Revista Sonora - IA
ISSN 1809-1652
Nº 9, V. 5, 2014
Sonora
Introdução
AS ORIGENS DA MÚSICA PUNK E O
SURGIMENTO DE UM NOVO ESTILO
he origins of punk music and the
emergence of a new style
Regina Rossetti1
David Santoro Junior2
Resumo
Este artigo trata do surgimento da música Punk apoiada
no rock, em particular da banda Sex Pistols, bem como,
da chegada do punk no Brasil, em um contexto político
especíico, e seu desenvolvimento musical. A metodologia
envolveu revisão bibliográica e pesquisa documental. O
resultado destaca que o novo estilo contestador do punk
foi absorvido pela cultura contemporânea.
Palavras-chave: música punk; estilo punk; comunicação
Abstract
his article deals with the emergence of Punk music
resting on rock, in particular the band Sex Pistols as well as
the arrival of punk in Brazil, in a speciic political context,
and his musical development. he methodology involved
a literature review and documentary research. he result
highlights the new challenger punk style was absorbed by
contemporary culture.
Keywords: punk music; punk stile; communication.
1 Professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da
Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS. Doutora em
Filosoia pela USP com pós-doutoramento pela mesma universidade.
2 Mestrando em Comunicação da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul - USCS.
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O Punk não morreu, é uma frase que estampou
muitas camisetas nos anos 80, ela é uma resposta à aqueles
que achavam que o movimento era apenas uma onda
passageira. Os punks utilizam esta mensagem para mostrar
a sociedade que eles acreditavam em seus ideais, e que
somente aqueles que se envolveram como uma “curtição” o
abandonaram e adotaram uma nova tendência.
Muitas bandas punks originais aceitam o jogo e se
vendem às gravadoras. Bandas como Generation
X e Damned são consideradas traidoras do
movimento. Os punks não querem saber mais
delas.(BIVAR, 2001, p.76)
Para Bivar (2001), o rock sempre mudou
paradigmas culturais, sociais e políticos. O punk foi uma
revolução apoiada no rock que afrontou e alterou o sistema
dominante, que o rotulou como uma moda. Para diminuir
o impacto do seu surgimento que poderia levar a sociedade
ao questionamento e discussão de assuntos que poderiam
resultar em mudanças indesejadas, a discoteca foi utilizada
para desviar a atenção das pessoas, que icaram envolvidas
com esta cultura passageira.
Para Caiafa (1985), pós a grande repercussão de
seu surgimento, no inal dos anos 70 na Inglaterra, o
punk se reinventou e com isto surgiram novas bandas
expressivas como a americana Dead Kennedys e Exploited
que revigoraram o estilo, que inluenciou vertentes
como: o pop, o rock gótico, o hardcore, e o heavy metal,
que era um estilo ao qual o punk se opunha. No Brasil o
ápice do movimento ocorreu nos meados dos anos 80,
Cólera, Garotos podres e Ratos de Porão, ainda hoje, são
tidas como referência para o estilo mundial. Para Bivar
(2001), no inal dos anos 90 apareceu uma nova geração
do punk-rock com o trabalho de bandas como Green Day
e Offspring, que inluenciou outras menos expressivas,
e até deu origem ao tão contestado emocore. Nesta fase,
no Brasil as bandas inluenciadas pelo punk foram: Chico
Science e a Nação Zumbi e os Raimundos, que trazia no
nome uma homenagem aos nova iorquinos Ramones.
A sonoridade distorcida dos três acordes mostrava
descontentamento, atualmente, uma banda como o
Restart, que possui a temática romântica, é mais barulhenta
que qualquer outra banda punk dos primórdios. Isto é
decorrente da apropriação do estilo por uma cultura social
que transforma, inova e gera a partir de algo original
um produto, uma moda, ou um estilo de expressão para
atender uma demanda comercial.
A apropriação de um estilo para torná-lo
comercialmente aceito, não é recente. O punk foi
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apropriado desde o seu surgimento. Segundo Alan G.
Parker e Mick O’Shea, expoentes expressivos como os Sex
Pistols e The Clash, foram incorporados pela indústria
musical inglesa. No Brasil, representantes como a Plebe
Rude, Legião Urbana e Camisa de Vênus, foram explorados
comercialmente, estes artistas tiveram trabalhos honestos,
mas foram contratados e promovidos pelas gravadoras.
Outros apostaram no circuito alternativo, que foram os
casos do Cólera, Garotos Podres e Ratos de Porão, por
esta escolha foram autênticos, porém a grande exposição
desta cultura devido aqueles que escolheram as grandes
gravadoras, no inal da década de 90, mesmo os alternativos
perderam espaço na mídia porque o discurso apresentado
estava saturado.
Segundo o gráico 100 years of rock, os gêneros
musicais são datados de forma semelhante a empregada
na literatura, os principais estilos de rock dos anos
sessenta eram o blues-rock, hard-rock, garage-rock e o
psicodélico, que tinha como característica os experimentos
produzidos com instrumentos, no Brasil, Os Mutantes,
que são reconhecidos como um dos principais nomes
do psicodelismo mundial. É difícil classiicar uma banda
dentro de um estilo, porque mesmo quando há uma
predominância, há inluência outras. The Doors é um
exemplo do blues rock, Mamas and Papas é um exemplo
do garage rock, The Who e Grand Funk são exemplos do
hard-rock com inluências do rock-blues, porém, todas
experimentaram o psicodelismo.
