Se a imagem do edenismo tropical é o estereótipo mais empregado para descrever o paisagismo de Burle Marx, (…) a caracterização da singularidade de seu paisagismo por meio da valorização de espécies nativas é a outra face, mais consequente e menos estereotipada, da mesma questão
Lembro-me de uma viagem ao Espírito Santo, em que, ao penetrar a região do Pancas, fiquei deslumbrado com a morfologia do local
Fazer jardim é “realizar microclima”
E como considerar a planta?
o jardim, o espaço coletivo, induz os indivíduos a quererem preservar o que é de todos.
Não obstante tudo isso, existe ainda o universo de formas vegetais a preservar
O Monumento Natural dos Pontões Capixabas
INSELBERGUE, MONTANHA-ILHA, “PÃO-DE-AÇÚCAR”, PONTÃO, SERRA ISOLADA, MACIÇO RESIDUAL, “MONADNOCK”
Rio Pancas: afluente do Rio Doce
rupícola, saxícola
As montanhas de pedras, serpenteando em cordilheiras como protetoras da minúscula localidade, fazendo-nos filosofar, que no “RESFRIAMENTO DO UNIVERSO A TERRA EM PANCAS ARREPIOU-SE EM PEDRAS” (L.S.F.N.)
Se a imagem do edenismo tropical é o estereótipo mais empregado para descrever o paisagismo de Burle Marx, (…) a caracterização da singularidade de seu paisagismo por meio da valorização de espécies nativas é a outra face, mais consequente e menos estereotipada, da mesma questão
por Guilherme Wisnik
Se a imagem do edenismo tropical é o estereótipo mais empregado para descrever o paisagismo de Burle Marx, tomado muitas vezes como metonímia de nossa modernidade em sentido amplo, a caracterização da singularidade de seu paisagismo por meio da valorização de espécies nativas é a outra face, mais consequente e menos estereotipada, da mesma questão. Compreendendo cada vez mais, e de forma profunda, a potência (plástica e botânica) da flora brasileira e sul-americana, com todas as suas implicações em termos de associações cromáticas e condições de adaptabilidade das diversas espécies ao clima em questão, Burle Marx constrói jardins que expressam de forma radical a cultura em que foram criados. Refiro-me à palavra cultura, aqui, em seu duplo sentido, abrangendo tanto o artístico – como um patrimônio de práticas e de modos de pensar – quanto o biológico – como um ecossistema onde coisas se formam e se transformam.
[…]
O empreendimento, que poderia parecer quixotesco por parte do jovem aprendiz de pintura e de paisagismo, mostrou-se profícuo e consequente. E seu sucesso, cuidadosamente amparado por Lucio Costa desde o início, veio a significar a superação daquele complexo de subdesenvolvimento ainda colonial que nos levava a copiar a Europa por um filtro acadêmico e convencional, liberando-nos para nos encontrarmos com nossa própria realidade – nosso passado cultural e nosso ambiente físico – por meio da linguagem da abstração, isto é, da arte não mimética.
[…]
Com certeza as viagens-expedições de estudo e coleta de espécies por diversos lugares do Brasil, que Burle Marx começara a fazer desde os anos 1940 por estímulo do botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto, são fundamentais para que aprofunde sua compreensão da ora, amparando uma transformação gradual de sua atuação como paisagista e consolidando sua militância política em favor da ecologia. Muito já se observou que o paisagismo de Burle Marx tem uma origem essencialmente pictórica, isto é, mais abstrata do que naturalista, por explorar contrastes de textura e grandes manchas de cor chapadas, como numa tela fauve, em exuberantes composições por all over, destituídas de perspectiva central e que abolem os canteiros regulares, os gramados escovinha e as podas ornamentais. […] Burle Marx (sic)– projetista de inúmeros parques e espaços públicos urbanos de grande porte e importância –, nunca flertou com nenhuma visão mítica da natureza. Seus projetos, portanto, não aludem a um encantamento romântico com a ruína, nem a celebrações extemporâneas da vida pastoral, a sugerir uma visão harmônica da vida. Ao contrário, expressam uma natureza instável, dinâmica, adaptativa, maleável, agressiva e em permanente estado de potência.
Wisnik, Guilherme (org.). Paraísos Inventados. São Paulo: Almeida e Dale Galeria, 2020.
https://www.almeidaedale.com.br/assets/pdfs/publicacoes/Catalogo_Burle_Marx_Paraisos_Inventados.pdf
Visitei regiões de estranha beleza, como o vale do rio Pancas, que há trinta anos ainda abrigava tribos indígenas. A região é um vale, fechado por montanhas de formas cônicas dispostas no arranjo de cenário, em cujas escarpas vegeta uma flora inteiramente sui generis com velózias, bômbax, orquídeas, meriânias, mandevillas, alamandas etc. De seus altos se vislumbra o curso sinuoso dos rios alimentados pela descarga das vertentes. É pena que essas formações primárias não gozem da proteção que se dedica a um sacrário, e vão, pouco a pouco, sendo destruídas pelas mãos da gente da terra, sem a compreensão de tais tesouros, e do imigrante europeu, transplantado mas não adaptado, para o qual os padrões de beleza são, ainda, apenas os que conheceu em sua terra natal.
