Rubra luta.

Não há cessar
Somente rubra dor
Sangro a carne alheia
Sangra o ventre a dor do ciclo sem fim

Tantas guerras para tão poucas batalhas
Ganha quem mais leva o ouro
E, o que é a guerra se não o lucro?
Por isso, luto!

E, a cada vitória inimiga
Vence o bem que em mim habita
Pelejo forjada no aço e no vento
No acalanto das ondas
Que marujo algum navega

Quem me guia o leme não tem mãos
Nem braços, face, ou traços
Não há esboço algum
Que me navegue os passos

Terras armadas criam guerras sem fim
Territórios, divisas, muros
Patamares, andares, paredes
Alicerces que desabam pela ganância
E, tantos outros interesses a fim

A quem pertence a guerra?
O diabo também reclama o povoado
De quem o Homem se livra em vida
Cava mais fundo ele sua própria dívida

Não há mais luta que se lute fria
Os calores terrenos conclamam valores
E, o que há de mais valioso
Se não a própria dádiva da vida?

A densidade é somente demográfica
Bandeiras querem terras de outras nações
Flâmulas se erguem em prol do ouro
De toda a riqueza de povos outros

Deus é general na boca do Homem da guerra
Não no coração dos que dominam a Terra
Os donos são muitos, perante os que nada têm
E, assim, troca-se vida por qualquer reserva
E, o pulmão do mundo já pouco a tem

E, estamos no fim
No fim do mundo e de tudo
Nenhuma luta em vão é se não o luto
Não há raça, gênero ou credo
Nada mais que se lute sem visar o lucro

Empreende-se na guerra
Incompreende-se o Homem
Desprende-se a Fé
Já não há mais Deus, sem que reluza
A justiça cega só vislumbra o tilintar da taça

Brinda-se o sangue em crânios
Em poças, destroços e escombros
Em irrespiráveis ares tomados pela poeira
O aroma da guerra é fétido
Seja do canhão, ou da marreta
O entulho não é mérito

Serras, pólvoras, machados, ou bombas
Pulmões explodem incinerados pelo verde
Que desmatam em nome dos donos da Terra
E, não é Deus

Nenhuma luta mais é senão pela riqueza
A nobreza nunca saiu do seu castelo
Nem de dentro do Homem
Impera a cobiça, a ganância, o poder
O que era para ser sentimento, é sentido
Pela dor, ou pela continência
Contingentes de insanidade e rivalidade

A partilha virou testamento
A comunhão escomungou
Já não há mais irmãos
Sóror não tem idade
Rima somente com rivalidade
Desigualdade, ou validade
Seja por prazo, ou material valor
Doar de si, um penhor

Mas, luto.
Mesmo que o cerco se feche
Mesmo algemada na alta torre
Luto!
Porque não almejo o ouro
Nem patamar, ou alicerce algum
Eu vivo na Terra

Mesmo que a mente orbite outros planetas
Mesmo que o Sol não seja o astro
Mesmo que brilhe somente
A projeção de fora da caverna

Luto com os deuses ocultos
Que me tomam pelas mãos, e me guiam
Em cultos que Homem algum rege
Meu Deus não tem nome
Porque se o defino, dou eu voz à guerra

Afirmo minha Fé na natureza
E, na Divina dureza do meu próprio corpo
Sangro, porque estou viva
O rubor que sai de mim
Expurga o que há de impuro no mundo

Carrego nas entranhas a força anímica
A anemia não me toma
Não me falta o ferro
Porque meu Pai e minha Mãe me forjam
A cada despontar de um novo dia

Sou filha de toda a natureza e riqueza
Que Homem algum compra
Meus valores não estão nas prateleiras
Minhas estantes e estandes são de conhecimento
Que luto para alcançar, e firmar minha bandeira
Mas… bandeira? Para que tantas?

Não empreendo na luta
Minha compreensão é a razão
Habito na guerra de quem quer paz
Na voz de quem não se cala à injustiça
De quem muito já colocou o corpo à prova
Levaram minh’alma
E, nem sequer lavaram meu templo
Da imundice das mãos impuras
Quiseram me trocar por suas próprias tumbas

Mas, resisto, e luto.

Livre como um ser alado
Ressurjo das cinzas da guerra
Em meio ao pó alheio
De quem dele veio, e a ele retorna a cada dia
Até que tudo seja brisa e vento
E, nada mais reste, nem vestes
Até que se desnude a face das sombras
E, todo o firmamento clareie

Não tenho lado, nem centro
Não tanjeio, nem paralelo
Habito no planeta do Povo
Na mesma esfera da minoria
Onde também habita a maioria
Sou da raça dos iguais
Do gênero neutro de grande soma
Do credo de quem tem Fé
E, luta, mesmo na dor

E, nada há de belo nessa dor sem fim
Nesse sangue derramado
De quem nasce minoria no mundo dos desiguais
De quem sangra sem saber porquê
Como na guerra do mundo
Que sucumbe sem entender

Nada mais há de belo, senão o nascer
Seja de uma vida, ou de um novo dia
Seja da paz, ou qualquer boa ideologia
Seja da flâmula alva, ou da presença de todas as cores
O mundo inteiro é a nação
E, se assim todos vivessem
Não mais haveriam bandeiras
Somente um mesmo céu
E, uma mesma terra.

(Alessandra Capriles)

O riso…

Todos os dias
Nem que por um segundo
Mesmo que esboço
Mesmo que não se veja
Mesmo que não se sinta
Rio algo parecido com um sorriso

Vez ou outra, gargalho
E, é só quando se nota

No restante dos dias
Pareço triste
Carrego a tristeza em meus braços
Uma tristeza natural, inerente
Que só a outros olhos torno evidente

Mas também
Há alegria na tristeza
Mesmo que não haja a certeza

Creio que sinto o sentimento Mona Lisa
Ali, cercada, atada a um Louvre qualquer
Uma masmorra de vidro
Na vigilância de olhos, alarmes e câmeras

Protegem o corpo obra
Emoldurado, amordaçado…
Mas, o que deveras diz o seu riso?

De todas as direções que os percebem
Fitam somente os olhos de Gioconda
Sensíveis olhos ao meio
E, os preservo através das lentes
Disfarço olhares a quem somente
Anseia outros olhos

Dialogo além de lábios, gestos e pupilas
Meu verbo é de sentir
Não de ver, nem ouvir
O que escondem meus olhos
Somente olhos atentos tateiam

Por isso, rio
Ora alegria, ora melancolia
Ora crítico, ora sarcasmo
Pouco rio com a felicidade
Jamais dela, minha, ou aquém

Meus olhos mais choraram
Do que já sorriram
Mas, rio…

Rio por graça e com graça
O valor e teor
Que mensurar o humor
E, avaliar o coração despretenso

Não rio em vão
Não gracejo sem verdade
Da mais árdua ironia
Ao mais sincero sentimento

Os olhos eram dela
Mas, o olhar era de Da Vinci

É como traduzir uma obra
Não se interpreta o que vê
A resposta está dentro do peito
No próprio sorriso
Na alma individual
De cada ser que sente o riso

Não importa se arte pela arte
Ali também há um artista
Nenhuma obra é sozinha
Se não a Divina

Rir é uma arte
Até no semblante mais áspero
Habita algum sorriso

A morada dos fortes é um templo escuro
Iluminado pelo sorriso que carrega oculto

Assim, ilumino minh’alma, e guio
Nas profundezas de um templo obscuro
Outros risos
Que adentram ao meu sorriso

Poucos entram, muitos saem…

Gargalho e transbordo o espírito
Àlguma maneira, clareio o meio límbico
E, não desisto.

Mas, não é sempre
Na maioria das vezes
O céu é cinza
Stratus, Culumus, Cirrus
Formam o firmamento
Mas, o sol está ali
Mesmo que não se veja

Assim também é o riso…

(Alessandra Capriles)

Indevidas Escolhas. (Escrito em 13/03/2011.)

A vida segue lenta por seus dias…
E, quando olhamos para atrás Tudo mudou…
Quando nos damos conta
As pessoas não estão mais lá… Pessoas passam…
Os dias correm seus passos…
E, às vezes, perdemos tempo nos preocupando
Com vidas que não nos pertencem…
E, essas trivialidades sufocam…
A vida é tão importante…
Temos um mundo inteiro para viver…
E, ainda assim, tem gente que faz indevidas escolhas…

Muitos ainda irão nos magoar, ferir, fazer suas intrigas…
Mas, o que importa é a nossa consciência…
Nossos atos…
O que temos pulsando dentro de nós…
É preciso canalizar as energias…
Parece que o perdão é um ato impossível…
Que amar ao próximo, e respeitar suas diferenças é impossível…
Parece que tudo o que já foi dito entrou em desuso…

Amar virou arcaico…
Cliché…
E, tem gente que ainda acha estranho os que permanecem calados…
O tempo está passando…
Amanhã, nada será como ontem…
Não há regra para a vida…
Nunca se sabe quem estará por cima…
Não tente ser melhor do que os que estão ao seu lado…
Porque amanhã outros serão…

(Alessandra Capriles)

Sob os olhos mais belos… (Artes de Yure Angel, meu bicoitãozin.)

Em cada pedaço de morte
Um sopro de vida
Do que rui, somente o amor floresce
Como estações
A renovação das folhas
Das flores, das cores

Temores se calam diante da arte
Onde não há beleza
A leveza dos olhos transpiram
Suspiram paletas coloridas
Doloridas tintas descamadas
Ganham novas vidas

O desgaste das peles das portas
Abrem suas alas mais belas
A natureza morta lapidada
Vira tela para o sentir profundo
O grito da alma da arte é o mais genuíno
Pois o tempo recria tudo o que é Divino
E é onde encontramos algum refúgio…

(Alessandra Capriles)

O gatilho seco.

Julga, julgador
Quero ver passar um dia
Segurando as lágrimas da dor

Enquanto apontas ao outro o dedo
Engatilhas outros quatro para ti

Os Dias de Glória chegaram
Mas, não estou nessa vitória
A minha batalha é contra a derrota

Minha, do povo, de todos
Dos sem teto, sem terra
Com sede e com fome
Dos que consomem o veneno
Daqueles que mal usam de seu sobrenome

Palácios se erguem
A especulação imobiliária cresce

Buracos no asfalto maquiados
Estacas embaixo das marquises
A rua cada dia mais ao relento
Enquanto rostos sofridos
Por cada esquina, seguem estampados

Os alicerces do meu pavimento sucateiam
E, a sabotagem o levam à ruína
Vôos altos comemoram seus rasantes

Herdeiros das fortunas cegas
Bandos e contrabandos
Desculpa, mas eu não caminho por essas bandas

A minha história quem escreveu foi o destino
Por muito pouco, não desatino
Dos atalhos, somente desvio
A curva só faço quando orientam meus guias

Intuo a força que me sustenta
Se muito o corpo já não suporta
A alma sussurra, e me ergue
“Filha minha, aguenta!”

Não há poesia na vida
Não há verso que dissipe a dor
Se eu rimo é um choro que ficou contido
Em busca de algum outro abrigo

A face já pouco disfarça
Nem sorriso, nem lágrimas
A indiferença virou meu semblante
De uma mente deveras falante

E, ela grita

A minha voz contida hoje esbraveja
Enquanto em um bar qualquer
Muitos tilintam copos com suas cervejas

Faço da luta, da escrita e da leitura tatuagem
Marco na pele o conhecimento
E, aqueles que me protegem, e me dão coragem

O que faço da vida é o que ela fez de mim
Apenas mais uma
Em meio a tantos
Sobrevivente…

Não há romantismo na romaria de um sofredor
Senão, sofrer não rimaria com dor…

(Alessandra Capriles)

Onde nada me abala… (Escrito em 12/01/2022)

Eu incomodo. Eu sei que eu incomodo. Eu incomodo porque não ligo para padrões, nem para opiniões. Eu incomodo porque sei me impor, e me defender. Sei dizer não, e sei lutar as minhas lutas.

Eu incomodo porque sei pensar, e usar do meu bom senso e discernimento. Incomodo pela minha inteligência e sabedoria. Incomodo pelo meu caráter, por saber formar opinião, e defender o meu ponto de vista. Incomodo por não me deixar intimidar. Incomodo por não aceitar injustiças, nem o que não julgo correto no mundo.

Incomodo pelo meu brilho. Não porque eu seja mais, ou tenha mais do que os outros. Não. Estou longe de estar onde as pessoas que incomodam pelo seu bril estão. E, é por isso que eu incomodo, porque apesar de não ter nenhum padrão de destaque, não deixo o meu brilho interior se apagar. Nem a minha força. E, isso ofusca. Ofusca tudo o que é treva. Ofusca o que não é do bem. E, isso incomoda.

Estou nessa vida para incomodar mesmo, jamais acomodar. E, se alguém se incomoda com isso, só posso lamentar, e desejar muita luz, porque a minha não vão conseguir apagar.

Paz e luz aos que precisam, e gratidão aos meus bons que não dormem.

Eparrey! ⚔️

(Alessandra Capriles)

Do palco ao poço.

Só quem viveu a “fama”, e sobreviveu à fome com dignidade, não se vende à ganância

Do palco ao poço, o abismo é profundo para quem não dá valor ao pouco

Sem romantismo, e sem estigma, o pobre sabe dar valor à vida

Boca cheia não enche barriga vazia, mais cospe do que sacia

Farpas não mais me ferem, forjada no aço, elas repelem

O ouro reluz menos do que minha áurea

Aqui, não tem mais voz, nem cabeça baixa

Não mais me calo. Se grito, é porque muito já foi contido

Meus olhos se elevam àqueles que me erguem, e se abaixam àqueles que ao bem também seguem…

Gratidão sempre! 🛡️⚔️🔥

(Alessandra Capriles)

O tempo que passou…

Talvez eu tivesse ficado no tempo
Naquele dia, naquele ano
Naquele chão do banheiro
Ou do quarto, ou do aterro
Ou na lama, na sarjeta

Talvez ali tivesse ficado
Se não me desse eu a mão
Se não tivesse eu me reerguido
Apoiado meu próprio corpo
Tão frágil e tão forte
Corpo, alma e espírito

Talvez, se não houvesse o tempo verbal
Se não houvesse o temporal
A passagem do tempo
E, o passado tivesse passado
O mesmo sujeito
Substantivo, verbo e homônimo

Talvez, se não houvesse eu
E, era eu, não éramos nós
A fragilidade que se fez força
E, somos eu e eu nós
Atados ao primeiro pronome
O singular se fez plural

Com o tempo, os nós antigos dissolveram
Hoje, sou eu, e amanhã também…

(Alessandra Capriles)

Levantada a questão: (escrito em 26/11/2013)

“Difícil é aprender a controlar os sentimentos , mas é preciso !”

Penso (sinto) que:

E, os pensamentos? Mas, cá para mim, sentimentos controlados podem gerar sentimentos somatizados, que adoecem a mente e o corpo… portanto, controlá-los não é preciso, pois se é falho, não há precisão… e se não é preciso, não é necessário…

Bons sentimentos, devemos deixá-los à fluidez… seguindo seu percurso… uma hora encontram um bom destino… e, na menor das hipóteses, nutrem o nosso próprio ser, e o que provém dele…

Os sentimentos sempre serão nossos, assim como os pensamentos… a questão é: o que eles refletirão em nós?

Bem canalizados, não precisam ser contidos… não me alimento somente do que recebo, também me alimento do que produzo, do reflexo do que produzo e emito, e do que meu corpo responde ao externo…

Brincando com a paráfrase, por que acha que “navegar é preciso” e que “viver não é preciso”? Se houvesse uma rota precisa, e um norte, viveríamos todos com o leme nas mãos…

(Alessandra Capriles)

Quem eu amo.

Ontem, inesperadamente, perguntaram a mim:

– Você me ama? É importante eu saber.

Pois… A quem eu amo?

Amo os pobres. Os miseráveis. Os que têm fome. Os injustiçados. Os loucos. Os empáticos. Os que não julgam. Os que conhecem as verdades da vida. Os que seguem íntegros.

Os não deslumbrados. Os centrados. Os que discernem. Os que se respeitam. Os que sabem respeitar. Os que aprenderam que todos somos ninguém.

Os que não viveram as facilidades, nem mal fizeram uso delas. Os que fizeram bom uso delas, e seguem humildes. Os que se revoltam. Revoluções são necessárias para o avanço da humanidade. Não para o atraso.

Os que buscam o conhecimento, e o utilizam para o bem. A sabedoria é a mais valiosa herança humana. A sabedoria é o anjo da guarda que habita em nós.

Os que pedem perdão. Os que sentem e vivem o perdão. E, só quem o reconhece e concede é Deus.

Os solitários. Esses são os que mais amo, pois aprenderam a se preencher e a se respeitar, mesmo na dor.

O solitário é uma jóia, que brilha por sua beleza simples. Ela foi lapidada por mãos humanas, após resistir à força bruta do tempo, da natureza e das ambições humanas.

Os solitários são seus próprios ourives.

Os sozinhos, pois nada é mais duro do que viver só, e isso é diferente de ser solitário. Não há fragilidade humana e social maior do que ser sozinho. Essa é a maior miséria.

Os que sabem se expressar. Os que sentem. Os que não se escondem. Os que ouvem e falam. Os quem não têm medo. Os que a quem lhes implantaram o medo.

Os independentes de aprovação. Os que sabem dividir. Os que partilham sem cobrar. Os que amam o povo, e duvidam de quem teme o povo.

Os que se isolam. Os que aprendem a observar as necessidades próximas. Os que dão o seu máximo, mesmo que seja pouco. Os que admitem quando nada podem dar.

Os que aprenderam que amar é um sentimento de reciprocidade, e não de cobrança. É um sentimento de pequenas grandes atitudes, que nada almeja em troca.

Amor que cobra é patológico.

Os que pescam. Os que partilham o peixe com os que não possuem instrumentos para o fazer por si.

Os que muito têm, e sabem se bastar com o necessário. Os que valorizam o necessário, e não romantizam a sua necessidade. Os que aprendem a urgência no olhar ao que é necessário.

Os que respeitam seus limites. Os que encorajam o respeito do próximo. Os que não romantizam o rompimento dos limites em prol do sofrimento.

Os que entendem tal sofrimento , e que o único sofrimento urgente é o que sofre pelo básico. Os que não têm dignidade, pois esses são invisíveis. Vivem à margem. Ninguém vê.

Amo os que dizem não, quando só têm o não. Amo os que dizem sim, podendo partilhar o sim.

Do mais não tenho ódio. Por mais que a palavra seja dita, muitos sentimentos não encontram suas palavras. Mas, tudo o que provoca dor não me desperta apreço.

Sejam pessoas. Sejam momentos. Seja o passado. Seja o presente. Seja o futuro. Seja o tempo ao tempo que for.

O meu expurgo ao Homem é o meu olhar aflito aos que têm dor.

Esses são os que mais têm urgência. Esses são os que não merecem nenhum tipo de julgamento. Não há regra para a dor.

Cada pé sabe o que te dói. Seja um sapato que aperta. Seja a terra que rejeita suas raízes. Seja uma muda que não floresce mais.

O amor é um sentimento único e solitário, que deve ser partilhado com respeito e em atos.

Estejamos sempre atentos com quem partilhamos o nosso amor próprio. Aos que, de fato, necessitam de amor. Aos que o fazem dentro de seus limites, e dão o seu máximo. Aos que o fazem sem julgamentos, nem nada buscar em troca.

Amor não tem regra, e é de constante aprendizado. Amor é sentimento Divino. Só quem o sabe de verdade é Deus.

(Alessandra Capriles)

Tudo o que você quer ser.

Nem eu mais aguento essa onda cor de rosa, e olha que nem assisti. Até queria, por ler as críticas de abordagem temática da excelente produção da Greta, mas vamos combinar que tudo não passa de marketing pesado da indústria capitalista.

As vendas aumentaram para quem entrou na onda, e a polêmica “amo x odeio” só fez crescer o faturamento de quem muito já fatura, como toda polêmica.

Transformam uma crítica de luta em lucro comercial.

Mas, uma coisa ninguém fala: dos preços dos cinemas, e da quantidade de gente que não possui poder aquisitivo para consumir essa indústria cultural (que deveria ser um direito de todos), por não viverem nem aos pés do mundo da Barbie.

E, em meio à febre, muita coisa absurda rolando no mundo, como a retirada do nome de mães lgbtqia+ da certidão de nascimento de crianças, na Itália, enquanto outras crianças morrem de desnutrição, na África, sem nem uma mãe para lhes amamentar.

Vocês conseguem ao menos alcançar a real visão, e fazer essa ampla relação?

A crítica ao conservadorismo sempre, ao mesmo tempo que enerva seus fiéis, os faz lucrar, e usam do discurso contrário como estratégia, manipulando o mercado e a indústria do capital, que os próprios promovem, a seu favor.

Os mesmos que julgam são os mesmos que lá no fundo dos seus egos se identificam.

Nada novo.

Enquanto isso, no Brasil, os mesmos tais “juízes” da moral e dos bons costumes, usam o burburinho para abafar os desvios dos cofres públicos da antiga gestão conservadora, que estão vindo à tona.

Qual será o próximo desvio de foco político socioeconômico que acalentará as mídias e o capitalismo?

Preparem suas poltronas e pipocas…

(Alessandra Capriles)

Página em branco, ou papel reciclado?

Ontem, li um breve texto de uma amiga, que falava sobre limpar o HD. Coincidiu com o meu exato pensamento do momento. Foi a última coisa que li, e dormi, e acordei pensando nisso.

Como é importante limpar o HD. É como limpar a casa, arrumar o guarda-roupas, fazer aquela reciclagem necessária. Por sinal, a casa e o guarda-roupas, cansei.

Os últimos anos da minha vida foram de backup total da máquina. Tudo o que pertencia à minha vida, foi-se.

No primeiro momento, é como desapegar daquela roupa que tu amas. Daquele sapato e bolsa que te acompanharam em diversos momentos da tua vida. Do teu jeans predileto, que já está para lá de surrado. Da camiseta que te trazia conforto. Objetos, há muito, sem sentido. Etc.

A dor é enorme. Tu ficas ali olhando para aquelas coisas, meio sem saber o que fazer, mesmo sabendo o que tens que fazer.

Só que pessoas e momentos doem mais.

O ano que passou, bem como tantos outros, foi o ano das despedidas pendentes. Aqueles negativos de fotos guardados, há décadas, na gaveta, que já revelaram o que tinham que revelar, e já se desgastaram.

Meu Deus, que angústia pensar no quanto mantive guardadas coisas, lembranças e pessoas que não queriam estar ali.

Aquilo tudo fica gritando para ti que não quer mais estar ali, ou só quer ocupar um espaço, por ocupar. Sem sentido, querer, ou importância real. Como um hobby para passar o tempo.

Ah, como é bom saber que tais coisas tomam outros destinos. Pessoas também.

Depois que a gente fica à beira da morte, damos mais significado ao que é, de fato, importante e profundo. Damos mais significado às palavras e aos sentimentos. Damos o valor devido a nós, e libertamos as amarras de pequenas grandes prisões.

O nosso melhor ombro amigo na dor pode ser a nossa própria voz interior. Só precisamos escutar. E, muitas vezes, é tão bom se ouvir.

Com o tempo, aprendemos que quem te ouve, nem sempre quer te ouvir. Às vezes, só quer a informação. É cruel? É. Cada um sabe do carma de si.

Na ausência, há o silêncio necessário para a reflexão. E, nunca devemos deixar de nos silenciar e o meio, para refletir.

Parece que a visão limpa, melhora, a sua intuição começa a fazer sentido, porque não há interferências externas, que desvirtuam os fatos.

Já pensaram o quão horrível é a sua presença fazer mal a alguém? Todos somos tóxicos. Sem excessões. Mas, já pensaram em o ser por querer?

Deus me livre fazer mal a alguém, intencionalmente. Graças a Ele e todos os deuses, sempre busquei o caminho do bem, do justo. O caminho que não cria atalhos é muito mais penoso, e não há romantismo nenhum nele, mas é o único que tranquiliza a consciência. Para quem tem.

Tudo o que quis ir, deixei. De coisas, lembranças a pessoas, deixei. Muitas delas já voltaram a bater à porta, mas não consegui abrir. Não por birra, rancor, ou mágoa, mas por amor próprio. Porque abrir e fechar portas dói.

Em quantas portas já não batemos na vida, quando mais precisamos, e ninguém respondeu? A última porta que fechei, foi a que quase me levou à morte, da última vez, e, como toda porta, ela nem sabe, ou se dá conta.

O respeito do espaço deve ser mútuo. Falo de coisas e pessoas. A vida nos ensina que nada é eterno. Dói. Dói muito. E, quem gosta de sentir dor?

Tirando os sadomasoquistas, acho que ninguém mais gosta da dor.

Abrir e fechar portas é como se automutilar. Não é bonito de se ver, nem sentir. Sangra. Mesmo que superficial à derme, o corte na alma é profundo. É uma cesárea sem anestesia, ou um transplante de olhos abertos.

Às vezes, ficam cicatrizes, outras só o espaço vazio. E, há tanto de si no vazio, que aprendemos aos poucos a nos preencher, ou não.

Em determinadas ocasiões, o vazio é necessário para ecoar vozes distantes, ou internas. Mas, em outras, fica somente o vazio gritando mesmo. Uma hora passa. Passa?

Agradeço, a cada dia, tudo o que tenho. Agradeço também pelo que foi, e desejo sorte e felicidade. Mas, uma felicidade verdadeira. A felicidade que vem de dentro, e não de coisas.

Pois, como falamos de HD, coisas e pessoas, elas se perdem muito fácil. Até as lembranças se apagam com o tempo. Não sei quanto tempo leva, mas apagam.

A máquina, então, fica mais veloz, o espaço mais limpo, a multidão caótica também se dissipa. E, é quando podemos melhor perceber o que ficou.

E, se nada sobrar, não é o fim do mundo. Ao menos, a melhor versão de ti estará ali. Sem romantizar também a solidão. Bem como seguir o caminho em linha reta, a solidão do percurso dói.

A dor é minha atual companhia patológica crônica. Igualmente, não desejo a ninguém. Aprender a conviver com ela é exaustivo. Não há mais espaço para outras dores.

A vida não é um pão de queijo, nem um morango. Bem como a terra não é plana. Tudo gira, tudo muda, e muitas vezes o sabor é amargo para quem degusta.

A pergunta que fica é: qual o sentido disso tudo?

Sinceramente, não sei responder. Alguém se arrisca?

Talvez nada faça sentido, e as coisas somente são como são. Bem como a vida e as pessoas.

(Alessandra Capriles)

Onde os fracos não têm vez.

Os últimos dias, meses, anos têm sido os piores de toda uma vida, e eu já vivi situações bem cruéis ao longo dela.

Infelizmente, sou um ser-humano sensível, que passou a vida se escondendo atrás de personagens.

Na escola, poucos ou nenhum eram os amigos. Trabalhava com o público, e precisava desse personagem para não ser demitida.

Adoecia, ao menos uma vez por mês, e achava normal. O que me fazia adoecer mais ainda pelo medo de novamente adoecer, e ser demitida.

Sempre a mesma ameaça. A “fracassada”. Passei por cada situação, que só eu sei. Mas, com o tempo, endureci.

Hoje, sou o que chamam de “amargurada”, “ranzinza”, “louca”, “mal-amada”, e tantos adjetivos mais que usam para denominar pessoas exaustas, que não sabem mais esconder suas fraquezas, mas precisam se manter fortes por sobrevivência.

Sim, eu sou fraca. Ufa! Como custou eu entender e respeitar isso.

Custou ouvir que “por isso você não tem amigos, e nem a família quer mais saber de você”, custou ausências, sumiços, afastamentos e muito sofrimento por eu não ter me tornado o que queriam.

Custou o meu silêncio diante de grandes traumas. Custou mil desilusões. Custou a partida de muita gente que eu amava. Custou eu ver a minha tia ser carregada em um lençol, e colocada dentro de um caixão, ao lado da lixeira do condomínio. 😔

Custou eu ver que, de fato, as pessoas dão pouco valor às pessoas e à vida delas, e quem parte pouco é lembrado, postumamente. Custou entender o que era esquecimento, em uma mente que guarda tudo.

Custou a minha exaustão por tentar me encaixar em lugares e pessoas nos quais não me encaixava. Custou árduo tempo até eu começar a entender as coisas, e saber que nada era como eu via, entendia, ou funcionava na minha cabeça.

Custou a minha tentativa de suicídio que falhou, há uns dias, quando me joguei na frente de um carro, por já não ter mais esperança, e ainda lutar sem saber porquê.

Minha vida se resumiu a um enorme custo. Aos outros que precisam “bancar a doente encostada”, além de mim, que preciso lidar comigo, há 39 anos.

Olho pro céu, e oro. Peço a Deus misericórdia, saúde, paz, amor, verdade, justiça e o meu lugar.

(Alessandra Capriles)

O preconceito não tem berço.

Se eu sempre causei, agora, vou causar. Sei que lá vem mais “cancelamento”, castigo e chibatada. Pois…

Nasci e cresci em um ambiente extremamente machista, patriarcal estrutural, racista, capacitista, homofóbico, e essa cultura percebo, tanto na árvore materna, quanto paterna.

Fui criada na cultura de que mulheres devem competir, e só a falsidade impera. Meu Deus. Cada cena que assisti e assisto, que me dá até medo. Inclusive, entre as minhas próprias irmãs, a disputa sempre foi instigada.

“Fulana é mais bonita”. “Ciclana” é mais inteligente”. “Beltrana é mais rica”. “Você deveria ser igual”… 🥱😴

Uma lista enorme de comparações e lições de deseducação familiar machista estrutural que não tem fim.

A vida inteira, fui tida como a ovelha negra (e também o bode expiatório) da família, por estar sempre discutindo, e quebrando paradigmas e estigmas sociais.

Não sei dizer qual berço é mais preconceituoso, mas de ambos lados percebo ser enraizado demais, e sempre tive receio de o meu filho crescer também com esse estigma.

Quando ouço dizerem para ele “você está igual à tua mãe”, por ele também debater tais questões sociais, sinto enorme orgulho. 🥰

Como, há pouco, ouvi repetirem a frase a ele, após ele debater com uma senhora extremamente preconceituosa e racista, que comentou sobre uma pessoa na televisão:

– Que mulata bonita…

Estou eu na cozinha, quando ouço ele tirar as palavras da minha boca, na mesma hora, e retrucar:

– Quando aparece uma mulher branca, a senhora fala “que branca bonita”? Não! Não fala! Raça não é adjetivo! E, outra, ela não é mulata, ela é negra!

