Brincando com a mesa digitalizadora: Parte 2

Quando encontro um tempinho, procuro brincar com a mesa digitalizadora. Nem sempre é fácil, pois às vezes tenho que fazer os desenhos com o meu filho no colo. As responsabilidades de pai são prioridade número um. Hobby e até assuntos profissionais ficam em segundo ou terceiro plano.

Eis alguns exercícios de desenho que fiz. Aprender a desenhar na mesa digitalizadora lembra bastante as primeiras aulas de caligrafia no primário.

Esté é um desenho que fiz da Honi, a filha do Hagar, o divertido viking desenhado por Dik Browne. O estilo do Browne é funcional e ao mesmo tempo bonito. Limpo e com algumas hachuras. Li em algum lugar que essas hachuras que aparecem nas tiras do Hagar foram ideia do Chris Browne, filho do Dik, e que acabou assumindo a autoria da tira após a morte do pai. O Chris teria resolvido acrescentar essas hachuras por influência dos desenhos do Robert Crumb, o autor de quadrinhos underground.

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O desenho acima da Honi eu desenhei usando o ArtRage Lite. Antes de usar a ferramenta bico-de-pena, fiz um pequeno esboço usando a ferramenta lápis. Faço os esboços a lápis apenas para marcações, dificilmente sigo o esboço a lápis fielmente. O esboço inicial é o que aparece a seguir.

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Também fiz algumas tentativas baseando-me em antigos cartuns do Jack Cole, mais conhecido por ter sido o criador do Homem-Borracha (Plastic Man). O esboço a seguir eu fiz usando a ferramenta lápis do ArtRage Lite.

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A partir do esboço acima, fiz duas versões. Uma é esta em que alguns retoques foram feitos no Paint mesmo.

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Mas, gostei mais da versão a seguir, em que traços feitos com a ferramenta lápis aparecem misturados com outros feitos com as ferramentas pena e pincel. Acho que ficou com mais “cara’ de algo feito no papel.

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Outro desenho que fiz tentando copiar o Cole foi esse do sujeito engravatado de olho arregalado.

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Uma pequena montagem reunindo as duas figuras no mesmo quadro. O que faz pensar nas possibilidades e aplicações desses recursos na criação de apresentações de slides, ilustrações para cursos, clip art etc.

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Brincando com a mesa digitalizadora

Recentemente, realizei um antigo sonho: comprei uma mesa digitalizadora. Levou apenas dois dias para o pedido chegar por sedex. Comprei o modelo mais básico (e barato também) da  nova linha Intuos da Wacom: a Intuos Draw. Havia outros modelos, com mais recursos e que vinham acompanhados de softwares mais sofisticados.  No entanto, para minhas atuais pretensões, o modelo básico é mais do que suficiente. Não comprei  a mesa digitalizadora com a pretensão de criar uma graphic novel, mas sim de me familiarizar com o uso do equipamento, treinar traços, fazer esboços, brincar com os recursos. Ou seja, desenhar por hobby mesmo, sem a pressão de cumprir prazos ou de tentar criar algo mais “comercial”. Foi aí que me lembrei do sentido da palavra “amador”, que é o de fazer por amor.

A mesa digitalizadora Intuos Draw vem acompanhada do ArtRage Lite, um software para criação e edição de imagens bastante intuitivo. Basicamente é um meio termo entre softwares mais simples como o Paint e outros mais sofisticados como o Corel e o Photoshop. Gostei muito e não estou recebendo nenhum centavo para fazer publicidade desse produto, estou apenas compartilhando uma experiência com outras pessoas que, talvez, estejam também pensando em começar a desenhar ou em voltar a desenhar.

Desenhar na mesa digitalizadora une o melhor de dois mundos: é tão “orgânico” e espontâneo quanto rabiscar em um bloco de papel, e ao mesmo tempo muito mais limpo que trabalhar com papel e tinta nanquim, sem se preocupar em limpar manchas de sujeira e nem em ficar apagando marcas de lápis com uma borracha. Aliás conforme vou usando a mesa digitalizadora, a ideia de desenhar direto no computador fica mais atraente do que a ideia de desenhar no papel para depois escanear.

Esses são alguns exercícios que fiz na mesa digitalizadora: os dois primeiros são desenhos feitos em camadas (a partir de esboços feitos com o “lápis digital” na primeira camada e cobertos  com “tinta digital” na segunda camada),os outros dois são cópias que fiz de desenhos do cartunista norte-americano Jules Feiffer, conhecido pelo estilo “caligráfico” dos seus cartuns.

