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A Saga do Homem

A obra exposta no prédio do Discente I da FCT-UNESP, restaurada pelo próprio artista, Cirton Genaro, contou com Projeto de Iluminação, Programação Visual e Proteção Visual da Restauração realizados pelo NAU.

Abaixo, um texto escrito por Jacob Klintowitz, importante crítico de arte, a respeito de Cirton e sua Obra:

 

"Os jovens têm sonhos grandiosos. O jovem pintor Cirton Genaro não deixou por menos e pintou logo a História do Homem. E, num ataque de refletida modéstia, nos advertiu que se tratava de apenas da Breve História do Homem. Ou isto, ou todos os muros e paredes de Presidente Prudente não seriam capazes de conter a história completa. O fantástico é que já não tão jovem e com a marcada sabedoria que, às vezes, as cãs trazem, o pintor Cirton Genaro continua contando a história da humanidade. Agora, tenho certeza, o nome correto deste mural de infinito amor pictórico seria “A Saga do Homem”.

 

Este histórico mural de louvação do ser humano e do trabalho, realizado em 1971, sob a égide ameaçadora da sombra do autoritarismo anti-humanista, é, além do ato de coragem quase mística, uma síntese dos temas e do futuro percurso do pintor realista Cirton Genaro. Nele estão contidos os elementos básicos formais; o desenho como fonte primeira, a composição clássica com a estrutura da pintura em forma de triângulo com vértice ascendente, a ocupação equilibrada do espaço, o uso do grafismo, a clareza dos elementos figurativos sem recorrer à facilidade do expressionismo. E, do ângulo filosófico, a figura humana como protótipo, o ser como ator histórico, a construção da consciência como forma gerada na ação e o trabalho como argamassa.

 

A partir desta visual declaração de princípios do artista, o seu caminho se desenvolveu em busca do conhecimento cromático e da individualidade manifestada no contexto. No meu livro “Histórias brasileiras de arte e artistas”, iniciei ficcionalmente o relato sobre Cirton Genaro: “O último pinto realista sobre a face da terra estava entregue aos seus prazeres diários e nada secretos, fazendo com que delicados tons violáceos emergissem do fundo da tela para o primeiro plano e tornassem mais canais os ocres da pele de seu modelo imaginário, quando...”

 

O mural “Breve História do Homem” é um testemunho do tempo. Nele estão contidas as informações de época dos jovens brasileiros cultos, desde a citação explícita do livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, até os instrumentos considerados simbólicos da ciência e da tecnologia, e os de expressão religiosa, como a Pomba-Espírito Santo, e os ancestrais, como a cerâmica indígena e a Vênus paleolítica. Ainda é um universo não digital, mas o conflito essencial já está evidenciado, a questão da produção de riqueza e a inclusão. O artista se apropria, como sistemática de comunicação, da narrativa da história em quadrinhos. Torna mais didática a sua descrição. Mas conserva a idealização da figura humana, o que o liga aos realistas da primeira metade do século XX.

 

A restauração do mural “Breve História do Homem” é um ato de profundo significado simbólico. É o segundo nascimento desta pintura. A primeira, como uma arte feita na trincheira. Na segunda vez, como uma linguagem artística e cultural na era do saber e do diálogo. A criação deste mural, que na sua origem parecia um gesto de ousado lirismo juvenil, e a recuperação deste gesto, confere ao contexto um inegável conteúdo social na história das ideias."

 

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