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ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 -


               O SIMBÓLICO-RELIGIOSO N’O PRECIPÍCIO:
    UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA SOBRE UMA DAS SETE NARRATIVAS
           D’O CARRO DOS MILAGRES, DE BENEDICTO MONTEIRO                                             219


                                                                       Marcel Franco da Silva1

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar as análises hermenêuticas sobre os elementos
simbólico-religiosos presentes no conto O Precipício, do livro O Carro dos Milagres,
do escritor paraense Benedicto Wilfred Monteiro (1924-2008). Em outras palavras, esse
estudo busca compreender e tornar compreensível as representações simbólicas e
religiosas sobre a figura paterna (Pai de Miguel), sobre o animal-personagem (o
Precipício), sobre o elemento aquático (o molhado) e sobre o desfecho do conto (Miguel
versus Precipício), o qual remonta à batalha do Juízo Final, presente no livro do
Apocalipse (Novo Testamento). As observações desse trabalho não contribuem somente
para um estudo entre literatura e religião, mas também permitem uma
interdiscursividade com outras áreas da ciência humanas (Antropologia, História etc.).

Palavras-chave: Simbolismo religioso, Hermenêutica, Religião, Literatura Amazônica,
Benedicto Monteiro.

              THE RELIGIOUS-SYMBOLIC IN O PRECIPÍCIO:
    A HERMENEUTICAL APPROACH OVER ONE OF THE SEVEN NARRATIVES
          OF O CARRO DOS MILAGRES, BY BENEDICTO MONTEIRO

Abstract

This paper has the purpose to present the hermeneutical analysis over the symbolic-
religious elements present in the tale O Precipício, from the book O Carro dos
Milagres, written by author Benedicto Wilfred Monteiro born in Pará (1924-2008). In
other words, this study aims to understand and make it understandable the symbolic and
religious representations over the fatherly figure (Miguel’s father), the animal-character
(Precipício), the water element (the wet) and the unfolding of the tale (Miguel versus
Precipício), which recreates the battle of the Final Judgment, present in the book of the
Apocalypse (New Testament). The observations of this study do not only contribute to
the studies of literature and religion, but also allow an interdiscursivity among other
fields of study of the human sciences (Anthropology, History etc.)

1
  Licenciado pleno em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), e
mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da referida IES. Belém/Pará/BRA. E-
mail: marcelpa@hotmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8431607475587023.
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Key-words: Religious symbolism, Hermeneutics, Religion, Amazon literature,
Benedicto Monteiro.                                                                          220




Considerações Iniciais

           Retomar a leitura de um texto literário é reencontrar-se com o fantástico e
maravilhoso que não se esgota, que apresenta sempre novos sentidos para a nossa vida.
Reler uma história é voltar a um passeio fascinante num bosque repleto de belezas e
detalhes, que atravessa o tempo, reatualiza-se e revela tantas minúcias, que mal
chegamos a conhecê-las completamente. Assim é o caminho da leitura literária, um
percurso que principia mas nunca termina, que nos deixa uma voz que não quer calar,
uma curiosidade de querer saber mais e mais.
           Tal exercício de releitura foi empreendido sobre o conto O Precipício, do livro
O Carro dos Milagres, do escritor paraense Benedicto Monteiro (1924-2008). A saber,
a narrativa em destaque foi analisada anteriormente no Trabalho de Conclusão de Curso
do elaborador desta pesquisa2, tendo como principal aporte teórico os postulados da
teoria dialógica do discurso de Mikhail Bakhtin 3 (1895-1975). Entretanto, este artigo
deseja continuar a investigação sobre O Precipício, visando verificar e compreender os
elementos simbólico-religiosos constantes nessa obra literária de expressão amazônica.
Além disso, é válido destacar que o presente estudo é uma proposta dialógica entre
literatura e religião, haja vista que ambas se confundem, “nos puxam para o
insondável”, para o transcendente; procuram reproduzir valores, recriar e conferir
significados ao mundo, com vistas a passagem do velho ao novo. (MAGALHÃES,
2009, p. 217).
           O conto em questão é uma narrativa memorial do personagem Miguel dos
Santos Prazeres, que é o protagonista da maioria das obras de Benedicto Monteiro.

2
    Disponível em: http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2699389.pdf .
3
    Cf. Estética da criação verbal. (BAKHTIN, 2006).
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Trata-se, pois, da história e experiência de dois vaqueiros que, corriqueiramente, se
ocupam em ordenhar o gado. Mas, num certo dia, rompe-se a banalidade cotidiana
                                                                                           221
quando, numa vaquejada, o Pai de Miguel cai do cavalo e é arrastado no campo pelo
animal, que o esquarteja e o leva a morte. Nesse momento se instala um clima tenso e
Miguel começa a elaborar um plano de vingança contra o assassino, ao mesmo tempo
em que recobra as lembranças e memórias do pai morto. A narrativa chega ao clímax no
instante em que Miguel conduz o cavalo Precipício para um campo incendiado, para que
o animal morresse queimado e pagasse pela morte do velho vaqueiro.
       Mais adiante, encontram-se análises hermenêuticas sobre os sujeitos-
personagens do conto relatado acima: o Pai de Miguel, o jovem Miguel e o cavalo
Precipício. Notar-se-á, também, o valor simbólico-religioso da figura paterna, do cavalo
Precipício, das águas paradas (o molhado) e, por fim, observar-se-á a analogia da
batalha Miguel versus Precipício com o episódio apocalíptico do Juízo Final (Jesus
versus Satanás), presente no Novo Testamento. A interpretação desses elementos
mostrará de que forma os valores da cristandade estão interligados com outros valores
sociais e com valores de outras religiões, permitindo, assim, uma interdiscursividade da
teologia com outras culturas e saberes. (MAGALHÃES, 2009, p. 220).


1. A sacralização da figura paterna




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                       Ilustração 01: Pai de Miguel dos Santos Prazeres
                                    (Arte: Juarez Odilon)
       O Precipício se desenvolve a partir do relato memorial de Miguel dos Santos
Prazeres, personagem-narrador que, no período da infância à adolescência,
compartilhou das ideias e das experiências cotidianas do seu Pai, que é uma figura
notadamente importante para a formação e amadurecimento do jovem vaqueiro.
Entretanto, o que carece ser observada nessa relação familiar entre pai e filho é a
dimensão transcendental que Miguel atribui ao seu genitor, a qual será entendida como
uma experiência religiosa do filho com o pai.
       O comportamento de Miguel diante do seu Pai está muito longe de ser definido
como um diálogo aberto informal, no qual se possam efetuar trocas de ideias, expor
mutuamente pensamentos e opiniões. O que existe entre Miguel e seu Pai é um trato
quase sem palavras, uma política do silenciamento (ORLANDI, 2007) e,
principalmente, uma relação de extrema obediência do filho para com o pai.
       Miguel se revela, então, como um fiel cumpridor do primeiro mandamento
bíblico do Antigo Testamento — “Honra teu pai (...), a fim de que tenhas vida longa na
terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.” (ÊXODO 20:12) — seguindo, religiosamente, as
ordens e preceitos estabelecidos pelo seu Pai. Na verdade, o que se verifica na
mentalidade do personagem Miguel é uma deificação da figura paterna, ou seja, “um
mito metafórico (...) do pai glorificado, de um deus, de um ser sagrado, que rege a vida
do personagem-narrador.” (SILVA, 2010, p. 35).
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        A vivência de Miguel com seu Pai, certamente, pode ser interpretada como uma
experiência como o sagrado, ou melhor, uma experiência religiosa de Miguel com o seu
                                                                                                            223
Pai: uma ação que “relaciona a realidade humana com o transcendente” (CROATTO,
2010, p. 41). Miguel hierofaniza 4 a figura paterna e seu Pai pode ser entendido como
manifestação do sagrado, do mesmo modo que Riobaldo, do romance Grande Sertão:
Veredas (Guimarães Rosa), hierofaniza as personagens com as quais relaciona:


                           Para Riobaldo, representante do homem hierofânico, o espaço em que
                           transita e habita, o tempo que revisita, o contato com a natureza, em
                           estado de epifania, que o cerca e transforma, bem como os outros
                           personagens com quem interage, revelam-se como manifestações do
                           sagrado. (GUIMARÃES, 2011). [grifos meus].


