Pequena vida de Santo António

Santo António de Lisboa

Santo António (Igreja de S. Daniel - Pádua)
Santo António (Igreja de S. Daniel – Pádua)

Não podemos culpar os historiadores antigos por nos transmitirem tão escassas informações sobre a família e sobre a infância de Santo António. Não podemos pretender que tivessem a nossa mentalidade e a nossa curiosidade. Tratando-se de um Santo, pouco lhes importavam os por- menores marginais, as datas precisas, os lugares onde ele tinha residido, os seus parentes, os traços físicos, etc.. Num santo, eles viam somente o eleito de Deus, o homem de fé e de extraordinária virtude, as obras cumpridas para a glória de Deus e para a elevação dos homens. Um Santo não é ape- nas uma personagem histórica, mas um arauto da verdade e do amor, no qual Deus se compraz e do qual os homens se orgulham como um dos seus melhores representantes.

Eis o que podemos deduzir das escassas informações que nos deixaram os escritores do seu século, a propósito de António. Nasceu em Lisboa, em 1195, primogénito de uma família nobre, poderosa e rica. Os seus parentes o destinaram para os estudos. Queriam fazer dele um magistrado ou um bispo. Mas o pequeno, que na pia baptismal recebeu o nome de Fernando, começou logo a desiludir as suas esperanças ambiciosas. Amava inten-samente a oração. Uma pitoresca lenda conta que um dia, na catedral de Lisboa, enquanto orava, escorraçou o demónio traçando um sinal da cruz sobre uma pedra.

Religioso e sacerdote

Fernando cresceu, tornou-se um belo rapaz; cresceram também as ansiedades dos familiares, diante de uma ado-lescência, que não partilha dos seus projetos de carreira mundana. Fernando terá uma vida breve, provavelmente já o prevê; em vez dos cem anos do seu homónimo Antão, ele tem à sua disposição somente 36. É precoce e tem muita pressa. Chegado aos 15 anos, depois de ter rezado e refletido, deixa o seu rico palácio, deixa os seus familiares e enclausura-se no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. A Ordem, na qual ele ingressa, existe ainda hoje: são os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, aos quais o Santo permanecerá afeiçoado durante toda a sua vida. A eles deve a sua formação intelectual, que o torna um dos eclesiásticos mais cultos da Europa dos inícios do século XIII. Mas o mundo por ele abandonado tão bruscamente, volta a insidiá-lo também no mosteiro. Parentes e amigos procuram a cada instante distraí-lo e tentá-lo. Perturbam-lhe a vida espiritual e roubam-lhe o tempo de estudo. É necessário um corte radical! De acordo com os seus superiores, o jovem Fernando abandona a sua bela cidade e vai para Coimbra, naquele tempo capital do reino de Portugal, para o mosteiro dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, que aí havia. Aqui vive em paz e aproveita para intensificar os seus estudos de teologia, até ao dia em que, com 25 anos, é ordenado sacerdote.

A caminho de uma nova vida

Em fevereiro de 1220, espalhou-se em Coimbra a notícia de que tinham sido mortos, em Marrocos, mártires pela fé, cinco missionários franciscanos. As suas relíquias foram piedosamente recolhidas pelos cristãos e transportadas pelo irmão do rei de Portugal para a Igreja de Santa Cruz, em Coimbra, anexa ao mosteiro onde se encontrava Fernando. Também ele venerou os novos mártires, reevocando o seu encontro com eles, acontecido poucos meses antes. Vinham das terras longínquas da Úmbria; vinham em pobreza e extenuados pelas privações da longa viagem. Todavia cativaram-no pela sua simplicidade, gentileza e ardente fé. Este encontro leva-o a reavaliar a mediocridade da sua vida, perante a rotina e o comodismo da vida no mosteiro. Ansiava a uma vida nova, onde a fé não fos- se uma mera rotina, mas uma plenitude de espírito, um dom arriscado e fecundo. Um dia, os Franciscanos, que viviam no ermitério de Santo Antão dos Olivais, próximo da cidade, bateram à porta para pedir esmola. Fernando aproveitou para revelar a sua decisão. Deixaria os Cónegos Regrantes para se unir ao seu movimento e logo partir como missionário para Marrocos, onde esperava também derramar o seu sangue por Cristo. Obteve com dificuldade as necessárias autorizações, vestiu o hábito franciscano e deixou para sempre o Mosteiro de Santa Cruz. Para cortar todas as pontes com o passado, mudou o seu nome: em vez de Fernando o seu nome seria António. Depois de um breve tirocínio embarcou para África.

