A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO
HORIZONTE1
LEONARDO HIPOLITO GENARO FÍGOLI
RONALDO DE NORONHA
JOÃO IVO DUARTE GUIMARÃES
RESUMO
Belo Horizonte careceu, nas primeiras décadas do educador e fotógrafo. Sua biograia e sua obra perséculo XX, de atividades de arte institucionaliza- mitem compreender aspectos estruturais do campo
das. Em 1917, o pintor luminense Aníbal Mattos intelectual e artístico da época: a dependência em
foi convidado a radicar-se na cidade para dotá-la de relação ao poder político, a baixa diferenciação de
vida artística organizada. Mattos criou instituições funções no campo cultural, as lutas de concorrência
artísticas fundamentais e implantou o ensino das pelo monopólio da legitimidade artística. A trajetóartes nas escolas públicas. Além de pintor e crítico ria de Mattos revela os entendimentos culturais e as
de arte, foi literato, teatrólogo, roteirista de cinema, posições estéticas e morais dos diferentes agentes
arqueólogo, paleontólogo, jornalista, antropólogo, dos campos das artes e do intelecto no período.
PALAVRAS-CHAVE
Antropologia da arte, sociologia da cultura, campo artístico, pintura, Belo horizonte.
1 Trabalho apresentado na 28ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 02 e 05 de julho de
2012, em São Paulo, SP, Brasil. O trabalho é resultado de uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos da
Cultura Contemporânea – NECC/FAFICH/UFMG, www.necc.faich.ufmg.br.
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
INTRODUÇÃO
“Psaphon, jovem pastor lídio, havia ensinado aos pássaros a repetir: ‘Psaphon é um deus’. Ouvindo os pássaros falarem, e compreendendo o que diziam, os
concidadãos de Psaphon o aclamaram como um deus.” (Bourdieu 1968: 126)
UMA NOVA CAPITAL
Este trabalho trata do processo de constituição do campo intelectual e artístico em
Belo Horizonte-MG nas primeiras décadas do século XX. O estudo atenta para a criação
e a estruturação do campo das artes plásticas, bem como para a emergência de lutas de
concorrência pela hegemonia desse espaço social à medida que o campo se expandiu e
se diferenciou. A constituição do campo artístico em Belo Horizonte é indissociável da
trajetória do pintor luminense Aníbal Mattos, radicado na cidade desde 1917, principal
artíice da estruturação do espaço das artes no início do século passado. Apoiado pelo
forte interesse e incentivo estatal, Mattos irá determinar por um longo tempo a lógica
especíica do campo emergente, sua particular dinâmica e orientações estéticas.
Nessa época, Belo Horizonte era uma jovem capital, a primeira cidade planejada
do Brasil, inaugurada em 1897 para ser o centro político-administrativo de um Estado
cujas lideranças políticas e econômicas buscavam se adaptar aos novos tempos advindos
com a Proclamação da República (1889). A transferência da capital mineira de Ouro
Preto para uma cidade construída para ser o exato oposto da velha cidade colonial foi,
sobretudo, obra dos representantes da Zona da Mata e do Sul, os grupos mais prósperos
e modernos do Estado (Andrade 2004: 82).
A mudança da capital resultou do diagnóstico das elites políticas mineiras sobre as
causas da estagnação social e econômica do Estado em relação ao progresso econômico
de outras regiões do país, especialmente São Paulo. A implantação de um novo centro
político integrador do “mosaico mineiro” foi uma “obra de equilíbrio político (...) que
visava conciliar tradição e modernidade”, além de uma opção estatista: ”construir uma
cidade inteiramente nova, tecnicamente projetada, o que só seria viável através do
emprego de vultosos recursos do poder público” (Dulci 1999: 38-41).
O lugar escolhido para a nova capital foi o arraial do Curral Del Rei, que foi
totalmente destruído para dar lugar à nova cidade. A demolição de casas e ruas do velho
arraial “produziu um desenraizamento associado à destruição da própria memória. Foi
como se os construtores buscassem gestar outra memória, adequada à cidade que nascia”
(Almeida 1997: 73).
Os modelos urbanísticos adotados pelo engenheiro Aarão Reis - presidente da
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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Comissão Construtora até 1895, quando foi substituído pelo também engenheiro Francisco
Bicalho - foram Washington, a capital dos Estados Unidos, e a reforma de Paris dirigida
por Haussmann durante o Segundo Império francês (Ozório 1981: 197). A nova cidadecapital materializava, na estrutura geométrica da sua planta, no planejamento racional
do espaço e no caráter deliberadamente monumental das construções, as aspirações de
modernidade, ordem e progresso do recém-instalado Regime Republicano e da ideologia
positivista que o orientava (Dulci 1999: 41). Os prédios públicos, os monumentos e as
residências particulares foram concebidos segundo os princípios estéticos em voga na
época. Estilisticamente, a nova cidade abrigaria uma combinação eclética de formas
neogóticas, neoclássicas e neocoloniais, acompanhadas de elementos ornamentais do art
nouveau (Almeida 1997: 82)2.
Nos seus primeiros vinte anos de existência, as manifestações culturais e artísticas
da cidade eram, em geral, dependentes de iniciativas privadas, isoladas e restritas, e do
patrocínio estatal, estando fortemente atreladas ao ritmo da construção da cidade. Como
relata o jornalista Djalma Andrade (1947: 37), nos primeiros anos da Capital “os artistas
não encontravam aqui o necessário estímulo. Não podiam viver apenas da arte. Eram, em
regra geral, funcionários públicos que, nas horas vagas, pintavam ou desenhavam, sem
esperanças ou ambições”. A presença de Aníbal Mattos na cidade foi, sem dúvida, crucial
para a mudança dessa falta de dinamismo da vida intelectual e artística nos primeiros
anos de existência da capital. O historiador Abílio Barreto salienta a importância da
atuação de Mattos nesse período, como um “desbravador de caminhos”, alguém que
sem amparo e solitário lutou “bravamente pelo seu sonho”. No tempo de Aníbal, relata
Barreto (1945: 44), “ninguém ligava importância a letras, ninguém lia, pela simples razão
de que poucos sabiam ler. Naquela época, ser pintor, ser poeta ou ser escritor era um
motivo de desdém ou desprezo público”. Apesar de que outras interpretações são mais
otimistas quanto ao estado do mundo intelectual à época, é indiscutível que se tratava de
manifestações isoladas ou restritas, que desautorizam imaginar a existência, mesmo que
embrionária, de um mundo artístico ou intelectual com alguma força ou efervescência.
Embora o historiador Fernando Pedro Silva (1989: 49) considere que ”o mercado de artes
já existia em Belo Horizonte desde a sua fundação”, evidentemente este era irregular
e voluntarista, dependente de iniciativas e esforços individuais dos amantes das artes,
carecendo de espaços apropriados para exposições e, mais ainda, de instituições como
2 Na fase de construção da cidade, que coincidiu com o projeto de airmação de Minas na arena nacional,
as elites dirigentes estavam preocupadas em projetar uma imagem do estado para o resto da Federação,
expressando seu gosto artístico no traçado urbano, na arquitetura pública e privada e na pintura decorativa da
época. Visavam, com a construção de uma nova capital, a expressar tanto sua recusa ao passado colonial como
a aspiração de ingressar na modernidade.
