Ícone no jornalismo, Glória Maria foi fundamental para o crescimento do MMA no Brasil; veja a história

Pioneira e referência no jornalismo, Glória Maria faleceu na manhã desta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro; confira os detalhes

Ícone no jornalismo, Glória Maria foi fundamental para o crescimento do MMA no Brasil; veja a história

Em entrevista com Minotauro, Glória Maria foi importante para popularizar o MMA no Brasil (Foto: Reprodução/Marcelo Alonso/TATAME)

Referência no jornalismo, Glória Maria morreu nesta quinta-feira (2), no Rio de Janeiro, no hospital Copa Star, na Zona Sul da cidade, onde estava internada. No ano de 2019, a jornalista foi diagnosticada com um câncer de pulmão. O tratamento com imunoterapia teve sucesso na época. Posteriormente, ela sofreu metástase no cérebro, onde, inicialmente, foi tratada com êxito por meio de cirurgia, mas os novos tratamentos não avançaram.

“Em meados do ano passado, Glória Maria começou uma nova fase do tratamento para combater novas metástases cerebrais que, infelizmente, deixou de fazer efeito nos últimos dias, e Glória morreu esta manhã, no Hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio”, afirma o comunicado da TV Globo, onde Glória trabalhava desde 1971.

Pioneira no jornalismo, Glória Maria quebrou barreiras ao longo da sua trajetória profissional e alcançou marcas importantes, sendo a primeira a entrar ao vivo e em cores no Jornal Nacional, noticiário de maior audiência da TV Globo, ter mostrado mais de 100 países por meio das suas reportagens e também por ter protagonizado momentos históricos, entrevistando ícones como Michael Jackson, Madonna, Leonardo Di Caprio, Harrison Ford, entre muitos outros.

O que muitos não sabem, no entanto, é o papel de importância da jornalista para a popularização do MMA no Brasil. No ano de 2003, época em que o MMA era sequer citado na mídia nacional e era tratado com preconteito e de forma pejorativa, Glória Maria aceitou o desafio e, à convite de Zé Mário Sperry, líder da BTT (Brazilian Top Team), partiu para o Japão para produzir uma matéria especial para o Fantástico, programa que, na época, tinha a maior audiência da TV Globo.

Batendo de frente com as linhas editoriais da época, Glória trouxe em sua reportagem o respeito e a idolatria que Rodrigo Minotauro e Wanderlei Silva eram tratados no Japão pelos fãs de artes marciais. Naquele dia em questão, Minotauro e Wanderlei derrotaram Mirko Cro Cop e Quinton “Rampage” Jackson, respectivamente, e conquistaram cinturões no extinto evento PRIDE, que na época, era o maior evento de MMA no mundo.

No período em questão, o MMA tinha notícias, entrevistas e demais conteúdos publicados apenas pela mídia especializada. Dessa forma, Glória Maria mais uma vez foi pioneira, dessa vez ao trazer as artes marciais mistas para a grande mídia, para uma audiência enorme no Brasil por meio da TV Globo. Como forma de homenagem a essa grande referência da TV brasileira, a TATAME fez uma entrevista especial com o jornalista Fernando Flores, que teve contato próximo com Glória Maria na época em que ela foi convidada para viajar ao Japão para fazer a reportagem com Minotauro e Wanderlei Silva.

“Eu conheci o Minotauro em 1999/2000 e a gente se prontificou a fazer um trabalho para popularizar o MMA. Na época, não existia a sigla MMA, era Vale Tudo, e era um esporte tratado de forma pejorativa, não tinha espaço na mídia. O Minotauro, na época, tinha uns 25/26 anos e a gente decidiu, de alguma forma, tentar tornar o esporte popular no Brasil. Fomos fazendo várias matérias, eu levava o Minotauro nas redações. Ele tinha uma aceitação muito grande no Japão, eu pegava aquele monte de revistas japonesas, levava nas redações… A gente foi no JB, Extra, O Globo. Era o início, mas ainda não era o suficiente.

Aí é que entra a Glória Maria. Em 2002, a gente precisava de um ‘tiro de canhão’. Não existia mídia social, a mídia social não tinha alcance, era pífio, e a maior ferramenta de divulgação editorial, na época, era o programa Fantástico, da TV Globo, um domingo à noite, onde todo o Brasil parava para assistir aquilo. A gente partiu para tentar essa missão de levar a Glória Maria para cobrir o PRIDE no Japão, mostrar o tamanho que era o esporte lá, o glamour e o respeito que os atletas tinham no Japão para tentar trazer isso para o Brasil.