De África até Assis

A missão em Marrocos transformou-se numa grande desilusão. Depois do desembarque, António foi atingido por uma grave doença. Em vez de estar nas praças a pregar Cristo, teve que ficar na cama, atingido pela febre malária. É o falhanço do seu generoso sonho de apostolado e martírio. Só lhe resta uma escolha, o caminho do verdadeiro crente: render-se à vontade de Deus. A um carácter ardente como o de António, o grande ato de fé deve ter-lhe custado muito! Mais tarde, na meditação e na oração, o Espírito ter-lhe-á feito entender que em África tinha mesmo sofrido o martírio, não pela mão dos sarracenos, mas pela sua entrega ao renunciar ao seu nobre projeto, para seguir humildemente a vontade do Senhor. António diz adeus à amada terra de África e toma o caminho de regresso a Portugal. Todavia Deus está de novo no seu caminho, para lhe mudar de rumo. O navio, levado por ventos contrários, é arrastado até às praias da Sicília. Doente e vivendo uma crise interior, António desloca-se a Assis, onde encontra São Francisco, no Pentecostes de 1221. Com o fascínio da sua encantadora santidade, o Poverello influi profunda- mente sobre o desconhecido discípulo, dando-lhe outra vez paz e luminosidade interior. De Assis, António foi conduzido até à Romagna, no ermitério de Monte Paulo, no distrito de Forlí. Para fazer o que? Para se tornar no homem que fala com o Senhor, de amigo para amigo. Para ser um Santo de Deus.

Primavera da Igreja

Deus tem as suas horas e os seus planos, que muito raramente estão de acordo com os nossos relógios e com os nossos projetos. Em poucos meses, António tinha dado a volta ao mundo (naquela altura pensava-se que o mundo se restringisse ao redor do mar Mediterrâneo): de Coimbra até Marrocos, da Sicília até á Úmbria, até ao perdido ermitério de Monte Paulo. Lá em cima parecia esquecido e sobretudo estava contente por se ter esquecido de si mesmo. Esta é a melhor libertação! Antes de ir pregar aos outros, o Senhor quis que ele se convertesse no íntimo de si mesmo: tudo é nada, se não aspirarmos sincera- mente à santidade! Mas, um dia, António foi a Forlí para uma ordenação sacerdotal. Acontece, porém, que faltou o pregador oficial, por isso encarregaram-no de dizer algumas palavras. António não pode esquivar-se ao convite do superior e fala. É a revelação do seu talento e da sua qualidade de pregador. A partir daquele dia, é enviado a percorrer todos os caminhos de Itália e de França para levar a todos os cristãos a Boa Nova do Evangelho. Nessa altura, grassavam pela Europa inquietantes e complexos fenómenos heréticos, que é necessário compreender e esclarecer. António enfrenta os errantes com a sua forte cultura teológica e a sua incansável bondade. Há grandes abusos dentro da Igreja: politiquices, decadência moral e indiferença; e António oferecerá o seu precioso empenho para a elevação e a edificação dos cristãos. Na cidade de Arles, em 1224, São Francisco aparece, durante um seu ser- mão, a abençoar a ação apostólica do seu filho predileto.

Luz que resplandece nas trevas

Santo António prega aos peixes (discípulo de G. Tessari - Basílica de Santo António - Pádua)
Santo António prega aos peixes

Santo António prega aos peixes (discípulo de G. Tessari - Basílica de Santo António - Pádua)
(discípulo de G. Tessari – Basílica de Santo António – Pádua)

Como na vida de São Francisco se encontra a pregação às aves, assim na vida de Santo António encontramos a pregação, não menos fantasiosa e poética, aos peixes. Isso devia ter acontecido na cidade de Rimini. A cidade estava solidamente nas mãos dos hereges. Quando o missionário chegou, os chefes passam a palavra de ordem: receber António com um muro de silêncio. De facto, António, não encontra ninguém a quem dirigir a sua palavra. As Igrejas estão vazias. Então sai à praça, mas, também ali, reina compacto o silêncio. Ninguém manifesta interesse por dele, ninguém escuta o que ele diz. Caminha meditando e rezando. Quando chegou ao lugar em que o rio Marecchia desagua no mar Adriático, debruça-se sobre o mar e começa a chamar o seu auditório: “Vinde vós, ó peixes, a ouvir a palavra de Deus, dado que os homens soberbos não a querem ouvir!”. E os peixes emergem da água às centenas, aos milhares, ordenados e palpitantes, para escutar a palavra de exortação e de louvor. A curiosidade dos hereges é mais forte do que a ordem recebida pelos chefes! À curiosidade seguem-se a maravilha e o entusiasmo. As emoções experimentadas levam muitos ao arrependimento e ao regresso à fé católica. Provavelmente trata-se de uma grandiosa lenda: mas que importa? É um símbolo poético que nos diz: António, com a sua confiança paciente e com a sua fé, desloca as montanhas; com a sua despreocupação por um sucesso palpável, com os recursos da sua imaginação e do amor, consegue abrir uma brecha também nos corações endurecidos, enredados no rancor e no preconceito.