Roberto Burle Marx, Jardim e ecologia – Conferência proferida em 1967. Fonte: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
As excursões de Burle-Marx pelos diversos biomas brasileiros, como a caatinga, cerrado, restinga, manguezais, entre outros, serviam para aprofundar os estudos dos ecossistemas brasileiros e sobretudo para a coleta de plantas vivas para o uso em paisagismo. Segundo Guilherme Wisnik, as viagens-expedições, “que Burle Marx começara a fazer desde os anos 1940 por estímulo do botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto, são fundamentais para que aprofunde sua compreensão da ora, amparando uma transformação gradual de sua atuação como paisagista e consolidando sua militância política em favor da ecologia”.
Fonte: Wisnik, Guilherme (org.). Paraísos Inventados. São Paulo: Almeida e Dale Galeria, 2020.
Lembro-me de uma viagem ao Espírito Santo, em que, ao penetrar a região do Pancas, fiquei deslumbrado com a morfologia do local
onde uma série de montanhas de forma cônica circundavam o vale, no qual o rio era uma grande serpente ondulante. O Gynerium sagittatum formava ilhas na planície, com as inflorescências oscilantes ao vento. Foi nessa região que encontrei o mais importante conjunto de plantas saxícolas, plantas langeniformes, gordas, armazenando reservas para épocas desfavoráveis; plantas casmófitas ancoradas nas fendas das pedras, formando associações entre as mais belas que eu já vi. Encontrei velózias que nos desafiavam em sua necessidade de mutação, subordinadas às oscilações de tempo e de umidade, ora se retraindo, perdendo a cor, ficando amarelas e, logo após uma chuva, voltando a um verde intenso e luminoso, para desabrochar numa floração tão linda que Martius, comovido com o espetáculo, a denominou “lírio da montanha”.
Roberto Burle Marx, Depoimento pessoal. In: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
Salvar ao menos parcela de nossa flora dizimada, coletar exemplares da natureza, descobrir seu potencial paisagístico, multiplicar espécies para poderem figurar condignamente nos jardins, demonstrar seu grande valor, quando utilizadas corretamente, em harmonia com o ambiente, passou a ser, pois, minha meta como paisagista.
Tinha nascido, assim, a ideia de criar um viveiro que me possibilitasse alcançar aquela meta. O terreno que viria a abrigar a coleção deveria preencher uma série de pré-requisitos, ligados com a sua função: diversidade de relevos, presença de água abundante, de pedras, de solo adequado etc. O trabalho, cuja realização se iniciou com a aquisição do terreno, efetua-se em etapas, ao longo dos anos, e é meu desejo assegurar a quantidade das coletas e a perpetuação das coleções de plantas.
Após longa procura, foi encontrada a área que corresponderia a essas exigências básicas, e que poderia, dessa forma, abrigar as espécies oriundas das mais diversas regiões, de condições diferentes de iluminação, umidade etc. O Sítio Santo Antônio da Bica, em Guaratiba, compreendia uma área ainda florestada, numa encosta. Apresentava topografia movimentada e incluía também uma área de baixada, sob a influência de água salobre.
Roberto Burle Marx, Paisagismo e flora brasileira, conferência proferida em 1975. TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
Fazer jardim é “realizar microclima”
Permite-me agora formular minha conceituação do problema jardim como sinônimo de adequação do meio ecológico para atender às exigências naturais da civilização. […] O jardim foi, de fato, uma sedimentação de circunstâncias. Foi somente o interesse de aplicar sobre a própria natureza os fundamentos da composição plástica, de acordo com os sentimentos estéticos da minha época. […] Se me indagassem qual a primeira atitude filosófica assumida para o meu jardim, logo responderia ser exatamente a mesma que traduz o comportamento do homem neolítico: alterar a natureza topográfica para ajustar a existência humana, individual e coletiva, utilitária e prazerosa.
https://www.almeidaedale.com.br/assets/pdfs/publicacoes/Catalogo_Burle_Marx_Paraisos_Inventados.pdf
Marx, Burle. Conceitos de Composição em paisagismo (1954). In: Wisnik, Guilherme (org.). Paraísos Inventados. São Paulo: Almeida e Dale Galeria, 2020.
