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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS ESTUDOS DE TEATRO Percursos itinerantes A companhia de Rafael de Oliveira, Artistas Associados José Guilherme Mora Filipe 2007 UNIVERSIDADE DE LISBO A FACULDADE DE LETRAS ESTUDOS DE TEATRO Percursos itinerantes A companhia de Rafael de Oliveira, Artistas Associados José Guilherme Mora Filipe Dissertação orientada p ela Professora Doutora Maria Helena Serôdio e apresentada à FLUL para obtenção do grau de Mestre em Estudos de Teatro 2007 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS ESTUDOS DE TEATRO Resumo A presente dissertação tem por objectivo apresentar a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas A ssociados, a última das «companhias de província» portuguesas que, ao longo de mais de 50 anos (1918-1975), fomentou o gosto pelo teatro nas populações provinciais, viajando de norte a sul de Portugal , Madeira, Açores e Angola, divulgando no palco do seu Teatro Desmontável um reportório , nacional e estrangeiro, de êxitos teatrais provenientes dos palcos de Lisboa . Palavras chave: Companhias de província – A Companhia Rafael de Oliveira – Teatro desmontável – Reportório popular – Famílias de actores itineran tes. Abstract This essay presents the «Rafael de Oliveira Company – Associated Artists», the last of the so -called Portuguese «companhias de província » (touring theatre companies), which for over 50 years (191 8-1975) played an important role in developpin g the pleasure of theatre-going among the population provincial areas. Performing in their own portable theatre, these nomad professional players travelled througout Portugal, Madeira, Azores and Angola, displaying a repertoire based on Portuguese and foreign plays, that had been celebrated productions of the public theatres in Lisbon. Keywords: Touring companies – Rafael de Oliveira’s company –– Portable Theatres – Popular reportoire – Families of touring actors . i ÍNDICE ( VOLUME I) Resumo .................................................................................................... i Índice (Volume I) ..................................................................................... ii Índice (Volume II) ................................................................................... iv Índice ( DVD) .........................................................................................viii Índice de Imagens .................................................................................... xi Agradeci mentos ....................................................................................... xii Introdução ............................................................................................. xiv Capítulo I: Deambulando pelo teatro... ........................................................ 1 1. Uma ficção com lai vos de realidade ...................................................... 2 2. Uma realidade com laivos de ficção ...................................................... 8 3. Da itinerância teatral ........................................................................ 23 Capítulo II: As mil e uma maneiras de chegar ao teatro... ........................... 14 1. Em Lisboa, 1962: Comediantes que se exibem na capital de um Império de pequeninos. ............................................................................................ 15 2. Lisboa, 1890: Travessa de St ª Quitéria, Pátio de S. José, nº 2. .............. 27 3. À sombra de Amoreiras que j á não existem... ...................................... 32 4. A efer vescência teatral lisboeta no início do século XX. ...................... 34 4.1. Pelos palcos particular es e grupos dramáticos. ................................. 35 4.2. E pelos “Chalets” de madeira e lona. ............................................... 42 5. E ainda para os lados do Rato. ........................................................... 47 6. De novo em Lisboa, 1962: Após A Recompensa... ................................ 53 Capítulo III : A constituição da companhia de Rafael de Oli veira ................ 56 1. Os Pri meiros Passos .......................................................................... 57 1.1. De Sil va Vale a Rafael de Oli veira .................................................. 57 As pri meiras críticas t eatrais. ................................................................... 60 2. Da Tournée Artísti ca Societária à Companhi a Rafael de Oli veira, Artistas Associados: Os pri mei ros Directores de Cena. ........................................... 67 2.1. Ernesto de Freitas e a composição de um reportório. ......................... 67 2.2. Afonso de Matos: di versificação e actualização do reportório. ........... 84 Capítulo IV: “Uma Ar ca de Noé flutuante e sobrevi vente da crise do nosso Teatro” ................................................................................................. 105 1. A Caminho do Desmontável... .......................................................... 106 2. As crises requerem decisões. ............................................................ 108 ii 3. As pri meiras referênci as ao Teatro Desmontável. ............................... 116 4. A frágil estrutura do Teatro Desmontável. ......................................... 126 5. Um salão de arte dramática, modesto “conser vatório” ambulante. ....... 134 6. Uma di gressão pelas Il has: Madeira e Açores .................................... 157 6.1. Funchal - O Desmontável da Avenida do Mar : “Um Brinde de Natal ”. 157 6.2. S. Mi guel e Terceira: As Bodas de Ouro Artísticas de Afonso de Matos 164 Capítulo V: A morte de Rafael de Oli veira e o futuro da Companhia .......... 174 1. Eduardo de Matos: o f or mador da nova geração de artistas itinerantes. 175 2. O herdeiro do Desmontável: Fernando de Oli veira, empresário e di rector artístico anunciado. ............................................................................... 189 3. Novos modos de sobrevi vência da Companhi a. .................................. 198 4. 1973: a sonhada tournée a África. Francisco Ribeiro, director artístico a prazo. ................................................................................................... 213 5. 1974: cantos de liberdade e o “canto do cisne” dos Artistas A ssoci ados e do Desmontável. .................................................................................... 222 Epílogo I - As Pessoas ........................................................................... 229 Epílogo II - E o Desmontável? ................................................................ 231 Capítulo V I: Conclusões: For mas e conteúdos .......................................... 233 1. A composição da Companhia Itinerante: um por todos e todos por um. 234 2. Os Li vros de Contas: uma leitura admi nistrativa repleta de pequenos segredos. .............................................................................................. 238 3. A promoção da Companhia .............................................................. 246 4. O reportório como mar ca de um gosto popular ................................... 250 Bibliografia Anotada ............................................................................. 257 1. Bibliografia pri mária ....................................................................... 257 1.1. Entrevistas em periódi cos (indexação cronológica): ........................ 257 1.2. Depoi mentos ............................................................................... 261 1.3. Documentos ................................................................................ 262 2. Bibliografia crítica ......................................................................... 262 2.1. Gerais ......................................................................................... 262 2.2. Estudos de Teatro ........................................................................ 264 2.2.1. Sobre o Teatro em Por tugal ................................................... 264 2.2.2. Sobre o Teatro em Ger al ....................................................... 272 iii 2.3. Memórias .................................................................................... 272 2.4. Artigos em periódicos .................................................................. 274 2.5. Sitiografia ................................................................................... 315 iv ÍNDICE ( VOLUME II) ÍndiceI Apêndice 1: A Companhia  Inventário de profissionais do espectáculo que trabalharam na companhia de Rafael de Oliveira, entre 1920 e 1975 (indexação por ordem de anti guidade) 1 Apêndice 2: O Report ório Reportório I – Listagem de peças representadas pela Companhia, ou das que apenas foi pedido licenciamento de representação à Inspecção de Espectáculos 26 Reportório II – Quadr os sinópticos de report ório Quadro 1 – Número de títulos apresentados pela 1ª vez, em cada ano, e sua reposição em décadas sequentes 53 Quadro 2 – Reportório apresentado pela 1ª vez, em cada ano, e sua reposição em décadas sequentes Quadro 3 – Relação de datas e locai s 56 da pri meira refer ência de representação do repor tório da companhia de Rafael de Oli veira 64 Reportório III – Quadro sinóptico dos espectáculos realizados anualmente, no Teatro Desmontável e em outros Teatros, entre 1921 e 1975, a partir da referência documental constante dos diferentes acervos consultados e da infor mação co li gida a partir d a i mprensa nacional e regional 68 Reportório IV - Quadr o sinóptico dos espectáculos realizados anualmente pela Companhia de Rafael de Oli veira, entre 1921 e 1975, em que se descri mina o número de peças (títulos) utilizadas em cada ano, o número de espectáculos realizados e os locai s de representação. 72 Apêndice 3: Palcos visitados  Quadro sinóptico dos palco s frequentados pela companhia de Rafael de Oliveira, sua localização, historial conhecido e especificação do reportório exibido (indexação alfabética). Apêndice 4: Itinerário v 96  Roteiro da di gressão da Companhia de Rafael de Oli veira entre 1917 e 1975, por anos, a partir de infor mação coli gi da em cartazes, programas e na i mprensa escrita; indicação dos espectáculos realizado s e cancelados, sua datação e local. Dada a di mensão deste documento, com referência a cerca de 4400 espectáculos, remete -se a sua oonsulta para a sua versão em suporte di gital. Expomos, todavia, uma amostragem da pri meira década da companhia de Rafael de Oli veir a.170 Apêndice 5: Inventários 1. Inventário de notícias sobre a companhia de Rafael de Oli veira, coligidas na i mp rensa nacional e regional. 2. 186 Inventário dos acer vos trabalhados e sua localização nos respectivos fundos: Museu Nacional de Teatro (Mário Viegas, Fernando Fr ias e Fundo de Teatro – SNI); Teatro Aveirense (Aveiro); Ál varo de Oliveira (Vila Real de San to António). Museu Nacional de Teatro 192 Teatro Aveirense 300 Ál varo de Oli veira (acervo particular, Vila Real de Santo António) 306 Apêndice 6: Genealogias teatrais - Actor es itinerantes em Companhias de Província  A Família Dallot (c. 1860 – c. 1910) 321  A Família Sil va (Os Si lvas de Évora) ( Sec. X IX) 322  A Família Oli veira I ( Sec. X IX) 322  A Família Car mo 323  A Família Sil va Vale 324  A Família Matos I 324  A Família Frias I 325  A Família Rentini 326  A Família Venâncio 327  A Família Andrade I 330  A Família Li ma 331 A Família Oli veira II 332  vi   A Família Frias II 332  A Família Muñoz 333  A Família Moiron 333  A Família Andrade II 334 A Família Vilela 335 vii ÍNDICE ( DVD) Em suporte di gital encontram -se todos os apêndices descritos ant eriormente, na sua for ma integr al, a que se acrescenta a digitalização de toda a documentação encontr ada nos diferentes acervos, que constitui os seguintes anexos: ESPÓLIO DA COMPANHIA DE RAFAEL DE OLIVEIRA, ARTISTAS ASSOCIADOS ANEXO 1. – Album f otográf ico Anexo 1.1. – Actores: Anexo 1.1.1. – Elencos (fotos de conj unto em diferentes épocas) ; Anexo 1.1.2. – Galeria (fotos indi viduais de actores da companhia) ; Anexo 1.1.3. – Em per sonagem (fotos indi vi duais ou de conj unto, retratando personagens ou actuações em vari edades). Anexo 1.2. – Di versos (fotos do quotidiano da Companhia em diferentes épocas); Anexo 1.3. – Espaços (fotos do Teatro Desmontável em diferentes épocas) ; Anexo 1.4. – Espectáculos (fotos de: À Espera de Godot (1973, Angola) , Amor de Perdição (1960; 1971, in Uma Abelha na Chuva ; 1973, Angola) , Aqui há fantasmas (1968, Évora) , Armadilha para um homem só (1973, Angola) , Bomba chamada Etelvina (Uma) (1967, Évora) , Borboletas são livres (As) (1972, Faro) , Cadeira da Verdade (A ) (1967, Évora) , Calúnia (A) (1967, Évora) , Casa de Doidos (A) (1967, Évora) , D. Inês de Castro, Danúbio (O) Azul (1969, Viseu) , Daqui fala o morto ( 1967, Évora) , Deus lhe pague (1967, Évora) , Duas Causas (1967, Évora) , Duas Órfãs (As) (1967, Évora) , Fantasma chamado I sabel (Um) (1967, Évora) , Gato (O) (1970, Gui marães) , Israel (1968, Viseu) , Jesus Nazareno (Vida de Cristo) (1970, Gui marães) , Marquês de Villemer (O), Muralha (A) (1967, Évora), Noite de Rei s (1973, Angola) , Pato (O) (1973, Angola) , Prémio Nobel (1967, Évora) , Pupilas do Senhor Re itor (As) (1968, viii Évora), Recompensa (A) (1967, Évora) , Rosa (A) do Adro (1968, Évora; 1971, Santarém; 1973, Angola) , Sapatinho de Vidro (O) (1962, Lisboa; 1967 Évora) , Tio (O) Rico (1967, Évora) , Traição do Padre Martinho (A) (1974) e Três em Lua de Mel (1967, Évora) ; Anexo 1.5. – Figurinos (fotos de traj es existentes no acervo de Álvaro de Oliveira, Vila Real de St. António, referentes aos espectáculos: Amor de Perdição, Duas Órfãs (As), D. Inês de Castro, Jesus Nazareno, Marquês de Villemer (O), Noite de Reis, Rosa do Adro (A), Sapatinho de Vidro (O) e Traição do Padre Martinho (A); Anexo 1.6. – Homenagens (foto de uma placa de prata ofertada por um grupo de admiradores elevenses, em 1955); Anexo 1.7. – Promoci onal Anexo 1.7.1 . – Cartazes (galeria de ca rtazes dos espectáculos, or ganizados por décadas); Anexo 1.7.2 . – Programas ( galeria de programas dos espectáculos, organi zados por décadas); Anexo 1.7.3 . – Fotos publicitárias (galeria de fotos de cena dos espectáculos, destinadas a serem expostas no átri o do Teatro Desmontável) ; ANEXO 2. – Contabil idade Anexo 2.1. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas 1943 (MNT); Anexo 2.2. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas M, 1945 ( Par tes 1 e 2) (MNT); Anexo 2.3. – Cª Rafael de Oli veira - Li vro de Contas V, 1954 -55 ( Acer vo de Ál varo de Oli veira ) ; Anexo 2.4. – SNI, Fundo de Teatro (MNT). ANEXO 3. – Correspondência Anexo 3.1. – Edilidades; Anexo 3.2. – Estado; Anexo 3.3. – Instituições; ix Anexo 3.4. – Secretari ado Nacional de Infor mação (SNI), Fundo de Teatro; Anexo 3.5. – Teatro Aveirense. ANEXO 3. – Reportório Anexo 3.1. - Partituras (excertos musicais de Ângelo Frondoni para o espectáculo Santo António, de Braz Martins, e de Franz Lehar para A Viúva Alegre em Cascais ; Anexo 3.2. - Di gitalização de textos do reportório da Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados: manuscrito de Filha do Paulino (A), comédia em 3 actos, adapta ção de Raf ael de Oliveira ; de A Rainha Santa Isabel, drama em 4 actos e 11 quadros, original do cónego F. Soares Franco Jr ., com arranj o e marcação do actor Baptista Ferreira , e de O Doutor Delegado, original de Eduardo Rocha. x ÍNDICE DE IMAGENS Ilustração 1 - Cómicos da Arte (1657, Karel Duj ardins, Museu do Louvre) ..... 1 Ilustração 2 – A Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados (1960): o mesmo elenco que act uou no Teatro Avenida de Lisboa (1962). ... 14 Ilustração 3 – Cristiano Mesquita (sentado) e Rafael de Oliveira (em pé). .... 56 Ilustração 4 – Ema de Oliveira (em ci ma). ................................................. 56 Ilustração 5 – Lucinda Vale, mãe de Ema de Oliveira. ................................ 56 Ilustração 6 – (Esqª) Família Oli veira j unto ao Desmontável ..................... 105 Ilustração 7 – (Dt ª) Teatro Desmontável (1950s) ..................................... 105 Ilustração 8 – Interior do Teatro Desmontável (1970, Gui marães) .............. 105 Ilustração 9 – Teatro Desmontável (1970, Gui marães) .............................. 105 Ilustração 10 – Ernest o de Freitas (1923 -1927) ........................................ 174 Ilustração 11 – Afonso de Matos (1929 -1948) .......................................... 174 Ilustração 12 – Eduardo de Matos (1938 -1963) ........................................ 174 Ilustração 13 – Fernando de Oliveira (1965 -1972) .................................... 174 Ilustração 14 – Ál varo de Oli veira .......................................................... 174 Ilustração 15 – Franci sco Ribeiro (1972 -73) ............................................ 175 Ilustração 16 – Teatro Santanense: A Filha do Saltimbanco , 31.03.1917 (1º cartaz promocional conhecido da Companhi a Dramática Societária, de Sil va Vale). ....................................................................... 233 Ilustração 17 - Cine Teatro S. Pedro de Abrantes: A Traição do Padre Martinho, 09.07.1975 (últi mo cartaz conhecido da Cª Rafael de Oliveira, Artistas Associados). ................................................ 233 xi Agradecimentos Ao senhores Presidente e Vereador da Cultura da Câmara da Póv oa de Lanhoso, que or gulhosamente se disponibilizaram a mostrar o restaurado Teatro Clube local, e que, tal como o seu homólogo da Câmara da Chamusca, e a Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, amavel mente nos ofertaram literatura alus iva à história das sua s regiões e dos seus espaços culturais, ou nos per mitiram di gitalizar documentos n os arqui vos históricos locais; Ao Museu Nacional de Teatro, na pessoa do seu director, Dr. José Carlos Al varez, que disponibilizou a consulta do material da Companhi a Rafael de Oliveira, contido em diferentes acervos , per mitindo constituir um espólio digitalizado; às bibliotecárias, Drª Sofia Patrão e Drª Margarida Bruno, pela sempre pronta disponi bilidade em fornecer r espostas às minhas per guntas ; Aos muito queridos Artistas e colegas : Manuela Maria, descendente de Mário e Quina Li ma, da Companhia Dramát ica «Mar y -Quina», a “chave” que abriu um fascinante baú de recordações feitas obj ectos, e sem a qual j amais conheceria o acer vo da Companhia Rafael de Oli veira, na posse do seu neto , Ál varo de Oli veira e de sua mulher, a actriz Manuela Coi mbra, descendente de Venâncios e Andrades, que, abrindo as portas da sua casa, tornaram a investi gação em ami zade, e cuj a história de actores me levou a comprender a di mensão humana dest es «cómicos da arte»; a Ar mando Venâncio e sua mulher Maria Custódia da Companhia Moiron ; a Zurita de Oliveira e sua prima Olí via de Oli veira, da Companhia Rentini ; a Euni ce Muñoz, a mi nha «Miss Daisy», descendente de Car mos, Cardinallis e M uñoz, cuj a partilha de memórias criou nostalgias, mas, sobretudo, me fez compreender a razão do prazer que sinto na profissão que exerço ; À Directora do Teatro Aveirense, pelas facilidades concedidas na consulta do Fundo do Teatro Aveirense. Aos Professore s Dout ores Maria João Brilhante, Vera San Payo Lemos , José Camões, José Pedro Serra, pela inteligência com que conduziram os seus seminários, fazendo vacilar as nossas convições renovássemos as nossas perspectivas intelectuais; xii arreigadas, para que À Professora Doutor a Maria Helena Serôdio – um grato reencontro muitos anos depois do meu curso de Ger m ânicas – pelo seu saber, pela sua pedagogia, pela sua disponibilidade sempr e, na leitura deste trabalho, pelo douto aconselhamento na procura da obj ectividade científica das Humanidades; Aos meus colegas de mestrado, parceiros de aspirações e angústias intelectuais, Ana Maria Ribeiro, Judite Lopes, Paula Magalhães e Nuno Moura, pela camaradagem demonstrada na partilha de infor mações de mi nha utilidade; À Mãe Mi mi, à Mari a Ana, à Ana Cristina, e aos Ami gos, por terem aceitado vislu mbrar -me afectivamente durante todo o tempo que durou esta investi gação; A todos e a cada um o meu profundo agradecimento pelo contribut o dado na j usta dimensão das suas disponibilidade s i ndividuais. xiii Introdução Quando iniciámos o estudo do acervo da Companhia Rafael de Oliveira sentimo-nos como se observássemos um campo arqueológico antes da sua escavação; conhecíamos a existência e a importância do achado, pelo que se ouvia contar, mas não pela justa dimensão semântica do achado. Por causa da distância física a que nos encontrávamos daqueles documentos, pareceu-nos que o mais viável seria proceder à sua digitalização, para podermos passar de seguida à sua organização e análise. O mesmo havíamos feito com a documentação arquivada no Museu Nacional de Teatro, dispersa por diversos acervos (Fernando Frias, Mário Viegas, Fundo de Teatro/SNI), e voltaríamos a fazer à medida que foram surgindo novas fontes (Idalina de Almeida /Casa do Artista, Ulisses Ferreira/Almeirim, Teatro Aveirense). Neste trabalho de arqueologia teatral, apercebemo -nos de que, inevitavelmente, o primeiro objecto a constituir seria um ANEXO, com a compilação de todos os documentos digitalizados, que designámos por Espólio da Companhia Rafael de Oliveira . Trata-se de uma base de imagens dos documentos pertencentes a os diferentes acervos em suporte digital, para futuras consultas. Procedemos à divisão dos documentos por quatro pastas: Album Fotográfico, Contabilidade, Correspondência e Reportório. Imagens do elenco, de conjunto e individuais, fotos do quotidiano, dos Espectáculos, dos Figurinos , dos Programas e Cartazes (material promocional) foram divididas por sub-pastas em Album Fotográfico, por forma a especificar a informa ção versada nos diferentes documentos. Os Livros de Contas da Companhia, bem como outro sobre Companhias Subsidiadas (SNI), foram agrupados sob a designação de Contabilidade. A correspondência foi subdividida consoante as diferentes entidades (Edilidades, Instituições , Sector Público , SNI e Teatro Aveirense), organizada de forma cronológica. O Reportório congrega xiv duas pastas; uma com Partituras (pautas referentes aos espectáculos Santo António, de Braz Martins, com música de Frondoni, e Viúva Alegre em Cascais, opereta paródia de Nicolau T. Leroy, com música de Franz Lehar) e outra de Textos Dramáticos (textos pertencentes ao reportório da companhia de Rafael de Oliveira: A Filha do Paulino, Rainha Santa Isabel e O Doutor Delegado. A partir deste momento te ríamos de progredir na elaboração de matrizes que agrupassem as diferentes unidades de sentido documentais , os Apêndices. A informação coligida nos cartazes e nos programas permitiu, desde logo, a elaboração de um inventário de profissionais do espectáculo, técnicos e actores, que trabalharam na Cª de Rafael de Oliveira, entre 1917 e 1975 , num total de 124 figuras , em Apêndice 1: A Companhia. Permitiu também a identificação do Reportório representado, de que se elaboraram quadros s inópticos, com diferentes perspectivas, em Apêndice 2: Reportório. Foram indexados todos os títulos constantes do reportório da Companhia, quer tivessem subido à cena, quer apenas tivessem sido licenciados pela Inspecção dos Espectáculos , sendo referenciados 164 títulos , em Reportório I. Tratando-se de uma companhia de reportório, p rocedemos à contabilização do número de títulos apresentados pela 1ª vez e sua reposição em décadas sequentes (Reportório II, Quadro 1), à d iscriminação dos títulos apresentados pela 1ª vez, em cada ano, e sua reposição em décadas sequentes ( Reportório II, Quadro 2) e ao relacionamento entre as datas e os locais da primeira referência de representação na Companhia de Rafael de Oliveira (Reportório II, Quadro 3). Entre 1921 e 1975, foram identificados 4423 espectáculos, de que se elaborou o Reportório III: Quadro sinóptico dos espectáculos realizados anualmente, no Teatro Desmontável e em outros Teatros, entre 1921 e 1975, a partir da referência documental constante dos diferentes acervos consultados e da i nformação coligida a partir da xv imprensa nacional e regional. O estudo reportorial completa -se com Reportório IV: Quadro sinóptico dos espectáculos realizados anualmente pela Companhia de Rafael de Oliveira, entre 1921 e 1975, em que se discrimina o número de títulos (peças) utilizados em cada ano, o número de espectáculos realizados e os seus locais de representação. Em mais de 50 anos de actividade, a Companhia de Rafael de Oliveira percorreu o território nacional, visitando maioritariamente os palcos regionais e, pontuamente, os grandes centros urbanos de Lisboa e Porto. Em Apêndice 3: Palcos visitados , elaborámos um quadro sinóptico dos palcos frequentados pela Companhia, sua localização, historial conhecido e especificação do reportório exibido. Apesar da grande quantidade de cartazes encontrada, verificámos não ser suficiente para construir o percurso mais amplo possível da actuação da Companhia ao longo do seu tempo de existência. Recorremos à imprensa nacional e regional, não só para colmatar essa lacu na informativa, mas, sobretudo, para obtermos a notícia da recepção desta Companhia de Província. Da conjugação dos diversos factores, elaborou se o Apêndice 4: Itinerário, um anuário de digressão da Companhia de Rafael de Oliveira entre 1917 e 1975, compi lando data e horário do espectáculo, sua constituição, local de representação e fontes consultadas. Procedemos ainda à inventariação das notícias sobre a Companhia coligidas na imprensa ( Apêndice 5: Inventário 1 ) e dos documentos encontrados dos diferentes acervos (Apêndice 5: Inventário 2 ). Terminámos com a constatação de um universo familiar que une este tipo de companhias itinerantes em Apêndice 6: Genealogias Teatrais . Documentação identificada e organizada, levantou -se a primeira questão: De que realidade se trata? Companhias ambulantes que, por associação de ideias, nos traziam à memória os cómicos da Renascença italiana dell’ Arte, do Siglo de Oro espanhol, Molière e o seu Ilustre xvi Théâtre, um teatro popular, que provocou a Guerra dos Teatros, em França, e o aparecimento da Opéra Comique, nascida nos teatros Chalets das Feiras de Saint Germain e Saint Laurent, sob L’ Ancien Régime, um teatro que viajou pelo século XIX, com as touring companies e os seus Portable Theatres , representando para o operariad o do País de Gales, e que chegou ao século XX nas companhias dos cómicos de la legua , de La Barraca, de Federico García Lorca, e de outros agrupamentos durante a autarquia de Francisco Franco , retratados no filme adaptado da obra de Fernando Fernán Gómez, El Viaje a Ninguna Parte (1982). Da Argentina chegaram também referências de um espírito idêntico, um teatro criollo, mestiço, mistura de circo e drama, destreza e intelecto. Dada a lacuna existente sobre este tipo de realidade em Portugal, pareceu-nos dever apresentar a última das Companhia s de provínci a portuguesas , descrevendo o seu modo de funcionamento, citando o testemunho dos próprios em entrevista , ou de terceiros em apreciações críticas, relatando os bons e os maus momentos em desabafos epistolares , para que se torne compreensível o mundo de uma gente, cuja vida se expressa em amor pela arte que exerce, em que a família serve de sustentáculo socio -profissional, numa afinidade tantas vezes citada com o mundo circense. De modo nenhum, este trabalho se encontra terminado: outras informações existirão algures, outras interpretações serão possíveis. Esta, porém, neste momento, pareceu -nos ser a que é possível extrair da leitura da documentação encontrada . xvii Capítulo I: Deambulando pelo teatro... Ilustração 1 - Cómicos da Arte (1657, Karel Dujardins, Museu do Louvre ) No Renascimento, como no Maneirismo e na Época Barroca ( e também no Romantismo), muitas pessoas fizeram da teatralidade um ideal de vida. E o barroquismo por certo que desenvolveu uma filosofia da vida como teatro. [...] É preciso considerar, todavia, que o teatro nunca foi popular, no sentido que a esta palavra é dado pelos demagogos do «povo». O povo, em qualquer parte e em qualquer época, quase nunca viu senão entremezes de feira, quando viu. Jorge de Sena Universidade de Wisconsin, USA, Julho de 1967 “Da necessidade do Teatro”, em Do Teatro em Portugal (1989: 27-28) 1 1. Uma ficção com laivos de realidade Em “A Farândola” [1], publicada na Revista do Conservat ório Real de Lisboa (1902: 5-6), traça D. João da Câmara, em pinceladas narrativas evocadoras d e matizes populares, qual tela de Malhoa, a vivência de uma trupe itinerante : Vai caminhando estr ada fora, ao Deus dará, de terra em terra. Correm os pequeninos das aldeias a avisar as mães: Lá vêm ci gan os! Nem de longe, nem de perto a diferença é grande. Tão maltrapilhos, coitados! O director, adiante, alcachinado, ver gando sob o peso de seus cuidados e de sua i mportância, leva nos olhos uma sombr a de desesperança e sorri amar gamente ao apertar a correia dos calções. Os companheiros, conf orme o génio e a qualidade de má sorte que os atirou para aquela vida, – romance mist erioso, i mpulso de alma inquieta – comentam as passadas dolorosas com uma queixa lúgubre ou dito zombeteiro. Segue atrás com a bagagem a carreta a que algum mais velho se arrima. As mulheres vão lá dentro, sob o toldo esfarrapado: a velhot a que faz torcer em gar galhadas a plateia, os pequeninos, todos de faces requeimadas p elo sol da charneca. Dor mitam. [ ...] A velha rememora tal vez a defe sa da Brí zida Vaz martelada; a rapari ga r epetirá as queixas de Rubena. Vão caminhando no t riste fadário, dias e noites, molhando o pão negro, endurecido, nas raras fontes do caminho. [...] O sol vai descendo, a aldeia fi ca longe, j á não vale a pena apressa r o passo. Anoitece. Acampa -se ali sob as estrelas. Desgraçados mendi gos que ainda ontem foram corte do Imperador Pal meiri m! [ ...] Dor me a farândola na charneca. Batem os queixos com frio. Amanhã, muito cedo, hão de acordá -la as cotovias, quando a madrugad a cintar de ver melho o horizonte. Ponto no sonho quem tiver sonhado! Faltam duas ou três léguas... Depois toca a abrir os caixotes, a arrancar l á do fundo o ouro falso dos diademas e dos ceptros, as túnicas lantej ouladas das fadas poderosas, as espadas inv encí veis dos cavaleiros andantes. É bater dois pregos na coroa da Virgem a desfazer -se, deitar um remendo no vestido da Imperatriz.. . Marchar! Marchar!... [ ...] 1 Se g u nd o Ag u s tí n d e Ro j a s, e m Via je en t re ten id o (1 6 0 4 ), a s c o mp a n h ia s iti n era n te s e sp a n ho l a s, o s co m ico s d e la l e g u a , d es i g na va m - s e co n so a n te o n ú me ro d e co mp o n e nt es e o g é nero q u e rep re se nt a va m: “b u l ul ú” , co n st it uíd o p o r u m ú n ico e le me n to , i n t erp ret a nd o to d o s o s p ap éi s, mu d a nd o d e e n to aç ão vo ca l e d e exp re ss ão co rp o ra l; “ñaq u e” (d o i s ac to re s), “ga n g ari ll a” (tr ês o u q ua t ro acto re s e u m r ap az i nt erp re ta n d o p ap éi s fe mi n i no s), “ca mb a le o ” (c i nco ac to res e u ma mu l h er q ue ca nt a), “g ar na c ha” (c i nco o u sei s h o me n s, u ma mu l h er i nt e rp reta nd o a p ri me ira d a ma e u m r a p az i nt erp re ta nd o a se g u nd a d a ma), “b o j i g a n ga ” (p o uco s ele me n to s, rep re se nt a nd o au to s e co mé d i as p el as a ld e ia s) e “fará nd o la ” (s ete o u ma i s ho me n s e tr ês mu l h ere s). 2 Chegam arrasados. É preciso armar o palco. Todos são carpinteiros, pintores, arquitectos... Tud o é pronto, e o director anuncia pomposamente: É o Amadis de Gaula de Gil Vicente !... O Rei Sel euco de Luís de Camões E a pobre farândola, cheia de fome, assi m vai de terra em terra, a dar pérolas por uma bucha de pão! Salvaguardando o colorido próprio da liberdade poética do se u autor, que efeito teria uma narrativa como esta num aluno da escola de Arte Dramática desse tempo? Uma realidade tão drástica, como sombra confrangedora de uma miséria insonhável, pairando como cutelo sobre o ingénuo desejo de uma glória artística, qual “memento homo quia pulvis es”, quem, a não ser um quixote, se atreveria a partir em busca de um sonho impossível? Volvido pouco mais de um século, Margarida Carpinteiro , em Um Navio na Gaveta, revela, pela boca do seu protagonista, a memória de uma trupe de saltimbancos, sob a forma de um relato de uma experiência transformadora na primeira pessoa. Dias felizes esses, quand o um grupo de palhaços, uma contorcionista, um domador de uma cabra ou macaco, um casal – os empresários – que, além de apresentarem os artistas, transformavam o largo da aldeia numa festa! Os artistas faziam -se anunciar durant e o dia, com rufos de tambor, andando pelas ruas vestidos como se fosse j á espectáculo. Penso que só os doentes f icavam em casa. Os mais velhos pegavam nas tripeças e lá iam, e todos se j untavam quando a noite cerrava nos escuros pinhais, o último raio de sol. Se era Inverno, faziam u ma fogueira ou procuravam um palheiro a j eito. Era -nos dado ver as maiores maravilhas do mundo: a menina que se virava para trás até t ocar com a cabeça nos calcanhares, a cabra a dobrar as patas da f rente para agradecer os aplausos, o macaco a roubar os ba rretes dos homens e a enfiar -se por baixo as saias das mulheres, as anedotas de palavreado quente, os palhaços que depois de vestidos como nós ainda pareciam mais palhaços... Era tudo tão belo e inexplicável que várias vezes se ouvia na multidão o maior el ogio que se podia dar: “Isto não é gente estreme ( 2).” Assi m, transfor mávamos aquela trupe de artistas esfarrapados em deuses (2005: 120 e ss.). 2 P ura. 3 Duas ficções cujos contornos convergem para uma mesma realidade. Se a primeira parece pretender levar -nos a sentir a grandeza do sofrimento do comediante, a segunda parece preferir sensibilizar nos para a experiência emocional transgressora do espectáculo. O olhar de D. João da Câmara , deliberadamente distante, valoriza a humanidade do árduo trabalho de actor (figura bem sua conhecida como dramaturgo), enquanto que o de Margarida Carpinteiro sublinha a força anímica do actor como motor do papel actuante do espectador (experiência bem sua conhecida como actriz). Dois olhares, em dois tempos distintos, cuja fusão perspectiva a experiência de vida de artífices da Arte da Comédia. Inevitavelmente, outros relatos afloram também à nossa memória, imagens de outras farândolas, como a que o jovem príncipe Hamlet acolhe em Elsinore - momento crucial na evolução do enredo, porque significante do princípio da mudança de sentido dos acontecimentos. Perante uma plateia disposta a assistir a um divertimento cortesão, a representação funcion ará, sub-repticiamente, como “ratoeira” destinada a apanhar o espectador nas malhas da sua consciência. Estranho poder o do teatro, enquanto jogo de vidas alheias! No dia seguinte, os comediantes prosseguem a sua jornada, indiferentes ao conflito que ajudaram a gerar em quem albergou a sua arte. Finita la commedia, os actores retornam ao ciclo de uma qualquer roda da fortuna, ao perpetuum mobile, ao eterno deambular, feitos eternas figuras de um tarot kármico . O exemplo shake speariano é comummente apontado como das mais antigas manifestações de uma mise en abyme narrativa (3): a utilização de um modelo especular formal, a inscrição de uma narrativa teatral dentro de outra narrativa teatral, um jogo dentro de 3 T ho ma s K yd ut il izo u o me s mo p ro ced i me n to e m Th e S p a n i sh T ra g ed y (ca. 1 5 8 7 , p ub . 1 5 9 1 ) , e mb o r a co m u m re s ul tad o a rt ís ti co d i fere n te. 4 outro jogo. Dois planos distintos que se unem através de uma intenção comum. Um jogo teatral que implica tanto o actor como o espectador, e que, sobretudo, implica a consciencialização dos mecanismos espectaculares. Porventura um jogo mais antigo do que a racionalidade teatral aristotélica. Parece-nos evidente que o ser humano, ao tomar consciência de que os deuses, apesar dos oráculos e das pitonisas, não bastavam à resolução dos problemas inerentes à sua condição terrena, sentiu necessidade de encontrar outros modos de pu rgação dos humores; se, por um lado, precisou inventar a medicina, para exsudação do corpo, por outro, criou o teatro, para exaltação da alma. Na concepção do drama-espectáculo, prefigurou uma forma fractal da narrativa humana. O teatro afirmou -se como um espaço do quotidiano onde o homem cria a sua própria mise en abyme, onde incrusta a sua história, para que, pelo distanciamento do olhar, esta o ilustre, o explique, o contradiga, e o prolongue como contraponto de si mesmo. No palco da polis inscreveu o palco da sua recriação existencial. Ao inventar o teatro, a metalinguagem da vida, à luz do dia, o Homem assiste à celebração agonística da sua racionalidade, à representação de si próprio como forma de arte, numa busca de identidade, numa disjunção temporal – do tempo real para o tempo ficcional – em que o efeito dramático estabelece uma tensão entre palco e plateia, como função metafórica/ metonímica d e si próprio. O relato de uma acção, de um todo imitando a realidade, e sendo dela exemplo, ganh a dimensão metafísica. Na essência dramatúrgica, o homem assum e-se como poeta, como fazedor de ilusão e de teatralidade, e cria uma cena significante, portadora de duplicidade funcional: tanto demonstrativa (isto é o que é), como denegativa (isto não é o que é, mas a sua significação). 5 Quando a forma teatral se autonomiz a e ousa ser expressão de si própria (metateatral), passando a reflectir, tanto o seu criador (artífice), como o objecto criado (artefacto), tornou-se claro que o modo operativo (representação) se transforma em modo de vida (profissão). O teatro dentro do teatro (artifício) revela um jogo crítico , que desvenda o encoberto, e expõe paradoxalmente a poética do texto e a estética do espectáculo, embora manten ha uma discreta invisibilidade, que apenas um olhar de iniciado, o do espectador consciente, percebe. A pertinência social do espectáculo aponta para uma perspectiva - na visão shakespeareana - da função teatral como uma ratoeira com que se apanham espíritos adormecidos e se despertam consciências [4]. Também a produção teatral portuguesa de Quinhentos, curiosamente antecedendo o modelo inglês, exibe um conjunto de autos que, a seu modo, reflectem a problemática espectacular, utilizando a mesma forma fract al, ainda que retratem preocupações diferentes. Seja na Elsinore isabelina, ou na Lisboa joanina, constatamos que a representação teatral mostra possuir consciência de si própria, que se auto -representa – prazer da ironia ou busc a de ilusão ampliada? -, e que o jogo surge como modelo geral de uma conduta humana, numa sociedade que cultiva o gosto pelo espectáculo. António Ribeiro Chiado e Luís de Camões exibem o retrato irónico da actividade teatral num tempo situado entre a produção vicentina e o aparecimento dos palcos públicos de Lisboa , sob Felipe 4 Art h ur Mi ll er , na Me n sa ge m I nt er nac io na l d o 2 º Dia M u nd ia l d o T eatro , e m 2 7 .0 3 .1 9 6 3 , e xp re s so u o me s mo id ea l: “É p re ci s o q u e, n e ste mo me nto , d eze na s d e mi l ha re s d e p e sso as , ta lv ez mi l hõ e s, [.. .] reco n he ça m q ue ne s te i me n so p al co p la ne tár io o ma io r e le nc o d a hi stó r ia p r ec is a d e en co ntr ar u ma v erd ad e ir a ca tar se, u ma l ib er taç ão d o med o q u e no s o p r i me atr a vé s d e u ma red e nto r a to ma d a d e co n sc iê n cia . [...] O d ra mat ur go a nó n i mo q u e no s d i str ib ui u o s p ap éi s q ue d ese mp e n ha mo s, e s se gr and e iro n is ta, e s se e x tra o rd i nário h u mo ri st a, fez d o p alco o no s so mu n d o . O i ncre me n to d a c iê n cia tr a ns f o r mo u - no s a to d o s e m a cto re s: j á não há p úb li co p ar a o gra nd e si lê nc io q u e a m eaça e n vo l v er - no s a to d o s no s e u ma n to fú n eb re” (trad u çã o d e Lui z Fra nc i sco Reb ello ) . 6 I. Quer no Auto da Natural Invenção [5], como no Auto de El-Rei Seleuco [6], e em outros coevos de autoria anónima [ 7], o jogo de cena reflecte a existência de uma actividade que se dedica à produção de representações , oq ue permite que o espectador observ e o funcionamento caricatural de companhias itinerantes, cujos actores se encontram ainda nos alvores de uma existên cia profissional, não passando de “chusmas de dizedores de copras [8] [...] [que] cruzavam Lisboa com certa frequência, representando aos domicílios” ( S EQ UE IR A 1933: 79). Os testemunhos de stes autores são retratos vivos do ambiente das representações privadas, às quais concorria a vizinhança e demais passantes que, presumindo de convidados, tomavam literalmente as casas de assalto, acaba ndo “por reduzir à situação de simples convidado, o próprio dono da casa” ( S E Q U E IR A 1933: 81). Sendo o teatro uma metacomunicação, uma comunicação a propósito da comunicação, do palco para o público, e do teatro para a sociedade, é a partir dessa abordagem que o processo teatral evolui, e se elabora a si mesmo, de modo sistematizado e autoconsciente. Uma perspectiva que implica, necessariamente, que o actor ultrapasse o estádio amadorístico e forme a sua consciência de profissional, aprendendo os mecanismos de realização do espectáculo, ao mesmo modo que se conduz o espectador a um estádio de maior exigência para com o conteúdo observado. Em consciência, ambas as partes retirarão do jogo o sentido da sua fruição na ocntínua progressão temporal. Quanto maior o domínio do espectador sobre o acto teatral, melhor será a sua percepção das relações internas que o teatro 5 Rep re se nt ad o na Co r te d e D. J o ão III, e ntre 1 5 4 5 e 1 5 5 7 . ( C R U Z 2 0 0 1 : 4 5 ). Rep r e se nt ad o e n tre 1 5 4 3 e 1 5 4 9 , e m ca sa d e Es tác io d a Fo n sec a , Ca v ale iro Fid al go d e D . J o ão III , al mo xar i fe e r eced o r d a s ap o se n tad o r ia s d a co r te. ( C R U Z 2 0 0 1 : 5 5 ). 7 Au to d o s S á t iro s , Ob ra d a G era çã o Hu ma n a e ai nd a o Au to d e S ã o V i cen te , d e Afo nso Ál vare s . 6 7 desvenda, e mais estimulante será o desafio colocado ao fazedor d o espectáculo, na reinvenção de novas abordagens dos eternos temas. 2. Uma realidade com laivos de ficção No século XVI, assistimos, pois, à grande mudança de estatuto do actor, com a sua profissionalização, assim como ao aparecimento de um modelo empresarial, que, salvaguardando as características próprias de cada época, tem mantido uma constância ao longo dos tempos. Da pátria do Renascimento, a 3 de Fevereiro de 1545, temos notícia da constituição da Fraternal Companhia de Ser Maphio (aliás de Zanini da Padova), uma trupe de oito actores, que redige um contrato, em que os membros se obrigam a representar durante um ano em Pádua, segundo um estatuto próprio, que obriga os actores a proteger-se e a respeitar-se reciprocamente [9]. Mais do que um contrato, este documento marc a uma mudança de estado; os actores diletanti, ou amadores [10], tornam-se profissionais, ou dell’arte, e o seu trabalho será definido como commedia italiana, commedia all’improvviso ou commedia degli zanni. Esta trupe, que chegou a representar perante o Papa, no Castelo de Santo Ângelo , a 18 de 8 E m i tá lico no o ri g i na l. “D es id er a nd o gl i i n fr asc rip t i co mp a g n i, zo v è S er Map hio d i tto Zan i ni d a P ad o va , Vi n ce nt io d a Ve ne tia , Fr a nce sco d a la Lir a , H iero ni mo d a S. Luc a , Zu a nd o me ne go d e tto R i zzo , Zu a ne d a T re vi xo , T ho fa no d e B a st ia n , e t Fra nc e sco Mo s c hia n , far u na frat e rna l co mp a g n ia [ …] h a n no i n sie m co n cl u so et d elib era to , aciò ta l co mp a g ni a hab i a a d ur ar i n a mo r fra ter na l fi no a l d it to t e mp o s en za alc u n o d io ran co r et d i so l u tio ne, tra lo ro far et o b ser v ar cu m o g ni a mo re vo l ez za, co me è co s t u me d i b o ni et fid e l co m p a g n i, t ut ti li cap ito l i i n fra scr ip t i [ …]”, cit ad o p o r Ali ce P i zi a , “La Co m med ia d el l ’Ar te : Il T eatro it al ia no tra ‘6 0 0 e ‘7 0 0 ” (2 0 0 7 .0 6 .0 1 , in A lb io r ix , As so cia zio n e C ult u ral e p er lo S t ud io e la Di v ul g az io ne d ell a Co no sc e nza d ella S to ri a e d ella Ci vi lt á ( h ttp :/ / www. a lb io ri x. it /a rtico li .a sp ? id =2 8 ) . 10 A p ro p ó s ito d o tea tr o d e a mad o re s, r eco rd e - s e a car ic at u ra q u e d ele fa z S ha ke sp e are e m S o n h o d e Uma No it e d e Verã o , atra v és d a tr up e d e mes t eira is q ue se p ro p õ e rep r es e nt ar no ca sa me n to d e T ese u e H ip ó li ta. 9 8 Dezembro de 1549, dissolve -se quatro anos depois, quando Ser Maphio é assassinado em Roma. Todavia, o seu nome fic ará associado ao primeiro contrato de prestação de serviços de um agrupamento de profissionais de espectáculo [11]. Nos diversos estados que compunham o norte da “Itália ” de Quinhentos, as trupes de comediantes proliferaram rapidamente. Entre elas destacou-se a de Alberto Naseli de Bérgamo, dito Zan Ganassa , que, em 1566, integrou a actriz Vincenza Armani na sua companhia, para interpretar o papel da innamorata, mas que desgraçadamente não teve carreira artística long a, pois que, a 11 de Setembro de 1569, morreu envenenada, suspotamente às mãos de um amante ciumento. Em 1570, a companhia de Ganassa representou em Ferrara, no casamento de Lucrécia d’Este , viajando até França, a convite de Carlos IX, em 1571. Fora do âmbito cortesão, a companhia e xibe-se publicamente em Paris, no Hôtel de Bourgogne [12], em Agosto desse mesmo ano. Porém, em Setembro, o Parlamento francês proib e formalmente os espectáculos das companhias italianas , argument ando que cobravam preços exce ssivos. Ganassa contava com o apoio régio , mas a vontade Real só valia quando promulgada pelo Parlamento ; como este não se encontrasse em funcionamento, a Chambre Provisoire decretou que o assunto fi casse suspenso (D U C H AR TR E 1966: 82). Ganassa ainda se manteve por Paris, actuando no casamento de Henrique de Navarra com Margarida de Valois , em 1572, após o que a trupe ter-se-á desmembrado, tendo ele e alguns dos seus companheiros rumado a Espanha . Os Cómicos Italianos, como são conhecidos , 11 Anter io r a Se r Map h io , o cn s id era - s e a a ct i vid a d e te atra l d e í nd o l e a ma d o ra o u , q ua nd o mu i to , se mi p ro fis s io nal , d e st aca nd o - s e o s acto re s ve ne zi a n o s Ân g elo B eo lco (1 4 9 5 – 1 5 4 2 ), d ito Ru z za n t e , e And r ea Ca l mo (c . 1 5 1 0 – 1 5 7 1 ). 12 T rata -s e d o p ri me iro te atro d e P ar i s, co n str u íd o e m 1 5 4 8 p el a Co n f ra i ri e d e la Pa s sio n . De v id o a r es t riçõ e s d e rep o rtó rio , e co mo fo r ma d e a trai r p úb lico , o tea tro fo i a l u gad o freq ue n te me n te a tr up e s i t in era n te s, a té q ue, e m 1 6 1 0 , se in s ta lo u a p r i me ira co mp a n h ia p er ma n e nte , o s Co m éd ien s d u Ro i , d iri g id a p o r Val ler a n - Le co mt e . 9 actuam pela primeira vez em 1574, em Madrid, no Corral de la Pacheca [13]. Dado que os corrales espanhóis eram destelhados, podendo as representações ser interrompidas pelo mau tempo, Ganassa decidiu colocar uma cobertura em La Pacheca, ameniza ndo o interior do corral e permitindo-lhe actuar com tempo desfavorável. O sucesso das representações foi grande, atrai u outras companhias, e acabou por influenciar a produção dramática dos dramaturgos locais, como Lope de Vega [14], Tirso de Molina e Calderón de la Barca , na “comédia nova”. Até 1584, data em que deix am de existir informações a respeito de Ganassa, a trupe percorreu o país, representando em diversas localidades, para diversos públicos, incluindo a corte de Felipe II (1577), e em diferentes ocasiões, co mo o Corpus Christi (1583). Contemporânea da anterior, e de igual importância, destaca-se a Compagnia dei Comici Gelosi [15], ou I Comici Gelosi, que com 13 U ma d a s p ri me ir as re ferê nc ia s ao Co rra l d e l a P ac he ca d at a d e 5 d e Ma io d e 1 5 6 8 , q u a nd o a co mp a n hi a d e Alo nso V elá sq ue z rep re s e nta u ma co méd ia e m ca s a d e u ma se n ho ra I sab el P ac heco , q ue a t i n ha al u g ad o à Ir ma nd ad e “Co n fr ad ía d e la So c ied ad y d e la P a s si ó n ” . O p al co er a co n s ti tu íd o co m táb ua s co lo c ad as so b re b an co s , u ma co rt i na ao fu nd o e u ma o utr a fu n ci o na nd o co mo t al ão . E m fre n te d o p alco , e m p ri meiro p l a n o , fi ca va m o s b a n co s ( t ab ur et es) , a trá s d o s q ua is fi ca va a “p la tea ” d e s ti nad a ao s “mo sq u etero s ” (p úb lico d e p é, q ue p a tea v a e m n ão l he agr ad a nd o ; d aí o s e u ep íte to ). Ao fu nd o , si t ua v a - s e a “caz u ela ”, e sp a ço d es ti nad o ex cl u si v a me n te à s mu l h ere s, a “te rt úl ia ” o u “ca zu ela al ta ”, p ar a o s ec l es iá st ico s, e o “p ar aí so ”, p ara o s ho me n s . As var a nd a s e a s j an el as d a s ca sa s co n tí g u a s fo r ma v a m o s “ap o se n t o s” o u “p a lco s”, d e st i nad o s à no b re za. P o s t erio r me n te, p as so u e s te t ea tro a d es ig n ar - se Co rr al d e la s Co med ia s d e l P ri n cip e , d ev id o ao no me d a r ua o nd e se si t ua va . E m 1 7 4 5 , fo i re mo d el ad o p e lo arq ui t ecto J u a n B au ti st a Sa cc he tt i e fu n cio no u até 1 8 0 2 , q u a nd o fo i co ns u mid o p o r u m i nc ê nd io . Re co ns tr uíd o ci n co a no s d ep o i s, ve io a d e si g n ar - s e T eatro E sp a n ho l , ap ó s no vo s me l ho ra me nto s, a 3 d e Março d e 1 8 4 9 . O Co rr al d e la P ac h eca e o C o rral d e la Cr uz fo ra m o s ú n ico s tea tro s p úb l ico s d e Ma d rid , no se u te mp o , e as si m se ma n ti v era m at é 1 7 4 4 . O s e sp e ctá c ulo s co me çar a m p o r ser ao s d o mi n go s à tard e o u e m d ia s feriad o s, ma s p as sar a m a d a r -s e t a m b é m à s te rça s e q u i nt a s, e x cep to d ura n te a P á sco a . T in ha m u ma d ura ção d e d ua s ho ra s, co meça nd o à s d u as d a t ard e no s me se s d e O ut ub ro a Ab ri l, às 3 d ura n te a P ri ma v era, e à s 4 no Verão . As p o rta s d o tea tro co st u ma va m ab r ir ao me io -d ia. 14 E m 1 6 0 9 , Lo p e d e Ve g a d e fi ne e e xp l ica o mo d elo te atr al d e no mi n ad o “co méd i a esp a n ho la ”, o u s i mp l es me n te “co méd ia” , n u m ma n i fe s to i nt it u lad o A r t e n u evo d e h a cer co m ed ia s en e st e t iemp o . 15 O no me d a co mp a n h ia te m o ri ge m no se u mo to : V ir tú , fa ma ed h o n o r n e fé r g elo si ( C io so s d e vir t u d e, fa ma e ho nra). P re te nd i a -s e co m e s ta ter mi n o lo g ia si g n i fi car O s Có mi co s C io so s d e a grad ar ao p úb l ico . 10 aquela participa ra num festival em Mântua, em que também actuara a trupe do actor romano Pasquati. Dirigidos por Flamínio Scala , os Gelosi eram actores profissionais itinerantes, que tanto representavam o drama escrito, all’improviso, ou a commedia combinação premeditata, de pequenos como enredos commedia ( canovacio) interligados por improvisações ( lazzi). Em 1568, os Gelosi participam nos festejos de Carnaval de Milão, e, e m 1571, deslocam-se também, pela primeira vez , a Paris, para representarem para Carlos IX , em casa do Duque de Nevers, cruza ndo-se com a trupe de Ganassa , cujos elementos dissidentes integraram os Gelosi. Se a sua popularidade lhes grangeia convites frequentes para representar em salões aristocráticos - em 1573, o Duque de Ferrara assiste a uma representação sua de Aminta, drama pastoral de Torquato Tasso -, o seu sucesso multiplica -lhes a quantidade (e a qualidade) das itinerâncias – Henrique III de França solicita ao Doge de Veneza a “dádiva de ter na sua corte , durante certo tempo, a companhia dos Gelosi” (F O , 2004: 26), cuja representação assistira naquele mesmo ano. Em 1577, “a República [...] organiza a viagem, e prepara uma caravana composta por um número significativo de carros e carroças que, subindo pelo vale do Susa” ( ibidem), se dirige a Paris, numa viagem atribulada que pôs em risco a companhia. França vivia então uma convulsão política profunda [16]. No rescaldo da matança de São Bartolomeu , um grupo de huguenotes decidiu chantagear o monarca, e, num acto de terrorismo, capturou a companhia dos cómicos. Expediu-se uma carta a Henrique III, exigindo a libertação dos huguenotes presos nos cárceres franceses, o pagamento de dez mil florins em ouro e cinquenta mil em prata, sob pena de apenas serem devolvidas 11 as cabeças dos cómicos. A negociação durou quinze d ias e as cláusulas dos revoltosos foram respeitadas. Segundo um cronista da época, “se o caso envolvesse negociar a vida do primeiro ministro, de quatro cônsules e de três marechais, Henrique III teria deixado tranquilamente que os matassem, preocupando-se somente em mandar celebrar uma bela missa em honra das vítimas” (F O 2004: 27) [17] Tratando-se, indiscutivelmente, de um acto terrorista, quem diria que , por breves momentos, um comediante teve mais peso do que um político?! Aos Gelosi, pertenceu a actriz Vittoria Piissimi, que, em 1578, os trocou pelo lugar de Prima Donna de I Comici Confidenti , companhia que se fundiu com a de Pedrolini [18], dois anos mais tarde, quando este se casou com a prima donna Piissimi. Para o seu lugar nos Gelosi, foi contratada uma jovem de 16 anos, Isabella Canali, que, nesse mesmo ano, se casa com Francesco Andreini , primeiro actor e sucessor de Flamínio Scala, enquanto empresário da companhia . Isabella Andreini foi uma mulher do seu tempo, ganhando por seu mérito o estatuto de “vedeta” no âmbito dos cómicos da arte de então . Como actriz representou sempre o papel de Innamorata, mas, à medida que foi aprimorando o domínio da arte da comédi a, Isabella recriou a figura da apaixonada, não só de aparência bela, mas introduzindo-lhe o carácter de mulher culta e bem -falante, próprio da Renascença. Desconhece-se que tipo de instrução possa ter tido, mas, enquanto pertenceu aos Gelosi , sabemos que desenvolvia a leitura, o estudo e a escrita, para além da actividade de actriz itinerante, e de mãe de sete filhos. 16 As G uerr a s Re li g io sa s d ura ra m e ntr e 1 5 6 2 e 1 5 9 8 , e ter mi n ara m co m o Éd ito d e Na nt es , p ro mu l g ad o p o r He nr iq ue I V , q u e co n feri u lib e rd ad e rel i gio sa à mi n o ria p ro te sta n te, n u m p a í s d e cató li co s . 17 Co m o s e u h u mo r, mu i t o p ró p rio , co me n ta Fo : “P o d er ia u ma d ec i são c o mo e st a rep et ir - se ho j e e m d ia? Não , ac t u a l me nt e, o má x i mo q u e p o d e aco n tece r é u m acto r el e ger - se p r es id e n t e d o s Es tad o s U nid o s”. 18 Est a co mp a n h ia ap arec e me ncio n ad a p e la p r i m eira ve z e m 1 5 7 6 , no m es mo a no e m q ue o acto r e e mp re s ário J a me s B urb a ge ab re o “T he T hea tre ”, e m Lo nd re s . 12 Em 1587, os seus sonetos publica vam-se nas colectâneas italianas, e, no ano seguinte, foi dado à estampa Mirtila, drama pastoral, cujas personagens femininas apresentam como característica serem senhoras do seu destino. Em 1589, em Florença, durante as núpcias do duque Fernando de Medicis com Christine de Lorena , Isabella, interpret ando La pazzia d’Isabella (A loucura de Isabella) , exibe o seu talento de actriz, conforme relata Giuseppe Pavoni : De modo que ao encontrar -se abandonada e a sua honra compromet ida, [ Isabella] abandonou -se à dor e à paixão, perdeu a razão, [e] qual criatura enlouquecida, vagueou pela cidade... ora faland o em espanhol, ora em grego, ora em italiano e em muitas outras línguas, e sempr e de for ma irracional... Então começou a falar em francês e a entoar canções francesas... De seguida começou a i mitar os modos de falar dos seus colegas actores – os modos, di ga-se, de Pantalão , Graciano, Zanni, Pedrolino, Francatripa , Buratino, Capitão Cardona e Francisquinha – de for ma tão natural, e com uma ênfase de tal modo requintada, que não existem palavras que expri mam a qualidade e habilidade desta mulher. Por fim, pela recriação de artes mágicas e de certos líquidos que lhe deram a beber, Isabella foi trazida à realidade e assim, em estilo elegante e elevado, explicando as paixões e tormentos suportados por aqueles que tombam nas tramas do amor, finalizou a comédia, em que demonstrou, pela sua representação desta loucura, a perfeita saúde e elevação do seu i ntelecto. [19] Em 1601, Isabella Andreini torna-se membro da Accademia degli Intenti, em Pavia, publica uma colectânea de poemas, as Rimi, ao 19 T rad ução no ss a. [H]o w o n fi nd i n g her se l f d e ser ted a nd her ho no ur co m p ro mi sed [Isab el la] ab a nd o n ed he rse l f to gri e f a nd p a s si o n, we n t o u t o f h er se n se s, [a nd ] li ke a mad cre at ur e ro a med t he c it y. .. sp ea k i n g no w i n Sp a ni s h, no w in Gree k , no w i n I ta lia n a nd i n m an y o t her la n g u a ge s, b u t al wa ys irra tio na ll y… [ T he n] s he b eg a n to sp ea k Fre n c h and to s i n g Fre nc h so n g s… T he n s h e b e g a n to i mi ta te t he wa ys o f sp ea k i n g o f her fe llo w - a cto r s – t he wa y s, t h at i s, o f P a n talo n e, Grat ia no , Za n ni, P ed ro li no , Fr a nc atrip p e, B ura tt i no , Cap t ai n Card o n e a nd Fra nc e sc h i na – i n s uc h a na t ura l ma n ner , and wi t h so ma n y fi ne e mp ha se s, t h at no wo rd s c a n exp r e ss t he q ua li t y a nd s ki ll o f t h i s wo ma n . F i na ll y, b y t he fi ct io n o f ma g ic a rt and cer tai n wa ter s s he wa s gi ve n to d r i n k, I sab ell a wa s b ro u g h t t o her se n se s a nd her e, wi t h el e ga n t and l ear ned s t yl e e xp l ica ti n g the p a s sio n s a nd o rd ea l s s u ffered b y t ho s e wh o fa ll i nt o lo ve ’s s nar es, s h e b ro u g h t t h e co me d y to it s c lo se, d e mo n s tra ti n g b y h er a cti n g o f t h is mad ne s s t he so u nd h ea lt h a nd c ul ti va tio n o f her o wn i n te lle ct. G i u sep p e P a vo ni , c it ad o e m Th e Co mm ed ia d el l’A rte: A Do cu m en ta ry Hi sto ry , Ke n ne t h R ic hard s e La ur a Ric h ard s. O x fo rd : B as il B lac k wel l, 1 9 9 0 , p p . 7 4 -7 5 . 