UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
ESTUDOS DE TEATRO
Percursos itinerantes
A companhia de Rafael de Oliveira, Artistas Associados
José Guilherme Mora Filipe
2007
UNIVERSIDADE DE LISBO A
FACULDADE DE LETRAS
ESTUDOS DE TEATRO
Percursos itinerantes
A companhia de Rafael de Oliveira, Artistas Associados
José Guilherme Mora Filipe
Dissertação orientada p ela
Professora Doutora Maria Helena Serôdio
e apresentada à FLUL para obtenção do grau de
Mestre em Estudos de Teatro
2007
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE LETRAS
ESTUDOS DE TEATRO
Resumo
A presente dissertação tem por objectivo apresentar a Companhia Rafael
de
Oliveira,
Artistas
A ssociados,
a
última
das
«companhias
de
província» portuguesas que, ao longo de mais de 50 anos (1918-1975),
fomentou o gosto pelo teatro nas populações provinciais, viajando de
norte a sul de Portugal , Madeira, Açores e Angola, divulgando no palco
do seu Teatro Desmontável um reportório , nacional e estrangeiro, de
êxitos teatrais provenientes dos palcos de Lisboa .
Palavras chave:
Companhias de província – A Companhia Rafael de Oliveira – Teatro
desmontável – Reportório popular – Famílias de actores itineran tes.
Abstract
This essay presents the «Rafael de Oliveira Company – Associated
Artists», the last of the so -called Portuguese «companhias de província »
(touring theatre companies), which for over 50 years (191 8-1975) played
an important role in developpin g the pleasure of theatre-going among the
population provincial areas. Performing in their own portable theatre,
these nomad professional players travelled througout Portugal, Madeira,
Azores and Angola, displaying a repertoire based on Portuguese and
foreign plays, that had been celebrated productions of the public theatres
in Lisbon.
Keywords:
Touring companies – Rafael de Oliveira’s company –– Portable Theatres
– Popular reportoire – Families of touring actors .
i
ÍNDICE ( VOLUME I)
Resumo .................................................................................................... i
Índice (Volume I) ..................................................................................... ii
Índice (Volume II) ................................................................................... iv
Índice ( DVD) .........................................................................................viii
Índice de Imagens .................................................................................... xi
Agradeci mentos ....................................................................................... xii
Introdução ............................................................................................. xiv
Capítulo I: Deambulando pelo teatro... ........................................................ 1
1.
Uma ficção com lai vos de realidade ...................................................... 2
2.
Uma realidade com laivos de ficção ...................................................... 8
3.
Da itinerância teatral ........................................................................ 23
Capítulo II: As mil e uma maneiras de chegar ao teatro... ........................... 14
1. Em Lisboa, 1962: Comediantes que se exibem na capital de um Império de
pequeninos. ............................................................................................ 15
2.
Lisboa, 1890: Travessa de St ª Quitéria, Pátio de S. José, nº 2. .............. 27
3.
À sombra de Amoreiras que j á não existem... ...................................... 32
4.
A efer vescência teatral lisboeta no início do século XX. ...................... 34
4.1. Pelos palcos particular es e grupos dramáticos. ................................. 35
4.2. E pelos “Chalets” de madeira e lona. ............................................... 42
5.
E ainda para os lados do Rato. ........................................................... 47
6.
De novo em Lisboa, 1962: Após A Recompensa... ................................ 53
Capítulo III : A constituição da companhia de Rafael de Oli veira ................ 56
1.
Os Pri meiros Passos .......................................................................... 57
1.1. De Sil va Vale a Rafael de Oli veira .................................................. 57
As pri meiras críticas t eatrais. ................................................................... 60
2. Da Tournée Artísti ca Societária à Companhi a Rafael de Oli veira, Artistas
Associados: Os pri mei ros Directores de Cena. ........................................... 67
2.1. Ernesto de Freitas e a composição de um reportório. ......................... 67
2.2. Afonso de Matos: di versificação e actualização do reportório. ........... 84
Capítulo IV: “Uma Ar ca de Noé flutuante e sobrevi vente da crise do nosso
Teatro” ................................................................................................. 105
1.
A Caminho do Desmontável... .......................................................... 106
2.
As crises requerem decisões. ............................................................ 108
ii
3.
As pri meiras referênci as ao Teatro Desmontável. ............................... 116
4.
A frágil estrutura do Teatro Desmontável. ......................................... 126
5.
Um salão de arte dramática, modesto “conser vatório” ambulante. ....... 134
6.
Uma di gressão pelas Il has: Madeira e Açores .................................... 157
6.1. Funchal - O Desmontável da Avenida do Mar : “Um Brinde de Natal ”.
157
6.2. S. Mi guel e Terceira: As Bodas de Ouro Artísticas de Afonso de Matos
164
Capítulo V: A morte de Rafael de Oli veira e o futuro da Companhia .......... 174
1.
Eduardo de Matos: o f or mador da nova geração de artistas itinerantes. 175
2. O herdeiro do Desmontável: Fernando de Oli veira, empresário e di rector
artístico anunciado. ............................................................................... 189
3.
Novos modos de sobrevi vência da Companhi a. .................................. 198
4. 1973: a sonhada tournée a África. Francisco Ribeiro, director artístico a
prazo. ................................................................................................... 213
5. 1974: cantos de liberdade e o “canto do cisne” dos Artistas A ssoci ados e
do Desmontável. .................................................................................... 222
Epílogo I - As Pessoas ........................................................................... 229
Epílogo II - E o Desmontável? ................................................................ 231
Capítulo V I: Conclusões: For mas e conteúdos .......................................... 233
1.
A composição da Companhia Itinerante: um por todos e todos por um. 234
2. Os Li vros de Contas: uma leitura admi nistrativa repleta de pequenos
segredos. .............................................................................................. 238
3.
A promoção da Companhia .............................................................. 246
4.
O reportório como mar ca de um gosto popular ................................... 250
Bibliografia Anotada ............................................................................. 257
1.
Bibliografia pri mária ....................................................................... 257
1.1. Entrevistas em periódi cos (indexação cronológica): ........................ 257
1.2. Depoi mentos ............................................................................... 261
1.3. Documentos ................................................................................ 262
2.
Bibliografia crítica ......................................................................... 262
2.1. Gerais ......................................................................................... 262
2.2. Estudos de Teatro ........................................................................ 264
2.2.1.
Sobre o Teatro em Por tugal ................................................... 264
2.2.2.
Sobre o Teatro em Ger al ....................................................... 272
iii
2.3. Memórias .................................................................................... 272
2.4. Artigos em periódicos .................................................................. 274
2.5. Sitiografia ................................................................................... 315
iv
ÍNDICE ( VOLUME II)
ÍndiceI
Apêndice 1: A Companhia
Inventário
de
profissionais
do
espectáculo
que
trabalharam
na
companhia de Rafael de Oliveira, entre 1920 e 1975 (indexação por
ordem de anti guidade)
1
Apêndice 2: O Report ório
Reportório I – Listagem de peças representadas pela Companhia, ou das que
apenas foi pedido licenciamento de representação à Inspecção de
Espectáculos
26
Reportório II – Quadr os sinópticos de report ório
Quadro 1 – Número de títulos apresentados pela 1ª vez, em cada ano, e sua
reposição em décadas sequentes
53
Quadro 2 – Reportório apresentado pela 1ª vez, em cada ano, e sua
reposição em décadas sequentes
Quadro
3
–
Relação
de
datas
e
locai s
56
da
pri meira
refer ência
de
representação do repor tório da companhia de Rafael de Oli veira 64
Reportório III – Quadro sinóptico dos espectáculos realizados anualmente, no
Teatro Desmontável e em outros Teatros, entre 1921 e 1975, a
partir da referência documental constante dos diferentes acervos
consultados e da infor mação co li gida a partir d a i mprensa
nacional e regional
68
Reportório IV - Quadr o sinóptico dos espectáculos realizados anualmente pela
Companhia de Rafael de Oli veira, entre 1921 e 1975, em que se
descri mina o número de peças (títulos) utilizadas em cada ano, o
número de espectáculos realizados e os locai s de representação. 72
Apêndice 3: Palcos visitados
Quadro sinóptico dos palco s frequentados pela companhia de Rafael de
Oliveira, sua localização, historial conhecido e especificação do
reportório exibido (indexação alfabética).
Apêndice 4: Itinerário
v
96
Roteiro da di gressão da Companhia de Rafael de Oli veira entre 1917 e
1975, por anos, a partir de infor mação coli gi da em cartazes, programas
e na i mprensa escrita; indicação dos espectáculos realizado s e
cancelados, sua datação e local. Dada a di mensão deste documento,
com referência a cerca de 4400 espectáculos, remete -se a sua oonsulta
para
a
sua
versão
em suporte
di gital. Expomos, todavia,
uma
amostragem da pri meira década da companhia de Rafael de Oli veir a.170
Apêndice 5: Inventários
1.
Inventário de notícias sobre a companhia de Rafael de Oli veira,
coligidas na i mp rensa nacional e regional.
2.
186
Inventário dos acer vos trabalhados e sua localização nos respectivos
fundos: Museu Nacional de Teatro (Mário Viegas, Fernando Fr ias e
Fundo de Teatro – SNI); Teatro Aveirense (Aveiro);
Ál varo de
Oliveira (Vila Real de San to António).
Museu Nacional de Teatro
192
Teatro Aveirense
300
Ál varo de Oli veira (acervo particular, Vila Real de Santo António)
306
Apêndice 6: Genealogias teatrais - Actor es itinerantes em Companhias de
Província
A Família Dallot (c. 1860 – c. 1910)
321
A Família Sil va (Os Si lvas de Évora) ( Sec. X IX)
322
A Família Oli veira I ( Sec. X IX)
322
A Família Car mo
323
A Família Sil va Vale
324
A Família Matos I
324
A Família Frias I
325
A Família Rentini
326
A Família Venâncio
327
A Família Andrade I
330
A Família Li ma
331
A Família Oli veira II
332
vi
A Família Frias II
332
A Família Muñoz
333
A Família Moiron
333
A Família Andrade II
334
A Família Vilela
335
vii
ÍNDICE ( DVD)
Em suporte di gital encontram -se todos os apêndices descritos ant eriormente,
na sua for ma integr al, a que se acrescenta a digitalização de toda a
documentação encontr ada nos diferentes acervos, que constitui os seguintes
anexos:
ESPÓLIO DA COMPANHIA DE RAFAEL DE OLIVEIRA, ARTISTAS
ASSOCIADOS
ANEXO 1. – Album f otográf ico
Anexo 1.1. – Actores:
Anexo 1.1.1. – Elencos (fotos de conj unto em diferentes épocas) ;
Anexo 1.1.2. – Galeria (fotos indi viduais de actores da companhia) ;
Anexo 1.1.3. – Em per sonagem (fotos indi vi duais ou de conj unto,
retratando personagens ou actuações em vari edades).
Anexo 1.2. – Di versos (fotos do quotidiano da Companhia em diferentes
épocas);
Anexo 1.3. – Espaços (fotos do Teatro Desmontável em diferentes épocas) ;
Anexo 1.4. – Espectáculos (fotos de: À Espera de Godot (1973, Angola) , Amor
de Perdição (1960; 1971, in Uma Abelha na Chuva ; 1973, Angola) ,
Aqui há fantasmas (1968, Évora) , Armadilha para um homem só
(1973, Angola) , Bomba chamada Etelvina (Uma) (1967, Évora) ,
Borboletas são livres (As) (1972, Faro) , Cadeira da Verdade (A )
(1967, Évora) , Calúnia (A) (1967, Évora) , Casa de Doidos (A)
(1967, Évora) , D. Inês de Castro, Danúbio (O) Azul (1969, Viseu) ,
Daqui fala o morto ( 1967, Évora) , Deus lhe pague (1967, Évora) ,
Duas Causas (1967, Évora) , Duas Órfãs (As) (1967, Évora) ,
Fantasma chamado I sabel (Um) (1967, Évora) , Gato (O) (1970,
Gui marães) , Israel (1968, Viseu) , Jesus Nazareno (Vida de Cristo)
(1970, Gui marães) , Marquês de Villemer (O), Muralha (A) (1967,
Évora), Noite de Rei s (1973, Angola) , Pato (O) (1973, Angola) ,
Prémio Nobel (1967, Évora) , Pupilas do Senhor Re itor (As) (1968,
viii
Évora), Recompensa (A) (1967, Évora) , Rosa (A) do Adro (1968,
Évora; 1971, Santarém; 1973, Angola) , Sapatinho de Vidro (O)
(1962, Lisboa; 1967 Évora) , Tio (O) Rico (1967, Évora) , Traição do
Padre Martinho (A) (1974) e Três em Lua de Mel (1967, Évora) ;
Anexo 1.5. – Figurinos (fotos de traj es existentes no acervo de Álvaro de
Oliveira, Vila Real de St. António, referentes aos espectáculos:
Amor de Perdição, Duas Órfãs (As), D. Inês de Castro, Jesus
Nazareno, Marquês de Villemer (O), Noite de Reis, Rosa do Adro
(A), Sapatinho de Vidro (O) e Traição do Padre Martinho (A);
Anexo 1.6. – Homenagens (foto de uma placa de prata ofertada por um grupo
de admiradores elevenses, em 1955);
Anexo 1.7. – Promoci onal
Anexo 1.7.1 . – Cartazes (galeria de ca rtazes dos espectáculos, or ganizados
por décadas);
Anexo 1.7.2 . – Programas ( galeria de programas dos espectáculos,
organi zados por décadas);
Anexo 1.7.3 . – Fotos publicitárias (galeria de fotos de cena dos
espectáculos, destinadas a serem expostas no átri o do Teatro
Desmontável) ;
ANEXO 2. – Contabil idade
Anexo 2.1. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas 1943 (MNT);
Anexo 2.2. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas M, 1945 ( Par tes 1 e 2)
(MNT);
Anexo 2.3. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas V, 1954 -55 ( Acer vo
de Ál varo de Oli veira ) ;
Anexo 2.4. – SNI, Fundo de Teatro (MNT).
ANEXO 3. – Correspondência
Anexo 3.1. – Edilidades;
Anexo 3.2. – Estado;
Anexo 3.3. – Instituições;
ix
Anexo 3.4. – Secretari ado Nacional de Infor mação (SNI), Fundo de Teatro;
Anexo 3.5. – Teatro Aveirense.
ANEXO 3. – Reportório
Anexo 3.1. - Partituras (excertos musicais de Ângelo Frondoni para o
espectáculo Santo António, de Braz Martins, e de Franz Lehar
para A Viúva Alegre em Cascais ;
Anexo 3.2. - Di gitalização de textos do reportório da Companhia Rafael de
Oliveira, Artistas Associados: manuscrito de Filha do Paulino
(A), comédia em 3 actos, adapta ção de Raf ael de Oliveira ; de A
Rainha Santa Isabel, drama em 4 actos e 11 quadros, original do
cónego F. Soares Franco Jr ., com arranj o e marcação do actor
Baptista Ferreira , e de O Doutor Delegado, original de Eduardo
Rocha.
x
ÍNDICE DE IMAGENS
Ilustração 1 - Cómicos da Arte (1657, Karel Duj ardins, Museu do Louvre) ..... 1
Ilustração 2 – A Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados (1960): o
mesmo elenco que act uou no Teatro Avenida de Lisboa (1962). ... 14
Ilustração 3 – Cristiano Mesquita (sentado) e Rafael de Oliveira (em pé). .... 56
Ilustração 4 – Ema de Oliveira (em ci ma). ................................................. 56
Ilustração 5 – Lucinda Vale, mãe de Ema de Oliveira. ................................ 56
Ilustração 6 – (Esqª) Família Oli veira j unto ao Desmontável ..................... 105
Ilustração 7 – (Dt ª) Teatro Desmontável (1950s) ..................................... 105
Ilustração 8 – Interior do Teatro Desmontável (1970, Gui marães) .............. 105
Ilustração 9 – Teatro Desmontável (1970, Gui marães) .............................. 105
Ilustração 10 – Ernest o de Freitas (1923 -1927) ........................................ 174
Ilustração 11 – Afonso de Matos (1929 -1948) .......................................... 174
Ilustração 12 – Eduardo de Matos (1938 -1963) ........................................ 174
Ilustração 13 – Fernando de Oliveira (1965 -1972) .................................... 174
Ilustração 14 – Ál varo de Oli veira .......................................................... 174
Ilustração 15 – Franci sco Ribeiro (1972 -73) ............................................ 175
Ilustração 16 – Teatro Santanense: A Filha do Saltimbanco , 31.03.1917 (1º
cartaz promocional conhecido da Companhi a Dramática Societária,
de Sil va Vale). ....................................................................... 233
Ilustração 17 - Cine Teatro S. Pedro de Abrantes: A Traição do Padre
Martinho, 09.07.1975 (últi mo cartaz conhecido da Cª Rafael de
Oliveira, Artistas Associados). ................................................ 233
xi
Agradecimentos
Ao senhores Presidente e Vereador da Cultura da Câmara da Póv oa de
Lanhoso, que or gulhosamente se disponibilizaram a mostrar o restaurado
Teatro Clube local, e que, tal como o seu homólogo da Câmara da Chamusca, e
a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, amavel mente
nos ofertaram literatura alus iva à história das sua s regiões e dos seus espaços
culturais, ou nos per mitiram di gitalizar documentos n os arqui vos históricos
locais;
Ao Museu Nacional de Teatro, na pessoa do seu director, Dr. José Carlos
Al varez, que disponibilizou a consulta do material da Companhi a Rafael de
Oliveira, contido em diferentes acervos , per mitindo constituir um espólio
digitalizado; às bibliotecárias, Drª Sofia Patrão e Drª Margarida Bruno, pela
sempre pronta disponi bilidade em fornecer r espostas às minhas per guntas ;
Aos muito queridos Artistas e colegas : Manuela Maria, descendente de
Mário e Quina Li ma, da Companhia Dramát ica «Mar y -Quina», a “chave” que
abriu um fascinante baú de recordações feitas obj ectos, e sem a qual j amais
conheceria o acer vo da Companhia Rafael de Oli veira, na posse do seu neto ,
Ál varo de Oli veira e de sua mulher, a actriz Manuela Coi mbra, descendente de
Venâncios e Andrades, que, abrindo as portas da sua casa, tornaram a
investi gação em ami zade, e cuj a história de actores me levou a comprender a
di mensão humana dest es «cómicos da arte»; a Ar mando Venâncio e sua mulher
Maria Custódia da Companhia Moiron ; a Zurita de Oliveira e sua prima Olí via
de Oli veira, da Companhia Rentini ; a Euni ce Muñoz, a mi nha «Miss Daisy»,
descendente de Car mos, Cardinallis e M uñoz, cuj a partilha de memórias criou
nostalgias, mas, sobretudo, me fez compreender a razão do prazer que sinto na
profissão que exerço ;
À Directora do Teatro Aveirense, pelas facilidades concedidas na
consulta do Fundo do Teatro Aveirense.
Aos Professore s Dout ores Maria João Brilhante, Vera San Payo Lemos ,
José Camões, José Pedro Serra, pela inteligência com que conduziram os seus
seminários,
fazendo
vacilar
as
nossas
convições
renovássemos as nossas perspectivas intelectuais;
xii
arreigadas,
para
que
À Professora Doutor a Maria Helena Serôdio – um grato reencontro
muitos anos depois do meu curso de Ger m ânicas – pelo seu saber, pela sua
pedagogia, pela sua disponibilidade sempr e, na leitura deste trabalho, pelo
douto
aconselhamento
na
procura
da
obj ectividade
científica
das
Humanidades;
Aos meus colegas de mestrado, parceiros de aspirações e angústias
intelectuais, Ana Maria Ribeiro, Judite Lopes, Paula Magalhães e Nuno
Moura, pela camaradagem demonstrada na partilha de infor mações de mi nha
utilidade;
À Mãe Mi mi, à Mari a Ana, à Ana Cristina, e aos Ami gos, por terem
aceitado vislu mbrar -me afectivamente durante todo o tempo que durou esta
investi gação;
A todos e a cada um o meu profundo agradecimento pelo contribut o dado
na j usta dimensão das suas disponibilidade s i ndividuais.
xiii
Introdução
Quando iniciámos o estudo do acervo da Companhia Rafael de
Oliveira sentimo-nos como se observássemos um campo arqueológico
antes da sua escavação; conhecíamos a existência e a importância do
achado, pelo que se ouvia contar, mas não pela justa dimensão semântica
do achado. Por causa da distância física a que nos encontrávamos
daqueles documentos, pareceu-nos que o mais viável seria proceder à sua
digitalização, para podermos passar de seguida à sua organização e
análise. O mesmo havíamos feito com a documentação arquivada no
Museu Nacional de Teatro, dispersa por diversos acervos (Fernando
Frias, Mário Viegas, Fundo de Teatro/SNI), e voltaríamos a fazer à
medida que foram surgindo novas fontes (Idalina de Almeida /Casa do
Artista, Ulisses Ferreira/Almeirim, Teatro Aveirense).
Neste trabalho de arqueologia teatral, apercebemo -nos de que,
inevitavelmente, o primeiro objecto a constituir seria um ANEXO, com a
compilação de todos os documentos digitalizados, que designámos por
Espólio da Companhia Rafael de Oliveira . Trata-se de uma base de
imagens dos documentos pertencentes a os diferentes acervos em suporte
digital, para futuras consultas. Procedemos à divisão dos documentos por
quatro pastas: Album Fotográfico, Contabilidade, Correspondência e
Reportório. Imagens do elenco, de conjunto e individuais, fotos do
quotidiano, dos Espectáculos, dos Figurinos , dos Programas e Cartazes
(material promocional)
foram divididas por
sub-pastas em Album
Fotográfico, por forma a especificar a informa ção versada nos diferentes
documentos. Os Livros de Contas da Companhia, bem como outro sobre
Companhias Subsidiadas (SNI), foram agrupados sob a designação de
Contabilidade. A correspondência foi subdividida consoante as diferentes
entidades
(Edilidades,
Instituições ,
Sector
Público ,
SNI
e
Teatro
Aveirense), organizada de forma cronológica. O Reportório congrega
xiv
duas pastas; uma com Partituras (pautas referentes aos espectáculos
Santo António, de Braz Martins, com música de Frondoni, e Viúva Alegre
em Cascais, opereta paródia de Nicolau T. Leroy, com música de Franz
Lehar) e outra de Textos Dramáticos (textos pertencentes ao reportório
da companhia de Rafael de Oliveira: A Filha do Paulino, Rainha Santa
Isabel e O Doutor Delegado.
A partir deste momento te ríamos de progredir na elaboração de
matrizes que agrupassem as diferentes unidades de sentido documentais ,
os Apêndices. A informação coligida nos cartazes e nos programas
permitiu, desde logo, a elaboração de um inventário de profissionais do
espectáculo, técnicos e actores, que trabalharam na Cª de Rafael de
Oliveira, entre 1917 e 1975 , num total de 124 figuras , em Apêndice 1: A
Companhia.
Permitiu também a identificação do Reportório representado, de que
se elaboraram quadros s inópticos, com diferentes perspectivas, em
Apêndice 2: Reportório. Foram indexados todos os títulos constantes do
reportório da Companhia, quer tivessem subido à cena, quer apenas
tivessem sido licenciados pela Inspecção dos Espectáculos , sendo
referenciados
164
títulos ,
em
Reportório
I.
Tratando-se
de
uma
companhia de reportório, p rocedemos à contabilização do número de
títulos apresentados pela 1ª vez e sua reposição em décadas sequentes
(Reportório II, Quadro 1), à d iscriminação dos títulos apresentados pela
1ª vez, em cada ano, e sua reposição em décadas sequentes ( Reportório
II, Quadro 2) e ao relacionamento entre as datas e os locais da primeira
referência de representação
na Companhia de Rafael de Oliveira
(Reportório II, Quadro 3). Entre 1921 e 1975, foram identificados 4423
espectáculos, de que se elaborou o Reportório III: Quadro sinóptico dos
espectáculos realizados anualmente, no Teatro Desmontável e em outros
Teatros, entre 1921 e 1975, a partir da referência documental constante
dos diferentes acervos consultados e da i nformação coligida a partir da
xv
imprensa nacional e regional. O estudo reportorial completa -se com
Reportório IV: Quadro sinóptico dos espectáculos realizados anualmente
pela Companhia de Rafael de Oliveira, entre 1921 e 1975, em que se
discrimina o número de títulos (peças) utilizados em cada ano, o número
de espectáculos realizados e os seus locais de representação.
Em mais de 50 anos de actividade, a Companhia de Rafael de
Oliveira percorreu o território nacional, visitando maioritariamente os
palcos regionais e, pontuamente, os grandes centros urbanos de Lisboa e
Porto. Em Apêndice 3: Palcos visitados , elaborámos um quadro sinóptico
dos palcos frequentados pela Companhia, sua localização, historial
conhecido e especificação do reportório exibido.
Apesar da grande quantidade de cartazes encontrada, verificámos
não ser suficiente para construir o percurso mais amplo possível da
actuação da Companhia ao longo do seu tempo de existência. Recorremos
à imprensa nacional e regional, não só para colmatar essa lacu na
informativa, mas, sobretudo, para obtermos a notícia da recepção desta
Companhia de Província. Da conjugação dos diversos factores, elaborou se o Apêndice 4: Itinerário, um anuário de digressão da Companhia de
Rafael de Oliveira entre 1917 e 1975, compi lando data e horário do
espectáculo,
sua
constituição,
local
de
representação
e
fontes
consultadas.
Procedemos ainda à inventariação das notícias sobre a Companhia
coligidas na imprensa ( Apêndice 5: Inventário 1 ) e dos documentos
encontrados
dos
diferentes
acervos
(Apêndice
5:
Inventário
2 ).
Terminámos com a constatação de um universo familiar que une este tipo
de companhias itinerantes em Apêndice 6: Genealogias Teatrais .
Documentação identificada e organizada, levantou -se a primeira
questão: De que realidade se trata? Companhias ambulantes que, por
associação de ideias, nos traziam à memória os cómicos da Renascença
italiana dell’ Arte, do Siglo de Oro espanhol, Molière e o seu Ilustre
xvi
Théâtre, um teatro popular, que provocou a Guerra dos Teatros, em
França, e o aparecimento da Opéra Comique, nascida nos teatros Chalets
das Feiras de Saint Germain e Saint Laurent, sob L’ Ancien Régime, um
teatro que viajou pelo século XIX, com as touring companies e os seus
Portable Theatres , representando para o operariad o do País de Gales, e
que chegou ao século XX nas companhias dos cómicos de la legua , de La
Barraca, de Federico García Lorca, e de outros agrupamentos durante a
autarquia de Francisco Franco , retratados no filme adaptado da obra de
Fernando Fernán Gómez, El Viaje a Ninguna Parte (1982). Da Argentina
chegaram também referências de um espírito idêntico, um teatro criollo,
mestiço, mistura de circo e drama, destreza e intelecto.
Dada a lacuna existente sobre este tipo de realidade em Portugal,
pareceu-nos dever apresentar a última das Companhia s de provínci a
portuguesas , descrevendo o seu modo de funcionamento, citando o
testemunho dos próprios em entrevista , ou de terceiros em apreciações
críticas, relatando os bons e os maus momentos em desabafos epistolares ,
para que se torne compreensível o mundo de uma gente, cuja vida se
expressa em amor pela arte que exerce, em que a família serve de
sustentáculo socio -profissional, numa afinidade tantas vezes citada com
o mundo circense.
De modo nenhum, este trabalho se encontra terminado: outras
informações existirão algures, outras interpretações serão possíveis.
Esta, porém, neste momento, pareceu -nos ser a que é possível extrair da
leitura da documentação encontrada .
xvii
Capítulo I: Deambulando pelo teatro...
Ilustração 1 - Cómicos da Arte (1657,
Karel Dujardins, Museu do Louvre )
No Renascimento, como no Maneirismo e na Época Barroca ( e também
no Romantismo), muitas pessoas fizeram da teatralidade um ideal de
vida. E o barroquismo por certo que desenvolveu uma filosofia da vida
como teatro. [...] É preciso considerar, todavia, que o teatro nunca foi
popular, no sentido que a esta palavra é dado pelos demagogos do
«povo». O povo, em qualquer parte e em qualquer época, quase nunca
viu senão entremezes de feira, quando viu.
Jorge de Sena
Universidade de Wisconsin, USA, Julho de 1967
“Da necessidade do Teatro”, em Do Teatro em Portugal (1989: 27-28)
1
1.
Uma ficção com laivos de realidade
Em “A Farândola” [1], publicada na Revista do Conservat ório
Real de Lisboa (1902: 5-6), traça D. João da Câmara, em pinceladas
narrativas evocadoras d e matizes populares, qual tela de Malhoa, a
vivência de uma trupe itinerante :
Vai caminhando estr ada fora, ao Deus dará, de terra em terra.
Correm os pequeninos das aldeias a avisar as mães: Lá vêm ci gan os!
Nem de longe, nem de perto a diferença é grande. Tão maltrapilhos,
coitados! O director, adiante, alcachinado, ver gando sob o peso de
seus cuidados e de sua i mportância, leva nos olhos uma sombr a de
desesperança e sorri amar gamente ao apertar a correia dos calções. Os
companheiros, conf orme o génio e a qualidade de má sorte que os
atirou para aquela vida, – romance mist erioso, i mpulso de alma
inquieta – comentam as passadas dolorosas com uma queixa lúgubre
ou dito zombeteiro. Segue atrás com a bagagem a carreta a que algum
mais velho se arrima. As mulheres vão lá dentro, sob o toldo
esfarrapado: a velhot a que faz torcer em gar galhadas a plateia, os
pequeninos, todos de faces requeimadas p elo sol da charneca.
Dor mitam. [ ...] A velha rememora tal vez a defe sa da Brí zida Vaz
martelada; a rapari ga r epetirá as queixas de Rubena.
Vão caminhando no t riste fadário, dias e noites, molhando o pão
negro, endurecido, nas raras fontes do caminho. [...] O sol vai
descendo, a aldeia fi ca longe, j á não vale a pena apressa r o passo.
Anoitece. Acampa -se ali sob as estrelas. Desgraçados mendi gos que
ainda ontem foram corte do Imperador Pal meiri m! [ ...] Dor me a
farândola na charneca. Batem os queixos com frio. Amanhã, muito
cedo, hão de acordá -la as cotovias, quando a madrugad a cintar de
ver melho o horizonte. Ponto no sonho quem tiver sonhado! Faltam
duas ou três léguas... Depois toca a abrir os caixotes, a arrancar l á do
fundo o ouro falso dos diademas e dos ceptros, as túnicas
lantej ouladas das fadas poderosas, as espadas inv encí veis dos
cavaleiros andantes. É bater dois pregos na coroa da Virgem a
desfazer -se, deitar um remendo no vestido da Imperatriz.. . Marchar!
Marchar!... [ ...]
1
Se g u nd o Ag u s tí n d e Ro j a s, e m Via je en t re ten id o (1 6 0 4 ), a s c o mp a n h ia s
iti n era n te s e sp a n ho l a s, o s co m ico s d e la l e g u a , d es i g na va m - s e co n so a n te o
n ú me ro d e co mp o n e nt es e o g é nero q u e rep re se nt a va m: “b u l ul ú” , co n st it uíd o p o r
u m ú n ico e le me n to , i n t erp ret a nd o to d o s o s p ap éi s, mu d a nd o d e e n to aç ão vo ca l e
d e exp re ss ão co rp o ra l; “ñaq u e” (d o i s ac to re s), “ga n g ari ll a” (tr ês o u q ua t ro acto re s
e u m r ap az i nt erp re ta n d o p ap éi s fe mi n i no s), “ca mb a le o ” (c i nco ac to res e u ma
mu l h er q ue ca nt a), “g ar na c ha” (c i nco o u sei s h o me n s, u ma mu l h er i nt e rp reta nd o a
p ri me ira d a ma e u m r a p az i nt erp re ta nd o a se g u nd a d a ma), “b o j i g a n ga ” (p o uco s
ele me n to s, rep re se nt a nd o au to s e co mé d i as p el as a ld e ia s) e “fará nd o la ” (s ete o u
ma i s ho me n s e tr ês mu l h ere s).
2
Chegam arrasados. É preciso armar o palco. Todos são carpinteiros,
pintores, arquitectos... Tud o é pronto, e o director anuncia
pomposamente: É o Amadis de Gaula de Gil Vicente !... O Rei Sel euco
de Luís de Camões
E a pobre farândola, cheia de fome, assi m vai de terra em terra, a dar
pérolas por uma bucha de pão!
Salvaguardando o colorido próprio da liberdade poética do se u
autor, que efeito teria uma narrativa como esta num aluno da escola de
Arte Dramática desse tempo? Uma realidade tão drástica, como sombra
confrangedora de uma miséria insonhável, pairando como cutelo sobre
o ingénuo desejo de uma glória artística, qual “memento homo quia
pulvis es”, quem, a não ser um quixote, se atreveria a partir em busca
de um sonho impossível?
Volvido pouco mais de um século, Margarida Carpinteiro , em Um
Navio na Gaveta, revela, pela boca do seu protagonista, a memória de
uma trupe de saltimbancos, sob a forma de um relato de uma
experiência transformadora na primeira pessoa.
Dias felizes esses, quand o um grupo de palhaços, uma
contorcionista, um domador de uma cabra ou macaco, um casal – os
empresários – que, além de apresentarem os artistas, transformavam o
largo da aldeia numa festa! Os artistas faziam -se anunciar durant e o
dia, com rufos de tambor, andando pelas ruas vestidos como se fosse
j á espectáculo. Penso que só os doentes f icavam em casa. Os mais
velhos pegavam nas tripeças e lá iam, e todos se j untavam quando a
noite cerrava nos escuros pinhais, o último raio de sol. Se era Inverno,
faziam u ma fogueira ou procuravam um palheiro a j eito.
Era -nos dado ver as maiores maravilhas do mundo: a menina que se
virava para trás até t ocar com a cabeça nos calcanhares, a cabra a
dobrar as patas da f rente para agradecer os aplausos, o macaco a
roubar os ba rretes dos homens e a enfiar -se por baixo as saias das
mulheres, as anedotas de palavreado quente, os palhaços que depois de
vestidos como nós ainda pareciam mais palhaços... Era tudo tão belo e
inexplicável que várias vezes se ouvia na multidão o maior el ogio que
se podia dar: “Isto não é gente estreme ( 2).” Assi m, transfor mávamos
aquela trupe de artistas esfarrapados em deuses (2005: 120 e ss.).
2
P ura.
3
Duas ficções cujos contornos convergem para uma mesma
realidade. Se a primeira parece pretender levar -nos a sentir a grandeza
do sofrimento do comediante, a segunda parece preferir sensibilizar nos para a experiência emocional transgressora do espectáculo. O
olhar de D. João da Câmara , deliberadamente distante, valoriza a
humanidade do árduo trabalho de actor (figura bem sua conhecida
como dramaturgo), enquanto que o de Margarida Carpinteiro sublinha
a força anímica do actor como motor do papel actuante do espectador
(experiência bem sua conhecida como actriz). Dois olhares, em dois
tempos distintos, cuja fusão perspectiva a experiência de vida de
artífices da Arte da Comédia.
Inevitavelmente, outros relatos afloram também à nossa memória,
imagens de outras farândolas, como a que o jovem príncipe Hamlet
acolhe em Elsinore - momento crucial na evolução do enredo, porque
significante do princípio da mudança de sentido dos acontecimentos.
Perante uma plateia disposta a assistir a um divertimento cortesão, a
representação
funcion ará,
sub-repticiamente,
como
“ratoeira”
destinada a apanhar o espectador nas malhas da sua consciência.
Estranho poder o do teatro, enquanto jogo de vidas alheias! No dia
seguinte, os comediantes prosseguem a sua jornada, indiferentes ao
conflito que ajudaram a gerar em quem albergou a sua arte. Finita la
commedia, os actores retornam ao ciclo de uma qualquer roda da
fortuna, ao perpetuum mobile, ao eterno deambular, feitos eternas
figuras de um tarot kármico .
O exemplo shake speariano é comummente apontado como das
mais antigas manifestações de uma mise en abyme narrativa (3): a
utilização de um modelo especular formal, a inscrição de uma
narrativa teatral dentro de outra narrativa teatral, um jogo dentro de
3
T ho ma s K yd ut il izo u o me s mo p ro ced i me n to e m Th e S p a n i sh T ra g ed y (ca. 1 5 8 7 ,
p ub . 1 5 9 1 ) , e mb o r a co m u m re s ul tad o a rt ís ti co d i fere n te.
4
outro jogo. Dois planos distintos que se unem através de uma intenção
comum. Um jogo teatral que implica tanto o actor como o espectador,
e que, sobretudo, implica a consciencialização dos mecanismos
espectaculares. Porventura um jogo mais antigo do que a racionalidade
teatral aristotélica.
Parece-nos evidente que o ser humano, ao tomar consciência de
que os deuses, apesar dos oráculos e das pitonisas, não bastavam à
resolução dos problemas inerentes à sua condição terrena, sentiu
necessidade de encontrar outros modos de pu rgação dos humores; se,
por um lado, precisou inventar a medicina, para exsudação do corpo,
por outro, criou o teatro, para exaltação da alma. Na concepção do
drama-espectáculo, prefigurou uma forma fractal da narrativa humana.
O teatro afirmou -se como um espaço do quotidiano onde o homem cria
a sua própria mise en abyme, onde incrusta a sua história, para que,
pelo distanciamento do olhar, esta o ilustre, o explique, o contradiga,
e o prolongue como contraponto de si mesmo.
No palco da polis inscreveu o palco da sua recriação existencial.
Ao inventar o teatro, a metalinguagem da vida, à luz do dia, o Homem
assiste à celebração agonística da sua racionalidade, à representação
de si próprio como forma de arte, numa busca de identidade, numa
disjunção temporal – do tempo real para o tempo ficcional – em que o
efeito dramático estabelece uma tensão entre palco e plateia, como
função metafórica/ metonímica d e si próprio. O relato de uma acção,
de um todo imitando a realidade, e sendo dela exemplo, ganh a
dimensão metafísica. Na essência dramatúrgica, o homem assum e-se
como poeta, como fazedor de ilusão e de teatralidade, e cria uma cena
significante, portadora de duplicidade funcional: tanto demonstrativa
(isto é o que é), como denegativa (isto não é o que é, mas a sua
significação).
5
Quando a forma teatral se autonomiz a e ousa ser expressão de si
própria (metateatral), passando a reflectir, tanto o seu criador
(artífice), como o objecto criado (artefacto), tornou-se claro que o
modo operativo (representação) se transforma em modo de vida
(profissão). O teatro dentro do teatro (artifício) revela um jogo crítico ,
que desvenda o encoberto, e expõe paradoxalmente a poética do texto
e
a
estética
do
espectáculo,
embora
manten ha
uma
discreta
invisibilidade, que apenas um olhar de iniciado, o do espectador
consciente, percebe. A pertinência social do espectáculo aponta para
uma perspectiva - na visão shakespeareana - da função teatral como
uma ratoeira com que se apanham espíritos adormecidos e se
despertam consciências [4].
Também
a
produção
teatral
portuguesa
de
Quinhentos,
curiosamente antecedendo o modelo inglês, exibe um conjunto de
autos que, a seu modo, reflectem a problemática
espectacular,
utilizando a mesma forma fract al, ainda que retratem preocupações
diferentes.
Seja
na
Elsinore
isabelina,
ou
na
Lisboa
joanina,
constatamos que a representação teatral mostra possuir consciência de
si própria, que se auto -representa – prazer da ironia ou busc a de ilusão
ampliada? -, e que o jogo surge como modelo geral de uma conduta
humana, numa sociedade que cultiva o gosto pelo espectáculo.
António Ribeiro Chiado e Luís de Camões exibem o retrato
irónico da actividade teatral num tempo situado entre a produção
vicentina e o aparecimento dos palcos públicos de Lisboa , sob Felipe
4
Art h ur Mi ll er , na Me n sa ge m I nt er nac io na l d o 2 º Dia M u nd ia l d o T eatro , e m
2 7 .0 3 .1 9 6 3 , e xp re s so u o me s mo id ea l: “É p re ci s o q u e, n e ste mo me nto , d eze na s d e
mi l ha re s d e p e sso as , ta lv ez mi l hõ e s, [.. .] reco n he ça m q ue ne s te i me n so p al co
p la ne tár io o ma io r e le nc o d a hi stó r ia p r ec is a d e en co ntr ar u ma v erd ad e ir a ca tar se,
u ma l ib er taç ão d o med o q u e no s o p r i me atr a vé s d e u ma red e nto r a to ma d a d e
co n sc iê n cia . [...] O d ra mat ur go a nó n i mo q u e no s d i str ib ui u o s p ap éi s q ue
d ese mp e n ha mo s, e s se gr and e iro n is ta, e s se e x tra o rd i nário h u mo ri st a, fez d o p alco
o no s so mu n d o . O i ncre me n to d a c iê n cia tr a ns f o r mo u - no s a to d o s e m a cto re s: j á
não há p úb li co p ar a o gra nd e si lê nc io q u e a m eaça e n vo l v er - no s a to d o s no s e u
ma n to fú n eb re” (trad u çã o d e Lui z Fra nc i sco Reb ello ) .
6
I. Quer no Auto da Natural Invenção [5], como no Auto de El-Rei
Seleuco [6], e em outros coevos de autoria anónima [ 7], o jogo de cena
reflecte a existência de uma actividade que se dedica à produção de
representações ,
oq
ue
permite
que
o
espectador
observ e
o
funcionamento caricatural de companhias itinerantes, cujos actores se
encontram ainda nos alvores de uma existên cia profissional, não
passando de “chusmas de dizedores de copras [8] [...] [que] cruzavam
Lisboa com certa frequência, representando aos domicílios” ( S EQ UE IR A
1933: 79).
Os testemunhos de stes autores são retratos vivos do ambiente das
representações privadas, às quais concorria a vizinhança e demais
passantes que, presumindo de convidados, tomavam literalmente as
casas de assalto, acaba ndo “por reduzir à situação de simples
convidado, o próprio dono da casa” ( S E Q U E IR A 1933: 81).
Sendo o teatro uma metacomunicação, uma comunicação a
propósito da comunicação, do palco para o público, e do teatro para a
sociedade, é a partir dessa abordagem que o processo teatral evolui, e
se elabora a si mesmo, de modo sistematizado e autoconsciente. Uma
perspectiva que implica, necessariamente, que o actor ultrapasse o
estádio amadorístico e forme a sua consciência de profissional,
aprendendo os mecanismos de realização do espectáculo, ao mesmo
modo que se conduz o espectador a um estádio de maior exigência
para com o conteúdo observado. Em consciência, ambas as partes
retirarão do jogo o sentido da sua fruição na ocntínua progressão
temporal. Quanto maior o domínio do espectador sobre o acto teatral,
melhor será a sua percepção das relações internas que o teatro
5
Rep re se nt ad o na Co r te d e D. J o ão III, e ntre 1 5 4 5 e 1 5 5 7 . ( C R U Z 2 0 0 1 : 4 5 ).
Rep r e se nt ad o e n tre 1 5 4 3 e 1 5 4 9 , e m ca sa d e Es tác io d a Fo n sec a , Ca v ale iro
Fid al go d e D . J o ão III , al mo xar i fe e r eced o r d a s ap o se n tad o r ia s d a co r te. ( C R U Z
2 0 0 1 : 5 5 ).
7
Au to d o s S á t iro s , Ob ra d a G era çã o Hu ma n a e ai nd a o Au to d e S ã o V i cen te , d e
Afo nso Ál vare s .
6
7
desvenda, e mais estimulante será o desafio colocado ao fazedor d o
espectáculo, na reinvenção de novas abordagens dos eternos temas.
2.
Uma realidade com laivos de ficção
No século XVI, assistimos, pois, à grande mudança de estatuto do
actor, com a sua profissionalização, assim como ao aparecimento de
um
modelo
empresarial,
que,
salvaguardando
as
características
próprias de cada época, tem mantido uma constância ao longo dos
tempos.
Da pátria do Renascimento, a 3 de Fevereiro de 1545, temos
notícia da constituição da Fraternal Companhia de Ser Maphio (aliás
de Zanini da Padova), uma trupe de oito actores, que redige um
contrato, em que os membros se obrigam a representar durante um ano
em Pádua, segundo um estatuto próprio, que obriga os actores a
proteger-se e a respeitar-se reciprocamente [9]. Mais do que um
contrato, este documento marc a uma mudança de estado; os actores
diletanti, ou amadores [10], tornam-se profissionais, ou dell’arte, e o
seu
trabalho
será
definido
como
commedia
italiana,
commedia
all’improvviso ou commedia degli zanni. Esta trupe, que chegou a
representar perante o Papa, no Castelo de Santo Ângelo , a 18 de
8
E m i tá lico no o ri g i na l.
“D es id er a nd o gl i i n fr asc rip t i co mp a g n i, zo v è S er Map hio d i tto Zan i ni d a
P ad o va , Vi n ce nt io d a Ve ne tia , Fr a nce sco d a la Lir a , H iero ni mo d a S. Luc a ,
Zu a nd o me ne go d e tto R i zzo , Zu a ne d a T re vi xo , T ho fa no d e B a st ia n , e t Fra nc e sco
Mo s c hia n , far u na frat e rna l co mp a g n ia [ …] h a n no i n sie m co n cl u so et d elib era to ,
aciò ta l co mp a g ni a hab i a a d ur ar i n a mo r fra ter na l fi no a l d it to t e mp o s en za alc u n
o d io ran co r et d i so l u tio ne, tra lo ro far et o b ser v ar cu m o g ni a mo re vo l ez za, co me è
co s t u me d i b o ni et fid e l co m p a g n i, t ut ti li cap ito l i i n fra scr ip t i [ …]”, cit ad o p o r
Ali ce P i zi a , “La Co m med ia d el l ’Ar te : Il T eatro it al ia no tra ‘6 0 0 e ‘7 0 0 ”
(2 0 0 7 .0 6 .0 1 , in A lb io r ix , As so cia zio n e C ult u ral e p er lo S t ud io e la Di v ul g az io ne
d ell a
Co no sc e nza
d ella
S to ri a
e
d ella
Ci vi lt á
( h ttp :/ / www. a lb io ri x. it /a rtico li .a sp ? id =2 8 ) .
10
A p ro p ó s ito d o tea tr o d e a mad o re s, r eco rd e - s e a car ic at u ra q u e d ele fa z
S ha ke sp e are e m S o n h o d e Uma No it e d e Verã o , atra v és d a tr up e d e mes t eira is q ue
se p ro p õ e rep r es e nt ar no ca sa me n to d e T ese u e H ip ó li ta.
9
8
Dezembro de 1549, dissolve -se quatro anos depois, quando Ser
Maphio é assassinado em Roma. Todavia, o seu nome fic ará associado
ao primeiro contrato de prestação de serviços de um agrupamento de
profissionais de espectáculo [11].
Nos diversos estados que compunham o norte da “Itália ” de
Quinhentos, as trupes de comediantes proliferaram rapidamente. Entre
elas destacou-se a de Alberto Naseli de Bérgamo, dito Zan Ganassa ,
que, em 1566, integrou a actriz Vincenza Armani na sua companhia,
para interpretar o papel da innamorata, mas que desgraçadamente não
teve carreira artística long a, pois que, a 11 de Setembro de 1569,
morreu envenenada, suspotamente às mãos de um amante ciumento.
Em 1570, a companhia de Ganassa representou em Ferrara, no
casamento de Lucrécia d’Este , viajando até França, a convite de
Carlos IX, em 1571. Fora do âmbito cortesão, a companhia e xibe-se
publicamente em Paris, no Hôtel de Bourgogne [12], em Agosto desse
mesmo ano. Porém, em Setembro, o Parlamento francês proib e
formalmente os espectáculos das companhias italianas , argument ando
que cobravam preços exce ssivos. Ganassa contava com o apoio régio ,
mas a vontade Real só valia quando promulgada pelo Parlamento ;
como
este
não
se
encontrasse
em
funcionamento,
a
Chambre
Provisoire decretou que o assunto fi casse suspenso (D U C H AR TR E 1966:
82). Ganassa ainda se manteve por Paris, actuando no casamento de
Henrique de Navarra com Margarida de Valois , em 1572, após o que a
trupe ter-se-á desmembrado, tendo ele e alguns dos seus companheiros
rumado a Espanha . Os Cómicos Italianos, como são conhecidos ,
11
Anter io r a Se r Map h io , o cn s id era - s e a a ct i vid a d e te atra l d e í nd o l e a ma d o ra o u ,
q ua nd o mu i to , se mi p ro fis s io nal , d e st aca nd o - s e o s acto re s ve ne zi a n o s Ân g elo
B eo lco (1 4 9 5 – 1 5 4 2 ), d ito Ru z za n t e , e And r ea Ca l mo (c . 1 5 1 0 – 1 5 7 1 ).
12
T rata -s e d o p ri me iro te atro d e P ar i s, co n str u íd o e m 1 5 4 8 p el a Co n f ra i ri e d e la
Pa s sio n . De v id o a r es t riçõ e s d e rep o rtó rio , e co mo fo r ma d e a trai r p úb lico , o
tea tro fo i a l u gad o freq ue n te me n te a tr up e s i t in era n te s, a té q ue, e m 1 6 1 0 , se
in s ta lo u a p r i me ira co mp a n h ia p er ma n e nte , o s Co m éd ien s d u Ro i , d iri g id a p o r
Val ler a n - Le co mt e .
9
actuam pela primeira vez em 1574, em Madrid, no Corral de la
Pacheca [13]. Dado que os corrales espanhóis eram destelhados,
podendo as representações ser interrompidas pelo mau tempo, Ganassa
decidiu colocar uma cobertura em La Pacheca, ameniza ndo o interior
do corral e permitindo-lhe actuar com tempo desfavorável. O sucesso
das representações foi grande, atrai u outras companhias, e acabou por
influenciar a produção dramática dos dramaturgos locais, como Lope
de Vega [14], Tirso de Molina e Calderón de la Barca , na “comédia
nova”. Até 1584, data em que deix am de existir informações a respeito
de Ganassa, a trupe percorreu o país, representando em diversas
localidades, para diversos públicos, incluindo a corte de Felipe II
(1577), e em diferentes ocasiões, co mo o Corpus Christi (1583).
Contemporânea da anterior, e de igual importância, destaca-se a
Compagnia dei Comici Gelosi [15], ou I Comici Gelosi, que com
13
U ma d a s p ri me ir as re ferê nc ia s ao Co rra l d e l a P ac he ca d at a d e 5 d e Ma io d e
1 5 6 8 , q u a nd o a co mp a n hi a d e Alo nso V elá sq ue z rep re s e nta u ma co méd ia e m ca s a
d e u ma se n ho ra I sab el P ac heco , q ue a t i n ha al u g ad o à Ir ma nd ad e “Co n fr ad ía d e la
So c ied ad y d e la P a s si ó n ” . O p al co er a co n s ti tu íd o co m táb ua s co lo c ad as so b re
b an co s , u ma co rt i na ao fu nd o e u ma o utr a fu n ci o na nd o co mo t al ão . E m fre n te d o
p alco , e m p ri meiro p l a n o , fi ca va m o s b a n co s ( t ab ur et es) , a trá s d o s q ua is fi ca va a
“p la tea ” d e s ti nad a ao s “mo sq u etero s ” (p úb lico d e p é, q ue p a tea v a e m n ão l he
agr ad a nd o ; d aí o s e u ep íte to ). Ao fu nd o , si t ua v a - s e a “caz u ela ”, e sp a ço d es ti nad o
ex cl u si v a me n te à s mu l h ere s, a “te rt úl ia ” o u “ca zu ela al ta ”, p ar a o s ec l es iá st ico s,
e o “p ar aí so ”, p ara o s ho me n s . As var a nd a s e a s j an el as d a s ca sa s co n tí g u a s
fo r ma v a m o s “ap o se n t o s” o u “p a lco s”, d e st i nad o s à no b re za. P o s t erio r me n te,
p as so u e s te t ea tro a d es ig n ar - se Co rr al d e la s Co med ia s d e l P ri n cip e , d ev id o ao
no me d a r ua o nd e se si t ua va . E m 1 7 4 5 , fo i re mo d el ad o p e lo arq ui t ecto J u a n
B au ti st a Sa cc he tt i e fu n cio no u até 1 8 0 2 , q u a nd o fo i co ns u mid o p o r u m i nc ê nd io .
Re co ns tr uíd o ci n co a no s d ep o i s, ve io a d e si g n ar - s e T eatro E sp a n ho l , ap ó s no vo s
me l ho ra me nto s, a 3 d e Março d e 1 8 4 9 . O Co rr al d e la P ac h eca e o C o rral d e la
Cr uz fo ra m o s ú n ico s tea tro s p úb l ico s d e Ma d rid , no se u te mp o , e as si m se
ma n ti v era m at é 1 7 4 4 . O s e sp e ctá c ulo s co me çar a m p o r ser ao s d o mi n go s à tard e o u
e m d ia s feriad o s, ma s p as sar a m a d a r -s e t a m b é m à s te rça s e q u i nt a s, e x cep to
d ura n te a P á sco a . T in ha m u ma d ura ção d e d ua s ho ra s, co meça nd o à s d u as d a t ard e
no s me se s d e O ut ub ro a Ab ri l, às 3 d ura n te a P ri ma v era, e à s 4 no Verão . As
p o rta s d o tea tro co st u ma va m ab r ir ao me io -d ia.
14
E m 1 6 0 9 , Lo p e d e Ve g a d e fi ne e e xp l ica o mo d elo te atr al d e no mi n ad o “co méd i a
esp a n ho la ”, o u s i mp l es me n te “co méd ia” , n u m ma n i fe s to i nt it u lad o A r t e n u evo d e
h a cer co m ed ia s en e st e t iemp o .
15
O no me d a co mp a n h ia te m o ri ge m no se u mo to : V ir tú , fa ma ed h o n o r n e fé r
g elo si ( C io so s d e vir t u d e, fa ma e ho nra). P re te nd i a -s e co m e s ta ter mi n o lo g ia
si g n i fi car O s Có mi co s C io so s d e a grad ar ao p úb l ico .
10
aquela participa ra num festival em Mântua, em que também actuara a
trupe do actor romano Pasquati. Dirigidos por Flamínio Scala , os
Gelosi eram actores profissionais itinerantes, que tanto representavam
o
drama
escrito,
all’improviso,
ou
a
commedia
combinação
premeditata,
de
pequenos
como
enredos
commedia
( canovacio)
interligados por improvisações ( lazzi). Em 1568, os Gelosi participam
nos festejos de Carnaval de Milão, e, e m 1571, deslocam-se também,
pela primeira vez , a Paris, para representarem para Carlos IX , em casa
do Duque de Nevers, cruza ndo-se com a trupe de Ganassa , cujos
elementos dissidentes integraram os Gelosi.
Se a sua popularidade lhes grangeia convites frequentes para
representar em salões aristocráticos - em 1573, o Duque de Ferrara
assiste a uma representação sua de Aminta, drama pastoral de Torquato
Tasso -, o seu sucesso multiplica -lhes a quantidade (e a qualidade) das
itinerâncias – Henrique III de França solicita ao Doge de Veneza a
“dádiva de ter na sua corte , durante certo tempo, a companhia dos
Gelosi” (F O , 2004: 26), cuja representação assistira naquele mesmo
ano. Em 1577, “a República [...] organiza a viagem, e prepara uma
caravana composta por um número significativo de carros e carroças
que, subindo pelo vale do Susa” ( ibidem), se dirige a Paris, numa
viagem atribulada que pôs em risco a companhia.
França vivia então uma convulsão política profunda [16]. No
rescaldo da matança de São Bartolomeu , um grupo de huguenotes
decidiu chantagear o monarca, e, num acto de terrorismo, capturou a
companhia dos cómicos. Expediu-se uma carta a Henrique III,
exigindo a libertação dos huguenotes presos nos cárceres franceses, o
pagamento de dez mil florins em ouro e cinquenta mil em prata, sob
pena
de
apenas
serem
devolvidas
11
as
cabeças
dos
cómicos.
A
negociação durou quinze d ias e as cláusulas dos revoltosos foram
respeitadas. Segundo um cronista da época, “se o caso envolvesse
negociar a vida do primeiro ministro, de quatro cônsules e de três
marechais, Henrique III teria deixado tranquilamente que os matassem,
preocupando-se somente em mandar celebrar uma bela missa em honra
das vítimas” (F O 2004: 27) [17] Tratando-se, indiscutivelmente, de um
acto terrorista, quem diria que , por breves momentos, um comediante
teve mais peso do que um político?!
Aos Gelosi, pertenceu a actriz Vittoria Piissimi, que, em 1578, os
trocou pelo lugar de Prima Donna de I Comici Confidenti , companhia
que se fundiu com a de Pedrolini [18], dois anos mais tarde, quando
este se casou com a prima donna Piissimi. Para o seu lugar nos Gelosi,
foi contratada uma jovem de 16 anos, Isabella Canali, que, nesse
mesmo ano, se casa com Francesco Andreini , primeiro actor e sucessor
de Flamínio Scala, enquanto empresário da companhia . Isabella
Andreini foi uma mulher do seu tempo, ganhando por seu mérito o
estatuto de “vedeta” no âmbito dos cómicos da arte de então . Como
actriz representou sempre o papel de Innamorata, mas, à medida que
foi aprimorando o domínio da arte da comédi a, Isabella recriou a
figura da apaixonada, não só de aparência bela, mas introduzindo-lhe
o carácter de mulher culta e bem -falante, próprio da Renascença.
Desconhece-se que tipo de instrução possa ter tido, mas, enquanto
pertenceu aos Gelosi , sabemos que desenvolvia a leitura, o estudo e a
escrita, para além da actividade de actriz itinerante, e de mãe de sete
filhos.
16
As G uerr a s Re li g io sa s d ura ra m e ntr e 1 5 6 2 e 1 5 9 8 , e ter mi n ara m co m o Éd ito d e
Na nt es , p ro mu l g ad o p o r He nr iq ue I V , q u e co n feri u lib e rd ad e rel i gio sa à mi n o ria
p ro te sta n te, n u m p a í s d e cató li co s .
17
Co m o s e u h u mo r, mu i t o p ró p rio , co me n ta Fo : “P o d er ia u ma d ec i são c o mo e st a
rep et ir - se ho j e e m d ia? Não , ac t u a l me nt e, o má x i mo q u e p o d e aco n tece r é u m
acto r el e ger - se p r es id e n t e d o s Es tad o s U nid o s”.
18
Est a co mp a n h ia ap arec e me ncio n ad a p e la p r i m eira ve z e m 1 5 7 6 , no m es mo a no
e m q ue o acto r e e mp re s ário J a me s B urb a ge ab re o “T he T hea tre ”, e m Lo nd re s .
12
Em 1587, os seus sonetos publica vam-se nas colectâneas
italianas, e, no ano seguinte, foi dado à estampa Mirtila, drama
pastoral, cujas personagens femininas apresentam como característica
serem senhoras do seu destino. Em 1589, em Florença, durante as
núpcias do duque Fernando de Medicis com Christine de Lorena ,
Isabella, interpret ando La pazzia d’Isabella (A loucura de Isabella) ,
exibe o seu talento de actriz, conforme relata Giuseppe Pavoni :
De modo que ao encontrar -se abandonada e a sua honra compromet ida,
[ Isabella] abandonou -se à dor e à paixão, perdeu a razão, [e] qual
criatura enlouquecida, vagueou pela cidade... ora faland o em espanhol,
ora em grego, ora em italiano e em muitas outras línguas, e sempr e de
for ma irracional... Então começou a falar em francês e a entoar
canções francesas... De seguida começou a i mitar os modos de falar
dos seus colegas actores – os modos, di ga-se, de Pantalão , Graciano,
Zanni, Pedrolino, Francatripa , Buratino, Capitão Cardona e
Francisquinha – de for ma tão natural, e com uma ênfase de tal modo
requintada, que não existem palavras que expri mam a qualidade e
habilidade desta mulher. Por fim, pela recriação de artes mágicas e de
certos líquidos que lhe deram a beber, Isabella foi trazida à realidade
e assim, em estilo elegante e elevado, explicando as paixões e
tormentos suportados por aqueles que tombam nas tramas do amor,
finalizou a comédia, em que demonstrou, pela sua representação desta
loucura, a perfeita saúde e elevação do seu i ntelecto. [19]
Em 1601, Isabella Andreini torna-se membro da Accademia degli
Intenti, em Pavia, publica uma colectânea de poemas, as Rimi, ao
19
T rad ução no ss a. [H]o w o n fi nd i n g her se l f d e ser ted a nd her ho no ur co m p ro mi sed
[Isab el la] ab a nd o n ed he rse l f to gri e f a nd p a s si o n, we n t o u t o f h er se n se s, [a nd ]
li ke a mad cre at ur e ro a med t he c it y. .. sp ea k i n g no w i n Sp a ni s h, no w in Gree k ,
no w i n I ta lia n a nd i n m an y o t her la n g u a ge s, b u t al wa ys irra tio na ll y… [ T he n] s he
b eg a n to sp ea k Fre n c h and to s i n g Fre nc h so n g s… T he n s h e b e g a n to i mi ta te t he
wa ys o f sp ea k i n g o f her fe llo w - a cto r s – t he wa y s, t h at i s, o f P a n talo n e, Grat ia no ,
Za n ni, P ed ro li no , Fr a nc atrip p e, B ura tt i no , Cap t ai n Card o n e a nd Fra nc e sc h i na – i n
s uc h a na t ura l ma n ner , and wi t h so ma n y fi ne e mp ha se s, t h at no wo rd s c a n
exp r e ss t he q ua li t y a nd s ki ll o f t h i s wo ma n . F i na ll y, b y t he fi ct io n o f ma g ic a rt
and cer tai n wa ter s s he wa s gi ve n to d r i n k, I sab ell a wa s b ro u g h t t o her se n se s a nd
her e, wi t h el e ga n t and l ear ned s t yl e e xp l ica ti n g the p a s sio n s a nd o rd ea l s s u ffered
b y t ho s e wh o fa ll i nt o lo ve ’s s nar es, s h e b ro u g h t t h e co me d y to it s c lo se,
d e mo n s tra ti n g b y h er a cti n g o f t h is mad ne s s t he so u nd h ea lt h a nd c ul ti va tio n o f
her o wn i n te lle ct. G i u sep p e P a vo ni , c it ad o e m Th e Co mm ed ia d el l’A rte: A
Do cu m en ta ry Hi sto ry , Ke n ne t h R ic hard s e La ur a Ric h ard s. O x fo rd : B as il
B lac k wel l, 1 9 9 0 , p p . 7 4 -7 5 .
13
mesmo tempo que começam a circular, sob a forma de manuscrito, as
Lettere, colectânea de epístolas ficcionais, em que expressa o seu
pensamento sobre a vi da e sobre a arte.
Dois anos depois, os Gelosi retornam a Paris, e representam na
corte de Henrique IV e de Maria de Medici . Após a apresentação do
reportório à corte e ao público francês, a companhia regress a a Itália.
De passagem por Lyon , Isabella sent e-se mal, e, a 10 de Julho de
1604, morre no parto do filho . A pompa fúnebre foi digna de uma
rainha:
Atrás do féretro, em um carro coberto por uma montanha de fl ores,
estavam príncipes, poetas e escritores de toda a Europa. Convém
lembrar que Isabella Andreini foi a única mulher de sua época aceite
como membro em nada menos do que quatr o academias. E não apenas
pelo seu fascínio, mas também pelo seu talento e extraordinária verve
poética. Ela não era a única pessoa culta entre os artistas de teatro à
italiana, pelo contrár io: existiam actores capazes de escrever hist órias
bastante inteligentes com um estilo muito refinado. Além disso,
convi via com os espíritos mais brilhantes do seu tempo: Galileu
Galilei (autor de dois roteiros), Ariosto , Pallavicini , grandes
arquitectos e, vej am só, Michelangelo e Rafael, outros dois grandes
amantes do teatro ( F O 2004: 30).
A companhia dissolveu-se com a morte de Isabella . Giovan
Battista Andreini , seu filho mais velho, que se estreara em 1595,
formou a sua própria companhia, os Comici Fedeli, em 1601, onde se
integrou a maior parte dos últimos Gelosi . Francesco Andreini retirouse de cena, para se dedicar à publicação das obras da mulher, vindo a
falecer em Mântua, a 20 de Agosto de 1624 .
Com idêntica importância n este panorama, encontra-se os já
referidos Comici Confidenti (1574 – 1599; 1611 – 1639), [20] cuja
itinerância t ão profícua quanto a dos Gelosi , regista digressões p or
“Có mi co s co n fia n t e s n ele s p ró p r io s e na i nd u l gê n cia d o p úb li co ”. ( D U C H AR T R E
1 9 6 6 : 8 7 ). E m 1 6 1 1 , er a s e u d ir ecto r F la mí n io Sca la , q ue p er te n cera ao s Co mic i
Gelo s i . ( Id e m: 9 6 ) .
20
14
Itália, França [21] e Espanha [22]. Em 1587, no início da sua estadia
na península, endereçam ao Conselheiro Real Pedro Puertocarrero um
pedido para que lhes seja emitida uma licença, que autorize as
actrizes, Ângela Salomona , Ângela Martinelli , mulher de Drusiano
Martinelli , e Sílvia Roncagli , a subir à cena. Dado que a lei vigente
impedia a existência de actrizes nos palcos espanhois, o argumento
dos Confidenti, de que “las comedias que traen para representar no se
podrán hacer sin que las mujeres que en su compañia traen las
representen” [23], levou a que fosse definitivamente revogada aquela
proibição.
Foram muitas as companhias importantes - os Comici Uniti (1578
– 1640), os Desiosi [24] (1582 – 1605), os Accesi (1590 – 1628), os
Intronati -, e muitas cruzaram a fronteira alpina: o florentino
Domenico Barlachi representou, em 1548, La Calandra, do Cardeal
Bernardo Dovizi, de Bibbiena, em Lyon; Giovanni Taborino , em 1568,
actuou em Linz , nas margens do Danúbio, e, no ano seguinte, em
Viena de Áustria, onde permaneceu até 1574 ( D U C H A TR E 1966: 86);
Drusiano Martinelli [25] actuou em Londres, em 1578 . Esta família de
21
E m 1 5 8 4 , r ep re se n tara m no Hô tel d e Cl u n y . (D uc h art e o p . c it . ) .
Dur a nte a s ua e st ad ia e m E sp a n ha , e ntre 1 5 8 7 e 1 5 8 8 , d esi g nar a m - se Lo s
Co n f id en te s I ta l ia n o s .
23
C it ad o e m La in f lu en cia ita lia n a en el n a c i mien to d e la co med ia esp a ñ o la ,
Ot hó n Arro ni z, M ad rid : Ed ito r ia l Gr ed o s , S. A. , 1 9 6 9 , p . 2 7 5 .
24
Dir i gid o s p o r Di a na P o nt i , es ta co mp a n h ia era p ro te gid a p e lo Card eal Mo n ta lto .
25
P erte nci a m à co mp a n h i a An gel ica Mar ti ne ll i, mu l h er d e Dr u s ia no Mar ti ne ll i e o
ir mão d e s te, T ri st a no M arti n el li (1 5 5 7 – 1 6 3 0 ) , na sc id o e fal ecid o e m Mâ nt u a , e
co n s id erad o o p ri me ir o Arleq u i m d a Co m m ed ia d e ll’ Ar te. Co n v id ad o p elo
Al mi ra n te d e Fr a nça , M o n si e ur d e J o ye u s e , T ri st a no e a s ua tr up e ap re se n ta m - s e
na F eira d e Sa i nt Ge r ma in , no Ca r na va l d e 1 5 8 4 , o nd e cr ia a fi g ura d e Arleq u i m.
E m 1 5 9 8 , i n te gr a a co mp a n h ia d e V ic e nzo Go nz a ga , d uq u e d e Mâ n t u a , q ue, e m
1 5 9 9 , o no mei a ca p o co mico . Aq ua nd o d o se u cas a me n to co m Mar ia d e Med ic i ,
He nriq u e I V d e Fra nç a es cre v e -l he a e nco me nd ar o s se u s ser v iço s (C f. S iro
Ferro n e, Ar lec ch in o . V i ta e a vven tu r e d i T ri s t a n o Ma r tin ell i a t to r e. B ari - Ro ma,
Later za, 2 0 0 6 ). E m 1 6 0 1 , e scre v e u Co mp o s it io n s d e ré th o r iq u e d e M. Ar leq u in .
Ma nt e ve se mp r e u ma r el ação e s tre ita co m a al ta no b re za : o s R ei s d e Fr a nç a fo ra m
p ad ri n ho s d e u m d o s s eu s fil ho s e, e m 1 6 1 2 , e m V ie na , o i mp erad o r Mat ia s II
co n ced e u - l he u m tít u lo no b ili árq ui co (c f. J o h n R ud l i n, a nd Ol l y Cri c k: Co m med ia
d ell' Ar te: a Ha n d b o o k f o r Tro u p es . Lo nd o n & N e w Yo r k: Ro u tl ed ge, 2 0 0 1 : 4 3 ).
22
15
actores que, em 1587, pertencem a I Confidenti, entre 1598 e 1601,
integram I Accesi, os comediantes italianos do duque de Mântua ,
itinerando por França [26].
O modelo de representação destas companhias define marcas de
influência, tanto na escrita dramática , como na representação [27]. O
modo narrativo que o espectáculo define , acaba por ganhar estatuto
próprio. Verifica-se uma apropriação temática e de caracteres por
parte de muitos dramaturgos europeus na elaboração dos seus enredos,
que se reinventam ao longo de Seiscentos e Setecentos , numa
sociedade que refin a o gosto pelo esp ectáculo de si própria, atingindo
o cume com dramaturgos como Carlo Goldini, que acaba por fixar uma
forma escrita de commedia dell’ arte. Os novos enredos necessitam
por isso de um novo modelo de actor, que seja mestre de uma arte
intelectualizada, já não mecânica, contrária aos anátemas religiosos
medievais. Desde Leon de’ Sommi - Quatro dialoghi (1563?) -, que
esboça as características próprias do actor culto, e da arte de
representar segundo padrões de credibilidade e verosimilhança, as
preceptivas de a ctuação sucedem-se, para culminar no tratado de
Andrea
Perrucci,
Dell’Arte
rappresentativa,
premeditata
ed
all’improviso (Nápoles: 1699) , cujas duas partes distinguem dois
modos de trabalho, de memória ou de improviso, mas cujo conteúdo se
dirige explicita mente a outros destinatários além do actor: “giovevole
non solo à chi si diletta di R appresentare, ma à Predicatori, Oratori,
Accademici e Curiosi”. ( P ER R U C I 2008: xxi) O palco ganha esatuto de
púlpito.
***
C it a nd o B a sc h et , L es Co m éd i en s i ta l ien s à la co u r d e Fra n ce, 1 8 8 2 , p p . 1 0 9 –
1 2 3 . (h ttp :/ / www. ce sar . o rg. u k)
27
T o d as e la s se co mp u n h a m d e i nd i v íd uo s co m u m n í ve l s up er io r d e c u lt ura e d e
cap ac id ad e s h i st r ió ni ca s , p er mu t a nd o -o s e n tre s i co m freq uê n cia o u a gr eg a nd o - se
p ara rep re se n tar e m o cas iõ e s e sp ec ia i s. E m nad a se p ar ec ia m co m mí s ero s
sa lt i mb a nco s ( D U C H AR T R E 1 9 6 6 : 8 6 ).
26
16
Curiosamente, a marca inicial do processo de cons tituição de um
estatuto do actor profissional , o contrato de Ser Maphio , em 1545,
regista-se no mesmo ano em que principia o Concílio de Trento .
Convocado pelo Papa Paulo III, o conclave começ a a 13 de Dezembro
e terminará apenas em 1563, com várias interrupções devidas a
conflitos religiosos e políticos, ao longo do pontificado d e quatro
papas: Paulo III, Júlio III, Paulo IV e Pio V. Em Janeiro de 1564, este
último promulga os decretos do concílio, e, coincidindo no mesmo
ano, em Roma, a comediante Lucrécia de Siena assina um contrato
como actriz profissional , quando o papado conrinuava a preferir a
representação travestida de efebos .
Não se pronunciando sobre a actividade teatral propriamente dita,
o Concílio de Trento pretendeu ser um pólo organizador do sistema
eclesiástico, manifestando “o esforço da Igreja Romana em se adaptar
a
um
mundo
em
transformação,
no
qual
o
teatro
público
profissionalizado começava a trilhar o seu caminho” [28]. Para o padre
Michael Zampelli, “uma razão óbvia para um aumento do sentimento
antiteatral durante os anos subsequentes ao Concílio de Trento deve-se
à visibilidade crescente do próprio teatro. [ ...] As preocupações
disciplinares e past orais de Trento centravam -se na relação existente
entre a ordem eclesiástica e a vida Cristã. Neste campo, torna -se claro
o subtexto competitivo no relacionamento entre a commedia e a igreja”
[29].
Mic ha el A. Za mp el li , “T re n t re vi s ited : A Reap p rai sa l o f Ea rl y Mo d er n
Ca t ho l ic is m ’s Rel at io ns hip wi t h t h e Co m med i a Ita l ia n a ”, in Th e J o u rn a l o f
Rel ig io n a n d Th ea tr e. Vo l. 1 , nº 1 , Fal l 2 0 0 2 , p . 1 2 2 : “T ren t i s s ig n i fica n t
b eca u se it ma n i fe st s t he Ro ma n C h urc h ’s e f fo r t s a t ad ap t i n g to a c ha n g in g wo r ld
in wh i c h t he p ub lic , p ro fe s sio n al t he atre i s ma k i n g a n e nt ra nc e”.
29
Id em, p . 1 2 2 : “O ne o b vio u s r ea so n fo r a n i n c rea se i n a nt it h eat ric al s en ti me n t
d ur i n g t h e year s a fte r t h e Co u n ci l o f T re nt is t h e g ro wi n g vi sib il it y o f t he t he atre
it se l f. […] T re nt ’s d i sc ip li n ar y a nd p a sto r al c o nc er n s, ho we v er, fo c u sed o n t he
rela tio n s hip b e t we e n ec cle si as ti ca l o rd e r a nd C hr is ti a n li v i n g. I n t h is are na t he
co mp et it i ve s ub te x t i n the re la tio n s hip b e t wee n co m med ia a nd c h u rch co me s
clea r”.
28
17
A reforma da vida religiosa e dos seus oficiais pretendia t ravar os
abusos praticados e frequentemente criticados pelo teatro medieval
[30] e pelas Igrejas protestantes (luteranas, calvinistas), para que se
ganhasse uma nova estabilidade interna, e, sobretudo, para que se
evangelizasse o público, e para que a força dos representantes
eclesiásticos na vida das pessoas comuns fosse mais eficaz.
O concílio tridentino imporá que os Bispos vivam nas suas
próprias dioceses, em vez de “vaguearem ociosamente de corte em
corte, ou abandonando o seu rebanho e negligenciando o cuidado do
seu rebanho no torvelinho dos seus afazeres m undanais” [31]. Esta
disposição pretendia aproximar os bispos da realidade humana , ao
mesmo tempo que os coloca numa rivalidade paralela com a autoridade
civil. No caso em que esta apoiava a activida de teatral, como
aconteceu
em
Milão,
durante
o
arcebispado
do
Cardeal
Carlo
Borromeo [32] (1565 – 1584), o antiteatralismo religioso funcionou
como uma admoestação aos crentes, e também como uma afirmação do
poder eclesiástico perante o poder secular.
Mas nem todos os ataques do cardeal milanês contra os actores e
o espectáculo foram suficientes para erradicar a actividade teatral [33],
30
Le mb re mo s a c rí tic a q ue Gi l V ice n te fa z a tra v és d a s p er so n a ge n s d o s clér i go s ,
cuj a p ro x i mid ad e co m as c rí tic as p ro te s ta nt e s mo ti vo u a ce n s ura q u e o Card ea l
Ale a nd ro e nd er eço u ao P ap a, so b re a r ep re se nt ação d o a u to d e G il Vic e nte n a
Fla n d re s.
31
E xtra íd o d a Se xt a S es são d o Co nc íl io d e T rento , c it ad o p o r Del u me a u,
Ca th o li ci sm , 1 6 , in M ic ha el A. Za mp e ll i, o p . ci t . , p . 1 2 3 .
32
Nas cid o e m Aro na , e m 1 5 3 8 , mo rr e u e m Mi lão , e m 1 5 8 4 , s e nd o ca no n i zad o e m
1 6 1 0 . Fo r mad o e m d ir eito c i vi l e ca nó n ico p ela U n i ver s id ad e d e P av ia , era
so b ri n ho , p elo lad o ma t erno , d e Gia n Ân ge lo M ed ic i , P ap a P io IV , q ue o no me o u
card ea l e ar ceb i sp o d e Mil ão , ao s 2 2 a no s. P art icip o u na fas e fi nal d o Co nc íl io d e
T rento , to ma nd o u ma p o si ção rad i ca l co ntra o p ro tes ta n ti s mo . Fo i u m l íd i mo
rep re se nt a nt e d a Co ntr a R e fo r ma . Aq ua nd o d a s ua mo rt e le go u o s s e u s b e ns ao s
p o b res.
33
“O s Ge lo si a ct u ara m, p ela p r i me ira ve z, e m Mi lão , e m 1 5 7 2 , e l á vo l ta ra m e m
1 5 8 3 . Me s mo ap ó s 1 5 7 6 , o ano d a p e s te e d o ap arec i me n to d e le g i sl ação q ue
co nd e na va o s acto r e s e p rescr e vi a p e na s se v era s p ara esp ec tác u lo s p úb l ico s,
mu i ta s co mp a n h ia s vi s it ara m a cid ad e e e nco n tr ara m re fú g io e m c as a d o s J ud e u s
mi la n e se s, q u e es ta v a m i mu n es à s p ro ib içõ e s reli g io sa s d o card ea l B o rro meo ”.
(Za mp e ll i, o p . ci t., p . 1 2 8 , no ta 2 4 ) .
18
embora os seus escritos apresentem um efeito a posteriori no modo
como foi encarado o teatro. Segundo Zampelli, a sua visão assentava
em
três
pontos -chave,
derivados
do
entendimento
dos
valores
tridentinos: “Primeiro, o teatro alterava a ordem social e religiosa;
segundo, conseguia minar a verdadeira actividade religiosa; terceiro,
sabotava a «cristianização» da sociedade” [34]. Daí que instasse
frequentemente
as
autoridades
civis
a
banirem,
das
suas
circunscrições, os actores, os mimos, os vagabundos, e toda aquela
gente perdida, a menos que se dispusessem a fixar residência e
decidissem viver de acordo com os princípios cristãos. Os actores
profissionais itinerantes representavam uma ameaça à estabilidade
social, fugindo ao seu controlo. Borromeo era exímio em matéria
proibitiva; os clérigos empregados em sua casa foram impedidos de
“jogar às cartas, aos dados, à bola, ou outros jogos indecorosos desse
género, ou frequentar os jogos de outros, ou sequer de se mascarar, ou
participar em partidas de caça, ou frequentar representações teatrais,
comédias, ou quaisquer actividades impuras de actores profissionais”
[35].
A Igreja acabou por se colocar num plano de competi ção com as
companhias quando procurou atrair público , até porque os objectivos
de pregação eram, de certo modo, coincidentes com os do teatro:
ensinar, comover e agradar. Armand Baschet , citando as memórias do
Sieur de l’Éstoile, afirma que as representações dos Gelosi, em Paris,
em 1570, eram mais concorridas do que as prédicas dos quatro
34
Mic h ae l A. Za mp el li , o p . ci t.., p . 1 2 8 .
B o rro meo , A cta , “De g ub e r nat io ne r ei fa mi liar i s. P ar s sec u nd a” ( 1 5 6 6 ) in
T avia n i, 1 2 . “N ul l u s e x fa mi lia n e ar mi s c ert are , ne c c har ti s l u so r ii s a u t tal is , a ut
p ila ma io ri, a u t a lio e i u s mo d i i nd eco ro l ud i g en ere l ud er e, l ud e n te s n e s p ec tare ,
ne c c ho rea s e xer cere , n ec p erso n at u s i nc ed ere , ne c v e nat io ni, fab u li s, c o mo ed ii s,
ali i s ve hi str io n u m i mp u ris a ct io nib u s vaca re a u d eat” . ( C it. In Za mp el li , o p . cit.,
p . 1 2 9 , no t a 2 7 ).
35
19
melhores pregadores da cidade [ 36]. Contra uma concorrência tão
forte,
restava
apenas
o
anátema
epistolar
de
Borromeo:
“Por
intermédio dos cómicos, o demónio espalha o seu veneno!”. (F O 2004:
105) Ou o acrescento posterior de Ottonelli , que de flagelo se
transforma em exaltação da arte de representar:
Os cómicos não repet em de memória as frases escritas como
costumavam fazer as crianças e os actores amadores. Estes últi mos,
inclusive, dão sempre a impressão de desconhecerem o si gnificado
daquilo que repetem e, por isso mesmo, dificilmente convencem. Os
cómicos, pelo contrá r io, nunca utili zam as mesmas palavras em cada
apresentação de suas comédias, inventando todas as vezes,
apreendendo antes a substância, depois transmitindo os seus
improvisos por velozes fios condutores e nós apertados, gerando assim
uma for ma li vre, natu ral e graciosa. O efei to alcançado é um gr ande
envol vi mento dos espectadores, acendendo paixões e comoções, sendo
isso um grave peri go, j á que se trata de um elogio à festa amoral dos
sentidos e da lascí vi a, de uma rej eição às boas maneiras, de uma
rebelião contra as santas regras da sociedade, criando uma grande
confusão j unto às pessoas mais si mples” (F O 2004: 106) [37]
***
No Portugal de 1591, quando Fernán Díaz de la Torre se obriga
por contrato com o Hospital de Todos os Santos a construir o Pátio das
Arcas, funda-se o primeiro teatro público lisboeta, à semelhança do
modelo castelhano, e nele se acolher ão as companhias itinerantes. A
tradição da commedia faz a sua entrada na capital de um reino sob
influência castelhana, que assistiu ao desfilar do reportório popular
espanhol, que se prolongou mesmo após a Restauração, perante “a
turbamulta dos videiros galantes da Lisboa seiscentista, desde o rufião
das «patrulhas petiscantes» de D. Afonso VI e do irmão [ ...] até o mais
fidalgo espadachim da corte, e desde a mulher -dama arreada de sedas
36
Le s Co méd ien s I ta l ien s a la Co u r d e F ra n ce s o u s Ch a rl es IX, Hen r i I II, H en r i
IV et Lo u is XIII P ar i s, E . P lo n et Cie , 1 8 8 2 : 7 4 .
37
Ap ar e nte me nt e Dar io Fo ci ta G ia n Do me n ico Ot to ne ll i , Del la c h ri s tia n a
mo d e ra t io n e d el th ea tr o . L ib ro q u a r to d et to L'a m mo n i tio n i a ' r eci ta n ti, p e r
a vvi sa re o g n i ch ri s tia n o a mo d e ra rs i d a g l i e cce s si n e l rec ita re , ´p ub l ci cad o e m
Flo r e nça, p o r B o nard i, e m 1 6 0 2 .
20
custosas [...], até à dona senhoril do Côrte -Real ou da Ribeira com
costela de Távoras e Noronhas” ( S EQ U E IR A 1933: 105). “Em 1640 a
companhia da grande comediante Riquelme (Maria ou Damiana) era a
que funcionava no corro lisbo eta” (Id.: 113). Era enorme o sucesso das
actrizes espanholas, que aliavam aos seus méritos interpretativos, os
dotes
de
amazonas,
destes
tirando
proveito
para,
em
palco,
arrebatarem corações e trazer os galantes de rastos. São ancestrais as
tradições espaventosas da indústria do espectáculo!
Esta commedia nova popular acabará por ascender aos salões, sem
nunca perder as suas raízes de teatro de situação, em que uma
estrutura básica faz evoluir o enredo, mante ndo o público atento
através de uma tensão dram ática, cujas reviravoltas lhe condicionam a
participação. A herança da commedia resistiu, na sua essência, nas
clowneries ¸ nas marivaudages, no teatro de Eduardo de Filippo, no
teatro de variedades, nos entreactos, nas rábulas cómicas de actores
que o cinema se apropriou e popularizou através de actores como Totó
ou Chaplin, Laurel e Hardy, ou os irmãos Marx .
Colocando de parte os conceitos estéticos, produto do tempo e da
sociedade que os experimenta, observamos que uma característica
primordial da actividade teatral se rá a sua qualidade de indústria, de
produtora de riqueza, e que uma companhia de teatro representa uma
empresa comercial. Vida de risco, plena de incertezas, a sociologia do
comediante e a história do espectáculo encarregam -se de explicar os
revezes próprios da vida dos fazedores de sonhos. Quedou -se para a
história o nome dos famosos, dos mais talentosos, ou dos mais
afortunados, daqueles que conseguiram a protecção de uma qualquer
proeminência aristocrática, mas, outros terá havido, por certo, ilustres
desconhecidos,
que
terão
tido
sorte
diferente.
Embora
classe
dominante, a aristocracia civil ou a religiosa, não poderia absorver
toda
a
oferta
profissional
existente.
21
Qualquer
patrono,
que
se
permitisse uma companhia de actores, de cantores ou de músicos,
seleccionaria, por força do prestígio que daí lhe advi esse, apenas os
melhores;
aos
restantes
profissionais
não
lhes
restaria
outra
alternativa, senão a de procurar o maior patrono de todos, o público.
Porque se trata de uma actividade de índole gregária, a natureza
do teatro manifesta -se de maneira ambivalente : tanto procura o
espectador o t eatro, como é procurado por este. Nesta perspectiva, a
prática teatral foi sendo modelada, ao longo do tempo, qual sistema de
vasos comunicantes, numa interligação entr e o gosto dos fazedores e o
das plateias, apresentando de forma natural dois trajectos paralelos,
que se miram entre si :
um teatro de erudição, que se alimenta aristotelicamente e bebe
horacianamente,
cuja
força
textual
se
traduz
na
manifestação
conceptual, e na amplitude eloquente da voz e do gesto magnânimo. A
mimesis servida à mesa de um requintado banquete criador de
polémicas, e originador de poéticas , de um teatro de elite, que
inventará a ópera, o ponto de harmonia de todas as perspectivas das
artes de palco;
e um teatro popular, pantagruélico, feito de comédias, de bailes,
de canções, de redondilhas, de uma variedade de estilos, servidos
copiosamente, a um público fruidor de emoções, por entre o qual se
misturava a boémia filha de família, amante da s histórias pícaras e dos
ditos picantes, um público para quem as regras poéticas se iam
construindo ao sabor das vontades estéticas do auditório.
Se o teatro erudito presume a existência de um espectador
conhecedor da complexidade da efabulação, e apela a referências
culturais elaboradas, o teatro popular pretende fazer -se entender pela
camada mais vasta do público, cujos referentes culturais não se
baseiam em presunções académicas, mas na via da compreensão
22
emocional da fábula, pela empatia com as suas pe rsonagens e a sua
actuação.
3.
Da itinerância teatral
Eis o modo que perpetua a tradição das companhias dos cómicos
da arte, enquanto modelo empresarial. Parece simples, - trata-se de
uma questão de sobrevivência -, mas a situação ganha contornos
específicos, quando procuramos entender as diferentes formas de
itinerância .
Em primeiro lugar, a fixação de companhias em teatros urbanos
parece corresponder a um modus operandi, supostamente motivado por
um processo de sedentarização no espaço urbano : mais população,
logo maior oferta, maior procura. Em última análise, a indústria do
lazer depende da indústria laboral; o trabalho gera descanço, e este
gera
aquele.
A
diversidade
do
público
requer,
então,
em
proporcionalidade directa, uma diversidade de entreteni mentos que lhe
preencha o ócio. E a ambivalência de que falávamos anteriormente (o
teatro procura o público, assim como este procura aquele), transformase numa dinâmica em que apenas o público precisa de procurar o
teatro, uma vez que este lhe é oferecido ao pé da porta. Desde os
teatros de primeira linha, do centro cosmopolita, até aos palcos das
academias de recreio , dos bairros populares, passando pelas salas e
teatros particulares, que proliferam em sucessivas coroas circulares
até à periferia lisboeta, o teatro funciona como vivência sociocultural
enquanto durar a “saison” laboral, e apenas terá necessidade de
perseguir o seu público, quando este se deslocar para as estâncias
termais ou as de veraneio. É a Belle Époque!
Na segunda metade de Oitocentos, a proliferação de teatros nos
centros urbanos de província, por um lado, e o início das experiências
23
animatográficas, por outro, conduzem à procura de profissionais
necessários à produção de espectáculos, e à manutenção das suas
salas. No início de Novecentos, a grande actividade profissional
concentra-se, sobretudo,
em
Lisboa,
Porto
e Coimbra,
e
áreas
circundantes; o gosto mantém-se nos salões das classes abastadas , e
cresce na classe média, em que a oferta e procura abundam, e o povo
“sustenta os inúmeros teatros populares” que frequenta: “ o teatro do
Príncipe Real, o da Avenida, o da Rua dos Condes , Salão Liberdade,
Salão Fantástico, Salão Central, os das feiras de Alcântara e do
Parque, dando ainda grande contingente para a Trindade , Ginásio, D.
Amélia e D. Maria”, além dos dois enormes circos e das touradas
nocturnas, segundo elucida Sousa Bastos :
É pasmoso de há uns anos para cá o movi mento dos es pectáculos
públicos. Proporcional mente comparado com as grandes capitais e com
a falta de forasteiros, a nossa cidade é das pri meiras no movi mento
teatral. Isto é agora muito, mas j á era bastante quarenta anos antes. Já
nesse tempo muitas famílias bur guesas havia que, sem tal vez o
poderem fazer, frequentavam d iariamente os espectáculos. (B A S T O S
1947: 182).
O Real Conservatório , enquanto única escola de Arte Dramática,
nunca poderia bastar ao fornecimento do mercado de actores, cuja
maioria provinha das sociedades de amadores, e saltitava de teatro em
teatro. Uma itinerância individual de escala reduzida.
[O] Joaqui m Sil va, um dos melhores cómi cos, aproveitava as horas
vagas para ensaiar e r epresentar num teatrinho que existia na calçada
do Cabra, próxi mo à rua For mosa. Passou depois para outra sociedade,
de que era ensaiador o Carreira, um actor, que, apesar de aleijado,
tivera no Salitre a sua época de agrado e que também era ensai ador
dos doidos de Rilhafoles, quando se entendeu que o representar
poderia ser um meio de cura. [...] A primeira vez que representou a
público [1879] foi num pequeno teatro que existiu na rua do Olival , na
paródia de Jacobet ty, A Niniche Lisbonense , e depois, ainda no mesmo
teatro, numa revista do mesmo autor, intitulada O Reinado do Prior .
24
[...] Dali foi representar na feira das Amoreiras num teatro chalet [38]
que foi depois mudado para a feira de Belém , em 1881. Ainda o
mesmo chalet foi mudado para um quintal na rua do Salitre e por fim
para a Avenida , no local do anti go teatro da Rua dos Condes (ibidem).
Aos empresários interessava escriturar os bons elementos das
pequenas
companhias
de
bairro,
dos
palcos
pa rticulares,
que
funcionavam como novidades para atrair o público. De perto ou de
longe, o empresário não se poupava a esforços para “insuflar sangue
novo” na sua empresa. César de Lima contratou para o Teatro do
Príncipe Real dois “distintos amadores do teatrinho do Aljube ”, os
actores Gama e Bayard, e “do Teatro dos Anjos tirou o Luciano”. Nem
as companhias ambulantes escapavam à sangria: à “companhia do
Soares arrancou o Matias de Almeida ” e “à modesta companhia do
Costa «marreco» tirou o actor Samuel , que deu um actor de muito
mérito e com uma excelente voz de barítono” ( Bastos 1947: 121).
Numa itinerância um pouco mais ampla, as duas principais cidades do
país permutavam talentos entre si.
O Porto tem por vezes conseguido atrair par a os seus teatros di versos
artistas, cuj a falta foi sentida em Lisboa . [...] Em compensação, do
Porto nos vieram, dando brilho aos nossos t eatros: o Dias , o Ferreira
da Silva, o Fir mino, [...], as Talassis , o Portulês e o Abel [que aos] 14
anos de idade, abandonou a casa paterna com a ideia fixa de seguir
carreira dramática. Partiu para o Porto e [...] conseguiu entrar para a
companhia que funcionava num teatro, de que ainda hoj e há vestí gios
na rua das Liceiras, intitulado Teatro Camões . [...] Foi colega de Braz
Martins, e em 1874 veio contratado para o Ginásio , de Lisboa, donde
passou para o Variedades , e para o da Rua dos Condes . Em 1875,
contratou -se para o novo Teatro da Trindade , do Porto, o qual ardeu
pouco depois, passando Abel a dirigir o teatro -barraca das Car mel i tas,
na calçada dos Cléri gos. (Bastos 1947: 140).
Fazer uma digressão equivalia a uma aventura de Dumas Pai ou
de
Victor
Hugo.
A
falta
de
comodidade
38
nos
transportes
das
T rata - se d o T eat ro C ha le t Ara új o , p ro p r ied ad e d e M a n uel J o s é d e Ar a ú j o
( B A S T O S 1 9 0 8 : 3 2 5 ), q ue ta mb é m fo i co n he ci d o p o r T eatro C hal et d a R ua d o s
25
companhias tornavam a Arte de Talma em suplício de Tântalo,
conforme relata Adelina Abranches com a ironia que lhe é própria.
Eram duas, as carripanas e havia quinze pessoas para meter den tro
dela. Tinham cortinas e tej adilho... Arrumámo -nos como pudemos. [...]
dentro daqueles caixotes, apertados, esmagados uns contra os outros,
ficámos como sardinha em lata... A um est alo do chicote, os cavalos
arrancaram e nós batemos todos com a cabeça n o tecto da
caranguej ola. O meu “canotier” ficou logo num fi go! O prego, que o
segurava, espetou a orelha do galã que dei xou escapar uma bojarda
que eu muito pudicamente fingi não ouvir... E começou novo género
de tortura... éramos todos sacudidos, remexido s, como grãos de trigo
na peneira. A cada cova da estrada – e só Deus sabe quantas havia! –
bumba! Novas car oladas no tecto, novos gri tos, novas bojardas ditas
sem querer, novos socos no chapelame das cómicas [...] A todo este
suplício, j untava -se ainda a poeira, que a carripana da frente levantava
e nós comíamos e respirávamos! Eram rolos, nuvens, núcleos de poeira
esbranquiçada que nos sufocavam, que nos cegavam! [...] As moscas,
aos milhares, passeavam -nos pela testa, ent ravam -nos pelo nari z, pela
boca... Os tavões pi cavam -nos... (..) Dur ou este suplício algumas
horas, sem que al minha benfazej a o pudesse dulcificar. Mas quando à
noite, deslumbrámos o público de Setúbal , com os requintes da nossa
arte, mal sabia ele que, debaix o dos nossos vestidos, havia cada nódoa
negra que nem manchas de tinta em caderno de colegial... (Abranches
1947: 86 -88).
Duravam as temporadas teatrais cerca de nove meses, e sem
subsídios de férias, de Natal, ou de desemprego, forçoso se tornava
constituir elencos, que garantissem a sobrevivência dos teatros durante
o verão, ou, em alternativa, organizar companhias itinerantes, fosse
sob a direcção de um empresário, fosse enquanto sociedades artísticas,
as tournées societárias [39]. Os periódicos davam à estampa basta
Co nd e s, o nd e se r ep re se nt ara m v ári a s re v is ta s d e re no me , co mo a Câ ma ra Óp ti ca
d e So u sa B as to s , e m 1 8 8 2 ( R E B E L L O 1 9 8 4 : 2 3 3 ).
39
An tó nio P i n he iro atr ib ui j o co sa me n te o ep í tet o d e “co mp a n hia i n g le s a” a es ta s
to u rn ée s so c ie tár ia s. T anto e m Os so s d o Ofí cio (1 9 1 2 ), co mo e m Co n t o s La rg o s
(1 9 2 3 : 2 1 -2 2 ), e xp lic a q u e se tr ata d e u m j arg ão tea tra l, d es i g n and o “p o r
an ti no mi a, o sí mb o lo d a p o b reza ”, q u e t eri a o ri ge m n o a cto r Al fred o d e C ar val ho .
T rata -s e, p o r cer to , d e u ma gra ça p r i vad a , s e m r e fer ê n ci a, e nq u a nto g íri a, e m
rela to s co nt e mp o râ n eo s d e o utro s a cto r es , o u e m So u sa B a sto s , q ue , cert a me n te
não d ei x ari a p a s sar e s sa en trad a no se u d ic io nár io .
26
informação sobre elencos, reportórios e percursos, como nos elucida o
artigo “Tournées artísticas”, do Archivo T heatral [40]:
T R O U P E J O A Q U I M P R A T A – Sob a direcção do a ctor Joaquim Prata anda
uma troupe de actores percorrendo o norte das nossas províncias em
tournée artística. Esta troupe compõe -se das actrizes Alber tina
d’Oliveira, Alina Benavente e os actores Joaquim Prata , Carlos
Moutinho, Manuel Ar aúj o , Alfredo Santos e Lui z Soares , sendo o seu
reportório o seguinte: Tio Torquato, Lucrécia Borgia , Infanticida,
Quem morre...morre , Criançolas , Amor por Anexins , Major, Assassino
de Macário e uma vari ada colecção de cançonetas, monólogos, duetos,
tercetos, árias, canções, etc. Têm j á percorrido: Vila da Feira , Oliveira
de Azeméis, Lamego, Moimenta da Beira , Castro Daire e Penafiel,
contando percorrer Aveiro , Ílhavo , Anadia, Figueira da Foz, Buarcos,
Caldas da Rainha , Al cobaça, Leiria, Marinha Grande , Ovar, Espinho,
Póvoa do Varzi m, etc.
T R O U P E C A R LO S D ’O L I V E I R A – Partiu no di a 6 para Faro uma troupe
de artistas do teatro D. Amélia , a fi m de em tournée percorr er o
Al gar ve, Alentej o, seguindo até ao norte. Est a troupe é composta pelos
seguintes artistas: Carlos d’ Oliveira (director), Henrique Alves ,
Alexandre de Azevedo , António Sar mento , Rafael Marques , Manuel
Pina, Luz Veloso, Maria da Luz, Emília Sar mento , El vira Costa e
António Malheiro (ponto) [ 41], levando o seguinte reportório:
Sacrificada, Abade Constantino , Nelly-Rosier, Mão esquerda , e a
revista num ac to Salão do Tesouro Velho . A troupe Carlos d’Oli veira
deve ter -se estreado a 6 em Faro com a Sacrificada. De Faro seguirá
para Olhão, Tavira, Lagos , seguindo depois pelas praias até ao Norte.
T R O U P E A U G U S TO C O R D E I R O – No mesmo dia e no mesm o vapor partiu
também para Évora com destino ao Évor a Terrasse , um grupo de
actores dos teatros de D. Maria , D. Amélia e Príncipe Real , de que
fazem parte Augusto Cordeiro (director), Augusto de Melo
(ensaiador), Lucinda Cordeiro , Her mínia Adelaide , Laura Santos ,
Geor gina Costa , Li ma Teixeira , António Avelar , Américo Gomes e
Jaime Zenóglio . A actriz Cecília Neves e o actor Inácio Peixoto
tomarão também part e em al guns e spectáculos. O reportório é o
seguinte: Mantilha de Renda , Divorciemo- nos, Nono não desej arás ,
Mentira, Assassino de Macário , Condessa Heloísa, Casar para não
morrer, Bebé e totó , Ovelhas de Panúrgi o [42], Watoa , Lucréci a
Bórgia, Mártir, João Darlot , Inferno por Meio Tostão , Moços e
Velhos, Os Filhos de Adão , Ouros, paus, copas e espadas , Casa de
Orates, Está cá o Augusto e Duas Gatas . Tencionava esta troupe f azer
R.P ., “T o ur né e s Ar tí s ti cas ”, A rch ivo Th ea t ra l, 1 0 .1 0 .1 9 0 9 : 5 .
Antó n io P i nto Ma l hei ro , d e s e u no me co mp l eto , s ub st it u i u, à ú lt i ma ho r a, ne sta
d ig re ss ão Câ nd id o G ua ld i no , p o n to no tea tro D. Amé l ia , q ue ha v ia r egr e ss ad o
b as ta nt e d o e n te d a d i gre s são à s il ha s e c uj o méd i co a s si s te n te l h e p ro ib i u
au se n tar - se d e Li sb o a.
42
De p arcer ia co m Lud o v ic Hel é v y (1 8 3 4 -1 9 0 8 ).
40
41
27
a sua estreia naquela casa de espectáculos, no dia 7 com o Assassino
de Macário e Está cá o Augusto .
Também no período de inverno se divulgavam partidas e chegadas
de
outros
tantos
grupos.
A
companhia
do
ac tor
Gil
Ferreira ,
organizada por Carlos d’Oliveira , partiu para a “província, começando
por Alcobaça”, a 9 de Dezembro de 1917 [43], e por lá continuava
ainda em Fevereiro do ano seguinte, dando “espectáculos com agrado”
em Vila Nova de Famalicão e na Figueira da Foz , segundo noticiava o
Jornal dos Teatros [44].
De norte a sul do país, estas tournées societárias calcorreavam o
litoral, faziam incursões pelo interior, inauguravam teatros [45], e
representavam consagrados êxitos de bilheteira para um público
difícil, conforme caracterizava o sentido c rítico de António Pinheiro
(1923: 191-2):
Tive sempre na or ganização dos meus grupos dramáticos para a
província o extremo escrúpulo de arregi mentar artistas que tivessem
um comportamento pessoal, de molde a não produzirem escândalos,
coisa que muito prej udica a vida das companhias nas terras da
província. A chegada de uma companhia a qualquer terra vai sempre
despertar uma vi va curiosidade nos seus habitantes. Compreende -se. A
vida das cidades e das vilas é sempre a mesma; monótona, sem
variantes, nem deri vativas. [...] é a eterna sensaboria, o et erno
basbaquismo, a eterna maledicência. De modo que a chegada de uma
companhia dramática, onde vêm cinco ou seis cómicos, como eles nos
chamam, e três ou qu atro cómicas, quando não lhes dão outro nome,
pelo hábito de qualif icarem o que lá têm pela terra, gente nova de
quem não conhecem a vida, é um aconteci mento que vem dar uma nota
de novidade e de pasto à curiosidade indí gena.
O movimento teatral alarga -se a círculos mais amplos, às Ilhas,
dotadas de teatros semelhantes aos do continente, às Colónias e ao
“Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 2 .1 2 .1 9 1 7 : 2 .
“Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 0 .0 2 .1 9 1 8 : 6 .
45
O T eatro S e ne n se, d e Sei a, fo i i na u g ur ad o e m 3 d e Fe ver eiro d e 1 9 1 8 , “d ep o i s
d e i mp o r ta n te s o b ra s d ev id o ao c he fe d o tel é gra fo -p o s ta l Sr. Fra nc i s co C ab ra l,
p o r u ma co mp a n hia ” it i nera n te. ( “Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s Tea t ro s ,
1 0 .0 2 .1 9 1 8 : 6 ).
43
44
28
Brasil. Depois do grito do Ipiranga foi, porventura, o retorno a um
novo achamento de mais riqueza: as companhias, que por lá andav am
vários meses, regressavam de cofres cheios.
Depois do quinto dos
infernos, a galinha dos ovos de ouro, que a esperteza acabou por
matar. Quais Mofinas Mendes, as companhias portuguesas, não se
apercebendo da evolução teatral brasileira segundo padrões próprios,
criando
a
sua
consciência
artística,
não
se
contentando
com
reportórios desactualizados e mal ensaiados, regressaram de cofres
vazios. Na falta de eldorados, repetiu -se o mesmo mal em terras lusas
por muitos anos que se seguiram.
Com o tempo, e o aumento do custo das deslocações, o interior do
continente foi deixando de receber a visita das companhias lisboetas,
mas não chegou a estar votado aos ostracismo cultural, como se possa
pensar. Existiam as companhias que se dedicavam exclusivamente à
itinerância pelos teatros regionais, exibindo o seu reportório de êxitos
oriundos de Lisboa e Porto. As companhias de p rovíncia foram solução
para os problemas de sobreviv ência, segundo revela o actor Pinheiro :
Diziam-me que em Portugal haviam [sic] algumas companhias de
província, tais como a do Soares , a dos Silvas e outras, e o meu f ito,
visto que em Lisboa não me davam trabalho, era or gani zar uma outra
companhia do género que emparceirasse com aquelas, e cami nhar
avante: uma companhi a de província . (Pinheiro 1923: 173)
Em 1902, o articulista Puck, em A Gambiarra , discorria sobre os
prejuízos que acarretavam as digressões dos elencos oriundos da
capital para as companhias de província. Se m se contentarem com a
estadia no Porto, visitavam “com largas demoras” as cidades de menor
dimensão populacional. O resultado traduzia -se numa concorrência
desleal, em que David dificilmente venceria Golias, uma vez que a
capacidade financeira das companhias definia a qualidade dos seus
espectáculos, determinando o apelo do público. “Mil vantagens
pecuniárias” para as empresas de Lisboa “e como consequência,
29
desvantagens e falta de público aos espectácu los” para as companhias
de
província,
que,
embora
modestas,
possuíam
alguns
valores
artísticos, “mais de intuição que de estudo”.
Mas que hão de eles fazer pobres salti mbancos, como os colegas das
capitais os conhecem, se a cada cidade a que chegam ouvem com
antecipação citar o mérito, o valor, os rasgos de génio, os fatos, os
cenários, enfi m, tudo quanto a companhia deste ou daquele teatro lá
exibiu há um ano e volta em breve, quatro ou cinco meses, depois a
patear -lhes como supr ema arte de representar e fazer teatro!
Anunciam-se estes, os tais, os salti mbancos, não somos nós que
como tais os consider amos, e os teatros ilumi nam -se e voltam ao fim
duma récita à escuridão donde nunca deviam ter saído, depois de uma
noite de farsa, opereta, comédia, drama ou tragédia dada para uma
dúzia de espectadores, tantos quantos pela arte procuram fora de suas
casas, distraírem-se. Mas anunciam-se os outros mais completos, sem
dúvida, considerados como artistas de nome e reputação feita e lá vai
todo o público da cidade, vilas e aldeias li mítrofes, o teatro enche -se
literalmente e o empresário que, com i ntuitos apenas mercantis,
abandonou o seu teatro em plena época invernosa, sacrificou os
artistas e a arte, ganha numa só noite o que num mês não fi zeram na
totalidade das suas récitas os pequenos, os modestos, postos fora de
sua casa, escorraçados do seu meio, morrendo de fome quase! [...]
Deixem vi ver os que se restringem ao seu meio, com menor arte
decerto, mas com mai s consciência, pois só procuram o sustento dia a
dia como histriões e nunca atravessaram épocas como as últimas em
que, de três companhi as sustentadas pela pr ovíncias, uma apenas este
ano por lá andou, Deus sabe como! Triste mas verdadeiro dilema do
tira-te que eu me coloque ou morre para que eu enriqueça. [46]
À semelhança dos jograis, seus antepassados artísticos medievais,
aos actores itinerantes coube uma responsabilidade na divulgação da
arte teatral em comunidades distantes dos centros culturais dominantes
e, ao mesmo tempo, na manutenção de públicos e de agremiações
teatrais amadoras.
Garrett refere na Memória ao Conservatório o caso de uma
companhia de la leg oa como primeiro motivo inspirador do Frei Luís
de Sousa, e talvez tivesse ficado aureolada com os louros míticos, se
P uc k, “Co mp a n h ia s d e P ro ví nc ia ” , A Ga mb ia r ra , s ema n á rio d e c r ít ic a tea t ra l ,
2 5 .0 1 .1 9 0 2 .
46
30
a memória dos factos não tivesse sido relegada para planos fundeiros
da história teatral :
Há muitos anos, discorrendo um Verão pela deliciosa beira -mar da
província do Minho , fui dar com um teat ro ambulante de act ores
castelhanos f azendo suas récitas numa tenda de lona no areal da
Póvoa de Varzim , além de Vila do Conde . Era tempo de banhos,
havia f eira e concorrência grande ; fomos à noite ao teatro: davam a
Comédia Famosa não sei de quem, mas o assunto era este mesmo de
Frei Luís de Sousa . Lembra -me que ri muito de um homem que
nadava em certas ondas de papelão, enquanto num altinho, mais
baixo que o cotovelo dos actores, ardia um palaciozi nho também de
papelão... era o de Manuel de Sousa Coutinho em Al mada ! (G A R R E T T
1984: 15) (47)
A situação ocorrida por volta de 1818 testemunha a existência de
um mercado de espectáculos populares, que aparentemente tem
passado desapercebido.
As feiras são indiscutivelmente locais de congregação de um
público numeroso e heterogéneo, o espaço ideal para a realização de
artes performativas ( 48). Coabitando com as barracas de pasto, de
venda de produtos alimentares, ou de quinquilharias, eram frequentes
as barracas dos arlequins, das f iguras de cera, das excentricidades, da
música e dos teatros -barraca.
Segundo Matos Sequeira, destes teatros de feira, o mais notável
era o dos irmãos Dallot . Filhos de funâmbulos, Carlos Dallot , seu
irmão José e a irmã Júlia, terão nascido em Versalhes e vindo parar a
Portugal, em meados do século XIX , tendo começado por trabalhar na
praça do Salitre, em seguida, na velha praça do Campo de Santana e,
posteriormente,
no
Circo
Pric e.
Escriturados
47
no
Circo
Madrid ,
De st acad o no s so .
C f. P ie rre Lo u is D uc ha rtre, Th e Ita lia n Co med y , cap ít ulo I X, “T he T h eatr es at
th e Fair s ”, p p . 1 0 9 -1 3 . Faz - s e a d e scr iç ão d a F eira d e S ai n t G er ma i n e m P ari s,
o nd e o s acto re s d a co m med ia d e ll’a r te en co ntr ara m re fú gio à p er s e g ui ção mo v id a
p o r Mad a me d e M ai n te n o n e ao fec ho d o s s e us t eatro s. E a i nd a d as q uer ela s e ntre
acto r es p o p ul are s e e r u d ito s, e d e co mo , a p ar t ir d e s se co n fro n to , se d ese n vo l ve u
a Op é ra - Co miq u e .
48
31
partiram em tournée por Espanha e Inglaterra, depressa conquistando
nomeada como clowns, ginastas e acrobatas .
De regresso a Portugal , na segunda metade oitocentos, os irmãos
Dallot montaram o seu próprio teatro -barraca - de arlequins, como era
costume
dizer -se
-,
representando
umas
“comédias
ingé nuas
entremeadas com as habilida des do célebre cavalo elástico [ ...] O
Mosca e com as graçolas e as truanices do Joaquim Confeiteiro , que
ficou célebre na personagem do Malhão , no Processo do Rasga, e que
foi durante muito tempo o palhaço do Teatro Infantil das Amoreiras ”
(S E Q U E IR A 1967: 251). O Almanach das gargalhadas para 1876
(Lisboa: Verol júnior, 1875: 28) dedicou-lhe um anónimo epigrama
intitulado A um palhaço que fazia rir os saloios à porta de uma
barraca de arlequins da feira:
Pergunta
Resposta
Se bom palhaço é,
Na classe é trigo sem joio
Se todo o povo ri bem,
E fino bobo cortez:
Não me dirás tu porque
Vê se te fazes saloio,
Eu não posso rir também?
E rirás como os que vês.
Na feira das Amoreiras , entre outros números de sensação,
segundo
relata
Edua rdo
de
Noronha ,
Carlos
Dallot
praticava
hipnotismo, adormecendo “um rapaz, agarrado a uma vara [ ...]
elevava-o até formar com a vara um ângulo recto”, em cuja posição se
matinha “até que acordavam o rapaz” ( 49).
Percorrendo o país de norte a sul, e até à Madeira e os Açores
(ca. 1874) (50), os Dallot , “de boa apresentação, cha péu de coco e
Ed u ard o d e No ro n ha , “ Fo l h eti m: T ea tro : B a rra cas d e Feir a”, Diá r io d e No t íc ia s ,
2 1 .1 0 .1 9 1 9 : 1 .
50
Ib id e m.
49
32
sotaque francês” ( 51), eram a grande atracção de qualquer feira, fosse
na de S. Miguel, no Porto, na romaria de Matosinhos, na Feira de
Março, na de Setúbal ou na de Santarém, onde José Dallot veio a
falecer, em 12 de Setembro de 1904, deixando uma filha, Estrela
Dallot, também actriz, que foi casada com o actor Roberto de Oliveira
da Companhia Rentini , trabalhou na companhia ambulante do actor
Oliveira
Taínha,
e
na Companhia Dramática Aliança ,
que, em
Novembro de 1915, o periódico Benaventense menciona se encontrar
actuando no Teatro do Clube .
Júlia Dallot casou com um português. Quando faleceu em
Pedrouços, por volta de 1908, a sua descendência continuou sendo
dona de barracas que se ar mavam segundo o itinerário das feiras.
Carlos Dallot parece ter sido empresário do teatro das Carmelitas ,
do Porto, onde montou a mágica O Ramo de Ouro, com que ganhou
bastante dinheiro, até ao dia em que se apaixonou pela mulher de um
sapateiro e decidiu fugir com ela. A descrição é digna de um
canovaccio! “Para se precaver contra as exigências dos cre dores
antigos, deposita em nome da transitória amante dez contos, que
forrara. A divindade morre. O marido vinga -se ao abrigo da lei.
Saboreia o lucrativo castigo da traição da cara -metade e do sedutor,
recebendo, como legítimo herdeiro, os dez contos de D allot” (52). Em
1909, encontrava -se no Dafundo, onde armara o seu teatro -barraca,
feito de madeira e lona, a que pusera o título de Teatro Chalet Recreio
Glória. Viria a falecer a 6 de Dezembro de 1916.
A Companhia de Carlos Dallot será recordada por muitos anos,
servindo de comparação com outras congéneres. Diferentes periódicos
regionais
reportam
o
vasto
reportório
exibido
em
espectáculos
Man u el E n v ia , c itad o p o r Car la O li ve ira E st e ve s , “E sp eci al Feir a d e Sa nt ia go
arra nca a ma n hã e fa z 4 2 0 ano s ”, S etú b a l n a Red e : O Po r ta l d o Dis t ri to ,
2 3 .0 7 .2 0 0 4 .
52
Ed u ard o d e No ro n ha , o p . ci t., Diá rio d e No t íc i a s , 2 1 .1 0 .1 9 1 9 : 1 .
51
2
variados por altura da feira de Março (53). A tradição francesa dos
teatros-barraca das Feiras de Saint Germain e de Saint Laurent dos
séculos XVII-XVIII, que deu origem ao vaudeville, à opéra-comique e,
posteriormente, ao teatro de “boulevard”, do famoso Boulevard du
Temple, em Paris, chegou a Portugal pela mão dos Dallot , que criaram
uma escola de artes do espectáculo para muitos actores populares. Será
o caso do actor espanhol Jaime Venâncio (54), autor de uma famosa
opereta O Processo do Rasga , e de sua mulher, a actriz Eliza
Aragonez, que fez sucesso no teatro do Rato e no segundo Teatro da
Alegria (55), onde representou Torpeza (56), e, posteriormente, no
Teatro da rua dos Condes e no do Príncipe Real (1897), na paródia
José João (B A S TO S 1898: 630) (57).
E será o caso do actor Henrique de Oliveira , natural de Lisboa
(58), “filho do célebre e [...] tão falado Joaquim José d’Oliveira que
organizou a conhecida companhia de Oliveira Taínha , que foi um
clown e um disciplinado director de companhias de circo e dramáticas”
(59). Segundo Carlos Dubini (60), Henrique de Oliveira começou “a
esmiuçar os segredos da p ista e do palco” assim que as suas pernas
“começaram a sentir a acção dos nervos”. Para isso contribuiu a
“S ta d iu m d e S . Do m in g o s ”, De mo c ra ta , Ave iro , 0 1 .0 7 .1 9 3 3 : 2 . O arti go
rele mb r a o s D al lo t a p ro p ó si to d a co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra.
54
Fil ho d e u m Ar ma nd o Ve nâ nc io , ac to r d e o ri g e m ita li a na re fu g iad o e m E sp a n ha
p o r mo ti vo s p o l ít ico s ( s eg u n d o te st e mu n h o d e s eu n eto Ar ma nd o V e nâ n cio , Ca sa
d o Arti s ta), J a i me Ve nâ nc io e E liz a Ar a go nez refu g iar a m- s e e m P o r t u ga l, p e lo s
me s mo s mo t i vo s , i n te gr and o co mp a n hia s p o p u l are s, e n tre a s q ua i s a c o mp a n h ia
d o s D al lo t .
55
Co ns tr uç ão e m mad eir a e fer ro , n a R ua No v a d a Ale g ria , no lo ca l o nd e ex is tir a
o d e Fra nc is c o J aco b e tt y . E st e tea tro t e ve e str e ia a 1 1 d e J an eiro d e 1 8 9 0 , co m a
rev i sta FF e RR , o ri g i na l d e B ap ti s ta Mac h ad o ( B A S T O S 1 8 9 8 : 3 1 ).
56
Ori g i na l d e An tó n io C a mp o s J ú n io r , te ve e str eia a 6 d e Mar ço d e 1 8 9 0 , co mo
resp o st a ao Ul ti ma tu m i n gl ê s, so frid o me se s a n t es.
57
A d e s ce nd ê n cia d e s ta c asa l fi co u li g ad a à s co m p an h ia s d e p ro ví n ci a: C o mp a n h ia
Lis b o ne n se Ve na n cio ( a no s 2 0 ), Co mp a n hi a Li s b o ne n se Ve n â nc io «O s Mo d e sto s »
(1 9 4 3 ) e Gr up o d e T ea tr o «O s Ve n â nc io s » .
58
Na sc id o e m 3 0 d e Maio d e 1 8 6 5 .
59
Ca rlo s D ub i ni , “ Ge nt e d e T eatro ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 6 .0 9 .1 9 2 5 : 1 e 2 .
60
Ac to r e co lab o r ad o r d o Jo rn a l d o s T ea t ro s .
53
3
companhia infantil que os Dallot
haviam organizado, onde ele
“debutou e onde, por v ontade do pai, alternava o trabalho, exibindo -se
como acrobata e como artista dramático na mesma noite” ( 61). Com um
profundo gosto, aprendeu música, como era uso nos artistas de então,
tornando-se num actor de recursos, num “elemento de grande valor em
qualquer companhia”. Henrique de Oliveira pertencia a uma numerosa
família de actores: seus irmãos José , Victor e Joaquim e seus filhos
Auzenda, Egídia, Carmen e Luís.
E será também o caso de Constantino de Matos , que entrou, como
amador, na companhia de José Dallot , onde se estreou, na feira do
Campo Grande, no Processo do Rasga (62). Depois de ter percorrido
quase todo o país, representando todas as peças do reportório de José
Dallot, com quem desenvolveu as suas qualidades artísticas e se fez
actor, decidiu formar a sua p rópria companhia, preferindo a vida de
«judeu errante » a um bom lugar num teatro da cidade.
A Companhia Dramática Societária Estremoz , de Constantino de
Matos, foi considerada como o agrupamento mais bem organizado do
seu tempo (63). Possuiu, também, o seu Teatro -Chalet, um teatro barraca onde Ângela Pinto chegou a representar ( 64), como relembra o
anónimo articulista do periódico Brados do Alentejo, de Estremoz,
muitos anos depois:
Todo o público de Estremoz ainda evoca com saudade as noites de
inolvidáveis espectáculos com que Constant ino de Matos , no “Teatro
61
Ca rlo s D ub i ni , o p . c it .
Es ta o p ere ta “có mi ca e b url e sca ” p er te nc e u ao rep o r tó rio d e co mp a n h ia s
iti n era n te s e d e gr up o s d e a mad o r es d e p ro v í nc ia. E x i ste u m ca rta z q u e a re fere
co mo se g u nd a p ar te d e u ma “r éci ta d e g ala , d e d icad a à s g e nt il ís s i ma s d a ma s d e
Av eiro , p ro mo v id a p el o 7 º ano d o Lic e u Ce n tra l d e V as co d a Ga ma ”, a
2 3 .0 4 .1 9 2 7 , no T eatro Ave ire n se ( Ac er vo d e s te t eatro ).
63
Ina u g u ro u o T eatro C h ale t Recr eat i vo , no Lu s o , co m o d ra ma O S a lt i mb a n co ,
e m 2 2 .0 7 .1 9 0 6 (B as to s 1 9 0 8 : 3 2 5 ).
64
D. J o ão d a Câ ma ra r e fe rirá q u e “a s ua e str ei a n in g u é m o sab e ao cer to , n e m el a
tal v ez. Fa la - se va ga me nt e d e u m t ea tro -b arr a ca, e m S et úb al ” ( Ân g e la Pin to :
Esb o ço s, h o men a g en s e a p rec ia çõ es c rí tica s , 1 9 0 6 : 8 1 ).
62
4
Chalet” – assi m denominado pomposamente – e a sua companhia,
quase toda a sua família de artista s, deliciou, durante meses, os
estremocenses. De t udo lançava mão a aplaudida companhi a da
direcção de Constantino de Matos : drama, alta comédia, comédia
ligeira, variedades, revista e uns “nacos” de ópera, e em tudo o seu
pessoal artístico brilhava sempre com esplêndido êxito artístico. [...]
Em 1913 ardeu o Chalet, desaparecendo esse recinto de espectáculos,
que a todos consternou, tanto mais que em Estremoz nenhuma outra
casa de espectáculos havia. (65)
Apesar da calamidade, Constantino de Matos não se deixou
abater. O temperamento de lutador e as excelentes qualidades de
trabalho valeram-lhe o auxílio de amigos, que o ajudaram a voltar a
percorrer o País, dando a conhecer os sucessos teatrais da capital. Em
1917, quando se encontrava actuando na Nazaré , a sua companhia
compunha-se de 14 figuras, entre as quais, segundo relata Paulo Zitte
(pseudónimo de Alberto Caleia) ( 66), se destacavam os filhos Eduardo
e Afonso de Matos, cujas carreiras passarão pelos principais teatros da
capital, para regressarem à itinerância, integrados na c ompanhia de
Rafael de Oliveira, as filhas Leontina e Adelina de Matos .
Do elenco fazia também parte o actor cómico Domingos , outro
herdeiro da tradição dos Dallot , que viria a falecer no ano seguinte e
de quem o Jornal dos Teatros fez um elogio póstumo pela pena de E.
M.:
Já com 64 anos de idade, vê -lo no palco par ecia ter 20!... A moci dade
nele era perpétua. O melhor de todos os escudeiros das “mágicas”; o
imortal “Mirundela ” do Processo do Rasga ; o cómico apreciado em
toda a província onde em cada conhecido t inha um ami go... foi tomar
o seu lugar na galeria dos “bons que desaparecem”... Os seus 40 anos
de teatro cheios de glórias e contrariedades, de dias felizes e outros de
desâni mo numa vida ambulante que cansa e destrói, deixam na
memória de quantos o viram , bem vinculada, a recordação da sua graça
natural e cheia de ori ginalidade. (67)
65
Bra d o s d o Alen te jo , E st re mo z, 0 3 .1 0 .1 9 4 3 : 2 .
Secre tár io d o Jo rn a l d o s Tea t ro s . E s ta e ntr e vi st a, real izad a n a Naz aré , s ur ge no
d ito j o r na l so b fo r ma d e b io gr a fia , na hab i t ua l co l u na “Ge n te d e T eatr o ” ( Jo rn a l
d o s Tea t ro s, 1 6 .0 9 .1 9 1 7 : 5 ).
67
Jo rn a l d o s Tea t ro s , 3 1 . 0 3 .1 9 1 8 : 5 .
66
5
Domingos Cândido da Silva , de seu nome completo, formou, de
sociedade com o actor Santos Carvalho , a Companhia de Teatro
Lisbonense, que durante 12 anos percorreu o país, representando nos
teatros da província, e teve a particularidade de fundar um jornal de
teatro, O Actor Errante , com tiragem quinzenal, a quatro páginas, em
que se abordavam assuntos diversos, para além de teatro. Na sua
edição de Guimarães , o editorial apresenta o “pequeno e modesto
quinzenário” a quem se tributa toda a afeição, porque ele partilha da
sorte dos que o fazem, “daqueles que se arrastam de cidade em cidade,
trabalhando sempre para poderem viver mod estamente e com honra! É
nele que nós distraímos o nosso espírito, é nele que publicamos as
nossas impressões e que descrevemos a nossa vida de teatro”. [68]
Teve oportunidade de ser escriturado em teatros lisboetas, quando
a Companhia de Teatro Lisbonense se dissolveu. O empresário Afonso
Taveira propôs-lhe trabalhar no seu teatro, mas a sua adoração que
sentia pela vida de província fê -lo preferir o lugar que Constantino de
Matos lhe ofereceu na sua companhia, onde trabalhou pela derradeira
vez.
Muitas outras companhias, herdeiras da tradição itinerante,
aparecem referenciadas no panorama teatral português dos finais de
oitocentos
e
início
de
novecentos,
variando
em
número
de
componentes e em estilo de reportório. Quer se dediquem ao teatro
declamado, drama ou comédia, à opereta ou às variedades, o seu
reportório
reflecte
a
dimensão
do
elenco
e
as
possibilidades
interpretativas do mesmo. Os espectáculos pretendem -se variados, por
forma a proporcionarem serões artísticos, em que a Arte de Talma se
entremeia com a música de pequenas orquestras de amadores locais,
cuja função se resumia não só a entreter os espectadores durante os
68
O Ac to r E r ra n te , Ano 3 º , nº 5 6 , Ed iç ão d e G ui m arã e s, 0 8 .1 1 .1 9 0 8 : 1 .
6
intervalos, como a acompanhar os artistas durante as variedades, que
rematavam o serão. Neste universo dramático provinciano destacamos
algumas das companhias que ganharam maior prestígio.
Francisco do Carmo , “um fervoroso amador teatral e exaltado
republicano” [69], conheceu, numa sociedade recreativa de Lisboa , a
Augusta de Campos, “talento de excepção para o palco, [que passava]
com facilidade da farsa ao drama” [70]. Deste casamento nasceram
quatro filhas, um filho, e a Troupe Carmo, que percorreu o Alentejo e
o Ribatejo, ganhando fama e prestígio de probidade artística e
humana, que a colocavam acima de outros cómicos ambulantes.
Invariavel mente, a abrir o espectáculo, representava -se um drama de
altos choros, que podia ser O Veterano da Liberdad e, muito do agrado
de Francisco do Car mo , ou peças mais recentes, como a M ater
Dolorosa, de Júlio Dantas , a que se seguia uma comédia ou farsa para
rir até mais não poder , tudo ter minando num alegre acto de variedades,
em que cada vez mai s brilhavam as três meninas da companhia, que
iam desabrochando em graça e garridice. Encontrando, um dia, uma
casa na Amarelej a, decidiu Francisco do Car mo estabelecer aí o seu
quartel -general, de lá partindo para as deslocações às terras vizinhas,
onde a Troupe nunca se demorava menos de um mês. (71)
Numa dessas digressões cruzou -se, em Alter do Chão , com o
Circo Muñoz. Hernâni Muñoz , filho dos proprietários circe nses,
executava com sua irmã Alzira números de danças de salão, em
especial o tango, essa importação argentina que provocara um
“frisson” social entre os europeus, pela sensualidade que os corpos
dos dançarinos, entrelaçando -se em atitudes de “bas -fond”, induziam
no espírito do observador. Efeito da dança ou do dançarino, o facto é
que uma das meninas Carmo, a jovem Júlia , petit nom Mimi, se
apaixonou e com ele veio a casar em 1927. Hernani trocou o circo
69
Víto r P a vão d o s S a n to s , Eu n ice Mu ñ o z , 5 0 a n o s d a vid a d e u ma a ctr iz ,
p ro gr a ma d a e xp o s ição o rga n izad a e m s ua ho me n a ge m no M us e u Na cio na l d e
T eatro , e m 1 9 9 1 .
70
Ib id e m.
71
Ib id e m.
7
paterno pela companhia dramática dos sogros, mas as desavenças
frequentes com Augusta do Carmo levaram-no a pedir dinheiro
emprestado para fundar a sua própria companhia, a Trupe Mimi
Muñoz. O sucessivo casamento dos restantes irmãos Mimi acabou por
fazer desaparecer a Troupe Carmo.
A Trupe Mimi Muñoz continuou itinerante, ocupando -se das
variedades em alguns cinemas, para as quais contratavam artistas cuja
carreira conhecera já o declínio nos grandes palcos: a actriz de revista
Dora Vieira, Rayra de Sousa , os Guimarães Brazão , velho casal de
actores do Nacional, e o pianista Freitas , visto que a trupe poss uía o
seu piano. Quando a legislação proibiu as variedades nos cinemas, a
Trupe Mimi Muñoz decidiu adquirir um teatro -barraca para poder
continuar a percorrer o país, mas na realidade, passado algum tempo, o
casal
Muñoz
preferiu
terminar
com
esse
teatro
desmontável,
dedicando-se a organizar pequenos conjuntos de variedades, actividade
essa que manteriam durante vários anos [72], “vivendo Hernâni Muñoz
sobretudo da sua profissão de afi nador de pianos” [73]. Foi neste
pequeno grupo familiar que debutou para o mundo do espectáculo a
Primeira Dama da cena portuguesa contemporânea, a actriz Eunice
Muñoz, uma das herdeiras dos “cómicos” itinerantes.
Pela imprensa regional, espaço de copiosa informação importante
para a história do espectáculo, se traçam as rotas dos percursos
deambulatórios dessas companhia itinerantes. Por essa imprensa,
circula a existência de uma Companhia Rentini , sob a direcção de
Julieta Rentini, que, em 1938, deambulava por Aveiro e Coimbra, com
o seu “salão metálico móvel, confortável”, onde um elenco de “20
artistas de ambos os sexos [representava] um reportório muito
72
U m ca rta z e x is te n te no acer vo d e U li s se s Ferr eira , a nt i go e mp r e sário d o Ci n e T eatro d e Al me ir i m , me nc io na -o s a ct u a nd o ne st a s ala d e e sp e ct ác ulo s e m 1 9 5 1 .
73
Ví to r P a vão d o s Sa n to s , o p . ci t..
8
variado” [74]. Em 1939, o Política Nova, “órgão da União Nacional do
Distrito de Viseu”, anunciava a sua instalação no recinto da Feira de
S. Mateus, no Campo de Viriato . Uma das grandes companhias
familiares ambulantes, Julieta Ren tini, de seu nome verdadeiro Júlia
Arjona, e seu irmão Artur , descendiam de artistas espanhois. O seu
nome artístico provinha do facto de ser afilhada da actriz Dolores
Rentini. Verdadeira matriarca do clã Rentini [75], Julieta dirigiu a
pulso uma companhia composta por Camilo e Roberto de Oliveira ,
filhos de um primeiro casamento, Olinda e Salúquia, filhas de uma
segunda união, e de seus netos, Camilo de Oliveira , Helder de Oliveira
e Zurita de Oliveira, pelas sobrinhas Esmeralda , Ilda e Leónia Mendes,
filhas de seu irmão Artur , e pela sua nora Estrela Dallot . Não obstante
a sua determinação, a companhia desmembrou -se (76), em 1946, e os
actores seguiram rumos distintos. O Setubalense fez eco do caso de
Leónia Mendes , uma “modesta e insinuante artista que, durante alguns
meses, [conquistara] a simpatia dum público assíduo” do Teatro
Metálico Rentini , e cuja despedida “teve foros de acontecimento, onde
as flores e as lembranças fizeram saltar muita lágrima” [77].
74
O Po vo d e A vei ro , 1 8 .1 2 .1 9 3 8 : 2 .
E u nic e M u ño z r eco rd a , p o r vo l ta d e 1 9 3 9 , a i ma g e m d e J ul ie ta R e nt i ni ve st id a
d e I nê s d e C as tro , co m lo n g a s tr a nça s lo ura s, ta mb o r a t ira co lo , so b r e o p ala nq u e
à en trad a d o se u sa lão me tá li co , j u n ta me n te co m a r es ta n te co mp a n hia , fa ze nd o
ru fo s q ue at raí a m o p úb l ico à fu n ção .
76
Se g u nd o te s te mu n h o d e Zuri ta d e O li v eir a , “o s alão d e s mo ntá v el ac ab o u p o r s er
ve nd id o p ar a u ma fáb ric a d e s ab ão e o s c e nár io s e f i g uri no s a p e so d e p ap el” . E m
1 9 4 8 , J u lie ta R e nt i ni r e tiro u - se p ara o B ra si l c o m as fi l ha s ma i s no va s , Ol i nd a e
Sal ú q uia . E st a e nc e no u a p eça Al to lá co mo o c h a ru to p ara a Co mp a n h i a d e P i ero
B ern ard o n, d e Li sb o a, rep re se n tad a e m d i v er so s t ea tro s d o B r as il . E m 1 9 4 9 ,
trab a l ho u co m S il v i n ho Ne t o e m d i ver s as p eç as no T eatro C arlo s G o me s . E m
1 9 5 4 , trab al ho u co mo c o med ia n te n a T V T up i, e m 1 9 7 5 , n a T V E xc el s io n , e e m
1 9 7 8 , na T V Glo b o . E m 1 9 8 0 , fe z u ma d i gre s sã o p elo B ra si l co m a co méd ia Po r
fa lta d e ro u p a n o va , p a s sei o fe r ro n a velh a . Enco n tra - se re fo r mad a , v iv e nd o no
Re tiro d o s Ar ti s ta s, no Rio d e J a nei ro , d e sd e 2 0 0 4 ( www. ca sad o s art is t as.o r g .b r ;
2 0 0 7 .0 7 .1 8 ). Ca mi lo R en ti n i fo r mo u p o ste rio r me n te o Gr up o Art ís ti c o R e nt i ni ,
cuj o e le nco e ra co mp o s t o p o r Mari a Ro s a d e O li ve ira , He ld er d e Ol i ve ir a , B eat riz
d e O li ve ira , O lí v ia d e O li ve ira , Zuri ta d e O li v e i ra e vár io s a ma d o re s.
77
O S e tu b a l en s e , 2 3 .0 2 .1 9 4 6 : 2 .
75
9
A companhia Rentini dissolveu -se e a si mpática artista [Leónia] viu os
seus desej os coroados de êxito, ingressando na companhia do Teatro
Maria Vitória , esta desconhecida, para os lisboetas, estreou -se na
revista Travessa da Espera , interpretando os papéis que lhe f oram
distribuídos, com tal sucesso, que toda a crítica lhe testemunhou os
melhores elogios, aliás merecidos (78).
Leónia Mendes
trocava a modéstia de uma companhia de
província pelo brilho de uma companhia citadina, em que luziam os
nomes de Luísa Satanela e Teresa Gomes. Percurso idêntico seguirá
seu primo Camilo de Oliveira, outro herdeiro da tradição itinerante,
que fará a sua estreia numa revista realizada no Coliseu dos Recreios ,
de Lisboa.
A mesma imprensa regional fa z eco da Companhia Dramática
Lisbonense Moiron , ou simplesmente os Moirons ( 79), dirigidos por
Paulo Gabriel Moiron , que, em 1944, fez temporada na vila alentejana
de Fronteira, actuando no teatro que aí existia, e se deslocou, em
seguida, para Sousel .
A Companhia Lisbonense Moiron , que aqui se encontra há cerca de 2
meses, dando -nos uma série de espectáculos com peças de bons
autores, retirou na passada 4ª -feira, para Sousel , onde deve ter feito a
sua estreia na 5ª -feira seguinte. Do elenco da companhia fazem parte
os artistas Paulo Gabriel Moiron , seu director, Leonel Venâncio ,
Ar mando Venâncio , Emílio Moiron, António Vilela , Luís Moiron,
Virgílio, Susana de Lourdes , Pepito dos Pra zeres Moiron, Luís
Venâncio, Schubert Gabriel , Filomeno Weber , Anita Moiron , Cremilde
Moiron, Idalina de Almeida , Amélia Toscano , Etel vina Rui , Maria
Venâncio e Maria do Car mo . Em Sousel , terra de boa gent e e
apreciadora de bom teatro, estamos certos que a companhia agradará e
conquistará ali as mesmas si mpatias que consegui u granj ear aqui.
Assi m lho desej amos e bem o merece. E agora... até à próxi ma
primavera. (80)
78
Ib id e m.
O s Mo iro n s d es ce nd ia m d e Lo ui s Mo iro n , fo tó gra fo fra nc ês , q ue ve io p ara
P o rtu g al, traz e nd o o ci ne ma a mb u la nt e. T ev e trê s fi l ho s q u e s e d ed i cara m ao
tea tro e às var ied ad es : P au l Gab ri el, É mi le e A m éli e.
80
“Fro nt eir a” , B ra d o s d o Alen te jo , E str e m o z, 1 2 .1 1 .1 9 4 4 : 2 . D o s no me s
co n s ta nt es d o e le n co , a lg u n s i n te grar ão p o st eri o r me nte a Co mp a n hi a Ra fael d e
Oli v eir a . Id al i na d e Al me id a e An tó n io Vi lel a e nt rarão , co mo so cie tário s, e m
79
10
Em 1958, os Moirons possuíam também o seu recinto próprio
(81). Sendo necessário uma licença de permanência, a Câmara
Municipal de Coruche autoriza-lhe, por dois meses, a sua instalação
em terreno camarário ( 82); tratava-se de “um magnífico Teatro
Desmontável, com lotação para mil assistentes, engenhosamente
montado em ferro”, como refere Bravo da Mata , a propósito da estadia
desta Companhia em Reguengos , em 1959 (83).
E, por último, a Companhia de Rafael de Oliveira, uma Sociedade
Artística, “o mais bem organizado conjunto que percorre o País desde
1918” (84). Uma companhia com características semelhantes às suas
congéneres, em permanente digressão, representando, como elas,
algumas peças do reportório antigo, que ainda faziam o agr ado das
plateias de província; uma companhia que sobreviveu aos factores que
levaram à progressiva dissolução das suas congéneres, e que acabou
por acolher alguns dos seus elementos; uma companhia que resistiu à
Ag o s to d e 1 9 4 5 , co n fo r me co n s ta d o Li vro d e C o nt a s M 1 9 4 5 . A fa mí lia Ven â nc io
en trar á e m 1 9 6 0 , ma n te n d o - se até 1 9 6 3 .