Fazendo-se tudo para todos

Durante um sermão de António sobre a Eucaristia, levantou-se um homem, tido como um herege impenitente, para o contradizer: “Eu acreditarei que Cristo está presente na hóstia consagrada, se vir a minha mula ajoelhar-se perante ela!”. O santo aceitou o desafio. A pobre mula foi mantida em jejum durante três dias e, na hora e no lugar estabelecidos, António avançou com a custódia e o herege com a sua vacilante mula, a qual, apesar de esfomeada, descurou o apetitoso pasto que o patrão lhe oferecia, para se ajoelhar diante da hóstia consagrada.

Não devemos, porém, pensar que Santo António procurasse o sucesso somente com milagres. Como bom discípulo e apóstolo de Cristo, ele conquistava as almas com a força da oração, com seu bom exemplo, com iluminados e pacientes discursos. Graças às suas fadigas e àquelas não menos merecedoras e frutuosas de inumeráveis outros missionários franciscanos e dominicanos, a Europa cristã em poucos anos adquiriria um novo rosto. Além disso, é preciso recordar que a sua missão não se limitava somente à pregação, mas havia outras tarefas que pesavam sobre ele. Teve cargos de dirigente no seio da Ordem Franciscana, nomeadamente o de superior dos frades da Itália do norte; foi o fundador dos estudos teológicos da sua Ordem e ensinou em Bolonha, Montpellier, Toulouse e Pádua. Nos poucos momentos de tempo disponível, compilou as obras que lhe mereceram, pela profunda sabedoria, o título de Doutor da Igreja.

Ministro da reconciliação

Para fazer uma ideia de como eram os dias de Santo António, cheios de trabalho, é suficiente relatar as palavras de um seu contemporâneo: “Pregando, ensinando, escutando as confissões, acontecia-lhe chegar ao fim do dia sem ter tido tempo para tomar alimento”. Aos milhares acorriam de todos os lados para ouvir os seus sermões e todos se apressavam a confessar-se. O seu cristianismo não era adocicado e bonacheirão, mas coerente e austero. Isso, porém, não desencorajava os penitentes, que a ele recorriam como a um herói que incita à virtude. Horas e horas de confessionário, até reduzir-se a um farrapo; recobrar as forças à pressa, escasso repouso, saúde em mau estado, já desde os tempos de Marrocos: não é de espantar que, conduzindo uma tal vida, tenha morrido somente com 36 anos. Ouviam-se de boca em boca episó- dios impressionantes, como, por exemplo, o do penitente que, mudo pela emoção, tinha escrito uma lista dos seus pecados e, à medida que António os percorria com o olhar, iam-se apagando do papel. Como, também, o do jovem paduano Leonardo, que tinha dado um pontapé à sua mãe. Santo António tinha-lhe dito amarguradamente: “O pé que fere os pais, merecia ser cortado”. Leonardo foi para casa, tomou um machado e cortou o pé. Desespero da mãe, gritos dos familiares, alvoroço na vizinhança: António acorre e, suplicando a Deus, cola o pé mutilado.

