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QUADRINHOS
Profissão e trabalho criativo
Marca de Fantasia
Parahyba, 2023 - 2a. edição
QUADRINHOS:
Profissão e trabalho criativo
Gledson Ribeiro de Oliveira
Série Quiosque, 67. 2023, 96p.
2a. edição
MARCA DE FANTASIA
Rua João Bosco dos Santos, 50, apto. 903A
Parahyba (João Pessoa), PB. Brasil. 58046-033
marcadefantasia@gmail.com
https://www.marcadefantasia.com
Conselho editorial
Adriano de León - UFPB Marcelo Bolshaw - UFRN
Alberto Pessoa - UFPB Marcos Nicolau - UFPB
Edgar Franco - UFG Marina Magalhães - UFAM
Edgard Guimarães - ITA/SP Nílton Milanez - UESB
Gazy Andraus - FAV-UFG Paulo Ramos - UNIFESP
Heraldo Aparecido Silva - UFPI Roberto Elísio dos Santos - USCS/SP
José Domingos - UEPB Waldomiro Vergueiro - USP
Prefácio
Sumário
Prefácio 5
Viver de Quadrinhos 7
Definições de si 10
Habitus e profissão 24
Trabalho e valor 30
O/A quadrinista para os outros 40
Círculos de reconhecimento 45
Divisão do trabalho quadrinístico 54
Trabalhadores/as da sombra 60
Edição como trabalho criativo 63
Quem é o/a autor/a? 67
Sentindo-se quadrinista 76
Informalidade e Intermitência — palavras finais 79
Referências bibliográficas 84
Entrevistados/as 91
Entrevista semiestruturada 93
Autor 94
Viver de quadrinhos
Definições de si
5. GRANJEIRO Filho, José Wellington Alves. (Zé Wellington). Entrevista (via Google
Meet) concedida ao autor. Sobral/Fortaleza, 25 set. 2020.
6. Chamado de “O Oscar dos Quadrinhos do Brasil”, o Troféu HQMix foi criado em 1988
pelos cartunistas Jal e Gual e é organizado pela Associação dos Cartunistas do Brasil e pelo
Instituto do Memorial de Artes Gráficas do Brasil.
7. LIMA, Brendda Costa. (Brendda Maria). Entrevista (via Google Meet) concedida ao
autor. Fortaleza, 28 fev. 2021.
8. Escola de Artes do Governo do Estado do Ceará, o Porto Iracema das Artes é gerido
em parceria com o Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura. O objetivo institucional é
oferecer cursos de formação e criação: Programa de Formação Básica, Cursos Técnicos e
Laboratórios de Criação.
9. Em 2023 Deodato retornou à DC Comics à frente de The Flash. À época da Marvel Comi-
cs, desenhou os principais personagens e sagas: Homem-Aranha, Elektra, Mulher-Hulk,
Hulk, Pantera Negra, Justiceiro, Thor, Thanos, Vingadores, X-Men. BORGES Filho, Deo-
dato Taumaturgo. (Mike Deodato Jr.). Entrevista (via Google Meet) concedida ao autor.
João Pessoa/Fortaleza. 25 jul. 2021.
10. No ranking da Diamond Comic, distribuidora de revistas nos EUA, a Marvel Comics é
a número um do mercado com participação de 40,98% em dólares e 46,76% em unidades
vendidas. AWA Studios detém 0,50% do mercado de varejo (13º) e 0,80% de participação
em unidades vendidas (8º) (Publisher..., 2020).
11. A DC Comics é a segunda maior editora com participação no mercado de 27,34% (Pub-
lisher..., 2020).
12. MAURÍCIO, Walter Geovani Saraiva. (Walter Geovani). Entrevista (via Google Meet)
concedida ao autor. Limoeiro do Norte/ Fortaleza. 25 mar. 2021.
13. SILVA, Robério Leandro da. (Rob Lean). Entrevista (via Google Meet) concedida ao
autor. Limoeiro do Norte/Fortaleza, 14 ago. 2021.
14. Neal Adams é duplamente relevante, estético e profissionalmente. Seus desenhos dinâ-
micos, fotorrealistas e rostos de feições expressivas estabeleceram um padrão de qualidade
artística inédita no gênero super-heróis. Como ativista, Adams tentou organizar a classe
na Comic Book Creators Guild e entrou em confronto com a DC Comics por compensação
financeira aos criadores do personagem Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster. Adams re-
velou muitos quadrinistas no estúdio Continuity, criado com o colega Dick Giordano (Cf.
