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JORCIANE MOREIRA DE CAMPOS APRENDIZAGEM HISTÓRICA A PARTIR DOS MANHWAS: UM DIÁLOGO ENTRE A HISTÓRIA E AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS SUL COREANAS CUIABA MT 2017 2 JORCIANE MOREIRA DE CAMPOS APRENDIZAGEM HISTÓRICA A PARTIR DOS MANHWAS: UM DIÁLOGO ENTRE A HISTÓRIA E AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS SUL COREANAS Trabalho de conclusão de curso apresentado à Banca Examinadora da Universidade Federal de Mato Grosso do curso de Licenciatura em História. Orientador: Profº Dr. Marcelo Fronza. CUIABA MT 2017 3 AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus amigos, Joyce, Ketelem e Ruddy, por acreditarem em mim e me apoiarem durante o processo dessa pesquisa. A minha família por me apoiar, e entender minha ausência. Ao meu orientador, por aceitar me orientar nessa pesquisa e acreditar na possibilidade quando muitos disseram ser impossível. 4 RESUMO Nessa pesquisa analisarei a possibilidade de construção de contexto histórico oriental dos estudantes do ensino médio, a partir das histórias em quadrinhos, entendidas aqui como arte sequencial, e sua aplicação dentro de cada classificação ao ensino de História. Demonstrarei e analisarei a importância cultural do manhwa, originário da Coréia do Sul, para a sociedade coreana. O trabalho com ensino de história utilizando Histórias em Quadrinhos ainda é pouco conhecido no país, mas vários trabalhos na área têm sido desenvolvidos. Como metodologia será utilizada como base a pesquisa realizada por Marcelo Fronza (2012), que leva em consideração as narrativas das histórias em quadrinhos e a Educação Histórica, concentrandose na linha de investigação ligada à cognição histórica situada (SCHMIDT, 2009). Assim sendo, esse trabalho consistirá na pesquisa bibliográfica tanto de teóricos do Ensino de História como da utilização das histórias em quadrinhos nas aulas de história. Palavra chave: Educação Histórica, Histórias em Quadrinhos, Manhwa. 5 ABSTRACT In this research analyze the possibility of building the historical context of the middle school students, from the comics, understanding how to sequence art, and its application within each classification for the teaching of History. I will demonstrate and analyze the cultural importance of the manhwa, originating in South Korea, for a Korean society. The work with story teaching using Comics is still a little known in the country, but some work in the area has been developed. As methodology was used as the basis of a research carried out by Marcelo Fronza (2012), which takes into account as comic book narratives and Historical Education, focusing on the line of investigation linked to historical cognition located (SCHMIDT, 2009). Thus, this work will consist of the bibliographical research of both Teachers of History and the use of comics in history classes. Keyword: Historical Education, Comics, Manhwa. 6 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 1.6 1.7 2 2.1 2.2 2.2.1 2.2.2 2.2.3 2.2.4 3 RESUMO ABSTRACT TABELA DE IMAGENS INTRODUÇÃO EDUCAÇÃO HISTÓRICA COM HQ'S História das Hq no mundo (Ocidente) Análise dos autores e Pesquisas realizadas até o momento As Histórias em Quadrinhos em sala de aula As Histórias em Quadrinhos e a cultura de massa As Histórias em Quadrinhos japonesas: os Mangás. As Histórias em Quadrinhos coreanas: os Manhwas. Histórias em quadrinhos em sala de aula e o caso dos Manhwas O CASO DOS MANHWAS História dos quadrinhos na Ásia Conceitos Linguagem Experiência Cultura Histórica Narrativa na História CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 04 05 07 08 10 13 21 22 24 26 27 29 31 33 45 45 49 51 52 56 57 7 TABELA DE IMAGENS Figura Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8 Figura 9 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Título Gerhard Shnobble como Exemplo de Leitura Sandman como Exemplo de roteiro McCloud e a Arte de intervalo McCloud e as técnicas de narrativas dos mangás McCloud e a participação física dos mangás Chonchu, de KIM Song Jae e KIM Byung Jin McCloud sobre o Shoujo Goong, de Park SoHee Priest, de HYUNG Min Woo The Bride of the Water God /Habaek-eui Shinbu, de Yoon Mi-kyung Look for Oppa! de Hwang Mi-ri McCloud Sequencia nos mangás McCloud e a Experiência do leitor Goong, de Park SoHee Crazy Girl Shin Bia, de Hwang Mi-ri The Bride of the Water God /Habaek-eui Shinbu, de Yoon Mi-kyung Pág. 14 16 18 35 36 37 38 39 40 41 48 49 50 53 54 55 8 INTRODUÇÃO As Histórias em Quadrinhos são uma arte onde se misturam falas às ilustrações, também conhecida como arte sequencial. Nessa pesquisa abordarei as Histórias em Quadrinhos originárias da Coréia do Sul, os manhwas, de onde será possível aprender a mentalidade, os elementos culturais, assim como a história do país. O trabalho com ensino de história utilizando Histórias em Quadrinhos ainda é pouco conhecido no país, mas vários trabalhos na área têm sido desenvolvidos. Ao fazer uma busca sobre os trabalhos já realizados nesse assunto e que utilizam os quadrinhos, somente foram encontradas pesquisas sobre Histórias em Quadrinhos estadunidenses, algumas da América do Sul, como o Brasil, e os mangás japoneses. Sendo assim, sobre os manhwas e o ensino de história não foi encontrada nenhuma pesquisa já realizada. Portanto estarei utilizando as pesquisas sobre comics e mangás, para servirem como base para a utilização dos manhwas no ensino de história no Brasil. No presente caso, o tema proposto para essa pesquisa surgiu após a leitura do livro Ensinar e Aprender História: Histórias em Quadrinhos e Canções (SOBANSKI et al, 2010), e a colocação em prática do Projeto História Afro-Brasileira, Africanidades e História Indígena do PIBID, em 2015, do qual era uma dos integrantes do grupo, e que resultou no artigo “Histórias em Quadrinhos e Seriados de TV como Narrativas Históricas sobre a Questão Afro-Indígena” (apresentado no Congresso Internacional das Jornadas de Educação Histórica- 2015), no qual demonstrei como os personagens negros e indígenas são representados nas Histórias em Quadrinhos e seriados dentro das questões da discriminação e racismo. Assim pesquisarei a possibilidade de construção de contexto histórico do oriente, dos estudantes do ensino médio, a partir das histórias em quadrinhos e sua aplicação dentro de cada classificação ao ensino de História, além disso, demonstrarei e analisarei a importância cultural do manhwa para a sociedade coreana. Além de pesquisar as classificações dos manhwas que são mais apropriado para a aprendizagem histórica. Como metodologia será utilizada como base a pesquisa realizada por Marcelo Fronza (2012), que levou em consideração as narrativas das histórias em quadrinhos e a Educação Histórica, com foco na linha de investigação ligada à cognição histórica situada (SCHMIDT, 2009). Assim sendo, esse projeto consistirá na pesquisa bibliográfica tanto de teóricos do 9 ensino de história como da utilização das histórias em quadrinhos nas aulas de história. Esses quadrinhos assim como outras mídias tais como os filmes históricos, necessitam de investigações relativas à interpretação histórica para serem aprendidas e, por consequência, ensinadas nas escolas públicas, pois, ao ler uma história em quadrinhos é necessário conhecer tanto o aspecto verbal quanto o visual. Assim, é possível que os estudantes aprendam os elementos culturais, históricos, mitologias e os linguísticos do país. Mas porque estudar as histórias em quadrinhos, os manhwas ou a Coréia do Sul? Uma ótima forma de incorporar as experiências históricas relativas ao Oriente na aprendizagem histórica dos estudantes seria por meio de mídias que atraiam a atenção dos jovens, sendo que uma delas são as histórias em quadrinhos. No caso, a cultura coreana no Brasil tem sido bem divulgada e vêm ganhando grande público de fãs nas músicas (conhecidas como K-POP), nos doramas televisivos ou por streaming (novelas asiáticas) e nos manhwas. Dessas três mídias, escolhi os manhwas porque tenho maior afinidade com a mesma e porque existe um crescente campo de investigação relativo às histórias em quadrinhos e a didática da história. 10 CAPÍTULO 01: EDUCAÇÃO HISTÓRICA COM HQ'S A aprendizagem histórica utilizando 1HQ’s no Brasil iniciou-se em 1996, quando foi promulgado a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96,que inseriram, no ensino fundamental e médio, as linguagens como tirinhas em quadrinhos nos livros didáticos, abrindo as portas para as várias pesquisas já realizadas até o momento, que serão apresentadas no decorrer deste capítulo. Assim, chegamos às principais questões sobre didática com HQ’s: “Porque utilizar essa mídia na aula de história?” e “Como elas podem ser utilizadas no ensino de história?”. As HQ’s já vêm sendo utilizadas em sala de aula, em várias disciplinas, assim como em História. Nesta pesquisa, destacarei as que foram realizadas em Educação Histórica. Começarei pelo livro Ensinar e Aprender História: Histórias em Quadrinhos e Canções (2010) escrito pelos professores Adriane Sobanski, Edilson Chaves, João Luis Bertolini e Marcelo Fronza. Esse livro é um manual didático indicado para professores de história, que tem como objetivo mostrar ao docente como fazer o recorte temático, métodos de pesquisas e como utilizar na aula de história, tanto histórias em quadrinhos como canções. Ao conhecer esse livro surgiu o interesse que se desenvolveu, por mais de um ano, nessa pesquisa. O ramo da Educação Histórica se “preocupa com a busca de respostas referentes ao desenvolvimento do pensamento histórico e a formação da consciência histórica de crianças e jovens.” (SOBANSKI et al, 2010, p.10), ou seja, a História é uma ciência particular, com narrativa própria da História, como uma natureza multifacetada com múltiplas temporalidades e perspectivas, e tem como um dos princípios a cognição histórica situada na epistemologia da história de Jorn Rüsen: A cognição situada na História se preocupa em investigar quais seriam os mecanismos de uma aprendizagem criativa e autônoma, que possam contribuir para que os alunos transformem informações em conhecimentos, apropriando-se das ideias históricas de forma mais complexa. O pressuposto é buscar a construção de uma literacia histórica, ou seja, da realização do processo de formação histórica de cada um. (SOBANSKI et al, 2010, p. 16) Como o estudante possui uma consciência histórica, cabe ao professor desenvolver esse pensamento histórico, utilizar as histórias em quadrinhos em sala de aula “deve ser considerado como fontes históricas que podem fornecer evidências para a sustentação ou 1 HQ’s a sigla utilizada para Histórias em Quadrinhos. 