Apóstolo de paz e de bondade

“Paz e bem” era a saudação dos primeiros franciscanos. Paz e bondade entre o poder civil e a autoridade religiosa, paz e bondade entre as classes, laceradas pelas facções e pelas guerras, paz e bondade entre os diversos municípios (comuni) que os interesses e o orgulho impeliam a guerrear-se sem interrupção. Paz e bondade dentro das paredes de casa, onde às vezes a discórdia e a maldade tornam o ar irrespirável e a vida um tormento. António gozava de grande prestígio pela sua santidade, pela fama dos milagres atribuídos à sua pessoa, pelos dotes de afabilidade e de equilíbrio, que brotavam da sua múltipla atividade. É, portanto, natural, que muitas famílias, em situações 40 difíceis, pedissem a sua ajuda e a sua intervenção para ultrapassar as suas crises. Nunca saberemos a quantos lares ele tenha dado assistência, confiança, paciência e harmonia; quantos dramas tenha esconjurado ou pelo me- nos mitigado; quantos casos dolorosos tenha aliviado com a sua palavra de fé e o seu convite a sair das garras do egoísmo, da vingança e do rancor. Tradições que chegam até nós sob a forma de lenda, falam-nos de admiráveis intervenções operadas pelo Santo: por exemplo, uma vez mandou falar um bebé, para certificar publicamente a ino- cência de uma mãe, injustamente suspeitada pelo marido ciumento; outra vez, curou milagrosamente uma mulher à qual o marido, num ímpeto de ciúme, tinha ferido de morte.

Contra a tirania do dinheiro

É um pouco difícil para nós que vivemos uma sociedade tão diferente, fazermos uma ideia do trabalho de um missionário na Idade Média. Quando ele entrava na cidade, podia-lhe acontecer de tudo: das querelas dos partidos políticos aos conflitos com o clero; dos litígios de família às dúvidas dos intelectuais; das condições nas prisões aos estatutos administrativos, tudo se concentrava sobre ele. António teve que adaptar-se a fazer um pouco de tudo, tendo em conta a vida concreta das pessoas, de modo que o Evangelho pudesse penetrar, animar e transformar as pessoas e as estruturas. Numa altura, em que a maior parte das pessoas viviam de agricultura, do pastoreio e da pesca, só uma minoria se ocupava em atividades artesanais e de comércio, abrindo o caminho para o desenvolvimento económico da Europa. Estava-se a criar, em algumas zonas da Itália mais desenvolvidas, uma espécie de economia pré-capitalista, que chegaria a notáveis dimensões no século seguinte. Havia um pequeno e ativíssimo mundo de negócios, o dinheiro circulava, nasciam os primeiros bancos, E, ao mesmo tempo, iniciavam-se as primeiras concentrações de capitais e a atividade dos usurários. Foi contra estes últimos, temidos e odiados usurários, que o nosso Santo combateu a sua batalha de homem do Evangelho. É famoso o milagre que ele realizou quando, chamado a pregar durante o funeral de um agiota, mostrou que o desgraçado tinha o seu coração não no peito, mas no seu cofre, no meio do seu adorado dinheiro.

O defensor dos oprimidos

Foi o defensor dos pobres, sempre e em todo o lado, desafiando abertamente os opressores, conforme o tes- temunho de um seu contemporâneo: “António, que tão ardentemente tinha desejado morrer mártir, não cedia diante de ninguém, ainda que tivesse que dar a vida, e com admirável coragem resistia à tirania dos grandes. Ata- cava com dureza certas pessoas importantes, que outros pregadores, também famosos, tratavam, por medo, com deferência ou procuravam evitar. Assim era António: não um Santo, fechado no sossego da sua cela, não um doutor, que anda numa roda-viva entre a cátedra e a biblioteca, mas o homem que tinha o culto da verdade, custe o que custar, alternando doçura e inflexibilidade, conforme as situações, sem medo de nada e de ninguém, sobretudo quando se tratava de defender os oprimidos. Basta recordar um episódio: o encontro com o tirano Ezzelino da Romano. Ezzelino era uma grande personagem; todavia manchou-se de inumeráveis crimes. É verdade que, também, os seus rivais não eram melhore: os “Guelfos” eram ambiciosos e sanguinários, sempre que a ocasião se oferecia, tanto ou mais do que o cruel “Ghibellino” Ezzelino. A coragem de António infelizmente não consegui alcançar nada. O tirano ficou um pouco impressionado, mas as motivações da política voltaram a sufocar as razões da bondade e da justiça.

