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Cavalo terapeuta: Conheça os benefícios da Equoterapia

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Tádzio França
Repórter
Método terapêutico ainda pouco difundido, mas bastante elogiado pela eficácia, a equoterapia é um tratamento assistido por cavalos junto a uma equipe multidisciplinar. É normalmente indicado para quem possui deficiências físicas, neurológicas ou necessidades especiais, entre variadas síndromes e condições de saúde. Os animais são usados para estimular o desenvolvimento da mente, do corpo, e melhorar as funções neurológicas. Na Grande Natal há dois centros trabalhando com isso, e em breve um novo espaço será aberto em Parnamirim. 
Sessões de equoterapia podem ser realizadas em grupo com acompanhamento individualizado
A equoterapia foi desenvolvida nos Estados Unidos a partir de 1992. O cavalo é utilizado dentro de uma abordagem interdisciplinar de saúde, educação e equitação, baseando-se no princípio de que o bem-estar físico e mental cura as pessoas. Foi o que encantou o zootecnista e professor Mário Cardoso quando conheceu o método em Brasília, nove anos atrás. Mário voltou ao RN com o objetivo de fortalecer a equoterapia em território potiguar – algo que fez junto à Escola Agrícola de Jundiaí, na qual atua.  
Mário explica que toda atividade equoterápica se baseia em fundamentos técnico-científicos. As atividades devem ser desenvolvidas por equipe multiprofissional com atuação interdisciplinar. “A sua utilização está embasada no movimento cadenciado e ritmado, proporcionando aos praticantes ganhos físicos e psicológicos, de acordo com seus quadros clínicos, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais”, diz. 
O acesso à equoterapia é aberto a pessoas com quaisquer tipos de deficiência, desde que tenham indicação médica e sejam submetidas à avaliação fisioterapêutica e/ou psicológica,  estando aptas ao procedimento. “Há alguns anos, a principal demanda de atendimentos envolvia crianças com paralisia cerebral, falta de oxigenação no cérebro, e problemas motores. Atualmente, levantamentos  mostram o exponencial crescimento no atendimento de crianças e adolescentes diagnosticadas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, explica.
Além dos já citados, a  equoterapia é recomendada para uma série de síndromes, transtornos e doenças como Síndrome de Down,     Síndrome de Asperger, paralisia cerebral, distrofia muscular,     derrame cerebral (AVC), artrite, esclerose múltipla, hiperatividade, lesão na medula espinhal, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), estresse pós-traumático, transtorno bipolar, depressão, e ansiedade. A equoterapia também é útil após traumas e realização de cirurgias, doenças mentais ou genéticas.
As sessões de equoterapia podem ser realizadas em grupo, porém o planejamento e o acompanhamento devem ser individualizados, explica o zootecnista. Durante a sessão  necessita-se de um auxiliar-guia para conduzir o cavalo, de um auxiliar-lateral, e de um terapeuta ou mediador. Este último atua executando os exercícios propostos no plano terapêutico e/ou educacional.
Como funciona a terapia?
Segundo Mário, o movimento do cavalo é tridimensional, ou seja, vertical, horizontal e longitudinal. “Ao se deslocar ao passo, o cavalo realiza um movimento dorsal que se assemelha à marcha humana em mais de 95%. Essa semelhança fornece impulsos para o cérebro, fazendo assim aprender, reaprender ou corrigir o modo de funcionamento”, explica. 
O zootecnista ressalta que além da marcha, o biorritmo do cavalo também se assemelha muito ao do ser humano, com seu movimento de ritmo e balanço. “Estes são os fundamentos que possibilitam os bons resultados da terapia, independente do nível de intimidade com o cavalo ou com a equitação do praticante”, diz. Não precisa saber cavalgar. 
O cavalo “terapeuta” deve ser um animal de boa saúde, boa tolerância ao manuseio humano intenso, e bem condicionado para a função. “Em termos comportamentais o animal deve ser dócil, treinado, obediente e de fácil manejo. Não pode se assustar com movimentos bruscos ou toque mais fortes, assim como sons e estímulos exteriores”, diz. O tipo de cavalo e de andadura são escolhidos conforme a necessidade de cada praticante. 
Mário Cardoso está empolgado  com a chegada, em outubro, de um núcleo de equoterapia no Parque Aristófanes Fernandes, em Parnamirim. Será a sede do projeto Equoterapia no Parque, uma ação da Secretaria da Agricultura, da Pecuária e da Pesca em parceria com a Associação Norte-Riograndense de Criadores de Cavalos Quarto de Milha, UFRN, e Associação Norte-Riograndense de Criadores. 
“Ampliaremos o alcance, potencializaremos recursos, e oportunizaremos o acesso à terapia gratuita para crianças e adolescentes com comprometimentos motores e distúrbio do neurodesenvolvimento”, diz o zootecnista.  Ele ressalta que é possível o acesso à equoterapia através do SUS; o encaminhamento deve partir das secretarias de saúde dos municípios. 
Galope afetivo
O Centro de Equoterapia e Equitação do RN, em Parnamirim, foi aberto em 2002, sendo um dos pioneiros do segmento no estado. Para a fisioterapeuta e fonoaudióloga Débora Pousa, atual diretora do CEERN, a beleza da equioterapia está no contato com o animal, e no teor lúdico da atividade. “O cavalo se torna um excelente aliado, pois encanta os praticantes, facilitando a relação terapeuta e praticante. Além disso, o cavalo transmite estímulos através da medula espinhal do praticante”, diz. 
Ao estimular o sistema nervoso central, o movimento dos cavalos  melhora a afetividade, e aspectos motores como controle postural,  motricidade fina, aspectos cognitivos como atenção e concentração, criatividade, delimitação de espaço, entendimento e  sequenciamento da atividade. 
Débora explica que uma sessão normal dura 40 minutos, onde se trabalha desde a aproximação com o animal, o praticante escova e coloca todo o material de montaria com auxílio da equipe, passando pela montaria, momento em que a equipe irá trabalhar as necessidades e dificuldades, e o momento final, a despedida, em que o praticante  retira o material, alimenta e se despede do cavalo. O CEERN é um centro particular. “Hoje atendemos particular e plano de saúde via judicial.  Nossa luta atual é que a equoterapia seja incluída no Ril da ANS, para que mais pessoas possam se beneficiar dessa terapia”, ressalta. 
Rédeas terapêuticas
O pequeno João Pedro, seis anos, é portador da Síndrome de Aicardi-Goutières (AGS), um distúrbio inflamatório raro que afetou seus movimentos. O menino passou por várias terapias diferentes, até chegar àquela que melhor funcionou com ele. O pai, Gustavo Brito, conta que pelo fato de a doença ser rara e não ter um tratamento específico, experimentou as terapia mais inovadoras – até que um pai em situação semelhante à dele indicou a equoterapia. 
João Pedro começou a terapia em julho de 2017. A melhora visível, logo no primeiro mês, surpreendeu a todos. “Ele começou a falar. Isso foi incrível. A doença afeta a parte motora, mas não a cognitiva, e apesar de ainda não andar, ele fala, lê, escreve, como qualquer criança de sua idade. O controle do tronco que a terapia oferece foi fundamental no processo”, diz. 
Em suas sessões, o menino faz manobras com os braços, e fica deitado sobre o cavalo. “A musculatura das costas vai ‘acordando’, o galope reativa as conexões para ativar o movimento”, explica. Gustavo ressalta que, além da equoterapia, o menino ainda faz natação, fisioterapia, e uso de canabidiol. 
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