embasados em conhecimentos teóricos.
• Abordar a história da pintura a partir do impressionismo, apresentando
interpretações e fazendo comentários acerca das composições visuais
usadas pelos artistas em suas representações pictóricas.
• Abordar a história da gravura.
• Elaborar projetos individuais de gravura abrangendo conhecimentos teó-
ricos e práticos.
• Investigar as possibilidades de utilizar matriz e diferentes suportes no
processo criativo.
• Elaborar um dossiê teórico-prático para o desenvolvimento de projetos.
• Analisar de forma crítica projetos individuais.
(https://md.claretiano.edu.br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Prática Pedagógica
Para ler a íntegra dessa recente legislação, conhecida como BNC-Formação, clique aqui
(https://www.in.gov.br/web/dou/-/resolucao-n-2-de-20-de-dezembro-de-2019-234967779).
1. Identi�cação.
2. Caracterização.
3. Observação.
4. Planejamento.
5. Aplicação.
6. Relatório Final.
Para ter acesso a descrição das etapas do desenvolvimento da Prática Pedagógica desta disciplina, con-
sulte os Ciclos 2 e 4 nas ferramentas Plano de Ensino e Portfólio.
Horas Totais
Atividade Atribuídas Nota
20h
Planejamento e orga-
Etapa 1 nização da Prática 5h
Pedagógica. 3.0 pontos
Contextualização da
Etapa 2 15h
Prática Pedagógica.
Portfólio 2
Horas Totais
Atividade Atribuídas Nota
80h
Observação de ambi-
Etapa 3 entes e situações de 15h 10 pontos (3.0 pontos
aprendizagem - aula. dedicados à
Elaboração do plano Fundamentação
Etapa 4 de aula ou da sequên- 20h Teórica)
cia didática.
Desenvolvimento da
Etapa 5 25h
prática (regência)
Elaboração e entrega
Etapa 6 do relatório crítico- 20h
re�exivo.
3. Ofícios e Documentos
Nas diferentes etapas da Prática Pedagógica, será necessária a geração, preen-
chimento e assinatura de diferentes documentos obrigatórios disponíveis na
SAV (ferramenta Material). Veja quais são eles:
Importante:
Caso você realize a Prática Pedagógica de mais de uma disciplina em uma mesma escola, o Pedido de
Autorização para Prática Pedagógica de Estudante e o Termo de Compromisso para Práticas Pedagógicas
poderão ser únicos. Lembre-se, apenas, de sempre enviá-los nos respectivos Portfólios de cada disciplina.
4. Sistema Avaliativo
As disciplinas com carga horária de Prática Pedagógica terão uma estrutura
avaliativa diferente das demais, com atividades que serão desenvolvidas pre-
sencialmente em ambientes escolares, em etapas que deverão ser cumpridas
de acordo com o cronograma da disciplina.
No quadro a seguir, veja como está estruturado todo o sistema avaliativo das
disciplinas nessa modalidade:
Valor/pon-
Instrumento Composição Aplicação Ciclo
tos
2 questões re- 2,0
Questões
ferentes a cada (0,40 por ci-
Online SAV Todos
ciclo de apren- clo)
dizagem
Fórum de
Interatividade SAV 1º 2,0
Abertura
1ª e 2ª etapas
Portfólio 1 SAV 2º 3,0
da atividade
Prova interdis-
ciplinar objeti-
va, formada
por 6 questões
NOTA de múltipla es-
1 colha, que con- Aplicada
Avaliação
templam os de modo
Semestral
conteúdos e as online, Todos 3,0
Interdisciplinar
competências com aces-
(ASI)
de todas as so na SAV.
disciplinas do
semestre letivo
em um único
instrumento de
avaliação
Relatório Final
das Práticas
Portfólio 2 Pedagógicas
NOTA
Relatório �nal desenvolvidas SAV 4º 10,00
2
e documenta-
ção comproba-
tória
5. Aprovação/Validação da Prática
A aprovação da Prática Pedagógica estará atrelada ao atendimento dos objeti-
vos propostos. A não realização da atividade proposta gerará dependência da
disciplina.
(https://md.claretiano.edu.br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Conhecer as formas de desenho.
• Conhecer e explorar diferentes suportes, materiais, instrumentos e pro-
cessos.
• Conhecer e identi�car a articulação entre percepção e representação do
mundo visível.
• Conhecer os elementos do desenho.
• Compreender as noções básicas de espaço e de composição.
Conteúdos
• O pensamento do desenho da �gura humana como vínculo construtor
de imagens e ideias através da visualidade de formas e conteúdos.
• O desenho como instrumento de representação e de compreensão.
• O esboço e o estudo; formas lineares e formas pictóricas.
Problematização
Como compreender e desenvolver modos próprios de expressão e comunica-
ção visuais, utilizando os diversos recursos e elementos do desenho?
Para conhecer um pouco mais sobre a expressão que se pode dar a linhas e
outros traçados, assista aos seguintes vídeos:
1. Introdução
Neste primeiro ciclo de aprendizagem, veremos os materiais e suportes que
podem ser utilizados na elaboração de desenhos, pois ao longo dos tempos, as
metodologias, técnicas, instrumentos e suportes foram evoluindo e por isso
mesmo nos oferecem uma gama de possibilidades de exploração e criação.
São eles que nos permitem expressar e materializar nossas ideias, nossos
pensamentos.
Bons estudos!
2. Formas de Pensar o Desenho: Materiais e
Suporte
São inúmeros os materiais e suportes que podem ser utilizados na elaboração
de desenhos. Ao longo dos tempos, as metodologias, técnicas, instrumentos e
suportes foram evoluindo e nos oferecem uma gama de possibilidades de ex-
ploração e criação. São eles que nos permitem expressar e materializar nossas
ideias, nossos pensamentos. A respeito disso, leia o texto a seguir:
Vamos, agora, estudar alguns materiais que podem ser utilizados para fazer
desenhos, analisando seu uso e suas especi�cidades através de algumas des-
crições e observações de imagens.
Ponta de metal
Considerada a precursora do desenho a lápis, essa ferramenta é feita de um
metal homogêneo e tem sido utilizada desde a Antiguidade para gravar sobre
suportes moles, como argila, cera, pergaminho (geralmente pele de carneiro,
cordeiro, cabra ou ovelha) ou velino (pele mais delicada, geralmente de bezer-
ro ou cordeiro).
O suporte escolhido deve ser revestido com uma solução aquosa de pó de osso,
goma arábica e, por vezes, algum corante. Nesse revestimento, pode-se inscre-
ver com a ponta de metal, porém essa inscrição não permite raspagem ou re-
toque.
As pontas de metal eram de diversos tipos: ouro, prata, cobre, chumbo, estanho,
bronze e bismuto – sendo a prata e o chumbo os mais utilizados. A prata deixa um
traço cinza, às vezes levemente ocre, que em geral escurece, enquanto o chumbo dá
uma cor mais claramente acinzentada. O traço do ouro é mais ou menos castanho-
escuro com o ouro puro, em contraste bem vivo com o traço amarelado do cobre.
Desenhos feitos com essa técnica costumam ser de pequenas dimensões devi-
do à boa habilidade manual e paciência necessárias para sua execução.
Figura 1 Velino inglês de 1638.
Com a invenção do papel, essa técnica passou a ser menos utilizada devido à
necessidade de um desenho mais rápido e de efeitos maiores; porém, ainda é
utilizada em gravuras em metal. A gravura em metal também é chamada
ponta-seca (veja um exemplo de obra em que essa técnica foi utilizada, na
Figura 2), que consiste na utilização de uma ponta rígida diretamente sobre o
metal. Segundo Pedroso (2011):
Pena
A pena é um dos instrumentos grá�cos mais antigos. A princípio, eram utili-
zadas penas de aves; atualmente, conserva-se o nome, mas são utilizadas
pontas metálicas.
Lápis gra�te
O uso de lápis gra�te é um dos meios de desenho mais populares. É composto
por uma barra ou mina, revestida de madeira mole e sem veios. As minas es-
tão disponíveis em diferentes graus de dureza e são classi�cadas da seguinte
forma:
Dura
Média
Macia
8B, 9B
As letras que acompanham os números são siglas dos termos em inglês: "H"
de "hard", indicando que a mina é dura; "B" de "brand" ou "black", indicando
que a mina é macia ou preta; "HB" representa a junção de "hard" e "brand", e
indica mina de dureza média.
Para o desenho artístico, são aconselháveis os lápis com gra�tes macias (B),
que permitem traços mais escuros; e, para o desenho técnico, os com gra�tes
mais duras (H), que permitem os traços mais �nos.
Paus de gra�te
Os paus de gra�te são feitos de gra�te sólida, pura, com grossura su�ciente pa-
ra não necessitar da madeira protetora do lápis, de forma que tanto o lado co-
mo a ponta possam ser usados. Essas barras de gra�te são muito usadas pela
maioria dos desenhistas porque possibilitam uma grande versatilidade de tra-
ços.
Os traços de gra�te, quer provenham dessa barra quer de lápis, podem ser es-
fumados com a ponta do dedo quando são pouco duros. O esfumado será mui-
to útil quando for necessário realizar diferentes exercícios de desenho.
Lápis de cor
Material delicado e preciso. No mercado, existe uma grande oferta desse lápis,
sendo os de maior qualidade ideais para um resultado melhor.
Giz e pastéis
Esses materiais são encontrados em forma seca ou oleosa e em diversas co-
res, o que permite um traço de desenho rico em possibilidades. O giz branco
pode dar um tom mais luminoso para o desenho. Veja, como exemplo, a obra
de Degas (Figura 7).
Nanquim
Considera-se o nanquim como o primeiro pigmento conhecido pelo ser huma-
no. Trata-se de uma tinta preta, composta, normalmente, de negro-de-fumo,
pigmento também conhecido como negro-de-carbono ou negro-vegetal, obti-
do da fuligem de resíduos de petróleo queimado, que pode ser usada para es-
crever e desenhar.
Aquarela
A técnica da aquarela é conhecida entre os egípcios antes mesmo da era cris-
tã, porém só se tornou mais conhecida a partir do século 15, mais especi�ca-
mente com as obras de Albrecht Dürer.
Para realizá-la, emprega-se pincéis macios para aplicar sobre o papel um pig-
mento em pó misturado com goma arábica, diluído em água. Assim, por meio
dessa técnica, "[...] obtêm-se belas transparências de luz e cor, motivo pelo
qual é muito apreciada pelos paisagistas" (CASSIMIRO, 2011).
Tinta guache
A tinta guache é constituída por pigmentos em pó coloridos misturados a um
pigmento plástico e um pigmento branco opaco. Com essa mistura, diferencia-
se da aquarela pela sua qualidade opaca. As cores claras podem ser aplicadas
sobre outras mais escuras, depois que estas já estão secas.
O guache, nome da técnica de pintura que utiliza essa tinta, é usado, muitas
vezes, em desenhos e ilustrações ou em trabalho conjunto com materiais vari-
ados de desenho.
Observe, nas Figuras de 10 a 13, algumas obras em que foi utilizada essa técni-
ca:
Fonte: elaborada pela autora Fabíola Gonçalves Giraldi.
Papel
O papel é o principal suporte do desenho. Como mencionado anteriormente, o
pergaminho e o metal são outros tipos de suportes, mas, por serem utilizados
com �nalidades especí�cas, são menos utilizados.
• A1 – 840mm X 594mm;
• A2 – 594mm X 420mm;
• A3 – 420mm X 297mm;
• A4 – 297mm X 210mm.
Papéis porosos combinam com giz pastel. Papéis lisos possibilitam um desli-
ze macio tanto do lápis quanto do pincel. Ao utilizar cores, dependendo da in-
tenção, o ideal é escolher um papel de cor mais clara que o traçado do desenho
– sim, há várias cores de papel também!
A gra�te pode ser usada, praticamente, em todos os tipos de papel (liso, textu-
rado, rugoso), exceto em plasti�cados, aos quais adere mal. Por isso, é muito
importante a escolha do tipo de papel de acordo com o objetivo do desenho,
pois a gra�te se comporta de forma diferente com cada um. Papéis como o
canson são ótimos suportes para trabalhos em valores de cinzento e com de-
gradê.
Sabemos que o desenho pode se apresentar de várias formas. Com base nesse
princípio, vamos, agora, re�etir sobre nossa capacidade de desenhar e procu-
rar expressá-la.
Há quem diga que desenhar é um dom que apenas algumas pessoas recebem
ao nascer, mas isso é relativo. Desenhar é uma questão de percepção e prática.
Talvez, muita prática para uns, menos para outros. Porém, todos nós desenha-
mos, mesmo que a última vez tenha sido há bastante tempo, na época das ga-
ratujas infantis.
De acordo com essas ideias de Sapienza, podemos desenhar tudo o que quiser-
mos, independentemente de como o fazemos. E sendo desenho, como já foi di-
to, uma linguagem visual, precisamos, para desenhar, conhecer os elementos
que constituem a matéria básica daquilo que vemos.
Forma
Segundo Edgar Degas: "O desenho não é a forma, é a maneira de ver a forma".
Todos nós somos capazes de expressar nossas ideias por meio de registros
grá�cos. Porém, os resultados dependerão, basicamente, de como cada um re-
alizará seus registros, dependerão da maneira como cada um vê o mundo.
Figura 14 Arte computacional de gravura rupestre representando um pequeno círculo e circunferências concêntricas
Cada meio prescreve a maneira pela qual as características de um modelo são me-
lhor conseguidas. Por exemplo, um objeto redondo pode ser representado por uma
linha circular com um lápis. Com um pincel, que pode fazer grandes manchas, é
possível produzir um simulacro do mesmo objeto por meio de uma mancha de tin-
ta em forma de disco. No meio argila ou pedra, a esfera é o melhor equivalente da
rotundidade. Um bailarino representa-a fazendo um percurso circular, girando ao
redor de seu próprio eixo, ou organizando um grupo de bailarinos num círculo.
Num meio que não permite con�gurações curvas, a rotundidade pode ser expressa
por linhas retas.
Para que uma forma se constitua, então, algo tem de "dar o primeiro passo".
Desse modo, o ponto será nosso ponto de partida.
Ponto
O ponto pode ser considerado não só a menor unidade dos elementos grá�cos,
mas também o início deles. De�ni-lo precisamente não é tão simples. É neces-
sário re�etir sobre ele, entender que não tem uma forma especí�ca, ou seja,
que não precisa ser, necessariamente, redondo, embora possa ser medido.
O ponto geométrico é invisível e, portanto, deve ser de�nido como imaterial, ou, en-
tão, como material, se for considerado igual a zero.
Além disso, o zero esconde diferentes propriedades "humanas". De acordo com a
nossa concepção, esse zero (o ponto geométrico) evoca uma concisão absoluta, isto
é, a maior reserva, que, no entanto, fala.
O ponto geométrico, de acordo com a nossa concepção, é a derradeira e única união
do silêncio e da palavra. Por essa razão, ele encontrou sua forma material em pri-
meiro lugar na escrita, pertencendo à linguagem e signi�cando, assim, silêncio.
[...]
O aumento do espaço livre e das dimensões do ponto diminui a ressonância da es-
crita e o som do ponto ganha em clareza e força.
[...]
O ponto começa a viver como um ser autônomo e de sua submissão evolui para
uma necessidade interior.
Hoje eu vou ao cinema.
Hoje eu vou. Ao cinema.
Hoje eu. Vou ao cinema.
Hoje eu vou ao cinema.
Vários pontos juntos podem formar uma linha, uma mancha. O pontilhismo é
a técnica na qual os tons são formados por meio do agrupamento de vários
pontos. A intensidade de cada tom varia quanto ao tamanho e proximidade de
uns aos outros, como, por exemplo, quando estão bem próximos, criando tons
mais escuros e a sensação de profundidade.
Observe, nas Figuras de 18 a 21, algumas obras nas quais foi empregada a téc-
nica do pontilhismo.
Figura 18 Pontilhismo.
Figura 19 Pontilhismo.
Figura 20 Pontilhismo.
Exercício proposto 1
Figura 22 Pontos azuis e violetas, de Fabíola G. Giraldi, 2010. Caneta hidrocor sobre papel.
Linha
Segundo Derdyk (1989, p. 144): "O ponto sai do repouso, passeia pelo papel vis-
lumbrando, dele mesmo, uma memória do trajeto: eis a linha".
A linha direciona nosso olhar, mesmo quando o desenho é feito apenas com
pontos – podemos visualizá-la ao unirmos esses pontos com o olhar.
Assim, podemos perceber que há vários tipos de linhas e, com elas, consegui-
mos entender a composição visual, o movimento, o equilíbrio.
Temos, também, as linhas paralelas, que são aquelas que nunca se encontram,
nunca se cruzam, a não ser em um desenho de perspectiva, na qual se utiliza
uma técnica de ilusão de óptica (uma criação humana para obtermos dese-
nhos mais próximos da realidade), em que linhas paralelas convergem para
um mesmo ponto.
Como podemos observar, a posição das linhas curvas e das linhas que formam
ângulos pode apresentar um efeito de movimento em direção de seu maior
impulso ou de seu ápice. Esse efeito pode se acentuar, modulando, assim, a es-
pessura da linha. As Figuras 28 e 29 mostram os efeitos das linhas curvas e
das linhas formando ângulos.
Figura 30 Linhas que sugerem movimentos. Victor Vasarely (1908-1997) pavo, 1978 huile sur toile signée en bas au
O efeito dinâmico das linhas, quando estão relacionadas entre si, pode ser per-
cebido em vários diagramas clássicos, como a Ilusão de Helmholtz, demons-
trada pela Figura 31, a Ilusão de Zöllner, pela Figura 32, e a Ilusão de Müller-
Lyer, Figura 33.
Figura 31 Ilusão de Helmholtz.
Figura 35 AB=CD.
Podemos perceber que o mesmo acontece com a Figura 35, na qual as retas
são de igual comprimento. Porém, em virtude do efeito de extensão e contra-
ção sugerido pelas transversais, aparentam ser de tamanhos diferentes.
Esses efeitos, que são de natureza dinâmica, são explorados deliberada ou ins-
tintivamente pelos artistas. Observe a Figura 42.
Fonte: Derdyk (1989, p. 58).
Leia, a seguir, algumas re�exões de Derdyk (1989, p. 148) sobre os usos da li-
nha:
Durante muito tempo a linha �cou presa, contornava as �guras. Ainda existe essa
linha mas conforme os artistas foram libertando-a, ela não precisa mais
aprisionar-se em imagens que fazem referências ao mundo visível ou materializar-
se apenas através de �guras de seres, animais, objetos. "A linha simplesmente é".
Com base nos pressupostos básicos sobre as linhas e seus efeitos apresenta-
dos, procure, a partir deste momento, explorar mais a expressão de seus traços
em seus desenhos.
Observe, agora, alguns desenhos feitos com linhas por alunos de uma escola
pública no interior de São Paulo (Figuras 43 e 44).
Figura 43 Desenho feito com linhas, de Ricardo Rodrigues de Oliveira, 2º Ano do Ensino Médio.
Exercício proposto 2
Escolha um desses itens e desenhe as linhas que você consegue perceber sem
olhar para o papel, apenas para o objeto escolhido. Não se preocupe com o re-
sultado, pensando se o desenho vai �car "bom" ou não. Registre todas as li-
nhas que puder perceber.
Esse exercício faz com que nos desprendamos dos nomes daquilo que estamos
desenhando. Isso quer dizer que registramos as linhas gra�camente por suas
características, e não o que "são" na realidade.
Procure observar esses conceitos nos desenhos: uma mesma linha é o contor-
no de um objeto, mas, ao mesmo tempo, também pode ser o contorno do outro.
Como já vimos anteriormente, a linha é uma convenção utilizada para nome-
ar, justamente, o que "separa" uma coisa da outra. É importante ter isso em
mente para que possamos desenhar as linhas percebidas, e não apenas as li-
nhas "nomeadas".
5. Plano
Em nosso estudo, vamos considerar plano como a superfície material que dá
suporte à obra, ao desenho.
Conceitualmente, a trajetória de uma linha em movimento (em outra que não seja
sua direção intrínseca) se torna um plano.
Como elemento visual, possui comprimento e largura, tem posição e direção, é li-
mitado por linhas e de�ne os limites extremos de um volume.
Em uma superfície bidimensional, todas as formas planas que não são comumente
reconhecidas como pontos ou linhas, são formas enquanto plano.
As formas planas possuem uma variedade de formatos que podem ser classi�ca-
dos como:
1 – Planos Geométricos – Constituídos matematicamente.
2 – Planos Orgânicos – Limitados por curvas livres, sugerindo �uidez e crescimen-
to.
3 – Planos Retilíneos – Limitados por linhas retas que não se relacionam umas
com as outras matematicamente.
4 – Planos Irregulares – Limitados por linhas retas e curvas que também não se re-
lacionam umas às outras matematicamente.
5 – Planos Caligrá�cos – Criados sem auxílio de instrumentos, composto por li-
nhas orgânicas.
6 – Planos Acidentais – Determinado pelo efeito de processos especiais ou obtidos
ocasionalmente.
Para Derdyk (1989), o papel seria o suporte essencial para o desenho, então,
nesse caso, seria a própria representação do plano. Essa autora, porém, obser-
va outras formas de desenho e de suporte:
Qualquer superfície riscada sugere que alguém passou por ali, casualmente ou in-
tencionalmente. São rastros que humanizam a superfície: as marcas dos pés na
areia da praia, os riscos deixados pelos dedos no vidro embaçado, a marca de ba-
tom na pele da bochecha, um rabisco qualquer no canto do papel. Os registros grá�-
cos são gestos depositados numa superfície (1989, p. 146).
O conceito de plano mudou muito ao longo da história, e não há, portanto, mo-
tivo para delimitá-lo. Como se pôde observar na citação anterior, os planos po-
dem ser os mais variados e dependem, apenas, do "olhar" do artista, de sua
criatividade e percepção.
O plano e a composição
Vimos, na Figura 42, que Picasso desenha com uma lanterna. Qual é o plano?
Ele limita-se em um retângulo ou em um quadrado? Que composição pode-
mos criar nesse espaço?
Vimos, até agora, conceitos a respeito de ponto, linha e plano, elementos visu-
ais básicos da forma.
Falaremos sobre alguns desses conceitos para que você possa sentir, elaborar
e executar seus próprios desenhos com mais percepção e, digamos, com um
olhar mais apurado.
6. Espaço
Forma-espaço / �gura-fundo
Se existe forma, deve haver, então, o espaço que ela ocupa. Formas compõem
espaços. Formas são positivas e espaços, negativos. Mas o que isso signi�ca?
Por isso, estudamos composição: para perceber como arranjar um espaço para
atingir uma determinada intenção. Existem várias maneiras de organizar for-
mas e espaços. Para isso, é preciso entender um pouco o que é esse espaço,
pois já tratamos de formas anteriormente.
Exercício proposto 3
Pegue uma folha de papel sul�te, riscadores (lápis, caneta, crayon), um papel
mais duro (usamos uma embalagem longa vida) e tesoura ou estilete.
Agora, utilize essas formas como padrões, isto é, como moldes para criar uma
composição. Coloque esses moldes sobre a folha sul�te e crie uma composição
com eles. Mas lembre-se: estamos estudando o espaço (negativo) e as formas
(positivo).
Você, agora, tem moldes para fazer formas; o desa�o é pensar no espaço como
negativo. E é a linha que divide forma de espaço. Desenhe linhas e, então, con-
torne seus moldes.
Figura 46.
Na Figura 46, temos formas positivas. Mas e o espaço negativo? Façamos isso
agora: com um riscador, preencha toda a área vazia. Observe, na Figura 47, que
o espaço faz parte da composição.
Figura 47.
Podemos notar, analisando a Figura 47, que o espaço existe e é tão importante
quanto a forma. A maneira como trabalhamos forma-espaço, ou seja, como
preenchemos um formato, é essencial para criar uma composição, seja qual
for a intenção.
Entender esse procedimento possibilita que nossas ideias, nos desenhos, se-
jam transmitidas de uma forma melhor. É importante, também, para poder se
expressar e desenvolver sua composição, ter sua intenção de forma clara em
mente.
Observe, nas Figuras 48 e 49, como Escher trabalhou esse conceito de forma
magistral, em uma composição muito rica, em que todos os detalhes têm sua
importância e seu signi�cado. Essa é uma forma de nos convidar a pensar so-
bre o que é forma e o que é espaço; o que é �gura e o que é fundo...
Observe, agora, uma xilogravura de Dürer, a qual representa uma de suas téc-
nicas (Figura 51).
Figura 51 Artista e mulher reclinada, de Albrecht Dürer, 1525. Xilogravura que mostra o artista utilizando a técnica da
Exercício proposto 4
Experimente aplicar esta técnica, conhecida como técnica da grade ou
"Artifício de Dürer". Use um papel espesso e faça quadrados vazados nele, isto
é, construa uma grade, do tamanho que quiser.
Depois, escolha algo como modelo para desenhar – um objeto, uma paisagem
ou uma pessoa. Fixe sua grade como representado na Figura 51. Com traços
bem leves, faça, em um papel, o mesmo número de quadros. Conforme você
for desenhando, esse quadriculado deve ir sendo apagado. Além disso, sua
grade e o papel quadriculado devem ser proporcionais.