Daí, começou a discussão. Quer iniciar uma discussão sem fim? Discorde de um narcisista. Ele jamais reconhecerá seu erro, nem pedirá desculpas.

Faz meia hora, que ouço de onde estou ele dar uma aula sobre combate ao preconceito estrutural à tal senhora.

Do racismo, passou para o machismo, que foi para a homofobia, que foi para o capacitismo, e uma aula que eu bem sei onde e com quem ele aprendeu.

Meu orgulho! ❤️

Cresci ouvindo coisas como: “aquele teu amigo neguinho”, ou “o teu amigo gay”, ou “a fulana é doente”, referindo-se a pessoas com transtornos, ou neurodivergências, até mesmo da família 🤬.

Eu mesma sofri o preconceito na pele. Cresci sendo chamada de autista, mas nunca investigaram para diagnosticar, tratar e acolher.

Tive meu cabelo alisado aos 5 anos de idade, porque eu não parecia com a família. Em trabalhos e empregos também sofri preconceitos pelas mesmas questões, e outras mais.

Sempre fui a maconheira, comunista, esquerdodopata, tatuada, cheia de piercing, autista, doente, que anda com um bando de gay, pobre, favelado e “gentinha”.

Lembro de um episódio, que me fez despertar para o preconceito, quando meu padrasto, que era nazista praticante, fissurado em armas, guerra, carros, e com fortes traços de psicopatia (que Deus o tenha ✝️), falou:

– Não quero mais esse viado neguinho na minha casa. Nem essa empregadinha.

Ele se referia a um amigo meu negro e homosexual, e uma amiga de origem humilde, cuja mãe trabalhava como doméstica.

Dias depois, no dia do meu aniversário, ele me deu um tapa na cara, a mando de uma senhora que falou:

– Você só se envolve com gentinha! Não procura uma pessoa decente!

Referindo-se a um ex-namorado, à epoca, também de origem humilde.

Essa sequência de fatos me fez despertar: vou lutar contra o preconceito!

Foi, e é uma batalha exaustiva, ainda mais quando se está inserido em um meio de preconceito estrutural enraizado.

Deve ser fácil ser antifascista em meio a outros que pensam igual, mas é exatamente em meio ao fascismo que se deve lutar contra.

Agora, já tem uma hora que a discussão começou. Enquanto escrevo, estou ouvindo a discussão sem fim.

Esqueci até das dores…

Meu peito se enche de força e esperança, quando vejo meu filho agir assim. Ele precisa ser assim. Precisa aprender a lutar, a se defender, defender seus direitos e os dos outros.

Tem seu lado negativo? Tem. É óbvio. Como toda luta, é guerra! Tiro, porrada e bomba…

Eu já fui suspensa da escola, por dar uma cadeirada em um playboy que praticava bullying contra meus amigos. Depois, a diretora chorou, e me pediu perdão, quando soube o motivo.

Já briguei na rua pra defender mulher, que nunca vi, de homem machista.

Já bati de frente, debati e caí na porrada 572 vezes com ex-machista, abusivo e agressor. Na maioria das vezes, infelizmente, levei a pior. Cansei, e denunciei.

Já comprei brigas mil por injustiças sociais, e até já parei na delegacia, lutando para defender pessoas injustiçadas.

Acho que sou uma defensora dos direitos humanos nata. Sou bruta, tipo Pit Bull fêmea, mas sou sensível demais. É difícil explicar.

Apanhei muito, na vida, de todas as formas. A gente fica calejado, mas também mais forte. Aprende a lutar e a se defender. A vida foi quem me criou assim. Aprendi a sobreviver e a lutar, na marra. Eram os outros, ou eu.

Foi assim que aprendi a aguentar, e não demonstrar sentir dor. Um sacrifício que jamais repetiria, mas foi necessário.

Ser mãe solteira, e depender da ajuda dos outros também nunca foi fácil. Nunca deixei minhas fraquezas prevalecerem aos olhos do meu filho. Não posso.

Aprendi a chorar calada, mas ensino a ele a importância de chorar, enxugar as lágrimas, e seguir.

É muito difícil para mim estar como estou. A “braba”, hoje, não é mais tão “braba”. Mas, luto como posso. O corpo está frágil, a cabeça já esteve melhor, mas minha alma, meu espírito e minha voz seguem fortes.

Discernimento e respeito. Sempre repito essas palavras ao meu filho. O que é certo é certo. O que é errado é errado. O que favorece ao coletivo é certo. O que fere a si e ao próximo é errado.

Independente de credo, partido, raça, gênero etc.

Meu filho está crescendo. E, se aos olhos alheios ele se tornou “um problema”, aos meus, a admiração só aumenta.

Viadu, acredita, porque tu és forte, lindo e inteligente!

Quem te crítica, não te merece. Tu és para poucos, e tua presença é luz. Acredita!

Te amo, mini mim! ❤️

Bicoitãozin de mãe mais lindo do mundo! E, sim, sou coruja! Sou onça, mas também sou coruja…

(Alessandra Capriles)

Nada é normal, tudo é costume.

Todo dia é uma nova luta do diferente contra o mundo, contra a normalidade imposta como receita comportamental.

Como se o modo de agir, pensar, raciocinar e corresponder a expectativas cognitivas fosse uma receita de bolo.

Graças a Deus, fomos presenteados com Nise da Silveira, que teve um novo olhar para os pacientes psiquiátricos, seus transtornos, síndromes, neurodivergências etc.

O que para muitos é tido como loucura, nada mais é do que diversidade de ação e expressão. Loucura e arte caminham juntos. É na expressão artística que se lê o “eu” do artista, e se percebe.

É, muitas vezes, sob a perspectiva do outro, que se reconhece a si.

É nas características de cada pincelada, de cada curva escultural, de cada linha de um conto, cada verso de um poema, que se chega às profundezas do inconsciente e subconsciente.

Todos somos compostos de id, ego e superego, só que a sociedade nos reprime, e nada melhor do que a loucura declarada para romper barreiras, quebrar os muros do manicômio, e ganhar seu espaço na sociedade comum.

Manicômio não é lugar de gente. Gente que sente só quer ser ouvida e se expressar. Sentir demais é um ato nobre de loucura, ser demais é ser intenso, e ser intenso é ser-humano. É pulsar, é visceral.

Toda arte é provida de loucura, mas só os diagnosticados são privados de se expressar. Toda forma de expressão é arte, é cultura, é aprendizado. É dar a palavra a quem enxerga o mundo muito além de nós.

Respeito à diversidade, seja ela qual for. Se ser normal é ser careta, reprimido e sem caráter, abraço eu a loucura, para que caminhemos de mãos dadas, lado a lado.

(Alessandra Capriles)

A natureza nos dá cores.

A luta não foi ontem. A luta é todo o dia. A “escolha” de ser, ou não ser, é individual, mas o respeito é humano e coletivo. É dever de todos respeitar o que é de direito do outro.

E, quem o é, também não escolhe ser. Nasce assim. Reconhece a si assim. Sente e vê a si assim. E, não importa o motivo, a razão, o porquê, estudar o seu cérebro, procurar a “cura”, dizer que é falta de Deus, porque não falta nada. Sobra.

Sobra amor, sensibilidade, empatia, respeito, alegria, brilho, cores, coragem, ousadia. E, é isso que desperta o olhar crítico de quem os olha de longe, sem se aproximar, sem se contagiar com os bons fluídos.

O contágio é só de respeito à diversidade. A orientação sexual ou de gênero não é algo transmissível para se isolar a comunidade LGBTQIA+ dos demais. Ninguém vira gay por convivência, e sim pelo que há dentro de si, e se reprime.

Repressão gera discurso de ódio, que gera conflitos, traumas, morte. E, onde há morte não há vida, não há cor. Há crime. Não banalize a dor do outro. Somos todos humanos, cada um com seu DNA específico, e não há geneticista que possa remodelar tais características.

Não se trata de mudar o seu “mindset”. Trata-se de olhar com empatia à diferença do próximo, e respeitar. Amar. Não há diferenças entre individuos humanos, enquanto espécie.

Somos todos humanos. Somos todos seres vivos em modo de sobrevivência, exercendo seus direitos e deveres.

Então, se não puderem amar, ao menos respeitem o seu semelhante ser-humano. Todos o somos, e assim devemos ser.

Julguem menos, respeitem mais.

Isso vale para tudo.

(Alessandra Capriles)

Visão didática da maternidade.

Olha, eu queria desejar um Feliz Dia das Mães, mas vou só desejar paciência, paz de espírito, terapia infinita, yoga, meditação, banho de mar e cachoeira, um mês no spa, um ano em retiro espiritual em algum templo budista, e silêncio na casa, porque sei que é tudo o que qualquer mãe mais deseja.

E, não me venham com papo de que ser mãe é uma dádiva, um presente Divino, que somos todas “Marias”, porque, primeiro, o Espírito Santo não paga pensão, e as crucificadas somos nós. Pelos filhos, família, sociedade e palpiteiros. Não romantizem!

Maria só se for a cozinheira, faxineira, lavadeira, bombeira, eletricista, faz tudo, se vira nos trinta e rezadeira.

Filhos são bons? São, mas também são possuídos pelo cão, de vez em sempre, e nem banho de sal grosso, arruda, sessão de descarrego e exorcismo dá jeito.

Então, mães, que devem estar agora na cozinha, preparando o almoço de “dia das mães”, enquanto seus anjinhos estão descansando, porque afinal é domingo, desejo só que não coloquem chumbinho na comida, porque senão as senhoras irão presas, e na cadeia é tal qual ser mãe, mas um pouco pior, porque são vários meliantes reunidos em um único metro quadrado, e também a privacidade é zero, até para mijar e cagar.

Muita sabedoria e discernimento também desejo a nós.

Ah, e leiam Jung, Nise da Silveira, Paulo Freire, Hilda Hilst e Simone de Beauvoir também. E, ouçam Rita Lee, pelo resto da vida.

Ia aconselhar Crime e Castigo, de Dostoiévski, e Maquiavel, mas poderão usar isso contra mim, em juízo, então ficam só as leituras listadas acima.

Ah, e se a escola reclamar que seus filhos falam muito palavrão, e que devem estar aprendendo em casa, digam que as senhoras são pós-graduadas em linguística… Pronto.

É um bom argumento, e ela não poderá replicar, sem antes embasar o discurso, e assunto encerrado, sem muito blá blá blá.

Só paz de espírito, mães! Força! 💪🏻

Aliás, força, não, porque senão as senhoras podem querer dar uns satiripapos nos abençoados, e o conselho tutelar, ou a polícia será aciado por algum vizinho ainda mais abençoado.

Então, só paz mesmo…

E, moderem na bebida e demais psicotrópicos, no dia de hoje, com a família reunida, pois senão também pode dar ruim.

Tomem chá… Muito chá… Chá de ervas… Camomila é bom.

E, quando falo de ervas, falo só das lícitas, hein, porque senão também podem dizer que é a mãe quem influencia, então, juízo, minhas senhoras. Sei que o rojão é pesado, mas juízo!

Juízo e muita sabedoria, mães. E, não gastem seus réus primários com eles, porque depois nem visitar na cadeia os abençoados irão.

Então, discernimento, mães… E muuuuuuitaaaaaa paz e paciência!

Amém! Axé! Oxalá! Saravá! 🙌🏻⚔️🛡️❤️

(Alessandra Capriles)

Poema do Poeta que não crê em si… (Escrito em 04/05/2015.)

Atento, o olhar que brilha
Um brilho perfurador
Vê um poeta no pragmatismo
Onde a palavra se torna eficaz
E, não tem arte de lhes dar sentido.

Olhar esse que pretende ver o mais escondido invisível
Fascinante essa procura
Que faz tremer o conforto
Apesar de nada esconder.

Ah, esse Poeta incógnito!

Tímido, mas explorador…
Sim, explora essa dimensão única
Encarnada num anjo!

Anjo? Dono do olhar que brilha?
Na personalidade própria
Anjo complexo, mas motivador
Revela o encanto da descoberta
de todos os poemas que o edificam…

(Alessandra Capriles e O Poeta que não crê em si)

A Deus e aos meus… (Escrito em 17/04/2012.)

Há algum tempo, faço isso, mas hoje voltei a repensar… Já vivi tanta coisa nesses quase 28 anos (nem metade da estrada ainda)… Já tive tudo… Já tive nada… Já vivi em diversos lugares… Tive diversas paixões e alguns amores…

Já conheci o bem e o mal… Sentimentos diversos… Adiei tantos projetos, os quais me cobrava… Sentia-me frustrada por não ter concluído meus ciclos, e ter deixado passar alguns momentos e muitas oportunidades… Já vivi momentos inimagináveis nesse mundo…

Por outro lado, antecipei projetos que nem tinha, vi-me em situações completamente novas e inesperadas, e tive que dar conta… Venho tentando dar conta… Mas, hoje, percebo que tudo o que vivi foi muito importante para agora retomar, e fechar esses ciclos interrompidos…

Aproveitar melhor algumas oportunidades, medir um pouco mais a calma sem tanto imediatismo para tudo… Venho aprendendo a controlar um pouco a minha maldita ansiedade…

Nesse meio tempo, venho descobrindo um pouco mais do que quero, e já sei muito do que não quero… Muito mais sei do que não quero… E, quero daqui por diante descobrir coisas que me cativem… Um novo leque de possibilidades as quais eu possa tocar… Quero sentimentos que me cativem… Quero desafios que me cativem… Quero ter certeza do que surgir diante de mim, e abraçar o novo com muito querer… Quero tudo o que seja meu… Quero tudo o que seja real…

Obrigada, meu Deus por cada momento… Pela força que o Senhor me concede… Pelo discernimento que ainda estou construindo… Pelos sentimentos que estou reaprendendo a cultivar… Sentimentos já esquecidos, endurecidos pelo tempo… Mas, que ainda estão dentro de mim, porque todos esses sentimento na verdade sou eu…

Obrigada por me despertar… Obrigada por me fazer ter uma melhor visão do que me cerca… Obrigada por me ajudar a buscar ser melhor nas minhas aptidões… E, até mesmo a ser boa no que nunca imaginei que poderia ser… Obrigada por tudo o que antes eu brigava com o Senhor, porque tirou de mim…

Obrigada por tudo o que reconquistei… Obrigada por tudo o que me deste por meu merecimento… E, obrigada, meu Pai, por tudo o que há de vir…

Obrigada, também, pelo meu maior mestre nessa estrada, e em meio a tantos professores: Bicoitãozin de mãe, obrigada por você ser o meu céu…

Deus, obrigada por nos reger…

(Alessandra Capriles)

Cristo vive!

Das muitas peregrinações da vida, à caminho de Santiago de Compostela, estive na Fortaleza de Valença do Minho, que faz divisa entre Portugal e Espanha.

Foi uma viagem de profunda reflexão, e, em dado momento em que sentia uma energia Divina profunda, deparei-me com esta cruz.

A cruz vazia com o manto. A perfeita representação da vida e de Deus, unidos, como uma verdadeira fortaleza. Como uma proteção e força espiritual grandiosas.

Ali, a fé que sempre habitou em mim, conversou comigo, e era só o começo de profunda imersão ao desconhecido, que foi minha estada em terras coloniais.

Por onde passava, lá estavam Deus e a Fé, nas mais diversas representações. Nos mais diversos credos.

Na data de hoje, e sempre, desejo a todos um dia de muita paz, saúde, amor, união e fé. Não importa o credo, mas que haja fé, e respeito à vida. De todos e cada um.

Se cheguei lá, foi através da minha fé, muito estudo, dedicação e superação. Eu acreditei, e estava escrito.

Nas minhas lutas, nunca estive só. Cristo vive! Ele, Deus e todo o sincretismo religioso me acompanham por cada trilha, cada passo, e desejo o mesmo a todos vocês.

Creiam no milagre! Creiam na anunciação de boas novas!

Respeitem Maria, mãe de Jesus, que teve, através de um anjo, a anunciação de seu filho. Que chorou, que sofreu, que sentiu.

Respeitem Maria Madalena, a primeira a testemunhar a ressurreição de Cristo, por dedicação, amor e fé. Onde ninguém mais via a pureza, Jesus Cristo viu.

E, muitas outras protagonistas, muitas vezes postas como coadjuvantes, ou vulgarmente bruxas histéricas, na história cristã.

Respeitem as mulheres que fizeram parte do nascimento, história e ressurreição de Cristo, e todas as que dão a vida, e se sacrificam por seus filhos.

Não poderia deixar de exaltar a importância do feminino, na história e trajetória de Cristo, e sempre. Somos guerreiras, e regidas pelo Espírito Santo.

Que o dia seja de comemoração, contemplação, amor e respeito a tudo o que há de sagrado.

Cristo ressuscitou por nós, homens e mulheres. Fiéis, devotos, impíos e hereges. Sem distinção.

Creiam no milagre! Creiam na cura e no milagre da vida! ✨

Amém! 🙌🏻

(Alessandra Capriles)

Sobre saudades e o amor fraterno…

Foto de 2008, que meu irmão editou, quando ainda nos víamos, éramos mais presentes, e eu amo … A edição, e meu irmão, apesar dele ser chato …

Amo essa foto, essa lembrança, e esse lugar…

Saudades também de quem tirou a foto… MUITAS!

Parece que nada, nem ninguém mais volta a ser como era…

Saudades de quando os momentos mais simples eram fantásticos, mas para alguns o fantástico torna-se pequeno, e buscam o extraordinário, lugares maiores, momentos mais glamourosos, outras vivências, e o pequeno já não cabe mais no peito…

O tempo nos tira tudo o que de melhor há, quando abrimos os olhos mais do que a mente…

E, o simples sempre me foi o que há de mais valioso…

Um desabafo de tristeza e saudade… Mais saudade, do que tristeza, ou ambos pesando igual na balança da vida…

Desabafo, porque não falar adoece…

Perder as pessoas que amamos adoece, e até mata… E, não há nada pior do que passar pela tormenta, e padecer só…

Mas, é preciso refletir, e saber compreender que convalescer é um ato solitário, até que seja o momento do próximo…

E, a saudade? Essa não tem como medir, nem reter… Só sentir, e aceitar…

Saudades de quando essas lentes me viam com a mesma geminilidade que eu o via…

“Amor da minha vida, daqui até a eternidade”

Saudades, Amore…

O amor fraterno é poderoso… Tem tanto poder… A sua presença cura… E, quando se perde, perde-se muito de nós…

Nunca sabemos quando, e se haverá o reencontro…

Saudades…

Obs.: Ainda tenho e uso os mesmos tênis, que comprei em 2007, com meu primeiro salário como vendedora de loja.

(Alessandra Capriles)

A cruz de cada dia.

Hoje, é mais um dia para se refletir: o quão tementes a Deus somos?

Jesus Cristo é a verdadeira prova de humanidade a se seguir. Jesus Cristo não tem religião. Jesus Cristo foi um Homem, que, por suas atitudes, foi santificado. Mas, acima de tudo, um Homem.

Porém, devemos lembrar que, antes de ser santificado, foi perseguido e crucificado.

E, o que tal Homem fez de tão mal? Andou com pobres, e os ajudou. Andou com com enfermos, leprosos, lazarentos, e os curou. Andou com Madalena, e não a apedrejou. Foi crucificado com ladrões, e não os julgou.

Fez multiplicar o pão e o vinho, e o compartilhou. Corpo e sangue de Cristo.

Os peixes, igualmente, saltavam aos mares. Tornaram-se símbolo de identificação e comunhão por aqueles que uniam dois arcos, dando a forma de um peixe, para que assim se reconhecessem, e não fossem também perseguidos.

O que Jesus Cristo pregava era, justamente, a união. O que até hoje não é compreendido, e instituições se apropriam da guerra, para fomentar a desunião entre os povos. O que gera lucro, o que gera fome, o que gera mortes, o que gera mais lucro, o que gera poder.

Jesus Cristo não foi crucificado por nenhum barbarismo, nem pela ganância, por fomentar a busca por ouro, ou status.

Jesus Cristo foi crucificado por amar, por não julgar, por perdoar, por compartilhar, por acolher, por agregar, por carregar a sua própria cruz, por se sacrificar.

Jesus Cristo foi crucificado e santificado por sua Humanidade.

Mas, até hoje, Humanos são perseguidos por defenderem seus Direitos, e são vistos como afronta ao poder. Como algo separatista e institucional. Como símbolo de um templo só. Muito semelhante ao que se denomina “poder paralelo”.

Quem assim o vê, não entende nada sobre ele, nem sobre Deus, nem sobre Fé.

Como bem disse, na cruz, com fome e sede, sob pregos e espinhos:

“Eles não sabem o que fazem.”

Oferecendo em troca da dor o seu perdão.

Não somos Jesus Cristo, nem queremos. Ninguém quer ser perseguido, crucificado, sacrificado.

Queremos somente amar, sermos amados e respeitados. Cada um à sua maneira e seu credo. Sob a boa energia Divina. Sobre o mesmo chão, sob o mesmo céu.

(Alessandra Capriles)

Fotografia: Alessandra Capriles, em Santuário de Fátima, Portugal, Abril de 2015.

Sobre BBB.

Não assisto ao BBB, mas pelas notícias e fofocas sempre surge alguma informação importante.

Há algumas edições, percebo a maior preocupação na abordagem e análise comportamental, tanto dos participantes, quanto às reações do público a diversos aspectos.

Creio que mais do que sensacionalismo midiático, seja importante a reflexão sobre o preconceito, de maneira geral.

Em uma única edição, tivemos: violência ampla contra a mulher, machismo, racismo, capacitismo, homofobia, preconceito religioso, social, a normalização e impunidade quanto ao preconceito etc.

Nesta edição, pudemos observar a diversidade humana de todas as formas. Tivemos a abordagem de diversos transtornos, distúrbios, síndromes, como a Síndrome de Tourette do Cara de Sapato, e, agora, a Tricotilomania da Amanda, que está associada a um Transtorno Compulsivo Obsessivo.

E, quantos mais não devem portar algum transtorno, síndrome, ou distúrbio, mas a sociedade os torna invisíveis, ou repetem o comportamento antisocial e capacitista de “ah, mas nem parece”.

A sociedade patriarcal excludente nos educou assim. Todo dia, um novo darwinismo.

BBB, nem nada na vida, deve ser visto como parâmetro eliminatório, e, sim, fazer-nos refletir sobre a diversidade humana e a importância da inclusão.

Mulheres não são objetos, homossexuais não são doentes, negros não são menos gente, pobres também não, portadores de transtornos, síndromes e distúrbios não devem ser excluídos, nem estigmatizados, etarismo também não define ninguém, nem religião.

Nenhum ser-humano assim deve proceder com outro ser humano, independente de sua especificidade.

Diversidade social, racial, de gênero, sexual, funcional, etária etc é o que forma a identidade de cada ser-humano.

Respeitem! A vida não é um jogo de eliminação. Nem no próprio BBB, não é a vitória de um que torna os demais perdedores, ou menos merecedores.

Cada um trilha o seu caminho, e não é um prêmio que define as conquistas individuais de cada ser. A vitória não está em um jogo. Está na vida, na trajetória, no caráter e nas atitudes.

Um erro não define ninguém. A persistência no erro, o caráter e a normalização de sua ausência, sim.

(Alessandra Capriles)

Releituras Internas. (Publicado em 2015, no Facebook. Não sei quando foi escrito.)

“Ah, questões… sentimentos… razão, emoção… certo, errado… verdades, mentiras… e a quem? Inúmeras dicotomias se formam, e se levantam diante de mim, afrontando-me quanto aos meus reais quereres… e de cada querer que se reafirma, em algum deles, sempre está lá você. Será quem o impertinente nesta história? Serei eu, que possuo um sentimento sem o querer? Que tenta de todas as formas possíveis se livrar deste conflito que tomou vida própria, e tomou-me para si? Será alguém assim tão impertinente, a ponto de desconstruir muito do que acreditava, somente para dar lugar a novas crenças, estas já tão desesperançadas, e a cada dia construir alguma nova projeção em cima delas, porque a cada dia alguma nova se forma, ou se confirma? Quase nada sei que não possa revelar a mim… quase nada sei do que se omite aos fatos… e muito do que sei, revelo sempre quase tudo a ti…”

(Alessandra Capriles)

My only sunshine…

Dia do filho, como dia da mãe, é todo dia… 24h por dia… Não importa se ontem, mas será todos os dias, para sempre…

Por eles adotamos aptidões múltiplas, viramos nos 30, viramos médicos, educadores, psicólogos, advogados, segurança, benzedeira, rezadeira, entramos na frente do canhão, ou do fuzil…

Entramos no fundo do poço sem corda, e reerguemos no braço…

Erramos… Erramos muito… Mas, o amor ensina… Tropeçamos, e ensinamos que o tropeço é sinal de que não estamos inertes…

O que me move é esse amor… Não sei explicar… É parte de mim, é meu todo… É a minha vida que dou por ti… Desde o princípio… Desde ainda embrião… Se assim preciso for, serei sempre teu escudo…

É a razão das minhas noites de insônia, ou a contemplar e velar teu sono, ou a buscar respostas…

É pós graduar nas mais diversas áreas, é desenvolver talentos, dons e alcançar o mistério da sobrenaturalidade…

É ser leoa na selva sem leão…

É matar o perigo na unha e no dente… É ser anjo, e também confidente…

É ser sensitiva, vidente…

É arcar com as consequências, sem se abater da batalha…

É mais do que amar… Toda mãe é Deus, e o sentimento é Ágape…

Toda obra materna tem a revelação do Espírito Santo, tem a revelação do segredo, da santidade… Toda mãe é Maria…

Todo filho é um dom a ser desvendado e amado…

Aprendemos até o que nem bem sabemos…

Atravessamos o desconhecido, quebramos as barreiras no braço, na força, na garra…

Seja qual for a temperança, o que dita o sentimento é o amor…

A mãe que ama, erra, mas reconhece, levanta, e segue…

O aprendizado é mútuo a quem sabe ver…

Mãe é respeito, filho é eterno perdão…
É peito aberto, é o ventre que gera e pare…
É o peito que nutre, é o cordão que nunca desata…
Não há incisão que desate o laço…

Ser mãe é aprendizado, seja na marra, no ódio, na força, ou na dor… Toda luta, de quem luta a batalha de ser mãe é amor…

Não há maior… Jamais haverá…

Somente amor…

“E eu não sei que hora dizer, me dá um medo… Que medo… Mas, eu preciso dizer que eu te amo tanto…”

(Alessandra Capriles)

Milagres se regem.

Uma estaca no peito
Nó na garganta
O grito preso
Somente vagando no escuro

Nem mais minha sombra
Segue-me sem que a perceba
A dor dilacera
Corpo, mente, espírito

Somente a luz Divina me guia
Acompanha, ouve
Sabe de cada grito no eco do peito
Sabe de cada passo que não vejo

As vozes me sopram
Velozes e atrozes vultos vivos
Outrora fantasmas
Insistem em fazer da terra limbo
E, vagueiam, rondam na surdina

Tão perto, mais do que longe
De todos os lados e cantos
No mesmo cômodo
Sob o mesmo teto, acima, ou abaixo

Fazem reviver o que já era esquecido
Mas, somente oculto
Em repouso, mero descanso

Patologias caseiras coabitam
Reproduzem-se em laboratórios clandestinos
Como velhos magos, velhas bruxas

Como há muito já não se falava em magia
Como ansiãos matemáticos
Que calculam destinos
Provocam desatinos

A fórmula química oculta
Que paralisa aos poucos
Pequenas doses de insanidade
Que flagelam lentamente
Em suas ditaduras

Outrora arte, hoje, sangra
O que ninguém mais vê
Mas, sinto, derrama
Como se até hoje estivesse em suas entranhas

O que era para ser umbilical
Sempre foi espeto, faca, tesoura
Espada, chicote, o alvo e a lança
Deuses e anjos viraram escudos

Muitos ao lado d’Ele
Sopram alguma esperança
O zelo, o conforto, o laço
Que abraça sem ser nó
A voz doce que me sussurra do além

Algo de nós ainda vive, sobrevive
Todos os planos regem seu tom
Que ilumina o caminho
A direção sem tropeço

Segredos velados, desenterrados
Para outros, sepultados
Garimpos de um ouro que não me reluz
Somente cega o seu clarão ardente

Que queima minhas entranhas
Herança de gerações
Que zelo mais que minha alma
Meu ventre que pra sempre sangra

E, ergo meu grito contido aos anjos
Para que façam morada ao nosso redor
Protejam o que me vem de dentro
Seja do ventre, ou do coração

São Miguel e São Jorge
Arcanjos e Santos
Todos os bons deuses do olimpo
Levantem seu brado em meu grito

E, sigo…

Mesmo sem bem saber
Mesmo sem ver
Mesmo que não ouça
Mesmo que os sentidos confundam

Que braços e abraços se fundam
Que meu escudo seja meu e dos meus
Que toda força vença a desavença oculta

Que a quem bem amo seja recíproco
Que o sentimento puro volte a ser verdadeiro
Que meus passos sejam rocha
Que se ergam como um monte

Que seja morada de Sião
E, a estrela de Davi reluza minha estrada
Que toda treva se esvaia
Que haja paz, e não mais guerra

Onde houver o desafeto
Ainda que um dia eu os tenha sido feto
Que não me afete
Mais do que o tempo perdura na dor

Que por onde caminharem meus passos
Haja somente Deus
Santo Antônio e São Francisco
Olhem também pelos meus

Que São Cosme e São Damião
Sejam os doutores da cura
Que seja escrito o quarto milagre de Fátima
E, vivam todos

Que habitem a terra os do bem
Não os de bens
A matéria fica, corrói
O bem oculto é o que sobrevive

Julgamento algum será humano
Deus baterá todos os martelos
Mãos humanas serão somente instrumento
Da dádiva do milagre por vir

E, sim, como uma criança
Ainda acredito em milagres
Mas, já não mais choro
Faço-os acontecer.

(Alessandra Capriles)

O que te peço. (Escrita em 06/01/2020.)

A poesia fria não me toca
Não me cativa
Buscava outras palavras
Em meio aos meios improvisados
Não me convence a falta de afeto
Os versos sofridos de um canto avesso
Minha poesia, sentimento
Desperta do mais profundo âmago
Cada palavra concorda com o verbo
Cada uma, digo e repito

Sem qualquer traço de exaustão
Cruas palavras, guarde-as
Não te peço versos, nem rimas
O que te peço, quem sabe?

(Alessandra Capriles)

Fé.