11 refutação das afirmações e interpretações históricas desenvolvidas” (SOBANSKI et al, 2010, p.39) com relação a um tema determinado pelos professores. Assim foi desenvolvido um projeto durante os anos de pesquisa do programa PIBID, na Escola Estadual Xavier para Jovens Super Dotados2, de ensino público para 1° e 2° ano localizada no centro de Cuiabá - MT, com média de 30 alunos por turma e no Projeto História Afro-Brasileira, Africanidades e História Indígena em 2015 do qual participei como uma dos integrantes, trabalhamos com duas turmas do segundo ano do Ensino Médio. Essa pesquisa resultou no artigo “Histórias em Quadrinhos e Seriados de TV como Narrativas Históricas sobre a Questão Afro-Indígena3”. Nesse projeto foi apresentado aos estudantes como os personagens negros e indígenas são representados nas HQs e seriados, trabalhando as questões da discriminação, racismo e religião. O projeto foi iniciado com aplicação de instrumento investigativo para reconhecimento das ideias prévias dos estudantes dentro das temáticas e das mídias a serem utilizadas; após isso foi apresentado o projeto e o planejamento do mesmo. As turmas foram divididas em grupos sorteados para trabalhar as temáticas, e cada grupo recebeu um conjunto de obras selecionadas previamente pelos pibidianos, sendo os seriados e histórias em quadrinhos. Após as divisões de grupos, os estudantes se reuniram durante horário de aulas para leitura das HQs ou aula em sala de vídeo para assistir aos episódios dos seriados; ao final de cada aula de vídeo era debatido o episódio dentro das temáticas abordadas, e com as HQs eram feitas leituras em grupos e orientações dos pibidianos por grupos. Ao final do projeto, os estudantes fizeram artigos para jornal sobre os temas que receberam e a análise que fizeram de cada obra trabalhada. O resultado do projeto mostrou que as histórias em quadrinhos e os seriados de TV são mídias que conquistaram os estudantes, chamando sua atenção, tanto pelo formato de fonte trabalhada, como podemos ver na fala de um dos estudantes quando respondeu a pergunta: Você acha que é possível aprender conteúdos históricos por meio de histórias em quadrinhos/seriados? Por quê? “Sim, porque você muda o jeito de estudar a História. E começa a chamar a atenção dos estudantes. Scott - 16 anos” (CAMPOS et al, 2016, p.6). Podemos ver aqui o interesse sendo despertado pelos estudantes. Quando foi proposto o tema, os mesmos estranharam, já que durante a apresentação do tema, muitos mencionaram que “não há racismo no Brasil” e não é “possível ter racismo nos gibis”. Contudo, após o 2 O nome utilizado é fictício para proteção da escola. Esse é o nome da escola e residência dos X-Men no comic. Apresentado no XV Congresso Internacional das Jornadas de Educação Histórica: Consciência Histórica e Interculturalidade: 20 a 22 de julho de 2015. 3 12 primeiro contato com as HQs e a orientação dos pibidianos essa visão foi alterada. No final do projeto os estudantes fizeram uma análise sobre as obras, passando a ver as histórias em quadrinhos como fonte documental e influenciada pelos acontecimentos da sua sociedade. Dentre as respostas dos estudantes do instrumento investigativo final, temos: Eu tive uma experiência muito boa ao longo deste projeto, aprendi bastante coisa a respeito do nosso tema, e que a discriminação infelizmente ainda está presente em nosso meio, mas devemos continuar lutando para combatê-la. A nossa temática fala a respeito da discriminação, e ela pode ser trabalhada de várias formas na nossa escola como: promover palestras sobre discriminação na escola para os alunos ficarem bem conscientes sobre esse assunto, pregar cartazes na escola falando contra a discriminação e várias outras coisas que podemos fazer para deixar todos conscientes de que a discriminação não é legal e é crime. Mística - 17 Anos4(CAMPOS et al, 2016, p.09) No caso da estudante renomeada como Mística foram trabalhadas as obras como Pantera Negra e Os Brasileiros, que têm em suas histórias a problemática racial como foco específico relevante na obra. Nas mídias usadas, os personagens afro-indígenas sofrem algum tipo de preconceito e os estudantes, ao lerem e assistirem, foram instruídos a buscar cenas e diálogos racistas, os quais foram encontrados facilmente pelos mesmos. As HQs como Pantera Negra apresentavam vilões racistas com um cunho político no contexto da história, como também é o caso da revista Os Brasileiros, com histórias sobre as tribos indígenas e a relação com os colonos de 1500. Esse projeto foi muito gratificante de ser colocado em prática, tanto durante a aplicação, como ao final, ao ver o desenvolvimento dos estudantes, e como eles passaram a ver tanto nas HQs, seriados, como nas mídias com que convivem as referencias, as metáforas ou o sarcasmo ou outros métodos utilizados pelos autores/artistas para passar sua mensagem ao público que muitas vezes ignora e só enxerga a diversão. Em 2016, foi apresentado o artigo na XIII Semana de Filosofia UFMT 2016, intitulado “Um diálogo com a Aprendizagem da História da Coréia do Sul por meio de Histórias em Quadrinhos: O caso dos Manhwas” como parte da pesquisa dessa monografia, onde foi apresentado o tema da aprendizagem histórica relativa à cultura oriental através das HQs, no presente caso, das coreanas, que são nomeadas como Manhwas (만화, man-hwa, literalmente traduzido como "história(s) em quadrinhos"). Já que o pensamento histórico oriental é pouco abordado no Brasil, venho através das HQs, originárias da Coréia do Sul, mostrar que é possível apreender a mentalidade, os elementos culturais, assim como a história do país pelos estudantes brasileiros. Mas antes de adentrarmos no mundo dos manhwas, que será trabalhado 4 O nome utilizado é fictício para proteção da identidade da aluna. A mística é uma personagem do comic X Men. 13 no capítulo 02, vamos começar entendendo sobre o mundo das Histórias em Quadrinhos. 1.1 História das HQ’s no mundo (Ocidente) Quando surgiram as primeiras histórias em quadrinhos? Essa é uma pergunta que gera muitas discussões e pouco consenso. Alguns diriam que começa com os primeiros registros de histórias narradas utilizando imagens sequenciais, como por exemplo, as pinturas rupestres ou os hieróglifos. No meu caso, vou utilizar a abordagem do autor Will Eisner, que declara que as HQs são uma arte sequencial: Essa antiga forma artística, ou método de expressão, desenvolveu-se até resultar nas tiras e revistas em quadrinhos, amplamente lidas, que conquistaram uma posição inegável na cultura popular desse século [...] a Arte sequencial emergiu como disciplina discernível ao lado da criação cinematográfica, da qual é precursora. (EISNER, 1989, p.05) Eisner foi quem melhor definiu as histórias em quadrinhos, que além de conceitualizar o que são, ele também analisou detalhadamente os quadrinhos e dividiu o processo criativo em etapas, além de descrever a forma de leitura como: “a leitura da revista de quadrinhos é um ato de percepção estética e esforço intelectual” (EISNER, 1989, p. 08), ou seja, ler uma história em quadrinhos não é simplesmente “ler” o texto. A imagem e o texto são um só, ao se olhar a cena, é necessário ler o texto, e também, a sequencia dos quadros juntos para, então, compreender a história. Na próxima pagina disponibilizei um recorte do livro do Eisner, para melhor compreensão do leitor. A história é sobre um homem que é atingido por uma bala antes de saltar de um prédio, mas a “descrição da ação nesse quadro pode ser esquematizada como uma sentença. Os predicados do disparo e da briga pertencem a orações diferentes.” Eisner faz uma análise de uma página como se fosse uma análise sintética de um texto narrativo, em “O sujeito do “disparo” é o “vilão”, e Gerhard Shnobble é o objeto direto. Os vários modificadores incluem o advérbio “bang, bang” e os adjetivos da linguagem visual, tais como a postura, o gesto e a careta.” (EISNER, 1989, p.10). Com isso, o autor nos mostra como a imagem e o texto juntos formaram a narrativa, não sendo possível ler somente um ou outro separadamente. Vejamos o exemplo dado por EISNER (1989, p.08): 14 Figura 1 Gerhard Shnobble como Exemplo de Leitura 15 No caso dos quadrinhos orientais, a imagem e a palavra são mais entrelaçadas ainda, como veremos no próximo capítulo. E, por último, Eisner relata sobre o roteiro para uma história em quadrinho: Ao escrever apenas com palavras, o autor dirige a imaginação do leitor. Nas histórias em quadrinhos imagina-se pelo leitor. Uma vez desenhada, a imagem torna-se um enunciado preciso que permite pouca ou nenhuma interpretação adicional. Quando palavra e imagem se “misturam”, as palavras formam um amálgama com a imagem e já não servem para descrever, mas para fornecer som, diálogo e textos de ligação. (EISNER, 1989, p. 122) O autor da HQ pode tanto trabalhar sozinho, com a escrita e o desenho, como trabalhar em parceria, escritor-artista. No caso do ocidente é mais frequente essa parceria e raramente um artista é o autor da sua obra e vice e versa. No caso oriental, acontece o oposto: raramente há trabalho em conjunto e, sim, o autor é o próprio desenhista, tendo no máximo auxiliares para ajudar a preencher cenas e quadros, de modo que esses assistentes posteriormente se tornam autores também com seus auxiliares. Em relação ao roteiro, as obras possuem uma ordem sequencial para a narrativa da história, essa ordem pode ser diferente dependendo da intenção do autor, assim como do estilo ou nacionalidade (no caso ocidente e oriente há várias diferenças nessa “ordem sequencial”). Como exemplo de roteiro, temos abaixo um rascunho publicado nos extras de um comics feito pelo autor Neil Gaiman quando escreveu o primeiro capítulo para Sandman (1989): 16 Figura 2 Sandman como Exemplo de Roteiro 17 Sandman, é uma obra que trabalha a história dos eternos, não são deuses, pois esses precisam de crença para existir ou deixar de existir, enquanto os eternos existiram enquanto houver vida no universo ou multiversos. Sandman5 é um dos sete irmãos eternos, o eterno do sonho, tendo forma e histórias variadas de acordo com cada crença existente. Podemos ver no exemplo de roteiro como o autor monta a história, deixando ao desenhista criar o cenário descrito. Esse roteiro de uma pagina rendeu nos quadrinhos mais de três capítulos com aproximadamente 40 paginas cada. Após o trabalho de Eisner (1989), temos Scott McCloud (1995) que demarca a definição de arte sequencial em quadrinhos como: “imagens pictóricas e outras justapostas em sequencia deliberada destinada a transmitir informações e/ou a produzir uma resposta no espectador” (McCLOUD, 1995, p.14). O autor considera que o marco para a criação dos quadrinhos foi a invenção da imprensa. Fazer simples imagens ou cartuns não é considerado como histórias em quadrinhos, elas devem estar ali em sequencia intencionalmente escolhida pelo autor, para o leitor ler e entender ou reagir de acordo com a previsão do autor. Para McCloud, as HQs “são um idioma. Seu vocabulário consiste de toda a gama de símbolos visuais”, mas o principal dos quadrinhos é o “espaço entre um quadro e outro... onde a imaginação do leitor dá vida a imagens inertes!” (McCLOUD, 2006, p.07). Assim como a imaginação é um ponto fundamental, tão fundamental ao leitor de HQs quanto à compreensão do tempo e espaço, que podem ocorrer entre um quadro e outro. Para essa pesquisa, MCCloud (2006) foi muito importante, pois foi quem melhor definiu os mangás no mundo dos quadrinhos e, principalmente, porque explicou o porquê do sucesso do mesmo dentro e fora do Japão. Como os livros do McCloud são todos ilustrados por ele mesmo e a “história” é contada com a arte como demonstração da fala, vou usar uma página do livro que relata sobre os mangás para melhor entendimento do leitor (McCLOUD, 1995, p 81): 5 Ou Dream, pois no Brasil foi traduzido como Sonho ou Devaneio dependendo das edições e editoras. 