Tese de Doutorado de Antonio Marcos Cardoso. O Trompete nos Choros de Heitor Villa-Lobos: Possibilidades Interpretativas no âmbito da orquestra sinfônica. Defendida em 30/03/09 sob orientação do Prof. Dr. Nailson Simões.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DOUTORADO EM MÚSICA
O TROMPETE NOS CHOROS DE HEITOR VILLA-LOBOS
- POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS NO ÂMBITO
DA ORQUESTRA SINFÔNICA
ANTONIO MARCOS SOUZA CARDOSO
RIO DE JANEIRO, MARÇO 2009
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
DOUTORADO EM MÚSICA
O TROMPETE NOS CHOROS DE HEITOR VILLA-LOBOS
- POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS NO ÂMBITO
DA ORQUESTRA SINFÔNICA
por
ANTONIO MARCOS SOUZA CARDOSO
Tese submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Música do Centro de Letras
e Artes da UNIRIO, como requisito parcial
para obtenção do grau de Doutor, sob a
orientação do Professor Dr. Nailson de
Almeida Simões.
RIO DE JANEIRO, MARÇO 2009.
ii
3. Cardoso, Antonio Marcos Souza.
C268 O trompete nos choros de Heitor Villa-Lobos – possibilidades in-
terpretativas no âmbito da orquestra sinfônica / Antonio Marcos Sou-
za Cardoso, 2009.
185f. + CD-ROM
Orientador: Nailson de Almeida Simões.
Tese (Doutorado em Música) – Universidade Federal do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
1. Villa-Lobos, Heitor, 1887-1959 – Crítica e interpretação. 2. Cho-
ro (Música). 3. Trompete. 4. Orquestras sinfônicas e filarmônicas.
I. Simões, Nailson de Almeida. II. Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (2003-). Centro de Letras e Artes. Curso de Doutorado
em Música. III.Título.
CDD – 780.92
Autorizo a cópia da minha dissertação/tese "O Trompete nos Choros de Heitor Villa-Lobos
– Possibilidades Interpretativas no âmbito da orquestra sinfônica", para fins didáticos
iii
4. UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO
Centro de Letras e Artes – CLA
Programa de Pós-Graduação em Música – PPGM
Mestrado e Doutorado
TÍTULO DA TESE
“O TROMPETE NOS CHOROS DE HEITOR VILLA-LOBOS: possibilidades
interpretativas no âmbito da orquestra sinfônica”
por
ANTONIO MARCOS SOUZA CARDOSO
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Professor Doutor Nailson de Almeida Simões (Orientador)
________________________________________________
Professor Doutor Ricardo Tacuchian
________________________________________________
Professor Doutor Radegundis Feitosa Nunes
________________________________________________
Professor Doutor Sergio Barrenechea
________________________________________________
Professor Doutor Guilherme Bernstein Seixas
Conceito: APROVADO
MARÇO DE 2009
Av. Pasteur, 436 – Urca – RJ Cep: 22290-240
Tel: (0xx21) 2542-2554
http://www.unirio.br cla-ppgm@unirio.br
iv
5. Dedicado à memória da Tia Nadja.
v
6. A decodificação e a interpretação de um texto
musical, em todos os seus níveis, e o preparo
técnico para a realização instrumental resultam
de profunda elaboração intelectual. O
intérprete transita ao natural por esses
caminhos como parte integrante de sua
atividade; é, portanto, e pela sua própria
natureza, um pesquisador, no sentido amplo do
termo.
Guerchfeld
vi
7. AGRADECIMENTOS
Escrever a página de agradecimentos é um motivo de alegria depois de
tantos anos debruçado sobre livros e partituras, ouvindo atentamente a obra de Villa-
Lobos e praticando os trechos que o maestro nos deixou em seus Choros. Tenho aqui a
oportunidade de agradecer aos que me ajudaram nesse longo caminho.
Meu muito obrigado a minha filha Fernanda, que sempre permitiu minha
ausência em viagens que pareciam intermináveis, resolvendo sozinha as tarefas de casa,
não só escolares, em uma atitude adulta e madura digna das grandes pessoas.
Agradeço aos meus pais pela torcida e preocupação, significado de muito
carinho e apoio.
A Jaqueline por tudo.
Meus coordenadores e diretores na Faculdade de Música, Grácia, Heloísa
e Raquel; aos maestros da OFES, Helder e Modesto, que compreenderam minhas
ausências durante todo o processo de pesquisa.
Agradeço aos meus companheiros de naipe: Marcelo Madureira, Alan,
Ricardo, Fernandinho, Fredson e Jorge pela gravação do naipe no Choros nº10 e ao
maestro Modesto por conduzir este trabalho. Músicos e pessoas da mais alta estirpe.
A equipe de professores da UNIRIO: Rosana Lanzelotte, Tom Moore,
Laura Ronai, Carole Gubernikoff, Márcia Taborda, Marta Ulhôa, Ricardo Tacuchian e,
ao secretário do PPGM, “Seo” Aristides. Agradeço a todos pelos ensinamentos e pelo
auxílio nos procedimentos acadêmicos.
Aos meus tradutores preferidos: Emmanuelle e Johnson.
vii
8. Ao Professor Radegundis Feitosa pela disponibilidade.
Agradeço ao meu Mestre, Nailson Simões, pela confiança, pelo exemplo
a ser seguido como trompetista e pela amizade nessas duas décadas de convivência.
A equipe do Museu Villa-Lobos e da Biblioteca Nacional pela
colaboração e auxílio.
Finalizando, mas não menos importante, gostaria de agradecer aos
amigos e aos anônimos que cruzaram meu caminho nesses anos, muitas vezes com
auxílio triviais, mas que proporcionaram uma jornada tranqüila. Aos que em silêncio e
na distância simplesmente torceram registro aqui os meus sinceros agradecimentos.
viii
9. CARDOSO, Antonio Marcos S. O Trompete nos Choros de Heitor Villa-Lobos –
Possibilidades Interpretativas no âmbito da orquestra sinfônica. 2009. Tese (Doutorado
em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de Letras e Artes,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
RESUMO
Os Choros sinfônicos, em sua orquestração grandiosa e exuberante, oferecem ao
trompetista de orquestra desafios de ordem técnica e interpretativa. Discutimos a
totalidade das partes destinadas ao trompete e as possibilidades aqui sugeridas são
analisadas à luz da partitura, visualizadas através de gráficos e corroboradas através da
revisão da literatura, oferecendo ao intérprete ferramentas que situam o trompete na
série dos Choros.
Palavras-Chave: Villa-Lobos, Choros, Trompete, Orquestra Sinfônica, Interpretação.
ix
10. CARDOSO, Antonio Marcos S. “The trumpet in the Choros of Heitor Vila-Lobos:
Interpretative Possibilities in the sphere of the Symphony Orchestra”. 2009. Doctoral
Thesis (Doutorado em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música. Centro de
Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
ABSTRACT
The Symphonic Choros, through their immense and glamorous orchestration, offer to
the orchestral trumpet player technical and interpretative challenges. We have discussed
the totality of the parts intended for the instrumentalist, as well as the possibilities here
suggested as being both exclusively analyzed on the music score itself, and visualized
through some graphics. The corroboration through the revision of the literature, also
offers to the interpreter indispensable tools which guide the trumpet player in the
Choros.
Keywords: Villa-Lobos, Choros, Trumpet, Symphony Orchestra, Musical Interpretation
x
11. CARDOSO, Antonio Marcos S. “Die Trompete in den Choros von Heitor Villa-Lobos -
Interpretationsmöglichkeiten im Rahmen des Spielens im Orchester”. 2009.
Dissertation. (Doutorado em Música) – Programa de Pós-Graduação em Música. Centro
de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
ÜBERBLICK
Die symphonischen Choros in ihrer grandiosen und üppigen Orchestrierung
stellen sowohl technische als auch interpretative Herausforderungen für den/die
TrompeterIn dar. Die hier dargestellten Stimmen für Trompete, sowie die hier
vorgeschlagenen Interpretationsmöglichkeiten ergeben sich durch die Analyse auf
Grundlage der Partitur. Sie sind anhand von Graphiken visualisiert und werden auf
Grundlage der Literatur zum Thema bestärkt, um dem Interpreten Mittel zu bieten, die
Rolle der Trompete im Rahmen der Orchestrierung des Choros.
Schlagwörter: Villa-Lobos, Choros, Trompete, Orchester, Interpretation.