Segundo o gráico 100 years of rock, nos anos
setenta o rock psicodélico transformou-se no progressivo,
com bandas como Pink Floyd e Yes; o blues-rock deu
origem ao heavy metal, que icou conhecido como o
rock pauleira com bandas como Led Zepplin e Deep
Purple, o heavy metal tinha como temática de mistério,
bruxaria e até mesmo satanismo, com bandas como Black
Sabbath e Judas Priest. O hard-rock dos anos setenta era
inluenciado pelo heavy metal, porém as temáticas eram
as farras adolescentes e mulheres, os exemplos para este
estilo são o ACDC e Aerosmith. No inal dos anos oitenta,
todas vertentes estavam difundidas na cultura musical, o
que reletiu no trabalho dos artistas que surgiram a partir
de então, as bandas passaram a ter um estilo evidente, mas
com outras inluências, é o caso do Guns and Roses, que
prevalecia como uma banda de hardrock, mas possuía
inluências do punk, outras como o Type O Negative,
evidenciava o estilo heavy metal, mas tinha inluência do
punk e do rock gótico.
O punk-rock originou-se do garage-rock,
caracterizado pelo prazer em tocar e a simplicidade.
Segundo O’Hara, o punk se opôs aos estilo psicodélico,
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progressivo, heavy metal e hardrock, porque todos estes
eram adotados por bons músicos, que eram virtuosos e
dominavam seus instrumentos tecnicamente. Da mesma
forma que o estilo punk foi incorporado aos diversos
estilos musicais após o seu surgimento, as demais formas
de expressão do punk também foram aderidas pela cultura
da sociedade e pela indústria que foi inluenciada pelo
estilo para produzir produtos de consumo diversos.
Segundo Bivar (2001), o punk inluenciou o cenário
musical, e após a sua explosão mundial, os estilos derivados
do punk, icaram conhecidos como pós-punk, que incluíam
artistas que iniciaram seus trabalhos com o movimento,
mas deram continuidade com outras inluências. Nos anos
seguintes o estilo icou incorporado a cultura, e tornouse uma das inluências das diversas formas de expressão
artística ou comercial.
Para Caiafa (1985), a primeira geração punk
atualmente é chamada de punk 77, a segunda iniciou-se
nos anos 80 é mais engajada política e socialmente, bandas
como Dead Kennedys transformaram simples roqueiros
em indivíduos ativos nas questões sociais. O ativismo
político e artístico de Jello Biafra, esta registrado no site
de sua gravadora independente: Alternative Tentacles, em
1979 ele foi candidato a prefeito de São Francisco e entre 10
candidatos, icou em quarto lugar, o motivo que o levou a
concorrer, seria provar que a eleição em São Francisco era
uma batalha entre diferentes setores da direita, os votos que
recebeu representam a parcela consciente da população em
relação à política.
Segundo O’Hara (2005), a Banda europeia Crass,
fazia campanha contra o desarmamento nuclear nos anos
80, no Brasil o Cólera possuía pregava o paciismo, que foi
abordado no álbum Pela Paz em Todo Mundo de 1986.
Bandas como Crass e Cólera quebraram o paradigma de
que lutar pela paz fosse coisa de Hippie, para o punk, ser
paciico não signiica ser passivo, o punk luta se for preciso,
mas não força ninguém à acreditar em algo, promove o
diálogo e acredita que a evolução ocorrerá pela educação.
Bandas pós-punk, mantém viva a questão social,
o U2, banda irlandesa, possuía um discurso paciista
que sugeria o diálogo para o desarmamento nuclear, em
1995 com Luciano Pavarotti, o U2 gravou a canção Miss
Sarajevo, sob o pseudônimo “The Passenger” para levantar
fundos para os refugiados da guerra na Bósnia. Em 1990 o
Simple Minds, banda escocesa gravou Mandela Day, para
que o mundo olhasse para a África do Sul e seus conlitos
raciais, e que, Nelson Mandela fosse libertado. O Álbum
Meat is Muder, da banda The Smiths, chama atenção para
o abate de animais como assassinato.
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A banda Sex Pistols
Segundo Alan G. Parker e Mick O’Shea, (PARKER;
O’SHEA, 2012), antes de ser empresário dos Sex Pistols,
Malcom MacLaren foi estudande de artes e design gráico,
formou-se em artes plásticas e com sua esposa Viviane
empreenderam uma loja de roupas na qual nenhuma peça
estava a venda, o seu estabelecimento divulgava o conceito
de moda politicamente de esquerda, que era reletido nas
peças que ambos produziam com couro, taxas e metais,
assim, o visual punk nascia muito antes do rótulo existir.
Em 1971, Viviane cortou seus cabelos e com gel os deixou
espetados, ela foi a primeira londrina a utilizar um corte
que mais tarde icaria conhecido como símbolo do punk
e o seu penteado inluenciou David Bowie ao criar o
personagem Ziggy Stardust.
Malcom foi um grande divulgador da cultura punk
e viu nela uma grande oportunidade comercial. No início
dos anos 70 ele possuía uma loja de roupas para jovens
chamada Let It Rock, e nela ele contatou a banda New
York Dolls, que possuía um visual que era uma mistura do
glitter com o sadomasoquismo, que o agradou muito. Ele
torna-se empresário da banda e viaja com eles para Nova
Iorque, lá percebe que o estilo dos Dolls era ultrapassado
e resolve deixar o negócio, em sua volta ele decide montar
uma banda seguindo os padrões de que a atitude valeria
mais que o som.