81
E m 1 9 4 6 , ap ó s a mo rte d o acto r Mário Li ma , a Co mp a n h ia D ra mát ic a
Lis b o ne n se Mo iro n ad q ui ri u o t ea tro d e s mo nt á ve l, e m ma d ei ra e zi nco , d a
co mp a n hi a Mar y - Q u i n a . P o ster io r me n te ma nd o u co n str u ir o utro d es mo n tá ve l, e m
es tr ut ur a t ub u lar , e x ec ut ad o p ela Me ta l úr gi ca d o Car ta xo , so b ri sco d e P a u lo
Gab ri el Mo iro n e Ar ma nd o Ve nâ n cio . Co m o d esap arec i me n to d a co m p an h ia, n a
d écad a d e 6 0 , e st e D es mo n tá ve l a cab o u p o r ser v e nd id o a u ma so c ied ad e
co n s ti t uid a p e lo s ac to re s P ed ro P i n heiro e Ar m and o Ve nâ n cio , e p e lo ind u s tri al
An tó n io Ca sq ui l ho . Ap ó s 1 9 7 4 , fo i i n s tal ad o n u m ter re no d a Av e nid a d e An tó n io
Au g u s to d e Ag u i ar , e m Li sb o a, a S. Seb a s tião d a P ed re ira, o nd e se s it ua
act ua l me n te o Co rt e In gl ê s. O st e nto u e n tão o tít u lo d e Co mp a n h ia d e T eatro d o
P o vo , e nel e s e es treo u, co mo a cto r , o ap re se n tad o r t ele v i si vo M a n ue l Luí s
Go uc ha . So fre u a «e ro são » d o va nd al is mo p o p u lar, q ue l he fo i ro ub a nd o a
co b ert ur a d e z i nco , a cab a nd o a e s tr ut ur a t ub u lar p o r ser v e nd id a a u ma
co lec ti v id ad e d o s arr ed o re s, q ue o tr a ns f o r mo u e m p a vi l hão d esp o r ti vo .
(T este mu n h o d e Ar ma nd o Ve nâ n cio , C a sa d o Art is ta).
82
“J o rn al d a P ro v í nc ia: D e Co r u c he : T eatro De s mo nt á ve l”, Jo rn a l d o Rib a t ejo ,
2 5 . 0 9 .1 9 5 8 : 6 .
83
“O Ca mar i m d e P a n ta g rue l e o T eatro d a Co m p an h ia M o iro n” , De mo c ra c ia d o
S u l, 2 9 .1 1 .1 9 5 9 : 4 .
84
Esta fra s e ap ar ec erá i n scr ita no s car taz es d a Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a ,
en tre 1 9 5 7 e 1 9 6 0 , e m lu g ar d e sta cad o , ab ai x o d o no me d a Co mp a n hi a, co mo
ma rca d o s e u va lo r p ro fi s sio na l.
11
morte do seu fundador e, sobretudo, seu timo neiro, para se dissolver
em 1975, e que será, porventura, no panorama teatral português, a
última representante da tradição empresarial itinerante dos “cómicos
da arte” descendentes da tradição italiana renascentista, em que se
enxerta a tradição gálica do s teatros de feira.
É condição da vida do actor errante, a determinação e a
capacidade de luta, impensáveis ao comodismo hodierno. Pode ser essa
a mensagem a extrair de “A Farândola” de D. João da Câmara , cuja
ficção corresponde à realidade descrita pelo actor Pedro Cabral sobre
a companhia do actor Soares (85), para a qual entrou em 1883, a
convite de Júlio Soler, e onde se manteve durante um ano:
A sua companhia for mava -se d’umas trint a figuras e acampava em
qualquer terra durante três ou quatro meses, pois tinha a maior
riqueza, o reportório, umas quarenta peças, desde o Santo António e
Rainha Santa Isabel até à mais li geira comédia. Todos os arti stas
possuíam suas camas e mobiliário, de modo que a transferência para
qualquer terra era uma perfeita caravana composta de dez carros de
bois ou carroças, cheias de cenário, mobiliário, etc. Ainda me lembro
da viagem que fi z a cavalo, por montes e vales, desde Chaves a
Bragança. Toda a companhia montada em burros e cavalos dava a
impressão d’uma troupe de ci ganos . (C A B R A L 1923: 35-36)
Uma visão sofrida que o testemunho de Adelina Abranches
perspectiva segundo um outro sentimento, que torna estes fazedores d e
sonhos capazes de superar as agruras do métier:
Trabalhei em teatros incríveis, iluminados alguns a velas, outros a
petróleo. Comi muita mosca e perninha de barata, em pensões mais
suj as do que pocilgas... Viaj ei nas carripanas mais absurdas. Meti -me
em comboios abj ectos, que me deixavam tão mascarrada como
qualquer li mpa -chami nés. Conheci o prazer das grandes ovações e o
85
O acto r So are s, Ma n u e l Mari a So ar e s , mai s co n he cid o p e lo La me g aça s, e ste v e
esc rit u rad o no ve l ho T eatro d a r ua d o s C o nd e s, d o q u al se d e sp ed i u e m
3 0 .0 7 .1 8 6 4 , p ara fo r ma r a s ua p ró p ria co mp a n hi a, q ue p erco rr e u a p ro v í nci a
d ura n te ap ro x i mad a me n te 2 0 a no s, go za nd o d e gra nd e p re s tí g io . P ed ro C ab ra l
trad uz i u e fez rep r es en tar ne sta co mp a n hia a Te re sa Ra q u in , d e Zo l a, o
Divo rc ie mo - n o s d e V ic t o rie n Sard o u e o s En g e ita d o s d e A. E n e s ( Cab ral 1 9 2 3 :
3 6 ).
12
travo das pequeninas insídias. Mas deixá -lo. Di verti -me. Que de
recordações trouxe dessa minha pri meira “escapada” por terras das
nossas províncias! Que moti vos de beleza surpreendi em muitas voltas
de estrada! Beleza, que eu estava longe de sonhar que existisse por
todo esse Portugal for a! (A B R A N C H ES 1947: 84)
13
Capítulo II: As mil e uma maneiras de chegar ao te atro...
Ilustração 2 – A Companhia Rafael de Oliveira, Artistas
Associados (1960): o mesmo elenco que actuou no Teatro
Avenida de Lisboa (1962).
Em pé (da esqª para a dª): Armando Venâncio, Fernando de Oliveira,
Álvaro de Oliveira, Alberto Vilar, Luís Pinhão, Leonor Venâncio,
Rafael de Oliveira, Eduardo de Matos, António Vilela, Carlos Frias e
Fernando Frias. Sentadas: Gisela de Oliveira, Lizete Frias, Lucinda
Trindade, Geny Frias, M aria Leonor Oliveira , Idalina de Almeida,
Maria Custódia e Ema de Oliveira.
[O] teatro feito para o povo e levado à sua audiência constitui um factor de
importância no esclarecimento e na educação. [...] Numa primeira fase de
inciação teatral, que é também uma primeira fase de iniciação da
consciência social, será preferível que o povo aprenda que o teatro é uma
forma elementar, mas decisiva, de desdobramento da sua consciência.
Jorge de Sena, “Teatro
14Popular”, in Do Teatro em Portugal (1989: 390)
1.
Em Lisboa, 1962: Comediantes que se exibem na capital de um
Império de pequeninos.
14 de Fevereiro. A página de espectáculos do Diário de Notícias
parece uma manta de retalhos, fe ita de quadrados publicitários
monocromáticos, de
tamanhos
e
grafismos
diversos, disposta
a
agasalhar o desejo de quem nela procure a sugestão estética que
reconforte uma alma de artista. Nesse dia longínquo, as propostas
cinematográficas superavam as teat rais, mas mesmo assim, entre a
variedade disponível, a Companhia do Teatro Nacional dividia o
espectador entre as delícias do garrettiano Alfageme de Santarém e as
últimas récitas de Palmira Bastos , em As árvores morrem de pé ,
enquanto fazia crescer água na boca com a antevisão da estreia
próxima do Anjo Rebelde, de Carlos Selvagem , encenado por Pedro
Lemos, e interpretado por nomes sonantes do seu elenco ( 86); na
colina do Chiado, o Teatro da Trindade , aliciava a assistir a Augusto
de Figueiredo interpretando O Príncipe de Homburgo, de Kleist (87);
mais afastado da baixa teatral, no Cinema Império , propunha-se, em
matinée “roubada” à projecção cinematográfica de fim de tarde, o
Teatro Experimental do Porto (TEP) , que se deslocava em tournée a
Lisboa e trazia à cena os Credores, de August Strindberg (88).
Publicitava-se, ainda, para breve, a estreia de outras duas produções: a
nova revista do Teatro Maria Vitória , Bate o pé, com as figuras de
86
Lurd e s No rb er to , Cr e m ild a G il , Amé l ia R e y - C o laço , Luz V elo so , P a i va R ap o so ,
Ra ú l d e C ar va l ho , Er ico B ra ga , J a ci n to Ra mo s e Fer n a nd o C urad o R ib e ir o
87
Ence n ação d e Co uto V ia na , co m M ário P ere ir a no P rí ncip e e Lí gi a Tele s , e m
P rin ce sa Na tál ia d e Or a n ge .
88
In terp r eta çõ e s d e J o ão G ued e s , Da li la Ro c h a e Mário J acq ue s , e ntr e o ut ro s.
15
proa do momento, no género ( 89), e, no Teatro Monumental , Madalena
Sotto, Mariana Vilar e Isabel de Castro associavam-se a Igrejas
Caeiro, para interpretar a comédia de Diego Fabri , O Sedutor, na
versão portuguesa de Jerónimo Bragança , sob a égide do empresário
Vasco Morgado.
Porém, a um olhar atento não passaria despercebido, naquela
mancha gráfica, um estreito rectângulo vertical, uma espécie de viela
entre colossos, uma tira informativa, cujo apelo era notoriamente
referencial:
Pela primeira vez num palco de Lisboa , Teatro para o Povo pela
Companhia Rafael de Oliveira , a mais antiga e mais popular, 47 anos
ao serviço do teatro. Agora em clamoroso êxito no Avenida apresenta
às 21,45 horas – 4 únicos dias, a famosa peça de Ramada Curto ,
Recompensa – 12 anos. Domingos à tarde, às 16 horas ( 90).
No interior daquela gambi arra promocional, uma informação
concisa e precisa, como esta, possuía a força de um projector capaz de
ofuscar as estrelas do firmamento teatral lisboeta. Uma tal função
apelativa, lacónica e aguerrida, pretendia, obviamente, captar o
interesse do público para o espectáculo em questão, mas não estaria,
ao mesmo tempo, a despertar o interesse por outro tipo de espectáculo
no circo publicitário? Tratava -se, afinal, de uma modesta Companhia
Dramática, uma ilustre desconhecida, que, da província, se propunha
actuar na arena da produção espectacular da grande urbe. Fosse como
fosse, o meio teatral conhecia -os, e, num momento ou noutro, cruzara se com a Companhia Oliveira numa qualquer cidade de Província. A
imprensa
regional,
e
alguma
da
capital,
há
muitos
anos
que
acompanhava o calcorrear das temporadas deste agrupamento pelo
país. Este anúncio surgia, sobretudo, como um eco da luta insana que,
89
Hu mb er to Mad eira , Ra ú l So l nad o , E mí l io Co rre ia , B er ta Lo r a n , Car lo s Co e l ho e
Flo rb el a Q ue iro z .
90
P ub l ic id ad e in Diá rio d e No tí cia s , 1 4 .0 2 .1 9 6 2 : 3 .
16
há décadas, vinha travando, para levar teatro às terras perdidas no
isolamento da interioridade, mas parecia, também, comportar algo de
quixotesco, nesta encenação da entrada da Companhia do Teatro
Desmontável na capital do império em declínio. Tão quixotesco quanto
a bandeira que Rafael de Oliveira desfraldara contra os gigantes do
Fundo de Teatro, proclamando que a sua companhia era “o mais bem
organizado conjunto que percor[ria] o País desde 1918”, o “verdadeiro
teatro do povo e para o povo”.
Tudo isto poderia ser conhecido de várias pessoas, menos do
público em geral, alheio às implicações destas pequenas guerras de
interesses, como de outras guerras que então começavam.
Escalpelizemos, brevemente, alguma da informação, contida na
dita tira vertical, referente à estadia no Teatro Avenida . Comecemos
pela expressão “teatro para o povo”. Pensaria um espectador comum
que, se a tal se propunha Rafael de Oliveira , quereria com isso dizer,
que tudo o mais, que se anunciava, em outras salas, não era teatro para
o povo? Uma afirmação causadora, por certo, de escândalo nos
corredores do Teatro Nacional, ou, por maioria de razões, nos
meandros teatrais do popular Parque Mayer ? Nada disso. A ironia não
se destinava à classe teatral; nada existia contra as propostas de
vanguarda dos grupos experimentais, nem se pretendia atacar a
memória de experiências findas de out ros teatros do povo, e para o
povo. O remoque visava certos gabinetes do poder central, do
Secretariado Nacional de Informação , com quem Rafael de Oliveira
mantivera um braço de ferro, no fim da década de 50, pela reobtenção
do apoio financeiro, e pelo reconhecimento do seu trabalho persistente
em prol da divulgação do teatro.
Proclama, de seguida, o dito anúncio, que se tr ata da “mais antiga
e mais popular, 47 anos ao serviço do Teatro”. Ingenuidade! –
pensaria o dito espectador – a mais antiga seria a companhia de Rey
17
Colaço – Robles Monteiro, que ocupava o Nacional havia imenso
tempo, existindo já antes de se lá instalar. Porém, a de Rafael de
Oliveira conseguia ser um ano mais antiga do que a concessionária do
D. Maria (91).
E, por fim, sublinhava -se ainda que a companhia apresentava “em
clamoroso êxito [...] a famosa peça de Ramada Curto , Recompensa”.
Soava a exagero. Ramada Curto era, indiscutivelmente, um dramaturgo
que acumulara êxitos; esta peça fizera sucesso no Teatro Nacional
(92),
mas
havia
tantos
anos
que
poucos
se
lembrariam
desse
espectáculo. E, apesar de se proclamar que se tratava de um assunto de
interesse e empolgamento, poderia ser ainda um êxito, quase trinta
anos depois? Sobreviver no cosmopolitismo urbano, onde o tempo tem
o condão de tornar tudo mais rapidamente obsoleto do que na pacatez
rural? E representada por modestos actores habituados, sobre tudo, ao
ritmo e ao gosto do Portugal que se pretendia dos pequeninos?
Quem era, então, esta Companhia, que surgia das brumas
provincianas,
que
aparecia
publicitada
pela
imprensa
lisboeta,
existindo há cerca de meio século, que, em 1956, fizera uma
temporada semelhante no Teatro Sá da Bandeira , do Porto, e apenas
agora chegava a Lisboa , quando 14 anos antes havia já actuado no
Coliseu Avenida , conforme referia ironicamente o Correio dos Açores
(93), de Ponta Delgada ?
Em 1955, o periódico A Rabeca, de Portalegre, transcrevia uma
breve notícia do Norte Desportivo, de 27 de Março desse ano, que
definia a companhia como um “agrupamento artístico, actuando há
anos na província, com um vast o reportório que inclui algumas das
melhores obras do teatro português contemporâneo. Com uma unidade
A E mp r es a Re y Co laço – Ro b le s Mo n te iro co n st it u i u - se e m 1 9 1 9 , e a d e R a fae l
d e O li ve ira as s u me - s e e m 1 9 1 8 .
92
A 1 5 d e J a nei ro d e 1 9 3 8 .
91
18
de elenco, uma persistência e um brio profissional, que podem servir
de exemplo às desordenadas companhias da capital, Rafael de Oliveira
e os seus artistas – uma grande família de artistas – continuam a
difundir, nos meios populares da província, o gosto pelo Teatro, que
não está perdido, como os desesperados intelectuais do Parque Mayer
às vezes apregoam” ( 94). Em 1961, o Dr. Campos Coroa , no Correio
do
Sul,
descreve-os
como
um
agrupamento
“consoladoramente
triunfante das vicissitudes de dois pós -guerras, da concorrência
económica quase esmagadora do Cinema, do Futebol e da Televisão,
cada vez mais profundamente radicado na sua base de honestidade,
brio profissional e singularidade de elenco, à base de duas famílias –
os Oliveiras e os Frias – o que dá ao conjunto uma coesão interior
ímpar no Teatro Português” ( 95).
Quem era, portanto, esta gente que, apenas agora, visitava a
capital, a convite do empresário Vasco Morgado , um senhor todopoderoso do panorama teatr al?
Pudesse ser revisitada a noite de 14 de Fevereiro de 1962, na
Avenida da Liberdade, poucos passos abaixo do Cinema Tivoli , cerca
das nove e meia da noite, encontrar -se-ia, por certo, um grupo de
pessoas fugindo ao ar frio da rua, entrando pelas portas largas do
velho Teatro Avenida, os eternos retardatários, os “profissionais” das
estreias, depositando o abafo com a funcionária d o bengaleiro, e
tentando alcançar rapidamente o lugar marcado, para não perder o
início do espectáculo e, sobretudo, não perder o cruzamento cúmplice
de olhar com alguém que se encontre na sala. À hora marcada, às
21h45, antes da abertura do pano, a assist ência viu alguém que tomou
lugar no proscénio. Numa solenidade de fato e gravata, imposta pela
“U ma Co mp a n h ia T ea tral q u e e xi st e há me i o séc u lo e só a go ra c he go u a
Lis b o a”, Co r re io d o s Aç o re s , 1 8 .0 2 .1 9 6 2 : 1 .
94
“T ea tro De s mo nt á ve l ”, A Ra b eca , 3 0 .0 3 .1 9 5 5 : 6 .
93
19
homenagem
anunciada,
o
escritor
e
crítico
Luís
de
Oliveira
Guimarães, principiou por satisfazer a curiosidade do dign íssimo
auditório quanto ao motivo da sua presença em espaço alheio:
Fui, há dias, procurado na Sociedade de Escritores e Compositores
Teatrais pelos srs. Rafael de Oliveira e Fernando de Oliveira que, em
nome da companhia teatral que dirigem, desejavam comunicar -me que
a sua companhia se estrearia em Lisboa , no Avenida, na noite de 14 do
corrente, com a peça de Ramada Curto , Recompensa, e pedir-me que,
nessa noite, ao abrir o espectáculo, eu pronunciasse algumas palavras
de homenagem ao autor da peça, que a Morte recentemente levou ( 96).
Eis o intróito feito, claro e sucinto. Mandam, todavia, as regras
oratórias que se exiba modéstia na oração, e assim:
Disse-lhes que os pobres oradores como eu faziam sempre muito
melhor figura estando calados; eles tiveram, porém, a amabilidade de
insistir e eu pensei que, se recusasse, perderia o ensejo, que se me
oferecia, de expressar em público, não só a minha simpatia pela
Companhia Rafael de Oliveira , mas, uma vez mais, a minha veneração
por Ramada Curto (97).
Neste momento, presume -se pausa breve do orador, para saborear
o efeito nas expressões dos interlocutores, que, tudo leva a crer,
tenham sorrido. A graça, que se extrai do jogo da modéstia, causa
sempre efeito seguro, cria empatia; sabe -o quem domina a arte da
persuasão, e reconheçamos que é nec essário existir uma centelha de
actor,
perante
para
uma
que
alguém
plateia
de
consiga
auto -referenciar-se
desconhecidos.
Prosseguiu,
jocosamente
então,
o
palestrante:
Emíl io C a mp o s Co ro a , “O T eatro De s mo nt á ve l d e no vo e m Faro ”, Co r reio d o
S u l, 1 5 .1 2 .1 9 6 1 : 6 .
96
Lu í s d e O li ve ira G u i ma rãe s , “No t as tro c ad a s p o r mi úd o s: Rec o mp en sa ”, reco r te
d e p eró d i co não id e n ti f icad o , p ert e nce n te ao a cer vo d e Ál varo d e O li ve ira (V ila
Re al d e S tº Antó n io ), d a tad o d e 2 1 .0 2 .1 9 6 2 .
97
Ib id e m .
95
20
A Companhia Rafael de Oliveira , nascida há quase meio século;
estruturada na ligação de duas famílias amigas, os Frias e os
Oliveiras; composta de artistas dedicados; com um reportório de
dezenas de peças, de todos os géneros, tantas delas de autores
portugueses; laboriosa por tradição; bondosa por índole (o produto
líquido de alguns dos seus espectáculos destina -se, invariavelmente, a
obras de benemerência das localidades onde se exibe) – a Companhia
Rafael de Oliveira não podia deixar de me inspirar a simpatia que, na
verdade, me inspira ( 98).
A “simpatia pela Companhia” mostrava -se através de tópicos
claros, de fácil captação auditiva. Enumerava -se a génese e os
atributos, criava-se a imagem de qualidade de um produto humano,
que, embora, não possuísse “nem ases, nem vedetas”, e o “teatro
desmontável,
a
sua
«barraca»
como
eles
modestamente
lhe
chama[vam], não deslumbra[sse] ninguém”, possuía elementos que
“dentro das su as maiores ou menores possibilidades artísticas, dir -seia não acalentar outro desígnio que não [fosse] o de servir o teatro e o
público” (99).
Tornava-se importante sublinhar o altruísmo, o amor à arte, como
factores positivos, mais que não fosse para just ificar que, assim o
haviam reconhecido “as próprias instâncias oficiais concedendo à
Companhia Rafael de Oliveira , pelo Fundo de Teatro , um subsídio
cujo valor simbólico supera[va] ainda o valor material”. E se as
instâncias oficiais o tinham reconhecido, quem se atreveria a não
reconhecê-lo!
Não custa presumir que Rafael de Oliveira , do outro lado do pano
de boca, fora dos olhares do público, mas atento às palavras de tão
distinto orador, tenha achado curiosa esta expressão simbólico material, sobretudo ele, que, como qualquer empresário, conhecia bem
as dificuldades que existiam em manter uma companhia itinerante com
valores materiais, quanto mais com simbólicos.
98
Ib id e m .
21
A este passo da apresentação, quem não conhecesse a Companhia
Rafael de Oliveira , já seria por certo seu simpatizante. O orador,
causídico de formação, conhecia a arte do discurso público; como tal,
decidiu empregar o efeito da subtil graça privada, que apenas se
partilha na roda de amigos:
Uma noite, a Companhia representava, numa das n ossas cidades, a
Vida de Santo António . A dada altura da peça, Santo António é
conduzido ardilosamente pelo diabo para o inferno e narra a rubrica
que, mal entrem os dois no inferno, se oiça um estampido de trovão e
línguas de fogo irromper dos bastidores para amedrontar o santo. O
contra-regra havia disposto as coisas para o efeito e, segundo o
costume, a deixa era esta: “Fogo!”. Simplesmente, naquela noite, o
bombeiro de serviço adormecera a um canto do palco; ao grito do
contra-regra “Fogo!” acordou, espavorido; viu chamas; e não esteve
com meias medidas: abriu a torneira da água, pegou na manguei ra,
saltou para a cena e, esguichando para todos os lados, apagou as
chamas infernais, deixando o próprio diabo num pinto ( 100).
Tratava-se tão simplesmente de uma história relacionada com a
actividade teatral anterior à existência do Desmontável, que o pró prio
Rafael de Oliveira costumava contar. Acontecera em Estarreja , em
1925, durante a estreia da peça de Braz Martins , Gabriel e Lusbel ou o
Taumaturgo, ou simplesmente Santo António, cujo percalço teve tanto
impacto no público, que este, aquando da sua reprise em dia posterior,
“lamentava que o final do acto não fosse representado como no
primeiro dia!”( 101).
Sem dúvida que a anedota, em si mesma, é insólita , reflecte a
ingenuidade de um homem, que tenta cumprir o seu dever; mas, mais
insólita se tornou a sua citação. Por que não referir um outro caso,
igualmente anedótico, que, pelo menos, poderia demonstrar que o
99
Ib id e m
Ib id e m.
101
Afir ma ção d e Ra fae l d e Ol i ve ira e m e n tre v i st a ao Bo le ti m d a Un i ã o d o s
Gr é m io s d o s E sp ec tá c u lo s , Dez e mb ro d e 1 9 6 4 . S ua d err ad ei ra en tre v is ta ;
fa le ceri a a 9 d e J a n eiro se g u i nte .
100
22
estilo de actuação da Companhia conseguia se r tão convincente, que
era capaz de induzir um público atento, embora tão ingénuo quanto o
Bombeiro?
De Castelo de Vide, onde estava actuando, a Companhia deslocou -se
um dia à Beirã, ali entre a “Sintra do Alentejo” e a altiva Marvão , de
cujo roqueiro Castelo se vêem as aves pelas costas. Foram representar
a peça de cunho acentuadamente trágico Inês de Castro . Na cena
culminante do 3º acto, quando os algozes tramam a morte infamante da
formosa Inês, e esta se lamenta chorando amargamente junto dos
filhinhos estremecidos, algumas mul heres que assistiam ao espectáculo
ergueram-se impetuosas e gritaram -lhe: “Fuja, minha senhora, que eles
vão matá-la, estiveram aqui há bocadinho a combinar!” ( 102)
Insólita estratégia! Que, primeiro, se elogie uma Companhia
pelos seus dotes de trabalho hon esto e probo, o seu amor à arte
inclusive, para, em seguida, num passe de mágica, se traduza o
encómio numa graça privada, espécie de récita de amadores! Tratava se, porém, de um efeito subtil, destinado a conduzir o raciocínio à
moralidade que se pretendi a extrair: nada conseguiria “apagar a chama
votiva que anima[va], sem desfalecimento, a Companhia Rafael de
Oliveira” (103). Eis, pois, os factos sem contra argumentação , porque,
“coisa quase inexplicável – esta Companhia que, [...] há quarenta e
sete anos vem percorrendo o país inteiro, só agora, a convite de Vasco
Morgado, se apresenta, pela primeira vez, em Lisboa ” (104). Uma
brilhante peroração condescendente do orador, para concluir sobre o
valor da Companhia naquele espaço e naquele tempo: “... uma
antiguidade que terá para os lisboetas um sabor de novidade”.
Era então disto que se tratava? De uma antiguida de, um dourar de
pílula, que se designava por “novidade”, uma espécie de bombom de
E uri co G a ma , “Co n te - n o s u ma a n ed o ta : Mi n h a se n ho r a fuj a, q u e e le s v ão ma tá la”, Jo rn a l d e El va s , 1 7 . 0 8 .1 9 5 6 : 6 .
103
Lu í s d e Ol i ve ira G ui ma rãe s , o p . cit .
104
Ib id e m .
102
23
travo amargoso para a Companhia, tal como, em Janeiro desse ano, a
publicação Os Ridículos lançara, em indirecta advertência:
Rafael de Oliveira, que durante tantos anos resistiu à tentação de
apresentar a sua companhia em Lisboa , cedeu agora! [...] Não são só
as fraquezas da carne que nos fazem pecar, não é verdade? O pior é se
Rafael de Oliveira é expulso do paraíso!... ( 105)
O público presente estaria certamente bem disposto. Fora -lhe
mostrada
a
razão
do
gosto
pela
gente
de
teatro,
essa
gente,
morfologicamente idêntica, e, ao mesmo tempo, tão diferente, a quem
acontecem coisas tão engraçadas, que não acontecem a mais ninguém.
Que bom que é conhecer os cómicos!
Terminada a bem humorada apresentação da Companhia, o
retorno ao tom sério. Explicou, entã o, o orador, que fora vontade de
Rafael de Oliveira , que a Companhia “se estreasse em Lisboa com uma
peça de Ramada Curto , um dos autores mais representados pela
Companhia”, a Recompensa, e, também, “uma das peças de maior êxito
do seu autor”. E maior merecimento havia, porque a ocasião “envolvia
[...] a primeira homenagem pública que se lhe prestava após o seu
falecimento”.
Pedrada no charco. Estava -se no início de 62, Ramada Curto
falecera no ano anterior, no ano em que começara a Guerra Colonial ,
num tempo em que despontavam movimentos de contestação, oriundos
dos ventos da modernidade que arejavam as cabeças que se praziam
em pensar, em voz alta, ou em silêncio, por causa do cerco político.
Deste modo, um ano após a morte de um dramaturgo que sempre fora
associado ao Estado Novo , aproveitava-se o ensejo da Companhia
ambulante para se levantar o dedo contra o esquecimento, contra quem
nada havia feito por quem tantos belos êxitos dera ao teatro português,
para não falar d as belas receitas de bilheteira. Quatro séculos após
105
“O s Rid íc u lo s no T eatr o ”, O s R id í cu lo s , 0 6 .0 1 . 1 9 6 2 : 3 .
24
uma exortação vicentina que já não cabia no seu tempo, era preciso
fazer uma exortação de valores que mantivessem a tranquilidade da
classe
média
urbana.
Contra
o
esquecimento
do
herói,
pelo
esquecimento da realidade. Repete -se em palco a morte em cada dia,
para que se renasça eternamente. Morre
o actor simbolicamente na
cena, para que, em cada noite, pelo menos, um espectador renasça
consciente da sua força. Poderia o palestrante ter dissertado sobre o
valor teatral do seu amigo e companheiro Ramada Curto , mas não,
preferiu apresentá -lo de forma ligeira, abordou a sua relação interna
com o teatro e rematou, com um pequeno fait divers sobre a
personalidade do homenageado:
A Recompensa estreada no D. Maria, na noite de 15 de Janeiro de
1938, com Amélia Rey-Colaço na protagonista, esteve quase quatro
meses no cartaz, e, se bem me recordo, foi na 15ª representação
dedicada ao autor que surgiu a ideia de oferecer a Ramada Curto um
banquete de homenagem. Ramada, sabedor do f acto, encontrando dois
velhos amigos seus, componentes da comissão organizadora, permitiu se a intimidade de lhes dizer: - Ó rapazes, e se vocês, em vez de me
oferecerem um banquete, me oferecessem um sobretudo? Melhor ou
pior, sempre almoço e janto em min ha casa. Agora de um sobretudo é
que eu estou muito necessitado... E Ramada Curto não teve o
banquete: teve um sobretudo de honra.( 106)
Dixit. Na sala, risos e aplausos, por certo. Na cena, a coberto do
pano de boca, Rafael de Oliveira, que terá seguido com atenção as
palavras do orador, pensou, talvez, que, realmente, um sobretudo é
melhor agasalho do que algumas homenagens de circunstância.
Entretanto, no proscénio, o orador terá agradecido discretamente,
como se impunha, e tomado o seu lugar na plateia, para dar lugar à
Arte de Talma. Tempo das pancadas de Molière. A luz de sala
extinguiu-se, e o pano subiu, para deixar ver a Recompensa, pela
Companhia Rafael de Oliveira .
106
Lu í s d e Ol i ve ira G ui ma rãe s , o p . cit .
25
Muitos pensamentos solitários ter -se-ão cruzado, em simultâneo,
naquela noite de 14 de Fevereiro de 1962, naquele Teatro, h oje
desaparecido. Para três pessoas, em especial, eles deverão ter tido uma
valoração mais particular.
Eduardo de Matos o director artístico, ensaiador e encenador da
Companhia, de 66 anos de idade, natural de Castelo Branco , filho do
velho empresário Constantino de Matos , com quem se estreou, aos 5
anos, na sua companhia itinerante, interpretand o cançonetas. Aos 22
anos, corria então o ano de 1919, demandou a capital, em busca de
trabalho
melhor;
escriturou -se
naquele
mesmo
Teatro
Avenida ,
passando, nos anos seguintes, pelos vários palcos lisboetas, e com
Palmira Bastos fez tournée ao Brasil, e a Angola, com a Companhia de
Operetas de Julieta Soares . Para ele, que nasceu no teatro ambulante, e
a ele regressou, deixando para trás a capital, como sentiria este
momento de memórias, sobretudo agora que a progressiva cegueira lhe
retirara a possibilidade de representar?
Idalina de Almeida , actriz, 47 anos, estreara -se, no verão de
1921, com 6 anos apenas, na companhia infantil de Cremilda Torres ,
no teatro Avenida, passando pelo palco do Teatro Gil Vicente 107, na
Graça, um dos muitos teatros de bairro existentes na Lisboa desse
tempo. Como Eduardo de Matos também ela fizera parte da tournée de
Julieta Soares a Agola. Mas foi em Li sboa que conheceu António
Vilela, jovem actor, que entusiasmava as plateias dos pequenos teatros
e colectividades de recreio com a sua voz de barítono, em operetas e
revistas. Casaram, formaram a sua própria troupe de variedades, mas
acabaram por integrar a Companhia Dramática Lisbonense Moiron , que
percorria o país, representando o mesmo reportório de dramas e
comédias que em todas as companhia de província se levava a cena,
26
até que, em 1945, em Évora , trocaram a companhia de Paulo Moiron
pela Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados e o seu Teatro
Desmontável . Que memórias aflorariam ao espírito de ambos neste
momento, nesta espécie de retorno às origens?
E Rafael de Oliveira? 72 anos, natural de Lisboa, a quem uma
vida árdua de itinerância moldara a forma obstinada como tomava
decisões, como enfrentava a adversidade. Por trás dos seus óculos
redondos de massa, o olhar de velha raposa, atento ao mais pequeno
pormenor, não se deixava comover pelo brilho fugaz da homenagem de
circunstância, habituado como estava às homenagens, por esse país
fora, bem mais sentidas, quando nelas escutava palavras nascidas do
entusiasmo que o público amante de Teatro lhe tributava, porque o
conhecia, como profissional e como pessoa, e compreendia a dimensão
do seu trabalho, na modéstia dos seus recursos. Nos recônditos da
memória ecoava sentencioso o actor Pinheiro :
Comediante! Não t e iludas! Quando na atmosfera quente de uma sala
de espectáculos, ouvires os bravos e as palmas de um público que
delirantemente te vitoria e aclama, curva a cabeça e o dorso em sinal
de agradecimento, porque a isso te obrigam as leis da cortesia, mas
deixa a tua alma tranquila, não a enganes e pensa que aquele mesmo
público que hoje te glorifica, terá amanhã para ti o sorriso desdenhoso
e a crueldade draconiana, que te há de esmagar sob o peso do mais vil
e do mais pérfido indiferentismo! (Pinheiro 1909: 1 6)
2.
Lisboa, 1890: Travessa de Stª Quitéria , Pátio de S. José,
nº 2.
Na íngreme travessa de Santa Quitéria , quase ao cimo, do lado
esquerdo, interrompe a sequência de prédios uma parede pintada de
amarelo, na qual se abre um arco, de ombreiras de pedra bujardada,
107
Co n h ecid o p o r Rec rei o s d a Gr aça , mu d o u d e no me e m 1 9 2 0 ( Jo r n a l d o s
Tea tro s, 1 4 .0 3 .1 9 2 0 ), lo cal iza nd o - se n a R ua d a Vo z d o Op erár io , no a n t igo s alão
27
por cima do qual, em placa de esmalte azul e letras brancas, se lê:
Pátio de S. José. Estamos perante um resíd uo de uma Lisboa
centenária, de características provincianas; um entre os poucos
vestígios que vão passando despercebidos à força avassaladora do
“progresso”
urbanístico.
Passado
o
umbral,
o
espaço
interior
rectangular, com pouco s metros de comprimento, é delimitado por
casas térreas; o antigo solo de terra, que a chuva enlamearia, esconde se agora sob cimento, dura capa da higiene hodierna; nas cordas
apoiadas em varais, sustenta -se ainda a roupa secando ao sol. Nada
consegue travar a marcha inexorável do tempo, que transporta a
memória remota de lavadeiras em paisagem urbana de contrastes da
Lisboa de Queirós, Lobatos e Bruns.
Em quinze anos, quase todo o País provincial se desguarneceu das suas
laboriosas famílias agrícolas, c uja existência patriarcal prendia à
terra, pelo exemplo de tantas gerações de camponeses. [...] A cidade
cresce todos os dias em edificações de luxo, à custa da província, e à
proporção sobretudo que vão aumentando os quadros burocráticos.
(Almeida 1892: 12 e ss.)
Na segunda casa, do lado direito, uma tabuleta indica o número 2.
Aqui morou, há muito tempo, Joaquim de Oliveira e Maria da
Conceição, um casal que desceu, um dia, de Coimbra , para se radicar
em Lisboa, em busca de vida melhor, por certo. E, também aqui, “às
duas da manhã do dia 8 de Maio”, lhes nasceu um filho, baptizado a 22
do mês de Junho, segundo reza o texto do Livro de Assentos do ano de
1890, manuscrito e assinado pelo padre J. Máximo , cura da Igreja
Paroquial de Santa Isabel, e pelos padrinhos da criança, a quem foi
posto o nome de Rafael ( 108). Corria um tempo “particularmente
d a C ai x a Eco nó mi c a ( id em, 1 1 .0 4 .1 9 2 0 ).
R e gi sto s P a ro q uia i s, Fr eg u es ia d e Sa n ta Is ab el , Co n cel ho d e Li sb o a, D i str ito d e
Lis b o a, b ap ti s mo s. Ano 1 8 9 0 , fl. 2 3 2 , re g. nº 3 4 6 , J u n ho 2 2 ( ANT T ).
108
28
movimentado e cheio de peripécias”, segundo recordou, mais tarde,
Ricardo Covões:
Foi o ano do ultimatum, que a Inglaterra nos enviou em seguida à
desgraçada e célebre questão de Louren ço Marques, e que provocou,
em Lisboa e em todo o país, um extraordinário período de
manifestações patrióticas, que ecoaram desde a praça pública aos mais
recônditos confins da vida portugues a. Foi o ano da epidemia em
Espanha e do cordão sanitário; da prisão de António José de Almeida ,
em Coimbra; o ano da preparação da precursora revolt a de 31 de
Janeiro; o ano do suicídio de Júlio César Machado e de Camilo Castelo
Branco. Foi o ano da morte do tenor Gaiarre ; da chegada de Serpa
Pinto, António Maria Cardoso e Paiva de Andrade, os gloriosos
exploradores; o ano da eleição de Fernando Palha , como protesto
contra a intimativa inglesa, e dos deputados republicanos Elias Garcia ,
Latino Coelho e Manuel de Arriaga. Foi o ano do tão falado crime de
Urbino de Freitas e da inauguração do túnel do Rossio . Sousa Bastos
exibiu no Avenida o famoso Tim-tim por tim-tim (109) e, no Rua dos
Condes [novo], o não menos afamado Reino das Mulheres . A
companhia Alves Rente , do Porto, deu o melhor do seu reportório no
Real Coliseu, onde também foram muito aplaudidas a companhia de
zarzuela do barítono Lacarra e uma companhia de ópera lírica, às
quais se seguiu uma companh ia equestre dirigida por Enrique Díaz , de
que fizeram parte o popular Visconti, a é cuyère Elvira Guerra e a
primeira troupe de saltadores árabes que nos visitou. No Gimná sio
campeou a Duse e Vale fez benefício com a primeira do Comissário de
Polícia, a extraordinária coméd ia de Gervásio Lobato . No Príncipe
Real, Ângela Pinto começava no Simão Simões & Cª . No Teatro da
Alegria, o povo acudia, entusiasmado, a ouvir a Torpeza, de Campos
Júnior, com Joaquim de Almeida . No Avenida, faziam furor As Vinte
Mulheres do Rei, e, no Teatro de D. Maria , a companhia Rosas &
Brazão alcançava largos triunfos, especialmente com o ruidoso
Marquês de Villeme r e a inolvidável Morta, de Lopes de Mendonça.
(Covões 1940: 23)
Das memórias de infância do jovem Rafael não reza a história.
Nada nos refere, sequer, que, ainda de colo, os pais o pud essem ter
levado a ver a árvore gigante que a Empresa do Coliseu dos Recreios
mandara colocar, como forma de atrair o público a esta recém -
109
Se g u nd o Lui z Fra nc i sc o R eb el lo , Ti m Ti m p o r Ti m Ti m , e x ib i u - s e e m 1 8 8 9 , no
T eatro d a r u a d o s Co nd e s ( no vo ) .
29
inaugurada sala de espectáculos de Lisboa , no primeiro Natal da sua
vida. Não consta que alguém tivesse consultado o Borda-d’água, e
descoberto a coincidência do seu aniversário com o de António José da
Silva. E melhor que o não tenham visto, à falta de encontrar sempre
paralelos fatídicos, em terra tão propensa a fados. Ninguém existe já,
que possa lembrar esse tempo centenário, e os que recordam a sua
pessoa, falam do homem feito, do pai de família, do empresário
honesto e lutador, do “cabo de companhia” ( 110).
E por que não acreditar que a sua juventude tenha sido
semelhante à de outros jovens do seu tempo, a quem “o sarampo do
teatro”, como referiu o actor Pinheiro a respeito de si próprio, se tenha
manifestado muito cedo?
Que fluido magnético e hipnotizador possuis, que já na infância actuas
fortemente! [...] Lembrei-me de ser empresário e formar companhia.
Com alguns vinténs, propriamente ditos (111), consegui co mprar todo
o material cénico para a peça de abertura. [...] Mas o palco? Aqui
estava o busílis! Faltava o tablado da Arte! Quando um empresário
atinge certas culminâncias, não há empenos que o vençam; as
resoluções repentinas surgem como os cogumelos. A tá bua de ensaboar
achava-se pachorrentamente pendurada ao lado do contador, esperando
a vez de ser chamada ao seu mister higiénico. Foi mobilizada
clandestinamente [...]; uma caixa de chapéus de senhora que esperava
acabar seus dias no quarto de vestir, veio ser mutilada para servir de
esqueleto ao proscénio e engradar cenário. [...] Chega o grande dia da
abertura da época! Dois acontecimentos sensacionais! A inauguração
dum Teatro, que vinha engrinaldar a capital e ainda a estreia duma
companhia cujos elemen tos ninguém conhecia, senão a capelista, o que
despertava o interesse. Era um domingo cheio de sol que parecia
aureolar, com os seus raios dourados, aquele arrojo artístico, e ao
mesmo tempo facilitava a iluminação que ainda não estava instalada
no teatro. [...] A Empresa anda pressurosa fazendo os últimos
preparativos, mas tendo o cuidado de ocultar o teatro das vistas da
mamã, que ainda não tinha reparado no palco. [...] Mobilizam -se
cadeiras, da saleta, da cozinha, mochos, caixotes e forma -se a plateia
110
A trad uç ão d e Ca p o co mm ico , o d irec to r d as co mp a n hi as d e C o mmed ia
d ell’ Ar te . S ub ti l me n te a trad ição e nco n tra - se n a raiz d as co i s as.
111
E m i tá lico no o ri g i na l.
30
com uma casa à cunha, de tal forma que a Empresa teve de recuar o
teatro até à porta do chalet das aflições ! Foi esse o grande erro
administrativo! [...] No meio talvez do 2º acto, na altura em que o
entusiasmo do público chegava ao delírio; em que a arroja da Empresa
era ovacionada pelo seu belo conjunto... passa em direcção ao chalet
uma vasilha contendo qualquer líquido inutilizado para seguir o
destino do colector geral [...] a Empresa teve de afastar o teatro para
passar a vasilha... mas nisto o proscéni o é abalado por um valente
estremeção... o cenário cai em todas as direcções... os artistas
espavoridos resolvem deitar -se no chão... a Empresa é levantada pelas
orelhas e obrigada a devolver ao público os fundos recebidos... e o
palco é arrancado violentamente servindo ainda para levar adiante os
espectadores que não queriam evacuar a sala!!! É assim que em
Portugal se compensam as grandes iniciativas! Que honra não era para
uma tábua de ensaboar, ser tablado da Arte de Talma?! ( S A N T OS 1921:
13 a 15)
Assim, recordava o actor Martins dos Santos
(112) a sua
experiência de teatro na infância, na descontracção de um tempo em
que “a imaginação da criança ao assistir a um espectáculo, fica
deslumbrada, entontecida, e ao voltar a casa revê, como num
caleidoscópio maravilhoso e galante, os cenários, os actores, os
vestuários que mais directa e imediatamente lhe feriram a retina e lhe
impressionaram o cérebro” ( P IN H E IR O 1924: 17).
Provável, portanto, que, com o tantos outros, que fizeram da Arte
de Talma a sua profissão, o jovem Rafael tenha também começado por
brincar aos teatrinhos, com os amigos, na sua casa de Santa Quitéria,
do mesmo modo como António Pinheiro relata o seu caso pessoal:
Aos 13 anos, a doença – o sarampo do teatro (113) – declarou-se-me, e
apresentando certa gravidade, contagiou um primo meu e mais quatro
ou cinco rapazes, quase da mesma idade, que frequentavam a casa
112
Na sc id o a 2 5 d e Ab ri l d e 1 8 7 9 , fo i tip ó gra fo e e mp r e gad o d o s ca mi n ho s d e
fer ro . Na s ho ra s va ga s trab a l ho u co m o a ma d o r d ra má ti co no s tea tro s T ab o rd a e
T eo d o rico , e st e úl ti mo p ro p ried ad e d e s e u p ai, na ca lçad a d e S a n to And r é .
Est reo u - se no T eatro Ave n id a , e m 1 8 9 7 , na re vi s ta Ro d a Viva , mas s ó ab raço u a
p ro fis s ão d e ac to r, e m d efi ni ti vo , q ua nd o e n tr o u p ara o t ea tro d o P rí nc ip e R ea l ,
n u ma r e vi s ta d e Acá cio An t u ne s e Mac h ad o Co rreia , O An o Pa s sa d o . ( “Ge n te d e
T eatro ”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 9 .0 7 .1 9 1 7 : 2 ).
113
E m i tá lico no o ri g i na l.
31
dele, em Lisboa, no Largo da Graça, 17, 2º, e que eram todos, ao
tempo, estudantes do Liceu. [...] No dia em que pensámos fazer um
teatrinho em casa dele [...] (numa salinha que media quatro metros de
comprimento, por três de largura e dois e meio de altura), meu primo
foi tudo! Proprietário do teatro, empresário, cenógrafo, ensaiador,
primeiro artista... tudo, tudo! [...] Passou-se isto em 1880! (Idem:
18,19).
Recriando a realidade, a partir do jogo do faz de conta, reproduz
a criança, a seu modo, de forma ingénua, o mundo paralelo dos
adultos. Era também deste modo que à luz o século XIX se
interpretava a criança: um adulto em miniatura, que era preciso
adestrar.
Julgava eu [...] que os actores que víamos nos teatros públicos se
apresentavam em cena com as suas próprias fisionomias; que os velhos
eram velhos, a valer, que os que traziam barba ou bigode a usavam por
hábito ou capricho, na rua! Mas nós, ainda imberbes, o que havíamos
de fazer para tal fim? [...] Fui-me a uma caixa de graxa Horta e Silva,
esfreguei na massa o indicador da mão direita e com ele pintei no
lábio superior, com as competentes e retorcidas guias, uma farta e
mavórtica bigodeira... e fui para o palco! Eis a minha primeira
caracterização!
Quando entrei em cena, o público – 20 pessoas ao todo – sublinhou a
minha entrada com um certo oh! de admiração! [...] Comecei a debitar
o meu papel e a retorcer os bigodes pintados; o público começou então
a rir; quanto mais ele ria mais eu retorcia e afagava os bigodes, e de
tanto afago e de tanta retorcidela, ajudado pelo calor de uma noite de
Agosto, acabou tudo à gargalhada, às palmas, porque a minha cara já
estava toda engraxada... de preto! ( Idem: 21, 22).
Dolorosa aprendizagem, a destes primei ros sucessos, nos teatros
domésticos de então.
3.
À sombra de Amoreiras que já não existem...
32
O bairro onde Rafael de Oliveira nasceu, e ao qual se manteve
ligado até ao fim da sua vida ( 114), pertence à freguesia de Santa
Isabel. A travessa de Santa Quitéria , onde cresceu, e de onde partiu,
um dia, atrás de um sonho fe ito Teatro, inicia -se na Rua de S. Bento e
sobe íngreme até à actual Avenida de Álvares Cabral , cujo traçado
apenas data dos anos 30 do século XX. Situado nas cercanias do largo
do Rato, esta zona faz parte de uma área de Lisboa , cuja importância
urbanística data de tempos anteriores.
No século XVIII, na Rua Direita da Fábrica das Sedas (actual
Escola Politécnica), situava-se a Fábrica das Sedas , fundada por
Godin, e aí instalada em 1738. Por motivos que não cabe agora referir,
o Estado acabou por se apropriar da fábrica, que foi inserida nos
planos de reforma industrial pombalinos, entre os quais se contava a
criação de quintas de bichos-da-seda (daí as amoreiras) e a primeira
fixação residencial operária nesta zona urbana, acompanhando a
remodelação que se seguiu ao terramoto.
O proteccionismo industrial, e a dignificação do trabalho,
segundo a política de Pombal, tiveram como con sequência um
crescimento demográfico e o aparecimento de unidades fabris. Foi essa
a razão da construção, na Praça das Amoreiras e até à antiga Estrada
de Entremuros de Campolide , de quarteirões completos de unidades
modulares, destinadas a abrigar o Real Colégio das Manufacturas , o
embrião das artes industriais. Ainda hoje a toponímia local reflecte
essa obra: Travessa da Fábrica dos Pentes , ou da Seda. Trata-se,
portanto, de uma zona urbana que representou a primeira grande
unidade fabril, pensada exclusivamente para esse fim, segundo o plano
inovador do Primeiro -ministro Carvalho e Melo.
114
Na I gr ej a P aro q ui al d e Sa n ta I sab el, fo ra m c u mp r id o s o s tr ês ci clo s d o rit u al
cató lico : b ap ti s mo , ca sa me n to e fu nera l..
33
No último quartel do século XIX, Lisboa , em preia-mar, subiu,
desde o Rossio, pelo “regueirão do antigo Valverde , cujo leito
alargado deu à Avenida, até ao deserto negro de Valpereiro e Santa
Marta” (A LM E ID A 1890: 127). O Passeio Público transformado em
nova via de Liberdade contribuiu para a expansão do tecido urbano, a
norte, para além da Rua do Salitre . Na cidade, de “configuração
burguesa [...] à luz do Sol, [...] que vem duma banda engastar -se na
curvatura do rio, enq uanto pelas outras se arrasta e prolonga em
sucessões de casarias, luzes, sombras e reflexos, que nos dão a ilusão
dela prosseguir sem acabar, até ao fim do mundo” ( A LM E I DA 1890:
126), novos acessos mais rectos e amplos relacionam a Baixa com a
zona ocidental das Amoreiras. As velhas quintas deram lugar ao
casario, e das amoreiras apenas ficou a sua memória na toponímia.
Ardendo numa febre de grandezas, Lisboa sentira a necessidade de
outras ruas, outros estilos, outros interiores: alguma coisa coerente
com os ideais, os hábitos e os trabalhos da sua vida moderna. E ei -la
transbordando dos acumulados lúgubres dos velhos bairros, Alfama ,
Mouraria, Estrela; partindo a cintura de muralhas num charivari de
construções podres de chic; fazendo dos arrebaldes, centros; trepando
aos outeiros, ou alastrando -se como um acampamento nómada, à beira
rio (A LM E ID A 1890: 14).
E assim, os pólos de vivência cultural bairristas, disseminados,
por toda a malha urbana, acabam por relacionar -se ainda mais
directamente entre si.
4.
A efervescência teatral lisboeta no início do século XX.
O povo quer e necessita divertir-se, tanto ou mais do que as classes
preponderantes, porque o seu trabalho é mais áspero, e os seus
desgostos de acção mais contundentes. Quer e necessita distrair -se,
porque a distracção é uma das válvulas de segurança da vida, um
tónico do sistema animal, incomparável, que repara a canseira, e areja
e dispõe para as labutas do dia imediato. E é necessário que o povo
obtenha distracções sem grande esforço de imaginação, nem
34
sacrifícios [...] e se lhe vá canalizando a atenção, quanto possível,
para espectáculos donde o seu espírito recolha algumas parcelas de
cultura e ensinamento. ( A LM E ID A 1892: 102-3)
Na Lisboa da transição de século, o citadino possuía formas de
divertimento diversificadas, e o teatro ocupava um lugar importante no
seus hábitos quotidianos. Por um lado, existia o circuito dos teatros
públicos, tomando como centro o Teatro de D. Maria II , no Rossio, e
cujo raio possuía uma amplitude, a montante, até ao Teatro Avenida , e
a poente, até ao Bairro Alto , que definia uma área de acesso de uma
população burguesa, socialmente desejosa de ver e ser vista na
companhia de aristocratas e intelectuais. E, em complemento deste
círculo, pululava um outro mundo, composto de pequenos teatros
particulares, os teatros de bairro, que deram origem às pequenas
sociedades,
às
associações
de
recreio,
a os
clubes,
espaços
de
sociabilidade capazes de congregar a população local em actividades
lúdicas, em que sobressaíam as récitas de teatro amador. Uma coroa
circular em torno dos teatros principais, reproduzindo as cores destes
em matizes populares até aos confins da periferia urbana, detentora de
uma particular importância na formação de uma escola prática de
actores e na formação de públicos conhecedores do fenómeno teatral.
4.1. Pelos palcos particulares e grupos dramáticos.
Locais de frequência social conc orrida, estes teatros de bairro
eram constituídos por dependências várias, interiores e exteriores, que
permitiam não só a prática de teatro, como também a de bailes – os
bailes campestres – o som de fanfarras estridentes, que tocavam os
êxitos musicais da época – polcas, mazurcas, valsas, quadrilhas –
quase sempre a toque de cornetim, como refere o actor Pinheiro , o seu
tempo de amador.
35
Entre os vários palcos bairristas de oitocentos, junto ao Pátio de
D. Fradique, à sombra ameada do Castelo de S. Jorge, funcionou o
Teatro do Maldonado , um teatro popular ao ar livre, memória dos
pátios de comédia de antanho.
Tinha uma bela esplanada (espécie de retiro das hortas) com mesas,
bancos compridos que armavam em plateia; em frente, entrando,
ficava-nos o palco; em face deste e do lado da entrada, o bufet
graciosamente servido pela esposa do grande Augusto, (O Augusto
Maldonado) cavalheiro muito respeitável, como homem e como
Empresário, sempre em mangas de camisa, e tão gentil, que qualquer
espectador inconveniente não era incomodado pela polícia...
encontrava-se rapidamente na Rua dos Cegos, pelo meio de transporte
mais rápido... a gola do casaco! [...] Foi este teatro um Luna-Park do
sítio e da época! Durante o dia da semana, os estúrdias e os operários
que davam parte de doente ... lá iam bater a malha e deitar o paulito
abaixo no tradicional chinquilho. [...] Aos domingos, quase sempre
havia Récita e Baile – lá vinha sempre na secção teatral d’ A Voz do
Operário. Estes encantadores divertimentos eram sem pre abrilhantados
pela Banda Artística Musical , com sede crónica num casebre do
Caracol da Graça , e que tinha como título popular, o nome de
“Sociedade do Pau Teso”! ( S A N TO S 1921: 24-5).
Outros teatros havia sob telha. Em Alfama , junto ao Largo do
Chafariz de Dentro , ficava situada a Casa de Pasto das Colunas, assim
chamada por ter, na fachada, duas colunas a ladear a porta. Estava aí
instalada a Academia Lúcio de Sousa , cuja sala de espectáculo era tão
exígua, que o palco “teria meio metro acima do chão, e o ponto para
exibir as suas funções tinha de entrar por uma tampa feita no palco
[...], sentar-se no chão da sala de pernas estendidas e hirtas... e,
ficavam-lhe o tronco e a cabeça acima do nível do palco, dentro duma
caixa que tinha quase metro e meio de altura, forrada de encarnado, o
que dava a semelhança de um marco postal!” ( S A N TO S 1921: 27).
A proximidade das academias teatrais favorecia a sua rivalidade.
Ao topo das Escadinhas de S. Crispim , situava-se o Teatro Gil
Vicente, um barracão, que pertencia a um velho fabricante de cordas,
36
Pisão de alcunha, funcionando também como armazém, em cujas
paredes se viam “cartazes de ré citas passadas, pintados a capricho
onde figuravam todos os nomes, sem desconsiderações de categorias
(como fazem as empresas) e o nome do Grupo a purpurina dourada
(115);... os títulos das peças a encarnado e preto;... as personagens
todas a seguir como est ava na peça e os nomes dos artistas do mesmo
tamanho... com a excepção da Exm.ª Sr.ª D. – nas amadoras; que era
para dar um certo tom, enquanto trabalhavam à borla! As que já
ganhavam, só tinham direito a D. Fulana de tal... e às vezes com que
pragas!!!” (S A N TO S 1921: 29-30). Pelo pequeno palco deste teatro,
cujo proscénio ostentava um pano de boca pintado, como então se
usava - imitação, ao melhor estilo, dos cenógrafos dos grandes teatros
-, passaram muitos amadores dramáticos, que representaram os
mesmos dramalhões que subiam à cena do Teatro do Príncipe Real ,
sendo que “os gestos trágicos [...] tinham de ser mais acanhados, pois
numa cena de assassinato, tinha o assassino de dar o golpe com o
braço encolhido para contar com a queda do cadáver ao comprido e
não ter de ficar sentado morto, encostado à parede!” ( Idem: 30). Uma
das amadoras que aqui fez furor foi Margarida Martinó , mais tarde
actriz profissional, muito disputada entã o pelo Grupo Gil Vicente e
pela Sociedade Rafael Croner , do Castelo. A rivalidade resolvia -se
com um acordo quanto aos actores amadores, que par ticipavam nos
espectáculos de ambos os teatros. Noites houve em que o Gil Vicente
esteve à cunha, “a ouvir flauta, bandolim e viola de castigo, enquanto
não chegavam as estrelas e o estrelo” da Companhia ( Idem: 31).
Noutro ponto da cidade, na colina ocidental da Patriarcal, havia
também um teatrinho de estilo idêntico, o Therpsicore , situado na Rua
da Conceição (actual rua Marcos de Portugal) , à Praça das Flores . Por
lá andou o actor Pinheiro , que se estreou numa comédia em um acto,
115
E m i tá lico no o ri g i na l.
37
Espertezas de actor , dirigida por um tal António Silva (116), tipógrafo
de profissão no Diário de Notícias e ensaiador muito afamado n o meio
amadorístico do seu tempo. Nas récitas dessa época, segundo ele,
“raro era não se soltarem frases insolentes e indecorosas da plateia
para o palco e dos amadores -actores para o ilustrado e respeitável
público” (P IN H E IR O 1923: 34), sendo que o ambien te “mais parecia o
do Pátio das Arcas , no século XVIII, pela compostura e educação do
público que assistia às representações” ( Idem: 35). Aí debutou e aí se
despediu Pinheiro da vida de “curioso dramático”, a 2 de Maio de
1886, em récita, de cujo programa constava uma comédia em 3 actos ,
O Dente da Baronesa , um monólogo em verso, e outra com édia em 1
acto, Ciúmes, Amor e Cozinha (117) (ibid.: 55-ss).
Nem todos os palcos possuíam a peculariedade dos descritos. O
Teatro Taborda (118), na Costa do Castelo , foi concebido para a
Academia Taborda , a qual chegou a receber o seu patrono por diversas
vezes. No início do século XX, pertencia a uma So ciedade Recreativa
dos Empregados dos Caminhos -de-ferro do Leste e Norte, cujo grupo
dramático gozava de grande prestígio. O amador levava a sua
actividade com prob idade, com sentimento artístico, defendia a Arte
de Talma, num espelhamento do universo profissional; as sociedades
faziam um esforço por manter um elenco permanente, um reportório
variado, por criar abertura e fecho de temporada, e até por fazer
digressões entre colectividades, dentro e fora de Lisboa .
116
E ntr e 1 8 8 6 e 1 9 2 0 , tr ab al ho u e m p eq ue no s p ap ei s no D. M ari a II e no D .
A mél ia ( a ct u al S. Luí s), so b a d ire cção d e An tó nio P i n h eiro . P elo fac to d e ap en a s
p o s s uir u ma ú nic a ca sa c a, co m a q ua l ve st ia q u e r as p er so n a ge n s d e cr ia d o s, q uer
as d e co n v id ad o s, fi co u co n hec id o p elo “S il v a b at e -ca sa ca s” o u , si mp le s me n te,
p elo “Si l va b at e”.
117
Ori g i na l d e Lu iz d e Ara új o (1 8 3 3 -1 9 0 8 ).
118
Ob ra d o mes mo a rq ui t ecto q ue d e se n ho u o T eatro d o P rí ncip e R eal , à R ua d a
P al ma , e se u co n te mp o r ân eo e m co n str uç ão .
38
A dissidência no seio das sociedades funcionava como factor de
reprodução de novas sociedades, em novos locais, novos palcos,
portanto, perpetuando o espírito do amante da Arte de Representar.
Num magnífico prédio da Avenida de D. Carlos , em um subterrâneo
transformado num elegante teatrinho particular, com uma espaçosa
sala e um pequeno palco guarnecido de vistoso cenário, realizou -se
quarta-feira, 6 do corrente, mais uma récita [...] promovida pela
direcção deste grupo [Grupo Dramático Familiar ] que tem ali a sua
sede; parte dos só cios são família dos proprietários daquela casa. ( 119)
Consoante a geografia urbana, a produção dos palcos particulares
reflectia o gosto correspondente ao nível social da população local. Se
nos bairros populares se oscilava entre o dramalhão lacrimejante e a
comédia farsesca de piada pesada, o novo amador de teatro da Lisboa
burguesa, a dos “saraus de arte”, esforçava -se por acompanhar a moda
elegante dos teatros públicos, dos actores de maior nível intelectual,
escolhendo
report ório
mais
consentâneo
com
a
selectividade
pretendida.
No elegante Teatrinho da Academia Leais Amigos onde este
apreciado Grupo [Dramático Carlos Santos ] tem a sua sede, realizou o
mesmo Grupo mais um espectáculo no dia 24 do mês p.p., com a peça
brasileira O Dote, cujo desempenho foi confiado a D. Na tividade
Santos, D. Emília Ferreira , Francisco Ribeiro , Alexandre Reis, Luiz
Rocha, Humberto Franco, Fernando Izidro (120) e Izidoro Santos . Toda
assistência não se cansou em premiar os amadores com fartos e justos
aplausos, aliás bem merecidos. O cenário do terceiro acto pintado pelo
amador José Cardim fazia belo efeito. Este Grupo tem progredido de
espectáculo para espectác ulo pelo que felicitamos a sua Direcção, o
seu Ensaiador Sr. Francisco Ribeiro e todos os demais amadores. –
Homem do Pano.(121)
A
imprensa
da
especialidade
dava,
assim,
cobertura
aos
espectáculos amadores, em par alelo com os dos profissionais, e sendo
119
O G ra n d e El ia s , 1 4 .0 1 . 1 9 0 4 .
T rata -s e d o p a i d a a ctr iz Ire n e Iz id ro , o q ua l, mai s t ard e, ire mo s e n c o nt r ar a
trab a l har co m Ra fael d e Oli v eir a na s ua Co mp a n hi a.
120
39
publicadas
críticas
pormenorizadas
e
pedagógicas,
isso
trazia
inevitavelmente prestígio, quer ao grupo amador em questão, quer à
Direcção da colectividade em futuras eleições associativas, quer à
própria colectividad e, porque atraía, desse modo, mais associados.
Esta noção de prestígio individual e colectivo, levava as direcções,
por seu lado, a caprichar também no embelezamento dos seus espaços,
como noticiava A Ribalta, a propósito da Academia Recreativa de
Lisboa:
Continuam sofrendo dia a dia vários melhoramentos as salas desta
sociedade de recreio e para a qual a comissão de melhoramentos não
se poupa para que ela seja em breve uma das primeiras das suas
congéneres (122).
Uma rede complexa num mercado paralelo de Arte Dramática,
pensando bem.
Para além da representação de textos de dramaturgos conhecidos,
assiste-se ao aparecimento de uma produção de textos dramátic os
escritos por amadores. Mantinham -se relações estreitas com actores
profissionais, os quais eram consultados, e chegavam a tomar parte em
espectáculos específicos: récitas de benefício, ou comemorativas de
alguma efeméride. Disso atestam, ainda hoje, as lápides afixadas em
paredes de sociedades que resistiram ao tempo, como o Clube
Estefânia, em Lisboa, cuja actividade que teve forneceria elementos
interessantes para uma história do teatro amador ( 123).
Foram estes locais a escola de arte dramática de muitos futuros
actores de primeira linha, de gente que, por terem de ganhar o seu
121
Jo rn a l d o s Tea t ro s , 1 4 . 0 9 .1 9 1 9 .
A Rib a lta , nº 1 0 , No ve mb ro d e 1 9 1 6 .
123
P ara alé m d e ré ci ta s d e teatro , a co le ct i vid ad e ch e go u a p ro d u zir e sp e c tác u lo s
d e ó p era e a e nco me nd ar ce n ário s no vo s a ce nó gra fo s co nc eit u ad o s d o s tea tro s
li sb o e ta s. O u tro t a nto aco nte ci a p o r to d o o p aí s, e m c o le ct i vid ad e s , co mo a
So c ied ad e d e I n str u çã o T avared e ns e , o u o Gr up o C ara s Dir ei ta s , d e B u arco s , no
co n cel ho d a Fi g u eir a d a Fo z , o u, ai nd a , o Gr up o Dra má t ico Mi g ue l Lei tão , d e
Leir ia , e ntr e t a nto s q ue fo r a m a u tê nt ic as a te li er s d e c ul t ura p o p u lar.
122
40
sustento e o de suas famílias, não podiam frequentar o Conservatório
de Arte Dramática, o qual, segundo Pinheiro , também “estava longe de
corresponder ao seu alto fim” (Pinheiro 1909: 109). Compunha -se,
então, o curso, da Rua dos Caetanos , de três cadeiras apenas: História
do
Teatro,
Declamação
e
Arte
de
Representar .
Manifestamente
insuficiente como aprendizagem, defendia Pinheiro que se introduzisse
o estudo da Língua Portuguesa , para que ela não fosse deturpada na
representação, como se verificava; que fossem criadas aulas de
Etnografia, de Mímica e Pantomima, de Psicologia, de Estética
Teatral, de Anatomia Artística , e de Caracterização .
A arte teatral, reunindo em si quase todas as belas artes, não implicará
no comediante a necessidade de conh ecimentos gerais e, por assim
dizer, enciclopédicos, que o encarreirem e lhe desbravem o caminho
para um estudo sério e aprofundado, desenvolvendo -lhe a imaginação
criadora, que juntamente com a observação e a imitação, constituem o
chamado fogo sagrado ou vocação? (id. : 110)
Pretendia-se deste modo corresponder às necessidades, que os
ventos de França traziam. A leitura de obras como O Paradoxo do
Comediante, de Diderot, ou A Arte e o Comediante , de Coquelin ( 124) ,
estabeleciam o debate dos espíritos cultivados do princípio do século
XX. Em 1905, uma sociedade composta por Adolfo Lima , César Porto,
Luís da Mata e Severino de Carvalho , designada Teatro Livre ,
apresentava-se com o objectivo de “educar e levantar o espírito do
público
pela
apresentação
de
modernas
obras
de
Arte;
formar
carácteres, depurando e afinando sentimentos pela benéfica e potente
influência da Arte” (P IN H E IR O 1929: 82) (125). No mesmo ano, João
Reis Gomes publicou O Teatro e o Actor: Esboço Filosófico da Arte
de Representar , que mereceu profundo elogio de Teófilo Braga , em
124
B enô it - Co n s ta nt Co q uel in ( Co q uel i n a i né, 1 8 3 0 - 1 9 0 9 , acto r)
C f. a es te r esp ei to o c ap ít u lo “T eat ro Li vr e ”, d e Co n to s La rg o s , d e An tó n io
P in h eiro .
125
41
artigo publicado na Revista literária, artística e científica , de O
Século, de 13 de Novembro. Era tão importante que existisse uma
consciência
profissional
( 126),
em
cuja
luta
campeava
António
Pinheiro, como o movimento amador funcionasse como vector de
formação de públicos conhecedores das exigências do espectáculo, não
só em Lisboa, como também nas cidades e vilas de província ( 127).
4.2. E pelos “ Chalets” de madeira e lona.
Para sair da insalubridade alfacinha, o lisboeta frequentava as
quintas fora de portas, “com o seu quê de romaria e farândola, as suas
idas e voltas a pé, ao ar, entre guitarras e risadas, a sua comida em
mangas de camisa, ante uma paisagem de arredor, meiga e ensolarada,
e finalmente o chinquilho, o famoso, o higiénico, o primitivo, o
nacional chinquilho, que o Senhor inventou para alargar o peito dos
lisboetas que moram em casas estreitas, e respiram em pútridos
ambientes de s aguões e de oficinas” ( A LME ID A 1892: 103).
E a feira!
Todos se lembram ainda dela, tão inofensivamente chinfrim, no Largo
das Amoreiras e no terrapleno fronteiro a Santa Maria de Belém . Duas
ruas ou três de tendas de lona, onde as quinquilharias alternavam com
as queijadeiras, estas com a loiças das Caldas e as lojas de passas, os
botequins e as baiucas dos petiscos... detrás, os coios mais obscuros,
126
J o sé Antó n io Mo ni z , acto r e p ro fe s so r d o C ur so d e Ar te d e R ep re s en tar d o
Co n ser va tó r io R eal d e Lis b o a, p ub l ica , e m 1 9 0 3 , a Ar te d e D i ze r , c u j o s es t ud o s
p reco ni za va m a co mp re n são t éc ni ca, co mo fo r ma d e “p ro te st ar co ntr a u m p ro ces so
d e e ns i no , q ue só p o d e rá se r vir p ar a a tro fi ar i nt el i gê nc ia s e a n ular d i sp o siç õ es
artí s tic a s” (p .2 ) .
127
E m 1 9 5 8 , Va s co d e Le mo s Mo ur is ca d e fe nd ia, e m ar ti go d e o p i n ião , so b re a
fo r ma ção art í st ica, q ue “o c ur so d o Co n ser v ató r io d e ver ia s er re fu nd id o , a mp l iad o
e tr a ns ferid o p ar a a s F ac uld ad e s d e Le tra s, co m a d es i g na ção , p o r e x e mp lo , d e
Arte s D ra má ti ca s, co n st it ui nd o u ma li ce nc ia t ura ” ( “Ro nd a d e o p i n iõ e s: Esco la d e
T eatro ”, L ito ra l , Ave ir o , 0 2 .0 8 .1 9 5 8 : 1 -8 ). O as s u nto gero u p o l é mi ca e no vo
arti go n a ed ição d e 2 3 d e Ago sto d o j o r na l , e s e g ui n te s, co m e nt rev i sta s a
p ro fis s io na is d a arte . De mu i to i n tere s se a l eit ur a d e ste co n fro nto p o r mo str ar
q ue , ao lo n go d o s t e m p o s, t e m ha v id o s e mp r e q u e m s e vá p reo c up a nd o co m a
fo r ma ção art ís ti ca, e p a ra q u e m o ta le n to e a i nt u iç ão , p o r s i só s , n ão cu mp r e m
to d a s a s ne ce s sid ad es d a Art e.
42
carrosséis, alfurjas de isc as, de melancias e gigos de laranjas; depois
fachadas policromas de teatros de mágica, ginástica, mímica e dança ,
com as suas exibições de barrigas de pernas de crina e falsos topetes,
os seus uivos de palhaços, os seus renques de músicos zanagas, e os
pregões e velhos truques de fazer rir para a multidão indiferente...
(ibid.: 104).
Os teatros de feira, da antiga tradição, teimavam em subsistir no
novo século. Os teatros -barraca, que iam percorrendo o país de lés a
lés, segundo o ciclo feirante, organizav am-se no espaço urbano de
Lisboa, consoante os locais existentes: das Amoreiras (128) passam a
Belém, a Alcântara , à Rotunda, ou ao Campo Grande, segundo a época
do ano.
Na feira das Amoreiras , em 1867, uma sociedade, dirigida pelo
ensaiador-ponto Alfredo Sette , inaugurou um teatro chalet, construído
em madeira, com certas comodidades, o Teatro de D. Luiz , o qual
passou em seguida para a feira de Belém , onde se conservou por
alguns meses (B A S TO S 1908: 332).
Aproveitando a época estival, lado a lado com as tendas das
hortaliças, das louças, dos comes e bebes, nos “Chalets”, nas barracas
de madeira e lona, maioritariamente acanhadas e com falta de asseio,
apesar das excepções, exibiam -se companhias profissionais, que
representavam um reportório de comédia e de teatro musicado, ao
gosto popular:
Theatro Chalet [Palhares]
A inauguração deste popular teatrinho que se acha instalado na feira
de Alcântara, realizou-se no passado domingo, com a primeira
representação da revista fantástica em três actos e nove quadros, Os
tímbales do Diabo, original do Sr. Penha Coutinho , com música parte
original e parte coordenada pelo maestr o Esteves Graça. Como
trabalho literário, esta produção do Sr. Penha Coutinho não pode ser
classificada como uma obra -prima. É contudo, no género, muito
aceitável, decorr endo, em todos os três actos, ditos espirituosos e algo
128
T eve c urta p er ma n ê nc ia na P a tr iarc al Q ue i m ad a (a ct ua l Lar go d o P rín cip e
Re al) , e m 1 8 6 5 e 1 8 6 6 , reg re ss a nd o ao lo c al o r i gi n al, e m 1 8 6 7 .
43
picantes, próprios para o paladar do público frequentador de teatros
populares. Na música foi bastante feliz o maestro Sr. Esteves Graça .O
teatro está construído com um a certa elegância, muito asseado e é
espaçoso, saindo assim da vulgaridade dos teatros de feira.A revista
Os tímbales do Diabo , desempenhada muito regularmente por uma
modesta companhia, tem agradado francamente, sendo até dignos de
especial referência o guarda -roupa, que sem ser rico, é contudo limpo
e vistoso, o que demonstra o bom gosto dos Srs. Araújo e Castelo
Branco e o cenário do Sr. César Máximo que é todo novo e bem
combinado. Os títulos dos quadros, que despertam franca gargalhada,
são os seguintes: 1º A pesca do Zé Grigório [sic]; 2º Bichanos e
Bicharocos; 3º Uma cambalhota mestra; 4º Sopa, cosido [sic] e assado;
5º Brinquedos inocentes; 6º Festejos de El -rei Berimbau; 7º No país do
Fungagá; 8º Empadas...e pastéis; 9º Vá para o Diabo!!! As enchentes
têm-se sucedido, sendo todas as noites muito aplaudidos todos os
intérpretes, especialmente os artistas Júlio Guimarães , César Máximo,
Augusto Martins, Júlia Anjos, Anna Fortes e Cordália. (129)
A imprensa dá ampla cobertura ao trabalho do Teatro Chalet
Palhares, do Teatro Chalet Trindade , ou do Teatro Chalet Avenida , os
quais, com frequência, coabitavam no mesmo espaço das feiras
populares:
Segundo deliberação da Câmara Municipal de Lisboa, deve a feira do
parque Eduardo VII ser inaugurada no dia 22. Nesse popular
divertimento haverão [sic] dois teatros: Teatro Chalet e Chalet
Avenida. No primeiro deve subir a cena a revista Carta A Portugal ,
sendo o elenco da companhia o seguinte:
Director de cena: Pinheiro Brandão ; Ensaiador: Penha Coutinho ;
maestros, Hugo Vidal e Jacinto Lago ; actrizes: Isabel Costa , Alice
Figueira, Maria Portuzuelos , Renée Holtreman, Claudina Martins ,
Beatriz Matos , Cunha Neves, Olímpia Ferreira , Guilhermina Oliveira ,
Amélia Martins e Tina Alves; actores, Agostinho Silva , Armando
Coelho, Bravo, Correia, Costa e Silva , Feliciano d’ Oliveira , Mathias
d’ Oliveira, Mega, Pimentel , Pinheiro, Teixeira e Vaz; aderecista:
Diogo Teixeira; cabeleireiro: Victor Manuel; guarda -roupa: de
Augusto Carmo sob o s figurinos de Júlio Guimarães ; electricista:
Mário Silva.
O Chalet Avenida será também inaugurado com uma revista Em águas
de bacalhau, original de Fulano, Sicrano e Beltrano , e música do
maestro Luz Júnior, sendo as personagens do 1º quadro intitulado “No
129
“Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 0 5 .0 5 .1 9 0 4 : 2 e 3 .
44
reino da Bacalhoa” as seguintes: Rainha da Bacalhoa, Grão bacalhau,
Bacalhau inglês, da Noruega, Sueco, de lastro, frescal e fiel amigo.
No recinto da fe ira, era vulgar a animação ser grande. Alturas
houve em que o teatro extravasou os limites da cena convencional,
ganhando uma amplitude de quotidiano. Um teatro ainda não crismado
de invisível, nem de performativo, mas cuja atitude deixa antever
prenúncios futuros, não sonhados, pela mão de agrupamentos, para
quem a fisicalidade serviu como veículo de comunicação:
No Chalet Theatro da feira do Campo Grande .
Cena e quadro novos. Re cortamos de um nosso ilustre colega da
manhã, de hoje, a seguinte notícia que reproduzimos:
“Por causa de uma actrizita que na feira de Alcântara foi raptada
várias vezes, deu -se ontem uma cena de pugilato no theatro C halet da
feira do Campo Grande , entre o cunhado de um empresário de um dos
theatros de Lisboa e um repórter do Diário, ficando este ferido na
cabeça.
A companhia tomou parte nesta cena, que não estava ensaiada,
agradando extraordinariamente. Haverá reprise?” Safa! Sempre as
estrelas dos teatros de feira vão tendo... muita importância! Nós,
francamente, é que lha não damos. ( 130)
Sendo a novidade um motivo de atracção de público, desde logo
os espectáculos se foram adapt ando aos encantos das novidades
tecnológicas.
Feira de Belém [...]
Salão Bolander – Sessões de fotografia animada. ( 131)
Por
estas
estruturas
frágeis,
tantas
vezes
sacudidas
pela
intempérie, que as fazia vergar, para, dos escombros renasceram como
fénixes (132), passaram, tal como nos teatros particulares e academias,
“Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 1 8 .0 8 .1 9 0 4 : 2 .
A S ema n a Ilu st ra d a , nº 4 , 2 0 .1 0 .1 9 0 6 .
132
O p erió d ico B ra s il - Po rt u g a l , (0 1 .1 2 .1 9 0 9 : 3 3 5 ), so b o tí t ulo “E fei to s d o úl ti mo
fur acão ” , e xib i u fo to s d o ne fas to e fei to n a fe ira d e B e lé m e no T ea t ro C ha le t,
to ta l me n te d es tr uíd o .
130
131
45
muitos daqueles que viriam a ser, ou já eram, cabeças de cartaz nos
teatros de primeira linha.
Júlia Mendes , a sempre saudosa rainha das revistas, deu o seu nome a
um teatro-barraca, da Feira de Agosto, na Rotunda , chegando a
trabalhar no mesmo, já depois de ter conquistado um justo renome
como estrela desse género. A última revista em que a saudosa actriz
tomou parte, no referido teatro, intitulava -se Zig-zag. Não tivemos o
prazer de vê-la nesta peça, porquan to Júlia Mendes se encontrava já no
seu leito de morte, quando, por acaso, assistimos à última
representação da referida peça, em 3 de Outubro de 1910. Saímos do
teatro Júlia Mendes ( 133), da Feira de Agosto, à meia -noite, e, uma
hora depois – mal tínhamos t empo de entrar em casa – rebentava a
revolução que implantou o actual regime. ( 134)
Quem sabe se, um dia, numa passeio dominical pela feira, o
jovem Rafael não terá ficado estarrecido perante algum dos diversos
fenómenos aberrantes que por lá se exibiam: a imprescindível “cabeça
falante”, a Mulher Gigante, a Mulher Barbuda, e os números de
funâmbulos, de hipnotizadores, esse “caleidoscópio maravilhoso e
galante”, a que se refere António Pinheiro , o fascínio que o
espectáculo exerce na cabeça de qualquer criança. Ou dos adultos,
porque não?.
A existência de teatros -barraca não era, todavia, exclusiva das
feiras, houve-os de carácter mais fixo. No largo do Rato , foi
construído um teatro de madeira, modesto e tosco, situado no interior
de uma quinta, junto a uma casa de comidas, nas traseiras dos prédios
do lado sul da praça, baptizado Novo Teatro de Variedades, cujo
empresário foi um Dr. Couceiro , e ensaiador o actor Macedo . Entravase por um arco de pedra, ainda hoje existente, a meio do quarteirão, e
133
Na real id ad e, e s ta ca sa d e esp ec tác u lo s ch a ma va - s e C ha le t T eatro (c f. Ca p ita l ,
0 3 .1 0 .1 9 1 0 : 3 ) . Co mo s e mp re, é o v ul go , q ue m co n fer e o ap e lid o q u e ma is l h e
to ca o c o ra ção .
134
Ed u ard o d e No ro n ha , D iá r io d e No tí cia s , An o 5 5 º , nº 1 9 .3 5 7 , 2 1 .1 0 .1 9 1 9 .
46
onde se afixavam os reclamos ( 135). O vulgo chamou-lhe Teatro do
Rato, ou Chalet do Rato, e assim ficou sendo. Na sua estreia, a 27 de
Março de 1880, representou -se uma comédia em 1 acto de Costa
Braga,O Crime do Benformoso , e Martírio e Glória, ou Torquato, o
Santo, peça sacra de grande espectáculo de Mendes Leal , que “caiu
logo na primeira noite, caindo também a empresa ao cabo de seis
meses” (B A S TO S 1908: 356). Ali se representaram revistas, mágicas e
dramas de autores populares ( 136): “A Feira da Ladra , O Micróbio,
Tutti-li-Mundi, O Cavaleiro da Rocha Vermelha , A Gata Branca, O
Conde de Monte Cristo , etc.” (137). O seu sucesso foi sempre
irregular, segundo Sousa Bastos , por se encontrar longe do centro
teatral lisboeta. Foi por diversas vezes reedificado, sempre em
madeira, acabando por arder em 1907, quando pertencia ao actor
Santos Júnior. Foi o seu martírio e glória, que teve solução a seu
contento, e mais sólida. Sua madrinha, D. Antónia Bárbara da Cunha ,
auxiliou-o de forma generosa, mandando construir, em 1908, o Teatro
Moderno, na Avenida de D. Amélia (actual Almirante Reis) , nas
imediações de um outro modesto teat ro de bairro, o dos Anjos
(actualmente o Lisboa Ginásio ) (B A S TO S 1908: 350). O tempo se
encarregou de demonstrar que não haveria de ter grande glória com o
novo teatro. Afirmo u-se que a pouca sorte o perseguia... pasto de
superstições.
5.
E ainda para os lados do Rato.
135
Ai nd a ho j e, q ue m e ntr a r no C a fé s it uad o d o l ad o esq u erd o d o d ito arco , p o d erá
o b ser v ar, p e nd ur ad a n a p ared e, u ma r ep ro d ução fo to grá fica , q ue ate s ta o q u e aq u i
se d iz.
136
Antó n io J o s é H e nriq ue s , J aco b et t y , J o aq u i m An tó n io d e Ol i veir a , Li b ân io d a
Si l va , C araco le s , E s c ulá p io , Lu iz P o rt u g al e o ut ro s.
137
Av eli no d e So u sa , “ S ub síd io s p ara a H is tó ri a d o T eatro P o rtu g uê s” , Jo rn a l d o s
Tea tro s, 2 1 .0 3 .1 9 2 0 , e e d içõ e s se g u i nte s.
47
Funcionavam, nas primeiras décadas de novecentos, outras salas
particulares, das quais recordaremos duas: o Teatro Almeida Garrett
(138) e o Teatro do Castilho .
O primeiro, situado na Rua da Arrábida , nº 106 e 110, albergava
o Clube Recreativo, cuja direcção se preparava para inaugurar a nova
sede, alegadamente restaurada, a 4 de Setembro de 1904, segundo se
noticiava na imprensa da especialidade:
Foram importantes os melhoramentos e modificações que a zelosa
direcção ali entendeu fazer, e que dão à elegante sala, que mede 14
metros de comprido por 6 de largo e ao teatrinho, todo pintado de
novo e cheio de brilhantes dourados, um aspecto muito alegre e
vistoso. No dia da inauguração serão representadas pelo grupo
dramático deste mesmo clube as comédias Hotel Luso-brasileiro e
Como se enganam mulheres , a primeira do reportório do teatro do
Ginásio e a segunda do teatro D. Maria .(139)
Em 1912, chegou a funcionar como animatógrafo, mas acabou
sendo destruído por um incêndio, pouco tempo depois e não voltou a
ser reconstruído ( 140).
O Teatro do Castilho , segundo o actor Pinheiro , ficava situado na
travessa das Terras de Santa na, em frente ao Colégio Luso -Brasileiro,
que ele frequentava. Aí participou, como ponto, numa récita escolar,
(P IN H E IR O 1923:45 e ss.) ( 141), na qual se representou a coméd ia de
Garrett, Falar Verdade a Mentir , ensaiada por “um grande amador de
teatro”, o professor de matemática Schiapa Roby . Cita, ainda, ter
trabalhado neste palco particular, em outras récitas, ensaiadas por um
“distinto amador do Porto , Carlos de Almeida, que uma afonia terrível
impedi[ra] de seguir a carreira de teatro”, um exímio em “admiráveis
138
Ho u v e ta mb é m u m T eatro Garr et t , d e a ma d o re s, s it u ad o na R ua d o F o rno d o
T ij o lo , ao s Anj o s, q ue se as se mel h a va ao T eatro T herp si co re ( P IN H E IR O 1 9 2 3 :
1 6 6 ).
139
“Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 2 5 .0 8 .1 9 0 4 .
140
B ap ti sta d e Car v al h o , “ Al fr ed o Serr a C a va l he iro ” , Jo rn a l d o s Tea t ro s ,
0 3 .0 7 .1 9 2 1 : 5 .
141
No t a d e p é d e p á g i na.
48
cenas-mímicas que ele desempenhava e em que era maravilhoso e
soberbo na pantomima” (Pinheiro 1923:45). Remontará esta memória à
década de 1860, o que atesta a antiguidade deste pequeno teatro de
bairro, agora desaparecido como a m aior parte deles. Aparece,
também, citado num artigo a propósito do actor amador José Reis , que,
em 1904, se encontrava organizando uma companhia teatral familiar
neste “elegante teatrinho” ( 142).
Rafael de Oliveira , em 1960, mencionará, numa entrevista, ter
pertencido ao “grupo cénico do antigo Teatro do Castilho ”, aos 14
anos.
Situar-se-ia,
portanto,
a
sua
estreia
no
ano
de
1904,
relacionando -se essa informação com a veiculada por O Grande Elias
a propósito do dito actor José Reis . De estranhar, todavia, que este não
seja nunca mencionado por Rafael de Oliveira.
Em 1926, Carlos Dubini , actor e articulista do Jornal dos
Teatros, na coluna “Gente de Tea tro”, assina a primeira biografia de
Rafael de Oliveira, em que o define como sendo “duma reconhecida
probidade, disciplinado e disciplinador”, cujo grande objectivo era
“manter a sua Companhia de 1 7 figuras, sempre dentro dos limites da
correcção, da honestidade e da decência” ( 143). Atribui Dubini ao
biografado uma estreia amadora em data anterior àquela que o próprio
costumava referir, talvez porque lhe nã o tendo sido auspiciosa, a
quisesse votar ao esquecimento.
Criança ainda, dotado de grande força de vontade, inclinou -se para o
teatro e aos 12 anos [1902], como amador, estreava -se no que foi tão
popular Grémio Estrela, a Santa Isabel. Foi uma desastrosa estreia, ele
mesmo o confessa, mas como a esse tempo o “rubor não lhe subia à
face”, continuou de retrocesso em retrocesso, exibindo -se na maior
parte dos palcos das Sociedades Recreativas, até que o género c ómico
142
143
“Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 1 4 .0 7 .1 9 0 4 .
“Ge n te d e T eatro ”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 .
49
a que se dedicou se adaptou mais ao seu temperamento de forma que
mais tarde os mesmos palcos recebiam -no com geral agrado. ( 144)
Esta informação antecipa, em dois anos, o seu debute público. E
confirma a teoria de António Pinheiro sobre o “sarampo do teatro”...
Rafael de Oliveira, na entrevista concedida em 1960, afirmará
ainda que “aos 18 anos, era profissional”, sem especificar o local, nem
o momento. É Dubini quem fornece a pista.
O que foi tão popular Baptista Diniz organizou uma Companhia
modesta para o extinto Etoile (145) na Estrela e distribuiu o papel de
Bernardo da Santa Inquisição, peça em que o nosso homenageado se
estreou como profissional, isto em 1910. ( 146)
Contava, portanto, Rafael de Oliveira vinte anos, num ano que
foi, em Portugal, de grandes decisões. Mas, continua Dubini a respeito
do biografado:
Após duas épocas seduziu -o a província e em 1913 ele aí vai numa
tournée que regressava a Lisboa depois de uma longa viagem de... 3
meses mas já sem fazer parte do elenco, Rafael, porque este se havia
agregado ao grupo do velho Silva Vale , mais tarde seu sogro. Pensou
Rafael d’Oliveira em organizar uma companhia sob a sua égide em
1916 realizou o seu desejo constituindo -a de 10 figuras então já com
algum cenário e guarda -roupa propriedade sua que o denodado esforço
e sacrifício produziu. ( 147)
144
Ib id e m.
T rata -s e d o Ca s i no «Eto i le », “u m b arr acão b e m co n str u íd o e d ece nt e p ar a
esp e ct ác ulo s a ni mato gr á fico s e fo li es b e rg è re s ” , s it u ad o n u m t erre no q ue e x is ti a
“no co meço d a c alç ad a d a Estr el a , j u nto à r u a d e S. B e nto , med i nd o 8 5 m d e
co mp ri me n to e 1 8 m na ma io r lar g ur a, p ert e nc end o a J eró n i mo J o sé P ereira , [ e
ed i fi cad o p o r] A. V ie ira d a Si l va ”. Fo i p o st erio r me n te a mp l ia d o “o p al c o p ara s er
ut il iz ad o na r ep re se n tação d e o u tra s p e ç as, co me ça nd o n u ma re vi st a,
d ese mp e n had a p o r ar ti s ta s mo d e sto s, ma s d e c erto va lo r, so b re s sai nd o a act riz
He nriq u et a V ei ga , o a ct o r Vi cto r e o te no r R ib e iro . A i n a u g uraç ão d o C as i no fo i a
2 7 d e Ab ri l d e 1 9 0 7 ”. P o ss u ía ce n ário s d e A u g u sto P i n a e Ro gério Mac had o .
P ratic a nd o p reço s mó d i co s, p o s s uí a “ tr ês p la te i as co m 1 2 0 l u gar es cad a u ma , [...
e] u m p eq u e no b a lcão c o m 2 0 l u gar e s” ( B A S T O S , 1 9 0 8 : 3 0 9 ).
146
“Ge n te d e T eatro ”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 .
147
Ib id e m.
145
50
Razão parcelar. Se a ideia se apresenta correcta, a datação escapa
ao biógrafo. Sigamos, pois, o discurso de Rafael de Oliveira.
Quando tinha 24 anos, em digressão pela província, a nossa
Companhia (148) dava em Benavente os últimos espectáculos. Aí tomei
conhecimento com outro agrupamento artístico, dirigido por Silva
Vale, chamado “Troupe Silva Vale”. [...] Dias depois, eu ingressava
nessa Companhia. ( 149)
Absoluta verdade, s e tivermos em conta a transcrição de duas
notícias publicadas pelo Benaventense. A primeira, a 26 de Abril de
1914, relata:
Está nesta vila a companhia dramática do actor Paredes , que se propõe
realizar alguns espectáculos num celeiro da rua João Maria da Silva
Correia. (150) O primeiro espectáculo realiza -se com o seguinte
programa Os três dragões e Carvão e bolas , operetas em um acto,
Kalk-Walk, dança inglesa, O Regresso , dueto, finalizando com a
opereta Bocaccio na rua... Preços, cadeiras 210, geral 110. ( 151)
E a segunda, a 24 de Maio de mesmo ano, especifica que:
Num celeiro da rua Nova , realiza-se hoje um espectáculo pela
companhia do actor Silva Vale , que promete agradar, indo à cena as
peças: Carneiros e Perús, Manhas de Afonso, Juízo Narciso, Uma
Surpresa e Milagres de Santo Fingido . Principia às 9 horas e os preços
são: superior 130, geral 60. ( 152)
Fazendo fé do testemunho de Rafael de Oliveira , estaria ele,
então, integrando o “último espectáculo no celeiro da Rua Nova , para
148
A Co mp a n h ia d e An tó ni o P ared e s , p a i d a ac tri z J úl ia P ar ed e s .
“E stre ia - se no p ró xi m o d ia 7 a Co mp a n h ia R afae l d e Ol i ve ira : U m p o uco d e
hi s tó ri a”, Fo lh a d e Do m in g o , Faro , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 .
150
O s ce le iro s er a m o esp aço d o s t ea tro s d a v il a. O T eatro d o Cl ub e , o u d o C l ub e
Art ís ti co , es ta va i n s tal ad o n u m cel eiro d e C é sar S ab i no , e p o s s uí a u m g r up o
d ra mát ico a ma d o r, d ir i g id o p elo d r. Ál varo B e t â mio . E m No ve mb ro d e 1 9 1 4 , as
d ita s i n sta la çõ e s e s ta va m a ser re st a urad a s, re to ca va - se o c e nário , ap er feiço a v a - se
o si s te ma d e i l u mi n aç ã o e fa zia m - s e mo d i fi caçõ e s, ta is co mo u m a e ntr ad a
ind ep e nd e n te p ar a a g er al, no se n tid o d e to r nar o teatro o mai s có mo d o p o ss í ve l
(“T ea tro d o C l ub e ”, B e n a ven ten s e , 0 1 .1 1 . 1 9 1 4 : 2 ). Fo i d es te c l ub e q ue sa i u o
acto r J o r g e Gr a ve , no a n o a nter io r, p ara i n gre s sa r n a vid a p ro fi s sio n al n a cap i ta l.
151
Ben a ven ten se , 2 6 .0 4 .1 9 1 4 : 3 .
149
51
despedida da companhia do a ctor Silva Vale, levando à cena o drama A
Escravatura, e outras peças” ( 153)? Nada no -lo confirma, a não ser um
cartaz, em papel pardo, de reduzidas dimensões, apenas 22 cm por
14,5 cm, o mais antigo testemunho desta história de teatro ( 154).
Comum a dois espectáculos, em dias consecutivos - 31 de Março e 1
de Abril de 1917 – nele se publicita a Companhia Dramática
Societária, composta por actores de Lisboa e Porto, que actua no
Teatro Santanense, levando à cena o “sublime drama em 4 actos que
conta centenares de representações”, A Filha do Saltimbanco (155), e,
no dia seguinte, a “hilariante” comédia em 3 actos, 20 Mil Escudos, do
reportório do Teatro do Ginásio .
Desnecessário será dizer que a considerada companhia dramática, que
entre nós se encontra há um mês, se portou com toda a galhardia, de
molde a satisfazer as mais exigentes plateias. ( 156)
Na distribuição, encontramos o nome de Rafael de Oliveira que,
no primeiro espectáculo, interpreta o papel de Daniel, o “triste -sorte”,
o saltimbanco e “dobra” o papel de Jerónimo, o salteador ; no segundo,
interpreta a personagem de Luís Monteiro , secretário e sobrinho de
José Soares, um capitalista avarento, desempenhado por Silva Vale .
Prenúncio de tempos futuros?
152
Id em, nº 8 0 8 , 2 4 .0 5 .1 9 1 4 : 3 .
Id em , nº 8 1 0 , 0 7 .0 6 .1 9 1 4 : 3 .
154
Ca rta z d a Co mp a n hi a D ra mát ic a So ci etár ia ( MN T 2 0 6 5 8 8 ).
155
A p a ter n id ad e d e s te te xto não é p a cí fic a e en vo l ve - se e n tre b r u ma s d e
o ri gi na lid ad e e i mi t açã o d e o b ra fra n ce s a. O p ró p rio So u sa B a sto s ta mb é m a
atrib u i ao fra nc ês J e a n - Fra n ço i s B a ya rd , q ue terá s id o i mi t ad o . N a B ib lio te ca
Nac io nal e xi st e u m e x e mp lar (B N, Ma n u scr it o s, co d . 1 2 0 4 8 ) d e A Filh a d o
S a lti mb a n co , d ra ma e m 4 acto s, o r i gi na l d e An t ó ni o C â nd id o d e Ol i ve ir a , e o utro
(B N, M a n us cri to s, Co d . 1 2 1 7 7 ), e m 3 acto s, ver s ão d e Fra nc i sco d e Ar a ú j o .
156
“P elo Co n cel h o : Sa n ta na ”, Ga z eta d a F ig u ei r a , 1 1 .0 4 .1 9 1 7 : 3 . A Co mp a n h ia
en co ntr a va - se e m Sa n t an a d e sd e 1 7 d e M ar ço a nter io r , rep re se nt a nd o co m
s uce s so , se nd o “a l vo d e mu i ta s p al ma s e... d e m ui ta ma s sa ! ( id ., 2 4 .0 3 .1 9 1 7 : 3 ).
153
52
Passaram-se cinco anos. Ema Vale passou a ser Ema de Oliveira e a
Companhia [de] Silva Vale passou a ser a Companhia [de] Rafael de
Oliveira. (157)
Uma história de teatro, de uma paixão pelo teatro.
6.
De novo em Lisboa, 1962: Após A Recompensa...
Eis a Companhia dos Artistas Associados ( 158), a quem Vasco
Morgado abria os braços, “num intercâmbio teatral”, porque Rafael de
Oliveira havia acolhido “triunfalmente no seu Teatro Desmontável , em
Almada a Companhia de Laura Alves com todo o elenco do [Teatro]
Monumental” (159).
Nos bastidores do Teatro Avenida , a “tabela” ostentava os
bilhetes de felicitações, os telegramas, as palavras de aplauso
provenientes dos amigos e amadores de Aveiro , e de outros lugares por
esse país fora. “Houve até famílias importantes, que se de slocaram
propositadamente do Alentejo , do Algarve, de Coimbra, além dos
abraços amigos de vários actores, como António Silva e Fernando
Gusmão”, ou de Teresa Gomes , explica Rafael de Oliveira ao
jornalista da Revista Rádio & Televisão. (160) A imprensa acolheu a
Companhia com consideração, com perfeita compreensão da sua
dimensão e dos seus objectivos. Analizou -a:
[A] faceta simpática da organização familiar e associativa dramática,
que, com seu teatrinh o desmontável e seus métodos cooperativo sociais, bastando -se a si própria nas mil necessidades técnicas e
artísticas, deixa pela província o germe espicaçante do gosto pelo
157
Op . c it ., Fo lh a d e Do m i n g o , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 .
O ele nco er a co mp o sto p o r Gen y Fri as , Liz ete Fria s , E ma d e Ol i ve ira , Gi sel a
d e Ol i vei ra , M ari a C u s tó d ia , Lu ci nd a T rind ad e , Id al i na d e Al me id a , Ra fa el d e
Oli v eir a , Lu ís P i n h ão , F ern a nd o Fr ia s , Fer na nd o d e Ol i veir a , An tó nio Vi lel a , J o s é
Alb er to , Ca rlo s Fri as , Álv aro d e O li ve ira e Ar m and o Ve n â ncio .
159
“Av e n id a – Reco mp en s a ”, D iá r io Po p u la r , 1 3 . 0 2 .1 9 6 2 .
160
“R a fae l d e O li ve ira , u m e xe mp lo a se g u ir”, R á d io & T e lev isã o , 2 4 .0 2 .1 9 6 2 : 1 4
e 19.
158
53
teatro.Como as sociedades artísticas de amadores e os grupos locais ou
bairristas, eles têm uma sede própria. Portugal inteiro. A tradição vai se consolidando dia a dia. [...] Os filhos seguem as pisadas dos pais na
organização; o reportório cresce todos os anos ( 161).
Sintetizou -a:
Um caso de visão inteligente p arece ter indicado a orientação básica
da intrépida empresa; representar peças de grande nomeada, explorar
os êxitos da cidade cuja fama chegou a todos os lugares remotos e
ficaram no ouvido e no pensamento, como cisas impossíveis de
poderem ser saboreadas , ao vivo, lá longe; peças cujo valor pode
suportar uma representação modesta ou com força dramática suficiente
para atenuar e vencer as deficiências do conjunto, as naturais
fraquezas das montagens e o primarismo das encenações ( 162).
Avaliou-a:
E é, exactamente, nessa abnegação pelos textos, e não numa
arrogância vaidosa de competir e igualar, que está o lado simpático da
Companhia Rafael de Oliveira . Nesta passagem no “Avenida” de dez
obras teatrais notáveis, todas pelo “barulho” que fizeram em Lisboa –
cremos que a intenção é mostrar à capital a sua suficiência artística
para o público a que se d estina; a honestidade de seus processos, o
orgulho do seu amadorismo sem vaidades insolentes ou ilusórias ( 163).
Mane, tecel, fares ! Impuseram -se sem espavento. À medida que o
reportório se sucedia, a permanência ganhava contornos de “acusação
viva e flagrante da «miséria» da nossa vida teatral e, ao mesmo tempo,
a prova do valor de uma organização e do esforço comum de gente
honesta e trabalhadora” ( 164).
A recompensa de Rafael de Oliveira era o resul tado contínuo do
trabalho
da
sua
gente,
“amadora”
de
teatro,
com
direito
“ao
reconhecimento público do inestimável serviço social que a Nação é já
devedora ao seu sacrifício humilde, mas desinteressado pela causa do
161
162
163
164
F. F., “E sp ec tá c ulo s. A ve n id a – Reco mp en sa ”, Diá rio Po p u la r , 1 5 .0 2 .1 9 6 2 : 5 .
Ib id e m.
Ib id e m.
“Deu s lh e p a g u e no Av en id a” , D iá rio Po p u la r , 2 7 .0 2 .1 9 6 2 : 3 .
54
teatro” (165), constatava Humberto d’ Ávil a, no Jornal Português de
Economia e Finanças . Apesar de “ressaltar “um certo ar indisfarçável
de amadorismo, uma maneira ultrapassada, um arranjo convenci onal”,
o articulista manifesta -se impressionado com “a seriedade, a devoção
que cada um põe no desempenho do seu papel, e a modéstia, a
humildade das suas pessoas perante a composição da figura” e com a
recepção de um público conhecedor da Companhia:
Não é habitual ver -se nos nossos teatros o público que ali
acotovelei, e público – sublinhe-se – que seguiu com vivacidade o que
se passava no palco e, pelos comentários que lhe ouvi, tinha a
experiência vivida de meios idênticos ao descrito e entendia com
antecipação o jogo oculto das personagens, cujas réplicas de carne e
osso lhe eram familiares, nas suas intenções e propósitos ( 166).
A mesma ordem de razões levará o escritor Romeu Correia a
apelidar publicamente a Co mpanhia Rafael de Oliveira, Artistas
Associados, como “o verdadeiro Teatro do Povo. Obra de artesanato,
que ressurgiu o teatro ambulante da idade média. Corajosa e exem plar
comunhão de arte e de sacrifícios – sem sensacionalismos, sem
vedetas, sem louros...” ( 167).
H u mb er to d ’ Áv i la, “A rte e E sp ec tác u lo s: A C o mp a n h ia R a fae l d e O li ve ira e m
Lis b o a”, Jo rn a l Po r tu g u ês d e Eco n o mia e F in a n ça s , 1 5 .0 5 .1 9 6 2 : 4 5 e 4 6
166
Ib id e m.
167
“R a fae l d e O li ve ira , u m e xe mp lo a se g u ir”, R á d io & T e lev isã o , 2 4 .0 2 .1 9 6 2 : 1 4
e 19.
165
55
Capítulo III : A constituição da companhia de Rafael de Oliveira
Ilustração
3
–
Cristiano
Mesquita (sentado) e Rafael
de Oliveira (em pé).
I
l
u
stIlustração 4 – Ema
Oliveira (em cima).
de
< Ilustração 5 –
Lucinda Vale, mãe
de
Ema
de
Oliveira.
[A fundamental atitude a ter ante o que nos parece disparatado ou
absurdo, por inabitual, deve ser de respeito, de curiosidade e de carinho.
[Porque] o teatro é uma arte que exige, de quem a ela se dedica, um
esforço e uma devoção que, muitas vezes, o público não avalia
devidamente. O teatro, por exemplo para um actor, é um sacrifício de
todas as horas, e até um sacrifício da sua própria personalidade.
Jorge de Sena, “Sobre o Teatro de Vanguarda”, in Do Teatro em
Portugal (1989: 388)
56
1.
Os Primeiros Passos
1.1.
De Silva Vale a Rafael de Oliveira
Ainda que vulgarmente conhecida por companhia de Rafael de
Oliveira, esta designação aparece , ab initio, em referências veiculadas
pela imprensa, mas apenas será assumida como imagem de marca cerca
de doze anos mais tarde. Num primeiro momento, quando Silva Vale
transmite a liderança da Comp anhia Dramática Societária , dois anos
após a união de Ema com Rafael, a nova designação comercial parece nos que pretende reflectir uma ideia de mudança. O conceito
subjacente a Troupe Dramática União parece comportar um ideal
unificador de coesão artística, sobre o qual assentaria a força de
continuidade e a capacidade de vencer os obstáculos que a profissão
de artista, exercida nestes moldes, exigiria.
Sete anos após o seu ingresso na companhia de Silva Vale , Rafael
de Oliveira faz surgir a sua “novel” compan hia, na Azambuja , às 21
horas e meia, do dia 5 de Maio de 1921, no Teatro do Clube , com a
representação da peça Mar de Lágrimas, drama em 3 actos, da autoria
de João Gouveia e Jorge Santos, publicado em Lisboa , pelo editor
Francisco Franco , na colecção Biblioteca Dramática Popular, e que
pertencera ao reportório do Teatro Nacional , na temporada de 1907 -8
(168). Se nada sabemos da recepção do espectáculo – a imprensa
regional não só é escassa, como irregular nos pequenos centros
urbanos –,encontramo-lo, todavia, documentado através do seu cartaz
A re vi s ta Bra s il – P o rtu g a l (1 6 .1 0 .1 9 0 7 : 2 2 8 ) ap re se n ta fo to s d a s ua
rep re se nt ação no T eatr o Nac io na l d e D. Mar ia II , n a t e mp o rad a e m q u e fo i
es tread a.
168
57
(169). Uma frágil folha de papel fúcsia, medindo uns aproximados 17
por
13
centímetros,
impressa
a
negro,
partilha
informação
de
diferentes teores: a habitual distribuição das personagens, o título dos
actos, o preço dos bilhetes, o término do espectáculo “com uma
[inominada] chistosa comédia n’um acto”, e, ainda, que se trata da
“estreia da Troupe Dramática União”, composta pelos actores Rafael
d’ Oliveira, José Carlos de Sousa , Silva Vale, João Fernandes,
Edmundo de Sousa e as actrizes Ema de Oliveira , Concórdia de Sousa,
Lucília Vale, Laurinda Vale e Lucília de Sousa.
O primeiro elenco compunha -se, portanto, de dez pessoas,
interpretando um reportório d e algumas peças, pelos pequenos teatros
de província, e do qual não chegou notícia suficiente. A não ser que, a
7 de Agosto desse mesmo ano, estes actores, aos quais se junta Artur
Nunes, representaram, no Teatro Recreio do Cadaval , o drama em 7
quadros, Amor de Perdição , original de Camilo Castelo Branco ,
extraído por Raúl d’ Além , pseudónimo de Rafael de Oliveira . O
cartaz do espectáculo salienta tr atar-se de um “grandioso espectáculo
pela Tournée Artística sob a direcção do actor Rafael d’ Oliveira ”.
Conclui-se, pois, que a Troupe Dramática União deu lugar à “Tournée
Artística Societária, dirigida por Rafael de Oliveira ”, uma alteração
que acentua o seu matiz itinerante. Estando muito em voga, por essa
altura, a utilização da terminologia francesa, a palavra troupe (170),
embora signifique companhia, parece comportar, na prática, uma
conotação menor, referindo -se a agrupamentos de menores recursos
169
Cart az e xi s te n te n o M u se u N acio n al d e T eatr o (MNT 2 0 6 5 9 8 ), p erte nc e nte ao
acer vo d e Má rio Vi e ga s.
170
P ara So u sa B as to s (1 9 0 8 : 1 4 9 ), t ro u p e d e fi ne - s e co mo “u ma co mp an h ia d e
acto r es, r e u nid o s p o r c o nt a d e u ma e mp re sa o u e m so c ied ad e, p ara e xp l o rare m,
u m tea tro o u p er co rr ere m t erra s d i v er sa s. [...] e st á ad o p t ad o o ter mo ,
p ri ncip al me n t e, q ua nd o o s art i sta s a nd a m e m v ia ge m”. To u rn é e i nd i ca “q u e a
co mp a n hi a d e q ua lq uer tea tro , o u u ma c o mp a n hi a fei ta e xp re s sa me n t e p ara es se
fi m, p er co rre d i ver sa s terra s d o rei no , i l ha s o u B ra s il, d a nd o e s p ectá c ulo s.
Ord i na ria me n t e à te st a d es sa s co mp a n hi as vai s e mp r e o no me d e u m ar ti st a q ue se
i mp õ e p e lo se u ta le n to e p ela s u a rep u taç ão ” ( Ib i d em: 1 4 6 ).
58
artísticos, representando reportório ligeiro variado, em espectáculos
misturando textos dramáticos com números de variedades ( 171); o
termo tournée aparece, sobretudo, associado a sociedades artísticas,
cujo objectivo era a itinerância. Indiscutivelmente, a designação
Tournée Artística Societária, adoptada por Rafael de Oliveira , parecenos representar uma marca determinante de um modelo de gestão,
semelhante
ao
modo
como,
na
imprensa
da
especialidade,
se
divulgavam as companhias oriundas de Lisboa e Porto que praticavam
a itinerância. Tournée Artística Societária seria o mesmo que dizer
Sociedade de Profissionais de Espectáculo Ambulantes, ou Sociedade
Artística Itinerante, uma designação passível de autenticação actual
por uma Conservatória do Registo Comercial. Ao ser acentuado o
papel de Rafael de Oliveira como director, deu-se motivo a que os
periodistas designassem o agrupamento por Companhia de Rafael de
Oliveira, personalizando a tónica emp resarial.
No ano de 1921, constatamos apenas a existência dos dois
espectáculos supra, através dos seus cartazes. Parece que a Companhia
terá permanecido em terras ribatejanas, já que, a 11 de Junho do ano
seguinte, estreia no Salão Ideal, de Santarém , o drama A Rosa do
O Arch ivo Th ea t ra l (1 0 .0 8 .1 9 0 9 :5 ), na co l u na “T o ur n ée s art í st ica s” , p ub lic it a
as t ro u p e s d o s a cto r es J o aq u i m P ra ta , Carlo s d ’ Ol i ve ira e Au g u s to Co r d e iro , e m
d ig re ss ão p elo no rt e, s ul e Ale n tej o , re sp ec ti va me n t e. Q ua lq uer d e l as p o s s u i
rep o rtó r io ge n era li st a d e agr ad o certo . No t a -s e q ue, ao lo n go d o te mp o , o ter mo
tro u p e fo i c ai nd o e m d e s uso , ap arec e nd o a s so ci ad o , so b re t ud o , a p eq ue na s
co mp a n hi as , o u a a mad o res. P a s sar á a e s tar m ai s e m vo g a o te r mo to u rn ée , q ue,
d e al g u ma fo r ma , ac e nt ua o mo d o i ti n era n te e, p o rta n to , a co mp e tê nc i a d o s se u s
p ro fis s io na is p ara t al. O t er mo “C o mp a n hi a” ap arec e, so b re t ud o , co mo el e nco
li gad o a u ma e mp re sa (Co mp a n h ia d e Afo n so T av eir a , p o r e xe mp lo , o u a s
co mp a n hi as d e Ad el i na Ab ra nc h es , d e Mar ia M ato s – M e nd o nça d e Ca rva l ho , d e
Re y Co l aço – Ro b l es M o nt eiro , d e Luc íl ia S i m õ es - Er ico B ra ga , e d e B ru ni ld e
J úd i ce – Al ve s d a Co st a , e ntr e ta n ta s), a u m t eatro ( Co mp a n hia d o É d en -T ea tro )
o u a u m gé nero d e esp e ctác u lo p ra tic ad o (Co m p an h ia d e Re v is ta , Co m p an h ia d e
Op ere ta ) .
171
59
Adro, extraído por Henrique Macedo Júnior da obra homónima de
Manuel Maria Rodrigues (172).
As primeiras críticas teatrais.
Em 1922, ascende a Companhia ( 173) à zona centro, assentando
arraiais na vila da Lousã . O Alma Nova, semanário d efensor dos
interesses da região, publicitava, na edição de 19 de Agosto, que a
“Companhia
Artística
Societária,
sob
a
direcção
de
Rafael
de
Oliveira” levaria à cena, na quinta -feira seguinte, dia 2 4, Rosas de
Nossa Senhora (174), uma opereta em 3 actos e 1 quadro, com música
de Vasco Machado , que pertencera ao reportório do actor José
Ricardo. O êxito foi indiscutível, “a casa estava literalmente cheia,
vendo-se nos camarotes algumas famílias de Lisboa [...] e muitas
senhoras da melhor soci edade lousanense. O desempenho da peça foi
172
T anto A Ro sa d o Ad ro , co mo o A mo r d e P erd içã o , ser ão o s e sp ec tác ulo s q u e
ap re se nt a m gra nd e n ú m ero d e rep re se n taçõ es a o lo n go d o s 5 3 a no s d e acti v id ad e
d a Co mp a n hi a Ra fael d e O li ve ira. A Ro sa d o Ad ro ter á, i n cl u si v a me n te, u ma
se g u nd a ver são es cri ta, d a a uto ria d e Ro me u Co rr eia , q ue ser á e st read a e m
Sa n taré m, no T eatro D es mo n tá ve l , a 2 4 d e J ane iro d e 1 9 7 1 , e rep res en tad a a té
1 9 7 4 . Q ua n to ao e nr ed o ca mi l ia no , ter á vár ia s en ce na çõ e s: a d e 1 9 2 1 , d e q ue se
d esco n h ece a a uto ria , a d e Er ne sto d e Fr ei ta s (1 9 2 4 -1 9 2 7 ), a d o s i r m ão s Ma to s
(1 9 2 9 -1 9 6 7 ), a d e F er na nd o d e O li v eira (1 9 6 7 -1 9 7 2 ) e a d e Rib e ir i n ho ( 1 9 7 3 ).
173
Ne s te mo me n to , a so c i e d ad e e ra co mp o sta p o r : Ra fael d ’ O li ve ira , Car l o s Fr ia s ,
Mário Li ma , An tó n io B arb o sa , Si l va V al e , J o sé Ro d ri g u es , J o sé S il va , E ma
d ’Ol i veir a , Ge n y Val e , Lu ci nd a Fr ia s , I ld a Li ma , La ur i nd a Val e e Deo l i nd a
d ’Ol i veir a ( “T ea tro ”, Al ma No va , 1 9 .0 8 .1 8 2 2 : 8 ). Me nc io na m - s e 1 3 ar t is ta s, ao s
q ua i s s e j u n tará o ac to r Ev ari sto d e No ro n h a , no e sp e ct ác ulo d e 1 d e O ut ub ro
d es se a no ( “T ea tro ”, Al ma No va , 3 0 .0 9 .1 9 2 2 : 5 ) .
174
Ap are ce, p o r vez e s, t a mb é m me n cio nad a co m o Ro sa s d a Vi rg e m . T rata - se d e
u ma i mi t ação d e J o ão So l er , d a zarz u el a d e C arlo s Ar n ic h es e Ra mó n As s e ncio
Má s, El p u ñ á s d e ro sa s (B N - Ma n u scr ito s, co d . 1 2 0 9 2 ), e mb o ra e xi st a ta mb é m,
co m o me s mo no me, u m d ra ma e m 2 a cto s d a au to ri a d e Ed ua rd o An t u ne s
Mart i n ho , d e 1 9 2 4 (B N -Ma n u sc ri to s, co d . 1 1 8 7 8 ). Es ta o p ere ta p e rte nc i a ao
rep o rtó r io d e o u tra s co mp a n h ia s d e p ro ví n cia , co mo a Co mp a n hi a Lisb o n e ns e
«G e nt e Se m No me », d iri g id a p o r H u mb er to d e And rad e . N u m ca rtaz d e st a
co mp a n hi a p o d e ler - se co mo s ub t ít u lo Um Pu n h a d o d e Ro sa s , tr ad uçã o evid e nte
d o tí t ulo esp a n ho l.
60
correcto” (175). O espectáculo terminou com Variedades, destacando o
articulista do Alma Nova o desempenho dos irmãos Lucinda e Carlos
Frias, em duetos e declamação de poesias, e a jovem actriz Geny Vale ,
cantando um “lindíssimo fado”, “acompanhada à guitarra pelo distinto
académico [...] Sr. Armando Silvestr e Tavares da Silva”. A parte
musical do espectáculo fora preenchida por um sexteto local, “que sob
a
regência
do
hábil
artista
Sr.
Francisco
Ferreira ,
executou
primorosamente alguns trechos musicais” ( 176).
A Companhia foi representando o seu alargado reportório,
continuadamente, às quintas e domingos, sempre com casas cheias,
sinónimo aparente de agrado certo. Tão evidente que a coluna de
teatro subli nhava o facto de, no espectáculo de domingo, 3 de
Setembro, em que se representara o drama, Do amor à loucura (177),
seguido da comédia, O Infanticida, e de um acto de variedades, não só
a lotação da sala tinha sido excedida, como no exterior do teatro se
tinham formado “grupos que protestavam ruidosamente” ( 178) por não
poder entrar.
Aparentemente, tudo estaria progredindo a contento, não fora
Rafael de Oliveira ter decidido levar à cena o drama em 6 actos, D.
Inês de Castro e D. Pedro, o Cruel (179), um arreglo seu, sob
pseudónimo de Raúl d’ Além , da tragédia homónima de António
Ferreira, na adaptação de Júlio Dantas , e do drama D. Pedro, o Cruel ,
de Marcelino de Mesquita . De imediato, o inominado autor da secção
“T ea tro ”, Al ma No va , 2 6 .0 8 .1 9 2 2 : 5 .
Ib id e m.
177
Ali ás Amo r lo u co , d e He nriq u e Lo p e s M e nd o nç a (1 8 9 9 , T eatro d e D. A mél ia ,
Lis b o a). Fo to d e G eo r g in a P i nto e Au g u s to R o sa e m c e na, e m Lu iz Fra nc i sco
Reb el lo , H i stó ria d o T e a tro Po r tu g u ê s, 1 9 7 2 .
178
“T ea tro ”, Al ma No va , 0 4 .0 9 .1 9 2 2 : 8 .
179
Es ta p eç a ap arec erá d e si g n ad a, i nd i s cri mi n ad a me n te, t a nto e m car taz e s, co mo
e m p er ió d i co s , ao lo n go d o s ano s, co mo In ê s d e Ca s tro , D. In ê s d e Ca s tro o u D.
In ês d e Ca st ro e D. Ped ro , o C ru e l .
175
176
61
teatral do Alma Nova zurziu na companhia, qual Braz Burit y das
Beiras:
O desempenho desta peça, como de resto o das anteriores, tem vindo
em apressada decadência . A pobre D. Inês , coitada, foi assassinada
repetidas vezes durante o espectáculo. A desgraçada ideia que a
companhia tem de se atirar a tragédias e dramas, se tem a vantagem de
agradar a uma pequena pa rte da plateia que nunca viu teatro e fica
toda derretida com os ferrabrazes que, em cena, matam D. Inês e a
peça, tem o inconveniente de desagradar profundamente a todos os que
têm uma cultura mediana ( 180).
Cordatamente, permitiu -se o “crítico” dois conse lhos. O primeiro,
dirigido aos artistas, sugeria com veemência que não representassem
dramalhões e se dedicassem apenas a comédias e peças leves, para as
quais haviam sido mais bem fadados. O segundo dirigia -se ao público,
que “costumava palmilhar (181) aquilo”, para que fizesse “sentir quão
entende e sente alguma coisa da arte dramática” ( 182). Supomos que o
assunto terá tido alguma repercussão popular, anterior à publicação do
artigo. Depreende-se que, pelo menos, um sector do público não
partilharia a opiniã o do periodista, pessoa aparentemente de difícil
intimidação, que aproveitou o ensejo para aconselhar os “ donzéis que
não [queriam] deixar aos outros o livre direito de crítica”, que se não
irritassem “que lhes [fazia] mal aos nervos...” ( 183).
O incitamento à pateada, uma demonstração performativa, pública
e presencial, de censura aos espectáculos, caíu mal no seio da
sociedade lousanense e da Tournée Artística Societária, pelo que o
nosso “Sarcey da Serra”, na edição seguinte, voltou à carga, com a
lógica dos argumentos da sua razão crítica:
180
181
182
183
“T ea tro ”, Al ma No va , 1 6 .0 9 .1 9 2 2 : 5 .
E m i tá lico no o ri g i na l.
“T ea tro ”, Al ma No va , 1 6 .0 9 .1 9 2 2 : 5 .
Ib id e m .
62
Parece que a crítica teatral do nosso último número causou nesta vila a
pior das impressões: uns consideraram -na contundente em demasia;
outros levaram o seu furor até ao ponto de a capitularem de iníqua.
Sabemos também que os artistas que fazem parte da Companhia Rafael
d’Oliveira, magoados com as apreciações que nos permitimos fazer lhes, manifestaram a várias pessoas a sua estranheza pelo impie doso
tratamento que lhes infligimos, opinando que em vez de genérica como
foi, a nossa crítica deveria ser individual de modo que, não poupando
censuras a quem censuras merece, não regateássemos também elogios,
aos que deles fossem dignos. Perfeitamente de acordo. Se
desejássemos fazer a crítica da Inês de Castro – essa peça de
sanguinolenta memória – seria assim que teríam os procedido. Mas não
foi esse o nosso intento. Nós pretendemos apenas salientar o péssimo
critério que tem presidido à escolha e selecção das peças – e que a
Companhia tem feito com o intuito exclusivo de assim lisonjear o mau
gosto de um público lamecha, sanguisedento. Por isso, os
aconselhamos a banirem tragédias e dramas levando de preferência à
cena comédias ligeiras que, com alguns números de variedades,
criteriosamente escolhidos, tornariam sem dúvida os espectáculos mais
interessantes e atraentes. N o nosso último número, pois, só
incidentalmente nos referimos ao desempenho da peça, não desejámos
– devemos declará -lo – prejudicar nos seus interesses a referida
Companhia. (184)
O diferendo agudizou -se, e o dedo foi apontado directamente à
figura do dire ctor da Companhia, cuja “obstinação” se não podia
deixar de “estranhar e verberar”, ao reincidir na apresentação de um
novo drama. Rafael de Oliveira fizera ouvidos de mercador e desafiava
a autoridade periodística com a representação de Amor de Perdição .
Obviamente, que a resposta saiu lesta, de caneta em riste, e, tal como
havia sido “pedido”, menos genérica, não poupando censuras a quem
as merecesse e elogios a quem deles fosse digno:
Confessamos que ao vê -lo anunciado em cartazes profusamente
espalhados por essa vila, ficámos sucumbidos, consternados e não
podemos reprimir estas exclamações compungidas: Pobre M ariana!
Pobre Simão Botelho ! Mas afinal o desempenho desta peça não foi tão
mau como prevíamos. Mariana , Teresa e João da Cruz foram mesmo
muito regularmente nos seus papéis. Simão Botelho , apesar de
184
“T ea tro ”, Al ma No va , 2 3 .0 9 .1 9 2 2 : 2 .
63
prejudicado pela voz, aguentou -se um pouco melhor do que nas peças
anteriores. A actriz Lucinda Frias ostentou uma linha demasiadamente
majestática para serventuária de convento. A actriz Deolinda d’
Oliveira, ontem como de resto no domingo e sempre, desempenhou o
seu papel duma forma verdadeiramente lamentável. Baltazar Coutinho
felizmente morreu a meio da peça... Quanto a Tadeu d ’ Albuquerque, a
sua idade impõe -nos benevolência... ( 185).
Ex tribuna , elogiava-se o desempenho das personagens sem
mencionar os intérpretes, à excepção das duas pobres actrizes, a quem
não se deixava qualquer dúvida sobre o seu valor artístico. Quanto aos
outros, salvavam-se Ema de Oliveira e Geny Vale, interpretando,
respectivamente, Mariana e Teresa de Albuquerque, e Rafael de
Oliveira, com algumas reticências, em Simão Botelho . José Carlos de
Sousa, um actor útil ( 186), estaria desempenhando o papel de Baltazar
Coutinho, cuja morte a meio do enr edo se traduziu no alívio da
plateia.
A
Silva
Vale,
cuja
idade
real
impunha
benevolência,
perdoava-se possivelmente alguma caquexia da personagem de Tadeu
d’ Albuquerque (187).
De toda a companhia ressalvava -se, sem qualquer dúvida, Mário
Lima
(188),
“um
actor
sóbrio,
185
correcto
e
que
[possuía]
Ib id e m.
Na gí ria t ea tral , ap el id av a m - s e d e “ut il id ad e s” o s acto re s c uj o tal e nto b asta v a
p ara c u mp rir o d e se mp en ho ar tí s tico d o s p ap é is d e i mp o r tâ n cia re la ti va p ar a o
enr ed o . E m to d a s a s co mp a n h ia s, o s ha v ia ; n a d e Ra fael d e O li v eira , J o sé Carlo s
d e So u sa era, p elo me no s p o r es ta al t ura, u m d el es.
187
O cr uza me n to d e d a d o s i n fo r ma t i vo s aq ui p ro p o sto , p a rte d o c arta z q u e
p ub lic it a o mes mo e sp ec tá c ulo no Cad a v a l , e m 1 9 2 1 , j á a nte rio r me n te
me n cio n ad o . As si m, d a d o q ue a s fi g ur as p r i nc ip a is e ra m i n terp r eta d as p e lo s
ele me n to s d a fa mí l i a V a le (E ma, Ge n y, Ra fael e o p ró p rio Sil v a Va le , o ele me n to
ma i s v el ho ), e st e s co n ti n uar ia m o b vi a me n te a i nt erp re tá - lo s no a no se g ui n te. J o sé
Car lo s d e So u sa , se co nt i n ua v a n a co mp a n h ia, co n ti n uar ia a i nterp ret ar o p ap el
hab it u al. Ap e na s a p er s o na g e m d e J o ão d a Cr u z no s e scap a a u m rel ac io n a me n to ,
na me d id a e m q u e fo ra in terp r et ad a a n terio r me nt e p o r Art u r N u ne s, o q ua l ne ste
mo me n to não p er te nc ia j á ao ele nco . P o d e eve n t ua l me n te tr ata r -s e d e M ário Li ma ,
te nd o e m co nt a o e lo gio crít ico q u e o A lma No va l he faz e nq u a nto art i sta .
188
Már io Li ma , a mi go e co mp a n he iro d a s l id e s tea tra is d e R a fae l d e Oli v eir a ,
in te gr a t a mb é m a Co mp an h ia Dra má t ica So c ie t ária , e m 1 9 1 7 . Fo i p a i d e v ário s
acto r es, c uj a s carre ira s s e fizer a m n as co mp an h ia s d e p ro v í nc ia, e d a actr iz
Ma n ue la Mari a (1 9 3 8 ), fil ha d o s e u se g u nd o ca sa me n to , q u e si n gro u e m Li sb o a ;
fi g ura co n h ecid a d o gra nd e p úb li co p elo se u tra b al ho não só e m tea tro , ci ne ma e
186
64
incontestavelmente as mais apreciáveis qualidades”, en tre alguns
elementos de valor, que se não individualizavam, mas aos quais se
reconhecia “decidida vocação e aptidões”, e se lamentava que “ por
culpa do seu director, os seus méritos indiscutíveis” não tivessem sido
aproveitados (189).
Esta contestação tão v eemente a Rafael de Oliveira poderia ter
tido efeitos nefastos no progresso da companhia, poderia ter motivado
o desalento ou, até, conduzido à dissolução do agrupamento. Ele era
acusado de ser obst inado, de possuir um “péssimo critério” de
selecção de um reportório de pendor populista, próprio para “lisonjear
o mau gosto de um público lamecha, sanguisedento”, e de mal
aproveitar as capacidades dos seus companheiros. Parece, pois, que a
companhia estaria a seguir um modo de actuação semelhante ao
anteriormente exercido por Silva Vale , quanto à escolha de reportório,
e Rafael de Oliveira a exercer de forma errada a gestão artística,
função para a qual obviamente não evidenciava estar habilitado.
Após pouco mais de um mês, a Tournée Artística Societária
despediu-se do Teatro Lousanense, a 3 de Outubro, num espectáculo
em benefício do Cofre do teatro, em que se representou o drama em 3
actos A Filha do Saltimbanco (190). Deslocou-se, seguidamente, para
sul, com passagem por Nazaré , Caldas da Rainha e Rio Maior.
Desconhecemos se a severidade crítica, durante a estadia na
Lousã, terá tido um impacto directo nas futuras decisões empresariais
de Rafael de Oliveira , porém, em Abril do ano seguinte, quando se
tel e vi são , ma s t mab é m p o r ter s id o u ma d a s me n to ra s, j u nta me nt e co m s eu mar id o
Ar ma nd o Co r tez (1 9 2 7 - 2 0 0 2 ), e o utra s p erso n a lid ad es , d a fu nd a ção d o p ro j ecto
Ap o iar te, q ue d ar ia o ri g e m à Ca sa d o Ar ti s ta.
189
Alma No va , 2 3 .0 9 .1 9 2 2 : 2 .
190
Es ta é u ma d a s p e ça s q u e será co n he cid a p o r d i v er so s no me s. No c arta z d a
Co mp a n h ia D ra má ti ca S o cie tár ia , d e S il v a Va le , no T eatro S a nt a ne n se (Sa n ta na ,
Fi g u eira d a Fo z ), a 3 1 d e M arço d e 1 9 1 7 , ap a r ece re fer e nci ad a ta mb é m co mo A
filh a p erd id a . S erá l ev ad a à ce n a, p o s ter io r me n te, co m t ít u lo s co mo O
S a lti mb a n co , o u A Fa míl ia d o Pa lh a ço (a 2 1 d e J un ho d e 1 9 2 5 , no Sa lão
P ro mo to ra d e Alcâ n tara , e m Lisb o a).
65
encontra actuando no Grémio Rec reativo de Cantanhede , a “Tournée
Artística Societária, sob a direcção do popular actor Rafael de
Oliveira” (191), composta por “14 figuras, contando entre elas
apreciados artistas”, ampliara o seu habitual reportório com novos
títulos: Os Fidalgos da Casa Mourisca , adaptação dramática, em 5
actos e 1 quadro, de Carlos Borges , baseada na obra homónima de
Júlio Diniz, A Morgadinha de Valflôr , de Manuel Pinheiro Chagas , e
João José (192), drama em 3 actos, do dramaturgo espanhol Joaquín
Dicenta (193).
Em cartazes desse mesmo ano, constatamos que, após o nome da
companhia e a referência habitual à sua direcção, se enfatiza a
participação do actor Ernesto de Freitas .
“T eatro no Gré mio ” , G a ze ta d e Ca n ta n h ed e , 2 1 .0 4 .1 9 2 3 : 2 .
O tí t ulo o ri g i nal é J u a n Jo sé . “Q u a nd o d a es trei a, co m e no r me êx ito , e m
Mad rid , e m 1 8 9 4 , a cr ít ica falo u, a p ro p ó s ito d es ta p eça d e J o aq u i n D i ce nta , d e
d ra ma so c ia l e at é so c ia li st a. No e n ta nto , n u ma p ersp ect i va h i stó r ica , o s o p erár io s
d e Di ce n ta mo v i me n ta m - se n u m d ra ma l hão d e h o nra ult raj ad a, a q ue j á ch a mar a m
me lo - so c ial i stó id e. Co nt u d o , a ap re se nt ação , e m 1 8 9 6 , d e sta p eça, p el a
Co mp a n h ia d e Ro sa s & B ra zão , p o d e co n si d erar - se u ma o u sad a t en ta ti va d e
ab o rd ar o no vo tea tro n at ura li st a, fu g i nd o d el ib erad a me n te ao s d r a ma s hi s tó ri co s
o u ao s “p ro b le ma s ” ele ga n te s d e D u ma s Fi l ho e S ard o u. A acç ão g ira à vo l ta d o
p ed reiro J o ão J o s é (Ed uard o B raz ão ), d e sp ed i d o ao me s mo te mp o q ue o se u
co mp a n he iro An d ré (F er reira d a S il va ). Se m co n se g u ir trab a l ho , q u ere n d o ma nt er
a a ma n te, a vo l ú vel Ro s a ( Ro s a D a ma sc e no ), J o ão J o sé ro ub a e é p r eso . Na p r is ão ,
o nd e te m p o r a mi go E l Ca no (J o ão Ro sa ) , rec eb e u ma car ta d e And ré , a n u nc ia nd o lh e q u e Ro sa vi ve a go r a co m o ab a st ad o P aco ( Al fred o S a nto s ). De se sp er ad o , J o ão
J o sé e vad e - se , ma ta P a co e ta mb é m Ro sa , e m b o ra i n vo l u nt ari a me n te. O p úb li co
go sto u d o me lo d r a ma, q ue d e u 2 1 r ep re se n taç õ es, e mb o r a a cr ít ica não fo ss e
mu i to e n t u sia s ta. An a P ereir a , q ue re ap are cia , na v el ha I zid ra , d ep o i s d e lo n go e
inj u sto a fa s ta me n to , te v e o s ma io re s ap la u so s, p arti l had o s, al iá s, p o r J o ão Ro s a e
Ed u ard o B raz ão . Q ua n t o a Ro sa Da ma sc e no , a nt e s d a e str eia , j á ti n h a e n viad o
cart as ao s j o r nai s, d ecl a rand o q u e o p ap el n ão era p ara e la, o q ue se c o n fir mo u”
(Ví to r P a vão d o s Sa nto s , A Co mp a n h ia d e Ro s a s & B ra zã o , 1 8 8 0 - 1 8 9 8 , MNT , p .
5 8 ).
193
Desco n h ece - s e a trad uç ão u ti liz ad a. D e Ca r lo s S ho re , e xi s te u m e xe mp lar
ma n u s cri to , co n te nd o li st a d e acto r e s a láp i s, d ese n ho d e p a lco no i ní c io d e c ad a
acto , e u ma l is ta so lt a d e ad ereço s rel at i vo s ao s v ário s a cto s, a s si n ad a p o r
Nico la u J o sé Lo p e s (B N, M a n u scri to s, co d . 1 2 1 5 4 ); e m v er são d e So ller , e x is te
u m ma n u sc ri to , có p i a d e Velo so d a Co sta , co m d ata d e S ete mb ro d e 1 9 0 5 (B NP ,
Ms. , CO D. 1 2 2 7 0 ); s e m trad uto r , u m ma n u s cri to co n te nd o i g ua l me n te u ma l is ta d e
acto r es (B N, Ma n u scr it o s, có d . 1 1 9 2 5 ), e o u t ro ma n us cri to co n te nd o al g u ma s
e me nd a s e s up r es sõ e s a ti n ta e a láp i s e no ta s d e e n ce na ção a láp is, a mb a s
191
192
66
2.
Da Tournée Artística Societária à Companhia Rafael de
Oliveira, Artistas Associados : Os primeiros Directores de
Cena.
2.1.
Ernesto de Freitas e a composição de um reportório.
Ernesto de Freitas , para além de primeiro actor da companhia,
desempenhou a função de encenador, segundo se infere do cartaz em
que se lhe atribui a “scenação” de Rosas de Nossa Senhora (194), até
1927, ano da sua morte.
Proveniente de Lisboa, o actor terá provavelmente correspondido
a um apelo de Rafael de Oliveira para assumir a direcção artística da
companhia, enquanto este passaria a desempenhar em exclusivo as
funções de empresário. Desconhece -se, todavia, a data precisa em que
o actor Freitas terá entrado para a Tournée Artística Societária .
Para fugir aos rigores da invernia serrana, a companhia, como
vimos anteriormente, deslocara -se para zonas mais amenas. D epois do
litoral oeste, regressara a terras ribatejanas para uma temporada no
Teatro Foito , na Chamusca (195). Com os alvores primaveris de 1923,
rumou para o litoral centro, estreando -se, a 19 de Abril, no Grémio
Recreativo de Cantanhede , com um espectáculo composto pela peça
em 1 acto, de Júlio Dantas , Rosas de todo o ano , seguida de um acto
de variedades.
Neste momento, Ernesto de Freitas , e sua mulher Aurora,
integram já a companhia. Embora o seu trabalho como actores mereça
b ase ad a s na 2 ª ed iç ão d a o b ra, p ub li cad a e m Ma d rid , p o r J o sé Ro d r i g uez , e m 1 8 9 5
.
194
Le vad a a ce na no C i ne -T eat ro Ar g a ni le n se , a 2 2 d e J u l ho d e 1 9 2 3 .
195
E ntre J a ne iro e Mar ço , se g u nd o o ro t eiro ma n u scr ito d e An tó n io d e Ma ga l hãe s
(MNT ).
67
alguma
referência
elogiosa
do
periódico
local,
a
Gazeta
de
Cantanhede dá maior relevo à interpretação de Ernesto de Freitas , no
papel de Daniel, o “triste -sorte”, do drama A Filha do Saltimbanco
(196).
Progredindo no seu contínuo peregrinar, a companhia retorna à
vila da Lousã (197). O Alma Nova referencia a curta passagem pelo
Teatro Lousanense, anunciando discretamente os espectáculos, sem
que haja apelo à memória do conflito do ano anterior. A 17 de Julho,
subiu à cena o drama O Filho das Ondas, e a companhia despediu -se
do público, a quem se agradeceu, por inte rmédio do periódico local, o
“magnífico acolhimento” ( 198) e o auxílio prestado durante a sua
permanência (199), e progrediu pelo interior serrano.