Contempla a glória de Cristo

Cansado pelas fadigas e pela hidropisia, António sentiu que chegava a hora da sua morte. Corajoso como sempre, manteve para si a sua doença e o seu pressentimento. Os seus confrades não suspeitavam de nada, convencidos que um bom período de descanso lhe bastaria para recuperar. Uma pessoa quanto mais é santa, tanto mais tem consciência da própria miséria. António, antes de se apresentar ao Senhor, desejava purificar-se pela oração e na dor da sua fragilidade. Pediu para se recolher no convento de Camposampiero, perto de Pádua, no ermitério que o dono do lugar, o conde Tiso, tinha doado aos Francisca- nos, junto ao próprio castelo. O conde Tiso, desiludido pela agitada vida política, tinha-se tornado discípulo do Santo. Passeando pelo bosque, António viu uma majestosa nogueira e teve uma ideia toda franciscana: construir em cima da nogueira, entre os nodosos ramos da árvore, uma espécie de pequena cela. O conde Tiso construiu-a com as próprias mãos. O Santo passava, naquele refúgio suspenso, as suas jornadas de contemplação. Durante a noite voltava ao ermitério. Uma noite, o conde Tiso, aproximou-se da cela do amigo e viu que da mesma se libertava uma intensa luminosidade. Pensando que fosse um incêndio, abriu a porta e ficou perplexo diante da prodigiosa cena: António segurava nos braços o Menino Jesus. Quando acordou do êxtase e viu o conde Tiso, o Santo, amavelmente, ordenou-lhe que não contasse nada a ninguém. Só depois da morte de Santo António, o conde narrou aquilo que tinha visto.

Ao encontro do Senhor

Santo António (Pietro Liberi - Igreja de Arcella - Pádua).
Santo António (Pietro Liberi – Igreja de Arcella – Pádua)

Chegou também para ele, esperada e acolhida com fé, a hora de passar deste mundo para o Pai. Uma sexta-feira, 13 de Junho de 1231, ao meio-dia, António, desceu da sua cela na nogueira. Mal se tinha sentado à mesa, teve um ataque cardíaco e teria caído por terra, se os irmãos não o tivessem amparado. Com um fio de voz, o enfermo pediu que o levassem até Pádua; queria morrer no pequeno convento junto da amada Igrejinha de Santa Maria. Um lavrador pôs à disposição o seu rústico carro; o Santo foi aconchegado da melhor maneira possível e o carro pôs-se lentamente a andar, acompanhado pelo confrade Frei Lucas. O dia estava a declinar, quando António chegou às proximidades de Pádua. Os frades persuadiram-no a parar em Arcella, no pequeno convento, onde estavam instalados os capelães ao serviço das Irmãs Clarissas. Foi numa modesta cela – que ainda hoje religiosamente se conserva – que António foi ao encontro do Senhor. Esgotado, mas lúcido, quis receber o sacramento da Reconciliação, a santa Eucaristia e o óleo dos Enfermos. Em seguida, com a voz que lhe restava, en- toou o cântico à Virgem: “Ó gloriosa Rainha, exaltada sobre as estrelas”. Com os olhos luminosos, o Santo fitava diante de si. “O que é que vês?”, perguntou o Frei Lucas. “Vejo o meu Senhor”, murmurou o Santo moribundo. A agonia foi brevíssima, o trânsito leve e sereno. Apagava-se assim com 36 anos de idade, um dos maiores apóstolos de Cristo e do Evangelho.

O Santo de todo o mundo

O corpo do homem de Deus foi transportado de Arcella, cumprindo o seu último desejo, até à pequena Igreja de Santa Maria. Toda a cidade acompanhou em luto o funeral. Na mesma tarde, sobre o túmulo de António começaram os milagres. A fama de António espalhou-se rapidamente, chamando até Pádua grupos de peregrinos das zonas mais longínquas. Os milagres continuaram a ritmo acelerado. As autoridades da Igreja interessaram-se imediatamente pelo sucedido, desde o bispo de Pádua, Jacopo de Corrado, até ao Papa Gregório IX, um e outro amigos pessoais e admiradores de António. Teve lugar o processo de canonização, diocesano e apostólico, que se concluiu muito rapidamente, com o reconhecimento unânime da sua santidade. Não tinha passado ainda um ano, da morte do grande apóstolo, quando, a 30 de Junho de 1232, na catedral de Espoleto, o Papa Gregório IX elevava à honra dos altares António de Pádua. Os confrades do Santo, ajudados pelos paduanos e pelos peregrinos, iniciaram imediatamente a construção de uma grande basílica, onde repor dignamente os restos mortais do Santo dos milagres. Em 1263, finalmente, os seus restos mortais foram transportados para a nova ba- sílica, estando presente um outro santo, São Boaventura. Aberto o caixão, viram a língua do Santo prodigiosamente incorrupta. O culto a Santo António continuou a crescer, tornou-se mundial, ultrapassando as fronteiras da Igreja católica. Hoje não há povo que não conheça Santo António, não há crente que não o venere: sobre todos desça a sua intercessão e o conforto da graça e da bênção divina.


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