Flutuação em águas cristalinas, trilhas ecológicas, passeios de barco noturnos, observação de pássaros; são diversas as atividades que o Mato Grosso do Sul oferece aos turistas interessados em imergir completamente na natureza. Paisagens de biomas como o Pantanal e o Cerrado são deslumbrantes e frágeis, por isso, o cuidado com a sustentabilidade desse paraíso natural é uma preocupação de governantes, empresários e moradores do estado. O Mato Grosso do Sul é considerado referência nacional em ecoturismo, prática que consegue aliar visitações turísticas ao cuidado integral com o meio ambiente.
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Segundo dados do Boletim de Ocupação Hoteleira (BOH), disponibilizado pela Fundação de Turismo do estado do Mato Grosso do Sul, mais de 1,5 milhão de turistas visitaram o estado em 2012. Para Nilde Brun, diretora presidente da Fundação, esse reconhecimento é resultado de um trabalho de dedicação e conscientização que envolve poder público, privado e população local. “É fundamental ter todos os entes trabalhando na mesma sintonia”, diz.
A conscientização e qualificação de profissionais locais para o ecoturismo é, segundo Brun, outro ponto importante para a preservação ambiental. “Temos trabalhado de forma sistêmica, fazendo parcerias com universidades e organizações”, afirma. Os investimentos feitos pelo estado estão focados na formação de profissionais que conhecem bem o bioma local e são preparados para a orientação turística. “Quanto mais conseguirmos ramificar qualificações, melhor. Na minha avaliação, precisamos investir mais. O número ainda não está satisfatório”, declara.
Ecoturismo em Bonito
O município de Bonito é a principal referência em ecoturismo no Mato Grosso do Sul. De acordo com Juliane Salvadori, secretária de Indústria, Comércio e Turismo do município, mais de 45% da mão de obra local é absorvida por essa atividade. Em 2012, Bonito recebeu 190 mil visitantes, que renderam cerca de R$ 200 milhões para o município. “Podemos dizer que o turismo é, hoje, a principal atividade econômica de Bonito”, afirma.
Salvadori explica que este sucesso está atrelado a um modelo de gestão implantado por lei em 1995. A medida determina, por exemplo, que todos os sítios turísticos da região utilizem um voucher único. “O voucher é como um ingresso de acesso. Através dele controlamos a quantidade de visitantes permitidos em cada atração turística”, explica a secretária. Estudos ambientais feitos no local são, segundo Salvadori, o que determinam a quantidade de turistas que cada atração é capaz de receber. Todas as agências de turismo de Bonito devem, por lei, cobrar o mesmo preço pelos vouchers, que custam em torno de R$ 35 por pessoa para cada passeio.
Salvadori concorda com Nilde Brun e afirma que os guias de turismo são fundamentais para preservação de Bonito. “Os guias contribuem muito para que o turismo cause o menor impacto possível. Além de darem informações de segurança, são eles que orientam no sentido da conservação do meio ambiente”, afirma.
Em abril de 2014, Bonito irá sediar a Conferência Internacional de Ecoturismo e Turismo Sustentável. O evento tem a tradição de reunir especialistas em ecoturismo de todo o mundo para discutir as principais tendências da atividade. O tema da conferência do próximo ano será "O maior engajamento da comunidade", questão trabalhada em Bonito principalmente pelo viés cultural. “Tentamos agregar pessoas da cidade em atividades culturais, como o Festival da Guavira ou a Festa de Inverno. Queremos que as pessoas se envolvam e que os turistas conheçam a nossa cultura”, afirma Salvadori.
A Conferência Internacional de Ecoturismo e Turismo Sustentável trará visibilidade para o Mato Grosso do Sul e promete deixar um legado de conhecimento e qualificação para os profissionais locais. Nilde Brun afirma que, mais do que atrair investidores e turistas, o estado espera que o evento traga para Bonito o título de referência mundial em ecoturismo. “Sempre foi um sonho nosso levar o nome do Brasil como referência em ecoturismo. Trabalhamos muito pela preservação e sustentabilidade e acredito que esse sonho se realizará através dessa conferência”, diz.
Ecoturismo no Pantanal
Reconhecido como um dos biomas mais bem preservados do Brasil, o Pantanal é outro destino que atrai milhares de turistas para o Mato Grosso do Sul. Diferente do ecoturismo proposto em Bonito, em que o turista imerge, quase que literalmente, na natureza, as atividades no Pantanal são mais contemplativas.
Trilhas e safáris são algumas das atrações mais procuradas na região. Um bom exemplo de atividade como estas, que permitem a contemplação de animais sem deixar de preservar o meio ambiente, é o projeto Onçafari. Implantado há dois anos em um refúgio ecológico particular no Pantanal, o projeto foi criado com o objetivo de estabelecer um modelo de conservação tendo como foco a onça pintada. O Onçafari foi idealizado pelo brasileiro Mario Haberfeld em parceria com o sul-africano Simon Bellighan e se baseia na ideia de que para que uma área selvagem seja devidamente preservada, ela deve gerar renda.
“Pensando nisso, Mario viu no ecoturismo um grande potencial”, explica Diogo Lucatelli, biólogo e integrante da equipe do Onçafari. O objetivo prático do projeto, conforme Lucatelli, é proteger a região e os animais locais explorando as possibilidades de uma atividade turística sustentável. “A ideia é que tenhamos, aqui, um time capaz de reconhecer e habituar as onças, ou seja, fazer com que o animal se torne tolerável a veículos móveis, sempre respeitando o quão confortável o animal está se sentindo”, esclarece.
O projeto que, por enquanto, não tem fins lucrativos e se mantém com patrocinadores, inaugurou suas atividades voltadas para o ecoturismo em julho deste ano. No entanto, Lucatelli afirma que o passeio turístico com o Onçafari só irá acontecer novamente em julho de 2014. O projeto, até lá, irá manter suas atividades de reconhecer, estudar e habituar as onças pintadas do Pantanal.