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Participação na I Jornada Temática de Histórias em Quadrinhos: Adaptações Literárias

Em agosto de 2014, tive a oportunidade de participar da I Jornada Temática de Histórias em Quadrinhos Adaptações Literárias, um congresso acadêmico onde foram discutidas as relações entre quadrinhos e literatura, em especial, as adaptações para quadrinhos de obras literárias. O congresso foi realizado na Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo). Me inscrevi no congresso e cheguei a apresentar um trabalho em que foi analisada uma adaptação em quadrinhos de um conto de Edgar Alan Poe que saiu na revista Kripta. A adaptação analisada foi a Última luz do Universo, que transpõe para o futuro a trama do conto A Máscara da Morte Vermelha. Os responsáveis pela adaptação foram o roteirista norte-americano Budd Lewis e o desenhista espanhol Esteban Maroto.

Foi muito divertido participar do congresso pois pude rever amigos e colegas muito estimados como Paulo Ramos, Waldomiro Vergueiro, Nobu Chinen entre outros. Além disso, ganhei e comprei mais livros sobre quadrinhos, a maioria dos quais com autógrafo e dedicatória dos autores. Dentre os quais, Humor Paulistano: Experiência da Circo Editorial 1984-1995, sobre a editora que lançou nos anos 1980 publicações como Chiclete com Banana, Circo, Geraldão, Piratas do Tietê entre outras. O livro foi autografado pelo próprio Toninho Mendes, que foi o editor dessas revistas todas.  Comentarei mais a respeito disso em uma futura postagem.

Com base na minha apresentação no congresso, escrevi um artigo mais extenso que submeti à avaliação para publicação em um peródico acadêmico. No entanto, como esse periódico não lançou mais nenhuma nova edição e não recebi resposta definitiva nem recusando e nem informando que o artigo seria publicado, resolvi postá-lo aqui mesmo.

Link para o artigo:

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Link para os slides que foram apresentados durante a Jornada Temática:

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Creepy #73 Pg.10 Comic Art

Creepy #73 page by Esteban Maroto Comic Art

Para o alto e avante!

Uma das coisas boas de se fazer um blog é que acabamos conhecendo os trabalhos de outros blogueiros e temos a oportunidade de fazer amizade com pessoas que dificilmente teríamos a oportunidade de conhecer de outra forma.

Uma dessas pessoas é o Ricardo josé dos Santos, Doutor em Economia na Universidade Federal de Uberlândia, autor de um blog muito interessante sobre o Super-Homem. Nesse blog, o Ricardo compartilha fotos e informações sobre itens ligados aos Super-Homem (quadrinhos e produtos licenciados diversos) que fazem parte da coleção particular dele.

Segundo o Ricardo, ele herdou essa paixão pelos quadrinhos do pai, Randolfo, e já está preparando o seu filho Pedro para seguir o caminho. Sei exatamente como ele se sente, pois algo semelhante ocorre comigo e o meu filho, Lucas.

Ao comentar sobre os quadrinhos do Super-Homem na fase escrita e desenhada por John Byrne, responsável pela reformulação do kryptoniano na década de 1980, o Ricardo lembrou de dar o devido crédito também aos arte-finalistas: Dick Giordano e Karl Kesel. Isso me chamou a atenção, pois a maioria dos blogueiros e mesmo dos jornalistas profissionais esquece de mencionar isso. Afinal, um dos fatores que ajuda a explicar a popularidade que o John Byrne teve nas décadas de 1970 e de 1980 foi justamente o fato de que seus desenhos a lápis foram valorizados pelo acabamento dado por arte-finalistas competentes, dentre os quais, Terry Austin,no período em que Byrne desenhou os X-Men.

Em uma resposta por e-mail que ele me mandou, o Ricardo comentou o seguinte sobre as HQs do Super-Homem:

“Por uma questão de memória afetiva, vejo a fase do Byrne como uma coisa incomparável. Mas, também gosto muito das passagens de José Luis Garcia-Lopez , Gil Kane e Jerry Ordway pela arte das revistas do personagem.

A primeira HQ do Superman que comprei foi a nº31 (1ª Série/Ed. Abril) com arte do Gil Kane e argumento do Marv Wolfman. Na capa: Brainiac, mas já com o visual ‘robótico’.