Exemplos de perspectiva
É muito importante compreender e dominar as leis da perspectiva. Sabemos,
por exemplo, que todas as faces de um cubo são iguais. Entretanto, de acordo
com o ponto de vista em relação ao objeto e a linha do horizonte, é possível ver
uma, duas ou, no máximo três faces, e em posições diferentes. Assim, na hora
de desenhá-lo, precisamos estabelecer essas diferenças, construindo o cubo
de maneira tridimensional, independentemente da perspectiva.
Veja, na Figura 53, que o cubo está localizado abaixo e à esquerda do ponto de
fuga.
Na Figura 55, note que o cubo está localizado abaixo da linha do horizonte e
sujeito a dois pontos de fuga.
Na Figura 56, veja que, quando temos uma avenida com prédios ou uma �leira
de árvores, aplicamos a "perspectiva en�leirada".
Figura 56 Perspectiva En�leirada.
Observe, na Figura 57, uma famosa litogra�a de Escher, em que o artista explo-
ra o uso da perspectiva.
Figura 58 Perspectiva tonal. Print Gallery, 1956 M.C. Escher - All works chronologically.
Figura 59 Three Worlds, M. C. Escher, 1955. Litogra�a.
Vale ressaltar que a Perspectiva Linear pode ser de�nida como a representa-
ção de uma imagem que esteja relacionada entre si e que, por sua vez, será
percebida pelo observador a uma certa distância. Na arte, podemos encontrar
essa representação em linhas paralelas que parecem convergir, dando, assim,
uma ilusão de distância e profundidade.
Escolha uma rua longa e sente-se onde possa ter dela uma visão de forma a
obter a sensação de que os dois lados da rua, direito e esquerdo, se encontram,
ou seja, as duas calçadas se encontram (veja novamente a Figura 50, Oggetto
totale).
Dica: arrume uma prancheta e um banquinho e leve-os com você quando for
desenhar. O ideal é que essa prancheta tenha 50cm × 35cm, e, assim, poderá
apoiar folhas de papel nos tamanhos A4 (210mm × 297mm), A3 (297mm ×
420mm) e A5, que é a metade do tamanho da A4.
Se você escolheu uma árvore como referência, registre as arestas e como estas
se relacionam com o que percebe da árvore: linhas perpendiculares, linhas pa-
ralelas, tamanhos dos espaços, distância e relação com os outros objetos.
"Fotografe" gra�camente essa sua visão. Perceba como os objetos mais distan-
tes parecem ser menores que os que estão mais próximos de você. Registre-os
dessa forma no papel.
Exercício proposto 6
Sem precisar delinear a forma, ou seja, desenhar uma linha de contorno, pode-
mos criar efeitos de volume. Observe as Figuras 61 e 62.
Observe que a linha, nas Figuras 61 e 62, não contorna as formas, mas cria um
emaranhado de traços, formando texturas e hachuras, projetando as sombras
e as luzes do desenho e, dessa forma, representando seu volume.
Exercício proposto 7
Observe, na Figura 63, como linhas mais próximas umas das outras têm efeito
diferente das que estão mais distantes umas das outras. Observe, também, o
efeito produzido entre as linhas que se cruzam e as que não se cruzam: obte-
mos o efeito de claro e escuro usando esses tipos de traços. Procure explorar
esses efeitos em sua composição.
Exercício proposto 8
Figura 64.
Figura 65.
Com esse exercício simples, podemos perceber como, por meio da diversi�ca-
ção de traços, criar diferentes efeitos visuais em nossos desenhos. Procure ex-
plorar e experimentar, ao máximo, linhas espessas, linhas curvas, linhas den-
sas, linhas esparsas, linhas entrelaçadas e o que mais puder imaginar.
Você também pode experimentar fazer um desenho sem usar linha de contor-
no, como na Figura 66.
Figura 66 Natureza-morta, 1989. Pastel sobre Canson.
Textura
Textura é a sensação tátil que também pode ser transmitida visualmente;
refere-se ao aspecto de uma superfície, se é lisa, áspera, macia, ondulada etc.
Vimos, anteriormente, que algumas texturas podem ser representadas por
meio de meio de linhas, por exemplo.
Além das linhas, as texturas podem ser representadas com todo tipo de traço
e, também, com pontos. Observe, nas Figuras 67, 68 e 69, alguns exemplos de
texturas:
Agora, observe, nas Figuras 70 e 71, dois desenhos, realizados por alunos de
uma escola no interior do Estado de São Paulo, que exploram linhas e pontos,
criando texturas diversas.
Fonte: acervo pessoal dos autores.
Figura 71 Mato a fome ou ela me mata, de Lucas Leonardo de Andrade, aluno do Ensino Médio.
O uso de hachuras
As hachuras não são utilizadas apenas em desenhos artísticos. Elas podem ser utilizadas
em Arquitetura para representar os mais variados tipos de materiais que podem ser empre-
gados em uma construção.
Exercício proposto 9
Depois de assistir a videoaula de Daniel Brandão (ver tópico Orientações para
o estudo), experimente você também criar efeitos de luz e sombra em um de-
senho. Desenhe um círculo com lápis de gra�te macio, como, por exemplo,
com lápis 6B, conforme a Figura 72.
Imagine um ponto de luz incidindo sobre ele, como ilustra a Figura 73.
Para facilitar a percepção de onde a luz se projeta, trace linhas que indiquem o
feixe de luz incidente, como na Figura 74.
Figura 72.
Figura 73.
Fonte: acervo pessoal dos autores.
Figura 74.
Agora, imagine o "chão" onde esse círculo – que se "transformará" em uma es-
fera – está apoiado.
Figura 75.
Fonte: acervo pessoal dos autores.
Figura 76.
Agora, volte ao seu desenho e apague o foco de luz e os outros traços de apoio,
conforme mostra a Figura 77.
Figura 77.
Com esse exercício, você obteve um exemplo simples para uma melhor com-
preensão de como criar volume por meio de luz e sombras e saber representá-
los.
Para representar volumes, podemos explorar efeitos grá�cos por meio de tex-
turas e luz/sombra, como vimos anteriormente, variando os tons e valores que
percebemos daquilo que estamos observando para desenhar.
Tons e valores
O termo tom refere-se à qualidade da cor, isto é, ao "nome" da cor e suas nuan-
ces.
Valor é o maior grau de claridade ou obscuridade de uma cor. Com essa propri-
edade, é possível criar sensações espaciais: por meio de grandes diferenças de
valor de uma cor (contraste), é possível de�nir porções diferentes no espaço;
enquanto que, para dar a impressão de contorno de um objeto no espaço, pode
ser utilizada uma mudança gradual no valor de uma cor.
Exercício proposto 10
Experimente fazer uma escala de valores. Se quiser usar 12 faixas, por exem-
plo, faça uma faixa de 12 quadradinhos de 2cm. Utilize um lápis gra�te 6B e
comece a preencher os quadradinhos, do mais claro para o mais escuro.
Conforme for mudando de faixa, pressione, com mais intensidade, o lápis no
papel.
Não é necessário fazer trações em uma única direção: você pode fazer qual-
quer tipo de traço e até hachuras. A �nalidade, aqui, é observar e experimentar
valores, o que você já praticou no exercício anterior.
Nem toda sombra, por exemplo, tem o mesmo valor. Por isso, utilizamos vári-
os tipos de gra�tes (e outros riscadores), traços com diferentes intensidades,
gestos mais fortes e mais fracos, texturas diversas, padrões maiores e meno-
res.
Cor
Como temos visto, o desenho pode ser representado de diversas maneiras. Ele
pode ter ou não cor, isto é, mais que uma característica, a cor é uma possibili-
dade.
Observe, na Figura 80, como Itten distribuiu as cores: no triângulo central, es-
tão as três cores primárias: amarelo, vermelho magenta e azul ciano.
Nos triângulos que contornam esse primeiro triângulo, estão as três cores se-
cundárias: verde (amarelo + azul); laranja (amarelo + vermelho magenta) e vi-
oleta (azul + vermelho magenta).
Existem vários estudos sobre cores, e estas podem ser classi�cadas como cor-
pigmento opaca, cor-pigmento transparente e cor-luz. Nos três casos, as cores
primárias são as cores puras, aquelas que, misturadas entre si, resultam em
todas as outras cores.
Outro fato importante é que o preto não é considerado uma cor e, sim, como a
"ausência de luz". Pedrosa (2003, p. 118) a�rma que "[...] em condições normais
o preto não existe na natureza"; já quanto ao branco (2003, p. 117), diz que "[...] é
a mistura de todas as cores do espectro solar [...] é a superfície capaz de re�etir
o maior número possível dos raios luminosos contidos na luz branca".
Várias são as maneiras de olhar para as cores, de percebê-las, e isso foi, e con-
tinua sendo, teorizado por muitos estudiosos. Vamos tratar, aqui, de alguns as-
pectos interessantes, como as cores complementares, por exemplo.
Figura 82.
Observe, na Figura 82, que, para cada parte de amarelo, são usadas três de vio-
leta; para uma parte de laranja, são usadas duas de azul; e, para uma parte de
vermelho, é usada uma de verde.
Para fazermos o desenho de um objeto com cor, destacando luz e sombra, é ne-
cessário que a cor empregada para representar a sombra seja mais escura que
a do objeto, mantendo-se, porém, o mesmo tom. Por exemplo, se pintarmos um
objeto em amarelo, sua sombra deverá ser pintada em um amarelo mais escu-
ro, tendendo para o ocre ou o laranja, dependendo da intensidade dessa som-
bra.
Observe a �gura humana representada na Figura 83. Repare nas cores utiliza-
das para representar seus contornos, luzes e sombras.
Podemos dizer que uma imagem está em equilíbrio quando os seus elementos
estão compostos de tal forma que nada é enfatizado, ou seja, nenhum elemen-
to "chama mais atenção" que o outro. Nosso olhar percorre a imagem sem se
prender a um certo detalhe – percorre-a por igual. Isso não signi�ca dizer que
um ou outro elemento possa atrair mais um olhar que o outro; ao olhar para
uma imagem, cada observador carrega sua bagagem cultural, o que faz com
que cada um a observe de uma forma.
Figura 84.
No exemplo do disco escuro sobre o papel branco (Figura 84), não os vemos
separados, isolados um do outro; por isso, nosso olhar se incomoda ao ver que
o disco não está no centro do quadrado. Isto é, nosso olhar percebe uma maior
estabilidade no círculo quando seu centro coincide com o do quadrado.
Deve-se lembrar que, tanto visual como �sicamente, o equilíbrio é o estado de dis-
tribuição no qual toda a ação chegou a uma pausa [...]. Numa composição equilibra-
da, todos os fatores como con�guração, direção e localização determinam-se mutu-
amente de tal modo que nenhuma alteração parece possível, e o todo assume o ca-
ráter de "necessidade" de todas as partes. Uma composição desequilibrada parece
acidental, transitória. [...] seus elementos apresentam uma tendência para mudar
de lugar ou forma a �m de conseguir um estado que melhor se relacione com a es-
trutura total.
Observe, nas Figuras 85 e 86, como os elementos são compostos e como ocu-
pam o espaço disponível:
Fonte: acervo pessoal dos autores.
Exercício proposto 11
Você pode usar colagens também. Recorte formas diversas e explore sua dis-
posição no suporte.
Movimento e direção
Outros elementos também se destacam quando criamos uma composição co-
mo, por exemplo, o movimento e a direção. Esses são fatores importantes e
que contribuem muito quando expressamos ideias por meio de uma composi-
ção visual.
[...] por associação, temos a sensação de que as �guras que representam objetos ani-
mados do mundo real revelam disposição para o MOVIMENTO.
Em uma Comunicação Visual, dadas suas características formais, as �guras podem
dar força à percepção em determinada direção dentro da composição.
As linhas curvas ou diagonais podem induzir maior sensação de movimento que
as horizontais, assim como as cores quentes parecem avançar em direção ao ob-
servador enquanto as frias parecem recuar.
Certa vez, a artista Marina Abramovic, ao falar sobre Arte, disse que "a função
de um artista é mudar a forma como as pessoas pensam as coisas". Apesar de
essa artista não trabalhar diretamente com desenhos, seu pensamento é mui-
to válido para nosso estudo neste momento. Expressando nossas criações, po-
demos mostrar nosso modo de ver o mundo e podemos, também, mudar a for-
ma como ele é visto.
Croqui
Croqui é uma palavra de origem francesa, que pode ser traduzida como "esbo-
ço" ou "rascunho". Costuma se caracterizar como um desenho rápido, cujo ob-
jetivo é expressar, gra�camente, uma ideia, transmitindo o que há de essencial
nela. Devido a essa característica, por meio do croqui, também é possível ex-
pressar um traço próprio, particular, único.
Assim como nos tópicos anteriores, você também vai desenvolver os concei-
tos apresentados, seguindo nossas dicas e sugestões. Portanto, pegue algumas
folhas de qualquer tipo de papel e um lápis, também de qualquer tipo, e apro-
veite este momento para desenvolver suas habilidades e liberar sua criativida-
de e ousadia.
Exercício proposto 12
Faça algumas linhas com traços variados: �nos e delicados; grossos e rudes;
riscos cruzados, curvos; pontos; círculos; e outras formas que lhe vierem à
mente.
Figura 92.
Exercício proposto 13
Agora, você fará um croqui: escolha um objeto que esteja perto de você – uma
caneta, um vaso, um copo... Observe e desenhe esse objeto. Observe suas li-
nhas e formas e registre-as no papel, mas de forma instantânea: apenas olhe e
registre.
Arnheim (1994, p. 35) diz: "Vejo um objeto. Vejo o mundo ao meu redor". Com
essas a�rmações, ele nos faz re�etir sobre o ato de ver as coisas, um ver que
ultrapassa a visão do concreto. Ao olhar para um objeto ou qualquer outra coi-
sa, nossos olhos são capazes de ver detalhes sutis. Muitas vezes, porém, esta-
mos acostumados a pensar no todo e não nos damos conta dos detalhes.
Muitas vezes, ao observar uma �or, percebemos o todo de sua forma, e não o
caminho que o olhar percorre pelos detalhes, pelo espaço, pelas linhas, pela
textura, pela relação entre esses elementos, para, en�m, montar, diante de nós,
a imagem da �or na íntegra.
É com esse pensamento em mente que buscamos fazer nossos desenhos e jus-
tamente por isso que o ato de desenhar, no campo da Arte, pode ser entendido
como "se fazer estar no mundo". É a nossa percepção de mundo que coloca-
mos em cada detalhe do desenho. Por isso, é nosso traço pessoal que devemos
buscar a partir de agora. Um traço unicamente nosso.
Leia, a seguir, o que diz Saramago, em seu romance Jangada de pedra (apud
PRAXEDES, 2011), sobre a questão da percepção do olhar:
[...] cada um de nós vê o mundo com os olhos que tem, e os olhos vêem o que que-
rem, os olhos fazem a diversidade do mundo e fabricam as maravilhas, ainda que
sejam de pedra, e altas proas, ainda que sejam de ilusão.
Para que você possa compreender melhor esse conceito, analise os exemplos
de desenhos de observação nas Figuras de 95 a 100.
[...] desenhar é uma habilidade global ou "integral" que requer apenas um conjunto
limitado de componentes básicos. [...] Como algumas habilidades globais – por
exemplo, ler, dirigir, esquiar e andar –, desenhar compõe-se de outras habilidades
parciais que se integram numa habilidade total. Uma vez aprendidos e integrados
os componentes, você conseguirá desenhar – assim como uma vez aprendida a
habilidade de ler, sabe-se ler por toda a vida; uma vez que se aprende a andar, sabe-
se andar por toda a vida. Não é preciso continuar acrescentando habilidades bási-
cas eternamente. O processo se dá com a prática, o re�no e a técnica, e também
quando se aprende o propósito dessas habilidades.
Para essa autora, uma maneira que temos para aprender a desenhar é usar o
lado direito do cérebro (tema que dá título a seu livro). Mas o que signi�ca is-
so? Sabe-se que nosso cérebro é dividido em lado esquerdo e lado direito e que
"[...] o hemisfério esquerdo analisa no tempo, ao passo que o hemisfério direito
sintetiza no espaço" (LEVY apud EDWARDS, 2002, p. 60).
Agora, reproduza a Figura 102, se você for destro, ou a Figura 103, se for canho-
to.
Figura 102.
Figura 103.
Em seguida, passe novamente o lápis sobre o lado do desenho que já está de-
senhado, como se o estivesse refazendo. Ao mesmo tempo em que estiver con-
tornando cada parte, diga qual é essa parte: testa, nariz, lábio superior, lábio
inferior, queixo, pescoço. Se quiser, repita esse procedimento de forma a se
conscientizar do signi�cado desses termos. Depois, comece a completar o ou-
tro lado. Se preferir, desenhe sua própria versão de per�l.
Esse exercício tem como objetivo criar uma transição de um hemisfério do cé-
rebro para o outro. Isto é, o lado esquerdo do cérebro é o que nos faz calcular,
nomear, medir, pontuar todas as etapas de um processo e do olhar. Olhamos
aquilo que enxergamos, que vemos, portanto, é isso que temos de desenhar.
Dessa maneira, o desenho acaba, sempre, com imperfeições, pois, quando no-
meamos, sentimos a necessidade de registrar os objetos nomeados exatamen-
te como são.
Se, ao realizar esse exercício com a �gura do vaso e per�l, teve sensações de
travamento mental, você está no caminho certo: você experimentou a transi-
ção entre os dois hemisférios.
Agora, faça outro exercício, que, além de reduzir esse con�ito, fará você expe-
rimentar sensações de explorar o lado mais espacial e menos sistemático de
seu cérebro.
Exercício proposto 15
Pegue o desenho e vire-o de cabeça pra baixo. Pegue uma folha em branco e
um lápis.
Agora, você vai desenhá-lo. Tente abstrair a �gura e esquecer o que está dese-
nhando, ou seja, pense nas linhas como, apenas, linhas, qual linha é esta, quão
curva é aquela, que linha se une a outra. Depois de registrar todas as linhas
percebidas no papel, reserve este desenho.
Pegue outra folha de papel e faça o mesmo desenho novamente, mas, desta
vez, de cabeça para cima. Repita o mesmo processo, isto é, procure abstrair a
�gura.
Agora, compare os dois desenhos. O que você pode concluir?
Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expres-
são olhar para a�rmar uma outra complexidade do ver. Quando chamo alguém pa-
ra olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquan-
to ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que
curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso.
Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade
do ver torna-o um evento objetivo. Vê-se um fantasma, mas não se olha um fantas-
ma. Vemos televisão, enquanto olhamos uma paisagem, uma pintura.
Betty Edwards (2002) a�rma que, para realizarmos qualquer tipo de desenho, é
preciso dominar cinco componentes básicos, respectivos a "capacidades de
percepção":
Assim, de acordo com a autora, para se fazer um bom desenho realista do que
se percebe, usando lápis sobre papel, as cinco habilidades citadas anterior-
mente propiciarão o treinamento necessário das percepções. Vale ressaltar,
porém, que, para Edwards (2002, p. 19), um desenho considerado obra de arte
não se limita, apenas, a esses cinco elementos, pois entende que "[...] um dese-
nho criativo e expressivo [...] necessita habilidades básicas adicionais [...], de-
senhar de memória e desenhar a partir da imaginação [...]" – trataremos futu-
ramente dessas habilidades.
Enquadramento
Anteriormente, apresentamos um exemplo de croqui (desenhamos um copo) e
sugerimos que você também �zesse um (Exercício proposto 13). Retome seu
desenho e repare: como ele está enquadrado no papel? Você pensou nisso ao
desenhar? O enquadramento é um elemento importante em um desenho de
observação, e já tratamos desse elemento anteriormente, quando falamos de
"equilíbrio".
Proporção
Outro item importante que vale ser relembrado é a proporção. Saber observar
as proporções daquilo que desenhamos é essencial. Compare, sempre, as me-
didas das partes e as relações que têm entre si. Por exemplo, um cubo tem a
proporção de 1:1:1, ou seja, quando desenhamos um cubo, ele deve ser assim re-
presentado: todas as suas faces devem parecer iguais, mesmo quando em pro-
fundidade.
Ao pensar na composição, compare as distâncias que objetos têm entre si; ob-
serve que objetos mais distantes parecem menores e procure representá-los
dessa forma.
Você vai refazê-lo, mas, agora, percebendo as linhas de contorno. Desenhe so-
mente as linhas que percebe; as linhas que contornam o objeto, as linhas que o
destacam de outros elementos.
Veja, na Figura 109, como �cou a Figura 94 refeita sob essa perspectiva.
Figura 109.
Exercício proposto 16
Este tipo de exercício pode ser feito com objetos que têm muitas texturas co-
mo, por exemplo, um pedaço de casca de árvore, a palma da mão um pouco fe-
chada, um emaranhado de �os, um cesto de vime etc.
Figura 110.
É, também, desenhar uma �gura conhecida sem estar olhando para ela; é de-
senhar lembranças, o que é apreendido do cotidiano. É captar o mundo e
expressá-lo de acordo com nossa visão e nossa vivência. En�m, é expressar
nossas referências memoriais.
Pensar por imagens é uma característica humana e o modo como nós criamos es-
tas imagens condiz com o modo como vivemos e com as expectativas que temos
em nossa cultura no tempo e no espaço: ora reproduzimos o que vemos, ora damos
asas à imaginação e voamos.
Exercício proposto 17
Primeiro, escolha dois animais com os quais você tenha mais a�nidade e ten-
te visualizá-los. Pense nas suas características e desenhe cada um deles ten-
tando colocar o máximo de detalhes possível. Inclua, também, no desenho, co-
res e texturas desses animais.
Você pode, também, retomar o desenho que fez para o Exercício proposto 13.
Faça outro desenho do objeto que você escolheu para esse exercício, usando li-
nhas, texturas e proporções, mas, agora, usando apenas a memória.
Para que você possa compreender melhor, observe alguns exemplos nas
Figuras 111 e 112.
Figura 112 Desenho feito com lápis de cor e caneta colorida sobre papel azul, 2013.
Exercício proposto 18
Pegue papel e lápis e desenhe o que vier à sua mente. Desenhe livremente!
Depois, observe e aprecie o resultado. Você consegue identi�car formas reais
ou abstratas? Consegue perceber alguma referência em seu desenho?
Mais uma vez, você pode explorar o mesmo objeto que observou no Exercício
proposto 13. Se você o refez no Exercício proposto 17 usando apenas a memó-
ria, agora, você pode refazê-lo de uma forma diferente, inovadora: que tipos de
copos podemos criar? Copos que querem dizer algo, conceituais? Designers de
objetos fazem esse tipo de exercício mental – experimente também!
Comece pelo próprio corpo, observe suas formas, seus detalhes, suas nuances.
Olhe, também, para o seu quarto, os seus móveis, as suas roupas, os seus obje-
tos; lance esse olhar atento para sua casa. Depois, olhe por uma janela e veja
até onde seus olhos podem alcançar: uma rua, a parede de um outro prédio,
uma árvore, uma nuvem em movimento, a casa do vizinho, uma pessoa cami-
nhando, um cachorro descansando na calçada...
Desenho de natureza-morta
A natureza-morta é uma das temáticas mais comuns entre os desenhistas. A
pintura é a técnica mais utilizada por esse gênero, mas esse tema é também
representado por meio da fotogra�a e do desenho, sendo este último utilizado,
inclusive, como ponto de partida para a pintura.
Natureza-morta
Objetos inanimados são representados na pintura desde a Idade Média, em geral como fun-
do de pinturas religiosas de cunho realista. Mas é somente em meados do século XVI que a
natureza-morta emerge como gênero artístico independente em obras de pintores como
Pieter Aertsen (1508-1575) e Jacopo Bassano (c.1510-1592), que articulam os temas religiosos
à vida cotidiana e às cenas de gênero. As composições simbólicas e grotescas de Giuseppe
Arcimboldo (c.1527-1593) – com frutas, animais e objetos compondo �guras – alimentam o
desenvolvimento da natureza-morta no período. Na passagem para o século XVII, a �gura-
ção documental exigida pelas ciências naturais joga papel destacado na valorização de
uma arte que almeja representar os objetos e a natureza tais como empiricamente observa-
dos – por exemplo, Jacopo Ligozzi (1547-1627). Assim, o processo de paulatina autonomia
da natureza-morta acompanha tanto a pintura naturalista (associada à ilustração cientí�-
ca) quanto a pintura de gênero, exemplarmente representada pelos artistas holandeses do
século XVII e seus temas domésticos, �gurados com riqueza de detalhes. Os objetos fre-
quentemente escolhidos para compor as naturezas-mortas são: mesas com comidas e bebi-
das, louças, �ores, frutas, instrumentos musicais, livros, ferramentas, cachimbo, tabaco etc.,
todos referidos ao âmbito privado e à esfera doméstica, às vocações e aos hobbies, à decora-
ção e ao convívio no interior da casa.
