Dois poemas de Safo
by tadeuandrade
Da extensa obra de Safo de Lesbos (630/612 a.C.-570 a.C.), sobraram apenas alguns fragmentos. Além de Anacreonte, foi a única dos Nove Líricos a compor sobretudo poemas de amor. Muitos deles eram destinados a outras mulheres, o que fez surgir no século XIX os termos “lésbica” e “sáfica” para descrever a homossexualidade feminina. Seus poemas eram compostos para ser cantados por uma só pessoa, com acompanhamento musical.
Traduzi o único poema inteiro dela que sobrou (fr. 1) e um quase completo (fr. 31):
Fr.1
De vário trono imortal Afrodite,
Filha de Zeus ardilosa, imploro-te:
Com sofrimentos e dores não domes, senhora, meu peito,
Mas vem aqui, se em alguma outra vez
Os meus clamores ao longe escutando
Ouviste e, a casa paterna deixando dourada, vieste,
Atado o coche; formosos guiavam-te
Ágeis pardais, sobre o negro da terra
Brandindo densas as asas, do topo do céu pelos ares;
Logo chegaram, e tu, venturosa,
Com um sorriso em teu rosto imortal
Me perguntaste o que tenho, por que eu agora te chamo
E o que desejo que venha a ocorrer
No insano peito: “Quem é que convenço
A te levar para sua paixão, quem, ó Safo, te açoita?
Se agora foge, já breve virá,
Se não aceita teus dons, os dará,
Se não te ama, já breve amará, mesmo contra a vontade.”
Vem tu agora, liberta do duro
Cuidado e aquilo que realizar
Meu peito quer realiza e tu própria sê minha aliada.
Fr. 31
Ele parece-me ser um dos deuses,
Este rapaz que diante de ti
Repousa e perto se põe a escutar tua doce palavra,
Teu riso todo desejo; mas isso
Já amedrontou o coração no meu peito,
Pois logo quando te vejo, não saem mais palavras da boca;
Então a língua vacila, e suave
Corre debaixo da pele uma chama,
Não há visão nos olhares, só fazem troar os ouvidos,
Cobre-me toda o suor, e um tremor
Prende-me inteira; mais branca que a neve
Pareço, como se pouco faltasse pra morte chegar.
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