Meu maior medo, essa noite, foi se iria acordar, ou não, e as reações possíveis do antibiótico associado à minha medicação controlada, devido às alergias e reações múltiplas.

Essa interação medicamentosa me baqueou, após uma noite anterior de febre alta, e dia de médico, pendências, peregrinação de quilômetros embaixo do sol, problemas etc.

Emagreci mais de 20 kg, e o relógio automático simples, com mais de 50 anos, que era da minha avó, e me foi dado na adolescência pela minha mãe, mas eu não usava mais, porque não cabia no meu pulso, agora está até folgado.

Achei o relógio, esses dias. Coisas me têm aparecido, do nada, em situações diversas, soando-me sinais, e tenho seguido minhas intuições. Até agora, não falhei.

Pois, o mistério do relógio? Estava funcionando, mas parava, e relógio parado não é bom. Fui andando da clínica da família, até o relojoeiro, no Largo do Machado, e, mais uma vez, coisas aconteceram.

Ao chegar ao banco, para pegar um trocado, que meu pai me ajuda, imaginando não ser mais do que aquilo o conserto, quando entrei, um rapaz que ia me pedir dinheiro, olhou-me, e disse “Senhora, melhoras! Que Deus te dê força!”.

Saí do banco com o trocado, dei o que podia a ele, pela sensibilidade, agradeci, e falei para prestar atenção no que iria gastar. Ele disse que iria comer. Agradeceu. Segui andando.

No caminho, transeuntes ofereceram ajuda, pois viam minha dificuldade em caminhar, mas disse que gostaria de tentar continuar.

Já no Largo do Machado, um menino me pediu para comprar um biscoito com Guaravita. Só podia pagar o Guaravita, comprei para ele, e desejei sorte para que alguém pudesse comprar o biscoito.

Cheguei ao relojoeiro, ele pegou o relógio, falou que, pelo valor sentimental e durabilidade, valia a pena consertar, e trocar o vidro trincado no cantinho. O vidro eu disse que não trocaria, porque faz parte da história dele.

Ele mexeu, disse que o orçamento ficaria em 250, mas eu não tinha. Ele tornou a mexer, peguei, coloquei no pulso, triste, e, quando estava de saída, ele me disse “Não tira do pulso!”

Cheguei à casa, e ele estava funcionando! 🥲

Moral da história: empatia, Fé e sempre adiante.

(Alessandra Capriles)

Dias de luta…

Dias de muitas consultas…

Neurologista, Gastroenterologista, Ginecologista para histeroscopia…

Encaminhamento para ressonância e neuropsicólogo, para avaliação do TEA e TDAH (aleluia🙏🏻), ressonância para tais transtornos, epilepsia, enxaqueca de Aura e outras possibilidades mais…

Encaminhamento para videoendoscopia alta com gastro oncologista (já imaginava 😓), novos exames de sangue e sorologia… Sem falar na parada na emergência do hospital, pós consulta…

Histeroscopia adiada, devido ao endométrio ainda estar descamando, por conta do período menstrual…

E, resultado das análises clínicas: infeção grave nos rins…

Mesentério, útero, rins, estômago, intestino…

As respostas estão vindo… Cada dia um Kinder Ovo novo… Não bastassem as inúmeras doenças crônicas já descobertas…

E, mais uma vez, ao relatar tudo, minha opinião, e dizer ao meu médico da família que “não sou médica”, tornei a ouvir que “não sou, mas quase sou”…

Dele me soou diferente… Não sei explicar… Quis chorar… Tive a certeza da credibilidade, pela primeira vez… Eu estava certa… Nenhum tempo (dias inteiros) de estudo foi em vão…

Há quase três anos, estudando para me salvar, ao meu filho e demais entes… Doença Autoimune e alterações genéticas bioquímicas…

Lendo, estudando, e montado o “quebra cabeças” de muitas peças e suas gerações…

Voltar ao passado, antepassados, entender o presente, e projetar o futuro… Árduo trabalho…

Uma constelação sistêmica familiar dolorosa, de muitos gatilhos e descobertas deveras intrigantes… O passado persiste, mas, ao que depender de mim não perdurará

O ciclo precisa ser quebrado…

O quebra-cabeças está sendo montado… Muito estudo e trabalho em equipe…

Agora, estou confiante… Temerosa, mas confiante…

Eu sou filha do Pai, e sei que Ele me ama… Meus anjos são muitos… Terrenos, e no plano astral… Eles sabem que a missão não acabou, e eu tenho Fé…

Só me incomoda o fato de as pessoas, o tempo todo falarem do quão irreconhecível e magra estou… Eu sei… Tenho espelho… Pouco olho, ultimamente, porque também não me reconheço… Mas, respeito… Respeito cada detalhe, até do que ele não reflete, mas eu sinto… Mas, eu sou…

Assim, sigo os dias… A passos lentos, mas firmes e determinados…

Qual foi a luta que não lutei? Nunca me abstive de nenhuma peleja…

A vida é uma dádiva… A minha, e a de quem eu daria a minha própria vida…

Amor é uma força imensurável… Amor de mãe é incondicional…

Por mais que a carapaça seja rude, ainda há amor…

É o que me move a cada dia… É a voz que, a cada dia febril, grita “levanta, e anda”… E, eu sigo…

Eu acredito em milagres… E, ele irá se fazer!

Amém! 🙌🏻

(Alessandra Capriles)

Aqui, opera o meu ofício.

– Tesoura. Alicate. Agulha. Isqueiro.

E, assim, repousando sobre a mesa, aguardavam as enfermas canetas.

Cansadas. Exaustas.

Com suas tintas ressecadas, sob seus corpos enferrujados e amarelados, devido ao tempo. Reclusas do calor de mãos que as desse vida, permaneciam esquecidas.

O destino seria o mesmo de toda matéria em desuso, até que meus olhos as perceberam.

Alguns testes.

– Sem chance…

Mas, não me dei por vencida.

Mais algumas rabiscadas, e, no monitor caderno, um lento suspiro de vida.

– Vamos operar!

Uma pitada de McGyver, outra pitada de criatividade brasileira de baixa renda, com um pouco de intuição, sensibilidade e destreza, fez-se a cirurgia.

Com uma pequena incisão, retira a ponta metálica de uma com o alicate, a ponta da outra, drena as cargas com a agulha quente, aquece as pontas metálicas com o isqueiro, apara as arestas de tinta ressecada, recoloca as pontas em seus corpos carga, mais alguns testes, e, no monitor papel, sinal de vida!

Assim, renasciam duas vidas esquecidas, com suas funções dadas como mortas, inúteis, envelhecidas pelo tempo.

Em meio à era tecnológica, repousavam quase sem pulso, como velhos relógios de corda, com seus tempos cronometrados na memória.

As nostálgicas ideias renasciam sobre folhas e linhas, como suas mãos operantes conseguiam reger ideias pouco invasivas, respeitosas, como se nenhum órgão delas fosse tocado, e somente sentidos.

Como uma cura pelas mãos através da fala escrita, da única maneira como poderiam expressar seus exauridos sinais vitais.

Deu-se nova vida às palavras. Operadas sem marcas, ou cicatrizes. Somente a destreza das ferramentas e a boa intenção, de quem as via mais do que meros objetos de descarte.

Revivia cada carga, como quem trazia de volta velhos tinteiros com suas penas.

Assim, arcaicas, tornaram-se também elas, no avanço do mundo moderno.

Mas, como sábias anciãs, mostraram a que vieram, e, passe o tempo que passar, ainda que sobre folhas amareladas, recuperavam a vitalidade.

Folhas essas que, um dia, foram raízes, troncos, frutos e folhas vivas, mas que o homem, em seu anseio de modernidade, registro e comunicação, fez o pergaminho moderno.

As árvores mortas viraram folhas, que ganharam ideias e novas vidas. Mas, o tempo amigo, por vezes inimigo, as fez também esquecidas.

Árvores fincavam suas novas raízes em telas digitais. Mais táteis do que as humanas. Mais ágeis do que ideias sobre linhas. Porém, menos singulares do que as do registro de identidade humana.

O pensamento e a memória em maior capacidade, porém o mesmo cronômetro vida.

Mesmo no mundo moderno, a ciência e a tecnologia ditam suas regras. Ainda que avançadas, ainda não se criou a vida perpétua. Ainda…

A inteligência artificial quase nos supera, mas ainda há sangue nas veias, tinta nas cargas, mãos para regê-las em linhas sobre as folhas.

Há sentimento, transpiração e inspiração própria. Há inteligência na vida. Há pulso para reconstruir vidas.

Para dar sentido ao que parecia adormecido na eternidade da vida além vida. Ainda que em lentas regências, como quem já não tem pressa com o tempo, e somente busca a harmonia.

Como quem aproveita o tinteiro e o pulso além da sobrevida.

– Aferindo os sinais vitais.

Sim. Há vida!

(Alessandra Capriles)

Reparação Histórica. (Escrito em 03/04/2016.)

Há 7 anos… Hoje, Presidenta do Banco de Brics. 💪🏻


Falta de respeito! Não há outra definição para esta matéria de chamada machista e extremamente ofensiva.

Quem nunca perdeu o controle, esbravejou, xingou, quebrou coisas, ou ao menos sentiu um desejo profundo em seu âmago de assim fazê-lo, mas conteve-se, hipocritamente, porque não seria bem visto aos olhos da sociedade, ou porque os vizinhos poderiam escutar?

Qual ser-humano nunca teve o seu emocional abalado, dentro de sua humanidade, não se portou como um ser robótico com sangue de barata, e externalizou a sua raiva?

Não expressar emoções, sim, seria um caso preocupante, diante de toda esta repercussão e sensacionalismo midiático, pois quem não reage emocionalmente a estímulos externos é psicopata, ou sociopata, e estes, sim, são seres nocivos à sociedade, e não deveriam assumir cargos políticos, nem públicos, nem privados, nem as rédeas de sua própria vida.

Creio que somente uma mulher como ela, que viveu e sentiu na pele a ditadura, que sabe bem do que se trata e do que é capaz um golpe político, tem os seus motivos para agir de tal maneira.

Não estou a levantar bandeiras partidárias, nem a defender governos e políticos, estou somente a tomar partido de uma semelhante, um ser-humano, uma mulher como eu e muitas outras, independente de ser uma figura pública, que teve a sua imagem denegrida de forma torpe a troco da venda de sensacionalismo barato e de baixo nível.

Esta matéria, sim, me soa fora de controle, explosiva, ofensiva, agressiva e de baixo calão, nos piores sentidos das palavras. Há maneiras muito mais humilhantes de se insultar e agredir alguém do que com xingamentos.

Perigoso é o calculismo e a frieza emocional. Pois, o que querem é isso: tirá-la do controle, do eixo, do governo, desestruturá-la e a estigmatizarem com todo este jogo psicológico e de resiliência, nesta brincadeira infantil de quem pode mais.

Mas, não se trata de crianças, é briga de cachorro grande. É briga pelo poder, pela palavra, pela voz que fala mais alto, e tem maior repercussão, e pela razão, mesmo que essa seja irracional, visando somente interesses próprios, como tudo o que é mais político do que social.

(Alessandra Capriles)

A Criação Literária Sob a Perspectiva da Inspiração – TCC – Letras – UNESA/2016

Sobre os sacrifícios e suas penitências. (Escrito em 01/04/2014)

Fui buscar bicoitãozin na escola, e na volta, quando entrei no ônibus, vi uma freira (ou noviça, não sei ao certo) em pé no ônibus lotado, próximo à porta com um monte de papéis na mão, estudando para fazer uma prova na faculdade.

Vagou um lugar, o qual apontei a ela, que me disse que não iria sentar, pois estava entrando uma senhora, a qual ela o ofereceu, mas a mesma já ia descer.

Vagaram, então, outros dois lugares, e eu falei “vamos sentar irmã, estudar em pé não dá”. Ela sentou, mas olhando para os lados, para ver se não havia alguém em pé, e eu falei “relaxa, irmã, todo sacrifício tem o seu limite”.

A irmã sentou, mas insistiu, dizendo que prefere ceder o lugar dela sempre que vê alguém precisando sentar.

Logo, ela se levantou para descer, e eu a desejei uma boa prova.

Vendo todos esses sacrifícios, veio-me à cabeça aquela frase que diz que “não tá fácil pra ninguém”.

Se para quem está com Deus, os sacrifícios são bem mais constantes, imagina para quem está sem Ele…

É… tudo na vida é sacrifício… tanto voluntário, quanto imposto…

Antes sacrificar-se em prol dos outros, do que ser sacrificado pelos outros…

(Alessandra Capriles)

Uma crônica sem querer…

Ontem, foi mais um dia de aferir a pressão intraocular (que desde a adolescência é alta 👀)… pressão dos olhos em 20: Glaucoma.

Genético🧬! Não há para onde correr. 🤷🏼‍♀️

Mais essa… 😓

Mas, nunca me foi novidade alguma… Vi boa parte da minha família materna ficar cega, e ninguém entende porquê treinava, desde cedo, andar no escuro…

Não podia contar da epilepsia🧠 para ninguém, “porque ninguém ia me contratar”…

Não estava nos planos de ninguém também eu me formar ✏️📖📚🎓🦉, nem ganhar bolsa👜 para intercâmbio internacional🧳✈️🗺️, nem nada…

Nenhuma das minhas conquistas foi esperada, ou teve mérito algum… Mas o conhecimento🦉 tem me mantido viva 🦅!

E, a gravidez de risco, então, fui demitida grávida não só por infração legislativa trabalhista… Foi livramento… Há males que vem para bem🧚…

Só eu sei o que foi a gestação🤰🏼, as convulsões quase diárias, as 24h de trabalho de parto, os 5 cistos😓, durante o parto, a quase morte por infecção de ambos, a cesárea que não estava nos planos do pré-natal, a febre de mais de 40 graus🤒, a internação in off, de uma semana, a flebite, devido ao acesso (a Fibromialgia🌻 já estava ali), e somente uma vidinha ao meu lado sendo o meu soro e a minha injeção de vida🤱🏼…

Nunca fui diagnosticada🔬 corretamente com TDAH e TEA 🧩, porque iam me julgar (mas sempre julgaram mesmo 🤷🏼‍♀️)…

Nem eu, nem outros entes, nem meu filho…

Só somos “autistas”, “nerds”, “esquisitos”, “loucos”, “bipolares”, “esquizofrênicos”, “hipocondríacos” etc, nas más línguas… Mas, nunca no diagnóstico…

Queriam “proteger” a quem🤔?

Admitam seus erros! Capacitismo😡!

O diagnóstico de Fibromialgia🌻 levou anos, porque, não sei porquê, queriam me ocultar… Ou, mais uma vez, “proteger”…

Em 2006, já sabiam disso… Eu sei que já sabiam…

A violência doméstica e suas sequelas, então, o que a sociedade iria falar, não é mesmo?

Aceita calada…

Rede de apoio, só se for para se embalar na varanda de casa, e nem mais isso…

A tal doença autoimune🧬, ou rara🧬, também… Se não é algo ainda novo, também querem ocultar…

E, o tempo vai passando⏳…

Quanto tempo conta o ponteiro⌚? 😢

As alergias múltiplas🤧🤢😷 eram “frescura”…

“Limpa aquilo ali com Veja”… “Vai fazer a faxina”… “Não esquece de limpar tudo com Braso”… E, toma água sanitária…

Ovo no almoço, na janta, no café da manhã, e só! Bomba protéica e alergia! Trabalho análogo à escravidão… Sem carteira assinada, INSS, nada…

“Tá doente? Bactrim”… As plaquetas que lutem🥋🥊… “Toma esse remedinho aqui, que não faz mal”… “Ah, já tá inventando doença”… “Quer chamar atenção”… 🙄🤬

Por que será que meu filho nasceu com alergia à proteína do leite, e desenvolveu também alergias e intolerâncias múltiplas?

Genético🧬!

Não diagnosticar corretamente neurodivergências, ainda mais genéticas, é capacitismo, sim!

Deixa o adulto se f****… na vida, para tentar “ser normal”, e não dignostica corretamente, porque o diagnóstico precoce não houve, e repete o padrão com as próximas gerações, porque já existe o diagnóstico, mas o capacitismo ainda predomina também…

A vida é um eterno tribunal ⚖️de muitos juízes👨‍⚖️ não diplomados…

Ontem, após a consulta, fui a um laboratório próximo buscar informações sobre exames solicitados pela médica do meu filho, que estou correndo atrás para ele não passar pelo mesmo que eu, e toda uma geração passou, e passa…

Ele foi na frente, porque “a doida da bike”, só continua doida mesmo… Os passos já mal conseguem ser dados…

Sou mais uma “idosa” andando lentamente pelas ruas do Catete, e por toda a cidade…

Continuem julgando mesmo👨‍⚖️⚖️…

Já faz tempo, e as pessoas só se afastaram… Ninguém buscou saber, ou ter empatia, pelo real motivo da reclusão…

“Ah, mas eu tenho problema tal, e continuo trabalhando, saindo, curtindo”…

Parabéns! 👏🏻 Querem um prêmio🏆? 🤷🏼‍♀️🙄

Ativa e viva continuo💪🏻, mas aprendi a me respeitar e aos meus limites…

O que ninguém nunca fez por mim, faço eu, agora, pois sempre tive que cuidar de tudo e de todos, e esqueço que eu também fazia parte do todo, e o todo não existiria, se não fosse eu ali suando…

Mas, o que conta é o dinheiro 💰…

“Até quando você vai ficar vivendo de subemprego?”

Disse-me, uma vez, o parente abastado, que encontrei no ônibus, enquanto eu voltava de um dia exaustivo🤯 de trabalho, que teve a melhor escola da cidade paga com o suor da mãe e as facilidades da vida do pai, e sempre teve seu “ar-condicionado” garantido, bem como seu acesso ao melhor curso da melhor faculdade pública e especialização nazoropa n4z!…

Esse nunca soube o que foi sustentar uma bolsa de estudos, nem correr atrás de um Fies…

Parabéns, doutor! 👏🏻 Só não esquece de fazer o doutorado, ok?

Voltando do laboratório, no qual não faz os exames do meu filho, resolvi “passear” pela feirinha do Largo do Machado…

Aproveitar a paisagem, enquanto há vista… É o que sempre fiz…

Não sabia eu que ali estariam vários anjos😇 sem asas🪽…

Mas, energia é o que sempre me conecta ao todo🪢…

Lembrei da época em que meus pais expunham na Feira Hippie de Ipanema (foram co-fundadores), e ali cresci… Nem grades ainda haviam…

Fui andando lentamente, respeitando meus passos, e parando por onde a energia✨ me levava…

Não tinha um tostão sobrando, mas olhava o que me atraía o olhar e a vibração✨…

Que pessoas maravilhosas❤️!

Só quem já trabalhou nas ruas, e com o público, sabe que o inesperado sempre nos espera🪄…

Algumas Fátimas com suas jóias💎 de cura❤️‍🩹, proteção🛡️⚔️ e seus próprios milagres🙌🏻…

Na primeira Fátima, um fecho de uma biju trocado na camaradagem por ela (que ainda me deu um kit extra, para eventualidades 🥰), mas sei reconhecer o trabalho alheio, pois somos mais do que “ambulantes”, e paguei com o pouco que podia…

Ganhei um cordão hipoalergênico que admirava, que era para colocar, justamente, meu pingente de Nossa Senhora de Fátima 🛡️⚔️❤️…

A cura, de fato, está no trabalho e nas mãos dela 🙌🏻❤️…

Na segunda (por coincidência, ou não) Fátima, uma mãe com seu bebê no colo, parou vendendo balas para comprar marmita, enquanto conversávamos…

Alguém aqui conhece a fome? Eu, sim…

Com mais um trocado que tinha, paguei pelas balas, mas não peguei, porque não posso comer, e assim ela poderia vender a outra pessoa, e completar a sua refeição do dia🙏🏻…

O que vai, volta…

Para o bem, e para o mal…

“Fazer o bem sem olhar a quem”, e nada nunca peço em troca…

Acho que se eu fosse rica💰, ficaria pobre💸, porque não consigo ver a necessidade alheia sem perceber, e sentir😓…

Empatia.

A segunda Fátima, com mais milagres, então, além de suas boas palavras, deu-me seu cartão, após eu perguntar se ela tinha página em rede social, e assim o recebi junto ao seu sorriso e boas energias✨…

Outra maravilhosa ❤️!

Depois, chamou-me a atenção a plaquinha “para aliviar as suas dores” da barraca de produtos amazônicos de cura, e ali senti a energia cabocla🏹🪘🪇❤️‍🔥 dos meus ancestrais maternos…

Quem quiser me presentear, aceito… 🙏🏻

Depois, a Márcia “Sensitiva” 😂, com seus amuletos🧿 de proteção🛡️⚔️, cura❤️‍🩹 e energização✨… Que coisa linda! 🤩

Sensitiva🔮, porque parecia que ela estava dentro de mim, na minha mente🧠, no meu coração🫀, no mesmo ambiente que habito🏢, cercada das mesmas pessoas🧟, e me disse as palavras certas, só confirmando o que eu já sabia🔮…

Mais um lugar de onde levei a boa energia vital❤️‍🔥, e deixei a minha gratidão 🙏🏻…

O máximo que eu poderia permutar…

Ah, também deixei a dica para o meu filho, sobre um possível e acessível presente de Páscoa (porque dia das mães tá longe, e não posso comer chocolate)… 🤷🏼‍♀️🫣😂

Logo adiante, uma barraca de uma peruana, onde me presenteei com uma biju de Olho Grego 🧿, que “me olhou” pelo caminho…

Complementando o adorno de proteção: a Mão de Fátima 🪬 (olha a confirmação), a Coruja 🦉 (sabedoria que amo), uma chave 🔑, e um cadeado 🔓, intercalando com cada Olho Grego 🧿…

Não resisti ao chamado, e presenteei-me 🎁 (há quanto não me presenteava), porque dava pra pagar 🥲, além da oportunidade que sempre gosto de aproveitar para treinar meu espanhol herdado dos meus ancestrais paternos…

Na barraca seguinte, uma lhama🦙 de crochê🧶 sorrindo😍…

Um sorriso dos Andes para mim… Gracias, Papito! 🙏🏻

Estavam ali todos os meus ancestrais: anjos e índios de cura, da Amazônia aos Andes🏹🪘🪇🪈❤️‍🔥, tudo conectado, através de seres, que aos olhos comuns, são somente mais alguns no mundo…

O despertar espiritual é para todos, mas não está para todos…

Parece que após aquela pequena peregrinação, que há muito minhas dores não permitiam, renovei as energias❤️‍🔥, e segui o dia…

Mais andanças, alguns estresses (porque meu sangue não é de barata!), algumas injustiças, alguns egos alheios feridos, mas eu estava blindada 🛡️⚔️❤️‍🔥, e aguentei até o fim…

Aproveitei aquela boa vibe✌🏻 recebida, até o final da noite, mesmo com meus afazeres domésticos na cozinha, curtindo o som do pagodinho da Rua da Lapa (com todo o respeito e solidariedade aos demais vizinhos e também neurodivergentes que são afetados pelo som, e eu também muitas vezes sou), que é a minha “night” e distração garantida, de todo sábado…

Só eu entendo essa nostalgia, e a minha memória afetiva tolera, porque o som é bom!

Melhor do que bateção de prato sem sentido, em espaço público aberto, com milhares de outros seres à volta, sem respeito algum…

Quem toca, toca, quem não toca, vai pra escola!

Esse pagodinho é minha única distração possível também 😔… Além do rapaz do sax, que toca na Praça Paris, e o pianista que acho que toca na Moares e Vale, que foi revitalizada…

As minhas dores só eu as sinto, mas não me entrego 💪🏻!

“Ano passado eu morri (e nos outros também 🤷🏼‍♀️), mas esse ano eu não morro” 🛡️⚔️❤️!

As provações são muitas… As dores também… Mas, quem tem Deus consigo, tem luz ✨, por mais que a estrada seja longa…

E, peço aos deuses paz, saúde, amor, sabedoria, discernimento e proteção para que ela ainda siga por muitos anos…

A vida é uma dádiva e um despertar diário…

Despertemos todos! 🌻❤️

(Alessandra Capriles)

🦅🎎🕊️🦋🎏🔮⚜️🪬🦉🧿🔑🔓🛡️⚔️❤️‍🔥

Do pranto faço o canto.

Enquanto houver fôlego
Haverá voz
Eu não me calo
Porque muito não falei

Me valorizo
Porque dólar não me paga
O que me apaga, já nem a sombra

Sou luz no breu
Ilumino meu próprio caminho
Faço eu a estrada que percorro
Desde que o mundo me foi vindo

Deslizo, escorrego, caio, levanto
Não preciso de muleta
Enquanto houver força

Faço da dor meu próprio antídoto
Das vísceras frágeis minha própria cura

Sou eu quem me seguro
Sou eu quem remo meus mares
Sou eu minha própria âncora e navio

Pra decolar comigo
Tem que ser mais do que piloto
Sou meu próprio motor e hélice

Já não choro mais
Se cai uma lágrima
É sal da vida

Tempero os dias com magia
Bruxa, velha, louca, vagabunda
Muita língua arde a fel

O que me arde
É menos do que as mazelas do mundo

Quando, aqui, chegaste
Eu já fazia história

Fiz das linhas a escrita
Ainda que tortas
Sempre acerto o verso

O que me dói
Dói menos do que despertar desacordada

Sou só, porque Deus é minha companhia
Ele e os meus

Fiéis os que foram abandonados
Enquanto outros roem o osso
O ouro brilha, mas não enche barriga

O que nutre vem de dentro
E, nada há no que é oco

Sou eco
A voz do mundo
A voz de todos

Dos muitos calados
Amordaçados
Acorrentados
Arrebatados
Agonizados

O que sufoca mais do que gás
É se calar na injustiça
É inalar o descaso, a ganância e a mentira

Vingança não me faz justiça
Sou filha do Pai que ama e castiga

Se no limbo estou
Não faço do presente destino
Aprendi que o perdão é o melhor caminho

Sigo meu rumo
Cuido da vida
De mim, não dos outros
Só dos que me querem bem

Leio o passado como bíblia
Mitologia
Um livro de histórias

Heróis, vilões
Cruzes, espinhos
Deuses e Ades

Mito só na ficção
“Demo” só se for “cracia”

Jesus morreu na cruz
E, tantas na fogueira

Ressurjo das cinzas, do fogaréu
Sou a própria chama
Fênix nos céus

Só a paz me interessa
O mal-me-quer fez meu bem-querer

Quem me ama sou eu, Deus, os meus, e os meus tantos “eus”.

(Alessandra Capriles)

Sobre o Passar do Tempo…

O tempo é amigo, inimigo…
O tempo é tudo…
É ele quem dita a vida…
Rege… Educa… Ensina…
Desorienta… Orienta…
E, o tempo todo muda o próprio tempo…
Como dias de sol e dias de chuva…
Quem regula o amor…
A paciência…
A incompletude e sua completude…
O tempo amarga, mas também tempera…
O cronômetro é miliétrico…
Inimigo e amigo…
O tempo também é nossa família…
É nosso sangue e suor…
É desamor, mas também amor…
É sentido e sentimento…
O tempo regula o amor do que não é…
O tempo é saudade…
Lembrança…
Um dia mocidade, no outro sabedoria…
O tempo é destino…
É breve e largo…
Milésimos, segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, décadas, séculos, milênios…
O tempo conta, mas também se cala…
O tempo é calos…
Arde, mas também assopra…
O tempo é rugas, linhas, expressões…
Todas elas…
O tempo é de todos e para todos…
Sem distinção, nem credo…
Não há raça, classe, gênero, nem partido…
O tempo é seu próprio status…
O tempo também é perdão…
O tempo é Deus…
Seja Ele qual for…
O tempo também é onipresente e onipotente…
O tempo é o que nos habita…
O tempo somos nós…
O tempo conta sua própria história…
Fala de guerra, mas também fala de amor…

E, eu amo todos vocês ❤️❤️❤️…

(Alessandra Capriles)

Sobre Amar, Respeitar e Perdoar.

Queres falar comigo, ok…

Somente, por favor:

Não tenhas fala tóxica, desmerecendo a dor, ou com um falso positivismo que também desmereça o sofrimento alheio…

Não sejas fascista, nem o defenda com discursos machista patriarcal estrutural, misógino, racista, intolerante religioso, político e capacitista…

Não julgue, sem saber a verdade, nem fale de quem não está presente para se defender…

O machismo estrutural patriarcal é um dos maiores cânceres da humanidade misógina, e tal condição não afeta somente os homens: há muitas mulheres machistas…

Apoiar é melhor do que competir…

Buscamos igualdade, equidade e justiça, perante nossos corpos, direitos e oportunidades, não o poder sobre o outro. Não somos objeto, nem propriedade de ninguém…

Sejamos homens, ou mulheres…

O racismo mata, discrimina, coloca indivíduos em condições análogas à escravidão, usando um “darwinismo” imposto pela cor da pele, e/ou condição social, e isso é desumano…

Sentir-se superior ao próximo, ou apropriar-se de sua cultura com respaldo de branco privilegiado, o torna inferior a toda espécie humana…

Há também muitos brancos desprivilegiados, então não use da sua raça “ariana” para desmerecer o outro pela pele e/ou condição social. Amanhã, pode ser você, em condição, ou humilhação semelhante…

Não tente pregar a tua religião a ninguém, nem diga ao próximo que tudo o que ele passa é por falta, ou castigo de Deus, pois teu discurso se torna contraditório…

Deus é amor, independente do credo…

Deus está em tudo, sobretudo, dentro de nós…

Se Ele é onipresente, a casa d’Ele não é lugar algum, senão nós mesmos o Seu próprio templo….

O sincretismo religioso é a maior prova da presença e onipresença de Deus, e do amor e respeito ao próximo, se somos todos a Sua imagem e semelhança…

Nossos atos, palavras e olhar ao redor, além de si, falam mais d’Ele, do que qualquer falso profeta…

Não tente também “pregar” o teu partido político. De todos os lados há todo o tipo de gente. O que define nossas escolhas são as promessas cumpridas e o respeito ao povo…

O verdadeiro líder é aquele que rege para o seu povo, e não para seu bel prazer e dos seus…

O mundo é muito vasto…

A diplomacia política evita guerras desnecessárias e gastos que poderiam gerar maiores lucros com investimentos na própria nação, e não em confrontos bélicos separatistas…

Não há melhor, nem pior, política e geopolicamente, definido por partido, senão por seu caráter, suas crenças, seu discurso respaldado por seus atos, e pela admissão de seus erros, como ser-humano em evolução e aprendizado…

Todos somos o povo, independente de qualquer condição…

Bem como desmerecer, e, mais uma vez, utilizar de um “darwinismo” para classificar e selecionar o que soa diferente ao “normal”…

O que é ser normal? O que é ser diferente?