Respeitando as exigências da compatibilidade ecológica e estética, ele pode criar associações artificiais de uma expressividade enorme. Fazer paisagem artificial não é negar nem imitar servilmente a natureza. É saber transpor, e saber associar, com base num critério seletivo, pessoal, os resultados de uma observação morosa, intensa e prolongada. De minha experiência posso lembrar agora do convívio com botânicos cuja colaboração reputo indispensável àquele que queira se dedicar ao mister de fazer paisagismo consciente e aprofundado, aproveitando esse imenso patrimônio, tão mal compreendido pelos paisagistas e pelos amantes de jardins, que é a exuberante flora brasileira. (…)
Afora a ação geral sobre uma região, o clima subdivide-se e diversifica-se numa série de microclimas decorrentes de fatores variados: topográficos, edáficos, altitudinais etc., que, do ponto de vista do jardim, podem ter a maior importância.
Em verdade, fazer jardins é, muitas vezes, “realizar” microclimas, harmonizá-los, mantendo sempre viva a concepção de que nessas associações as plantas colocam-se lado a lado, quase numa relação de necessidade.
O valor da planta na composição, como o valor da cor na pintura, é sempre relativo. A planta vale pelo contraste ou pela harmonia com outras plantas com que se relaciona.
(…) Há plantas que se modificam de tal maneira sob a ação das forças ambientais comuns que representantes de famílias extremamente distanciadas na série filogenética apresentam-se com acentuada semelhança, no aspecto exterior.
(grifo nosso)
Marx, Burle. Jardim e ecologia (1967). In: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
“Deus, para mim, é a natureza.” Roberto Burle Marx
Esta frase traduz o pensamento e o modo de estar no mundo de Roberto Burle Marx, que viveu em estreita ligação com a natureza.
O mais eloquente testemunho dessa ligação é o Sítio Roberto Burle Marx, um lugar único, em que cultura e natureza se entrelaçam. Só ele reúne um dos mais importantes acervos de plantas vivas do mundo num ambiente que sintetiza a vida e o espírito criativo desse grande artista e paisagista.
Situada na Barra de Guaratiba, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro, a propriedade em que Burle Marx morou e produziu em seus últimos vinte anos de vida foi – e continua sendo – um grande laboratório de experimentações: mais de 3.500 espécies de plantas tropicais e subtropicais, organizadas em viveiros e jardins, convivem em harmonia com a vegetação nativa numa área de 405 mil metros quadrados, que inclui várias edificações, lagos, jardins, coleções de arte e uma vasta biblioteca.
Desde 1985 o Sítio é uma unidade especial vinculada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), cumprindo o papel de preservar, pesquisar e divulgar a vida e a obra de Roberto Burle Marx.
fonte: www.https://sitiorobertoburlemarx.org.br/
Com efeito, sua aproximação cada vez maior da natureza por meio das viagens – que se consuma em 1949 com a compra do sítio Santo Antônio da Bica, em barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro – acrescenta outra camada em sua poética plástica, responsável por deslocá-la do pictórico ao botânico. No sítio, Burle Marx instala seus viveiros de plantas, onde pacientemente cultiva espécies locais e outras trazidas de suas expedições. Os viveiros, para o paisagista, são como o ateliê para o pintor ou o canteiro de obras para o arquiteto: a própria fonte – viva e sempre renovada – de sua imaginação criativa. Assim, para o projetista de jardins a planta é a linguagem por excelência. De acordo com Burle Marx, o conhecimento preciso da época de oração das espécies, bem como da altura a que chegam certas árvores, para o paisagista, equivaleria, na comparação com o arquiteto, ao domínio das noções sobre o cálculo das estruturas, por exemplo.
[grifo nosso]
Wisnik, Guilherme (org.). Paraísos Inventados. São Paulo: Almeida e Dale Galeria, 2020.
https://www.almeidaedale.com.br/assets/pdfs/publicacoes/Catalogo_Burle_Marx_Paraisos_Inventados.pdf
E como considerar a planta?
A planta é nosso objeto. E como considerar a planta? De um lado, ela é um ser vivo que obedece a um determinismo condicionado pelas leis do crescimento, da fisiologia, da biofísica e da bioquímica. Por outro lado, qualquer planta é o resultado de um longo processo histórico, no qual ela incorpora em seu estado atual todas as experiências de uma longa linha de ascendentes, que se vai perder na indefinição dos primeiros seres. E todo esse aperfeiçoamento de formas, de cor, de ritmo, de estrutura, faz com que participe de um outro plano categorial, o plano dos seres estéticos, cuja existência é um mistério para o homem. A planta goza, no mais alto grau, da propriedade de ser instável. Ela é viva enquanto se altera. Ela sofre uma mutação constante, um desequilíbrio permanente, cuja finalidade é a própria busca de equilíbrio.
[grifo nosso]
Marx, Burle. Jardim e ecologia (1967). In: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
o jardim, o espaço coletivo, induz os indivíduos a quererem preservar o que é de todos.