A estreia em Arganil marca um sucesso; o espectáculo agradou e
o Cine-Teatro Arganilense registou uma enchente “além do que se
podia esperar”, segundo destaca A Comarca de Arganil :
Os bilhetes da “superior” e da “geral” esgotaram -se completamente,
vendo-se nas galerias muitos cavalheiros que para lá não costumam ir
e tendo outros ficado de pé, por não terem conseguido arranjar lugar.
A opereta Rosas de Nossa Senhora é muito bonita e foi bem
representada, especialmente na parte que diz respeito ao actor Ernesto
Freitas, que se revelou um artista de raça e que i nterpretou com alma o
seu papel. A todos deixou a impressão de que tem valor e o
temperamento de artista. Apenas a sua paixão nos pareceu ardente de
mais para a idade com que se apresentou. Um velho, pois como tal
“T ea tro ”, Ga ze ta d e Ca n ta n h ed e , 0 5 .0 5 .1 9 2 3 : 5 .
Es tre ia - se a 2 4 d e J u n h o e p er ma n ec e a té 1 7 d e J ul ho d e 1 9 2 3 .
198
“T ea tro ”, Ga ze ta d e Ca n ta n h ed e , 2 4 .0 7 .1 9 2 3 : 5 .
199
No ta - se e m Ra fael d e Oli v eir a u ma r ela ção d e i nt erd ep e nd ê nci a co n st a nte e
cur io sa c o m a i mp re n sa reg io nal . Na med id a e m q ue, o b v ia me n te, o o rça me n to
não l he p er mi tir ia a co mp r a d e e sp aço p ub li ci tário p ro mo cio n al, o d i recto r d a
Co mp a n h ia, o u a l g ué m q ue o rep r es e nt as se , vi s ita v a a red a cção d o j o rna l lo ca l,
p ara ap re se nt ar as co rd iai s s a ud a çõ es d e c he ga d a, o u d e d e sp ed id a, a s si m co mo
d ar p ar te d o rep o r tó rio e d o el e nco . P o r vez es, e nco n tra m - s e a l usõ es a u ma
esp é ci e d e p as se d a te m p o rad a, co n vid a nd o -s e o j o rnali s ta a a ss i st ir gr at ui ta me n t e
ao s esp ect ác u lo s . P ara alé m d i sto , R a fae l d e Oli v eir a p ro mo v ia fr eq ue n te me n te
réci ta s d e b e ne ficê n ci a, p ro ced e nd o - se , e m mui ta s d el a s, à a n g aria ção d e
d o na ti vo s, p o s ter io r me n te, e ntr e g ue s na s red a cç õ es, p ara s ere m ca n al iza d o s p a ra o
au x íl io ao s p o b r es ap o i a d o s p o r es se s me s mo s j o rna i s.
196
197
68
apareceu em cena, pode não ser insensível ás setas do amor. Vêem -se
frequentemente casos de paixão senil que apenas denotam decadência
física. Mas uma paixão cheia de entusiasmo, a romper em labaredas de
fogo, com lances de audácia e de génio, de grandeza e de
generosidade, positivamente não é pos sível num velho. Afora este
ligeiro reparo, a verdade é que Carriço e Anastácio, tio João e Marta
fizeram um papelão, assim como os outros artistas ( 200).
“Afora” o pequeno senão do entusiasmo representativo de Ernesto
de Freitas, a companhia parece exibir uma marca pessoal. “Pode, pois,
sem receio de desmentido, afirmar -se que esta companhia é das
melhores que por aqui têm passado” ( 201), refere o articulista,
deixando entender que a actividade teatral não seria alheia ao público
de Arganil . Os artistas interpretavam “com arte e com a maior
naturalidade
os
papéis
que
lhes
[eram]
distribuídos,
pelo
que
[colhiam] fartos e merecidos aplausos” ( 202). Do elenco feminino,
Geny Vale impressionou porque, “apesar de muito nova, interpretou
com arte o papel de «Morgadinha »”, dando -lhe “vida e sentimento”,
com “lances duma felicidade enorme” ( 203). A seu lado, em As Duas
Órfãs, Ema de Oliveira , de forma soberba, galvanizava a assistência
“conseguindo arrancar lágrimas a algumas pessoas que assistiram ao
espectáculo” (204). As irmãs Ema e Geny transportavam -se para a pele
de Luísa, a ceguinha, e de Henriqueta, as duas irmãs que o destino
separou, no drama original de Adolphe d’Ennery e Eugène Cormon,
adaptado por Afonso de Magalhães , e que uma versão da meca
cinematográfica sublimara, havia pouco, nas também irmãs, Lilian e
200
201
202
203
204
“C i ne -T ea tro Ar ga ni l e n se” , A Co ma r ca d e Arg a n il , 2 6 .0 7 .1 9 2 3 : 2 .
Ib id e m .
“C i ne -T ea tro Ar ga ni le n se” , A Co ma r ca d e Arg a n il , 0 9 .0 8 .1 9 2 3 : 2 .
Ib id e m.
Ib id e m.
69
Dorothy Gish (205). Apenas a Rafael de Oliveira , que, em A
Morgadinha
de
Valflô r,
interpretava
o
papel
do
jovem
pintor
apaixonado Luís Fernandes, se fazia o reparo de não ter feito “realçar
os
seus
méritos,
sem
dúvida
por
estar
deslocado
no
drama”.
Recomendava-se-lhe, inclusivé, a comédia, mais a seu “carácter”, uma
vez que demonstrava ser “um artista inteligente, estudioso e com
inegável merecimento nos papéis cómicos”, porque “nos papéis de
galã, afrouxa[va] um pouco” ( 206).
Tais alusões parecem -nos indiciar a existência de um trabalho na
preparação dos actores e na repre sentação do reportório, que se
alargara com a inclusão notória de antigos êxitos dos palcos de
Lisboa. Na edição de A Comarca de Arganil , de 30 de Agosto, o
articulista ressalva a excele nte recepção do público, uma vez mais:
[Esta] esta companhia tem elementos muito aproveitáveis. No seu
conjunto é das melhores que por aqui têm passado. O público tem -lhe
testemunhado a sua simpatia, enchendo -lhe a casa nos dias em que dá
espectáculo. [...] Os bilhetes são procurados espontaneamente, não
sendo necessário pedir a ninguém que os compre, como tem acontecido
205
Le s Deu x O rp h e lin e s c o me ça p o r ser u m t ri u n fo teat ral e m 1 8 7 4 . A hi stó r ia d e
As Du a s Ór fã s fo i d e s e n vo l v id a p o ster io r me n te co mo ro ma n ce, p e lo s se u s a uto re s,
Ad o lp he d 'E n n er y (1 8 1 1 -1 8 9 9 ) e E u g è ne C o r mo n (1 8 1 1 - 1 9 0 3 ), n as ed i ç õ es Ro u ff.
N u ma p ri me ira fa s e (1 8 7 7 -1 8 8 9 ), fo i p ub l ic ad a e m fa sc íc u lo s q ue c u st a va m 1 0
cê nt i mo s, p as sa nd o a l i vro e m 1 8 9 5 , co m i g ua l su ce sso . U ma narr ati v a rech ead a
d e te ma s fo rt es, típ ic o s d e u m t ip o d e ro ma n ce «l acr i mej a n te », co n s tit u i u u m
mo d e lo q ue d o mi no u a li tera t ura p o p u lar fra n ces a no fi nal d o séc u l o XIX : o
mi s tér io so b re a s o ri ge n s (d u as ó r fã s e m b us c a d a s u a id e nt id ad e), o p ecad o e a
exp iaç ão , o me lo d r a ma (u ma c e ga p erd id a n a cid ad e), o r etr ato d o s ub - mu n d o
urb a no , u m to d o p el no d e a ve n t ura s, e str u t urad o s e g u nd o o p ri ma d o d a fa mí l ia.
En fi m, nad a q u e s e n ã o p o ss a o b s er var na a ct ua lid ad e no fo r ma to tel e vi si vo :
ep i só d io s i n gé n uo s, re lato s p ara le lo s, co i n ci d ên cia s, go lp e s d e te atro q u e
d esp e rta m a c u rio sid ad e d o e sp ec tad o r, p er mi ti nd o q ue o d e se n lac e rep o n h a a
o rd e m vi ge n te. Fo i rep r ese n tad a e m P o rt u g al , p ela p r i me ira ve z, no T eatro d e D.
Mari a , e m 1 8 7 6 , co m t rad u ção d e Er n es to B i e st er (B a sto s, 1 9 0 8 : 2 9 7 ). De sd e
1 9 1 0 até 1 9 7 6 co n he ce m - s e d i ver s as ad ap taçõ es ao c i ne ma . E m 1 9 2 1 , D. W .
Gri ffit h, d iri g e, Lil lia n Gi s h e Do ro t h y Gi s h , na v ers ão a me ric a na in ti t ul ad a
Orp h a n s o f th e S to rm , e m q ue s e tr a n sp õ e a hi s tó r ia p ara a é p o ca d a Re vo l ução
Fra nc e sa (I MDB ).
206
“T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 1 5 .0 8 .1 9 2 3 : 1 .
70
com outras companhias. O reclame desta Tournée Artística, e esse é o
melhor reclame, está pois nos seus trabalhos. ( 207)
Por
ocasião
da
Feira
de
Mont’Alto,
que
proporcionava
a
concorrência de um outro género de público, das cercanias, este é
exortado a comparecer:
A companhia está empenhada em proporcionar ao público, nestes dias,
espectáculos bons, que lhe permitam gozar umas horas de arte , alegres
e felizes. Entre os feirantes há muitos que certamente nunca viram um
teatro e que têm desse divertimento uma noção muito errada e
superficial. Não devem perder a oportunidade de ver uma coisa boa e
instrutiva. O teatro, quando há escrúpulo na es colha das peças, é um
divertimento que recreia [sic] o espírito e que moraliza. Esta
companhia tem um reportório bom e todas as peças que tem exibido
são muito decentes. ( 208)
Devido “à carestia da vida”, o público não terá acorrido em
número desejado, mas a companhia, representando “comédias e
variedades”, tentou produzir “uma óptima escolha das peças, que
fizeram rir com vontade” ( 209).
Embrenhando-se na serrania, a Tournée Artística Societária
continuou a receber o acolhimento das terras beirãs, reconhecendo -se
que “todos os artistas desta companhia manifestam grande amor ao
trabalho e são sinceros e honestos diligenciadores da vida, que hoje
mais do que nunca se nos apresenta difíci l” (210). Em Gouveia, a
companhia representa a oratória de Braz Martins , com música de
Ângelo Frondoni, Gabriel e Lusbel, ou o Taumaturg o, que o vulgo
reduziu à simplicidade franciscana de Santo António. Sobejamente
“conhecida, [a peça] não deixa de ser desejada, porque é um drama de
muito aparato” ( 211), que apresenta um “bonito cenário e luxuoso
207
208
209
210
211
“T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 3 0 .0 8 .1 9 2 3 : 2 .
“T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 0 6 .0 9 .1 9 2 3 : 2 .
“T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 1 3 .0 9 .1 9 2 3 : 2 .
“T ea tro ”, No t ícia s d e G o u veia , 2 8 .1 0 .1 9 2 3 : 2 .
“S a nto An tó n io ”, No tí c ia s d e Go u v e ia , 2 5 .1 1 .1 9 2 3 : 2 .
71
guarda-roupa”, congratulava -se o Notícias de Gouveia
(212). A
primeira representação sofreu de algumas “irregularidades nos coros
[e] mutações”, que, todavia, não impediram que o espectáculo fosse
repetido três vezes. As gentes de Seia , “ansiosas [...] por mais umas
noitinhas assim” ( 213), rendem -se, igualmente, ao sortilégio das duas
récitas no Teatro Senense , e felicitam Rafael de Oliveira “pelo bom
grupo que tão proficientemente dirige ” (214). O mesmo acontece na
Guarda, no início do ano de 1924, com a companhia instalada no
Coliseu da Beira, onde exibe “peças de grande efeito cénico e dos
melhores autores [com] uma regular con corrência” (215).
Após catorze espectáculos, a companhia despediu -se da Guarda, a
24 de Fevereiro, e deslocou -se para sul, estreando -se no Fundão, no
mês seguinte. O cartaz de As Duas Órfãs, em cena a 21 de Abril,
refere tratar-se do 14º espectáculo no Teatro Casino Fundanense , uma
sala inaugurada havi a poucos anos ( 216), onde, no princípio do mês
seguinte, subiram à cena os “lindos efeitos de fogo! [e o] excelente
desempenho!” ( 217), do Santo António , de Braz Martins, realçados
pela nova cenografia de Arturo Lema (1º e 7º quadros), de Reis pai (2º
quadro) e de Rogério Machado (restantes quadros). De presumir que o
espectáculo,
que se realizou
em dois dias consecutivos, tenha
registado uma bela concorrência; não só a peça era de agrado certo,
como exibia um “belo efeito dos milagres, dos peixes, da parreira, do
Altar, da Cruz” que se publicitava no cartaz, mas, sobretudo, porque
212
Ib id e m.
“R e ss urr ei ção ”, A Vo z d a S er ra , 1 6 .1 2 .1 9 2 3 : 2 .
214
Ib id e m.
215
“Co li se u d a B e ira ”, O Co mb a te , G ua rd a, 2 0 .0 1 .1 9 2 4 : 2 .
216
“Ac to s d a v id a ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 2 .0 7 .1 9 1 7 : 6 - “No vo s t eat ro s – De ve ter
lu g ar ho j e 2 2 a i na u g u r ação d u m no vo te atro n o F u nd ão , q ue se i nt it u la T eatro
Cir co F u nd a n e ns e. A p eça d e es tre ia é a far s a e m 3 acto s A ma n g a d o f ra d e ,
o ri gi na l d e J o sé Ág ued a ”.
217
Ca rta z d o e sp e ct ác ulo S a n to An tó n io ( MNT , 2 0 6 5 6 2 ).
213
72
nele participava um “grupo de meninas da vila” cantando os coros de
Frondoni (218).
No início do verão de 1924, Rafael de Olivei ra conseguiu fazer
contratar a companhia pela empresa do Teatro Mouzinho da Silveira ,
em Castelo de Vide , onde actuou cerca de um mês, deslocando -se, em
seguida, para a vizinha cidade de Portalegre . Principiando por actuar
no
“vasto”
( 219)
Cine-Teatro
da
Banda
dos
Bombeiros
(três
espectáculos), prossegue a curta carreira no Teatro Portalegrense (dois
espectáculos). Até ao final desse ano, a companhia actuou ainda, a
partir de Agosto, no Salão Central do Cartaxo , numa temporada em
que Rafael de Oliveira estreou a revista Aplica-lhe o selo, 2 actos e 10
quadros de sua autoria, com música do maestro Fernando Izidro (220).
A estadia no Cartaxo poderá ter sido um sucesso popular, mas não
esteve isenta de c ríticas acérrimas à qualidade artística da companhia
e do seu director, trazendo à memória a permanência na Lousã .
218
Na s co mp a n hia s d e p ro ví n ci a, e a d e R a fae l d e Ol i vei ra não era e xcep ção , na s
p eça s d e gra nd e e le n c o , era p rá tic a co rre n t e o s a cto re s d e sd o b ra re m - s e na
in terp r et ação d e v ári o s p ap é i s, ma s so co rria m - s e ta mb é m d o s “c u rio so s
d ra mát ico s” lo ca is p ara co mp le tar a d is trib u iç ão d o s p eq ue no s p ap é is . C o n se g u ia se a ad e são d o p úb l ico l o cal ao esp ec tác u lo e, e m si mu lt â neo , fo r ma va - se o go sto
p elo t ea tro .
219
U ma no t íci a, a re sp e it o d e u ma p ro j e cção c i ne ma to gr á fi ca, p ub l ic ad a e m A
Ra b eca , 0 6 .0 7 .1 9 2 4 : 2 , s ub li n ha a a mp l it u d e d e sta s ala d e e sp ectá c ulo s.
De sco n he cid a a d a ta d a s ua co n str uç ão , d e verá si t uar - s e a i nd a no sé c ulo XI X,
ch a mo u - se p r i me ira me n te T he atro Sa lão , te nd o sid o r eb ap tiz ad o e m 1 9 1 0 co mo
T heatro d a B a nd a d o s B o mb e iro s, o q u e re fle cte a i mp o rt â nci a q ue, p o r e st a
alt ur a, a s filar mó nic a s ti n ha m e nq ua n to e sp a ço s d e so c iab il id ad e . E m 1 9 2 0 ,
ga n h ará o e st at u to d e a ni mató g ra fo e, d a í, a d e si g n ação q ue o st e nt a va, q ua nd o a
T o urn ée Art í sti ca So c ie t ária p o r lá p a ss o u (B EN T O 2 0 0 3 : 2 0 1 ).
220
Na t ura l d o Cart a xo , Fer na nd o Iz id ro ap are ce r e fere nc iad o p ela i mp re n sa te atra l
li sb o e ta, co mo fa ze nd o p arte d e gr up o s a mad o r es e m so c ied ad e s re crea ti va s. E m
1 9 1 9 , s ab e - se q u e i nte g r a o Gr up o D ra má ti co Ca rlo s S a nto s , s ed iad o na Acad e mia
Leai s A mi go s , e m Lisb o a (c fr. s up ra, p . 5 9 ). O crí ti co d o Jo rn a l d o s Tea tro s , o
“Ho me m d o P a no ”, c he go u a sa li e nta r a q ua lid ad e d e st e g r up o . E m 1 9 2 4 , o se u
no me e nco n tra - se a sso ci ad o a u ma d a s me l ho re s so c ied ad e s d e r ecre io l isb o eta , o
Cl ub e Lu si ta no , a c uj o gr up o d ra má ti co p er t en cia Leo p o ld i n a N ilo , u ma d a s
“v ed et a s” a ma d o ra s d a cap i tal . A 2 5 d e Março , es te gr up o l e vo u a c e n a, no p al co
d o Cl ub e T aur i no Ma n u el d o s Sa n to s , e m co me mo r ação d o 1 9 º an i ver sá rio s d a s ua
fu nd a ção , a p e ça A Co n d es sa d e S en n e cey .
73
O crítico inominado de A Regateira, fazendo jus ao nome do
periódico local, abri u as hostilidades, na sua coluna de “Pelos
Teatros”, com um artigo intitulado “A quem nos quer impingir gato
por lebre – Mediocridade com mediocridade se paga – Os estalinhos
do bailarico – A plateia indígena – A bolsa do Zé Povinho” ( 221). A
propósito da representação de A Morgadinha de Valflô r, para quem
apenas pretendia “admoestar ligeiramente”, borbulhou a verve da
contundência, legitimada pela autoridade do conhecedor:
Conhecemos Pinheiro Chagas e a sua obra como os dedos das nossas
mãos, e, é esta a razão do nosso descontentamento, por vermos
deturpada, escarnecida, uma obra genial, que é ao mesmo tempo um
dos maiores triunfos da literatura portuguesa. Que se escarneçam
peças de autores medíocres, está bem, mediocridade paga -se com
mediocridade; porém, com a Morgadinha de Valflôr , o caso é
diferente. Não há ninguém com o direito de se arvorar em Luís
Fernandes constipado, sem primeiramente ter feito um estudo
demorado e consciente do papel a interpretar. Há papéis, em que a
fisionomia de um actor deve dizer mais do que tudo que os lábios
possam dizer; e o papel de Luís Fernandes é um destes: um papel em
que predomina a expressão da altivez, e a ironia na réplica. Ora foi
isto, precisamente, que nós não vimos. O que nós vimos foi apenas um
ligeiro esboço, do que devia ser. Não somos demasiado exigentes,
porém, o que não queremos é ri r com dramas, e chorar com comédias;
porque, na verdade, uma Rosa do Adro com estalinhos do bailarico em
pleno cemitério provoca a hilariedade... e nós não queremos... rir,
somos rapazes sérios. Uma coisa há, porém, em que não podemos
deixar de elogiar a companhia: foi a forma como soube estudar, e
tocar, o ponto sensível da plateia indígena. Toda ela se comove com
uma morte no tablado; embora essa morte seja grotesca e comicamente
desempenhada. Portanto, façam do palco um matadouro, assassinem a
arte de Talma, se preciso for, matem, matem sem descanso, e verão
depois como correm as lágrimas da pieguice, da incompreensão, e
como as tragédias sangrentas, ocasionam fartas sangrias na bolsa do
Zé Povo (222).
De novo, o dedo em riste dirigido a Rafael de Oliveira e à sua
menor competência na interpretação de papéis dramáticos. O “Sarcey”
221
A Reg a tei ra , 2 1 .0 9 .1 9 2 4 : 2 .
74
ribatejano sem a condescendência do crítico de A Comarca de Arganil ,
investiu à direito, prometendo para a edição seguinte a estocada final,
na crítica ao Amor de Perdição , “pela pena dum crítico ilustre, que se
[encobria] sob o pseudónimo de Ramalho ”. A transcrição do referido
artigo
vale
cartaxense
pela
no
descrição
Salão
pitoresca
Central ,
um
de
recinto
uma
soirée
doublée
de
dramática
teatro
e
animatógrafo, “um velho barracão de madeira e zinco, desconfortável
e feio, frio e triste e sem as condições exigidas para uma casa de
espectáculos, [estando], por isso, sujeito só à visita de companhias
medíocres” (223):
Do bronze do campanário, dez l amentos se desprenderam e
circunvagaram no espaço, compassadamente, implacavelmente. Demo nos pressa. No palco do Salão Central ia desenrolar-se mais um drama
de nomeada. Entrámos. No ar, as conversas entrechocam -se com
soluços de violino, guinchos de flauta e notas vibrantes de piano na
interpretação arcaica duma valsa piegas. O motor, de quando em
quando, exausto, põe desfalecimentos na luz e expectativa no
ambiente. Há conversas dominantes; à nossa direita, homens de
mazantinos, de fontes rapadas à castelhana, cheirando a cavalo,
discutem Moéra e os touros de morte, vituperando a Protectora dos
bichos; do outro lado, um pacóvio intruja outro, baixinho para que o
não desmintam, com as proporções grandiosas do elevador de San ta
Justa e do Coliseu dos Recreios , tornando-as desmedidamente
gigantescas; atrás e à frente as meninas discutem a Morgadinha na
interpretação da companhia. Há frases de aprovação: “que era bonita a
peça e que ela, a pequena, tinha andado muito bem; que até tinha feito
chorar; que estava trémula; tinha um nó na garganta; que no dia
acordou com uma pontada sobre o coração; chamassem -lhe piegas, mas
não podia ver estas coisas a sangue frio, então...! que queriam! E que
se a levassem outra vez que havia de ir custasse o que custasse; que
enfim, na sua fraca opinião, não se podia exigir mais; e de mistura
muitas frases axiomáticas, de agenda de algibeira, sobre a Mulher e o
Amor; destaca-se um pensamento entrecortado sete vezes pela
irreverência duns lábios moços e sequiosos... o amor é um barquinho
que... e não passou daqui. Discutem de seguida o Amor de Perdição .
222
Ib id e m.
J o ão B e te nco ur t , “Ar te e Ar ti s ta s: Mar ia Lu í sa é a E st re la b ri l ha n te d a
Co mp a n h ia Lu so -B ra si le ira ”, A R eg a te i ra , 2 5 .1 2 .1 9 2 4 : 3 .
223
75
As mais sensíveis fazem valer a sua opinião sobre as passagens mais
difíceis do drama, dão um credo e um suspiro e quedam -se extenuadas.
A mais erudita, de óculos, um pouco belfa, cita frases - ipsis verbis ,
achava bem merecido o fim de Baltazar [Coutinho], etc., etc. Depoi s
acendem-se as gambiarras, a orquestra acelera o andamento, finaliza e
arruma os instrumentos. Fixa -se o palco. Na superior há notas
particulares de nervosismo; uma tosse seca, um sorver de narinas,
roncos que se ajeitam, pernas que traçam e se destraçam, cabelos que
se compõem, um torcer de pescoços, etc..., na geral, um bocejo meio
falado, um arroto, uma frase de espírito inconveniente, um roncar
cansado, um tossir catarrento, etc., etc... e as tradicionais pancadas de
Molière, enfim!! Pela assistência p erpassam frissons; algumas meninas
deitando um derradeiro olhar, de soslaio, para os namorados,
balbuciam intimamente um “até já”. O pano sobe, enfim, lentamente
para nos mostrar a primeira cena, vis-a-vis com um cartaz sangrento
do Rocambole que cobre a cabine do antigo animatógrafo. Ab iratio,
um pai, que veste sem aticismo, atinente à casta a que pertence,
admoesta uma filha, vestida como uma marafona de salão, muito adlibitum nas maneiras, em frente do progenitor que, de carão
mascarrado a rolha, estre mece a perna e meneia a cabeça em
desalinho, como um coronel reformado a descompor criadas. Ora
abóbora, senhor de nobre brasão que assim trajaste. Senhor Tadeu de
Albuquerque tenha a certeza de que se o seu cocheiro fosse vivo,
arrepeso, arrenegaria conti nuar a servi -lo.
O mesmo descontentamento se verificou em relação à estreia de
Aplica-lhe o selo . No semanário A Regateira (224), João Betencourt
considerava a revista fraca, composta de um “amontoado de piadas,
sem ligação e sem nexo”, valendo “a música, da autoria do maestro
Fernando Izidro”, com “números bons, agradáveis e que facilmente
entram no ouvido”, advindo daí as enchentes e “que a Troupe
societária [andasse] satisfeita...” Por outro lado, no quinzenário O
Pintassilgo (225), mais condescendente, o crítico teatral Molière de
J o ão B et e nco ur t , “P e l o s T eatr o s : Ap li ca - lh e o s elo !. .. : re vi s ta e m 2 ac to s
le vad a à c e na no Sa lão Ce n tra l”, A Reg a te ira , 3 0 .1 1 .1 9 2 4 : 2 .
225
Mo l ière d e B eet ho v e n , “Art e: T eatro : A re vi s ta Ap li ca - lh e o se lo o b te v e gra nd e
s uce s so ”, O P in ta s si lg o , No ve mb ro d e 1 9 2 4 . T rata - se d e u ma no tí cia se m d ata
p reci sa, p er te nc e nd o a u ma p a st a d e reco r te s j o rna lí s tico s d o ac er vo d e O li ve ira.
T o rno u - s e i mp o ss í ve l ver i fi car o o ri g i nal , p o rq ue o e xe mp lar e x i st e nte na
B ib lio te ca Na cio na l e nc o nt ra - se e m ma u e st ad o , se m a uto r iza ção d e co n s ul ta, ne m
reg i sto e m mi cro fil me .
224
76
Beethoven (combinação pseudonomástica com humor!) desculpava a
insipiência pela incipiência: que mais se podia exigir de um texto não
fora escrito por “um prático nestes trabalhos, mas sim por um espírito
trabalhador”? E de uma companhia que trabalhava “sobre um palco tão
pequeno e desprovido de condições, [...] enxovalhado”, sabendo de
antemão que “um bom palco é meio desempenho”? Aparentemente “o
brilhantismo” do espectáculo era devido aos cenários de Rogério
Machado, e à música de Fernando Izidro , de bom gosto, “duma finura
admirável”, nos 22 números, plen os de “ sentimento e [de] alegria, em
toda a sua exuberância”, executados pelo Grupo Musical Esperança ,
sob a sua regência.
Nem parecia, portanto, a companhia em quem se havia notado um
progresso interpretativo. Pa recia até que o ensaiador não estaria
presente, tal o retrocesso que a ironia cáustica da crítica exprimia. E
estaria Ernesto de Freitas presente no Cartaxo? Sendo ele um actor
conhecido,
em
permanente
destaque
na
companhia,
as
críticas
assestam as farpas à figura de Rafael de Oliveira , e nunca mencionam
o nome do ensaiador, nem sequer fazem referênci a à sua estadia na
vila.
Durante o primeiro semestre de 1925, depois de uma estadia na
Chamusca, a companhia desloca -se para a zona oeste, com passagem
por Torres Vedras e pelas Caldas da Rai nha, para finalmente fazer a
sua entrada em Lisboa.
João António Paixão , empresário do Cinema Belém , pretendendo
melhorar a sua casa de espectáculos, para torná -la “um dos mais
confortáveis salões cinematográficos de Lisboa , afastado da Baixa”,
dotara-a com “um pequenino mas elegantíssimo palco”. Para a sua
inauguração contratou -se uma “modesta mas equilibrada troupe de
artistas que [regressava] duma tournée pelas [...] províncias onde
77
obteve o aplauso de quantos assistiram aos seus espectáculos” ( 226).
Assim, durante o Verão e o Outono desse ano, Rafael de Oliveira e
associados, agora Companhia Societária de Declamação , apresentaram
o seu reportório em modestos palcos da zona ocidental da capital,
entre Belém e Pampulha.
O cartaz do Salão Promotora , do Largo do Calvário , anuncia que
“sem olhar a sacrifícios de espéc ie alguma, procura dar ao público de
Alcântara, de quem sempre tem recebido deferências, espectáculos que
o divirtam e ao mesmo tempo lhe dê alguns momentos de certo prazer
espiritual” (227). Subiram, assim, à cena espec táculos como A Rosa do
Adro (228), As Pupilas do Senhor Reitor (229), A Família do Palhaço
(230), ou Amor de Perdição, com encenação e participação de Ernesto
de Freitas.
Neste lapso de tempo, escasseiam as fontes de informação; o
percurso aparece pontuado com uma ou outra referência dispersa. O
segundo número do recém -saído jornal de Cascais , Estoril Jornal , de
12 de Dezembro de 1925, refere laconicamente que, nesse dia, no
Teatro Gil Vicente , se estreia “uma companhia dramática, que se
propõe dar uma série de espectáculos c om um esplêndido reportório do
“C i ne ma B e lé m” , Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 4 .0 6 .1 9 2 5 : 6 .
C art az p ub li ci tário d e A s Pu p ila s d o S en h o r Re ito r , e m 0 1 . 0 7 .1 9 2 5
(MNT 2 0 6 5 7 6 ).
228
T rata - se d e u ma réc it a d e b ene fíc io , c uj o “p ro d u to líq u id o [...] re ver te e m
fa vo r d a s es co la s d a S o cied ad e P ro mo to r a d e Ed uca ção P o p ul ar ”, s eg u nd o s e
co n fere no r e sp ec ti vo c arta z p ub l ici tár io (M NT 2 0 6 5 3 5 ). P ara Ra fael d e Ol i vei ra ,
a b e ne ficê n ci a fo i i g ua l me n te o u tro mo d o d e a ct ua ção d o se u te atro .
229
T ratar - se - á d a ad ap t aç ão d a o b ra d e J úlio D in iz fe it a p o r Er ne s to B ie ster ,
es tread a no T eatro d a T rind ad e , e m 1 8 6 8 , no b e ne fíc io d a ac tri z De l fi na , co m
J o aq u i m d e Al me id a , T ab o rd a e Ro sa Da ma sce no , o u d a ver s ão d e P en h a
Co ut i n ho ? C fr., so b r e e st a ad ap t ação , J o s é Mat o s - Cr uz , Jo a q u im d e Al meid a , u m
a cto r d o Mo n t ijo , p . 6 6 . A Co mp a n hi a R a fae l d e Ol i vei ra, Ar ti s ta s As so ci ad o s ,
rep re se nto u u ma no va a d ap taç ão d e st a o b ra, e m es ti lo d e o p e ret a, d a au to ri a d e
Lud o v i na Fr ia s d e Ma to s, co m mú s ic a d e Fer na nd o Izid ro , es tre ad a e m Elv as , e m
Ag o s to d e 1 9 4 3 , no T eat ro De s mo n tá ve l .
230
O utr a d e si g n ação d a p e ça A F ilh a d o S a l ti mb a n co .
226
227
78
qual fazem parte alguns dramas e comédias” ( 231). No dia seguinte, a
Companhia Societária de Declamação levou à cena, em segundo
espectáculo, O Paralítico, a “sensacional peça em 5 actos de Victorien
Sardou, uma das maiores glórias do saudoso actor português António
Pedro” (232), com um “deslumbrante cenário pintado pelo insigne
cenógrafo Rogério Machado ” (233), desempenhando Ernesto de Freitas
o papel do “paralítico ” Jerónimo Peirás , segundo refere o cartaz ao
espectáculo.
Em 1926, O Jornal dos Teatros (234) noticiou que a Companhia
“em Cascais realizou trinta e tal espectáculos, em Sintra , idem e
actualmente, em Sesimbra , vai pelo mesmo caminho” ( 235). Entre
Agosto e Outubro desse ano, foram dados “17 espectáculos em Alcácer
do Sal, com bastant e agrado”, tendo partido para Santiago do Cacém,
onde se estreou a 31 de Outubro ( 236), e onde permanecia ainda no
final de Novembro ( 237). Uma notícia detalhava a constituição da
231
“T eatro s e Ca si no s: T eatro Gi l V ic e nte – Ca sc ai s”, Es to ri l Jo rn a l , 1 2 . 1 2 .1 9 2 5 :
4.
Era u m d o s “t al e nto s ma i s e sp o n tâ neo s e a s s o mb ro so s” d o te atro p o rt u g uê s,
se g u nd o So u sa B as to s . Al g u ma s p eça s d o s e u rep o rtó r io fo ra m co nt i n uad as p o r
o ut ro s ac to re s d e r e n o me , c uj o s j o go s d ra má t ico s i n te n so s ao e s ti lo ro mâ nt ico
co meça v a m j á a e s ta r fo r a d e mo d a e m Li sb o a, ma s q u e na p ro v í nci a
p er ma ne cera m ac t ua n te s d ur a nte mu i to t e mp o .
233
Car taz co m fo to d e E r ne s to d e Fr ei ta s (M NT 2 0 6 5 5 1 ). Se g u nd o Lu iz F ran ci sco
Reb el lo , es te co mp o rta u m erro . A p eça p er te n ce a He nr i Cr i sa fu ll i. P arece - no s
u m «e rro » p ro p o si tad o , u ma vez q ue o p úb lico p ro vi n ci a no d i fic il me nt e
co n h ecer ia e st e no me , ma s id e n ti fic ari a o d e Sar d o u, a u to r d e ê x ito s co mo A
To s ca , Fed o ra o u Di vo r cie mo - n o s, e x ib id o s no s tea tro s r e gio na i s p o r c o mp a n h ia s
d e Li sb o a.
234
Car lo s D ub i n i , “G e nt e d e T eatro : R a fa el d e Oli v eir a”, Jo rn a l d o s Tea tro s ,
2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 .
235
A Co mp a n h ia terá ac t uad o e ntr e Ab r il e M ai o , d ad a a re fer ê nc ia fe ita p elo
Jo rn a l d o s T ea t ro s (0 2 . 0 5 .1 9 2 6 : 6 ), p o s si v el me nt e no Sa lão Re cre io P o p ul ar , q u e
fu nc io na v a t a mb é m co mo ci n e ma. Ao te mp o , e xi s tia m 3 co le ct i vid ad e s, a
So c ied ad e Re cre io Se si mb r e ns e , a So c ied ad e Mu s ica l Se s i mb re n se e o Gré mio
Se si mb re n se , co m re fer ên cia s a ac ti v id ad e t eat ral a mad o r a. Ne st a ú lt i ma , s ub i u à
ce na A Ce ia d o s Ca rd ea is , a 6 d e Fe ver eiro d e 1 9 2 7 ( O S e si mb r en se , 2 0 .0 2 .1 9 2 7 :
2 ). O j o r na l lo c al s ur g e ap e na s a 2 5 d e J ul ho d e 1 9 2 6 .
236
“P ela P ro v í nc ia”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 7 .1 1 .1 9 2 6 : 1 0 .
237
Si n cero , “Mo v i me n to t eatr al” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 1 .1 1 .1 9 2 6 : 6 .
232
79
sociedade (238) e do reportório da Época de Inverno: Amor de
Perdição, Duas Órfãs, Os Dois Garotos, Os Fidalgos da Casa
Mourisca, As Pupilas do Sr. Reitor , A Rosa do Adro, A Rosa
Enjeitada, Rosas de Nossa Senhora , O Conde de Monte Cristo , O
Saltimbanco, Fantasmas do Castelo Negro , O Filho das Ondas , O
Paralítico, João José, O Filho Pródigo, D. Inês de Castro e D. Pedro ,
Santo António, Casa de Doidos, D. Quitéria quere casar , Cautela com
a Fernanda, A Filha do Conserveiro , Aplica-lhe o Selo , etc, etc. (239)
Percebemos, à primeira vista, que, em seis anos, o reportório da
Companhia passou a compreender peças, cuja complexidade técnica
exigia o seu apuramento artístico. As peças “de grande espectáculo”,
da segunda metade do século XIX, só podiam surtir efeito desde que a
sua montagem fosse primorosa. Fossem de importação francesa , como
As Duas Órfãs, Os Dois Garotos, O Conde de Mo nte Cristo, ou
genuinamente portuguesas, como O Amor de Perdição , Os Fidalgos da
Casa Mourisca, As Pupilas do Senhor Reitor , ou mesmo o popular
Santo António, com as suas mutações cénicas surpreendentes e as
apoteoses, da “época áurea da opereta, quando Francisco Palha era
empresário” (B A S TO S , 1947: 26) do Teatro da Trindade , e Frondoni ,
seu director musical, os espectáculos teriam de apresentar montagens a
rigor, para conseguir captar o mesmo público que o cinema atraía,
exibindo as mesmas histórias a preços bastante mais acessíveis. E,
para combater a influência do cinema, e evitar a crise de que se falava,
e o desemprego que se denunciava na imprensa da especialidade ( 240),
238
Ra fae l d ’ O li v eir a , Er ne s to Fr ei ta s , Cr is ti a no Me sq ui ta , Ca rlo s Fria s , Art ur
Ro d r i g ue s , S il v a V ale , J o rge Fi no , Ar ma n d o Sa nt ’An a (p o n to ), J o s é P i me nt a
( maq ui n is ta). Ac tri ze s: E ma d ’ O li v eir a , G e n y Fri as , Amé l ia Ro d ri g u e s , Au ro ra
Fre ita s , La ur i nd a Va le , Zi na Me s q ui ta .
239
“Ép o ca d e I n ve r no ”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 3 1 .1 0 . 1 9 2 6 : 8 .
240
Na d écad a d e 1 9 2 0 , o Jo rn a l d o s Tea tro s p ub l ic av a to d a s as se ma n a s, n a co l u na
“Ac to s d a V id a” , u ma rela ção d e p ro fi ss io na i s d o esp ect ác ulo s d e se m p reg ad o s,
p ara q ue p ud e ss e m ser c o nt rat ad o s .
80
era preciso que a representa ção se tornasse cada vez mais espectacular
a preços idênticos aos do cinema ( 241).
Ernesto de Freitas era um profissional de teatro com larga
experiência de companhias itinerantes. Aquan do da sua morte, aos 66
anos, a 19 de Maio de 1927, em Faro , Carlos Dubini, que se
considerava “um dos que trabalhou na província sob a inteligente
direcção do consciencioso finado” ( 242), escreve uma biografia
póstuma, na qual o reconhece como “incontestavelmente um actor de
esplêndida figura, bela dicção, representando sempre com a máxima
das correcções e ainda um elemento que ao teatro português deu o
melhor do seu esforço e honestidade” (243). Segundo o articulista,
tendo começado muito jovem, Ernesto de Freitas ganhara experiência
trabalhando nos teatros das feiras de Alcântara , Belém e Amoreiras,
chegando a ser empresário de alguns. Do mesmo modo que também o
fora do teatro da Rua dos Condes, de sociedade com Alfredo Paulo, na
altura em que ali “se representou Ou Vai ou Racha, Cachalote, Judeu
Errante e outras” (244). Integrara as companhias de Francisco
Mascarenhas e Correia Peixoto, e chegou a organizar uma tournée a
Angola, em 1920, da qual f azia parte este último.
Chegam até nós notícias que esta bem organi zada Companhia, a
única que se dedica apenas à exploração do seu género na província,
se encontra em Faro no Teatro Lethes (245), tendo estreado em 24
241
Será r eco rr e nte es te te ma ao lo n go d o te mp o . Ra fael d e O li ve ira , e m 1 9 5 1 , na
s ua te mp o rad a e m Alj u str el , co m o T eatro De s mo nt á vel , far á p ub l icid ad e ao
esp e ct ác ulo Jo sé d o T el h a d o , in sc re ve nd o no ca rtaz q ue se tra ta d e “u m a p eça q ue
é s u p erio r ao fi l me ”. E , me s mo q u a nd o a Co m p an h ia ai nd a a ct u a va e m T ea tro s
fi xo s p el as lo cal id ad es d e p ro ví nc ia, o s p reço s p rati cad o s fo r a m se mp r e id ê n ti co s
ao s d o ci ne ma ( “Cró n ica d a Cid ad e: Sal ão Recr eat i vo ”, Diá rio d o Min h o ,
0 1 .0 1 .1 9 3 0 : 2 ).
242
Ca rlo s D ub i ni , “Ce n ári o d e Mo r te” , Jo rn a l d o s Tea tro s , 2 2 .0 5 .1 9 2 7 : 4 .
243
Ib id e m.
244
Ib id em. T rat ar - se -á d e u m p er ío d o co mp r ee nd i d o en tre o s a no s d e 1 9 0 6 e 1 9 0 8 ,
te nd o e m co nta a d a taç ão d e Ou Va i o u Ra ch a (1 9 0 8 ) e d e Ca ch a lo te (1 9 0 7 -8 )
( R E B E L L O 1 9 8 4 : 2 3 6 e 2 3 8 ).
245
E m S ete mb ro d e 1 9 2 6 , a ilu mi na ção d o tea tro fo i re mo d e lad a ; o acet il en e d e u
lu g ar à l uz el éctr ic a, e o Le t he s p a s so u a fu n ci o nar co mo a n i ma tó gra fo no fi nal
81
do mês findo com a peça As Duas Órfãs , com grande sucesso. A
Companhia Rafael de Oliveira a que j á nos temos referido pelo seu
elenco e grande reportório tem sabido manter os créditos que há
muitos anos goza pela sua conduta correcta, apesar de modesta( 246).
Assim noticiava o Jornal dos Teatros a temporada no Algarve, em
que a Companhia Societária de Declamação, de Rafael de Oliveira,
que “por norma não [repetia] as peças a não ser quando o pú blico
assim [desejasse]” ( 247), estava apresentando o seu “vasto e bem
escolhido reportório” ( 248) e “sendo delirantemente ovacionada pelos
espectadores” ( 249).
Ernesto de Freitas encenara os “últimos êxitos do Teatro Apolo ”,
de Lisboa, Os Milhões do Criminoso , de Xavier de M ontépin, e A
Tomada da Bastilha , de Salvador Marques . Aos dois sucessos, com
que a Companhia alargava o seu reportório, tendo a peça de Montépin
um “cenário completamente novo, pintado pelo distinto cenógrafo
Rogério Machado [e] sendo a sua montagem rigorosa” ( 250), o
encenador acrescentara Os Fidalgos da Casa Mourisca , “com soberbo
desempenho por toda a companhia” ( 251), e ainda a “engraçada e
aparatosa revista” ( 252) Aplica-lhe o selo, e a “soberba peça” ( 253)
João José, entre outras. Além dos espectáculos levados à cena no
Salão Apolo, de Olhão, onde a Companhia se deslocara no intervalo
das representações do Teatro Lethes , fora ainda representado o
vaudeville (254) O Homem da Bomba , “uma das melhores criações do
d es se me s mo a no . ( C fr. “O T eatro Le t he s: As o b ra s co n ti n ua m... se m i n au g ur ação
à v i st a ne m p ro g ra ma d e li ne ad o ”, Alg a rve Ilu st r a d o , 2 9 .1 0 .1 9 6 9 : 3 0 e 3 1 ).
246
“Co mp a n hi a So ci et ária Ra fael d e Ol i vei ra”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 5 .
247
“C i ne -T ea tro Let he s” , Co rr eio d o S u l , 2 0 .0 3 .1 9 2 7 : 2 .
248
“C i ne -T ea tro Let he s” , Alg a rve I lu st ra d o , 2 9 .1 0 .1 9 6 9 : 3 0 e 3 1 .
248
“Co mp a n hi a So ci et ária Ra fael d e Ol i vei ra”, Jo r n a l d o s T ea t ro s, 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 5 .
249
“T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 1 .
250
“T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 1 0 .0 4 .1 9 2 7 : 1 .
251
Ib id e m .
252
“T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 1 7 .0 4 .1 9 2 7 : 1 .
253
“T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 2 4 .0 4 .1 9 2 7 : 1 .
254
So u sa B a sto s r e fere O Ho me m d a Bo mb a co mo u ma o p ere ta d e Fre ita s Ga z ul ,
ca ntad a no T ea tro d a T ri nd ad e (B a sto s 1 9 0 8 : 2 2 8 ).
82
antigo actor Ernesto de Freitas ” (255), que marcara ainda a revista Ao
Pintar da Faneca , da autoria de Artur Moura , e música do maestro
Manuel Ribeiro. O espectáculo realizado no Cine -Teatro Farense, a 17
de Maio, iniciava-se com uma comédia em 2 actos, Espectros,
representada por amadores, a que se seguia este original, escrito por
autores
locais
e
interpretado
pela
Companhia
Societ ária
de
Declamação.
A crítica zurziu sem dó nem piedade na forma e no conteúdo:
O conjunto que o autor nos apresentou, não forma uma revista, na
verdadeira acepção do termo, mas um todo, composto de rábulas, que
ligou melhor ou pior e, se não chega ter graça esfuziante, tem contudo
algumas piadas que entram no domínio da pornografia e que são mais
próprias das revistas apresentadas nos grandes centros. Apesar desta
observação, não temos a ingenuidade de acreditar que os públicos não
gostem das piadas fortes, porque sempre o vimos acorrer
pressurosamente às casa de espectáculos onde se exibem algumas
imoralidades e quanto mais, maior concorrência. É também possível
que o autor, por falta de elementos para realçar a revista, se tivesse
convencido que não valia a pena esforçar -se para apresentar um
melhor original. ( 256)
Salvaguardaram -se, todavia, as interpretações de Nena Corona , na
comère, de Amélia Rodrigues, declamando “com sentimento e boa
dicção” o monólogo “Pobre” ( 257), e de Rafael de Oliveira , no
compère, marcando “lindamente na charge ao Cruz Azevedo , na
apoteose ao glorioso poeta João de Deus ” (258).
“T ea tro s e C i ne ma s : Ci ne -T ea tro Let he s ”, Co rr ei o d o S u l , 0 1 .0 5 .1 9 2 7 : 1 .
F. P ., “ Ao P in ta r d a Fa n eca : Re v i sta o ri g i na l d e Art ur Mo ura e Ma n ue l
Rib eiro ”, O Alg a rv e , 2 9 . 0 5 .1 9 2 7 : 1 .
257
Ib id e m.
258
Cr u z Aze ved o era p se u d ó n i mo d e Ama d o r B ap ti st a, d e al c u n ha “o a nd ad o r d e
J o ão d e De u s”, g uard a d o s Ar ma zé n s Gera i s d e Faro , q ue se t i n ha p o r g rand e va te,
ma s q ue e m Faro era t i d o p o r p arvo e p ate ta a le gre, co n fo r me re fe re, no me s mo
j o rnal , u m a rt i go , a n e x o a e st e, i n ti t ul ad o Pa r a a Hi s tó r ia d o Mo n u m en to e d o
Ba p ti sta . D ep re e nd e - se p elo teo r d o ar ti go q u e se tr ata d e al g u é m q u e s e fa zi a
p as sar p o r j o rn al is ta e mec e na s, e q ue e st e j o rnal te nt a va d e s ma sc arar p el a
ch aco t a. O a s s u nto te ve co n ti n u ação e m o u tra s e d içõ e s d e O Alg a rve .
255
256
83
Terminada a estadia em Faro , faziam-se os preparativos para a
partida para Loulé , quando, a 19 de Maio, Ernesto de Freitas tombou
fulminado por uma congestão. A morte do director artístico levou a
que fosse organizada uma récita de benefício a favor da a ctriz viúva
Aurora de Freitas , e a que fosse encontrado um substituto. Realizou se o benefício no Cine-Teatro Farense, a 5 de Junho, com a
representação do drama de Pierre Decourcelle , Os dois garotos de
Paris, em tradução de Guiomar Torrezão . Após as récitas, no Teatro
Ascêncio, de Loulé, a 16 de Junho, Rafael de Oliveira rumou a Lisboa
em busca de solução para o probl ema da continuidade artística da
Companhia Societária de Declamação . A 26 de Junho, o Jornal dos
Teatros, noticiou o seu regresso a Faro , após três dias em Lisboa ,
assim como a entrada do actor Carlos de Sousa e de sua mulher Ivone
de Sousa, para a Companhia ( 259). Sol de pouca dura, todavia. A 3 de
Julho, tanto o periódico Alma Algarvia (260), como O Algarve (261)
anunciavam que a crise que estava atravessando a região, causadora
das baixas receitas da companhia, levara o recém indigitado director
de cena, juntamente com outros actores, a desligarem -se da companhia
“de perfeita harmonia” com Rafael de Oliveira. Apesar de tudo, por lá
se mantiveram, como referia O Algarve, dando festas interessantes nos
clubes farenses. Ao casal Sousa juntara -se Carlos Frias, “tenorino
apreciável, e Jorge Fino, barítono de recursos”, cujo “Serão de Arte
em canto e declamação, seg uido de baile, na Sociedade dos artistas”,
se propagandeava ( 262).
2.2. Afonso
reportório.
259
260
261
262
de
Matos:
diversificação
e
actualização
Si n cero , “Mo v i me n to T eatr al” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 6 .0 6 .1 9 2 7 : 7 .
“No tíc ia s tea tra is ”, A lm a Alg a rvia , 0 3 .0 7 .1 9 2 7 : 3 .
“V id a d e T ea tro ”, O Al g a rve , 0 3 .0 7 .1 9 2 7 : 1 .
Id em.
84
do
Desconhecida a forma como se processou o preenchimento do
lugar deixado vago por Ernesto de Freitas , depreende-se, pelas
notícias saídas nesse verão de 1927, que não terá sido tarefa fácil
(263), e terá demorado algum tempo, apenas se encontrando referências
à participação do actor Afonso de Matos a partir de 1929. Todavia,
parece-nos que a sua escolha como novo director artístico reflecte,
sobremaneira, a preocupação que Rafael de Oliveira manifesta em se
fazer rodear de profissionais conhecedores da sua realidade teatral, a
qual, por muito que se assemelhasse à dos teatros citadinos, possuía
regras próprias, que exigiam, acima de tudo, uma coesão interna do
grupo, que funcionasse como um escudo prote ctor de qualquer
intempérie que se avizinhasse.
Nascido em Loures, a 21 de Abril de 1893, Afonso de Matos era
um dos filhos do actor Constantino de Ma tos, director da Companhia
Dramática
Societária
Estremoz
(264).
Para
um
filho
de
actor
ambulante, o palco funcionava, des de muito cedo, como a sala de aula
e o recreio da escola prática da arte dramática, cujo lema era “filho és,
actor serás”. Aprendendo desde logo o conceito de responsabilidade,
o aprendiz-actor tanto podia fazer de conta de “anjinho”, em qualquer
peça religiosa, de Menino Jesus ao colo do Santo António, ou até de
filho da desditosa Inês de Castro. E, desde que fossem conhecidas as
letras e se soubesse ler, desenvolvia -se a aprendizagem pela recitação
de versos e pequenos monólogos, ou, caso um fiozinho de voz
ajudasse, pela interpretação de uma cançoneta num acto de variedades,
em “Fim de Festa”. Foi o que aconteceu com Afonso de Matos , que se
estreou aos cinco anos, num “antigo e desaparecido teatro de Estremoz
263
Se ho u v es se ma i s i n fo r ma ção so b re e ste mo me nto d e c ri se, ser - no s - ia p er mi tid o
retra tar mel ho r o t e mp er a me nto d e Ra fae l d e Ol i ve ir a , q ue no s s ur ge , ao lo n go d a
s ua v id a, co mo u ma d et er mi na ção c ap az d e s up o rtar a s v ic is s it ud e s p o r q ue p a ss a.
De sd e a mo r te d e fil ho s à q ua se p erd a d o se u T eatro De s mo nt á ve l , Ra fael d e
Oli v eir a p ar ece re na sc er co nti n u a me n te d as ci n z as d a vid a.
264
Vid e su p ra , p á gi na 2 8 .
85
(265), na cançoneta infantil O Bonequinho (266). Aos 14 anos, era
societário da companhia de seu pai, interpretando, “com aprumada e
vincada craveira artística, t odos os papéis de galã de opereta e
«príncipe» de Mágica, género bastante apreciado naqueles tempos”
(267).
A vontade de expandir horizontes levou -o a demandar a grande
urbe, onde pertenceu às companhias de Lucília Simões – Erico Braga ,
ou de Alexandre de Azevedo – Ester Leão , no Teatro Nacional de
Almeida Garrett . Trabalhou com nomes grados do teatro declamado,
como Chaby Pinheiro e Alves da Cunha , ou de comédia, como
Silvestre Alegrim (268), Nascimento Fernandes , Beatriz de Almeida e
Auzenda de Oliveira (269). Possuidor de uma bela voz de tenor,
Afonso de Matos desenvolveu também o seu t alento no teatro
musicado, tão em voga nesse tempo, tendo sido figura importante da
Companhia de Lina Demoel . Nascido na itinerância, o apelo pela
digressão estava -lhe no sangue. Em 1920, parte para Luanda , integrado
na Companhia de Ernesto de Freitas , juntamente com Correia Peixoto
(270). Em 1922, integrado na Companh ia de Carlos d’ Oliveira visita,
pela
primeira
vez,
Ponta
Delgada ,
actuando
no
antigo
Teatro
Micaelense, ao qual regressou quatro anos depois, fazendo parte do
elenco da Companhia de Opereta de Almeida Cruz , que também actuou
no Coliseu Avenida . A 29 de Abril de 1928, o Jornal dos Teatros (271)
anuncia o início de uma digressão pela província de uma companhia
dirigida pelo actor Holbeche Bastos , e secretariada pelo a ctor Artur
265
T erá s id o n u m t ea tro an ter io r ao T eatro O p erário , q ue só co meç o u a s er
ed i fi cad o e m 1 9 0 0 , se g u nd o So u sa B a s to s (1 9 0 8 : 3 5 2 ).
266
“B re v e no ta el u cid a ti v a so b re a p erso n al id ad e a rtí st ica d e Afo nso d e M ato s” , in
P ro gra ma d e Ho me n a ge m d a s B o d a s d e O uro Ar tí st ica s, a 1 0 d e J u n ho d e 1 9 4 8 , no
Co l i se u Av e n id a d e P o n t a De l gad a , no s Aço re s.
267
Ib id e m .
268
O s uce s so r d o acto r Va l e , no t eat ro d o G i ná sio ( Reb el lo 1 9 8 5 : 7 7 ) .
269
Fi l ha d o ac to r a mb u la n t e He nr iq ue d e O li v eir a , d e q ue fa lá mo s no C ap í t ulo I.
270
“Ac to s d e Vid a: Co mp a n hi a s”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 1 3 .0 6 .1 9 2 0 : 3 .
271
“To u rn é e Al ma P o r t u g u esa ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 9 .0 4 .1 9 2 8 : 3 .
86
Marcelo, a Tournée Alma Portuguesa , em cujo elenco aparece
integrado.
Tournée “Alma Portuguesa”- Secretariada pelo actor Artur Marcelo ,
e sob a direcção artística do actor Holbeche Bastos , iniciou uma
digressão pela província a Tournée “Alma Portuguesa”, de que fazem
parte, entre outros, os artistas Filomena Lima , Silvestre Alegrim ,
Zulmira Vargas , Maria Matos, Fernanda Varela, Cremilda de Sousa,
Afonso de Matos , Januário Ruivo , os bailarinos Crez y and Janou e o
maestro Artur Ângelo . O reportório consta, entre outras, das seguintes
peças: Cabaz de Morangos, Rataplan , Pom-pom, Sempre fixe e Chave
de Ouro, revistas, e da opereta Mouraria (scenas).
Afonso de Matos era, portanto, um profissional com experiência
diversificada, com amplo conhecimento da realidade te atral migrante,
a quem se reconhecia um temperamento simpático e sincero. Como
actor, o brio, o método, a consciência, a dignidade profissional eram
as características que lhe permitiam desenvolver a sua capacidade
interpretativa, abarcando um espectro amp lo de tipos e personagens.
Em palco, possuía um à vontade, uma correcção, e uma distinção que
enchiam a cena, desde a simples rábula aos protagonistas vividos e
caracterizados rigorosamente.
Para Rafael de Oliveira , este homem representaria a figura ideal
para preencher o lugar deixado vago pela morte de Ernesto de Freitas .
Que conversas terão tido, onde as terão tido, ou que arg umentos terá o
director da companhia utilizado para convencer Afonso de Matos a
regressar a um modelo de itinerância semelhante à que praticara na sua
juventude, não sabemos. Algum entendimento mútuo terá havido, na
medida em que se constata que a Companhia Societária de Declamação
se reinventa em Companhia (género popular) de Opereta, Comédia,
Drama e Revista, mantendo a insistência na direcção do “popular actor
Rafael de Oliveira ” (272).
272
“T ea tro ”, Al ma Po p u la r , 0 3 .0 5 .1 9 2 9 : 2 .
87
Em Abril de 1929, a Companhia, que se compunha de 18 figuras,
actua em dois dias consecutivos no Teatro Aveirense , interpretando Os
Milhões do Criminoso e As Duas Órfãs, a 22 e 23, respectivamente. A
recepção não é auspiciosa. Por um lado, O Democrata
comenta
ironicamente a ausência de público, “apesar dos preços [...] tão
populares como a companhia”, devido aos dramas em questão estarem
fora “da época”, e “as massadas estarem proibidas” ( 273). Por outro, a
contundência habitual de O Debate manifestava frontalmente o seu
completo desagrado que a gerência do Teatro Aveirense tivesse
fechado contrato com a companhia de Rafael de Oliveira , “excelentes
pessoas”, por c erto, mas sem “categoria para pisar o palco de teatro
duma capital de distrito”, e a prova verificara -se pela diminuta
assistência:
Aveiro não é a aldeia de Paio Pires e a todos os bons cidadãos cumpre
zelar pelo seu bom -nome, não permitindo ou colaborando em coisas
que nos possam deprimir. No palco do teatro de Aveiro, só devem
mostrar-se artistas de nome, companhias cujos elementos revelem
merecimento e os nossos grupos cénicos, porque se apresentam sempre
bem. Aquilo que aí esteve a exibir -se constituía uma autêntica
vergonha. Numa barraca da Feira de Março , como outrora o Dallot,
tolerava-se; no teatro, não. E ficamos por aqui... esperando que o caso
se não repita. (274)
A Lusa Veneza sempre se mostrou ciosa dos seus preceitos
culturais; o que aconteceu com Rafael de Oliveira , repetiu-se, em
outras alturas, com outros artistas de nomeada, como Alves da Cun ha.
Felizmente para a Companhia, em Oliveira do Bairro , para onde se
deslocou, a recepção mostrou -se calorosa:
Têm sido impecáveis os papéis desempenhados pelo elenco teat ral;
mas enquanto a nós, achamos soberbo o desempenho da Tomada da
Bastilha, pondo de parte as deficiências acanhadas do palco do teatro.
273
274
“T ea tro Av ei re n se”, O Demo cra ta , 2 7 .0 4 .1 9 2 9 : 2 .
“P elo T ea tro ”, O Deb a t e , 0 2 .0 5 .1 9 2 9 : 2 .
88
Muito bem. A falta de espaço com que lutamos obri ga-nos a não
desenvolver esta notícia; porém podemos afirmar, dentro, é claro, dos
nossos fracos recursos de observação, que a Companhia dirigida pelo
simpático e popularíssimo actor Rafael de Oliveira , honra a sublime
arte de Talma ( 275).
Aparentemente, o estilo de representação parece ter -se apurado,
apesar de alguns elementos pecarem por indisciplina artística, dando
azo a falta de rigor interpretativo, como refere o articulista do Alma
Popular, a propósito da revista Aplica-lhe o Selo, “de bom efeito”,
possuindo “magnífico cenário, melhor guarda -roupa e bom jogo de
cena”, porém:
[Torna-se] necessário que alguns dos nossos familiares artistas,
deixem-nos assim falar, visto terem feito quartel general nesta vila,
não se devem pôr num à vontade, como o fizeram nessa magnífica
revista, pois que nós, embora de Paio Pires, sabemos fazer justiça aos
méritos do elenco teatral. A revista Aplica-lhe o Selo , digamo-lo bem
alto, é escrita com arte e i mpregnada de alegria, tendo quadros
surpreendentes, mas nem todos os nossos artistas encararam a sério os
seus papéis, e nós queríamos que tal não sucedesse, para que não
tivéssemos motivo para escrever este desabafo -crítica, que não deve
ser tomado como d ardo venenoso... ( 276)
Para
bom
entendedor...
Escapa -nos,
todavia,
o
sentido
da
referência feita a Paio Pires. Tanto por O Democrata, como reiterada
pelo Alma Popular, parece tratar-se de uma graça regional privada,
cujo significado “paiopirístico” se esfuma na bruma de uma semântica
longínqua.
Dois pormenores, porém, nos interessam neste momento. Em
primeiro lugar, verifica -se que o reportório não apresenta diferenças
substanciais em relação ao que se representava sob a direcção de
Ernesto
de
Freitas .
Continuam
a
fazer
sucesso
os
dramas
lacrimejantes, e os de grande espectáculo, mas o gosto pelo teatro
275
276
“T ea tro ”, Al ma Po p u l a r , 0 3 .0 5 .1 9 2 9 : 2 .
“T ea tro ”, Al ma Po p u la r , 1 7 .0 5 .1 9 2 9 : 2 .
89
musicado obriga a a crescentar duas novas produções: a opereta
Mouraria, do Teatro Apolo, e a revista Chá de Parreira, do Teatro
Variedades. Qualquer delas foi apresentada durante a temporada que a
Companhia fez no Teatro d e Oliveira do Bairro , a 5 de Maio e a 26 de
Junho de 1929, respectivamente. Por isso mesmo, em segundo lugar,
forçoso se torna abordar a composição do elenco ( 277), que passa a ter
necessidade de se apoiar numa boa capac idade interpretativa de
actores-cantores. Carlos Frias e Jorge Fino, que a crise, em 1927, após
a morte de Ernesto de Freitas , obrigara a desligar -se de comum
acordo, aparecem reintegrados na companhia. Sendo o primeiro, um
tenorino, o segundo, um barítono, e Afonso de Matos , um tenor, o
registo musical interpretativo masculino abarca um escala ampla de
diversidade
performativa.
Acrescente -se,
no
naipe
feminino,
as
participações sempre elogiadas de Geny Frias e de Ema de Oliveira ,
em princípio nas cançonetas e duetos de fim de festa, e actualmente
ampliando as possibilidades pela incursão na opereta, e ainda Zina
Mesquita, referenciada como uma intérprete de fado.
A respeito da qualidade demonstrada, o articulista de A Terra
Minhota não podia fazer melhor apreciação durante a estadia no Cine
Monçanense.
Da Companhia diremos, com inteira imparcialidade: aprese nta-se bem
organizada, com harmonia de elementos, todos de valor artístico; com
vestuários luxuosos e cenários dos melhores que aqui têm aparecido.
Ouve-se com agrado, salientando o desempenho das peças que é digno
de aplauso, como bem tem compreendido o p úblico que
entusiasticamente aplaude os artistas nos finais dos actos. ( 278)
277
E m 1 9 2 9 , faz ia m p art e d o ele n co : Ra fae l d e Ol iv eir a , Afo nso d e M ato s , Ca rlo s
Fri as , Cr is ti a no Me sq u ita , J o r ge F i no , Ar t ur Ro d r i g ue s , Vi to ri no B r ito , S il v a
Val e , Alb er to P ir es (t i n ha a fu nç ão d e p o n to ta mb é m), Vir g íl io M esq u i ta , E ma d e
Oli v eir a , G e n y F ria s , Amé lia Ro d r i g ue s , Zi na Me sq ui ta , A má li a Cr i st i na ,
La uri nd a Va le , e o s p eq ue no s a cto r es Fer n a nd o Ma n ue l [F er na nd o d e O li ve ira ] e
Fer na nd o El ís io [ Fer na nd o Fri as ] . J o sé d e P i n ho er a o maq u i ni st a, e o ma e stro
Mário Ro d ri g ue s , o d ir e cto r mu s i ca l d a co mp a n hi a.
278
“C i ne Mo nça n e n se ”, A Te r ra M in h o ta , 2 6 .1 0 .1 9 2 9 : 2 .
90
A presença de Afonso de Matos na companhia de Rafael de
Oliveira era a sua chancela de qualidade. Amplamente conhecido na
província, tal como o fora Ernesto de Freitas , distinguia-se, contudo,
deste por ter pertencido ao elenco de companhias de grande prestígio,
ao lado de actores de primeiro plano: Chaby Pinheiro , Alves da Cunha ,
Silvestre Alegrim e Maria Matos. Esta associação de conceitos
estéticos reflectir -se-ia na escolha do reportório, que, à semelhança do
que era hábito fazerem os prestigiados actores da capital, deveria
servir em primeiro lugar a “cabeça de carta z”, e, por inerência, toda a
companhia. A sua marca pessoal, que aparecera já na forma do cartaz
de Mouraria, em Oliveira do Bairro (279), sente-se também na
progressiva elaboração de um estilo de reportório, que guardará as
peças de grande efeito, salvaguarda financeira da companhia, às quais
se irão acrescentando as peças de tese. A temporada de 1929 -30 parece
marcar um ti po de renovação em continuidade. Se, a gestão artística de
Ernesto de Freitas aproximara a companhia de Rafael de Oliveira das
suas congéneres de província, em termos de reportório ( 280), a gestão
de Afonso de Matos irá criar uma actualização do modelo anterior,
aproximando-o
do
reportório
representado
pe las
companhias
itinerantes de Lisboa (281).
279
Este c art az i ntro d u z u ma mar ca d i st i nt i v a na fo r ma d e p ub l i cit ar o s
esp e ct ác ulo s. Oc up a nd o a p o s iç ão ce n tra l, si t u a - s e hab i t ua l me n te a d i str ib ui ção
d o ele nco . Ne ste ca so co ncr eto , s up ra d is tri b ui ção , co m o s no m e e m cai x a,
ap arec e, nat ur al me n t e, Afo nso d e Mato s e m p r i me iro l u g ar, a p ar d e G en y Fri as e
Ra fael d e O li v eir a . O se u no me ap ar ece ai nd a i n fra, e nq ua n to me te u r- en - sc èn e
[ si c] .
280
Co mp ara nd o r ep o rtó r i o s d e co mp a n h ia s d e p ro ví n cia ver i fi ca mo s q ue a
d ra mat ur g ia é co mu m. T o d as rep re se nt a va m, en tre o ut ra s p eça s, Amo r d e
Perd içã o , A s Du a s Ó r f ã s, A Ro sa d o Ad ro , A Mo rg a d in h a d e Va lf lô r , Os Do is
Ga ro to s , O Pa ra l íti co , O Ga ia to d e Li sb o a ; u m rep o r tó rio d e t ea tro p o p u lar d o s
p alco s d a c ap i ta l. As co mp a n h ia s e x ib i a m - n o p a ra g á ud io d o mo d es to p úb l ico d e
p ro v í nci a, q u e, ne m s e m p re te nd o v i sto a s “ved e ta s”, c o n he cia m - n a s, p el o me no s,
d e no me, co mo era o caso d e An tó nio P ed ro , no p ap el d e J eró ni mo P eirá s , o
P aralí ti co , o u d e Ad el i n a Ab ra n c he s , no d o Ga ia to J o s é , p o r e x e mp lo .
281
As co mp a n hi as o ri u n d as d a c ap i ta l co e xi st i a m, co m freq u ê nc ia, c o m a d e
Ra fael d e O li v eira n a me s ma lo cal id ad e , mo t iv a nd o a co mp ara ção c rít ica n as
91
Em Braga, a temporada iniciara -se com a representação de Os
Milhões do Criminoso , a 22 de Dezembro, no Salão Recreativo . O
Diário do Minho publicitou “a peça de sucesso incomparável”, a
“esplêndida montagem” e os “cenários próprios de Rogério Machado ”
(282). Até ao final do ano, para além da participação da companhia na
matinée de Natal, em que Teatro e Cinema se misturaram para gáudio
do
pequeno
público,
os
espectáculos
sucederam -se,
exibindo
o
reportório habitual de peças sérias, A Rosa do Adro, D. Inês de Castro
e As Duas Órfãs. A noite de São Silvestre festeja -se com a
representação de O Tio Rafael, título novo pa ra o êxito velho, Casa de
Orates, ou Casa de Doidos, a comédia de Aristides Abranches .
A 18 Janeiro de 1930, a companhia realiza nova estreia de
reportório, com Viagem de Núpcias ,
uma comédia francesa de
Maurice Hennequin , com tradução de Carlos Moura Cabral , em récita
de benefício a favor do Cofre da Associação dos Jornalistas de Braga .
A peça, segundo o articulista do Diário do Minho (283), “mereceu os
mais fartos aplausos, tendo o seu desempenho criado para a companhia
uma nova aura”, pela “boa harmonia do grupo”. Entretanto, ia
sucedendo a apr esentação do reportório habitual, “o melhor que [a
empresa arrendatária do teatro podia] conseguir pelos preços mais
amoldáveis [sic] e populares” ( 284). Enquanto isso, a companhia
preparava afanosamente a apresentação de um original do seu
reportório.
Rafael de Oliveira, para além das adaptações que fizera, apenas
havia escrito a revista Aplica-lhe o Selo. Neste momento, a escritora e
poetisa Ludovina Frias de Matos escrevia expressamente, para seu
co l u na s d o s p erió d ico s lo ca is. Ne m se mp re a s d a c ap i tal le va ra m a me l ho r na
ap rec iaç ão .
282
“C ró nic a d a C id ad e : Sa lão Re crea ti vo ”, D iá rio d o Min h o , 2 1 .1 2 .1 9 2 9 : 2 .
283
“Cró n ica d a C id ad e: S alão Re crea ti vo : Via g e m d e Nú p cia s ” , D iá r io d o Min h o ,
1 9 .0 1 .1 9 3 0 : 3 .
284
“Cró nic a d a C id ad e: S alão R ecre at i vo ”, Diá r io d o M in h o , 0 5 .0 2 .1 9 3 0 : 2 .
92
irmão Carlos Frias , Os Milagres de Nossa Senhora de Fátima.
Tratava-se da primeira peça de teatro declamado, destinada a um
reportório próprio da companhia, versando uma temática genu inamente
portuguesa contemporânea, arrancada “à realidade dos nossos dias”,
segundo declarava a autora, em entrevista ao Diário do Minho (285).
Teve estreia, a 19 de Fevereiro, divulgada pela imprensa local, que,
sem revelar o enredo, relevou o carácter moralizante da peça, e o facto
de se tratar da Festa Artística dos actores Carlos Frias e Cristiano
Mesquita. Passados dois dias, a crítica assinal ava o êxito da estreia,
elogiando esta “peça leve, sem a complexidade de enredos chocantes,
paradoxais”, em que dois actos apenas bastavam para “evidenciar [...]
distintas qualidades de realização teatral da sua autora”, muito embora
o desempenho se apresentasse “inferior ao merecimento da peça”
(286). Apesar disso, importa perceber que, pela primeira vez, a
Companhia apresentava um original, abordando uma realidade tangível
pelo público a que se destinava. A acção da peça desenrola -se num
quadro único, o pre sbitério de uma aldeia do Minho , colocando-se em
conflito duas realidades distintas, a urbanidade e a ruralidade, pelo
confronto de mentalidades teimosamente antagónicas, a que apenas
uma catástrofe humana será capaz de fazer parar a sua obstinação.
Embora a autora não considerasse a obra como peça religiosa, esta
possuía uma “sentimentalidade que tão bem se [coadunava] ao
temperamento da plateia nacional” ( 287), e o factor espiritual ganhava
particular importância, enquanto referente d e uma população para
quem o fenómeno de Fátima era uma realidade com pouco mais de uma
década. E a realidade teatral demonstra -nos que as peças de carácter
“M ila g re s d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma ”, D i á rio d o Min h o , 1 6 .0 2 .1 9 3 0 : 1 .
Inc l ui fo to d a a u to ra.
286
A., “ O s M ila g re s d e No ssa S en h o ra d e Fá ti ma : o r i gi na l e m 2 ac to s d e D.
Lud o v i na Fri as d e Ma to s: Al g u ma s co ns id er açõ es a p ro p ó s ito ” , Diá r io d o Min h o ,
2 1 .0 2 .1 9 3 0 : 2 .
287
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, O V ila rea len s e , 2 9 .0 5 .1 9 3 0 : 2 .
285
93
religioso, por despertarem sentimentos de piedade, sempre foram as
que melhor serviram para atrair o público ao espectáculo teatral, e não
só na província. Por isso mesmo, Milagres de Nª Sª de Fátima teve
reposição a 23 de Fevereiro, e m matinée.
A temporada de Braga encaminhou-se, a partir deste momento,
para
a sua conclusão, com a apresentação das restantes festas
artísticas dos societários da Companhia. Contratada pela Empresa de
Jacinto Guimarães, a Companhia transportou -se para o Teatro Gil
Vicente, de Guimarães, onde estreou o seu reportório, a 1 de Março. O
agrado foi geral, a tal ponto que, para a festa artística de Rafael de
Oliveira, se criou uma comissão de vimaranenses que procedeu à
venda dos bilhetes para a récita, e a quem o homenageado veio
agradecer publicamente através d o jornal local. O entusiasmo foi
contagiante e a situação repetiu -se em outros benefícios de actores.
Entre as peças do reportório declamado e as do musicado, o Teatro foi
tendo contínuas lotações esgotadas, de um público que ia “e ainda
bem, auxiliando os trabalhos da Companhia, [...] bem digna d’essa
protecção, já pelo seu trabalho que é bom, já pelo seu porte correcto”
(288). Milagres de Nossa Senhora de Fátima voltaram a motivar a
presença da sua autora para agradecer os aplausos do público e da
crítica, que lhe reconhecia “competência” e “futuro”, sentenciando que
“quem cerca os seus trabalhos d’um ambiente de moral e perfeição,
quem busca nas lições da vida o enredo d’uma peça que o publico
aplaudiu sem reservas, pode e deve vencer!” ( 289). Contra factos, não
há argumentos! A Companhia estava vivendo neste momento um
período
de
apogeu,
o
entrosamento
perfeito
com
o
público
vimaranense. Estreou um novo espectáculo, Jesus Nazareno, nova
montagem da Vida de Cristo, com assinatura de Raúl d’Além. O
288
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 1 8 .0 3 .1 9 3 0 : 1 .
94
periodista crítico pat enteou o seu apreço, não obstante destacasse
“pequenas arestas a limar”; no espectáculo, que apresentava “quadros
bons e figuras adequadas”, com “boa encarnação [sic], adequado e
bom guarda-roupa, completando com um excelente cenário, novo e de
bom efeito”, destacava-se, na figura de Jesus, a interpretação de
Carlos Frias , cujo “físico, [...] calma e cadência, [encarnavam]
perfeitamente o papel” ( 290). A companhia, que apenas repetia o
reportório se a vontade do públic o assim exigisse, viu -se obrigada a
fazer três reposições deste espectáculo.
As
últimas
semanas
da
temporada
em
Guimarães
foram
preenchidas com as restantes festas artísticas. Estrearam ainda Rosa
Enjeitada, de D. João da Câmara, que não motivou qualquer referência
crítica, e um episódio em 1 acto, novo original de Ludovina Frias de
Matos, Abençoada Rosa , em “festa artística dos pequenos actores
Fernando Frias e Fernando de Oliveira” (291), de 5 e 8 anos,
respectivamente. Já as “formigas” tinham “festas artísticas”! Neste
espectáculo, cujo cartaz anunciava como sendo o último, a manifestou se tanta insistência, que a Companhia organizou uma derradeira récita,
a 8 de Maio, repondo Os Milhões do Criminoso , e onde se estrearam
dois novos actores, José Cardoso e Clotilde Xavier ( 292), que,
aparentemente, não terã o permanecido societários por muito tempo.
Voltamos a registar outro hiato informativo no percurso da
Companhia de Opereta, Comédia, Drama e Revista
Oliveira.
Do
Minho
deslocaram -se
para
de Rafael de
Trás -os-Montes,
tendo
permanecido aproximadamente um mês em Vila Real , que os acolheu
no seu amplo Teatro Circo , com o mesmo carinho e deferência de
289
“Mi la g re s d e No ssa S e n h o ra d e Fá ti ma ”, Co m érc io d e Gu i ma rã es , 2 8 . 0 3 .1 9 3 0 :
1.
“J es u s Naz are no ”, Co m érc io d e Gu ima rã e s , 1 8 . 0 4 .1 9 3 0 : 1 .
“Úl ti ma s r ep re se n taçõ es d a Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a ”, Co m é rc io d e
Gu i ma rã es , 0 2 .0 5 .1 9 3 0 : 1 .
290
291
95
Guimarães. É sucinta a informação veiculada pelos dois semanários
locais, O Povo do Norte e O Vilarealense. Este último, na sequência
da apresentação do reportório da companhia, fez a sua avaliação:
Actores e actrizes, num conjunto valioso, poucas vezes apreciado entre
nós, consolidam dia a dia, em Vila Real , as simpatias de que são
dignos, como se demonstra na grande frequência que vai ao Teatro
aplaudi-los e, por vezes, com um tal entusiasmo, que deve ter feito
compreender à Companhia que a nossa terra, além de hospitaleira,
sabe premiar o mérito, esteja este onde estiver. Os artistas estão
satisfeitos e o público também. Constatamo -lo com o maior prazer,
fazendo votos para que a Companhia se conserve muito tempo nesta
cidade e possa aguentar -se com os preços modestíssimos que
estabeleceu para os bilhetes de entrada, preços que se duplicassem,
não seriam, de facto, exagerados ( 293).
A partir de 29 de Maio de 1930, constatamos apenas a ocorrência
de um espectáculo no Teatro de Vila Praia de Âncora , em primeira
representação de Rainha Santa Isabel , drama musicado em 4 actos e
11 quadros, original do Cónego F. Soares Franco Júnior. No exemplar
manuscrito (294), copiado por Afonso de Matos , em Oliveira do
Bairro, a 29 de Abril de 1929, com assinatura do próprio, lê -se na
folha de rosto que se trata de um arranjo, com marcação do actor
Baptista Ferreira; na página seguinte em caligrafia diferente, assinada
pelo ponto João Moutinho , menciona-se a data de estreia, 1 de
Outubro de 1930. No ano seguinte, sem referênc ias quanto ao seu
paradeiro, a Companhia ter -se-á movimentado pela zona litoral, uma
vez que, em 1932, os vamos encontrar na região de Aveiro ; primeiro,
em Esgueira, representando A Rosa do Adro e Mouraria, a 1 e 15 de
Maio, respectivamente, no Teatro Recreio Musical Esgueirense (295),
e, depois, na própria cidade de Aveiro , actuando no Stadium de São
“T eatro G il V ic e nte : Qu i nta - feir a, 8 d e Maio : Úl ti ma r ep re se n tação d a
Co mp a n h ia R a fae l d e O l iv eir a”, Co mé rc io d e Gu ima rã e s , 0 6 .0 5 .1 9 3 0 : 1 .
293
“T ea tro C irco ”, O Vi la r ea len se , 2 2 .0 5 .1 9 3 0 : 2 .
294
P erte nc e nt e ao acer vo d e Ál varo d e O li ve ira, V i la Re al d e S a nto An tó n i o .
295
De mo c ra ta , Av e iro , 3 0 . 0 4 .1 9 3 2 : 2 ; id e m, 0 7 .0 5 . 1 9 3 2 : 3 ; id e m, 1 4 .0 5 .1 9 3 2 : 3 .
292
96
Domingos, ao ar livre, durante o mês de Agosto e Setembro ( 296).
Embora a companhia agradasse ao público local, conforme refere O
Democrata, a verdade é que a afluência de público aos espectáculos
era ditada pelas condições atmosféricas.
Em 1933, de regresso ao carinho tributado por Guimar ães, a
Companhia estreia, a 2 de Fevereiro, uma longa temporada de quatro
meses, com a revista, em 2 actos e 15 quadros, Prata da Casa , que nos
aparece referenciada pela primeira vez. Tratando -se de um original de
Ludovina Frias de Matos e Artur de Matos, estamos perante uma nova
produção, própria da companhia, sobre a qual a crítica vimaranense
refere apenas que “a casa estava muito regular e o desempenho dos
artistas agradou” ( 297). Melhor sorte teve Mouraria, o segundo
espectáculo, que registou “casa à cunha, como raras vezes se vê”, com
desempenho de agrado geral, números bisados e “prolongada e quente
ovação” no final ( 298).
Nesta
estadia
em
Guimarães
observam -se
algumas
particularidades interessantes. Por causo do hiato de informação
recente, nota-se claramente, neste momento, que o reportório se foi
ampliando, organizando -se em áreas definidas, como o drama de tese e
o teatro musicado, o que alarga o espectro de público alvo, fruto óbvio
do conhecimento profissional de Afonso de Matos , não obstante se
mantenham
os
êxitos
populares
de
grande
espectáculo,
e
do
saudosismo das “melodias d e sempre” de Camilo Castelo Branco , de
Manuel Maria Rodrigues ou de Braz Martins.
Do reportório contemporâneo, a 6 de Fevereiro, a Companhia
levou à cena As Duas Causas. Não nos parece que se trate da primeira
representação, na companhia, da peça da parceria Mário Duarte e
296
De mo c ra ta , Av e iro , 2 7 . 0 8 .1 9 3 2 : 3 ; id e m , 0 3 .0 9 . 1 9 3 2 : 2 ; id e m, 1 0 .0 9 .1 9 3 2 : 2 .
“T ea tro G il Vi ce nt e: C o mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira ”, Co mé r cio d e Gu ima rã e s ,
0 3 .0 2 .1 9 3 3 : 1 .
298
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 0 7 .0 2 .1 9 3 3 : 2 .
297
97
Alberto Morais, porquanto a imprensa local apenas refere que a
comédia agradou, sendo os intérpretes ovacionados “com calor e
entusiasmo”, e que “mereceu ovações especiais, sendo chamado ao
palco,
o
apreciado
actor
Afonso
de
Matos ,
que
desempenhou
magistralmente os seus papeis” ( 299). O do protagonista Bento
Castanho e o de encenador , entenda-se.
Afonso de Matos parece que pretende imprimir na companhia a
marca da sua personalidade artística, adquirida, por certo, no seu
percurso profissional com as companh ias de Lisboa, e na observação
comportamental dos “monstros sagrados” com quem privara. Não
estaremos muito longe da verdade, se afirmarmos que esta situação se
verifica, desde o início, pela mudança do título de Casa de Doidos
para O Tio Rafael . Em 1929, encontrando -se já Afonso de Matos no
elenco da companhia de Rafael de Oliveira , a comédia de Aristides
Abranches passou a ser titulada com o nome do seu protagonista . Uma
intersecção de três vectores artísticos - personagem, encenador e
intérprete - num único ponto de intensidade especular e espectacular.
Realidade e ficção fundindo -se numa relação paradoxal de espaço e
tempo, em que a ilusão se tornaria ambivalente p ara o público: ver o
Tio Rafael equivaleria a ver Afonso de Matos , e vice-versa.
Todavia, interpretando As Duas Causas, que pertencera ao
reportório do Teatro de D. Maria (1927-28), Afonso de Matos
projectava-se numa outra interacção interpretativa, associando -se à
imagem maior do actor Alves da Cunha , o Zaconi português ( 300), o
grande modelo da interpretação coeva, que obtivera êxito imérito e m
Bento Castanho. Tal lhe reconheceu e elogiou, mais tarde, o crítico
Frederico Alves:
299
300
Ib id e m.
Qu er ub i m G ui marã es , “O T eatro D es mo ntá v el” , Co rr eio d o Vo u g a , 2 6 .1 0 .1 9 5 7 :
3.
98
Haviam-me dito que Afonso de Matos igualava Alves da Cunha . Será,
talvez, exagero. Mas, mesmo assim, ele imitou -o extraordinariamente,
apanhou-lhe, permitam-me o termo, a expressão patética do rosto, a
posição da boca, o olhar, a maneira de movimentar -se, o gesto da mão
direita batendo no peito com o punho fechado. É mesmo assim. E, para
se imitar de tal forma, é necessário ser -se, também, um bom actor. Se
Afonso de Matos me havia interessado já em a Casa de Doidos, nas
Duas Causas conquistou -me definitivamente. Tem freguês certo ( 301).
As Duas Causas voltou a ser levada à cena, em Guimarães , a 22
de Março, em Festa Artística “do co nsagrado actor Afonso de Matos , o
herói da noite, actor consciencioso e de mérito, e que imprime aos
seus papéis, um relevo tão impulsivo e brilhante, que arranca à
assistência p rolongadas e vibrantes ovações” ( 302).
Dentro dos temas de problemática social, a companhia levou à
cena a peça do espanhol D. José Echegaray (303), O Grande Galeoto,
em festa artística de Geny Frias e Zina Mesquita. Datada de 1881, e
traduzida por Guiomar Torrezão , a peça era consider ada “um trabalho
não recortado dentro dos moldes do teatro moderno”, embora devesse
agradar ao público por conter cenas “duma palpitação flagrante e
passional”, segundo o articulista do Notícias de Guimarães (304). O
espectáculo foi, sem dúvida, do agrado geral: “as cenas desenvolvidas,
duma flagrante realidade, foram bem compreendidas pelo público, que
aplaudiu sem reservas. O trabalho do actor Afonso de Matos ,
principalmente no ultimo acto, soberbo! O público reconheceu -o,
fazendo-lhe uma quente e prolongada ovação. Os restantes membros
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 1 5 .0 8 .1 9 3 6 : 2 .
“T eatro G il V ice n te ”, Co m é rcio d e Gu ima rã e s , 2 1 .0 3 .1 9 3 3 : 2 . E sta p eça d ará
lu g ar, na r ea liz ação d a s s ua s fe sta s art í st ica s, à p eça A S e ve ra , d e J ú lio Da nt as , A
Ca lú n ia , d e E c he gar a y, e, p o st erio r me n t e, a R eco mp e n sa , d e R a mad a C ur to . E m
to d a s e la s o p ro ta go ni s t a fo ra i nte rp ret ad o p o r Al ve s d a C u n ha .
303
P ré mio No b e l d a Li tera tu ra, e m 1 9 0 4 , j u nt a me n te co m o p o e ta fra nc ês Fréd é ric
Mi str al .
304
“Gi l Vic e nt e: O G ra n d e Ga leo to : Fe st a ar tí st ica d e Ge n y Fri as e Zi n a
Me sq ui ta”, No tí cia s d e Gu i ma rã es , 1 6 .0 4 .1 9 3 3 : 2 .
301
302
99
satisfizeram”
( 305).
Segundo
Sousa
Bastos
(1898:
780),
a
representação das peças de Echegaray constituía “sempre um grande
acontecimento
teatral”,
necessitando
de
intérpretes
capazes
de
expressarem a grande inspiração do seu autor. Não é de estranhar,
pois, que Alves da Cunha a tivesse incluído no seu reportório pessoal
e Afonso de Matos se apropriasse dela para as suas futuras festas
artísticas na Companhia de Rafael de Oliveira . Por isso mesmo, a
partir de 1934, esta peça antiga subirá à cena com o título novo de A
Calúnia.
A influência de Alves da Cun ha (306) penetrava, pois, na
Companhia de Rafael de Oliveira através do seu reportório, que foi
sendo representado, a partir daquele momento, mesmo que se tratasse
da revisitação de O Paralítico, outrora coroa de glória do reportório
pessoal do actor oitocentista António Pedro . Temos para nós que
reside aqui a renovação introduzida por Afonso de Matos , criar uma
marca de qualidade do modelo interpretativo da companhia, no que
seria acompanhado, posteriormente, por seu irmão Eduardo de Matos .
Com laivos de novidade, surge uma particularidade interessante
que demonstra uma relação ambivalente com as comunidades: a
Companhia representa obras de autores locais em récitas de benefício.
“Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a: T ea tro G il Vic en te” , Co mé rc io d e Gu i ma rã es ,
2 5 .0 4 .1 9 3 3 : 2 .
306
Na sc id o e m Lisb o a, a 1 9 d e Ag o s to d e 1 8 8 9 , Al v es d a C u n h a e s treo u - se no
T eatro d o Gi n ás io , e m 1 1 d e O ut ub ro d e 1 9 1 2 , co m a p eça A Vo l ta , d e No b r e
Mart i n s, d iri g id a p o r Luc i nd a S i mõ e s . I nte g ro u o e le nco d a co mp a n h ia d e Ro sa s
& B raz ão , n a te mp o r ad a d e 1 9 1 4 -1 5 , no T eatr o d e S. Car lo s . E m 1 9 2 6 , co mo
e mp re sár io d o T eat ro d e D. Mar ia , le vo u à ce n a te x to s i no v ad o re s d e P ira nd el lo ,
Le no r ma nd e Ra ú l B ra nd ão . In te gro u a co mp an h ia d e Re y Co la ço - Ro b l es
Mo n te iro n a te mp o r ad a d e 1 9 3 3 -3 4 . Fo i ca sad o co m a a ctr iz B ert a d e B ív ar , co m
q ue m fo r mo u a Co mp a n hi a d e Al v es d a C u n h a – B erta d e B ív ar , co m a q ual
p erco rre u o p a í s, ne m s e mp re na s me l ho re s co n d içõ e s. Co n sid e rad o o ma io r a cto r
d a s ua ger a ção , a fa ma d o se u fei tio d i fí cil re se r vo u -l he u ma p ro gr es s i va
d egr ad aç ão p ro fi s sio n al até à s ua ap o s e nt ação , e m 1 9 5 5 , no T eatro Av e nid a , co m
a p eç a A Co to v ia , d e J ean Ano u il h . A es te p ro p ó si to co n fro nte - s e a p o lé mi ca
tra vad a e ntr e o acto r e o crít ico Red o nd o J ú nio r , e m fi na is d e 1 9 5 0 , n a s p á gi n as
d o me n sár io Áto mo , e p o st erio r me n t e p ub li cad a e m Pa n o d e F er ro (1 9 5 5 : 2 5 7 2 7 2 ). Fa le ce u e m 1 9 5 6 .
305
100
Sabíamos já ser prática corrente das comp anhias de província
socorrer-se dos amadores locais para colmatar os papéis de figuração,
e, quando, nos dilentanti regionais, se reconhecia o talento para a Arte
de Talma, confiava-se-lhes o desempenho de um pequeno papel onde
pudesse brilhar a sua chama poética (307). Percebemos, por isso, a
razão subjacente ao conceito de “conservatório prático”, a que se
referiam muitos actores por ele formados, no qual as suas apetências,
por
via
da
observação
e
do
trabalho,
se
transformavam
em
competências, cujo moto bem poderia ser “talent de bien faire”.
Após a época Carnavalesca, em que foi escolhido reportório
apropriado,
representando -se
comédias
e
actos
de
variedades,
regressou-se ao reportório mais sério, dando -se início às festas
artísticas e aos benefícios a fav or de terceiros. Carlos Frias e
Cristiano Mesquita, que, em anterior ocasião, haviam escolhido o
drama Milagres de Nossa Senhora de Fátima , de Ludovina Frias de
Matos, para sua festa artística, em Guimarães , decidem fazer estreia
absoluta de O Herói Minhoto, um original do padre Gaspar da Costa
Roriz, a 9 de Março. “Dignos de admiração”, segundo a imprensa
local, os dois actores apresentavam “uma peça vimaranense, que
[enchia] [...] de saudade pela memória querida do vimaranense morto,
e de alegria pela glorificação que lhe [era feita]”. Além disso, em fim
de festa, preenchido por variedades, “os homenageados, [ofereciam]
um brinde ao jogador mais simpático do Victoria Sport Club , que
[seria] eleito mediante senhas distribuídas pelos espectadores”, “um
gesto simpático, que [deveria] cair bem na mocidade da [...] Terra, nos
fervorosos adeptos do futebolismo, e nos “aficionados” do Victoria,
307
A nec es s id ad e d o s q u i nz e mi n uto s d e fa ma é , ap are nt e me n te, b a sta n te mai s
an ti g a ! Na ac t ua lid ad e, ela red uz - se ap e n as a u ma q ue stão e sp a cio - te mp o ra l:
p o s s ui nd o a s te c no lo g i as d e co mu n i ca ção o co nd ão d e a mp l iar a a mp li t ud e
esp a ci al d a fa ma, tal i nt e n si fica a s u a n ece s s id ad e, p o r p arte d o s ut ili zad o r es,
o b se s si va me nt e, e m mo vi me nto c ao t ica me n te a cele rad o . R es u lt ad o : u ma fa lác ia
b ig b ro th e ria n a .
101
sem duvida o melhor Club da província” ( 308). Um gesto simpático
que
captaria
sobrevivência!,
novos
que
públicos,
foi
angariando
largamente
novas
aplaudida
receitas...
por
um
Ecce
público
entusiasmado, que se rendeu a um minuto de silêncio, “em pé, com
respeito e comoção”, pedido em memória de quem escrevera aquela
obra tão “caracteristicamente nacional e minhota” ( 309). De novo
subiu à cena do Teatro Gil Vicente , a 25 de Maio, desta vez em récita
de homenagem a Manuel Marques Ferreira , “apreciado elemento da
Orquestra Vimaranense ” (310), que acompanhava os espectáculos da
Companhia e que, por isso mesmo, teve direito também à estreia
absoluta do episódio dramático
Mar de Angústias , original do
vimaranense Euclides Soto Maior (311), e à estreia, pela Companhia,
da opereta em 1 acto Flor Rara, do Teatro Maria Vitória de Lisboa.
Também o actor -cantor Virgílio Mesquita aproveitou, para a sua
festa artística, o original de outro escritor vimaranense, Delfim
Guimarães. A 14 de Abril, o Comércio de Guimarães
anunciava que
havia entrado em ensaios a “tragédia rústica”, em 2 a ctos, Feras à
solta, com encenação de Afonso de Matos , que desempenharia
igualmente “o papel de Fidalgo da Pre sa e o festejado o papel de Pedro
maluco” (312):
O autor da sublime evocação à Penha “Sol da Nossa Terra”, ilustre
escritor Vimaranense, Delfim de Guim arães, (Vimaranes), cedeu
gentilmente para esta Festa, a sua peça regional, em 2 actos “Feras à
Solta” que fará levantar em aplausos a plateia de Guimarães . Vibra de
“T ea tro Gi l V ice n te ”, C o mé rcio d e Gu i ma rã es , 0 7 .0 3 .1 9 3 3 : 2 .
“T ea tro Gi l V ice n te ”, C o mé rcio d e Gu i ma rã es , 1 0 .0 3 .1 9 3 3 : 2 .
310
“T ea tro G il Vi ce nt e: C o mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira ” , Co mé r cio d e Gu ima rã e s ,
2 3 .0 5 .1 9 3 3 : 2 .
311
O au to r es tar ia l i gad o , p o r certo , à i mp r e n sa lo cal , p o rq u e é tra t ad o p o r
“p r ezad o co le ga no sso ” p e lo a rti c ul i sta d o Co m é rcio d e Gu ima rã e s , o q ua l
ma n i fe s ta o g ra nd e i nt e res se p el a e st rei a d a p eça, a “q u e m a i mp r e ns a rec eb e u
co m ma n i fe st açõ e s d e j úb i lo ” ( “T ea tro Gi l Vic e nt e: Co mp a n hia Ra fael d e
Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 2 3 .0 5 .1 9 3 3 : 2 ) .
312
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 1 4 .0 4 .1 9 3 3 : 2 .
308
309
102
entusiasmo o bairrismo, e a honra de subir à ribalta uma peça cujo
autor serviu Guimarães de berço. Nesta peça desempenhará o papel de
Fidalgo da Presa o distinto actor Afonso de Matos que a plateia
Vimaranense tanto aprecia. [...] A acção decorre nas fraldas do Monte
da Lapinha, Abação – Guimarães (313).
O espectáculo em questão realizou -se a 27 de Abril, terminando
com a opereta em 1 acto, Amores de Rosina , seguida de variedades.
Apesar da muita “parra” publicitária anterior, o acontecimento colheu
brevíssimas referências informativas do Notícias de Guimarães , para o
qual Delfim Guimarães inclusive colaborava. Sabemos apenas que a
“numerosa e distinta assistência” demonstrou “apreço e simpatia” pelo
autor, e que este subiu ao palco no final da representação.
Para completar esta avalanche de estreias por parte da Companhia
Rafael de Oliveira , acrescente-se a de mais uma revista, da autoria de
Ludovina Frias de Matos e de Raúl d’Além, com música de Fernando
Izidro. A Ver Navios estreou-se a 30 de Março, em festa artística de
Rafael de Oliveira, composta por 2 actos e 15 quadros, em que mais
uma vez o actor-empresário desempenhava o papel de compère, o Zé
Matias. Voltou a cena, em Aveiro , onde a companhia de novo se
apresentou no Stadium de São Domingos, na temporada de verão,
sendo impresso para o efeito um programa do espectáculo, a oito
páginas, em cuja capa Ludovina Frias de Matos se entrevista si
própria, apresentando a companhia e o seu texto. No interior,
misturado com anúncios publicitários de patrocinadores locais, as
letras das canções aguardam a participação do público, que poderá
inteirar-se da distribuição a toda a largura das duas páginas centrais
(314).
“Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a: T ea tro G il Vic en te” , Co mé rc io d e Gu i ma rã es ,
2 5 .0 4 .1 9 3 3 : 2 . O ar t i go p ub l ica fo to s d e Del fi m G u i mar ãe s e d e Vir gí lio
Me sq ui ta .
314
No M u s e u N acio n al d e T eatro e nco n tra - s e có p i a co lo rid a ut il i zad a n a
Exp o s ição o r ga n izad a p o r Már io Vi e ga s , n a Co mp a n h ia T eatr al d o C hi ad o (a cer vo
Mário V ie ga s ) .
313
103
1933 foi ano de muitas mudanças. Se a Nação aprovava uma
Constituição, também com suposta amplitude nacional, Rafael de
Oliveira
constituía
a
Companhia
Rafael
de
Oliveira,
Artistas
Associados, (315), que se aplaudia “tanto pela escolha do seu variado
número de peças como pela correcção dos seus artistas, [que v inha]
marcando dignamente o seu lugar no Teatro, [com] elementos de valor
que muito a honram” ( 316), deixando para trás a Companhia (género
popular) de Opereta, Comédia, Drama e Revista .
315
No p ro c e sso d e c a nd id at ura d a Co mp a n h ia R a fa el d e Ol i veir a ao s ub síd io d o
F u nd o d e T eatro , d o S. N:I., u ma c ert id ão d at a d a d e 2 d e Ab ri l d e 1 9 5 6 , as si nad a
p o r Ho rác i o d e Ca str o Gu i mar ãe s , C he fe d e Sec ret ari a d a I nsp ecção d o s
Esp e ctá c ulo s , a te st a q ue a So ci ed ad e Art ís tic a q u e u sa a d e si g na ção d e
Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira, d e q u e é ge re n t e o acto r Ra fael d e Ol i ve ira , se
en co ntr a va le ga li zad a e re gi s tad a na d it a i n sp e cção so b o n ú me ro 1 3 4 , d e sd e o
ano d e 1 9 3 3 ( Ace r vo d e Mário V ie ga s , MNT ).
316
“G il Vi ce n te: O G ra n d e Ga leo to : A fes ta artí s tic a d e G e n y Fria s e Zi n a
Me sq ui ta”, No tí cia s d e Gu i ma rã es , 1 6 .0 4 .1 9 3 3 : 3 .
104
Capítulo IV: “Uma Arca de Noé flutuante e sobrevivente da crise do
nosso Teatro”
Ilustração 6 – (Esqª)
Família Oliveira junto ao
Teatro
Desmontável
(1940s)
Ilustração 7 – (Dtª)
Teatro Desmontável
(1950s) (dtª)
Ilustração 8 – Interior do
Teatro Desmontável
(1970, Guimarães)
Ilustração 9 – Exterior do Teatro
Desmontável (1970, Guim arães)
105
Se há núcleos que honram bem a Arte de Talma em todos os planos de moral e aprumada
conduta profissional, a Companhia Rafael de Oliveira é, indiscutivelmente, um deles. [...] Sem
figuras de grande cartaz, os componentes da Companhia Rafael de Oliveira, afinam quase todos
pelo mesmo diapasão de uma distribuição equilibrada e o carácter em que se não nota a quebra e
a lacuna tão vulgares em conjuntos desfigurados pela saliência de um ou dois astros no meio de
valores mediocres tantas vezes arrebanhados “adhoc” e sem os devidos ensaios para “tournées”
de simples aventura, que em grande parte têm desautorizado e contribuido para a fase enfermiça
de que vem padecendo o Teatro português.
M. de V., “Honrando a arte de Talma”, Açores, 13.05.1948: 4.
1.
A Caminho do Desmontável...
No Verão de 1933, a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas
Associados, regressou a Aveiro , onde se estreou, no Stadium de S.
Domingos, a 10 de Junho, com a opereta Mouraria. A exemplo do ano
anterior, praticaram -se preços populares, de modo a atrair o público
que “o estado das noites” ( 317) permitisse. A entidade exploradora do
recinto
procurou,
então,
minimizar
as
previsíveis
dificuldades,
mandando construir um taipal de madeira “quase em toda a volta dos
lugares destinados ao público [...], tornando o local acessível,
pitoresco e agradável” ( 318). A Companhia voltou a cair na graça do
público, que assistiu ao “vasto reportório, como sucedia com o antigo
Dallot, ainda [...] saudosamente recordado por ocasião da Feira de
Março” (319). Os “benefícios” dos actores davam azo a que se
homenageassem entidades locais: Virgílio Mesquita dedicou a sua
festa artística ao Clube dos Gal itos e ao Sport Beira Mar, que haviam
disputado entre si a Taça Virgílio Mesquita , e contou com a
participação da Tuna de Santa Cecília , da povoação vizinha de S.
Bernardo, regida por Abel Lebre ; Afonso de Matos aproveitou para
estrear A Severa, de Júlio Dantas, em espectáculo único, “com a maior
propriedade e perfeição [...], o cenário e o guarda -roupa [...]
317
318
319
“S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 1 0 .0 6 .1 9 3 3 : 2 .
“S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 2 4 .0 6 .1 9 3 3 : 2 .
“S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 0 1 .0 7 .1 9 3 3 : 2 .
106
completamente novos” (320). O homenageado, que o público conhecia
do Teatro Aveirense , integrando as companhias de “Chaby Pinheiro ,
de Alves da Cunha, de Lucília Simõe s - Erico Braga (321), chamou a si
a interpretação do papel de Custódio , destinando a seu irmão, “o
também conhecido e distinto actor Eduardo de Matos , [...] o papel de
Conde de Marialva, por ele já brilhantemente interpretado [...] nos
principais
teatros
de
Lisboa
e
do
Brasil ”
(322).
Os
alardes
encomiásticos da imprensa reclamaram a presença do público, a quem
se prometia que o espectáculo terminaria com a eleição do melhor
nadador de Aveiro, disputado entre os dois representantes dos clubes
Beira-Mar e O Internacional. Se, por um lado, Afonso de Matos
imitava
Virgílio
Mesquita,
associando
a
sua
fes ta
artística
ao
movimento desportivo local, por outro, estava germinando a futura
parceria na direcção artística da Companhia Rafael de Oliveira ,
concretizada cinco ano s mais tarde, com o ingresso definitivo de
Eduardo de Matos.
Na sequência da temporada de Aveiro , cuja pouca atenção
jornalística regista seguramente menos de metade dos espectáculos
realizados, regista -se um hiato temporal no percurso dos Artistas
Associados. Alguma informação esparsa permite situá -los em Viana do
Alentejo, no fim de 1934, “cuja apresentação e de sempenho [no Cine Teatro] agradou imenso” ( 323), e uma passagem pela Chamusca (324),
“S ta d iu m d e S . Do mi n g o s: A S ev e ra ”, De mo c ra t a , 0 5 .0 8 .1 9 3 3 : 2 .
Ib id e m.
322
Ib id e m .
323
“Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eira ”, O T ra n sta g a n o , V ia n a d o A le nt ej o ,
3 1 .1 2 .1 9 3 4 : 1 . Ú ni ca no tíc ia d e u m p e rió d ico d e tir a ge m irre g u lar.
324
Nu ma fo to có p ia tr u nca d a d e u m cart az d o e sp e ctá c u lo Ro sa s d e No s sa S en h o ra ,
p erte n ce nt e ao acer vo d e Ál v aro d e Ol i ve ira, n ã o ap arec e o no me d o e s p aço o nd e
se re al izo u a rep r e se nt a ç ão . T o d av ia, o e le nco me n cio n ad o co rre sp o nd e ao me s mo
d a e str eia d o De s mo n t áv el e m Al co b aç a , no a no se g u i nte . O e sp e ctác u lo n a
C ha mu s c a não t erá s id o no a nt i go T eatro Fo ito , q ue , se g u nd o J o ã o J . Sa mo uco d a
Fo ns eca , d e i xo u d e fu nc io nar e m 1 9 3 4 ; p o s si ve l me n te co rre sp o nd er á à
in a u g ura ção d o q u e se l he se g u i u a “C a sa d a Ca ld e ir a ” , ce le iro p er t en ce n t e à
Mi ser icó rd i a c ha mu sq u e n se, q u e fu ncio no u ta mb é m co mo c i ne ma , d u ra nt e 6 ano s,
320
321
107
durante o ano de 1935. Em Abril do ano seguinte, reencontramos a
Companhia de Rafael de Oliveira , Artistas Associados , “composta por
16 artistas de ambos os sexos” ( 325), construindo uma “elegante,
confortável
e
artística
casa
de
espectáculos”
( 326),
no
Parque
Municipal de Alcobaça . O Teatro Desmontável foi inaugurado, a 30 de
Abril, com a representação da peça As Duas Causas , cuja receita bruta
Rafael de Oliveira entregou, “num gesto de muita galhardia [...] credor
[de] gratidão” ( 327), ao Hospital da Misericórdia local, conforme
ressalvou a imprensa local, apelando a que todos os alcobacenses
acorressem ao teatro, auxiliando “quem, desinteressadamente, cuida
em primeiro lugar de socorrer a nossa mais bela instituição de
caridade” (328).
Uma atitude filantrópica car acterística da personalidade de Rafael
de Oliveira, que sempre considerou que...
2.
As crises requerem decisões.
Entre 1926 e 1936, o país viveu momentos conturbados. O
presidente Bernardino Machado é demitido compulsivamente pelo
general Sidónio Pais , que ocupa a Presidência da ainda jovem
República, vindo a ser assassin ado pelos seus adversários um ano
depois. Anteriormente, a ineficácia do multipartidarismo criara um
campo
de
cultura
de
movimentos
conspirativos
falhados
e
de
degradação da vida pública, afectando tanto o espaço urbano, como o
rural. Apesar de algum cresc imento económico registado entre 1921 -
até q ue , no s e u lo c al, fo i co n str u íd o o ac t ua l Ci n e -T eatro d a Mi s eric ó rd ia , c uj a
es trei a o co rre u e m 2 9 d e Deze mb ro d e 1 9 4 3 , co m a p e ça Jo a n a , a Do id a , p ela
Co mp a n h ia d o T eatro Vari ed ad e s , d ir i gid a p e la actr iz Mar ia Ma to s ( F O N S E C A
2 0 0 1 : 8 4 ).
325
Eco s d o A lcô a , Al co b aç a, 2 6 .0 4 .1 9 3 6 : 1 .
326
“Co i sa s e Lo i sa s” , Co m a rca d e Al co b a ça , 2 3 .0 4 .1 9 3 6 : 1 .
327
Ib id e m.
328
Ib id e m.
108
23, os habituais défices orçamentais, a inflação e a violência urbanas,
determinaram
o
desgaste
da
base
de
apoio
da
República
parlamentarista. A pequena burguesia, urbana e rural, o funcio nalismo
público, as profissões liberais e os militares foram se hipotecando
progressivamente. A 28 de Maio de 1926, o golpe de estado militar
acabou por funcionar como o golpe de guilhotina que decapitou a
cabeça do liberalismo republicano e instituiu a Di tadura Militar, sobre
a qual se edificaria o salazarismo e o Estado Novo . Em 1930, é criada
a União Nacional, o partido único. Salazar que, em 1928, assumira a
pasta das finanças, torna -se presidente do Conselho, em 1932, e o
novo regime é legalizado através do plebiscito da nova Constituição,
no ano seguinte. Em 1935, o liberalismo político, ou o que restava
dele, acaba por desaparecer com a substituição das instituições
republicanas.
Contrariando a instabilidade da crise económica do exterior, o
Estado Novo pretende oferecer a grande ilusão de felicidade, de um
país que se aconcheg a sob o manto protector de Salazar , a quem não
repugna o (con)vencimento físico, na falta de persuasão oratória. A
Pátria era a mãe, Salazar , o pai, e o Povo, os filhos da Ditadura, cuja
reforma social se impunha, “por convicção, [ou] por inacção”!
(VIEIRA 1998:23). Invocava -se o grande conceito de irmandade:
“Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. Era condição sine qua non
para o progresso do Estado Novo, que fossem demonstrados os seus
efeitos benéficos. António Ferro , jornalista e escritor, companheiro
dos modernistas, nas páginas do Diário de No tícias, defendeu a
propaganda do Estado Novo , através de uma “política do espírito”.
Numa primeira instância, a associação com Ferro interessa a Salazar ,
que lhe confia a direcção do recém constituído Secretariado da
Propaganda Nacional (SPN), encarregado da defesa da imagem de
Portugal, aquém e além fronteiras, e da criação de um modelo de
109
encenação do poder, uma estética política de “bom e sincero desejo de
servir
o
povo”
(FERRO
1950:36).
Porém ,
a
mise-en-scène
do
idealismo ferriano não conseguiu os resultados preconizados pelo seu
mentor, entravado sistematicamente pela vontade empresarial de um
Salazar “Scrooge” (329).
“Alheados dos problemas internos ou das nuvens negras que se
acumulam nos horizontes internacionais, os Portugueses divertem -se”
(VIEIRA 1998: 83). Na década de 30, ape sar do lápis azul da censura,
estreiam-se mais revistas do que na década anterior, não obstante o
seu
conteúdo
personagens
e
crítico
se
apostando
ressentir
por
sobretudo
na
isso,
estereotipando -se
componente
visual
do
espectáculo: luz, cor, movimento, lind as mulheres integrando corpos
de baile bem marcados, vestidas com o bom gosto dos traços
estilizados de Pinto de Campos , com laivos do glamour parisiense.
Actrizes como Lina Demoel e Corina Freire exibem figurinos de Paris ,
completando o talento de comediantes populares, que transborda dos
palcos dos chalets do Parque Mayer - recinto que fora a mal afamada
Feira da Avenida , transformada agora em Broadway à la portugaise -,
do Teatro Avenida e do Teatro Apolo. E, mal descesse o pano sobre a
carreira de um êxito teatral da capital, eis que as vedetas como Luísa
Satanela, Irene Izidro , Hermínia Silva, António Silva, ou Vasco
Santana partiam com os seus elencos na demanda dos teatros
regionais, pelo continente, ilhas e colónias. A “azougada!” Beatri z
Costa, a saloia da Malveira que conquistara Lisboa com o seu
penteado moderno, à americana, destronando o antigo corte francês à
garçonne, era sinónimo de rebeldia e de independência, era a rainha
do público e da crítica.
329
A e ste re sp e ito to r n a - se i nco n to r ná v el a le it ur a d a o b ra d e Gra ça d o s Sa nto s , O
Esp e ctá cu lo De svi r tu a d o : o tea tro p o r tu g u ê s so b o rein a d o d e S a la z a r (1 9 3 3 1 9 6 8 ).
110
No início da década de 30, Leitão de Barros introduziu em
Portugal a novidade do cinema sonoro. Em 1931, realiza A Severa,
sonorizado em Paris , numa altura em que dois terços dos filmes
exibidos provinham da indústria norte americana. O triunfo da história
pungente dos amores da fadista e do Conde de Marialva , que o palco
conhecera pela pena de Júlio Dantas , faz acelerar a construção dos
estúdios sonoros da Tóbis , em Lisboa, onde Cottineli Telmo filmaria A
Canção de Lisboa (1933). Beatriz Costa, António Silva e Vasco
Santana protagonizam histórias de amores e desamo res da pequena
burguesia dos bairros populares, em alinhavados enredos de gente
simples,
plenos
de
jogos
semânticos,
deliciosamente
ingénuos,
costurados com o humor peculiar de um Gervásio Lobato ou de um
André Brun. Fosse a aristocracia de oitocentos, a burguesia popular de
novecentos, ou a ruralidade das Pupilas de Júlio Diniz , tratava-se
acima de tudo de Portugal , como “verdadeiro poema de raça” ( 330), e
de “cinema na nossa língua”( 331).
Enquanto que o teatro ligeiro lisboeta trauteava a sua dita, o
declamado carpia a sua desdita - eis a crise de teatro!, recorrência
cíclica que, independente dos motivos, se reinventa sob a roupagem de
argumentos aparentemente novos. Em 1931, Ramada Curto garantia
que não escreveria nem mais uma linha para o teatro, conceito
inexistente em Portugal . Palavras de um dos dramaturgos mais
fecundos e representados, que assim se queixava ao entrevistador:
O público prima pela ausência ao bom teatro, ao verdadeiro teatro.
Uma única coisa determina ainda a sua deslocação até à bilheteira: - a
revista, o “couplet”. Enquanto esse género de teatr o esgota lotações
sucessivamente, o teatro declamado, sente -se desacompanhado da
preciosa e indispensável colaboração e carinho do público. [...] O
público não sabe distinguir entre o bom e o mau. Sabe apenas ver
aquilo que lhe agrada e ouvir aquilo que o distrai. O público não vai
330
331
Fra se p ro mo c io nal d o c arta z d o fi l me A S e ve ra , d e Le it ão d e B a rro s .
Fra se p ro mo c io nal d o fi l me A Ca n çã o d e L isb o a , d e Co t ti n el i T el mo .
111
ao teatro para pensar, para meditar. Não quer utilizar o raciocínio, a
inteligência que, nesta época, de mercantilismo que passa, é muito
necessária na luta pela vida – não vá ela gastar-se... (332)
E, numa mudança de alvo, do púb lico visou a crítica, que,
segundo ele, tão pouco existia em Portugal . Feita de “apontamentos
sobre o joelho, na noite da première, minutos após a representação”,
tinha pretensões a “sentença que desde que [fosse] publicada no
jornal, transita[va] imediatamente em julgado. [...] Ou a condenação
máxima ou a absolvição...” ( 333), rematava o dramaturgo com verve de
causídico. E tudo porque António Ferro , nas páginas do Diário de
Notícias,
lhe
fecundidade
aconselhara
produtiva”
repouso,
( 334),
tendo
devido
sido
à
sua
“excessiva
acompanhado
pelo
beneplácito do actor Carlos Leal .
Por outro lado, Ferreira da Silva , um dos mais antigos pontos
teatrais, perspectivava internamente o “estado de abatimento mórbido
e doentio” ( 335) do teatro, com vectores críticos coincidentes com os
do dramaturgo.
Na actualidade, o teatro está falsificado, é uma completa obra de
fancaria reles. Ele que poderia ser, como o foi – e esta é a sua missão
– uma grande escola educativa, hoje, não passa duma coisa grosseira,
crapulosa, onde as massas populares, já de si deseducadas, vão ainda
mais desumanizar -se, escancarando a boca com gargalhadas que
arrepiam pela sua grosseria, que muito bem emparelham com a frase
que foi dita no tablado ( 336).
Num amplo círculo vicioso, comprometedor para dramaturgos,
intérpretes e público, era posta em causa a qualidade do o bjecto
C fr. Mo n tei ro e Si l va , “Não e scr e vo mai s p e ça s p o rq ue... não te mo s te atro ne m
crít ic a !”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 1 1 .0 3 .1 9 3 1 : 1 e 4 .
333
Ib id e m .
334
Ib id e m.
335
“U ma e n tre v i sta : Ferr e ira d a Si l va, u m d o s ma is a nt i go s p o n to s t eatr ai s, fal a no s d es as so mb r ad a me n t e d o es tad o e m q u e o te atro s e e n co ntr a”, J o rn a l d o s
Tea tro s, 2 9 .0 3 .1 9 3 1 : 7 .
336
Ib id e m .
332
112
teatral.
A
classe
dos
intérpretes
apresentava -se
“numerosa
de
nulidades e de cretinos” ( 337), enquanto a classe dos escritores teatrais
lutava com a falta gente. Apenas por cobardia, muitos deles não
antagonizavam a pseudo crítica, culpada do afundame nto do teatro. “A
crítica, entre nós, não é imparcial, nem cortês, nem inteligente”,
contestava Ferreira da Silva , para quem urgia “limpar o teatro de
aventureiros que a ele se encrostaram com a maior desvergonha” ( 338),
para que os teatros fossem tomados por “Empresas sérias, que
inteligentemente chamassem a atenção das gentes que por aí andam
desorientados com as plásticas e os «jazz »” ( 339). Apontava ainda o
dedo
à
“pouca
homogeneidade
[...]
[dos]
elencos
de
diversas
companhias teatrais [...] formadas por actores que não precisavam de
rodear-se
de
canastrões
para
que
[...]
pudessem
ver
realçar,
brilhantemente, o valor que realmente [possuíam]” ( 340).
Por último, Carvalho Mourão , articulista do Jornal dos Teatros ,
em acutilante crónica sobre a “Crise de Teatro: Notas sem valor”
(341), resumia a crise a “um somatório infinito de circunstâncias de
todos alheias, mas de que todos [eram] culpados”. Se os emp resários
atribuíam a escassez de público à tendência acentuada do gosto pelo
cinema, os artistas culpabilizavam os escritores pela ausência de uma
produção
dramática
capaz
de
fazer
afluir
espectadores,
e
os
dramaturgos, em desespero, atribuíam as culpas à falta de interesse do
público. Um círculo vicioso expresso pelo senso comum português
como: “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Diagnosticava Carvalho Mourão que “o desalento dos homens de
337
Ib id e m.
Ib id e m.
339
Ib id e m .
340
“Ao d e l e ve : O s art i s ta s te atr ai s e a c ri se d e tea t ro ”, Jo rn a l d o s Tea tro s ,
3 1 .0 5 .1 9 3 1 : 1 0 . E st e ar g u me n to fo i ap o nt ad o a o p ró p rio ac to r Al ve s d a C u n h a , o
me s tre, c uj o so b erb o t al en to se eq ui lib ra v a co m o esp íri to d e i nd i s cip li n a.
341
Jo rn a l d o s Tea t ro s , 0 1 . 0 3 .1 9 3 1 : 6 .
338
113
teatro [era] a razão do triunfo do Cinema” ( 342). Para ele, o palco era
o local próprio para se apreciar a beleza literária da produção teatral e
“o talento do actor num íntimo contacto com o seu público, sem trucs
[sic] de mecânica nem de outros recursos de técn ica que não sejam os
do seu valor pessoal” ( 343). “Aos senhores artistas”, propunha que
pusessem de parte as suas vaidades mesquinhas, que ganhassem
consciência do seu valor, que lutassem, que trabalhassem com
probidade artística; qualquer papel seria bom de sde que houvesse
talento interpretativo, uma vez que “o valor do artista não pode ser
proporcional ao tamanho do papel” ( 344). Aos “senhores autores”,
recomendava que deixassem de ser “estudantes cábulas que empregam
a lei do menor esforço” ( 345) e que desenvolvessem o estudo e o
trabalho, para que se fizesse evoluir o teatro do século XIX para o
XX.
Quanto
aos
“senhores
empresários”,
recomendava
que
construíssem “empresas sólidas, duradoiras, empresas capazes de
impor o teatro intransigentemente pelo que vale” (346). Se um fracasso
de bilheteira correspondesse ao fim de uma empresa, jamais poderia
haver “estímulo de autores nem dedicação de artistas” ( 347), concluía
o articulista.
E Rafael de Oliveira, como sentiria ele a crise de que tanto se
falava nos periódicos lisboetas da especialidade? A sua companhia
parecia preencher os requisitos de sucesso enunciados anteriormente;
reconhecia-se-lhe um reportório composto por “drama, comédia,
revista e opereta”, qu e os artistas da companhia, “fugindo à ilusória
342
343
344
345
346
347
Ib id e m.
Ib id e m.
Ib id e m.
Ib id e m.
Ib id e m.
Ib id e m.
114
publicidade”, desempenhavam de forma modesta, mas que arrancava
“ovações dos públicos mais exigentes” ( 348).
Não
obstante,
a
forte
concorrência
do
cinema,
enquanto
fenómeno de massas e de encaixe financeiro, at raindo público e
ocupando as salas, obrigou Rafael de Oliveira a investir as suas
economias na construção de um Teatro Desmontável , que garantisse a
sobrevivência daqueles que consigo partilhavam o sonho de teatro,
conforme fazia questão de sublinhar em entrevistas:
Até 1935, actuámos nos vários teatros do país. A dificuldade, porém,
de conseguir casas, onde nos pudéssemos exibir, levou -nos à
construção do “Desmontável”. Com o advento da 7ª arte, os teatros
transformaram -se em cinemas, e os empresários começaram a
desprezar o teatro, em benefício de espectáculos que consideravam
mais rendosos. ( 349)
A precária
construção
de
madeira
e
lona
permitia
que
a
Companhia visitasse localidades que não dispunham de casas de
espectáculo, bem como a não depender dos cine -teatros existentes.
Para
Rafael
de
Oliveira ,
o
seu
teatro-barraca
ampliava
as
possibilidades do exercício da arte, e da divulgação do seu reportório
de êxitos teatrais. Curiosamente, – mero acaso do destino! –, a
inauguração do seu popular Teatro Desmontável antecedeu, em poucos
meses, a apresentação pública da estrutura que o Estado Novo havia
criado com o mesmo intuito itinerante, o Teatro do Povo (SPN) (350).
“Co i sa s e Lo i sa s” , Co m a rca d e Al co b a ça , 2 3 .0 4 .1 9 3 6 : 1 .
“E stre ia - se no p ró xi m o d ia 7 a Co mp a n h ia R afae l d e Ol i ve ira : U m p o uco d e
hi s tó ri a”, Fo lh a d e Do min g o , Faro , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 . A e n tre v is t a co nt é m
al g u ma s i mp r eci sõ es q ua nto à d at ação e lo ca li zaç ão d e al g u n s d o s
aco nte ci me n to s, ta l vez p o r lap so d e me mó r ia o u d e co mp re e ns ão d o j o r n ali s ta.
350
T anto Ra fae l d e O li ve ira co mo F ra nc is co Rib eiro ( R ib e iri n ho ), p ri me iro
d irec to r d e ce n a d o T e atro d o P o vo (SP N , 1 9 3 6 -4 1 ) , p o s s u ía m te mp era me n to s
d eter mi n ad o s e co mb at i vo s, q ue mar ca va m as p es so a s co m q ue m trab al ha va m.
P o ré m, no s id o s d e 1 9 3 6 , n ão p a s sar ia d e cer to p el a cab e ça d e Rib e iri n ho q u e, 3 7
ano s d ep o i s, ha v eri a d e ser o úl ti mo d ire cto r artí s tico d a Co mp a n h ia Ra fae l d e
Oli v eir a.
348
349
115
Com o tempo, o Teatro Desmontável tornou-se numa escola do
público a quem, na opinião do crítico riomaiorense Frederico Alves , se
não podia imputar a responsabilidade “do seu analfabetismo, do seu
atraso mental, intelectual e, até mesmo, social” ( 351), porque ninguém
lhe ensinara a ler, escrever, ou contar. A “menor cultura teatral [...]
sobretudo nas camadas sociais menos preparadas” ( 352) motivava,
segundo Rafael de Oliveira , o apelo do público às peças de grande
espectáculo. Assim, a escolha do reportório teria de ser feita numa
biblioteca dramática popular que cobrisse a amplitude transversal das
diversas camadas sociais dos centros rurais visitados. A consciência
empresarial de Rafael de Oliveira formatou-se de acordo com o seu
autodidatismo itinerante: foi aprendendo a conhecer o gosto dominante
em cada localidade, “disting[uindo] o que lhe agrada[va] daquilo q ue
não [devia] satisfazê-lo” (353), por forma a que o reportório exibido
fosse do agrado da maioria simples, que Frederico Alves definia do
seguinte modo:
O povo é sempre bom. Ele quere o triunfo dos justos e o castigo dos
maus. Chora e ri com a ingénua, partilha das suas alegrias, das suas
mágoas, do seu ódio. E quando ela enfim se vê livre de todo o perigo,
a multidão de espectadores sente -se aliviada, respira fundo, exulta de
contentamento e atinge o auge do delírio como se um grande perigo
que a ameaça a ela própria acabasse de desfazer -se por completo. ( 354)
3.
As primeiras referências ao Teatro Desmontável .
Finda a temporada de três meses em Alcobaça , Rafael de Oliveira
transfere o Desmontável para Rio Maior , onde é acolhido com agrado
Fred eri co Al ve s , “O T eatro e o P o vo ”, Co n ce lh o d e R io Ma io r , 2 2 .0 8 .1 9 3 6 : 3 .
Ap rec iaç ão cr ít ica ao e s p ectá c ulo d o T ea tro d o P o vo (SP N) e m R io Ma i o r, a 2 4 d e
J u n ho d e s se a no , e m q u e se e xib i u a me s ma p r o gra maç ão d a e str eia , e m Li sb o a ,
no J ard i m d a E str ela .
352
“As ú lt i ma s d ec lara çõ e s d e Ra fael d e O li ve ira ”, Bo let im d a Un iã o d e Gr ém io s
d o s E sp e ctá cu lo s , Dez e mb ro , 1 9 6 4 : 4 .
353
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 0 5 .0 9 .1 9 3 6 : 4 .
351
116
geral, apesar das reticências iniciais do crítico local, em cuja pr imeira
apreciação justificava a razão do seu comportamento.
É sempre costume, quando nestes teatros ambulantes se apresenta um
drama, ele provocar, apenas, a hilariedade do público. Confesso o meu
crime. Fui ver As Duas Causas para divertir-me um pouco. Mas
enganei-me. [...] Muitos daqueles que mantêm convívio com as coisas
da capital não esqueceram ainda o trabalho monumental e esmagador
de Alves da Cunha no papel de maior envergadura. É o meu caso. Por
isso encarei com desconfiança o cartaz que me anunciou a sua
representação. [...] Haviam-me dito que Afonso de Matos igualava
Alves da Cunha. Será, talvez, exagero. Mas, mesmo assim, ele imitou o extraordinariamente, apanhou -lhe, permitam-me o termo, a
expressão patética do rosto, a posição da boca, o olhar, a maneira de
movimentar-se, o gesto da mão direita batendo no peito com o punho
fechado. É mesmo assim. E, para se imitar de tal forma, é necessário
ser-se, também, um bom actor. Se Afonso de Matos me havia
interessado já em A Casa de Doidos, nas Duas Causas conquistou-me
definitivamente. Tem freguês certo. O resto do elenco esforça -se por
cumprir mas a uma distância considerável de Afonso de Matos . Faltalhes o fogo sagrado, mas sobra -lhes a boa vontade. Todos eles d ignos
de simpatia e carinho. Em complemento de cada espectáculo, um acto
de variedades. Pessoalmente dispensava -o. Mas, por outro lado, ele é
necessário para certo público. Mais uma prova de que a Companhia
pretende agradar ( 355).
Finda esta temporada, o Concelho de Rio Maior noticiou a
instalação da companhia em Coruche , cuja estreia terá ocorrido,
possivelmente, a 13 de Setembro de 1936. Segue -se novo hiato
informativo. No ano de 1937, ter -se-á mantido por terras ribatejanas,
assentando arraiais em Tomar, onde permanecia no início do ano
seguinte. A 2 de Fevereiro, a Companhia terá realizado um benefício
destinado à “Casa dos Pobres” daquela cidade, segundo publicitava o
Cidade de Tomar, na edição de 31 de Janeiro ( 356).
354
355
356
Fred erico Al ve s , “T ea tr o De s mo nt á ve l”, Co n c el h o d e Rio Ma io r , 2 2 .0 8 . 1 9 3 6 : 2 .
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 1 5 .0 8 .1 9 3 6 : 2 .
Ú ni ca no t íc ia p ub li cad a ne s te p erió d ico so b re a Co mp a n h i a.
117
No segundo semestre de 1938, de regresso às terras beiraltenses,
a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados instala-se em
Santa Comba Dão:
À hora em que escrevemos andam a erguer um Teatro -Barraca, de
grandes dimensões no Largo da República (Rossio) desta vila, tão
grandes que, segundo nos disseram, houve necessidade de reduzir o
tamanho do “Teatro ambulante”, por o referido largo, apesar da sua
vastidão, ser pequeno. Informaram -nos também de que a Companhia é
numerosa, e tenci ona demorar-se uma temporada, nem de outra forma
lhe valeria a pena armar o Teatro. Vai assim a nossa terra assistir a
espectáculos de teatro declamado, coisa que de há muito gosta e
raramente goza. Assim a Companhia agrade, que a exploração do
teatro, e oxalá, não deixará de ser -lhe proveitosa, não tendo assim
ensejo de arrepender -se de ter arribado a estas paragens onde a sede e
a fome de espectáculos teatrais são muito grandes ( 357).
Inaugurou -se a temporada, a 25 de Junho, com a representação
das peças Cruz de Guerra e O Gaiato de Lisboa . O espectáculo
recebeu o aplauso da farta audiência, que acorreu graças à boa
reputação que precedia a Companhia e à inexistência de “espectáculos
do género, nesta vila” ( 358). No segundo espectáculo, As Duas Causas
obteve maior agrado ainda, “tal a arte revelada por todos os
intérpretes” (359). Entre Apolo e Nacional, entre a metade fundeira e a
dianteira da plateia, o desfile do reportório iniciara -se com a exaltação
do soldado português no acto em verso de Cardoso do s Santos,
recuperara a memória de Adelina Abranches no ladino gaiato José, e a
pujança de Alves da Cunha e o seu Bento Castanho . Os mitos de sabor
popular eram o chamariz do público e Rafael de Oliveira sabia-o, por
isso progredia agora para novo agrado da geral, a revista Prata da
Casa, cuja enchente já não surpreendia:
357
358
359
“T ea tro ”, Be ira - Dã o , 2 6 .0 6 .1 9 3 8 : 1 .
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 0 3 .0 7 .1 9 3 8 : 2 .
Ib id e m.
118
[Certo] como é que Santa Comba Dão e adjacências, sedentas de bom
teatro, não perderão o ensejo de, sem necessidade de deslocação como
até aqui tem acontecido e voltará a acontecer logo que a Companhia
Rafael de Oliveira levante voo, passarem duas vezes por semana
algumas horas de vida espiritual... E o “Teatro Desmontável ”, sem
intuitos de reclame de que a respectiva Companhia não carece, sem
dúvida que lhas proporciona, como se verificou já pelos espectáculos
realizados (360).
Apesar de o público afluir com grande “concorrência” ( 361) às
duas noites de teatro do Desmontável , a Companhia irradiava também
pelas terras circunvizinhas “nas noites livres” ( 362). Carregal do Sal
recebeu a representação de O Gaiato de Lisboa , com idêntico agrado
ao que se fizera sentir na estreia em Santa Comba .
A Companhia
integrava-se,
como
era seu hábito,
na
vida
quotidiana. Mário Rodrigues , maestro-pianista da Companhia Rafael
de Oliveira,
anunciava na crónica teatral do Beira-Dão a sua
disponibilidade de “apreciado afinador de pianos, [podendo] ser
procurado para tal fim, por quem [necessitasse] dos serviços que a sua
competência
profissional
[garantia]”
( 363).
Esta
convivência
comunitária reflectia -se nas enchentes do Desmontável, que, segundo a
imprensa local, era “garantia segura de que se não desmontará tão
cedo, a bem da Companhia e do público que dificilmente, voltará a ter
teatro bom e... quase diário como em muitas cidades não há” ( 364).
Tão pouco a coincidência da visita do Teatro do Povo (SPN) produziu
um efeito concorrencial desfavorável à Companhia Rafael de Oliveira
(365). Muito pelo contrário, “teatralmente falando, Santa Comba Dão
360
Ib id e m.
“T eatro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 1 0 .0 7 .1 9 3 8 : 1 . A p ro p ó si to d a rep re s en taç ão
d a p eça Amo r d e P e rd iç ã o , re fere o art ic u li st a “q ue a lo taç ão não só fo i ex ced id a,
ma s fico u mu i t a ge n te se m p o d er a s si st ir ao esp e ct ác ulo , e a l g u ma s d e p o vo s
d is ta n te s”.
362
Ib id e m.
363
Ib id e m.
364
“T ea tro De s mo nt á ve l ”, Bei ra - Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 2 .
365
O T eat ro d o P o vo ( SP N) a ct uo u ao ar l i vre e m Sa n ta Co mb a , no s d ia s 1 2 e 1 3
d e J u l ho , co m o se g u i n te re p o rtó r io : 1 ª no ite , O Va q u e i ro , d e G il Vi c en te , e 3
361
119
[tirava] o ventre de miséria” ( 366), segundo referia o articulista do
Beira-Dão, e a Companhia retribuía o aco lhimento, aumentando os
seus espectáculos semanais, de dois para três. Apesar da aura de
respeitabilidade
que
acompanhava
a
companhia,
o
reclame
de
Mouraria provocou algum transtorno: o desconhecimento evidente do
tema, por um lado, e a auréola de preconceito associada ao mito
fadista da Severa. Deslustrado o berço de Salazar com a teatralização
de paixões assolapadas? “Oh! Inclemência!”, qual sentida imprecação
do provecto lacaio do Pai Tirano pel trupe dos Grandelinhas.
Apressou-se a imprensa a apaziguar as almas, trazendo luz sobre o
assunto:
O espectáculo que a Companhia Rafael d’Oliveira realizou no
penúltimo sábado teve diminuta concorrência, talvez porque o título
da opereta – Mouraria que ia representar-se se tornou suspeito de se
tratar de uma peça um tanto ou quanto imoral. Para tanto não haveria
razão, porque a Companhia que tão bem recebida foi nesta vila, não
iria exibir uma peça teatral que não pudesse ser vista por um público
de costumes como felizmente é o da nossa terra. De facto, Mouraria
não tem nada de escabroso nem de imoral e o público que a viu não
teve de que se arrepender de ter ido ao teatro. Afonso de Matos , no
“Mota da Guitarra”, Geny Frias no papel de “Cesária”, e Rafael
d’Oliveira, n o de “Artur, estofador ”, que no cartaz apareceram em
lugar de destaque, e eram as três personagens à volta das quais se
desenrolam as cenas principais da Mouraria, receberam muitos
aplausos e bem merecidos assim como todos os outros intérpretes que
contribuíram para o bom desempenho que a peça teve, e que é muito
movimentada, interessante e bem musicada. Quem a n ão viu perdeu um
dos bons espectáculos que no Teatro Desmontável se tem realizado
(367).
ce na s d o Al fa g e me d e S a n ta ré m , d e Al me id a Garr et t , e Be li sá rio s ; 2 ª no i te,
Res su r rei çã o , d ra ma r e gio n al e m 3 ac to s, p ré mi o d o Co nc ur so d e p e ça s p ar a o
“T ea tro d o P o vo ” e m 1 9 3 8 , e P ed id o d e Ca sa me n to . (c f. “T ea tro d o P o v o ”, Be i ra Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 1 - r efere m- s e a s co nd i çõ e s d e r ep re se n taç ão , o p ú b lico e o s
p erca lço s) .
366
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 2 .
367
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 3 1 .0 7 .1 9 3 8 : 2 .
120
Prosseguiu a vida santacombadense na sua pacatez serrana, e, na
noite seguinte, por via de dúvidas, a companhia demon strou ser gente
de bem, levando à cena a opereta Rosas de Nossa Senhora , “bem
desempenhada, com apreciável encenação e guarda -roupa e cenários
adequados” (368):
Peças neste género agradam sempre principalmente quando os
intérpretes sabem dar aos seus papéis vida, carácter e cor, princípios
basilares de uma interpretação capaz, como a que tiveram as Rosas de
Nossa Senhora , em que os ases da Companhia, de ambos os sexos, se
mantiveram à altura da sua reputação de bons artistas de teatro, e não
poderiam manter se os restantes figurantes não contribuíssem
eficazmente para a harmonia do desempenho, que agradou muito,
sendo os artistas muito aplaudidos. ( 369)
À excepção de Os Milhões do Criminoso , de Montépin, em que
Rafael de Oliveira apostara numa montagem dispendiosa e trabalhosa,
e ganhara “a sua maior enchente” ( 370), nas semanas seguintes,
assistiu-se à apresentação de teatro ligeiro, comédias e de operetas,
entremeado com a reposição, a pedido, de O Gaiato de Lisboa, “um
dos melhores números do reportório da Companhia: como obra de
Teatro moralizador, e como desempenho” ( 371), em que Geny Frias
tomara para si a interpretação do afamado gaiato José (372).
Todos os espectáculos do “Desmontável” contaram, sempre que
houve necessidade, com a participação dos amadores locais, como
figurantes, ou em personagens de segundo plano ( 373) nas peças de
368
Ib id e m.
Ib id e m .
370
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 0 7 .0 8 .1 9 3 8 : 2 .
371
Ib id e m.
372
P o r cau sa d o no me d o p ro ta go ni s ta, e s ta p eç a p o d erá s er le v ad a à c e n a co m o
tít u lo Jo sé N in g u ém . N ão co n fu nd ir co m a p eç a Jo ã o N in g u é m , i n terp retad a p o r
Mir ita Ca si mi ro e V a sc o Sa n ta n a , ad ap ta ção d o o ri gi n al e sp a n ho l Yo q u ie ro , d e
Car lo s Ar ni c he s , ad ap t a d o p o r Alb e rto B arb o sa
e Luí s Ga l hard o , fi l ho . E xi s te
ex e mp l ar u m e x e mp l ar d es ta p eça co m re g i sto d a Insp ecção d e E sp ec tác u lo s nº
1 4 2 1 , d e 3 0 .0 6 .1 9 3 6 , e co m Vi sto d a Ce n s ura e lic e nça d e rep re s e nta ç ão p ara a
Co mp a n h ia R a fae l d e O l iv eir a, e m 2 1 .1 1 .1 9 5 6 ( B N -Ma n u scr ito s, co d . 1 1 8 8 9 ).