Faça a ti tais perguntas, e encontre as respostas.

O capacitismo, bem como todos os preconceitos acima descriminados, também mata…

Aos poucos, ou instantâneamente, destrói a autoestima de um semelhante tão, ou mais capaz do que aquele que o julga, estigmatiza e rotula…

A falta de conhecimento torna o ser ignorante intelectual e fisicamente…

E, chega de ignorância!

Buscamos a cura, a salvação, a união, o amor próprio e ao próximo, o respeito, a igualdade, a equidade, a equiparidade de direitos, a visibilidade, pessoas do bem, e não de bens…

Nem tudo o que reluz é ouro, e onde só reluz o ouro, não reluz o brilho interior…

E, viemos ao mundo para brilhar, e fazer tudo e todos ao nosso redor também brilhar…

Erraremos e pecaremos, no caminho?

Sim, porque não há caminho…

Se faz o caminho ao caminhar, mesmo que fisicamente estagnado…

Evoluir é na mente e na alma, e no reflexo em teus atos…

Vamos amar, respeitar as diferenças, e perdoar mais…

A si e aos demais.

(Alessandra Capriles)

Do pranto ao riso.

Sorrir, mesmo que seja amarelo, porque amarelo é alegria, é sol, é radiante.

Sorrir, mesmo que por entre as nuvens, e elas não sejam de algodão. Mesmo que haja raio, relâmpago e trovão.

Sorrir, mesmo que somente seu esboço, que seja intento, que sua vontade de alargar os lábios seja, e aconteça.

Sorrir, mesmo que arda, mesmo que doa, mesmo com lágrimas, porque pranto e riso vêm do mesmo lugar. Chorar e sorrir é quem nós somos. Vêm de dentro.

Sorrir para si. E, somente para si. O nosso riso doado tem de ser o mais sincero, então é preciso aprender a sorrir para si.

Sorria, mesmo que o discurso pareça romantizar o luto e a luta, mas o drama é o que alimenta a tristeza.

Quando você se olha, você sorri?

(Alessandra Capriles)

O renascimento da democracia.

O renascimento da democracia.

Antes tarde do que nunca (ainda recuperando-me), algumas palavras…

Nem tão poucas, porque senão não seria eu, né… 🤷🏼‍♀️

Uma sequência de anos pavorosos de tempos bem estranhos.

Do golpe do “marreco” na Dilma e cia pra cá, vimos de tudo. Humilhação em cima de humilhação. Um 7×1 todo dia. Tudo na nossa cara, estampado em letras garrafais, as quais até muito cego viu, mas tantos outros preferiram negar a saúde de sua visão.

Fomos enganados, roubados, violentados, tirados de insanos, comunistas, escória, catadores de xepa de osso do que um dia foi vida. Muitos sem nem isso, sem nem mais teto… famílias inteiras que se foram.

Viramos mortos vivos ligados no automático à imposta era digital. Muito louco, por sinal, porém importante também.

Para muitos, informação, a única ligação com o mundo porta afora, chegar ao vírus para que ele não chegue a si, pensar no coletivo e na solução, usando sempre o bom filtro da transparência e do bom senso.

Para outros, desinformação, fake news, propagação de uma falsa normalidade vendida em latas de caviar, embaladas à vácuo como picanha para a churrascada do agronegócio, que se arrepia só de ouvir falar em agricultura familiar. Sertanejos enriquecendo ainda mais com suas lives, e streamings bombando.

E, falando em digital, muito fácil invadir e desaparecer com a inteligência artificial. Não somos mais ninguém, pós pandemia. O de menos foram os hackers. Tiraram a nossa história de nós mesmos. Sistemas e máquinas invadidos, homens agindo como máquinas. O que o sistema não faz, o homem faz. Sem falar na educação enlatada. Mas, isso aí é muita história.

E, não podemos esquecer do social. Essa é uma das melhores partes e mais curiosas para quem também estuda a mente humana. Essa pandemia foi de deixar muito sociólogo, psicólogo e psiquiatra doido. Vi vários surtarem… 🤷🏼‍♀️ Outros, já são surtados mesmo, sem nem mencionar os que deveriam eles serem os pacientes.

As amizades, graças a Deus, entraram em um filtro, e, agora, é mais palpável buscar pela essência. Muitos ciclos se fecharam. Muitos se foram. Alguns em vida.

Mas, descobrimos em nós nós mesmos. Para muitos um susto. para outros, um alegre alento. Fico com o alento. Muito bom reafirmar quem somos. Só a vitalidade me faz falta. A serenidade. A confiança.

O pós pandemia tem sido ainda mais educativo. É quando vemos se, de fato, houve a mudança, ou se era apenas demagogia coletiva, como um surto.

O medo da morte faz até ateu virar crente, e crente clamar por orixá. Nunca sabemos.

E, assim foi, os que criticavam o isolamento, os que, infelizmente, perderam algum ente, de alguma forma, evoluíram. Há também os que a vida segue. Normal, né. Sem hipocrisia, sem remorso. 🤷🏼‍♀️
🤔

Dos que se isolaram, apontaram o dedo para os que descumpriram, mas na primeira brecha foram pra gandaia na surdina, gostaria de dizer que vocês não representam a esquerda, nem a ciência, nem a vida, nem o ser-humano. São piores do que os negacionistas.

Dos que logo após a pandemia, adotaram para a vida o seu “novo normal”, e seguem vivendo sua próprias vidas dentro do seus quadrados, não se assustem. Tá tudo bem. Vocês só são resguardados.

Nem tudo é egoísmo, mas cuidado para não ser. É preciso estar atento e forte.

Já os que cumpriram o isolamento, e após ela continuaram se cuidando, e cuidando dos demais, procuraram os que ainda seguem enfermos, não estão nunca sem tempo para ser o ombro de um amigo, mesmo que inúmeras vezes seja necessário, e abriram mais os olhos para o próximo e o que de fato importa, que é mais do que uma foto no Facebook, parabéns! Vocês aprenderam, e evoluíram.

Se tu ainda não estás bem 100%, se teu corpo não responde mais como respondia, se tua mente não funciona mais como funcionava, se tua vida não parece mais nem de longe com a que era vivida antes da pandemia, e tu ainda segues com o teu caráter e teus ideais firmes. Parabéns também. Os que agonizam, também lutam. 💪🏻

E, aqui estamos todos. Sobreviventes. Uns melhor, outros pior. Uns mais esperançosos e crentes no futuro e na justiça, outros acampando no quartel com celular na cabeça e chapéu de alumínio, enquanto outros fogem. Uns mais sãos, outros cada vez menos.

O fato é que o mundo se dividiu. O que já era distância, agora virou abismo.

Mas, o importante, é quem conseguiu chegar até aqui. Mesmo com marcas e feridas, elas vão cicatrizar. Mesmo que novas surjam, sabemos que vão sarar. O tempo endurece. O tempo caleja. O tempo fortalece (não tem romantismo nisso), mas, o tempo também machuca, fere, e até mesmo que ainda sangre, o que importa é que chegamos até aqui.

Se não tentaste te dares bem em cima de ninguém, parabéns. Se não tentaste dar nenhum jeitinho, carteirada, rachadinha, associação criminosa, nem nada do nipe, parabéns.

Tu és um ser-humano, e não fizeste nada demais. Se não pelo detalhe de que o mínimo se tornou raridade. Antes, era só demagogia, hoje, é um fato raro. Ser Humano se tornou raridade.

Parabéns por usares e tirares tua máscara com consciência.

Tempos de mais luta estão à caminho. Mas, tempos melhores. Tempos nos quais será possível palpar a cura, a vida, a dignidade, o respeito, a justiça, a lei do povo prevalecendo, paz e esperança no coração.

O povo precisa ser ouvido.

Ouvimos as promessas. Acreditamos nas promessas. Acreditamos no Supremo e em toda a escala da Justiça. É só o que aguardamos. A Justiça que nos fará respirar aliviados, e dará forças para seguirmos lutando.

Reparação histórica. O fim da ditadura. O fim da fome. O fim da escravidão. O fim da humilhação. O fim do fascismo. O fim do machismo. O fim do feminicídio. O fim do racismo. O fim do preconceito à cannabis. O fim da homofobia. O fim da xenofobia etc.

A volta da democracia. Da constitucionalização. Do progresso e da verdadeira ordem. O resgate da nossa bandeira. Do nosso povo. Da nossa identidade.

O Brasil é dos índios, hoje, dos brasileiros, mas são eles a origem da nossa terra. Falo pelo que corre nas minhas veias, e de muitos. Falo por todos nós. A terra que pisamos, pertence a quem a gerou.

O amor é o sentimento morto que falta à nação, ao mundo, e não se rege nação somente com o racional. A nação precisa voltar a ser vista como seres humanos, não mais estatísticas, nem números.

Desde 2002, quando fiz 18 anos, voto pela democracia. Nunca pestanejei. Hoje, com 38 anos, após tudo o que só eu sei o que passei nesse desgoverno, deixo aqui o meu apelo, com muita satisfação por sempre ter estado do lado certo.

A reparação histórica vem…

Fé, meu povo! 🙌🏻 Axé! ✨

Lula ⭐❤️

(Alessandra Capriles)

Sobre saber interpretar…

O que se cala é o que mata
O que nenhuma mente leitora leu de outra mente
O que ninguém mais viu
O que ninguém mais ouviu
Nem sequer sentiu
Nem no corpo, nem na alma
O que não se cala aos olhos atentos
A quem à fora crê
Quem não enxerga, nada vê
Quem nada viu, igual, morreu

Como bato à tecla: o mundo é dos que sabem ver.

(Alessandra Capriles)

O dedo que aponta também enverga.

O mundo está cheio de juízes não diplomados…

Muitos diplomados crendo-se juízes…

Leigos falando como diplomados…

Diplomados agindo como leigos…

Injustiças praticadas por quem deveria representar a justiça…

Pessoas sãs agindo com insanidade…

Os ditos loucos, em meio à tanta enfermidade, os mais sãos…

Os que mais sentem…

E, a vida segue a baderna…

Verdadeiros ladrões mandando prender…

Enquanto inocentes pagam com a vida, pelas mãos de quem deveria proteger…

Pensadores que já não mais pensam…

Democracias que ditam…

Tanta coisa rasa mascarada de imensidão…

Enquanto isso, os outros são esquecidos por aqueles que mais deveriam se lembrar…

Pois, estamos todos aí…

Quem não vê, se não cegos, desatentos…

E, não há um alento de resposta ou solução que afague o peito…

Que acalme a desordem…

Que no jogo da vida não trapaceie…

Os que deveriam curar, adoecem…

Se não a si, aos outros…

Que, já não mais pacientes, perdem suas credibilidades…

Em si e no mundo…

(Alessandra Capriles)

Dia de chuva.

A chuva não precisa de legenda
Nunca
Chover é poesia
E, como poesia
Sempre nos encontra na hora certa…
A chuva é lágrima, até quando seca
É tristeza em versos
Sons de afago e angústia
Do chuvisco à trovoada…
A chuva é água divina
Água que limpa
Que abunda
Preenche e se alastra…
Chover é oceano
É mar, rio, qualquer pequena marisma
É de onde floresce, nasce, cresce…
Do alimento ao acalanto
Chover é poesia da alma do mundo
Chove porque a natureza empírica humana chama
Porque o clima entra em chamas
Chove para que se aprecie a paisagem, seja qual for a temperança…

(Alessandra Capriles)

Últimas Palavras.

Queria poder falar com alguém, mas não há quem…

Também, o que eu falaria, se as palavras engasgam?

Queria poder abraçar alguém, mas eu não gosto de abraços… Não confio neles…

Mas, eu queria…

Queria poder pular desse abismo, mas não teria quem carregasse o corpo… Nem o velasse…

Mas, eu queria…

Queria poder correr com o tempo, só para calcular o quanto ainda há…

Mas, o deus do tempo gosta de surpresas…

Queria só poder olhar passar o tempo… Ver os dias correndo na paisagem…

Mas, a vida tem disso de nos querer fazer correr junto aos dias…

Ou tu estás nela, ou não estás…

Mas, eu estou muito cansada…

(Alessandra Capriles)

Sobre dogmas e verdadeira Fé. (Escrito em 07/07/2012.)

O fato de eu acreditar em Deus, não significa que tenho que seguir uma religião. Já disse isso outras vezes, mas parece que a vida me testa, ou então me provoca… O fato de eu falar de Deus, Maria, Jesus Cristo, santos, anjos, orixás etc, não me faz religiosa. Sou sincrética. Deus está em tudo, no cosmos, na natureza, no Homem, não em templos, ou dogmas.

Não, não sou religiosa… se assim me considerasse, minha religião seria Deus, ou a Fé. Deus está em mim, e Ele sabe que eu não preciso estar em templos para adorá-lo. Já estive em alguns, e respeito todos no meu sincretismo, só quero que, assim como respeito a fé dos outros, respeitem o meu direito de seguir a Deus com a minha fé no que acredito.

Não, não sou hipócrita. Já tentei agradar muitas pessoas para ser aceita, e fiquei sozinha nos momentos em que mais precisei. Somente Deus esteve comigo em todos os momentos, e hoje em dia entendo que preciso agradar a Ele somente, com a minha verdade, sem hipocrisias fiéis. Prefiro conversar com Deus quando estou só, em pensamento, e faço isso o dia inteiro, como quem conversa com um amigo próximo, sem cerimônias, sem firulas, um papo reto…

Agradeço a Ele tudo, e Ele me escuta onde eu estiver. Somente Ele é conhecedor dos meus sentimentos, e não preciso provar aos outros o amor que Ele sabe que eu tenho. O perdão, somente Ele pode me dar, então é a Ele que eu sempre peço, porque sou humana, e também peco. O erro é inerente à evolução.

Rotulem-me do que quiserem, meus irmãos… atirem pedras, ou digam que eu O reneguei… Ele sabe que não. Não funciono à base de pressão, nem influências, não tenho rabo preso a nada, tenho a minha opinião, convicção dos meus atos, tenho a minha fé (que é inabalável), e todo o respeito a Ele.

Assinado: Alguém que também é filha de Deus…

(Alessandra Capriles)

A cerne exposta.

Já se passaram alguns dias dos infelizes casos das crianças e da atriz Klara Castanho, que foram estupradas. Eu não ia comentar, porque falar sobre o assunto é sempre gatilho, mas não consigo me calar.

Eu me pronunciei em minha página WordPress, no caso da menina que foi estuprada por mais de 30 elementos, em uma comunidade, em 2016. Também me pronunciei no caso Mari Ferrer, ano passado, sendo inclusive criada uma nova lei, que visa evitar a revitimização e exposição da vítima de violência sexual, baseado no caso dela. Vitória feminina? Seria, se a sociedade não fosse incuravelmente machista.

Como mulher, feminista, mãe e ser humano, não posso me calar, e, há algum tempo, decidi não mais me calar diante de fatos como esses. Diante de pessoas que violam o corpo, a moral, o psicológico, a alma feminina etc, porque a violência aos nossos corpos dilacera todo o ser.

Incluo-me nessa afirmação como também mulher, feminista, mãe, ser humano e, infelizmente, também vítima da violência.

Quando tinha 14 anos, entrei em uma grande depressão. Ninguém sabia, ninguém entendia, mas todos julgavam. Perdi pessoas, não digo amigos, porque nunca foram. Por fim, de todos, por mim, afastei-me.

O motivo da depressão?

Os abusadores sempre esquecem, mas as vítimas, não. O abusador/estuprador violenta a vítima uma vez, mas ela segue sendo violentada e revitimizada a vida inteira. As lembranças são atrozes. Quantas vezes não pensei em me vingar, denunciar, mas eu, tão criança, já sabia que em nada daria, seria ainda mais humilhada, ou até mesmo desacreditada.

Eram vários rapazes. Uns vinte. Todos conhecidos, de convívio quase diário, de muito tempo, que acharam por bem “brincar” com meu corpo. Comecei achando que, de fato, era uma “brincadeira” muito da sem graça, por sinal, e me levantei para ir embora. Nisso, um deles me segurou, e começaram a passar a mão pelo meu corpo.

Naquele momento, entrei em pânico. Só conseguia imaginar o pior, e, em instantes, mil coisas passaram pela minha cabeça: eu era virgem, e tinha uma amiga da mesma idade recém descoberta a gravidez. Também, havia presenciado um estupro, pouco tempo antes, corri até a cabine policial do mesmo lugar onde fui violentada (olhe a coincidência), chamei o policial para ajudarmos a menina que foi colocada em um carro, e o policial, simplesmente, ignorou o socorro. Tomara que não tenha sido filha dele… Enfim…

O mesmo cara que estava estuprando a menina, dias antes, estava se masturbando no mesmo carro, com a porta aberta, na esquina da rua em frente ao meu prédio. Minha amiga e eu vimos, e corremos. Eu o reconheci, além do modelo, cor e placa do carro utilizado por ele para praticar os crimes.

Pois, voltando ao fato… Todos rapazes de classe média e média alta, em um condomínio de classe média alta, em área nobre da zona sul. Quem era eu naquela situação, pensei eu. Além de um corpo e uma alma dilacerados, e um trauma eterno, eu me sentia ainda menor, diante daquilo tudo.

Por fim, um dos que começou a brincadeira, que era o rapaz por quem eu era apaixonada, arrependido, ou imaginando o problema que aquilo daria, abraçou-me, e me tirou dali. Logo depois, meu primo ficou sabendo, foi lá tirar satisfação, desculparam-se para ele, que era enorme, lutava e era “parça” deles, mas não a mim.

Eu os vi, inúmeras vezes, depois. Todos eles. Alguns, perdoei pelo tempo, por acreditar que eram imaturos, e foram na onda dos outros, mas a gente não esquece. A sociedade não nos deixa esquecer. O gatilho sempre vem.

Além do que, mesmo passados tantos anos, a maioria segue o mesmo padrão de pensamento e comportamento, inclusive votando e defendendo político misógino de estimação.

O ato sexual em si não houve, mas mesmo assim continua sendo estupro. Como falei, não é só o corpo feminino que é violado. E, se o tal rapaz não tivesse se “arrependido”, e me tirado dali, o que poderia ter acontecido?

O assunto morreu. Além dos envolvidos, poucos souberam, mas todos se calaram. Só me retirei, e pouco tempo depois, mudei de bairro. Nessa mudança, a depressão só aumentou, mas isso já é outro assunto. Também de violência, ou retomada de uma violência, que eu achava que também já estava esquecida.

Minha vida foi marcada por diversos tipos de violência, desde a infância. Conheci todas elas. Por isso, não posso mais me calar.

Relatei aqui esse fato engasgado na garganta, há 24 anos, como também tenho relatado outros, para encorajar outras pessoas a denunciarem, e porque meu corpo não aguenta mais se calar. Calar adoece. E, é coisa demais que eu tive que calar, nessa vida…

A sociedade precisa informar e de informação.

Tivemos os casos midiáticos mais recentes das crianças estupradas, que tiveram seu direito legal ao aborto seguro negado, e foram condenadas por exigirem seus direitos, e da atriz que optou pela adoção voluntária, direito também assegurado por lei, e igualmente foi condenada por um crime de abandono de incapaz, que nem se enquadra na questão, e outros argumentos teóricos, religiosos e filosóficos mais, que só enojam.

Em todos os casos, as mulheres foram revitimizadas. Os estupradores/abusadores/agressores? Nem se fala deles. A sociedade passa um pano danado…

Culpa da mulher! O que estava fazendo lá? Por que estava com aquela roupa? Mas, se é namorado, ou marido, não é consensual? 冷 Se não houve o ato, porque foi abuso/estupro/violência? Por que não denunciou antes? Por quê? E, muitos por quês, porque os julgamentos nunca cessam, e haja porquê para tanta ignorância.

Em qualquer tipo de violência contra a mulher a revitimização e a violência nunca acabam. Não basta ser violada uma única vez, para a sociedade é pouco. Muitos juízes para pouca Lei.

O que a sociedade machista não faz é divulgar, informar e buscar representantes decentes para a sua nação.

Falta informação, desde a infância. Crianças, menines, e adultos.

Falta investir em políticas públicas.

Faltam leis efetivas, o cumprimento delas e rigor nas penas das já existentes.

Falta consciência, pois o povo busca, e elege seu semelhante, que garante a impunidade, protege os bandidos, e julga as vítimas.

Ser mulher é muito mais do que uma luta diária, e contar com a sorte. Bem como qualquer classe inferior, aos olhos da sociedade, que julga gênero, sexualidade, raça, classe social, e tudo o mais que ela puder, com seus discursos de ódio.

A revolta com as injustiças e impunidades? Essa não há. Esses também são julgados. Loucos! Doentes! Rebeldes “sem causa”! “Esquerdopatas”! Comunistas! E, por aí vai…

São tempos difíceis e sombrios para todos. Só há vantagens para os privilegiados. Para esses, a lei e os direitos são garantidos. Estamos em retrocesso mundial. Pandemia, guerras, mortes, direitos de “países de primeiro mundo” sendo retirados, a hipocrisia instaurada…

O certo sendo visto como errado, e palmas aos que vivem e sobrevivem no erro. A certeza da impunidade ao crime, e o preconceito velado, sendo praticados pelos próprios líderes de nações.

Vergonha! D!tadura! Retrocesso!

Minha solidariedade a todas as vítimas da violência cometida contra as mulheres. Não estamos mortas. Juntas, podemos muito mais. Juntes também! 

(Alessandra Capriles)

Ao que não há remédio, remediado está?

Três dias sem comer, em um quarto escuro. Uma imersão profunda de autoconhecimento.

Poderia ser a cena de algum filme de drama, suspense, ou policial, mas a vida real também monta seus cárceres próprios.

É um “eu” sozinho eterno. Mas, os pensamentos são muitos.

Acho que é por isso que “solitária” tem esse nome.

A reclusão nos leva a um lugar onde jamais quem nunca se privou da liberdade saberá. Acho que por isso o cárcere é uma forma de penitência que “purifica”.

As grades são muitas. É como um labirinto sem saída. Andar em círculos, envolto aos mesmos pensamentos.

Do que estou falando?

Ninguém sabe. E, não adianta explicar. Para mim também é tudo muito novo, embora já convivamos uma vida inteira.

Semana passada, após quase dois anos de pesquisa, com exames e consultas quase diárias, em uma jornada super desgastante, indo a lugares onde até os deuses duvidam, passando por procedimentos e internações exaustivas e dolorosas, descobrindo mais de 10 doenças crônicas, porém não a chave do problema, sendo quase laparotomizada, finalmente, fui diagnosticada.

Fibromialgia.

Pois, tanto desgaste, debilitando-me ainda mais, para descobrir que tenho mais uma doença crônica, que não tem cura, que pode ser degenerativa e paralisante, e assim foi ao longo de todos esses anos sem investigação de sintomas, que para mim eram normais.

Passei a minha infância sendo levada pela Titi ao neurologista, por conta de enxaqueca, insônia e alguns traumas, e ainda nem se falava de autismo e TDAH. Uma pequena gênia autodidata, com diversos transtornos, jamais compreendidos ao passado leigo, preconceituoso e desinformado.

As dores nas pernas “eram dores do crescimento”, mas não passaram na fase adulta.

Atividades físicas, como dança, andar de patins, skate e bicicleta, correr, natação, e outras mais, salvaram a minha vida, durante muito tempo.

As dores das pernas diminuíam, mas o resto do corpo reclamava, e eu achava que eu precisava de mais atividade, e assim não parava.

De atividades físicas de alta performance, até atividades laborais maçantes, desde a infância e adolescência.

Estava, desta maneira, firmando um contrato com a doença.

Porém, como nada era constatado, era ignorado, e reclamar era “chamar atenção”.

Logo, aprendi a me calar. Logo, aprendi a tolerar a dor. Logo, sentir dor era algo normal, e eu era somente louca, transtornada, irritada e nervosinha, e que se enchia de analgésicos, que de nada adiantavam, aos olhos de quem não via o que acontecia por dentro.

O sorriso e o bom humor, tão cedo precisei aprender a manter para agradar ao público. Poliana me ensinou a jogar o jogo do contente. Um dos primeiros livros que li na infância.

Na vida adulta não foi diferente. Nada era diferente. Seguia jogando o jogo, pois agora a brincadeira era sobrevivência. E, nesse jogo, as rasteiras e quedas são sempre certas.

Adoecer no meio corporativo é ser peso morto. Carta fora do baralho. Quem quer encostar empregado? INSS? O governo odeia pobre. Pobre e doente, então. Deixa passar fome, que morre mais rápido. Então, a demissão é sempre o melhor business.

Todos somos substituíveis. Vocês podem gerar os maiores lucros, serem os funcionários do mês, exemplares, mas sempre serão substituíveis. Aprendam isso.

E, assim, muitas vezes fui demitida, ficando ainda mais doente, mais deprimida, até decidir ser freela, e depois microempreendedora da sobrevivência e do desespero. Péssima ideia. A solidão do microempreendedor individual é ainda maior.

Sempre começando de novo, e começar de novo é sempre mais exaustivo. É como um eterno “Efeito Borboleta”. Ninguém nunca entendia tantos recomeços, mas só eu sabia onde o calo apertava.

Pois, nada diferente poderia ser feito, o futuro já estava traçado, e conviver com aquela situação era inevitável.

De diferente, poderia ter feito menos. Viver no mediano. Só que é como se eu soubesse que meu corpo tinha um tempo para ser intenso. Dicotômico, mas precisava. E, assim vivi.

Vivi tão intensamente, que não sinto falta de nada. Tudo o que vivi foi para eu lembrar o quanto fiz, e o quanto vivi. E, essas lembranças me mantém viva.

Pena que volta e meia vêm as lembranças não tão boas, porque no jogo do contente a gente só ludibria a fatídica realidade. Mas, tudo coexiste.

Nessa coexistência, tudo se mistura, até o ponto de deixarmos de saber quem somos, de fato. E, assim, viramos dor, lembranças e solidão.

Ela. Sempre ela. A minha mais fiel companheira.

Adoecer é um ato solitário. Ninguém mais vai lá. É como habitar um quarto escuro sem alimento por três dias, e saber que os próximos serão iguais. Porque ninguém mais vai lá. Até que se morre, e depois só se sente o cheiro ao longe.

É saber que desaparecer é fácil. É simples. E, também é amor próprio, porque se ninguém mais vai lá, é porque nunca esteve. Assim nos abstemos do vazio desnecessário.

E, tudo se torna habitual. A rotina da solidão é movimentada na mente. Dá tempo para muitas vozes próprias, para os seus “eus”, suas questões, sua autoanálise e autoconhecimento.

Percebemos que podemos ser melhores e piores do que somos, mas sem muito saber o que fazer. E, assim vamos do melhor ao pior, mostramos o nosso céu e a nossa treva em instantes, porque tudo gira desconexo na mente, é um anjo tocando harpa, e um demônio espetando o tridente.

Não há paz, nem silêncio. Só dor.

A doença não é o problema. O problema é o que ela faz. E, ela faz tanta coisa, que eu não saberia nem explicar, porque nem toda a ciência ainda é capaz de explicar.

Mas, recebo com gratidão as boas escolhas que fiz no caminho.

Parar foi necessário, apesar de doloroso e triste. Ninguém quer se sentir inútil. E, descobri que não sou. Estar só foi o que me manteve viva. Nunca se sabe quando se deita com o inimigo, ou se senta ao lado dele.

Escolher pelo que lutar, foi manter viva a chama dos meus ideais e do amor próprio. E, buscar ajuda foi um dos meus maiores obstáculos, mas consegui algumas, em meio a essa estrada solitária.

Minha enorme e eterna gratidão aos bons profissionais que cruzei o caminho.

Amigos? Não, não falo de amigos, não. Isso eu deixo para outros carnavais.

Esses já se foram tem tempo. Pandemia foi só pretexto. Ninguém gosta de gente doente. E, isso é natural da vida. Com o tempo os amigos se vão mesmo. Acostumem-se. Nada de ser emocionado, meu povo.

“Nascemos sós, morremos sós”.

Amigo vem, amigo vai, mas no fim todos se vão. Lei natural da vida, da sabedoria e do discernimento.

Na doença não tem glamour. Ao mundo falta empatia.

Tem é um bando de gente que diz que “é espiritual”, outras que “é fingimento”, outras que “é pra chamar atenção”, tudo porque ninguém está vendo a dor.

Por isso, denomina-se doença invisível. Mas, tudo devoto de Tomé. Ou, de Judas mesmo.

Tem também os diretamente descontentes que chamam de “vagabunda”, mas não teriam aguentado nem metade da história de vida e dor na pele da “vagabunda”, os que se irritam, porque vão ter que dar um jeito de se livrar da doente, e “trocar por uma mais novinha que não dê defeito”, porque gente doente se torna inútil e desprezível, se não dá retorno, ou gera lucro e renda.

O escravo só serve ao Coronel, mas não paga o ouro dele. Escravo doente é escravo morto na senzala.

A doença não é uma só. Não é um remedinho que dá e passa. Até porque, olhem só que brinde: não posso tomar qualquer remedinho. E, o que posso, ainda é inacessível ao povo.

Lucros e tabus que alimentam muita renda concentrada. Pobre tem mesmo é que morrer, assim pensam, e legislam.

A doença mata aos poucos e dolorosamente. Ela mata sonhos, planos, desejos, humor, rotina, personalidade, sentimentos, dignidade etc. Quando você vê, não sabe quem é mais.

Estou no auge da depressão, há uns dias. Passei por situações de gatilhos, perdas de parentes que eram meu alicerce, noites e dias de pânico, anorexia nervosa, sem conseguir comer nada, devido ao pânico, ansiedade por não saber o que vai acontecer, pensamentos mil, busca de soluções de problemas práticos da vida, e dores.

Muitas dores.

Pois, os sintomas são múltiplos e diversos, dói o corpo todo, todos os órgãos, a cabeça, a mente, a doença é de origem neural, o que a torna mais complexa e difusa.

Mas, este não é um texto científico. É um desabafo, é um grito, um choro de dor e alívio. Alívio por finalmente descobrir o que tenho, e poder provar que não sou “louca”, e dor, porque ela é inevitável mesmo.