Por meio do jardim, da planta brasileira, experimento construir um espaço da respiração e da reflexão, procuro uma forma de identificar-me com aqueles que buscam, na vida, maiores possibilidades de equilíbrio ou, pelo menos, disposição na perseguição desse objetivo.
O jardim ordenado, nos espaços urbanos de hoje, é um convite ao convívio, à recuperação do tempo real da natureza das coisas, em oposição à velocidade ilusória das regras da sociedade de consumo.
O jardim pode e deve ser um meio de conscientização de uma existência, na medida verdadeira do homem, do que significa estar vivo. Ele é um exemplo da coexistência pacífica das várias espécies, lugar de respeito pela natureza e pelo outro, pelo diferente: o jardim é, em suma, um instrumento de prazer e um meio de educação.
Em uma sociedade predatória, desprovida de recursos, como a nossa, o jardim, o espaço coletivo, induz os indivíduos a quererem preservar o que é de todos.
Por solidariedade para com o cotidiano sofrido de tantos, é que constitui para mim coisa essencial abrir um espaço de verdes, áreas em que cada um que deseje possa aliviar o peso do nosso tempo, pela busca ou pelo encontro de um pouco do paraíso perdido.
Marx, Burle. Considerações sobre a arte brasileira (1966). In: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
Mediante encomenda do governo do Estado do Espírito Santo, Roza elabora o projeto do Edifício das Repartições Públicas em Vitória (1951), o qual se tornaria uma espécie de marco fundante da arquitetura modernista na capital espírito-santense. O edifício, construído em ritmo lento devido a percalços técnicos, foi inaugurado em 1962. À época, edifício audacioso, pela sua inserção em seu contexto, pela sua originalidade plástica, pela forma de aplicar os materiais, com o predomínio do concreto, vidro e mármore.
Contemplado com os princípios corbusianos da moderna arquitetura, apoiado em colunas de mármore branco, a solução arquitetônica transformava todo o andar térreo do edifício num enorme vão livre e permitia atravessar o quarteirão, com a circulação de uma rua a outra (em frente ao porto da cidade), lembrando as “passagens” ou as “galerias” parisienses, celebradas por poetas e filósofos como Walter Benjamin. Os transeuntes do edifício poderiam ainda fruir, na parede esquerda de quem entra no edifício, um grande painel mural de Roberto Burle Marx.”
Fonte: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.150/4556
Não obstante tudo isso, existe ainda o universo de formas vegetais a preservar
De um ponto de vista antropocêntrico, podemos dizer que a planta como que foi criada para o homem. É a mesma concepção já constante da Bíblia. No mundo europeu, com uma flora altamente domesticada, guardava o homem um relativo equilíbrio em relação à árvore e à floresta. Ao conquistar o Novo Mundo, a floresta, sobretudo a floresta tropical, o encheu de pavores. Ela era o refúgio do índio e dos seres agressivos: a onça, a serpente, a aranha, o jacaré e o mosquito. Então criaram-se na mente do habitante a necessidade de abrir clareiras estratégicas e o complexo de derrubar e destruir. A necessidade de abrir pastos e terras de cultura exigiu extensas derrubadas. O “civilizado” assimilou a coivara, que o índio fazia como técnica de agricultura nômade. E a coivara se ampliou, se fortaleceu e hoje é feita com intensidade nunca antes alcançada, porque os meios de destruição, as máquinas (bulldozers) adquirem cada vez maior tonelagem. Um desses monstros mecânicos pode destruir, numa hora, o trabalho de milênios de evolução. É o quadro melancólico a que as pessoas assistem, impotentes, contra a violência maior das influências morais, econômicas, sociais e psicológicas do mundo contemporâneo. Não obstante tudo isso, existe ainda o universo de formas vegetais a preservar (…).
Insistindo no tema da devastação, mais grave nos países tropicais que nos temperados, temos que salientar que um dos seus principais efeitos reside nas alterações climáticas, microclimáticas e na destruição do capital social representado pela fertilidade do solo. Sobre isso, se instauram a extinção da fauna e a desertificação de extensas áreas, dificilmente recuperáveis. É um atentado da humanidade contra as fontes da vida e uma forma de destruição das gerações futuras.
Marx, Burle. Jardim e ecologia (1967). In: TABACOW, José (org.). Roberto Burle Marx, arte & paisagem: conferências escolhidas. São Paulo: Studio Nobel, 2004.
O Monumento Natural dos Pontões Capixabas
compreende uma área de 17.496 ha, localizada no norte do Estado do Espírito Santo nos municípios de Pancas e Águia Branca, e tem como objetivo básico preservar os pontões rochosos, a flora e a fauna associadas, bem como a paisagem formada pelos elementos naturais e culturais tradicionais.
