• Cristiane Rogério
Atualizado em
Cuca Bacana_Angela Lago (Foto: Divulgação)

A mineira Angela-Lago adora brincar. Autora de dezenas de livros infantis, Angela não perde a oportunidade de brincar com números, letras, palavras e quaisquer formas que a mistura deles possa criar. O que vale é imaginar e provocar diversão no leitor. Ou melhor, paixão.

Nesta conversa que tive com ela para o site CRESCER, falamos de um de seus lançamentos, o A Visita dos 10 Monstrinhos (Ed. Cia das Letrinhas), em que Angela dedica um jogo de palavras e números para os que estão aprendendo a contar. Mas, como ela mesmo diz: "serve também para quem precisa lidar com algum monstro".

CRESCER: Primeiro eu queria que você tentasse contar aqui um pouco do seu trabalho com linguagem, seus livros que atingem os leitores mais novos, que estão aprendendo a amar as letras, os números... Essa é uma temática forte em seu trabalho, não?
Angela-Lago: É sim. Acabo de entregar para a Letrinhas Os 10 Monstrinhos, que apresenta o senhor Zero às crianças que estão aprendendo a contar. Tenho o ABC Doido na Editora Melhoramentos, que está esgotado, mas sairá em nova edição ainda este ano.
Nos dois, uso rimas e outras brincadeiras com a sonoridade da língua. E tento transformar o desenho da letra ou do número em algo que ajude a criança a dar um sentido ao signo.
Para os leitores iniciantes, tenho também alguns livros que unem imagens e texto como em uma carta enigmática. Sua Alteza a Divinha, na RHJ. A Novela da Panela, na Editora Moderna.
Adoro adivinhas, enigmas e cartas enigmáticas. São sempre uma surpresa, nos fazem sorrir. E nas Cartas enigmáticas as imagens constroem um mapa para a leitura. É difícil entender e guardar o que foi lido quando ainda soletramos as palavras. Fica mais fácil quando as imagens servem de marcos dos momentos-chaves do texto.

C: Falando em "amar e aprender", qual a importância do livro para isso acontecer?
A.L: Alguns escritores e educadores diziam que ler era só prazer. Acho que não se fala mais isso. Todos sabemos que ler exige alguma concentração e às vezes esforço. O que sempre acreditamos é o quanto a leitura vale a pena. Lemos e ampliamos nosso mundo, compreendemos o que se passa ao nosso redor ou o que se passou algum dia em algum lugar remoto. Lemos e crescemos. Lemos e deciframos um pouco o ser humano e a sua capacidade de amar. Quer saber de uma coisa? Acho o livro em si amorável.

C: Por que devemos apresentar livros às crianças também que valorizem a ilustração?
A.L: Porque a ilustração também lê o mundo. Como o texto, ela narra uma cultura.

C: O quanto a ilustração pode brincar com a criança, com a leitura, com a história?
A.L: Texto e ilustração fazem um único objeto, o livro, que será apreendido em seu conjunto. Esse objeto tem que ser coerente. É verdade que alguns ilustradores são capazes de desenhar imagens que fazem sorrir para um texto que faz chorar e ainda assim manter a inteireza do livro. Mas não são todos os ilustradores que conseguem isso. Acompanhar o texto em suas tonalidades pode ser um caminho mais viável. E não há nenhum perigo em repetir nada. Nada se repete quando duas linguagens são diferentes.

C: A Visita dos 10 Monstrinhos, por exemplo, você pensou nele todo junto? Quero dizer: ideia, texto, ilustração e projeto gráfico?
A.L: Eu comecei o texto primeiro, depois desenhei alguns monstrinhos, depois paginei. Mas é fácil fazer um livro todo sozinha. Em todos os momentos a gente se permite ir e voltar, corrigir, modificar, tanto o texto quanto os desenhos ou a paginação. Acaba ficando uma coisa só.

C: Como é que você juntou números com monstros? De onde surgiu essa ideia?
A. L: Queria que o número três representasse três, mas não sou lá tão grande desenhista. Somar três coisas dentro da forma exata de um número é difícil. Só consegui fazer monstros.

C: Você precisa de ajuda para enfrentar seus monstros?
A.L: Preciso sim. Preciso muito de amigos, livros e internet. Muitas vezes recorro a livros de filosofia ou mesmo de ciência na tentativa de dominar meus monstros pelo saber. Não dá muito certo. Nos momentos de maior perigo corro logo para os contos de encantamento. Como Sherazade, acredito que os contos curam. Ou pelo menos amenizam a existência e a dor. De qualquer forma, nessas histórias, bruxas, gigantes e outros monstros perdem sempre para as camponesas, navegantes e princesas. Não é uma garantia de vida?

C: Você se lembra de quando aprendeu a contar até 10?
A.L:
Não me lembro mais, mas com certeza primeiro aprendi a contar até "muito".

C: Você convive com crianças? Sabe diretamente delas o que seus livros causam nelas? E como isso te influencia como artista, como escritora?
A.L:
Tenho alguns netos postiços, pois não tive filhos. Adoro quando eles gostam de algum livro meu. Fico feliz. Mas não deixo de publicar os que eles desdenham. Sei que, como nós, adultos, cada criança é única, diferente. O que uma detestou, outra pode gostar. E depois, eu não preciso agradar sempre.

C: O que precisa ter um livro para crianças para ser bom?
A.L:
Ser verdadeiro. Verdadeiro com toda a fantasia que se quiser. Ser inteiro.

C: Quais são seus próximos projetos? Dá para contar? É verdade que teremos A Vizinha com a Vassoura e a Varinha?
A.L:
É. Mas "se ela morasse mais longe daria mais certo. O problema é que a vizinha mora muito perto".