Da revolução industrial ao capitalismo organizado: séc. XVIII a XX

Primeira Revolução Industrial

Durante o período que foi de 1400 até aproximadamente 1700 a civilização moderna atravessou a sua primeira revolução econômica. Foi ela a Revolução Comercial, que extirpou a economia semi-estática da Idade Média e a substituiu por um capitalismo dinâmico dominado por comerciantes, banqueiros e armadores de navios. Mas a Revolução Comercial não foi mais que o ponto de partida de rápidas e decisivas mudanças no campo econômico. Não tardou a seguir-se-lhe uma Revolução Industrial, que não só ampliou ainda mais a esfera dos grandes empreendimentos comerciais, mas ainda se estendeu aos domínios da produção. Tanto quanto é possível reduzi-la a uma fórmula sintética, pode-se dizer que a Revolução Industrial compreendeu: a mecanização da indústria e da agricultura; a aplicação da força motriz à indústria; o desenvolvimento do sistema fabril; um sensacional aceleramento dos transportes e das comunicações; e um considerável acréscimo do controle capitalista sobre quase todos os ramos de atividade econômica.

Embora a Revolução Industrial já se houvesse iniciado em 1760, não adquiriu todo o seu ímpeto antes do século XIX. Muitos historiadores dividem o movimento em duas grandes fases, servindo o ano de 1860 como marco divisório aproximado entre ambas. O período de 1860 até os nossos dias é por vezes denominado Segunda Revolução Industrial.

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Pioneirismo inglês: condições objetivas e subjetivas

A Revolução Industrial aconteceu inicialmente na Inglaterra na segunda metade do séc. XVIII e encerrou a transição do feudalismo ao capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. A ferramenta deu lugar à máquina; a força humana, à motriz; a produção doméstica à fabril (divisão do trabalho).

Quatro elementos esseciais concorreram para a industrialização: capital, recursos naturais, mercado e transformação agrária. Assim, é possível apontar uma conjunção de fatores geográficos, econômicos, políticos e sócio-culturais para o despertar pioneiro da Inglaterra.

Geograficamente, a Inglaterra valeu-se de sua posição insular (mantendo-se intocada em todas guerras que participou) e da existência de jazidas de carvão (energia) e ferro (fundamental para indústria).

Economicamente, fez uso dos capitais acumulados no comércio internacional e na prática corsária e contrabando de Estado desde seu despontar como maior potência marítima mundial (iniciado com os Atos de Navegação de 1651). Por outro lado, os cercamentos ou enclosures (apropriação, pela nobreza, das terras comunais) possibilitaram uma grande disponibilidade de mão-de-obra e o rebaixamento dos salários. Ainda, deve-se destacar as inovações tecnológicas que dinamizaram o processo produtivos, principalmente na indústria têxtil (lançadeira mecânica, máquina de fiar, tear hidráulico, energia a vapor), mas também no campo (cultivo rotativo da terra, novos adubos, drenagem e mecanização).

Politicamente, a Inglaterra foi o primeiro país a presenciar a ascensão da burguesia (Revoluções Puritana de 1640 e Gloriosa de 1688). A monarquia parlamentar então instaurada modificou a estratégia de desenvolvimento, substituindo a lógica territorial pela lógica do capital. A Inglaterra usufruiu, ainda, de acordos vantajosos com diversos países (conquistando mercados consumidores e incentivando suas próprias manufaturas enquanto impedia o desenvolvimento da concorrência). Em 1707, a Inglaterra uniu-se com a Escócia dando um passo importante para fortalecer sua posição internacional.

Sócio-culturalmente, havia fatores religiosos (valorização do trabalho e do lucro, fruto das reformas protestantes e da criação da Igreja Anglicana) e ideológicos (fortalecimento do liberalismo em contraposição ao mercantilismo vigente). A Inglaterra professou o livre-comércio para todos seus rivais, mas agiu com forte protecionismo internamente, alentando ativamente sua indústria. O individualismo fazia parte da cultura inglesa desde a assinatura da Carta Marga de 1215 (reconhecendo alguns direitos da nobreza que o rei não poderia dispor): na nascente ideologia capitalista, a sociedade preponderava sobre o Estado.

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Conseqüências

A Revolução Industrial promoveu a consolidação do sistema capitalista, resumido, em termos marxistas, na separação da força de trabalho dos meios de produção e na imposição do assalariamento em níveis de subsistência.

