Em um país tropical e biodiverso como o nosso, alguns animais acabam se tornando conhecidos e ganhando maior notoriedade pela população — é o caso dos macacos, encontrados em florestas e zoológicos, mas também em vegetações urbanas.
Porém, o que muita gente não sabe é que "macaco" é um termo muito generalista, usado popularmente para se referir a todos os primatas, com exceção dos lêmures, lóris e társios e dos humanos.
“Nesse sentido mais popular, o termo 'macacos' inclui, entre outras espécies de primatas, os gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, explica Pedro Pereira Rizzato, professor doutor do Departamento de Zoologia da USP.
Pedro diz que, na verdade, todos os macacos são primatas — ou seja, pertencentes a uma ordem de animais da classe dos mamíferos a qual, inclusive, pertencem os seres humanos.
Em um sentido técnico, porém, o termo “macacos” é utilizado de maneira mais restrita para se referir aos chamados “macacos do Velho Mundo”, que são nativos da África e Ásia (como, por exemplo, os macacos-rhesus, os babuínos e mandris) e aos chamados “macacos do Novo Mundo”, nativos do México, América Central e América do Sul (como os macacos-prego, macacos-aranha, saguis e micos).
“Nesse sentido, então, o termo macacos não inclui os gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, diz Pedro.
Resumidamente, todos os macacos são primatas, mas nem todos os primatas são macacos.
O que há de especial nos hominoides?
As cinco espécies por Pedro têm um certo destaque na zoologia. Elas são chamadas de “primatas hominoides”, grupo que reúne primatas atuais e extintos evolutivamente mais próximos dos seres humanos.
As evidências desse parentesco estão nas similaridades do material genético, além de semelhanças anatômicas como, por exemplo, o fato de não possuirmos cauda (ou "rabo"), conforme explica Pedro.
“Apesar disso, nós, humanos, temos uma região curta na parte inferior da nossa coluna vertebral, chamada cóccix. Ela corresponde a uma cauda vestigial, uma evidência de que nosso ancestrais mais distantes já tiveram, um dia, uma cauda bem desenvolvida como a dos macacos, mas que, ao longo da nossa história evolutiva, ela foi sendo reduzida até desaparecer.”
Já os demais primatas (lêmures, lóris, társios e os macacos do Velho e Novo Mundo) possuem caudas, em geral, bem desenvolvidas.
Segundo Pedro, outra característica que ajuda a diferenciar esses dos demais primatas é o tamanho corporal: os orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos são, assim como os humanos, maiores que a boa parte das espécies de macacos.
Em contrapartida, algumas espécies de macacos, como o mandril, podem atingir tamanhos corporais maiores que um bonobo, por exemplo.
Semelhanças no comportamento
Já com relação ao comportamento, o biólogo chefe do setor de Mamíferos do Zoológico de São Paulo, Luan Henrique Morais, aponta:
“De modo geral, os primatas são animais sociais, vivem em bandos de números variados, onde cada indivíduo assume uma posição hierárquica dentro do grupo”.
Contudo, existem particularidades que ajudam a diferenciar os primatas hominoides dos macacos. Por exemplo, geralmente os macacos passam a maior parte do tempo em árvores e ficam pouco no solo (com algumas exceções, como os geladas e o próprio mandril).
“Enquanto isso, os nossos parentes primatas mais próximos passam bem mais tempo no solo ao invés de pendurados em árvores. Por fim, o volume cerebral dessas espécies é comparativamente maior do que o dos macacos em geral”, diz Pedro.
Luan explica que os primatas são animais onívoros e consomem matéria vegetal, como folhas, frutos, seiva de árvores e brotos, além de pequenos vertebrados, invertebrados e ovos.
A dieta daquelas espécies mais próximas aos humanos inclui, como a nossa — ao menos originalmente —, muitas frutas.
“Orangotangos consomem muitas frutas e podem até ajudar a dispersar as sementes de algumas espécies de plantas. Gorilas costumam se alimentar também de folhas, brotos e raízes. Chimpanzés e bonobos também têm preferência por frutas”, comenta Pedro.
Segundo ele, porém, todas essas espécies mais próximas dos humanos consomem também alimentos de origem animal, desde insetos e bichos menores até alguns vertebrados maiores, incluindo outros primatas, como macacos de pequeno e médio porte.
Planeta dos macacos — ou dos primatas?
Talvez essas diferenças e similaridades sejam mais fáceis de serem compreendidas no inglês, em que é utilizado o termo apes para se referir coletivamente aos primatas com quem temos maior parentesco (isto é, os hominoides), e monkeys para os macacos do Velho e Novo Mundo.
“Isso é interessante porque, se formos reparar, a famosa franquia de filmes que nós conhecemos no Brasil como Planeta dos Macacos é chamada originalmente de Planet of the Apes, usando o termo em inglês restrito aos gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, diz Pedro.
Mas, caso você esteja se questionando, o chimpanzé e o bonobo são aqueles com quem temos maior proximidade dentre essas cinco espécies:
“Os humanos pertencem à espécie Homo sapiens. Embora não seja correto dizer que evoluíram dos macacos, compartilham um ancestral comum. Em termos biológicos, os parentes vivos mais próximos de nós são os chimpanzés e bonobos, com os quais compartilhamos mais de 99% de semelhança genética”, explica Luan.
Inclusive, há quem ache que os chimpanzés e bonobos deveriam ser incluídos no gênero humano, dada a mínima diferença do material genético. É o caso do zoólogo Morris Goodman, professor da Universidade Estadual de Wayne, em Detroit (EUA), e um dos autores do estudo que descobriu a similaridade genética de 99,4% entre chimpanzés e seres humanos.
Para ele, a informação do DNA combinada como parentesco ancestral deveria levar à criação de uma nova família, com o gênero Homo incluindo humanos, chimpanzés e bonobos. Atualmente, os chimpanzés estão classificados como gênero Pan.
A intenção de Morris e de seus colegas cientistas que concordam com a proposta é provocar uma nova abordagem na maneira em que lidamos com nossos parentes. Isso seria positivo para que as pessoas os entendessem como seres racionais e emocionais e, assim, demonstrassem maior compaixão e respeito.