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
escolas ou academias de arte3.
É importante notar que, com a nova capital, além da transferência forçada de
funcionários públicos, um importante número de técnicos, mestres artíices e artistas
migraram para a cidade, atraídos pelos trabalhos de construção e ornamentação dos
novos edifícios públicos, o que promoveu certa renovação dos gostos artísticos locais4.
Nessa fase heroica de construção da cidade, as pinturas eram, em regra geral, destinadas
a adornar paredes e forros de edifícios oiciais e residências dos funcionários públicos
mais graduados. A clientela era proveniente dos círculos oligárquicos que administravam
o estado. Os artistas-artesãos europeus e os pintores “da terra” que participavam da
construção de Belo Horizonte tiveram de se adequar às demandas estéticas dessa elite
de coronéis e bacharéis.
As elites estavam interessadas em construir uma imagem de Minas e de seu povo,
tanto para consumo interno como para legitimar suas pretensões na arena nacional (Dulci
1999). Os principais gêneros pictóricos, que seriam retomados depois por Aníbal Mattos,
surgiram nessa fase. As telas executadas por esses pintores se destinavam originalmente,
em sua maioria, a adornar as paredes dos edifícios oiciais, palacetes e secretarias do
governo, e as residências dos igurões do Partido Republicano Mineiro (PRM). Essa
produção estava muito subordinada ao gosto dessa clientela. A oligarquia de fazendeiros
e bacharéis era pouco familiarizada com os códigos artísticos e sua atenção concentravase mais no conteúdo narrativo das obras. E o grande “assunto” dessas pinturas era
justamente a imagem de Minas e de suas elites. As cenas extraídas da história regional,
os inconidentes e as paisagens das velhas cidades coloniais produziam prazer nos seus
3 Em contraste com essa visão de fragilidade do mundo intelectual e artístico no período, Cristina Ávila
esboça uma atmosfera bem mais otimista. Para ela, apesar do desenraizamento produzido pela transferência
de muitos órgãos públicos de Ouro Preto para Belo Horizonte, ocorreu “uma forma de transplantação da vida
sociocultural da antiga capital, para a manutenção de um estilo de vida na cidade em formação”, um processo
de continuidade cultural que “pode ser observado não apenas na tradição intelectual (...) como também nas
demais manifestações artísticas,” sendo comuns “saraus recitativos, as operetas e as exposições curiosamente
feitas em vitrines comerciais, nos saguões de hotéis ou foyers de teatro” (Ávila 1991: 10). De fato, logo após
a inauguração da nova capital, os cofres públicos estavam praticamente exauridos e as atividades culturais
e artísticas estiveram a cargo das iniciativas de alguns cidadãos. Uma dessas iniciativas coube ao português
Francisco Soucassaux, que construiu em 1899 um teatro e ali encenou peças destinadas ao lazer e à sociabilidade das classes letradas. Nesse momento, clubes literários e associações recreativas, geralmente de existência
efêmera, tais como o “Clube das Violetas”, o “Club Rose” e o “Clube das Rosas”, foram criados “para galvanizar
a tremenda crise inanceira” que assolava a cidade (Barreto 1950: 274). Esses clubes e associações recreativas
reuniam “os privilegiados nas salas de leitura, de jogos e nos bailes” (Almeida 1997: 79).
4 Dos quinze artistas destacados por Almeida (1997: 84-100) (brasileiros, italianos, alemães, austríacos,
suíços e portugueses), dez tinham formação acadêmica, obtida seja no Brasil (na Academia Imperial de Belas
Artes, no Rio de Janeiro, estudando com Pedro Américo, Victor Meirelles e Georg Grimm), seja no exterior
(Berlim, Florença, Trieste, Berna, Clermont-Ferrand, Bolonha e Veneza). Deve-se também a eles, especialmente a Friedrich Steckel, o primeiro estímulo à formação de uma incipiente vida artística na cidade, a partir
de sua loja de tintas e materiais onde expunha telas, constituindo a primeira galeria de arte da nova capital.
Em 1901, Steckel promoveu uma exposição de artes em sua residência, que só não foi a primeira da cidade
porque em 1897 o pintor Correa e Castro realizara no Grande Hotel uma exposição de pinturas (Almeida 1997:
92).
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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clientes, os únicos clientes possíveis naquele momento5.
Pedro Nava, um dos “insubmissos estéticos e políticos” da turma dos modernistas
mineiros, deixou-nos, em suas memórias, algumas pistas das linhas de força do campo
intelectual da belle époque belo-horizontina (1920):
Belo Horizonte era uma capital profundamente quieta e bem-pensante.
Amava o soneto, deleitava-se com sua operazinha em tempos de temporada, acatava
o Santo Ofício que censurava por sua conta os ilmes, suas moças liam Ardel, Delly, a
Bibliothèque de ma Fille, a Collection Rose, não conversavam com rapazes e faziam
que acreditavam que as crianças pussavam nas hortas entre pés de couve, raminhos
de salsa, serralha, bertalha e talos de taioba. Havia uma literatura oicial. Os discursos de suas excelências eram obras antológicas [...] A Liga pela Moralidade atava e
desatava, tinha lugar certo para suas decisões no Minas Gerais – Órgão Oicial dos
Poderes do Estado. Era um outro poder do Estado. Os Redentoristas davam a nota
com o Padre Severino fazendo milagres. Não ler as inépcias canônicas de O Sino de
São José era pecado mortal. O beatério vivia aceso com a criação do Bispado em
1921 e sua instalação a 30 de abril de 1922. A pirâmide estava perfeitamente assentada (NAVA 2003: 199).
O escritor e crítico de arte Moacyr Andrade resumiu bem a situação dos pintores
que permaneceram em Belo Horizonte nas primeiras décadas de existência da cidade. Ele
comenta que “os pintores faziam suas telas e alguns as mostravam nas vitrines de casas
comerciais. Exposição pública para ser visitada, não. Só de artistas de fora. Estímulo era
o que faltava aos da terra” (Andrade 1982: 269-270). De fato, passado o momento da
inauguração da cidade (1897), as encomendas escassearam e muitos artistas partiram
para outras cidades em busca de novas oportunidades de trabalho. Todos eles “fazendo
quadros nos momentos de lazer. Pintura quase escondida. Estímulo nenhum” (Andrade
1982: 270, grifo nosso)6. Em suma, pode-se dizer que havia artistas antes da chegada de
Aníbal Mattos, sim, mas não havia algo como um campo artístico.
