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XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 “Tudo dança em uma casa em mudança”: O Festival Cururu e Siriri e a estética da inovação. Aaron Roberto de Mello Lopes Emus/UFBA – aaronmlopes@yahoo.com.br Resumo: O presente artigo discute a questão da mudança musical e cultural por que vem passando as culturas tradicionais do cururu e do siriri mato-grossenses, através da ação do Festival Cururu Siriri evento de caráter midiático e espetacular que tem alterado de maneira significativa o fazer musical e cultural destas duas tradições. Para isso, faz-se uma breve discussão sobre o conceito de mudança a partir de autores clássicos da etnomusicologia, contextualizando-a no festival. Apesar de toda a mudança de contexto e de performance, percebe-se que a música tem sofrido poucas alterações até o momento. Palavras-chave: Etnomusicologia, Cultura Mato-grossense, Festival Cururu Siriri, mudança. “All dance in a house in change”: The Cururu Siriri Festival and the aesthetic of innovation. Abstract: this paper discusses the cultural and musical change that has experienced the mato grosso cururu and siriri cultural traditions, through the actions of the Festival Cururu Siriri – an event with spectacular and media character, who have changed the musical and cultural making of this two traditions. TO do this, its necessary a brief discussion of the change concept from the classic authors of the ethnomusicology, Despite all these performance and context change, it perceives that the music has changed little so far. Keywords: Ethnomusicology, Mato-grosso Culture, Cururu Siriri Festival, change. 1. Introdução Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar. (Chico Buarque de Holanda) Nesta música, intitulada valsinha, Chico Buarque fala sobre uma mudança brusca de comportamento que acontece com o sujeito da ação sem motivo aparente. Ele simplesmente “chegou tão diferente” e mudou seu jeito de agir com a vida e com sua mulher. Em outro trecho desta música, percebe-se que essa simples mudança de comportamento individual gera uma mudança coletiva, alterando todo o comportamento e o conceito de vida daquela comunidade1. Este fenômeno é muito parecido com o que tem acontecido com as tradições do siriri2 e do cururu3 dentro do Festival Cururu Siriri. Buscando inspiração na música que abre esse artigo, pode-se traçar uma metáfora dela com o festival, iniciado em 2002, que, de modo similar, também fez com que a cultura popular da cidade “chegasse um dia tão diferente do seu jeito de sempre chegar”. Este festival acabou se tornando o XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 sujeito\inovador do seu contexto, como o é também o personagem da música de Chico Buarque. Este evento, de caráter midiático e espetacular, tem alterado os rumos destas duas tradições ao (re)valorizar os estilos musicais do cururu e siriri, seus grupos, repertórios, danças e mestres populares, e projetá-los como protagonistas do novo processo de (re)afirmação da identidade cultural cuiabana e mato-grossense. Portanto, este artigo busca investigar o processo de mudança cultural e musical e sua importância para o contexto da cultura em que acontece. Tratarei da mudança a partir de sua relação com a história da etnomusicologia e do debate de alguns de seus conceitos básicos, partindo do ponto de vista de três autores clássicos da disciplina – Bruno Nettl, Alan Merriam e John Blacking – e de autores de outras áreas como Hobsbawn e Hall. Buscarei neste trabalho, trazer como exemplo dessa discussão o processo de mudança cultural e musical que vem ocorrendo em Cuiabá, especificamente a que acontece por causa do Festival Cururu e Siriri. 