373
No e sp e ctá c ulo O s Mi lh õ e s d o C ri min o so , o art ic u li st a d o B e ira - Dã o
(0 7 .0 8 .1 9 3 8 : 2 ) me n cio na a p art ic ip aç ão d o “p atrí cio Ar t ur d e Fi g ue ir ed o [o Dr.
369
121
maior envergadura, mas, sobretudo, em Fim de Fest a, nos actos de
variedades, em que normalmente desempenhavam funções musicais.
A 27 de Julho de 1938, no final de um espectáculo de benefício,
realizou-se um acto de variedades “abrilhantado por guitarradas,
acompanhadas à viola pelos srs. Dr. Artur Marqu es de Figueiredo e
José d’ Oliveira Pires que foram muito aplaudidos bem como o jovem
cantor António de Matos que tem uma linda voz e agrada sempre que
se faz ouvir” ( 374). Outro valor não teria esta citação, do que a mera
demonstração do enunciado anteriormente, se ela não comportasse uma
referência importante para uma Histó ria do Teatro Desmontável e da
canção nacional portuguesa. O “jovem cantor” mencionado, filho da
actriz Mila Graça, societária dos Artistas Associa dos, e sobrinho, pelo
lado de sua mãe, do também societário Carlos Frias , tinha, nessa
altura, 14 anos, e exercia as funções de ponto da Companhia. Não se
lhe
encontrando
um
talento
particular
para
a
arte
de
Talma,
reconhecia-se-lhe, todavia, a beleza de uma voz agradavelmente bem
timbrada. Nessa noite de 27 de Julho, ao som das violas, o fado trinou
na voz daquele que viria ser, mais tarde, uma das estrelas do
cançonetismo português, Tony de Matos .
Corria a época de veraneio. Santa Comba acolhia os ilustres
filhos da terra, que haviam demandado Lisboa em migração laboral, e
que, pelo menos uma vez por ano, regressav am ao lazer do convívio
com a família e os amigos, talvez à procura da memória perdida de uns
tempos de juventude descomprometida. E o Desmontável acolhia, em
ilusão de cosmopolitismo provinciano, a burguesia local em saraus
artísticos de beneficência. A 1 1 de Agosto, em récita de benefício a
favor das obras do Hospital da vila, subiram à cena duas comédias, a
Art ur Marq u es d e F i g ue ired o , ac to r e mú s ico a mad o r], no [p ap e l] d e J úl io Lab i n e
q ue mo rre u e m ce n a q ua nd o p ro c ur a va d e fe nd er o s se u s h a vere s, e no d e
co mp art ic ip a n te no s n e g ó cio s d e J acq u es G ar aud . E d a ma ne ira co mo el e o s
in terp r eto u q u e o d i ga o p úb lico ”.
122
reposição de Viagem de Núpcias, “cujo desempenho muito agradou”
(375) e Arte de Montes , “que manteve os espectadores em constante
gargalhada, não só porque a comédia é muito chistosa, mas ainda
porque os intérpretes deram aos seus papéis o maior real ce” (376). Um
bom espectáculo, em que voltou a participar o artista amador local
Artur de Figueiredo , e em que se destacava ainda “o facto da Sr.ª. D.
Júlia René Passalaqua (377), acompanhada ao piano, distintamente, por
sua irmã Sr.ª. D. Maria José Godinho do Amaral , ter cantado com a
sua conhecida proficiência três lindas canções, todas no final, muito
aplaudidas,
sendo
as
duas
senhoras
muito
cumprimentadas
e
felicitadas” (378).
A
temporada
aproximava -se
alegremente
da
sua
conclusão.
Fernando Izidro viera substituir Mário Rodrigues na direcção musical
da Companhia e do octeto musical da “Filarmónica Santacombadense ”,
que acompanhava os espectáculos do Desmontável; Mário Lima que,
por motivos de saúde, se ausentara temporariamente, regressara para
interpretar o papel de Custódio , na peça de Júlio Dantas , A Severa,
espectáculo que a crítica local ergueu bem alto, sem medos de
qualquer mal afamada reputação de Mouraria . E o jovem Fernando
Frias estreou Imprudência Castigada , uma comédia original sua, na
interpretação do:
[Grupo] infantil que dias antes se havia estreado numa sala da casa da
Sr.ª D. Maria Luísa Soares d’ Albergaria, constituído por Lizete Frias ,
galante filhinha dos srs. Geny e Carlos que já em outros espectáculos
da Companhia Rafael d’ Oliveira se havia revelado uma dec idida
vocação cénica, Viriato Passalaqua , que nos deu um “D. Diniz”
jeitosamente majestático, Esmeralda de Matos , Margarida Maria,
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 3 1 .0 7 .1 9 3 8 : 2 .
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 2 1 .0 8 .1 9 3 8 : 2 .
376
Ib id e m.
377
J ú lia Re né P a s sa laq u a,
v i nd a d e Li sb o a , o nd e era p ro fe s so ra d e ca n to ,
en co ntr a va - se “a p as sa r a e st ação ca l mo sa” e m Sa n ta Co mb a D ão , e m c asa d e s ua
ir mã ( “No ta s B re v es ”, B ei ra - Dã o , 2 4 .0 7 .1 9 3 8 : 2 ).
378
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 2 1 .0 8 .1 9 3 8 : 2 .
374
375
123
Isaura Maria, Ester Maçano e Margarida Maçano, que todos, tanto na
1ª como na 2ª peça ( 379), tomaram os papéis a sério, num à vontade
apreciável. Receberam muitos aplausos e foram obrigados a bisar um
dos números do seu programa. Receberam palmas e merecidos beijos
(380).
O último espectáculo no Teatro Desmontável , constituído pela
comédia, O Rapto da Prima , teve como aliciante uma aguerrida
política de preços, destinada a atrair grande número de espectadores:
“dama, acompanhada por ca valheiro, não pagava nada; duas damas
juntas, só uma pagaria uma entrada”. Com preços tão “convidativos”,
obviamente que o Desmontável teve uma noite de enchente, tanto mais
“que a Companhia estava com o pé no estribo e realizou um dos seus
melhores espect áculos” (381). No final do espectáculo, Rafael de
Oliveira manifestou, como era seu hábito, em cena aberta, gratidão
pelo acolhimento local; o público aplaudiu, debandou e o Teatro
Desmontável , fazendo jus ao seu nome, começou de imediato a ser
desmontado.Em apenas algumas horas “do enorme abarracamento [...]
não restava mais do que a saudade com que o público há -de lembrarse, durante muito tempo, do Rafael de Oliveira e da sua companhia” .
(382):
Deixando Santa Comba para trás, “na ânsia justificável da
desforra de quem, como Pedro Sem, já teve e não tem... mas vai ter,
dentro em breve, e «indesmontável », um casa de espectáculos, seu
sonho doirado” ( 383), segundo o periódico local, a Companhia
embrenhou-se pelas serranias beirãs e foi assentar arraiais no Pátio da
Câmara Municipal de Gouveia, onde era costume os Bombeiros
realizarem as suas verbenas. Quinze anos volvidos, Rafael de Oliveira
379
Re fere - se a O Mi la g r e d a s Ro sa s (1 9 2 7 ) d e S il va T a v ar es, q u ad ro q ue p erte n cia
à rev i sta Ro sa s d e Po r t u g a l (1 9 2 7 ) (“T ea tro D es mo n tá ve l q ue j á se d e s mo nto u ”,
Bei ra - Dã o , 0 4 .0 9 .1 9 3 8 : 3 ).
380
“T ea tro De s mo nt á ve l q ue j á s e d e s mo nto u ”, B e ira - Dã o , 0 4 .0 9 .1 9 3 8 : 3 .
381
Ib id e m.
382
Ib id e m.
124
regressava à terra que o acolhera no seu Teatro Hermínio , durante dois
meses, no tempo da Companhia Dramática Societária e do falecido
actor Ernesto de Freitas . Trazia agora “novas modalidades” : “um
amplo Teatro Desmontável”, uma “Companhia, que hoje de compõe de
17 personagens, como ainda comodidade”. O Notícias de Gouveia
difundiu a intenção da Companhia realizar dois espectáculos semanais,
às terças e d omingos, em que exibiria o seu “reportório vasto dos
melhores dramaturgos nacionais e estrangeiros” ( 384).
Ao longo de quatro meses, a Companhia foi -se apresentando, com
regular concorrência, praticando preços acessíveis a todas as bolsas,
dando as suas fest as artísticas, para o sucesso das quais contribuía
enormemente a afinidade que se gerara entre si e a população local.
Afonso
de
Matos
recolhia,
enquanto
primeiro
actor,
o
apoio
incondicional das elites locais, cujos interesses se aproximavam
evidentemente dos temas do seu reportório pessoal. Antevia o
articulista do Notícias de Gouveia (13.11.1938: 4) que “o Padrinho do
Homenageado, [o] que rido amigo Sr. Dr. Mário Nobre , distinto
advogado nos auditórios desta comarca, [pronunciaria] na abertura do
espectáculo,
algumas
palavras
de
louvor
à
festa
artística
do
consagrado actor”. Evidentemente, foi levada à cena A Calúnia, de
Echegaray, registando o Desmontável a enorme afluência de um
público seleccionado, pela primeira vez, contabilizado no a rtigo que
se escreve a esse propósito.
[A] cena final foi empolgante, arrancando à assistência uma das
maiores ovações, que temos presenciado no teatro desmontável da
Companhia Rafael de Oliveira . Talvez esta linda casa de espectáculos
nunca houvesse registado uma tão grande enchente! [...] Tudo quanto
marca em Gouveia, lá estava para aprender e para aplaudir, porque o
drama A Calúnia é dos que se impõem à nossa meditação. As mil e
tantas pessoas que pejavam o teatro de lés a lés saíram tão satisfeitas
383
384
Ib id e m .
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, No tí cia s d e G o u veia , 1 1 .0 9 .1 9 3 8 : 3 .
125
pelo trabalho do artista, e pela lição de moralidade, que ence rra a
peça, que no dia imediato era comentada ainda em toda a parte ( 385).
Um mês depois, vindo “expressamente, do Porto , para tomar
parte” na representação de A Morgadinha de Valflôr , “precedido das
melhores referências”, Eduardo de Matos, irmão do director de cena,
integrava-se na Companhia Rafael de Oliveira . A notícia da sua
chegada espalhou-se rapidamente pela vila, motivando uma afluência
inusitada à Drogaria Viegas , onde todos sabiam estar à venda os
bilhetes para o espectáculo (386).
Iniciava-se,
neste
momento,
um
ciclo
de
dez
anos,
que
corresponderiam a um trabalho de parceria entre os irmãos Matos na
consolidação do estilo de representação dos Artistas Associados . A
partir de 1948, ano em que Afonso de Matos comemorou as suas Bodas
de Ouro Artísticas e se retirou de cena, Eduardo assumiu sozinho a
direcção artística dos espectáculos da Companhia, até ao momento em
que uma progressiva cegueira lhe foi tolhendo as suas possibilidades
como actor, levando -o a dedicar-se sobretudo à encenação, até que
acabou por se r etirar. Embora sobrevivendo a Rafael de Oliveira , as
suas funções passaram, então, para Fernando de Oliveira , duplamente
herdeiro da tradição teatra l de “cómicos da arte”: pelo lado de seu pai,
enquanto empresário do Desmontável, e pelo de Eduardo de Matos ,
enquanto
discípulo
de
uma
“escola”
de
actores
itinerantes,
representada pela segunda e terceira gerações das famílias Oliveira e
Frias.
4.
A frágil estrutura do Teatro Desmontável .
A Companhia manteve-se em Gouveia, aparentemente até ao
Carnaval de 1939, em que apresentou três espectáculos ligeiros, como
385
“Afo n so d e Ma to s”, No tíc ia s d e Go u ve ia , 1 9 .1 1 .1 9 3 8 : 2 .
126
impunha a época festiva. A Viúva Alegre em Cascais , uma paródia à
opereta, de Nicolau T. Leroy, com música de Franz Lehar , Casar para
Não Morrer e O Rapto da Prima preencheram as três noites de
Entrudo, a que se seguiu um acto cómico e outro de variedades.
Publicitou o Notícias de Gouveia (19.02.1939: 2), que após os
espectáculos, o Teatro Desmontável , para gáudio dos carnavaleiros,
transformar-se-ia num vasto salão de baile ( 387).
Em Junho, arribaram a Viseu e instalaram -se no Largo da
Misericórdia. Iniciaram a temporada com a representação de As Duas
Causas, “que agradou plenamente à numerosa assistência que encheu o
bem situado Teatro”, segundo referia o Política Nova (11.06.1939: 4).
Seguiu-se-lhe um espectáculo variado composto de peças ligeiras, a
oratória Santo António, de Braz Martins, comemorando a festividade
antonina do dia 13, as comédias, os espectáculos de grande aparato, os
melodramas lacrimejantes, as festas artísticas, ou seja, o modelo
rotineiro de qualqu er companhia itinerante. O Política Nova, órgão da
União Nacional do Distrito de Viseu , mantinha uma cobertura do
acontecimento, divulgava o roteiro dos espectáculos, fazia referências
críticas, em suma, aplaudia a escolha do reportório e o desempenho do
mesmo, relevando Afonso de Matos , por razões óbvias, numa escrita
reveladora de entendimento em matéria conceptual de teatro:
Não tem qualquer dos seus colegas que reparar na distinção, que não
podemos deixar de fazer: cada qual tem na vida, o seu lugar, e o palco
é a vida por diante dos viventes, para o efeito tornados em
espectadores. Tanto que, ao ser notado por estes fraqueza de
semelhanças entre os papéis e a realidade, logo se pode dizer mal dos
artistas... Ora com Afonso de Matos não sucede assim. Vive, encarna
as suas personagens. Cria tipos esplêndidos, estuantes de humanidade
“T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d e Go u ve ia , 1 8 .1 2 .1 9 3 8 : 1 .
P o ss i ve l me n te, a p ar te mu s i ca l e st aria co n fiad a à a nt i ga “S o cied ad e E u terp e ”,
na a lt ur a “B a nd a d o s Leg io nár io s ”, re g id a p o r Au g u s to P ire s, q ue a 1 d e J an eiro
d e 1 9 3 9 ha v ia d ad o u m co n cer to na P ra ça Va sco d a G a ma, d e Go u v eia .
386
387
127
– duma humanidade que é nossa ou do nosso vizinho... Quem o viu em
O Paralítico e até na Tomada da Bastilha, quem o aplaudiu nas Duas
Causas pode fazer ideia do que será Afonso de Matos na sua peça – A
Calúnia – um prólogo e 3 actos de choque de sentimentos duros, tese
realista que nele juga as plateias mais prevenidas – da autoria do
grande espanhol D. José Echegaray. Quis o festejado artista dedicar a
sua festa à Legião Portuguesa em Viseu. É uma faceta notável do seu
primoroso coração. E dizemos notável, porque os verdadeiros artistas
são-no, realmente, pelo sentimento. É, pois, natural, que não só os
amigos da autêntica Arte de representar, mas também a grande família
legionária, acorram, no dia 16, ao “Desmontável”, para aplaudir um
dos maiores artistas do palco português. Fechando o espectáculo, os
apreciadores do teatro ligeiro terão, também, o seu fim de festa: Fados
à guitarra, por Tony de Matos (filho de peixe, sabe nadar...) com
acompanhamento por Zacarias e Moisés. (388)
Aproximava-se a Feira Franca de Viseu, a feira de Setembro, a de
S. Mateus, e o Campo de Viriato iria encher-se das tradicionais
barracas de artesanato, das louças, das quinquilharias, dos petiscos;
durante alguns dias seria o tradicional ponto de encontro das gentes da
cidade e da vizinhança. Foi anunciada a instalação do Teatro Metálico
Rentini que, à última da hora, não aconteceu, sendo o espaço ocupado
pelo Desmontável de Rafael de Oliveira . Aparentemente, o câmbio
para um espaço de maior animação pareceria vantajoso para o Teatro
Desmontável, trar -lhe-ia uma maior concorrência de público, mas na
realidade tal não aconteceu. Apesar de, na inauguração da Feira, a 10
de Setembro, ter sido representada a revista Aplica-lhe o Selo, em
duas sessões ( 389), e de ser exibido o reportório de agrado certo, a
assistência manteve -se fraca. Tampouco terão servido de mui to os
incitamentos do periódico local, que, visto os espectáculos serem
anunciados
pela
aparelhagem
sonora
do
recinto,
os
deixou
de
propagandear.
388
2.
389
“Afo n so d e Ma to s fa z a s ua fe st a no D e s mo nt á v el”, Po l ít ica No v a , 1 3 .0 8 .1 9 3 9 :
“T ea tro De s mo nt á ve l ”, Po lí ti ca No va , 1 0 .0 9 .1 9 3 9 : 1 .
128
A tradição demonstra que os espaços de feira sempre foram locais
problemáticos para a representação teatral ( 390). Rafael de Oliveira
sabia-o, conforme demonstrou ao repórter do Democracia do Sul , na
ebtrevista que deu, anos mais tarde, a propósito da coincidência da sua
temporada teatral em Évora com a feira de S. João :
Evidentemente, aproveitámos o ensejo e tivemos que trabalhar durante
esses dias agitadíssimos. Compreende, a Companhia tem encargos
pesadíssimos e a vida não pára. No entanto, só isto nos obrigou a
trabalhar. O bom teatro não se fez para feiras nem elas constituem
ambiente próprio. A feira requere palhaços, barulho, movimento...
(391).
Tendo-se mantido até ao princípio de Outubro, a última fase nã o
terá
sido de
grandes
proventos.
Manda
o
bom -senso
que,
em
semelhantes situações, se demande outras paragens, que providenciem
rendimentos mais seguros. Deixando Viseu , aportaram, de novo, a
Santa Comba Dão; acolhimento de braços abertos, recordando a
temporada transacta. E melhor teria sido o debute, se a agrura do
Outono o não prejudicasse:
[O] tempo chuvoso não permitiu que a casa enchesse. [...] Os
intérpretes contribuíram eficazmente par a o conjunto harmonioso
anunciado no cartaz e plenamente confirmado, do desempenho da peça
[Morgadinha de Valflôr ], cujo trágico final emocionante, foi bastante
prejudicado, não por falt a de sentimento e arte dos intérpretes, mas
por causa do barulho que, precisamente na altura do impressionante
dramático quadro, violenta chuvada fazia na cobertura de zinco do
“Desmontável”. E chuvada foi ela que não só abafou um pouco os
390
Q ue o d i ga m o s ac to re s fra nc es es d a fe ira d e Sa in t Ger mai n e d e Sa i nt - La ure nt ,
cuj a q uer ela co m o s se u s p arc eiro s d a Co m éd ie Fra n ça i se fi co u cél eb re no s a nai s
d a hi stó r ia d o t eatro s etec e nt i sta e m Fra n ça co mo a G uerr a d o s T eatro s. E m
P o rtu g al , se m at i n gir o s exc es so s d o s ho mó lo go s fr a nce s es, t a mb é m o s en ti me n to
ger al n ão er a d o s me l ho res.
391
A. L., “T eatro D es mo n tá ve l: O D ire cto r d o T eatro D es mo ntá v el fa la - no s d o s
se u s p ro j e cto s e faz o elo g io d o p úb l ico eb o re n se”, D emo cra cia d o S u l ,
0 5 .0 7 .1 9 4 5 : 4 .
129
aplausos merecid os que os artistas receberam, mas ainda obrigou a
assistência a esperar bastante tempo que o temporal amainasse... ( 392).
A qualidade da representação sofria com a fragilidade estrutural
da edificação. Dada a amplitude do vão interno da asna da cobertura
de zinco, esta, qual pele de tambor, ampliava o ruído incómodo da
forte bátega, provocando uma sonoridade metálica insuportável no
interior. Mas o Teatro Desmontável foi sobrevivendo às diferentes
intempéries da vida, conduzido pelo espírito determinado do seu
capocomico Rafael de Oliveira, sempre atento às possíveis melhorias
que fosse necessário introduzir.
No verão de 42, quando a Companhia se enco ntrava instalada em
Portalegre, o articulista do Jornal de Elvas releva o facto de ter sido
feita uma “emenda introduzida na barraca, a fim de refrescar o
ambiente nas noites calmosas”, al ém de haver “ também, serviço de
copa” (393). As agruras climatéricas eram, sem dúvida, o grande
calcanhar aquilino do desmontável. E se o calor era passível de ser
resolvido com algum lenitivo refrescante, os rigorosos invernosos
eram definitivamente culpad os pela ausência de público, impedido de
“corresponder ao esforço dispendido pelos artistas na representação do
seu tão variado reportório”. ( 394)
Em meados de Dezembro de 1945, um temporal abateu -se sobre
Beja, com “ventania desen freada” e bátegas de chuva torrencial, que
interromperam as comunicações telefónicas e telegráficas com o resto
do país. Pelas duas da tarde do dia 17, “uma rajada mais forte de vento
levou toda a cobertura de zinco do Teatro Desmontável [...] e causou
ainda outros prejuízos de grande monta. Os Bombeiros Voluntários
que compareceram imediatamente com o seu comandante Sr. Capitão
392
393
394
“T ea tro De s mo nt á ve l ”, Bei ra - Dã o , 2 2 .1 0 .1 9 3 9 : 2 .
“T ea tro ”, Jo rn a l d e E lv a s , 1 4 .0 6 .1 9 4 2 : 2 .
“T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d o A len t ejo , V i la Viço sa , 1 4 .0 1 .1 9 4 5 : 2 e 3 .
130
Almeida Cassar prestaram óptimos serviços, evitando a completa
destruição do Teatro, do qual se salvou o palco. Os prejuízos foram de
monta e a Companhia ficou em difícil situação, vendo -se forçada a
interromper
os
espectáculos
por
alguns
dias”
( 395).
O
facto,
comunicado sinteticamente pelo Diário do Alentejo no dia imediato,
motivou a solidariedade da Empresa exploradora do Teatro Pax -Júlia,
que cedeu o seu espaço para realização de u m espectáculo, cujo
programa constou de Rosas de todo o ano e Gaiato de Lisboa (396).
Êxito garantido e esperança solidária. Doze dias, e três espectáculos
em palcos alheios, bastaram para que a Companhia regressasse ao
restaurado Teatro Desmontável , que retomou “a sua actividade ,
representando a popular e emocionante peça em 6 actos José do
Telhado” (397), no penúltimo dia do ano, em espectáculo “abrilhantado
pela Orquestra Rousseau ” (398). Rafael de Oliveira recusava deixar-se
abater.
Anos mais tarde, em 3 de Fevereiro 1954, encontrando -se a
Companhia em Silves , “devido a um grande nevão, abateu todo o tecto
da plateia” – desabafou Fernando de Oliveira nas observações do
Livro de Contas V (1954 -55) -, “partiram-se quase todas as asnas,
muitas cadeiras e ficou danificada a instalação eléctrica” [399]. O peso
da neve quebrara os esticadores de ferro da estrutura do Desmontável.
Para Rafael de Oliveira , que se encontrava em Lisboa [400], “o seu
universo jazia sobre areia. Teve tentação de desaparecer. Pensou...
“B ej a D ia -a -d ia : A i nc le mê n cia d o t e mp o : O T eatro De s mo nt á ve l q ua se fi co u
d es tr uíd o ” , D iá rio d o Al en te jo , 1 8 .1 2 .1 9 4 5 : 2 .
396
“B ej a Di a -a - Dia : A Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eira d á ho j e u m esp ec tá cu lo no
T eatro P a x -J úli a”, Diá r i o d o Alen te jo , 2 1 ,1 2 ,1 9 4 5 : 1 .
397
“B ej a d ia -a - d ia : T ea tro De s mo nt á vel : A se s são d e a ma n h ã”, D iá rio d o Alen tejo ,
2 9 .1 2 .1 9 4 5 : 1 .
398
Ib id e m.
399
“Ob ser va çõ e s” d a fo l ha d e c ai xa d o 2 5 º es p ectá c ulo , e m Si l ve s , a 1 3 d e
Fe ver eiro d e 1 9 5 4 , Li v ro d e Co nta s V (1 9 5 4 - 5 5 ) ) , d a Co mp a n h ia Ra fael d e
Oli v eir a (a cer vo d e Ál v aro d e Ol i veir a, Vi la Re al d e Sa n to An tó n io ).
400
Ib id e m .
395
131
nem ele recorda o quê! Porém o Sindicato veio em seu auxílio: ajudou o a levantar de novo a sala humilde que vivia o drama de d uas famílias
(e alguns empregados) que eram escravos da afluência às bilheteiras”
[401]. Valeu-lhe também “o Comissariado do Desemprego que o
subsidiou
com
25
contos”
[402].
Reergueu-se
o
Desmontável,
novamente em doze dias, pelo preço do sonho acalentado da digressão
a África. “Sabe-se lá para quando? [...] Talvez um dia, talvez nunca...
a vida é uma incógnita!” [403].
E a luta continuou, até que, quatro anos depois, a adversidade dos
elementos voltou a desafiar a for ça estrutural do teatro -barraca. Na
noite de 3 de Outubro de 1958, a Companhia despediu -se da Figueira
da Foz: “enquanto o público sublinhava com quente e prolongada salva
de palmas as últimas palavras de Fernando de Ol iveira, profusa chuva
de
pétalas
de
flores,
lançadas
por
mãos
de
gentis
senhoras
figueirenses, tombava sobre todos os componentes da Companhia, os
quais não conseguiam ocultar a sua emoção” [404]. Nessa madru gada,
uma “violenta trovoada acompanhada de copiosa chuva e forte
ventania” [405] abateu-se sobre a cidade, destelhando “parte da
cobertura do Teatro Desmontável ”, atingido por “uma faísca que [...]
por milagre não fulminou o actor Fernando de Oliveira , pois o raio,
entrando a meio do edifício, danificou a instalação eléctrica e
telefónica, e foi cair -lhe aos pés” [406]. Nem raios, nem coriscos,
possuíam a força de um abalo da determinação de Rafael de Oliveira ,
Ne ve s d e So u sa , “N a Co mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a: Fi l ho é s, acto r ser ás ”,
Fla ma , 2 2 .0 9 .1 9 6 1 : 2 3 .
402
S.E., “A Vo z d a M ari n ha Gra nd e: Se cção se ma na l d e p ro p a ga nd a e d e fesa d o s
in ter es s es d o co n cel ho e p o vo d a M ari n h a Gr and e: T eatro ”, Reg iã o d e Le ir ia ,
2 6 .0 1 .1 9 5 6 : 3 .
403
Ib id e m.
404
“O tea tro d e s mo n tá ve l d eu n a se g u nd a - feir a o se u ú lt i mo e sp e ct ác ulo ” , A Vo z
d a Fig u e ira , 0 9 .1 0 .1 8 5 8 : 1 .
405
“N a ú lt i ma s e ma n a a Fi g ue ira e st e ve so b gra nd e te mp o ra l”, A Vo z d a Fig u ei ra ,
0 9 .1 0 .1 8 5 8 : 1 .
406
Ib id e m.
401
132
para quem se tornava cada vez mais óbvia a necessidade de construir
um recinto mais moderno, com maiores comodidades para os actores e
para os espectadores.
A 29 de Maio de 1959, durante a temporada nas Caldas da
Rainha, Rafael de Oliveira endereçou uma carta ao professor Oliveira
Salazar, a quem expôs, “sem outras credenciais que não [fossem] os
longos anos de trabalho honesto despendidos em favor de uma das
maiores manifestações do espírito humano – o Teatro” [407], a
necessidade de “fazer mais e mais ao serviço deste teatro popular,
divulgador da Literatura Dramática”. Através do “ilustre Presidente do
Conselho” solicitava a “solidariedade do Estado”, para que lhe fosse
concedido um subsídio reembolsável a longo prazo, que lhe permitisse
a construção de um “teatro Desmontável em tubo de ferro” [408]. Não
contemplando a lei o caso da Companhia Rafael de Oliveira ,
argumenta ainda o seu director que bastaria que o Co nselho de Teatro
lhe concedesse o mesmo subsídio que era atribuído a uma companhia
itinerante de Lisboa, para os três meses de verão, “para que ele visse
realizado o seu sonho de tantos anos” [409]. O processo mostra -se
relativamente célere. A carta deu entrada no Gabinete do Presidente do
Conselho a 5 de Junho, cuja 3ª Repartição remeteu para o Secretariado
Nacional de Informação , o qual deferiu favoravelmente. O novo Teatro
Desmontável viria a ser inaugurado no ano seguinte, a 7 de Dezembro
de 1960, em Faro : um “salão”, com novecentos lugares, duas ordens
de camarins, palco sete por onze”, com um custo superior a “trezentos
contos (com todo o conteúdo, valerá 900)” , dos quais o Secretariado
407
Cart a d e R a fae l d e O li ve ira, e m p ap el ti mb r ad o d a Co mp a n h ia, e nd er eçad a a
Oli v eir a S al azar , a 2 9 d e Ma io d e 1 9 5 9 . ( Acer v o Mário Vi e ga s , M u se u Nac io nal
d e T eatro ) .
408
Ib id e m.
409
Ib id e m.
133
adiantou
250,
“não
como
donativo,
mas
apenas
a
título
de
empréstimo”. ( 410)
5.
Um salão d e
ambulante.
arte
dramática,
modesto
“conservatório”
A entrada de Eduardo de Matos para a Companhia inicia um ciclo
de trabalho, cujo fruto se irá notar posteriormente, na form ação da
segunda e terceira gerações de actores do Desmontável. Sendo seu
irmão Afonso o “protagonista” do elenco dos artistas associados,
caber-lhe-á a si as funções de “deuteragonista”.
A sua formação principiara, também, na companhia itinerante de
seu pai, o actor Constantino de Matos , com quem trabalhou até aos 22
anos. Conhecendo o seu desejo de progredir, a sua “ambição natural de
contactar com grandes actores” ( 411), alguns amigos apresentaram -lhe
o empresário Luís Galhardo , que o contratou para o Teatro Avenida
(412), onde teve a sua estreia, a 17 de Agosto de 1919, na peça Guerra
(413), de Avelino de Sousa. Através da imprensa da especialidade
traça-se-lhe o rasto; mencionado como integrando o elenco da
Companhia do Éden-Teatro (414), desta transitará para a do Teat ro de
D. Maria (415), onde permanecerá durante toda a temporada de 1919 410
Ne ve s d e So u s a , o p . ci t .
Flo ri nd o C u stó d io , “E nco n tro co m o Acto r Ed uard o d e M ato s: U ma gra nd e
fi g ura d o tea tro it i nera n te p o r t u g uê s”, Jo rn a l d o Rib a t ejo , 1 1 .1 2 .1 9 5 8 : 1 e 6 .
412
A te mp o rad a d e I n ver no ter mi nar a a 1 3 d e J u n ho e a d e V erão p rev ia - se
co meça r a 1 4 d e Ag o sto . Na co l u na “Ac to s d e V id a” , Jo rn a l d o s Tea t ro s
(1 0 .0 8 .1 9 1 9 : 2 ), p ub li c o u - se o el e nco co n tra ta d o p ara o Av e nid a : “A u g u sto d e
Melo , H e nriq ue d ’ Alb u q uerq u e , Ara új o P ere ira , J o ão Cal aza n s , T ei xe ir a So are s ,
Ern es to d e Fr ei ta s , Ed ua rd o d e Mato s , A. Card o so , Na zar et h , P ere ira d a Sil v a , A.
Ro d r i g ue s , I ld a S ti c hi n i , Alb ert i na d ’O li ve ira , Car lo ta Sa nd e , Re gi n a
Mo n te n e gro , M ari a na Fi g ue ired o ”.
413
E m “De r el a nce ” ( Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 4 .0 8 .1 9 1 9 : 5 ), He nr iq ue Li no c o n sid era
q ue Ed uard o d e M ato s , j u nt a me n te co m o ut ro s, n ão “d e s ma n c ha va ” o co n j un to .
414
Si n cero , “Ép o c a d e I n v erno ”, Jo rn a l d o s T ea t r o s , 2 8 .0 9 .1 9 1 9 : 3 .
415
`Nac io na l”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 0 9 .1 1 .1 9 1 9 : 3 . T rata -s e d e u ma cr ít ica à p eç a
Flo r d e S ed a . J o ão Lu s o , crí ti co d e st e p er ió d i c o , me nc io na Ed u ard o d e Mato s n a
rub r ica “De r ela n ce” , a p ro p ó si to d o s esp ectá c ulo s Mo n tma rt r e , d e P i erre
411
134
20, finda a qual, escriturado na Companhia de Palmira Bastos parte
para o Brasil (416), por onde permanecerá, transitando para a
Companhia de Operetas de Cremilda de Oliveira (417), antes de
regressar a Portugal em Julho de 1921. Biografado pe la crítica lisboeta
como “um dos novos que no Nacional em papéis de realce mais se tem
evidenciado como elemento de futuro garantido, se não perder as
qualidades de trabalho e de gosto pela arte a que se dedica que tem
demonstrado possuir” ( 418), Eduardo de Matos evidenciava “os seus
dotes como actor que prezando a arte, nela [queria] alcançar um bom
lugar” (419). Até 1938, progrediu, participando em elencos de diversas
companhias, em Lisboa, e em digressão pelo país, por África, pelo
Brasil, realizou o seu sonho no contacto com vultos como Eduardo
Brazão, Palmira Bastos, Lucinda Simões, Estêvão Amarante, Chaby
Pinheiro ou Alves da Cunha , e tantos outros que, segundo ele, lhe
“facultaram ensinamentos dos quais [tentou] tirar o melhor proveito”
(420). O seu repentino afastamento dos palcos da capital justificou -se,
segundo ele, pela “profunda tendência [que sentia] para a vida em que
fora criado” (421), embora o que realmente o levou a aceitar o convite
endereçado por Rafael de Oliveira tenha sido a constatação do “clima
de «luva branca», a intriga de bastidores, a desleald ade mascarada,
[que] não estavam de acordo com o [seu] temperamento “terra -a-terra”
e a [sua] educação provinciana” ( 422). Transcorridos vinte anos,
relanceando o olhar sobre tudo o que fizera naquele espaço de tempo,
Fro nd a ie (1 1 .0 1 .1 9 2 0 : 2 ), Pip io la , d o s ir mão s Q ui n tero (2 8 .0 3 .1 9 2 0 : 6 ), Do m
Jo ã o Ten ó rio , ad ap ta çã o d e J ú lio Da n ta s (0 2 .0 5 .1 9 2 0 : 6 ) e Fed o ra , d e Vi cto r ie n
Sard o u (0 6 .0 6 .1 9 2 0 : 6 ). T a mb é m no Nac io na l, s ub st it ui u o ac to r I nác i o P eixo to ,
no p ap el d e Si mão B o te lho , e m Amo r d e P erd iç ã o ( “G e nte d e T ea tro : E d uard o d e
Mato s” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 0 4 .0 7 .1 9 2 7 : 5 ).
416
“Ac to s d e Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 7 .0 6 .1 9 2 0 : 3 .
417
“Ac to s d e Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 7 .0 7 .1 9 2 1 : 2 .
418
“Ge n te d e T ea tro : Ed u a rd o d e M ato s”, Jo rn a l d o s Tea t ro s 0 4 .0 7 . 1 9 2 0 : 5 .
419
Ib id e m.
420
Flo r i nd o C u stó d io , o p . cit. , Jo rn a l d o R ib a te jo , 1 1 .1 2 .1 9 5 8 : 1 e 6 .
421
Ib id e m.
135
no Teatro Desmontável , confessará em entrevista a Florindo Custódio ,
do Jornal do Ribatejo , ter “sobejas razões para [se] sentir feliz e
orgulhoso” (423).
Entre 1938 e 1948, Edu ardo de Matos colaborará no trabalho de
consolidação
do
trabalho
artístico
e
do
prestígio
crescente
da
Companhia, levado a cabo por seu irmão Afonso. Neste período de
tempo, num total de vinte títulos novos, subiram à cena, entre outros,
O Ladrão (1939), de Henri Bernstein, A Recompensa (1941), A Fera
(1943) e A Cadeira da Verdade (1948), de Ramada Curto , As Pupilas
do Sr. Reitor , em versão de opereta, com libreto de Ludovina Frias de
Matos e música de Fernando Izidro , e A Vida de Um Rapaz Pobre
(1946), de Octave Feuillet .
O Teatro Desmontável , “espécie de Arca de Noé, flutuante e
sobrevivente da crise do nosso Teatro” ( 424), continuou a sua
peregrinação pelas províncias. Após o Carnaval de 1940, a Companhia
despediu-se de Santa Comba Dão e rumou para Oliveira do Hospital ,
onde a ausência de imprensa local coeva silencia o eco que a
companhia possa ter tido. Apenas voltaremos a ter n otícias suas no
início de Dezembro de 1941, em Portalegre , onde qualquer dos três
periódicos locais noticia, para 7 desse mês, a estreia da peça As Duas
Causas. Até ao final desse ano, a Companhia apresentou os seus
trunfos de bilheteira, em cujos espectáculos se contaram “muitas
pessoas de destaque” ( 425) do meio portalegrense, que, apesar do frio,
encheram
o
Desmontável
com
aplausos
calorosos.
Pretendendo
“apenas registar o facto em si, pelo que tem de novidade, de apreço”,
dava testemunho “O rapaz da geral ”, articulista de A Rabeca, que, sem
422
Ib id e m.
Ib id e m.
424
“Ca rta d e ap re se n ta ção ”, in p er ió d i co el v e ns e não id e nt i ficad o , c uj o reco rt e,
d atad o d e 0 4 .0 8 .1 9 5 5 se en co ntr a no a cer vo d e Ál var o d e Ol i veir a.
425
“T ea tro De s mo nt á ve l”, A Ra b eca 2 7 .1 2 .1 9 4 1 : 4 .
423
136
pretensões a crítico, se desculpava da falta de “conhecimentos sobre
as artes, bem como de uma vasta e apurada sensibilidade” ( 426):
A Companhia Rafael de Oliveira [...] tem conseguido impor-se com os
seus apreciáveis espectáculos à consideração pública, gozando já dum
prestígio e popularidade que se traduz na concorrência que ali se
verifica. Ainda há poucos dias, quando se representavam “As duas
órfãs”, houve no final do espectáculo chamadas especiais, que só
podem interpretar -se como sendo manifestações espontâneas do
público, quando ele vibra, sente e gosta. No Teatro Desmontável ,
organização modesta e creio que sem o vaidoso pretensiosismo de
querer ocultar aquilo que é na realidade, trabalha um elenco de certo
modo apreciável, equilibrado, homogéneo. Tenho assistido a algumas
representações suas e devo confessar que me têm impressionado
agradavelmente ( 427).
Essa impressão “agradável” manifestou -se, então, na forma como
a imprensa se interrogou sobre a razão do desaparecimento dos velhos
grupos de teatro amador que tantas horas de “prazer espiritual” tinham
proporcionado.
E porque teriam desaparecido esses grupos? Pelo cansaço dos velhos?
Por falta de vontade dos novos? Por desinteresse da população?
Porque o futebol e o cinema absorveram a atenção das gentes e lhes
captaram as suas preferências? ( 428).
Sendo Portalegre constituída maioritariamente por uma população
jovem, os grupos musicais eram a única manifestação artística da
cidade, faltando, todavia, um grupo dramático. Além disso, futebol,
cinema e teatro já haviam provado a sua capacidade de coabitação em
anos anteriores. E mais se lastimava o articulista, em desab afo
bairrista, que outras cidades marcassem lugar de destaque em Lisboa ,
na apresentação dos seus grupos dramáticos amadores. Erguia -se ainda
o dedo contra as “medidas impostas pelo regulamento das casas de
O Rap az d a G era l , “T eat ro De s mo n tá ve l :
rep re se nt açõ e s” , A Ra b e ca , 1 7 .0 1 .1 9 4 2 : 3 .
427
Ib id e m.
428
“De T eatro ”, A Ra b eca , 1 1 .0 4 .1 9 4 2 : 3 .
426
137
B re ve s
re fer ê nci a s
às
s ua s
espectáculos, às sociedades recreativas, que [possuíam] grupo cénico”
(429), que limitavam o seu regular funcionamento e se tornavam
“incomportáveis para quase todas as sociedades, não falando já no
encargo (embora facultativo) da sua federação” ( 430). E que dizer do
único teatro existente em Portalegre , cuja “Empresa exploradora devia
estimular a criação do grupo dramático, pondo à sua disposição o
teatro e facilitando, o mais possível, a realização de espectáculos”
(431), visto que raras eram as compa nhias profissionais que o incluíam
no seu roteiro?
Porque a lotação do teatro não defende a despesa? Porque o público
não concorre? Porque à Empresa não lhe interessa a exploração de
teatro, visto defender -se com o cinema? A lotação do teatro julgamos
ser a mesma de há anos e o seu rendimento deve estar em relação, isto
é, deve estar actualizado. O público concorre, desde que seja bom o
artigo apresentado ou que seja muito aceitável. Verifique -se, pelo
menos, a concorrência do Teatro Desmontável (432).
Na realidade, o valor social do Teatro Desmontável
e da
Companhia Rafael de Oliveira era reconhecido publicamente, pela
forma como tinha sido capaz de despertar “o gosto pela arte
dramática” na população ( 433).
Veio o Desmontável e o gosto pela arte dramática nasceu e
robusteceu-se. Nasceu nos novos e reviveu nos mais adianta dos na
idade, que recordaram noites de teatro de tempos idos. Tanto mais que
em Portalegre vimos representar, então meninos e moços, alguns dos
elementos que ora constituem a companhia Rafael de Oliveira . É esta a
obra principal, obra artística entende -se, do Teatro Desmontável . Que
continue a exercê-la pelo país fora, com os mesmos escrúp ulo e
429
Ib id e m.
Ib id e m.
431
Ib id e m.
432
Ib id e m. N a ed ição se g u i nt e
P o rtale gr e n se d e fe nd e u - se e m car ta
o b st ác ulo s o u d e i xad o d e o ferec er
ho u ve s se to d o o tip o d e esp e ct ác ulo s,
433
“A Co mp a n hi a Ra fael d e O li ve ira
Ra b eca , 2 5 .0 4 .1 9 4 2 : 2 .
430
a E mp re sa exp lo rad o r a d o Ci n e -T ea tro
ab er ta, a fir ma nd o q ue n u n ca h av ia p o s to
as me l ho res co nd i çõ e s p o s sí v ei s p ara q u e
o b v ia me n t e s e m p ri maz ia p ara o ci ne ma .
te r mi no u a s ua ac t uaç ão e m P o r ta l egr e”, A
138
correcção – artística e socialmente falando – com que se houve em
Portalegre. Aqui, quer pela conduta profissional dos artistas, quer pela
conduta social dos cidadãos, a companhia Rafael de Oliveira deixa de
si a melhor fama e a mais agradável recordação. ( 434)
Partiram para Elvas , que tal como a sua vizinha Portalegre , não
deixou de se questionar sobre o valor socio -educativo do teatro e do
cinema. Américo Paiva , redactor principal do Jornal de Elvas , em
artigo de opinião, citando o excerto anterior, resp igado de A Rabeca,
alerta o público elvense para a chegada da Companhia e exorta -o a
comparecer aos seus espectáculos.
A propósito da retirada de Portalegre da Companhia Rafael de
Oliveira, que durante meses ali actuou com beleza e probidade, alguém
nos falou do carinho que se deve ao elenco daquele modesto mas
simpático agrupamento artístico. Não descurei a recomenda. E tanto
assim é que passei a interessar -me pela rancho teatral em que há
nomes que não me são desconhecidos. Não se trata, é claro, duma
companhia composta por actores com ordenados de ministro, actores
que, afinal, só deitam a perder o prestíg io do teatro, alicerçando a sua
crise cada vez maior, mas de elementos mais em contacto com o
grande público e, por consequência, com um mais nobre papel na
função ingrata de instruir, de educar. Pessoalmente não conheço
qualquer elemento da Companhia, o q ue aliás só me coloca à -vontade
para o efeito de fazer esta recomendação à gente de Elvas , a de que se
deve amparar e estimular quem trabalha com seriedade e sem intuitos
garganeiros, sempre antagónicos da arte ( 435).
Afonso de Matos, enquanto Director Artístico da Companhia
havia enviado um cartão de cumprimentos à redacção do periódico, a
qual retribuía publicamente a deferência, nas suas páginas. Ainda que
algo imprecisa, a imprensa local foi dando cobertura à temporada
teatral, com isso concorrendo para “casas cheias e ambiente de
dedicação pelos honestos artistas”, “uma empresa digna da nossa mais
viva simpatia” ( 436). Ao ritmo de quatro espectáculos po r semana, o
434
435
436
Ib id e m.
Amér ico P a i va , “T e atro e m E l va s”, Jo rn a l d e El va s , 0 3 .0 5 .1 9 4 2 : 1 .
“T ea tro : Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a”, Jo rn a l d e El va s , 1 7 . 0 5 .1 9 4 2 : 4 .
139
reportório foi sendo levado à cena e, a pedido, procedeu -se à
reposição de alguns sucessos. Américo Paiva redigiu novo artigo de
opinião, evocando o grande serviço educativo que a Companhia estava
prestando. Ainda que algumas peças fossem de “nítida contextura
popular e tão velhas na memória do povo” ( 437), este acorria a revê -las
sempre que figuravam no cartaz, “sem dúvida por saber que o teatro é
a mais escrupulosa máquina retratadora da vida e uma escola em que
os exemplos se repetem com nítida verdade” ( 438). Curiosamente,
antecedendo a exortação ao público, o articulista insistiu no tema que,
aparentemente, lhe era caro: as virtualidades artísticas do teatro sobre
o cinema.
Como função educativa devemos opta r pelo teatro, de preferência ao
cinema. O teatro anda mais próximo do livro. O cinema mais chegado
à paisagem e ao desmando moral. O teatro, qualquer que seja a sua
origem, fala sempre a nossa língua. Acomoda -se melhor ao poder
receptivo do povo, embora o povo se sinta cada vez mais atraído para
o cinema. Questão de curiosidade a que não deve ser estranho o facto
do cinema ter nascido há trinta anos apenas. É, portanto, do nosso
tamanho e tagarela a moderna linguagem da época. Contudo, o teatro é
mais sincero e lícito, porque vive muito menos do truque, presta -se
muito menos ao lance duvidoso e agita -se todo entre as três paredes do
palco. Nem sempre compreendido, nem sempre à mão do primeiro
cogitar cerebral do espectador, mas sempre mais humano, afinal. E ,
talvez por tudo isto e mais alguma coisa, eu dou a minha preferência
ao teatro, não obstante frequentar imenso, também, o cinema. Se num
busco os claros acontecimentos da vida, que no palco se repetem com
inaudito rigor psíquico, noutro procuro saciar a minha curiosidade
ávida de panoramas e surpresas emotivas, palco rondado por qualquer
objectiva.
De Elvas, o Desmontável transitou para Campo Maior . Mais uma
vez, a ausência da imprensa local cri a um vazio informativo. Desde a
segunda quinzena de Outubro de 1942 até ao final desse ano, a
Companhia deu vinte e um espectáculos. O Livro de Contas de 1943 , o
437
438
Amér ico P a i va , “O T ea t ro ”, Jo rn a l d e E lva s , 0 2 .0 8 .1 9 4 2 : 1 .
Ib id e m.
140
primeiro que se conhece, principia com o 22º espectáculo, a 1 de
Janeiro. Rafael de Oliveira manter-se-á em Campo Maior até ao final
de Maio de 1943, realizando uma totalidade de 66 espectáculos, num
período de sete meses, durante os quais a Companhia retornará por
diversas vezes ao Cine -Teatro Elvense, actuando em espectáculos de
beneficência. Também em Campo Maior , os espíritos locais gan ham
consciência da importância do fenómeno teatral, segundo refere o
correspondente local do Jornal de Elvas:
[Consta] que uma comissão de rapazes da primeira sociedade, desta
localidade, está convidando muitos sócios p ara construírem uma
sociedade por cotas, para levarem a efeito a construção de um Teatro
moderno, que poderá receber todas as Companhias. Está provado que
faz bastante falta uma casa de espectáculos nesta vila, pois que tem
uma população entre oito mil, a nove mil habitantes, e senão veja -se o
que se está passando com a Companhia Rafael de Oliveira , que está
trabalhando numa barraca, denominada “Teatro Desmontável ”, desde o
mês de Outubro de 1942, dando por semana dois e três espectáculos,
sempre com casas à cunha. Outro tanto se passa com os espectáculos
de animatógrafo que regista sessões todas as semanas, Domingos e 5ª feiras, numa casa pouco confo rtável (439).
A partir de 13 de Junho, a Companhia encontra -se instalada em
Arronches, numa temporada de quase três meses, em que se realizam
24 espectáculos, sem que seja reposta qualquer das peças do
reportório. Tampouco o c orrespondente arronchense do Jornal de
Elvas
se
mostra
particularmente
interessado
na
divulgação
da
actividade da Companhia. Terminaram a estadia a 6 de Setembro de
1943, com a representação de Moços e Velhos, seguida de variedades,
uma récita cuja particularidade residiu em ter sido grátis para o
público feminino que lá tenha estado ( 440). Espectáculo feito,
Desmontável desfeito, a Companhia fez -se transportar de cen ários e
“No tíc ia s d e C a mp o Ma io r: No vo s ed i fíc io s”, J o rn a l d e E lva s , 1 8 .0 4 .1 9 4 3 : 4 .
Ob ser v açõ e s n a fo l ha d e cai xa d e s se d ia , no Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 (MNT ,
acer vo d e F er na nd o Fr ia s).
439
440
141
bagagens, “em 7 carros” ( 441), para Estremoz , onde permaneceu
durante o último trimestre desse ano, prolongando -se pelo primeiro do
ano seguinte.
A chegada da Companhia fez rejubilar a cidade num prospectiva
de vida intelectual, fê-la sentir-se cosmopolita na imensidão da
planície alentejana, podendo desfrutar de teatro e cinema em dias
alternados, sem colisão de programas. Fê -la, ainda, recordar -se dos
tempos em que “o provinciano somente conhecia teatro, uma vez por
outra, se ia a Lisboa ou então por teatros ambulantes” ( 442), dos
brilhantes serões da província animados pelos Dallot e os seus
herdeiros da tradição ambulante:
Todo o público de Estremoz ainda evoca com saudade as noites de
inolvidáveis espectáculos com que Constantino de Matos , no “Teatro
Chalet” – assim denominado pomposamente – e a sua companhia,
quase toda a sua família de artistas, deliciou, durante meses, os
estremocenses. De tudo lançava mão a aplaudida companhia da
direcção de Constantino de Matos : drama, alta comédia, comédia
ligeira, variedades, revista e uns “nacos” de ópera, e em tudo o seu
pessoal artístico brilhava sempre com esplêndido êxito artístico.
Ângela Pinto, não desdenhava do Teatro Chalet e nele representou em
Estremoz, a grande artista. Em 1913 ardeu o Chalet, desaparecendo
esse recinto de espectáculos, o que todos consternou, tanto mais que
em Estremoz nenhuma outra casa de espectáculos havia. Aparece -nos,
agora mesmo, outro teatro ambulante com o “Teatro Desmontável ”. A
companhia já deu uns espectáculos e escusado é dizer que os seus
espectáculos agradaram imenso. A Tournée Rafael de Oliveira, teve o
condão de entusiasmar o público pelo seu bom desempenho
justificando a fama que doutras terras trazia ( 443 ).
Os irmãos Matos, que “em Estremoz tomaram contacto, em Escola
particular, com os mistérios da raiz qu adrada e do complemento
441
Fo l ha d e tra n sp o rt e d o Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 (MNT , acer vo d e F e rna nd o
Fri as) .
442
“Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i veir a: T ea tro D es m o nt á ve l”, B ra d o s d o A l en te jo ,
Est re mo z , 0 3 .1 0 .1 9 4 3 : 2 .
443
Mi g ue l d e Al meid a , “No B e r nard i m R ib eiro ”, Bra d o s d o A len tejo , E str e mo z,
0 9 .0 1 .1 9 4 4 : 1 .
142
directo” (444), regressavam, de certa forma, às suas origens, conforme
aludia o cronista Miguel de Almeida , a propósito do espectáculo que a
Companhia levou a cabo no Teatro Bernardim Ribeiro em benefício do
Estremoz Futebol Clube . Na noite de 4 de Janeiro de 1944, o teatro da
cidade encheu -se para assistir à representação de Rosas de todo o ano
e As Duas Causas, numa “elevada interpretação dos verdadeiros
artistas” (445), em espectáculo que foi igualmente “abrilhantado ” pelo
conjunto local Jazz Amapola . Transcorridos vinte dias, os Artistas
Associados levaram à cena A Fera, de Ramada Curto, e partiram para
a vila do Redondo . Mas a população de Estremoz não deixou que fosse
cortado o cordão umbilical artístico que a unira à Companhia durante a
sua estada. Assim, a 14 de Mar ço, um grupo de admiradores de Afonso
de Matos, aos quais se associa o Orfeão «Tomaz Alcaide» , organizam
uma festa artística, em que s obe à cena uma das suas peças de
reportório,
A Calúnia. Encheu-se o Teatro Bernardim Ribeiro,
que,
um mês depois, voltou a receber nova festa artística, agora em
homenagem a Eduardo de Matos , “actor de largos recursos, que tem
esbanjado talento e simpatia por todo o Mundo Português” ( 446),
segundo propagandeava o amigo articulista Miguel de Almeida , nas
páginas do Brados do Alentejo. O homenageado interpretou então, a 16
de Maio, O Ladrão, de Bernstein.
Terminada a temporada de 5 meses no Redondo
(447), a
companhia desloca -se para Borba. Bravo da Matta, correspondente de
diversos periódicos locais, noticia a estreia da Companhia em finais de
Julho com As Duas Causas, e a sua intenção em apresentar todo o seu
reportório, desde que “não esmoreça a afluência de público à sua casa
444
Ib id e m.
Ib id e m.
446
Mi g u el d e Al meid a , “T eatro B er nard i m R ib e iro : Fe st a ar tí s tic a d e Ed u ard o d e
Mato s” , B ra d o s d o A len t ejo , 1 4 .0 5 .1 9 4 4 : 2 .
447
C., “Red o nd o : T eatro ”, Bra d o s d o A len tejo , 2 3 . 0 7 .1 9 4 4 : 6 .
445
143
de espectáculos” ( 448). E assim terá sido, dado que aí se mantiveram
durante todo o Verão e primeiros meses de Outono, deslocando -se em
seguida para Vila Viçosa . Deixaram, como sempre, saudades da
partida; o supra citado articulista, na sua crónica do periódico
calipolense Notícias do Alentejo (449), relata o “Borba de honra”
oferecido na sede da Sociedade União Borbense , em que as qualidades
da Companhia foram enaltecidas, e se sugeriu o futuro descerramento
de uma lápide comemorativa da sua passagem pela vila. Palavras que,
obviamente, não caíram em saco sem fundo, uma vez que, no ano
seguinte, a 22 de Janeiro de 1945, o Teatro Municipal de Borba
acolhia a representação de A Calúnia, em récita de benefício do
Hospital da Misericórdia da vila, tendo sido descerrada a dita lápide
durante o intervalo ( 450).
A imprensa de Vila Viçosa , sem grandes entusiasmos, na sua
tiragem irregular, reconhecia e louva va o êxito da Companhia,
prejudicada na concorrência de público pelos rigores invernosos.
Admitia-se que a estadia da Companhia viera preencher a lacuna
cultural, motivada pelo encerramento do antigo Teatro, e acreditava -se
que a construção de um novo iria por certo ser a solução do problema
(451). Até 29 de Maio de 1945, o público calipolense assistiu ao
desfilar de todo o reportório base, e reposição de alguns êxitos de
bilheteira, num total de 40 espectáculos, enquanto a Companhia
realizava ainda mais seis espectáculos na localidade vizinha de
Bencatel. No último dia da temporada, e primeiro da anual Feira de
Vila Viçosa, Rafael de Oliveira desabafa nas observações da folha de
C., “B o rb a: T ea tro D es mo n tá ve l Ra fael d e Oli v eir a”, B ra d o s d o Alen tejo ,
2 0 .0 8 .1 9 4 4 : 6 .
449
“A Co mp a n hia Ra fa el d e O li ve ira ”, No t íc ia s d o Alen tejo , 2 5 .1 2 .1 9 4 4 : 3 e 4 .
450
B rav a d a Ma tta , “Co rre sp o nd ê nci a d e B o rb a”, No t íc ia s d o A len t ejo ,
1 8 .0 2 .1 9 4 5 : 2 .
451
“T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d o A len t ejo , 1 4 .0 2 .1 9 4 5 : 2 e 3 .
448
144
caixa desse dia: “Este foi o último espectáculo por se verificar que
não havia público para mais...! ( 452).
Desmontada e empacotada toda a estrutura teatral, a Companhia
viaja de comboio em direcção a Évora . A imprensa local ( 453), que
desde os últimos dias de Maio vinha divulgando a actuação eminente
da Companhia, noticia a chegada do material, a 5 de Junho( 454), e o
começo da instalação do vasto pavilhão de zinco à entrada do Rossio
de São Braz, no local da Feira de S. João . Nos jornais, divulga-se a
constituição do elenco e do reportório a exibir, e anuncia -se a estreia
para 16 de Junho, com A Fera, que, por motivos imprevistos
inominados, foi adiada 24 horas.
“Não seria possível evitar que as pessoas que estão fora do Teatro
perturbem a boa marcha dos espectáculos?”, reclamou o articulista do
Notícias de Évora, na sua qualidade de espectador assíduo dos
espectáculos do Desmontável. Muito embora o ambiente das Feiras não
fosse do agrado particular de Rafael de Oliveira , para quem o “bom
teatro” não era compatível com o ambiente feirante, que pressupunha
sobretudo
“palhaços,
barulho,
movimento”,
os
“encargos
pesadíssimos” da Companhia a isso o obrigavam ( 455). Tanto mais
que, como o alertava o jornalista do Democracia do Sul , iria “ter a
concorrência dos cinemas a preços com os quais não [seria] possível
competir!” (456). O hábito do espectáculo cinematográfico ao ar livre
invadia o gosto português na época de veraneio e daí que as amplas
esplanadas ganhassem terreno, onde, por preços módicos, se podia
452
T eatro De s mo nt á ve l: C o mp a n h ia Ra fae l d e O li ve ira : Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 .
Fo l h a d e c ai x a d e 2 9 .0 5 . 1 9 4 5 .
453
E m É vo r a rep o r ta m - s e , p elo me n o s, tr ês p er ió d i co s lo ca i s: o No t ícia s d e Évo ra ,
d iário fu nd ad o e m 1 9 0 0 , o D emo cra cia d o S u l , d iário fu nd ad o e m 1 9 0 1 , e A
Def esa , b i s se ma n ár io fu nd ad o e m 1 9 2 3 .
454
“T ea tro De s mo nt á ve l”, Demo cra cia d o S u l , 0 5 .0 6 .1 9 4 5 : 2 .
455
A. L., “T eatro D es mo n tá ve l: O D ire cto r d o T eatro D es mo ntá v el fa la - no s d o s
se u s p ro j e cto s e faz o elo g io d o p úb l ico eb o re n se”, D emo cra cia d o S u l ,
0 5 .0 7 .1 9 4 5 : 4 .
456
Ib id e m.
145
assistir aos dramas de paixões ardentes, protagonizados pelas belas
estrelas de Holl ywood, sob o não menos belo firmamento estrelado das
cálidas noites lusitanas. “Tenho esperança que o público t ambém há-de
vir ao teatro, embora os preços dos lugares sejam mais caros. [...] De
resto, o meu teatro é tão pequeno... Que diabo, sempre há -de haver
umas dezenas de pessoas a marcarem a sua presença” ( 457), retorquia
Rafael de Oliveira. E isso era indiscutível, segundo confirmava A.L.:
Actua em Évora há perto de quinze dias [...] e conta-se por êxitos o
número de representações. É um núcleo de artistas que percorre o país
há bastantes anos, levando a todos os cantos um pouco daquela arte
que só os mais afortunados têm a dita de apreciar, por não estar ao
alcance de qualquer uma viagem à capital só para ver teatro, nem
serem acessíveis a todas as bolsas, os preços dos lugares nos teatros
provincianos, quando alguma empresa manda para cá um pouco do
refugo que não cabe em palcos de coturno mais polido – quase sempre
com uma estrela a brilhar como negaça num conjunto de planetas
satélites. Há neste conjunto artístico duas preten sões mais evidentes:
lutar honradamente pela vida e representar, honestamente também, o
teatro mais ao gosto do nosso povo, não excluindo é claro as melhores
peças de que o teatro português tem vivido e cuja montagem seja
compatível com as suas possibilida des materiais ( 458).
O permanente peregrinar pelo país inteiro conferia a este tipo de
actores o conhecimento real das exigências dos diversos públicos.
Sabiam que Lisboa era a capital, e também que o resto do país não era
apenas paisagem. De norte a sul, Portugal apresentava-se como uma
manta de retalhos, um patchwork cultural, não tanto “com melhor
gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima
das populações, e que se chama a si mesma por excelência a
Sociedade” (459), no empolamento garrettiano, mas com noções de
gosto muito próprias e legítimas. Distinguiam -se estes actores dos
seus colegas citadinos pela consciência que possuíam das suas
457
458
Ib id e m.
Ib id e m.
146
limitações artísticas, senão na arte de represen tar, sobretudo, na
concepção estética dos espectáculos. No caso da Companhia Rafael de
Oliveira, reconhecia-se-lhe a homogeneidade e a honestidade de
princípios interpretativos, “dando às suas repre sentações a nota
simpática do respeito que lhe merecem os autores e as suas rubricas”
(460). E tanto bastava para que se tratasse com consideração os
Artistas Associados, que se não apresentavam “com as aleivosas
pretensões
dum
agrupamento
artístico
aureolad o
por
balofas
adjectivações e, por isso mesmo, a crítica não [tinha] que se
arrepender
perdoando
deslizes,
antes
exaltando
o
que
[tivesse]
merecimento para ser destacado” ( 461). E, por isso mesmo, se
destacava à Companhia o seu trabalho meticuloso e da “mais alta
probidade profissional”, dando “montagens de peças que em qualquer
palco, por maiores que fossem os pergaminhos deste, ficariam bem”
(462).
O modelo criado por Afonso de Matos , a que se associava seu
irmão Eduardo, para o Desmontável, com a introdução de um
reportório de peças, em que se expunham temas contundentes, vividos
por
personagens
de
fortes
personalidades,
no
limite
dos
seus
sentimentos, exigia o domínio de capacidades histriónicas igualmente
fortes, de actores capazes de traduzir os dramas através da utilização
de uma ampla paleta de matizes psicológicos. A companhia exibia
agora
uma
maturidade
na
abordagem
do
método,
conforme
se
depreende das palavras do crítico do Democracia do Sul , a propósito
da interpretação de A Calúnia, na festa artística de Afonso de Matos :
459
Al me id a Garre tt , Via g e n s Na M in h a T er ra , Li s b o a, 1 9 8 3 , C írc u lo d o s Lei to re s,
p. 134.
460
A. L. , “T eat ro D es mo nt áv el : A S eve ra ”, De mo c r a cia d o S u l , 2 8 .0 6 .1 9 4 5 : 4 .
461
Ib id e m.
462
K., “I mp re s sõ e s d e te atro : A Ca lú n ia no T eatro D es mo n tá v el” , No t ícia s d e
Évo ra , 0 2 .0 8 .1 9 4 5 : 2 .
147
[A] acção violentamente dramática, com ressaibos de patetismo a roçar
pelo melodrama, vive-se no palco, mas sente -se na plateia. Os acto res
vivem-na se o seu poder de sentir não se embotou à custa de a viverem
muitas vezes, e isso só acontece se, dentro dos seus peitos existe
aquela gama de sentimentos que se traduz no delicado poder de fazer
vibrar as cordas da alma de acordo com a person agem a interpretar. Os
espectadores sentem -na, se lhes for transmitida a dose de verdade que
os seus corações requerem para as lágrimas aflorarem aos olhos. E é
isso mesmo que acontece. Os actores interpretam a peça como se cada
personagem a vivesse, realm ente. Os espectadores emocionam -se e
sentem-na, justamente porque os intérpretes lhe dão vida verdadeira. E
deste modo nota-se que uma onda de alívio invade a plateia quando cai
em si e repara que assistiu apenas ao desenrolar de umas tantas cenas
no palco dum teatro. O desempenho a cargo das figuras mais
representativas da Companhia resultou quase brilhante. Seria querer
demasiado, exigir ainda mais. ( 463)
Tratava-se obviamente de um árduo trabalho de técnica teatral
por parte dos actores mais velhos, mas, sobretudo, da sua influência na
nova
geração de
actores que a
escola do Desmontável havia,
entretanto, formado: Fernando de Oliveira , filho de Rafael e Ema de
Oliveira, e os irmãos Frias, filhos de Carlos e Geny, o Fernando e a
Lizete. Os jovens artistas possuíam indiscutivelmente uma auréola de
simpatia e admiração por parte do público, e da imprensa, todavia
Lizete Frias, então com 17 anos, deixa claro na sua primeira
entrevista, que “a rara intuição para o teatro”, que se lhe reconhecia,
mais não era do que o seu gosto por representar, a que dedicava o seu
maior
esforço:
“Estudo
e
tento
aperfeiçoar
cada
vez
mais
o
desempenho de papéis que tenho de inte rpretar. Gostava de ser uma
grande actriz. Mas isto não é para quem gosta...” ( 464).
Realizadas as festas artísticas dos societários, como ainda se
praticava, a Companhia, “para fechar com chave de ouro a sua série de
A. L., “T eatro : A Ca lú n i a ”, D emo c ra c ia d o S u l , 0 2 .0 8 .1 9 4 5 : 4 .
A. L., “T eatro : A p ri me ira e n tre v is ta d e Li zete Fri as ”, De mo c ra c i a d o S u l,
0 5 .0 8 .1 9 4 5 : 6 .
463
464
148
espectáculos” ( 465), despediu-se de Évora, a 28 de Setembro de 1945,
com a reposição de A Calúnia, cedida por Afonso de Matos do seu
reportório pessoal. Tamanho foi o êxito, e a exigência do público, que
a companhia aceitou realizar uma “última e irrevogável” ( 466) récita,
preenchida com comédias e quadros de revista, numa homenagem
alegre aos “inúmeros frequentadores ” (467) do Desmontável, que, por
sua vez, retribuíram a deferência com a actuação de “um equilibrado
grupo de amadores teatrais eborenses” ( 468) interpretando “o drama
em um acto Amor de Pai” (469). Despedidas feitas, a Companhia
tomou o comboio e rumou para sul, indo assentar arraiais na capital do
Baixo Alentejo.
Com
“numerosíssima
assistência
e
[agradando]
plenamente”
(470), estrearam os Artistas Associados, em Beja , As Duas Causas, a
28 de Outubro de 1945. Depois de uma peça, cujo dramatismo se
sustenta de contrastes nítidos e bem marcados por um realismo
interpretativo, que havia galvanizado a assistência, a Co mpanhia
apresentou, como segundo espectáculo, o enredo singelo e comovente
da história de um gaiato de Lisboa, cujo coração grande e generoso
fazia enternecer a plateia mais empedernida. Na terceira noite, atacou
outra peça do reportório “antigo”, um melod rama tão ao gosto do
público oitocentista dos teatros do Boulevard du Temple , em que a
maldade e o crime progridem num crescendo de interesse, em face de
uma
assistência
galvanizada pela narrativa entusiasmante de
O
Paralítico.
“T eatro D e s mo nt á vel : Co mp a n hi a R a fae l d e Oli ve ira ”, No tí cia s d e Évo ra ,
2 7 .0 9 .1 9 4 5 : 1 .
466
“T eatro D e s mo nt á vel : Co mp a n hi a R a fae l d e Oli ve ira ”, No tí cia s d e Évo ra ,
2 9 .0 9 .1 9 4 5 : 3 .
467
Ib id e m.
468
Ib id e m.
469
Ib id e m.
470
Diá rio d o A len t ejo , 2 9 . 1 0 .1 9 4 5 : 1 .
465
149
[O] reportório inclui obras do maior renome e, apesar das dificuldades
que oferece a sua interpretação, elas são postas em cena de forma a
prenderem o interesse e a captarem o agrado do público amador de
teatro. [...] Estivemos lá, ontem à noite, a assistir à representação da
famosa peça O Paralítico. Retirámos bem impressionados, porque no
conjunto a Companhia fez verdadeiro teatro, mostrando -se
perfeitamente apet rechada, sob todos os aspectos, porque tão difícil
tarefa. Eduardo de Matos , a gentil Lizete Frias e Afonso de Matos nos
principais papéis, mostraram -se artistas de verdadeiros recursos. E os
seus companheiros – Geny Frias, Rafael de Oliveira, Fernando Frias ,
Carlos Frias, Mila Graça, Idalina de Almeida e José C. de Sousa
asseguraram à representação o equilíbrio que se impunha. Apenas um
reparo queremos fazer – o exagero que assinalou algumas passagens
cómicas da representação, a transigir demasiado com a predilecção de
certo sector da assistência. A companhia sabe e pode fazer bom teatro
declamado e não deve por isso nunca roubar às suas representações
aquele aspecto de seriedade e de arte verdadeira que constitui um dos
seus títulos mais recomendáv eis e é certamente o fulcro dos justos
sucessos que vem alcançando nas suas digressões ( 471).
Em todos estes textos se verifica a mesma característica de peça bem-feita, segundo os princípios de Scribe ou de Sardou , cuja ampla
escala de sentimentos obriga à utilização de dotes de eloquência
interpretativa por parte de actores que saibam entusiasmar a audiência.
Esse era o segredo do elenco dos Artistas Associados, conforme
sublinhou AITE, crítico do Diário do Alentejo, para quem o recurso à
utilização de efeitos de agrado certo se mostrava desnecessário. E, por
isso mesmo, o público continuava a aderir em massa e a fazer com que
os periodistas reflectissem, nas páginas do periódico, sobre as razões
que a razão se indagava:
Tem-se dito e redito tanta vez que o teatro já não interessa ao grande
público, que este conceito tende a impor -se como verdade intangível.
Quanto a nós nunca acreditámos por aí além nesta maneira de ver e
poderíamos trazer para aqui vários exemplos a demonstrarem a sem
razão daqueles que consideram o teatro desacreditado perante as
massas populares. Limitamo -nos porém a focar o êxito da Companhia
AIT E , “T eatro e m B ej a: O ter ce iro e sp e ct ác ulo d a Co mp a n h ia d o T eatro
De s mo nt á vel ”, Diá rio d o Alen te jo , 0 1 .1 1 .1 9 4 5 : 1 e 4 .
471
150
do Teatro Desmontável ali ao largo de Santa Catarina e que todas as
noites de espectáculo regista enchentes dum público interessado e
entusiasta. O caso na da tem de milagroso. Bastou apenas para isto uma
companhia bem organizada que, embora sem vedetas famosas e caras,
constitui um conjunto homogéneo, que com honestidade e apreciável
sentido artístico exibe um reportório inteligentemente escolhido, ao
gosto do nosso povo, e por preços acessíveis. E o público bejense
esquece o frio e até certa incomodidade para todas as noites de
espectáculo lá estar a comover -se com as cenas dramáticas de um
Paralítico ou com as perso nagens ultra-românticas de uma
Morgadinha de Valflôr . O povo gosta de teatro! O que é preciso é
darem-lho em condições económicas de harmonia à sua magra bolsa
(472).
1946 entrou com energia renovada. Depois do mau tempo que
assolara o Desmontável, a Companhia começou o Ano Novo com “mais
um espectáculo de alegria e gargalhada” ( 473), representando Moços e
Velhos, e contou com a presença, em fim de festa, do “cantor da rádio
Tony de Matos ” (474), que, embora não fazendo já parte da sociedade,
se encontrava de quadra natalícia com a família. Nos momentos de
grande crise, que a Companhia viveu posteri ormente, a presença de
Tony de Matos manifestou-se sempre em apoio incondicionál.
De comédia em drama, em opereta, em revista, foram sendo
realizadas as festas artísticas dos actores, à medida que se aproximava
o termo da temporada em Beja: Idalina de Almeida e António Vilela,
com a revista Portugal em Festa, Afonso de Matos, com A Calúnia,
Carlos e Geny Frias, com Transviados , José Carlos de Sousa , com
Rosas da Virgem, Eduardo de Matos , com O Ladrão, Ema e Fernando
de Oliveira, com O Tio Rico, de Ramada Curto, Mila Graça e Tony de
Matos, com Adrião, quero ver o papá! , Rafael de Oliveira , com A
Morgadinha de Valflôr, e, por fim, Lizete e Fernando Frias, com A
472
473
474
“No ta d o d ia: T eatro ” , Diá rio d o Al en te jo , 2 1 .1 1 .1 9 4 5 : 3 .
“B ej a d i a -a -d ia: T eatro De s mo nt á vel ”, Diá rio d o Alen te jo , 0 2 .0 1 .1 9 4 6 : 1
Ib id e m.
151
Vida de Um Rapaz Pobre , de Octave Feuillet , em estreia na
Companhia.
Os irmãos Frias tornavam público o seu desejo de “corresponder
aos aplausos e incitamentos com que [tinham] sido distinguidos em
Beja” (475), e a imprensa retribuía elogiando -lhes o talento e a
dedicação à arte: Lizete , para além de ser alentejana, era recordada
pela “graciosa e gentil figura que [revelava] uma decidida e invulgar
vocação para a arte de representar, conquistando apreciáveis êxitos em
difíceis papéis de ingénua [...] actuando com naturalidade e um
realismo pouco vulgar em artistas cuja carreira ainda vai no princíp io”
(476); Fernando Frias , na interpretação do jovem rapaz pobre deu “a
sua melhor interpretação [...] duma sobriedade e naturalidade a
mereceram especial citação” ( 477).
O destino seguinte foi a cidade de Setúbal . Desde o início do ano
que a Companhia era esperada - “ouvimos dizer que a Companhia virá
a Setúbal”, anunciava O Setubalense (478) -, facto que se veio a
confirmar com a deslocação de Rafael de Oliveira para, como sempre
fazia,
tratar
das
formalidades
necessárias
à
montagem
do
Desmontável, estadia do elenco e funcionários, e, sobretudo, visitar as
redacções
dos
periódicos
locais,
numa
primeira
abordagem
de
divulgação do reportório. O actor -empresário não era uma figura
desconhecida do meio setubalense; dele se recordavam ter trabalhado
no “Salão Recreio do Povo e no Teatro Luísa Todi ” (479) e
aguardavam com expectativa a estreia de A Fera, por uma Companhia
considerada
superior
à
Rentini
( 480).
As
comparações
eram
“B ej a d ia - a -d i a: T eat ro Des mo n tá v el : A fes ta art í st ica d e Li ze te Fri as e
Fer na nd o Fr ia s r eal iza - s e a ma n h ã”, Diá r io d o A l en te jo , 1 9 .0 3 .1 9 4 6 : 3 .
476
Ib id e m.
477
“T eatro e m B ej a : A fes ta art ís ti ca d e Lize te e Fer na nd o Fr ia s” , D i á rio d o
Alen tejo , 2 2 .0 3 .1 9 4 6 : 4 .
478
“A C id ad e : T eatro R e nt in i”, O S etu b a len se , 0 7 . 0 1 .1 9 4 6 : 2 .
479
“A C id ad e : A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, O S e tu b a len se , 1 6 .0 3 .1 9 4 6 : 2 .
480
“A C id ad e : A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, O S e tu b a len se , 0 1 .0 4 .1 9 4 6 : 2 .
475
152
inevitáveis, tanto mai s que Rafael de Oliveira haveria de instalar o
Desmontável na Praça da República , no mesmo local onde estivera
implantado o Teatro Metálico da companhia de Julie ta Rentini. Não
eram, todavia, estes argumentos que poriam em causa a credibilidade
dos Artistas Associados, mas aqueles que advinham da “ousadia” de se
representar o reportório imortalizado por actores de nomeada, como
admitia Alberto Fialho , crítico de O Setubalense, homem “um tanto ou
quanto exigente, porque desde menino e moço metido nestas coisas de
teatro” (481):
No teatro desmontável instalado na Praça da República , apresentou-se
no passado domingo, pela primeira vez ao público desta cidade, a
Companhia Rafael d’ Oliveira , que, para inauguração do seu modesto
teatro, escolheu um dos melhores trabalhos do grande dramaturgo
português Dr. Ramada Curto , A Fera, uma das maiores criações do
insigne actor e mestre da arte de representar, Alves da Cunha .
Confessamos muito abertamente, que quando entrámos no modesto
(482) teatro da Praça da República , um pensamento duvidoso povoava
a nossa mente, pois não nos repugnava acreditar que depois de Alves
da Cunha houvesse alguém mais ousado que se atrevesse a fazer
aquela difícil personagem talhad a e escrita para o grande mestre da
cena portuguesa. Aparece -nos, porém, um D. Diogo, feito por Eduardo
de Matos, que, sem confrontos, porque a distância não se pode medir
de ânimo leve, deixou no entanto completamente satisfeita a nossa
Alb erto F ia l ho , “T e atro s: Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra: A F era ” , O
S etu b a l en s e , 2 4 .0 4 .1 9 4 6 : 4 .
482
P res u me - se q ue o ar ti cu li s ta s e re fi ra ao a sp ecto to sco q u e o De s m o nt á ve l
ti n ha, p o rq ue, q ua n to à lo t ação , a “mo d é s tia ” trad u zia - s e, ne s te mo me n to , e m
ap ro x i mad a me n te 7 0 0 l u gar e s A 2 4 d e M aio d e 1 9 4 6 , a co mp a n h ia le vo u a c e na A
Mo rg a d in h a d e Va lf lô r , e m r éc it a d e b e ne fic ên cia , a fa vo r d as fa mí l ia s d a s
ví ti ma s d a B arca “P ri m e ira”. O S etu b a len se ( 0 3 .0 7 .1 9 4 6 : 4 ) p ub l ico u
p o st erio r me n t e o relató rio d as co n ta s d es te e sp ec tá c ulo , q ue ap re s e nt a d ad o s
in ter es s a nte s so b r e a e n ver g ad ura d o tea tro -b a rraca. O s l u gar e s d i v id i a m - s e e m
trê s gr up o s : Cad e ir as , Sup erio r es e G era l, p o r 1 1 $ 0 0 , 6 $ 0 0 e 3 $ 0 0 ,
resp ect i va me n te . N ão se co n hec e nd o ne n h u m ca r taz d e sta te mp o rad a , é i mp o s sí v el
ver i fi car s e es te p reço p rati cad o ap re se n ta d i fere nça e m re laç ão a o u tra r éc ita
co rre nt e. S ej a co mo fo r , o re ferid o r el ató r io i n d ica o s l u g are s ve nd id o s e o s q ue
ficar a m p o r v e nd er. F ica mo s, as s i m, a co n he cer a lo t ação d a sa la n es ta fase , se nd o
Cad eira s v e nd id as 3 2 3 , e p o r ve nd e r 1 9 ( to ta l p arci al, 3 4 2 ) , S up erio re s v e nd id a s
4 3 , p o r ve nd er 1 2 5 (to tal p arc ia l, 1 6 8 ), e G er al ve nd id a 3 5 , e p o r v end er 1 6 5
(to ta l p ar ci al, 2 0 0 ) . Co nt a s fe ita s, a l o ta ção s eria d e 7 1 0 l u gare s. Se g ura me nt e
q ue não er a ne st e se n tid o q u e o cr ít ico fala v a d e u m te atro mo d e sto !
481
153
curiosidade. Boa dicção, admirável expressão e sobretudo um
belíssimo desenho da personagem, sem cópia nem exageros. O
trabalho de Eduardo de Matos , que recebeu fartos ensinamentos de
Chaby Pinheiro e de Alves da Cunha , agradou-nos sobremaneira e
daqui lhe enviamos os nossos parabéns ( 483).
Devido à sua proximidade com Lisboa , os sadinos mantiveram
uma relação próxima com os êxitos teatrais da capital; podendo
deslocar-se à capital ou receber as companhias nos seus próprios
teatros, Setúbal fazia parte da rota teatral itinerante das Tournées
artísticas a caminho do Algarve , bordejando o litoral alentejano.
Alberto Fialho continuou a escrever os seus apontamentos
críticos sobre as peças, os actores, a execução musical do quinteto sob
a direcção do maestro Fernando Izidro , a cenografia de Fernando
Frias, “um bom cenógrafo, muito apropriado e agradável à vista”
(484), que, gradualmente, fora substituindo os antigos cenários do seu
mestre e antecessor Rogério Machado .
Todavia, apesar dos artistas estarem a representar “diversos
originais de autores consagrados com desempenho deveras notável”
(485), a imprensa constatava a falta de concorrência do público ao
Desmontável e apressava -se a vir publicamente em seu auxílio.
Pois o empresário tem perdido dinheiro. Umas vezes por motivo do
temporal e outras por falta de assistência, a verdade é que esse núcleo
de artistas não tem tido o prazer de ver a plateia setubalense a
admirar-lhe o trabalho. E, no entanto, a Companhia é digna do favor
do público. Os seus elementos são superiores aos da Companhia que
no mesmo local funcionou há dois anos. Porquê o desinteresse desse
público? Mas esse público que corre aos cinemas a ver fitas passadas e
repassadas nas telas, não gosta de teatro? Se gosta, porque falta? É
certo que o teatrinho é modesto mas, para com pensar, os elementos
artísticos suprem a falta. E como sabemos perfeitamente que o povo
setubalense gosta de teatro, estranhamos a sua ausência, o que não é
483
Ib id e m.
Alb er to F ia l ho , “T ea tro s : Co mp a n h ia Ra fa e l d e O li ve ira : A To m a d a d a
Ba s tilh a ”, O S etu b a len s e , 0 8 .0 5 .1 9 4 6 : 2 .
485
“A C id ad e : A ab ri r: O T eatro De s mo n tá v el” , O S etu b a l en se , 1 1 .0 5 .1 9 4 6 : 2 .
484
154
justo. Não é verdade? O teatro romântico emociona, produz vibrações,
chega a fazer cair as lágrimas que se juntam aos cantos dos olhos. E o
público precisa também que os nervos vibrem. A Companhia aguarda a
visita do público cônscia que, na modéstia do seu trabalho, o que
representa é bom e o desempenho honesto. Ali, faz -se teatro, várias
vezes melhor q ue o que a Setúbal têm trazido muitas Companhias
(486).
Aparentemente correcto, o discurso do articulista “esconde” os
tempos difíceis vividos em Portugal durante a década de 40 e nos
primeiros anos do pó s-guerra. Ainda que a posição face ao conflito
armado tivesse sido a neutralidade, a verdade é que os problemas
internos portugueses criaram um clima de cansaço na população;
assistiu-se ao açambarcamento, à especulação e ao mercado negro. Os
maus anos de colheita, no início da década, que fizeram subir o preço
dos bens essenciais, acrescidos da redução das importações em anos
seguintes teve como resultado a fome, que atingiu os centros operários
e os assalariados rurais. As greves desencadeadas entre 42 e 44, na
região de Lisboa, Setúbal, Covilhã, Alentejo e Ribatejo , a que se
associaram as manifestações de camponeses por todo o país a norte do
Tejo, apontavam o dedo à política de penúria do Estado Novo . Em
1943, Salazar, introduzindo o racionamento de bens essenciais, acabou
por criar um efeito perverso: uma vez que estes se esgotavam e
demoravam a ser repostos, os consumidores acabaram por ficar à
mercê do mercado negro. No ano seguinte, os preços de alguns bens
chegaram a duplicar, e pior do que tudo, verificou -se a falsificaç ão de
produtos. A penúria persistiu para além do fim da guerra, mantendo -se
a utilização das senhas de racionamento.
Na carência de alimento para o corpo, não parece essencial a
procura de alimento para o espírito, por muito acessíveis que fossem
as entradas no Desmontável, excepto para um segmento da população
mais afortunado. Além disso, o cinema praticava preços mais modestos
486
Ib id e m.
155
– Rafael de Oliveira sabia-o – e os actores portugueses enchiam a tela
com as comédias que seguiam o modelo iniciado com A Canção de
Lisboa, nos anos 30: via -se, ria-se e aplaudia-se O Pai Tirano (1941) e
A Vizinha do Lado (1945), de António Lopes Ribeiro , O Pátio das
Cantigas (1942), de Francisco Ribeiro , O Costa do Castelo (1943) e A
Menina da Rádio (1944), de Artur Duarte, mesmo que António Ferro
os considerasse grosseiros e vulgares. A exaltação literá ria manifestase em António Lopes Ribeiro , adaptando o camiliano Amor de
Perdição (1943), e
em Leitão de Barros , prendendo na tela a
imortalidade romanesca de Inês de Castro (1945) e de Camões (1946).
Tal como na actualidade televisiva, o sucesso da tela era o sucesso dos
seus actores. António Silva e Vasco Santana formam uma dupla que
arrasta plateias, tal como, entre 1940 e 1946, este último e sua mulher
Mirita Casimiro formam o casal Santana, ídolos c onsumados, que
produzem operetas e revistas ( 487). Por outro lado, os irmãos Ribeiros
(António Lopes Ribeiro e Francisco Ribeiro, Ribeirinho) tentam criar
uma linha de produção cinematográfica, ao mesmo tempo que fundam
Os Comediantes de Lisboa , em 1944, onde reúnem um conjunto de
actores de talento (488). No mesmo ano, cria -se a Cinemateca
Portuguesa, dirigida por Félix Ribeiro , e, no ano seguinte, o Clube
Português de Cinematografia (Cineclube do Porto) .
Apesar das dificuldades, durante dois meses, o Desmontável
manteve-se instalado até ao últi mo dia de Junho de 1946, quando se
despediu do público sadino com a revista A Ver Navios Navios . Teria o
título do espectáculo algum sentido oculto ? Desconhecemos. Todavia,
antes de lhe perdermos o rasto até ao final do ano seguinte, a
487
No i n íc io d e 1 9 4 2 , s o b e à c e na no T ea tro d a T rind ad e , a re v i sta Ale lu ia ,
o ri gi na l d e Ar na ld o Lei t e e H ei t o r Ca mp o s Mo nt eiro (1 8 9 9 -1 9 6 1 ) , co m mú s i ca d e
B ern ard o Ferre ira e Ar m and o Leç a .
488
J o ão Vilare t , Ma ria La la nd e , An tó nio Si l va , E u ni ce M u ño z , Ca r me n Do lo re s ,
Lu cí lia S i mõ e s , As si s P ac heco , Ho rte n se Luz , E mí l ia d e Ol i ve ira e Ál va ro
B en a mo r .
156
Companhia interpretou ainda O Tio Rico, a divertida comédia de
Ramada Curto, numa récita de beneficência realizada no Teatro Luísa
Todi, a 5 de Julho [489].
6.
Uma digressão pelas Ilhas: Madeira e Açores
6.1. Funchal - O Desmontá vel da Avenida do Mar : “Um
Brinde de Natal”.
A 10 de Dezembro de 1947, o «Carvalho Araújo » fundeou ao
largo da Madeira. No dia seguinte, o Eco do Funchal noticiava que
Rafael de Oliveira visitara a redacção do jornal, logo que chegara,
acompanhado do empresário João Jardim [490], “que se tem mostrado
incansável na realização desta louvável iniciativa” [491]. Na realidade,
a
contratação
dos
Artistas
Associados
por
este
empresário
cinematográfico madeirense, para uma temporada de pouco mais de um
mês no Funchal, era considerada como “um magnífico brinde do Natal
de 1947 aos madeirenses amadores de teatro” [492].
A actuação da Companhia tornava -se de certo modo insólita para
o espectador madeirense, habituado a receber as companhi as de
renome no seu Teatro Municipal de Baltazar Dias , e quanto a recintos
desmontáveis apenas conhecia os dos seus cinemas ao ar livre.
Constituía, portanto, um interesse acre scido, segundo relatava a
imprensa local, a estreia da Companhia Rafael de Oliveira , actuando
“R éc ita d e Car id ad e”, O S e tu b a len se , 0 3 .0 7 .1 9 4 6 : 1 .
E m fi na i s d o s a no s 4 0 , J o ão J ard i m to mo u d e tre sp a s se o C i ne J a rd i m d o
F u nc ha l, u m c i ne ma ao ar li vre , c uj a h i stó r ia re mo nta v a ao s a no s tri nt a. Co mo
e mp re sár io , J o ão J ard i m fo i u ma fi g ur a co ntro v ers a d o meio mad eir e ns e, fic a nd o se - l he a d e ver a co n s tr uç ão d o p r i mei ro c i ne m a co b er to d o F u nc ha l , e m 1 9 6 6 , o
Ci n e ma J o ão J ard i m . So b re a s ua hi s tó ri a a trib u lad a le ia - se a o b r a d e J o ão
Ma urí cio M arq ue s , O s f a u n o s d o cin ema ma d ei ren se, F u nc h al : Ed i to ri al Co rre io
d a Mad eira , 1 9 9 7 .
491
“C h e go u o n te m à Mad eira a Co mp a n hi a Ra fa e l d e O li v eira q u e ve m d ar n es ta
cid ad e u ma sér ie d e e sp ectá c ulo s d e t eatro ”, E c o d o Fu n ch a l , 1 1 .1 2 .1 9 4 7 : 2 .
489
490
157
“num magnífico teatro Desmontável, instalado na Avenida do Mar ,
propriedade do arrojado Empresário madeirense Sr. João Jardim ”
[493]. A empresa Cine Jardim fez anunciar no Diário de Notícias, da
Madeira, a estreia de As Duas Causas , que, à última da hora, em
virtude
da
Sociedade
de
Au tores
não
haver
autorizado
a
sua
representação, teve de ser substituída por O Gaiato de Lisboa. A este
descontrolo poderá dever -se a falha na impressão de programas do
espectáculo,
conforme
critica
MV,
no
Eco
do
Funchal,
cuja
elucidativa crónica da noite de 20 de Dezembro de 1947 se transcreve:
[A] Companhia fez a sua est reia com uma assistência reduzida,
talvez com ¾ da lot ação da casa. Se focamos este por menor é
apenas para frisar que a empresa, descurando a requerida
propaganda do pri mei ro espectáculo, traiu o consolo espiritual que
os artistas do palco sentem na noite do seu pri meiro contacto com
um público desconhecido. Essa negli gência traiu, outrossi m, a
própria escora financeira da empresa, que é j usto prémio duma
propaganda inteli gentemente orientada e mantida.
Nem um programa a elucidar o público da distribuição e acção da
peça, nem os anúncios dos j ornais a vibrar a nota que congrega o
público e autoriza o espectáculo. Sem amparo da publicidade que
era de esperar, verificou -se o facto citado da Companhia estrear
perante uma assistência reduzida. Mas... como o prod uto quase
contrabandisticamente apresentado era bom, creditou -se por si
mesmo.
Outro reparo, que de modo al gum envol ve o prestígio artístico da
Companhia, é o da montagem de microf ones apropriados, de for ma a
que o público da rectaguarda possa ouvir nitida mente os actores. É
uma deficiência que decerto j á foi resolvida.
Ao descer o pano do 1º acto do Gaiato de Lisboa , a assistência
escassa mas seleccionada, premi ou o trabalho meritório dos artistas
com pal mas que não f oram de favor, por que traduziram aquilo que
é raro entre nós, público frio e exigente: espontaneidade e
sinceridade absoluta. E quando o pano desceu sobre o 2º acto, o
estrondo pr olongado do aplauso testificou [sic] que o público estava
conquistado e feito o melhor elogio, o maior reclamo da
Companhia. O Fi m de Festa do espectáculo de estreia – pri moroso
“bouquet” de variedades, revelou, com perfeição, o valioso
En ep ê , “A Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i vei ra co nt i n ua e m p le no ê x ito ” , Eco d o
Fu n ch a l , 1 5 .0 1 .1 9 4 8 : 4 .
493
“Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, O Co r reio De sp o rt ivo , 2 1 .1 2 .1 9 4 7 : 1 .
492
158
desdobramento artís tico do conj unto, autor izado a desempenhar -se
dos géneros dramático, operático e li geiro.
[...] José, o gaiato, teve em Geny Frias uma encarnação de
consciencioso equilíbrio, firmeza nas tiradas, colorida na expressão
e segurança de difícil exteriorização psicol ógica. Na Mila , Li zete
Frias, servida por uma gracilidade sem senão, por voz de fi no
timbre, de doce melodia, dicção correcta, vocação em flor, mi mo
revelando inteli gência e estudo, - ani mou a figura que parece ter
sido criada para a sua sensitiva interpret ação. O velho Gener al
Sar mento brilhou a grande altura no talento interpretativo de
Afonso de Matos . O gesto, o vinco da máscara, a modulação da fala,
o arranque seguro do voo dec lamatório, pega vi víssi ma da deixa,
arte e rapidez de expressão, o aprumo sem quebra nem deslize do
característico, - tudo nele é alto, relevo e enver gadura dos Artistas
de garra, de mão cheia, de plano superior e valor consagrado.
Afonso de Matos é um Artista de craveira nobre, que honrando a
Arte teatral portuguesa, muito honra o el enco onde milita, como
figura central. Ema de Oli veira , Mila Graça, Rafael de Oli veir a ,
Fernando Frias e José C. de Sousa , respect ivamente em Doroteia ,
Baronesa de Valmor , Cosme, Eduardo Sarmento e criado,
concorreram com acerto para o seguro desempenho e j ustificado
sucesso obtido na peça da estreia.
Boa cenografia. Adereços à altura do requerido e das
circunstâncias. Guarda -roupa adequado, carac terização fácil. Uma
orquestra composta de 9 figuras, sob a treinada e competente
regência do Sr . Ismael de Car valho, deliciou a assistência,
realçando a excelente impressão que o público levou do debute da
Companhia Rafael de Oliveira [ 494].
O ritmo de realização de espectáculos é frenético, já que a assim
obrigam as normas contratuais entre o empresário madeirense e a
Companhia. Em 46 dias de estadia no Teatro Desmontável da Cine
Jardim, realizam-se 49 espectáculos, mais dois no Teatro Municipal de
Baltazar Dias, e um no pavilhão-teatro da Casa do Povo de Santo
António. Disso dá conta o articulista de O Correio Desportivo ,
destacando que “sem se deixarem dominar pelo esgotamento, os
artistas em cada espectáculo encaram novos personagens” [495], e
lamenta “que a companhia esteja a ultimar os seus espectáculos
MV, “T eatro : O Ga ia t o d e Lisb o a e m esp ect ác ulo d e E str eia d a Co mp a n h ia
Ra fael d e Ol i vei ra”, Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 .
495
“Arte D ra má ti ca: Co mp a n h ia Ra fael d e O l iv eir a”, O Co rr eio D e sp o rt ivo ,
1 8 .0 1 . 1 9 4 8 : 1 e 2 .
494
159
privando o público de um género de teatro que lhe vinha merecendo já
bastante e denunciado interesse, tocando -lhe por vezes na fibra
emotiva”
[496].
Frequentador
regular
dos
espectáculos
do
Desmontável, aflora-lhe a memória longínqua de um dia de Natal em
que assistiu à representação de A Morgadinha de Valflôr , “no antigo
Pavilhão-Paris, [por] uma Companhia Dramática, dirigida pelo actor
Augusto de Andrade ” [497], a que pertencia a jovem Ilda Stichini , em
quem Brazão vislumbrou “um raro talento de comediante” [498].
“Quem nos diria a nós que, como há trinta anos na modesta
comediante
da
Companhia
Augusto
de
Andrade ,
estaremos
em
presença de valores e talentos que um dia outro grande actor como foi
Eduardo Brazão venha descobrir e revelar” ( 499), exclama no seu
encanto pelos artistas do Desmontável.
No termo do contrato com a Empre sa Cine Jardim , a Companhia
realiza
as
suas
habituais
festas
artísticas,
embora
em
menor
quantidade, congregando maior número de artistas por récita. Afonso
de Matos apresenta, como de costume, A Calúnia, a família Oliveira,
Transviados , a família Frias, A Vida de um Rapaz Pobre , e a família
Vilela, à qual se junta Tony de Matos (500), A Filha do Leão.
Começando por ser “um agradável brinde de Natal” ( 501), a presença
da Companhia do Teatro Desmontável , “no seu género, do melhor que
à Madeira tem vindo” ( 502), ganhava pertinência pela capacidade com
496
Ib id e m.
Ib id e m.
498
Ib id e m.
499
Ib id e m.
500
Enco n tra nd o - se j á a tra b al har e m Lisb o a, T o n y d e Mato s ap ro ve it a o “b arco ” d a
Co mp a n h ia d e se u s t io s p ara faze r u ma d i gr es s ão p ela s i l ha s. Alé m d e exe rcer a s
s ua s t rad i cio n ai s fu nçõ e s d e p o n to na Co mp a n h ia, a ct u a ta mb é m co mo ca nto r no
F u nc ha l. O Co rr eio De s p o rt ivo p ub li ca u ma e n t rev i sta i n ti t ulad a “Na s r ed o nd eza s
d o p alco : An tó nio M ato s, c ul ti v ad o r d o fad o co i mb rão , e st á n a Mad e ira , fa ze nd o
p arte d o el e nco d a Co m p an h ia R a fae l d e Ol i ve ir a” (1 8 .0 1 .1 9 4 8 : 3 ).
501
MV, o p .c it. , Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 .
502
“T ea tro De s mo n tá ve l na Av e nid a d o Mar ” , Diá rio d e No tí cia s , F u nc ha l,
1 0 .0 1 .1 9 4 8 : 1 .
497
160
que apresentava um reportório que parecia “inesgotável”, interpretado
com justeza, equilíbrio, vestindo a carácter, exibindo bom gosto no
cenário e arranjo de cena, “empregando todos os recursos ao seu
alcance para bem servir o público” ( 503), mas, sobretudo, porque, ao
representarem obras cobertas pela “poeira do esquecimento”, estavam
“prestando às gerações moças um serviço cultural louváve l” (504). Se
a modéstia do barracão não impedia que tivesse frequência assídua de
“muitas e muitas famílias da melhor sociedade madeirense” ( 505),
também se conheciam os “remoques de despeito de certas pessoas que
sent[iam] relutância em descer ao barracão da Avenida do Mar ” (506).
Porquê? “Teatro de barracão? Decerto. Teatro para todos os que
gostam de Teatro. Teatro do Povo e para o Povo, diremos nós,
também, que ao Povo deverá merecer simpatia pela cultura e belo
passatempo que ele traz consigo” ( 507), conforme havia sublinhado,
desde início, o cronista do Eco do Funchal.
Dado o “grande aprazimento do público” ( 508), a imprensa
sublinha o desejo de manter a Companhia pelo máximo tempo
possível. Com esse intuito, surge um apelo “para o justo e louvável
patrocínio da Câmara Municipal do Funchal ” (509) apoiar o “Teatro
para o Povo”, em que ecoam as ideias preconizadas por António Ferro
e a sua Política do Espírito :
Sabendo que a Companhia Teatral Rafael de Oliveira [...] tendo já
terminado o contrato com a empresa que se arroj ou aos pesados
encargos da sua deslocação a esta Ilha, se dispunha à desmontagem
do Pavilhão instalado na Avenida do Mar , a fim de retirar da
503
En ep ê , o p . c it. , Eco d o Fu n ch a l , 1 5 .0 1 .1 9 4 8 : 4 .
Ib id e m.
505
Ib id e m.
506
Ib id e m.
507
MV, o p . c it., in Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 .
508
“T ea tro De s mo n tá ve l na Av e nid a d o Mar ” , Diá rio d e No tí cia s , F u nc ha l,
2 3 .0 1 .1 9 4 8 : 3 .
509
T eatro p ara o P o vo : Ap ela nd o p ar a o j us to e lo u v á ve l p atro cí n io d a Câ ma ra
Mu n ic ip a l d o F u nc ha l”, Eco d o Fu n ch a l , 0 8 . 0 2 .1 9 4 8 : 6 .
504
161
Madeira o mais breve possível, libertando -se assi m das inerentes
despesas deri vadas da sua actividade profissional, surgiu -nos a
ideia, que propomos ao director de referida Companhia de, com o
j usto e louvável patrocínio da C âmara Municipal do Funchal e de
outras autoridades e entidades locais, ser levado a efeito uma série
de espectáculos a preços excepcionais, destinados às classes
populares e filiados nos Sindicatos Nacionais deste distrito,
incluindo as pessoas de famílias daqueles.
O obj ectivo que nest e caso se procura atingir, é o de facultar à
massa humilde dos que trabalham, a oportunidade e a facilidade de
poderem desfrutar, ao alcance de seus escassos meios e posses,
algumas horas de inefá vel e bem merecido prazer espiritual, de
diversão altamente educativa. [...] No vasto reportório da
Companhia Rafael de Oliveira, há peças que são verdadeiras lições
de cultura em expressivos exemplos de edif icação moral. É teatro
desta marca e dest a elevação, honesta e conscienciosamente
interpretado pelos artistas da Companhia Rafael de Oliveira , que se
procura dar a quem não o pode nem o pôde desfrutar devido aos
preços mais ou menos elevados que a empresa cessante teve de
manter na mira legítima de suprir suas onerosas obrigações. É de
supor que a notícia do assunto a que nos esta mos reportando, dê
satisfação à gente humilde que gosta de Teatro.
É também de esperar da Câmara Municipal e demais autoridades e
entidades locais, o melhor apoio e mais desvelado acolhi mento à
simpática ideia de cul tura popular aqui sugerida, tanto mais q ue a
essência desta ideia faz parte da sã Política do espíri to
louvavel mente proclamada como distingui da doutrina do Estado
Corporati vo ( 510).
A argumentação surtiu efeito, uma vez que na edição seguinte do
Eco do Funchal se referenciava que a Companhia tinha sido “justa e
louvavelmente patrocinada pela digna Câmara Municipal do Funchal ,
deferindo
prontamente,
com
isenção
de
taxa
de
terreno,
o
requerimento que lhe fora presente para o fim em vista” (511). E a
Companhia retribuiu, acolhendo no seu palco, em fins de festa, as
glórias madeirenses: a já retirada actriz cantora Adelina Fernandes
participou na festa artística de Afonso de Matos e na da família Vilela,
a que também deram contributo “o actor de cinema e teatro Teodoro
510
Ib id e m.
“T ea tro p ara o P o vo : Esp e ctá c ulo s a p r eço s ex cep c io na is p ela Co mp a n h ia
Ra fael d e Ol i vei ra”, Eco d o Fu n ch a l , 1 5 .0 2 .0 1 4 8 : 6 .
511
162
Silva (512), o cançonetista excêntrico João Falcot , o apreciado
vocalista do “Flamingo ” Jaime de Sousa, o exímio cantador Alexandre
Pinto e os conhecidos acompanhadores José dos Santos (guitarrista) e
João Vieira (viola)” (513); Lizete Frias interpretou o soneto A Ilha de
Sonho, do poeta madeirense António Abreu Paulos , que ganhara o “1º
prémio nos Jogos Florais do programa radiofónico «Vozes Dispersas »”
(514). Enquanto se desmontava a
caixa
de
sonhos
do público
funchalense, a Companhia aderiu à homenagem às Guias de Portugal ,
promovida pelo Clube de Futebol União , fazendo subir à cena do
Teatro Municipal de Baltazar Dias A Morgadinha de Valflô r. A
Companhia Rafael de Oliveira demonstrava com direito assistido que a
sua qualidade se encontrava “à altura do tablado do Municipal" ( 515),
“do antigo «D. Maria Pia », por onde [passaram] algumas das mais
gloriosas figuras do teatro naciona l” (516):
E, se j á nos numerosos espectáculos do vastíssimo reportório dest a
Companhia, levados a efeito no Teatro Desmontável , da Avenida do
Mar, os seus elementos tinham dado a melhor conta dos seus
méritos artísticos, no palco do Municipal, de maiores proporções, e
perante um público escolhido, que enchi a literalmente a sala,
mostraram-nos bem quanto podem e quanto sabem. Magnificamente
512
U m d o s a cto r es mad e ire n se s, ao lad o d e Vi rg íl io T ei xe ira , C arlo s Ve lo s a ,
Ma gd a Co e l ho e J o r g e Ca rd o so N u ne s , q ue est i ver a m l i gad o s à p ro d uç ão
ci ne ma to gr á fic a. T eo d o ro Sil v a mu d o u - se p ara Lis b o a e m 1 9 4 4 p ara te nt ar a s ua
so rt e. E m 1 9 4 5 , p ar ti ci p o u no fil me Jo s é d o Tel h a d o , co m Vir g íl io T eixe ira .
Re al izo u no F u nc ha l u m a lo n g a metr a ge m mu d a in ti t ul ad a O S eg red o , e m 1 9 4 8 . A
s ua carr eir a fo i i nte rro mp id a p o r a cid e n te d e trab a l ho d ur a nte u ma s fil ma g e n s,
reg re ss a nd o d e fi ni ti va me n te à M ad eir a . ( so b re o s r e sta n te s no me s, c f. J o ão
Ma urí cio Marq u es , o p . c it., 1 9 9 7 : 8 2 -8 3 ) .
513
“O gra nd io so e sp e ct ác u lo d e 3 ª - feir a no T ea tro De s mo nt á vel ”, Eco d o F u n ch a l ,
2 2 .0 2 .1 9 4 8 : 1 .
514
“A fe st a art í st ica d o s a rti st as Fr ia s q ue se rea l iza ho j e no T eatro D e s mo n tá ve l
va i a lca n çar u m b ri l ha n t e s u ce sso ”, Diá rio d e N o tíc ia s , F u nc ha l, 1 7 .0 2 . 1 9 4 8 : 3 .
515
E. V., “C ró ni ca d e T ea tro : A r ep re se n taç ão d e Mo rg a d in h a d e Va lf lô r ” , D iá r io
d e No tí cia s , F u nc h al, 2 9 .0 2 .1 9 4 8 : 1 .
516
En ep ê , “No T ea tro M u ni cip al d e B al ta zar Dia s A Mo rg a d in h a d e Va l flô r p e la
Co mp a n h ia R a fa el d e O li ve ira ”, E co d o Fu n ch a l , 2 9 .0 2 .1 9 4 8 : 3 . A re sp e ito d as
fi g ura s d e re no me nac i o na l e i n ter n acio n al q u e p as sar a m p e lo p al co d o en tão
T eatro d e D. Mari a P ia , leia - se o co nj u n to d e cró n ica s j o rna lí s tic a s d a au to ri a d e
J o ão Rei s Go me s , co l ig id a s so b o t ít u lo Fi g u ra s d e Tea tro , p ub l icad a s no
F u nc ha l, e m 1 9 2 8 , e m E d ição d a Co mi s são P ro m o to ra d a ho me na g e m ao au to r.
163
interpretada, a peça de Manuel Pinheiro Chagas deu-nos
maravilhosamente aquele ambiente românt ico e aquele fundo de
conflito de evolucioni smo político, em que o grande dramatur go a
sentiu e escreveu ( 517).
Após o derradeiro espectáculo no Pavilhão -Teatro da Casa de
Povo de Santo An tónio, a 29 de Fevereiro, de cujo programa
anunciado a imprensa nunca chegou a revelar o título, a Companhia
despediu-se da Madeira , onde ficavam “as mais sinceras simpatias de
todas as camadas sociais [...] as melhores e mais perduráveis das
impressões” (518) e a ilusão daqueles que, “a princípio, entenderam
medir ou bitolar pelo franciscano aspecto do barracão, o valimento
profissional do conjunto que nele actuou, falindo desta v ez – e neste
caso – a moral do rifão de que «pela aragem se conhece quem vai na
carruagem »” (519).
Deixando para trás a “pérola do Atlântico” rumo às ilhas
encantadas, ao sabor do extenso mar salgado, a bordo de uma ilha
metálica flutuante baptizada «Lima », arribaram a ilha açoriana de S.
Miguel, a 2 de Março de 1948. Pela frente esperava -os algo maior que
o Desmontável, o Coliseu Avenida , em Ponta Delgada, a enorme sala
de um teatro -circo, que os acolhia, uma vez que o antigo Teatro
Micaelense se encontrava em reconstrução.
6.2. S. Miguel e Terceira: As Bodas de Ouro Artísticas de
Afonso de Matos
Tal como na Madeira, a Companhia encontrava -se contratada
pelas empresas exploradoras dos teatros locais, começando pelo
Coliseu Avenida de Ponta Delgada (S. Miguel), a que haveria de
517
Ib id e m.
“U ma t e mp o rad a d e T eatro : Co mo fo i vi st a e ap re ciad a no F u nc h al a
Co mp a n h ia R a fae l d e O l i v eir a”, Eco d o Fu n ch a l , 2 6 .0 2 .1 9 4 8 : 1 e 2 .
519
Ib id e m.
518
164
seguir-se o Teatro Agrense, em Angra do Heroísmo (Terceira), e
outras salas de menor dimensão. Esperada que era, a imprensa regional
fora preparando o público para a temporada que se avizinhava, e
chegada que foi, a mesma imprensa noticiou, sem grandes encómios, a
sua composição, reportório e estreia para o dia 6 de Março com o
drama As Duas Órfãs, auspiciando que, a exemplo do Funchal , a
companhia obtivesse “um grande êxito, pelo valor das peças que
apresentari a e também pelo seu elenco, constituído por bons artistas”
(520). Mal tiveram tempo para respirar. Enquanto Afonso de Matos e
Mila Graça faziam a ronda das redacções dos periódicos locais, na
habitual actividade promocional, acompanhados pelo secretário “Mota
de Vasconcelos, publicista e profissional de imprensa” [521], a
empresa explor adora do Coliseu Avenida fazia publicitar, nas páginas
da imprensa local, uma temporada “extraordinária” com “as mais belas
peças teatrais de todos os tempos”. Com indicação dos telefones para
as reservas, pretendia-se agarrar a presença do público: “VEX.ª já fez
a marcação dos seus lugares para os espectáculos da Companhia
Rafael de Oliveira?” [522].
No próprio dia da estreia, a “curiosidade popular” foi excitada
pela força de um anúncio de última página, em grande dimensão,
destinado a conseguir a apoteose desejada:
Coliseu Avenida. Cine Teatro Circo – telefone, 201.
sábado – 6-3-48.
Estreia da Companhia de Teatro Rafael de Oliveira com a
super-peça em 8 quadros, AS DUAS ÓRFÃS.
Sucesso garantido! Um grande êxito do teatro Apolo de
Lisboa!
A notável peça de Ennery na versão de Afonso de Magalhães
– Teatro que toda a gente pode ver! Uma peça que fala ao
“V a mo s v er... no : Co li se u Av e nid a : Co mp a n h ia d e T eatro R a fae l Ol iv eir a”,
Co rr eio d o s Aço re s , 0 6 . 0 3 .1 9 4 8 : 3 .
521
“U ma co mu n i d ad e f a mi l iar e m d i gr e ss ão ar tí st ica : A Co mp a n h ia Ra fael d e
Oli v eir a”, Co r re io d o s Aço r es , 0 5 .0 3 .1 9 4 8 : 4 .
522
Aço re s, 0 4 .0 3 .1 9 4 8 : 4 .
520
165
coração de todos! Teatro para todos! Enternece... Comove!...
Choca!... Arrebata!...
Guarda-roupa a rigor! Cenários próprios!
ATENÇÃO – Devido à afluência de marcações, só serão
respeitada as mesmas até às 18 horas, do dia do espectáculo.
No seu próprio interesse marque por assinatura para todos os
espectáculos!
Uma orquestra de professores s ob a direcção do Prof. Licínio
Costa abrilhantará este espectáculo [523].
O clima de guerra, vivido em anos anteriores, impusera um
isolamento cultural das ilhas. Não se atrevendo as companhias teatrais
a cruzar o Atlântico, o Coliseu Avenida teve de dar maior relevo à
programação cinematográfica, o que acabou por fatigar o público
habitual desta sala. A estreia da Companhia “perante uma assistência
sequiosa das luzes da ribalta” [524] teria de ser feita com o recurso à
representação de peças de agrado certo. Na ausência de nomes
conhecidos do grande público, capazes, por si só, de atrair enchentes
ao amplo teatro -circo micaelense, principiou -se pelo reportório d e
sucesso. As Duas Órfãs e A Tomada da Bastilha , com chancela de
reportório de Teatro Apolo de Lisboa, garantiam ao público uma
realização artística, e à entidade contratante uma realização financeira
que justificasse a paralização da “ aparelhagem cinematográfica para
que o seu palco servisse à apresentação da Companhia Rafael de
Oliveira” [525].
Obviamente que a Companhia conquistou de imediato o agrado
do público. A imprensa, para quem tudo isto re cordava crónicas
antigas do tempo “em que o público comparticipava no desenrolar das
523
Aço re s, 0 6 .0 3 .1 9 4 8 : 4 .
“T eat ro De c la ma d o no Co l is e u Ave n id a : A C o mp a n h ia Ra fae l d e Ol iv eir a ” ,
Co rr eio d o s Aço re s , 1 0 . 0 3 .1 9 4 8 : 3 .
525
“T eatro : A a ct ua ção d a Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira n o Co l i se u A ve n id a ” ,
Aço r es , 1 0 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 .
524
166
cenas, invectivando o «cí nico» e aclamando a «ingénua»” [ 526],
reconhecia, todavia, a competência deste “agrupamento artístico
destinado às terras da Província, [cujo] repor tório até agora exibido
obedec[ia] à rubrica – teatro do povo – com as situações e emoções
precisas para o pronto agrad o do público a que se destina” [ 527].
Porém, quando a Companhia levou à cena A Fera, na terceira
noite da sua estadia, a interpretação “daquele conjunto que merecia a
simpatia do público” [528], e que até então tivera “os carris
assentados para a geral, ofertando -lhe a exactidão da emoção precisa”,
“mudou de rumo, dando a outro público” [529] algo mais, que não
passou despercebido à imprensa, que tirou as suas ilações “fora da
secção habitual do reclame”:
[A] Companhia Rafael de Oliveira, usando dignamente o ti mbre –
Província e Povo -, excedeu com esta peça tudo o que dela se
esperava. Nu ma época de arrogâncias, a que o teatro não escapou,
esta modéstia merece ser exaltada, para que a concorrência e os
aplausos não faltem a um grupo de ar tistas, que nos trouxe
distracção e refrigério [ 530].
Tratava-se do primeiro espectáculo com um drama do século XX,
cujo autor, segundo o articulista do Correio dos Açores , enquanto
jornalista, possuía “um aroma especial de espírito e coração”, mas
cuja mestria se encontrava no teatro com “o perfeito sentido da vida,
trabalhando
com
as
realidades
psicológicas,
como
condutor
experimentado, que sab[ia] encontrar as reacções em todas as
tonalidades” [531].
“T eatro D ec la mad o n o Co li s e u Ave nid a: Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira ” ,
Co rr eio d o s Aço re s , 1 0 . 0 3 .1 9 4 8 : 4 .
527
Ib id e m.
528
Ib id e m.
529
“T eatro Dec la ma d o d a Co mp a n hia Ra fa el d e Oli v eir a ”, Co r re io d o s Aço r es ,
1 1 .0 3 .1 9 4 8 : 4 .
530
Ib id e m.
531
Ib id e m.
526
167
Entre o grande espectáculo romântico, escrito em moldes antigos,
falando ao coração das massas “da geral”, e o contemporâneo, es crito
em moldes modernos, “com tese, [...] monumentos que nem o tempo
nem as gerações podem ofuscar” [532], falando à inteligência de
“outro público”, a Companhia foi desfiando o seu reportório no
Coliseu Avenida. Na prática de sobrevivência de uma companhia
itinerante, a relação entre a poética dos textos que escolhiam e a
estética
dos
espectáculos
que
exibiam
expressado pelo articulista do jornal
resumia -se
no
conceito
Açores: “É certo que as
diferentes épocas exigem escolas próprias. Porém, o valor real dos
argumentos mantém -se firme no seu poder e instrutivo no seu
conceito” [533].
Esta tolerância argumentativa turvou -se, todavia, quando a
Companhia apresentou A Severa, porque se não “acomodou com o
clima moral dos Açores ” [534]. Sem qualquer intuito de menoscabar a
obra de Júlio Dantas , “o novo Garrett português”, cuja carreira
literária plena de labor lhe dera prestígio e glória, o articulista do
Correio dos Açores considerava a peça em causa, uma “irreverência
representada na noite de sábado pela Companhi a Rafael de Oliveira, já
muito divulgada pelo cinema” [535]. Elucidou que o realismo, que
Dantas experimentara em A Severa, e teimara em continuar em Os
Crucificados,
fora
causador
da
sua
precipitação
“no
ruído
do
desagrado”, pelo “desastre da insultuosa pateada” tributada pelo
“público das ovações e do delírio, q ue erguera o moço escritor às
nuvens” [536], e, apenas pela composição dos alexandrinos de A Ceia
dos Cardeais lhe adviera a redenção. Quanto à interpretação: Afonso
“T eatro : A a ct ua ção d a Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira n o Co l i se u A ve n id a” ,
Aço r es , 1 0 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 .
533
Ib id e m.
534
“A Co mp a n h ia Ra fael d e Oli ve ira na úl ti ma p eça q u e es treo u no Co l i se u
Av e nid a”, Co r re io d o s Aço r es , 0 7 .0 4 .1 9 4 8 : 4 .
535
Ib id e m.
532
168
de Matos desempenhava o seu papel melhor do que o actor Carlos
Santos o havia feito, Eduardo de Matos e Geny Frias haviam composto
“os estilos que lhes tinham sido destinados”, tal como o restant e
elenco, porque a história era retrato “de uma época que, analisada a
tanta distância, é tema quase sem interesse, pa ra um paladar que
desconhece a guitarra da viela e a varonia fidalga que acamaradaram
na rua do Capelão , episódio que as revistas dos teatros do Parque
Mayer se não cansam de relembra r” [537]. E mais não disse; não se
atreveu ao “morra o Dantas!”, mas pensou -o certamente.
Uma
situação
sem
precedentes,
nem
continuidade,
apenas
incómoda, tanto mais que o agrado que a Companhia despertara com
os seus espectáculos, havia entusiasmado o peri odista do Correio dos
Açores que, a propósito da representação de A Rosa do Adro e Casa de
Doidos, num assomo de boa vontade, havia publicado as suas
impressões críticas com o seguinte título: “O teatro declamado da
Companhia Rafael de Oliveira e o ensejo que agora se oferece ao
S.N.P. de oferecer à vida rural dos Açores o teatro do povo”. Naquele
“registo noticioso”, como lhe chama, lança a sugestão:
[Que] considera ser de j ustiça frisar, que a Companhia Rafael de
Oliveira merecia ser aj udada pelo Secretariado Nacional de
Infor mação e Cultura Popular, como intérprete do teatro do povo,
para o efeito devidamente seleccionado. De posse do seu teatro
desmontável e respectivas camionetas, a acção artística iria aos
nossos meios rurais, que saberiam agr adecer essa iniciativa
patrocinada por um organismo do Estado, t al qual como em terras
continentais ( 538).
Tratava-se, porém, de uma confusão notória entre o Teatro do
Povo (SPN) de António Ferro e o teatro popular de Rafael de Oliveira ,
536
Ib id e m.
Ib id e m.
538
“O te atro d ec la ma d o d a Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a e o e ns ej o q ue ago r a se
o fe rece ao S.N.P . d e o fe recer à vid a r ural d o s A ço re s, o t eat ro d o p o vo ” , Co r re io
d o s A ço r es , 1 6 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 .
537
169
por parte de quem não conhecia a forma de funcionamento do
Desmontável deste. Certamente, que qualquer das duas estruturas se
propunha levar o espectáculo teatr al por todo o país, mas o modo
como o faziam era distinto. Enquanto que para António Ferro o teatro
não seria um fim, em si mesmo, mas um meio eficaz para um a
propaganda ideológica, para Rafael de Ol iveira tratava-se do meio de
sobrevivência possível de vários elementos, que de si dependiam, e
cujo fim se traduzia em partilhar com o público o mesmo gosto pelo
teatro que sentiam. Neste aspecto, tinha seguramente a mesma opinião
de Francisco Ribeiro quanto à necessidade de elevação do nível
artístico, e o trabalho desenvolvido pelos Artistas Associados, ao
longo de tanto anos, foi a prova do amor que tinham pelo Teatro.
Quanto à escolha do reportório, não nos parece que Rafael de
Oliveira, ou qualquer dos seus directores artísticos, presumisse que o
público popular não entender ia um reportório mais erudito. De Júlio
Diniz a Manuel Maria Rodrigues , de Braz Martins a Ludovina Frias de
Matos, de Júlio Dantas e Ramada Curto, e, posteriormente a Luiz
Francisco Rebello, entre tantos nomes nacionais e estrangeiros, o
objectivo
da
Companhia
Rafael
de
Oliveira
manifesta-se
pela
actualização constante de um reportório que permitiss e convocar ao
Teatro Desmontável a maior número possível de espectadores de
distintas camadas socio -culturais [539]. A confusão do articulista
sobre o Desmontável de Rafael de Oliveira resulta obviamente de não
o ter visto antes, nem talvez as camionetas e a dimensão diminuta do
palco do Teatro do Povo (SPN) . A opinião expressa nas páginas do
periódico micaelense não terá tido qualquer outro intuito, senão
539
Ent re 1 9 2 1 e 1 9 7 4 , d a ta d a úl ti ma es tre ia d a Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira ,
ver i fi ca - se a e x is tê n cia d e 1 3 5 t ít u lo s le v ad o s à ce na , d e d i fere n te s gé n ero s e
au to ri as , e 2 4 tít u lo s , d o s q ua is fo i p ed id a a Lic e nça d e Rep r es en taç ão à
In sp e cção d o s Esp ect ác u lo s , ma s q ue n u nca v ira m a l u za d a rib al ta.
170
elogiar os bons serviços que se considerava que a Companhia estava
praticando. Que de boas intenções...
Os Artistas Associados tinham conquistado o cauteloso público
micaelense,
que
punha
“sempre
os
seus
receios
nos
grandes
adjectivos”, pela “sua consciente actuação, pelo seu modesto porte,
pela sua honesta vida” (540). A qualidade da cenografia, do guarda roupa “a carácter”, da encenação, e da interpretação produzia um
conjunto harmonioso, que contribuia para que os espectáculos se
tornassem em convidativas noites de “bom teatro”, cuja fama se
espalhou pela ilha. Em final de temporada, deslocaram -se ainda aos
teatros de Vila Franca do Campo e de Ribeira Grande, para interpretar
As Duas Órfãs e As Duas Causas , respectivamente, antes de rumarem
a Angra do Heroísmo (541).
O Teatro Angrense assistiu a Duas Causas em noite de estreia , e
nas duas semanas seguintes apresentou -se um reportório reduzido,
predominando os títulos de agrado certo, em que os mais apelativos
foram igualmente exibidos no Teatro Azória (542), na Vila da Praia da
Vitória.
O Diário Insular, na sua coluna “De Teatro”, assinada por um
lacónico A., não se alongou em considerações so bre os espectáculos
de Rafael de Oliveira, ainda que manifestasse ter por “norma deixar
notícia mais ou menos circunstanciada dos acontecimentos de arte,
não se esquivando nunca a dizer o que melhor convém ao público e
pugnando sempre pela elevação do nível artístico das diversas
F. A., “A Co mp a n h ia Ra fa el d e Ol i vei ra: Os
Co l i se u Ave n id a e s tão o b tend o o ma i s cre s ce nte
1 3 .0 3 .1 9 4 8 : 4 .
541
A c id ad e p o ss u ía tr ês sa la s d e esp ect ác u lo p a ra
ma io r, p o r s i na l: o Sa lão d a Co zi n ha Eco nó mi ca
Art is ta s .
542
T eatro d a B as e Aérea n º 4 , na s Laj es.
540
171
se u s e sp ec tá c ulo s no a mp lo
ê x ito ”, Aço rea n o Ori en ta l ,
alé m d o T eatro An gr en se , a
e o Sal ão d o Re creio d o s
manifestações” ( 543). Em duas intervenções, afirmou -se agradado pelo
“crescente interesse do público”, facto considerado natural dada a
qualidade
do
reportório
e
do
elenco,
fe z
alguns
reparos
de
circunstância sobre cenários, adereços, uma ou outra interpretação, e
elogiou a actuação da Orquestra local de Manuel Reis , durante os
intervalos e no acompanhame nto dos actos de variedades.
A 1 de Junho, despediu -se a Companhia do público angrense,
levando à cena a comédia Moços e Velhos, seguida da apresentação de
quadros da revista A Ver Navios Navios , em Fim de Festa. E, sem mais
alarde, regressaram a São Miguel .
Incialmente prevista uma estadia de mais um mês, a cabou ficar
reduzida
apenas
metade do tempo,
presumivelmente devido
ao
“cansaço financeiro da geral” ( 544) e ao estado de saúde de Afonso de
Matos, regressado da ilha Terceira gravemente efermo e obrigado a
adiar a festa comemorativa das suas Bodas de Ouro Artísticas ,
organizada por um grupo de jornalistas de Ponta Delgada , com o
patrocínio das autoridades locais.
A 18 de Junho, o Coliseu Avenida abriu as suas portas para um
“acto solene, em palco, com a presença do homenageado, ilustres
Patronos, Comissões de Honra promotora da Homenagem”, que abriu
com com “breves palavras alusivas ao acto, proferidas pelo brilhante
poeta e distinto jornalista Dr. Oliveira San Bento , seguindo-se a
representação da mais subli me de todas as peças espanholas –
reportório do antigo D. Amélia , de Lisboa e grande actor Alves da
Cunha, A Calúnia , 1 Prólogo e 3 actos do falecido dramaturgo D. José
Echegaray”. Em Fim de Festa, Tony de Matos , “Cantor Romântico”,
filho do homenageado interp retou os melhores números do seu
A., “ De T ea tro : O s Fi d a lg o s d a Ca sa Mo u ri s ca : ma rc ad o ê x ito t eat r al e d ua s
i mp ec á vei s i nt erp re taçõ es” , D iá rio In su la r , 2 4 . 0 5 .1 9 4 8 : 1 e 4 .
544
“A Co mp a n h ia R a fa el d e O li v eir a e x ib i u O s M ilh õ e s d o C ri min o so na no i te d e
d o mi n go ”, Co r re io d o s Aço r es , 2 8 .0 4 .1 9 4 8 : 5 .
543
172
reportório, acompanhado à guitarra e à viola por Manuel Machado e
Manuel Arruda (545).
Na hora da despedida, ficou a “saudade de todos os que viram,
admiraram e aplaudiram as horas de agradável e sensitivo recreio
espiritual que em tão boa hora a Companhia Rafael de Oliveira trouxe
ao público micaelense”.
“Co li se u Ave n id a : C o mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a”, Co r re io d o s Aço r e s ,
1 8 .0 6 .1 9 4 8 : 4 .
545
173
Capítulo V: A m orte de Rafael de Oliveira e o futuro da Companhia
Os Encenadores da Cª de Rafael de Oliveira
< Ilustração 10 – Ernesto de
Freitas (1923-1927)
< Ilustração 11 –
Afonso de Matos
(1929-1948)
< Ilustração 12 –
Eduardo de Matos
(1938-1963)
^ Ilustração
13 – Fernando
de Oliveira
(1965-1972)
Ilustração 14 –
Álvaro de
174
Oliveira
(1970-1971)
>
Ilustração 15
– Francisco
Ribeiro
(Ribeirinho,19
72-73) >
1.
Eduardo de Matos : o formador da nova geração de artistas
itinerantes.
De regresso ao Continente, Eduardo de Matos assumiu a direcção
artística da segunda gera ção de actores da Companhia. Com o tempo,
as catorze figuras, que constituíam normalmente o elenco artístico da
Companhia, estruturaram -se em torno de quatro núcleos: as famílias
Oliveira e Frias, coadjuvadas por Matos e Vilelas. A saída de Afonso
de Matos, por motivos de saúde, impôs uma primeira reestruturação. O
desempenho dos papéis que constituíam o seu reportório passaram a
ser titulados por seu irmão, e, progressivamente, t ransmitidos aos
elementos mais novos – o casal Fernando e Gisela de Oliveira , e os
irmãos Fernando e Lizete Frias -, a quem Geny Frias passara o
testemunho
de
alguns
dos
seus
papéis.
Embora
a
Companhia
demonstrasse equilíbrio e homogeneidade, sem que a substituição do
actor principal houvesse defraudado as expectativas do público, graças
à qualidade interpretativa de Eduardo de M atos, conforme noticiou o
Riomaiorense (546), o jovem crítico deste periódico ribatejano não
deixou de frisar que a falta de renovação do reportór io “acarreta[va]
um aspecto fora de moda, antiquado” ( 547). Opinou Miguel Torga e
546
547
“E sp ec tác u lo s: Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra”, Rio ma io ren se , 1 0 .1 1 .1 9 4 9 : 1 .
F. D., “Cr ít ica T eatra l”, Rio ma io ren se , 1 0 .1 2 .1 9 4 9 : 3 .
175
Alfredo Cortez , entre os autores nacionais, ou Bernard Shaw (548),
Garcia Lorca e Luigi Pirandello , entre os estrangeiros, como alguns
dos
nomes
capazes
de
melhorar
a
dramaturgia
da
Companhia,
chamando ainda a atenção para a n ecessidade de um maior rigor
técnico em alguns actores, nem sempre “senhores dos seus papéis”, e
para as condições cénicas, a necessitar de um melhor “sentido
decorativo” (549).
A passagem dos Artistas Associados por Rio Maior indiciava um
barómetro de decisões futuras. Durante a década de 40, dos quinze
novos
espectáculos
produzidos
pela
Companhia,
apenas
três
pertenciam ao século XX, pela p ena de Ramada Curto – A Recompensa
(1941), A Fera (1943) e A Cadeira da Verdade (1948). Recuperara-se
a trama romanesca de Octave Feuillet , em A Vida de um Rapaz Pobre
(1946), e Ludovina Frias de Matos adaptara os amores rurais de As
Pupilas do Sr. Reitor (1942), em trinados de opereta musicada pelo
maestro Fernando Izidro . Tendo em conta que Três Gerações , de
Ramada Curto, A Mentira, de Marcelino Mesquita, e Soror Mariana ,
de Júlio Dantas , três peças em um acto, apenas tinham subido à cena
num único espectáculo, em Festa Artística da actriz Nena Corona
(550), as restantes produções resumiam -se a teatro ligeiro de revista e
opereta. Peças de agrado certo, que haviam comovido as plateias de
gosto simples ao longo de três décadas. Impunha -se, pois, a Eduardo
de Matos, uma acção renovadora, tal como seu irmão o fizera vinte
anos antes. Pretender cong regar, no corpus de um reportório, o
ecletismo das múltiplas sensibilidades existentes nos diversos públicos
de norte a sul do país, não se apresentava fácil tarefa, sobretudo
548
A o p i n ião d o crít ico p arece t er s id o to mad a e m co nt a, v i sto q ue a Co mp a n h ia
o b te ve u ma l ic e nça d e rep re se nt ação e ap ro v aç ão p ela Co mi s são d e C en s ur a, d e
1 5 .0 6 .1 9 5 6 , p ara a p eç a S a n ta Jo a n a , d e S ha w, e mb o ra e sta n u n ca te n h a s ub id o à
ce na.
549
F. D., “Cr ít ica T eatra l”, ib id . .
550
E m 1 3 .0 5 .1 9 4 3 , no T eat ro De s mo n tá ve l , i n s ta la d o e m Ca mp o Ma io r .
176
quando o aparelho censório atingia a dureza máxima no controlo do
pensamento dos portugueses, nas diversas áreas de produção de ideias,
indexando obras e autores, nacionais e estrangeiros, clássicos ou
modernos (551). O lápis azul dos inspectores eliminava sem apelo nem
agravo qualquer referência às contingências políticas, económicas,
sociais e religiosas do país, mesmo que se apresentassem sob o manto
diáfano da subtileza. Para o país pretendia -se uma imagem de gente
feliz, tranquila, dócil, conformista, inócua e apagada.
Deixando Rio Maior nos primeiros dias de Fevereiro de 1950, os
Artistas Associados instalaram -se em Coruche. Eduardo de Matos
colocou A Dama das Camélias em ensaios. Não sendo propriamente a
modernidade desejada, possuía o condão de fazer sobressair os dotes
interpretativos dos novos artistas , como era o caso de Lizete Frias , que
dera provas enquanto protagonista em A Vida de Um Rapaz Pobre , e
demonstrava apetência para exper iências de maior responsabilidade.
Expressava o crítico do Notícias de Évora, que a personagem de
Margarida Gautier fornecia às suas intérpretes “excelente posição para
transmitirem
às
plateias
as
mais
belas
expressões
da
arte
de
representar” (552). Evocando a memória de Italia Vitaliani , a trágica
italiana que arrebatara com a mesma personagem a plateia do Teatro
Garcia de Resende no princípio do século XX, reconheceu este
“espectador” que Lizete Frias preterira a interpretação da imagem
esperada da mundana de Dumas Filho , por um desempenho admirável,
deliciando a assistência com “as ternuras dum amor que desabrocha,
virginal, da menina a quem acabaram de cortar as tranças de colegial,
mas que se fez grande, que se fez paixão, que se fez sacrifício” ( 553).
551
O es t ud o d o Ca n to I X d e O s Lu sía d a s e st a va p ro ib id o no s l ice u s, p o r t e mo r d e
co n c up i sc ê nci a na s p r át i cas d a s ni n fa s p a gã s.
552
U m e sp e ctad o r , “T e atro De s mo nt á vel : Co mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a:
I mp r es sõ es so b r e a rep res e nta ção d a p eç a A Da ma d a s Ca mél ia s ”, No t íc ia s d e
Évo ra , 1 9 .0 7 .1 9 5 0 : 2 .
553
Ib id e m.
177
Eduardo d e Matos iniciara a semana com A Fera, êxito dos seus
dotes de comediante, e terminava em apoteose de duas récitas
consecutivas, demonstrando as suas qualidades de ensaiador, “fazendo
teatro com verdadeira probidade artística e manifesto contributo para a
cultura” (554). Não se desvanecera ainda o suspiro de Margarida
Gautier, e já o Desmontável se aprestava a nova produção, levando à
cena Deus lhe pague, de Joracy Camargo, nas interpretações bem
marcadas e bem sentidas de Fernando de Oliveira , Fernando Frias e
Lizete Frias, secundados pelo restante elenco, encarnando na justa
medida a personagem de cada um. Com este assinalado êxito ( 555), a
par dos velhos clássicos de bilheteira, se manteve a Companhia em
Évora durante quase quatro meses.
Rumando a sul, após cinco anos de ausência, fartos aplausos
bejenses acolheram, a 29 de Outubro, As Duas Causas, em abertura de
temporada. Nos meses seguintes, os novos e velhos êxitos fizeram a
delícia de um público que exigia a reposição das peças do seu agrado.
Até 11 de Março de 1951, o Desmontável realizou 45 espectáculos do
seu reportório, acolheu uma récita extraordinária de um jovem grupo
cénico amador «O Disco Aquático », e abriu as suas portas a Estêvão
Amarante e à Companhia do Teatro Maria Vitória , que aí apresentou
duas revistas, após a digressão pelo Algarve (556).
554
Ib id em. Es te e sp ect ác u lo , p ara alé m d as d u as p ri me ira s réc it as , a 1 5 e 1 6 d e
J ul ho d e 1 9 5 0 , fo i rep o s to , a p ed id o , a 2 0 d o m es mo mê s , e ai nd a a 1 3 d e Ago sto
e a 1 3 d e Set e mb ro , n u m to ta l d e 5 rep re se n t açõ e s, e m q ua se q ua tro me se s d e
te mp o rad a.
555
T al co mo A Da ma d a s Ca m él ia s , fo i ap r es e nta d o e m d ua s réc it as co n s ec ut i va s,
a 2 5 e 2 6 d e J ul ho , s e nd o rep o s to a 3 0 d e J ul ho e a 1 5 d e S ete mb ro d e 1 9 5 0 .
556
A Co mp a n h ia d o T eatr o Maria Vi tó ria ap re se n to u - s e a 1 4 e 1 5 d e Fe v ereiro d e
1 9 5 1 . De slo ca va m - s e 3 6 arti s ta s, s e nd o p ri m eira s fi g u ra s E stê v ão A mara n te ,
T eresa Go me s , Mar ia Sid ó n io , Alb e rto G hir a , Mar ia Al ic e , D eo l i n d a Ab r e u ,
Ce le st i no Rib e iro , Sara Ab re u e Car lo s Lea l . O gr up o d e b a ile era e n s aiad o p e lo
b ail ari no i nt er nac io na l Ra s to (c f. “B ej a d ia - a-d ia : O s d o i s e sp e ct á cu lo s p e la
Co mp a n h ia d o T ea tro Mari a V itó r ia ”, Diá r io d o Alen te jo , 0 8 .0 2 .1 9 5 1 : 1 ).
In te gra nd o e s te e le nco , en co ntr a va - se T o n y d e Mato s , q ue re g re ss a va a o tab lad o
d o De s mo nt á ve l se m ser co mo so ci et ário d o s Art is ta s As so c iad o s .
178
Enquanto is so, Eduardo de Matos , entrevistado pelo Diário do
Alentejo, expunha a sua experiência profissional feita de memórias de
saudade mal disfar çada. Desfiando “um rosário de lembranças”,
evocou o teatro -barraca do pai Constantino, em Beja , da chegada a
Lisboa, dos vinte anos pelos diversos elencos dos primeiros teatros
citadinos, das digressões ao Brasil, às Colónias, às ilhas, pelo
continente, e do regresso a uma companhia de província. Estudioso por
natureza, Eduardo de Matos confessava “que re presentar bem é um
dever de todo o actor profissional. [...] A sinceridade, a sobriedade
são
sinónimos
da
perfeição”
( 557).