A TRAJETÓRIA INTELECTUAL E ARTÍSTICA DE ANÍBAL MATTOS:
DIÁLOGOS COM O PODER POLÍTICO
O desarticulado e pouco dinâmico panorama artístico local mudou radicalmente
com a vinda para Belo Horizonte do pintor Aníbal Mattos:
5 Sobre este ponto, pode-se consultar Fígoli (2007) e Sampaio (1977).
6 Moacyr Andrade prossegue sua crônica dando os nomes dos pintores que atuaram na capital por essa época:
José Quintino, José Jacinto das Neves, Amilcar Agretti, Belmiro Frieiro (irmão do escritor Eduardo Frieiro),
Celso Werneck, Orózio Belém, Francisco Rocha, Honório Esteves, José Peret.
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
Foi ele quem chamou esses valores dispersos, encolhidos. Promoveu deles
a união, com aquele fogo idealístico que era a marca de Aníbal. Juntou os pintores
da Capital e do Estado e fez aqui a 1º Exposição Mineira de Belas Artes e nunca
mais parou. Fundou até uma Sociedade Mineira de Belas Artes em 1923 e depois
criou uma Escola de Belas Artes. Foi indiscutivelmente ele quem deu corpo, por essa
conclamação de artistas, à pintura em Belo Horizonte. Acudiram os que estavam
desanimados e outros surgiram.
Depois dele, já bem mais tarde, veio Guignard, com a pintura moderna. Encontrou o interesse pela pintura já despertado em Belo Horizonte e realizou, no terreno aplainado por Aníbal, a sua grande obra, com seu gênio que todos conhecem.
Dois bandeirantes teve, portanto, a pintura na Capital: Aníbal Mattos, o que
fez a primeira conscrição, e Alberto da Veiga Guignard, que arrebanhou valores moços com a mensagem do Modernismo e para o mesmo rumo levou até pintores antes
acadêmicos [...] (Andrade 1982: 270).
Para compreender o processo que levou à constituição e a autonomia relativa do
campo artístico e intelectual no início de século na nova capital mineira é fundamental
considerar a trajetória proissional plurivalente de Aníbal Mattos, artista-intelectual que
atuou simultaneamente em diferentes âmbitos das artes e das letras, alcançando rápida
notoriedade e autoridade, e de quem se pode dizer foi o “inventor” das artes em Belo
Horizonte.
Mattos nasceu em Vassouras-RJ, em 26 de outubro de 1889 e faleceu em Belo
Horizonte a 26 de junho de 1969. Sua formação teve início na cidade do Rio de Janeiro,
no mosteiro de São Bento e no Ginásio Nacional. De família de artistas, seus irmãos
foram o gravador Adalberto Pinto de Mattos e o pintor e escultor Antonino Pinto de
Mattos. Formou-se em desenho pelo Liceu de Artes e Ofícios e em pintura pela Escola
Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de João Batista da Costa, José Zeferino da Costa
e Daniel Bérard. Em 1910, com um grupo de artistas jovens e pobres, interessados em
expor suas obras, fundou o Centro Artístico Juventas, mais tarde transformado em
Sociedade Brasileira de Belas Artes (Ávila 1991: 8).
Tendo como preferência a pintura de paisagens, expôs seus trabalhos em Belo
Horizonte pela primeira vez em 1913. Em 1914, foi premiado com a menção honrosa de
2º Grau na Exposição Geral na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, ano
em que se casou com a pintora mineira Maria Esther d’Almeida. Três anos mais tarde,
depois de inaugurar uma exposição na nova capital mineira no Palacete Celso Werneck,
transferiu-se deinitivamente para Belo Horizonte para assumir o cargo de professor de
Desenho Artístico da Escola Normal Modelo, ao que se sabe, a convite do então senador
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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Bias Fortes7.
Figura 1: Aníbal Mattos (Foto cedida por Marlise M. de Matos Almeida).
A sua atuação mostra que se voltou decididamente, logo em sua chegada à cidade,
para a institucionalização das atividades intelectuais, artísticas e culturais. Mas não se
limitou a promover a organização do espaço das artes locais, contribuindo com uma
produção numerosa e diversiicada. Ao longo do tempo, somou um número relevante
não só de obras de arte como de literatura, teatro, cinema, crítica e história da arte, que o
fazem merecedor da qualiicação de verdadeiro “Secretário de Cultura sem nomeação”8.
Mattos foi igura muito ativa, incansável e polivalente, com intensa participação
em várias áreas do conhecimento. Além de pintor foi educador, historiador, jornalista,
crítico de arte, literato, dramaturgo, roteirista de cinema, arqueólogo, paleontólogo,
antropólogo e fotógrafo. Sua atuação em áreas tão diversas das artes, da ciência e da
cultura, mesmo autodidata em muitas delas, não se limitou a ser secundária ou marginal,
tendo desempenhado papel de vivo fomentador em quase todos os espaços da vida
intelectual e cultural da cidade, função que desempenhou sem a formalidade de um cargo
público para tal. Eduardo Frieiro (1926: 540) escreveu o seguinte sobre a atuação de
7 Mattos teve oito ilhos. Dentre eles se distingue Haroldo de Mattos, também artista plástico, fundador e
diretor da Escola de Belas Artes da UFMG.
8 Foi o historiador Fernando Pedro, em entrevista à nossa equipe de pesquisa, quem usou essa feliz expressão
para resumir o valor das atividades desenvolvidas por Mattos na cidade.
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
Aníbal:
A arte em Belo Horizonte deve-lhe não pequenos serviços. Realizando e
promovendo sucessivas exposições, próprias ou alheias; habituando o público a visitá-las, contribuindo assim para educar-lhe o gosto; encaminhando neóitos, encorajando iniciados; ventilando pela imprensa questões de arte, – não há em Belo
Horizonte iniciativa de caráter artístico que não tenha no Sr. Aníbal Mattos o seu
principal propugnador.
Prova desse papel de entusiasta, promotor e artíice do espaço social das artes
locais é sua decisiva participação, logo no ano de sua instalação em Belo Horizonte, na
criação da estratégica Escola prática de Belas Artes. A escola, sediada no desaparecido
Palacete Celso Werneck, foi fechada logo em seguida por falta de recursos e recriada mais
tarde, em 1928, com o nome de Escola de Belas Artes, onde Mattos lecionou gratuitamente
desenho e pintura por quatro anos. A escola logo passou a receber subsídio estadual, em
1932, reconhecida pelo governo e denominada Escola de Belas Artes de Minas Gerais
(atual Fundação Mineira de Arte - FUMA) (Ávila 1991: 11 e 38-39).
Fundamental para o projeto criador (Bourdieu 1968) de Mattos foi, desde sua
chegada à capital, a organização de uma série ininterrupta de exposições gerais de artes
plásticas, conferindo às atividades artísticas locais e aos admiradores potenciais uma
inédita e imprescindível rotinização de espaços de exibição e apreciação da produção
artística local, principalmente, mas também de obras de fora do estado, ampliando, desse
modo, a perspectiva estética tanto de produtores quanto de consumidores. De fato, em
1917, organizou nos salões do Conselho Deliberativo a 1ª Exposição geral de Belas Artes
da Capital, em que se expuseram mais de duzentos trabalhos de artistas locais e de outras
regiões do Brasil, evento que viria a se institucionalizar, se repetindo com sucesso nos
anos seguintes. Desse modo, Mattos agregava ao já basilar espaço de reprodução do
campo, constituído pela primeira Escola de Belas Artes, os indispensáveis espaços de
exibição e apreciação, com exposições regulares da produção local e nacional.