18 Figura 3 McCloud e a Arte de Intervalo Para o autor, na Ásia os mangás são uma arte de intervalos, assim como utilizam o mínimo de elementos para contar uma história. Se o leitor estiver muito ciente da arte na HQ, 19 isso exige mais esforço para se ler a obra. Assim, se a arte for o mais próximo possível de um humano, exigirá menos esforço de leitura e, por isso, acontece a alta popularidade dos mangás e também dos manhwas, já que em estilo, os manhwas são muito mais próximos dos mangás do que dos comics. Trabalharei com os termos Ocidente e Oriente nessa pesquisa, apesar de não concordar com os termos como definição para separar as duas culturas, pois como Edward Said diz: Oriente não é apenas adjacente à Europa; é também o lugar das maiores, mais ricas e mais antigas colônias europeias, a fonte de suas civilizações e línguas, seu rival cultural e uma das suas imagens mais profundas e mais recorrentes do Outro. Além disso, o Oriente ajudou a definir a Europa (ou o Ocidente) com sua imagem ideia, personalidade, experiência contrastantes. Mas nada nesse Oriente é meramente imaginativo. O Oriente é uma parte integrante da civilização e da cultura material europeia. (SAID, 2007, p.27-28) No caso, Said trabalha em seu livro sobre o médio oriente, ou oriente árabe e, nesta pesquisa, utilizarei o termo como referencia ao extremo oriente da Ásia. Mas ambos os orientes sofreram com o estigma do Outro enquanto o Ocidente se vê como o “nós/eu” do civilizado, democrático e evoluído e visto como positivo, enquanto o Oriente é relatado como negativo e exótico. Hoje, com a globalização, diríamos que isso não existe mais. Mas, então, porque é tão difícil encontrar material didático sobre o oriente? Principalmente no Brasil? Mais difícil ainda é encontrar livros históricos escritos por “asiáticos”. Isso já não serve como base inicial para confirmar Said? Em minha opinião, a história é feita por homens e mulheres, e do mesmo modo ela também pode ser desfeita e reescrita, sempre com vários silêncios e elisões, sempre com formas impostas e desfiguramentos tolerados, de modo que o “nosso” Leste, o “nosso” Oriente possa ser dirigido e possuído por nós. (SAID, 2007, p.14) Definir uma linha que separe as HQs ocidentais das orientais é um trabalho inviável, dado que ambos se auto influenciaram durante o passar do tempo. Neste capítulo abordarei a “História das HQs” focando no ocidente, no período de 1930-1990 e no capítulo 2 darei destaque nas HQs asiáticas entre 1900-2015. Esse recorte se dá muito mais pelo fato que essas HQs estão tão entrelaçadas à história do seu país que seria muito extenso trabalhar tudo de uma vez. Assim, separarei em duas partes para melhor entendimento do leitor. Aproveitando a questão de quadrinhos em várias partes do mundo, vou listar aqui os nomes pelos quais eles são nomeados e pelos quais serão nomeados nessa pesquisa: Gibis (Brasil), Comics (EUA e Inglaterra), Mangás (Japão), Manhwa (Coréias), Manhua6 (China e Tailândia), Bandes 6 Manhua do chinês tradicional: 漫畫, chinês simplificado: 漫画, pinyin: mànhuà, quer dizer história em 20 Dessinées7 (França), Fumetti (Itália), Tabeó (Espanha), Historieta (América Espanhola). Sendo assim, as Histórias em Quadrinhos no Ocidente surgiram nos anos 1930 nas tiras de jornais e como revistas um pouco antes da Segunda Guerra Mundial e era visto como diversão sem valor, pois “aos criadores de histórias em quadrinhos não era permitido trabalhar fora dos gêneros, formatos [...] considerados comerciáveis para um público de massa” (MAZUR e DANNER, 2014, p.11), de que tinham como público alvo as crianças. Entre 1940-1950 começaram a surgir histórias mais elaboradas, como Tintim (HERGÉ, 1946), e abrindo portas para novos gêneros, como ficção científica, faroeste, romance e detetives. Nesse momento, o público consumidor perfazia mais de 50% de pessoas com mais de 20 anos. Mas foi em 1960 que surgiram os quadrinhos para adultos, e “já se admitia a ideia de que os quadrinhos poderiam ser importante meio de comunicação, até mesmo uma forma de arte” (MAZUR e DANNER, 2014, p. 14), como o famoso Asterix de Albert Uderzo e René Goscinny (1966), sendo também que foi nesse período que se iniciou o interesse acadêmico pelos quadrinhos numa tentativa de legitimar os mesmos como expressão cultural: Depois de uma década ou mais, em que a autocensura da indústria de quadrinhos havia consolidado a ideia das HQs como mídia para crianças, os artistas underground resgataram os prazeres infantis da leitura de quadrinhos para um público adulto. Quebrando tabus, seus desenhos colocaram em primeiro plano nudez e sexo, violência extrema, humor irreverente e política radical, mas também ampliaram os limites convencionais dos quadrinhos como forma de arte. (MAZUR e DANNER, 2014, p.23) O movimento underground trouxe as HQs para uma nova fase. Elas passaram a ser focadas nos adultos, não mais somente para crianças e mudaram a forma de se contar as histórias. Infelizmente, o movimento perdeu força no final de 1970 por causa de processos judiciais de censura. Com isso, as HQs sofreram uma queda na complexidade do conteúdo e temas abordados e, nos anos 1970-1980, as HQs passaram a ser centradas nos super-heróis, onde o conteúdo passa a ser mais aberto para públicos mais jovens. Nessa fase, os heróis como Capitão América de Joe Simon e Jack Kirby (1941-1950) e Superman de Joe Shuster e Jerry Siegel (1938) que sofreram uma queda ou até mesmo foram cancelados na década de 1950, foram revividos no movimento dos heróis, ganhando nova cara, história e destaque das aventuras. Também foi nesse período que a Marvel Comics se tornou a grande editora que é quadrinhos. 7 Tradução: Comics (Cômicos), Bandes Dessinées (Tiras desenhadas), Fumetti (Fumacinhas), Tabeó (Espanha), Historieta (Historinhas). 21 hoje, com a ajuda do Stan Lee, que tornou os super heróis mais humanizados e trabalhou com alguns temas como discriminação racial dentro das HQs, tais como: Pantera Negra, de Stan Lee e Jack Kirby (1966), X-men, de Stan Lee e Jack Kirby (1963) dentre outros inúmeros que podemos citar. Mas, foi em 1980, com nomes que são icônicos nos dias atuais que surgiram as HQs famosas, dentre esses nomes posso citar: Alan Moore com V de Vingança (1987-1988), tratando de um tema político e polêmico como a questão do povo sendo submetido às ordens do governo autoritário e, Watchmen (1986-1987) que critica a super valorização dos super heróis; Neil Gaiman, com Sandman (1989-1996). Introduzindo a mitologia de forma marcante nos HQs, Gaiman repaginou um personagem esquecido (o Sandman) e criou o Senhor dos Sonhos ligando o personagem às mitologias do mundo todo, desde lendas africanas, europeias, como da Ásia e das Américas. Tanto Moore como Gaiman são autores britânicos que fizeram sucesso nas Américas num período em que isso era algo quase impossível. Outro que podemos citar é Grant Morrison, autor escocês que reformulou o Monstro do Pântano em 1980 e trabalhou com temas como ecologia e meio ambiente. E, por último a ser citado, o americano Frank Miller com a saga do Batman, Cavaleiro Das Trevas (1986), onde o Batman criado por Bill Finger e pelo artista Bob Kane (1939) de personagem cômico, passa a ter um tom mais sombrio, e trabalhou com temas políticos e sociais. Esses autores, além de trabalharem com temas mais complexos, também tinham em comum histórias sequenciais por volumes, que continham histórias com arcos mais longos do que os da época anterior. Entre os anos 1990-2000 o mercado editorial de quadrinhos mudou e muito, pois se antes os quadrinhos originais de outros países eram de aquisição impossível ou rara, agora, a partir dos anos 200l, esse mercado se expandiu e até 1980 os quadrinhos eram mais acessíveis em seus próprios países de origem. Já entre 1980-1990 começou a era das “invasões” como foi conhecida, onde os quadrinhos europeus ganharam público nas Américas e os comics das Américas na Europa e, claro, a Ásia também começou a se expandir no mercado de HQs. Mas falarei mais do mercado editorial asiático e as HQs depois dos anos 2000, no capitulo 2, pois a partir desse período ocorreu a expansão da exportação dos manhwas para o ocidente. 1.2 Análise dos autores e pesquisas realizadas até o momento Agora que aprendemos sobre a origem, história e diversidade das histórias em 22 quadrinhos, vamos adentrar nas pesquisas e publicações já realizadas sobre o uso dessas mídias em sala de aula. HQs são uma mídia documental e, portanto, devem ser trabalhadas como um documento, e, para tal pesquisa, são necessárias investigações relativas à interpretação histórica para serem compreendidas, e assim poderem ser ensinadas aos estudantes, pois para fazer a leitura de uma HQ é necessário conhecer tanto o aspecto verbal como o visual, tal como apresentado anteriormente por Eisner e McCloud. Dentre as pesquisas já realizadas irei citar as que melhor se encaixam dentro dos temas: As Histórias em Quadrinhos em sala de aula e os pesquisadores que trabalham com o tema dos quadrinhos dentro das salas de aula, não sendo necessariamente em aulas de História; As Histórias em Quadrinhos e a cultura de massa, com abordagem sobre como os quadrinhos podem ser utilizados na Cultura de Massa; As Histórias em Quadrinhos japonesas: os Mangás, abordando os mangás e pesquisas já realizadas utilizando essa mídia; As Histórias em Quadrinhos coreanas: os Manhwas apresentação do que são os manhwas e os pesquisadores da área e Histórias em quadrinhos na aula de História e o caso dos manhwas, sendo esse o tema dessa pesquisa. 1.3 As Histórias em Quadrinhos em sala de aula Roberto E. dos Santos e Waldomiro Vergueiro8 no artigo "Histórias em quadrinhos no processo de aprendizado: da teoria à prática" (2012), dizem: a relação entre quadrinhos e educação nem sempre foi amigável, passando por momentos de grande hostilidade e outros de tímida cumplicidade, quando alguns professores mais ousados se atreveram a utilizá-los em sala de aula. Tratava-se de aplicações esporádicas, marcadas muito mais pela ousadia e entusiasmo de seus propositores do que propriamente por correção metodológica. (SANTOS e VERGUEIRO, 2012, p.82) Nesse artigo, somos apresentados à inserção das histórias em quadrinhos no processo de aprendizagem no Brasil desde a promulgação da LDB, em 1996. Fazendo um apanhado desde o protesto, em 1928, da Associação Brasileira de Educadores (ABE), onde foram rejeitados os quadrinhos estrangeiros no Brasil por estarem fazendo as crianças adquirirem hábitos estrangeiros, mas “os conflitos entre histórias em quadrinhos e educação foram se amenizando. [..] nos anos 1970, era possível encontrar narrativas gráficas sequenciais em livros didáticos brasileiros” (SANTOS e VERGUEIRO, 2012, p.83) e, em 1996, com a nova 8 Roberto Elísio dos Santos: Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, Brasil (1998), professor titular da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e Waldomiro de Castro Santos Vergueiro: Doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Brasil (1990) Professor Sênior da Universidade de São Paulo. 23 LDB, a relação HQs e educação se tornou mais aproximado. Os quadrinhos também passaram por uma adequação e reformulação do perfil brasileiro e atualmente os quadrinhos estrangeiros já tem uma boa aceitação no país. Apesar de a “utilização dos quadrinhos na educação ainda necessitar de reflexões que subsidiem práticas adequadas e levem a resultados concretos em relação ao aprendizado” (SANTOS e VERGUEIRO, 2012, p.84), os autores nos apresentam as formas de se realizar a leitura e o emprego dos quadrinhos nas salas de aula, desde a preparação do professor, ao tratar com esse tipo de linguagem distinta da literatura com aspectos presentes nas narrativas de HQ, extrapolando o aspecto verbal e enriquecido pelo visual, como também a forma como o estudante irá receber e entender essa linguagem. A relação apresentada pelos autores dos quadrinhos com a educação faz um apanhado de forma rápida sobre como foi esse processo de inclusão das histórias em quadrinhos na sala de aula, assim como também “defende aplicações, mais eficientes, dos quadrinhos no processo de aprendizado que possibilitam, entre outras coisas, o incentivo à leitura” (SANTOS e VERGUEIRO, 2012, p.83), sendo esse um tema controverso, a da crença cultural de que os quadrinhos atrapalhem no aprendizado dos estudantes, enquanto outros dizem que é a porta de entrada para despertar o interesse da criança em leituras mais “complexas” como os livros. Outra aplicação dos quadrinhos, segundo os autores, é “o aprendizado de línguas estrangeiras” e “a instigação ao debate e à reflexão sobre determinado tema” (SANTOS e VERGUEIRO, 2012, p.84). Nesse caso, a pesquisa realizada utiliza desses princípios, o coreano e o japonês podem ser utilizados tanto para aprendizado do idioma coreano e o japonês, como também para aprendizado da sociedade e cultura asiática9. Por último, ler uma história em quadrinhos requer que o leitor, tanto professor como estudante, analise quem foi o autor, país e período em que foi publicado, pois isso influencia em muito na escrita da obra. Além disso, é necessário saber ler esse tipo de linguagem, não mais somente como imagem ou texto, mas sim como a união dos dois. A dissertação de Marcelo Fronza 9 10 (2007) aborda a experiência realizada pelo Abordarei mais a questão da linguagem no capitulo 2. E quanto às reflexões a temas pré-determinados, falarei mais quando discutir o texto do Marangoni. 