A
sua
fixação
no
Teatro
Desmontável correspondia, segundo ele, a uma vontade de não querer
ser uma das vítimas da crise do teatro:
Os reclamados subsídios do estado não chegam. Os artistas têm que
corresponder com o seu brio profissional, com a sua devoção, por
vezes com certo espírito de sacrifício. [...] Os artistas que se dão ao
luxo de ser artistas – ganhando fabulosos ordenados – não devem
queixar-se da crise. Assim com os empresários que se dispõem
levianamente a pagar esses exagerados honorários, sem olharem às
consequências futuras... Com melhor critério de um e outro lado,
nunca se teria chegado ao actual estado de coisas. [...] não
esquecendo, claro, a concorrência do cinema, que aliás podia ser
aproveitado em favor dos profissionais de teatro ( 558).
O Desmontável correspondia a uma iniciativa “de boa visão e de
grande honestidade” ( 559), uma ideia de sobrevivência de um grupo de
profissionais, vivendo em harmonia e lealdade, trabalhando sem
descanso, contactando com o público, sua compensação e estímulo. De
Beja, por Aljustrel , em temporada de três meses a convite da
edilidade, até Vila Real de Santo António , onde se instalaram no
Verão de 1951, e donde partiram para um périplo de quase quatro
AIT E , “Dep o i me n to d e in ter es s e: U ma e n tre vi s t a co m Ed uard o d e M ato s, ac to r
e e n sai ad o r d o tea tro De s mo nt á ve l”, Diá rio d o A len t ejo , 1 9 .0 2 .1 9 5 1 : 2 e 4 .
558
Ib id e m.
559
Ib id e m.
557
179
anos, apenas em terras algarvias: “A vida é assim: nunca paramos,
levando o teatro declamado a todos os pontos do País” ( 560).
Os vilarealenses mostraram -se reticentes quanto à Companhia. O
“desgracioso barracão”, que se fundia com “a inestética desarmonia de
casas e casarões” ( 561), não era convidativo. Com o tempo, as
crescentes conversas sobre a atmosfera interior granjearam a afluência
desejada, obrigando a Companhia a repor algumas peças com que
iniciara a temporada, confirmando o ditado de qu e o hábito não faz o
monge, conforme referiu Rafael de Oliveira : “A elite só começou a
frequentar o Desmontável , depois de se convencer que se trat ava de
um conjunto de valor” ( 562).
Tavira via, assim, os seus anseios teatrais protelados por um mês,
tempo que a imprensa aproveitou para escrever um breve cartão de
visita assinado por Eduardo de Matos , divulgando o seu trabalho, o
reportório e os intérpretes, o seu orgulho enquanto “orientador
artístico”:
Geny Frias, Ema de Oliveira , Idalina de Almeida, Lucinda Trindade,
Rafael de Oliveira , António Vilela, Carlos Frias, e este vosso criado
são todos artistas experimentados e de longa prática, que consolidam
um conjunto onde há savoir-faire!... [...] e os novos , os que
constituem um segundo bloco, que eu apartei de propósito, por vaidade
ou orgulho de orientador artístico... [...] Lizete Frias , real talento de
futura grande actriz, Gisela de Oliveira , uma vocação e uma simpatia ,
Fernando de Oliveira, galã dramático de soberba intuição e Fernando
Frias, actor genérico de rara maleabilidade ( 563).
O sucesso da Companhia Rafael de Oliveira cresceu entre o
público algarvio, que, em três anos, assistiu às premières de oito
produções, a par do restante reportório. A 15 de Janeiro de 1952, a
560
Ib id e m
“C art a d e Ol h ão ”, Co r r eio d o S u l , 2 0 .0 8 .1 9 5 3 : 4 .
562
“O Dir ec to r d a Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i ve ira fala - n o s d a s ua v i nd a a T av ira
co m o se u T eat ro D es mo nt á ve l”, Po vo A lg a rvio , 3 0 .0 9 .1 9 5 1 : 1 .
561
180
esperada estreia d e O Grande Industrial , de George Ohnet , recebeu os
“calorosos aplausos” do público tavirense, obrigando a Companhia a
três espectáculos consecutivos ( 564). A 3 de Setembro, Portimão
deslumbrou-se com a cenografia de Fernando Frias , enquadrando o
“desempenho magnífico” dos artistas que estrearam a obra de Rui
Correia Leite, Raça (565). E a 25 de Novembro, o glorioso Teatro
António Pinheiro, de Tavira, engalanou -se para a primeira récita de O
Marquês de Villemer, de George Sand . Nas palavras de Vítor Castela ,
a Companhia vincava a sua “seriedade, equilíbrio e dign idade” e
prestigiava o Teatro português ( 566). Culminando a primeira fase de
apresentação de novos espectáculos, a 17 de Janeiro de 1953, em Faro ,
o palco do Desmontável acolheu o “Cântico dos Cânticos do Teatro
Português” (567), o Frei Luís de Sousa, a que “nada lhe faltou nesta
première, desde os oiros de raça do século XVI, decorando as paredes
apaineladas do Palácio de Almada, a po der de quadros em que se
ilustram as figuras de D. Sebastião, Camões, D. João de Portugal e
outros [...], aos ambientes cuidados e à peça vestida rigorosamente
dentro dos figurinos da época ( 568). Dois enredos de actualidade e
dois de época, com montagens a rigor, no espaço de um ano eram
proeza, que se repetiria no ano seguinte. No Desmontável, instalado
em Silves, a Companhia estreou, a 20 de Janeiro de 1954, a comédia
de Ramada Curto, O Sapo e a Doninha, com direito a reposição na
noite seguinte ( 569); a 23 de Fevereiro seguinte, foi a vez de Israel,
“Ed uard o d e Ma to s, ac t o r - e ns aiad o r d a Co mp a n hi a Ra fael d e O li v eir a c o nc ed e no s u ma e n t re vi s ta”, Po vo Alg a rv io , 0 7 .1 0 .1 9 5 1 : 1 .
564
“P ela C id ad e: Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, Po vo Alg a r vio , 2 0 .0 1 .1 9 5 2 : 2 .
565
“Co mp a n hia d e T eatro Ra fael d e O li ve ira ”, Co mé rcio d e Po rt imã o , 0 4 . 0 9 .1 9 5 2 :
1.
566
Víto r Ca s tel a , “Ap o n ta me n to s d e T eatro : O Ma rq u ês d e V il le me r ”, Po vo
Alg a rvio , 3 0 .1 1 .1 9 5 2 : 4 .
567
Antó n io Au g u s to S a nt o s , “ Fr ei Lu ís d e S o u s a fo i e st read o e m Faro ”, Po vo
Alg a rvio , 2 5 .0 1 .1 9 5 3 : 4 e 1 .
568
Ib id e m.
569
T eve u m to tal d e 7 r ep r ese n ta çõ e s d ura n te es se ano .
563
181
drama francês de Henri Bern stein sobre o anti-semitismo, cuja intriga
agarrara o interesse do espectador e o jogo histriónico de Geny Frias ,
Fernando Frias e Eduardo de Matos, nos principais papéis, valorizara a, em encenação “cuidada e escrupulosa” ( 570) deste último. Três
meses depois, a Companhia acrescentou novo sucesso, com a pe ça de
Dário Nicodemi, O Grande Amor, em que Lizete Frias marcou outro
“excelente desempenho”, interpretando a personagem principal de
Maria Bini , ao lado de Fernando Frias e Eduardo de Matos .
A população lacobrigense queixava-se que
raramente assistia a
teatro, por falta de companhias que a visitassem. Quando pôde acolher
os Artistas Associados, o seu afecto traduziu -se em vontade de os reter
(571). Em Outubro de 1953, finda a temporada, quando a Companhia se
dispunha a partir para Silves , o público de Lagos solidarizou-se na
recolha de assinaturas de uma petição, dirigida a Rafae l de Oliveira e
ao Presidente da Câmara de Lagos, solicitando a prorrogação da
permanência do Desmontável, pelo bem cultural da cidade ( 572). A
deferência do público foi retribuída, na sua segunda e ú ltima estadia
em Lagos, quando a Companhia estreou, a 3 de Setembro de 1954, a
última das oito novas produções: As Duas Máscaras, de Eduardo
Schwalbach.
Antó n io Au g u sto Sa n to s , “T ea tro : I s ra e l, ma i s u m ê xi to d a Co mp a n h ia Ra fae l
d e O li ve ira ”, Vo z d o S u l , 2 7 .0 2 .1 9 5 4 .
571
E m “C art a d e O l hão ”, Co rr eio d o S u l , 2 0 .0 8 .1 9 5 3 : 4 , me nc io na - se u m c hi st e
atrib u íd o a u m fr eq ue nt ad o r a s síd uo d o De s mo n tá ve l, q ue d e mo n str a o cari n ho d e
q ue a Co mp a n h ia era al v o : “A mb ula n te s? Não . E st es s ão ... fi xe s !” .
572
O te xto d a p et ição e nco nt ra - se r ep ro d uz i d o e m a n e xo ao p ro ces so d e
ca nd id a t ura d a Co mp a n hi a R a fae l d e Ol i ve ira ao ap o io d o S.N.I, at rav é s d as
verb a s d o Fu nd o d e T ea tro (MNT , acer vo d e Fe rna nd o Fri as) . Co mp õ e - se d e tr ês
p ág i na s, às q uai s se s e g ui ria m o utr as 4 3 d e as s i na t ura s.
570
182
Se António Augusto Santos (573) poetisa os Artistas Associados
nas suas crónicas algarvias, o anónimo articulista do Jornal de Lagos
sintetiza o seu modelo de «cómicos da arte»:
A arte perpetua-se na família, uma necessidade ascendente de
habilidade artística e de conhecimentos técnicos, impulsiona ao
mesmo tempo o desenvolvimento da personalidade em arte e a
transmissão hereditária da experiência adquirida. Assim, a
hereditariedade dos componentes desta Companhia é produzida pela
própria divisão do trabalho. Divisão adaptada, honesta. A comunidade
de sentimento artístico reforça -se com a solidariedade profissional. É
digno do mais alto merecimento o seu reportório que exige dos seus
componentes uma forte organização mental aliada a um estudo sério e
metódico. O contentamento saudável do homem consigo próprio, a
intensificação desse sentimento, o crente acordo com a natureza, a
dádiva confiante aos desejos, aos sonhos e ao próprio coração, deve
existir em todos estes artistas, mercê do pleno conhecimento do seu
próprio valor e do lema que os rege, representando para o povo e
definindo a beleza que na vida dele se encontra e que e le não sabe
exprimir, nem mesmo sentir sem auxílio ( 574).
Até
1960,
a
Companhia
fez
navegar
o
Desmontável
pelo
continente, aportando nos centros urbanos de maior dimensão, e
fazendo incursões, a convite, pe los palcos das colectividades locais.
De Évora até Guimarães , com passagem, de uma semana, pelo Teatro
Sá da Bandeira, no Porto, e retorno a Faro, os Artistas Associados
continuaram a alargar o seu reportório. Elvas acarinhou, a 31 de
Agosto de 1955, a representação de Prémio Nobel, da parceria
Fernando Santos , Almeida Amaral, e Leitão de Barros , aplaudindo,
“tanto em cena aberta, como nos finais dos actos, as magníficas
interpretações dos artistas [...] sob uma autêntica tempestade de
aplausos” (575). No ano seguinte, a 11 de Abril, foi a vez da
573
Ar tic u li s ta d e d i ver so s p erió d ico s al ga r vio s, escre v e u cró nic a s ab u nd a n te s
so b re o s e sp ec tá c ulo s e o s el e me n to s d o Art i st as As s o ci ad o s , q ua se se to r na nd o
e m o se u “Go me s d e A m o ri m”.
574
“T ea tro : Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a”, Jo rn a l d e La g o s , 1 5 .1 1 .1 9 5 3 : 1 e 4 .
575
“No T eatro De s mo nt á v el co n ti n ua m o s b o n s e sp ec tá c ulo s”, Lin h a s d e Elva s ,
0 8 .1 0 .1 9 5 5 : 4 e 2 .
183
“numerosíssima e distinta assistência” de Leiria aplaudir Está lá fora
um inspector, de J. B. (John Boytan) Priestley, “obra de grande
categoria e de beneméritas intenções psicológicas e sociais” ( 576). A
crítica local, em nome da modernidade, instou a direcção artística a
expurgar o reportório dos êxitos populares que “não contribu[íam]
para a educação artística do público”:
O teatro mod erno, se se quer extrair dele tudo quanto tem e pode dar
para se tornar um veículo de cultura ao serviço do povo, tem de tratar
temas modernos; tem de ser atrevido, oportuno, profundo, e não se
perder em temas sentimentais que fizeram sonhar os nossos bisa vós. O
homem precisa de estar acordado, atento aos problemas do seu tempo.
E a arte (o teatro também) tem a função de esclarecê -lo, orientá-lo,
ajudá-lo, tem que ter vida e saber convidar o público a viver com ele,
a pensar com ele, e por conseguinte, vive r e pensar a vida e o
pensamento do público. Tem de ser uma arte concreta, real e não uma
entidade abstracta ( 577).
Como agradar a Gregos e a Troianos? Em 1958, Eduardo de
Matos encenou três originais para o Desmontável . Começou por O
Sapatinho de Vidro, fantasia musical que Ludovina Frias de Matos
adaptou do conto infantil e o maestro Alves Coelho, filho , musicou.
Na tarde do 1º de Janeiro, o Teatro Aveirense acolheu uma plateia de
crianças, obviamente deliciadas com as peripécias de Joaninha, a Gata
Borralheira, interpretada por Gisela de Oliveira , mas, também, por
dois pequeninos actores: Álvaro de Oliveira e a irmã Maria Leonor,
netos de Rafael de Oliveira , a terceira geração de actores do
Desmontável . Neto és, actor serás!
O teatro moderno, que tantos instavam, chegou pela mão de Luiz
Francisco Rebello. Em Guimarães, a estreia de Alguém terá de morrer
“E co s e No t í ci as : T eatr o Des mo n tá v el ” , Reg iã o d e Lei ria , 1 2 .0 4 .1 9 5 6 : 1 . Desd e
1 9 3 2 q u e a o b ra d e P ries tl e y t e m v i nd o a ter ver sõ e s c i ne ma to grá fic as e
tel e vi si v as . Red i g id a e m 1 9 4 5 , Es tá lá Fo ra u m In sp ec to r p as so u ao ci ne ma , e m
1 9 5 4 , co m d irec ção d e G u y H a mi lto n ( I md b ).
577
M. Gre gó r io , “O T eat r o d a Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eir a”, Reg iã o d e L ei ria ,
2 6 .0 4 .1 9 5 6 : 2 .
576
184
teve foros de acontecimento sócio -cultural. Na noite de 26 de Abril, o
espectáculo foi antecedido pelas considerações do Dr. Santos Simões
(578) sobre o Teatro em Portugal e a séria orientação da Companhia
Rafael de Oliveira, que estreava um jovem autor, “uma consoladora
promessa dentro de um teatro fossilizado e arreigado a obsoletos
princípios ideológicos e estéticos”, dominando um diálogo “fluente,
lúcido, penetrante e comunicativo” proferido por personagens com
“nervos e sangue” ( 579).
A última estreia de reportório foi vivida em Santarém , a 17 de
Dezembro, com a estreia de A Muralha, de Calvo Sotelo , êxito recente
da Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro, subindo à cena no
dia em que se comemoravam os 20 anos de labor de Eduardo de Matos
na Companhia, e de cuja encenação o Correio do Ribatejo elogiou a
forma acertada como evitara o desagradável “final amuralhado” ( 580)
da versão da companhia do Teatro Nacional.
Na gestão artística de Eduardo de Matos verificam -se aspectos da
evolução dos Artistas Associados. Mais do que alargar o reportório
com dezasseis novos títulos, foi construindo um campo interpretativo,
fértil em potencialidades histriónicas, para o elenco mais novo –
Fernando e Gisela de Oliveira , Fernando e Lizete F rias, a sua “vaidade
e orgulho de orientador artístico” –, ao mesmo tempo que revitalizava
578
Alé m d e crí ti co t ea tral , co lab o rad o r d o No tí cia s d e Gu ima rã e s , S a nto s Si mõ e s
ap arec e re fer e nc iad o co mo p ro fe s so r e d irec to r d o Grup o “R it mo Lo uco ”, q u e, e m
1 4 d e Maio d e 1 9 5 8 , re p res e nto u, no T eatro J o rd ão d u as p e ça s p o rt u g ue sa s : T io
Ped ro , d e Marc el i no M e sq ui ta e Ca va lh ei ro R e s p eitá vel , d e An d ré B r u n .
579
Sa n to s Si mõ es , “T ea tr o De s mo n tá ve l: Alg u ém te rá d e mo r re r ”, No tí cia s d e
Gu i ma rã es , 0 4 .0 5 .1 9 5 8 : 2 . Es cri to e m 1 9 5 4 , o tex to d e L. F. R e b ello fo r a
ap r o v ad o p e lo Co n s el ho d e Lei t ura d o T ea tro Nac io nal e m 1 9 5 5 , e aí se e s treo u
e m 2 2 .0 5 .1 9 5 6 . T e ve u m carr eira i n ici al d e 1 0 rep re se n taçõ es , s e nd o rep o s to na
ép o ca s e g ui n te, a ti n g i n d o as 5 0 . O el e nco co mp u n ha - s e d e Amé li a Re y - C o laço
(Mart a ), P a l mi ra B a sto s ( Au g u st a ), C ar me n Do l o res (G ab rie la ) , M ari a Co r te - Rea l
(P al mir a ), R a úl d e Car v al ho (R u i), J o s é d e Ca s t ro ( Víto r M a n uel ), Ro g é rio P au lo
(o Des co n hec id o ). A mél ia R e y - C o l aço e Ro b le s Mo n te iro a ss i na v a m a e nc e naç ão ,
e Luc ie n Do nat a c e no gr afia ( R E B E L L O 1 9 5 9 : 2 2 4 )
580
“Co mp a n h ia Ra fael d e Oli v eira e m Sa nt aré m” , Co r re io d o Rib a te jo ,
2 0 .1 2 .1 9 5 8 : 3 .
185
o elenco mais velho com desafios de risco controlado. O projecto
dramatúrgico propunha peças de tese, abordando temas socia is e
psicológicos, ao gosto do público mais cultivado, sem descurar o
público amante das paixões lacrimejantes, para quem guardava o velho
reportório romântico, e o das comédias de boulevard, a quem, em
1959, brindou com a estreia de Daqui Fala o Morto!
(581), versão
teatral de um filme, em exibição pelo País nesse ano ( 582). Uma luta
entre titãs - teatro versus cinema - no campo da bilheteira!
A década de 50 marca também o início dos apoios concedidos
pelo Estado através das verbas do Fundo de Teatro , do Secretariado
Nacional de Informação (SNI) . Em Março de 1954, Rafael de Oliveira
recebeu um subsídio extraordinário para restauro do Desmontável ,
danificado pelo nevão do mês anterior, em Silves . Em Setembro do
mesmo ano, endereçou ao Secretário Nacional de Informação) , uma
petição assinada por si e pelos restantes associados, solicitando o
apoio financeiro do Estado para “prosseguir na sua mi ssão Cultural de
levar Teatro, bom, moral, educador e compreensível, às localidades em
que não podem chegar Companhias, por falta de casas próprias ou
possibilidades de compensação financeira” ( 583). Ainda que não
faltasse
legitimidade
à
pretensão,
invocando
até
os
princípios
ideológicos do projecto de António Ferro para a criação do Fundo de
Teatro, os Artistas Associados não estavam conforme a realidade
legal. O apoio est atal atribuído a companhias itinerantes, idealizado
581
T ratav a - se d a ad ap ta çã o p o rtu g u e sa d e Car lo s Lo p es d e u m ar g u me n to o rig i n a l
d a p arc eri a Car lo s Llo p is e Lu í s Alco r iza , i n tit u lad o E scu e la d e Ra t ero s , u ma
p ro d uç ão ci ne mato gr á fi ca me x ic a na, d e 1 9 5 7 , d iri g id a p o r Ro ge lio A. Go nz ále z ,
co m o a cto r P ed ro I n fa n te i n terp r et a nd o o d up lo p ap el d e Vic to r Vald éz e d e Ra ú l
C ue s ta Her na nd ez. Ù lt i mo d e se mp e n ho d e st e a cto r q u e fa lec e u, n es se a no , n u m
acid e n te d e a v iaç ão .
582
An u nc iad o no car taz d o s esp ec tác u lo s c i ne m ato grá fico s, e m O A lm o n d a , d e
2 6 .0 2 .1 9 5 9 .
583
Req u eri me n to e m p ap el t i mb rad o , d e 1 4 .0 9 . 1 9 5 4 , as si n ad o p o r Ra fa el d e
Oli v eir a e re s ta nt es a sso ciad o s, c uj a s as si n at ur as e st ão r ec o n he cid a s
no t ari al me n t e ( Acer vo F ern a nd o Fri as , M NT ).
186
pelos competentes organismos de Lisboa , pensando nas deslocações
das empresas que irradiavam da capital, durante os três meses de
Verão,
colocava
na
marginalidade
as
companhias
de
província
existentes. A credibilidade artística, de que a Companhia desfrutava
junto dos organismos da classe, parece ter contribuído para a superior
apreciação do assunto. Rafael de Oliveira constituiu o processo de
candidatura ao Concurso de Apoio ao Teatro Itinerante , endereçado ao
Secretariado Nacional)
em 14 de Ab ril de 1955. O ofício nº 713, 3ª
secção, de 10 de Maio, assinado por Fernando Paiva , Chefe de
Repartição de Cultura Popular, notificou, a bem da nação, que, a título
excepcional, fora atribuído um subsídio de 30.000$00, pagos ao titular
da sociedade artística, enquanto empresário do Teatro Desmontável , e
enquanto director de uma companhia itinerante ( 584). Encontrava-se
aberto o precedente, legitimando a atribuição de futuros apo ios à
Companhia, durante os cerca de vinte anos seguintes, com excepção da
temporada de 1958/59.
Em
1958,
o
Conselho
de
Teatro ,
em
parecer
amplamente
divulgado pela imprensa nacional, começou por resumir “alguns dos
problemas que afecta[vam] o nosso teatro” - dificuldades financeiras
nos três concursos anteriores, falta de interesse do público, além de
entradas demasiado caras, impossibilidade de apoio ao teatro amador,
ausência de novos dramaturgos e de novas salas de espe ctáculos -,
para concluir que apenas quatro Companhias, três em Lisboa e uma no
584
Li vro d e Co nt as d a s Co mp a n h ia s S ub s id iad a s ( Ac er vo F u nd o d e T eatro / S NI,
MNT ). Es te s ub s íd io r efere - se à te mp o r ad a d e 1 9 5 5 /5 6 , te nd o o Co n se l ho d e
T eatro a trib u íd o o me s mo valo r p ar a 1 9 5 6 /5 7 . E m 1 9 5 7 /5 8 , o valo r s ub i u p ara
5 0 .0 0 0 $ 0 0 , e, e m 1 9 5 8 / 5 9 , p ara 6 0 .0 0 0 $ 0 0 . E m 1 9 5 9 , o Co n s el ho d e T eatro to mo u
u ma d eci são p o lé mi ca e não co nte mp lo u o s Art is ta s As so c iad o s n a te mp o rad a
se g u i nte . O p ró p r io co n cei to d e t e mp o rad a - d e Verão , e ntre J u l ho e S ete mb ro , e
d e I n ver no , e nt re O ut u b ro e J u n ho -, gera v a co n fu s ão o fi ci al. P ara Ra fael d e
Oli v eir a, o d up lo co n c eito n ão e xi s tia ; a s u a te mp o r ad a co mp r ee n d ia o a no
in te iro , e m q ue a s ú n i cas p ara g e ns d o s esp ec tác u lo s s e ver i fic a va m q ua nd o o
De s mo nt á vel p ro gred ia p ara o d e s ti no se g u i nt e.
187
Porto, seriam subsidiadas ( 585). A itinerância ficava definitivamente
posta de lado. Contra estes factos, outros argumentos se levantaram:
corresponderiam os espectáculos ao anseio do público ou valeria a
dramaturgia representada uma deslocação ao teatro? Sem dúvida que o
público
afluía
quando
lhe
propunham
bom
teatro:
peças
com
verdadeiro interesse, representadas por companhia s de bom nível
artístico e uma encenação que não atraiçoasse a criação autoral.
Porém,
o
condicionalismo
arbitrário
e
pouco
escrupuloso
da
classificação etária, e a acção da Censura, eram factores limitadores
da
actividade
teatral:
“sem
liberdade
de
repres entação
não
há
possibilidade de criar público, de revelar ou mostrar autores, nem de
subsistirem empresários em estado de solvência”, defendia José dos
Santos Marques, articulista do Jornal de Rio Maior (586), “A cultura,
para ser válida e operante, há -de ser nacional e não regional” ( 587).
Neste caso, nem lisboeta, nem portuense, entenda -se! Ausência de
público e entradas caras eram argumentos que se não coadunavam com
Rafael de Oliveira , que
reagiu emocionalmente ao facto; no papel
timbrado da Companhia, riscaria manualmente a frase “subsidiada pelo
Fundo de Teatro ”, assim como assumiria , com mais veemência, o
epíteto de “o mais bem organizado agrupamento que percorre o País
desde 1918”. E a luta pelo direito à sobrevivência continuou no
terreno. A carta que dirigiu ao Presidente do Conselho Oliveira
585
T eatro Nac io nal P o p u lar , E mp r es a d e Fr a nc i sco Rib eiro , p a ra o T eatro d a
T rind ad e (1 8 0 co nto s me n s ai s); T eatro d e Se mp r e , no T . Ave n id a , d iri g id o p o r
Gi no S a vio tt i e G i us ep p e B as to s , co mo d ir ecto r fi n a n ce iro (1 4 0 co nto s me n s ai s);
T eatro Ger i fal to , d e An tó n io Ma n u el Co uto Vi an a , p ara e sp e ctá c ulo s in fa nt i s e
j uv e ni s, e m s es sõ e s à tard e no T . Mo n u me nt al (5 0 co n to s me n sa is) ; T eatro
Exp eri me n ta l d o P o rto (T EP ) , d irigid o p o r An tó n io P ed ro , exp lo ra nd o te atro
d ecla mad o fi xo , n u m d o s p alco s d o P o rto (9 0 co n to s me n s ai s). C f. “O Co n se l ho
d e T eatro acab a d e a trib ui r (a q u atro a gr up a me n to s) s ub s íd io s me n sa i s n o to tal d e
4 6 0 co nto s”, Diá r io d a Ma n h ã , 0 2 .0 9 .1 9 5 8 .
586
J o sé d o s Sa n to s M arq u es , “T eat ro – P ro b le ma Nac io nal ”, Jo rn a l d e Ri o Ma io r ,
0 1 .0 1 .1 9 5 9 : 2 e 4 . N a p ág i na 4 , d e s ta ed i ção , ao l ad o d e sta no tíc ia, e m
“No t ic iár io ”, d i v u l ga va - se q ue a Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a ti n h a d ad o d ua s
se s sõ e s d e “b o m tea tro ”, na Ca sa d o P o vo .
188
Salazar (588), solicitando um subsídio reembolsável para construção
de um novo Desmontável, acabou por se demonstrar melhor benefício
do que o parco apoio que Conselho de Teatro lhe pudesse ter
atribuído. Os 250.000$00 recebidos, ainda que a título de empréstimo,
criaram condições de trabalho, que de outra forma dificilmente se
realizariam.
Anunciado para os princípios de Outubro, a inauguração do novo
Desmontável, sucessivamente retardada por problemas de construção,
apenas aconteceu a 7 de Dezembro de 1960, porém com pompa e
circunstância. “Finalmente!”, terá proferido Fernando de Oliveira ,
antes de agradecer a presença de José Filipe Fialho , Presidente da
Câmara Municipal de Lagos, as palavras de elogio à Companhia
proferidas pelo Dr. Joaquim de Magalhães , e os telegramas de
felicitações do Teatro Aveirense , de Samwell Diniz , Presidente do
Sindicato dos Artistas, do Presidente do Grémio das Empresas
Teatrais, e do Dr. Júdice da Costa , Chefe de Repartição da Cultura
Popular, do S.N.I. ( 589). Alguém terá de morrer subiu, por fim , à cena,
com “excelente desempenho” de um elenco revitalizado por novos
artistas (590), que perdiam, todavia, o contributo de Eduardo de Matos ,
a quem uma progressiva diminuição da capacidade visual punha fim à
carreira de actor.
2.
O herdeiro do Desmontável : Fernando de Oliveira , empresário
e director artístico anunciado.
587
Ib id e m.
C art a d e Ra fael d e O li ve ira , e m p ap el ti mb rad o d a Co mp a n hi a, e nd ere çad a ao
P resid e nte d o Co n se l ho Oli v eir a S ala zar , a 2 9 d e Ma io d e 1 9 5 9 ( Acer vo Fer na nd o
Fri as , M u se u Na cio na l d e T eatro ) .
589
J o ão Le al , “O T ea tro D es mo n tá ve l e m Faro ”, F o lh a d e Do m in g o , 1 8 .1 2 .1 9 6 0 : 5
e 8.
590
Lu iz P i n hão e ntr ara e m 1 9 5 5 , e m P o rta le gre , e o ca sal Ar ma nd o Ve nâ n cio e
Mari a C u stó d ia , q ue te nd o p ert e ncid o à C o mp a n h ia Dr a má ti ca Lis b o ne n se
«M o iro n », e ntr a va a go ra co mo so ci et ário s.
588
189
Se a partir da segunda metade dos anos 40, Rafael de Oliveira
passara a delegar competências no seu filho, como secretário da
Companhia e representando -o nos discursos de encerramento das
temporadas teatrai s das localidades visitadas, a doença de Eduardo de
Matos sobrecarregou as responsabilidades de Fernando de Oliveira ,
que se tornou no herdeiro do legado artístico destes dois timoneiros.
Os anos 60 mostrar -se-ão bastante conturbados para a Companhia .
Apesar
da
indesmentível
dedicação
profissi onal
dos
artistas,
a
temporada de Évora , em 1959-60, não foi bafejada pela sorte, não
sendo “compensados pelo resultado da bilheteira os seus encargos
mais inadiáveis” ( 591). Procuraram-se razões para a ausência do
público, outrora tão assíduo: os rigores da invernia (apesar de Rafael
de Oliveira ter investido na climatização do Desmontável!), ou talvez
a imposição de uma localização desfavorável no Rossio de S. Braz
(onde
sempre
populacional”,
se
instalara!),
agravado
pelo
local
“fora
facto
de
o
de
mão
teatro
do
se
maciço
encontrar
“escondido, agachado, por detrás do muro da horta dos soldados”
(592). As razões soam, sobretudo, a jus tificações para a falência de
interesse nas peças que já haviam esgotado “os ânimos do espectador
fiel”:
Peças vistas dezenas de vezes, quer por profissionais quer por
amadores, não despertam, igual interesse, nem tendem a engrossar o
número de espectador es, mesmo representadas pelo magnífico
conjunto de Rafael de Oliveira . Se existe maturidade técnica e
artística no agrupamento, ela perderá, porventura, o melhor dos seus
frutos, pisando e repisando coisas ultrapassadas. Exige -se, também, a
novidade e o valor do tema – e novos processos, ou, pelo menos, a
tentativa, o que já é de louvar ( 593).
A.R ., “O e sp ec tác u lo d e d esp ed id a d a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i ve ira”, No t íc ia s
d e Évo ra , 0 2 .0 3 .1 9 6 0 : 2 .
592
Ib id e m.
591
190
Na realidade, como reconheceria posteriormente o articulista
eborense, o reduzido público interessado nas peç as contemporâneas
não oferecia condições financeiras à Companhia . Tratava-se de um
público de classe média, possuidor de novas aspirações e de novas
exigências de consu mo. O outro público, o que enchia a geral, a
maioria dos lugares do Desmontável, reduzira -se por força da
migração, para o estrangeiro ou para a periferia das grandes cidades,
despovoando os meios rurais e o interior, o campo de acção das
companhias de província. E aqueles que mantiveram a ligação à sua
origem, assistiam a um novo tipo de espectáculo difundido por uma
recém-criada televisão, ampliando progressivamente o seu campo de
actuação pelo país, fascinando um novo tipo de plateia, tornando -se o
objecto concorrencial dos espectáculos ( 594). O público dividia -se
entre a Rádio, o Cinema e a Televisão como modos de entretenimento
mais acessíveis: nas colectividades, ou nos cafés, era possível assistir
a uma noite de teatro televisionada pelo preço de uma bi ca e de um
bagaço. Fernando de Oliveira , respondendo ao articulista M. J. Vaz
(595), do Distrito de Setúbal (596), considerava que a cris e se devia
aos encargos pesados que asfixiavam a exploração teatral, tornando -a
num produto caro, à falta de salas com lotações que permitissem uma
melhor defesa da exploração, e à invasão de um tipo de vedetas, com
exigências de elevados vencimentos, por vezes em proporcionalidade
inversa
ao
seu
valor
artístico.
Além
disso,
o
progressivo
desaparecimento dos grupos amadores das Sociedades de Educação e
Recreio, pequenas escolas básicas de formação de novos públicos e de
“A Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira e m É vo ra: U ma si t uaç ão q ue me rece s er
rev i sta ”, Jo rn a l d e Évo r a , 0 8 .1 1 .1 9 5 9 : 6 e 3 .
594
E m 1 9 6 0 , e xi st ia m cerc a d e 3 1 mi l recep to re s d e T V e m to d o o p aí s ; na d écad a
se g u i nte a sce nd erão a 3 8 7 .5 0 0 ( V IE IR A 2 0 0 0 : 1 2 5 ).
595
P ai d a act riz Ali na Va z .
596
M. J . Vaz, “A Co mp a n hi a d e T eatro Ra fael d e Oli v eir a no B ar reiro ”, Di st r ito
d e S etú b a , 0 7 .1 1 .1 9 6 1 : 2 .
593
191
artistas, acabara por criar um divórc io entre espectadores e a arte de
Talma.
A Companhia, que fora procurando a sua razão de sobrevivência
nos anteriores locais de sucesso (Évora , Beja e o Algarve), com
irregulares
resultados
de
audiência,
aproximou -se
do
litoral
estremenho e da periferia lisboeta. Dois anos depois da estreia de
Daqui Fala o Morto , subia à cena Um Fantasma Chamado Isabel , no
Teatro Desmontável , instalado no Barreiro, em Novembro de 1961.
Original de Henrique Santana , a coberto do pseudónimo Miklós Marai ,
a peça visava o riso “fácil das plateias, agora pouco dispostas a maçar se em procura da ideia, do sentido ou tese, [...] antes querendo, sem
esforço, passar umas horas de boa disposição, pois que trabalho e
preocupações a vida lhes traz cada vez em mais larga escala” (597).
Oscilando entre a farsa e a comédia, o enredo pretendia apenas que o
espectador fruísse, “desde o sorriso indulgente até à gargalhada
estrepitosa” (598), inscrevendo -se na proposta dramatúrgica do seu
autor de um “teatro só para rir”, um teatro alegre, designação que
utilizou para uma companhia de comédia que criou. A encenação de
Eduardo de Matos retirara a carga clownesca soez na representação
farsesca, substituindo graçolas e esgares por uma simplicidade de
processos,
fazendo
sobressair
a
leveza
e
a
graça
natural
dos
comediantes. Apesar do reconhecido êxito da interpretação, M. J. Vaz
observou a ausência do público barreirense, lastimando que este não
tivesse compreendido o esforço da Companhia em dar bom teatro. Para
que não partissem sem o reconhecimento da “sua mensagem”, o
derradeiro espectáculo da Companhia constituiu uma homenagem,
M. J . V az , “C rí tic a d e T eatro : Um Fa n ta sma C h a ma d o Isa b el p el a Co mp a n h ia
Ra fael d e Ol i vei ra”, D is tr ito d e S e tú b a l , 2 1 .1 1 .1 9 6 1 : 1 e 4 .
598
Ib id e m.
597
192
organizada pelos amadores locais ( 599), em que Aníbal Pereira
Fernandes, decano das Colectividades de Cultura, Educação e Recreio,
salientou o espírito de dedicação da Companhia à causa do Teatro, em
“oração brilhante que bem colocou o Barreiro [...] para que dele fosse
feito o bom e devido juízo pelos artistas” ( 600).
Apesar das boas intenções que os amantes de teatro sempre
manifestaram à passagem da Companhia , esta viv erá nos anos
seguintes momentos cada vez mais difíceis. Depois da estadia bem
sucedida no Teatro Avenida de Lisboa, em Fevereiro de 1962, espécie
de
balão
de
oxigénio,
de
que
a
Companhia
tirou
dividendos
promocionais, o Desmontável instalou -se em Vila Franca de Xira ,
seguido de uma estadia na Nazaré , na época de veraneio, e regressou a
terras
ribatejanas.
A imprevisibilidade
da
afluência
do
púb lico
provocou temporadas irregulares, onerando, consequentemente, o
orçamento da Companhia em despesas de deslocação. O parco subsídio
que o Fundo de Teatro vinha concedendo manifesta -se insuficiente, e
Rafael de Oliveira, em carta de 17 de Agosto de 1963, endereçada ao
Dr. César Moreira Baptista , Secretário Nacional de Informação e, por
inerência do cargo, Presidente do Fundo de
Teatro, expõe as
dificuldades vividas pela Companhia ( 601). O Conselho de Teatro , em
reunião de 21 de Agosto, delibera atribuir um subsídio no montante de
oitenta mil escudos, por antecipação do concurso para companhias
itinerantes, devido ao facto de Rafael de Oliveira se manifestar
interessado em concorrer, e o referido Conselho considerar manter o
599
O Gr up o Cé ni co d a S o cied ad e I n s tr ução e R ecre io «O s P e ni c hei ro s » a b ri u o
esp e ct ác ulo co m a rep r e se n taç ão d e u ma co mé d i a i nt it u lad a D ia s Fe li ze s .
600
M. J . Vaz , “A ho me n ag e m p ro mo vid a no B a rreiro à Co mp a n hi a R a fa el d e
Oli v eir a”, Di s tr ito d e S e tú b a l , 1 5 .1 2 .1 9 6 1 : 1 e 4 .
601
Se cre tari ad o Nac io na l d a I n fo r ma ção , C u lt ur a P o p ul ar e T uri s mo , N. O . 2 4 7 1 ,
P ro cº . nº . 3 0 1 0 4 , d e 2 1 . 0 8 .1 9 6 3 . Car ta, e m p ap el ti mb rad o , d a Co m p a n hi a R a fae l
d e O li v eir a, Art i sta s As so ci ad o s , r e met id a d a Fi g u eira d a Fo z, e m 1 7 .0 8 .1 9 6 3 ,
d es ti nad a ao Se cre tár io Nacio n al d e I n fo r ma ç ão e P resid e nte d o Co n se l ho d e
T eatro , Dr . Cé sar Mo rei ra B ap t i sta ( Ac er vo d o F u nd o d e T ea tro / SNI , Arq u i vad o r
5 1 , MNT ).
193
subsídio à actividade da Companhia , com um pagamento imediato de
50% da verba atribuída. Dois meses mais tarde, Rafael de Oliveira
organiza uma petição (602), à qual anexa o documento laudatório do
Presidente da Câmara da Figueira da Foz (603) e uma folha de cálculo
demonstrativa
prorrogação
das
do
dificuldades
prazo
de
financeiras
pagamento
da
( 604),
solicitando
terceira
prestação
a
do
empréstimo concedido pelo Fundo de Teatro para a construção do
Teatro Desmontável (605), justificada pela falta de liquidez financeira
da companhia, em virtude da crise de público que se fazia sentir e da
necessidade de proceder a obras urgentes de manutenção do exterior
do teatro. Sugerindo que se candidatasse ao concurso para a temporada
de 1963/64, o Conselho de Teatro , em 26 de Dezembro, na sequência
do valor antecipado em Agosto, concedeu um subsídio de 125.000$00,
para um limite de 150 espectáculos realizados no prazo de um ano,
acrescido de um subsídio adicional no valor de 25.000$00, para
amortização
da
dívida
contraíd a
com
a
construção
do
Teatro
Desmontável (606).
1964 será o annus horribilis dos Artistas Associados . Em
princípio de Fevereiro, quando Rafael de Oliveira dirigia a montagem
602
T eatro De s mo n tá ve l. Co mp a n h ia Ra fa el d e Oli v eir a, Art i sta s As so ciad o s.
Car ta, e m p ap e l t i mb rad o d a C o mp a n hi a, re met id a d e T o rre s N o va s, e m
2 9 .1 0 .1 9 6 3 , d iri g id a a o Dr. Cé sar Mo r eir a B ap ti st a , S ecre tár io N acio na l d e
In fo r ma ção , Li sb o a ( Ac ervo d o F u nd o d e T ea tro /S NI, Arq ui v ad o r 5 1 , M NT ).
603
En ge n h eiro J o s é Co el h o J o rd ão . An e xo d a car t a, re me tid a d e T o rre s N o va s , e m
2 9 .1 0 .1 9 6 3 ( Ac er vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ).
604
T eatro De s mo n tá ve l. C o mp a n h ia Ra fa el d e Oli v eir a, Art i sta s As so ciad o s.
Re s u mo d a s re ce ita s ilíq uid a s e l íq uid a s, r e fer e n te s a 1 2 8 e sp ec tác u lo s r eal izad o s
p ela Co mp a n h ia Ra fa el d e Oli ve ira , d ur a nte o p erío d o d e 1 d e J ane ir o a 3 0 d e
Set e mb ro d e 1 9 6 3 . An e xo à car ta e n vi ad a ao S ec re tário Na cio n al d e I n fo r ma ção ,
Dr. Cé sar Mo reir a B ap ti st a , e m 2 9 .1 0 .1 9 6 3 ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI,
Arq ui vad o r 5 1 , M NT ).
605
Do mo n ta nt e d e 2 5 0 .0 0 0 $ 0 0 co nc ed id o e m 1 1 d e Maio d e 1 9 6 0 , ap en as se
p ag ara m 7 5 .0 0 0 $ 0 0 , no p razo d e u m a no .
606
Secr etar iad o Nac io na l d a In fo r maç ão , O fício n º 2 9 1 3 /3 , 3 0 1 0 4 , d e 2 8 .1 2 .1 9 6 3
(có p ia), r e me tid o p e lo C he fe d e R ep ar tiç ão d e C u lt ura P o p ul ar, B . J úd i ce d a
Co st a, d es ti n ad o a Ra fa el d e O li ve ira , T ea tro De s mo nt á vel , Mo nt ij o (Acer vo d o
F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ).
194
do Desmontável em Coruche , é acometido de doença súbita, sendo
conduzido de urgência para o Hospital de S. José , em Lisboa, onde se
detecta a ruptura de uma úlcera duodenal ( 607). Posta a hipótese de
uma
intervenção
posteriormente,
cirúrgica,
transferido
tal
para
não
chega
Hospital
a
acontecer,
Curry
Cabral ,
sendo,
onde
permaneceu até ao final do mês ( 608). O estado de saúde de Rafael de
Oliveira encontrava-se tão frágil quanto a situação financeira da
Companhia, agravando -se com o facto de a família haver, de comum
acordo, deixado de pertencer à sociedade. Sem possibilidade de prover
dividendos justos, o elenco do Desmontável sofreu a sangria de alguns
dos seus elementos mais importantes: Fernando e Gisela de Oliveira , e
Fernando Frias , que integram o elenco da opereta Nazaré, no Teatro
Maria Vitória. Sempre determinado, Rafael de Oliveira procura o
apoio de actores com afinidade ao modelo de teatro itinerante e
convida
Humberto
de
Andrade
e
sua
família,
da
Companhia
Lisbonense «Gente Sem Nome». Serão eles, em conjunto com António
Vilela e Idalina de Almeida, os pilares que sustentarão a Companhia
em Coruche, durante o período de internamento de Rafael de Oliveira .
Passado um mês, este regressa ao seu posto de director do
Desmontável; no ano anterior reformara -se enquanto actor. Escreve ao
S.N.I, agradecendo o apoio prestado e reafirma a sua vontade de
prosseguir na missão de levar teatro pela província, apesar da saúde
precária e do cansaço ( 609). Para evitar um maior descal abro
financeiro, devido à diminuta frequência de público, o número de
récitas por semana é reduzido para duas, o que não só agrava o
problema da realização dos espectáculos subsidiados, para cumprir o
“T ea tro De s mo nt á ve l R afae l d e Ol i v e ira”, O S o r ra ia , 0 8 .0 2 .1 9 6 4 : 8 .
“T a l vez vo cê n ão s aib a. ..”, Diá rio Po p u la r , 2 9 . 0 2 .1 9 6 4 : 2 .
609
Sec ret ari ad o N acio n a l d e i n fo r ma ção , N.O . 1 5 7 3 , P ro cº . nº . 3 0 1 0 4 , d e
2 0 .0 4 .1 9 6 4 . Car ta, e m p ap el t i mb rad o , d a Co mp an h ia Ra fa el d e O li ve ira , exp ed id a
d e Co r u c he , e m 1 6 .0 4 .1 9 6 4 , d es ti n ad a ao Dr. C ésa r Mo re ira B ap ti s ta ( Acer vo d o
F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ).
607
608
195
prazo contratual com o Fundo de Teatro , como dificulta o pagamento
das prestações referentes ao empréstimo concedido para construção do
Desmontável. Em 8 de Junho, Rafael de Oliveira endereça uma carta
ao Dr. César Moreira Baptista, em que expõe, mais uma vez, que os
fracos dividendos não permitem o pagamento aos artistas, não lhe
restando outra alternativa senão a de entregar o Teatro Desmontável
ao Secretariado Nacional , por incumprimento da dívida assumida
(610). Nesse mesmo mês candidatar -se-á ao apoio do Fundo de Teatro
para o teatro itinerante, e reitera o teor da missiva anterior, propondo
que o Fundo de Teatro atribua um vencimento mensal (2.500$00) a
cada elemento da Companhia durante um ano, ou, em alternativa, um
subsídio por espectáculo no m esmo montante, até ao limite de 160, sob
pena de não restar outra alternativa que não fosse a dissolução da
Companhia. É um homem amargurado que, contrariando a sua proposta
de devolução do Desmontável, solicita agora a possibilidade de o
manter e transfor mar em cinema ambulante, para que nele aguarde o
fim dos seus dias ( 611).
O
Conselho
de
Teatro
terá
ponderado
favoravelmente
os
argumentos, concedendo à Companhia um subsídio de 200.000$00 para
a temporada de 1964/65 ( 612), cujo ofício Rafael de Oliveira recebeu
nos primeiros dias de Julho, em Almeirim , onde se encontrava
instalado. Alívio de breve duração. A inépcia de um funcionário é
causadora do
afundamento da plateia
do Desmontável,
que vê
desaparecer o que resta dos poucos frequentadores. A contigência
610
Car ta d e Ra fa el d e Ol i ve ira , e m p ap el ti mb r ad o d a Co mp a n hi a, d e 0 8 . 0 6 .1 9 6 4 ,
d iri g id a ao Se cre tár io Nac io nal e P re sid e nte d o Co ns el ho d e T eatro , Dr. Cé sar
Mo reir a B ap ti st a ( Acer v o d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 5 8 , M N T ).
611
Sec ret ari ad o N acio n al d e I n fo r ma ção , N. O. 2 4 0 5 , d e 2 4 .0 6 .1 9 6 4 : Car ta d e
Ra fael d e Ol i veir a , d e Al me ir i m, e m 2 2 .0 6 . 1 9 6 4 , d iri g id a ao P re s id e nt e d o
Co n se l ho d e T eatro , Dr. Cé sar Mo re ira B ap ti s ta ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI,
Arq ui vad o r 5 8 , M NT ).
612
Act a nº 1 3 0 , d o Co ns el ho d e T eatro , d e 0 2 .0 7 . 1 9 6 4 (có p ia) ( Acer vo d o F u nd o
d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ).
196
obriga Rafael de Oliveira a solicitar ao Secretariado Nacional da
Informação um adiantamento do valor de um trimestre para mudar
rapidamente de localidade ( 613). A Companhia regressa à periferia de
Lisboa, instalando-se em Moscavide, entre Agosto e Novembro de
1964, e transitando para a Venda -Nova, onde se estreia a 19 de
Dezembro, com As Duas Causas , de cujo elenco saíra, entretanto, a
família Andrade para dar lugar a elemento s da família Rentini.
Apesar de esgotado por uma vida de trabalho insano, em prol da
sua paixão teatral, o “cabo de companhia” mantém -se firme todas as
noites no seu posto. A 9 de Janeiro de 1965, o Desmontável apresentou
a comédia antiga Moços e Velhos , seguida de um Fim de Festa com
Zurita de Oliveira e a sua guitarra eléctrica. Nos bastidores, após ter
fechado o pano de boca, Rafael de Oliveira mostra-se satisfeito por o
espectáculo ter corrido bem; de repente, é acometido por um ataque de
tosse, vacila e tomba vitimado por uma trombose. Dentro da sua
carteira, um lacónico “testamento”: “Sinto -me muito mal. Temo um
desenlace! Declaro a meu filho Fernando, prós devidos efeitos, que
possuo neste momento unicamente um conto e seiscentos. Não devo
nada
a
cabrão
nenhum!”
( 614).
Aos
74
anos,
o
pano
descia
inexoravelmente sobre o último acto da vida de um comediant e que,
tal como Molière, morria no teatro, no espaço em que sempre desejara
que isso acontecesse.
A notícia correu célere pela imprensa nacional e regional:
morrera
o
“último
abencerragem
do
teatro
ambulante”
( 615).
Necrologias, obituários e laudas póstumas reflectiram a derradeira
613
Secr et ariad o Na cio na l d e In fo r maç ão , N .O. 2 7 8 5 , P ro cº . 3 0 1 0 4 , d e 2 7 .0 7 .1 9 6 4 :
Car ta d e R a fae l d e O li v eira , d e 2 6 .0 7 .1 9 6 4 , d ir i gid a ao P re sid e nte d o C o n se l ho d e
T eatro ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ).
614
Mário Vie g a s, “Al g u n s ap o n ta me n to s p ar a u ma fu t ura hi s tó ri a d a Co mp an h ia d e
T eatro – It i ner a nt e Ra fa el d e O li v eir a. «O So n ho d e u ma Vid a »” , Cad er no P ro gra ma nº 9 , Co mp a n hi a T eatr al d o C hiad o , T e mp o rad a te atra l 9 1 /9 2 , p . 4 4 .
615
“Mo rre u o ac to r R a fae l d e Oli v eir a, ú lt i mo ab e nc erra ge m d o tea tro a m b ul a nt e”,
Jo rn a l d e Le t ra s e A rt e s , 1 3 .0 1 .1 9 6 5 .
197
récita de “uma das mais curiosas figuras da cena portuguesa” ( 616),
que concretizara o sonho da apregoada descentralização teatral: “o
povo gostava dele e ele gostava do povo, que lhe fica a dever muitas
horas de sonho, de arte, de lágrimas e risos. Rafael de Oliveira ,
homem bom, de acção e coragem, merecia a nossa profunda admiração.
E deverá ser sempre recordado como exemplo digno de se seguir”
(617). Pela câmara ardente na Ig reja Paroquial de Santa Isabel,
desfilaram os amigos, os colegas, os representantes oficiais e o
público. O corpo foi sepultado no Cemitério de Benfica, a 11 de
Janeiro de 1965, mas a memória do Homem de Teatro permane ceu
associada à Companhia do Desmontável.
3.
Novos modos de sobrevivência da Companhia.
A continuidade do Desmontável colocava problemas. Em Outubro
de 1964, Fernando de Oliveira admitira a extinção da Compan hia e
explicara os motivos que advieram à saída dos vários elementos, que
tinham ingressado no elenco do teatro Maria Vitória :
Em primeiro lugar a Televisão veio tirar muito púbico aos restantes
espectáculos, especial mente na província, nosso meio ambiente. Só no
Minho fecharam já vinte e tal cinemas. Depois, o poder económico é
hoje menor do que há anos. O gosto pelo teatro mantém -se, mas estes
dois factores são decisivos no destino da nossa com panhia. Sempre
tivemos subsídios do Fundo de Teatro , mas não eram suficientes para
garantir a sobrevivência. Assim, eu e outros elementos do elenco
falámos com meu pai e estudámos o problema. Era difícil continuar.
Retirámo-nos para prosseguir a nossa carreira em Lisboa , embora com
o propósito de regressar logo que a crise se resolvesse. Quem dera que
fosse já amanhã! Aquela é a nossa casa, mas as realidades são duras e
as perspectivas bem negras ( 618).
“F ale ci me n to s: Ac to r Ra fae l d e Ol i ve ira” , Diá rio d e No tíc ia s , Li sb o a,
1 0 .0 1 .1 9 6 5 .
617
“5 ª Co l u n a”, Diá r io Po p u la r , 1 6 .0 1 .1 9 6 5 : 3 .
618
“Dep o is d e c i nq ue nt a ano s d e ac ti v id ad e, a C o mp a n h ia d e Ra fa el d e Oli v eir a
es tá p re st es a e xt i n g u ir -s e: Fer na nd o d e Ol i ve ira , fil ho d o co n he c id o acto r
616
198
Com o desaparecimento de seu pai, recaía sobre si “uma centelha
de esperança” ( 619). Animado a dar continuidade a uma Companhia
cheia de tradições, Fernando de Oliveira pondera a sua viabilidade
financeira: “Gostar do Teatro não basta. Temos de viver.” ( 620) O
Desmontável mantinha -se instalado na Venda -Nova. Representara -se A
Recompensa, em homenagem a Rafael de Oliveir a, a 17 de Janeiro,
espécie de ofício teatral de sétimo dia, e a Companhia manteve o ritmo
de um espectáculo por semana, até 21 de Fevereiro, derradeira
exibição. Com receitas fracas, era impossível exigir o sacrifício dos
elementos da Companhia sem um apoio mais substancial do Fundo de
Teatro. Em 6 meses, desde 1 de Agosto de 1964, a Companhia
realizara apenas 31 espectáculos, muito abaixo da produtividade
habitual dos Artistas Associados. Fernando de Oliveira manifesta,
então, ao Secretário Nacional de Informação o desejo de prossegui r a
obra de seu pai e, expondo as dificuldades vividas através de um
relato circunstanciado de despesas permanentes e eventuais, solicita a
concessão de um subsídio anual de 420.000$00 ( 621). No Secretariado
Nacional, os serviços trocam informações internas sobre a Companhia,
remetendo a decisão para o Conselho de Teatro , que, em reunião de 12
de Maio, indefere o pedido da Companhia , embora autorize a sua
e mp re sár io , i n gre s sa n o te atro d e re vi s ta e faz - no s o p o rt u na s d e clar açõ e s”,
Actu a lid a d e s , 1 7 .1 0 .1 9 6 4 : 5 e 1 3 .
619
C urad o Rib eiro , “D e T eatro : F er na nd o d e Ol i veir a: u ma ce nt el ha d e
esp e ra nça ”, An ten a , 0 1 . 1 1 .1 9 6 5 : 3 6 .
620
Ma n uel Vie ira , “T ea t ro Des mo ntá v el Ra fael d e Oli v eir a: F u t uro i nc erto ”,
[j o rnal d e sco n h ecid o ], 0 5 .1 1 .1 9 6 5 ( Reco r te p e rte nc e nte ao acer vo d e Ál varo d e
Oli v eir a).
621
P ro ces so nº 3 9 9 , d o S. N.I., d e 0 5 .0 2 .1 9 6 5 . Ca rta d e F er na nd o d e O li v eira, e m
p ap el ti mb r ad o d a Co m p an h ia Ra fae l d e O li v ei ra, d ir i gid a ao S ecr etár i o Nac io nal
d e I n fo r ma ção , Dr . Cé sar Mo re ira B ap t i sta ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI,
Arq ui vad o r 5 8 , M NT ).
199
candidatura ao concurso de apoios do Fundo de Teatro para o ano
seguinte (622).
Em inactividade desde o final de Fevereiro, Fernando de Oliveira
aproveita o recebimento do subsídio remanescente para proceder a
melhorias na estrutura do Desmontável, comprometendo -se com o
Fundo de Teatro a retomar a sua actividade em Julho, realizando três
ou quatro espectáculos por semana, por forma a justificar os termos
contratuais do subsídio da temporada anterior ( 623). O Conselho de
Teatro, em reunião de 19 de Julho, decide, então, voltar a atribuir um
subsídio segundo as mesmas condições do ano anterior, a realizar
entre 1 de Agosto de 1965 e 31 de Julho do ano seguinte ( 624). Embora
agradecido pela concessão, Fernando de Oliveira redige uma sumária
demonstração
da
impossibilidade
de
realizar
mais
do
que
130
espectáculos por ano, a um valor unitário de 1.000$00 ( 625), que o
Conselho de Teatro aprecia, em 6 de Agosto, deliberando alterar o
montante do subsídio unitário (1.500$00), assim como o número total
de espectáculos a realizar anualmen te (130) (626).
622
Ofício nº 3 9 0 /6 5 (có p i a), d e 1 3 .0 5 .1 9 6 5 , d o Che fe d e Rep art ição , B . Júd i ce d a
Co st a p ar a F er n a nd o d e Oli v eir a ( Ace r vo d o F u n d o d e T ea tro / SN I, Arq ui vad o r 5 8 ,
MNT ).
623
Se cret ari ad o N ac io na l d e i n fo r ma ção , N. O . 2 1 9 4 , d e 0 2 . 0 7 .1 9 6 5 : Car ta
d act ilo gr a fad a d e Fer n a nd o d e O li v eir a p ar a o Secr et ário Na cio na l d e I n fo r ma ção
e P res id e nt e d o Co n se l h o d e T eatro , Dr. C és ar Mo reir a B ap t i sta ( Ac er v o d o Fu nd o
d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ).
624
Secr eta riad o Nac io na l d e In fo r maç ão , o fí cio n º 1 5 6 7 , 3 0 1 0 4 , d e 2 2 .0 7 .1 9 6 5 ,
re met id o p o r B . J úd ice d a Co st a , C h e fe d e Rep arti ção , d e s ti nad o a Fer na nd o d e
Oli v eir a , R u a d o s So eir o s, Li sb o a . T ratava - s e d e u m mo n ta n te d e 2 0 0 .0 0 0 $ 0 0 ,
co rre sp o nd e nd o a u m v alo r u ni tário d e 1 .0 0 0 $ 0 0 , até ao li mi te má x i mo d e 2 0 0
esp e ct ác ulo s ( Ac er vo d o F u nd o d e T eatro / S NI, A rq u i vad o r 6 2 a, M NT ).
625
Se cre tar iad o Na cio na l d e I n fo r ma ção , N. O. 2 6 3 5 , P r o cº . nº . 3 0 1 0 4 , 0 4 .0 8 .1 9 6 5 .
Car ta, e m p ap el ti mb r ad o , d a Co mp a n hi a R afae l d e Ol i ve ira , re me tid a d e
Se si mb ra, a 3 1 .0 7 .1 9 6 5 , d ir i gid a ao Se cre t ário Nac io na l d e I n fo r mação e
P resid e nte d o Co n se l ho d e T ea tro , Dr. Cé sar Mo reir a B ap ti s ta , Li sb o a. As s i na m
to d o s o s ac to re s. 2 fl s. ( Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / SNI , Arq u i vad o r 6 2 a , MNT ).
626
Secr et ariad o Na cio na l d e In fo r ma ç ão , C ul t ura P o p ul ar e T ur i s mo . I n fo r mação
d e ser vi ço nº 5 4 5 /6 5 , d e 1 1 .0 8 .1 9 6 5 , re me t id a p o r M a n ue l H e nriq u es d a Si l va,
C he fe d a 3 ª Se cção , p e l o C h e fe d e Rep art ição , d es ti nad a ao Secr etár io Na cio na l
( Acer vo d o F u nd o d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 6 2 a, M NT ). A Co mp a n hi a acab a p o r
so frer u ma l i gei ra p erd a co m a rec ti fic ação ; te n d o sid o a trib u íd o u m s u b síd io d e
200
Reunidas as famílias Oliveira e Frias, fica decidido reiniciar a
actividade da Companhia em Sesimbra , durante a época balnear, mas o
fantasma da dissolução continua a pairar sobre o Desmontável. A crise
de
público mantinha-se,
dificultando
a
vida
de 14
artistas, 2
carpinteiros e 1 ajudante, 1 secretário e 1 encarregada de bilheteira,
em regime societário, ganhando um valor mensal pequeno, acrescido
de dividendos finais. O valor atribuído pelo Fundo de Teatro
manifestava-se insuficiente para a produção de novas montagens ou
admissão de novos elementos. O facto de terem de se bastar a si
próprios, com o produto da bilheteira, atemorizava Fernando de
Oliveira em regressar à província; a transferência do Desmontável
traduzia-se num custo entre 20 e 35 contos, transportado em 10
camiões de 10 toneladas, e correspondia a uma inactividade de 20
dias, o tempo da sua montagem.
[O] meio provinci ano, com excepção das cidades mais importantes – e
entre estas algumas estão também em condições débeis – não dispõe de
possibilidades capazes de assegurarem a permanência prolongada de
uma companhia teatral, e muito menos dar -lhes a recompensa material
inevitável. População relativamente diminuta, falta de recursos
monetários, menor interesse pelo espectáculo, tanto por carência
educativa como por hábitos arreigados, e mais ainda a concorrência da
TV e do Cinema, tudo isto contribui para tornar extremament e penosa
e não menos exigente a deslocação, através do País, de elencos de
teatro, mesmo que eles sejam artisticamente valiosos e possam dispor
de programas atraentes ( 627).
Entre 5 de Outubro de 1965 e 25 de Junho de 1967, o
Desmontável executa um périplo pelos arredores lisboetas, começando
em Algés, e aí retornando, depois de passar pela Amadora , Costa da
Caparica, Sintra, e Queluz; a companhia sobrevive com dificuldade
das pequenas receitas e do subsídio do Fundo de Teatro . Para minorar
2 0 0 .0 0 0 $ 0 0 , p as s a a re ceb er 1 9 5 .0 0 0 $ 0 0 , o q u e co rre sp o nd e a , s e ns i v el me n te, o
va lo r d e me no s t rê s e sp e ctác u lo s.
627
L.M., “ Co o p er ação me r ecid a ”, O Co m ér cio d o Po r to , 0 4 .1 1 .1 9 6 6 : 1 4 .
201
os gastos, Fernando de Oliveira opta por levar à cena um menor
número de peças com maior número de representações ( 628), não
obstante solicitar do Dr. César Moreira Baptista o alargamento do
número de espectáculos subsidiados, de 130 para 150, nessa temporada
(629). Mesmo com o despacho favorável do Secretário Nacional, a 29
de Abril, o equilíbrio económico da Companhia continua instável.
Fernando de Oliveira , a exemplo do que fizera seu pai, apela à
compreensão do Professor Oliveira Sala zar para a necessidade de
duplicar o valor do subsídio, atendendo ao historial da Companhia; a
Presidência
do
Conselho
remete
a
decisão
para
os
serviços
competentes e o Secretariado Nacional sugere que a Companhia
concorra aos apoios do Fundo de Teatro . Candidatura apresentada,
processo form alizado e Conselho reunido, a 17 de Agosto de 1966, o
subsídio unitário, para a temporada seguinte, é aumentado para
2.000$00, embora mantendo -se o limite de espectáculos da temporada
anterior (130).
Apesar das dificuldades económicas, em 1967, Fernando d e
Oliveira arrisca a sua primeira encenação, com a revisitação cómica do
Frei Luís de Sousa, intitulada Três em Lua de Mel , no Teatro
Desmontável , em Queluz, a 7 de Fevereiro. A Companhia continua a
investir no “teatro só para rir”, na sequência das comédias estreadas
628
E m 1 9 6 6 , d o rep o r tó r io ex ib id o na A mad o r a (e nt re 1 2 .0 2 e 2 9 .0 6 ), F r e i Lu ís d e
S o u sa s ub i u à ce na 1 5 v eze s; O Pa ra lí tico , 1 3 ; Jo sé d o Telh a d o , In ês d e Ca st ro e
Du a s Ca u sa s , 5 ; Amo r d e Pe rd i çã o , A Ro sa d o Ad ro e O Ra p to d a P r ima , 4 ; A
Ca lú n ia , A s Du a s Ór fã s e Deu s lh e p a g u e , 3 ; A Reco mp en sa , Da q u i fa la o Mo r to ,
Um Fa n ta s ma Ch a ma d o Isa b el , Ca sa d e Do id o s e A Filh a d o Pa u l in o , 2 ; Pr ém io
No b e l , O Tio Rico e A s Pu p ila s d o S r. Re ito r , 1 v ez. No me s mo a no , n a Co st a d a
Cap aric a (e ntr e 2 3 .0 7 e 2 5 .0 9 ), ta nto F re i L u ís d e S o u sa co mo O Pa ra lít ico
s ub ir a m 5 v eze s à ce n a. Alé m d is so , d o s 1 9 tí t ul o s e xib id o s, 8 es ta va m i se n to s d o
p ag a me n to d e d ire ito s a uto rai s, p o r p er te nc ere m ao d o mí n io p úb l ico .
629
Secre tar iad o Na cio n a l d a In fo r ma ção , N.O . 1 1 6 6 , P ro cº . nº 3 01 0 4 , d e
2 7 .0 4 .1 9 6 6 . Car ta e m p ap el t i mb rad o d a Co mp an h ia Ra fa el d e O li ve ir a, Art is ta s
As so c iad o s , e mi tid a na A mad o ra , e m 2 1 .0 4 .1 9 6 6 , d iri g id a ao Secr etá ri o Nac io na l
d a In fo r ma ção e P re sid e nt e d o Co n sel ho d e T eat ro , Dr. Cé sa r Mo rei ra B ap ti s ta . 2
fls . ( Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq ui v ad o r 6 2 a, M NT ).
202
anteriormente, e com este original de Jorge de Sousa (630) fará a sua
primeira «corda» ( 631), durante um mês por diversos pal cos, após
quatro anos de ausência da província. Com este tipo de digressão, a
Companhia evitava os problemas de climatização que o teatro na época
de Inverno acarretava e criava o balanço necessário para a futura
itinerância do Desmontável. No início do mê s de Maio, o Diário
Popular difundiu a intenção de uma futura temporada em Évora ,
notícia que a imprensa local retomou a partir do mês de Setembro,
referenciando a actualização de reportório, a pa r com os costumeiros
êxitos, e a constituição do novo elenco. A Companhia reorganizou -se a
partir das famílias Oliveira, Frias, e Vilela, de Luís Pinhão , actordeclamador, societário desde 1955, e do retorno da famíl ia de
Humberto de Andrade e de Alexandre Passos (632), societários por
pouco tempo, em 1964. Enquanto que o primeiro correspondia às
tradições das companhias de prov íncia (633), o segundo representava
630
P seud ó n i mo d a p arc eri a He nriq u e Sa n ta na e Fr an ci sco Rib eiro ( Rib eir i n ho ), d o
T eatro d e Var ied ad e s . A est rei a d e T rê s e m Lu a d e Me l o co rre u a 0 3 .1 1 . 1 9 6 1 , p ela
Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s (E mp re sa Fra n ci sco Rib e iro - He nr iq u e Sa n ta na)
. Do el e nco fa zi a m p ar te: E u n ic e M u ño z ( Mad ale na d e V il he n a ), M ar ia H ele n a
Mato s (M ari a d e No r o n ha ) , Aid a B ap ti st a ( Cl ara ), Lu í sa D urão (Do ro t eia ) ,
Rib eir i n ho (J o ão Ro m eira ), He nr iq ue Sa n ta n a (Ma n ue l d e So u sa Co ut i n ho ),
Co st i n ha ( Dr. T el mo P ai s ) e An tó nio Si l va ( Mir a nd a ) .
631
Gír ia te atr al s i g ni fic a n d o a it i nerâ n cia d e u m me s mo e sp e ctá c ulo e m s uc es s i va s
lo ca lid ad e s d i fere n te s, d ura n te u m p er ío d o d e te mp o co nt í n uo .
632
Co n tra -re g ra no Gr up o d e T eatro d o Or feão Sca lab ita no , d ir i gid o p elo P ro f.
Car lo s d e So u sa , p ert en ce u ao T eatro E xp e ri me n tal d e Li sb o a , c o m J ac i nto
Ra mo s, fu nd o u o T eatr o d e E n sa io co m J o ão Sarab a nd o , e o T eatro P o p ul ar d e
Al mad a . Fr eq ue nto u o C ur so Li vre d e Ar te d e Rep r es e nta r , d o Co n ser v ató r io
Nac io nal . I n gre s so u na Co mp a n h ia d e R a fae l d e Ol i ve ira a 1 9 .1 2 .1 9 6 4 , o nd e
p er ma ne ce u ap e na s u m mê s. P ar ti cip o u na ú l ti ma p e ça d o T eatro M o d erno d e
Lis b o a, O Ren d e r d o s H eró is . Re gr es so u à Co m p an h ia, q ua nd o e sta se refez co m
Fer na nd o d e Ol i ve ira ( “De T ea tro : Ale xa nd r e P as so s fa la a Jo rn a l d e Vi seu ”,
Jo rn a l d e V i seu , 0 4 .0 1 .1 9 6 9 : 6 ).
633
Fi l ho , n eto e b i s ne to d e ac to re s, fo i ed u cad o p o r s e us tio s Ar t ur e A mél ia
Ro d r i g ue s , a cto r es d a C o mp a n h ia d e R a fae l d e Oli v eir a (1 9 2 5 -3 0 ) . E str eo u - s e ao s
1 5 ano s, na Co mp a n h ia Dra má ti ca Lisb o n e ns e V en â ncio «O s Mo d e sto s » , d o acto r
Ar ma nd o Ve nâ n cio , no p ap el d e P icard , e m A s Du a s Ó rfã s , q ue , ma is t ard e, vi ria
a d iri gi r (1 9 4 3 -4 7 ) . In te gro u a Co mp a n hi a Dra m áti ca Li sb o ne n se Mo iro n (a no s 3 0
até ca. 1 9 6 0 ), a Co mp a n hi a Dra má t ica Ma r y - Q ui n a (1 9 4 6 -4 7 ), e fo r m o u a s s ua s
p ró p ria s Co mp a n hia s : Gr up o Dra má ti co «O s P o p u lare s » (1 9 4 4 ), o Co nj u nto
Art ís ti co «D i vi na Ar te » (1 9 4 8 -5 5 ), a So ci ed a d e Art í st ica «G e n te S e m No me »
203
uma nova perspectiva da profissão de actor. Fernando de Oliveira tirou
dividendos da sua formação académica, e profissional, ao aceitar a sua
colaboração na escrita dos tex tos de apresentação da Companhia. A
partir de Julho de 1965, na temporada de Sesimbra , a Companhia
passou a mandar imprimir programas em abertura de temporada do
Desmontável nas localidades. Desde o simples desdobrável até à
versão
de
oito
páginas,
estes
documentos
demonstram
uma
preocupação em individualizar a promoção da Companhia junto do
espectador; neles se inserem as fotos dos actores, com respectiva
legenda,
a
promoção
do(s)
espectáculo(s)
de
abertura,
sua
distribuição, e a discriminação do reportório de originais portugueses
e de traduções.
Na primeira semana de Setembro de 1967, o Rossio de S. Braz ,
junto ao Jardim Público foi palco da instalação do Desmontável:
“Barracão enorme, desajeitado, cor de tijolo velho. Parece nascido do
próprio terreno onde se instalou. Depois uma porta e um letreiro
branco, animado e fluorescente: «Teatro Desmontável - Companhia
Rafael de Oliveira »” (634). Na noite de 23 desse mês, era com orgulho
que a Companhia juntava “sobre o seu palco, três gerações de Artistas:
avós, filhos e netos”, esperando que o público correspondesse “em
qualidade e quantidade” como era seu hábito, e prometendo retribuir
com “boa vontade e honestidade artística”, apresentando “desde a
comédia ligeira ao drama romântico – ainda tão do agrado das plateias
– passando por autores clássicos ou modernistas” ( 635). Aberta com a
(1 9 5 6 -5 8 ), o Co nj u nto Fa mi liar Lisb o n e ns e «G e nt e d e T eatro » (1 9 6 5 ), e a
Co o p er at i va d e P ro d uçã o d e Esp e ctá c ulo s «G e n te S e m No me » (1 9 7 7 ). J u nt a me n te
co m a s u a fa mí l ia, reg re sso u à Co mp a n hi a R a fae l d e O li v eir a (1 9 6 4 ),
p er ma ne ce nd o p o u co te mp o . Ap ó s a mo rt e d o e mp re sár io , reto r n a so b a d irecção
d e Fer na nd o d e Ol i ve ir a , e m 1 9 6 5 ( F. R., “D e T eatro : H u mb erto d e And r ad e
fa lo u - no s d a s u a car reir a”, Jo rn a l d e V i seu , 0 1 . 0 1 .1 9 6 9 : 1 3 ).
634
Man u el V ie ira , o p . ci t. , 0 5 .1 1 .1 9 6 5 (Reco rte p erte n ce nt e ao acer vo d e Ál varo
d e O li ve ira ) .
635
T exto d e ap re s e nta çã o d a Co mp a n hi a, d a a uto ria d e Ale x a nd re P as so s, no
p ro gr a ma d e sd o b r á vel d a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i ve ira, Ar ti st as As so c iad o s ,
204
mais recente produção da Companhia, Três em Lua de Mel , a
temporada de Évora assistiu à estreia de dois novos originais
portugueses - a 18 de Novembro, Uma Bomba Chamada Etelvina , e,
três meses depois, a 25 de Fevereiro de 1968, Aqui há Fantasmas -,
ambos
da
parceria
Henrique
Santana
e
Francisco
Ribeiro,
da
Companhia do Teatro Variedades , que prolongavam o modelo de
comédia do início da década, cujo slogan era “só para rir” ( 636).
Apesar de evidentes sucessos de bilheteira, da sua difusão nos Tempos
de Teatro da Televisão, de evocarem os nomes populares que os
haviam estreado no Teatro Variedades , de apresentarem um cabal
desempenho dos Artistas Associados, a crítica não lhes deu maior
relevo do que o normal reclame, mas referenciou, a propósito da
representação de A Muralha, o prazer para o espírito que era ver “bom
teatro”, um enredo bem urdido associado a um bom desempenho,
formando um todo harmónico, uma mesma expressão de beleza.
Os cinco meses de estadia em Évora traduzem-se numa melhoria
financeira da Companhia. Para além dos espectáculos no Desmontável,
a Companhia realiza um número substancial de repres entações nas
colectividades e Casas do Povo das povoações limítrofes. Apesar de
Fernando de Oliveira ter manifestado perante o Secretariado Nacional
a impossibilidade de realizar mais do que 130 espectáculo s anuais (na
realidade, em 1967, verifica -se a existência de 127, embora, em 1966,
refere n te ao e sp e ctá c ul o T rê s e m lu a d e me l , e m e str ei a d a Co mp a n h ia, a 2 3 d e
Set e mb ro d e 1 9 6 7 , no T eatro De s mo n tá ve l , e m Évo r a ( ac er vo Ál varo d e Ol i ve ira,
Vil a Re al d e S a nto An tó nio ).
636
Uma Bo mb a Ch a ma d a Etel vin a e s treo u - se e m 2 4 .0 3 .1 9 6 1 , e m Lisb o a, p el a
Co mp a n h ia d o T ea tro V aried ad e s (E mp re sa Fr a nc i sco R ib e iro - H e nriq ue S a nt a na,
Lis b o a , co n ta nd o co m a in terp r et ação d e Fra nc i sco Rib eiro ( Ri b eiri n ho ) ,
Co st i n ha , He nr iq ue Sa n ta na , As s i s P ac h eco , Luí s a D ur ão , M ari a H ele na Ma to s ,
Aid a B ap ti st a , C arlo s Alv e s , Li li N e ve s , Már io P ereira , Cél ia d e Ab r e u e Lúc ia
Mari a no ( D iá rio Po p u la r , 2 4 .0 3 .1 9 6 1 : 2 ). Aq u i h á fa n ta sma s es treo u - se a
0 2 .0 3 .1 9 6 2 , p ela me s m a co mp a n hi a, no me s m o teatro . Do ele n co fa zia m p ar te
He nriq u e Sa n ta na , Rib e iri n ho , An tó nio S il v a , Co st i n ha , C ar me n M e n d es, Luí sa
D urão , Lil i Ne ve s , He n riq ue S a nto s , Luí s d e Ca mp o s , Car lo s Al v es e He nriq u e
Via n a ( D iá rio Po p u la r , 0 2 .0 3 .1 9 6 2 : 2 ).
205
se consigam referenciar 163), em 1968, produz -se um total de 189, um
aumento de 45,3%. Em termos percentuais, em 1967, fora do
Desmontável , foram realizados 61% dos espectáculos, enquanto que,
no ano seguinte, a percentagem se reduz para 32%, em virtude de não
se ter processado a digressão pontual da época de Inverno. Os Artistas
Associados despedem-se em apoteose, com Aqui há Fantasmas, numa
cerimónia, em que Fern ando de Oliveira, em cena aberta, se assume
como herdeiro da tradição itinerante, proferindo o tradicional discurso
de encerramento, evocando agora a figura de Rafael de Oliveira e
historiando o percurso do agrupamento ( 637). O regresso do “Teatro de
que o povo gosta”! ( 638), e que Portalegre , conhecedora dos ecos
provenientes da capital eborense, ansiava por rever: “Rafael , com a
sua
figura
dominadora,
pisa
já
o
palco
da
Eternidade,
onde,
esperamos, poderá continuar a sentir o calor das palmas que sempre
premiaram o seu trabalho insano de pioneiro do bom teatro, [...] mas
todo o seu entusiasmo, inoculado [...] no seu filho Fernando,
permanece, como na primeira hora, vivo, arrebatador, empolgante”
(639).
Permanecendo
fiel
às
directivas
de
Rafael
de
Oliveira ,
a
Companhia, na sua temporada em Viseu , recebeu o convite de Alfredo
Reis, entusiasta elemento da Sociedade Musical Cultura e Recreio de
Paço de Vilharigues , para que aí realizassem uma noite de teatro. A 8
de Novembro, “o teatro foi ao povo e o povo gostou e aplaudiu”; Três
em Lua de Mel subiu à cena “num palco apertado e quase improvisado.
Com modestos cenários e mobiliário local, sem efeitos de luz. Com as
paredes em tosco e a telha à vista, lá no alto. No desconforto da
“A Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i veir a d e sp ed i u - s e d e Évo ra ”, No t ícia s d e Évo ra ,
2 9 .0 2 .1 9 6 8 : 2 .
638
“De P o rta le gre : T eatro d e q ue o p o vo go s ta”, C a p ita l , 0 6 .0 3 .1 9 6 8 : 7 .
639
“Ve m aí o T eatro De s m o nt á ve l !”, A Ra b e ca , 2 2 . 0 2 .1 9 6 8 : 2 .
637
206
plateia e dos lugares de pé. Mas, com o profissionalismo honesto de
uma mão cheia de bons artistas” ( 640).
Como remate da bem sucedida temporada de Viseu , Fernando de
Oliveira acolheu ainda no Desmontável um espectáculo do Orfeão de
Viseu e do seu Grupo Cénico, e estreou, na derradeira noite, a 19 de
Janeiro de 1969, a última das cinco novas produções que marcam a
década de 60, a comédia húngara, Danúbio Azul, original de Ladislau
FEdor, com tradução livre de José Galhardo e Luís Galhardo, filho
(641).
No final de Janeiro, a Companhia iniciou uma «corda» com Amor
de Perdição. Entre 24 de Janeiro e 8 de Fevereiro, realizaram -se
sucessivos espectáculos diários, partindo de Manteigas , percorrendo o
nordeste
transmontano,
prosseguindo
pela
região
minhota
e
terminando em Valadares . A 11 de Fevereiro, o Teatro Aveirense
acolheu uma série de espectáculos, numa cooperação empresarial entre
teatro e cinema, com deslocações pontuais dos Artistas Asso ciados a
outras salas limítrofes. Apenas a partir de 6 de Abril retornaram ao
Desmontável, instalado em Braga , cuja recepção desilude Fernand o de
Oliveira. Nos três meses de actuação, apesar de uma assistência
seleccionada, não superaria “dez a quinze por cento da lotação [...]
muito abaixo do um por cento da população da cidade”, que preferia
teatro visual a teatro de intelecto, e cuja modificação comportamental
dependeria
da
“criação
de
grupos
experimentais
de
Teatro,
especialmente pela parte de estudantes e tentativas de levar o público
a peças gradualmente seleccionadas” ( 642).
“O t ea tro fo i ao p o vo .. . a P aço s d e V il h ari g ue s”, No t íc ia s d e Vo u ze la ,
1 6 .1 1 .1 9 6 8 : 1 e 2 .
641
Fo i rep re se n tad a e m Li sb o a, no T eatro Var ied a d es , na d éc ad a d e 5 0 , se nd o , e m
1 9 5 9 , ap res e nt ad a na s no i te s d e t ea tro d a RT P (“Eco s d e P a lco ”, R ep ú b li ca ,
1 4 .1 0 .1 9 5 9 : 3 ).
642
Man so N u n es , “I nq ué rito ao go s to art í st ico d e B raga ”, Diá r io d o Min h o ,
1 2 .0 5 .1 9 6 9 : 1 e 2 .
640
207
A situação económica da Companhia tornou -se mais uma vez
instável, levando Fernando de Oliveira a solicitar do Secretariado
Nacional de Informação a abertura célere do concurso para o teatro
itinerante (643). O Desmontável exibia também sinais de deterioração,
obrigando a obras de restauro na estrutura. Com o patrocínio da
Fundação Calouste Gulbenkian , procedeu-se ao revestimento exterior
com painéis de alumínio, ao interior com cortinados e o chão foi
forrado a estrados de madeira ( 644). Durante os meses de inactividade
forçada do Desmontável , a Companhia circulou pelo norte do país,
representando algumas peças do reportório, em diversas casas de
espectáculo.
Apenas
em
Setembro,
retornariam
ao
seu
espaço,
instalado na Póvoa do Varzim , para uma curta e inexpressiva estadia,
antes de se fixarem em Guimarães , cuja temporada, iniciada a 6 de
Novembro, se prolongou até 15 de Fevereiro de 1970.
Em 1969, devido aos diferentes percalços ocorridos, a Companhia
verifica idêntico número de espectáculos realizados no Desmontável e
em outras salas. Na sequência do envio do processo de candidatura aos
apoios do Fundo de Teatro , Fernando de Oliveira apresentou ao novo
Presidente do Conselho de Teatro , Dr. Caetano de Carvalho , uma
estatística sobre os espectáculos realizad os, respectiva frequência de
espectadores e aumento de despesas de deslocação/alojamento, dos
quais resultava uma situação financeira complicada, para solicitar um
aumento do subsídio unitário ( 645). O Conselho de Teatro , reunido em
643
Ca rta d a Co mp a n hia Ra fae l d e O li ve ira (T e atro D es mo ntá v el) Art is ta s
As so c iad o s , B r a ga, 0 5 .0 5 .1 9 6 9 , e nd e reçad a ao Dr. C é sar Mo re ira B ap ti s ta .
S.E.I .T ., N. O. 1 5 4 2 , P r o cº . nº 3 0 1 0 4 , 1 5 .0 5 .1 9 6 9 . T ran s f. p ara D. G. C .P .E., e m
1 7 .0 5 .6 9 . R e gº . en trad a na DG CP E e m 1 9 . 0 5 .1 9 6 9 . 2 f ls . ( Ac er vo d o F u nd o d e
T eatro / SNI, Arq u i vad o r 1 4 , MNT ).
644
E m 1 4 .0 7 .1 9 6 9 , o S er vi ço d e B e la s - Arte s d a F u nd a ção Calo u s te G u lb e n ki a n
atrib u i u à Co mp a n hi a u ma verb a d e 1 2 9 .9 9 9 $ 0 0 p ara e s se fi m. O fa ct o ap arec e
me n cio n ad o , no a no se g ui te, a p ro p ó si to d e “T e atro p ar a o V erão ” , no Bo le ti m d o
Clu b e d a s Do n a s d e Ca s a , 1 5 .0 6 .1 9 7 0 : 9 6 .
645
Ca rta d a Co mp a n hia Ra fae l d e O li ve ira (T eatro D es mo ntá v el) Art is ta s
As so c iad o s , re me t id a d e G ui ma rãe s, 1 3 .0 1 .1 9 7 0 e end e reç ad a ao Dr. Ca eta no d e
208
11 de Fevereiro, deferiu o pedido com um aumento de 250$00,
correspondente a um acréscimo de 12,5% ( 646).
Sem grande margem de manobra por parte de Fundo de Teatro ,
Fernando de Oliveira produziu o original de Henrique Santana , O
Gato, estreada como último espectáculo da temporada de Gui marães, a
8 de Fevereiro de 1970, com direcção de seu filho Álvaro de Oliveira ,
e assistência de Alexandre Passos . Pretendia-se com esta comédiafantástica criar um ponto de partida para novos processos de trabalho,
dando possibilidade aos mais novos de realizarem as suas ideias. A
encenação saía dos cânones habituais da Companhia; utilizava uma
marcação viva e um ritmo de representação subl inhado por efeitos
sonoros e luminotécnicos. A própria cenografia, tradicionalmente
concebida por Fernando Frias , tinha agora assinatura de Alexandre
Passos, sobre cuja maqueta aq uele executou. “Um teatro para toda a
gente” (647), em cujo âmbito a Companhia incluía tanto As Raposas,
de Lillian Hellman , como o António, Marinheir o, de Bernardo
Santareno, que estaria em ensaios ( 648). Um programa eclético inciad o
em 1969, com o anúncio de Ratos e Homens, de John Steinbeck , e os
ensaios da comédia de Claude Magnier , A Mala de Bernardete (649),
Car v al ho , P r es id e n te d o F u nd o d e T ea tro , Li sb o a. Re gº . d e e n trad a na DG CE e m
1 6 .0 1 .7 0 . 1 0 fl s. ( Ac er v o d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 1 4 , M N T ).
646
Se cre tar ia d e E s tad o d a I n fo r ma ção e T uri s m o . O fício nº 9 9 /D G CE / T MB , d e
0 6 .0 3 .1 9 7 0 (có p ia ), d o Dire cto r G era l d a C ul tu ra P o p u lar e Esp ect á cu lo s, Dr.
Ca eta no d e C ar va l ho , p ara Fer n a nd o d e O li ve ir a , T eatro D es mo n tá v el Ra fael d e
Oli v eir a, G ui ma rãe s ( Ac ervo d o F u nd o d e T ea tro /S NI, Arq ui v ad o r 1 4 , M NT ).
647
“T eat ro p ara to d a a ge n te”, Bo le ti m d o C lu b e d a s Do n a s d e Ca sa , 0 1 .0 4 .1 9 7 0 :
91.
648
“A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i ve ira e m fo co : D ep o i s d e e st rear O Ga to , en s aia
An tó n io , Ma rin h ei ro d e B er nard o S a nt are no e p rep ara A s Ra p o sa s , d e Lil i a n
Hel l ma n ”, P la t eia ( R e vi st a), 1 4 .0 4 .1 9 7 0 .
649
T rata -s e d a co méd i a Os ca r , d e Cl a ud e Ma g ni er (P ari s, 2 0 . 0 1 .1 9 2 0 –
2 2 .0 6 .1 9 8 3 ), e stre ad a e m Fra nç a e m 1 9 5 8 , co m P ie rre Mo nd y no p r o ta go ni s ta,
cuj o s u ce sso a co nt ece ria ap e n as no a no s e g ui n te, q ua nd o Lo u i s d e Fu n ès
in terp r eto u o me s mo p a p el, d a nd o o r i ge m à p o st erio r ad ap t ação ao ci ne ma , e m
1 9 6 7 . E m P o rt u ga l , co m eço u p o r ser a n u n ciad o co m o t ít ulo o ri g i nal , e mb o r a na
es trei a se te n ha o p t ad o p o r es te s e g u nd o t ít u lo . Est r eo u no T ea tro Av e ni d a , e m 2 7
d e No v e mb ro d e 1 9 5 9 , co m o se g u i nt e el e nco : Ire ne Izid ro , He nr iq u e Sa nt a na ,
He nriq u e S a n to s , M aria Hel e na Ma to s , V ir gí lio Mac ieir a , Mar ia Sc h u lt z e , Car me n
209
que apenas veio a estrear no Desmontável , instalado em Torres
Vedras, a 1 de Julho de 197 1, em espectáculo único com entradas
grátis, sem qualquer repercussão pública ( 650). Apesar da boa vontade
da Companhia, não era possível exigir -lhe “um teatro de vanguarda,
um teatro experimental, destinado a minorias” ( 651) e as tentativas que
foram
feitas
d estinavam-se,
conscientemente,
apenas
a
alguns
possuidores de outro tipo de aspirações. Em 1971, em Santarém ,
Álvaro de Oliveira principiou ensaios da peça de Osvaldo Dragún ,
Histórias para serem contadas , em tradução de Costa Ferreira .
Tratava-se de uma “originalidade” ( 652), destinada a atrair um público
jovem, tal
como
o seu
encenador,
devendo
o espectáculo ser
antecedido por uma “explicação prévia”, e seguido por “um colóquio
no palco aberto a todos os espectadores que [quisessem] trocar
impressões, entre si ou com os elementos da Companhia, sobre as
implicações culturais do teatro - no passado e na actualidade” ( 653).
Foi promessa que não chegou a ser cumprida, tal como a Primavera
marcelista. Em 1972, a 10 de Junho, a Companhia estreou a comédia
As Borboletas são Livres, um original de Leonard Gershe , com
Me nd e s, Al i na Va z e R ui Lu ís . E nc e naç ão d e Vir g íl io M aci eir a e ce n as d e P i n to
d e C a mp o s ( D iá rio d e L isb o a , 2 7 .1 1 .1 9 5 9 : 9 ).
650
Os e sp e ctá c ulo s re al iza d o s co m A s Ra p o sa s o u co m Ra to s e Ho men s a p en as se
en co ntr a m d o c u me n tad o s na c arta e nd ere çad a p o r Fer na nd o d e O li ve i ra ao Dr.
Ca eta no d e Ca r val ho , e m 1 3 .0 1 .1 9 7 0 . Nã o fo ra m e n co ntr ad o s carta ze s
p ub lic it ário s ne m re fer ên cia s j o rn al í st ica s, to d av ia, e n tre 6 d e Ab r i l e 1 0 d e
Ag o s to d e 1 9 6 9 , são d e clar ad a s d ua s r éci ta s d e Ra to s e Ho men s (P e na fiel e Vi la
P raia d e Ânco ta) e tr ê s d e As Ra p o sa s (Fr ea mu n d e , B arc elo s e V il a P raia d e
Ân co ra) , i nd ic a nd o -s e a resp ect i va lo taç ão d e p ú b lico , ma s o mi ti nd o a s u a d a ta d e
real iza ção . P o rq uê u ma o mis s ão tão ó b v ia? Au s ên cia d e l ic e nci a me n to o u vo n tad e
d e i mp r es s io nar o no vo P resid e nte d o Co n sel ho d e T eatro ?
651
“F i g ura s e fac to s: T ea tr o e m Sa nt aré m” , D iá rio d o Rib a t ejo , 1 1 .1 1 .1 9 7 0 : 1 e 4 .
652
L. R., “H i stó ria s p a ra s ere m co n ta d a s : u ma o r i gi n al id ad e e m S a nt aré m , D iá r io
d o Rib a te jo , 1 8 .0 1 .1 9 7 1 . U m p ró lo go e trê s h i st ó ria s p ara s ere m co n tad as p o r trê s
acto r es e u ma actr iz, le vad as a ce n a p e lo Cé ni co d e D ire ito , co m e nc en ação d e
Fer na nd o G us mão , e p e lo P ri meiro Acto – T ea tro d e Al g és , co m e nce na ção d e
Ar ma nd o C ald a s .
653
Ib id e m.
210
tradução de Carlos Wallenstein (654) e encenação de Fernando de
Oliveira; um êxito nos Estados Unidos, na Europa, em Lisboa , porém
sem maior projecção do que meia dúzia de espectáculos na pr ovíncia.
Mesmo com a chancela de teatro popular, que normalmente se atribui a
Gil Vicente, não é certo que Alexandre Passos tenha conseguido levar
à cena a sua encenação de O Velho da Horta ou de outros autos, tantas
vezes anunciados e outras tantas adiados ( 655). O Desmontável vivia
indiscutivelmente de um teatro alegre destinado a “ um público ávido
A co mé d i a d e Leo nard Ger s he (N Y, 1 9 2 3 – Ca l i fó r nia , 0 9 .0 3 .2 0 0 2 ) Bu t te rf lie s
a re f re e fo i p ub l icad a e m 1 9 6 9 , p o r Fr e nc h (N e w Yo r k), e e s tread a a 2 1 .1 0 .1 9 6 9 ,
no B o o t h T hea tre , d e No va Io rq ue, o nd e p er ma n ece u a té 1 9 7 2 , p er faze nd o u m
to ta l d e 1 1 2 8 r ep re se n ta çõ es . D iri g id a p o r Mi lto n Kat s ela s , co m K eir D u lle a (Do n
B ak er ), E il e n Hec k art ( Mrs. B a ker ), B l yt h e Da n ner (J i ll T a n ner ) e Mi c ha el Gl a ser
(Ra lp h Au st i n ) ( www. i b d b .co m ). E m P o rt u ga l , e str eo u e m p ri n cíp io s d e 1 9 7 1 ,
co m o t ít u lo S ó a s Bo rb o leta s sã o L iv re s , no T e atro La ura Al v es , e m Li sb o a, co m
trad uç ão d e Car lo s W al l en s tei n , n u ma p ro d uç ão d e V as co M o r gad o e e n c en ação d e
An tó n io d o C ab o . O ele nco co nta v a co m G uid a Mari a e V a sco Mo r g ad o J ú nio r no s
p ap éi s p r i ncip ai s, p ara alé m d e An tó nio Mac h a d o e Mar ia He le na Mat o s , co mo
arti s ta co n vid ad a. S e g ui u - se u ma d i gr es sã o d e ver ão p o r d iv er sa s lo ca lid ad es d a
p ro v í nci a ( An tó nio Ma c had o fo i s ub st it u íd o p o r Car lo s Q ueir ó s e M ar ia He le na
Mato s p o r M a n ue la M a ri a), se nd o rep o s ta, no T eatro Mo n u me n ta l , e m Li sb o a,
co mo p r i me ira p arte d e p ro gr a ma d e re ve i llo n d e s se a no ( Ca rlo s Q ue iró s
s ub st it uí d o p o r No rb ert o B ar ro ca ) , s e g uid a d e u m “F i m d e F es ta ” co m o ca n to r
An tó n io Mo ur ão . (p ub l icid ad e in Diá rio d e No t íc ia s , 3 0 .1 2 .1 9 7 1 ) . Est a p eça
es ta va se nd o r ep re se n ta d a p ela E uro p a, co m i g ua l s uce s so s e g u nd o i n fo r ma va a
i mp re n sa p o rt u g ue sa d a al t ura. ( Arq u i vad o r 1 1 8 , R eco r te s d e J o rn ai s, acer vo d a
E mp r e sa d e Va s co Mo r g ad o , M NT ).
655
A p ro d u ção d e esp ect á cu lo s v ic e nt i no s no D e s mo n tá ve l p are ce - no s e n vo l ta e m
al g u ma b r u ma . Na co rr esp o nd ê n ci a tro cad a e nt re Fer na nd o d e O li v eir a e o SNI
refere m- s e co mo t e nd o sid o e n sa iad as a s fa rs as d e In ês P er ei ra , d o Velh o d a
Ho r ta , e o e xcer to d a Lu s itâ n ea , To d o o Mu n d o e Nin g u ém , s up o s ta me n te p ara
ex ib i ção na te mp o rad a d e B raga , e m 1 9 6 9 , ma s ad iad o s p o r ca us a d as fes ta s
j o ani n as . (P ro ce s so d e c and id a t ura ao ap o io d o F u nd o d e T eatro p ara a te mp o rad a
d e 1 9 6 9 -7 0 , R eq ueri me nto d a tad o d a P ó vo a d o Var zi m , 1 0 .0 8 .1 9 6 9 . Acer vo d o
F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 1 4 , MNT ). Ex is te, to d a vi a, u ma referê n cia
(co n trad itó r ia) so b re u ma p ri me ira ap re se n ta ção , e m Sa n ta na (F. Fo z), se m
d ataç ã o p rec i sa, e m fi n ai s d e Ago sto d e 1 9 6 8 , no T eatro S a nta n e n se p ara 2 2 0
esp e ct ad o re s. No úl ti mo tri me str e d e s se m es mo a no , r e fer e m - s e mai s trê s
esp e ct ác ulo s, na s v izi n ha n ça s d e V i se u : Ur g e iriç a , Ne la s e Ca stro Dair e . No
p ri me iro , s up o s ta me n te co n tra tad o p el a C a sa d e P es so al d o s T rab al h ad o re s d as
Mi na s, ter ão a s si s tid o 7 0 8 p es so as, e m d at a i nc ert a. J u nt a me n te co m o s o u tro s
d o is, ter ía m a s si s tid o 1 2 0 2 p es so a s. Ap ete ce d izer : P ard e u s !, Me s t re Gi l, e m
ép o ca d e cr is e, t a nto s e m tão p o uco s? (Car ta d a Co mp a n h ia Ra fae l d e Ol i veir a
(T eatro D es mo ntá v el) Art is ta s As so ciad o s , re me tid a d e G u i marã es , 1 3 .0 1 .1 9 7 0 ,
end ereç ad a ao Dr. Cae t ano d e C ar va l ho , P res id en te d o F u nd o d e T eatr o , Li sb o a.
654
211
de qualquer coisa que [fizesse] esquecer a luta pela sobrevivência,
num mundo de preocupantes inquietações” ( 656), ou, nos seus
antípodas, de amores funestos, camilianos Albuquerques e Botelhos, e
ingenuidades bucólicas de Rosas minhotas, re inventadas por penas
neo-realistas.
Romeu Correia, revelado nos anos quarenta, como um escritor
preocupado com os anseios e sofrimentos do povo, cuja dramaturgia
havia sido representada por artistas consagrados ( 657), adaptara o
romance oitocentista de Manuel Maria Rodrigues , A Rosa do Adro, que
subia ao palco do Desmontável , em Santarém , a 24 de Janeiro de 1971,
em estreia nacional, na encenação de Fernando de Oliveira
e
cenografia de Fernando Frias . Num teatro que sobrelotara com
cadeiras suplementares, o público heterogéneo rendeu -se comovido à
interpretação e à montagem criteriosas do popular drama naturalista,
“reflexo do erotismo da s gentes do Norte naquela época, e de certo
modo na época presente” ( 658), justificando a razão do permanente
agrado popular: “uma história, quando idealizada com génio ou
genialmente decalcada num realismo de acção e de verdade social,
precisa apenas de uma sólida «narrativa» artística, para ser assimilada
com avidez pelo espectador que nela sente algo da sua maneira de ser
– como pelo que dela conclui por um extracto da beleza plástica de
imagens e diálogos” ( 659).
Re gº . d e e nt rad a n a DG CE e m 1 6 .0 1 .7 0 . 1 0 fl s. Ac er vo d o F u nd o d e T eatro /S NI,
Arq ui vad o r 1 4 , M NT ).
656
L. R., Cr ít ic a d e T ea tr o : U ma b o mb a Ch a ma d a Ete lv in a ”, Diá r io d o Rib a t ejo ,
2 7 .1 0 .1 9 7 0 .
657
O Va g a b u n d o d a s Mã o s d e Ou ro fo i rep r es e nt ad o p elo T eatro E xp er i me n ta l d o
P o rto (T EP ) , co m J o ão G ued e s no p ro ta go n is ta. A Co mp a n h ia d o T eatr o Nacio n al
le vo u à c e na O Ca sa co d e Fo g o , co m Car me n Do lo re s e Au g u s to d e F ig u eir ed o ,
no s p r i nc ip ai s p ap e is, e O C ra vo E sp a n h o l , en ce nad o p o r P ed ro Le mo s , co m
in terp r et ação d e Vare la Sil v a , Ma ria n a R e y M o nt eiro , C arlo s S a nto s , He nriq u et a
Mai a e Gló r ia d e M ato s ( “O es cri to r Ro me u Co rreia e m Sa n taré m e a es trei a d a
s ua ad ap t ação d e A Ro sa d o A d ro ”, Diá rio d o Ri b a tejo , 2 3 .0 1 .1 9 7 1 : 1 e 6 ).
658
L. R., “C rít ic a d e T ea tr o : A Ro sa d o Ad ro ”, Diá rio d o Rib a te jo , 2 8 .0 1 .1 9 7 1 : 6 .
659
Ib id e m.
212
4.
1973: a sonhada tournée a África. Francisco Ribeiro, director
artístico a prazo.
O sonho de Rafael de Oliveira materializou-se em Março de 1972,
pela mão de Fernando de Oliveira . Tratava-se de um enorme passo
para os Artistas Associados , habituados a peregrinar por terras
continentais, mas totalmente desconhecedores da realidade colonial.
Entre os societários, apenas Idalina de Almeida havia feito na sua
juventude uma digressão por Angola , mas certamente em condições tão
diferentes das actuais, que se impunha uma mão capaz de gerir a
complexidade da almejada deslocação; quem melhor do que Francisco
Ribeiro para ser convocado como director artístico da Companhia
Rafael de Oliveira?
Tendo-se estreado aos dezassete anos (1929), na Companhia de
Chaby Pinheiro, no velho Teatro Virgínia , de Torres Novas [660], em
A
Maluquinha
de
Arroios
de
André
Brun ,
Francisco
Ribeiro
demonstrou ser um actor estudioso [661] e um grande espírito
organizador, que marcou a maioria dos actores da sua geração, pelas
suas qualidades de encenador e director de actores [662]. Aos 24 anos,
assumia a direcção do Teatro do Povo (SPN) (1936-41), do qual se
despediu presumivelmente por divergências de conteúdo. Tendo lido e
estudado Copeau [663], para Francisco Ribeiro a profissão era um
660
Ac t ua l me n te i ne x is te n t e, a me mó r ia d o T eat ro Vi r gí n ia e nco ntr a - se r eg i stad a
n u m p a i nel d e a z ulej o s sit u ad o no lo cal o nd e o utro r a fu n cio no u, no cen tro d e
T o rres No v as.
661
Esta fa cet a v ale u - l he ser alc u n h ad o d e «G as tão B ap t is ta », n u ma al u são a
Ga sto n B at y ( S A N T O S 2 0 0 4 : 2 1 2 ).
662
Esta s d ua s ca te go ri a s co rresp o nd e m, a nt erio r m en te, à d e e n sa iad o r, a i n d a q ue o
ter mo e n ce na ção ap ar eç a j á me n cio nad o no p r i n cíp io d o séc u lo X X, so b ret ud o na
ver s ão fra n ce sa, mi se - en - sc èn e .
663
T rata - se d e u ma e sco l a d e acto r es, e m q u e s e d efe nd e o re sp ei to p e lo te xto ,
u ma ce no gr a fi a mi n i ma l is ta, p r e fer i nd o a p o ét ic a ao e sp e ct ac ul ar e d a nd o ao ac to r
o p red o mí nio d a fu n ção tet ara l. T eve co mo s e g u id o re s Lo ui s J o u vet ( fu n d ad o r e m
1 9 2 7 d o Ca rte l d e s Qu a tr e ), C har le s D u ll i n e J e an Da st é ( fu nd ad o r d a C o mp a g n ie
213
sacerdócio, “pelo amor [...] ao Teatro” [664], conforme referiu quando
da estreia do projecto ferriano, em 1936. A sua estética gan hou relevo
com Os Comediantes de Lisboa (1944-50), companhia que formou com
seu irmão António Lopes Ribeiro , e na segunda fase do Teatro do Povo
(SNI) (1952-55), ao qual regressou, quando este se intelectualizou e se
aproximou da ideia de um teatro popular europeu, evocando um Teatro
Nacional Popular francês ou uma Volksbühne alemã.
A companhia dos Comediantes era constituída por artistas
conhecidos, alguns deles saídos da companhia do Teatro Nacional ,
cujo
reportório
se
caracterizou
por
um
ecletismo
de
peças,
predominando a dramaturgia inglesa e francesa em detrimento dos
autores nacionais, com montagens de gosto apurado e de coesão
interpretativa. Francisco Ribeiro , que depreciava o gosto naturalista
da cena portuguesa, e o aspecto folclorista da primeira fase do Teatro
do
Povo
(SPN) ,
caracterizadas
por
exibia
uma
agora
um
equilíbrio
nas
cénica
global,
organização
encenações,
graças
à
criatividade de colaboradores de grande qualidade.
Extinto
o
Teatro
do
Povo
(SNI)
[665],
Francisco
Ribeiro
formalizou um projecto pessoal em que aglutinava a experiência
itinerante do SNI com a dos Comediantes. Tratava -se de uma
companhia de teatro fixo durante a temporada de Inverno, sediada no
Teatro da Trindade (666), e itinerante durante a temporada de Verão
(667), na sequência de uma ideia formulada por José Manuel da Costa ,
d es Qu in z e ), q u e p r at ica rá a d e sce n tra li zaç ão , o u t ro d o s co nce ito s d e fe nd i d o s p o r
Co p e a u.
664
“T eatro d o P o vo : U m a i n ic iat i va d o Sec ret a riad o d a P ro p a g a nd a N acio na l”,
Diá rio d e No tí cia s , 1 4 .0 6 .1 9 3 6 : 1 1 (e ntr e vi st a d e Fr a nc is co Rib eiro na v ésp e ra d a
es trei a d o T ea tro d o P o v o /SP N , no J ard i m d a Es t rela .
665
E m 3 1 d e De ze mb ro d e 1 9 5 5 , p o r De cre to - Le i n º 4 0 2 2 9 , d e J ul ho d e 1 9 5 5 .
666
I n a u g urad o e m 1 9 5 7 co m No it e d e R ei s , d e W i ll ia m S ha ke sp eare .
667
Fra nc i sco Rib eiro co n c eb e u u m d i sp o si ti vo c é ni co p ró p rio p ara it i ner ân cia , a
p artir d e u m ca mi ão , q u e fu n cio na v a co mo ar m azé m d e ad ereço s e fi g ur i no s , e m
cuj a s tra se ira s se s it ua va m o s b e m eq uip ad o s ca mar i n s, e à fr e nte d o q u al se
mo n ta va o p al co , q ue o c ul ta v a to d o e ste d i sp o si t ivo .
214
em 1952, para o S.N.I., e que Ribeirinho retomou a 16 de Julho de
1956, ao solicitar da Inspecção dos Espectáculos a concessão de um
alvará de exploração itinerante para o Teatro Nacional Popular (TNP)
– empresa Lopes Ribeiro - Francisco Ribeiro (SANTOS 2004: 186). No
TNP materializar -se-ão não só as ideias de Jacques Copeau , como as
do Théâtre populaire de Jean Vilar [668], de cuja inspiração derivou o
próprio nome da companhia.
Fernando
de
Oliveira
apoiou-se
na
experiência
artística
e
organizadora de Francisco Ribeiro para gerir a digressão a Angola ,
cuja envergadura necessitava de uma inter venção em três planos: na
escolha de elenco, na constituição do reportório, e na redefinição
física do Desmontável.
Para se associarem ao elenco base da Companhia ( 669), foram
convidados Rui de Carvalho , Canto e Castro, Tomás de Macedo e a
jovem Hermínia Tojal (670), actores com quem Ribeirinho havia
trabalhado anteriormente, conhecidos do público angolano, e que
serviriam como cabeças de cartaz, para quem desconhecesse a
Companhia Rafael de Oliveira . O árduo trabalho realizado durante os
quatro meses de ensaio no Teatro Desmontável , instalado em Lisboa,
na Avenida do Aeroporto , ao fundo da Rua Rodrigo da Cunha ,
prolongou-se durante a viagem de barco para Angola . A exigência
668
Cr iad o r d o Fe s ti v al d e Av i n hão (Fr a nça) .
Fer na nd o d e O li ve ira , Gi sel a d e Ol i ve ira , Ál varo d e O li ve ira , Ma n ue la
Co i mb ra , H u mb er to d e And rad e , M ari a T eres a , An a M aria d e An d r ad e , Ge n y
Fri as , F er na nd o Fr ia s , I d ali n a d e Al me id a e Al e xa nd r e P a sso s .
670
Her mí n ia T o j al p o ss u i a u ma só l id a e st r ut ura cu lt ur al e b o a f o r ma ção téc ni ca.
Ne sta ép o ca, co m 1 0 a n o s d e carre ira , era u ma actr iz e m a sc e ns ão , q u e ass u mia a
s ua p re ferê nc ia p e lo t e atro Gr e go , d e q ue i n te rp retar a Med eia , ma s ta mb é m p o r
au to re s co mo P i nte r , K a fka , Alb ee , P ira nd e llo , Sar tre o u T e ne ss ee W il l ia ms , e n tre
o ut ro s . P a ss ara p ela s co mp a n h ia s d o T eatro Na c io n al , d o T eatro d o Ger i fal to , d o
T eatro d a T rind ad e e n o T eatro Mari a Ma to s i nt e grar a o ele n co d a Re líq u ia , no
p ap el d e Ad él ia. Co n h eced o ra d a e xp eri me nt ação t eatr al q ue se p r ati ca va no
es tra n ge iro , c it a va a l iç ão d e S vo b o d a , na C h e c o slo v áq uia , e a d e Gro t o ws k y , na
P o ló n ia, co mo vi a s d e t rab al ho p ar a so l u cio n ar a cr is e d e p úb lico q ue se se n ti a,
cria nd o esp ect ác u lo s q ue r e fl ect i ss e m o s “p r o b le ma s d o p úb lico [ . ..] e l h e
669
215
habitual de Ribeirinho , entrando e saindo do palco, marcando,
explicando, apontando, para culminar, por vezes, em assomos de raiva
em que espezinhava o seu próprio chapéu, traduzia -se no rigor do tom
de representação, na unidade de estilo, na compreensão da dimensão
textual, para que o espectáculo surgisse naturalmente como um todo de
perfeição, conforme recorda Álvaro de Oliveira , a última geração de
actores do Teatro Desmontável .
A 4 de Novembro de 1972, a Companhia iniciou os ensaios de
quatro peças, em simultâneo, em dois períodos, tarde e noite, embora a
preparação tivesse começado em Março desse mesmo ano, pela escolha
do reportório, um pot-pourri de peças sobejamente conhecidas de
Ribeirinho. De uma proposta inicial, entre comédias, dramas e farsas,
seleccionou Noite de Reis, de Shakespeare, À Espera de Godot (671),
de Samuel Beckett , Armadilha para um Homem Só, um policial francês
de Robert Thomas (672), O Pato, de Georges Feydeau , e os eternos
sucessos populares Amor de Perdição e A Rosa do Adro . De fora,
ficavam a comédia alemã de Mosget e Oberson, O Sabão nº 13 (673), O
p ro p o rcio ne m re ai s s e ns açõ e s d e v i vê nc ia” ( “H er mí n ia T o j al , u m no me d o teatro
p o rt u g uê s e m Lu a nd a ”, Diá rio d e Lu a n d a , 2 3 .0 6 .1 9 7 3 : 3 2 ).
671
Fo i es tre ad o a 5 d e J ane iro d e 1 9 5 3 , no T hé â tre d e B ab ylo ne (3 8 , b o ul e vard
Ra sp a il, d iri g id o p o r J ea n -Ma rie Serr ea u ), e m P aris, co m e nce n ação d e Ro ger
B li n. E le nco : P ierre Lat o ur (E str a go n), Luc ie n Ra mb o u r g ( Vl ad i mi r), Ro ger B l i n
(P o zzo ), J ea n Mar ti n ( Luc k y) .
672
P ro d uç ão d a Co mp a n h ia d o T ea tro Var ied ad e s (E mp re sa F r a nci sco Rib eiro He nriq u e S a nta n a) , e str ead a a 2 7 .0 1 .1 9 6 1 , te nd o co mo e le n co : Fra nc i sc o Rib eiro ,
He nriq u e S a nt a na , Mar ia H ele n a M ato s , Aid a B ap ti st a , M ário P er eir a e As si s
P ach eco ( Diá r io Po p u la r , 2 7 .0 1 .1 9 6 1 : 3 ).
673
Fo i rep re se n tad a no T eatro d o G i ná sio p e la Co mp a n h ia d e Luc íl ia Si mõ es –
C hab y P i n heiro , na te m p o rad a d e 1 9 3 3 -3 4 , e r e p o st a p e la co mp a n hi a d o T eatro d a
T rind ad e , e m 0 6 .0 2 .1 9 4 3 , co m tr ad ução d e Er ic o B rag a , Dr. An tó nio D i as Co st a e
An tó n io d e Car v al ho I v o , d e cuj o ele n co faz ia p arte Fr a nci sc o R ib eir o . Da s ua
d ig re ss ão s ab e - se q ue o esp ec tá c u lo não ca u s o u b o a i mp r e ss ão n e m no T eatro
Garc ia d e Re se nd e , ne m no C i ne -T ea tro El ve n se , d e v id o ao se u to m d e ma s iad o
gro s sei ro (c f. “ O S a b ã o n º 1 3 e O Ho mem d a s 5 h o ra s p el a co mp a n h ia d o T eatro
d a T rind ad e”, Jo rn a l d e Elva s , 1 1 .0 4 .1 9 4 3 : 4 ). E xi s te e xe mp la r v i sad o p ela I. G.E,
e m 1 7 .1 1 .1 9 3 0 , r e gº nº 6 8 6 (B N -M a n us cri to s co d . 1 1 7 2 5 ).
216
Diário de Ann Frank [674], de Albert Hackett e Frances Goodrich , Um
Dia de Vida [675], de Costa Ferreira e Uma Bomba Chamada Etelvina ,
da sua parceria com Henrique Santana . Um ecletismo de reportório,
misturando dois projectos distintos, o da Companhia do Teatro
Variedades, nos anos 60, com o do Teatro Nacional Popular, nos anos
50: das comédias de boulevard ao “êxito indiscutível” [676] de Noite
de Reis, em 1957 [677], e ao “momento charneira do teatro português
do século XX” (S A N TO S 2004: 216), vaiado pelos situacionistas, de À
Espera de Godot . Como em 1959, Ribeirinho reinterpretou Estragon ,
tendo a seu lado Canto e Castro (substituindo Fernando Gusmão ), em
Vladimir, Humberto de Andrade (substituindo Costa Ferreira ), em
Pozzo, Rui de Carvalho (substituindo Armando Cortez ), em Lucky, e
Manuela Coimbra (substituindo João Lourenço ), em o Rapaz . Não
sendo um espectáculo de grande público, a peça beckettiana, “das mais
admiráveis do nosso tempo”, segundo Jorge de Sena (1988: 238),
surgia como a “cereja” de uma possível proposta actualizada do
reportório da Companhia Rafael de Oliveira .
Avesso à cenografia naturalista dos talões pintados, Ribeirinho
preferia uma concepção equilibrada do dispositivo cénico e do espaço
de representação, utili zando módulos cenográficos e uma iluminação
expressionista como linguagem teatral, a que se juntava o rigor da
concepção e execução dos figurinos. A qualidade visual dos Artistas
674
P ro d uç ão T NP , T eatro d a T rind ad e , e m 0 7 .1 1 . 1 9 5 8 , co m e n ce na ção d e Gar so n
Ka ni n e d ire cção d e F ran ci sco Rib e iro . O te xto re ceb e u o Wr i te rs Gu i ld o f
Ame ri ca , e m 1 9 5 9 .
675
P ro d ução T NP , T eat r o d a T rind ad e, e m 2 3 .0 1 .1 9 5 8 , co m e n ce n ação d e
Fra nc i sco R ib eiro . T ex t o d is ti n g u id o co m o p ré mi o G il Vi ce n te 1 9 5 8 .
676
Co s ta F erre ira , Uma Ca sa co m Ja n e la s p a r a Den t ro , ci tad o p o r Graç a d o s
Sa n to s (2 0 0 4 : 2 1 3 ).
677
Fra n ci sco R ib e iro não só re c up ero u i nt e gral me nt e a s u a e nc e naç ão d e No i te d e
Rei s, co n ceb id a p ar a o T NP , e m 2 7 d e No v e mb ro d e 1 9 5 7 , co mo re p ro d uz i u a
ce no gra fia d e J o s é B ar b o sa e o s fi g ur i no s d e Ab íl io Ma tto s e Si l va . Ma n ue la
Co i mb ra , i nt erp re ta nd o o p ap e l d e Vio la , o s t en tar á u m v is u al id ê n t ico ao d e
Eu n ice M u ño z , na ver sã o d e 1 9 5 7 , e Ál varo d e Oli v eira , ao d e R u i d e Car va l ho
217
Associados passou pelo crivo apertado do Mestre, tantos nos cenários
novos, como na melhoria da concepção cenográfica de Amor de
Perdição (678) e de A Rosa do Adro, da autoria de Fernando Frias , e
ainda no guarda -roupa histórico, proveniente da casa Anahory , que
garantia plasticamente uma grande qualidade ao espectáculo [679].
Ribeirinho interveio também na estrutura do Desmontável , numa
ampliação do palco para 15 metros de largura por 8 metros de fundo,
com o consequente alargamento da boca de cena, dos camarins,
aumentados para 14, e no embelezamento da sala. Durante a digressão,
quando as condições logísticas a penas permitissem a montagem do
palco, o desmontável deslocaria a sua estrutura, funcionando a plateia
ao ar livre [680], segundo o modelo utilizado pelo Teatro do Povo
(SNI).
Também
o
aspecto
exterior
daquele
enorme
bar racão,
desajeitado, pouco apelativo na sua cor de tijolo velho, que parecia
nascer do próprio terreno em que se instalava, sofreu a evocação da
commedia dell’arte, com os painéis exteriores pintados em losangos
coloridos, como que envolvido pelo manto de A rlequim. A parte
técnica foi beneficiada com a construção de uma teia, varanda de
manobra e aumento da cabine eléctrica, que passou a dispor de mais
dois órgãos de luzes, dado que o número de projectores aumentou de
20 para 60.
(cfr. fo to d e No ite d e R ei s , e m V ito r P a v ão d o s Sa n to s , Eu n ice Mu ñ o z, 5 0 a n o s d e
Vid a d e u ma A ct ri z , p .1 0 1 ).
678
Ne st a e n ce na ção , R ib ei ri n ho o p to u p el a ut il iz a ção d e ch a rr io t s q u e p e r mit ia m
u ma mo b i lid ad e d e mu tação e ntr e a s d i v ers a s ce n as , to r n a nd o o e sp ec tá c ulo
d in â mi co , s e m q ueb ra s d e r it mo (c f. V.B ., “ A Cid ad e : T eatro e m Lu a nd a: A
p ro p ó si to d e O A mo r d e Per d içã o p el a Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra”, Diá rio d e
Lu a n d a , 0 6 .0 5 .1 9 7 3 : 7 ).
679
A Ca s a An a ho r y , d e Li sb o a, u m d o s ma i s a nt i g o s, e ma i s c aro s , g uard a -ro up as,
p o s s uía u ma e no r me va ried ad e d e fi g ur i no s, q ue ser vi a m so b r et ud o o ri go r d a s
ó p era s d e S. Car lo s e d o T eatro Na cio n al (E mp re sa Re y Co laço – Ro b l e s
Mo n te iro ), e mb o r a fo s s e m a l u gad o s p o r o u tra s e mp re s as d e t eatro co m me no s
p o s sib ili d ad e s e co nó mi c as.
680
“D ep o i s d as no ve : T ea t ro : Co m 4 5 to nel ad a s d e ma ter ial d e te atro e u m el e nco
d e 2 0 art is ta s, a Co mp an h ia Ra fae l d e O li v eir a v ai p ar tir p ara An g o l a”, D iá rio
Po p u la r , 1 2 .1 1 .1 9 7 2 : 2 .
218
Foi, portanto, um Desmontáv el renovado por mão de mestre,
equivalente a “60 toneladas de carga de má arrumação: teatro,
cenários, trajos e adereços” [681] que partiu a 15 de Março de 1973, no
paquete Príncipe Perfeito , rumo a Luanda , onde a renovada Companhia
Rafael de Oliveira se estreou na noite de 5 de Abril de 1973, com
Noite de Reis, numa interpretação de relevo, a que não faltou o
público, que, segundo a articulista Maria Augusta Silva , do Província
de Angola, demonstrava que o interesse pela Arte de Talma se estava
solidificando [682].
A temporada luandina de quatro meses decorreu a um ritmo
vertiginoso, apresentando 6 espectáculos diferentes, com um intervalo
de 2 dias entre si, únic as folgas durante os primeiros três meses. Noite
de Reis realizou 26 espectáculos em 25 dias consecutivos, dando lugar
a Amor de Perdição, com 35 espectáculos em 29 dias, e continuando
com O Pato, com 29 representações em apenas 20 dias e a cujo
derradeiro espectáculo assistiu o Governador -Geral de Angola, Santos
e Castro, e esposa. Três sucessos, a que se seguiu um fim de
temporada mais equilibrado, distribuído pelas últimas peças do
reportório: A Rosa do Adro , com 17 representações, Armadilha para
um Homem Só, com 13 e, como remate, À Espera de Godot , com 12.
Como era de esperar, contou com uma “assistência pouco numerosa,
mas a bastante, pela sua altura, para compensar, à falta de outros
estímulos, um núcleo de artistas que nos deu teatro”, afirmava o
articulist a do Província de Angola , desejando que a peça conquistasse
público, “um público que merece, não só pelo tema como pela
“E sp e ct ác ulo : U m S h ak esp eare ta l q u al se fa la a c a mi n ho d e An go l a ”, O
S écu lo , 0 1 .0 3 .1 9 7 3 : 2 0 .
682
M. A. S., “T e a tro : No i te d e Rei s e a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i veir a”, P ro v ín cia
d e An g o la , 0 6 .0 4 .1 9 7 3 : 1 5 .
681
219
interpretação honesta e séria, própria a quem quer, sobretudo, fazer
arte” [683].
Enquanto o Desmontável atravessava a imensidão angolana para
se ir instalar em Nova Lisboa , a Companhia iniciou a sua epopeia
africana
pelos
palcos
locais
de
Cambambe ,
Salazar,
Carmona,
Malange, Henrique de Carvalho e Luso. Pelos teatros ou pelas
associações recreativas a Companhia faz desfilar as comédias em
conjunto com o romantismo camiliano, para um público eclético , mas
escasso - falta de hábitos teatrais [684] -, à excepção dos espectáculos
destinados às Forças Armadas [685].
Nova Lisboa recebeu a Companhia com avidez de “manifestações
artísticas de nível”. As críticas chegadas de Luanda , diversas e
contraditórias, aumentaram o “rebuliço cultural”, e levaram a que se
perguntasse se o público neolisb oeta saberia “acolher, compreender, e
auxiliar, com aplausos ou críticas construtivas, as representações e o
trabalho desta Companhia” [686]. Noite de Reis marcou o início do
Desmontável , a 30 de Agosto, o qual se manteve até 10 de Setembro,
despedindo-se com a reposição, em duas sessões, de Amor de
Perdição. Enquanto o teatro se desmontava e partia para o Lobito , sua
última estadia, a Companhia transferiu -se para o Estúdio 404 , o teatro
local onde levou à cena À Espera de Godot, em três sessões, que
registaram “uma adesão extraordinária” [687] do público jovem. O
Nova Lisboa patenteou o sucesso da estadia, e o articulista Adelino
Lourenço expressou o contentamento de poder ver bom teatro, uma
S. G., “T ea tro : À E sp e r a d e Go d o t ”, Pro vín c ia d e An g o la , 2 9 .0 7 .1 9 7 3 : 6 . In cl u i
fo to d e ce na.
684
Mar ia na B e n a mo r , “ Mal a n ge: M ala n g e, A go sto 1 9 7 3 ”, Eco s d o No r te ,
2 3 .0 8 .1 9 7 3 : 2 .
685
A Co mp a n hia rea li zo u mai s d e vi n te e sp ec tá cu lo s gra t ui to s p ar a a s Fo rç a s
Ar mad a s. ( “Fer n a nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fí cio »” , Cin éfi lo , 1 6 .0 3 .1 9 7 4 :
3 5 ).
686
Amé ri co R u i Al v e s , “C o mp a n h ia T eatr al : No va Li sb o a v ai ver” , No va Li sb o a ,
Ag o s to 1 9 7 3 (r eco r te d o acer vo d e Ál varo d e Oli ve ira).
687
“F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, id . :3 3 .
683
220
“arte que a maioria desconhece, critica e destrói sem bases sólidas
para isso” [688].
A Companhia percorreu Silva Porto , Serpa Pinto , Sá da Bandeira ,
Moçâmedes e Porto Alexandre , divertindo o público com a verve de
Shakespeare e de Feydeau , e fazendo brotar a lágrima furtiva com os
amores proibidos de Teresa de Albuquerque e Simão Botelho , até que
chegou ao Lobito , onde o Desmontável somou êxitos sucessivos, num
total de 18 espectáculos, entre 26 de Setembro e 9 de Outubro. Seguiu se a vez de Benguela, que reclamou da pouca permanência da
Companhia numa cidade que possuía uma tradição teatral vincada,
dado ter sido pioneira no movimento teatral amador angolano, segundo
se referia em artigo do jornal O Lobito (689).
A
temporada
angolana
aproximava -se
do
seu
termo.
O
Desmontável foi emalado de regresso à metrópole, enquanto a
Companhia correspond ia aos pedidos formulados e, na última semana,
realizava um espectáculo diário em Novo Redondo , Porto Aboim,
Gabela, Cela, Alto Catumbela e Mariano Machado, que a 19 de
Outubro assistiu ao policial francês como derradeiro espectáculo.
De regresso a Lisboa, a Companhia trazia na bagagem uma mão
cheia de êxitos na sua mais distante digress ão alguma vez praticada
em 52 anos de actividade e o desejo de regressar, num futuro périplo
por Moçambique , com nova passagem por Angola . Mas, acima de tudo,
trazia uma perspectiva de uma realidade angolana, em especial fora da
capital, em que a juventude manifesta ra interesse em frequentar o
teatro, em que “a promoção social [se estava] a dar mais fortemente na
mulher do que no homem”, mostrando vontade de aderir a novas
coisas. Fernando de Oliveira espantou-se com a quantidade de
Ad e li no Lo ur e nço , “E r ep ete m - s e no vo s ê x ito s tea tra is e m No va Li sb o a ”, No va
Li sb o a , Se te mb ro d e 1 9 7 3 : 1 0 e 7 .
689
“A Co mp a n hi a te atra l Ra fael d e Ol i ve ira e st r eia - se ne s ta c id ad e na p ró x i ma
q uar ta - feir a”, O Lo b i to , 0 8 .1 0 .1 9 7 3 : 3 .
688
221
raparigas que em Sá da Bandeira frequentavam o teatro, e que no final
dos espectáculos não se coibiam de abordar os actores para lhes pedir
explicações sobre os mesmos, ou para que se deslocassem aos liceus
para falar sobre teatro ( 690). Tempos de mudança.
5.
1974: cantos de liberdade e o “canto do cisne” dos Artistas
Associados e do Desmontável.
Consciente do valor que a Companhia adquiri ra ao longo do
tempo na divulgação do teatro pelas terras de província , e do salto
qualitativo fruto da entrada de actores, com uma técnica mais moderna
de
representação,
responsabilidade
Fernando
de
de
Oliveira
empresário
na
sentiu
crescer
manutenção
do
a
sua
nível
do
agrupamento. As propostas cénicas de Francisco Ribeiro , coadunandose com as suas, tinham contribuido para o aperfeiçoamento da sua
técnica de encenação. A escolha de novo repertório, assim como de
novos encenadores, teriam de estar de acordo com a dinâmica do teatro
mais contemporâneo, sem esquecer a característica fundamental d os
Artisras Associados : uma companhia de repertório, de teatro popular
que servisse vários tipos de público. Para o director da Rafael de
Oliveira, impunha -se tratar Camilo Castelo Branco e D. João da
Câmara com o mesmo respeito devido a Beckett ou a Albee.
A
experiência
metrópole.
Apesar
de
África
da
reflectira
qualidade
das
a
mesma
comédias
condição
clássicas
ou
da
da
modernidade de Beckett , a grande adesão do público registara -se
incondicionalmente com Amor de Perdição e Rosa do Adro . Por que
razão?
Fernando
“absolutamente
de
Oliveira
válido”,
como
considerava
o
texto
“documento
romântico
camiliano
de
uma
linguagem romântica”, cujo assunto, embora sem interesse para um
690
“F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, id . :3 5 .
222
público
jovem,
continha
implícito
um
“grito
de
contestação
à
opressão” parental. [691] Argumento igualmente válido para Romeu e
Julieta, Rosa do Adro, ou qualquer história de amores proibidos.
Apesar do prazer que a interpretação de um autor contemporâneo
pudesse estimular os jovens actores da Companhia , na realidade,
tinham sido os êxitos de agrado geral que haviam compensado o
desequilíbrio financeiro de À Espera de Godot. A complexidade
textual não fora impedimento da adesão da juventude , partilhando a
ironia beckettiana com o público conhecedor, longe da polémica da
sua estreia na Lisboa de 1959.
No princípio de 1974, Fernando de Oliveira começou a delinear
uma futura digressão a Moçambique , com o mesmo reportório do
périplo africano anterior. Porém, sabendo que o grau de exigência
artística do público moçambicano era grande, e de uma possível
passagem por Angola no regresso a Lisboa, foi colocada a hipótese de
acrescentar outros títulos ao reportório da Companhia. A escolha
recaiu em As Raposas, de Lillian Hellman, e Ratos e Homens , de John
Steinbeck [692], dois textos anunciados, já em temporadas anteriores
como estando em ensaios. Do reportório português, a escolha de
Santareno, Sttau Monteiro ou Cardoso Pires apresentava-se difícil, por
causa do mecanismo censório, e Torga , ou Redol , eram impensáveis
por falta de elenco. Dos dezassete elementos que o compunham,
apenas dois correspondiam aos papéis de juventude, os outros
encontravam -se numa faixa intermédia, próprios para os designados
papéis centrais. Inevitavelmente, a atenção de Fernando de Oliveira
recairia nos clássicos portugueses, possivelmente em Os Velhos, de D.
João da Câmara , a que se associava a qualidade de ter caído no
domínio público, não auferindo por isso direitos autorais.
691
“F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, ib id .
223
O elenco adicional contaria com, pelo menos, Canto e Castro e
Rui de Carvalho, a que se associariam Joaquim Rosa , Ema Paul e Anna
Paula [693], cuja experiência defenderia qualquer tipo de reportório.
Fernando
de
experiência
Oliveira
angolana,
ambicionava
criando
repetir,
espectáculos
em
Moçambique ,
exclusivamente
a
para
estudantes, “uma plateia que vá ao chamamento de um espectáculo
diferente, que lhe leve qualquer coisa de novo, ou de evolução grande
na mecânica teatral” [694], em tardes e noites culturais. Com a saída
de Ribeirinho, após o regresso de Angola, e a de Hermínia Tojal e de
Tomás de Macedo, após a digressão de O Pato, pelos palcos de
província até ao final de 1973, colocou -se o problema de ter de
remontar o reportório, além do levantamento de três novas peças.
Estimou-se, portanto, em 3 meses e meio, o trabalho necessário para
preparar a partida para Lourenço Marques . Álvaro de Oliveira , que
acompanhara de perto Francisco Ribeiro nos contactos que haviam
contribuído
com
apoi os
financeiros
no
ano
anterior,
dispôs -se,
juntamente com Canto e Castro , a refazer o périplo das mesmas
entidades públicas : O Banco Nacional Ultramarino , a Companhia
Nacional de Navegação , as Forças Armadas e o próprio Secretariado
Nacional de Informação . Fernando de Oliveira, embora prete ndesse
chamar encenadores externos, acabou por confiar a Canto e Castro
essa função de preparar o novo reportório. Segundo perspectivou, os
ensaios decorreriam a partir de Março, prolongando -se até Maio,
embarcando no mês de Junho, por causa da época do cacimbo em
Moçambique,
onde
permaneceriam
até
Outubro
desse
ano,
e
retornando a Angola , para se apresentar em Luanda durante um mês
692
O p ró p rio J o h n S te i nb e ck ad ap to u o se u ro ma n ce (1 9 3 7 ) ao t ea tro , ga n ha nd o o
Ne w Yo r k Dra ma Cri ti cs C ircl e A ward d e 1 9 3 8 .
693
Se g u nd o Ál va ro d e Oli v eir a , na p r i me ira fa s e d a p r ep araç ão d a fu t ura
d ig re ss ão , no p ri nc íp io d e 1 9 7 4 , est i ver a m ai nd a p rese n te s a s act riz es Lia Ga ma e
Mari a J o s é e o ac to r Lu í s Alb er to .
694
“F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, ib id .
224
apenas, privilegiando em seguida o restante território que os havia
recebido com tanto sucesso. Ainda que transportando o Desmontável ,
propunha-se, sobretudo, evitar o desgaste provocado pelas deslocações
de 600 quilómetros, utilizando, para isso, mais os palcos locais.
Porém, nem sempre que um homem sonha, se torna o sonho
realidade...
Os ventos da Liberdade de Abril apanharam todos desprevenidos.
Viveram a euforia do momento, saíram à rua, alegraram -se com o fim
da repressão, o despertar da liberdade de expressão, o quebrar do lápis
azul, a descoberta dos textos esquecidos no fundo das gavetas, um
nunca mais de peças proibidas. Descentralização era um conceito
sobejamente conhecido pelos Frias e Oliveiras, ti nham nascido e
crescido nela. No mês anterior, Fernando de Oliveira chegara a desejar
que companhias com maior mobilidade, “de seis ou sete elementos, se
constituíssem em grupos -piloto e fossem às aldeia s, aldeolas, vilas e
vilórias” [ 695], um campo vasto para lavrar cultura e provar que a
crise do teatro apenas existia na cabeça dos que se acomodavam ao
meio citadino sem querer sair dele. “O teatro tem de ter comunicação
entre o palco e a plateia, ou no meio d a sala com eles à volta, ou com
eles por baixo e nós por cima ou ao contrário [...] tem de estar gente
para sentir o nosso calor e nós o deles” [696].
Fernando de Oliveira aguentou o sonho moçambicano por mai s
um mês ainda. As economias começaram a escassear e as portas dos
pretensos apoios financeiros fecharam -se definitivamente. O manifesto
do MFA fora claro na definição do projecto político para o Portugal
democrático: Desenvolver, Democratizar e Descolonizar. O último D
deitava por terra a ambicionada digressão ultramarina e, tal como nos
momentos conturbados de 1965, Fernando de Oliveira interrogou-se
695
696
Ib id e m.
Ib id e m.
225
sobre a continuidade da Companhia. Era tempo de reestruturação
ideológica para toda a gente, principiavam os “anos da metamorfose”
(V IE IR A 2000: 64).
A vontade de dizer associou -se à vontade de fazer, e a gente de
teatro redefiniu a trad ição na forma e no conteúdo, apelando às
emoções fortes das peças políticas tornadas panfletos de educação
popular. Verificou -se uma avalanche de espectáculos brechtianos, o
fruto proibido, uma proposta de teatro documento, pela mão de um
autobiografado Sa ntareno em Português, Escritor, 45 anos... , e uma
tentativa de revi talização do género revisteiro, o terreno da subversão,
na boca das meias palavras insinuadas, com que se pretendera minar a
ditadura. Os diferentes profissionais de espectáculo organizaram -se
em cooperativas de trabalhadores, desejo democrático de igualda de de
oportunidades,
contrariando
a
apregoada
divisão
elitista
das
companhias tradicionais. Tempo de renascimento, o Teatro é o
objectivo primordial; actores, técnicos e espectadores, meros agentes
de uma arte colectiva.
Na explosão de novos agrupamentos, 1974 regista Francisco
Nicholson que, juntamente com outros profissionais, funda a empresa
Adóque – Cooperativa de Trabalhadores de Espectáculo , como reacção
à hegemonia dos empresários do Parque Mayer , e como inovação do
género Revista. O cenógrafo Mário Alberto , também ele cooperador,
contacta a Compan hia Rafael de Oliveira , com uma proposta de
aluguer do Desmontável à nova companhia. Esta situação resolvia de
alguma forma os problemas financeiros de manutenção daquela
estrutura inactiva, e dava -lhe uma continuidade funcional. O teatro barraca, com capa de Arlequim, foi instalado no centro de Lisboa , no
Largo de Martim Moniz , quase paredes meias com o solene Teatro de
226
D Maria II, e teve direito a inauguração festiva, a 23 de Setembro,
com a Revista Pides na Grelha [697].
Restavam os Artistas Associados ... Fernando de Oliveira volta-se
para Bernardo Santareno , amigo de longa data, de quem pretendera
encenar o António Marinheiro , e solicita-lhe A Traição do Padre
Martinho. A capacidade de renovação a novos estilos de representação
e de reportório, assim como a vontade de “contribuir [...] com o seu
quinhão honrado no esforço de democratização das gentes mais
humildes do país, gentes que eles conhecem e amam como poucos”
[698], funcionaram como carta de recomendação da Companhia.
Santareno entregou o texto que a censura lhe proibira em 1969; para o
encenar ninguém melhor do que Rogério Paulo , homem culto e actorencenador prestigiado, responsável pela sua estreia absoluta, em 1 971,
em Havana (Cuba) , com o Grupo Rita Montaner [699], no Teatro El
Sótano.
Curiosamente, a proposta da Companhia Rafael de Oliveira,
Artistas
Associados ,
parece-nos
reflectir
uma
originalidade
no
panorama teatral de então. Enquanto que a maioria das companhias se
apropriou da dramaturgia brechtiana, a Rafael de Oliveira reinv entavase através de um autor português, cuja estrutura e objectivos denotam
a influência do dramaturgo alemão, “criando no ânimo do espectador a
consciência da necessidade de uma mudança social” [ 700]. Esta
narrativa dramática, sugestão de teatro documento baseado em facto
real, expõe-se através de uma sucessão de cenas, que a leitura de
697
Ori g i na l d e Fra n ci sco Nic ho l so n , Go n ça l ve s P r eto e Már io Alb er to .
B ernard o Sa n tare no , t ex to d o P ro gra ma d o e sp ec tá c ulo A T ra içã o d o Pa d re
Ma rt in h o , 1 9 7 4 .
699
Gr up o cr ia d o e m Ma rço d e 1 9 6 2 , ma n te m - s e e m act i vid ad e a té ao s no s s o s d i as .