E, assim, vamos aprender a conviver: a dor, a solidão e eu. Espero que pelo menos a depressão vá embora, e dê um respiro, porque aí sobra mais espaço para gozar do que ainda resta de vida. E, há muita.

Eu ainda vou fotografar muita paisagem bonita por aí…

(Alessandra Capriles)

Entre espinhos…

Os espinhos secam, e nasce amor, porque só nasce amor, onde há amor…

De fato, a gente colhe o que planta, e em um momento de descrença, recebo essa surpresa… Acho que plantei bem…

Nunca vi nada mais belo, nos últimos tempos, e eu sou grata por, por mais que nem todos, e eu mesma, não vejamos, em tudo há alguma beleza…

Mesmo que cactus, uma beleza por entre espinhos, mas, às vezes, nem eles resistem, e secam… Nem as lágrimas os regam, o que regaria um sertão inteiro…

Porque o que há de colorir, o faz sem pedir, o faz sem sentir, ao mesmo que tanto o sente, e só pede que seja visto como belo, como amor…

Como algo que nasce em meio à guerra e ao ódio. Sentimentos que carregam a ignorância, onde faz morada, sim, a prepotência e o narcisismo.

Nasce uma flor, que morta foi replantada, e viveu.

Como sair viva de um campo de concentração abatido, mesmo que detido, rendido, foragido…

O que tem que nascer, nasce…

E, tudo o que for vida, cores por entre espinhos secos, há de viver…

(Alessandra Capriles)

O que se eleva, não morre.

E, se amanhã eu for
Não quero lágrimas
Pois nenhuma terá o sal
Do que se foi sentido.

Nenhuma terá o sentimento paralisante
Do que antes o fazia pulsar.

Não haverá uma lágrima que conte as dores do corpo.
Nem até onde chegou a alma.

Nenhuma lágrima terá sentido
Uma vez que nada se tenha sentido.
Uma vez que nada tenha sido tão latente
Quanto o fardo do que latejou o corpo…

Não falo de feridas da alma
Porque a alma se regenera aos atentos.
Nada sucumbe o espírito de quem se eleva…
Nem a morte…
Nem a sorte…
E, essas são as únicas certezas de quem vive e crê.

Penso na leveza do espírito livre
Sem mais o fardo do corpo limitante…

Os limites da carne são os ditadores da vida.
Não há como ser livre
Quando o corpo assim não o permite.

Dói carregar um corpo que pesa…
Mais do que o fardo de carregar um outro.
É o peso do espírito que carrega o seu.
E, ele pesa…

Cada vez mais, o corpo pesa.
E, ele esquenta, sua, lateja.
Dói…
Expurga o que adentra à boca.
Segura o que se deveria expelir.
E, dói.

Nenhuma ferida na alma doeu tanto quanto me dói o corpo.

Acho que meu espírito foi preparado para suportar as dores que fossem a seu encontro, como se fosse, de fato, livre.

Mas, não as que lhe incumbissem ao corpo.
Esse é fraco…
São somente ossos, pele e outros órgãos.
Uma flecha aos flancos
E, ali finda o corpo.

A alma e o espírito, não…
Quantas não foram as que lhes saltaram do arco ao peito.
E, a vida sempre continua…

O corpo morre.
Adoecer o corpo é startar um cronômetro.
E, as dores se multiplicam
Como pequenas bactérias
Que inflamam…
E, somente elas resistem
Após a morte do corpo…

Contamos o tempo
Sem saber a quem.
E, ele passa apressado.
Atravessa cada membro.
E, perpetua somente a dor…

A alma e o espírito, não…
Estão prontos…
Compreendem o que não compreende o corpo…
O que não se sabe.
E, talvez nunca saberá…

O corpo pesa.
A alma e o espírito, não…
Estão leves e prontos…
Só querem poder voar
Lá para onde existem outros…
Que também voam…
Livres…
Libertos…
Sãos.

Lá para onde se bastam.
E, onde eu acredito que haja amor.
Porque onde há liberdade
Deve haver amor.

Quero flutuar…

Mas, o corpo pesa.
Há uma âncora atada aos membros…
Cada um que constitui uma função…
E, não mais bem funcionam…

Órgãos e membros são como nós
Quando perdem suas funções:
Não servem mais.

De nada serve o que não mais serve…

E, a alma e o espírito o querem abandonar…

Até a alma e o espírito também o querem abandonar…

Mas, não julgo…

São os únicos que fazem bem ao corpo…
E, o servem uma vida inteira…
Mesmo aos corpos
Que não os dão função…

A caridade da alma e do espírito são a serventia da vida do corpo.

Até aos que não mais servem…
Até aos que não os têm.

Há quem morra o corpo, sem nada ter a elevar após o adeus…

Mas, há os que se elevam pela vida eterna…

Essa será a morada dos meus…

(Alessandra Capriles)

A canção continua.

Eu ainda não sei o que dizer… Estou em choque… Que dias estranhos, meu Deus… Que tempos estranhos…

Não sou de ídolos, mas tu, Marília, eras como uma amiga próxima, uma inspiração. Marcaste vários ciclos, dentro de um período. Tuas músicas iniciaram e encerraram muitos deles.

Tinha uma música para cada instante: uma para o início, uma para o enredo, uma para o fim, outra para o recomeço, e o que nos unia era a sofrência e a luta.

Os amigos que me apelidaram de “rainha da sofrência” em referência a ti, as canções que tocavam no bar onde eu trabalhava, e amigos sempre me chamavam para cantar. Levava bronca, mas sempre voltava a cantar com eles para aliviar um pouco do fardo da tal sofrência.

Unidas pela música, pelo sentimento, pela luta, pela sofrência, pela superação, pelo empoderamento, pelo feminismo, que é a minha mais verdadeira luta. Nossa. De todas nós. Obrigada por nos salvar.

Como nos acompanhamos, nessa pandemia… Como tu me acolheste, e enxugaste minhas lágrimas em um dos momentos mais difíceis da minha vida. E, foram tantos. Ninguém vai sofrer sozinho, todo mundo sofre, e vai sofrer. E, contigo foi, e para sempre será um enorme prazer.

Quantas vezes reassisti teus shows e lives, e cantei tuas músicas e letras que sei de cor… de coração.

Mana, fique em paz, ao lado dos bons. Que os teus aqui sejam guardados e protegidos pelo Pai e todos os Seus anjos.

Siga a trilha, e cante e encante em todos os cantos. Prossiga. Ganhaste um céu inteiro para ti, porque o mundo já era teu. A tua legião de fãs aumentou, e agora tens também os anjos.

Eu nunca esquecerei da tua existência. Tua simplicidade, brilho e carisma. O feminismo jamais esquecerá da tua importância na luta, e somos gratas. Somos todas muito gratas. Estamos juntas. Todas. Daqui até a eternidade.

Mais do que uma das maiores cantoras desse país sofrido, mais do que a rainha dessa massa sofrida, mulher, mãe, filha, menina… Uma grande mulher com alma e coração de menina.

O teu menino sentirá enorme orgulho da mãe e mulher que foste. Para sempre serás.

O paraíso é teu, mana. Descansa. Fica em paz. O teu legado aqui é enorme. A missão foi cumprida. 💪🏻

🕊️❤️

(Alessandra Capriles)

Sobre julgamentos e seus machismos. (Caso Mariana Ferrer e outros mais. Escrito em 05 de novembro de 2020.)

A sensação é incapacitante. Alguém aqui já esteve em situação de julgamento?

Pois, são apenas alguns segundos, mas o tempo de aceleração do peito, a descarga de adrenalina, o cérebro recebendo e processando todas as informações, tudo isso parece eterno, cada etapa de piscar de olhos.

Após esse primeiro instante inerte, vem a descarga da raiva com a adrenalina em alta, da revolta, o rosto contrai, a mandíbula treme, vem o soluço, o choro, e a desestabilização emocional foi concluída com sucesso. Pronto. O alvo foi abatido.

Quando exposta a uma situação de abuso, essas são algumas das possíveis sensações, levando-se em consideração que cada um reage de uma maneira, mas quando há um trauma por trás de tudo isso a desestabilização é ainda maior.

Na maioria das vezes, o autor do abuso/assédio escolhe a sua vítima, e ao menor sinal de vulnerabilidade ele se aproveita, sabendo exatamente em qual ponto tocar na ferida, e assim se dá a manipulação.

A nossa sociedade não vem somente de um berço machista e misógino, a nossa sociedade é de uma masculinidade tóxica, adoecida e com fortes traços sociopatas.

Homens são os maiores propagadores da violência, das guerras, da ambição pelo poder. Homens matam. Homens medem força pelo risco, mas também pela covardia.

Homens não gostam de mulheres. Esse é um fato. Homens gostam e admiram outros homens. Se perguntarem a um homem seus ídolos, ele citará referências masculinas estereotipadas, praticamente inatingíveis.

Se indagarem a eles o que buscam em mulheres, eles descreverão uma serviçal, ou sua mãe, vó, bisa, só que com a performance de uma atriz pornô de 18 anos, como as que compartilha nos videozinhos nos grupos do zap dos parças.

Mulheres são violentadas, diariamente. O machismo mata por omissão e submissão. O machismo não é coisa de gente mal instruída. O machismo tem formação, e muitas vezes até defende e ensina.

Uma mulher ser drogada, ter seu corpo violado, seu psicológico destruído por conta de mais do mesmo, em pleno século XXI?

A caça às bruxas nunca acabou, meus caros. Essa é a verdade. A imagem da mulher já nasce estigmatizada.

Não podemos ter como normal uma mulher não ter voz sobre si, sobre seu corpo, sobre suas decisões, sobre sua própria vida. Uma mulher ser humilhada diante de homens que se reuniram para decidir como seria julgada a situação que envolvia nada além do que o corpo de uma mulher, o qual pertence somente a ela.

Uma tortura psicológica de três homens abusivos predeterminados a culpabilizarem uma mulher por uma atitude de violência de um estuprador contra ela. Três homens invertendo e manipulando uma situação, provas, fatos e uma sentença em prol de somente livrar mais um playboy branco e “rico” de arcar com suas (ir)responsabilidades.

Isso não é normal. Essa sentença é de todas as mulheres. Essa sentença também é minha. Essa sentença é de todas nós mulheres que carregamos esse fardo que nos desempodera.

Como educadora por formação, acredito no amor e na educação como ferramentas de salvação. Mas, não se salva quem não segura a corda.

O homem que sai impune de seus crimes é o mesmo que volta a praticá-los. A impunidade empodera o criminoso. E, assim, alimentamos a criminalidade, a corrupção, a violência, a roubalheira, a mamata, o desequilíbrio, um poder misógino e a tragédia social em que vivemos, e por aí é só derrota…

Pois, não há como não sentir a súplica da voz de uma mulher por respeito, enquanto tem seu julgamento, além de sua vida e corpo, manipulado. Não há como não se sentir violada naquelas frases. Não há como não se sentir amordaçada. Não há como não sentir cada palavra como um murro na cara, e eu posso afirmar a vocês que um soco no meio da cara dói.

Quem leva um desses é capaz de guardar o barulho dos ossos da face quebrando para sempre na memória.

Em tempos pandêmicos, o que mais mata mulheres ainda é o machismo. E, já são milênios.

Até quando, meu Deus? É essa sociedade que o meu filho também terá que enfrentar? É vendo a impunidade ser aplaudida de pé por tipos boçais? É vendo a justiça perder seu martelo?

Eu não sei vocês, mas eu cansei de levar essa surra calada.

(Alessandra Capriles)

Sobre adultos e crianças. (Escrito em 28 de outubro de 2016.)

Penso que os adultos adoecem as crianças… e isso me preocupa, diretamente, pois creio também, em alguns momentos, pactuar com tal fato, com as minhas falhas humanas…

Quantas vezes não me questionei o quão boa mãe eu sou, ou o quanto eu busco ser… Tento encontrar fórmulas prontas em algum lugar que me sirva de inspiração, mas não encontro… É quando me lembro que, quando criança, o que eu mais queria era ver os meus pais felizes…

Quando eles brigavam, ou estavam tristes, eu não sentia raiva, ou julgava o quão bons ou maus eles eram… eu só pensava que queria vê-los sorrindo, como se já compreendesse que as emoções formam uma energia que contagia… Que as boas energias são o que interferem diretamente no meio e no humor das pessoas, de maneira que a harmonia predomine…

Sendo assim, será que a minha filha também só não busca ver as pessoas à sua volta felizes e vivendo em harmonia?

Pessoas felizes são mais seguras, e transmitem segurança… e as crianças só querem isso… bem como os adultos passam a vida buscando por tal amor e segurança em si… e nos outros…

Quando a minha filha recosta a cabeça no meu peito, e adormece, sinto a segurança e a paz que ela busca e encontra em mim… Ah, e como isso me contagia!

É quando aceito ser o quanto eu posso ser mãe, e esses sonhos embalados em meus braços são a minha melhor resposta…



(Alessandra Capriles)

Aos mestres com carinho.

Carrego na lembrança diversos bons professores. De todas as fases do ensino, sempre tiveram aqueles que fizeram toda a diferença.

No ensino fundamental, fui bolsista, do C.A. até a antiga oitava série, em uma tradicional escola de freiras, no Flamengo. De lá, carrego comigo quase todos. Foi uma fase bem complicada para mim, e muitos deles serviram-me como mães e pais, além de professores.

Eu não era aquilo que se pudesse chamar de aluna exemplar, mas sempre acabava tendo bons resultados, devido à paciência e o carinho que eu recebia de todos os profissionais da escola, principalmente, das freiras e da diretora, que também puxavam a minha orelha, quando necessário. E quase sempre era necessário.

No ensino médio, estudei em três escolas diferentes. Na primeira, em Botafogo, descobri-me professora. Não foi uma escolha, foi uma permuta por uma bolsa de estudos, que eu mesma, aos 14 anos, procurei a escola, e pedi diretamente ao diretor. Aula de manhã, monitoria pela tarde, e aulas particulares na parte da noite.

Lá, estudei por dois anos, porém ocorreram muitas mudanças e fatos adversos outros, foi tudo muito pesado para mim, e acabei repetindo o segundo ano.

Foi Deus. Na segunda escola, que ficava na Tijuca, conheci meus melhores amigos. E também, tive a oportunidade de vivenciar um aprendizado mais abrangente, e pude contar também com o apoio de todos os professores, funcionários, e a diretora, que era uma figura única e excêntrica. Diziam que eu era filha dela, e ela mesma um dia disse que eu era como uma filha para ela. Saudades. 殺

No ano seguinte, a escola foi vendida para um grupo de pré-vestibulares, e eis que virou a terceira escola na qual estudei.

Desta terceira escola, carrego três mestres especiais na lembrança: um professor de física, um de matemática e uma professora de literatura.

O que os três professores tinham em comum comigo? A poesia. Eu era péssima em física e matemática, e tinha déficit de atenção (além de ser meio autista). Passava horas escrevendo poesias, mas mesmo assim dava conta das provas, porque eu sempre estudava para elas, justamente para compensar a falta.

O professor percebeu que eu passava a aula inteira escrevendo algo que não era a matéria, quase psicografando, e foi ver o que eu fazia. Foi quando ele percebeu que era poesia, e então passou a versar a matéria, quando explicava para mim.

Foi quando a disciplina começou a prender a minha atenção, e eu conseguia compreender. Ele também era poeta, bem como o professor de matemática. Eles, além de poetas e colegas de trabalho, eram amigos.

E, assim passávamos os intervalos criando e recitando. Guardo até hoje os poemas que eles escreveram para mim, no dia do meu aniversário.

Já a professora de literatura, foi mais do que especial. Quase no final do ano, mostrei a ela o meu caderno de poesias, e meio sem jeito perguntei se ela poderia revisar para mim. O caderno já estava todo esculhambado, de tanto eu carregar de um lado para o outro, e arrancar folhas de rascunho, mas entreguei mesmo assim.

Pois, prontamente, ela não só o revisou, como mandou reencadernar, e me entregou dizendo que eu era uma poetisa.

Senti-me recebendo o meu primeiro livro das mãos de uma editora. Ela me proporcionou dois dos momentos mais felizes da minha adolescência. Esse foi o primeiro, e o segundo foi um concurso de poesias, que ocorreu na unidade de Piratininga, e eu fiquei em primeiro lugar, e ainda levei o segundo e o terceiro para dois colegas que não puderam ir.

A partir daquele ano, a poesia nunca mais saiu de dentro de mim.

No primeiro ano da faculdade, estudei em uma universidade em São José dos Campos. Lá, a poesia ganhou proporção, e eu fiz grandes amigos poetas para a vida toda, incluindo duas professoras e um professor muito querido. Ele dizia que eu era uma bruxa, e assim me chamava carinhosamente. Recebe meu carinho, bruxo! ️ Melhor festa da piscina, no temporal, da vida! Sem mais comentários.

De volta ao Rio de Janeiro, anos depois, retornei à faculdade, tranquei novamente, e destranquei mais alguns anos depois, após me tornar mãe.

Anos muito loucos. Só eu sei os perrengues que passei.

Graças a Deus, mais uma vez, pude contar com mestres maravilhosos. Esses, foram mais do que mestres. Foram grandes anos de aprendizado, conhecimento, autoconhecimento, amadurecimento, sem falar da grande oportunidade que tive de fazer o intercâmbio, em Portugal.

Ó, pá! E, lá na terrinha, mais uma vez, lá estavam os melhores mestres, e também escritores e poetas.

Ao longo da vida, tudo me foi mestre. Mas, nada teria sido tão correto sem eles em meu caminho.

Gratidão é a palavra. Sou grata a cada um de vocês por tudo o que fizeram por mim. Tudo o que sei, devo a vocês, professores, mestres, amigos e poetas.

Esse mundo não seria o mesmo sem vocês fazendo a diferença. Ensinando, aprendendo, trocando, compartilhando, acolhendo, e fazendo com que os olhos e o coração se abram para o conhecimento.

Nada seria sem vocês. Desejo a cada um o reconhecimento devido, muita saúde mental e paciência para aguentar o rojão, e amor. Porque nenhuma profissão carrega mais amor e humanidade do que ensinar. Transmitir o conhecimento é salvar vidas.

Obrigada por me salvarem!

Parabéns também aos colegas de formação. Parabéns a todos os que são mais do que professores: são educadores. Admiro cada um de vocês.

(Alessandra Capriles)

Quem está nas trincheiras ao teu lado?

Ao longo da vida, conheci muitas pessoas, porém fiz poucos amigos.

Nunca fui popular, até o ensino médio. De antes disso, não carrego um que eu bata no peito para dizer que o é. Abusivos, invejosos, interesseiros, maldosos, falsos. Muitos deles. Ao longo da vida, são muitos. Um ou outro, salvava, mas não vamos confundir amigos com colegas.

Quando ficava desempregada, todos os que me cercavam, iam embora. Somos máquinas, precisamos produzir.

No trabalho, então… Amigo? É cobra engolindo cobra.

Quando parei de sair, porque, no fundo, nunca gostei de aglomeração, mas ia pelas companhias, e pela falsa ilusão de diversão, aprendi que aquele amigão de night só quer o seu brio.

Quando percebiam que eu não curtia as suas ondas tortas de drogas, e toda aquela ilusão e fantasia que se esconde por detrás de um bando de desesperados por falsas alegrias, doidos de pó, doce, bala, lança etc, o livramento era sempre maior. Ninguém quer interferência nos seus esquemas.

Quando percebiam que eu não sou rica, e que não obteriam vantagem, nem lucro algum com aquela encenação, já cabiam em uma mão.

Quando percebiam que não teriam ali um estepe para sexo casual, corriam, e o alívio era absurdo.

Quando casei, a lista diminuiu ainda mais.

Quando sofri abuso e agressões, nem sabia com quem falar, sofri calada por muito tempo… Fui desacreditada por todos esses citados acima, que se foram, mas eu sabia que aqueles poucos não me dariam as costas.

Quando adoeci, então, o que fazer? Pobre, desempregada, traumatizada e doente? Quem quer se aproximar “dessa energia pesada”? Era “drama”. Era “carência”, Queria “chamar atenção”. Era “falta de Deus”. 🙄 Ah, mas também sempre surgem alguns oportunistas, nessa hora, ou os narcisistas, que se alimentam da sua fragilidade.

Neste momento da minha vida, pós desemprego, pós abusos e agressões, pós pandemia, pós Covid, pós divórcio, pós dívidas enormes, pós afastamento da família, pós processos judiciais, pós descoberta de mais de 7 doenças crônicas, muitas degenerativas e incapacitantes, pós outros problemas mais que cabem somente a mim e aos poucos que sei quem são, reafirmei quem o são.

Poucos são os de verdade. Os que te oferecem ajuda sem nada em troca, porque sabem que tu não tens nada a oferecer.

A esses poucos, minha eterna gratidão e carinho. Sei que não estou só. Desacreditada com o governo, a economia, a saúde, a sociedade, de modo geral, mas não estou só.

Amigo não é quem curte e aplaude a tua popularidade e as tuas selfies, e sim aquele que te acompanha a um exame, a uma consulta, que te carrega, que te ajuda, que te estende a mão, o ombro, o abraço, a palavra, que guarda as suas muitas dores para ir ao teu encontro, para oferecer uma ajuda.

Amigo de verdade não mede barreiras para estar ao teu lado.

Muito bonito ver um monte de amigos postando lindas homenagens aos “amigos”, que têm perdido, durante a pandemia, seja para o vírus, outras doenças, drogas, ou suicídio. Os mesmos amigos que só estavam ali para farrear, e obter algo em troca. Os mesmos que se drogavam e bebiam juntos, e amanheciam largados pelas calçadas.

Ah, mas era lindo, lúdico, é o carnaval! É a arte! É liberdade de expressão! Só que não.

Quando foi que ofereceram algum apoio, quando tais estavam apresentando os primeiros sinais de que algo não ia bem? Mas, drogas, sempre tem um para oferecer. É um meio “de muitos amigos”.

Não se iludam. Não me iludo. Se ninguém estiver para somar na vida de um outro alguém, suma.

Valorizem a si, e aos seus.

(Alessandra Capriles)

Sobre sucessos e trajetórias.

Não sei vocês, meus caros, mas eu fico muito feliz acompanhando o sucesso dos que bem alcançaram. Mas, para vocês, o que é ser bem sucedido?

Durante muito tempo, vivi na plena missão de o ser, e eu não media esforços, noites sem dormir, trabalhando pesado, quando a missão era o trabalho, estudando arduamente, quando a missão era o estudo, sendo coruja, quando a missão foi parir e ser mãe, depois, em vão, sendo esposa, e mais uma vez, buscando sempre ser a melhor em tudo.

Comecei a trabalhar cedo, como já relatei aqui, com 14 anos, sendo monitora na escola onde cursei os primeiros anos do ensino médio, em troca de bolsa de estudos, mesmo sem ter maturidade alguma, nem qualquer noção do que estava fazendo. Logo, estava dando aulas particulares para alguns alunos da própria monitoria, além de lavar as roupas do meu irmão, em troca de mais algum. O que era um ótimo negócio, pois ganhava 1 real por peça, algo bem rentável, à época, com o real equiparado ao dólar, e a inflação ainda não tão desesperadora, quanto hoje.

Não era fácil. Acordava às 5h, ia de bike, ou à pé, até Botafogo, para economizar na passagem. Entrava, às 7h na escola, depois a monitoria, das 13h às 17h, depois aula particular, das 18h às 21h, chegava em casa às 22h, dormia 0h, e, no dia seguinte, tudo de novo.

Fora os freelas mais doidos que eu arrumava, para poder tirar mais algum. Afinal, era eu quem comprava minhas roupas e calçados, além do que herdava das minhas irmãs.

Adolescência, vivi até essa idade. Com muitos traumas, bullyings, abusos, marcas na pele, e algumas outras na alma, sobrevivi.

Depois, quando completei 18 anos, aproveitei o que pude, mas durou pouco, pois logo casei. Um ano depois, mudamos de cidade, fomos para São José dos Campos, onde vivia a família dele, e também entrei, pela primeira vez, na faculdade. Estagiei um tempinho em uma editora, e vivi alguns dos melhores anos da minha vida, naquela cidade. Conheci pessoas que levarei para o resto da vida no peito, alguns como família, outros como grandes amigos.

Lá, era querida por professores e colegas, e fui uma das percursoras da poesia e da arte, junto a um grupo seleto e lindo de pessoas iluminadas pela alegria e talento, que habitavam aquele lugar. Era tudo tão lúdico sob o meu olhar.

Pois, a vida decidiu que eu deveria seguir outros caminhos, e, assim, após 1 ano, voltei para o Rio, onde trabalhei em uma associação cultural, na qual o talento era a chave do negócio.

Virando-me nos 30, fazia de tudo. Atendia ligações, resolvia problemas que os clientes só queriam resolver comigo, embora não fosse a minha função, ia a bancos, realizava depósitos, pagamentos, fazia compras, planilhas, cadastros, fechava acordos de parceria, isso tudo com a Pincher Laika, mascote da associação, no meu colo, porque ela achava que era a minha dona. O melhor de tudo era a macarronada com almôndegas e o pudim que rolavam, preparados pela secretária da associação.

Mais alguns meses, fui para a Bolívia com meu pai, e, em Cochabamba, vivi uma das temporadas mais inusitadas da minha vida. Enfrentei a altitude bravamente, após alguns nocautes, com direito a desmaios no meio da rua e tudo, mas sobrevivi. Namorei um brasileiro, lá, e, tempos depois, já de volta ao Rio, fui pedida em noivado por ele, mas a vida tem disso de nos colocar à prova, e o meu “não” me levou a outros caminhos mais.

Assim, trabalhei na administração de um condomínio, na Lapa, depois em uma famosa academia 24h, no Flamengo, onde muitas vezes eu dobrava, e até triplicava a minha escala, pegando o horário das meninas que queriam folgar, sempre buscando ganhar mais um pouco. Cheguei a fazer 24h, direto, quando uma das gerentes me proibiu, pois eu estava adoecendo com frequência, e indo trabalhar mesmo naquelas condições.

Depois, fui parar no comércio varejista, e foi onde a minha saúde começou a ser posta à prova, novamente, e ser o estopim do meu limite. Dobrava quase todos os dias. Batia todas as metas, ou quase todas. Para mim, vender era uma compulsão. O que me resultou em uma anorexia nervosa, uma pneumonia, diversas crises alérgicas, um princípio de infarto, e, por fim, descobri a epilepsia, após ser demitida por ter engravidado, durante o período de experiência, na loja onde fui promovida a gerente, e logo iria assumir. Pois… O comércio é cruel.

Mais uma vez, tranquei a faculdade, fiquei desempregada, e passei nove meses convulsionando, em uma gravidez de risco, devido à descoberta recente da epilepsia, sem plano de saúde, e sem apoio algum do genitor. Item da lista de maternidade que, a mim, foi bem desnecessário.

Pari, após quase 24h de trabalho de parto, que resultou em uma cesária de emergência, e mais uma semana de internação, com febre de 42º, devido ao surgimento de 5 cistos na lombar, que me impediam de deitar, e assim maratonei todo o trabalho de parto em pé, alternando com girar em uma boa de Pilates, no intento de aliviar as contrações. Sobrevivemos. Graças!

Depois, voltamos ao comércio, algumas lojas, à faculdade, vida materna, noites de insônia em busca do C.R. perfeito, o tão sonhado intercâmbio, o retorno inevitável, o primeiro tiro no escuro no empreendedorismo, com uma doceria artesanal, e, de volta ao varejo, mais insônia, formatura, o convite para concorrer a uma bolsa de mestrado, pela Universidade do Porto, a recusa sofrida… e os planos do tão almejado “sucesso”, para mim, fracassaram ali.

Fui eu, então, mais uma vez, incansavelmente, partir para o plano B. Decidi que queria montar um restaurante/ bar com cara de espaço cultural, onde a arte pudesse ir dos olhos aos ouvidos até o estômago, e decidi aprender tudo do zero.

Assim, aventurei mais uma vez a minha saúde em uma jornada de mais de 12h diárias, carregando mesas, cadeiras, engradados, varrendo calçada, atendendo muitas vezes a 15 mesas lotadas sozinha, embaixo de chuva e vento, lutando com baratas voadoras, lavando banheiro, desentupindo vaso, tendo que ir chorar escondida no banheiro, pois eu não queria demonstrar fragilidade alguma, afinal, era eu em meio a 20 homens realizando o mesmo trabalho, ou até mais que eles. Tudo isso, ligada no 220V, com uma garrafa de 2L de energético e mais analgésicos para dor e enxaqueca, por noite. Não foi fácil.

Mas, no final do expediente, o grupo comia a pizza mais deliciosa que existe no mundo, para mim. Além dos dias que antecediam as folgas, que comemorávamos no bar da esquina, e éramos alvo dos olhares de julgamento de transeuntes que não entendiam o que faziam aquelas pessoas em um bar, às 7h da manhã. “Bando de vagabundos!”… Mas, da missa, não sabiam a metade.

Pois, daí, pela segunda vez, veio o casamento. Desta vez, de papel passado, e tempos depois logo amassado. Mas, vamos pular essa parte triste da história. Estamos aqui para falar de sucesso.

Daquele bar, fiz contatos, e logo fui trabalhar com chopp artesanal, em uma jornada bem mais branda e leve, apesar dos barris de chopp de 50L. Passei ainda uns meses alternando a cervejaria com o outro bar, mas a saúde, mais uma vez, fez a sua escolha por mim, e optei pelo que ela me suplicou. Logo, de atendente nos quiosques da cervejaria, fui promovida a gerente em um Truck da mesma empresa, mas também assim não quis o destino, e a intolerância alimentar, devido ao trigo e à cevada, agravou a minha enxaqueca, com mais outros fatores, e a escolha foi feita, junto ao triste fechamento de uma das lojas da empresa.

Demissão, depressão, chikungunya, o fim da lua de mel do casamento, e após uma tentativa frustrada, porém certeira, de ir para os EUA, voltamos ao empreendedorismo.

Pensei eu: é a hora de concretizar o sonho. Assim, idealizei toda a hamburgueria que abri com o dito e seus amigos. A ideia, a criação da marca, da logo, do cardápio, do tipo de serviço, do marketing, e tudo o mais teve a minha identidade e personalidade. Idealizei um serviço de primeira, a preços democráticos, e compartilhei o sonho com os 3 sócios, que aprovaram a ideia. Porém, os ideais, as idéias e os valores não bateram, e assim o sonho do hambúrguer perfeito ficou só na carne moída mesmo.