10 Marcelo Fronza: Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná, Brasil (2012). Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. 24 pesquisador, com estudantes e quadrinhos históricos, dentro do campo da Educação Histórica: Entendo a escola como o espaço de manifestação da cultura (WILLIAMS, 2003) e, portanto, da experiência social dos sujeitos escolares com o conhecimento (DUBET, 1996). Sob esta perspectiva e tendo como ponto de partida as análises de Georges Snyders (1988), compreendo que as histórias em quadrinhos são artefatos que podem mediar a relação entre cultura primeira dos jovens com a cultura elaborada da escola (no caso, o conhecimento histórico), fazendo com que eles possam sentir satisfação em viver e conviver no universo escolar. (FRONZA, 2007, p. 01) A pesquisa realizada por Fronza é a que utilizo como base para esta monografia. Primeiramente, por ter sido o contato inicial com a Educação Histórica e as Histórias em Quadrinhos como fonte documental. Pois ao utilizar as HQ’s em aula de História, valorizamos “a empatia que os quadrinhos causam nos jovens em relação ao conhecimento histórico [...] pois eles gostam e leem esses artefatos culturais [...] o que permitem uma melhor memorização dos conteúdos (SOBANSKI et al, 2010, p. 56), assim como os primeiros imigrantes japoneses ao chegar no Brasil importavam os mangás, para ensinar seus filhos os kanjis, utilizando os mangás como forma de alfabetização e fixação do aprendizado. Ao ensinar sobre a Coréia, utilizando os manhwas se torna muito fácil ao estudante adquirir esse conhecimento histórico do país. 1.4 As Histórias em Quadrinhos e a cultura de massa Uma questão frequente para as mídias sociais é a Cultura de Massa. Mas o que é? Segundo Humberto Eco (2001): A cultura de massa não é típica de um regime capitalista. Nasce numa sociedade em que toda a massa de cidadãos se vê participando, com direitos iguais, da vida pública, dos consumos, da fruição das comunicações; nasce inevitavelmente em qualquer sociedade de tipo industrial. (ECO, 2001. p. 44) A chamada Cultura de Massa é um produto da industrialização, que desenvolve produtos para ser consumido pelas massas, geralmente sem muito conteúdo, algo para ser simplesmente absorvido. Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. Os dirigentes não estão mais sequer muito interessados em encobri-lo, seu poder se fortalece quanto mais brutalmente ele se confessa de público. O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade de que não passam de um negócio, eles a utilizam como uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem. Eles se definem a si mesmos como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus directores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos. (HORKHEIMER, e ADORNO, 1947, p.57) 25 No caso dos quadrinhos, acontece o mesmo, principalmente após 1980, as histórias eram mais centradas em venda; atualmente o mercado editorial dos comics no ocidente está mais focado em vender para colecionadores, edições de luxo, com pouquíssimas tiragens e valor elevado, e as edições mais baratas com qualidade fraca ou venda somente online, nos formatos webcomics (formato que surgiu nos anos 2000 e tem um público maior na Ásia, começando sua expansão para o Ocidente recentemente.). Mas como exatamente as HQs podem ser utilizadas na Cultura de Massa? Umberto Eco aborda o assunto, principalmente referente aos comics de heróis, mas é o historiador Adriano Marangoni11, em seu artigo “Contribuição para uma compreensão da cultura Americana - HQ‘s entre 1981 e 1987” (2005), que melhor apresenta o conceito da Cultura de Massa e seu uso nas HQs, realçado no caso americano e o ideal do herói. Utilizando as HQs desde 1930 até 1990 o autor realiza uma análise, demonstrando que “a chamada Cultura de Massa, no território dos Estados Unidos, teve, no último século, como um dos seus maiores estandartes e fonte de lucro a produção e divulgação da figura do herói.” (MARANGONI, 2005, p. 359), desde o soldado ideal e patriota como o Capitão América, até o justiceiro Batman quando diz “ele realiza a função civilizadora, mesmo se valendo das práticas da própria barbárie.” (MARANGONI, 2005, p. 364). Marangoni demonstra que a cultura de massa nos comics está nas mensagens passadas ao público, e essas mensagens dependem do período em que foram escritas. No caso do Herói, como Superman e Capitão América, que se tornaram o ideal de representação do povo norte americano, perfeitos e sem corrupção (apesar de essa ideia ter sido alterada no decorrer dos anos 2000 em sagas como Guerra Civil com o Capitão América e a saga Injustice com o Superman), até ao Batman, principalmente o repaginado por Frank Miller, no Cavaleiro das Trevas, quando o detetive cômico, passa a ser um justiceiro, quando a instituição do governo falha e se torna corrupto, surge o justiceiro, mas “raras vezes o Batman de Miller dá a entender ou enxerga o criminoso como mal em si mesmo, mas como um subproduto de uma problemática sistêmica, apontada de forma derradeira no governo americano, para o protagonista, corrompido.” (MARANGONI, 2005, p. 363). Assim como o Coringa não é um vilão por um motivo em si e, sim, a personificação do caos que a sociedade em Gothan se tornou. Também aborda as críticas sociais que os autores demonstram através de mutantes como os X-Men com o racismo do período da segregação nos EUA, além do papel do Estado no 11 Adriano José Marangoni: Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2015), Diretor do GCTEC do Governo do Estado de São Paulo. 26 decorrer de 30 a 90, chegando à crítica da HQ Watchmen e V de Vingança: Entretanto, a dicotomia aparente representada na ação dos dois tipos de vigilantes, em Moore, aparece como um contraditório prolongamento da realidade, onde ideal e real se embatem numa lógica que, quando não é patética (o herói bom moço incapaz de ver os lados negativos do real), é absurda (o anti-herói violento que consegue ver apenas faces diferentes de um mesmo caos). (MARANGONI, 2005, p. 366) Para Marangoni a ideia do herói ideal sempre esteve presente, de forma clara ou subentendia e imperceptível, dentro das HQs. E o leitor ao ler essa história acaba absorvendo a mensagem passada. Isso não quer dizer que toda uma sociedade irá mudar por ler uma história em quadrinhos, até porque o público que lê quadrinhos é pequeno no ocidente (na Ásia é um publico maior), mas a questão aqui, é que existe uma cultura dentro dos comics. 1.5 As Histórias em Quadrinhos japonesas: os Mangás A autora Janaina de Paula do Espírito Santo12(2013), em seu artigo “Mangás, Segunda Guerra e o conhecimento histórico: diferentes apropriações” apresenta a inserção dos quadrinhos na educação do Brasil e escreve: Em uma pesquisa R L B, realizada pelo Instituto Pró-Livro em 2008, descobriu-se que as histórias em quadrinhos encontram forte eco entre os brasileiros, sendo o gênero mais lido entre os homens e o sétimo mais lido pelas mulheres. Entre estudantes até a quarta série, os quadrinhos são o terceiro item mais mencionado. A aproximação desta mídia com o ambiente escolar é um fato consumado nos dias de hoje. (SANTOS, 2013, p.02) Com essa informação, a autora aborda a inserção dos mangás no Brasil, “há pelo menos duas décadas observamos a crescente inserção da arte sequencial nipônica no Ocidente [...] (SANTOS, 2013,p.03)” e as editoras brasileiras que investem todo ano, aumentando o catálogo de obras japonesas no país. Os mangás têm sua popularidade junto às animações japonesas, os animes, ainda mais porque os mangás de sucesso ganham sua versão animada para televisão (ou vice e versa, mas o mais comum é o mangá sair primeiro e meses depois o anime). No caso, Santos demonstra como os mangás fazem diferentes apropriações do conhecimento histórico sobre a Segunda Guerra Mundial. Dentre as obras trabalhadas, foi abordado “Adolf”, de Osamu Tesuka, um dos mais antigos mangankas13 que trabalham com temas sociais e críticos sociais. No artigo, Santos (2013) trabalha desde as apropriações até as projeções do raciocínio contemporâneo da sociedade japonesa sobre o tema da Guerra. 12 Janaina de Paula do Espírito Santo: Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (2005). Mangankas é o nome utilizado para designar os autores de mangás. 13 27 Outra pesquisadora que trabalha a história dos mangás é a Sonia Lyuten, nos livros Mangá: o poder dos quadrinhos japoneses (2012) e Histórias em Quadrinhos: Leitura critica (1984), onde foi a organizadora e escreve sobre a leitura crítica das HQs em sala de aula14. 1.6 As Histórias em Quadrinhos coreanas: os Manhwas No livro "Quadrinhos: História moderna de uma arte global" de Dan Mazur e Alexandre Danner (2014) é apresentada a história dos quadrinhos das últimas cinco décadas em todo o mundo, incluindo mais de 300 ilustrações dessas HQs, tanto da Ásia como do ocidente. Como já apresentei o mundo das HQs utilizando esse livro nos tópicos acima, neste me concentrarei no capitulo XVII denominado “Quadrinhos no século XXI: uma forma internacional de arte” onde foram incluídos alguns parágrafos sobre a “Breve História do Manhwa Coreano”, que “para leitores ocidentais que desconhecem a forma, os quadrinhos da Coréia, manhwa, são facilmente confundidos com o mangá japonês” (MAZUR e DANNER, 2014, p.279), os autores fazem uma introdução da história do manhwa, apresentando desde a ocupação japonesa em 1910-1940, que influenciou os quadrinhos coreanos, quando importaram para a Coréia os mangás e, depois, com a independência do Japão e a tutela Norte Americana, receberam a influência dos quadrinhos ocidentais. Desde 1910, o manhwa foi utilizado como propaganda do governo: O Japão se esforçou durante os anos 1930 para suplantar a cultura tradicional coreana com o manhwa que lhe restou reduzido a pouco mais que um humor leve e adaptações escapistas de lendas tradicionais. O Japão se apropriou do manhwa como uma ferramenta para a sua própria propaganda nos anos 1940, uma prática usada pelos Estados Unidos em sua campanha para combater a propagação do comunismo durante a ocupação pós-guerra da região que formalmente se tornaria a Coréia do Sul. Cinco anos após o fim da ocupação japonesa, os dois países recém-libertados estavam envolvidos na Guerra da Coréia, com os Estados Unidos continuando a usar o manhwa como ferramenta para influenciar a opinião pública.(MAZUR e DANNER, 2014, p. 279) Os autores não chegam a apresentar o manhwa antes da invasão japonesa e se concentram no manhwa durante as ocupações, que no período das guerras, valorizavam aventuras fantásticas para as crianças e histórias sombrias de famílias para os adultos. E mesmo com toda a censura dos governos ocupantes, os autores conseguiram publicar obras com sarcasmos e até mesmo temas de cunho revolucionário. Após a libertação da tutela americana, o governo incentivou e patrocinou histórias voltadas às lendas e culturas para recuperar o que foi perdido durante a ocupação japonesa. Nos anos 1980, o governo 14 Como esse livro apresenta a história e características dos mangás, utilizarei o mesmo no capitulo 2 para demonstrar as diferenças e semelhanças entre os mangás e manhwas, principalmente na questão da linguagem. 