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Por Diego Viana — Valor Econômico


SÃO PAULO - O êxito póstumo da artista Mira Schendel (1919-1988) abre caminho paulatinamente para uma compreensão de sua obra multifacetada e, para muitos, hermética. Depois da exposição de suas monotipias em Londres (Stephen Friedman) e Paris (Jeu de Paume) e da exposição em Nova York (Museum of Modern Art) em 2009, ao lado das obras do argentino Léon Ferrari, chegou a vez de conhecer de perto seu trabalho como pintora. Após a temporada no Instituto Moreira Salles (IMS) do Rio de Janeiro entre setembro e novembro, a exposição “Mira Schendel, Pintora” segue para as instalações paulistanas do IMS.

Com curadoria de Maria Eduarda Marques, autora de um dos principais livros sobre a obra da artista, intitulado simplesmente “Mira Schendel” (Cosac Naify, 2001), a exposição é composta de 29 telas, produzidas durante o período em que viveu no Brasil, entre as décadas de 1950 e 1980. O Instituto Moreira Salles edita também o catálogo da exposição, que reproduz as obras expostas e traz textos sobre a pintora de críticos como Mário Pedrosa, Mario Schenberg, Theon Spanudis, Rodrigo Naves e Ronaldo Brito. Três artistas contemporâneos cujas obras são influenciadas pela artista suíço-brasileira também escrevem no catálogo: Marcos Giannotti, Sérgio Sister e Paulo Pasta.

sem título, anos 50 — Foto: ©Ada Schendel
sem título, anos 50 — Foto: ©Ada Schendel

A pintura foi uma constante na carreira da artista. Segundo a curadora da exposição, o vínculo entre a produção de Schendel como pintora e suas obras em outros suportes é forte e capital. Por isso, ela pode afirmar que, para conhecer a obra de Mira Schendel, é preciso levar em conta a multiplicidade de sua produção. Já nos seus óleos e têmperas de juventude, nos anos 1950 e 1960, é possível encontrar letras e palavras. Massa, cimento e areia eram usados nas chamadas “pinturas matéricas”, que exploravam a textura dos materiais. Na série “Sarrafos”, a artista transita entre a pintura, a escultura e o desenho. Nas palavras da curadora, é na pintura que surgem os conteúdos que a pintora desenvolveria em outros suportes.

As obras mais reconhecidas de Schendel são suas monotipias, que chegam a valer R$ 1 milhão no mercado de arte. Nas monotipias, a artista encarna seu interesse pela fenomenologia _adquirido em estudos formais e informais de filosofia_ e o fascínio com a linguagem. As frequentes mudanças de endereço, de uma artista já nascida em um país com três línguas oficiais e com conhecimento do hebraico, transparecem nas frases repetidas em diversos idiomas sobre um fundo branco de papel-arroz, assim como na disposição sobre o espaço de números e letras dos alfabetos arábico e hebraico.

Também são célebres suas experiências espaciais com o papel-arroz, as Droguinhas, pequenas esculturas trançadas, que buscam a tridimensionalidade com a mesma austeridade de séries como as Monotipias, os Bordados e os Datiloscritos. A artista, obcecada por temas filosóficos e espirituais, manteve vasta correspondência com diversos intelectuais de seu tempo, incluindo o poeta Haroldo de Campos e o alemão Jean Gebser. Essas correspondências, assim como os diários de Schendel, podem ser encontradas na tese de Geraldo Souza Dias, “Mira Schendel, Do Espiritual à Corporeidade". As buscas fenomenológicas, espirituais e estéticas da artista ajudam a compreender a forma como ela buscava gravar em suas obras a experiência do mundo e da materialidade.

sem título, sem data; têmpera sobre  tela — Foto: ©Ada Schendel
sem título, sem data; têmpera sobre tela — Foto: ©Ada Schendel

Mira Schendel é natural de Zurique, Suíça. Ao nascer, em 7 de junho de 1919, seu nome era Myrrha Dagmar Dubb. Foi criada em Milão (Itália) pela mãe e na cidade estudou arte e filosofia. Em 1940, a guerra a forçou a fugir para a Bulgária e posteriormente para o Brasil, em 1946, com seu primeiro marido, Jossip Hargesheimer. Sua primeira residência brasileira foi em Porto Alegre, onde apresentou uma exposição individual em 1950. Obras suas estiveram na primeira Bienal de São Paulo, em 1951. A metrópole paulista seria onde fixaria residência em 1953, ao se separar do marido, e onde viveria até o fim da vida. O sobrenome com que ficou conhecida veio de Knut Schendel, seu marido a partir de 1960. Ao morrer, em 24 de julho de 1988, a artista deixou incompleta uma série de “pinturas matéricas”, compostas de pó de tijolo com cola.

(Diego Viana/Valor Econômico)

“Mira Schendel, Pintora”

Quando: abertura: 6/12, às 19h30; em cartaz de 7/12/2011 a 11/3/2012; Ter. a sex., das 13h às 19h; sáb., dom. e feriados, das 13h às 18h (entrada franca)

Onde: Instituto Moreira Salles – SP (r. Piauí, 844, 1º andar, Higienópolis, tel. 11 3825-2560); site: www.ims.com.br

Mesa-redonda: 10 de dezembro (sábado), às 16h, com a curadora Maria Eduarda Marques, o crítico de arte Rodrigo Naves e o artista plástico Sérgio Sister. A entrada é gratuita e os lugares são limitados; catálogo: “Mira Schendel, Pintora” (132 páginas, R$ 45).

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