E, lá veio a depressão, novamente. Desta vez, junto às dívidas. Aos 34 anos, tive meu nome sujo pela primeira vez, o que me fez tirar da cartola o plano C, e voltei aos bares. Desta vez, como supervisora em um restaurante japonês, na mesma região onde trabalhava, e conhecia a todos. Pois, não bastasse um, arrumei dois empregos, e alternava a rotina do restaurante com a representação comercial dos produtos de uma importadora do ramo alimentício, e não era nada moleza a jornada, que ainda era conciliada com a vida pessoal atribulada, e, novamente, a pneumonia me tirou de cena.

De volta ao empreendedorismo parte 3, voltei com os doces artesanais, desta vez, focando nos brownies.

Deus é tão bom, que logo eu criei outra marca, logomarca, estratégia de vendas, marketing, aprimorei a receita, e parti para as ruas, de bar em bar, nos mesmos em que trabalhei, e mais os vizinhos, pois era conhecida por todos, e assim a minha ideia foi abraçada, e logo estava com pontos de venda fixos, além de clientes fiéis.

Conheci empresários que achavam o meu marketing e produto brilhantes, fiz contatos, parceiros, a clientela aumentava, e as vendas também, e aquela rotina de compras no Saara, Central e supermercado, cozinha, depois sair equilibrando 3 sacolas pesadas, com mais de 50 brownies, embalagens e kits presente, em uma bike do Itaú, da Glória até Botafogo, ida e volta, e percorrer horas com as sacolas nos ombros, sozinha, vendendo de bar em bar, com a permissão de muitos para poder vender no interior dos seus estabelecimentos, tornou-se o meu ganha pão, e assim conseguia pagar parte das dívidas e contas.

Pois, daí, a violência doméstica tentou me tirar de cena, mas mesmo com o nariz fraturado, e outros mais, seguia a rotina. Eu tinha que focar na solução, e assim tirava forças de onde não mais tinha, e seguia.

Separação, mais agressão, mais abusos, pandemia, pausa forçada nos negócios, Covid-19, divórcio, tentativa de feminicídio, intolerância alimentar grave, e, assim, pela primeira vez, fui investigar o que paralisava o meu corpo, e lutava com a minha mente.

E, a cada exame, uma descoberta. Essa jornada desenfreada rumo aos 37 anos não foi nada glamourosa, mas eu ainda almejava o sucesso. Eu precisava ser bem sucedida para a sociedade e para a minha família. Eu tinha a necessidade de passar de um estorvo fracassado a uma pessoa de sucesso, mas, às vezes, a vida nos coloca para parar, e refletir.

Bicho, que ironia… intolerância e alergia alimentar a todos os ingredientes da minha receita de sucesso. Chamo de ironia, mas, muitas vezes choro por tamanha putaria. Desculpem o linguajar, mas acho até que fui branda no termo. Quantas vezes esbravejei com ódio dos pobres dos brownies. Mas, só eu sei o que passei com eles. Na minha mente, a culpa era deles a coincidência da vida ter me dado algumas rasteiras, enquanto me arriscava. Mas, vamos jogar o jogo do contente, e ver pelo prisma do livramento de certas situações.

Hoje, vejo as pessoas bem sucedidas, e sigo pensando como sempre pensei: caramba, que bacana! Eu fico feliz em ver as pessoas enaltecendo suas conquistas. Tenho inúmeras pessoas que admiro por tais feitos, e elas nem imaginam. Amo ver meus amigos empreendedores dando um passo à frente, crescendo, superando as adversidades, mas sabem o que mais aprecio nas conquistas? A saúde.

Pois, analisando a minha trajetória de “insucesso”, vejo o quão bem sucedida ela foi, embora minha saúde tenha sido a moeda de troca. Era maravilhosa a minha energia e a força de vontade que eu tinha, para compensar as minhas outras inúmeras dificuldades. Eu nunca tive medo do trabalho árduo. Não tive a mesma sorte de ter um trabalho arranjado, ou investimento para alcançar o “sucesso”, nem a base necessária para se chegar a tal, mas tudo o que foi vivido me transformou em quem eu, de fato, sou. E, eu descobri que sou uma pessoa maravilhosa, única, e mais forte do que sempre imaginei que fosse, ou pudesse ser.

Ah, meus caros, posso dizer, hoje, com mais de não sei quantas doenças crônicas, mais um problema ainda sendo investigado, passando dias e noites tendo crises, sem saber se vou acordar bem, ou mal, com receio de uma nova internação e cirurgia, com receio de que tentem me matar, novamente, endividada, sem renda, sem um tostão no bolso, com diversos conflitos maternos e familiares, enfrentando mais de 3 processos judiciais, lutando pela minha vida, e sem saber do futuro, literalmente, que fui e sou, sim, bem sucedida.

O meu sucesso mora na lembrança dos alunos sendo aprovados em escolas disputadas, nos clientes satisfeitos com suas compras, e voltando à loja, nas metas batidas, no primeiro choro do meu bebê, no quão lindo era e é o seu sorriso, nas notas altas, no tão sonhado intercâmbio, nas noites e madrugadas de trabalho árduo, nos bons amigos que fiz, nos poucos e maravilhosos que se mantiveram ao meu lado, nos filhotes que resgatei, e me dão todo o amor do mundo, nas minhas boas ideias e realizações, e, hoje, vivo esse momento mágico de amor próprio, e cuidando de mim.

Pois, se a minha jornada não é de sucesso, eu, definitivamente, não sei o que é o sucesso, ou não entendo, ou o percebi de maneira diferente, com o passar dos anos. O sucesso sempre esteve ao meu lado, nas minhas ações, nas minhas ideias, na minha mente, e, principalmente, no meu caráter. Sucesso sem saúde e sem caráter não é sucesso. A boa sorte é de quem realiza uma trajetória limpa, e, nesse jogo, I’m Winner! Como dizem nos games.

E, a saúde, essa é a peça chave para qualquer boa sorte no sucesso. Acho que a pandemia nos trouxe lições bem marcantes. Vivemos um momento histórico e decisivo em nossas vidas, de maneira geral. Nessa trajetória pandêmica, perdemos vidas. Muitas. Milhares. Ficamos a mercê de pessoas ditas preparadas e bem sucedidas, querendo fazer o seu sucesso pessoal e político a qualquer preço, mesmo que às custas de outras vidas, e isso é triste e lamentável.

Sucesso para mim é ter saúde de qualidade, comida saudável no prato, uma casa, um lar, uma família de verdade, um bom amigo fiel, ser uma pessoa de caráter, e saber olhar às necessidades do próximo. Sucesso é fazer a sua jornada sem uma fita métrica ou calculadora, medindo, comparando e gananciando. Sucesso é colocar amor nas atitudes e em si.

Aos que me vêem, mas não enxergam, canto aqui o meu sucesso. A minha trajetória conta a minha história, e eu não faria nada diferente para alcançar um status diferente do qual me encontro. A simplicidade abriga a felicidade. Para mim, conseguir fazer um passeio de bike com as pessoas que amo, sem passar mal, são o ápice da felicidade.

Só sinto falta mesmo da saúde. Não há romantização nenhuma no meu relato, embora assim pareça, é um breve relato de vida, superação e extrapolação de limites, e não um conto de fadas.

Não trago aqui um final feliz, pois a trajetória não chegou ao final, porém não sabemos da duração da pausa do corpo, e nas atividades laborais, mas estou respeitando, e com muita fé de que tudo vai dar certo. Deus, santos, anjos, entidades e todos os orixás estão comigo nessa trajetória. E, que trajetória, irmãos…

Não trocaria o meu pensamento atual, e em quem ele me transformou, nem por um milhão. Ser quem eu sou, e dar voz a isso, esse é o meu maior sucesso.

(Alessandra Capriles)

Sobre isolamento e solidões…

Quantos são os que se sentem sós em suas solidões… As mais distintas carências tomam os dias isolados… Em cada cárcere, alguma ausência, algumas faltas, algumas sobras, a incompletude é o primeiro susto da solidão…

Uns sentem a falta da rotina, outros da liberdade, do ir e vir, das pessoas, de seus ofícios, de seus lazeres… Outros dos benefícios, da diversão, de seus prazeres, de seus vícios, de seus atos ilícitos, de seus desatinos…

Não importa o quê e a quem, alguma falta no isolamento se fez… Exceto aos alheios, que já vivem sós em multidões e suas próprias solidões e ilusões…

Posso caminhar ao lado dos isolados, porém com certo distanciamento, sob a perspectiva de que já o vivia…

Distanciamento social pode parecer ser uma prática complicada para um geminiano, e, de fato, para a maioria o é… É uma peleja constante entre a completude e a falta, tanto que o símbolo do signo são duas pessoas juntas e iguais, simbolizando a dualidade de personas e o duelo entre si mesma… Pois… aqui em casa, somos dois membros do mesmo zodíaco, e nada tem sido fácil: transições de fases, descobertas, redescobertas… Gerações e percepções em peleja constante entre si e com seus vários outros “eus”…

Porém, hoje, vivo e convivo muito melhor com meus ideais e a pessoa que sou… Independente de estar, ou não, saudável, estar, ou não, conseguindo manter uma renda, podendo concretizar, ou não, projetos… Enfim… Posso não ser bem vista pela economia do país, pois entrei para a lista dos que a previdência quer descartar, mas sinto que tudo o que vivi e vivo moldam melhor meus ideais e o respeito e a relação comigo… A solidão trouxe uma atenção minha que faltava a mim…

Pois… Eu gosto da solidão… Ela me cura, e me faz bem… Sinto a paz necessária, que muitas companhias jamais me trouxeram… Gosto de estar comigo… É quando mais consigo ser eu, pois percebo que absorvo demais do meio e dos outros, e isso é extremamente prejudicial para ambas partes… O ambiente absorve e transmite as energias, se não podemos circular, a energia muitas vezes também não circula, e se torna paralisante ao corpo e à mente… Movimento gera movimento em todo o cosmos…

Gosto de estar comigo… Gosto de quando me conecto comigo, e com o que me faz bem… Gosto de andar de bicicleta, de ouvir uma boa música, fazer uma boa comida, beber um bom vinho, ver um bom filme, aquela série que ninguém mais quer ver, desfolhar um livro esquecido na estante, escrever os próprios pensamentos, organizar a casa, a casa se manter organizada, ou mesmo não fazer nada, olhar o céu, e relaxar deitada na rede… Nem tudo faço, ou posso, mas é do que gosto…

Como mãe, gosto de estar com meus filhos, e sermos somente nós… Mesmo nunca tendo sido somente nós… Para mim, é como se o mundo bastasse… Viveria assim para o resto da vida, ou até que batessem suas asas ao mundo… E sabemos o como o mundo pode ser cruel…

Sou uma pessoa que se acostumou à solidão… Mais estive com ela do que com qualquer outra companhia, mas também sinto algumas faltas…

Sinto falta do bom diálogo, de poder ver os semblantes das pessoas, do abraço sincero, do companheirismo, das palavras amigas, das presenças que preenchem até quando em silêncio, das gargalhadas com alegria, das pessoas de caráter, da verdade, de gente honesta, de bons candidatos, dos que mantêm seus princípios, das purezas das almas, das boas influências, dos que se mantiveram em isolamento, dos que também se indignam, porque sentem, e também gritam com voz de razão… Não se calam, porque o silêncio fomenta o medo e a injustiça…

Sinto falta também da minha saúde amiga… Essa é a mais sentida, e junto com ela me traz a falta do cuidado e do olhar alheio… Do olhar fraterno e sincero… No mais, a solidão é o melhor remédio para o que mais adoece do que cura… A solidão também nos cura…

Findado o isolamento, algumas solidões permanecerão… A daqueles que perderam vidas… Aqueles que conviverão com somente memórias, e não terão seus tão aguardados reencontros…

Para nem todos tudo será festa e carnaval… Para muitos, a terça deu lugar à quarta-feira… A folia virou luto…

Para esses, o isolamento trouxe a solidão mais sentida…

Pois… Quem sente sofre… E o sofrimento é o que distancia as solidões e as pessoas… Ninguém quer sofrer, ninguém quer sentir, ninguém quer unir a sua solidão ao sofrimento… Ninguém quer esse casamento… E, como é difícil sentir sozinho… Só quem tem a solidão sentida como companheira sabe a sua mensura no sofrimento…

A pandemia veio para revelar, não para mudar pessoas…

Pois, por isso, para muitos, o isolamento trouxe uma solidão próxima a muitos, porém nunca visitada: o convívio consigo… Diversos são os que não suportam esse convívio… Tais pessoas mais precisam de companhia, do que sentem falta…

Ter a solidão como amiga é uma prática milenar dos grandes sábios eremitas…

A solidão nos ensina a nos preenchermos com nós mesmos… Com nossos sentimentos, nossa essência… Os nossos filtros em relação às pessoas e aos lugares se tornam mais sábios… E, quando assim nos bastamos, tornamos-nos melhores companhias aos outros, que também partilham da mesma simplicidade…

A reinvenção e o novo normal verdadeiros nada têm a ver com a economia, o empreendedorismo, ou a tecnologia… Sob um olhar romântico, a real essência tem a ver com a evolução Humana… A relação do Homem consigo mesmo… O quanto de nós interfere no meio e na vida dos outros, emocionalmente falando, e o que podemos fazer para mudar e fortalecer isso, doando um mínimo de si…

Mas, o mais importante é refletirmos: somos o que queremos para o mundo? O nosso eu verdadeiro é o mesmo “eu” que buscamos fora de nós? Buscamos laços, ou nós? Com que olhos enxergamos o outro na nossa vida e o seu real valor? Será que fazemos pelos outros o mesmo que faríamos por nós?

Que a solidão nos seja amiga, mãe, irmã, e não madrasta…

(Alessandra Capriles)

Por que tão dura?

É como um abraço que a vida dá
A quem pouco aprendeu sobre abraço…

Mas, a própria vida quem nos tira os abraços
E ensina que é na dureza que se erguem alicerces…

E, para que tantos
Se é na malemolência dessa luz que se aprende o abraço?

É por entre frestas a morada do sorriso que nos aquece a vida…
A própria vida criada na dureza
Pureza vital desbravada a cada dia
Destronada de seu próprio palácio
E como se ensina o abraço
Se só se fez vida no chicote e no laço?

Como se algum dia dela fosse fácil…

E, assim parece por entre redes
Lentes de quem vê nada além da reprodução
De quem contempla a vista somente pelo retrato

Porém não a mesma paisagem…

Há vida por detrás das lentes do retrato
E dói…

Não são os mesmos olhos que enxergam
Nem o mesmo horizonte…

Uns vêem o planeta redondo
Outros, uma caixa…

O que nos proporciona a existência
Não é a mesma fé
Mas é o mesmo Deus…
Ou deuses… Anjos…

Pequenos feixes de luz
Que retratam a esperança à vida
O abraço à tristeza
Por serem as nuvens nada doces
Além de destempero dos dias…

Que marcham na mesma dureza do sentido
Embora nada o faça…

Mas, raia a alegria
Mesmo que por entre pequenas brechas
Todos os dias…

E, ganham raízes nos céus os seus raios
Que brotam como galhos… braços
Um colo divino
Em solo de mãe terra…

Mesmo que duro
Mesmo que árido
Mesmo sem afago
Todo dia é o bom dia que ensina
E quem matura a vida…

E, aos poucos, o calor devolve a leveza
Deixada na estrada ao longo dos espinhos…

Caminhos vingados em seu próprio deserto…

Mas, ainda nasce acalanto e alguma gentileza
Nasce um dia inteiro para quem se permite contemplar…

Sentir na alma o afago
Mesmo que somente almejo
E nunca, de fato…

(Alessandra Capriles)

A natureza nascente…

Na natureza moram a arte, a vida, as mãos de Deus…

Habita uma obra inteira… e várias outras em seus detalhes…

Há uma palavra, um grito, um livro… o mundo em uma paisagem… e tantos outros…

Coabitamos suas linhas e contornos, curvas e desalinhos…

A natureza se despe, reluz, nasce, floresce, procria sinfonias ninhos, galhos, céus e cantos…

Ah, seus encantos… Tantos tons, nuances, poemas, acordes…

Cada sopro de brisa, um afago… Raios de sol abraçam… Ondas quebram à beira dos males… Na alma, no corpo e na mente…

O simples é belo, envolvente, fascinante… Só não é simples…

A complexidade habita o sentir, desvendar com os sentidos, ao tato anímico, e não aos olhos…

A natureza basta… Nós somos apenas meras consequências…

(Alessandra Capriles)

A natureza nascente…

Sobre crianças e aprendizado. (Escrito em 16 de março de 2015)

Crianças precisam de diversão, de inspiração, de distração, de momentos de lazer, de atividades que ativem a sua criatividade e despertem o seu interesse pelo aprendizado. Crianças precisam de amor e atenção!

O mundo das crianças é muito mais vasto do que uma sala de aula, do que um ensino tradicional, do que barreiras que limitam o seu modo de ser, agir e pensar, e não respeitam o tempo de aprendizado diferenciado particular inerente a cada uma.

O mundo das crianças é lúdico, e tentar impor a elas algo que não é reconhecido pela sua percepção e ideia de mundo causa estranhamento, repulsa, e pode gerar traumas que futuramente se tornarão empecilhos no desenvolvimento do seu aprendizado e em sua vida social e profissional.

Algo a se pensar, antes de tomar atitudes que podem gerar danos irreversíveis a seres tão especiais, dotados de grande sensibilidade, potencial, inteligência, capacidade e habilidades a serem estimuladas e desenvolvidas.

Crianças devem ser crianças, e essa fase é um processo que deve ser respeitado.

(Alessandra Capriles)

Junto ao Povo.

Sei que parece utópico, nos tempos atuais, mas precisamos manter a fé junto à luta. Cada um sabe o peso da sua.

Infelizmente, o país está assim. A crise vai além da pandemia, e ainda sem hora para acabar… Não, gente, não vai acabar com a vacina. Estamos todos como fantoches na mão de bando de títeres palhaços, que fazem do governo um picadeiro. Qual a solução? Lutar sozinho é uma batalha cansativa demais…

Ou o povo toma uma providência, ou continuaremos todos como meros coadjuvantes subempregados pela elite dominante.

Emprego? Existe, porém escasso e quase escravo.

Salário? A conta não fecha.

Saúde física e mental? Isso é luxo pra pobre. O que o vírus não tá matando, estão privatizando.

Segurança? Aqui é terra de ninguém. Estão matando os bons. Cada dia, uma batalha…

Associação ao tráfico é coisa do passado, carreira boa agora é na milícia…

Fé? Em qual Deus? Porque, agora, até a fé tá nos matando. Até Deus já estão associando.

E, assim, seguimos sei lá pra onde, sei lá qual rumo…

À espera de vacina, à espera de saúde, à espera de segurança, à espera de oportunidades, à espera de dignidade, à espera de um milagre.

Mas, os milagres só acontecem na fé deles, e para quem pode pagar.

Pagamos todos. O preço do descaso, do abandono, da sorte que nos dão. E, seguimos… Até que alguma boa sorte nos alcance o caminho, ou a estrada acabe.

A escolha nunca foi nossa. Essa é a ilusão imposta pela sociedade capitalista da produtividade.

A escravidão nunca acabou, ela só não escolhe mais raça… Nem gênero… Nem classe… Somos todos filhos de um mesmo berço, embalados pelo patriarcado estrutural e corrupto.

Mas, siga… O mundo não nos é otimista, mas precisamos ser.

A luz vem do povo. Da razão da voz que clama. Vem do alto. Vem de dentro. Vem da sede da justiça que nos move. Vem de braços dados, de mãos dadas e entrelaçadas. Vem da luta, da caminhada, da estrada que nos leva à vitória, à liberdade…

A luz vem. Basta abrirmos nossas portas e janelas, e clamarmos. Nossa voz chegará ao infinito. O ar que nos falta, chegará. Ninguém mais irá sufocar e sucumbir ao descaso. Não mais.

A luz chegará, meu povo. De braços abertos, nos chegará. 🙌🏻❤️

(Alessandra Capriles)

Feliz Aniversário, menino Jesus! (Escrito em 2019)

Desejo para o teu próximo ciclo que os teus seguidores sejam mais tolerantes e mais cristãos para com o próximo, que tu sejas menos citado em vão, ou menos lembrado em somente situações de desespero, pois sabemos o quão não é legal sermos lembrados somente quando precisam.

Desejo também que o espírito, de fato, seja santo, e que também não te culpem quando as coisas não saírem conforme tramad… ops… planejadas. Assumamos todos os próprios erros.

Desejo também que parem de se candidatar à política usando teu nome. Já não basta a biografia póstuma que criaram de ti. Depois disso, todo mundo quer tentar ser mito também.

E, não podemos esquecer de teus pais: Maria, José e Deus. Um viva à família tradicional israelita, ou judaica, tanto faz, não vamos falar, agora, de política. Pois, afinal, nasceste na manjedoura, e não na chocadeira.

Maria foi uma tremenda guerreira: mulher, mãe, trabalhadora, dona-de-casa, e ainda tentaram tirar sua feminilidade, romantizando e deturpando a história da que esteve ali ao teu lado, até o fim, sendo que sabemos como se faz filho, e é melhor a cartilha e os pais ensinarem, do que saírem por aí achando que todo filho parido é obra do Divino.

José também, cara maneiro. Trabalhou duro na carpintaria, e não largou a mulher, em momento algum, nem quando tentaram dizer que tu eras filho de outro (com todo respeito, Sr. Espírito Santo), e ainda aceitou dividir a responsa da paternidade com Deus, mesmo sabendo que perderia algum mérito na História, e quem diria um carpinteiro fazer o parto do próprio filho, no meio do nada, e sem nem ter estudado medicina. Quase Deus.

E, falando n’Ele, o Criador de tudo: Deus, deuses, cosmos, Jah, Alá, e Oxalá a todos! Tu és o cara! Preciso nem dizer, né, afinal Tu és o cara que tens o nome que fala por Ti. Pois, quem nunca entrou de penetra em algum lugar, ou mamata, dizendo ser filho Teu? Né, non?

Que o Natal seja lembrado sempre como renascimento, e uma chance de sermos melhores, e não como uma pausa no tempo, ou fuga da realidade através dos mitos, ou mentiras. Que, de fato, Cristo possa servir como exemplo de Homem a ser seguido.

Amém! 🙏🏻

E, segue o baile…

Acabo de saber que meu médico da família adoeceu. Problema renal. Foi o que soube.

Em pouco tempo, vários amigos e conhecidos da área da saúde, da linha de frente, ou não, adoeceram.

Nossos médicos estão ficando doentes. Eles também são humanos. Gente como a gente. Não tem classe, não tem cor, não tem gênero, não tem nacionalidade. Não tem nada. A pandemia adoeceu o mundo todo.

E, quando falo de pandemia, não a resumo só ao Covid. O estresse está matando, a pressão, a ansiedade, o pânico, a depressão, as incertezas. O que a doença não está matando, pessoas estão. O corpo todo grita. Pessoas saudáveis estão adoecendo, e não há atleta que aguente.

É a mesma tecla batida: falta estrutura, faltam medicamentos, suprimentos, equipamentos básicos, verba, gestão, Governo. Falta tudo. Principalmente, ética e bom senso.

Enquanto nossos profissionais da saúde adoecem, e cada vez mais pacientes morrem, nesse desgoverno, o nosso Chefe de Estado está de picuinha por vacina, e desmontando todo o SUS. Agora, a bola da vez é a saúde mental.

Esse senhor perdeu qualquer juízo. A sanidade mental deste senhor já é abalada, e ele ainda quer interferir na alheia. Vocês sabem quantos pacientes psiquiátricos e profissionais temos? O que será feito deles? E o risco e a responsabilidade social por detrás desse crime?

Logo, teremos mais doentes no mundo sem tratamento, sem esperança, sem qualquer vestígio social de qualidade de vida. Teremos mais mortes por suicídio, assassinatos, população de rua, viciados em drogas, e o que será dos profissionais da área?

Por consequência, teremos famílias sobrecarregadas, desestruturadas, outras doenças se manifestarão, faltará mão de obra, aumentará o desemprego, a pobreza, a economia quebrará, e não haverá auxílio emergencial que dê jeito, até porque já não mais haverá auxílio, dentro em breve.

É o caos instaurado, e a culpa será exclusiva da pandemia, porque filho feio não tem pai. E, mais uma vez, veremos na história órfãos de um governo homicida, que usa da crise para colocar em prática seu plano sórdido. É isso, meus queridos, a crise é um plano. Um projeto. O desmanche do SUS, a crise na saúde, na educação, nos serviços básicos, na água, e por aí vai projeto em cima de projeto, no sistema público. Enquanto isso, as empresas privadas já estouraram o milho pra pipoca, e sentaram na poltrona com seus baldes.

A corrupção está matando mais do que o vírus. Enquanto o povo se aglomera em valas, a realeza adorna seus jazigos particulares com ouro. Porque já não cabe mais nas calças, nem nos bancos.

(Alessandra Capriles)

Pausa.

Quando doer, descansa
Mas não pare de caminhar…

Nos passos andantes da estrada
Repousa teus passos onde erguer a brisa
Onde teus receios descansem
Em um conforto qualquer
Todavia sem mentiras

Que o peito que acolha seja sincero
Tenha o afeto da cura
E todo medo da entrega seja compartilhado
Porque a vida não resiste se a dor perdura

Que cada palavra seja anjo… afago…
Seja um prato a quem na estrada estiver faminto
Seja água a quem a sede sufoca
Seja amor
Não permita o ódio
Porque dor e ódio também matam

Siga a estrada, e mesmo que haja tropeços, siga
Porque adiante é que se caminha
Não veja a distância
Veja teus passos
E se cair, descanse
Porque a estrada encurta, quando a mente desliga…

(Alessandra Capriles)

Sobre vilões e mocinhos.

A sociedade carrega o peso do estigma de seu próprio nome. O colapso mundial é o reflexo dos tempos apocalípticos que viemos, nós humanos, desenvolvendo, ao longo da gênese.

Essa reflexão serve como base para a análise da nossa existência e coexistência social de maneira ampla, que reflete diretamente na situação pandêmica que vivemos.

A sociedade está sempre dividida em, no mínimo, dois lados: ricos e pobres, direita e esquerda, mocinhos e vilões, bons e maus, certo e errado… o resto é subgrupo. E, assim, vivemos à sombra da hipocrisia, há décadas.

Pessoas estão morrendo aos montes. Há um desencarne coletivo sinalizando a catástrofe generalizada que vem se alastrando em forma de vírus. Pessoas estão matando e se matando, laços estão se desfazendo, paciências estão se exaurindo, loucuras estão se desenvolvendo, cabeças estão se perdendo, pessoas sãs estão tendo seu juízo prejudicado e julgado, tudo a mercê do descaso de quem vê apenas o seu próprio umbigo social.

No momento atual, não há uma pessoa que não esteja doente. Alguns disfarçam suas dores, outros revertem, outros escondem tão bem, que já nem a sentem… e deve ser uma dádiva não sentir dor… outros sofrem, outros enlouquecem, muitos morrem.

Estamos todos andando de um lado para o outro sem encontrar respostas. Estamos todos postos à prova da dicotomia: vilão x mocinho.

Não vejo candidato à sanidade padrão condizente em princípios a cargo maior que se possa pôr à prova. Não há. Há somente o colapso, e fantoches de interesses cada vez mais ínfimos dispostos em um tabuleiro de xadrez, ao qual muito se familiarizam. E, mais uma dicotômica disputa é dada entre brancas e pretas. Xeque-mate.

Assim estamos todos buscando um lado, uma verdade, uma certeza, uma vacina, uma esperança, uma salvação de qualquer natureza divina, uma palavra, uma regra clara, uma lei inviolável, um sopro, uma minúcia qualquer que nos dê um conforto à alma.

Estamos mais do que entre uma batalha de líderes (não tão) opositores. Afinal, de qual lado cada lado está?

A cada dia, um novo Jesus Cristo é lançado. A passos verozes cruzes se erguem em busca da salvação, a fim do resgate dos que não sabem o que fazem, e martelam pregos e espinhos desferidos ao verbo. A cruz é onde habita o povo, e não onde reluz o ouro. Não se enganem, cristãos, nem sempre está correto o que carrega o martelo, bem como errado quem carrega a espada.

Quais mortos são inocentes? A quem se julga vilão, por não ser direito, ou a quem apontam os demais dedos?

A sociedade adoeceu desde muito antes das disputas republicanas. Muitas cabeças foram cortadas com suas coroas. Os bobos já buscam o poder muito além da corte.

E, sempre paradoxais disputas. Não existe centro. Não existe, aqui, um terceiro elemento. Há somente interesses iguais disputados por ideais mesmos em corpos distintos. Assim vem sendo a sobrevivência. E, não há um dinossauro vivo para contar como começou a história. Não há um Adão, nem uma Eva, nem serpente, nem costela.

Só há uma certeza: atualmente, não há quem não seja vilão. Há somente quem se importe, e quem não se importe. Os mesmos dois lados entre o que importa e o que é descarte. Reciclagem.

Pessoas boas e más estão morrendo sob o julgamento de mesmas tais pessoas. Sob mãos de mesmas tais atitudes. Sob a foice de hélices soltas pelo ar, sem eixo, em seu próprio desgoverno.

O que é ser uma pessoa má? Quem é vilão? Quem julga? De qual lado está a razão e a certeza? Quem nos encoraja ao exemplo torto do que é certo e errado? Está tudo errado, e não há quem acabe com isso tudo aí.

Pessoas boas estão adoecendo à margem da maldade alheia, disfarçada de sanidade. Pessoas sãs estão incorporando as próprias loucuras combatidas. Quem combate a loucura, a doença e maldade também está adoecendo. Não há um louco dentro do hospício. Não há um ébrio fora do bar.

A sobrecarga mundial está no limiar do seu fim, meus caros.

Quem neste momento não luta pela própria vida? Quantos não lutam pela própria sobrevivência? Quantos lutam, de verdade, pelos seus? Quem nesta batalha luta, de fato, pelo próximo? Os lados são os mesmos, mas ainda há quem busque partido, e o próprio nome esclarece qualquer dúvida.

Ao nascermos, estamos automaticamente rotulados e catalogados. Caráter? Pensamento? Ideais? Princípios? Não. A classificação é muito mais ampla, e quem dita é o poder. Não nascemos bons ou maus, mas nascemos pobres, ou ricos, e este é o princípio e o fim de qualquer disputa social.

Caráteres estão sendo moldados. A maldade humana está crescendo a passos largos, em nome do poder, e a regra é clara: vidas não importam.