Ap e na s a p ar tir d e 1 9 6 8 , se fi xo u e m e sp a ço p ró p rio , o te atro E l Só ta no , e m
Ha va na
( C ub a n / La ti no
T hea tre
Arc h i ve,
ht tp : // s c ho lar .l ib rar y. mi a mi.ed u /ar c hi vo tea tra l/ ) (2 0 0 7 .0 8 .3 1 ).
700
Nat i Go nzá lez Fr eir e , R e vi st a Bo h e mia , H av a na, 0 1 .0 1 .1 9 7 1 . E x certo no
P ro gra ma d o E sp e ctá c ul o , 1 9 7 4 . (T rad u ção no s s a d o e sp a n ho l).
698
227
Rogério Paulo definiu como “um grupo de actores que se propõe narrar
uma história a um público que se reuniu para a ouvir. Entre el es
designaram o protagonista à volta de quem se desenrolará a acção. Os
restantes
serão
simultaneamente
Povo,
personagens
da
intriga,
ambiente onde a intriga decorre e actores consc ientes de um grupo
consciente” [ 701]). Ao espectador atribuía -se-lhe o novo p apel de
interveniente
no
processo
criativo,
como
agente
receptor
do
espectáculo teatral, verificada a impossibilidade de “assistir de braços
cruzados ao maravilhoso pr ocesso de criar um Mundo Novo” [ 702], e,
para que a consciência fosse inteira, inscreveu -se a sua presença na
página do programa destinada à distribuição das personagens e
intérpretes: “e o público que assiste à representação”.
Rogério Paulo não só refez a sua encenação com a Companhia,
como recuperou o cenário que Héctor Lechuga concebera em Cuba.
Uma cenografia “reduzida à mínima expressão”, utilizando “uma
plataforma
móvel,
simulando
o
percurso
de
um
camião,
ou
enquadrando, em diferentes ângulos do espaço cénico, a c asa do padre,
o Bispado, o gabinete do deputado”, em que o próprio guarda -roupa,
“única nota de cor e de até de adorno”, se apresentava pendurado num
dos lados do palco, e ia sendo utilizado pelos actores. A simplicidade
da iluminação definindo espaços, e
deixando à imaginação do
espectador o seu preenchimento cenográfico, e a música, “doce e
vigorosa”, de Carlos Paredes , cuja guitarra evocava a terra portuguesa
e introduzia a canção de protesto de Zeca Afonso .
A Companhia Rafael de Oliveira , composta por 19 figuras [703], o
maior elenco de sempre, apresentou -se no palco do Teatro Maria
701
Ro gér io P a ulo , te x to i ntro d u tó rio d o P ro g ra ma d e A T ra içã o d o Pa d re
Ma rt in h o , 1 9 7 4 .
702
Ib id e m.
703
O úl ti mo el e nco d a C o mp a n h ia R a fae l d e Ol iv eir a , no T eat ro Mar ia Mato s :
Fer na nd o e Gi se la d e Oli v eir a , Ge n y, Fer n a n d o e Li zet e Fria s , Alb erto V i lar ,
H u mb er to d e An d rad e , Mari a T ere sa , An a Mar i a d e And rad e , Id al i na d e Al meid a ,
228
Matos, na noite de 24 de Setembro de 1974, para uma curtíssima
temporada de seis dias. Antes de partir para a sua vocação de
companhia de província, despediu -se de Lisboa e do Desmontável,
num espectáculo realizado a 18 de Outubro, em que terminava quinze
dias de coabitação com a companhia Adóque e a revista Pides na
Grelha. Seguiu-se uma longa digressão, a derradeira, pelos palcos do
país, que se prolongo u pelo ao ano de 1975 [704], apenas interrompida,
para uma estadia no Teatro Sá da Bandeira , no Porto, e um breve
regresso a Lisboa, ao Teatro Villaret .
O súbito e necessário alargamento do elenco criou fricções
internas no grupo, a substituição de actores, e consequente desgaste
nas relações humanas, e culminou com o seu desmembramento, após o
fim da carreira de A Traição do Padre Martinho , o canto do cisne da
Companhia Rafael de Oliveira . Terminava, ao fim de mais de
cinquenta anos de act ividade ininterrupta, a última das Companhias de
Província portuguesas e, segundo se afirmou, a mais antiga do seu
género na Europa.
Epílogo I - As Pessoas
Dez anos passados sobre o fantasma da dissolução, cumpriu -se a
separação definitiva de Oliveiras, Frias, Andrades, Passos e Vilela.
Da família Oliveira, apenas Fernando se manteve ligado ao teatro,
regressando ao seu Desmontável , para integrar o elenco da companhia
Adóque em A grande cegada (30.06.1976), Ora vê lá tu! (01.02.1978)
Ale x a nd re P a sso s , P ed r o P in he iro , M ário Sar g ed as , J ú lio Cl eto , G ui d a Mari a ,
Ál varo Fari a , An tó n io Ra ma , J o aq u i m Ro sa e R ui F urtad o . D ura nt e a d i gre s são ,
G uid a Ma ria fo i s ub s ti tu íd a p o r Ma n ue la Co i mb r a , e e st a p o r Ân g e l a Rib e iro .
J o aq u i m Ro s a d e u l u gar a Anto n i no So m mer . P ed ro P i n hei ro e Ál varo Far ia não
ch e gara m a p art ic ip ar, te nd o e ste ú lt i no i nt e g rad o o ele nco d o e sp e c tác u lo As
Esp in g a rd a s d e Mã e Ca r ra r, na Ca sa d a Co mé d i a .
229
e Roupa velha (10.05.1978). Dedicou -se posteriormente ao teatro de
amadores, dirigindo, com seu filho Álvaro, o Grupo António Aleixo ,
sediado no Glória Futebol Clube de Vila Real de Santo António ,
refazendo algumas das suas encenaç ões do Desmontável . Em 1992,
regressou a Lisboa para interpretar A Arte da Comédia , de Eduardo de
Fillipo, na Companhia Teatral do Chiado , de Mário Viegas, amigo de
longa data, de cumplicidades poéticas ( 705), e com ele colaborou na
montagem de uma exposição evocativa dos percursos itinerantes da
Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados .
Geny e Fernando Frias integraram a Cooperativa de Comediantes
Rafael de Oliveira, juntamente com outro s elementos que haviam
trabalhado anteriormente com os Artistas Associados . Interpretaram A
Mãe, de Bertolt Brecht , com encenação de Carlos Wallenstein , no
Teatro da Trindade , em 1976, e retiraram -se da vida teatral. Fernando
Frias continuou a sua vertente de artista plástico, pintando quadros
encomendados
pelas
Câmaras
Municipais
e
participando
em
exposições colectivas.
Lizete Frias, que saíra da Companhia, acompanhando Alberto
Vilar, seu marido, após a morte de seu tio Rafael, reintegrou o elenco
quando se tornou necessário unir esforços, mas voltou a sair para
trabalhar na Companhia do Teatro Monum ental (1967, A Promessa, de
Bernardo Santareno; 1970, Misteriosos até mais não , de Francisco
Nicholson), no Teatro do Arco da Velha – Metrul (1970, A Gata
Borralheira, de Maria Clara Machado ; 1971, O Santo e a Porca, de
Ariano Suassuna; 1972, A menina e o vento) e no Teatro Experimental
de Cascais (TEC) (1973, Fuenteovejuna , de Lope de Vega). Após a
704
T amb é m n es te a no , a 2 1 d e Fev ere iro , o Gr up o d e T eatro d e Car nid e estr eo u A
Tra içã o d o Pa d re Ma r tin h o , n u ma e nce n ação d e B e n to M art i ns , na sed e d a
So c ied ad e Dr a má tic a d e Car n id e .
705
E m 1 d e De ze mb ro d e 1 9 6 9 , o De s mo nt á v el fo i p alco d e “R u m o No vo ”
( No tíc ia s d e Gu i ma rã e s , 1 0 .0 1 .1 9 7 0 ), u m sar a u p o ético e d e b alad a s, c o m M ário
Vie g as , i n te grad o na s fe st as nico li n as vi ma ra ne n se s.
230
dissolução dos Artistas Associados , interpretou Avenida da Liberdade,
original de Pedro Pinheiro , na Companhia de Teatro do Povo (1975) e
O Encoberto, de Natália Correia , na Reportório – Cooperativa
Portuguesa de Teatro .
Humberto de Andrade integrou a Cooperativa de Comediantes
Rafael de Oliveira em dois espectáculos: A Mãe, de Brecht e em
Histórias com grades , de Osvaldo Dragún, no Teatro da Trindade
(1976). No ano seguinte, juntamente com alguns elementos da sua
família regressou à actividade itinerante, com a sua antiga companhia
de província Gente Sem Nome, renomeada Cooperativa de Produção de
Espectáculos Teatro «Gente Sem Nome».
Idalina de Almeida trabalhou para Vasco Morgado , integrando o
elenco de Uma Rosa ao Pequeno Almoço (1977), com Florbela
Queiroz.
Epílogo II - E o Desmontável?
Foi permanecendo no Martim Moniz, enquanto por lá funcionou a
companhia Adóque até 1982, depois foi votado ao abandono. Com a
reestruturação urbanística da Câm ara Municipal de Lisboa para a zona
da Mouraria, plano anunciado pela EPUL já em 1974, a família
Oliveira, desde sempre proprietária do Desmontável , foi intimada a
retirá-lo do local. Sem solução para o problema, os herdeiros de
Rafael de Oliveira colocaram anúncios na imprensa, numa tentativa vã
de vender o teatro. Sem resposta, instalou-se o desânimo e o último
dos teatros -chalet terminou desmantelado, em 1983, para nunca mais
ser “como as antigas escolas móveis, que levavam a base da instrução
aos pequenos meios e lhes abriam novos horizontes e possibilidades de
valorização”
706
[706];
apenas
o
eco
longínquo
de
um
discurso
Ed u ard o Cerq u eir a , “As si m s e ser ve o T eatro ” , Li to ra l , 1 5 .0 2 .1 9 5 8 : 1 e 3 .
231
entrecortado de Rafael de Oliveira , qual memória de um tradicional
epílogo dramático:
Minhas senhoras, meus senhores:
Terminaram os espectáculos da Companhia Rafael de Oliveira;
o “Teatro Desmontável ”, esta biblioteca ambulante que há
longos anos percorre este nosso lindo Portugal , desde o Marão
ao litoral algarvi o, desde a Madeira aos Açores, vai
desaparecer... Acabou a nossa missão... entre tantos
espectadores devotados ao “Desmontável”, em alguns ficará
tanta saudade com aquela que todos nós levamo s. Este é o
último acto do nosso reportório – peça ligeira, singela, um
pouco enternecedora, tendo por tema reconhecimento...
gratidão. As cortinas vão fechar -se pela última vez, ficando
depois só a saudade indelével a perguntar a todos: Até quando?
Com uma separação dramática de grande efeito, será a saudade
quem ditará as últimas palavras do acto final – palavras que
ficarão por dizer – que se perderão em longes de reflexão,
sentidas por todos quantos estão presentes: nós e vós. Vamo nos embora!... Toda a companhia está presente na interpretação
deste acto único desta cena única, sem ficção, sem elenco
descriminado, sem protagonistas – peça que não tem título,
nem autor, nem ambientes estudados. A peça, em si
compreende apenas isto: A Companhia Rafael de O liveira
agradecida. Num cenário – o último cenário, guarda -roupa – o
de ocasião; personagens – toda a companhia. E uma apoteose
sem feerismo, sem turbilhão de cores ou efeitos deslumbrantes,
em que os Oliveiras, os Frias, os Matos, Lucinda, Pinhão e os
Vilelas, vêm trazer -vos no coração estas sinceras palavras...
Até um dia; até um dia se Deus quiser! ( 707)
“U ma t e mp o rad a d e te a t ro : Co mo fo i v i st a e ap reci ad a a Co mp a n h ia Ra fa el d e
Oli v eir a”, A Vo z d a F ig u ei ra , 1 8 .1 0 .1 9 5 6 : 1 e 2 .
707
232
Capítulo VI: Conclusões: Formas e conteúdos
Ilustração 16 – Teatro
Santanense: A Filha do
Saltimbanco,
31.03.1917 (1º car taz
promocional conhecido
da Companhia
Dramática Societária,
de Silva Vale).
Ilustração 17 - Cine Teatro
S. Pedro de Abrantes: A
Traição do Padre Martinho ,
09.07.1975 (último cartaz
233
conhecido da Cª Rafael de
Oliveira, Artistas
Associados).
1.
A composição da Companhia Itinerante: um por todos e todos
por um.
Se, de um modo geral, o modelo comum às companhias de teatro
itinerantes se baseia numa noção familiar ( 708), em relação às
chamadas
companhias
de
província,
essa
estrutura
psico -social
fundamenta indiscutivelmente a interligação entre a vida profissional e
a social dos seus componentes. O relato da vida migrante destes
agrupamentos teatrais reveste -se de aspectos pícaros c om sabor
renascentista. Ainda que as farândulas tenham sofrido a evolução
natural a que o tempo obriga, guardaram, sob a capa de sucessivas
modernidades, a memória vivencial das suas antepassadas de “cómicos
da arte”. A importância da coesão do agrupamento patenteava-se no
seu sucesso público; cada componente contribuía para o bem comum,
não só com a exibição do seu talento sobre o tablado, mas também na
execução de tarefas menos artísticas. Era assim que Mário Viegas
recordava “as figuras dos Actores [da Companhia de Rafael de
Oliveira] cheios de azáfama, que passavam os «papéis », passavam a
ferro os fatos, passavam a ferro os cenários…” ( 709)
708
Ex i ste u ma gr a nd e ma i o ria d e ac to re s q ue s e c asa m e n tre si , o u vi v e m e m u nião
d e fa cto , c uj a s e mp r es as ar tí st ic as se no s a fi g u ra m co mo p ro lo n ga me n to d o s
co n só r cio s ma tri mo n ia is na c ria ção d e u m p atr i mó n io co mu m. E mp re sa s co mo a
d e Mar ia M ato s – Me nd o nç a d e Car va l ho , Re y Co laço – Ro b l es Mo n te iro ,
B ru n ild e J úd ic e – Al v es d a Co s ta , e ntr e o u tra s, são e x e mp lo d e es tr ut ur as
e mp re sar iai s fa mi lia re s q ue p r at icar a m i ti n erâ n cia a rtí s ti ca d ura n te gra n d e p art e
d o sé c ulo XX.
709
Mário Vie g a s , “Al g u n s ap o n ta me n to s p ar a u ma fu t ura hi s tó ri a d a Co mp an h ia d e
T eatro – I ti ner a nt e R afae l d e Ol i ve ira : O So n ho d e u ma V id a”, Ca d e rn o Pro g ra ma n º9 , Co mp a n h ia T eatr al d o C hiad o , J u lho d e 1 9 9 2 , p .2 .
234
Desde os agrupamentos unifamiliares ( 710) aos plurifamiliares
(711),
as
companhi as
de
província
preferiam
organizar -se
em
sociedades artísticas ( 712), cujas receitas provinham exclusivamente
dos
espectáculos
realizados,
condicionando
os
seus
societários,
metamorfoses de formigas em fábula de La Fontaine, a uma vida de
constante labor de “judeu errante”. Todas as companhias possuíam
cenários próprios, correspondentes às peças representadas, embora as
“vistas” (713), por causa de uma iconografia tipificada, pudessem ser
reutilizadas em mais do que um espectáculo, o mesmo acontecendo
com o figurino de cena, propriedade de cada um dos artistas,
constituído por peças, com tipologia base, consoante as personagens
interpretadas, permitindo a sua multifuncionalidade em espectáculo
(714). Qualquer societário deveria ser possuidor de um guarda -roupa
base, tanto de uso formal, como de uso quotidiano, incluindo a
sapataria a condizer. No caso dos homens, exigia -se a casaca, a
sobrecasaca e o fato completo, que permitiam vestir um leque de
personagens tipificadas, desde o jovem galã ao pai de família. O
mesmo princípio se aplicava às actrizes, cujo guarda -roupa deveria
incluir
as
peças-base
correspondentes
ao
seu
“naipe”.
Se
o
enquadramento cenográfico possuía a importância da assinatura de um
cenógrafo, a escolha do figurino seguia o padrão tradicional do bom
710
C aso d a T r up e d e Si l v a V ale o u d a T rup e Car mo (a mb a s d o s fi n ai s d o sé c ulo
XIX, p ri n cíp io d o X X).
711
Co mp a n hia s co mo a d e Co n st a nt i no d e Mato s ( fi nai s d o sé c ulo XIX , p ri ncíp io
d o XX), a d e J u li eta Re nt i ni (1 9 3 0 -1 9 4 5 ) , a d a fa mí l ia Mo iro n (1 9 3 0 - 1 9 6 0 ), e a
d e R a fae l d e O li ve ira (1 9 1 8 -1 9 7 5 ).
712
“Ar tí st ica s ” p o r se tra ta re m d e as so c ia çõ e s d e p ro f is s io na is.
713
No me v ul g ar d o s ce nár io s d e te atro , p i nt ad o s so b re tec id o . E x is ti a m vi s ta s d e
sa la (b ur g ue sa o u no b r e ), v is ta s d e cárc ere, d e p raça, d e b o sq u e, e d e t ud o o ma i s
q ue o i n ve s ti me n to p er m iti s se.
714
Se g u nd o So us a B a sto s (1 9 0 8 : 1 5 4 ), “u ma d a s g rand e s q u al id ad e s d a ac t riz e d o
acto r é s ab er v es ti r b e m, q ua lq uer q u e sej a o co st u me q ue te n h a d e ap re se nt ar.
Ve st ir co m gr aça , co m n at ura lid ad e e co m b o m go sto é p ar a a v is ta d o esp e ct ad o r
me io c a mi n ho a nd ad o . [ ...] Ve s tir b e m à ac t ua li d ad e d ep e nd e mu i to d o b o m go sto
e d a ele g â nci a d o art is ta. [...] O ac to r e a ac triz p r eci sa m to r nar - s e mo d e lo s ,
235
senso e do bom gosto, consoante os critérios acordados entre o
ensaiador e os intérpretes. As pupilas de Júlio Diniz vestiam à moda
do Minho, as burguesas de tafetá, a aristocracia de veludo, e um
simples vestido, em tecido leve, de cor branca ou rosa pálido, bastava
para que se vestisse, semânticamente, uma “ingénua”. O carácter
familiar destes agrupamentos fomentava a transmissão da tradição
interpretativa, herdando os mais novos, não só os “papéis” , como o
respectivo figurino, quando o real envelhecimento do intérprete
obstasse ao desempenho convicente dos tipos jovens ( 715).
A
Sociedade
Artística
de
Rafael
de
Oliveira
cumpria
os
requesitos comuns às suas congéneres. Ao assumir a direcção da Trupe
de Silva Vale, Rafael de Oliveira transformou um agrupamento
unifamiliar numa companhia que reproduzia o modelo das companhias
itinerantes provenientes dos teatros de Lisboa ou do Porto (716).
Inicialmente constituída por diversos casais de actores, a companhia
apresenta-se sujeita a um flu xo de entradas e saídas de elementos,
consoante as necessidades de mercado ( 717). Com o tempo e,
sobretudo, com o casamento das duas irmãs Silva Vale, Ema e Geny ,
com
Rafael
de
Oliveira
e
com
Carlos
Frias ,
respectivamente,
estruturam -se os dois pilares familiares fundamentais ao progresso e
longevidade dos Artistas Associados . A coesão da companhia de
Rafael de Oliveira passa também pela colaboração em permanência,
p o rq ue es tão à l uz d a rib al ta, d ur a nte mu i to t e mp o , e m e xp o si ção p e ran te u m
p úb lico i nt eiro , o nd e h á mu i to s ar ti s ta s e mu i ta s p es so a s d e b o m go sto ”.
715
Fala mo s d e co mp a n hi a s d e p ro ví nc ia, o nd e a s cris es d e ved et is mo n ã o ti n ha m
cab i me n to . As co n hec i d as hi s tó ri as d e acto r es e a ctr ize s q ue p ers is ti a m e m
d ese mp e n har p ap é is p ar a o s q ua i s j á não p o s s uí a m atr ib uto s fí sico s c re d ív ei s tê m
o ri ge m no me io ci tad i n o e na s p ar a n go na s q u e o st e nta v a m q ua nd o se d es lo ca v a m
e m d i gr es são .
716
A re ferê nc ia à p ro ve ni ê nc ia g eo grá fic a d o s acto r s e nco ntr a - se p at en te e m
d iv er so s c art aze s : p are ce tra tar - se d e u ma fo r ma d e cred ib il iz ação ar tí st ica d o
gr up o p era n te o p úb lico .
717
As cri s es d e p úb l ico l e va m a q ue o s ac to re s p ro cur e m trab al ho no utro s lo cai s,
co n so a n te as s u as cap a cid ad e s h i str ió nic a s. A cri se e co nó mi ca q u e s e v i ve n a
236
mais ou menos duradoura, de outras famílias de artistas ambulantes: os
Lima (1918-38), os Matos (1929 -63), os Vilela (1945 -75), os Andrades
(1964-75) e os Venâncios (1960 -63); ou de artistas individuais - Luís
Pinhão (1955 -?) e Alexandre Passos (1964 -75).
Fazendo-se deslocar com “armas e bagagens”, com a ampliação
da rede ferroviária, o transporte em galeras de tracção animal caíu em
desuso, retirando -lhes o aspecto saltimbanco com que eram descritas.
Todavia, a chegada dos “cómicos” aos centros urbanos rurais era
sempre motivo de rebuliço ( 718). A primeira etapa da instalação de
uma companhia de província consistia no aluguer de habitações para o
período de permanência na localidade, consoante as necessidades das
famílias societárias, e que se mobilavam com os objectos pessoais,
transportados em conjunto com os pertences teatrais. E m seguida, o
“cabo de companhia”, ou quem o representasse, procedia aos contactos
com as empresas exploradoras dos teatros, para se iniciar a montagem
artística, e com as redacções dos periódicos locais, para se proceder a
uma primeira abordagem promociona l. Esta tinha seguimento no
passacalle, ou seja passeando a companhia pelo Rossio local, numa
prospecção do público destinatário. Contacto de grande impacto
publicitário, que se prolongava com a feitura dos “programas” ( 719),
pelas gráficas locais, e a sua c olocação, bem como dos bilhetes, em
locais de maior afluência de público ( 720). De todo este ritual
dependia o bom acolhimento e o sucesso da temporada, assim como o
co mp a n hi a, q u a nd o d o f alec i me n to d e Er n e sto d e F rei ta s , e m 1 9 2 7 , q ua se le v a à
d is so l ução d a Co mp a n h i a d e Ra fael d e Ol i vei ra .
718
O a ned o tário e x is te n t e so b re fu g a s d e p e n sõ es p ara e v itar o p a ga m en to d a
ho sp ed a g e m e o u tro s d eli to s a fi n s, co mo r efere C hab y P i n heiro n a s s ua s
me mó ri as, o uo o utro s me mo ri al is ta s, n ão p o d eria co rre sp o nd er à p r áti ca d a s
co mp a n hi as d e p ro ví n c ia, so b p e n a d e d es tr u íre m o se u p ró p r io mercad o d e
trab a l ho .
719
Era d est e mo d o q ue s e d esi g n a va m o s cart az es q ue p ub l ici ta va m as p eças,
referi nd o a sa u d i str ib ui ção e o s te nt a nd o p o r ve zes fo to s d o s a cto r es .
720
As lo j a s lo ca i s, d esd e a b arb ear ia ao ca fé, co rre sp o nd i a m a u m si s te m a
eq u i va le nt e à s ti cke t l in es o u ao s p o s to s FN AC act ua i s.
237
entrosamento no quotidiano local criava laços afectivos de saudades
futuras.
A duração da estadia de uma companhia de província dependia da
afluência
de
público.
Ganhava,
então,
particular
importância
a
quantidade e a qualidade do reportório variado que não esquecesse
nenhuma parcela de público, garantindo o sustento da companhia:
espectáculos c apazes de tocar as diversas inteligências emocionais,
valorizando a exibição dos dotes artísticos dos seus intérpretes.
Apesar da prática de desdobramento de personagens pelo elenco, as
chamadas “peças de grande espectáculo” exigiam, por si só, um elenco
adicional de figurantes e de pequenos papéis secundários, que eram
recrutados entre os amadores locais, conhecedores do reportório
exibido, uma vez que este se representava também nos palcos das suas
colectividades. A interdependência entre actores “diletan tes” e “da
arte” criava laços artísticos na constituição, e formação contínua, de
grupos “amadores dramáticos” e na formação do próprio público local,
que assumia uma postura crítica, quantas vezes exacerbada, sempre
que qualquer companhia profissional vis itante não cumprisse os
requisitos considerados essenciais.
A qualidade da permanência social destes forasteiros dramáticos,
participando na vida social comunitária, frequentando os ofícios
religiosos, levando os filhos à escola, auxiliando com o seu tale nto e
arte as isntituições de solidariedade locais, conferia -lhes, à luz do dia,
o estatuto de amigos queridos, que sob a luz da representação sofriam
a transfiguração provocada pela arte de Talma. Ecce o fascínio do
teatro!
2.
Os Livros de Contas: uma leitu ra administrativa repleta de
pequenos segredos.
238
Na gestão da Companhia, Rafael de Oliveira guardou para si o
papel de director da sociedade, confiando a terceiros a direcção
artística, a cenografia, a contra-regra e o secretariado. Estamos, pois,
perante uma empresa artística cujos societários acumulam a função de
actor com outras funções, embora existindo uma separação de
competências entre os sectores artítisco e administrativo. Os irmãos
Matos e Fernando Frias desempenhavam as funções artísticas de
encenação
e
cenógrafo,
respectivamente,
enquanto
que
as
competências administrativas pertenciam a António Vilela , Fernando
de Oliveira e Rafael de Oliveira , aderecista, secretário e gestor,
respectivamente.
A
este
último
competia -lhe
a
promoção
da
Companhia, através do contacto com as empresas exploradoras dos
teatros de província para contratação da companhia. A sua capacidade
organizadora
encontra -se
patente
na
forma
minuciosa
como
se
encontram preenchidos os Livros de Contas, numa caligrafia cursiva
francesa, em detalhes de deve e haver, a que apõe, por vezes,
comentários oportunos, em notas de rodapé.
Qualquer dos três Livros de Contas, que se conhecem, apresentam
um breve termo de abertura, nele se inscrevendo o local e data,
seguido do role de peças em reportó rio e da discriminação dos
societários, comumente desigandos por “elenco”.
Em 1936, com a aquisição do Teatro Desmontável , privativo da
companhia, Rafael de Oliveira passou a funcionar como empresa
exploradora do recinto, auferindo, por isso, uma percentagem das
receitas
brutas
do
espectáculo,
destinada
à
sua
manutenção
e
transporte (721). Do mesmo modo, se encontram verbas para a
manutenção da cenografia, do guarda -roupa e dos adereços ( 722), para
além das despesas quotidianas de funcionamento do espectáculo, como
721
No Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 , são d ed uz id o s 1 5 % d a rece it a b r u ta p ar a a “ca s a”.
239
direitos autorais, impressão de bilhetes e programas, pagamento de
luz, e do pessoal contratado diariamente: arrumadores, empregados de
limpez a, polícias e bombeiros.
Da receita líquida apurava -se a distribuição dos dividendos pelos
societários. Normalmente constituída por uma média de 14 elementos,
a companhia de Rafael de Oliveira reparte diariamente o lucro obtido
no espectáculo. Esta divisão determina uma definição de importância
funcional dentro do agrupamento, sendo que ao lugar de director
artístico, associado ao cargo de encenador, ou ensaiador, corresponde
um valor superior ao do próprio director da Companhia. Em 1943, por
exemplo, verificamos que, enquanto Rafael de Oliveira recebe uma
parte dos dividendos, Afonso de Matos aufere 1,5, e seu irmão
Eduardo de Matos aufere 2 partes, embora ambos exercessem funções
de ensaiadores. Do mesmo modo, Geny Frias apresenta um rendimento
idêntico ao do primeiro, enquanto que o de Nena Corona (723)
equivale ao do segundo, o que leva a supor a sua competência
enquanto actrizes da Companhia. Um sistema financeiro curios o e
equitativo, salvaguardando os societários de alguma eventualidade, na
medida em que a própria Companhia se constituía, nessa divisão, como
uma parte em si mesma, designada por Cofre, uma espécie de
montepio interno, cuja receita se distribuía pelos soc ietários, em
complemento, no final de cada temporada local.
Pelos Livros de Contas perpassam observações dramáticas e
jocosas dos factos quotidianos, que Rafael de Oliveira comenta, aqui e
alí, com uma verve peculiar. Desde a nota de partida de Fernando de
Oliveira para Tavira, onde se encontrava cumprindo o serviço militar,
e cuja licença fora aproveitada para actuar no Desmontável, e m Campo
722
Ne st e c aso , o s va lo re s n ão são p erce n t ua i s, m as fi xo s, so fr e nd o p ro g res si vo s
au me n to s co m o te mp o .
240
Maior, passando pela morte do actor Silva Vale , motivado por uma
cirose,
verificamos
admissões
e
rescisões
de
trabalho,
fugas
inesperadas de societários, assoc iadas ao desaparecimento de objectos
pessoais de terceiros e a dívidas contraidas em nome de Rafael de
Oliveira sem seu conhecimento, deparamo -nos com a notícia de
substituições de actores por motiv o de doença, de cataclismos que
quase destroiem o teatro, e com a recepção do primeiro subsídio do
Fundo de Teatro e a sua distribuição pelos societários.
Outro tipo de leitura ressalta também desta contabilidade. Pelas
receitas
verificamos
a
afluência
de
público
ao
Desmontável
e
depreendemos o interesse que o reportório teria por parte do público
em geral. Sabendo que a plateia do Desmontável, na década de 40,
contava com cerca de 700 lugares e se dividia em três zonas Cadeiras,
Superior
e
Geral
-
com
342,
168
e
200
lugares
respectivamente ( 724), a preços unitários diferentes ( 725), o valor de
uma lotação esgotada rondaria aproximadamente os 2.800$00, sendo as
diferentes zonas mais ou menos preenchidas consoante o tipo de
espectáculo que o público frequentava.
Na temporada de Campo Maior , de 1942-43, entre 1 de Janeiro e
29 de Abril, a Companhia produziu 66 espectáculos, em que peças
como O Conde de Monte Cristo , Santo António , As Pupilas do Sr.
Reitor, Rainha Santa Isabel , A Fera, Jesus Nazareno e O Tio Rico
realizaram duas récitas sucessivas. O agrado geral manifesta -se pelas
peças de cariz religioso: o oitocentista Santo António, de Braz
723
Se g u nd o a act riz M a n ue la M aria , Ne na Co ro na , q ue ha v ia p i s ad o o s p al co s
li sb o e ta s, ser ia eq ui v al en te a u ma “A mé li a Re y - C o laço ” d a s co mp an h ia s d e
p ro v í nci a.
724
C f. no ta 1 6 3 , Cap ít u lo 4 .
725
Cad e ira s ( A a F), 8 $ 0 0 ; cad eira s (re st a nt es fi la s), 7 $ 0 0 ; S up erio r, 4 $ 5 0 ; Gera l,
2 $ 5 0 ; Cr ia n ça s at é a o s 1 0 a no s, 1 $ 5 0 . I n fo r ma ção co nt id a no cart az d o
esp e ct ác ulo d e 1 3 .0 5 .1 9 4 3 , no T eatro De s mo n tá ve l , i n ser id o no Li vro d e Co nt as
d e 1 9 4 3 ( MNT ). T rata - s e to d a v ia d a Fe st a Ar tí s tic a d a ac tri z N e na Co r o na , c uj o s
p reço s p o d erão e st ar ac i ma d a méd i a. Op tá mo s p o r va lo re s co nj ec t ura is méd io s d e
7 $ 5 0 , cad e ira s, 4 $ 5 0 , s u p erio r e 2 $ 5 0 , ger al.
241
Martins, continuava campeão de audiências, com u ma receita bruta de
4.424$00, relegando a Rainha Santa Isabel e Jesus Nazareno para uma
posição a metade do valor. Quanto às peças laicas, as peripécias de
Monte Cristo valiam 4.004$50, suplanta ndo as de João Semana, com
3.318$50,
enquanto
que
de
Ramada
Curto
valia
mais
A
Fera
(4.084$50) do que O Tio Rico (2.778$50).
Se, em Arronches , onde a Companhia produziu, no mesmo ano,
apenas 24 espectáculos, sem reposições, com receitas constantes,
equivalentes a 50% da presumível ocupação global, indo a preferência
dos espectadores para a opereta Viúva Alegre em Cascais , cuja receita
(2.724$00) se aproxima do valor proposto para o pleno, em Estremoz
(726) verifica-se que D. Inês de Castro, Santo António, Jesus
Nazareno, As Duas Órfãs, O Conde de Monte Cristo e As Pupilas do
Sr. Reitorrealizam duas récitas sucessiv as, embora a preferência do
público tenha recaído nesta última (4.338$50), ficando as restantes a
pouco mais de 60% deste valor.
A inexistência de cartazes referentes ao ano de 1945 não nos
permite avaliar a política de preços praticada, embora seja de pre sumir
que, em Vila Viçosa, ela não diferisse muito dos valores expostos
anteriormente. Quanto à preferência do público, notamos que nesta
cidade se verificam reposições de alguns espectáculos, porém em dias
alternados, apresentando Os Fidalgos da Casa Mourisca (2.539$50),
As Pupilas do Sr. Reitor (2.485$00), José do Telhado (2.425$50), e as
revistas Prata da Casa (2.342$00) e Portugal em Festa (2.226$00)
resultados superiores a aproximadamente 80% da presumível lotação
do Desmontável. Évora, onde a Companhia iniciou a temporada
durante a Feira anual, parece evidenciar preços superiores aos da
localidade anterior, dado que
José do Telhado
242
regista, em 2ª
representação consecutiva, uma receita bruta de 3.420$00, e O Gaiato
de Lisboa, em idêntica situação, encaixa 3.433$00, fazendo subir o
valor global do Desmontável. Dos 52 espectáculos realizados, O
Gaiato de Lisboa subiu à cena por 3 vezes, D. Inês de Castro e O
Paralítico foram repostos 2 vezes, e José do Telhado, A Fera, Amor de
Perdição, A Recompensa, As Duas Órfãs, A Tomada da Bastilha , Os
Milhões do Criminoso , O Conde de Monte Cristo , Jesus Nazareno e As
Pupilas do Sr. Reitor tiveram 2 récitas consecutivas. Em Beja , de que
apenas se possui a contabilidade referente aos espectáculos realizados
a partir de 28 de Outubro até ao fim do ano, as receitas parecem
verificar
a
condição
dos
preços
praticados
em
Évora .
Em
27
espectáculos realiz ados, A Tomada da Bastilha destaca-se com 3
récitas alternadas ( 727), O Gaiato de Lisboa e As Duas Causas com 2
récitas, e As Pupilas do Sr. Reitor , A Fera, Os Milhões do Criminoso e
As Duas Órfãs com 2 récitas consecutivas ( 728).
Dez anos depois, finalizando a longa permanência por terras
algarvias, o Desmontável apresenta uma maior repartição da plateia.
As Cadeiras passam a estar divididas em 3 zonas, definidas por letras,
correspondendo a uma área maior, implicando, por conseguinte, a
redução dos lugares de Superior, se mantivermos a mesma ocupação da
Geral (729). O reportório sofreu uma modernização, guardando,
726
O Li vro d e Co nt as d e 1 9 4 3 ap e na s r e fer e o s e sp ec tá c ulo s d e E str e mo z at é ao
d ia 2 5 d e Deze mb ro , n u m to tal d e 3 5 , e mb o ra a co mp a n h ia s e te n ha ma nt id o at é
J ane iro d o a no se g ui n te, d e q ue se n ão co n h ece co n tab il id ad e.
727
Re ce ita s : 3 .1 2 6 $ 0 0 (1 ª réci ta), 3 .1 3 1 $ 0 0 (2 ª) e 4 .0 7 8 $ 0 0 (3 ª).
728
Co m e x cep ç ão d e A s Pu p ila s d o S r. R ei to r , to d o s o s o u tro s e sp e ctác u lo s
ap re se nt a m u m a u me n to d e rec ei ta na 2 ª ré ci ta.
729
O cart az d e A Ro sa d o Ad ro , d e 1 6 .1 1 .1 9 5 2 , e m Faro , i nd i ca co mo p reço s :
cad ei ra s A a H, 1 3 $ 0 0 ; I a P , 1 0 $ 5 0 ; re st a nte s, 8 $ 5 0 ; S u p e rio r, 6 $ 5 0 ; G e ral, 4 $ 0 0 .
Cri a nça s até 1 2 a no s, 2 $ 5 0 . P arti nd o d o p r í nc íp i o q ue o De s mo n tá ve l p o s s uía u ma
lo ta ção d e 7 0 0 l u ga re s s en tad o s, se nd o 2 0 0 d e Gera l, e 5 0 0 d i str ib uíd o s p o r fil a s
d e 2 0 cad eira s cad a . A 1 ª p late ia ( A a H) t eri a, p o rtan to , 1 6 0 l u ga re s, a 2 ª (I a P)
1 4 0 , a 3 ª (d e si g n ad a p o r res ta n te s) co rre sp o n d eria a 1 2 0 l u gar es ( Q a V) e a
S up er io r, a 8 0 l u ga re s. A rec ei ta b r u ta d o D es mo n tá ve l eq ui v aler ia, e nt ão , a
ap ro x i mad a me n te 5 .8 9 0 $ 0 0 . U m acr és ci mo d e r ecei ta s up er io r a 4 0 % e m re la ção à
d écad a a nt erio r.
243
todavia, alguns títulos antigos. Em Silves , O Sapo e a Doninha, de
Ramada Curto, A Dama das Camélias , de Alexandre Dumas (Filho), O
Grande Industrial, de George Ohnet e Jesus Nazareno realizam 2
récitas consecutivas, enquanto Raça, de Rui Correia Leite, Israel, de
Henri Bernstein e A Tomada da Bastilha , de Salvador Marques ,
apresentam duas reposições. Todavia a 2ª récita desta última reg ista a
maior receita da temporada (5.700$00), ultrapassando O Sapo e a
Doninha (5.100$00), As Duas Órfãs (4.800$00), Jesus Nazareno
(4.450$00), Raça (4.300$00) e a velha revista de Ludovina Frias de
Matos e Rafael de Oliveira , A Ver Navios Navios (4.200$00). Em
Portimão, onde a Companhia se encontra pela segunda vez ( 730),
realiza apenas 29 espectáculos, em que Frei Luís de Sousa, Jesus
Nazareno, Israel , O Grande Amor e O Sapo e a Doninha verificam
duas récitas consecutivas, com receitas abaixo da média, de que se
excluem as primeiras representações de Israel (3.300$00), d e O
Grande Amor (3.400$00) e de O Sapo e a Doninha (3.350$00).
Também Lagos recebeu a segunda e derradeira visita da Companhia
(731), para uma curta série de espectácul os (32), com receitas médias
idênticas às de Portimão , em que apenas os espectáculos O Grande
Amor, A Herdeira de Verneuill (732) e O Conde de Monte Cristo
registaram duas récitas consecutivas. Este último verifica uma boa
receita na primeira noite (4.200$00) e um descalabro financeiro na
segunda (1.800$00). Com excepção do último espectáculo que a
Companhia realiza com a apresentação de Casa de Doidos, cuja receita
(4.000$00) se aproxima de uma boa lotação, apenas os espectáculos
realizados nos arredores de Lagos apresentam receitas que salvam o
valor médio global. Ao partir de Lagos , a Companhia regist a uma
730
A Co mp a n hi a i ns ta lo u - se e m P o r ti mã o , p ela p r i mei ra v ez, e ntr e 6 d e J ul h o e 5
d e o ut ub ro d e 1 9 5 2 , rea li za nd o 5 3 e sp e ct ác ulo s d e q u e se d e s co n h ece a
co n tab il id ad e.
731
Es ti ve ra a n ter io r me n te e m 1 9 5 3
244
situação financeira deficitária, que apenas a recepção do primeiro
subsídio do Fundo de Teatro , do SNI, e a boa temporada que realizarão
em Évora, conseguirão minizar o desgaste emocional senti do.
Os quadros seguintes reproduzem os valores globais apurados nos
respectivos livros de contas, para os espectáculos realizados nas
localidades mencionadas e seus arredores.
1943
Local
NE
RB
Dp
RL
RBM
Campo Maior
68
46.611$00
22.022$70
24.588$70
685$455
Arronches
25
31.998$20
16.654$60
15.343$60
1.279$928
Estremoz
40
52.562$00
27.433$10
25.128$90
1.314$05
1945
Local
NE
RB
Dp
RL
RBM
Vila Viçosa
Évora
53
52
50.375$50
75.381$50
24.785$60
44.886$10
25.589$90
30.495$40
950$481
1.449$644
Beja 733
27
68.501$50
31.281$70
37.219$80
2.537$093
1954-55
Local
NE
RB
Silves
44
116.550$00
59.124$30
57.425$70
2.648$864
P ortimão
35
72.539$00
47.513$00
25.026$00
2.072$543
Lago s
37
81.213$50
47.249$50
33.964$00
2.194$959
Évora
82
244.907$00
136.461$80
108.445$20
2.986$670
Dp
RL
RBM
Legenda: NE – Número de espectáculos realizados na localidade; RB –
Receita bruta; Dp – Despesa; RL – Receita líquida; RBM – Receita
bruta média.
732
O utr a d e si g n ação d e A To ma d a d a Ba st ilh a , d e Sal v ad o r Marq ue s .
E nco ntr a m- s e co nt ab i l izad o s ap e na s o s es p ec tác u lo s rea li zad o s até fi nal d e
Deze mb ro d e ss e a n o , i n scr ito s no Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 , e mb o ra a Co mp a n h ia
te n ha p ro lo n gad o a s u a es tad i a a té me ad o s d o a no se g u i nte , d e q ue se n ão co n hec e
co n tab il id ad e. O va lo r méd io b r u to d e verá ser l id o co m re ser v a, n a med id a e m q ue
co rre sp o nd e à p ri me ir a fa se d e no vid ad e d a Co mp a n h ia e m B ej a . O s d e sa stre s
o co rrid o s ne s se me s m o ano ter - se - ão rep er cu tid o no v alo r fi nal , se a ele
ti vé s se mo s ace s so .
733
245
3.
A promoção da Companhia
O aspecto promocional da companhia de Rafael de Oliveira passa
por três aspectos, em épocas diferentes: a apresentação gráfica dos
cartazes que mandava imprimir, as fotos de cena exibidas no átrio do
Desmontável e os progra mas.
O
primeiro
cartaz,
em
que
Rafael
de
Oliveira
aparece
referenciado no primeiro lugar da composição do elenco, data de 5 de
Maio de 1921, e publicita a estreia da Troupe Dramática União, no
Teatro do Clube , na Azambuja. Nele se destaca o facto de ser a estreia
da companhia e de esta realizar a “1ª representação [...] da soberba
peça em 3 actos do reportório do Teatro Nacional”, Mar de Lágrimas ,
drama original de João Gouveia e Jorge Santos, estreado no dito teatro
em 10 de Outubro de 1907, onde deu apenas 9 representações
(S E Q U E IR A 1948: 468), todavia o bastante para constituir chancela de
qualidade do produto dramático.
Será recorrente na Companhia esta forma de legitimação artística,
indicando o local da estreia original do espectáculo ou o número de
representações realizadas, referenciando a propriedade repertorial da
peça em relação a um determinado intérprete ou a um teatro lisboeta,
ou inserindo pequenos rec ortes jornalísticos na mancha gráfica dos
cartazes.
Na década de 20, os cartazes da Tournée Artística Societária
divulgam as fotos dos actores da Companhia, legendadas com o
respectivo nome, na tentativa de motivar a deslocação do público ao
teatro,
não
só
pelo
reconhecimento
dos
artistas,
como
pela
sublimidade do drama “que conta milhares de representações, sempre
com verdadeiro sucesso”, ou pela “chistosa comédia, verdadeira
fábrica de gargalhadas”, ou pela peça “de grande espectáculo” com
mis-en-scène de Ernesto de Freitas , um melodrama extraído de um
246
romance francês, que, por sinal, os periódicos da época publ icavam em
folhetins semanais. Tudo servia para apelar à presença de um público
aparentemente retardatário que urgia avisar que “o espectáculo
principia” à hora certa.
Na década de 30, os cartazes exibem a adjectivação dos
espectáculos: “o maior dos sucesso s”, ou a “luxuosa apresentação” em
noites de “arte e alegria”. A escritora e poetisa Ludovina Frias de
Matos
traz
consigo
o
primeiro
original
dramático
destinado
à
companhia de Rafael de Oliveira , Milagres de Nossa Senhora de
Fátima, e, com ele, a divulgação através de entrevista s nos jornais
locais. Com a estreia da revista A Ver Navios Navios , original da
mesma autora em parceria com Raúl d’Além, em 1933, no Stadium de
S. Domingos, em Aveiro, verificamos um primeiro programa a 8
páginas em formato de jornal, contendo excertos das canções e
monólogos da revista, entremeados com publicidade de empresas
locais, em cujo frontespício Ludovina Frias de Matos se entrevista a si
própria sobre o texto e a Companhia. Para além de chamar a atenção
para o carácter “harmonioso” do agrupamento, destaca -se, em caixa, a
composição do elenco e do reportório em carteira.
A partir da década de 40, os cartazes voltam a exibir fotos dos
actores, por vezes legendadas com o seus nomes, em pose de estúdio
ou em instântaneos de cena. Sublinham -se as virtualidades textuais das
obras representadas e dos seus autores, a par das capaci dades
histriónicas dos seus intérpretes. Em 1955, após a recepção do
primeiro apoio do Estado, a Companhia inscreve o facto de ser
subsidiada pelo Fundo Nacional de Teatro. Do ponto de vista de
grafismo, os cartazes passam a apresentar uma forma tendencial mente
mais uniformizada, com a característica de haver duas impressões do
mesmo espectáculo, em papel de cores diferentes, em tiragens que
oscilam entre 500 e 1000 exemplares, para cada cartaz. Após a morte
247
de Rafael de Oliveira e reestruturação da Companhia, passa a existir
uma forma promocional diferente. Durante as digressões programadas,
os cartazes passam a ser impressos antecipadamente, deixando em
branco o espaço destinado à inscrição do nome da sala de espectáculos
e respectiva data de exibição ( 734).
O investimento em divulgação tinha, portanto, uma expressão
quantitativa, em relação ao número de material impresso, mas também
qualitativa, veiculando mensagens apelativas simples, destinadas a
captar o destinatário. Comum a todas os cartazes, independente do seu
aspecto formal, verifica -se que o espaço central dos mesmos, o centro
óptico do observador, se destina a informar sobre as características do
próprio espectáculo: tipologia e autoria da p eça, número de actos
(735), localização da acção, existência e duração de intervalos, a
distribuição do elenco e os apoios recebidos. O espaço do rodapé é
reservado à informação sobre preço dos bilhetes, anúncio de futuros
espectáculos, e a referência legal aos motivos de força maior que
podem impedir a realização do espectáculo.
A partir da existência do teatro Desmontável, a Companhia
passou a dispôr de outro espaço promocional, o átrio da bilheteira.
Sobre dois cavaletes apresentava -se, por um lado, o elen co, em fotos
de arte individuais, e, por outro, fotos de cena, coladas sobre cartões
pardos funcionando como passe-partout rectangulares, legendados,
supra, com o nome da Companhia, e, infra, com o título da peça
correspondente à imagem. Durante a digressã o a Angola, em 1973, a
influência de Ribeirinho passou também pela colocação, nas paredes
734
Es ta si t uaç ão o co rr e t a mb é m co m o utr as c o m p an h ia s d e p ro v í nc ia e m ép o ca s
an ter io re s. E xi s te m car t aze s d a Co mp a n hia Dra má ti ca Ma r y - Q u i na no acer vo d o
acto r H u mb er to d e An d rad e , q ue n ão c he g ara m a s er ut il izad o s e , p o r is so , se
en co ntr a m i n co mp l eto s. U ma ve z q ue o r ep o rt ó rio d a s co mp a n hia s se ma nt i n ha
co n s ta nt e d ura n te lar g o p erío d o d e t e mp o , c o m ele n co s fi xo s, e ste p ro ce sso
trad uz ia - se e m co mo d id ad e eco nó mic a p ar a o s a gr up a me nto s.
735
Na d i v u l gaç ão d o s mel o d ra ma s d o s éc u lo XI X, e m q u e a c ad a co r re sp o nd e u m
tít u lo , es te ap are ce me n cio nad o .
248
do átrio do desmontável, das fotos do elenco, de dimensões maiores do
que o habitual, segundo a prática utilizada pelas empresas de teatro
comercial, como a de Vasco Morgado .
Como dito anteriormente, o primeiro programa que se conhece
data de 1933 e não corresponde a u ma prática habitual da Companhia.
Em 1948, por ocasião da comemoração das Bodas de Ouro Artísticas
de Afonso de Matos foi elaborado um programa alusivo, a 4 páginas e
2 cores, em cujo interior, a toda a largura da folha, se criou uma
moldura
de
anúncios
de
diversas
empresas
de
Ponta
Delgada ,
patrocinadoras do evento. Na capa, no canto superior esquerdo vê-se a
foto do homenageado e, a toda a dimensão da página, os nomes
ilustres dos altos patrocínios locais e respectiva Comissão de Honra.
Para Afonso de Matos sobrou pouco mais de metade da contracapa,
para
uma
“breve
nota
elucidativa
sobre
a
[sua]
personalidade
artística”, a que a ostensiva publicidade da Teles Travel Agency
parecia apôr a sua chancela, ao ocupar o restante espaço de impressão.
Na década de 50, encontramos prog ramas referente a deslocações
da Companhia a teatros públicos: Cine -Teatros de Pombal e de
Alcobaça, ou o Teatro Stephens , da Marinha Grande. Aqui, em récita
oferecida pelos Artistas Associados em Homenagem a Maria do
Rosário Miguel Henriques , com o apoio da edilidade local e do jornal
Diário de Lisboa, verifica-se um gesto de solidariedade para com uma
rapariga da Marinha Grande , que ficara desfigurada ao tentar salvar
duas crianças de um fogo doméstico. Durante as temporadas da
Companhia
no
Teatro
Aveirense ,
graças
às
relações
amistosas
mantidas com Rafael de Oliveira , a gerência do teatro m anda imprimir
pequenos programas em formato A5, em que divulga os espectáculos
da Companhia a par da sua programação de cinema.
A partir de 1959 e ao longo da década de 1960, a Companhia
passou a elaborar programas destinados a assinalar a abertura de
249
temporada nas localidades, em que, para além da divulgação do
espectáculo de estreia, se inseriam retratos dos actores, fotos de cena,
se discriminava o reportório pronto a representar, o preço dos bilhetes,
e excertos de críticas jornalísticas. Sob a gerênci a de Fernando de
Oliveira, a partir de 1965, os programas de início de temporada
passam a conter um sucinto texto introdutório, da autoria do actor
Alexandre Passos , em que se retratava o historial da Companhia e o se
apresentava o seu propósito artístico.
Nos anos 70, que se saiba, a Companhia elabora ainda três
programas especiais. Em 1971, para a estreia da nova versão de A
Rosa do Adro , para além do formato habitual, desenhou-se um outro,
de maior dimensão, em papel couché, intitulado “Manuel Maria
Rodrigues escreveu, Romeu Correia adaptou e a Companhia Rafael de
Oliveira estreou em Portugal no dia 24 de Janeiro de 1971”, no qual o
adaptador expôs as suas motivações de escrita. Em 1973, desti nada à
digressão a Angola , imprimiu-se um programa, por influência de
Francisco Ribeiro, segundo o modelo vigente nas empresas de teatro
comercial, ou seja, com fotos do elenco artístico e técnico, e a relação
das peças ensaiadas, entremeadas com uma profusão de anúncios dos
patrocinadores.
Em
1974,
o
derradeiro
programa
dos
Artistas
Associados, para a peça de Santareno , A Traição do Padre Martinho ,
reflecte a pretensão de um tempo que se queria de elucidação e
educação popular, em que tanto autor como encenador elaboram textos
sobre os seus pontos de vista de criadores, em paralelo com excertos
de críticas jornalísticas cubanas , quando da estreia da encenação de
Rogério Paulo , em 1970.
4.
O reportório como marca de um gosto popular
250
Por comparação dos reportórios exibidos constatamos que as
companhias de província representavam os mesmos d ramas e as
mesmas comédias: “um teatro do Povo e para o Povo”. Um teatro, cujo
conteúdo aborda conflitos humanos de fácil identificação, um teatro
catarticamente compreendido, de histórias de vidas sofridas, dramas
em gente numa paráfrase pessoana. Mas tam bém um teatro que
permitia o acesso de actores amadores, um espaço de exibição
comunitária do gosto artístico e do desejo de prestígio local. Entre a
cidade e as serras, a crítica teatral, na sua visão cosmopolita e
elucidada, lastima a perda de tempo com dramas passadiços, sem
interesse de evolução, ma reconhece também que a modernidade do
teatro urbano não motiva a maioria da população rural, condicionando,
portanto, as companhias a variações de um tema só para poderem
sobreviver.
Como todas as suas cong éneres, a Companhia Rafael de Oliveira
é formalmente uma companhia de reportório, única fórmula de
subsistência em meios populacionais pequenos. A dimensão desse
reportório rela ciona-se proporcionalmente com o tempo de estadia da
companhia na localidade. Quanto menor o reportório, menor a estadia.
A transformação dos teatros locais em salões cinematográficos, reduz
os dias de actuação das companhias dramáticas. A média do reportó rio
das companhias de província, nos anos 40, situava -se em 25 títulos, 20
dramas e comédias de maior dimensão, e 5 peças em um acto ( 736), o
que permitia a realização de 20 espectáculos. Deste modo, actuando
duas vezes por semana, a companhia permaneceria d urante 10 semanas
no mesmo local. O resto dos dias semanais eram aproveitados para
deslocações às localidades circunvizinhas.
736
Ut il izad as t a nto co mo re mat e d e réc it a, co mp l e me nt a nd o o utr a p e ça d e me no r
d i me n são , co mo fo r ma n d o u m co nj u nto d i ver si ficad o , p ró p r io d e e sp e ct ác ulo s d e
Car n a val , o u d e réc it as d e b e ne fíc io d e acto r .
251
A partir da existência do Desmontável, que, por imposição legal,
a edilidade licenciava 90 dias de permanência, passível de renova ção,
sob pedido apreciado pelas instâncias superiores da Inspecção de
Espectáculos, o tempo de estadia dilata -se para 12 semanas e os dias
de actuação para 3. O reportório amplia -se para as 40 peças e surge o
problema da escolha de peças que congreguem div ersos públicos.
Rafael de Oliveira entrega à Direcção Artística da companhia essa
tarefa.
O reportório apresentado pela Companhia é maioritariamente
constituído por êxitos dos principais teatros de Lisboa: Teatro do
Ginásio, Teatro do Príncipe Real (ou Apolo), Teatro Nacional D.
Maria
II, Teatro Variedades e Teatro Monumental. Os dramas
oitocentistas de grande espectáculo de Adolphe D’ Ennery , Pierre
Decourcelle, Xavier Montépin, George Ohnet , George Sand e de
Dumas, pai e filho, percorrerão o provinciano século XX nacional, a
par das portuguesíssimas comédias de Rangel de Lima , Acácio
Antunes, Aristides Abranches , Baptista Machado, Ernesto Rodrigues
ou do francês Maurice Hennequin . Ramada Curto será o representante
nacional dos dramas de tese social, juntamente com Henri Bernstein ,
Echegaray, Dicenta e Joracy Camargo. Beckett e Santareno surgem
pontualmente numa aparente tran sição que se não completa. Rafael de
Oliveira (aliás Raúl d’Além) deu asas à sua verve de dramaturgo,
escrevendo revistas ingénuas ( 737), adaptações ( 738), imitações ( 739) e
também um original, José do Telhado (740). A seu lado, Ludovina
737
Ap li ca - lh e o S e lo (1 9 2 4 ), A Ve r Na vio s (1 9 3 3 ), d e p arc eria co m Lu d o vi na Fr ia s
d e Ma to s , S a n ta Co mb a p o r u m Ócu lo (r e vi st a lo cal, 1 9 4 0 )
738
Amo r d e Pe rd içã o , J es u s Na za r en o , a p ar tir d o Má rti r d o Ca lvá rio , e D. In ê s
d e Ca st ro , arr e glo d a C a st ro d e An tó nio Ferr eir a , n a v ers ão d e J ú lio Da nt a s , e d e
D. Ped ro , o c ru e l, d e M arce li no Me sq ui ta .
739
A Fi lh a d e Pa u l in o .
740
A p ri me ir a re ferê n ci a a u ma rep re se n ta ção d es ta p eça d a ta d e S et e mb ro d e
1 9 2 2 , no T eatro Lo uza n en se . O fi l me mu d o , co m o me s mo tí t ulo , re al i zad o p o r
Ri no Lup o
252
Frias de Matos contribuiu para a criação de um reportório próprio da
Companhia, com o original Milagres de Nossa Senhora de Fátima
(Transviados ), duas revistas, um libreto de opereta e uma teatralização
infantil (741).
No quadro seguinte inscreve -se o reportório da Companhia de que
foram referenciados espectáculos com mais de 50 récitas, com
indicação da data de início e de término de exibição.
O bra
Auto r/ T ra d uçã o e (o u) a da pta çã o
É po ca
Réc it a
Amor de
Perdição
A Rosa do Adro
Camilo Castelo B ranco / Raú l d ’ Além
(pseud . Rafael d e Oliveira)
Manuel M. Rodrigues/ H. Macedo Jr.//
Romeu Correia
Mário Duarte , Alberto Morais
1921 -73
362
1922 -74
1933 -72
213
(742)
151
Jorge de Sousa (parceria de Henrique
Santana & Francisco Ribeiro )
Aristid es Abranches
Joracy Camargo
Adolphe
d’Enn ery/
trad.
Afonso
Magalhães
José
Echegaray/
trad.
Guio mar
Torrezão
Carlos Llop is / trad. Carlo s Lopes
1967 -72
146
1923 -72.
1950 -72
1923 -72
140
139
134
1933 -72
116
1959 -72
111
Ramada Curto
Fernando San to s , Almeida A maral e
Leitão de Barros
Raul d’Além (pseu d. Rafael de
Oliveira)
Ramada Curto
Júlio Dantas / Marcelino Mesqu ita /
Raúl d’A lém (pseud.)
1941 -68
1955 -71
103
93
1930 -71
93
1943 -72
1917 -68
88
82
Bernardo S antareno (p seud. )
1974 -75
81
As Duas
Causas
Três em Lua de
Mel
Casa de Doido s
Deus lhe pague
As Duas Órfã s
A Calúnia
Daqui fa la o
morto
A Recompensa
Prémio Nobel
Jesus Na zareno
O Tio Rico
D. Inês d e
Castro e D.
Pedro, o Cru el
A Traição do
Padre
741
A o b ra Mi la g r es d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma fo i d ad a à e sta mp a e m 1 9 3 7 so b a
fo r ma d e ro ma n ce, e p erte n ce u t a mb é m ao r e p o rtó rio d e o u tra s co m p an h ia s d e
p ro v í nci a. As re v is ta s fo ra m es cri ta s d e p arc er ia co m Ra fa el d e Ol i ve ira ( A Ve r
Na v io s, 1 9 3 3 ) e co m Ar tu r d e M ato s ( P ra ta d a Ca sa , 1 9 3 3 ); ad ap t o u A s Pu p i la s
d o S r. Re ito r (1 9 4 2 ), a lib r eto d e o p er et a, co m mú s ic a d e Fe r na nd o Izid ro , e o
co n to trad i cio n al d e A Ga ta Bo r ra lh ei ra , mu s icad o p o r Al ve s Co e l ho , fi l ho ( O
S a p a tin h o d e Vid ro , 1 9 5 8 ).
742
Enco n tra m- s e ad i cio nad o s o s valo re s co r resp o nd e nte s à s d ua s ver sõ e s
rep re se nt ad a s.
253
Martinho
O Paralítico
Frei Lu ís de
Sousa
Um Fantasma
Chamado
Isabel
A Cadeira d a
Verdade
As Pupilas d o
Sr. Re ito r
(opereta)
O Grande
Industria l
Uma Bomba
Chamada
Etelvina
A Muralha
Milagre s de N ª
Sª de Fá tima
(Transviad os)
A Morgad inha
de Valflô r
Santo An tón io
O Sapatin ho de
Vidro
A Ver Navio s
Navios
O Conde de
Monte C risto
Prata da Casa
Isra el
O Pato
Henri Crisafu lli / Ferreira de Mesqu ita
Almeid a Garrett
1923 -69
1953 -69
79
76
Mik los
Marai
Santana)
1961 -72
76
Ramada Curto
1948 -69
76
Júlio Din iz (p seud. ) / Ludo vina Frias
de Matos / Fernando Izidro
1942 -71
75
George Ohnet / Ilda Stichin i
1952 -72
74
H.
1967 -72
62
Calvo So telo / trad . Francisco Marques
dos San tos
Ludo vina Frias de Matos
1958 -72
61
1930 -65
60
Manuel P inheiro Chagas
1923 -63
60
Braz Martins / Ângelo Frondon i
1917 -60
59
Ludo vina Frias d e Mato s / Alves
Coelho, filho
Ludo vina Frias de Matos / Raú l d’A lém
(pseud .)/ Fernando Izid ro
Alexandre Du mas P ai / trad. José
António. Mon iz
Ludo vina F. Matos / A rtu r de Matos /
Jaime Martin s
Henri Bernstein / trad. Norberto Lopes
George Feydeau / trad. Cunha e Costa
1958 -71
59
1933 -61
55
1927 -63
55
1933 -61
55
1954 -69
1973
53
51
(p seud.
Henrique
Jorge de Sousa (p arceria
Santana & Francisco Ribeiro )
de
O drama amoroso de Camilo Castelo Branco encabeça claramente
a lista, levando -nos a pensar se não terá sido o cl ássico português que
maior número de representações terá realizado ao longo de todo o
século XX, já que terá a luz da ribalta por esse país fora, para deleite
de profissionais e amadores, e sendo pièce de resistence do reportório
das companhias de provínci a. Apesar do epíteto de “passadiço” ou de
“sentimentalão”, a verdade é que os amores funestos de Teresa de
Albuquerque sensibilizaram plateias, tanto quanto os da Rosa do Adro ,
254
ou de Inês de Castro, a galega que o amor naturalizou portuguesa,
enfim, lusitanos romeus e julietas . E, quando tudo poderia prever o
declínio deste género de enredos, eis que, em 2006, surge uma
revisitação camiliana com sabor a modernidade europeia, Goodbye my
love goodbye. Terá Camilo o cond ão de se reiventar através do
imaginário
popular?
Que
significado
terá
o
ser
popular?
Um
sentimento que se realiza em teatro, representando a vida, apaixonada,
vibrante, sincera, interpretando as aspirações e anseios de uma “alma
portuguesa”? Seja o que fo r, e como for, constata -se que se trata de
uma dramaturgia que tornou os seus intérpretes populares, ou, como se
define hodiernamente, do domínio público, muito antes da existência
da caixa que transformou o mundo.
Tendo em conta o rol anterior, verificamo s que, com mais de 100
representações, entre 1921 e 1950, encontramos três comédias - Casa
de Doidos Três em Lua de Mel e Daqui Fala o Morto -, e sete dramas,
que correspondem à noção de peça bem feita, de enredo bem urdido,
capaz de entusiasmar i ntelectualmente (o QI) e de emocionar (o QE) o
público. Amor de Perdição e A Rosa do Adro faziam parte das
bibliotecas populares, que, tal como As Duas Órfãs , e outras novelas,
tiveram publicação em folhetins semanais nos periódicos, e cujas
teatralizações fizeram vibrar a inteligência emocional de homens e
mulheres. Em As Duas Causas , A Calúnia, A Recompensa e Deus lhe
Pague expõem-se problemas sociais, criam -se situações de empatia
intelectual,
extraiem -se
moralidades,
e,
além
disso ,
recriam-se
personagens que vivem no fio da navalha, tornando -se paradigmas que
permitem que o actor patenteie a sua qualidade de intérprete da Arte
de representar. Um “teatro feito para o povo e levado à sua audiência
constitui um factor de importância n o esclarecimento e na educação”,
afirmou Jorge de Sena, a propósito de “Teatro Popular”, defendendo
que uma fase de “inciação teatral” correspondia a uma fase de
255
“consciência social”, como forma de aprendizado popu lar de que o
“teatro é uma forma elementar, mas decisiva, de desbobramento da
consciência”. Advogou uma dramaturgia popular baseada em “textos
simples, directos”, inteligentes, “numa correlação directa com as
exigências da vida quotidiana”, e “belos em si mesmos”, “cenicamente
eficazes como acção teatral e como emoção a ser colhida dos
acidentes”, deixando margem ao experimentaliso da “improvisação do
momento
e do ambiente, e até à participação do público”, e que os
seus promotores “tenham conhecimento obj ectivo do público a que se
dirigem, tenham amor pelo teatro e experiência técnica dele” ( S E NA
1989: 389 e ss).
As
companhias
de
província
foram
indiscutivelmente
responsáveis pela manutenção e desenvolvimento do gosto teatral na
província, criando e apoian do agrupamentos amadores e divulgando
um reportório basilar de formação de novos públicos, um teatro
comercial de qualidade dramática. Sem pretensões de concorrência
com as companhias citadinas que, apesar de possuírem melhores
recursos técnicos, nem sempr e cumpriam a sua função artística,
conforme referem amiúde os periódicos regionais, estes “cómicos da
arte” cumpriram um tipo de descentralização cultural, em permanente
deambular, essencialmente pelo amor à arte.
A Companhia Rafael de Oliveira poderá ter sido “o mais bem
organizado agrupamento”, a que maior projecção conseguiu em
território nacional, a mais antiga companhia itinerante da Europa, e
foi, sem dúvida alguma, a últi ma das companhias de província
portuguesas.
256
Bibliografia Anotada
1.
Bibliografia primária
1.1. Entrevistas em periódicos (indexação cronológica ):
1. Anon., “Milagres de Nossa Senhora de Fátima: Uma peça escrita por
uma senhora – a poetisa D. Ludovina Frias e M atos. S. Ex.ª fala -nos do
seu livr o – Para além da morte . O segredo é a al ma do teatro”, Diário
do Minho, Braga, 16.02.1930: 1 (entrevista com a autora, Ludovina Frias
de Matos, a propósito da estreia da peça na Companhia; refere -se a
produção dramática da autora, a moti vação da escrita da peça, e da
verosi milhança do enr edo).
2. A. L., “Teatro Desmontável: O Director do Teatro Desmontável fala -nos
dos seus proj ectos e faz o elogio do público eborense”, Democracia do
Sul, Évora, 05.07.1945: 4 (brevíssi ma entre vista com Rafael de Oliveira
no intervalo de um dos espectáculos, em que se aponta a relação entre o
teatro e as feiras, o público, as autoridades locais e a concorrência com
o cinema no Verão).
3. A. L., “A pri meira entrevista de Lizete Frias”, Democracia do Sul,
Évora, 05.08.1945: 6 (entrevista em que Lizete Frias fala do seu gosto
pelo teatro, dos géneros, das personagens e dos textos que prefere
interpretar, dos actor es mais apreciados, do público eborense, e de
planos futuros).
4. Anon., “Teatro de Amadores em Évora: Ouvindo o actor Eduardo de
Matos, ensaiador do grupo António Si mões Paquete”, Diário do
Alentejo, Bej a, 09.02.1946 (entrevista com Eduardo de Matos).
5. Anon., “Li zete Frias e Fernando Frias vão realizar no Coliseu a sua
Festa Artística”, Açoreano Oriental, 24.04.1948: 3 (a propósito da Festa
Artística, o articulista transcreve parte da entrevista do Democracia do
Sul, Évora, em 05.08.1945; vd. supra).
6. E D G A R D O R O D R I G U E S , “Lizete Frias, o sorriso j uvenil da Companhia
Rafael de Oli veira: Diálogo fora d e cena”, A Ilha, Ponta Delgada,
08.05.1948 (entrevista).
7. Anon., “Impressões de Teatro: Os Ir mãos Frias”, O Riomaiorense , Rio
Maior, 25.12.1949: 3 (entrevista a Lizete e Fernando Frias).
8. AITE, “Depoi mento de interesse: Uma entrevista com Eduar do de Matos,
actor e ensaiador do Teatro Desmontável”, Diário do Alentejo , Bej a,
19.02.1951: 2 e 4 (ent revista com foto).
9. Anon., “O Director da Companhia Rafael de Oliveira fala -nos da sua
vinda a Tavira com o seu Teatro Desmontável”, Povo Algarvio, T avira,
30.09.1951: 1 e 3 (entrevista sobre a Companhia e a futura deslocação
de Vila Real para Tavi ra).
10. Anon., “Eduardo de Matos, actor -ensaiador da Companhia Rafael de
Oliveira concede -nos uma entrevista”, Povo Algarvio, Tavira,
07.10.1951: 1 e 2 (entrevista com foto de Edu ardo de Matos; referência
ao elenco e às características da Companhia).
257
11. V Í T O R C A S TE L A , “A Companhia Rafael de Oliveira em Faro: O Artista
Fernando de Oli veira fala a O Algarve”, O Algarve, Faro, 23.03.1952: 3
(breve entrevista sobre o historial da companhi a e intenções da estadia
em Faro).
12. E U R I C O G A M A , “Ent revista com Fernando de Oliveira do Teatro
Desmontável”, Jornal de Elvas, 18.08.1955: 4 (o director do j ornal
pretende traçar um breve historial da companhia: elenco e reportóri o).
13. S.E., “A Voz da Marinha Grande: Secção semanal de propaganda e
defesa dos interesses do concelho e povo da Marinha Grande: Teatro”,
Região de Leiria, 26.01.1956: 3 (breve entrevista nos bastidores do
Teatro Stephens em que Rafael de Oli vei ra alude à inviabilidade da
tournée a África, em 1953, devido ao abati mento do Teatro Desmontável
com o peso de um nevão).
14. V I S O R , “Um êxito mundial no Teatro Rafael de Oli veira: Está lá fora um
inspector, por J. B. Pr iestley: Ouvindo o encenador e artista Eduar do de
Matos”, Mensageiro, Leiria, 17.03.1956: 2 (entrevista com Eduar do de
Matos sobre a peça).
15. V I S O R 1, “Falando de Teatro”, A Voz da Figueira, Fi gueira da Foz,
13.09.1956: 4 (entrevi sta breve a Rafael de Oliveira, em que este fala da
estreia do Desmontável, em Alcobaça, a 30 de Abril de 1 936, do tempo
de itinerância, dos textos preferidos).
16. S U C E N A P I N TO , “Teatro: Companhia Rafael de Oli veira”, Ecos de Cacia,
01.03.1958: 1, 2 (entrevista com Fernando de Oli veira, na noite da
Homenagem à Companhia no Teatro Aveirense).
17. M. P. F., “Lisette Fri as – popular fi gura do nosso teatro – fala -nos da
sua vida, dos seus êxitos e das suas predilecções”, Norte Desportivo ,
Porto, 30.03.1958: 6 ( entrevista).
18. J . S A R AB A N D O , “Artistas do Palco: Fernando de Oli veira – figura assaz
popular do nosso teatro – responde a uma série de perguntas mais ou
menos indiscretas”, Norte Desportivo, Porto, 27.04.1958: 6 (breve
conversa em que Fer nando de Oliveira fala da sua visão da crise do
teatro, do reportório da Companhia e do seu gosto pessoal, das leit uras e
dos passatempos.
19. F. C., “2) -Temas de Arte: Encontro com o actor Eduardo de Matos: Uma
figura do teatro Itinerante Português”, Jornal do Ribatejo , Sant arém,
11.12.1958: 1 e 6 (entrevista continuada no nº seguinte por al tura da
comemoração dos seus 20 anos de trabalho na Companhia ).
20. F. C., “3) - Temas de Arte: O Público da Província, embora lá por
Lisboa se di ga o contr ário, é mais difícil de contentar, mais exi gente... –
diz-nos Eduardo de Matos”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 18.12.1958:
1, 8 e 2 (continuação da entr evista do nº ant erior).
21. H E I T O R R O Q U E , “O Actor Eduardo de Matos fala -nos da temporada que a
Companhia Rafael de Oli veira vem f azer a Évora no Teatro
Desmontável”, Notíci as de Évora , 29.10.1959: 4 (entrevista a Eduardo
de Matos).
22. Anon., “Fernando Frias é um dos bons actores do excelente conj unto do
Teatro Desmontável”, Jornal de Évora, 13.12.1959: 6 -5 ( breve
entrevista com Fernando Frias).
23. J. A. M., “O benj ami m do Teatro Desmontável: Gostaria de vir a ser um
258
actor capaz de continuar as honrosas tradições da Companhia Raf ael de
Oliveira - disse -nos Ál varo de Oliveira”, Diário do Alentejo, Bej a,
17.05.1960:2 e 4 (entr evista, com foto do entrevistado).
24. Anon., “Teatro e Cinemas: Um sonho de muitos anos...: A Companhia
Rafael de Oli veira vai ter novo Teatro Desmon tável”, Diário do
Alentejo, Bej a, 24.05.1960: 2 (entrevista a Rafael de Oli veira).
25. Anon., “Estreia -se no próxi mo dia 7 a Companhia Rafael de Ol iveira:
Um pouco de históri a”, Folha de Domingo, Faro, 04.12.1960: 8 e 4
(entrevista a Rafael de Oliveira, a prop ósito da estreia do novo Teatro
Desmontável, em Faro ).
26. Anon., “Dois minutos com..: Fernando Frias”, Folha de Domingo, Faro,
25.12.1960: 5 (entrevi sta em que se traça um esboço de retrato).
27. António Augusto Santos, “ Muito teatro, bom e barato” – eis a
“medicação” de Raf ael de Oliveira para convalescença do Teatro
Português, O Norte Desportivo, 26.12.1960: 6 (entrevista com Raf ael de
Oliveira, após a inauguração da últi ma versão do Teatro Desmontável).
28. A N T Ó N I O A U G U S TO S A N T O S , “Fernando Frias depõe sobre o mom ento
teatral português”, Norte Desportivo, Porto, 23.03.1961: 6 (ent revista
com Fernando Frias).
29. M. J . V AZ , “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira e o seu Teatro
Desmontável no Barreiro”, Distrito de Setúbal, Setúbal, 03.11.1961: 1 e
4 (a partir de uma conversa com Rafael e Fernando de Oliveira, o
articulista escreve uma reportagem em que desenvolve o historial da
companhia, do desmontável e das condições problemáticas do seu
trabalho; referência à constituição do elenco; tem continuação na edição
seguinte do j ornal).
30. M. J . V AZ , “A Companhia de Teatro Rafael de Oli veira no Bar reiro”,
Distrito de Setúbal, Setúbal, 07.11.1961: 4 (conclusão da reportagem
iniciada no número anterior).
31. Anon., “A propósito da próxi ma estreia no Avenida: Al guns aspectos
sociais da Companhia de Teatro Itinerante de Rafael de Oli veira”,
República, Lisboa, 16.01.1962 (entrevista com Fernando de Oli veira a
propósito da companhi a).
32. Anon., “Rafael de Ol iveira um exemplo seguir”, Rádio & Televisão,
24.02.1962: 14 e 19 ( entrevista com elementos da Companhia Raf ael de
Oliveira, nos bastidor es do Teatro Avenida, durante um intervalo de um
espectáculo).
33. R E I S V I C E N T E e F E R N A N D O D U A R T E , “A Companhia Rafael de Oliveira e
os seus valiosos ser viços prestados ao Teatro”, Vida Ribatejana, Vila
Franca de Xira, 02.06.1962: 1, 4 (entrevi sta a Fernando de Oliveira
sobre a Companhia, a crise teatral e os anseios).
34. R. M., “Uma Grande Companhia de Teatro – Estou satisfeito com o
público de Tomar – confessou -nos Rafael de Oliveira”, O Nabão, Tomar,
01.01.1963: 1 (notícia do espectáculo de est reia e cartaz de espetáculos
da quinzena – em caixa).
35. Anon., “Depois de cinquenta anos de actividade, a Companhia de Rafael
de Oliveira está prestes a extinguir -se: Fernando de Oli veira, filho do
conhecido actor empr es ário, ingressa no t eatro de revista e faz -nos
oportunas declarações”, Actualidades, Lisboa, 17.10.1964: 5, 13.
259
36. Anon., “Teatro: A Companhia Rafael de Ol iveira – 48 anos ao serviço
do Teatro: Ouvindo o titular da Companhia, o actor Rafael de Ol iveira
num oportuno e interessante depoi mento”, Boletim da União de Grémios
dos Espectáculos, Ano XII, nº 124, Lisboa, Dezembro de 1964: 3 -6.
(Derradeira entrevista de Rafael de Oli veira).
37. C U R A D O R I B E I R O , “De Teatro: Fernando d’Oliveira: uma centel ha de
esperança...”, Antena , Lisboa, 01.11.1965: 36 (entrevista ao novo
director da Companhia sobre as dificuldades sentidas e sobre o novo
rumo a tomar).
38. “A Companhia Teatral de Rafael de Olivei ra na nossa Cidade – breve
conversa com o seu director Fernando de Oliveira”, O Dever, Figueira
da Foz, 13.08.1968: 5.
39. F. R., “Teatro Desmontável, em Viseu: Gosto de trabalhar para o
Público Viseense, entendedor de bom teatro – afirmou Fernando de
Oliveira, Director da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal de Viseu,
26.10.1968: 8 -2 (entrevista sobre a estadia: após 11 anos de ausência,
sua razão de ser, o novo elenco, as digressões pelas aldeias limítrofes e
o novo reportório).
40. Anon., “De Teatro: Amanhã Frei Luís de Sousa ”, Jornal de Viseu,
26.10.1968: 5 (opinião de Fernando de Oliveira s obre a razão do
espectáculo).
41. F. R., “António Vil ela fala ao nosso j ornal”, Jornal de Viseu,
27.11.1968: 7 por ( entrevista breve com o actor sobre as suas
preferências, trabalho na companhia, iníci o de carreira, companhias
onde trabalhou).
42. F. R., “De Teatr o: Ouvindo Gisela de Oliveira”, Jornal de Viseu,
04.12.1968: 8, 7 (ent revista com a actriz sobre as suas memóri as de
Viseu, as preferências interpretativas, os anseios de mãe, o públi co de
Viseu, as apreciações da crítica).
43. F. R., “De Teatro: Ál varo de Oli veira – o actor mais j ovem da
Companhia fala ao nosso Jornal”, Jornal de Viseu, 21.12.1968: 6
(entrevista com o actor sobre as suas preferências, os estudos, e o
público).
44. F. R., “De Teatro: Humberto de Andrade falou -nos da sua carreira”,
Jornal de Viseu , 01.01.1969: 13 (entrevista com o actor sobre o seu
percurso artístico, suas preferências e sobre o público viseense).
45. F. R., “De Teatro: Alexandre Passos fala a Jornal de Viseu »”, Jornal de
Viseu; 04.01.1969: 6 (entrevista com o actor sobre o seu percurso
artístico e preferências e funções na Companhia).
46. M A N S O N U N E S , “Inquérito ao gosto artístico de Braga”, Diário do
Minho, Braga, 12.05.1969: 1 e 2 (entrevista a Fernando de Oliveir a, em
que este critica a falta de público aos espectáculos e o modo snob como
se encara a Companhia).
47. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
14.01.1971: 1 e 4 (entrevista de Fernando Duarte, moderador, directir
adj unto do periódico, com o Dr. Pinto da Rocha, professor do Liceu
Nacional de Santarém, dir ector das actividades circum -escol ares e
dirigente da Secção de Teatro, Florindo Custódio, ensaísta de Teatro e
dirigente de grupos teatrais sclabitanos, Alves Castela, colaborador do
260
periódico, Lino Ribeir o, crítico de Teatro e colaborador do periódico, e
Fernando de Oli veir a, director artístico da Companhia Rafael de
Oliveira, Manuela Coimbra, actriz, Ál varo de Oliveira, actor, Humberto
de Andrade, actor, e Alexandre Passos, actor).
48. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
16.01.1971: 4 (continuação da edição anterior).
49. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
16.01.1971: 1 e 4 (continuação da edição anterior).
50. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
17/18.01.1971: 1 e 4 ( continuação da edição anterior).
51. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
19.01.1971: 1 e 4 (continuação da edição anterior).
52. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém,
20.01.1971: 4 (conclusão da ediçã o anterior).
53. Anon., “De Shakespeare a Beckett ou como se trabalha na «nova»
companhia de Rafael de Oliveira”, O Sécul o, Lisboa, 25.11.1972: 17 e
18 (extenso artigo sobre o trabalho de preparação da di gressão a África
em 73 e entrevista com o encenador Ribe irinho e outros actor es do
elenco).
54. J O Ã O A LV E S D A C O S T A , “Rafael de Oli veira, Teatro ao domicílio”,
Rádio & Televisão, 09.12.1972: 31, 33 (entr evista com di verssos actores
do elenco a propósito da deslocação a África: Manuela Coimbra,
Fernando de Oli veira, Rui de Car valho, Canto e Castro e Tomás de
Macedo).
55. A N T Ó N I O R AM O S , “Importa acabar com os mitos: À espera de um
milagre: Luanda não vai ao Teatro porquê?”, Diário de Luanda,
08.03.1973: 12, 20 (entrevista à mesa de café com Fernando de Oliveira
e Vasco de Lima Couto, em que se fala de teatro e da digressão a
Angola).
56. Anon., “Espectáculos: Her mínia Toj al, um nome do teatro português em
Luanda, analisa a sua carreira, festivais de teatro e a crise t eatral”,
Diário de Luanda, 23.06.1973: 32 (entrevista).
57. S AM M Y S A N T O S , “Benguela: Her mínia Tojal (actriz convidada da Cª
Rafael de Oli veira que Benguela em breve verá) – Ofereço -me às
personagens que interpreto”, O Lobito, 29.09.1973: 4, 11 (entrevista).
58. ATS (António Tavares da Silva, colunista) e JM (José Martins,
redactor), “Fernando de Oliveira: «Os Ossos do Ofício»”, Ci néfilo,
Lisboa, 16.03.1974: 31 -37 (entrevista a Fer nando de Oli veira).
59. Anon., “Teatro Rafael de Oliveira vai ser mesmo destruído”, Correio da
Manhã, Lisboa, 05.08.1983: 47 (entrevista a Leonor de O liveira, que
relata a tentativa de salvar o teatro, através da sua venda. Sem sucesso!
E ainda as dificuldades de entendi mento com a empresa Adoque, e um
breve historial da Companhia).
1.2. Depoimentos
CORREIA, Pal mira
2004 Ruy de Carvalho: O Grande Senhor do Teatro, Lisboa, Publicações
Dom Quixote, Colecção Fi guras, 107 páginas (biografia sob a for ma
261
de entrevista ao actor; incluem -se textos individuais sobre o mesmo,
escritos por ami gos, profissionais de Teatro; Ruy de Car val ho
referencia a Companhia Rafael d e Oli veira, a propósito da di gressão
a Angola, em 1973).
LÍV IO, Tito
2005 Ruy de Carvalho: Um actor no palco da vida , Lisboa, Novo
Imbondeiro, 102 pági nas (revisitação de Ruy de Car valho, em est ilo
de reportagem, com as palavras do actor aparecendo como c itações;
ilustrações do actor em momentos do seu quotidiano e em pal co;
releva -se o curriculo e, inevitavel mente, a opinião de terceiros; R. de
Car valho cita a sua passagem pela Companhi a Rafael de Oli veira, em
Angola, em 1973).
1.3. Documentos
VIEGAS, Mário (or g.)
1991 Caderno-Programa nº 9, 1991 -92, Companhia Teatral do Chiado
(roteiro da exposição organi zada por Mário Viegas, em homenagem ao
Teatro Desmontável; profusão de material documental: cart azes,
programas, recortes j ornalísticos e fotos individu ais e de grupo).
2.
Bibliografia crítica
2.1. Gerais
ALMEIDA, José Valentim Fialho de (1857 – 1911)
1990a Pasquinadas . Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de
Fialho de Al meida, Volume IV . (1ª edição, 1890).
1990b Lisboa Galante . Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de
Fialho de Al meida, Volume V. (1ª edição, 1890).
1992 Vida Irónica: (Jornal dum vagabundo) . Lisboa, Círculo dos Leitor es
Obras Completas de Fialho de Al meida, Volume V II. (1ª edição,
1892).
CLÁUDIO, António
2005 Conhecer Alme irim, Cadernos Culturais, Câmara Municipal de
Al meiri m (publicação do pelouro da Cultura da Cãmara Municipal de
Al meiri m sobre a hist ória passada e present e da cidade, escrita pelo
Director da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval; o capítulo
intitulado O cinema em Almeirim (pp. 22 e 23) descreve a ori gem do
gosto cinéfilo dos Almirinenses - ou Al mirantes, como antes se
designavam - até ao momento da construção do Cine -Teatro,
inaugurado em 1940 com um espectáculo de teatro - A Inimiga, pela
companhia de Maria Matos – e um espectáculo de cinema – A
serenata de Schubert , com Louis Jouvet).
262
DIAS, Marina Tavares
2000 Lisboa Desaparecida, Lisboa, Qui mera, 9ª edição, 189 pp. (1ª edição,
1987) (particular interesse: a referência ao Teatro Apolo, pp.31 -35;
ao Real Coliseu de Lisboa, na Rua da Pal ma, foto, p. 144; e aos
diverti mentos lisboetas – as feiras oitocent istas e os seus teatros barracas, pp.125 -129; ampla iconografia).
DIAS, Marina Tavares (e MARQ UES , Mário Morais)
2002 Porto Desparecido, Lisboa, Qui me ra, 198 pp. (particular interesse o
capítulo dedicado ao Teatro Baquet, com ilustrações de programas,
do edifício e do incêndio que o destriui).
FONSECA, João José Samouco da
2001 Chamusca e Chamusquenses , colaboração na Revista Chamusca
Ilustrada e outros textos, MG Editores, 382 pp. (1ª edição: Maio,
2000); Edição ilustrada (de particular interesse o Cap. VI –
Sociedade, Instrução e Cultura: o autor aborda a actividade teatral
local e respectivos pal cos).
2002 História da Chamusca III, Chamusca, Edi ção de autor, 298 pp., 3
volumes ilustrados (de particular interesse o Cap. 2 – Tempos Idos:
O Cine -Teatro da Chamusca, p.84, e o Capítulo 6 – Teatro: I –
História do Teatro Chamusquense; II – À mar gem da História do
Teatro Chamusquense).
PACHECO, Lui z
1981 Textos de guerrilha 2ª série , Lisboa, Ler, Editora (textos críticos,
escritos e publicados na i mprensa entre 1975 e 1980, sobre escritas e
autores, denúncias e apologias – mais as primeiras! – dos quais se
destaca o da página 125, sob o título A Castração Censória , e m que
Luiz Pacheco critica o livro Cinema e Censura em Portugal,
desvendando a desor ganização do sistema censorial e desmontando
alguma da teoria de Lauro António).
VIEIRA, Joaqui m
1999a Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1900 -1910, Lisboa,
dos Leitores. 216 pp.
1999b Portugal, Século XX, Crónica em Imagens 1910 -1920,
Círculo dos Leitores. 218 pp.
1999c Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1920 -1930, Lisboa,
dos Leitores. 216 pp.
1999d Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1 930-1940, Lisboa,
dos Leitores. 216 pp.
2000a Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1940 -1950, Lisboa,
dos Leitores. 216 pp.
2000b Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1950 -1960, Lisboa,
dos Leitores. 216 pp.
263
Círculo
Lisboa,
Círculo
Círculo
Círculo
Círculo
2000c Portugal Séc ulo XX, Crónica em Imagens 1960 -1970, Lisboa, Círculo
dos Leitores. 215 pp.
2000d Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1970 -1980, Lisboa, Círculo
dos Leitores. 216 pp.
VITERBO, Sousa
1912 Cem artigos de jornal , Lisboa, Tipografia Universal (colecção de
artigos j ornalísticos sobre teatro, para o Diário de Notícias , escritos
entre o fi m do século XIX e o início do XX; releve -se: «A religião e
o theatro », 21.04.1897, p. 47; «Vicissitudes do theatro nacional »,
10.01.1899, p. 49; «O futuro do theatro », 24.01.1900, p. 52; «O
direito de patear », 19.02.1903, p. 54).
2.2. Estudos de Teatro
2.2.1. Sobre o Teatro em Portugal
ALMEIDA, José Valentim Fialho de (1857 – 1911)
1993 Actores e Autores, Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de
Fialho de Al meida, Volume X IX. ( 1ª edi ção, 1925) (conj unto de
artigos publicados na imprensa, entre 1894 e 1907, acrescido de um
texto inédito; críticas a espectáculos e ao panorama teatral
finissecular).
ANÓNIMO
1915 Guia do Forasteiro em Lisboa, Edição Biblioteca Educação Nacional,
Lisboa (contém plantas dos teatros de Lisboa, suas moradas, números
de telefone e preçário – São Carlos, Teatro Nacional Al meida
Garrett, Teatro da Trindade, Teatro Avenida, Teatro Politeama, Éden
Teatro, Teatro Gimnásio, Teatro Apolo, Teatro Moderno, Teatro da
Rua dos Condes, Coliseu dos Recreios, Praça de Touros do Campo
Pequeno. Indica também os cinemas existentes à data) (GEO; Cota:
DV 203P).
AA. VV.
1923 Os Grandes Comediantes Portugueses: In -Memoriam Ângela ,
(direcção e prefácio de Nogueira Brito, Associaçã o dos Arqueólogos
Portugueses), Lisboa, Empresa “De Teatro”, Colecção Glór ias
Passadas, 253pp. (col ecção de laudas com que se pinta o retrato da
actriz Ângela Pinto, pela pena de autores, actore e empresários que
com ela pri varam).
BARATA, José Olivei ra
1991 História do Teatro Português, Lisboa, Universidade Aberta (uma
história de teatro que perspectiva, aci ma de tudo, a relação entre o
texto escrito e a sua realização teatral; uma abordagem funcional
destinada a ver o teatro como uma for ma questionante, por oposição
264
às tradicionais histórias de teatro que preferem fazer incidir o
interesse numa visão logocêntrica da Arte de Talma).
BASTOS, Glória e VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira de
2004 O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República , Lisboa, MNT,
Colecção “Pági nas de Teatro”, Volume III ( análise histórica sobre o
panorama teatral neste período lisboeta. Análise da situação política
e profissional, dos reportórios e da legislação vi gente, dos
profissionais de teatro em geral. Referências bibliogr áficas
evidentes. Ser ve, sobr etudo, como ponto de partida para pesquisa).
BASTOS, António Sousa
1895 Coisas de Theatro , Lisboa, Anti ga Casa Bertrand – José Bastos
(Cap. X, Auctores novos e velhos, p. 77: fala D’Enner y; Cap. XVI,
Os direitos de auctor, p. 113; Cap. XVII, Benefícios d’artistas e
vendidos, p. 113; Cap. XX III, Machinistas, aderecistas e
scenógrafos, p. 151: f ala de Eduardo Machado e outros cenógrafos;
Cap. XXV, Outros empregados do theatro: o ponto, o contra -regr a, o
iluminador, o cabeleireiro , a cabeleireira, carpinteiros de
movi mento, comparsas de cena, alfaiates e costureiras ; Cap. XX IX,
Preços dos lugares nos theatros - concorrência do circo; Cap. XXX,
Theatros particulares - ou de amadores - p. 185).
1898 Carteira do Artista; Apontamento s para a História do theatro
Português e Brazileiro , Anti ga Casa Bertrand – José Bastos, Lisboa
(referências a Ernesto de Freitas - Compª do Soares -, p. 636; Aur ora
de Freitas, p.622).
1947 Recordações de teatro, Lisboa, Editorial Século. Prefaciada por
Eduardo Schwalbach (obra póstuma que preenche e clarifica
infor mações das obras anteriores).
1994 Diccionário do Theatro Portuguez , Lisboa, Editorial Minerva, edição
fac -si milada; 1ª edição, 1908 (A ler com cuidado. As suas inúmeras
entradas nem sempre e stão de acordo umas com as outras, as
apreciações podem ser tendenciosas – vej a o que dele refere Chaby
Pinheiro nas suas memórias. Se tudo pode falhar, excepto o espaço
reservado à sua querida Pal mira!).
BENTO, Avelino
2003 Teatro e Animação: outros per cursos do desenvolvimento sócio cultural no Alto Alent ejo , Lisboa, Edições Colibri. 324 pp.
CARVALHO, Dr . J. M. Teixeira
1914 A Máscara d’um Actor. Cabeças de expressão , Lisboa, s. n. (o aut or,
professor da Faculdade de Medicina e Sócio da Academia das
Ciências de Lisboa, escreve sobre as máscaras teatrais de Augusto
Rosa, como homenagem no 40º ani versário da sua estreia teatral).
265
1925 Teatro e Artistas . Imprensa Uni versidade de Coi mbra, Coi mbra
(crónicas j ornalísticas sobre espectáculos de teatro em Co i mbra, no
Teatro Circo, e em outras localidades; cobrem o final do século X IX
e princípio do seguinte: Cristiano de Sousa com Lucinda Si mões e
Chaby Pinheiro em A Casa da Boneca de Ibsen, 1899, p.52; Sobre
João José, 1899, p.55; O Tio Milhões, 1902, p.139; D. César de
Bazan (p.157), 1902; O Saltimbanco, 1902, p.157; A Morgadinha de
Valflor, Os Fourchamboult, 1908, p.211; O Ladrão [de Bernstei n] ,
1909, p.220. Sobre o teatro de Marcelino de Mesquita: “quasi o único
em que se fala português agora./ As traduçõe s do francês criar am
uma língua nova e, à força de querer traduzir a leveza e a elegância
desta bela língua, der am ao calão foros de linguagem corrente./ O
que se fala é falso como as elegâncias de figurino que passeiam pelas
ruas”, p.246).
CRUZ, Duarte Ivo
2001 História do Teatro Português , Editorial Verbo, Lisboa.
FERREIRA , Ulisses Pina
2006 Cine-Teatro de Almeirim e as coincidências, Al meiri m, Câmara
Municipal de Al meirim; publicação do Pel ouro da Cultura, 16 pp.
( memória do Cine -T eatro, pela mão de alguém que o explorou
comercial mente, e que, ainda hoj e, vibra com o relato da sua epopeia
ribatej ana. Ulisses Pina Ferreira, amante de teatro e de cinema,
possui um acer vo considerável de cartazes e outros documentos
referentes a espectáculos de teatro e de cin ema, ao longo de várias
décadas).
FERRO, António
1950 Teatro e Cinema (1936 -1949), Lisboa, Edições SNI. 141 pp.
(compilação de di ver sos discursos de Ant ónio Ferro entre 1936 e
1949: “O sonho vosso de cada noite”: inauguração do Teatro do
Povo, 15.06.193 6; “O Teatro do Povo no Alto da Serra” pronunciado em Fol gosinho,em 07.09.1937; “Teatro ligeiro , teatro
sério...”: 1ª festa de distribuição dos Prémios de Teatro Ligeiro, em
12.04.1947;
“Cinemas
ambulantes, car avanas
de
i magens”:
apresentação no Sindica to Nacional dos Caixeiros do Distrito de
Lisboa, em 12.02.1935; “Grandeza e miséria do cinema português”:
festa de distribuição dos Prémios de 1944 e 1945, em 12.08.1946; “O
Estado e o Cinema”: f esta de distribuição dos Prémios de Cinema, em
30.12.1947; “O cinema e o Teatro”: festa da distribuição dos Prémios
de Teatro e de Cinema de 1947 e 1948, em 21.11.1949; Documentos
– “Lei de protecção ao cinema nacional, seu regulamento e decretos
complementares”, e “Proj ecto do Fundo de T eatro”).
FONSECA, João José Samouco da
2004 Teatro de Revista 1962 - 1994, Chamusca, Edição de autor, 278 pp.
(publicação de textos integrais de quatro revistas da sua autoria, com
266
algumas fotografias de espectáculos, entre 1962 e 1994; exemplos de
revistas locais).
G A R R E T T , Al meida
1984 Teatro I, Obras Completas de Al meida Garrett, Lisboa, Círculo dos
Leitores, 428 pp. “Memória ao Conser vatório Real” (inspiração
nascida em modesto teatro barraca de comicos de la legua, Frei Luís
de Sousa fez-se Teatro, a 04.07.1843, em palco parti cular da Quinta
do Pinheiro, “teatro pequeno, mas [que] acomoda muita gente; e
encheu -se do que há mais luzidio e brilhante na «sociedade»” - p.8 -,
com o seu autor a “suprir, no papel de Telmo, a falta de um amigo
impossibilitado”).
GOMES, João Reis
1906 O Theatro e o Actor: Esboço Philosofico da Arte de Represent ar,
Lisboa, Li vraria Edi tora Viúva Tavares Cardoso, 2ª edição [1ª
edição, 1905] (Membro da Academia de Ciências de Lisboa,
Professor do Liceu do Funchal e Director do j ornal Heraldo da
Madeira, a sua obra consta de um livr o de contos, uma novela e sua
adaptação dramática, e esboços filosóficos sobre a relação entr e a
música e o teatro, a voz e o ouvido musical, e sobre Forças
Psíquicas, e O Belo Natural e Artístico . O Theatro e o Actor contém
cinco capítulos, antecedidos pelo prólogo “Razões do Li vro” : 1 – “A
Natureza no Theatro”; 2 – “A inteligência e os dotes físicos” ; 3 – “O
comediante é um artista?” ; 4 – “Paradoxo de Diderot” ; 5 – Sem
título, aborda a convenção teatral. Fluente e em estilo dir ecto, Reis
Gomes expressa o espírito vivido na Europa teatral – daí a reflexão
sobre o paradoxo do actor e as suas impli cações na for mação dos
profissionais -, não estando distante da essência teórica de
Stanislavsky, e da prática de Antoine, em França; de interesse, na 2ª
edição, o apêndice fi nal, intitulado Juízo crítico da 1ª edição , em
que são inseridas as diversas opiniões publicadas na i mprensa, com
particular relevo para a de Teófilo Braga, em O Século, a
13.11.1905).
1928 Figuras de Teatro, Funchal, Edição da Comissão Promotora
(colectânea de excertos de algumas das críticas teatrais de Reis
Gomes, publicadas em di versos j ornais da Madeira, reunidas por
iniciativa da Comissão Promotora da sua Homenagem, constituída
por anti gos alunos do Liceu do Fu nchal. Nestas 21 críticas, entre
1905 e 1926, analisa -se o desempenho de artistas que actuaram nos
teatros D. Maria Pia (futuro Teatro Municipal Baltasar Dias) e Dr.
Manuel Arriaga, do Funchal. São visados: Angela Pinto, Lucília
Si mões, Pal mira Bast os, Vit aliani, Duse, Ibsen, Lucinda Si mões,
Maria Matos, Júdice da Costa, Lucinda do Car mo, Augusto Rosa,
Chaby, Adelina Abranches, Rostand, Alice Pancada, Lomelino Silva,
Al ves da Cunha, Amél ia Rey Colaço, Estevão Amarante, Ilda Stichini
e Nor ka Rouskaya).
267
GUIM ARÃES , Lui z d’Oliveira
1940 Teatro de Revista. Lisboa, S/editor, 32 pp. (texto da conferência
promovida pelo Sindicato Nacional da Crítica e realizada na noite de
10 de Maio de 1940 na Sociedade de Propaganda de Portugal, onde se
traça o retrato deste gén ero dramático, apresentando o velho
argumento da paternidade vicentina, mas, talvez mais interessante, o
autor acrescenta outros dados que fazem remontar o género ao século
XIX - o Barão de Roussado e Braz Martins; disserta sobre o valor
deste género li gei ro e enumera os nomes de quem a ele esteve li gado
ao longo do tempo).
JACQUES, Mário e H EITOR, Sil va
2001 Os Actores na Toponímia de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de
Lisboa, 183 pp.
JÚNIOR, Redondo
1955 Pano de Ferro. Crítica – Polémica - Ensaios de Estética Teat ral,
Lisboa, Editorial Século. 307 pp.
1958 Encontros com o Teat ro, Lisboa, Editorial Século. 355 pp. (di vidido
em duas partes e um apêndice, o autor discorre sobre “Estética
Teatral”, na pri meira, e compila 25 ensaios sobre sobre o panoram a
teatral entre Fevereiro de 1955 e início de 1956, sob o título “O Pano
sobe em Lisboa”, na segunda; no “Apêndice”, o subcapítulo “A
Liberdade do Encenador” ganha particular interesse para o estudo do
comentário coevo sobr e estética, a partir de depoi ment os de criadores
teatrais durante o III Festival Internacional de Arte Dramática de
Paris, realizado nos teatros Sarah Bernhardt e Campos Elísios:
registam-se as opiniões de Erwin Piscator , Karel Kraus, director
literário do Teatro Nacional de Praga, Hans S challe, director do
Schauspielhaus de Bochum, Luchino Visconti; transcreve -se um
excerto da entrevista do encenador francês Raymond Rouleau ao
semário parisiense L’Express sobre a metodologia do encenador;
regista -se a discussão em torno do depoi mento “La Mise -en-Scène
des Oeuvres du Passé”, de Gabriel Daniel Vierge, presidente da
Association des Directeurs de Scène et Regisseurs de Théâtre de
France, com a participação de Regnaut, Jousset, Muller, Scherer,
Godebert, Bablet, St ewart e Nina Gourfinkel. De bo a nota, uma
bibliografia específica sobre estética teatral, que abarca nomes como
Eduardo Scarlatti, Fialho de Al meida, João Reis Gomes, Luís
Francisco Rebello, Luís da Costa Pereira, Brecht, Gordon Craig,
Sílvio d’Amico, Jean -Louis Barrault, Louis Jouvet, Charles Dull in,
Salacrou, Jan Doat, André Villiers, Gaston Baty, Jean Vilar, Eric
Bentley, Michael Redgrave, Joracy Camar go, e Lee Strasber g, entre
outros).
MACHADO, Júlio César
2002 Os Teatros de Lisboa, com ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro ,
Frenesi, Lisboa, confor me a 1ª edição (1874 -1875), 144 pp. ( memória
268
descritiva, bem humor ada, característica do espírito e graça da bela
época portuguesa, sobre a vida mundana teatral lisboeta com os seus
tipos característicos, os seus gostos e manias, pela mão de quem
conhecia o “palco” por dentro e que, associado, ao fino traço de
Bordalo Pinheiro, escalpelizou anatómicamente o meio artístico).
MATOS-CRUZ, José de
2005 Joaquim de Al meida: Um actor de Montijo, 1838 -1921, Lisboa, Dom
Quixote, 189 pp. (r ecorrend o aos periódicos, o autor recolhe
testemunhos sobre Joaqui m de Al meida, que lhe permitem historiar o
seu percurso e personalidade artística).
MOURA, Antonieta
1994 Teatro Eduardo Brazão: Notícias deste e outros palcos, Bombarr al,
Cadernos Históricos do Co ncelho de Bombarral, 67pp. ( monografia
sobre a origem dest a sala de espectáculos, documentada com a
reprodução de documentos notariais, plantas arquitectónicas, ordens
de pagamento e cartazes publicitários; citação de notícias recolhidas
na imprensa region al; referência à Companhia Rafael de Oliveira, a
pp. 39 e 47; a «Gente Sem Nome», na p.37) .
NORONHA, Eduardo de
1917 Recordações do Theatro: Peças, auctores e intérpretes, Gui marães &
Cª Editores, Lisboa (Capítulo IX – Geor ge Sand – Marquês de
Villemer – De como foi escrita a peça.)
REBELLO, Luiz Francisco
1959 Teatro: O Mundo começou às 5 e 47, O Dia Seguinte, Alguém tera de
morrer”, Lisboa, Edição de autor. 228 pp. ( primeiro volume de uma
antologia de teatro, em que o seu autor, no posfácio, expõe a raz ão
de publicação dos seus textos, e fornece indicações sobr e a
representação dos mesmos; contém fotos referentes aos espectáculos
e a maquetes cenográf icas).
1972 História do Teatro Português, Lisboa, Publicações Europa -América,
Colecção Saber. 141 pp.
1984 História do Teatro de Revista em Portugal : 1 Da Regeneração à
República, Lisboa, Publicações Dom Quixot e. 250 pp.
1985 História do Teatro de Revista em Portugal: 2 Da República até hoje,
Lisboa, Publicações Dom Quixote. 331 pp.
RODRIGUES, Henrique
1981 Falar de Teatro com Saudade , Lisboa, edição de autor (memória
descritiva do início do século XX, em que as companhias de Lisboa
faziam a sua itinerância pela província e vi sitavam o Alentej o, terra
de origem do autor. No primeiro capítulo, são referid as al gumas das
sociedades artísticas de renome da capital, para, a partir do capítulo
269
seguinte, passar a ser feito o panegírico da Companhia de Amélia
Rey Colaço – Robles Monteiro).
SANTOS, Graça dos
2003 O Espectáculo Desvirtuado: O teatro port uguês sob o rei nado de
Salazar
(1933 -1968), Lisboa, Editorial Caminho, Colecção
Uni versitária (versão portuguesa da tese de doutoramento da autora,
trata-se de uma obra incontornável na compreensão das relações
entre o Estado Novo e a Cultura teatral portuguesa; demonstr a-se que
a política de centralização do poder em Lisboa, por um lado, e uma
visão distorcida do restante país, levam a que o proj ecto ideológico
de António Ferro se encontre ab initio destinado ao fracasso).
SANTOS, Vítor Pavão dos
1979 A Companhia Rosas & Brazão, 1880 -1898, Uma exposição de Teatro
no Museu Nacional de Teatro. Lisboa, Edição da Secretaria de Est ado
da Cultura, Direcção -Geral do Patri mónio Cultural e do Museu do
Teatro, 72 pp.(catálogo ilustrado da exposição sobre a Companhia
Rosas & Brazão com t exto introdutorio de V ítor Pavão dos Santos, e
excertos de obras de autores vários - Brazão, Rosa, Chaby Pinheiro,
Schwalbach; capítulo sobre as principais peças representadas pela
Companhia durante os seus dezoito anos no Teatro D. Maria II;
profusão de reproduções de caricaruras de Bordalo Pinheiro, de fotos
de cena e de actores, de guarda -r oupa da companhia).
1985 Gente de
Cultura,
Nacional
inaugural
Santos).
Palco (as colecções do museu), Lisboa, Ministério da
Instituto Português do Patri mónio Cultural e Museu
do T eatro, 36 pp. (catálogo ilustrado da exposição
do museu, dedicado a Amélia Rey Colaço por Pavão dos
1987 A Companhia Rey -Colaço Robles Monteiro (1921 -1974), Lisboa,
Secretaria de Estado da Cultura, Instituto Português do Patri mónio
Cultural e Museu Nacional do Teatro, 144 pp. (catálogo ilustrado da
exposição sobre a Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro;
destaca -se o roteiro da Companhia, através dos seus espectácul os
desde 1921, assinalando as datas e locais de estreia e respecti va s
encenações, o rol de actores que passaram pela Companhia e de
autores representados, e respectivas datas).
1991 Eunice Muñoz: 50 anos da vida de uma actriz, Lisboa, Secretaria de
Estado da Cultura, Museu Nacional do Teatro, 144 pp. (catálogo
ilustrado da exp osição comemorati va dos ci nquenta anos de carreira
de Eunice Muñoz, no qual, entre di versos textos panegíri cos
assinados por várias personalidades políticas e culturais, se destacam
os textos do encenador João Lourenço, A Al quimia de Eunice Muñoz ,
e o do então Director do Museu do Teatro, Vítor Pavão dos Santos,
Eunice, nome de actriz ; o catálogo comport a ainda uma genealogi a e
uma cronologia teatral da actriz, inserindo os espectáculos em que
270
participou e respectivos elencos).
SAVIO TTI, Gino
1945 Filosofia do Teatro: Tendências estéticas e gosto representativo das
origens à formação do Drama Moderno, Li sboa, Editorial Inquérito
Li mitada, Cadernos “Inquérito”, Série I – Ar te X. 81 pp.
SCARLATTI, Eduardo
1945 A Religião do Teatro , Lisboa, Editorial Ática, 2ª edição. 234 pp.
SEQUEIRA, [Gustavo de] Matos
1933 Teatro de outros tempos, Elementos para a História do teatro
Português, Depósito Livraria Coelho, Lisboa. 444 pp. (crónicas
sobrea teatralidade portuguesa ao longo dos tempos
1955 História do Teatro Nacional D. Maria II , 2 volumes, publicação
comemorativa do cent enário (1846 -1946) , Li sboa, s. n.
1967 Depois do Terramot o , Subsídios para a História dos Bairros
Ocidentais de Lisboa , 4 volumes, Academia das Ciências de Lisboa;
Rei mpressão ( 1ª edição, 1934).
SENA, Jor ge de
1988 Do Teatro em Portugal, Lisboa. Edições 70 (conj unto de crónicas
sobre espectáculos de teatro)
SILVA, José Bento da
2005 Em Cena: Theatro -Cl ub (1904 – 2004). Póvoa de Lanhoso, Câmara
Municipal da Póvoa de Lanhoso. 257 pp. (pub licação comemorati va
do centenário do Theatro -Club da Póvoa de Lanhoso, amplamente
documentada com fotos, em que se traça a importância do movi mento
teatral local, e da necessidade de se construir um teatro na vila. São
referenciadas companhias itinerantes de pr ovíncia, entre elas, a de
Rafael de Oli veira e a de Humberto de Andrade).
SOUSA, José Pedro
1908 O Actor António Pedro julgado pela Arte e pelas Letras , Imprensa
Libânio da Sil va, Lisboa. 243 pp. (b iografia do actor António Pedro,
feita por seu fil ho, e prefaciada por Ramalho Orti gão; desde os
primórdios como amador, passando pela sua estreia como
profissional, o biografado é apresentado não só pelas palavras do
filho, mas, sobretudo pela citação de mat erial crítico da imprensa
portuguesa e brasilei r a. A obra está amplamente documentada com
fotografias de António Pedro, o próprio e em personagem) .
VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira de
2003a O Drama Histórico Português do Século XIX (1836 -56), Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a C iência e a
Tecnologia; Ministério da Ciência e do Ensi no Superior.
271
2003b O Teatro em Lisboa no tempo de Almeida Garrett , Lisboa, MNT,
Colecção “Páginas de Teatro”, volume I. (análise histórica sobre o
panorama teatral em Lisboa em meados de oitocentos: si tuação
política e profissional, reportórios e legislação vi gente, os
profissionais de teatro;.referências bibliográficas; interessante o
capítulo 5. Tipologia do espectáculo e o 6. Os reportórios ).
2.2.2. Sobre o Teatro em Geral
DUCHARTRE, Pierre Louis
s/d
The Italian Comedy: The Improvisation Scenarios Lives Attributes
Portraits and Masks of the Illustrious Characters of the Commedia
dell’Arte, New Yor k, Dover publications, Inc. (1ª edição, 1966). 367
pp. (edição baseada na de Geor ge G. Harrap & Co., Ltd., em 1928,
acrescentada de um suplemento compilado a partir do Recueil
Frossard, publicado por Duchartre e Van Buggenhoudt, em 1929).
FO, Dário
2004 Manual Mínimo do Ator, São Paulo, Editora Senac São Paulo, 3ª
edição. Or gani zação de Franca Rama. Tradução d e Lucas Baldovino e
Carlos David Szlak. 384 pp.
MARTIN, Isabelle
2002 Le Théâtre de la Foire. Des tréteaux aux boulevards, Oxford,
Voltaire Foundation, 385 pp. (trabalhando a partir da investi gação de
diversos fundos nacionais franceses, a autora elabora um historial
sobre o teatro de feira em França, tanto do ponto de vista de autores
e obras, como das ocndições de produção teatrais; obra ilustrada).
RUDLIN, John e CRICK, Oll y
2001 Commedia dell’Arte: A Handbook for Troupes, London and New
Yor k, Routled ge. 251 pp. (destinado a companhias de comedia
all’improviso, os autores elaboram sucintamente o historial das
companhias italianas mais i mportantes dos séculos XVI e XVII, e das
suas congéneres na act ualidade, entre os anos 70 – 90).
2.3. Memórias
ABRANCHES, Adelina
1947 Memórias de Adelina Abranches – Apresentadas por Aura
Abranches, Lisboa, Edição da Empresa Nacional de Publicidade.
BRAZÃO, Eduardo
1925 Memórias de Eduardo Brazão, que seu filho compilou e Henri que
Lopes de Mendonça prefacia, Lisboa, Empr esa da Revista de Teatro
Lda., Editora.
272
CABRAL, Pedro
1923 Relembrando, Lisboa, Livraria Popular.
CARMO, Lucinda do
1911 Fóra de Scena (Prosa e Verso), Lisboa, Cernadas & Cª, Li vr aria
Editora.
FERREIRA, Izidoro Sabino
1876 Memória do Actor Izidoro – Escritas por ele mesmo – precedidas do
retrato do autor – e um carta do Exmº Sr. F. Palha, Lisboa, Imprensa
de J. G. de Sousa Neves.
GAMBOA, José
1949 De Teatro, Lisboa, Edição do Autor.
PEDRO, António
1908 O Actor António Pedro julgado pela Arte e pelas letras, organizado
por seu filho José Pedro de Sousa, Lisboa, Imprensa Libânio da
Silva.
PINHEIRO, António
1909 Theatro Portuguez (Arte e Artistas), Li sboa, Edição do Autor,
Tipografia do Archi vo Theatral, 131 pp. (considerações críticas, no
estilo acutilante de António Pinheiro, sobre A Vida do Teatro , título
do pri meiro capítulo. Como em outras obras, Pinheiro reflecte sobre
a condição profissional do actor, sempre do ponto de vista de uma
ética associada ao conceito de Arte, mesmo quando trata de assuntos
de carácter administrativo, como a constituição de entidades
destinadas a zelar pelos interesses associativos dos profissionais de
espectáculo, ou sobr e os j azigos dos actores no cemitério dos
Prazeres. De salientar ainda, os capítulos: Vocação e Arte – Para ser
actor não basta ter vocação, é preciso ter arte ; O eterno paradoxo –
considerações sobre o estado fisiológico do comediante em cena;
Theatro Portuguez , sua decadência, empr esas, artistas, crítica e
público).
1923 Coisas da Vida...(Impressões da Vida d e Teatro), Tip. Costa
Sanches, Succ. Galhar do & Costa, Ltd, Lisboa. 387 pp. [ 743] (escrito
entre 1920 -1921, ser ve como complemento, segundo o seu autor, do
livro antecedente, Ossos do Ofício (1912).que Pinheiro que fora pai
havia pouco, pretende legar à filha um relato de episódios da sua
vida de actor. Em 24 capítulos, mais um de extras, Pinheiro descreve
em estilo fluente desde os seus pri mórdios de amador até 1900.
Escrita pitoresca, em que se releva, entre outras, a descrição de uma
743
E xi st e u ma d i scr ep â nc i a e nt re a d a taç ão d a ed i ção na cap a (1 9 2 4 ) e na fo l ha d e
ro sto (1 9 2 3 ), d o me s mo mo d o q u e o ed ito r ap are ce na fo l ha d e ro s to , e n q ua n to na
cap a ap are ce o d ep o s it ár io , J . Ro d ri g u e s & Cª, 1 8 6 , R u a Aur ea, 1 8 8 – Li sb o a.
273
soirée amadora no Teatr o Therpsychore, à Praça das Flores, na qual
Pinheiro tomou parte (cap.III -V); a estrei a no Ginásio (cap.VI);
sobre o alfaiate em D. Maria – 1887-1891 (cap.V II); a ititnerância
pelo Brasil, em 1892 -3 (cap. V II -X I) ;regresso a Lisboa, a
sobrevi vência (cap. X I I-XV I); regresso ao Br asil (cap. XVII - X IX); o
regresso ao Nacional e passagem para o D. Amélia, e a morte da
companheira (cap. X X); uma companhia i nglesa e a di gressão aos
Açores (cap. XXI); Ângela Pinto a A Lagartixa (cap.XXII); O San vito (cap. XX III); Cena final (cap. XX IV); Extra: O Pátio das Arcas).
1929 Contos Largos... (I mpressões da Vida de Teatro) , Tip. Costa
Sanches, Succ. Galhardo & Costa, Ltd, Li sboa. Prefácio de Rocha
Martins da Academia das Ciências. 500 pp. (c ontinuação de Coisas
da Vida, os relatos medeiam entre 1900 e 1924, mantendo o est ilo
característico de Pinheiro: arguto e irónico; de particular interesse, o
relato desmitificador da personalidade do empresário Visconde S.
Luiz de Braga. Nesta obra, Pinheiro conti nua a abordar a face ta
profissional do actor: disserta sobre a const ituição do Montepio dos
actores e o que viria a ser o Sindicato da classe. Pinheiro, como
muitas outras vozes, aponta o dedo a uma classe desunida e
competitiva, incapaz de se organi zar de f or ma eficaz. Relat o cuja
essência manifesta uma actualidade i mpressi onante).
REY-COLAÇO, Amél ia
1949 Vinte Anos de Teatro Nacional D. Maria II – 1929/1949, Lisboa,
Empresa Rey Colaço – Robles Monteiro.
ROSA, Augusto
1915 Recordações de Scena e de Fora de Scena, Lisboa, Li vraria Ferreira.
1917 Memórias e estudos. Lisboa: Li vraria Ferreira.
SANTOS, Carlos
[c.1927] Poeira de Palco: Opiniões, anecdotas e comentário, Lisboa,
Livraria Popular Francisco Franco, 192 pp.
SANTOS, Martins dos
1921 Repregos: Contos humorísticos tea traes, Galhardo & Costa, Ltd,
Lisboa, 1ª série, 2ª edição, 120 pp. (a vi da t eatral lisboeta pelo olhar
bem humorado do actor Martins dos Santos, que relata apontamentos
interessantes sobre os teatros de bairro, os palcos particulares e as
sociedades recrea tivas; igual mente interessantes, o capítulo Mesa da
Anatomia, que relata o quotidiano da vi da laboral no teatro; o
capítulo Notas Biográficas , é composto por textos, de sua autoria,
publicados no j ornal A Farça, em 1919).
2.4. Artigos em periódicos
A. (1)
274
1948
“De Teatro: O Gai ato de Lisboa ”, Di ário Insular, Angra do
Heroísmo, 25.05.1948: 4 (crítica ao espectáculo do Teatro
Angrense).
A. (2)
1970 “Crítica de teatro: O Tio Rico «prognóstico reservado»”, Diário do
Ribatejo, Santarém, 24.10.1970: 4 (crítica ao e spectáculo de estreia).
A. A. (aliás Ar mando Ávila)
1948 a “Coliseu Avenida: Companhia Rafael de Oliveira: Li geir as
impressões críticas sobre as peças Morgadinha de Valflôr, Paralítico
e D. Inês de Castro e D. Pedro, o Cruel ”, Açoreano Orient al,
20.03.1948: 2 (crítica).
1948 b “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oliveira: Li geiras
impressões críticas sobre as peças O Tio Rico, de Ramada Curto, e
Jesus Nazareno , de Raúl d’Além”, Açoreano Orienta, 27.03.1948: 4,
3 (crítica aos espectáculos).
1948 c “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oli veira: Ligeiras i mpressões
críticas sobre as peças Rosa s de todo o ano , de j úlio Dantas; Moços
e Velhos, de Rangel de Li ma; As Pupilas do Sr. Reitor , de j úlio
Diniz; Amor de Perdição, de Camilo Castel o Branco; Duas Causas ,
de Alberto Morais e Mário Duarte e Infanticida, de Acácio Antunes”,
Açoreano Oriental, 03.04.1948: 4, 3 (crítica aos espectáculos).
1948 d “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oliveira: Li geiras
impressões críticas sobre as peças A severa, de Júlio Dant as;
Recompensa, de Ramada Curto; Os Fidalgos ad Casa Mourisca ¸ de
Júlio Diniz”, Açoreano Oriental, 17.04.1948: 12 (crítica aos
espectáculos; referência pouco abonatória *à representação de A
Severa, por erro de distribuição de personagens).
A. C.
1957 “Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira no seu Teatro Desmontável
tem proporcionado ao público aveirense noites inolvidáveis de pura
arte. Os espectáculos de hoj e e amanhã com a peça Jesus Nazareno
(Vida de Cristo ) posta em cena com toda a dignidade”, Correio do
Vouga, Aveiro, 14.09.1957: 3 (arti go el ogioso ao trabalho da
Companhia, citando o elenco - f oto do mesmo - e o reportório;
noticia o espectáculo mencionado supra).
A. F. (1)
1961 a “Teatro Desmontável: Companhia Raf ael de Oliveira”,
O
Setubalense, 29.04.1961: 8 (notícia elogiosa ao desempenho e
har monia da Companhia; referência ao guarda -roupa e cenários;
releva -se a Muralha, o Marquês de Villemer e Deus lhe pague ).
275
1961 b “Resenha de Teatro: A Cadeira da verdade : O Grande industrial ”, O
Setubalense, 10.05.1961: 3 (apreciação crítica).
A. F. (2)
1962 a “Pri meiras Representações: Teatro Avenida – Recompensa”, Jornal
do Comércio, Lisboa, 17.02.1962: 11 (crítica ao espectáculo).
1962 b “Pri meiras Represent ações: Avenida – Companhia Rafael de
Oliveira”, Jornal do Comércio, Lisboa, 03.03.1962: 11 (apreciação
crítica elogiosa à pr obidade da Companhia).
AITE
1945 “Teatro em Bej a: O terceiro espectáculo da Companhia do teatro
Desmontável”, Diário do Alentejo , Bej a, 01.11.1945: 1 -4 (crítica a
O Paralítico).
A.J.
1958
“Companhia Rafael de Oli veira: Festa de homenagem e despedida”,
Litoral, Aveiro, 08.02.1958: 7 (notícia a quatro colunas sobr e o
espectáculo final da Companhia, em que também inter vier am
amadores, e posterior j antar de homenagem no salão d e festas dos
Bombeiros de Aveiro).
A.L.
1945 a “Teatro Desmontável: A Severa”, 28.06.1945: 4 (crítica elogiosa ao
espectáculo).
1945 b “Teatro: A Calúnia”, Democracia do Sul, 02.08.1945: 4 (crítica ao
espectáculo; referência ao fi m de festa com o Miúdo d o Chão das
Covas interpretando fados; referência aos intervalos demasi ado
longos para mutação de cenário e à actuação da orquestra, que
introduziu números novos no seu “sonolento” reportório).
1945 c “Teatro: O Tio Rico”, Democracia do Sul, 16.08.1945: 1 -2 (crítica
elogiosa ao espectácul o).
1945 d “Teatro: O Ladrão”, Democracia do Sul, 06.09.1945: 4 (crítica ao
espectáculo).
1945 e “Teatro Desmontável: Transviados ”, Democracia do Sul, 13.09.1945:
4 (crítica ao espectáculo).
ALFERES, Valentim
1950 “A Da ma das Camélias no Teatro Desmontável da Companhia Raf ael
de Oli veira”, Democracia do Sul, Évora, 15.07.1950: 4 (referência
crítica à actuação da Companhia durante a Feira de S. João, e à
mudança de estilo, após esta).
AMARAL, Fernando R.
276
1956 “Está lá f ora um inspector ”, O Mensageiro, Leiria, 14.04.1956: 2
(crítica ao espectáculo em Leiria).
ANON.
1956 “Companhia Rafael de Oliveira”, Região de Leira , 21.05.1956: 1
(crónica circunstanciada da homenagem pr estada à Companhia em
Leiria e da participação do grupo dramát ico amador diri gido por
Miguel Franco; citação do discurso).
ANTUNES , Pires
1955 “Impressões de Teat ro: Frei Luís de Sousa ”, Jornal de Elvas,
27.10.1955: 1 (análise elogiosa do espectáculo; referência
dramatúr gica e de encenação).
A. R.
1960 “O espectáculo de despedida da Companhia Rafael de Olivei ra”,
Notícias de Évora , 03.03.1960: 2 (reflexão sobre a estadia da
Companhia em Évora).
ARGOS
1956 a “A Cadeira da Verdade no Desmontável ” , Diário de Coi mbra ,
18.11.1956: 9 (apreci ações críticas à Companhia Rafael de Oli veira
na sua actuação em Coimbra ).
1956 b “Dois espectáculos do teatro Desmontável” , Diário de Coimbra,
17.12.1956: 5 (crítica elogiosa à actuação equilibrada da companhia
e assaz contuindente em relação à presunção do público pseud o
intelectual da cidade universitária).
ÁVILA, F.
1962 a “Impressões e Críticas: O Marquês de Villemer ”, Diário Popul ar ,
Lisboa, 24.02.1962: 2 (o articulista elogia a companhia por “não ter
enver gado «roupagens» próprias para se luzir em Lisboa. Mostra -se
tal qual é – e muito bem”).
1962 b “Impressões e Críticas: Deus lhe pague no Avenida”, Diário
Popular, Lisboa, 27.02.1962: 2 (crítica ao espectáculo)
1962 c “Impressões e Notícias: Um Fantasma Chamado Isabel no Aveni da”,
Diário Popular, Lisboa, 04.03.19 62: 2 (elogio aos dotes de
comicidade da companhia, em especial Fernando Frias).
ÁVILA, Humberto d’
1962 “Arte e Espectáculos: A Companhia Rafael de Oli veira em Lisboa”,
Jornal Português de Economia & Finanças, Lisboa, 15.05.1962: 45,
46 (sobre a Companhi a em uma das noi tes de apresentação de
Recompensa).
AZENHA, Mário
277
1958 “Marginália”, A Voz da Figueira , Fi gueira da Foz, 28.08.1958: 3
(apreciação elogiosa de Lizete Frias).
BABO, Alexandre
1970 “A Rosa do Adro”, Jornal de Notícias, Porto, 24.08.1970: 20
(crónica a propósito da encomenda a Romeu Correia da nova
adaptação do romance de Manuel Maria Rodrigues para a Companhia
Rafael de Oli veira).
BARBOSA, José Luís Nazareth
1959 “A Companhia Rafael de Oliveira: mais de 20 anos de teatro ao
domicílio pelas terras de Portugal” , O Século de Domingo, Lisboa,
03.05.1959: 1 (coord. de Olavo d’Eça Leal).
BETENCOURT, João
1924 “Pelos Teatros: Aplica-lhe o Selo!.. .: Revi sta em 2 actos levada à
cena no Salão Central ”, A Regateira, Cartaxo, 30.11.1924: 2 (crítica
negati va à qualidade da revista, apesar de ter tido sucessivas
reposições e ter sido do agrado do público).
C A L A D O , Roberto
1954 “Teatro: Companhia Rafael de Oli veira”, Voz do Sul , 06.02.1954: 4
(apreciação elogiosa da companhia, dentro das suas característi cas:
j usteza de encenação e de interpretação – “vi gilância de carácter
ético” -, e apreciação i ndividual da característica dos componentes) .
CALADO, Valadas
1956 “A questão do Teatro”, Região de Leiria, 12.01.1956: 1 (sucinta
análise do valor da arte para o sociedade, da função teatral em
particular, resumindo propostas de valores a aplicar, para chegar à
conclusão de que a probidade artística da Companhia de Rafael de
Oliveira a coloca como “intérprete do melhor teatro que se tem
conseguido”, na di vul gaçã o da arte pelo país).
CALVIRA
1973 “Silva Porto: Obteve grande êxito a Companhia de Rafael de
Oliveira”, O Lobito, 21.09.1973: 5 (breve referência elogiosa à
representação de Noite de Reis, Amor de Perdição e O Pato, sem
mencionar datas).
CÂMARA, D. João da
1902 “A Farândola”, Revi sta do Conservatóri o Real de Lisboa , nº1,
Lisboa, pp.5 -6.
C. A. Q. T.
1969 “A apresentação em palco do Amor de Perdição ”, Jornal da Lixa,
Lixa, 02.05.1969: 3 (referência elogiosa à apresentação da
Companhia Rafael de Oliveira no Cine -Teatro Fonseca Moreira).
278
CARLOS, Fernando
1957 “A últi ma noite da Companhia Rafael de Oliveira em terras de
Viriato”, Política Nova, Viseu, 03.08.1957: 7.
CASTELA, Al ves
1971 “Motivação XX: Um amor que vem do frio: TEATRO!”, Diário do
Ribatejo, Santarém, 23.01.1971: 6 (crónica de quem assistiu ao
ensaio de Rosa do Adro, na versão de Romeu Correia).
CASTELA, Vitor
1952 a “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O
Algarve, 20.04.1952: 3 (apreciação crítica de O Paralítico;
referência à reposição de As Duas Causas e a estreia de A Ver
Navios).
1952 b “Companhia Rafael de Oli veira: Depois das pancadas de Molière”,
O Algarve, 27.04.1952: 4 (apreciação crítica de Recompensa).
1952 c “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O
Algarve, 11.05.1952: 4 (apreciação crítica ao espectáculo A
Morgadinha de Valflôr ).
1952 d “Companhia Rafael de Oli veira: Depois das pancadas de Molière”,
O Algarve, 18.05.1952: 4 (referência crítica aos espectáculos A
Mouraria e Milagres d e Fátima)
1952 e “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O
Algarve, 25.05.1952: 2 (referência crítica elogiosa ao espectácul o A
Vida de um Rapaz Pobre ).
1952 f “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière...”,
O Algarve, Faro, 02.11.1952: 4 (notícia da estreia da Companhia, no
regresso a Faro, com o espectáculo A Raça).
1961 “A Fita da Cidade: Teatro”, O Algarve, Faro, 26.03.1961: 1 (soneto
dedicado a Rafael de Oliveira).
CASTRO, A. Ribeiro de
1958 “A Voz dos leitores . Desabafos!...”, Notícias de Guimarães ,
01.06.1958: 1 (crítica à má recepção que o Grémio do Comércio de
Gui marães fez ao recital de poesia de Luís Pi nhão).
CASTRO, Martinho de
1973 “Dia a dia: do teatro e do seu «ní vel »”, Diário de Luanda,
23.05.973:13 (breve artigo de opinião sobre o panorama teatral
luandino).
CERQUEIRA , Eduardo
279
1958 “Assi m se ser ve o TEATRO”, Litoral, Avei ro, 15.02.1958:1 -3 (ar tigo
de opinião; considerações sobre a função do teatro e longo elogio da
Companhia, que ser á citado, em exc er tos, pelo Notícias de
Guimarães , 23.02.1958, quando a Companhi a aí se deslocar).
C. I. P.
1955 “Linhas de Elvas em Campo Maior: Companhia Rafael de Oliveira”,
Linhas de Elvas , 03.12.1955: 2 (elogio da Companhia no últi mo
espectáculo realizado em Campo M aior; r eferência à qualidade de
Luís Pinhão enquanto declamador).
C. M.
1955 “De Teatro: O Sapo e a Doninha ”, A Rabeca, Portalegre, 18.05.1955:
6 (crítica).
COROA, Emílio de Campos ( Dr.)
1952 “A Companhia Brasileira no Cine -teatro Farense”, O Algarve,
13.04.1952: 2 (a propósito da crítica ao s espectáculos apresentados
em Faro, refere o articuista a ptresença de Lizete Frias na
assistência, e a subida ao palco, em final de espectáculo, para
entregar um ramo de flores à actriz Dulcina Morais).
1960 a “O Teatro Desmontável de novo em Faro”, Correio do Sul, Faro,
15.12.1960: 6 -5 (crónica sobre a Companhia Rafael de Oliveira, com
especial destaque para Eduardo de Matos, de quem se refere o
problema de saúde ocular que o afecta; referência a espectáculos da
companhia).
1960 b “O Teatro Desmontável de novo em Faro”, Correio do Sul , Faro,
15.02.1961: 6 -5 (crónica biográfica da Companhia; referência à
“marca” de Eduardo de Matos como f or mador do estilo da
Companhia; apreciações críticas aos espectáculos, Alguém Terá de
Morrer e Daqui Fala o Morto ).
1960 c “Apelo”, Correio do Sul , Faro, 02.03.1961: 1 -6 (notícia com foto de
Rafael de Oliveira; referência à concorrência da televisão; anúncio
da ideia de uma festa de Homenagem à Companhia).
COSTA, Ino
1969 “Ecos de Viseu: Outra vez o cinema”, Folha de Tondela, 04.01.1969:
6 (crónica sobre a pobreza cultural da ci dade, devido à falta de
espaços apropriados; r eferência ao teatro de amadores e a Rafael de
Oliveira).
CORREIA, Gomes
1962 a “A Companhia Rafael de Oliveir a”, O Templ ário, Tomar , 16.12.1962:
2 (notícia de apresentação da Companhia; referência à estadia em
Lisboa, com citação de críticas da capital; historial, elenco e
reportório, relembra -se a estadia de 1937).
280
1962 b “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário, Tomar,
30.12.1962: 5 (crítica de Daqui fala o morto, Fantasma chamado
Isabel e Prémio Nobel ).
1963 a “A Companhia Rafael de Oli veira”, O Templ ário, Tomar, 06.01.1963
(crítica detalhada de Amor de perdição , a 30 de Dezembro anterior, e
a Prémio Nobel, a 4; r eferência sem mais val or a Casa de Doidos ).
1963 b “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário ,
20.01.1963: 3 (crítica de Deus lhe pague, Inês de Castro ).
Tomar,
1963 c “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 27.01.1963:
4 (crítica de O Grande Industrial, O Sapo e a Doninha ).
1963 d “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário ,
10.02.1963: 6 (crítica de Frei Luís de Sousa, Transviados ).
Tomar,
1963 e “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 17.02.1963:
4 (crítica de O Marquês de Villemer; referência aos espectácul os
seguintes).
1963 f “Teatro”, O Templário, Tomar, 24.02.1963: 4 (crítica de O Conde de
Monte Cristo, Alguém terá de morrer ) .
1963 g “Teatro”, O Templário , Tomar, 10.03.1963: 2 (apreciação crítica de
O Tio Rico, em récita de benefício do Hospital da Misericórdia de
Tomar).
1963 h “Tê...vadas!”, O Templário, Tomar, 24.03.1963: 3 (apreciação
crítica de Daqui fala o Morto em teatro t eleviso, com comparação
benéfica para a interpr etação da Companhia Rafael de Oli veira).
1963 i “II Dia Mundial do teatro em Tomar”, O Templário , Tomar,
21.03.1963: 1 -4 (notí cia da comemoração no teatro Desmontável,
com a representação de A Cadeira da Verdade ).
1963 j “Outros espectáculos”, O Templário, Tomar,
(apreciação crítica de Raça, A Dama das Camélias ).
21.03.1963:
4
1963 l “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 14.04.1963:
2 (crítica de Jesus Nazareno).
1965 “Rafael de Oliveira”, O Templário, Tomar, 24.01.1965: 2 (elogio
póstumo).
C. P.
1967 “Cidade: Teatro Desmontável: O Tio Ri co”, Jornal de Évora,
26.11.1967: 7 (apreciação crítica ao espectáculo).
281
CRISTIANO , Mi guel
1961 “Últi mas i mpressões de uma Companhia Recompensa”, O Algarve,
Faro, 26.03.1961: 1 -4 (apreciação crítica do espectáculo).
CRÍTICO (O)
1957 “Espectáculos: Época de Teatro”, Política Nova, Viseu, 27.07.1957:
7 (resenha crítica da estadia da Companhia, com ressal va do
reportório, em conj unto, e do elenco individual mente. Pedido de
desculpas pela não i nclusão de uma crónica sobra a companhia ,
assinada por Fernando Carlos).
CRUZ, Duarte Ivo
1962 “Para uma descentr alização do Teatro Português”, Renovação,
Lourenço Marques, Moçambique, 11.04.1963: 4 -9 (crónica sobre a
crise do Teatro em Portugal e a centralização nos centros urbanos de
Lisboa e Port o).
CRUZ, Gastão
1975 “Panorama: O povo tem direito à qualidade artística”, Vida Mundial,
06.03.1975: 38 - 39 (cr ítica ao espectáculo).
CRUZ, Marques da
1975 “Lourosa dez anos depois, a propósito de A traição do Padre
Martinho”, O Comércio do Porto , 12.01.1975: 7 (artigo, com fotos
de António Fernandes, sobre a situação que deu origem ao texto de
Santareno; dez anos volvidos, recolhe -se a opinião do Padre Damião
Olindo Bastos, ex -coadj utor de Lourosa, o ficcionado Padre
Martinho, que assistiu à representaç ão da peça no Porto).
CUNHA, Vaz da
1957 “Vida Regional: Viseu: Teatro para o povo”, Diário de Coimbra,
20.07.1957: 2 (notícia sobre a actuação da Companhia em Viseu).
1963 “Vida Regional: Viseu: O Teatro Desmontável em Viseu”, Diário de
Coimbra, 20.08.1963: 2 (notícia curta sobre a possibilidade de
temporada da Companhia em Viseu, caso a Câmara disponibilize
local adequado; referência como sendo “a única organi zação teatral a
quebrar a monotonia tr iste nas terras sem teatro”).
1965 “Vida Regional: Viseu: A Morte de Rafael de Oli veira”, Diário de
Coimbra, Coi mbra, 13.01.1965: 2 (elogio póstumo de Rafael de
Oliveira e lembra as estadas em Viseu).
1968 a “Vida e Aspectos Regionais: Viseu: Viseu Vai ter Teatro
Declamado!”, Diário de Coimbra, 24.10.1968: 2 ( o articulista
congratula -se com a estadia da Companhia em Viseu, e faz um breve
historial do passado teatral da cidade, nos anos 1920s).
282
1968 b “Notícias de Viseu: Vamos ter Teatro”, Primeiro de Janeiro, Por to,
25.10.1968: 2 (ainda que não assinado, o tex to é o mesmo de Vaz da
Cunha na edição do Diário de Coimbra , de 24 do corrente: o
articulista congratula -se com a estadia da Companhia em Viseu, e faz
um breve historial do passado teatral da cidade, nos anos 1920s).
CUSTÓDIO, Florindo
1958 a “Quatro repr esentações da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 06.11.1958: 1, 4 (crítica aos espectáculos Israel,
Paralítico, Amor de Perdição e Está lá fora um inspector , no
Desmontável, em Sant arém).