Segundo Alan G. Parker e Mick O’Shea (2012),
em 1974 Steve Jones montou a banda Swankers e pediu
que Malcom fosse o empresário da Banda que viria a
ser o embrião dos Sex Pistols. A formação contava com
cinco integrantes, que eram: Warnick Wally na guitarra,
Steve Jones guitarra e vocal, Glem Matlock no baixo e
Paul Cook na bateria. Após algumas apresentações e com
o retorno de Malcom que viajara a Nova Iorque e trazia
as tendências que ele conheceu no clube CBGB’s, com as
apresentações dos Ramones, Talking Heads e Blondie, ele
propôs algumas alterações na banda, que foram: a dispensa
de Warnick Wally, com isto Steve deixou os vocais para se
dedicar somente à guitarra, Glem manteve-se no baixo e
Paul Cook na bateria, faltava então um cantor, que para
Malcom deveria ser Richard Hell, que tocava baixo no
Television, e já usava roupas rasgadas com alinetes, com a
negativa de Richard, Jhon Lydon ocupou a vaga, e o visual
de seu personagem Johnny Rotten foi inspirado no modo
de vestir de Richard.
Jhon Lydon conheceu Simon Jhon Beverley, que
icou conhecido como Sid Vicious, no colégio Hackney
Technical College, o gosto pela moda, a ainidade musical,
e a admiração por David Bowie e Roxy os uniu. Ambos
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eram conhecidos como Jhon, o apelido Sid Vicious(Sid
Furioso), originou-se porque Beverley foi atacado pelo
Hamster de Lydon, e também por uma homenagem à Sid
Barret do Pink Floyd, a homenagem é um paradoxo, pois
Jhon Lydon costumava usar uma camiseta com a frase:
Eu odeio o Pink Floyd. Ambos frequentavam a loja Sex,
quando Vivian sugeriu a Glem Matlock fazer um teste de
vocal com Jhon, ele referia-se a Sid, porém a confusão feita
por Glem, fez de Lydon o líder dos Sex Pistols.
Também foi nesta fase que a mudança de nome do
seu homem de frente para Jhonny Rotten tomou
lugar, por conta de Jhon tossir constantemente
muco e catarro uma sequela do ataque de
meningite de sua infância – e de seus molares de
nicotina terrivelmente negligenciados. O nome
pegou, para desgosto de Jhon, e Steve mal poderia
imaginar que sua observação cortante sobre a
indiferença de Jhon à higiene bucal se tornaria um
dos nomes mais emblemáticos do rock. (PARKER;
O’SHEA, 2012, p.69)
Glem Matlock era o membro criativo da banda, e
as bases das principais composições do primeiro álbum
dos Sex Pistols eram frutos do seu talento e conhecimento
musical, porém o relacionamento complicado com Jhon
Lydon fez com que ele deixasse a banda para ser substituído
por Sid Vicious, que era amigo de Lydon.
No DVD Never Mind the Sex Pistols, de 2007, Steve
reconheceu que ele e Paul Cook deveriam ter apoiado e
mantido Glem na banda, pois as suas criações melódicas
eram perfeitas para acompanhar as letras de Jhon Lydon,
após a sua saída a banda perdeu seu poder de criação e
desenvolveu apenas duas músicas.
Segundo Alan G. Parker e Mick O’Shea (2012),
Malcom possuía habilidades empresárias, conhecia o poder
dos meios de comunicação, era criativo no planejamento
de suas estratégias de marketing, conhecia o seu público, e
sabia o que eles procuravam, gostavam e consumiam. Com
o domínio destas ferramentas, e com o conhecimento da
tendências da época, ele transformava as confusões, brigas,
bebedeiras e até mesmo o uso de drogas dos integrantes da
banda em notícias que favoreciam e promoviam o grupo.
Para justiicar a saída de Glem ele enviou um telegrama
ao editor Derek James do NME(New Music Express), um
inluente semanário inglês sobre música, que alegava que
Glem havia sido demitido porque gostava dos Beatles.
Os Sex Pistols foram contratados pela gravadora
A&M, a mesma gravadora de artistas como: The Carpenters,
Supertramp e Rick Wakeman. Porém, o contrato foi
rompido devido ao comportamento inconveniente da
banda com os demais artistas e funcionários. Para que a
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demissão tornasse algo positivo, Malcom baseou-se no
principio punk, de que, o novo seria construído com a
desconstrução do velho, e enfrentaria resistência, ele disse
à imprensa que a banda foi expulsa da gravadora por causa
de um movimento liderado por Rick Wakeman que exigia
a saída do grupo, ele transformou o fato em um confronto
entre o novo que era representado pelos Sex Pistols, com
o velho, que estava representado por artistas tradicionais.
A Virgin contratou os Sex Pistols e viabilizou o plano
de Malcom de lançar o single: God Save de Queen, no mês
em que a Rainha Elizabeth comemorava o seu jubileu
de prata, o lançamento vendeu 150 mil cópias e chegou
ao segundo lugar nas paradas britânicas, pela critica o
álbum foi elogiado, dez anos após o seu lançamento ele foi
proclamado como o trabalho mais inluente nos 20 anos
anteriores, o primeiro lugar icou para o Sgt. Peper’s dos
Beatles.
A Virgin investiu 40 mil libras em uma campanha
publicitária para o lançamento do álbum Never Mind the
Bollocks, porém os anúncios foram banidos pela ITCA
(Associação das Companhias Independentes de Televisão),
por considerarem a capa do álbum ofensiva por causa da
palavra Bollocks. Restou a gravadora procurar meios
alternativos para a divulgação, que foi por exemplo lotar as
lojas da gravadora com a capa do disco, e também colocar
anúncios nos jornais com a chamada: O Álbum ica, a capa
talvez não.