xi
12. Sumário
LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS ........................................................................................ xiii
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
DEFINIÇÃO DE TERMOS .......................................................................................................... 6
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA............................................................................... 7
2. PROCEDIMENTOS INTERPRETATIVOS PARA O TROMPETE NOS CHOROS ....... 24
2.1. Choros nº6 ................................................................................................................... 24
2.2. Choros nº8 ................................................................................................................... 47
2.3. Choros nº9 ................................................................................................................... 70
2.4. Choros nº10 ................................................................................................................. 86
2.5. Choros nº11 ............................................................................................................... 102
2.6. Choros nº12 ............................................................................................................... 135
2.7. Introdução aos Choros ............................................................................................... 170
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 178
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 181
REFERÊNCIAS DISCOGRÁFICAS ....................................................................................... 183
PARTITURAS .......................................................................................................................... 183
ÍNDICE REMISSIVO ............................................................................................................... 184
ANEXOS................................................................................................................................... 186
ANEXO I .............................................................................................................................. 187
Discografia dos Choros ......................................................................................................... 187
ANEXO II ............................................................................................................................. 191
Trechos Orquestrais para Trompete ...................................................................................... 191
xii
13. LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS
Exemplo 2.1-1, Choros nº6, c.23 a c.29, trompetes, oboés e trombones. ................................... 25
Exemplo 2.1-2, Choros nº6, c.23, ritmo violinos. ....................................................................... 26
Exemplo 2.1-3, Choros nº6, c.26, oboés, clarinetas, fagote, contra-fagote e violinos. ............... 26
Exemplo 2.1-4, Choros nº6, c.34, trompetes, harpa e violoncelo. .............................................. 27
Exemplo 2.1-5, Choros nº6, c.35 a c.38, solo trompete 1. .......................................................... 27
Exemplo 2.1-6, Choros nº6, c.35, célula do solo e análise gráfica. ............................................ 28
Exemplo 2.1-7, Choros nº6, c.35, detalhamento da análise gráfica. ........................................... 28
Exemplo 2.1-8, Choros nº6, c.42, trompete 3. ............................................................................ 28
Exemplo 2.1-9, Choros nº6, c.34, trompas. ................................................................................ 29
Exemplo 2.1-10, Choros nº6, c.44 a c.45, soli trompetes 1 e 2................................................... 29
Exemplo 2.1-11, Choros nº6, c.46, trompetes 1 e 2 em oitavas. ................................................. 29
Exemplo 2.1-12, Choros nº6, c.46, análise gráfica comparativa da gravação pela Gran Canaria
Orchestra..................................................................................................................................... 30
Exemplo 2.1-13, Choros nº6, c.50, trompetes 3 e 4. ................................................................... 30
Exemplo 2.1-14, Choros nº6, c.54, crescendo trompetes 1 e 2. .................................................. 31
Exemplo 2.1-15, Choros nº6, c.63, trompetes 1, 2, 3 e 4. ........................................................... 31
Exemplo 2.1-16, Choros nº6, c.63, rítmica do trecho. ................................................................ 31
Exemplo 2.1-17, Choros nº6, c.67, surdina de metal, acentuação de mínima pontuada. ............ 32
Exemplo 2.1-18, Choros nº6, c.83, solo trompete 1 e agrupamento de notas. ............................ 33
Exemplo 2.1-19, Choros nº6, c.96, solo trompete 1.................................................................... 33
Exemplo 2.1-20, Choros nº6, c.96, orquestração em n.11, solo trompete 1. .............................. 33
Exemplo 2.1-21, Choros nº6, c.116, trompetes 1 e 2. ................................................................. 34
Exemplo 2.1-22, Choros nº6, c.152, soli trompete 1. ................................................................. 35
Exemplo 2.1-23, Choros nº6, c.191, trompetes 1 e 2. ................................................................. 35
Exemplo 2.1-24, Choros nº6, c.194, solo alternado entre trompetes 1 e 2. ................................ 36
Exemplo 2.1-25, Choros nº6, c.194, acompanhamento solo....................................................... 37
Exemplo 2.1-26, Choros nº6, c. 210, stacatto para trompetes 2, 3 e 4. ...................................... 37
Exemplo 2.1-27, Choros nº6, c.253, Vivace, partes de trompetes. ............................................. 38
Exemplo 2.1-28, Choros nº6, c.286, solo trompete 1.................................................................. 38
Exemplo 2.1-29, Choros nº6, c.363, Poco allegretto, trompetes 1 e 2. ....................................... 39
Exemplo 2.1-30, Choros nº6, c.363, análise gráfica do trecho. .................................................. 39
Exemplo 2.1-31, Choros nº6, c.404, trompetes 1, 2, 3 e 4. ......................................................... 40
Exemplo 2.1-32, Choros nº6, c.414, alternância trompetes 2 e 1. .............................................. 40
Exemplo 2.1-33, Choros nº6, c.440, trompetes 1, 2, 3 e 4. ......................................................... 41
Exemplo 2.1-34, Choros nº6, c.477, solo trompete 1.................................................................. 41
Exemplo 2.1-35, Choros nº6, c.491, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 42
Exemplo 2.1-36, Choros nº6, c.643, articulações variadas para trompetes 1, 2, 3 e 4. ............... 42
Exemplo 2.1-37, Choros nº6, c.643, tenutas e agrupamento de notas. ....................................... 43
Exemplo 2.1-38, Choros nº6, c.647, stacatti e tenutas trompete 1. ............................................ 43
Exemplo 2.1-39, Choros nº6, c.677, trompetes 1, 2, 3 e 4. ......................................................... 44
Exemplo 2.1-40, Choros nº6, c.695, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 44
Exemplo 2.1-41, Choros nº6, c.708, longos acordes para trompetes 1, 2, 3 e 4. ........................ 45
Exemplo 2.1-42, Choros nº6, c.708, parte para flautas, trompetes e fagotes. ............................. 45
Exemplo 2.2-1, Choros nº8, c.15, movimento da melodia trompete vs violinos. ....................... 48
Exemplo 2.2-2, Choros nº8, c.18, trompetes em oitava. ............................................................. 49
xiii
14. Exemplo 2.2-3, Choros nº8, c.19, elemento de destaque no trecho. ........................................... 49
Exemplo 2.2-4, Choros nº8, c.25, trompetes 1 e 2 em uníssono. ................................................ 50
Exemplo 2.2-5, Choros nº8, relação entre melodia de trompete (c.25) e violinos (c.26). .......... 50
Exemplo 2.2-6, Choros nº8, c. 25, articulação sugerida. ............................................................ 50
Exemplo 2.2-7, Choros nº8, c.32, trompetes 1 e 2. ..................................................................... 51
Exemplo 2.2-8, Choros nº8, c.42 e c.43, trompetes 1, 2 e 3 com sugestão interpretativa........... 51
Exemplo 2.2-9, Choros nº8, c.55, trompetes 1 e 2 em uníssono. ................................................ 52
Exemplo 2.2-10, Choros nº8, c.61, trompetes 1 e 2 com temas distintos. .................................. 53
Exemplo 2.2-11, Choros nº8, c.70, trompete 1. .......................................................................... 53
Exemplo 2.2-12, Choros nº8, c.84, trompete 1. .......................................................................... 54
Exemplo 2.2-13, Choros nº8, c.84, sugestão interpretativa baseada na parte de violinos 1. ...... 54
Exemplo 2.2-14, Choros nº8, c.11, trompetes 1 e 2. ................................................................... 55
Exemplo 2.2-15, Choros nº8, c.110, trompetes 1 e 2 em uníssono. ............................................ 55
Exemplo 2.2-16, Choros nº8, c.117, trompetes 1 e 2 com sugestão interpretativa. .................... 56
Exemplo 2.2-17, Choros nº8, c. 125, trompetes 1 e 2. ................................................................ 56
Exemplo 2.2-18, Choros nº8, c.130, trompetes 1 e 2. ................................................................. 57
Exemplo 2.2-19, Choros nº8, c.139, trompetes 1 e 2, agrupamento de notas. ............................ 57
Exemplo 2.2-20, Choros nº8, c.139, trompetes 1 e 2, articulação sugerida. ............................... 57
Exemplo 2.2-21, Choros nº8, c.161, solo trompete 1.................................................................. 58
Exemplo 2.2-22, Choros nº8, c.171, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 58
Exemplo 2.2-23, Choros nº8, c.193, trompetes 1 e 2. ................................................................. 59
Exemplo 2.2-24, Choros nº8, c.196, terceiro trompete com sugestão interpretativa. ................. 59
Exemplo 2.2-25, Choros nº8, c.209, solo trompetes 1 e 2. ......................................................... 60
Exemplo 2.2-26, Choros nº8, c.217, trompetes 1, 2 e 3 com agrupamento de notas. ................. 60
Exemplo 2.2-27, Choros nº8, c.217, trompetes 1, 2 e 3 com articulação sugerida. .................... 60
Exemplo 2.2-28, Choros nº8, c.238, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 61
Exemplo 2.2-29, Choros nº8, c.251, Modérè, trompetes 1, 2 e 3................................................ 61
Exemplo 2.2-30, Choros nº8, c.251, trompetes 1, 2 e 3, articulação sugerida. ........................... 62
Exemplo 2.2-31, Choros nº8, c.277, trompete 3. ........................................................................ 62
Exemplo 2.2-32, Choros nº8, c.296, solo trompete 1 com subdivisão........................................ 63
Exemplo 2.2-33, Choros nº8, c.314, Um peu modere, trompetes 1, 2 e 3. ................................. 63
Exemplo 2.2-34, Choros nº8, c.314, trompetes 1 e 2, articulação sugerida. ............................... 63
Exemplo 2.2-35, Choros nº8, c.334, trompetes 1 e 2. ................................................................. 64
Exemplo 2.2-36, Choros nº8, c.338, Presque anime, trompetes 1, 2 e 3..................................... 64
Exemplo 2.2-37, Choros nº8, c.342, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 64
Exemplo 2.2-38, Choros nº8 c.345, ritmo “da bateria de escola de samba”. .............................. 65
Exemplo 2.2-39, Choros nº8, c.345, trompetes 1 e 2 em oitavas com agrupamento de notas. ... 65
Exemplo 2.2-40, Choros nº8, c.356, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 66
Exemplo 2.2-41, Choros nº8, c.385, trompetes 1 e 2 em uníssono. ............................................ 66
Exemplo 2.2-42, Choros nº8, c.391, trompetes 2 e 3. ................................................................. 67
Exemplo 2.2-43, Choros nº8, c.401, trompetes 1 e 2 très sec. .................................................... 67
Exemplo 2.2-44, Choros nº8, c.415, Un peu anime, trompetes 1, 2 e 3...................................... 68
Exemplo 2.2-45, Choros nº8, c.423, trompetes 1, 2 e 3 com sugestão interpretativa. ................ 68
Exemplo 2.2-46, Choros nº8, c.423, síncope no trecho. ............................................................. 68
Exemplo 2.3-1, Choros nº9, c.1, Allegro, trompetes 1 e 2. ......................................................... 71
Exemplo 2.3-2, Choros nº9, c.5, trompetes 3 e 4. ....................................................................... 71
Exemplo 2.3-3, Choros nº9, c.10, solo trompete 1...................................................................... 72
Exemplo 2.3-4, Choros nº9, c.17, Poco meno, trompetes 1, 2 e 3. ............................................. 72
xiv
15. Exemplo 2.3-5, Choros nº9, c.19, marcha apresentada pelas flautas. ......................................... 73
Exemplo 2.3-6, Choros nº9, c.48, trompetes 1 e 2 em uníssono com trombones. ...................... 73
Exemplo 2.3-7, Choros nº9, c.82, trompetes 1 e 2 com sugestão interpretativa. ........................ 74
Exemplo 2.3-8, Choros nº9, c.82, trompetes 1 e 2, articulação sugerida. ................................... 74
Exemplo 2.3-9, Choros nº9, c.91, trompetes 1, 2, 3 e 4. ............................................................. 74
Exemplo 2.3-10, Choros nº9, c.91, fagote e cordas. ................................................................... 75
Exemplo 2.3-11, Choros nº9, c.96, flautas. ................................................................................ 75
Exemplo 2.3-12, Choros nº9, c.116, solo trompete 1.................................................................. 76
Exemplo 2.3-13, Choros nº9, c.116, contraponto de clarinetas e madeiras. .............................. 76
Exemplo 2.3-14, Choros nº9, c.128, trompetes 1 e 2. ................................................................. 76
Exemplo 2.3-15, Choros nº9, c.128, oboés, clarinetes e fagotes................................................. 77
Exemplo 2.3-16, Choros nº9, c.200, solo trompete 1.................................................................. 77
Exemplo 2.3-17, Choros nº9, c.252, trompetes 1 e 2. ................................................................. 78
Exemplo 2.3-18, Choros nº9, c.264, tremolo. ............................................................................. 78
Exemplo 2.3-19, Choros nº9, digitação. ..................................................................................... 78
Exemplo 2.3-20, Choros nº9, digitação. .................................................................................... 79
Exemplo 2.3-21, Choros nº9, c.272, trompetes 1 e 2 em uníssono com trombones, tuba e cordas.