28 incentivou os manhwas com histórias feministas, com personagens femininas independentes e decididas, como incentivo às mulheres, para que elas ingressassem nas escolas e tivessem uma vida profissional. A partir dos anos 2000, mais da metade dos autores de quadrinhos na Coréia do Sul são mulheres, a censura na Coréia do Sul pelo governo é branda 15 e os autores têm liberdade de escrita. No caso da Coréia do Norte, a censura e o controle do governo continuam fortes 16em relação aos manhwas. Os autores, ao falarem dos manhwas, fizeram um texto curto se comparado aos de outros assuntos abordados no livro, mas foram alguns dos primeiros autores a publicar sobre esse tema no mundo dos quadrinhos. Já no artigo da autora Esther Torres Simón17 “Otras opciones com identidad propia: El Manhwa Coreano” (2012) temos uma visão sobre o manhwa, melhor detalhada, principalmente, sobre o mercado editorial do manhwa, na Espanha e a história dos manhwas, na Coréia. Primeiramente, manhwa nas Coréias, são qualquer história em quadrinhos, não importa qual país de origem. Somente fora das Coréias que os quadrinhos coreanos recebem o nome de manhwa. Simon data a origem do manhwa desde o século VI com as pinturas de poesias com paisagens de fundo, da dinastia chinesa Tang, e menciona a influência que a China teve sobre a Coréia, desde a arte, até a cultura e o idioma. Mesmo atualmente ainda se encontram muitas coisas em comum entre China e Coréia, e chega a ser difícil diferenciar os manhuas chineses dos manhwas coreanos. Já sobre a ocupação japonesa, Simon concorda com os autores Mazur e Danner, e sobre o uso dos quadrinhos “Si bien el comic se usa em ambos lugares com fines propagandísticos, el manga bélico promueve el coraje en japonês, mientras que el manhwa funciona para instigar la resitencia.”(SIMÓN, 2012, p.150). A autora escreve sobre o mercado editorial no pós guerra até os anos 2000, quando se inicia a exportação dos manhwas para o mundo, mas apesar dos mangás serem exportados já a algumas décadas, esses tem o apoio do governo e as editoras, e os manhwas ainda necessitam de maior incentivo do governo e das editoras. Atualmente, o forte dos manhwas tem sido os webtoons, manhwas publicados em sites 15 Por censura branda aqui citada, entende-se em conteúdo sexual, em relação ao Japão, a Coreia do Sul mantém um controle rígido sobre o que pode ser explicitado em seus quadrinhos, mesmo os de conteúdo adulto com história com cenas de sexo, nunca será totalmente explicito como nas histórias japonesas. 16 No caso da Coreia do Norte, a censura é sobre as histórias com conteúdo político, com critica ao governo atual, ou com engrandecimento para outros países que não sejam aprovados pelo governo. 17 Investigadora International Research Group (Universitat Rovira i Virgili) Grupo Inter Ásia (Universitat Autònoma de Barcelona) 29 gratuitamente, e somente lançados em formato físico após concluir arcos da história18. Esse formato se tornou tão popular dentro da Coréia como fora, e hoje tanto os mangás como os comics já começaram a publicar seus webcomics, mas não são tão numerosos como na Coréia e o público ainda está em formação. A autora foi a primeira que encontrei que fala tão detalhadamente sobre os manhwas. Seu artigo foi publicado em uma revista universitária na Espanha, mas foi possível encontrála no site da editora da revista. A autora demonstra além dos dados históricos, até as porcentagens das publicações e exportações tanto na Espanha como na Coréia do Sul. Como há muitas semelhanças entre o mercado de vendas da Espanha com o brasileiro, optei em utilizar a autora nessa pesquisa. Infelizmente, em ambos países o comércio dos manhwas não foram muito bem, desde valores dos impostos para exportações, escolha de quais títulos a traduzir, como a uma fraca propaganda deles nos países alvos. Mas como atualmente os doramas (novelas asiáticas) têm investido em histórias baseadas em webtoons ou manhwas, como incluir personagens que lêem manhwas em seus doramas (produto amplamente distribuído fora da Coréia, principalmente nas Américas, como se pode ver nos índices de audiência do Viki e DramaFever, plataformas de streaming de doramas), o mercado dos manhwas poderá ganhar novos compradores. 1.7 Histórias em quadrinhos na aula de História e o caso dos manhwas Neste capítulo, tratei das HQs e como as pesquisas já realizadas demonstram a utilização em sala de aula, desde os usos dos comics, dos gibis como dos mangás, pesquisas relacionadas aos manhwas ainda não foram realizadas ou publicadas. Sendo a proposta desta pesquisa demonstrar o uso dos manhwas na aula de História, demonstra que é possível aos estudantes aprenderem os elementos culturais, históricos, mitologias e a língua e linguagem do país através dos manhwas. Mas porque utilizar um quadrinho coreano na aula de História? Poderiam perguntar. Mas pergunto por que não utilizar um quadrinho para ensinar história do oriente? Esta pesquisa nasceu da percepção que, no Brasil, mesmo com a imigração de asiáticos no país, e como recentemente completou 100 anos da imigração japonesa, no Brasil, ainda existe estranhamento dos brasileiros em relação aos asiáticos. Porque há esse estranhamento? Said nos mostrou que chamamos de Oriente, para diferenciar e dizer o que não é o Ocidente, o As HQ’s em geral costumam serem divididas em Arcos dentro da história, onde dentro da história central, tem histórias menos, ou sagas. 18 30 nós e, sim, o diferente. Há tanto estranhamento com relação ao oriente que raramente existe conteúdo desses países nos livros didáticos, e quando há são resumidos mais de 10 mil anos de história em um capítulo, onde na maioria dos casos, descreve-se o país nos séculos XIX em diante, se não for somente mencionado sobre os temas das guerras mundiais. Com atitudes assim, como podemos pedir aos estudantes que sejam mais compreensivos com pessoas de culturas diferentes? Ao ensinar aos mesmos sobre esses países, podemos educar novos cidadãos mais compreensivos com o “outro”, seja ele asiático ou de outra nacionalidade. E as HQs são uma ótima ferramenta para introduzir esses jovens na história da Ásia. Por isso, selecionei essa mídia para escolher um país a ser abordado na pesquisa. Acabei escolhendo pelo que tinha maior familiaridade devido a ter lido mais dessas obras, assim como aos doramas e filmes. Assim, no próximo capítulo abordarei a história dos manhwas, a influência dos comics e os mangás nos quadrinhos coreanos, além dos conceitos a serem utilizados ao se tratar dos manhwas em aulas de História. 31 CAPÍTULO 02: O CASO DOS MANHWAS O que estudamos sobre história da Ásia no Brasil e nas Américas? Seja no ensino superior ou médio e fundamental, pouco se estuda sobre a Ásia. Alguns capítulos nos livros didáticos de História abordam a história da China concentrando-se em algumas dinastias mais famosas e dando maior destaque para a Revolução Chinesa, e a participação da China nas Guerras Mundiais. Já sobre a Índia falam do período das grandes navegações e expansionismo europeu; e no caso do Japão, na Era Meiji19, e a participação nas Guerras Mundiais. Recentemente estão incluindo a Guerra das Coréias no período da Guerra Fria, que resultou na divisão das Coréia do Sul e Coréia do Norte. Podemos ver isso no exemplo abaixo retirado de um livro didático de 2013: A Guerra da Coréia Em 1910, a península Coreana foi ocupada pelo Japão, que lá permaneceu até a derrota japonesa na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Com a saída do Japão, a União Soviética ocupou militarmente o norte da península, enquanto as tropas dos Estados Unidos assumiram o controle do Sul. Um acordo firmado em 1948 estabeleceu a criação de dois países: a Coréia do Sul, capitalista, e a Coréia do Norte, socialista. Na tentativa de reunificar a península, em 1950, tropas da Coréia do Norte invadiram a do sul, desencadeando uma guerra que durou três anos e deixou cerca de 3,5 milhões de mortos. Em julho de 1953, um armistício pôs fim ao conflito e confirmou a divisão da península em dois Estados, nos mesmos limites fixados em 1945, situação que se mantém até hoje. Apesar de vigorar durante mais de sessenta anos, o armistício de 1953 não impediu que a Coréia do Norte desenvolvesse um programa nuclear, demonstrando seu poderia bélico e ameaçando, veladamente, a Coréia do Sul. Em 2013, o governo norte-coreano realizou uma série de testes nucleares e anunciou o fim ao armistício, causando preocupação na comunidade internacional diante de um possível conflito nuclear. (ALVES, 2013, p146.) Nessa passagem vemos que as Coréias aparecem a partir de 1910 já como território anexado do Japão, e nada mais anterior a isso ou sobre a cultura e história antes de 1900. Isso, além do maior foco ser sobre a Coréia do Norte e o programa nuclear. Como Edward Said (2007) nos mostra sobre a questão Oriente e Ocidente, temos uma propensão a antagonizar o oriente, que atualmente está se tornando parte da história globalizada do mundo e começando a ser reconhecida no Brasil. No livro A História da Guerra Fria, de John Lewis Gaddis, temos sobre a Coréia: 19 O Período Meiji (明治時代, Meiji jidai.) ou Era Meiji constitui-se no período de quarenta e cinco anos do Imperador Meiji do Japão, que se estendeu de 3 de fevereiro de 1867 a 30 de julho de 1912. 32 A Coréia, como a Alemanha, foi ocupada em conjunto por forças soviéticas e americanas no fim da Segunda Guerra Mundial. A Nação fizera parte do império japonês desde 1910 e, quando a resistência japonesa subitamente desabou no verão de 1945, o Exercito Vermelho, que planejava invadir a Manchúria, viu caminho aberto também para o norte da Coréia. Ao sul, a porta também se abriu para algumas tropas americanas cuja missão original fora invadir as ilhas japonesas. Portanto, a península foi ocupada mais por acidente que por intento: o que provavelmente explica o fato de Moscou e Washington entrarem sem maior dificuldade em acordo a respeito do paralelo 38°, que cortava a península pela metade, servir de linha de limite à espera de um governo coreano único e da retirada das forças de ocupação. (GADDIS, 2006. p. 39) Com Gaddis (2006) podemos ver um pouco mais sobre a divisão coreana em dois países, mas esse livro também não trabalha a história da Coréia antes de 1900, e dificilmente se encontrará outra obra em português sobre o assunto. Portanto, ainda falta muito para que os estudantes e a população brasileira tenham fácil acesso a essa cultura e história. Neste capítulo, pretendo abordar a história da Coréia voltada para o ensino de História utilizando as Histórias em quadrinhos coreanas, os manhwas. Primeiramente, precisamos entender que a Ásia não é só Japão, China e Índia. E, sim, 50 países divididos nas regiões Sudeste Asiático, Ásia Central, Ásia Meridional, Ásia Setentrional, Ásia Oriental e Ásia Ocidental. As Coréias estão na Ásia Oriental, sendo constituídas de 219.140 km² de terras e população de mais de 76 milhões de pessoas. Os países da Ásia possuem uma história rica em documentos, monumentos e costumes, além de religião e mitologia abundantes. Apesar de terem ocorrido, na Ásia em geral, várias perdas de registros históricos, com incêndios, invasões, além de novos monarcas que ordenavam destruir registros anteriores para interesses próprios. Essa perda de registros históricos no caso das Coréias, foi mínimo, sendo assim considerado como o que possui sua história mais completamente documentada, e com mais registros, guardados e preservados, como os diários dos reis entre outros documentos oficiais, todos declarados como patrimônio cultural da humanidade e