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CAPÍTULO 8

TRABALHOS DO MARINHEIRO

SEÇÃO A – VOLTAS

8.1. Definições – Chamam-se trabalhos do marinheiro ou obras do marinhei-


ro os diferentes trabalhos de bordo pelos quais as lonas e os cabos se prendem,
são emendados ou se fazem fixos, ou, ainda, são preparados para qualquer aplica-
ção especial.
Eles só podem ser bem conhecidos pela prática intensa, mas as ilustrações,
as definições e as explicações abaixo darão uma idéia e, ainda mais, mostrarão a
utilidade de cada um. Podem ser enumerados, de modo geral, como falcaças, nós,
voltas, malhas, aboçaduras, botões, alças, mãos, estropos, costuras, pinhas,
rabichos, gaxetas, coxins e redes.
Nós e voltas são os diferentes entrelaçamentos feitos a mão e pelos quais os
cabos se prendem pelo chicote ou pelo seio. Se dados corretamente aumentam de
resistência quando se porta pelo cabo; entretanto, podem ser desfeitos com facili-
dade pela mão do homem. Se mal dados, podem recorrer no momento em que é
aplicado um esforço sobre o cabo, e são às vezes difíceis de desfazer, por ficarem
mordidos.
Apresentamos neste capítulo todos os nós e voltas considerados clássicos
nos trabalhos do marinheiro em todas as marinhas e em todos os tempos. Alguns
deles já caíram em desuso e têm apenas interesse instrutivo ou servem como orna-
mento. A maioria, porém, é constituída por trabalhos que, realizados por um mari-
nheiro hábil, são de grande valor a bordo, pela segurança que apresentam e pela
facilidade com que são feitos e desfeitos. Quem os souber fazer estará apto a
realizar qualquer amarração nas fainas necessárias a bordo. Há, certamente, outros
nós e voltas e muitos outros podem ser deduzidos, mas serão mais complicados,
ou menos seguros. Ao consultar as figuras e ao estudar a confecção de nós, é
importante também não esquecer que alguns nós
e voltas tomam aspectos diferentes quando vis-
tos de diversos ângulos.
Cabo solteiro é um pedaço de cabo que
não tem aplicação especial e que está à mão
para ser empregado em qualquer mister. Tome-
mos um cabo solteiro (fig. 8-1). Se a parte que
vai de 1 a 2, suposta de grande comprimento,
estiver portanto sob a tensão de um esforço de-
terminado, ou mesmo, se apenas deu volta em
um objeto, será chamado o vivo do cabo. Qual-
quer parte do cabo compreendida entre 2 e 3
(passando ou não por d e b) será chamada o
seio do cabo. A parte entre 3 e 4 será o chicote.
Ao cabo que se vê na figura damos um seio, ou Fig. 8-1 – Cabo solteiro
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uma dobra y. Este seio, tal como está dado, vai servir para começar alguns nós,
conforme veremos adiante. O chicote 4 do cabo está falcaçado (art. 8.46).
Um cabo, passando em torno de um objeto qualquer em uma só volta de
circunferência, sem morder ou dar qualquer nó, dá uma volta singela. Dando duas
ou mais voltas de circunferência em torno do mesmo objeto, dá voltas redondas.

8.2. Resistência dos nós, voltas e costuras – Ao fazer uma amarração


qualquer, convém lembrar-se que nenhum nó, volta ou costura pode ser tão resisten-
te quanto o próprio cabo. A razão é simples, pois enquanto no vivo do cabo o esforço
é distribuído uniformemente pelos cordões, no ponto de amarração há dobras mais
ou menos acentuadas e há distorções que ocasionam a sobrecarga do esforço
sobre um determinado cordão ou sobre certo número de fios de carreta. Por isto, se
um cabo tem um nó, volta ou costura, e sofre um esforço de tração demasiado, é
quase certo que se parta no ponto de amarração.
A resistência aproximada de alguns tipos de amarração em percentagem da
resistência do próprio cabo é dada no quadro abaixo, organizada pela Columbian
Rope Company, Auburn, NY, EUA, de acordo com experiências feitas em cabos
novos:
C abo úmi do 111%

C a b o se co 100%

C ostura de mão 100%

C ostura de mão, seca, em sapati lho 95 - 90%

C ostura redonda 85%

Volta de fatei xa 76%

Volta de ri bei ra, volta redonda e doi s cotes 70 - 65%

Lai s de gui a 60%

Volta de fi el 60%

Nó de escota 55%

Nó di rei to 45%

Mei a-volta 45%

8.3. Voltas – São dadas, com o chicote ou com


o seio de um cabo, em torno de um objeto qualquer.

8.4. Meia-volta (fig. 8-2) – É a volta usada


comumente nos embrulhos, a qual se dá com o chico-
te de um cabo e pode-se desfazer facilmente. Pode ser
dada em torno de um objeto, mas nesta forma não é
muito usada a bordo; pode ser dada num cabo sobre si
mesmo, e então se aplica em um cabo fino, para não Fig. 8-2 – Meia-volta
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deixar o chicote desgurnir de um gorne ou para não deixá-


lo descochar. Sua principal função é servir como base ou
parte de outros nós. Muitas vezes a meia-volta aparece
espontaneamente em um cabo solteiro mal acondiciona-
do; convém, então, desfazê-la imediatamente, porque,
depois de apertada, é difícil de ser desfeita. Um cabo com
meia-volta perde mais da metade de sua força (art. 8.2).

8.5. Volta de fiador (fig. 8-3) – Uma volta que lembra


o número oito. Para construí-la, passa-se o chicote em
torno de a e por trás de z e depois mete-se por dentro do
seio b, apertando em seguida.
É dada, por exemplo, no chicote do tirador de uma
talha, a fim de não deixar desgurnir; para este fim é supe-
Fig. 8-3 – Volta de fiador
rior à meia-volta, pois não fica mordido, sendo desfeito
mais facilmente.
É um nó simetricamente perfeito; sua aplicação
prática é restrita, mas é muito usado como nó ornamen-
tal, por sua beleza e simplicidade de desenho.

8.6. Cote (fig. 8-4) – É uma volta singela em que


uma das partes do cabo morde a outra; é raramente usa-
do só, servindo para rematar outras voltas. Como está
representado na figura 8-4, serve para prender momenta-
neamente o chicote de um cabo que não deverá sofrer
esforço, e que deve ser de diâmetro moderado. A figura
8-5 (II) também mostra um cote.

8.7. Volta de fiel singela (fig. 8-5) – São dois co- Fig. 8-4 – Cote
tes dados um contra o outro, de modo que os dois chico-
tes saiam por entre eles e em sentidos contrários. A figura 8-5 mostra, em três está-
gios sucessivos, como se dá uma volta de fiel singela, começando pelo chicote.

Fig. 8-5 – Volta de fiel singela


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É a volta mais usada a bordo para se passar um fiel


ou uma adriça em torno de um balaústre, um olhal, ou um
pé-de-carneiro. É útil também para amarrar um cabo fino em
torno de um mais grosso, como por exemplo são os
enfrechates amarrados aos ovéns das enxárcias. A figura 8-
6 mostra como se dá volta de fiel singela, pelo seio do cabo.
A volta de fiel deve ser empregada onde a tensão no cabo
seja constante. Nos outros casos deve ser rematada com
Fig. 8-6 – Volta de fiel um cote ou um botão.
singela, dada pelo
seio de cabo
8.8. Volta de fiel dobrada (fig.
8-7) – É começada e terminada como a
volta de fiel singela, mas, como se pode ver na figura 8-7, há
uma volta a mais entre o primeiro e o ultimo cote, ou seja, o
primeiro cote é mordido com volta redonda.
O grande valor desta volta é que nunca recorre, e, deste
modo, pode ser usada para agüentar qualquer cabo em torno
de um mais grosso, ou em torno de um pé-de-carneiro; é muito
usada para dar volta aos fiéis das macas nos pés-de-carneiro e Fig. 8-7 – Volta de
para aboçar um cabo (art. 8.142). fiel dobrada

8.9. Volta singela e cotes (fig. 8-8) – Volta redonda e cotes (fig. 8-9) –
Um, dois ou mais cotes rematando uma volta singela ou uma volta redonda. Se for
dado apenas um cote, deve-se abotoar (art. 8.64) o chicote do cabo. A volta com
dois cotes não se desfaz como a anterior, mas também recorre, a menos que se
abotoe o chicote. Os dois cotes devem ser dados no mesmo sentido.
Servem para agüentar um cabo ao anete de um ancorote, à boça de uma
embarcação, ao arganéu de uma bóia etc. A volta redonda e dois cotes pode ser
usada para agüentar uma espia em um cabeço, mas deve-se então colocar um
pedaço de madeira separando os dois cotes, ou abotoar o chicote.

Fig. 8-8 – Volta singela Fig. 8-9 – Volta redonda


e dois cotes e dois cotes
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8.10. Volta da ribeira (fig. 8-10) – Dá-se uma vol-


ta em torno do objeto e depois um cote, enleando o chi-
cote em torno do próprio cabo. Serve para amarrar um
mastro, uma antena e, de modo geral, objetos leves, para
içar.

8.11. Volta da ribeira e cote (fig. 8-11) – Dá-se


primeiro o cote, conforme a figura, e depois dá-se, com o
chicote do cabo, a volta da ribeira. Serve para os mes-
mos fins da volta da ribeira, mas o cote dá mais seguran-
ça, pois o objeto fica preso em duas partes. É útil para
segurar um madeiro que se reboca.

Fig. 8-10 – Volta


da ribeira

8.12. Volta singela


mordida, em gatos (fig. 8-
Fig. 8-11 – Volta da ribeira e cote 12) – Conforme o nome diz,
é um cote sobre um gato;
logo que começa o esforço sobre o
cabo, o vivo dele morde o chicote. Ser-
ve para prender, com presteza, um
cabo a qualquer gato fixo ou aparelho
de içar. Quando demandar pouca for-
ça, faz-se como se vê em (a); se for
preciso força e houver receio de que
o gato se abra, faz-se como se vê em
(b) ou em (c).

8.13. Volta redonda mordida,


em gatos – É a mesma volta anteri-
or, com uma volta redonda em vez de
Fig. 8-12 – Volta singela mordida
volta singela, apresentando maior se-
gurança. As voltas mordidas em gatos não são muito empregadas atualmente; é
preferível fazer o balso singelo (art. 8.25) e passá-lo no gato, a não ser que o chicote
seja curto demais para dar o lais de guia.

8.14. Boca-de-lobo singela (fig. 8-13) – Serve para a amarração provisória,


pelo gato, de qualquer aparelho de içar e para amarrar qualquer cabo, pelo seio ou
pelo chicote, a um gato fixo. Pode-se portar o cabo pelos dois chicotes ou por um
deles somente; no último caso, substitui as voltas mordidas em gatos, apresentan-
do maior segurança.
Primeiramente, dobra-se o cabo, como se vê em (I). Faz-se então passar o
chicote c por trás da parte d e por cima do seio a, entre a e b, conforme mostra a
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linha pontilhada. Passa-se então o gato por dentro dos dois seios a e b, conforme
mostra a figura em (II). O cabo porta melhor pelo chicote c.

Fig. 8-13 – Boca-de-lobo singela

8.15. Boca-de-lobo dobrada (fig. 8-14) – Serve para


os mesmos fins da boca-de-lobo singela, e ainda para cortar
(diminuir o tamanho) um estropo singelo. Dobra-se o seio do
cabo conforme mostrado na figura 8-13 (I); enleiam-se os dois
seios a e b, como podemos ver na figura 8-14, passando o
gato por dentro deles.

8.16. Volta de fateixa (fig. 8-15) – Dada conforme se


vê na figura, com uma volta redonda, passando depois do cabo,
com um cote, por dentro da volta redonda. O chicote deve ser
rematado por um botão (a) ou por um segundo cote (b). É
usada para amarrar uma espia a um ancorote, um fiel a um Fig. 8-14 – Boca-
balde etc. de-lobo dobrada

8.17. Volta de tortor (fig. 8-16) – É


usada para agüentar o passador em um
merlim, quando se deseja rondar as voltas
(redondas, falidas ou trincafiadas) que atra-
cam dois cabos ou duas partes de um cabo
onde se vai fazer uma alça (fig. 8-16b); usada
ainda para falcaçar, ou para prender um cabo
a um gato, tal como a boca-de-lobo. Empre-
gada para amarração das pranchas de cos-
tado (fig. 8-115).
Para dar esta volta, considera-se a fi-
Fig. 8-15 – Volta de fateixa gura 8-1: coloca-se o passador sobre a parte
TRABALHOS DO MARINHEIRO 385

d do merlim, com a sua ponta para a esquerda, antes de dobrar o chicote c, como
se vê naquela figura. O passador ficou, portanto, metido no seio y por baixo de b e
por cima de d. Segurando o passador com a mão direita, podemos agora fazer com
que a sua ponta vá buscar a parte a do merlim, a fim de trazê-la por cima do seio y,
passando-se, em seguida, a ponta do passador por baixo da parte d. A volta que
ficou feita é exatamente a que se vê na figura 8-16.

Fig. 8-16 – Volta de tortor

8.18. Volta redonda mordida e


cote (fig. 8-17) – É uma volta que dificil-
mente recorre; quanto maior o esforço
sobre o cabo, mais apertada fica. É dada
em torno de um objeto fixo, com uma
volta redonda e cote, mordendo depois o
chicote por cima de uma e por baixo de
outra das duas voltas. Era empregada an-
tigamente para dar volta às adriças e
escotas das velas, mas está atualmente
em desuso. Fig. 8-17 – Volta redonda mordida e cote
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8.19. Volta de encapeladura singela (fig. 8-18) – É dada começando com


uma volta de fiel (I), mas pode terminar de dois modos diferentes. Mete-se a parte
c por dentro de ab e a parte b por dentro de cd e ronda-se, fincando como se vê em
(II). Se metermos a parte a por dentro de cd, e a parte d por dentro de ab, ficará
como se vê em (III).
Serve para agüentar um mastro ou uma antena ao alto, encapelando no topo do
mastro e parte central e servindo de plumas os ramos b e c (II) e os dois chicotes,
os quais são amarrados no convés a distâncias e em direções convenientes.

Fig. 8-18 – Volta de encapeladura singela

8.20. Volta de encapeladura dobrada (fig. 8-19) – Dada de modo seme-


lhante à encapeladura singela, mas com três seios (I). As partes internas a e b
cruzam-se e passam alternadamente por cima e por baixo das outras partes. É
empregada somente para enfeite.

Fig. 8-19 – Volta de encapeladura dobrada

8.21. Volta de encapeladura em cruz (fig. 8-


20) – Serve para substituir uma alça provisória; muito
usada nos navios pesqueiros que têm pau-de-carga de
madeira. Serve também para ornamentação.

8.22. Voltas trincafiadas (fig. 8-21) – Uma série


de cotes, isto é, voltas singelas mordidas dadas suces-
sivamente com um mesmo cabo. Feitas com o trincafio
das macas para
ferrá-las e usadas Fig. 8-20 – Volta de
também para ferrar encapeladura em cruz
toldos e velas. Po-
dem ser dadas com merlim para marcar um pon-
to num cabo, ou para dar um botão provisório em
dois cabos ou dois objetos que se deseja unir,
Fig. 8-21 – Voltas trincafiadas mas nestes casos as voltas ficam bem unidas.
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8.23. Volta falida (fig. 8-22) – É constituída por uma série de voltas alterna-
das dadas entre dois objetos quaisquer e é usada para diversos fins. Serve para
atracar dois cabos, dando um botão provisório; para unir duas peças quaisquer;
para amarrar um cabo alceado a um mastro; para fazer badernas, portuguesas e
peitos de morte; para dar volta a uma espia ou a um cabo de laborar qualquer em
torno de dois cabeços ou em cunhos de malaguetas.

Fig. 8-22 – Volta falida

SEÇÃO B – NÓS DADOS COM O CHICOTE OU COM


O SEIO DE UM CABO SOBRE SI MESMO

8.24. Lais de guia (fig. 8-23) – É o rei dos nós; muito usado a bordo, pois é
dado com presteza e nunca recorre. Serve para formar uma alça ou um balso, que
pode ser de qualquer tamanho, mas não corre como um laço; nesta forma, serve
para fazer a alça temporária numa espia, ou para ligar duas espias que não devem
trabalhar em cabrestante (ver
aboçaduras, art. 8.45).
Para dar um lais de guia,
se o cabo for de diâmetro mode-
rado, segura-se a parte b na mão
direita, e a parte d do cabo na
mão esquerda, faz-se o seio x,
isto é, passa-se da figura 8-1 à
figura 8-23. Basta agora fazer o
chicote c seguir a linha pontilha-
da (fig. 8-23 I) para completar o
nó (fig. 8-23 II). Se o diâmetro
for grande, procede-se de modo
semelhante, mantendo, porém,
o cabo sobre o convés.
Um emprego muito útil do
lais de guia é na amarração tem-
porária de embarcações peque- Fig. 8-23 – Lais de guia
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nas, e até mesmo contratorpedeiros, ao arganéu de uma bóia. Passa-se o chicote


por dentro do arganéu e dá-se o lais de guia no seio do cabo, dentro da embarcação.
Esta fica amarrada pelo balso formado pelo lais de guia, o qual é fácil de desfazer
pelo pessoal de bordo em qualquer momento.

8.25. Balso singelo – Balso é o seio ou alça que resulta de um lais de guia.
Balso singelo é o resultado de um lais de guia dado no próprio cabo formando
apenas um seio (fig. 8-23 II).

8.26. Balso de calafate (fig. 8-24) – É formado do mesmo modo que um


balso singelo, dando, porém, o chicote mais uma volta por dentro da alça x (fig. 8-
23), antes de ir completar o lais de guia. É muito usado para agüentar um homem
que trabalha no costado ou num mastro, como se vê na figura, podendo ele ficar
com as mãos livres. Os dois seios do balso ficam livres de correr, aumentando-se
um ou outro, de modo que um homem pode sentar-se em um deles z, depois de
gurnir a cabeça e os braços pelo outro j, ficando assim o lais de guia no peito.
Este balso permite também fazer descer um homem a um paiol invadido por
fumaça, de modo que, se ele ficar desacordado, poderá ser içado com segurança.

Fig. 8-24 – Balso de calafate

8.27. Balso dobrado (fig. 8-25) – É


um balso com dois seios, que são formados
dando-se duas voltas redondas com o chico-
te antes de dar o lais de guia, conforme se vê
na figura. Serve para os mesmos usos do
balso de calafate. Pode também ser passa-
do em torno de um objeto que se deseja içar,
servindo de estropo; neste caso as voltas re-
dondas são dadas em torno do objeto e ter-
minam com um cote ou uma meia-volta, de-
pois do que se faz o lais de guia. Fig. 8-25 – Balso dobrado
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8.28. Balso pelo seio (fig. 8-26) – Toma-se um cabo dobrado pelo seio e
começa-se como um lais de guia (fig. 8-26 I); seguindo então a seta, faz-se passar
o seio y por fora do seio z e aperta-se o nó assim realizado. É empregado onde for
necessária maior resistência que a de um balso singelo, ou onde não se possa
tomar o cabo pelo chicote; serve também para pendurar um homem.

Fig. 8-26 – Balso pelo seio

8.29. Balso americano – É um método de formar duas


voltas em um cabo sem que nenhuma corra, de modo que as
extremidades passem pelo centro cruzando e saindo pelas
laterais. Serve para retirar um ferido de um porão ou pendurar
um homem no mastro.

8.30. Balso de correr ou lais de guia de correr (fig.


8-27) – É um laço formado por um balso singelo dado em
torno do seio do próprio cabo, para ser aplicado onde se ne-
cessitar uma alça de correr feita com presteza.

8.31. Corrente (fig. 8-28) – É uma série de voltas da-


das com o fim de diminuir o comprimento de um cabo que não
sofre esforço, como por exemplo o chicote de um cabo qual-
quer que esteja pendurado. Entretanto, para um melhor as-
pecto do navio, não se deve usar a corrente nos fiéis de tol- Fig. 8-27 – Balso
dos; estes devem ser diminuídos com voltas redondas bem de correr
unidas, dadas com o chicote sobre o vivo deles (art. 8.151).

Fig. 8-28 – Corrente


390 ARTE NAVAL

Para fazer uma corrente começa-se por uma alça que pode ser construída
por uma meia-volta, como se vê em (I); faz-se então passar a parte a do cabo por
dentro do seio z, formando um novo seio z, que se colocará sobre uma parte seme-
lhante a do cabo, e assim sucessivamente.

8.32. Catau (fig. 8-29) – É uma dobra que se dá no seio de um cabo, princi-
palmente para esconder um ponto fraco, mas que também serve para encurtá-lo.
Para começar um catau, dobra-se o cabo, como se vê em (a); em seguida,
dão-se, com o seio do cabo, dois cotes (b); para maior segurança pode-se passar
um botão redondo esganado (c) ou meter duas taliscas de madeira (d); se o cabo é
de bitola tão grande que dificulta o nó, abotoa-se somente (e).

Fig. 8-29 – Catau


TRABALHOS DO MARINHEIRO 391

8.33. Catau de bandeira – Usado pelos sinaleiros,


para levar as bandeiras, ou uma só, ao tope, e uma vez no
tope do mastro, puxa-se uma das pernadas e será desfeito o
catau.

8.34. Nó de azelha (fig. 8-30) – Dado com o seio do


cabo, conforme se vê na figura, serve para marcar um cabo ou
merlim pelo seio. É muito empregado para tomar medidas
das velas, com linha ou merlim, dando-se um nó de azelha
para marcar os punhos. É útil também para encurtar a linha Fig. 8-30 – Nó de
azelha
ou o merlim.

8.35. Nó de pescador (fig. 8-31) – Toma-se o seio do cabo e faz-se uma


espécie de alça y; coloca-se a parte a sobre y. Dobra-se o cabo em y e faz-se passar
este extremo y por cima de a e por baixo de b, saindo em z, conforme indica a seta.
Tem esse nome por ser muito usado pelos pescadores para encurtar uma linha,
escondendo um ponto em que ela esteja coçada.