Howe, 2013; Morrison, 2012).
17. LIMA, Diego do Nascimento. (Dijjo Lima). Entrevista concedida ao autor. Maraca-
naú, 25 jan. 2020.
18. Projeto de extensão universitária criado em 1985 por Geraldo Jesuíno, professor do
curso de Comunicação Social da UFC.
19. DIAS Neto, Abelardo Ribeiro. (Netho Diaz). Entrevista (via Zoom) concedida ao au-
tor. Fortaleza, 12 fev. 2021.
20. A IDW Publishing e a Marvel Comics são subsidiárias da The Walt Disney Company. A
IDW tem a quarta maior participação no mercado de leitores dos EUA (Publisher..., 2020).
21. SOUZA, Marcelo D’Salete. (Marcelo D’Salete). Entrevista (via E-mail) concedida ao
autor. São Paulo/Fortaleza, 20 maio 2021.
22. Will Eisner Comic Industry Awards foi criado em 1988. A mais importante premiação
do quadrinho estadunidense é realizada na Comic-Con International em San Diego, Cali-
fórnia.
23. O primeiro Prêmio Jabuti foi realizado em 1959 pela Câmara Brasileira do Livro. Em
2017 criou-se categoria específica para a História em quadrinhos.
24. O Prêmio Rudolph Dirks é entregue anualmente no German Comic Con Dortmund, na
Alemanha.
25. MASCARENHAS, Rogério Lima. (Romahs Mascarenhas). Entrevista (via Google
Meet) concedida ao autor. Manaus/Fortaleza, 29 jul. 2021.
26. Três anos depois dessa entrevista, Débora foi indicada com o roteirista Jimmy Stam ao
Eisner Ward 2023 na categoria melhor história curta por The Beekeeper’s Due, na coletâ-
nea Scottt Presents: tales from the Cloakroom (Cloakroom Comics). Luzia-Homem (2021)
tem o roteiro assinado por Zé Wellington. SANTOS, Débora Cristina Lima dos. (Débora
Santos). Entrevista concedida ao autor. Fortaleza, 16 jan. 2020.
27. Primeira HQ na lista dos best-sellers literários do The New York Times, a série Sand-
man foi criada por Neil Gaiman, Sam Kieth e Mike Dringenberg, e diversos artistas gráficos,
dentre os quais destacaria Milo Manara, Jill Thompson, Bill Sienkiewicz e Dave McKean. A
mitologia gráfica, publicada a partir de 1988, saiu em treze edições mensais. Os principais
personagens são arquétipos designados os Sete Perpétuos: Destino, Morte, Sonho, Destrui-
ção, Desejo, Desespero e Delírio.
30. Rubens de Azevedo estreou em 1938 no jornal O Estado com a tira cômica seriada Sa-
cha. Ao contrário de seus congêneres detetivescos (Dick Tracy, X-9), o personagem era de-
sajeitado e intrépido. Salvava-se dos imbróglios em que se metia e, eventualmente, levava
o/a leitor/a a caminhar por pontos da cidade de Fortaleza. Também enveredou pela ficção
científica. Uma viagem a Saturno, de 1940, foi publicada em cinquenta e um capítulos ao
longo de quase um ano. O tema de fundo anteciparia um clássico: a corrida espacial. Anos
depois voltou à ficção com os Prisioneiros de Hyperion, publicado em 1961 no Almanaque
de Aventuras, do qual participou Jayme Cortez (Cf. Oliveira, 2019).
31. BORGES, Geraldo Henrique Silva. (Geraldo Borges). Entrevista (via Google Meet)
concedida ao autor. Santiago do Chile/Fortaleza, 15 jun. 2021.
32. Sediada em São Paulo, a IHQ é uma instituição de ensino de artes visuais e gestão em
quadrinhos na América Latina.
33. Dark Horse Comics tem 2,97% do varejo e participação de 1,94% em unidades vendi-
das. No ranking de 2019, ficou em quinto lugar (Publisher..., 2020).
34. Publicada numa edição da Heavy Metal estadunidense e depois pela editora Conrad.
35. LIMA, Weaver Ferreira. (Weaver). Entrevista (via Google Meet) concedida ao autor.
Fortaleza, 17 dez. 2020.
36. BELO, Júlio César Filgueira. (Júlio Belo). Entrevista concedida ao autor. Fortaleza,
14 mai. 2019.