2. Ponderações sobre a mudança cultural e musical Para entender melhor o que se define como sendo mudança cultural, Spradley (1989, pg. 302) a define como sendo “o processo pelo qual alguns membros de uma sociedade revisam seu conhecimento cultural e o usam para gerar e interpretar novas formas de comportamento social”. Nesta definição, os sujeitos são os principais responsáveis pela mudança da sua cultura, o que vai imediatamente de encontro com ideias românticas de preservação e resgate, onde as pessoas de algumas culturas (geralmente orais) não tinham nenhuma noção da “aculturação” ou do “colonialismo” a que estavam sendo submetidas pela cultura dita dominante. Restava aos estudiosos da época (que Blacking (1995) chama de puristas) ensiná-los a preservar suas tradições para que estas não acabassem4. Sobre essas ideias, Nettl (2005: pg.1\2) afirma: “imaginava-se que o estado normal da música não ocidental era estático, sendo que mudança era equacionada à poluição, e o objetivo principal do pesquisador era o de preservar”. Este fato é também corroborado por Laraia (1986: pg.98) quando afirma que, por mudarem de modo bastante lento (para os padrões ocidentais), as sociedades tradicionais dão a impressão de serem estáticas. Segundo ele: As sociedades indígenas isoladas têm um ritmo de mudança menos acelerado do que o de uma sociedade complexa, atingida por sucessivas inovações tecnológicas. Esse XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 ritmo indígena decorre do fato de que a sociedade está satisfeita com muitas de suas respostas ao meio e que são resolvidas por soluções tradicionais (LARAIA. 1986 pg.99). Laraia toca em dois pontos importantes e muito discutidos por autores mais atuais. O primeiro remete à noção do tempo em que ocorre a mudança cultural. Sobre essa noção, Hall afirma que as sociedades pós-modernas, em contraste às sociedades tradicionais, são “sociedades de mudança constante, rápida e permanente” (2006, pg.14). Isso se deve à própria ideologia desta, que valoriza a inovação, em detrimento da repetição, processo que ele chama de “descontinuidades”. Outro ponto é o do conceito do que seria uma sociedade tradicional, ou o que se poderia chamar de tradição. Giddens afirma: Nas sociedades tradicionais, o passado é venerado e os símbolos são valorizados porque contém e perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um meio de lidar com o tempo e o espaço, inserindo qualquer atividade ou experiência particular na continuidade do passado, presente e futuro, os quais, por sua vez, são estruturados por práticas sociais recorrentes (1990, pg.37-8 in Hall, id., pg.14). Esse conceito de tradição de Giddens é reafirmado por Hobsbawn (1997), apesar deste autor destacar que o conceito de tradição é algo inventado e que se caracteriza por ser “invariável”. Para ele, as tradições são “realmente inventadas, construídas e formalmente institucionalizadas” (pg.9). Essa ideia de manter a tradição a todo custo é apenas uma forma de reafirmar essa mentalidade – ideia essa defendida pelos puristas culturais e pelo seu conceito de autenticidade5. Os etnomusicólogos demoraram a se interessar pela mudança musical. Apesar de hoje considerá-la como fator essencial do fazer musical e da própria configuração da sua disciplina, a etnomusicologia passou décadas sumariamente ignorando-a. Isso se deveu principalmente ao fato de que a disciplina estava presa à ideia de “tradição”, ou seja, algo imutável e que precisava ser preservado a qualquer custo – o que seria papel do etnomusicólogo (NETTL, 2005). Além disso, em uma escala menor, a etnomusicologia estava precisando se afirmar enquanto ciência, e estava, portanto, interessada na recorrência, pois, segundo o pensamento corrente da época, como entender uma música dentro de um contexto não repetitivo? Que padrões de escuta e análise tomar, sem nenhuma referência constante? XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 Aos poucos esse pensamento foi se extinguindo, e a mudança saiu de um extremo a outro deste contínuo: da sumária renegação à principal âncora da disciplina. Como afirma Nettl: “o estudo da mudança, realizada de maneiras diversas, tornou-se gradualmente o principal tópico da pesquisa etnomusicológica” (2005, pg.3). Segundo Merriam, existem dois tipos de mudança cultural – a interna e a externa. Apesar de não serem claramente diferenciáveis, já que as duas formas se misturam de maneiras às vezes imperceptíveis, “a mudança interna é usualmente chamada de „inovação‟ enquanto que mudança externa está associada ao processo de aculturação” (id. Pg.303). Nestes termos, a inovação é uma mudança da “cultura na própria