Piconzé – Uma obra-prima da animação nacional

por Nassif/Itsuo

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Cinco anos de trabalho (1968 a 1972), 50.000 desenhos em cores, 300 cenários montados com colagem de tirinhas de papel, pano, maquetes e outros materiais, dando um (impressionante) efeito tridimensional. Duração: 80 minutos. Esses são alguns números de Piconzé, o primeiro longa animado em cores produzido aqui no Brasil.

Piconzé é um jovem esforçado e ambicioso que vive na pacata Vila do Vale Verde com seus amigos Dom Louro, um papagaio e Chico Leitão, um porquinho muito irreverente. Só que um dia a quadrinha de Gustavo Bigodão começa a atacar e roubar os habitantes de Vale Verde e são perseguidos pelo Piconzé e seus amigos.

Piconzé com seus amigos heróis

Piconzé com seus amigos heróis

Na busca, cheia de dificuldades, enfrentam também o Dragão Jogelino da Lagoa Negra, o Saci Pererê, a Bruxa dos Pastéis Mágicos e o Carrasco Devorador. Mas também encontram o ermitão “Eu Gênio” que ensina Piconzé a combater os bandidos.

Bigodão mandando bala

Bigodão mandando bala

O autor do desenho é Ypê Nakashima, japonês que veio para o Brasil em 1956, depois de 60 dias de viagem em um misto de cargueiro e navio de passageiros, com a mulher e um filho pequeno, durante a viagem completou 30 anos de idade.

Ypê Nakashima, junho de 66

Ypê Nakashima, junho de 66

No Japão, contra a vontade do pai, havia ingressado aos 17 anos na Escola de Belas Artes de Kioto. Dois anos depois foi obrigado a interromper o curso: o governo o convocava para um batalhão antiaéreo na cidade de Nagasaki, que depois foi destruída em 1945 pela bomba atômica na segunda guerra mundial. Após a guerra, viveu ainda 10m anos em Kioto.

Tira de Ypê no São Paulo Shimbum, maio de 73

Tira de Ypê no São Paulo Shimbum, maio de 73

Completou os seus estudos e logo começou a trabalhar nos mais importantes jornais do Japão: Mainichi Shimbum, Asashi Shimbum, Yomiyuri Shimbum, entre outros. Escrevia artigos e reportagens e, principalmente, publicava tiras diárias.

Aliás, aos 12 anos, escondido do pai publicava tiras diárias no jornal de sua província, recebendo o seu merecido cachê. Apesar de próspero no Japão, resolveu mudar tudo: vendeu a casa e outros bens e partiu rumo a esse país desconhecido que o encantou: o Brasil.

O nascimento de Piconzé pelo lápis do autor

O nascimento de Piconzé pelo lápis do autor

Aqui, integrou-se a colônia japonesa e começou a produzir artigos e tiras para jornais e revistas. Em pouco tempo, alugou casa e escritório, mandou vir do Japão livros sobre cinema e desenho animado e lançou-se nesse mercado ainda pequeno e de fraudas. Mesmo com falta de recursos, equipamentos materiais e profissionais, Ypê realizou muitos comerciais para TV em desenho animado e ao vivo, e também fazendo vários curtas.

Vila do Vale Verde, o cenário da aventura

Vila do Vale Verde, o cenário da aventura

Fascinado pelo folclore Brasileiro, concebe e realiza Piconzé, trabalhando (e improvisando) exaustivamente durante cinco anos. Enquanto Ypê juntava recursos para terminar o primeiro longa, criou, roteirizou e animou um novo filme. Em um ano fez um trabalho que , em Piconzé tinha levado quase três. Mas não chegou a terminar esse outro filme, faleceu um ano e pouco depois do lançamento de Piconzé em 6 de abril de 1974, deixando para mulher e filho um modesto apartamento.

Piconzé e sua amada Maria

Piconzé e sua amada Maria

Piconzé foi muito pela critica e mídia em geral. Ganhou três prêmios do INC (Instituto Nacional de Cinema) e um outro do governo do estado. O resultado comercial foi modesto – Piconzé brigava com um avalanche de animações produzida no EUA. Mas seu pioneirismo no Brasil foi sua grande vitória, conquistada com muito trabalho, criatividade e coragem.

Sobre RicAlex

Gamer e produtor de quadrinhos independentes.

Publicado em 19 de julho de 2015, em Filmes & Seriados e marcado como , , , . Adicione o link aos favoritos. 1 comentário.

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