E, definitivamente, quem nos reja é o que também menos importa. Porque onde se vê poder, não se vê povo. Os muitos juízes estão todos soltos, e todos os dedos apontam ao lado oposto. O narcisismo político corrompe a ética, e não resta qualidade digna que se eleja.

Mas, o povo é quem está louco. É o povo quem grita. No reino encantado da fantasia da saúde mental ser sonso é ato real.

(Alessandra Capriles)

A paisagem do tempo.

Vês quantos tons e nuances das mesmas cores formam a mesma paisagem?

Percebes, então, que jamais haverá uma mesma paisagem?

Bonito ver que tais cores se transformam com o tempo, a cada estação firmada .

O sol também não nasce no mesmo ângulo, nem reflete a mesma luz, ou projeta as mesmas sombras, porque nem as árvores permanecem as mesmas. Por mais que enraizadas ao solo, suas folhas e ramas primaverís sempre ganham uma última dança, ao suspiro do outono.

Nem as camadas de tinta dos mais firmes alicerces se mantêm. Portas e janelas abrem, fecham, rangem. O concreto também ganha vida em seu ponteiro.

Nem nós, a cada rotação e translação, permanecemos inertes às transformações do tempo, nem projetamos as mesmas ideias e opiniões, mesmo que na fração do piscar involuntário dos olhos, que também tem seu próprio relógio, marcas, rugas, risos e tanta beleza que pode haver em um olhar cronológico.

A diversidade e as metamorfoses coexistem e perduram a tudo. O respeito é atemporal, e a maior prova de amor próprio e a tudo o que coexiste.

A fala da natureza Divina é perfeita.

(Alessandra Capriles)

A feira é livre, nós não.

Olhos e a letargia do corpo despertam
A mente, há muito, já não dorme
O silêncio dominical nunca houve
Mas, agora, pouco há
A liberdade da feira também silencia
Mas, ainda há vida além da xepa
Ao longe, carros apressados
Vários deles, apesar de domingo
Deslizam as pistas da via que tomaram para si
Não passa mais gente
O mundo todo, agora, se evita.

Em tempos pandêmicos
Quem transita entre o povo não é rei
É bobo da corte
Ou, o próprio povo
Que, para onde há de se resguardar?
Em tempos virais
Quem fica em casa é rei de sua própria majestade
Ou, o bobo dos cortes
Ou, a própria morte
Que aguarda a sua solidão.

Feirantes erguem barracas como santuários
Para que a boa fé não alimente a fome
Erguem-se como pequenos deuses em seus templos de madeira e tecido
Não se sabe o picadeiro
Nem o amanhã
Alimentam aquém como seus próprios filhos
Para que eles ainda hajam.

Barrigas tantas no raio-x da miséria
Transitam tantos, em meio aos ruídos
Que não se sabe se roncam a fome, ou motores
Ouço gritos, outros tantos, bêbados e desolados:
– Tô com fome!
E, nos olhos ébrios, o abandono
A voz dos que não têm nenhuma
Sem chance aos invisíveis.

Ressoa o eco, por tantos cantos
Como em coro, ouço
E, não são motores
Quem cala é a esperança
Que se isolou, antes mesmo de nós
Ficou a sorte, ficamos sós
Entregues a ela, pelo descaminho
Trancafiados em alicerces
Uns concretos, outros barro
Janelas que avistam o horizonte
Ou, os olhos de alguém que também resguarda a fome

A feira já não é mais livre
Como nós
Pairam entre frutas, legumes, peixes, caldos e pastéis
Vírus, solidão, fome, medo e alguns mirréis
Juntos, desfrutam a liberdade
Enquanto anda o povo aflito na clausura
Contando seus metros quadrados
Horas, dias, notícias, moedas
Envoltos à sombra da caverna
E, outras tantas paranoias
Ansiedades que persistem
E, insistem o pânico e o caos.

Enquanto uns dormem, às primeiras horas do dia
Outros esbravejam seus abandonos
Vergonhas e prantos
Se correr, o vírus pega
Se ficar, a fome come
E, neste domingo sabático
Para uns
A feira e o choro são livres
Nós, não.

(Alessandra Capriles)

Reflexões terapêuticas.

A cada dia, desperto um novo zodíaco em mim:

– Quem sou? – Pergunto ao sol.
– Mas, o certo seria: quem somos? – indagam os astros.
Responde, ascendente em sua verdade, o universo:
– E, quem não podemos ser?

(Alessandra Capriles)

A mercê do quê? A mercê de quem?

Deus, olhai por nós que aqui estamos. Somos todos irmãos, filhos Teus, unidos em súplica.

Que nenhum outro falso poder nos dizime, ou haja contra a Tua vontade.


Que Teus filhos sejam blindados contra toda e qualquer força inimiga.


Que Teu poder prevaleça diante daqueles que exaltam a injustiça e a destruição.


Que somente a Tua energia divina circunde o Teu povo.


Que o Teu espírito vença a ganância e a cobiça da carne.


Que o Teu nome não mais seja mencionado em vão.


Que todos os falsos profetas e líderes caiam, diante do Teu fogo.


Que o nome do Teu filho seja exaltado pela Tua justiça.


Que nenhum outro discurso ou juízo seja tido como único e verdadeiro.


Que o Teu povo se levante em prece, e reerga a voz da verdade.


Que a colheita seja verdejante, e o joio não mais prolifere pelo mundo.


Que todas as pragas e pestes caiam, queimem e ardam.


Que o povo rubro do sangue de Teu filho ganhe a palavra, em meio às guerras.


Que todas as batalhas sejam de vitórias dos que, até aqui, têm sido derrotados e enganados.


Que Tua palavra se cumpra, e que, para os que não veem o Teu povo como imagem e semelhança, seja o juízo final.


Que caiam por terra todas as mentiras e farsas dos falsos profetas.


Que a vitória seja Divina.


Que a vitória seja do povo que clama e luta.

(Alessandra Capriles)

O tempo da Terra.

Há um mistério no horizonte
Onde o sol arde tudo o que toca
Pairam pensamentos longínquos
Em vão e desalinho
Buscam o calor do encontro
Ultrapassar distâncias
Mas, o peito cala no suspiro
Nesta redoma coletiva que nos consome.

Temos todos sete cabeças
Como bichos insanos
Irracionais em seus próprios ninhos
Na clausura do tempo
Contaminado por nós
Anseios mesquinhos
Inóspitos, inglórios
Recortes das horas
Que aprendemos a contar
O tempo que somente passava
E, nunca havia.

Perdemos-nos todos em meio a tanto
Tanto ouro incandescente
Tanto a tão poucos
Enquanto aprendemos a ver o sol nascer
E, admirar seu corpo celeste queimar nossos corpos e retina.

O vento nos afaga a pele
Poros úmidos do ardor do sal que doamos aos dias
De sol a sol
Aos astros não celestes que esfriam ao nos ditar as horas
Movemos o mundo como máquinas
Que criamos para nos dizer quando parar
Para reinventar a obra divina
De nossa própria colheita
E, assim, cavamos o caos
Ceifamos a terra
Pisamos o barro
De onde todos viemos
E, onde, ao fim, todos nos deitamos.

Mas, vai passar
Como o tempo passa por nós
E, despede dos que se vão
Em sacrifício ao nosso tempo
Quem ainda conta o tempo?
Quem finda seus dias ao solo?
Quem viramos para escolhermos vidas?

Caímos todos em nossos próprios contos
Em permutas por contas vencidas
Golpes dados a tantos como nós
Que, no fundo, somos todos gente
No mesmo poço, no mesmo chão
Nos mesmos sete palmos ao limbo
Ou, enterrando aos montes tantos como nós.

Raça humana, de mesma cor
Classe de mesmos seres
Cegos, não vemos tons
Vedados, acorrentados, amordaçados
Nascemos aos moldes do mundo
Que já não é o mesmo do Criador
Somente criados
Criaturas caricatas inventadas ao tempo
Que nos perdemos tentando reinventar nossa própria solidão.

(Alessandra Capriles)

(Arre)dia.

Quantas noites deixei o sono fugir
Aos céus, por entre os dedos
Somente para ver o brilho do sol me embalar
Enquanto erguia seu corpo ao horizonte, lembrando à noite o erguer dos dias.

Quanta lucidez perdi
Para que o dia fosse protagonista em meus sonhos
Todos lúdicos e remendados
Emaranhados de caos
Oniricamente, irônicos
Pois, reza a lenda, que no sonho não se morre
Mas, raiava o dia.

Quanto tempo menti para mim, em longas noites
Que nem sempre promessas são cumpridas
Enganei-me com a fé depositada aquém
Ah, mas sempre aguardava o raiar diurno
Que me ressignificava a noite e o estigma dos dias
E, do deus que levo às costas.

Quanto tempo deixei de ouvir o som do sol ao tocar os céus
Em uma alvorada límpida
Orquestrada pelo acariciar das asas das garças
Que também cantam seus próprios versos
E, não se calam
Incansáveis pulmões inflados de clamor
Lamentam, exaltam, gracejam
Não sabemos o que dizem
Mas, regozijamos juntas ao erguerem os dias

Quantas estrelas contei
Mesmo em meio a nuvens, lágrimas e trovoadas
Em busca de dias que só vinham pelas manhãs
E, deixei de contemplar, de fato, os dias
Que me acordariam tantos outros
Do peito ao canto do riso.

(Alessandra Capriles)

Nascemos sós, morremos sós.

Precisamos aprender a viver e conviver com nossas solidões, medos e angústias.

O isolamento é uma oportunidade para olharmos para dentro, e refletirmos sobre quem somos e o que queremos para nós, nosso coletivo e planeta.

O silêncio atordoa por podermos ouvir o nosso grito interno. A presença constante das pessoas com quem convivemos incomoda, e, assim, descobrimos os nossos próprios limites. A nossa falta de liberdade nos pune por nem sempre sabermos o que fazer com ela. O privamento nos alerta sobre as nossas verdadeiras necessidades, e nos dá a chance de melhor olharmos e valorizarmos as pequenas coisas.

Assim, temos a oportunidade de ver o mundo através das nuvens que nos pairam a mente, e poder sorrir, por sabermos que ainda há um céu azul.

Vamos pensar e nos conscientizar do mundo em que vivemos e o quão frágil somos. Estamos tendo a oportunidade de limpar um pouco o planeta terra da nossa própria poluição: do que consumimos, como consumimos; dos desperdícios; do nosso lixo em casa, nas ruas, nos esgotos, nos mares, no ar; do quanto de ruído desnecessário que priva a nossa mente de poder se ouvir; do tempo que desperdiçamos em coisas destrutivas; do quanto o capitalismo nos consome, mais do que nós a ele.

E, assim, giramos os ponteiros de nossos dias como se fossem nossos, e nos mecanizamos a um sistema corrompido, que não funciona sem nós, sem o relógio, sem o giro, sem a pressa, sem o capital, sem a pressão, sem o estresse, sem as doenças da mente, do corpo e da alma, que não aguentam, mas giram.

Temos, enfim, a oportunidade de nos conhecermos, e respeitarmos os nossos próprios limites físicos e mentais. Em meio ao caos e à doença, redescobrimos a cura para nós mesmos e para o nosso meio.

Saúde a todos.

(Alessandra Capriles)

“Se você pode, fica em casa.”

Logo, se você pode, você tem condições financeiras.

Logo, se você tem condições financeiras, você não é pobre.

Logo, se você não é pobre, não vai correr o risco de contrair e transmitir um vírus altamente letal .

Logo, quem vai contrair e transmitir, e está mais vulnerável a vir a óbito, é o pobre. Afinal, são eles que se aglomeram em transportes públicos, para trabalhar para o rico que fica em casa, porque pode, e eles também vivem em zonas sem acesso a saneamento básico.

Logo, a população vai diminuir, principalmente, a idosa que vive com somente a aposentadoria do Governo.

Logo, isso é bom para os cofres públicos, pois haverá mais verba para ser mal administrada, ou desviada.

E… logo, as empresas públicas que irão aderir à possível não cobrança de faturas, por 60 dias, irão “quebrar” (compreendem a perspicácia?).

Logo as privadas irão se aproveitar, aliás, investir (risos).

Logo, viraremos um modelo norte-americano, com cara de primeiro mundo e estratégia política de terceiro.

Logo, em breve, teremos mais mão de obra barata (os pobres sobreviventes e mais saudáveis, é claro), que seguirá lutando para sobreviver, e pagar por serviços de setores que, antes, eram públicos, enquanto o rico fica em casa, sem passar necessidade alguma, com todo seu estoque de papel higiênico.

Logo, a mamata nunca acaba.

(Alessandra Capriles)

Do outro lado.

Na moldura, duas vistas
Uma de aterro, a outra desterro
Deste lado, as coisas como são
O tempo, o passado
O presente que afasta
O futuro que arrasta
As marcas do desgaste que descamam a pele da parede
O viço da passagem temporal que enrruga a paisagem
Os suntuosos Arcos do antigo aqueduto
O Circo sem lona
A Catedral dos infiéis
A Associação dos moços sincréticos
A boemia que perdeu seu chapéu
O silêncio do mundo na vida mundana
O malandro que não saiu de casa
Os inferninhos que aderiram ao céu
Palco de inúmeros números
À sorte que se lança a nós
E, viramos todos Ratos, longe do Beco
Entocados em suas jaulas, sem roda gigante
Como experimentos de um novo tempo
Coroados pelo vírus da quarentena
Que nos desatou as mãos
E, em coro, atou a alma
Nas vozes que gritam por um novo tempo
Além da Muralha e dos caminhos de Roma
Já é possível ver do ar a cortina de fumaça oriental que dissipa
As águas das gôndolas que se abrilhantam
As ruas desinundadas de nós
Pequenos experimentos de rabos gigantes que ganharam asas na noite
Mas, os daqui não voam
Foram mordidos por abraços, tatos e beijos
Pequenos seres vadios
Isolados dos bandos
À sorte, à míngua, à deriva
De seus próprios bondes sem trilhos
Realinhados ao destino
E, vemos um vírus fazendo o que até Cristo tentou
O mundo parou para assistir, de sua própria plateia, a si
E, nos créditos, quem diria, a ciência e a fé
Por diversas vielas e esquinas
Somente o silêncio
O breu já nem se avista mais
Propagamos algum feixe que ainda nos habita de luz
Reacendemos a chama das velas que nos acendem mente e espírito
E, nos encobrem de inebriante esperança
Do que não costuma faiá
E, quem embasa é a ciência
Que ensaia em tubos o que silenciou o som
Das noites boêmias, do tilintar dos copos, dos tragos
Dos corpos, dos tantras, dos desejos
Que sucumbem a carne, e dilaceram o peito
Já nos faltava o ar, antes mesmo de Coroados
A majestade nos retirou o cetro e a coroa
E, nos fez olhar mais para invisíveis coroas
Anciãos de tantas histórias
Que carregam a mesma fragilidade que descama as paredes da memória.

(Alessandra Capriles)

Mosaico de nós.

Nada mais somos do que um mosaico dos recortes que a vida nos faz.

Cada pedaço cresce, fortalece, e vira vários novos remendos inteiros do que já nos foram cacos de nós mesmos, um dia.

(Alessandra Capriles)

Sobre a perfeição.

Que nunca percamos a admiração pela vida, pelo simples, pelo que coabita conosco, e, muitas vezes, nem sequer notamos.

Que sejamos gratos a tudo, a cada novo amanhecer e anoitecer, para que os dias vindouros sejam ainda mais deslumbrantes e admiráveis.

Que domemos os nossos medos e receios, e respeitemos a nós mesmos, diante das barreiras que se colocam e também criamos.

Que criemos menos barreiras para a felicidade e para a nossa evolução, enquanto seres de passagem por essa vida.

Que não estejamos somente à passeio, e olhemos a vida e o nosso próximo com a mesma importância que damos ao que julgamos ser mais sagrado, pois nada mais será de tamanha importância do que a dádiva humana e natural.

(Alessandra Capriles)

A fé que nos move.

Mais um dia para clarear a mente, acalmar o espírito e o coração, vibrar a energia positiva, deixando a luz divina da natureza nos guiar.

Sem Deus, fé e a natureza somos somente matéria ambulante. Sombra de tudo o que há.

Sejamos sinceros conosco e com a energia que absorvemos e emanamos. As trocas energéticas nos definem e nos conduzem. Sejamos atentos, em meio às tribulações e adversidades. Sejamos sinceros e atentos conosco e com o meio.

O caos é inevitável, mas devemos buscar sempre o melhor.

(Alessandra Capriles)

Prece ao Sol.

Que o inconsciente floresça da natureza.
Que despertemos à vida tão apaixonadamente quanto em um beijo.
Que o espírito acenda como uma forte chama incandescente.
Que o fogo seja o combustível que acalenta o peito.
Que o desejo seja calmaria incendiante, não peleja.
Que o céu e o inferno que nos habitam encontrem a harmonia.
Que a canção seja tocada e sentida.
Que sejam mais do que acordes e notas.
Que nos acordem.
Que as mãos busquem mais ao tato, à pegada.
Que as escolhas sejam luz.
Que nos encontre, pelo caminho, a paz, como em uma melodia que nos fala à alma, como em uma delicada valsa, que entoa os dias.
Que a vida nos seja orquestrada esplendorosa e estonteante.
Que o brilho seja da luz que irradia o peito, do acalanto do abraço, do olhar atento.
Que os dias sempre se acendam e nos encontrem.

(Alessandra Capriles)

Mas, só hoje? (Escrito em 08/03/2013)

As homenagens às mulheres são super lindas e bem vindas, mas… desculpem-me, adoraria ser lembrada pela importância de ser todos os dias. Não é nada fácil ser mulher, e ainda ter que arcar com as obrigações da modernidade. Tarefa árdua e contraditoriamente delicada.

Adoraria ser mais sensível, doce e delicada, como tanto me cobram, mas infelizmente o cotidiano me moldou assim, como a muitas outras mulheres. A vida nos cobra posturas firmes, ao mesmo tempo que nos exige feminilidade. Sexo frágil? Existem mulheres desta espécie? Acho que tentaram rotular-nos assim por temerem nossa força e coragem… vai que cola, né… Para muitas, ainda é uma boa desculpa, e deve ter seu lado bom. Seria um luxo para mim sentir-me frágil e amparada por um homem de verdade, nem que fosse por um dia, deixando de lado o peso de ter que agir com o peso da responsabilidade de ambos. Bom, mas não lutamos por isso? Aos poucos nos tiram até o direito de nos queixarmos.

“Ah, para com essa moleza! Deixa de ser mulherzinha!” Estranho mundo de contradições. Pois é, parece que a vida para os homens segue sendo um tanto mais fácil, pelo menos neste sentido… ou será que eles sofrem com o problema inverso? Porque, afinal, é natural do ser humano tentar extravasar, e até descontar, de alguma maneira as suas angústias e frustrações, e, convenhamos, pobrezinhos… eles não têm um dia para serem lembrados e homenageados… Que dó…

Feliz dia a todos, sem distinção de gêneros!

(Alessandra Capriles)

Do leito.

Eu queria escrever um poema, mas acho que não cabe mais um poema no que ainda há de tempo. Não saberia escrever mais um verso de dor, uma vez que acreditava tê-la abandonado no passado, logo após fazer as pazes com o amor de papel passado. Não quero deixar aqui, nesse mundo, mais dor aos que ainda a sentirão, menos ainda aos que amei. Por amor, escrevi uma nova história, sem linhas e rimas, mas enredos táteis, como uma nova descoberta, liberta de qualquer dor, ou ilusão. Ilusão. Amor. Amar. Doei todos os meus erros tentando acertar o sentimento, e, sem dó, amei. Não saberia ter vivido uma vida sem tal sentimento. Mas, nunca entendi. Nunca compreendi porque o amor não vem primeiro, nem sozinho. Não. O amor traz medo, desilusão, abandono. Sempre ele. O bater da porta que nunca volta. Desde sempre, todos se foram. Com suas bagagens sedentas de outros destinos. Nunca entendi porque todos os que amei se foram. A figura paterna, com sua enorme bagagem. Era muita. Não se pode levar tudo. O colo fraterno, que me levava nas costas, pela casa, onde nunca mais pisamos todos juntos. E, outros eros. Tantos outros. Tantas casas. Tantas portas. Bateram, sem mais abrir. Então, resolvi abrir as portas, novamente. Mesmo sem casa. Queria construir a minha. Não lembrava mais do som do batente ao fazer-se jus. E, ele resolveu fixar em minha mente. Bati de cabeça. Mergulhei com tudo. Na despedida ficou só a dor e o ardor da lágrima. Mas, não só o batente. Quebrei a cara. Vocês sabem o quanto dói quebrar a cara? Ainda sinto doerem os ossos. Mas, não lembrava que doía tanto. E, as imagens do tempo não apagam nem uma fissura. Pois. Não vim aqui falar de dor, senão teria escrito um poema. Mais um. Ou, menos um. Só me perdoe por não conseguir ser mais direta, mas é porque falar sem outro “eu”, para mim, é distante. Por isso, estou aqui. Mesmo que de passagem, como todos. Até os de despedida. Queria ter coisas boas para deixar. Mas, não as tenho nem para levar. Exceto alguns retratos. Um sorriso, um rebento, algumas lambidas, e alguns outros amarelados retratos, no passado de uma árvore que se partiu. Pois. Perdoem a lamentação, sem fim. Prometo não mais importuná-los. Vamos voltar a falar do amor. Mas, como se fala mesmo? Nunca soube. Mas, já senti. Senti o amor tão grande atado ao sonho, que, de tão bonito, esqueci de desatá-lo, e assim vivi, oniricamente. Ah, meu Deus, mas já estou eu, novamente, a falar de dor. E, ela sempre vem. Sempre à espreita. Como quem também ama. Como quem vive do meu dissabor. O amor não se ata à covardia. As alianças eternas são atadas somente a quem se entrega. Mesmo que solitária se rompa em seu leito. Descansa o corpo, a mente, o batente, a porta, o punho, o latente, meu pulso, meu átrio. Só o amor não descansa. Mas, cansa. Nessa dança, o sentimento perde o passo. O peito acelera. A respiração aumenta. Fatiga. E, olha só quem vem. A esperança não se cansa, mesmo quando bato a porta. Pois, cá estamos, nesse leito, juntas, dissertando linhas desconexas sobre o desconhecido. No intento de somente dizer mais um ‘eu te amo’, a fim de repousar a dor.

(Alessandra Zabala Capriles Hosken)

Retratos Guardados. (Escrito em 26/12/2011)

Nem uma lágrima, palavra
Nada mais transbordava
Sorrisos tantos eram
Nenhum mais esboçava
Diante daquele álbum de histórias
Distante daquelas tantas lembranças
Revivia uma a uma depois de tanto
E tanto mudara daquele tempo
As cores das fotos
O viço da face
O tom dos risos
Tão belo sorriso
Seus olhos sorriam quando felizes
E o quão eles eram…
Seus gestos flutuavam a cada melodia
Sua alma e seu corpo não se distinguiam
De tão perfeita que era a harmonia
E quando cantava, mesmo sem muito saber
Era belo ver e ouvir
Tudo o que ela tocava virava poesia
Tudo se transformava em canção
Aos seus olhos tudo era belo
E seus olhos às descobertas eram tão mais belos
Tudo o que ela queria era viver
E como almejava saber
Tudo era motivo para admiração
Como criança ao desvendar novas descobertas
E assim por muito foi…
Mas para onde?
Buscando em cartas, letras, caixas, canções
Revirando poesias, sentimentos, armários
Diários, cadernos, paixões
Em nada mais encontrava o que havia perdido
Estava lá, aos olhos de todos
Mas de embaçados ela não os via
Seu apático olhar
Preso naquela visão retorcida
Do velho espelho de moldura dourada
Tomava conta de seu presente e passado
Ali aprisionada naquela imagem envelhecida
Do tempo que para ela andava apressado
Corriam os anos paralisados
Naquele ciclo que não se vencia
Tornou-se a menina prisioneira de seu próprio sonho
Dos tantos retratos e fatos
De tudo o que ela mesma escrevia
Sua vida adentrara aquele sonho
E suas linhas eram sua própria escrita
E assim os versos viraram ciranda de roda
Naquele emaranhado de palavras que não desatavam
Gritava em silêncio ao esperar ser ouvida
Mas nada
Sem saber o que era verdade
Sem saber o que apenas poderia ser escrito
A menina gritava nas folhas
E se calava nos cantos
Essa inversão de papéis em sua vida
Zombava de sua própria loucura
E assim vasculhando retratos, revirando passado
Achou um caminho para aquela busca
Repercorreu linhas e em cada parágrafo
Viu dar adeus cada uma daquelas imagens
Em meio à estrada, novos velhos personagens
Aqueles coadjuvantes já esquecidos
Alguns pelo tempo mudados
Outros envelhecidos
Somente por observá-los viu-se passar por ali correndo
Mas quem falou em revirar o passado?
O tempo lhe mostrava o enredo para seguir a história
Daquele regresso
Ficção lhe tirou do reflexo perdido no tempo
E apontou adiante o leme do barco
E lá à frente estava ela no pier
Estonteante após aquela longa espera
Aquele mesmo sorriso
Aquele mesmo brilho no olhar
Nada se perdera
Nada era velho visto de lá
O tempo que passara realçou seu semblante
E ela esperava a chegada
Como quem espera o amor vindo do mar
O reencontro dela com a personagem perdida
A fez ver que também sabia chorar
E era tanta alegria
Juntas venceram a distância e o tempo
Juntas já podiam viver a mesma história
Juntas voltavam a ser ela e seu verdadeiro retrato…

(Alessandra Capriles)

Acreditam em coincidências?

Tô eu lá no app vendo os aptos para alugar, e, assim que entro, deparo-me com esta imagem. Na hora, paro e penso: “Mas, eu conheço esse quadro.”

Sempre estou deparando-me, por aí, com quadros dos meus pais, mas esse me chamou a atenção, porque também o tenho na parede de casa. Bem como tenho o casal de cholos que está, ao fundo, na parede, que era feito por outro artista.

Para quem não sabe, papi e mami foram um dos fundadores da, hoje, tão famosa, Feira Hippie de Ipanema, na General Osório, na década de 70, junto com um grupo de amigos e artistas. Eles ocuparam a praça com a sua arte, e caíram na graça do povo, tempos depois.

Ela está bem mudada, muitos grandes artistas, da época, não estão mais lá, e a essência parece que também não é mais a mesma.

Eles começaram pequenos com seus lindos e bem trabalhados quadros de cobre, tão ricos em detalhes e cores, e algumas telas em tinta óleo. Depois, mudaram-se para Salvador. Meu pai, que também era administrador de empresas, foi prestar serviço para a Odebrecht, e por lá ficaram, durante 7 anos.

Papito recebeu uma boa proposta, por aqui, e resolveu voltar ao Rio. Quando voltaram, a feira estava maior, mas ainda não estava em seu auge, foi quando eles resolveram inovar com quadros espelhados jateados e também pintados, que viraram febre, à época.

As vendas aumentaram, vinha gente do mundo todo comprar com eles. Quando nos demos conta, tanto a nossa casa, quanto a feira, estavam cheias de gente famosa, de todos os cantos.

Eram artistas, produtores de TV, novela, filmes, e eles estavam nas paredes de todos os cenários e casas dos anos 80. Minha mãe diz que quando eu nasci foi quando tiveram mais sorte e mais ganharam dinheiro na vida. Que bom, que, pelo menos, quando nasci dei alguma alegria a eles, né. 😂

Meus pais eram vizinhos de porta, quando se conheceram. Minha mãe veio do Pará trabalhar como modelista e costureira, e meu pai veio da Bolívia estudar administração na UFRJ. Apaixonaram-se. Batalharam muito. Tiveram 4 filhos, prosperaram. Chegaram ao auge da fama com sua arte. Um privilégio e um enorme orgulho para qualquer artista, que sabe que esse é um caminho difícil. Além de ambos terem conquistado juntos vários prêmios, depois de separados, minha mãe também ganhou um prêmio em evento e cerimônia, na Academia Brasileira de Letras: ídolo. E, eu não tenho nem um poema lido ali. 😂

Ela foi guerreira. Costurava, vendia roupa, era artista plástica, vendia os quadros, vendia o serviço de decoração de interiores, junto com os quadros, era mulher, esposa, mãe. Fomos ricos. Muito ricos. Tínhamos um belo e enorme apartamento de quase 300m², 2 carros do ano com motorista, empregados, éramos sócios em clubes, viajávamos sempre, estudávamos em boa escola, fazíamos cursos… enfim…

Mas, a vida é para quem sabe viver com humildade. Eu só nasci rica, pois, aos 7 anos, já estava na mesma condição que me encontro até hoje. E, não sei dizer por quantos altos e (muito mais) baixos passei, nesse percurso. Que sorte eu tenho. Aprendi cedo. Sou privilegiada em muitos aspectos, embora não pareça, e muitas vezes não me sinta.

Além da grande memória que tenho da infância, tenho muito presente a disposição dos objetos e detalhes da nossa antiga casa. Tenho muito vivo na memória o primeiro quadro que meu pai pintou em tela. Ele ficava ao lado da minha cama, e eu, que já tinha insônia, quando não ia dormir na rede, na varanda, ficava brincando com os dedos de subir e descer por suas escadas infinitas. E, desculpe-me, Escher, mas meu pai teve essa ideia primeiro.

Outra memória viva que tenho é do primeiro desenho que ele fez para seu primeiro quadro de cobre, e foi o Inti Sol que tenho tatuado nas costas, que é a cópia do mesmo desenho original. E, por acaso, hoje, além de me deparar com esse anúncio e esses quadros, que eu adorava imaginar que estava brincando no lago junto com as garças, a minha mãe também veio me dizer que ganhou de presente do meu pai, quando eu nasci, um quadro que tem na entrada da casa onde moramos, e nele está desenhado também o Inti Sol, o mesmo que tenho tatudo nas costas.

Tudo isso é para dizer que se alguém tiver o contato de Dan Brown, podemos escrever um novo livro no estilo de “O Código da Vinci”, porque, hoje, acordei, além de nostálgica, toda trabalhada no misticismo. 😂

E, se alguém estiver procurando um apartamento para alugar, segue uma boa dica, aí. Aproveita e manda um abraço meu ao inquilino, ou proprietário, por manter viva a memória da arte dos meus pais.

(Alessandra Capriles)

Quintal Urbano.