..................................................................................................................................................... 79
Exemplo 2.3-22, Choros nº9, c.274, trompetes 1, 2 e 3 em uníssono. ........................................ 80
Exemplo 2.3-23, Choros nº9, c.295, solo trompete 1.................................................................. 80
Exemplo 2.3-24, Choros nº9, c.402, trompetes 1 e 2 uníssono com corne-inglês. ..................... 81
Exemplo 2.3-25, Choros nº9, c.430, solo trompete 1.................................................................. 81
Exemplo 2.3-26, Choros nº9, c.493, trompete com surdina de madeira. .................................... 82
Exemplo 2.3-27, Choros nº9, c.523, portamentos. ...................................................................... 82
Exemplo 2.3-28, Choros nº9, c.583, solo trompete 2................................................................. 83
Exemplo 2.3-29, Choros nº9, c.595, trompetes 1, 2, 3 e 4. ......................................................... 83
Exemplo 2.3-30, Choros nº9, c.639, trompetes 1 e 2 em uníssono com fagote. ......................... 84
Exemplo 2.3-31, Choros nº9, c.727, metais em uníssono finalizando a obra. ............................ 85
Exemplo 2.4-1, Choros nº10, c.1, metais. ................................................................................... 88
Exemplo 2.4-2, Choros nº10, c.1, análise gráfica. ...................................................................... 88
Exemplo 2.4-3, Choros nº10, c.1, análise gráfica. ...................................................................... 88
Exemplo 2.4-4, Choros nº10, c.1, análise gráfica. ...................................................................... 89
Exemplo 2.4-5, Choros nº10, c.14 a c.20, metais. ...................................................................... 90
Exemplo 2.4-6, Choros nº10, c.14 a c.20, análise gráfica. .......................................................... 90
Exemplo 2.4-7, Choros nº10, c.14 a c. 20, análise gráfica. ......................................................... 90
Exemplo 2.4-8, Choros nº10, c.35, trompas e trompetes. ........................................................... 91
Exemplo 2.4-9, Choros nº10, c.35, fagotes e trompas. ............................................................... 92
Exemplo 2.4-10, Choros nº10, c.46, trompete, oboé, clarineta, sax-alto e fagotes. .................... 92
Exemplo 2.4-11, Choros nº10, c.52, trompetes 1 e 2 em uníssono com violinos 2 e violoncelos.
..................................................................................................................................................... 93
Exemplo 2.4-12, Choros nº10, c.53, crescendo trompetes. ......................................................... 93
Exemplo 2.4-13, Choros nº10, c.57, articulação sugerida. ......................................................... 94
Exemplo 2.4-14, Choros nº10, c.75, trompete 1 e clarinetas em uníssono. ................................ 94
Exemplo 2.4-15, Choros nº10, c.87, trompete e clarineta em uníssono com sugestão
interpretativa. .............................................................................................................................. 95
Exemplo 2.4-16, Choros nº10, c.95, trompete e sax-alto com sugestão interpretativa. .............. 95
Exemplo 2.4-17, Choros nº10, c.117, trompete uníssono com violinos 2 e violas. .................... 96
Exemplo 2.4-18, Choros nº10, c.150, trompete. ......................................................................... 96
xv
16. Exemplo 2.4-19, Choros nº10, c.149, trompete em fortississimo. .............................................. 97
Exemplo 2.4-20, Choros nº10, c.159, Très peu anime et bien rythmé, solo trompete 1. ............ 97
Exemplo 2.4-21, Choros nº10, c.185, trompetes e coro. ............................................................. 98
Exemplo 2.4-22, Choros nº10, c.189, metais. ............................................................................. 98
Exemplo 2.4-23, Choros nº10, c.195, glissando. ........................................................................ 99
Exemplo 2.4-24, Choros nº10, c.221, trompete com mão direita do piano. ............................... 99
Exemplo 2.4-25, Choros nº10, c.240, solo trompete 1.............................................................. 100
Exemplo 2.4-26, Choros nº10, c.245, solo tercinas com sugestão interpretativa...................... 100
Exemplo 2.4-27, Choros nº10, c.263, trompete 2 dobrando coro. ............................................ 101
Exemplo 2.4-28, Choros nº10, c.290, trompetes em uníssono no acorde final. ........................ 101
Exemplo 2.5-1, Choros nº11, c.10, trompetes 1, 2, 3 e 4. ......................................................... 103
Exemplo 2.5-2, Choros nº11, c.60, solo trompete 1.................................................................. 104
Exemplo 2.5-3, Choros nº11, c.77, trompete 1 apresenta a melodia do trecho......................... 104
Exemplo 2.5-4, Choros nº11, c.95, solo trompete 1.................................................................. 105
Exemplo 2.5-5, Choros nº11, c.98, metais. ............................................................................... 105
Exemplo 2.5-6, Choros nº11, c.103 e c.107, síncope em uníssono com trombones. ................ 105
Exemplo 2.5-7, Choros nº11, c.116, solo trompete 1 em uníssono com clarineta. ................... 106
Exemplo 2.5-8, Choros nº11, c.128, trompetes 2 e 3. ............................................................... 106
Exemplo 2.5-9, Choros nº11, c.156, trompete 3. ...................................................................... 107
Exemplo 2.5-10, Choros nº11, c.159, trompetes 1 e 2. ............................................................. 107
Exemplo 2.5-11, Choros nº11, c.224, trompetes 1 e 2. ............................................................. 108
Exemplo 2.5-12, Choros nº11, c.236, trompete 1 conduzindo ao novo andamento. ................ 108
Exemplo 2.5-13, Choros nº11, c.257, trompete 1 em uníssono com sax soprano, violinos 2,
viola e violoncelo. ..................................................................................................................... 109
Exemplo 2.5-14, Choros nº11, c.302, surdina copo. ................................................................. 109
Exemplo 2.5-15, Choros nº11, c.315, trompetes 3 e 4. ............................................................. 110
Exemplo 2.5-16, Choros nº11, c.315, orquestração. ................................................................. 110
Exemplo 2.5-17, Choros nº11, c.324, trompetes 2 e 3. ............................................................. 110
Exemplo 2.5-18, Choros nº11, c.343, trompetes 1 e 2 com notas acentudadas. ....................... 111
Exemplo 2.5-19, Choros nº11, c.396, trompetes 1 e 2. ............................................................. 111
Exemplo 2.5-20, Choros nº11, c.408, solo trompete 1 com agrupamento de notas. ................. 112
Exemplo 2.5-21, Choros nº11, c.423, preparação para entrada do piano. ................................ 112
Exemplo 2.5-22, Choros nº11, c.434, trompetes 1 e 2. ............................................................. 113
Exemplo 2.5-23, Choros nº11, c.511, solo trompete e naipe. ................................................... 113
Exemplo 2.5-24, Choros nº11, c.511 e c.512, solo trompete 1. ................................................ 114
Exemplo 2.5-25, Choros nº11, c.516, alternância trompetes 1 e 2. .......................................... 114
Exemplo 2.5-26, Choros nº11, c.516, sugestão interpretativa. ................................................. 115
Exemplo 2.5-27, Choros nº11, c.535, solo trompete 1 seguido por naipe. ............................... 116
Exemplo 2.5-28, Choros nº11, c.666, trompetes 1 e 2 em oitavas. ........................................... 116
Exemplo 2.5-29, Choros nº11, c.672, trompetes 1, 2, 3 e 4. ..................................................... 117
Exemplo 2.5-30, Choros nº11, c.833, Più mosso, trompetes 1, 2, 3 e 4. .................................. 117
Exemplo 2.5-31, Choros nº11, c.850, trompetes 1, 2, 3 e 4. ..................................................... 118
Exemplo 2.5-32, Choros nº11, c.850, sugestão interpretativa. ................................................. 118
Exemplo 2.5-33, Choros nº11, c.855, trompete 1. .................................................................... 118
Exemplo 2.5-34, Choros nº11, c.895, trompetes 1 e 2 em uníssono com flautas, oboés, corne-
inglês, violinos e violas. ............................................................................................................ 119
Exemplo 2.5-35, Choros nº11, c.910, a tempo justo, trompetes 1 e 2. ..................................... 119
Exemplo 2.5-36, Choros nº11, c.921, trompetes 1 e 2. ............................................................. 120
xvi
17. Exemplo 2.5-37, Choros nº11, c.931, trompetes 1, 2 e 3 com stacatti. .................................... 120
Exemplo 2.5-38, Choros nº11, c.941, trompetes 1 e 2. ............................................................. 121
Exemplo 2.5-39, Choros nº11, c.954, trompetes 1, 2 e 3. ......................................................... 121
Exemplo 2.5-40, Choros nº11, c.969, solo trompete 1.............................................................. 122
Exemplo 2.5-41, Choros nº11, c.1014, trompetes 1 e 2 em uníssono com trombones. ............ 122
Exemplo 2.5-42, Choros nº11, c.1029, trompetes 1 e 2. ........................................................... 123
Exemplo 2.5-43, Choros nº11, c.1055, trompetes 1 e 2 com fagotes........................................ 123
Exemplo 2.5-44, Choros nº11, c.1063, solo trompete 1 com sugestão interpretativa. .............. 124
Exemplo 2.5-45, Choros nº11, c.1104, trompetes e trompas em uníssono. .............................. 124
Exemplo 2.5-46, Choros nº11, c.1128, trompete 1. .................................................................. 125
Exemplo 2.5-47, Choros nº11, c.1168, trompete 1 com sugestão interpretativa. ..................... 126
Exemplo 2.5-48, Choros nº11, c.1199, trompete 2, trompas e trombones. ............................... 126
Exemplo 2.5-49, Choros nº11, c.1215, fanfarra. ....................................................................... 127
Exemplo 2.5-50, Choros nº11, c.1241, Più mosso, trompetes 1, 2, 3 e 4. ................................ 127
Exemplo 2.5-51, Choros nº11, c.1274, trompete 2. .................................................................. 128
Exemplo 2.5-52, Choros nº11, c.1322, trompetes com sugestão interpretativa. ....................... 128
Exemplo 2.5-53, Choros nº11, c.1331, trompetes 1, 2, 3 e 4 em uníssono com trompas e
trombones. ................................................................................................................................. 129
Exemplo 2.5-54, Choros nº11, c.1386, trompetes em uníssono com harpa. ............................. 129
Exemplo 2.5-55, Choros nº11, c.1417, solo naipe com sugestão interpretativa. ...................... 130
Exemplo 2.5-56, Choros nº11, c.1438, trompetes 1, 2 e 3 com sugestão interpretativa. .......... 130
Exemplo 2.5-57, Choros nº11, c.1469, trompetes 1, 2 e 3 com sugestão interpretativa. .......... 131