A desvalorização desse gênero pictórico re�ete-se na sua própria denominação nas línguas
latinas, "natureza-morta", nature morte, e nas línguas saxônicas , still life, stilleben (vida
imóvel, vida em suspensão). Caravaggio (1571-1610) é um dos pioneiros no gênero, exercita-
do entre 1592 e 1599 (detalhe de Baco, 1593, e Cesto de frutas, 1596). A opção pela "pintura
natural das coisas naturais" (destacando a presença do corpo e a realidade pormenorizada
do objeto reveladas pelos contrastes de luz e sombra), a escolha de tipos populares para
compor cenários religiosos e o gosto por cenas de gênero marcam as obras do pintor mila-
nês, um dos primeiros a desa�ar a hierarquia imposta pelos teóricos da época, que viam a
natureza-morta como tema menor. "Custa-me tanto trabalho fazer um bom quadro de �o-
res, quanto um quadro de �guras", a�rma ele. Na Espanha, Juan Sánchez Cotán (1560-1627)
renova o gênero, valendo-se da abertura de janelas para emoldurar os objetos (Natureza-
morta com marmelo, couve, melão e pepino, 1600). No sul do país, o tema é adotado por
Francisco de Zubarán (1598-1664), que desenvolve uma obra religiosa naturalista, produzin-
do paralelamente uma série de naturezas-mortas e cenas de gênero. Em Madri, Juan van
der Hamen y León (1596-1631) confere novos contornos a esse tipo de pintura, dispondo os
objetos em diferentes níveis e reduzindo o número de elementos da cena (Natureza-morta
com frutas e objetos de cristal, 1626) (ITAÚ CULTURAL, 2011).
Agora, vamos apreciar algumas obras de artistas que utilizaram como referên-
cia a temática da natureza-morta em seus trabalhos.
Vale salientar que esses trabalhos utilizam como técnica a pintura, que, como
já dito anteriormente, é uma das técnicas mais utilizadas nesse tema. Este é o
momento de observar e perceber como os artistas trabalharam os conceitos
que você estudou até o momento, para, posteriormente, poder aplicá-los no
seu desenho. Observe as Figuras de 113 a 120.
Figura 113 Kitchen still life with a scene of the supper at Emmaus Beyond, de Pieter Aertsen and studio, 1551-1553.
Figura 114 Cesto de fruta, de Caravaggio, 1596.
Figura 115 Natureza morta com marmelo, couve, melão e pepino, de Juan Sánchez Cotán, 1602. Óleo sobre tela.
Figura 116 Still life (Natura-morta), de Giorgio Morandi, 1933. Água-forte sobre papel, 23,8cm × 24,3cm. Art Gallery of
Bornemisza, Madrid.
Figura 118 Still life (Natura-morta), de Giorgio Morandi, c. 1955. Óleo sobre tela, 35,56cm × 45,72cm. National Gallery of
d'Orsay, Paris.
Figura 120 Natureza-morta com Bíblia, de Vincent van Gogh, 1885. Óleo sobre tela, 67cm x 78cm. Van Gogh Museum,
Amsterdã – Holanda.
E, para estimularmos nossa prática, observe, nas Figuras de 125 a 127, alguns
desenhos de natureza-morta. Procure ver neles os conceitos que estudamos
até agora – composição, enquadramento, profundidade, texturas, luz e sombra
– e prepare-se para colocar em prática a representação dessa temática.
Figura 125 Grande natura morta con la lampada a destra, de Giorgio Morandi. Água-forte sobre papel, 1928.
Figura 126 Still life with grapes, de Laura Schechter.
Agora que você já analisou várias obras de natureza-morta, vamos colocar es-
sas observações em prática.
Exercício proposto 19
Repita a composição sem olhar para ela. Assim, o segundo desenho é o de me-
mória.
E, por �m, ouse: crie uma composição. Você pode usar os dois primeiros dese-
nhos como referência. A�nal, as criações não surgem "do nada"!
Bom trabalho!
Leia, a seguir, um breve histórico do desenho com essa temática e preste bas-
tante atenção às colocações sobre as imagens.
Paisagem
Antes de a paisagem ser considerada um gênero artístico, obras isoladas abordaram este
tema, por exemplo, na Roma Antiga e na pintura chinesa. No ocidente, depois de ser rene-
gada por quase toda a Idade Média, foi no período Gótico que a natureza voltou a ser valori-
zada e as paisagens passaram a ocupar o segundo plano das pinturas retábulos religiosos e
iluminuras que retratavam cenas agrícolas e atividades de lazer da nobreza – tendo uma
importante conotação simbólica.
A partir do Renascimento italiano, principalmente entre os artistas da Escola Veneziana,
cresceu o interesse artístico pela paisagem. Muito em função do próprio pensamento renas-
centista, em seu ideal naturalista e humanista, que valorizou o terreno e o humano frente ao
celestial e ao divino. O artista renascentista portava-se como um cientista que observava,
analisava e documentava a natureza através de sua prática – como podemos observar nas
paisagens de fundo de A Primavera, de Botticelli.
Porém isso não resultou, necessariamente, em uma arte insensível. Na pintura veneziana,
por exemplo, houve uma preocupação maior com a luz e a cor do que com a forma, produ-
zindo uma obra mais lírica e suave, e fazendo com que a paisagem merecesse tanta ênfase
quanto os personagens representados. Houve nesse contexto uma liberação da pincelada e
a natureza foi trabalhada de forma mais espontânea e expressiva, se comparada a obras de
outras regiões da Itália.
Essa soltura teve continuidade na arte de alguns maneiristas que intensi�caram o caráter
expressivo das imagens, constituindo linguagens bastante singulares. A Vista de Toledo
(sob tormenta), que nos proporciona El Greco, é um exemplo. Já as paisagens da mesma
época, mas realizadas por artistas dos Países Baixos, como Brueghel (por exemplo, A
Colheita, de 1565, citada na animação de abertura do jogo de Quelícera), são registros da rea-
lidade camponesa daquele contexto. É singular a integração que o artista conseguiu repre-
sentar entre o camponês e sua paisagem. Tais obras foram determinantes para que, no sé-
culo XVII, a paisagem se tornasse um gênero independente, principalmente naquela região.
Isso ocorreu também pelo fato de aquelas províncias protestantes, ao contrário das regiões
católicas e de governo monárquico, não apresentarem uma pintura Barroca vinculada aos
intuitos religiosos da Contra-Reforma, nem mesmo ao discurso da nobreza que valorizava
as temáticas eruditas (históricas e mitológicas). As paisagens setentrionais barrocas apre-
sentavam um caráter singelo e de extremo naturalismo, como vemos na Vista de Delf, de
Vermeer, diversas das paisagens de tendência classicista, frequentes na França e até em
Veneza durante o Barroco. Segundo Slive, o gênero de paisagem foi tão prolífero na Europa
Setentrional que chegaram a existir especializações, subgêneros: vistas panorâmicas, �o-
restas, estradas rurais, rios e canais, pôr-do-sol, cenas de luar, estações do ano, com ani-
mais e outras mais.
Durante o Romantismo este gênero foi ainda mais valorizado. A paisagem foi potencializa-
da como meio de simbolizar o divino, o transcendente, principalmente na Alemanha da
época. O artista romântico criticava o modo de vida e os valores burgueses cultivados no
mundo moderno, as consequências desastrosas do processo de industrialização na Europa,
da Revolução Industrial na Inglaterra, do crescimento acelerado das cidades e do excessivo
racionalismo do Iluminismo. Contrapunha, assim, civilização e natureza, servindo-se da
paisagem como forma de alcançar os valores transcendentais, esquecidos em meio aos va-
lores materialistas. A forma de registrar a paisagem durante o romantismo remetia a esse
simbolismo, um olhar que enfatizava a grandiosidade e incomensurabilidade da natureza,
que revelava a insigni�cância do homem, sua fragilidade e, principalmente, sua solidão
existencial, somente curada no retorno às raízes, à mãe natureza.
É recorrente no romantismo a paisagem que contrasta com a fragilidade do ser humano di-
ante da grandiosidade do mundo natural, que plasma o sublime, o inominável. Em
Friedrich, a natureza convida à intimidade espiritualizada, à experiência mística silenciosa.
Já o inglês Turner mostra a força incontrolável da natureza em suas catástrofes naturais.
Constable trata a paisagem como cenário para cenas idílicas, como meio de despertar emo-
ções e resgatar a tranquilidade perdida no ambiente urbano.
A temática da paisagem persistiu com os impressionistas, mas vista a partir de descober-
tas da física moderna de que a cor não reside nos objetos a priori, mas é o resultado da re�e-
xão da luz incidindo sobre a superfície. Nesse sentido, o artista impressionista estava muito
próximo do artista renascentista, ambos tomando a natureza como algo a ser observado
analiticamente. No entanto, ao contrário do renascentista, os impressionistas pintaram a
paisagem ao ar livre observando a luz natural e suas modi�cações sobre a percepção das
cores. Eles abriram mão do naturalismo em busca de uma nova con�guração da imagem
artística calcada na impressão de luzes e cores que temos quando passamos os olhos sobre
um determinado lugar. Esse objetivo teve continuidade nas décadas seguintes, como pode-
mos perceber em Van Gogh, Cézanne (o que pode ser bem observado em suas obras feitas a
partir de Montanha Saint Victoire) e, até mesmo, nas paisagens que circundam os persona-
gens das obras de [Odilon] Redon (como Boudha, 1905-1910) (CASTHALIA, 2011).
Agora, observe, nas Figuras de 128 a 133, as imagens das obras citadas anteri-
ormente, atentando para as colocações apresentadas no texto.
Figura 128 A Primavera, de Sandro Botticelli, 1478. Têmpera sobre painel de madeira.
Figura 129 Vista de Toledo, de El Greco, 1597-1607. Óleo sobre tela.
Exercício proposto 20
Escolha uma paisagem para reproduzir. Antes de iniciar seu desenho, pense
sobre o que você acabou de ler. Procure se perguntar: como lhe parecem as
coisas que o rodeiam? Quantos planos há naquilo que você observa? Já pen-
sou que você pode recriar tudo isso, toda essa re�exão, com apenas papel, lá-
pis e borracha? E, também, utilizando a imaginação, com certeza.
O corpo humano é a ferramenta que faz o ser humano "ser e estar" no mundo e
estabelecer suas relações. É ele que possibilita a ação, a efetivação de seus de-
sejos e faz a ponte entre o seu mundo interior e o exterior.
Sendo o desenho uma linguagem da Arte, este sempre esteve presente desde
que o "homem inventou o homem". Através do espaço e tempo percorridos
desde a era pré-histórica, na sua simplicidade, caminha lado a lado com o ser
humano durante sua história na Terra. Veja o que comenta Derdyk (2003, p.
12):
O desenho de �gura humana é sem dúvida, um dos temas mais explorados pe-
los desenhistas e, também, artistas. Trata-se de um tema desa�ante por envol-
ver noções de proporção e detalhes mais elaborados, exigindo uma observa-
ção mais atenta. O desenho de �gura humana é estudado há muitos séculos,
cujos resultados obtidos são utilizados até hoje como referência.
[...] construíram uma rede mecânica, em que acomodaram a �gura (18 quadros do
pé à testa), sem se preocupar com a relação dessa rede com as junções orgânicas
signi�cativas do corpo humano, seguindo um princípio de identidade mecânica
com um módulo abstrato (DERDYK, 2003, p. 145).
Todos que desejavam reproduzir a �gura humana tinham de agir desse modo,
além de aplicar a "Lei da Frontalidade".
Figura 137 Detalhe na tumba de Nakht.
Observe, no texto a seguir, o que descreve Marco Vitrúvio Pollio em Os dez li-
vros da Arquitetura, obra escrita por volta de 30-26 a.C.:
Que tal fazer, agora, uma �gura humana seguindo as indicações de Vitrúvio?
Experimente!
Observe que, quando Cennini menciona que o homem "possui uma costela a
menos que a mulher", do lado esquerdo, in�uenciado pelo poder da igreja cató-
lica na época, estava se referindo a uma velha crença, que tem sua origem no
Gênesis, no qual consta que a mulher foi criada a partir de uma costela de
Adão.
Responsável por ampla produção artística e cientí�ca, célebre por seus escritos, pe-
los retratos e pela invenção da técnica do sfumato, Da Vinci se vale sistematica-
mente do desenho – sobretudo dos desenhos com giz – para a realização de inves-
tigações e esboços. Estudos de proporção e anatomia são feitos com base na obser-
vação minuciosa de corpos humanos e de animais como em Estudos Anatômicos
de Laringe e Perna, 1510. Do mesmo modo, desenhos preparatórios de gestos e ex-
pressões são sistematicamente executados por ele.
[...] mede dois centímetros apenas: ele permite estabelecer entre os membros rela-
ções de proporção muito mais �nas que no passado, assim como levar em conside-
ração sejam as deformações impostas pelo movimento ao aspecto do corpo visto de
per�l, erguido e imóvel, seja a variedade dos tipos segundo as categorias de indiví-
duos.
Mesmo ainda preso ao cânone italiano e clássico de beleza, Peter Paul Rubens
passou a valorizar as formas femininas, distinguindo-as das do homem, e, as-
sim, revolucionou o pensamento em relação à mulher, a�rmando que o corpo
da mulher tinha formas tão perfeitas quanto às do homem (LICHTENSTEIN,
2004, p. 64-65):
O círculo, ou a �gura circular, é dominante na forma da mulher; Platão a�rma que
essa é a �gura mais bonita. O círculo e a forma arredondada são seus elementos
primitivos, são a causa e o princípio de toda beleza, assim como no homem o cubo
e o quadrado são elementos da força, da grandeza e da robustez.
Matisse absorve o que já existe e recria seus conceitos e criações. Para ele, a �-
gura representada deveria transmitir seus signi�cados, e as linhas de constru-
ções da imagem ser valorizadas.
Leia, a seguir, um trecho em que Matisse descreve como realizava suas obras:
Como podemos observar, cada artista que se refere às proporções do corpo hu-
mano o faz de acordo com suas convenções, à maneira como cada sociedade
vive e cria seus valores religiosos, morais, éticos. Como já mencionado, a Arte
é re�exo da vida experienciada por cada um.
Pense que não existem homens perfeitos nem valores exatos para o corpo hu-
mano. Portanto, o que vai in�uenciar um desenho é a forma como você vê o
modelo e a sua própria maneira de retratá-lo, o que está diretamente relacio-
nado ao seu traço pessoal, ao exercício, à percepção, à observação e, também,
à dedicação.
Exercício proposto 21
Figura 147 Pintura representando �gura humana com cocar e vestes decoradas – Sítio Mirador, Parelhas (RN).
Figura 149 Dois estudos de dorso feminino, de Gustav Klimt, 1901–1902. Giz preto sobre papel.
Figura 150 Paul Klee, c. 1940.
Figura 151 Irina, de Friedensreich Hundertwasser, c. 1960.
Dorso/corpo inteiro
Figura 164.
Figura 165 Estudo das proporções ideais nas �guras feminina e masculina.
Figura 166.
Cabeça e rosto
Figura 167.
Figura 168.
Olhos
Figura 169.
Figura 170.
Boca
Figura 171.
Figura 172.
Nariz
Figura 173.
Figura 174.
Orelha
Figura 175.
Figura 176.
Braços
Figura 177.
Figura 178.
Mãos
Figura 179.
Figura 180.
Figura 181.
Pernas
Figura 182.
Figura 183.
Pés
Figura 184.
Figura 185.
Exercício proposto 21
Experimente desenhar seu próprio corpo: desenhe as partes que consegue ver,
que estão ao alcance de seu olhar, e utilize espelhos para desenhar aquelas
que não pode ver!
14. Considerações
Neste ciclo, você teve a oportunidade de estudar os conceitos introdutórios so-
bre a percepção e a expressão bidimensional do desenho e de reconhecer al-
gumas formas que o desenho pode assumir, além dos materiais e dos suportes
do desenho. Estudamos também os elementos básicos da composição visual e
as maneiras de se expressar por meio do desenho, que é saber empregar esses
elementos e aliá-los à expressão pessoal, obtida quando passamos a praticar e
temos em mente que cada traço é particular e único e deve ser cada vez mais
entendido e explorado.
(https://md.claretiano.edu.br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Investigar os elementos da percepção visual.
• Investigar o processo de expressão.
• Identi�car e compreender a importância dos esboços e dos estudos pre-
liminares na elaboração de uma obra de arte.
• Compreender os conceitos de linear e pictórico.
Conteúdos
• Ambiguidade e cansaço visual.
• Acuidade Visual.
• O olhar solicitado.
• Processando informações.
• A construção da Expressão.
• A importância dos esboços e dos estudos para a realização de obras de
arte.
• As características do conceito de pictórico e de linear.
Problematização
De tanto ouvirmos e utilizarmos determinadas palavras, deixamos de lado os
conceitos que estão por trás delas. É evidente que não vamos investigar o
signi�cado de cada palavra que usaremos neste ciclo. Porém, você já se deu
conta do quanto a percepção é afetada pelo interesse? Você já se perguntou
sobre o que nos faz olhar especi�camente para um determinado objeto?
Orientação para o estudo
É importante que você investigue de que maneira se dá o processo da per-
cepção. Inicie o processo investigativo a partir do fenômeno da ambiguidade,
pois trata-se de determinada condição voluntária ou involuntária de in-
certeza que pode nos remeter à chamada ambiguidade gestáltica, ou seja, a
uma insegurança perceptiva diante da �gura. É fundamental que você inves-
tigue, também, a habilidade denominada acuidade visual, haja vista que é de
suma importância a análise desse processo, uma vez que, no geral, não nos
esforçamos para perceber detalhes de estruturas e de objetos observados: nos
sentimos satisfeitos com o mínimo de informações que seja su�ciente para
identi�carmos o objeto à nossa frente, ignorando o restante. Essa prática aca-
ba se transformando em um problema, uma vez que para desenharmos é ne-
cessário perceber detalhes.
1. Introdução
Neste segundo ciclo estudaremos como se dá o processo de percepção e da re-
presentação dos elementos visuais. Isso porque, como bem sabemos, as expe-
riências são diferentes, e são diferentes exatamente porque os próprios fenô-
menos podem produzir efeitos bastante diferentes. Ora, uma pessoa que vive à
beira da praia, e por isso está muito acostumada ao murmúrio das ondas, di�-
cilmente as ouvirá. Ou então, quando vemos muito frequentemente determi-
nados objetos, eles se tornam tão familiares que formamos uma imagem men-
tal deles. Essa imagem, no entanto, com o tempo, tende a �car cada vez mais
fraca.
Figura 1.
De acordo com Vernon (1968), muitas das imagens usadas na percepção são
provenientes de quadros imprecisos que estão arquivados em nossas mentes.
A implicação disso é que mesmo estando diante de objetos especí�cos, comu-
mente solicitamos tais imagens durante o processo de percepção. Ora, então,
temos uma memória visual que, diferentemente da percepção, baseia-se muito
mais no armazenamento de informações do que em informações atuais.
Porém, ambas partem do mesmo tipo de síntese: a visão de objetos externos
começa com raios de luz formados por fótons. Os raios vêm de uma fonte de
luz, batem no objeto, são re�etidos por ele e caem sobre os olhos.
2. Construção da Percepção
Em arte, mas também em ciência, o processo criativo passa pelo caráter cog-
nitivo da imaginação. Foi isso que aconteceu com Albert Einstein.
Figura 2.
A ambiguidade também pode nos remeter à chamada ambiguidade gestáltica,
ou seja, durante o processo de percepção ocorre uma insegurança perceptiva
diante da �gura (Figura 2).
Ao �xarmos nosso olhar na face ABCD do cubo, o fazemos valer como �gura
mais distante de nós. No entanto, se �xo meu olhar na face EFGH, tal face as-
sume a posição de �gura mais próxima de nós. O mesmo acontece com a es-
cada, pois ela tanto pode aparecer como uma escada normal, como pode apa-
recer invertida.
Fonte: acervo pessoal do autor.
Vejamos o que diz Coelho Netto (1989, p. 155) acerca desse fenômeno:
Nos dois casos, a construção da mensagem é feita de tal modo que não se evitou o
fenômeno da fadiga visual (ou "câimbra no olho"): não será exagero dizer que, em
termos de informação, de mensagem nova, nosso olho é mais exigente, muitas ve-
zes, do que nós mesmos, cansando-se rapidamente de uma mensagem velha e pas-
sando a explorá-la na tentativa de encontrar novas formas – achando-as se a men-
sagem as contiver.
Diante das �guras anteriores (Figura 3), devemos dizer que vemos um cubo
com sua face para baixo ou para cima? E com relação às escadas (Figura 4),
vemos uma escada normal ou uma escada invertida?
Fonte: acervo pessoal do autor.
Figura 5 Pato-lebre.
Segundo o �lósofo, há uma grande diferença entre ver a �gura de uma lebre ou
a �gura de um pato e ver a �gura da lebre-pato, mesmo que diante de tal Pato-
lebre ora vejamos uma lebre ora vejamos um pato.
O que nos interessa é o fato de que, diante de uma �gura ambígua, devemos
nos concentrar na própria ambiguidade e não nas formas separadamente, ou
seja, aproveitando para retomar os exemplos anteriores, diante de um cubo cu-
ja face tanto pode estar para baixo como para cima; diante de uma escada que
tanto pode ser vista “normal” como invertida, não devemos “ver como”, pois "O
'ver como...' não pertence à percepção" (WITTGENSTEIN, 1979, p. 191). Embora
a ambiguidade cause oscilação perceptiva na interpretação, alguns artistas
exploraram esse recurso como fator de criação e condição para a fruição esté-
tica. Com isso, "o artista busca deliberadamente esta impressão interpretativa,
com o �m de criar um efeito de oscilação e de titubeio formal” (DORFLES, 1963,
p. 38). É o caso de Salvador Dalí.
4. Acuidade Visual
Sabemos que nem todos conseguem identi�car elementos muito pequenos. A
habilidade de discriminar detalhes é chamada de acuidade visual.
5. O Olhar Solicitado
Mesmo que possamos perceber muitas coisas em nosso campo visual sem di-
rigir a atenção para elas, o que nos faz olhar especi�camente para determina-
do objeto? O que nos leva a olhar para determinada paisagem?
A princípio, podemos dizer que é o interesse que guia nosso olhar. Porém, dizer
que determinado observador percebe alguma coisa porque há interesse é ter
que admitir a existência de um conhecimento prévio, e que o sujeito anseia
por mais conhecimento.
Conforme Vernon (1968), somos mais capazes de manter a atenção com a vi-
são do que com a audição e com o tato. Isso porque temos uma capacidade
maior de controlar os órgãos da visão. No entanto, é impossível manter a aten-
ção inde�nidamente sobre determinado aspecto de uma cena.
Figura 7.
Figura 8.
O mais interessante sobre a relação que existe entre uma sombra própria e
uma sombra projetada é algo que, como diz Arnheim (1980), os olhos precisam
entender: primeiro a sombra projetada não pertence ao objeto sobre o qual é
vista; segundo, ela pertence a um objeto que na verdade ela não atinge.
Observe as imagens da Figura 10. Veja que se trata da mesma cabeça de már-
more fotografada de ângulos e com iluminações diferentes. Embora ambas
mantenham a mesma expressão, a segunda agrada muito mais ao olhar pelo
desejo por belas formas.
Fonte: Dor�es (1967, p. 39-40).
Figura 10 Cabeça de mármore de Atenas Lemnia (século V a.C); A mesma foto por Villani (Bolonha).
Logo, como se não bastasse o fato de que muitas obras da antiguidade foram
retiradas do conjunto de circunstâncias com as quais estavam intimamente
ligadas, ainda há o problema da fotogra�a, que faz com que o objeto adquira
características muito diferentes das características que originalmente esta-
vam associadas a ele. O resultado disso é que tais obras “[...] perdem uma boa
parte de seu valor intrínseco, conservando apenas uma mera aparência for-
mal que a liga às fontes culturais e históricas de onde foram retiradas”
(DORFLES, 1967, p. 33).
O mesmo ocorre com as Figuras 11 e 12. Observe que as áreas não estão ilumi-
nadas de modo homogêneo. Caso queiramos reproduzi-las, devemos analisar
a percepção, uma vez que a iluminação deverá ser levada em conta.
Fonte: Riográ�ca (1981, p. 34).
Figura 11.
Fonte: Riográ�ca (1981, p. 34).
Figura 12.
O curioso é que a consciência que usamos quando nos voltamos para os obje-
tos é a mesma quando os olhamos distraidamente. Com isso, rigorosamente
falando, não é a atenção que acrescenta informações novas ao objeto percebi-
do, uma vez que "[...] o excedente de clareza do ato de atenção não inaugura
nenhuma relação nova" (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 55).
O mesmo ocorre com os livros, por exemplo. Há um modo de existir nos livros
de Proust que é diferente do modo de existir em Kafka. Esses modos diferentes
de existência requerem leitores especí�cos. Não podemos ler Kafka a partir do
modo de existir de Proust, nem ler Proust a partir do modo de existir de Kafka.
O mesmo acontece com as cores.
En�m, qualquer objeto é codeterminado pelo caráter do ato pelo qual surge o
objeto, pois qualquer objeto tem um modo de dar-se que é exclusivamente seu.
Figura 15 Telencéfalo.
Não vamos nos ater a informações técnicas, que certamente interessariam
mais a estudantes de medicina do que a nós, arte-educadores.
Resumidamente, é interessante sabermos que os dois lados do cérebro for-
mam o telencéfalo, e que as duas metades são chamadas de hemisfério es-
querdo e hemisfério direito.
O que fazer, então, já que o lado esquerdo "domina" o lado direito? A resposta
de Edwards é bem simples: desligando o lado esquerdo! E como fazer isso?
Edwards, em seu livro, propõe uma série de exercícios cuja �nalidade é fazer
com que o lado direito do cérebro assuma o comando. Selecionamos alguns
exercícios, a �m de que possamos perceber como "desligar" o lado esquerdo do
cérebro.