Na língua inglesa a palavra Bollocks, coloquialmente
é associado aos testículos masculinos, e por isto é um
palavrão da mesma categoria de “Fuck “ e “Cunt”, e pela lei
inglesa de Propaganda Indecente de 1889, uma informação
com uma palavra assim não poderia sequer ser exposta em
ambientes comerciais, como as lojas da Virgin, que estavam
decoradas com as capas do disco. Para a defesa de seu
novo produto, Richard Branson contratou um tradicional
escritório de advocacia para defender seus interesses.
No julgamento da ação que deiniria se a capa e o
nome do álbum deveria ou não ser alterado, os advogados
da Virgin, apresentaram uma testemunha-chave, que era o
professor James Kingsley, que era diretor do departamento
de Literatura inglesa da Universidade de Nottingham,
além de ser um vigário anglicano e subiu ao banco de
testemunhas com seu manto eclesiástico, ele airmou
que embora a palavra fosse coloquialmente um palavrão,
no dia a dia os clérigos a usavam para se referir quando
alguém falasse bobagens, sua opinião foi aceita, o álbum
foi liberado porque o signiicado foi alterado de: Esqueça
os escrotos, aqui estão os Sex Pistols, para: Esqueça as
bobagens, aqui estão os Sex Pistols.
Para a divulgação do álbum de estreia a banda
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saiu em turnê pela Europa e depois pelos estados unidos,
após a última apresentação em São Francisco, em janeiro
de 1978, Jhonny Rotten deixou a banda devido aos
problemas de relacionamento com Malcom MacLarem e
com os integrantes do grupo, os Sex Pistols continuaram
a se apresentar com Sid Vicious nos vocais e lançaram
um álbum duplo e um ilme que se chamava: A Grande
Trapaça do rock’n’roll, (The Great Rock’n’Roll Swindle),
mesmo antes da morte de Sid, a banda havia acabado.
Em 1996 os integrantes originais com Glem no
baixo se reuniram e chamaram Malcom para empresariálos novamente, eles saíram em tourné mundial que foi
chamada de “Lucro Sujo” (Filthy Lucre). Em fevereiro
de 2006, a formação original dos Pistols e Sid Vicious
receberam a indicação para o Hall da Fama do Rock
and Roll, mas os integrantes originais se recusaram a
comparecer a cerimônia e Sid Vicious não teve quem o
representasse na cerimônia.
Origens do punk no Brasil
O livro Estado e economia no Brasil. Opções de
desenvolvimento, de Sonia Mendonça, relata que a crise do
petróleo no início dos anos 70, desacreditou a sociedade
brasileira em relação ao milagre econômico e elegeu
candidatos do MDB, partido de oposição à ARENA, que
representava o governo, em reposta a sociedade, os militares
iniciaram um projeto de recondução do Brasil à um regime
democrático, que teve ações relevantes no mandato de João
Figueiredo, que aprovou a anistia aos exilados políticos,
permitiu o surgimento de diversos partidos políticos,
convocou eleições diretas para governadores em 1982,
e entregou o governo a José Sarney, em 1985, primeiro
presidente civil após os 20 anos de ditadura.
Neste mesmo período ocorreu a primeira versão do
Rock in Rio, festival de música que trouxe ao Brasil ícones
mundiais como Ozzy Osbourne, Iron Maiden e ACDC,
até então, nenhum festival havia atraído tantos jovens que
se reuniram em um mesmo local para curtir a energia do
rock and roll. O evento quebrou paradigmas da indústria
musical brasileira, que até então só apostava nos nomes
consagrados da MPB, como Caetano Veloso, Gilberto Gil
e Chico Buarque, ou então no POP romântico do Roupa
Nova, 14 Bis e Rádio Taxi.
O pais vivia um momento de liberdade, o inal da
censura possibilitou que trabalhos artísticos que antes eram
censurados, passassem a ser exibidos nas televisões e rádios
de todo o Brasil. Neste embalo, a cultura punk teve seu
ponto mais alto nas mídias brasileiras, Os grupos musicais
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de todo o país passaram a liderar as execuções diárias das
rádios. A 97 FM, emissora de Santo André, pioneira do
estilo rádio rock, colocava em sua programação, bandas
como o Camisa de Vênus da Bahia, o Legião Urbana e a
plebe Rude de Brasília, os Replicantes do Rio Grande do
Sul, além de abrir espaço para a cultura local representada
pelos Garotos Podres e Cólera. Em São Paulo a 89FM, rádio
que iniciou suas atividades em 1985, possuía a mesma
postura da 97 FM, além destas emissoras, havia a Brasil
2000, e a Transamérica, que embora tivesse uma postura
mais POP, também abriu espaço para o rock brasileiro.
Na mídia impressa, a Editora Abril lançou em
1985 a revista Bizz, que trazia informações sobre música
e comportamento jovem, em um âmbito de vanguarda
surgiu a Editora Circo com publicações como a revista
Chiclete com Banana e Circo, que traziam inovações
visuais, temáticas e conteúdos que até então não eram
publicados pelas grandes editoras.