13 mesmo tempo que começam a circular, sob a forma de manuscrito, as Lettere, colectânea de epístolas ficcionais, em que expressa o seu pensamento sobre a vi da e sobre a arte. Dois anos depois, os Gelosi retornam a Paris, e representam na corte de Henrique IV e de Maria de Medici . Após a apresentação do reportório à corte e ao público francês, a companhia regress a a Itália. De passagem por Lyon , Isabella sent e-se mal, e, a 10 de Julho de 1604, morre no parto do filho . A pompa fúnebre foi digna de uma rainha: Atrás do féretro, em um carro coberto por uma montanha de fl ores, estavam príncipes, poetas e escritores de toda a Europa. Convém lembrar que Isabella Andreini foi a única mulher de sua época aceite como membro em nada menos do que quatr o academias. E não apenas pelo seu fascínio, mas também pelo seu talento e extraordinária verve poética. Ela não era a única pessoa culta entre os artistas de teatro à italiana, pelo contrár io: existiam actores capazes de escrever hist órias bastante inteligentes com um estilo muito refinado. Além disso, convi via com os espíritos mais brilhantes do seu tempo: Galileu Galilei (autor de dois roteiros), Ariosto , Pallavicini , grandes arquitectos e, vej am só, Michelangelo e Rafael, outros dois grandes amantes do teatro ( F O 2004: 30). A companhia dissolveu-se com a morte de Isabella . Giovan Battista Andreini , seu filho mais velho, que se estreara em 1595, formou a sua própria companhia, os Comici Fedeli, em 1601, onde se integrou a maior parte dos últimos Gelosi . Francesco Andreini retirouse de cena, para se dedicar à publicação das obras da mulher, vindo a falecer em Mântua, a 20 de Agosto de 1624 . Com idêntica importância n este panorama, encontra-se os já referidos Comici Confidenti (1574 – 1599; 1611 – 1639), [20] cuja itinerância t ão profícua quanto a dos Gelosi , regista digressões p or “Có mi co s co n fia n t e s n ele s p ró p r io s e na i nd u l gê n cia d o p úb li co ”. ( D U C H AR T R E 1 9 6 6 : 8 7 ). E m 1 6 1 1 , er a s e u d ir ecto r F la mí n io Sca la , q ue p er te n cera ao s Co mic i Gelo s i . ( Id e m: 9 6 ) . 20 14 Itália, França [21] e Espanha [22]. Em 1587, no início da sua estadia na península, endereçam ao Conselheiro Real Pedro Puertocarrero um pedido para que lhes seja emitida uma licença, que autorize as actrizes, Ângela Salomona , Ângela Martinelli , mulher de Drusiano Martinelli , e Sílvia Roncagli , a subir à cena. Dado que a lei vigente impedia a existência de actrizes nos palcos espanhois, o argumento dos Confidenti, de que “las comedias que traen para representar no se podrán hacer sin que las mujeres que en su compañia traen las representen” [23], levou a que fosse definitivamente revogada aquela proibição. Foram muitas as companhias importantes - os Comici Uniti (1578 – 1640), os Desiosi [24] (1582 – 1605), os Accesi (1590 – 1628), os Intronati -, e muitas cruzaram a fronteira alpina: o florentino Domenico Barlachi representou, em 1548, La Calandra, do Cardeal Bernardo Dovizi, de Bibbiena, em Lyon; Giovanni Taborino , em 1568, actuou em Linz , nas margens do Danúbio, e, no ano seguinte, em Viena de Áustria, onde permaneceu até 1574 ( D U C H A TR E 1966: 86); Drusiano Martinelli [25] actuou em Londres, em 1578 . Esta família de 21 E m 1 5 8 4 , r ep re se n tara m no Hô tel d e Cl u n y . (D uc h art e o p . c it . ) . Dur a nte a s ua e st ad ia e m E sp a n ha , e ntre 1 5 8 7 e 1 5 8 8 , d esi g nar a m - se Lo s Co n f id en te s I ta l ia n o s . 23 C it ad o e m La in f lu en cia ita lia n a en el n a c i mien to d e la co med ia esp a ñ o la , Ot hó n Arro ni z, M ad rid : Ed ito r ia l Gr ed o s , S. A. , 1 9 6 9 , p . 2 7 5 . 24 Dir i gid o s p o r Di a na P o nt i , es ta co mp a n h ia era p ro te gid a p e lo Card eal Mo n ta lto . 25 P erte nci a m à co mp a n h i a An gel ica Mar ti ne ll i, mu l h er d e Dr u s ia no Mar ti ne ll i e o ir mão d e s te, T ri st a no M arti n el li (1 5 5 7 – 1 6 3 0 ) , na sc id o e fal ecid o e m Mâ nt u a , e co n s id erad o o p ri me ir o Arleq u i m d a Co m m ed ia d e ll’ Ar te. Co n v id ad o p elo Al mi ra n te d e Fr a nça , M o n si e ur d e J o ye u s e , T ri st a no e a s ua tr up e ap re se n ta m - s e na F eira d e Sa i nt Ge r ma in , no Ca r na va l d e 1 5 8 4 , o nd e cr ia a fi g ura d e Arleq u i m. E m 1 5 9 8 , i n te gr a a co mp a n h ia d e V ic e nzo Go nz a ga , d uq u e d e Mâ n t u a , q ue, e m 1 5 9 9 , o no mei a ca p o co mico . Aq ua nd o d o se u cas a me n to co m Mar ia d e Med ic i , He nriq u e I V d e Fra nç a es cre v e -l he a e nco me nd ar o s se u s ser v iço s (C f. S iro Ferro n e, Ar lec ch in o . V i ta e a vven tu r e d i T ri s t a n o Ma r tin ell i a t to r e. B ari - Ro ma, Later za, 2 0 0 6 ). E m 1 6 0 1 , e scre v e u Co mp o s it io n s d e ré th o r iq u e d e M. Ar leq u in . Ma nt e ve se mp r e u ma r el ação e s tre ita co m a al ta no b re za : o s R ei s d e Fr a nç a fo ra m p ad ri n ho s d e u m d o s s eu s fil ho s e, e m 1 6 1 2 , e m V ie na , o i mp erad o r Mat ia s II co n ced e u - l he u m tít u lo no b ili árq ui co (c f. J o h n R ud l i n, a nd Ol l y Cri c k: Co m med ia d ell' Ar te: a Ha n d b o o k f o r Tro u p es . Lo nd o n & N e w Yo r k: Ro u tl ed ge, 2 0 0 1 : 4 3 ). 22 15 actores que, em 1587, pertencem a I Confidenti, entre 1598 e 1601, integram I Accesi, os comediantes italianos do duque de Mântua , itinerando por França [26]. O modelo de representação destas companhias define marcas de influência, tanto na escrita dramática , como na representação [27]. O modo narrativo que o espectáculo define , acaba por ganhar estatuto próprio. Verifica-se uma apropriação temática e de caracteres por parte de muitos dramaturgos europeus na elaboração dos seus enredos, que se reinventam ao longo de Seiscentos e Setecentos , numa sociedade que refin a o gosto pelo esp ectáculo de si própria, atingindo o cume com dramaturgos como Carlo Goldini, que acaba por fixar uma forma escrita de commedia dell’ arte. Os novos enredos necessitam por isso de um novo modelo de actor, que seja mestre de uma arte intelectualizada, já não mecânica, contrária aos anátemas religiosos medievais. Desde Leon de’ Sommi - Quatro dialoghi (1563?) -, que esboça as características próprias do actor culto, e da arte de representar segundo padrões de credibilidade e verosimilhança, as preceptivas de a ctuação sucedem-se, para culminar no tratado de Andrea Perrucci, Dell’Arte rappresentativa, premeditata ed all’improviso (Nápoles: 1699) , cujas duas partes distinguem dois modos de trabalho, de memória ou de improviso, mas cujo conteúdo se dirige explicita mente a outros destinatários além do actor: “giovevole non solo à chi si diletta di R appresentare, ma à Predicatori, Oratori, Accademici e Curiosi”. ( P ER R U C I 2008: xxi) O palco ganha esatuto de púlpito. *** C it a nd o B a sc h et , L es Co m éd i en s i ta l ien s à la co u r d e Fra n ce, 1 8 8 2 , p p . 1 0 9 – 1 2 3 . (h ttp :/ / www. ce sar . o rg. u k) 27 T o d as e la s se co mp u n h a m d e i nd i v íd uo s co m u m n í ve l s up er io r d e c u lt ura e d e cap ac id ad e s h i st r ió ni ca s , p er mu t a nd o -o s e n tre s i co m freq uê n cia o u a gr eg a nd o - se p ara rep re se n tar e m o cas iõ e s e sp ec ia i s. E m nad a se p ar ec ia m co m mí s ero s sa lt i mb a nco s ( D U C H AR T R E 1 9 6 6 : 8 6 ). 26 16 Curiosamente, a marca inicial do processo de cons tituição de um estatuto do actor profissional , o contrato de Ser Maphio , em 1545, regista-se no mesmo ano em que principia o Concílio de Trento . Convocado pelo Papa Paulo III, o conclave começ a a 13 de Dezembro e terminará apenas em 1563, com várias interrupções devidas a conflitos religiosos e políticos, ao longo do pontificado d e quatro papas: Paulo III, Júlio III, Paulo IV e Pio V. Em Janeiro de 1564, este último promulga os decretos do concílio, e, coincidindo no mesmo ano, em Roma, a comediante Lucrécia de Siena assina um contrato como actriz profissional , quando o papado conrinuava a preferir a representação travestida de efebos . Não se pronunciando sobre a actividade teatral propriamente dita, o Concílio de Trento pretendeu ser um pólo organizador do sistema eclesiástico, manifestando “o esforço da Igreja Romana em se adaptar a um mundo em transformação, no qual o teatro público profissionalizado começava a trilhar o seu caminho” [28]. Para o padre Michael Zampelli, “uma razão óbvia para um aumento do sentimento antiteatral durante os anos subsequentes ao Concílio de Trento deve-se à visibilidade crescente do próprio teatro. [ ...] As preocupações disciplinares e past orais de Trento centravam -se na relação existente entre a ordem eclesiástica e a vida Cristã. Neste campo, torna -se claro o subtexto competitivo no relacionamento entre a commedia e a igreja” [29]. Mic ha el A. Za mp el li , “T re n t re vi s ited : A Reap p rai sa l o f Ea rl y Mo d er n Ca t ho l ic is m ’s Rel at io ns hip wi t h t h e Co m med i a Ita l ia n a ”, in Th e J o u rn a l o f Rel ig io n a n d Th ea tr e. Vo l. 1 , nº 1 , Fal l 2 0 0 2 , p . 1 2 2 : “T ren t i s s ig n i fica n t b eca u se it ma n i fe st s t he Ro ma n C h urc h ’s e f fo r t s a t ad ap t i n g to a c ha n g in g wo r ld in wh i c h t he p ub lic , p ro fe s sio n al t he atre i s ma k i n g a n e nt ra nc e”. 29 Id em, p . 1 2 2 : “O ne o b vio u s r ea so n fo r a n i n c rea se i n a nt it h eat ric al s en ti me n t d ur i n g t h e year s a fte r t h e Co u n ci l o f T re nt is t h e g ro wi n g vi sib il it y o f t he t he atre it se l f. […] T re nt ’s d i sc ip li n ar y a nd p a sto r al c o nc er n s, ho we v er, fo c u sed o n t he rela tio n s hip b e t we e n ec cle si as ti ca l o rd e r a nd C hr is ti a n li v i n g. I n t h is are na t he co mp et it i ve s ub te x t i n the re la tio n s hip b e t wee n co m med ia a nd c h u rch co me s clea r”. 28 17 A reforma da vida religiosa e dos seus oficiais pretendia t ravar os abusos praticados e frequentemente criticados pelo teatro medieval [30] e pelas Igrejas protestantes (luteranas, calvinistas), para que se ganhasse uma nova estabilidade interna, e, sobretudo, para que se evangelizasse o público, e para que a força dos representantes eclesiásticos na vida das pessoas comuns fosse mais eficaz. O concílio tridentino imporá que os Bispos vivam nas suas próprias dioceses, em vez de “vaguearem ociosamente de corte em corte, ou abandonando o seu rebanho e negligenciando o cuidado do seu rebanho no torvelinho dos seus afazeres m undanais” [31]. Esta disposição pretendia aproximar os bispos da realidade humana , ao mesmo tempo que os coloca numa rivalidade paralela com a autoridade civil. No caso em que esta apoiava a activida de teatral, como aconteceu em Milão, durante o arcebispado do Cardeal Carlo Borromeo [32] (1565 – 1584), o antiteatralismo religioso funcionou como uma admoestação aos crentes, e também como uma afirmação do poder eclesiástico perante o poder secular. Mas nem todos os ataques do cardeal milanês contra os actores e o espectáculo foram suficientes para erradicar a actividade teatral [33], 30 Le mb re mo s a c rí tic a q ue Gi l V ice n te fa z a tra v és d a s p er so n a ge n s d o s clér i go s , cuj a p ro x i mid ad e co m as c rí tic as p ro te s ta nt e s mo ti vo u a ce n s ura q u e o Card ea l Ale a nd ro e nd er eço u ao P ap a, so b re a r ep re se nt ação d o a u to d e G il Vic e nte n a Fla n d re s. 31 E xtra íd o d a Se xt a S es são d o Co nc íl io d e T rento , c it ad o p o r Del u me a u, Ca th o li ci sm , 1 6 , in M ic ha el A. Za mp e ll i, o p . ci t . , p . 1 2 3 . 32 Nas cid o e m Aro na , e m 1 5 3 8 , mo rr e u e m Mi lão , e m 1 5 8 4 , s e nd o ca no n i zad o e m 1 6 1 0 . Fo r mad o e m d ir eito c i vi l e ca nó n ico p ela U n i ver s id ad e d e P av ia , era so b ri n ho , p elo lad o ma t erno , d e Gia n Ân ge lo M ed ic i , P ap a P io IV , q ue o no me o u card ea l e ar ceb i sp o d e Mil ão , ao s 2 2 a no s. P art icip o u na fas e fi nal d o Co nc íl io d e T rento , to ma nd o u ma p o si ção rad i ca l co ntra o p ro tes ta n ti s mo . Fo i u m l íd i mo rep re se nt a nt e d a Co ntr a R e fo r ma . Aq ua nd o d a s ua mo rt e le go u o s s e u s b e ns ao s p o b res. 33 “O s Ge lo si a ct u ara m, p ela p r i me ira ve z, e m Mi lão , e m 1 5 7 2 , e l á vo l ta ra m e m 1 5 8 3 . Me s mo ap ó s 1 5 7 6 , o ano d a p e s te e d o ap arec i me n to d e le g i sl ação q ue co nd e na va o s acto r e s e p rescr e vi a p e na s se v era s p ara esp ec tác u lo s p úb l ico s, mu i ta s co mp a n h ia s vi s it ara m a cid ad e e e nco n tr ara m re fú g io e m c as a d o s J ud e u s mi la n e se s, q u e es ta v a m i mu n es à s p ro ib içõ e s reli g io sa s d o card ea l B o rro meo ”. (Za mp e ll i, o p . ci t., p . 1 2 8 , no ta 2 4 ) . 18 embora os seus escritos apresentem um efeito a posteriori no modo como foi encarado o teatro. Segundo Zampelli, a sua visão assentava em três pontos -chave, derivados do entendimento dos valores tridentinos: “Primeiro, o teatro alterava a ordem social e religiosa; segundo, conseguia minar a verdadeira actividade religiosa; terceiro, sabotava a «cristianização» da sociedade” [34]. Daí que instasse frequentemente as autoridades civis a banirem, das suas circunscrições, os actores, os mimos, os vagabundos, e toda aquela gente perdida, a menos que se dispusessem a fixar residência e decidissem viver de acordo com os princípios cristãos. Os actores profissionais itinerantes representavam uma ameaça à estabilidade social, fugindo ao seu controlo. Borromeo era exímio em matéria proibitiva; os clérigos empregados em sua casa foram impedidos de “jogar às cartas, aos dados, à bola, ou outros jogos indecorosos desse género, ou frequentar os jogos de outros, ou sequer de se mascarar, ou participar em partidas de caça, ou frequentar representações teatrais, comédias, ou quaisquer actividades impuras de actores profissionais” [35]. A Igreja acabou por se colocar num plano de competi ção com as companhias quando procurou atrair público , até porque os objectivos de pregação eram, de certo modo, coincidentes com os do teatro: ensinar, comover e agradar. Armand Baschet , citando as memórias do Sieur de l’Éstoile, afirma que as representações dos Gelosi, em Paris, em 1570, eram mais concorridas do que as prédicas dos quatro 34 Mic h ae l A. Za mp el li , o p . ci t.., p . 1 2 8 . B o rro meo , A cta , “De g ub e r nat io ne r ei fa mi liar i s. P ar s sec u nd a” ( 1 5 6 6 ) in T avia n i, 1 2 . “N ul l u s e x fa mi lia n e ar mi s c ert are , ne c c har ti s l u so r ii s a u t tal is , a ut p ila ma io ri, a u t a lio e i u s mo d i i nd eco ro l ud i g en ere l ud er e, l ud e n te s n e s p ec tare , ne c c ho rea s e xer cere , n ec p erso n at u s i nc ed ere , ne c v e nat io ni, fab u li s, c o mo ed ii s, ali i s ve hi str io n u m i mp u ris a ct io nib u s vaca re a u d eat” . ( C it. In Za mp el li , o p . cit., p . 1 2 9 , no t a 2 7 ). 35 19 melhores pregadores da cidade [ 36]. Contra uma concorrência tão forte, restava apenas o anátema epistolar de Borromeo: “Por intermédio dos cómicos, o demónio espalha o seu veneno!”. (F O 2004: 105) Ou o acrescento posterior de Ottonelli , que de flagelo se transforma em exaltação da arte de representar: Os cómicos não repet em de memória as frases escritas como costumavam fazer as crianças e os actores amadores. Estes últi mos, inclusive, dão sempre a impressão de desconhecerem o si gnificado daquilo que repetem e, por isso mesmo, dificilmente convencem. Os cómicos, pelo contrá r io, nunca utili zam as mesmas palavras em cada apresentação de suas comédias, inventando todas as vezes, apreendendo antes a substância, depois transmitindo os seus improvisos por velozes fios condutores e nós apertados, gerando assim uma for ma li vre, natu ral e graciosa. O efei to alcançado é um gr ande envol vi mento dos espectadores, acendendo paixões e comoções, sendo isso um grave peri go, j á que se trata de um elogio à festa amoral dos sentidos e da lascí vi a, de uma rej eição às boas maneiras, de uma rebelião contra as santas regras da sociedade, criando uma grande confusão j unto às pessoas mais si mples” (F O 2004: 106) [37] *** No Portugal de 1591, quando Fernán Díaz de la Torre se obriga por contrato com o Hospital de Todos os Santos a construir o Pátio das Arcas, funda-se o primeiro teatro público lisboeta, à semelhança do modelo castelhano, e nele se acolher ão as companhias itinerantes. A tradição da commedia faz a sua entrada na capital de um reino sob influência castelhana, que assistiu ao desfilar do reportório popular espanhol, que se prolongou mesmo após a Restauração, perante “a turbamulta dos videiros galantes da Lisboa seiscentista, desde o rufião das «patrulhas petiscantes» de D. Afonso VI e do irmão [ ...] até o mais fidalgo espadachim da corte, e desde a mulher -dama arreada de sedas 36 Le s Co méd ien s I ta l ien s a la Co u r d e F ra n ce s o u s Ch a rl es IX, Hen r i I II, H en r i IV et Lo u is XIII P ar i s, E . P lo n et Cie , 1 8 8 2 : 7 4 . 37 Ap ar e nte me nt e Dar io Fo ci ta G ia n Do me n ico Ot to ne ll i , Del la c h ri s tia n a mo d e ra t io n e d el th ea tr o . L ib ro q u a r to d et to L'a m mo n i tio n i a ' r eci ta n ti, p e r a vvi sa re o g n i ch ri s tia n o a mo d e ra rs i d a g l i e cce s si n e l rec ita re , ´p ub l ci cad o e m Flo r e nça, p o r B o nard i, e m 1 6 0 2 . 20 custosas [...], até à dona senhoril do Côrte -Real ou da Ribeira com costela de Távoras e Noronhas” ( S EQ U E IR A 1933: 105). “Em 1640 a companhia da grande comediante Riquelme (Maria ou Damiana) era a que funcionava no corro lisbo eta” (Id.: 113). Era enorme o sucesso das actrizes espanholas, que aliavam aos seus méritos interpretativos, os dotes de amazonas, destes tirando proveito para, em palco, arrebatarem corações e trazer os galantes de rastos. São ancestrais as tradições espaventosas da indústria do espectáculo! Esta commedia nova popular acabará por ascender aos salões, sem nunca perder as suas raízes de teatro de situação, em que uma estrutura básica faz evoluir o enredo, mante ndo o público atento através de uma tensão dram ática, cujas reviravoltas lhe condicionam a participação. A herança da commedia resistiu, na sua essência, nas clowneries ¸ nas marivaudages, no teatro de Eduardo de Filippo, no teatro de variedades, nos entreactos, nas rábulas cómicas de actores que o cinema se apropriou e popularizou através de actores como Totó ou Chaplin, Laurel e Hardy, ou os irmãos Marx . Colocando de parte os conceitos estéticos, produto do tempo e da sociedade que os experimenta, observamos que uma característica primordial da actividade teatral se rá a sua qualidade de indústria, de produtora de riqueza, e que uma companhia de teatro representa uma empresa comercial. Vida de risco, plena de incertezas, a sociologia do comediante e a história do espectáculo encarregam -se de explicar os revezes próprios da vida dos fazedores de sonhos. Quedou -se para a história o nome dos famosos, dos mais talentosos, ou dos mais afortunados, daqueles que conseguiram a protecção de uma qualquer proeminência aristocrática, mas, outros terá havido, por certo, ilustres desconhecidos, que terão tido sorte diferente. Embora classe dominante, a aristocracia civil ou a religiosa, não poderia absorver toda a oferta profissional existente. 21 Qualquer patrono, que se permitisse uma companhia de actores, de cantores ou de músicos, seleccionaria, por força do prestígio que daí lhe advi esse, apenas os melhores; aos restantes profissionais não lhes restaria outra alternativa, senão a de procurar o maior patrono de todos, o público. Porque se trata de uma actividade de índole gregária, a natureza do teatro manifesta -se de maneira ambivalente : tanto procura o espectador o t eatro, como é procurado por este. Nesta perspectiva, a prática teatral foi sendo modelada, ao longo do tempo, qual sistema de vasos comunicantes, numa interligação entr e o gosto dos fazedores e o das plateias, apresentando de forma natural dois trajectos paralelos, que se miram entre si :  um teatro de erudição, que se alimenta aristotelicamente e bebe horacianamente, cuja força textual se traduz na manifestação conceptual, e na amplitude eloquente da voz e do gesto magnânimo. A mimesis servida à mesa de um requintado banquete criador de polémicas, e originador de poéticas , de um teatro de elite, que inventará a ópera, o ponto de harmonia de todas as perspectivas das artes de palco;  e um teatro popular, pantagruélico, feito de comédias, de bailes, de canções, de redondilhas, de uma variedade de estilos, servidos copiosamente, a um público fruidor de emoções, por entre o qual se misturava a boémia filha de família, amante da s histórias pícaras e dos ditos picantes, um público para quem as regras poéticas se iam construindo ao sabor das vontades estéticas do auditório. Se o teatro erudito presume a existência de um espectador conhecedor da complexidade da efabulação, e apela a referências culturais elaboradas, o teatro popular pretende fazer -se entender pela camada mais vasta do público, cujos referentes culturais não se baseiam em presunções académicas, mas na via da compreensão 22 emocional da fábula, pela empatia com as suas pe rsonagens e a sua actuação. 3. Da itinerância teatral Eis o modo que perpetua a tradição das companhias dos cómicos da arte, enquanto modelo empresarial. Parece simples, - trata-se de uma questão de sobrevivência -, mas a situação ganha contornos específicos, quando procuramos entender as diferentes formas de itinerância . Em primeiro lugar, a fixação de companhias em teatros urbanos parece corresponder a um modus operandi, supostamente motivado por um processo de sedentarização no espaço urbano : mais população, logo maior oferta, maior procura. Em última análise, a indústria do lazer depende da indústria laboral; o trabalho gera descanço, e este gera aquele. A diversidade do público requer, então, em proporcionalidade directa, uma diversidade de entreteni mentos que lhe preencha o ócio. E a ambivalência de que falávamos anteriormente (o teatro procura o público, assim como este procura aquele), transformase numa dinâmica em que apenas o público precisa de procurar o teatro, uma vez que este lhe é oferecido ao pé da porta. Desde os teatros de primeira linha, do centro cosmopolita, até aos palcos das academias de recreio , dos bairros populares, passando pelas salas e teatros particulares, que proliferam em sucessivas coroas circulares até à periferia lisboeta, o teatro funciona como vivência sociocultural enquanto durar a “saison” laboral, e apenas terá necessidade de perseguir o seu público, quando este se deslocar para as estâncias termais ou as de veraneio. É a Belle Époque! Na segunda metade de Oitocentos, a proliferação de teatros nos centros urbanos de província, por um lado, e o início das experiências 23 animatográficas, por outro, conduzem à procura de profissionais necessários à produção de espectáculos, e à manutenção das suas salas. No início de Novecentos, a grande actividade profissional concentra-se, sobretudo, em Lisboa, Porto e Coimbra, e áreas circundantes; o gosto mantém-se nos salões das classes abastadas , e cresce na classe média, em que a oferta e procura abundam, e o povo “sustenta os inúmeros teatros populares” que frequenta: “ o teatro do Príncipe Real, o da Avenida, o da Rua dos Condes , Salão Liberdade, Salão Fantástico, Salão Central, os das feiras de Alcântara e do Parque, dando ainda grande contingente para a Trindade , Ginásio, D. Amélia e D. Maria”, além dos dois enormes circos e das touradas nocturnas, segundo elucida Sousa Bastos : É pasmoso de há uns anos para cá o movi mento dos es pectáculos públicos. Proporcional mente comparado com as grandes capitais e com a falta de forasteiros, a nossa cidade é das pri meiras no movi mento teatral. Isto é agora muito, mas j á era bastante quarenta anos antes. Já nesse tempo muitas famílias bur guesas havia que, sem tal vez o poderem fazer, frequentavam d iariamente os espectáculos. (B A S T O S 1947: 182). O Real Conservatório , enquanto única escola de Arte Dramática, nunca poderia bastar ao fornecimento do mercado de actores, cuja maioria provinha das sociedades de amadores, e saltitava de teatro em teatro. Uma itinerância individual de escala reduzida. [O] Joaqui m Sil va, um dos melhores cómi cos, aproveitava as horas vagas para ensaiar e r epresentar num teatrinho que existia na calçada do Cabra, próxi mo à rua For mosa. Passou depois para outra sociedade, de que era ensaiador o Carreira, um actor, que, apesar de aleijado, tivera no Salitre a sua época de agrado e que também era ensai ador dos doidos de Rilhafoles, quando se entendeu que o representar poderia ser um meio de cura. [...] A primeira vez que representou a público [1879] foi num pequeno teatro que existiu na rua do Olival , na paródia de Jacobet ty, A Niniche Lisbonense , e depois, ainda no mesmo teatro, numa revista do mesmo autor, intitulada O Reinado do Prior . 24 [...] Dali foi representar na feira das Amoreiras num teatro chalet [38] que foi depois mudado para a feira de Belém , em 1881. Ainda o mesmo chalet foi mudado para um quintal na rua do Salitre e por fim para a Avenida , no local do anti go teatro da Rua dos Condes (ibidem). Aos empresários interessava escriturar os bons elementos das pequenas companhias de bairro, dos palcos pa rticulares, que funcionavam como novidades para atrair o público. De perto ou de longe, o empresário não se poupava a esforços para “insuflar sangue novo” na sua empresa. César de Lima contratou para o Teatro do Príncipe Real dois “distintos amadores do teatrinho do Aljube ”, os actores Gama e Bayard, e “do Teatro dos Anjos tirou o Luciano”. Nem as companhias ambulantes escapavam à sangria: à “companhia do Soares arrancou o Matias de Almeida ” e “à modesta companhia do Costa «marreco» tirou o actor Samuel , que deu um actor de muito mérito e com uma excelente voz de barítono” ( Bastos 1947: 121). Numa itinerância um pouco mais ampla, as duas principais cidades do país permutavam talentos entre si. O Porto tem por vezes conseguido atrair par a os seus teatros di versos artistas, cuj a falta foi sentida em Lisboa . [...] Em compensação, do Porto nos vieram, dando brilho aos nossos t eatros: o Dias , o Ferreira da Silva, o Fir mino, [...], as Talassis , o Portulês e o Abel [que aos] 14 anos de idade, abandonou a casa paterna com a ideia fixa de seguir carreira dramática. Partiu para o Porto e [...] conseguiu entrar para a companhia que funcionava num teatro, de que ainda hoj e há vestí gios na rua das Liceiras, intitulado Teatro Camões . [...] Foi colega de Braz Martins, e em 1874 veio contratado para o Ginásio , de Lisboa, donde passou para o Variedades , e para o da Rua dos Condes . Em 1875, contratou -se para o novo Teatro da Trindade , do Porto, o qual ardeu pouco depois, passando Abel a dirigir o teatro -barraca das Car mel i tas, na calçada dos Cléri gos. (Bastos 1947: 140). Fazer uma digressão equivalia a uma aventura de Dumas Pai ou de Victor Hugo. A falta de comodidade 38 nos transportes das T rata - se d o T eat ro C ha le t Ara új o , p ro p r ied ad e d e M a n uel J o s é d e Ar a ú j o ( B A S T O S 1 9 0 8 : 3 2 5 ), q ue ta mb é m fo i co n he ci d o p o r T eatro C hal et d a R ua d o s 25 companhias tornavam a Arte de Talma em suplício de Tântalo, conforme relata Adelina Abranches com a ironia que lhe é própria. Eram duas, as carripanas e havia quinze pessoas para meter den tro dela. Tinham cortinas e tej adilho... Arrumámo -nos como pudemos. [...] dentro daqueles caixotes, apertados, esmagados uns contra os outros, ficámos como sardinha em lata... A um est alo do chicote, os cavalos arrancaram e nós batemos todos com a cabeça n o tecto da caranguej ola. O meu “canotier” ficou logo num fi go! O prego, que o segurava, espetou a orelha do galã que dei xou escapar uma bojarda que eu muito pudicamente fingi não ouvir... E começou novo género de tortura... éramos todos sacudidos, remexido s, como grãos de trigo na peneira. A cada cova da estrada – e só Deus sabe quantas havia! – bumba! Novas car oladas no tecto, novos gri tos, novas bojardas ditas sem querer, novos socos no chapelame das cómicas [...] A todo este suplício, j untava -se ainda a poeira, que a carripana da frente levantava e nós comíamos e respirávamos! Eram rolos, nuvens, núcleos de poeira esbranquiçada que nos sufocavam, que nos cegavam! [...] As moscas, aos milhares, passeavam -nos pela testa, ent ravam -nos pelo nari z, pela boca... Os tavões pi cavam -nos... (..) Dur ou este suplício algumas horas, sem que al minha benfazej a o pudesse dulcificar. Mas quando à noite, deslumbrámos o público de Setúbal , com os requintes da nossa arte, mal sabia ele que, debaix o dos nossos vestidos, havia cada nódoa negra que nem manchas de tinta em caderno de colegial... (Abranches 1947: 86 -88). Duravam as temporadas teatrais cerca de nove meses, e sem subsídios de férias, de Natal, ou de desemprego, forçoso se tornava constituir elencos, que garantissem a sobrevivência dos teatros durante o verão, ou, em alternativa, organizar companhias itinerantes, fosse sob a direcção de um empresário, fosse enquanto sociedades artísticas, as tournées societárias [39]. Os periódicos davam à estampa basta Co nd e s, o nd e se r ep re se nt ara m v ári a s re v is ta s d e re no me , co mo a Câ ma ra Óp ti ca d e So u sa B as to s , e m 1 8 8 2 ( R E B E L L O 1 9 8 4 : 2 3 3 ). 39 An tó nio P i n he iro atr ib ui j o co sa me n te o ep í tet o d e “co mp a n hia i n g le s a” a es ta s to u rn ée s so c ie tár ia s. T anto e m Os so s d o Ofí cio (1 9 1 2 ), co mo e m Co n t o s La rg o s (1 9 2 3 : 2 1 -2 2 ), e xp lic a q u e se tr ata d e u m j arg ão tea tra l, d es i g n and o “p o r an ti no mi a, o sí mb o lo d a p o b reza ”, q u e t eri a o ri ge m n o a cto r Al fred o d e C ar val ho . T rata -s e, p o r cer to , d e u ma gra ça p r i vad a , s e m r e fer ê n ci a, e nq u a nto g íri a, e m rela to s co nt e mp o râ n eo s d e o utro s a cto r es , o u e m So u sa B a sto s , q ue , cert a me n te não d ei x ari a p a s sar e s sa en trad a no se u d ic io nár io . 26 informação sobre elencos, reportórios e percursos, como nos elucida o artigo “Tournées artísticas”, do Archivo T heatral [40]: T R O U P E J O A Q U I M P R A T A – Sob a direcção do a ctor Joaquim Prata anda uma troupe de actores percorrendo o norte das nossas províncias em tournée artística. Esta troupe compõe -se das actrizes Alber tina d’Oliveira, Alina Benavente e os actores Joaquim Prata , Carlos Moutinho, Manuel Ar aúj o , Alfredo Santos e Lui z Soares , sendo o seu reportório o seguinte: Tio Torquato, Lucrécia Borgia , Infanticida, Quem morre...morre , Criançolas , Amor por Anexins , Major, Assassino de Macário e uma vari ada colecção de cançonetas, monólogos, duetos, tercetos, árias, canções, etc. Têm j á percorrido: Vila da Feira , Oliveira de Azeméis, Lamego, Moimenta da Beira , Castro Daire e Penafiel, contando percorrer Aveiro , Ílhavo , Anadia, Figueira da Foz, Buarcos, Caldas da Rainha , Al cobaça, Leiria, Marinha Grande , Ovar, Espinho, Póvoa do Varzi m, etc. T R O U P E C A R LO S D ’O L I V E I R A – Partiu no di a 6 para Faro uma troupe de artistas do teatro D. Amélia , a fi m de em tournée percorr er o Al gar ve, Alentej o, seguindo até ao norte. Est a troupe é composta pelos seguintes artistas: Carlos d’ Oliveira (director), Henrique Alves , Alexandre de Azevedo , António Sar mento , Rafael Marques , Manuel Pina, Luz Veloso, Maria da Luz, Emília Sar mento , El vira Costa e António Malheiro (ponto) [ 41], levando o seguinte reportório: Sacrificada, Abade Constantino , Nelly-Rosier, Mão esquerda , e a revista num ac to Salão do Tesouro Velho . A troupe Carlos d’Oli veira deve ter -se estreado a 6 em Faro com a Sacrificada. De Faro seguirá para Olhão, Tavira, Lagos , seguindo depois pelas praias até ao Norte. T R O U P E A U G U S TO C O R D E I R O – No mesmo dia e no mesm o vapor partiu também para Évora com destino ao Évor a Terrasse , um grupo de actores dos teatros de D. Maria , D. Amélia e Príncipe Real , de que fazem parte Augusto Cordeiro (director), Augusto de Melo (ensaiador), Lucinda Cordeiro , Her mínia Adelaide , Laura Santos , Geor gina Costa , Li ma Teixeira , António Avelar , Américo Gomes e Jaime Zenóglio . A actriz Cecília Neves e o actor Inácio Peixoto tomarão também part e em al guns e spectáculos. O reportório é o seguinte: Mantilha de Renda , Divorciemo- nos, Nono não desej arás , Mentira, Assassino de Macário , Condessa Heloísa, Casar para não morrer, Bebé e totó , Ovelhas de Panúrgi o [42], Watoa , Lucréci a Bórgia, Mártir, João Darlot , Inferno por Meio Tostão , Moços e Velhos, Os Filhos de Adão , Ouros, paus, copas e espadas , Casa de Orates, Está cá o Augusto e Duas Gatas . Tencionava esta troupe f azer R.P ., “T o ur né e s Ar tí s ti cas ”, A rch ivo Th ea t ra l, 1 0 .1 0 .1 9 0 9 : 5 . Antó n io P i nto Ma l hei ro , d e s e u no me co mp l eto , s ub st it u i u, à ú lt i ma ho r a, ne sta d ig re ss ão Câ nd id o G ua ld i no , p o n to no tea tro D. Amé l ia , q ue ha v ia r egr e ss ad o b as ta nt e d o e n te d a d i gre s são à s il ha s e c uj o méd i co a s si s te n te l h e p ro ib i u au se n tar - se d e Li sb o a. 42 De p arcer ia co m Lud o v ic Hel é v y (1 8 3 4 -1 9 0 8 ). 40 41 27 a sua estreia naquela casa de espectáculos, no dia 7 com o Assassino de Macário e Está cá o Augusto . Também no período de inverno se divulgavam partidas e chegadas de outros tantos grupos. A companhia do ac tor Gil Ferreira , organizada por Carlos d’Oliveira , partiu para a “província, começando por Alcobaça”, a 9 de Dezembro de 1917 [43], e por lá continuava ainda em Fevereiro do ano seguinte, dando “espectáculos com agrado” em Vila Nova de Famalicão e na Figueira da Foz , segundo noticiava o Jornal dos Teatros [44]. De norte a sul do país, estas tournées societárias calcorreavam o litoral, faziam incursões pelo interior, inauguravam teatros [45], e representavam consagrados êxitos de bilheteira para um público difícil, conforme caracterizava o sentido c rítico de António Pinheiro (1923: 191-2): Tive sempre na or ganização dos meus grupos dramáticos para a província o extremo escrúpulo de arregi mentar artistas que tivessem um comportamento pessoal, de molde a não produzirem escândalos, coisa que muito prej udica a vida das companhias nas terras da província. A chegada de uma companhia a qualquer terra vai sempre despertar uma vi va curiosidade nos seus habitantes. Compreende -se. A vida das cidades e das vilas é sempre a mesma; monótona, sem variantes, nem deri vativas. [...] é a eterna sensaboria, o et erno basbaquismo, a eterna maledicência. De modo que a chegada de uma companhia dramática, onde vêm cinco ou seis cómicos, como eles nos chamam, e três ou qu atro cómicas, quando não lhes dão outro nome, pelo hábito de qualif icarem o que lá têm pela terra, gente nova de quem não conhecem a vida, é um aconteci mento que vem dar uma nota de novidade e de pasto à curiosidade indí gena. O movimento teatral alarga -se a círculos mais amplos, às Ilhas, dotadas de teatros semelhantes aos do continente, às Colónias e ao “Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 2 .1 2 .1 9 1 7 : 2 . “Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 0 .0 2 .1 9 1 8 : 6 . 45 O T eatro S e ne n se, d e Sei a, fo i i na u g ur ad o e m 3 d e Fe ver eiro d e 1 9 1 8 , “d ep o i s d e i mp o r ta n te s o b ra s d ev id o ao c he fe d o tel é gra fo -p o s ta l Sr. Fra nc i s co C ab ra l, p o r u ma co mp a n hia ” it i nera n te. ( “Ac to s d a Vid a”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 1 0 .0 2 .1 9 1 8 : 6 ). 43 44 28 Brasil. Depois do grito do Ipiranga foi, porventura, o retorno a um novo achamento de mais riqueza: as companhias, que por lá andav am vários meses, regressavam de cofres cheios. Depois do quinto dos infernos, a galinha dos ovos de ouro, que a esperteza acabou por matar. Quais Mofinas Mendes, as companhias portuguesas, não se apercebendo da evolução teatral brasileira segundo padrões próprios, criando a sua consciência artística, não se contentando com reportórios desactualizados e mal ensaiados, regressaram de cofres vazios. Na falta de eldorados, repetiu -se o mesmo mal em terras lusas por muitos anos que se seguiram. Com o tempo, e o aumento do custo das deslocações, o interior do continente foi deixando de receber a visita das companhias lisboetas, mas não chegou a estar votado aos ostracismo cultural, como se possa pensar. Existiam as companhias que se dedicavam exclusivamente à itinerância pelos teatros regionais, exibindo o seu reportório de êxitos oriundos de Lisboa e Porto. As companhias de p rovíncia foram solução para os problemas de sobreviv ência, segundo revela o actor Pinheiro : Diziam-me que em Portugal haviam [sic] algumas companhias de província, tais como a do Soares , a dos Silvas e outras, e o meu f ito, visto que em Lisboa não me davam trabalho, era or gani zar uma outra companhia do género que emparceirasse com aquelas, e cami nhar avante: uma companhi a de província . (Pinheiro 1923: 173) Em 1902, o articulista Puck, em A Gambiarra , discorria sobre os prejuízos que acarretavam as digressões dos elencos oriundos da capital para as companhias de província. Se m se contentarem com a estadia no Porto, visitavam “com largas demoras” as cidades de menor dimensão populacional. O resultado traduzia -se numa concorrência desleal, em que David dificilmente venceria Golias, uma vez que a capacidade financeira das companhias definia a qualidade dos seus espectáculos, determinando o apelo do público. “Mil vantagens pecuniárias” para as empresas de Lisboa “e como consequência, 29 desvantagens e falta de público aos espectácu los” para as companhias de província, que, embora modestas, possuíam alguns valores artísticos, “mais de intuição que de estudo”. Mas que hão de eles fazer pobres salti mbancos, como os colegas das capitais os conhecem, se a cada cidade a que chegam ouvem com antecipação citar o mérito, o valor, os rasgos de génio, os fatos, os cenários, enfi m, tudo quanto a companhia deste ou daquele teatro lá exibiu há um ano e volta em breve, quatro ou cinco meses, depois a patear -lhes como supr ema arte de representar e fazer teatro! Anunciam-se estes, os tais, os salti mbancos, não somos nós que como tais os consider amos, e os teatros ilumi nam -se e voltam ao fim duma récita à escuridão donde nunca deviam ter saído, depois de uma noite de farsa, opereta, comédia, drama ou tragédia dada para uma dúzia de espectadores, tantos quantos pela arte procuram fora de suas casas, distraírem-se. Mas anunciam-se os outros mais completos, sem dúvida, considerados como artistas de nome e reputação feita e lá vai todo o público da cidade, vilas e aldeias li mítrofes, o teatro enche -se literalmente e o empresário que, com i ntuitos apenas mercantis, abandonou o seu teatro em plena época invernosa, sacrificou os artistas e a arte, ganha numa só noite o que num mês não fi zeram na totalidade das suas récitas os pequenos, os modestos, postos fora de sua casa, escorraçados do seu meio, morrendo de fome quase! [...] Deixem vi ver os que se restringem ao seu meio, com menor arte decerto, mas com mai s consciência, pois só procuram o sustento dia a dia como histriões e nunca atravessaram épocas como as últimas em que, de três companhi as sustentadas pela pr ovíncias, uma apenas este ano por lá andou, Deus sabe como! Triste mas verdadeiro dilema do tira-te que eu me coloque ou morre para que eu enriqueça. [46] À semelhança dos jograis, seus antepassados artísticos medievais, aos actores itinerantes coube uma responsabilidade na divulgação da arte teatral em comunidades distantes dos centros culturais dominantes e, ao mesmo tempo, na manutenção de públicos e de agremiações teatrais amadoras. Garrett refere na Memória ao Conservatório o caso de uma companhia de la leg oa como primeiro motivo inspirador do Frei Luís de Sousa, e talvez tivesse ficado aureolada com os louros míticos, se P uc k, “Co mp a n h ia s d e P ro ví nc ia ” , A Ga mb ia r ra , s ema n á rio d e c r ít ic a tea t ra l , 2 5 .0 1 .1 9 0 2 . 46 30 a memória dos factos não tivesse sido relegada para planos fundeiros da história teatral : Há muitos anos, discorrendo um Verão pela deliciosa beira -mar da província do Minho , fui dar com um teat ro ambulante de act ores castelhanos f azendo suas récitas numa tenda de lona no areal da Póvoa de Varzim , além de Vila do Conde . Era tempo de banhos, havia f eira e concorrência grande ; fomos à noite ao teatro: davam a Comédia Famosa não sei de quem, mas o assunto era este mesmo de Frei Luís de Sousa . Lembra -me que ri muito de um homem que nadava em certas ondas de papelão, enquanto num altinho, mais baixo que o cotovelo dos actores, ardia um palaciozi nho também de papelão... era o de Manuel de Sousa Coutinho em Al mada ! (G A R R E T T 1984: 15) (47) A situação ocorrida por volta de 1818 testemunha a existência de um mercado de espectáculos populares, que aparentemente tem passado desapercebido. As feiras são indiscutivelmente locais de congregação de um público numeroso e heterogéneo, o espaço ideal para a realização de artes performativas ( 48). Coabitando com as barracas de pasto, de venda de produtos alimentares, ou de quinquilharias, eram frequentes as barracas dos arlequins, das f iguras de cera, das excentricidades, da música e dos teatros -barraca. Segundo Matos Sequeira, destes teatros de feira, o mais notável era o dos irmãos Dallot . Filhos de funâmbulos, Carlos Dallot , seu irmão José e a irmã Júlia, terão nascido em Versalhes e vindo parar a Portugal, em meados do século XIX , tendo começado por trabalhar na praça do Salitre, em seguida, na velha praça do Campo de Santana e, posteriormente, no Circo Pric e. Escriturados 47 no Circo Madrid , De st acad o no s so . C f. P ie rre Lo u is D uc ha rtre, Th e Ita lia n Co med y , cap ít ulo I X, “T he T h eatr es at th e Fair s ”, p p . 1 0 9 -1 3 . Faz - s e a d e scr iç ão d a F eira d e S ai n t G er ma i n e m P ari s, o nd e o s acto re s d a co m med ia d e ll’a r te en co ntr ara m re fú gio à p er s e g ui ção mo v id a p o r Mad a me d e M ai n te n o n e ao fec ho d o s s e us t eatro s. E a i nd a d as q uer ela s e ntre acto r es p o p ul are s e e r u d ito s, e d e co mo , a p ar t ir d e s se co n fro n to , se d ese n vo l ve u a Op é ra - Co miq u e . 48 31 partiram em tournée por Espanha e Inglaterra, depressa conquistando nomeada como clowns, ginastas e acrobatas . De regresso a Portugal , na segunda metade oitocentos, os irmãos Dallot montaram o seu próprio teatro -barraca - de arlequins, como era costume dizer -se -, representando umas “comédias ingé nuas entremeadas com as habilida des do célebre cavalo elástico [ ...] O Mosca e com as graçolas e as truanices do Joaquim Confeiteiro , que ficou célebre na personagem do Malhão , no Processo do Rasga, e que foi durante muito tempo o palhaço do Teatro Infantil das Amoreiras ” (S E Q U E IR A 1967: 251). O Almanach das gargalhadas para 1876 (Lisboa: Verol júnior, 1875: 28) dedicou-lhe um anónimo epigrama intitulado A um palhaço que fazia rir os saloios à porta de uma barraca de arlequins da feira: Pergunta Resposta Se bom palhaço é, Na classe é trigo sem joio Se todo o povo ri bem, E fino bobo cortez: Não me dirás tu porque Vê se te fazes saloio, Eu não posso rir também? E rirás como os que vês. Na feira das Amoreiras , entre outros números de sensação, segundo relata Edua rdo de Noronha , Carlos Dallot praticava hipnotismo, adormecendo “um rapaz, agarrado a uma vara [ ...] elevava-o até formar com a vara um ângulo recto”, em cuja posição se matinha “até que acordavam o rapaz” ( 49). Percorrendo o país de norte a sul, e até à Madeira e os Açores (ca. 1874) (50), os Dallot , “de boa apresentação, cha péu de coco e Ed u ard o d e No ro n ha , “ Fo l h eti m: T ea tro : B a rra cas d e Feir a”, Diá r io d e No t íc ia s , 2 1 .1 0 .1 9 1 9 : 1 . 50 Ib id e m. 49 32 sotaque francês” ( 51), eram a grande atracção de qualquer feira, fosse na de S. Miguel, no Porto, na romaria de Matosinhos, na Feira de Março, na de Setúbal ou na de Santarém, onde José Dallot veio a falecer, em 12 de Setembro de 1904, deixando uma filha, Estrela Dallot, também actriz, que foi casada com o actor Roberto de Oliveira da Companhia Rentini , trabalhou na companhia ambulante do actor Oliveira Taínha, e na Companhia Dramática Aliança , que, em Novembro de 1915, o periódico Benaventense menciona se encontrar actuando no Teatro do Clube . Júlia Dallot casou com um português. Quando faleceu em Pedrouços, por volta de 1908, a sua descendência continuou sendo dona de barracas que se ar mavam segundo o itinerário das feiras. Carlos Dallot parece ter sido empresário do teatro das Carmelitas , do Porto, onde montou a mágica O Ramo de Ouro, com que ganhou bastante dinheiro, até ao dia em que se apaixonou pela mulher de um sapateiro e decidiu fugir com ela. A descrição é digna de um canovaccio! “Para se precaver contra as exigências dos cre dores antigos, deposita em nome da transitória amante dez contos, que forrara. A divindade morre. O marido vinga -se ao abrigo da lei. Saboreia o lucrativo castigo da traição da cara -metade e do sedutor, recebendo, como legítimo herdeiro, os dez contos de D allot” (52). Em 1909, encontrava -se no Dafundo, onde armara o seu teatro -barraca, feito de madeira e lona, a que pusera o título de Teatro Chalet Recreio Glória. Viria a falecer a 6 de Dezembro de 1916. A Companhia de Carlos Dallot será recordada por muitos anos, servindo de comparação com outras congéneres. Diferentes periódicos regionais reportam o vasto reportório exibido em espectáculos Man u el E n v ia , c itad o p o r Car la O li ve ira E st e ve s , “E sp eci al Feir a d e Sa nt ia go arra nca a ma n hã e fa z 4 2 0 ano s ”, S etú b a l n a Red e : O Po r ta l d o Dis t ri to , 2 3 .0 7 .2 0 0 4 . 52 Ed u ard o d e No ro n ha , o p . ci t., Diá rio d e No t íc i a s , 2 1 .1 0 .1 9 1 9 : 1 . 51 2 variados por altura da feira de Março (53). A tradição francesa dos teatros-barraca das Feiras de Saint Germain e de Saint Laurent dos séculos XVII-XVIII, que deu origem ao vaudeville, à opéra-comique e, posteriormente, ao teatro de “boulevard”, do famoso Boulevard du Temple, em Paris, chegou a Portugal pela mão dos Dallot , que criaram uma escola de artes do espectáculo para muitos actores populares. Será o caso do actor espanhol Jaime Venâncio (54), autor de uma famosa opereta O Processo do Rasga , e de sua mulher, a actriz Eliza Aragonez, que fez sucesso no teatro do Rato e no segundo Teatro da Alegria (55), onde representou Torpeza (56), e, posteriormente, no Teatro da rua dos Condes e no do Príncipe Real (1897), na paródia José João (B A S TO S 1898: 630) (57). E será o caso do actor Henrique de Oliveira , natural de Lisboa (58), “filho do célebre e [...] tão falado Joaquim José d’Oliveira que organizou a conhecida companhia de Oliveira Taínha , que foi um clown e um disciplinado director de companhias de circo e dramáticas” (59). Segundo Carlos Dubini (60), Henrique de Oliveira começou “a esmiuçar os segredos da p ista e do palco” assim que as suas pernas “começaram a sentir a acção dos nervos”. Para isso contribuiu a “S ta d iu m d e S . Do m in g o s ”, De mo c ra ta , Ave iro , 0 1 .0 7 .1 9 3 3 : 2 . O arti go rele mb r a o s D al lo t a p ro p ó si to d a co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra. 54 Fil ho d e u m Ar ma nd o Ve nâ nc io , ac to r d e o ri g e m ita li a na re fu g iad o e m E sp a n ha p o r mo ti vo s p o l ít ico s ( s eg u n d o te st e mu n h o d e s eu n eto Ar ma nd o V e nâ n cio , Ca sa d o Arti s ta), J a i me Ve nâ nc io e E liz a Ar a go nez refu g iar a m- s e e m P o r t u ga l, p e lo s me s mo s mo t i vo s , i n te gr and o co mp a n hia s p o p u l are s, e n tre a s q ua i s a c o mp a n h ia d o s D al lo t . 55 Co ns tr uç ão e m mad eir a e fer ro , n a R ua No v a d a Ale g ria , no lo ca l o nd e ex is tir a o d e Fra nc is c o J aco b e tt y . E st e tea tro t e ve e str e ia a 1 1 d e J an eiro d e 1 8 9 0 , co m a rev i sta FF e RR , o ri g i na l d e B ap ti s ta Mac h ad o ( B A S T O S 1 8 9 8 : 3 1 ). 56 Ori g i na l d e An tó n io C a mp o s J ú n io r , te ve e str eia a 6 d e Mar ço d e 1 8 9 0 , co mo resp o st a ao Ul ti ma tu m i n gl ê s, so frid o me se s a n t es. 57 A d e s ce nd ê n cia d e s ta c asa l fi co u li g ad a à s co m p an h ia s d e p ro ví n ci a: C o mp a n h ia Lis b o ne n se Ve na n cio ( a no s 2 0 ), Co mp a n hi a Li s b o ne n se Ve n â nc io «O s Mo d e sto s » (1 9 4 3 ) e Gr up o d e T ea tr o «O s Ve n â nc io s » . 58 Na sc id o e m 3 0 d e Maio d e 1 8 6 5 . 59 Ca rlo s D ub i ni , “ Ge nt e d e T eatro ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 6 .0 9 .1 9 2 5 : 1 e 2 . 60 Ac to r e co lab o r ad o r d o Jo rn a l d o s T ea t ro s . 53 3 companhia infantil que os Dallot haviam organizado, onde ele “debutou e onde, por v ontade do pai, alternava o trabalho, exibindo -se como acrobata e como artista dramático na mesma noite” ( 61). Com um profundo gosto, aprendeu música, como era uso nos artistas de então, tornando-se num actor de recursos, num “elemento de grande valor em qualquer companhia”. Henrique de Oliveira pertencia a uma numerosa família de actores: seus irmãos José , Victor e Joaquim e seus filhos Auzenda, Egídia, Carmen e Luís. E será também o caso de Constantino de Matos , que entrou, como amador, na companhia de José Dallot , onde se estreou, na feira do Campo Grande, no Processo do Rasga (62). Depois de ter percorrido quase todo o país, representando todas as peças do reportório de José Dallot, com quem desenvolveu as suas qualidades artísticas e se fez actor, decidiu formar a sua p rópria companhia, preferindo a vida de «judeu errante » a um bom lugar num teatro da cidade. A Companhia Dramática Societária Estremoz , de Constantino de Matos, foi considerada como o agrupamento mais bem organizado do seu tempo (63). Possuiu, também, o seu Teatro -Chalet, um teatro barraca onde Ângela Pinto chegou a representar ( 64), como relembra o anónimo articulista do periódico Brados do Alentejo, de Estremoz, muitos anos depois: Todo o público de Estremoz ainda evoca com saudade as noites de inolvidáveis espectáculos com que Constant ino de Matos , no “Teatro 61 Ca rlo s D ub i ni , o p . c it . Es ta o p ere ta “có mi ca e b url e sca ” p er te nc e u ao rep o r tó rio d e co mp a n h ia s iti n era n te s e d e gr up o s d e a mad o r es d e p ro v í nc ia. E x i ste u m ca rta z q u e a re fere co mo se g u nd a p ar te d e u ma “r éci ta d e g ala , d e d icad a à s g e nt il ís s i ma s d a ma s d e Av eiro , p ro mo v id a p el o 7 º ano d o Lic e u Ce n tra l d e V as co d a Ga ma ”, a 2 3 .0 4 .1 9 2 7 , no T eatro Ave ire n se ( Ac er vo d e s te t eatro ). 63 Ina u g u ro u o T eatro C h ale t Recr eat i vo , no Lu s o , co m o d ra ma O S a lt i mb a n co , e m 2 2 .0 7 .1 9 0 6 (B as to s 1 9 0 8 : 3 2 5 ). 64 D. J o ão d a Câ ma ra r e fe rirá q u e “a s ua e str ei a n in g u é m o sab e ao cer to , n e m el a tal v ez. Fa la - se va ga me nt e d e u m t ea tro -b arr a ca, e m S et úb al ” ( Ân g e la Pin to : Esb o ço s, h o men a g en s e a p rec ia çõ es c rí tica s , 1 9 0 6 : 8 1 ). 62 4 Chalet” – assi m denominado pomposamente – e a sua companhia, quase toda a sua família de artista s, deliciou, durante meses, os estremocenses. De t udo lançava mão a aplaudida companhi a da direcção de Constantino de Matos : drama, alta comédia, comédia ligeira, variedades, revista e uns “nacos” de ópera, e em tudo o seu pessoal artístico brilhava sempre com esplêndido êxito artístico. [...] Em 1913 ardeu o Chalet, desaparecendo esse recinto de espectáculos, que a todos consternou, tanto mais que em Estremoz nenhuma outra casa de espectáculos havia. (65) Apesar da calamidade, Constantino de Matos não se deixou abater. O temperamento de lutador e as excelentes qualidades de trabalho valeram-lhe o auxílio de amigos, que o ajudaram a voltar a percorrer o País, dando a conhecer os sucessos teatrais da capital. Em 1917, quando se encontrava actuando na Nazaré , a sua companhia compunha-se de 14 figuras, entre as quais, segundo relata Paulo Zitte (pseudónimo de Alberto Caleia) ( 66), se destacavam os filhos Eduardo e Afonso de Matos, cujas carreiras passarão pelos principais teatros da capital, para regressarem à itinerância, integrados na c ompanhia de Rafael de Oliveira, as filhas Leontina e Adelina de Matos . Do elenco fazia também parte o actor cómico Domingos , outro herdeiro da tradição dos Dallot , que viria a falecer no ano seguinte e de quem o Jornal dos Teatros fez um elogio póstumo pela pena de E. M.: Já com 64 anos de idade, vê -lo no palco par ecia ter 20!... A moci dade nele era perpétua. O melhor de todos os escudeiros das “mágicas”; o imortal “Mirundela ” do Processo do Rasga ; o cómico apreciado em toda a província onde em cada conhecido t inha um ami go... foi tomar o seu lugar na galeria dos “bons que desaparecem”... Os seus 40 anos de teatro cheios de glórias e contrariedades, de dias felizes e outros de desâni mo numa vida ambulante que cansa e destrói, deixam na memória de quantos o viram , bem vinculada, a recordação da sua graça natural e cheia de ori ginalidade. (67) 65 Bra d o s d o Alen te jo , E st re mo z, 0 3 .1 0 .1 9 4 3 : 2 . Secre tár io d o Jo rn a l d o s Tea t ro s . E s ta e ntr e vi st a, real izad a n a Naz aré , s ur ge no d ito j o r na l so b fo r ma d e b io gr a fia , na hab i t ua l co l u na “Ge n te d e T eatr o ” ( Jo rn a l d o s Tea t ro s, 1 6 .0 9 .1 9 1 7 : 5 ). 67 Jo rn a l d o s Tea t ro s , 3 1 . 0 3 .1 9 1 8 : 5 . 66 5 Domingos Cândido da Silva , de seu nome completo, formou, de sociedade com o actor Santos Carvalho , a Companhia de Teatro Lisbonense, que durante 12 anos percorreu o país, representando nos teatros da província, e teve a particularidade de fundar um jornal de teatro, O Actor Errante , com tiragem quinzenal, a quatro páginas, em que se abordavam assuntos diversos, para além de teatro. Na sua edição de Guimarães , o editorial apresenta o “pequeno e modesto quinzenário” a quem se tributa toda a afeição, porque ele partilha da sorte dos que o fazem, “daqueles que se arrastam de cidade em cidade, trabalhando sempre para poderem viver mod estamente e com honra! É nele que nós distraímos o nosso espírito, é nele que publicamos as nossas impressões e que descrevemos a nossa vida de teatro”. [68] Teve oportunidade de ser escriturado em teatros lisboetas, quando a Companhia de Teatro Lisbonense se dissolveu. O empresário Afonso Taveira propôs-lhe trabalhar no seu teatro, mas a sua adoração que sentia pela vida de província fê -lo preferir o lugar que Constantino de Matos lhe ofereceu na sua companhia, onde trabalhou pela derradeira vez. Muitas outras companhias, herdeiras da tradição itinerante, aparecem referenciadas no panorama teatral português dos finais de oitocentos e início de novecentos, variando em número de componentes e em estilo de reportório. Quer se dediquem ao teatro declamado, drama ou comédia, à opereta ou às variedades, o seu reportório reflecte a dimensão do elenco e as possibilidades interpretativas do mesmo. Os espectáculos pretendem -se variados, por forma a proporcionarem serões artísticos, em que a Arte de Talma se entremeia com a música de pequenas orquestras de amadores locais, cuja função se resumia não só a entreter os espectadores durante os 68 O Ac to r E r ra n te , Ano 3 º , nº 5 6 , Ed iç ão d e G ui m arã e s, 0 8 .1 1 .1 9 0 8 : 1 . 6 intervalos, como a acompanhar os artistas durante as variedades, que rematavam o serão. Neste universo dramático provinciano destacamos algumas das companhias que ganharam maior prestígio. Francisco do Carmo , “um fervoroso amador teatral e exaltado republicano” [69], conheceu, numa sociedade recreativa de Lisboa , a Augusta de Campos, “talento de excepção para o palco, [que passava] com facilidade da farsa ao drama” [70]. Deste casamento nasceram quatro filhas, um filho, e a Troupe Carmo, que percorreu o Alentejo e o Ribatejo, ganhando fama e prestígio de probidade artística e humana, que a colocavam acima de outros cómicos ambulantes. Invariavel mente, a abrir o espectáculo, representava -se um drama de altos choros, que podia ser O Veterano da Liberdad e, muito do agrado de Francisco do Car mo , ou peças mais recentes, como a M ater Dolorosa, de Júlio Dantas , a que se seguia uma comédia ou farsa para rir até mais não poder , tudo ter minando num alegre acto de variedades, em que cada vez mai s brilhavam as três meninas da companhia, que iam desabrochando em graça e garridice. Encontrando, um dia, uma casa na Amarelej a, decidiu Francisco do Car mo estabelecer aí o seu quartel -general, de lá partindo para as deslocações às terras vizinhas, onde a Troupe nunca se demorava menos de um mês. (71) Numa dessas digressões cruzou -se, em Alter do Chão , com o Circo Muñoz. Hernâni Muñoz , filho dos proprietários circe nses, executava com sua irmã Alzira números de danças de salão, em especial o tango, essa importação argentina que provocara um “frisson” social entre os europeus, pela sensualidade que os corpos dos dançarinos, entrelaçando -se em atitudes de “bas -fond”, induziam no espírito do observador. Efeito da dança ou do dançarino, o facto é que uma das meninas Carmo, a jovem Júlia , petit nom Mimi, se apaixonou e com ele veio a casar em 1927. Hernani trocou o circo 69 Víto r P a vão d o s S a n to s , Eu n ice Mu ñ o z , 5 0 a n o s d a vid a d e u ma a ctr iz , p ro gr a ma d a e xp o s ição o rga n izad a e m s ua ho me n a ge m no M us e u Na cio na l d e T eatro , e m 1 9 9 1 . 70 Ib id e m. 71 Ib id e m. 7 paterno pela companhia dramática dos sogros, mas as desavenças frequentes com Augusta do Carmo levaram-no a pedir dinheiro emprestado para fundar a sua própria companhia, a Trupe Mimi Muñoz. O sucessivo casamento dos restantes irmãos Mimi acabou por fazer desaparecer a Troupe Carmo. A Trupe Mimi Muñoz continuou itinerante, ocupando -se das variedades em alguns cinemas, para as quais contratavam artistas cuja carreira conhecera já o declínio nos grandes palcos: a actriz de revista Dora Vieira, Rayra de Sousa , os Guimarães Brazão , velho casal de actores do Nacional, e o pianista Freitas , visto que a trupe poss uía o seu piano. Quando a legislação proibiu as variedades nos cinemas, a Trupe Mimi Muñoz decidiu adquirir um teatro -barraca para poder continuar a percorrer o país, mas na realidade, passado algum tempo, o casal Muñoz preferiu terminar com esse teatro desmontável, dedicando-se a organizar pequenos conjuntos de variedades, actividade essa que manteriam durante vários anos [72], “vivendo Hernâni Muñoz sobretudo da sua profissão de afi nador de pianos” [73]. Foi neste pequeno grupo familiar que debutou para o mundo do espectáculo a Primeira Dama da cena portuguesa contemporânea, a actriz Eunice Muñoz, uma das herdeiras dos “cómicos” itinerantes. Pela imprensa regional, espaço de copiosa informação importante para a história do espectáculo, se traçam as rotas dos percursos deambulatórios dessas companhia itinerantes. Por essa imprensa, circula a existência de uma Companhia Rentini , sob a direcção de Julieta Rentini, que, em 1938, deambulava por Aveiro e Coimbra, com o seu “salão metálico móvel, confortável”, onde um elenco de “20 artistas de ambos os sexos [representava] um reportório muito 72 U m ca rta z e x is te n te no acer vo d e U li s se s Ferr eira , a nt i go e mp r e sário d o Ci n e T eatro d e Al me ir i m , me nc io na -o s a ct u a nd o ne st a s ala d e e sp e ct ác ulo s e m 1 9 5 1 . 