registrados na UNESCO20. Possuem registros das civilizações neolíticas de 2300 a.C. como também dos primeiros reinos e suas dinastias, até a divisão das duas Coréias em 1945. Dentre os mais antigos registros podemos citar o Samguk Sagi (A História dos Três Reinos) escrita por Kim Pu-sik, em 1145, da dinastia Goryeo21. Além desses registros, temos templos, palácios e casas preservadas desde sua construção. Um dos pontos turísticos mais 20 21 Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura. A dinastia Goryeo durou entre 918 e 1392 d.C. 33 procurados é o Palácio de Changgyeonggung22 que era o palácio de verão do Rei Sukjong, do reino coreano de Goryeo. Uma coisa interessante sobre a história do Oriente é que muitas passagens históricas se entrelaçam com a Coréia, principalmente a história da China, Mongólia e Japão. Como por exemplo, quando o Japão e Coréia foram parte do Império Chinês, no período da China Antiga; ou quando das várias invasões da China na Coréia, e as tentativas de invasões pela China do Japão na Idade Média, assim como das invasões pelo Japão, da China e da Coréia nos períodos medievais como contemporâneos, e também houve uma expansão da Coréia nos territórios chineses. Considerando isso, não podemos estranhar que haja tantas similaridades entre esses povos, ao mesmo tempo em que cada um é um povo único com suas próprias características e diferenças. No caso desta pesquisa, centrarei na Coréia, “o nome “Coréia” é a forma europeizada de denominação da dinastia Koryo, que reinou naquele país entre os séculos X e XV. Em coreano, a Coréia do norte se chama Cha-sun (de origem chinesa e que significa “país da manhã calma”); a Coréia do Sul se denomina Han-Guk (terra dos Han)” (SALLES, 1994, p.324). Mas será impossível não mencionar Japão e China em várias passagens da história coreana, principalmente ao se tratar dos manhwas que também possuem influência de ambos os países, além do ocidente. 2.1 História dos quadrinhos na Ásia Assim como os quadrinhos ocidentais, os orientais possuem registros desde papiros ilustrados da China antiga até os tempos modernos. Mas trabalharei com a definição de Scott McCloud (2006) de que as histórias em quadrinhos surgiram a partir da invenção da imprensa, já que os quadrinhos asiáticos não deixam de ter seu começo diferente dos comics ocidentais. Segundo Lyuten (2014, p.04), no Japão “Rakuten Kitazawa, no período Meiji, usou a linguagem e a forma dos pasquins ingleses do século XIX para a nova construção da imagem e humor das influências ocidentais”. Essa pesquisadora dos mangás relata sobre a origem dos mangás e “que o sucesso foi tão grande que surgiu a primeira revista japonesa de humor Marumaru Shimbum em 1877 e teve a duração de 30 anos. Os japoneses trocaram o pincel 22 O palácio foi destruído pelos japoneses no fim do século XVI e danificado por um incêndio no início do século XIX. A maioria dos edifícios que vemos hoje tem menos de 200 anos. Mas ainda existem as estruturas mais antigas, como o Myeongjeongjeon, de 1616, que é o salão principal mais antigo que restou em Seul. 34 pela pena e os quadrinhos tomaram rumos diferentes no Japão.” No caso dos mangás, as publicações atualmente são feitas por grandes editoras como a Shonen e a Kodansha, e as publicações possuem uma periodicidade regular, desde semanais, quinzenais, mensais ou bimestrais; são impressas em papel jornal para facilidade em aquisição dos capítulos em revistas com 500 páginas compostas com várias histórias e títulos diferentes, e posteriormente são lançadas em volumes fechados e sequenciais da mesma história em edição para colecionar. No Japão, os mangás são divididos em gêneros de histórias, sendo: Shoujo (para meninas), Shounen (para meninos), Seinen (adultos masculinos), Josei (adulto feminino), Hentai (com sexo explícito), Yaoi (homossexual com casais masculinos), Yuri (homossexual com casais femininos), Kodomo (para crianças). Primeiramente, para os coreanos, Manhwas é o nome dado a qualquer história em quadrinhos que se venda no país, seja qual for sua origem, ou seja, as comics americanas, os mangás japoneses, os gibis brasileiros e as próprias obras coreanas, são todos entendidos como “manhwa”. No caso dessa pesquisa, entendo como manhwa, somente as obras de autores coreanos publicados na Coréia do Sul. Na Coréia, a origem das histórias em quadrinhos pode ser encontrada nas poesias ilustradas com paisagens de fundo da dinastia Tang23 da China, e as ilustrações “bomyeonesipudo” sobre um monge em busca da verdade datadas do período coreano chamado reino de Gogureyo24. Há também o livro budista sanganghenesildo, ilustrado com fábulas do período Joseon25e o “euido” de 1745 d.C com vinhetas sobre uma vaca fiel. Mas foi em 1883 que o jornal “Hanseongsunbo” publicou notícias com várias ilustrações e, em 1909, foi publicado o 1° manhwa: Saphva do Lee – Yeong, no jornal “daenminbo”, o qual era uma convocação para o povo coreano resistir ao domínio japonês. E apesar da censura do Japão, os manhwas foram publicados normalmente até 1953, onde passaram a ser publicados nos moldes das HQs de hoje, com objetivo de ser entretenimento simples. Na Coréia, os manhwas são publicados por grandes editoras ou de forma independente, e podem ser comprados ou locados nas lojas manhawabang. Com isso, a periodização das publicações varia muito. Depois dos anos 2000 surgiu na Coréia os webcomics (webtoons), comics publicados online e com cores, assim ganhando um público mais internacional e abrindo as portas para novos artistas, sem tanta influência das editoras.E 23 Dinastia Tang durou de 618 à 907 d.C. Reino de Gogureyo (37 a.C – 668 d.C) 25 Período Joseon (1431 d.C) 24 35 desde 2010 as animações coreanas, as Aenimeisyeon, também estão começando a ganhar o mercado nacional e internacional, apesar de que pouquíssimos manhwas se transformaram em animações. Por enquanto o foco continua com desenhos para crianças de até 5 anos. McCloud (2008, p.216) listou 8 técnicas utilizadas nas narrativas dos mangás, que também são muito similares nos manhwas: Figura 4 McCloud e as técnicas de narrativas dos mangás 36 Além das técnicas narrativas há também os gêneros de Hq’s de modo que os manhwas também são classificados de acordo com público alvo e gêneros literários por meio das seguintes categorias: Sonyung: são histórias mais voltadas ao público masculino, entre as faixas etárias de 818 anos, são histórias com foco em ação. McCloud (2008, p. 220) ao explicar sobre os Shonen (categoria dos mangás equivalente ao Sonyung) diz que nas histórias desse estilo “as emoções podem igualmente aflorar, como os rostos dos protagonistas constantemente nos lembram”. Nesse sentido, o autor também explica sobre a participação física (2008, p. 221): Figura 5 McCloud e a participação física dos mangás 37 Assim deixo como exemplo o manhwa Chonchu, onde podemos ver tanto os sentimentos do personagem, pelas expressões faciais, como o sentido de ação. (Volume 1 Pag 27): Figura 6 Chonchu, de KIM Song Jae e KIM Byung Jin Se você observar a cena do corte da cabeça, pode-se dizer que ela não é um quadrinho sequencial. Simplesmente ao ver, o leitor “vê” o movimento da espada, e logo após esse quadro, o próximo é do rosto do personagem. Não há uma sequencia “lógica” na sequencia dos quadros, mas o leitor ao ler, entende que o sentimento demonstrado pelo personagem no segundo quadro é o que ele sentiu ao cortar a cabeça do seu oponente. Sunjeong: São histórias mais voltadas para o público feminino da mesma faixa etária do Sonyung, e possuem mais ênfase em romances, dramas e comédias. Aqui, usarei McCloud 38 novamente ao comparar a explicação sobre o Shoujo (equivalente dos mangás ao sunjeong) aos manhwas coreanos (2008, p.220): Figura 7 McCloud sobre o Shoujo Como exemplo dos manhwas, usarei o Goong. Podemos ver na figura abaixo as expressões de sentimentos demonstradas, assim como a versão caricata da personagem, para representar o momento cômico da cena (Goong Volume 1Pag 11). 39 Figura 8 Goong, de PARK SoHee Tchungnyun: já essa categoria é feita para os jovens adultos, de 18-25 anos, onde são 40 trabalhadas histórias mais voltadas ao público maduro, por exemplo, onde a morte pode ser representada de forma mais violenta e explícita, coisa que não seria possível encontrar nas outras categorias. Também são trabalhadas, nessa categoria, os períodos históricos da Coréia.Como exemplo temos dois manhwas, um estilo mais direcionado ao público masculino: Priest (Priest Vol 1 Pag 12) Figura 9 Priest, de HYUNG Min Woo 41 Neste podemos ver a violência de forma mais explícita, os personagens são mais velhos, e as histórias tem enredo mais “maduro”, e muitas vezes os finais não são felizes. E um exemplo mais voltado ao público feminino: The Bride of the Water God (Habaek, Vol. 01, p. 26). Figura 10 The Bride of the Water God /Habaek-eui Shinbu, de Yoon Mi-kyung 42 Neste caso, as histórias podem envolver cenas de sexo, ou mais erotizadas, sem realmente mostrar as cenas de sexo (na Coréia, a censura para cenas de sexo é muito mais evidente que no Japão). Neste caso, a personagem passa por uma situação de sacrifício, a população da aldeia a lança ao mar, para o bem deles próprios, sendo um tema mais abordado nessa temática, pois seria a representação de um assassinato, além dela ter que se “casar” com um garoto de 8 anos. Algumas características marcantes que diferenciam os manhwas dos mangás, apesar das suas similaridades, são os desenhos. Muitas vezes, os traços coreanos são mais próximos dos seres humanos, com cílios bem desenhados nos personagens. Além de que nos temas das histórias raramente há desrespeito aos mais velhos (ou pais), mesmo que sejam o vilão. Os personagens têm que se provar merecedores do seu objetivo. Seja pelo amor correspondido ou salvar alguém, ele sofrerá muito até conseguir o que deseja; esse sofrimento é chamado de Han, pois assim, ao alcançar seu objetivo, ele saberá valorizar o que conseguiu. As vinganças raramente são realizadas, e quando são realizadas, não há satisfação na mesma, e sempre acontecem muito mais tramas de fundo ao mesmo tempo que ocorre a principal do que acontece nos mangás. Mas por que o governo dá incentivo à produção de manhwa nas Coréias? Na Ásia, a leitura entre a população tem forte aceitação e incentivos; portanto, ler faz parte do cotidiano da população. Quanto às HQs, esse foi por muito tempo um instrumento da Cultura de Massa utilizado pelos estrangeiros (EUA e Japão) que dominaram a Coréia, no século XIX. Nos Estados Unidos, segundo Marangoni (2005, p.359) desde 1930-1970 as HQs têm auxiliado nos “mecanismos de apropriação ideológica e cultural da criatividade artística como foco de renovação de princípios doutrinários ou mesmo políticos”. No século XIX, a Coréia se manteve como um “Reino Eremita”, opondo-se inflexivelmente às demandas ocidentais para a abertura e o relacionamento comercial e diplomático. Com o passar do tempo, alguns países asiáticos e europeus com ambições imperialistas competiram entre si para exercer influência sobre a península coreana. O Japão, após a vitória contra a China e a Rússia, anexou a Coréia à força e instituiu um governo colonial em 1910. O procedimento de colonização estimulou o patriotismo dos coreanos. Os intelectuais coreanos da época ficaram revoltados com a política oficial de assimilação do Japão, que impediu até o ensino de língua coreano nas escolas. Em 1º de março de 1919, uma manifestação pacífica exigindo a independência do país propagou-se em escala nacional. As autoridades japonesas reprimiram cruelmente os manifestantes e seus protetores, massacrando milhares de pessoas. (FATOS SOBRE A CORÉIA, 2011, p. 195) No caso da Coréia do Sul, os manhwas durante as ocupações americana e japonesa, eram centralizados em