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Previsões apontam risco de ‘apagão’ de madeira em Mato Grosso do Sul

Previsões apontam risco de ‘apagão’ de madeira em Mato Grosso do Sul

Marcelo Schmid afirma que há risco de escassez de madeira no Estado

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Marcelo fala em risco de escassez

Reportagem especial do site Valor Econômico desta quarta-feira, dia 17, fala sobre as terras que poderiam ser ocupadas por eucaliptos para atender demandas de novas fábricas de celulose estão sendo também disputadas por produtores de milho, soja e pecuaristas.

Leia na íntegra: 

MS PODE TER 'APAGÃO' DE MADEIRA

Por Stella Fontes

Novas fábricas de celulose na América do Sul geraram uma corrida por eucalipto em Mato Grosso do Sul, que se consolida como um dos principais polos do setor de base florestal no Brasil. As terras que poderiam ser ocupadas por eucaliptos para atender as necessidades dessas empresas estão sendo também disputadas por produtores de milho, soja e pecuaristas. Nesse cenário, já há previsões de risco de um “apagão” de madeira nos próximos anos.

Marcelo Schmid, engenheiro florestal e sócio do Grupo Index, diz que a demanda por madeira está em 18 milhões de toneladas por ano no Mato Grosso do Sul, das quais 17 milhões para a produção de celulose. Com a expansão já anunciada por empresas do setor na região, ele avalia que o consumo anual subirá para 35 milhões de toneladas. O secretário de Meio Ambiente do Estado, Jaime Verruck, diz que há dois anos havia sobra superior a 250 mil hectares de eucalipto.

A CORRIDA POR MADEIRA EM MATO GROSSO DO SUL

Na celulose, as duas produtoras que já têm presença no Estado planejam expansão. A Suzano S.A. deve anunciar em breve uma nova fábrica, no município de Ribas do Rio Pardo, com capacidade de produção de 2,2 milhões a 2,5 milhões de toneladas anuais. E a Eldorado pretende colocar mais uma linha na fábrica de Três Lagoas, depois de encerrado o conflito entre as sócias J&F Investimentos e Paper Excellence (PE).

Além das duas companhias, que precisam de madeira para suprir as operações existentes e de volumes adicionais para abastecer as expansões, pelo menos outras três produtoras têm monitorado a oferta da matéria-prima em Mato Grosso do Sul para abastecer fábricas em outros Estados ou mesmo em outro país.

O Valor apurou que Klabin, Bracell (do grupo asiático RGE) e Paracel, que vai erguer uma fábrica de celulose no Paraguai, estão circulando em determinadas regiões do Estado, o segundo maior em cultivo de florestas de eucalipto no país. A Paracel instalou um escritório em Campo Grande com essa finalidade, de acordo com fontes da indústria.

Em Mato Grosso do Sul, praticamente só se planta eucalipto, que leva entre seis e sete anos para ser colhido. Há alguns anos, diante da expectativa de novos investimentos em operações que usam madeira como matéria-prima ou para geração de energia na região, muitos produtores independentes se anteciparam e investiram no cultivo de eucalipto.

Mas os projetos não saíram do papel na velocidade almejada e, há dois anos, havia sobra superior a 250 mil hectares de eucalipto, segundo o secretário Jaime Verruck, da pasta estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro).

A situação começa a se inverter e a maior procura por terras e madeira se refletiu em preços mais altos. Para uma fonte da indústria, houve um movimento especulativo no Estado, sobretudo no segundo semestre do ano passado, também porque a queda dos juros no país tornou o investimento imobiliário mais atraente.

Para o sócio-diretor do Grupo Index e da Forest2Market do Brasil, Marcelo Schmid, a valorização recente do boi gordo tem levado à migração de áreas antes dedicadas ao plantio de eucalipto para a pecuária, acirrando a competição por terras. Com a pecuária em alta, acrescenta, os programas de fomento tradicionais da indústria de celulose deixam de ser atraentes. 

O engenheiro florestal avalia que a oferta de madeira já está apertada no Estado e há risco de falta do insumo nos próximos anos. “Nos últimos anos, a demanda industrial não acompanhou a oferta de madeira. Então, hoje há sobra, mas modesta. Com as novas fábricas, haverá déficit”, diz.

O especialista calcula que a demanda de madeira está em 18 milhões de toneladas por ano em Mato Grosso do Sul, das quais 17 milhões de toneladas para a produção de celulose. Com as fábricas de Ribas do Rio Pardo e do Paraguai e a provável expansão da Eldorado, o consumo anual subirá a 35 milhões de toneladas.

A Bracell está expandindo a fábrica da antiga Lwarcel no interior de São Paulo e, para tanto, precisa ampliar sua base florestal. Segundo fontes da indústria, diante da necessidade de madeira, faz sentido que a empresa olhe também para MS. A Klabin está ampliando as operações no Paraná e tem assegurado madeira em diversas regiões, mas o MS estaria muito distante para abastecer a unidade Puma, na avaliação dessas fontes. Procurada, a empresa não se manifestou.

Para o projeto Jubarte, somente a Suzano precisaria de 210 mil hectares cultivados adicionais para abastecer a fábrica em Ribas. A companhia já teria ao menos 110 mil hectares assegurados e é a mais avançada em relação às necessidades de madeira, conforme duas fontes. A Suzano também não comentou o assunto.

Em 2019, a área plantada de eucalipto em terras sul-mato-grossenses estava em 1,125 milhão de hectares. Hoje, segundo o secretário Jaime Verruck, já chega a 1,4 milhão de hectares. Para o secretário, a oferta de madeira pode ficar “justa” nos próximos anos, mas não há risco de escassez. “Queremos que o eucalipto seja industrializado no Estado. Estamos trabalhando para garantir que não falte produto e, com os preços atuais, houve retorno do plantio”, diz.

O cultivo de eucalipto no estado está concentrado na costa Leste, em uma área que compreende 7 milhões de hectares de cerrado e é propícia à cultura - o relevo facilita a mecanização e o tamanho médio das propriedades é adequado. Na década de 70, benefícios fiscais atraíram os primeiros produtores.

Hoje, a base florestal representa 7% do PIB estadual e uma receita bruta de R$ 12 bilhões em 2019, considerando-se florestas plantadas, móveis e produção de celulose, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mato Grosso do Sul é o maior exportador brasileiro de celulose, com cerca de US$ 1,6 bilhão no ano passado ou 27% do total nacional, mas a ambição é desenvolver a cadeia de base florestal para além da celulose - a Greenplac já produz painéis de madeira em Água Clara, a International Paper (IP) faz papéis de imprimir e escrever em Três Lagoas e o grupo Anin Papéis já está no estado, entre outras empresas.

Para o advogado Aldo De Cresci Neto, que atua como assessor especial no setor de florestas plantadas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), os investimentos no agronegócio em MS, e em geral em todo o território brasileiro, tendem a se acelerar com a aprovação dos projetos de lei que instituem os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro) e regulamentam o investimento estrangeiro em terras no país.

“O câmbio favorável, o ciclo de alta dos preços da celulose e a aprovação desses projetos impulsionarão o investimento no agronegócio brasileiro nos próximos anos”, diz Cresci Neto.

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