        Revestido de sacralidade, o Pai de Miguel “gera efeitos aparentemente opostos
de atração e temor” (CROATTO, 2010, p. 70). Assim, o Pai, personagem misterioso,
vem a ser enquadrado nos dois aspectos da apreensão do sagrado, propostos por Rudolf
Otto5: mysterium fascinans e tremendum. Miguel observava o seu Pai, olhava “a figura
esticada na sela, (...) o silêncio dele” (MONTEIRO, 1980, p. 51), o jovem sente-se
atraído por este ser misterioso que, “como mysterium fascinans, produz atração, e sua
fruição é beatífica.” (CROATTO, 2010, p. 70).
        Mas Miguel sabia bem dos limites da sua relação como o Pai, que vaquejava
sempre na frente: “Ele na frente e eu atrás” (MONTEIRO, 1980, p. 51). Essa postura do
Pai remete ao mysterium tremendum, ao “temor reverencial que obriga manter a



4
  A palavra hierofaniza é derivada do termo hierofania, cunhado por Mircea Eliade em seu livro Tratado
de História das Religiões (2010). Para o autor existe a uma consciência fundamentada da existência do
sagrado, quando se manifesta através dos objetos habituais de nosso cosmo como algo completamente
oposto do mundo profano. Em termos explicativos, Eliade afirma que “a pedra sagrada, a árvore sagrada
não são adoradas com pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’
algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere.” (ELIADE, 1992. p. 13)
5
  Na obra O Sagrado, Rudolf Otto analisa a experiência religiosa, revelando um aspecto do poder divino,
“desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder;
encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser”.
(OTTO, 1985).
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distância” (CROATTO, 2010, p. 70) e Miguel jamais se atrevia a romper essa enorme
majestade. (MONTEIRO, 1980, p. 51).
                                                                                            224
       Ainda sobre o aspecto do mysterium tremendum do genitor, não se pode olvidar
o discurso do silêncio, pois o Pai de Miguel “era quase inimigo do falar” (IDEM). O
silêncio, esse tabu vindo dos costumes, da crença, da tradição antiga e hereditária,
corrobora ainda mais para a sacralização da figura paterna, tendo em vista que o silêncio
está associado ao Totalmente Outro, ao Ser Supremo.
       Além disso, cabe reiterar que na tessitura do conto O Precipício observa-se duas
formas específicas de silêncio, tendo como referente o Pai de Miguel: o silêncio de
Deus e o silêncio diante de Deus (KOVADLOFT, 2003 apud HERNANDEZ, 2004, p.
141). Desse modo, o reconhecimento do silêncio do pai de Miguel, desse discurso
religioso, é o reconhecimento do “lugar da onipotência divina” (ORLANDI, 2007, p.
30), no qual se verifica a realização do transcendente.
       O mito metafórico constituído no conto, sem dúvida, é o do pai glorificado, de
um deus, de um ser sagrado, que rege a vida do personagem-narrador. No entanto, para
que isso fosse estabelecido, o pai de Miguel teve que vir a falecer, uma vez que a morte
representa a elevação do pai à condição de um deus (FREUD, 1974, p. 177). Assim, é
imprescindível dizer que o mito do pai (divinização) está fundamentado na memória do
personagem-narrador, é ela que a ela dá conta do acabamento axiológico do “novo
varão” (que assume o posto simbólico do pai morto) e garante “a persistência de uma
saudade não apaziguada do pai” (IDEM, p. 178).


2. O cavalo demoníaco




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               Ilustração 02: Pai de Miguel sendo arrastado pelo Cavalo Precipício
                                      (Arte: Juarez Odilon)


       Em oposição à figura paterna do conto                     monteiriano, observa-se o
comportamento do cavalo Precipício que desempenha o papel de antagonista da obra e é
o representativo da força maléfica que age contra o Pai sacralizado. O Precipício é
cavalo usado para a ordenha do gado e escolhido pelo Pai para que este pudesse encilhar
o animal que era por demais rebelde. Além disso, é importante notar que o Precipício é
descrito pelo narrador de forma negativa, como um cavalo preto, um garanhão
irrefreável, desobediente, endiabrado e assassino.
       Outro aspecto que aumenta as características malignas do animal pode ser
observado a partir da interpretação do nome que lhe foi dado: Precipício. Do termo
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precipício advém a ideia de profundeza, abismo, despenhadeiro, e, figurativamente,
representa a ruína, a perdição, a desgraça; fora isso, pode-se interpretar o precipício, na
                                                                                                        226
visão escatológica, como o lugar em que Satanás é lançado e aprisionado por mil anos.
(APOCALIPSE 20:1-3).
        No estudo sistemático dos demônios, Demonologia, o demônio Cimeries é
apresentado como um guerreiro que cavalga sobre um cavalo preto e rege o continente
africano:


                          Cimeries, who rides a black horse and rules all the spirits of Africa,
                          probably takes his name from the Cimmerians, a people mentioned by
                          Homer who lived in mists and darkness in the farthest West.
                          (CAVENDISH, 1983, p. 251).


Nesse fragmento, o “black horse” é usado a serviço de Cimeries, logo o animal obedece
ao seu dono. Numa relação de sentido, Precipício poderia ser comparado ao cavalo de
Cimeries e, se assim fosse, seria incoerente que o Precipício viesse a servir o Pai de
Miguel, que é compreendido pelo filho como um Ser Sagrado, benéfico (conforme foi
observado no capítulo anterior).
        O jovem vaqueiro se detém olhando a impetuosidade do cavalo que corre pelo
pasto, arrastando e esquartejando o corpo do Pai pelo chão e, nesse momento lancinante,
Miguel viu e registrou o voo do animal no “campo varja”: “o desgraçado saltava
relinchando e jogando as patas dianteiras querendo até trepar no ar. (...). Precipício
voava.” (MONTEIRO, 1980, p. 54-56). Ora, foi dito anteriormente as caracterizações
demoníacas de Precipício e agora se compreende que o cavalo diabólico tem a
capacidade de voar, da mesma forma que certos demônios voadores, como, por
exemplo, o demônio Pazuzu6, o rei dos ventos, filho do deus Hanbi, na mitologia
suméria.


6
 O demônio Pazuzu tornou-se mundialmente conhecido a partir do filme americano O Exorcista, lançado
1973, dirigido por William Friedkin e roteirizado por William Peter Blatty, baseado em livro homônimo
de sua autoria.
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        “Precipício voava” parecendo-se, assim, com o Cavalum, uma figura mítica do
imaginário português, proveniente da cidade de Machico, na Ilha da Madeira. De acordo
                                                                                                        227
com a lenda, o Cavalum tinha a forma de cavalo, asas de morcego e soltava fogo pelas
narinas. Afirmavam que este ser mitológico era um diabo em forma de cavalo.
(FRAZÃO, 2004, p. 266-268). É interessante notar que o cavalo Precipício reatualiza
certos mitos, como o do Cavalum, permitindo ao leitor uma análise mais ampla sobre os
personagens-animais que desempenham ações maléficas em determinado conjunto
literário7.


3. A crença no molhado


        No desenrolar da narrativa, Miguel, personagem-narrador, quebra a linearidade
do enredo e retoma a mentalidade do seu Pai para contar sobre a crença e visão
negativista do velho em relação à água parada, ao molhado:


                          “Meu pai passou a vida toda reclamando só contra o molhado. Não,
                          não era contra a água, a chuva, a correnteza, o lago, o rio e o longe
                          mar. Não, não podia ser contra o mar que era de outras redondezas.
                          Não senhor, era apenas contra o molhado.” (MONTEIRO, 1980, p.
                          56).