Exemplo 2.5-58, Choros nº11, c.1489, solo trompete 1 com agrupamento de notas. ............... 131
Exemplo 2.5-59, Choros nº11, c.1524, trompetes com surdina. ............................................... 132
Exemplo 2.5-60, Choros nº11, c.1538, trompete 2 em uníssono com mão direita do piano. ... 132
Exemplo 2.5-61, Choros nº11, c.1561, trompetes 1, 2, 3 e 4. ................................................... 133
Exemplo 2.5-62, Choros nº11, c.1580, trompetes 3 e 4 seguidos por solo trompete 1. ............ 133
Exemplo 2.5-63, Choros nº11, c.1588, trompetes em oitavas e em uníssono com trombones. 134
Exemplo 2.5-64, Choros nº11, c.1592, trompetes no final da obra........................................... 134
Exemplo 2.6-1, Choros nº12, c.11, trompetes 1, 2, 3, e4. ......................................................... 136
Exemplo 2.6-2, Choros nº12, c.30, trompete 1. ........................................................................ 136
Exemplo 2.6-3, Choros nº12, c.46, trompete 1 em uníssono com flautins. .............................. 137
Exemplo 2.6-4, Choros nº12, c.52, trompetes 3 e 4 em uníssono com trompas. ...................... 137
Exemplo 2.6-5, Choros nº12, c.60, trompetes 1 e 2 com sugestão interpretativa. .................... 138
Exemplo 2.6-6, Choros nº12, c.65, trompetes 1 e 2 em uníssono com trombones e intervenção
de trompetes 3 e 4. .................................................................................................................... 138
Exemplo 2.6-7, Choros nº12, c.93, trompetes 1, 2 e 3. ............................................................. 139
Exemplo 2.6-8, Choros nº12, c.100, trompetes alternados. ...................................................... 140
Exemplo 2.6-9, Choros nº12, c.150, trompetes 1, 2 e 3 em uníssono com trombones. ............ 140
Exemplo 2.6-10, Choros nº12, c.164, trompetes 1, 2 e 3. ......................................................... 141
Exemplo 2.6-11, Choros nº12, c.198, trompetes 1 e 2 em uníssono com trombones. .............. 141
Exemplo 2.6-12, Choros nº12, c.223, trompete em uníssono com flauta e sax. ....................... 141
Exemplo 2.6-13, Choros nº12, c.223, ligação entre graves e agudos. ...................................... 142
Exemplo 2.6-14, Choros nº12, c.230, trompetes 1, 2, 3 e 4. ..................................................... 142
Exemplo 2.6-15, Choros nº12, c.233, intervenção rítmica dos trompetes. ............................... 144
Exemplo 2.6-16, Choros nº12, c.242, trompetes alternando partes. ......................................... 144
Exemplo 2.6-17, Choros nº12, c.259, trompetes 1 e 2 com divisão de soli. ............................. 145
Exemplo 2.6-18, Choros nº12, c.291, fanfarra. ......................................................................... 146
xvii
18. Exemplo 2.6-19, Choros nº12, c.305, trompete 1 seguido por naipe de trompetes. ................. 146
Exemplo 2.6-20, Choros nº12, c.330, solo trompete 1.............................................................. 147
Exemplo 2.6-21, Choros nº12, c.338, trompete 3 com sugestão interpretativa. ....................... 147
Exemplo 2.6-22, Choros nº12, c.340, trompetes 1 e 2. ............................................................. 147
Exemplo 2.6-23, Choros nº12, c.330, trompetes 1, 3 e 4, com agrupamento de notas. ............ 148
Exemplo 2.6-24, Choros nº12, c.364, trompetes 3 e 4. ............................................................. 149
Exemplo 2.6-25, Choros nº12, c.390, trompetes em fanfarra. .................................................. 149
Exemplo 2.6-26, Choros nº12, c.403, trompetes 3 e 4 com agrupamento de notas. ................. 150
Exemplo 2.6-27, Choros nº12, c.408, trompetes e relação com violinos. ................................. 150
Exemplo 2.6-28, Choros nº12, c.413, trompetes continuando parte dos violinos..................... 150
Exemplo 2.6-29, Choros nº12, c.417, trompetes 1 e 2 em uníssono com trompas. .................. 151
Exemplo 2.6-30, Choros nº12, c.424, trompetes em breves intervenções. ............................... 152
Exemplo 2.6-31, Choros nº12, c.425, relação trompete com cordas. ....................................... 152
Exemplo 2.6-32, Choros nº12, c.427, relação trompetes, flautas e cordas. .............................. 153
Exemplo 2.6-33, Choros nº12, c.453, solo trompete 1.............................................................. 153
Exemplo 2.6-34, Choros nº12, c.508, solo trompete 1 com agrupamento de notas. ................. 154
Exemplo 2.6-35, Choros nº12, c.547, trompetes 1, 2, 3 e 4. ..................................................... 155
Exemplo 2.6-36, Choros nº12, c.549, trompetes 1, 2 e 3 com sugestão interpretativa. ............ 156
Exemplo 2.6-37, Choros nº12, c.587, trompete 1. .................................................................... 157
Exemplo 2.6-38, Choros nº12, c.613, trompetes com stacatto. ................................................ 157
Exemplo 2.6-39, Choros nº12, c.661, trompetes alternando o tema. ........................................ 158
Exemplo 2.6-40, Choros nº12, c.672, trompetes 1 e 3. ............................................................. 158
Exemplo 2.6-41, Choros nº12, c.684, trompetes alternando o tema. ........................................ 159
Exemplo 2.6-42, Choros nº12, c.694, trompetes alternando tema. ........................................... 159
Exemplo 2.6-43, Choros nº12, c.701, trompetes 1 e 3 alternando tema. .................................. 160
Exemplo 2.6-44, Choros nº12, c.747, trompetes 2, 3 e 4 seguido por solo trompete 1. ........... 160
Exemplo 2.6-45, Choros nº12, c.755, trompete1. ..................................................................... 161
Exemplo 2.6-46, Choros nº12, c.776, trompetes 1 e 2 alternando fragmentos do tema. .......... 161
Exemplo 2.6-47, Choros nº12, c.792, trompete 1. .................................................................... 162
Exemplo 2.6-48, Choros nº12, c.799, trompetes 1 e 3 alternados em oitavas. ......................... 162
Exemplo 2.6-49, Choros nº12, c.894, trompetes a2 dividindo tema. ........................................ 163
Exemplo 2.6-50, Choros nº12, c.916, trompetes alternando tema. ........................................... 163
Exemplo 2.6-51, Choros nº12, c.932, trompetes 1 e 2 apresentam tema principal. .................. 164
Exemplo 2.6-52, Choros nº12, c.941, trompetes 1, 2, 3 e 4. ..................................................... 164
Exemplo 2.6-53, Choros nº12, c.951, solo trompete 1.............................................................. 165
Exemplo 2.6-54, Choros nº12, c.961, trompetes 3 e 4 continuam frase de trompete 1 em c.951.
................................................................................................................................................... 165
Exemplo 2.6-55, Choros nº12, c.993, trompetes 1 e 2 com trinados. ....................................... 166
Exemplo 2.6-56, Choros nº12, c.993, digitação trinados. ......................................................... 166
Exemplo 2.6-57, Choros nº12, c.993, digitação trinados. ......................................................... 166
Exemplo 2.6-58, Choros nº12, c.997, trompetes 1 e 2 alternando tema. .................................. 167
Exemplo 2.6-59, Choros nº12, c.1013, arpejos e agrupamento de notas. ................................. 168
Exemplo 2.6-60, Choros nº12, c.1019, trinados com sugestão interpretativa. .......................... 168
Exemplo 2.6-61, Choros nº12, c.1025, trompetes 1 e 2 com agrupamento de notas. ............... 168
Exemplo 2.6-62, Choros nº12, c.1026 a c.1028, síncope finalizando a obra em fortississimo. 169
Exemplo 2.7-1, Introdução aos Choros, c.1, trompete 3. ......................................................... 171
Exemplo 2.7-2, Introdução aos Choros, c.1, relação com as madeiras. ................................... 171
Exemplo 2.7-3, Introdução aos Choros, c.8, trompetes 1 e 2. .................................................. 171
xviii
19. Exemplo 2.7-4, Introdução aos Choros, c.43, Allegro, com sugestão interpretativa. .............. 172
Exemplo 2.7-5, Introdução aos Choros, c.47, trompetes 3 e 4. ................................................ 172
Exemplo 2.7-6, Introdução aos Choros, c.61, desenvolvimento da marcha com agrupamento de
notas. ......................................................................................................................................... 173
Exemplo 2.7-7, Introdução aos Choros, c.122, valsa para trompete 1. .................................... 173
Exemplo 2.7-8, Introdução aos Choros, c.140, solo trompete 1............................................... 174
Exemplo 2.7-9, Introdução aos Choros, c.160, trompetes a2 em oitavas. ............................... 175
Exemplo 2.7-10, Introdução aos Choros, c.206, trompetes 1, 2, 3 e 4 reforçando parte fraca de
tempo. ........................................................................................................................................ 175
Exemplo 2.7-11, Introdução aos Choros, c.215, solo trompete 1............................................. 175
Exemplo 2.7-12, Introdução aos Choros, c.219, trompete 1. ................................................... 176
Exemplo 2.7-13, Introdução aos Choros, c.253, trompetes 1 e 2 em uníssono com trompa 3. 176
Exemplo 2.7-14, Introdução aos Choros, c.245, tutti ao final da obra. .................................... 177
xix
20. 1
INTRODUÇÃO
Os Choros constituem o maior conjunto de obras composto por Heitor Villa-Lobos. É
um amálgama da estética musical européia de vanguarda e elementos brasileiros apresentados sob o
prisma da rítmica, da poesia e dos sons onomatopaicos que remete aos nossos índios, onde“os
elementos de suas peças estão conectados à estrutura de forma muito mais livre do que prezava a
tradição anterior” (SEIXAS, 2007, p. 5). A série reúne todo o gênio criativo do compositor, partindo
do violão solo e chegando ao efetivo orquestral de grandes dimensões, incluindo-se aí as formações
camerísticas menores. Nesse universo destacamos nos Choros sinfônicos, especificamente o naipe de
trompetes.
A orquestração dos Choros sinfônicos apresenta uma grande orquestra sinfônica, com
instrumentos modernos, como o saxofone, e um naipe de percussão formado por instrumentos
tradicionais e instrumentos oriundos da cultura brasileira. Nessa série, o trompete em Si bemol1 é
apresentado em uma extensão confortável para o instrumentista, não justificando a necessidade da
utilização de outros tipos de trompete para interpretação das partes. Atualmente, o trompete em Dó é
o instrumento mais utilizado nas orquestras sinfônicas no Brasil e no exterior, e a opção pelo uso do
mesmo mantém as características da técnica instrumental observadas no trompete para o qual Villa-
Lobos escreveu.
Os trechos orquestrais fazem parte da biblioteca de um instrumentista de orquestra, na
preparação para ensaios e apresentações, ou para ingresso nas orquestras através de provas práticas.
De posse dos manuscritos e das obras editadas pela Max Eschig, realizamos uma edição dos Trechos
Orquestrais para Trompete onde constam todas as partes destinadas ao instrumento na versão original
e transposta para o trompete em Dó, trabalho que deu origem à primeira edição dos trechos
orquestrais para trompete dedicado a um compositor brasileiro, visto que as edições da Boosey,
1
No Choros nº10 o compositor escreve para trompetes em Sii e Lá.