Figura 17.
Figura 18 Dilma.
Veja agora, na Figura 19, o desenho feito por Giovanni Battista Tiepolo. De
ponta-cabeça, ele passa a ser tão complexo que é quase indecifrável, como
bem observa Edwards, porque a “mente” da esquerda desiste de decodi�car a
imagem.
É essa di�culdade que Edwards vai explorar, pois, para a autora, tal exercício
ajudaria o hemisfério direito a assumir o controle da situação. Essa tarefa con-
siste em reproduzir um desenho relativamente complexo que esteja invertido.
Isso forçaria o indivíduo a desenhar aquilo que de fato estivesse vendo, pois
um desenho de ponta-cabeça força uma mudança cognitiva, permitindo pas-
sar das funções cerebrais do hemisfério esquerdo para as funções cerebrais do
lado direito.
Para que esse exercício funcione, é essencial que o desenho não seja desvira-
do, pois, caso isso ocorra, o hemisfério esquerdo imediatamente voltará a as-
sumir o controle. Por que a metade esquerda do cérebro acaba "permitindo"
que a metade direita assuma o controle? Por um motivo bem simples: o lado
esquerdo tem preguiça de processar imagens invertidas.
Conforme Edwards, a maioria dos indivíduos que tem di�culdade para dese-
nhar lida com um sistema simbólico que foi adquirido ainda na infância e que
acaba in�uenciando nosso modo de ver. Isso ocorre porque, desde a mais ten-
ra infância, aprendemos a ver as coisas associando-as a palavras, ou seja, no-
meamos tudo que vemos.
Logo, o hemisfério esquerdo, que é verbal, não admite informações novas acer-
ca das coisas que vê. Para ele, é su�ciente reconhecer e categorizar. Em outros
termos, o lado esquerdo aprendeu a dar uma rápida olhada e, logo em seguida,
nomear: cadeira, guarda-chuva, pássaro etc.
8. As Formas do Espaço
No capítulo intitulado "Percebendo a forma de um espaço: os aspectos positi-
vos do espaço negativo", mais precisamente na parte em que ela descreve de
que maneira o espaço toma forma, Edwards chama nossa atenção para um
aspecto que, embora muitas vezes ignorado por quem pretende dar os primei-
ros passos na arte de desenhar, é extremamente importante: os espaços e as
formas.
A autora destaca que são necessários muitos anos de treinamento até que os
iniciantes se convençam de que a observação dos espaços negativos requer o
mesmo grau de atenção e cuidado que as observações de formas positivas.
Isso porque o hemisfério esquerdo não está equipado para lidar com espaços
vazios. Ele não é capaz de associá-los a categorias armazenadas, de
reconhecê-los, ou mesmo, de produzir novos símbolos para eles.
Mantenha a imagem dessa cadeira em sua mente até ver os espaços como for-
mas. É importante ressaltar que isso levará algum tempo. Talvez o hemisfério
esquerdo, inicialmente, considere espaço; porém, como a informação não se
encaixa ao seu estilo de análise, ele passa a tarefa para o hemisfério direito.
Fonte: acervo pessoal do autor.
Figura 20.
Após esses dois exercícios, vamos aprender agora a delimitar áreas utilizando
a ajuda de um visor. Mas, antes é preciso aprender a construí-lo:
1. Pegue uma folha de papel cartão do tamanho de uma folha de sul�te A4.
O visor deve �car na mesma posição da folha que será utilizada para de-
senhar.
2. Trace duas diagonais de modo que cruzem o centro da folha.
3. No centro da folha, desenhe um pequeno retângulo ligando as linhas ho-
rizontais e verticais. O retângulo interno, construído dessa maneira, será
proporcional à folha em que o desenho será feito.
4. Recorte o retângulo interno. Esse instrumento será muito útil para a per-
cepção dos espaços negativos, uma vez que delimitará as formas dos es-
paços.
Figura 22.
Figura 23.
9. Construção da Expressão
Enquanto os impressionistas se preocupavam com questões sociais, fascina-
dos pela luz e pelas cores da natureza, os expressionistas, em face da nature-
za, enchiam-se de dolorosas interrogações espirituais.
Embora à primeira vista a palavra "expressão" possa nos remeter a uma esco-
la cuja característica principal tenha sido a deformação como necessidade ex-
pressiva, vejamos a expressão como uma condição inerente aos padrões per-
ceptivos. Trata-se de um conceito que pode tornar-se imediatamente restrito
ou amplo demais, porque vai além das qualidades perceptivas propriamente
ditas.
Rudolf Arnhein de�ne expressão "[...] como maneiras de comportamentos or-
gânico ou inorgânico revelados na aparência dinâmica de objetos ou aconteci-
mentos perceptivos" (ARNHEIN, 1998, p. 437). Isso quer dizer que as proprieda-
des estruturais dessas maneiras de comportamentos não devem ser limitadas
àquilo que é captado pelas sensações externas, pois são visivelmente ativas
no comportamento da mente humana e são metaforicamente usadas para ca-
racterizar uma in�nidade de fenômenos não sensoriais: má disposição de âni-
mo, alto custo da vida, subida dos preços, lucidez dos argumentos, solidez da
resistência.
Forma e expressão são conceitos que se unem de maneira muito peculiar, uma
vez que as pessoas escolhem formas diferentes de se expressar.
[...] aquelas pessoas, comendo as suas batatas à luz da lâmpada, cavaram a terra
com as próprias mãos que colocaram no prato, e por isso o quadro fala de manual
labor, e como eles ganharam honestamente o seu alimento (CHIPP, 1968, p. 29).
Figura 24 Comedores de batata (1885), de Van Gogh.
Para Van Gogh, um camponês é mais real nas roupas que usa nos campos do
que quando vai à igreja no domingo, usando um casaco de cavalheiro.
Vejamos, agora, os desenhos que Van Gogh fez de trabalhadores nos campos
de batatas nas Figuras 25 e 26.
A partir das �guras anteriores, podemos dizer que há uma ordem maior, que
foi construída pela mente a partir de determinadas relações dentro da ima-
gem.
A Arte visual, como a poesia, deve, certamente, ser envolvida com os três desses ní-
veis, mas se baseia primariamente no segundo nível. Em outras palavras, há uma
tentativa de usar elementos simbólicos (arbitrários, impessoal) para comunicar (ou
expressar) signi�cados intrínsecos que se baseiam na decodi�cação [...] do signi�-
cado interno das próprias imagens construídas mentalmente.
Com as explicações de Beittel (1972), podemos a�rmar que Van Gogh já utiliza-
va, em seus desenhos, elementos simbólicos com o intuito de comunicar aqui-
lo que fora construído mentalmente a partir de signi�cados intrínsecos. Ou se-
ja, quando Van Gogh diz que escolheu a temática dos comedores de batatas,
para ressaltar a di�culdade dos trabalhadores rurais de conseguir o próprio
alimento; na verdade, essa atmosfera já era uma realidade que se impunha a
ele, mesmo antes de pintar o quadro. Ou melhor, seus desenhos já simboliza-
vam aquilo que seria evidenciado em Os comedores de batata (Figura 24).
Em seu quadro Café noturno (Figura 27), por exemplo, Van Gogh procurou ex-
pressar a ideia de que o café é um lugar onde uma pessoa pode se arruinar, en-
louquecer ou cometer um crime (plano do conteúdo).
Olhando mais atentamente para o desenho (Figura 27), podemos antever todas
as preocupações de Van Gogh. O desenho nos revela, embora evidentemente
sem as cores, tudo aquilo que veríamos mais tarde na tela chamada Café no-
turno.
Logo, assim como em Os comedores de batata (Figura 24), o universo do con-
teúdo não está constituído apenas pelo universo de signi�cados que preen-
chem as formas. Em outras palavras, toda a atmosfera que seria imortalizada
por meio das tintas já estava nos desenhos. Por isso, podemos dizer que as
preocupações de Van Gogh já estão no desenho, mas com outros signi�cantes.
Pierre Francastel, em seu livro A Realidade Figurativa, fala coisas muito inte-
ressantes sobre os signos que servirão para concluirmos nossas observações.
Como o próprio autor conclui, a Arte não é o resultado de uma expressão pura-
mente individual. Logo, não alcançamos a arte de Van Gogh simplesmente a
partir dos signos que ela traz e, muito menos, a partir do produto do jogo de
uma expressão individual.
Pelo fato de ser o signo plástico o lugar onde se encontram e interferem elementos
oriundos dessas três categorias de elementos ele não é nem apenas expressivo
(imaginário e individual), nem representativo (real e coletivo), mas igualmente �-
gurativo (ligado às leis da atividade óptica do cérebro e às leis das técnicas de ela-
boração do signo enquanto tal).
Há, por trás do meio que será utilizado, traços expressivos que podemos cha-
mar de expressividade do material. De acordo com Morawski (1977), podemos
falar com bastante propriedade de uma expressão integral que compreende
elementos tão evidentemente físicos como o movimento na dança, os traços
prosódicos e métricos da poesia e a composição grá�ca. Portanto, é correto fa-
larmos de expressividade do meio, uma vez que o material nos proporciona
qualidades valorativas fundamentais. Acompanhem a descrição a seguir:
[...] o sacerdote troiano Laocoonte advertiu seus compatriotas para que não aceitas-
sem o cavalo de madeira em que estavam escondidos os soldados gregos. Os deu-
ses que viram seus planos de destruição de Tróia contrariados enviaram duas gi-
gantescas serpentes-do-mar que apanharam o sacerdote e seus dois infelizes �lhos
em seus anéis e os estrangularam. É uma das histórias de absurda crueldade per-
petrada pelos deuses olímpicos contra pobres mortais, e que são freqüentes nas mi-
tologias grega e latina (GOMBRICH, 1985, p. 74).
Conforme Gombrich (1985), quando esse grupo foi descoberto, em 1506, causou
profundo impacto emocional nos artistas e todos os que amavam a arte.
O artista, ao representar esse grupo, buscava registrar o quê? Queria que sen-
tíssemos o horror da cena exatamente como ela aconteceu? Queria que sentís-
semos a dor que Laocoonte sentiu ao ver o sofrimento de seus �lhos?
Embora não tenhamos a mesma sensação com o desenho, isso não quer dizer
que um desenho tenha menos expressividade. Basta que ele seja trabalhado
respeitando suas qualidades expressivas.
As dimensões do corpo como aparecem num plano – tudo o que estivesse fora do
plano não era levado em conta – eram expressas em comprimentos de cabeças, ou,
mais exatamente, de face [...]. Assim, segundo o Manual do pintor do Monte Atos,
uma unidade era destinada ao rosto, três ao torso, estimada em 1 1/3 unidades.
Ou seja, perceber objetos em três dimensões requer esforço físico, ao passo que
perceber objetos em duas dimensões, não. Ainda para Poincaré (1988, p. 56): “A
terceira dimensão não nos aparecerá como exercendo o mesmo papel que as
outras duas".
Com tal método, os artistas acreditavam ter encontrado uma maneira precisa
de simular aquilo que o olho efetivamente vê. A chave da questão pode ser re-
sumida da seguinte maneira: uma imagem em perspectiva é construída a par-
tir de um ponto de vista único.
Figura 33 De Prospectiva Pingendi, Piero della Francesca, livro 1, proposição 30, p. 17. In: Piero della Francesca, A
Mathematician’s Art.
Figura 34 A �agelação de Cristo, Piero della Francesca, c. 1412-1492 (Galleria Nazionale delle Marche, Urbino).
Field (2005) observa que o fato de De prospectiva Pigendi explicar, em tese, co-
mo utilizar a perspectiva de maneira correta não garante que o leitor não ti-
vesse de estudar longas séries de instruções que acabariam intimidando o in-
teressado.
Venturi (1954), em um estudo biográ�co e crítico sobre Piero, diz que à sua
época o conhecimento da realidade era o resultado não de uma revelação de
Deus, como na Idade Média, mas de um estudo perspectivo da natureza.
Sobretudo, para Piero, a perspectiva era vista como um problema estritamente
da pintura e não como um problema cientí�co (FOCILLON, 1991).
Field (2005) relata que nos afrescos (técnica de pintura que consiste em reves-
tir de argamassa uma parede e, em seguida, pintar sobre a massa ainda fres-
ca) de Piero há indicações de transferência de desenhos preliminares, e a uni-
formidade encontrada entre elementos repetidos, como cabeças, demonstra
que havia padronização de alguns elementos. Com isso, o ponto de vista era
determinado somente depois que a forma perfeita do objeto fosse completada.
Esboços
Embora possamos falar que o desenho assume importância capital no
Renascimento, o grande Rafael Sanzio, mestre da pintura e da arquitetura da
escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição
e suavidade de suas obras, valia-se de vários esboços antes de �nalizá-las. É o
que podemos observar em um de seus cadernos de esboços, que contém qua-
tro estudos para a elaboração da obra Virgem do Prado (1505).
Gombrich (1985, p. 14) destaca que: “O que Rafael procurou repetidamente con-
seguir foi o equilíbrio correto entre as �guras, uma relação certa que culmi-
nasse no todo mais harmonioso". Para que você possa compreender melhor,
observe nas Figuras 35 e 36 algumas de suas obras.
Figura 35 Virgem do Prado.
Assim, ao admirarmos essa verdadeira obra de arte, disposta na Figura 35, não
imaginamos os desenhos que foram feitos até chegar ao resultado �nal. O sen-
so comum acredita que os gênios da pintura simplesmente pintavam, espera-
vam a inspiração, algo quase divino, e criavam a obra-prima.
Mas, como vemos, as coisas não são bem assim. Tudo depende de um elabora-
do estudo, de uma composição (no caso de Rafael, triangular), da utilização
harmoniosa das cores etc.
Outro exemplo que podemos utilizar é o esboço que Rafael fez para Madonna e
a criança (1503) nas Figuras 37 e 38. Observe como os traços são próximos.
Podemos constatar que quando Rafael usa o desenho apenas com a �nalidade
de organização, ele se vale de desenhos feitos, digamos, com menos detalhes.
Assim, é possível a�rmar que o desenho assume importância (não que os es-
boços não sejam importantes) quando a �nalidade primeira do desenho deixa
de ser a organização e passa a ser o estudo.
Os estudos
Para que você possa compreender melhor, observe a seguir alguns estudos fei-
tos por Rafael e compare-os com os esboços da Virgem do Prado e da
Madonna com a Criança, dispostos nas Figuras 39 e 40. Vejamos o que eles
trazem de importância por si mesmos.
Os quadrados que vemos, que eram em escala menor, serviriam para que o de-
senho fosse facilmente transferido para uma área maior. Uma informação in-
teressante, e que vale a pena ser destacada, está relacionada à referência para
o desenvolvimento da obra. Clark (1987) observa que para dar conta do braço
esquerdo de Cristo, Rafael praticamente copiou a mesma postura de Cristo de
Michelangelo.
Observe que no estudo para a obra A deposição de Cristo (Figura 39) já é possí-
vel antever o resultado �nal, ou seja, Rafael não representou a dor de Cristo de
uma maneira violenta; ele preocupou-se em transmitir um tipo de resignação
dolorosa.
Observe mais alguns estudos apresentados nas Figuras 42, 43, 44 e 45.
Outro artista que podemos citar é Salvador Dalí. Apesar de saltarmos dos de-
senhos de um artista do século 16 para os desenhos de um artista do século
20, as características, no geral, permanecem praticamente as mesmas.
Uma pessoa que não conheça nenhuma obra de Salvador Dali – o que é prati-
camente impossível, pois seus quadros foram abundantemente reproduzidos
–, olhando para alguns esboços, não terá a dimensão exata de seu talento para
o desenho. Vejamos dois esboços que ele fez: o primeiro, para a obra
Descoberta da América por Cristóvão Colombo (Figura 46), e o segundo, para
Atleta cósmico (Figura 47).
Nesses dois retratos, embora ainda sem muitas de�nições, já é possível notar
que os desenhos foram feitos, digamos, com "menos pressa". Ainda podemos
ver a circularidade das linhas com mais detalhes. É interessante observar,
também, que os desenhos, principalmente os primeiros, já apresentam mais
elaboração plástica. Vamos passar, agora, para estudos mais elaborados e
constatar o extraordinário desenhista que foi o mestre do Surrealismo.
No estudo de Dali, podemos observar que Leda Atômica (Figura 52) está inscri-
ta em uma estrela, que forma um pentágono e que, por sua vez, está inscrito
em um círculo. Contudo, a composição toda foi organizada dentro de um re-
tângulo áureo, ou seja, matematicamente elaborado.
Figura 53 Desenho para O Cristo de São João da Cruz, Salvador Dali, 1950.
Figura 54 Cristo de São João da Cruz, 1951.
Em outras palavras, os personagens que aparecem nos estudos feitos pelos ar-
tistas já trazem grande força expressiva e qualidades plásticas que podem ser
consideradas verdadeiras obras-primas. Os desenhos, diferentemente dos de-
senhos da Idade Média, não são mais a primeira etapa de uma pintura, mas a
própria obra.
No entanto, Moir (1989) observa que como os esboços eram feitos, provavel-
mente, em pedaços de papel e descartados assim que serviam aos seus propó-
sitos (também porque Caravaggio não teve nenhum assistente para apanhar
tais papéis e guardá-los), não temos registro de nenhum de seus desenhos.
Por exemplo, alguns livros ainda trazem a informação de que a Idade Média
foi a Idade das Trevas, o que não é verdade, pois, conforme observa Panosfky
(1979), a herança da Antiguidade clássica não foi ignorada em momento al-
gum.
Outro exemplo que podemos citar refere-se a pintores clássicos e pintores ro-
mânticos. Como observou Gombrich (1985, p. 125): "[...] as datas são cabides in-
dispensáveis onde pendurar a tapeçaria da história [...]". Assim, os anos de
1755 e 1756 marcam o início de dois movimentos artísticos muito importantes:
o Classicismo e o Romantismo.
Figura 56.
Isso porque em todas as épocas há artistas que apelaram para nossas emo-
ções, mediante o uso das cores, e artistas que satis�zeram nossas necessida-
des de ordem e permanência, criando estruturas e composições que são per-
feitas em si mesmas.
Por exemplo, artistas como Rafael e Caravaggio podem ser considerados ro-
mânticos, ao passo que muitos dos trabalhos de Rembrandt foram feitos a par-
tir de uma estrutura clássica.
14. Linear
A palavra linear, em termos de pintura e, principalmente, em termos de dese-
nho – que é o que mais nos interessa neste momento – nos remete, logo de
início, à linha. Portanto, poderíamos concluir que um desenho linear é aquele
que traz a linha como marca expressiva principal. No entanto, não é tão sim-
ples assim.
Quais são, então, as características que devemos observar para podermos clas-
si�car uma obra como linear? Para responder a essa questão, observe as obras
dispostas nas Figuras 57 e 58.
Veja que a temática das duas obras é exatamente a mesma, ou seja, Nossa
Senhora ladeada por santos. Não obstante estarmos diante de um mesmo con-
teúdo, intuitivamente somos capazes de observar certas diferenças.
A começar pela obra de Rafael (Figura 57), o que mais nos chama a atenção
talvez seja a cor, por tratar-se de uma pintura. Isso não quer dizer que na obra
de Pietro da Cortona (Figura 58) a cor não tenha sua importância.
Na verdade, ela foi usada de uma maneira vívida, que imprime frescor à obra;
já no quadro de Rafael, apesar da cor, o elemento primordial é o desenho. Isso
porque a maioria dos �orentinos não considerava a cor um dos principais
meios para dar unidade à pintura.
De acordo com Gombrich (1985, p. 249), "[...] preferiam fazer isso por meio da
perspectiva e da composição, ainda antes de mergulharem seus pincéis na
tinta".
Vale ressaltar que o ponto principal no comparativo entre as duas obras é que
no quadro de Pietro da Cortona, mesmo se tratando de uma cena tranquila, há
um ar de grande energia e vigor, o qual não encontramos no quadro de Rafael.
Numa obra linear, o contorno dos objetos é valorizado e a beleza do objeto sur-
ge basicamente a partir da linha. Em outras palavras, ver de forma linear sig-
ni�ca: "[...] procurar o sentido e a beleza do objeto primeiramente no contorno
– também as formas internas possuem seus contornos" (WÖLFFLIN, 1989, p.
21).
É evidente a luz e a sombra nas obras, contudo, observe que a linha delimita
as margens com maior evidência, ou seja, o contorno que envolve a forma é
feito de maneira acentuada. Com isso, uma forma distingue-se da outra de
maneira bem nítida.
15. Pictórico
Agora, deixaremos a linha de lado e passaremos a nos preocupar com as mas-
sas, pois são elas que, basicamente, caracterizam o estilo pictórico.
A partir do que Wölf�in (1989) coloca, vemos que a aparência das coisas passa
da determinação da forma pela linha para a indeterminação da forma pela luz
e pela sombra. Observando os dois desenhos nas Figuras 61 e 62, podemos
constatar isso.
Veja o desenho da Figura 63, feito por Peter Paul Rubens. Observe que ele traz
as mesmas características do desenho de Rembrandt, Saskia com uma crian-
ça. Trata-se de uma obra pictórica por trazer elementos que se unem a um to-
do, proporcionando a impressão de um movimento contínuo.
Mas, seria algo que nós, na realidade, não precisaríamos ter consciência para
desfrutar das obras. Agora, no entanto, parece-nos que olhar a obra em seu
conjunto é essencial para a fruição, ou seja, para o deleite estético de cada um.
Não mais olhamos detalhes individuais, pois não há mais detalhes para se-
rem vistos, mas sim formas que dialogam.
Segundo o mesmo autor, pode ser chamada de pictórica, por exemplo, a �gura
de um mendigo com suas roupas rasgadas, seu chapéu amassado e seus sapa-
tos furados. Portanto, todos esses elementos trazem consigo as marcas de
uma vida rica e �uida.
É por isso que algumas pessoas se sentem esteticamente atraídas por cenári-
os que, na vida real, são desoladores, mas como temática para pintura são
muito atrativos.
Wölf�in (1989, p. 27) continua sua análise, observando que um interior será
pictórico quando a ênfase não:
Já no século 15, havia uma sensibilidade em relação à linha, porém foi no sé-
culo 16 que a Itália tornou-se a grande escola da linha pura, ou seja, do
Renascimento. Mesmo com o surgimento do Barroco, os italianos não abando-
naram a linha completamente, pois, para os sentimentos dos italianos, “[...] a
linha sempre foi mais ou menos o elemento no qual toda a forma artística se
manifesta" (WÖLFFLIN, 1989, p. 34).
Como você pôde notar, no quadro de Rubens, a modelação foi feita a partir de
manchas, com as linhas das formas destruídas por completo. Retomando o
que já foi dito anteriormente, aqui todos os pontos se misturam animados por
um movimento misterioso. Rubens brinca com a luz e a sombra, pois elas já
não funcionam mais como no Renascimento. Aqui, elas têm independência.
En�m, o estilo pictórico somente "[...] se revela claramente quando a luz adqui-
riu uma vida própria, que rouba a forma plástica do domínio da tangibilidade
imediata" (WÖLFFLIN, 1989, p. 62).
16. Considerações
Neste ciclo você teve a oportunidade de investigar os elementos da percepção
visual e como se dá o processo de expressão. Pode, também, identi�car e com-
preender a importância dos esboços e dos estudos na elaboração de uma obra
de arte. A partir dessas investigações você entrou em contato com dois con-
ceitos muito importantes para o processo de expressão: o conceito de pictórico
e o conceito de linear.
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivos
• Conhecer os materiais utilizados em algumas técnicas de pintura.
• Compreender os métodos de utilização das tintas, pigmentos, aglutinan-
tes, vernizes, solventes e diluentes.
• De�nir a função da pintura no marco das artes visuais e de outras ativi-
dades a�ns e a atitude do pintor, tipi�cando sua função nos campos da
representação e da interpretação.
• Aprender a ver e a observar.
• Aprender a desenvolver a sensibilidade, a percepção e a imaginação.
Conteúdos
• De�nições e formas de utilização de tintas, pigmentos, aglutinantes, ver-
nizes, solventes e diluentes, pincéis, paletas e godês.
• Conceitos básicos para a compreensão da pintura no complexo panora-
ma da arte.
• Funcionamento do sentido da visão.
• A maneira de olhar do pintor e do espectador.
• Empecilhos à ação de observar.
• Exemplos de diferentes tipos de percepção.
Problematização
Todos os dias, de alguma maneira, nós lidamos com as tintas, seja ao escre-
ver, pintar ou imprimir. As tintas estão em nosso cotidiano e isso é um fato.
Mas você sabe de que maneira essa peça fundamental do desenvolvimento
das civilizações é fabricada? Sabe quais são os materiais que a compõem?
1. Introdução
Neste terceiro ciclo estudaremos a tinta e os elementos da linguagem pictóri-
ca. Os materiais que serão apresentados neste ciclo serão de muita utilidade,
pois o auxiliarão na hora de escolher os produtos que mais condizem com su-
as técnicas. Veremos a tinta e os outros materiais que dela fazem parte.
Posteriormente, conheceremos as resinas e os vernizes, materiais que auxili-
am para uma melhor qualidade dos efeitos pictóricos. Também veremos os
solventes e os diluentes, o que são e para que servem. Veremos também que ao
de�nir a pintura e analisar o ato de pintar, ao tratar da atitude do pintor peran-
te a natureza que o circunda e a sociedade da qual faz parte, conferimos ao
conceito da arte o seu signi�cado mais amplo: aquele que se refere à capacida-
de que o ser humano tem de dominar a matéria para realizar uma ideia.