73 Ví to r P a vão d o s Sa n to s , o p . ci t.. 8 variado” [74]. Em 1939, o Política Nova, “órgão da União Nacional do Distrito de Viseu”, anunciava a sua instalação no recinto da Feira de S. Mateus, no Campo de Viriato . Uma das grandes companhias familiares ambulantes, Julieta Ren tini, de seu nome verdadeiro Júlia Arjona, e seu irmão Artur , descendiam de artistas espanhois. O seu nome artístico provinha do facto de ser afilhada da actriz Dolores Rentini. Verdadeira matriarca do clã Rentini [75], Julieta dirigiu a pulso uma companhia composta por Camilo e Roberto de Oliveira , filhos de um primeiro casamento, Olinda e Salúquia, filhas de uma segunda união, e de seus netos, Camilo de Oliveira , Helder de Oliveira e Zurita de Oliveira, pelas sobrinhas Esmeralda , Ilda e Leónia Mendes, filhas de seu irmão Artur , e pela sua nora Estrela Dallot . Não obstante a sua determinação, a companhia desmembrou -se (76), em 1946, e os actores seguiram rumos distintos. O Setubalense fez eco do caso de Leónia Mendes , uma “modesta e insinuante artista que, durante alguns meses, [conquistara] a simpatia dum público assíduo” do Teatro Metálico Rentini , e cuja despedida “teve foros de acontecimento, onde as flores e as lembranças fizeram saltar muita lágrima” [77]. 74 O Po vo d e A vei ro , 1 8 .1 2 .1 9 3 8 : 2 . E u nic e M u ño z r eco rd a , p o r vo l ta d e 1 9 3 9 , a i ma g e m d e J ul ie ta R e nt i ni ve st id a d e I nê s d e C as tro , co m lo n g a s tr a nça s lo ura s, ta mb o r a t ira co lo , so b r e o p ala nq u e à en trad a d o se u sa lão me tá li co , j u n ta me n te co m a r es ta n te co mp a n hia , fa ze nd o ru fo s q ue at raí a m o p úb l ico à fu n ção . 76 Se g u nd o te s te mu n h o d e Zuri ta d e O li v eir a , “o s alão d e s mo ntá v el ac ab o u p o r s er ve nd id o p ar a u ma fáb ric a d e s ab ão e o s c e nár io s e f i g uri no s a p e so d e p ap el” . E m 1 9 4 8 , J u lie ta R e nt i ni r e tiro u - se p ara o B ra si l c o m as fi l ha s ma i s no va s , Ol i nd a e Sal ú q uia . E st a e nc e no u a p eça Al to lá co mo o c h a ru to p ara a Co mp a n h i a d e P i ero B ern ard o n, d e Li sb o a, rep re se n tad a e m d i v er so s t ea tro s d o B r as il . E m 1 9 4 9 , trab a l ho u co m S il v i n ho Ne t o e m d i ver s as p eç as no T eatro C arlo s G o me s . E m 1 9 5 4 , trab al ho u co mo c o med ia n te n a T V T up i, e m 1 9 7 5 , n a T V E xc el s io n , e e m 1 9 7 8 , na T V Glo b o . E m 1 9 8 0 , fe z u ma d i gre s sã o p elo B ra si l co m a co méd ia Po r fa lta d e ro u p a n o va , p a s sei o fe r ro n a velh a . Enco n tra - se re fo r mad a , v iv e nd o no Re tiro d o s Ar ti s ta s, no Rio d e J a nei ro , d e sd e 2 0 0 4 ( www. ca sad o s art is t as.o r g .b r ; 2 0 0 7 .0 7 .1 8 ). Ca mi lo R en ti n i fo r mo u p o ste rio r me n te o Gr up o Art ís ti c o R e nt i ni , cuj o e le nco e ra co mp o s t o p o r Mari a Ro s a d e O li ve ira , He ld er d e Ol i ve ir a , B eat riz d e O li ve ira , O lí v ia d e O li ve ira , Zuri ta d e O li v e i ra e vár io s a ma d o re s. 77 O S e tu b a l en s e , 2 3 .0 2 .1 9 4 6 : 2 . 75 9 A companhia Rentini dissolveu -se e a si mpática artista [Leónia] viu os seus desej os coroados de êxito, ingressando na companhia do Teatro Maria Vitória , esta desconhecida, para os lisboetas, estreou -se na revista Travessa da Espera , interpretando os papéis que lhe f oram distribuídos, com tal sucesso, que toda a crítica lhe testemunhou os melhores elogios, aliás merecidos (78). Leónia Mendes trocava a modéstia de uma companhia de província pelo brilho de uma companhia citadina, em que luziam os nomes de Luísa Satanela e Teresa Gomes. Percurso idêntico seguirá seu primo Camilo de Oliveira, outro herdeiro da tradição itinerante, que fará a sua estreia numa revista realizada no Coliseu dos Recreios , de Lisboa. A mesma imprensa regional fa z eco da Companhia Dramática Lisbonense Moiron , ou simplesmente os Moirons ( 79), dirigidos por Paulo Gabriel Moiron , que, em 1944, fez temporada na vila alentejana de Fronteira, actuando no teatro que aí existia, e se deslocou, em seguida, para Sousel . A Companhia Lisbonense Moiron , que aqui se encontra há cerca de 2 meses, dando -nos uma série de espectáculos com peças de bons autores, retirou na passada 4ª -feira, para Sousel , onde deve ter feito a sua estreia na 5ª -feira seguinte. Do elenco da companhia fazem parte os artistas Paulo Gabriel Moiron , seu director, Leonel Venâncio , Ar mando Venâncio , Emílio Moiron, António Vilela , Luís Moiron, Virgílio, Susana de Lourdes , Pepito dos Pra zeres Moiron, Luís Venâncio, Schubert Gabriel , Filomeno Weber , Anita Moiron , Cremilde Moiron, Idalina de Almeida , Amélia Toscano , Etel vina Rui , Maria Venâncio e Maria do Car mo . Em Sousel , terra de boa gent e e apreciadora de bom teatro, estamos certos que a companhia agradará e conquistará ali as mesmas si mpatias que consegui u granj ear aqui. Assi m lho desej amos e bem o merece. E agora... até à próxi ma primavera. (80) 78 Ib id e m. O s Mo iro n s d es ce nd ia m d e Lo ui s Mo iro n , fo tó gra fo fra nc ês , q ue ve io p ara P o rtu g al, traz e nd o o ci ne ma a mb u la nt e. T ev e trê s fi l ho s q u e s e d ed i cara m ao tea tro e às var ied ad es : P au l Gab ri el, É mi le e A m éli e. 80 “Fro nt eir a” , B ra d o s d o Alen te jo , E str e m o z, 1 2 .1 1 .1 9 4 4 : 2 . D o s no me s co n s ta nt es d o e le n co , a lg u n s i n te grar ão p o st eri o r me nte a Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a . Id al i na d e Al me id a e An tó n io Vi lel a e nt rarão , co mo so cie tário s, e m 79 10 Em 1958, os Moirons possuíam também o seu recinto próprio (81). Sendo necessário uma licença de permanência, a Câmara Municipal de Coruche autoriza-lhe, por dois meses, a sua instalação em terreno camarário ( 82); tratava-se de “um magnífico Teatro Desmontável, com lotação para mil assistentes, engenhosamente montado em ferro”, como refere Bravo da Mata , a propósito da estadia desta Companhia em Reguengos , em 1959 (83). E, por último, a Companhia de Rafael de Oliveira, uma Sociedade Artística, “o mais bem organizado conjunto que percorre o País desde 1918” (84). Uma companhia com características semelhantes às suas congéneres, em permanente digressão, representando, como elas, algumas peças do reportório antigo, que ainda faziam o agr ado das plateias de província; uma companhia que sobreviveu aos factores que levaram à progressiva dissolução das suas congéneres, e que acabou por acolher alguns dos seus elementos; uma companhia que resistiu à Ag o s to d e 1 9 4 5 , co n fo r me co n s ta d o Li vro d e C o nt a s M 1 9 4 5 . A fa mí lia Ven â nc io en trar á e m 1 9 6 0 , ma n te n d o - se até 1 9 6 3 . 81 E m 1 9 4 6 , ap ó s a mo rte d o acto r Mário Li ma , a Co mp a n h ia D ra mát ic a Lis b o ne n se Mo iro n ad q ui ri u o t ea tro d e s mo nt á ve l, e m ma d ei ra e zi nco , d a co mp a n hi a Mar y - Q u i n a . P o ster io r me n te ma nd o u co n str u ir o utro d es mo n tá ve l, e m es tr ut ur a t ub u lar , e x ec ut ad o p ela Me ta l úr gi ca d o Car ta xo , so b ri sco d e P a u lo Gab ri el Mo iro n e Ar ma nd o Ve nâ n cio . Co m o d esap arec i me n to d a co m p an h ia, n a d écad a d e 6 0 , e st e D es mo n tá ve l a cab o u p o r ser v e nd id o a u ma so c ied ad e co n s ti t uid a p e lo s ac to re s P ed ro P i n heiro e Ar m and o Ve nâ n cio , e p e lo ind u s tri al An tó n io Ca sq ui l ho . Ap ó s 1 9 7 4 , fo i i n s tal ad o n u m ter re no d a Av e nid a d e An tó n io Au g u s to d e Ag u i ar , e m Li sb o a, a S. Seb a s tião d a P ed re ira, o nd e se s it ua act ua l me n te o Co rt e In gl ê s. O st e nto u e n tão o tít u lo d e Co mp a n h ia d e T eatro d o P o vo , e nel e s e es treo u, co mo a cto r , o ap re se n tad o r t ele v i si vo M a n ue l Luí s Go uc ha . So fre u a «e ro são » d o va nd al is mo p o p u lar, q ue l he fo i ro ub a nd o a co b ert ur a d e z i nco , a cab a nd o a e s tr ut ur a t ub u lar p o r ser v e nd id a a u ma co lec ti v id ad e d o s arr ed o re s, q ue o tr a ns f o r mo u e m p a vi l hão d esp o r ti vo . (T este mu n h o d e Ar ma nd o Ve nâ n cio , C a sa d o Art is ta). 82 “J o rn al d a P ro v í nc ia: D e Co r u c he : T eatro De s mo nt á ve l”, Jo rn a l d o Rib a t ejo , 2 5 . 0 9 .1 9 5 8 : 6 . 83 “O Ca mar i m d e P a n ta g rue l e o T eatro d a Co m p an h ia M o iro n” , De mo c ra c ia d o S u l, 2 9 .1 1 .1 9 5 9 : 4 . 84 Esta fra s e ap ar ec erá i n scr ita no s car taz es d a Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a , en tre 1 9 5 7 e 1 9 6 0 , e m lu g ar d e sta cad o , ab ai x o d o no me d a Co mp a n hi a, co mo ma rca d o s e u va lo r p ro fi s sio na l. 11 morte do seu fundador e, sobretudo, seu timo neiro, para se dissolver em 1975, e que será, porventura, no panorama teatral português, a última representante da tradição empresarial itinerante dos “cómicos da arte” descendentes da tradição italiana renascentista, em que se enxerta a tradição gálica do s teatros de feira. É condição da vida do actor errante, a determinação e a capacidade de luta, impensáveis ao comodismo hodierno. Pode ser essa a mensagem a extrair de “A Farândola” de D. João da Câmara , cuja ficção corresponde à realidade descrita pelo actor Pedro Cabral sobre a companhia do actor Soares (85), para a qual entrou em 1883, a convite de Júlio Soler, e onde se manteve durante um ano: A sua companhia for mava -se d’umas trint a figuras e acampava em qualquer terra durante três ou quatro meses, pois tinha a maior riqueza, o reportório, umas quarenta peças, desde o Santo António e Rainha Santa Isabel até à mais li geira comédia. Todos os arti stas possuíam suas camas e mobiliário, de modo que a transferência para qualquer terra era uma perfeita caravana composta de dez carros de bois ou carroças, cheias de cenário, mobiliário, etc. Ainda me lembro da viagem que fi z a cavalo, por montes e vales, desde Chaves a Bragança. Toda a companhia montada em burros e cavalos dava a impressão d’uma troupe de ci ganos . (C A B R A L 1923: 35-36) Uma visão sofrida que o testemunho de Adelina Abranches perspectiva segundo um outro sentimento, que torna estes fazedores d e sonhos capazes de superar as agruras do métier: Trabalhei em teatros incríveis, iluminados alguns a velas, outros a petróleo. Comi muita mosca e perninha de barata, em pensões mais suj as do que pocilgas... Viaj ei nas carripanas mais absurdas. Meti -me em comboios abj ectos, que me deixavam tão mascarrada como qualquer li mpa -chami nés. Conheci o prazer das grandes ovações e o 85 O acto r So are s, Ma n u e l Mari a So ar e s , mai s co n he cid o p e lo La me g aça s, e ste v e esc rit u rad o no ve l ho T eatro d a r ua d o s C o nd e s, d o q u al se d e sp ed i u e m 3 0 .0 7 .1 8 6 4 , p ara fo r ma r a s ua p ró p ria co mp a n hi a, q ue p erco rr e u a p ro v í nci a d ura n te ap ro x i mad a me n te 2 0 a no s, go za nd o d e gra nd e p re s tí g io . P ed ro C ab ra l trad uz i u e fez rep r es en tar ne sta co mp a n hia a Te re sa Ra q u in , d e Zo l a, o Divo rc ie mo - n o s d e V ic t o rie n Sard o u e o s En g e ita d o s d e A. E n e s ( Cab ral 1 9 2 3 : 3 6 ). 12 travo das pequeninas insídias. Mas deixá -lo. Di verti -me. Que de recordações trouxe dessa minha pri meira “escapada” por terras das nossas províncias! Que moti vos de beleza surpreendi em muitas voltas de estrada! Beleza, que eu estava longe de sonhar que existisse por todo esse Portugal for a! (A B R A N C H ES 1947: 84) 13 Capítulo II: As mil e uma maneiras de chegar ao te atro... Ilustração 2 – A Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados (1960): o mesmo elenco que actuou no Teatro Avenida de Lisboa (1962). Em pé (da esqª para a dª): Armando Venâncio, Fernando de Oliveira, Álvaro de Oliveira, Alberto Vilar, Luís Pinhão, Leonor Venâncio, Rafael de Oliveira, Eduardo de Matos, António Vilela, Carlos Frias e Fernando Frias. Sentadas: Gisela de Oliveira, Lizete Frias, Lucinda Trindade, Geny Frias, M aria Leonor Oliveira , Idalina de Almeida, Maria Custódia e Ema de Oliveira. [O] teatro feito para o povo e levado à sua audiência constitui um factor de importância no esclarecimento e na educação. [...] Numa primeira fase de inciação teatral, que é também uma primeira fase de iniciação da consciência social, será preferível que o povo aprenda que o teatro é uma forma elementar, mas decisiva, de desdobramento da sua consciência. Jorge de Sena, “Teatro 14Popular”, in Do Teatro em Portugal (1989: 390) 1. Em Lisboa, 1962: Comediantes que se exibem na capital de um Império de pequeninos. 14 de Fevereiro. A página de espectáculos do Diário de Notícias parece uma manta de retalhos, fe ita de quadrados publicitários monocromáticos, de tamanhos e grafismos diversos, disposta a agasalhar o desejo de quem nela procure a sugestão estética que reconforte uma alma de artista. Nesse dia longínquo, as propostas cinematográficas superavam as teat rais, mas mesmo assim, entre a variedade disponível, a Companhia do Teatro Nacional dividia o espectador entre as delícias do garrettiano Alfageme de Santarém e as últimas récitas de Palmira Bastos , em As árvores morrem de pé , enquanto fazia crescer água na boca com a antevisão da estreia próxima do Anjo Rebelde, de Carlos Selvagem , encenado por Pedro Lemos, e interpretado por nomes sonantes do seu elenco ( 86); na colina do Chiado, o Teatro da Trindade , aliciava a assistir a Augusto de Figueiredo interpretando O Príncipe de Homburgo, de Kleist (87); mais afastado da baixa teatral, no Cinema Império , propunha-se, em matinée “roubada” à projecção cinematográfica de fim de tarde, o Teatro Experimental do Porto (TEP) , que se deslocava em tournée a Lisboa e trazia à cena os Credores, de August Strindberg (88). Publicitava-se, ainda, para breve, a estreia de outras duas produções: a nova revista do Teatro Maria Vitória , Bate o pé, com as figuras de 86 Lurd e s No rb er to , Cr e m ild a G il , Amé l ia R e y - C o laço , Luz V elo so , P a i va R ap o so , Ra ú l d e C ar va l ho , Er ico B ra ga , J a ci n to Ra mo s e Fer n a nd o C urad o R ib e ir o 87 Ence n ação d e Co uto V ia na , co m M ário P ere ir a no P rí ncip e e Lí gi a Tele s , e m P rin ce sa Na tál ia d e Or a n ge . 88 In terp r eta çõ e s d e J o ão G ued e s , Da li la Ro c h a e Mário J acq ue s , e ntr e o ut ro s. 15 proa do momento, no género ( 89), e, no Teatro Monumental , Madalena Sotto, Mariana Vilar e Isabel de Castro associavam-se a Igrejas Caeiro, para interpretar a comédia de Diego Fabri , O Sedutor, na versão portuguesa de Jerónimo Bragança , sob a égide do empresário Vasco Morgado. Porém, a um olhar atento não passaria despercebido, naquela mancha gráfica, um estreito rectângulo vertical, uma espécie de viela entre colossos, uma tira informativa, cujo apelo era notoriamente referencial: Pela primeira vez num palco de Lisboa , Teatro para o Povo pela Companhia Rafael de Oliveira , a mais antiga e mais popular, 47 anos ao serviço do teatro. Agora em clamoroso êxito no Avenida apresenta às 21,45 horas – 4 únicos dias, a famosa peça de Ramada Curto , Recompensa – 12 anos. Domingos à tarde, às 16 horas ( 90). No interior daquela gambi arra promocional, uma informação concisa e precisa, como esta, possuía a força de um projector capaz de ofuscar as estrelas do firmamento teatral lisboeta. Uma tal função apelativa, lacónica e aguerrida, pretendia, obviamente, captar o interesse do público para o espectáculo em questão, mas não estaria, ao mesmo tempo, a despertar o interesse por outro tipo de espectáculo no circo publicitário? Tratava -se, afinal, de uma modesta Companhia Dramática, uma ilustre desconhecida, que, da província, se propunha actuar na arena da produção espectacular da grande urbe. Fosse como fosse, o meio teatral conhecia -os, e, num momento ou noutro, cruzara se com a Companhia Oliveira numa qualquer cidade de Província. A imprensa regional, e alguma da capital, há muitos anos que acompanhava o calcorrear das temporadas deste agrupamento pelo país. Este anúncio surgia, sobretudo, como um eco da luta insana que, 89 Hu mb er to Mad eira , Ra ú l So l nad o , E mí l io Co rre ia , B er ta Lo r a n , Car lo s Co e l ho e Flo rb el a Q ue iro z . 90 P ub l ic id ad e in Diá rio d e No tí cia s , 1 4 .0 2 .1 9 6 2 : 3 . 16 há décadas, vinha travando, para levar teatro às terras perdidas no isolamento da interioridade, mas parecia, também, comportar algo de quixotesco, nesta encenação da entrada da Companhia do Teatro Desmontável na capital do império em declínio. Tão quixotesco quanto a bandeira que Rafael de Oliveira desfraldara contra os gigantes do Fundo de Teatro, proclamando que a sua companhia era “o mais bem organizado conjunto que percor[ria] o País desde 1918”, o “verdadeiro teatro do povo e para o povo”. Tudo isto poderia ser conhecido de várias pessoas, menos do público em geral, alheio às implicações destas pequenas guerras de interesses, como de outras guerras que então começavam. Escalpelizemos, brevemente, alguma da informação, contida na dita tira vertical, referente à estadia no Teatro Avenida . Comecemos pela expressão “teatro para o povo”. Pensaria um espectador comum que, se a tal se propunha Rafael de Oliveira , quereria com isso dizer, que tudo o mais, que se anunciava, em outras salas, não era teatro para o povo? Uma afirmação causadora, por certo, de escândalo nos corredores do Teatro Nacional, ou, por maioria de razões, nos meandros teatrais do popular Parque Mayer ? Nada disso. A ironia não se destinava à classe teatral; nada existia contra as propostas de vanguarda dos grupos experimentais, nem se pretendia atacar a memória de experiências findas de out ros teatros do povo, e para o povo. O remoque visava certos gabinetes do poder central, do Secretariado Nacional de Informação , com quem Rafael de Oliveira mantivera um braço de ferro, no fim da década de 50, pela reobtenção do apoio financeiro, e pelo reconhecimento do seu trabalho persistente em prol da divulgação do teatro. Proclama, de seguida, o dito anúncio, que se tr ata da “mais antiga e mais popular, 47 anos ao serviço do Teatro”. Ingenuidade! – pensaria o dito espectador – a mais antiga seria a companhia de Rey 17 Colaço – Robles Monteiro, que ocupava o Nacional havia imenso tempo, existindo já antes de se lá instalar. Porém, a de Rafael de Oliveira conseguia ser um ano mais antiga do que a concessionária do D. Maria (91). E, por fim, sublinhava -se ainda que a companhia apresentava “em clamoroso êxito [...] a famosa peça de Ramada Curto , Recompensa”. Soava a exagero. Ramada Curto era, indiscutivelmente, um dramaturgo que acumulara êxitos; esta peça fizera sucesso no Teatro Nacional (92), mas havia tantos anos que poucos se lembrariam desse espectáculo. E, apesar de se proclamar que se tratava de um assunto de interesse e empolgamento, poderia ser ainda um êxito, quase trinta anos depois? Sobreviver no cosmopolitismo urbano, onde o tempo tem o condão de tornar tudo mais rapidamente obsoleto do que na pacatez rural? E representada por modestos actores habituados, sobre tudo, ao ritmo e ao gosto do Portugal que se pretendia dos pequeninos? Quem era, então, esta Companhia, que surgia das brumas provincianas, que aparecia publicitada pela imprensa lisboeta, existindo há cerca de meio século, que, em 1956, fizera uma temporada semelhante no Teatro Sá da Bandeira , do Porto, e apenas agora chegava a Lisboa , quando 14 anos antes havia já actuado no Coliseu Avenida , conforme referia ironicamente o Correio dos Açores (93), de Ponta Delgada ? Em 1955, o periódico A Rabeca, de Portalegre, transcrevia uma breve notícia do Norte Desportivo, de 27 de Março desse ano, que definia a companhia como um “agrupamento artístico, actuando há anos na província, com um vast o reportório que inclui algumas das melhores obras do teatro português contemporâneo. Com uma unidade A E mp r es a Re y Co laço – Ro b le s Mo n te iro co n st it u i u - se e m 1 9 1 9 , e a d e R a fae l d e O li ve ira as s u me - s e e m 1 9 1 8 . 92 A 1 5 d e J a nei ro d e 1 9 3 8 . 91 18 de elenco, uma persistência e um brio profissional, que podem servir de exemplo às desordenadas companhias da capital, Rafael de Oliveira e os seus artistas – uma grande família de artistas – continuam a difundir, nos meios populares da província, o gosto pelo Teatro, que não está perdido, como os desesperados intelectuais do Parque Mayer às vezes apregoam” ( 94). Em 1961, o Dr. Campos Coroa , no Correio do Sul, descreve-os como um agrupamento “consoladoramente triunfante das vicissitudes de dois pós -guerras, da concorrência económica quase esmagadora do Cinema, do Futebol e da Televisão, cada vez mais profundamente radicado na sua base de honestidade, brio profissional e singularidade de elenco, à base de duas famílias – os Oliveiras e os Frias – o que dá ao conjunto uma coesão interior ímpar no Teatro Português” ( 95). Quem era, portanto, esta gente que, apenas agora, visitava a capital, a convite do empresário Vasco Morgado , um senhor todopoderoso do panorama teatr al? Pudesse ser revisitada a noite de 14 de Fevereiro de 1962, na Avenida da Liberdade, poucos passos abaixo do Cinema Tivoli , cerca das nove e meia da noite, encontrar -se-ia, por certo, um grupo de pessoas fugindo ao ar frio da rua, entrando pelas portas largas do velho Teatro Avenida, os eternos retardatários, os “profissionais” das estreias, depositando o abafo com a funcionária d o bengaleiro, e tentando alcançar rapidamente o lugar marcado, para não perder o início do espectáculo e, sobretudo, não perder o cruzamento cúmplice de olhar com alguém que se encontre na sala. À hora marcada, às 21h45, antes da abertura do pano, a assist ência viu alguém que tomou lugar no proscénio. Numa solenidade de fato e gravata, imposta pela “U ma Co mp a n h ia T ea tral q u e e xi st e há me i o séc u lo e só a go ra c he go u a Lis b o a”, Co r re io d o s Aç o re s , 1 8 .0 2 .1 9 6 2 : 1 . 94 “T ea tro De s mo nt á ve l ”, A Ra b eca , 3 0 .0 3 .1 9 5 5 : 6 . 93 19 homenagem anunciada, o escritor e crítico Luís de Oliveira Guimarães, principiou por satisfazer a curiosidade do dign íssimo auditório quanto ao motivo da sua presença em espaço alheio: Fui, há dias, procurado na Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais pelos srs. Rafael de Oliveira e Fernando de Oliveira que, em nome da companhia teatral que dirigem, desejavam comunicar -me que a sua companhia se estrearia em Lisboa , no Avenida, na noite de 14 do corrente, com a peça de Ramada Curto , Recompensa, e pedir-me que, nessa noite, ao abrir o espectáculo, eu pronunciasse algumas palavras de homenagem ao autor da peça, que a Morte recentemente levou ( 96). Eis o intróito feito, claro e sucinto. Mandam, todavia, as regras oratórias que se exiba modéstia na oração, e assim: Disse-lhes que os pobres oradores como eu faziam sempre muito melhor figura estando calados; eles tiveram, porém, a amabilidade de insistir e eu pensei que, se recusasse, perderia o ensejo, que se me oferecia, de expressar em público, não só a minha simpatia pela Companhia Rafael de Oliveira , mas, uma vez mais, a minha veneração por Ramada Curto (97). Neste momento, presume -se pausa breve do orador, para saborear o efeito nas expressões dos interlocutores, que, tudo leva a crer, tenham sorrido. A graça, que se extrai do jogo da modéstia, causa sempre efeito seguro, cria empatia; sabe -o quem domina a arte da persuasão, e reconheçamos que é nec essário existir uma centelha de actor, perante para uma que alguém plateia de consiga auto -referenciar-se desconhecidos. Prosseguiu, jocosamente então, o palestrante: Emíl io C a mp o s Co ro a , “O T eatro De s mo nt á ve l d e no vo e m Faro ”, Co r reio d o S u l, 1 5 .1 2 .1 9 6 1 : 6 . 96 Lu í s d e O li ve ira G u i ma rãe s , “No t as tro c ad a s p o r mi úd o s: Rec o mp en sa ”, reco r te d e p eró d i co não id e n ti f icad o , p ert e nce n te ao a cer vo d e Ál varo d e O li ve ira (V ila Re al d e S tº Antó n io ), d a tad o d e 2 1 .0 2 .1 9 6 2 . 97 Ib id e m . 95 20 A Companhia Rafael de Oliveira , nascida há quase meio século; estruturada na ligação de duas famílias amigas, os Frias e os Oliveiras; composta de artistas dedicados; com um reportório de dezenas de peças, de todos os géneros, tantas delas de autores portugueses; laboriosa por tradição; bondosa por índole (o produto líquido de alguns dos seus espectáculos destina -se, invariavelmente, a obras de benemerência das localidades onde se exibe) – a Companhia Rafael de Oliveira não podia deixar de me inspirar a simpatia que, na verdade, me inspira ( 98). A “simpatia pela Companhia” mostrava -se através de tópicos claros, de fácil captação auditiva. Enumerava -se a génese e os atributos, criava-se a imagem de qualidade de um produto humano, que, embora, não possuísse “nem ases, nem vedetas”, e o “teatro desmontável, a sua «barraca» como eles modestamente lhe chama[vam], não deslumbra[sse] ninguém”, possuía elementos que “dentro das su as maiores ou menores possibilidades artísticas, dir -seia não acalentar outro desígnio que não [fosse] o de servir o teatro e o público” (99). Tornava-se importante sublinhar o altruísmo, o amor à arte, como factores positivos, mais que não fosse para just ificar que, assim o haviam reconhecido “as próprias instâncias oficiais concedendo à Companhia Rafael de Oliveira , pelo Fundo de Teatro , um subsídio cujo valor simbólico supera[va] ainda o valor material”. E se as instâncias oficiais o tinham reconhecido, quem se atreveria a não reconhecê-lo! Não custa presumir que Rafael de Oliveira , do outro lado do pano de boca, fora dos olhares do público, mas atento às palavras de tão distinto orador, tenha achado curiosa esta expressão simbólico material, sobretudo ele, que, como qualquer empresário, conhecia bem as dificuldades que existiam em manter uma companhia itinerante com valores materiais, quanto mais com simbólicos. 98 Ib id e m . 21 A este passo da apresentação, quem não conhecesse a Companhia Rafael de Oliveira , já seria por certo seu simpatizante. O orador, causídico de formação, conhecia a arte do discurso público; como tal, decidiu empregar o efeito da subtil graça privada, que apenas se partilha na roda de amigos: Uma noite, a Companhia representava, numa das n ossas cidades, a Vida de Santo António . A dada altura da peça, Santo António é conduzido ardilosamente pelo diabo para o inferno e narra a rubrica que, mal entrem os dois no inferno, se oiça um estampido de trovão e línguas de fogo irromper dos bastidores para amedrontar o santo. O contra-regra havia disposto as coisas para o efeito e, segundo o costume, a deixa era esta: “Fogo!”. Simplesmente, naquela noite, o bombeiro de serviço adormecera a um canto do palco; ao grito do contra-regra “Fogo!” acordou, espavorido; viu chamas; e não esteve com meias medidas: abriu a torneira da água, pegou na manguei ra, saltou para a cena e, esguichando para todos os lados, apagou as chamas infernais, deixando o próprio diabo num pinto ( 100). Tratava-se tão simplesmente de uma história relacionada com a actividade teatral anterior à existência do Desmontável, que o pró prio Rafael de Oliveira costumava contar. Acontecera em Estarreja , em 1925, durante a estreia da peça de Braz Martins , Gabriel e Lusbel ou o Taumaturgo, ou simplesmente Santo António, cujo percalço teve tanto impacto no público, que este, aquando da sua reprise em dia posterior, “lamentava que o final do acto não fosse representado como no primeiro dia!”( 101). Sem dúvida que a anedota, em si mesma, é insólita , reflecte a ingenuidade de um homem, que tenta cumprir o seu dever; mas, mais insólita se tornou a sua citação. Por que não referir um outro caso, igualmente anedótico, que, pelo menos, poderia demonstrar que o 99 Ib id e m Ib id e m. 101 Afir ma ção d e Ra fae l d e Ol i ve ira e m e n tre v i st a ao Bo le ti m d a Un i ã o d o s Gr é m io s d o s E sp ec tá c u lo s , Dez e mb ro d e 1 9 6 4 . S ua d err ad ei ra en tre v is ta ; fa le ceri a a 9 d e J a n eiro se g u i nte . 100 22 estilo de actuação da Companhia conseguia se r tão convincente, que era capaz de induzir um público atento, embora tão ingénuo quanto o Bombeiro? De Castelo de Vide, onde estava actuando, a Companhia deslocou -se um dia à Beirã, ali entre a “Sintra do Alentejo” e a altiva Marvão , de cujo roqueiro Castelo se vêem as aves pelas costas. Foram representar a peça de cunho acentuadamente trágico Inês de Castro . Na cena culminante do 3º acto, quando os algozes tramam a morte infamante da formosa Inês, e esta se lamenta chorando amargamente junto dos filhinhos estremecidos, algumas mul heres que assistiam ao espectáculo ergueram-se impetuosas e gritaram -lhe: “Fuja, minha senhora, que eles vão matá-la, estiveram aqui há bocadinho a combinar!” ( 102) Insólita estratégia! Que, primeiro, se elogie uma Companhia pelos seus dotes de trabalho hon esto e probo, o seu amor à arte inclusive, para, em seguida, num passe de mágica, se traduza o encómio numa graça privada, espécie de récita de amadores! Tratava se, porém, de um efeito subtil, destinado a conduzir o raciocínio à moralidade que se pretendi a extrair: nada conseguiria “apagar a chama votiva que anima[va], sem desfalecimento, a Companhia Rafael de Oliveira” (103). Eis, pois, os factos sem contra argumentação , porque, “coisa quase inexplicável – esta Companhia que, [...] há quarenta e sete anos vem percorrendo o país inteiro, só agora, a convite de Vasco Morgado, se apresenta, pela primeira vez, em Lisboa ” (104). Uma brilhante peroração condescendente do orador, para concluir sobre o valor da Companhia naquele espaço e naquele tempo: “... uma antiguidade que terá para os lisboetas um sabor de novidade”. Era então disto que se tratava? De uma antiguida de, um dourar de pílula, que se designava por “novidade”, uma espécie de bombom de E uri co G a ma , “Co n te - n o s u ma a n ed o ta : Mi n h a se n ho r a fuj a, q u e e le s v ão ma tá la”, Jo rn a l d e El va s , 1 7 . 0 8 .1 9 5 6 : 6 . 103 Lu í s d e Ol i ve ira G ui ma rãe s , o p . cit . 104 Ib id e m . 102 23 travo amargoso para a Companhia, tal como, em Janeiro desse ano, a publicação Os Ridículos lançara, em indirecta advertência: Rafael de Oliveira, que durante tantos anos resistiu à tentação de apresentar a sua companhia em Lisboa , cedeu agora! [...] Não são só as fraquezas da carne que nos fazem pecar, não é verdade? O pior é se Rafael de Oliveira é expulso do paraíso!... ( 105) O público presente estaria certamente bem disposto. Fora -lhe mostrada a razão do gosto pela gente de teatro, essa gente, morfologicamente idêntica, e, ao mesmo tempo, tão diferente, a quem acontecem coisas tão engraçadas, que não acontecem a mais ninguém. Que bom que é conhecer os cómicos! Terminada a bem humorada apresentação da Companhia, o retorno ao tom sério. Explicou, entã o, o orador, que fora vontade de Rafael de Oliveira , que a Companhia “se estreasse em Lisboa com uma peça de Ramada Curto , um dos autores mais representados pela Companhia”, a Recompensa, e, também, “uma das peças de maior êxito do seu autor”. E maior merecimento havia, porque a ocasião “envolvia [...] a primeira homenagem pública que se lhe prestava após o seu falecimento”. Pedrada no charco. Estava -se no início de 62, Ramada Curto falecera no ano anterior, no ano em que começara a Guerra Colonial , num tempo em que despontavam movimentos de contestação, oriundos dos ventos da modernidade que arejavam as cabeças que se praziam em pensar, em voz alta, ou em silêncio, por causa do cerco político. Deste modo, um ano após a morte de um dramaturgo que sempre fora associado ao Estado Novo , aproveitava-se o ensejo da Companhia ambulante para se levantar o dedo contra o esquecimento, contra quem nada havia feito por quem tantos belos êxitos dera ao teatro português, para não falar d as belas receitas de bilheteira. Quatro séculos após 105 “O s Rid íc u lo s no T eatr o ”, O s R id í cu lo s , 0 6 .0 1 . 1 9 6 2 : 3 . 24 uma exortação vicentina que já não cabia no seu tempo, era preciso fazer uma exortação de valores que mantivessem a tranquilidade da classe média urbana. Contra o esquecimento do herói, pelo esquecimento da realidade. Repete -se em palco a morte em cada dia, para que se renasça eternamente. Morre o actor simbolicamente na cena, para que, em cada noite, pelo menos, um espectador renasça consciente da sua força. Poderia o palestrante ter dissertado sobre o valor teatral do seu amigo e companheiro Ramada Curto , mas não, preferiu apresentá -lo de forma ligeira, abordou a sua relação interna com o teatro e rematou, com um pequeno fait divers sobre a personalidade do homenageado: A Recompensa estreada no D. Maria, na noite de 15 de Janeiro de 1938, com Amélia Rey-Colaço na protagonista, esteve quase quatro meses no cartaz, e, se bem me recordo, foi na 15ª representação dedicada ao autor que surgiu a ideia de oferecer a Ramada Curto um banquete de homenagem. Ramada, sabedor do f acto, encontrando dois velhos amigos seus, componentes da comissão organizadora, permitiu se a intimidade de lhes dizer: - Ó rapazes, e se vocês, em vez de me oferecerem um banquete, me oferecessem um sobretudo? Melhor ou pior, sempre almoço e janto em min ha casa. Agora de um sobretudo é que eu estou muito necessitado... E Ramada Curto não teve o banquete: teve um sobretudo de honra.( 106) Dixit. Na sala, risos e aplausos, por certo. Na cena, a coberto do pano de boca, Rafael de Oliveira, que terá seguido com atenção as palavras do orador, pensou, talvez, que, realmente, um sobretudo é melhor agasalho do que algumas homenagens de circunstância. Entretanto, no proscénio, o orador terá agradecido discretamente, como se impunha, e tomado o seu lugar na plateia, para dar lugar à Arte de Talma. Tempo das pancadas de Molière. A luz de sala extinguiu-se, e o pano subiu, para deixar ver a Recompensa, pela Companhia Rafael de Oliveira . 106 Lu í s d e Ol i ve ira G ui ma rãe s , o p . cit . 25 Muitos pensamentos solitários ter -se-ão cruzado, em simultâneo, naquela noite de 14 de Fevereiro de 1962, naquele Teatro, h oje desaparecido. Para três pessoas, em especial, eles deverão ter tido uma valoração mais particular. Eduardo de Matos o director artístico, ensaiador e encenador da Companhia, de 66 anos de idade, natural de Castelo Branco , filho do velho empresário Constantino de Matos , com quem se estreou, aos 5 anos, na sua companhia itinerante, interpretand o cançonetas. Aos 22 anos, corria então o ano de 1919, demandou a capital, em busca de trabalho melhor; escriturou -se naquele mesmo Teatro Avenida , passando, nos anos seguintes, pelos vários palcos lisboetas, e com Palmira Bastos fez tournée ao Brasil, e a Angola, com a Companhia de Operetas de Julieta Soares . Para ele, que nasceu no teatro ambulante, e a ele regressou, deixando para trás a capital, como sentiria este momento de memórias, sobretudo agora que a progressiva cegueira lhe retirara a possibilidade de representar? Idalina de Almeida , actriz, 47 anos, estreara -se, no verão de 1921, com 6 anos apenas, na companhia infantil de Cremilda Torres , no teatro Avenida, passando pelo palco do Teatro Gil Vicente 107, na Graça, um dos muitos teatros de bairro existentes na Lisboa desse tempo. Como Eduardo de Matos também ela fizera parte da tournée de Julieta Soares a Agola. Mas foi em Li sboa que conheceu António Vilela, jovem actor, que entusiasmava as plateias dos pequenos teatros e colectividades de recreio com a sua voz de barítono, em operetas e revistas. Casaram, formaram a sua própria troupe de variedades, mas acabaram por integrar a Companhia Dramática Lisbonense Moiron , que percorria o país, representando o mesmo reportório de dramas e comédias que em todas as companhia de província se levava a cena, 26 até que, em 1945, em Évora , trocaram a companhia de Paulo Moiron pela Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados e o seu Teatro Desmontável . Que memórias aflorariam ao espírito de ambos neste momento, nesta espécie de retorno às origens? E Rafael de Oliveira? 72 anos, natural de Lisboa, a quem uma vida árdua de itinerância moldara a forma obstinada como tomava decisões, como enfrentava a adversidade. Por trás dos seus óculos redondos de massa, o olhar de velha raposa, atento ao mais pequeno pormenor, não se deixava comover pelo brilho fugaz da homenagem de circunstância, habituado como estava às homenagens, por esse país fora, bem mais sentidas, quando nelas escutava palavras nascidas do entusiasmo que o público amante de Teatro lhe tributava, porque o conhecia, como profissional e como pessoa, e compreendia a dimensão do seu trabalho, na modéstia dos seus recursos. Nos recônditos da memória ecoava sentencioso o actor Pinheiro : Comediante! Não t e iludas! Quando na atmosfera quente de uma sala de espectáculos, ouvires os bravos e as palmas de um público que delirantemente te vitoria e aclama, curva a cabeça e o dorso em sinal de agradecimento, porque a isso te obrigam as leis da cortesia, mas deixa a tua alma tranquila, não a enganes e pensa que aquele mesmo público que hoje te glorifica, terá amanhã para ti o sorriso desdenhoso e a crueldade draconiana, que te há de esmagar sob o peso do mais vil e do mais pérfido indiferentismo! (Pinheiro 1909: 1 6) 2. Lisboa, 1890: Travessa de Stª Quitéria , Pátio de S. José, nº 2. Na íngreme travessa de Santa Quitéria , quase ao cimo, do lado esquerdo, interrompe a sequência de prédios uma parede pintada de amarelo, na qual se abre um arco, de ombreiras de pedra bujardada, 107 Co n h ecid o p o r Rec rei o s d a Gr aça , mu d o u d e no me e m 1 9 2 0 ( Jo r n a l d o s Tea tro s, 1 4 .0 3 .1 9 2 0 ), lo cal iza nd o - se n a R ua d a Vo z d o Op erár io , no a n t igo s alão 27 por cima do qual, em placa de esmalte azul e letras brancas, se lê: Pátio de S. José. Estamos perante um resíd uo de uma Lisboa centenária, de características provincianas; um entre os poucos vestígios que vão passando despercebidos à força avassaladora do “progresso” urbanístico. Passado o umbral, o espaço interior rectangular, com pouco s metros de comprimento, é delimitado por casas térreas; o antigo solo de terra, que a chuva enlamearia, esconde se agora sob cimento, dura capa da higiene hodierna; nas cordas apoiadas em varais, sustenta -se ainda a roupa secando ao sol. Nada consegue travar a marcha inexorável do tempo, que transporta a memória remota de lavadeiras em paisagem urbana de contrastes da Lisboa de Queirós, Lobatos e Bruns. Em quinze anos, quase todo o País provincial se desguarneceu das suas laboriosas famílias agrícolas, c uja existência patriarcal prendia à terra, pelo exemplo de tantas gerações de camponeses. [...] A cidade cresce todos os dias em edificações de luxo, à custa da província, e à proporção sobretudo que vão aumentando os quadros burocráticos. (Almeida 1892: 12 e ss.) Na segunda casa, do lado direito, uma tabuleta indica o número 2. Aqui morou, há muito tempo, Joaquim de Oliveira e Maria da Conceição, um casal que desceu, um dia, de Coimbra , para se radicar em Lisboa, em busca de vida melhor, por certo. E, também aqui, “às duas da manhã do dia 8 de Maio”, lhes nasceu um filho, baptizado a 22 do mês de Junho, segundo reza o texto do Livro de Assentos do ano de 1890, manuscrito e assinado pelo padre J. Máximo , cura da Igreja Paroquial de Santa Isabel, e pelos padrinhos da criança, a quem foi posto o nome de Rafael ( 108). Corria um tempo “particularmente d a C ai x a Eco nó mi c a ( id em, 1 1 .0 4 .1 9 2 0 ). R e gi sto s P a ro q uia i s, Fr eg u es ia d e Sa n ta Is ab el , Co n cel ho d e Li sb o a, D i str ito d e Lis b o a, b ap ti s mo s. Ano 1 8 9 0 , fl. 2 3 2 , re g. nº 3 4 6 , J u n ho 2 2 ( ANT T ). 108 28 movimentado e cheio de peripécias”, segundo recordou, mais tarde, Ricardo Covões: Foi o ano do ultimatum, que a Inglaterra nos enviou em seguida à desgraçada e célebre questão de Louren ço Marques, e que provocou, em Lisboa e em todo o país, um extraordinário período de manifestações patrióticas, que ecoaram desde a praça pública aos mais recônditos confins da vida portugues a. Foi o ano da epidemia em Espanha e do cordão sanitário; da prisão de António José de Almeida , em Coimbra; o ano da preparação da precursora revolt a de 31 de Janeiro; o ano do suicídio de Júlio César Machado e de Camilo Castelo Branco. Foi o ano da morte do tenor Gaiarre ; da chegada de Serpa Pinto, António Maria Cardoso e Paiva de Andrade, os gloriosos exploradores; o ano da eleição de Fernando Palha , como protesto contra a intimativa inglesa, e dos deputados republicanos Elias Garcia , Latino Coelho e Manuel de Arriaga. Foi o ano do tão falado crime de Urbino de Freitas e da inauguração do túnel do Rossio . Sousa Bastos exibiu no Avenida o famoso Tim-tim por tim-tim (109) e, no Rua dos Condes [novo], o não menos afamado Reino das Mulheres . A companhia Alves Rente , do Porto, deu o melhor do seu reportório no Real Coliseu, onde também foram muito aplaudidas a companhia de zarzuela do barítono Lacarra e uma companhia de ópera lírica, às quais se seguiu uma companh ia equestre dirigida por Enrique Díaz , de que fizeram parte o popular Visconti, a é cuyère Elvira Guerra e a primeira troupe de saltadores árabes que nos visitou. No Gimná sio campeou a Duse e Vale fez benefício com a primeira do Comissário de Polícia, a extraordinária coméd ia de Gervásio Lobato . No Príncipe Real, Ângela Pinto começava no Simão Simões & Cª . No Teatro da Alegria, o povo acudia, entusiasmado, a ouvir a Torpeza, de Campos Júnior, com Joaquim de Almeida . No Avenida, faziam furor As Vinte Mulheres do Rei, e, no Teatro de D. Maria , a companhia Rosas & Brazão alcançava largos triunfos, especialmente com o ruidoso Marquês de Villeme r e a inolvidável Morta, de Lopes de Mendonça. (Covões 1940: 23) Das memórias de infância do jovem Rafael não reza a história. Nada nos refere, sequer, que, ainda de colo, os pais o pud essem ter levado a ver a árvore gigante que a Empresa do Coliseu dos Recreios mandara colocar, como forma de atrair o público a esta recém - 109 Se g u nd o Lui z Fra nc i sc o R eb el lo , Ti m Ti m p o r Ti m Ti m , e x ib i u - s e e m 1 8 8 9 , no T eatro d a r u a d o s Co nd e s ( no vo ) . 29 inaugurada sala de espectáculos de Lisboa , no primeiro Natal da sua vida. Não consta que alguém tivesse consultado o Borda-d’água, e descoberto a coincidência do seu aniversário com o de António José da Silva. E melhor que o não tenham visto, à falta de encontrar sempre paralelos fatídicos, em terra tão propensa a fados. Ninguém existe já, que possa lembrar esse tempo centenário, e os que recordam a sua pessoa, falam do homem feito, do pai de família, do empresário honesto e lutador, do “cabo de companhia” ( 110). E por que não acreditar que a sua juventude tenha sido semelhante à de outros jovens do seu tempo, a quem “o sarampo do teatro”, como referiu o actor Pinheiro a respeito de si próprio, se tenha manifestado muito cedo? Que fluido magnético e hipnotizador possuis, que já na infância actuas fortemente! [...] Lembrei-me de ser empresário e formar companhia. Com alguns vinténs, propriamente ditos (111), consegui co mprar todo o material cénico para a peça de abertura. [...] Mas o palco? Aqui estava o busílis! Faltava o tablado da Arte! Quando um empresário atinge certas culminâncias, não há empenos que o vençam; as resoluções repentinas surgem como os cogumelos. A tá bua de ensaboar achava-se pachorrentamente pendurada ao lado do contador, esperando a vez de ser chamada ao seu mister higiénico. Foi mobilizada clandestinamente [...]; uma caixa de chapéus de senhora que esperava acabar seus dias no quarto de vestir, veio ser mutilada para servir de esqueleto ao proscénio e engradar cenário. [...] Chega o grande dia da abertura da época! Dois acontecimentos sensacionais! A inauguração dum Teatro, que vinha engrinaldar a capital e ainda a estreia duma companhia cujos elemen tos ninguém conhecia, senão a capelista, o que despertava o interesse. Era um domingo cheio de sol que parecia aureolar, com os seus raios dourados, aquele arrojo artístico, e ao mesmo tempo facilitava a iluminação que ainda não estava instalada no teatro. [...] A Empresa anda pressurosa fazendo os últimos preparativos, mas tendo o cuidado de ocultar o teatro das vistas da mamã, que ainda não tinha reparado no palco. [...] Mobilizam -se cadeiras, da saleta, da cozinha, mochos, caixotes e forma -se a plateia 110 A trad uç ão d e Ca p o co mm ico , o d irec to r d as co mp a n hi as d e C o mmed ia d ell’ Ar te . S ub ti l me n te a trad ição e nco n tra - se n a raiz d as co i s as. 111 E m i tá lico no o ri g i na l. 30 com uma casa à cunha, de tal forma que a Empresa teve de recuar o teatro até à porta do chalet das aflições ! Foi esse o grande erro administrativo! [...] No meio talvez do 2º acto, na altura em que o entusiasmo do público chegava ao delírio; em que a arroja da Empresa era ovacionada pelo seu belo conjunto... passa em direcção ao chalet uma vasilha contendo qualquer líquido inutilizado para seguir o destino do colector geral [...] a Empresa teve de afastar o teatro para passar a vasilha... mas nisto o proscéni o é abalado por um valente estremeção... o cenário cai em todas as direcções... os artistas espavoridos resolvem deitar -se no chão... a Empresa é levantada pelas orelhas e obrigada a devolver ao público os fundos recebidos... e o palco é arrancado violentamente servindo ainda para levar adiante os espectadores que não queriam evacuar a sala!!! É assim que em Portugal se compensam as grandes iniciativas! Que honra não era para uma tábua de ensaboar, ser tablado da Arte de Talma?! ( S A N T OS 1921: 13 a 15) Assim, recordava o actor Martins dos Santos (112) a sua experiência de teatro na infância, na descontracção de um tempo em que “a imaginação da criança ao assistir a um espectáculo, fica deslumbrada, entontecida, e ao voltar a casa revê, como num caleidoscópio maravilhoso e galante, os cenários, os actores, os vestuários que mais directa e imediatamente lhe feriram a retina e lhe impressionaram o cérebro” ( P IN H E IR O 1924: 17). Provável, portanto, que, com o tantos outros, que fizeram da Arte de Talma a sua profissão, o jovem Rafael tenha também começado por brincar aos teatrinhos, com os amigos, na sua casa de Santa Quitéria, do mesmo modo como António Pinheiro relata o seu caso pessoal: Aos 13 anos, a doença – o sarampo do teatro (113) – declarou-se-me, e apresentando certa gravidade, contagiou um primo meu e mais quatro ou cinco rapazes, quase da mesma idade, que frequentavam a casa 112 Na sc id o a 2 5 d e Ab ri l d e 1 8 7 9 , fo i tip ó gra fo e e mp r e gad o d o s ca mi n ho s d e fer ro . Na s ho ra s va ga s trab a l ho u co m o a ma d o r d ra má ti co no s tea tro s T ab o rd a e T eo d o rico , e st e úl ti mo p ro p ried ad e d e s e u p ai, na ca lçad a d e S a n to And r é . Est reo u - se no T eatro Ave n id a , e m 1 8 9 7 , na re vi s ta Ro d a Viva , mas s ó ab raço u a p ro fis s ão d e ac to r, e m d efi ni ti vo , q ua nd o e n tr o u p ara o t ea tro d o P rí nc ip e R ea l , n u ma r e vi s ta d e Acá cio An t u ne s e Mac h ad o Co rreia , O An o Pa s sa d o . ( “Ge n te d e T eatro ”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 9 .0 7 .1 9 1 7 : 2 ). 113 E m i tá lico no o ri g i na l. 31 dele, em Lisboa, no Largo da Graça, 17, 2º, e que eram todos, ao tempo, estudantes do Liceu. [...] No dia em que pensámos fazer um teatrinho em casa dele [...] (numa salinha que media quatro metros de comprimento, por três de largura e dois e meio de altura), meu primo foi tudo! Proprietário do teatro, empresário, cenógrafo, ensaiador, primeiro artista... tudo, tudo! [...] Passou-se isto em 1880! (Idem: 18,19). Recriando a realidade, a partir do jogo do faz de conta, reproduz a criança, a seu modo, de forma ingénua, o mundo paralelo dos adultos. Era também deste modo que à luz o século XIX se interpretava a criança: um adulto em miniatura, que era preciso adestrar. Julgava eu [...] que os actores que víamos nos teatros públicos se apresentavam em cena com as suas próprias fisionomias; que os velhos eram velhos, a valer, que os que traziam barba ou bigode a usavam por hábito ou capricho, na rua! Mas nós, ainda imberbes, o que havíamos de fazer para tal fim? [...] Fui-me a uma caixa de graxa Horta e Silva, esfreguei na massa o indicador da mão direita e com ele pintei no lábio superior, com as competentes e retorcidas guias, uma farta e mavórtica bigodeira... e fui para o palco! Eis a minha primeira caracterização! Quando entrei em cena, o público – 20 pessoas ao todo – sublinhou a minha entrada com um certo oh! de admiração! [...] Comecei a debitar o meu papel e a retorcer os bigodes pintados; o público começou então a rir; quanto mais ele ria mais eu retorcia e afagava os bigodes, e de tanto afago e de tanta retorcidela, ajudado pelo calor de uma noite de Agosto, acabou tudo à gargalhada, às palmas, porque a minha cara já estava toda engraxada... de preto! ( Idem: 21, 22). Dolorosa aprendizagem, a destes primei ros sucessos, nos teatros domésticos de então. 3. À sombra de Amoreiras que já não existem... 32 O bairro onde Rafael de Oliveira nasceu, e ao qual se manteve ligado até ao fim da sua vida ( 114), pertence à freguesia de Santa Isabel. A travessa de Santa Quitéria , onde cresceu, e de onde partiu, um dia, atrás de um sonho fe ito Teatro, inicia -se na Rua de S. Bento e sobe íngreme até à actual Avenida de Álvares Cabral , cujo traçado apenas data dos anos 30 do século XX. Situado nas cercanias do largo do Rato, esta zona faz parte de uma área de Lisboa , cuja importância urbanística data de tempos anteriores. No século XVIII, na Rua Direita da Fábrica das Sedas (actual Escola Politécnica), situava-se a Fábrica das Sedas , fundada por Godin, e aí instalada em 1738. Por motivos que não cabe agora referir, o Estado acabou por se apropriar da fábrica, que foi inserida nos planos de reforma industrial pombalinos, entre os quais se contava a criação de quintas de bichos-da-seda (daí as amoreiras) e a primeira fixação residencial operária nesta zona urbana, acompanhando a remodelação que se seguiu ao terramoto. O proteccionismo industrial, e a dignificação do trabalho, segundo a política de Pombal, tiveram como con sequência um crescimento demográfico e o aparecimento de unidades fabris. Foi essa a razão da construção, na Praça das Amoreiras e até à antiga Estrada de Entremuros de Campolide , de quarteirões completos de unidades modulares, destinadas a abrigar o Real Colégio das Manufacturas , o embrião das artes industriais. Ainda hoje a toponímia local reflecte essa obra: Travessa da Fábrica dos Pentes , ou da Seda. Trata-se, portanto, de uma zona urbana que representou a primeira grande unidade fabril, pensada exclusivamente para esse fim, segundo o plano inovador do Primeiro -ministro Carvalho e Melo. 114 Na I gr ej a P aro q ui al d e Sa n ta I sab el, fo ra m c u mp r id o s o s tr ês ci clo s d o rit u al cató lico : b ap ti s mo , ca sa me n to e fu nera l.. 33 No último quartel do século XIX, Lisboa , em preia-mar, subiu, desde o Rossio, pelo “regueirão do antigo Valverde , cujo leito alargado deu à Avenida, até ao deserto negro de Valpereiro e Santa Marta” (A LM E ID A 1890: 127). O Passeio Público transformado em nova via de Liberdade contribuiu para a expansão do tecido urbano, a norte, para além da Rua do Salitre . Na cidade, de “configuração burguesa [...] à luz do Sol, [...] que vem duma banda engastar -se na curvatura do rio, enq uanto pelas outras se arrasta e prolonga em sucessões de casarias, luzes, sombras e reflexos, que nos dão a ilusão dela prosseguir sem acabar, até ao fim do mundo” ( A LM E I DA 1890: 126), novos acessos mais rectos e amplos relacionam a Baixa com a zona ocidental das Amoreiras. As velhas quintas deram lugar ao casario, e das amoreiras apenas ficou a sua memória na toponímia. Ardendo numa febre de grandezas, Lisboa sentira a necessidade de outras ruas, outros estilos, outros interiores: alguma coisa coerente com os ideais, os hábitos e os trabalhos da sua vida moderna. E ei -la transbordando dos acumulados lúgubres dos velhos bairros, Alfama , Mouraria, Estrela; partindo a cintura de muralhas num charivari de construções podres de chic; fazendo dos arrebaldes, centros; trepando aos outeiros, ou alastrando -se como um acampamento nómada, à beira rio (A LM E ID A 1890: 14). E assim, os pólos de vivência cultural bairristas, disseminados, por toda a malha urbana, acabam por relacionar -se ainda mais directamente entre si. 4. A efervescência teatral lisboeta no início do século XX. O povo quer e necessita divertir-se, tanto ou mais do que as classes preponderantes, porque o seu trabalho é mais áspero, e os seus desgostos de acção mais contundentes. Quer e necessita distrair -se, porque a distracção é uma das válvulas de segurança da vida, um tónico do sistema animal, incomparável, que repara a canseira, e areja e dispõe para as labutas do dia imediato. E é necessário que o povo obtenha distracções sem grande esforço de imaginação, nem 34 sacrifícios [...] e se lhe vá canalizando a atenção, quanto possível, para espectáculos donde o seu espírito recolha algumas parcelas de cultura e ensinamento. ( A LM E ID A 1892: 102-3) Na Lisboa da transição de século, o citadino possuía formas de divertimento diversificadas, e o teatro ocupava um lugar importante no seus hábitos quotidianos. Por um lado, existia o circuito dos teatros públicos, tomando como centro o Teatro de D. Maria II , no Rossio, e cujo raio possuía uma amplitude, a montante, até ao Teatro Avenida , e a poente, até ao Bairro Alto , que definia uma área de acesso de uma população burguesa, socialmente desejosa de ver e ser vista na companhia de aristocratas e intelectuais. E, em complemento deste círculo, pululava um outro mundo, composto de pequenos teatros particulares, os teatros de bairro, que deram origem às pequenas sociedades, às associações de recreio, a os clubes, espaços de sociabilidade capazes de congregar a população local em actividades lúdicas, em que sobressaíam as récitas de teatro amador. Uma coroa circular em torno dos teatros principais, reproduzindo as cores destes em matizes populares até aos confins da periferia urbana, detentora de uma particular importância na formação de uma escola prática de actores e na formação de públicos conhecedores do fenómeno teatral. 4.1. Pelos palcos particulares e grupos dramáticos. Locais de frequência social conc orrida, estes teatros de bairro eram constituídos por dependências várias, interiores e exteriores, que permitiam não só a prática de teatro, como também a de bailes – os bailes campestres – o som de fanfarras estridentes, que tocavam os êxitos musicais da época – polcas, mazurcas, valsas, quadrilhas – quase sempre a toque de cornetim, como refere o actor Pinheiro , o seu tempo de amador. 35 Entre os vários palcos bairristas de oitocentos, junto ao Pátio de D. Fradique, à sombra ameada do Castelo de S. Jorge, funcionou o Teatro do Maldonado , um teatro popular ao ar livre, memória dos pátios de comédia de antanho. Tinha uma bela esplanada (espécie de retiro das hortas) com mesas, bancos compridos que armavam em plateia; em frente, entrando, ficava-nos o palco; em face deste e do lado da entrada, o bufet graciosamente servido pela esposa do grande Augusto, (O Augusto Maldonado) cavalheiro muito respeitável, como homem e como Empresário, sempre em mangas de camisa, e tão gentil, que qualquer espectador inconveniente não era incomodado pela polícia... encontrava-se rapidamente na Rua dos Cegos, pelo meio de transporte mais rápido... a gola do casaco! [...] Foi este teatro um Luna-Park do sítio e da época! Durante o dia da semana, os estúrdias e os operários que davam parte de doente ... lá iam bater a malha e deitar o paulito abaixo no tradicional chinquilho. [...] Aos domingos, quase sempre havia Récita e Baile – lá vinha sempre na secção teatral d’ A Voz do Operário. Estes encantadores divertimentos eram sem pre abrilhantados pela Banda Artística Musical , com sede crónica num casebre do Caracol da Graça , e que tinha como título popular, o nome de “Sociedade do Pau Teso”! ( S A N TO S 1921: 24-5). Outros teatros havia sob telha. Em Alfama , junto ao Largo do Chafariz de Dentro , ficava situada a Casa de Pasto das Colunas, assim chamada por ter, na fachada, duas colunas a ladear a porta. Estava aí instalada a Academia Lúcio de Sousa , cuja sala de espectáculo era tão exígua, que o palco “teria meio metro acima do chão, e o ponto para exibir as suas funções tinha de entrar por uma tampa feita no palco [...], sentar-se no chão da sala de pernas estendidas e hirtas... e, ficavam-lhe o tronco e a cabeça acima do nível do palco, dentro duma caixa que tinha quase metro e meio de altura, forrada de encarnado, o que dava a semelhança de um marco postal!” ( S A N TO S 1921: 27). A proximidade das academias teatrais favorecia a sua rivalidade. Ao topo das Escadinhas de S. Crispim , situava-se o Teatro Gil Vicente, um barracão, que pertencia a um velho fabricante de cordas, 36 Pisão de alcunha, funcionando também como armazém, em cujas paredes se viam “cartazes de ré citas passadas, pintados a capricho onde figuravam todos os nomes, sem desconsiderações de categorias (como fazem as empresas) e o nome do Grupo a purpurina dourada (115);... os títulos das peças a encarnado e preto;... as personagens todas a seguir como est ava na peça e os nomes dos artistas do mesmo tamanho... com a excepção da Exm.ª Sr.