21. 2
International, Musica Rara e outras tradicionais, de trechos orquestrais para trompete, não incluem
nenhuma repertório nacional.
O levantamento da discografia, conforme arquivo do Museu Villa-Lobos, é uma
mostra da repercussão dos Choros em todo o mundo. Encontramos gravações realizadas por
orquestras internacionais e em menor quantidade, não em qualidade, gravações da Orquestra
Sinfônica da Paráiba, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, Orquestra Sinfônica Petrobrás
Pro-Música, Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro e a mais recente gravação do Choros nº10 no Brasil em CD e DVD realizada pela Orquestra
Sinfônica Nacional em 2007. Não poderíamos deixar de mencionar que o Museu Villa-Lobos
disponibiliza todo seu acervo discográfico ao público.
Esse trabalho aborda a interpretação musical, ou melhor, as possibilidades
interpretativas do naipe de trompete no universo da orquestra sinfônica. Para o instrumentista de
orquestra, a música sinfônica apresenta possibilidades interpretativas e desafios, a começar pela
concepção musical do maestro, pela orquestração, pelo tamanho da orquestra e pelas características
acústicas da sala.
Segundo Magnani:
Interpretar – ou interpetrar (do latim inter petras = entre as pedrinhas) – denota o ato de descobrir e
comunicar os significados que podem estar ocultados por detrás de uma série de significantes
fundamentais (...). Atividade, portanto, de intuição e de técnica, baseada no reconhecimento dos
símbolos (...), em nosso caso, sonoros (MAGNANI, 1989, p. 61).
As decisões interpretativas, técnicas ou intuitivas, visam transformar em sons os
símbolos grafados na partitura e/ou nas partes individuais. Na interpretação de suas partes cada
instrumentista se utiliza de técnicas e intuições aplicadas ao mesmo som, articulação, dinâmica e
ritmos. As diferenças estéticas e filosóficas das diferentes escolas precisam conviver sob o mesmo
teto, ou melhor, sobre o mesmo palco diante de uma única batuta.
22. 3
O maestro tem a função de extrair o melhor da interpretação de cada instrumentista.
Karajan, por exemplo diz: “Eu posso aceitar uma nota errada da orquestra, mas quando qualquer
coisa é mais lenta ou mais rápida em não posso aceitar” (OSBORNE, 1989, p. 96). Da mesma
forma como o maestro exige a uniformidade rítmica da obra, exige muitas vezes uma sonoridade que
está fora das características físicas dos instrumentos. Os desafios para o instrumentista de orquestra
ultrapassam os limites da técnica instrumental e da capacidade de trabalhar em equipe. O músico na
orquestra deve negociar, sem palavras, a verdade da sua concepção interpretativa e ter a noção exata
do momento de ceder, aceitando uma sugestão interpretativa e por conseqüência evitando conflitos
pessoais. Sobre o assunto, Michael Tree, violista do Quarteto Guarnieri afirma:
(...) deve ser lembrado que um quarteto é baseado em quatro vozes individuais. O fato que temos que
coordenar e procurar um equilíbrio próprio não significa que cada um de nós deve contribuir menos. Ao
contrário; a “re-criação” da obra de arte necessita do todo, da participação vital de cada um de nós2
(BLUM, 1986, p. 3)
Na citação de Blum (1986), podemos substituir por orquestra a palavra quarteto sem
comprometimento do texto, pois a idéia permanece independente do tamanho do grupo. Nesse
trabalho oferecemos sugestões interpretativas para as partes do trompete nos Choros baseadas na
análise da partitura, reflexões baseadas em princípios técnico-interpretativos da escola de trompete de
Boston propagada pelo Prof. Charles Schlueter durante sua permanência como principal trompetista
da Orquestra Sinfônica de Boston, análises gráficas e revisão da bibliografia sobre interpretação
musical e sobre os Choros.
As sugestões interpretativas são de caráter pessoal, representando nossa concepção do
tocar trompete em uma orquestra sinfônica. Podemos afirmar, pela experiência pessoal e pela
pesquisa, que em nenhum momento modificamos a criação do compositor, muito menos deixamos de
atender às solicitações dos maestros. As alterações impostas à partitura visam proporcionar mais
2
“(…) it should be remembered that a quartet is based on four individual voices. The fact that we have to coordinate and
find a proper balance doesn’t mean that any one of us should become faceless. On the contrary; the re-creation of a
masterpiece needs the full, vital participation of each of us.”
23. 4
personalidade ao trompete e adequá-la ao formato de um instrumento do século XXI, com mais de
meio século de modificações com referência aos instrumentos conhecidos por Villa-Lobos.
O trompete recebeu diversas alterações em sua estrutura nos últimos trinta anos –
diâmetro dos tubos, aumento do peso e incorporação do bocal ao corpo do instrumento, em um
processo de evolução que transformou o desenho e a sonoridade do mesmo. Destacamos o trabalho
do artesão americano David Monette no desenvolvimento e na fabricação desse novo trompete.
Para atender ao novo formato, mudanças nas concepções técnica, estética e filosófica
do fazer musical através do instrumento foram desenvolvidas e estão sendo aplicadas por toda uma
geração de novos trompetistas que ocupam espaços acadêmicos e nas orquestras sinfônicas do Brasil
e do exterior.
Aderir ao novo, não significa renegar o passado, mas partir dos conhecimentos
musicais amplamente difundidos para apresentar uma nova sonoridade e novas soluções musicais aos
maestros, compositores e ao público em geral.
Os gráficos que apresentamos são resultados de gravações dos trechos destinados aos
trompetes e de gravações integrais dos Choros, processados através do programa Cool Edit 2000 e
visualizado através do Corel Draw X3. A função do gráfico é proporcionar a “visualização” do
objeto, em termos de energia sonora, ou seja, podemos observar o comportamento das articulações e
das dinâmicas como variação da intensidade do som. Concentramos a utilização dos gráficos no
Choros nº 10 por ser a obra da série mais interpretada e que inclui o solo mais tocado para trompete
em toda a obra de Villa-Lobos. A utilização da análise gráfica no Choros nº 6 inclui observações não
realizadas no Choros nº 10.
No Capítulo Definição dos termos, apresentamos o forma adotada para a localização
do trecho analisado em relação aos números de compassos e de ensaio. A abreviação para a extensão
do instrumento também foi incluída.
24. 5
O Capítulo destinado às Considerações Históricas situa o leitor no momento da vida
de Villa-Lobos em que surgiram os Choros, chamando a atenção para a cronologia da série, as
influências sofridas, as viagens e o reconhecimento internacional. O capítulo focaliza a produção dos
Choros e descreve as obras da série que não tem o trompete em sua orquestração.
O Capítulo Procedimentos Interpretativos para o Trompete nos Choros, descreve a
instrumentação utilizada e a descrição técnica e psicológica da obra pelas palavras do próprio
compositor e de outros estudiosos do assunto, apresentando um quadro teórico que contextualiza
aspectos formais das obras citadas. A análise interpretativa aborda as partes dos trompetes e sua
relação com a orquestração, em aspectos pertinentes ao timbre, articulação, dinâmica e ritmo,
incluindo sugestões de pontos de respiração, e agrupamento de notas.
Esse trabalho, ligado diretamente às práticas musicais, destina-se aos instrumentistas
de orquestra. A edição dos Trechos Orquestrais para Trompete nos Choros, a discografia
recomendada e as sugestões interpretativas oferecidas proporcionam material teórico e prático para o
trompetista. Porém, por se tratar de uma série de obras ouvidas e gravadas em todo o mundo,
acreditamos que maestros, ouvintes, estudantes de composição e compositores, poderão observar a
utilização do trompete na orquestração dos Choros por Villa-Lobos.
25. 6
DEFINIÇÃO DE TERMOS
Para localização das notas e definição da extensão utilizada pelo compositor para o
trompete, adotaremos o seguinte esquema:
g’’ c’’’ g’’’ c’’’’ g’’’’ c’’’’’
Onde: g’’ corresponde ao Sol 2, c’’’ ao Dó 3, sucessivamente até o c’’’’’, o Dó 5.
A localização dos trechos é definida pelas abreviaturas: c. (número de compasso) e n.
(número de ensaio). Para trechos que não coincidem com números de ensaio, definimos a expressão
(n. ± x), onde “+” são os compassos após n. e “-” são os compassos anteriores à n.. O “x” representa
a quantidade de compassos anteriores ou posteriores ao número de ensaio de referência. No Choros
nº10 observamos letras de ensaio e para manter o procedimento representamos por (n. ± Letra).
No corpo do texto os Exemplos mostram trechos extraídos da parte original. As
alterações decorrentes das sugestões interpretativas encontram-se no Anexo II – Trechos Orquestrais
para Trompete.
26. 7
1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A série dos Choros3 nos remete ao nome de Heitor Villa-Lobos. Porém, em seu
catálogo de obras encontramos as formas tradicionais: concertos, missas, óperas, sinfonias, suítes,
música para cinema e composições para banda de música. A grande série dos Choros percorre o
caminho entre a música instrumental solo - Choros nº 1, para violão, e a massa sonora de uma grande
orquestra sinfônica, banda de música e coros: “o maior conjunto utilizado por Villa-Lobos (NEVES,
1977, p. 83)”.
Villa-Lobos compôs com a consciência de ser um compositor brasileiro. Sempre
disposto a criar baseado em elementos rítmicos, melódicos e harmônicos da cultura brasileira. Sobre
a sua arte, Villa-Lobos diz:
(...) Há três espécies de compositores: os que escrevem música-papel, seguindo as regras ou moda, os
que escrevem para ser originais e realizar algo que outras não realizaram, e os que escrevem música
porque não podem viver sem ela. (...) Só desta última maneira pode ele compreender a alma do povo
(VILLA-LOBOS, 1966).
Compor uma música que represente a alma do povo brasileiro. Esta é a estética que
norteará sua produção. Villa-Lobos foi um nacionalista ao seu modo: não buscou na música nacional
de sua época, em Alberto Nepomuceno, por exemplo, os modelos que serviriam de inspiração para
suas composições. Segundo Guerios, “(...) o objeto música nacional, mais que um resultado de um
trabalho artístico (...) se legitimava como uma substância reveladora da essência de um povo que
devia ser descoberta e construída (GUÉRIOS, 2003, p. 98).”
Convidado a se apresentar durante a Semana de Arte de 1922, realizou três audições.
Villa-Lobos não foi influenciado pela estética proposta pelos organizadores da mostra de arte
contemporânea: “direito à pesquisa estética, à atualização da inteligência artística brasileira e à
estabilização de uma consciência criadora nacional, (...) banindo para sempre os pastiches da arte
européia (MARIZ, 2005a, p. 145).” As reivindicações do grupo já haviam encontrado espaço em sua
obra, que desde os primeiros trabalhos era inspirada pelos elementos culturais brasileiros. “(...) [Ele]
3
Constam nos registros do Museu Villa-Lobos duzentos e noventa e oito gravações dos Choros. (atualização até abril de
2007).