37. BELO Júnior, João. (João Belo). Entrevista concedida ao autor. Fortaleza, 7 nov. 2019.
Habitus e profissão
38. RODRIGUES, Paulo Roberto. (Pow Rodrix). Entrevista (via Google Meet) concedida
ao autor. Fortaleza, 3 abr. 2021.
39. Assinatura ou certificado digital que atesta a originalidade, no sentido de ser único, e a
posse exclusiva de um criptoativo colecionável, no caso, a HQ ou arte digital. As HQs são
tecnicamente reproduzíveis, mas manifestam unicidade por meio dos originais em papel/
NFT, sem perder o valor artístico e econômico.
40. Vale a pena comentar sobre a unicidade ou não do habitus. Numa passagem em ‘As
regras da Arte’ (1996, p. 74), Bourdieu fala de habitus duplo do pintor e escritor, que muito
se assemelha à condição dos/as quadrinistas em discussão. Ao analisar o mercado literário
da França Oitocentista, Bourdieu comenta a existência de duas boemias, a dourada dos
dândis românticos e a boemia proletarizada que necessita de segunda profissão para viver.
Nessa passagem cita a duplicidade de habitus da boemia proletarizada. Bourdieu também
faz referência ao habitus clivado na autobiografia ʽEsboço de auto-análiseʼ.
41. SANTOS Filho, Márcio Moreira dos. (Márcio Moreira). Entrevista concedida ao au-
tor. Fortaleza, 29 jan. 2020.
42. NOLASCO, Renata Izabel de Freitas. (Renata Nolasco). Entrevista (via Google Meet)
concedida ao autor. Fortaleza, 01 abr. 2021.
43. Refiro-me ao capítulo 3 do meu livro ‘Quadrinhos no Ceará’ (2019).
Trabalho e valor
44. “O lucro do capitalista provém do fato de que ele possui para vender algo pelo qual não
pagou. O mais-trabalho, ou lucro, consiste precisamente no excedente do valor-mercadoria
sobre seu preço de custo”, escreve Marx (2017, p. 68) no capítulo A Taxa de lucro, livro III,
d’O Capital.
45. GARDNER, David. How Marvel Make Money. 16 nov. 2016. Disponível em: https://
www.fool.com/investing/high-growth/2005/01/25/how-marvel-makes-money.aspx.
Acesso em: 9 jan. 2023.
46. As editoras nacionais ganham em média 10%, 20% do preço de capa. Os custos dos
arquivos digitais de impressão ficam entre 100 e 1.000 dólares, ou 2, 3 dólares por página.
47. O trabalho com registro em carteira é regido pelo que restou da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), desfigurada pelo Projeto de Lei da Câmara 30/2015. Traçando uma média
dos preços sugeridos por sindicatos e associações de jornalistas, a página editorial de história
em quadrinho P&B e Colorido custa entre R$300 e R$900. Por alguma razão não discrimina-
da, o preço da tira é flagrantemente menor que o da charge e caricatura na maioria absoluta
das tabelas de preços analisadas. Na Maurício de Sousa Produções, a partir de informe no site
Glassdoor, o/a desenhista recebe mensalmente entre R$6.000 e R$7.000. O/A horista entre
R$65 e R$70, designer sênior entre R$7.000 e R$ 8.000. O/A ilustrador mensal recebe de
R$9.000 a R$10.000, e o/a designer mensal entre R$4.000 e R$ 5.000. O/A roteirista-leiau-
tista pode ganhar R$6.000 por mês. Não é informado o ano de referência dos rendimentos.
Disponível em: https://www.glassdoor.com.br/Sal%C3%A1rio/Mauricio-de-Sousa-Pro-
du%C3%A7%C3%B5es-Sal%C3%A1rios-E2487314.htm. Acesso em: 01 jan. 2020.
48. COPYRIGHT Law of the United States and Related Laws Contained in Tıtle 17 of the
United States Code. October 2022. Disponível em: https://www.copyright.gov/title17/tit-
le17.pdf. Acesso em: 07 jan. 2023.
49. A superpopulação relativa ou exército industrial de reserva é um fenômeno próprio da
produção capitalista que transforma a população trabalhadora em desempregados/as ou
parcialmente empregados/as. Ela se apresenta na forma flutuante, latente, estagnada. O
pauperismo é a condição mais degradante. Cf. Marx (2009, p.732-754).