Nesse contexto de plena invenção das artes no novo espaço urbano regional –
no sentido de práticas e regras formalmente criadas visando instituir uma tradição no
mundo artístico – Mattos se empenharia ainda na criação de instâncias de consagração
e legitimação das atividades artísticas – o que supõe concursos, júris, premiações,
recompensas, etc. – fundamentais tanto para a estruturação de um campo suicientemente
organizado quanto para prescindir das imprevisíveis iniciativas individuais e da boa
vontade pública para a divulgação e circulação da produção artística, e aspirar à completa
autonomia. Com efeito, em 1918, após os esforços depositados na criação da primeira
Escola de Belas Artes e na organização da primeira exposição de artes plásticas, o vemos
empenhado na estratégica criação da Sociedade Mineira de Bellas Artes, na qual sua
intervenção foi de vital importância (Almeida 1997: 105-7).
Compreende-se que, para os pintores atuantes na cidade àquela época, os
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salões organizados por Aníbal Mattos eram a única oportunidade para divulgarem
sua produção. Além disso, terem seus trabalhos expostos no Rio e São Paulo, graças à
intervenção de Mattos, para muitos deles “que pintavam escondido” talvez tenha sido
a glória máxima. Mattos representava, como denomina Howard S. Becker (1977: 12), o
artista ou proissional perfeitamente “integrado”, ou seja, preparado e capaz de produzir
uma obra de arte canônica, plenamente integrado no mundo artístico instituído, que“não
causaria qualquer tipo de problema a quem quer que fosse que devesse cooperar com
ele e todos os seus trabalhos teriam um público não só numeroso como receptivo”. Tal
integração se daria em virtude de ser ele, como o jovem pastor lídio de nossa epígrafe,
não apenas objeto passivo do campo em vias de constituição, mas o construtor de sua
própria recepção (Heinich 2008: 50)9.
Se artistas “integrados” conhecem as convenções que regulam o mundo no qual
estão inseridos e a elas se adaptam, fazem-no ainda com maior razão quando intervêm
na organização do mundo da arte ao qual sua própria obra se destina. A produção adota
procedimentos formais e de conteúdo condizentes com os espaços disponíveis e com a
capacidade de o público reagir adequadamente (Becker 1977: 13). Esse tipo de artista
conhece não somente seu público, suas limitações e preferências, como as instituições
e instâncias que condicionam e estruturam o campo, e subordina sua produção a
essa demanda. De fato, no caso em foco, as elites cultivadas, políticas e econômicas,
destinatários inais da produção artística nos primeiros anos da nova capital, não eram
outros senão os próprios comanditários e protetores do campo, mais tarde consumidores
de talentos, em vias de estruturação.
9 O escritor Eduardo Frieiro, contemporâneo de Mattos, fala, no livro Novo Diário, da “visão agigantada” que
Aníbal Mattos tinha de si mesmo e do seu amor à publicidade e à imprensa: “Ninguém melhor do que Aníbal
para se enaltecer a si mesmo e elogiar rasgadamente seus próprios quadros” (Frieiro 1986: 107). Mattos atuava nos principais jornais da cidade como crítico de arte sob diversos pseudônimos. Frieiro, na obra supracitada, revela que Mattos “passou a redigir, ele próprio, o noticiário das exposições que aqui realizava” (Ibidem).
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
Figura 2: Aníbal Mattos e Maria Esther d’Almeida. Foto cedida por Marlise M. de Matos
Almeida.
A essas incisivas e decisivas intervenções, Mattos, visando acelerar a
institucionalização das atividades artísticas na cidade, protagonizou um número
relevante de destacadas e signiicativas participações na vida social, cientíica e cultural da
cidade que, sem dúvida, contribuíram para ampliar e diversiicar as fontes de legitimação
da sua produção artística, com a consequente consolidação de sua autoridade cultural.
Nesse sentido, há um artigo de Carlos Drummond de Andrade – escrito em 1923 para
apreciar uma peça de teatro de Aníbal Mattos, “Bárbara Heliodora”, premiada no Rio e
escolhida para ser encenada durante as comemorações do centenário da Independência
– que parece exemplar para caracterizar a atuação de Aníbal como artista “integrado”.
Drummond, num elogio mesclado de ironia, ainal ele era subordinado a Mattos no
Diário de Minas, começa declarando que Mattos “desconhece o sétimo pecado mortal”,
admirando, sobretudo, sua “nobre atitude de batalhador”. Enquanto Drummond e outros
nefelibatas envelhecem diante de um eterno entediado sorvete no Trianon, o redator
do ‘Diário de Minas’ vai ao escritório, escreve um drama, pinta um quadro, ensaia uma
comédia, compõe um poema, produz um artigo! (Andrade 1923). Preocupado em traçar
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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o “peril intelectual do Sr. Aníbal Mattos”, o jovem Drummond reconhece nele “um
homem que, vivendo numa época de atividade delirante, sabe pôr a sua sensibilidade ao
alcance das múltiplas e desencontradas sugestões do meio ambiente”, considerando sua
maior virtude a de “marchar ao ritmo do seu tempo”. Não o considerava um modernista;
Mattos “está longe de ser um futurista. Reconheço-lhe, mesmo, a formação clássica,
o academicismo das fórmulas, etc.”. Mas isso não passaria de “frívolas objeções, e eu
continuo a considerar o Sr. Aníbal Mattos como plenamente identiicado à vertigem
barulhenta da época”, sentindo, “ao seu modo, a angústia entontecedora que nos
avassala” (Andrade 1923).
Mattos foi professor de artes durante todos os seus anos de vida em Belo Horizonte,
em diversos institutos locais. Foi professor da Escola Normal Modelo, cargo que assumiu
na sua chegada, em 1917; também lecionou desenho e artes gráicas no Ginásio Mineiro
de Belo Horizonte, em 1923, desenho igurado e caligraia na Escola Normal Modelo, a
partir de 1925; professor de desenho e pintura na Escola de Belas Artes, de 1928 a 1932;
desenho artístico na Escola de Arquitetura, de 1930 até 1957, quando se aposentou.
Criou e publicou a revista Novella Mineira, em 1922; foi co-fundador, em 1930,
da Escola de Arquitetura, a primeira do Brasil a romper com o modelo da Academia
de Belas Artes francesa, que vinculava o ensino de arquitetura ao das Belas Artes e da
Filosoia (Bahia 2005: 190); foi também membro da Academia de Ciências de Minas
Gerais, fundada em 1936.