Fig. 8-31 – Nó de pescador

8.36. Nó de moringa (fig. 8-32) – Dobra-se o cabo pelo seio; coloca-se essa
dobra z sobre as partes a, b do cabo, formando dois seios, x e y (I). Faz-se passar o
seio y por dentro de x, como indica a seta, colocando-o sobre as partes a, b do cabo,
acima de z (II). Metendo-se agora dois dedos da mão direita em s, e depois por
baixo de b (entre a
e b ), puxa-se o
centro da parte z,
formando-se então
o nó que se vê em
(III). Serve onde
seja necessário co-
mo alça permanen-
te (por exemplo,
uma alça para lam-
baz) ou somente
para enfeite; antiga-
mente era utilizado
para pendurar as
moringas de asa a
bordo dos veleiros. Fig. 8-32 – Nó de moringa
392 ARTE NAVAL

SEÇÃO C – NÓS DADOS PARA EMENDAR DOIS


CABOS PELOS CHICOTES

8.37. Nó direito (fig. 8-33) – É o método mais antigo e, em terra, o mais


empregado, para unir dois chicotes ou dois cordões quaisquer. Tem a qualidade
de não recorrer, mas é muito difícil de ser desfeito, uma vez rondado. É por isto
mais usado na ligação, pelos chicotes, de dois cabos finos que não demandem
força, ou para terminar uma amarração definitiva qualquer. Desfaz-se por si mes-
mo se os cabos são de diferentes tamanhos ou materiais. Nunca deve ser empre-
gado para unir cabos que trabalham em aparelhos de laborar ou para emenda de
espias. É muito usado, por exemplo, para amarrar os rizes das velas. É dado
como mostra a figura 8-33, fazendo-se primeiro uma meia-volta com ambos os
chicotes e depois, conforme a linha pontilhada, dando outra meia-volta em sentido
inverso ao da primeira.

Fig. 8-33 – Nó direito

8.38. Nó torto (fig. 8-34) –


É dado como um nó direito, mas
as duas meias-voltas são feitas
num mesmo sentido. Confunde-se
muito com aquele, mas não é usa-
do a bordo porque recorre.

8.39. Nó de escota singe-


lo (fig. 8-35) – É muito útil para unir
Fig. 8-34 – Nó torto
dois cabos pelos chicotes, ou um
chicote a um olhal, mão ou alça. É
muito usado para amarrar a uma
bandeira a adriça que não possui
gato; é também empregado para
dar volta à boça de uma embarca-
ção miúda na mão do cabo de
cabeço de um surriola. Pode ser
aplicado em qualquer tipo de cabo,
mas é particularmente útil para as
ligações de cabos finos ou de ca-
bos de bitolas diferentes. Fig. 8-35 – Nó de escota singelo
TRABALHOS DO MARINHEIRO 393

8.40. Nó de escota dobrado (fig. 8-


36) – É o mesmo nó anterior, fazendo o chi-
cote uma volta redonda, em vez da volta sin-
gela, para maior segurança. É usado para
emendar duas espias, especialmente quan-
do uma delas tem alças ou quando são de
Fig. 8-36 – Nó de escota dobrado
tamanhos diferentes; no último caso a espia
de maior grossura forma a alça.

8.41. Nó de escota de rosa (fig. 8-


37) – Usado para unir dois cabos de bitolas
diferentes.

8.42. Nó de correr (fig. 8-38) – Tam-


bém chamado, às vezes, nó de pescador. Con-
forme se vê na figura, serve para emendar dois
cabos, dando em cada chicote uma meia-vol-
ta em torno do outro.
Fig. 8-37 – Nó de escota de rosa
8.43. Nó de fio de carreta (fig. 8-39)
– Usado para emendar dois fios de carreta.
Separam-se, em duas metades, os fios de
carreta, constituindo quatro cordões, que são
entrelaçados como se vê na figura, formando
um nó direito. Em desuso.

8.44. Nó de frade (fig. 8-40) – É usa- Fig. 8-38 – Nó de correr


do para limitar ângulo de leme de embarca-
ções miúdas e como ornamentação.

Fig. 8-40 – Nó de frade Fig. 8-39 – Nó de fio de carreta

8.45. Aboçaduras (fig. 8-41) – Servem para emendar duas espias com rapi-
dez e segurança; entretanto, são nós volumosos demais para serem usados quan-
do o cabo tiver de gurnir em um cabrestante ou em um retorno qualquer.
A aboçadura pode ser dada com dois laises de guia, passando um balso por
dentro do outro (a); ou dão-se cotes, que se agüentam por ficarem os chicotes
abotoados; estes botões devem ser esganados, para maior segurança (b); em (c),
demos dois cotes em cada espia; em (d), os cabos foram dobrados passando um
seio por dentro do outro, e, os cotes são agüentados por um botão em cruz e um
botão redondo; finalmente, temos uma aboçadura constituída somente por botões
em cruz (e).
394 ARTE NAVAL

Fig. 8-41 – Aboçaduras


TRABALHOS DO MARINHEIRO 395

SEÇÃO D – TRABALHOS FEITOS NOS


CHICOTES DOS CABOS

8.46. Falcaça – Sempre que é cortado um cabo para qualquer serviço, é


necessário falcaçá-lo. A falcaça é o meio mais correto e o mais usado para não
permitir descochar o chicote de um cabo, e consiste em dar em torno dos cordões
um certo número de voltas redondas, com fio de vela ou merlim. O número de voltas
que deve ter uma falcaça não é arbitrário; ele deve ser tal que a largura da falcaça
seja igual ao diâmetro do cabo no qual ela é dada. A seguir são apresentados seis
métodos para dar uma falcaça.
Primeiro método – falcaça comum (fig. 8-42a). Dobra-se e coloca-se o merlim
sobre o chicote do cabo a falcaçar, no sentido longitudinal deste (I); então, com a
parte a do merlim, dá-se em torno do cabo e sobre o merlim o número necessário de
voltas redondas bem unidas e apertadas, de c para d. Agüentam-se as voltas dadas
com uma das mãos, e com a outra enfia-se o chicote a por dentro do seio d (II).
Rondam-se bem os dois chicotes, unem-se as voltas dadas e cortam-se rentes à
falcaça as partes que sobram (III).

Fig. 8-42a – Como falcaçar um cabo (primeiro método)

Segundo método (fig. 8-42b) – Coloca-se o merlim sobre o cabo a falcaçar,


com o seu chicote c do lado do chicote do cabo (I); começando pelo seio z, dão-se
três ou quatro voltas bem unidas em torno do cabo e sobre o chicote c do merlim
(II); ronda-se bem o chicote c e corta-se. Agora dobra-se o merlim ao longo do
cabo, colocando o chicote a sobre as voltas já dadas (III); toma-se então o seio
do merlim e, com a parte z, continua-se dando voltas redondas em torno do cabo e
sobre o chicote a do merlim, até o número adequado de voltas (IV). Ronda-se pelo
chicote a o que sobrou no seio z e corta-se o chicote bem junto às voltas dadas, que
devem estar bem unidas.
Terceiro método – Começa-se do mesmo modo que o segundo método, mas
deixam-se os dois chicotes do merlim para fora das voltas dadas sem cortá-los (fig.
396 ARTE NAVAL

8-42b IV). Dá-se, então, com estes chicotes, um nó direito, o qual deve ficar escon-
dido por baixo das voltas dadas, entre dois cordões do cabo, depois de se cortarem
as partes que ficam sobrando.

Fig. 8-42b – Como falcaçar um cabo (segundo método)

Quarto método – falcaça esganada pela cocha (fig. 8-42c). Com agulha e
repuxo. É um dos mais seguros modos de falcaçar. Passa-se a agulha sob um
cordão do cabo, enfiando o fio de vela até quase todo o comprimento (A). Dá-se o
número de voltas considerado suficiente em torno do cabo, sobre o chicote curto do
fio de vela, apertando bem estas voltas. Passa-se a agulha de um lado para outro
atravessando os cordões do cabo, até que o fio de vela esteja bem seguro; corta-se
o fio bem rente, de modo que o arremate não apareça (B).
Uma variação interessante deste método é mostrada em (C) e (D). Depois de
dado o número adequado de voltas redondas, o fio de vela é passado sob um cordão
do cabo e trazido novamente para o lado da primeira volta dada, por cima da falcaça
e ao longo de uma cocha do cabo. A seguir é costurado sob um outro cordão e

Fig. 8-42c – Falcaça (quarto método)


TRABALHOS DO MARINHEIRO 397

trazido novamente sobre a falcaça, repetindo-se esta operação três vezes num cabo
de três cordões. Finalmente costura-se o fio de vela sob os cordões do cabo e corta-
se bem rente a este remate.
Quinto método – falcaça esganada (fig. 8-42d) – Começa-se descochando
um pequeno comprimento do chicote do cabo. Passa-se o seio c do merlim em
volta de um cordão, metendo-se os dois chicotes a e b entre este e os outros dois
cordões (A). No caso da figura, trabalha-se com o chicote a, ficando o outro fixo.
Cocha-se novamente a parte desfeita do chicote do cabo e dá-se o número de voltas
adequado em torno do cabo, deixando folgado o seio c. A seguir passa-se este seio
c sobre o chicote do cordão 1 (B) e aperta-se bem por meio do chicote b que ficara
fixo, e que será agora esticado sobre as voltas dadas e ao longo do cordão 3.
Amarra-se bem o chicote a ao chicote b entre os cordões do cabo. Cortam-se estes
rentes à falcaça feita e corta-se também o que sobrar dos fios de vela (C).

Fig. 8-42d – Falcaça (quinto método)

Sexto método – falcaça de meia-volta ou trincafiada (fig. 8-43). Dada com


meias-voltas diametralmente opostas, como se vê na figura. Útil para falcaçar um
cabo pelo seio ou para ornamentar.

Fig. 8-43 – Falcaça de meias-voltas ou trincafiada


398 ARTE NAVAL

8.47. Pinhas – Consistem numa intercalação simétrica dos cordões de um


cabo, feita geralmente no chicote dele, que é para isto descochado em certo com-
primento. No lugar em que deve começar a pinha falcaça-se sempre o cabo, a fim de
não o deixar descochar mais durante o trabalho, e, geralmente, também se falcaçam
os cordões nos seus chicotes.
A pinha é usada principalmente como um trabalho de enfeite, mas serve para
agüentar um cabo de vaivém em um olhal; para não deixar passar através de um
gorne o chicote de um cabo qualquer; para onde for necessário um peso no chicote
do cabo, como é o caso dos cabos-guias e das retinidas.
As pinhas mais conhecidas são pinha singela, nó de porco, pinha dobrada,
falcaça francesa, pinha de colhedor, pinha de boça, pinha de rosa e pinha de anel.
Como será mostrado a seguir, a pinha singela e o nó de porco servem principal-
mente como base ou parte de outras pinhas. A combinação destes dois trabalhos
entre si, ou de cada um deles com as outras pinhas, permite a construção de um
número grande de obras semelhantes, porém muito mais difíceis de fazer. De modo
geral, as pinhas podem ser continuadas dando-se em cada cordão duas, três ou mais
voltas paralelas ao caminho anteriormente percorrido. Serão explicados aqui apenas
os trabalhos em cabos de três cordões, mas todos eles podem ser feitos nos cabos
de quatro cordões. E para trabalhos de enfeite, podem ser utilizados três, quatro ou
mais pedaços de merlim unidos por um botão (art. 8.64) ou merlins já entrelaçados,
por exemplo, em uma gaxeta (art. 8.105) e com eles construir todas as pinhas traba-
lhando em cada merlim como se ele fosse o cordão de um cabo.

8.48. Pinha singela (fig. 8-44) – Descocha-se o cabo de modo que os cor-
dões fiquem como se vê
em (I). Agüenta-se o
cabo com a mão esquer-
da e com a direita faz-se
o chicote a seguir a dire-
ção indicada, isto é, por
baixo do cordão b e por
entre b e c (II). Faz-se
o mesmo com o cordão
b, passando-se pela direi-
ta e por baixo de a e c,
deixando ficar o chicote
entre a e d (III). Final-
mente, dá-se uma volta
semelhante para a direi-
ta com o cordão c pas-
sando-o por fora de b e
a, metendo-o pelo seio e
do cordão a (IV). Ron-
dam-se e unem-se igual-
mente todos os cordões,
abotoa-se (art. 8.64) e cor-
ta-se. Fig. 8-44 – Pinha singela
TRABALHOS DO MARINHEIRO 399

A pinha singela pode servir para substituir uma falcaça, provisoriamente, quan-
do não se tem fio de vela ou merlim.

8.49. Pinha singela de cordões dobrados – Dá-se uma pinha singela e


faz-se cada cordão percorrer novamente o mesmo caminho andado, abrindo-se as
cochas com um passador. Os três cordões vão sair, como antes, no centro, o que
permite unir, abotoar e cortar.

8.50. Nó de porco (fig. 8-45) – É o inverso da pi-


nha singela, isto é, enquanto esta é dada intercalando-se
os cordões para cima, o nó de porco é constituído de
modo semelhante, porém com os cordões voltando-se para
baixo.
Dobra-se um primeiro cordão a sobre si mesmo,
colocando o chicote entre os outros dois; coloca-se o se-
gundo cordão b sobre a e o cordão c sobre b e por baixo
de a. Fig. 8-45 – Nó de porco

8.51. Nó de porco, de cordões dobrados – Dá-se um nó de porco e faz-se


cada cordão percorrer o mesmo caminho pela direita, abrindo as cochas com um
passador; os chicotes sairão, como antes, para baixo.

8.52. Falcaça francesa – Para sua confecção, decocha-se cerca de 20


centímetros do cabo, faz-se filaça comum em cada cordão; dá-se um nó de porco,
de cordões simples ou dobrados; os três cordões que ficam deste modo para baixo
voltados sobre o próprio cabo são metidos cada um sob um cordão do cabo, fazen-
do-se uma costura idêntica à costura de mão (art. 8.80).

8.53. Pinha dobrada (fig. 8-46) – Dá-se uma pinha singela e sobre ela um
nó de porco (A). Dobra-se a pinha singela, metendo-se os cordões paralelamente
aos seus caminhos anteriores (B). Dobra-se da mesma forma o nó de porco, abrin-
do os cordões com um passador (C). Ronda-se bem e cortam-se os chicotes. Este
tipo é um dos mais usados.

(A) PINHA SINGELA E NÓ DE (B) PINHA SINGELA DE (C) PINHA DOBRADA


PORCO SINGELO CORDÕES DOBRADOS E NÓ (PINHA E NÓ DE PORCO DE
DE PORCO SINGELO CORDÕES DOBRADOS)

Fig. 8-46 – Pinhas


400 ARTE NAVAL

8.54. Pinha de colhedor singela (fig. 8-47) – A construção é semelhante à


de uma pinha singela, mas o cordão a passa por fora de b e c, conforme se vê em
(I); passa-se então b por fora de c e de a, metendo-o depois por dentro do seio
formado pelo cordão a (II). Do mesmo modo passa-se c por fora dos chicotes b e
a, para passá-lo depois por dentro dos seios anteriormente formados em b e em a
(III). Rondam-se os cordões, abotoam-se e cortam-se os chicotes, como se vê
em (IV). Pode servir, por exemplo, para arrematar o chicote de um fiel de balde e, de
modo geral, para qualquer trabalho de ornamento.

Fig. 8-47 – Pinha de colhedor singela

8.55. Pinha de colhedor dobra-


da (fig. 8-48) – Será facilmente aprendi-
da se for notada a diferença de constru-
ção entre uma pinha singela e uma de
colhedor singela.
Na pinha singela cada cordão é
passado por fora apenas do cordão que
lhe fica imediatamente à direita, ficando
então metido por dentro do seio formado
por este último cordão (fig. 8-44).
Na pinha de colhedor singela cada
Fig. 8-48 – Pinha de colhedor dobrada
cordão passa por fora dos outros dois,
pela direita, ficando o chicote metido pelo seio formado pelo último destes dois (fig.
8-47).
Seguindo o mesmo raciocínio, veremos que na pinha de colhedor dobrada,
cada cordão passa por fora dos outros dois, pela direita, ficando o chicote metido no
seio formado pelo próprio cordão (I). Este trabalho requer alguma prática e a pinha
pode terminar furada, acontecendo isto em geral ao se passar o último cordão. Deve
ser notado em (I) que o último cordão c passou sucessivamente pelos seios b e a,
antes de ser metido no seio dele mesmo.
Rondando cuidadosamente os cordões e abotoando (art. 8.64), aparecerá
tudo como se vê em (II).
TRABALHOS DO MARINHEIRO 401

8.56. Pinha de boça (fig. 8-49) – Dá-


se uma pinha singela; repete-se a mesma
operação desta, enfiando cada chicote no seio
que lhe fica adjacente à direita (I). Ronda-se
cuidadosamente e falcaça-se o cabo, confor-
me se vê em (II).

8.57. Pinha de rosa singela (fig. 8-


50) – Dobram-se os três cordões sobre o pró-
prio cabo, formando assim três seios, que se
seguram com a mão esquerda. Toma-se, en-
tão, o primeiro cordão a (I) e, pela direita,
passa-se o mesmo sobre o cordão seguinte, Fig. 8-49 – Pinha de boça
b, fazendo-se em seguida passar por dentro
do seio formado por c. Passa-se o chicote de b sobre c e mete-se o mesmo por dentro
do seio de a. O último cordão c será passado sobre a e metido pelo seio de b (II).
A pinha de rosa, como a de colhedor e a de boça, pode ser feita em um ponto
qualquer do cabo, desde que se descoche este cabo até o ponto desejado. Como
este será depois recomposto, deve-se procurar durante o trabalho conservar a cocha
dos cordões o mais possível. Em (II) vêem-se os cordões colocados em seus
lugares antes de serem rondados. Em (III) vê-se o trabalho terminado, com o
cabo recomposto.

Fig. 8-50 – Pinha de rosa singela

8.58. Pinha de rosa dobrada – Dá-se primeiro a pinha de rosa singela e


depois faz-se cada chicote percorrer o caminho já andado pelo próprio cordão, sain-
do para cima pelo centro da pinha. Rondam-se os cordões cuidadosamente e arre-
matam-se os seus chicotes recompondo o cabo.
402 ARTE NAVAL

8.59. Pinha fixa (fig. 8-51) – Empregada


nos andorinhos das lanchas, servindo de apoio
para a guarnição subir ou descer por eles, nos
tirantes das escadas de quebra-peito. Quando
aplicada nos fiéis do leme, serve para limitar o
ângulo de guinada.
Fig. 8-51 – Pinha fixa
8.60. Pinha de cesta (fig. 8-52) – Usada pe-
los sinaleiros nas adriças com o propósito de facilitar
a descida das bandeiras içadas. Para isso, usa-se
dentro da pinha um saco de areia chamado pandulho.
Pode ser também utilizado nas retinidas para auxiliar
nas atracações.

8.61. Pinha de lambaz (fig. 8-53) – Emprega-


da na confecção de lambaz, serve também como or-
Fig. 8-52 – Pinha de cesta
namentação.

8.62. Pinha cruzada ou em


cruz (fig. 8-54) – Mais conhecida como
pinha de retinida, por ser empregada em
sua confecção. Para que seu arremes-
so atinja um ponto distante, coloca-se
em seu interior um pandulho. Pode ser
usada também como ornamentação. Fig. 8-53 – Pinha de lambaz

8.63. Pinha de abacaxi (fig. 8-55) – Entre-


laçamento de tamanho ilimitado, que serve para
ornamentar pés-de-carneiro e cana do leme.

Fig. 8-54 – Pinha cruzada Fig. 8-55 – Pinha de abacaxi


ou em cruz

SEÇÃO E – TRABALHOS PARA AMARRAR


DOIS CABOS OU DOIS OBJETOS QUAISQUER

8.64. Botões – Consistem em voltas redondas de arrebém, linha, merlim ou


fio de vela, dadas em torno de duas partes de cabo a fim de prendê-las de modo
definitivo. São usados para alcear qualquer volta agüentando o chicote ou um seio
ao vivo do próprio cabo, quando há receio de que ela possa recorrer ou desfazer-se;
TRABALHOS DO MARINHEIRO 403

para fazer malha de redes, aboçadura (fig. 8-41) ou uma encapeladura; para amarrar
dois gatos iguais ou um gato de tesoura (fig. 9-32 c); para amarrar um olhal a uma
peça fixa qualquer etc.
Tomar um botão chama-se abotoar. Os botões podem ser redondos, redon-
dos cobertos, redondos esganados, em cruz e cruzados.

8.65. Botão redondo (fig. 8-56) – É constituído por uma série de voltas
redondas e, de modo geral, pode ser feito por qualquer dos métodos indicados para
fazer uma falcaça. Quando, porém, há receio de que o botão possa abrir, como é o
caso de um botão para alça, procede-se do seguinte modo:
Faz-se uma pequena alça no merlim e enfia-se o outro chicote por esta alça
formando um laço que se coloca em torno das duas partes do cabo; aperta-se bem
o laço e dão-se as voltas redondas, sete em média; passa-se então o chicote do
merlim por dentro destas voltas dadas, fazendo-o sair do lado em que está o laço e
por dentro da alça dele (I). Unem-se bem as voltas, ronda-se o merlim (II), fixa-se
o chicote dele por um cote e corta-se.
Este botão pode ser usado onde não houver esforço grande sobre o cabo ou
onde este esforço seja exercido igualmente sobre as duas partes do cabo.

8.66. Botão redondo esganado (fig. 8-57) – Qualquer botão pode ser esga-
nado, para maior segurança. Depois de terminado o botão redondo (fig. 8-56) dão-
se, sobre o botão e entre as duas pernadas de cabo, duas ou três voltas redondas
terminando em volta de fiel, ou dá-se somente a volta de fiel. A volta de fiel pode ser
singela ou dobrada.
Um botão esganado é usado sempre que o esforço se exerça apenas sobre
uma das partes do cabo.
Dois ou três botões redondos esganados podem ser empregados para fazer
a alça em cabos trançados, nos quais não podem ser feitas costuras. Usa-se isto
em linhas de odômetro e de prumo; depois de feita a alça, bate-se com um macete
e percinta-se o cabo.

Fig. 8-56 – Botão redondo Fig. 8-57 – Botão redondo esganado


404 ARTE NAVAL

8.67. Botão redondo coberto e esganado (fig. 8-58) – Começa-se como o


botão redondo, dando um número ímpar de voltas julgado suficiente (sete ou nove).
Depois de ser metido o merlim por baixo das voltas dadas e por dentro da própria
alça (I), ronda-se bem, unem-se as voltas e continua-se então dando outras voltas
redondas cobrindo as primeiras. Estas voltas devem ser dadas no mesmo sentido
das primeiras e são em número inferior de uma unidade (seis ou oito), pois ficam
morando exatamente no espaço entre duas das voltas de baixo. Passa-se então o
chicote do merlim por dentro da última destas voltas de baixo (II) e esgana-se o
botão assim feito, com uma volta de fiel (III).
Este é o botão mais forte. É muito usado para alcear um cabo em um sapatilho
(art. 9.29), e pode ser empregado onde o esforço seja exercido apenas sobre uma
das partes do cabo; neste caso, para dar as primeiras voltas redondas, pode haver
necessidade de esforço, usando-se então uma espicha que é passada no merlim
com volta de tortor (fig. 8-16b).

