Foi apenas dos Filósofos que viveram depois de Sócrates que chegaram até nós obras completas. Esses Filósofos eram denominados por pós-socráticos: pequenos e grandes socráticos. Foram discípulos de Sócrates e fundaram algumas escolas de filosofia segundo as linhas do pensamento socrático, embora Sócrates não tivesse fundado nenhuma. Esta página foca essas escolas de forma resumida.
ESCOLAS FILOSÓFICAS
Podem-se distinguir dentro dos pós-socráticos os pequenos e grandes
socráticos. A principal diferença entre estes resume-se ao facto de que os
pequenos socráticos exploravam a interioridade, enquanto que os grandes socráticos
empenharam-se em precisar as condições segundo as quais o homem podia ser
mestre das coisas e do saber. Os pequenos socráticos falsearam a mensagem de Sócrates
querendo acusá-la com traços particulares que destacavam da visão do mundo em
que estes tomavam sentido. É de referir que os pequenos e grande socráticos
olhavam-se com despeito. Apesar das diferenças entre as escolas socráticas,
todas concordavam na importante característica da doutrina socrática: o maior
bem do homem era a sabedoria.
Resumo das escolas:
Megáricos:
Euclides de Mégara, fundou uma escola
em Mégara,tendo outros representantes da escola como: Eubúlides de Mileto
(adversário de Aristóteles), Diodoro Crono (morto em 307 a.C.) e Estílpon,
que ensinou em Atenas por volta de 320. "Se tu dizes que mentiste, ou dizes a verdade e então mentiste, ou dizes o falso e então dizes a verdade." (in Abbagnano, página 113)
Cirenaicos: Aristipo fundou uma escola em Cirena. Os cirenaicos, retêm do "conhece-te a ti próprio" uma lição de egocentrismo utilitário. Para os cirenaicos conhecer-se a si próprio era definir o prazer e procurá-lo. O bem se reconduzia ao prazer ou ao refinamento no prazer, objectivo para uma vida guiada pela razão. Consideravam que o critério da verdade era a sensação e que esta era sempre verdadeira, mas que nada dizia sobre a natureza do objecto que a produz. Por exemplo, podemos afirmar com certeza que vemos o branco ou sentimos o doce, mas não é possível demonstrar que o objecto que produz a sensação seja branco ou doce. Segundo Aristipo, o bem consistia apenas nas sensações agradáveis e a sensação agradável era sempre actual. O fim do homem era portanto o prazer, não a felicidade. O prazer era uma coisa precisa que só vivia no instante presente. Não davam qualquer valor à recordação dos prazeres passados e à esperança nos futuros, mas apenas ao prazer do instante. Aristipo dizia: "só o presente é nosso, não o momento passado nem aquele que aguardamos, porque um já está destruído e o outro não sabemos se existirá. (in Abbagnano, página 119)
Aceitar o prazer do
instante era, a via da virtude. Aristipo pôs em destaque do ensino de Sócrates
o imperativo de independência pessoal e de procura do bem. A escola cirenaica
foi a primeira escola hedionista que encontrou prolongamento, um século mais
tarde, na filosofia de Epicuro.
Cínicos:
Antístenes e Diógenes
levaram a ironia socrática até aos últimos limites do escândalo e do
sarcasmo. O cinismo era pois a filosofia do maior lance: a ironia, depois de Sócrates,
tendia para a blasfémia e para os piores exageros do radicalismo moral. O
objectivo último de uma vida serena e racional era a virtude, ou seja, o domínio
das próprias paixões e apetências. A virtude era concebida como inteiramente
suficiente por si mesma. Não existia outro bem fora dela. Para os cínicos, o
que os homens chamavam de bens e acima de tudo o prazer, eram males porque
distraíam ou afastavam a virtude. Antístenes costumava dizer que:
" Antes queria ser louco do que gozar.