        Na concepção do pai, o molhado era associado às “coisas tristes da vida”
(IDEM), à má sorte, à morte. Importa dizer que Miguel assimila essa doutrina paterna
sobre a água que mata e acrescenta ao molhado o sentido de inferno:



O filme trata sobre a possessão demoníaca de uma criança de 12 anos pelo demônio Pazuzu. O livro de
Blatty foi inspirado num exorcismo de um garoto de 14 anos, documentado em 1949. (BLATTY, 1972).
7
   “O cavalo desempenhava um papel central nas antigas crenças demoníacas. Os anais de bruxaria
mostram que os parentes das bruxas, ou elas próprias, podiam metamorfosear-se em potros diabólicos,
que muitas vezes serviam como veloz de montaria de demônios e lâmias. Acreditava-se que as bruxas
tinham o poder de transformar os seres humanos em cavalos atirando um cabresto mágico sobre a cabeça
da vítima adormecida. Esses cavalos enfeitiçados seriam usados como montaria no sabá das feiticeiras.
Bruxas e demônios gostavam de embaraçar a crina desses animais e cavalgar noite adentro.” (RAMOS et
al, 2005, p. 84).
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                           Mas ali na varja, era mesmo que entregar o corpo de meu pai ao
                           inferno do molhado. As águas quando chegavam, invadiam tudo,
                           cobriam tudo, molhavam tudo. Só mesmo se arranjasse uma sepultura               228
                           num galho de pau. (IDEM, p. 58).


        É obvio que a crença no molhado é uma crença popular que se refere à saúde,
pois, segundo o Pai de Miguel, o molhado causava reumatismo, impaludismo (malária),
além de outras doenças que podem ser subentendidas na narrativa de Miguel. A crença
de que é preciso evitar o molhado faz parte de um conjunto de crendices nativas que
pulula no universo mental do caboclo amazônico e que o molhado, assim como o fogo,
pode ser compreendido como um elemento material associado a um tipo de devaneio
que governa as crenças e a filosofia de toda uma vida. (BACHELARD, 1997, p. 5). Para
Bachelard, “as águas imóveis evocam os mortos porque as águas mortas são águas
dormentes” (IDEM, p. 67)8, o que demonstra, então, mais um motivo para aversão as
águas paradas no imaginário de Miguel e de seu Pai.
        A água parada remonta aos antecedentes judaicos sobre o batismo, pois, no
Antigo Testamento, mais precisamente, no livro dos Números (19: 17-22), encontra-se a
assertiva de que, na cultura judaica, água parada não podia ser hierofanizada (manifestar
o sagrado) e “o judeu não entrava em água parada, porque água parada era sinal de
impureza e morte.” (PARANDELA, 2007). Então, desde os tempos mais primórdios e
muito antes do advento das ciências, a água parada, o molhado (no dizer do caboclo
Miguel) sempre foi causador de problemas à saúde do homem e significado maléfico no
ritual de certas religiões, como o judaísmo.
        Na obra A História, o Drama e Graça da Água (1929), do escritor, político,
historiador e jornalista português Alberto Souto (1888-1961), é feita uma abordagem
crítica e histórica sobre a água, evidenciando uma relação discursiva de Souto com o
pensamento do Pai de Miguel, uma vez que ambos têm em comum a noção de que a


8
  A água é vida, mas também é morte, estabelece-se, pois, nesse caráter ambivalente. “Se pensarmos (...)
nas águas paradas e mal iluminadas em geral, elas sugerem a imagem de sepulcros, de noite eterna, de
ausência de vida” (BRUNI, 1993, p. 62).
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água parada, o molhado, remete sempre ao sentimento de tristeza, às “coisas tristes da
vida”:
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                           A Água parada, a Água morta, a Água encarcerada, causa-me sempre
                           tristeza e compaixão, ou mágoa ou dor.
                           (...)
                           A Água dos canais precisa de movimento, maré ou corrente, agitação
                           da brisa ou impulso do remo, ondulação, barcos, velas para expulsar a
                           tristeza que nos causa sempre ver essa Água, silenciosa, inerte, turva e
                           melancólica, ao contrário da Água que flui e canta ou sussurra ou
                           ruge, seja mar revolto, rio caudaloso, torrente ou regato, jogo de água
                           ou fonte obscura. (SOUTO, 1930).


         Assim, fica claro que existe na mentalidade dos personagens do conto O
Precipício (com exceção do cavalo Precipício, o qual é personificado na obra), a
constituição de um saber empírico sobre as águas, principalmente sobre o molhado,
sobre as águas estanques, onde habitam os espíritos maus, denominados “uutedewa”,
segundo os povos indígenas da tribo Xavante, do Estado do Mato Grosso9.


4. A batalha apocalíptica entre Miguel e Precipício


                           Ninguém pode manter-se alheio ao combate entre o poder divino e o
                           poder demoníaco (...). O homem que (...) mata um animal perigoso,
                           cumpre um dever religioso; prepara e assegura a vitória final do poder
                           do bem, do “senhor sábio”, sobre o seu demoníaco adversário.
                           (CASSIRER, 1972, p. 163).


         O conto O Precipício atinge seu ápice no momento em que Miguel deseja
vingar-se pela morte do Pai e sai em busca do assassino, o cavalo Precipício, para
aplicar-lhe uma lição. É exatamente nesse curso dos fatos que se percebe uma
aproximação da saga de Miguel com batalha entre anjos e demônios no livro do

9
  Segundo Giaccaria (1972, p. 96-107 apud GOMIDE; KAWAKUBO, 2006, p 33) “os Xavante
distinguem a ‘água viva’, ou seja, a água corrente da água ‘morta’ ou água parada. A ‘água viva’ dos
grandes rios, assim como a ‘água morta’ dos grandes lagos, é povoada por espíritos. Nos rios habitam os
espíritos bons, os ötedewa, e nos lagos os maus, denominados uutedewa.”.
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Apocalipse (Novo Testamento), até o ambiente, no final da narrativa, parece revestido
de uma aura pesada, mostrando que algo trágico estaria por vir, conforme se observa no
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seguinte excerto do conto:


                       Alguém tinha ateado fogo na restinga do Catauari. Na certa algum
                       vaqueiro descuidado ou algum procurador de ovos de tracajá.
                       Incendiavam o campo pra achar ovos, pra pegar bandos de marrecas e
                       as vezes só mesmo por malvadeza de incendiar. Com uma ponta de
                       cigarro num capim seco e numa noite quente, o fogo se alastra. As
                       labaredas nasciam do barro por puro encante. Pensei até que estavam
                       queimando a terra pra sepultura do meu pai. Mas quem ia queimar a
                       terra, que ia queimar a terra? Não se podia saber naquela hora porque
                       o Precipício não parava. Meus braços e pés também não paravam. As
                       esporas na barriga já sangravam e o Precipício voava. Eu lambava o
                       Precipício e as labaredas aumentavam. Com-pouco estávamos num
                       cerco de fogo que vinha não sei de que lugar. O campo clareava. O
                       campo clareava mais e mais. Corre, cavalo filho da puta. Não tinha
                       jogado na terra o corpo do meu pai? Queimar a cara até as crinas, será
                       que bastava? Precisava entrar no inferno com as quatro patas
                       incendiadas. (...). (MONTEIRO, 1980, p. 60). [grifos meus]


       Depois da trágica morte do Pai, Miguel diz que “propositadamente o sol tinha se
escondido” (IDEM, p. 54), o que faz lembrar o momento apocalíptico da abertura do
sexto selo, no qual ocorre um grande tremor na Terra, o sol fica negro como um saco de
cilício e a lua é manchada de sangue, porque é chegada o grande dia da ira do Cordeiro
de Deus contra o inimigo do Reino dos Céus (APOCALÍPSE, 6:12-17).
       Em termos comparativos, nota-se que Miguel representa a figura do juiz Jesus
Cristo que se levanta contra Lúcifer, representado pelo cavalo Precipício, contra aquele
que foi lançado no abismo por mil anos e que agora está solto pelos campos, mas que
logo receberá o castigo eterno e será lançado num lago de fogo e enxofre. (IDEM, 20:1-
15).
       E assim, em analogia ao fim de Satanás no livro do Apocalipse (relatado no
parágrafo anterior), Miguel persegue o cavalo endiabrado e o conduz até a restinga do
Catauari, a qual havia sido misteriosamente incendiada por alguém, e ali, no meio do
campo em brasa, ele trucida e mata o Precipício, para fazer o “cavalo assassino pedir
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perdão de joelho” pela morte do Pai (MONTEIRO, 1980, p. 60). Poderia, dizer, então,
que o desfecho da história é semelhante à vitória do Cordeiro de Deus, na concepção
                                                                                                231
cristã, que tira o pecado do mundo, que coloca o bem acima de toda iniquidade.
       Mas também é oportuno dizer sobre a analogia entre o personagem Miguel dos
Santos Prazeres, e o São Miguel Arcanjo, muito além da relação homônima que ambos
possuem. No Testamento Bíblico, Miguel lidera os exércitos de Deus contra as forças
malignas de Satanás. Durante a batalha apocalíptica celeste, Miguel derrota Satã:


                       Houve no céu uma guerra, pelejando Miguel e seus anjos contra o
                       dragão. O dragão e seus anjos pelejaram, e não prevaleceram; nem o
                       seu lugar se achou mais no céu. Foi precipitado o grande dragão, a
                       antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana
                       todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e precipitados com ele os
                       seus anjos. (APOCALIPSE 12:7-9).