I - BOTÃO REDONDO II - BOTÃO REDONDO III - BOTÃO


COBERTO REDONDO COBERTO
E ESGANADO

Fig. 8-58 – Botão redondo coberto e esganado

8.68. Botão falido (fig. 8-59) – Dado com volta falida. É o melhor método
para abotoar os cabos quando o esforço nas duas pernadas for desigual, como por
exemplo ao se agüentar a beta de uma talha que suporta peso enquanto se muda o
ponto de amarração do tirador; é também empregado em cabrilhas (art. 8.135).
Deve-se esticar bem o merlim antes de empregá-lo neste botão.
Começa-se com o botão redondo, fazendo uma pequena alça no merlim, que
se passa em torno dos dois cabos a abotoar. Dão-se em seguida as voltas falidas,
cujo número pode variar de cinco a dez. Remata-se como qualquer outro botão.
Pode-se cobrir o botão com voltas redondas (II); neste caso ele terá, depois de
pronto, a mesma aparência de um botão redondo. Pode-se também esganar o bo-
tão falido (III).
TRABALHOS DO MARINHEIRO 405

Fig. 8-59 – Botão falido

8.69. Portuguesa (fig. 8-60) – Para prender dois cabos, toma-se um merlim
com alça e passa-se o laço em torno deles, tal como no caso do artigo anterior; dá-
se em seguida uma volta falida completa e, depois,
outra volta redonda. Continua-se dando alternada-
mente uma volta falida e uma volta redonda, até um
número julgado suficiente (11 voltas, em média), como
se vê na figura. Esgana-se depois o merlim com vol-
tas redondas ou com volta de fiel.
Este trabalho, como o anterior, serve para
amarrar com segurança dois cabos ou duas vergôn-
teas paralelas ou cruzadas, por exemplo para fazer
uma cabrilha (art. 8.135). Apresenta maior seguran-
ça que os botões redondos, pois as voltas falidas
evitam que as partes do cabo recorram. Serve para a
ligação de cabos de aço ou de quaisquer outros ca-
bos onde apenas seja exercido esforço sobre uma
das pernadas. Fig. 8-60 – Portuguesa
406 ARTE NAVAL

8.70. Botão cruzado (fig. 8-61) – São diversas voltas redondas dadas em
duas direções perpendiculares para agüentar dois cabos cruzados.

8.71. Alça de botão redondo (fig. 8-62) – Usada onde uma alça permanen-
te for necessária, no seio de um cabo. Ela consta de um botão redondo aplicado
como mostrado na figura. Ela também é feita com uma volta de fiel, porém, neste
caso formam-se duas alças.

Fig. 8-61 – Botão cruzado Fig. 8-62 – Alça de botão redondo

8.72. Badernas – São botões provisórios que se tomam, geralmente com


mialhar ou fio de carreta, nos tiradores das talhas, nos colhedores das enxárcias,
nos brandais ou em quaisquer cabos de laborar, a fim de não arriarem.

8.73. Barbela (fig. 8-63) – É uma espécie de botão que se toma nos gatos
para não desengatarem de onde estão passados, principalmente quando a carga
deve ser suportada por algum tempo. São dados com duas a quatro voltas redon-
das, as quais são esganadas por outras voltas perpendiculares. Remata-se com um
nó direito nos dois chicotes.

Fig. 8-63 – Barbela


TRABALHOS DO MARINHEIRO 407

8.74. Peito de morte (fig. 8-64) – É o nome que tomam os botões falidos,
botões redondos ou portuguesas, esganados como numa barbela, quando empre-
gados para prender, por exemplo, um mastaréu ao que lhe fica em baixo ou dois
paus que se cruzam para formar uma cabrilha.

8.75. Arreatadura (fig. 8-65) – São voltas de cabo com que se arreatam os
mastros, vergas etc. Arreatar é atar duas ou mais peças de madeira ou de ferro,
com voltas de cabo; arreata-se um mastro, um mastaréu ou uma verga quando
trincados ou partidos. Esta amarração ocasionalmente toma uma pequena folga;
para anular a folga colocam-se taliscas de madeira.

Fig. 8-64 – Peito de morte Fig. 8-65 – Arreatadura

8.76. Cosedura – É o nome que toma qualquer botão dado para apertar as
alças do poleame, as gargantas dos estais, as encapeladuras dos ovéns etc., com
mialhar, arrebém, linha ou merlim.

SEÇÃO F – TRABALHOS DIVERSOS

8.77. Engaiar, percintar, trincafiar, forrar, encapar ou emangueirar um


cabo (fig. 8-66) – Trabalhos feitos para proteger uma costura ou um cabo que deve
ficar exposto ao tempo ou a um uso tal que o possa danificar.
a. Engaiar – Consiste em seguir-se cada cocha de um cabo com linha
alcatroada, merlim alcatroado ou arrebém (conforme a bitola do cabo); isto impede
a umidade de penetrar no interior dele e ao mesmo tempo guarnece as cochas do
cabo, tornando a superfície lisa a fim de se percintar e forrar ou só para embelezar.
Este trabalho é especialmente usado nos ovéns das enxárcias, estais, brandais
etc.
b. Percintar – Se se quiser percintar um cabo já engaiado, tomam-se tiras
de lonas ou brim alcatroadas – que se chamam percintas – e enrolam-se as mes-
mas em espiral seguindo a cocha do cabo. A fim de evitar a penetração da água das
408 ARTE NAVAL

chuvas num aparelho fixo, percinta-se o cabo a começar do chicote que deve ficar
para baixo; se o cabo deve ficar com o seio para cima e os dois chicotes para baixo,
percinta-se a partir de cada um dos dois chicotes. Antes de percintar um cabo de
aço, passa-se uma camada de zarcão sobre ele, depois que foi engaiado. Ele deve
ser percintado com a tinta ainda fresca, ou então a superfície na percinta que vai
ficar junto ao cabo será também pintada. Percinta-se e engaia-se no sentido da
cocha do cabo.
c. Trincafiar – Amarrar as percintas com fios de vela ou linha de rami, dando
voltas de trincafios ou tomadouros.
d. Forrar – Consiste em cobrir com voltas redondas de merlim um cabo, que
pode ter sido anteriormente engaiado e percintado; cada volta deve ser bem ajusta-
da e rondada, de modo que o conjunto forme uma verdadeira cobertura para o cabo.
O macete de forrar é empregado para fazer as voltas, como é visto na figura 8-66.
Forra-se um cabo no sentido contrário ao da cocha.
Cobrir um cabo com coxim, ou com uma tira de lona, brim ou couro, que se
cose no sentido do comprimento do cabo, também se chama forrar.
e. Encapar ou emangueirar – Cobrir com lona e costurar com ponto de
bigorrilha chato (art.8.156b)
Antes de engaiar, percintar e forrar um cabo, devemos amarrá-lo em um lugar
safo e a determinada altura, ficando teso, de modo a se poder trabalhar livremente
nele em todo o comprimento. Se se deseja um trabalho bem acabado, o material
empregado deve ser bem amarrado nos pontos de partida e as voltas de lona e
merlim apertadas o mais possível em toda a extensão.

Fig. 8-66 – Engaiar, percintar, trincafiar, forrar, encapar

8.78. Costuras em cabos de fibra


a. Definição e tipos – Costuras são emendas permanentes de dois chicotes
ou de um chicote ao seio do cabo por meio de entrelaçamento de seus cordões.
As costuras comumente usadas são costura redonda, costura de laborar e
costura de mão.
Na costura redonda, os cordões de um cabo são trançados entre os cordões
do outro; ela serve para fazer estropos ou para emendar duas espias ou dois cabos
que não necessitem gurnir em um poleame.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 409

Na costura de mão, o chicote do cabo é dobrado para formar uma alça e


depois costurado no próprio cabo com uma costura redonda.
Na costura de laborar descocha-se um cordão de cada cabo, substituindo-o
por um cordão de outro cabo, ficando a emenda resultante do mesmo diâmetro que
o cabo original. Ela serve para emendar dois cabos sempre que eles tiverem de
gurnir em poleame ou para quando se desejar maior embelezamento.
Nas costuras são recomendadas quatro ou cinco cochas.
b. Vantagens das costuras – As costuras apresentam, sobre as emendas
feitas com nós ou aboçaduras, as vantagens de maior resistência à tração e de
melhor gurnir em um cabrestante ou retorno qualquer.
De um modo geral, considera-se que uma costura, redonda ou de laborar,
diminui a resistência dos cabos de dez a quinze por cento (art. 8.2). Isto depende,
entretanto, da habilidade de quem faz a costura. As costuras podem ser feitas em
cabos de fibra ou de aço, mas nesses últimos são muito mais difíceis de fazer, e
raramente executadas a bordo. Antes de se fazer qualquer costura costuma-se
falcaçar provisoriamente os cordões e também os cabos nos pontos em que as
costuras devem começar.
c. Ferramentas necessárias – São empregados um macete e um passador.

8.79. Modo de fazer uma costura redonda (fig. 8-67):


(1) descocham-se os cordões dos cabos em um comprimento de cerca de
três vezes a sua circunferência, falcaçam-se os chicotes dos cordões e colocam-se
os cabos a beijar, ficando os chicotes dos cordões alternados;
(2) dá-se um botão provisório no grupo de cordões do cabo A; cocha-se um
dos cordões do cabo A sobre um cordão e sob o cordão seguinte do cabo B;
(3) cocha-se no sentido contrário ao da cocha do cabo. A cocha é feita sobre
um cordão do cabo B, sob o segundo, e sai entre o segundo e o terceiro;

Fig. 8-67 – Costura redonda


410 ARTE NAVAL

(4) repete-se a mesma operação com os outros dois cordões do cabo A;


(5) retira-se o botão provisório feito nos cordões do cabo A. Cocham-se os
cordões de B no cabo A, como se fez anteriormente (item 2). Repete-se cada ope-
ração duas vezes mais, para cada um dos seis cordões; e
(6) bate-se bem a costura feita, com o macete. Corta-se o que sobrar em
cada chicote, mas não muito rente, para que, ao ser esticado o cabo, a costura não
se desfaça.
Para dar uma aparência melhor e ficar mais forte a costura, ou quando se
quiser percintar e forrar, descocham-se os cordões num comprimento um pouco
maior do que foi dito acima; depois de feita a costura com os cordões completos,
três vezes para cada lado, corta-se 1/3 dos fios de carreta de cada cordão; cocha-
se o que restou de cada cordão uma vez mais. Depois corta-se novamente, retiran-
do a metade dos fios de carreta restantes; cocha-se outra vez e corta-se.
A costura redonda é o mais forte meio de unir dois cabos, mas não pode ser
empregada em cabos de laborar, pois faz o cabo duplicar de diâmetro naquele pon-
to, expondo assim os cordões a um atrito extra.

8.80. Modo de fazer uma costura de mão (fig. 8-68):


(1) descocha-se o cabo em um comprimento de cerca de três vezes a sua
circunferência, dobram-se e colocam-se os cordões sobre o seio, no ponto em que
deve começar a costura, ficando a mão do tamanho que se desejar.
Agüenta-se o seio do cabo com a mão esquerda e coloca-se a parte não
descochada do chicote sobre este seio; um cordão do meio m, que deve estar na
parte de cima, é seguro sobre o cabo com o polegar e o primeiro dedo da mão
esquerda.
Cocha-se o cordão do meio m sob o primeiro cordão, como se vê em (I).
Para abrir os cordões do cabo usa-se o passador;
(2) coloca-se o cordão da esquerda e sobre o primeiro cordão e cocha-se sob
o segundo cordão como se vê em (II); e
(3) vira-se agora de 180° o cabo. Dá-se ao cordão d uma torcida no sentido da
cocha dele mesmo, para o fazer chegar ao lugar, e mete-se o cordão d por baixo do
terceiro cordão naquele ponto do seio do cabo (III).
Temos, portanto, os três cordões do chicote passados, da direita para a esquer-
da, no seio do cabo. Basta
repetir a operação duas ve-
zes mais, cochando-se os
cordões na mesma ordem,
como numa costura redon-
da. Remata-se como na
costura redonda.
Quando o olho da
mão é grande e próprio
para encapelar no tope de
um mastro, dá-se o nome
de mão de encapeladura. Fig. 8-68 – Costura de mão
TRABALHOS DO MARINHEIRO 411

8.81. Modo de fazer uma costura de laborar (fig. 8-69):


(1) descocham-se os chicotes em um comprimento de cerca de doze a quin-
ze vezes a circunferência dos cabos e colocam-se estes a beijar, com os cordões
de cada chicote alternados;
(2) descocha-se a1 dos cordões do cabo A, ainda mais, e em seu lugar vai-se
cochando b1 o cordão correspondente no cabo B. Dá-se uma meia-volta com os
cordões a1 e b1, ou torce-se, para agüentá-los juntos;
(3) descocha-se b2, um cordão do cabo B, e em seu lugar cocha-se a2, o
cordão correspondente de A, no mesmo comprimento utilizado anteriormente, a3 e
b3 ficam como estão. Temos agora três pares de cordões em pontos eqüidistantes
do cabo;
(4) em cada um dos pares de cordões dá-se uma meia-volta (note-se na
figura como foi dada a meia-volta, passando os cordões da direita para baixo, e
ficando os da esquerda por cima; deste modo a meia-volta acomoda-se bem na
cocha do cabo); cocha-se cada cordão duas vezes com todos seus fios de carreta,
uma vez mais com a metade dos fios de carreta de cada cordão e outra vez com a
metade dos que sobraram. Essa parte é semelhante à costura redonda afilada; e
(5) se preferir, corta-se a metade dos fios de carreta de cada cordão antes de
dar a meia-volta e costurar (item 4 acima); por esse método consegue-se disfarçar
mais a costura, mas a resistência é um pouco sacrificada. Corta-se finalmente o
que restar dos chicotes de cada cordão completando assim uma emenda que, se
feita com habilidade, não será notada.
O principal fim desta costura é manter na emenda o mesmo diâmetro do
cabo original, permitindo que ele passe com facilidade nos gornes; é um pouco
mais fraca e exige mais cabo que a costura redonda.

a1 b1
a2 b2
b1 a1
b3 b3 b2

b2 a3 a3 a2
a2

Fig. 8-69 – Costura de laborar

8.82. Costura em cabo trançado de oito cordões


Confecção:
(1) descocha-se cerca de quatro vezes a circunferência do cabo;
(2) falcaçamos todos os cordões, de preferência usando fita gomada;
(3) colocamos os cordões por cima do seio do cabo no ponto onde vai iniciar
a costura;
(4) separam-se os cordões aos pares, ficando dois pares na direita e dois
pares na esquerda;
(5) usamos uma espicha de madeira de bitola compatível com o cabo;
(6) abre-se a cocha no sentido da direira para a esquerda e passam-se os
dois cordões de cima do lado direito;
412 ARTE NAVAL

(7) abre-se a cocha no sentido da esquerda para a direita e passam-se os


dois cordões de cima do lado esquerdo;
(8) vira-se o cabo e faz-se a mesma manobra anterior com os dois pares que
sobraram. Feito isso, puxamos os pares de cordões até encostar bem na parte do
seio que iniciou a costura;
(9) para iniciar o primeiro passe, pega-se o primeiro cordão do par que saiu da
direita e passa-se entre os dois cordões que estão na frente, sendo que ele deve
entrar de fora para dentro e o outro de dentro para fora. Após esse passe, amarra-
mos os dois;
(10) os demais cordões seguem a manobra feita pelo primeiro; e
(11) a costura estará pronta após terem sido feitos de quatro a cinco passes.

8.83. Costura em cabo naval de dupla trança (fig. 8-70a) – Esta costura
de mão é somente para cabo novo. Ela mantém aproximadamente 90% da resistên-
cia média do cabo. As ferramentas necessárias são um passador de aço, um
empurrador e uma fita adesiva (fig. 8-70b).

Fig. 8-70a – Costura de mão do cabo naval de dupla trança

Passador de aço
Seção curta
do passador

Empurrador

Fita adesiva

Fig. 8-70b – Ferramentas necessárias


TRABALHOS DO MARINHEIRO 413

8.83.1. Confecção (figs. 8-71 a – n)


Passo 1: Estabelecer medidas – Nos cabos com mais de oito polegadas de
circunferência, muitas vezes é mais fácil passar um pino ou objeto semelhante
através do cabo, em lugar de fazer um nó corrediço.
Coloque uma camada fina de fita adesiva na extremidade a ser costurada.
Depois meça dois comprimentos no passador desde a extremidade do cabo e mar-
que. Este é o ponto R (referência).
A partir de R forme um laço do tamanho da mão desejada e marque o ponto
X onde se extrai a alma do interior da cobertura.
Para aplicar num sapatilho, forme o laço em redor da mesma.
Faça um nó corrediço distante cerca de cinco comprimentos do passador do
ponto X; isto é mandatório.

X
Forme o laço do
tamanho desejado

R
Uma camada de fita adesiva

2 comprimentos do passador
(Até 13" de circunferência)

Faça um nó corrediço distante cerca de


5 comprimentos do passador de X.

Fig. 8-71a – Passo 1 (estabelecer medidas)

Passo 2: Extração da alma – Dobre o cabo fortemente no ponto X. Com o


empurrador ou qualquer ferramenta pontiaguda, espalhe as tranças da cobertura
para expor a alma. Primeiramente separe, depois puxe a alma completamente para
fora da capa a partir do ponto X até a extremidade, mantendo a fita adesiva. Ponha
uma só camada de fita na extremidade da alma.
Não puxe as tranças da capa quando se espalhar porque isto vai destorcer o
cabo sem necessidade.
Para assegurar a posição correta da marca no 1, adote o seguinte procedi-
mento: segurando a alma exposta, empurre a cobertura para trás o máximo possível
em direção ao nó corrediço bem apertado. Depois alise a capa firmemente de volta,
do nó corrediço para a extremidade com a fita. Alise novamente até que toda parte
frouxa da cobertura esteja removida.
Então marque a alma onde ela sai da cobertura; esta é a marca no 1.
414 ARTE NAVAL

Puxando para fora a alma

Uma camada de
rtura fita adesiva
Cobe
X

Marca 1

Fig. 8-71b – Passo 2 (extração da alma)


Passo 3: Marcação da alma – Afaste novamente a cobertura em direção ao
nó corrediço para expor mais a alma.
A partir da marca no 1, meça ao longo da alma em direção ao ponto X uma
distância igual a duas seções curtas do passador e faça duas marcas fortes. Esta
é a marca no 2.
A partir da marca n o 2 meça, na mesma direção, dois comprimentos do
passador mais duas vezes sua seção curta. Faça três marcas fortes. Esta é a
marca no 3.

a
be rtur
Co
Marca no passador
X
Marca 3 Marca 2 Marca 1

2 comprimentos do passador 2 seções curtas


mais duas outras seções curtas do passador

Fig. 8-71c – Passo 3 (marcação da alma)


Passo 4: Marcação da cobertura para chanfrar – Observe a natureza da
trança da cobertura. É feita de duas pernas, simples ou em pares. Examinando, vê-
se que metade das pernas segue para a direita em redor do cabo e a outra no
sentido contrário.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 415

A partir do ponto R e em direção à extremidade com fita da cobertura, conte


oito pernas consecutivas (simples ou em pares) que seguem para a direita (ou para
a esquerda). Marque a oitava perna (este é o ponto T). Faça com que este ponto vá
ao redor de toda a capa. Começando do ponto T e seguindo em direção à ponta da
cobertura com fita, conte e marque cada quinta perna direita e esquerda (simples ou
em pares), até que chegue ao fim da cobertura com fita.

5ª 5ª 5ª 5ª

R T

8 pernas simples
ou pares
ra
rtu
be
Co

Marca 3 Marca 2 Marca 1

Fig. 8-71d – Passo 4 (marcação da cobertura para chanfrar)

Passo 5: Colocar a cobertura dentro da alma – Enfie o passador na alma


na marca no 2. Passe-o através e para fora na marca no 3.
Aplique o passador primeiramente cravando as garras na cobertura, e depois
passe a fita ao redor.
Quando o passador estiver colocado, ordenhe a trança sobre o mesmo en-
quanto estiver puxando da marca no 2 para a marca no 3.
Retire o passador da cobertura. Continue puxando a extremidade da capa
através da alma até que a marca R surja na marca no 3. Então retire a fita da ponta
da cobertura.
Passo 6: Fazer o chanfro – Assegure-se de que a fita foi retirada da ponta
da cobertura. Comece pelo último par de pernas da capa marcada, em direção à
extremidade. Corte e puxe-as completamente para fora. Remova as pernas marcadas
seguintes e continue com cada perna direita e esquerda até que alcance o ponto T
(não corte além deste ponto). O resultado deve ser um chanfro gradativo, terminan-
do em uma ponta. Com todo o cuidado puxe a cobertura de volta através da alma,
até que o ponto T surja da marca no 2 da alma.
416 ARTE NAVAL

ra
rtu
be
Co

Marca 3 Marca 2

T Marca 1
R Cobertura

Chanfro da cobertura a cada


5º par de pernas

Remova
Removaaafita
fitada
dacobertura
cobertura

Fig. 8-71e – Passo 5 (colocar a cobertura dentro da alma)

Cobertura

T Marca 3
Cobertura
R
Chanfro da cobertura a Marca 2
cada 5º par de pernas

Corte cada Marca 1


5ª perna simples ou
em pares

Remova as pernas
simples ou em pares

Fig. 8-71f – Passo 6 (fazer o chanfro)


Passo 7: Recolocar a alma na cobertura – Do ponto X, na cobertura,
meça aproximadamente 1/2 passador de comprimento em direção ao nó corrediço
no cabo e marque este como ponto Z.
Você está agora pronto para colocar a alma de volta na cobertura, de T até Z.
Prenda o passador na alma com fita. Depois que o passador estiver coloca-
do, ordenhe o trançado por cima do passador enquanto estiver puxando do ponto T
até Z. Quando estiver nesta operação, certifique-se de que o passador não apanhe
qualquer perna interna da alma.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 417

Dependendo do tamanho da mão o passador poderá não ter comprimento


suficiente para alcançar desde T até Z em uma só passada. Em tal caso, traga o
passador para fora através da cobertura, puxe a alma e reenfie o passador no mes-
mo furo pelo qual saiu. Faça isso tantas vezes quantas forem necessárias até al-
cançar o ponto Z.