Em entrevista para o Blog ABC Rock, a banda
Garotos Podres informou que havia um sentimento de
liberdade extrapolada, as autoridades procuravam liberar
todas as formas de expressão, para mostrar que a repressão
havia passado, esta fase prosseguiu até o ano de 1989,
quando inalmente elegemos o primeiro presidente de
forma direta, o eleito foi o Alagoano Fernando Collor.
Para Bivar (2001), o punk paulista é uma adequação
do modelo inglês e Americano as realidades locais, o
movimento surgiu numa época de crise, desemprego e
desesperança em relação ao futuro, ao redor do mundo
o movimento ajustou-se aos contextos locais, tornandose global, a idade dos punks estava entre 18 a 26 anos,
eram trabalhadores mal remunerados e buscam melhores
condições de vida e reconhecimento social.
O punk relete a vida como ela é, nos apartamentos
desconfortáveis dos bairros pobres, e não o mundo
de fantasia e alienação que é o que a maioria dos
artistas criam. É verdade que o punk destruirá,
mas não será uma uma destruição irracional. O
que o punk destruir será depois reerguido com
honestidade. (BIVAR, 2001, p.59).
O livro Movimento Punk na Cidade, descreve a
experiência de Janice Caiafa (1985) com um grupo punk
do subúrbio do Rio de janeiro, que frequentavam o Meier e
a Cinelândia, o relato registra a segunda fase do movimento
que iniciou-se por volta de 1981. A mudança de estilos das
primeiras bandas punks, resultou no New Wave e no PósPunk, o que desapontou os punks. New Wave são as bandas
que tinham uma composição simples, com uma temática
de diversão e adotavam um visual semelhante ao punk,
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porém com cabelos bem cortados e roupas coloridas, que
podem ser representadas pelos he B 52’s, Devo e Duran
Duran, o Pós-Punk são os grupos que criavam baseados
no pessimismo, no descontentamento social e sobre o
amor, são desta fase as bandas Joy Divison, Eco And the
bunnymen e The Cure.
O hardcore e o Oi, eram a evolução do punk-rock,
o lema: Punk is not dead, foi o título do primeiro álbum
dos Exploited e da revista punk editada pelo escritor Gary
Bushell. As bandas brasileiras sofreram forte inluência
desta nova fase, que pode ser representada por bandas
como: Olho Seco, Lixomania e Cólera.
Para Caiafa (1985), No Rio de Janeiro, o punk
surgiu em 1982, com o ressurgimento do rock carioca, as
casas de espetáculos abriam espaço em sua agenda para
apresentações do gênero, os jovens punks do Rio eram
rebeldes e moravam no subúrbio, usavam jaquetas de
couro preto, adereços militares, alinetes, braceletes com
pregos e a suástica. Eles contrastavam com os jovens que
frequentavam o beira mar e com a visão poética da cidade,
devido ao visual agressivo e urbano.
Eles se reuniam no bairro da Lapa, local em que a
diversidade da cidade convive em harmonia com respeito
e dividem o mesmo espaço sem confrontos por território.
Os grupos punks são formados por jovens de 15 a 22 anos,
que se agrupavam na cidade e na lapa dividiam espaço
com gays, travestis, prostitutas e malandros, ou seja, com
os elementos que a sociedade discrimina.
O movimento punk entrou no Rio de Janeiro através
dos skatistas, que eram inluenciados pelos californianos,
que adotavam o hardcore, as revistas skatistas traziam
informações sobre o produto, os atletas e também da
cultura, entre os adeptos da tribo, haviam a troca de
informações, itas e discos das bandas punks.
O documentário “Botinada: a origem do Punk no
Brasil”, lançado em 2006 e produzido por Gastão Moreira,
relata a história do movimento punk no Brasil através
de depoimentos de personagens relevantes em suas
localidades como: Fabio da banda Olho Seco e Redson
do Cólera do estado de São Paulo, Wander Wildner dos
Replicantes do Rio Grande do Sul, Canisso dos Raimundos
de Brasília e Marcelo Nova do Camisa de Vênus da Bahia.
A difícil realidade brasileira nos anos 80, foi o
motivo que impulsionou os jovens ao movimento punk,
no sudeste o movimento atingiu em sua maioria jovens da
periferia e do subúrbio da grande São Paulo, nos demais
estados o movimento concentrou-se nas capitais de Porto
Alegre, Salvador e Brasília, que teve também a aderência de
jovens da classe média.
Há uma divergência entre São Paulo e Brasília
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sobre qual foi primeira cidade a aderir ao movimento,
Camisso dos Raimundos e Paulo Marchetti, jornalista que
publicou o livro: Diário da turma. A história do rock de
Brasília, defendem que o movimento começou no Distrito
federal por causa do registro do primeiro LP do Ramones
na cidade em 1976. Os representantes paulista airmam
que as condições da cidade eram mais favoráveis para o
surgimento de um movimento como o punk, devido as
desigualdades da metrópole, que são semelhantes as de
Londres do inal dos anos 70, além de acreditarem que o
grupo de Brasília eram na verdade rebeldes sem causa.
Para Neto (2003), os primeiros punks apareceram
em londrina por volta de 1984, inluenciados pelo
movimento paulista, eles não tinham conscientização
política e agrediam com o visual e com as atitudes. No
início dos anos 90, a MTV Brasil e as lojas de discos
alternativas foram as responsáveis pela divulgação da
cultura e da aproximação dos punks para que ocorresse
a troca de informação. Enquanto os jovens do início dos
anos 80 se reuniam para beber, jogar conversa foram e
curtir o punk-rock, os rebeldes do início do século XXI,
se reúnem para discutir política e se organizarem para
apoiarem causas em manifestações publicas, ou então criar
ONGS, com objetivos de trabalhar a educação libertária
com cursos sobre política e alfabetização para adultos, o
visual permanece, mas o mais importante é consciência.
