A mudança foi feita por iniciativa do Presidente da República, e a decisão está a provocar debate político sobre os poderes presidenciais. A mudança é subtil, mas não desprovida de significado. A ideia, encorajada pelo diretor de operações de Macron, Arnaud Jolens, e pelo conselheiro Bruno Roger-Petit, consistiu em alterar a faixa azul da bandeira, tornando-a num tom mais escuro.
O novo tom de azul marinho, mais “elegante”, consubstancia um regresso às versões mais antigas da bandeira francesa, e representa uma ligação aos símbolos e valores da Revolução Francesa, de acordo com a comitiva do Chefe de Estado. Depois da Revolução, em 1974, a cor escolhida para a bandeira foi precisamente o azul marinho.
Um comunicado oficial da Presidência citado pela Euronews explica em maior detalhe as razões por detrás da mudança: “O Presidente da República escolheu para as bandeiras tricolores que adornam o Palácio do Eliseu o azul marinho que evoca os Voluntários do Ano II, os Poilus de 1914 e os Compagnons de la Libération da França.”
‘Voluntários do Ano II’ é o título dado aos homens que se alistaram voluntariamente no exército em 1791, depois da Revolução Francesa, para defender o país de uma invasão da Prússia. Poilu é um termo usado para identificar os membros da infantaria francesa da Primeira Guerra Mundial, e os Compagnons de la Libération são um conjunto de pessoas premiadas com a Ordem da Libertação, uma honra atribuída por feitos militares em França.
A Euronews partilhou ainda no Twitter uma imagem onde fica patente a diferença entre os dois tons de azul:
É assim preterido o tom mais claro de azul cobalto, instituído por Valéry Giscard d’Estaing (Presidente do país entre 1974 e 1981). Giscard escolheu este tom de azul em 1976 por ser o mesmo tom da bandeira da União Europeia, para evitar um confronto estético entre os dois tons de azul – o que levou certos críticos a olharem para esta mudança como uma ‘separação’ da Europa, embora fontes oficiais já tenham desmentido esta teoria.
Ambas as versões têm vindo a ser utilizadas em França, sendo que a Marinha – que também apoiou a decisão de Macron – manteve a versão anterior a 1976.
“Não é uma guerra de azuis”
De acordo com o Huffington Post, a mudança foi implementada a 13 de julho do ano passado, quando todas as bandeiras em volta do Palácio do Eliseu – a residência oficial do Presidente francês – foram alteradas.
Mas pode o Presidente tomar uma decisão deste tipo? A mudança do azul na bandeira gerou contestação política, com alguns opositores a afirmarem que esta decisão unilateral representa o poder excessivo do Chefe de Estado.
É o caso de Julien Bayou, secretário-geral do partido francês Europe Écologie – Les Verts que, na sua página do Twitter, comparou Macron a “um Presidente-Júpiter que decide tudo sozinho, o tempo todo”, acrescentando que apesar de ter mudado a cor da bandeira, não age a respeito de outros assuntos importantes para o país como o clima, a luta contra a violência contra as mulheres ou o futuro da juventude.
A resposta é sim: uma alteração deste tipo não está vedada ao Presidente francês. De acordo com o historiador Jean Garrigues, o Presidente tem o direito de alterar um emblema nacional. “Faz parte de um certo número de privilégios. Em França, a presidência da República é uma espécie de monarquia republicana”, explica o historiador, em declarações à franceinfo.
As fontes oficiais do Presidente garantem, no entanto, que a ideia não é de todo criar uma fragmentação com a Europa: “Não é uma guerra de azuis, não faz sentido”, explicaram.
Louis de Raguenel, editor de política na rádio Europe1, realça que Macron procedeu à alteração da cor da bandeira sem falar sobre isso publicamente, acrescentando que a decisão foi precedida de um debate interno no Palácio do Eliseu, entre aqueles que consideram que a nova bandeira representa um choque com a da União Europeia, e outros, que se mostram a favor por voltarem a ver a bandeira dos seus anos de infância, antes da alteração levada a cabo por Giscard.