• Isabela Moreira
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tardigrada (Foto: Flickr/Katexic Publications)

(Foto: Flickr/Katexic Publications)

O filo dos tardígrados é um dos mais fascinantes da natureza. As criaturas microscópicas – além de terem uma aparência adorável – são capazes de sobreviver em diversos tipos de condições extremas, como no vácuo do espaço e em temperaturas de 80ºC negativos, por exemplo.

Até o momento, cientistas encontraram 1000 espécies do filo e cada descoberta é mais empolgante do que a outra. Separamos alguns dos conhecimentos sobre os tardígrados compartilhados em estudos e pesquisas. Confira: 

O filo sobreviveu às cinco principais extinções em massa ocorridas na Terra

Os fósseis dos tardígrados são de mais de 500 milhões de anos atrás, quando os primeiros animais mais complexos estavam começando a se desenvolver.

O filo foi descoberto por um pastor chamado Johann August Ephraim Goeze em 1773. Mas foi só três anos depois, na Itália, que as habilidades especiais dos tardígrados foram reconhecidas. Ao adicionar água aos sedimentos restantes da calha após uma chuva e observar a mistura em um microscópio, o clérigo e cientista Lazzaro Spanllanzani encontrou centenas de criaturas com formato de ursos nadando.

Ele as chamou de "il Tardigrado", que significa "as que se movem devagar", por conta dos ritmos delas. Até o momento foram descobertas cerca de 1000 espécies de tardígrados. 

Os tardígrados conseguem sobreviver em condições extremas

As criaturinhas conseguem sobreviver em temperaturas inferiores a 270ºC e superiores a 150ºC.

Os tardígrados também possuem uma espécie de "kryptonita", que não é tão ruim quanto parece: eles precisam estar sempre na água, caso contrário, ficam desidratados e em entram em um estado de hibernação. Trata-se do processo de criptobiose, no qual os tardígrados se encolhem em uma espécie de bolinha e produzem um revestimento extra em seus corpos que os protege de elementos que poderiam matá-los.

Em 1948, um zoólogo italiano afirmou ter encontrado em um museu tardígrados hibernando em musgo seco – eles teriam sobrevivido por 120 anos. Quarenta e sete anos depois, o experimento foi replicado e as criaturas sobreviveram em criptobiose por oito anos.

Por conta disso, em 2007 cientistas da Agência Espacial Europeia decidiram fazer um experimento para ver como os tardígrados se sairiam no vácuo do espaço. Duas espécies do filo foram enviadas em uma missão para o espaço e cerca da metade dos tardígrados sobreviveram à viagem de volta. Em entrevista à New Scientist, a astrobióloga Gerda Horneck, o Centro Aeroespacial Alemão, explicou que a habilidade desse filo de sobreviver a condições extremas pode ser uma indicação de que existam outros organismos com as mesmas capacidades pelo Sistema Solar e além.

Muitas vezes eles são pioneiros de ecossistemas

Os tardígrados costumam ser os primeiros a colonizar ambientes rigorosos. O biólogo Byron Adams, da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, deu um exemplo em entrevista ao Vox: "Quando um vulcão entra em erupção e a lava passa por todo o ecossistema, este morre. Nesse caso, os tardígrados são os primeiros animais multicelulares a colonizar o ambiente. Eles se alimentam de micróbios que vivem por ali". A partir dai, os tardígrados acumulam elementos essenciais para a vida, como nitrogênio, carbono e fósforo, e conseguem sobreviver

É o filo que mais possui DNA exógeno

No fim de novembro de 2015, cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, anunciaram ter descoberto que 17,5% do DNA dos tardígrados é exógeno, ou seja, desconhecido ao organismo deles. Em termos de comparação, a maioria dos animais tem menos de 1% de DNA exógeno em seus genomas.

tardigrados (Foto: Reprodução/Youtube)

(Foto: Reprodução/Youtube)

Os pesquisadores acreditam que os tardígrados consigam milhares de genes exógenos de bactérias, plantas, fungos e archae, por meio da transferência horizontal de genes, na qual ocorre a troca de material genético entre as espécies. Isso significa que quando os tardígrados estão em condições extremas, seu DNA se quebra e, quando a célula se hidrata novamente, a membrana e o núcleo do DNA ficam esburacados, permitindo que outras moléculas passem. Sendo assim, o animal consegue consertar seu próprio DNA, criando um mosaico de genes que vêm de diferentes espécies. Nesse mosaico, seria possível descobrir o que faz com que os tardígrados consigam sobreviver em condições tão extremas

Qualquer uma pode encontrar um tardígrado

Apesar de terem entre 0,3 a 0,5 milímetros de comprimento, os tardígrados podem ser encontrados facilmente. A Faculdade Carleton, nos Estados Unidos, inclusive, fez um guia de como encontrar as criaturas. Confira algumas das dicas:

1. Colete um montinho de musgo ou líquen (seco ou úmido) e o coloque em um prato raso. 

2. Deixe ensopado de água (de preferência água da chuva ou água destilada) por até 24 horas. 

3. Remova e descarte o restante da água.

4. Chacoalhe ou esprema os montinhos de musgo/líquen em outra louça para coletar a água que ficou acumulada. 

5. Examine essa água em um microscópio.