Co
ber
tur
a Coloque a alma na
R
cobertura no ponto T

1/2 comprimento
do passador Marca 3
X Marca 1
Marca 2

Extremidade da
cobertura
Passador e extremidade
da alma para fora no
ponto Z

Fig. 8-71g – Passo 7 (recolocar a alma na cobertura)

Passo 8: Marcar a alma na extremidade com volume reduzido – Puxe


alternadamente na extremidade da alma em Z, depois, na cobertura chanfrada na
marca no 3. O cruzamento deverá ficar apertado até que tenha diâmetro quase igual
ao do cabo.
Alise a cobertura da mão completamente, a partir do cruzamento T em dire-
ção a X, para eliminar toda frouxidão da área da mão.
Marque a extremidade da alma através da cobertura no ponto X.
Puxe mais a alma para fora até que a marca recém-feita apareça no ponto Z.
Reduza o volume da alma neste ponto, cortando e removendo uma perna de
cada grupo, prosseguindo em redor da circunferência do cabo (fig. 8-71h).
Meça 1/3 do passador desde o início dos cortes redutores até o fim e mar-
que. Corte a extremidade restante neste ponto. Faça um corte em ângulo de 45°
para evitar uma extremidade obtusa (fig. 8-71h).
Com uma mão segure o cruzamento – marca T.
Alise a seção de cobertura da mão firmemente a partir do cruzamento em
direção a X. A extremidade da alma de volume reduzido deverá desaparecer dentro
da capa no ponto Z.
Alise a seção da alma do cruzamento em direção à marca no 3 e o chanfro da
cobertura desaparecerá dentro dela.
418 ARTE NAVAL

Alise a cobertura
Puxe a extremidade da alma
para fora, até que a marca
em X fique exposta

ra
rtu
be
Marque a extremidade

co
da alma em X

Z R
Marca 3
T
Ponto Z Cruzamento
a 1/2 passador do ponto X

Cobertura chanfrada
Alise e a cobertura
chanfrada desaparecerá

Cortando e removendo
1/3
do passador

Alma

Corte em ângulo de 45º


Metade das
extremidades de cada
perna da alma

Faça isto na marca


feita na alma
(Através da cobertura em X)

Fig. 8-71h – Passo 8 (marcar a alma na extremidade com volume reduzido)


Passo 9: Embutir a alma exposta – Segure o cabo no nó corrediço e com
a outra mão ordenhe a cobertura em direção à costura, primeiramente com suavida-
de, depois com mais firmeza. A cobertura deslizará sobre a marca no 3, marca no
2, cruzamentoT e R. Poderá ser necessário alisar ocasionalmente a mão durante a
ordenha para evitar que a extremidade de volume reduzido se prenda na garganta da
costura.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 419

Se ocorrer aglomeração no cruzamento que impeça o embutimento comple-


to, alise a cobertura de T para X. Agarre o cruzamento em T com uma mão e então
alise firmemente a parte frouxa da capa (lado fêmea do olhal) com a outra mão em
direção à garganta X. Repita se necessário até que desapareça a aglomeração.
Continue ordenhando até que toda frouxidão da cobertura, entre o nó e a
garganta da mão, tenha sido removida, figura 8-71i (I).

Ordenhe a cobertura a partir do nó


corrediço fazendo a mão deslizar ra
e rtu
em direção ao laço b
co Ordenhe a cobertura
até que a alma
esteja embutida
Marca 3 Marca 2 R
T

Cruzamento

Embutir até
a marca R

Fig. 8-71i (I) – Passo 9 (embutir a alma exposta)

Antes de embutir a capa sobre o cruzamento, adote os seguintes procedi-


mentos:
(1) prenda o laço do nó corrediço a um objeto estacionário antes de iniciar o
embutimento. Você pode usar ambas as mãos e o peso do corpo para embutir mais
facilmente a cobertura sobre a alma e o cruzamento, veja figuras 8-71i (II) e (III); e
(2) segurando o cruzamento firmemente ordenhe todo excesso de cobertura
de R para T.

Cruzamento
Alma

ra Puxe
e rtu
C ob

Fig. 8-71i (II) – Passo 9 (embutir a alma exposta)


420 ARTE NAVAL

Flexione e afrouxe o cabo no cruzamento durante o processo final de


embutimento. Martelando a capa no ponto Z você ajudará afrouxar as pernas.
Com cabos maiores, firme o nó corrediço e prenda um cabo menor à alma
trançada no cruzamento, aplicando tensão mecânica com um dispositivo adequado
(talha etc.). A tensão reduzirá o diâmetro da alma no cruzamento para maior facili-
dade. Ver figura 8-71i (III).

Cruzamento Preso firmemente


Cabo fino Alma

Puxe
Tensão mecânica
ura
b ert
Co

Fig. 8-71i (III) – Passo 9 (embutir a alma exposta)

Passo 10: Acabamento da costura a pontos – É vantajoso fixar com pon-


tos a costura, pois assim evitamos que ela se desfaça sem carga devido ao mau-
trato. Para a execução deste acabamento podemos utilizar uma corda fina de nái-
lon, polipropileno ou os próprios cordões do cabo.
1a etapa (fig. 8-71i) – Passe os pontos através da área emendada próximo à
garganta da mão conforme mostrado.
2a etapa (fig. 8-71j) – Enfie novamente puxando com firmeza, sem apertar.

Fig. 8-71j – Passo 10 (acabamento da costura a pontos)

Passo 11: Procedimento para costura de fechamento


3a etapa (fig. 8-71l) – Continue enfiando novamente, como no desenho, até
que tenha pelo menos três pontos completos.
4a etapa – Depois de completada a 3a etapa, gire a parte costurada do cabo
o
90 e enfie novamente a extremidade A na área da costura, da mesma maneira
TRABALHOS DO MARINHEIRO 421

1 2 3
B

Fig. 8-71l – Passo 11 (costura de fechamento – 3a etapa)

como nas etapas 1, 2 e 3. Ela estará agora feita em dois


planos perpendiculares um com o outro. Certifique-se de que
não está puxando os pontos demasiadamente. A figura
8-71m apresenta a configuração da seção transversal, após
concluída a 4a etapa.
5a etapa (fig. 8-71n) – Depois de completar pelo me-
nos três pontos completos como na 3a etapa, traga para fora
as extremidades A e B, através da mesma abertura, aplique Fig. 8-71m
um nó quadrado e enfie-as de volta para dentro do trançado
entre a capa e a alma.

Fig. 8-71n – Passo 11 (costura de fechamento – 5a etapa)

8.84. Garrunchos (fig. 8-72)


a. Definição – Anéis de metal ou de cabo, presos no gurutil das velas lati-
nas, nas forras dos rizes para os impunidouros, nos punhos das escotas etc. Nos
toldos e nas velas pequenas usam-se ilhoses.
b. Modo de construção:
(I) toma-se um cordão de um cabo descochado, de comprimento igual a
quatro vezes o comprimento necessário para o garruncho e cocha-se um dos chico-
tes desse cordão, no ponto a do cabo;
(II) mete-se o outro chicote entre dois cordões do cabo a uma distância
adequada ao tamanho do garruncho (ponto b) e seguem-se as cochas do cordão,
em sentido contrário ao da primeira volta, retornando assim ao ponto de partida a;
(III) cocha-se o chicote sob o cordão seguinte do seio do cabo e segue-se
a cocha do garruncho, de volta até a outra extremidade dele, fazendo um novo cabo,
no garruncho, com o cordão inicial. Cocham-se agora os chicotes do cordão no
cabo, como numa costura redonda; e
422 ARTE NAVAL

(IV) em vez de metidos na cocha do cabo, os garrunchos podem ser passa-


dos em ilhoses da tralha do pano.

Fig. 8-72 – Garrunchos

8.85. Auste (fig. 8-73) – É um modo


de se ligar dois cabos pelos chicotes. Está
em desuso. Descocham-se os cordões de
um cabo em certo comprimento e colocam-
se os dois cabos um em frente ao outro
com os cordões alternados de cada cabo
metendo-os entre os cordões do outro (I).
Pode-se rematar, como se vê na figura, di-
vidindo cada cordão em dois para cochar
os chicotes como a costura de mão; cor-
tam-se os chicotes e abotoa-se a costura
a meio (II). Fig. 8-73 – Auste

8.86. Costura de boca-de-lobo – Pode ser feita emendando dois cabos


conforme indica a figura 8-74 (A), ou ligando um pedaço de cabo ao seio de um
outro, como na figura 8-74 (B). As emendas são feitas sempre com costuras de
mão, que podem ser depois engaiadas, percintadas e forradas.

Fig. 8-74 – Costura Boca-de-lobo


TRABALHOS DO MARINHEIRO 423

É usada para encapelar em mastro ou antena, mas onde sejam necessárias


as duas pernadas do cabo. Substitui, com vantagem, uma encapeladura feita por
alça de botão redondo (fig. 8-62), onde se precisar que as duas pernadas não par-
tam de um mesmo ponto.

8.87. Alça trincafiada (fig. 8-75) – Falcaça-se o cabo a uma distância sufi-
ciente para fazer a alça; descocham-se o cabo e os cordões. Arranja-se um cepo de
madeira de circunferência igual à que deve ter a alça; separam-se os fios de carreta
em duas metades; afastam-se os fios de carreta externos do cabo, e os outros
amarram-se, com nó direito, em torno do cepo e em pontos diferentes da circunfe-
rência. Sobre a peça de madeira podem ser colocados pedaços de fio de vela com
que se amarram os fios de carreta depois que tiverem sido dados os nós. Retira-se
o cepo de madeira, arrumam-
se os fios de carreta externos,
que não deram nó, em torno da
alça feita, para enchê-la bem.
Com um destes fios de carreta
ou com merlim, dão-se então
voltas trincafiadas em torno da
alça, que pode ser depois
percintada e forrada.
É utilizada para os chi-
cotes dos cabos-guias, para
terminar diversos trabalhos tais
como gaxetas e rabichos, e de
modo geral em qualquer alça
Fig. 8-75 – Alça trincafiada pequena onde não é adequada
uma costura de mão.

8.88. Alça para cor-


rente (fig. 8-76) – Usada
antigamente para emendar
um cabo de fibra a uma cor-
rente, quando esta gurnisse
em um poleame.
Descocha-se o cabo
em um comprimento um
pouco maior que o neces-
sário para uma costura de
mão e depois descocha-se
um dos cordões a um pou-
co mais (I). Metem-se os
dois cordões que restam, b
e c, no último elo do chico-
te da corrente; continua-se
descochando o cordão a até Fig. 8-76 – Alça para corrente
424 ARTE NAVAL

uns 30 centímetros e em seu lugar cocha-se o chicote b (II). Dá-se uma meia-volta
amarrando a e b, rematando como em uma costura de laborar. O cordão c, que
sobrou, é costurado como em costura de mão (III).

8.89. Unhão singelo (fig. 8-77) – Emenda de dois cabos pelos chicotes
formando uma espécie de pinha. Usado antigamente para emendar os ovéns, brandais,
estais etc, quando cortados por qualquer circunstância, enquanto não fossem subs-
tituídos; sendo aqueles cabos fixos, era necessário solecá-los para dar o nó.
Para a construção do unhão singelo,
descocham-se os dois cabos e falcaçam-se
os cordões e os cabos nos pontos em que
deve ser feito o nó. Dobram-se sobre si mes-
mo os cordões e os cabos nos pontos em
que deve ser feito o nó. Dobram-se sobre si
mesmo os cordões de um dos cabos; os chi-
cotes do outro cabo são então passados su-
cessivamente por dentro de dois seios adja-
centes assim formados, como se vê na figu-
ra. Rondam-se bem os cordões, abotoam-
se os mesmos e forra-se o cabo, de cada
lado do unhão feito. Se for julgado necessá-
rio, podem-se cortar alguns fios de carreta
de cada cordão, antes de abotoar estes so-
bre o cabo. Esta amarração encontra-se em
Fig. 8-77 – Unhão singelo desuso

8.90. Embotijo – É um trançado com que se cobrem


balaústres, pés-de-carneiro, cabos grossos, defensas ou ou-
tros objetos para fins ornamentais ou para protegê-los con-
tra o desgaste pelo uso. É feito com merlim, fio de vela etc.,
pode ter várias formas e pode cobrir todo ou apenas parte do
objeto. Embotijar é fazer um embotijo.

8.91. Embotijo de canal, de dois cordões (fig. 8-


78) – Amarram-se dois pedaços de merlim ao cabo e dá-se
um cote para a direita, com o merlim da direita b; por baixo
deste, dá-se um cote para a esquerda, com o merlim da
esquerda a; em seguida dá-se outro cote para a direita, com
o merlim da direita b . Continua-se assim, dando cotes
alternadamente para a direita e para a esquerda, até com-
pletar o comprimento desejado.
Aperta-se bem cada cote sobre o cabo e junto do que
lhe fica imediatamente acima, como se vê em B. Os nós Fig. 8-78 – Embotijo
podem ficar cada um embaixo do anterior, ou ficam afasta- de canal, de dois
dos como na figura, ou mesmo diametralmente opostos. cordões
TRABALHOS DO MARINHEIRO 425

8.92. Embotijo de canal, de três ou mais cordões (fig. 8-79) – A figura


apresenta uma construção de três cordões. Amarram-se os três pedaços de merlim
ao cabo. Toma-se o merlim a e dá-se um cote para a esquerda; com o merlim b dá-
se um cote para a direita; com o merlim c dá-se um cote para a esquerda, ficando
os nós uns embaixo dos outros. Recomeça-se com o merlim a, que desta vez faz
um cote para a direita, e assim por diante, ficando sempre os cotes em sentidos
alternados. Apertam-se bem os cotes, como se vê em B.

8.93. Embotijo de canal, de cordões duplos (fig. 8-80) – Na figura, a


construção é de três cordões duplos. Feito do mesmo modo que o do artigo anterior,
sendo os cordões duplos, em vez de simples. De modo geral, todos os trabalhos a
seguir podem ser de cordões duplos ou mesmo tríplices.

Fig. 8-79 – Embotijo de canal, Fig. 8-80 – Embotijo de


de três ou mais cordões canal, de cordões duplos

8.94. Embotijo em leque (figs. 8-81a e 8-81b) – Pode ser de dois, três ou
mais cordões. Amarram-se dois (três ou mais) pedaços de merlim ao cabo e dão-se
dois (três ou mais) cotes sucessivos para a direita, um em cada merlim. Repete-se
a operação dando cotes sucessivos para a esquerda, começando pelo mesmo merlim.
Continua-se até completar o comprimento desejado, ficando os nós bem apertados
e uns embaixo dos outros. Na figura 8-81a vemos um embotijo em leque, de dois
cordões; na figura 8-81b, um de três cordões.
426 ARTE NAVAL

8.95. Embotijo de canal, de três cordões em cada lado (fig. 8-82) – É


feito de modo semelhante ao embotijo do art. 8.91. Amarram-se seis pedaços
de merlim no cabo, em dois pontos diametralmente opostos, ficando três de
cada lado. Dá-se um cote num merlim do grupo da direita e em seguida um cote
num merlim do grupo da esquerda. Depois dá-se um cote no segundo merlim do
grupo da direita e um cote no segundo merlim do grupo da esquerda, ficando
estes cotes no sentido adequado, como no caso do art. 8.91. Repete-se o traba-
lho com os terceiros merlins de cada grupo e continua-se assim, com um merlim
de um grupo seguindo-se ao merlim do outro grupo até completar o tamanho
desejado.

Fig. 8-81a – Embotijo Fig. 8-81b – Embo- Fig. 8-82 – Embotijo de


em leque, de dois tijo em leque, de canal, de três cordões
cordões três cordões de cada lado

8.96. Embotijo de cotes, para dentro (fig. 8-83) – Excelente para fazer
uma defensa de embarcação miúda (art. 8.131). Coloca-se um número adequado de
merlim b junto ao cabo e no sentido longitudinal dele. Em seguida toma-se um outro
merlim a que deve ter 25 a 30 vezes o comprimento dos primeiros e que servirá de
madre. Esta madre, que pode servir para amarrar os outros merlins de encontro ao
cabo vai dando voltas redondas em torno do cabo; nela cada um dos merlins b vai
dando cotes que, no caso da figura, são feitos para dentro.

8.97. Embotijo de cotes, para fora (fig. 8-84) – Serve também para defensas
como no caso anterior, apresentando uma superfície mais lisa. É feito do mesmo
modo que o anterior, mas os cotes são dados de dentro para fora, como se vê na
figura.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 427

8.98. Embotijo de defensa (fig. 8-85) – Muito usado para cobrir defensas
grandes, especialmente as de balão ou de formas irregulares, como as que se
usam na proa dos rebocadores (art. 8.131). É feito com um só cordão. Começa-se,
dando duas voltas redondas em torno do objeto (um cabo ou uma defensa), com um
dos chicotes do merlim. Com o outro chicote dão-se cotes sobre estas duas voltas
redondas, dependendo o número de cotes de se desejar um trabalho mais aberto,
em que se vê o objeto embotijado, ou mais fechado, nada se vendo do interior.
Seguem-se novos cotes, dados agora nos seios dos cotes anteriores, entre dois
destes. Prossegue-se assim até completar o trabalho. Quando a defensa é grande,
será necessário emendar, de vez em quando, novos pedaços ao merlim (ou cordão
de um cabo descochado) com que se trabalha; a emenda é feita pelos chicotes,
com costura de laborar, se o trabalho exigir boa aparência.
Quando a superfície da defensa não é cilíndrica, suprime-se um cote ou acres-
centa-se mais um, de vez em quando, conforme a área a cobrir for diminuindo ou
aumentando.

Fig. 8-83 – Embotijo de Fig. 8-84 – Embotijo Fig. 8-85 – Embotijo


cotes, para dentro de cotes, para fora de defensa

8.99. Embotijo de nós de porco (fig. 8-86) – É feito com qualquer número
de cordões, a partir de três. Amarram-se os cordões ao cabo e dão-se nós de porco
(art. 8.50) formando uma volta de nós de porco em torno do cabo. Repete-se o
trabalho apertando bem os nós de encontro ao cabo e junto aos nós da série ante-
rior. Prossegue-se assim até completar o tamanho desejado. Em vez de nó de
porco, pode-se fazer este embotijo de nós de pinha singela (art. 8.48). Obtêm-se
assim outras variedades de embotijo, a saber: para cima (nós de pinha), para baixo
(nós de porco), para cima e para baixo (alternadamente nós de pinha e nós de
porco), para a direita, e para a esquerda. Quando os nós são dados num mesmo
sentido, o embotijo formado toma o aspecto de uma espiral. Na figura vemos um
embotijo de nós de porco de três cordões, para baixo e para a esquerda.
428 ARTE NAVAL

8.100. Embotijo de cotes, em um cordão (fig. 8-87) – Amarra-se um cor-


dão ao cabo e vai-se dando voltas redondas, e um cote no fim de cada volta. Cada
cote fica embaixo do anterior e deve ser bem apertado. Este embotijo pode ser para
a direita (cotes para a direita), para a esquerda (cotes para a esquerda), ou para a
direta e para a esquerda (alternadamente). Quando os cotes são dados num mes-
mo sentido, os nós tomam o aspecto de uma espiral. Na figura, vemos um embotijo
de cote para a direita, em um cordão.
Há ainda outras formas deste embotijo, podendo-se dar dois ou três cotes
em cada volta redonda, sendo os cotes no mesmo sentido ou em sentidos diferen-
tes; pode-se alternar voltas redondas que tenham cotes e voltas redondas sem
cotes etc.

8.101. Embotijo de meias-voltas – Obtém-se dando meias-voltas encosta-


das umas às outras, com número par de cordões. Ver a figura 8-2.

8.102. Embotijo de rabo de cavalo (fig. 8-88) – É o mesmo trançado que


se vê nas linhas de adriça; muito empregado para cobrir pés-de-carneiro, óculos de
alcance, rabichos etc. Feito sempre por duas pessoas, com um número par qual-
quer de cordões, merlins ou mesmo tiras de lona, que muitas vezes é duplo, tríplice
ou quádruplo.
Numeram-se os cordões e separam-se os mesmos, alternadamente, fican-
do, por exemplo, os de ordem ímpar para baixo, sobre a parte a cobrir; um ajudante
segurará os cordões de ordem par para cima. Agora, segura-se o cordão 1 na mão
esquerda, colocando-o diagonalmente para a esquerda, sobre a parte a cobrir; do
ajudante pede-se o cordão 2, que se coloca sobre o cordão 1, com a mão direita,

Fig. 8-87 – Em-


Fig. 8-86 – Embotijo botijo de cotes, Fig. 8-88 – Embotijo
de nós de porco em um cordão de rabo de cavalo
TRABALHOS DO MARINHEIRO 429

estendendo-o diagonalmente para a direita; dá-se o cordão 1 para o ajudante, que o


agüenta para cima. Segura-se o cordão 3 na mão esquerda, colocando-o
diagonalmente para a esquerda, sobre a parte a cobrir; do ajudante pede-se o cor-
dão 4, que se coloca sobre o cordão 3, com a mão direita, estendendo-o diagonalmente
para a direita. Continua-se o trabalho para a direita, com um par de cordões de cada
vez, até que todos os cordões que estavam para baixo tenham ficado com o ajudan-
te, para cima, e vice-versa (na figura os cordões foram designados por letras).
Toma-se então, do ajudante, um cordão, digamos o cordão 3, que se estende
diagonalmente para a esquerda, com a mão esquerda; este cordão fica sobre o 4
que estávamos estendendo para a direita, com a mão direita; dá-se o cordão 4 para
o ajudante, levando-se para cima. Do mesmo modo, pede-se o cordão 3, que se
cruza sobre o 2, dando este último para o ajudante. Prossegue-se assim, para a
esquerda, procedendo em cada par como na primeira volta que fora feita para a
direita. Ao se completar esta volta, os mesmos cordões (de ordem par) que eram
inicialmente seguros pelo ajudante estarão novamente com ele. Repetem-se essas
voltas, alternadamente para a direita e para a esquerda, até completar o trabalho.