1958 b “Teatro: Companhia Rafael de Oli ve ira”, Jornal do Ribatejo ,
Santarém, 13.11.1958: 6 (crítica aos espectáculos Marquês de
Villemer, Deus lhe pague, Pupilas do Senhor Reitor e Duas Causas).
1958 c “Teatro: Temporada “Rafael de Oliveira ”, Jornal do Ribatejo ,
Santarém, 20.11.1958: 1, 6 (crít ica aos espectáculos Frei Luís de
Sousa, Raça e Inês de Castro).
1958 d “As peças desta semana da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal
do Ribatejo, Santarém, 27.11.1958: 6 (crítica ao espectáculo Alguém
terá de morrer ) .
1959 a “Teatro: Espectáculos da C ompanhia Rafael de Oli veira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 01.01.1959: 2 (crítica a Prata da Casa ).
1959 b “Teatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 08.01.1959: 5 (crítica a
Vida de um Rapaz Pobre, Santo António e O Sapo e a Doninha ).
1959 c “Crítica de T eatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 15.01.1959: 5
(breve crónica ao espectáculo Transviados).
1959 d “Teatro: Mais algumas representações da Companhia Rafael de
Oliveira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 05.02.1959: 6, 4 (crítica).
1959 e “Teatro: Uma e streia da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 12.02.1959: 5 (críticas aos espectáculos de
Carnaval: O Rapto da Prima, Infanticida e Daqui Fala o Morto!... ) .
1959 f “Teatro: Últimos espectáculos da temporada da Companhia Rafael de
Oliveira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 26.02.1959: 6 (not as
críticas de A Dama das Camélias e de Daqui Fala o Morto!... ).
DUARTE, Rolo
1962 “Comentários: Cenas e Fitas de Rolo Duarte”, Rádio & Televisão ,
Lisboa, 24.02.1962: 4 (elogio de Rafael de Oli vei ra feito no
programa “Meia -noite”, transmitido nos emi ssores do RCP).
283
DUBINI, Carlos
1926 “Gente de Teatro: Rafael de Oli veira”, Jornal dos Teatros , Lisboa,
25.04.1926: 5 -6 (primeira biografia conhecida de Rafael de
Oliveira).
1927 “Cenário de morte”, Jornal dos Teatros , Lisboa, 05.06.1927: 4
(biografia póstuma de Ernesto de Freitas).
E.
1968 a “De Teatro: Amor de perdição no Teatro Desmontável”, Jornal de
Viseu, 18.12.1968: 2 ( crítica ao espectáculo).
1968 b “De Teatro: As Duas Órfãs no Teatro Desmontável”, Jornal de
Viseu, 21.12.1968: 8 -6 (crítica ao espectáculo).
1968 c “De Teatro: A Rosa do Adro no Desmont ável”, Jornal de Viseu,
25.12.1968: 10 -8 (crítica ao espectáculo).
1968 d “De Teatro: O Sapatinho de Vidro no desmontável”, Jornal de
Viseu, 28.12.1968:8 -3 (análise detalhada do enredo, e referência
crítica às interpretações).
1968 e “Um fantasma chamado Isabel ”, Jornal de Viseu, 28.12.1968:3
(apreciação crítica do espectáculo).
ENEPÊ
1948a “Companhia Rafael de Oli veira: Um conj unto artístico homogéneo e
honesto”, Eco do Funchal , Madeira, 04.01.1948: 1 e 4 (apreciação
crítica da Companhia, referenciando indi vidualmente os actores).
1948b “A Companhia Rafael de Oliveira continua em pleno êxito”, Eco do
Funchal, Madeira, 15.01.1948: 4 (reflexão crítica ao p reconceito em
relação à Companhia).
1948c “No Teatro Municipal de Baltazar Dias A Morgadinha de Valflôr pela
Companhia Rafael de Oli veira”, Eco do Funchal , Madeira,
29.02.1948: 3 (crítica).
ESPECTADOR ( UM) (1)
1950 a “Impressões sobre a representação da peça A Fera”, Notícias de
Évora, 18.07.1950:2 ( crítica).
1950 b “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oli veira: Impressões
sobre a peça A Dama das Camélias ”, Notícias de Évora ,
18.07.1950:2 (crítica).
1950 c “Impressões sobre a apresentação da revista
Notícias de Évora , 22.07.1950: 2 (crítica).
284
Prata da Casa ”,
1950 d “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: Impressões de
Teatro”, Notícias de Évora , 04.08.1950:1 (crítica a Cadeira da
Verdade).
1950 e “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: A Calúnia”,
Notícias de Évora , 10.08.1950: 2 (crítica).
1950 f Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: A Vida de Um
Rapaz Pobre ”, Notícias de Évora , 23.08.1950: 3 (crítica).
1950 g “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oli veira: Im pressões
sobre As Pupilas do Senhor Reitor ”, Notícias de Évora , 26.08.1950:
3 (crítica).
1950 h “Teatro Desmontável : Companhia Rafael de Oli veira:
Nazareno”, Notícias de Évora , 03.09.1950: 2 (crítica).
Jesus
1950 i “Teatro Desmontável: Companhia Rafael d e Oliveira: O Tio Rico”,
Notícias de Évora , 13.09.1950: 2 (crítica).
1950 j “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: As Duas
Causas”, Notícias de Évora , 20.09.1950: 3 (crítica).
1950 l “Teatro Desmontável : Companhia Rafael de Oli veira:
António”, Notícias de Évora , 23.09.1950: 2 (crítica).
Santo
1950 m “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: O Paralítico”,
Notícias de Évora , 29.09.1950: 2 (crítica).
ESPECTADOR ( UM) (2)
1955 “Tribuna do Leitor: Di ga de sua j ustiça: Carta pública a Ra fael de
Oliveira”, Linhas de Elvas, 16.07.1955: 4 -2 (elogio público da
Companhia, relevando nomes e funções dos diferentes elementos, e
da sua actuação artísti ca e social).
ESPECTADOR (O) DA FILA H – nº 5
1953 “Teatro: Companhia Rafael de Oliveir a”, Jornal de Lagos,
30.10.1953:1 -4 (notí cia elogiosa à actuação da Companhia; a
irregularidade do j ornal não per mite maior relevo, segundo refere o
articulista; entusiasmo do público que rar as vezes aprecia teat ro;
referência à vertente social da actuação da Compa nhia; ter mina com
duas notas: estreia de Eduardo Matos, em Causa Célebre , aos 6 anos,
na Companhia de Constantino de Matos, no Teatro Gil Vicente;
Fernando Frias, em Inês de Castro ¸ no Cine -Teatro Ideal, de Lagos,
aos 2 anos e meio) .
F.
285
1963 “O últi mo esp ectáculo”, O Templário, Tomar, 21.04.1963: 1 -2
(crónica elogiosa da Companhia, em derradeira récita da temporada,
com Alguém terá de morrer ).
F. A.
1948 “A Companhia Rafael de Oli veira: Os seus espectáculos no amplo
Coliseu Avenida estão obtendo o mais cr escente êxito”, Açoreano
Oriental, 13.03.1948: 4 (extenso elogio a três colunas sobre a
actuação da Companhia na pri meira semana de estadia no Coliseu
Avenida de Ponta Del gada) .
F. A. P.
1963 “Teatro Português: A comédia A Barraca (que está longe de ser u ma
«barraca») estreou -se no Monumental”, (recorte não identificado
pertencente ao acervo de Ál varo de Oli vei ra), Lisboa, 01.04.1963
(referência aos teatros desmontáveis “que apesar de tudo são ainda
afinal os que conseguem na província admiradores da Arte de
Talma”).
F. C.
1961 “Cartas ao Director: A Companhia do Teatro Desmontável de Rafael
de Oliveira em Sesi mbra”, O Sesimbrense, 30.07.1961: 2 (carta
aberta de um leitor elogiando o trabalho da Companhia, criticando a
falta de apoio na di vulgação do seu t rabalho e apelando à adesão do
público, enchendo o Desmontável).
F. C. C.
1956 “Do Concelho: Buarcos: Teatro pela Companhia Rafael de Oli veira”,
A Voz da Figueira , Figueira da Foz, 23.08.1956: 3 (notícia de
apresentação da companhia em Buarcos, no Teatro das Caras
Direitas, com Deus lhe pague , a 17, e Prémi o Nobel , a 24).
F. D.
1949 ”Crítica teatral”, O Riomaiorense , 10.12.1949: 3 (apreciação crítica
sobre o trabalho e as qualidades da Companhia).
FERNANDES , Vasco da Gama
1956 “Teatro – Elemento de Cultura”, República, (2ª série), 27.03.1956: 1 2 (artigo de opinião sobre o valor da Companhia na divulgação da
Arte j unto das populações; nota crítica sobre o Teatro que então se
fazia no resto do País).
F. F.
1962 “Espectáculos. Avenida – Recompensa”, Diário de Notícias, Lisboa,
15.02.1962: 5 (historial da companhia - e breve crítica ao
espectáculo - a partir da apresentação de Luís de Oliveira Gui marães,
na estreia da Recompensa).
FIALHO, Alberto
286
1946 a “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: A Fera”, O Setubalense,
24.04.1946: 4 (crítica).
1946 b “Teatros: Companhia Rafael de
Setubalense, 27.04.1946: 2 (crítica).
Oli veir a:
O
Paralítico”,
O
1946 c “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Duas Causas e Mourari a”,
O Setubalense , 01.05.1946: 2 (crítica).
1946 d “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Tomada da Bastilha ”, O
Setubalense, 08.05.1946: 2 (crítica).
1946 e “Teatros: Companhia Rafael de
Setubalense, 08.05.1946: 3 (crítica).
Oli vei ra:
O
Tio
Rico”,
O
1946 f “Teatros: Companhia Rafael de Oli veir a: A Morgadinha de Valflôr ”,
O Setubalense , 11.05.1946: 2 (crítica).
1946 g “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: O José do Telhado ”, O
Setubalense, 15.05.1946: 2 (crítica).
1946 h “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Viúva Alegre em
Cascais”, O Setubalense, 22.05.1946: 2 (crítica).
1946 i “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Os Milhões do Criminoso ”,
O Setubalense , 29.05.1946: 4 (crítica).
1946 j “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: O Conde de Monte Cristo ”,
O Setubalense , 05.06.1946: 3 ( crítica).
1946 l “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: Moços e Velhos ”, O
Setubalense, 08.06.1946: 4 (crítica).
1946 m “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Vida de Um Rapaz
Pobre”, O Setubalense , 15.06.1946: 3 (crítica).
1946 n “Teatros: Companhi a Rafael de
Setubalense, 19.06.1946: 3 (crítica).
Oli veira:
Transviados ,
O
1946 o “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Os Dois Garotos de
Paris”, O Setubalense , 22.06.1946: 4 (crítica).
FONSECA, Roma da
1942 “Eduardo de Matos: Ami go e Artista”,
31.01.1942: 3 (retrato do actor).
A Rabeca, Portalegre,
F. R.
1968 a “De Teatro: Prémio Nobel ”, Jornal de Vi seu, 13.11.1968: 6 e 2
(crítica ao espectáculo).
287
1968 b
“De Teatro: Israel no Teatro Desmontável”,
Viseu,20.11.1968: 6 e 5 (crítica ao espectácu lo).
Jornal
de
1969 a “De Teatro: Casa de Doidos no Desmont ável”, Jornal de Viseu,
04.01.1969: 8 (crítica ao espectáculo).
1969 b “Recordando factos vi vidos este ano”, Jornal de Viseu, 31.12.1969:
1, 16, 3 (resenha de efemérides ocorridas em Viseu, com referência
ao espectáculo O Sapatinho de Vidro , patrocinado pela Câmara
Municipal da cidade em favor das crianças pobres das escolas e
instituições de assistência social).
GAMA, Eurico (aliás E.G., Director do Jornal de Elvas )
1955 a “Perfis do Desmontável: 1 – Rafael de Oliveira”, Jornal de Elvas,
25.08.1955: 2 (perfil biográfico).
1955 b “Perfis do Desmontável: 2 – Eduardo de Matos”, Jornal de Elvas,
01.09.1955: 1 (perfil biográfico).
1955 c “Perfis do Desmontável: 3 – Lucinda Trindade”, Jornal de Elvas,
08.09.1955: 4 (perfil biográfico).
1955 d “Perfis do Desmontável: 4 – António Vilela”, Jornal de Elvas,
06.10.1955: 1 (perfil biográfico).
1955 e “Perfis do Desmontável: 5 – Li zete Fri as”, Jornal de Elvas,
13.10.1955: 1 (perfil biográfico).
1955 f “Perfis do Desmontável: 6 – Gisela de Oli veira”, Jornal de Elvas ,
20.10.1955: 1 (perfil biográfico).
1955 g “Perfis do Desmontável: 7 – Fernando Frias”, Jornal de Elvas,
27.10.1955: 4 (perfil biográfico, em que se fazem comparações com
outros nomes de nomeada do teat ro português).
1955 h “Perfis do Desmontável: 8 – Fernando de Oliveira”, Jornal de
Elvas, 04.11.1955:1 (perfil biográfico).
1955 i “Perfis do Desmont ável: 9 –
11.11.1955: 4 (perfil biográfico).
Geni
Fr ias”,
Jornal
de
Elvas ,
1955 j “Notas de Teatro”, Jornal de Elvas, 17.11.1955: 1, 4 (análise do
trabalho em prol do t eatro português desenvol vido pela Companhia,
em extenso artigo de opinião; fotos de Li zete e Carlos Frias).
1955 l “Pefis do Desmontável: 10 – Ema de Oliveira”, Jornal de Elvas,
24.11.1955: 1 (perfil biográfico).
288
1955 m “Perfis do Desmontável: 11 – Idalina de Al meida”, Jornal de Elvas,
01.12.1955: 1 (perfil biográfico).
1956 “Conte -nos uma anedota: Minha senhora, fuj a que eles vão matá -la!”,
Jornal de Elvas, 17.08.1956: 6 (relato de duas peripécias durante as
actuações da Companhia Rafael de Oliveira).
GARDO
1963 “Teatro”, Região de Leiria, 18.05.1963:
elogiosa da Companhi a e da sua actuação).
4
(apreciação
crítica
G. C.
1969 “O Orfeão de Viseu vai actuar no Desmontável”, Comércio do Por to,
07.01.1969: 2 (notícia da actuação do órfeão no Desmontável a 14 de
Janeiro, com a peça O Oiro, de Alfredo Cortês, e do grupo coral;
texto igual ao da notícia do Diário de Coimbra , na mesma data).
GOMES, Fernando (aliás F. G.)
1969 a “Teatro em Braga” , Diário do Minho, 03.05.1969: 2 (crónica
lastimosa sobre a ausência de público ao Desmpntável, por
preconceito em relação à sala).
1969 b “Pela Cidade: Companhia de Teatro Rafael de Oli veira”, Diário do
Minho, Braga, 08.05.1969: 2 (referência elogiosa ao teatro
Desmontável, em noit e de representação de Um Fantasma Chamado
Isabel).
1969 c “Teatro Desmontável”, Diário do minho, 13.05.1969: 4 (referência ao
espectáculo O Grande industrial e Uma bomba Chamada Etelvina ).
1969 d “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 15.05.1969: 2
(notícia sobre o espect áculo Uma Bomba Chamada Etelvina ).
1969 e “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 18.05.1969: 2 (br eve
apreciação crítica de O Tio Rico; anúncio dos espectáculos do dia, O
Sapatinho de Vidro e Aqui há Fantasmas!... ).
1969 f “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 22.05.1969: 2 (br eve
apreciação de O Sapatinho de Vidro e Aqui há Fantasmas; anúncio
de A Muralha).
1969 g “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 24.05.1969: 2
(breve apreci ação crítica de A Muralha; anúncio de Casa de Doidos ).
1969 h “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 25.05.1969: 5
(breve notícia sobre Casa de Doidos, com fr aca assistência; anúncio
de Danúbio Azul , a 25).
289
1969 i “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 27.05.1969: 2 (br eve
referência crítica a O Danúbio Azul ; anúncio de Prémio Nobel ).
1969 j “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 05.06.1969: 2
(notícia sobre reposição de Prémio Nobel e anúncio de Um fantasma
chamado Isabel ).
1969 l “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 07.06.1969: 2
(notícia sobre o cancelamento de um espectáculo por falta de público
e anúncio de As Duas Órfãs, em que se estreia Maria Tavares).
1969 m “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho , Braga, 17.06.1969 : 2
(notícia sobre a reposição de Uma Bomba Chamada Etelvina , em
penúlti mo espectáculo da Companhia Rafael de Oli veira; frequência
reduzida, apesar da boa interpretação; anúncio de Um Fantasma
Chamado Isabel, a 17, em últi mo espectácul o).
1969 n “O Teatro Desmontável vai abandonar Braga”, Diário do Minho,
18.06.1969: 1, 2 (artigo de opinião cáustico sobre a indiferença do
público bracarense ao teatro desmontável; referência à grande
afluência nas di gressões pelas localidades limítrofes; agradeci mento
público pelo trabalho desenvol vido pela companhia).
1969 o “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho , Braga, 20.06.1969: 2
(notícia sobre o ulti mo espectáculo da Companhia em Braga).
GORTLER, Alberto
1962 “Panorama Teatral: Porque não apresenta a R.T.P. a Compan hia
Rafael de Oliveira?”, Jornal de Almada , 04.03.1962: 4 (o articulista
interroga porque razão a Companhia Rafael de Oli veira não apresenta
o seu reportório na Televisão, se outras o têm feito).
GREGÓRIO, M.
1956 a “Teatro visto da «geral »”, Região de Leiria, 09.02.1956:1 (br eve
artigo sobre a recepção do teatro por parte do público popular;
sugestões para a melhoria da qualidade artística desse mesmo
público).
1956 b “O Teatro da Companhia «Rafael de Oli vei ra»”, Região de Leira ,
26.04.1956: 2 (pequeno ensaio sobre a Companhia, sobre a sua
actuação em Leiria: análise estética do seu modus operandi teatral).
GUIMARÃES , Querubi m
1957
“O Teatro Desmontável”, Correio do Vouga, Aveiro, 26.10.1957: 3
(artigo de opinião sobre a Companhia).
H. R.
1969 “Últi ma hora: A M uralha pelo teatro do pessoal da Sacor”,
Novidades, Lisboa, 29.11.1969: 8 (a pr opósito do espectáculo
290
dirigido por Ruy Furtado, pelo Grupo de Teatro do Pessoal da Sacor,
no Teatro da Trindade, em 28 e 29 de Novembro, o articulista ref ere
a Co mpanhia Rafael de Oliveira como di vul gadora do texto de Calvo
Sotelo pela província, após a sua estreia no Teatro D. Maria II).
I. C.
1962 “Crítica de espectáculos: Companhia Rafael de Oliveira – A
Muralha”, Novidades, 04.03.1962: 2 (apontamento crítico e logioso
ao espectáculo e à Companhia).
J. A. (1)
1953 “Teatro”, Jornal de Lagos, 15.11.1953:1 -4 (notícia, com foto de
Rafael de Oli veira; apreciações críticas do elenco).
J. A. (2)
1962 a 1962 “Crítica: Avenida: Deus lhe Pague”, Diário
27.02.1962: 2–3 (crítica elogiosa ao espectáculo).
Ilustrado ,
1962 b “Crítica: Avenida: A Muralha pela Companhia Rafael de Oliveira”,
Diário Ilustrado, 02.03.1962: 6 (crítica ao espectáculo).
1962 c “Crítica: Avenida Um Fantasma Chamado Isabel “, Diário Ilustrado,
Lisboa, 04.03.1962: 2 (crítica ao espectáculo).
J. A. C. (aliás J. A.)
1959 a “Luzes da Ribalta: Uma noite de verdadeiro Teatro”, Brados do
Alentejo, Estremoz, 06.12.1959: 3 (crítica a Deus lhe pague ).
1959 b “Luzes da Ribalta: Alguém Terá de Morrer de Luís Francisco
Rebelo no Bernardim Ribeiro”, Brados do Alentejo, Estremoz,
13.12.1959: 3 (notícia do regresso da Companhia, a 16; historial de
Luiz Francisco Rebell o e resumo do enredo) .
1959 c “Luzes da Ribalta: Alguém Terá de Morrer na interpretação da
Companhia Rafael de Oliveira”, Brados do Alentejo, Estremoz,
27.12.1959: 3 (crítica ao espectáculo).
J. M.
1961 a “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 26.02.1961: 1 -4
(anúncio do fi m de temporada que se par oxi ma; apreciação crí tica
elogiosa ao trabalho des envol vido pela Companhia; apreciação
crítica aos espectáculos: Tio Rico , Inês de Castro, Isarel, Paralítico ;
referência à homenagem que o Círculo Cultural do Algar ve prepara à
Companhia Rafael de Oliveira, a 9 de Março).
1961 b “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 05.03.1961: 1 -4
(foto de Luís Pinhão; notícia da homenagem promovi da pelo Círculo
Cultural do Al gar ve à Companhia; apreciações críticas a: Dama das
Camélias, Calúnia, Cadeira da verdade ).
291
1961 c “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 12.03.1961: 1 -4
(notícia da alteração de data da homenagem promovi da pelo Círculo
Teatral do Algar ve, por motivo de luto do Dr. Campos Coroa;
apreciação crítica de A Muralha).
1961 d “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 19.03.1961: 1 -4
(apreciação crítica a Jesus Nazareno, Conde de Monte Cristo, Deus
lhe pague; relato da Homenagem à Companhia).
JOSÉ, Aníbal
1955 “Coisas de Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira mais uma vez em
Estremoz”, Brados do Alentejo, 16.01.1955: 3, 4 (crítica elogiosa à
actuação da Companhia Rafael de Oli veira, em 05.01.1955, com a
peça O Grande Industrial , de Geor ge Ohnet).
JUDEX
1958 “A Companhia Rafael de Oliveira esteve em Aveiro”, Litoral,
Aveiro, 25.10.1958: 7 (crítica ao espectáculo Alguém terá de morrer ,
no Teatro Aveirense; notícia da deslocação da companhia ao
cemitério em homenagem a José Christo).
1959 “Teatro antigo? Teatro moderno?”, Democracia do Sul, Évor a,
12.12.1959:4 (respost a ao arti go de Heitor Roque, “De Teatro: A
Arte, em Teatro, não pode parar, antes tem que acompanhar a
evolução dos povos e o progresso em geral”, em que se constata que
a realidade do nível cultural do público contradiz as aspirações dos
críticos no desej o de evolução).
JÚNIOR, Rocha
1957 “Riscos na areia: Lembranças da Morgadi nha”, Diário de Lisboa ,
15.08.1957 (crónica breve sobre teatro, e o de Pinheiro Chagas, a
propósito da Companhia Rafael de Oliveira).
J.V.
1959 “Teatro: Obrigado por terem vindo!”, O Eco de Estremoz,
29.11.1959: 4 (breve apreciação crítica de Deus lhe pague e,
sobretudo do valor artística da Companhia Rafael de Oliveira em
comparação com outras oriundas de Lisboa, menos apreciadas) .
K.
1945 “Impressões de teatro: A Calúnia no Teatro Desmontável”, Notícias
de Évora, 02.08.1945: 2 (crítica ao espectáculo ).
L.
1973 “Espectáculos: Parte no dia 15 para Luanda a Companhia Teatral
Rafael de Oliveira”, Diário de Luanda, 08.03.1973:5 (com foto de
Fernando de Oli veira; referência à partida de Lisboa, a 15, no
paquete Infante D. Henrique (CNN), á deslocação pelo território
292
angolano, tipos de espectáculo – gratuitos para Forças Ar madas e
matinées para escolas; discriminação do elenco e lotação do
Desmontável).
LAGOA, Vera (aliás Maria Ar manda Falcão)
1975 “Depois das nove: Teatro: A Traição do Padre Martinho, obra de um
homem que nunca traíu”, Diário Popular, 25.09.1974:2 (crítica;
caricatura de Bernardo Santareno por Teixeira Cabral).
LEAL, João
1960 a “O teatro desmontável em Faro” , Fol ha de Domingo, Faro,
18.12.1960: 5 -8 (sobre a inauguração do novo Teatro Desm ontável) .
1960 b “O Teatro Desmontável em Faro”,
Fol ha de Domingo, Far o,
25.12.1960: 8, por (apreciações elogiosas à Companhia; referência à
recepção da mesma pelo público; referência à homenagem a Eduar do
de Matos; apreciações críticas aos espectáculos, Deus lhe pague,
Amor de Perdição, O Sapo e a Dominha e A Calúnia; anúncio dos
espectáculos do dia de Natal, Sapatinho de Vidro e Casa de Doi dos ,
seguida de Fi m de Festa, com apresentação do “tenor Ál varo de
Oliveira”).
1960 c “Crónica de Faro: O Teatro Desmontável”, Jornal do Algarve, Vila
Real de Santo António, 28.01.1961: 2 (apreciação do valor do Teatro
Desmontável).
1960 d “O Al gar ve vai homenagear a Companhi a Rafael de Oli veira”,
Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 25.02.1961: 5
(notícia da homenagem a ser prestada à Companhia pelo Grupo de
Teatro do Círculo Cultural do Algar ve, com a representação de Ratos
e Homens, de Steinbeck).
1971 “Crónica de Faro: Teatro na Cidade”, Jornal do Algarve, Vila Real
de Santo António, 04.03.1972: 2 (not ícia da chegada da Companhia a
Faro; referência ao passado, ao acolhi mento, à renovação).
L. M.
1966 “Cooperação merecida”, O Comércio do Port o, Porto, 04.11.1966: 14
(análise sintética sobre a itinerância e o val or da Companhia Rafael
de Oliveira;
elogi o do governo, pelo subsídio atribuído à
Companhia).
L. R.
1970 a “Crítica de Teatro: Uma Bomba Chamada Etelvina ”, Diário do
Ribatejo, Santarém, 27.10.1970: 6 (crítica ao espectáculo).
1970 b “Crítica de Teatro: A Muralha”, Diário do Ribatejo, Santarém,
29.10.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
293
1970 c “Crítica de Teatro: Um Fantasma Chamado Isabel ”, Diário do
Ribatejo, Santarém, 02.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
1970 d “Crítica de Teatro: Amor de perdição ”, Diário do Ribat ejo,
Santarém, 04.11.1970: 4 (crítica do espectáculo).
1970 e “Crítica de Teatro: Prémio Nobel ”, Diário do Ribatejo , Santarém,
06.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
1970 f “Crítica de Teatro: Três em Lua de Mel ”, Diário do Ribatejo ,
Santarém, 09.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo ).
1970 g ““Crítica de Teatro: O Grande Industrial ”, Diário do Ribatej o ,
Santarém, 11.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
1970 h “Crítica de Teatro: A Calúnia”, Diário do Ribatejo, Santarém,
12.11.1970: 6 -4 (crítica ao espectáculo).
1970 i “Crítica de Teatro: Casa de Doidos ”, Diário do Ribatejo, Santar ém,
15/16.11.1970: 4 (críti ca ao espectáculo).
1970 j “Crítica de Teatro: Deus lhe pague ”, Diári o do Alentejo, Santarém,
19.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
1970 l “Crítica de Teatro: Danúbio Azul ”, Diário do Ribatejo, Santarém,
22/23.11.1970:4 (críti ca ao espectáculo).
1970 m “Crítica de Teatro: Daqui fala o morto ”, Diário do Ribatejo,
Santarém, 26.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo).
1970 n “Crítica de Teatro: Duas Causas ”, Diário do Ribatejo , Santarém,
28.11.1970: 8 (crítica ao espectáculo).
1970 o “Crítica de Teatro: Aqui há Fantasmas ”, Diário do Ribatej o ,
Santarém, 03.12.1970: 4 (critica ao espectáculo).
1970 p “Crítica de Teatro: As Duas Órfãs ”, Diário do Ribatejo, Santarém,
05.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo).
1970 q “Crítica de Teatro : As Pupilas do Sr. Reitor ”, Diário do Ribatejo ,
10.12.1970: 6 (crítica ao espectáculo).
1970 r “Crítica de teatro: Está lá fora um inspector ”, Diário do Ribatejo,
Santarém, 14.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo).
1970 s “Crítica de teatro: Jesus Nazareno ”, Diário do Ribatejo, Santarém,
31.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo).
294
1971 a “Histórias para serem contadas : Uma originalidade teatral em
Santarém”, Diário do Ribetajo , Santarém, 18.01.197 1: 6 (notícia da
estreia da peça de Osvaldo Dagrun, com encenação de Ál varo de
Oliveira; referência ao conteúdo do espectáculo a estrear dentro de
dias).
1971 b “Crítica de Teatro: A Rosa do Adro ”, Diário do Ribatejo ,
28.01.1971: 6 (crítica à estreia da n ova versão de Romeu Correia, em
24 de Janeiro, em Sant arém).
L. S.
1956 “A Voz da Marinha Grande: Obj ectiva: Caridade e Cultura”, Regi ão
de Leiria, 09.02.1956: 3 (breve crítica à recepção do espectáculo de
homenagem a Rosário Henriques; o periodista apont a o dedo à f alta
de interesse do públi co abastado, que pagou e faltou, em contr aste
com o mais modesto, que preencheu os lugar es de oferta).
M.
1959 “A Semana Caldense”, Gazeta das Cal das , Caldas da Rai nha,
14.04.1959: 6 (referência à quantidade e qualida de de di verti ment os
nas Caldas, entre eles os espectáculos da Companhia).
M. de A.
1963 “A Barraca no Monumental”, (recorte não identificado pertencente
ao acer vo de Ál varo de Oli veira), Lisboa, 01.04.1963 (crítica ao
espectáculo escrito por Ribeirinho e Henri que Santana estreado no
Teatro Monumental; alusão à parceria, que por vezes assina com o
pseudóni mo de Jorge de Sousa; alusão à Companhia Rafael de
Oliveira como tema do enredo da peça).
MARTINS , Rocha
1928 “A Consagração de Adelina Abranches” , Revista ABC, Ano V III, nº
399, 08.03.1928: 3 -4 (tem foto de Adelina Abranches enquanto
Gaiato de Lisboa na peça do mesmo nome).
MATTA, Bravo da
1944 “A Companhia Rafael de Oliveira”, Not ícias do Alentejo, Vila
Viçosa, 25.12.1944: 3 -4 (notícia de homenagem à Companh ia, em
07.12, na Sociedade União Borbense; elogio da companhia e do
reportório).
1945 “Correspondência: Borba”, Notícias do Alentejo , Vila Viçosa,
18.02.1945: 2 ( notícia do espectáculo de Benefício, realizado no
Teatro municipal de Borba, a 22.01, com a repres entação de
Calúnia).
1955 “Teatro Desmontável”, Brados do Alentejo , 03.04.1955: 6 (notícia da
estadia da Companhia em Portalegre, com afluência de público).
295
M. C. (1)
1959 “Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira alcançou j á o direito à
mais alta consagr ação nacional ”, Jornal do Ribatejo , Santarém,
12.03.1959: 1 e 4 (elogio na despedida da Companhia de Santarém).
M. C. (2)
1962 “Cinema, TV, Rádio: A Companhia Rafael de Oliveira”, Juvent ude
Operária, Lisboa, Março.1962: 7 (referência biográfica da
Companhia e ao seu tr abalho em prol do Teatro).
M. C. (3)
1962 a “Recompensa de Ramada Curto”, Jornal de Letras e Artes, Lisboa,
21.02.1962: 6 (crítica ao espectáculo).
1962 b “O Marquês de Villemer no Avenida”, Jornal de Letras e Artes,
Lisboa, 28.02.1962: 6 ( crítica ao espectáculo).
MENDES, Maria Juliete Oehen
1969 “Cartas ao Director: As cidades estão doentes”, Flama, Lisboa,
23.05.1969: 12 (carta resposta a um artigo com o memo título Flama 02.05.1969. A leitora denuncia a retrógrada mentalidade
bracarense, cuj o ambi ente cultural denota pobreza: mau cinema na
época de Inverno, desapareci mento progressivo da acti vidade teat ral
amadora. Invoca a necessidade de rej uvenescer a mentalidade,
através de exposições, colóquios sobre arte, da criação de um grupo
de teatro amador, a exemplo do de Aveiro, por forma a eliminar a
rotina quotidiana. Agradece publicamente o trabalho da Companhia
Rafael de Oli veira).
MESQUITA, Maria Helena Dá
1975 “Um Padre Martinho demagógico
27.09.1974:19 (crít ica).
e
superficial”,
A
Capital,
MORAIS, José Domingos
1962 “Teatro Aberto: Coisas e Coisas de Teatro”, Flama, Lisboa,
02.03.1962: 13 (apresentação sumária da Companhia Rafael de
Oliveira; foto com legenda: Rafael de Oliveira: sonho de aventura e
teatro).
M. R. C.
1955 a “Prémio Nobel. Uma peça famosa representada por uma excelente
companhia”, Linhas de Elvas , 15.10.1955: 1 -2 (crítica entusiástica ao
espectáculo realizado em Campo Maior, escr ita em 11.10.1955).
1955 b “Frei Luiz de Sousa . Coroa de glória da Companhia Rafael de
Oliveira”, Linhas de Elvas , 29.10.1955: 2 ( crítica ao espectáculo).
M. T. R.
296
1962 “Avenida: Recompensa”, Mundo Desportivo , Lisboa, 16.02.1962: 6
(notícia da estreia da Companhia; referência à apresentação de Luís
de Oli veira Gui marães, ao enredo, à interpre tação – “desi gual numa
Companhia que vi ve nas condições desta” – e à aceitação do
público).
M. V.
1962 “Crítica dos Espectáculos: A Companhia Rafael de Oliveira no
Avenida”, Novidades, Lisboa, 25.02.1962: 6 (breve relato analítico
da génese e obj ectivos d a Companhia, referindo estética
interpretativa).
M de V
1948 “Uma temporada de T eatro: Como foi vista e apreciada no Funchal a
Companhia Rafael de Oli veira”, Eco do Funchal , Madeira,
26.02.1948: 1 e 2 (apreciação crítica da Companhia).
M. V. de A.
1962 “Da nossa cadeira...: Recompensa – de Ramada Curto, no Avenida,
pela Companhia Rafael de Oliveira”, República, Lisboa, 15.02.1962
(elogio do trabalho da companhia, enquanto factor de cultura na
província, e leve crítica positiva ao espectáculo, com reticê ncias para
o texto, que se considera desactualizado para “um público dito
civilizado”).
N O R O N H A , Eduardo de
1919 “Folheti m: Teatro: Barracas de Feira”, Diário de Notícias, Lisboa,
21.10.1919: 1 (artigo circunstanciado sobre os teatro de feira e sobre
os Dallot).
NUNES , Luís de Oli veira
1975 “Vida Artística: A Traição do Padre Marti nho, notável espectáculo
de exemplar di gnidade artística”, Diário de Notícias, 27.09.1974: 6
(crítica).
NUNES , Manso
1969 “Inquérito ao gosto artístico de Braga”, Diário do Minho, Braga,
12.05.1969: 1, 2 (entrevista a Fernando de Oli veira, em que este
critica a falta de públ ico aos espectáculos e o modo snobe com que
se encarava a Companhia).
OBJECTIVA 2
1973 “A Cidade: Estreias: Armadilha para um Homem Só no Rafael de
Oliveira”, Diário de Luanda, 14.07.1973:6 ( apreciação crítica).
OLIVEIRA, Carlos
1959 “Crítica de Teatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 15.01.1959:
(crítica da revista A Ver Navios).
297
6
O. P.
1962 “Crítica de Teatro: A Muralha no Aveni da”, Diário da Manhã ,
Lisboa, 03.03.1962 (cr ítica condescendente ao espectáculo).
O. P. R.
1959 “Teatro: A Companhia Rafael de Oli veira apresentou no Teatro
Virgínia a esplêndida peça em 3 actos Prémio Nobel ”, O Almonda,
Torres Novas, 31.01.1959: 2 (crítica).
O. R.
1959 “A Companhia Rafael de Oliveira e os Organismos Operários da
A.C.”, Jornal do Ribat ejo , Santarém, 19.02.1959: 6.
ORLEM
1958 a “As peças desta semana da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 27.11.1958: 6 (crítica aos espectáculos O
Grande Amor, As Duas Órfãs e O Tio Rico).
1958 b “Teatro: O que vi mos esta semana no teatr o Desmontável”, Jornal
do Ribatejo, Santarém, 04.12.1958: 1, 6 e 4 ( crítica).
1958 c “Teatro: Continuam com o maior êxito as actuações da Companhia
Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 11.12.1958: 6 -5
(crítica).
1958 d “Os espectáculos da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 18.12.1958:8 (crítica).
1958 e “Teatro: A estreia da Muralha pela Companhia Rafael de Oliveira
constituiu um grande êxito”, Jornal do Ribatejo , Santar ém,
25.12.1958:8 (crítica).
1958 f “Teatro: Espectáculos da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal do
Ribatejo, Santarém, 01.01.1959: 2 (crítica aos espectáculos A
Muralha, Sapatinho de Vidro e Moços e Velhos).
O. S.
1963 “Leiria: Abertura”, Di ário de Coimbra , 08.05.1963 (notícia elogiosa
ao regresso da Companhia a Leiria, ao agrado com que é recebida e
ao prazer intelectual que proporciona aos habitantes).
P. (1)
1956 a “Teatros e Cinemas: Primeiras representaçõe s”, O Primeiro de
Janeiro, 19.05.1956: 4 (crítica ao espectáculo O Marquês de
Villemer).
1956 b “Teatros e Cinemas: Primeiras representações”, O Primeiro de
Janeiro, 22.05.1956: 5 (crítica ao espectáculo A Calúnia).
298
1956 c “Teatros e Cinemas: Sá da Bande ira: Israel, peça em três actos de
Henr y Bernstein”, O Primeiro de Janeiro , 23.05.1956 (crítica ao
espectáculo, e anúncio ao Prémio Nobel , par a o próprio dia).
1956 d “Teatros e Cinemas: Pri meiras Represent ações”, O Pri meiro de
Janeiro, 24.05.1956: 7 (ref erência elogiosa à qualidade da
Companhia e breve crítica de Prémio Nobel ).
P. (2)
1971 “Companhia de Teatro Rafael de Olivei ra”, Badaladas, Torr es
Vedras, 03.07.1971 (notícia da estadia da companhia, referindo a
falta de adesão do público “ao bom teatro ”; fugaz interrogação sobre
o valor da cultura nesse tempo).
PAIVA, Américo
1942a “Teatro em El vas”, Jornal de Elvas, 03.05.1942: 1 (elogio da
Companhia pelo redactor -chefe do j ornal, que transcreve parte de um
artigo de A Rebeca, de Portalegre).
1942b “Teatro”, Jornal de Elvas, 02. 08. 1942: 1 (elogio do Teatro versus
Cinema, da Companhi a; incitamento à frequência do Desmontável) .
PASSOS, Alexandre
1965 “Morreu Rafael de Oliveira: carta abert a de Alexandre Passos”,
13.03.1965 (recorte não identificado, pert encente ao acervo de
Ál varo de Oli veira, de uma revista dirigida por João Abrantes; foto
de Rafael de Oli veira, e nquanto Jan-Jan, de O Tio Rico, de Ramada
Curto).
1973 “Crónica de Luanda” , Teatro em Moviment o , Revista nº 4, Lisboa,
Setembro/ Outubro de 19 73: 42 (Crónica sobre a digressão da
Companhia Rafael de Oliveira pelo território de Angola, entre Abril
e Outubro. Definição do reportório, elenco e localidades).
PESSANHA, Camilo
1954 “Os 7 dias da semana: Israel”, O Algarve, 02.05.1954 (notícia do
espectáculo realizado no Cine -Teatro Santo António, em benefício da
Casa dos Rapazes de Faro).
PINHÃO, Leonor
1983 “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira: a poeira final”, Expresso,
Lisboa, 13.08.1983: 22R -23R, (a propósito da futura demolição do
Desmontável, instalado no Marti m Moni z, pela Câmara Municipal de
Lisboa, a articulista faz um breve historial da Companhia. Talvez o
derradeiro!).
PINTO, Sucena
299
1958 “Teatro: Companhia Rafael de Olivei ra”, Ecos de Cacia,
01.03.1958:1 -2 (entr evista com Fernando de Oli veira, na noite da
Homenagem à Companhia no Teatro Aveirense).
PISCARRETA , Joaquim de Sousa
1960 a “De Lagos: Companhi a Rafael de Oliveira”, Jornal do Algarve, Vila
Real de Santo Antóni o, 06.08.1960: 4 (referência à representação de
Daqui Fala o Morto, e anúncio de Muralha, a 10).
1960 b “De Lagos: Homenagem à Companhia Raf ael de Oli veira”, Jornal
do Algarve, Vila Real de Santo António, 04.03.1961: 4 por
(congratulação com o evento).
1972 a “Correio de Lagos: A Companhia Rafael de Oliveira em Lagos”,
Jornal do Algarve, 15.07.1972: 7 (referênci a a estreia da Companhia
em Lagos e lembrança de êxitos de outros tempos).
1972 b “Correio de Lagos: Bom teatro em Lagos”, Jornal do Algarve,
22.07.1972: 7 (notícia da actuação da companhia em Lagos;
referência aos espectáculo – 3ª, 5ª, sábado e domingo; anúncio de As
Borboletas São Livres, a 22 e 23).
1972 c “Correio de Lagos: O teatro e a afluência de público”, Jornal do
Algarve, 29.07.1972: 9 (notícia da fraca adesão de público;
referência ao preço dos bilhetes; anúnico de A Rosa do Adro , a 29 e
30).
1972 d Correio de Lagos: Grande sucesso da Companhia Rafael de
Oliveira”, Jornal do Algarve, 05.08.1972: 6 (notícia do sucesso de
Rosa do Adro ; anúncio de O Grande Industri al , a 5 e 6).
1971 e “Correio de Lagos: Vamos ter saudades da Companhia Rafael de
Oliveira”, Jornal do Algarve, 30.09.1972: 5 (notícia do último
espectáculo da companhia em Lagos, As Borboletas São Livres ).
P. L.
1962 “Impressões: No Avenida – Um Fantasma Chamado Isabel ”, A Voz,
Lisboa, 05.04.1962 ( notícia sobre a despedida da Companhia de
Lisboa e elogio pós -temporada).
P. M.
1952 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira –
Impressões de teatro, O Algarve, 23.03.1952: 3 (i mpressões críti cas
sobre a estreia da companhia em Faro; o a rticulista revela a sua
impressão presencial favorável confir madora das opiniões veiculadas
pelo público de Vila Real de Santo António e de Tavira).
300
1952 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Domi ngo – A Fera”, O
Algarve, 06.04.1952: 2 (apreciação c rítica ao espectáculo do dia 30
anterior).
1952 c “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Deus l he
pague”, O Algarve, 13.04.1952: 1, 2 (apreciação crítica ao
espectáculo do dia 3 anterior).
1952 d “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana : Terça -feira –
Recompensa”, O Algarve, 27.04.1952: 4 (fugaz apreciação crítica do
espectáculo, de quem não considera o texto como das melhores obras
literárias do seu autor)
1952 e “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Terça -feira – A Dama
das Caméli as”, O Al garve, 04.05.1952: 3 (apreciação crítica do
espectáculo).
1952 f “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Domingo – Amor de
perdição”, O Algarve, 11.05.1952: 4 (apreciação crítica ao
espectáculo).
1952 g “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana : Quinta -feira –
Ladrão”, O Algarve, 18.05.1952: 1 (fugaz apreciação crítica ao
espectáculo, por parte de quem não apreciou o texto).
1952 h “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Outro
mer gulho”, O Algarve, 25.05.1952: 1, 2 (br eve refer ência crítica ao
espectáculo Os Fidal gos da Casa Mourisca ; apelo à memória do
desempenho de Il da Stchini, Brazão, José Ricardo, Maria Matos e
Samwell Dini z).
1952 i “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Teatro e
História”, O Algarve, 08.06.1952 (apreciação crítica do espectáculo
Inês de Castro ) .
1952 j “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Sábado – Deus lhe
pague”, O Agarve, 15.06.1952: 2 (referência ao espectáculo, em
reposição; referênciaa o elogio em cena aberta do Provedor da Sa nta
Casa da Misericórdia, agradecendo o espectáculo de benefício;
considerações sobre o valor social do teatro) .
1952 l “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Os
Milagres de Santo antónio ”, O Algarve, 22.06.1952: 1 (apreciação
crítica ao espectáculo; referência à participação de Ál varo de
Oliveira [4 anos] como Menino Jesus).
1952 m “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana: Sexta -feira –
despedida”, O Algarve, 29.06.1952: 3 (referência ao último
espectáculo da companhia em Faro; apreciaç ão do seu valor).
301
1952 n “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Sexta -feira – Outra vez
o Desmontável”, O Al garve, 19.10.1952: 2 (o ariiculista regozij a -se
pelo regresso da Companhia, preenchendo uma lacuna de cultura
teatral no panorama algar vio).
1952 o “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Boas
Vindas”, O Algarve, 09.11.1952: 1 -2 (apontamento críticco da estr eia
da Companhia, com Raça, de Rui Correia Leite).
1952 p “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Em
foco”, O Algarve, 16.11.1952: 2 (apontamento crítico sobre o modo
de actuação da companhia, relevando o equilíbrio na distribuição do
protagonismo pelo elenco, sej a em papéis principais ou em
secundários).
1952 q “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana: Quart a-feira –
Umaestreia auspiciosa”, O Algarve, 30.1.1952: 1 -2 (apontamento
crítica à estreia de O Marquês de Villemer; referência elogiosa ao
estilo derepresentação dos actores, à cenigrafia e fi gurinos, e à
tradução, a merecer actualização de linguagem).
1952 r “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinat -feira – A
verdade da mentira”, O Algarve, 07.12.1952: 1 -2 (apontamento
críticode A Cadeira da Verdade ).
1960 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Notícias de Teatro”, O
Algarve, Faro, 25.09.196 0: 4 (referência do regresso a Faro do
Teatro Desmontável).
1960 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Impressões de Teatro”,
O Algarve, Faro, 18.12.1960: 1 (apreciação crítica do modo de
trabalho da Companhia -percebe -se que se trata de alguém que
conhece bastante bem o conj unto - e dos espectáculos Muralha,
Daqui Fala o Morto e Israel).
1961 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Eduardo de Matos”, O
Algarve, Faro, 12.03.1961: 1 -4 (notícia do regresso de Eduardo de
Matos ao Desmontável, embor a sem poder trabalhar, devido à
convalescença).
1961 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Atenção leitor”, O
Algarve, Faro, 12.03.1961: 4 (num arremedo de Kipling, o articulista
equaciona vários ses que deveriam conduzir o público a estar
presente na festa de homenagem à Companhia, no dia 16).
1961 c “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: O Teatro partiu”, O
Algarve, Faro, 02.04.1961: 1 -4 (referência ao fim da temporada e à
espera de mais 8 a 10 anos para que volte: tempo de j ej um).
302
POMBEIRO, B. Gomes
1961 “A Companhia Rafael de Oli veira em Al mada”, Diário do Alentejo,
Bej a, 05.12.1961 (testemunho i mportante de um serpense, i mi grado
em Al mada, sobre a actividade da Companhia trinta anos antes, em
Serpa, onde representou num modesto cinema com um palco
improvisado).
1962 a “De Al mada”, Jornal de Moura, 06.02.1962 (notícias da estadia da
Companhia em Al mada).
1962 b
“De Al mada: Al mada e o Teatro”, Jornal de Moura , 10.02.1962
(crónica breve sobre a actuação da Companhia em Al mada e da
ausência de público, o que “entristece” o art iculista).
POMBO, Rui (aliás R. P.)
1963 a “Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, 13.01.1963: 4 (artigo em que
se agradece a estadia da companhia na cidade e em que se elogia o
elenco através das interpretações que mais marca ram o articulista).
1963 b
“Teatro em Tomar: Inês de Castro de Raul d’Além: Deus lhe
pague: A Calúnia”, Cidade de Tomar, 20.01.1963: 2 (breves
referências críticas aos espectáculos).
1963 c “Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, 27.01.1963: 4 (crónica breve
sobre a indisciplina de certo tipo de espectadores que vai ao teatro).
1963 d Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, Tomar, 03.02.1963: 1 -4
(referências críticas aos espectáculos: Israel, Duas Causas,
Paralítico).
1963 e “Teatro em Tomar, Jesus Nazareno (Vi da de Cristo)”, Cidade de
Tomar, 14.04.1963: 4 (crítica entusiástica ao espectáculo de 7 de
Abril, no Desmontável ).
PORTO, Carlos
1975 “Crítica de Teatro: As boas ideias e o mau t eatro”, Diário de Lisboa,
02.10.1974:6 (crítica).
P. S. G.
1959 “O Milagr e da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo ,
Santarém, 15.01.1959: 1 -4 (retrato da Companhia enquanto conj unto
social e enquanto empresa).
R.
1959 a “Teatro Desmontável: O Sapatinho de Vidro ”, Notícias de Évora ,
10.12.1959: 3 (crítica ao espect áculo).
303
1959 b “Teatro Desmontável: Está lá fora um i nspector ”, Notícias de
Évora, 13.12.1959: 3 (crítica ao espectáculo).
1959 c “Teatro Desmontável: O Sapatinho de Vidro sobe à cena no dia de
Natal”, Notícias de Évora , 24.12.1959: 2 (notícia anunciando o
espectáculo).
1959 d “A Dama das Caméli as hoj e no Teatro Desmontável”, Notícias de
Évora, 12.01.1960: 1 -2 (evocação da representação da peça, no
Teatro Garcia de Resende, na noite de 8 de Julho de 1913,
interpretada por Italia Vitaliani; elogio da comp etência artística de
Lizete Frias para a interpretação do personagem de Mar gar ida
Gautier, sem comparações com a di va de 46 anos antes).
1967 “A Cadeira da Verdade no Teatro Desmontável”, Notícias de Évora ,
11.10.1967:1 -2 (o articulista começa por definir o conceito de “bom
teatro”, para depois passar a análise crítica do espectáculo).
RAMALHO
1924 “Pelos Teatros: Prefácio duma Crítica ou Crítica num Prefácio”, A
Regateira, Cartaxo, 05.10.1924: 2 (crítica negati va à representação
de Amor de Perdição; em estilo de crónica, o autor descreve com
mi núcia o serão no Salão Central).
RAPAZ (O) DA GERAL
1942 “Teatro Desmontável: Breves referências às suas representações”, A
Rabeca, 17.01.1942: 3 (retrato de uma Companhia itinerante).
RIBALTA
1956 “Teatro em Leir ia”, O Mensageiro, 21.01.1956:
probidade artística e humana da companhia).
2
(elogio
da
RIBEIRO, Curado
1965 “De Teatro: Terminará a mais anti ga companhia teatral portuguesa?”,
Antena, Lisboa, 15.10.1965: 36 -37 (breve hi storial da Companhia (6
colunas), em que Fernando Curado Ribeiro releva as dificuldades
vi vidas no momento).
RIBEIRO, D.
1933 “Teatro Gil Vicente”, Notícias de Guimarães, 05.02.1933: 1
(veemente crítica às más condições físicas do Teatro, invocando o
seu encerramento).
RICO, Gabriel
1965 “Carta de Lisboa”, Jornal da Madeira , Funchal, 23.01.1965 (a
propósito do elogio fúnebre de Rafael de Oliveira, faz -se uma síntese
contundente da crise da classe teatral em Por tugal).
R. M. (1)
304
1963 “Companhia Rafael de Oliveira”, O Nabão, Tomar, 15.01.1 963: 1 -4
(apreciação crítica ao trabalho da Companhia; relevo para Fernando
de Oli veira e Fernando Frias).
R. M.(2)
1963 “Raul Solnado fala de Tomar”, O Templ ário, Tomar , 20.04.1963
(entrevista em que Sol nado se refere com respeito à companhia).
RODRIGUES, Fausto
1965 “Morreu Rafael de Ol iveira”, Jornal de Viseu, 13.01.1965 (evoca -se
a memória do ami go Rafael e das conversas de camari m) .
RODRIGUES, Lourenço
1962 “Teatro de Outros T empos”, Rádio & Televisão, 03.03.1962: 16
(crónica sobre o Teatro do Prínc ipe Real, ou Apolo, segundo os
tempos, e do espectáculo A Galdéria, com Adelina Abranches, em
que se menciona o nome de Elisa Aragonez, oriunda dos teatro de
feira dos irmãos Dallot, que trabalhou no Teatro do Rato e no Teatro
Chalet da Rua dos Condes).
RODRIGUES, Urbano Tavares
1974 “A Traição do Padre Martinho no Maria Matos”, Século, 26.09.1974:
4 (crítica).
1975 “Antes e depois do 25 de Abril: O Teatro em Portugal”, Século,
01.01.1975: 16 (resenha do panorama teatral português pós revolução) .
ROQUE, Heitor
1945 a “Teatro Desmontável: A FERA em estreia da Companhia Rafael de
Oliveira”, Democraci a do Sul, 19.06.1945: 2 (crítica ao espectáculo
de estreia).
1945 b “Teatro Desmontável:
12.07.1945: 4 (crítica
distribuição).
A Mouraria”, Democracia do Sul,
elogiosa ao esp ectáculo; referência à
1945 c “Teatro Desmontável : As Duas Causas ”, Democracia
14.07.1945: 2 (crítica elogiosa ao espectácul o).
do
Sul,
1954 “Atenção ao Teatro Desmontável”, Democracia do Sul, 26.09.1954
(elogio do trabalho em prol do teat ro levado a cabo pela Companhia
de Rafael de Oli veira; faz -se referência aos êxitos de épocas
passadas, como incent ivo de afluência de público).
1955 “Representando levam a Arte a toda a parte: Em louvor da
Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal de Elvas , 10.11.1955: 1
(artigo de opinião, com foto de Rafael de Oliveira, sobre a
«lendária» crise do teatro e de como a Companhia Rafael de Oli veira
305
é merecedora do estí mulo e apreço pelo trabalho que vem realizando
ao longo de vários anos).
1959a “Teatro: A Art e, em Teatro, não pode parar, antes tem que
acompanhar a evolução dos povos e o progresso em geral”,
Democracia do Sul, Évora, 28.11.1959: 4 (a nálise crítica sobre a
necessidade de evolução de reportórios das companhias que praticam
itinerância pela provín cia).
1959b “Crónica Teatral: A Arte é a Vida”, Brados do Alentejo, Estremoz,
20.12.1959: 3 (crónica a propósito da representação de Deus lhe
pague, pela Companhia Rafael de Oli veira; o autor reflecte sobre
teatro a partir do prefácio desta obra de Joracy Camar go).
1962 “Crónica Teatral: A Companhia Rafael de Oli veira em Lisboa”,
Brados do Alentejo , Estremoz, 04.03.1962: 3 (crónica em que se
relembra a Companhi a trinta anos antes, na mudança de reportório,
que o articulista espera ver ainda mais renovado, lasti mando a
apresentação de O Marquês de Villemer , demasiado antiquado).
1969 “Frei Luís de Sousa no Teatro Capitólio”, Novidades, Lisboa,
05.02.1969 (a propósito da reposição do texto de Garrett pela
Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro, refere -se a Companhia
Rafael de Oliveira como tendo representado durante vários anos este
mesmo texto).
RUFO, Quico
1923 “Ressurreição!”, A Voz da Serra, Seia, 16.12.1923: 2 (crítica aos
espectáculos da Companhia no Teatro Senense: A Filha do
Saltimbanco e A Rosa do Adro).
S.
1948 “Teatro: Festa artística de Ema de Oliveira e Fernando de Oli veira” ,
Açores, 01.05.1948:4 ( crítica).
SANTOS, António Augusto
1953a “Frei Luís de Sousa foi estreado em Faro pela Companhia Rafael de
Oliveira”, Povo Algarvio, Tavira, 25.01.1953: 4 e 1 (apreciação da
representação em Far o; elogio da Companhia, com referência a uma
apreciação de Barreto Poeira, a pr opósito da estreia de Raça , em
Porti mão).
1953b “Frei Luís de Sousa em Tavira”, Povo Algarvio, Tavira, 01.02.1953:
4 (apreciação crítica).
1954 “Teatro: Israel, mais um êxito da Companhia Rafael de Oli veira”,
Voz do Sul, 20.03.1954: 4 (crítica elogiosa ao espectáculo).
306
1956 “Carta à Companhia Rafael de Oli veir a”, Região de Leiria ,
29.03.1956: 2 (carta datada de 20/3/1956, expre ssando a saudade de
voltar a ter a Companhia em terras algar vias; apreciação
encomiástica da Companhia e do seu trabalho em prol do Teatro).
1960 “Uma página de crítica teatral: Alguém terá de morrer do Dr . Luís
Francisco Rebelo, em estreia da Companhia R afael de Oliveir a”,
Povo Algarvio, Tavira, 18.12.1960: 1 e 3 (crítica ao espectáculo de
estreia do “novo” Desmontável).
1962a “Arabescos Literários (14): O Teatro Português”, Povo Algarvi o,
Tavira, 18.02.1962: 1 e 2 (crónica sobre a estreia da companhia do
“desmontável” no Teatro Avenida, num “exame 100% oral” para
Rafael de Oliveira, que despiu o “casaco de 50 toneladas, em que se
envol vera como provinciano, anos e anos incontáveis, e subiu a
avenida a pedir... Teatro. E deram -lhe Teatro”).
1962b “Inter mezzo (31): Teatro -Saudade”, Folha do Domingo , Far o,
25.02.1962 (uma apreciação crítica ao teatro contemporâneo, com
dedicatória «ao Rafael de Oli veira, como uma saudade desfolhada...”,
feita em tom nostál gico por un amant de théâtre , que quase se
tornava em “Gomes de Amori m” do Desmont ável).
SANTOS, A. Fi gueiredo
1963a “Teatro”, O Templário , Tomar, 13.01.1963: 1 e 4 (crítica de As Duas
Órfãs).
1963b “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 20.01.1963:
3 (crítica de A Calúni a).
S. E.
1956 “A Voz da Marinha Grande : Secção semanal de propaganda e defesa
dos interesses do concelho e povo da Marinha Grande: Teatro”,
Região de Leiria , 26.01.1956: 3 (artigo sobr e o espectáculo O Sapo e
a Doninha, em homenagem a Maria do Rosário Henriques).
SÉRIO, Mário
1975 “Teatro: Santareno, o catolicismo e os «padres -operários»”,
República, 07.10.1974: 7 e 19 (crítica ao espectáculo).
S. G.
1973 “Teatro: À Espera de Godot ”, A Província de Angola, 29.07.1973: 6
(apreciação crítica ao espectáculo; foto de cena) .
SILVA, Maria August a (aliás M.A.S.)
1973a “Ribeirinho de novo em Angola, como arti sta convidado e director
artístico da Companhia Rafael de Oliveira: Brevemente, espectáculo
de estreia em Luanda”, A Província de Angola , 30.03.1973: 5
307
(crónica com fotos da istalação do Desmontável, e da entrevist a a
Francisco Ribeiro).
1973b “Teatro: Noite de Reis e a Companhia Rafael de Oliveira”, A
Província de Angola, 06.04.1973: 15 (breve apontamento crítico ao
primeiro espectáculo da companhia; referência a deficiên cias de som;
foto de cena durante o espectáculo).
1973c “Janela indiscreta: Amor de perdição na casa desmontável da
Companhia Rafael de Oliveira”, A Provínci a de Angola, 13.05.1973:
5 (crítica ao espectáculo).
SIMÃO, José Duarte
1957 “A Companhia Rafae l de Oli veira”, Litoral , Aveiro, 24.08.1957: 8
(apreciação crítica elogiosa à Companhia, relevando o “equilíbrio de
conj unto” que não é habitual ver -se, e destacando a figura de
Eduardo de Matos, do qual se publica a foto) .
SIMÕES, Santos
1958a “O teatro Desmontável de Rafael de Oliveira”, Notícias de
Guimarães, 30.03.1958: 1 (a propósito da Companhia, reflecte -se
sobre a crise do teatro em Portugal: autores, encenadores, actores,
empresários).
1958b “Pelo teatro: Uma nova série de actuação brilhante da C ompanhia
Rafael de Oliveira”, Notícias de Guimarães, 30.03.1958: 1 (crítica
elogiosa à representação de Frei Luís de Sousa e de Está Lá Fora um
Inspector).
1958c “Teatro Desmontável: Alguém terá de morrer ”, Notícias de
Guimarães , 04.05.1958: 2 (crítica ao espectáculo em questão, e a
Inês de Castro e Transviados).
SOROMENHO, Amíl car
1959 “Teatro em Évora: Alguém terá de morrer – Mais um êxito da
Companhia Rafael de Oliveira”, Democracia do Sul, Évora,
26.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo).
SOUSA, Faustino dos Reis
1962a “Noites de Teatro: A Compania Rafael de Oliveira em Vila Franca”,
Vida Ribatejana, Vila Franca de Xira, 31.03.1962: 1 (recordações das
companhias de província; apreciação crítica elogiosa à Companhi a,
no espectáculo Recompensa; espectáculo concorrido; indicação do
reportório).
1962b “Uma peça sempre nova: O Marquês de Vil lemer ”, Vida Ribatejana,
Vila Franca de Xira, 05.05.1962: 1 e 8
(crítica elogiosa ao
espectáculo).
308
SOUSA, Neves de
1961 “Na Companhia Rafael de Oli veira, Filho és, actor serás”, Flama,
Lisboa, 22.09.1961: 23 e 25 (reportagem sobre a Companhia e o
desmontável; amplamente ilustrada com fotos de Lobo Pi mentel).
SOUSA, Rocha de
1960 “Homenagem à Companhia Rafael de Oliveira”, Voz do Sul, Sil ves,
11.03.1961 (notícia da realiz ação da festa, no dia 9, que o articulista
não assistiu, porque disserta sobre a peça Ratos e Homens , que não
chegou a reali zar -se por moti vos i mprevistos).
S. P. (aliás Ar mando Santos Pereira, director e editor do Jornal de Viseu )
1968a “Arte para Jovens ”, Jornal de Viseu, 23.10.1968: 1 (sob a
consideração de que a j uventude coeva carecia de “sensibilidade, de
gosto e de respeito por tudo o que [fosse] de elevada ou até média
espiritualidade”, o articulista apresenta di ver sas opções para mi nor ar
o problema, usando os recursos artísticos existentes; artigo com
interesse, de uma modernidade confrangedor amente actual !!).
1968b “Teatro de Sempre ( A Companhia Rafael de Oli veira)”, Jornal de
Viseu, 23.10.1968: 6 (auspicioso acolhimento da Companhia;
evocação de Rafael de Oli veira e do desmontável).
1968c “Teatro: Três em Lua de Mel no Desmontável”, Jornal de Viseu,
30.10.1968: 6 -2 (apreciação crítica de um espectáculo a que
assistiram o Governador Civil e o President e da Câmara Municipal e
família).
1968d “De Teatro: As Duas Causas no Teatro Desmontável”, Jornal de
Viseu, 02.11.1968: 8 -2 (crítica ao espectáculo, com análise
dramatúr gica).
1968e “De Teatro: A Muralha no teatro Desmontável”, Jornal de Viseu,
06.11.1968: 6 (crítica ao espectáculo).
1968f “De Teatro: Daqui Fala o Morto ”, Jornal de Viseu, 13.11.1968: 2
(crítica ao espectáculo).
1968g “De Teatro: O Grande industrial ”, Jornal de Viseu, 20.11.1968: 5
(crítica ao espectáculo).
1968h “De Teatro: Frei Luís de Sousa no Desmontável”, Jornal de Viseu,
27.11.1968: 8 -7 (crítica ao espectáculo).
1968i “De Teatro: Uma Bomba Chamada Etelvina no Teatro Desmontável”,
Jornal de Viseu ¸ 30.11.1968: 10 (cróitica ao espectáculo).
309
1968j “De Teatro: As Pupilas do Sr. Reitor no Teatro Desmontável”, Jornal
de Viseu, 11.12.1968:7, 2 (analiza -se o género opereta em Portugal,
como introdução, de uma apreciação crítica ao espectáculo).
1968l “De Teatro: A Calúnia”, Jornal de Viseu, 18.12.1968: 2 (crítica ao
espectáculo).
1969 “Espectáculo do Órfeão de Viseu no Teatro Desmo ntável”, Jornal de
Viseu, 18.01.1969 (crónica do espectáculo realizado a 14).
SPECTATOR
1955a “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 26.03.1955: 5
(breves críticas a Raça, a 11.03, Fidalgos da Casa Mourisc, a 16.03,
Tio Rico, a 18.03, e O Ladrão, a 23.03).
1955b “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 09.04.1955: 2
(breves críticas a Jesus Nazareno, a 03 e 04.04, e Frei Luís de Sousa,
a 06.04).
1955c “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 23.04.1955: 2
(breves crítica a Dama das Camélias, a 20.04).
1955d “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 14.05.1955: 2
(breves críticas a Marquês de Villemer, a 29.04, Grande Amor, a
04.05, e Sapo e a Doni nha, a 11.05).
1955e “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 21.05.1955: 2
[breve crítica a Ver Navios, a 13.05).
1955f “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 04.06.1955: 2
(breve resenha dos espectáculos apresentados, com críticas a Prata
da Casa, a 25 e 26.05, e Casa de Doidos, a 27.05)
1955g “Teatro Desmontável ” , O Distrito de Portalegre , 11.06.1955: 4
(crítica a Recompensa) .
1955h “Teatro Desmontável”, O Distrito de Portalegre , 25.06.1955: 4, 2
(breves críticas a Frei Luís de Sousa , Duas Máscaras e Santo
António).
VAZ, M. J.
1961a “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira e o seu Teatro
Desmontável no Barreiro”, Distrito de Setúbal, Setúbal, 03.11.1961:
1, 4 (historial desenvol vido da companhi a, do desmontável e das
condições problemáticas do seu trabalho; referência à constituição do
elenco; tem continuação na edição seguinte do j ornal).
310
1961b “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira no Barreiro”, Distrito de
Setúbal, 07.11.1961: 4 (conclusão da reportagem iniciada no número
anterior).
1961c “Crítica de Teatro: Um Fantasma Chamado Isabel pela Companhia de
Rafael de Oliveira”, Distrito de Setúbal, 21.11.1961: 1 (crítica ao
espectáculo de estreia da Companhia no Barr eiro).
1961d “Festa de Homenagem à Companhia de Teatro Rafael de Oliveira no
Barreiro”, Distrito de Setúbal, 01.12.1961: 1, 6 (notícia da festa, a 2
de Dezembro, promovida pelo agrupamento cénico da Sociedade
Instrução e Recreio Barreirense, em cuj o programa o Grupo Céni co
dos Penicheiros representou Dias Felizes , de Claude -André Puget , e
a Companhia Rafael de Oli veira, O Sapo e a Doninha ) .
1961e “A homenagem promovida no Barreiro à Companhia Rafael de
Oliveira”, Distrito de Setúbal, 15.12.1961: 1, 4 (crónica da
homenagem, a 2 de Dezembro, promovida pelo Grupo Cénico da
Sociedade Instrução e Recreio Barreirense (Os Penicheiros) à
Companhia Rafael de Oli veira, em que o Grupo Cénico dos
Penicheiros representou Dias Felizes , de Claude -André Puget, e a
Companhia O Sapo e a Doninha ) .
VAZ, M. R
1973 “Companhia Rafael de Oliveira”, Diário de Luanda, 07.04.1973: 7
(crítica a Noite de Rei s).
V. B.
1973 “A cidade: Teatro em Luanda: A propósito de O Amor de Perdi ção
pela Companhia Rafael de Oli veira”, Diário de Luanda, 06.05.1973:
7 (crítica).
V. C.
1952 “Companhia Rafael de Oliveira”, O Alfarve, 21.12.1952: 4 (breve
nota elogiosa sobre a di ginidade de monta gem de qualquer
espectáculo na Companhia; referência ao espectáculo O Ladrão e à
cedência do Desmontável para uma récita de beneficência).
V. C. F.
1959a “Página dos Espectáculo: A Companhia Rafael de Oli veira em Torres
Vedras”, República, Lisboa, 07.07. 1959: 3 (crítica elogiosa ao
espectáculo Cadeira da Verdade ).
1959b “Prémio Nobel em Torres Vedras”, República, Lisboa, 11.07.1959: 3
(crítica ao espectáculo).
1959c “Página dos Espectáculo: Deus lhe pague em Torres Vedras”,
República, Lisboa, 15.07.195 9: 3, 11 (crítica ao espectáculo).
311
1959d “Página dos Espectáculo: Teatro em Torres Vedras”, República,
Lisboa, 19.07.1959: 3, 11 (apreciações sobre a crise de Teatro).
1959e “Página dos Espectáculos: Rafael de Oliveira em Torres Vedras”,
República, Lisboa, 21.07.1959: 3 -10 (apreciação crítica aos
elementos da Companhia).
1959f “Página dos Espectáculos: Teatro em Torr es Vedras”, República,
Lisboa, 25.07.1959: 3 -11 (crítica a Alguém terá de morrer ).
1959g “Página dos Espectáculos: O Grande Amor em Torres Vedras”,
República, Lisboa, 26.07.1959: 3 -10 (crítica).
1959h “Página dos Espectáculos: A Calúnia em Torres Vedras”, República,
Lisboa, 01.08.1959: 3 (crítica ao espectáculo; referência às fracas
condições do teatro, que prej udicam a exibição; necessidade da
existência de outros gr upos congéneres).
1959i “Página dos Espectáculo: O Marquês de Villemer em Torres Vedras”,
República, Lisboa, 03.08.1959: 3, 5 (crítica ao espectáculo).
1959j “Página dos Espectáculos: o Tio Rico em Torres Vedras”, República,
Lisboa, 04.08.1959: 3 (crítica ao espectáculo).
1959l “Recompensa de Ramada Curto em Torres Vedras”, Repúbli ca,
Lisboa, 02.10.1959: 3, 4 (crítica ao espectáculo e referência ao modo
de vida dos elementos da Companhia).
1959m “Teatro em Torres Vedras”, República, Lisboa, 13.10.1959: 3
(crónica do penúltimo espectáculo da Companhia em Torres Vedras,
patrocinada pela Casa Hipólito, a favor dos seus funcionários, com a
representação de Casa de Doidos , seguida de, em fi m de festa, de
uma fantasia musicada e de poemas declamados por Luís Pinhão).
1959n “Página dos Espectáculos: A companhia Rafael de Oliveira despede se de Torres Vedras”, República, Lisboa, 16.10.1959: 3 (crónica do
último espectáculo da companhia, em que se representou Calúnia e O
Infanticida, e m fi m de festa; seguiu -se a homenagem da praxe e a
oferta de lembranças, com discurso de despedida).
VIDIGAL, Rogério
1966 “Cinema, Teatro – O Alentej o”, República, Lisboa, 29.11.1966: 4, 13
(análise da situação do espectáculo em Por tugal, e no Alentej o e m
particular, nos anos de 65 e 66. Apontam -se dados estatísticos
referentes ao cinema, teatro e televisão; referência à Companhia
Rafael de Oli veira).
VIEIRA, Manuel
312
1965 “Teatro Desmontável Rafael de Oli veira: fut uro incerto” (recorte não
identificado pe rtencenta ao acervo de Ál varo de Oli vei ra),
05.11.1965 (reportagem com fotos de J. Nunes Correia. Fotografias
do Desmontável em Al gés, de Fernando de Oliveira, do interior do
Desmontável com público e da Companhia. Fernando de Oliveira faz
o historial da Companhia, fala dos problemas financeiros, do
pagamento de actores e funcionários, etc.) (Recorte pertencente ao
acervo de Álvaro de Oliveira).
VISOR
1956a “Teatro Desmontável: Empresa Rafael de Oliveira, O Mensagei ro,
Leiria, 07.01.1956: 2 (crítica à estr eia da Companhia em Leiria, com
O Grande Amor ; ao espectáculo As duas Órf ãs ).
1956b “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia,
14.01.1956: 1 (crítica aos espectáculos Cadeira da verdade, Israel,
Amor de Perdição e Prémio Nobel ).
1956c “Teatro no Largo da Feira”, O Mensageiro, Leiria, 14.01.1956: 3
(anúncio de A Rosa do Adro e Marquês de Vi llemer ).
1956d “Teatro”, O Mensagei ro, Leiria, 14.01.1956: 3 (apreciação crítica de
A Rosa do Adro e Marquês de Villemer ) .
1956e “Teatro”, O Mensagei ro, Leiria, 28.01.1956: 1 (apreciação crítica de
Inês de Castro, Calúnia e Duas Causas; anúncio de Milhões do
Criminoso e Fidalgos da Casa Mourisca ).
1956f “Teatro: Pavilhão desmontável no Campo da Feira”, O Mensageiro,
Leiria, 04.02:1956: 1 (apreciação crítica de Milhões do Criminoso,
Fidalgos da Casa Mourisca e Fera; anúncio de O Paralítico).
1956g “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia,
18.02:1956: 1 (após uma semana de apresentação de comédias, a
companhia regressa ao “teatro s ério e educat ivo”).
1956h “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia,
03.03.1956: 3 (referência à paragem da Companhia por moti vo de
doença de um dos soci etários).
1956i “Teatro Desmontável”, O Mensageiro, Leiria, 07.03.1956: 2 (lasti ma se a partida da Companhia, apesar da pouca afluência sentida, que se
j ustifica com o estado do tempo) .
1956j “Frei Luís de Sousa pela Companhia Rafael de Oliveira”, O
Mensageiro, Leiria, 21.04..1956: 2 (referência elogiosa ao
espectáculo e solicitação de reposição em matinée escolar).
313
1956l “A Companhia Rafael de Oli veira vai actuar no Sá da Bandeira do
Porto”, O Mensageiro, Leiria, 12.05.1956: 2.
1956m Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensagei ro,
Leiria, 26.05.1956: 2 ( notícia sobre o êxito da Companhia no Porto, e
anúncio do seu regresso a Leiria).
VISOR 1
1956a “Teatro:À guisa de crítica...”, A Voz da Figueira , Fi gueira da Foz,
26.07.1956: 3 (crítica ao espectáculo Cadeira da Verdade ).
1956b “Teatro:À guisa de crítica...”, A Voz da Figueira, Fi gueira da Foz,
23.08.1956: 3 (crítica ao espectáculo O Tio Rico).
1958a “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz,
18.09.1958: 4 (notícia elogiosa ao regresso da Companhia à Figueira,
e crítica a Alguém t erá de mo rrer, de L. F. Rebelo; em N.R.,
anuncia -se Transviados, em Récita de Beneficência, a 22 de
Setembro).
1958b “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz,
25.09.1958: 2 (apontamento crítico a Deus l he pague ).
1958c “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz,
02.10.1958: 3 (a propósito da Companhia Rafael de Oliveira, o
articulista percorre as opções teatrais em Lisboa, onde se deslocou;
referência desastrosa à revista Ai mexe e remexe , no Coliseu).
X. (1)
1959a “Teatro Desmontável da Companhia Rafael de Oli veira”, Notícias de
Évora, 30.10.1959: 2 -3 (biografia da Companhia com votos de êxito).
1959b “Teatro Desmontável: A Muralha e Prémio Nobel ”, Notícias de
Évora, Évora, 01.11.1959: 2 (crítica do primeiro e anúncio do
segundo).
1959c “Teatro Desmontável: As Duas Causas e Israel”, Notícias de Évora ,
03.11.1959: 2 (crítica do pri meiro e anúncio do segundo) .
1959d “Teatro Desmontável: Prémio Nobel ”, Notícias de Évora ,
04.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo de 1 de Novembro; anúncio de
Cadeira da Verdade , a 5).
1959e “Teatro Desmontável: Israel e Amor de Perdição ”, Notícias de
Évora, 06.11.1959: 2 (crítica do pri meiro e anúncio do segundo).
1959f “Teatro Desmontável: O Grande Industrial ”, Notícias de Évora ,
19.11.1959: 3 (crítica ao espectáculo).
314
1959g “Teatro Desmontável : As Duas Órfãs ”,
25.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo).
Notícias
de
Évora ,
1959h “O Maestro Al ves Coelho da Companhia Rafael de Oli vei ra”,
Notícias de Évora , 06.12.1959: 1 (biografia de Al v es Coelho, filho;
curiosidade:
o
maestro
participava
como
figurante
nos
espectáculos!).
X. (2)
1963 “Nota à mar gem: De Teatro”, Região de Leiria, 18.05.1963: 4
(considerações sobre teatro a propósito da estadia da Companhia em
Leiria).
X. F.
1973a “Teatro: O Pato pela Companhia Rafael de Oliveira”, A Província de
Angola, 02.06.1973: 6 (apreciação crítica ao espectáculo).
1973b “Teatro: A Rosa do Adro no Desmontável dos Combatentes”, A
Província de Angol a, 28.06.1973: 15 (apreciação crítica ao
espectáculo).
Z.
1956 “A Voz da Marinha -Grande: Prémio Nobel pela Companhia do Teatro
Desmontável Rafael de Oliveira”, Região de Leiria, 08.03.1956: 3
(referência crítica ao espectáculo e à falta de interesse do públ ico
local “por coisas do espírito”; referência ao cinema, que sobrelotao
recinto, e a qualidade do gosto do públi co, preferindo o Parque
Mayer).
2.5. Sitiograf ia
CAMARGO, Robson Corrêa de ( Prof.) (Universidade Federal de Goiás –
UFG)
2006 “A Pantomi ma e o Teatro de Feira na for mação do espectáculo
teatral: o texto espectacular e o palimpsesto”, Fenix, Revista de
História e Estudos Culturais, Outubro/Novembro/ Dezembro 2006,
Vol. 3, Ano III, nº 4, ISSN 1807 -6971
(www.revistafenix.pro.br/PDF9/7.Dossie.Robson_Correa_%20de_Ca
mar go.pdf ) (2007.07.18)
CAMPARDON, Émile
1877 Les Spéctacles de la Foire . Théâtres, Acteurs, Sauteurs et Danseurs
de corde Monstres, Géants, Nains, Ani maux curieux ou savants,
Marionnettes Automates, Fi gures de cire et Jeux mécaniques des
Foires Saint -Ger main et Saint -Laurent, des Boulevards et du Palais Royal depuis 1595 j usqu’à 1791. Documents inédits recueillis aux
archives nationaux. Introduction. (historial do teatro de fei ra)
(http://foires.net/campint.sht ml ) (2007.07.18).
315
LE SAGE & D’ORNÉVAL
1723 Le Théâtre de la Foire ou l’Opéra Comique, contenant les meilleurs
pièces qui ont été représentées aux Foires de Saint -Germain & de
Saint-Laurent (no prefácio desta obra, é traçado um breve historial
do teatro de feira e das suas peças) ( http://foires.net/lesage.sht ml )
(2007.07.18).
NOVELLÓN, Victor
2001 Principios del teatro: el Siglo de Oro español, in Can Fusté (pági na
de curiosidades sobre história antiga, lendas e tradições, história
local e do quotidiano; revista em 2007)
(http://www.tinet.or g/ ~vne/ H_teatro_1.ht m ) (2007.07.18)
RUSSELL, Barr y (hipertexte de)
Le Théâtre de la Foire à Paris. Textes et documents (1. Teatros; 2.
Cenografia; 3. Admi nistração; 4. Relações sociais; 5. Trupes; 6.
Relações artísticas; 7. Peças; 8. Biografias; 9. Iconografia;
10.Glossário; 11. Bibliog rafia; 12. Cronologia; 13. Di versos)
(http://foires.net/ ) (2007.07.18).
SCHLABACH -WALIIS, Michael
Comédie et Théâtre -de-Foire. De la Comédie – fragments – portrai ts
(historial, iconografia, textos dos teatros de feira franceses - Al ain
René Lesage: Arlequin Roi de Serendi b, Arlequim Mahomet,
Colombine- Arlequin, Querelle des Théâtres )
(www.liensdeslettres.net/ ) (2007.07.18) .
STRO UD, Matthew D.
2002 Indice de textos de c omedias (página de ver sões textuais on line da
responsabilidade da Association of Hispanic Classic Theatre, Inc.
(http://www.coh.arizona.edu/spanish/comedi a/intext.html )
(2007.07.18)
TROTT, David
2002 Théâtres de foire à l’ époque révolutionaire: rupture ou continuit é? ,
prépublication de l’article à paraître dans les actes du colloque
international, «Révolution française et arte de la scène» 13 -15 June
2002, château de Vizille, France (histo ri al e caracterizção deste
género dramático e teatral
(www.chass.utoronto.ca/~trott/foire_rv_web.ht m ) (2007.07.18)
VELEZ- SAINZ, Júlio (Assist.Prof.) (Uni ver sity of Massachussets Amher st/
Depart ment of Spanish and Portuguese)
2000 “El Recueil Frossard, la compañia de los Gelosi y la génesis de Don
Quijote”, in Cervantes: Bulletin of the Cervantes Society of America
20.2 (2000). The Cer vantes Societ y of Amer ica; 31 -51 (as marcas da
commedia dell’arte na obra cer vantina)
316
(http://www.h -net.or g/~cervantes/csa/articf00/velez.pdf )
(2007.07.18).
ZAMPELLI, Father Michael A. (SJ) (Associate Professor; Santa Clara
Uni versity) [ 744]
2002 “Trent revisited: A Reappraisal of Early Modern Catholicism’s
Relationship with the Commedia Italianna” , in The Journal of
Religion and Theatre, Vol. 1, nº 1, Fall 2002 (as relações entre teatro
e
religião
explicadas
à
luz
do
Concílio
de
Trento )
(www.rtj ournal.org/ vol_1/no_1/zampelli.ht ml ) (2007.07.18).
744
Centro de Estudos de Teatro (Cetbase) (base de dados sobre o
teatro em Portugal i mplementado pelo Cent ro de Estudos de Teatro
da Faculdade de Letras, da Uni versidade Clássica de Lisboa)
(http://www.fl.ul.pt/CETbase/ ) (2007.07.18).
César. Calendrier électronique des spéctacles sous l’ancien régime et
sous la révolution ( Le site offre de ux principales sources
d'infor mation liées entre elles — une base de données et une banque
d'i mages — mais aussi des ressources supplémentaires - version en
ligne de l 'i ntégralité des anthologies des Frères Parfaict et de Léris,
sélection de comptes -r endus de l 'époque, rapports de police et text es
théoriques). Tous ces documents peuvent être consultés à partir de la
base
de
données
ou
de
la
banque
d'i mages.
(http://www.cesar.or g.uk/cesar2/ ) (2007.07.18).
Internet Movie Database ( IMDB) (base de dados sobre cinema,
televisão) ( http://www.i mdb.com) (2007.07.18).
Internet Broadw ay Database ( IBDB) (base de dados sobre os
teatros da Broadway: espectáculos, e elencos técnicos e ar tísticos)
(http://www.ibdb.com) (2007.08.18).
I Sebastiani : The greatest commedia dell’Arte troupe in the entire
world (sítio pertencente à trupe Sebast iani, fundada por Jeff
Hatalsky, em 04.06.1990, Boston, EUA; para além do historial da
companhia, relação dos actores e dos espectáculos, permite
investi gação
sobre
commedia
dell’arte ;
bastante
mat erial
iconográfico) ( http://www.isebastiani.com/i ndex.ht m ); para tabel as
cronológicas sobre o assunto vej a -se em “Resources: Ti melines”
(2007.07.18).
Theatre
Database
(base
de
dados
sobre
teat ro)
(http://www.theatredat abase.com)(2007.07.18).
U ni v ers id ad e J e s ui ta e m Si li co n V al le y.
317
4
Índice Remissivo
ALB U QUE R QU E, He nri q ue d e (a cto r)
..................................................................... 184
Alc â nta ra ( Li sb o a, to p o ní mia ) .28, 56, 59,
87, 104
Alco b aça (lo c al id ad e) .........33, 35, 148, 160
ALC O RI ZA, Lu í s (1 9 1 8 -1 9 9 2 ,
ci nea s ta) .................................................. 254
ALE AN DR O, Giro la mo (1 4 8 0 -1 5 4 2 ,
Card eal ) ..................................................... 22
ALE GR IM, Si l ve s tre (1 8 8 1 -1 9 4 6 ,
acto r) .........................................118, 119, 125
Ale n tej o (re g ião ) ........... 33, 10, 71, 203, 212
Al fa ma ( Li sb o a, to p o ní mi a) ............. 44, 47
Alg a rve (O ) (p erió d ico ) 112, 114, 115, 116
Al gar v e (re g ião ) ... 33, 71, 111, 210, 243, 261
Alg a rve I lu st ra d o (p erió d ico ) .....111, 112
ALI CE, Mar ia ( actr iz) ............................ 243
Alj us tre l (lo ca lid ad e) .....................109, 245
Alma Alg a rv ia (p er ió d i c o ) .................... 115
Alma No va (p er ió d i co ) ... 79, 80, 81, 82, 83,
84, 86, 91
Alma Po p u la r (p erió d ic o ) .....121, 122, 123
Al mad a ( lo ca lid ad e) ............................ 38, 70
ALME ID A, An tó nio J o s é d e (1 8 8 6 1 9 2 9 , p o lí ti co ) ........................................ 38
ALME ID A, B ea tr iz d e ( actr iz) ........... 118
ALME ID A, Car lo s d e ( a cto r a mad o r) 64
ALME ID A, Id a li n a d e ( 1 9 1 4 , act riz) 15,
34, 70, 204, 206, 246, 266, 292, 296, 316, 321
ALME ID A, J o aq ui m d e (1 8 3 8 -1 9 2 1 ,
acto r) ................................................... 39, 105
ALME ID A, M at ia s d e (? -1 8 9 6 ) ............ 30
ALME ID A, M i g ue l d e ( arti c ul is ta) . 195,
196
Al me ir i m (lo ca lid ad e) ...................... 12, 268
Almo n d a (O ) (p erió d ico ) ....................... 255
Alt er d o C h ão (lo cal id a d e) ..................... 10
Alt o Cat u mb el a (lo ca lid ad e) ............... 306
ÁLV AR E S, Afo nso (s éc. XVI, a uto r) . 7
Au to d e S ã o Vi cen t e ............................... 7
ALV ES, Amé rico R ui ( a rtic u li s ta) ... 304
ALV ES, C arlo s ( ac to r) ........................... 280
ALV ES, Fr ed er ico (a rt ic ul i st a) .137, 158,
159
ALV ES, He nr iq ue (ac to r ) ....................... 33
ALV ES, T in a (a ctr iz) ............................... 58
A mad o ra (lo c al id ad e ) .....................274, 275
AM AR AL, Al meid a ( 1 9 0 1 -1 9 6 4 ,
au to r) .................................................250, 353
AM AR AL, Mar ia J o sé G o d i n ho d o ... 169
AM AR ANT E, E s tê vão ( 1 8 8 9 -1 9 5 1 ,
acto r) .................................................186, 243
A
AB E L (1 8 2 4 , ac to r) ................................... 31
AB R AN C HE S, Ad el i na (1 8 6 6 -1 9 4 5 ,
actr iz) ................................... 31, 18, 126, 162
AB R AN C HE S, Ari st id e s (1 8 3 2 -1 8 9 2 ,
au to r) ................................ 127, 136, 350, 352
Ca sa d e Do id o s ( al iá s C a sa d e
Ora te s) ...... 108, 127, 136, 137, 160, 231,
275, 339, 352, 358
Ca sa d e O ra te s ...............................34, 127
Filh o s (O s ) d e Ad ã o ............................. 34
Ga ia to (O ) d e Li sb o a ( a liá s Jo s é
Nin g u ém, i mi t ad o d e J . - F.
B a yard ) ...... 126, 162, 163, 166, 180, 216,
217, 335, 336
Tio (O ) Ra fa e l (a li ás Ca sa d e
Ora te s) ................................................ 127
AB R EU, C él ia d e (ac tri z) ..................... 280
AB R EU, D eo li nd a (a ctr i z) .................... 243
AB R EU, Sa ra (a cto r) .............................. 243
Acad e mia Le ai s A mi go s (Li sb o a,
as so c iaç ão re crea ti v a) ................... 51, 99
Acad e mia Lúc io d e So u s a (a sso ci ação )
....................................................................... 47
Acad e mia Recr eat i va d e Li sb o a
(Li sb o a, as so c ia ção re cr eat i va) ....... 52
Acad e mia T ab o rd a ( Lisb o a, a s so ci ação
recrea ti v a) ................................................. 49
Acca d e mia d eg l i In t en t i (P av ia) .......... 16
Aço r ea n o O r ien ta l (p eri ó d ico ) ........... 234
Aço r es (p er ió d ico ) .. 226, 227, 228, 229, 230
Aço re s (r e gi ão i n s ul ar) .... 2, 215, 229, 230,
231, 322
Actu a lid a d e s (p erió d ico ) ....................... 271
ADE LAI DE, Her mí n i a ( actr iz) ............. 34
Ad ó q ue – Co o p e rat i va d e
T r ab alh ad o re s d e E sp ec t ác ulo
(Li sb o a) ............................................313, 318
Ad r iã o , q u e ro v e r o p a p á ! (tí t ulo ) .... 207
AF ON SO , Ze ca (1 9 2 9 -1 9 8 7 , mú s ico )
..................................................................... 316
ÁG UED A, J o sé ( a uto r) ............................. 97
Ma n g a (A ) d o F ra d e ............................. 97
AIT E (art ic u li st a) .................... 204, 205, 244
ALB EE, Ed wa rd (1 9 2 8 , au to r) ....296, 307
ALB E RG AR I A, M aria L uí s a So are s d e
..................................................................... 170
ALB E RT O, J o s é (a li ás Alb er to Vi lar,
acto r) ........................................................... 70
ALB E RT O, Lu ís (ac to r) ........................ 310
ALB E RT O, M ário (ce nó gra fo ) ...313, 314
4
AR NI CH ES , Car lo s (1 8 6 6 -1 9 4 3 , a uto r)
............................................................... 80, 167
El p u ñ á s d e ro sa s (co m Ra mó n
As se n cio Má s, zarz u ela ) ................ 80
Yo q u i ero ................................................. 167
Aro na ( lo ca lid ad e) ..................................... 22
AR RI AG A, Ma n ue l d e ( 1 8 4 0 -1 9 1 7 ,
p o lít ico ) ..................................................... 38
Arro nc he s ( lo c al id ad e) ...........193, 333, 339
AR R UD A, Ma n ue l ( v io l a) .................... 236
Arte d e Rep r e se nt ar (d i s cip l i na
cur ric u lar) ........................................... 50, 53
Art ur, e sto fad o r (p er so n ag e m d e
Mo u ra r ia ) ................................................ 165
As s is P a c heco (1 9 0 3 -? , acto r) ...214, 280,
298
As so c ia ção d o s J o r na li st as d e B ra ga
..................................................................... 128
AT AÍ DE, Al fred o d e (1 8 3 4 -1 9 0 7 )
Tio (O ) To rq u a to ( le ve r d e r id ea u )
.................................................................. 32
Au g u s ta (p er so na ge m d e Alg u é m t er á
d e mo r re r ) ......................................... 11, 253
Au to d o s S á t i ro s (s ec. X VI) ..................... 7
Av eiro (lo c al id ad e ) ...... 33, 12, 71, 121, 133,
134, 143, 146, 148, 343
AVE LAR , An tó n io (a cto r) ...................... 34
Av e nid a d a Lib erd ad e ( Lis b o a,
to p o ní mi a) ................................................. 26
Av e nid a d e Ál v are s Cab ral ( Li sb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 43
Av e nid a d e An tó n io Au g u sto d e
Ag u iar (to p o n í mi a, Lisb o a) ............... 16
Av e nid a d e D. A mé lia ( act ua l
Al mi ra n te Re i s, Lisb o a, to p o ní mi a)
....................................................................... 62
Av e nid a d e D. Ca rlo s ( Lisb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 50
Av e nid a d o Aero p o r to ( Lis b o a, Av . d e
Ga go Co ut i n ho ) .................................... 297
Av e nid a d o M ar ( F u nc ha l, to p o n í mi a)
............................................ 215, 216, 220, 221
ÁVI LA, H u mb er to d e (a rtic u li s ta) ...... 73
Aza mb uj a ( lo c al id ad e) ..................... 75, 342
AZE VED O, Ale x a nd re d e (ac to r) 33, 118
AZE VED O, Art ur (1 8 5 5 -1 9 0 8 , a uto r)
Amo r p o r An e xin s .................................. 33
Do te (O ) ( co méd i a) ............................... 51
AZE VED O, Cr uz (a liá s A mad o r
Aze ved o ) ................................................. 114
Amo r d e Pa i ( tí t ulo ) ................................ 203
A mo re ira s ( Li sb o a, to p o ní mia ) 42, 44, 56
Amo re s d e Ro s in a (o p er eta) ................. 143
An ad i a (lo ca lid ad e) ................................... 33
An a stá cio ( p er so na ge m d e Ro sa s d e
No ssa S en h o ra ) ....................................... 92
An ato mi a Ar tí st ica (d i sc ip li n a
cur ric u lar) ................................................. 53
AN DR AD E, An a Mari a d e (ac tri z) .. 296,
316
AN DR AD E, Au g u s to d e (acto r) ......... 219
AN DR AD E, H u mb er to d e (1 9 1 5 -1 9 8 5 ,
acto r - e mp re sár io ) 80, 266, 277, 278, 296,
300, 316, 320, 344
AN DR AD E, P a i va d e (e xp l o rad o r) ..... 38
An d ré (p erso n a ge m d e J o ã o Jo s é ) ...... 88
AN DR EINI , F ra nce s co ( 1 5 4 8 -1 6 2 4 ,
acto r, ca p o co mm ico ) ...................... 14, 17
AN DR EINI , G io va n B at ti st a (ca .1 5 7 6 1 6 5 4 , acto r, d ir ec to r) ........................... 17
AN DR EINI , I sab e ll a (1 5 6 2 -1 6 0 4 ,
actr iz) ..............................................14, 16, 17
La p a zz ia d ’I sa b e lla (1 5 8 9 ) .............. 15
Let te re (1 6 0 7 ) ......................................... 16
Mi ti la (1 5 8 7 , d r a ma p as to ral) .......... 15
Rim i (1 6 0 1 ) .............................................. 16
ÂN GE LO, Art ur ( m ú s ic o ) ..................... 119
An g o la (co ló n ia) 34, 111, 292, 295, 297, 302,
303, 306, 308, 310, 311, 345, 347
An g ra d o Hero ís mo (lo c alid ad e) 225, 234
ANJ O S, J ú lia (ac tri z) ............................... 57
AN OUI LH, J e a n (1 9 1 0 - 1 9 8 7 , a uto r) 139
A Co to v ia ( L'Alo u et te, 1 9 5 2 ) ......... 139
An ten a (p erió d ico ) ................................... 271
ANT UN ES, Ac ác io (1 8 5 3 -1 9 2 7 , a uto r)
...............................................................41, 350
An o (O ) Pa s sa d o (1 9 0 6 , rev i sta , T .
P rín cip e R ea l, Lisb o a) .................... 41
In fa n t icid a (O ) (1 9 1 3 ) ................... 32, 81
AR AG O NE Z, El iza (? -1 9 0 2 , act riz) .... 4
AR AÚJ O ( fi g uri n is ta) .............................. 57
AR AÚJ O, Fra n ci sco d e (au to r ) ............ 69
AR AÚJ O, Lu iz d e (1 8 3 3 -1 9 0 8 , a uto r)
....................................................................... 49
Ciú me, Amo re s e Co zin h a (co méd ia)
.................................................................. 49
AR AÚJ O, Ma n ue l (a cto r ) ........................ 32
Arch ivo Th ea t ra l (p erió d ico ) .......... 32, 78
Ar ga ni l ( lo ca lid ad e) ............. 91, 92, 95, 100
AR IO ST O, Lud o v ico (1 4 7 1 -1 5 3 3 ) ...... 17
ARJ ON A, Art ur (ac to r) ................12, 13, 85
ARJ ON A, J ú l ia ( al iá s J u lie ta R e nt i ni)
....................................................................... 12
AR M ANI, Vi n ce nz a (a ct riz) .................. 10
B
B airro Al to ( Lisb o a, to p o ní mia ) .......... 45
4
Beb é e to tó ..................................................... 34
B EC KET T , Sa mu e l (1 9 0 6 -1 9 8 9 , a uto r)
............................................ 297, 307, 308, 350
À Esp e ra d e Go d o t .... 297, 300, 303, 305,
308
B eirã ( lo c al id ad e) ....................................... 30
Bei ra - Dã o (p er ió d ico ) .. 161, 162, 163, 164,
165, 166, 167, 168, 169, 170, 178
B ej a (lo ca lid ad e) .... 179, 203, 206, 207, 243,
244, 245, 261, 336, 340
B elé m ( Li sb o a, to p o n í m ia) ............. 56, 104
Bel isá r io s (t ít u lo ) ..................................... 164
B EN AMO R, Ál v aro (a ct o r) .................. 214
B EN AMO R, Mar ia na (ar tic u li s ta) .... 304
B en a ve nt e (lo ca lid ad e) ............................ 67
B EN AVENT E, Al i na ( ac triz) ................ 32
Ben a ven ten se (p erió d ico ) .............. 2, 67, 68
B en cat el ( lo c al id ad e) .............................. 198
B en g u ela (lo c al id ad e ) ............................. 305
B en to Ca st a n ho (p er so n ag e m d e As
Du a s Ca u sa s ) .........................135, 136, 162
B ENT O, Dr . O li v eira S a n (j o r na li st a)
..................................................................... 236
B EO LCO , Ân g elo (d ito R uz za nt e, c a.
1 4 9 5 -1 5 4 2 , ac to r) .................................. 10
B ER NST EIN , H e nri (1 8 7 6 -1 9 5 3 ,
au to r) ................ 187, 196, 248, 337, 350, 357
Is ra el ................................ 248, 337, 338, 357
La d rã o (O ) (1 9 0 6 ) ...............187, 196, 206
B ET ÂMI O, Ál v aro (d i re cto r d o gr up o
d ra mát ico d o C l ub e Ar tí st ico ,
B en a ve nt e) ................................................ 67
B ET ENC OU RT , J o ão (a rtic u li s ta) ... 100,
102
B IB B IEN A, B er nard o D o vi zi, d e
La Ca la n d ra ............................................. 18
B ib lio te ca Nac io na l ( Li s b o a) ........ 69, 103
B IEST ER , Er ne s to (1 8 2 9 -1 8 8 0 , a uto r ,
trad uto r ) ............................................. 94, 105
B ÍV AR, B erta d e ( actr iz ) ...................... 139
B LI N, Ro ger (ac to r, e nc en ad o r) ........ 297
B lo i s à la Co ur (lo c al id a d e) .................. 13
B o d as d e O uro Ar tí st ica s (e fe mér id e)
............................................ 173, 225, 235, 345
Bo h em ia (p er ió d i co c ub ano ) ................ 315
Bo le ti m d a Un iã o d e G r émio s d o s
Esp e ctá cu lo s (p ub l ic açã o ) ......... 30, 159
Bo le ti m d o Clu b e d a s D o n a s d e Ca sa
(p erió d i co ) ......................................285, 286
B o mb e iro s Vo l u nt ário s ( B ej a) ............ 179
Bo n eq u in h o (O ) ( ca nço n eta) ................ 117
B o o th T hea tre (No va Io r q ue) .............. 289
B o rb a (lo c al id ad e) ................................... 196
Bo rd a - d ’á g u a (p ub li caç ão ) .................... 39
B alt azar Co u ti n ho (p er s o na g e m d e
Amo r d e P e rd içã o ) .......................... 84, 85
B an co N acio n al Ul tra ma ri no (B N U,
LI sb o a ) ..................................................... 310
B and a Ar tí s tic a M u s ica l (d it a
So c ied ad e d o P a u T eso , as so c iaç ão )
....................................................................... 47
B AND EI R A, P ed ro (1 8 7 1 -1 9 4 5 , a uto r)
Po m- p o m ( et a l., 1 9 2 6 , r ev i sta ,
Sal ão Fo z) .......................................... 119
B AP T IST A, Aid a (ac tr iz ) .... 277, 280, 298
B AP T IST A, Dr. Cé s ar Mo reir a ( SNI)
.... 263, 264, 265, 267, 268, 272, 273, 275, 284
B ARB OS A, Alb erto (1 8 9 1 -1 9 6 0 ,
au to r, e mp re sár io ) ............................... 167
S emp re F ixe ( e t a l. , 1 9 2 6 , re vi s ta,
T . Maria Vi tó ri a) ............................ 119
B ARB OS A, An tó n io (a c to r e mp re sár io ) ............................................... 79
B ARB OS A, J o sé (1 9 0 0 - 1 9 7 7 ,
ce nó gra fo ) ............................................... 299
B AR C A, Ca ld eró n d e l a (1 6 0 0 -1 6 8 1 ,
au to r) ........................................................... 12
B AR LAC H I, Do me ni co (acto r) ............ 18
B aro n es a d e Va l mo r (p e rso na g e m d e O
Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 218
B arreiro (lo c al id ad e) .......................262, 263
B AR R O C A, No rb erto ( a cto r) .............. 289
B AR R OS , J o s é Le it ão d e (1 8 9 6 -1 9 6 7 ,
j o rnal i sta , c i nea s ta) .. 152, 153, 213, 250,
353
Ca mõ e s (1 9 4 6 , c i ne ma ) ..................... 213
In ês d e Ca st ro (1 9 4 5 , ci ne ma ) ...... 213
S eve ra (A ) (1 9 3 1 , c i ne m a) ............... 153
B AS C HET , Ar ma nd ............................. 19, 24
Le s Co m éd i en s Ita lien s a la Co u r d e
Fra n c e .................................................... 23
B AST O S, A. So u s a (1 8 4 4 -1 9 1 1 , a uto r ,
e mp re sár io ) . 29, 30, 32, 38, 62, 69, 77, 106,
138, 325
Câ ma ra Óp t ica ........................................ 30
Rein o d a s Mu lh e re s (1 8 9 0 , re vi s ta,
T . d a rua d o s Co nd e s) ..................... 38
Ti m- t im p o r ti m - t im (1 8 9 0 , re vi s ta,
T . Ave n id a) ......................................... 38
B AST O S, G i u sep p e (e m p res ário ) ...... 256
B AST O S, Ho lb e c he (a ct o r) .................. 119
B AST O S, M ari a J o s é (a ctri z) .............. 310
B AST O S, P al mira (1 8 7 5 -1 9 6 7 , ac triz )
........................................ 20, 34, 185, 186, 253
B AT Y, Ga s to n (1 8 8 5 -1 9 5 2 , a uto r) ... 293
B AY AR D, C arlo s (a cto r ) ........................ 30
B AY AR D, J e a n -F ra nço i s (1 7 9 6 -1 8 5 3 )
....................................................................... 69
4
C AB R AL, P ed ro Cab ra l (? -1 9 2 7 ,
acto r) ........................................................... 17
Cad a val (lo c al id ad e ) ........................... 77, 85
C AEI RO, I grej a s(ac to r, en ce nad o r ,
e mp re sár io ) ............................................... 21
C ALAZ AN S, J o ão (a cto r) ..................... 184
Ca lçad a d e Sa n to An d ré (to p o ní mi a) . 41
Ca ld a s d a R ai n h a (lo cal i d ad e) ....... 33, 87,
103, 182
C ALD AS , Ar ma nd o (a ct o r, e nce n ad o r)
..................................................................... 288
C ALDE IR A, Fer n a nd o ( 1 8 4 1 -1 8 9 4 )
Ma n t ilh a (A ) d e Ren d a (1 8 8 0 ) ....... 34
C ALM O, An d rea (1 5 1 0 - 1 5 7 1 , acto r) . 10
Câ ma ra M u ni cip a l ( Co r u ch e) ................ 16
Câ ma ra M u ni cip a l ( Fi g u eira d a Fo z)
..................................................................... 264
Câ ma ra M u ni cip a l ( F u nc ha l) .......221, 222
Câ ma ra M u ni cip a l ( Go u ve ia) .............. 171
Câ ma ra M u ni cip a l ( Li sb o a) ........... 58, 321
C ÂM AR A, D. J o ão d a ( 1 8 5 2 -1 9 0 8 ) . 2, 4,
6, 17, 131, 307, 309
Fa râ n d o la (A ) (1 9 0 2 ) ............................ 2
Ro sa (A ) En jei ta d a (1 9 0 1 , d ra ma)
........................................................107, 131
Velh o s (Os ) ............................................. 309
Ca ma r go , J o ra c y (1 8 9 8 - 1 9 7 3 , a uto r)
.....................................................242, 350, 353
Deu s lh e Pa g u e (1 9 3 3 ) .... 242, 275, 353,
359
Ca mb a mb e ( lo c al id ad e) ......................... 304
C AMÕ ES, Luí s Vaz d e ( c. 1 5 2 4 1 5 8 0 , a uto r) ........................................ 3, 7, 8
Au to d e El - R ei S el eu co ( sec . X VI) . 3,
7
Lu s ia d a s (O s ) (s ec. XVI ) ................. 241
Ca mp o d e Vir iato (V i se u, to p o ní mi a)
............................................................... 12, 176
Ca mp o Gr a nd e ( Li sb o a, to p o ní mi a) ... 56
Ca mp o Ma io r ( lo ca lid ad e) .. 192, 193, 240,
331, 332, 339
C AMP O S J r., An tó n io ( au to r) .......... 4, 39
To rp e za (1 8 9 0 ) ................................... 4, 39
C AMP O S, Au g u s ta d e (a ctr i z) .............. 10
C AMP O S, Lu í s d e ( acto r) ..................... 280
C AMP O S, P i n to d e (1 9 0 8 – 1 9 7 8 ,
ce nó gra fo , fi g ur i ni st a) ..............152, 287
Ca n ta n hed e (lo ca lid ad e) .................... 87, 90
C ANT O E C AST RO, He nr iq ue (a cto r)
.................................... 296, 300, 309, 310, 311
Ca p i ta l (p er ió d ico ) ............................ 60, 282
Car aco l d a Graç a ( Lisb o a, to p o n í mi a)
....................................................................... 47
C AR AC O LES (p se ud . C ruz Mo re ira) 61
B OR GE S, Car lo s (1 8 4 9 - 1 9 3 2 , a uto r) 34,
88
Fid a lg o s (O s ) d a Ca sa Mo u ri sca
(ad ap t.) ................. 87, 107, 109, 112, 334
No n o , n ã o d e seja rá s (co méd ia) ....... 34
B OR R OME O, C ard ea l C arlo
( Arceb i sp o d e Mi lão ) ...............22, 23, 24
Bo u leva rd d u T emp le (P ari s) ........... 4, 204
Bra d o s d o A len tejo (p er i ó d i co ) ...6, 7, 15,
194, 195, 196, 197
B rag a (lo ca lid ad e) ........... 127, 130, 284, 290
B R AG A, Er ico (a cto r) ..............20, 117, 298
B R AG A, F ra nc is co Co st a (1 8 9 3 -1 9 6 2 ,
au to r) ........................................................... 61
O Cr im e d o B en fo rmo so ..................... 61
B R AG A, T eó filo (1 8 4 3 - 1 9 2 4 , a uto r) . 54
B R AG AN Ç A, J eró ni mo (au to r) ............ 21
B R AN CO, Ca mi lo Ca s te lo (1 8 2 5 -1 8 9 0
(au to r)
As sa ss in o d e Ma cá r io (1 8 8 6 ) ........... 34
B R AN CO, Ca mi lo Ca s te lo (1 8 2 5 -1 8 9 0 ,
au to r) .................... 38, 77, 135, 307, 351, 357
As sa ss in o d e Ma cá r io (1 8 8 6 ) ..... 33, 34
Me mó r ia s d o Cá rce re ........................ 351
B R AN CO, Ca ste lo ( fi g u ri ni st a) ........... 57
B R AND ÃO , P i n he iro (a cto r,d irec to r
d e ce na ) ...................................................... 58
B R AND ÃO , Ra ú l (a u to r ) ...................... 139
B ras il (p aí s) ..... 36, 13, 34, 147, 185, 186, 244
Bra si l- Po rtu g a l (p e rió d i co ) ............. 60, 76
B R AVO (ac to r) ............................................ 58
B R AZÃO , Ed u ard o J o aq ui m (1 8 9 6 1 9 6 6 , acto r) ..............................88, 186, 219
B R AZÂO , G u i ma rãe s ( c asa l d e
acto r es) ....................................................... 11
B RE C HT , B erto l t (1 8 9 8 -1 9 5 6 , a uto r)
..................................................................... 319
Mã e (A ) .................................................... 319
B RIT O, Vi to ri no ( ac to r) ........................ 124
B RU N, An d ré (1 8 8 1 - 1 9 2 6 , a uto r) .... 153,
252, 293
A Ma lu q u in h a d e A r ro io s ( 1 9 1 6 ) .. 293
Ca va lh e iro Re sp e itá v el (ca.1 9 1 6 ) 252
S a lã o (O ) d o T eso u ro V elh o (1 9 0 8 ,
rev i sta , T . D. A mé li a) .................... 33
B uar co s (lo cal id ad e ) ........................... 33, 52
B UON AR R OT I, M ic h ela n ge lo (1 4 7 5 1 5 6 4 ) ........................................................... 17
B URB AG E, J a me s (? -1 5 9 7 , acto r) ...... 14
C
C AB O, An tó n io d o (e n c en ad o r) ......... 289
C AB R AL, C arlo s Mo ura (1 8 5 2 -1 9 2 2 ,
au to r) ......................................................... 128
4
C AS S AR, Cap i tão Al me id a
(co mad a n te d o s b o mb eir o s
Vo l u n tári o s d e B ej a) .......................... 179
C AST E LA, V íto r (art ic u li st a) ............ 247
Ca s telo B r a nco ( lo c al id ad e) .................. 34
Ca s telo d e Sa nto Ân g elo ........................... 9
Ca s telo d e Vid e (lo c al id ad e) ........... 30, 98
Ca s tro D air e (lo cal id ad e ) ............... 33, 290
C AST R O, I sab el d e (1 9 3 1 -2 0 0 5 ,
actr iz) ......................................................... 21
C AST R O, J o sé d e (ac to r ) ...................... 253
Ca va le iro ( O ) d a Ro ch a Ver me lh a ..... 62
Ce la ( lo ca lid ad e) ...................................... 306
Ce mi t ério d e B e n fica ( Lisb o a) ........... 270
Cé n ico d e D ire ito ( gr up o a mad o r,
Lis b o a) ..................................................... 288
CE R QUEI R A, Ed u ard o ( arti c ul is ta) 321
Ce sár ia (p er so na ge m d e Mo u ra r ia ) .. 165
Car act eri zaç ão (d i s cip l i na c urri c ul ar 53
C AR DIM , J o s é (c e nó gra fo a mad o r) ... 51
C AR DO S O, A. (a cto r) ............................ 184
C AR DO S O, An tó nio Ma ria
(exp lo rad o r ) ............................................. 38
C AR LO S I X (re i d e Fra nç a) ............ 10, 13
C AR MO, Au g u st a d o ................................. 11
C AR MO, Fr a nc is co d o ( acto r e mp re sár io ) ........................................... 9, 10
C AR MO, J ú li a d o (a li á s J úl ia M u ño z
o u Mi mi M u ño z, a ctr iz) ...................... 11
C AR MO, Ma ria d o (p o nt o ) ..................... 15
Car mo n a ( lo ca lid ad e) .............................. 304
Ca rn e iro s e Pe rú s ( tí t ul o ) ...................... 68
C ARP I NT EIR O, M ar gar id a (1 9 4 6 ,
actr iz, a uto r a) ........................................ 3, 4
Um Na v io n a Ga ve ta (2 0 0 5 ) ............... 3
Carr e ga l d o Sal (l o c al id ad e) ................ 163
Carr iço (p er so na ge m d e Ro sa s d e
No ssa S en h o ra ) ....................................... 92
Car ta xo ( lo c al id ad e) ..........................98, 103
Car v al ho Ara új o ( na v io me rca n te) ... 215
C AR V ALH O, Al fr ed o (1 8 5 4 -1 9 1 0 ,
acto r) ........................................................... 32
C AR V ALH O, B ap ti st a d e (art ic u li s ta)
....................................................................... 63
C AR V ALH O, Dr. Ca eta no d e (S NI) 285,
286, 288, 290
C AR V ALH O, Ra ú l d e (1 9 0 5 -1 9 8 4 ,
acto r) ...................................................20, 253
C AR V ALH O, R ui d e (1 9 2 7 , acto r) .. 296,
299, 300, 309
C AR V ALH O, Sa n to s (ac to r) .................... 8
C AR V ALH O, Se ver i no d e (ac to r) ....... 54
Ca sa Ana ho r y ( Li sb o a) .......................... 301
Ca sa d a Ca ld e ira (T ea tr o , C h a mu s ca)
..................................................................... 148
Ca sa d a Co méd ia ( Li sb o a) .................... 317
Ca sa d e P a sto d a s Co l u n as ( Li sb o a) .. 47
Ca sa d e P e s so al d o s T ra b al had o r es d a s
Mi na s ( Ur ge iri ça) ................................ 290
Ca sa d o P o vo ( Rio Maio r) .................... 257
Ca sa d o P o vo (S a nto An tó n io ,
Mad e ira) ..........................................218, 224
Ca sc ai s ( lo ca lid ad e) ............... 105, 106, 333
C ASI MI RO, Mi ri ta (1 9 1 6 -1 9 7 0 , ac triz )
.............................................................166, 213
Ca s i no Eto il e (T eatro , Lisb o a) ............. 66
Ca s i no F u nd a ne n se ( al iá s T eatro C irco
F u nd a ne n se , F u nd ão ) ........................... 97
C AS ON A, Alej a nd ro (1 9 0 3 -1 9 6 5 ,
au to r)
As Á r vo r es Mo r re m d e P é (1 9 4 9 ) ... 20
C AS QUI LH O, An tó nio ( ind u s tri al) .... 16
Ch
CH AG AS , M a n ue l P i n he iro (1 8 4 2 1 8 9 5 ) .....................................88, 99, 224, 356
Mo rg a d in h a (A ) d e Va l fl ô r ...88, 94, 99,
126, 173, 178, 205, 207, 209, 219, 223,
356
C ha le t T he atro (J ú li a M end es ) ....... 59, 60
C ha mu s c a ( lo ca lid ad e) .............90, 103, 148
CH AP LIN , C har le s (1 8 8 9 -1 9 7 7 , ac to r)
....................................................................... 25
Ch a v e d e Ou ro (t ít u lo ) ........................... 120
CH I ADO, An tó n io R ib ei ro (se c. XVI)
..................................................................... 7, 8
Au to d a Na t u ra l In v en çã o (se c.
XVI) .......................................................... 7
C
Cid a d e d e To ma r (p er ió d ico ) .............. 161
Ci n e J ard i m (E mp r e sa J o ão J ard i m,
Mad e ira) ......................... 215, 216, 218, 219
Ci n e Mo n ça ne n se (Mo nç ão ) ................. 125
Cin éf ilo (p erió d ico ) ................................. 304
Ci n e ma B elé m ( Lisb o a) ......................... 103
Ci n e ma I mp ér io ( Lisb o a ) ........................ 21
Ci n e ma J o ão J ard i m (F u nc h al) ........... 215
Ci n e ma T i vo li ( Li sb o a) ............................ 26
Ci n e ma tec a P o rt u g ue s a (1 9 4 4 ) ........... 214
Ci n e -T eatro ( Alco b a ça) ......................... 346
Ci n e -T eatro ( Al me iri m) ........................... 11
Ci n e -T eatro (P o mb al) ............................. 346
Ci n e -T eatro Ar ga n il e ns e ( Ar ga n il) ... 90,
91
Ci n e -T eatro d a B a nd a d o s B o mb e iro s
(P o rtale g re) .............................................. 98
4
Bo jig a n g a .................................................... 2
Bu lu lú ........................................................... 2
Ca mb a leo ..................................................... 2
Fa rá n d o la ................................................... 2
Ga n g a r ilh a ................................................. 2
Ga rn a ch a ..................................................... 2
Ña q u e ............................................................ 2
Co mi s sa riad o d o D es e m p rego ( Li sb o a)
..................................................................... 181
Co mo s e en g a n a m mu lh e re s (co méd i a)
....................................................................... 63
Co mp a g n ia d e i Co mic i Acce si ........ 18, 19
Co mp a g n ia d e i Co mic i Co n f id en ti
(1 5 7 4 -1 6 2 1 ) .............................................. 14
Co mp a g n ia d e i Co mic i De sio si ............ 18
Co mp a g n ia d e i Co mic i Fed el i .............. 17
Co mp a g n ia d e i Co mic i Gelo s i .12, 13, 14,
15, 16, 17, 18, 22
Co mp a g n ia d e i Co mic i I n tro n a ti ......... 18
Co mp a g n ia d e i Co mic i Un i ti ( Cª d e
Dr us ia no Mar ti n ell i, 1 5 7 4 -? ) ........... 18
Co mp a n h ia ( g é nero p o p ul ar) d e
Op ere ta, Co mé d i a, D ra m a e Re v is ta
(Ra fae l d e Ol i ve ira, C ª d e
P ro ví n cia) ................................120, 132, 144
Co mp a n h ia Al v e s Re nt e ........................... 38
Co mp a n h ia Da llo t ( Cª d e P ro v í nc ia) 39,
40, 2, 4, 8, 194
Co mp a n h ia d e Ad el i na Ab ra nc h es
(Li sb o a) ...................................................... 78
Co mp a n h ia d e Afo nso T av eir a (P o rto )
....................................................................... 78
Co mp a n h ia d e Ale x a nd r e d e Aze ved o
– Es ter Leão ( Li sb o a) ........................ 118
Co mp a n h ia d e Alo n so V elá sq ue z ........ 11
Co mp a n h ia d e Al ve s d a C u n ha ........... 147
Co mp a n h ia d e Al ve s d a C u n ha – B ert a
d e B í var ( Li sb o a) ................................. 139
Co mp a n h ia d e An tó nio P ared e s
(it i nera n te) ................................................ 67
Co mp a n h ia d e Au g u s to d e And rad e
(Li sb o a) .................................................... 219
Co mp a n h ia d e Car lo s D allo t ( Cª d e
P ro ví n cia) .................................................... 3
Co mp a n h ia d e Car lo s d e Ol i vei ra
(Li sb o a) .................................................... 118
Co mp a n h ia d e C hab y P i n he iro ............ 147
Co mp a n h ia d e Co rre ia P ei xo to ........... 111
Co mp a n h ia d e Do me ni c o B arla c hi
(Flo r e nça) .................................................. 18
Co mp a n h ia d e D r us ia no Mart i ne ll i
(ali ás I Co m mi ci Un i ti ( 1 5 7 4 -? ) ...... 19
Co mp a n h ia d e Er n es to d e Fr ei ta s
( Li sb o a) .................................................... 118
Ci n e -T eatro d a M i ser icó rd ia
(C ha mu s c a) ............................................. 149
Ci n e -T eatro El v e ns e (E l va s) .......193, 298
Ci n e -T eatro Fa re n se ( Fa ro ) ..........113, 115
Ci n e -T eatro P o r ta le gre n se (P o r tal e gre)
..................................................................... 190
Ci n e -T eatro Vi a ne n se ( Via n a d o
Ale n tej o ) .................................................. 148
Cir co d o Sa li tre ( Li sb o a ) ........................ 39
Cir co M ad rid (a mb u la nt e) ...................... 39
Cir co M u ño z (a mb ula n te ) ....................... 10
Cir co P ri ce (a mb ula n te) .......................... 39
Cl ara (p er so na ge m d e T r ês em Lu a d e
Me l) ............................................................ 277
C LET O, J ú lio (ac to r) .............................. 316
Cl ub e d e F u teb o l U n ião (F u nc ha l) .... 223
Cl ub e d o s G al ito s ( Av e i ro ) .................. 147
Cl ub e E st e fâ n ia ( Li sb o a ) ........................ 52
Cl ub e Lu si ta no ( Li sb o a) .......................... 99
Cl ub e P o rt u g u ês d e Ci n e ma to gra fia
(1 9 4 5 , C i ne cl ub e d o P o rto ) ............. 214
Cl ub e Rec rea ti vo ( Li sb o a)) .................... 63
Cl ub e T au ri no Ma n ue l d o s Sa nto s
(1 9 0 0 , Li sb o a) ......................................... 99
CO E LH O, Al v es ( fi l ho ) ........ 251, 351, 356
CO E LH O, Ar ma nd o (ac t o r) .................... 58
CO E LH O, C arlo s (a cto r) ......................... 21
CO E LH O, Lat i no (1 8 2 5 - 1 8 9 1 ,
p o lít ico ) ..................................................... 38
CO E LH O, Ma gd a (ac tri z ) ..................... 222
Co i mb ra ( lo ca lid ad e) ..... 12, 37, 38, 71, 316
CO IMB R A, Ma n u el a (1 9 4 8 , act riz) . 296,
299, 300
Co l i se u Av e n id a (a li ás T eatro Circo ,
P o nt a D el gad a, Aço re s) .... 25, 119, 225,
226, 227, 229, 236
Co l i se u d a B eir a ( G uard a) ...................... 96
Co l i se u d o s Re cre io s (1 8 9 0 , Li sb o a) 14,
39, 101
Co ma r ca (A ) d e A rg a n i l (p erió d ico ) . 92,
93, 94, 95
Co ma r ca d e A lco b a ça (p erió d i co ) ... 149,
157
Co mb a te (O ) (p erió d ico ) ......................... 96
Co med ia n te s ( Os) d e Li s b o a (1 9 4 4 -5 0 ,
e mp re sa A. Lo p es R ib e i ro Fra nc i sco R ib eiro ) ......................214, 294
Co m éd i e F r a n ça is e (P ar is) ................... 177
Co m éd i en s d u Ro i (P ari s ) ....................... 11
Co m é rcio (O ) d o Po rto ( p erió d i co ) .. 274
Co m é rcio d e Gu i ma rã es (p erió d ico )
.... 130, 131, 132, 134, 137, 139, 141, 142, 143
Co m é rcio d e Po r ti mã o ( p erió d i co ) ... 247
Co m ico s d e la leg u a .................................... 2
4
Co mp a n h ia d o T eatro M o n u me n ta l
(E mp re sa d e V as co Mo r gad o ,
Lis b o a) ..................................................... 319
Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s
(E mp re sa d e Fr a nc is co Rib eiro He nriq u e Sa nt a na) ...............276, 280, 298
Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s
(Li sb o a) ............................................149, 299
Co mp a n h ia d o s S il va s ( a liá s o s Si l va s
d e É vo ra, s éc. XIX) ............................... 36
Co mp a n h ia Dra má t ica Alia n ça ( Cª d e
P ro ví n cia) .................................................... 2
Co mp a n h ia Dra má t ica Lisb o n e ns e
Mo iro n (P a u lo Mo iro n, Cª d e
P ro ví n cia) ............... 14, 15, 16, 35, 259, 278
Co mp a n h ia Dra má t ica Lisb o n e ns e
Ve nâ nc io «O s Mo d e s to s » ( Ar ma nd o
Ve nâ nc io , C ª d e P ro v í nc ia) ............. 278
Co mp a n h ia Dra má t ica M ar y - Q u i na
(Mário Li ma – Q ui na Li ma , Cª d e
P ro ví n cia) .......................................... 16, 278
Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia
(Ra fae l d e Ol i ve ir a, C ª d e
P ro ví n cia) ................................................ 111
Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia
(Si l va Va le, Cª d e P ro ví nc ia) .... 68, 69,
75, 86, 87, 171
Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia
Est re mo z ( Co ns ta n ti no d e Ma to s, Cª
d e P ro v í nc ia) ..................................... 6, 117
Co mp a n h ia Eq ue str e d e Enr iq ue Dí az
(Esp a n h a) .................................................. 38
Co mp a n h ia i n fa n ti l d e C re mi ld a
T o rres ( Li sb o a) ....................................... 34
Co mp a n h ia Li sb o ne n se «G e nt e Se m
No me » ( H u mb er to d e And rad e, Cª
d e P ro v í nc ia) ................................... 80, 266
Co mp a n h ia Li sb o ne n se Ve na nc io
( Ar ma nd o Ve n â ncio , Cª d e
P ro ví n cia) .................................................... 4
Co mp a n h ia Li sb o ne n se Ve nâ nc io «O s
Mo d e sto s » ( H u mb er to d e And rad e,
Cª d e P ro ví n cia) ....................................... 4
Co mp a n h ia Lu cí li a Si mõ es – C h ab y
P in h eiro ( Li sb o a) ................................. 298
Co mp a n h ia Lu so -B ra si le ira
(co mp a n hi a d e v ari ed ad es,
it ner a nt e) ................................................. 101
Co mp a n h ia Na cio na l d e Na ve ga ção
(C NN, Li sb o a) ....................................... 311
Co mp a n h ia R e nt i ni (J u li eta R e nt i ni, C ª
d e P ro v í nc ia) .........................2, 12, 14, 208
Co mp a n h ia Ro sa s & B ra zão ( Lisb o a) 39
Co mp a n h ia d e Fra nc i sco Ma scar e n ha s
(Li sb o a) .................................................... 110
Co mp a n h ia d e G io va n n i T ab o rino ....... 19
Co mp a n h ia d e La u ra Al ve s ( Li sb o a) . 70
Co mp a n h ia d e Li na De m o el ( Li sb o a)
..................................................................... 118
Co mp a n h ia d e Luc íl ia S i mõ e s – Eri co
B rag a ( Lisb o a) ..............................118, 147
Co mp a n h ia d e O li v eir a T aín h a
(a mb ula n te) ................................................ 5
Co mp a n h ia d e Op ere ta ( tip o lo g ia) ...... 79
Co mp a n h ia d e Op ere ta d e Al meid a
Cr uz ( Li sb o a ) ........................................ 119
Co mp a n h ia d e Op ere ta s d e C re mi ld a
d e O li ve ira ( Li sb o a) ........................... 185
Co mp a n h ia d e Op ere ta s d e J u li eta
So are s ( Li sb o a) ....................................... 34
Co mp a n h ia d e P iero B er nard o n
(Li sb o a) ...................................................... 13
Co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra,
Art is ta s As so c iad o s (1 9 1 8 -7 5 , C ª d e
P ro ví n cia) 15, 16, 17, 22, 24, 27, 28, 29, 31,
35, 72, 73, 89, 105, 144, 146, 148, 149, 161,
163, 164, 172, 173, 183, 188, 190, 191, 209,
216, 221, 222, 226, 227, 228, 230, 231, 233,
236, 239, 241, 246, 248, 249, 252, 257, 259,
260, 261, 263, 264, 265, 267, 271, 272, 273,
278, 279, 281, 282, 283, 284, 285, 290, 292,
300, 301, 302, 307, 313, 314, 315, 316, 317,
318, 319
Co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra,
Art is ta s As so c iad o s ( C ª d e
P ro ví n cia) ...... 227, 228, 229, 243, 249, 256,
264, 275, 320, 327, 346, 347, 348, 360
Co mp a n h ia d e Re v is ta ( t ip o lo gi a) ...... 79
Co mp a n h ia d e Re y Co la ço - Ro b le s
Mo n te iro (1 9 1 9 -7 5 , Li sb o a) ............ 139
Co mp a n h ia d e Ro sa s & B razão
(Li sb o a) ..............................................88, 139
Co mp a n h ia d e T eatro d o P o vo
(E mp re sa P ed ro P i n hei r o - Ar ma n d o
Ve nâ nc io , Li sb o a) .........................16, 320
Co mp a n h ia d e T eatro Li sb o ne n se
(Do mi n go s C. S il va – S a nto s
Car v al ho , C ª d e P ro v í nc ia) .............. 8, 9
Co mp a n h ia d e V ic e nzo Go nza g a
(D uq ue d e Mâ n t ua) ............................... 19
Co mp a n h ia d e z arz ue la d e Lac arra
(esp a n ha) ................................................... 38
Co mp a n h ia d o C o s ta ( se c. XI X, Cª d e
P ro ví n cia) ) ................................................ 30
Co mp a n h ia d o Éd e n -T ea tro ( Lisb o a) . 78
Co mp a n h ia d o So are s (c a.1 8 6 5 -1 8 8 5 ,
Cª d e P ro ví n cia) .........................30, 36, 17
4
Co rra l d e la s Co me d i as d el P ri n cip e
(1 7 4 5 -1 8 0 2 /1 8 0 7 -1 8 4 8 , Mad rid ) ..... 11
CO R R EI A ( ac to r) ....................................... 58
CO R R EI A Na tál ia (1 9 2 3 -1 9 9 3 , a uto r a)
..................................................................... 320
En co b e rto (O ) ....................................... 320
CO R R EI A, E mí lio (ac to r) ....................... 21
CO R R EI A, J o sé S eb a st i ão Ma c had o
(1 8 6 1 -1 9 3 5 , s ecre tár i o , p o n to ) ........ 41
S imã o , S imõ es & C ª (1 8 9 0 , zarz u el a
trad ., T . P rí n cip e R ea l, Lis b o a) . 39
CO R R EI A, Ro me u (1 9 1 7 -1 9 9 6 , a uto r)
........................................ 73, 79, 291, 347, 352
Ca sa co (O ) d e Fo g o (1 9 5 6 ) ............ 291
C ra vo (O ) E sp a n h o l ........................... 291
Ro sa (A ) d o Ad ro (1 9 7 1 , T .
De s mo nt á vel , S a nt aré m) .....291, 298,
301, 303, 308, 347, 352, 359
Va g a b u n d o (O ) d a s Mã o s d e Ou ro
(1 9 6 2 ) .................................................. 291
Co rr eio (O ) De sp o rt ivo (p erió d i co ) 216,
218, 220
Co rr eio d o Rib a te jo (p e rió d ico ) 253, 254
Co rr eio d o S u l (p erió d ic o ) ......25, 26, 111,
113, 245, 248
Co rr eio d o Vo u g a (p e rió d ico ) ............ 137
Co rr eio d o s Aço re s (p er ió d ico ) ..25, 226,
227, 228, 229, 230, 231, 232, 235, 236
CO RT E - RE AL, Mar ia (a ctri z) ............ 253
CO RT E Z, Al fred o (1 8 8 0 -1 9 4 6 , a uto r)
..................................................................... 239
CO RT E Z, Ar ma n d o (1 9 2 7 -2 0 0 2 , ac to r,
en ce nad o r , tr ad uto r) ..................... 86, 300
Co r uc h e (lo ca lid ad e) ..... 161, 241, 265, 266,
267
Co s me (p e r so na ge m d e O Ga ia to d e
Li sb o a ) ..................................................... 218
Co st a d a Cap ari ca ( lo ca l id ad e) ..274, 275
Co st a d o Ca st elo ( Li sb o a, to p o n í mi a)
....................................................................... 49
CO ST A, An tó n io D ia s ( t rad u to r) ...... 298
CO ST A, B e atr iz (1 9 1 0 - 1 9 9 6 , act riz)
.............................................................152, 153
CO ST A, C u n ha e ( a uto r) ....................... 357
CO ST A, Dr. B . J úd ice d a Co s ta ( SN I )
............................................ 258, 265, 272, 273
CO ST A, E l vi ra (a ctr iz) ............................ 33
CO ST A, Geo r g i na ( actr i z) ...................... 34
CO ST A, I sab el ( ac tri z) ............................ 58
CO ST A, J o sé Ma n ue l d a ........................ 295
CO ST A, Lic í nio ( mú s ic o ) ..................... 227
CO ST A, Ve lo so d a (a u t o r) ..................... 89
CO ST INH A ( Au g u s to C o st a, 1 8 9 1 1 9 7 6 , acto r) ....................................277, 280
Co mp a n h ia So c ie tár ia d e De cla maç ão
(Ra fae l d e Ol i ve ira, C ª d e
P ro ví n cia) ............... 104, 105, 113, 115, 120
Co mp a n h ia T ea tra l d o C hi ad o ( Cª d e
Mário V ie ga s, Li sb o a) ...... 144, 269, 318
Co mp a n h ia( s) d e P ro ví n cia .............. 36, 38
CO N CEI Ç ÃO, Mar ia d a ........................... 37
Co n c elh o d e Rio Ma io r (p erió d i co ) . 137,
159, 161
Co nc íl io d e T re n to (1 5 4 5 - 1 5 6 4 ) 20, 21,
22
Co nc ur so d e Ap o io ao T eatro
Iti ner a nt e ( SNI) .................................... 255
Co nd e d e M ari al va (p er s o na g e m d e A
S eve ra ) .............................................147, 153
Co n d e s sa (A ) d e S en n ec ey (t ít u lo ) ...... 99
CO N FEIT EIR O, J o aq u i m ( clo wn ) ....... 40
Co n frad ía d e l a So ci ed a d y d e l a
P as sió n ( Mad r id ) .................................... 11
Co n f ra ir ie d e la Pa ss io n (P ari s) ......... 10
Co nj u n to Art ís ti co «D i v in a Arte »
(H u mb er to d e An d rad e, Cª d e
P ro ví n cia) ................................................ 278
Co nj u n to Fa mi l iar Li sb o ne n se «Ge n te
d e T eatro » ( H u mb er to d e And rad e,
Cª d e P ro ví n cia) ................................... 278
Co n se l ho d e T ea tro ( SN I) ... 183, 256, 257,
258, 264, 265, 268, 272, 273, 285, 288
Co n ser va tó r io Rea l d e L isb o a ................. 2
Revi s ta d o Co n se rva tó r i o Rea l d e
Li sb o a ...................................................... 2
Co nt ra Re fo r ma ........................................... 22
Co o p er at i va d e Co med ia nt e s Ra fa el d e
Oli v eir a ( Lisb o a) .........................319, 320
Co o p er at i va d e P ro d u çã o d e
Esp e ctá c ulo s «G e n te Se m No me »
(1 9 7 7 , H u mb e rto d e And rad e, Cª d e
P ro ví n cia) ........................................278, 320
COP E AU , J acq ue s (1 8 7 9 -1 9 4 9 , ac to r,
en ce nad o r) ......................................293, 295
CO QU E LI N, B e nô it - Co n st a nt
(Co q ue li n ai n é, 1 8 3 0 -1 9 0 9 , acto r) . 54
Art e (A ) e o Co med ia n te ..................... 53
CO R D ÁLI A (ac tri z) .................................. 57
CO R DEI R O, Au g u s to (a cto r) .......... 34, 78
CO R DEI R O, Lu ci nd a (a ctri z) ............... 34
CO R MO N, E u g è ne (1 8 1 1 -1 9 0 3 , a uto r)
................................................................. 93, 94
CO R O A, Dr . Ca mp o s (a rtic u li s ta) 25, 26
CO R ON A, Ne na (ac tri z) 114, 240, 331, 332
Co rra l d e la C r uz (1 5 7 9 - 1 7 3 6 , Mad r id )
....................................................................... 11
Co rra l d e la P ac he ca (1 5 6 8 - c.1 7 4 5 ,
Mad rid ) ....................................................... 11
4
D ALLOT , J o sé (ac to r -e mp r es ário ) 39, 2,
6
D ALLOT , J ú li a (a ctr iz -e mp r es ári a) .. 39,
2
D AM AS C EN O, Ro sa (1 8 4 9 -1 9 0 4 ,
actr iz) ................................................. 88, 105
Da ni el, o “t ri st e -so rte ” ( p erso n a ge m
d e A F ilh a d o S a lt imb a n co ) ........ 69, 91
D ANNE R, B l yt h e (1 9 4 3 , actr iz) ........ 289
D ANT AS, J ú lio (1 8 7 6 -1 9 6 2 , a uto r) .. 10,
82, 90, 137, 147, 153, 169, 185, 230, 233,
240, 351, 354
Ce ia (A ) d o s Ca rd ea i s ...............107, 230
C ru c ifi ca d o s (O s ) ................................ 230
Do m Jo ã o T en ó r io ( ad ap t.) ............. 185
Ma t er Do lo ro sa (1 9 0 8 ) ....................... 10
Ro sa s d e to d o o a n o (1 9 0 7 ) .....90, 180,
195
S a n ta In q u i s içã o (1 9 1 0 ) ..................... 66
S eve ra (A ) ...................... 137, 147, 169, 230
S o ro r Ma r ia n a ...................................... 240
D AST É, J ea n (1 9 0 4 -1 9 9 4 , acto r,
d irec to r) ................................................... 293
Deb a t e (O ) (p er ió d i co ) .......................... 121
Dec la ma ção (d i scip li n a cur ri c u lar) .... 53
DE CO U R CE LLE, P ier re Ad ri e n (1 8 5 6 1 9 2 6 ) .................................................115, 349
Ab a d e (O ) Co n s ta n t in o ( L’ Ab b é
Co n sta n tin , 1 8 9 1 ) ............................. 33
Do i s (Os ) Ga ro to s d e P a ri s ( al iá s
Os Do i s Ga ro to s ) ............................ 115
Do i s Ga ro to s ( L e s D eu x Go s s es,
1 8 8 8 , al iá s O s Do i s Ga r o to s d e
Pa r is) ...................................107, 109, 126
Def esa (A ) .................................................... 198
Del fi na ( ac tri z) .......................................... 105
Demo cra cia d o S u l (p eri ó d ico ) ...16, 177,
178, 198, 199, 200, 201, 202
Demo cra ta (O ) (p er ió d i co ) ......4, 121, 123,
134, 146, 147
DEM OE L, Li n a (1 8 9 7 -1 9 8 2 , act riz) 118,
152
De sco n he cid o ( O) (p ers o na g e m d e
Alg u é m t erá d e mo r re r ) .................... 253
DEU S, J o ão d e (1 8 3 0 -1 8 9 6 , a uto r) ... 114
DEV O RE, Ga sto n (1 8 5 9 -? )
S a cr if ica d a (A ) ( La sa cr ifi ée ) ,
1 9 0 7 ) ...................................................... 33
Diá rio d a Ma n h ã (p er ió d ico ) .............. 257
Diá rio d e Li sb o a (p e rió d ico ) ......287, 346
Diá rio d e Lu a n d a (p er ió d ico ) .....297, 301
Diá rio d e No t íc ia s (F u n ch al,
p erió d i co ) ............... 216, 220, 221, 223, 224
CO U CEI R O, Dr. (e mp re s ár io ) .............. 61
CO UT INH O, P e n h a (1 8 5 4 -1 9 3 7 , a uto r ,
en sa iad o r) ....................................57, 58, 105
Tí mb a l es (O s ) d o Dia b o (co m
Est e ve s Graç a, re v i sta , 1 9 0 4 , T .