histórias para aceitação da dominação, como o avanço tecnológico e a 43 exaltação da cultura estrangeira, e após a libertação dos dominadores, o governo coreano incentivou publicações que valorizassem a recuperação da cultura coreana, com ênfase nas histórias das dinastias Joseon, Goreyo ou sobre a mitologia coreana. Así, en la actualidad, el manhwa coreano intenta durante el siglo XXI consolidar su internalización con dos nichos de mercado em los que cuenta con poca competencia: los webtoons y las historietas educativas. El gobierno coreano ha investido 96,9 millones de dólares en un plan de cinco años para cultivar la industria (MCST 2010). (SIMON, 2012, P. 152) No caso do Japão, onde a leitura é muito forte entre a população, com o surgimento dos mangás, na década de 1920, e chegando ao seu desenvolvimento na década de 1950, que também foi usado como meio da Cultura de Massa. Nesse caso, para repassar a idéia de indivíduos que não se sobressaem às normas da vida social, e onde a individualidade é vista como egoísmo, que atrapalha a ordem social; assim os “personagens são concebidos no mundo real, são mais humanos, com ênfase à perseverança, à autodisciplina e à rigidez moral” (LUYTEN, 2012, p.48). Mas por que estudar as histórias em quadrinhos, os manhwas ou a Coréia do Sul?Uma ótima forma de incorporar as experiências históricas relativas ao Oriente na aprendizagem histórica dos estudantes seria por meio de mídias que atraiam a atenção dos jovens, sendo que uma delas são as histórias em quadrinhos. O Brasil é um país que desde sua colonização foi composto por várias culturas étnicas diferentes, mas com o passar do tempo e, principalmente, durante as duas Guerras Mundiais, recebeu um número considerável de imigrantes e, portanto, não deixou de receber também os coreanos. Desde 1950 temos registros de coreanos imigrando para o Brasil, de modo que eles também já fazem parte da população brasileira, assim como da cultura histórica brasileira, sem abandonar a historicidade de sua própria cultura. O Oriente tem estado presente no nosso dia a dia, temos a maior colônia japonesa fora do Japão, e deveria começar a ser aprendido nas aulas de História, e não somente como mais um capítulo do livro didático de História a ser pulado e ignorado como se não fizesse parte da cultura histórica brasileira. No caso, a cultura coreana no Brasil tem sido bem divulgada e vêm ganhando grande público de fãs nas músicas (conhecidas como K-POP), nos doramas televisivos ou por streaming (novelas asiáticas) e nos manhwas e webtoons. Dessas três mídias, escolhi os manhwas porque tenho maior afinidade pessoal com a mesma e porque existe um crescente campo de investigação relativo as histórias em quadrinhos e a didática da História. 44 Quanto às músicas, apesar do K-POP estar crescendo a cada ano, bandas coreanas que antes raramente vieram ao Brasil, desde 2006, estão fazendo várias apresentações musicais no país, o qual foi incluído em suas turnês mundiais. Entre as bandas que já vieram ao Brasil existem: Mr x Mr, Big Bang, MBLAQ, VIXX entre outras. O KPOP, é musica coreana, em grande parte é composta por grupos, e alguns casos já existem artistas de carreira solo, tal como o cantor famoso internacionalmente bem conhecido: o Psy. As músicas podem tanto ser de um gênero musical único ou misto, podendo integrar tanto rock, hip hop e rap, como outros. Podem ter vários gêneros. As bandas podem trabalhar com os gêneros, não se fixando somente em um. Na maioria dos casos as grandes produtoras realizam audições com jovens talentos, selecionam e treinam, e então montam a banda. Os integrantes devem saber atuar (para os videoclipes), compor e coreografar as músicas. E as novelas televisivas? Os doramas asiáticos há tempos possuem uma grande comunidade de fãs no Brasil, mas a Coréia, Tailândia e China têm conquistado um maior público desde a abertura do site VIKI e DramaFever que são sites de TV online, onde é possível assistir ao dorama com legenda para várias línguas, de forma gratuita ou paga. E, em 2015, o canal de streaming Netflix comprou direitos sobre vários dos doramas mais populares na Coréia, entre eles: Secret Garden (2010), Playfull Kiss (2010) e Boys Over Flowers (2009), com grandes nomes interpretando os papéis principais, e que fizeram sucesso em toda Ásia. Os doramas coreanos ganharam palco internacional com o chamado “onda Hayllu”, quando um dorama coreano fez e continua fazendo grande sucesso na China. Os japoneses são em sua maioria uma adaptação dos animes de sucesso. Já os chineses se baseiam nos livros de romances, geralmente históricos e com muita influência em documentos históricos. No caso dos coreanos há grande interesse na produção de romances históricos baseados na história coreana, com grande foco no período de Goreyo e Joseon, ou da independência contra o Japão. Muitos são de roteiros originais baseados em documentos oficiais ou dos manhwas (já que há poucas animações coreanas). Um fato interessante é que grande parte dos atores são cantores (de carreiras solo ou integrantes de bandas) e são também responsáveis pelas composições das OST dos doramas, com isso acabam atraindo as fãs de K-POP para os doramas e vice e versa, assim como os doramas baseados em manhwas atraem o público leitor ou o público dos doramas é orientado para a leitura dos manhwas. No caso dos manhwas no Brasil, o primeiro a ser publicado foi Chonchu: O Guerreiro Maldito de Kim Song Jae e Kim Byung Jin, em 2004, pela editora Conrad. Além desse 45 manhwa, a Conrad também publicou: Angry de Yoo Kyung Won e Kim Jae Yeon (2006), Banya: o Mensageiro de Kim Young Oh (2009), Dangu de Park Joong Ki (2009), Model de Lee So Young (2009), Ragnarök de Lee Myung Jin (2004) e Gui: o guerreiro fantasma de Orebalgum e Kim Young Oh (2009). Além da Conrad houve outras obras publicadas por outras editoras, como as editoras Lumus, Panini, New Pop e Savana, dentre essas obras podemos citar: Editora Lumus: Priest de Hyung Min Woo (2006) que teve um filme americano de mesmo nome, e Planet Blood de Kim Tae Hyung (2007). Da editora Panini: KilDong: Crônicas de um guerreiro de Oh Se Kwon (2007). Da New Pop: Tarot Café de Sangsun Park (2007) e Ark Angels da mesma autora (2009). Da Editora Savana: Aflame Inferno de Lim Dall Young e Kim Kwang Hyun (2009). A maioria foi publicada em 2009, devido ao incentivo (através de descontos ou isenções de impostos) do governo Sul coreano para conseguir novos mercados no exterior, e tentar competir com os mangás. Mas até 2016, o mercado de manhwas ainda não se compara ao de mangás japoneses ou de comics estadunidenses. Entretanto, entre 2009 e 2010, houve uma variedade de títulos publicados no Brasil, e principalmente, para o público adulto, já que a maioria das histórias que foi publicada por aqui é de classificação Tchungnyun. Dentre os mais famosos podemos citar Ragnarök e Priest devido ao jogo e ao filme que foram feitos usando os manhwas como base. Atualmente, o mercado brasileiro não tem investido nos mesmos, saindo um título novo por ano quando muito, mesmo que na Coréia sejam publicados centenas de títulos novos todo ano e nos mercados mundiais eles sejam publicados, de modo que os maiores mercados no exterior de manhwas, estão no Japão, Espanha e Estados Unidos. 2.2 Conceitos Sendo assim, irei trabalhar com os conceitos como a questão da Linguagem e Experiência nos Manhwas, Cultura Histórica e a importância na Narrativa na História. 2.2.1 Linguagem Os manhwas, assim como as histórias em quadrinhos do resto do mundo, possuem uma linguagem própria. Scott McCloud em Reinventando os Quadrinhos (2006), descreve o que é HQ quando diz: “O que chamamos de História em Quadrinhos se baseia numa idéia simples, a idéia de posicionar uma imagem após outra para ilustrar a passagem do tempo. [...]. Mas além de posicionar a imagem e as palavras “os quadrinhos são um idioma. Seu vocabulário 46 consiste de toda a gama de símbolos visuais” e, principalmente, no caso do oriente onde a “imaginação do leitor dá vida a imagens inertes” (MCCLOUD, 2006, p.01) ou conforme Marcelo Fronza (SOBANSKI et al, 2010, p. 46), escreveu que “não existe separação entre palavra e imagem, mas sim, uma circularidade entre elas.” Em suma, a linguagem das HQs não é só texto ou só imagem, não se deve ler um sem o outro, principalmente no caso das HQs orientais. E como os trabalhos envolvendo manhwas são muito escassos, usar os mangás japoneses é uma boa opção de investigação, pois como a autora Esther Simón (2012) informa que por causa da história do Japão e da Coréia, os mangás e manhwas são muito mais parecidos entre si do que com as HQs ocidentais. E assim, como o mangá e o manhwa possuem similaridades na escrita e no visual, apesar de terem as origens distintas. Segundo Ricardo C. Salles em O legado de Babel II: as línguas e seus falantes (1994), os dois idiomas utilizam (três idiomas se incluirmos o mandarim da China, no caso dos manhuas chineses) duas estruturas textuais: visual e escrito. No caso da escrita, os idiomas e sua estrutura segundo Salles: “No que diz respeito a sua estrutura, o coreano e o japonês devem descender de uma protolíngua comum: essa protolíngua, se não era aparentada da(s) protolíngua(s) altaica(s), sofreu influencia dela(s). [...] o chinês, embora tenha exercido grande influência sobre o coreano (léxico em geral, numerais, escrita), não tem qualquer parentesco com este idioma; o coreano apresenta semelhanças com línguas tungústicas (léxico, estrutura) e com o japonês (estrutura, fonologia e, até certo ponto, léxico).” (SALLES, 1994, p.319-320) O idioma coreano é o 11° mais falado no mundo, mas apesar do coreano ser falado há mais de 2 mil anos, a escrita dos documentos eram em mandarim antigo até 1440 d.C., quando da época do rei Sedjong da dinastia Yi: Durante o reinado do rei Sejong, o Grande (1418-1450), quarto monarca de Joseon, a Coréia logrou um florescimento de cultura e artes sem precedentes. Com a liderança do rei Sejong, os estudiosos da academia real criaram o alfabeto coreano Hangeul. Na época, esse alfabeto se chamava Hunminjeongeum ou “sistema fonético apropriado para educar o povo.” (FATOS SOBRE A CORÉIA. 2011, p.193) O idioma coreano, o Hangul (significa “dos Han”, etnia dominante da China) é considerado como o idioma mais cientifico26 criado. O que Salles nos apresenta sobre o idioma coreano, é que apesar de grande influencia do mandarim em sua base (herdado até os dias atuais), o idioma assim como sua cultura tem suas características próprias, e enquanto o mandarim é um idioma mais tonal, o coreano é silábico, nesse ponto se aproximando mais do 26 Nesse caso Salles diz que o idioma é considerado como cientifico, pois o mesmo foi criado para ter uma lógica mais matemática em si, sendo um idioma para se aprender através de um sistema de lógica. 