Também é importante que você tenha em mente que a pintura está sempre ao
nosso redor, só temos que aprender a vê-la. Outro dado importante é o que diz
respeito ao suporte de pintura, ou seja, a superfície que se deseja pintar. Por is-
so, o suporte deve ser escolhido de acordo com suas necessidades.
2. Tinta
Todos os dias, de alguma maneira, nós lidamos com as tintas, seja ao escrever,
pintar ou imprimir. As tintas estão em nosso cotidiano e isso é um fato. Mas
você sabe de que maneira essa peça fundamental do desenvolvimento das ci-
vilizações é fabricada? Sabe quais são os materiais que a compõem?
Aglutinante
O aglutinante, também conhecido como “veículo” ou “ligante”, é um elemento
que tem a função de ligação dos pigmentos entre si e, ao mesmo tempo, possi-
bilita o poder de adesão a um suporte. Essa adesão ocorre após o diluente eva-
porar, devido a diversos processos determinados pela natureza do aglutinante.
O aglutinante deve resistir bem aos diluentes, aos pigmentos, à luz e a uma va-
riação de umidade e calor, para uma boa permanência da tinta. Ele também é
responsável pelas características próprias de cada tinta, dependendo de sua
origem. Observe, no Quadro 1, uma relação dos tipos de tinta e alguns de seus
respectivos aglutinantes.
Pigmento
Um pigmento (Figura 1) é uma substância colorida, que, quando dividida, pas-
sa seu efeito de cor a outro material. Quando um pigmento é misturado ou
moído em um veículo líquido para formar uma tinta, ele não se dissolve, mas
permanece disperso no líquido. As substâncias que se dissolvem em líquidos
são chamadas de corantes. Os materiais utilizados como pigmentos artísticos
possuem outros requisitos além da cor – são as propriedades físicas e estrutu-
rais.
Alguns fatores devem ser analisados para se trabalhar com pigmento de tinta.
Inicialmente, é necessário observar se o pó é macio e foi dividido �namente,
pois, quanto mais �no é o pó, melhor é sua mistura. É importante também ve-
ri�car sua resistência à luz solar, sem que ocorra mudança de cor. O pigmento
também não deve exercer reação química sobre a tinta à qual será adicionado.
Deve ter o grau de opacidade e transparência para o propósito que o artista
quer obter. Por �m, deve ser adquirido em estabelecimentos con�áveis, que
atendam aos critérios de qualidade.
Vale ressaltar que, ao utilizar pigmentos em pó, você deve ter muito cuidado. A
proteção apropriada para o manuseio dessas substâncias é altamente neces-
sária.
Os pigmentos ainda podem ser classi�cados de acordo com seu uso e sua du-
rabilidade. As cores inorgânicas sintéticas, por exemplo, são geralmente as de
maior durabilidade em quase todos os usos.
Existem muitos aspectos de cor e luz, e cada um deles é um campo único, por
exemplo: harmonia de cores, classi�cação ou anotação de cores e a cor consi-
derada em diversos estudos (estético, psicológico ou cientí�co).
Cada pigmento de tinta deve sua cor aos tipos de raios de luz que absorve ou
re�ete. Quando um raio de luz pousa sobre um pigmento, ele absorve certas
ondas e re�ete outras, e isso determina o efeito de sua cor.
Diluente e solvente
Os diluentes, também chamados de médiuns, são elementos usados para re-
duzir a concentração de uma solução, por adição de um líquido condizente
com a tinta. Para as tintas à base de água, o diluente será a água destilada.
Para as tintas a óleo, o diluente será a terebentina ou o óleo.
Resina e verniz
A resina é uma substância adesiva não solúvel em água, utilizada para com-
por o verniz. Ela pode se originar de um derivado do petróleo ou de substânci-
as de plantas, por meio de secreções, o que a divide em dois tipos: sintéticas e
naturais. Pode passar do estado líquido para o sólido mediante um processo
chamado de "polimerização".
3. Pintura
A pintura é uma das "belas artes", denominação essa que desde o início do sé-
culo 19 englobava a arquitetura, a pintura, a escultura e a música (posterior-
mente a gravura ocuparia o lugar da música). O gradual reconhecimento de
outras formas de expressão artística, como a fotogra�a e o vídeo, fez com que
a meados do século 20 se passasse a usar a denominação "artes visuais" e
mais tarde "artes da imagem", termos mais amplos, capazes de abranger os re-
sultados de uma multiplicação de meios e técnicas que hoje torna difícil a de-
limitação de fronteiras entre elas. Ao longo dessa evolução houve, porém, uma
denominação que manteve seu uso desde os primórdios: "artes plásticas", tal-
vez por quali�car melhor que "belas artes". Ela se refere à arte de plasmar, mo-
delar, de produzir formas sensíveis por meio de cores, linhas, volumes, por
efeito das mãos de um artista.
4. Pintar
Das trinta e duas acepções que na língua portuguesa tem a palavra pintar, três
devem ser levadas em conta pela sua direta relação com nossos estudos:
Figura 4 Composição com linhas, 1917. Abstracionismo, Piet Mondrian. Otterlo, Museo Kröler-Müller.
Figura 5 Planos em superfícies moduladas, 1956. Concretismo, Lygia Clark.
Vamos, agora, a um breve texto que nos ensinará como denominar, de manei-
ra correta, os pintores pro�ssionais.
Sócrates: [...] "Agora observa isso. Com relação a cada coisa, a pintura se faz tendo
em vista o quê? Ela imita tendo em vista o que é, tal como é; ou aquilo que aparece,
tal como aparece; é a imitação [mimesis] de um fantasma [phantasma] ou de uma
verdade?"
Glauco: "De um fantasma".
Sócrates: "Longe então da verdade está a arte da imitação. E se isso tudo produz, é,
ao que parece, porque apreende apenas um pouco de cada coisa, e esse pouco é um
simulacro [eidolon]. Assim como, digamos, o pintor nos pintará um sapateiro, um
carpinteiro e outros artesãos, sem conhecer nenhuma dessas artes. Mesmo assim,
se for bom pintor, tendo pintado um carpinteiro e mostrando-o de longe, poderia
enganar crianças e homens tolos, levando-os a crer que seja um carpinteiro de ver-
dade." [...]
Sócrates: "Não devemos então a�rmar que todos os poetas, a começar por Homero,
imitam simulacros da virtude, e das outras coisas que produzem, e não apreendem
a verdade? Mas, como dizíamos a pouco, não fará o pintor o que parece ser um sa-
pateiro, sem conhecer ele próprio a arte da sapataria, assim como aqueles para os
quais ele pinta e que julgam a partir de cores e formas?" [...]
"Assim também, creio que diremos que o poeta – ele próprio não sabendo mais do
que imitar – reveste de cores, com palavras e frases, cada uma das outras artes de
modo a parecer a outros tais, que julgam a partir dos discursos, falar muito bem,
quando fala da arte do sapateiro, da estratégia, ou de qualquer outra coisa com rit-
mo, metro e harmonia. Tamanho é o encanto que esses, por natureza, possuem.
Pois, despidas das cores da música e proferidas por si só, creio que sabes como pa-
recem essas obras dos poetas. Certamente as observaste."
Glauco: "Sim".
Sócrates: "Não se assemelham às faces dos que são jovens, mas não belos, quando a
�or da juventude as abandona?" (PLATÓN, 1964, p. 293).
Figura 6 La Grenouillère, 1869. Claude Monet. Óleo sobre tela, 75 x 100 cm. N.Y. Metropolitan Museum.
Figura 7 La Grenouillère, 1869. Auguste Renoir. Óleo sobre tela, 75 x 100 cm. N.Y. Metropolitan Museum.
Realismo
Quando se fala de realismo em geral, é bom distinguir a Arte Realista (Figuras 9 e 10), nome
que Gustave Courbet deu em 1846 a um movimento destinado a "combater os erros de ro-
mânticos e classicistas" (PIJOAN, 1970, p. 149) e que se estendeu por todo o ocidente a mea-
dos do século 19. Foi a primeira vez que os pintores saíram para pintar paisagens ao plein
air (ar livre) e também quando os trabalhadores se converteram quase num tema único.
Figura 9 O abrevadero, 1846. O Realismo francês do século 19, Thèodore Rousseau. Museu de Orsay, Paris.
Figura 10 Mulheres peneirando trigo, 1854. O Realismo francês do século 19, Gustave Courbet. Museu de Nantes.
Figura 11 Case al'Estaque, 1907. Pintor cubista, Georges Braque. Museu de Belas Artes de Berna.
Figura 12 Clamart, 1943. Pintor expressionista, Maurice Vlaminck. Coleção particular, França.
Figura 13 Fumo sobre telhados, 1912-1915. Pintor Cubista, Fernand Léger.
Figura 16 Arco da ponte de Manhattan, 1928. Edward Hopper. Galeria de Arte Addison, Andover.
Figura 17 Façade, 1974. Hiperrealismo, Richard Estes. N.Y. Allan Stone Gallery.
[...] muitas máscaras dos negros africanos, cujas esculturas são geralmente mono-
cromáticas, podem ser pintadas de vários tons. O artesão negro serve-se para isto
de cores naturais: branco de cal (a cor da morte), vermelho extraído de ervas, negro
de fumaça (PIJOAN, 1969, p. 17).
5. O Sentido da Visão
Saber ver é mais importante que saber pintar; antes de aprender a pintar é ab-
solutamente necessário aprender a ver, e esse é um aprendizado válido tanto
para o pintor, como para o espectador, e, no �m das contas, para todo e qual-
quer ser humano. O olhar de um pintor é um olhar analítico, ele não pode se li-
mitar a ver, tem que observar; não por nada a primeira matéria que um estu-
dante de artes plásticas estuda chama-se Desenho Analítico, em algumas es-
colas, e Desenho de Observação, em outras.
O exercício periódico deste tipo de desenho é o que desenvolverá essa sua ha-
bilidade particular. Mas a capacidade de observar e de analisar deverá ser de-
senvolvida também pelo espectador, se pretender uma comunicação plena. E
não só isso, a sensibilidade, a capacidade de perceber e imaginar, capacidades
que todo mundo tem, mas nem sempre são desenvolvidas, deverão também
ser comuns ao emissor e ao receptor. É tudo isso que pretendemos abordar,
além de dar algumas orientações úteis.
Antes de mais nada, vamos compreender como funciona a visão: dito em pou-
cas palavras, o olho de um ser humano consiste em um cristalino ajustável
pela ação muscular para que focalize uma imagem sobre a retina, de onde o
nervo ótico a levará até o cérebro. Portanto, por melhor que funcionem nossos
olhos, veremos somente aquilo que temos aprendido a ver ou que estamos
acostumados a ver. Os olhos podem nos dar uma imagem perfeita de uma pá-
gina em chinês, mas, por mais que a olhemos, essas estranhas linhas não sig-
ni�carão nada se não conhecemos essa língua. Vemos um homem sentado
numa barca no meio do lago e outro sentado na margem bem na nossa frente,
mas nem por isso deduzimos que o primeiro homem seja menor que o segun-
do, e sim que o primeiro se encontra à maior distância de nós que o segundo.
Vemos trilhos do trem juntando-se no horizonte, mas nem por isso achamos
que eles se juntarão realmente.
Essas duas declarações têm a ver com a famosa discussão entre os dois �lóso-
fos: Schopenhauer dizia que o mundo sensível era nossa representação e que a
luz não existia se não a víssemos, e Goethe lhe respondia: "Não, o Sr. não exis-
tiria se a luz não o visse" (1993, p. 15).
Muito bem, é lógico pensar que uma pessoa que padecesse de uma determina-
da lesão cerebral não poderia perceber nada do que vê, mesmo que conservas-
se o órgão da visão intacto; para ela a realidade não existiria então, mas isso
não quer dizer que a realidade não exista efetivamente, a realidade não existe
da mesma maneira para todas as pessoas, pois, como diz um ditado popular,
"tudo é segundo a cor do cristal com que se olha".
O que interessa agora é deixar bem clara a diferença entre olhar, ver e obser-
var. Posso estar olhando uma imagem num livro sem vê-la, porque nesse ins-
tante estou "vendo" uma outra imagem que veio a minha memória. Posso es-
tar vendo a imagem do livro, mas não "observando-a", pois nesse momento te-
nho pressa em virar a página e observar, quer dizer, examinar minuciosamen-
te; olhar com atenção; estudar. Dito de outra maneira: pode-se olhar sem ver?
Claro que sim! O nervo ótico está transmitindo-me uma imagem, mas meu cé-
rebro, meu intelecto, está vendo outra, talvez do passado, da memória. Pode-se
ver sem observar? Certamente, é o que geralmente se faz hoje: a maioria das
pessoas não se detém a analisar o que estão vendo, geralmente se conformam
com a interpretação do próprio meio que lhe apresenta as imagens. Por exem-
plo: dois jornais me mostram a mesma imagem de um rapaz com os braços
abertos diante de um tanque de guerra. No pé da foto de um leio: "Estudantes
param tanques", e no outro: "Tanques massacram estudantes". Falta a inter-
pretação de meu intelecto porque eu não estive no lugar dos fatos, e mesmo
que estivesse, tenho certeza de que a minha "leitura" seria diferente das de ou-
tras pessoas que lá também estivessem.
Não, aqui se trata de observar, de olhar com atenção. Mas como podemos fazer
isso em meio à poluição de imagens na qual estamos imersos hoje? Por mais
rápido que seja nosso cérebro, ele não pode analisar todo esse excesso de in-
formação. Onde está esse pedaço de céu limpo, esse horizonte do mar, essa
noite fechada onde nossa mente possa re�etir sobre o que nossos olhos vi-
ram? Qual é o tempo e o silêncio que hoje temos para "olhar minuciosamente,
olhar com atenção, estudar" todas as imagens que vemos durante o dia? O pró-
prio Newton, grande físico e matemático inglês que desenvolveu estudos fun-
damentais sobre ótica e sobre as leis da gravitação, dizia que suas observações
mais importantes (a formação do espectro solar, a força da gravidade etc.) fo-
ram realizadas fora da cidade, na paz do campo. Os artistas necessitam de
ócio, o espectador, o público, o observador também precisa de um tempo para
o lazer.
Quando vou ver uma exposição, faço primeiro uma vistoria geral, selecionan-
do os quadros que mais me interessam. A esses quadros dedico depois outra
visita para observá-los melhor. Certos quadros são como certos �lmes: preci-
sam ser observados mais de uma vez.
Muito mais tarde, no século 19, a técnica divisionista dos impressionistas nos
obrigaria não somente a nos afastarmos do quadro para contemplá-lo, mas
também a fazer isso entrefechando os olhos.
[...] é a própria tranqüilidade da beleza sem sentido da matéria que acho metafísica,
e tanto mais metafísicos são os objetos que pela luminosa precisão de suas cores e
a exatidão de suas proporções se acham nas antípodas de qualquer confusão (apud
GUGLIELMINO, 1975, p.148/149).
Uma das pinturas de Giorgio De Chirico pode ser observada na Figura 28.
Figura 26 Cadeau (presente). Man Ray, 1921.
Figura 27 Natureza morta na praia. Filippo De Pisis, 1932. Óleo sobre tela. Galeria de Arte Moderna, Milano.
Figura 28 As musas inquietantes. Giorgio De Chirico, 1917. Óleo sobre tela, Galeria de Arte Moderna, Milano.
Mas agora vejamos o que diz Ernesto Sábato:
[...] Dizemos cadeira, janela ou relógio, palavras que designam meros objetos, e, no
entanto, de repente transmitimos algo misterioso e inde�nível, algo que é como
uma chave, como uma mensagem inefável de uma região profunda do nosso ser.
Dizemos cadeira, mas não queremos dizer cadeira, e nos entendem. Ou pelo menos
nos entendem aqueles aos quais a mensagem secretamente se destina. Assim,
aquele par de tamancos, aquela vela, essa cadeira, não querem dizer nem esses ta-
mancos, nem essa vela macilenta, nem aquela cadeira de palha, e sim Van Gogh,
Vincent; sua ansiedade, sua angústia, sua solidão; são antes seu auto-retrato, a des-
crição de suas a�ições mais profundas e dolorosas. Valendo-se de objetos deste
mundo aparentemente árido que está fora de nós, que talvez estivesse antes de nós
e que muito provavelmente nos sobreviverá. Como se esses objetos fossem trêmu-
las e transitórias pontes para transpor o abismo sempre aberto entre nós e o uni-
verso, símbolos daquilo profundo e recôndito que re�etem; indiferentes e apagados
para quem não é capaz de entender a chave, mas cálidos, tensos e cheios de inten-
ção secreta para quem a conhece [...] (2008, p. 19).
Mais claro é o exemplo de uma história que se conta sobre Matisse, pintor
francês, e principal expoente do Fauvisme: certa vez uma senhora �cou es-
pantada diante de uma de suas pinturas: "Meu Deus! Uma mulher com a barri-
ga verde! Mas onde o senhor viu isso?!" E o grande mestre do século 20
respondeu-lhe: "Mas, minha senhora, isso não é uma mulher!, é um quadro!".
Lisboa.
Mas voltando ao século 20 e a Giorgio De Chirico, ele também disse que "[...] é
necessário que uma obra careça de sentido e de lógica [...] deste modo
aproximar-se-á ao sonho e à mentalidade infantil" (GUGLIELMINO, 1975, p.
148-149).
Picasso, DuBuffet (Figura 32), Appel (Figura 33), a maioria dos artistas chama-
dos "eruditos", têm sentido, em algum momento de sua evolução, a necessida-
de de partir "à procura da inocência perdida", daquela idade em que todos nós
nos expressávamos por meio do desenho, como �zeram os homens da pré-
história. Aquelas nossas garatujas eram nossa linguagem antes que nos im-
pusessem o aprendizado daquela escrita e falada. Antoine de Saint Exupéry,
piloto e escritor francês, autor da obra O pequeno príncipe, conta que quando
tinha seis anos desenhou uma jiboia que tinha engolido um elefante, mas as
pessoas maiores acharam que o que ele tinha desenhado era um chapéu
(Figura 34).
Figura 32 Vida irrequieta. Jean Dubuffet, 1953. Óleo sobre tela, Tate Gallery, Londres.
Figura 33 A holandesa. Karel Appel, 1969. Óleo sobre tela, Galeria Ariel, Paris. Arte Oggi, Mondadori, 1976.
Figura 34 Desenho de Saint Exupéry para seu livro: O pequeno príncipe. Alianza Emecé, 1953.
Antoine de Saint Exupéry (2009, p. 8), para esclarecer tal confusão, explicou:
"Desenhei então o interior da jiboia para que eles pudessem entender. As pes-
soas maiores sempre necessitam de explicações".
Quanto à sensibilidade, diremos que ela é também uma faculdade que todo ser
humano tem em maior ou menor grau. Ela se desenvolve visitando boas expo-
sições, vendo bons �lmes, boas peças de teatro, assistindo a bons concertos
musicais, e tantos outros espetáculos que nos enriquecem intelectualmente. É
surpreendente comprovar, por exemplo, as correspondências entre a pintura e
a música: ambas dependem da composição, uma do espaço e a outra do tem-
po; ambas tratam de escalas e de tons, uma das cores e a outra dos sons; etc.
Longe de serem desassociadas, as atividades artísticas se potencializam mu-
tuamente.
7. Suportes da Pintura
O suporte de pintura é justamente a superfície que se deseja pintar. Muitos su-
portes foram utilizados desde a Antiguidade, como a pedra, o vidro, a madeira,
o gesso, a lona, entre outros. O suporte deve ser escolhido de acordo com suas
necessidades. A seguir, veja alguns tipos de suportes tradicionais para pintu-
ra.
Papel
O processo de fabricação do papel, tanto no Ocidente quanto no Oriente, apesar
da industrialização, não sofreu grandes mudanças no decorrer do tempo.
O papel é fabricado com uma mistura de águas e �bras que se locomovem por
cima de uma tela em movimento, na qual ocorre o escoamento e então a folha,
sujeita a uma pressão, é seca e �nalizada.
Todo artista necessita de um papel para começar seus trabalhos. O papel tam-
bém é o suporte mais utilizado para as aulas de artes. Quaisquer papéis ser-
vem para fazer anotações, rabiscos e esboços. Porém, cada técnica e material
requer um tipo de papel apropriado para que os trabalhos artísticos tenham
melhor qualidade. Veja algumas dicas no Quadro 2.
Quadro 2.
Tela
A tela é um tecido utilizado como suporte para a pintura. As melhores telas
são as fabricadas de linho. Além delas, existem as de algodão e as de juta.
A tela está pronta para uma pintura, após ter sido revestida por uma base. A
base é uma superfície sobre a qual se executa a pintura. O propósito dessa ca-
mada é isolar a tinta do suporte, para impedir a interação entre ambos. De ou-
tro modo, a tela absorve muita tinta, impedindo a obtenção de efeitos mais re-
�nados, além de correr o risco de apodrecer.
Ela deve ter uma textura tal que o artista possa calcular o efeito da tinta apli-
cada à tela. A tela também passa por um processo de estiramento.
Madeira
A madeira é um suporte que serve para as técnicas de pintura em aquarela,
acrílico, esmalte sintético e óleo. Esse tipo de suporte deve estar completa-
mente seco, e nunca se deve pintar em madeira verde. Antes de começar a
pintura, é necessário efetuar um rigoroso lixamento. Depois, remover por com-
pleto o pó com pano umedecido com água e utilizar detergente líquido e es-
ponja para �nalizar a limpeza do suporte. Para sua preparação, é necessária
uma demão de seladora para madeira, para evitar que a madeira absorva de-
mais a tinta.
Gesso
O gesso é um suporte muito utilizado para as seguintes técnicas de pintura:
têmpera, afresco, acrílico, aquarela, entre outras. Para utilizar o gesso como
suporte, ele deverá estar totalmente seco, exceto para pinturas de afresco.
Deverão ser removidos os excessos por meio do lixamento e, logo em seguida,
deve ser removida a poeira. Posteriormente, deverá ser aplicada uma demão
de fundo preparador. Vale ressaltar que não é recomendada a pintura sobre
superfícies tratadas com brilho.
Pincéis
Os pincéis existem em uma grande variedade de formatos, tamanhos e densi-
dades, e podem ser classi�cados em dois tipos: suaves e duros. Os primeiros
são macios e possibilitam um melhor acabamento da pintura. Esses pincéis
são usados para pintura com muitos detalhes. Já os pincéis duros são muito
resistentes e também conhecidos como pincéis de cerda. Eles absorvem e es-
palham muito bem a tinta, e são pincéis utilizados para pinturas de maior
densidade.
Existem cinco formas de pincel, ainda que existam muitas variáveis dessas
formas. Cada uma dessas formas possibilita ao pintor a realização de pincela-
das especí�cas. São elas:
1) Pincéis planos: formados por um extremo de pelos, são bons para aplicar
uma boa quantidade de tinta, pintar grandes extensões e fazer as primeiras
camadas (Figura 36).
2) Pincéis chatos ou quadrados: seu formato é parecido com o dos pincéis pla-
nos, mas ele tem os pelos mais curtos. Não seguram grande quantidade de tin-
ta, por isso são mais utilizados para pinceladas curtas (Figura 37).
Figura 37 Pincel chato.
3) Pincéis tipo língua de gato: esses pincéis têm a ponta de forma arredonda-
da, parecida com a língua de um gato. O comprimento dos pelos pode variar
entre curtos, médios e longos. Devido ao seu formato, são ótimos para traba-
lhar imagens �gurativas (Figura 38).
4) Pincéis redondos: são pincéis que têm formato circular. Não absorvem mui-
ta quantidade de tinta e são indicados para fazer linhas, pontos, tracejados e
mistura de cores (Figura 39).
6) Pincéis tipo leque: levam esse nome por terem o mesmo formato de um le-
que. São os pincéis mais utilizados por artistas para criar efeitos. Esse tipo de
pincel requer a limpeza logo após seu uso, uma vez que a tinta seca dani�ca
seu formato (Figura 41).
Espátulas
A espátula é um objeto feito de metal e tem o formato espalmado. Existem dois
tipos de espátula artística: as de pintura e as de paleta. A espátula para pintura
tem a lâmina forjada em aço temperado para ter mais �exibilidade, e é utiliza-
da para aplicar tinta na tela (efeito da técnica de impasto). A espátula para pa-
leta possui uma lamina também feita em aço, e é utilizada para misturar tin-
tas e limpar a paleta. Na Figura 42, é possível perceber que dentro desses dois
tipos de espátulas existem tamanhos e formas diversas. Observe.
9. Paleta e Godê
A paleta é uma placa plana que pode ter diversos formatos, entre eles o retan-
gular e o oval (Figura 43). Ela pode ser feita de diversos materiais, como papel
descartável, acrílico, plástico, alumínio, vidro, entre outros. A paleta é um ins-
trumento importante na pintura tradicional, alguns artistas preferem ter as
mãos livres e deixam-na à mesa, já outros preferem segurar a paleta na mão.
Figura 43 Paleta.
Figura 44 Godê.
Figura 45 Paleta godê.