No ano passado, com uma taxa de câmbio mais favorável, comprei os encadernados Adventures of Superman: Gil Kane e Adventures of Superman: José Luis Garcia-Lopez. O material selecionado é muito bom. Vale a pena conferir.”

Também não me esqueço da primeira HQ do Super-Homem que li, foi no gibi de estreia do Homem de Aço na Editora Abril (até então as aventuras do herói eram publicadas no Brasil pela EBAL). Era uma história escrita pelo Cary Bates e desenhada pelo Gil Kane, que sempre foi um dos meus desenhistas favoritos por causa da expressividade e beleza do traço. Nessa história, o Super-Homem enfrenta o Brainiac (ainda com o visual humanóide) e ainda flerta com uma bela alienígena de pele rosada.

Link para o blog do Ricardo:

http://colecaosuperman.blogspot.com.br/

Revista de História e os quadrinhos brasileiros de terror

Em junho de 2010, um artigo que escrevi sobre quadrinhos brasileiros de terror foi publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional. Na época, eles tinham uma seção dedicada à História dos quadrinhos brasileiros e cada edição trazia um artigo escrito por um autor convidado e o texto era sempre complementado por páginas da HQ analisada.

Para o artigo em questão, escolhi uma HQ roteirizada pelo Ota (antigo editor da Mad brasileira) e desenhada pelo Julio Shimamoto, publicada em um dos números da revista Calafrio.

O artigo na íntegra você pode encontrar no site oficial da Revista de História, mas infelizmente as imagens que acompanham o artigo só estão disponíveis na versão impressa.

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Link para a edição da Revista de História na qual o artigo foi publicado:

http://www.revistadehistoria.com.br/revista/edicao/57

Link para o artigo:

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/quadrinhos-terror-tupiniquim

O primeiro artigo em língua inglesa sobre os X-Men da GEP

O International Journal of Comic Art  (IJOCA) é um periódico norte-americano com artigos acadêmicos sobre quadrinhos e artes afins como o cartum, a caricatura e os desenhos animados. A publicação é semestral e cada número possui cerca de quinhentas a setecentas páginas, uma média de trinta artigos e muitas ilustrações acompanhando os textos. Os colaboradores são de todas as partes do mundo e a abordagem é multidisciplinar.

O fundador e editor chefe da revista é John A.Lent, professor aposentado da Universidade Temple, onde lecionava disciplinas ligadas à área de comunicação e mídia de massa. Um dos habituais colaboradores dessa revista é o Professor Doutor Waldomiro Vergueiro, um dos maiores, senão o maior, pesquisador brasileiro das histórias em quadrinhos.

Na primeira edição do sexto ano do periódico, lançada na primavera norte-americana de 2004, entre os artigos publicados está um escrito pelo Waldomiro e pelo autor deste blog. O título do artigo é  The Brazilian X-Men: How Brazilian Artists Have Created Stories That Stan Lee Does Not Know AboutTrata-se do primeiro artigo publicado em língua inglesa sobre as HQs dos X-Men produzidas no Brasil e publicadas em 1969 pela GEP (Gráfica Editora Penteado), uma editora paulista. Essas histórias foram escritas pelo falecido Gedeone Malagola e desenhadas por Walter Silva Gomes, que depois largou os quadrinhos para produzir ilustrações para telejornais de emissoras de tv aberta. Elas foram criadas para completar o número de páginas da revista e eram publicadas junto com traduções das HQs originais dos X-Men.

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A ideia de escrever o artigo surgiu em 1999 ou 2000 quando li uma matéria  a respeito dessas histórias que saiu publicada em uma dessas revistas com matérias sobre super-heróis que saiu no rastro do sucesso da revista Herói, de grande sucesso em meados e fins dos anos 1990. Não me lembro o nome da revista, mas me lembro que o autor era o Worney Almeida de Souza, muito conhecido entre o meio dos fanzines. Nessa matéria havia uma declaração do Gedeone de que essas HQs foram autorizadas pela própria Marvel. Então mandei um e-mail para o Waldomiro perguntando o que ele achava da ideia de escrevermos juntos um artigo sobre os X-Men do Gedeone para publicar em algum periódico dos Estados Unidos. Eu havia pensado no The Comics Journal da editora  Fantagraphics, mas como o Waldomiro já era colaborador do IJOCA,e pelo fato desse periódico ser muito respeitado no meio acadêmico, acabamos submetendo o artigo à avaliação da revista editada por John A. Lent. Eu até havia mandado um e-mail para o TCJ, o qual eles responderam demonstrando interesse em saber mais a respeito, mas não gostamos muito quando eles pediram para que enviassemos as revistas da GEP pelo correio para que eles escaneassem. Não gostamos da ideia porque havia o risco de revistas raras se extraviarem.