Fonte: http://sistemas.mma.gov.br/cnuc/index.php?ido=relatorioparametrizado.exibeRelatorio&relatorioPadrao=true&idUc=181
Um processo peculiar de participação social ocorreu em 2008, quando foi alterada a categoria de uma Unidade de Conservação federal de proteção integral, o Parque Nacional de Pontões Capixabas – PNPC, para que fosse possível a manutenção, em seu interior, dos seus milhares de moradores; algo inédito no âmbito da legislação ambiental brasileira.
…
A criação de uma Unidade de Conservação envolve a inserção de uma nova concepção de territorialidade para os seus habitantes e os moradores do entorno, ao mesmo tempo em que pode gerar a iminência da desterritorialização. Um exemplo dessa situação ocorreu com a criação do Parque Nacional de Pontões Capixabas, uma unidade de proteção integral habitada por mais de 500 famílias, que se uniram em torno da causa da permanência em seu território e buscaram alternativas para a decisão governamental de instituição do Parque. Suas reivindicações culminaram na instituição da primeira Unidade de Conservação federal de proteção integral com a permissão legal para permanência de moradores em seu interior, desde o ano de 2008.
…
No caso das áreas protegidas, além das discussões relacionadas com a preservação da biodiversidade é essencial que ocorra a valorização dos aspectos culturais e da territorialidade das populações tradicionais como um princípio norteador da criação e implantação das Unidades de Conservação.
trechos coletados em:
Barbosa, Claudia Silva. Recategorização de Unidades de Conservação: o discurso de uma nova territorialidade e participação social no contexto do Parque Nacional dos Pontões Capixabas – ES; Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Geociência, 2013.
GEOMORFOLOGIA TROPICAL – estuda as formas do relevo existentes nas regiões intertropicais de clima úmido. Certas formas de relevo, certos tipos de alteração das rochas constituem características do clima da região e não entram no panorama das regiões de clima temperado.
Na MORFOLOGIA TROPICAL há, portanto, grande número de características próprias que difere das regiões temperadas:
> Grande espessura da camada de rochas decompostas que mascaram as formas estruturais.
> Coloração dominantemente vermelha ou alaranjada dos solos e regolitos.
> Vertentes convexas e formas típicas de PÃO-DE-AÇÚCAR e PONTÕES, nas áreas cristalinas.
> Vales de fundo chato, grandes alvéolos e escassez de material aluvionar (seixos) em terraços, por causa da grande dissolução.
Fonte: IBGE, p.217. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
INSELBERGUE, MONTANHA-ILHA, “PÃO-DE-AÇÚCAR”, PONTÃO, SERRA ISOLADA, MACIÇO RESIDUAL, “MONADNOCK”
INSELBERGUE – denominação usada por Bornhardt para as elevações ilhadas que aparecem em regiões de clima árido. Hoje este termo está sendo usado de modo confuso por certos geomorfólogos para designar cones vulcânicos, formas de PÃES-DE-AÇÚCAR, etc.
FONTE: IBGE, p.235. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
MONTANHA-ILHA – denominação que pode ser usada como sinônimo de INSELBERGUE.
FONTE: IBGE, p.296. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
“PÃO-DE-AÇÚCAR” – denominação regional brasileira, usada para os cumes arredondados e bastante abruptos, como se pode observar no Rio de Janeiro, (Fig. n° 1P) e no Espírito Santo. Neste último estado, costuma-se, também, chamar esta forma de relevo de “PONTÃO”.
FONTE: IBGE, p.310. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
PONTÃO – termo regional, usado no estado do Espírito Santo, para as formas de relevo que possuem cumes arredondados e bastante abruptos. (Fig. n° 22P). O mesmo que PÃO-DE-AÇÚCAR.
FONTE: IBGE, p.338. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
SERRA ISOLADA – denominação usada por certos autores no Nordeste do Brasil para as elevações de rochas resistentes. Sinônimo de INSELBERGUE.
FONTE: IBGE, p.388. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
“MONADNOCK” – são designadas assim, as elevações residuais que resistem mais à erosão, em áreas peneplanizadas. Geralmente usamos este termo como sinônimo de “testemunho” (butte temoin). Aliás, o mais comum é usar-se indiferentemente os dois termos.
Davis* distinguiu dois tipos de monadnocks: a) resíduo de divisores de água, que sofreram fraca erosão (Ferniling, do alemão) e b) resíduos oriundos de rochas mais resistentes e, por conseguinte, menos atacadas pela erosão (Härtling, do alemão).
*William Morris Davis foi um geógrafo norte-americano, 1850-1934.
FONTE: IBGE, p.293. Dicionário Geológico-Geomorfológico. Antônio Teixeira Guerra, 1972.
Rio Pancas: afluente do Rio Doce
O Rio Pancas é afluente do Rio Doce pela margem esquerda. A nascente principal está na Serra do Alto Pancas, próximo à divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, no município de Pancas (ES). A foz no Rio Doce está à jusante da cidade de Colatina (ES).