No meu quintal, há um enorme Centro, onde pessoas fazem negócios. Negócios que geram dinheiro, que serve para comprar coisas, menos o que eu vejo daqui, um prédio ou outro talvez se venda, mas a beleza vista ninguém compra. Daqui vejo e imagino o que era o Desterro, às vezes, imagino eu entrando em seu antigo e suntuoso Castelo, mas, virou aterro. Até que é bonito. O homem também sabe fazer coisas bonitas, mas quase sempre em cima do que já era belo. Do meu quintal, vejo enormes monumentos e edificações construídas. Tem até Shopping e Aeroporto, uma Bossa e um vôo. E, quantas histórias se fizeram e desfizeram ao longo desse cenário.

No meu quintal, há um enorme monumento, que cada vez que me ponho a chorar, na sacada, a sua pira enxuga minhas lágrimas com acalanto e tristeza. É quando lembro dos tantos que foram à guerra, e deram suas vidas por nós, por sua pátria, ou qualquer outra crença mesquinha, como toda Guerra, seja ela Grande, ou não. Às vezes, sinto-me como eles: fim da batalha. Mas, é quando acordo, e lembro que todo dia é uma nova peleja. Mas, há também a beleza das águas do mar, do que é Vivo no Rio, do que é Arte Moderna, seus lindos Jardins, do que é luxo, do que é pista de chegadas e partidas. E, é tão lindo ver os enormes pássaros de Dumont pousando, seja daqui, seja do píer, e o homem tinha até santo em seu nome. E, de tão peculiar, deveria mesmo ser. E, a enorme Praça sonora que toca e que canta, e, às vezes, até encanta, e posso fechar os olhos, e me sentir abraçada por Paris.

No meu quintal, há também o lado doce, mais doce do que pão doce, porque é todo de Açúcar. Há, no meio de tudo, uma enorme baía, é tanta água maltratada, que os peixes até se misturam com a gente. Há o lado do aterro, obra prima paisagista construída com o que um dia foi o Desterro. Há o mar, a Marina, de onde os barcos partem, outros atracam, o Outeiro, onde os sinos dobram, onde as preces se levantam, e chegam a algum lugar, onde o universo nos ouve. Há história, passados de tantos momentos gloriosos despedaçados, da qual sobrou somente uma carcaça histórica do que foi o Glória. Agora, a única glória que nos resta é a que vem das preces da casa onde os sinos dobram, que, além do templo, é esse céu inteiro, onde habita Deus, ou todos eles reunidos.

(Alessandra Capriles)

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A beleza do tempo.

Aprecio o desgaste natural do tempo.

Acho lindo ver as lascas de tinta saindo das coisas.
A mim, mostra o quanto ali teve vida, o quanto nos serviu, e o quanto ainda nos serve, apesar do desgaste.

Amo os reparos funcionais mais do que os estéticos, como quando a porta range, e, com todo o cuidado, coloca-se óleo, e pronto. Amo ouvir a porta ranger. A cada vez que isso ocorre, vem-me à memória quantas vezes ela já foi aberta, e que o cuidado e a atenção aos reparos são diários.

O desgaste do piso me lembra das inúmeras vezes que incontáveis passos foram dados sobre ele, lembra-me do cheiro da maresia que ajudou a corroê-lo, do cão que buscava marcar seu território, do leite da mamadeira do bebê que a agitava como quem faz arte, da água das fortes chuvas que invadiam o assoalho, das cinzas e da poeira que se acumulavam sobre ele, da taça de vinho derramada, e dos inúmeros copos e pratos quebrados como em grandes festas gregas.

O puído da tinta da porta da varanda me lembra os temporais. As ventanias que entravam com toda a força de Iansã, e levavam as lascas de tinta soltas, as chuvas que as lavavam até sobrar somente a madeira, em uma poética corrosão de desgaste catártico. E como é belo o que há por detrás da tinta. É como sentir aquela antiga árvore ainda enraizada.

E, é pelas frestas das mesmas portas, que vejo balançarem as folhas das plantas. Aquelas de fato enraizadas, plantadas para darem frutos. Vejo seus galhos partindo com a força do vento, e ainda assim elas lutam, querem dar frutos, querem ser flor, e não um defunto seco dentro de um livro.

De tudo o que sofre a interferência do tempo, é bonito ver que, apesar do desgaste estético, as coisas ainda servem e são belas.

A estrutura envelhece, mas ainda é abrigo. Não tem o mesmo viço e cheiro de tinta fresca, mas só se pode ver a beleza natural escodinda por detrás da tinta com o tempo.

Só o tempo revela a serventia e a beleza das coisas. Só o tempo gera frutos. Só o tempo carrega lembranças.

E, ele sempre faz questão de lembrar.

(Alessandra Capriles)

Palavras seladas.

Enquanto buscava por velhas palavras
Dentro no fundo da gaveta
Encontrei uma caixa fechada com um elástico atravessado
Por instantes, aquela caixa tomou minha atenção
Na vaga lembrança de algo que seria um presente
Abri em pensamento, na busca por palavras guardadas
E, encontrei-as todas dentro daquele espaço que aparentava vazio
Somente um papel de seda dobrado e selado

Palavras envoltas naquela lembrança
Guardadas desde o fim daqueles últimos anos
Naquela caixa haviam sonhos
Presenteados em tantas outras mais
Sonhos perdidos, ou somente guardados
Para, então, voltar-me um dia à lembrança
Redescobrir a esperança
Ou, somente assombrar pensamentos constantes

Tantos sorrisos presentes
Tantos e tantos outros foram os presentes
Quantas pessoas não fiz feliz ao sentirem-se amadas
Em um pedaço de lembrança envolto em papel
Ao abrir cada caixa, um sorriso – Ali dentro eu doava sorrisos –
E, não havia lembrança maior do que o que não se via
Um pouco de cada sorriso
E, foram-se todos…

Ainda bem que guardei para mim uma caixa
Ao abri-la, recuperei meus sorrisos
Todos aqueles guardados e distribuídos – Ali dentro guardei um para mim –
Como se soubesse que precisaria, um dia

Lembranças…

Na doce lembrança endurecida
Que esperava por mim
Quando adentrei aquela porta
Como no efeito daquela borboleta
Nada pode ser mudado
Nada além do que havia na caixa
Agora, de fato, aberta além da imaginação ocorrida

Sobre minha cabeça, palavras, sorrisos
Momentos, lágrimas, canções
Como em uma dança, Sobrevoam em forma de abraço
E, me tomam de volta para mim
Aqueles mesmos momentos em que nada mais importava
Pois, eu estava ali
Sentimento que expectador algum reparava
Pois nenhum deles, algum dia, abriu uma caixa minha para si…

(Alessandra Capriles)

Sobre tempos políticos e redes sociais. (escrito em 20 de setembro de 2018.)

Queria ter toda essa saúde e tempo que a galera tem para discutir política, em redes sociais. Mas, hoje, tirei um tempinho do meu pouco sossego e da minha onda, só para declarar algumas palavras, para o gozo alheio.

Queria ter toda essa intolerância para com os coleguinhas também, e olha que nem sou a pessoa mais paciente do mundo. Nem um pouco, diga-se de passagem.

Gente, terapia resolve carência e outros transtornos. Discutir com os coleguinhas, desfazer amizades e relacionamentos, porque fulano pensa diferente, não.

Outra coisa: o voto ainda é secreto.

Não sou comunista, nem socialista, nem capitalista, nem cristã, nem macumbeira.

Sou feminista, sim! Ando “cercada de viado e sapatão”, sim! Penso que o machismo impera na sociedade, gerando preconceito, desigualdade e violência, sim! Não sou lésbica, nem bissexual. Depilo-me, diariamente, por gosto mesmo, porque os únicos pelos que gosto de sentir no meu corpo são os do meu marido e do meu cachorro, e não porque a sociedade julga correto. Nem uso do feminismo para “pegar outras minas”, até porque, como dito, sou casada, bem casada, e com um homem que não vai votar em quem defende o fascismo, para o espanto da sociedade misógina e machista.

Discernimento, respeito e senso crítico são apartidários, sincréticos e sem gênero.

Na boa, preguiça (vulgo lombra) é o que eu mais curto, quando não estou trabalhando igual a uma fdp, para tentar mudar algo, pelo menos, ao meu redor.

Ah, e podem me chamar de feministazinha vagabunda e maconheira, que eu nem ligo. Sempre estudei e trabalhei, e me chamar de vagabunda é pagar mico. 😘

Logo, não estou a fim de ficar dando satisfações muito extensas sobre o que eu penso, ou acredito que seja viável para diminuir a violência, e voltar verbas, que, insanamente, querem investir em um ditadura cega, para uma educação eficaz e inclusiva e para a saúde, até porque só as devo a quem me convém, e nem estou disposta a romper amizades, por conta de campanhas alheias. E olha que sou geminiana, e “amigos, faço outros”. 😂

É isso, amiguinhos…

Só para reiterar, apesar de ser sincrética, a minha criação cristã me fez buscar referências.

O tema da Campanha da Fraternidade (posso desenhar), deste ano, é “Fraternidade e Superação da Violência”.

Sem mais.

Paz e Amor! ✌🏻☮🕊❤

Beijinhos de luz! 🤗😘

(Alessandra Capriles)

Sobre os humores…

Deparei-me com esta foto, e, por identificação, pus-me a refletir. Passei alguns bons minutos olhando para esse balão murcho, desejando a sensação do balão cheio.

A juventude é mesmo fascinante. São tão mais leves os momentos murchos. É tão mais fluida a rotina. O vigor corporal e mental são divinos. As preocupações são ínfimas. As oportunidades parecem não ter fim, nem limites. A efemeridade parece ser só um detalhe. Somos pequenos polvos com enormes tentáculos fabulosos.

Mas, o que acontece com o tempo? Por que os momentos depressivos de balão murcho tomam os lugares que antes eram do vigor, da saúde, do ânimo e da leveza?

Amo a pessoa que sou. Sou apaixonada por mim e pela minha história. Mas, posso dizer com todas as letras que não é fácil ser eu. Principalmente, para mim.

Tive uma infância e adolescência bem peculiares. Passei a vida sendo “diagnosticada” asperger, ou, vulgarmente, autista, por ter uma maneira diferente de lidar com as pessoas e situações.

Desde criança, gosto de falar, mas o barulho me perturba. Às vezes, calo-me, mas é só para tentar ver se a mente faz um pouco de silêncio. Sou curiosa pela vida e pelo mundo, mas também preciso de momentos de reclusão. Amo as pessoas e carinho, mas não gosto que me toquem. Poucas são as pessoas que consigo. Sou amável e, aparentemente, calma, mas tenho uma caixa de explosivos dentro de mim. Procuro sempre exercer a perspicácia e a inteligência, mas sempre sou pega pela ingenuidade e o coração. Consigo ver e perceber além do que a maioria das pessoas, mas tenho dificuldades em compreender certas coisas. Sou honesta e sincera, mas tenho dificuldades em confiar nas pessoas. Sou atenciosa e perfeccionista, mas o caos também se instaura ao meu redor.

E, é essa última qualidade que venho desmistificar. Alguns chamam de TOC, mas eu prefiro enxergar como a busca pela perfeição, como algo harmônico, que gera paz e a sensação de dever cumprido, como em todo o processo de construção de um bonsai.

Nunca fui a melhor em nada. Nunca fui a melhor filha. Não sou a melhor mãe. Não sou a melhor dona-de-casa. Nunca fui a aluna padrão, ou a funcionária do mês padrão, nada além de metas cumpridas e números. Não sei fazer muitas coisas, e isso me aborrece, porque eu sempre tento. Até que a gente percebe que não dá conta.

Sinto um enorme peso por viver na peleja entre o ser e o não querer ser. Sempre busquei a perfeição, para tentar encobrir a evidência dos meus inúmeros defeitos e dificuldades.

Sei de minhas habilidades e competências, mas sempre fui refém dos meus limites. Tenho pânico de provas. Tenho pavor de errar. A minha resiliência tem um limite bem menor do que eu gostaria, e eu sempre culpo o meu intelecto, que chamam de extraordinário. Descobri que meu excelente condicionamento físico, infelizmente, é comandado pela minha mente, e ela, muitas vezes, falha nas ordens, e o corpo também já não aguenta muito mais.

Sempre busquei algum lugar de destaque, mas não pelos holofotes, e, sim, pela agradável sensação de ver as coisas de um outro patamar, e ser reconhecida. Seria tão bom ser a melhor em algo.

E, assim, venho vivendo: lançando-me a inúmeras incertezas, somente tentando acertar e ser boa em algo. Pois… tenho recém completos 35 anos, sou formada, porém desempregada, vivo de freelas, e adoraria voltar a ser “mais novinha”. Não que tenha sido mais fácil a juventude, mas pela sensação de suportar mais.

Não sou fã de falta de doação no que se propõe a fazer, mas sempre sou desarmada pelos meus limites. E, lá vamos nós tentar encontrar o nosso lugar no mundo, minha mente e eu, onde parece não haver espaço. E, em tudo eu tento me fazer caber.

Pois, esse esforço excessivo pela perfeição, por querer compreender tudo, de controlar tudo, de ter as rédeas mantidas sobre todas as situações, tudo isso, ao longo do tempo, desgasta.

Hoje, sou muito mais do que eu era. Já preenchi muitas bagagens, ao longo dessa vida. Mas, percebo que suporto menos, mas não suporto menos. Paradoxal, não? Pois… as cargas pesadas são sentidas por todo o corpo. Ele grita. A chikungunya foi só mais uma coadjuvante na história. A mente e o corpo pesam uma tonelada, e não suportam mais o menos. Fiz-me compreender, ou parece divagação?

Vocês já se perguntaram o quanto de menos vocês vêm suportando?

Eu tenho uma lista extensa, e venho tentando respeitar os meus limites para caber nos lugares, nas vidas das pessoas, nas situações e em mim.

Ninguém quer adoecer. Ninguém quer falhar consigo e seus compromissos. Ninguém quer falhar com a família e os amigos. Ninguém quer ser menos do que deseja ser. Ninguém quer perder a paciência. E, é quando o balão perde o ar, o fôlego, o vigor, a confiança, e murcha.

Ninguém precisa de pressão e choque de realidade. Seres humanos precisam de amor, de apoio, de freio, quando a vida acelera mais do que a potência do motor, e principalmente de compreensão.

Ninguém quer ser um balão murcho, mas é bem difícil segurar o fôlego, e manter o ar preenchendo os pulmões. Essa apneia cotidiana pressiona o cérebro e a mente, e os vasos e a paciência se rompem. E, sangram.

Vivo sangrando. Passamos todos a vida assim. E, essa rotina anêmica nos torna anímicos: perdemos a alma, o encanto, o brilho, a força começa a cessar, e vamos deslizando ao solo, como o balão que perde o ar.

É quando as boas vozes fazem falta. Aquelas que nos compreendem, e dizem e demonstram que não estamos sós, e que tudo ficará bem. Caridade, irmãos, é o que nos falta. Doar sangue, ar, ou amor a quem precisa, nunca fez mal a ninguém.

(Alessandra Capriles)

Sem vestes.

Cansada de gênios, que não suportam o peso de sua própria genialidade, nem de suas próprias conquistas.

Ainda prefiro o bom e velho amor sem vestes, sem máscaras, sem egos, sem hierarquias.

O amor não é um status.

(Alessandra Capriles)

Retratos Emoldurados… (Escrito em 31/03/3012)

E, da velha janela
A mesma paisagem
O vidro embaçado
Um retrato revirado
Da lembrança, da memória
Caminhando, um filme
Uma nova lógica
E, a cada dia, xícara posta à mão
Uma hora, olhar de capuccino
Outrora, camomila
E, pelo vapor que sai da xícara
Vejo cada filme passando
E, pelo movimento
Entre um gole e outro
Paralisada pelo sabor
Que me remete à nostalgia
Um novo momento
Um sorriso, uma lágrima
Temperando meus lábios
E, sinto beijos, aromas e sons
Como uma concha marejante
Ou, o vento nas folhas
Cada sopro envolve
Laça e refresca
Como no alto da pedra
Na vista da trilha
Em cada obstáculo imprevisto
Tudo previsto ao acaso
Que não creio
E, cá estão todos
Retratos mal acabados
Segundos flashs emoldurados
Por detrás da vidraça
Da tinta corroída pelo tempo
Da madeira exposta
Como cada face retratada
Cá, estamos cada um
De um lado oposto da janela
Extremos distintos
Separados por uma camada de vidro
E, de cada lado um espelho
De tudo o que vemos do outro
Em nós mesmos…

(Alessandra Capriles)

Adiantaram o carnaval.

Olha a lama!
Desce o caos…
Já dizia o profeta
Sobre a miséria e a ameaça
E, sob a lama, o povo
E sua desgraça…

E, veio a chuva lavar a sujeira
De tanta cifra lavada, levou tudo
Mas só levaram de quem já não tinha
Porque a ganância sucumbe o homem
E, a fome enche de vento barrigas
De quem, agora, só tem de descanso o relento…

E, toca a bola, faz o drible…
Mas, a bola raspou na grade…
Pra fora com faísca e tudo
Nas chamas, sonhos se apagam
No grito das labaredas
Um time inteiro sai de campo…

Agora, tem até fogo brigando com a água
É muita energia pra pouca fé…

Mas, e quem abre a boca pra gritar a verdade?
É briga feia de gente grande!
Nem faroeste tem tanto bang bang
Tem palavra com alma caindo dos céus
E, na gravidade se cala uma luz
Já está tudo ditado…

O tempo voltou pagando e cobrando
Mas, como em toda guerra
O inocente também combate com a própria vida…

O mundo errou a girada no eixo
Que reativou o caos
Um novo big bang
Os desencarnes dilaceram os peitos
Que juntos se enterram, afogam, ou ardem
Nas rédeas do desatino
De um novo sopro de fel
Que inunda ou incendeia…

Ei, moço, volta aqui!
Se tu vais embora
Quem é que paga a tua conta?
Bateu continência, agora não bata as botas
É do quartel, ou do picadeiro?
Volta, que essa zona é tua!
Segura as putas de paletó
Que o teu cabaré tá sem freio
Quero ver a ordem fluir sem a bala
Sem o tiro, sem desvios
Quero ver os pólos entrarem em realinho…

Volta, Deus, também!
Ou, manda outro meteoro
Porque, aos poucos, assim
É o diabo quem tá matando.

(Alessandra Capriles)

Meu signo é a honra.

Qual é a tua com essa conversa?

Uma hora vai embora
Me larga aqui no sufoco
E mete o pé na pressa

E, agora, esse papo de saudade
De dona do coração e amor de verdade
Na hora de sair, nem pensou duas vezes
Atitude mané, tirando de malandragem
Qual foi, então, parceiro
Não encontrou a tal da felicidade?

E, aquele papo de tempo e me esquece?
Parece que lembrou de quem é que tá junto
E na luta te fortalece

A felicidade não dura muito na rua
Cada esquina é um depósito de ilusão
Meia dúzia de vadias, alguns alucinógenos
Insônias sombrias
E um monte de palavra em vão

Cada gole, golpe ou tiro
Te joga na vala, ou no mesmo saco
Assim é pra tudo na vida
Cada escolha é um beco
E, para nem tudo há uma saída

De novo, essa mesma conversa
A mesma das mesmas promessas
Agora, não me venha falar de família
Porque tu escolheste viver na armadilha

Não me faça lembrar do teu corpo
Nem cheiro, nem gosto
Nem do teu nome composto
Que se dissolve à saliva
Salga meu peito
E faz acelerar o batimento

Será que na hora de ir
Fugindo na pressa
Batendo a porta do carro
Lembrou da promessa?

Cansei dos teus desatinos
Depois vem falar que
É louco o meu gênio e instinto
Inventa o que falar, mas você me conheceu assim
Não fui eu quem abandonou o barco
Nem fui eu que te troquei por qualquer rabo

Escrevi essa rima
Pra ver se a gente fala a mesma língua
Porque quem tem a poesia na veia
Tem na alma e na vida
Não brinca com a palavra
E respeita onde dói a ferida

Te dei sobrenome, meus sonhos, meu sangue
Tirei os teus vícios, e te devolvi um homem
Mas, cada um alimenta
O que é maior para si
E o carma da vida
Falou mais alto no ouvido pra ti

Não esquece de nada que eu digo
Nem esquece do meu ascendente e meu signo
Se, na fama, sou ar
Não se envolve e logo desapega
Na tua trama sou fogo e sou terra

Teu nome nunca deixou de ser do meu homem
Mas, na malandragem, querido
É só moleque e bandido
O que se dá, também se cobra
E, cada passo mal dado
É um caminho pra derrota
Então, escuta o que eu falo
Porque esse é meu último conselho
E, por favor, não me pague
Fica humilde, faz o certo
Não vacila e fica esperto
Aceita o que a vida te dá
Antes que a vela derreta
E a chama se apague…

(Alessandra Zabala Capriles Hosken)

Sobre a poesia…

Certa vez, disseram-me que não gostavam de poesia, porque, geralmente, era quase sempre triste…

Foi quando percebi que era uma poetisa…

Tão pouco soube na vida de felicidade, que, ao primeiro sinal, esqueci-me de que tudo não passava de algum texto inadequado à minha posição…

Não era para mim…

Acho que a felicidade, quando vem, vem só para me fazer lembrar que a poesia é o meu único lugar…

(Alessandra Capriles)

Sobre a ingenuidade e a ilusão.

Saudades do tempo em que eu acreditava que o som das cigarras vinha das estrelas.

Sim, eu acreditava… acreditava nas palavras que se juntavam à mente, e, para mim, eram elas minhas amigas. Todas as noites eu as escutava, e acreditava.

Hoje, tentei conversar com elas, mas nenhuma palavra. Será que o tempo se fez tarde, ou eu não deveria nunca ter acreditado? Ilusão, ou não, foi real enquanto acreditei…

(Alessandra Capriles)

Sobre ser feliz.

Quem tem tudo, ou consegue tudo o que quer, carrega consigo o eterno fado de não completude, porque, quando alcança o objeto desejado, cai sempre na armadilha da necessidade do novo, ou do que, por falta de cuidado, ou ganância pelo tudo, perdeu.

E, o que se alcançou assim com tão pouco esforço cai no esquecimento do velho, e nem mais se lembra do sentido que lhe deu à vida.

Olhos sempre voltados a si perdem a oportunidade de apreciar a paisagem e o pouco. Perdem a oportunidade de se dedicar e cuidar dos pequenos tesouros que têm às mãos, por desejarem braços, pernas e passos mais longos, de maior alcance, e mais distantes da realidade que o cerca.

É tão fácil se sentir infeliz, quando não se tem a capacidade do contentamento e da aceitação. Quem nunca jogou o jogo do contente nunca deu ao que a vida o presenteia o verdadeiro valor.

Paro, uso do privilégio de sempre contemplar a vista, e agradeço.

O dom do discernimento desperta a essência, e não há maior felicidade.

(Alessandra Capriles)

Sobre os interesses e as conquistas… (escrito em 03 de dezembro de 2012.)

Até que ponto as pessoas podem chegar para conquistar algo que almejam?

Será possível se deixarem usar para conquistar um objetivo material? Será possível uma pessoa não medir limites, a ponto de não se importar em prejudicar os outros? E, os que usam os que se submetem a isso para conquistar outros tipos de interesses?

Não consigo compreender, e nem acreditar fielmente nessa possibilidade. Não acredito que os valores materiais possam significar mais do que o valor do sentimento alheio.

Acredito que o universo seja mais conspirador a favor do que se projeta em empenhar-se para alcançar seus objetivos, sem interferências duvidosas.

O homem, por si, quando se concentra em seus anseios, e batalha por eles, possui concretas chances de êxito, sem que tenha que calcular os bem prováveis riscos que há nos meios não próprios.

Esse ciclo de interesses gera um novo ciclo: o das consequências. E, o caminho que se segue após é muito mais árduo do que o longo caminho ético.

Fala-se tanto em ética, e para que serve? A própria ética vai contra seu fundamento, e se contradiz quando abre precedentes contrários. Por que ela não é flexível aos anseios mais benevolentes do ser humano? Ou, será que nem todos estão dispostos a lutar com afinco para quebrar essas barreiras, e abrir mão das recompensas pouco humanas?

Tantos homens se dizem respeitados e nobres por suas posições, mas não medem suas atitudes para com os demais. “Ou fazes o que eu quero, ou não terás o que queres.” Não, não é aceitável moralmente um perfil desses para me dizer o que é correto, ou pregar palavras de respeito e amor ao próximo. Ou, vivemos em cima de um muro estreito equilibrados por uma mão cheia de poder e status, e a outra com nossos verdadeiros valores éticos, ou assumimos nossos desejos mais nobres, e abrimos mão do que nunca suprirá o gozo da real felicidade.

(Alessandra Capriles)

Sobre a família tradicional brasileira. (escrito em 16 de novembro de 2015.)

Em meio a tanta lama se espalhando, tantas ideologias cegas sangrando, é inacreditável ler postagens nas quais instituições ainda associam a mulher a atribuições domésticas, como se um homem não fosse capaz de exercer tais funções em prol da esposa ou do marido e dos filhos, ou a mulher em prol da esposa e dos filhos. Pois, só mulher hétero cuida de casa, leva e busca os filhos na escola, faz compras, prepara café, almoço, janta, resolve pendências domésticas, cuida dos filhos e do marido machão.

Como se não houvessem pais solteiros, pais homossexuais, mães solteiras, mães homossexuais, tios, tias, avós, ou outros entes que desempenhem tais funções. Pois, a doutrinação não fica nem implícita, fica totalmente explícita a ideia de que família é pai e mãe e ponto final. E, mãe fica esquentando a barriga no fogão, esfriando no tanque, e preparando cafezinho, eternamente, como em um comercial de margarina.

Tais falhas poderiam até serem vistas como um erro, uma atitude impensada, mas não. São pequenos detalhes, que só percebe quem, realmente, não se aliena, nem se impressiona com “merchans”, nem acata em silêncio como quem diz “amém”. Isto é um filtro e uma forma de dizerem “nós defendemos e pregamos a ‘família tradicional brasileira'”.

Enquanto isso, o mundo segue como segue por conta de ideologias e outras ignorâncias mais…

A violência tem diversas formas de se propagar, e esta é uma delas. Como se já não bastasse tanta lama, tanto sangue, tantos deuses para tantos povos, tantos políticos para tão pouca política, e tanta politicagem. Tão pouca fé, tão pouco amor, e nenhum respeito. Deus virou presidenciável, bélico, um juiz federal, e não de paz, um justiceiro, um diplomado, um general. E, quem não os crê? E, quem há muito já deixou de crer?

Árdua missão essa de se viver em meio a tantas hipocrisias, enquanto o mundo se explode, se rompe, corrompe, e quem paga é a plateia, quem assiste à desgraça à beira do Rio, quem é pego de surpresa, ou improvisa calado, temendo à morte, o fim, o silêncio eterno, e o cada um por si é a única opção. É tanta vulnerabilidade, que a fé tornou-se credo de uma doutrina só, e cada um defenda a sua, porque mais vale quem tem a razão, e já não é mais doce, e as barreiras que deveriam se romper, mantêm-se todas impenetráveis.

Um viva à família tradicional brasileira que lamenta calada no sofá da sala, assistindo ao jornal nacional… Ah, mas pelo menos trocaram as cores das fotos desta vez… desta vez…

(Alessandra Capriles)

Volta ao tempo…

Não consigo encontrar dentro de mim um sentimento de empatia. Não consigo expressar nada além de um olhar distante, de quem, com tamanha tristeza, tenta enxergar alguma esperança ao final dessa fúnebre apuração de votos.

Não. Não estou triste pelo partido, porque não visto camisas partidárias, senão ideológicas.

A minha angústia é por ver a triste história, mais uma vez, fazendo-se um fato, e que terei que compartilhar isso com todos aqueles que amo.

Fico triste por ver todos os ideais pelos quais lutei a minha vida inteira, despedaçados nas palavras proferidas por um homem que, em breve, assumirá nada menos do que a liderança da minha nação, e que verei a minha pátria, que tanto já sangrou por tantas outras batalhas, mais uma vez beirando o retrocesso ditatorial.

Ouço e lembro, nas palavras ácidas desse homem, como em um filme, todas as vezes que ouvia alguém criticar um amigo, conhecido, ou não, pela sua opção sexual, religiosa, sua raça, ou classe social, e eu os defendia com todas as minhas forças, porque sentia a dor de cada um deles, como se doesse em mim tal preconceito.

As palavras dele doem em mim, como nas inúmeras mulheres que sentem o peso de somente ser. E, eu como mulher e mãe, que durante muito tempo carregou o peso do “solteira”, sinto-me na obrigação de vestir a camisa da razão e do discernimento.

Não consigo confiar em quem prega o discurso do ódio, embasando sua mediocridade no armamento da população, enquanto defende o ensino exclusivo à distância, desde o fundamental, como uma forma ditatorial de afastar os alunos dos debates, com aulas gravadas. Uma coisa é ensino remoto, outra coisa é aula online gravada, robotizada, enlatada, como um fast food. Esse homem não entende de educação, e também não quer que você entenda.

Vê-se o tamanho despreparo de quem não conhece a realidade do povo, que já, por muito menos, troca seus livros por armas, mesmo sem uma boa desculpa para se distanciar das salas de aula e do convívio social, enquanto suas mães, que além de terem que carregar o fardo de sustententá-los, muitas vezes sozinhas, ainda têm que monitorar a educação deles, sem um acompanhamento presencial, ou remoto, mesmo sem poder abrir mão de suas próprias vidas. Creche? Babá? Com um salário mínimo e altas taxas, esquece… Melhor mesmo ir se virar nas ruas, pegar sua arma, e escolher o seu lado da guerra. Qual será o calibre que brilha mais?

É como um fatídico remake de Farenheit 451. É assim que vejo a educação tomando seu rumo. Falta conhecimento. Falta preparo. Faltam um plano e uma trajetória política de projetos relevantes. Falta bom senso. É um prenúncio ditatorial. Ouçam o que digo.

Enquanto sobra boçalidade no verbo, na fé e na atitude de quem não sabe discernir o básico.

Não leciono nas salas de aula convencionais, leciono no cotidiano, na vida, no dia a dia, mas o pouco que presenciei, durante a vivência que tive, foi suficiente para que a minha missão se tornasse militar, na militância diária por onde eu passar, pela ética, pelo respeito, e pelos direitos e deveres igualitários e democráticos. E, dessa luta eu não abro mão.

Não por partido, não por direita, nem esquerda, mas por mim, pelos meus e pela minha nação, que eu me incluo no luto e na luta. Os verdadeiros ideais me importam mais.

(Alessandra Capriles)