       Tanto o Arcanjo quanto o personagem-narrador batalham contra um agente
inimigo (o cavalo Precipício = Dragão), sobrepondo o bem sobre o mal, arrebatando o
diabo sobre a Terra: “eu tive que fazer aquele puto daquele cavalo assassino pedir
perdão de joelho no campo incendiado” (MONTEIRO, 1980, p. 60).
       Num ponto de vista teológico, é claro que há semelhanças entre as características
da missão de Jesus com as de São Miguel, que este pode ser identificado como Cristo e
não um simples anjo. E, em última análise, é possível dizer que Miguel dos Santos
Prazeres, Jesus Cristo e o Arcanjo Miguel protagonizam a histórica batalha cósmica
(bem versus mal; Deus versus Lúcifer) que se originou no Céu, e que se estende ao
longo da história humana, conforme atesta o livro do Apocalipse (12; 20).


Algumas Considerações


       Sem dúvida, a estrutura narratológica do conto O Precipício apresenta um cunho
religioso manifestado pelos sujeitos-personagens, pelos elementos espaciais (como o
molhado). E sobre esses elementos espaciais da obra, ou melhor, sobre esses símbolos
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polissêmicos ressalta-se a linguagem poético-religiosa, reveladora da experiência do
homem com o transcendente.
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       Observe-se, por exemplo, a função do fogo no conto, que não serve apenas como
um elemento que ajuda Miguel a consumar sua vingança contra o Precipício, mas pode
ser entendido como símbolo da destruição, da purificação, do sacrifício, partindo do
pressuposto de que se trata de “fenômenos que têm seu correlato na experiência
religiosa, seja em relação com mal (destruição), seja com a mácula (purificação), com a
vítima ritual pelo pecado (sacrifício).” (CROATTO, 2010, p. 102-103).
       Além disso, nota-se no conjunto da obra a tríade dos símbolos representativos do
mal, como o fogo, o molhado (a água parada) e as trevas. Estes símbolos estão
imbricados entre si numa relação semântica, com características semelhantes: o fogo é a
simbologia do “inferno” (cristianismo, islamismo); o molhado apresenta o caráter
destrutivo, relacionado com a morte, a tristeza, a impureza (judaísmo), morada dos
espíritos maus (cultura indígena); e as trevas, que aparecem como plano de fundo após a
morte do Pai de Miguel, significam a ausência de luz, a presença do mal, o submundo
de Hades (mitologia grega), a ambientação para a manifestação das forças malignas.
       Ainda sobre as representações simbólico-religiosas da narrativa monteira,
queira-se mencionar a presença um símbolo de devoção religiosa da família de Miguel,
o quadro de São Sebastião: “A lamparina da cozinha estava acesa. E tinha uma vela
alumiando o corpo e o quadro de São Sebastião.” (MONTEIRO, 1980, p. 59). Numa
tentativa hermenêutica de buscar compreender o porquê dessa devoção a esse santo
católico, primeiramente notou-se que “o personagem Miguel é uma figura
representativa daqueles que nasceram na região de Alenquer/PA (MEGALE, 2008 apud
SILVA, 2010, p. 20) e depois, atestou-se que São Sebastião é, depois de Santo Antônio
(padroeiro do município de Alenquer/PA), o santo de maior devoção do povo
alenquerense, é o padroeiro do bairro do Aningal e é celebrado, anualmente, na segunda
maior festa católica do povo ximango, o Círio de São Sebastião. (MONTEIRO, 2011).
Assim, não é sem propósito que o quadro de São Sebastião está presente no conto, pois

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fica confirmada não só a devoção deste santo pela família, mas devoção do povo da
cidade de Alenquer/PA, a qual é representada pelo personagem-narrador d’O
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Precipício.
       Assim como na religião, o transcendente é suscetível de se manifestar na
literatura, e se a narrativa for compreendida sob a ótica dessas áreas do conhecimento
humano, torna-se possível o diálogo com outras áreas das Ciências (como história,
antropologia, sociologia etc.), possibilitando um estudo mais profundo sobre o texto
literário, sobre as experiências humanas e sobre a mentalidade do homo religiosus, uma
vez que a “fé (...) sabe que sua história é sempre encarada como revelação por meio das
memórias preservadas em narrativas” (CROATTO, 2010, p. 211) como a de Benedicto
Monteiro, que contém lições, memórias e experiências de natureza fantástico-religiosa,
as quais poderão ser transmitidas às gerações futuras, com vistas a uma melhor
compreensão da nossa existência no mundo.




Referências Bibliográficas


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São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

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                                   Revista Litteris
                               www.revistaliteris.com.br
                                  ISSN: 19837429
                                  Março de 2013
                                        N.11
ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 -


MONTEIRO, Benedicto. O carro dos milagres. 5. ed. Rio de Janeiro: PLG-
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MONTEIRO, Fábio. Círio de São Sebastião 2011. Portal Alenquer Pará.
Entretenimento.        Notícia.        11/01/2011.        Disponível        em:
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ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas de silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed.
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OTTO, Rudolf. O Sagrado: um estudo do elemento não-racional na ideia do divino e a
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PARANDELA, Clóvis de Oliveira. O batismo cristão. Portal da Igreja Metodista de
Vila Isabel. Artigos. Colunas. Rio de Janeiro. 10/3/2007. Disponível em:
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RAMOS, Denise Gimenez et. al. Os animais e a psique, volume 1: baleia, carneiro,
cavalo, elefante, lobo, onça, urso. 2. ed. São Paulo: Summus, 2005.
SILVA, Marcel Franco da. O Precipício: um tecido de muitas vozes. Trabalho de
conclusão de curso (Licenciatura Plena em Letras – Língua Portuguesa) – Universidade
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<http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2699389.pdf>. Acesso em: 4 mai 2011.

SOUTO, Alberto. A história, o drama e a graça da água: conferência. Aveiro: Pereira
&             Guimarães,                1930.              Disponível          em:
<http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim03/page73.htm>.  Acesso
em: 7 mai 2011. [excertos da conferência].