10. A Cor
A cor é a sensação produzida sobre o órgão da visão pela radiação externa da
luz. Este fenômeno tem direta incidência sobre o Impressionismo, o movimen-
to pictórico que originou, na segunda metade do século 19, uma nova maneira
de pintar, além de uma nova maneira de ver a pintura.
Agora, trataremos da cor pigmento, ou seja, das tintas que empregamos para
pintar e de suas cores. As cores dividem-se em básicas e complementares. São
três as cores básicas, que não se podem obter por mistura: amarelo de cádmio
claro, vermelho magenta, inicialmente conhecido por púrpura, e azul ciano,
inicialmente conhecido como cerúleo. Misturando aproximadamente 75% de
amarelo e 25% de vermelho, obteremos o laranja cor complementar, misturan-
do 75% do amarelo com 25% de azul, obteremos o verde complementar e com
50% de vermelho e 50% de azul, o complementar violeta. Misturando cada uma
dessas seis cores com branco, obteremos o rosa, o lilás, o celeste etc. E mistu-
rando as mesmas seis cores, desta vez com o preto, obteremos verdes oliva, e
várias "terras" (terra siena, terra siena natural, terra siena queimada, terra
sombra, sépia etc.). Se misturarmos as cores complementares com as básicas,
obteremos o marrom, outro verde oliva e o bege.
Mas devemos ter atenção com o uso do branco e do preto; embora não apare-
çam nas cores do espectro em seu estado puro, elas devem ser consideradas
duas cores básicas, com identidade própria e que não devem ser usadas para
representar o claro-escuro nem para aclarar ou escurecer outra cor. Nestes ca-
sos, o resultado será "cores sujas". Costuma-se dizer que um quadro está "enfa-
rinhado" quando suas cores não são claras, mas esbranquiçadas. É algo pare-
cido com aquelas senhoras de idade avançada que exageram no pó de arroz. O
mesmo com o preto: uma coisa são cores escuras, e outra, cores sujas.
As cores podem ser classi�cadas pela sua luminosidade e pela sua tonalidade:
amarelo, laranja e vermelho são as mais luminosas e também podemos
chamá-las de "cálidas"; as cores menos luminosas, verde, azul e violetas, po-
dem ser chamadas de cores frias. Uma cor quente ou luminosa nos dará sem-
pre a sensação de estar à frente de uma cor fria. Chamaremos isso de maior ou
menor "peso visual". Isto é de se levar muito em conta quando, uma vez traça-
do o esquema compositivo de um quadro, começamos a pintar; a cor pode des-
truir seu equilíbrio ou acentuá-lo. Devemos nos guiar por esta lei: quanto mai-
or a luminosidade, menor a área. Por exemplo: se sobre um retângulo preto eu
coloco uma circunferência amarela à esquerda e outra do mesmo diâmetro,
azul à direita, o meu quadro "penderá" para a esquerda, pois o amarelo é a cor
mais luminosa, "pesa" mais, conforme podemos observar na Figura 47. Nesse
caso, quanto deveria reduzir a área da circunferência amarela para obtermos
um equilíbrio cromático? E uma vez obtido este equilíbrio, o que fazemos com
o espaço vazio que �cou desequilibrando o desenho do quadro, conforme de-
monstra a Figura 48? Colocamos outra �gura, muito bem, mas que cor e que
tamanho deveria ter esta terceira �gura para que minha composição �casse
equilibrada tanto no seu desenho como na sua cor? Esse equilíbrio pode ser
observado na Figura 49.
E se o fundo do meu quadro fosse branco em vez de preto? Então, tudo deveria
ser ao contrário. Eu teria que reduzir a área da circunferência azul porque so-
bre um fundo branco a densidade do azul "pesaria" mais que a luminosidade
do amarelo (Figura 50).
Fonte: acervo pessoal do autor Juan José Balzi.
Quanto à tonalidade (matiz, nuance), cada uma das seis cores do espectro tem
a sua. Por exemplo: o amarelo não só é mais luminoso que o azul, também é
mais claro. Por sua vez, cada cor tem sua escala de tons, por exemplo: entre o
branco e o preto existe uma escala de cinzas que vai do branco 100/100 ao pre-
to 100/100 (Figura 51), e o mesmo acontece com o resto das cores. Poderíamos
dizer que, entre o amarelo e o vermelho, o laranja é o 50% do vermelho.
Fonte: acervo pessoal do autor Juan José Balzi.
11. A Cor-luz
Tentando servir ao conceito do Realismo de Courbet e Rosseau, os impressio-
nistas abriram, com suas "cores puras", ao �nal do século 19, uma in�nidade
de possibilidades para a pintura do século 20. Antes deles, e desde �nais da
Idade Média, a representação da realidade era con�ada basicamente ao dese-
nho. As cores tinham somente um valor documental ou simbólico e o volume
era representado por uma tonalidade mais clara ou mais escura dessas cores e
para o qual se empregavam as que hoje chamamos cores terra (Figura 52): ter-
ra sombra natural, terra sombra queimada etc. Aliás, os pigmentos com os
quais fabricavam essas cores eram obtidos da terra do próprio lugar. Uma das
terras mais usadas era a de Siena: terra siena natural, terra siena queimada. E
por que não? Essa cor é a dos edifícios da Itália da Renascença e iria caracteri-
zar a pintura italiana até o século 20.
Figura 52 Família num interior, 1643. Antoine Le Nain, Louvre.
Mas atenção, precisamos advertir que isso não era por que não se conhecesse
a incidência da luz nas cores dos objetos, se não porque ela não favorecia a es-
tabilidade que se pretendia dar às cenas representadas. São reveladores estes
dois fragmentos de um escrito do pintor francês Charles Le Brun, de 1672:
Pode-se acrescentar a isto que o desenho imita todas as coisas reais, enquanto a
cor representa apenas o que é acidental.
Pois todos concordam que a cor é só um acidente produzido pela luz, porque ela
muda conforme a iluminação, de maneira que, à noite, o verde parece azul e o ama-
relo parece branco, se forem iluminados por uma tocha. Portanto, a cor muda se-
gundo a luz que incide sobre ela.
É preciso considerar também que a cor aplicada nos quadros não produz tonalida-
des nem coloridos além dos da própria matéria da tinta: pois é impossível obter o
verde a partir do vermelho ou o azul do amarelo. É por isso que se diz que a cor de-
pende totalmente da matéria e, conseqüentemente, que ela é menos nobre que o de-
senho, o qual provém do espírito.
Se, como dissemos, é verdade que o mérito de uma coisa é tanto maior quanto me-
nos dependente de uma causa externa, segue-se que o mérito do desenho é in�nita-
mente superior ao da cor, que a ele deve seu brilho. É por isso que ela não deve ser
valorizada a ponto de se acreditar que faz sozinha as pinturas e os quadros, e que
sem ela não haveria pintor nem pintura, pois acabamos de ver que é o desenho que
a comanda e que lhe confere todo seu brilho e glória (LICHTENSTEIN, 2004, p. 86).
Mas voltemos às fontes do Impressionismo. Segundo Newton (1672), na cor-
luz as cores primárias, ou seja, aquelas que quando são misturadas produzem
todas as outras, são laranja, verde e azul-violeta. Porém, os pigmentos que usa-
mos para pintar as cores básicas são: amarelo, azul-cerúleo e vermelho-
magenta; justamente as que são complementares na cor-luz!
Mas alguns pintores do grupo dos impressionistas, como Georges Seurat, por
exemplo, mostraram-se incomodados com a velocidade com que, com a nova
técnica, tinha-se que pintar para poder captar um instante de luz, "la petite
sensatión" como eles diziam. Isso não só lhes impedia de pintar telas grandes,
mas também de criar composições originais.
12. A Cor-pigmento
As tintas a óleo são as que garantem o maior tempo de duração da obra, desde
que elas sejam empregadas com a técnica correta e observadas as normas de
conservação dos quadros. A Gioconda tem durado seis séculos até agora não
só porque Leonardo da Vinci possuía uma técnica apurada, mas também por-
que é conservada no Museu do Louvre.
As tintas a óleo para as belas artes são o resultado da junção do pigmento com
o óleo de linhaça e podem ser aplicadas sobre tela de linho, seu suporte ideal,
ou sobre madeira, como se fazia antes de ser inventada a tela no ano de 1400.
Logicamente, tanto a tela como a madeira devem ser preparadas com uma so-
lução de giz com "cola de peixe" para a tela e "cola de porco" para a madeira.
Hoje, porém, existem preparados já prontos à base de resinas sintéticas.
Atribui-se aos irmãos Van Eyck, pintores holandeses do século 16, o emprego
da pintura a óleo, porém naquela época se usava a técnica das velaturas, su-
cessivas demãos muito transparentes de azeite misturado com pigmentos. Só
a partir dos séculos 16 e 17, a pintura a óleo se fará espessa, "matérica".
Hoje, a técnica acadêmica aconselha pintar com a tinta diluída com óleo de li-
nhaça, seu veículo natural, e com terebintina (aguarrás vegetal tri-destilada)
as grandes áreas e as tonalidades gerais da imagem a representar, para depois,
numa segunda demão, pouco ou nada diluída, completar, corrigir, detalhar a
imagem. Desta maneira, a primeira demão penetrará mais facilmente na tela,
a segunda se amalgamará com a primeira e, assim, tinta e suporte formarão
um corpo único. Se pelo contrário aplicássemos sobre a tela seca uma só de-
mão de pinceladas grossas, sem diluir, anteciparíamos o aparecimento de gre-
tas (efeito "craquelé"). Muito menos poderíamos nos conformar com uma só
demão de tinta completamente diluída porque então estaríamos imitando a
técnica da aquarela e renunciando ao brilho do óleo, sua principal característi-
ca.
A camada de tinta a óleo deve ter uma espessura média, deve cobrir o suporte,
ocultar entre suas demãos as dúvidas e os arrependimentos do pintor, ocultar
a história e os segredos de uma elaboração demorada. Além disso, a espessa
oleosidade da tinta, a maciez do pincel e o leve ceder da tela à sua suave pres-
são conferem a esta técnica uma particular sensualidade.
Sei que muitos se perguntarão por que então se encontram expostas nos mu-
seus tantas telas que não correspondem às características que acabo de des-
crever. Isto acontece porque, primeiro: muitas telas inacabadas são de autores
que �guram na História da Arte não pela sua técnica artesanal, mas por terem
criado conceitos novos; segundo: a partir do início do século 20, desenvolveu-
se o gosto pelo "non �nito" (não acabado); terceiro: alguns pintores, como os
impressionistas por exemplo, criam novas técnicas que contradizem as aca-
dêmicas; quarto: às vezes são justamente os bons artesãos os que não �cam na
História da Arte.
Há artistas, porém, que sem trair as características da técnica e sem com ela
imitar outra, a usaram de maneira diferente. O alemão Julios Bissier, por
exemplo, criava imagens muito líricas isolando objetos e �guras do fundo do
papel, que permanecia branco, conforme observamos na Figura 59.
Das técnicas à água, o guache é uma das mais usadas por estudantes em esbo-
ços e projetos por sua grande ductilidade: seca rápido e permite correções. O
guache feito à base de substâncias corantes destemperadas em água de mis-
tura com goma é muito similar à têmpera ovo que, além de água e goma, in-
clui clara de ovo na sua fórmula. A têmpera ovo era uma técnica muito usada
também na pintura Pré-renascentista e como retoque na pintura do
Renascimento (em ambos os casos �xadas com vernizes). Em alguns países,
como Espanha e Itália, por exemplo, a tinta guache é chamada de têmpera.
Figura 60 Flores, 1950. Guache sobre tela. Vanni Balzi. Coleção particular.
O pastel é um material parecido ao giz comum com que se escreve sobre a lou-
sa, mas muito mais cretáceo e argiloso. Poderia ser comparado ao guache, pois
permite, aliás, pede, o uso do branco, e portanto podemos considerá-la uma
técnica que cobre (não transparente). Sua particularidade é que terminada a
obra deve ser �xada pulverizando-a com um �xador à base de resina. Isto per-
mite que, uma vez �xada a obra, possamos fazer modi�cações que depois de-
vem voltar a ser �xadas. Assim, pode-se obter uma matéria consistente sobre
o suporte que é o papel Ingres, o mesmo utilizado para desenhos com carvão.
Algumas técnicas anteriores ao óleo têm voltado a serem usadas, como, por
exemplo, a encáustica, técnica a base de cera queimada sobre madeira, muito
usada nos maravilhosos ícones das Igrejas Ortodoxas grega e russa, e que hoje
entusiasmam a artistas contemporâneos pelas amplas possibilidades de usos
diferentes que esta técnica oferece.
Pelo seu baixo preço, as tintas acrílicas estão substituindo também as tintas a
óleo, mas suas cores não têm o mesmo brilho do óleo.
Uma técnica que começou na Idade Média, mas que alcançou sua máxima ex-
pressão no século 20 é a da colagem. Claro está que quando falamos de técni-
cas de pintura nas artes plásticas não nos referimos exclusivamente ao uso de
tintas, porque, depois de tudo, o objetivo do pintor será sempre o de produzir
uma imagem. E também porque o termo "colagem" não se refere somente a
pedaços de papel ou de outros materiais superpostos ou colados lado a lado,
mas também a composições de diferentes texturas de tinta e, inclusive, de di-
ferentes técnicas pictóricas. Na Idade Média, resumia-se à colagem de lâmi-
nas de metal, em geral ouro, sobre alguns detalhes de um quadro ao óleo ou à
têmpera ovo, como, por exemplo, a coroa de um rei ou a auréola de uma vir-
gem (Figura 63).
Figura 63 Colagem na Arte Gótica: Epifania de Juan Reixach. Museu de Barcelona.
Pelo fato de a colagem ser, à sua maneira, uma espécie de marchetaria, ela
tem relação direta com o mosaico (Figuras 67 e 68), outra arte milenar que é
usada também nos dias de hoje. Ela é composta de pequenas peças quadradas
de cerâmica vidrada. Originada nas civilizações mesopotâmicas, a técnica do
mosaico chegou a identi�car todo um período da história da arte: a Arte
Bizantina.
Antes de concluir, é importante narrar aqui, pelo seu valor didático, dois diálo-
gos realizados com Carlo Carrá, em 1964. Carlos Carrá, pintor italiano, foi um
dos �rmantes do Manifesto da Pintura Futurista e, posteriormente, junto com
DeChirico, da Pintura Metafísica. Naquela época, eu tinha deixado os pincéis
para continuar pintando, sempre a óleo, mas com espátula: depositava as co-
res diretamente das bisnagas sobre a tela, espalhando-as e misturando-as ao
mesmo tempo com a espátula, o que resultava, segundo eu achava, numa sin-
gular riqueza cromática. Ao ver essas telas, Carrá me perguntou: "Você acha
que domina a cor? Pois você está errado, a cor domina você!" (ele queria dizer
que essa aparente "riqueza cromática" era resultado do acaso, era feita pela es-
pátula e não por mim, era um efeito e não uma técnica). "Você utiliza todas as
cores que tem na caixa! Como se arranjaria para pintar se amanhã tivesse so-
mente duas ou três cores?" (Ele se referia aos exercícios de "paleta reduzida"
da Academia, destinados a entender cada cor e aprender a dominá-las. Mas eu
interpretei sua crítica também como uma advertência: uma coisa é a riqueza
de cor e outra é uma salada de cores).
"- Você não deve misturar as linguagens! Tudo o que tiver a dizer diga-o com
aquela que você aprendeu! Diga-o com as cores, com as formas, com os tra-
ços!".
Ora, para qualquer pessoa que tenha visto Quarto em Arles (Figura 69), de 1888,
a perspectiva exagerada e as fortes cores do quadro só poderão lhe transmitir
a mesma angústia da maior parte da obra de Van Gogh!
Figura 69 Quarto em Arles, 1888. Vincent Van Gogh. Art. Institut, Chicago.
[...] os críticos dizem que meu simbolismo é escuro quando comparado com o de
Puvis de Chavannes. É claro, ele explica sua idéia, não a pinta! Se ele intitular um
quadro de "Pureza", para explicá-lo pintará uma jovem virgem vestida de branco,
com um lírio na mão. Ora, se eu tivesse que pintar a pureza, faria uma paisagem
onde houvesse águas límpidas, nenhum traço de homem civilizado, talvez um per-
sonagem [...] mas, sobretudo, emoção! A compreensão virá depois (PIJOAN, 1970, p.
215).
As cores utilizadas pelos pintores dos temas de nossa religião obedecem tam-
bém a uma simbologia: a cor azul no manto da virgem simboliza a cor do céu;
o vermelho, o sangue no martírio de Jesus Cristo etc.
Na história, a simbologia da cor está presente, sobretudo, nas bandeiras dos
países ou regiões: as quatro listas vermelhas da bandeira catalã representam a
marca deixada pela mão do rei Carles el Calb suja do sangue do conde Guifré
el Pelós. Já as quatro cores da Bandeira Nacional representam simbolicamen-
te as famílias reais de que descende D. Pedro I, idealizador da Bandeira do
Império. Com o passar do tempo, esta informação foi sendo substituída por
uma adaptação feita pelo povo brasileiro. Dentro deste contexto, o verde pas-
sou a representar as matas; o amarelo, as riquezas do Brasil; o azul, o seu céu e
o branco, a paz que deve reinar no país.
A intuição é cega, o intelecto lhe empresta os olhos. "As máximas �losó�cas postas
na boca de um personagem de tragédia ou de comédia, não tem a função de con-
ceito, mas de característica do personagem; da mesma maneira que o vermelho de
uma �gura pintada não tem a ver com o conceito da cor vermelhados dos físicos"
[...] "Do conhecimento intelectivo existe uma ciência antiqüíssima admitida sem
discussão por todos, a lógica; mas uma ciência do conhecimento intuitivo é apenas
admitida, timidamente, por poucos" (CROCE, 1958, p. 3-6).
Croce não considera, na sua análise, a experiência freudiana do inconsciente.
Em contrapartida, se entendemos como comunicação o ato de emitir e receber
mensagens quer por meio da linguagem falada ou escrita, quer por meio de
outros sinais, signos ou símbolos, ou mesmo de aparelhamento especializado
sonoro ou visual, chegaremos à conclusão de que, no caso sublinhado, a co-
municação será subjetiva, com toda a imprecisão do intuitivo e do relativo que
isso implica.
À medida que vamos nos adentrando neste assunto, vai surgindo uma questão
muito importante sobre a maneira de trabalhar de um pintor. Em 1916,
Fernando Pessoa escrevia:
A pintura comporta os dois extremos que são, por um lado, a profundidade do tema,
a seriedade religiosa e moral da concepção e a representação da beleza ideal de for-
mas; e, por outro lado, quando se trata de assuntos insigni�cantes em si, a associa-
ção dos pormenores realistas com o talento subjetivo. Efetivamente, podemos for-
mular a respeito da pintura, dois juízos igualmente opostos. Com efeito, ora ouvi-
mos exclamar: que magní�co tema!, que admirável profundidade de concepção!,
que nobreza na expressão! Ora, pelo contrário, ouvimos dizer: está soberbo, incom-
paravelmente pintado! Esta divergência de opinião atinge o próprio conceito de
pintura. Podemos mesmo dizer que não é possível qualquer compromisso entre es-
tes dois juízos, visto cada um deles substituir em toda sua independência. A pintu-
ra, tendo efetivamente como meio de representação tanto a �gura como tal e as for-
mas delimitadas pelo espaço, como as cores, ocupa, por esta razão, um lugar inter-
mediário entre o ideal, a plástica e as particularidades do real. Há, pois, duas varie-
dades de pintura: uma, a ideal, que exprime o universal, e a outra, que exprime o in-
dividual na particularidade que lhe é característica (1962, p. 44).
De tudo isso, deduzimos, dito com as palavras simples de um pintor, que o ar-
tista, na execução de sua obra, deve estar sempre "pulando" de sua intuição ao
seu intelecto, deve extrair de seu subconsciente, quase num estado de incons-
ciência, o sentimento que quer transmitir para, imediatamente, antes que esse
se "esfrie", pegar os pincéis e convertê-lo, muito conscientemente, com toda a
técnica que ele domina, em traços, formas e cores que impactem o espectador
da maneira por ele desejada. Ou seja, ele deve ser quase ao mesmo tempo irra-
cional e racional, como o "Dr. Jekyll e Mr. Hyde" em O estranho caso do doutor
Jekyll e do Sr. Hyde, novela escrita por Robert Louis Stevenson, em 1886, sobre
um caso de dupla personalidade.
Por sua vez, da mensagem que, através do meio imagem, é percebida pela vi-
são do espectador, uma parte é analisada pelo seu consciente, outra, sem ne-
nhuma possibilidade de ser bloqueada pelo consciente, atinge diretamente o
subconsciente.
Mas é evidente que o meio mais comum às artes se estabelece através do ou-
vido e da visão. A música é o mais poderoso meio de comunicação subjetiva,
pois carece de um "corpo físico", como as artes plásticas, que possa ser anali-
sada pelo consciente, pelo intelecto. Ela é somente som, não objeto. No caso da
visão, agora faremos referência ao código dos gestos: no "truco", jogo de cartas
entre duas duplas, os parceiros se comunicam por meio de quase imperceptí-
veis movimentos dos olhos, da boca, e até das narinas, movimentos estes
acertados, obviamente, a priori.
No �nal dos anos de 1970, encontrei, numa exposição de fotos sobre a miséria
na Galícia, a fotogra�a de um velho, aparentemente dormindo ou agonizante
ou morto inclusive, no seu leito, num cubículo estreito, alto e úmido. A ima-
gem me comoveu tanto que decidi fazer um quadro. Posteriormente, traduzi a
imagem a cores e pinceladas que tirassem o valor documental do primeiro e
universalizassem o tema da solidão e do abandono (Figuras 73, 74 e 75). A pró-
pria fotogra�a me tinha ditado o esquema compositivo que acentua o drama-
tismo de um �m de vida: uma seta apontando para baixo. O quadro foi intitula-
do Fim. Quem sabe se o próprio fotógrafo não se teria inspirado, por sua vez,
no quadro A morte de Marat, de Luis David (Figura 76).
Alguns anos depois, uma soprano amiga, que assistia a meus cursos de
História da Arte, �cava ao �nal de cada aula contemplando emocionada este
meu quadro. Eu não entendia como uma pessoa podia gostar tanto de uma
imagem tão triste, e assim eu disse a ela. E ela me respondeu: "é que ela me
lembra a morte do cisne, no último ato do ballet O Lago dos Cisnes de
Tchaikovsky". No momento, essa resposta me deixou arrasado, com um pro-
fundo sentimento de fracasso, mas, com o tempo, compreendi que se a mim a
bailarina representando o cisne agonizando me resulta ridícula, para minha
amiga, ao contrário, era motivo de pranto, da mesma maneira que, ainda hoje,
os milhares de espectadores, que a cada ano assistem a La Boheme no teatro
San Carlo de Nápoles, continuam chorando ao ouvir L'addio di Mimí. A mim
me emocionava a morte de um ser humano, a eles a de um personagem. Pois
bem, no meu quadro eu tinha transmitido o sentimento da morte em geral. É
assim que funciona.
Figura 78 La Madonna dell' uovo (Sacra Conversação). Piero della Francesca. Pinacoteca de Brera, Milão.
Figura 79 Los fusilamientos del 3 de Mayo, 1814. Francisco de Goya y
Mas agora vejamos esta frase extraída de uma carta de Van Gogh a seu irmão
Théo: "[...] Quanto mais re�ito, mais eu sinto que não há nada mais realmente
artístico que amar as pessoas" (1945, p. 17).
Temos que admitir que existem dois tipos de artista: os que são atraídos pela
beleza de um pôr do sol ou pelas cores de um vaso de �ores; e os que são atraí-
dos pela tristeza de um mendigo ou pela ternura de uma criança humilde.
Figura 81 O Laoconte e seus �lhos (detalhe), ano 50 a.C. Museu Vaticano, Roma.
Figura 82 Juízo Universal (detalhe), século 15. Michelangelo Buonarroti. Capela Sistina, Roma.
Figura 83 La romeria de San Isidro (detalhe), 1822. Francisco de Goya y Lucientes. Museu do Prado, Madri.
E para concluir esta dicotomia, um último exemplo: qualquer pessoa que te-
nha aprendido a técnica divisionista pode pintar, pior ou melhor, um quadro
impressionista, não qualquer pessoa pode pintar um quadro expressionista,
pois o expressionismo é uma maneira de ser. Impressionista se faz, expressio-
nista se nasce. Uma pessoa que pretenda fazer um quadro expressionista sem
o ser estará fazendo uma "arte pan�etária", ou, no melhor dos casos, uma "arte
engajada", que atende a motivos passageiros, sem a atemporalidade própria da
comunicação subjetiva.
16. O Gesto
Os traços, as pinceladas na pintura, são o resultado dos movimentos da mão e
do braço que transmitem ao pincel o caráter, os sentimentos, os estados de
ânimo do pintor. São como um eletrocardiograma que mostra as emoções do
pintor. Os gestos nervosos ou suaves, enérgicos ou envolventes, rítmicos, lon-
gos, ondulantes, assemelham-se aos de um diretor de orquestra que, ao invés
de ter uma batuta na mão, tivesse um pincel e que, ao invés de ter uma orques-
tra na frente, tivesse uma tela.