Para isso, o homem deveria procurar libertar-se das necessidades que o
escravizavam. O sábio deveria apenas viver com o indispensável, desprezando o
supérfluo, que era considerado como fonte de escravidão moral. Os cínicos
prescindiam assim de todas as convenções sociais e faziam gala na sinceridade
dos seus juízos e respostas. Submetiam-se a uma vida miserável como imperativo
da virtude. Contra a religião tradicional afirmavam que Deuses eram muitos mas
que segundo a natureza só havia um Deus. A escola dos cínicos encontrou
prolongamento, no início do século III, no estoicismo de Zenão de Cítia.
Academia de Platão: Platão fundou em Atenas (387 a.C.) a Academia e foi discípulo de Sócrates. A Academia era uma escola filosófica que se situava junto das muralhas de Atenas no bosque Heros AKademos, devido ao nome deste bosque Platão deu o nome de Academia à sua escola.
Mosaico do Museu Nacional de Nápoles, que representa uma reunião de Filósofos na Academia ateniense fundada por Platão:
A escola de Platão, era uma instituição
devotada a estudos superiores. Não se entrava na Academia para tirar um
curso de determinados anos. Entrava-se, saí-se, ficava-se o tempo que se
quisesse. Não havia carreiras, exames, cursos com limites. Ía-se para
aprender, para ensinar. O objectivo da pedagogia platónica era conseguir uma
elite altamente qualificada, capaz de agir com eficácia em tarefas de
responsabilidade. Este objectivo, segundo Platão, só seria possível por meio
de uma aprendizagem escalonada e prevista até ao último pormenor, com um
programa de estudo que ía até aos 50 anos. Pela primeira vez agrupavam-se as
disciplinas em ramos diferentes. Na Academia houve sempre a preocupação da
realidade sensível e das ideias e no início a frequência era gratuita, mas
pouco e pouco foram-se cobrando propinas para cobrir as despesas causadas
primeiro que tudo, pelos alunos que viviam na instituição. A
Academia representou um ponto de partida para a formação de novas instituições
educativas atenienses.
Liceu de Aristóteles:
Aristóteles fundou a sua
própria escola, o Liceu, a sudoeste de Atenas no ano de 355 a.C. No século II,
graças à expansão da sua forma de encarar os problemas científicos,
transformou-se na única concorrente séria da Academia, que durante algum tempo
foi relegada para segundo plano em relação á escola de Aristóteles. O Programa educativo apresentava um
panorama de carácter totalitário. Para os aristotélicos era mais necessário
aprofundar as ciências da Natureza e não tanto, como preferia Platão, a Matemática.
Construíram métodos científicos de verificação e alcançaram uma ética que
se aplicava tanto aos particulares como ao Estado. A ciência permanecia como
objectivo inalterável para uma vida correcta, já que os homens se tornavam
bons através de três coisas: Natureza, hábito e razão. A estes pontos
correspondiam o desenvolvimento do talento natural, a disciplina (e com ela o hábito
das formas correctas de comportamento) e a teoria (como premissa de todo o
raciocínio). Estes eram os instrumentos da teoria educativa de Aristóteles. No entanto, descobriram-lhe um poema, um
hino que ele escrevera dedicado a um tirano, Hermias. O louvor, a heroicização
de um ex-escravo, depravado, eunuco, bárbaro, estrangeiro, déspota levou à revolta de Atenas. Aristóteles sabendo de que
conspiravam contra ele e num acto
de prudência, reconheceu que não podia esperar a decisão do tribunal. À
pressa, fechou o Liceu, confiou as chaves a Teofrasto e lançou um último olhar à
biblioteca, às colecções, às salas de trabalho. Aristóteles, pensando em Sócrates, referiu que não queria que os Atenienses cometessem um novo assassínio contra a filosofia. Note-se que Aristóteles
caracterizou a investigação de Sócrates do ponto de vista lógico, afirmando
O raciocínio indutivo era aquele que, do exame de um certo número de
casos ou afirmações particulares, conduzia a uma afirmação geral que exprime
um conceito. O raciocínio indutivo dirigia-se, portanto, para uma definição do
conceito; e o conceito exprimia a essência ou a natureza de uma coisa, aquilo
que a coisa era verdadeiramente.
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Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt
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