                                  Revista Litteris
                              www.revistaliteris.com.br
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                                 Março de 2013
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  • 1. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - O SIMBÓLICO-RELIGIOSO N’O PRECIPÍCIO: UMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA SOBRE UMA DAS SETE NARRATIVAS D’O CARRO DOS MILAGRES, DE BENEDICTO MONTEIRO 219 Marcel Franco da Silva1 Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar as análises hermenêuticas sobre os elementos simbólico-religiosos presentes no conto O Precipício, do livro O Carro dos Milagres, do escritor paraense Benedicto Wilfred Monteiro (1924-2008). Em outras palavras, esse estudo busca compreender e tornar compreensível as representações simbólicas e religiosas sobre a figura paterna (Pai de Miguel), sobre o animal-personagem (o Precipício), sobre o elemento aquático (o molhado) e sobre o desfecho do conto (Miguel versus Precipício), o qual remonta à batalha do Juízo Final, presente no livro do Apocalipse (Novo Testamento). As observações desse trabalho não contribuem somente para um estudo entre literatura e religião, mas também permitem uma interdiscursividade com outras áreas da ciência humanas (Antropologia, História etc.). Palavras-chave: Simbolismo religioso, Hermenêutica, Religião, Literatura Amazônica, Benedicto Monteiro. THE RELIGIOUS-SYMBOLIC IN O PRECIPÍCIO: A HERMENEUTICAL APPROACH OVER ONE OF THE SEVEN NARRATIVES OF O CARRO DOS MILAGRES, BY BENEDICTO MONTEIRO Abstract This paper has the purpose to present the hermeneutical analysis over the symbolic- religious elements present in the tale O Precipício, from the book O Carro dos Milagres, written by author Benedicto Wilfred Monteiro born in Pará (1924-2008). In other words, this study aims to understand and make it understandable the symbolic and religious representations over the fatherly figure (Miguel’s father), the animal-character (Precipício), the water element (the wet) and the unfolding of the tale (Miguel versus Precipício), which recreates the battle of the Final Judgment, present in the book of the Apocalypse (New Testament). The observations of this study do not only contribute to the studies of literature and religion, but also allow an interdiscursivity among other fields of study of the human sciences (Anthropology, History etc.) 1 Licenciado pleno em Letras - Língua Portuguesa, pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da referida IES. Belém/Pará/BRA. E- mail: marcelpa@hotmail.com. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8431607475587023. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 2. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Key-words: Religious symbolism, Hermeneutics, Religion, Amazon literature, Benedicto Monteiro. 220 Considerações Iniciais Retomar a leitura de um texto literário é reencontrar-se com o fantástico e maravilhoso que não se esgota, que apresenta sempre novos sentidos para a nossa vida. Reler uma história é voltar a um passeio fascinante num bosque repleto de belezas e detalhes, que atravessa o tempo, reatualiza-se e revela tantas minúcias, que mal chegamos a conhecê-las completamente. Assim é o caminho da leitura literária, um percurso que principia mas nunca termina, que nos deixa uma voz que não quer calar, uma curiosidade de querer saber mais e mais. Tal exercício de releitura foi empreendido sobre o conto O Precipício, do livro O Carro dos Milagres, do escritor paraense Benedicto Monteiro (1924-2008). A saber, a narrativa em destaque foi analisada anteriormente no Trabalho de Conclusão de Curso do elaborador desta pesquisa2, tendo como principal aporte teórico os postulados da teoria dialógica do discurso de Mikhail Bakhtin 3 (1895-1975). Entretanto, este artigo deseja continuar a investigação sobre O Precipício, visando verificar e compreender os elementos simbólico-religiosos constantes nessa obra literária de expressão amazônica. Além disso, é válido destacar que o presente estudo é uma proposta dialógica entre literatura e religião, haja vista que ambas se confundem, “nos puxam para o insondável”, para o transcendente; procuram reproduzir valores, recriar e conferir significados ao mundo, com vistas a passagem do velho ao novo. (MAGALHÃES, 2009, p. 217). O conto em questão é uma narrativa memorial do personagem Miguel dos Santos Prazeres, que é o protagonista da maioria das obras de Benedicto Monteiro. 2 Disponível em: http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2699389.pdf . 3 Cf. Estética da criação verbal. (BAKHTIN, 2006). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 3. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Trata-se, pois, da história e experiência de dois vaqueiros que, corriqueiramente, se ocupam em ordenhar o gado. Mas, num certo dia, rompe-se a banalidade cotidiana 221 quando, numa vaquejada, o Pai de Miguel cai do cavalo e é arrastado no campo pelo animal, que o esquarteja e o leva a morte. Nesse momento se instala um clima tenso e Miguel começa a elaborar um plano de vingança contra o assassino, ao mesmo tempo em que recobra as lembranças e memórias do pai morto. A narrativa chega ao clímax no instante em que Miguel conduz o cavalo Precipício para um campo incendiado, para que o animal morresse queimado e pagasse pela morte do velho vaqueiro. Mais adiante, encontram-se análises hermenêuticas sobre os sujeitos- personagens do conto relatado acima: o Pai de Miguel, o jovem Miguel e o cavalo Precipício. Notar-se-á, também, o valor simbólico-religioso da figura paterna, do cavalo Precipício, das águas paradas (o molhado) e, por fim, observar-se-á a analogia da batalha Miguel versus Precipício com o episódio apocalíptico do Juízo Final (Jesus versus Satanás), presente no Novo Testamento. A interpretação desses elementos mostrará de que forma os valores da cristandade estão interligados com outros valores sociais e com valores de outras religiões, permitindo, assim, uma interdiscursividade da teologia com outras culturas e saberes. (MAGALHÃES, 2009, p. 220). 1. A sacralização da figura paterna Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 4. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - 222 Ilustração 01: Pai de Miguel dos Santos Prazeres (Arte: Juarez Odilon) O Precipício se desenvolve a partir do relato memorial de Miguel dos Santos Prazeres, personagem-narrador que, no período da infância à adolescência, compartilhou das ideias e das experiências cotidianas do seu Pai, que é uma figura notadamente importante para a formação e amadurecimento do jovem vaqueiro. Entretanto, o que carece ser observada nessa relação familiar entre pai e filho é a dimensão transcendental que Miguel atribui ao seu genitor, a qual será entendida como uma experiência religiosa do filho com o pai. O comportamento de Miguel diante do seu Pai está muito longe de ser definido como um diálogo aberto informal, no qual se possam efetuar trocas de ideias, expor mutuamente pensamentos e opiniões. O que existe entre Miguel e seu Pai é um trato quase sem palavras, uma política do silenciamento (ORLANDI, 2007) e, principalmente, uma relação de extrema obediência do filho para com o pai. Miguel se revela, então, como um fiel cumpridor do primeiro mandamento bíblico do Antigo Testamento — “Honra teu pai (...), a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá.” (ÊXODO 20:12) — seguindo, religiosamente, as ordens e preceitos estabelecidos pelo seu Pai. Na verdade, o que se verifica na mentalidade do personagem Miguel é uma deificação da figura paterna, ou seja, “um mito metafórico (...) do pai glorificado, de um deus, de um ser sagrado, que rege a vida do personagem-narrador.” (SILVA, 2010, p. 35). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 5. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - A vivência de Miguel com seu Pai, certamente, pode ser interpretada como uma experiência como o sagrado, ou melhor, uma experiência religiosa de Miguel com o seu 223 Pai: uma ação que “relaciona a realidade humana com o transcendente” (CROATTO, 2010, p. 41). Miguel hierofaniza 4 a figura paterna e seu Pai pode ser entendido como manifestação do sagrado, do mesmo modo que Riobaldo, do romance Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa), hierofaniza as personagens com as quais relaciona: Para Riobaldo, representante do homem hierofânico, o espaço em que transita e habita, o tempo que revisita, o contato com a natureza, em estado de epifania, que o cerca e transforma, bem como os outros personagens com quem interage, revelam-se como manifestações do sagrado. (GUIMARÃES, 2011). [grifos meus]. Revestido de sacralidade, o Pai de Miguel “gera efeitos aparentemente opostos de atração e temor” (CROATTO, 2010, p. 70). Assim, o Pai, personagem misterioso, vem a ser enquadrado nos dois aspectos da apreensão do sagrado, propostos por Rudolf Otto5: mysterium fascinans e tremendum. Miguel observava o seu Pai, olhava “a figura esticada na sela, (...) o silêncio dele” (MONTEIRO, 1980, p. 51), o jovem sente-se atraído por este ser misterioso que, “como mysterium fascinans, produz atração, e sua fruição é beatífica.” (CROATTO, 2010, p. 70). Mas Miguel sabia bem dos limites da sua relação como o Pai, que vaquejava sempre na frente: “Ele na frente e eu atrás” (MONTEIRO, 1980, p. 51). Essa postura do Pai remete ao mysterium tremendum, ao “temor reverencial que obriga manter a 4 A palavra hierofaniza é derivada do termo hierofania, cunhado por Mircea Eliade em seu livro Tratado de História das Religiões (2010). Para o autor existe a uma consciência fundamentada da existência do sagrado, quando se manifesta através dos objetos habituais de nosso cosmo como algo completamente oposto do mundo profano. Em termos explicativos, Eliade afirma que “a pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas com pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’ algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere.” (ELIADE, 1992. p. 13) 5 Na obra O Sagrado, Rudolf Otto analisa a experiência religiosa, revelando um aspecto do poder divino, “desse mysterium tremendum, dessa majestas que exala uma superioridade esmagadora de poder; encontra o temor religioso diante do mysterium fascinans, em que se expande a perfeita plenitude do ser”. (OTTO, 1985). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 6. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - distância” (CROATTO, 2010, p. 70) e Miguel jamais se atrevia a romper essa enorme majestade. (MONTEIRO, 1980, p. 51). 224 Ainda sobre o aspecto do mysterium tremendum do genitor, não se pode olvidar o discurso do silêncio, pois o Pai de Miguel “era quase inimigo do falar” (IDEM). O silêncio, esse tabu vindo dos costumes, da crença, da tradição antiga e hereditária, corrobora ainda mais para a sacralização da figura paterna, tendo em vista que o silêncio está associado ao Totalmente Outro, ao Ser Supremo. Além disso, cabe reiterar que na tessitura do conto O Precipício observa-se duas formas específicas de silêncio, tendo como referente o Pai de Miguel: o silêncio de Deus e o silêncio diante de Deus (KOVADLOFT, 2003 apud HERNANDEZ, 2004, p. 141). Desse modo, o reconhecimento do silêncio do pai de Miguel, desse discurso religioso, é o reconhecimento do “lugar da onipotência divina” (ORLANDI, 2007, p. 30), no qual se verifica a realização do transcendente. O mito metafórico constituído no conto, sem dúvida, é o do pai glorificado, de um deus, de um ser sagrado, que rege a vida do personagem-narrador. No entanto, para que isso fosse estabelecido, o pai de Miguel teve que vir a falecer, uma vez que a morte representa a elevação do pai à condição de um deus (FREUD, 1974, p. 177). Assim, é imprescindível dizer que o mito do pai (divinização) está fundamentado na memória do personagem-narrador, é ela que a ela dá conta do acabamento axiológico do “novo varão” (que assume o posto simbólico do pai morto) e garante “a persistência de uma saudade não apaziguada do pai” (IDEM, p. 178). 2. O cavalo demoníaco Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 7. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - 225 Ilustração 02: Pai de Miguel sendo arrastado pelo Cavalo Precipício (Arte: Juarez Odilon) Em oposição à figura paterna do conto monteiriano, observa-se o comportamento do cavalo Precipício que desempenha o papel de antagonista da obra e é o representativo da força maléfica que age contra o Pai sacralizado. O Precipício é cavalo usado para a ordenha do gado e escolhido pelo Pai para que este pudesse encilhar o animal que era por demais rebelde. Além disso, é importante notar que o Precipício é descrito pelo narrador de forma negativa, como um cavalo preto, um garanhão irrefreável, desobediente, endiabrado e assassino. Outro aspecto que aumenta as características malignas do animal pode ser observado a partir da interpretação do nome que lhe foi dado: Precipício. Do termo Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 8. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - precipício advém a ideia de profundeza, abismo, despenhadeiro, e, figurativamente, representa a ruína, a perdição, a desgraça; fora isso, pode-se interpretar o precipício, na 226 visão escatológica, como o lugar em que Satanás é lançado e aprisionado por mil anos. (APOCALIPSE 20:1-3). No estudo sistemático dos demônios, Demonologia, o demônio Cimeries é apresentado como um guerreiro que cavalga sobre um cavalo preto e rege o continente africano: Cimeries, who rides a black horse and rules all the spirits of Africa, probably takes his name from the Cimmerians, a people mentioned by Homer who lived in mists and darkness in the farthest West. (CAVENDISH, 1983, p. 251). Nesse fragmento, o “black horse” é usado a serviço de Cimeries, logo o animal obedece ao seu dono. Numa relação de sentido, Precipício poderia ser comparado ao cavalo de Cimeries e, se assim fosse, seria incoerente que o Precipício viesse a servir o Pai de Miguel, que é compreendido pelo filho como um Ser Sagrado, benéfico (conforme foi observado no capítulo anterior). O jovem vaqueiro se detém olhando a impetuosidade do cavalo que corre pelo pasto, arrastando e esquartejando o corpo do Pai pelo chão e, nesse momento lancinante, Miguel viu e registrou o voo do animal no “campo varja”: “o desgraçado saltava relinchando e jogando as patas dianteiras querendo até trepar no ar. (...). Precipício voava.” (MONTEIRO, 1980, p. 54-56). Ora, foi dito anteriormente as caracterizações demoníacas de Precipício e agora se compreende que o cavalo diabólico tem a capacidade de voar, da mesma forma que certos demônios voadores, como, por exemplo, o demônio Pazuzu6, o rei dos ventos, filho do deus Hanbi, na mitologia suméria. 6 O demônio Pazuzu tornou-se mundialmente conhecido a partir do filme americano O Exorcista, lançado 1973, dirigido por William Friedkin e roteirizado por William Peter Blatty, baseado em livro homônimo de sua autoria. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 9. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - “Precipício voava” parecendo-se, assim, com o Cavalum, uma figura mítica do imaginário português, proveniente da cidade de Machico, na Ilha da Madeira. De acordo 227 com a lenda, o Cavalum tinha a forma de cavalo, asas de morcego e soltava fogo pelas narinas. Afirmavam que este ser mitológico era um diabo em forma de cavalo. (FRAZÃO, 2004, p. 266-268). É interessante notar que o cavalo Precipício reatualiza certos mitos, como o do Cavalum, permitindo ao leitor uma análise mais ampla sobre os personagens-animais que desempenham ações maléficas em determinado conjunto literário7. 3. A crença no molhado No desenrolar da narrativa, Miguel, personagem-narrador, quebra a linearidade do enredo e retoma a mentalidade do seu Pai para contar sobre a crença e visão negativista do velho em relação à água parada, ao molhado: “Meu pai passou a vida toda reclamando só contra o molhado. Não, não era contra a água, a chuva, a correnteza, o lago, o rio e o longe mar. Não, não podia ser contra o mar que era de outras redondezas. Não senhor, era apenas contra o molhado.” (MONTEIRO, 1980, p. 56). Na concepção do pai, o molhado era associado às “coisas tristes da vida” (IDEM), à má sorte, à morte. Importa dizer que Miguel assimila essa doutrina paterna sobre a água que mata e acrescenta ao molhado o sentido de inferno: O filme trata sobre a possessão demoníaca de uma criança de 12 anos pelo demônio Pazuzu. O livro de Blatty foi inspirado num exorcismo de um garoto de 14 anos, documentado em 1949. (BLATTY, 1972). 7 “O cavalo desempenhava um papel central nas antigas crenças demoníacas. Os anais de bruxaria mostram que os parentes das bruxas, ou elas próprias, podiam metamorfosear-se em potros diabólicos, que muitas vezes serviam como veloz de montaria de demônios e lâmias. Acreditava-se que as bruxas tinham o poder de transformar os seres humanos em cavalos atirando um cabresto mágico sobre a cabeça da vítima adormecida. Esses cavalos enfeitiçados seriam usados como montaria no sabá das feiticeiras. Bruxas e demônios gostavam de embaraçar a crina desses animais e cavalgar noite adentro.” (RAMOS et al, 2005, p. 84). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 10. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Mas ali na varja, era mesmo que entregar o corpo de meu pai ao inferno do molhado. As águas quando chegavam, invadiam tudo, cobriam tudo, molhavam tudo. Só mesmo se arranjasse uma sepultura 228 num galho de pau. (IDEM, p. 58). É obvio que a crença no molhado é uma crença popular que se refere à saúde, pois, segundo o Pai de Miguel, o molhado causava reumatismo, impaludismo (malária), além de outras doenças que podem ser subentendidas na narrativa de Miguel. A crença de que é preciso evitar o molhado faz parte de um conjunto de crendices nativas que pulula no universo mental do caboclo amazônico e que o molhado, assim como o fogo, pode ser compreendido como um elemento material associado a um tipo de devaneio que governa as crenças e a filosofia de toda uma vida. (BACHELARD, 1997, p. 5). Para Bachelard, “as águas imóveis evocam os mortos porque as águas mortas são águas dormentes” (IDEM, p. 67)8, o que demonstra, então, mais um motivo para aversão as águas paradas no imaginário de Miguel e de seu Pai. A água parada remonta aos antecedentes judaicos sobre o batismo, pois, no Antigo Testamento, mais precisamente, no livro dos Números (19: 17-22), encontra-se a assertiva de que, na cultura judaica, água parada não podia ser hierofanizada (manifestar o sagrado) e “o judeu não entrava em água parada, porque água parada era sinal de impureza e morte.” (PARANDELA, 2007). Então, desde os tempos mais primórdios e muito antes do advento das ciências, a água parada, o molhado (no dizer do caboclo Miguel) sempre foi causador de problemas à saúde do homem e significado maléfico no ritual de certas religiões, como o judaísmo. Na obra A História, o Drama e Graça da Água (1929), do escritor, político, historiador e jornalista português Alberto Souto (1888-1961), é feita uma abordagem crítica e histórica sobre a água, evidenciando uma relação discursiva de Souto com o pensamento do Pai de Miguel, uma vez que ambos têm em comum a noção de que a 8 A água é vida, mas também é morte, estabelece-se, pois, nesse caráter ambivalente. “Se pensarmos (...) nas águas paradas e mal iluminadas em geral, elas sugerem a imagem de sepulcros, de noite eterna, de ausência de vida” (BRUNI, 1993, p. 62). Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 11. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - água parada, o molhado, remete sempre ao sentimento de tristeza, às “coisas tristes da vida”: 229 A Água parada, a Água morta, a Água encarcerada, causa-me sempre tristeza e compaixão, ou mágoa ou dor. (...) A Água dos canais precisa de movimento, maré ou corrente, agitação da brisa ou impulso do remo, ondulação, barcos, velas para expulsar a tristeza que nos causa sempre ver essa Água, silenciosa, inerte, turva e melancólica, ao contrário da Água que flui e canta ou sussurra ou ruge, seja mar revolto, rio caudaloso, torrente ou regato, jogo de água ou fonte obscura. (SOUTO, 1930). Assim, fica claro que existe na mentalidade dos personagens do conto O Precipício (com exceção do cavalo Precipício, o qual é personificado na obra), a constituição de um saber empírico sobre as águas, principalmente sobre o molhado, sobre as águas estanques, onde habitam os espíritos maus, denominados “uutedewa”, segundo os povos indígenas da tribo Xavante, do Estado do Mato Grosso9. 4. A batalha apocalíptica entre Miguel e Precipício Ninguém pode manter-se alheio ao combate entre o poder divino e o poder demoníaco (...). O homem que (...) mata um animal perigoso, cumpre um dever religioso; prepara e assegura a vitória final do poder do bem, do “senhor sábio”, sobre o seu demoníaco adversário. (CASSIRER, 1972, p. 163). O conto O Precipício atinge seu ápice no momento em que Miguel deseja vingar-se pela morte do Pai e sai em busca do assassino, o cavalo Precipício, para aplicar-lhe uma lição. É exatamente nesse curso dos fatos que se percebe uma aproximação da saga de Miguel com batalha entre anjos e demônios no livro do 9 Segundo Giaccaria (1972, p. 96-107 apud GOMIDE; KAWAKUBO, 2006, p 33) “os Xavante distinguem a ‘água viva’, ou seja, a água corrente da água ‘morta’ ou água parada. A ‘água viva’ dos grandes rios, assim como a ‘água morta’ dos grandes lagos, é povoada por espíritos. Nos rios habitam os espíritos bons, os ötedewa, e nos lagos os maus, denominados uutedewa.”. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 12. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - Apocalipse (Novo Testamento), até o ambiente, no final da narrativa, parece revestido de uma aura pesada, mostrando que algo trágico estaria por vir, conforme se observa no 230 seguinte excerto do conto: Alguém tinha ateado fogo na restinga do Catauari. Na certa algum vaqueiro descuidado ou algum procurador de ovos de tracajá. Incendiavam o campo pra achar ovos, pra pegar bandos de marrecas e as vezes só mesmo por malvadeza de incendiar. Com uma ponta de cigarro num capim seco e numa noite quente, o fogo se alastra. As labaredas nasciam do barro por puro encante. Pensei até que estavam queimando a terra pra sepultura do meu pai. Mas quem ia queimar a terra, que ia queimar a terra? Não se podia saber naquela hora porque o Precipício não parava. Meus braços e pés também não paravam. As esporas na barriga já sangravam e o Precipício voava. Eu lambava o Precipício e as labaredas aumentavam. Com-pouco estávamos num cerco de fogo que vinha não sei de que lugar. O campo clareava. O campo clareava mais e mais. Corre, cavalo filho da puta. Não tinha jogado na terra o corpo do meu pai? Queimar a cara até as crinas, será que bastava? Precisava entrar no inferno com as quatro patas incendiadas. (...). (MONTEIRO, 1980, p. 60). [grifos meus] Depois da trágica morte do Pai, Miguel diz que “propositadamente o sol tinha se escondido” (IDEM, p. 54), o que faz lembrar o momento apocalíptico da abertura do sexto selo, no qual ocorre um grande tremor na Terra, o sol fica negro como um saco de cilício e a lua é manchada de sangue, porque é chegada o grande dia da ira do Cordeiro de Deus contra o inimigo do Reino dos Céus (APOCALÍPSE, 6:12-17). Em termos comparativos, nota-se que Miguel representa a figura do juiz Jesus Cristo que se levanta contra Lúcifer, representado pelo cavalo Precipício, contra aquele que foi lançado no abismo por mil anos e que agora está solto pelos campos, mas que logo receberá o castigo eterno e será lançado num lago de fogo e enxofre. (IDEM, 20:1- 15). E assim, em analogia ao fim de Satanás no livro do Apocalipse (relatado no parágrafo anterior), Miguel persegue o cavalo endiabrado e o conduz até a restinga do Catauari, a qual havia sido misteriosamente incendiada por alguém, e ali, no meio do campo em brasa, ele trucida e mata o Precipício, para fazer o “cavalo assassino pedir Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 13. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - perdão de joelho” pela morte do Pai (MONTEIRO, 1980, p. 60). Poderia, dizer, então, que o desfecho da história é semelhante à vitória do Cordeiro de Deus, na concepção 231 cristã, que tira o pecado do mundo, que coloca o bem acima de toda iniquidade. Mas também é oportuno dizer sobre a analogia entre o personagem Miguel dos Santos Prazeres, e o São Miguel Arcanjo, muito além da relação homônima que ambos possuem. No Testamento Bíblico, Miguel lidera os exércitos de Deus contra as forças malignas de Satanás. Durante a batalha apocalíptica celeste, Miguel derrota Satã: Houve no céu uma guerra, pelejando Miguel e seus anjos contra o dragão. O dragão e seus anjos pelejaram, e não prevaleceram; nem o seu lugar se achou mais no céu. Foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama Diabo e Satanás, aquele que engana todo o mundo; sim, foi precipitado na terra, e precipitados com ele os seus anjos. (APOCALIPSE 12:7-9). Tanto o Arcanjo quanto o personagem-narrador batalham contra um agente inimigo (o cavalo Precipício = Dragão), sobrepondo o bem sobre o mal, arrebatando o diabo sobre a Terra: “eu tive que fazer aquele puto daquele cavalo assassino pedir perdão de joelho no campo incendiado” (MONTEIRO, 1980, p. 60). Num ponto de vista teológico, é claro que há semelhanças entre as características da missão de Jesus com as de São Miguel, que este pode ser identificado como Cristo e não um simples anjo. E, em última análise, é possível dizer que Miguel dos Santos Prazeres, Jesus Cristo e o Arcanjo Miguel protagonizam a histórica batalha cósmica (bem versus mal; Deus versus Lúcifer) que se originou no Céu, e que se estende ao longo da história humana, conforme atesta o livro do Apocalipse (12; 20). Algumas Considerações Sem dúvida, a estrutura narratológica do conto O Precipício apresenta um cunho religioso manifestado pelos sujeitos-personagens, pelos elementos espaciais (como o molhado). E sobre esses elementos espaciais da obra, ou melhor, sobre esses símbolos Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 14. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - polissêmicos ressalta-se a linguagem poético-religiosa, reveladora da experiência do homem com o transcendente. 232 Observe-se, por exemplo, a função do fogo no conto, que não serve apenas como um elemento que ajuda Miguel a consumar sua vingança contra o Precipício, mas pode ser entendido como símbolo da destruição, da purificação, do sacrifício, partindo do pressuposto de que se trata de “fenômenos que têm seu correlato na experiência religiosa, seja em relação com mal (destruição), seja com a mácula (purificação), com a vítima ritual pelo pecado (sacrifício).” (CROATTO, 2010, p. 102-103). Além disso, nota-se no conjunto da obra a tríade dos símbolos representativos do mal, como o fogo, o molhado (a água parada) e as trevas. Estes símbolos estão imbricados entre si numa relação semântica, com características semelhantes: o fogo é a simbologia do “inferno” (cristianismo, islamismo); o molhado apresenta o caráter destrutivo, relacionado com a morte, a tristeza, a impureza (judaísmo), morada dos espíritos maus (cultura indígena); e as trevas, que aparecem como plano de fundo após a morte do Pai de Miguel, significam a ausência de luz, a presença do mal, o submundo de Hades (mitologia grega), a ambientação para a manifestação das forças malignas. Ainda sobre as representações simbólico-religiosas da narrativa monteira, queira-se mencionar a presença um símbolo de devoção religiosa da família de Miguel, o quadro de São Sebastião: “A lamparina da cozinha estava acesa. E tinha uma vela alumiando o corpo e o quadro de São Sebastião.” (MONTEIRO, 1980, p. 59). Numa tentativa hermenêutica de buscar compreender o porquê dessa devoção a esse santo católico, primeiramente notou-se que “o personagem Miguel é uma figura representativa daqueles que nasceram na região de Alenquer/PA (MEGALE, 2008 apud SILVA, 2010, p. 20) e depois, atestou-se que São Sebastião é, depois de Santo Antônio (padroeiro do município de Alenquer/PA), o santo de maior devoção do povo alenquerense, é o padroeiro do bairro do Aningal e é celebrado, anualmente, na segunda maior festa católica do povo ximango, o Círio de São Sebastião. (MONTEIRO, 2011). Assim, não é sem propósito que o quadro de São Sebastião está presente no conto, pois Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 15. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - fica confirmada não só a devoção deste santo pela família, mas devoção do povo da cidade de Alenquer/PA, a qual é representada pelo personagem-narrador d’O 233 Precipício. Assim como na religião, o transcendente é suscetível de se manifestar na literatura, e se a narrativa for compreendida sob a ótica dessas áreas do conhecimento humano, torna-se possível o diálogo com outras áreas das Ciências (como história, antropologia, sociologia etc.), possibilitando um estudo mais profundo sobre o texto literário, sobre as experiências humanas e sobre a mentalidade do homo religiosus, uma vez que a “fé (...) sabe que sua história é sempre encarada como revelação por meio das memórias preservadas em narrativas” (CROATTO, 2010, p. 211) como a de Benedicto Monteiro, que contém lições, memórias e experiências de natureza fantástico-religiosa, as quais poderão ser transmitidas às gerações futuras, com vistas a uma melhor compreensão da nossa existência no mundo. Referências Bibliográficas BACHELARD, Gáston. A água e os sonhos: ensaio sobre a imaginação da matéria. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2006. BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo. Edição Ecumênica. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1980. BLATTY, William Peter. O Exorcista. 5. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1972. BRUNI, José Carlos. A água e a vida. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 5 (1- 2): 53-65, 1993. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/v0512/Agu a.pdf>. Acesso em: 01 jan 2013. CASSIRER, Ernest. Antropologia filosófica: ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Mestre Jou, 1972 Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 16. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - CAVENDISH, Richard. The black arts: a concise history of witchcraft, demonology, astrology, alchemy and other mystical practices throughout the ages. New York: Perigee 234 Books, 1983. CROATTO, José Severino. As linguagens da experiência religiosa: uma introdução à fenomenologia da religião. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2010. ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992. ______________. Tratado de História das Religiões. 4. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. FRAZÃO, Fernanda (org.). Lendas portuguesas da terra e do mar. Lisboa: Apenas Livros, 2004. FREUD, Sigmund. Volume XIII (1913-1914): Totem e tabu e outros trabalhos. Edição Standart Brasileira das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1974. GIACCARIA, Bartolomeu. Significado da água na cultura Xavante. Revista de Antropologia. V. 21. Part. I. São Paulo: USP, 1978. p. 95-107. GOMIDE, Maria Lúcia Cereda; KAWAKUBO, Fernando Shinji. Povos indígenas do cerrado, territórios ameaçados: terras Indígenas Xavante de Sangradouro/Volta Grande e São Marcos. Revista Agrária. N. 3. São Paulo: USP, 2006. p. 16-46. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/agraria/article/view/86/85>. Acesso em: 7 mai 2011. GUIMARÃES, Mayara Ribeiro. Hierofania e cosmogonia em Grande Sertão: Veredas. Revista Litteris, Mar/2011, n. 7. Disponível em: <http://revistaliter.dominiotemporario.com/doc/Hierofania_e_cosmogonia_em_Grande_ Sertao;_Guimaraes_Rosa.pdf>. Acesso em: 4 de mai 2011. HERNANDEZ, Juliana. O duplo estatuto do silêncio. Revista de Psicologia – USP. Jan/Jun. 2004, v. 5. n. 1-2, p. 129-147. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pusp/v15n1-2/a16v1512.pdf>. Acesso em: 4 maio 2011. MAGALHÃES, Antonio. Deus no espelho das palavras: teologia e literatura em diálogo. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2009. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11
  • 17. ISSN: 19837429 n.11 – março de 2013 - MONTEIRO, Benedicto. O carro dos milagres. 5. ed. Rio de Janeiro: PLG- Comunicação, 1980. Disponível em:<http://interfacesculturais.blogspot.com/2008/10/o- precipcio-conto-amaznico-de-benedicto.html>. Acesso em 01 ago 2011. 235 MONTEIRO, Fábio. Círio de São Sebastião 2011. Portal Alenquer Pará. Entretenimento. Notícia. 11/01/2011. Disponível em: <http://www.alenquerpara.com.br/?pg=noticia&id=440>. Acesso em: 8 mai 2011. ORLANDI, Eni Puccinelli. As formas de silêncio: no movimento dos sentidos. 6. ed. Campinas/SP: Unicamp, 2007. OTTO, Rudolf. O Sagrado: um estudo do elemento não-racional na ideia do divino e a sua relação com o racional. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1985. PARANDELA, Clóvis de Oliveira. O batismo cristão. Portal da Igreja Metodista de Vila Isabel. Artigos. Colunas. Rio de Janeiro. 10/3/2007. Disponível em: <http://www.metodistavilaisabel.org.br/artigosepublicacoes/descricaocolunas.asp?Num ero=31>. Acesso em:7 mai 2011. RAMOS, Denise Gimenez et. al. Os animais e a psique, volume 1: baleia, carneiro, cavalo, elefante, lobo, onça, urso. 2. ed. São Paulo: Summus, 2005. SILVA, Marcel Franco da. O Precipício: um tecido de muitas vozes. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura Plena em Letras – Língua Portuguesa) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2010. Disponível em: <http://static.recantodasletras.com.br/arquivos/2699389.pdf>. Acesso em: 4 mai 2011. SOUTO, Alberto. A história, o drama e a graça da água: conferência. Aveiro: Pereira & Guimarães, 1930. Disponível em: <http://www.prof2000.pt/users/avcultur/aveidistrito/boletim03/page73.htm>. Acesso em: 7 mai 2011. [excertos da conferência]. Revista Litteris www.revistaliteris.com.br ISSN: 19837429 Março de 2013 N.11