Segundo Botinada (2006), em São Paulo, no inal dos
anos 70 Kid Vinil tinha um programa na Rádio Excelsior
chamado Rock Sanduíche, no qual ele executava bandas
Punks e New Wave, seu horário teve muito sucesso entre
os jovens que gravavam itas K7 com as transmissões, para
depois troca-las com seus amigos, ou então, para tocar nos
bailes.
Em Salvador, Marcelo Nova era locutor da Rádio
Aratu FM, e assim como Kid Vinil, ele divulgava as
novidades do punk que ocorriam pelo mundo e Brasil, para
ele, Salvador é uma cidade provinciana, no qual a censura
e as criticas vinham dos familiares dos proprietários das
emissoras, ele exempliica com um caso no qual a esposa de
um dos diretores da Rádio, pediu que ele tocasse My Way
com Frank Sinatra ao invés da versão com Sid Vicious.
As revistas Pop e Som Três eram as principais fontes
de informação sobre música e comportamento para os
jovens no inal dos anos 70 e início dos 80, e mesmo assim
estes veículos confundiram o signiicado do punk ao
rotular a Banda Made In Brasil e o Joelho de Porco como
representantes do Punk Rock nacional. Fabio do Olho Seco
possuía uma loja de discos raros na galeria do rock chamada
Punk-Rock, a loja tornou-se um ponto de encontro para
jovens punks, e contribuiu para o surgimento de bandas
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como Cólera, Inocentes e Ratos de Porão.
Fabio produziu a coletânea Grito Suburbano em
1982, primeiro registro das bandas Paulista e do Brasil.
Foi uma iniciativa independente com a contribuição
inanceira de todos os envolvidos. Ataque Sonóro de 1985,
é o segundo registro e foi idealizado por Redson da banda
Coléra, conhecido por seu ativismo social e paciico.
Na capital paulista a galeria do rock no Largo do
Paissandu era o ponto de encontro de jovens de diversos
pontos da cidade. A Vila Carolina localizada na zona norte
destaca-se por causa de bandas inluentes do início do
movimento como: Condutores de Cadaver e Inocentes,
bairro ica próximo a Freguesia do Ó, que talvez por este
motivo icou eternizada na música de Gilberto Gil, Punk
da Periferia. Os punks da capital eram conhecidos como os
da City, eles acreditavam nos ideais do movimento e eram
politizados.
Os punks do ABC paulista eram mais politizados
que os da capital, devido ao ambiente em que viviam
e a aproximação com os movimentos sindicais, eram
ilhos de operários e trabalhavam nas grandes indústrias,
muitos estudavam em colégios públicos e no Senai, os
jovens do ABC diziam-se verdadeiros punks porque eram
mais pobres e andavam de trem, enquanto os da capital
utilizavam metrô.
Para Mao dos Garotos Podres, a rivalidade gerou
conlitos violentos e arruaças, que marginalizou e marcou
negativamente o movimento, além de limitar a expansão
ilosóica e artística desta cultura. A ilosoia punk possui
valores como destruição, agressividade e luta, que foram
mal compreendidos, Segundo Craig O’Hara (2005) a
agressividade era a forma de expressar o descontentamento,
e não agredir isicamente as pessoas, Ariel, punk de São
Paulo complementa o raciocínio com a interpretação de
que a destruição é uma metáfora que signiica reconstruir
com justiça e igualdade.
Para Caiafa (1985) os estilos musicais da segunda
fase do movimento, reuniu punks, skinheads e a juventude
sem futuro. Para Bivar (2001), esta união ressaltou a
imagem violenta, que deveria ser simbólica e não real,
o punk é agressivo na forma de agir e vestir, a sua dança
representa a fúria, porém ela é gestual e não uma briga em
propriamente.
Punks não procuram confrontos com outros grupos
urbanos ou etnias, já os carecas possuem um histórico de
agressão aos negros, nordestinos e homossexuais, talvez por
inluência destes grupos, as brigas tornaram-se frequentes,
e também eram uma forma dos jovens extravasarem suas
energias e até mesmo uma diversão, para Bivar, no fundos
todos eram jovens de boa índole.
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Alguns são mais esquentados, mas a maioria quase
absoluta é de ótima índole. No fundo são todos de
família. Mas o mais importante é que eles querem
fazer alguma coisa pelos injustiçados. (BIVAR,
2001, p.110).
A frase do publicitário inglês David Ogilvy:
“Comunicação, não é o que você diz, é o que o outro
entende”, pode ser aplicada ao movimento punk, em
relação ao uso da suástica. Segundo Caiafa, Wattie,
vocalista do Exploited, usava um moicano vermelho e uma
camiseta com a suástica, Exploited foi a banda revigorou
o movimento em 1982 com seu primeiro álbum, eles
possuem a fama de fascistas devido a inluência o estilo Oi
em seu trabalho, e porque a banda era adorada tanto por
punks como por skinheads.
Em 2012 em entrevista ao programa estúdio Som
Livre, o vocalista Wattie, disse que era skinhead quando
jovem e que sua ligação com o grupo era por causa da
música, ele também complementa que na Escócia, seu
país, o fascismo não existia e que punks e skinheads
conviviam paciicamente. Para ele a fama de sua banda é
pela ignorância das pessoas que não sabem distinguir que
entre a sua música e a produzida pelos fascistas, a única
semelhança é o tipo de som, ele complementa que fez um
show com o músico Ice T, que é negro, americano e tinha
uma banda de hardcore, se ele fosse racista como dizem,
não dividiria o palco com ele.
