Luz: novo trabalho de Rogério Sagui estreia em fevereiro na Netflix

A partir do mês de fevereiro deste ano, a população que aprecia a obra do diretor poçoense Rogério Sagui poderá acompanhar seu mais novo trabalho “Luz”, disponível na plataforma de streaming da Netflix.  A série infanto-juvenil conta a história de uma menina de nove anos chamada Luz que foi criada em uma comunidade indígena, mas que em determinado momento, após descobrir que foi adotada, sai da comunidade à procura de suas origens. 

No elenco, estão nomes como Marianna Santos, que dá vida a Luz, Mel Lisboa, Maurício Destri, Dandara Albuquerque, Daniel Rocha, Miá Mello e Marcos Pasquim. Sagui atua como diretor de episódios ao lado de Giovanna Machline na série, que tem direção geral de Thiago Teitelroit e roteiro por André Rodrigues, Ana Durães, Tereza Temer e Nara Marinho.

O início da carreira do diretor

Rogério Sagui lembra muito bem do momento em que a arte começou a fazer parte da sua vida. Ainda criança andava pelas ruas da cidade de Poções, para acompanhar o Terno de Reis, fascinado com as roupas coloridas, as danças, o som dos tambores e melodias. Havia ali algum tipo de magia que fazia da vida e da arte uma coisa só, todavia ele não sabia ao certo explicar porque tudo aquilo tanto o deslumbrava. Hoje a resposta é evidente: “sei que desde ali eu já era artista”.

O encontro de Sagui com a arte foi amor à primeira vista, e por isso esse foi o caminho que escolheu seguir. No cinema encontrou espaço para unir música, dança, artes cênicas e plásticas e, sobretudo, contar as histórias em que acredita. Ele deixou a sua assinatura como cineasta independente com os premiados filmes Memórias de um Quilombo Vivo e Rosa Tirana, os primeiros passos para romper as fronteiras de seus próprios sonhos e atingir lugares que pareciam inatingíveis.  

Em 2022, Rogério Sagui foi convidado para assumir a direção da novela “Mar do Sertão”, da TV Globo. Logo depois, no ano de 2023, outro convite surgiu, dessa vez por parte da Netflix, para dirigir Luz, a primeira série infanto-juvenil do streaming. Atualmente o cineasta trabalha em uma nova produção, já com destino confirmado: a HBO Max. “Para um cineasta de filmes independentes, a transição para trabalhar em grandes produções é fruto de muito trabalho e persistência”.

Cinema independente: um caminho árduo

O primeiro trabalho de Rogério Sagui foi realizado em 2015. A partir dos relatos das lembranças de moradores, Memórias de um Quilombo Vivo conta a história da formação e da resistência da Comunidade Remanescente Quilombola Lagoa do João, localizada no município de Poções. No documentário, Sagui atua como roteirista, produtor e diretor e percorre as vivências dos habitantes dessa comunidade para resgatar aspectos históricos, culturais e religiosos do quilombo. 

Memórias de um Quilombo Vivo era uma história muito visceral e eu queria contar aquela história e ao mesmo tempo eu estava experimentando, em mim, o cinema”, explica. Para o cineasta, tudo era a primeira vez e chegou a pensar que talvez fosse melhor não começar por essa história. “Pensava que talvez a história não fosse para mim”. O que o motivou a continuar foi a população da própria comunidade, que acreditou no seu olhar e sensibilidade.

Lançado oficialmente em 2019, o documentário logo ganhou destaque no cenário baiano, foi exibido na Feira Literária de Mucugê (Fligê), ainda naquele ano. Também participou da Mostra de Cinema Negro da Universidade Federal da Bahia (campus de Salvador), e da Mostra de Cinema Conquista.  

Desde o seu primeiro trabalho, Rogério Sagui discute, à base de poesia, temáticas de relevância social. Essa característica reflete as referências que inspiram o cineasta. Nomes como Geraldo Sarno e Walter Salles influenciaram-no a ver o cinema com outro olhar. Ele destaca o filme Central do Brasil (1998), dirigido por Walter Salles, como uma obra importante para a sua carreira. “O Central do Brasil virou uma chavinha na minha cabeça e eu pensei: ‘eu preciso fazer isso’, esse tipo de arte que é o cinema”.

Rogério Sagui e Kiara Rocha, bastidores de Rosa Tirana

O longa-metragem Rosa Tirana, sua segunda produção, reforça a sua identidade enquanto diretor. A trama narra a história de Rosa, uma menina que vive no sertão nordestino com a mãe e o avô, e que, diante do período de seca que assola a região, pouco tem para a sobrevivência. Por isso, Rosa decide fugir à procura de Nossa Senhora Imaculada, a fim de que ela ajude a sua família. O filme é protagonizado pela atriz poçoense Kiara Rocha e conta com a participação do ator José Dumont. 

Lançado em 2020, Rosa Tirana foi escrito, produzido e dirigido por Rogério Sagui, além de representar o esforço de muitas mãos. Ele também compôs a trilha sonora original que foi interpretada por Elba Ramalho. O longa envolveu a participação direta da comunidade: 90% do elenco foi formado por cidadãos e artistas poçoenses, e grande parte da equipe de produção são de profissionais do município. 