8.103. Embotijo de rabo de raposa ou


embotijo de agulha (fig. 8-89) – Amarra-se ao
cabo um número de merlins suficientes para cobrir
bem o cabo, devendo este número ser ímpar. En-
fia-se numa agulha um merlim (ou fio de vela) de
diâmetro um pouco menor que aqueles. Com a agu-
lha, vão-se dando voltas redondas, passando o
merlim fino (ou fio de vela) alternadamente por cima
de dois e por baixo de dois dos merlins mais gros-
sos. Depois de dar uma volta completa, o fio de
vela é enfiado ou sai por entre dois merlins que
estavam unidos no trança-
do precedente, acontecen-
do isto por ser ímpar o nú-
mero deles. Obtém-se as-
sim um embotijo de efeito
em espiral, como se vê na
Fig. 8-89 – Embotijo de
figura. Continua-se o traba-
rabo de raposa
lho até completar o tama-
nho desejado. Este embotijo pode ser empregado nas pe-
quenas defensas das embarcações, da mesma forma como
os dos arts. 8.96 e 8.97. Se o número de merlins que cobrem
o objeto for par, o embotijo não tomará a forma de espiral. É
o que se vê em B.

8.104. Embotijo de quatro cordões, em cotes al-


ternados (fig. 8-90) – Amarram-se quatro pedaços de merlim Fig. 8-90 – Embotijo
constituindo quatro cordões diametralmente opostos dois a de quatro cordões,
dois. A ordem em que devem ser dados os cotes é, na figura, em cotes alternados
430 ARTE NAVAL

a, b, c, d, sendo a e c os cordões da direita e b e d, os cordões da esquerda; os


cotes são também dados em sentidos alternados, como se vê na figura.

8.105. Gaxeta – Trançado utilizado para fins orna-


mentais em molduras, fiéis, fundas, cortinas etc. É feito
com merlim, fio de vela etc., havendo variadíssimos tipos
de construção. Para um principiante convém amarrar sem-
pre os cordões em um olhal ou balaústre e numerar ou dar
letras aos cordões como se vê nas figuras a seguir. Nas
gaxetas de mais de quatro cordões, deve-se ter um aju-
dante. As gaxetas descritas abaixo podem ter os cordões
duplos, triplos ou quádruplos.

8.106. Gaxeta simples, de três cordões (fig. 8-


91) – Marcam-se os cordões: a, b, c. Separa-se o cordão a
à esquerda e b e c, à direita. Começa-se por c, passando-
o para a esquerda por cima de b; passa-se agora a por
cima de c, para a direita. Prossegue-se assim, passando
o cordão da extrema direita (ou esquerda), para a esquer- Fig. 8-91 – Gaxeta
da (ou direita), por cima do que estiver no centro, até obter simples, de três
o comprimento desejado. cordões

8.107. Gaxeta simples, gaxeta plana ou gaxeta inglesa, de mais de


três cordões – Feita com qualquer número de cordões, acima de três. O modo de
construção difere conforme seja par ou ímpar o número
de cordões.
a. Número ímpar de cordões – A figura 8-92
mostra uma gaxeta plana, de cinco cordões. Separam-
se três cordões (a, b, c) na mão esquerda, e dois (d, e)
na mão direita. Passa-se o cordão a para a direita, por
cima de b e por baixo de c. Temos agora dois cordões
na mão esquerda (b, c) e três na mão direita (a, d, e).
Passa-se e para a esquerda, por cima de d e por baixo
de a. Prossegue-se assim até obter o comprimento de-
sejado.
A regra de construção é: “Trazer o cordão da ex-
trema esquerda (ou direita) por cima do que lhe é adja-
cente, para a direita (ou esquerda) e por baixo do se-
guinte, alternando-o assim até colocá-lo no grupo da
direita (ou esquerda) por dentro.”
b. Número par de cordões – Feito de modo
semelhante ao descrito acima, mas em vez de come-
Fig. 8-92 – Gaxeta sim- çar sempre passando o cordão da extrema por cima do
ples, de mais de três que lhe fica adjacente, começa-se uma vez por cima e
cordões outra vez por baixo, alternadamente.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 431

8.108. Gaxeta de rabo de cavalo ou gaxeta re-


donda de quatro cordões (fig. 8-93) – Amarra-se os qua-
tro cordões e separam-se em dois grupos, a, b e c, d. Pas-
sa-se o cordão a de trás para a frente, por baixo de d e por
cima de c, da direita para a esquerda. Depois faz-se o mes-
mo com o cordão d, por baixo de b e por cima de a, de trás
para a frente e da esquerda para a direita. Continua-se as-
sim sempre com o cordão externo.

8.109. Gaxeta portuguesa, de


cinco cordões (fig. 8-94) – Separam-
se os cordões em dois grupos, 3-2.
Traz-se o cordão da extrema esquer-
da (ou direita) por cima dos do mes-
mo lado, para o lado direito (ou es-
Fig. 8-93 – Gaxeta de
querdo). Em seguida, faz-se o mes-
rabo de cavalo
mo no cordão da extrema direita (ou
esquerda); prossegue-se, assim, até
obter o comprimento desejado traba-
lhando sempre com o cordão da extre-
ma no lado que estiver com 3 cordões.

8.110. Gaxeta quadrada, ou


de quatro faces (fig. 8-95) – Feita com
8, 12, 16 etc., cordões que são dividi-
Fig. 8-94 – Gaxeta dos em dois grupos 4-4, 6-6, 8-8 etc.
portuguesa Traz-se o cordão h da extrema direita
(ou esquerda) por baixo dos de seu
lado e a meio do grupo da esquer-
da (ou direita); passando-o agora
por cima da metade deste, faz-se
voltar o cordão de novo para o gru- Fig. 8-95 – Gaxeta
po da direita (ou esquerda), mas quadrada
do lado de dentro. Faz-se o mes-
mo no cordão da extrema esquerda (ou direita) e conti-
nua-se assim, alternadamente, até o comprimento dese-
jado.

8.111. Gaxeta coberta, de nove cordões (fig. 8-


96) – Dividem-se os cordões em dois grupos, 5-4. Traz-se
o cordão da extrema esquerda (ou direita) para a direita
(ou esquerda), por cima de dois e por baixo dos dois se-
guintes do grupo da esquerda (ou direita) até colocá-lo no
grupo da direita (ou esquerda), pelo lado de dentro. Este
Fig. 8-96 – Gaxeta co- é o princípio de construção de inúmeras outras gaxetas
berta, de nove cordões semelhantes.
432 ARTE NAVAL

8.112. Gaxeta francesa, de sete


cordões (fig. 8-97) – Separam-se os cor-
dões em dois grupos, 4-3. Traz-se o cor-
dão da extrema esquerda (ou direita) sobre
dois, e depois alternadamente por baixo e
por cima de um dos cordões do mesmo
grupo, até ficar colocado no grupo da direi-
ta (ou esquerda), do lado de dentro. Conti-
nua-se até ter o comprimento desejado.

8.113. Gaxeta simples, de três cor-


dões dobrados (fig. 8-98) – Construída do
mesmo modo que a gaxeta do art. 8.106,
mas com os cordões duplos, em vez de
simples.
Fig. 8-97 – Gaxeta Fig. 8-98 – Gaxe-
francesa, ta simples, de
de sete cordões 8.114. Gaxeta de meia-cana, de três cordões
oito cordões (fig. 8-99) – Separam-se os dobrados
cordões em dois grupos, 4-4. Começa-se pelo cordão h, que é
passado da direita para a esquerda, por trás, vindo a sair entre
c e d, passando por cima de d para a direita, e voltando ao seu
grupo da direita do lado de dentro. Traz-se a da esquerda para
a direita, por trás, vindo a sair entre e e h, por cima de h para
a esquerda, voltando ao seu grupo da esquerda, do lado de
dentro. Regra: “Traz-se o cordão da extrema esquerda (ou
direita) por trás, para a direita (ou esquerda), fazendo-o sair
por baixo de três e por cima de um dos cordões do grupo da
direita (ou esquerda), até voltar ao próprio grupo, no lado de
dentro.”
Esta gaxeta é plana de um lado e com três faces do
outro, isto é, tem a forma de um prisma semi-hexagonal. A
regra acima descrita é a que se lê no art. 8.110; é baseada
num mesmo princípio de construção, fácil de deduzir, e pelo
qual se pode fazer inúmeros outros trabalhos semelhantes.
Fig. 8-99 – Gaxeta
de meia-cana,
8.115. Gaxeta laminada (fig. 8-100) – Confeccionada de oito cordões
com números ímpares a partir de 5 cordões, serve para subs-
tituir a borracha de vedação das portas estanques e do eixo propulsor do navio. Para
sua confecção separam-se três cordões na mão esquerda e dois na mão direita ou
vice-versa. Do lado que tiver um cordão a mais, inicia-se o entrelaçamento passan-
do por cima e descendo
para o lado que tiver um
cordão a menos, prosse-
guindo assim até obter o
comprimento desejado.
Fig. 8-100 – Gaxeta laminada
TRABALHOS DO MARINHEIRO 433

8.116. Gaxeta cilíndrica – Confeccionada com quatro cordões, é a mais


indicada para fiel de cortina. Para a sua confecção, separam-se os cordões em dois
grupos, 2-2: um para cima e outro para baixo, e um para a direita e outro para a
esquerda. Vai-se fazendo o entrelaçamento da direita para a esquerda, para cima e
para baixo.

8.117. Pinha de anel – Utilizada para fins ornamentais, principalmente em


pés-de-carneiro, corrimãos, balaústres, ferros de toldo etc. É feita com merlim, li-
nha, cabo fino ou tiras de lona, sobre um cabo mais grosso ou sobre qualquer objeto
cilíndrico. Muitas vezes este trabalho é coberto com um pouco de verniz, para evitar
o mau aspecto do sujo das mãos, por exemplo, num corrimão, e para melhor prote-
ção. Os tipos mais comuns são as pinhas de anel de três e de quatro cordões, que
descreveremos a seguir; para as outras pinhas de anel (há uma grande variedade
delas) prevalece o mesmo princípio de construção.

8.118. Pinha de anel, de três cordões (fig. 8-101) – Para aprender esta
pinha de anel, como as que se seguem, vamos acompanhar as figuras em seus
diversos estágios, fazendo correr a pinha de cima para baixo, ao passar de um
estágio para o seguinte.
A figura 8-101 (A) parece-nos bem clara; em (B), o chicote livre do merlim
passou por cima de b e por baixo de a, saindo entre os dois; em (C) passa-se a para
a esquerda, por baixo de b; em (D) vamos passar o chicote do merlim da esquerda
para a direita, por baixo de uma e por cima da outra volta; em (E) o chicote livre vai
passar da direita para a esquerda, por baixo de uma e por cima da outra volta. Em
(F) vemos que o chicote livre do merlim deve sair junto e em sentido contrário ao
outro chicote que ficara fixo.
Temos então (F), uma pinha de anel singela de três cordões. Para fazer uma
pinha de anel de três cordões duplos, basta fazer com que um dos chicotes do
merlim percorra o mesmo caminho que o outro andou, junto a ele e em sentido
contrário. Para fazer uma pilha de anel de três cordões tríplices, faremos um dos
chicotes dar uma terceira volta, ainda no caminho do outro e em sentido oposto;
este trabalho é o que se vê em (G).

Fig. 8-101 – Pinha de anel, de três cordões


434 ARTE NAVAL

8.119. Pinha de anel, de quatro cordões (fig. 8-102) – Comparem-se as


figuras 8-101 (B) e 8-102 (B): vemos que o chicote livre do merlim passa agora por
baixo das duas voltas dadas, em vez de por cima de uma e por baixo da outra, como
no caso anterior. O chicote livre dá mais uma volta completa em torno do objeto,
pela esquerda de todas as voltas já dadas, como indica a seta em (B) e, depois,
passa por cima de b e por baixo de a; isto faz prender as voltas então feitas. Faz-se
correr o trabalho em torno do objeto aproximando o chicote livre para o operador,
sem desfazer o mesmo; passa-se então o chicote livre do merlim por cima de uma
volta, por baixo da seguinte e por cima da outra, como indica a seta em (D). O
trabalho fica então como se vê em (E), aparecendo o chicote livre do merlim junto e
em sentido contrário ao outro chicote. Com um dos chicotes percorre-se o caminho
seguido pelo outro, em sentido oposto e, se fizermos isto uma vez mais, teremos a
pinha de anel de quatro cordões, que se vê em (F).

Fig. 8-102 – Pinha de anel, de quatro cordões

8.120. Pinha de anel fixa a um cabo (fig. 8-103) – Costura-se ou abotoa-


se um pedaço de merlim ao seio de um outro, ficando o conjunto de três pernadas,
que se vê em (A). Cocha-se este merlim de três pernadas num cabo, ficando cada
chicote de merlim entre as cochas do cabo. Dá-se agora um nó de porco e em
seguida um nó de pinha, com os chicotes do merlim em torno do cabo, ficando
como se vê em (B). Fazendo cada chicote percorrer duas vezes mais o caminho já
percorrido, teremos a pinha de anel que se vê em (C). Aplicada em certos cabos-
guias ou em cabos onde se tenha necessidade de fazer subir um homem, apoiando
os pés nas pinhas de anel.

Fig. 8-103 – Pinha de anel fixa a um cabo


TRABALHOS DO MARINHEIRO 435

8.121. Coxins – Trançados feitos geralmente com os cordões de um cabo


descochado, com muitas aplicações a bordo, como capachos, defensas, proteção
de portalós, entradas de embarcações, paus de contrabalanço das embarcações
etc. Distinguem-se das gaxetas por terem maior largura, e dos embotijos por serem
planos.

8.122. Coxim francês (fig. 8-104) – Em posição


horizontal e num lugar safo, amarra-se um pedaço de
cabo cujo comprimento depende da largura desejada para
o coxim. Penduram-se alguns cordões pelo meio, po-
dendo ser bem unidos ou separados, conforme se dese-
jar que fique o trabalho. Em geral, utilizam-se cordões
de um cabo descochado ou cabos finos, devendo o nú-
mero deles ser suficiente para cobrir a largura do coxim.
Numeram-se os chicotes dos cordões e separam-
se os mesmos alternadamente, ficando, por exemplo,
os de ordem ímpar para baixo; um ajudante segurará os
chicotes de ordem par para cima. Toma-se o cordão nú-
mero 1 e, colocando-o diagonalmente para a esquerda,
dá-se ao ajudante, de quem se recebe o cordão número Fig. 8-104 – Coxim
2. Prossegue-se trocando os cordões adjacentes, su- francês
cessivamente, de nossa mão para as do ajudante e vice-
versa, fazendo um trançado igual ao do embotijo de rabo de cavalo (art. 8.102).
Remata-se como é visto na figura, ou então como se começou o trabalho, passando
um cabo horizontalmente e abotoando os cordões.

8.123. Coxim espanhol (fig. 8-105) – Amarra-se um cabo horizontalmente,


como no caso anterior, e sobre ele colocam-se cordões dobrados pelo meio; nume-
ram-se estes cordões, sendo, por exemplo, os chicotes da frente de ordem ímpar. O
coxim é formado de nós de porco (art. 8.50), passando cada cordão por cima e para
trás do que lhe fica adjacente, da esquerda para a direita. Note-se que no começo,
na parte superior à esquerda, o cordão número 2 passa por cima do cordão número
1. O cordão número 2 ficará por baixo do número 3, e assim vão sendo dados nós
semelhantes aos nós de porco, até chegar
ao lado direito do coxim. A fileira seguinte será
feita em sentido contrário, da direita para a
esquerda, tal como se vê na fileira inferior da
figura. Os dois cordões laterais servem como
enchimento no contorno do coxim, não dan-
do nós. Para rematar aproveitam-se esses
cordões laterais, emendando-os horizontal-
mente, para formar o contorno inferior, e amar-
ram-se nele os cordões intermediários, fazen-
do sair os chicotes destes para trás do coxim.
Cocham-se estes chicotes na parte posterior
do trabalho, tesa-se bem, abotoa-se caso seja
Fig. 8-105 – Coxim espanhol necessário e corta-se o que exceder.
436 ARTE NAVAL

8.124. Coxim russo (fig. 8-106) – A


confecção é idêntica à do trabalho anterior.
Em vez de nós de porco (art. 8.50) são da-
dos nós de pinha singela (art. 8.48); isto
quer dizer que cada cordão em vez de pas-
sar em torno de seu adjacente à direita (ou
à esquerda), da parte anterior para a parte
posterior, passa de trás para a frente, como
se vê na figura.

8.125. Coxim de tear (fig. 8-107) –


Fig. 8-106 – Coxim russo Amarram-se al-
guns cordões sobre um cabo disposto horizontalmente como
nos trabalhos anteriores. Coloca-se um fio de vela ou merlim
entre as duas pernadas dos cordões, paralelamente ao cabo
horizontal. Vai-se, então, cruzando as pernadas dos cor-
dões, fazendo passar as que estão em cima para baixo e
vice-versa, e, entre elas, fazem-se passar os dois chicotes
do merlim. Continua-se este trançado até ter o comprimen-
to desejado, dependendo a largura do merlim do número de
cordões colocados. Remata-se como nos coxins anterio-
res. A grossura do merlim é escolhida à vontade.
Fig. 8-107 – Coxim
8.126. Coxim português (fig. 8-108) – de tear
Feito em posição horizontal com entrelaça-
mento de cordões de cabo descochado ou cabo
fino, cujo comprimento e largura depende de
como se deseja o tamanho do coxim.

8.127. Coxim turco (fig. 8-109) – Usa-


do para quadros de trabalhos marinheiros ou Fig. 8-108 – Coxim português
servir de capachos de escada de portaló ou
para proteção de carga nas fainas de transfe-
rência. Inicia-se formando uma meia-volta com
os chicotes de um cabo, dá-se meia-volta,
formam-se duas alças e dá-se uma torção
para a frente em cada alça; coloca-se a alça
da esquerda por cima da direita e entrelaçam-
se os chicotes formando as malhas até ter o
tamanho desejado, como verificamos na figu-
ra 8-109.
Fig. 8-109 – Coxim turco
8.128. Rabichos – Trabalho de
embotijamento feito nos chicotes dos cabos para: (1) embelezar; (2) não deixar
descochar; e (3) tornar os cabos mais fáceis de gurnir num moitão ou retorno
qualquer.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 437

8.129. Rabicho de rabo de raposa (fig. 8-110) – Pendura-se o cabo a uma


altura conveniente para o trabalho e dá-se uma falcaça a uma distância da extremida-
de igual a seis vezes a circunferência dele. Descocham-se os cordões até essa falcaça
e separam-se os fios de carreta que sejam necessários para fazer o embotijo; estes
fios de carreta são mostrados na figura em a, trançados dois a dois. Eles podem não
ser trançados, ficando então o rabicho com uma aparência mais lisa. O número des-
ses fios de carreta deve ser par, havendo no nosso caso 24 fios de carreta que cons-
tituem 12 filaças. Os fios de carreta internos são afilados (cortando-se gradativamente)
para a extremidade do cabo e ficam reunidos por voltas trincafiadas dadas com um
dos fios de carreta, com um merlim ou um fio de vela (b, na figura). Esta parte vai
constituir um enchimento, isto é, a madre do rabicho.
Separam-se, agora, as filaças feitas, dispondo-as alternadamente, uma parte
para baixo cobrindo a madre e a seguinte para o lado, sobre a falcaça feita. No ponto
em que os dois grupos de filaças se separam (junto à falcaça), dão-se duas voltas
redondas com o merlim, apertando-se a segunda volta com um nó direito. Depois
troca-se a posição dos dois grupos de filaças, passando por cima da falcaça os que
estavam sobre a madre e vice-versa. Dão-se outras duas voltas redondas com o merlim
sobre as filaças que agora estão sobre a madre. Desta maneira o merlim vai apertan-
do as filaças de encontro à madre, passando alternadamente por cima de uma filaça
e por baixo da seguinte. Continua-se o mesmo trabalho até cobrir bem a madre.
O entrelaçamento externo desse rabicho é semelhante ao embotijo de rabo de
raposa (art. 8.103); ele pode tomar o aspecto de espiral, como o da figura 8-89, se
houver um número ímpar de filaças (não confundir filaça com fio de carreta); também
assumirá a forma de espiral se, em vez de se fazer o merlim passar alternadamente
por cima de uma filaça e por baixo da terceira, ou da seguinte, este ficar por cima de
duas filaças e por baixo da terceira, ou por cima de três filaças e por baixa da quarta.
Vê-se, pois, que o rabicho de rabo de raposa pode ter várias formas.

Fig. 8-110 – Rabicho de rabo de raposa


438 ARTE NAVAL

Pode-se rematar de várias maneiras, e o chicote do rabicho pode terminar


numa alça, numa pinha etc. No nosso caso foram dadas três voltas redondas sobre
um dos grupos de filaças e a madre; depois, toma-se cada filaça do segundo grupo e
passa-se sobre as voltas de merlim e em seguida por baixo destes, como se vê em d.
Quando todas as filaças c forem assim cochadas sob voltas de merlim, estas serão
apertadas. Cortam-se os chicotes que sobrarem das filaças e da madre, ficando o
trabalho como se vê em (C).

8.130. Rabicho de rabo de cavalo – Prepara-se o cabo como no caso ante-


rior. Difere deste porque o entrelaçamento externo é um embotijo de rabo de cavalo
(art. 8.102). Este trabalho é feito por dois homens e o número de filaças é sempre par.