Promoveu, através da Sociedade Mineira de Belas Artes, exposições individuais e
coletivas: as Exposições Gerais de Belas Artes, realizadas continuamente desde 1917; o
Salão Feminino de Belas Artes, em 1932, e a I Exposição Coletiva de Artistas Mineiros, em
São Paulo, em 1933. Além disso, realizou inúmeras exposições individuais e participou de
várias outras mostras coletivas, em Minas e no Rio de Janeiro.
A notável e multiforme trajetória intelectual de Mattos pode ser ainda apreciada
pelos destacados cargos que ocupou em diversas associações, locais e nacionais: foi
Patrono da Cadeira 96 do Instituto Histórico e Geográico de Minas Gerais, em 1929;
foi membro do Conselho Nacional de Belas Artes, desde 1933; foi Sócio Benemérito da
Sociedade Brasileira de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1935; foi o 1o Vice-presidente da
Academia de Ciências de Minas Gerais, em 1936; foi Presidente da Academia de Ciências
de Minas Gerais por mais de uma vez, nas décadas de 30 e 40; representou o Brasil
no Congresso Internacional de Antropologia na Filadélia, em 1937; foi Presidente do
Instituto Histórico e Geográico de Minas Gerais, em 1937; ocupou o cargo de Tesoureiro
da Academia Mineira de Letras, assim como a diretoria da revista dessa instituição; foi
designado representante da Sociedade Mineira de Belas Artes para o estado de Minas;
foi, ainda, Presidente do Rotary Club de Belo Horizonte, em 1948.
Além dos cargos representativos e de direção ocupados nas associações das quais
participou, sua presença se fazia sentir também no universo das letras, pois era infatigável
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
escritor. O dinamismo e a multiplicidade de seus interesses se expressam no número e
diversidade temática da obra escrita. Ao todo, publicou 9 livros e 16 artigos de crítica e
história da arte, 19 livros e um artigo de paleontologia e pré-história, 18 peças de teatro,
novelas ou poemas em forma de livro, além de textos de caráter histórico, pedagógico ou
mesmo comemorativos.
A biograia e trajetória intelectual de Mattos indicam claramente que a sua relação
com o poder público não se deteve no convite para radicar-se na cidade e assumir o
cargo de professor da Escola Normal Modelo. A versátil agenda de atividades que Mattos
cumpriu, ao longo dos anos sucessivos, como incentivador e protagonista destacado
da vida intelectual, cultural e artística local, foi resultado da proximidade e interação
intensa que construiu e manteve com as classes dirigentes, congregadas na época,
principalmente, no Partido Republicano Mineiro (PRM).
Evidências dessa proximidade, efetiva e ambicionada por Mattos, com as elites que
comandavam a vida do Estado são os frequentes e bem noticiados atos de oferecimento
público de suas pinturas a destacados personagens políticos do governo estadual. De
indubitável valor simbólico, verdadeiras “contraprestações dadivosas” (no sentido
maussiano do termo) oferecidas aos poderosos protetores das artes, constam nas crônicas
sociais da época, por exemplo, o oferecimento gracioso de uma pintura denominada
Flôres da Primavera ao então Presidente do Estado de Minas, Raul Soares, em 1924. Três
anos mais tarde, em 1927, numa nova doação bem registrada pela imprensa, o pintor das
elites doa ao Presidente Antônio Carlos uma pintura cujo título era Solar Tradicional,
a qual, por decisão do próprio Presidente, foi distinguida com a exposição permanente
na seção Pinacotheca de Minas Geraes do Arquivo Público Mineiro. Trata-se de um
gesto ritual de reconhecimento e consagração da obra de arte, por disposição da máxima
autoridade política local com efeitos de valor conversível no campo artístico, conferido
pela aceitação e exibição oicial durável da “obra oicial”. É sem duvida um momento
revelador de uma operação de transferência pública de valores entre campos, o político e
o artístico, que reforçam seus poderes e autoridades mútuos pelo ato de reconhecimento
e consagração recíproco.
Comanditários e destinatários, em última instância, do projeto de estímulo e
organização da vida artística e cultural do novo centro urbano, as frações cultivadas das
elites políticas que pertenciam às instituições dirigentes, tentavam impor sua visão aos
artistas e literatos que delas também participavam. Por seu lado, os artistas e escritores,
agindo como intercessores, tentavam assegurar para si e para os seus o controle das
gratiicações materiais e simbólicas distribuídas pelo Estado10. Pela participação nesses
círculos de sociabilidade da elite, tudo indica que Aníbal Mattos contribuía para a
10 Sobre essas trocas entre os detentores do poder político e os artistas e escritores, ver Bourdieu (2010: 6768).
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
85
evolução do mercado de recepção, intervindo decisivamente na sua estruturação formal,
e simultaneamente ajustava a sua produção artística, sem chegar a ser o pintor oicial de
um grupo de poder, ao gosto estético dos círculos dirigentes.
.
A INVENÇÃO DAS ARTES E SUA TRADIÇÃO: PROJETO CRIADOR, MECENATO
ESTATAL E PRIMEIRA RUPTURA
Sabendo como tem sido comum o fenômeno da “invenção das tradições” no período
de 1870 a 1914, nos países europeus, tal como Eric Hobsbawm (1997: 271) tem mostrado,
a extensa agenda de atividades cumpridas por Aníbal Mattos nos primeiros anos de
existência da nova capital, no contexto de uma sociedade em profunda transformação,
para ajustar-se à nova realidade nacional após a Proclamação da Republica, autoriza
interpretar sua trajetória como a de um agente destacado do campo das artes e das
letras belo-horizontinas que desempenhou importante papel político de criador das suas
instituições fundamentais, mas também de inventor de suas tradições e do simbolismo
ritual, esforço equivalente, em menor grau, àquele que tinha se desenvolvido na Europa,
poucos anos antes, por ocasião da emergência das novas sociedades nacionais.
Tal como os “heróis primordiais” dos grandes relatos míticos, personagens
responsáveis pela introdução das novas artes e ofícios num povo, coube a Mattos, em
seu projeto criador, a transformação das práticas artísticas amadoras, “escondidas” e
líricas, em um universo organizado, secular e público de instituições oiciais dedicadas
à produção, reprodução, circulação e consumo da arte local. Coube a ele a primeira
formulação da linguagem simbólica pública e dos cenários e rituais consagradores dessas
novas instituições: as cerimônias, os júris, as premiações, os vernissages e todas as
demais reuniões legitimadoras das atividades artísticas, nas quais há inúmeros registros
de sua participação. Foi também Mattos que, com seus numerosos escritos de crítica e
história da arte em Minas, e até mesmo com seus trabalhos sobre paleontologia e préhistória, dotou as artes mineiras de um extenso passado – se levamos em conta seus
estudos arqueológicos e de arte rupestre – e de um passado ilustre – considerando
seus ricos estudos da história da arte colonial e das igrejas mineiras –, passado esse
convocado para conferir identidade e legitimidade às aspirações de reconhecimento,
local e nacional, dos produtores artísticos da nova capital. Assim, a conciliação almejada
pelas elites, entre a velha tradição colonial e a modernidade materializada no novo centro
urbano, encontraria no palco da ritualização pública da produção artística um meio eicaz
de expressão simbólica da continuidade e das transformações sociais, econômicas e
políticas em curso.