Segundo Oliveira (2206), o uso da marca do nazismo
objetiva chocar e alertar para que ela seja lembrada para que
a humanidade não cometa os mesmos erros, é uma marca
de grande rejeição, porém seus ideais estão vivos na ilosoia
de grupos extremistas e nacionalistas, contraditoriamente
o punk criou um novo signiicado, para eles o nazismo é
tudo o que a sociedade não quer e deseja destruir, para
eles, o mesmo se emprega ao sistema opressor que também
precisa ser reconstruído. Segundo Caiafa (1985), o uso do
símbolo nazista é feito com a palavra destrói, ou então com
sinais gráicos que signiicam a sua destruição.
O pior de tudo é que tem gente que usa a suástica
porque acha bonito, ou porque acha que o punk
tem algo a ver com isso. Se o punk pregasse o
nazismo eu nunca seria punk, pois não faço parte
daquela racinha pura mais inteligente que as
outras. (OLIVEIRA, 2006, p.60)
O uso é controverso e polêmico, a forma como eles
descrevem a utilização altera o signiicado do símbolo
nazista, é até coerente, talvez a ambiguidade desta utilização
seja resultado da relação entre punks e skinheads, que no
início dos anos 80 era confusa, para quem estava fora do
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meio, poderia parecer que ambos eram punks, e dentro do
movimento os grupos semelhantes seriam uma dissidência.
O fanzine SP Punk repudiou o uso da suástica e sugeriu
que este não era um símbolo punk e que outro deveria ser
escolhido. (OLIVEIRA, 2006, p.47.)”
Aceitem ou não, outra forma de propagação
dessa violência foi a utilização por alguns punks
brasileiros da suástica. Adotar, uma simbologia
como essa é, conscientemente ou não, fazer
propaganda do nazismo. (OLIVEIRA, 2006, p.60)
A utilização da suástica, como um elemento gráico
contrário ao seu signiicado, não é uma linguagem original
do movimento punk, de acordo com Hollis (2001), após a
primeira guerra mundial, com a emergência do fascismo
na Europa, artistas gráicos, desenvolveram trabalhos
para entidades contrárias ao nazismo, nas quais a marca
aparecia sendo oprimida por uma força maior, como o
sapato de um camponês no pôster de Roca Catala de 1923,
ou no logotipo dos Sociais democratas, de 1930, no qual
três setas reprimem a suástica.
Para O’Hara (2005), a cultura skinhead iniciou-se
nos anos 60 com jovens ingleses operários e imigrantes
jamaicanos, o som apreciado era o ska e o reggae, era
um movimento conciliatório e de união de raças, a partir
dos anos 70 o grupo dividiu-se em quatro tipos, que são:
os tradicionais que não são racistas, os de esquerda e
anarquistas, os de direita e os neonazistas, que são ligados
ao Nation Front partido extremista e racista que defende
o poder branco, por achar os negros e as outras raças
inferiores. O extremismo são proveniente dos grupos de
direita e neonazista.
Para Bivar (2001), aproximação entre punks e
skinheads resultou na mistura das culturas e ampliou a
diversidade cultural e ilosóica para os dois movimentos,
para a sociedade isto se reletiu negativamente para o
movimento punk que estava em maior evidência. É
importante ressaltar que nos anos 80 a cultura punk estava
em formação, o discurso atual exime dos punks o rótulo
de violência, porém na época em que os valores estavam
em construção talvez não houvesse esta consciência, e por
isto não havia como avaliar o que a união entre punks e
carecas representaria. Em relação ao uso da suástica, houve
quem a utilizasse como um alerta para destruí-la, mas
também teve o uso por ainidade ao nazismo e também
simplesmente por achar o marca bonita e querer chocar
sem ao certo saber as consequências desta atitude.
Segundo Neto (2006), outro símbolo utilizado
para confrontar a sociedade é o da anarquia, mas ela não
é empregada pelos punks no seu modo de vida, e assim
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não exercitam qualquer ordem desta ideologia, portanto
seria mais correto airmar que eles são pró-anarquistas.
Os punks izeram uso de dois símbolos importantes para
a sociedade que foram o da anarquia e a suástica, talvez
a apropriação tenha sido mais pelo visual do que pelo
signiicado, neste ponto, os hippies foram mais felizes, pois
adotaram o símbolo da paz que não deixava margem para
discussão.
Segundo o ilme Botinada, o evento
Começo do im do mundo foi criado com o objetivo de
uniicar os punks de São Paulo, e ABC, o festival ocorreu
no Sesc Pompéia com a participação de bandas inluentes,
o encontro terminou em confusão, João Gordo relata, que
o programa Fantástico fez uma reportagem, tendenciosa
que reforçou para toda a sociedade brasileira que o punk
era um grande perigo para os jovens.
O 1º festival Punk do Rio de Janeiro aconteceu
em abril de 1983 com o título “ Noites Cariocas”
e contou com bandas de São Paulo. Durante esse
show que foi realizado no Circo Voador e na
PUC o refrão gritado em uníssono, foi “Pau no
cu da Globo”. Ninguém deixou a Globo ilmar.
(OLIVEIRA, 2006, p.38.)