8.131. Defensas (fig. 8.111)


a. Generalidades – As defensas comuns, que aqui descrevemos, consis-
tem em um saco de lona forte, de forma adequada, cheio de cortiça granulada,
borracha ou pedaços de cordões de cabo de fibra usado; o saco é coberto por
embotijo e amarrado por um fiel. Elas são leves, podem ser conduzidas e mano-
bradas por um só homem. São usadas nos navios e nas embarcações miúdas, a
fim de protegê-los durante a atracação e enquanto estiverem atracados, evitando
avarias ou que a pintura seja danificada; são colocadas nos pontos mais salientes
ou onde se tornar necessário.
As defensas grandes, feitas de pedaços de espias grossas, feixes de lenha
etc., são pesadas e exigem um teque e alguns homens para sua manobra; são colo-
cadas no costado, onde o navio possa encostar ao cais, geralmente a meia-nau.
b. Saco interno – Costura-se um pedaço de lona forte na forma que se deseja
para a defensa. Faz-se um estropo de anel (art. 8.162) de tamanho adequado. Enche-
se o saco com cortiça granulada, borracha, pedaços de cabo etc., até 1/4 da capaci-
dade, colocando-se então o estropo feito. Acaba-se o enchimento do saco, costura-
se a parte de cima, deixando comprimento suficiente de estropo para fora, o qual
servirá de alça.
Em vez de fazer o estropo de anel, pode-se formar a alça com um cabo dobra-
do, cujos dois chicotes saem por baixo do saco; depois de estar este cheio, os
chicotes, na parte que sai por baixo, são descochados e cosidos à parte externa da
lona. O cabo que se amarra à alça da defensa chama-se fiel. O fiel pode ser preso
diretamente à defensa, por meio de costura de mão, se esta tiver ilhoses em vez de
alça.
c. Embotijo – O invólucro de uma defensa comum é um embotijo. O mais
usado é o embotijo de defensa, cujo modo de construção foi descrito no art. 8.98.
Toma-se um pedaço longo de cabo e descocha-se, separando os cordões em todo o
comprimento. Um desses cordões é amarrado no meio da defensa, com volta redon-
da e um nó qualquer. O trabalho será assim dividido em duas partes, começando o
embotijo do meio para os extremos da defensa; podem ser usados apenas dois cor-
dões, um para a metade superior e outro para a inferior; mas, se for necessário,
emendam-se os pedaços de cordão uns aos outros durante o trabalho, até terminar a
construção da defensa. Note-se numa defensa comum que a metade superior tem os
cotes colocados em posição exatamente inversa dos outros, da metade de baixo.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 439

d. Tipos:
(1) defensa chata ou charuto – Empregada para navios e embarcações miú-
das, temporariamente, durante a atracação (fig. 8-111 A);
(2) defensa de balão – Usada em navios e embarcações miúdas, temporaria-
mente, durante a atracação (fig. 8-111 B);
(3) defensa cilíndrica vertical ou garrafa – Usada principalmente nos reboca-
dores e embarcações miúdas, temporariamente, na atracação (fig. 8-111 C);
(4) defensa cilíndrica horizontal – Semelhante à anterior, mas tem dois fiéis
para a amarração em posição horizontal; empregada nos rebocadores e embarca-
ções miúdas, permanentemente, fixas junto ao verdugo (fig. 8-111 D);
(5) defensa da roda ou meia-lua – Horizontal, de forma adequada para sua
fixação permanente ao bico de proa dos rebocadores e lanchas. Confeccionada
com cabos, revestida com ponto de embotijo (fig. 8-111 E);
(6) defensa circular – Fixa, feita com pneus usados, cheios de cabos ou outro
material leve e resistente, sendo presa com cordões de cabo por meio de ponto de
embotijo. Na parte oposta à alça, faz-se um furo para escoamento da água (fig. 8-
111 F); e
(7) defensa para cais – Podem ser flutuantes de madeira ou de cabos velhos,
feixes de lenha etc., ficando neste caso amarradas ao cais (fig. 8-112 e 8-113).

Fig. 8-111 – Defensas para navio


440 ARTE NAVAL

Cabo de aço, 8 a 10 voltas Botão de fio de aço

Cabo de fibra Cabo de fibra


Enchimento de cabo de fibra

Fig. 8-112 – Defensa para cais (comprimento: 3m; diâmetro: 0,80m)

Fig. 8-113 – Como é fixada a defensa em um cais

8.132. Pranchas
a. Para mastreação ou guindola (fig. 8-114)
– É uma tábua de pelo menos 20 cm de largura; o
comprimento usual é de 60 cm, pois a prancha deve
acomodar um só homem. São feitos quatro furos, dois
em cada extremidade da tábua; esta pode ser refor-
çada, na parte inferior, como se vê na figura, se bem
que isto não seja essencial.
Toma-se um cabo solteiro, de cerca de 4,30
metros de comprimento. Para aparelhar a prancha,
gurne-se um chicote num dos furos, deixando um pe-
queno comprimento de chicote por baixo da tábua.
Gurne-se o outro chicote no furo diretamente oposto
àquele, na outra extremidade da tábua, de cima para
baixo. Traz-se então o cabo para o lado do primeiro
furo, cruzando a tábua diagonalmente, pelo lado de
baixo, para vir gurnir no outro furo desta extremidade,
de baixo para cima. Ronda-se bem o cabo, depois do
que faz-se passar o chicote no último furo que resta,
de cima para baixo; os dois chicotes são, agora, li-
gados por costura redonda. Os seios da parte supe-
rior da prancha são ajustados para que fiquem no Fig. 8-114 – Prancha para
mesmo comprimento e abotoados de modo a formar mastreação ou guindola
TRABALHOS DO MARINHEIRO 441

uma só alça. O fiel da prancha será amarrado a esta alça, geralmente por um nó
de escota, singelo ou dobrado. Em (a), a amarração foi feita com nó de escota
singelo. A prancha, em vez de ter fiel, pode ser engatada a um teque, se tiver de
ser levada ao alto.
Esta prancha é muito empregada por marinheiros ou operários que traba-
lham em pintura ou reparos de mastros ou outros lugares elevados.
b. Para o costado (fig. 8-115) – Consiste em uma tábua com dois traves-
sões aparafusados próximo às extremidades dela. A finalidade desses travessões
é manter a prancha afastada da superfície em que está trabalhando. A prancha
pode ser para um ou dois homens, dependendo disto o seu comprimento; a largu-
ra é de 20 centímetros, pelo menos.
Para aparelhar a prancha, toma-se um cabo solteiro, no qual se dá uma
volta de tortor, como se vê em (A), a pequena distância do chicote. Coloca-se o nó
sob o travessão, ficando a parte a sobre o lado superior da prancha. Os seios b e
c são então colocados para cima do travessão, sobre as duas extremidades deste
(B).
Ronda-se a amarração feita e, com o próprio chicote do cabo, dá-se um lais
de guia no seio dele (C). Deve-se ter o cuidado de que as duas partes do cabo
estejam iguais em comprimento e, então, aperta-se bem o lais de guia; se não
fosse isso, a prancha iria cambar para o lado de uma das pernadas, ao ser içada
pelo cabo.
Dá-se um segundo nó igual a este na outra extremidade da prancha. Os
dois fiéis da prancha podem ser amarrados aos gatos de dois teques fixados ao
convés; os tiradores destes teques serão amarrados embaixo, no próprio fiel da
prancha. Isto elimina o inconveniente de ter de subir um homem, ou haver alguém
em cima somente para arriar a prancha – o que seria necessário se o cabo fosse
amarrado em cima, no convés.

Fig. 8-115 – Prancha para o costado


442 ARTE NAVAL

8.133. Escadas de quebra-peito (fig. 8-116) – A figura 8-116 (A) mostra um


tipo comum de escada de quebra-peito, muito empregado nos paus de surriola. Os
degraus têm 30 centímetros de comprimento e levam um goivado próximo a cada
uma das extremidades, dependendo o tamanho do goivado do cabo a ser emprega-
do. O espaçamento dos degraus é 30 centímetros, e o número deles depende do
comprimento da escada. Calcula-se o comprimento de cabo necessário, dobra-se
este ao meio e no lugar da dobra coloca-se um sapatilho, que é preso por um botão
redondo. Nas duas pernadas do cabo marcam-se os pontos em que devem ser
colocados os degraus, espaçando as marcas de 30 centímetros. Abrem-se as cochas
do cabo com um passador e colocam-se os degraus em seus lugares, começando
pelo degrau mais próximo do sapatilho. Depois abotoa-se o cabo nos dois pontos
imediatamente acima e abaixo de cada degrau, empregando um botão redondo de 7
ou 8 voltas de merlim. Em cada um dos chicotes faz-se uma alça com sapatilho,
para formar o olhal por onde a escada será amarrada. Sempre que possível estas
escadas devem ser feitas com cabos de quatro cordões.
O melhor cabo para este tipo de escada é um cabo de linho alcatroado, de 4
cordões, fabricado especialmente para isso, e também muito empregado no apare-
lho de embarcações miúdas. Tem 51 centímetros (2 polegadas) de circunferência e
pesa 0,238 kg por metro. É fornecido em aduchas de 366 metros (200 braças) de
comprimento e sua carga de ruptura é igual a 1.400 quilogramas, no mínimo.
A escada vista na figura 8-116 (B) é empregada na popa dos navios e em
outras partes do casco. É feita da mesma maneira que a anterior, exceto que as
duas pernadas do cabo ficam ligadas por costura redonda, na parte inferior.
A figura 8-116 (C) mostra outro tipo muito empregado a bordo, devido à cons-
trução simples e à facilidade com que é manobrada. É mais robusta que as anteri-
ores, e usa-se para práticos e outros serviços, no costado. Cada degrau tem quatro
furos, dois de cada lado. O tamanho e o espaçamento deles é aproximadamente o
mesmo que os de (A). Para aparelhar a escada, tomam-se dois pedaços de cabo,
cada um tendo cerca de 4 metros mais que duas vezes o comprimento desejado
para a escada. Dobram-se estes cabos e na dobra, se for desejado, colocam-se
sapatilhos. Amarram-se os dois cabos a um objeto qualquer disposto horizontal-
mente, pelos sapatilhos (ou pelas simples dobras do cabo, se não houver sapatilho),
ficando os cabos pendurados; a distância entre os dois cabos deve ser igual à
distância que há entre os furos nas extremidades dos degraus. Colocam-se todos
os degraus nos cabos, gurnindo cada chicote por um furo. Aperta-se o primeiro
degrau de encontro aos botões dos sapatilhos, e prende-se este degrau no lugar,
dando um botão redondo esganado para unir os dois cabos em cada lado. Dão-se
outros dois botões redondos esganados unindo os cabos na distância recomenda-
da a partir do primeiro degrau, e coloca-se o segundo degrau de encontro a esses
botões. Prende-se este degrau no lugar com outros dois botões redondos esgana-
dos. Continua-se assim até que tenham sido presos todos os degraus, com um
botão de cada lado, nas extremidades. Para rematar costura-se o chicote mais
curto dos dois no mais comprido em cada lado. Os chicotes mais compridos de
cada lado são falcaçados e servirão para amarrar a escada onde for desejado. Mui-
tas vezes o remate é feito com dois sapatilhos redondos, iguais aos da extremidade
inferior da escada.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 443

Fig. 8-116 – Escadas de quebra-peito

A escada de cones de madeira que se vê na figura 8-116 (D) é feita de uma só


pernada de cabo, em cujo chicote foi feita uma costura de mão com sapatilho. Os
degraus são torneados em forma de um cone truncado, tendo cerca de 10 a 12
centímetros de diâmetro na base maior, sendo a base menor proporcional a essa
medida; a altura do cone é igual ao diâmetro da base maior (10 a 12 centímetros). O
diâmetro do furo central por onde gurne o cabo depende da medida deste. Para
444 ARTE NAVAL

aparelhar a escada, coloca-se um degrau


com a base maior do cone virada para
cima, marca-se um ponto a uma distân-
cia de 70 a 75 centímetros a partir da ex-
tremidade do sapatilho, inclusive este. No
ponto marcado, dá-se uma pinha de anel
fixa ao cabo (art. 8.120), com os cordões
dobrados, feita de um cabo fino de diâ-
metro adequado. Colocam-se os outros
degraus do mesmo modo, ficando as pi-
nhas de anel distantes entre si de 38 cen-
tímetros.
A escada de cabo que a figura 8-
117 mostra tem seus degraus feitos como
se segue: o nó que constitui o próprio
degrau é dado com as duas pernadas do Fig. 8-117 – Escada de quebra-peito (a
cabo; uma pernada é estendida em S, isto figura só mostra o primeiro degrau)
é, tem uma dobra de cada lado. A outra
parte é passada por dentro do seio superior da direita, como se vê na figura; dá-se,
em seguida, um número determinado de voltas redondas envolvendo os dois seios,
dependendo este número do comprimento desejado para o degrau. Depois o cabo
gurne pelo seio inferior da esquerda e o nó é bem apertado. Para o degrau seguinte
é feito um nó idêntico, dado em sentido oposto.

8.134. Lança improvisada (fig. 8-118)


a. Descrição e emprego – Pode haver necessidade de manobrar pesos a
bordo, em posição tal que se torna necessário o aparelhamento de um dispositivo
especial, por não se poder dispor de turco, guindaste ou pau-de-carga. Neste caso,
improvisa-se uma lança.
A lança consta de um só pau, com o pé descansando sobre o convés, tendo
o tope agüentado por três ou quatro cabos ou teques. A capacidade de içar que a
lança tem depende da qualidade da madeira, do ângulo em que é colocada, das
dimensões do pau e do equipamento disponível para aparelhá-lo.
O aparelho que iça a carga é uma talha patente ou um aparelho de laborar
comum cujo tirador pode ser levado a um cabrestante ou guincho. Quando as car-
gas forem muito pesadas, deve haver o cuidado de colocar o pé da lança sobre uma
parte reforçada do convés, ou colocá-lo sobre uma soleira (item b, a seguir) suficien-
temente grande para distribuir o peso por mais de uma tábua do convés.
b. Equipamento necessário:
Lança – Uma viga de madeira forte.
Soleira – Tábua forte, rigidamente fixada ao convés, com uma cavidade ade-
quada para receber o pé da lança, ou pedaços de cantoneira soldados ao convés de
encontro ao pé da lança, se o convés for de aço.
Plumas – Três ou quatro cabos que agüentam o tope da lança mantendo-o na
posição que se desejar. Quando há quatro plumas, elas devem ser amarradas ao
tope da lança em ângulo reto uma em relação à outra; nos casos em que o peso não
TRABALHOS DO MARINHEIRO 445

seja demasiado, ou quando o espaço não permite aparelhar quatro plumas, usam-
se três, igualmente espaçadas, isto é, a 120°. Conforme o peso do pau e a carga a
içar, as plumas podem ser constituídas por talhas, teques ou simples cabos.
Amantilho – Cabo, teque ou talha, amarrado ao lais da lança e sobre o qual
se exerce o maior esforço da carga içada. Na lança improvisada o amantilho é
geralmente uma das plumas, a do lado oposto àquele para o qual a lança estiver
inclinada.
Braçadeira – Gola de ferro com olhais onde se amarram as plumas e o apa-
relho de içar, colocada no tope da lança. Só é usada quando for parte integrante da
lança.
Peias - Teques colocados horizontalmente no pé da lança a fim de evitar que
este resvale para um lado, apesar da soleira. São empregadas somente para as
cargas demasiado grandes, e, neste caso, usam-se três peias espaçadas de 120°.
Estropo – Para amarrar o aparelho de içar no tope da lança, se não houver
olhal apropriado para isto na braçadeira.
Aparelho de içar – Pode ser uma talha patente, ou uma talha comum com
uma patesca para servir de retorno ao cabo.

Fig. 8-118 – Lança

c. Modo de aparelhar a lança – No tope da lança, se não houver braçadei-


ra, as plumas e o amantilho podem ser amarrados por meio de volta de encapeladura
singela ou por volta de fiel. Havendo mastros ou peças estruturais altas em torno, o
outro chicote das plumas é amarrado neles, sendo então fácil içar a lança ao seu
lugar. Em caso contrário faz-se o seguinte: do ponto onde deve ficar o pé da lança,
no convés, traça-se uma linha para marcar a posição das plumas de vante e de ré;
traça-se uma outra linha perpendicular a esta, para as plumas laterais. Procuram-se
446 ARTE NAVAL

quatro pontos onde haja cabeços ou outras peças fortes da estrutura do casco, ou
olhais no convés, onde possam ser passadas as plumas; estes pontos devem ser
tais que a distância deles ao pé da lança seja tanto quanto possível igual a duas
vezes o comprimento da lança. Amarram-se as quatro plumas ao tope da lança.
Fixa-se no convés a soleira ou, se não for possível colocar esta, preparam-se três
peias. Coloca-se a lança ao longo da linha correspondente à pluma de vante, com o
pé próximo à soleira. Iça-se a lança tanto quanto possível com a mão. Agüenta-se a
pluma de ré com um teque, deixando a pluma de vante folgada, fora da ação. Vai-se
içando a lança com a pluma de ré servindo de amantilho, colhendo o brando das
plumas laterais. Quando a lança estiver na posição, tesam-se bem todas as plu-
mas. Para as lanças pesadas, e quando não houver mastro nas proximidades,
haverá necessidade de construir uma pequena cabrilha para içar a lança.
d. Cuidados durante a manobra:
(1) durante a manobra do peso, se a lança for movida para um lado, aumenta
a tensão da pluma do lado oposto, que se vai assim convertendo em amantilho. Se
as plumas não têm grande margem de segurança, não convém dar grandes movi-
mentos laterais com a carga suspensa. Havendo necessidade de deslocar lateral-
mente o peso, isto deve ser feito por partes, arriando a carga e reajustando a lança
cada vez que se girar de um pequeno ângulo, de modo que o amantilho não se
afaste muito do plano vertical que passa pela lança;
(2) a lança improvisada deve trabalhar o mais próximo possível da posição
vertical. O ângulo de inclinação máximo permitido é 30o em relação à vertical;
(3) quanto mais pesada a carga, maior deve ser o cuidado em aparelhar e
manobrar a lança; e
(4) se não for conhecida a capacidade de carga da lança, deve-se determinar
a carga de trabalho de cada uma de suas partes, dando à lança a carga de trabalho
da parte mais fraca.

8.135. Cabrilha (fig. 8-119)


a. Descrição e emprego – A cabrilha é um aparelho composto de duas
vigas que se cruzam em tesoura, colocado ao alto e assim mantido por meio de
plumas; a amarração das duas vigas é feita por meio de portuguesa (art. 8.69) ou
por botão redondo esganado (art. 8.66). No ponto de cruzamento é passado um
estropo para receber o aparelho de içar, o qual depende da carga a ser içada.
É utilizada para os mesmos fins da lança constante do artigo anterior, apre-
sentando maior segurança, mas tendo a desvantagem de só permitir que a carga
seja deslocada, quando suspensa, na direção perpendicular ao plano que passa
pelos dois paus da cabrilha.
b. Equipamento necessário – O mesmo do item b do artigo anterior, exceto
o seguinte: (1) há necessidade de mais uma viga e um cabo para abotoar a cabrilha;
(2) a braçadeira é dispensada; (3) o número de plumas pode ser dois ou quatro; e (4)
as peias são dispensadas, a não ser quando a carga for grande, usando-se neste
caso um pau amarrado horizontalmente embaixo, unindo os pés da cabrilha.
c. Modo de aparelhar a cabrilha – Colocam-se as duas vigas juntas e
paralelas sobre o convés. Os topes descansarão sobre um apoio qualquer.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 447

Com um cabo solteiro, dá-se uma volta de fiel em torno de uma das vigas na
distância de cerca de um metro de seu tope. Junto a esta volta de fiel dão-se 10 a 15
voltas falidas, na direção dos topes, abotoando as duas vigas.

Pl
um
as
as
um
Pl

Fig. 8-119 – Cabrilha

Esganam-se as voltas dadas com duas voltas redondas e sobre estas rema-
ta-se com voltas de fiel. Abrem-se os pés das vigas; esta abertura deve ser tal que
a distância entre os pés seja igual a 1/3 da distância, na viga, entre o pé e o ponto
de cruzamento.
Passa-se um estropo no ponto de cruzamento das vigas. Engata-se uma
talha neste estropo. Se esta talha for pesada abotoa-se o estropo e somente se iça
a talha depois que a cabrilha for levada ao alto.
Amarram-se as plumas, com volta de fiel, nos topes das vigas. É preferível
sempre usar duas plumas para facilitar a manobra de mover o peso para vante ou
para ré. A pluma de vante é amarrada à viga que ficar a ré, e a pluma de ré na que
estiver a vante.
Amarra-se uma barra horizontalmente, próximo aos pés dos paus, para servir
de peia não os deixando abrir.
Leva-se a cabrilha ao alto. Quanto mais próximo da vertical ela ficar, maior o
esforço de compressão sobre os paus, e menor o esforço de tração sobre as plu-
mas, aliviando estas.
448 ARTE NAVAL

Para mover de vante para ré um peso que esteja suspenso na cabrilha, soleca-
se a pluma de vante e tesa-se a pluma de ré, ou vice-versa.
Em alguns casos a pluma do lado para onde a cabrilha está inclinada pode
ser dispensada; nesses casos a cabrilha nunca é levada a uma posição próxima da
vertical.
d. Cuidados durante a manobra – Os mesmos do artigo anterior, idem d.

8.136. Cabrilha em tripé – É empregada para pesos grandes que devem ser
içados na direção vertical, ou aproximadamente vertical, isto é, o ponto de amarra-
ção do aparelho de içar não pode ser deslocado.
Para aparelhar o tripé marca-se, nas vigas, o lugar onde se deve fazer o
cruzamento, a um metro aproximadamente dos topes. Colocam-se duas vigas para-
lelamente sobre o convés, deixando entre si um intervalo pouco maior que o seu
diâmetro; elas devem descansar sobre um apoio qualquer próximo ao ponto de
cruzamento marcado.
Coloca-se a terceira viga entre aquelas, com o tope em sentido oposto e a
marca de cruzamento coincidindo com as das outras (fig. 8-120).
Com um cabo solteiro, dá-se uma volta de fiel numa das vigas externas,
próximo ao ponto marcado. Dão-se 10 a 15 voltas redondas em torno das três vigas.
Esganam-se estas duas outras voltas perpendiculares entre cada par de vigas, com
o mesmo cabo, rematando com uma volta de fiel na viga interna, junto às voltas, no
tope. Passa-se um estropo sobre a amarração, a fim de receber o aparelho de içar.
Iça-se o tripé afastando igual-
mente os pés, de modo que a
distância entre eles seja 1/3 da
distância dos pés ao ponto de
cruzamento. Fixam-se as solei-
Fig. 8-120 – Cabrilha em tripé ras no convés, junto do tripé.

8.137. Amarrar uma verga a um mastro, ou duas vigas que se cruzam


(fig. 8-121)
(1) dão-se as voltas que se vêm em (I); remata-se com voltas redondas da-
das sobre as voltas falidas, entre as duas vigas; termina-se com voltas de fiel; e
(2) dão-se 4 a
6 voltas redondas
agüentando as duas
vigas e, depois, ou-
tras tantas voltas re-
dondas perpendicu-
lares àquelas, como
se vê em (II); cada
chicote pode ficar
amarrado por volta de
fiel ou os dois são
unidos por um nó di-
reito. Fig. 8-121 – Modo de amarrar uma verga a um mastro
TRABALHOS DO MARINHEIRO 449

8.138. Regular a tensão de um cabo sem macaco


(fig. 8-122) – Alguns estais e outros cabos fixos devem ser
solecados em tempo úmido e bem tesados em tempo seco;
quando não for grande a carga suportada pelo peso e não hou-
ver macaco para regular a tensão, isto pode ser feito como mostra
a figura 8-122. O seio a do cabo dá volta num objeto fixo e a
tensão é aplicada pela alteração da posição do pedaço de ma-
deira como se vê na figura.

