01/09/2017

No tênue limite entre a arte e a técnica, as ilustrações botânicas de Cecília Tomasi encantam pela beleza das formas e das cores, mas não descuram da precisão científica na representação gráfica de plantas, fazendo a reprodução fiel das pétalas, estames e outras partes de flores, folhas e hastes. Esses trabalhos ilustram pesquisas, dissertações de mestrado, livros e revistas especializadas, facilitando a compreensão dos estudos.

Já aposentada, Cecília continua ativa ministrando cursos de Aquarela Botânica no Instituto de Botânica (IBt) e no seu ateliê. O próximo curso no IBt será no dia 6 de setembro próximo, estendendo-se por mais três semanas, completando doze horas de aulas.

O curso, que custa R$ 300,00, vai enfocar questões como materiais, mistura de cores, desenho de observação, composição e proporção, luz e sombra, e pintura em aquarela. Para inscrições e mais informações, o interessado deve enviar mensagem para ceciliatomasi@uol.com.br. Outro curso está programado para iniciar no dia 1º de novembro próximo.

Com esse trabalho, Cecília contribui para a formação de novos ilustradores que possam ocupar o cargo exercido por ela em mais de 30 anos no IBt, e que, hoje, está vago. Ela até temia o desaparecimento da profissão, mas, para sua surpresa, constatou que está havendo renovação como indicam os núcleos de ilustradores na Universidade de São Paulo e na Universidade de Brasília, entre outras instituições, que organizam cursos esporádicos, dirigidos especialmente para os estudantes de Biologia. Uma consulta no site da União Nacional dos Ilustradores Científicos (UNIC) também mostra uma intensa atividade em vários estados.

No seu entender, o interesse pela ilustração científica é decorrência, entre outros fatores, da bolsa de estudo oferecida pela Fundação Margaret Mee, criada em homenagem à artista inglesa que passou vários anos no Brasil retratando a flora brasileira. A bolsa, uma por ano, é oferecida exclusivamente para brasileiros.

Cecília foi bolsista em 1993, passando seis meses na Inglaterra desfrutando de aulas individuais com ilustradores britânicos. Foi quando passou a utilizar cores em seus trabalhos. Formada em Educação Artística pela Fundação Educacional de Bauru, atual Unesp, Cecília entrou no IBt em 1982 como desenhista, aprendendo ilustração botânica com os colegas de trabalho.

A ilustração científica, explica a artista, é a representação gráfica para o registro de espécies de plantas e animais, de forma a mostrar as características da espécie estudada. “Atendia pesquisadores na área de Taxonomia, para os quais desenhava pranchas em preto e branco, usando lápis e nanquim, para estudos de identificação de plantas”, afirma. Para isso, às vezes, estudava as características das plantas ao microscópio, utilizava plantas secas reidratadas ou abertas como base e recorria a fotografias como suporte.

Cecília não descarta o uso das novas tecnologias e dos meios digitais de processamento de imagens, mas garante que esses recursos não substituem o olhar e a habilidade de um ilustrador. “Muitas vezes, diz, o material usado como referência não é adequado, podendo ser antigo, fragmentado ou até mesmo com partes comidas por insetos, e nesses casos o olhar treinado de um bom ilustrador poderá reconstituir as partes das plantas, o que não é possível com a fotografia”, pondera.

Segundo a artista, “o ilustrador pode, por meio da interpretação e reconstituição do material em estudo, evidenciar aspectos e características importantes em cada espécie vegetal”. Acrescenta, ainda, que em certos casos o desenho esquemático dos detalhes de uma planta facilita a descrição e a compreensão de uma estrutura vegetal.

Hoje, por meio de seus cursos, tem contribuído para a formação de novos ilustradores botânicos. Seus cursos são procurados, não apenas por biólogos e estudantes que desejam se especializar na prática da ilustração científica, mas também por pessoas que desejam apenas desenvolver uma atividade artística como passatempo.

Para sua surpresa, no entanto, seus cursos têm atraído também “designers” que atuam na indústria têxtil e por tatuadores profissionais e iniciantes. “As plantas são tema recorrente na estamparia de tecidos e também em tatuagens”, lembra justificando a procura por esses profissionais.

A procura se deve também ao prestígio que Cecília desfruta entre os ilustradores botânicos no Brasil e no Exterior, onde já expôs os seus trabalhos. “Sou muito envolvida com a Botânica, o que me fez dedicar exclusivamente a retratar plantas”, finaliza. Essa dedicação valeu-lhe a homenagem prestada pelos pesquisadores Eduardo Luís Martins Catharino, do IBt, e Marcus A. Nadruz Coelho, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que batizaram uma nova espécie de antúrio recolhida na Serra da Bocaina, em área de Mata Atlântica, com o nome de Anthurium tomasiae.