cultura”, sem influências estrangeiras. Já a mudança externa é o resultado de trocas de padrões culturais. O processo de mudança pode ser ainda subdividido, segundo Spradley (1989), em quatro processos sequenciais: a) inovação - “recombinação de conceitos através de duas ou mais configurações mentais em um novo padrão que é qualitativamente diferente de outras formas existentes”; b) aceitação social - o momento onde o sujeito\inovador leva a sua ideia para o corpo cultural que a julga como válida ou não6; c) performance - o momento de por em prática as ideias novas. “é usada por alguns membros de uma sociedade para interpretar experiências e\ou gerar (novo) comportamento”; e d) integração da nova ideia às atividades culturais. Além destes esquemas de Spradley e Merriam, Nettl também subdivide os processos de mudança musical, mas levando em conta a complexidade de mudança. Segundo o autor, voltando à questão da mudança musical em si, ele encontra quatro visões sobre ela, diferentes da dicotomia de Merriam e onde as mudanças interna e externa se misturam: 1 substituição de um sistema musical por outro; 2 - mudança radical de um mesmo sistema; 3 mudança gradual e normal, partindo do pressuposto que qualquer sistema musical requer o mínimo de mudança e inovação; 4 - simples variações. Essas visões muitas vezes não são necessariamente percebidas como mudança. Todos estes processos de mudança são considerados, atualmente, quase impossíveis de se identificar, pois não se tem como definir o que é uma “mudança radical” e o que é uma “simples variação”. Diante disso, Blacking (1995), em uma visão mais êmica e menos universalista, busca explicações para a mudança dentro do próprio sistema musical da cultura estudada, sem levar em consideração as influências externas. Segundo ele, a mudança musical “não é „causada‟ pelo „contato entre pessoas e culturas‟ ou pelo „movimento de XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 populações‟(Nettl 1964: 232): ela é construída a partir de decisões feitas pelos indivíduos sobre o fazer musical e da música como base de suas experiências em música e suas atitudes para com ela em diferentes contextos sociais” (1995: pg. 160). Além disto, Segundo Blacking, “para qualificar algo como mudança musical, o fenômeno descrito tem que se constituir em uma mudança na estrutura do sistema musical, e não simplesmente uma mudança dentro do sistema” (id: Pg.167). Para ele, mudança musical é mudança na estrutura da música, no fazer musical, e não apenas mudança de processo ou de contexto, como pensa Nettl. Contudo, em outro ponto, a visão de Nettl – que aborda a mudança musical a partir do modelo tripartite de Merriam (som, conceito e comportamento) - é rechaçada por Blacking Segundo Nettl, qualquer mudança dentro deste modelo reflete uma mudança no sistema musical de uma cultura. Partindo desse pressuposto, ele afirma: “Existem mudanças na conceitualização e no comportamento musical, nos usos e funções da música, usualmente mas não necessariamente acompanhadas por mudanças no som musical” (2005a: pg.277). Nettl busca assim, uma compreensão mais holística da mudança musical, pois de qualquer forma, qualquer alteração em um destes três fatores leva a uma nova concepção da música e do fazer musical, e, portanto, pode não necessariamente alterar o som e o sistema musical, mas altera a forma como as pessoas lidam com a música. Estes três clássicos autores da etnomusicologia discutiram de forma bastante profunda o conceito de mudança musical e cultural. Durante muito tempo a mudança passou a ser uma grande prioridade da etnomusicologia. Porém, atualmente, esta discussão tem se mostrado ultrapassada na disciplina, apesar de na sociedade do século XXI, a mudança ter sido uma grande constante, inclusive nas sociedades mais isoladas, fruto das relações de diálogos e hibridações entre as culturas globais. 