Como ensina Bourdieu, para além das lentes idiográicas tradicionais dos estetas,
86
A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
que pretendem compreender a singularidade dos produtores e de suas obras com base
apenas em materiais expressivos internos, é necessário atentar para a natureza relacional
das posições políticas e estéticas de seus ocupantes, o mapeamento das instâncias do
campo e a história social das lutas dos agentes, no contexto do processo histórico de
autonomização e de diferenciação interna. Nesse sentido, deve-se atentar para as lutas
simbólicas reveladoras (de forma muitas vezes eufemizada) dessa lógica estrutural cujas
armas são tradições e convenções sociais e estéticas, formas expressivas, linguagens e
problemáticas propriamente artísticas (Bourdieu 2001; 2010; Miceli 2003a).
É preciso levar em conta que a fase de emergência de um campo artístico é caracterizada pela
subordinação estrutural dos produtores culturais aos detentores dos poderes temporais
(poder político ou econômico). Essa subordinação é instituída através de duas mediações
principais: de um lado, o mercado; do outro, o envolvimento dos artistas e intelectuais
com as classes dirigentes, baseado em ainidades de estilos de vida e de sistemas de
valores, que se traduz na proteção e nas vantagens conferidas pelo mecenato estatal. Essa
imbricação do campo do poder com o campo artístico instaura uma rede de trocas entre
os artistas e escritores e os poderosos. Ao longo do processo de emergência do campo
artístico, as instâncias políticas, na ausência de instâncias autônomas de reprodução e
consagração artísticas (por exemplo, academias de letras, editoras, academias de belas
artes, galerias, salões de belas artes, etc.), exercem um domínio direto sobre os pintores
e literatos em virtude das sanções materiais e simbólicas que monopolizam: pensões,
acesso à possibilidade de expor nos salões de pintura, cargos ou postos remunerados,
distinções honoríicas, etc. (Bourdieu 2010: 65).
No caso brasileiro, a proteção do Estado pôs os intelectuais a salvo das sanções de
mercado, especialmente as que cerceiam a invenção estética e a efetivação da ideologia
da arte pela arte. O ingresso no serviço público foi uma dessas formas de proteção.
Permitiu “aos herdeiros dos ramos empobrecidos da classe dirigente resgatar o declínio
social a que se viam condenados assumindo diferentes tarefas na divisão do trabalho de
dominação” (Miceli 2001: 200). Dessa forma, instaurou-se uma situação de dependência
material e institucional dos intelectuais e artistas para com o poder público, cujos
subsídios sustentavam as iniciativas desses produtores culturais, colocando-os a salvo
das oscilações de prestígio e imunes às sanções de um mercado de bens simbólicos ainda
bastante incipiente e apático (Miceli 2001: 200).
Certamente a essa proteção se deve o fato de que a literatura brasileira mais
revolucionária esteticamente foi feita por exemplares funcionários públicos (Machado,
Drummond, Rosa, por exemplo.). Pode-se dizer quase o mesmo da arquitetura nacional.
Há uma passagem de Drummond que parece se referir ironicamente, mas talvez também
com certo orgulho, a esse problema:
Observe-se que quase toda a literatura brasileira, no passado como no pre-
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
87
sente, é literatura de funcionários públicos [...]. Há que contar com eles, para que
prossiga entre nós certa tradição meditativa e irônica, certo jeito entre desencantado
e piedoso de ver, interpretar e contar os homens, as ações que eles praticam, suas
dores amorosas e suas aspirações profundas – o que talvez só um escritor-funcionário, ou um funcionário-escritor, seja capaz de oferecer-nos, ele que constrói, sob
a proteção da Ordem Burocrática, o seu edifício de nuvens, como um louco manso e
subvencionado (Andrade 2011: 111-112).
Nesse sentido, diversos autores (Dias 1971; Miceli 2004; Santos 1986) concordam
que, para compreender a história das artes belo-horizontinas nas primeiras décadas
do século XX, é preciso determinar e esclarecer os efeitos do mecenato estatal sobre
as formas que assumiram na cidade a produção e as instâncias de reprodução e de
consagração artísticas. A presença e as iniciativas do Estado durante os primeiros anos de
vida da cidade - tanto na demanda de bens artísticos para ornamentar prédios públicos
e residências de cidadãos que deviam exibir uns aos outros seu reinamento de gosto,
quanto na criação de instituições de ensino das artes e de espaços e eventos próprios
à exibição da produção artística - é contemporânea da própria fundação da cidade e a
acompanhou durante várias décadas.
Por outro lado, nunca houve em Belo Horizonte aquela conjunção de fatores
econômicos, demográicos e institucionais que, no período entre 1885 e 1925, permitiu
o surgimento, em São Paulo, “de um embrião avantajado de mercado de arte, dotado
das principais características de seus congêneres estrangeiros”, materializandose em instituições especializadas na formação de artistas, em espaços de exibição e
comercialização da produção artística local e estrangeira, e contando ainda com “um
grupo destacado de colecionadores privados, os mesmos que frequentavam exposições
e atuavam como patronos e incentivadores das principais iniciativas institucionais no
campo das artes plásticas” (Miceli 2003b: 21).
Como vimos, foi desse trabalho de construção institucional que se ocupou Aníbal
Mattos desde sua chegada. Não contava, porém, com os recursos materiais dos paulistas.
Primeiro, porque Minas ainda vivia uma situação econômica estagnada (Dulci 1999);
segundo, porque Minas não dispunha de nada parecido com o conjunto de mecenas das
artes paulistas, conforme o relato de Miceli (2003b); terceiro, porque não houve em BH
aquele luxo migratório tão decisivo na formação de novos gostos artísticos e de renovação
das perspectivas estéticas dos artistas plásticos em SP (Miceli 2003b).
São especialmente interessantes as ambivalências que a dependência do aparelho
de Estado criava nos intelectuais mineiros: ao mesmo tempo participando das esferas do
poder, seja por laços familiares e de amizade, seja por relações proissionais, políticas e
econômicas, e vendo-se na necessidade (política, moral) de criticar esse poder com o qual
conviviam intimamente na vida diária, os artistas desenvolveram diversas estratégias
para conquistar a autonomia indispensável à constituição de um verdadeiro campo
88
A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
artístico. Esse convívio com o poder vincou de modo indelével a experiência social desses
escritores e artistas. Em suas memórias, Pedro Nava reconhece nas impressões trazidas
pelo cargo de funcionário público o pólen de empreendimentos simbólicos posteriores:
A impressão da vida funcionária sobre minha natureza até então em constante mudança, aquela entrada num ramerrão repetido dia a dia e duma igualdade
de encher lingüiça, foi uma das mais fundas impressões de minha vida. Durou tanto
(dura até hoje) que em 1949 cheguei a tentar o início de um romance burocrático
que, por várias circunstâncias, icou em suas primeiras páginas – páginas que não
deixam de ser um pouco das camadas profundas de mim mesmo, de onde veio a
idéia de escrever estas memórias. (Nava 2003: 29)
Ao mesmo tempo, a “vida funcionária” concedia aos artistas e escritores um
mínimo de autonomia e certo grau de liberdade frente ao gosto oicial, segundo Nava
(2003: 197):
Comecei laboriosamente a apartar a Poesia da merda rala que o burguês considera poético e que é justamente o seu contrário. A idéia não é minha e vem numa
frase de Cocteau. Politicamente, a maioria de meus amigos do Grupo do Estrela nutria, pelo menos naquele momento a que nos reportamos, o maior tédio, indiferença
ou hostilidade pelo monopólio político do PRM; dizíamos desse partido os horrores
que convinham e merecia o mais de nossa animadversão, sua coniguração executiva
representada pela Tarasca. Assim passaram por nós, como coisa irrelevante, como
água em pena de galinha, as eleições de Raul [Soares] e [Artur] Bernardes em março
e suas respectivas posses nos governos do Estado e da República, em setembro e
novembro do ano.