27. 8
não precisou esperar pelos manifestos estéticos para que sua música brotasse e crescesse (FRANÇA,
Villa-Lobos. Síntese crítica e biográfica, 1978, p. 6).” Segundo Neves:
Sua vinculação com o nacionalismo musical independe, ao menos diretamente, da grande voga dessa
escola no início de sua carreira de compositor, do mesmo modo como não encontraremos em sua
produção posterior nenhuma ligação servil com as novas correntes harmônicas (NEVES, 1977, p. 12).
Villa-Lobos nasce em um final de séc. XIX de importantes mudanças no campo da
música. Com a proclamação da república houve uma diminuição de verbas para atividades religiosas
e conseqüente extinção dos efetivos orquestrais vinculados a Capela Imperial e a Catedral de Rio de
Janeiro.
Na primeira metade do séc. XIX a vida musical carioca, segundo Heitor:
"acompanhava cada vez mais de perto a vida européia (...). Companhias de óperas estrangeiras, com
músicos e solistas, apresentavam “as principais óperas de Rossini, Bellini, (...). O Niccolò dei Lapi,
de Pacini, (...) teve sua estréia mundial no Rio de Janeiro, em 1855 ([AZEVEDO], 1956, p. 60).” A
capital federal era uma “Paris imaginada (GUÉRIOS, 2003, p. 49).”
Os compositores brasileiros, diante da efervescência da audiência nos teatros,
começaram a escrever óperas nacionais, fazendo com que, segundo Cardoso: “[Saíssem] de cena os
principais representantes das correntes estéticas musicais ligadas à ópera italiana, capitaneadas por
Carlos Gomes (CARDOSO A. , 2005, p. 105).”
Na segunda metade do século, a ópera deu lugar ao concerto. Incentivado pelas
sociedades organizadas diversos solistas internacionais desembarcavam no Rio de Janeiro para
apresentar recitais, com apoio das sociedades e clubes que promoviam as apresentações e
trabalhavam para a divulgação da obra dos grandes compositores europeus. O pai de Villa-Lobos,
Raul Villa-Lobos foi um dos fundadores da Sociedade de Concertos Sinfônicos do Rio de Janeiro.
Nos primeiros anos da república o Instituto Nacional de Música estabeleceu a
“República Musical (...) defensora dos princípios estéticos da escola alemã de Liszt e Wagner, [que]
toma de assalto as instituições de ensino musical da capital (CARDOSO A. , 2005, p. 105).”
28. 9
Leopoldo Miguez, seu diretor, desejava implantar um ensino da música inspirado nos modelos
alemães e franceses.
No séc. XX surgem as suas primeiras composições do jovem Heitor Villa-Lobos.
Obras, que segundo Mariz: “limitavam-se a (...) música popular sem quaisquer pretensões (MARIZ,
2005b, p. 56).” Seus instrumentos eram o violoncelo para o trabalho e o violão para a boemia dos
chorões.
Após uma viagem ao nordeste do Brasil somente citada por Mariz: “Visitou os estados
do Espírito Santo, Bahia e Pernambuco (...) tudo interessou-o vivamente e despertou-lhe o sentido de
brasilidade que trazia no sangue (MARIZ, 2005b, pp. 56-57).” França escreve: “acreditam os
biógrafos que foi na Bahia (...) que Villa-Lobos ouviu Debussy. Não repeliu. Absorvia tudo que
ouvia, da música dos homens e da música da natureza (FRANÇA, 1979, p. 9).”
A partir da inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 14 de julho de
1909, a prefeitura passou a financiar as temporadas de óperas com a presença de cantores e maestros
mundialmente conhecidos. Esse novo momento da ópera financiada pelo poder público difere das
óperas apresentadas na primeira metade do Séc. XIX, que eram promovidas por companhias e
empresários estrangeiros.
A cada ano o número de obras aumentava. Nessa época Villa-Lobos já era um
compositor a frente de seu tempo. A experiência com a música de Debussy trouxe elementos para a
sua obra que o colocaram-no como um compositor de vanguarda.
As obras escritas por Villa-Lobos até o momento são composições que privilegiam os
instrumentos tocados pelo compositor e instrumentos que fazem parte de seu convívio social e
profissional; possuem o caráter popular e peças curtas, com pouca duração. Porém, no decorrer dos
anos ele se distancia das composições populares, passando a utilizar os elementos de origem popular
em trabalhos mais elaborados.
Em 1912 Villa-Lobos conhece Lucília Guimarães, jovem pianista e professora, com
quem se casaria no ano seguinte. Lucília realizou a primeira audição de muitas obras e, nas
composições para piano, influenciou o compositor com seu conhecimento do instrumento como
29. 10
professora e instrumentista. A Sonata Fantasia nº 1, segundo França, “[mostra] uma imagem do
Villa-Lobos jovem, antes de encontrar o caminho definitivo imposto pela sua personalidade de
músico brasileiro (FRANÇA, 1979, p. 9).” Fortemente influenciada por Debussy, a obra marca o
início da transição estética do compositor. Segundo Guérios:
A aplicação de elementos estéticos de Debussy surge em diversas obras de Villa-Lobos. O principal
elemento presente é a escala de tons inteiros, (...) a escala já está presente, por exemplo, nas Danças
características Africanas (...). O uso da estética de Debussy destacava Villa-Lobos dos compositores
eruditos da geração anterior que atuavam no Rio de Janeiro (GUÉRIOS, 2003, p. 106).
Peças curtas de características populares passaram a ceder espaço às obras mais
elaboradas e com maior duração. As obras para música de câmera demonstram o amadurecimento de
Villa-Lobos como compositor na busca por uma linguagem própria.
Em 1915 aconteceu a primeira audição de suas obras na cidade do Rio de Janeiro,
realizada em 13 de novembro no Salão do Jornal do Commercio. Para o programa foram escolhidas
obras de música de câmera. Participaram do evento músicos, que tocaram gratuitamente, e familiares
que ajudavam na venda de ingressos. Guerios escreve: “ele convidou jornalistas e artistas para
ouvirem algumas de suas composições na intimidade (GUÉRIOS, 2003, p. 110).” O convite
destinado à formadores de opinião tinha um único objetivo: torná-lo conhecido como compositor. O
evento foi um fracasso de renda e de público. Porém, Villa-Lobos foi persistente em seus objetivos e
realizou, nos anos seguintes, eventos semelhantes com obras sinfônicas incluídas no programa.
Depois da estréia no Rio de Janeiro, Villa-Lobos concentra suas composições em
produção de música para orquestra. Porém, a primeira apresentação de suas obras para música
sinfônica só aconteceria em 15 de abril de 1918 e foi comentado pelo jornal O Paiz:
Sabemos que o compositor patrício organizou um concerto variadíssimo de suas produções sinfônicas
(...) dará, espontaneamente, todo o lucro de sua festa artística a uma das nossas instituições para os
pobres (...). Como se vê, é uma idéia profundamente simpática e altruísta, que a nossa filantrópica alta
sociedade não deixará, por certo, de patrocinar.
A intenção de Villa-Lobos, mais do que altruísmo, era se fazer notado como
compositor. Mais uma vez o concerto fracassou, transformando em um desastre sua estréia como
compositor no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Estratégia semelhante ele utilizou para
30. 11
promoção de seu concerto em agosto do mesmo ano: a renda seria destinada ao Retiro dos Jornalistas
Inválidos. Certamente Villa-Lobos imaginava que a imprensa daria a cobertura merecida, mas
aconteceu o contrário: os jornais pouco divulgaram o evento. A Associação Brasileira de Imprensa
sofreu diversas críticas pela falta de envolvimento com o concerto e se defendeu afirmando que o
evento seria uma produção do compositor e a ABI só participaria com as despesas de aluguel do
teatro.
Segundo Guerios:
O resultado do primeiro grande concerto não foi, pois, a consagração esperada por Villa-Lobos, mas um
grande desastre financeiro. (...) Mesmo assim, o concerto ajudou a divulgar seu nome. As críticas (...)
foram em geral positivas e animadoras. (...) (GUÉRIOS, 2003, p. 114).
Apesar dos insucessos, em 1919, Villa-Lobos foi convidado oficialmente para
participar de um concerto em homenagem ao representante brasileiro na Conferência de Paris ao final
da I Guerra Mundial. O programa de concerto seria dividido entre Otaviano Gonçalves, Francisco
Braga e Villa-Lobos, que foi incumbido de compor A guerra, a obra que mais impressionou o
público. O jornal Correio da Manhã publicado em 31 de julho do mesmo ano relata que “o trabalho
de Villa-Lobos, cheio de vida, rico de idéias, enérgico, movimentado, com caráter descritivos dos
horrores e das sangueiras que enlutaram a humanidade (...) provocou indescritível entusiasmo no
auditório.(...).”
Em 1920 Villa-Lobos encontra o pianista Arthur Rubinstein, que se tornaria um
admirador das obras do compositor, incluindo-as em seu repertório. Em entrevista Rubinstein disse:
“(...) Ficou-me a convicção de que seu país tem nesse compositor um artista eminente, em nada
inferior aos maiores compositores modernos da Europa.4” Também contribuíram para a divulgação
do nome e da obra de Villa-Lobos a cantora brasileira Vera Janacopoulos, que na época vivia na
Europa e era a cantora preferida de Manuel de Falla e, o Maestro alemão Weingartner, regente da
Orquestra Filarmônica de Viena, que em suas apresentações no Brasil sempre incluía no programa
uma obra de Villa-Lobos.
4
Entrevista concedida ao Jornal A Notícia publicada em 24 de junho de 1920.
31. 12
A forma, o gênero e a instrumentação da cada obra escrita até aqui, nos colocam diante
de um compositor em crescimento, ampliando sua capacidade criadora a cada nova obra. Até a
composição do Choros nº 1, em 1920, Villa-Lobos escreveu cinco sinfonias, a sexta sinfonia foi
composta vinte e quatro anos depois. Compôs até 1917 quatro quartetos de cordas. O quinto quarteto
foi escrito em 1931. O intervalo entre os quartetos e as sinfonias demonstra como o compositor
dedicou atenção à série Choros e aos novos desafios na busca pelo reconhecimento internacional de
suas obras. Segundo Nóbrega:
A composição dos Choros representa a primeira grande afirmação de Villa-Lobos como criador. Não
que fossem, cronologicamente, suas primeiras grandes obras. Datam de antes de 1924, quando começou
a grande floração do ciclo com o [Choros] nº 2 (o [Choros] nº 1, de 1920, é de feitio genuinamente
popular), as Danças Africanas, e as Proles do Bebê nº 1 e 2 para piano; os bailados Amazonas e
Uirapurú, o Quatuor com vozes femininas e o Noneto, (...) (NÓBREGA, 1974, p. 23).