Lembro-me que resolvi checar a declaração do Gedeone de que a Marvel havia autorizado a criação dessas HQs. Não porque achei que ele estivesse mentindo, mas porque talvez a memória o tivesse enganado ou, quem sabe, ele havia recebido uma informação equivocada.Enviei um e-mail para o antigo site oficial do Stan Lee, para quem já havia mandado uma mensagem antes. Perguntei ao Stan Lee se ele sabia das histórias brasileiras dos X-Men e a resposta foi negativa.

Para nossa sorte, a gibiteca da Escola de Comunicações e Artes da USP tinha alguns dos raros exemplares dos gibis da GEP. O Waldomiro escaneou as capas e algumas das páginas das histórias escritas pelo Gedeone. Depois de muitos adiamentos, revisões, idas e vindas, acabamos escrevendo o artigo e enviando-o para o IJOCA que o publicou.

Sempre que vejo o Waldomiro em eventos dedicados à pesquisa das HQs,ele me conta que nas viagens que faz aos Estados Unidos os colegas norte-americanos perguntam das HQs brasileiras dos X-Men.

Tempos depois, pensei em fazer uma versão atualizada e expandida do artigo publicado no IJOCA e ofereci a ideia para a editora Twomorrows. Quem respondeu, mostrando grande interesse pelo assunto, foi o roteirista e editor Roy Thomas, conhecido por ter escrito histórias do Conan e de praticamente cada herói da Marvel nos anos 1970.

No entanto, como eu e o Waldomiro estávamos ocupados com outros assuntos, essa nova versão do artigo acabou não sendo escrita. Quem acabou publicando um artigo sobre o assunto pela Twomorrows foi o colega Roberto Guedes, pesquisador, roteirista e editor de HQs, que está sempre resgatando a História das HQs brasileiras.

Quem quiser comprar a edição do IJOCA onde nosso artigo foi publicado bem como outras desse períodico, clique no link para o site oficial da revista, onde estão todas as informações necessárias:

http://ijoca.com/

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Todo colecionador de quadrinhos queria ser um quadrinista?

O Fernando Bedim é  um colecionador de quadrinhos que mora no Paraná. Ele também é o administrador do Central HQs, um vlog que se caracteriza por apresentar resenhas de quadrinhos de maneira descontraída. Um dos vídeos que ele postou é sobre o sonho que muito leitor de quadrinhos tem ou já teve: o de se tornar quadrinista.

Me identifiquei muito com o depoimento que o Fernando apresentou e tenho certeza que outros também se identificarão. Detalhe: apesar de não ser quadrinista profissional, o Fernando trabalha numa área onde a imaginação, a criatividade e o gosto por ler e escrever também são fundamentais. Ele é advogado, formado pela Universidade Estadual de Maringá. E para quem acha que advocacia e quadrinhos não possuem relação alguma, vou citar apenas alguns nomes dos quadrinhos que também se formaram em Direito: Gardner Fox,roteirista que criou uma porção de personagens para a DC Comics (Flash, Senhor Destino, Gavião Negro, Sociedade da Justiça, Liga da Justiça etc); Bill Mantlo ,roteirista que trabalhou para a Marvel nos anos 1970 e 1980, para quem criou os Guardiões da Galáxia e escreveu histórias do Hulk e do Rom; Gedeone Malagola, já falecido roteirista e desenhista brasileiro,  muito atuante nos anos 1960, criador do super-herói Raio Negro, a “versão brasileira do Lanterna Verde”; e o Ziraldo, que dispensa apresentações.