O Rio Pancas possui a nascente principal na altitude de 432 metros s.n.m. (sobre o nível do mar) e deságua no Rio Doce na altitude de cerca de 32 metros s.n.m. O curso principal do rio Pancas possui uma extensão de 116 Km e a sua confluência com o Rio Doce está a aproximadamente 113 Km da foz marítima do Rio Doce no distrito de Regência, Linhares (ES).
FONTE: Rupf, Karlos. Em análise sobre mapa do IBGE. Mapeamento Topográfico Sistemático Terrestre do Brasil na escala 1:100.000 / Relatório Final do Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Doce. Volume I, 2010.
rupícola, saxícola
RUPÍCOLA
Planta própria de terrenos rochosos, vivendo preferencialmente sobre as rochas.
SAXÍCOLA
Planta que se desenvolve entre pedras.
FONTE: IBGE. Vocabulário básico de recursos naturais e meio ambiente. 2004. Acesso em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv4730.pdf
Arbusto da família Melastomataceae, endêmico da Mata Atlântica do estado do Espírito Santo, habitante de afloramentos rochosos. Planta adaptada a ambientes extremos de altas temperaturas, pouca água e solos rasos. Possui caules fistulosos, cilíndricos, ramos finos na base e espessos em seu topo, folhas apenas em suas extremidades e flores isoladas.
A espécie foi descoberta em uma das expedições do paisagista Roberto Burle Marx ao vale do rio Pancas, seu nome científico foi dado em homenagem ao paisagista.
Goldenberg, R.; Michelangeli, F.A. 2020. Merianthera in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB9664>. Acesso em: 21 nov. 2021
CNCFlora. Merianthera burlemarxii in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Merianthera burlemarxii>.
COCO-DA-PEDRA
Syagrus ruschiana (Bondar) Glassman
Palmeira endêmica do Brasil, com ocorrência na Mata Atlântica dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais. Habitante de afloramentos rochosos, tem por característica seu porte moderado (1,5 a 9m de altura) e estipe cespitoso, com caules múltiplos.
Seu nome científico foi dado em homenagem ao cientista Augusto Ruschi.
Soares, K.P. 2020. Syagrus in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB34084>.
CNCFlora. Syagrus ruschiana in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Syagrus ruschiana>
Bromeliaceae típica de inselbergues da Mata Atlântica, onde forma grandes populações, especialmente nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Possui folhas arqueadas com margem densamente espinescentes. Ocorre nos afloramentos rochosos do Monumento Nacional dos Pontões Capixabas.
Forzza, R.C. 2020. Encholirium in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB6088>.CNCFlora.
Arbusto ou pequena a árvore de 2m a 6m de altura. Melastomatácea endêmica da Mata Atlântica brasileira nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Ocorre nos afloramentos rochosos do Monumento Natural dos Pontões Capixabas.
Goldenberg, R.; Michelangeli, F.A. 2020. Merianthera in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB9665>.
Philodendron edmundoi G.M.Barroso
Filodendro endêmico da Mata Atlântica brasileira, de substrato hemiepífita e rupícola. Ocorre nos afloramentos rochosos do Monumento Natural dos Pontões Capixabas.
Sakuragui, C.M.; Calazans, L.S.B.; Soares, M.L.; Mayo, S.J.; Ferreira, J.B. 2020. Philodendron in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB5033>.
Arbusto ou pequena árvore de 2m a 6m de altura que perde suas folhas quando em floração. Endêmica do Brasil, com ocorrência em afloramentos rochosos do Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Souza-Buturi, F.O. 2020. Wunderlichia in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB5542>.
CNCFlora. Wunderlichia azulensis in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-br/profile/Wunderlichia azulensis>
Fonte: https://specieslink.net/, banco de dados do herbário do Museu de Biologia Mello Leitão
A história desconhecida de um povo que sobreviveu à colonização do Vale do Rio Doce.
Quando os portugueses chegaram no Sudeste do Brasil, grupos nômades, que se autodenominavam “borum” (o ser), viviam na Mata Atlântica que cobria a bacia do Rio Doce. Eles passaram a ser chamados de “botocudos” pelos portugueses.
Como resistiam aos avanços dos colonizadores, os borum se tornaram um empecilho para a Coroa Portuguesa, que declarou a Guerra Justa, legalizando assim sua escravidão e extermínio.
No século XIX, a fama de selvageria dos botocudos despertou a curiosidade de naturalistas e pesquisadores europeus, entre eles o príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e a princesa Teresa da Baviera.
Na história brasileira, os borum não existem e os botocudos ainda são representados como guerreiros canibais e primitivos, extintos no século passado.