Famílias inteiras trabalhavam mais de 16 horas por dia, no auge da Revolução Industrial Inglesa. Nem as crianças eram poupadas.

Se por um lado, a Revolução Industrial proporcionou o aumento da riqueza total da nação, não seria justo desconsiderar as conseqüências nefastas sobre o ambiente (o homem obtém da natureza suas matérias-primas sem se preocupar com sua conservação) e nas relações de trabalho (trabalho infantil, jornadas de trabalho de até 18 horas diárias, falta de condições sanitárias, etc.). A separação do trabalhador dos meios de produção foi identificada por Marx e deu origem à sua teoria do materialismo dialético. Engels denunciou as absurdas condições de trabalho do proletariado. Surgiram os movimentos operários.

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Segunda Revolução Industrial

Embora a Revolução Industrial já se houvesse iniciado em 1760, não adquiriu todo o seu ímpeto antes do século XIX. Muitos historiadores dividem o movimento em duas grandes fases, servindo o ano de 1860 como divisor aproximado. O período de 1860 até os nossos dias é por vezes denominado Segunda Revolução Industrial. Iniciou-se aí um processo de renovação, aceleração e expansão da industrialização para outros países. As principais inovações desta revolução técnico-científica foram no sentido de aumentar ainda mais a produção e a acumulação de capital.

Novos métodos para obtenção de ligas metálicas: substituição do ferro pelo aço e uso de ligas metálicas mais leves.

Novas fontes de energia: emprego de derivados do petróleo e energia elétrica, fontes mais eficientes que o carvão.

Novos setores industriais: a siderurgia possibilitou produtos e máquinas mais resistentes; a química possibilitou a produção em larga escala de uma gigantesca gama de tintas, corantes, fertilizantes e munições.

Avanço nos transportes: aplicação da energia a vapor em ferrovias e navios, diminuindo custos de transporte de grandes cargas em maiores distâncias. Invenção do avião e motor de combustão interna, aperfeiçoamento do dínamo.

Avanço nas comunicações: invenção do telégrafo (comunicação a longa distância em tempo real) e instalação de cabos submarinos, permitindo a ligação telegráfica entre continentes.

Novas formas de organização do trabalho: o fordismo (produção em série, com introdução da linha de produção mecanizada) e taylorismo (controle da produtividade dos operários através da análise técnica de seus gastos e movimentos diante da máquina).

Cena do filme Modern Times (1936), de Charles Chaplin. A obra é uma crítica veemente ao modo de produção oriundo da Segunda Revolução Industrial.

Os investimentos necessários a realização de empreendimentos desta monta exigiam um sistema bancário com grande capacidade de financiamento e captação, daí a expansão de bancos e bolsas de valores. Ao mesmo tempo, passaram a se multiplicar práticas monopolistas (trustes, cartéis e dumping), resultando em concentração de capitais e enfraquecimento da concorrência. As novas práticas econômicas permitem a caracterização, a partir do séc. XIX, do capitalismo financeiro ou monopolista.

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Práticas monopolistas

Truste: fusão de empresas visando obter o controle de uma determinada atividade econômica.

Cartel: acordo entre empresas independentes, visando uma ação coordenada no que se refere, por exemplo, a determinação de preços.

Dumping: venda de produtos a preços artificialmente mais baixos, visando eliminar a concorrência.

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Continuação:
Fases do Capitalismo, da Revolução Industrial até hoje.

 

Fontes bibliográficas:

ARRUDA, José; PILETTI, Nelson. Toda a História. 7ª São Paulo: Ed. Ática, 1997.

BURNS, E. História da civilização ocidental – Volume II. 2ª São Paulo: Ed. Globo, 1964.

VICENTINI, P. História mundial contemporânea (1776-1991). Série Manual do Candidato. 2ª Ed. Brasília: FUNAG, 2010.

2 comentários em “Da revolução industrial ao capitalismo organizado: séc. XVIII a XX”

  1. Rafa, tem um erro aí. A Inglaterra não conseguiu dinheiro através da pirataria, mas sim através da prática corsária. Pirataria é o nome dado à pratica de roubar e ficar com as riquezas. Prática corsária é o nome dado à prática de roubar e entregar as riquezas a um superior.

    Espero ter ajudado.

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