Comportamento

Por Yara Guerra


Todos os macacos são primatas, mas nem todos os primatas são macacos — Foto: Unsplash/ satyadeep_d/ Creative Commons
Todos os macacos são primatas, mas nem todos os primatas são macacos — Foto: Unsplash/ satyadeep_d/ Creative Commons

Em um país tropical e biodiverso como o nosso, alguns animais acabam se tornando conhecidos e ganhando maior notoriedade pela população — é o caso dos macacos, encontrados em florestas e zoológicos, mas também em vegetações urbanas.

Porém, o que muita gente não sabe é que "macaco" é um termo muito generalista, usado popularmente para se referir a todos os primatas, com exceção dos lêmures, lóris e társios e dos humanos.

“Nesse sentido mais popular, o termo 'macacos' inclui, entre outras espécies de primatas, os gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, explica Pedro Pereira Rizzato, professor doutor do Departamento de Zoologia da USP.

Pedro diz que, na verdade, todos os macacos são primatas — ou seja, pertencentes a uma ordem de animais da classe dos mamíferos a qual, inclusive, pertencem os seres humanos.

Orangotangos (foto), gibões, gorilas, chimpanzés e bonobos são considerados símios, o grupo de primatas atuais e extintos evolutivamente mais próximos dos seres humanos — Foto: Unsplash/ cameramandan83/ Creative Commons
Orangotangos (foto), gibões, gorilas, chimpanzés e bonobos são considerados símios, o grupo de primatas atuais e extintos evolutivamente mais próximos dos seres humanos — Foto: Unsplash/ cameramandan83/ Creative Commons

Em um sentido técnico, porém, o termo “macacos” é utilizado de maneira mais restrita para se referir aos chamados “macacos do Velho Mundo”, que são nativos da África e Ásia (como, por exemplo, os macacos-rhesus, os babuínos e mandris) e aos chamados “macacos do Novo Mundo”, nativos do México, América Central e América do Sul (como os macacos-prego, macacos-aranha, saguis e micos).

“Nesse sentido, então, o termo macacos não inclui os gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, diz Pedro.

Resumidamente, todos os macacos são primatas, mas nem todos os primatas são macacos.

O que há de especial nos hominoides?

As cinco espécies por Pedro têm um certo destaque na zoologia. Elas são chamadas de “primatas hominoides”, grupo que reúne primatas atuais e extintos evolutivamente mais próximos dos seres humanos.

As evidências desse parentesco estão nas similaridades do material genético, além de semelhanças anatômicas como, por exemplo, o fato de não possuirmos cauda (ou "rabo"), conforme explica Pedro.

“Apesar disso, nós, humanos, temos uma região curta na parte inferior da nossa coluna vertebral, chamada cóccix. Ela corresponde a uma cauda vestigial, uma evidência de que nosso ancestrais mais distantes já tiveram, um dia, uma cauda bem desenvolvida como a dos macacos, mas que, ao longo da nossa história evolutiva, ela foi sendo reduzida até desaparecer.”

Primatas menos próximos ao ser humano, como o lêmure, apresentam caudas, em geral, bem desenvolvidas — Foto: Unsplash/ aldrinrachmanpradana/ Creative Commons
Primatas menos próximos ao ser humano, como o lêmure, apresentam caudas, em geral, bem desenvolvidas — Foto: Unsplash/ aldrinrachmanpradana/ Creative Commons

Já os demais primatas (lêmures, lóris, társios e os macacos do Velho e Novo Mundo) possuem caudas, em geral, bem desenvolvidas.

Segundo Pedro, outra característica que ajuda a diferenciar esses dos demais primatas é o tamanho corporal: os orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos são, assim como os humanos, maiores que a boa parte das espécies de macacos.

Em contrapartida, algumas espécies de macacos, como o mandril, podem atingir tamanhos corporais maiores que um bonobo, por exemplo.

Semelhanças no comportamento

Já com relação ao comportamento, o biólogo chefe do setor de Mamíferos do Zoológico de São Paulo, Luan Henrique Morais, aponta:

“De modo geral, os primatas são animais sociais, vivem em bandos de números variados, onde cada indivíduo assume uma posição hierárquica dentro do grupo”.