8.139. Dar volta a uma es-


pia num cabeço (fig. 8-123) – Ad-
mite-se que a espia tenha alça fei-
ta com costura de mão; se não ti-
Fig. 8-122 – Modo ver, dá-se um lais de guia formando
de regular a o balso singelo.
tensão num cabo. Quando duas espias usam
um mesmo cabeço, a segunda é
sempre passada por dentro da alça da primeira, antes
de ir ao cabeço; deste modo qualquer das duas pode
Fig. 8-123 – Encapelar
ser retirada sem que uma interfira com a outra. Faz-se
duas espias num cabeço
o mesmo para colocar três espias no mesmo cabeço.

8.140. Dar volta à boça de uma embarcação num cabeço ou objeto


semelhante – Para amarrar a boça de uma embarcação que não tem alça, podem
ser empregados: volta de fiel (fig. 8-124) e voltas redondas e dois cotes (fig. 8-125);
quando somente se pode usar o seio do cabo, faz-se como indica a figura 8-126. Ver
também o art. 8.24.

Fig. 8-126 – Como amarrar a


Fig. 8-124 e 8-125 – Como amarrar boça de uma embarcação
a boça de uma embarcação pelo seio

8.141. Dar volta a uma espia em dois cabeços


(fig. 8-127) – A bordo dá-se voltas às espias num par de
cabeços, com voltas falidas. Se o cabo é de fibra, rema-
ta-se dando um cote em um dos cabeços ou abotoam-se
as duas voltas mais altas, se for preferível. Se a espia é
de cabo de aço, abotoa-se sempre. Note-se que a pri- Fig. 8-127 – Dar volta a
meira volta que a espia dá é no segundo cabeço a contar uma espia em dois
da direção de onde ela vem. cabeços
450 ARTE NAVAL

8.142. Aboçar ou trapear um cabo (fig. 8-128) – Aboça-se uma espia, o


tirador de uma talha e, de modo geral, qualquer cabo, quando, estando ele sob
tensão, deseja-se mudar o ponto de amarração ou amarrá-lo em outra direção.
Um exemplo típico é a mudança da espia, de um cabrestante pelo qual foi
rondada, para os cabeços onde deverá ficar amarrada. Admite-se que a parte a
esteja passada no cabrestante, sendo b o vivo do cabo.
Toma-se um cabo solteiro, que deve ser de diâmetro menor que o cabo a
aboçar. Um chicote dele é amarrado a um cabeço ou a um olhal no convés, com
volta de fiel, ou com voltas redondas e cotes; o outro chicote será amarrado ao vivo
do cabo como se segue: dão-se dois cotes simples ou um cote dobrado, o que é
preferível, e em seguida três ou quatro voltas redondas não unidas; estas voltas
redondas podem ser dadas no sentido da cocha do cabo, como se vê na figura, ou
em sentido contrário; isto não influi na resistência da amarração. O chicote da boça
será abotoado ao cabo ou agüentando junto a ele, sob mão.
Agora, soleca-se o chicote a do cabo, devagar, até que a boça receba todo o
esforço. Pode-se, então, retirar o chicote a para o ponto desejado, amarrando-o
bem teso; depois de estar ele amarrado, a boça pode ser retirada, mas isto deve ser
feito com cuidado, para evitar uma lupada. Na figura as boças foram amarradas a
um aparelho de laborar.
Nunca se aboça um cabo de aço com um cabo de fibra. Pode-se usar um
outro cabo de aço ou uma pequena corrente, cujo primeiro elo será preso por mani-
lha a um olhal ou arganéu qualquer, ou a um cabeço. O modo de aboçar é o mesmo
descrito acima. Em geral prefere-se aboçar pela corrente, mas deve haver cuidado,
porque a corrente, sob tensão, pode coçar e amassar os cordões do cabo de aço.

Fig. 8-128 – Aboçar um cabo

8.143. Trapa de duas pernadas – Tem a mesma função que a trapa ou a


boça de uma pernada, porém ela é mais segura, pois usa-se duas pernadas da
trapa em vez de uma, e não dá torção na espia, evitando que venha a morder.

8.144. Dar volta a um cabo num cunho (fig. 8-129) – Dá-se volta às adriças,
tiradores das talhas etc., num cunho por meio de voltas falidas como mostra a figura
TRABALHOS DO MARINHEIRO 451

8-129 (A). Note-se a diferença desta figura para a figura 8-129 (B). Neste caso, a
primeira volta que o cabo dá é passada por cima do cunho; deste modo o
esforço sobre o vivo do cabo tende a forçar este de encontro ao cunho, e também
exercido no cabo tende a afastá-lo do cunho, não permitindo que as voltas pos-
sam ficar mordidas. Na última volta dá-se um cote, como se vê em (A) e não
como está em (C).

Fig. 8-129 – Dar volta a um cabo num cunho ou numa malagueta

8.145. Dar volta a um cabo numa malagueta (figs. 8-130a e 8-130b)


(1) dão-se voltas falidas, exatamen-
te como foi dito acima, para um cunho; e
(2) a figura 8-130a mostra um cabo
que tem alça dando volta numa malagueta;
neste caso, o vivo do cabo é dirigido para
cima e foi amarrado primeiro à malagueta
e depois à outra parte que se deseja pren-
der. A alça deverá ser passada de modo
inverso, isto é, em baixo da malagueta, se
o cabo tiver de ser dirigido para baixo (fig. Figs. 8-130a e 8-130b – Dar volta a um
8-130b). cabo com alça numa malagueta

8.146. Dar volta a um cabo pendurando a aducha dele (figs. 8-131 e 8-


132) – As adriças, as carregadeiras das velas, o tirador de uma talha etc. devem ser
aduchados quando não estão em uso, e isto é feito de modo que permita desfazer
prontamente a aducha logo que for desejado. Assim o convés fica safo e o cabo se
mantém sempre seco.
(1) toma-se o seio do cabo, depois que se deu volta nele, e a uma distância
de cerca de um metro do lugar onde se deu volta inicia-se uma aducha em pandeiro,
sobre o convés.
452 ARTE NAVAL

Quando todo o cabo estiver aduchado, dobra-se a aducha com cuidado para
evitar que se soltem as voltas dadas e com o próprio cabo dão-se duas ou três
voltas redondas em torno da aducha.
Agora faz-se passar o seio do cabo por dentro da parte superior da aducha e
depois para cima, como mostra a figura 8-131; este seio pode ser também passado
num gato, numa malagueta ou num cunho; e

Fig. 8-131 – Modo de pendurar uma aducha grande

(2) se a aducha é pequena, pendura-se como mostra a figura 8-132.

Fig. 8-132 – Modo de pendurar uma aducha pequena

8.147. Gurnir um cabo num cabrestante – Na figura 8-133 podemos ver o


vivo do cabo que se quer alar, e o chicote dele, o qual se vai movimentando para fora
do cabrestante à medida que ele for virando, estando um homem ao socairo, isto é,
colhendo o brando no cabo que sai do cabrestante, para impedir que ele cavalgue as
voltas dadas na saia.

8.148. Badernas – Quando o peso for demasiado para que o tirador seja
agüentado a mão enquanto se dá volta nele, morde-se a talha. Isto é feito dando-se
voltas falidas entre duas pernadas da beta da talha; as voltas assim dadas chamam-
se badernas.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 453

EVITE EM UM GUINCHO OU CABRESTANTE VOLTAS SO-


BREPOSTAS E VOLTAS MORDIDAS, MANTENDO UM HO-
MEM AO SOCAIRO DELE

MANTENHA-SE SAFO DO VIVO DO CABO PORQUE ELE PODE ROMPER-SE

Fig. 8-133 – Como alar uma espia pelo cabrestante


454 ARTE NAVAL

8.149. Amarração dos enfrechates (fig. 8-134) – O modo correto de amar-


rar os enfrechates aos ovéns das enxárcias é mostrado nas ilustrações. Os
enfrechates levam pequena alça, a qual é amarrada aos ovéns por botão redondo
esganado, rematando por volta de fiel. Note-se que as alças são colocadas horizon-
talmente, de modo a eliminar a possibilidade de ficar a água da chuva empoçada
nelas.
Amarrada a alça ao primeiro ovém, passa-se o enfrechate pelo segundo ovém
e dá-se volta de fiel. Prossegue-se amarrando o enfrechate seguidamente em cada
ovém com volta de
fiel. Depois de feitas
essas amarrações
em todos os ovéns,
recomeça-se a partir
do primeiro, reco-
lhendo toda a folga
que houver nos en-
frechates, reajustan-
do e apertando bem
as voltas de fiel da-
das. Deixa-se no ou-
tro chicote do enfre-
chate o comprimen-
to suficiente para fa-
zer costura de mão,
cuja alça será amar-
rada ao último ovém
como o foi o primei- Fig. 8-134 – Amarração dos enfrechates
ro, com um botão esganado.

8.150. Redes (fig. 8-135) – Para a confecção de redes, necessita-se de uma


agulha de rede e um calibre (c). A agulha de rede contém o pedaço de merlim com
que se faz a rede, devendo ser comprida e suficientemente fina para passar entre as
malhas. O calibre determina o tamanho das malhas e permite fazer todas elas do
mesmo tamanho. A figura mostra uma rede feita de nós de escota.
Para começar, precisa-se de uma pequena alça, ou um seio, como é visto
em a, na figura. Coloca-se o calibre na posição em que é visto na figura, apertando-
se o merlim de encontro a ele com o polegar, para dar o nó. Este é dado passando-
se a agulha portando o merlim por dentro do seio a e depois por dentro de b. Assim,
se o calibre tiver 20 centímetros de lado, teremos as malhas com 10 centímetros de
lado, aproximadamente. É preciso apertar bem o merlim de encontro ao calibre com
o polegar ao se apertar o nó, a fim de que todas as malhas fiquem iguais e o nó bem
dado. Depois de feita a primeira malha da rede, ela vai servir como um novo seio,
semelhante ao que foi feito em a, e procede-se a mesma seqüência de operações
acima descritas. Assim o merlim é levado pela agulha através desta primeira malha,
coloca-se o calibre, dá-se o nó de escota. Prossegue-se até ter a rede do tamanho e
forma desejados. Tipos de rede: abandono, desembarque, balaustrada e carga.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 455

b
a

Fig. 8-135 – Rede

a. Rede de abandono ou salvamento (fig. 8-136) – Usada nas fainas de


abandono do navio e no salvamento da tripulação. Esta rede tem a propriedade de
flutuar; para tanto na sua confecção empre-
gam-se caçoilos circulares de cortiça ou ou-
tro material flutuante. Em sua confecção são
utilizados:
(1) tirantes – Em número de cinco, sen-
do dois laterais e três centrais. Armam a rede
no comprimento;
(2) enfrechates – Cabos que entram na
formação das malhas no sentido transversal;
(3) cabeças ou testas da rede – São
formadas por duas hastes de madeira ou ca-
nos de ferro, os quais recebem os nomes de
cutelo superior e cutelo inferior. Os furos con-
tidos nos cutelos servem para gurnir os tiran-
tes que são amarrados por meio de pinha fixa.
Os enfrechates são fixados aos tirantes late-
rais por meio de costura redonda para cima e
nos tirantes centrais através do cote pela
cocha; e
(4) aranha da rede – Na parte superior Fig. 8-136 – Rede de abandono ou
da rede faz-se uma aranha com os próprios salvamento
456 ARTE NAVAL

tirantes, esta medindo 1/4 do comprimento da rede e na sua extremidade coloca-se


um fiel medindo 4 vezes o seu comprimento. Normalmente as redes medem de 8
a10 metros de comprimento por 3,5 metros de largura, podendo variar com o tama-
nho do navio.
b. Rede de desembarque (fig. 8-137) – Usada em operações de guerra no
desembarque de tropa; também é conhecida como rede de abordagem.
Sua confecção não tem tamanho determinado, varia de acordo com o porte e
a altura da borda do navio. É formada de malhas cujo tamanho varia de 30 a 33
centímetros. Suas partes superiores e inferiores são constituídas de dois pedaços
de cabos de bitola maior que os tirantes.
(1) tirantes – Os tirantes são fixados aos cabos de maior bitola por meio de
costura redonda pela cocha e botões redondos; e
(2) enfrechates – Os enfrechates são fixos aos tirantes laterais por meio de
costura redonda para cima e cote, e nos centrais através de cote pela cocha.

Fig. 8-137 – Rede de desembarque

c. Rede de balaustrada (fig. 8-138) – Para proteção do pessoal, material ou


usada como ornamento.
É confeccionada por malhas formadas com nó direito ou nó de escota. Deve-
se ter cuidado de fazer todas as malhas iguais deixando as emendas no próprio nó
da malha; são amarradas às balaustradas com volta de fiel ou botão redondo. Nos
contratorpedeiros as redes medem 68,6cm de altura.
d. Rede de carga (fig. 8-139) – Há diversos tipos de rede de carga, entretan-
to, só dois tipos tomam nomes especiais na Marinha: a rede de fundo fechado e a
de fundo aberto, sendo a primeira a mais indicada.
Para a confecção de uma rede de carga, faz-se, inicialmente um estropo tipo
anel denominado tralha, no qual são feitas 4 alças denominadas punhos da rede.
Estas alças podem ser feitas pela cocha ou por meio de botão cruzado, sendo o
primeiro mais indicado.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 457

As malhas são feitas por meio de cote pela cocha ou botão cruzado, sendo o
cote pela cocha mais indicado. Os chicotes dos cabos que formam as malhas são
introduzidos na cocha da tralha pegando dois cordões, os quais ficam dentro das
alças feitas em cada chicote através de costura redonda.

Fig. 8-138 – Rede de balaustrada Fig. 8-139 – Rede de carga

8.151. Dar volta aos fiéis


de toldo (fig. 8-140) – O uso da
corrente (art. 8.31) nos fiéis de tol-
do é inconveniente, pois enfeia mui-
to o navio. Para amarrar o fiel de
toldo ao vergueiro, o método mais
simples e prático é dar voltas re-
dondas entre o ilhós do toldo e o Fig. 8-140 – Dar volta aos fiéis de toldo
vergueiro. Deixa-se um comprimento no chicote do fiel, suficiente para dar outras
voltas redondas perpendiculares às primeiras. Para rematar, dobra-se o chicote do
fiel e mete-se esta dobra no meio das primeiras voltas dadas, ficando ele mordido;
esta amarração é fácil de desfazer, puxando-se pelo chicote.

8.152. Amarração de
alças a mastros, vergas etc.
(fig. 8-141) – Para amarrar uma
alça a um mastro, procede-se
como mostra a figura 8-141,
dando voltas falidas em torno do
mastro e de uma a outra parte
da alça; remata-se com uma
meia-volta perpendicular às vol-
tas falidas. Fig. 8-141 – Amarração de alças a um mastro
458 ARTE NAVAL

8.153. Fixar um cunho de madeira, ou qualquer outra peça, a um estai


(fig. 8-65) – O cunho é fixado por botões redondos como mostra a figura, formando
uma arreatadura (art. 8.75).

8.154. Tesar bem as peias (fig. 8-


142) – A figura 8-142 representa uma amar-
ração com voltas redondas, em que depois
de feita a amarração se passa um cunho
ou barra de ferro; gira-se esta barra de 180°
e amarra-se a outra extremidade à peça prin- Fig. 8-142 – Tesar bem as peias
cipal fixa.

8.155. Lonas
a. Definições:
(1) Ourelas – Margens do pano, junto às arestas;
(2) Urdidura – Fiação no sentido do comprimento; e
(3) Trama – Fiação no sentido da largura.
b. Aplicação:
(1) para os toldos em geral, são preferidas as lonas com largura de 0,60 m; a
largura de 1 m será usada para serviços em que a resistência não tenha maior
importância, como nos pequenos toldos, capas etc.; a largura de 1,15 m é usada
para a confecção de macas; e
(2) a lona número 1 é a preferida para camisas de colisão; a lona número 3 é
usada para toldos dos navios de grande porte; a número 4 é a melhor para os toldos
dos contratorpedeiros e navios menores, sacos para transporte de material, capas
de embarcações e de armamento e capas em geral; a de número 7 para telas de
alvos, toldos de embarcações miúdas e sanefas em geral.

8.156. Pontos de coser


a. Ponto de costura ou ponto de bainha (fig. 8-143) –
Usado para coser dois panos pelas ourelas ou para fazer bai-
nhas em toldos, velas, capas, coser lonas às velas etc.
Começa-se enfiando a agulha no pano A, entre os dois
panos, de modo a ficar escondido o chicote do fio por baixo do
pano B. Em seguida enfia-se a agulha em a de baixo para cima
na figura. Dá-se agora o ponto ab, enfiando a agulha em b e
fazendo-se sair em c, segue-se o ponto cd, enfiando a agulha em
d e saindo em e, e assim sucessivamente. O chicote inicial do
fio levou uma meia-volta de modo a ficar mordido pelo primeiro Fig. 8-143 –
ponto. Para coser dois panos, faz-se uma costura na ourela v Ponto de bainha
semelhante à acima descrita para a ourela u.
b. Ponto de bigorrilha – Usado para emendar dois ou mais panos com
dobra em cada um deles ou para um ligeiro reparo em lona pesada que se tenha
rasgado ou ainda para confecção de capas e para forrar objetos com lona ou brim.
Usualmente dão-se 8 a 9 pontos por 10 centímetros (1,2 cm ou 1,1 cm por
ponto).
TRABALHOS DO MARINHEIRO 459

Fig. 8-144a – Ponto de bogorrilha pelo redondo


Há dois tipos de pontos de bigorrilha: quando
se quer emendar duas lonas fazendo uma pequena
beira em cada uma das ourelas, cosendo por dentro,
chama-se redondo (fig. 8-144a). Quando se forra qual-
quer cabo ou objeto, fazendo antes as dobras no pano,
chama-se chato; neste último caso, pode-se coser o
pano por fora (fig. 8-144b) ou por dentro (fig. 8-144c).
As figuras são suficientemente claras, mostran-
Fig. 8-144b – Ponto de
do como a agulha apanha os dois panos e respectivas
bigorrilha chato
dobras. O chicote inicial do fio deve ficar mordido pelo (cosido por fora)
primeiro ponto e escondido na dobra de um dos panos
ou na parte interna deles. Note-se que a agulha passa em ângulo reto em relação à
direção da costura. Usualmente dão-se 12 pontos para cada 10 centímetros (0,8 cm
por ponto).

Fig. 8-144c – Ponto de bigorrilha chato (cosido por dentro)

c. Ponto de livro (fig. 8-145) – Semelhante ao ponto de bigorrilha e muito


usado para forrar objetos com lona.
Enfia-se a agulha no ponto a, deixando o chicote do fio
escondido na dobra e mordido neste primeiro ponto; dá-se em
seguida o ponto b, enfiando a agulha no pano B de fora para
dentro, de modo a sair pela dobra; segue-se o ponto c, enfiando
a agulha no pano A de dentro para fora, isto é, entrando pela
dobra e saindo pelo pano. Prossegue-se deste modo até termi- d
c
nar a costura. A b
a
Observa-se que este ponto difere do de bigorrilha porque B
a agulha não atravessa as duas lonas de uma vez, e os pontos
a, b, c, d, ficam em ziguezague. Fig. 8-145 –
Usualmente dão-se 8 ou 9 pontos por 10 centímetros. Ponto de livro
460 ARTE NAVAL

d. Ponto de peneira (fig. 8-146) – Usado para fazer bainhas e para coser os
panos com que se tapam os buracos da lona. Coloca-se a ourela por cima do outro
pano e cose-se como se vê na figura. Para tapar buracos, toma-se um pano um
pouco maior que o orifício, cose-se em torno deste e depois cosem-se os bordos do
pano na lona. Para obter melhor acabamento, dobram-se em bainhas os bordos do
pano e do orifício da lona. Pode-se dar 1 ponto por centímetro.

Fig. 8-146 – Ponto de peneira

e. Ponto esganado (fig. 8-147) – Empregado para unir ou serzir rasgões em


lonas muito fortes, lonas impermeabilizadas ou pintadas.

Fig. 8-147 – Ponto esganado (em dois movimentos)

f. Ponto cruzado (fig. 8-148) – Também usado para serzir rasgões, com
melhor acabamento.

Fig. 8-148 – Ponto cruzado


TRABALHOS DO MARINHEIRO 461

g. Ponto de palomba
(fig. 8-149) – Utilizado para
palombar, isto é, coser as tralhas
dos toldos e das velas; é feito com
fio de palomba. A palombadura
pode ser feita na ourela, antes da
costura. Há dois tipos: Fig. 8-149 – Ponto de palomba
Ponto pela cocha – A agulha é enfiada no pano e na cocha entre dois cordões
do cabo.
Ponto pelo redondo – Enfia-se a agulha no pano e dá-se uma volta com o fio
em torno do cabo; ao passar de um ponto para outro dá-se uma volta trincafiada.
A palombadura pode ser feita na ourela ou na aresta do pano, mas neste
último caso, dobra-se em bainha antes de coser
h. Ponto de cadeia (fig. 8-150) – Usado para marcar, fazer letras ou núme-
ros, e assemelha-se à volta chamada corrente, passada no pano de modo inverso.
i. Ponto de sapateiro ou ponto de fenda (fig. 8-151) – Empregado para
coser couros. Como se vê na figura, são usadas duas agulhas, que apanham o
couro no mesmo furo, uma em sentido contrário à outra, sucessivamente.

Fig. 8-150 –
Ponto de cadeia Fig. 8-151 – Ponto de sapateiro ou ponto de fenda

j. Ponto de espinha de peixe (fig. 8-152) – Serve para coser rasgões,


porém ficando a costura frouxa.

Fig. 8-152 – Ponto de espinha de peixe


462 ARTE NAVAL

l. Espelho (fig. 8-153) – Usado para ta-


par pequenos buracos nos toldos e nas velas.
Enfia-se a agulha em a, de cima para baixo, e
depois em b, também de cima para baixo. Pros-
segue-se assim, passando sempre a agulha por s
dentro de cada seio s do ponto anterior, andan- b
a
do em torno do buraco até concluir uma volta
completa de pontos. Dá-se outra volta de pon-
tos concêntrica a esta, mas em vez de enfiar a Fig. 8-153 – Espelho
agulha no pano passa-se em cada malha formada pelos pontos da série anterior.
Continua-se assim até tapar completamente o buraco, mas como o tamanho dele
vai diminuindo para o centro, vão-se pegando os pontos de dois em dois, de três em
três, nas séries sucessivas. Na figura os pontos são vistos bem folgados, mas
devem ser apertados, para que o trabalho tome bom aspecto quando terminado.