Mas ainda temos uma in�nidade de gestos que originam traços de expressão
puramente subjetiva: um simples "X" que pode representar a�rmação num
questionário, pode se transformar num rotundo "NÃO!" se o pintarmos usando
o pincel como se fosse um chicote cruzando a tela com duas fortes chicotadas
(Figura 86). Igual efeito de negação podemos obter riscando a superfície da te-
la com um "movimento de metrônomo" igual ao gesto de negação que fazemos
com o índice da mão (Figura 87). Claro que estamos pensando em riscos feitos
com tinta preta, no caso de gestos ondulantes ou envolventes que transmitam
uma sensação de alegria, utilizaríamos o branco ou as cores luminosas. É as-
sim que o traço e a cor se potencializam mutuamente.
Fonte: acervo pessoal do autor Juan José Balzi.
Figura 89 "Ciprestes", 1889. Vincent Van Gogh. Metropolitan Museum, Nova York.
Durante o Impressionismo, o gesto e a cor assumem o protagonismo do qua-
dro em igualdade de condições, por obra do divisionismo e suas pinceladas
justapostas. Mas só se poderá falar de gestualismo quando, nos prolegómenos
da Primeira Guerra Mundial, o futurista Boccioni interpretava, com enérgicos
traços de cores vivas, o entusiasmo dos que partiam e, com lânguidas pincela-
das, a tristeza dos que �cavam. Essa seja talvez uma das mais claras tentati-
vas de transmitir estados anímicos por meio da pincelada, do gesto (Figuras
90 e 91). Em 1956, Karel Appel, do grupo CO.BR.A., expressava toda sua raiva
pela barbárie da guerra, com os violentos riscos vermelhos de sua Cabeza trá-
gica (Figura 92).
17. Considerações
Neste ciclo você teve a oportunidade de re�etir acerca de importantes manei-
ras de utilização de tintas, pigmentos, aglutinantes, vernizes, solventes e dilu-
entes, pincéis, paletas e godês. Viu também como é a maneira de olhar do pin-
tor e do espectador assim como os empecilhos à ação de observar. E por �m,
viu exemplos de diferentes tipos de percepção. A partir de agora estudaremos
a escultura e a produção tridimensional de alguns artistas brasileiros.
(https://md.claretiano.edu.br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Objetivo
• Conhecer a produção e o contexto de alguns importantes artistas brasi-
leiros do século 20.
Conteúdo
• As obras de: Victor Brecheret; Franz Weissmann; Amilcar de Castro e
Edith Derdyk.
Problematização
Muitas vezes, é difícil compreender a proposta estética de alguns artistas
contemporâneos, pois, como os trabalhos são muito recentes, ainda não fo-
ram devidamente "digeridos" pelo tempo, pelos críticos e pelos historiadores
para que possamos ter, com eles, uma relação de apreciação mais tranquila.
Diante desse fato, de que maneira podemos compreender as propostas desses
artistas? Uma boa saída seria ler as críticas e os folders de exposições que
apresentam um pouco do percurso artístico e criativo desses artistas?
1. Introdução
Neste ciclo estudaremos as obras de alguns importantes artistas brasileiros
modernos e contemporâneos no trabalho tridimensional nos séculos 20 e 21.
2. Victor Brecheret
Nenhum texto sobre escultura brasileira moderna pode deixar de abordar o
trabalho de Victor Brecheret. Desde suas primeiras esculturas, ele apresenta
uma característica marcante em relação à tensão, ao alongamento, à expressi-
vidade e à torção de �guras humanas, tendo grande in�uência e participação
no Movimento Modernista Brasileiro, inspirando, com seus trabalhos, textos
de Oswald de Andrade (Os condenados), Mário de Andrade (Paulicéia desvai-
rada) e Menotti Del Picchia (O homem e a morte) (INSTITUTO ITAÚ
CULTURAL, 2011).
Figura 3 Carregadora de perfume. Victor Brecheret, 1923-1924. Praça da Luz, São Paulo.
Figura 4 Monumento às Bandeiras. Victor Brecheret (projeto de 1920, inaugurado em 1953).
3. Franz Weissmann
Após passar pelo desenho e pela escultura �gurativa, Franz Weissmann ini-
cia, a partir da década de 1950, uma importante geometrização e abstração,
submetendo �guras geométricas a recortes e dobraduras, utilizando chapas de
ferro, �os de aço, alumínio em verga ou folha, e se estabelece como um dos
mais importantes escultores de sua geração, com uma grande quantidade de
obras públicas (INSTITUTO ITAÚ CULTURAL, 2011).
Quando me pedem para fazer uma escultura pública para ser colocada num deter-
minado lugar, estudo o local para que minha obra funcione em relação ao meio am-
biente [...] Meu trabalho é comunicar com o público, com o povo, e a melhor manei-
ra de me comunicar e também de educar o povo é colocar a arte nas ruas (apud
INSTITUTO ITAÚ CULTURAL, 2011).
Figura 5 Cantoneiras. Franz Weissmann, 1975. Jardim de Esculturas (Parque do Ibirapuera), São Paulo.
4. Amilcar de Castro
Castro foi aluno de Franz Weissmann e iniciou sua carreira com desenhos �-
gurativos, trabalhando, também, como diagramador de revistas e jornais. Com
dobras e cortes, o artista explora os planos no espaço e a luz que atravessa os
espaços vazios. É interessante notar que boa parte de suas obras são cortadas
e dobradas, mas não apresentam soldas e sua con�guração se mantém por
causa da natureza e da espessura do material, especialmente das placas de
ferro (INSTITUTO ITAÚ CULTURAL, 2011).
Figura 9 Carranca. Amilcar de Castro, 1978. Jardim de Esculturas (Parque do Ibirapuera), São Paulo.
Fonte: acervo pessoal dos autores.
Figura 10 Sem título. Amilcar de Castro, 1970. Jardim de Esculturas (Parque do Ibirapuera), São Paulo.
5. Edith Derdyk
Em trabalhos que estão no limite entre o desenho e a instalação, Edith Derdyk
oferece, ao seu observador, um emaranhado de linhas que fogem do plano e
ocupam o espaço numa verdadeira tapeçaria tridimensional que sugere um
repensar sobre as linhas e uma recon�guração visual do espaço. Seus traba-
lhos são minuciosos e delicados, e sua manufatura demanda uma imensa
concentração para a confecção. Por exemplo, foram necessários cinco dias de
trabalho, sem contar o tempo para o projeto, a seleção, a aquisição e a prepara-
ção de materiais, além de 16 mil metros de �o de algodão preto e oito mil
grampos para construir a obra Campo dobrado (Figura 15), de 2003. Observe:
Agora, observe, também, nas Figuras 16, 17 e 18, outras de suas obras:
Para saber um pouco mais sobre a arte de Victor Brecheret, assista ao Documentário: Victor
Brecheret (https://www.youtube.com/watch?v=3Hwezw2rJx0). Entenda como Franz
Weissmann pensava formas e cores de suas obras (https://www.youtube.com/wat-
ch?v=D1ZuIaFYuKY), e veja também sobre Amílcar de Castro a Poética do Ferro
(https://www.youtube.com/watch?v=WO1OzWYFLps).
Por �m, para complementar seus estudos sobre a poética de Edith Derdyk, assista ao documentário Museu
Vivo: Edith Derdyk (https://www.youtube.com/watch?v=SYP3gacfIM8).
Sugerimos, agora, que você dê uma pausa na sua leitura e re�ita sobre sua
aprendizagem realizando a questão a seguir.
6. Considerações
Neste ciclo você teve a oportunidade de estudar a escultura e a produção tridi-
mensional de alguns importantes artistas brasileiros. No Ciclo 5 investigare-
mos as técnicas que estão relacionadas aos processos escultóricos.
(https://md.claretiano.edu.br
/estelerepdesproesclinpic-gp0042-fev-2022-grad-ead-p/)
Ciclo 5 – Escultura
Objetivos
• Conhecer os principais e tradicionais processos escultóricos e técnicas
de moldagem.
• Identi�car corretamente os materiais de moldagem.
• Saber diferenciar moldagem e tipos de moldes usados em escultura.
• Reconhecer, ao observar esculturas, a técnica de moldagem empregada.
• Entender como manipular corretamente os materiais de moldagem es-
tudados.
Conteúdos
• Fundamentos da moldagem.
• Tipos de moldes e seus usos.
• Materiais moldáveis.
Problematização
Você já experimentou alguma técnica para compreender alguns dos proces-
sos escultóricos? Caso ainda tenha tido oportunidade, esse é um passo im-
portante para sua aprendizagem. Experimente fazer suas próprias combina-
ções de técnicas e processos até atingir seus resultados. A experimentação é
essencial para desenvolver o conhecimento.
1. Introdução
Neste ciclo, conheceremos os processos de moldagem. Além disso, faremos
um estudo dos processos de moldagem a frio e da fundição de materiais so-
lidi�cáveis em moldes: gesso, moldes de borracha, resina e �bra.
2. Fundamentos da Moldagem
A moldagem é um dos processos escultóricos mais usados em arte. Trata-se
de um processo mecânico para obter peças utilizando matéria-prima não sóli-
da – em estado líquido, em pó ou em forma de massa, como a argila antes de
ser colocada no molde.
Você sabe que existe diferença entre moldagem a frio e fundição de materiais
solidi�cáveis em moldes? Fundição, por exemplo, é um tipo de moldagem usa-
da para liquidi�car substâncias para que possam ser moldadas.
Você saberia dizer quais são os materiais solidi�cáveis em moldes e como tra-
balhamos com eles?
Segundo o site Geopark Naturtejo (2012), moldes externos são moldes de su-
perfícies ou de cavidades exteriores de estruturas. “Da positivação de um mol-
de externo resulta uma reprodução da superfície externa (contramolde exter-
no)”. Ou seja, ao reproduzirmos uma forma tendo por base um molde externo,
conseguiremos uma cópia da superfície externa do molde. As máscaras são
ótimos exemplos desse tipo de moldagem. Usando rostos humanos como mol-
des, são obtidas pela positivação desses rostos, com o uso de gesso, por exem-
plo (Figura 1).
Já os moldes internos são moldes que utilizam os espaços vazios dentro dos
objetos. Um exemplo de uso artístico dessa técnica é o trabalho da artista
Rachel Whiteread, que faz a apropriação de um objeto (neste caso, uma bolsa
de água quente), e o que seria o seu espaço interior, vazio, é preenchido com
materiais diferentes, tais como resinas, borrachas, metal fundido, concreto etc.
(Figura 3).
Figura 3 Pink Torso e Clear Torso. Gesso odontológico rosa e resina de poliéster. Rachel Whiteread, 1991.
O gelo pode ser citado como um exemplo simples e direto de moldagem. Sim!
O gelo que você usa para gelar bebidas, que você faz no congelador de sua ca-
sa! A forminha de gelo é o molde e a água é o elemento solidi�cável. Quando
colocamos a água para gelar, dependendo do formato da forminha, temos di-
versos formatos de gelo, não? Essa é a lógica dos processos de moldagem!
Néle Azevedo
Gesso
O gesso é um material produzido a partir da gipsita (também denominada “pe-
dra de gesso”), composto basicamente de sulfato de cálcio di-hidratado. Desde
a Antiguidade (povos que ocupavam zonas com climas secos como, por exem-
plo, o Egito e a Fenícia), o gesso é utilizado como ligante. Depois de retirada da
terra, a pedra de gesso é britada, ou seja, fragmentada mecanicamente, sendo
reduzida a pequenos pedaços. Em seguida, é feita a calcinação desses frag-
mentos em forno rotativo, em temperatura de aproximadamente 160°C.
Existem muitas variedades de gesso, cada uma adequada para um tipo de tra-
balho: ceramista, fundidor, decorador, dentista etc. O gesso seca muito rápido,
endurecendo e tomando sua forma de�nitiva após 8 a 12 minutos.
Nas artes, o gesso é utilizado há muito tempo. Obras dos séculos 18 e 19 podem
ser encontradas com relativa facilidade em antiquários europeus (Figura 8).
Porém, é na arte moderna e na contemporânea que ele está mais presente
(Figuras 9 e 10).
Figura 8 Escultura portuguesa em gesso moldado e relevado. Trabalho do século 18-19. 100cm. Acervo de
Figura 10 Elemento fundido em gesso que é usado como módulo para uma construção no espaço. Katharina Fritsch.
Assim, para trabalhar com gesso, você vai precisar de um molde e também
dos seguintes materiais:
1. água;
2. bacia de plástico;
3. batedor;
4. gesso em pó;
5. espátula;
6. lixeira.
Modo de preparo
Os materiais básicos para se trabalhar com gesso são água, uma bacia plásti-
ca, uma espátula e uma lixeira, além, evidentemente, do gesso.
A água utilizada para fazer gesso deve estar limpa. Além disso,
[...] a bacia deve ser de plástico para facilitar a limpeza (o gesso que sobra endurece
no fundo da bacia) e o batedor poderá ser uma colher, um garfo, uma espátula ou
qualquer tipo de misturador de metal (FAZ FÁCIL, 2012).
O gesso deve ser o stucco (do tipo “comum”, usado na construção civil), de boa
qualidade e recentemente fabricado. As lojas de materiais de construção são o
melhor lugar para comprá-lo devido à alta rotatividade de estoque, o que ga-
rante que o produto estará sempre em bom estado, sem estar empedrado ou
com embalagem úmida (FAZ FÁCIL, 2012).
Segundo o site Faz Fácil (2012), “a espátula é muito útil para raspar os restos de
gesso endurecido e as ferramentas. A lixeira é o recipiente para onde irão to-
das as sobras do material”.
Agora você terá apenas alguns minutos para usá-lo. Se por acaso o gesso en-
durecer antes desse tempo (ou quase endurecer), descarte-o.
É por essa razão que devemos sempre trabalhar com pequenas porções, pois é
natural que o gesso aqueça durante o processo de endurecimento.
Moldes de borracha
Os moldes de borracha de silicone são bastante usados para reprodução seria-
da de objetos. Segundo o site Faz Fácil (2012):
Estas borrachas de silicone são um excelente material de reprodução, oferecendo
todas as propriedades que os modelistas necessitam no fabrico de moldes de alta
precisão e com um investimento mínimo.
A facilidade de transformação à temperatura ambiente, a grande �exibilidade, elas-
ticidade e resistência ao rasgamento, a �delidade de cópia e as extraordinárias pro-
priedades antiaderentes, permitem um desmolde fácil e contribuem para uma mai-
or duração dos moldes e consequente rentabilização do investimento e aumento de
produtividade.
As borrachas de silicone apresentam, após a cura, boa elasticidade, �exibilidade e
resistência química, permitindo desta forma, várias desmoldagens a partir de uma
matriz.
As diferenças de características entre as borrachas de silicone são: �exibilidade,
alongamento e resistência ao rasgo.
A vida útil da borracha de silicone é uma variável que depende de diversos fatores,
sendo um deles o tipo de borracha utilizada. Existem no mercado diversos tipos de
borracha, algumas mais indicadas que outras.
Por serem produtos químicos e in�amáveis, que podem causar alergias, quei-
maduras e outros danos à pele, é recomendável usar luvas de proteção ao ma-
nipular os elementos e trabalhar em locais ventilados, secos, frescos e longe
do fogo.
Devido à toxicidade, as borrachas não devem ser usadas por crianças peque-
nas. Também é necessário evitar o uso por pessoas alérgicas que apresentem
histórico de sensibilidade e reações de contato (alergias de pele) ou respirató-
rias e, especialmente, gestantes.
Resina e �bra
Fibra de vidro, ou, em inglês, �berglass, é o nome de um material obtido a par-
tir da aglomeração de �lamentos �exíveis de vidro com resina, em geral de
poliéster, complementado pela aplicação posterior de uma substância catali-
sadora de polimerização. As substâncias da categoria dos polímeros são com-
postos orgânicos – além de serem reações de difícil execução em laboratório.
O uso da �bra de vidro nas artes é bastante comum, especialmente por artistas
contemporâneos, devido à sua versatilidade. Com certeza você já ouviu falar
na CowParade (em tradução livre, “Parada das Vacas”). No Brasil, já houve edi-
ções no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Porto Alegre. A
maior exposição de arte urbana do mundo, a CowParade é uma proposta de in-
tervenção na qual
[...] esculturas de vacas em �bra de vidro são decoradas por artistas locais e distri-
buídas pelas cidades em locais públicos como estações de metrô, avenidas e par-
ques. Após a exposição, as vacas são leiloadas e o dinheiro é entregue para institui-
ções bene�centes (COWPARADE, 2012).
Observe algumas das vacas concebidas por alguns dos artistas participantes
do projeto:
Figura 22 Cow Sambista. Anselmo Brito. CowParade acervo. Exposta na Av. Cruzeiro do Sul, 1800. Terminal
Figura 24 Cowddy. Cusco e novos talentos. Patrocinada pelo Toddy e exposta na Avenida Paulista, 2100. Cerqueira
César, SP.
4. Modelagem
Você sabe o que caracteriza a modelagem?
Existe grande variedade de materiais que podem ser trabalhados por modela-
gem, massas de diversos tipos e diversas composições. Alguns tipos, como as
argilas, precisam ser “cozidos” ou “assados" em fornos de altas temperaturas
para ganhar resistência e durabilidade. Outros, como o próprio gesso, secam e
adquirem rigidez apenas em contato com o ar.
Algumas dessas massas são naturais, como as argilas. Outras são resultado de
misturas de elementos químicos que, aglutinados, apresentam características
especí�cas de maleabilidade, aplicabilidade e modelagem, que variam confor-
me sua composição. Porém, mesmo as naturais precisam ser “tratadas”, ou se-
ja, preparadas, para que seja possível trabalhar com elas.
Além das estecas, é necessário ter um rolo de massa (Figura 28) para abrir
mantas de massa para diversos trabalhos. Os rolos são cilindros feitos, em ge-
ral, de madeira dura e polida, com "pegas" nas extremidades, como os usados
no preparo culinário de massas. Também podem ser de plástico duro, e mes-
mo uma garrafa de vidro cilíndrica pode servir de rolo de massa. É convenien-
te ter vários rolos, de diferentes tamanhos, pois eles são muito úteis para pre-
parar placas e tiras de argila.
Para conseguir mantas das massas, é necessário possuir guias (Figura 29). As
guias são ripas de madeira de diferentes espessuras, utilizadas aos pares e em
conjunto com o rolo da massa. As guias são muito úteis para fazer placas ou
tiras de argila de espessura determinada e �xa. A espessura das ripas de�ne e
determina a espessura das mantas.
Outra ferramenta bastante útil é o garrote (Figura 30). Ele é constituído por um
arame com cabos de madeira e serve para cortar grandes pedaços de barro.
Figura 30 Garrote.
Modelagem manual
Como o próprio nome já diz, é a modelagem feita com as mãos. Existem várias
técnicas de modelagem manual: cobrinhas (ou rolinhos), placas, esferas, enta-
lhes etc. A mais usada em escultura é a modelagem direta, que veremos a se-
guir.
Modelagem direta
Figura 33 Santo Antônio/Francisco. Jurema Sampaio. Escultura em argila, com acabamento em esmalte.
Ao colar os rolinhos uns nos outros, usa-se uma esteca como ferramenta para
“ligar” as partes.
Esse tipo de modelagem pode ser feita com todas as massas que tenham plas-
ticidade semelhante à da argila, como a massa de biscuit, a massa de sal, a
massa de modelar (como a Massa Fimo) e semelhantes.
Modelagem com placas
As placas, ou mantas, como também são chamadas, são obtidas com o uso de
rolos de massa. Abre-se a massa com o rolo entre guias, quando se deseja
manter a mesma espessura em toda a manta, e cortam-se as tiras necessárias
para o trabalho que será feito (Figura 36). As tiras são coladas entre si como as
cobrinhas, ou rolinhos, usando barbotina e estecas.
A modelagem com placas é uma técnica muito usada para fazer caixas e for-
mas geométricas. Basta colar placas recortadas com o auxílio de moldes feitos
em papel (Figura 37). O acabamento das peças pode ser mais ou menos re-
quintado, de acordo com o objetivo do artista.
Figura 37 Utilitário cerâmico da artista Malu Serra. Tiras de cerâmicas unidas dão forma à peça.
Figura 38 Peça do artista Tácito Fernandes, feita com manta de argila, laterais de tiras, coladas com barbotina.
A mesma técnica pode ser usada com outros tipos de massas de modelagem,
especialmente com as que têm maleabilidade e �exibilidade semelhantes às
características da argila, como as massas de biscuit, a Massa Fimo e similares
(Figura 40).
Figura 40 Bule em massa �mo.
Para trabalhar com essa técnica, é necessário, em primeiro lugar, fazer esferas
com a massa. Em seguida, segurando �rmemente a peça, introduzimos os
dois dedos polegares juntos num ponto qualquer da esfera, abrindo uma cavi-
dade e criando, assim, uma área côncava na peça.
Modelagem com esferas é a técnica mais usada para fazer tigelas, bowls e po-
tes em geral. A maioria dos artistas mantém o efeito rústico dessa modela-
gem, preservando suas características, mas também podem ser feitos acaba-
mentos variados e polimentos com colher, por exemplo, e mesmo vitri�cação
em segunda queima.
Essa técnica é muito usada como base para a confecção de cabeças de bone-
cos, papel machê e massa de paper clay, a qual abordaremos com mais deta-
lhes. Por ser simples de executar e proporcionar um contato direto das mãos
com o material trabalhado, é considerada a técnica mais adequada para o tra-
balho com crianças, uma vez que proporciona desenvolvimento de habilida-
des motoras.
Modelagem no torno
Por volta de 2.000 a.C., tanto na Mesopotâmia como no Egito, começaram a ser uti-
lizados os tornos para confecção de peças de cerâmica. Os primeiros tornos eram,
provavelmente, compostos de um disco no qual um pequeno pedaço de argila pu-
desse rotacionar para ser moldado. O torno poderia ser rotacionado pelos pés do
moldador ou pelas mãos de um assistente, para que o moldador pudesse ter as duas
mãos livres.
Objetos mais claros, e às vezes até amarelados, geralmente têm mais cálcio na
composição da massa. Portanto, a argila, embora possua uma decomposição
básica semelhante à de suas variáveis, apresenta-se como um dos materiais
mais "�exíveis" em termos de aplicação!
A água é o principal fator de alteração das argilas. Ela tritura a argila em partí-
culas de tamanhos diferentes. Isso faz com que as partículas mais pesadas se
depositem no fundo dos rios. As outras vão se depositando, de acordo com seu
peso, pelo caminho/curso da água, e as mais leves somente se depositam onde
a água �ca estagnada.
Os mais variados objetos da vida cotidiana são feitos em argila: tijolos, telhas,
vasos, revestimentos, pratos, travessas e louças diversas, inclusive as louças
sanitárias e os isolantes elétricos, usados nos postes de energia e construções.
O que varia é o tipo de argila usado para cada �nalidade. Por exemplo, as argi-
las de composição mais so�sticada são usadas para fazer peças mais delica-
das, como as porcelanas. Vejamos, a seguir, alguns tipos de argila.
É um tipo de argila primária usada para fazer peças de porcelana. Suas carac-
terísticas principais são:
Essa argila é usada para a fabricação da pasta-base para louça industrial, in-
clusive para as louças sanitárias. Suas principais características são:
• Cor branca.
• Ponto de fusão entre 900ºC e 1.050ºC.
• Deve-se controlar seu grau percentual de óxido na composição, que não
deve ultrapassar 1%. Se essa porcentagem aumentar, vai parecer mar�m.
Argila refratária
Essa argila é resistente ao calor, e com ela são feitas peças refratárias como os
tijolos isolantes térmicos. Suas principais características são:
Argila vermelha
Bentonito ou Bentonite
Cera
Madame Tussauds é o nome do famoso museu de cera em Berlim, na
Alemanha. Esse museu possui diversas �liais pelo mundo. A mais conhecida
é a de Nova York. O Museu Madame Tussauds (Figura 48) �cou famoso por re-
tratar diversas celebridades, do mundo inteiro, em cera. Foi aberto há cerca de
200 anos, e até hoje são feitas esculturas de novas personalidades. Ao visitar o
museu, podemos ver Hitler, Kennedy, Einstein, os Beatles e muitos outros. A
semelhança é incrível!
Figura 48 Página inicial do site do Museu Madame Tussauds.
Outro trabalho interessante em cera é Untitled (1) (Figura 51), de Robert Gober.
Trata-se de uma escultura em cera, com pigmentos e cabelo humano. Do mes-
mo artista, temos Untitled (2) (Figura 52), em cera, madeira, tinta a óleo e cabe-
los humanos.
Figura 51 Untitled (1). Robert Gober (1990). MoMA. Nova York/Estados Unidos.
Figura 52 Untitled (2). Robert Gober (1990). Cera, madeira, tinta óleo e cabelos humanos.
Plastilina
A plastilina é um material plástico de cores variadas, composto de sais de cál-
cio, vaselina e outros compostos alifáticos, especialmente ácido esteárico.
Paper Clay
É uma argila com polpa de papel, que �ca muito leve e delicada quando quei-
mada. Dependendo da formulação, essa massa pode ser produzida como um
tipo de papel machê, surgindo como uma nova possibilidade para escultores.
Na Figura 54, podemos observar algumas peças feitas em Paper Clay pela ar-
tista Cynthia Gavião.
Figura 54 Peças da artista Cynthia Gavião.