50. O DPI e a renda de monopólio na indústria cultural são discutidos em Marcos Dantas
et al. (2022).
51. ALMEIDA, Ceci Almeida. Mauricio de Sousa Produções: sucesso em quadrinhos sus-
tentado pela propriedade intelectual. Revista da OMPI (World Intellectual Property Or-
ganization). Setembro de 2021. Disponível em: https://www.wipo.int/wipo_magazine/
pt/2021/03/article_0004.htm. Acesso em: 13 fev. 2023.
52. Jerry Siegel e Joe Shuster não receberam da Warner Bros. um centavo dos 3 milhões
de dólares pagos em 1975 pelos direitos de filmagem. Desde 1963 moviam processo judicial
pelos direitos sobre o personagem e, com a ajuda de quadrinistas como Neal Adams,
conseguiram assinar acordo judicial de 20 mil dólares anuais pagos até o final de suas vidas
e o direito de serem citados como criadores.
53. FARIAS, Lilian Toshimi Mitsunaga. (Lilian Mitsunaga). Entrevista (via Google
Meet) concedida ao autor. São Paulo/Fortaleza, 7 mar. 2022.
54. Sobre o trabalho ‘home office’, vale destacar a fala de Dijjo Lima: “Com Internet, eu
trabalho até debaixo de uma árvore! Quando eu quero viajar, pego o Ipad e vou embora”.
Os impactos da revolução tecnológica informacional na economia global são discutidos por
Manuel Castells (2003), Pierre Lévy (1999), David Harvey (1992).
55. Valho-me das reflexões de Erik Olin Wright (2015) e Ricardo Antunes (2020) acerca de
quem é a classe trabalhadora.
56. Premiação da indústria com votação aberta a profissionais e fãs, entregue anualmente
na Baltimore Comic-Con.
57. NOGUEIRA, Sirlanney Freire (Sirlanney). Entrevista (via Google Meet) concedida ao
autor. Rio de Janeiro/Fortaleza, 13 ago. 2021.
58. A imprensa marrom batizou a ex-noiva de Charlie Schulz de garota que perdeu trinta
milhões de dólares anuais. O capítulo Chamada da Califórnia traz alguns elementos da vida
de cartunista e como eram vistos pelo público nos anos 1950-60.
59. Por outras razões, a prática persiste entre as mangakás, a despeito de serem quase
oitenta porcento da mão de obra japonesa. Domina a ideia de que um nome masculino
atraia mais leitores. A segmentação editorial patriarcal — mangás para homens, mangás
para mulheres — também é identificável no mercado literário e um exemplo recente é a
ocultação do nome Joanne na assinatura J. K. Rowling, autora de ‘Harry Potter’. Sobre o
mercado japonês, ler: CERCA de 90% dos cartunistas criam digitalmente. Mais da meta-
de usa 3D – Pesquisa de artistas de mangá. Disponível em: https://mannavi.net/14929/.
Acesso em: 19 set. 2022.
60. Além da divisão estadunidense e italiana, a divisão Disney/Abril produziu e exportou
várias histórias feitas com mão de obra cem porcento nacional. Sobre os artistas e roteiris-
tas brasileiros à frente das publicações Disney, veja a pesquisa de Manoel de Souza e Mau-
rício Muniz, ‘O Império dos Gibis’. Uma discussão aprofundada é ‘Para ler os quadrinhos
Disney’, de Roberto Elísio dos Santos, principalmente o capítulo 3, Disney Made In Brasil.
61. Sobre esse assunto, ler ʽMarx no fliperamaʼ, de Jamie Woodcock, publicado pela editora
Autonomia Literária.
62. Na perspectiva hermenêutica, sentido é a apreensão de uma unidade entre intenção
do/a autor/a e o resultado da obra (Cauquelin, 2005).
Círculos de reconhecimento
63. Daniele Barbieri (1991) destaca quatro tipos de relação com outras linguagens artísticas: a
inclusão, pois a história em quadrinhos é uma das espécies narrativas; a geração, ela é filha de
outras linguagens; a convergência, porque tem antepassados (pintura, fotografia etc.) e áreas
expressivas em comum (cinema); e a adequação, pela qual técnicas de outra linguagem são
apropriadas e reelaboradas no contexto da HQ, p. ex., a montagem cinematográfica.
64. ‘The conditions of success. How the modern artist rises to fame’.