Eis o vídeo que o Fernando postou no Central HQs:

Resenha para o site “Quadrinheiros”: Era a Guerra de Trincheiras

De julho de 2013 a abril de 2014, trabalhei na EFAP (Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo), cujo prédio é próximo ao estádio do Palmeiras. Foi um período bem agitado, madrugava bem cedo (antes das cinco da manhã) para conseguir chegar às nove, saía de lá às seis da tarde, e não chegava em casa antes das nove e meia ou dez horas da noite.  Sem falar que, às vezes, por conta do serviço, tive que viajar para Brasília e para o interior de São Paulo, o que significava menos tempo ainda com a família. Meu filho tinha só alguns meses de idade quando comecei a trabalhar lá.

Apesar da rotina cansativa, o período que trabalhei na EFAP também foi marcado por coisas boas. Uma delas foi o convite para colaborar no site Quadrinheiros. O convite partiu de dois colegas meus na EFAP, o Bruno Andreotti e o Adriano Marangoni, ambos formados em História pela PUC, ambos aficionados por quadrinhos.O Bruno e o Adriano estão entre os autores/editores do  Quadrinheiros. Eles fazem o site por hobby, mas mesmo assim, o blog deles possui conteúdo bem melhor que o de alguns sites feitos por jornalistas profissionais. Ou seja, publicam matérias originais e não traduções disfarçadas de notícias que saem em sites estrangeiros.

E foi para o site deles que fiz um dos meus textos que mais gostei de escrever, uma resenha sobre o álbum Era a Guerra das Trincheiras, uma história em quadrinhos ambientada na Primeira Guerra Mundial, escrita e desenhada pelo  francês Jacques Tardi. Quem quiser ler a resenha clique o link a seguir e aproveite para ler os textos dos outros “quadrinheiros”:

http://quadrinheiros.com/2013/12/18/a-primeira-guerra-mundial-em-quadrinhos-era-a-guerra-das-trincheiras-de-jacques-tardi/

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MARCOS TETELLI: Um desenhista que ainda precisa ser redescoberto

Em meados de 1989, conheci Marcos Tetelli numa escola de desenho em São Bernardo do Campo. Na época, eu tinha quinze anos, o Tetelli um pouco mais que isso. Quem dava aulas lá era um sujeito que já havia publicado uns trabalhos pela extinta Press Editorial (que publicava gibis de terror e pornôs) e feito a arte-final de alguns quadrinhos infantis para a Abril. O Tetelli já chamava a atenção pelos seus desenhos. Ele era muito fã da arte do John Byrne, que era um desenhista extremamente popular na época,principalmente pela fase em que desenhou os X-Men (com arte-final do Terry Austin). Apesar disso, seus primeiros desenhos lembravam muito os do Pat Broderick (que desenhou histórias do Nuclear para a DC e do Capitão Mar-Vell para a Marvel). Com o tempo, o Tetelli começou a buscar referências em outros artistas de técnica mais apurada: Neal Adams, José Luiz García-López, Esteban Maroto, John Buscema… O resultado não poderia ser outro: seus desenhos ficaram ainda melhores. Mais ou menos como Jerry Siegel e Joe Shuster, os ingênuos criadores do Super-Homem, formamos uma parceria, tentando produzir quadrinhos juntos. Eu roteirizava e desenhava, o Tetelli finalizava. Ou melhor, ele redesenhava o meu trabalho: ele era capaz de transformar um simples esboço num desenho melhor e totalmente diferente. Acrescentava detalhes, corrigia falhas de anatomia etc.

O sonho dele era desenhar super-heróis para o mercado norte-americano. Em meados da década de 1990,por meio do estúdio Art & Comics, que agenciava desenhistas brasileiros para trabalharem para as editoras norte-americanas (na verdade, o agenciamento mesmo era feito por uma empresa norte-americana chamada Glass House Studios), ele chegou a desenhar páginas de uma edição de Iron Man  (Homem de Ferro) e os dois últimos números de  Ravage, o herói criado por Stan Lee para o Universo 2099.

A edição de Iron Man desenhada pelo Tetelli foi a de número 321, publicada em outubro de 1995. O Tetelli dividiu a arte dessa edição com o desenhista Heitor Oliveira e o arte-finalista Mark McKenna. O roteirista da história foi Terry Kavanagh.

As edições do Ravage desenhadas pelo Tetelli foram as de número 32 e 33, publicadas respectivamente em julho e agosto de 1995.As duas edições do Ravage foram escritas pelos roteiristas Pat Mills e Tony Skineer. Os arte-finalistas que fizeram o acabamento a nanquim sobre o lápis do Tetelli foram Greg Adams e Scott Kobish.