À luz dessas vívidas descrições de Nava, e à falta de impressões das mesmas relações
com o aparelho do Estado de nosso artíice das artes, não parece forçado imaginar uma
situação equivalente para os artistas, de modo que podemos concluir com Bourdieu,
quando airma que a relação entre os produtores culturais e as classes dominantes
caracteriza-se pela subordinação estrutural dos primeiros em relação ao comanditário,
“mais frequente entre os pintores, mas também atestada no caso dos escritores”, bem
como pela idelidade a um mecenas ou a um protetor oicial das artes (Bourdieu 2010:
65).
Nesse ambiente de mútua dependência e de subordinação estrutural, especialmente
de artistas, é conhecido “o conservadorismo estético que leva as frações das classes
dominantes mais distantes do polo artístico a rejeitar todas as formas de arte libertas
dos cânones estéticos do passado” (Bourdieu 1982: 292). É possível supor também que o
pecado que atribuíram a Aníbal Mattos alguns historiadores ─ haver bloqueado, por ação
e omissão, o surgimento de obras modernistas nas artes plásticas belo-horizontinas ─
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
89
resultasse da sua percepção de que a natureza estética da transgressão modernista seria
mal recebida pelas classes dominantes e, portanto, pelo mercado, subordinando o gosto
à recepção. Ainal, apesar dos modernistas, Belo Horizonte ainda era uma cidade “tão
Mariana, tão Ribeirão do Carmo, tão Ouro Preto...”, como disse Nava (1987: 333), onde a
Tradicional Família Mineira reinava inconteste11.
Um texto de Carlos Drummond de Andrade, de 1930, sugere que não havia rancor
contra Mattos por parte dos modernistas. Com o pseudônimo de Antônio Crispim, no
artigo “Do artista desconhecido”, ele aconselhava os jovens a não irem ao Louvre e diz:
“rapazes, ide ao Municipal”, onde ocorria a Sétima Exposição Geral de Belas Artes, com
curadoria de Aníbal Mattos:
Observemos ali o belo, tocante esforço mineiro no sentido de realizar qualquer coisa que seja o relexo de nossas preocupações artísticas em período de câmbio vil e de vida cara, que não são propriamente matéria para alimentar os sonhos.
Defende uma arte livre, não presa a modelos e escolas de arte; valoriza aquela arte
feita em varanda e aquele artista que não protesta nem se suicida e admira Aníbal
Mattos, que tem uma pertinácia incrível e heróica (Andrade 1984: 21-22).
Uma hipótese a discutir, levando em conta a disposição negativa que se formou
contra ele ao longo da década de 30, é que, dominando as instituições de formação de
artistas plásticos – uma escola de belas artes –, assim como controlando os salões onde
os artistas, locais ou não, expunham suas obras, Mattos teria represado o surgimento de
manifestações estéticas diversas daquelas que sua dócil ortodoxia formava e reforçava.
Além disso, lembremos do já citado mecenato estatal. Tal como Guignard quase
trinta anos depois, Mattos veio para BH “a convite” do governo estadual, para assumir
a função de promotor e professor de arte, como convinha a uma capital provincial com
pretensão a centro regional de cultura, rivalizando com os grandes centros do país.
Ambos receberam como que “missões” político-culturais em momentos diferentes, mas
com funções praticamente iguais.
Duas exposições – o Salão do Bar Brasil, de setembro de 1936, e a Exposição de
Arte Moderna de 1944 – dão uma pista sobre a existência de tensões no incipiente campo
artístico belo-horizontino. A Exposição de Arte Moderna do Bar Brasil, ou Salão do Bar
Brasil, organizada por um grupo de artistas em que iguravam Delpino Júnior, Alberto
11 Relato de Nava (2003: 199) sobre o tratamento que receberam: “Ora, aqueles rapazes desrespeitosos, escrevendo em revistas do Rio e depois de São Paulo, fazendo versos sem rima e sem metro, descobrindo pedras
no meio do caminho – só podiam ser uns canalhas [...] Os escritores, os vates, os pintores, os escultores que
tinham o viático do Palácio descascavam em cima da súcia. Além de confusamente tratados de futuristas, éramo-lo também de nefelibatas – expressão exumada dos velhos insultos aos simbolistas e servindo agora para
nós que éramos os que andávamos com os pés fora do chão em vez de casqueá-lo solidamente a quatro patas,
da Praça da Liberdade ao Bar do Ponto, dando uma paradinha no Conselho Deliberativo (vindo por Bahia) ou
no Senado e na Câmara (quem descia João Pinheiro)”.
90
A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
Delpino, Genesco Murta, Jeanne Milde e outros, aconteceu no subsolo do Cine-teatro
Brasil em setembro de 1936 e nasceu sob o signo de uma dupla transgressão: em primeiro
lugar, foi realizada em um bar, portanto, em um espaço não institucional, como uma
espécie de “negação dos lugares tradicionalmente designados para a experiência estética”
(Vieira 1997: 149); além do mais, ocorreu no momento em que a cidade abrigava dois
eventos “oiciais”: o Segundo Congresso Eucarístico Nacional e a XII Exposição Geral
da Sociedade Mineira de Bellas Artes, organizada por Aníbal Mattos: “A cidade recebia
autoridades as mais representativas, não só do clero, mas especialmente a entourage
política do governo. Aníbal Mattos, integrando a programação oicial, organizou sua
exposição no hall do Teatro Municipal da cidade” (Vieira 1997: 151).
Interessante notar que o evento ora foi chamado pela imprensa de “Exposição de
Bellas Artes”, e ora “Exposição de Arte Moderna”. O Salão do Bar Brasil foi recebido pela
crítica local como algo insólito, como testemunha esta passagem extraída de um artigo do
periódico Folha de Minas, assinado por Jair Silva, que classiicava o salão como:
[...] uma revivescência de costumes de artistas bohemios de 1936. O Bar Brasil está enfeitado de quadros e de esculturas (...). O Sr. Aníbal Mattos instalou-se,
sem bebidas, no Teatro Municipal. Os artistas novos foram discutir a arte na penumbra de um bar. São oposicionistas. Não concordam com a evidência concedida, em
Minas, ao pintor Aníbal Mattos (Silva apud Vieira 1997: 149).