65. Nathalie Heinich (2017) observou que a passagem da arte moderna para a arte contem-
porânea inverteu as posições do segundo e terceiro círculos. Especialistas de instituições
públicas intervém mais fortemente na legitimação e na aquisição de obras que comercian-
tes e colecionadores privados. Quanto à mudança no papel do Estado nas artes contempo-
rânea, ler também Chin-Tao Wu (2006).
66. Nathalie Heinich diz que o regime de singularidade inaugurado pela arte moderna con-
tinua como sistema implícito da arte contemporânea, qual seja, a radicalização da trans-
gressão. Já Nicolas Bourriaud (2009) a caracteriza como arte pós-produção, tomando por
exemplos a mixagem da cultura DJ e os antiestetas, a começar por Marcel Duchamp e Andy
Warhol, que reproduzem/deslocam/reusam objetos pré-fabricados e obras artísticas em
suas próprias criações, dando-lhes novos significados. Heinich lembra que os ‘ready-ma-
des’ de Duchamp expulsaram a mão do artista do processo de execução, reatualizando no
século XX a prática comum na arte clássica de conceber a obra e deixar aos discípulos sua
execução. A Fonte de Duchamp é um mictório pré-fabricado deslocado da condição ordi-
nária e de modo transgressor elevado ao status de obra arte. Brillo Box de Andy Warhol foi
idealizada e executada pelo pintor e designer James Harvey, um trabalhador da sombra
esquecido. A apropriação e produção em série de imagens pela Fábrica de Andy Warhol
transformou a arte em puro comércio de objetos reproduzíveis.
67. Daniel Brandão (2016) quadrinizou o encontro com Neal Adams no seu ‘Artbook 2016’,
páginas 11-14. Com Geraldo Borges e JJ Marreiro, criou a revista MANICOMICS, que teve
36 edições e ganhou três prêmios HQ Mix. O encontro de Frank Miller com Adams e outras
situações são relatadas por Sean Howe (2013).
68. Para saber mais da amizade e colaboração profissional de Mino e Ziraldo, remeto-me
novamente ao meu livro, capítulo 3.
69. Não obstante, teóricos das Ciências Sociais deram sua parcela de animosidade à arte em
quadrinhos. Diz Theodor Adorno (2020, p. 166) que a ação em retalhos das tirinhas cômi-
cas, “Parte do pressuposto de que os consumidores são fracos de memória: não confia que
alguém seja capaz de lembrar de algo ou que possa se concentrar em qualquer coisa que vá
além do que lhe é oferecido neste exato instante”. Wright Mills publicou uma resenha po-
sitiva do livro Sedução dos Inocentes e enviou carta a Fredric Wertham desejando-lhe “boa
sorteˮ no combate aos quadrinhos (Sabin, 1993). Pierre Bourdieu (2004, p. 69) anotou:
“Quando eu digo que a história em quadrinho é um gênero inferior, pode-se compreender
que é isso que penso. Portanto é preciso que eu diga ao mesmo tempo que é assim, mas que
não sou só eu que penso assim. Meus textos estão repletos de indicações destinadas a fazer
com que o leitor não possa deformar, não possa simplificar”.
70. A função do crítico e a recepção distraída do público são pensadas em Benjamin (2011;
2017).
71. Sobre a análise crítica interna e externa, ler mais à frente o rodapé 87.
72. Com a palavra, Quino: “Recuerdo que yo compré Peanuts (que en esa época venía directo
de Estados Unidos) y me di cuenta de que Schulz había producido un cambio muy grande
dentro de la historieta, porque hasta ese momento, todos los personajes tenían una sola ca-
racterística. En Argentina estaba Avivato, que en todas las tiras hacía una avivada, Falluteliy
otros así y en las historietas norteamericanas pasaba lo mismo. Pero este tipo Schulz trajo
personajes antipáticos, simpáticos, buenos, malos, envidiosos y eso fue una revolución. Yo
tomé bastante de él, pero como no soy norteamericano, hice una adaptación muy argentina
de la cosa”. Disponível em: https://www.quino.com.ar/entrevistas. Acesso em: 13 set. 2022.
74. Arte e trabalho estão conectados por sua natureza criadora comum. Ambos manifestam
o poder inventivo do ser humano, sendo qualquer separação tão artificial quanto a manual
e intelectual.