C ha le t P al h are s, Alc â nt a ra) ......... 57
Co vi l hã ( lo c al id ad e) ................................ 211
CO VÕ ES , Ric ard o (e mp res ário , a uto r)
....................................................................... 37
Cre z y a nd J a no u (b a ilar i no s) .............. 119
C ria n ço la s (Os ) ........................................... 33
C RI S AFU LLI, He nr i ............................... 354
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 204
Pa ra lít ico (O ) ...... 106, 108, 126, 139, 175,
204
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 205
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 275
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 275
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 335
Pa ra lít ico (O ) ........................................ 354
C RI ST IN A, A má li a (a ct riz) ................. 124
C RU Z, Al me id a (ac to r) .......................... 119
CU NH A, Al v es d a (1 8 8 9 -1 9 5 6 , ac to r)
...118, 122, 125, 136, 137, 138, 139, 156, 160,
162, 186, 209, 210, 236
CU NH A, An tó n ia B árb a ra d a ................ 62
C ur so Li vre d e Ar te d e Rep r es e nt ar
(Co n ser v ató r io N acio n al , Li sb o a) 277
CU RT O, A mí lc ar Ra ma d a (1 8 8 6 -1 9 6 1 )
..... 22, 24, 27, 32, 33, 137, 154, 187, 196, 207,
209, 214, 233, 239, 240, 247, 333, 337, 350,
353, 354, 355
Ca d e i ra (A ) d a Ve rd a d e (1 9 3 2 ) ... 187,
240, 355
Fera (A ) (1 9 2 2 ) .. 187, 196, 198, 208, 209,
228, 240, 242, 333, 335, 336
Reco mp en sa (1 9 3 8 ) 22, 24, 27, 32, 33, 70,
137, 187, 239, 271, 275, 335, 353, 359
S a p o (O ) e a Do n in h a ....... 248, 337, 338
Tio (O ) R ico .......... 207, 214, 275, 333, 354
Tr ê s G era çõ e s ....................................... 240
CU ST ÒDI A, Mar ia ( actr iz) ............70, 259
C u stó d io (p er so na g e m d e A S e ve ra ) 147,
169
CU ST ÓDI O, F lo ri nd o ( a rtic u li s ta) .. 184,
186
D
D. AF ON SO VI ( R ei d e P o rtu g al) ....... 25
Da fu nd o ( lo ca lid ad e) .................................. 3
D ALLOT , Carlo s ( ac to r - e mp re sár io ) 39,
40, 3, 121, 146
D ALLOT , E str ela (ac tri z) ................... 2, 13
4
Co sta (O ) d o Ca s telo (1 9 4 3 ,
ci ne ma ) ................................................ 213
Men in a (A ) d a Rá d io (1 9 4 4 , ci ne ma)
................................................................ 213
DU ART E, Már io (1 8 9 0 - 1 9 3 4 ) .....135, 352
Du a s ( A s ) Ca u sa s (co m Alb er to
Mo rai s) ...... 135, 136, 137, 149, 160, 162,
175, 176, 188, 195, 197, 203, 216, 234,
243, 269, 275, 336, 352, 359
DUB I NI, Car lo s (ac to r, arti c ul is ta) .... 5,
65, 66, 106, 110
DU CH ART RE, P ierr e - Lo ui s (a uto r ) . 11,
17, 19
Th e I ta l ia n Co m ed y .............................. 39
DU LL E A, Ke ir (1 9 3 6 , a cto r) .............. 289
DU LLIN, C h arl es (1 8 8 5 -1 9 4 9 , ac to r,
d irec to r) ................................................... 293
DUM AS , Ale x a nd re ( fil ho ) ....88, 242, 350
Da ma (A ) d a s Ca m élia s ....241, 243, 337
DUM AS , Ale x a nd re (p ai ) .......31, 350, 357
DU R ÃO, Lu í sa ( ac triz ) ..................277, 280
DU SE, Ele a no ra ( act riz) .......................... 38
Diá rio d e No t íc ia s ( Li sb o a, p er ió d ico )
.... 2, 3, 20, 22, 49, 60, 151, 154, 270, 289, 293
Diá rio d o Al en te jo (p eri ó d ico ) ..179, 180,
203, 204, 205, 206, 207, 208, 243, 244
Diá rio d o M in h o (p e rió d ico ) ......110, 127,
128, 129, 284
Diá rio d o Rib a te jo (p er i ó d ico ) ..288, 291,
292
Diá rio In su la r (p er ió d i c o ) ...........234, 235
Diá rio Po p u la r (p o p u lar ) 71, 72, 266, 270,
277, 280, 298, 302
DI AS (a cto r) ................................................. 31
Dia s F eli z es (co méd ia) .......................... 263
DI CENT A, J o aq u í n (1 8 6 3 -1 9 1 7 ) ..88, 89,
350
Jo ã o Jo sé (d r a ma) .................88, 108, 112
DIDE R OT , De n is (1 7 1 3 - 1 7 8 4 ,
filó so fo ) ..................................................... 53
Pa ra d o xo (O ) d o Co med ia n te (1 7 7 3 ,
p ub . 1 8 3 0 ) ............................................ 53
DINI Z, Ed uard o B ap t i st a (1 8 5 9 -1 9 1 3 )
....................................................................... 66
Vete ra n o (O ) d a L ib e rd a d e ............... 10
DINI Z, J úl io (p se ud .) ..... 88, 105, 153, 233,
326, 355
As Pu p ila s d o S en h o r Re ito r
(co méd i a) .......................... 104, 107, 109
DINI Z, S a m we l l (1 8 8 8 - 1 9 7 8 , acto r,
P resid e nte d o Si nd ica to d o s
Art is ta s) ................................................... 258
Di sco ( O) Aq uát ico ( gr u p o d ra má tico
a mad o r, ´B ej a) ...................................... 243
Di st r ito d e S etú b a l (p eri ó d ico ) .261, 262,
264
DO LO RE S, Car me n (1 9 2 4 , act riz) ... 214,
253, 291
Do n B a ker (p er so na ge m d e A s
Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289
DO N AT , Luc ie n ( ce nó gr afo ) ............... 253
Do ro te ia (p er so na ge m d e O Ga ia to d e
LI sb o a ) ..................................................... 218
Do ro te ia (p er so na ge m d e T rê s em Lu a
d e M el ) ..................................................... 277
DO VI ZI, B er nard o d a B i b b ie na ........... 18
Dr. T el mo P a i s (p er so na ge m d e T rê s
em Lu a d e Me l ) ..................................... 277
DR AG Ú N, O s va ld o (1 9 2 9 -1 9 9 9 , a uto r)
.............................................................288, 320
Hi stó r ia s co m g ra d es ......................... 320
Hi stó r ia s p a ra se r em co n ta d a s ..... 288
Dro gar ia Vie g as (co mé r cio ) ................ 173
DU ART E, Art ur (1 8 9 5 -1 9 8 2 , acto r,
ci nea s ta) ................................................... 213
E
EC HEG AR AY , J o sé (1 8 3 2 -1 9 1 1 ,
au to r) ................ 138, 172, 176, 236, 350, 353
Ca lú n ia (A ) (a liá s O Gr a n d e
Ga leo to ) .... 137, 139, 172, 176, 196, 197,
201, 203, 206, 219, 236, 275, 353, 359
Gra n d e (O ) Ga leo to (a li ás A
Ca lú n ia ) .............................................. 138
Eco d o Fu n ch a l (p erió d i co ) 215, 216, 220,
221, 222, 223, 224
Eco s d o Al cô a (p er ió d i c o ) .................... 149
Eco s d o No r te (p erió d ic o ) .................... 304
Éd e n -T eatro ( Li sb o a) .............................. 184
Éd ito d e N a nt es ........................................... 13
Ed ito r Fr a nci sco Fr a nco (Li sb o a) ....... 76
Ed u ard o Sar me n to (p e rs o na g e m d e O
Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 218
El Ca no (p er so na ge m d e Jo ã o Jo sé ) .. 88
El va s ( lo ca lid ad e ) ... 105, 190, 191, 192, 250
E mp r e sa d e B r u ni ld e J ú d ice – Al v e s
d a Co s ta ( Li sb o a) .......................... 78, 324
E mp r e sa d e J aci n to G ui ma rãe s
(G ui ma rãe s) ............................................ 130
E mp r e sa d e Luc íl ia Si m õ es - Eri co
B rag a ( Lisb o a) ........................................ 78
E mp r e sa d e Mar ia Ma to s – Me nd o nç a
d e C ar va l ho ( Lisb o a) ................... 78, 324
E mp r e sa d e R e y Co l aço – Ro b le s
Mo n te iro (1 9 1 9 -1 9 7 5 , Lisb o a) .. 24, 78,
253, 301, 324
4
F ALC OT , J o ão (ca n to r e xc ê ntr ico ) .. 223
Fa n ta sma s d o Ca st elo N eg ro ( tí t ulo )
..................................................................... 108
F ARI A, Ál varo (ac to r) ...................316, 317
Faro ( lo ca lid ad e) 33, 67, 110, 111, 114, 115,
183, 247, 250, 337
FED O R, Lad i s la u (1 8 9 8 -1 9 7 8 , a uto r)
..................................................................... 283
Da n ú b io A zu l ......................................... 283
Fei ra d a Ave n id a ( Li sb o a) .................... 152
Fei ra d a s A mo re ira s ( Li sb o a) ..29, 40, 56,
110
Fei ra d e Alcâ n tar a ( Li sb o a) ........... 56, 110
Fei ra d e B el é m ( Li sb o a) 30, 55, 56, 59, 60,
110
Fei ra d e Mar ço ...........................2, 3, 121, 146
Fei ra d e S. J o ão (É vo r a) ................177, 198
Fei ra d e S. Ma te u s ( Vi s eu) ............ 12, 176
Fei ra d e S. M i g uel (P o rt o ) ............... 2, 225
Fei ra d e S ai n t G er ma i n (P aris ) ...... 19, 39,
177
Fei ra d e S ai n t La ur e nt ( P aris) ........ 3, 177
Fei ra d e S a ntar é m ................................... 2, 79
Fei ra d e S et úb a l (o u d e Sa n tia go ) ......... 2
Fei ra d e V ila V iço sa ............................... 198
Fei ra d o Ca mp o Gr a nd e (Li sb o a) .... 6, 59
FE LIP E I ( Rei d e P o rt u g al) ..................... 7
FE RN AN DE S, Ab í lio
Po r fa l ta d e ro u p a n o va , p a s se i o
fe rro n a ve lh a (co méd i a ) .............. 13
FE RN AN DE S, Ad e li na ( 1 8 9 6 -1 9 8 3 ,
ca nto r a) .................................................... 222
FE RN AN DE S, An íb al P ereir a ............. 263
FE RN AN DE S, J o ão (ac t o r) .................... 76
FE RN AN DE S, Na sc i me nto (1 8 8 1 1 9 5 5 , acto r) ............................................ 118
Ferr ara ( lo ca lid ad e) ................................... 10
FE R R AR A, D uq ue d e ................................ 13
FE R REI R A, An tó nio (a u to r) ......... 82, 351
FE R REI R A, An tó nio Co st a (1 9 1 8 1 9 9 7 , acto r, a u to r) ..............288, 299, 300
Ca sa (U ma ) co m Ja n ela s p a ra
Den t ro (1 9 8 5 ) ................................... 299
Dia (Um ) d e V id a (1 9 5 8 ) ................. 299
FE R REI R A, B ap ti st a (a cto r) ............... 133
FE R REI R A, B er n ard o ( mú s i co ) ......... 214
FE R REI R A, E mí l ia ( act riz a mad o ra) . 51
FE R REI R A, Fra nc i sco ( mú s i co
a mad o r) ...................................................... 81
FE R REI R A, G il (ac to r) ............................ 35
FE R REI R A, Li no (1 8 8 4 - 1 9 3 9 , a uto r)
Ca b a z d e Mo ra n g o s ( e t a l., 1 9 2 6 ,
rev i sta , Éd e n -T ea tro , Li sb o a) ... 119
E mp r e sa d e Va s co Mo r g ad o ( Li sb o a )
..................................................................... 289
En ep ê (p se ud . , ar tic u li s t a) .. 215, 220, 224
C AST R O ....................................................... 303
ENN ER Y, Ad o lp h e d ’ (1 8 1 1 -1 8 9 9 ,
au to r) .................................. 93, 227, 349, 353
Du a s (A s ) Ó r fã s (co m E u gè n e
Co r mo n, 1 8 7 4 ) ..... 93, 94, 97, 107, 109,
111, 121, 126, 127, 226, 227, 228, 234,
275, 278, 334, 335, 336, 337, 353, 359
ENN ES, An tó nio ( a uto r) ......................... 17
En g ei ta d o s (O s ) ...................................... 17
ENVI A, Ma n ue l (a u to r) ............................. 2
Esc ad i n ha s d e S. Cri sp i m ( Li sb o a) ..... 47
Esc ra va tu ra (A ) (t ít ulo ) .......................... 68
ES CU LÁP IO (p s e u d . Ed uard o
Fer na nd e s) ................................................ 61
Es g ue ira ( lo c al id ad e) .............................. 133
Esp a n h a (p a í s) ................. 2, 11, 13, 18, 39, 37
ESP E CT AD OR (U m) (p s eud .,
arti c ul is ta) .............................................. 242
Esp e ct ro s (t ít u lo ) ...................................... 113
Esp e r te za s d e a c to r (co méd ia) ............. 49
Esp i n ho (lo cal id ad e) ................................. 33
Est ad o No vo (re g i me p o lít ico ) ....32, 150,
151, 158, 212
Est arrej a ( lo c al id ad e) ............................... 29
EST E, Lucr éc ia d e ..................................... 10
Est ét ica T eatra l (d is cip l in a c urr ic u lar)
....................................................................... 53
EST EVE S, Ca rla O li ve ir a (art ic u li s ta)
......................................................................... 2
Est o r il Jo rn a l (p erió d ic o ) ............105, 106
Est rad a d e E n tre mu ro s d e C a mp o l id e
(Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 43
Est ra go n (p erso n a ge m d e À E sp e ra d e
Go d o t ......................................................... 300
Est rel a ( Lisb o a, to p o ní mi a) ............. 44, 66
Est re mo z (lo c al id ad e ) ... 6, 7, 117, 194, 195,
196, 333, 339
Est re mo z F u teb o l Cl ub e (cl ub e
d esp o r ti vo ) .............................................. 195
Est ú d io 4 0 4 ( No va
Lis b o a, An g o l a) .................................... 305
Et no gra fia (d i scip li n a c urr ic ul ar) ....... 53
Évo r a (lo ca lid ad e) ...... 34, 35, 177, 198, 199,
203, 243, 250, 259, 261, 277, 280, 281, 335,
336, 339, 340
Évo r a T erra ss e (re ci n to ) .......................... 34
F
F AB RI, Di e go (1 9 1 1 -1 9 8 0 ) .................... 21
S ed u to r (O ) (1 9 5 1 ) ................................ 21
Fáb r ica d as S ed a s ( Li sb o a) .................... 43
4
FO NS E C A, E s tác io d a ................................ 7
FO NS E C A, J o ão J . S a m o uco d a
(h is to ri ad o r lo ca l) ............................... 148
FO RT ES, An na (ac tri z) ............................ 57
Fra nç a (p a í s) .............. 10, 13, 18, 53, 177, 287
F R AN CES C O D A LA LI R A (ac to r) ..... 9
F R AN CES C O MO S CHI AN ( acto r) ....... 9
F R AN CO J ú n io r, F. So a res ( Có n e go )
Ra in h a S a n ta Isa b el .... 18, 133, 332, 333
F R AN CO, H u mb e rto ( ac to r a ma d o r) .. 51
Fra ter na l Co mp a n h ia d e Ser Map h io
(Sec . X VI) ................................................... 9
Fre g ue s ia d e S a nta I sab el ( Li sb o a) .... 42
F REI RE, Co r i na (ac tri z) ........................ 152
F REI RE, Na ti Go nz ále z (arti c ul i sta)
..................................................................... 315
F REIT AS (p ia n i st a) ................................... 11
F REIT AS , Auro r a d e ( ac triz) 90, 107, 114
F REIT AS , Er ne s to d e ( c a.1 8 5 1 -1 9 2 7 ,
acto r - e mp re sár io , e ns aia d o r) ..... 79, 89,
90, 91, 92, 103, 105, 106, 107, 110, 112, 113,
114, 116, 120, 123, 124, 125, 126, 171, 184,
327, 343
F REIT AS , Urb i no d e ................................. 38
F RI AS, Ca rlo s (1 9 0 1 -1 9 8 0 , acto r) ..... 70,
79, 81, 107, 124, 128, 129, 131, 140, 168,
202, 204, 206, 246, 327
F RI AS, Fer n a nd o (1 9 2 4 - 2 0 0 2 , acto r)
..... 70, 124, 131, 169, 202, 204, 207, 210, 218,
243, 246, 248, 255, 266, 286, 291, 296, 301,
319, 329
Imp ru d ên c ia Ca s tig a d a (co méd i a)
................................................................ 169
F RI AS, Ge n y (1 9 0 5 -1 9 9 3 , act riz) ...... 70,
107, 124, 126, 138, 165, 166, 202, 204, 206,
217, 231, 238, 246, 248, 296, 316, 319, 327,
331
F RI AS, Liz ete (1 9 2 8 -1 9 9 5 , act riz) .... 70,
170, 202, 204, 207, 217, 223, 238, 241, 242,
243, 246, 248, 254, 316, 319
F RI AS, Lu ci nd a (a ctr iz) ..............80, 81, 84
F RO ND AIE, P ierre (al iá s Re n é
Fra ud e t, 1 8 8 4 -1 9 4 8 , a u t o r) ............. 185
Mo n t ma rt re ............................................. 185
F RO ND ONI, Ân ge lo (1 8 0 9 -1 8 9 1 ,
mú s i co ) .................................96, 97, 109, 356
Fro nt eira (lo cal id ad e) ............................... 15
F ul a no , Sicr a no e B el tra no ... vd E r ne sto
Ro d r i g ue s
F u nc ha l ( lo ca lid ad e) ..... 215, 218, 221, 223,
226
F u nd aç ão Ca lo us te G ulb en k ia n
(Li sb o a) ............................................284, 285
F u nd ão ( lo ca lid ad e) ................................... 97
Mo u ra r ia ( e t a l., 1 9 2 6 , o p eret a,
T eatro Ap o lo , Lisb o a) 120, 123, 125,
133, 134, 146, 164, 165
FE R REI R A, M a n uel Ma rq ue s ( mú s ico )
..................................................................... 141
FE R REI R A , O lí mp ia (ac triz) ................ 58
FE R REI R A, U li s se s ( e m p res ário ) ....... 11
FE R RO, An tó nio (1 8 9 5 - 1 9 5 6 ,
j o rnal i sta , p o l ít ico ) ... 151, 154, 213, 221,
232, 255
FEU I LLET , O cta v e (1 8 1 2 -1 8 9 0 , a uto r)
.................................................... 187, 207, 240
Vid a (A ) d e Um Ra p a z P o b re (1 8 5 8 )
............................... 187, 207, 219, 240, 241
FEY DE AU, Geo r g e s (1 8 6 2 -1 9 2 1 ,
au to r) ........................................ 298, 305, 357
Pa to (O ) (1 8 9 6 ) ........... 298, 303, 310, 357
FI ALH O, Alb er to (ar ti c ul i st a) ....209, 210
FI ALH O, J o s é Fi lip e (a ut arc a d e
La go s) ....................................................... 258
Fid al go d a P re sa (p e rso na g e m d e
Fera s à S o lta ) ....................................... 142
Fi g u eira d a Fo z ( lo ca lid ad e) ....33, 35, 52,
87, 181
FIG UEI R A, Ali ce ( act ri z) ...................... 58
FIG UEI RE DO , Au g u sto d e (ac to r) .... 20,
291
FIG UEI RE DO , Dr. Ar t u r Marq ue s d e
(acto r e mú s i co a ma d o r) ...........167, 168
FIG UEI RE DO , Ma ria n a (actr iz) ........ 184
Fi g ur as d a Co m med ia d e ll'A r te
B ura ti no ..................................................... 15
Cap it ão Card o na ..................................... 15
Fra nc atr ip a ................................................ 15
Fra nc i sq ui n h a .......................................... 15
Grac ia no .................................................... 15
P an tal ão ..................................................... 15
P red o li no ................................................... 15
Za n ni ........................................................... 15
Fi lar mó n ica S a nta co mb a d en se (o ct eto
mu s i ca l d e Sa n ta Co mb a Dão ) ....... 169
Filh a (A ) d o Co n se rv ei r o (tí t ulo ) ..... 108
Filh o (O ) d a s On d a s (t ít ulo ) .........91, 108
FI LIP P O, Ed uard o d e (1 9 0 0 -1 9 8 0 ,
acto r, a uto r , c i nea s ta) ..................26, 318
Art e (A ) d a Co m éd ia (1 9 6 4 ) ........... 318
FIN O, J o r ge (ac to r) .........................107, 124
FI RMI NO (ac to r) ........................................ 31
Fla ma (p erió d ico ) ..................................... 181
Fla mi n go ( a gr up a me n to mu s i ca l) ...... 223
Flo r d e S ed a (t ít u lo ) ............................... 185
Flo r Ra ra (o p er eta ) ................................. 142
Fo lh a d e Do m in g o (p eri ó d ico ) ......67, 70,
158, 258
4
GI L, Cr e mi ld a ( actr iz) ............................. 20
GIS H, Do ro t h y (1 8 9 8 -1 9 6 8 , act riz) .. 93,
94
GIS H, Lil ia n (1 8 9 3 - 1 9 9 3 , act riz) .. 93, 94
G LASE R, Mi c hae l (1 9 4 3 , acto r) ....... 289
Gló r ia F ut eb o l C l ub e ( a s so ci ação , V.
R. Stº An tó nio ) ..................................... 318
GO DIN ( F u nd ad o r d a R eal Fáb r ic a d a s
Sed a s, Li sb o a) ......................................... 43
GOM ES , Amé ri co (a cto r ) ....................... 34
GOM ES , J o ão Re i s (a u t o r) ............. 54, 224
Fig u ra s d e Tea t ro (1 9 2 8 ) ................. 224
Tea tro (O ) e o A c to r
Esb o ço Fi lo só fi co d a A r te d e
Rep r es en ta r (1 9 0 5 ) ..................... 54
GOM ES , T eres a (1 8 8 2 -1 9 6 2 , act riz) 14,
71, 243
GO N ZÁLE Z, Ro g el io A. (1 9 2 0 -1 9 8 4 ,
ci nea s ta) .................................................. 254
Go o d b ye my lo v e g o o d b ye (t ít u lo ) .... 358
GO OD RI C H, Fra nc es (1 8 9 0 -1 9 8 4 ,
au to r) ......................................................... 299
GO UC H A, M a n uel Luí s (ap re se nt a d o r
d e te le v is ão ) ............................................ 16
Go u vei a (lo ca lid ad e) ........ 96, 171, 172, 174
GO UVEI A, J o ão (1 8 8 0 - 1 9 4 7 , a uto r) 75,
342
Ma r d e Lá g ri ma s (co m J o rge
Sa n to s) ........................................... 75, 342
GR AÇ A, E st e ve s ( mú s i c o ) ..................... 57
GR AÇ A, M ila (a liá s C a mi la d a Graç a
Fri as , ac tri z) ......... 167, 204, 207, 217, 226
Gra n d e (O ) El ia s (p er ió d ico ) ...51, 57, 59,
63, 64
GR AV E, J o r ge ( ac to r) .............................. 67
GR EG Ó RIO, M. ( art ic u l is ta) ............... 251
GR EG OS E T R OI ANO S (p arcer ia d e
Ro d r i g ue s, B er mu d e s, B as to s ,
Gal h ard o , B arb o s a)
Ra ta p la n ( re vi s ta) ............................... 119
Gré mi o d a s E mp re sa s T eatra is ........... 258
Gré mi o E str ela (a s so ci a ção re crea ti v a)
....................................................................... 65
Gré mi o Recr ea ti vo ( C a n ta n hed e ) .. 87, 90
Gré mi o S e si mb r e ns e ( Se si mb ra,
as so c iaç ão ) ............................................. 106
GR IF FIT H, D. W . (1 8 7 5 -1 9 4 8 ,
ci nea s ta) .................................................... 94
Orp h a n s o f th e S to r m (1 9 2 1 ,
ci ne ma ) .................................................. 94
GR OT OW S KY , J erz y (1 9 3 3 -1 9 9 9 ,
P o ló n ia, e nce n ad o r, p ed ago go ) ..... 296
F u nd o d e T ea tro ( SNI) ..... 23, 28, 144, 249,
254, 255, 256, 257, 263, 264, 265, 267, 268,
270, 271, 272, 273, 274, 276, 285, 286, 290,
332, 339
FU NÈ S, Lo u is d e (1 9 1 4 - 1 9 8 3 , acto r)
..................................................................... 287
FU RT AD O, R u i (a cto r) .......................... 316
G
Gab e la ( lo ca lid ad e) ................................. 306
Gab i n ete d o P re sid e nte d o Co n se l ho
(Li sb o a) .................................................... 183
Gab ri el a (p er so na g e m d e Alg u ém te rá
d e mo r re r ) ............................................... 253
G AI AR R E (t e no r) ....................................... 38
Gal h ard o ( fil ho ), Luí s ( ali ás Luí s
Herc u la no ) ......................................167, 283
G ALH AR DO, J o sé (1 9 0 5 -1 9 6 7 , a uto r ,
trad uto r ) ................................................... 283
Alto lá co m o ch a ru to ( e t.a l, 1 9 4 5 ,
rev i sta , T eatro Var ied ad es) .......... 13
Ch á d e Pa rr ei ra ( et a l., 1 9 2 9 ,
rev i sta , T . Var ied ad e s) ................. 123
G ALH AR DO, Luí s (p ai) (e mp re sár io ,
au to r) ......................................................... 184
G ALI LEI, Ga li leo ....................................... 17
G AM A, E urico (ar tic u li st a) ................... 30
G AM A, J o aq u i m Ca rlo s (1 8 4 0 -1 9 0 3 ,
acto r) ........................................................... 30
G AM A, Lia (ac tri z) ................................. 310
Ga mb ia r ra (A ) (p er ió d i c o ) ............... 37, 38
G AN ASS A, Za n (a li á s Alb erto Na se li ,
acto r) ...............................................10, 11, 12
G AR CI A, E lia s (p o lí ti co ) ....................... 38
G AR RET T , Al me id a ........... 38, 64, 164, 354
Alfa g eme d e S a n ta r ém .................20, 164
Fa la r Ve rd a d e a M en t i r ...................... 64
Fre i Lu í s d e S o u sa (1 8 4 3 ) 38, 247, 275,
276, 338, 354
Me mó r ia a o Co n se rva tó rio (1 8 4 3 ) 38
Via g en s Na Min h a T er ra .................. 200
Ga ta (A ) B ra n ca .......................................... 62
Ga z eta d a Fig u ei ra (p er ió d ico ) ........... 69
Ga z eta d e Ca n ta n h ed e ( p erió d i co ) 88, 91
G AZU L, Fre it a s (1 8 4 2 -1 9 2 5 , mú s ico )
..................................................................... 113
O Ho me m d a Bo mb a (o p eret a) ....... 113
Ge ner al Sar me n to (p er s o na g e m d e O
Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 217
GE RS HE, Leo nard (1 9 2 3 -2 0 0 2 , a uto r)
..................................................................... 289
Bo rb o leta s (As ) sã o L iv r es (1 9 6 9 ,
Bu tt er fl ie s a re f ree ) ...................... 289
GHI R A, Alb er to (1 8 8 8 - 1 9 7 1 , acto r) 243
4
H AM I LT ON, G u y (1 9 2 2 , ci ne a sta) .. 251
H ARD Y, Ol i ver (1 8 9 2 -1 9 5 7 , acto r) ... 26
Ha va na ( C ub a) ........................................... 314
HE CK ART , E il e n (1 9 1 9 -2 0 0 1 , ac triz )
..................................................................... 289
HE LÉ VY, Lud o vi c H el é v y (1 8 3 4 1 9 0 8 ) ........................................................... 34
HE L LM AN, Lil li a n (1 9 0 5 -1 9 8 4 ,
au to ra) ......................................286, 287, 309
As Ra p o sa s (1 9 3 9 ) ..... 286, 287, 288, 309
HEN NE QUI N, M a uri ce (1 8 6 3 -1 9 2 6 )
.............................................................128, 350
Ne ll y - Ro sie r ( co m P a u l Ri l ha ud ) ... 33
Via g e m d e Nú p cia s (a li á s A leg ria s
d o La r, ” Le s Jo ie s d u F o yer ” )
........................................................127, 168
He nriq u e d e C ar va l ho ( l o cal id ad e) ... 304
HEN RI QU E III ( Re i d e Fra nç a) ..... 13, 14
HEN RI QU E IV ( Rei d e Fra nç a) .... 13, 16,
19
HEN RI QU ES, An tó nio J o sé (1 8 5 1 1 9 2 2 , a uto r) .............................................. 61
Fei ra (A ) d a La d ra ( co m P e n h a
Co ut i n ho , r e vi st a, T . d o Ra to ) .... 61
HEN RI QU ES, Mar ia d o Ro sár io
Mi g ue l ...................................................... 346
HIE RO NIM O D A S. LU C A (ac to r) ....... 9
Hi stó r ia d o T eatro (d is c ip li n a
cur ric u lar) ................................................. 53
HO LT R EM AN, R e née (a ctri z) .............. 58
HOM EM DO P AN O (p se ud .,
arti c ul is ta) .......................................... 51, 99
Ho sp it al C urr y C ab ra l ( Lis b o a) ......... 266
Ho sp it al d a M is eri có rd i a (B o rb a) ..... 197
Ho sp it al d e S . J o s é ( Lis b o a) ................ 265
Ho sp it al d e T o d o s o s Sa nto s ................. 24
Hô te l d e Bo u rg o g n e (P a ris) ................... 10
Hô te l d e C lu n y (P a ri s) ............................. 18
HU GO, Vi cto r .............................................. 31
Gr up o An tó nio Al ei xo ( gr up o
d ra mát ico a mad o r, V. R . Stº
An tó n io ) ................................................... 318
Gr up o Ar tí s tico Re nt i ni (Ca mi lo
Re n ti n i, Cª d e P ro ví n cia ) ................... 13
Gr up o Cara s Dir ei ta s (1 9 0 7 , B u arco s,
as so c iaç ão re crea ti v a) ......................... 52
Gr up o d e T ea tro «O s Ve nâ n cio s »
(Leo nel Ve n â nc io , Cª d e P ro ví n ci a) 5
Gr up o d e T e a tro d e C ar nid e ( Li sb o a)
..................................................................... 317
Gr up o d e T ea tro d o Or fe ão
Sca lab ita no (S a nt aré m) ..................... 277
Gr up o Dr a má ti co «O s P o p u lare s »
(H u mb er to d e An d rad e, Cª d e
P ro ví n cia) ................................................ 278
Gr up o Dr a má ti co Carlo s Sa n to s
(Li sb o a, a mad o r) .............................. 51, 98
Gr up o Dr a má ti co F a mi li ar ( Li sb o a ,
a mad o r) ...................................................... 50
Gr up o Dr a má ti co M i g ue l Le it ão
(Leir ia, a mad o r) ..................................... 52
Gr up o G il Vi ce n te ( Li sb o a, gr up o
d ra mát ico a mad o r) ................................ 48
Gr up o M u si ca l E sp er a nç a ( Cart a xo ) 103
Gr up o Ri ta Mo nta n er ( C ub a) ............... 315
GU ALDI NO , Câ nd id o (p o nt o ) .............. 33
G uard a (lo c al id ad e) .....................96, 97, 227
GUE DE S, J o ão (1 9 2 1 - 1 9 8 3 , acto r) .... 21,
291
G uerra Co lo ni al ........................................... 32
GUE R R A, E l vir a (a ma z o na) .................. 38
G uia s d e P o rt u ga l (o r g a ni zaç ão ) ....... 223
G ui ma rãe s ( lo ca lid ad e) 8, 9, 130, 131, 132,
134, 137, 141, 142, 143, 250, 252, 285, 286,
290
GUI M AR ÃES , D el fi m ( au to r) .....142, 143
Fera s à S o lta (tr a géd i a r ú st ica) .... 142
GUI M AR ÂES , Ho r ác io d e C a stro
(SNI) .......................................................... 144
GUI M AR ÃES , J úl io (ac t o r) ................... 57
GUI M AR ÃES , J úl io ( fi g ur i ni st a) ........ 58
GUI M AR ÃES , Lu ís d e Oli v eir a (a u to r)
.....................................................26, 27, 31, 33
GUI M AR ÃES , Q u er ub i m ( art ic u li st a)
..................................................................... 137
GU SM ÃO, F er na nd o (1 9 1 9 -? , ac to r) 71,
288, 300
I
Íl ha vo ( lo ca lid ad e) ..................................... 33
Inê s d e Ca stro (p er so na ge m d e In ês d e
Ca st ro ) ................................................. 13, 82
INF ANT E, P ed ro (1 9 1 7 - 1 9 5 7 , acto r
me x ic a no ) ................................................ 254
In fe rn o p o r Meio To stã o ......................... 34
In g lat erra (p aí s) .................................... 39, 37
In sp e cção d o s Esp ect ác u lo s (S NI) ... 144,
233, 295
Itál ia (p aí s) ........................................10, 17, 18
IVO, An tó n io d e Car va l ho ( trad u to r)
..................................................................... 298
H
H ACK ET T , Alb ert (1 9 0 0 -1 9 9 5 , a uto r)
..................................................................... 299
Diá rio (O ) d e An n F ra n k (1 9 5 6 , co m
Fra nc e s Go o d r ic h) .......................... 298
4
107, 108, 109, 110, 111, 112, 115, 118, 119,
154, 155, 156, 184, 185
Jo rn a l Po rtu g u ês d e E co n o mia e
Fin a n ça s (p e rió d i co ) ...................... 72, 73
J o sé So are s (p er so na ge m d e O Ra p to
d a Pr ima ) .................................................. 69
J o sé, o g ai ato (p erso n a g e m d e O
Ga ia to d e LI sb o a ) ..... 107, 126, 162, 166,
217
J OUV ET , Lo u i s (1 8 8 7 -1 9 5 1 , acto r,
d irec to r) ................................................... 293
J OYE USE , Mo n s ie ur d e ( Al mi ra n te d e
Fra nç a) ....................................................... 19
Ju d eu E r ra n te (t ít u lo ) ............................ 110
J Ú LIO II I (p o nt í fi ce) ................................ 20
J úl io Lab i ne (p er so na ge m d e O s
Mi lh õ e s d o C ri min o so ) ...................... 167
IZI D RO , F er na nd o ( ac to r a mad o r,
mú s i co , co mp o s ito r) ..... 51, 98, 102, 103,
105, 143, 169, 187, 210, 240, 351, 355
IZI D RO , Ire n e (ac tr iz) .............51, 152, 287
J
J AC OB ET T Y, Fra n ci sco (a uto r,
e mp re sár io ) .....................................29, 4, 61
Mi cró b io (O ) ( 1 8 8 4 , r e v is ta, T .
C ha le t d a R. d o s Co nd es ............... 61
Nin ich e (A ) Li sb o n en s e (1 8 7 9 ,
p aró d ia, T . d a R. d o Ol i va l) ........ 29
Rein a d o (O ) d o Pr io r (c o m Mi g u el
d o s Sa nto s, 1 8 7 9 , re v i st a, T . d a
R. d o Ol i va l) ....................................... 29
J acq u e s G ara ud (p erso n ag e m d e O s
Mi lh õ e s d o C ri min o so ) ...................... 167
J AC QUE S, Már io (a cto r ) ........................ 21
J ard i m d a E stre la ( Li sb o a, to p o n í mi a)
..................................................................... 294
J AR DIM, J o ão (e mp re sá rio d e ci ne ma
mad eir e ns e) ....................................215, 216
J AR DIM, J o ão (e mp re sá rio d e ci ne ma)
..................................................................... 215
J azz A map o l a (a gr up a m en to mu s i ca l)
..................................................................... 195
J eró n i mo P e irá s (p er so n ag e m d e O
Pa ra lít ico ) ......................................106, 126
J eró n i mo , o sa lt ead o r (p erso n a ge m d e
A Fi lh a d o sa l ti mb a n co ) ..................... 69
J ill T a n ner (p er so na ge m d e A s
Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289
J o an i n ha, a G ata B o rral he ira
(p erso n a ge m d e O S a p a t in h o d e
Vid ro ) ........................................................ 251
J o ão d a Cr uz (p er so na ge m d e A mo r d e
Perd içã o ) ............................................. 84, 85
Jo ã o Da rlo t ................................................... 34
J o ão J o sé (p er so na ge m d e Jo ã o Jo sé ) 88
J o ão Ro me ir a (p er so na g e m d e T rê s e m
Lu a d e Me l ) ............................................ 277
J OR D ÃO, E n gº J o s é Co el ho (a u tar ca
d a F. d a Fo z) .......................................... 264
Jo rn a l d e E lva s (p erió d i co ) . 30, 179, 190,
191, 192, 193, 194, 298
Jo rn a l d e É vo ra (p er ió d ico ) ................ 260
Jo rn a l d e La g o s (p er ió d ico ) ........249, 250
Jo rn a l d e Le t ra s e A rt e s (p erió d ico ) 269
Jo rn a l d e R io Ma io r (p e rió d ico ) ....... 257
Jo rn a l d e V i seu (p erió d i co ) ................. 278
Jo rn a l d o R ib a te jo (p eri ó d ico ) ....16, 184,
186
Jo rn a l d o s T ea t ro s (p er i ó d ico ) 35, 5, 7, 8,
9, 34, 41, 52, 62, 63, 65, 66, 97, 99, 104, 106,
K
K AFK A, Fra n z (1 8 8 3 -1 9 2 4 , a uto r) ... 296
K ANIN, Gar so n (1 9 1 2 - 1 9 9 9 , a uto r) . 299
K AT SE LAS , M il to n (1 9 3 3 , e nce n ad o r)
..................................................................... 289
K LEI ST , He i nri c h vo n ( 1 7 7 7 -1 8 1 1 ,
au to r) ........................................................... 21
O P rín cip e d e Ho mb u rg o (1 8 0 9 ) .... 20
KY D, T ho ma s (1 5 5 8 -1 5 9 4 , a uto r) ........ 5
Th e S p a n is h T ra g ed y .............................. 5
L
LAG O, J a ci n to ( mú s i co ) .......................... 58
La go s (lo c al id ad e) .... 34, 249, 338, 339, 340
LAL AN DE, Mari a (1 9 1 3 -1 9 6 8 , ac to r)
..................................................................... 214
La me go ( lo ca lid ad e) .................................. 33
Lar go d a Gra ça ( Li sb o a, to p o ní mi a) .. 41
Lar go d a Mi ser icó rd ia ( Vi se u) ........... 174
Lar go d a R ep úb l ica ( Sa n ta Co mb a
Dão , to p o ní mi a) ................................... 161
Lar go d e Mar ti m Mo ni z (Li sb o a,
to p o ní mi a) ............................................... 313
Lar go d e Sa n ta C atar i na (B ej a,
to p o ní mi a) ............................................... 205
Lar go d o Ca l vár io ( Lisb o a, to p o n í mi a)
..................................................................... 104
Lar go d o C ha fari z d e De nt ro ( Lisb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 47
Lar go d o Ra to ( Lisb o a, t o p o n í mia ) ... 43,
61
LAT OU R, P i erre (ac t o r) ........................ 297
LAU RE L, St a n (1 8 9 0 -1 9 6 5 , acto r) ..... 25
LE AL, Carlo s ( ac to r) ......................155, 243
LE AL, J o ão (ar ti c ul is ta) ....................... 258
LE AL, Me nd es (a u to r) ............................. 61
4
200, 210, 211, 223, 244, 255, 256, 268, 271,
290, 297, 306, 308, 313, 317, 318, 326, 349
Lis b o a Gi ná s io (a s so c ia ção
d esp o r ti va ) ................................................ 62
Li to ra l (p erió d ico ) ............................. 55, 321
Li vro d e Co n ta s 1 9 4 3 ( C ª R a fae l d e
Oli v eir a) ................. 192, 194, 330, 332, 333
Li vro d e Co n ta s d a s Co mp a n h ia s
S ub s id i ad a s ( SNI) ................................ 256
Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 (C ª Ra fa el d e
Oli v eir a) ....................................15, 198, 340
Li vro d e Co n ta s V (1 9 5 4 -5 5 ) ( C ª
Ra fael d e Ol i vei ra) ............................. 180
Ma rt ír io e Gló r ia , o u To rq u a to , o
S a n to ...................................................... 61
LE ÃO , E st er (a ctr iz) ............................... 118
LEB R E, Ab el ( mú s ico ) ........................... 147
LE Ç A, Ar ma nd o ( mú s ic o ) .................... 214
LE C HU G A, H écto r (ce n ó gra fo ) ......... 316
Le gião P o rt u g ue sa d e V i se u
(o rg a niz ação ) ......................................... 176
LE H AR , F ra nz (1 8 7 0 - 1 9 4 8 ,
co mp o s ito r) ............................................ 174
Leir ia ( lo ca lid ad e) .......................33, 53, 250
LE IT E, Ar na ld o (a u to r) ......................... 213
Ale lu ia ( co m H ei to r Ca mp o s
Mo n te iro , 1 9 4 2 , re vi s ta, T . d a
T rind ad e ) ............................................ 213
LE IT E, R u i Co rre i a ( a ut o r) ..........247, 337
Ra ça .......................................... 247, 337, 338
LE M A, Ar t uro ( ce nó gra fo ) ..................... 97
LE MO S, P ed ro (ac to r, e nc e nad o r) .... 291
LE N OR M AND , H e nri - R en é (1 8 8 2 1 9 5 1 , a uto r) ............................................ 139
LE R OY , N ico la u T . (a u t o r) ................. 174
Bo ca cc io n a ru a ... (o p er eta) ............. 68
Ca rvã o e Bo la s (o p ere ta i mi tad a ) .. 67
Ju í zo Na r ci so ........................................... 68
Ka l k - Wa lk (ca n ço net a) ........................ 68
Viú va (A ) A leg re e m Ca sca is
( mú s ica d e Fra nz Le har , o p eret a
p aró d ia) ............................................... 174
Li ma ( n a vio merc a nte ) ........................... 225
LI M A, Ad o l fo (a cto r) ............................... 54
LI M A, Cé sar d e (e mp r es ário ) ............... 30
LI M A, F ilo me n a (1 8 9 3 - 1 9 4 7 , act riz)
..................................................................... 119
LI M A, Ild a (ac tri z) .................................... 80
LI M A, Már io (1 8 9 5 -1 9 4 5 , acto r e mp re sár io ) .................... 16, 79, 85, 86, 169
LI M A, Ra n ge l d e ( a uto r ) ....................... 350
Do n Qu it ér ia q u e re ca sa r (a li ás
Mo ço s e Ve lh o s ) .............................. 108
Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ................. 34
Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 194
Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 206
Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 235
Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 269
Lí n g ua P o rt u g u e sa (d is c ip li n a
cur ric u lar) ................................................. 53
LI NO , H e nriq ue (ar tic u l is ta) ............... 184
Li nz ( lo ca lid ad e) ........................................ 19
Lis b o a ( lo ca lid ad e) .. 7, 8, 25, 28, 30, 36, 37,
5, 10, 20, 21, 22, 25, 27, 31, 32, 35, 36, 37, 39,
41, 43, 44, 45, 50, 55, 56, 66, 68, 70, 72, 76,
78, 80, 86, 90, 94, 103, 104, 112, 115, 126,
135, 147, 152, 159, 168, 169, 185, 189, 194,
Ll
LLOP IS , Car lo s (1 9 1 2 -1 9 7 0 , a uto r) 254,
353
Escu ela d e Ra te ro s (1 9 5 7 , co m Lu ís
Alco r iz a) ............................................. 254
L
LOB AT O, Ger v ás io (1 8 5 9 -1 8 9 5 ) 38, 153
Co mi s sá rio d e P o lí cia (1 8 9 0 ,
co méd i a) ............................................... 38
Co n d e s sa H elo í sa .................................. 34
Lo b ito ( lo c al id ad e) ..........................304, 305
Lo b i to (O ) (p er ió d i co ) ............................ 306
Lo nd r es (lo cal id ad e ) ........................... 14, 19
LOP ES , Car lo s (a uto r ) ...................254, 353
Da q u i Fa la o Mo rto ! ... ... 254, 262, 275,
353, 358
LOP ES , N ico la u J o sé ................................ 89
LOP ES , No rb erto ( a uto r ) ...................... 357
LO R AN, B er ta ( ac triz ) ............................. 21
LO R C A, Gar ci a (a u to r) .......................... 239
LO REN A, C hr i st i ne d e ............................ 15
Lo u lé ( lo ca lid ad e) ............................114, 115
LOU R DE S, S us a na d e (a ctri z) .............. 15
Lo ur e nço Marq ue s ( lo c a lid ad e) ... 37, 310
LOU RE N ÇO , Ad el i no (a rtic u li s ta) ... 305
LOU RE N ÇO , J o ão (a cto r, e nce n ad o r)
..................................................................... 300
Lo ur es (lo c al id ad e ) .................................. 116
Lo u sã (lo c al id ad e) ...................79, 87, 91, 99
Lu a nd a ( lo ca lid ad e) 118, 296, 302, 304, 311
LU CI ANO (ca.1 8 5 0 - 1 8 8 1 , acto r ) ........ 30
Lu c k y (p er so na g e m d e À Esp era d e
Go d o t ) ....................................................... 300
Lu c réc ia Bo rg ia .................................... 32, 34
Lu í s F er na nd e s (p er so na ge m d e A
Mo rg a d in h a d e Va l flô r ) ................ 94, 99
Lu í s Mo n tei ro (p er so na g e m d e O
Ra p to d a P r ima ) ..................................... 69
LUÍ S, R ui (ac to r) ..................................... 287
4
Ma r d e An g ú s tia s ................................. 142
Ma jo r ................................................................ 33
Mal a n ge ( lo ca lid ad e) .............................. 304
M ALDO N ADO, Au g u sto (e mp re sár io )
....................................................................... 46
Mal h ão (p er so na g e m d o Pro c es so d o
Ra sg a ) ......................................................... 40
M ALHEI RO , An tó nio P i nto (p o nto ) .. 33
Mal v eira (lo cal id ad e) ............................. 152
Ma n h a s d e A fo n so (t ít u l o ) ...................... 68
Ma nt ei ga s ( lo c al id ad e) ........................... 283
M ÂNT U A ( D uq ue d e) ............................... 19
Mâ nt u a (lo cal id ad e) ......................12, 17, 19
Ma n ue l d e So u sa Co u ti n ho
(p erso n a ge m d e F re i Lu í s d e S o u sa )
............................................................... 38, 277
M AN UE L, J o s é d a C â ma ra (1 8 6 1 1945)
Est á cá o Au g u s to .................................. 34
Filh o (O ) P ró d ig o (1 9 0 8 ) ................ 108
Mã o e sq u e rd a ............................................... 33
M AR AI , M i kló s (p se ud . , He nr iq ue
Sa n ta na) ...........................................262, 355
Marão ( re gi ão ) ........................................... 322
M AR CE LO, Art ur (ac to r ) ..................... 119
Mar gar id a Ga u tier (p er s o na g e m d e A
Da ma d a s Ca mél ia s ) ..................241, 242
Mari a B i n i (p er so n a ge m d e O G ra n d e
Amo r) ........................................................ 248
Mari a d e No ro n ha (p er s o na g e m d e
Tr ê s e m Lu a d e Me l ) .......................... 277
M ARI A, G u id a (1 9 5 0 , a ctri z) .....289, 316
M ARI A, I sa ura (j o ve m a ctri z a ma d o ra)
..................................................................... 170
M ARI A, M a n uel a (1 9 3 8 , actr iz) .86, 289,
331
M ARI A, M ar gar id a (j o v e m ac tri z
a mad o ra) .................................................. 170
Mari a na (p erso n a ge m d e Amo r d e
Perd içã o ) ............................................. 84, 85
Mari a no M ac had o (lo c al id ad e) ........... 306
M ARI AN O, Lúc ia ( ac tri z) .................... 280
Mari n h a Gr a nd e ( lo ca lid ad e) ........ 33, 346
M ARQ UE S, J o ão Ma ur í cio (a u to r) .. 215,
223
M ARQ UE S, J o sé d o s Sa nto s
(arti c ul i sta) ............................................ 257
M ARQ UE S, Ra fae l (a ct o r) ..................... 33
M ARQ UE S, Sa l vad o r ( a uto r,
e mp re sár io ) .............................112, 337, 339
He rd ei ra (A ) d e Ve rn eu i ll ( al iá s A
To ma d a d a Ba st ilh a ....................... 338
To ma d a (A ) d a Ba s ti lh a .. 112, 122, 175,
228, 335, 336, 337, 339
LUÌ S A, Mar ia ( art is ta) ........................... 100
LUP O, R i no (c i nea s ta) ........................... 351
Lu so ( lo ca lid ad e) ......................6, 63, 64, 304
LUS O, J o ão (ar tic u li s ta) ....................... 185
LU Z J ú nio r ( mú s i co ) ................................. 59
LU Z, Ho rt e n se (a ctr iz) ........................... 214
LU Z, Mar ia d a (ac tri z) ............................. 33
Lyo n (lo c al id ad e) ................................. 17, 18
M
M AÇ ANO , E st er (j o v e m actr iz
a mad o ra) .................................................. 170
M AÇ ANO , M ar gar id a (j o ve m ac tri z
a mad o ra) .................................................. 170
M ACE DO ( ac to r) ........................61, 310, 352
M ACE DO J r. , H e nriq ue (au to r) ........... 79
Ro sa (A ) d o Ad ro (1 8 7 0 , ad ap t ação )
79, 104, 107, 126, 127, 133, 231, 275, 337,
352
M ACE DO T o má s d e (ac t o r) ................. 296
M ACH AD O, An tó n io (a cto r) ............... 289
M ACH AD O, B er nard i no (1 8 5 1 -1 9 4 4 ,
p o lít ico ) ................................................... 150
M ACH AD O, Ed u ard o B ap ti s ta
Mac had o (a uto r) ............................... 4, 350
FF e R R (re v i sta , T . d a Ale gr ia,
Lis b o a) .................................................... 4
M ACH AD O, J ú lio Cé s ar (a uto r) .......... 38
M ACH AD O, Ma n ue l ( g u itarr i st a) ..... 236
M ACH AD O, Mar ia C lar a (a uto r a) .... 319
Ga ta (A ) Bo r ra lh e i ra ......................... 319
M ACH AD O, Ro g ério ( c enó gr a fo ) 66, 97,
103, 106, 112, 127, 210
M ACH AD O, Va sco ( mú si co ) ................. 80
M ACIEI R A, Vir g íl io (a cto r) ............... 287
Mad a le na d e V il h e na (p erso n a ge m d e
Tr ê s e m Lu a d e Me l ) .......................... 276
Mad e ira (r e gião i n s ul ar) .. 2, 215, 216, 220,
221, 223, 224, 225, 322
M AD EI R A, H u mb erto ( a cto r) ............... 21
Mad rid (lo c al id ad e) .......................11, 88, 89
M AG ALH ÃE S, Afo n so d e (trad u to r) 93,
227
M AG ALH ÃE S, An tó nio d e (b ib lió filo ,
«o se n ho r e sp ec tad o r ») ....................... 90
M AG ALH ÃE S, Dr. J o aq ui m d e
(arti c ul i sta) ............................................ 258
M AG NIE R, Cla ud e (1 9 2 0 -1 9 8 3 ) ........ 287
Ma la (A ) d e Be rn a rd et te .................. 287
Os ca r ......................................................... 287
M AI A, H e nriq u eta (ac tri z) ................... 291
M AI NT ENO N, Fr a nço i s e d ’Aub i g né,
Marq ui se d e (1 6 3 5 -1 7 1 9 ) ................... 39
M AI OR , E uc lid es So to ( au to r) ........... 142
4
M AT OS , Ed uard o d e (1 8 9 6 -c a.1 9 7 2 ,
acto r, e n sai ad o r, d irec to r art ís ti co ) 7,
34, 35, 140, 147, 148, 173, 174, 183, 184,
185, 186, 196, 201, 204, 206, 210, 231, 238,
239, 240, 241, 242, 244, 245, 248, 251, 253,
259, 262, 331
Po r tu g a l e m F e sta .......................206, 334
M AT OS , E s mer ald a d e ( j o ve m a ctr iz
a mad o ra) .................................................. 170
M AT OS , G ló ri a d e ( ac tr iz) .................. 291
M AT OS , Leo n ti n a d e ( a ctri z ) ................. 7
M AT OS , Lud o vi n a Fri as d e (1 8 9 5 1 9 8 1 , a uto r a) 105, 128, 131, 134, 140, 143,
187, 233, 240, 251, 338, 343, 350, 351, 355,
356, 357
A Ve r Na v io s (1 9 3 3 , re v is ta, T . Gil
Vic e nte , G u i mar ãe s ..... 143, 214, 235,
338, 343, 357
Ab en ço a d a Ro sa (1 9 3 0 , T . Gil
Vic e nte , G u i mar ãe s) ...................... 131
Mi la g re s d e No s sa S en h o ra d e
Fá ti ma (1 9 3 0 , Sa lão R e crea ti vo ,
B rag a) ................. 128, 130, 140, 343, 356
Mi la g re s d e No s sa S en h o ra d e
Fá ti ma (1 9 3 7 , ro ma nc e) .............. 351
Pra ta d a Ca sa (1 9 3 3 , r e vi s ta, T . Gil
Vic e nte , G u i mar ãe s) .... 134, 162, 334,
351, 357
Pu p ila s (A s ) d o S en h o r Rei to r
(1 9 4 2 , o p ere ta, T . D e s m o nt á ve l)
....... 187, 240, 275, 332, 334, 336, 351, 355
S a p a tin h o (O ) d e Vid ro (1 9 5 8 ,
mu s i ca l i n fa nt il, T . Av e ire n se) 251,
356
Tra n s via d o s (a li ás M ila g re s d e N ª S ª
d e Fá t ima ...........................206, 219, 351
M AT OS , Ma ria (ac tri z) . 119, 125, 149, 317
M AT OS , Ma ria He le n a ( actr iz) .277, 280,
287, 289, 298
M AT OS , T o n y d e (p o nto , ca nto r) .... 168,
176, 206, 207, 220, 236, 243
M AT OS - C R U Z, J o sé (a u to r) ............... 105
M ÁX IM O, Cé sar (ac to r, ce nó gra fo ) .. 57
M ÁX IM O, J . (p r io r d e S an ta I sab el,
Lis b o a) ....................................................... 37
MEDI CI, F erd i n a nd o (D u q ue d e
Flo r e nça) ................................................... 15
MEDI CI, G ia n Ân g elo ( ali ás P ap a P io
IV) ................................................................ 22
MEDI CI, Mar ia d e ( Ra i n ha d e Fra nç a)
................................................................. 16, 19
MEG A (a cto r) ............................................... 58
MEI LLAC , He nri (1 8 3 1 - 1 8 9 7 )
Mart a (p er so na g e m d e A lg u ém te rá d e
mo r re r) ..................................................... 253
Mart a (p er so na g e m d e R o sa s d e No s sa
S en h o ra ) .................................................... 92
M ART IN, J ea n (ac to r) ............................ 298
M ART INE LLI, Ân g el a ( actr iz) ............ 18
M ART INE LLI, Dr u s ia no (acto r ) ... 18, 19
M ART INE LLI, T ris ta no (1 5 5 7 -1 6 3 0 ,
acto r) ........................................................... 19
Co mp o s it io n s d e ré th o r i q u e d e M.
Arl eq u in ................................................ 19
M ART INH O, Ed u ard o Ant u n e s (a u to r)
Ro sa s d a V i rg em (1 9 2 4 , d ra ma) ...... 80
M ART INÓ, Mar g arid a ( actr iz) ............. 48
M ART INS , Amé l ia ( act r iz) .................... 58
M ART INS , Au g u s to (ac t o r) ................... 57
M ART INS , B e nto (e nc e nad o r ) ........... 317
M ART INS , B raz (1 8 2 3 - 1 8 7 2 , acto r,
au to r) 31, 29, 96, 97, 135, 175, 233, 333, 356
S a n to An tó n io (a li á s Ga b ri el e
Lu sb el, o u o Ta u ma tu rg o , 1 8 5 4 )
...... 18, 29, 96, 97, 108, 109, 175, 332, 333,
334, 356
M ART INS , Cla ud i na (ac triz) ................ 58
M ART INS , J ai me ( mú s i co ) .................. 357
M ART INS , No b r e (a u to r ) ..................... 139
Vo lta (A ) .................................................. 139
Má rt ir .............................................................. 34
Mar vão ( lo c al id ad e) .................................. 30
M ARX , Ir mão s ( ac to re s) ......................... 26
M ÁS, Ra mó n As se nc io ( au to r) ............. 80
M AS C ARE NH AS , Fra nc is co (ac to r) 111
M AT A, B ra vo d a (a rt ic u li st a) ......16, 196,
197
M AT A, Lu í s d a ( acto r) ............................ 54
Mat a nça d e São B ar to lo me u .................. 13
M AT I AS II (I mp erad o r d a Au str ia) .... 19
M AT OS E SI LV A, Ab í li o (1 9 0 8 -1 9 8 5 ,
fi g uri n is ta) .............................................. 299
M AT OS , Ad el i na d e (ac triz) ................... 7
M AT OS , Afo n so d e (1 8 9 3 -c a.1 9 7 3 ,
acto r, e n sai ad o r, d irec to r art ís ti co ) 7,
116, 117, 118, 119, 120, 124, 125, 126, 133,
135, 136, 137, 138, 139, 142, 143, 147, 148,
160, 165, 172, 173, 175, 176, 191, 196, 201,
203, 204, 206, 217, 219, 222, 225, 226, 230,
235, 238, 331, 345, 346
M AT OS , An tó nio d e (1 9 2 4 -1 9 8 9 , al iá s
T o n y d e M at o s, p o n to , c an to r) ...... 167
M AT OS , Ar t ur d e (a uto r ) .... 134, 351, 357
M AT OS , B ea tri z (a ctr iz ) ......................... 58
M AT OS , Co ns ta n ti no d e (acto r e mp re sár io ) .. 6, 7, 9, 34, 117, 184, 194, 325
4
MIST R AL, Fr éd ér i c (P r é mio No b el d a
Lit erat u ra, 1 9 0 4 ) .................................. 138
Mo ça mb iq ue ( co ló n ia) ... 306, 308, 310, 311
Mo çâ me d e s (lo ca lid ad e) ........................ 305
Mo i me n ta d a B e ira ( lo ca lid ad e) .......... 33
MOI RO N, An i ta ( ac triz ) .......................... 15
MOI RO N, Cr e mi ld e ( ac t riz) .................. 15
MOI RO N, E mí lio ( ac to r ) ........................ 15
MOI RO N, F ilo me no W e b er (ac to r) .... 15
MOI RO N, Lo ui s ( fo tó gr afo ,
e mp re sár io c i ne ma to grá fico ) ............ 14
MOI RO N, Lu í s (a cto r) ............................. 15
MOI RO N, P a u lo Gab ri el (acto r e mp re sár io ) ...................................15, 16, 35
MOI RO N, P ep ito d o s P r azere s ( ac triz )
....................................................................... 15
MOI RO N, Sc h ub ert Gab riel (ac to r) ... 15
MOI SÉ S ( mú s i co a ma d o r) .................... 176
Mo li ère d e B ee t ho v e n (p se ud .,
arti c ul is ta) .............................................. 102
MO LI N A, T irso d e (a u t o r) ..................... 12
MON D Y, P ier re (1 9 2 5 , acto r) ............ 287
MON I Z, J o sé An tó n io ( 1 8 4 9 -1 9 1 7 ,
acto r, a uto r , p ro fe s so r) ............... 54, 357
Art e d e Di z er (1 9 0 3 ) ............................ 54
Co n d e d e Mo n t e Cr i sto ( ad ap .) ...... 62,
108, 332, 334, 335, 339, 357
Co n d e d e Mo n t e Cr i sto ( ad ap .) ..... 109
MONT ALT O, C ard e al ( me ce na s) ........ 18
MONT EI RO , H ei to r Ca mp o s (1 8 9 9 1 9 6 1 , a uto r) ............................................ 213
MONT EI RO , Lu ís S tta u (1 9 2 6 -1 9 9 3 ,
au to r) ......................................................... 309
MONT EI RO , Ro b l es (1 8 9 0 -1 9 5 8 ,
acto r) ......................................................... 253
MONT EN EG R O, Re g i na (actr iz) ....... 184
MONT ÉP IN, Xa v ier d e ( 1 8 2 3 -1 9 0 2 ,
au to r) .........................................112, 166, 349
Mi lh õ e s (Os ) d o Cr i min o so ....112, 121,
127, 132, 166, 167, 335, 336
Mo n tij o ( lo ca lid ad e) ............................... 105
MO R AI S, Alb erto (1 8 7 5 -1 9 3 2 ) ..135, 352
MO REI R A, Da ni el
Ca rta a Po rtu g a l (co m H u go V id a l,
1 9 0 6 , re vi s ta, T . C hal et P al hare s,
Fei ra d o P arq u e, Li sb o a ) ............... 58
MO RG AD O J r., Va sco ( acto r,
e mp re sár io ) ............................................. 289
MO RG AD O, Va sco ( e m p res ário ) . 22, 26,
31, 70, 289, 321, 345
Mo s ca vid e (lo ca lid ad e) .......................... 268
MO SGET (a u to r) ....................................... 298
S a b ã o (O ) n º 1 3 (co m O B erso n) ... 298
Ove lh a s d e Pa n ú rg io ( L es Mo u to n s
d e Pa n u rg e, 1 8 6 3 ) ............................ 34
ME LO , Au g u s to d e (1 8 5 3 -1 9 3 3 , ac to r)
...............................................................34, 184
MEN DE S, C ar me n (a ctr i z) ...........280, 287
MEN DE S, E s me rald a ................................ 13
MEN DE S, I ld a ............................................. 13
MEN DE S, J úl ia ( act riz) ........................... 60
MEN DE S, Leó nia (ac tri z) ................. 13, 14
MEN DO N Ç A, He nr iq ue Lo p es d e
(1 8 5 6 – 1 9 3 1 ) ............................................. 81
Amo r lo u co (1 8 9 9 , a li á s Do Amo r à
Lo u cu ra ) ............................................... 81
Do Amo r à Lo u cu ra (al i ás Amo r
Lo u co , 1 8 9 9 ) ....................................... 81
MENE SE S, An tó n io d e ( «Ar g u s »)
Tu t ti- li- Mu n d i ( e t a l. , 1 8 8 1 , re vi s ta,
T . d a R. d o s Co nd es) ....................... 62
MES QUIT A, Cri st ia no ( acto r) ...107, 124,
129, 140
MES QUIT A, F erre ira d e (trad u to r) .. 354
MES QUIT A, Mar ce li no (1 8 5 6 -1 9 1 9 ,
au to r) .......................... 82, 240, 252, 351, 354
D. Ped ro , o Cru el ( 1 9 1 6 ) ................... 82
Men ti ra (1 9 0 7 ) ........................................ 34
Tio Ped ro ................................................. 252
MES QUIT A, V ir gí lio ( a cto r) .....124, 142,
143, 146, 148
MES QUIT A, Zi n a (a ctr i z) ... 107, 124, 138
Met al úr g ica d o Cart a xo ........................... 16
Mil a (p er so n a ge m d e O Ga ia to d e
Li sb o a ) ..................................................... 217
Mi la g re s d e S a n to F in g i d o (tí t ulo ) ..... 68
Mil ão (lo ca lid ad e) ..........................13, 22, 23
MI LLE R, Ar t h ur (a u to r) ............................ 6
Me n sa ge m I nte r nac io nal d o 2 º Dia
Mu nd ia l d o T eat ro .............................. 6
Mí mi ca (d i sc ip l i na c ur ri cu lar) ............. 53
Mi n ho (r e gião ) ............ 38, 129, 132, 270, 326
Mira nd a (p er so na g e m d e T rê s e m Lu a
d e M el ) ..................................................... 277
MIR AN D A, Ar ma nd o d e (real iz ad o r)
Jo sé d o T elh a d o (1 9 4 5 , ci ne ma ) ... 223
MIR AN D A, Fra nc i sco Luí s Co u ti n ho
d e (? -1 8 8 3 )
Ca sa r p a ra n ã o mo r re r ....................... 34
Ca sa r p a ra N ã o Mo r re r (co méd i a)
................................................................ 174
Mir u nd e la (p er so na ge m d o Pro ce sso
d o Ra sg a ) .................................................... 8
Mi ser icó rd i a ( C ha mu s c a ) ...................... 148
Mi ser icó rd i a, Ho sp it al d a ( Alco b a ça)
..................................................................... 149
4
No t íc ia s d e Gu i ma rã e s ( p erió d i co ) . 138,
143, 144, 252, 318
No t íc ia s d e Vo u ze la (p er ió d ico ) ........ 283
No t íc ia s d o A len t ejo (p e rió d ico ) ...... 179,
197, 198
No va Li sb o a ( lo ca lid ad e ) ...................... 304
No va L isb o a (p er ió d ico ) ................304, 305
No vo Red o nd o ( lo ca lid a d e) ................. 306
No vo T eatro d e V ari ed a d es ( al iá s
T eatro d o Ra to , Lisb o a) ...................... 61
NU NES , Ar t ur ( acto r ) ............................... 77
NU NES , J o r ge Ca rd o so (acto r) .......... 222
NU NES , M a nso (ar tic u li st a) ................ 284
Mo ta d a G u it arra ( p er so na g e m d e
Mo u ra r ia ) ................................................ 165
MOU R A, Art ur (a u to r) ...................113, 114
Ao Pin ta r d a Fa n e ca ( m ú si ca d e
Ma n ue l Rib e iro , 1 9 2 7 , r ev i sta ,
Ci n e -T eatro Fa re n se) ............113, 114
MOU R ÃO , An tó nio (ca n to r) ................ 289
MOU R ÃO , Car va l ho ( ar tic u li s ta) ..... 156
Mo u rari a ( Li sb o a, to p o n í mia ) ......44, 169,
321
MOU RI S C A,V as co d e L e mo s
(arti c ul i sta) .............................................. 55
MOUT IN HO , Car lo s (ac to r ) .................. 32
MOUT IN HO , J o ão (p o n t o ) ................... 133
Mo v i me n to d a s Fo rç a s Ar mad a s ( M F A,
1 9 7 4 ), ........................................................ 312
Mrs. B a ker (p er so na ge m d e A s
Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289
MUÑ O Z, Alzir a (ar ti s ta ) ......................... 10
MUÑ O Z, E u ni ce (1 9 2 8 , actr iz) .....10, 12,
13, 214, 276, 299
MUÑ O Z, Her n a ni ( art i st a) ................. 10, 12
Mu s e u N a cio n al d e T eat ro ( Li sb o a) .. 10,
77, 144, 182, 258
O
OB E RS ON (a uto r ) .................................... 298
Ob ra d a Ge ra çã o Hu ma n a (se c. XVI) . 7
OH NET , Geo r g e (1 8 4 8 - 1 9 1 8 , a uto r)
............................................ 246, 337, 349, 355
Gra n d e (O ) In d u st ria l .......246, 337, 355
Ol hão .............................................................. 113
Ol hão (lo c al id ad e) ..................................... 34
Oli v eir a d e Az e mé is (lo cal id ad e) ........ 33
Oli v eir a d o B a irro ( lo ca lid ad e) .122, 125,
133
Oli v eir a d o Ho sp it al ( lo cal id ad e) ..... 187
O LIV EI R A, F er na nd o d e (1 9 2 2 -2 0 0 4 ,
acto r) ..... 26, 70, 79, 124, 132, 173, 180, 181,
182, 202, 242, 246, 258, 259, 261, 271, 272,
273, 274, 275, 276, 278, 281, 283, 284, 285,
286, 288, 290, 291, 292, 296, 306, 308, 312,
314, 329, 331
O LIV EI R A, Alb ert i na d e (ac tri z) 32, 184
O LIV EI R A, Ál v aro d e ( 1 9 4 6 , acto r,
en ce nad o r) ...... 70, 252, 279, 286, 288, 296,
297, 299, 310
O LIV EI R A, An tó n io Câ nd i d o d e
(au to r) ......................................................... 69
Fa mí lia (A ) d o Pa lh a ço (ali ás A
Filh a d o S a l ti mb a n co ) ............ 87, 105
Filh a (A ) d o S a lt imb a n c o (d ra ma) 69,
87, 91, 105
Filh a (A ) P erd id a (a li ás A Fi lh a d o
S a lti mb a n co ) ....................................... 87
S a lti mb a n co (O ) ( al iá s A Fi lh a d o
S a lti mb a n co ) ...........................6, 87, 108
O LIV EI R A, Au z e nd a d e (1 8 8 9 -1 9 6 0 ,
actr iz) ................................................... 5, 118
O LIV EI R A, B ea triz d e ( actr iz) ............ 13
O LIV EI R A, C a mi lo d e ( 1 9 0 2 -1 9 8 2 ,
acto r) ........................................................... 13
O LIV EI R A, C a mi lo d e ( 1 9 2 4 , acto r) 13,
14
O LIV EI R A, C arlo s d e (a cto r) ...33, 35, 78
N
N ASE LI, Alb er to (a liá s Za n G a na ss a,
acto r) ........................................................... 10
Naza ré ( lo ca lid ad e) .......................7, 87, 263
Na za r é (o p er et a) ....................................... 266
N AZAR ET H (a cto r) ................................. 184
Nel as (lo c al id ad e ) .................................... 290
NEV ES, C ec íl ia (a ctr iz) .......................... 34
NEV ES, C u n h a (a ctr iz) ............................ 58
NEV ES, Li li (ac tri z) ............................... 280
NI CH O LS O N, Fra nc i sco (1 9 3 8 ) 314, 319
Mi s te rio so s a t é ma i s n ã o ................. 319
Pid e s n a Gr elh a ( et a l., 1 9 7 4 , T .
De s mo nt á vel , Li sb o a) ................... 314
NI CH O LS O N, Fra nc i sco (1 9 3 8 , ac to r e mp re sár io , a u to r, e n ce n ad o r) ....... 313
NI CO DEMI, D ário ( a uto r) .................... 248
Gra n d e (O ) Amo r .........................248, 338
NOB RE, Már io (ad vo g a d o ) .................. 172
NO RB E RT O, Lurd e s (ac triz) ................. 20
NO RO N H A, Ed uard o d e (a uto r) .40, 2, 3,
60
NO RO N H A, E var is to d e (acto r ) .......... 80
No rt e D esp o r tivo (p er ió d ico ) ................ 25
No t íc ia s d e É vo ra (p er ió d ico ) ...198, 199,
201, 203, 241, 242, 260, 282
No t íc ia s d e Go u ve ia ( p e rió d ico ) .96, 171,
172, 174
4
Ra ú l d ' Al é m) 30, 82, 83, 108, 127, 275,
333, 335, 350, 354
Filh a (A ) d o Leã o (1 9 3 6 ) ................. 220
Filh a (A ) d o Pa u lin o (1 9 3 6 , i mi t.,
T . Des mo n tá ve l, R io M a io r) ..... 275,
351
Jesu s Na za ren o (Vid a d e C ri s to )
(1 9 3 0 , T . Gi l V ice n te, G ui marã es )
............... 131, 333, 334, 335, 337, 338, 353
Jo sé d o T elh a d o . 110, 180, 275, 334, 335,
351
S a n ta Co mb a p o r u m Ó c u lo (1 9 4 0 ,
rev i sta lo c al, T . De s mo n tá ve l,
Sa n ta Co mb a Dão ) .......................... 350
O LIV EI R A, Ro b erto d e (acto r) ........ 2, 13
O LIV EI R A, Vi cto r d e (a cto r) ................. 5
O LIV EI R A, Zu ri ta d e (c an to ra) .... 13, 14,
269
Op é ra - Co m iq u e gé n ero t eatr al) ............ 39
Or feão «T o ma z Alca id e » ( Es tre mo z)
..................................................................... 196
Or feão d e Vi se u ( Gr up o Cé n ico ) ....... 283
Orq ue str a d e Ma n ue l Re is
(ag r up a me n to mu s i ca l, An g ra d o
Hero í s mo ) ............................................... 235
Orq ue str a Ro us s ea u (B e j a,
agr up a mn e to mu s i cal ) ........................ 180
Orq ue str a V i mar a ne n se (ag r up a me n to
mu s i ca l) ................................................... 141
Os t rê s d ra g õ e s (o p e ret a ) ....................... 67
ÓS C AR , P ed ro ( a uto r)
Ou ro s, p a u s, co p a s e es p a d a s .......... 34
OT T ONE LLI, Gi a n Do m en ico .............. 24
OT T OT ELLI .................................................. 24
O var ( lo ca lid ad e) ........................................ 33
O LIV EI R A, C ar me n d e ( actr iz) ............. 5
O LIV EI R A, Deo li nd a d e (actr iz) ... 80, 84
O LIV EI R A, E gíd ia d e (a ctri z) ................ 5
O LIV EI R A, E ma d e (1 8 9 7 -1 9 8 2 ,
actr iz) 70, 76, 80, 85, 93, 107, 124, 202, 217,
246
O LIV EI R A, E mí li a d e ( actr iz) ............ 214
O LIV EI R A, Fe li ci a no d e (ac to r) ......... 58
O LIV EI R A, Fe r na nd o d e (1 9 2 2 -2 0 0 4 ,
acto r) ................ 207, 270, 295, 307, 310, 311
O LIV EI R A, Gi s ela d e (1 9 2 5 -1 9 8 0 ,
actr iz) . 70, 238, 246, 252, 254, 266, 296, 316
O LIV EI R A, G ui l her mi n a(ac triz ) ......... 58
O LIV EI R A, He ld er d e ( acto r) ............... 13
O LIV EI R A, He nr iq ue d e (acto r ) .... 5, 118
O LIV EI R A, J o aq ui m An tó n i o d e
(au to r) ......................................................... 61
O LIV EI R A, J o aq ui m d e ........................... 37
O LIV EI R A, J o aq ui m d e (acto r) ............. 5
O LIV EI R A, J o aq ui m J o s é d e (a li ás
Oli v eir a T aí n ha, ac to r, d irec to r) ...... 5
O LIV EI R A, J o sé d e (a ct o r) ...................... 5
O LIV EI R A, Lu í s d e (ac t o r) ..................... 5
O LIV EI R A, Mar ia Leo n o r (1 9 5 1 ,
actr iz, p o n to ) ......................................... 252
O LIV EI R A, M ar ia Ro sa d e (ac tri z) .... 13
O LIV EI R A, Ma t hi as d e (acto r) ............ 58
O LIV EI R A, Ol í vi a d e (a ctri z) .............. 14
O LIV EI R A, R a fae l d e ( 1 8 9 0 -1 9 6 5 ,
acto r - e mp re sár io ) .... 7, 23, 25, 26, 28, 29,
31, 32, 33, 35, 42, 51, 64, 65, 66, 67, 68, 69,
70, 71, 72, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 84, 85,
86, 87, 90, 91, 94, 96, 98, 100, 103, 104, 107,
109, 114, 115, 116, 120, 121, 122, 124, 125,
126, 128, 130, 136, 139, 143, 144, 149, 157,
158, 159, 160, 162, 166, 170, 171, 173, 176,
177, 178, 180, 181, 182, 186, 193, 195, 198,
199, 200, 202, 204, 207, 208, 212, 215, 217,
218, 223, 232, 233, 234, 237, 245, 246, 249,
252, 254, 255, 256, 257, 259, 260, 263, 264,
265, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 282, 292,
296, 321, 324, 325, 326, 327, 329, 330, 331,
338, 342, 343, 344, 346, 349, 350, 351
A Ve r Na v io s (1 9 3 3 , re v is ta, T . Gil
Vic e nte , G u i mar ãe s) ...................... 350
Amo r d e P e rd içã o (ad ap tação ) .77, 79,
84, 100, 101, 105, 107, 109, 163, 275, 283,
298, 301, 303, 304, 308, 335, 350, 351,
358
Ap li ca - lh e o selo (1 9 2 4 , re vi st a,
Sal ão Ce n tra l, Car ta xo ) 98, 102, 108,
112, 122, 128, 176, 350
D. In ê s d e Ca s t ro e D. P ed ro , o
C ru e l (1 9 2 2 , a rre glo so b p se ud .
P
P AC HE CO, I sab e l ...................................... 11
P aco (p er so na ge m d e Jo ã o Jo s é ) ......... 88
P AI S, Ge ne ral S id ó nio ( 1 8 7 2 -1 9 1 8 ,
p o lít ico ) ................................................... 150
P AI V A, Amé ri co (ar ti c u li st a) ....190, 191,
192
P AI V A, F er na nd o ( S NI) ........................ 255
P AI X ÃO, J o ão An tó n io (e mp re sár io )
..................................................................... 103
P ALH A, Fer na nd o (p o lí t ico ) ................. 38
P ALH A, Fra nc is co (e mp res ário ) ....... 109
P ALLAV I CINI ............................................. 17
P al mir a (p er so na g e m d e Alg u é m t erá
d e mo r re r ) ............................................... 253
P a mp u l ha ( Li sb o a, to p o ní mia ) ............ 104
P an to mi ma (d i sc ip l i na c urr ic ul ar) ...... 53
P ARE DE S, An tó n io (a ct o r) .................... 67
4
P INH ÃO, Lu í s (a cto r) .............................. 70
P INH ÃO, Lu iz ( ac to r) ............................ 259
P INHEI R O, An tó nio (ac to r,
en ce nad o r , p ro fe s so r) 32, 35, 36, 40, 41,
46, 48, 49, 52, 53, 54, 60, 63, 65, 316, 327
Co n to s La rg o s ................................... 32, 54
Os so s d o Of ício ...................................... 32
P INHEI R O, C hab y (1 8 7 3 -1 9 3 3 , a c to r)
.................................... 118, 125, 186, 210, 293
P INHEI R O, P ed ro ( acto r) ............... 16, 317
P INHEI R O, P ed ro ( acto r -e mp re sár io )
..................................................................... 320
Aven id a d a L ib e rd a d e ........................ 320
P INHO, J o s é d e ( ma q ui n is ta) .............. 124
Pin ta s si lg o (O ) (p er ió d i co ) .................. 102
P INT ER, Haro ld (1 9 3 0 , au to r) ........... 296
P INT O, Al e xa nd re ( fad i st a) ................. 223
P I NT O, Ân ge la (1 8 6 9 -1 9 2 5 , act riz) .... 6,
39, 195
P INT O, Geo r g i na ( ac triz ) ....................... 81
P INT O, Serp a (e xp lo rad o r) .................... 38
P IO IV (p o n tí fic e) ...................................... 22
P IO V (p o n tí fice ) ........................................ 21
P IR ANDE LLO , Lu i gi (1 8 6 7 -1 9 3 6 ,
au to r) .........................................139, 239, 296
P IRE S, Alb er to (a cto r , p o nt o ) ............ 124
P IRE S, J o s é Card o so (1 9 2 5 -1 9 9 8 ,
au to r) ......................................................... 309
P IRE S, J o s é Card o so ( a uto r)
O Ren d er d o s He ró is .......................... 278
P IRE S, J o s é d ’ Ol i ve ira ( mú s ico
a mad o r) .................................................... 167
P IZI A, Ali ce ................................................... 9
La Co m med ia d e ll' Ar te
Tea tro ita lia n o t re 6 0 0 e 7 0 0 ........ 9
Pla t eia (p erió d ico ) ................................... 287
P o lít ica d o E sp ír ito (p ro gra ma
p o lít ico - c ul t ura l) ................................. 221
Po lí ti ca No va (p erió d ic o ) ......12, 175, 176,
177
P o nt a D el gad a (lo ca lid a d e) ...25, 118, 225,
236, 346
P ONT I, Di a na ( act riz) .............................. 18
P o rtale gr e ( lo ca lid ad e) .... 25, 98, 178, 187,
189, 190, 191, 282
P o rti mão ( lo c al id ad e) .............246, 338, 340
P o rto (lo c al id ad e) 28, 30, 31, 36, 37, 2, 3, 38,
64, 68, 78, 173, 250, 256, 257, 326
P o rto Ab o i m (lo cal id ad e ) ..................... 306
P o rto Al e xa nd r e (lo cal i d ad e) .............. 305
P ORT O, Cé s ar (a cto r) .............................. 54
P o rtu g al (p aí s) ... 24, 36, 39, 40, 4, 18, 24, 40,
66, 71, 94, 151, 152, 153, 154, 177, 185, 200,
211, 287, 289, 312, 322
P ARE DE S, Car lo s (1 9 2 5 -? , mú s ico ) 316
P ARE DE S, J úl ia ( ac tri z) ......................... 67
P aris (lo c al id ad e) . 11, 13, 16, 19, 39, 4, 152,
153, 287
P arq ue Ed uard o VII ( Li s b o a,
to p o ní mi a) ................................................. 58
P arq ue Ma ye r ( Li sb o a) ..... 23, 25, 152, 231,
313
P arq ue M u n icip al d e Al co b aça ........... 149
P AS S ALAQ U A, J úli a R en é (p ro fe s so ra
d e ca n to ) ..........................................168, 169
P AS S ALAQ U A, V iri ato (j o ve m acto r
a mad o r) .................................................... 170
P AS SO S, Ale x a nd re ( ac to r) 277, 278, 286,
290, 296, 316, 347
P átio d a s Arc as (rec i nto ) .................. 24, 49
P átio d e D. Fr ad iq ue ( Li sb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 46
P atriar ca l Q u ei ma d a ( ac tu al Lar go d o
P rín cip e R ea l, Lisb o a, t o p o n í mia ) . 56
P AU L, E ma ( act riz) ................................. 309
P AU LA, An n a (a u to r) ............................. 310
P AU LO III (p o n tí fice) .............................. 20
P AU LO IV (p o nt í fic e) .............................. 21
P AU LO , Ro gér io (1 9 2 7 - 1 9 9 3 , acto r)
.................................... 253, 314, 315, 316, 348
P AU LO S, An tó nio Ab re u (p o eta) ...... 223
A Ilh a d e S o n h o (p o e ma ) .................. 223
P av ia ( lo ca lid ad e) ...................................... 16
P av il hão -P a ri s ( F u nc ha l ) ....................... 219
P ed ro mal u co (p er so na g e m d e F era s à
S o lta ) ......................................................... 142
P EDR O, (d e So u s a) An t ó ni o (1 8 3 6 1 8 8 9 , acto r) ........................... 106, 126, 139
P EDR O LI NI .................................................. 14
P ed ro uço s ( lo c al id ad e) ............................... 2
P EIXOT O, Co rr eia (ac to r) ............111, 118
P EIXOT O, I n ácio (ac to r ) ................34, 185
P ena fie l ......................................................... 288
P ena fie l (lo ca lid ad e) ................................. 33
P EREI R A, An a (a ctr iz) ............................ 88
P EREI R A, Ara új o (ac to r ) ..................... 184
P EREI R A, J eró n i mo J o s é
(p ro p rie tário ) ........................................... 66
P EREI R A, M ário (ac to r) .........21, 280, 298
P rín cip e d e Ho mb ur go ( p erso n a ge m
d e K lei s t) .............................................. 21
P rín cip e d e Ho mb ur go ( p erso n a ge m)
.................................................................. 20
P IMENT A, J o sé ( ma q ui ni s ta) ............. 107
P IMENT E L (a cto r) ..................................... 58
P IN A, Au g u s to ( ce nó gra fo ) ................... 66
P IN A, Ma n ue l (a cto r) ............................... 33
P INH ÃO, Lu í s (1 9 1 9 -2 0 0 4 , acto r) .... 277
4
Ra ma l ho (p s e ud ., a rti c ul is ta) .............. 100
R AMB O U RG, Luc ie n ( a cto r) .............. 298
Ra mo (O ) d e Ou ro ( má g ica) .................... 3
R AMO S, J aci n to (a cto r) .................. 20, 277
R AP AZ ( O) D A GE R AL (p se ud .,
arti c ul is ta) .............................................. 188
Rap az (p e rso n a ge m d e À Esp era d e
Go d o t ) ....................................................... 300
R AP OS O, P a i va ( acto r ) ........................... 20
R AST O (b a il ari no ) ................................... 243
Ra ú l d ’ Alé m (p se ud ., R afae l d e
Oli v eir a) ..vd . R a fae l d e Ol i ve ira , v d .
Ra fael d e Ol i vei ra , vd . R afae l d e
Oli v eir a
Re al Co lé gio d a s M a n u fact ur as
(Li sb o a) ...................................................... 43
Re al Co li se u ( Li sb o a) ............................... 38
REB E LLO, L ui z Fra nc i s co (1 9 2 4 ,
au to r) ........................ 7, 38, 81, 233, 252, 253
Alg u é m t erá d e mo r re r ..............252, 258
Re creio s d a G raça (a liá s T eatro G il
Vic e nte , Lisb o a, G raç a) ...................... 34
RE DO L, Al ve s (1 9 1 1 -1 9 6 9 , a uto r) ... 309
Red o nd o (lo c al id ad e) ......................139, 196
RE DO ND O J r. ( crí tico , en sa i sta ) ...... 139
Reg a te i r a (A ) (p erió d ico ) .......99, 101, 102
Reg iã o d e L ei ria (p er ió d ico ) .......181, 251
Re g i sto s P aro q u iai s, Fr e g ue s ia d e
Sa n ta I sab e l .............................................. 37
Reg r es so (O ) (d u eto ) ................................. 68
Re g u eirão d e Val v erd e ( Lis b o a,
to p o ní mi a) ................................................. 44
Re g u e n go s (lo c al id ad e) ........................... 16
REI S, Al e xa nd re (ac to r a mad o r) ......... 51
REI S, Al fr ed o ( Vi l hari g ue s) ............... 282
REI S, Ed uard o (p ai) ( ce nó gra fo ) ........ 97
REI S, J o sé ( ac to r a ma d o r) ...................... 64
RE NT INI, Do lo re s ( ac tr iz -e mp r e sári a)
....................................................................... 12
RE NT INI, J ul ie ta (a ctr i z - e mp re sár ia)
.........................................................12, 13, 325
RE NT INI, O li nd a Go d fr o y ( actr iz) .... 13
RE NT INI, Sal úq u ia Go d fro y ( ac triz ) 13
Rep o r tó rio – Co o p era ti v a P o rt u g ue sa
d e T eatro ( Li sb o a) ............................... 320
Rep ú b l ica (p e rió d ico ) ...............13, 150, 284
Res su r rei çã o ( tí t ulo ) ............................... 164
RE Y - CO LAÇ O , Amé l ia (1 8 9 8 -1 9 9 0 ,
actr iz) ...........................................20, 33, 253
RE Y -M ONT EI RO, Mar i an a (a ctr iz,
au to ra) ...................................................... 291
Rib a l ta (A ) (p erió d ico ) ...................... 51, 52
Rib at ej o (p ro v í n c ia) ................................ 186
Rib at ej o (re gi ão ) ................................. 10, 212
P ORT U G AL, Lui z (a u to r) ....................... 61
P ORT U LÊ S (1 8 6 1 , ac to r ) ....................... 31
P ORT U ZUE LOS, Ma ria (actr iz) .......... 58
Po vo (O ) d o No r te (p eri ó d ico ) ........... 132
Po vo Alg a r vio (p erió d ic o ) ............246, 247
Po vo d e A ve iro (O ) (p er ió d ico ) ............ 12
P ó vo a d e V arzi m (lo cal i d ad e) 33, 38, 285,
290
P o zzo (p er so na ge m d e À Esp era d e
Go d o t ) ....................................................... 300
P raça d a R ep úb l ica (S et úb a l) ......208, 209
P raça d a s A mo re ira s ( Li sb o a,
to p o ní mi a) ........................................... 43, 55
P raça d a s Flo r e s ( Lisb o a , to p o ní mi a) 48
P raça d o Ca mp o d e Sa n t an a ( Lisb o a,
reci n to e sp e ctá c ulo s) ........................... 39
P R AT A, J o aq u i m ( acto r ) ................... 32, 78
P resid ê nci a d o Co n se l ho d e M i ni stro s
(Li sb o a) .................................................... 276
P RET O, Go n ça l ve s (a u t o r) ................... 314
P RIE ST LE Y, J o h n B o yt an (1 8 9 4 -1 9 8 4 ,
au to r) ......................................................... 250
Est á lá fo ra u m in sp ec to r (1 9 4 5 ) 250,
251
P ri meiro Ac to – T ea tro d e Al gé s
( Al gé s) ...................................................... 288
P rín cip e P er fe ito ( n a vio merca n te) .. 302
Pro v ín c ia d e An g o la (p e rió d ico ) ...... 302,
303
P sico lo gi a (d i sc ip l i na c urr ic ul ar) ....... 53
P UC K (ar ti c ul is ta) ..................................... 37
P UERT O C AR R E RO, P e d ro
(Co n se l heir o Rea l) ................................ 18
Pu p ila s (A s ) d o S en h o r Rei to r (car taz
p ub lic it ário ) ........................................... 104
Q
QUEI R ÒS , Car lo s (ac to r ) ..................... 289
QUEI R O Z, F lo rb el a (a ct riz) ..........21, 321
Q uel u z (lo ca lid ad e) .........................274, 276
Qu em mo r re... mo rr e .................................. 32
QUI NT ER O, Ir mã o s (S e rafí n,1 8 7 1 1 9 3 8 , e J o aq uí n , 1 8 7 3 -1 9 4 4 ,
Al var ez) ................................................... 185
Pip io la ...................................................... 185
R
Ra b eca (A ) (p er ió d ico ) .... 25, 98, 188, 189,
190, 191, 282
Rá d io & T e lev i sã o (p er i ó d ico ) ....... 71, 73
R AF AE L (1 4 8 3 -1 5 2 0 , p i nto r) ............... 17
Ra lp h Au s ti n (p er so n a ge m d e A s
Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289
R AM A, An tó nio (ac to r) ......................... 316
4
RO D RIG UE S, Ma n ue l Mari a (1 8 4 7 1 8 9 9 ) .................................................135, 233
Ro sa (A ) d o Ad ro (ro ma nc e) ....79, 291,
347
RO D RIG UE S, Már io ( m ú si co ) ...124, 163,
169
RO D RIG UE S, A mé lia (a ctri z) ....114, 124,
278
RO D RIG UE Z, J o s é (ed it o r) ................... 89
Ro ma (lo c al id ad e ) ............................ 9, 12, 21
RO N C AG LI, S il v ia ( act riz) ................... 18
RO RI Z, P e. Ga sp ar d a C o st a (a u to r) 141
He ró i (O ) Min h o to .............................. 141
Ro sa (p erso n a ge m d e Jo ã o Jo s é ) ......... 88
Ro sa (Uma ) a o Peq u en o Almo ço
(tí t ulo ) ...................................................... 321
Ro sa d o Ad ro (p erso n a g e m d e A Ro sa
d o Ad ro ) ................................................... 100
RO S A, Au g u s to (1 8 5 0 -1 9 1 8 , acto r) ... 81
RO S A, Ce le st i no (a u to r)
Du a s Ga ta s (1 8 9 8 ) ................................ 34
RO S A, J o ão ( acto r) .................................... 88
RO S A, J o aq u i m (a cto r) ..........309, 316, 317
Ro ss io d e S. B raz (É vo r a, to p o n í mi a)
.....................................................198, 260, 279
Ro ss io , Lar go d o ( Li sb o a, to p o n í mi a)
...........................................................38, 44, 45
Ro t u nd a ( Li sb o a, to p o ní mi a) ........... 56, 60
R ua d a Arráb id a ( Li sb o a , to p o ní mi a) 63
R ua d a Co nce iç ão (a ct ua l r ua Marco s
d e P o rt u ga l, Lisb o a, to p o ní mia ) ..... 48
R ua d a P al ma ( Li sb o a, t o p o n í mia ) ..... 50
R ua d a Vo z d o Op erár io (Li sb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 35
R ua d e S. B e n to ( Lisb o a , to p o ní mi a) 43,
66
R ua Di rei ta d a F áb ri ca d as Sed as
(act u al E s co la P o li téc n i ca, Lisb o a,
to p o ní mi a) ................................................. 43
R ua d o Cap e lão ( Li sb o a, to p o ní mi a) 231
R ua d o S al itre ( Li sb o a, to p o ní mi a) .... 44
R ua d o s C aet a no s ( Lisb o a, to p o n í mi a)
....................................................................... 53
R ua d o s C e go s ( Li sb o a , to p o ní mi a) ... 46
R ua J o ão Ma ria d a Si l va Co rr eia
(B en a ve nt e, to p o ní mi a) ....................... 67
R ua No va (B e na ve n te, t o p o n í mia ) ...... 68
R ua No va d a Ale gr ia ( Li sb o a,
to p o ní mi a) ................................................... 4
R ua Ro d r i go d a C u n ha ( Lis b o a,
to p o ní mi a) ............................................... 297
R ui (p er so na g e m d e Alg u ém te rá d e
mo r re r) ..................................................... 253
RU I, E tel v i na ( ac tri z) ............................... 15
Rib eir a Gr a nd e ( lo ca lid ad e) ................ 234
RIB EI R O (t e no r) ......................................... 66
RIB EI R O, Ân g el a (a ctr i z) .................... 316
RIB EI R O, An tó n io Lo p e s (1 9 0 8 -1 9 9 5 ,
ci nea s ta, a uto r, e mp r es á rio ) ..212, 213,
294
Amo r d e P e rd içã o (1 9 4 3 , ci ne ma) 213
Pa i (O ) T i ra n o (1 9 4 1 , ci ne m a ) ...... 212
Viz in h a (A ) d o La d o (1 9 4 5 , ci ne ma)
................................................................ 212
RIB EI R O, Ce le st i no (a c to r) ................. 243
RIB EI R O, Fé li x ......................................... 214
RIB EI R O, Fer na nd o C ur ad o (1 9 1 9 1 9 9 5 , acto r) ......................................20, 271
RIB EI R O, Fra nc i sco ( ac to r, e n sa iad o r
a mad o r) ...................................................... 51
RIB EI R O, Fra nc i sco ( R i b eiri n ho )
(1 9 1 1 -1 9 8 4 , ac to r, e n ce nad o r ,
ci nea s ta, e mp re sár io ) . 79, 158, 213, 232,
276, 277, 280, 292, 293, 294, 295, 296, 297,
298, 299, 300, 301, 307, 310, 345, 347
Pá tio (O ) d a s Ca n tig a s (1 9 4 2 ,
ci ne ma ) ................................................ 212
RIB EI R O, M a n ue l ( mú s i co ) .........113, 114
RI C AR DO , J o s é (a cto r) ........................... 80
Rid í cu lo s (Os ) (p er ió d ic o ) ...................... 31
Rio Ma io r ( lo ca lid ad e) ... 87, 160, 161, 239,
241
Rio ma io ren se (p erió d ico ) ..................... 239
RI QUE LME ( Mar ia o u Da mi a na,
actr iz) .......................................................... 25
ROB Y, Sc h iap a Ro b y (a mad o r d e
tea tro ) ......................................................... 64
RO C H A, D al ila (ac tri z) ........................... 21
RO C H A, J úlio (a u to r)
Ro d a Viva ( e t a l. , 1 8 9 7 , rev i sta , T .
Av e nid a, Li sb o a ) .............................. 41
RO C H A, Lui z (a cto r a m ad o r) ............... 51
RO D RIG UE S, A. ( acto r ) ....................... 184
RO D RIG UE S, A mé li a (a ctri z) ............ 107
RO D RIG UE S, Art ur (ac t o r) 107, 124, 278
RO D RIG UE S, Er ne sto ( au to r)
Art e d e Mo n te s ...................................... 168
Em á g u a s d e b a ca lh a u ( F ul a no ,
Sic ra no e B el tra no , 1 9 0 6 , re vi s ta,
T . C hal et Av e n id a, feir a d o
P arq ue , Li sb o a) ................................. 58
Ra ta p la n ( «G re go s e T ro ia no s »,
rev i sta , 1 9 2 5 , T . M aria Vit ó ria)
................................................................ 119
Zig - Za g ( et a l ., r e vi st a, 1 9 1 0 , T .
J úl ia Me nd e s, feir a d e A lcâ n tara)
.................................................................. 60
RO D RIG UE S, J o sé ( ac t o r) ..................... 80
4
S ANT AN A, V as co (1 8 9 8 -1 9 5 8 , ac to r)
............................................ 152, 153, 166, 213
Sa n taré m (lo c al id ad e ) ...... 79, 253, 288, 291
S ANT AR EN O, B er n ard o (p se ud .,
An tó n io Ma rt i n ho d o Ro sár io , 1 9 2 4 1 9 8 0 ) 287, 309, 312, 314, 319, 348, 350, 354
An tó n io , Ma r in h ei ro ...........286, 287, 314
Po r tu g u ê s, E sc r ito r, 4 5 a n o s... ..... 312
Pro me ssa (A ) ......................................... 319
Tra içã o (A ) d o Pa d r e M a rt in h o
(1 9 6 9 ) ......................... 314, 317, 348, 354
Sa n to An tó nio (p er so na ge m d e B ra z
Mart i n s) ..................................................... 29
S ANT OS, Al fred o ( acto r) ................. 32, 88
S ANT OS, An tó nio Au g u sto
(arti c ul i sta) ............................247, 248, 249
S ANT OS, C ard o so d o s ( co ro n el, a uto r )
..................................................................... 162
C ru z d e Gu e r ra (ac to e m v er so ) ... 162
S ANT OS, C arlo s ( acto r) ..........51, 231, 291
S ANT OS, F er na nd o (1 8 9 2 -1 9 6 6 ,
au to r) ......................................................... 250
Ba te o p é ( e t a l ., 1 9 6 2 , rev i sta , T .
Mª V itó ria) .......................................... 21
Pré mio No b el (1 9 5 5 , co m Al me id a
A mara l e Le itão d e B ar r o s) ....... 250,
275, 353
Tra ve s sa d a E sp e ra (1 9 4 6 , re vi s ta,
T . Mª V itó r ia) .................................... 14
S ANT OS, F er na nd o ( a ut o r) .................. 353
S ANT OS, Gra ça d o s ( i n ve s ti gad o r a)
.............................................................151, 299
S ANT OS, He nr iq ue (ac t o r) ..........280, 287
S ANT OS, Izid o r o (ac to r a mad o r) ........ 51
S ANT OS, J o rg e (1 8 7 9 -1 9 5 9 , a uto r) .. 76,
342
S ANT OS, J o sé d o s ( g ui t arri st a) ........ 223
S ANT OS, La ura (ac tri z) .......................... 34
S ANT OS, Mar ti n s d o s ( acto r) ............... 41
S ANT OS, Na ti v id ad e (a ctri z a ma d o ra)
....................................................................... 51
S ANT OS, V íto r P a v ão d o s (a u to r) ..... 10,
12, 88
Eu n ice Mu ñ o z, 5 0 a n o s d a vid a d e
u ma a c tr i z ............................................ 10
S ANT OS, V ito r P a v ão d o s
(i n ve st i gad o r) ........................................ 300
São Mi g ue l (I l ha d e, Aç o res) .............. 235
S AR AB AND O, J o ão ( ac to r) ................. 277
S AR DO U, Vic to ri e n (1 8 3 1 -1 9 0 8 ) 17, 88,
106, 185, 205
Divo rc ie mo - n o s ................................ 34, 17
Fed o ra ...................................................... 185
S AR GED AS , M ário (ac t o r) .................. 316
RU IV O, J a n uár io (a cto r) ....................... 119
S
S. B er n ard o ( lo ca lid ad e) ....................... 147
Sá d a B a nd e ira ( lo c al id a d e) .........305, 306
S AC HET T I, J ua n B a u ti s ta (1 6 9 0 -1 7 6 4 ,
arq u it ec to ) ................................................ 11
Sal ão Ap o lo ( Ol h ão ) ............................... 113
Sal ão B o l a nd er ( a ni ma tó gra fo ) ............ 59
Sal ão Ce n tra l ( Car ta xo ) ...........98, 100, 101
Sal ão Ce n tra l ( Lisb o a) ............................. 28
Sal ão d a C ai x a Eco nó mi ca ( Lisb o a) .. 35
Sal ão d a Co zi n h a Eco nó mi ca ( An gra
d o Hero ís mo , T erce ira, Aço re s) .... 234
Sal ão d o Re cre io d o s Ar ti st as ( An gr a
d o Her o ís mo , T erce ira, Aço re s) .... 234
Sal ão Fa nt á st ico ( Li sb o a) ....................... 28
Sal ão Lib erd ad e ( Li sb o a ) ........................ 28
Sal ão P ro mo to ra Lis b o a ) .................87, 104
Sal ão Re crea ti vo (B ra ga ) ..............110, 127
Sal ão Re creio d o P o vo ( Set ú b al) ....... 208
Sal ão Re creio P o p u lar ( Se si mb ra) .... 106
Sal aza r (lo cal id ad e) ................................. 304
S ALAZ A R , An tó nio d e Oli v eir a
(1 8 8 9 -1 9 7 0 , p o l ít ico ) 150, 151, 164, 182,
212, 258, 276
S ALOM ON A, Ân g e la ( a ctri z) ............... 18
S AMUE L (a cto r) ......................................... 30
S AND, Geo r ge (1 8 0 4 -1 8 7 6 , p se ud .) 247,
350
Ma rq u ê s (O ) d e V il le me (1 8 6 4 ) r ... 39,
247
S ANDE , Car lo ta (ac tri z) ....................... 184
Sa n ta Co mb a Dão (lo c a l id ad e) ..161, 162,
163, 164, 168, 169, 171, 178, 187
Sa n ta M art a ( Lisb o a, to p o n í mia ) ......... 44
Sa n ta na ( lo c al id ad e) ....................69, 87, 290
S ANT 'AN A, Ar ma nd o (a cto r, p o n to )
..................................................................... 107
S ANT AN A, H e nriq u e (1 9 2 2 -1 9 9 5 ,
acto r, a uto r , e mp r es ário ) 262, 276, 277,
280, 286, 287, 298, 299
Aq u i h á Fa n ta sma s (1 9 6 2 , co m
Fra nc i sco R ib eiro , T . V aried ad e s)
........................................................280, 281
Bo mb a (Uma ) Ch a ma d a Ete lvin a
(1 9 6 1 , al ía s J o r ge d e So u sa, T .
Vari ed ad e s) ...................... 280, 299, 355
Fa n ta sma (Um ) Ch a ma d o Isa b e l
(ali ás M i kló s M ara i) .... 262, 275, 355
Ga to (O ) ...........................................286, 287
Tr ê s e m Lu a d e Me l (1 9 6 1 , al iá s
J o rge d e So us a, T . Var ie d ad es )
............................... 276, 279, 282, 352, 358
4
SI LV A, Ag o st i n ho (a cto r) ...................... 58
SI LV A, An tó n io (1 8 8 6 - 1 9 7 1 , acto r) 152
SI LV A, An tó n io ( Si l va B ate Ca s aca s,
en sa iad o r a mad o r) ................................. 49
SI LV A, An tó n io J o sé d a (1 7 0 5 -1 7 3 9 ,
au to r) ........................................................... 39
SI LV A, An tó n io Mari a d a (1 8 8 6 -1 9 7 1 ,
acto r) .................. 71, 153, 213, 214, 277, 280
SI LV A, Ar ma nd o S il v es tre T a vare s d a
(g u itar ri st a a ma d o r) ............................. 81
SI LV A, C ele s ti no Ga sp a r d a
Ca ch a lo t e (1 9 0 7 -0 8 ) ..................110, 111
Ou Va i o u Ra ch a (1 9 0 8 ) ................... 110
SI LV A, Co s ta e (ac to r) ............................ 58
SI LV A, Do mi n g o s C â nd id o d a ( acto r e mp re sár io ) ......................................... 8, 143
Acto r (O ) E r ra n te (p er ió d ico
tea tra l) ................................................. 8, 9
SI LV A, Fer reir a d a (ac t o r) ............... 31, 88
SI LV A, Fer reir a d a (p o n to ) ................. 155
SI LV A, Her mí n i a ( fad i s ta) ................... 152
SI LV A, J o aq u i m ( ac to r) ............................ 5
SI LV A, J o sé (ac to r) .................................. 80
SI LV A, J o sé J o aq ui m d a (a uto r)
2 0 0 0 0 Es cu d o s (al iá s O Ra p to d a
Pri ma ) .................................................... 69
Ca u t ela co m a Fe rn a n d a (al iá s O
Ra p to d a P r ima ) .............................. 108
Ra p to (O ) d a P ri ma ( co méd ia) ..... 170,
174, 275
SI LV A, Lib â n io d a (a u t o r) ..................... 61
SI LV A, Mar ia Au g u s ta ( arti c ul is ta) 302
SI LV A, Már io (e lec tr ici st a) .................. 58
SI LV A, Mo nt eiro e (ar ti cu li s ta) ........ 154
SI LV A, P er eir a d a ( ac to r) .................... 184
SI LV A, T eo d o ro ( acto r) ........................ 222
S eg red o (O ) (1 9 4 8 , c i ne ma ) ........... 223
SI LV A, Var ela (ac to r) ............................ 291
Si l ve s ( l o ca lid ad e) . 180, 247, 249, 254, 337,
340
Si mã o B o t el ho (p ers o na ge m d e A mo r
d e Pe rd i çã o ) ......................84, 85, 185, 305
SIM ÔE S, Lu cí lia (1 8 7 9 - 1 9 6 2 , act riz e mp re sár ia) .....................................117, 214
SIM ÔE S, Lu ci nd a (1 8 5 0 -1 9 2 8 , ac triz )
.............................................................139, 186
SIM ÕE S, Sa nto s (art ic u l is ta) .............. 252
SIN CE R O (a rt ic ul i sta ) ...........107, 115, 184
Si nd ica to d o s Art is ta s ....................181, 258
Si n tra ( lo ca lid ad e) ...........................106, 274
SO AR E S, J ul iet a (1 8 9 8 - ? , actri z) ....... 35
SO AR E S, Lu iz So ar es ( acto r) ............... 32
SO AR E S, M a n uel Ma ria , o La me g aç as
(acto r - e mp re sár io ) ................................. 17
S AR MENT O, An tó n io ( acto r) ............... 33
S AR MENT O, E mí li a (a c triz) ................ 33
S ART R E, J ea n -P a u l (1 9 0 5 -1 9 8 0 ,
au to r) ......................................................... 296
S AT AN E LA, Lu ís a (a ctr iz) ............14, 152
S AVIOT T I, Gi no (e mp r esá rio ) ........... 256
S C ALA, Fl a mí n io ...........................12, 14, 17
S CH U LT ZE, M ari a (a ctr iz) .................. 287
S CHW ALB AC H, Ed u ard o Fred erico
(1 8 4 6 -1 9 4 6 ) ............................................ 249
Du a s (A s ) Má s ca ra s (1 9 4 5 ) ............ 249
S C RIB E , E u g è ne (1 7 9 1 - 1 8 6 1 , a uto r)
..................................................................... 205
Secr et ariad o Na cio n al d a I n fo r ma ção ,
C ul t ura P o p u lar e T ur is mo ( S NI) .. 23,
183, 232, 254, 255, 264, 265, 267, 268, 272,
273, 275, 276, 284, 286, 311
S écu lo (O ) (p erió d ico ) .....................54, 302
Revi s ta l it erá r ia , a rt ís ti ca e
cien tí fica .............................................. 54
Sei a ( lo ca lid ad e) ......................................... 96
SE LV AGEM , Car lo s (1 8 9 0 -1 9 7 3 ,
p se ud ., a uto r) .......................................... 20
An jo Reb eld e ............................................ 20
S ema n a (A ) Ilu st ra d a (p erió d i co ) ....... 59
SEN A, J o r ge d e (1 9 1 9 -1 9 7 8 , a uto r) 300,
359
SEQ UEI R A, G us ta vo d e Mato s ( a uto r)
....................................................................... 39
SE R M AP HI O (a li ás Za ni n i d a P ad o va,
acto r) .................................................9, 10, 20
Ser p a P i nto (lo c al id ad e) ........................ 305
SE R RE AU, J e a n -M ari e ( d irec to r d e
tea tro ) ....................................................... 297
Se si mb ra ( lo ca lid ad e) ............ 106, 273, 278
S es imb ren se (O ) (p erió d ico ) ................ 107
SET T E, Al fred o (e n sa ia d o r, p o n to ) ... 56
Set ú b al (lo c al id ad e) ..... 32, 6, 208, 210, 211
S etú b a l n a Red e ( sí tio n et) ....................... 2
S etu b a l e n s e (O ) (p er ió d i co ) . 14, 208, 209,
210, 211, 214
SH AKE SP E AR E, W il lia m (1 5 6 4 - 1 6 1 6 ,
au to r) ................................ 6, 9, 295, 297, 305
No i te d e Re i s 295, 297, 299, 302, 303, 304
S o n h o d e U ma No i te d e Verã o ........... 9
SH AW , B er n ard (1 8 5 6 -1 9 5 0 , a uto r) 239
S a n ta Jo a n a ............................................ 239
SH O RE, Ca rlo s (a cto r) ............................. 89
SID ÓNI O, Mar ia ( actr iz ) ...................... 243
Si l va P o rto (lo c al id ad e ) ........................ 305
SI LV A V ALE (a li ás J o s é Marq u es d a
Si l va, acto r) . 66, 67, 68, 70, 75, 76, 79, 85,
86, 87, 107, 124, 325, 326, 331
SI LV A, A. Vi eira d a ( co n str u to r) ....... 66
4
SO US A, I vo n e d e ( ac tri z) ..................... 115
SO US A, J a i me d e ( vo c al is ta d o
co nj u nto F la mi n g o ) ............................. 223
SO US A, J o r ge d e (p se ud ., He nr iq ue
Sa n ta na - Fr a nci s co Rib eiro ) .276, 352,
355
SO US A, J o sé C arlo s d e (acto r) ..... 76, 85,
204, 206, 218
SO US A, Lu cí li a d e ( ac tr iz) .................... 76
SO US A, Ne ve s d e (ar ti c ul i st a) ...181, 183
SO US A, R a yra d e (ac tri z) ...................... 11
So us el (lo c al id ad e) .................................... 15
Sp o rt B eir a M ar ( Av eiro ) ...................... 147
S ta d iu m d e S. Do mi n go s ( Ave iro ) ... 134,
146, 343
ST EINB E CK , J o h n (1 9 0 2 -1 9 6 8 , a uto r)
.............................................................287, 309
Ra to s e Ho m en s (1 9 3 8 ) .....287, 288, 309
ST ICH INI, Ild a (ac tri z) .........184, 219, 355
ST RIN DB E R G, Au g u s t ( 1 8 4 9 -1 9 1 2 ,
au to r) ........................................................... 21
C red o re s (1 8 8 8 -8 9 , Cr e d ito r s ) ........ 21
SU AS S UN A, Aria no (a u to r) ................ 320
S a n to (O ) e a Po r ca ............................ 320
S u rp re sa (U ma ) ( tí t ulo ) ........................... 68
SV OB O D A, , J o s e f (1 9 2 0 -2 0 0 2 ,
ce nó gra fo c heco s lo vaco ) .................. 296
SO AR E S, T ei xe ira ( ac to r) .................... 184
So c ied ad e Ar tí st ic a «G e n t e Se m
No me » ( H u mb er to d e And rad e, Cª
d e P ro v í nc ia) ......................................... 278
So c ied ad e d e Au to r es ( Lisb o a) .......... 216
So c ied ad e d e E sc ri to re s e
Co mp o si to re s T ea trai s ( Lis b o a) ...... 26
So c ied ad e d e I n st r ução T avared e ns e
(1 9 0 4 , T avar ed e, a sso ci ação
recrea ti v a) ................................................. 52
So c ied ad e Dr a má tic a d e Car n i d e ....... 317
So c ied ad e I n str uç ão e R ecre io «O s
P en ic he iro s » (B arr eiro ) .................... 263
So c ied ad e M u si cal C ul t ura e Re cre io
(P aço d e Vi l hari g u e s) ........................ 282
So c ied ad e M u si cal S es i mb r e ns e
(Se si mb ra, as so c ia ção ) ...................... 106
So c ied ad e P ro mo to ra d e Ed u caç ão
P o p ul ar ( Lisb o a) .................................. 104
So c ied ad e Ra fa e l Cro n e r ( Li sb o a,
as so c iaç ão ) ............................................... 48
So c ied ad e Recr eat i va d o s E mp r e gad o s
d o s Ca mi n h o s -d e - ferro d o Le ste e
No rte ( Li sb o a) ......................................... 50
So c ied ad e Recr eio Se s i mb r e ns e
(Se si mb ra, as so c ia ção ) ...................... 106
So c ied ad e U n ião B o rb e n se (B o rb a,
as so c iaç ão ) ............................................. 197
SO LE R, J o ão (1 8 5 0 -? , a cto r, a u to r) ... 80
Ho te l Lu o s - B ra s il ei ro (c o méd ia
i mi tad a) ................................................. 63
Ro sa s d a V i rg em (a liá s Ro sa s d e
No ssa S en h o ra ) ..........................80, 206
Ro sa s d e No s sa S en h o ra (i mi ta ção
d e zar z uel a E l p u ñá s d e ro sa s, d e
Car lo s Ar n ic h es) . 80, 89, 92, 107, 148,
165, 166
Um Pu n h a d o d e Ro sa s ( ali ás Ro sa s
d e No s sa S en h o ra ) ............................ 80
SO LN AD O, Ra ú l (a cto r) ......................... 21
SO MME R, An to ni no ( ac to r) ................ 317
S o r ra ia (O ) (p e rió d ico ) ......................... 265
SOT E LO , J o aq uí n C al vo (1 9 0 5 -1 9 9 3 )
.............................................................253, 356
Mu ra lh a (A ) (1 9 5 4 ) ........... 253, 281, 356
SOT T O, Mad ale n a (a ctr i z) ..................... 21
SO US A, Av e li no d e (a u t o r) ...........62, 184
Gu e rra ..............................................177, 184
SO US A, C arlo s d e (ac to r) .................... 115
SO US A, C arlo s d e (d ir e cto r d o Gr up o
d e T Eatro d o Or fe ão S ca lab i ta no ) 277
SO US A, Co n có rd ia d e ( actr iz) ............. 76
SO US A, Cr e mi ld a d e (a ctri z) .............. 119
SO US A, Ed mu n d o d e ( a cto r) ................. 76
T
T AB O R D A, Fr a nci s co Alv e s d a Si l va
(1 8 2 4 -1 9 0 9 , ac to r) .............................. 105
T AB O RI NO, G io va n ni ( acto r) .............. 19
T aça Vi r g íl io Me sq ui ta (1 9 3 3 , Ave iro )
..................................................................... 147
T ad eu d ’ Alb uq u erq ue ( p erso n a ge m d e
Amo r d e P e rd içã o ) .......................... 84, 85
T AÍN H A, O li v eira (ac to r) ........................ 2
T ALAS SI ( Ca tar i na e C arlo t a,
actr ize s) ..................................................... 31
T AM AY O y B a u s, Ma n u el (1 8 2 9 -1 8 9 8 ,
au to r)
Jo a n a , a Do id a (a li á s L o u cu ra d e
Amo r, 1 8 5 5 ) ...................................... 149
T AS S O, T o rq u ato ( a uto r ) ........................ 13
Amin ta (d ra ma p a s to ra l) ..................... 13
T avare s, S il va (1 8 9 3 -1 9 6 4 ) ................. 170
Mi la g re (O ) d a s Ro sa s ( q uad ro d e
Ro sa s d e Po r tu g a l , 1 9 2 7 , re vi st a
................................................................ 170
Ro sa s d e Po r tu g a l , 1 9 2 7 , re vi st a . 170
T AV EI R A, Afo n so d o s Re i s (ac to r e mp re sár io ) ................................................. 9
T avira .............................................245, 247, 331
T avira (lo cal id ad e ) .................................... 34
4
T eatro d e D. A mél ia (1 8 9 4 -1 9 1 0 ,
Lis b o a ........................ 29, 33, 34, 49, 81, 236
T eatro d e D. Lu iz ( Li sb o a, te atro
ch ale t) ......................................................... 56
T eatro d e D. M ari a II (1 8 4 3 -1 9 6 4 ,
Lis b o a) 29, 34, 24, 33, 39, 45, 49, 63, 76, 94,
136, 139, 184, 253, 291, 294, 296
T eatro d e D. M ari a P ia ( F u nc ha l) ..... 224
T eatro d e E n sa io ( Li sb o a, p ro j ecto
tea tra l) ...................................................... 277
T eatro d e Ol i vei ra d o B airro ............... 123
T eatro d e S. Car lo s ( Lis b o a) .......139, 301
T eatro d e Se mp r e (e mp r esa G i no
Sa v io tt i - Gi u se p p e B a st o s) ............ 256
T eatro d e Var ied ad es (a nt i go T . d o
Sal it re, Li sb o a) ....................................... 31
T eatro d e Var ied ad es ( Lisb o a) ........... 276
T eatro De s mo n tá v el ( C ª Ra fael d e
Oli v eir a) .. 23, 25, 35, 70, 79, 105, 109, 116,
149, 157, 158, 160, 163, 164, 165, 167, 170,
171, 174, 177, 178, 179, 180, 182, 183, 186,
187, 188, 190, 193, 195, 205, 218, 220, 224,
233, 240, 244, 245, 247, 250, 251, 252, 254,
256, 259, 262, 265, 267, 276, 279, 281, 285,
287, 290, 291, 296, 297, 301, 302, 303, 304,
305, 306, 307, 311, 313, 317, 318, 321, 322,
330, 332
T eatro d o Alj ub e ( Lisb o a) ...................... 30
T eatro d o Ar co d a Ve l ha – Me tr ul
(Li sb o a) .................................................... 319
T eatro d o Ca st il ho ( Li sb o a, S tª I s ab el,
p arti c ul ar) ........................................... 63, 64
T eatro d o Cl ub e ( Aza mb uj a) ......... 75, 342
T eatro d o Cl ub e ( Cl ub e Art ís ti co ,
B en a ve nt e) ............................................ 2, 67
T eatro d o G i ná sio (1 8 5 2 , Li sb o a) 29, 31,
63, 69, 139, 298
T eatro d o G i ná sio ( Li sb o a) .................. 118
T eatro d o M ald o nad o ( Lisb o a) ............. 46
T eatro d o P o vo (1 9 3 6 -4 1 , SP N) 158, 159,
164, 232, 233, 293, 294
T eatro d o P o vo (1 9 5 2 -5 5 , S NI) ..294, 302
T eatro d o P o vo (SP N) ............................. 164
T eatro d o P rí nc ip e R eal (Li sb o a) . 28, 30,
34, 4, 38, 41, 48, 50
T eatro d o Ra to (1 8 8 0 -1 9 0 7 , o u C h al et
d o Ra to , Li sb o a) ................................ 4, 61
T eatro d o S al itr e ( no vo , ali á s T .
Vari ed ad e s, 1 8 5 8 -1 8 7 9 , Lis b o a) ..... 29
T eatro d o s Anj o s ( Li sb o a) ................ 30, 62
T eatro d o s B o mb ei ro s V o lu n tár io s
(Vi la P ra ia d e Ânc o ra) ...................... 133
T eatro El Só ta no ( Ha va n a, C ub a) ..... 315
T eatro E sp a n ho l (1 8 4 9 , Mad rid ) .......... 11
T CHEK OV , An to n (a u to r)
Ped id o d e Ca sa men to ......................... 164
T eatro Agr e ns e ( An g ra d o Hero ís mo ,
T erceira, Aço r e s) .........................225, 234
T eatro Al me id a Garre tt (Li sb o a, St ª
Isab el, p art ic u lar) .................................. 62
T eatro An tó nio P i n h eiro (T avir a) ..... 247
T eatro Ap o lo (1 9 1 0 -1 9 5 6 , Li sb o a, e x T eatro d o P rí nc ip e R eal ) 112, 123, 152,
227, 228
T eatro Asc ê ncio ( Lo ul é) ........................ 115
T eatro Ave ire n se ( Av eir o ) ......6, 121, 147,
251, 258, 283, 346
T eatro Azó ria ( Laj e s, P r aia d a V itó r ia,
T erceira) .................................................. 234
T eatro B er nard i m R ib ei r o Es tre mo z)
.............................................................195, 196
T eatro Ca mõ e s (P o r to ) ............................. 31
T eatro Carlo s Go me s (B ras il) ............... 13
T eatro C hal et Ara új o (1 8 8 1 , Ma n ue l
J o sé d e Ara új o , Li sb o a) ...................... 29
T eatro C hal et Ara új o (M an u el J o sé d e
Ara új o , Li sb o a) ...................................... 29
T eatro C hal et Av e n id a ( tea tro -b arr aca)
................................................................. 57, 58
T eatro C hal et d a R ua d o s Co nd e s
(ali ás T eatro C h ale t Ara új o , 1 8 8 1 1 8 8 7 , Li sb o a) ........................................... 30
T eatro C hal et P a l har es ( tea tro b arraca ) ..........................................56, 57, 58
T eatro C hal et R ecre at i v o ( Luso ) ........... 6
T eatro C hal et R ecre io G ló ria ( Carlo s
Dal lo t) .......................................................... 3
T eatro C hal et T ri nd ad e (tea tro b arraca ) ...................................................... 57
T eatro Circo (V il a Rea l) ....................... 132
T eatro d a Ale g r ia (1 8 9 0 -1 8 9 2 , te atro b arraca , Lisb o a) ................................. 4, 39
T eatro d a Av e nid a (1 8 8 8 -1 9 6 7 ,
Lis b o a) 28, 30, 22, 23, 26, 27, 34, 38, 39, 41,
45, 71, 72, 139, 152, 184, 256, 263, 287
T eatro d a c al çad a d o Ca b ra ( Li sb o a ) . 29
T eatro d a r u a d o O li v al (Li sb o a) ......... 29
T eatro d a r u a d o s Co nd e s (1 8 8 8 ,
Lis b o a) .............................................28, 4, 38
T eatro d a r u a d o s Co nd e s (c a. 1 7 6 5 1 8 8 1 , Li sb o a) ..................................... 30, 31
T eatro d a T ri nd ad e (1 8 6 7 , Li sb o a) .... 28,
20, 105, 109, 213, 256, 295, 296, 299, 319,
320
T eatro d a T ri nd ad e ( Lis b o a) ................ 113
T eatro d a T ri nd ad e (P o r to ) .................... 31
T eatro d a s Car me l it as (t eatro -b arrac a,
P o rto ) ...................................................... 31, 3
4
T eatro Recr eio M us ic al Es g ue ire n se
(Es g ue ira) ................................................ 133
T eatro S á d a B a nd eir a ( P o rto ) .....25, 250,
317
T eatro S a nta n e n se ( Sa n t an a -F erre ira)
.........................................................69, 87, 290
T eatro S e ne n se ( Se ia) ......................... 35, 96
T eatro S tep he n s ( Mar i n ha Gra nd e) .. 346
T eatro T ab o rd a ( Lisb o a) ................... 41, 49
T eatro T eo d o rico ( Li sb o a) ..................... 41
T eatro T herp s ico re ( Li s b o a) ............ 48, 63
T eatro Va ried ad e s ( Li sb o a) .123, 281, 284
T eatro V il lare t ( Li sb o a) ........................ 317
T eatro V ir gí n ia (T o rre s No va s) ......... 293
T EIXEIR A, Dio go ( ac to r) ....................... 58
T EIXEIR A, Li ma (ac to r ) ......................... 34
T EIXEIR A, Vir g íl io T ei xe ira ( ac to r)
.............................................................222, 223
T ELE S, Lí gi a (ac tr iz) ............................... 21
P rin ce sa Na tál ia d e Or a n ge
(p erso n a ge m d e K le is t) .................. 21
T ELM O, J o sé Ân g elo C o tti n el i (1 8 9 7 1 9 4 8 , arq ui tec to , ci ne as t a) ......153, 154
Ca n çã o (A ) d e L isb o a (1 9 3 3 ,
ci ne ma ) ........................................153, 212
T erceira ( Il ha d a, Aço re s) ............225, 235
T eresa (p er so na ge m d e Amo r d e
Perd içã o ) .....................................84, 85, 305
T ERES A, Mar ia (a ctr iz) ................296, 316
Te r ra (A ) M in h o ta (p eri ó d ico ) ........... 125
T héâtr e d e B ab ylo n e (P a ris) ................ 297
T heatro S alão (a liá s T ea tro d a B a nd a
d o s B o mb e iro s, P o rt ale g re) ............... 98
T HOF AN O DE B AST I AN (ac to r) ......... 9
T HOM AS, Ro b ert ( a uto r ) ..................... 298
Ar ma d i lh a o p a ra u m Ho mem S ó .... 298
Ar ma d i lh a p a ra u m Ho m em S ó ...... 303
T io J o ão (p erso n a ge m d e Ro sa s d e
No ssa S en h o ra ) ....................................... 92
T io Ra fael (p er so na ge m d e Ca sa d e
Do id o s) ..................................................... 136
T ó b is (E st úd io s) ........................................ 153
T OJ AL, He r mí n ia ( ac tr i z) ............296, 310
T ORG A, M i g ue l (p se ud . , 1 9 0 7 -1 9 9 5 ,
au to r) .................................................239, 309
T OR RE, Fer n á n D íaz d e la
(e mp re sár io ) ............................................. 24
T o rres No v as (lo c al id ad e) ............264, 293
T o rres V ed ra s (lo ca lid a d e) ...........103, 287
T OR RE ZÃO, G uio mar ( au to ra) .115, 138,
353
T OSC AN O, A mé li a (a li ás A mé li a
Mo iro n, act riz) ........................................ 15
T OT Ó (acto r) ................................................ 25
T eatro E xp er i me n ta l d e Ca sc ai s (T E C,
Cª d e Car lo s Av ile z) .......................... 320
T eatro E xp er i me n ta l d e Lis b o a (T E L,
LI sb o a , p ro j ecto te atr al) ................... 277
T eatro E xp er i me n ta l d o P o rto (T EP )
(co mp a n hi a) .............................21, 257, 291
T eatro Fo ito (C h a mu s ca ) .................90, 148
T eatro Ga rci a d e R es e nd e (É vo ra) ... 242,
298
T eatro Ga rret t ( Li sb o a, Anj o s,
p arti c ul ar) ................................................. 63
T eatro Ge ri fa lto ( An tó ni o M. Co uto
Via n a) ...............................................256, 296
T eatro G il Vi ce nt e ( Al fa ma , Lisb o a) . 47
T eatro G il Vi ce nt e ( Ca s cai s) ............... 105
T eatro G il Vi ce nt e ( Gra ça, Lisb o a) ... 34
T eatro G il Vi ce nt e ( G ui ma rãe s) 130, 141
T eatr o G il Vi ce nt e ( Li sb o a, Al fa ma ) 48
T eatro He r mí n io (Go u v e ia) .................. 171
T eatro I n fa n ti l d a s A mo reira s ( C ª
Dal lo t, Cª d e P ro v í nc ia) ................. 40, 5
T eatro J o rd ão ( G ui ma rã es) ................... 252
T eatro La ur a Al ve s ( Li s b o a) ............... 289
T eatro Le t he s ( Faro ) .......................111, 113
T eatro Li vr e (p ro j ec to t eatr al) ............. 54
T eatro Lo u sa ne n se ( Lo u sã) .............. 87, 91
T eatro Luí sa T o d i (S et ú b al) ........208, 214
T eatro Mar ia Ma to s ( Li s b o a) .............. 296
T eatro Mar ia Vi tó r ia ( Li sb o a) .......14, 21,
142, 243, 266, 270
T eatro Me tá li co Re nt i ni (tea tro c h ale t)
...............................................................14, 176
T eatro M ica ele n se (P o n t a De l gad a ) 119,
225
T eatro Mo d er n o ( Li sb o a ) ................62, 278
T eatro Mo n u me n ta l ( Li s b o a) ..21, 71, 257,
289
T eatro Mo uz i n ho d a S il ve ira ( C as te lo
d e V id e) ..................................................... 98
T eatro M u n icip al (B o rb a) ..................... 197
T eatro M u n icip al d e B a l taza r D ia s
(F u nc ha l, a nt i go T eatro d e Mar ia
P ia) ............................................ 215, 218, 223
T eatro Na cio n al d e Al m eid a Garr et t
(ali ás T eatro D. Mari a I I) ................ 118
T eatro Na cio n al P o p ul ar (Fra n ça) ..... 294
T eatro Na cio n al P o p ul ar (T NP ,
e mp re sa d e A. Lo p e s Ri b eiro Fra nc i sco R ib eiro ) ......................256, 295
T eatro Op e rário (E str e m o z) ................. 117
T eatro P o p u lar d e Al ma d a (T P A,
Al mad a, p ro j ec to tea tra l ) ................. 277
T eatro P o rta le gre n s e (P o rtal e gre) ....... 98
T eatro Recr eio ( C ad a va l ) ........................ 77
4
V AS CO N CE LOS, T ei xei ra d e (a u to r)
Den t e (O ) d a Ba ro n e sa ( 1 8 7 0 ,
co méd i a) ............................................... 49
V AZ (ac to r) ...................................58, 262, 264
V AZ, Ali na (a ctr iz) ................................ 287
V AZ, Ali na (ac tri z) ................................. 261
V AZ, M. J . (art ic u li s ta) ......................... 261
VEG A, Lo p e d e ( a uto r) .................... 12, 320
Art e n u e vo d e h a ce r co med ia s en
es te tie mp o ........................................... 12
Fu en teo ve ju n a ....................................... 320
VEIG A, He nr iq uet a (a ct riz) ................... 66
VE LOS A, Car lo s (a cto r) ....................... 222
VE LOS O, Lu z (a ctr iz) ........................ 33, 20
VEN ÂN CI O (a cto r, a uto r) ........................ 4
VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( ? -ca. 1 9 3 1 ,
acto r) ......................................................... 278
VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( 1 9 2 5 , acto r) .. 4,
15, 16, 70, 259
VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( sec .XI X,
acto r) ............................................................. 4
VEN ÂN CI O, J a i me (ac t o r, a uto r) ......... 4
Pro c es so (O ) d o Ra sg a ............ 40, 4, 6, 8
VEN ÂN CI O, Leo ne l (ac to r) .................. 15
VEN ÂN CI O, Lu í s (a cto r ) ....................... 15
VEN ÂN CI O, Mar ia (a ct riz) ................... 15
VEN ÂN CI O, Vir g íl io (a cto r) ................ 15
Ve nd a - No va ( lo c alid ad e ) ..............269, 271
Via n a d o Ale n tej o (lo ca l id ad e) .......... 148
VI AN A, An tó nio Ma n ue l Co uto Vi a na
(acto r, e nc e nad o r, e mp re sár io ) . 21, 256
VI AN A, He nr iq ue (ac to r , ? -2 0 0 7 ) .... 280
VI CENT E, Gi l ( sec. X V I, a uto r) .... 3, 22,
164, 290
Ama d i s d e Ga u la ...................................... 3
In ês Pe rei ra ........................................... 290
Lu s itâ n ea , To d o o Mu n d o e Nin g u é m
................................................................ 290
Va q u ei ro (O ) (1 5 0 2 ) ........................... 164
Velh o d a Ho rta ..................................... 290
VI CT OR ( ac to r) ..................................... 58, 66
Vic to ri a Sp o rt C l ub (c l u b e
vi mara n e ns e) .......................................... 141
VID AL, H u go ( mú s i co ) ............................ 58
VIEG AS , M ár io (1 9 4 8 -1 9 9 6 , acto r) 144,
182, 318, 324
VIEI R A, Do r a (a ctr iz) .............................. 11
VIEI R A, J o ão ( v io la) .............................. 223
VIEI R A, Ma n u el (art ic u li st a) .....271, 279
Vie n a d e Áu s tr ia ( lo ca li d ad e) ............... 19
Vil a d a Fe ira (lo c al id ad e) ....................... 33
Vil a d a P r aia d a Vi tó ria (lo ca lid ad e)
..................................................................... 234
Vil a d o Co nd e (lo c al id a d e) .................... 38
To u rn ée Al ma P o rt u g u es a ( Cª d e
Ho lb e c he B a s to s ) ................................. 119
To u rn ée Art í st ica So c ie t ária ( R a fae l
d e O li ve ira, C ª d e P ro v í nc ia) ....77, 78,
83, 87, 89, 90, 95, 98, 342
Tra n s ta g a n o (O ) (p er ió d ico ) ............... 148
T rás -o s - Mo nt es (re g ião ) ........................ 132
T rave s sa d a F á b ric a d o s P en te s
(Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 43
T rave s sa d a s T erra s d e Sa n ta na
(Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 63
T rave s sa d e S a nta Q u ité ria ( Li sb o a,
to p o ní mi a) ........................................... 36, 42
T RIND AD E, Luc i nd a (a ctri z) .......70, 246
Tro u p e Au g u s to Co rd e ir o ( Li sb o a) ..... 34
T ro up e Car lo s d ’O li v eir a ( Li sb o a) ..... 33
Tro u p e Car mo ( Cª d e P ro ví n ci a) ... 10, 11
Tro u p e D ra má ti ca U niã o (R a fae l d e
Oli v eir a, Cª d e P ro ví n ci a) ....75, 76, 77,
342
T R O U P E J O A Q U IM P R A T A ( L IS B O A ) ...... 32
Tro u p e Si l va Val e ( Cª d e P ro v í nc ia) . 67
T rup e d e Fl a mí n io ...................................... 12
T rup e d e Ga na s sa ........................................ 13
T rup e d e P a sq ua ti ....................................... 12
T rup e M i mi M u ño z ( Cª d e P ro v í nc ia) 11
T un a d e Sa n ta Ce cí li a ( S. B er n ard o )
..................................................................... 147
U
U nião Na cio na l (p art id o p o lí tico ) ...... 12,
150, 175
U ni ver s id ad e d e P a v ia ( Itál ia) .............. 22
Ur gei riç a (lo ca lid ad e) ............................ 290
V
Val ad are s ( lo c al id ad e) ........................... 283
V ALE, E ma (a liá s E ma d e O li ve ira,
actr iz) .......................................................... 70
V ALE, G e n y (a li ás Ge n y Fri a s, 1 9 0 5 1 9 9 3 , act riz) ...........................80, 81, 85, 93
V ALE, J o s é An tó nio (1 8 4 5 -1 9 1 2 ,
acto r) ...................................................38, 118
V ALE, La u ri nd a (ac tri z) .. 76, 80, 107, 124
V ALE, Luc íl ia ( al iá s Ge n y Fri a s,
1 9 0 5 -1 9 9 3 , ac triz ) ................................. 76
V ALLE R AN - LE C OMT E (acto r ) .......... 11
V ALOI S, M ar gar id a ( Ra ín h a d e
Fra nç a) ....................................................... 11
Valp ere iro ( Lisb o a, to p o ní mia ) ............ 44
V ARE LA, Fer n a nd a ( act riz) ................ 119
V ARG AS , Zu l mir a (a ctr iz) .................. 119
V AS CO N CE LOS, Mo ta d e (p ub l ici s ta)
..................................................................... 226
4
Vít o r M a n uel (p er so na g e m d e A lg u é m
te rá d e mo rr e r) ..................................... 253
P IISSI MI .................................................. 14, 17
Vlad i mi r (p er so na g e m d e À E sp e ra d e
Go d o t ) ....................................................... 300
Vo lk sb ü h n e ( Al e ma n h a) ......................... 294
Vo z (A ) d a F ig u ei ra .................181, 182, 322
Vo z (A ) d a S e r ra (p er ió d ico ) ................. 96
Vo z (A ) d o Op e rá r io (p e rió d ico ) ......... 47
Vil a Fra nc a d e Xir a ( lo c alid ad e) ....... 263
Vil a Fra nc a d o Ca mp o (l o cal id ad e) .. 234
Vil a No va d e F a mal ic ão (lo ca lid ad e) 35
Vil a Re al ( lo ca lid ad e) ............................ 132
Vil a Re al d e S tº Antó n i o (lo ca lid ad e)
.............................................................245, 318
Vil a Viço sa (lo c al id ad e ) ...... 197, 334, 340
VI LAR, Alb er to (a liá s J o sé Alb erto ,
acto r) .................................................316, 319
VI LAR, J ea n (1 9 1 2 -1 9 7 1 , acto r,
en ce nad o r) .............................................. 295
VI LAR, Mar ia n a (a ctr iz ) ......................... 21
Vila rea len se (O ) (p erió d ico ) ......130, 132,
133
VI LE LA, An tó n io (1 9 0 4 -1 9 7 1 , ac to r)
.......................... 15, 35, 70, 206, 246, 266, 329
VI LLAR ET , J o ão (1 9 1 3 - 1 9 6 1 , acto r)
..................................................................... 214
VIN CE NT IO D A VEN E T IA (a cto r) ..... 9
Vin t e (A s ) Mu lh er e s d o Rei (1 8 9 0 , T .
Av e nid a) .................................................... 39
Vio la (p er so n a ge m d e N o ite d e R ei s )
..................................................................... 299
Vi se u ( lo ca lid ad e) .... 12, 174, 175, 176, 178,
278, 282, 283, 290
VIT ALI ANI, I ta lia (ac tr iz) .................. 242
W
W ALLE NST EI N, Car lo s (1 9 2 5 -1 9 9 0 ,
acto r, a uto r ) ...................................289, 319
Wa to a ............................................................... 34
W ILLI AMS, T en es se e ( 1 9 1 1 -1 9 8 3 ,
au to r) ......................................................... 296
Z
Zacar ia s ( mú s i co a mad o r) ..................... 176
ZAMP E LLI, M ic h ael A. (a uto r) ..... 21, 23
ZE N ÓG LI O, J a i me (ac to r) ..................... 34
ZIT T E, P au lo (p se ud . Al b erto Ca le ia) 7
ZO LA, É mi l e
Te re sa Ra q u in ......................................... 17
ZU AND OM ENE GO (a li ás R izzo ,
acto r) ............................................................. 9
ZU ANE D A T REVI XO ( acto r) ............... 9
4