ª D. – nas amadoras; que era para dar um certo tom, enquanto trabalhavam à borla! As que já ganhavam, só tinham direito a D. Fulana de tal... e às vezes com que pragas!!!” (S A N TO S 1921: 29-30). Pelo pequeno palco deste teatro, cujo proscénio ostentava um pano de boca pintado, como então se usava - imitação, ao melhor estilo, dos cenógrafos dos grandes teatros -, passaram muitos amadores dramáticos, que representaram os mesmos dramalhões que subiam à cena do Teatro do Príncipe Real , sendo que “os gestos trágicos [...] tinham de ser mais acanhados, pois numa cena de assassinato, tinha o assassino de dar o golpe com o braço encolhido para contar com a queda do cadáver ao comprido e não ter de ficar sentado morto, encostado à parede!” ( Idem: 30). Uma das amadoras que aqui fez furor foi Margarida Martinó , mais tarde actriz profissional, muito disputada entã o pelo Grupo Gil Vicente e pela Sociedade Rafael Croner , do Castelo. A rivalidade resolvia -se com um acordo quanto aos actores amadores, que par ticipavam nos espectáculos de ambos os teatros. Noites houve em que o Gil Vicente esteve à cunha, “a ouvir flauta, bandolim e viola de castigo, enquanto não chegavam as estrelas e o estrelo” da Companhia ( Idem: 31). Noutro ponto da cidade, na colina ocidental da Patriarcal, havia também um teatrinho de estilo idêntico, o Therpsicore , situado na Rua da Conceição (actual rua Marcos de Portugal) , à Praça das Flores . Por lá andou o actor Pinheiro , que se estreou numa comédia em um acto, 115 E m i tá lico no o ri g i na l. 37 Espertezas de actor , dirigida por um tal António Silva (116), tipógrafo de profissão no Diário de Notícias e ensaiador muito afamado n o meio amadorístico do seu tempo. Nas récitas dessa época, segundo ele, “raro era não se soltarem frases insolentes e indecorosas da plateia para o palco e dos amadores -actores para o ilustrado e respeitável público” (P IN H E IR O 1923: 34), sendo que o ambien te “mais parecia o do Pátio das Arcas , no século XVIII, pela compostura e educação do público que assistia às representações” ( Idem: 35). Aí debutou e aí se despediu Pinheiro da vida de “curioso dramático”, a 2 de Maio de 1886, em récita, de cujo programa constava uma comédia em 3 actos , O Dente da Baronesa , um monólogo em verso, e outra com édia em 1 acto, Ciúmes, Amor e Cozinha (117) (ibid.: 55-ss). Nem todos os palcos possuíam a peculariedade dos descritos. O Teatro Taborda (118), na Costa do Castelo , foi concebido para a Academia Taborda , a qual chegou a receber o seu patrono por diversas vezes. No início do século XX, pertencia a uma So ciedade Recreativa dos Empregados dos Caminhos -de-ferro do Leste e Norte, cujo grupo dramático gozava de grande prestígio. O amador levava a sua actividade com prob idade, com sentimento artístico, defendia a Arte de Talma, num espelhamento do universo profissional; as sociedades faziam um esforço por manter um elenco permanente, um reportório variado, por criar abertura e fecho de temporada, e até por fazer digressões entre colectividades, dentro e fora de Lisboa . 116 E ntr e 1 8 8 6 e 1 9 2 0 , tr ab al ho u e m p eq ue no s p ap ei s no D. M ari a II e no D . A mél ia ( a ct u al S. Luí s), so b a d ire cção d e An tó nio P i n h eiro . P elo fac to d e ap en a s p o s s uir u ma ú nic a ca sa c a, co m a q ua l ve st ia q u e r as p er so n a ge n s d e cr ia d o s, q uer as d e co n v id ad o s, fi co u co n hec id o p elo “S il v a b at e -ca sa ca s” o u , si mp le s me n te, p elo “Si l va b at e”. 117 Ori g i na l d e Lu iz d e Ara új o (1 8 3 3 -1 9 0 8 ). 118 Ob ra d o mes mo a rq ui t ecto q ue d e se n ho u o T eatro d o P rí ncip e R eal , à R ua d a P al ma , e se u co n te mp o r ân eo e m co n str uç ão . 38 A dissidência no seio das sociedades funcionava como factor de reprodução de novas sociedades, em novos locais, novos palcos, portanto, perpetuando o espírito do amante da Arte de Representar. Num magnífico prédio da Avenida de D. Carlos , em um subterrâneo transformado num elegante teatrinho particular, com uma espaçosa sala e um pequeno palco guarnecido de vistoso cenário, realizou -se quarta-feira, 6 do corrente, mais uma récita [...] promovida pela direcção deste grupo [Grupo Dramático Familiar ] que tem ali a sua sede; parte dos só cios são família dos proprietários daquela casa. ( 119) Consoante a geografia urbana, a produção dos palcos particulares reflectia o gosto correspondente ao nível social da população local. Se nos bairros populares se oscilava entre o dramalhão lacrimejante e a comédia farsesca de piada pesada, o novo amador de teatro da Lisboa burguesa, a dos “saraus de arte”, esforçava -se por acompanhar a moda elegante dos teatros públicos, dos actores de maior nível intelectual, escolhendo report ório mais consentâneo com a selectividade pretendida. No elegante Teatrinho da Academia Leais Amigos onde este apreciado Grupo [Dramático Carlos Santos ] tem a sua sede, realizou o mesmo Grupo mais um espectáculo no dia 24 do mês p.p., com a peça brasileira O Dote, cujo desempenho foi confiado a D. Na tividade Santos, D. Emília Ferreira , Francisco Ribeiro , Alexandre Reis, Luiz Rocha, Humberto Franco, Fernando Izidro (120) e Izidoro Santos . Toda assistência não se cansou em premiar os amadores com fartos e justos aplausos, aliás bem merecidos. O cenário do terceiro acto pintado pelo amador José Cardim fazia belo efeito. Este Grupo tem progredido de espectáculo para espectác ulo pelo que felicitamos a sua Direcção, o seu Ensaiador Sr. Francisco Ribeiro e todos os demais amadores. – Homem do Pano.(121) A imprensa da especialidade dava, assim, cobertura aos espectáculos amadores, em par alelo com os dos profissionais, e sendo 119 O G ra n d e El ia s , 1 4 .0 1 . 1 9 0 4 . T rata -s e d o p a i d a a ctr iz Ire n e Iz id ro , o q ua l, mai s t ard e, ire mo s e n c o nt r ar a trab a l har co m Ra fael d e Oli v eir a na s ua Co mp a n hi a. 120 39 publicadas críticas pormenorizadas e pedagógicas, isso trazia inevitavelmente prestígio, quer ao grupo amador em questão, quer à Direcção da colectividade em futuras eleições associativas, quer à própria colectividad e, porque atraía, desse modo, mais associados. Esta noção de prestígio individual e colectivo, levava as direcções, por seu lado, a caprichar também no embelezamento dos seus espaços, como noticiava A Ribalta, a propósito da Academia Recreativa de Lisboa: Continuam sofrendo dia a dia vários melhoramentos as salas desta sociedade de recreio e para a qual a comissão de melhoramentos não se poupa para que ela seja em breve uma das primeiras das suas congéneres (122). Uma rede complexa num mercado paralelo de Arte Dramática, pensando bem. Para além da representação de textos de dramaturgos conhecidos, assiste-se ao aparecimento de uma produção de textos dramátic os escritos por amadores. Mantinham -se relações estreitas com actores profissionais, os quais eram consultados, e chegavam a tomar parte em espectáculos específicos: récitas de benefício, ou comemorativas de alguma efeméride. Disso atestam, ainda hoje, as lápides afixadas em paredes de sociedades que resistiram ao tempo, como o Clube Estefânia, em Lisboa, cuja actividade que teve forneceria elementos interessantes para uma história do teatro amador ( 123). Foram estes locais a escola de arte dramática de muitos futuros actores de primeira linha, de gente que, por terem de ganhar o seu 121 Jo rn a l d o s Tea t ro s , 1 4 . 0 9 .1 9 1 9 . A Rib a lta , nº 1 0 , No ve mb ro d e 1 9 1 6 . 123 P ara alé m d e ré ci ta s d e teatro , a co le ct i vid ad e ch e go u a p ro d u zir e sp e c tác u lo s d e ó p era e a e nco me nd ar ce n ário s no vo s a ce nó gra fo s co nc eit u ad o s d o s tea tro s li sb o e ta s. O u tro t a nto aco nte ci a p o r to d o o p aí s, e m c o le ct i vid ad e s , co mo a So c ied ad e d e I n str u çã o T avared e ns e , o u o Gr up o C ara s Dir ei ta s , d e B u arco s , no co n cel ho d a Fi g u eir a d a Fo z , o u, ai nd a , o Gr up o Dra má t ico Mi g ue l Lei tão , d e Leir ia , e ntr e t a nto s q ue fo r a m a u tê nt ic as a te li er s d e c ul t ura p o p u lar. 122 40 sustento e o de suas famílias, não podiam frequentar o Conservatório de Arte Dramática, o qual, segundo Pinheiro , também “estava longe de corresponder ao seu alto fim” (Pinheiro 1909: 109). Compunha -se, então, o curso, da Rua dos Caetanos , de três cadeiras apenas: História do Teatro, Declamação e Arte de Representar . Manifestamente insuficiente como aprendizagem, defendia Pinheiro que se introduzisse o estudo da Língua Portuguesa , para que ela não fosse deturpada na representação, como se verificava; que fossem criadas aulas de Etnografia, de Mímica e Pantomima, de Psicologia, de Estética Teatral, de Anatomia Artística , e de Caracterização . A arte teatral, reunindo em si quase todas as belas artes, não implicará no comediante a necessidade de conh ecimentos gerais e, por assim dizer, enciclopédicos, que o encarreirem e lhe desbravem o caminho para um estudo sério e aprofundado, desenvolvendo -lhe a imaginação criadora, que juntamente com a observação e a imitação, constituem o chamado fogo sagrado ou vocação? (id. : 110) Pretendia-se deste modo corresponder às necessidades, que os ventos de França traziam. A leitura de obras como O Paradoxo do Comediante, de Diderot, ou A Arte e o Comediante , de Coquelin ( 124) , estabeleciam o debate dos espíritos cultivados do princípio do século XX. Em 1905, uma sociedade composta por Adolfo Lima , César Porto, Luís da Mata e Severino de Carvalho , designada Teatro Livre , apresentava-se com o objectivo de “educar e levantar o espírito do público pela apresentação de modernas obras de Arte; formar carácteres, depurando e afinando sentimentos pela benéfica e potente influência da Arte” (P IN H E IR O 1929: 82) (125). No mesmo ano, João Reis Gomes publicou O Teatro e o Actor: Esboço Filosófico da Arte de Representar , que mereceu profundo elogio de Teófilo Braga , em 124 B enô it - Co n s ta nt Co q uel in ( Co q uel i n a i né, 1 8 3 0 - 1 9 0 9 , acto r) C f. a es te r esp ei to o c ap ít u lo “T eat ro Li vr e ”, d e Co n to s La rg o s , d e An tó n io P in h eiro . 125 41 artigo publicado na Revista literária, artística e científica , de O Século, de 13 de Novembro. Era tão importante que existisse uma consciência profissional ( 126), em cuja luta campeava António Pinheiro, como o movimento amador funcionasse como vector de formação de públicos conhecedores das exigências do espectáculo, não só em Lisboa, como também nas cidades e vilas de província ( 127). 4.2. E pelos “ Chalets” de madeira e lona. Para sair da insalubridade alfacinha, o lisboeta frequentava as quintas fora de portas, “com o seu quê de romaria e farândola, as suas idas e voltas a pé, ao ar, entre guitarras e risadas, a sua comida em mangas de camisa, ante uma paisagem de arredor, meiga e ensolarada, e finalmente o chinquilho, o famoso, o higiénico, o primitivo, o nacional chinquilho, que o Senhor inventou para alargar o peito dos lisboetas que moram em casas estreitas, e respiram em pútridos ambientes de s aguões e de oficinas” ( A LME ID A 1892: 103). E a feira! Todos se lembram ainda dela, tão inofensivamente chinfrim, no Largo das Amoreiras e no terrapleno fronteiro a Santa Maria de Belém . Duas ruas ou três de tendas de lona, onde as quinquilharias alternavam com as queijadeiras, estas com a loiças das Caldas e as lojas de passas, os botequins e as baiucas dos petiscos... detrás, os coios mais obscuros, 126 J o sé Antó n io Mo ni z , acto r e p ro fe s so r d o C ur so d e Ar te d e R ep re s en tar d o Co n ser va tó r io R eal d e Lis b o a, p ub l ica , e m 1 9 0 3 , a Ar te d e D i ze r , c u j o s es t ud o s p reco ni za va m a co mp re n são t éc ni ca, co mo fo r ma d e “p ro te st ar co ntr a u m p ro ces so d e e ns i no , q ue só p o d e rá se r vir p ar a a tro fi ar i nt el i gê nc ia s e a n ular d i sp o siç õ es artí s tic a s” (p .2 ) . 127 E m 1 9 5 8 , Va s co d e Le mo s Mo ur is ca d e fe nd ia, e m ar ti go d e o p i n ião , so b re a fo r ma ção art í st ica, q ue “o c ur so d o Co n ser v ató r io d e ver ia s er re fu nd id o , a mp l iad o e tr a ns ferid o p ar a a s F ac uld ad e s d e Le tra s, co m a d es i g na ção , p o r e x e mp lo , d e Arte s D ra má ti ca s, co n st it ui nd o u ma li ce nc ia t ura ” ( “Ro nd a d e o p i n iõ e s: Esco la d e T eatro ”, L ito ra l , Ave ir o , 0 2 .0 8 .1 9 5 8 : 1 -8 ). O as s u nto gero u p o l é mi ca e no vo arti go n a ed ição d e 2 3 d e Ago sto d o j o r na l , e s e g ui n te s, co m e nt rev i sta s a p ro fis s io na is d a arte . De mu i to i n tere s se a l eit ur a d e ste co n fro nto p o r mo str ar q ue , ao lo n go d o s t e m p o s, t e m ha v id o s e mp r e q u e m s e vá p reo c up a nd o co m a fo r ma ção art ís ti ca, e p a ra q u e m o ta le n to e a i nt u iç ão , p o r s i só s , n ão cu mp r e m to d a s a s ne ce s sid ad es d a Art e. 42 carrosséis, alfurjas de isc as, de melancias e gigos de laranjas; depois fachadas policromas de teatros de mágica, ginástica, mímica e dança , com as suas exibições de barrigas de pernas de crina e falsos topetes, os seus uivos de palhaços, os seus renques de músicos zanagas, e os pregões e velhos truques de fazer rir para a multidão indiferente... (ibid.: 104). Os teatros de feira, da antiga tradição, teimavam em subsistir no novo século. Os teatros -barraca, que iam percorrendo o país de lés a lés, segundo o ciclo feirante, organizav am-se no espaço urbano de Lisboa, consoante os locais existentes: das Amoreiras (128) passam a Belém, a Alcântara , à Rotunda, ou ao Campo Grande, segundo a época do ano. Na feira das Amoreiras , em 1867, uma sociedade, dirigida pelo ensaiador-ponto Alfredo Sette , inaugurou um teatro chalet, construído em madeira, com certas comodidades, o Teatro de D. Luiz , o qual passou em seguida para a feira de Belém , onde se conservou por alguns meses (B A S TO S 1908: 332). Aproveitando a época estival, lado a lado com as tendas das hortaliças, das louças, dos comes e bebes, nos “Chalets”, nas barracas de madeira e lona, maioritariamente acanhadas e com falta de asseio, apesar das excepções, exibiam -se companhias profissionais, que representavam um reportório de comédia e de teatro musicado, ao gosto popular: Theatro Chalet [Palhares] A inauguração deste popular teatrinho que se acha instalado na feira de Alcântara, realizou-se no passado domingo, com a primeira representação da revista fantástica em três actos e nove quadros, Os tímbales do Diabo, original do Sr. Penha Coutinho , com música parte original e parte coordenada pelo maestr o Esteves Graça. Como trabalho literário, esta produção do Sr. Penha Coutinho não pode ser classificada como uma obra -prima. É contudo, no género, muito aceitável, decorr endo, em todos os três actos, ditos espirituosos e algo 128 T eve c urta p er ma n ê nc ia na P a tr iarc al Q ue i m ad a (a ct ua l Lar go d o P rín cip e Re al) , e m 1 8 6 5 e 1 8 6 6 , reg re ss a nd o ao lo c al o r i gi n al, e m 1 8 6 7 . 43 picantes, próprios para o paladar do público frequentador de teatros populares. Na música foi bastante feliz o maestro Sr. Esteves Graça .O teatro está construído com um a certa elegância, muito asseado e é espaçoso, saindo assim da vulgaridade dos teatros de feira.A revista Os tímbales do Diabo , desempenhada muito regularmente por uma modesta companhia, tem agradado francamente, sendo até dignos de especial referência o guarda -roupa, que sem ser rico, é contudo limpo e vistoso, o que demonstra o bom gosto dos Srs. Araújo e Castelo Branco e o cenário do Sr. César Máximo que é todo novo e bem combinado. Os títulos dos quadros, que despertam franca gargalhada, são os seguintes: 1º A pesca do Zé Grigório [sic]; 2º Bichanos e Bicharocos; 3º Uma cambalhota mestra; 4º Sopa, cosido [sic] e assado; 5º Brinquedos inocentes; 6º Festejos de El -rei Berimbau; 7º No país do Fungagá; 8º Empadas...e pastéis; 9º Vá para o Diabo!!! As enchentes têm-se sucedido, sendo todas as noites muito aplaudidos todos os intérpretes, especialmente os artistas Júlio Guimarães , César Máximo, Augusto Martins, Júlia Anjos, Anna Fortes e Cordália. (129) A imprensa dá ampla cobertura ao trabalho do Teatro Chalet Palhares, do Teatro Chalet Trindade , ou do Teatro Chalet Avenida , os quais, com frequência, coabitavam no mesmo espaço das feiras populares: Segundo deliberação da Câmara Municipal de Lisboa, deve a feira do parque Eduardo VII ser inaugurada no dia 22. Nesse popular divertimento haverão [sic] dois teatros: Teatro Chalet e Chalet Avenida. No primeiro deve subir a cena a revista Carta A Portugal , sendo o elenco da companhia o seguinte: Director de cena: Pinheiro Brandão ; Ensaiador: Penha Coutinho ; maestros, Hugo Vidal e Jacinto Lago ; actrizes: Isabel Costa , Alice Figueira, Maria Portuzuelos , Renée Holtreman, Claudina Martins , Beatriz Matos , Cunha Neves, Olímpia Ferreira , Guilhermina Oliveira , Amélia Martins e Tina Alves; actores, Agostinho Silva , Armando Coelho, Bravo, Correia, Costa e Silva , Feliciano d’ Oliveira , Mathias d’ Oliveira, Mega, Pimentel , Pinheiro, Teixeira e Vaz; aderecista: Diogo Teixeira; cabeleireiro: Victor Manuel; guarda -roupa: de Augusto Carmo sob o s figurinos de Júlio Guimarães ; electricista: Mário Silva. O Chalet Avenida será também inaugurado com uma revista Em águas de bacalhau, original de Fulano, Sicrano e Beltrano , e música do maestro Luz Júnior, sendo as personagens do 1º quadro intitulado “No 129 “Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 0 5 .0 5 .1 9 0 4 : 2 e 3 . 44 reino da Bacalhoa” as seguintes: Rainha da Bacalhoa, Grão bacalhau, Bacalhau inglês, da Noruega, Sueco, de lastro, frescal e fiel amigo. No recinto da fe ira, era vulgar a animação ser grande. Alturas houve em que o teatro extravasou os limites da cena convencional, ganhando uma amplitude de quotidiano. Um teatro ainda não crismado de invisível, nem de performativo, mas cuja atitude deixa antever prenúncios futuros, não sonhados, pela mão de agrupamentos, para quem a fisicalidade serviu como veículo de comunicação: No Chalet Theatro da feira do Campo Grande . Cena e quadro novos. Re cortamos de um nosso ilustre colega da manhã, de hoje, a seguinte notícia que reproduzimos: “Por causa de uma actrizita que na feira de Alcântara foi raptada várias vezes, deu -se ontem uma cena de pugilato no theatro C halet da feira do Campo Grande , entre o cunhado de um empresário de um dos theatros de Lisboa e um repórter do Diário, ficando este ferido na cabeça. A companhia tomou parte nesta cena, que não estava ensaiada, agradando extraordinariamente. Haverá reprise?” Safa! Sempre as estrelas dos teatros de feira vão tendo... muita importância! Nós, francamente, é que lha não damos. ( 130) Sendo a novidade um motivo de atracção de público, desde logo os espectáculos se foram adapt ando aos encantos das novidades tecnológicas. Feira de Belém [...] Salão Bolander – Sessões de fotografia animada. ( 131) Por estas estruturas frágeis, tantas vezes sacudidas pela intempérie, que as fazia vergar, para, dos escombros renasceram como fénixes (132), passaram, tal como nos teatros particulares e academias, “Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 1 8 .0 8 .1 9 0 4 : 2 . A S ema n a Ilu st ra d a , nº 4 , 2 0 .1 0 .1 9 0 6 . 132 O p erió d ico B ra s il - Po rt u g a l , (0 1 .1 2 .1 9 0 9 : 3 3 5 ), so b o tí t ulo “E fei to s d o úl ti mo fur acão ” , e xib i u fo to s d o ne fas to e fei to n a fe ira d e B e lé m e no T ea t ro C ha le t, to ta l me n te d es tr uíd o . 130 131 45 muitos daqueles que viriam a ser, ou já eram, cabeças de cartaz nos teatros de primeira linha. Júlia Mendes , a sempre saudosa rainha das revistas, deu o seu nome a um teatro-barraca, da Feira de Agosto, na Rotunda , chegando a trabalhar no mesmo, já depois de ter conquistado um justo renome como estrela desse género. A última revista em que a saudosa actriz tomou parte, no referido teatro, intitulava -se Zig-zag. Não tivemos o prazer de vê-la nesta peça, porquan to Júlia Mendes se encontrava já no seu leito de morte, quando, por acaso, assistimos à última representação da referida peça, em 3 de Outubro de 1910. Saímos do teatro Júlia Mendes ( 133), da Feira de Agosto, à meia -noite, e, uma hora depois – mal tínhamos t empo de entrar em casa – rebentava a revolução que implantou o actual regime. ( 134) Quem sabe se, um dia, numa passeio dominical pela feira, o jovem Rafael não terá ficado estarrecido perante algum dos diversos fenómenos aberrantes que por lá se exibiam: a imprescindível “cabeça falante”, a Mulher Gigante, a Mulher Barbuda, e os números de funâmbulos, de hipnotizadores, esse “caleidoscópio maravilhoso e galante”, a que se refere António Pinheiro , o fascínio que o espectáculo exerce na cabeça de qualquer criança. Ou dos adultos, porque não?. A existência de teatros -barraca não era, todavia, exclusiva das feiras, houve-os de carácter mais fixo. No largo do Rato , foi construído um teatro de madeira, modesto e tosco, situado no interior de uma quinta, junto a uma casa de comidas, nas traseiras dos prédios do lado sul da praça, baptizado Novo Teatro de Variedades, cujo empresário foi um Dr. Couceiro , e ensaiador o actor Macedo . Entravase por um arco de pedra, ainda hoje existente, a meio do quarteirão, e 133 Na real id ad e, e s ta ca sa d e esp ec tác u lo s ch a ma va - s e C ha le t T eatro (c f. Ca p ita l , 0 3 .1 0 .1 9 1 0 : 3 ) . Co mo s e mp re, é o v ul go , q ue m co n fer e o ap e lid o q u e ma is l h e to ca o c o ra ção . 134 Ed u ard o d e No ro n ha , D iá r io d e No tí cia s , An o 5 5 º , nº 1 9 .3 5 7 , 2 1 .1 0 .1 9 1 9 . 46 onde se afixavam os reclamos ( 135). O vulgo chamou-lhe Teatro do Rato, ou Chalet do Rato, e assim ficou sendo. Na sua estreia, a 27 de Março de 1880, representou -se uma comédia em 1 acto de Costa Braga,O Crime do Benformoso , e Martírio e Glória, ou Torquato, o Santo, peça sacra de grande espectáculo de Mendes Leal , que “caiu logo na primeira noite, caindo também a empresa ao cabo de seis meses” (B A S TO S 1908: 356). Ali se representaram revistas, mágicas e dramas de autores populares ( 136): “A Feira da Ladra , O Micróbio, Tutti-li-Mundi, O Cavaleiro da Rocha Vermelha , A Gata Branca, O Conde de Monte Cristo , etc.” (137). O seu sucesso foi sempre irregular, segundo Sousa Bastos , por se encontrar longe do centro teatral lisboeta. Foi por diversas vezes reedificado, sempre em madeira, acabando por arder em 1907, quando pertencia ao actor Santos Júnior. Foi o seu martírio e glória, que teve solução a seu contento, e mais sólida. Sua madrinha, D. Antónia Bárbara da Cunha , auxiliou-o de forma generosa, mandando construir, em 1908, o Teatro Moderno, na Avenida de D. Amélia (actual Almirante Reis) , nas imediações de um outro modesto teat ro de bairro, o dos Anjos (actualmente o Lisboa Ginásio ) (B A S TO S 1908: 350). O tempo se encarregou de demonstrar que não haveria de ter grande glória com o novo teatro. Afirmo u-se que a pouca sorte o perseguia... pasto de superstições. 5. E ainda para os lados do Rato. 135 Ai nd a ho j e, q ue m e ntr a r no C a fé s it uad o d o l ad o esq u erd o d o d ito arco , p o d erá o b ser v ar, p e nd ur ad a n a p ared e, u ma r ep ro d ução fo to grá fica , q ue ate s ta o q u e aq u i se d iz. 136 Antó n io J o s é H e nriq ue s , J aco b et t y , J o aq u i m An tó n io d e Ol i veir a , Li b ân io d a Si l va , C araco le s , E s c ulá p io , Lu iz P o rt u g al e o ut ro s. 137 Av eli no d e So u sa , “ S ub síd io s p ara a H is tó ri a d o T eatro P o rtu g uê s” , Jo rn a l d o s Tea tro s, 2 1 .0 3 .1 9 2 0 , e e d içõ e s se g u i nte s. 47 Funcionavam, nas primeiras décadas de novecentos, outras salas particulares, das quais recordaremos duas: o Teatro Almeida Garrett (138) e o Teatro do Castilho . O primeiro, situado na Rua da Arrábida , nº 106 e 110, albergava o Clube Recreativo, cuja direcção se preparava para inaugurar a nova sede, alegadamente restaurada, a 4 de Setembro de 1904, segundo se noticiava na imprensa da especialidade: Foram importantes os melhoramentos e modificações que a zelosa direcção ali entendeu fazer, e que dão à elegante sala, que mede 14 metros de comprido por 6 de largo e ao teatrinho, todo pintado de novo e cheio de brilhantes dourados, um aspecto muito alegre e vistoso. No dia da inauguração serão representadas pelo grupo dramático deste mesmo clube as comédias Hotel Luso-brasileiro e Como se enganam mulheres , a primeira do reportório do teatro do Ginásio e a segunda do teatro D. Maria .(139) Em 1912, chegou a funcionar como animatógrafo, mas acabou sendo destruído por um incêndio, pouco tempo depois e não voltou a ser reconstruído ( 140). O Teatro do Castilho , segundo o actor Pinheiro , ficava situado na travessa das Terras de Santa na, em frente ao Colégio Luso -Brasileiro, que ele frequentava. Aí participou, como ponto, numa récita escolar, (P IN H E IR O 1923:45 e ss.) ( 141), na qual se representou a coméd ia de Garrett, Falar Verdade a Mentir , ensaiada por “um grande amador de teatro”, o professor de matemática Schiapa Roby . Cita, ainda, ter trabalhado neste palco particular, em outras récitas, ensaiadas por um “distinto amador do Porto , Carlos de Almeida, que uma afonia terrível impedi[ra] de seguir a carreira de teatro”, um exímio em “admiráveis 138 Ho u v e ta mb é m u m T eatro Garr et t , d e a ma d o re s, s it u ad o na R ua d o F o rno d o T ij o lo , ao s Anj o s, q ue se as se mel h a va ao T eatro T herp si co re ( P IN H E IR O 1 9 2 3 : 1 6 6 ). 139 “Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 2 5 .0 8 .1 9 0 4 . 140 B ap ti sta d e Car v al h o , “ Al fr ed o Serr a C a va l he iro ” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 0 3 .0 7 .1 9 2 1 : 5 . 141 No t a d e p é d e p á g i na. 48 cenas-mímicas que ele desempenhava e em que era maravilhoso e soberbo na pantomima” (Pinheiro 1923:45). Remontará esta memória à década de 1860, o que atesta a antiguidade deste pequeno teatro de bairro, agora desaparecido como a m aior parte deles. Aparece, também, citado num artigo a propósito do actor amador José Reis , que, em 1904, se encontrava organizando uma companhia teatral familiar neste “elegante teatrinho” ( 142). Rafael de Oliveira , em 1960, mencionará, numa entrevista, ter pertencido ao “grupo cénico do antigo Teatro do Castilho ”, aos 14 anos. Situar-se-ia, portanto, a sua estreia no ano de 1904, relacionando -se essa informação com a veiculada por O Grande Elias a propósito do dito actor José Reis . De estranhar, todavia, que este não seja nunca mencionado por Rafael de Oliveira. Em 1926, Carlos Dubini , actor e articulista do Jornal dos Teatros, na coluna “Gente de Tea tro”, assina a primeira biografia de Rafael de Oliveira, em que o define como sendo “duma reconhecida probidade, disciplinado e disciplinador”, cujo grande objectivo era “manter a sua Companhia de 1 7 figuras, sempre dentro dos limites da correcção, da honestidade e da decência” ( 143). Atribui Dubini ao biografado uma estreia amadora em data anterior àquela que o próprio costumava referir, talvez porque lhe nã o tendo sido auspiciosa, a quisesse votar ao esquecimento. Criança ainda, dotado de grande força de vontade, inclinou -se para o teatro e aos 12 anos [1902], como amador, estreava -se no que foi tão popular Grémio Estrela, a Santa Isabel. Foi uma desastrosa estreia, ele mesmo o confessa, mas como a esse tempo o “rubor não lhe subia à face”, continuou de retrocesso em retrocesso, exibindo -se na maior parte dos palcos das Sociedades Recreativas, até que o género c ómico 142 143 “Mo vi me nto T eatra l”, O G ra n d e El ia s , 1 4 .0 7 .1 9 0 4 . “Ge n te d e T eatro ”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 . 49 a que se dedicou se adaptou mais ao seu temperamento de forma que mais tarde os mesmos palcos recebiam -no com geral agrado. ( 144) Esta informação antecipa, em dois anos, o seu debute público. E confirma a teoria de António Pinheiro sobre o “sarampo do teatro”... Rafael de Oliveira, na entrevista concedida em 1960, afirmará ainda que “aos 18 anos, era profissional”, sem especificar o local, nem o momento. É Dubini quem fornece a pista. O que foi tão popular Baptista Diniz organizou uma Companhia modesta para o extinto Etoile (145) na Estrela e distribuiu o papel de Bernardo da Santa Inquisição, peça em que o nosso homenageado se estreou como profissional, isto em 1910. ( 146) Contava, portanto, Rafael de Oliveira vinte anos, num ano que foi, em Portugal, de grandes decisões. Mas, continua Dubini a respeito do biografado: Após duas épocas seduziu -o a província e em 1913 ele aí vai numa tournée que regressava a Lisboa depois de uma longa viagem de... 3 meses mas já sem fazer parte do elenco, Rafael, porque este se havia agregado ao grupo do velho Silva Vale , mais tarde seu sogro. Pensou Rafael d’Oliveira em organizar uma companhia sob a sua égide em 1916 realizou o seu desejo constituindo -a de 10 figuras então já com algum cenário e guarda -roupa propriedade sua que o denodado esforço e sacrifício produziu. ( 147) 144 Ib id e m. T rata -s e d o Ca s i no «Eto i le », “u m b arr acão b e m co n str u íd o e d ece nt e p ar a esp e ct ác ulo s a ni mato gr á fico s e fo li es b e rg è re s ” , s it u ad o n u m t erre no q ue e x is ti a “no co meço d a c alç ad a d a Estr el a , j u nto à r u a d e S. B e nto , med i nd o 8 5 m d e co mp ri me n to e 1 8 m na ma io r lar g ur a, p ert e nc end o a J eró n i mo J o sé P ereira , [ e ed i fi cad o p o r] A. V ie ira d a Si l va ”. Fo i p o st erio r me n te a mp l ia d o “o p al c o p ara s er ut il iz ad o na r ep re se n tação d e o u tra s p e ç as, co me ça nd o n u ma re vi st a, d ese mp e n had a p o r ar ti s ta s mo d e sto s, ma s d e c erto va lo r, so b re s sai nd o a act riz He nriq u et a V ei ga , o a ct o r Vi cto r e o te no r R ib e iro . A i n a u g uraç ão d o C as i no fo i a 2 7 d e Ab ri l d e 1 9 0 7 ”. P o ss u ía ce n ário s d e A u g u sto P i n a e Ro gério Mac had o . P ratic a nd o p reço s mó d i co s, p o s s uí a “ tr ês p la te i as co m 1 2 0 l u gar es cad a u ma , [... e] u m p eq u e no b a lcão c o m 2 0 l u gar e s” ( B A S T O S , 1 9 0 8 : 3 0 9 ). 146 “Ge n te d e T eatro ”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 . 147 Ib id e m. 145 50 Razão parcelar. Se a ideia se apresenta correcta, a datação escapa ao biógrafo. Sigamos, pois, o discurso de Rafael de Oliveira. Quando tinha 24 anos, em digressão pela província, a nossa Companhia (148) dava em Benavente os últimos espectáculos. Aí tomei conhecimento com outro agrupamento artístico, dirigido por Silva Vale, chamado “Troupe Silva Vale”. [...] Dias depois, eu ingressava nessa Companhia. ( 149) Absoluta verdade, s e tivermos em conta a transcrição de duas notícias publicadas pelo Benaventense. A primeira, a 26 de Abril de 1914, relata: Está nesta vila a companhia dramática do actor Paredes , que se propõe realizar alguns espectáculos num celeiro da rua João Maria da Silva Correia. (150) O primeiro espectáculo realiza -se com o seguinte programa Os três dragões e Carvão e bolas , operetas em um acto, Kalk-Walk, dança inglesa, O Regresso , dueto, finalizando com a opereta Bocaccio na rua... Preços, cadeiras 210, geral 110. ( 151) E a segunda, a 24 de Maio de mesmo ano, especifica que: Num celeiro da rua Nova , realiza-se hoje um espectáculo pela companhia do actor Silva Vale , que promete agradar, indo à cena as peças: Carneiros e Perús, Manhas de Afonso, Juízo Narciso, Uma Surpresa e Milagres de Santo Fingido . Principia às 9 horas e os preços são: superior 130, geral 60. ( 152) Fazendo fé do testemunho de Rafael de Oliveira , estaria ele, então, integrando o “último espectáculo no celeiro da Rua Nova , para 148 A Co mp a n h ia d e An tó ni o P ared e s , p a i d a ac tri z J úl ia P ar ed e s . “E stre ia - se no p ró xi m o d ia 7 a Co mp a n h ia R afae l d e Ol i ve ira : U m p o uco d e hi s tó ri a”, Fo lh a d e Do m in g o , Faro , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 . 150 O s ce le iro s er a m o esp aço d o s t ea tro s d a v il a. O T eatro d o Cl ub e , o u d o C l ub e Art ís ti co , es ta va i n s tal ad o n u m cel eiro d e C é sar S ab i no , e p o s s uí a u m g r up o d ra mát ico a ma d o r, d ir i g id o p elo d r. Ál varo B e t â mio . E m No ve mb ro d e 1 9 1 4 , as d ita s i n sta la çõ e s e s ta va m a ser re st a urad a s, re to ca va - se o c e nário , ap er feiço a v a - se o si s te ma d e i l u mi n aç ã o e fa zia m - s e mo d i fi caçõ e s, ta is co mo u m a e ntr ad a ind ep e nd e n te p ar a a g er al, no se n tid o d e to r nar o teatro o mai s có mo d o p o ss í ve l (“T ea tro d o C l ub e ”, B e n a ven ten s e , 0 1 .1 1 . 1 9 1 4 : 2 ). Fo i d es te c l ub e q ue sa i u o acto r J o r g e Gr a ve , no a n o a nter io r, p ara i n gre s sa r n a vid a p ro fi s sio n al n a cap i ta l. 151 Ben a ven ten se , 2 6 .0 4 .1 9 1 4 : 3 . 149 51 despedida da companhia do a ctor Silva Vale, levando à cena o drama A Escravatura, e outras peças” ( 153)? Nada no -lo confirma, a não ser um cartaz, em papel pardo, de reduzidas dimensões, apenas 22 cm por 14,5 cm, o mais antigo testemunho desta história de teatro ( 154). Comum a dois espectáculos, em dias consecutivos - 31 de Março e 1 de Abril de 1917 – nele se publicita a Companhia Dramática Societária, composta por actores de Lisboa e Porto, que actua no Teatro Santanense, levando à cena o “sublime drama em 4 actos que conta centenares de representações”, A Filha do Saltimbanco (155), e, no dia seguinte, a “hilariante” comédia em 3 actos, 20 Mil Escudos, do reportório do Teatro do Ginásio . Desnecessário será dizer que a considerada companhia dramática, que entre nós se encontra há um mês, se portou com toda a galhardia, de molde a satisfazer as mais exigentes plateias. ( 156) Na distribuição, encontramos o nome de Rafael de Oliveira que, no primeiro espectáculo, interpreta o papel de Daniel, o “triste -sorte”, o saltimbanco e “dobra” o papel de Jerónimo, o salteador ; no segundo, interpreta a personagem de Luís Monteiro , secretário e sobrinho de José Soares, um capitalista avarento, desempenhado por Silva Vale . Prenúncio de tempos futuros? 152 Id em, nº 8 0 8 , 2 4 .0 5 .1 9 1 4 : 3 . Id em , nº 8 1 0 , 0 7 .0 6 .1 9 1 4 : 3 . 154 Ca rta z d a Co mp a n hi a D ra mát ic a So ci etár ia ( MN T 2 0 6 5 8 8 ). 155 A p a ter n id ad e d e s te te xto não é p a cí fic a e en vo l ve - se e n tre b r u ma s d e o ri gi na lid ad e e i mi t açã o d e o b ra fra n ce s a. O p ró p rio So u sa B a sto s ta mb é m a atrib u i ao fra nc ês J e a n - Fra n ço i s B a ya rd , q ue terá s id o i mi t ad o . N a B ib lio te ca Nac io nal e xi st e u m e x e mp lar (B N, Ma n u scr it o s, co d . 1 2 0 4 8 ) d e A Filh a d o S a lti mb a n co , d ra ma e m 4 acto s, o r i gi na l d e An t ó ni o C â nd id o d e Ol i ve ir a , e o utro (B N, M a n us cri to s, Co d . 1 2 1 7 7 ), e m 3 acto s, ver s ão d e Fra nc i sco d e Ar a ú j o . 156 “P elo Co n cel h o : Sa n ta na ”, Ga z eta d a F ig u ei r a , 1 1 .0 4 .1 9 1 7 : 3 . A Co mp a n h ia en co ntr a va - se e m Sa n t an a d e sd e 1 7 d e M ar ço a nter io r , rep re se nt a nd o co m s uce s so , se nd o “a l vo d e mu i ta s p al ma s e... d e m ui ta ma s sa ! ( id ., 2 4 .0 3 .1 9 1 7 : 3 ). 153 52 Passaram-se cinco anos. Ema Vale passou a ser Ema de Oliveira e a Companhia [de] Silva Vale passou a ser a Companhia [de] Rafael de Oliveira. (157) Uma história de teatro, de uma paixão pelo teatro. 6. De novo em Lisboa, 1962: Após A Recompensa... Eis a Companhia dos Artistas Associados ( 158), a quem Vasco Morgado abria os braços, “num intercâmbio teatral”, porque Rafael de Oliveira havia acolhido “triunfalmente no seu Teatro Desmontável , em Almada a Companhia de Laura Alves com todo o elenco do [Teatro] Monumental” (159). Nos bastidores do Teatro Avenida , a “tabela” ostentava os bilhetes de felicitações, os telegramas, as palavras de aplauso provenientes dos amigos e amadores de Aveiro , e de outros lugares por esse país fora. “Houve até famílias importantes, que se de slocaram propositadamente do Alentejo , do Algarve, de Coimbra, além dos abraços amigos de vários actores, como António Silva e Fernando Gusmão”, ou de Teresa Gomes , explica Rafael de Oliveira ao jornalista da Revista Rádio & Televisão. (160) A imprensa acolheu a Companhia com consideração, com perfeita compreensão da sua dimensão e dos seus objectivos. Analizou -a: [A] faceta simpática da organização familiar e associativa dramática, que, com seu teatrinh o desmontável e seus métodos cooperativo sociais, bastando -se a si própria nas mil necessidades técnicas e artísticas, deixa pela província o germe espicaçante do gosto pelo 157 Op . c it ., Fo lh a d e Do m i n g o , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 . O ele nco er a co mp o sto p o r Gen y Fri as , Liz ete Fria s , E ma d e Ol i ve ira , Gi sel a d e Ol i vei ra , M ari a C u s tó d ia , Lu ci nd a T rind ad e , Id al i na d e Al me id a , Ra fa el d e Oli v eir a , Lu ís P i n h ão , F ern a nd o Fr ia s , Fer na nd o d e Ol i veir a , An tó nio Vi lel a , J o s é Alb er to , Ca rlo s Fri as , Álv aro d e O li ve ira e Ar m and o Ve n â ncio . 159 “Av e n id a – Reco mp en s a ”, D iá r io Po p u la r , 1 3 . 0 2 .1 9 6 2 . 160 “R a fae l d e O li ve ira , u m e xe mp lo a se g u ir”, R á d io & T e lev isã o , 2 4 .0 2 .1 9 6 2 : 1 4 e 19. 158 53 teatro.Como as sociedades artísticas de amadores e os grupos locais ou bairristas, eles têm uma sede própria. Portugal inteiro. A tradição vai se consolidando dia a dia. [...] Os filhos seguem as pisadas dos pais na organização; o reportório cresce todos os anos ( 161). Sintetizou -a: Um caso de visão inteligente p arece ter indicado a orientação básica da intrépida empresa; representar peças de grande nomeada, explorar os êxitos da cidade cuja fama chegou a todos os lugares remotos e ficaram no ouvido e no pensamento, como cisas impossíveis de poderem ser saboreadas , ao vivo, lá longe; peças cujo valor pode suportar uma representação modesta ou com força dramática suficiente para atenuar e vencer as deficiências do conjunto, as naturais fraquezas das montagens e o primarismo das encenações ( 162). Avaliou-a: E é, exactamente, nessa abnegação pelos textos, e não numa arrogância vaidosa de competir e igualar, que está o lado simpático da Companhia Rafael de Oliveira . Nesta passagem no “Avenida” de dez obras teatrais notáveis, todas pelo “barulho” que fizeram em Lisboa – cremos que a intenção é mostrar à capital a sua suficiência artística para o público a que se d estina; a honestidade de seus processos, o orgulho do seu amadorismo sem vaidades insolentes ou ilusórias ( 163). Mane, tecel, fares ! Impuseram -se sem espavento. À medida que o reportório se sucedia, a permanência ganhava contornos de “acusação viva e flagrante da «miséria» da nossa vida teatral e, ao mesmo tempo, a prova do valor de uma organização e do esforço comum de gente honesta e trabalhadora” ( 164). A recompensa de Rafael de Oliveira era o resul tado contínuo do trabalho da sua gente, “amadora” de teatro, com direito “ao reconhecimento público do inestimável serviço social que a Nação é já devedora ao seu sacrifício humilde, mas desinteressado pela causa do 161 162 163 164 F. F., “E sp ec tá c ulo s. A ve n id a – Reco mp en sa ”, Diá rio Po p u la r , 1 5 .0 2 .1 9 6 2 : 5 . Ib id e m. Ib id e m. “Deu s lh e p a g u e no Av en id a” , D iá rio Po p u la r , 2 7 .0 2 .1 9 6 2 : 3 . 54 teatro” (165), constatava Humberto d’ Ávil a, no Jornal Português de Economia e Finanças . Apesar de “ressaltar “um certo ar indisfarçável de amadorismo, uma maneira ultrapassada, um arranjo convenci onal”, o articulista manifesta -se impressionado com “a seriedade, a devoção que cada um põe no desempenho do seu papel, e a modéstia, a humildade das suas pessoas perante a composição da figura” e com a recepção de um público conhecedor da Companhia: Não é habitual ver -se nos nossos teatros o público que ali acotovelei, e público – sublinhe-se – que seguiu com vivacidade o que se passava no palco e, pelos comentários que lhe ouvi, tinha a experiência vivida de meios idênticos ao descrito e entendia com antecipação o jogo oculto das personagens, cujas réplicas de carne e osso lhe eram familiares, nas suas intenções e propósitos ( 166). A mesma ordem de razões levará o escritor Romeu Correia a apelidar publicamente a Co mpanhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados, como “o verdadeiro Teatro do Povo. Obra de artesanato, que ressurgiu o teatro ambulante da idade média. Corajosa e exem plar comunhão de arte e de sacrifícios – sem sensacionalismos, sem vedetas, sem louros...” ( 167). H u mb er to d ’ Áv i la, “A rte e E sp ec tác u lo s: A C o mp a n h ia R a fae l d e O li ve ira e m Lis b o a”, Jo rn a l Po r tu g u ês d e Eco n o mia e F in a n ça s , 1 5 .0 5 .1 9 6 2 : 4 5 e 4 6 166 Ib id e m. 167 “R a fae l d e O li ve ira , u m e xe mp lo a se g u ir”, R á d io & T e lev isã o , 2 4 .0 2 .1 9 6 2 : 1 4 e 19. 165 55 Capítulo III : A constituição da companhia de Rafael de Oliveira Ilustração 3 – Cristiano Mesquita (sentado) e Rafael de Oliveira (em pé). I l u stIlustração 4 – Ema Oliveira (em cima). de < Ilustração 5 – Lucinda Vale, mãe de Ema de Oliveira. [A fundamental atitude a ter ante o que nos parece disparatado ou absurdo, por inabitual, deve ser de respeito, de curiosidade e de carinho. [Porque] o teatro é uma arte que exige, de quem a ela se dedica, um esforço e uma devoção que, muitas vezes, o público não avalia devidamente. O teatro, por exemplo para um actor, é um sacrifício de todas as horas, e até um sacrifício da sua própria personalidade. Jorge de Sena, “Sobre o Teatro de Vanguarda”, in Do Teatro em Portugal (1989: 388) 56 1. Os Primeiros Passos 1.1. De Silva Vale a Rafael de Oliveira Ainda que vulgarmente conhecida por companhia de Rafael de Oliveira, esta designação aparece , ab initio, em referências veiculadas pela imprensa, mas apenas será assumida como imagem de marca cerca de doze anos mais tarde. Num primeiro momento, quando Silva Vale transmite a liderança da Comp anhia Dramática Societária , dois anos após a união de Ema com Rafael, a nova designação comercial parece nos que pretende reflectir uma ideia de mudança. O conceito subjacente a Troupe Dramática União parece comportar um ideal unificador de coesão artística, sobre o qual assentaria a força de continuidade e a capacidade de vencer os obstáculos que a profissão de artista, exercida nestes moldes, exigiria. Sete anos após o seu ingresso na companhia de Silva Vale , Rafael de Oliveira faz surgir a sua “novel” compan hia, na Azambuja , às 21 horas e meia, do dia 5 de Maio de 1921, no Teatro do Clube , com a representação da peça Mar de Lágrimas, drama em 3 actos, da autoria de João Gouveia e Jorge Santos, publicado em Lisboa , pelo editor Francisco Franco , na colecção Biblioteca Dramática Popular, e que pertencera ao reportório do Teatro Nacional , na temporada de 1907 -8 (168). Se nada sabemos da recepção do espectáculo – a imprensa regional não só é escassa, como irregular nos pequenos centros urbanos –,encontramo-lo, todavia, documentado através do seu cartaz A re vi s ta Bra s il – P o rtu g a l (1 6 .1 0 .1 9 0 7 : 2 2 8 ) ap re se n ta fo to s d a s ua rep re se nt ação no T eatr o Nac io na l d e D. Mar ia II , n a t e mp o rad a e m q u e fo i es tread a. 168 57 (169). Uma frágil folha de papel fúcsia, medindo uns aproximados 17 por 13 centímetros, impressa a negro, partilha informação de diferentes teores: a habitual distribuição das personagens, o título dos actos, o preço dos bilhetes, o término do espectáculo “com uma [inominada] chistosa comédia n’um acto”, e, ainda, que se trata da “estreia da Troupe Dramática União”, composta pelos actores Rafael d’ Oliveira, José Carlos de Sousa , Silva Vale, João Fernandes, Edmundo de Sousa e as actrizes Ema de Oliveira , Concórdia de Sousa, Lucília Vale, Laurinda Vale e Lucília de Sousa. O primeiro elenco compunha -se, portanto, de dez pessoas, interpretando um reportório d e algumas peças, pelos pequenos teatros de província, e do qual não chegou notícia suficiente. A não ser que, a 7 de Agosto desse mesmo ano, estes actores, aos quais se junta Artur Nunes, representaram, no Teatro Recreio do Cadaval , o drama em 7 quadros, Amor de Perdição , original de Camilo Castelo Branco , extraído por Raúl d’ Além , pseudónimo de Rafael de Oliveira . O cartaz do espectáculo salienta tr atar-se de um “grandioso espectáculo pela Tournée Artística sob a direcção do actor Rafael d’ Oliveira ”. Conclui-se, pois, que a Troupe Dramática União deu lugar à “Tournée Artística Societária, dirigida por Rafael de Oliveira ”, uma alteração que acentua o seu matiz itinerante. Estando muito em voga, por essa altura, a utilização da terminologia francesa, a palavra troupe (170), embora signifique companhia, parece comportar, na prática, uma conotação menor, referindo -se a agrupamentos de menores recursos 169 Cart az e xi s te n te n o M u se u N acio n al d e T eatr o (MNT 2 0 6 5 9 8 ), p erte nc e nte ao acer vo d e Má rio Vi e ga s. 170 P ara So u sa B as to s (1 9 0 8 : 1 4 9 ), t ro u p e d e fi ne - s e co mo “u ma co mp an h ia d e acto r es, r e u nid o s p o r c o nt a d e u ma e mp re sa o u e m so c ied ad e, p ara e xp l o rare m, u m tea tro o u p er co rr ere m t erra s d i v er sa s. [...] e st á ad o p t ad o o ter mo , p ri ncip al me n t e, q ua nd o o s art i sta s a nd a m e m v ia ge m”. To u rn é e i nd i ca “q u e a co mp a n hi a d e q ua lq uer tea tro , o u u ma c o mp a n hi a fei ta e xp re s sa me n t e p ara es se fi m, p er co rre d i ver sa s terra s d o rei no , i l ha s o u B ra s il, d a nd o e s p ectá c ulo s. Ord i na ria me n t e à te st a d es sa s co mp a n hi as vai s e mp r e o no me d e u m ar ti st a q ue se i mp õ e p e lo se u ta le n to e p ela s u a rep u taç ão ” ( Ib i d em: 1 4 6 ). 58 artísticos, representando reportório ligeiro variado, em espectáculos misturando textos dramáticos com números de variedades ( 171); o termo tournée aparece, sobretudo, associado a sociedades artísticas, cujo objectivo era a itinerância. Indiscutivelmente, a designação Tournée Artística Societária, adoptada por Rafael de Oliveira , parecenos representar uma marca determinante de um modelo de gestão, semelhante ao modo como, na imprensa da especialidade, se divulgavam as companhias oriundas de Lisboa e Porto que praticavam a itinerância. Tournée Artística Societária seria o mesmo que dizer Sociedade de Profissionais de Espectáculo Ambulantes, ou Sociedade Artística Itinerante, uma designação passível de autenticação actual por uma Conservatória do Registo Comercial. Ao ser acentuado o papel de Rafael de Oliveira como director, deu-se motivo a que os periodistas designassem o agrupamento por Companhia de Rafael de Oliveira, personalizando a tónica emp resarial. No ano de 1921, constatamos apenas a existência dos dois espectáculos supra, através dos seus cartazes. Parece que a Companhia terá permanecido em terras ribatejanas, já que, a 11 de Junho do ano seguinte, estreia no Salão Ideal, de Santarém , o drama A Rosa do O Arch ivo Th ea t ra l (1 0 .0 8 .1 9 0 9 :5 ), na co l u na “T o ur n ée s art í st ica s” , p ub lic it a as t ro u p e s d o s a cto r es J o aq u i m P ra ta , Carlo s d ’ Ol i ve ira e Au g u s to Co r d e iro , e m d ig re ss ão p elo no rt e, s ul e Ale n tej o , re sp ec ti va me n t e. Q ua lq uer d e l as p o s s u i rep o rtó r io ge n era li st a d e agr ad o certo . No t a -s e q ue, ao lo n go d o te mp o , o ter mo tro u p e fo i c ai nd o e m d e s uso , ap arec e nd o a s so ci ad o , so b re t ud o , a p eq ue na s co mp a n hi as , o u a a mad o res. P a s sar á a e s tar m ai s e m vo g a o te r mo to u rn ée , q ue, d e al g u ma fo r ma , ac e nt ua o mo d o i ti n era n te e, p o rta n to , a co mp e tê nc i a d o s se u s p ro fis s io na is p ara t al. O t er mo “C o mp a n hi a” ap arec e, so b re t ud o , co mo el e nco li gad o a u ma e mp re sa (Co mp a n h ia d e Afo n so T av eir a , p o r e xe mp lo , o u a s co mp a n hi as d e Ad el i na Ab ra nc h es , d e Mar ia M ato s – M e nd o nça d e Ca rva l ho , d e Re y Co l aço – Ro b l es M o nt eiro , d e Luc íl ia S i m õ es - Er ico B ra ga , e d e B ru ni ld e J úd i ce – Al ve s d a Co st a , e ntr e ta n ta s), a u m t eatro ( Co mp a n hia d o É d en -T ea tro ) o u a u m gé nero d e esp e ctác u lo p ra tic ad o (Co m p an h ia d e Re v is ta , Co m p an h ia d e Op ere ta ) . 171 59 Adro, extraído por Henrique Macedo Júnior da obra homónima de Manuel Maria Rodrigues (172). As primeiras críticas teatrais. Em 1922, ascende a Companhia ( 173) à zona centro, assentando arraiais na vila da Lousã . O Alma Nova, semanário d efensor dos interesses da região, publicitava, na edição de 19 de Agosto, que a “Companhia Artística Societária, sob a direcção de Rafael de Oliveira” levaria à cena, na quinta -feira seguinte, dia 2 4, Rosas de Nossa Senhora (174), uma opereta em 3 actos e 1 quadro, com música de Vasco Machado , que pertencera ao reportório do actor José Ricardo. O êxito foi indiscutível, “a casa estava literalmente cheia, vendo-se nos camarotes algumas famílias de Lisboa [...] e muitas senhoras da melhor soci edade lousanense. O desempenho da peça foi 172 T anto A Ro sa d o Ad ro , co mo o A mo r d e P erd içã o , ser ão o s e sp ec tác ulo s q u e ap re se nt a m gra nd e n ú m ero d e rep re se n taçõ es a o lo n go d o s 5 3 a no s d e acti v id ad e d a Co mp a n hi a Ra fael d e O li ve ira. A Ro sa d o Ad ro ter á, i n cl u si v a me n te, u ma se g u nd a ver são es cri ta, d a a uto ria d e Ro me u Co rr eia , q ue ser á e st read a e m Sa n taré m, no T eatro D es mo n tá ve l , a 2 4 d e J ane iro d e 1 9 7 1 , e rep res en tad a a té 1 9 7 4 . Q ua n to ao e nr ed o ca mi l ia no , ter á vár ia s en ce na çõ e s: a d e 1 9 2 1 , d e q ue se d esco n h ece a a uto ria , a d e Er ne sto d e Fr ei ta s (1 9 2 4 -1 9 2 7 ), a d o s i r m ão s Ma to s (1 9 2 9 -1 9 6 7 ), a d e F er na nd o d e O li v eira (1 9 6 7 -1 9 7 2 ) e a d e Rib e ir i n ho ( 1 9 7 3 ). 173 Ne s te mo me n to , a so c i e d ad e e ra co mp o sta p o r : Ra fael d ’ O li ve ira , Car l o s Fr ia s , Mário Li ma , An tó n io B arb o sa , Si l va V al e , J o sé Ro d ri g u es , J o sé S il va , E ma d ’Ol i veir a , Ge n y Val e , Lu ci nd a Fr ia s , I ld a Li ma , La ur i nd a Val e e Deo l i nd a d ’Ol i veir a ( “T ea tro ”, Al ma No va , 1 9 .0 8 .1 8 2 2 : 8 ). Me nc io na m - s e 1 3 ar t is ta s, ao s q ua i s s e j u n tará o ac to r Ev ari sto d e No ro n h a , no e sp e ct ác ulo d e 1 d e O ut ub ro d es se a no ( “T ea tro ”, Al ma No va , 3 0 .0 9 .1 9 2 2 : 5 ) . 174 Ap are ce, p o r vez e s, t a mb é m me n cio nad a co m o Ro sa s d a Vi rg e m . T rata - se d e u ma i mi t ação d e J o ão So l er , d a zarz u el a d e C arlo s Ar n ic h es e Ra mó n As s e ncio Má s, El p u ñ á s d e ro sa s (B N - Ma n u scr ito s, co d . 1 2 0 9 2 ), e mb o ra e xi st a ta mb é m, co m o me s mo no me, u m d ra ma e m 2 a cto s d a au to ri a d e Ed ua rd o An t u ne s Mart i n ho , d e 1 9 2 4 (B N -Ma n u sc ri to s, co d . 1 1 8 7 8 ). Es ta o p ere ta p e rte nc i a ao rep o rtó r io d e o u tra s co mp a n h ia s d e p ro ví n cia , co mo a Co mp a n hi a Lisb o n e ns e «G e nt e Se m No me », d iri g id a p o r H u mb er to d e And rad e . N u m ca rtaz d e st a co mp a n hi a p o d e ler - se co mo s ub t ít u lo Um Pu n h a d o d e Ro sa s , tr ad uçã o evid e nte d o tí t ulo esp a n ho l. 60 correcto” (175). O espectáculo terminou com Variedades, destacando o articulista do Alma Nova o desempenho dos irmãos Lucinda e Carlos Frias, em duetos e declamação de poesias, e a jovem actriz Geny Vale , cantando um “lindíssimo fado”, “acompanhada à guitarra pelo distinto académico [...] Sr. Armando Silvestr e Tavares da Silva”. A parte musical do espectáculo fora preenchida por um sexteto local, “que sob a regência do hábil artista Sr. Francisco Ferreira , executou primorosamente alguns trechos musicais” ( 176). A Companhia foi representando o seu alargado reportório, continuadamente, às quintas e domingos, sempre com casas cheias, sinónimo aparente de agrado certo. Tão evidente que a coluna de teatro subli nhava o facto de, no espectáculo de domingo, 3 de Setembro, em que se representara o drama, Do amor à loucura (177), seguido da comédia, O Infanticida, e de um acto de variedades, não só a lotação da sala tinha sido excedida, como no exterior do teatro se tinham formado “grupos que protestavam ruidosamente” ( 178) por não poder entrar. Aparentemente, tudo estaria progredindo a contento, não fora Rafael de Oliveira ter decidido levar à cena o drama em 6 actos, D. Inês de Castro e D. Pedro, o Cruel (179), um arreglo seu, sob pseudónimo de Raúl d’ Além , da tragédia homónima de António Ferreira, na adaptação de Júlio Dantas , e do drama D. Pedro, o Cruel , de Marcelino de Mesquita . De imediato, o inominado autor da secção “T ea tro ”, Al ma No va , 2 6 .0 8 .1 9 2 2 : 5 . Ib id e m. 177 Ali ás Amo r lo u co , d e He nriq u e Lo p e s M e nd o nç a (1 8 9 9 , T eatro d e D. A mél ia , Lis b o a). Fo to d e G eo r g in a P i nto e Au g u s to R o sa e m c e na, e m Lu iz Fra nc i sco Reb el lo , H i stó ria d o T e a tro Po r tu g u ê s, 1 9 7 2 . 178 “T ea tro ”, Al ma No va , 0 4 .0 9 .1 9 2 2 : 8 . 179 Es ta p eç a ap arec erá d e si g n ad a, i nd i s cri mi n ad a me n te, t a nto e m car taz e s, co mo e m p er ió d i co s , ao lo n go d o s ano s, co mo In ê s d e Ca s tro , D. In ê s d e Ca s tro o u D. In ês d e Ca st ro e D. Ped ro , o C ru e l . 175 176 61 teatral do Alma Nova zurziu na companhia, qual Braz Burit y das Beiras: O desempenho desta peça, como de resto o das anteriores, tem vindo em apressada decadência . A pobre D. Inês , coitada, foi assassinada repetidas vezes durante o espectáculo. A desgraçada ideia que a companhia tem de se atirar a tragédias e dramas, se tem a vantagem de agradar a uma pequena pa rte da plateia que nunca viu teatro e fica toda derretida com os ferrabrazes que, em cena, matam D. Inês e a peça, tem o inconveniente de desagradar profundamente a todos os que têm uma cultura mediana ( 180). Cordatamente, permitiu -se o “crítico” dois conse lhos. O primeiro, dirigido aos artistas, sugeria com veemência que não representassem dramalhões e se dedicassem apenas a comédias e peças leves, para as quais haviam sido mais bem fadados. O segundo dirigia -se ao público, que “costumava palmilhar (181) aquilo”, para que fizesse “sentir quão entende e sente alguma coisa da arte dramática” ( 182). Supomos que o assunto terá tido alguma repercussão popular, anterior à publicação do artigo. Depreende-se que, pelo menos, um sector do público não partilharia a opiniã o do periodista, pessoa aparentemente de difícil intimidação, que aproveitou o ensejo para aconselhar os “ donzéis que não [queriam] deixar aos outros o livre direito de crítica”, que se não irritassem “que lhes [fazia] mal aos nervos...” ( 183). O incitamento à pateada, uma demonstração performativa, pública e presencial, de censura aos espectáculos, caíu mal no seio da sociedade lousanense e da Tournée Artística Societária, pelo que o nosso “Sarcey da Serra”, na edição seguinte, voltou à carga, com a lógica dos argumentos da sua razão crítica: 180 181 182 183 “T ea tro ”, Al ma No va , 1 6 .0 9 .1 9 2 2 : 5 . E m i tá lico no o ri g i na l. “T ea tro ”, Al ma No va , 1 6 .0 9 .1 9 2 2 : 5 . Ib id e m . 62 Parece que a crítica teatral do nosso último número causou nesta vila a pior das impressões: uns consideraram -na contundente em demasia; outros levaram o seu furor até ao ponto de a capitularem de iníqua. Sabemos também que os artistas que fazem parte da Companhia Rafael d’Oliveira, magoados com as apreciações que nos permitimos fazer lhes, manifestaram a várias pessoas a sua estranheza pelo impie doso tratamento que lhes infligimos, opinando que em vez de genérica como foi, a nossa crítica deveria ser individual de modo que, não poupando censuras a quem censuras merece, não regateássemos também elogios, aos que deles fossem dignos. Perfeitamente de acordo. Se desejássemos fazer a crítica da Inês de Castro – essa peça de sanguinolenta memória – seria assim que teríam os procedido. Mas não foi esse o nosso intento. Nós pretendemos apenas salientar o péssimo critério que tem presidido à escolha e selecção das peças – e que a Companhia tem feito com o intuito exclusivo de assim lisonjear o mau gosto de um público lamecha, sanguisedento. Por isso, os aconselhamos a banirem tragédias e dramas levando de preferência à cena comédias ligeiras que, com alguns números de variedades, criteriosamente escolhidos, tornariam sem dúvida os espectáculos mais interessantes e atraentes. N o nosso último número, pois, só incidentalmente nos referimos ao desempenho da peça, não desejámos – devemos declará -lo – prejudicar nos seus interesses a referida Companhia. (184) O diferendo agudizou -se, e o dedo foi apontado directamente à figura do dire ctor da Companhia, cuja “obstinação” se não podia deixar de “estranhar e verberar”, ao reincidir na apresentação de um novo drama. Rafael de Oliveira fizera ouvidos de mercador e desafiava a autoridade periodística com a representação de Amor de Perdição . Obviamente, que a resposta saiu lesta, de caneta em riste, e, tal como havia sido “pedido”, menos genérica, não poupando censuras a quem as merecesse e elogios a quem deles fosse digno: Confessamos que ao vê -lo anunciado em cartazes profusamente espalhados por essa vila, ficámos sucumbidos, consternados e não podemos reprimir estas exclamações compungidas: Pobre M ariana! Pobre Simão Botelho ! Mas afinal o desempenho desta peça não foi tão mau como prevíamos. Mariana , Teresa e João da Cruz foram mesmo muito regularmente nos seus papéis. Simão Botelho , apesar de 184 “T ea tro ”, Al ma No va , 2 3 .0 9 .1 9 2 2 : 2 . 