De modo geral, os primatas são seres sociais e vivem em bando. Na foto, bonobos no zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos — Foto: Unsplash/ Sean Foster/ Creative Commons
De modo geral, os primatas são seres sociais e vivem em bando. Na foto, bonobos no zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos — Foto: Unsplash/ Sean Foster/ Creative Commons

Contudo, existem particularidades que ajudam a diferenciar os primatas hominoides dos macacos. Por exemplo, geralmente os macacos passam a maior parte do tempo em árvores e ficam pouco no solo (com algumas exceções, como os geladas e o próprio mandril).

“Enquanto isso, os nossos parentes primatas mais próximos passam bem mais tempo no solo ao invés de pendurados em árvores. Por fim, o volume cerebral dessas espécies é comparativamente maior do que o dos macacos em geral”, diz Pedro.

Luan explica que os primatas são animais onívoros e consomem matéria vegetal, como folhas, frutos, seiva de árvores e brotos, além de pequenos vertebrados, invertebrados e ovos.

A dieta daquelas espécies mais próximas aos humanos inclui, como a nossa — ao menos originalmente —, muitas frutas.

“Orangotangos consomem muitas frutas e podem até ajudar a dispersar as sementes de algumas espécies de plantas. Gorilas costumam se alimentar também de folhas, brotos e raízes. Chimpanzés e bonobos também têm preferência por frutas”, comenta Pedro.

Parentes primatas mais próximos aos seres humanos passam menos tempo em árvores e mais tempo no solo. Na foto, um chimpanzé no zoológico de Leipzig, na Alemanha — Foto: Wikipedia/ Thomas Lersch/ Wikimedia Commons
Parentes primatas mais próximos aos seres humanos passam menos tempo em árvores e mais tempo no solo. Na foto, um chimpanzé no zoológico de Leipzig, na Alemanha — Foto: Wikipedia/ Thomas Lersch/ Wikimedia Commons

Segundo ele, porém, todas essas espécies mais próximas dos humanos consomem também alimentos de origem animal, desde insetos e bichos menores até alguns vertebrados maiores, incluindo outros primatas, como macacos de pequeno e médio porte.

Planeta dos macacos — ou dos primatas?

Talvez essas diferenças e similaridades sejam mais fáceis de serem compreendidas no inglês, em que é utilizado o termo apes para se referir coletivamente aos primatas com quem temos maior parentesco (isto é, os hominoides), e monkeys para os macacos do Velho e Novo Mundo.

“Isso é interessante porque, se formos reparar, a famosa franquia de filmes que nós conhecemos no Brasil como Planeta dos Macacos é chamada originalmente de Planet of the Apes, usando o termo em inglês restrito aos gibões, orangotangos, gorilas, chimpanzés e bonobos”, diz Pedro.

Seres humanos e chimpanzés compartilham 99,4% do material genético — Foto: Wikipedia/ Matthew Hoelscher/ Wikimedia Commons
Seres humanos e chimpanzés compartilham 99,4% do material genético — Foto: Wikipedia/ Matthew Hoelscher/ Wikimedia Commons

Mas, caso você esteja se questionando, o chimpanzé e o bonobo são aqueles com quem temos maior proximidade dentre essas cinco espécies:

“Os humanos pertencem à espécie Homo sapiens. Embora não seja correto dizer que evoluíram dos macacos, compartilham um ancestral comum. Em termos biológicos, os parentes vivos mais próximos de nós são os chimpanzés e bonobos, com os quais compartilhamos mais de 99% de semelhança genética”, explica Luan.

Inclusive, há quem ache que os chimpanzés e bonobos deveriam ser incluídos no gênero humano, dada a mínima diferença do material genético. É o caso do zoólogo Morris Goodman, professor da Universidade Estadual de Wayne, em Detroit (EUA), e um dos autores do estudo que descobriu a similaridade genética de 99,4% entre chimpanzés e seres humanos.

Para ele, a informação do DNA combinada como parentesco ancestral deveria levar à criação de uma nova família, com o gênero Homo incluindo humanos, chimpanzés e bonobos. Atualmente, os chimpanzés estão classificados como gênero Pan.

A intenção de Morris e de seus colegas cientistas que concordam com a proposta é provocar uma nova abordagem na maneira em que lidamos com nossos parentes. Isso seria positivo para que as pessoas os entendessem como seres racionais e emocionais e, assim, demonstrassem maior compaixão e respeito.

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