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O Ano da Política

2011 teve a estreia do novo governo, protestos diversos, quedas de ministros, escândalos sem culpados e aquelas velhas palhaçadas de sempre

Cristiano Bastos Publicado em 04/01/2012, às 18h03 - Atualizado em 05/01/2012, às 19h15

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ilustração - Lézio Júnior
ilustração - Lézio Júnior

Dilma e Seu Não Tão Maravilhoso País

Após um primeiro ano de governo turbulento, a presidente se prepara para o desafio de realmente colocar ordem na casa em 2012

Substituir lula, o mais carismático e popular presidente da história do Brasil era, sem dúvida, um gigantesco desafio. E um fato histórico, afinal seria a primeira vez que uma mulher assumiria o poder no cargo mais importante do país. Mais do que tudo isso, em 12 meses de governo, Dilma Rousseff conseguiu calar a maioria dos questionamentos sobre a capacidade de uma mulher governar uma nação da dimensão de proporções continentais como o Brasil.

Em poucos meses, Dilma demarcou seu estilo firme de administrar e, em início de mandato, bateu recorde de aprovação da opinião pública. Mas 2011 não transcorreu apenas ao sabor de vitórias. O ano terminou agridoce, sob a pressão da crise econômica internacional e, por essas bandas, estremecido por constantes e incômodas denúncias de corrupção na Esplanada dos Ministérios.

Solavancos político-econômicos à parte, o Brasil destacou-se como uma das poucas economias a crescer em meio ao pânico global. No entanto, o resultado do último Produto Interno Bruto (PIB), divulgado no fim do ano, revelou-se o pior desde novembro de 2009. O consumo das famílias diminuiu, ou seja, o brasileiro comprou menos em 2011 – é a primeira vez que isso ocorre em três anos. Da mesma maneira, a atividade industrial despencou no terceiro trimestre.

Ao divulgar tais números, Dilma fez um breve balanço de 2011, reconhecendo que “não foi um ano fácil”, especialmente por causa da questão econômica na Europa e nos Estados Unidos. Afirmou, porém, que o Brasil teve certa habilidade ao enfrentar os contratempos: “Não só estamos encerrando o ano com estabilidade e com crescimento, mas, sobretudo, com a visão de que 2012 será necessariamente melhor do que 2011”. É torcer para que assim seja.

Ideologia para Quê?

E surgiu mais um partido: o PSD

Prefeito de São Paulo e idealizador do Partido Social Democrático (PSD), Gilberto Kassab festejou: “Nasceu o PSD! Parabéns aos brasileiros que participaram das etapas de sua criação”, disse o político, que se desligou do DEM. O PSD nasce ambíguo, aliás, como é praxe no Brasil – “levemente de esquerda”, segundo Kassab. Os princípios estruturantes da legenda, porém, aproximam-se dos dogmas de centro-direita: defesa da livre iniciativa e direito de propriedade estão entre as inclinações direitistas; da esquerda, apenas o apoio a programas voltados às famílias carentes.

O Câncer da Discórdia

Mesmo doente, Lula não deixou a política

Após ser diagnosticado com câncer na laringe, em outubro, Luiz Inácio Lula da Silva iniciou um tratamento quimioterápico no hospital Sírio-Libanês (São Paulo). Ao mesmo tempo, uma mórbida polêmica se instaurou nas redes sociais (e em alguns setores da imprensa): de que Lula fosse tratar sua doença no Sistema Único de Saúde (SUS). A sugestão, porém, perdeu força com a divulgação dos dados de atendimento do SUS – que, entre os serviços contratados, inclui justamente o Sírio-Libanês. De acordo com o Ministério da Saúde, 80% dos portadores de câncer no Brasil são tratados pelo SUS, que em 2010 desembolsou R$ 1,8 bilhão para atender cerca de 300 mil pacientes. Pairando acima das críticas, Lula raspou antecipadamente o cabelo e a barba e seguiu em tratamento – mas sempre fazendo política.

Sim, Nós Também Podemos. Ou Não?

Obama veio ao Brasil, viu e não nos disse nada de novo

A visita do primeiro presidente negro dos estados unidos à primeira presidente mulher do Brasil, em março, foi encharcada de pompa e simbolismos. Porém, Barack Obama veio ao Brasil essencialmente para discutir as relações econômicas entre os dois países. Discursando na ocasião, Dilma Rousseff defendeu que a ampliação do Conselho de Segurança é a base de uma “reforma fundamental” da “governança global”, e que o que move o Brasil na luta por uma cadeira permanente no órgão não é um “interesse menor”, mas sim a certeza de que um mundo mais multilateral trará harmonia entre os povos. Educado, Obama agradeceu pela atuação conjunta entre os dois países na ONU, mas convenientemente “se esqueceu” de mencionar o desejo brasileiro por um assento permanente.

Pelo Direito de Marchar

Nunca na história desse país o brasileiro foi tanto às ruas para reclamar

Mobilizações contra a corrupção e o preconceito ganharam as ruas e as redes sociais em 2011 (teve até a “Marcha das Vadias”, após um policial ter sugerido que mulheres deveriam evitar vestir-se “como vadias” para não serem vítimas de estupro). Mas nada pegou tão mal quanto as “marchas da maconha”: de cara, o Supremo Tribunal Federal as considerou crime. Mas, em novembro, os ministros voltaram atrás e decidiram que não se pode impedir manifestações públicas, mesmo que seja em defesa da legalização de drogas.

O Extremista

Bolsonaro, o deputado que falou demais

O deputado Jair Messias Bolsonaro (PP/RJ) pintou e bordou em 2011. Graças a declarações inflamadas e recheadas de preconceitos e apologias a militarismo e pena de morte, ele comprou brigas homéricas – a cantora Preta Gil, a senadora Marinor Brito (PSOL-PA) e o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) foram só alguns dos antagonistas. Mas o alvo predileto da língua ferina de Bolsonaro ainda é o “Kit Brasil sem Homofobia”, do Ministério da Educação (MEC) – apelidado por ele de “Kit-Gay”. Nem mesmo Dilma Rousseff foi poupada: “Se o seu negócio é amor com homossexual, assuma”, ele disparou.

Choque Cultural

Ana de Hollanda resistiu às pressões no Minc

Primeira mulher a ocupar a pasta da cultura, Ana de Hollanda passou o ano recebendo críticas de todos os lados – as principais delas a respeito da controversa questão dos direitos autorais (até hoje sem resolução) e da indicação do livro Leite Derramado, de autoria de seu irmão, Chico Buarque, para receber subsídio para tradução (o caso fez com que Ana consultasse a Comissão de Ética da Presidência da República sobre o tema). Apesar dos pesares, a ministra resistiu no cargo e disse que os rumores de que seria substituída na reforma do início de 2012 não passam de especulações.