63 prejudicado pela voz, aguentou -se um pouco melhor do que nas peças anteriores. A actriz Lucinda Frias ostentou uma linha demasiadamente majestática para serventuária de convento. A actriz Deolinda d’ Oliveira, ontem como de resto no domingo e sempre, desempenhou o seu papel duma forma verdadeiramente lamentável. Baltazar Coutinho felizmente morreu a meio da peça... Quanto a Tadeu d ’ Albuquerque, a sua idade impõe -nos benevolência... ( 185). Ex tribuna , elogiava-se o desempenho das personagens sem mencionar os intérpretes, à excepção das duas pobres actrizes, a quem não se deixava qualquer dúvida sobre o seu valor artístico. Quanto aos outros, salvavam-se Ema de Oliveira e Geny Vale, interpretando, respectivamente, Mariana e Teresa de Albuquerque, e Rafael de Oliveira, com algumas reticências, em Simão Botelho . José Carlos de Sousa, um actor útil ( 186), estaria desempenhando o papel de Baltazar Coutinho, cuja morte a meio do enr edo se traduziu no alívio da plateia. A Silva Vale, cuja idade real impunha benevolência, perdoava-se possivelmente alguma caquexia da personagem de Tadeu d’ Albuquerque (187). De toda a companhia ressalvava -se, sem qualquer dúvida, Mário Lima (188), “um actor sóbrio, 185 correcto e que [possuía] Ib id e m. Na gí ria t ea tral , ap el id av a m - s e d e “ut il id ad e s” o s acto re s c uj o tal e nto b asta v a p ara c u mp rir o d e se mp en ho ar tí s tico d o s p ap é is d e i mp o r tâ n cia re la ti va p ar a o enr ed o . E m to d a s a s co mp a n h ia s, o s ha v ia ; n a d e Ra fael d e O li v eira , J o sé Carlo s d e So u sa era, p elo me no s p o r es ta al t ura, u m d el es. 187 O cr uza me n to d e d a d o s i n fo r ma t i vo s aq ui p ro p o sto , p a rte d o c arta z q u e p ub lic it a o mes mo e sp ec tá c ulo no Cad a v a l , e m 1 9 2 1 , j á a nte rio r me n te me n cio n ad o . As si m, d a d o q ue a s fi g ur as p r i nc ip a is e ra m i n terp r eta d as p e lo s ele me n to s d a fa mí l i a V a le (E ma, Ge n y, Ra fael e o p ró p rio Sil v a Va le , o ele me n to ma i s v el ho ), e st e s co n ti n uar ia m o b vi a me n te a i nt erp re tá - lo s no a no se g ui n te. J o sé Car lo s d e So u sa , se co nt i n ua v a n a co mp a n h ia, co n ti n uar ia a i nterp ret ar o p ap el hab it u al. Ap e na s a p er s o na g e m d e J o ão d a Cr u z no s e scap a a u m rel ac io n a me n to , na me d id a e m q u e fo ra in terp r et ad a a n terio r me nt e p o r Art u r N u ne s, o q ua l ne ste mo me n to não p er te nc ia j á ao ele nco . P o d e eve n t ua l me n te tr ata r -s e d e M ário Li ma , te nd o e m co nt a o e lo gio crít ico q u e o A lma No va l he faz e nq u a nto art i sta . 188 Már io Li ma , a mi go e co mp a n he iro d a s l id e s tea tra is d e R a fae l d e Oli v eir a , in te gr a t a mb é m a Co mp an h ia Dra má t ica So c ie t ária , e m 1 9 1 7 . Fo i p a i d e v ário s acto r es, c uj a s carre ira s s e fizer a m n as co mp an h ia s d e p ro v í nc ia, e d a actr iz Ma n ue la Mari a (1 9 3 8 ), fil ha d o s e u se g u nd o ca sa me n to , q u e si n gro u e m Li sb o a ; fi g ura co n h ecid a d o gra nd e p úb li co p elo se u tra b al ho não só e m tea tro , ci ne ma e 186 64 incontestavelmente as mais apreciáveis qualidades”, en tre alguns elementos de valor, que se não individualizavam, mas aos quais se reconhecia “decidida vocação e aptidões”, e se lamentava que “ por culpa do seu director, os seus méritos indiscutíveis” não tivessem sido aproveitados (189). Esta contestação tão v eemente a Rafael de Oliveira poderia ter tido efeitos nefastos no progresso da companhia, poderia ter motivado o desalento ou, até, conduzido à dissolução do agrupamento. Ele era acusado de ser obst inado, de possuir um “péssimo critério” de selecção de um reportório de pendor populista, próprio para “lisonjear o mau gosto de um público lamecha, sanguisedento”, e de mal aproveitar as capacidades dos seus companheiros. Parece, pois, que a companhia estaria a seguir um modo de actuação semelhante ao anteriormente exercido por Silva Vale , quanto à escolha de reportório, e Rafael de Oliveira a exercer de forma errada a gestão artística, função para a qual obviamente não evidenciava estar habilitado. Após pouco mais de um mês, a Tournée Artística Societária despediu-se do Teatro Lousanense, a 3 de Outubro, num espectáculo em benefício do Cofre do teatro, em que se representou o drama em 3 actos A Filha do Saltimbanco (190). Deslocou-se, seguidamente, para sul, com passagem por Nazaré , Caldas da Rainha e Rio Maior. Desconhecemos se a severidade crítica, durante a estadia na Lousã, terá tido um impacto directo nas futuras decisões empresariais de Rafael de Oliveira , porém, em Abril do ano seguinte, quando se tel e vi são , ma s t mab é m p o r ter s id o u ma d a s me n to ra s, j u nta me nt e co m s eu mar id o Ar ma nd o Co r tez (1 9 2 7 - 2 0 0 2 ), e o utra s p erso n a lid ad es , d a fu nd a ção d o p ro j ecto Ap o iar te, q ue d ar ia o ri g e m à Ca sa d o Ar ti s ta. 189 Alma No va , 2 3 .0 9 .1 9 2 2 : 2 . 190 Es ta é u ma d a s p e ça s q u e será co n he cid a p o r d i v er so s no me s. No c arta z d a Co mp a n h ia D ra má ti ca S o cie tár ia , d e S il v a Va le , no T eatro S a nt a ne n se (Sa n ta na , Fi g u eira d a Fo z ), a 3 1 d e M arço d e 1 9 1 7 , ap a r ece re fer e nci ad a ta mb é m co mo A filh a p erd id a . S erá l ev ad a à ce n a, p o s ter io r me n te, co m t ít u lo s co mo O S a lti mb a n co , o u A Fa míl ia d o Pa lh a ço (a 2 1 d e J un ho d e 1 9 2 5 , no Sa lão P ro mo to ra d e Alcâ n tara , e m Lisb o a). 65 encontra actuando no Grémio Rec reativo de Cantanhede , a “Tournée Artística Societária, sob a direcção do popular actor Rafael de Oliveira” (191), composta por “14 figuras, contando entre elas apreciados artistas”, ampliara o seu habitual reportório com novos títulos: Os Fidalgos da Casa Mourisca , adaptação dramática, em 5 actos e 1 quadro, de Carlos Borges , baseada na obra homónima de Júlio Diniz, A Morgadinha de Valflôr , de Manuel Pinheiro Chagas , e João José (192), drama em 3 actos, do dramaturgo espanhol Joaquín Dicenta (193). Em cartazes desse mesmo ano, constatamos que, após o nome da companhia e a referência habitual à sua direcção, se enfatiza a participação do actor Ernesto de Freitas . “T eatro no Gré mio ” , G a ze ta d e Ca n ta n h ed e , 2 1 .0 4 .1 9 2 3 : 2 . O tí t ulo o ri g i nal é J u a n Jo sé . “Q u a nd o d a es trei a, co m e no r me êx ito , e m Mad rid , e m 1 8 9 4 , a cr ít ica falo u, a p ro p ó s ito d es ta p eça d e J o aq u i n D i ce nta , d e d ra ma so c ia l e at é so c ia li st a. No e n ta nto , n u ma p ersp ect i va h i stó r ica , o s o p erár io s d e Di ce n ta mo v i me n ta m - se n u m d ra ma l hão d e h o nra ult raj ad a, a q ue j á ch a mar a m me lo - so c ial i stó id e. Co nt u d o , a ap re se nt ação , e m 1 8 9 6 , d e sta p eça, p el a Co mp a n h ia d e Ro sa s & B ra zão , p o d e co n si d erar - se u ma o u sad a t en ta ti va d e ab o rd ar o no vo tea tro n at ura li st a, fu g i nd o d el ib erad a me n te ao s d r a ma s hi s tó ri co s o u ao s “p ro b le ma s ” ele ga n te s d e D u ma s Fi l ho e S ard o u. A acç ão g ira à vo l ta d o p ed reiro J o ão J o s é (Ed uard o B raz ão ), d e sp ed i d o ao me s mo te mp o q ue o se u co mp a n he iro An d ré (F er reira d a S il va ). Se m co n se g u ir trab a l ho , q u ere n d o ma nt er a a ma n te, a vo l ú vel Ro s a ( Ro s a D a ma sc e no ), J o ão J o sé ro ub a e é p r eso . Na p r is ão , o nd e te m p o r a mi go E l Ca no (J o ão Ro sa ) , rec eb e u ma car ta d e And ré , a n u nc ia nd o lh e q u e Ro sa vi ve a go r a co m o ab a st ad o P aco ( Al fred o S a nto s ). De se sp er ad o , J o ão J o sé e vad e - se , ma ta P a co e ta mb é m Ro sa , e m b o ra i n vo l u nt ari a me n te. O p úb li co go sto u d o me lo d r a ma, q ue d e u 2 1 r ep re se n taç õ es, e mb o r a a cr ít ica não fo ss e mu i to e n t u sia s ta. An a P ereir a , q ue re ap are cia , na v el ha I zid ra , d ep o i s d e lo n go e inj u sto a fa s ta me n to , te v e o s ma io re s ap la u so s, p arti l had o s, al iá s, p o r J o ão Ro s a e Ed u ard o B raz ão . Q ua n t o a Ro sa Da ma sc e no , a nt e s d a e str eia , j á ti n h a e n viad o cart as ao s j o r nai s, d ecl a rand o q u e o p ap el n ão era p ara e la, o q ue se c o n fir mo u” (Ví to r P a vão d o s Sa nto s , A Co mp a n h ia d e Ro s a s & B ra zã o , 1 8 8 0 - 1 8 9 8 , MNT , p . 5 8 ). 193 Desco n h ece - s e a trad uç ão u ti liz ad a. D e Ca r lo s S ho re , e xi s te u m e xe mp lar ma n u s cri to , co n te nd o li st a d e acto r e s a láp i s, d ese n ho d e p a lco no i ní c io d e c ad a acto , e u ma l is ta so lt a d e ad ereço s rel at i vo s ao s v ário s a cto s, a s si n ad a p o r Nico la u J o sé Lo p e s (B N, M a n u scri to s, co d . 1 2 1 5 4 ); e m v er são d e So ller , e x is te u m ma n u sc ri to , có p i a d e Velo so d a Co sta , co m d ata d e S ete mb ro d e 1 9 0 5 (B NP , Ms. , CO D. 1 2 2 7 0 ); s e m trad uto r , u m ma n u s cri to co n te nd o i g ua l me n te u ma l is ta d e acto r es (B N, Ma n u scr it o s, có d . 1 1 9 2 5 ), e o u t ro ma n us cri to co n te nd o al g u ma s e me nd a s e s up r es sõ e s a ti n ta e a láp i s e no ta s d e e n ce na ção a láp is, a mb a s 191 192 66 2. Da Tournée Artística Societária à Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados : Os primeiros Directores de Cena. 2.1. Ernesto de Freitas e a composição de um reportório. Ernesto de Freitas , para além de primeiro actor da companhia, desempenhou a função de encenador, segundo se infere do cartaz em que se lhe atribui a “scenação” de Rosas de Nossa Senhora (194), até 1927, ano da sua morte. Proveniente de Lisboa, o actor terá provavelmente correspondido a um apelo de Rafael de Oliveira para assumir a direcção artística da companhia, enquanto este passaria a desempenhar em exclusivo as funções de empresário. Desconhece -se, todavia, a data precisa em que o actor Freitas terá entrado para a Tournée Artística Societária . Para fugir aos rigores da invernia serrana, a companhia, como vimos anteriormente, deslocara -se para zonas mais amenas. D epois do litoral oeste, regressara a terras ribatejanas para uma temporada no Teatro Foito , na Chamusca (195). Com os alvores primaveris de 1923, rumou para o litoral centro, estreando -se, a 19 de Abril, no Grémio Recreativo de Cantanhede , com um espectáculo composto pela peça em 1 acto, de Júlio Dantas , Rosas de todo o ano , seguida de um acto de variedades. Neste momento, Ernesto de Freitas , e sua mulher Aurora, integram já a companhia. Embora o seu trabalho como actores mereça b ase ad a s na 2 ª ed iç ão d a o b ra, p ub li cad a e m Ma d rid , p o r J o sé Ro d r i g uez , e m 1 8 9 5 . 194 Le vad a a ce na no C i ne -T eat ro Ar g a ni le n se , a 2 2 d e J u l ho d e 1 9 2 3 . 195 E ntre J a ne iro e Mar ço , se g u nd o o ro t eiro ma n u scr ito d e An tó n io d e Ma ga l hãe s (MNT ). 67 alguma referência elogiosa do periódico local, a Gazeta de Cantanhede dá maior relevo à interpretação de Ernesto de Freitas , no papel de Daniel, o “triste -sorte”, do drama A Filha do Saltimbanco (196). Progredindo no seu contínuo peregrinar, a companhia retorna à vila da Lousã (197). O Alma Nova referencia a curta passagem pelo Teatro Lousanense, anunciando discretamente os espectáculos, sem que haja apelo à memória do conflito do ano anterior. A 17 de Julho, subiu à cena o drama O Filho das Ondas, e a companhia despediu -se do público, a quem se agradeceu, por inte rmédio do periódico local, o “magnífico acolhimento” ( 198) e o auxílio prestado durante a sua permanência (199), e progrediu pelo interior serrano. A estreia em Arganil marca um sucesso; o espectáculo agradou e o Cine-Teatro Arganilense registou uma enchente “além do que se podia esperar”, segundo destaca A Comarca de Arganil : Os bilhetes da “superior” e da “geral” esgotaram -se completamente, vendo-se nas galerias muitos cavalheiros que para lá não costumam ir e tendo outros ficado de pé, por não terem conseguido arranjar lugar. A opereta Rosas de Nossa Senhora é muito bonita e foi bem representada, especialmente na parte que diz respeito ao actor Ernesto Freitas, que se revelou um artista de raça e que i nterpretou com alma o seu papel. A todos deixou a impressão de que tem valor e o temperamento de artista. Apenas a sua paixão nos pareceu ardente de mais para a idade com que se apresentou. Um velho, pois como tal “T ea tro ”, Ga ze ta d e Ca n ta n h ed e , 0 5 .0 5 .1 9 2 3 : 5 . Es tre ia - se a 2 4 d e J u n h o e p er ma n ec e a té 1 7 d e J ul ho d e 1 9 2 3 . 198 “T ea tro ”, Ga ze ta d e Ca n ta n h ed e , 2 4 .0 7 .1 9 2 3 : 5 . 199 No ta - se e m Ra fael d e Oli v eir a u ma r ela ção d e i nt erd ep e nd ê nci a co n st a nte e cur io sa c o m a i mp re n sa reg io nal . Na med id a e m q ue, o b v ia me n te, o o rça me n to não l he p er mi tir ia a co mp r a d e e sp aço p ub li ci tário p ro mo cio n al, o d i recto r d a Co mp a n h ia, o u a l g ué m q ue o rep r es e nt as se , vi s ita v a a red a cção d o j o rna l lo ca l, p ara ap re se nt ar as co rd iai s s a ud a çõ es d e c he ga d a, o u d e d e sp ed id a, a s si m co mo d ar p ar te d o rep o r tó rio e d o el e nco . P o r vez es, e nco n tra m - s e a l usõ es a u ma esp é ci e d e p as se d a te m p o rad a, co n vid a nd o -s e o j o rnali s ta a a ss i st ir gr at ui ta me n t e ao s esp ect ác u lo s . P ara alé m d i sto , R a fae l d e Oli v eir a p ro mo v ia fr eq ue n te me n te réci ta s d e b e ne ficê n ci a, p ro ced e nd o - se , e m mui ta s d el a s, à a n g aria ção d e d o na ti vo s, p o s ter io r me n te, e ntr e g ue s na s red a cç õ es, p ara s ere m ca n al iza d o s p a ra o au x íl io ao s p o b r es ap o i a d o s p o r es se s me s mo s j o rna i s. 196 197 68 apareceu em cena, pode não ser insensível ás setas do amor. Vêem -se frequentemente casos de paixão senil que apenas denotam decadência física. Mas uma paixão cheia de entusiasmo, a romper em labaredas de fogo, com lances de audácia e de génio, de grandeza e de generosidade, positivamente não é pos sível num velho. Afora este ligeiro reparo, a verdade é que Carriço e Anastácio, tio João e Marta fizeram um papelão, assim como os outros artistas ( 200). “Afora” o pequeno senão do entusiasmo representativo de Ernesto de Freitas, a companhia parece exibir uma marca pessoal. “Pode, pois, sem receio de desmentido, afirmar -se que esta companhia é das melhores que por aqui têm passado” ( 201), refere o articulista, deixando entender que a actividade teatral não seria alheia ao público de Arganil . Os artistas interpretavam “com arte e com a maior naturalidade os papéis que lhes [eram] distribuídos, pelo que [colhiam] fartos e merecidos aplausos” ( 202). Do elenco feminino, Geny Vale impressionou porque, “apesar de muito nova, interpretou com arte o papel de «Morgadinha »”, dando -lhe “vida e sentimento”, com “lances duma felicidade enorme” ( 203). A seu lado, em As Duas Órfãs, Ema de Oliveira , de forma soberba, galvanizava a assistência “conseguindo arrancar lágrimas a algumas pessoas que assistiram ao espectáculo” (204). As irmãs Ema e Geny transportavam -se para a pele de Luísa, a ceguinha, e de Henriqueta, as duas irmãs que o destino separou, no drama original de Adolphe d’Ennery e Eugène Cormon, adaptado por Afonso de Magalhães , e que uma versão da meca cinematográfica sublimara, havia pouco, nas também irmãs, Lilian e 200 201 202 203 204 “C i ne -T ea tro Ar ga ni l e n se” , A Co ma r ca d e Arg a n il , 2 6 .0 7 .1 9 2 3 : 2 . Ib id e m . “C i ne -T ea tro Ar ga ni le n se” , A Co ma r ca d e Arg a n il , 0 9 .0 8 .1 9 2 3 : 2 . Ib id e m. Ib id e m. 69 Dorothy Gish (205). Apenas a Rafael de Oliveira , que, em A Morgadinha de Valflô r, interpretava o papel do jovem pintor apaixonado Luís Fernandes, se fazia o reparo de não ter feito “realçar os seus méritos, sem dúvida por estar deslocado no drama”. Recomendava-se-lhe, inclusivé, a comédia, mais a seu “carácter”, uma vez que demonstrava ser “um artista inteligente, estudioso e com inegável merecimento nos papéis cómicos”, porque “nos papéis de galã, afrouxa[va] um pouco” ( 206). Tais alusões parecem -nos indiciar a existência de um trabalho na preparação dos actores e na repre sentação do reportório, que se alargara com a inclusão notória de antigos êxitos dos palcos de Lisboa. Na edição de A Comarca de Arganil , de 30 de Agosto, o articulista ressalva a excele nte recepção do público, uma vez mais: [Esta] esta companhia tem elementos muito aproveitáveis. No seu conjunto é das melhores que por aqui têm passado. O público tem -lhe testemunhado a sua simpatia, enchendo -lhe a casa nos dias em que dá espectáculo. [...] Os bilhetes são procurados espontaneamente, não sendo necessário pedir a ninguém que os compre, como tem acontecido 205 Le s Deu x O rp h e lin e s c o me ça p o r ser u m t ri u n fo teat ral e m 1 8 7 4 . A hi stó r ia d e As Du a s Ór fã s fo i d e s e n vo l v id a p o ster io r me n te co mo ro ma n ce, p e lo s se u s a uto re s, Ad o lp he d 'E n n er y (1 8 1 1 -1 8 9 9 ) e E u g è ne C o r mo n (1 8 1 1 - 1 9 0 3 ), n as ed i ç õ es Ro u ff. N u ma p ri me ira fa s e (1 8 7 7 -1 8 8 9 ), fo i p ub l ic ad a e m fa sc íc u lo s q ue c u st a va m 1 0 cê nt i mo s, p as sa nd o a l i vro e m 1 8 9 5 , co m i g ua l su ce sso . U ma narr ati v a rech ead a d e te ma s fo rt es, típ ic o s d e u m t ip o d e ro ma n ce «l acr i mej a n te », co n s tit u i u u m mo d e lo q ue d o mi no u a li tera t ura p o p u lar fra n ces a no fi nal d o séc u l o XIX : o mi s tér io so b re a s o ri ge n s (d u as ó r fã s e m b us c a d a s u a id e nt id ad e), o p ecad o e a exp iaç ão , o me lo d r a ma (u ma c e ga p erd id a n a cid ad e), o r etr ato d o s ub - mu n d o urb a no , u m to d o p el no d e a ve n t ura s, e str u t urad o s e g u nd o o p ri ma d o d a fa mí l ia. En fi m, nad a q u e s e n ã o p o ss a o b s er var na a ct ua lid ad e no fo r ma to tel e vi si vo : ep i só d io s i n gé n uo s, re lato s p ara le lo s, co i n ci d ên cia s, go lp e s d e te atro q u e d esp e rta m a c u rio sid ad e d o e sp ec tad o r, p er mi ti nd o q ue o d e se n lac e rep o n h a a o rd e m vi ge n te. Fo i rep r ese n tad a e m P o rt u g al , p ela p r i me ira ve z, no T eatro d e D. Mari a , e m 1 8 7 6 , co m t rad u ção d e Er n es to B i e st er (B a sto s, 1 9 0 8 : 2 9 7 ). De sd e 1 9 1 0 até 1 9 7 6 co n he ce m - s e d i ver s as ad ap taçõ es ao c i ne ma . E m 1 9 2 1 , D. W . Gri ffit h, d iri g e, Lil lia n Gi s h e Do ro t h y Gi s h , na v ers ão a me ric a na in ti t ul ad a Orp h a n s o f th e S to rm , e m q ue s e tr a n sp õ e a hi s tó r ia p ara a é p o ca d a Re vo l ução Fra nc e sa (I MDB ). 206 “T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 1 5 .0 8 .1 9 2 3 : 1 . 70 com outras companhias. O reclame desta Tournée Artística, e esse é o melhor reclame, está pois nos seus trabalhos. ( 207) Por ocasião da Feira de Mont’Alto, que proporcionava a concorrência de um outro género de público, das cercanias, este é exortado a comparecer: A companhia está empenhada em proporcionar ao público, nestes dias, espectáculos bons, que lhe permitam gozar umas horas de arte , alegres e felizes. Entre os feirantes há muitos que certamente nunca viram um teatro e que têm desse divertimento uma noção muito errada e superficial. Não devem perder a oportunidade de ver uma coisa boa e instrutiva. O teatro, quando há escrúpulo na es colha das peças, é um divertimento que recreia [sic] o espírito e que moraliza. Esta companhia tem um reportório bom e todas as peças que tem exibido são muito decentes. ( 208) Devido “à carestia da vida”, o público não terá acorrido em número desejado, mas a companhia, representando “comédias e variedades”, tentou produzir “uma óptima escolha das peças, que fizeram rir com vontade” ( 209). Embrenhando-se na serrania, a Tournée Artística Societária continuou a receber o acolhimento das terras beirãs, reconhecendo -se que “todos os artistas desta companhia manifestam grande amor ao trabalho e são sinceros e honestos diligenciadores da vida, que hoje mais do que nunca se nos apresenta difíci l” (210). Em Gouveia, a companhia representa a oratória de Braz Martins , com música de Ângelo Frondoni, Gabriel e Lusbel, ou o Taumaturg o, que o vulgo reduziu à simplicidade franciscana de Santo António. Sobejamente “conhecida, [a peça] não deixa de ser desejada, porque é um drama de muito aparato” ( 211), que apresenta um “bonito cenário e luxuoso 207 208 209 210 211 “T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 3 0 .0 8 .1 9 2 3 : 2 . “T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 0 6 .0 9 .1 9 2 3 : 2 . “T ea tro ”, A Co ma r ca d e A rg a n il , 1 3 .0 9 .1 9 2 3 : 2 . “T ea tro ”, No t ícia s d e G o u veia , 2 8 .1 0 .1 9 2 3 : 2 . “S a nto An tó n io ”, No tí c ia s d e Go u v e ia , 2 5 .1 1 .1 9 2 3 : 2 . 71 guarda-roupa”, congratulava -se o Notícias de Gouveia (212). A primeira representação sofreu de algumas “irregularidades nos coros [e] mutações”, que, todavia, não impediram que o espectáculo fosse repetido três vezes. As gentes de Seia , “ansiosas [...] por mais umas noitinhas assim” ( 213), rendem -se, igualmente, ao sortilégio das duas récitas no Teatro Senense , e felicitam Rafael de Oliveira “pelo bom grupo que tão proficientemente dirige ” (214). O mesmo acontece na Guarda, no início do ano de 1924, com a companhia instalada no Coliseu da Beira, onde exibe “peças de grande efeito cénico e dos melhores autores [com] uma regular con corrência” (215). Após catorze espectáculos, a companhia despediu -se da Guarda, a 24 de Fevereiro, e deslocou -se para sul, estreando -se no Fundão, no mês seguinte. O cartaz de As Duas Órfãs, em cena a 21 de Abril, refere tratar-se do 14º espectáculo no Teatro Casino Fundanense , uma sala inaugurada havi a poucos anos ( 216), onde, no princípio do mês seguinte, subiram à cena os “lindos efeitos de fogo! [e o] excelente desempenho!” ( 217), do Santo António , de Braz Martins, realçados pela nova cenografia de Arturo Lema (1º e 7º quadros), de Reis pai (2º quadro) e de Rogério Machado (restantes quadros). De presumir que o espectáculo, que se realizou em dois dias consecutivos, tenha registado uma bela concorrência; não só a peça era de agrado certo, como exibia um “belo efeito dos milagres, dos peixes, da parreira, do Altar, da Cruz” que se publicitava no cartaz, mas, sobretudo, porque 212 Ib id e m. “R e ss urr ei ção ”, A Vo z d a S er ra , 1 6 .1 2 .1 9 2 3 : 2 . 214 Ib id e m. 215 “Co li se u d a B e ira ”, O Co mb a te , G ua rd a, 2 0 .0 1 .1 9 2 4 : 2 . 216 “Ac to s d a v id a ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 2 .0 7 .1 9 1 7 : 6 - “No vo s t eat ro s – De ve ter lu g ar ho j e 2 2 a i na u g u r ação d u m no vo te atro n o F u nd ão , q ue se i nt it u la T eatro Cir co F u nd a n e ns e. A p eça d e es tre ia é a far s a e m 3 acto s A ma n g a d o f ra d e , o ri gi na l d e J o sé Ág ued a ”. 217 Ca rta z d o e sp e ct ác ulo S a n to An tó n io ( MNT , 2 0 6 5 6 2 ). 213 72 nele participava um “grupo de meninas da vila” cantando os coros de Frondoni (218). No início do verão de 1924, Rafael de Olivei ra conseguiu fazer contratar a companhia pela empresa do Teatro Mouzinho da Silveira , em Castelo de Vide , onde actuou cerca de um mês, deslocando -se, em seguida, para a vizinha cidade de Portalegre . Principiando por actuar no “vasto” ( 219) Cine-Teatro da Banda dos Bombeiros (três espectáculos), prossegue a curta carreira no Teatro Portalegrense (dois espectáculos). Até ao final desse ano, a companhia actuou ainda, a partir de Agosto, no Salão Central do Cartaxo , numa temporada em que Rafael de Oliveira estreou a revista Aplica-lhe o selo, 2 actos e 10 quadros de sua autoria, com música do maestro Fernando Izidro (220). A estadia no Cartaxo poderá ter sido um sucesso popular, mas não esteve isenta de c ríticas acérrimas à qualidade artística da companhia e do seu director, trazendo à memória a permanência na Lousã . 218 Na s co mp a n hia s d e p ro ví n ci a, e a d e R a fae l d e Ol i vei ra não era e xcep ção , na s p eça s d e gra nd e e le n c o , era p rá tic a co rre n t e o s a cto re s d e sd o b ra re m - s e na in terp r et ação d e v ári o s p ap é i s, ma s so co rria m - s e ta mb é m d o s “c u rio so s d ra mát ico s” lo ca is p ara co mp le tar a d is trib u iç ão d o s p eq ue no s p ap é is . C o n se g u ia se a ad e são d o p úb l ico l o cal ao esp ec tác u lo e, e m si mu lt â neo , fo r ma va - se o go sto p elo t ea tro . 219 U ma no t íci a, a re sp e it o d e u ma p ro j e cção c i ne ma to gr á fi ca, p ub l ic ad a e m A Ra b eca , 0 6 .0 7 .1 9 2 4 : 2 , s ub li n ha a a mp l it u d e d e sta s ala d e e sp ectá c ulo s. De sco n he cid a a d a ta d a s ua co n str uç ão , d e verá si t uar - s e a i nd a no sé c ulo XI X, ch a mo u - se p r i me ira me n te T he atro Sa lão , te nd o sid o r eb ap tiz ad o e m 1 9 1 0 co mo T heatro d a B a nd a d o s B o mb e iro s, o q u e re fle cte a i mp o rt â nci a q ue, p o r e st a alt ur a, a s filar mó nic a s ti n ha m e nq ua n to e sp a ço s d e so c iab il id ad e . E m 1 9 2 0 , ga n h ará o e st at u to d e a ni mató g ra fo e, d a í, a d e si g n ação q ue o st e nt a va, q ua nd o a T o urn ée Art í sti ca So c ie t ária p o r lá p a ss o u (B EN T O 2 0 0 3 : 2 0 1 ). 220 Na t ura l d o Cart a xo , Fer na nd o Iz id ro ap are ce r e fere nc iad o p ela i mp re n sa te atra l li sb o e ta, co mo fa ze nd o p arte d e gr up o s a mad o r es e m so c ied ad e s re crea ti va s. E m 1 9 1 9 , s ab e - se q u e i nte g r a o Gr up o D ra má ti co Ca rlo s S a nto s , s ed iad o na Acad e mia Leai s A mi go s , e m Lisb o a (c fr. s up ra, p . 5 9 ). O crí ti co d o Jo rn a l d o s Tea tro s , o “Ho me m d o P a no ”, c he go u a sa li e nta r a q ua lid ad e d e st e g r up o . E m 1 9 2 4 , o se u no me e nco n tra - se a sso ci ad o a u ma d a s me l ho re s so c ied ad e s d e r ecre io l isb o eta , o Cl ub e Lu si ta no , a c uj o gr up o d ra má ti co p er t en cia Leo p o ld i n a N ilo , u ma d a s “v ed et a s” a ma d o ra s d a cap i tal . A 2 5 d e Março , es te gr up o l e vo u a c e n a, no p al co d o Cl ub e T aur i no Ma n u el d o s Sa n to s , e m co me mo r ação d o 1 9 º an i ver sá rio s d a s ua fu nd a ção , a p e ça A Co n d es sa d e S en n e cey . 73 O crítico inominado de A Regateira, fazendo jus ao nome do periódico local, abri u as hostilidades, na sua coluna de “Pelos Teatros”, com um artigo intitulado “A quem nos quer impingir gato por lebre – Mediocridade com mediocridade se paga – Os estalinhos do bailarico – A plateia indígena – A bolsa do Zé Povinho” ( 221). A propósito da representação de A Morgadinha de Valflô r, para quem apenas pretendia “admoestar ligeiramente”, borbulhou a verve da contundência, legitimada pela autoridade do conhecedor: Conhecemos Pinheiro Chagas e a sua obra como os dedos das nossas mãos, e, é esta a razão do nosso descontentamento, por vermos deturpada, escarnecida, uma obra genial, que é ao mesmo tempo um dos maiores triunfos da literatura portuguesa. Que se escarneçam peças de autores medíocres, está bem, mediocridade paga -se com mediocridade; porém, com a Morgadinha de Valflôr , o caso é diferente. Não há ninguém com o direito de se arvorar em Luís Fernandes constipado, sem primeiramente ter feito um estudo demorado e consciente do papel a interpretar. Há papéis, em que a fisionomia de um actor deve dizer mais do que tudo que os lábios possam dizer; e o papel de Luís Fernandes é um destes: um papel em que predomina a expressão da altivez, e a ironia na réplica. Ora foi isto, precisamente, que nós não vimos. O que nós vimos foi apenas um ligeiro esboço, do que devia ser. Não somos demasiado exigentes, porém, o que não queremos é ri r com dramas, e chorar com comédias; porque, na verdade, uma Rosa do Adro com estalinhos do bailarico em pleno cemitério provoca a hilariedade... e nós não queremos... rir, somos rapazes sérios. Uma coisa há, porém, em que não podemos deixar de elogiar a companhia: foi a forma como soube estudar, e tocar, o ponto sensível da plateia indígena. Toda ela se comove com uma morte no tablado; embora essa morte seja grotesca e comicamente desempenhada. Portanto, façam do palco um matadouro, assassinem a arte de Talma, se preciso for, matem, matem sem descanso, e verão depois como correm as lágrimas da pieguice, da incompreensão, e como as tragédias sangrentas, ocasionam fartas sangrias na bolsa do Zé Povo (222). De novo, o dedo em riste dirigido a Rafael de Oliveira e à sua menor competência na interpretação de papéis dramáticos. O “Sarcey” 221 A Reg a tei ra , 2 1 .0 9 .1 9 2 4 : 2 . 74 ribatejano sem a condescendência do crítico de A Comarca de Arganil , investiu à direito, prometendo para a edição seguinte a estocada final, na crítica ao Amor de Perdição , “pela pena dum crítico ilustre, que se [encobria] sob o pseudónimo de Ramalho ”. A transcrição do referido artigo vale cartaxense pela no descrição Salão pitoresca Central , um de recinto uma soirée doublée de dramática teatro e animatógrafo, “um velho barracão de madeira e zinco, desconfortável e feio, frio e triste e sem as condições exigidas para uma casa de espectáculos, [estando], por isso, sujeito só à visita de companhias medíocres” (223): Do bronze do campanário, dez l amentos se desprenderam e circunvagaram no espaço, compassadamente, implacavelmente. Demo nos pressa. No palco do Salão Central ia desenrolar-se mais um drama de nomeada. Entrámos. No ar, as conversas entrechocam -se com soluços de violino, guinchos de flauta e notas vibrantes de piano na interpretação arcaica duma valsa piegas. O motor, de quando em quando, exausto, põe desfalecimentos na luz e expectativa no ambiente. Há conversas dominantes; à nossa direita, homens de mazantinos, de fontes rapadas à castelhana, cheirando a cavalo, discutem Moéra e os touros de morte, vituperando a Protectora dos bichos; do outro lado, um pacóvio intruja outro, baixinho para que o não desmintam, com as proporções grandiosas do elevador de San ta Justa e do Coliseu dos Recreios , tornando-as desmedidamente gigantescas; atrás e à frente as meninas discutem a Morgadinha na interpretação da companhia. Há frases de aprovação: “que era bonita a peça e que ela, a pequena, tinha andado muito bem; que até tinha feito chorar; que estava trémula; tinha um nó na garganta; que no dia acordou com uma pontada sobre o coração; chamassem -lhe piegas, mas não podia ver estas coisas a sangue frio, então...! que queriam! E que se a levassem outra vez que havia de ir custasse o que custasse; que enfim, na sua fraca opinião, não se podia exigir mais; e de mistura muitas frases axiomáticas, de agenda de algibeira, sobre a Mulher e o Amor; destaca-se um pensamento entrecortado sete vezes pela irreverência duns lábios moços e sequiosos... o amor é um barquinho que... e não passou daqui. Discutem de seguida o Amor de Perdição . 222 Ib id e m. J o ão B e te nco ur t , “Ar te e Ar ti s ta s: Mar ia Lu í sa é a E st re la b ri l ha n te d a Co mp a n h ia Lu so -B ra si le ira ”, A R eg a te i ra , 2 5 .1 2 .1 9 2 4 : 3 . 223 75 As mais sensíveis fazem valer a sua opinião sobre as passagens mais difíceis do drama, dão um credo e um suspiro e quedam -se extenuadas. A mais erudita, de óculos, um pouco belfa, cita frases - ipsis verbis , achava bem merecido o fim de Baltazar [Coutinho], etc., etc. Depoi s acendem-se as gambiarras, a orquestra acelera o andamento, finaliza e arruma os instrumentos. Fixa -se o palco. Na superior há notas particulares de nervosismo; uma tosse seca, um sorver de narinas, roncos que se ajeitam, pernas que traçam e se destraçam, cabelos que se compõem, um torcer de pescoços, etc..., na geral, um bocejo meio falado, um arroto, uma frase de espírito inconveniente, um roncar cansado, um tossir catarrento, etc., etc... e as tradicionais pancadas de Molière, enfim!! Pela assistência p erpassam frissons; algumas meninas deitando um derradeiro olhar, de soslaio, para os namorados, balbuciam intimamente um “até já”. O pano sobe, enfim, lentamente para nos mostrar a primeira cena, vis-a-vis com um cartaz sangrento do Rocambole que cobre a cabine do antigo animatógrafo. Ab iratio, um pai, que veste sem aticismo, atinente à casta a que pertence, admoesta uma filha, vestida como uma marafona de salão, muito adlibitum nas maneiras, em frente do progenitor que, de carão mascarrado a rolha, estre mece a perna e meneia a cabeça em desalinho, como um coronel reformado a descompor criadas. Ora abóbora, senhor de nobre brasão que assim trajaste. Senhor Tadeu de Albuquerque tenha a certeza de que se o seu cocheiro fosse vivo, arrepeso, arrenegaria conti nuar a servi -lo. O mesmo descontentamento se verificou em relação à estreia de Aplica-lhe o selo . No semanário A Regateira (224), João Betencourt considerava a revista fraca, composta de um “amontoado de piadas, sem ligação e sem nexo”, valendo “a música, da autoria do maestro Fernando Izidro”, com “números bons, agradáveis e que facilmente entram no ouvido”, advindo daí as enchentes e “que a Troupe societária [andasse] satisfeita...” Por outro lado, no quinzenário O Pintassilgo (225), mais condescendente, o crítico teatral Molière de J o ão B et e nco ur t , “P e l o s T eatr o s : Ap li ca - lh e o s elo !. .. : re vi s ta e m 2 ac to s le vad a à c e na no Sa lão Ce n tra l”, A Reg a te ira , 3 0 .1 1 .1 9 2 4 : 2 . 225 Mo l ière d e B eet ho v e n , “Art e: T eatro : A re vi s ta Ap li ca - lh e o se lo o b te v e gra nd e s uce s so ”, O P in ta s si lg o , No ve mb ro d e 1 9 2 4 . T rata - se d e u ma no tí cia se m d ata p reci sa, p er te nc e nd o a u ma p a st a d e reco r te s j o rna lí s tico s d o ac er vo d e O li ve ira. T o rno u - s e i mp o ss í ve l ver i fi car o o ri g i nal , p o rq ue o e xe mp lar e x i st e nte na B ib lio te ca Na cio na l e nc o nt ra - se e m ma u e st ad o , se m a uto r iza ção d e co n s ul ta, ne m reg i sto e m mi cro fil me . 224 76 Beethoven (combinação pseudonomástica com humor!) desculpava a insipiência pela incipiência: que mais se podia exigir de um texto não fora escrito por “um prático nestes trabalhos, mas sim por um espírito trabalhador”? E de uma companhia que trabalhava “sobre um palco tão pequeno e desprovido de condições, [...] enxovalhado”, sabendo de antemão que “um bom palco é meio desempenho”? Aparentemente “o brilhantismo” do espectáculo era devido aos cenários de Rogério Machado, e à música de Fernando Izidro , de bom gosto, “duma finura admirável”, nos 22 números, plen os de “ sentimento e [de] alegria, em toda a sua exuberância”, executados pelo Grupo Musical Esperança , sob a sua regência. Nem parecia, portanto, a companhia em quem se havia notado um progresso interpretativo. Pa recia até que o ensaiador não estaria presente, tal o retrocesso que a ironia cáustica da crítica exprimia. E estaria Ernesto de Freitas presente no Cartaxo? Sendo ele um actor conhecido, em permanente destaque na companhia, as críticas assestam as farpas à figura de Rafael de Oliveira , e nunca mencionam o nome do ensaiador, nem sequer fazem referênci a à sua estadia na vila. Durante o primeiro semestre de 1925, depois de uma estadia na Chamusca, a companhia desloca -se para a zona oeste, com passagem por Torres Vedras e pelas Caldas da Rai nha, para finalmente fazer a sua entrada em Lisboa. João António Paixão , empresário do Cinema Belém , pretendendo melhorar a sua casa de espectáculos, para torná -la “um dos mais confortáveis salões cinematográficos de Lisboa , afastado da Baixa”, dotara-a com “um pequenino mas elegantíssimo palco”. Para a sua inauguração contratou -se uma “modesta mas equilibrada troupe de artistas que [regressava] duma tournée pelas [...] províncias onde 77 obteve o aplauso de quantos assistiram aos seus espectáculos” ( 226). Assim, durante o Verão e o Outono desse ano, Rafael de Oliveira e associados, agora Companhia Societária de Declamação , apresentaram o seu reportório em modestos palcos da zona ocidental da capital, entre Belém e Pampulha. O cartaz do Salão Promotora , do Largo do Calvário , anuncia que “sem olhar a sacrifícios de espéc ie alguma, procura dar ao público de Alcântara, de quem sempre tem recebido deferências, espectáculos que o divirtam e ao mesmo tempo lhe dê alguns momentos de certo prazer espiritual” (227). Subiram, assim, à cena espec táculos como A Rosa do Adro (228), As Pupilas do Senhor Reitor (229), A Família do Palhaço (230), ou Amor de Perdição, com encenação e participação de Ernesto de Freitas. Neste lapso de tempo, escasseiam as fontes de informação; o percurso aparece pontuado com uma ou outra referência dispersa. O segundo número do recém -saído jornal de Cascais , Estoril Jornal , de 12 de Dezembro de 1925, refere laconicamente que, nesse dia, no Teatro Gil Vicente , se estreia “uma companhia dramática, que se propõe dar uma série de espectáculos c om um esplêndido reportório do “C i ne ma B e lé m” , Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 4 .0 6 .1 9 2 5 : 6 . C art az p ub li ci tário d e A s Pu p ila s d o S en h o r Re ito r , e m 0 1 . 0 7 .1 9 2 5 (MNT 2 0 6 5 7 6 ). 228 T rata - se d e u ma réc it a d e b ene fíc io , c uj o “p ro d u to líq u id o [...] re ver te e m fa vo r d a s es co la s d a S o cied ad e P ro mo to r a d e Ed uca ção P o p ul ar ”, s eg u nd o s e co n fere no r e sp ec ti vo c arta z p ub l ici tár io (M NT 2 0 6 5 3 5 ). P ara Ra fael d e Ol i vei ra , a b e ne ficê n ci a fo i i g ua l me n te o u tro mo d o d e a ct ua ção d o se u te atro . 229 T ratar - se - á d a ad ap t aç ão d a o b ra d e J úlio D in iz fe it a p o r Er ne s to B ie ster , es tread a no T eatro d a T rind ad e , e m 1 8 6 8 , no b e ne fíc io d a ac tri z De l fi na , co m J o aq u i m d e Al me id a , T ab o rd a e Ro sa Da ma sce no , o u d a ver s ão d e P en h a Co ut i n ho ? C fr., so b r e e st a ad ap t ação , J o s é Mat o s - Cr uz , Jo a q u im d e Al meid a , u m a cto r d o Mo n t ijo , p . 6 6 . A Co mp a n hi a R a fae l d e Ol i vei ra, Ar ti s ta s As so ci ad o s , rep re se nto u u ma no va a d ap taç ão d e st a o b ra, e m es ti lo d e o p e ret a, d a au to ri a d e Lud o v i na Fr ia s d e Ma to s, co m mú s ic a d e Fer na nd o Izid ro , es tre ad a e m Elv as , e m Ag o s to d e 1 9 4 3 , no T eat ro De s mo n tá ve l . 230 O utr a d e si g n ação d a p e ça A F ilh a d o S a l ti mb a n co . 226 227 78 qual fazem parte alguns dramas e comédias” ( 231). No dia seguinte, a Companhia Societária de Declamação levou à cena, em segundo espectáculo, O Paralítico, a “sensacional peça em 5 actos de Victorien Sardou, uma das maiores glórias do saudoso actor português António Pedro” (232), com um “deslumbrante cenário pintado pelo insigne cenógrafo Rogério Machado ” (233), desempenhando Ernesto de Freitas o papel do “paralítico ” Jerónimo Peirás , segundo refere o cartaz ao espectáculo. Em 1926, O Jornal dos Teatros (234) noticiou que a Companhia “em Cascais realizou trinta e tal espectáculos, em Sintra , idem e actualmente, em Sesimbra , vai pelo mesmo caminho” ( 235). Entre Agosto e Outubro desse ano, foram dados “17 espectáculos em Alcácer do Sal, com bastant e agrado”, tendo partido para Santiago do Cacém, onde se estreou a 31 de Outubro ( 236), e onde permanecia ainda no final de Novembro ( 237). Uma notícia detalhava a constituição da 231 “T eatro s e Ca si no s: T eatro Gi l V ic e nte – Ca sc ai s”, Es to ri l Jo rn a l , 1 2 . 1 2 .1 9 2 5 : 4. Era u m d o s “t al e nto s ma i s e sp o n tâ neo s e a s s o mb ro so s” d o te atro p o rt u g uê s, se g u nd o So u sa B as to s . Al g u ma s p eça s d o s e u rep o rtó r io fo ra m co nt i n uad as p o r o ut ro s ac to re s d e r e n o me , c uj o s j o go s d ra má t ico s i n te n so s ao e s ti lo ro mâ nt ico co meça v a m j á a e s ta r fo r a d e mo d a e m Li sb o a, ma s q u e na p ro v í nci a p er ma ne cera m ac t ua n te s d ur a nte mu i to t e mp o . 233 Car taz co m fo to d e E r ne s to d e Fr ei ta s (M NT 2 0 6 5 5 1 ). Se g u nd o Lu iz F ran ci sco Reb el lo , es te co mp o rta u m erro . A p eça p er te n ce a He nr i Cr i sa fu ll i. P arece - no s u m «e rro » p ro p o si tad o , u ma vez q ue o p úb lico p ro vi n ci a no d i fic il me nt e co n h ecer ia e st e no me , ma s id e n ti fic ari a o d e Sar d o u, a u to r d e ê x ito s co mo A To s ca , Fed o ra o u Di vo r cie mo - n o s, e x ib id o s no s tea tro s r e gio na i s p o r c o mp a n h ia s d e Li sb o a. 234 Car lo s D ub i n i , “G e nt e d e T eatro : R a fa el d e Oli v eir a”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 2 5 .0 4 .1 9 2 6 : 5 e 6 . 235 A Co mp a n h ia terá ac t uad o e ntr e Ab r il e M ai o , d ad a a re fer ê nc ia fe ita p elo Jo rn a l d o s T ea t ro s (0 2 . 0 5 .1 9 2 6 : 6 ), p o s si v el me nt e no Sa lão Re cre io P o p ul ar , q u e fu nc io na v a t a mb é m co mo ci n e ma. Ao te mp o , e xi s tia m 3 co le ct i vid ad e s, a So c ied ad e Re cre io Se si mb r e ns e , a So c ied ad e Mu s ica l Se s i mb re n se e o Gré mio Se si mb re n se , co m re fer ên cia s a ac ti v id ad e t eat ral a mad o r a. Ne st a ú lt i ma , s ub i u à ce na A Ce ia d o s Ca rd ea is , a 6 d e Fe ver eiro d e 1 9 2 7 ( O S e si mb r en se , 2 0 .0 2 .1 9 2 7 : 2 ). O j o r na l lo c al s ur g e ap e na s a 2 5 d e J ul ho d e 1 9 2 6 . 236 “P ela P ro v í nc ia”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 0 7 .1 1 .1 9 2 6 : 1 0 . 237 Si n cero , “Mo v i me n to t eatr al” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 1 .1 1 .1 9 2 6 : 6 . 232 79 sociedade (238) e do reportório da Época de Inverno: Amor de Perdição, Duas Órfãs, Os Dois Garotos, Os Fidalgos da Casa Mourisca, As Pupilas do Sr. Reitor , A Rosa do Adro, A Rosa Enjeitada, Rosas de Nossa Senhora , O Conde de Monte Cristo , O Saltimbanco, Fantasmas do Castelo Negro , O Filho das Ondas , O Paralítico, João José, O Filho Pródigo, D. Inês de Castro e D. Pedro , Santo António, Casa de Doidos, D. Quitéria quere casar , Cautela com a Fernanda, A Filha do Conserveiro , Aplica-lhe o Selo , etc, etc. (239) Percebemos, à primeira vista, que, em seis anos, o reportório da Companhia passou a compreender peças, cuja complexidade técnica exigia o seu apuramento artístico. As peças “de grande espectáculo”, da segunda metade do século XIX, só podiam surtir efeito desde que a sua montagem fosse primorosa. Fossem de importação francesa , como As Duas Órfãs, Os Dois Garotos, O Conde de Mo nte Cristo, ou genuinamente portuguesas, como O Amor de Perdição , Os Fidalgos da Casa Mourisca, As Pupilas do Senhor Reitor , ou mesmo o popular Santo António, com as suas mutações cénicas surpreendentes e as apoteoses, da “época áurea da opereta, quando Francisco Palha era empresário” (B A S TO S , 1947: 26) do Teatro da Trindade , e Frondoni , seu director musical, os espectáculos teriam de apresentar montagens a rigor, para conseguir captar o mesmo público que o cinema atraía, exibindo as mesmas histórias a preços bastante mais acessíveis. E, para combater a influência do cinema, e evitar a crise de que se falava, e o desemprego que se denunciava na imprensa da especialidade ( 240), 238 Ra fae l d ’ O li v eir a , Er ne s to Fr ei ta s , Cr is ti a no Me sq ui ta , Ca rlo s Fria s , Art ur Ro d r i g ue s , S il v a V ale , J o rge Fi no , Ar ma n d o Sa nt ’An a (p o n to ), J o s é P i me nt a ( maq ui n is ta). Ac tri ze s: E ma d ’ O li v eir a , G e n y Fri as , Amé l ia Ro d ri g u e s , Au ro ra Fre ita s , La ur i nd a Va le , Zi na Me s q ui ta . 239 “Ép o ca d e I n ve r no ”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 3 1 .1 0 . 1 9 2 6 : 8 . 240 Na d écad a d e 1 9 2 0 , o Jo rn a l d o s Tea tro s p ub l ic av a to d a s as se ma n a s, n a co l u na “Ac to s d a V id a” , u ma rela ção d e p ro fi ss io na i s d o esp ect ác ulo s d e se m p reg ad o s, p ara q ue p ud e ss e m ser c o nt rat ad o s . 80 era preciso que a representa ção se tornasse cada vez mais espectacular a preços idênticos aos do cinema ( 241). Ernesto de Freitas era um profissional de teatro com larga experiência de companhias itinerantes. Aquan do da sua morte, aos 66 anos, a 19 de Maio de 1927, em Faro , Carlos Dubini, que se considerava “um dos que trabalhou na província sob a inteligente direcção do consciencioso finado” ( 242), escreve uma biografia póstuma, na qual o reconhece como “incontestavelmente um actor de esplêndida figura, bela dicção, representando sempre com a máxima das correcções e ainda um elemento que ao teatro português deu o melhor do seu esforço e honestidade” (243). Segundo o articulista, tendo começado muito jovem, Ernesto de Freitas ganhara experiência trabalhando nos teatros das feiras de Alcântara , Belém e Amoreiras, chegando a ser empresário de alguns. Do mesmo modo que também o fora do teatro da Rua dos Condes, de sociedade com Alfredo Paulo, na altura em que ali “se representou Ou Vai ou Racha, Cachalote, Judeu Errante e outras” (244). Integrara as companhias de Francisco Mascarenhas e Correia Peixoto, e chegou a organizar uma tournée a Angola, em 1920, da qual f azia parte este último. Chegam até nós notícias que esta bem organi zada Companhia, a única que se dedica apenas à exploração do seu género na província, se encontra em Faro no Teatro Lethes (245), tendo estreado em 24 241 Será r eco rr e nte es te te ma ao lo n go d o te mp o . Ra fael d e O li ve ira , e m 1 9 5 1 , na s ua te mp o rad a e m Alj u str el , co m o T eatro De s mo nt á vel , far á p ub l icid ad e ao esp e ct ác ulo Jo sé d o T el h a d o , in sc re ve nd o no ca rtaz q ue se tra ta d e “u m a p eça q ue é s u p erio r ao fi l me ”. E , me s mo q u a nd o a Co m p an h ia ai nd a a ct u a va e m T ea tro s fi xo s p el as lo cal id ad es d e p ro ví nc ia, o s p reço s p rati cad o s fo r a m se mp r e id ê n ti co s ao s d o ci ne ma ( “Cró n ica d a Cid ad e: Sal ão Recr eat i vo ”, Diá rio d o Min h o , 0 1 .0 1 .1 9 3 0 : 2 ). 242 Ca rlo s D ub i ni , “Ce n ári o d e Mo r te” , Jo rn a l d o s Tea tro s , 2 2 .0 5 .1 9 2 7 : 4 . 243 Ib id e m. 244 Ib id em. T rat ar - se -á d e u m p er ío d o co mp r ee nd i d o en tre o s a no s d e 1 9 0 6 e 1 9 0 8 , te nd o e m co nta a d a taç ão d e Ou Va i o u Ra ch a (1 9 0 8 ) e d e Ca ch a lo te (1 9 0 7 -8 ) ( R E B E L L O 1 9 8 4 : 2 3 6 e 2 3 8 ). 245 E m S ete mb ro d e 1 9 2 6 , a ilu mi na ção d o tea tro fo i re mo d e lad a ; o acet il en e d e u lu g ar à l uz el éctr ic a, e o Le t he s p a s so u a fu n ci o nar co mo a n i ma tó gra fo no fi nal 81 do mês findo com a peça As Duas Órfãs , com grande sucesso. A Companhia Rafael de Oliveira a que j á nos temos referido pelo seu elenco e grande reportório tem sabido manter os créditos que há muitos anos goza pela sua conduta correcta, apesar de modesta( 246). Assim noticiava o Jornal dos Teatros a temporada no Algarve, em que a Companhia Societária de Declamação, de Rafael de Oliveira, que “por norma não [repetia] as peças a não ser quando o pú blico assim [desejasse]” ( 247), estava apresentando o seu “vasto e bem escolhido reportório” ( 248) e “sendo delirantemente ovacionada pelos espectadores” ( 249). Ernesto de Freitas encenara os “últimos êxitos do Teatro Apolo ”, de Lisboa, Os Milhões do Criminoso , de Xavier de M ontépin, e A Tomada da Bastilha , de Salvador Marques . Aos dois sucessos, com que a Companhia alargava o seu reportório, tendo a peça de Montépin um “cenário completamente novo, pintado pelo distinto cenógrafo Rogério Machado [e] sendo a sua montagem rigorosa” ( 250), o encenador acrescentara Os Fidalgos da Casa Mourisca , “com soberbo desempenho por toda a companhia” ( 251), e ainda a “engraçada e aparatosa revista” ( 252) Aplica-lhe o selo, e a “soberba peça” ( 253) João José, entre outras. Além dos espectáculos levados à cena no Salão Apolo, de Olhão, onde a Companhia se deslocara no intervalo das representações do Teatro Lethes , fora ainda representado o vaudeville (254) O Homem da Bomba , “uma das melhores criações do d es se me s mo a no . ( C fr. “O T eatro Le t he s: As o b ra s co n ti n ua m... se m i n au g ur ação à v i st a ne m p ro g ra ma d e li ne ad o ”, Alg a rve Ilu st r a d o , 2 9 .1 0 .1 9 6 9 : 3 0 e 3 1 ). 246 “Co mp a n hi a So ci et ária Ra fael d e Ol i vei ra”, Jo r n a l d o s T ea t ro s , 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 5 . 247 “C i ne -T ea tro Let he s” , Co rr eio d o S u l , 2 0 .0 3 .1 9 2 7 : 2 . 248 “C i ne -T ea tro Let he s” , Alg a rve I lu st ra d o , 2 9 .1 0 .1 9 6 9 : 3 0 e 3 1 . 248 “Co mp a n hi a So ci et ária Ra fael d e Ol i vei ra”, Jo r n a l d o s T ea t ro s, 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 5 . 249 “T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 0 3 .0 4 .1 9 2 7 : 1 . 250 “T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 1 0 .0 4 .1 9 2 7 : 1 . 251 Ib id e m . 252 “T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 1 7 .0 4 .1 9 2 7 : 1 . 253 “T ea tro s e C l ub s: T ea tr o Let h es ”, O Alg a r ve , 2 4 .0 4 .1 9 2 7 : 1 . 254 So u sa B a sto s r e fere O Ho me m d a Bo mb a co mo u ma o p ere ta d e Fre ita s Ga z ul , ca ntad a no T ea tro d a T ri nd ad e (B a sto s 1 9 0 8 : 2 2 8 ). 82 antigo actor Ernesto de Freitas ” (255), que marcara ainda a revista Ao Pintar da Faneca , da autoria de Artur Moura , e música do maestro Manuel Ribeiro. O espectáculo realizado no Cine -Teatro Farense, a 17 de Maio, iniciava-se com uma comédia em 2 actos, Espectros, representada por amadores, a que se seguia este original, escrito por autores locais e interpretado pela Companhia Societ ária de Declamação. A crítica zurziu sem dó nem piedade na forma e no conteúdo: O conjunto que o autor nos apresentou, não forma uma revista, na verdadeira acepção do termo, mas um todo, composto de rábulas, que ligou melhor ou pior e, se não chega ter graça esfuziante, tem contudo algumas piadas que entram no domínio da pornografia e que são mais próprias das revistas apresentadas nos grandes centros. Apesar desta observação, não temos a ingenuidade de acreditar que os públicos não gostem das piadas fortes, porque sempre o vimos acorrer pressurosamente às casa de espectáculos onde se exibem algumas imoralidades e quanto mais, maior concorrência. É também possível que o autor, por falta de elementos para realçar a revista, se tivesse convencido que não valia a pena esforçar -se para apresentar um melhor original. ( 256) Salvaguardaram -se, todavia, as interpretações de Nena Corona , na comère, de Amélia Rodrigues, declamando “com sentimento e boa dicção” o monólogo “Pobre” ( 257), e de Rafael de Oliveira , no compère, marcando “lindamente na charge ao Cruz Azevedo , na apoteose ao glorioso poeta João de Deus ” (258). “T ea tro s e C i ne ma s : Ci ne -T ea tro Let he s ”, Co rr ei o d o S u l , 0 1 .0 5 .1 9 2 7 : 1 . F. P ., “ Ao P in ta r d a Fa n eca : Re v i sta o ri g i na l d e Art ur Mo ura e Ma n ue l Rib eiro ”, O Alg a rv e , 2 9 . 0 5 .1 9 2 7 : 1 . 257 Ib id e m. 258 Cr u z Aze ved o era p se u d ó n i mo d e Ama d o r B ap ti st a, d e al c u n ha “o a nd ad o r d e J o ão d e De u s”, g uard a d o s Ar ma zé n s Gera i s d e Faro , q ue se t i n ha p o r g rand e va te, ma s q ue e m Faro era t i d o p o r p arvo e p ate ta a le gre, co n fo r me re fe re, no me s mo j o rnal , u m a rt i go , a n e x o a e st e, i n ti t ul ad o Pa r a a Hi s tó r ia d o Mo n u m en to e d o Ba p ti sta . D ep re e nd e - se p elo teo r d o ar ti go q u e se tr ata d e al g u é m q u e s e fa zi a p as sar p o r j o rn al is ta e mec e na s, e q ue e st e j o rnal te nt a va d e s ma sc arar p el a ch aco t a. O a s s u nto te ve co n ti n u ação e m o u tra s e d içõ e s d e O Alg a rve . 255 256 83 Terminada a estadia em Faro , faziam-se os preparativos para a partida para Loulé , quando, a 19 de Maio, Ernesto de Freitas tombou fulminado por uma congestão. A morte do director artístico levou a que fosse organizada uma récita de benefício a favor da a ctriz viúva Aurora de Freitas , e a que fosse encontrado um substituto. Realizou se o benefício no Cine-Teatro Farense, a 5 de Junho, com a representação do drama de Pierre Decourcelle , Os dois garotos de Paris, em tradução de Guiomar Torrezão . Após as récitas, no Teatro Ascêncio, de Loulé, a 16 de Junho, Rafael de Oliveira rumou a Lisboa em busca de solução para o probl ema da continuidade artística da Companhia Societária de Declamação . A 26 de Junho, o Jornal dos Teatros, noticiou o seu regresso a Faro , após três dias em Lisboa , assim como a entrada do actor Carlos de Sousa e de sua mulher Ivone de Sousa, para a Companhia ( 259). Sol de pouca dura, todavia. A 3 de Julho, tanto o periódico Alma Algarvia (260), como O Algarve (261) anunciavam que a crise que estava atravessando a região, causadora das baixas receitas da companhia, levara o recém indigitado director de cena, juntamente com outros actores, a desligarem -se da companhia “de perfeita harmonia” com Rafael de Oliveira. Apesar de tudo, por lá se mantiveram, como referia O Algarve, dando festas interessantes nos clubes farenses. Ao casal Sousa juntara -se Carlos Frias, “tenorino apreciável, e Jorge Fino, barítono de recursos”, cujo “Serão de Arte em canto e declamação, seg uido de baile, na Sociedade dos artistas”, se propagandeava ( 262). 2.2. Afonso reportório. 259 260 261 262 de Matos: diversificação e actualização Si n cero , “Mo v i me n to T eatr al” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 6 .0 6 .1 9 2 7 : 7 . “No tíc ia s tea tra is ”, A lm a Alg a rvia , 0 3 .0 7 .1 9 2 7 : 3 . “V id a d e T ea tro ”, O Al g a rve , 0 3 .0 7 .1 9 2 7 : 1 . Id em. 84 do Desconhecida a forma como se processou o preenchimento do lugar deixado vago por Ernesto de Freitas , depreende-se, pelas notícias saídas nesse verão de 1927, que não terá sido tarefa fácil (263), e terá demorado algum tempo, apenas se encontrando referências à participação do actor Afonso de Matos a partir de 1929. Todavia, parece-nos que a sua escolha como novo director artístico reflecte, sobremaneira, a preocupação que Rafael de Oliveira manifesta em se fazer rodear de profissionais conhecedores da sua realidade teatral, a qual, por muito que se assemelhasse à dos teatros citadinos, possuía regras próprias, que exigiam, acima de tudo, uma coesão interna do grupo, que funcionasse como um escudo prote ctor de qualquer intempérie que se avizinhasse. Nascido em Loures, a 21 de Abril de 1893, Afonso de Matos era um dos filhos do actor Constantino de Ma tos, director da Companhia Dramática Societária Estremoz (264). Para um filho de actor ambulante, o palco funcionava, des de muito cedo, como a sala de aula e o recreio da escola prática da arte dramática, cujo lema era “filho és, actor serás”. Aprendendo desde logo o conceito de responsabilidade, o aprendiz-actor tanto podia fazer de conta de “anjinho”, em qualquer peça religiosa, de Menino Jesus ao colo do Santo António, ou até de filho da desditosa Inês de Castro. E, desde que fossem conhecidas as letras e se soubesse ler, desenvolvia -se a aprendizagem pela recitação de versos e pequenos monólogos, ou, caso um fiozinho de voz ajudasse, pela interpretação de uma cançoneta num acto de variedades, em “Fim de Festa”. Foi o que aconteceu com Afonso de Matos , que se estreou aos cinco anos, num “antigo e desaparecido teatro de Estremoz 263 Se ho u v es se ma i s i n fo r ma ção so b re e ste mo me nto d e c ri se, ser - no s - ia p er mi tid o retra tar mel ho r o t e mp er a me nto d e Ra fae l d e Ol i ve ir a , q ue no s s ur ge , ao lo n go d a s ua v id a, co mo u ma d et er mi na ção c ap az d e s up o rtar a s v ic is s it ud e s p o r q ue p a ss a. De sd e a mo r te d e fil ho s à q ua se p erd a d o se u T eatro De s mo nt á ve l , Ra fael d e Oli v eir a p ar ece re na sc er co nti n u a me n te d as ci n z as d a vid a. 264 Vid e su p ra , p á gi na 2 8 . 85 (265), na cançoneta infantil O Bonequinho (266). Aos 14 anos, era societário da companhia de seu pai, interpretando, “com aprumada e vincada craveira artística, t odos os papéis de galã de opereta e «príncipe» de Mágica, género bastante apreciado naqueles tempos” (267). A vontade de expandir horizontes levou -o a demandar a grande urbe, onde pertenceu às companhias de Lucília Simões – Erico Braga , ou de Alexandre de Azevedo – Ester Leão , no Teatro Nacional de Almeida Garrett . Trabalhou com nomes grados do teatro declamado, como Chaby Pinheiro e Alves da Cunha , ou de comédia, como Silvestre Alegrim (268), Nascimento Fernandes , Beatriz de Almeida e Auzenda de Oliveira (269). Possuidor de uma bela voz de tenor, Afonso de Matos desenvolveu também o seu t alento no teatro musicado, tão em voga nesse tempo, tendo sido figura importante da Companhia de Lina Demoel . Nascido na itinerância, o apelo pela digressão estava -lhe no sangue. Em 1920, parte para Luanda , integrado na Companhia de Ernesto de Freitas , juntamente com Correia Peixoto (270). Em 1922, integrado na Companh ia de Carlos d’ Oliveira visita, pela primeira vez, Ponta Delgada , actuando no antigo Teatro Micaelense, ao qual regressou quatro anos depois, fazendo parte do elenco da Companhia de Opereta de Almeida Cruz , que também actuou no Coliseu Avenida . A 29 de Abril de 1928, o Jornal dos Teatros (271) anuncia o início de uma digressão pela província de uma companhia dirigida pelo actor Holbeche Bastos , e secretariada pelo a ctor Artur 265 T erá s id o n u m t ea tro an ter io r ao T eatro O p erário , q ue só co meç o u a s er ed i fi cad o e m 1 9 0 0 , se g u nd o So u sa B a s to s (1 9 0 8 : 3 5 2 ). 266 “B re v e no ta el u cid a ti v a so b re a p erso n al id ad e a rtí st ica d e Afo nso d e M ato s” , in P ro gra ma d e Ho me n a ge m d a s B o d a s d e O uro Ar tí st ica s, a 1 0 d e J u n ho d e 1 9 4 8 , no Co l i se u Av e n id a d e P o n t a De l gad a , no s Aço re s. 267 Ib id e m . 268 O s uce s so r d o acto r Va l e , no t eat ro d o G i ná sio ( Reb el lo 1 9 8 5 : 7 7 ) . 269 Fi l ha d o ac to r a mb u la n t e He nr iq ue d e O li v eir a , d e q ue fa lá mo s no C ap í t ulo I. 270 “Ac to s d e Vid a: Co mp a n hi a s”, Jo rn a l d o s Tea t ro s , 1 3 .0 6 .1 9 2 0 : 3 . 271 “To u rn é e Al ma P o r t u g u esa ”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 9 .0 4 .1 9 2 8 : 3 . 86 Marcelo, a Tournée Alma Portuguesa , em cujo elenco aparece integrado. Tournée “Alma Portuguesa”- Secretariada pelo actor Artur Marcelo , e sob a direcção artística do actor Holbeche Bastos , iniciou uma digressão pela província a Tournée “Alma Portuguesa”, de que fazem parte, entre outros, os artistas Filomena Lima , Silvestre Alegrim , Zulmira Vargas , Maria Matos, Fernanda Varela, Cremilda de Sousa, Afonso de Matos , Januário Ruivo , os bailarinos Crez y and Janou e o maestro Artur Ângelo . O reportório consta, entre outras, das seguintes peças: Cabaz de Morangos, Rataplan , Pom-pom, Sempre fixe e Chave de Ouro, revistas, e da opereta Mouraria (scenas). Afonso de Matos era, portanto, um profissional com experiência diversificada, com amplo conhecimento da realidade te atral migrante, a quem se reconhecia um temperamento simpático e sincero. Como actor, o brio, o método, a consciência, a dignidade profissional eram as características que lhe permitiam desenvolver a sua capacidade interpretativa, abarcando um espectro amp lo de tipos e personagens. Em palco, possuía um à vontade, uma correcção, e uma distinção que enchiam a cena, desde a simples rábula aos protagonistas vividos e caracterizados rigorosamente. Para Rafael de Oliveira , este homem representaria a figura ideal para preencher o lugar deixado vago pela morte de Ernesto de Freitas . Que conversas terão tido, onde as terão tido, ou que arg umentos terá o director da companhia utilizado para convencer Afonso de Matos a regressar a um modelo de itinerância semelhante à que praticara na sua juventude, não sabemos. Algum entendimento mútuo terá havido, na medida em que se constata que a Companhia Societária de Declamação se reinventa em Companhia (género popular) de Opereta, Comédia, Drama e Revista, mantendo a insistência na direcção do “popular actor Rafael de Oliveira ” (272). 