8.157. Utensílios do marinheiro


a. Espicha (fig. 8-154) – Pequena haste metálica, de forma cônica, com a
ponta em bico, destinada a abrir as cochas dos cabos. Pode ter o punho de madei-
ra. Tem um furo onde se pode passar um fiel para prendê-la à mão.
b. Passador (fig. 8-154) – Semelhante à espicha, mas ligeiramente curvo e
tendo o punho dobrado em ângulo reto para bater as costuras. É sempre de ferro, e
serve para o mesmo fim da espicha.
c. Vazador (fig. 8-154) – Utensílio de ferro, com a ponta em circunferência
bem afiada para abrir buracos no pano, para os ilhoses.

REMANCHADOR
DEDAL

REPUXO
MESA
PASSADOR VAZADOR
OU REMANCHADOR
TORQUÊS
ESPICHA ABRE-ILHOSES

Fig. 8-154 – Espicha, Passador, Vazador, Remanchador e Torquês

d. Macete de bater (fig. 8-155) – Utensílio de madeira com cabo, servindo


para bater as costuras, nós etc. e também para bater o vazador.
e. Macete de forrar (fig. 8-156) – Macete com goivadura que encosta nos
cabos na operação de forrar.
f. Palheta de forrar – Peça de madeira plana ou em meia-cana, e provida
com um cabo de pau como o macete, destinada a forrar os cabos guiando o merlim
nesta operação.
g. Faca – De uma só folha, sem ponta; serve para cortar cabos, lona etc.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 463

Fig. 8-155 – Macete de bater Fig. 8-156 – Macete de forrar

h. Gatos – Para agüentar as lonas enquanto são costuradas.


i. Agulha – Instrumento fino e comprido, com ponta, três faces e orifício no
fundo, destinado a coser o pano. Há agulhas para lona, brim e para palombar, esta
última sendo curva.
(1) agulha para costurar
lona (fig. 8-157a) – Tem formato
especial, em geral com três na-
valhas (quinas), seu número varia
de 7 a 16, sendo o número maior Fig. 8-157a – Agulha para costurar lona
referente à menor agulha;
(2) agulha para costura em
brim (fig. 8-157b) – Agulha de for-
mato comum, semelhante à agu-
lha doméstica, usada para costu- Fig. 8-157b – Agulha para costurar brim
ra em tecido fino; e
(3) agulha de palombar (fig. 8-157c) – Agulha de ponta achatada e curva;
usada para costura de lona em cabos, tralhas de velas e toldos.

Fig. 8-157c – Agulha de palombar

j. Repuxo – Tira de couro unida pelos extremos, com furo para o polegar,
devendo ser calçada pelos marinheiros na mão direita. Tem na palma o dedal. Serve
para forçar a agulha na lona ou através de um cabo, protegendo a mão de quem
trabalha.
l. Torquês (fig. 8-154) – Para cortar fios de aço.
464 ARTE NAVAL

m. Remanchador (fig. 8-154) – Haste de ferro ligeiramente troncônica ter-


minando em ponta acentuadamente cônica. Serve para colocar o anilho no seu
ilhós, prendendo-o ao pano, o que é feito com a mesa do remanchador.

SEÇÃO G – ESTROPOS

8.158. Definição, emprego, tipos


a. Definição e emprego – Estropo é um pedaço de cabo cujos chicotes
foram ligados por nó ou costura, formando assim um anel de cabo que se utiliza
para diversos fins. É usado principalmente para estabelecer a conexão entre um
aparelho de içar e o peso a ser içado e, por isto, chama-se estropo, de modo geral,
a qualquer pedaço de cabo, corrente ou lona com que se envolve um peso que se
tem de içar.
b. Tipos:
(1) estropo comum (fig. 8-158) – De cabo de fibra ou cabo de aço. Anel de
cabo, cujos chicotes são geralmente ligados por costura redonda;
(2) estropo aberto (fig. 8-159) – Duas ou quatro pernadas de corrente, ou de
cabo de aço, ligadas em uma das extremidades por um olhal, tendo gatos nas
outras extremidades;

Fig. 8-158 – Estropo comum Fig. 8-159 – Estropo aberto

(3) estropo braçalote (fig. 8-160)


– Pedaço de cabo com uma alça em
cada chicote, feita com costura redonda
ou com clips;
(4) estropo de rede (fig. 8-161) – Fig. 8-160 – Estropo braçalote
Rede quadrada ou retangular confeccionada especialmente para este fim (carga ou
descarga); e
(5) estropo de lona (fig. 8-162) – Pedaço de lona forte, de forma retangular,
guarnecida por uma tralha de cabo de fibra. Confeccionado com um estropo comum
tendo em sua parte interna um pedaço de lona de forma retangular, ficando com
aparência de maca. Esta lona é costurada no estropo com ponto de palomba pela
cocha.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 465

Fig. 8-161 – Estropo de rede Fig. 8-162 – Estropo de lona

Há ainda outros tipos menos usados, como estropo trincafiado, estropo para
alcear poleame etc.

8.159. Estropo de cabo de aço – Empregado em cargas mais pesadas.


Pode ser aberto ou em anel. Não há um tamanho especialmente indicado, e a
ligação dos chicotes pode ser feita por costura ou pelos acessórios dos cabo de
aço. Em comparação com os estropos de corrente, eles são mais leves e têm a
vantagem de quase sempre não partirem sem aviso prévio; os fios externos podem
partir, mas os internos serão suficientes para agüentar temporariamente a carga.
Os estropos de cabo de aço são feitos de cabos 6 x 19 e 6 x 37, podendo os
chicotes ser ligados por costura, por terminal ou por olhal com sapatilho. Ver a
carga de trabalho no quadro a seguir.
ESTR OPOS D E C AB O D E AÇ O

C AR GA D E TR AB ALH O EM K G PAR A U MA PER N AD A D E C AB O

D IÂMETR O Usado a 60° a 45° a 30°


na verti cal de ângulo de ângulo de ângulo
D O C AB O

)
>

60° ) 45° ) 30°


L i g a çã o L i g a çã o L i g a çã o L i g a çã o
mm pol
Termi nal C ostura Termi nal C ostura Termi nal C ostura Termi nal C ostura

9,5 3/8 430 430 390 390 320 320 230 230

12,7 1/2 720 720 630 630 500 500 360 360

15,9 5/8 1.450 1.450 1.270 1.270 1.040 1.040 720 720

19,0 3/4 2.200 2.000 1.900 1.800 1.500 1.400 1.100 1.000

22,2 7/8 2.900 2.600 2.500 2.200 2.000 1.800 1.400 1.300

25,4 1 3.800 3.200 3.300 2.800 2.700 2.200 1.900 1.600

28,6 1 1/8 4.600 3.800 4.000 3.300 3.300 2.700 2.300 1.900

31,7 1 1/4 5.400 4.400 4.700 3.800 3.800 3.200 2.700 2.200
466 ARTE NAVAL

8.160. Estropo de cabo de fibra – É o mais usado. Para os serviços de


estiva dos navios, empregam-se cabos de manilha de 64 mm (2 1/2 polegadas) a
101 mm (4 polegadas) de circunferência; sete a onze metros de comprimento de
cabo, unidos os chicotes por costura redonda, formam o anel do estropo. Para
cálculo das resistências consultar as tabelas de cabos.

8.161. Estropos de corrente (fig. 8-159) – São geralmente abertos, não


constituindo anel. Podem ter duas ou quatro pernadas. Os estropos para içar to-
néis, trilhos, tubos, barras de ferro etc. consistem em duas pernadas ligadas por um
olhal numa extremidade e possuindo gatos de tipo especial na outra. Para içar
caixotes são usadas quatro pernadas, saindo em uma das extremidades gatos de
ferro em ângulo reto para pegar os caixotes em baixo e em cima, ou gatos em ponta
que tendem a penetrar na madeira sob o esforço de içar.
Os estropos de corrente devem ser de material muito bom e não podem ser
usados por muito tempo; depois de um ano de uso contínuo devem ser recozidos.
As tabelas 8-1 a 8-3 apresentam dados característicos referentes à utilização de
estropos de corrente.

8.162. Estropo de anel (fig. 8-163) – Serve para alcear poleame, mas atual-
mente é pouco usado; pode ser de cabo de fibra ou de aço.
(1) de cabo de fibra – Descocha-se e corta-se num cabo qualquer um de seus
cordões em tamanho pouco maior que três vezes a circunferência do estropo dese-
jado. Dobra-se este cordão ao meio e forma-se, no tamanho escolhido, o estropo,
recompondo cuidadosamente o cabo de três cordões, fazendo cada chicote seguir
a cocha já estabelecida no cordão. Remata-se como uma costura de laborar, engaia-
se, percinta-se, trincafia-se e forra-se; e
(2) de cabo de aço – Usam-se dois cordões descochados cuidadosamente
de um cabo novo, mas conservando a posição relativa entre eles, por meio de bo-
tões e falcaças. Do mesmo
modo que anteriormente,
recompõe-se o cabo for-
mando o estropo. Cortam-
se os cordões e falcaças
dadas e remata-se como
uma costura de laborar, se-
parando os pontos de en- Fig. 8-163 – Estropo de anel, cabo de fibra
contro dos chicotes.

8.163. Estropo trincafiado (fig. 8-164) – Feito com fio de vela, fio de carre-
ta, mialhar ou merlim. Colocam-se dois pregos ou pinos a uma distância conveni-
ente um do outro, de acordo com o tamanho desejado para o estropo. Passa-se o
fio por fora desses pinos até ter a grossura julgada necessária, dão-se os botões
provisórios e retira-se o anel assim feito. Trincafia-se e forra-se, se isto for deseja-
do. Serve para alcear o poleame ou para estropos de pequeno tamanho, mas é
pouco usado atualmente.
TRABALHOS DO MARINHEIRO 467

Fig. 8-164 – Estropo trincafiado

8.164. Ângulo dos estropos – A figura 8-165 pretende representar uma carga
de 2.000 quilogramas exercida sobre um estropo de duas pernadas. O estropo é
apresentado sob diversos ângulos mostrando o aumento da carga no cabo à propor-
ção que aumenta o ângulo entre as pernadas. Observe-se que a carga com as pernadas
a 30° de ângulo sobre o horizontal é duas vezes maior, e, ao se aproximar de 0° o
ângulo, a carga torna-se quatro vezes maior, em cada pernada.
Na prática, nem sempre se pode evitar os ângulos pequenos das pernadas,
pois estas devem ficar bem justas sobre a carga a içar. Considera-se ótimo o empre-
go de um ângulo nunca menor de 45 graus. Quando isto não for possível, tem que se
levar em conta o rápido aumento da carga à proporção que esse ângulo se torna
menor, e verificar se o estropo empregado é o aconselhado para tal carga; a escolha
do estropo adequado deve levar em consideração o fator de segurança

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
. 2.000 Quilogramas

Fig. 8-165 – Ângulo dos estropos


468 ARTE NAVAL

Para os cabos de fibra, considera-se suficiente o emprego de um fator de


segurança de 5 para 1. Deste modo, para içar a carga de 2.000 quilogramas, estan-
do as pernadas paralelas (ângulo 90° sobre a horizontal, em cada pernada), a carga
será de 1.000 quilogramas, em cada uma. Usando um fator de segurança igual a 5,
será necessário um cabo com carga de ruptura próxima de 5.000 quilogramas, que
é o cabo de 3 1/2 polegadas de circunferência (ver tabela 7-2). Mas se o estropo for
utilizado com ângulo de 30°, o esforço será o dobro, isto é, de 2.000 quilogramas
em cada pernada. Para usar o mesmo fator de segurança 5, procuraremos um cabo
com 10.000 quilogramas de carga de ruptura, isto é, o de 5 polegadas de diâmetro.
Para um ângulo de 15°, o esforço sobre as pernadas seria quatro vezes maior, o
cabo escolhido na tabela 7-2 seria o de 7 1/2 polegadas.
Observemos como são diferentes as situações; não é o cabo que se torna
fraco, é a carga que fica demasiada para ele. Nos três casos acima, se fôssemos
empregar o mesmo cabo de 3 1/2 polegadas, não estaríamos trabalhando com um
fator de segurança igual a 5, mas sim de 2,5 no segundo caso e 1,25 no terceiro.
Quase sempre o responsável por uma lingada dá pouca importância ao ângu-
lo do estropo, porque sabe que está trabalhando com um cabo que tem grande
reserva de segurança, pois sua resistência é várias vezes maior que a carga normal
de trabalho. Entretanto, muitas vezes, a ruptura de um estropo e o acidente resul-
tante são devidos a um ângulo pequeno no estropo ou à colocação dele sobre uma
aresta viva de carga, e não ao próprio cabo.
Nada justifica um acidente em qualquer serviço de estiva ou manobra de içar,
a não ser a imprudência do responsável. Para economia do cabo, proteção à vida
pessoal e segurança do material, devem ser observadas as seguintes regras:
(1) conhecer o peso a içar, nunca o subestimando;
(2) escolher um cabo de resistência suficiente, empregando a tabela adequa-
da. O fator de segurança de 5 para 1 é o aconselhado em situação normal;
(3) verificar a tabela de eficiência das costuras e nós (art. 8.2), dando a per-
centagem adequada ao tipo de amarração do estropo; e
(4) calcular o esforço sobre cada pernada, de acordo com o tipo do estropo.
Se possível, não usar um ângulo de estropo menor que 45°.
A figura 8-166 ilustra como passar o estropo em uma lingada

Fig. 8-166 – Modo de passar o estropo numa lingada


TRABALHOS DO MARINHEIRO 469

8.165. Modos de passar um estropo num cabo ou num mastro (fig. 8-


167) – Passa-se o estropo num cabo fixo ou num mastro, para poder engatar um
aparelho de laborar qualquer e içar um peso; num cabo de laborar ou numa espia, a
fim de engatar um teque para ajudar a rondá-lo ou tesá-lo, isto é, para aboçar;
existem três métodos, quais sejam:
1o método – Coloca-se um extremo do estropo perpendicularmente ao cabo e
sobre ele. Com outro extremo vai se enrolando o estropo em torno do cabo, com
voltas redondas bem unidas, até que dele só reste o comprimento suficiente para
passar por dentro da outra dobra do estropo e receber o gato (I) .
2o método – Segura-se um extremo do estropo perpendicularmente à espia e
junto a ela; com outro chicote, vão-se dando voltas redondas no sentido perpendicu-
lar ao cabo e com as
duas pernadas pas-
sando por fora de
cada volta anterior,
até que só reste a
alça para passar o
gato (II) .
3 o método –
Coloca-se o seio do
estropo perpendicu-
larmente ao cabo e
dão-se voltas alterna-
das, cruzando-se os
dois chicotes em
sentidos opostos;
usado quando o Fig. 8-167 – Modos de passar um estropo
estropo é muito com- num mastro ou num cabo
prido (III).

8.166. Cortar um estropo – Cha-


ma-se cortar um estropo encurtá-lo sem
que sejam dados nós no cabo, pois os
nós poderiam ficar mordidos sob o es-
forço da carga. Muitas vezes o volume
de carga é muito pequeno para o estropo
que se tem em mão; para cortar tal
estropo, pode-se usar um dos métodos
seguintes:
1o método (fig. 8-168) – Forma-se
primeiro o seio a; o seio b é então enfia-
do através do seio a, conforme se vê na
figura 8-168. As partes b e c são colo-
cadas juntas, como se vê em B, e servi-
rão para nelas engatar-se o gato de içar. Fig. 8-168 – Modo de cortar um estropo
470 ARTE NAVAL

2o método (fig. 8-169) – Forma-se um seio como se vê na figura; a metade


deste seio é passada sob a parte a como mostra a seta. O cabo fica então como se
vê em B. Os seios b e c são então unidos e podem ser colocados num gato como
indica a figura.
Este método é o mais simples; os seios b e c podem ser puxados na quan-
tidade que se queira, encurtando o estropo conforme for desejado.

Fig. 8-169 – Modo de cortar um estropo

3o método – Dão-se dois cotes, um oposto ao outro, como se vê na figura 8-


170, metem-se então os dois seios um por dentro do outro, como indicam as setas,
ficando formadas as duas alças que se vêem em B.

Fig. 8-170 – Modo de cortar um estropo

8.167. Estropos para tonéis (fig. 8-171)


(1) o tonel tem de ser içado na posição vertical (fig. 8-171A). Estende-se o
cabo no chão e coloca-se o tonel sobre ele. Dá-se uma meia-volta bem folgada, com
o chicote do cabo no seio dele, imediatamente acima do tonel, abre-se esta meia-
volta de modo a deixar passar a boca do tonel por dentro dela. Com isto ficará
metade do nó em cada lado do tonel. Rondam-se as duas partes do cabo, de modo
a abraçar bem o tonel, e emendam-se os chicotes com um nó de escota;
TRABALHOS DO MARINHEIRO 471

Fig. 8-171 – Estropo para tonéis


(2) estropo comum (fig. 8-171B);
(3) constituído por um laço de correr de um lado do tonel e uma volta de fiel
ou dois cotes do outro lado. Deixa-se o seio necessário para ser engatado o
estropo ou, como mostra a figura, para que seja passado um cabo de içar com
volta de fiel (fig. 8-171C); e
(4) tira-vira (fig. 8-172) – Serve para içar tonéis, tubos etc. Quando se iça,
devem ser aplicadas forças iguais nas duas pernadas do estropo. Uma prancha
inclinada torna a manobra mais fácil.

Fig. 8-172 – Tira-vira


472
TABELA 8-1

DIMENSÕES EM POLEGADAS DOS ESTROPOS DE CORRENTE, SINGELOS

Calibre Elo OLHAL COMUM OLHAL EM FORMA DE PÊRA GATO COMUM GATO ESPECIAL
da de
corrente ligação A B C D E F G H J G H J

3/8 7/16 3/4 4 5/8 1 1/2 3 6 3 3/4 7/8 1 1/4 2 13/16 5/8 15/32

7/16 1/2 3/4 4 3/4 1 1/2 3 6 4 3/8 1 1 9/16 3 3/8 3/4 17/32

1/2 5/8 7/8 4 7/8 1 3/4 3 6 5 1/2 1 1/8 1 13/16 4 7/8 19/32

5/8 3/4 1 1/8 5 1 2 4 8 6 1/2 1 1/4 2 1/8 4 3/4 1 25/32

3/4 7/8 1 3/8 6 1 1/4 2 4 8 8 1/2 1 3/4 2 11/16 5 3/4 1 1/8 29/32

ARTE NAVAL
7/8 1 1 1/2 6 1 1/2 3 6 11 10 1/8 2 3 6 7/8 1 1/4 1 1/32

1 1 1/8 1 3/4 7 1 3/4 3 6 12 10 1/8 2 3 8 1 3/8 1 5/32

1 1/8 1 1/4 1 7/8 8 1 7/8 3 1/2 7 13 12 2 3 3/4 .... .... ....

1 1/4 1 1/2 2 1/8 9 2 1/8 3 1/2 7 14 12 2 3 3/4 .... .... ....

1 3/8 1 5/8 2 3/8 10 2 3/8 4 8 15 15 3/8 2 3/8 4 1/2 .... .... ....

1 1/2 1 3/4 2 3/4 12 2 1/2 4 8 16 16 3/4 2 1/2 5 .... .... ....

(Chain Institute Standard)

^
TAB ELA 8-2
D IMEN SÕES EM POLEGAD AS D OS ESTR OPOS D E C OR R EN TE, D E D U AS PER N AD AS

C alibre Elo OLH AL OLH AL EM FOR MA D E PÊR A GATOS


da de
corrente ligação A B C D E F G H J

3/8 7/16 7/8 4 3/4 1 1/2 3 6 3 3/4 7/8 1 1/4

7/16 1/2 1 4 7/8 1 3/4 3 6 4 3/8 1 1 9/16

1/2 5/8 1 1/8 5 1 2 4 8 5 1/2 1 1/8 1 13/16

TRABALHOS DO MARINHEIRO
5/8 3/4 1 3/8 6 1 1/4 2 4 8 6 1/2 1 1/4 2 1/8

3/4 7/8 1 3/4 7 1 1/2 3 6 11 8 1/2 1 3/4 2 11/16

7/8 1 1 7/8 8 1 3/4 3 6 12 10 1/8 2 3

1 1 1/8 2 1/8 9 1 7/8 3 1/2 7 13 10 1/8 2 3

1 1/8 1 1/4 2 3/8 10 2 1/8 3 1/2 7 14 12 2 3 3/4

1 1/4 1 1/2 2 3/4 12 2 3/8 4 8 15 12 2 3 3/4

1 3/8 1 5/8 3 12 2 1/2 4 8 16 15 3/8 2 3/8 4 1/2

1 1/2 1 3/4 3 1/4 12 2 3/4 5 8 16 16 3/4 2 1/2 5

(Chain Institute Standard)

473
474
TABELA 8-3

CARGA DE TRABALHO, EM TONELADAS, PARA ESTROPOS DE CORRENTE DE FERRO

DIMENSÃO DA ESTROPO DE DUAS PERNADAS


Estropo
CORRENTE (DIÂMETRO
simples
DO VERGALHÃO) Ângulo do estropo
(uma
pernada)
mm pol 60° 45° 30° 20° 15° 10° 5°

9,5 3/8 1,2 2,1 1,7 1,2 0,84 0,66 0,43 0,21

11 7/16 1,6 2,6 2,2 1,5 1,06 0,78 0,54 0,27

13 1/2 2,0 3,5 2,9 2,0 1,4 1,0 0,71 0,35

ARTE NAVAL
16 5/8 3,1 5,4 4,4 3,1 2,1 1,6 1,09 0,54

19 3/4 4,6 7,9 6,3 4,5 3,1 2,3 1,6 0,78

22 7/8 6,3 10,8 8,8 6,3 4,3 3,3 2,2 1,09

25 1 8,4 14,5 11,8 8,4 5,7 4,4 2,9 1,45

29 1 1/8 10,6 18,1 14,9 10,6 7,2 5,4 3,6 1,8

32 1 1/4 13,0 22,6 18,3 13,0 8,9 6,8 4,5 2,2

35 1 3/8 15,6 27,2 22,2 15,6 10,6 8,0 5,4 2,7

38 1 1/2 18,5 31,7 26,1 18,5 12,7 9,5 6,3 3,1

41 1 5/8 21,1 36,2 29,9 21,1 14,4 10,8 7,2 3,6

44 1 3/4 23,8 41,2 33,5 23,8 16,3 12,2 8,1 4,1

51 2 30,2 52,1 42,6 30,2 20,7 15,6 10,4 5,2

(Chain Institute Standard)

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