De um lado, a arte sóbria, “sem bebidas”, de Mattos, do outro, a “bohemia”
discutindo arte na “penumbra de um bar”: não seria exagero pensar que o salão do Bar
Brasil atualizou um conlito, até então latente, entre a ortodoxia e a heresia, ou ainda
entre os estabelecidos e os recém-chegados. Em apoio a essa hipótese, podemos citar
depoimentos de participantes do evento, bem como do público. O pintor Genesco Murta,
um dos participantes do Salão do Bar Brasil, em entrevista concedida ao Diário da Tarde
em 7 de setembro de 1936, às vésperas da inauguração do Salão, fala sobre o “lamentável
estado da arte em Minas” devido à ausência de “escolas onde se aprenda a desenhar”,
e, no que parece ser uma crítica velada a Mattos, considera que “a criação imediata de
uma Escola de Belas Artes seria uma improvisação apressada” (Diário da Tarde, 07 de
setembro de 1936, p. 4). O escritor José Bezerra Gomes deixou a seguinte observação
no livro de visitas da exposição do Bar Brasil: “quem estava atravancando a arte em
Minas era o Sr. Aníbal Mattos. Delpino, Fernando e outros reagiram bonito. Aí está uma
exposição, expressão da arte moderna, para o povo entender e julgar” (Vieira 1997: 153).
A partir desse momento, a produção pictórica de Aníbal Mattos passaria a ser
criticada. Os temas tradicionais da pintura mineira são negados: as cenas bucólicas das
cidadezinhas do interior, as cidades do ciclo do ouro, os episódios e personagens ligados
à Inconidência Mineira. Os participantes do Bar Brasil elegem o cotidiano da cidade
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
91
como tema de seus trabalhos.
Figura 3: Aníbal Mattos. Foto cedida por Marlise M. de Matos Almeida.
A adesão de uma fração dos pintores mineiros ao modernismo pictórico só
ocorreria deinitivamente com a chegada de Guignard à cidade, em 194412. Guignard tinha
sido convidado pelo então Prefeito Juscelino Kubitschek para implantar na cidade um
curso de pintura e desenho. Aceito o convite, Guignard se transferiu para Belo Horizonte
e fundou sua Escola “em franca rivalidade com a de Aníbal Mattos, que tinha aglutinado
as iguras mais destacadas do academicismo” (Fígoli 2007: 31). A partir de então,
[...] trava-se uma clara luta político-ideológica no campo artístico, que toma
a forma especíica do embate entre modelos pedagógicos e estéticos: aos clichês,
aos modelos ideais, às formas rígidas de ensino do academicismo, a nova escola vai
12 É interessante observar, para caracterizar esse campo em formação, que a Semana de Arte Moderna de
1922 de São Paulo não tenha repercutido sobre os artistas plásticos belo-horizontinos. Ao contrário da estreita
relação e mútua inluência, nas décadas de 20 e 30, entre os escritores e poetas modernistas paulistas e
mineiros, os pintores mineiros se mantiveram distantes do modernismo, permanecendo iéis a uma concepção
de arte naturalista, de documentação da realidade. Apegados à ordem antiga, à força da tradição, preferiram
pintar telas com imagens de paisagens e panoramas coloniais. As ideias modernistas em pintura, desenho e
escultura, só se airmaram em Belo Horizonte duas décadas mais tarde.
92
A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
contrapor o “liberalismo didático”, o método modernista do ensino livre; às formas
perceptivas próprias do academicismo, que valorizava a pintura igurativa do real,
o modernismo de Guignard privilegiará a interpretação da realidade (Oliveira apud
Fígoli 2007: 32).
Após a chegada de Guignard, a atuação de Aníbal Mattos no campo artístico
belo-horizontino passou a ser avaliada negativamente. O pintor, acusado de barrar o
modernismo pictórico, passaria a se defender lembrando seu papel empreendedor no
campo artístico da cidade. Mas, daí em diante, Aníbal Mattos passaria a ser visto como
um artista “fóssil”, insistindo em pintar à maneira da vanguarda do passado, o seu
impressionismo deixaria de ser tolerado. Como já observou Bourdieu (2010: 173):
Ao contrário dos artistas de vanguarda que são de alguma maneira duas vezes “jovens”, pela idade artística mas também pela recusa (provisória) do dinheiro
e das grandezas temporais por onde chega o envelhecimento artístico, os artistas
fósseis são de alguma maneira duas vezes velhos, pela idade de sua arte e de seus esquemas de produção mas também por todo um estilo de vida do qual o estilo de suas
obras é uma dimensão, e que implica a submissão direta e imediata às obrigações e
às gratiicações seculares.
Não é improvável que, nessa época, a partir dos conlitos envolvendo Mattos e
Guignard, tenha surgido uma avaliação retrospectiva da atuação de Aníbal – como
alguém que “atravancou” a pintura moderna em Minas. Ficando obscurecido o seu papel
demiúrgico de fundador e inventor do campo artístico da cidade.
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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A INVENÇÃO DAS ARTES PLÁSTICAS EM BELO HORIZONTE
THE INVENTION OF THE ART OF PAINTING
IN BELO HORIZONTE
ABSTRACT
Belo Horizonte lacked institutionalized artistic acti- understanding of the structural aspects of the invities in the irst decades of the twentieth century. In tellectual and artistic ield of this period: its depen1917, the painter Aníbal Mattos was invited to settle dence to the political power, the low diferentiation
in the city to help giving it an organized artistic life. of functions in the cultural ield, the struggles of
Mattos created fundamental art institutions and competition for the monopoly of artistic legitimacy.
implemented the teaching of arts in public schools. His career opens a view of the cultural understanBesides being a painter and an art critic, he was also dings and the aesthetic and moral positions of the
a writer, playwright, screenwriter, archaeologist, diferent agents of the artistic and intellectual ield
paleontologist, journalist, anthropologist, educator in the period.
and photographer. The study of his career allows an
KEYWORDS
Anthropology of art, sociology of culture, artistic ield, painting, Belo Horizonte.
SOBRE OS AUTORES
LEONARDO HIPOLITO GENARO FÍGOLI
Professor Associado do Departamento de Sociologia e Antropologia, FAFICH/UFMG
Contato: ligoli@faich.ufmg.br
RONALDO DE NORONHA
Professor Adjunto do Departamento de Sociologia e Antropologia, FAFICH/UFMG.
Contato: ronaldo.noronha@uol.com.br
JOÃO IVO DUARTE GUIMARÃES
Mestre em Sociologia pela UFMG.
Contato: joaoivoduarteguimaraes@yahoo.com.br
TEORIAE SOCIEDADE Número Especial: Antropologias e Arqueologias, hoje.
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