3. Mudanças no Festival No Festival Cururu e Siriri, apesar de se ter um discurso muito forte de resgate e preservação da tradição na fala dos envolvidos do evento (secretário de cultura, prefeito, a presidente da federação os grupos de Siriri), o que se percebe, no entanto, é que a ideia de XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 tradição como algo estático e imutável não é a regra para eles. A mudança e a inovação são para eles fundamentais para o crescimento e fortalecimento do evento. Logo de cara, a mudança mais evidente é a do contexto - de manifestações realizadas em festas religiosas e populares para grupos profissionais 7 onde se tornam um espetáculo apreciado por uma plateia em um palco iluminado. Essa mudança fica evidente também no próprio objetivo do festival, que, segundo Moraes (2009) citando o vereador Francisco Vuolo, é o de “transformar o espaço (onde acontece o festival) em palco definitivo de manifestações culturais, nos moldes de Parintins”8. Segundo “Dona Domingas”, presidente da Federação dos grupos de Siriri, a inovação é necessária para fortalecer o evento. Segundo ela: “Antes era uma coisa fundo de quintal (sic). E as mudanças que nós promovemos como a contratação de um coreógrafo, foram responsáveis pelo crescimento da festa” (LUCCA 2009). Muitas das inovações são de influências externas à cultura cuiabana, principalmente com relação à cultura dos estados do sul do país. Nas apresentações, os grupos fazem uso de signos e estilos musicais os mais variados – processo que Canclini (2008) chama de hibridação das culturas. Eles apresentam, além dos estilos tradicionais do estado, forró, vaneirão, xaxado, música evangélica, música pop e várias outras influências as mais diversas na concepção de seus espetáculos. Além disso, o figurino e a dança também são muito modificados do original. Apesar de todas as mudanças já citadas de contexto e as influências externas que vem ocorrendo no evento, a música propriamente dita das duas tradições mudou relativamente pouco. O ritmo original tem sido preservado, bem como os instrumentos típicos usados. A estrutura formal do canto também continua sendo o de responsorial - pergunta do solista e resposta do coro – como tradicionalmente. No entanto, algumas “micro-mudanças” podem ser percebidas. Alguns grupos tocam o ritmo do siriri mais rápido do que original – “a cada ano, o ritmo original, que é de 2x2, tem sido tocado mais rápido, em 2x4 (Martins Jr. In LUCCA, 2005)”. O compasso também tem sido muito variado, se apresentando às vezes em binário simples (2x2 e 2x4), binário composto (6x8) e quaternário (4x4). O grupo instrumental também varia na quantidade de elementos. Geralmente os grupos apresentam a formação de uma ou duas violas de cocho, um ou dois ganzás, um mocho – tocado por um ou dois músicos, no mesmo instrumento – coro de três pessoas e XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 solista. Às vezes aparecem no grupo um violão ou uma sanfona, mas estes instrumentos não tocam o siriri, mas os outros estilos que os grupos executam também. Além disto, percebe-se alguma influência de estruturas melódicas e harmônicas provenientes de outros estilos musicais (pop, sertanejo e gospel, principalmente). A técnica do canto também sofre, em um grau menor, essas influências, apesar de que no siriri propriamente dito essas técnicas sejam praticamente abandonadas. Essa pouca mudança no estilo de se fazer cururu e siriri talvez se deva ao fato de que a maioria das músicas tocadas pelos grupos sejam de musicas tradicionais - apesar de que todo grupo tenha uma música tema para o Festival, uma espécie de “siriri enredo”. Além disso, ao contrário do que acontece com o caráter do Festival, os grupos tem uma preocupação muito grande de “preservar” a originalidade do estilo, o que não ocorre com a dança. Para ilustrar essa persistência da estabilidade musical, em contraste com a mudança cultural muito mais rápida e generalizada, cito um pensamento de Nettl (2005a: pg.282), que ilustra a relativa independência da música de outros domínios da cultura. Segundo ele: “a música às vezes parece seguir suas próprias leis, mudando quando outros domínios permanecem estáveis, ou se conservando em um contexto de mudança cultural”. 