No entanto, os borum sobreviveram, e contam aqui a sua versão da história.
por Adriana Jacobsen
As pesquisas dos naturalistas-viajantes seguiram dois grandes eixos temáticos e interpretativos: a descrição pormenorizada de espécimes e fenômenos particulares e a visão de conjunto das populações e da natureza. Por um lado, os estudos dos viajantes-naturalistas buscavam dar um tipo de tratamento aos espécimes que coletavam e observavam que tinha por base o desvendamento de suas partes componentes, a fim de inseri-los em uma ordem universal. Um viajante que chegasse em um lugar que nunca tinha visto antes deveria ser capaz de reconhecer os seres ali existentes, por meio de comparações morfológicas com as espécies que já lhe eram familiares. Com relação às plantas, por exemplo, os livros científicos de viagem contêm descrições pormenorizadas de todos os detalhes de cada vegetal, operação necessária para a classificação da espécie em um gênero, que por sua vez se inscreveria em uma família, e assim por diante.
Por outro lado, as observações dos viajantes-naturalistas buscavam compreender o conjunto dos seres e fenômenos observados, realizando um tipo de conhecimento que está na origem dos saberes ecológicos atuais. Na época, a interação dos animais e plantas com o ambiente chamava-se de “economia da natureza”.
Os mais famosos viajantes do século XIX foram estrangeiros. Suas obras são até hoje referenciais importantes para o conhecimento da história e da natureza do Brasil. Spix e Martius, o príncipe de Wied-Neuwied, Auguste de Saint-Hilaire, Henry Walter Bates, Alfred Russel Wallace, Hermann Burmeister, Louis Agassiz e Peter Wilhem Lund, além do próprio Darwin, estão entre os naturalistas que percorreram o país.
Fonte: http://bndigital.bn.gov.br/dossies/rede-da-memoria-virtual-brasileira/ciencias/viagens-cientificas/
“Novamente seguimos à margem do rio Doce. A paisagem era de uma beleza ímpar, montanhas arredondadas e íngremes, rochas imponentes, entre elas matas e pastos queimados. Nos vales férteis ficavam as casas dos colonos pomeranos. As casas de madeira, cujas paredes eram pintadas de branco, eram construídas sobre pilastras e as varandas, portas e janelas eram pintadas em azul claro. Quando vimos essa mistura de cores azul e branco, pudemos ter certeza que aqui residiam pomeranos..”
Fonte: Wernicke, Hugo. Viagem pelas colônias Alemãs do Espírito Santo: a população Evangélico-Alemã no Espírito Santo: uma viagem até os cafeicultores alemães em um estado tropical do Brasil. Vitória: Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2013.
Pontões Capixabas destaca-se por suas características físicas peculiares e é o lugar de pertencimento de diversos sujeitos. Nos Pontões habita uma população tradicional, a Pomerana. Considerando os pressupostos de tradicionalidade instituídos pela Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições, os pomeranos tiveram a sua permanência garantida no interior do Monumento Natural dos Cinco Pontões.
Um dos objetivos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC é “proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente”
O Espírito Santo destaca-se, historicamente, como produtor de gemas, sendo referência no que se refere às variedades de berilo, principalmente a água-marinha. Segundo TAUFNER (2007), em todos os municípios do Espírito Santo é possível encontrar o mineral berilo, nas variedades água-marinha, heliodoro e morganita, juntamente com outros minerais com grande potencial gemológico.
(…)
Outro destaque é o município de Pancas, a região produziu as duas águas-marinhas mais famosas do Brasil, a primeira, encontrada na década de 50 pesando 25kg foi batizada de “Marta Rocha” e a segunda encontrada na década de 80 pesando 20,6kg foi batizada de “Xuxa”.
(…)
A coloração e a qualidade dos cristais varia de um depósito para outro indo de azul claro, quase incolor ao azul intenso e azul esverdeado, com diafaneidade variando de transparente a translúcido, subédricas à euédricas com grande potencial de aproveitamento gemológico.
Fonte: Marçal, F. A.; Newman, D. T. C. de; Newman, J.A; Sousa, G. A; Paula, B. N.; Perini, D. S. Ocorrências de Água-Marinha no Espírito Santo: Dados Preliminares. Universidade Federal do Espírito Santo.
por Luiz Emygdio de Mello Filho
Conheci a região do Pancas em 1948, quando realizei uma expedição para observação e coleta de material de espécies do gênero Strychnos, no contexto de uma pesquisa botânica, química e clínica, realizada pelo Instituto Vital Brasil, de Niterói.
Partindo de Colatina, tomei a estrada para Santa Luzia e nos instalamos, éramos quatro médicos no que fora o último aldeamento dos indígenas, depois removidos para Minas Gerais.
Tivemos o concurso valioso de um ??? da região, profundo conhecedor de seus valores, o Sr. (Dr.?) Almerindo e percorremos os arredores de nossa sede. A topografia monumental do terreno, com uma infinidade de morros graníticos, com o formato de Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, emprestava-lhe um valor cênico indiscutível.