75. Fabio Civitelli comentou em entrevista a Giuseppe Pollicelli (2010, p. 20) que o ritmo
de trabalho na Sergio Bonelli Editore era espantoso. “Para Mister No eu havia chegado a
fazer até trinta páginas por mês, e claramente eu não podia dedicar a mesma página todos
os cuidados que gostaria: também com Tex eu havia começado com vinte e cinco páginas
mensais e me foi possível dedicar mais atenção a ele só no momento em que os prazos de
entrega começaram a se alongar.” Aurelio Galleppini desenhou cento e dez páginas men-
sais antes de engajar novos artistas por problemas de saúde (Bonelli, 2018).
76. A edição O Novo Incrível Hulk, nº 140, página 67, da Editora Abril, é de 1995. Foi
reimpressa pela Panini em Mulher-Hulk por John Byrne: omnibus (2022). A tradução do
crédito da página 712 ficou: “Quem liga pro resto?!
77. No gênero super-heróis, A Sensacional Mulher-Hulk (John Byrne) e Liga da Justiça
Internacional (J. M. DeMatteis, Keith Giffen e Kevin Maguire) são exemplos do uso do
humor — o herói em situações esdrúxulas — e de transgressão da linguagem — autorre-
presentação do quadrinista, personagem autoconsciente, personagem dirigindo-se ao/à
autor/a e ao/à leitor/a.
Trabalhadores/as da sombra
78. Os autores usam o termo para designar o pessoal em atividades secundárias de produ-
ção e que passam despercebido pelo público. Portanto, assemelha-se à divisão ampla do
trabalho de Howard Becker. Emprego-os no texto em sentido diferente.
81. SOUZA, Cassius Vinicio Medauar de. (Cassius Medauar). Entrevista (via Google
Meet) concedida ao autor. São Paulo/Fortaleza, 18 ago. 2022. Ao lançar em 2000 Dragon
Ball e Cavaleiros do Zodíaco, a Conrad Editora se tornou pioneira na publicação de man-
gás no sentido oriental de leitura, com miolo em P&B e as onomatopeias originais.
82. Joseph Michael Straczynski e Christa Faust iniciaram noutras mídias: ele é roteirista
de TV/Cinema (He-Man, She-Ra, Babylon 5, Guerra Mundial Z), ela, escritora de ficção
policial (Money Shot). Deodato trabalhou com Straczynski em O Espetacular Homem-A-
ranha, A Resistência (volume 1), e com Christa em Bad Mother e Redenção. Alex Alonso é
fundador e diretor de criação da AWA e foi editor-chefe da Marvel Comics.
83. Antes da prensa de caracteres móveis, já se relacionava o escritor à obra. Dante e Pe-
trarca, p.ex., eram fascinados com a fama de escritores e humanistas.
84. Em ‘M. Töpffer invente la bande dessinés’, Thierry Groensteen afirma o genebrino Ro-
dolphe Töpffer como precursor dos quadrinhos modernos porque trouxe a ficção da litera-
tura para o contexto gráfico-visual e inovar a impressão de tiras em álbum, entendimento
ao qual aderimos.
85. Valho-me nestes dois parágrafos de vários autores: Burke (1999), Briggs e Burke
(2004), Castelnuovo (2006), Williams (2007), Bourriaud (2009), Chartier (2012).
86. Fazer o novo, o original, assinala Boris Groys, só é possível não repetindo os clássi-
cos e a fórmula pós-moderna de borrar os limites entre a obra de arte e os objetos/coisas
comuns. Para isso, alfineta Affonso de Sant’Anna (2017), o/a artista deve voltar a criar,
falando menos e fazendo mais.
87. A análise crítica interna é a percepção visual cuidadosa que identifica e interpreta os
elementos gráficos visual-verbais da HQ. É entender como a narrativa visual-verbal fun-
ciona para construir o significado. Interpretar os elementos gráficos, os signos icônicos e
escritos exige analisar o enredo, a trama, o espaço-tempo em que acontece a ação, os perso-
nagens, o estilo artístico, as cores, as linhas de contorno, o letreiramento (letras), a forma
como a página ou tira foi construída (quadriculação, leiaute), e o entrelaçamento entre as
vinhetas (quadros). A HQ também informa a visão de mundo do/a autor/a, a forma como
ele/ela vê a realidade social, política, econômica e como interpreta a história. Para análise
crítica externa, é necessário conhecer a trajetória social dos/as artistas e as condições so-
ciais de produção e do processo criativo.
Sentindo-se quadrinista
Informalidade e intermitência
Palavras finais
Referências bibliográficas
Outras referências
Entrevistados/as
Entrevista semiestruturada
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