47 japonês, mas mantendo suas diferenças. O coreano é um idioma escrito em ideogramas, tendo sua versão romanizada devido ao contato com os ocidentais. Já sobre o coreano em si, “há em coreano, seis estilos de polidez, que variam conforme a pessoa que fala, a pessoa a quem se fala, a pessoa de quem se fala e suas combinações” (SALLES, p. 323), ou seja, dependendo de quem falar e com quem, haverá variação na forma polida de se falar, onde pela forma de falar entre si, pode-se identificar qual a relação de proximidade que essas pessoas tem entre si, assim como a hierarquia social entre elas. Sendo isso muito claro dentro dos manhwas nas conversas entre personagens. No caso dos mangás, a teórica da linguagem Luyten em Mangá: O poder dos quadrinhos japoneses (2012) apresenta a seguinte exposição sobre o idioma: A história da escrita japonesa tem essa tradição da abstração de traços de figuras reais, isto é, signos que representam e expressam visualmente a idéia das palavras, diferente da escrita alfabética, que não transmite sensorialmente nenhum sentido. Para entendê-la, é preciso decodificar as palavras em conceitos para obter o sentido desejado. Entre essa sequencia de imagens significativas (que é a escrita japonesa) e imagens sucessivas (que são as histórias em quadrinhos), há, portanto uma continuidade. (LUYTEN, 2012, p. 20 e 21) Assim, para concluir a questão da linguagem nas histórias em quadrinhos é essencial compreender que dentro dos mangás e manhwas a imagem e a palavra são mais do que simplesmente uma palavra ou imagem, pois podem ter páginas sem palavra alguma, pois a imagem é feita de forma a falar por si, assim como pode ter uma página sem imagens, somente com uma palavra. Essa palavra abordará exatamente o que o sentimento do leitor deve estar sentindo. Isso é uma característica da arte oriental, que atualmente o Ocidente vem se apropriando (principalmente na Europa). Sendo assim, ao propor trabalhar os manhwas nas aulas de história, mesmo que não seja uma obra bibliográfica ou histórica, há também a possibilidade de realizar uma análise pelo estudante, que poderá expressar fazer ao expressar suas ideias históricas sobre a linguagem utilizada na história narrada nessas HQs, além de abordar os vários termos que não existem tradução do japonês ou coreano para o português, pois são palavras que transmitem um conceito, ou, no caso dos honoríficos e das formas de falar entre os personagens demonstrar sua proximidade ou posição social somente por meio da forma de expressão desses personagens falarem. Como no exemplo abaixo do manhwa Look for Oppa! (V01 p.06): 48 Figura 11 Look for Oppa! de Hwang Mi-ri Quando a personagem fala o “oppa”, ela está demonstrando que é próxima do garoto de quem está falando, pois o Oppa pode ser usado somente quando uma garota mais nova se refere a um rapaz mais velho, podendo ser seu próprio irmão ou um homem de quem ela tenha interesse romântico. 49 2.2.2 Experiência As histórias em quadrinhos, de modo geral, expressam a experiência do autor/artista com relação a do leitor. No caso dos mangás e manhwas, que são mais direcionados para um público leitor com experiência nessa linguagem, e com personagens mais próximos do seu dia-a-dia, as técnicas utilizadas são, segundo McCloud, “para amplificar o senso de participação do leitor”, ou seja, “uma sensação de participação da história ao invés de meramente observá-la de longe” (2008, p.216). Nos quadrinhos da Ásia, de acordo com McCloud, a sequencia dos quadrinhos na página não é focada nas transições de tempo e espaço e, é usada mais para estabelecer um clima, com cenas onde o tempo parece parar, de modo que nesses instantes o leitor deve compor o momento através desses fragmentos. Podemos ver um exemplo do próprio McCloud (1995, p.79): Figura 12 McCloud Sequencia nos mangás 50 Assim ao ler um mangá ou manhwa o leitor sente o mesmo que o personagem, sendo esse um dos motivos pela sua grande aceitação em seus países originais e na Ásia. Eles são mais poderosos no que diz respeito a sua participação na memória histórica coreana e japonesa do que a televisão e, com isso, incentivam à leitura. Outro exemplo citado por McCloud sobre a experiência do leitor (2006, p 217): Figura 13 McCloud e a Experiência do leitor 51 Nesta página podemos ver os exemplos dados pelo autor sobre diferentes técnicas que levam ao leitor a experiência de vivenciar a história. Quando trata dos rostos, os personagens principais nas histórias até os terciários tem um rosto marcante, seja pela característica do rosto, do cabelo, do olhar, ao ver o personagem bem desenhado e definido o leitor saberá dizer que esse personagem será o vilão, ou o principal, sendo que os personagens de fundo da história geralmente possuem poucos traços bem destacados. Outra característica marcante são os cenários e objetos usados na história, os autores em geral utilizam de fotos tiradas dos locais, e desenham as versões desses cenários reais, com pequenas diferenças para não serem reconhecidos (outras vezes eles deixam bem visível para os fãs poderem visitar o local), assim, tanto os cenários como os objetos são reais, e passam essa sensação ao leitor. E por fim, os recursos gráficos, sejam de movimento para as cenas de ação, o detalhe no olhar para demonstrar sentimentos, são recursos utilizados em abundância nos mangás e nos manhwas para passar ao leitor a sensação de experiência, o leitor sofre e vive junto dos personagens. 2.2.3 Cultura Histórica Segundo Jörn Rüsen (1994, p.3) em "Qué es la cultura histórica? Reflexiones sobre una nueva manera de abordar la história" o conceito de cultura histórica aborda o papel da memória no espaço público, ou seja, ela condensa a universidade, o museu, a escola, o Estado, a imprensa e outras instituições culturais como “conjunto de lugares de la memoria colectiva, e integra las funciones de la enseñanza, del entretenimiento, de la legitimacion, de la crítica, de la distracción y de otras maneras de memorar, em la unidad global de la memoria histórica.” Quanto aos quadrinhos e a cultura histórica, os quadrinhos possuem conhecimento histórico, “pois foram criados a partir de um pensar, de uma (ou mais) forma(s) de atribuir sentido ao tempo, ou seja, uma dada consciência histórica” (BONIFACIO, 2005, p 5), assim a consciência histórica é algo inerente ao ser humano, pois segundo Jörn Rüsen (2001, p.54): “São as situações genéricas e elementares da vida prática dos homens (experiências e interpretações do tempo) que constituem o que conhecemos como consciência histórica”. (BONIFACIO, 2005, p. 5) Ainda sobre a consciência histórica, a autora diz: Compreende-se, então, que a consciência histórica se efetiva sob a forma de uma “cultura histórica” (GARCÍA, 1998: 289) que circula socialmente, nas escolas e no meio acadêmico, e também em narrativas ficcionais, nos romances, no cinema, e nos 52 quadrinhos. Para GARCÍA (1998: 280): “Las consecuencias prácticas son importantes, ya que se reconoce que los estudiantes no llegan com la mente vacía al aula y que la escuela no es la única instancia (y quizá ni siquiera la más importante) del aprendizage histórico”.(BONIFACIO, 2005, p 5) Então, ao escrever/desenhar um quadrinho a cultura histórica está inserida, às vezes sem a ciência do autor, outras com. E o leitor ao ler, consegue perceber essa cultura histórica e cabe ao professor orientar esse tema histórico. 2.2.4 Narrativa na História Já sobre narrativa, além de ser uma forma de literatura, Marcelo Fronza (SOBANSKI et al., 2010, p.46) escreve que “as histórias em quadrinhos que abordam conteúdos históricos são narrativas históricas gráficas.” No caso desta pesquisa, serão utilizados mais manhwas que abordam temas históricos ou culturais, tais como lendas e mitologias, por serem os mais publicados na Coréia e que tiveram tradução no Ocidente (no Brasil, foram publicados em scanlations27). Contudo, trabalharei não só as histórias em quadrinhos históricas, mas também outros gêneros, pois esses possuem citações ou comparações sobre os períodos vinculados ao passado da Coréia. Como por exemplo, os manhwas Goong (Park SoHee, 2002, p05), que contam sobre a família real coreana, numa Coréia alternativa (já que a queda da monarquia coreana se passa no contexto de 1904 com a invasão japonesa) quando a mesma abre mão do governo monárquico para implantar a república no século XX, e também apresenta muitos dos costumes da corte coreana e dos palácios. 27 Scanlation: a reprodução digitalizada e ilegal de mangás (quadrinhos japoneses) levada a cabo por fãs em circuitos de sociabilidade na cibercultura. (HIRATA e GUSHIKEN, 2012). 53 Figura 14 Goong, de PARK So Hee 54 Já no manhwa Crazy Girl Shin Bia (Hwang Mi-ri, 2008, p.76), temos a história de uma jovem que é jogada no passado em meio à corte do reino Goreyo (918-1392 d.C), e passa a viver um romance com o príncipe. Podemos ver nesse manhwas, como funcionava a corte nesse período: Figura 15 Crazy Girl Shin Bia, de Hwang Mi-ri 55 No manhwa Habaek-eui Shinbu (Yoon Mi-kyung, 2006, p.19), conta uma história envolvendo o Deus das Águas Habaek e do panteão dos deuses coreanos. Na história, a personagem é oferecida como sacrifício ao deus das águas para trazer chuva, e ela acaba sendo levada ao reino dos deuses para se casar com o deus Habaek. Com isso, a história gira em torno das divindades e o romance dela com esse deus. Figura 16 The Bride of the Water God /Habaek-eui Shinbu, de Yoon Mi-kyung 56 Com as obras citadas, pode-se trabalhar desde a mitologia coreana, como também a história do reino Goreyo, que deu origem ao nome pelo qual o ocidente denomina aquela região como Coréia (Korean), e por último tratar a questão da queda da monarquia e início da república naquele país. Claro que nos três casos, a narrativa trata essas experiências históricas de forma romântica e o contexto nem sempre é baseado na realidade passada. Mas aqui cabe ao professor elaborar ideias históricas, com estudantes que dialogam com as dimensões cognitivas, estéticas e políticas da cultura histórica coreana. Com os exemplos trabalhados no decorrer deste capítulo, podemos ver agora a possibilidade de utilização dos manhwas para ensino de história coreana. 57 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS No primeiro capítulo desta pesquisa foram abordadas as pesquisas dentro da Educação Histórica utilizando histórias em quadrinhos como os comics e os mangás, assim como a história dos quadrinhos no mundo. Já no segundo capítulo foi abordado o caso dos manhwas e a história dos quadrinhos na Ásia. Assim, como os conceitos possíveis de serem trabalhados dentro dos manhwas, como Linguagem, Experiência, Cultura Histórica e Narrativa na História. Sendo que na Linguagem foi trabalhado a diferença do idioma coreano (hangul) com os idiomas ocidentais e como isso diferencia na leitura do manhwa com os quadrinhos do ocidente. Já na experiência, tratamos da sensação de experiência que o leitor tem ao se ler um quadrinho asiático e por fim, a cultura histórica e a narrativa dos manhwas. Tenho por intenção continuar a investigação dessa pesquisa em trabalhos futuros, abordando na prática como os estudantes entendem o manhwa e a história da Coréia, assim como uma forma de abordagem simplificada para professores que não se especializaram na História da Ásia. No caso dos manhwas, pretendo trabalhar não só os de tema histórico, pois esses apesar de abordarem tanto história como mitologia, nem sempre são do agrado dos jovens leitores, e ao abordar os gêneros de ação ou comédia romântica (com temas colegiais) podemos também ensinar aos estudantes sobre costumes, tradições e linguagem aos estudantes. Assim, como os imigrantes japoneses ensinavam japonês aos seus filhos utilizando os mangás, para atrair a atenção dos jovens, podemos utilizar os manhwas para ensinar aos estudantes características da linguagem coreana através dos manhwas. 58 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA OBRAS CONSULTADAS CLARK, Alan e Laurel. Comics Uma História Ilustrada dos Quadrinhos. Distri Cultural. 1991 DORFMAN, Ariel e ARMAND MATTELART, Armand. Para Ler o Pato Donald: Comunicação de Massa e Colonialismo. Tradução de Alvaro de Moya. 2a Edição. Paz e Terra. 1980. EISNER, Will. Narrativas Gráficas. Tradudor: Leandro Luigi Del Manto. São Paulo: Devir, 2005 EISNER, Will. Quadrinhos e arte sequencial. São Paulo: Martins Fontes, 1999 Horkheimer, M.; Adorno, T.W.; Habermas, J. Dialética do Esclarecimento: Fragmentos Filosóficos. 1947. LUYTEN, Sonia Bide (Org.). Histórias em Quadrinhos: Leitura Crítica. Edições Paulinas. 1985 LUYTEN, Sonia Bide. Mangá: O poder dos quadrinhos japoneses. 3ª Edição. São Paulo: Hedra, 2012. 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