Logo a primeira pergunta, Porque numa região tão nobre, dotada ainda de resíduos de floresta (ainda as havia recém derrubadas, para a formação de pastagens) onde foi possível reconhecer espécies florestais de maior valia.
E as escarpas plenas de bromélias, orquídeas, palmeiras e aráceas, cada uma com sua vegetação típica, cada uma em realidade um mini jardim botânico, ??? de biodiversidade.
A seguir pensamos esse ??? é o sítio ideal para a instalação de um parque nacional ou estadual e nunca mais esse propósito se enfraqueceu. Fizemos, nesse sentido, sem sucesso, gestões ante o antigo IBDF e o Governo do Estado do Espírito Santo.
Mais tarde, quando Diretor de Parques do Rio de Janeiro, fiz uma excursão ao Pancas, com companheiros tão ilustres como Roberto Burle Marx, Rino Levi e Luiz Correia de Araújo, para a composição vegetal do jardim em frente ao Aeroporto Santos Dumont.
Desse trajeto resultou a presença de Clusia, três espécies, no jardim do Aeroporto, que Basset Maguire, especialista no gênero, ao visitá-lo, declarou-se encantado pela temática desse plantio. Eram 18 indivíduos, hoje resta um grande indivíduo que é talvez a árvore mais importante do jardim.
No Brasil de hoje, quando avançamos em direção ao futuro do grande país que fugindo à globalização subordinada, é esse o momento de criar o grande Parque Nacional do Pancas, preservando uma das paisagens mais singulares do Sistema Atlântico de Vegetação e atraindo brasileiros e estrangeiros para o desfrute dos valores ambientais ali concentrados.
Bem delimitado, bem administrado e com as estruturas necessárias para o proposto Parque, será ele um local para o ecoturismo em bases ecológicas que é o que as gerações exigem em suas maneiras atuais de ??? e de compreender a relação complexa entre o ser humano e a natureza.
O Brasil, se quiser ser um país com um grande futuro terá que preservar novos sítios de suas fabulosas paisagens e oferecer aos habitantes da terra como um local de visita, de encanto e de aprendizagem ecológica.
Nenhum outro lugar do país merece tanto ser conceituado como um modelo de Parque, com uma paisagem única e com uma reprimenda aos administradores que até o presente não se interessaram por essa nobre causa.
Janeiro de 2002, transcrito por José Tabacow
A residência artística “Residência Expedição — de Burle Marx ao vale do Rio Pancas" busca aprofundar o conhecimento sobre as noções de paisagem e cultura a partir do Monumento Natural dos Pontões Capixabas localizado no município de Pancas-ES.
Os artistas e pesquisadores Alessandra Felix, Clara Pignaton, Igor Maia, Karlos Rupf, Lilian Dazzi, Maria Emilia Vasconcellos, Patrícia Stuhr, Raquel Garbelotti, Tessa Chimalli e Yurie Yaginuma participaram da residência e visitaram as rotas das expedições de um dos mais importantes paisagistas do mundo, o brasileiro Roberto Burle Marx (1909–1994), passando pelo Vale do Rio de Pancas e os Pontões Capixabas.
A partir das expedições e vivências, o grupo vem trabalhando em criações que dialogam com o território e seus moradores e que articulam o passado e o presente em diferentes olhares para a geografia, de modo a constituir novas possibilidades de afetação, encontro e memória.
Os trabalhos da expedição artístico-ambiental irão compor uma exposição física a partir do diálogo entre diferentes linguagens como vídeo, som, desenho e instalações. As pesquisas realizadas ao longo da residência-expedição estarão disponíveis em um site-arquivo a fim de ampliar o acesso do público às temáticas abordadas no projeto.
O projeto “Residência-Expedição — de Burle Marx ao Vale do Rio Pancas" é contemplado pelo edital de Artes Integradas organizado pela Secult-ES com recursos da Lei Aldir Blanc.
Concepção e Pesquisa
Clara Pignaton
Karlos Rupf
Lilian Dazzi
Maria Emilia Vasconcellos
Coordenação e Produção
Clara Pignaton
Produção Executiva
Maria Grijó Simonetti - Ventania
Projeto Gráfico
Victoria Pianca
Residentes
Alessandra Felix
Clara Pignaton
Igor Maia
Karlos Rupf
Lilian Dazzi
Maria Emilia Vasconcellos
Patrícia Stuhr
Raquel Garbelotti
Tessa Chimalli
Yurie Yaginuma
Educativo
Maria Menezes
Tessa Chimalli
Thiago Sobreiro
Montagem exposição
Thiago Sobreiro
Assessoria de Imprensa
Lívia Corbellari
Website
Fábio Birous
Edição de Vídeo
Claudiana Braga