272 “T ea tro ”, Al ma Po p u la r , 0 3 .0 5 .1 9 2 9 : 2 . 87 Em Abril de 1929, a Companhia, que se compunha de 18 figuras, actua em dois dias consecutivos no Teatro Aveirense , interpretando Os Milhões do Criminoso e As Duas Órfãs, a 22 e 23, respectivamente. A recepção não é auspiciosa. Por um lado, O Democrata comenta ironicamente a ausência de público, “apesar dos preços [...] tão populares como a companhia”, devido aos dramas em questão estarem fora “da época”, e “as massadas estarem proibidas” ( 273). Por outro, a contundência habitual de O Debate manifestava frontalmente o seu completo desagrado que a gerência do Teatro Aveirense tivesse fechado contrato com a companhia de Rafael de Oliveira , “excelentes pessoas”, por c erto, mas sem “categoria para pisar o palco de teatro duma capital de distrito”, e a prova verificara -se pela diminuta assistência: Aveiro não é a aldeia de Paio Pires e a todos os bons cidadãos cumpre zelar pelo seu bom -nome, não permitindo ou colaborando em coisas que nos possam deprimir. No palco do teatro de Aveiro, só devem mostrar-se artistas de nome, companhias cujos elementos revelem merecimento e os nossos grupos cénicos, porque se apresentam sempre bem. Aquilo que aí esteve a exibir -se constituía uma autêntica vergonha. Numa barraca da Feira de Março , como outrora o Dallot, tolerava-se; no teatro, não. E ficamos por aqui... esperando que o caso se não repita. (274) A Lusa Veneza sempre se mostrou ciosa dos seus preceitos culturais; o que aconteceu com Rafael de Oliveira , repetiu-se, em outras alturas, com outros artistas de nomeada, como Alves da Cun ha. Felizmente para a Companhia, em Oliveira do Bairro , para onde se deslocou, a recepção mostrou -se calorosa: Têm sido impecáveis os papéis desempenhados pelo elenco teat ral; mas enquanto a nós, achamos soberbo o desempenho da Tomada da Bastilha, pondo de parte as deficiências acanhadas do palco do teatro. 273 274 “T ea tro Av ei re n se”, O Demo cra ta , 2 7 .0 4 .1 9 2 9 : 2 . “P elo T ea tro ”, O Deb a t e , 0 2 .0 5 .1 9 2 9 : 2 . 88 Muito bem. A falta de espaço com que lutamos obri ga-nos a não desenvolver esta notícia; porém podemos afirmar, dentro, é claro, dos nossos fracos recursos de observação, que a Companhia dirigida pelo simpático e popularíssimo actor Rafael de Oliveira , honra a sublime arte de Talma ( 275). Aparentemente, o estilo de representação parece ter -se apurado, apesar de alguns elementos pecarem por indisciplina artística, dando azo a falta de rigor interpretativo, como refere o articulista do Alma Popular, a propósito da revista Aplica-lhe o Selo, “de bom efeito”, possuindo “magnífico cenário, melhor guarda -roupa e bom jogo de cena”, porém: [Torna-se] necessário que alguns dos nossos familiares artistas, deixem-nos assim falar, visto terem feito quartel general nesta vila, não se devem pôr num à vontade, como o fizeram nessa magnífica revista, pois que nós, embora de Paio Pires, sabemos fazer justiça aos méritos do elenco teatral. A revista Aplica-lhe o Selo , digamo-lo bem alto, é escrita com arte e i mpregnada de alegria, tendo quadros surpreendentes, mas nem todos os nossos artistas encararam a sério os seus papéis, e nós queríamos que tal não sucedesse, para que não tivéssemos motivo para escrever este desabafo -crítica, que não deve ser tomado como d ardo venenoso... ( 276) Para bom entendedor... Escapa -nos, todavia, o sentido da referência feita a Paio Pires. Tanto por O Democrata, como reiterada pelo Alma Popular, parece tratar-se de uma graça regional privada, cujo significado “paiopirístico” se esfuma na bruma de uma semântica longínqua. Dois pormenores, porém, nos interessam neste momento. Em primeiro lugar, verifica -se que o reportório não apresenta diferenças substanciais em relação ao que se representava sob a direcção de Ernesto de Freitas . Continuam a fazer sucesso os dramas lacrimejantes, e os de grande espectáculo, mas o gosto pelo teatro 275 276 “T ea tro ”, Al ma Po p u l a r , 0 3 .0 5 .1 9 2 9 : 2 . “T ea tro ”, Al ma Po p u la r , 1 7 .0 5 .1 9 2 9 : 2 . 89 musicado obriga a a crescentar duas novas produções: a opereta Mouraria, do Teatro Apolo, e a revista Chá de Parreira, do Teatro Variedades. Qualquer delas foi apresentada durante a temporada que a Companhia fez no Teatro d e Oliveira do Bairro , a 5 de Maio e a 26 de Junho de 1929, respectivamente. Por isso mesmo, em segundo lugar, forçoso se torna abordar a composição do elenco ( 277), que passa a ter necessidade de se apoiar numa boa capac idade interpretativa de actores-cantores. Carlos Frias e Jorge Fino, que a crise, em 1927, após a morte de Ernesto de Freitas , obrigara a desligar -se de comum acordo, aparecem reintegrados na companhia. Sendo o primeiro, um tenorino, o segundo, um barítono, e Afonso de Matos , um tenor, o registo musical interpretativo masculino abarca um escala ampla de diversidade performativa. Acrescente -se, no naipe feminino, as participações sempre elogiadas de Geny Frias e de Ema de Oliveira , em princípio nas cançonetas e duetos de fim de festa, e actualmente ampliando as possibilidades pela incursão na opereta, e ainda Zina Mesquita, referenciada como uma intérprete de fado. A respeito da qualidade demonstrada, o articulista de A Terra Minhota não podia fazer melhor apreciação durante a estadia no Cine Monçanense. Da Companhia diremos, com inteira imparcialidade: aprese nta-se bem organizada, com harmonia de elementos, todos de valor artístico; com vestuários luxuosos e cenários dos melhores que aqui têm aparecido. Ouve-se com agrado, salientando o desempenho das peças que é digno de aplauso, como bem tem compreendido o p úblico que entusiasticamente aplaude os artistas nos finais dos actos. ( 278) 277 E m 1 9 2 9 , faz ia m p art e d o ele n co : Ra fae l d e Ol iv eir a , Afo nso d e M ato s , Ca rlo s Fri as , Cr is ti a no Me sq u ita , J o r ge F i no , Ar t ur Ro d r i g ue s , Vi to ri no B r ito , S il v a Val e , Alb er to P ir es (t i n ha a fu nç ão d e p o n to ta mb é m), Vir g íl io M esq u i ta , E ma d e Oli v eir a , G e n y F ria s , Amé lia Ro d r i g ue s , Zi na Me sq ui ta , A má li a Cr i st i na , La uri nd a Va le , e o s p eq ue no s a cto r es Fer n a nd o Ma n ue l [F er na nd o d e O li ve ira ] e Fer na nd o El ís io [ Fer na nd o Fri as ] . J o sé d e P i n ho er a o maq u i ni st a, e o ma e stro Mário Ro d ri g ue s , o d ir e cto r mu s i ca l d a co mp a n hi a. 278 “C i ne Mo nça n e n se ”, A Te r ra M in h o ta , 2 6 .1 0 .1 9 2 9 : 2 . 90 A presença de Afonso de Matos na companhia de Rafael de Oliveira era a sua chancela de qualidade. Amplamente conhecido na província, tal como o fora Ernesto de Freitas , distinguia-se, contudo, deste por ter pertencido ao elenco de companhias de grande prestígio, ao lado de actores de primeiro plano: Chaby Pinheiro , Alves da Cunha , Silvestre Alegrim e Maria Matos. Esta associação de conceitos estéticos reflectir -se-ia na escolha do reportório, que, à semelhança do que era hábito fazerem os prestigiados actores da capital, deveria servir em primeiro lugar a “cabeça de carta z”, e, por inerência, toda a companhia. A sua marca pessoal, que aparecera já na forma do cartaz de Mouraria, em Oliveira do Bairro (279), sente-se também na progressiva elaboração de um estilo de reportório, que guardará as peças de grande efeito, salvaguarda financeira da companhia, às quais se irão acrescentando as peças de tese. A temporada de 1929 -30 parece marcar um ti po de renovação em continuidade. Se, a gestão artística de Ernesto de Freitas aproximara a companhia de Rafael de Oliveira das suas congéneres de província, em termos de reportório ( 280), a gestão de Afonso de Matos irá criar uma actualização do modelo anterior, aproximando-o do reportório representado pe las companhias itinerantes de Lisboa (281). 279 Este c art az i ntro d u z u ma mar ca d i st i nt i v a na fo r ma d e p ub l i cit ar o s esp e ct ác ulo s. Oc up a nd o a p o s iç ão ce n tra l, si t u a - s e hab i t ua l me n te a d i str ib ui ção d o ele nco . Ne ste ca so co ncr eto , s up ra d is tri b ui ção , co m o s no m e e m cai x a, ap arec e, nat ur al me n t e, Afo nso d e Mato s e m p r i me iro l u g ar, a p ar d e G en y Fri as e Ra fael d e O li v eir a . O se u no me ap ar ece ai nd a i n fra, e nq ua n to me te u r- en - sc èn e [ si c] . 280 Co mp ara nd o r ep o rtó r i o s d e co mp a n h ia s d e p ro ví n cia ver i fi ca mo s q ue a d ra mat ur g ia é co mu m. T o d as rep re se nt a va m, en tre o ut ra s p eça s, Amo r d e Perd içã o , A s Du a s Ó r f ã s, A Ro sa d o Ad ro , A Mo rg a d in h a d e Va lf lô r , Os Do is Ga ro to s , O Pa ra l íti co , O Ga ia to d e Li sb o a ; u m rep o r tó rio d e t ea tro p o p u lar d o s p alco s d a c ap i ta l. As co mp a n h ia s e x ib i a m - n o p a ra g á ud io d o mo d es to p úb l ico d e p ro v í nci a, q u e, ne m s e m p re te nd o v i sto a s “ved e ta s”, c o n he cia m - n a s, p el o me no s, d e no me, co mo era o caso d e An tó nio P ed ro , no p ap el d e J eró ni mo P eirá s , o P aralí ti co , o u d e Ad el i n a Ab ra n c he s , no d o Ga ia to J o s é , p o r e x e mp lo . 281 As co mp a n hi as o ri u n d as d a c ap i ta l co e xi st i a m, co m freq u ê nc ia, c o m a d e Ra fael d e O li v eira n a me s ma lo cal id ad e , mo t iv a nd o a co mp ara ção c rít ica n as 91 Em Braga, a temporada iniciara -se com a representação de Os Milhões do Criminoso , a 22 de Dezembro, no Salão Recreativo . O Diário do Minho publicitou “a peça de sucesso incomparável”, a “esplêndida montagem” e os “cenários próprios de Rogério Machado ” (282). Até ao final do ano, para além da participação da companhia na matinée de Natal, em que Teatro e Cinema se misturaram para gáudio do pequeno público, os espectáculos sucederam -se, exibindo o reportório habitual de peças sérias, A Rosa do Adro, D. Inês de Castro e As Duas Órfãs. A noite de São Silvestre festeja -se com a representação de O Tio Rafael, título novo pa ra o êxito velho, Casa de Orates, ou Casa de Doidos, a comédia de Aristides Abranches . A 18 Janeiro de 1930, a companhia realiza nova estreia de reportório, com Viagem de Núpcias , uma comédia francesa de Maurice Hennequin , com tradução de Carlos Moura Cabral , em récita de benefício a favor do Cofre da Associação dos Jornalistas de Braga . A peça, segundo o articulista do Diário do Minho (283), “mereceu os mais fartos aplausos, tendo o seu desempenho criado para a companhia uma nova aura”, pela “boa harmonia do grupo”. Entretanto, ia sucedendo a apr esentação do reportório habitual, “o melhor que [a empresa arrendatária do teatro podia] conseguir pelos preços mais amoldáveis [sic] e populares” ( 284). Enquanto isso, a companhia preparava afanosamente a apresentação de um original do seu reportório. Rafael de Oliveira, para além das adaptações que fizera, apenas havia escrito a revista Aplica-lhe o Selo. Neste momento, a escritora e poetisa Ludovina Frias de Matos escrevia expressamente, para seu co l u na s d o s p erió d ico s lo ca is. Ne m se mp re a s d a c ap i tal le va ra m a me l ho r na ap rec iaç ão . 282 “C ró nic a d a C id ad e : Sa lão Re crea ti vo ”, D iá rio d o Min h o , 2 1 .1 2 .1 9 2 9 : 2 . 283 “Cró n ica d a C id ad e: S alão Re crea ti vo : Via g e m d e Nú p cia s ” , D iá r io d o Min h o , 1 9 .0 1 .1 9 3 0 : 3 . 284 “Cró nic a d a C id ad e: S alão R ecre at i vo ”, Diá r io d o M in h o , 0 5 .0 2 .1 9 3 0 : 2 . 92 irmão Carlos Frias , Os Milagres de Nossa Senhora de Fátima. Tratava-se da primeira peça de teatro declamado, destinada a um reportório próprio da companhia, versando uma temática genu inamente portuguesa contemporânea, arrancada “à realidade dos nossos dias”, segundo declarava a autora, em entrevista ao Diário do Minho (285). Teve estreia, a 19 de Fevereiro, divulgada pela imprensa local, que, sem revelar o enredo, relevou o carácter moralizante da peça, e o facto de se tratar da Festa Artística dos actores Carlos Frias e Cristiano Mesquita. Passados dois dias, a crítica assinal ava o êxito da estreia, elogiando esta “peça leve, sem a complexidade de enredos chocantes, paradoxais”, em que dois actos apenas bastavam para “evidenciar [...] distintas qualidades de realização teatral da sua autora”, muito embora o desempenho se apresentasse “inferior ao merecimento da peça” (286). Apesar disso, importa perceber que, pela primeira vez, a Companhia apresentava um original, abordando uma realidade tangível pelo público a que se destinava. A acção da peça desenrola -se num quadro único, o pre sbitério de uma aldeia do Minho , colocando-se em conflito duas realidades distintas, a urbanidade e a ruralidade, pelo confronto de mentalidades teimosamente antagónicas, a que apenas uma catástrofe humana será capaz de fazer parar a sua obstinação. Embora a autora não considerasse a obra como peça religiosa, esta possuía uma “sentimentalidade que tão bem se [coadunava] ao temperamento da plateia nacional” ( 287), e o factor espiritual ganhava particular importância, enquanto referente d e uma população para quem o fenómeno de Fátima era uma realidade com pouco mais de uma década. E a realidade teatral demonstra -nos que as peças de carácter “M ila g re s d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma ”, D i á rio d o Min h o , 1 6 .0 2 .1 9 3 0 : 1 . Inc l ui fo to d a a u to ra. 286 A., “ O s M ila g re s d e No ssa S en h o ra d e Fá ti ma : o r i gi na l e m 2 ac to s d e D. Lud o v i na Fri as d e Ma to s: Al g u ma s co ns id er açõ es a p ro p ó s ito ” , Diá r io d o Min h o , 2 1 .0 2 .1 9 3 0 : 2 . 287 “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, O V ila rea len s e , 2 9 .0 5 .1 9 3 0 : 2 . 285 93 religioso, por despertarem sentimentos de piedade, sempre foram as que melhor serviram para atrair o público ao espectáculo teatral, e não só na província. Por isso mesmo, Milagres de Nª Sª de Fátima teve reposição a 23 de Fevereiro, e m matinée. A temporada de Braga encaminhou-se, a partir deste momento, para a sua conclusão, com a apresentação das restantes festas artísticas dos societários da Companhia. Contratada pela Empresa de Jacinto Guimarães, a Companhia transportou -se para o Teatro Gil Vicente, de Guimarães, onde estreou o seu reportório, a 1 de Março. O agrado foi geral, a tal ponto que, para a festa artística de Rafael de Oliveira, se criou uma comissão de vimaranenses que procedeu à venda dos bilhetes para a récita, e a quem o homenageado veio agradecer publicamente através d o jornal local. O entusiasmo foi contagiante e a situação repetiu -se em outros benefícios de actores. Entre as peças do reportório declamado e as do musicado, o Teatro foi tendo contínuas lotações esgotadas, de um público que ia “e ainda bem, auxiliando os trabalhos da Companhia, [...] bem digna d’essa protecção, já pelo seu trabalho que é bom, já pelo seu porte correcto” (288). Milagres de Nossa Senhora de Fátima voltaram a motivar a presença da sua autora para agradecer os aplausos do público e da crítica, que lhe reconhecia “competência” e “futuro”, sentenciando que “quem cerca os seus trabalhos d’um ambiente de moral e perfeição, quem busca nas lições da vida o enredo d’uma peça que o publico aplaudiu sem reservas, pode e deve vencer!” ( 289). Contra factos, não há argumentos! A Companhia estava vivendo neste momento um período de apogeu, o entrosamento perfeito com o público vimaranense. Estreou um novo espectáculo, Jesus Nazareno, nova montagem da Vida de Cristo, com assinatura de Raúl d’Além. O 288 “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 1 8 .0 3 .1 9 3 0 : 1 . 94 periodista crítico pat enteou o seu apreço, não obstante destacasse “pequenas arestas a limar”; no espectáculo, que apresentava “quadros bons e figuras adequadas”, com “boa encarnação [sic], adequado e bom guarda-roupa, completando com um excelente cenário, novo e de bom efeito”, destacava-se, na figura de Jesus, a interpretação de Carlos Frias , cujo “físico, [...] calma e cadência, [encarnavam] perfeitamente o papel” ( 290). A companhia, que apenas repetia o reportório se a vontade do públic o assim exigisse, viu -se obrigada a fazer três reposições deste espectáculo. As últimas semanas da temporada em Guimarães foram preenchidas com as restantes festas artísticas. Estrearam ainda Rosa Enjeitada, de D. João da Câmara, que não motivou qualquer referência crítica, e um episódio em 1 acto, novo original de Ludovina Frias de Matos, Abençoada Rosa , em “festa artística dos pequenos actores Fernando Frias e Fernando de Oliveira” (291), de 5 e 8 anos, respectivamente. Já as “formigas” tinham “festas artísticas”! Neste espectáculo, cujo cartaz anunciava como sendo o último, a manifestou se tanta insistência, que a Companhia organizou uma derradeira récita, a 8 de Maio, repondo Os Milhões do Criminoso , e onde se estrearam dois novos actores, José Cardoso e Clotilde Xavier ( 292), que, aparentemente, não terã o permanecido societários por muito tempo. Voltamos a registar outro hiato informativo no percurso da Companhia de Opereta, Comédia, Drama e Revista Oliveira. Do Minho deslocaram -se para de Rafael de Trás -os-Montes, tendo permanecido aproximadamente um mês em Vila Real , que os acolheu no seu amplo Teatro Circo , com o mesmo carinho e deferência de 289 “Mi la g re s d e No ssa S e n h o ra d e Fá ti ma ”, Co m érc io d e Gu i ma rã es , 2 8 . 0 3 .1 9 3 0 : 1. “J es u s Naz are no ”, Co m érc io d e Gu ima rã e s , 1 8 . 0 4 .1 9 3 0 : 1 . “Úl ti ma s r ep re se n taçõ es d a Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a ”, Co m é rc io d e Gu i ma rã es , 0 2 .0 5 .1 9 3 0 : 1 . 290 291 95 Guimarães. É sucinta a informação veiculada pelos dois semanários locais, O Povo do Norte e O Vilarealense. Este último, na sequência da apresentação do reportório da companhia, fez a sua avaliação: Actores e actrizes, num conjunto valioso, poucas vezes apreciado entre nós, consolidam dia a dia, em Vila Real , as simpatias de que são dignos, como se demonstra na grande frequência que vai ao Teatro aplaudi-los e, por vezes, com um tal entusiasmo, que deve ter feito compreender à Companhia que a nossa terra, além de hospitaleira, sabe premiar o mérito, esteja este onde estiver. Os artistas estão satisfeitos e o público também. Constatamo -lo com o maior prazer, fazendo votos para que a Companhia se conserve muito tempo nesta cidade e possa aguentar -se com os preços modestíssimos que estabeleceu para os bilhetes de entrada, preços que se duplicassem, não seriam, de facto, exagerados ( 293). A partir de 29 de Maio de 1930, constatamos apenas a ocorrência de um espectáculo no Teatro de Vila Praia de Âncora , em primeira representação de Rainha Santa Isabel , drama musicado em 4 actos e 11 quadros, original do Cónego F. Soares Franco Júnior. No exemplar manuscrito (294), copiado por Afonso de Matos , em Oliveira do Bairro, a 29 de Abril de 1929, com assinatura do próprio, lê -se na folha de rosto que se trata de um arranjo, com marcação do actor Baptista Ferreira; na página seguinte em caligrafia diferente, assinada pelo ponto João Moutinho , menciona-se a data de estreia, 1 de Outubro de 1930. No ano seguinte, sem referênc ias quanto ao seu paradeiro, a Companhia ter -se-á movimentado pela zona litoral, uma vez que, em 1932, os vamos encontrar na região de Aveiro ; primeiro, em Esgueira, representando A Rosa do Adro e Mouraria, a 1 e 15 de Maio, respectivamente, no Teatro Recreio Musical Esgueirense (295), e, depois, na própria cidade de Aveiro , actuando no Stadium de São “T eatro G il V ic e nte : Qu i nta - feir a, 8 d e Maio : Úl ti ma r ep re se n tação d a Co mp a n h ia R a fae l d e O l iv eir a”, Co mé rc io d e Gu ima rã e s , 0 6 .0 5 .1 9 3 0 : 1 . 293 “T ea tro C irco ”, O Vi la r ea len se , 2 2 .0 5 .1 9 3 0 : 2 . 294 P erte nc e nt e ao acer vo d e Ál varo d e O li ve ira, V i la Re al d e S a nto An tó n i o . 295 De mo c ra ta , Av e iro , 3 0 . 0 4 .1 9 3 2 : 2 ; id e m, 0 7 .0 5 . 1 9 3 2 : 3 ; id e m, 1 4 .0 5 .1 9 3 2 : 3 . 292 96 Domingos, ao ar livre, durante o mês de Agosto e Setembro ( 296). Embora a companhia agradasse ao público local, conforme refere O Democrata, a verdade é que a afluência de público aos espectáculos era ditada pelas condições atmosféricas. Em 1933, de regresso ao carinho tributado por Guimar ães, a Companhia estreia, a 2 de Fevereiro, uma longa temporada de quatro meses, com a revista, em 2 actos e 15 quadros, Prata da Casa , que nos aparece referenciada pela primeira vez. Tratando -se de um original de Ludovina Frias de Matos e Artur de Matos, estamos perante uma nova produção, própria da companhia, sobre a qual a crítica vimaranense refere apenas que “a casa estava muito regular e o desempenho dos artistas agradou” ( 297). Melhor sorte teve Mouraria, o segundo espectáculo, que registou “casa à cunha, como raras vezes se vê”, com desempenho de agrado geral, números bisados e “prolongada e quente ovação” no final ( 298). Nesta estadia em Guimarães observam -se algumas particularidades interessantes. Por causo do hiato de informação recente, nota-se claramente, neste momento, que o reportório se foi ampliando, organizando -se em áreas definidas, como o drama de tese e o teatro musicado, o que alarga o espectro de público alvo, fruto óbvio do conhecimento profissional de Afonso de Matos , não obstante se mantenham os êxitos populares de grande espectáculo, e do saudosismo das “melodias d e sempre” de Camilo Castelo Branco , de Manuel Maria Rodrigues ou de Braz Martins. Do reportório contemporâneo, a 6 de Fevereiro, a Companhia levou à cena As Duas Causas. Não nos parece que se trate da primeira representação, na companhia, da peça da parceria Mário Duarte e 296 De mo c ra ta , Av e iro , 2 7 . 0 8 .1 9 3 2 : 3 ; id e m , 0 3 .0 9 . 1 9 3 2 : 2 ; id e m, 1 0 .0 9 .1 9 3 2 : 2 . “T ea tro G il Vi ce nt e: C o mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira ”, Co mé r cio d e Gu ima rã e s , 0 3 .0 2 .1 9 3 3 : 1 . 298 “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 0 7 .0 2 .1 9 3 3 : 2 . 297 97 Alberto Morais, porquanto a imprensa local apenas refere que a comédia agradou, sendo os intérpretes ovacionados “com calor e entusiasmo”, e que “mereceu ovações especiais, sendo chamado ao palco, o apreciado actor Afonso de Matos , que desempenhou magistralmente os seus papeis” ( 299). O do protagonista Bento Castanho e o de encenador , entenda-se. Afonso de Matos parece que pretende imprimir na companhia a marca da sua personalidade artística, adquirida, por certo, no seu percurso profissional com as companh ias de Lisboa, e na observação comportamental dos “monstros sagrados” com quem privara. Não estaremos muito longe da verdade, se afirmarmos que esta situação se verifica, desde o início, pela mudança do título de Casa de Doidos para O Tio Rafael . Em 1929, encontrando -se já Afonso de Matos no elenco da companhia de Rafael de Oliveira , a comédia de Aristides Abranches passou a ser titulada com o nome do seu protagonista . Uma intersecção de três vectores artísticos - personagem, encenador e intérprete - num único ponto de intensidade especular e espectacular. Realidade e ficção fundindo -se numa relação paradoxal de espaço e tempo, em que a ilusão se tornaria ambivalente p ara o público: ver o Tio Rafael equivaleria a ver Afonso de Matos , e vice-versa. Todavia, interpretando As Duas Causas, que pertencera ao reportório do Teatro de D. Maria (1927-28), Afonso de Matos projectava-se numa outra interacção interpretativa, associando -se à imagem maior do actor Alves da Cunha , o Zaconi português ( 300), o grande modelo da interpretação coeva, que obtivera êxito imérito e m Bento Castanho. Tal lhe reconheceu e elogiou, mais tarde, o crítico Frederico Alves: 299 300 Ib id e m. Qu er ub i m G ui marã es , “O T eatro D es mo ntá v el” , Co rr eio d o Vo u g a , 2 6 .1 0 .1 9 5 7 : 3. 98 Haviam-me dito que Afonso de Matos igualava Alves da Cunha . Será, talvez, exagero. Mas, mesmo assim, ele imitou -o extraordinariamente, apanhou-lhe, permitam-me o termo, a expressão patética do rosto, a posição da boca, o olhar, a maneira de movimentar -se, o gesto da mão direita batendo no peito com o punho fechado. É mesmo assim. E, para se imitar de tal forma, é necessário ser -se, também, um bom actor. Se Afonso de Matos me havia interessado já em a Casa de Doidos, nas Duas Causas conquistou -me definitivamente. Tem freguês certo ( 301). As Duas Causas voltou a ser levada à cena, em Guimarães , a 22 de Março, em Festa Artística “do co nsagrado actor Afonso de Matos , o herói da noite, actor consciencioso e de mérito, e que imprime aos seus papéis, um relevo tão impulsivo e brilhante, que arranca à assistência p rolongadas e vibrantes ovações” ( 302). Dentro dos temas de problemática social, a companhia levou à cena a peça do espanhol D. José Echegaray (303), O Grande Galeoto, em festa artística de Geny Frias e Zina Mesquita. Datada de 1881, e traduzida por Guiomar Torrezão , a peça era consider ada “um trabalho não recortado dentro dos moldes do teatro moderno”, embora devesse agradar ao público por conter cenas “duma palpitação flagrante e passional”, segundo o articulista do Notícias de Guimarães (304). O espectáculo foi, sem dúvida, do agrado geral: “as cenas desenvolvidas, duma flagrante realidade, foram bem compreendidas pelo público, que aplaudiu sem reservas. O trabalho do actor Afonso de Matos , principalmente no ultimo acto, soberbo! O público reconheceu -o, fazendo-lhe uma quente e prolongada ovação. Os restantes membros “T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 1 5 .0 8 .1 9 3 6 : 2 . “T eatro G il V ice n te ”, Co m é rcio d e Gu ima rã e s , 2 1 .0 3 .1 9 3 3 : 2 . E sta p eça d ará lu g ar, na r ea liz ação d a s s ua s fe sta s art í st ica s, à p eça A S e ve ra , d e J ú lio Da nt as , A Ca lú n ia , d e E c he gar a y, e, p o st erio r me n t e, a R eco mp e n sa , d e R a mad a C ur to . E m to d a s e la s o p ro ta go ni s t a fo ra i nte rp ret ad o p o r Al ve s d a C u n ha . 303 P ré mio No b e l d a Li tera tu ra, e m 1 9 0 4 , j u nt a me n te co m o p o e ta fra nc ês Fréd é ric Mi str al . 304 “Gi l Vic e nt e: O G ra n d e Ga leo to : Fe st a ar tí st ica d e Ge n y Fri as e Zi n a Me sq ui ta”, No tí cia s d e Gu i ma rã es , 1 6 .0 4 .1 9 3 3 : 2 . 301 302 99 satisfizeram” ( 305). Segundo Sousa Bastos (1898: 780), a representação das peças de Echegaray constituía “sempre um grande acontecimento teatral”, necessitando de intérpretes capazes de expressarem a grande inspiração do seu autor. Não é de estranhar, pois, que Alves da Cunha a tivesse incluído no seu reportório pessoal e Afonso de Matos se apropriasse dela para as suas futuras festas artísticas na Companhia de Rafael de Oliveira . Por isso mesmo, a partir de 1934, esta peça antiga subirá à cena com o título novo de A Calúnia. A influência de Alves da Cun ha (306) penetrava, pois, na Companhia de Rafael de Oliveira através do seu reportório, que foi sendo representado, a partir daquele momento, mesmo que se tratasse da revisitação de O Paralítico, outrora coroa de glória do reportório pessoal do actor oitocentista António Pedro . Temos para nós que reside aqui a renovação introduzida por Afonso de Matos , criar uma marca de qualidade do modelo interpretativo da companhia, no que seria acompanhado, posteriormente, por seu irmão Eduardo de Matos . Com laivos de novidade, surge uma particularidade interessante que demonstra uma relação ambivalente com as comunidades: a Companhia representa obras de autores locais em récitas de benefício. “Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a: T ea tro G il Vic en te” , Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 2 5 .0 4 .1 9 3 3 : 2 . 306 Na sc id o e m Lisb o a, a 1 9 d e Ag o s to d e 1 8 8 9 , Al v es d a C u n h a e s treo u - se no T eatro d o Gi n ás io , e m 1 1 d e O ut ub ro d e 1 9 1 2 , co m a p eça A Vo l ta , d e No b r e Mart i n s, d iri g id a p o r Luc i nd a S i mõ e s . I nte g ro u o e le nco d a co mp a n h ia d e Ro sa s & B raz ão , n a te mp o r ad a d e 1 9 1 4 -1 5 , no T eatr o d e S. Car lo s . E m 1 9 2 6 , co mo e mp re sár io d o T eat ro d e D. Mar ia , le vo u à ce n a te x to s i no v ad o re s d e P ira nd el lo , Le no r ma nd e Ra ú l B ra nd ão . In te gro u a co mp an h ia d e Re y Co la ço - Ro b l es Mo n te iro n a te mp o r ad a d e 1 9 3 3 -3 4 . Fo i ca sad o co m a a ctr iz B ert a d e B ív ar , co m q ue m fo r mo u a Co mp a n hi a d e Al v es d a C u n h a – B erta d e B ív ar , co m a q ual p erco rre u o p a í s, ne m s e mp re na s me l ho re s co n d içõ e s. Co n sid e rad o o ma io r a cto r d a s ua ger a ção , a fa ma d o se u fei tio d i fí cil re se r vo u -l he u ma p ro gr es s i va d egr ad aç ão p ro fi s sio n al até à s ua ap o s e nt ação , e m 1 9 5 5 , no T eatro Av e nid a , co m a p eç a A Co to v ia , d e J ean Ano u il h . A es te p ro p ó si to co n fro nte - s e a p o lé mi ca tra vad a e ntr e o acto r e o crít ico Red o nd o J ú nio r , e m fi na is d e 1 9 5 0 , n a s p á gi n as d o me n sár io Áto mo , e p o st erio r me n t e p ub li cad a e m Pa n o d e F er ro (1 9 5 5 : 2 5 7 2 7 2 ). Fa le ce u e m 1 9 5 6 . 305 100 Sabíamos já ser prática corrente das comp anhias de província socorrer-se dos amadores locais para colmatar os papéis de figuração, e, quando, nos dilentanti regionais, se reconhecia o talento para a Arte de Talma, confiava-se-lhes o desempenho de um pequeno papel onde pudesse brilhar a sua chama poética (307). Percebemos, por isso, a razão subjacente ao conceito de “conservatório prático”, a que se referiam muitos actores por ele formados, no qual as suas apetências, por via da observação e do trabalho, se transformavam em competências, cujo moto bem poderia ser “talent de bien faire”. Após a época Carnavalesca, em que foi escolhido reportório apropriado, representando -se comédias e actos de variedades, regressou-se ao reportório mais sério, dando -se início às festas artísticas e aos benefícios a fav or de terceiros. Carlos Frias e Cristiano Mesquita, que, em anterior ocasião, haviam escolhido o drama Milagres de Nossa Senhora de Fátima , de Ludovina Frias de Matos, para sua festa artística, em Guimarães , decidem fazer estreia absoluta de O Herói Minhoto, um original do padre Gaspar da Costa Roriz, a 9 de Março. “Dignos de admiração”, segundo a imprensa local, os dois actores apresentavam “uma peça vimaranense, que [enchia] [...] de saudade pela memória querida do vimaranense morto, e de alegria pela glorificação que lhe [era feita]”. Além disso, em fim de festa, preenchido por variedades, “os homenageados, [ofereciam] um brinde ao jogador mais simpático do Victoria Sport Club , que [seria] eleito mediante senhas distribuídas pelos espectadores”, “um gesto simpático, que [deveria] cair bem na mocidade da [...] Terra, nos fervorosos adeptos do futebolismo, e nos “aficionados” do Victoria, 307 A nec es s id ad e d o s q u i nz e mi n uto s d e fa ma é , ap are nt e me n te, b a sta n te mai s an ti g a ! Na ac t ua lid ad e, ela red uz - se ap e n as a u ma q ue stão e sp a cio - te mp o ra l: p o s s ui nd o a s te c no lo g i as d e co mu n i ca ção o co nd ão d e a mp l iar a a mp li t ud e esp a ci al d a fa ma, tal i nt e n si fica a s u a n ece s s id ad e, p o r p arte d o s ut ili zad o r es, o b se s si va me nt e, e m mo vi me nto c ao t ica me n te a cele rad o . R es u lt ad o : u ma fa lác ia b ig b ro th e ria n a . 101 sem duvida o melhor Club da província” ( 308). Um gesto simpático que captaria sobrevivência!, novos que públicos, foi angariando largamente novas aplaudida receitas... por um Ecce público entusiasmado, que se rendeu a um minuto de silêncio, “em pé, com respeito e comoção”, pedido em memória de quem escrevera aquela obra tão “caracteristicamente nacional e minhota” ( 309). De novo subiu à cena do Teatro Gil Vicente , a 25 de Maio, desta vez em récita de homenagem a Manuel Marques Ferreira , “apreciado elemento da Orquestra Vimaranense ” (310), que acompanhava os espectáculos da Companhia e que, por isso mesmo, teve direito também à estreia absoluta do episódio dramático Mar de Angústias , original do vimaranense Euclides Soto Maior (311), e à estreia, pela Companhia, da opereta em 1 acto Flor Rara, do Teatro Maria Vitória de Lisboa. Também o actor -cantor Virgílio Mesquita aproveitou, para a sua festa artística, o original de outro escritor vimaranense, Delfim Guimarães. A 14 de Abril, o Comércio de Guimarães anunciava que havia entrado em ensaios a “tragédia rústica”, em 2 a ctos, Feras à solta, com encenação de Afonso de Matos , que desempenharia igualmente “o papel de Fidalgo da Pre sa e o festejado o papel de Pedro maluco” (312): O autor da sublime evocação à Penha “Sol da Nossa Terra”, ilustre escritor Vimaranense, Delfim de Guim arães, (Vimaranes), cedeu gentilmente para esta Festa, a sua peça regional, em 2 actos “Feras à Solta” que fará levantar em aplausos a plateia de Guimarães . Vibra de “T ea tro Gi l V ice n te ”, C o mé rcio d e Gu i ma rã es , 0 7 .0 3 .1 9 3 3 : 2 . “T ea tro Gi l V ice n te ”, C o mé rcio d e Gu i ma rã es , 1 0 .0 3 .1 9 3 3 : 2 . 310 “T ea tro G il Vi ce nt e: C o mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira ” , Co mé r cio d e Gu ima rã e s , 2 3 .0 5 .1 9 3 3 : 2 . 311 O au to r es tar ia l i gad o , p o r certo , à i mp r e n sa lo cal , p o rq u e é tra t ad o p o r “p r ezad o co le ga no sso ” p e lo a rti c ul i sta d o Co m é rcio d e Gu ima rã e s , o q ua l ma n i fe s ta o g ra nd e i nt e res se p el a e st rei a d a p eça, a “q u e m a i mp r e ns a rec eb e u co m ma n i fe st açõ e s d e j úb i lo ” ( “T ea tro Gi l Vic e nt e: Co mp a n hia Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 2 3 .0 5 .1 9 3 3 : 2 ) . 312 “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 1 4 .0 4 .1 9 3 3 : 2 . 308 309 102 entusiasmo o bairrismo, e a honra de subir à ribalta uma peça cujo autor serviu Guimarães de berço. Nesta peça desempenhará o papel de Fidalgo da Presa o distinto actor Afonso de Matos que a plateia Vimaranense tanto aprecia. [...] A acção decorre nas fraldas do Monte da Lapinha, Abação – Guimarães (313). O espectáculo em questão realizou -se a 27 de Abril, terminando com a opereta em 1 acto, Amores de Rosina , seguida de variedades. Apesar da muita “parra” publicitária anterior, o acontecimento colheu brevíssimas referências informativas do Notícias de Guimarães , para o qual Delfim Guimarães inclusive colaborava. Sabemos apenas que a “numerosa e distinta assistência” demonstrou “apreço e simpatia” pelo autor, e que este subiu ao palco no final da representação. Para completar esta avalanche de estreias por parte da Companhia Rafael de Oliveira , acrescente-se a de mais uma revista, da autoria de Ludovina Frias de Matos e de Raúl d’Além, com música de Fernando Izidro. A Ver Navios estreou-se a 30 de Março, em festa artística de Rafael de Oliveira, composta por 2 actos e 15 quadros, em que mais uma vez o actor-empresário desempenhava o papel de compère, o Zé Matias. Voltou a cena, em Aveiro , onde a companhia de novo se apresentou no Stadium de São Domingos, na temporada de verão, sendo impresso para o efeito um programa do espectáculo, a oito páginas, em cuja capa Ludovina Frias de Matos se entrevista si própria, apresentando a companhia e o seu texto. No interior, misturado com anúncios publicitários de patrocinadores locais, as letras das canções aguardam a participação do público, que poderá inteirar-se da distribuição a toda a largura das duas páginas centrais (314). “Co mp a n hi a R a fae l d e Oli v eir a: T ea tro G il Vic en te” , Co mé rc io d e Gu i ma rã es , 2 5 .0 4 .1 9 3 3 : 2 . O ar t i go p ub l ica fo to s d e Del fi m G u i mar ãe s e d e Vir gí lio Me sq ui ta . 314 No M u s e u N acio n al d e T eatro e nco n tra - s e có p i a co lo rid a ut il i zad a n a Exp o s ição o r ga n izad a p o r Már io Vi e ga s , n a Co mp a n h ia T eatr al d o C hi ad o (a cer vo Mário V ie ga s ) . 313 103 1933 foi ano de muitas mudanças. Se a Nação aprovava uma Constituição, também com suposta amplitude nacional, Rafael de Oliveira constituía a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados, (315), que se aplaudia “tanto pela escolha do seu variado número de peças como pela correcção dos seus artistas, [que v inha] marcando dignamente o seu lugar no Teatro, [com] elementos de valor que muito a honram” ( 316), deixando para trás a Companhia (género popular) de Opereta, Comédia, Drama e Revista . 315 No p ro c e sso d e c a nd id at ura d a Co mp a n h ia R a fa el d e Ol i veir a ao s ub síd io d o F u nd o d e T eatro , d o S. N:I., u ma c ert id ão d at a d a d e 2 d e Ab ri l d e 1 9 5 6 , as si nad a p o r Ho rác i o d e Ca str o Gu i mar ãe s , C he fe d e Sec ret ari a d a I nsp ecção d o s Esp e ctá c ulo s , a te st a q ue a So ci ed ad e Art ís tic a q u e u sa a d e si g na ção d e Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira, d e q u e é ge re n t e o acto r Ra fael d e Ol i ve ira , se en co ntr a va le ga li zad a e re gi s tad a na d it a i n sp e cção so b o n ú me ro 1 3 4 , d e sd e o ano d e 1 9 3 3 ( Ace r vo d e Mário V ie ga s , MNT ). 316 “G il Vi ce n te: O G ra n d e Ga leo to : A fes ta artí s tic a d e G e n y Fria s e Zi n a Me sq ui ta”, No tí cia s d e Gu i ma rã es , 1 6 .0 4 .1 9 3 3 : 3 . 104 Capítulo IV: “Uma Arca de Noé flutuante e sobrevivente da crise do nosso Teatro” Ilustração 6 – (Esqª) Família Oliveira junto ao Teatro Desmontável (1940s) Ilustração 7 – (Dtª) Teatro Desmontável (1950s) (dtª) Ilustração 8 – Interior do Teatro Desmontável (1970, Guimarães) Ilustração 9 – Exterior do Teatro Desmontável (1970, Guim arães) 105 Se há núcleos que honram bem a Arte de Talma em todos os planos de moral e aprumada conduta profissional, a Companhia Rafael de Oliveira é, indiscutivelmente, um deles. [...] Sem figuras de grande cartaz, os componentes da Companhia Rafael de Oliveira, afinam quase todos pelo mesmo diapasão de uma distribuição equilibrada e o carácter em que se não nota a quebra e a lacuna tão vulgares em conjuntos desfigurados pela saliência de um ou dois astros no meio de valores mediocres tantas vezes arrebanhados “adhoc” e sem os devidos ensaios para “tournées” de simples aventura, que em grande parte têm desautorizado e contribuido para a fase enfermiça de que vem padecendo o Teatro português. M. de V., “Honrando a arte de Talma”, Açores, 13.05.1948: 4. 1. A Caminho do Desmontável... No Verão de 1933, a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados, regressou a Aveiro , onde se estreou, no Stadium de S. Domingos, a 10 de Junho, com a opereta Mouraria. A exemplo do ano anterior, praticaram -se preços populares, de modo a atrair o público que “o estado das noites” ( 317) permitisse. A entidade exploradora do recinto procurou, então, minimizar as previsíveis dificuldades, mandando construir um taipal de madeira “quase em toda a volta dos lugares destinados ao público [...], tornando o local acessível, pitoresco e agradável” ( 318). A Companhia voltou a cair na graça do público, que assistiu ao “vasto reportório, como sucedia com o antigo Dallot, ainda [...] saudosamente recordado por ocasião da Feira de Março” (319). Os “benefícios” dos actores davam azo a que se homenageassem entidades locais: Virgílio Mesquita dedicou a sua festa artística ao Clube dos Gal itos e ao Sport Beira Mar, que haviam disputado entre si a Taça Virgílio Mesquita , e contou com a participação da Tuna de Santa Cecília , da povoação vizinha de S. Bernardo, regida por Abel Lebre ; Afonso de Matos aproveitou para estrear A Severa, de Júlio Dantas, em espectáculo único, “com a maior propriedade e perfeição [...], o cenário e o guarda -roupa [...] 317 318 319 “S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 1 0 .0 6 .1 9 3 3 : 2 . “S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 2 4 .0 6 .1 9 3 3 : 2 . “S ta d iu m d e S . Do mi n g o s”, De mo c ra ta , 0 1 .0 7 .1 9 3 3 : 2 . 106 completamente novos” (320). O homenageado, que o público conhecia do Teatro Aveirense , integrando as companhias de “Chaby Pinheiro , de Alves da Cunha, de Lucília Simõe s - Erico Braga (321), chamou a si a interpretação do papel de Custódio , destinando a seu irmão, “o também conhecido e distinto actor Eduardo de Matos , [...] o papel de Conde de Marialva, por ele já brilhantemente interpretado [...] nos principais teatros de Lisboa e do Brasil ” (322). Os alardes encomiásticos da imprensa reclamaram a presença do público, a quem se prometia que o espectáculo terminaria com a eleição do melhor nadador de Aveiro, disputado entre os dois representantes dos clubes Beira-Mar e O Internacional. Se, por um lado, Afonso de Matos imitava Virgílio Mesquita, associando a sua fes ta artística ao movimento desportivo local, por outro, estava germinando a futura parceria na direcção artística da Companhia Rafael de Oliveira , concretizada cinco ano s mais tarde, com o ingresso definitivo de Eduardo de Matos. Na sequência da temporada de Aveiro , cuja pouca atenção jornalística regista seguramente menos de metade dos espectáculos realizados, regista -se um hiato temporal no percurso dos Artistas Associados. Alguma informação esparsa permite situá -los em Viana do Alentejo, no fim de 1934, “cuja apresentação e de sempenho [no Cine Teatro] agradou imenso” ( 323), e uma passagem pela Chamusca (324), “S ta d iu m d e S . Do mi n g o s: A S ev e ra ”, De mo c ra t a , 0 5 .0 8 .1 9 3 3 : 2 . Ib id e m. 322 Ib id e m . 323 “Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eira ”, O T ra n sta g a n o , V ia n a d o A le nt ej o , 3 1 .1 2 .1 9 3 4 : 1 . Ú ni ca no tíc ia d e u m p e rió d ico d e tir a ge m irre g u lar. 324 Nu ma fo to có p ia tr u nca d a d e u m cart az d o e sp e ctá c u lo Ro sa s d e No s sa S en h o ra , p erte n ce nt e ao acer vo d e Ál v aro d e Ol i ve ira, n ã o ap arec e o no me d o e s p aço o nd e se re al izo u a rep r e se nt a ç ão . T o d av ia, o e le nco me n cio n ad o co rre sp o nd e ao me s mo d a e str eia d o De s mo n t áv el e m Al co b aç a , no a no se g u i nte . O e sp e ctác u lo n a C ha mu s c a não t erá s id o no a nt i go T eatro Fo ito , q ue , se g u nd o J o ã o J . Sa mo uco d a Fo ns eca , d e i xo u d e fu nc io nar e m 1 9 3 4 ; p o s si ve l me n te co rre sp o nd er á à in a u g ura ção d o q u e se l he se g u i u a “C a sa d a Ca ld e ir a ” , ce le iro p er t en ce n t e à Mi ser icó rd i a c ha mu sq u e n se, q u e fu ncio no u ta mb é m co mo c i ne ma , d u ra nt e 6 ano s, 320 321 107 durante o ano de 1935. Em Abril do ano seguinte, reencontramos a Companhia de Rafael de Oliveira , Artistas Associados , “composta por 16 artistas de ambos os sexos” ( 325), construindo uma “elegante, confortável e artística casa de espectáculos” ( 326), no Parque Municipal de Alcobaça . O Teatro Desmontável foi inaugurado, a 30 de Abril, com a representação da peça As Duas Causas , cuja receita bruta Rafael de Oliveira entregou, “num gesto de muita galhardia [...] credor [de] gratidão” ( 327), ao Hospital da Misericórdia local, conforme ressalvou a imprensa local, apelando a que todos os alcobacenses acorressem ao teatro, auxiliando “quem, desinteressadamente, cuida em primeiro lugar de socorrer a nossa mais bela instituição de caridade” (328). Uma atitude filantrópica car acterística da personalidade de Rafael de Oliveira, que sempre considerou que... 2. As crises requerem decisões. Entre 1926 e 1936, o país viveu momentos conturbados. O presidente Bernardino Machado é demitido compulsivamente pelo general Sidónio Pais , que ocupa a Presidência da ainda jovem República, vindo a ser assassin ado pelos seus adversários um ano depois. Anteriormente, a ineficácia do multipartidarismo criara um campo de cultura de movimentos conspirativos falhados e de degradação da vida pública, afectando tanto o espaço urbano, como o rural. Apesar de algum cresc imento económico registado entre 1921 - até q ue , no s e u lo c al, fo i co n str u íd o o ac t ua l Ci n e -T eatro d a Mi s eric ó rd ia , c uj a es trei a o co rre u e m 2 9 d e Deze mb ro d e 1 9 4 3 , co m a p e ça Jo a n a , a Do id a , p ela Co mp a n h ia d o T eatro Vari ed ad e s , d ir i gid a p e la actr iz Mar ia Ma to s ( F O N S E C A 2 0 0 1 : 8 4 ). 325 Eco s d o A lcô a , Al co b aç a, 2 6 .0 4 .1 9 3 6 : 1 . 326 “Co i sa s e Lo i sa s” , Co m a rca d e Al co b a ça , 2 3 .0 4 .1 9 3 6 : 1 . 327 Ib id e m. 328 Ib id e m. 108 23, os habituais défices orçamentais, a inflação e a violência urbanas, determinaram o desgaste da base de apoio da República parlamentarista. A pequena burguesia, urbana e rural, o funcio nalismo público, as profissões liberais e os militares foram se hipotecando progressivamente. A 28 de Maio de 1926, o golpe de estado militar acabou por funcionar como o golpe de guilhotina que decapitou a cabeça do liberalismo republicano e instituiu a Di tadura Militar, sobre a qual se edificaria o salazarismo e o Estado Novo . Em 1930, é criada a União Nacional, o partido único. Salazar que, em 1928, assumira a pasta das finanças, torna -se presidente do Conselho, em 1932, e o novo regime é legalizado através do plebiscito da nova Constituição, no ano seguinte. Em 1935, o liberalismo político, ou o que restava dele, acaba por desaparecer com a substituição das instituições republicanas. Contrariando a instabilidade da crise económica do exterior, o Estado Novo pretende oferecer a grande ilusão de felicidade, de um país que se aconcheg a sob o manto protector de Salazar , a quem não repugna o (con)vencimento físico, na falta de persuasão oratória. A Pátria era a mãe, Salazar , o pai, e o Povo, os filhos da Ditadura, cuja reforma social se impunha, “por convicção, [ou] por inacção”! (VIEIRA 1998:23). Invocava -se o grande conceito de irmandade: “Tudo pela Nação, nada contra a Nação”. Era condição sine qua non para o progresso do Estado Novo, que fossem demonstrados os seus efeitos benéficos. António Ferro , jornalista e escritor, companheiro dos modernistas, nas páginas do Diário de No tícias, defendeu a propaganda do Estado Novo , através de uma “política do espírito”. Numa primeira instância, a associação com Ferro interessa a Salazar , que lhe confia a direcção do recém constituído Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), encarregado da defesa da imagem de Portugal, aquém e além fronteiras, e da criação de um modelo de 109 encenação do poder, uma estética política de “bom e sincero desejo de servir o povo” (FERRO 1950:36). Porém , a mise-en-scène do idealismo ferriano não conseguiu os resultados preconizados pelo seu mentor, entravado sistematicamente pela vontade empresarial de um Salazar “Scrooge” (329). “Alheados dos problemas internos ou das nuvens negras que se acumulam nos horizontes internacionais, os Portugueses divertem -se” (VIEIRA 1998: 83). Na década de 30, ape sar do lápis azul da censura, estreiam-se mais revistas do que na década anterior, não obstante o seu conteúdo personagens e crítico se apostando ressentir por sobretudo na isso, estereotipando -se componente visual do espectáculo: luz, cor, movimento, lind as mulheres integrando corpos de baile bem marcados, vestidas com o bom gosto dos traços estilizados de Pinto de Campos , com laivos do glamour parisiense. Actrizes como Lina Demoel e Corina Freire exibem figurinos de Paris , completando o talento de comediantes populares, que transborda dos palcos dos chalets do Parque Mayer - recinto que fora a mal afamada Feira da Avenida , transformada agora em Broadway à la portugaise -, do Teatro Avenida e do Teatro Apolo. E, mal descesse o pano sobre a carreira de um êxito teatral da capital, eis que as vedetas como Luísa Satanela, Irene Izidro , Hermínia Silva, António Silva, ou Vasco Santana partiam com os seus elencos na demanda dos teatros regionais, pelo continente, ilhas e colónias. A “azougada!” Beatri z Costa, a saloia da Malveira que conquistara Lisboa com o seu penteado moderno, à americana, destronando o antigo corte francês à garçonne, era sinónimo de rebeldia e de independência, era a rainha do público e da crítica. 329 A e ste re sp e ito to r n a - se i nco n to r ná v el a le it ur a d a o b ra d e Gra ça d o s Sa nto s , O Esp e ctá cu lo De svi r tu a d o : o tea tro p o r tu g u ê s so b o rein a d o d e S a la z a r (1 9 3 3 1 9 6 8 ). 110 No início da década de 30, Leitão de Barros introduziu em Portugal a novidade do cinema sonoro. Em 1931, realiza A Severa, sonorizado em Paris , numa altura em que dois terços dos filmes exibidos provinham da indústria norte americana. O triunfo da história pungente dos amores da fadista e do Conde de Marialva , que o palco conhecera pela pena de Júlio Dantas , faz acelerar a construção dos estúdios sonoros da Tóbis , em Lisboa, onde Cottineli Telmo filmaria A Canção de Lisboa (1933). Beatriz Costa, António Silva e Vasco Santana protagonizam histórias de amores e desamo res da pequena burguesia dos bairros populares, em alinhavados enredos de gente simples, plenos de jogos semânticos, deliciosamente ingénuos, costurados com o humor peculiar de um Gervásio Lobato ou de um André Brun. Fosse a aristocracia de oitocentos, a burguesia popular de novecentos, ou a ruralidade das Pupilas de Júlio Diniz , tratava-se acima de tudo de Portugal , como “verdadeiro poema de raça” ( 330), e de “cinema na nossa língua”( 331). Enquanto que o teatro ligeiro lisboeta trauteava a sua dita, o declamado carpia a sua desdita - eis a crise de teatro!, recorrência cíclica que, independente dos motivos, se reinventa sob a roupagem de argumentos aparentemente novos. Em 1931, Ramada Curto garantia que não escreveria nem mais uma linha para o teatro, conceito inexistente em Portugal . Palavras de um dos dramaturgos mais fecundos e representados, que assim se queixava ao entrevistador: O público prima pela ausência ao bom teatro, ao verdadeiro teatro. Uma única coisa determina ainda a sua deslocação até à bilheteira: - a revista, o “couplet”. Enquanto esse género de teatr o esgota lotações sucessivamente, o teatro declamado, sente -se desacompanhado da preciosa e indispensável colaboração e carinho do público. [...] O público não sabe distinguir entre o bom e o mau. Sabe apenas ver aquilo que lhe agrada e ouvir aquilo que o distrai. O público não vai 330 331 Fra se p ro mo c io nal d o c arta z d o fi l me A S e ve ra , d e Le it ão d e B a rro s . Fra se p ro mo c io nal d o fi l me A Ca n çã o d e L isb o a , d e Co t ti n el i T el mo . 111 ao teatro para pensar, para meditar. Não quer utilizar o raciocínio, a inteligência que, nesta época, de mercantilismo que passa, é muito necessária na luta pela vida – não vá ela gastar-se... (332) E, numa mudança de alvo, do púb lico visou a crítica, que, segundo ele, tão pouco existia em Portugal . Feita de “apontamentos sobre o joelho, na noite da première, minutos após a representação”, tinha pretensões a “sentença que desde que [fosse] publicada no jornal, transita[va] imediatamente em julgado. [...] Ou a condenação máxima ou a absolvição...” ( 333), rematava o dramaturgo com verve de causídico. E tudo porque António Ferro , nas páginas do Diário de Notícias, lhe fecundidade aconselhara produtiva” repouso, ( 334), tendo devido sido à sua “excessiva acompanhado pelo beneplácito do actor Carlos Leal . Por outro lado, Ferreira da Silva , um dos mais antigos pontos teatrais, perspectivava internamente o “estado de abatimento mórbido e doentio” ( 335) do teatro, com vectores críticos coincidentes com os do dramaturgo. Na actualidade, o teatro está falsificado, é uma completa obra de fancaria reles. Ele que poderia ser, como o foi – e esta é a sua missão – uma grande escola educativa, hoje, não passa duma coisa grosseira, crapulosa, onde as massas populares, já de si deseducadas, vão ainda mais desumanizar -se, escancarando a boca com gargalhadas que arrepiam pela sua grosseria, que muito bem emparelham com a frase que foi dita no tablado ( 336). Num amplo círculo vicioso, comprometedor para dramaturgos, intérpretes e público, era posta em causa a qualidade do o bjecto C fr. Mo n tei ro e Si l va , “Não e scr e vo mai s p e ça s p o rq ue... não te mo s te atro ne m crít ic a !”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 1 1 .0 3 .1 9 3 1 : 1 e 4 . 333 Ib id e m . 334 Ib id e m. 335 “U ma e n tre v i sta : Ferr e ira d a Si l va, u m d o s ma is a nt i go s p o n to s t eatr ai s, fal a no s d es as so mb r ad a me n t e d o es tad o e m q u e o te atro s e e n co ntr a”, J o rn a l d o s Tea tro s, 2 9 .0 3 .1 9 3 1 : 7 . 336 Ib id e m . 332 112 teatral. A classe dos intérpretes apresentava -se “numerosa de nulidades e de cretinos” ( 337), enquanto a classe dos escritores teatrais lutava com a falta gente. Apenas por cobardia, muitos deles não antagonizavam a pseudo crítica, culpada do afundame nto do teatro. “A crítica, entre nós, não é imparcial, nem cortês, nem inteligente”, contestava Ferreira da Silva , para quem urgia “limpar o teatro de aventureiros que a ele se encrostaram com a maior desvergonha” ( 338), para que os teatros fossem tomados por “Empresas sérias, que inteligentemente chamassem a atenção das gentes que por aí andam desorientados com as plásticas e os «jazz »” ( 339). Apontava ainda o dedo à “pouca homogeneidade [...] [dos] elencos de diversas companhias teatrais [...] formadas por actores que não precisavam de rodear-se de canastrões para que [...] pudessem ver realçar, brilhantemente, o valor que realmente [possuíam]” ( 340). Por último, Carvalho Mourão , articulista do Jornal dos Teatros , em acutilante crónica sobre a “Crise de Teatro: Notas sem valor” (341), resumia a crise a “um somatório infinito de circunstâncias de todos alheias, mas de que todos [eram] culpados”. Se os emp resários atribuíam a escassez de público à tendência acentuada do gosto pelo cinema, os artistas culpabilizavam os escritores pela ausência de uma produção dramática capaz de fazer afluir espectadores, e os dramaturgos, em desespero, atribuíam as culpas à falta de interesse do público. Um círculo vicioso expresso pelo senso comum português como: “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Diagnosticava Carvalho Mourão que “o desalento dos homens de 337 Ib id e m. Ib id e m. 339 Ib id e m . 340 “Ao d e l e ve : O s art i s ta s te atr ai s e a c ri se d e tea t ro ”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 3 1 .0 5 .1 9 3 1 : 1 0 . E st e ar g u me n to fo i ap o nt ad o a o p ró p rio ac to r Al ve s d a C u n h a , o me s tre, c uj o so b erb o t al en to se eq ui lib ra v a co m o esp íri to d e i nd i s cip li n a. 341 Jo rn a l d o s Tea t ro s , 0 1 . 0 3 .1 9 3 1 : 6 . 338 113 teatro [era] a razão do triunfo do Cinema” ( 342). Para ele, o palco era o local próprio para se apreciar a beleza literária da produção teatral e “o talento do actor num íntimo contacto com o seu público, sem trucs [sic] de mecânica nem de outros recursos de técn ica que não sejam os do seu valor pessoal” ( 343). “Aos senhores artistas”, propunha que pusessem de parte as suas vaidades mesquinhas, que ganhassem consciência do seu valor, que lutassem, que trabalhassem com probidade artística; qualquer papel seria bom de sde que houvesse talento interpretativo, uma vez que “o valor do artista não pode ser proporcional ao tamanho do papel” ( 344). Aos “senhores autores”, recomendava que deixassem de ser “estudantes cábulas que empregam a lei do menor esforço” ( 345) e que desenvolvessem o estudo e o trabalho, para que se fizesse evoluir o teatro do século XIX para o XX. Quanto aos “senhores empresários”, recomendava que construíssem “empresas sólidas, duradoiras, empresas capazes de impor o teatro intransigentemente pelo que vale” (346). Se um fracasso de bilheteira correspondesse ao fim de uma empresa, jamais poderia haver “estímulo de autores nem dedicação de artistas” ( 347), concluía o articulista. E Rafael de Oliveira, como sentiria ele a crise de que tanto se falava nos periódicos lisboetas da especialidade? A sua companhia parecia preencher os requisitos de sucesso enunciados anteriormente; reconhecia-se-lhe um reportório composto por “drama, comédia, revista e opereta”, qu e os artistas da companhia, “fugindo à ilusória 342 343 344 345 346 347 Ib id e m. Ib id e m. Ib id e m. Ib id e m. Ib id e m. Ib id e m. 114 publicidade”, desempenhavam de forma modesta, mas que arrancava “ovações dos públicos mais exigentes” ( 348). Não obstante, a forte concorrência do cinema, enquanto fenómeno de massas e de encaixe financeiro, at raindo público e ocupando as salas, obrigou Rafael de Oliveira a investir as suas economias na construção de um Teatro Desmontável , que garantisse a sobrevivência daqueles que consigo partilhavam o sonho de teatro, conforme fazia questão de sublinhar em entrevistas: Até 1935, actuámos nos vários teatros do país. A dificuldade, porém, de conseguir casas, onde nos pudéssemos exibir, levou -nos à construção do “Desmontável”. Com o advento da 7ª arte, os teatros transformaram -se em cinemas, e os empresários começaram a desprezar o teatro, em benefício de espectáculos que consideravam mais rendosos. ( 349) A precária construção de madeira e lona permitia que a Companhia visitasse localidades que não dispunham de casas de espectáculo, bem como a não depender dos cine -teatros existentes. Para Rafael de Oliveira , o seu teatro-barraca ampliava as possibilidades do exercício da arte, e da divulgação do seu reportório de êxitos teatrais. Curiosamente, – mero acaso do destino! –, a inauguração do seu popular Teatro Desmontável antecedeu, em poucos meses, a apresentação pública da estrutura que o Estado Novo havia criado com o mesmo intuito itinerante, o Teatro do Povo (SPN) (350). “Co i sa s e Lo i sa s” , Co m a rca d e Al co b a ça , 2 3 .0 4 .1 9 3 6 : 1 . “E stre ia - se no p ró xi m o d ia 7 a Co mp a n h ia R afae l d e Ol i ve ira : U m p o uco d e hi s tó ri a”, Fo lh a d e Do min g o , Faro , 0 4 .1 2 .1 9 6 0 : 8 e 4 . A e n tre v is t a co nt é m al g u ma s i mp r eci sõ es q ua nto à d at ação e lo ca li zaç ão d e al g u n s d o s aco nte ci me n to s, ta l vez p o r lap so d e me mó r ia o u d e co mp re e ns ão d o j o r n ali s ta. 350 T anto Ra fae l d e O li ve ira co mo F ra nc is co Rib eiro ( R ib e iri n ho ), p ri me iro d irec to r d e ce n a d o T e atro d o P o vo (SP N , 1 9 3 6 -4 1 ) , p o s s u ía m te mp era me n to s d eter mi n ad o s e co mb at i vo s, q ue mar ca va m as p es so a s co m q ue m trab al ha va m. P o ré m, no s id o s d e 1 9 3 6 , n ão p a s sar ia d e cer to p el a cab e ça d e Rib e iri n ho q u e, 3 7 ano s d ep o i s, ha v eri a d e ser o úl ti mo d ire cto r artí s tico d a Co mp a n h ia Ra fae l d e Oli v eir a. 348 349 115 Com o tempo, o Teatro Desmontável tornou-se numa escola do público a quem, na opinião do crítico riomaiorense Frederico Alves , se não podia imputar a responsabilidade “do seu analfabetismo, do seu atraso mental, intelectual e, até mesmo, social” ( 351), porque ninguém lhe ensinara a ler, escrever, ou contar. A “menor cultura teatral [...] sobretudo nas camadas sociais menos preparadas” ( 352) motivava, segundo Rafael de Oliveira , o apelo do público às peças de grande espectáculo. Assim, a escolha do reportório teria de ser feita numa biblioteca dramática popular que cobrisse a amplitude transversal das diversas camadas sociais dos centros rurais visitados. A consciência empresarial de Rafael de Oliveira formatou-se de acordo com o seu autodidatismo itinerante: foi aprendendo a conhecer o gosto dominante em cada localidade, “disting[uindo] o que lhe agrada[va] daquilo q ue não [devia] satisfazê-lo” (353), por forma a que o reportório exibido fosse do agrado da maioria simples, que Frederico Alves definia do seguinte modo: O povo é sempre bom. Ele quere o triunfo dos justos e o castigo dos maus. Chora e ri com a ingénua, partilha das suas alegrias, das suas mágoas, do seu ódio. E quando ela enfim se vê livre de todo o perigo, a multidão de espectadores sente -se aliviada, respira fundo, exulta de contentamento e atinge o auge do delírio como se um grande perigo que a ameaça a ela própria acabasse de desfazer -se por completo. ( 354) 3. As primeiras referências ao Teatro Desmontável . Finda a temporada de três meses em Alcobaça , Rafael de Oliveira transfere o Desmontável para Rio Maior , onde é acolhido com agrado Fred eri co Al ve s , “O T eatro e o P o vo ”, Co n ce lh o d e R io Ma io r , 2 2 .0 8 .1 9 3 6 : 3 . Ap rec iaç ão cr ít ica ao e s p ectá c ulo d o T ea tro d o P o vo (SP N) e m R io Ma i o r, a 2 4 d e J u n ho d e s se a no , e m q u e se e xib i u a me s ma p r o gra maç ão d a e str eia , e m Li sb o a , no J ard i m d a E str ela . 