4. Conclusão O tema da mudança musical e cultural, apesar de ser uma discussão considerada atualmente ultrapassada na etnomusicologia, pode ganhar novos horizontes partindo do ponto de vista do conceito de sociedade pós-moderna, caracterizada por ter constantes trocas, diálogos e hibridações culturais entre as culturas globais. Como Merriam mesmo afirma, “a mudança é uma constante na experiência humana” (1964: pg.303), diferente somente no grau em que ela acontece em cada sociedade. No caso do Festival Cururu Siriri, a mudança foi em um grau muito elevado pois mudou o conceito e o comportamento de toda uma manifestação cultural. Apesar da música ter sido pouco modificada, ela acaba “dançando” na mudança coletiva proporcionada pelo evento. Ainda não se tem noção dos impactos que isso poderá causar na cultura popular do estado, mas essa (re)valorização trouxe um novo fôlego para o Cururu e o Siriri, mais respeitados e incluídos na sociedade cuiabana contemporânea. XXI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música - Uberlândia - 2011 Referências: BLACKING, John. “The Study of Musical Change.” In: BYRON, Reginald. Music, Culture & Experience. Chicago: University of Chicago Press, 1995. Pp. 148-173. CANCLINI, Néstor García. Culturas híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. Trad. Heloísa P. Cintra e Ana Regina Lessa. 2 ed. São Paulo: EDUSP, 1998. HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. trad. Tomaz Tadeu da Silva, Guaracira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HOBSBAWN, Eric. “Introdução: A invenção das Tradições” In: HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A invenção das tradições. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Pgs.9-23 LARAIA, Roque de Barros. 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São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 1 E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou\ E foi tanta felicidade que toda cidade enfim se iluminou\ E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais... \Que o mundo compreendeu, e o dia amanheceu em paz. (In WERNECK, 2004). 2 O siriri é uma manifestação típica mato-grossense, que envolve música e dança, e existe há aproximadamente 300 anos em comunidades ribeirinhas ao longo do rio Cuiabá e Coxipó e em cidades como Cuiabá, Poconé, Cáceres e Leverger. É tocado por instrumentos típicos mato-grossenses como a viola-de-cocho, o ganzá e o mocho 3 O Cururu, por sua vez, é um gênero tipicamente mato-grossense, tão antigo quanto o siriri, que tem uma especificidade: dele, tradicionalmente, participam apenas homens - os cururueiros. Tocando apenas viola-decocho e ganzá, eles se organizam em uma grande roda e cantam cantigas da região, comumente de louvação aos santos e músicas de “porfia” (desafios, como a embolada nordestina). 4 Segundo ele, “os „puristas‟ supunham que mudanças radicais nos sons de músicas oralmente transmitidas refletem alguma forma de decadência moral, e a restauração e promoção de uma „autenticidade‟ da música de um povo os ajudará a reanimar a vida de sua comunidade” (1995, pg.155). 5 O autor faz ainda uma necessária diferenciação entre tradição e costume. A tradição é, como já dito, algo inventado, muitas vezes imposto à sociedade, e invariável. Já o costume é o hábito cultural em si, sem passar por afirmações e institucionalizações. Além disto, ele é aberto à inovação, embora que evidentemente, para que ela ocorra tenha que passar por um filtro da sociedade – a aceitação. Estes conceitos (inovação e aceitação) serão discutidos mais adiante neste texto. 6 “Algumas novas idéias(sic) (...) são rejeitadas porque as pessoas não percebem uma necessidade para isso. Às vezes inovações são rejeitadas porque requerem longínquas mudanças em outros aspectos do comportamento cultural” (SPRADLEY, 1989, pg.315). 7 A profissionalização dos grupos é outro dos objetivos do evento, declarada no regulamento do Festival. (SECRETARIA DE CULTURA, 2009). 8 Sobre esse processo de espetacularização que sofrem as culturas populares, TRIGUEIRO (2005) afirma: “As manifestações populares (festas, danças, culinária, arte, artesanato, etc) já não pertencem apenas aos seus protagonistas. As culturas tradicionais no mundo globalizado são também do interesse dos grupos midiáticos, de turismo, de entretenimento, das empresas de bebidas, de comidas e de tantas outras organizações socais, culturais e econômicas” (pg.2).