A Escolinha do Professor Raimundo revelou jovens figuras da comédia que tiveram êxito na televisão. Pedro Bismarck, que interpretava o caipira Nerso da Capitinga, foi um dos nomes revelados no programa de Chico Anysio.
Ademilson Pedro da Cruz, nome real de Bismarck, é natural de Muriaé (MG). Ele não começou sua vida profissional nos palcos, e sim no Exército, onde ficou por cinco anos, chegando a ser cabo no 4º Esquadrão de Cavalaria.
Nos anos 1980, mudou-se para Juiz de Fora (MG) e começou a frequentar os palcos da cidade. Foi nessa época que o ator criou o Nerso da Capitinga, passando a participar de vários shows de humor. Além do personagem, ele imitava uma série de pessoas e contava várias piadas, tornando-se um grande sucesso.
Destaque na Escolinha
Em 1990, Chico Anysio convidou Pedro para ser “aluno” do Professor Raimundo. A atração, que ganhou vida própria após ser um quadro do Chico Anysio Show, deu muito certo, e lançou o personagem de Bismarck para todo o Brasil.
“O humor mineiro é mais puro, ingênuo, inocente, carismático. Nerso não é o bobo que causa pena, e sim o ignorante que sabe plantar e lidar com as coisas da terra, mas não teve acesso a outras informações”, contou Pedro ao Jornal do Brasil.
De mala e cuia para o SBT
A cada programa, o personagem ganhava mais popularidade, então Pedro buscou um espaço maior na Globo, produzindo um programa solo. No entanto, sem chances de crescer na emissora carioca, ele saiu da Escolinha e assinou com o SBT.
“Ele ficou muito encantado com a ideia do programa e de fazer um filme, e o empresário dele disse que se ele saísse da Escolinha, o programa acabava. Ele resolveu sair, liguei de novo pedindo para ele voltar, mas ele saiu”, relatou Chico ao programa Roda Viva, em 1993.
A ideia do canal paulista era dar a ele um programa solo, porém este acabou não dando certo. O humorista fez parte do elenco da Praça é Nossa por alguns meses, além de fazer comerciais para a Telesena. Desiludido, o humorista saiu do SBT e acabou voltando para a Globo e para a Escolinha.
Afastamento da televisão
Mesmo com o fim da Escolinha, ele continuou na Globo e fez parte do elenco do Zorra Total. O sucesso veio novamente com Nerso e sua esposa, Dona Candinha (Luciana Coutinho). Outro personagem que caiu nas graças do público foi o Seu Feliciano, com o bordão que até hoje é lembrado: “Morréu!”.
Com as mudanças do humorístico em 2015, Pedro foi morar, junto com sua esposa, em um sítio que possui no interior de Minas Gerais. Contudo, infelizmente ela acabou morrendo no ano seguinte, vítima de infarto.
“Acho que superar a perda de alguém que se torna um só, contigo, é impossível. Você nunca mais se torna o mesmo. Foram 33 anos de um casamento cheio de cumplicidade e muito feliz”, contou o humorista ao jornal Extra.
“A minha vida no sítio é tudo o que eu pedi a Deus. Aprendi a dar valor às mínimas coisas do dia a dia vivendo lá. Quando não estou viajando a trabalho e nem em reuniões com o meu escritório, o meu cotidiano é normal como o de qualquer outra pessoa. As vantagens é que no sítio eu pesco, cuido da terra, das plantas, dos bichos, eu leio, reúno a família, os amigos e tudo o que me dá mais prazer, com a calmaria do campo”, explicou, ressaltando que não trocaria a vida no campo pela cidade “de jeito nenhum”.
“Ele sabia tudo”
Afastado da televisão e vivendo de forma reclusa, ele recebeu um convite para viver Nerso da Capitinga na nova versão da Escolinha. O seu personagem era interpretado pelo ator Gui Santana. O comediante se emocionou com a homenagem feita pelo elenco do programa.
Em entrevista no Podcast VoxLab, Pedro contou como era sua relação com Chico.
“Na Escolinha, o Chico tinha 300 metros de altura no camarim, e no palco ele descia do pedestal. Ele atuava diferente com cada personagem, só um ator no porte do Chico podia fazer isso. Ele dava liberdade para que a gente mexesse no texto, mas ele pedia para não mexer no dele, por causa do ponto eletrônico. Ele sabia tudo”.
Mesmo longe da TV, Pedro Bismarck continua fazendo shows pelo Brasil, levando seu humor caipira que agrada ao público até hoje.