352 “As ú lt i ma s d ec lara çõ e s d e Ra fael d e O li ve ira ”, Bo let im d a Un iã o d e Gr ém io s d o s E sp e ctá cu lo s , Dez e mb ro , 1 9 6 4 : 4 . 353 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 0 5 .0 9 .1 9 3 6 : 4 . 351 116 geral, apesar das reticências iniciais do crítico local, em cuja pr imeira apreciação justificava a razão do seu comportamento. É sempre costume, quando nestes teatros ambulantes se apresenta um drama, ele provocar, apenas, a hilariedade do público. Confesso o meu crime. Fui ver As Duas Causas para divertir-me um pouco. Mas enganei-me. [...] Muitos daqueles que mantêm convívio com as coisas da capital não esqueceram ainda o trabalho monumental e esmagador de Alves da Cunha no papel de maior envergadura. É o meu caso. Por isso encarei com desconfiança o cartaz que me anunciou a sua representação. [...] Haviam-me dito que Afonso de Matos igualava Alves da Cunha. Será, talvez, exagero. Mas, mesmo assim, ele imitou o extraordinariamente, apanhou -lhe, permitam-me o termo, a expressão patética do rosto, a posição da boca, o olhar, a maneira de movimentar-se, o gesto da mão direita batendo no peito com o punho fechado. É mesmo assim. E, para se imitar de tal forma, é necessário ser-se, também, um bom actor. Se Afonso de Matos me havia interessado já em A Casa de Doidos, nas Duas Causas conquistou-me definitivamente. Tem freguês certo. O resto do elenco esforça -se por cumprir mas a uma distância considerável de Afonso de Matos . Faltalhes o fogo sagrado, mas sobra -lhes a boa vontade. Todos eles d ignos de simpatia e carinho. Em complemento de cada espectáculo, um acto de variedades. Pessoalmente dispensava -o. Mas, por outro lado, ele é necessário para certo público. Mais uma prova de que a Companhia pretende agradar ( 355). Finda esta temporada, o Concelho de Rio Maior noticiou a instalação da companhia em Coruche , cuja estreia terá ocorrido, possivelmente, a 13 de Setembro de 1936. Segue -se novo hiato informativo. No ano de 1937, ter -se-á mantido por terras ribatejanas, assentando arraiais em Tomar, onde permanecia no início do ano seguinte. A 2 de Fevereiro, a Companhia terá realizado um benefício destinado à “Casa dos Pobres” daquela cidade, segundo publicitava o Cidade de Tomar, na edição de 31 de Janeiro ( 356). 354 355 356 Fred erico Al ve s , “T ea tr o De s mo nt á ve l”, Co n c el h o d e Rio Ma io r , 2 2 .0 8 . 1 9 3 6 : 2 . “T ea tro De s mo nt á ve l”, Co n c elh o d e Rio Ma io r , 1 5 .0 8 .1 9 3 6 : 2 . Ú ni ca no t íc ia p ub li cad a ne s te p erió d ico so b re a Co mp a n h i a. 117 No segundo semestre de 1938, de regresso às terras beiraltenses, a Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados instala-se em Santa Comba Dão: À hora em que escrevemos andam a erguer um Teatro -Barraca, de grandes dimensões no Largo da República (Rossio) desta vila, tão grandes que, segundo nos disseram, houve necessidade de reduzir o tamanho do “Teatro ambulante”, por o referido largo, apesar da sua vastidão, ser pequeno. Informaram -nos também de que a Companhia é numerosa, e tenci ona demorar-se uma temporada, nem de outra forma lhe valeria a pena armar o Teatro. Vai assim a nossa terra assistir a espectáculos de teatro declamado, coisa que de há muito gosta e raramente goza. Assim a Companhia agrade, que a exploração do teatro, e oxalá, não deixará de ser -lhe proveitosa, não tendo assim ensejo de arrepender -se de ter arribado a estas paragens onde a sede e a fome de espectáculos teatrais são muito grandes ( 357). Inaugurou -se a temporada, a 25 de Junho, com a representação das peças Cruz de Guerra e O Gaiato de Lisboa . O espectáculo recebeu o aplauso da farta audiência, que acorreu graças à boa reputação que precedia a Companhia e à inexistência de “espectáculos do género, nesta vila” ( 358). No segundo espectáculo, As Duas Causas obteve maior agrado ainda, “tal a arte revelada por todos os intérpretes” (359). Entre Apolo e Nacional, entre a metade fundeira e a dianteira da plateia, o desfile do reportório iniciara -se com a exaltação do soldado português no acto em verso de Cardoso do s Santos, recuperara a memória de Adelina Abranches no ladino gaiato José, e a pujança de Alves da Cunha e o seu Bento Castanho . Os mitos de sabor popular eram o chamariz do público e Rafael de Oliveira sabia-o, por isso progredia agora para novo agrado da geral, a revista Prata da Casa, cuja enchente já não surpreendia: 357 358 359 “T ea tro ”, Be ira - Dã o , 2 6 .0 6 .1 9 3 8 : 1 . “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 0 3 .0 7 .1 9 3 8 : 2 . Ib id e m. 118 [Certo] como é que Santa Comba Dão e adjacências, sedentas de bom teatro, não perderão o ensejo de, sem necessidade de deslocação como até aqui tem acontecido e voltará a acontecer logo que a Companhia Rafael de Oliveira levante voo, passarem duas vezes por semana algumas horas de vida espiritual... E o “Teatro Desmontável ”, sem intuitos de reclame de que a respectiva Companhia não carece, sem dúvida que lhas proporciona, como se verificou já pelos espectáculos realizados (360). Apesar de o público afluir com grande “concorrência” ( 361) às duas noites de teatro do Desmontável , a Companhia irradiava também pelas terras circunvizinhas “nas noites livres” ( 362). Carregal do Sal recebeu a representação de O Gaiato de Lisboa , com idêntico agrado ao que se fizera sentir na estreia em Santa Comba . A Companhia integrava-se, como era seu hábito, na vida quotidiana. Mário Rodrigues , maestro-pianista da Companhia Rafael de Oliveira, anunciava na crónica teatral do Beira-Dão a sua disponibilidade de “apreciado afinador de pianos, [podendo] ser procurado para tal fim, por quem [necessitasse] dos serviços que a sua competência profissional [garantia]” ( 363). Esta convivência comunitária reflectia -se nas enchentes do Desmontável, que, segundo a imprensa local, era “garantia segura de que se não desmontará tão cedo, a bem da Companhia e do público que dificilmente, voltará a ter teatro bom e... quase diário como em muitas cidades não há” ( 364). Tão pouco a coincidência da visita do Teatro do Povo (SPN) produziu um efeito concorrencial desfavorável à Companhia Rafael de Oliveira (365). Muito pelo contrário, “teatralmente falando, Santa Comba Dão 360 Ib id e m. “T eatro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 1 0 .0 7 .1 9 3 8 : 1 . A p ro p ó si to d a rep re s en taç ão d a p eça Amo r d e P e rd iç ã o , re fere o art ic u li st a “q ue a lo taç ão não só fo i ex ced id a, ma s fico u mu i t a ge n te se m p o d er a s si st ir ao esp e ct ác ulo , e a l g u ma s d e p o vo s d is ta n te s”. 362 Ib id e m. 363 Ib id e m. 364 “T ea tro De s mo nt á ve l ”, Bei ra - Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 2 . 365 O T eat ro d o P o vo ( SP N) a ct uo u ao ar l i vre e m Sa n ta Co mb a , no s d ia s 1 2 e 1 3 d e J u l ho , co m o se g u i n te re p o rtó r io : 1 ª no ite , O Va q u e i ro , d e G il Vi c en te , e 3 361 119 [tirava] o ventre de miséria” ( 366), segundo referia o articulista do Beira-Dão, e a Companhia retribuía o aco lhimento, aumentando os seus espectáculos semanais, de dois para três. Apesar da aura de respeitabilidade que acompanhava a companhia, o reclame de Mouraria provocou algum transtorno: o desconhecimento evidente do tema, por um lado, e a auréola de preconceito associada ao mito fadista da Severa. Deslustrado o berço de Salazar com a teatralização de paixões assolapadas? “Oh! Inclemência!”, qual sentida imprecação do provecto lacaio do Pai Tirano pel trupe dos Grandelinhas. Apressou-se a imprensa a apaziguar as almas, trazendo luz sobre o assunto: O espectáculo que a Companhia Rafael d’Oliveira realizou no penúltimo sábado teve diminuta concorrência, talvez porque o título da opereta – Mouraria que ia representar-se se tornou suspeito de se tratar de uma peça um tanto ou quanto imoral. Para tanto não haveria razão, porque a Companhia que tão bem recebida foi nesta vila, não iria exibir uma peça teatral que não pudesse ser vista por um público de costumes como felizmente é o da nossa terra. De facto, Mouraria não tem nada de escabroso nem de imoral e o público que a viu não teve de que se arrepender de ter ido ao teatro. Afonso de Matos , no “Mota da Guitarra”, Geny Frias no papel de “Cesária”, e Rafael d’Oliveira, n o de “Artur, estofador ”, que no cartaz apareceram em lugar de destaque, e eram as três personagens à volta das quais se desenrolam as cenas principais da Mouraria, receberam muitos aplausos e bem merecidos assim como todos os outros intérpretes que contribuíram para o bom desempenho que a peça teve, e que é muito movimentada, interessante e bem musicada. Quem a n ão viu perdeu um dos bons espectáculos que no Teatro Desmontável se tem realizado (367). ce na s d o Al fa g e me d e S a n ta ré m , d e Al me id a Garr et t , e Be li sá rio s ; 2 ª no i te, Res su r rei çã o , d ra ma r e gio n al e m 3 ac to s, p ré mi o d o Co nc ur so d e p e ça s p ar a o “T ea tro d o P o vo ” e m 1 9 3 8 , e P ed id o d e Ca sa me n to . (c f. “T ea tro d o P o v o ”, Be i ra Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 1 - r efere m- s e a s co nd i çõ e s d e r ep re se n taç ão , o p ú b lico e o s p erca lço s) . 366 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 1 7 .0 7 .1 9 3 8 : 2 . 367 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 3 1 .0 7 .1 9 3 8 : 2 . 120 Prosseguiu a vida santacombadense na sua pacatez serrana, e, na noite seguinte, por via de dúvidas, a companhia demon strou ser gente de bem, levando à cena a opereta Rosas de Nossa Senhora , “bem desempenhada, com apreciável encenação e guarda -roupa e cenários adequados” (368): Peças neste género agradam sempre principalmente quando os intérpretes sabem dar aos seus papéis vida, carácter e cor, princípios basilares de uma interpretação capaz, como a que tiveram as Rosas de Nossa Senhora , em que os ases da Companhia, de ambos os sexos, se mantiveram à altura da sua reputação de bons artistas de teatro, e não poderiam manter se os restantes figurantes não contribuíssem eficazmente para a harmonia do desempenho, que agradou muito, sendo os artistas muito aplaudidos. ( 369) À excepção de Os Milhões do Criminoso , de Montépin, em que Rafael de Oliveira apostara numa montagem dispendiosa e trabalhosa, e ganhara “a sua maior enchente” ( 370), nas semanas seguintes, assistiu-se à apresentação de teatro ligeiro, comédias e de operetas, entremeado com a reposição, a pedido, de O Gaiato de Lisboa, “um dos melhores números do reportório da Companhia: como obra de Teatro moralizador, e como desempenho” ( 371), em que Geny Frias tomara para si a interpretação do afamado gaiato José (372). Todos os espectáculos do “Desmontável” contaram, sempre que houve necessidade, com a participação dos amadores locais, como figurantes, ou em personagens de segundo plano ( 373) nas peças de 368 Ib id e m. Ib id e m . 370 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 0 7 .0 8 .1 9 3 8 : 2 . 371 Ib id e m. 372 P o r cau sa d o no me d o p ro ta go ni s ta, e s ta p eç a p o d erá s er le v ad a à c e n a co m o tít u lo Jo sé N in g u ém . N ão co n fu nd ir co m a p eç a Jo ã o N in g u é m , i n terp retad a p o r Mir ita Ca si mi ro e V a sc o Sa n ta n a , ad ap ta ção d o o ri gi n al e sp a n ho l Yo q u ie ro , d e Car lo s Ar ni c he s , ad ap t a d o p o r Alb e rto B arb o sa e Luí s Ga l hard o , fi l ho . E xi s te ex e mp l ar u m e x e mp l ar d es ta p eça co m re g i sto d a Insp ecção d e E sp ec tác u lo s nº 1 4 2 1 , d e 3 0 .0 6 .1 9 3 6 , e co m Vi sto d a Ce n s ura e lic e nça d e rep re s e nta ç ão p ara a Co mp a n h ia R a fae l d e O l iv eir a, e m 2 1 .1 1 .1 9 5 6 ( B N -Ma n u scr ito s, co d . 1 1 8 8 9 ). 373 No e sp e ctá c ulo O s Mi lh õ e s d o C ri min o so , o art ic u li st a d o B e ira - Dã o (0 7 .0 8 .1 9 3 8 : 2 ) me n cio na a p art ic ip aç ão d o “p atrí cio Ar t ur d e Fi g ue ir ed o [o Dr. 369 121 maior envergadura, mas, sobretudo, em Fim de Fest a, nos actos de variedades, em que normalmente desempenhavam funções musicais. A 27 de Julho de 1938, no final de um espectáculo de benefício, realizou-se um acto de variedades “abrilhantado por guitarradas, acompanhadas à viola pelos srs. Dr. Artur Marqu es de Figueiredo e José d’ Oliveira Pires que foram muito aplaudidos bem como o jovem cantor António de Matos que tem uma linda voz e agrada sempre que se faz ouvir” ( 374). Outro valor não teria esta citação, do que a mera demonstração do enunciado anteriormente, se ela não comportasse uma referência importante para uma Histó ria do Teatro Desmontável e da canção nacional portuguesa. O “jovem cantor” mencionado, filho da actriz Mila Graça, societária dos Artistas Associa dos, e sobrinho, pelo lado de sua mãe, do também societário Carlos Frias , tinha, nessa altura, 14 anos, e exercia as funções de ponto da Companhia. Não se lhe encontrando um talento particular para a arte de Talma, reconhecia-se-lhe, todavia, a beleza de uma voz agradavelmente bem timbrada. Nessa noite de 27 de Julho, ao som das violas, o fado trinou na voz daquele que viria ser, mais tarde, uma das estrelas do cançonetismo português, Tony de Matos . Corria a época de veraneio. Santa Comba acolhia os ilustres filhos da terra, que haviam demandado Lisboa em migração laboral, e que, pelo menos uma vez por ano, regressav am ao lazer do convívio com a família e os amigos, talvez à procura da memória perdida de uns tempos de juventude descomprometida. E o Desmontável acolhia, em ilusão de cosmopolitismo provinciano, a burguesia local em saraus artísticos de beneficência. A 1 1 de Agosto, em récita de benefício a favor das obras do Hospital da vila, subiram à cena duas comédias, a Art ur Marq u es d e F i g ue ired o , ac to r e mú s ico a mad o r], no [p ap e l] d e J úl io Lab i n e q ue mo rre u e m ce n a q ua nd o p ro c ur a va d e fe nd er o s se u s h a vere s, e no d e co mp art ic ip a n te no s n e g ó cio s d e J acq u es G ar aud . E d a ma ne ira co mo el e o s in terp r eto u q u e o d i ga o p úb lico ”. 122 reposição de Viagem de Núpcias, “cujo desempenho muito agradou” (375) e Arte de Montes , “que manteve os espectadores em constante gargalhada, não só porque a comédia é muito chistosa, mas ainda porque os intérpretes deram aos seus papéis o maior real ce” (376). Um bom espectáculo, em que voltou a participar o artista amador local Artur de Figueiredo , e em que se destacava ainda “o facto da Sr.ª. D. Júlia René Passalaqua (377), acompanhada ao piano, distintamente, por sua irmã Sr.ª. D. Maria José Godinho do Amaral , ter cantado com a sua conhecida proficiência três lindas canções, todas no final, muito aplaudidas, sendo as duas senhoras muito cumprimentadas e felicitadas” (378). A temporada aproximava -se alegremente da sua conclusão. Fernando Izidro viera substituir Mário Rodrigues na direcção musical da Companhia e do octeto musical da “Filarmónica Santacombadense ”, que acompanhava os espectáculos do Desmontável; Mário Lima que, por motivos de saúde, se ausentara temporariamente, regressara para interpretar o papel de Custódio , na peça de Júlio Dantas , A Severa, espectáculo que a crítica local ergueu bem alto, sem medos de qualquer mal afamada reputação de Mouraria . E o jovem Fernando Frias estreou Imprudência Castigada , uma comédia original sua, na interpretação do: [Grupo] infantil que dias antes se havia estreado numa sala da casa da Sr.ª D. Maria Luísa Soares d’ Albergaria, constituído por Lizete Frias , galante filhinha dos srs. Geny e Carlos que já em outros espectáculos da Companhia Rafael d’ Oliveira se havia revelado uma dec idida vocação cénica, Viriato Passalaqua , que nos deu um “D. Diniz” jeitosamente majestático, Esmeralda de Matos , Margarida Maria, “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 3 1 .0 7 .1 9 3 8 : 2 . “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 2 1 .0 8 .1 9 3 8 : 2 . 376 Ib id e m. 377 J ú lia Re né P a s sa laq u a, v i nd a d e Li sb o a , o nd e era p ro fe s so ra d e ca n to , en co ntr a va - se “a p as sa r a e st ação ca l mo sa” e m Sa n ta Co mb a D ão , e m c asa d e s ua ir mã ( “No ta s B re v es ”, B ei ra - Dã o , 2 4 .0 7 .1 9 3 8 : 2 ). 378 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Bei ra - Dã o , 2 1 .0 8 .1 9 3 8 : 2 . 374 375 123 Isaura Maria, Ester Maçano e Margarida Maçano, que todos, tanto na 1ª como na 2ª peça ( 379), tomaram os papéis a sério, num à vontade apreciável. Receberam muitos aplausos e foram obrigados a bisar um dos números do seu programa. Receberam palmas e merecidos beijos (380). O último espectáculo no Teatro Desmontável , constituído pela comédia, O Rapto da Prima , teve como aliciante uma aguerrida política de preços, destinada a atrair grande número de espectadores: “dama, acompanhada por ca valheiro, não pagava nada; duas damas juntas, só uma pagaria uma entrada”. Com preços tão “convidativos”, obviamente que o Desmontável teve uma noite de enchente, tanto mais “que a Companhia estava com o pé no estribo e realizou um dos seus melhores espect áculos” (381). No final do espectáculo, Rafael de Oliveira manifestou, como era seu hábito, em cena aberta, gratidão pelo acolhimento local; o público aplaudiu, debandou e o Teatro Desmontável , fazendo jus ao seu nome, começou de imediato a ser desmontado.Em apenas algumas horas “do enorme abarracamento [...] não restava mais do que a saudade com que o público há -de lembrarse, durante muito tempo, do Rafael de Oliveira e da sua companhia” . (382): Deixando Santa Comba para trás, “na ânsia justificável da desforra de quem, como Pedro Sem, já teve e não tem... mas vai ter, dentro em breve, e «indesmontável », um casa de espectáculos, seu sonho doirado” ( 383), segundo o periódico local, a Companhia embrenhou-se pelas serranias beirãs e foi assentar arraiais no Pátio da Câmara Municipal de Gouveia, onde era costume os Bombeiros realizarem as suas verbenas. Quinze anos volvidos, Rafael de Oliveira 379 Re fere - se a O Mi la g r e d a s Ro sa s (1 9 2 7 ) d e S il va T a v ar es, q u ad ro q ue p erte n cia à rev i sta Ro sa s d e Po r t u g a l (1 9 2 7 ) (“T ea tro D es mo n tá ve l q ue j á se d e s mo nto u ”, Bei ra - Dã o , 0 4 .0 9 .1 9 3 8 : 3 ). 380 “T ea tro De s mo nt á ve l q ue j á s e d e s mo nto u ”, B e ira - Dã o , 0 4 .0 9 .1 9 3 8 : 3 . 381 Ib id e m. 382 Ib id e m. 124 regressava à terra que o acolhera no seu Teatro Hermínio , durante dois meses, no tempo da Companhia Dramática Societária e do falecido actor Ernesto de Freitas . Trazia agora “novas modalidades” : “um amplo Teatro Desmontável”, uma “Companhia, que hoje de compõe de 17 personagens, como ainda comodidade”. O Notícias de Gouveia difundiu a intenção da Companhia realizar dois espectáculos semanais, às terças e d omingos, em que exibiria o seu “reportório vasto dos melhores dramaturgos nacionais e estrangeiros” ( 384). Ao longo de quatro meses, a Companhia foi -se apresentando, com regular concorrência, praticando preços acessíveis a todas as bolsas, dando as suas fest as artísticas, para o sucesso das quais contribuía enormemente a afinidade que se gerara entre si e a população local. Afonso de Matos recolhia, enquanto primeiro actor, o apoio incondicional das elites locais, cujos interesses se aproximavam evidentemente dos temas do seu reportório pessoal. Antevia o articulista do Notícias de Gouveia (13.11.1938: 4) que “o Padrinho do Homenageado, [o] que rido amigo Sr. Dr. Mário Nobre , distinto advogado nos auditórios desta comarca, [pronunciaria] na abertura do espectáculo, algumas palavras de louvor à festa artística do consagrado actor”. Evidentemente, foi levada à cena A Calúnia, de Echegaray, registando o Desmontável a enorme afluência de um público seleccionado, pela primeira vez, contabilizado no a rtigo que se escreve a esse propósito. [A] cena final foi empolgante, arrancando à assistência uma das maiores ovações, que temos presenciado no teatro desmontável da Companhia Rafael de Oliveira . Talvez esta linda casa de espectáculos nunca houvesse registado uma tão grande enchente! [...] Tudo quanto marca em Gouveia, lá estava para aprender e para aplaudir, porque o drama A Calúnia é dos que se impõem à nossa meditação. As mil e tantas pessoas que pejavam o teatro de lés a lés saíram tão satisfeitas 383 384 Ib id e m . “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, No tí cia s d e G o u veia , 1 1 .0 9 .1 9 3 8 : 3 . 125 pelo trabalho do artista, e pela lição de moralidade, que ence rra a peça, que no dia imediato era comentada ainda em toda a parte ( 385). Um mês depois, vindo “expressamente, do Porto , para tomar parte” na representação de A Morgadinha de Valflôr , “precedido das melhores referências”, Eduardo de Matos, irmão do director de cena, integrava-se na Companhia Rafael de Oliveira . A notícia da sua chegada espalhou-se rapidamente pela vila, motivando uma afluência inusitada à Drogaria Viegas , onde todos sabiam estar à venda os bilhetes para o espectáculo (386). Iniciava-se, neste momento, um ciclo de dez anos, que corresponderiam a um trabalho de parceria entre os irmãos Matos na consolidação do estilo de representação dos Artistas Associados . A partir de 1948, ano em que Afonso de Matos comemorou as suas Bodas de Ouro Artísticas e se retirou de cena, Eduardo assumiu sozinho a direcção artística dos espectáculos da Companhia, até ao momento em que uma progressiva cegueira lhe foi tolhendo as suas possibilidades como actor, levando -o a dedicar-se sobretudo à encenação, até que acabou por se r etirar. Embora sobrevivendo a Rafael de Oliveira , as suas funções passaram, então, para Fernando de Oliveira , duplamente herdeiro da tradição teatra l de “cómicos da arte”: pelo lado de seu pai, enquanto empresário do Desmontável, e pelo de Eduardo de Matos , enquanto discípulo de uma “escola” de actores itinerantes, representada pela segunda e terceira gerações das famílias Oliveira e Frias. 4. A frágil estrutura do Teatro Desmontável . A Companhia manteve-se em Gouveia, aparentemente até ao Carnaval de 1939, em que apresentou três espectáculos ligeiros, como 385 “Afo n so d e Ma to s”, No tíc ia s d e Go u ve ia , 1 9 .1 1 .1 9 3 8 : 2 . 126 impunha a época festiva. A Viúva Alegre em Cascais , uma paródia à opereta, de Nicolau T. Leroy, com música de Franz Lehar , Casar para Não Morrer e O Rapto da Prima preencheram as três noites de Entrudo, a que se seguiu um acto cómico e outro de variedades. Publicitou o Notícias de Gouveia (19.02.1939: 2), que após os espectáculos, o Teatro Desmontável , para gáudio dos carnavaleiros, transformar-se-ia num vasto salão de baile ( 387). Em Junho, arribaram a Viseu e instalaram -se no Largo da Misericórdia. Iniciaram a temporada com a representação de As Duas Causas, “que agradou plenamente à numerosa assistência que encheu o bem situado Teatro”, segundo referia o Política Nova (11.06.1939: 4). Seguiu-se-lhe um espectáculo variado composto de peças ligeiras, a oratória Santo António, de Braz Martins, comemorando a festividade antonina do dia 13, as comédias, os espectáculos de grande aparato, os melodramas lacrimejantes, as festas artísticas, ou seja, o modelo rotineiro de qualqu er companhia itinerante. O Política Nova, órgão da União Nacional do Distrito de Viseu , mantinha uma cobertura do acontecimento, divulgava o roteiro dos espectáculos, fazia referências críticas, em suma, aplaudia a escolha do reportório e o desempenho do mesmo, relevando Afonso de Matos , por razões óbvias, numa escrita reveladora de entendimento em matéria conceptual de teatro: Não tem qualquer dos seus colegas que reparar na distinção, que não podemos deixar de fazer: cada qual tem na vida, o seu lugar, e o palco é a vida por diante dos viventes, para o efeito tornados em espectadores. Tanto que, ao ser notado por estes fraqueza de semelhanças entre os papéis e a realidade, logo se pode dizer mal dos artistas... Ora com Afonso de Matos não sucede assim. Vive, encarna as suas personagens. Cria tipos esplêndidos, estuantes de humanidade “T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d e Go u ve ia , 1 8 .1 2 .1 9 3 8 : 1 . P o ss i ve l me n te, a p ar te mu s i ca l e st aria co n fiad a à a nt i ga “S o cied ad e E u terp e ”, na a lt ur a “B a nd a d o s Leg io nár io s ”, re g id a p o r Au g u s to P ire s, q ue a 1 d e J an eiro d e 1 9 3 9 ha v ia d ad o u m co n cer to na P ra ça Va sco d a G a ma, d e Go u v eia . 386 387 127 – duma humanidade que é nossa ou do nosso vizinho... Quem o viu em O Paralítico e até na Tomada da Bastilha, quem o aplaudiu nas Duas Causas pode fazer ideia do que será Afonso de Matos na sua peça – A Calúnia – um prólogo e 3 actos de choque de sentimentos duros, tese realista que nele juga as plateias mais prevenidas – da autoria do grande espanhol D. José Echegaray. Quis o festejado artista dedicar a sua festa à Legião Portuguesa em Viseu. É uma faceta notável do seu primoroso coração. E dizemos notável, porque os verdadeiros artistas são-no, realmente, pelo sentimento. É, pois, natural, que não só os amigos da autêntica Arte de representar, mas também a grande família legionária, acorram, no dia 16, ao “Desmontável”, para aplaudir um dos maiores artistas do palco português. Fechando o espectáculo, os apreciadores do teatro ligeiro terão, também, o seu fim de festa: Fados à guitarra, por Tony de Matos (filho de peixe, sabe nadar...) com acompanhamento por Zacarias e Moisés. (388) Aproximava-se a Feira Franca de Viseu, a feira de Setembro, a de S. Mateus, e o Campo de Viriato iria encher-se das tradicionais barracas de artesanato, das louças, das quinquilharias, dos petiscos; durante alguns dias seria o tradicional ponto de encontro das gentes da cidade e da vizinhança. Foi anunciada a instalação do Teatro Metálico Rentini que, à última da hora, não aconteceu, sendo o espaço ocupado pelo Desmontável de Rafael de Oliveira . Aparentemente, o câmbio para um espaço de maior animação pareceria vantajoso para o Teatro Desmontável, trar -lhe-ia uma maior concorrência de público, mas na realidade tal não aconteceu. Apesar de, na inauguração da Feira, a 10 de Setembro, ter sido representada a revista Aplica-lhe o Selo, em duas sessões ( 389), e de ser exibido o reportório de agrado certo, a assistência manteve -se fraca. Tampouco terão servido de mui to os incitamentos do periódico local, que, visto os espectáculos serem anunciados pela aparelhagem sonora do recinto, os deixou de propagandear. 388 2. 389 “Afo n so d e Ma to s fa z a s ua fe st a no D e s mo nt á v el”, Po l ít ica No v a , 1 3 .0 8 .1 9 3 9 : “T ea tro De s mo nt á ve l ”, Po lí ti ca No va , 1 0 .0 9 .1 9 3 9 : 1 . 128 A tradição demonstra que os espaços de feira sempre foram locais problemáticos para a representação teatral ( 390). Rafael de Oliveira sabia-o, conforme demonstrou ao repórter do Democracia do Sul , na ebtrevista que deu, anos mais tarde, a propósito da coincidência da sua temporada teatral em Évora com a feira de S. João : Evidentemente, aproveitámos o ensejo e tivemos que trabalhar durante esses dias agitadíssimos. Compreende, a Companhia tem encargos pesadíssimos e a vida não pára. No entanto, só isto nos obrigou a trabalhar. O bom teatro não se fez para feiras nem elas constituem ambiente próprio. A feira requere palhaços, barulho, movimento... (391). Tendo-se mantido até ao princípio de Outubro, a última fase nã o terá sido de grandes proventos. Manda o bom -senso que, em semelhantes situações, se demande outras paragens, que providenciem rendimentos mais seguros. Deixando Viseu , aportaram, de novo, a Santa Comba Dão; acolhimento de braços abertos, recordando a temporada transacta. E melhor teria sido o debute, se a agrura do Outono o não prejudicasse: [O] tempo chuvoso não permitiu que a casa enchesse. [...] Os intérpretes contribuíram eficazmente par a o conjunto harmonioso anunciado no cartaz e plenamente confirmado, do desempenho da peça [Morgadinha de Valflôr ], cujo trágico final emocionante, foi bastante prejudicado, não por falt a de sentimento e arte dos intérpretes, mas por causa do barulho que, precisamente na altura do impressionante dramático quadro, violenta chuvada fazia na cobertura de zinco do “Desmontável”. E chuvada foi ela que não só abafou um pouco os 390 Q ue o d i ga m o s ac to re s fra nc es es d a fe ira d e Sa in t Ger mai n e d e Sa i nt - La ure nt , cuj a q uer ela co m o s se u s p arc eiro s d a Co m éd ie Fra n ça i se fi co u cél eb re no s a nai s d a hi stó r ia d o t eatro s etec e nt i sta e m Fra n ça co mo a G uerr a d o s T eatro s. E m P o rtu g al , se m at i n gir o s exc es so s d o s ho mó lo go s fr a nce s es, t a mb é m o s en ti me n to ger al n ão er a d o s me l ho res. 391 A. L., “T eatro D es mo n tá ve l: O D ire cto r d o T eatro D es mo ntá v el fa la - no s d o s se u s p ro j e cto s e faz o elo g io d o p úb l ico eb o re n se”, D emo cra cia d o S u l , 0 5 .0 7 .1 9 4 5 : 4 . 129 aplausos merecid os que os artistas receberam, mas ainda obrigou a assistência a esperar bastante tempo que o temporal amainasse... ( 392). A qualidade da representação sofria com a fragilidade estrutural da edificação. Dada a amplitude do vão interno da asna da cobertura de zinco, esta, qual pele de tambor, ampliava o ruído incómodo da forte bátega, provocando uma sonoridade metálica insuportável no interior. Mas o Teatro Desmontável foi sobrevivendo às diferentes intempéries da vida, conduzido pelo espírito determinado do seu capocomico Rafael de Oliveira, sempre atento às possíveis melhorias que fosse necessário introduzir. No verão de 42, quando a Companhia se enco ntrava instalada em Portalegre, o articulista do Jornal de Elvas releva o facto de ter sido feita uma “emenda introduzida na barraca, a fim de refrescar o ambiente nas noites calmosas”, al ém de haver “ também, serviço de copa” (393). As agruras climatéricas eram, sem dúvida, o grande calcanhar aquilino do desmontável. E se o calor era passível de ser resolvido com algum lenitivo refrescante, os rigorosos invernosos eram definitivamente culpad os pela ausência de público, impedido de “corresponder ao esforço dispendido pelos artistas na representação do seu tão variado reportório”. ( 394) Em meados de Dezembro de 1945, um temporal abateu -se sobre Beja, com “ventania desen freada” e bátegas de chuva torrencial, que interromperam as comunicações telefónicas e telegráficas com o resto do país. Pelas duas da tarde do dia 17, “uma rajada mais forte de vento levou toda a cobertura de zinco do Teatro Desmontável [...] e causou ainda outros prejuízos de grande monta. Os Bombeiros Voluntários que compareceram imediatamente com o seu comandante Sr. Capitão 392 393 394 “T ea tro De s mo nt á ve l ”, Bei ra - Dã o , 2 2 .1 0 .1 9 3 9 : 2 . “T ea tro ”, Jo rn a l d e E lv a s , 1 4 .0 6 .1 9 4 2 : 2 . “T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d o A len t ejo , V i la Viço sa , 1 4 .0 1 .1 9 4 5 : 2 e 3 . 130 Almeida Cassar prestaram óptimos serviços, evitando a completa destruição do Teatro, do qual se salvou o palco. Os prejuízos foram de monta e a Companhia ficou em difícil situação, vendo -se forçada a interromper os espectáculos por alguns dias” ( 395). O facto, comunicado sinteticamente pelo Diário do Alentejo no dia imediato, motivou a solidariedade da Empresa exploradora do Teatro Pax -Júlia, que cedeu o seu espaço para realização de u m espectáculo, cujo programa constou de Rosas de todo o ano e Gaiato de Lisboa (396). Êxito garantido e esperança solidária. Doze dias, e três espectáculos em palcos alheios, bastaram para que a Companhia regressasse ao restaurado Teatro Desmontável , que retomou “a sua actividade , representando a popular e emocionante peça em 6 actos José do Telhado” (397), no penúltimo dia do ano, em espectáculo “abrilhantado pela Orquestra Rousseau ” (398). Rafael de Oliveira recusava deixar-se abater. Anos mais tarde, em 3 de Fevereiro 1954, encontrando -se a Companhia em Silves , “devido a um grande nevão, abateu todo o tecto da plateia” – desabafou Fernando de Oliveira nas observações do Livro de Contas V (1954 -55) -, “partiram-se quase todas as asnas, muitas cadeiras e ficou danificada a instalação eléctrica” [399]. O peso da neve quebrara os esticadores de ferro da estrutura do Desmontável. Para Rafael de Oliveira , que se encontrava em Lisboa [400], “o seu universo jazia sobre areia. Teve tentação de desaparecer. Pensou... “B ej a D ia -a -d ia : A i nc le mê n cia d o t e mp o : O T eatro De s mo nt á ve l q ua se fi co u d es tr uíd o ” , D iá rio d o Al en te jo , 1 8 .1 2 .1 9 4 5 : 2 . 396 “B ej a Di a -a - Dia : A Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eira d á ho j e u m esp ec tá cu lo no T eatro P a x -J úli a”, Diá r i o d o Alen te jo , 2 1 ,1 2 ,1 9 4 5 : 1 . 397 “B ej a d ia -a - d ia : T ea tro De s mo nt á vel : A se s são d e a ma n h ã”, D iá rio d o Alen tejo , 2 9 .1 2 .1 9 4 5 : 1 . 398 Ib id e m. 399 “Ob ser va çõ e s” d a fo l ha d e c ai xa d o 2 5 º es p ectá c ulo , e m Si l ve s , a 1 3 d e Fe ver eiro d e 1 9 5 4 , Li v ro d e Co nta s V (1 9 5 4 - 5 5 ) ) , d a Co mp a n h ia Ra fael d e Oli v eir a (a cer vo d e Ál v aro d e Ol i veir a, Vi la Re al d e Sa n to An tó n io ). 400 Ib id e m . 395 131 nem ele recorda o quê! Porém o Sindicato veio em seu auxílio: ajudou o a levantar de novo a sala humilde que vivia o drama de d uas famílias (e alguns empregados) que eram escravos da afluência às bilheteiras” [401]. Valeu-lhe também “o Comissariado do Desemprego que o subsidiou com 25 contos” [402]. Reergueu-se o Desmontável, novamente em doze dias, pelo preço do sonho acalentado da digressão a África. “Sabe-se lá para quando? [...] Talvez um dia, talvez nunca... a vida é uma incógnita!” [403]. E a luta continuou, até que, quatro anos depois, a adversidade dos elementos voltou a desafiar a for ça estrutural do teatro -barraca. Na noite de 3 de Outubro de 1958, a Companhia despediu -se da Figueira da Foz: “enquanto o público sublinhava com quente e prolongada salva de palmas as últimas palavras de Fernando de Ol iveira, profusa chuva de pétalas de flores, lançadas por mãos de gentis senhoras figueirenses, tombava sobre todos os componentes da Companhia, os quais não conseguiam ocultar a sua emoção” [404]. Nessa madru gada, uma “violenta trovoada acompanhada de copiosa chuva e forte ventania” [405] abateu-se sobre a cidade, destelhando “parte da cobertura do Teatro Desmontável ”, atingido por “uma faísca que [...] por milagre não fulminou o actor Fernando de Oliveira , pois o raio, entrando a meio do edifício, danificou a instalação eléctrica e telefónica, e foi cair -lhe aos pés” [406]. Nem raios, nem coriscos, possuíam a força de um abalo da determinação de Rafael de Oliveira , Ne ve s d e So u sa , “N a Co mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a: Fi l ho é s, acto r ser ás ”, Fla ma , 2 2 .0 9 .1 9 6 1 : 2 3 . 402 S.E., “A Vo z d a M ari n ha Gra nd e: Se cção se ma na l d e p ro p a ga nd a e d e fesa d o s in ter es s es d o co n cel ho e p o vo d a M ari n h a Gr and e: T eatro ”, Reg iã o d e Le ir ia , 2 6 .0 1 .1 9 5 6 : 3 . 403 Ib id e m. 404 “O tea tro d e s mo n tá ve l d eu n a se g u nd a - feir a o se u ú lt i mo e sp e ct ác ulo ” , A Vo z d a Fig u e ira , 0 9 .1 0 .1 8 5 8 : 1 . 405 “N a ú lt i ma s e ma n a a Fi g ue ira e st e ve so b gra nd e te mp o ra l”, A Vo z d a Fig u ei ra , 0 9 .1 0 .1 8 5 8 : 1 . 406 Ib id e m. 401 132 para quem se tornava cada vez mais óbvia a necessidade de construir um recinto mais moderno, com maiores comodidades para os actores e para os espectadores. A 29 de Maio de 1959, durante a temporada nas Caldas da Rainha, Rafael de Oliveira endereçou uma carta ao professor Oliveira Salazar, a quem expôs, “sem outras credenciais que não [fossem] os longos anos de trabalho honesto despendidos em favor de uma das maiores manifestações do espírito humano – o Teatro” [407], a necessidade de “fazer mais e mais ao serviço deste teatro popular, divulgador da Literatura Dramática”. Através do “ilustre Presidente do Conselho” solicitava a “solidariedade do Estado”, para que lhe fosse concedido um subsídio reembolsável a longo prazo, que lhe permitisse a construção de um “teatro Desmontável em tubo de ferro” [408]. Não contemplando a lei o caso da Companhia Rafael de Oliveira , argumenta ainda o seu director que bastaria que o Co nselho de Teatro lhe concedesse o mesmo subsídio que era atribuído a uma companhia itinerante de Lisboa, para os três meses de verão, “para que ele visse realizado o seu sonho de tantos anos” [409]. O processo mostra -se relativamente célere. A carta deu entrada no Gabinete do Presidente do Conselho a 5 de Junho, cuja 3ª Repartição remeteu para o Secretariado Nacional de Informação , o qual deferiu favoravelmente. O novo Teatro Desmontável viria a ser inaugurado no ano seguinte, a 7 de Dezembro de 1960, em Faro : um “salão”, com novecentos lugares, duas ordens de camarins, palco sete por onze”, com um custo superior a “trezentos contos (com todo o conteúdo, valerá 900)” , dos quais o Secretariado 407 Cart a d e R a fae l d e O li ve ira, e m p ap el ti mb r ad o d a Co mp a n h ia, e nd er eçad a a Oli v eir a S al azar , a 2 9 d e Ma io d e 1 9 5 9 . ( Acer v o Mário Vi e ga s , M u se u Nac io nal d e T eatro ) . 408 Ib id e m. 409 Ib id e m. 133 adiantou 250, “não como donativo, mas apenas a título de empréstimo”. ( 410) 5. Um salão d e ambulante. arte dramática, modesto “conservatório” A entrada de Eduardo de Matos para a Companhia inicia um ciclo de trabalho, cujo fruto se irá notar posteriormente, na form ação da segunda e terceira gerações de actores do Desmontável. Sendo seu irmão Afonso o “protagonista” do elenco dos artistas associados, caber-lhe-á a si as funções de “deuteragonista”. A sua formação principiara, também, na companhia itinerante de seu pai, o actor Constantino de Matos , com quem trabalhou até aos 22 anos. Conhecendo o seu desejo de progredir, a sua “ambição natural de contactar com grandes actores” ( 411), alguns amigos apresentaram -lhe o empresário Luís Galhardo , que o contratou para o Teatro Avenida (412), onde teve a sua estreia, a 17 de Agosto de 1919, na peça Guerra (413), de Avelino de Sousa. Através da imprensa da especialidade traça-se-lhe o rasto; mencionado como integrando o elenco da Companhia do Éden-Teatro (414), desta transitará para a do Teat ro de D. Maria (415), onde permanecerá durante toda a temporada de 1919 410 Ne ve s d e So u s a , o p . ci t . Flo ri nd o C u stó d io , “E nco n tro co m o Acto r Ed uard o d e M ato s: U ma gra nd e fi g ura d o tea tro it i nera n te p o r t u g uê s”, Jo rn a l d o Rib a t ejo , 1 1 .1 2 .1 9 5 8 : 1 e 6 . 412 A te mp o rad a d e I n ver no ter mi nar a a 1 3 d e J u n ho e a d e V erão p rev ia - se co meça r a 1 4 d e Ag o sto . Na co l u na “Ac to s d e V id a” , Jo rn a l d o s Tea t ro s (1 0 .0 8 .1 9 1 9 : 2 ), p ub li c o u - se o el e nco co n tra ta d o p ara o Av e nid a : “A u g u sto d e Melo , H e nriq ue d ’ Alb u q uerq u e , Ara új o P ere ira , J o ão Cal aza n s , T ei xe ir a So are s , Ern es to d e Fr ei ta s , Ed ua rd o d e Mato s , A. Card o so , Na zar et h , P ere ira d a Sil v a , A. Ro d r i g ue s , I ld a S ti c hi n i , Alb ert i na d ’O li ve ira , Car lo ta Sa nd e , Re gi n a Mo n te n e gro , M ari a na Fi g ue ired o ”. 413 E m “De r el a nce ” ( Jo rn a l d o s Tea t ro s , 2 4 .0 8 .1 9 1 9 : 5 ), He nr iq ue Li no c o n sid era q ue Ed uard o d e M ato s , j u nt a me n te co m o ut ro s, n ão “d e s ma n c ha va ” o co n j un to . 414 Si n cero , “Ép o c a d e I n v erno ”, Jo rn a l d o s T ea t r o s , 2 8 .0 9 .1 9 1 9 : 3 . 415 `Nac io na l”, Jo rn a l d o s Tea tro s , 0 9 .1 1 .1 9 1 9 : 3 . T rata -s e d e u ma cr ít ica à p eç a Flo r d e S ed a . J o ão Lu s o , crí ti co d e st e p er ió d i c o , me nc io na Ed u ard o d e Mato s n a rub r ica “De r ela n ce” , a p ro p ó si to d o s esp ectá c ulo s Mo n tma rt r e , d e P i erre 411 134 20, finda a qual, escriturado na Companhia de Palmira Bastos parte para o Brasil (416), por onde permanecerá, transitando para a Companhia de Operetas de Cremilda de Oliveira (417), antes de regressar a Portugal em Julho de 1921. Biografado pe la crítica lisboeta como “um dos novos que no Nacional em papéis de realce mais se tem evidenciado como elemento de futuro garantido, se não perder as qualidades de trabalho e de gosto pela arte a que se dedica que tem demonstrado possuir” ( 418), Eduardo de Matos evidenciava “os seus dotes como actor que prezando a arte, nela [queria] alcançar um bom lugar” (419). Até 1938, progrediu, participando em elencos de diversas companhias, em Lisboa, e em digressão pelo país, por África, pelo Brasil, realizou o seu sonho no contacto com vultos como Eduardo Brazão, Palmira Bastos, Lucinda Simões, Estêvão Amarante, Chaby Pinheiro ou Alves da Cunha , e tantos outros que, segundo ele, lhe “facultaram ensinamentos dos quais [tentou] tirar o melhor proveito” (420). O seu repentino afastamento dos palcos da capital justificou -se, segundo ele, pela “profunda tendência [que sentia] para a vida em que fora criado” (421), embora o que realmente o levou a aceitar o convite endereçado por Rafael de Oliveira tenha sido a constatação do “clima de «luva branca», a intriga de bastidores, a desleald ade mascarada, [que] não estavam de acordo com o [seu] temperamento “terra -a-terra” e a [sua] educação provinciana” ( 422). Transcorridos vinte anos, relanceando o olhar sobre tudo o que fizera naquele espaço de tempo, Fro nd a ie (1 1 .0 1 .1 9 2 0 : 2 ), Pip io la , d o s ir mão s Q ui n tero (2 8 .0 3 .1 9 2 0 : 6 ), Do m Jo ã o Ten ó rio , ad ap ta çã o d e J ú lio Da n ta s (0 2 .0 5 .1 9 2 0 : 6 ) e Fed o ra , d e Vi cto r ie n Sard o u (0 6 .0 6 .1 9 2 0 : 6 ). T a mb é m no Nac io na l, s ub st it ui u o ac to r I nác i o P eixo to , no p ap el d e Si mão B o te lho , e m Amo r d e P erd iç ã o ( “G e nte d e T ea tro : E d uard o d e Mato s” , Jo rn a l d o s Tea t ro s , 0 4 .0 7 .1 9 2 7 : 5 ). 416 “Ac to s d e Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 2 7 .0 6 .1 9 2 0 : 3 . 417 “Ac to s d e Vid a”, Jo rn a l d o s T ea t ro s , 1 7 .0 7 .1 9 2 1 : 2 . 418 “Ge n te d e T ea tro : Ed u a rd o d e M ato s”, Jo rn a l d o s Tea t ro s 0 4 .0 7 . 1 9 2 0 : 5 . 419 Ib id e m. 420 Flo r i nd o C u stó d io , o p . cit. , Jo rn a l d o R ib a te jo , 1 1 .1 2 .1 9 5 8 : 1 e 6 . 421 Ib id e m. 135 no Teatro Desmontável , confessará em entrevista a Florindo Custódio , do Jornal do Ribatejo , ter “sobejas razões para [se] sentir feliz e orgulhoso” (423). Entre 1938 e 1948, Edu ardo de Matos colaborará no trabalho de consolidação do trabalho artístico e do prestígio crescente da Companhia, levado a cabo por seu irmão Afonso. Neste período de tempo, num total de vinte títulos novos, subiram à cena, entre outros, O Ladrão (1939), de Henri Bernstein, A Recompensa (1941), A Fera (1943) e A Cadeira da Verdade (1948), de Ramada Curto , As Pupilas do Sr. Reitor , em versão de opereta, com libreto de Ludovina Frias de Matos e música de Fernando Izidro , e A Vida de Um Rapaz Pobre (1946), de Octave Feuillet . O Teatro Desmontável , “espécie de Arca de Noé, flutuante e sobrevivente da crise do nosso Teatro” ( 424), continuou a sua peregrinação pelas províncias. Após o Carnaval de 1940, a Companhia despediu-se de Santa Comba Dão e rumou para Oliveira do Hospital , onde a ausência de imprensa local coeva silencia o eco que a companhia possa ter tido. Apenas voltaremos a ter n otícias suas no início de Dezembro de 1941, em Portalegre , onde qualquer dos três periódicos locais noticia, para 7 desse mês, a estreia da peça As Duas Causas. Até ao final desse ano, a Companhia apresentou os seus trunfos de bilheteira, em cujos espectáculos se contaram “muitas pessoas de destaque” ( 425) do meio portalegrense, que, apesar do frio, encheram o Desmontável com aplausos calorosos. Pretendendo “apenas registar o facto em si, pelo que tem de novidade, de apreço”, dava testemunho “O rapaz da geral ”, articulista de A Rabeca, que, sem 422 Ib id e m. Ib id e m. 424 “Ca rta d e ap re se n ta ção ”, in p er ió d i co el v e ns e não id e nt i ficad o , c uj o reco rt e, d atad o d e 0 4 .0 8 .1 9 5 5 se en co ntr a no a cer vo d e Ál var o d e Ol i veir a. 425 “T ea tro De s mo nt á ve l”, A Ra b eca 2 7 .1 2 .1 9 4 1 : 4 . 423 136 pretensões a crítico, se desculpava da falta de “conhecimentos sobre as artes, bem como de uma vasta e apurada sensibilidade” ( 426): A Companhia Rafael de Oliveira [...] tem conseguido impor-se com os seus apreciáveis espectáculos à consideração pública, gozando já dum prestígio e popularidade que se traduz na concorrência que ali se verifica. Ainda há poucos dias, quando se representavam “As duas órfãs”, houve no final do espectáculo chamadas especiais, que só podem interpretar -se como sendo manifestações espontâneas do público, quando ele vibra, sente e gosta. No Teatro Desmontável , organização modesta e creio que sem o vaidoso pretensiosismo de querer ocultar aquilo que é na realidade, trabalha um elenco de certo modo apreciável, equilibrado, homogéneo. Tenho assistido a algumas representações suas e devo confessar que me têm impressionado agradavelmente ( 427). Essa impressão “agradável” manifestou -se, então, na forma como a imprensa se interrogou sobre a razão do desaparecimento dos velhos grupos de teatro amador que tantas horas de “prazer espiritual” tinham proporcionado. E porque teriam desaparecido esses grupos? Pelo cansaço dos velhos? Por falta de vontade dos novos? Por desinteresse da população? Porque o futebol e o cinema absorveram a atenção das gentes e lhes captaram as suas preferências? ( 428). Sendo Portalegre constituída maioritariamente por uma população jovem, os grupos musicais eram a única manifestação artística da cidade, faltando, todavia, um grupo dramático. Além disso, futebol, cinema e teatro já haviam provado a sua capacidade de coabitação em anos anteriores. E mais se lastimava o articulista, em desab afo bairrista, que outras cidades marcassem lugar de destaque em Lisboa , na apresentação dos seus grupos dramáticos amadores. Erguia -se ainda o dedo contra as “medidas impostas pelo regulamento das casas de O Rap az d a G era l , “T eat ro De s mo n tá ve l : rep re se nt açõ e s” , A Ra b e ca , 1 7 .0 1 .1 9 4 2 : 3 . 427 Ib id e m. 428 “De T eatro ”, A Ra b eca , 1 1 .0 4 .1 9 4 2 : 3 . 426 137 B re ve s re fer ê nci a s às s ua s espectáculos, às sociedades recreativas, que [possuíam] grupo cénico” (429), que limitavam o seu regular funcionamento e se tornavam “incomportáveis para quase todas as sociedades, não falando já no encargo (embora facultativo) da sua federação” ( 430). E que dizer do único teatro existente em Portalegre , cuja “Empresa exploradora devia estimular a criação do grupo dramático, pondo à sua disposição o teatro e facilitando, o mais possível, a realização de espectáculos” (431), visto que raras eram as compa nhias profissionais que o incluíam no seu roteiro? Porque a lotação do teatro não defende a despesa? Porque o público não concorre? Porque à Empresa não lhe interessa a exploração de teatro, visto defender -se com o cinema? A lotação do teatro julgamos ser a mesma de há anos e o seu rendimento deve estar em relação, isto é, deve estar actualizado. O público concorre, desde que seja bom o artigo apresentado ou que seja muito aceitável. Verifique -se, pelo menos, a concorrência do Teatro Desmontável (432). Na realidade, o valor social do Teatro Desmontável e da Companhia Rafael de Oliveira era reconhecido publicamente, pela forma como tinha sido capaz de despertar “o gosto pela arte dramática” na população ( 433). Veio o Desmontável e o gosto pela arte dramática nasceu e robusteceu-se. Nasceu nos novos e reviveu nos mais adianta dos na idade, que recordaram noites de teatro de tempos idos. Tanto mais que em Portalegre vimos representar, então meninos e moços, alguns dos elementos que ora constituem a companhia Rafael de Oliveira . É esta a obra principal, obra artística entende -se, do Teatro Desmontável . Que continue a exercê-la pelo país fora, com os mesmos escrúp ulo e 429 Ib id e m. Ib id e m. 431 Ib id e m. 432 Ib id e m. N a ed ição se g u i nt e P o rtale gr e n se d e fe nd e u - se e m car ta o b st ác ulo s o u d e i xad o d e o ferec er ho u ve s se to d o o tip o d e esp e ct ác ulo s, 433 “A Co mp a n hi a Ra fael d e O li ve ira Ra b eca , 2 5 .0 4 .1 9 4 2 : 2 . 430 a E mp re sa exp lo rad o r a d o Ci n e -T ea tro ab er ta, a fir ma nd o q ue n u n ca h av ia p o s to as me l ho res co nd i çõ e s p o s sí v ei s p ara q u e o b v ia me n t e s e m p ri maz ia p ara o ci ne ma . te r mi no u a s ua ac t uaç ão e m P o r ta l egr e”, A 138 correcção – artística e socialmente falando – com que se houve em Portalegre. Aqui, quer pela conduta profissional dos artistas, quer pela conduta social dos cidadãos, a companhia Rafael de Oliveira deixa de si a melhor fama e a mais agradável recordação. ( 434) Partiram para Elvas , que tal como a sua vizinha Portalegre , não deixou de se questionar sobre o valor socio -educativo do teatro e do cinema. Américo Paiva , redactor principal do Jornal de Elvas , em artigo de opinião, citando o excerto anterior, resp igado de A Rabeca, alerta o público elvense para a chegada da Companhia e exorta -o a comparecer aos seus espectáculos. A propósito da retirada de Portalegre da Companhia Rafael de Oliveira, que durante meses ali actuou com beleza e probidade, alguém nos falou do carinho que se deve ao elenco daquele modesto mas simpático agrupamento artístico. Não descurei a recomenda. E tanto assim é que passei a interessar -me pela rancho teatral em que há nomes que não me são desconhecidos. Não se trata, é claro, duma companhia composta por actores com ordenados de ministro, actores que, afinal, só deitam a perder o prestíg io do teatro, alicerçando a sua crise cada vez maior, mas de elementos mais em contacto com o grande público e, por consequência, com um mais nobre papel na função ingrata de instruir, de educar. Pessoalmente não conheço qualquer elemento da Companhia, o q ue aliás só me coloca à -vontade para o efeito de fazer esta recomendação à gente de Elvas , a de que se deve amparar e estimular quem trabalha com seriedade e sem intuitos garganeiros, sempre antagónicos da arte ( 435). Afonso de Matos, enquanto Director Artístico da Companhia havia enviado um cartão de cumprimentos à redacção do periódico, a qual retribuía publicamente a deferência, nas suas páginas. Ainda que algo imprecisa, a imprensa local foi dando cobertura à temporada teatral, com isso concorrendo para “casas cheias e ambiente de dedicação pelos honestos artistas”, “uma empresa digna da nossa mais viva simpatia” ( 436). Ao ritmo de quatro espectáculos po r semana, o 434 435 436 Ib id e m. Amér ico P a i va , “T e atro e m E l va s”, Jo rn a l d e El va s , 0 3 .0 5 .1 9 4 2 : 1 . “T ea tro : Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a”, Jo rn a l d e El va s , 1 7 . 0 5 .1 9 4 2 : 4 . 139 reportório foi sendo levado à cena e, a pedido, procedeu -se à reposição de alguns sucessos. Américo Paiva redigiu novo artigo de opinião, evocando o grande serviço educativo que a Companhia estava prestando. Ainda que algumas peças fossem de “nítida contextura popular e tão velhas na memória do povo” ( 437), este acorria a revê -las sempre que figuravam no cartaz, “sem dúvida por saber que o teatro é a mais escrupulosa máquina retratadora da vida e uma escola em que os exemplos se repetem com nítida verdade” ( 438). Curiosamente, antecedendo a exortação ao público, o articulista insistiu no tema que, aparentemente, lhe era caro: as virtualidades artísticas do teatro sobre o cinema. Como função educativa devemos opta r pelo teatro, de preferência ao cinema. O teatro anda mais próximo do livro. O cinema mais chegado à paisagem e ao desmando moral. O teatro, qualquer que seja a sua origem, fala sempre a nossa língua. Acomoda -se melhor ao poder receptivo do povo, embora o povo se sinta cada vez mais atraído para o cinema. Questão de curiosidade a que não deve ser estranho o facto do cinema ter nascido há trinta anos apenas. É, portanto, do nosso tamanho e tagarela a moderna linguagem da época. Contudo, o teatro é mais sincero e lícito, porque vive muito menos do truque, presta -se muito menos ao lance duvidoso e agita -se todo entre as três paredes do palco. Nem sempre compreendido, nem sempre à mão do primeiro cogitar cerebral do espectador, mas sempre mais humano, afinal. E , talvez por tudo isto e mais alguma coisa, eu dou a minha preferência ao teatro, não obstante frequentar imenso, também, o cinema. Se num busco os claros acontecimentos da vida, que no palco se repetem com inaudito rigor psíquico, noutro procuro saciar a minha curiosidade ávida de panoramas e surpresas emotivas, palco rondado por qualquer objectiva. De Elvas, o Desmontável transitou para Campo Maior . Mais uma vez, a ausência da imprensa local cri a um vazio informativo. Desde a segunda quinzena de Outubro de 1942 até ao final desse ano, a Companhia deu vinte e um espectáculos. O Livro de Contas de 1943 , o 437 438 Amér ico P a i va , “O T ea t ro ”, Jo rn a l d e E lva s , 0 2 .0 8 .1 9 4 2 : 1 . Ib id e m. 140 primeiro que se conhece, principia com o 22º espectáculo, a 1 de Janeiro. Rafael de Oliveira manter-se-á em Campo Maior até ao final de Maio de 1943, realizando uma totalidade de 66 espectáculos, num período de sete meses, durante os quais a Companhia retornará por diversas vezes ao Cine -Teatro Elvense, actuando em espectáculos de beneficência. Também em Campo Maior , os espíritos locais gan ham consciência da importância do fenómeno teatral, segundo refere o correspondente local do Jornal de Elvas: [Consta] que uma comissão de rapazes da primeira sociedade, desta localidade, está convidando muitos sócios p ara construírem uma sociedade por cotas, para levarem a efeito a construção de um Teatro moderno, que poderá receber todas as Companhias. Está provado que faz bastante falta uma casa de espectáculos nesta vila, pois que tem uma população entre oito mil, a nove mil habitantes, e senão veja -se o que se está passando com a Companhia Rafael de Oliveira , que está trabalhando numa barraca, denominada “Teatro Desmontável ”, desde o mês de Outubro de 1942, dando por semana dois e três espectáculos, sempre com casas à cunha. Outro tanto se passa com os espectáculos de animatógrafo que regista sessões todas as semanas, Domingos e 5ª feiras, numa casa pouco confo rtável (439). A partir de 13 de Junho, a Companhia encontra -se instalada em Arronches, numa temporada de quase três meses, em que se realizam 24 espectáculos, sem que seja reposta qualquer das peças do reportório. Tampouco o c orrespondente arronchense do Jornal de Elvas se mostra particularmente interessado na divulgação da actividade da Companhia. Terminaram a estadia a 6 de Setembro de 1943, com a representação de Moços e Velhos, seguida de variedades, uma récita cuja particularidade residiu em ter sido grátis para o público feminino que lá tenha estado ( 440). Espectáculo feito, Desmontável desfeito, a Companhia fez -se transportar de cen ários e “No tíc ia s d e C a mp o Ma io r: No vo s ed i fíc io s”, J o rn a l d e E lva s , 1 8 .0 4 .1 9 4 3 : 4 . Ob ser v açõ e s n a fo l ha d e cai xa d e s se d ia , no Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 (MNT , acer vo d e F er na nd o Fr ia s). 439 440 141 bagagens, “em 7 carros” ( 441), para Estremoz , onde permaneceu durante o último trimestre desse ano, prolongando -se pelo primeiro do ano seguinte. A chegada da Companhia fez rejubilar a cidade num prospectiva de vida intelectual, fê-la sentir-se cosmopolita na imensidão da planície alentejana, podendo desfrutar de teatro e cinema em dias alternados, sem colisão de programas. Fê -la, ainda, recordar -se dos tempos em que “o provinciano somente conhecia teatro, uma vez por outra, se ia a Lisboa ou então por teatros ambulantes” ( 442), dos brilhantes serões da província animados pelos Dallot e os seus herdeiros da tradição ambulante: Todo o público de Estremoz ainda evoca com saudade as noites de inolvidáveis espectáculos com que Constantino de Matos , no “Teatro Chalet” – assim denominado pomposamente – e a sua companhia, quase toda a sua família de artistas, deliciou, durante meses, os estremocenses. De tudo lançava mão a aplaudida companhia da direcção de Constantino de Matos : drama, alta comédia, comédia ligeira, variedades, revista e uns “nacos” de ópera, e em tudo o seu pessoal artístico brilhava sempre com esplêndido êxito artístico. Ângela Pinto, não desdenhava do Teatro Chalet e nele representou em Estremoz, a grande artista. Em 1913 ardeu o Chalet, desaparecendo esse recinto de espectáculos, o que todos consternou, tanto mais que em Estremoz nenhuma outra casa de espectáculos havia. Aparece -nos, agora mesmo, outro teatro ambulante com o “Teatro Desmontável ”. A companhia já deu uns espectáculos e escusado é dizer que os seus espectáculos agradaram imenso. A Tournée Rafael de Oliveira, teve o condão de entusiasmar o público pelo seu bom desempenho justificando a fama que doutras terras trazia ( 443 ). Os irmãos Matos, que “em Estremoz tomaram contacto, em Escola particular, com os mistérios da raiz qu adrada e do complemento 441 Fo l ha d e tra n sp o rt e d o Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 (MNT , acer vo d e F e rna nd o Fri as) . 