• Rebecca Silva
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O Fusca foi criado há mais de 80 anos, mas ainda hoje exerce um fascínio sobre fãs de carros e move uma legião de adoradores. Alguns exemplares ainda são vistos circulando por aí nas ruas, afinal, ele liderou o mercado brasileiro por 23 anos. Em comemoração do Dia Mundial do Fusca, celebrado nesta quarta-feira (22/6), contamos a história da oficina Trocar Autos Antigos, que se especializou em restaurar veículos e tem o Fusca como carro-chefe nos pedidos.

No destaque, o 'Black Service' de Seu Jorge, ao lado de outros Fuscas restaurados na oficina (Foto: Divulgação)

No destaque, o Black Service, de Seu Jorge, ao lado de outros Fuscas restaurados na oficina (Foto: Divulgação)

A história começou com o pai, Laércio de Almeida, ainda na infância. Quando tinha cerca de 11 anos, precisou trabalhar para ajudar a família. O primeiro emprego foi como auxiliar de limpeza em uma tapeçaria do bairro, onde ele foi crescendo de cargo até chegar à liderança da empresa, assumindo a tapeçaria completa. Em 1983, decidiu que queria abrir uma oficina e, com o dinheiro que juntou do emprego, fundou a Trocar.

Inicialmente, ele cuidava apenas da parte de tapeçaria, sua especialidade. Ali, não recusava serviço, mesmo dos carros antigos, que eram negados por outras oficinas pela complexidade dos projetos. “Ele aceitava qualquer trabalho porque tinha curiosidade. Sempre foi muito perfeccionista e foi se diferenciando com a demanda de carros antigos”, conta o filho, Bruno Bertoli. Ele e o irmão, Leandro Bertoli Almeida, entraram na empresa depois de se formarem na faculdade. O primeiro, em design. O segundo, em economia.

A oficina, localizada em Campinas, está com fila de espera de mais de um ano para novos pedidos (Foto: Divulgação)

A oficina, localizada em Campinas, está com fila de espera de mais de um ano para novos pedidos (Foto: Divulgação)

O pai também começou a ser procurado para retirar capotas dos carros e transformá-los em conversíveis. Quando um cliente pediu que fizesse em um Fusca, ele topou, mas gostou tanto que resolveu montar um para si. Não deu nem tempo de colocar o carro na rua e aproveitar: antes mesmo de pronto, um outro cliente quis comprar o Fusca de Laércio. Atualmente, a Trocar é a única empresa homologada no Brasil para transformar o modelo em conversíveis e a oficina se especializou em carros da Volkswagen pela demanda pelo Fusca.

Segundo Bertoli, a Trocar entrega cerca de 20 carros restaurados por mês, mas não tem jeito: o Fusca é o carro-chefe. “Tem crescido muito a customização. As pessoas querem se sentir diferentes, especiais, ter algo que mais ninguém tem”, explica o profissional. A oficina conta com 52 funcionários, incluindo área de marketing e criação, que cuida da divulgação nas redes sociais e dos vídeos para o YouTube, que mostram aos clientes a experiência proposta pela Trocar.

O empreendedor conta que notou um aumento na procura após a pandemia. Para ele, a crise serviu para despertar nas pessoas a vontade de realizar os sonhos e não deixar os planos para depois. “Passaram a priorizar os sonhos depois de perder familiares ou perceber a morte mais próxima. As pessoas têm um apego sentimental grande com o carro, lembram de histórias da família”, aponta.

Há aqueles que decidiram tirar o carro antigo da garagem para restaurar e voltar a andar, mas outros foram atrás de modelos para reproduzir um carro da família, tentando manter uma memória viva também para as novas gerações, que talvez nem tenham passeado no carro original. “Cada cliente tem uma identidade diferente e criamos os carros em parceria. Cultivamos as histórias e muitos se emocionam ao receber os veículos restaurados”, afirma.

Mas o que explica o fascínio das pessoas pelo Fusca, que permanece no imaginário popular e fazendo sucesso — ainda que para um nicho —, há mais de 80 anos? Para Bertoli, a resposta está no apelo popular e na versatilidade do modelo. “É o carro que mais esteve presente para as famílias do mundo, pela alta produção. Foi o mais vivenciado, com melhor custo benefício. Além de ser pau pra toda obra, aguenta qualquer terreno. Até hoje, ele continua presente, ajudando quem precisa se locomover”, declara.

A família Almeida: Bruno e Leandro ao lado dos pais Maria de Fátima e Laércio (Foto: Divulgação)

A família Almeida: Bruno e Leandro ao lado dos pais, Maria de Fátima e Laércio (Foto: Divulgação)

A Trocar ganhou visibilidade recentemente após restaurar um fusca para o artista Seu Jorge, do zero. Depois de fazer a tapeçaria de um outro fusca para o cantor, que na época reformou o carro da família que tanto o ajudou no início da carreira, a oficina foi procurada para um novo projeto. O Black Service, como foi nomeado pelo artista, foi criado para representá-lo.

A oficina também já atendeu outros artistas, como os integrantes da banda Jota Quest, os cantores Jorge Aragão e Mumuzinho, e a dupla sertaneja Simone e Simaria. Além dos famosos, a Trocar também atende clientes internacionais. Bertoli conta que está para entregar carros que serão levados para Alemanha e Guatemala em breve, além de um fusquinha conversível 'azul calcinha' que irá para Nova York, nos Estados Unidos.

Bruno Bertoli ao lado de Seu Jorge e do Fusca restaurado pela Trocar (Foto: Divulgação)

Bruno Bertoli ao lado de Seu Jorge e do Fusca restaurado pela Trocar (Foto: Divulgação)

As restaurações demoram, em média, de seis a 10 meses. Atualmente, a oficina está cuidando da produção de 200 carros, entre Fuscas, Kombis, Karmann Ghias e Pumas, com fila de um ano e meio para aceitar novos projetos. Outros 100 carros, considerados relíquias, serão vendidos após a restauração no showroom da empresa. Os projetos de restauração giram, em média, em torno de R$ 100 mil e a transformação do fusca em conversível custa R$ 30 mil. Neste valor, acrescenta-se tudo o que o cliente quiser personalizar. O modelo de Seu Jorge, por exemplo, chegou perto dos R$ 300 mil.

Em uma planta de mais de 7 mil metros quadrados, localizada em Campinas, interior de São Paulo, a Trocar realiza todos os processos nos carros, da funilaria à elétrica, passando pela pintura e pela tapeçaria, é claro, com parceria com empresas como 3M e Sikkens. “Hoje o nosso diferencial é conseguir ser um complexo com todas as etapas do que um carro precisa. Temos várias equipes e o carro sai daqui novinho, sem precisar levar em outras oficinas”, conclui.

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