A repercussão da reportagem fez com que os punks
fossem discriminados pela sociedade e considerados
marginais, com isto, muitos jovens perderam seus
empregos. Fabio da Loja Punk-Rock, relata que foi feito
um abaixo assinado para que ele abandonasse o local, e por
isto ele teve que mudar seu negócio de endereço. A polícia
ganhou o aval da sociedade para abordar qualquer um que
aparentasse ser punk.
Segundo Botinada (2006), mesmo com todas as
polêmicas e contradições, o movimento punk brasileiro
abriu as portas para uma vasta geração de artistas de
diversos setores, porque ousou e experimentou novas
linguagens e maneiras de produzir, música, revistas, moda
e corte de cabelos, em 1985 a música brasileira foi invadida
por uma nova geração de artistas talentosos altamente
inluências pelo punk.
A verdade é que toda esta Nova Onda que aí está,
ela não teria acontecido se o punk não houvesse
aparecido para derrubar os padrões antigos e abrir
ao novo. (BIVAR, 2001, p.82.)
Para Bivar (2001), os meios digitais facilitaram
e expandiram o lema: Faça você mesmo, para outros
públicos, porque qualquer pessoa pode publicar algo
independentemente. Nos anos 80 as bandas punks não
eram independentes como pareciam, um selo alternativo,
precisava de uma gravadora para a logística de distribuição.
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As ferramentas digitais atuais possibilitam que o trabalho
de um músico seja distribuído por portais como o
MySpace, ou então no Site ou Blog da própria banda em
formato MP3.
A diversidade do punk hoje, envolve também as
classes sociais, o movimento não é exclusivo das classe
menos favorecidas, jovens de todas classes que possuem
o mesmo sentimento de rebeldia em relação a sociedade
se expressam por este meio, isto contribui para a riqueza
cultural do estilo.
O diálogo entre os punks é o principal elemento
integrador, é através dele que há a ainidade e a identiicação
daqueles integrantes que pensam diferente dos demais
e encontram semelhantes que pactuam ideias similares.
O descontentamento já existe, o punk é a forma de
expressar uma visão de mundo, viver o movimento altera
os paradigmas pessoais, patriotas deixam de ser, machistas
passam a tratar a mulher em igualdade e os preconceituosos
se esforçam superar este sentimento. Segundo Oliveira, nos
anos 80 a banda Olho Seco foi convidada a participar de
uma coletânea inglesa, e foi sugerido que a gravação fosse
em inglês, Fabio, o cantor, condicionou a participação da
banda, desde que fosse em português. Bivar ressalta que
para a geração atual isto não faz mais importância, e que há
uma predileção para que as gravações sejam em inglês para
que o protesto seja universal e atinja um maior número de
pessoas possíveis, é por isto que os nomes das bandas são
em inglês, como: Dead Fish, Blind Pigs e Dance of Days.
A irreverência punk que afrontou símbolos das
forças armadas, inspirou a moda, atualmente é comum
peças de roupas com motivos camulados e calçados que
lembram coturnos. Marcas como a Orient Relógios e
Vitorinox desenvolvem coleções com estilo militar, além
do Jippe Hummer da GM, que inicialmente era um veículo
de guerra e foi adequado para uso popular, mas isto não
signiica que a moda e a indústria desenvolvam produtos
assim por inluência direta do movimento punk, com
o tempo as atitudes são incorporadas pela sociedades e
perde-se o seu referencial.
Considerações Finais
Até o surgimento do punk nos anos 70, a sociedade
estava acomodada com padrões estabelecidos que ditavam
o que era bom para a música, para a moda e para o
design gráico. A soisticação e o conhecimento técnico
era requisitos básicos para que desejasse expressar-se
artisticamente, ou então editar uma publicação para um
público especíico. Contrariando este paradigma, o punk
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surgiu com o propósito: Faça você mesmo. Que aplicado as
artes de uma maneira geral, signiica que é mais importante
ter iniciativa, atitude e saber o que deseja comunicar, do
que a capacidade técnica.
O estilo irreverente do punk afrontou símbolos do
poder, como o uniforme das forças armadas, que tinham
o seu uso restrito aos soldados e oiciais, como uma
forma de subversão, pois ao apropriar-se do fardamento,
era uma maneira de controlar o poder estabelecido.
A suástica também foi utilizada como uma afronta a
sociedade, que não entendeu a mensagem, porque ela
não era clara o suiciente, e acabou por associar os punks
com os Neonazistas. O símbolo da anarquia, além de ser
usada visualmente, foi tema de músicas de bandas como
Sex Pistols e Garotos Podres, mas isto não signiica que
todos os punks seja anarquistas, a ideologia anarquista foi
adotada pelos punks, devido aos seus valores de igualdade
e respeito ao ser humano, a natureza e aos animais.
O estilo abriu as portas da sociedade para uma
geração contestadora, que deixou seu legado para as
gerações futuras, com o tempo os elementos culturais que
evidenciavam o estilo, agregou-se a cultura, e com isto
perdeu-se o referencial, atualmente, um corte de cabelo
moicano é apenas uma irreverência, nos anos 80, era uma
rebeldia, pois simbolizava o espírito agressivo, associado as
roupas e a postura radical
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(Tradução: Neusa Paranhos) - editora: Madras Editora
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OLIVEIRA, Antônio Carlos de. Os fanzines contam uma
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PARKER, Alan G. Crescendo com os Sex Pistols:
precisa-se de sangue novo / Alan G. Parker, Mick O’ Shea;
sonora.iar.unicamp.br
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