Aí aconteceu o seguinte: o Zé Mario Sperry, que era treinador do Minotauro e um dos líderes da Brazilian Top Team passou um final de semana em Angra do Reis e conheceu um português que, na época, era namorado da Glória Maria, e ele conseguiu marcar um almoço. Aí também fui nesse almoço, levei aquele monte de revistas japonesas, as matérias que já tinham saído no Brasil e falei que gostaria muito que ela fosse cobrir e conhecer o tamanho do esporte no Japão, na época o PRIDE, que era o maior evento de MMA no mundo naquela época. Ela ficou de ver com o diretor dela, que era o Luizinho Nascimento”, disse Fernando Flores, que prosseguiu na sequência.

“A partir disso, preparei uma carta/convite oficial, em nome da Brazilian Top Team. Mandei a carta para o diretor do Fantástico. Ele gostou, mas aí tinha uma outra dificuldade: casar uma luta importante do Minotauro com a agenda da Glória Maria, que era a apresentadora do Fantástico e teria que ficar dois finais de semana sem apresentar o programa. Até conseguir agendar essas datas todas, demorou cerca de um ano.

Como fizemos o convite, também fizemos uma ‘vaquinha’ para bancar a viagem da equipe. Eu lembro que a Glória viajou nas milhas do mestre Luis Alves, já falecido, que era professor de Muay Thai do Minotauro. A passagem do câmera cada um botou um dinheiro… O Murilo (Bustamante), o Zé Mário, o próprio Minotauro, e aí levamos o câmera e a Glória Maria para o Japão em 2003.

O interessante é que a Glória foi bem clara e falou: ‘eu vou, mas se tiver que falar mal, eu vou falar. Vocês sabem do meu histórico, vou contar o que eu vi’. Acabou que ela ficou encantada, e foi uma matéria no Fantástico que teve 12 minutos de duração, foi uma das maiores matérias do programa naquele dia, uma matéria que teve chamadas durante a semana, e foi a matéria que gerou maior audiência no programa naquele dia. Foi também uma das lutas mais importantes do Minotauro, demos sorte nesse sentido.

Como foi a matéria de maior audiência no Fantástico naquele final de semana, o diretor do programa falou: ‘faz outra para semana que vem, mas agora mostra a vida desses caras no Brasil’. Daí, ela foi para a casa do Minotauro, fez uma matéria mostrando a vida dele no Brasil, na época ele tinha uma casa fantástica no Joá, no Rio de Janeiro, e a matéria foi ao ar no final de semana seguinte.

Aquilo foi uma virada de chave. O esporte passou a ganhar uma outra perspectiva, um outro olhar. O Fantástico era, na época, o maior ‘canhão de mídia’ possível, e a gente chegou lá. A Glória Maria se tornou nossa amiga. Outro detalhe importante é que, no auge do MMA no Brasil e da Team Nogueira, com Anderson Silva, Minotauro, Minotouro, Junior Cigano… essa turma toda treinando junto, a gente tinha uma sala de imprensa, que a gente batizou de ‘Sala de Imprensa Jornalista Glória Maria’.

Inclusive, ela foi lá no dia da inauguração, foi muito legal. Ela virou uma parceira, uma fã, começou a frequentar os eventos do UFC no Brasil e virou uma grande amiga nossa. Uma pena, todo mundo lamentou a morte dela, o Minotauro já me ligou hoje, bem chateado, mas a gente é muito grato pelo acolhimento, profissionalismo e pela pessoa que ela se mostrou no contato do dia a dia conosco”.

Glória Maria teve sala de imprensa 'batizada' com seu nome na Team Nogueira (Foto: Leonardo Fabri)

Glória Maria teve sala de imprensa ‘batizada’ com seu nome na Team Nogueira (Foto: Leonardo Fabri)

Glória Maria em reportagem na casa de Rodrigo Minotauro, em 2003 (Foto: Reprodução)

Glória Maria em reportagem na casa de Rodrigo Minotauro, em 2003 (Foto: Reprodução)

Para conferir mais notícias sobre Glória Maria, clique aqui