É verdade que o trabalho do Tetelli na edição de Iron Man está muito aquém do talento e da técnica dele. Mas, isso não aconteceu por desleixo ou despreparo do Tetelli.  Em primeiro lugar porque,na época, para atender às exigências do  editores gringos, o Tetelli teve que copiar os excessos típicos do estilo que Jim Lee e outros artistas estavam apresentando nos gibis da Image Comics: heróis com dentes rangendo; garotas peitudas com pernas absurdamente longas e muita poluição visual.

Se o Tetelli tivesse tido liberdade para trabalhar usando como referências os artistas que ele realmente admirava e não os artistas que estavam na moda nos anos 1990. o resultado teria sido melhor. Em segundo lugar, o Tetelli desenhou todas essas páginas varando madrugadas e tendo que levantar cedo para ir trabalhar na agência bancária onde ele é empregado há anos. Se já é difícil para muitos desenhistas profissionais, alguns com contrato de exclusividade para essa ou aquela editora,desenhar as páginas dentro do prazo e atender às exigências dos editores, imagina fazer tudo isso nas horas vagas, tendo que conciliar com um emprego diurno!

Tetelli  também ajudou o Manny Clark (nome artístico adotado pelo brasileiro Manoel Flor) a cumprir prazos para editoras como a Continuity,  trabalhando como ghost (desenhista-fantasma, pois apesar de fazer os desenhos, não assina o trabalho, tal qual  um fantasma que “faz,mas não aparece”). O dono da Continuity é nada mais, nada menos que Neal Adams (artista famoso por ter desenhado aquelas histórias do Lanterna Verde e Arqueiro Verde no início da década de 1970). Na mesma época, o Tetelli também produziu algumas ilustrações para  livros de RPG (Role Playing Game).

No entanto, infelizmente, o Tetelli nunca conseguiu um trabalho regular com desenho, e jamais pôde  ou quis largar o seu emprego de bancário para se dedicar exclusivamente aos quadrinhos e à ilustração. Para ele, largar o emprego no banco para tentar ganhar a vida como desenhista seria trocar o certo pelo incerto. E, em um país como este, ainda mais em tempos de crise econômica, a decisão mais sensata é permanecer no emprego que garante o pão de cada dia.

Em todo caso, os trabalhos que o Tetelli publicou pela Marvel foram uma grande vitória dele.  Em 1990, quando o nosso ex-professor do curso livre de quadrinhos que frequentávamos em São Bernardo, nos persuadiu a desenhar quadrinhos pornôs, o Tetelli chegou a desenhar alguns quadrinhos desse gênero. No entanto, ele não se sentiu bem com aquilo e chegou a um ponto em que o pai dele o convenceu a largar aquilo, que Deus não havia dado aquele talento para ele desperdiçar desenhando historinha de sacanagem. Nosso ex-professor não aceitou bem isso e disse ao Tetelli uma coisa do tipo: “Você está desperdiçando uma grande oportunidade profissional! Pare de sonhar com a Marvel ou a First Comics! Você nunca irá trabalhar para uma editora dos Estados Unidos!”

Depois que largou o ‘bico” de desenhar quadrinhos pornôs,o Tetelli chegou a desenhar quadrinhos de ficção científica para uma pequena editora que funcionava em São Paulo. Salvo engano, foram os desenhos para uma história escrita pelo roteirista e editor Dario Chaves. Outro trabalho que ele fez foi a arte-final para um “mangá” made in Brazil escrito pelo Sérgio Peixoto. Segundo o Peixoto, o Tetelli receberia o pagamento quando a história fosse publicada. Ao que parece, essa história em quadrinhos permanece inédita.

Tempos depois disso tudo, o Tetelli fez um curso de colorização digital, durante o qual ele produziu esse exercício em que aparece o super-herói favorito dele: o Hulk.

Alguns dos originais das páginas desenhadas pelo Tettelli foram vendidas em sites especializados em vender e leiloar artes originais,mas ele não recebeu um centavo sequer por isso. Ele mesmo nem  sabia  que os originais das paginas que desenhou estavam sendo vendidos na Internet. Detalhe: em dólares ou euros. Um exemplo é esta página que ele desenhou para a Continuity, a editora do Neal Adams.

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Quem sabe um dia a gente possa ter a sorte de encontrar a arte do Tetelli regularmente nas bancas e livrarias?