Os Choros não obedecem à ordem cronológica da composição. Exemplificamos: o
Choros nº 7 foi composto no mesmo ano do Choros nº 2. Villa-Lobos numerou os choros pela
complexidade estrutural da obra. Mas o que são os Choros? O Próprio Villa-Lobos define a série
como:
Choros – expressão popular que define as tocatas típicas de pequenos conjuntos de cantores
rurais, solistas ou de instrumentos, executados, geralmente, ao ar livre. Foi o título encontrado
para denominar uma nova forma de composição musical, em que se acham sintetizadas várias
modalidades da música indígena brasileira primitiva, civilizada ou popular, tendo como
principais elementos, o ritmo e qualquer melodia típica popularizada, que aparece de quando em
quando, incidentalmente. Os processos harmônicos e contrapontísticos são quase uma estilização
do próprio original. Esses “Choros” em número de 14 são escritos para violão, piano, coros,
orquestra, piano e orquestra, instrumentos de sopro, etc.5
Villa-Lobos contou com apenas cinco anos após sua estréia em Friburgo (RJ), e
apenas um ano depois de ser convidado oficialmente para uma apresentação pública no Theatro
Municipal do Rio de Janeiro para apresentar sua série Choros. Os Choros se diferenciam por ser uma
forma inédita na música brasileira. Segundo Nóbrega: “As obras musicais de autores brasileiros, até a
década dos vinte, se chamavam canções, valsas, schottiches, polkas, prelúdios, suítes, sinfonias, etc.
(...) (NÓBREGA, 1974, p. 9).” Como compositor, “os Choros representa[m] a primeira grande
5
Texto de capa do Choros nº 11.
32. 13
afirmação de Villa-Lobos como criador (NÓBREGA, 1974, p. 23).” Com exceção do Choros nº 5,
todos os outros foram compostos no Rio de Janeiro, dois foram estreados em Paris, seis no Rio de
Janeiro, dois em São Paulo e dois nos Estados Unidos6. A série marca a fase de reconhecimento
nacional e internacional de sua obra.
Sobre os Choros, Villa-Lobos escreveu o Estudo Técnico, Estético e Psicológico.
Fonte de enorme valor que utilizaremos para descrever cada obra. Segundo o autor:
Sendo os Choros construídos segundo uma forma técnica especial, baseada nas manifestações sonoras
dos hábitos e costumes dos nativos brasileiros, assim como, nas impressões psicológicas que trazem
certos tipos populares, extremamente marcantes e originais, foi o Choros N° 1 escrito propositadamente
como se fosse uma produção instintiva da ingênua imaginação desses tipos musicais populares, para
servir de simples ponto de partida e alargar-se proporcionalmente, mais tarde, na forma, na técnica, na
estrutura, na classe e nos casos psicológicos que encerram todos esses gêneros de música. O tema
principal, as harmonias e modulações, apesar de pura criação, são moldados em freqüências rítmicas e
fragmentos celulares melódicos dos cantores e tocadores populares de violão e piano, como Sátiro
Bilhar, Ernesto Nazareth e outros (VILLA-LOBOS, 1950).
O Choros nº 1 não mantém relação com a estética do restante dos Choros. É uma peça
genuinamente popular, dedicada ao instrumento que Villa-Lobos tocava junto aos chorões: o violão.
Obra que segundo Nóbrega: “[é] página modesta de pretensões (e de conteúdo irrelevante na sua
produção), mas auspiciosa como pórtico de um ciclo tão importante (NÓBREGA, 1974, p. 27).” “
(...) é o retrato de um situação. Realça a atmosfera cheia de saudade dos músicos populares do Rio de
Janeiro (CARVALHO, 1987, p. 61)”.
Em 1921 Villa-Lobos apresenta o segundo concerto com suas obras. Depois do
fracasso de público no evento anterior, este evento contou com a colaboração da Senhora Laurinda
Santos Lobo, integrante da alta sociedade carioca, cuja influência junto ao seu círculo social
proporcionou sucesso de público no concerto. A repercussão junto à imprensa foi positiva conforme
trecho da nota publicada pelo jornal O Paiz:
O Maestro Villa-Lobos deve estar contentíssimo. A sua festa ontem no São Pedro foi um
acontecimento, se não refinadamente artístico, pelo menos autenticamente mundano. Destacou-se (...) o
6
Não consta no Catálogo de suas obras a data e local da estréia do Choros nº 1.
33. 14
eixo da alta elegância carioca, (...) e, à frente dessa brilhantíssima assistência, sua exa., o presidente
Epitácio Pessoa. (...) A época é de nacionalismo...7
Na medida do crescimento de sua popularidade, Villa-Lobos passa a ser alvo da
imprensa carioca. O artigo de O Paiz mostra a oposição crítica sofrida por Villa-Lobos. A expressão
“não refinadamente artístico” inicia o embate entre a estética do “novo” compositor brasileiro e a
imprensa brasileira. A oposição pode ser confirmada pelo artigo de Oscar Guanabarino publicado no
Jornal do Commercio neste mesmo dia 14: “a música moderna não era para ele apenas um problema
de escolha estética, era um atentado à alma humana e até mesmo à própria natureza.8”
Em 21 de outubro deste ano, no Salão Nobre do Jornal do Commercio, Villa-Lobos
realizou mais uma apresentação de suas composições. Estreou A Fiandeira e “Historiettes”. “As
obras eram muito ousadas esteticamente e utilizavam intensamente elementos da estética de Debussy
(GUÉRIOS, 2003, p. 119).”
Segundo Guerios:
Em 20 de outubro de 1921, o trem-leito noturno de São Paulo para o Rio de Janeiro trouxe Mário e
Oswald de Andrade (...). Era o dia anterior ao concerto de Villa-Lobos. (...) é provável que o programa
(...) tenha agradado aos dois escritores. (...) Algum tempo depois, foi Graça Aranha quem veio ao Rio
convidar Villa-Lobos para participar da Semana de Arte Moderna de São Paulo (GUÉRIOS, 2003, p.
121).
Aceito o convite, Villa-Lobos se apresentou durante a mostra no Teatro Municipal de
São Paulo. Segundo Guerios: “Para representar a música erudita em um festival de arte com tal
objetivo, o nome de Villa-Lobos era a única opção existente (GUÉRIOS, 2003, p. 121).” O sucesso
crescente no Rio de Janeiro fez com que a fama do novo compositor carioca de vanguarda alcançasse
a cidade de São Paulo.
7
Jornal O Paiz publicado em 14/06/21.
8
Jornal do Commercio publicado em 14/06/21.
34. 15
A Semana de Arte Moderna de São Paulo foi importante para Villa-Lobos por
proporcionar a oportunidade de apresentar suas obras fora do Rio de Janeiro. Segundo Guerios: “(...)
Villa-Lobos foi convidado a apresentar suas obras em um concerto sinfônico patrocinado pela
Sociedade de Cultura Artística” (GUÉRIOS, 2003, p. 123), convite fruto de sua apresentação na
mostra de arte paulista.
No Rio de Janeiro, em 22 de julho, a Câmara dos Deputados aprovou o financiamento
de uma viagem à Europa para realização de concertos de divulgação da música brasileira. A partir
dessa viagem surge o Villa-Lobos compositor brasileiro. Em julho de 1923, Villa-Lobos chega à
França. Segundo Guerios:
Villa-Lobos saiu do Rio de Janeiro como um compositor de vanguarda. (...) Era um dos poucos a ousar
compor de acordo com as revolucionárias idéias de Debussy. Em Paris, porém, Debussy já não era mais
sinônimo de vanguarda (GUÉRIOS, 2003, p. 128).
Paris estava movimentada musicalmente. O sucesso de A Sagração da Primavera
transformou um jovem compositor russo, Igor Stravinsky, em uma celebridade. Para honrar o
compromisso da subvenção oficial à viagem, apresentou concertos em Lisboa e Bruxelas, além da
capital francesa onde apresentou o Noneto pouco antes de sua volta ao Brasil. Peppecorn
(PEPPECORN, 2000, p. 63) cita a “Revue Musicale” de julho de 1924 comentando a obra:
(...) a simples escolha dos instrumentos já mostra que a preocupação com o colorido dos tons tem um
papel importante na arte do compositor; é, na verdade, uma música de cores e também de ritmos. O
elemento melódico não é muito proeminente, e a maioria dos temas se reduz, na realidade, a fórmulas
rítmicas ou combinações e contrastes de sonoridades. Mas a diversidade métrica e a complexidade
dessas obras são extraordinárias (...). O talento e a criatividade de Villa-Lobos me parecem inegáveis;
ninguém pode amar esta arte mais ou menos. Independente do gosto e das idéias pessoais do crítico, é
impossível não se deixar impressionar e fascinar com esta força e exuberâncias fantásticas.
Tranchefort descreve a obra do compositor russo:
Deve-se o impacto auditivo produzido pela Sagração da Primavera a uma condensação sem precedentes
de todos os elementos da escrita musical. As harmonias ásperas resultam (...) de uma superposição de
movimentos melódicos, de acordes e tonalidades diferentes. As associações de timbres produzem
efeitos acústicos violentos (...). Quanto aos temas, a maioria possui um caráter popular bem
reconhecível; o folclore (...). (TRANCHEFORT, 1990, p. 832)
35. 16
Se ocultarmos o nome das obras e dos compositores, as transcrições descrevem
características comuns à obra de Villa-Lobos e Stravinsky. O comentário sobre o Noneto se confunde
com o comentário sobre a Sagração da Primavera. A viagem a Paris e, principalmente o contato com
o compositor russo redefiniu o compositor Villa-Lobos. Heitor confirma nossa hipótese: “era,
sobretudo do Stravinsky daquele tempo que as suas obras se aproximavam (...). Villa-Lobos antes de
embarcar para a Europa ignorava totalmente as partituras do autor de Petruschka ([AZEVEDO],
1956, p. 255).” Segundo Mariz: “(...) uma coisa o abalou bastante: o Sacre du Printemps, de
Stravinsky. Confessou-me ele, foi a maior emoção musical de sua vida (MARIZ, 2005b, p. 98).”
Se não encontrou o sucesso na Europa, Villa-Lobos encontrou-se como compositor na
visita à Paris. Segundo Guerios: “Até sua ida para a Europa, ele buscava demonstrar aos outros e a si
próprio que era um artista (GUÉRIOS, 2003, p. 141).” No Brasil ele buscava o reconhecimento
público, no entanto sua estética de vanguarda o transformava em um estranho em seu próprio país.
Até a partida para Paris Villa-Lobos era visto como uma promessa, um talento que precisava se
aperfeiçoar seguindo a trajetória de outros compositores brasileiros que foram à Europa.
O ano de 1924 foi dedicado a continuação dos Choros com a composição do Choros
nº 2 e do Choros nº 7. A partir da composição desses Choros na fase “pós-Paris”, Villa-Lobos
estabelece a série como a possibilidade de síntese da música brasileira. A transcrição do trecho da
palestra proferida por Villa-Lobos em 1958, em Paris, define a relação do compositor com sua
criação:
O que é uma sinfonia, em meu ponto de vista, no ponto de vista de todas as pessoas que escrevem
sinfonias? É uma música pela música. Música superior, música intelectual, não é música para ser
assobiada por todo mundo. Bem, quando há uma sinfonia, se alguém tenta empregar efeitos especiais,
de tipo exótico, folclore ou algo parecido, eu não acho correto chamá-la de sinfonia (...). Mas e os
Choros? Eu tenho a pretensão de crer que criei uma forma de fato especial quando estudei como eles
deveriam ser construídos. Então, para chegar a uma dimensão muito grande, eu comecei pelo princípio.