6. Desbaste: Entalhe
A escolha de um tipo de material para realizar uma escultura implica, por
consequência, a técnica a ser utilizada. O desbaste ou o entalhamento de ma-
teriais em escultura é uma das técnicas mais antigas. Geralmente, é usado em
pedra, madeira e cimento, que são superfícies mais duras, mas também pode
ser usado em materiais mais macios, como gesso e até isopor, desde que com
o auxílio de ferramentas adequadas. As ferramentas de escultura de desbaste
são os cinzéis e as goivas.
Na Antiguidade, a pedra era o material mais comum nas esculturas, com ên-
fase nos mármores, matéria-prima da maioria das esculturas daquele período.
Essas esculturas chegaram até nós praticamente intactas devido à durabilida-
de do mármore (MUNDO EDUCAÇÃO, 2012).
Trabalhadas por desbaste, ou seja, por cortes feitos com ferramentas a�adas,
que retiram partes do material para atingir as formas que o artista projetou,
essas esculturas devem ser cuidadosamente planejadas, pois di�cilmente é
possível “retocar”: não é possível fazer colagens ou remendos nas pedras.
Diz uma "lenda" do mundo das artes que Michelangelo, ao concluir seu famo-
síssimo Davi, foi questionado sobre como fez seu projeto. Michelangelo, então,
teria respondido que não projetou nada, que "ele", Davi, já estava lá, dentro do
mármore, e coube ao artista somente “tirar os excessos” de pedra.
7. Madeira
Das técnicas de desbaste existentes, a que é utilizada em madeira chama-se
entalhe. A grande variedade de tipos de madeira é responsável pela variedade
equivalente de ferramentas para entalhe em madeira, cada uma com uma
função especial, um corte especí�co e, por consequência, um resultado dife-
rente.
Ao longo dos anos, a arte de esculpir madeira evoluiu muito. As técnicas tornaram-
se mais práticas e e�cientes, em grande parte devido à evolução das ferramentas.
Hoje em dia, os escultores têm à sua disposição uma vasta gama de ferramentas e
conjuntos de grande qualidade e muito mais funcionais. Mesmo os escultores ama-
dores podem aumentar a qualidade dos seus trabalhos recorrendo a estes instru-
mentos mais evoluídos.
As tendências e técnicas na arte da escultura em madeira podem ter mudado mui-
to, mas o princípio fundamental que a norteia ainda permanece o mesmo. A escul-
tura é, também, uma forma dos artistas se expressarem. A arte da escultura em
madeira tem sido reconhecida como uma forma concreta de expressão e as madei-
ras de alta qualidade em conjunto com a evolução das ferramentas �zeram aumen-
tar o detalhe, a qualidade e a arte das �guras esculpidas.
As ferramentas
Para entalhar madeira, é necessário:
• Um maço redondo (uma espécie de martelo, para bater nas goivas e for-
mões). Observe, na Figura 55, como é a posição da mão direita do artista
ao realizar o entalhe.
• Um conjunto de goivas (formões de lâmina curva) de diferentes larguras
(Figuras 56 e 57). Os de 8mm, 13mm e 25mm são os mais indicados para
os principiantes.
• Um formão reto para abrir sulcos, um formão liso e um chanfrado (para
cantos) (Figura 58).
Outras ferramentas necessárias são a grosa (Figura 59) e as limas (Figura 60),
ferramentas de várias formas com dentes mais �nos para cortar a madeira ex-
cedente e um simples barrilete ou grampo (Figura 61) para �xar no lugar o blo-
co a ser entalhado. Como alternativa, pode ser usado também um torno de
bancada (Figura 62), o que permite ajustar a posição da peça durante o traba-
lho.
Figura 59 Grosa.
Para alguns projetos, pode ser necessário o uso de furadeiras, brocas e demais
ferramentas elétricas, que são facilmente encontradas em lojas de materiais
de construção. Para obras de grandes dimensões, é interessante trabalhar com
serras e lixadeiras elétricas, de acordo com a �nalidade.
Em resumo, para tirar o máximo proveito das ferramentas, deve-se saber qual
é sua utilidade e qual a forma correta de usar cada uma delas. Normalmente, o
próprio nome da ferramenta indica sua função.
Uma dessas esculturas pode ser observada na Figura 64, uma obra de Xavier
de Brito.
8. Montagem ou Assemblages
Inicialmente, é preciso destacar que montagem – ou assemblage – e instala-
ção não são a mesma coisa. Montagem é o processo no qual a escultura é feita
com aproveitamento de objetos e descartes. A instalação, por sua vez, é uma
forma de intervenção artística em que um espaço é ocupado por objetos de na-
turezas diversas, segundo uma intenção-base do artista. Algumas instalações
podem usar as técnicas de montagem, ou assemblage, para serem elaboradas,
mas são, em princípio, manifestações artísticas diferentes.
Portanto, assemblage é um termo que descreve trabalhos que são algo mais
que a simples colagem. Baseia-se no princípio de que todo e qualquer material
pode ser incorporado a uma obra de arte, criando um novo conjunto, sem que
ela perca seu sentido original. É uma junção de elementos em um conjunto
maior, no qual sempre é possível perceber que cada peça é compatível e consi-
derada na obra.
A partir do século 20, muitas coisas aconteceram com a escultura, muitos ma-
teriais surgiram e muitos processos industriais foram incorporados pela área
em suas práticas.
Em linhas gerais, pode-se dizer que Picasso foi o precursor da escultura por
montagem de materiais que, na metade século 20, vai dar origem às instala-
ções artísticas.
Embora as técnicas tradicionais continuem a ser utilizadas, muitas esculturas do
século XX foram feitas com base na construção e na montagem. Estes métodos re-
metem à colagem, técnica pictórica criada, em 1912, por Pablo Ruiz Picasso e
Georges Braque e que consiste em colar papéis e outros materiais diferentes sobre
uma pintura. Nas suas construções, Picasso usou papel e outros tipos de material
para produzir objetos tridimensionais. A cultura construtivista vai das caixas sur-
realistas de Joseph Cornell até as obras com sucata de automóveis e partes de má-
quinas de John Chamberlain, ambos norte-americanos. O termo montagem, que na
atualidade se confunde à construção, foi usado pelo pintor francês Jean Dubuffet
para referir-se à própria obra, surgida da colagem (CAIU A FICHA, 2012).
Joan Miró também foi um dos artistas que faziam montagem em seus traba-
lhos escultóricos. Seus primeiros exemplares de montagens datam de 1929.
Em suas declaradas e claras preferências por uso de materiais de descarte e li-
xo e pela maneira como os trabalha, com os chamados "jogos do acaso", Miró
prenuncia uma tendência da arte contemporânea: a arte bruta de Dubuffet,
Tàpies e os materistas e a poesia da Arte Povera.
[...] signi�ca “arte pobre”. Foi um movimento artístico italiano que se desenvolveu
na segunda metade da década de 60. Seus adeptos usavam materiais de pintura
não convencionais, como, por exemplo, a areia, madeira, sacos, jornais, cordas, ter-
ra, e trapos, com o intuito de empobrecer a pintura e eliminar quaisquer barreiras
entre a arte e o dia-a-dia das pessoas.
Nessa corrente, criada em meados dos anos 1960, os artistas se voltam para a
natureza ou derivados, rompendo com os processos industriais e mostrando o
empobrecimento de uma sociedade guiada pelo acúmulo de riquezas materi-
ais.
Para entender isso mais claramente, vamos tomar emprestado este texto, da
Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural (2012):
O termo assemblagem é incorporado às artes em 1953, cunhado por Jean Dubuffet
(1901-1985) para fazer referência a trabalhos que, segundo ele, “vão além das cola-
gens”. O princípio que orienta a feitura de assemblagens é a “estética da acumula-
ção”: todo e qualquer tipo de material pode ser incorporado à obra de arte. O traba-
lho artístico visa romper de�nitivamente as fronteiras entre arte e vida cotidiana;
ruptura já ensaiada pelo dadaísmo, sobretudo pelo ready-made de Marcel Duchamp
(1887-1968) e pelas obras Merz (1919), de Kurt Schwitters (1887-1948). A idéia forte
que ancora as assemblagens diz respeito à concepção de que os objetos díspares
reunidos na obra, ainda que produzam um novo conjunto, não perdem o sentido
original. Menos que síntese, trata-se de justaposição de elementos, em que é possí-
vel identi�car cada peça no interior do conjunto mais amplo. A referência de
Dubuffet às colagens não é casual. Nas artes visuais, a prática de articulação de
materiais diversos numa só obra leva a esse procedimento técnico especí�co, que
se incorpora à arte do século XX com o cubismo de Pablo Picasso (1881-1973) e
Georges Braque (1882-1963). Ao abrigar no espaço do quadro elementos retirados da
realidade – pedaços de jornal, papéis de todo tipo, tecidos, madeiras, objetos etc. –,
a colagem liberta o artista de certas limitações da superfície. A pintura passa a ser
concebida como construção sobre um suporte, o que pode di�cultar o estabeleci-
mento de fronteiras rígidas entre pintura e escultura. Em 1961, a exposição The art
of Assemblage, realizada no Museum of Modern Art – MoMA, de Nova York, reúne
não apenas obras de Dubuffet, mas também as combine paintings de Robert
Rauschenberg (1925-2008) e a junk sculpture, e isso leva a pensar que a assembla-
gem como procedimento passe a ser utilizada nas décadas de 1950 e 1960, na
Europa e nos Estados Unidos, por artistas muito diferentes entre si.
Mantidas como técnicas e processos escultóricos até os dias atuais, muitos ar-
tistas contemporâneos fazem uso de assemblages ou montagens em suas
obras.
Figura 74 The Bronze Pinball Machine With Woman Af�xed Also (Máquina de Pinball de Bronze com Mulher
John Chamberlain reutiliza o lixo em sua arte mais de 20 anos antes de a re-
volução de reciclagem da década de 1970 atingir os Estados Unidos. Suas es-
culturas são feitas de materiais comuns: peças de automóveis desmantelados
podem ser vistas em seu trabalho colorido e chamativo, que, de�nitivamente,
são peças de arte (Figura 76).
Michelangelo Pistoletto
Artista italiano, Michelangelo Olivero Pistoletto nasceu em 1933, em Biella. Após um perío-
do de autoformação na área da pintura, possibilitado pela colaboração com seu pai no res-
tauro de pinturas (entre 1947 e 1958), iniciou a sua própria produção. Uma das primeiras
obras que executou é a pintura Homem em Sofá, datada de 1958, que revela desde logo a sua
obsessão pela imagem do homem. No grupo da Arte Povera experimentou uma grande va-
riedade de materiais. Exemplo paradigmático desta fase é a escultura Venus of the Rags
(Figura 77), feita em 1967, onde o artista usa uma estátua clássica de Vênus voltada para
um monte de roupa, contrastando materiais simples e comuns com a estátua em mármore
(adaptado de Infopédia, 2012).
Figura 77 Venus of the Rags. Michelangelo Pistoletto.
Junk sculpture
As junk sculptures (esculturas de lixo, em tradução livre) são uma forma de
montagem de peças que pretende construir um objeto com lixo e peças de ou-
tros contextos, descartadas, que são reutilizadas e reorganizadas.
São de plástico as obras de toyart (Figura 82) da maioria dos artistas e as gar-
rafas pet gigantes e iluminadas de Eduardo Srur (Figura 83), instaladas nas
margens do Rio Tietê, em São Paulo.
Figura 82 Customização em ToyArt Mania.
Figura 83 Garrafas PET. Gigantes e iluminadas de Eduardo Srur, instaladas nas margens do Rio Tietê em São Paulo.
Também são feitas de plástico as propostas do sul-coreano Sang Won, que
junta várias bacias e baldes plásticos como se fossem contas de um grande
colar e, com esses elementos, desenvolve proposições quase orgânicas (Figura
84).
Figura 84 As esculturas de plástico do coreano Sang Won estão expostas na galeria Thomas Cohn.
Espuma de nylon
Bastante utilizada no teatro para �gurinos e cenários, a espuma de nylon pode
e deve ser usada nas artes visuais como matéria-prima para processos escul-
tóricos.
Tecido
Desde que Hélio Oiticica propôs os Parangolés (Figura 86), o uso de tecidos na
arte, em trabalhos diversos, é uma constante. "Esculturas de vestir" – como os
Parangolés ou outras propostas que tenham no tecido sua base de desenvolvi-
mento – podem alcançar ótimos resultados. Tecidos podem ser cortados, cos-
turados, colados, engomados, podem revestir superfícies diversas etc.
A arte cinética (em inglês, kinetic art) é a arte na qual o movimento constitui o
princípio de estruturação. Agrega proposições não materiais aos processos es-
cultóricos, como a percepção e a integração com o espaço como elemento do
processo. Suas manifestações artísticas incorporam trabalhos que evidenci-
am possibilidades de transformação, seja pela posição do observador, seja pela
manipulação da obra.
As esculturas moles de Neto, feitas de tecidos como meias femininas de nylon
ou helanca �na, são recheadas de areia, bolinhas de isopor, terra e muitos ou-
tros materiais. Assim, ganham corporeidade diferenciada a cada novo projeto.
Figura 87 Body space nave mind, 2004. Ernesto Neto, na mostra The encounters in 21st century, no 21st Century
Fios de linha, arames, papel, aparas industriais, bobinas, sobras de carpete etc.
Qualquer material pode ser utilizado como base de processos escultóricos,
conforme observamos nas Figuras 90 e 91.
Figura 90 Construção Linear no Espaço, Naum Gabo, 1949. Utiliza plástico e �os de nylon, denotando uma nova forma
de apreciação da obra de arte e podendo ser fruída por vários sentidos do espectador.
Outro exemplo que podemos citar são as torres de ferro �uido. Acompanhe o
texto a seguir.
As incríveis torres de ferro �uido
São instalações que se movem sinteticamente com música. As estruturas �cam em uma
grande bandeja de ferro que contém ferro �uido – quando a música começa, o campo ele-
tromagnético ao redor das torres é aumentado, o que ativa os “picos” de ferro �uido. A técni-
ca é chamada de escultura de ferro �uido, usa um imã no interior do espiral e ajusta-se o
imã para o efeito que se quer produzir. Para picos pequenos, um campo eletromagnético
menor, para maiores, um campo eletromagnético mais forte. O formato das torres é em héli-
ce para que o �uido possa se mover para cima. Para que a sincronização com a música seja
perfeita são adicionados dados à batida, para que o ímã tenha seu campo eletromagnético
alterado automaticamente (HYPESCIENCE, 2012).
Portanto, é necessário que o professor de Artes tenha claro o conteúdo que irá
abordar em sua aula e a tipologia desse conteúdo, para que ele sempre se arti-
cule com o contexto.
Sem pretender ser um “manual” ou "ditar regras" para a ação docente, este ci-
clo pretende orientar a elaboração de propostas usando os processos escultóri-
cos aprendidos no decorrer deste estudo, na pesquisa e na prática pedagógica
do professor de arte em formação.
Segundo Dewey (1980), a experiência, seja qual for seu material (ciência, arte,
�loso�a e matemática), precisa ter qualidade estética para se efetivar como
tal.
Papel
Esculturas em papel são ótimos recursos para a sala de aula. O mais tradicio-
nal é o origami, que, embora seja bastante interessante e com ele possam ser
feitos belíssimos trabalhos, já é bastante conhecido e usado. Experimente ou-
sar trabalhar com materiais pouco usuais. Existem outras propostas em que
os processos escultóricos podem ser trabalhados, que podem ser desenvolvi-
das com resultados ótimos.
Papelagem
O que você precisa:
• Jornal.
• Papel de seda ou de embrulho de pão.
• Bacia sem reentrâncias e curvas.
• Vaselina cremosa.
• Cola branca ou goma de qualquer tipo.
• Pincel.
• Papel de presente.
• Tinta para artesanato.
Etapas:
Elas são feitas em papel de seda, com colagens em lugares estratégicos para
que, ao serem abertas, formem as formas trabalhadas. Essa técnica de mani-
pulação de papel também é conhecida como “favos de seda”, devido à aparên-
cia das peças quando prontas (Figuras 92, 93 e 94).
Fonte: acervo pessoal da autora.
Modo de fazer:
Para cada sólido, você vai precisar de um molde com a metade dele. Por exem-
plo, para fazer o círculo, você precisará de um molde de um meio círculo. Para
fazer um cilindro, precisará de um retângulo; para fazer uma forma oval, como
a da imagem, precisará de um molde de meia forma oval. E assim por diante.
Passo a passo:
1) Pegue o papel verde e dobre-o ao meio três vezes. Com o molde, risque a ár-
vore no papel cinco vezes e depois corte. Serão formadas 40 árvores.
2) Faça cinco montes com oito árvores cada. Dobre-as ao meio três vezes, for-
mando sete vincos em cada.
6) Pegue o papel color set branco e dobre-o ao meio. Pegue a base de uma das
árvores e cole na parte interna do cartão.
8) Risque uma árvore no papel color set verde, recorte e cole-o na parte exter-
na do cartão.
9) Pegue os enfeites dourados e os lacinhos e decore a árvore.
10) Com o cortador em forma de pomba, recorte uma pomba no papel lamina-
do dourado e cole-a sobre o cartão.
Papelão
O papelão é um material que, além de ser extremamente versátil e de baixo
custo, pode ser conseguido de graça em mercados e lojas.
Papel machê
Também conhecido como papel marchet e papier maché (em francês, papel
esmagado, picado. Lê-se "machê".), é uma técnica milenar conhecida na China
200 anos antes de Cristo.
Na França, e depois na Inglaterra, a técnica foi usada para criar objetos deco-
rativos como candelabros, porta-joias e bijuterias. Até mesmo biombos e bar-
cos leves foram feitos com papel machê. Para se ter ideia da durabilidade do
material, nos Estados Unidos foram construídas casas de papel machê que
duraram décadas. Na Noruega, na cidade de Berghen, foi construída uma igre-
ja que durou 37 anos. É uma massa feita com papel, água, farinha e cola, muito
maleável, ótima para ser trabalhada com crianças.
Algumas das receitas levam formol e devem ser evitadas com crianças muito pequenas, pois, se ingeridas,
podem fazer mal à saúde.
Receitas: Tipo 1
Esta receita é mais delicada – indicada para máscaras, caixinhas e trabalhos
que tenham mais detalhes.
Material:
• 1/4 de rolo de papel higiênico.
• Farinha de trigo.
• Gesso em partes iguais às de farinha de trigo.
• Cola fria.
Modo de preparo:
Em seguida, coe o papel num pano, até tirar toda a água. Coe de cada vez
quantidades que você possa espremer facilmente com as mãos e não misture
esses “bolos” entre si.
Não prepare quantidade maior de massa do que aquela que você pretende
usar, pois uma vez seco o gesso, não será possível aproveitar a massa. Se dese-
jar fazer escultura com esse material, não use gesso, ao preparar a mistura.
Faça-a apenas com o papel, farinha e cola fria, na proporção indicada anteri-
ormente.
Passo a passo:
Massa de sal
A massa de sal é bem prática para se trabalhar e apresenta baixo custo. Como
não vai ao fogo, pode ser preparada pelas próprias crianças, mas deve ser as-
sada com a supervisão de um adulto. Se for ingerida não faz mal, visto que só
leva água, farinha e sal. Vejamos, a seguir, a receita:
Modo de preparo:
Biscuit
A porcelana fria, muito conhecida no Brasil como biscuit (veja exemplo de es-
cultura em biscuit na Figura 107), teve suas origens na massa de sal, oriunda
da Itália, e na massa salt dough, utilizada nos Estados Unidos. É uma massa
essencialmente constituída de cola e amido de milho. A cola confere-lhe ele-
vada resistência e maleabilidade, permitindo ainda que as peças sejam pinta-
das e envernizadas após a moldagem. Uma das grandes vantagens dessa
massa é o fato de ela não ter de ir ao forno, uma vez que as peças acabadas se-
cam ao ar. Quando bem confeccionados, os trabalhos executados com a massa
têm aspecto semelhante ao dos trabalhos em porcelana tradicional. Vamos à
receita:
Modo de preparo:
Justi�cativa
Ao realizar um projeto, muitas pessoas se confundem ao fazer a justi�cativa.
Justi�car um projeto, seja ele qual for, é fazer a contextualização dos motivos
em que se baseia a necessidade de se "[...] desenvolver uma proposta de projeto
pedagógico da forma que está sendo apresentada". Justi�car uma proposta
pedagógica é diferente de traçar os objetivos dela. Pois os objetivos são "[...]
‘aonde’ se quer chegar, a justi�cativa deve indicar ‘por que' é importante che-
gar a esse 'lugar'” (SAMPAIO, 2009).
Sampaio (2009) a�rma ainda que “[...] justi�cativas consistentes têm bases teó-
ricas que dão suporte à argumentação utilizada para defender uma proposta
de projeto pedagógico". Ou seja, ao realizar um planejamento de proposta pe-
dagógica que pretenda ser realmente consistente e sério, deve-se cuidar aten-
ciosamente para que o que seja proposto tenha fundamentação adequada.
Nada, numa proposta pedagógica séria, acontece 'porque sim'. A presença ou não
de uma visão, ideia, teoria, método etc. deve estar diretamente relacionada e emba-
sada em argumentações consistentes, apoiadas por uma teoria adequada que vali-
de a proposição (SAMPAIO, 2009).
Objetivos
Nas Diretrizes Curriculares de Artes Visuais, o Projeto Pedagógico é chamado
de: "Objetivos gerais do curso, contextualizados em relação às suas inserções:
institucional, política, geográ�ca e social” (MEC, 2009).
Em linhas gerais, uma proposta consistente de projeto pedagógico parte que uma
questão clara: o que se pretende que seja alcançado no �m do curso (unidade)?
Como o processo começou, quais serão os resultados �nais?
Já os objetivos especí�cos são mais detalhados, mais delimitados quanto ao que se
pretende ou que se espera que tenha se modi�cado, no aluno, após ter percorrido o
percurso proposto. Ou seja: o que vai provocar, no aluno, um percurso como esse?
Cronograma
O item denominado "Cargas horárias das atividades didáticas e da integraliza-
ção do curso" (MEC, 2009) se refere ao cronograma do curso, ou seja, a distri-
buição das atividades pretendidas ao longo do tempo de duração previsto para
a proposta. Este item, que também poderia ser chamado de "cronograma",
mais que um calendário com datas in�exíveis, é um cronograma detalhado
que contém as seguintes informações:
Metodologia
O item denominado “metodologia” nas diretrizes curriculares nacionais é onde
são descritas as formas de trabalho que serão adotadas para desenvolver as
propostas de conteúdos: “[...] a �m de atender os objetivos, re�exos da justi�ca-
tiva, é a maneira de direcionar as ações que vão ocasionar o alcance das pro-
postas iniciais" (SAMPAIO, 2009).
Mas,
[...] não é necessário haver [...] um item especí�co para este �m se a proposta de tra-
balho contemplar uma temática em uma das áreas somente, mas é interessante,
mesmo nestas ocasiões, ter ciência da necessária integração entre teoria e prática,
mesmo que esta seja consequência do aprendizado (SAMPAIO, 2009).
Avaliação
As diretrizes curriculares chamam de "Formas de avaliação do ensino e da
aprendizagem" (MEC, 2009) o processo de avaliação de aprendizagem.
Avaliações não devem ser momentos de "premiação". Ou seja, notas não são
"prêmios" ou "punições" que o professor distribui entre alunos. Assim,
Sampaio (2009) ainda nos mostra que “[...] cumprir uma etapa de uma propos-
ta só deve merecer atribuição de valores se isso for condição para atingir os
objetivos traçados originalmente".
Na maioria dos projetos, essa fase se caracteriza como uma das principais di�-
culdades dos pro�ssionais de educação, como muitos estudos mostram, inclu-
sive na área de arte/educação. Sampaio (2009, grifos nossos) a�rma:
[...] é importante ter em mente que a clareza de critérios de avaliação é fator pre-
ponderante de sucesso de uma proposta pedagógica, qualquer que seja. Para avali-
ar, é preciso saber o que avaliar!
Bibliogra�a
Em síntese, bibliogra�a ou referências bibliográ�cas são:
[...] uma lista dos documentos utilizados como referência na construção da propos-
ta de projeto pedagógico, pois é pela bibliogra�a selecionada que se constroem as
bases de sustentação teórica com que a proposta dialoga para a efetiva construção
de conhecimento (SAMPAIO, 2009).
Esquema simpli�cado
Para orientar a elaboração de projetos pedagógicos, Sampaio (2009) sugere os
sete passos descritos a seguir:
Agora, você está apto a desenvolver seus próprios projetos de processos escul-
tóricos, compreendendo os espaços do fazer, do contextualizar e do fruir arte,
que são proporcionados pela prática consciente e proposital da abordagem tri-
angular nas aulas de artes.
Se for trabalhar com crianças muito pequenas, elas podem ingerir pedacinhos
da massa. Por isso, é interessante preparar massas que não lhes façam mal,
como a massa de modelar que apresentaremos a seguir. Essa massa pode ser
ingerida, ao contrário das massinhas de modelar prontas, que não podem.
Modo de preparo:
Para ampliar seus estudos, conheça um pouco mais sobre ferramentas de escultura e mo-
delagem (https://www.youtube.com/watch?v=0BXimVDzd-k), e também sobre ferramen-
tas para entalhe: visão geral de goivas e facas (https://www.youtube.com/wat-
ch?v=iKJoae4MqM8).