O processo de produção do longa-metragem não foi fácil. Sagui conta das dificuldades de produzir cinema independente no interior da Bahia: “Não tínhamos o material, não tínhamos uma câmera boa, não tínhamos nenhum equipamento de som que são equipamentos básicos para produzir um filme ou um curta-metragem”. Para dar continuidade à produção, foi preciso criar alternativas que ajudassem a tirar os projetos do papel, como a busca por patrocínios e até mesmo recorrer a rifas. 

Os desafios encontrados não impediram-no de conseguir finalizar seus projetos e que, por meio disso, despertasse no município a curiosidade e encantamento pela magia do audiovisual. “Eu me senti desbravando uma terra que eu sabia que já tinha sido desbravada, mas desbravava de uma outra forma, talvez de fora para dentro”. 

A jornada e a inocência da personagem Rosa conquistaram o coração do público. Não por acaso, Kiara Rocha foi indicada ao prêmio de melhor atriz no Gran Premio FANTLATAM no 13º Cinefantasy – Festival Internacional de Cinema Fantástico. Rosa Tirana também foi indicado a outras quatro categorias incluindo a de melhor filme na categoria longa-metragem, a de melhor roteiro, melhor direção, para Rogério Sagui, e melhor ator para José Dumont.

Rosa Tirana conquistou grande visibilidade logo após o lançamento e a maior realização do cineasta foi ver o seu trabalho ganhar o mundo através de festivais e premiações. “O Rosa Tirana foi um acontecimento que mudou toda minha história, e veio para coroar todo o meu trabalho e minha carreira mudou totalmente. Mudou não só a proporção, mas a minha visão de mundo (…) vi que a gente pode pensar realmente a nossa cultura de dentro para fora”.

Além do interior da Bahia 

O que Rogério Sagui não esperava era que seu filme, logo após o período de lançamento, lhe rendesse uma inacreditável surpresa: a oportunidade de trabalhar como diretor em uma novela da Rede Globo. A proposta surgiu depois da exibição de Rosa Tirana na Mostra de Cinema de Tiradentes, em 2022, quando um produtor da emissora assistiu ao filme e ficou interessado pelo trabalho desenvolvido pelo cineasta. 

O produtor manteve contato com Sagui a fim de conhecer melhor seu trabalho e trajetória e confirmou que ele estava no radar da Rede Globo para desenvolver um projeto que “tivesse a sua cara”. Não demorou muito, depois de algumas reuniões com a produção da emissora, ele recebeu a notícia de que havia sido escolhido como um dos diretores da novela Mar do Sertão. Sem pensar duas vezes, arrumou suas malas e partiu do interior da Bahia para o Rio de Janeiro.

Cidade cenográfica, estúdios e uma variedade de equipamentos exalavam grandiosidade e apresentou para o cineasta novas possibilidades de pensar e fazer cinema. “Tive a oportunidade de aprender e aprimorar minhas habilidades de forma excepcional”, conta. Ele acredita que toda a experiência que adquiriu trouxe mais credibilidade e visibilidade para a sua carreira como cineasta de filmes independentes. Ao finalizar a novela Mar do Sertão, Rogério Sagui saiu da Globo com seus sonhos fortalecidos e pronto para investir em outros trabalhos.

O retorno para a Bahia foi rápido. Em pouco tempo as malas precisaram ser arrumadas novamente. Sagui alçou voo e parou direto na Netflix. Foi por indicação do ator e também cineasta Lázaro Ramos que Rogério Sagui foi convidado a dirigir a primeira série infanto-juvenil do streaming. “Fiquei duplamente feliz ao ingressar nesse projeto incrível da Netflix, sabendo que fui indicado por um ídolo tão importante para mim, como o Lázaro.” Sobre a nova série, Luz, o cineasta conta que o que se pode esperar é “um verdadeiro mergulho em beleza e poesia.” 

Mais uma vez novos cenários surgiram para o cineasta, depois de dirigir um documentário, um filme e uma novela, o formato de série chegou como outra chance de aprendizado. O cineasta compara a dinâmica de produção da série com a que vivenciou na produção do filme e documentário. “Um processo um pouco mais calmo e cuidadoso”. Enquanto a produção da novela depende de um ritmo completamente diferente. “Na televisão, tudo acontece de forma rápida e há uma metodologia específica, com profissionais já adaptados ao ritmo frenético de produzir uma novela”, explica.
Atualmente, o diretor é o novo contratado da HBO MAX, e dirige a novela “Dona Beja”, uma produção protagonizada pelos atores Grazi Massafera, André Luiz Miranda e David Jr que está sendo gravada no Rio de Janeiro e tem previsão de ir ao ar em 2025. 

Rogério Sagui acredita que o talento, esforço e persistência são combustíveis para conseguir alcançar novos horizontes. Por isso, segue explorando formatos, estilos e gêneros a fim de potencializar seu fazer cinematográfico. “No campo da arte, há espaço para todos, e essa jornada demonstra que é possível alcançar novos patamares, ampliando as oportunidades e horizontes na carreira”.

Fotos: Arquivo pessoal de Rogério Sagui

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