Isso quer dizer que comecei por algo que era a razão de ser dos Choros. O que eram esses choros? Esses
choros eram a música popular (GUÉRIOS, 2003, p. 142).
36. 17
O Choros nº 2, para flauta e clarinete e foi dedicado a Mário de Andrade. Segundo o
catálogo das obras de Villa-Lobos, foi composto no Rio de Janeiro. Estreado em São Paulo no dia 18
de fevereiro de 19259 e, em segunda apresentação, na Salle Gaveau, Paris, em 24 de outubro de 1927,
durante um concerto dedicado às obras do compositor.
Segundo Nóbrega:
(...) de um salto, passa o autor, no ciclo dos Choros, daquela ingênua peça popular para o pleno domínio
da grande música, na qual há todos os ingredientes da maestria consumada: arrojo de concepção,
economia de meios, condensação da linguagem, probidade e finura de acabamento (NÓBREGA, 1974,
p. 31).
O Choros nº 2 é a essência da música de câmara. “Souvenirs reminiscentes dos
aborígenes de Mato Grosso e Goiás (...) aí o ritmo está para o timbre como a flauta está para a
clarineta (CARVALHO, 1987, p. 62).” A combinação de flauta e clarineta – instrumentos típicos do
choro – é inédita na obra de Villa-Lobos. Apesar dos timbres brilhantes dos dois instrumentos, o
compositor utiliza a clarineta no registro médio e grave para proporcionar densidade à obra.
Destacam-se na obra as surpresas das funções harmônicas não completadas e os grandes saltos de
intervalo.
O próprio compositor descreve a obra:
(...) Os temas e os ritmos obstinados que aparecem nos compassos a cargo do clarinete em lá são
considerados como uma essência refinada do ritmo popular em embrião. Curioso observar-se as duplas
ligaduras. O Choros n° 2 é escrito pra flauta e clarinete no gênero de música de câmara (VILLA-
LOBOS, 1950).
Quanto ao Choros nº 7, com o subtítulo de “Settimino”, foi composto nesse mesmo
ano de 1924, para flauta, oboé, clarineta, sax-alto, fagote, violino, violoncelo e tam-tam. Foi dedicado
a Arnaldo Guinle e estreou em 17 de setembro de 192510. Segundo Villa-Lobos:
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Conforme catálogo “Villa-Lobos – Sua obra”, publicado pelo Museu Villa-Lobos, 3ª ed., 1989, p.45.
10
Conforme catálogo “Villa-Lobos – Sua obra”, publicado pelo Museu Villa-Lobos, 3ª ed., 1989, p.47.
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Neste número da série voltam à evidência os elementos que constituíram a principal finalidade da forma
estética e técnica do plano da estrutura arquitetônica dos Choros, que é a síntese das sínteses. Também
no gênero de música de câmara, está distribuído pelos seguintes instrumentos: flauta, oboé, clarinete,
saxofone alto em mib, fagote, violino e violoncelo. De sabor ameríndio é o tema que, de aspecto
primitivo, ameríndio, se vai transformando à maneira civilizada e preparando-se para um outro curto
tema de valsa lenta (VILLA-LOBOS, 1950).
Neves complementa a definição da obra:
(...) é sem dúvida, uma das sínteses mais bem realizadas por Villa-Lobos. O exame do material temático
nos permite ver o reduzido número de elementos de que dispôs o compositor e a análise da partitura
demonstra sua maestria no uso deste material temático (...) (NEVES, 1977, p. 52).
Após retornar da Europa, Villa-Lobos não se apresentou no Rio de Janeiro. Procurou a
cidade de São Paulo para suas primeiras apresentações evitando a indiferença e a hostilidade da
capital federal. Nos dois concertos realizados na capital paulista apresentou apenas composições
próprias. Na volta ao Rio de Janeiro, em seu concerto Villa-Lobos se apresentou em 22 de setembro
de 1925, no Salão do Instituto Nacional de Música.
O Choros nº 3, para coro masculino, clarineta, fagote, sax-alto, três trompas e
trombone foi composto em São Paulo com o subtítulo de “Picapau”. É a primeira experiência de
Villa-Lobos na utilização da voz para a reprodução de sons da natureza. Segundo Carvalho:
“(...) é um retrato do devaneio musical dos índios de Mato Grosso e Goiás, como o é o Choros nº 2 (...)
O coro recebeu, nesta obra, um tratamento muito especial para que os efeitos onomatopaicos desejados
pelo autor se fizessem com a mais flexível possibilidade (CARVALHO, 1987, p. 63).”
Estreou no Teatro Municipal de São Paulo, em 30 de novembro de 1925 e segunda
audição na “Salle Gaveau”, Paris, em 05 de dezembro de 1927. Esclarece o compositor:
Este Choros é consagrado ao ambiente sonoro da música primitiva dos aborígines dos Estados de Mato
Grosso e Goiás. O tema Nozani-ná é autêntico dos índios Parecis, recolhido pelo cientista brasileiro E.
Roquette Pinto [em 1911], tema este que se transformou para servir em forma de imitações a quatro
partes.O ambiente, a atmosfera rítmica e harmônica deste Choros, são formados de um material técnico
conscientemente processado, de elementos musicais estranhos absorvidos meticulosamente das curtas e
irregulares células rítmicas e melódicas oriundas, de um modo geral, das várias raças aborígines de todo
o Brasil. Os temas, como o que aparece no coro, a palavra Brasil se refere à árvore Pau-Brasil, que deu
o nome ao país. Papi-pau, Papi-pau Brasil são baseados nas características gerais da música dos negros
nascidos no Brasil e dos mamelucos do Brasil. A polifonia desses temas é amalgamada pelos três
aspectos: etnológico e sincrético, ameríndio e negro e mameluco, sem perder as linhas essenciais de
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uma estrutura lógica, quer quanto à forma, à técnica e à estética. (...) O texto do coro é formado, em
parte, do idioma dos índios Parecis e, em parte, de uma palavra em português insistentemente repetida e
várias sílabas sem nexo, de efeito onomatopaico. A parte que se refere aos índios representa uma canção
báquica, enquanto que a parte em português, com sílabas soltas, traduz a apologia do pássaro pica-pau
como um elemento estimulante à persistência da dança (VILLA-LOBOS, 1950).
O Choros nº 5 foi dedicado a Arnaldo Guinle, o financiador de sua segunda viagem à
Europa. Com o subtítulo de “Alma Brasileira”, é escrito para piano solo e foi estreado em Nova
Iorque no dia 16 de outubro de 1940 durante o Festival de Música Brasileira no Museu de Arte
Moderna.
Segundo Villa-Lobos:
O que há de mais interessante neste Choros são as cadências rítmicas e melódicas, irregulares, postas
em um compasso quadrado, dando uma disfarçada impressão de rubato, ou da execução melódica se
retardando, que é justamente a característica mais interessante dos seresteiros (piano vago e bem
distinto). Para este Choros N° 5 foi composta uma espécie de moldura sinfônica para enquadrá-lo,
quando for executada a série de todos os Choros em concertos (VILLA-LOBOS, 1950).
Nóbrega comenta:
(...) ocorre [no Choros nº 5] um exemplo marcante da transfiguração dos elementos melódicos
populares. Muito a propósito, o autor faz ouvir, simultaneamente, o implacável recorte rítmico do
acompanhamento e o canto livre e descontraído, dando uma disfarçada impressão de rubato ou da
expressão melódica se retardando, que é característica dos seresteiros (...) (NÓBREGA, 1974, p. 52).
Esta obra faz parte das grandes peças para piano solo, gravada por sessenta e seis
instrumentistas de todas as nacionalidades.
No ano de 1926, ano em que partiu novamente à Paris, Villa-Lobos continuou a
composição a série dos Choros com o Choros nº 4, o Choros nº 6 e Choros nº 10.
Villa-Lobos foi patrocinado pela família Guinle nesta segunda viagem à capital
francesa. Na bagagem levou os Choros e o projeto de “(...) conquistar espaço para sua nova música
brasileira (GUÉRIOS, 2003, p. 147).” Segundo Peppecorn, “Ele estava bastante consciente de que
era o colorido nacional que interessava aos parisienses (PEPPECORN, 2000, p. 90).” Seus novos
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objetivos exigiam uma nova postura como compositor. Guérios relata a mudança na atitude do
compositor:
Na entrevista para A Noite, publicada em novembro de 1922, afirmara que suas músicas eram
influenciadas por toda a herança clássica européia. No segundo artigo, escrito para O Paiz e publicado
no dia 9 de janeiro, diz o oposto: “É na formação das artes de um país a cega e imprescindível
necessidade de colher os principais motivos na sua própria natureza (...) (GUÉRIOS, 2003, p. 148).
O Choros nº 4, dedicado a Carlos Guinle e interpretado pela primeira vez em um
concerto dedicado às obras do compositor em 24 de outubro de 1927, na Salle Gaveau, Paris.
Segundo Carvalho, “O Choros nº 4 é um poder camerístico na representação das músicas e danças de
uma sociedade: exemplo típico de um Choro autêntico (CARVALHO, 1987, p. 66).” Segundo o
próprio compositor:
Este Choros, para três trompas e um trombone, no gênero de música de câmara, é voltado para a vida
musical popular e suburbana das grandes cidades, cujas melodias possuem um lirismo irônico,
baseado na forma tradicional das músicas populares de danças da sociedade, oriundas do estrangeiro.
É, talvez, o mais significativo dos Choros na sua forma e significação elevadas (VILLA-LOBOS,
1950).
No ano de 1927 o compositor dos Choros não acrescentou nenhuma obra á série. A
negociação com a editora francesa Max Eschig para publicação de suas obras, a revisão das mesmas
e o trabalho para captação de recursos para a realização dos concertos na capital francesa exigiram
tempo e dedicação de Villa-Lobos.
Enquanto em Paris Villa-Lobos contava a história de sua captura por índios
antropofágicos, seduzindo o publico francês e dando significação à sua obra, no Brasil tais histórias
causavam indignação. Guérios transcreve as críticas dos franceses: “(...) inspirara-se na estranha
polifonia do colorido tonal dos índios (...) instrumentos nativos representam um papel importante na
parte da percussão (...) (GUÉRIOS, 2003, p. 91)”; e dos brasileiros: “Lá temos nós Villa-Lobos, que
nos faz parecer ridículos em Paris. Ele faz de conta que xilofones, chocalhos e outros instrumentos
usados apenas no carnaval são instrumentos de nativos (GUÉRIOS, 2003, p. 92).”