442 “Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i veir a: T ea tro D es m o nt á ve l”, B ra d o s d o A l en te jo , Est re mo z , 0 3 .1 0 .1 9 4 3 : 2 . 443 Mi g ue l d e Al meid a , “No B e r nard i m R ib eiro ”, Bra d o s d o A len tejo , E str e mo z, 0 9 .0 1 .1 9 4 4 : 1 . 142 directo” (444), regressavam, de certa forma, às suas origens, conforme aludia o cronista Miguel de Almeida , a propósito do espectáculo que a Companhia levou a cabo no Teatro Bernardim Ribeiro em benefício do Estremoz Futebol Clube . Na noite de 4 de Janeiro de 1944, o teatro da cidade encheu -se para assistir à representação de Rosas de todo o ano e As Duas Causas, numa “elevada interpretação dos verdadeiros artistas” (445), em espectáculo que foi igualmente “abrilhantado ” pelo conjunto local Jazz Amapola . Transcorridos vinte dias, os Artistas Associados levaram à cena A Fera, de Ramada Curto, e partiram para a vila do Redondo . Mas a população de Estremoz não deixou que fosse cortado o cordão umbilical artístico que a unira à Companhia durante a sua estada. Assim, a 14 de Mar ço, um grupo de admiradores de Afonso de Matos, aos quais se associa o Orfeão «Tomaz Alcaide» , organizam uma festa artística, em que s obe à cena uma das suas peças de reportório, A Calúnia. Encheu-se o Teatro Bernardim Ribeiro, que, um mês depois, voltou a receber nova festa artística, agora em homenagem a Eduardo de Matos , “actor de largos recursos, que tem esbanjado talento e simpatia por todo o Mundo Português” ( 446), segundo propagandeava o amigo articulista Miguel de Almeida , nas páginas do Brados do Alentejo. O homenageado interpretou então, a 16 de Maio, O Ladrão, de Bernstein. Terminada a temporada de 5 meses no Redondo (447), a companhia desloca -se para Borba. Bravo da Matta, correspondente de diversos periódicos locais, noticia a estreia da Companhia em finais de Julho com As Duas Causas, e a sua intenção em apresentar todo o seu reportório, desde que “não esmoreça a afluência de público à sua casa 444 Ib id e m. Ib id e m. 446 Mi g u el d e Al meid a , “T eatro B er nard i m R ib e iro : Fe st a ar tí s tic a d e Ed u ard o d e Mato s” , B ra d o s d o A len t ejo , 1 4 .0 5 .1 9 4 4 : 2 . 447 C., “Red o nd o : T eatro ”, Bra d o s d o A len tejo , 2 3 . 0 7 .1 9 4 4 : 6 . 445 143 de espectáculos” ( 448). E assim terá sido, dado que aí se mantiveram durante todo o Verão e primeiros meses de Outono, deslocando -se em seguida para Vila Viçosa . Deixaram, como sempre, saudades da partida; o supra citado articulista, na sua crónica do periódico calipolense Notícias do Alentejo (449), relata o “Borba de honra” oferecido na sede da Sociedade União Borbense , em que as qualidades da Companhia foram enaltecidas, e se sugeriu o futuro descerramento de uma lápide comemorativa da sua passagem pela vila. Palavras que, obviamente, não caíram em saco sem fundo, uma vez que, no ano seguinte, a 22 de Janeiro de 1945, o Teatro Municipal de Borba acolhia a representação de A Calúnia, em récita de benefício do Hospital da Misericórdia da vila, tendo sido descerrada a dita lápide durante o intervalo ( 450). A imprensa de Vila Viçosa , sem grandes entusiasmos, na sua tiragem irregular, reconhecia e louva va o êxito da Companhia, prejudicada na concorrência de público pelos rigores invernosos. Admitia-se que a estadia da Companhia viera preencher a lacuna cultural, motivada pelo encerramento do antigo Teatro, e acreditava -se que a construção de um novo iria por certo ser a solução do problema (451). Até 29 de Maio de 1945, o público calipolense assistiu ao desfilar de todo o reportório base, e reposição de alguns êxitos de bilheteira, num total de 40 espectáculos, enquanto a Companhia realizava ainda mais seis espectáculos na localidade vizinha de Bencatel. No último dia da temporada, e primeiro da anual Feira de Vila Viçosa, Rafael de Oliveira desabafa nas observações da folha de C., “B o rb a: T ea tro D es mo n tá ve l Ra fael d e Oli v eir a”, B ra d o s d o Alen tejo , 2 0 .0 8 .1 9 4 4 : 6 . 449 “A Co mp a n hia Ra fa el d e O li ve ira ”, No t íc ia s d o Alen tejo , 2 5 .1 2 .1 9 4 4 : 3 e 4 . 450 B rav a d a Ma tta , “Co rre sp o nd ê nci a d e B o rb a”, No t íc ia s d o A len t ejo , 1 8 .0 2 .1 9 4 5 : 2 . 451 “T ea tro De s mo nt á ve l”, No t íc ia s d o A len t ejo , 1 4 .0 2 .1 9 4 5 : 2 e 3 . 448 144 caixa desse dia: “Este foi o último espectáculo por se verificar que não havia público para mais...! ( 452). Desmontada e empacotada toda a estrutura teatral, a Companhia viaja de comboio em direcção a Évora . A imprensa local ( 453), que desde os últimos dias de Maio vinha divulgando a actuação eminente da Companhia, noticia a chegada do material, a 5 de Junho( 454), e o começo da instalação do vasto pavilhão de zinco à entrada do Rossio de São Braz, no local da Feira de S. João . Nos jornais, divulga-se a constituição do elenco e do reportório a exibir, e anuncia -se a estreia para 16 de Junho, com A Fera, que, por motivos imprevistos inominados, foi adiada 24 horas. “Não seria possível evitar que as pessoas que estão fora do Teatro perturbem a boa marcha dos espectáculos?”, reclamou o articulista do Notícias de Évora, na sua qualidade de espectador assíduo dos espectáculos do Desmontável. Muito embora o ambiente das Feiras não fosse do agrado particular de Rafael de Oliveira , para quem o “bom teatro” não era compatível com o ambiente feirante, que pressupunha sobretudo “palhaços, barulho, movimento”, os “encargos pesadíssimos” da Companhia a isso o obrigavam ( 455). Tanto mais que, como o alertava o jornalista do Democracia do Sul , iria “ter a concorrência dos cinemas a preços com os quais não [seria] possível competir!” (456). O hábito do espectáculo cinematográfico ao ar livre invadia o gosto português na época de veraneio e daí que as amplas esplanadas ganhassem terreno, onde, por preços módicos, se podia 452 T eatro De s mo nt á ve l: C o mp a n h ia Ra fae l d e O li ve ira : Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 . Fo l h a d e c ai x a d e 2 9 .0 5 . 1 9 4 5 . 453 E m É vo r a rep o r ta m - s e , p elo me n o s, tr ês p er ió d i co s lo ca i s: o No t ícia s d e Évo ra , d iário fu nd ad o e m 1 9 0 0 , o D emo cra cia d o S u l , d iário fu nd ad o e m 1 9 0 1 , e A Def esa , b i s se ma n ár io fu nd ad o e m 1 9 2 3 . 454 “T ea tro De s mo nt á ve l”, Demo cra cia d o S u l , 0 5 .0 6 .1 9 4 5 : 2 . 455 A. L., “T eatro D es mo n tá ve l: O D ire cto r d o T eatro D es mo ntá v el fa la - no s d o s se u s p ro j e cto s e faz o elo g io d o p úb l ico eb o re n se”, D emo cra cia d o S u l , 0 5 .0 7 .1 9 4 5 : 4 . 456 Ib id e m. 145 assistir aos dramas de paixões ardentes, protagonizados pelas belas estrelas de Holl ywood, sob o não menos belo firmamento estrelado das cálidas noites lusitanas. “Tenho esperança que o público t ambém há-de vir ao teatro, embora os preços dos lugares sejam mais caros. [...] De resto, o meu teatro é tão pequeno... Que diabo, sempre há -de haver umas dezenas de pessoas a marcarem a sua presença” ( 457), retorquia Rafael de Oliveira. E isso era indiscutível, segundo confirmava A.L.: Actua em Évora há perto de quinze dias [...] e conta-se por êxitos o número de representações. É um núcleo de artistas que percorre o país há bastantes anos, levando a todos os cantos um pouco daquela arte que só os mais afortunados têm a dita de apreciar, por não estar ao alcance de qualquer uma viagem à capital só para ver teatro, nem serem acessíveis a todas as bolsas, os preços dos lugares nos teatros provincianos, quando alguma empresa manda para cá um pouco do refugo que não cabe em palcos de coturno mais polido – quase sempre com uma estrela a brilhar como negaça num conjunto de planetas satélites. Há neste conjunto artístico duas preten sões mais evidentes: lutar honradamente pela vida e representar, honestamente também, o teatro mais ao gosto do nosso povo, não excluindo é claro as melhores peças de que o teatro português tem vivido e cuja montagem seja compatível com as suas possibilida des materiais ( 458). O permanente peregrinar pelo país inteiro conferia a este tipo de actores o conhecimento real das exigências dos diversos públicos. Sabiam que Lisboa era a capital, e também que o resto do país não era apenas paisagem. De norte a sul, Portugal apresentava-se como uma manta de retalhos, um patchwork cultural, não tanto “com melhor gosto e mais puro do que essa escuma descorada que anda ao de cima das populações, e que se chama a si mesma por excelência a Sociedade” (459), no empolamento garrettiano, mas com noções de gosto muito próprias e legítimas. Distinguiam -se estes actores dos seus colegas citadinos pela consciência que possuíam das suas 457 458 Ib id e m. Ib id e m. 146 limitações artísticas, senão na arte de represen tar, sobretudo, na concepção estética dos espectáculos. No caso da Companhia Rafael de Oliveira, reconhecia-se-lhe a homogeneidade e a honestidade de princípios interpretativos, “dando às suas repre sentações a nota simpática do respeito que lhe merecem os autores e as suas rubricas” (460). E tanto bastava para que se tratasse com consideração os Artistas Associados, que se não apresentavam “com as aleivosas pretensões dum agrupamento artístico aureolad o por balofas adjectivações e, por isso mesmo, a crítica não [tinha] que se arrepender perdoando deslizes, antes exaltando o que [tivesse] merecimento para ser destacado” ( 461). E, por isso mesmo, se destacava à Companhia o seu trabalho meticuloso e da “mais alta probidade profissional”, dando “montagens de peças que em qualquer palco, por maiores que fossem os pergaminhos deste, ficariam bem” (462). O modelo criado por Afonso de Matos , a que se associava seu irmão Eduardo, para o Desmontável, com a introdução de um reportório de peças, em que se expunham temas contundentes, vividos por personagens de fortes personalidades, no limite dos seus sentimentos, exigia o domínio de capacidades histriónicas igualmente fortes, de actores capazes de traduzir os dramas através da utilização de uma ampla paleta de matizes psicológicos. A companhia exibia agora uma maturidade na abordagem do método, conforme se depreende das palavras do crítico do Democracia do Sul , a propósito da interpretação de A Calúnia, na festa artística de Afonso de Matos : 459 Al me id a Garre tt , Via g e n s Na M in h a T er ra , Li s b o a, 1 9 8 3 , C írc u lo d o s Lei to re s, p. 134. 460 A. L. , “T eat ro D es mo nt áv el : A S eve ra ”, De mo c r a cia d o S u l , 2 8 .0 6 .1 9 4 5 : 4 . 461 Ib id e m. 462 K., “I mp re s sõ e s d e te atro : A Ca lú n ia no T eatro D es mo n tá v el” , No t ícia s d e Évo ra , 0 2 .0 8 .1 9 4 5 : 2 . 147 [A] acção violentamente dramática, com ressaibos de patetismo a roçar pelo melodrama, vive-se no palco, mas sente -se na plateia. Os acto res vivem-na se o seu poder de sentir não se embotou à custa de a viverem muitas vezes, e isso só acontece se, dentro dos seus peitos existe aquela gama de sentimentos que se traduz no delicado poder de fazer vibrar as cordas da alma de acordo com a person agem a interpretar. Os espectadores sentem -na, se lhes for transmitida a dose de verdade que os seus corações requerem para as lágrimas aflorarem aos olhos. E é isso mesmo que acontece. Os actores interpretam a peça como se cada personagem a vivesse, realm ente. Os espectadores emocionam -se e sentem-na, justamente porque os intérpretes lhe dão vida verdadeira. E deste modo nota-se que uma onda de alívio invade a plateia quando cai em si e repara que assistiu apenas ao desenrolar de umas tantas cenas no palco dum teatro. O desempenho a cargo das figuras mais representativas da Companhia resultou quase brilhante. Seria querer demasiado, exigir ainda mais. ( 463) Tratava-se obviamente de um árduo trabalho de técnica teatral por parte dos actores mais velhos, mas, sobretudo, da sua influência na nova geração de actores que a escola do Desmontável havia, entretanto, formado: Fernando de Oliveira , filho de Rafael e Ema de Oliveira, e os irmãos Frias, filhos de Carlos e Geny, o Fernando e a Lizete. Os jovens artistas possuíam indiscutivelmente uma auréola de simpatia e admiração por parte do público, e da imprensa, todavia Lizete Frias, então com 17 anos, deixa claro na sua primeira entrevista, que “a rara intuição para o teatro”, que se lhe reconhecia, mais não era do que o seu gosto por representar, a que dedicava o seu maior esforço: “Estudo e tento aperfeiçoar cada vez mais o desempenho de papéis que tenho de inte rpretar. Gostava de ser uma grande actriz. Mas isto não é para quem gosta...” ( 464). Realizadas as festas artísticas dos societários, como ainda se praticava, a Companhia, “para fechar com chave de ouro a sua série de A. L., “T eatro : A Ca lú n i a ”, D emo c ra c ia d o S u l , 0 2 .0 8 .1 9 4 5 : 4 . A. L., “T eatro : A p ri me ira e n tre v is ta d e Li zete Fri as ”, De mo c ra c i a d o S u l, 0 5 .0 8 .1 9 4 5 : 6 . 463 464 148 espectáculos” ( 465), despediu-se de Évora, a 28 de Setembro de 1945, com a reposição de A Calúnia, cedida por Afonso de Matos do seu reportório pessoal. Tamanho foi o êxito, e a exigência do público, que a companhia aceitou realizar uma “última e irrevogável” ( 466) récita, preenchida com comédias e quadros de revista, numa homenagem alegre aos “inúmeros frequentadores ” (467) do Desmontável, que, por sua vez, retribuíram a deferência com a actuação de “um equilibrado grupo de amadores teatrais eborenses” ( 468) interpretando “o drama em um acto Amor de Pai” (469). Despedidas feitas, a Companhia tomou o comboio e rumou para sul, indo assentar arraiais na capital do Baixo Alentejo. Com “numerosíssima assistência e [agradando] plenamente” (470), estrearam os Artistas Associados, em Beja , As Duas Causas, a 28 de Outubro de 1945. Depois de uma peça, cujo dramatismo se sustenta de contrastes nítidos e bem marcados por um realismo interpretativo, que havia galvanizado a assistência, a Co mpanhia apresentou, como segundo espectáculo, o enredo singelo e comovente da história de um gaiato de Lisboa, cujo coração grande e generoso fazia enternecer a plateia mais empedernida. Na terceira noite, atacou outra peça do reportório “antigo”, um melod rama tão ao gosto do público oitocentista dos teatros do Boulevard du Temple , em que a maldade e o crime progridem num crescendo de interesse, em face de uma assistência galvanizada pela narrativa entusiasmante de O Paralítico. “T eatro D e s mo nt á vel : Co mp a n hi a R a fae l d e Oli ve ira ”, No tí cia s d e Évo ra , 2 7 .0 9 .1 9 4 5 : 1 . 466 “T eatro D e s mo nt á vel : Co mp a n hi a R a fae l d e Oli ve ira ”, No tí cia s d e Évo ra , 2 9 .0 9 .1 9 4 5 : 3 . 467 Ib id e m. 468 Ib id e m. 469 Ib id e m. 470 Diá rio d o A len t ejo , 2 9 . 1 0 .1 9 4 5 : 1 . 465 149 [O] reportório inclui obras do maior renome e, apesar das dificuldades que oferece a sua interpretação, elas são postas em cena de forma a prenderem o interesse e a captarem o agrado do público amador de teatro. [...] Estivemos lá, ontem à noite, a assistir à representação da famosa peça O Paralítico. Retirámos bem impressionados, porque no conjunto a Companhia fez verdadeiro teatro, mostrando -se perfeitamente apet rechada, sob todos os aspectos, porque tão difícil tarefa. Eduardo de Matos , a gentil Lizete Frias e Afonso de Matos nos principais papéis, mostraram -se artistas de verdadeiros recursos. E os seus companheiros – Geny Frias, Rafael de Oliveira, Fernando Frias , Carlos Frias, Mila Graça, Idalina de Almeida e José C. de Sousa asseguraram à representação o equilíbrio que se impunha. Apenas um reparo queremos fazer – o exagero que assinalou algumas passagens cómicas da representação, a transigir demasiado com a predilecção de certo sector da assistência. A companhia sabe e pode fazer bom teatro declamado e não deve por isso nunca roubar às suas representações aquele aspecto de seriedade e de arte verdadeira que constitui um dos seus títulos mais recomendáv eis e é certamente o fulcro dos justos sucessos que vem alcançando nas suas digressões ( 471). Em todos estes textos se verifica a mesma característica de peça bem-feita, segundo os princípios de Scribe ou de Sardou , cuja ampla escala de sentimentos obriga à utilização de dotes de eloquência interpretativa por parte de actores que saibam entusiasmar a audiência. Esse era o segredo do elenco dos Artistas Associados, conforme sublinhou AITE, crítico do Diário do Alentejo, para quem o recurso à utilização de efeitos de agrado certo se mostrava desnecessário. E, por isso mesmo, o público continuava a aderir em massa e a fazer com que os periodistas reflectissem, nas páginas do periódico, sobre as razões que a razão se indagava: Tem-se dito e redito tanta vez que o teatro já não interessa ao grande público, que este conceito tende a impor -se como verdade intangível. Quanto a nós nunca acreditámos por aí além nesta maneira de ver e poderíamos trazer para aqui vários exemplos a demonstrarem a sem razão daqueles que consideram o teatro desacreditado perante as massas populares. Limitamo -nos porém a focar o êxito da Companhia AIT E , “T eatro e m B ej a: O ter ce iro e sp e ct ác ulo d a Co mp a n h ia d o T eatro De s mo nt á vel ”, Diá rio d o Alen te jo , 0 1 .1 1 .1 9 4 5 : 1 e 4 . 471 150 do Teatro Desmontável ali ao largo de Santa Catarina e que todas as noites de espectáculo regista enchentes dum público interessado e entusiasta. O caso na da tem de milagroso. Bastou apenas para isto uma companhia bem organizada que, embora sem vedetas famosas e caras, constitui um conjunto homogéneo, que com honestidade e apreciável sentido artístico exibe um reportório inteligentemente escolhido, ao gosto do nosso povo, e por preços acessíveis. E o público bejense esquece o frio e até certa incomodidade para todas as noites de espectáculo lá estar a comover -se com as cenas dramáticas de um Paralítico ou com as perso nagens ultra-românticas de uma Morgadinha de Valflôr . O povo gosta de teatro! O que é preciso é darem-lho em condições económicas de harmonia à sua magra bolsa (472). 1946 entrou com energia renovada. Depois do mau tempo que assolara o Desmontável, a Companhia começou o Ano Novo com “mais um espectáculo de alegria e gargalhada” ( 473), representando Moços e Velhos, e contou com a presença, em fim de festa, do “cantor da rádio Tony de Matos ” (474), que, embora não fazendo já parte da sociedade, se encontrava de quadra natalícia com a família. Nos momentos de grande crise, que a Companhia viveu posteri ormente, a presença de Tony de Matos manifestou-se sempre em apoio incondicionál. De comédia em drama, em opereta, em revista, foram sendo realizadas as festas artísticas dos actores, à medida que se aproximava o termo da temporada em Beja: Idalina de Almeida e António Vilela, com a revista Portugal em Festa, Afonso de Matos, com A Calúnia, Carlos e Geny Frias, com Transviados , José Carlos de Sousa , com Rosas da Virgem, Eduardo de Matos , com O Ladrão, Ema e Fernando de Oliveira, com O Tio Rico, de Ramada Curto, Mila Graça e Tony de Matos, com Adrião, quero ver o papá! , Rafael de Oliveira , com A Morgadinha de Valflôr, e, por fim, Lizete e Fernando Frias, com A 472 473 474 “No ta d o d ia: T eatro ” , Diá rio d o Al en te jo , 2 1 .1 1 .1 9 4 5 : 3 . “B ej a d i a -a -d ia: T eatro De s mo nt á vel ”, Diá rio d o Alen te jo , 0 2 .0 1 .1 9 4 6 : 1 Ib id e m. 151 Vida de Um Rapaz Pobre , de Octave Feuillet , em estreia na Companhia. Os irmãos Frias tornavam público o seu desejo de “corresponder aos aplausos e incitamentos com que [tinham] sido distinguidos em Beja” (475), e a imprensa retribuía elogiando -lhes o talento e a dedicação à arte: Lizete , para além de ser alentejana, era recordada pela “graciosa e gentil figura que [revelava] uma decidida e invulgar vocação para a arte de representar, conquistando apreciáveis êxitos em difíceis papéis de ingénua [...] actuando com naturalidade e um realismo pouco vulgar em artistas cuja carreira ainda vai no princíp io” (476); Fernando Frias , na interpretação do jovem rapaz pobre deu “a sua melhor interpretação [...] duma sobriedade e naturalidade a mereceram especial citação” ( 477). O destino seguinte foi a cidade de Setúbal . Desde o início do ano que a Companhia era esperada - “ouvimos dizer que a Companhia virá a Setúbal”, anunciava O Setubalense (478) -, facto que se veio a confirmar com a deslocação de Rafael de Oliveira para, como sempre fazia, tratar das formalidades necessárias à montagem do Desmontável, estadia do elenco e funcionários, e, sobretudo, visitar as redacções dos periódicos locais, numa primeira abordagem de divulgação do reportório. O actor -empresário não era uma figura desconhecida do meio setubalense; dele se recordavam ter trabalhado no “Salão Recreio do Povo e no Teatro Luísa Todi ” (479) e aguardavam com expectativa a estreia de A Fera, por uma Companhia considerada superior à Rentini ( 480). As comparações eram “B ej a d ia - a -d i a: T eat ro Des mo n tá v el : A fes ta art í st ica d e Li ze te Fri as e Fer na nd o Fr ia s r eal iza - s e a ma n h ã”, Diá r io d o A l en te jo , 1 9 .0 3 .1 9 4 6 : 3 . 476 Ib id e m. 477 “T eatro e m B ej a : A fes ta art ís ti ca d e Lize te e Fer na nd o Fr ia s” , D i á rio d o Alen tejo , 2 2 .0 3 .1 9 4 6 : 4 . 478 “A C id ad e : T eatro R e nt in i”, O S etu b a len se , 0 7 . 0 1 .1 9 4 6 : 2 . 479 “A C id ad e : A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, O S e tu b a len se , 1 6 .0 3 .1 9 4 6 : 2 . 480 “A C id ad e : A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, O S e tu b a len se , 0 1 .0 4 .1 9 4 6 : 2 . 475 152 inevitáveis, tanto mai s que Rafael de Oliveira haveria de instalar o Desmontável na Praça da República , no mesmo local onde estivera implantado o Teatro Metálico da companhia de Julie ta Rentini. Não eram, todavia, estes argumentos que poriam em causa a credibilidade dos Artistas Associados, mas aqueles que advinham da “ousadia” de se representar o reportório imortalizado por actores de nomeada, como admitia Alberto Fialho , crítico de O Setubalense, homem “um tanto ou quanto exigente, porque desde menino e moço metido nestas coisas de teatro” (481): No teatro desmontável instalado na Praça da República , apresentou-se no passado domingo, pela primeira vez ao público desta cidade, a Companhia Rafael d’ Oliveira , que, para inauguração do seu modesto teatro, escolheu um dos melhores trabalhos do grande dramaturgo português Dr. Ramada Curto , A Fera, uma das maiores criações do insigne actor e mestre da arte de representar, Alves da Cunha . Confessamos muito abertamente, que quando entrámos no modesto (482) teatro da Praça da República , um pensamento duvidoso povoava a nossa mente, pois não nos repugnava acreditar que depois de Alves da Cunha houvesse alguém mais ousado que se atrevesse a fazer aquela difícil personagem talhad a e escrita para o grande mestre da cena portuguesa. Aparece -nos, porém, um D. Diogo, feito por Eduardo de Matos, que, sem confrontos, porque a distância não se pode medir de ânimo leve, deixou no entanto completamente satisfeita a nossa Alb erto F ia l ho , “T e atro s: Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra: A F era ” , O S etu b a l en s e , 2 4 .0 4 .1 9 4 6 : 4 . 482 P res u me - se q ue o ar ti cu li s ta s e re fi ra ao a sp ecto to sco q u e o De s m o nt á ve l ti n ha, p o rq ue, q ua n to à lo t ação , a “mo d é s tia ” trad u zia - s e, ne s te mo me n to , e m ap ro x i mad a me n te 7 0 0 l u gar e s A 2 4 d e M aio d e 1 9 4 6 , a co mp a n h ia le vo u a c e na A Mo rg a d in h a d e Va lf lô r , e m r éc it a d e b e ne fic ên cia , a fa vo r d as fa mí l ia s d a s ví ti ma s d a B arca “P ri m e ira”. O S etu b a len se ( 0 3 .0 7 .1 9 4 6 : 4 ) p ub l ico u p o st erio r me n t e o relató rio d as co n ta s d es te e sp ec tá c ulo , q ue ap re s e nt a d ad o s in ter es s a nte s so b r e a e n ver g ad ura d o tea tro -b a rraca. O s l u gar e s d i v id i a m - s e e m trê s gr up o s : Cad e ir as , Sup erio r es e G era l, p o r 1 1 $ 0 0 , 6 $ 0 0 e 3 $ 0 0 , resp ect i va me n te . N ão se co n hec e nd o ne n h u m ca r taz d e sta te mp o rad a , é i mp o s sí v el ver i fi car s e es te p reço p rati cad o ap re se n ta d i fere nça e m re laç ão a o u tra r éc ita co rre nt e. S ej a co mo fo r , o re ferid o r el ató r io i n d ica o s l u g are s ve nd id o s e o s q ue ficar a m p o r v e nd er. F ica mo s, as s i m, a co n he cer a lo t ação d a sa la n es ta fase , se nd o Cad eira s v e nd id as 3 2 3 , e p o r ve nd e r 1 9 ( to ta l p arci al, 3 4 2 ) , S up erio re s v e nd id a s 4 3 , p o r ve nd er 1 2 5 (to tal p arc ia l, 1 6 8 ), e G er al ve nd id a 3 5 , e p o r v end er 1 6 5 (to ta l p ar ci al, 2 0 0 ) . Co nt a s fe ita s, a l o ta ção s eria d e 7 1 0 l u gare s. Se g ura me nt e q ue não er a ne st e se n tid o q u e o cr ít ico fala v a d e u m te atro mo d e sto ! 481 153 curiosidade. Boa dicção, admirável expressão e sobretudo um belíssimo desenho da personagem, sem cópia nem exageros. O trabalho de Eduardo de Matos , que recebeu fartos ensinamentos de Chaby Pinheiro e de Alves da Cunha , agradou-nos sobremaneira e daqui lhe enviamos os nossos parabéns ( 483). Devido à sua proximidade com Lisboa , os sadinos mantiveram uma relação próxima com os êxitos teatrais da capital; podendo deslocar-se à capital ou receber as companhias nos seus próprios teatros, Setúbal fazia parte da rota teatral itinerante das Tournées artísticas a caminho do Algarve , bordejando o litoral alentejano. Alberto Fialho continuou a escrever os seus apontamentos críticos sobre as peças, os actores, a execução musical do quinteto sob a direcção do maestro Fernando Izidro , a cenografia de Fernando Frias, “um bom cenógrafo, muito apropriado e agradável à vista” (484), que, gradualmente, fora substituindo os antigos cenários do seu mestre e antecessor Rogério Machado . Todavia, apesar dos artistas estarem a representar “diversos originais de autores consagrados com desempenho deveras notável” (485), a imprensa constatava a falta de concorrência do público ao Desmontável e apressava -se a vir publicamente em seu auxílio. Pois o empresário tem perdido dinheiro. Umas vezes por motivo do temporal e outras por falta de assistência, a verdade é que esse núcleo de artistas não tem tido o prazer de ver a plateia setubalense a admirar-lhe o trabalho. E, no entanto, a Companhia é digna do favor do público. Os seus elementos são superiores aos da Companhia que no mesmo local funcionou há dois anos. Porquê o desinteresse desse público? Mas esse público que corre aos cinemas a ver fitas passadas e repassadas nas telas, não gosta de teatro? Se gosta, porque falta? É certo que o teatrinho é modesto mas, para com pensar, os elementos artísticos suprem a falta. E como sabemos perfeitamente que o povo setubalense gosta de teatro, estranhamos a sua ausência, o que não é 483 Ib id e m. Alb er to F ia l ho , “T ea tro s : Co mp a n h ia Ra fa e l d e O li ve ira : A To m a d a d a Ba s tilh a ”, O S etu b a len s e , 0 8 .0 5 .1 9 4 6 : 2 . 485 “A C id ad e : A ab ri r: O T eatro De s mo n tá v el” , O S etu b a l en se , 1 1 .0 5 .1 9 4 6 : 2 . 484 154 justo. Não é verdade? O teatro romântico emociona, produz vibrações, chega a fazer cair as lágrimas que se juntam aos cantos dos olhos. E o público precisa também que os nervos vibrem. A Companhia aguarda a visita do público cônscia que, na modéstia do seu trabalho, o que representa é bom e o desempenho honesto. Ali, faz -se teatro, várias vezes melhor q ue o que a Setúbal têm trazido muitas Companhias (486). Aparentemente correcto, o discurso do articulista “esconde” os tempos difíceis vividos em Portugal durante a década de 40 e nos primeiros anos do pó s-guerra. Ainda que a posição face ao conflito armado tivesse sido a neutralidade, a verdade é que os problemas internos portugueses criaram um clima de cansaço na população; assistiu-se ao açambarcamento, à especulação e ao mercado negro. Os maus anos de colheita, no início da década, que fizeram subir o preço dos bens essenciais, acrescidos da redução das importações em anos seguintes teve como resultado a fome, que atingiu os centros operários e os assalariados rurais. As greves desencadeadas entre 42 e 44, na região de Lisboa, Setúbal, Covilhã, Alentejo e Ribatejo , a que se associaram as manifestações de camponeses por todo o país a norte do Tejo, apontavam o dedo à política de penúria do Estado Novo . Em 1943, Salazar, introduzindo o racionamento de bens essenciais, acabou por criar um efeito perverso: uma vez que estes se esgotavam e demoravam a ser repostos, os consumidores acabaram por ficar à mercê do mercado negro. No ano seguinte, os preços de alguns bens chegaram a duplicar, e pior do que tudo, verificou -se a falsificaç ão de produtos. A penúria persistiu para além do fim da guerra, mantendo -se a utilização das senhas de racionamento. Na carência de alimento para o corpo, não parece essencial a procura de alimento para o espírito, por muito acessíveis que fossem as entradas no Desmontável, excepto para um segmento da população mais afortunado. Além disso, o cinema praticava preços mais modestos 486 Ib id e m. 155 – Rafael de Oliveira sabia-o – e os actores portugueses enchiam a tela com as comédias que seguiam o modelo iniciado com A Canção de Lisboa, nos anos 30: via -se, ria-se e aplaudia-se O Pai Tirano (1941) e A Vizinha do Lado (1945), de António Lopes Ribeiro , O Pátio das Cantigas (1942), de Francisco Ribeiro , O Costa do Castelo (1943) e A Menina da Rádio (1944), de Artur Duarte, mesmo que António Ferro os considerasse grosseiros e vulgares. A exaltação literá ria manifestase em António Lopes Ribeiro , adaptando o camiliano Amor de Perdição (1943), e em Leitão de Barros , prendendo na tela a imortalidade romanesca de Inês de Castro (1945) e de Camões (1946). Tal como na actualidade televisiva, o sucesso da tela era o sucesso dos seus actores. António Silva e Vasco Santana formam uma dupla que arrasta plateias, tal como, entre 1940 e 1946, este último e sua mulher Mirita Casimiro formam o casal Santana, ídolos c onsumados, que produzem operetas e revistas ( 487). Por outro lado, os irmãos Ribeiros (António Lopes Ribeiro e Francisco Ribeiro, Ribeirinho) tentam criar uma linha de produção cinematográfica, ao mesmo tempo que fundam Os Comediantes de Lisboa , em 1944, onde reúnem um conjunto de actores de talento (488). No mesmo ano, cria -se a Cinemateca Portuguesa, dirigida por Félix Ribeiro , e, no ano seguinte, o Clube Português de Cinematografia (Cineclube do Porto) . Apesar das dificuldades, durante dois meses, o Desmontável manteve-se instalado até ao últi mo dia de Junho de 1946, quando se despediu do público sadino com a revista A Ver Navios Navios . Teria o título do espectáculo algum sentido oculto ? Desconhecemos. Todavia, antes de lhe perdermos o rasto até ao final do ano seguinte, a 487 No i n íc io d e 1 9 4 2 , s o b e à c e na no T ea tro d a T rind ad e , a re v i sta Ale lu ia , o ri gi na l d e Ar na ld o Lei t e e H ei t o r Ca mp o s Mo nt eiro (1 8 9 9 -1 9 6 1 ) , co m mú s i ca d e B ern ard o Ferre ira e Ar m and o Leç a . 488 J o ão Vilare t , Ma ria La la nd e , An tó nio Si l va , E u ni ce M u ño z , Ca r me n Do lo re s , Lu cí lia S i mõ e s , As si s P ac heco , Ho rte n se Luz , E mí l ia d e Ol i ve ira e Ál va ro B en a mo r . 156 Companhia interpretou ainda O Tio Rico, a divertida comédia de Ramada Curto, numa récita de beneficência realizada no Teatro Luísa Todi, a 5 de Julho [489]. 6. Uma digressão pelas Ilhas: Madeira e Açores 6.1. Funchal - O Desmontá vel da Avenida do Mar : “Um Brinde de Natal”. A 10 de Dezembro de 1947, o «Carvalho Araújo » fundeou ao largo da Madeira. No dia seguinte, o Eco do Funchal noticiava que Rafael de Oliveira visitara a redacção do jornal, logo que chegara, acompanhado do empresário João Jardim [490], “que se tem mostrado incansável na realização desta louvável iniciativa” [491]. Na realidade, a contratação dos Artistas Associados por este empresário cinematográfico madeirense, para uma temporada de pouco mais de um mês no Funchal, era considerada como “um magnífico brinde do Natal de 1947 aos madeirenses amadores de teatro” [492]. A actuação da Companhia tornava -se de certo modo insólita para o espectador madeirense, habituado a receber as companhi as de renome no seu Teatro Municipal de Baltazar Dias , e quanto a recintos desmontáveis apenas conhecia os dos seus cinemas ao ar livre. Constituía, portanto, um interesse acre scido, segundo relatava a imprensa local, a estreia da Companhia Rafael de Oliveira , actuando “R éc ita d e Car id ad e”, O S e tu b a len se , 0 3 .0 7 .1 9 4 6 : 1 . E m fi na i s d o s a no s 4 0 , J o ão J ard i m to mo u d e tre sp a s se o C i ne J a rd i m d o F u nc ha l, u m c i ne ma ao ar li vre , c uj a h i stó r ia re mo nta v a ao s a no s tri nt a. Co mo e mp re sár io , J o ão J ard i m fo i u ma fi g ur a co ntro v ers a d o meio mad eir e ns e, fic a nd o se - l he a d e ver a co n s tr uç ão d o p r i mei ro c i ne m a co b er to d o F u nc ha l , e m 1 9 6 6 , o Ci n e ma J o ão J ard i m . So b re a s ua hi s tó ri a a trib u lad a le ia - se a o b r a d e J o ão Ma urí cio M arq ue s , O s f a u n o s d o cin ema ma d ei ren se, F u nc h al : Ed i to ri al Co rre io d a Mad eira , 1 9 9 7 . 491 “C h e go u o n te m à Mad eira a Co mp a n hi a Ra fa e l d e O li v eira q u e ve m d ar n es ta cid ad e u ma sér ie d e e sp ectá c ulo s d e t eatro ”, E c o d o Fu n ch a l , 1 1 .1 2 .1 9 4 7 : 2 . 489 490 157 “num magnífico teatro Desmontável, instalado na Avenida do Mar , propriedade do arrojado Empresário madeirense Sr. João Jardim ” [493]. A empresa Cine Jardim fez anunciar no Diário de Notícias, da Madeira, a estreia de As Duas Causas , que, à última da hora, em virtude da Sociedade de Au tores não haver autorizado a sua representação, teve de ser substituída por O Gaiato de Lisboa. A este descontrolo poderá dever -se a falha na impressão de programas do espectáculo, conforme critica MV, no Eco do Funchal, cuja elucidativa crónica da noite de 20 de Dezembro de 1947 se transcreve: [A] Companhia fez a sua est reia com uma assistência reduzida, talvez com ¾ da lot ação da casa. Se focamos este por menor é apenas para frisar que a empresa, descurando a requerida propaganda do pri mei ro espectáculo, traiu o consolo espiritual que os artistas do palco sentem na noite do seu pri meiro contacto com um público desconhecido. Essa negli gência traiu, outrossi m, a própria escora financeira da empresa, que é j usto prémio duma propaganda inteli gentemente orientada e mantida. Nem um programa a elucidar o público da distribuição e acção da peça, nem os anúncios dos j ornais a vibrar a nota que congrega o público e autoriza o espectáculo. Sem amparo da publicidade que era de esperar, verificou -se o facto citado da Companhia estrear perante uma assistência reduzida. Mas... como o prod uto quase contrabandisticamente apresentado era bom, creditou -se por si mesmo. Outro reparo, que de modo al gum envol ve o prestígio artístico da Companhia, é o da montagem de microf ones apropriados, de for ma a que o público da rectaguarda possa ouvir nitida mente os actores. É uma deficiência que decerto j á foi resolvida. Ao descer o pano do 1º acto do Gaiato de Lisboa , a assistência escassa mas seleccionada, premi ou o trabalho meritório dos artistas com pal mas que não f oram de favor, por que traduziram aquilo que é raro entre nós, público frio e exigente: espontaneidade e sinceridade absoluta. E quando o pano desceu sobre o 2º acto, o estrondo pr olongado do aplauso testificou [sic] que o público estava conquistado e feito o melhor elogio, o maior reclamo da Companhia. O Fi m de Festa do espectáculo de estreia – pri moroso “bouquet” de variedades, revelou, com perfeição, o valioso En ep ê , “A Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i vei ra co nt i n ua e m p le no ê x ito ” , Eco d o Fu n ch a l , 1 5 .0 1 .1 9 4 8 : 4 . 493 “Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a”, O Co r reio De sp o rt ivo , 2 1 .1 2 .1 9 4 7 : 1 . 492 158 desdobramento artís tico do conj unto, autor izado a desempenhar -se dos géneros dramático, operático e li geiro. [...] José, o gaiato, teve em Geny Frias uma encarnação de consciencioso equilíbrio, firmeza nas tiradas, colorida na expressão e segurança de difícil exteriorização psicol ógica. Na Mila , Li zete Frias, servida por uma gracilidade sem senão, por voz de fi no timbre, de doce melodia, dicção correcta, vocação em flor, mi mo revelando inteli gência e estudo, - ani mou a figura que parece ter sido criada para a sua sensitiva interpret ação. O velho Gener al Sar mento brilhou a grande altura no talento interpretativo de Afonso de Matos . O gesto, o vinco da máscara, a modulação da fala, o arranque seguro do voo dec lamatório, pega vi víssi ma da deixa, arte e rapidez de expressão, o aprumo sem quebra nem deslize do característico, - tudo nele é alto, relevo e enver gadura dos Artistas de garra, de mão cheia, de plano superior e valor consagrado. Afonso de Matos é um Artista de craveira nobre, que honrando a Arte teatral portuguesa, muito honra o el enco onde milita, como figura central. Ema de Oli veira , Mila Graça, Rafael de Oli veir a , Fernando Frias e José C. de Sousa , respect ivamente em Doroteia , Baronesa de Valmor , Cosme, Eduardo Sarmento e criado, concorreram com acerto para o seguro desempenho e j ustificado sucesso obtido na peça da estreia. Boa cenografia. Adereços à altura do requerido e das circunstâncias. Guarda -roupa adequado, carac terização fácil. Uma orquestra composta de 9 figuras, sob a treinada e competente regência do Sr . Ismael de Car valho, deliciou a assistência, realçando a excelente impressão que o público levou do debute da Companhia Rafael de Oliveira [ 494]. O ritmo de realização de espectáculos é frenético, já que a assim obrigam as normas contratuais entre o empresário madeirense e a Companhia. Em 46 dias de estadia no Teatro Desmontável da Cine Jardim, realizam-se 49 espectáculos, mais dois no Teatro Municipal de Baltazar Dias, e um no pavilhão-teatro da Casa do Povo de Santo António. Disso dá conta o articulista de O Correio Desportivo , destacando que “sem se deixarem dominar pelo esgotamento, os artistas em cada espectáculo encaram novos personagens” [495], e lamenta “que a companhia esteja a ultimar os seus espectáculos MV, “T eatro : O Ga ia t o d e Lisb o a e m esp ect ác ulo d e E str eia d a Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 . 495 “Arte D ra má ti ca: Co mp a n h ia Ra fael d e O l iv eir a”, O Co rr eio D e sp o rt ivo , 1 8 .0 1 . 1 9 4 8 : 1 e 2 . 494 159 privando o público de um género de teatro que lhe vinha merecendo já bastante e denunciado interesse, tocando -lhe por vezes na fibra emotiva” [496]. Frequentador regular dos espectáculos do Desmontável, aflora-lhe a memória longínqua de um dia de Natal em que assistiu à representação de A Morgadinha de Valflôr , “no antigo Pavilhão-Paris, [por] uma Companhia Dramática, dirigida pelo actor Augusto de Andrade ” [497], a que pertencia a jovem Ilda Stichini , em quem Brazão vislumbrou “um raro talento de comediante” [498]. “Quem nos diria a nós que, como há trinta anos na modesta comediante da Companhia Augusto de Andrade , estaremos em presença de valores e talentos que um dia outro grande actor como foi Eduardo Brazão venha descobrir e revelar” ( 499), exclama no seu encanto pelos artistas do Desmontável. No termo do contrato com a Empre sa Cine Jardim , a Companhia realiza as suas habituais festas artísticas, embora em menor quantidade, congregando maior número de artistas por récita. Afonso de Matos apresenta, como de costume, A Calúnia, a família Oliveira, Transviados , a família Frias, A Vida de um Rapaz Pobre , e a família Vilela, à qual se junta Tony de Matos (500), A Filha do Leão. Começando por ser “um agradável brinde de Natal” ( 501), a presença da Companhia do Teatro Desmontável , “no seu género, do melhor que à Madeira tem vindo” ( 502), ganhava pertinência pela capacidade com 496 Ib id e m. Ib id e m. 498 Ib id e m. 499 Ib id e m. 500 Enco n tra nd o - se j á a tra b al har e m Lisb o a, T o n y d e Mato s ap ro ve it a o “b arco ” d a Co mp a n h ia d e se u s t io s p ara faze r u ma d i gr es s ão p ela s i l ha s. Alé m d e exe rcer a s s ua s t rad i cio n ai s fu nçõ e s d e p o n to na Co mp a n h ia, a ct u a ta mb é m co mo ca nto r no F u nc ha l. O Co rr eio De s p o rt ivo p ub li ca u ma e n t rev i sta i n ti t ulad a “Na s r ed o nd eza s d o p alco : An tó nio M ato s, c ul ti v ad o r d o fad o co i mb rão , e st á n a Mad e ira , fa ze nd o p arte d o el e nco d a Co m p an h ia R a fae l d e Ol i ve ir a” (1 8 .0 1 .1 9 4 8 : 3 ). 501 MV, o p .c it. , Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 . 502 “T ea tro De s mo n tá ve l na Av e nid a d o Mar ” , Diá rio d e No tí cia s , F u nc ha l, 1 0 .0 1 .1 9 4 8 : 1 . 497 160 que apresentava um reportório que parecia “inesgotável”, interpretado com justeza, equilíbrio, vestindo a carácter, exibindo bom gosto no cenário e arranjo de cena, “empregando todos os recursos ao seu alcance para bem servir o público” ( 503), mas, sobretudo, porque, ao representarem obras cobertas pela “poeira do esquecimento”, estavam “prestando às gerações moças um serviço cultural louváve l” (504). Se a modéstia do barracão não impedia que tivesse frequência assídua de “muitas e muitas famílias da melhor sociedade madeirense” ( 505), também se conheciam os “remoques de despeito de certas pessoas que sent[iam] relutância em descer ao barracão da Avenida do Mar ” (506). Porquê? “Teatro de barracão? Decerto. Teatro para todos os que gostam de Teatro. Teatro do Povo e para o Povo, diremos nós, também, que ao Povo deverá merecer simpatia pela cultura e belo passatempo que ele traz consigo” ( 507), conforme havia sublinhado, desde início, o cronista do Eco do Funchal. Dado o “grande aprazimento do público” ( 508), a imprensa sublinha o desejo de manter a Companhia pelo máximo tempo possível. Com esse intuito, surge um apelo “para o justo e louvável patrocínio da Câmara Municipal do Funchal ” (509) apoiar o “Teatro para o Povo”, em que ecoam as ideias preconizadas por António Ferro e a sua Política do Espírito : Sabendo que a Companhia Teatral Rafael de Oliveira [...] tendo já terminado o contrato com a empresa que se arroj ou aos pesados encargos da sua deslocação a esta Ilha, se dispunha à desmontagem do Pavilhão instalado na Avenida do Mar , a fim de retirar da 503 En ep ê , o p . c it. , Eco d o Fu n ch a l , 1 5 .0 1 .1 9 4 8 : 4 . Ib id e m. 505 Ib id e m. 506 Ib id e m. 507 MV, o p . c it., in Eco d o Fu n ch a l , 2 5 .1 2 .1 9 4 7 : 1 e 4 . 508 “T ea tro De s mo n tá ve l na Av e nid a d o Mar ” , Diá rio d e No tí cia s , F u nc ha l, 2 3 .0 1 .1 9 4 8 : 3 . 509 T eatro p ara o P o vo : Ap ela nd o p ar a o j us to e lo u v á ve l p atro cí n io d a Câ ma ra Mu n ic ip a l d o F u nc ha l”, Eco d o Fu n ch a l , 0 8 . 0 2 .1 9 4 8 : 6 . 504 161 Madeira o mais breve possível, libertando -se assi m das inerentes despesas deri vadas da sua actividade profissional, surgiu -nos a ideia, que propomos ao director de referida Companhia de, com o j usto e louvável patrocínio da C âmara Municipal do Funchal e de outras autoridades e entidades locais, ser levado a efeito uma série de espectáculos a preços excepcionais, destinados às classes populares e filiados nos Sindicatos Nacionais deste distrito, incluindo as pessoas de famílias daqueles. O obj ectivo que nest e caso se procura atingir, é o de facultar à massa humilde dos que trabalham, a oportunidade e a facilidade de poderem desfrutar, ao alcance de seus escassos meios e posses, algumas horas de inefá vel e bem merecido prazer espiritual, de diversão altamente educativa. [...] No vasto reportório da Companhia Rafael de Oliveira, há peças que são verdadeiras lições de cultura em expressivos exemplos de edif icação moral. É teatro desta marca e dest a elevação, honesta e conscienciosamente interpretado pelos artistas da Companhia Rafael de Oliveira , que se procura dar a quem não o pode nem o pôde desfrutar devido aos preços mais ou menos elevados que a empresa cessante teve de manter na mira legítima de suprir suas onerosas obrigações. É de supor que a notícia do assunto a que nos esta mos reportando, dê satisfação à gente humilde que gosta de Teatro. É também de esperar da Câmara Municipal e demais autoridades e entidades locais, o melhor apoio e mais desvelado acolhi mento à simpática ideia de cul tura popular aqui sugerida, tanto mais q ue a essência desta ideia faz parte da sã Política do espíri to louvavel mente proclamada como distingui da doutrina do Estado Corporati vo ( 510). A argumentação surtiu efeito, uma vez que na edição seguinte do Eco do Funchal se referenciava que a Companhia tinha sido “justa e louvavelmente patrocinada pela digna Câmara Municipal do Funchal , deferindo prontamente, com isenção de taxa de terreno, o requerimento que lhe fora presente para o fim em vista” (511). E a Companhia retribuiu, acolhendo no seu palco, em fins de festa, as glórias madeirenses: a já retirada actriz cantora Adelina Fernandes participou na festa artística de Afonso de Matos e na da família Vilela, a que também deram contributo “o actor de cinema e teatro Teodoro 510 Ib id e m. “T ea tro p ara o P o vo : Esp e ctá c ulo s a p r eço s ex cep c io na is p ela Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, Eco d o Fu n ch a l , 1 5 .0 2 .0 1 4 8 : 6 . 511 162 Silva (512), o cançonetista excêntrico João Falcot , o apreciado vocalista do “Flamingo ” Jaime de Sousa, o exímio cantador Alexandre Pinto e os conhecidos acompanhadores José dos Santos (guitarrista) e João Vieira (viola)” (513); Lizete Frias interpretou o soneto A Ilha de Sonho, do poeta madeirense António Abreu Paulos , que ganhara o “1º prémio nos Jogos Florais do programa radiofónico «Vozes Dispersas »” (514). Enquanto se desmontava a caixa de sonhos do público funchalense, a Companhia aderiu à homenagem às Guias de Portugal , promovida pelo Clube de Futebol União , fazendo subir à cena do Teatro Municipal de Baltazar Dias A Morgadinha de Valflô r. A Companhia Rafael de Oliveira demonstrava com direito assistido que a sua qualidade se encontrava “à altura do tablado do Municipal" ( 515), “do antigo «D. Maria Pia », por onde [passaram] algumas das mais gloriosas figuras do teatro naciona l” (516): E, se j á nos numerosos espectáculos do vastíssimo reportório dest a Companhia, levados a efeito no Teatro Desmontável , da Avenida do Mar, os seus elementos tinham dado a melhor conta dos seus méritos artísticos, no palco do Municipal, de maiores proporções, e perante um público escolhido, que enchi a literalmente a sala, mostraram-nos bem quanto podem e quanto sabem. Magnificamente 512 U m d o s a cto r es mad e ire n se s, ao lad o d e Vi rg íl io T ei xe ira , C arlo s Ve lo s a , Ma gd a Co e l ho e J o r g e Ca rd o so N u ne s , q ue est i ver a m l i gad o s à p ro d uç ão ci ne ma to gr á fic a. T eo d o ro Sil v a mu d o u - se p ara Lis b o a e m 1 9 4 4 p ara te nt ar a s ua so rt e. E m 1 9 4 5 , p ar ti ci p o u no fil me Jo s é d o Tel h a d o , co m Vir g íl io T eixe ira . Re al izo u no F u nc ha l u m a lo n g a metr a ge m mu d a in ti t ul ad a O S eg red o , e m 1 9 4 8 . A s ua carr eir a fo i i nte rro mp id a p o r a cid e n te d e trab a l ho d ur a nte u ma s fil ma g e n s, reg re ss a nd o d e fi ni ti va me n te à M ad eir a . ( so b re o s r e sta n te s no me s, c f. J o ão Ma urí cio Marq u es , o p . c it., 1 9 9 7 : 8 2 -8 3 ) . 513 “O gra nd io so e sp e ct ác u lo d e 3 ª - feir a no T ea tro De s mo nt á vel ”, Eco d o F u n ch a l , 2 2 .0 2 .1 9 4 8 : 1 . 514 “A fe st a art í st ica d o s a rti st as Fr ia s q ue se rea l iza ho j e no T eatro D e s mo n tá ve l va i a lca n çar u m b ri l ha n t e s u ce sso ”, Diá rio d e N o tíc ia s , F u nc ha l, 1 7 .0 2 . 1 9 4 8 : 3 . 515 E. V., “C ró ni ca d e T ea tro : A r ep re se n taç ão d e Mo rg a d in h a d e Va lf lô r ” , D iá r io d e No tí cia s , F u nc h al, 2 9 .0 2 .1 9 4 8 : 1 . 516 En ep ê , “No T ea tro M u ni cip al d e B al ta zar Dia s A Mo rg a d in h a d e Va l flô r p e la Co mp a n h ia R a fa el d e O li ve ira ”, E co d o Fu n ch a l , 2 9 .0 2 .1 9 4 8 : 3 . A re sp e ito d as fi g ura s d e re no me nac i o na l e i n ter n acio n al q u e p as sar a m p e lo p al co d o en tão T eatro d e D. Mari a P ia , leia - se o co nj u n to d e cró n ica s j o rna lí s tic a s d a au to ri a d e J o ão Rei s Go me s , co l ig id a s so b o t ít u lo Fi g u ra s d e Tea tro , p ub l icad a s no F u nc ha l, e m 1 9 2 8 , e m E d ição d a Co mi s são P ro m o to ra d a ho me na g e m ao au to r. 163 interpretada, a peça de Manuel Pinheiro Chagas deu-nos maravilhosamente aquele ambiente românt ico e aquele fundo de conflito de evolucioni smo político, em que o grande dramatur go a sentiu e escreveu ( 517). Após o derradeiro espectáculo no Pavilhão -Teatro da Casa de Povo de Santo An tónio, a 29 de Fevereiro, de cujo programa anunciado a imprensa nunca chegou a revelar o título, a Companhia despediu-se da Madeira , onde ficavam “as mais sinceras simpatias de todas as camadas sociais [...] as melhores e mais perduráveis das impressões” (518) e a ilusão daqueles que, “a princípio, entenderam medir ou bitolar pelo franciscano aspecto do barracão, o valimento profissional do conjunto que nele actuou, falindo desta v ez – e neste caso – a moral do rifão de que «pela aragem se conhece quem vai na carruagem »” (519). Deixando para trás a “pérola do Atlântico” rumo às ilhas encantadas, ao sabor do extenso mar salgado, a bordo de uma ilha metálica flutuante baptizada «Lima », arribaram a ilha açoriana de S. Miguel, a 2 de Março de 1948. Pela frente esperava -os algo maior que o Desmontável, o Coliseu Avenida , em Ponta Delgada, a enorme sala de um teatro -circo, que os acolhia, uma vez que o antigo Teatro Micaelense se encontrava em reconstrução. 6.2. S. Miguel e Terceira: As Bodas de Ouro Artísticas de Afonso de Matos Tal como na Madeira, a Companhia encontrava -se contratada pelas empresas exploradoras dos teatros locais, começando pelo Coliseu Avenida de Ponta Delgada (S. Miguel), a que haveria de 517 Ib id e m. “U ma t e mp o rad a d e T eatro : Co mo fo i vi st a e ap re ciad a no F u nc h al a Co mp a n h ia R a fae l d e O l i v eir a”, Eco d o Fu n ch a l , 2 6 .0 2 .1 9 4 8 : 1 e 2 . 519 Ib id e m. 518 164 seguir-se o Teatro Agrense, em Angra do Heroísmo (Terceira), e outras salas de menor dimensão. Esperada que era, a imprensa regional fora preparando o público para a temporada que se avizinhava, e chegada que foi, a mesma imprensa noticiou, sem grandes encómios, a sua composição, reportório e estreia para o dia 6 de Março com o drama As Duas Órfãs, auspiciando que, a exemplo do Funchal , a companhia obtivesse “um grande êxito, pelo valor das peças que apresentari a e também pelo seu elenco, constituído por bons artistas” (520). Mal tiveram tempo para respirar. Enquanto Afonso de Matos e Mila Graça faziam a ronda das redacções dos periódicos locais, na habitual actividade promocional, acompanhados pelo secretário “Mota de Vasconcelos, publicista e profissional de imprensa” [521], a empresa explor adora do Coliseu Avenida fazia publicitar, nas páginas da imprensa local, uma temporada “extraordinária” com “as mais belas peças teatrais de todos os tempos”. Com indicação dos telefones para as reservas, pretendia-se agarrar a presença do público: “VEX.ª já fez a marcação dos seus lugares para os espectáculos da Companhia Rafael de Oliveira?” [522]. No próprio dia da estreia, a “curiosidade popular” foi excitada pela força de um anúncio de última página, em grande dimensão, destinado a conseguir a apoteose desejada: Coliseu Avenida. Cine Teatro Circo – telefone, 201. sábado – 6-3-48. Estreia da Companhia de Teatro Rafael de Oliveira com a super-peça em 8 quadros, AS DUAS ÓRFÃS. Sucesso garantido! Um grande êxito do teatro Apolo de Lisboa! A notável peça de Ennery na versão de Afonso de Magalhães – Teatro que toda a gente pode ver! Uma peça que fala ao “V a mo s v er... no : Co li se u Av e nid a : Co mp a n h ia d e T eatro R a fae l Ol iv eir a”, Co rr eio d o s Aço re s , 0 6 . 0 3 .1 9 4 8 : 3 . 521 “U ma co mu n i d ad e f a mi l iar e m d i gr e ss ão ar tí st ica : A Co mp a n h ia Ra fael d e Oli v eir a”, Co r re io d o s Aço r es , 0 5 .0 3 .1 9 4 8 : 4 . 522 Aço re s, 0 4 .0 3 .1 9 4 8 : 4 . 520 165 coração de todos! Teatro para todos! Enternece... Comove!... Choca!... Arrebata!... Guarda-roupa a rigor! Cenários próprios! ATENÇÃO – Devido à afluência de marcações, só serão respeitada as mesmas até às 18 horas, do dia do espectáculo. No seu próprio interesse marque por assinatura para todos os espectáculos! Uma orquestra de professores s ob a direcção do Prof. Licínio Costa abrilhantará este espectáculo [523]. O clima de guerra, vivido em anos anteriores, impusera um isolamento cultural das ilhas. Não se atrevendo as companhias teatrais a cruzar o Atlântico, o Coliseu Avenida teve de dar maior relevo à programação cinematográfica, o que acabou por fatigar o público habitual desta sala. A estreia da Companhia “perante uma assistência sequiosa das luzes da ribalta” [524] teria de ser feita com o recurso à representação de peças de agrado certo. Na ausência de nomes conhecidos do grande público, capazes, por si só, de atrair enchentes ao amplo teatro -circo micaelense, principiou -se pelo reportório d e sucesso. As Duas Órfãs e A Tomada da Bastilha , com chancela de reportório de Teatro Apolo de Lisboa, garantiam ao público uma realização artística, e à entidade contratante uma realização financeira que justificasse a paralização da “ aparelhagem cinematográfica para que o seu palco servisse à apresentação da Companhia Rafael de Oliveira” [525]. Obviamente que a Companhia conquistou de imediato o agrado do público. A imprensa, para quem tudo isto re cordava crónicas antigas do tempo “em que o público comparticipava no desenrolar das 523 Aço re s, 0 6 .0 3 .1 9 4 8 : 4 . “T eat ro De c la ma d o no Co l is e u Ave n id a : A C o mp a n h ia Ra fae l d e Ol iv eir a ” , Co rr eio d o s Aço re s , 1 0 . 0 3 .1 9 4 8 : 3 . 525 “T eatro : A a ct ua ção d a Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira n o Co l i se u A ve n id a ” , Aço r es , 1 0 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 . 524 166 cenas, invectivando o «cí nico» e aclamando a «ingénua»” [ 526], reconhecia, todavia, a competência deste “agrupamento artístico destinado às terras da Província, [cujo] repor tório até agora exibido obedec[ia] à rubrica – teatro do povo – com as situações e emoções precisas para o pronto agrad o do público a que se destina” [ 527]. Porém, quando a Companhia levou à cena A Fera, na terceira noite da sua estadia, a interpretação “daquele conjunto que merecia a simpatia do público” [528], e que até então tivera “os carris assentados para a geral, ofertando -lhe a exactidão da emoção precisa”, “mudou de rumo, dando a outro público” [529] algo mais, que não passou despercebido à imprensa, que tirou as suas ilações “fora da secção habitual do reclame”: [A] Companhia Rafael de Oliveira, usando dignamente o ti mbre – Província e Povo -, excedeu com esta peça tudo o que dela se esperava. Nu ma época de arrogâncias, a que o teatro não escapou, esta modéstia merece ser exaltada, para que a concorrência e os aplausos não faltem a um grupo de ar tistas, que nos trouxe distracção e refrigério [ 530]. Tratava-se do primeiro espectáculo com um drama do século XX, cujo autor, segundo o articulista do Correio dos Açores , enquanto jornalista, possuía “um aroma especial de espírito e coração”, mas cuja mestria se encontrava no teatro com “o perfeito sentido da vida, trabalhando com as realidades psicológicas, como condutor experimentado, que sab[ia] encontrar as reacções em todas as tonalidades” [531]. “T eatro D ec la mad o n o Co li s e u Ave nid a: Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira ” , Co rr eio d o s Aço re s , 1 0 . 0 3 .1 9 4 8 : 4 . 527 Ib id e m. 528 Ib id e m. 529 “T eatro Dec la ma d o d a Co mp a n hia Ra fa el d e Oli v eir a ”, Co r re io d o s Aço r es , 1 1 .0 3 .1 9 4 8 : 4 . 530 Ib id e m. 531 Ib id e m. 526 167 Entre o grande espectáculo romântico, escrito em moldes antigos, falando ao coração das massas “da geral”, e o contemporâneo, es crito em moldes modernos, “com tese, [...] monumentos que nem o tempo nem as gerações podem ofuscar” [532], falando à inteligência de “outro público”, a Companhia foi desfiando o seu reportório no Coliseu Avenida. Na prática de sobrevivência de uma companhia itinerante, a relação entre a poética dos textos que escolhiam e a estética dos espectáculos que exibiam expressado pelo articulista do jornal resumia -se no conceito Açores: “É certo que as diferentes épocas exigem escolas próprias. Porém, o valor real dos argumentos mantém -se firme no seu poder e instrutivo no seu conceito” [533]. Esta tolerância argumentativa turvou -se, todavia, quando a Companhia apresentou A Severa, porque se não “acomodou com o clima moral dos Açores ” [534]. Sem qualquer intuito de menoscabar a obra de Júlio Dantas , “o novo Garrett português”, cuja carreira literária plena de labor lhe dera prestígio e glória, o articulista do Correio dos Açores considerava a peça em causa, uma “irreverência representada na noite de sábado pela Companhi a Rafael de Oliveira, já muito divulgada pelo cinema” [535]. Elucidou que o realismo, que Dantas experimentara em A Severa, e teimara em continuar em Os Crucificados, fora causador da sua precipitação “no ruído do desagrado”, pelo “desastre da insultuosa pateada” tributada pelo “público das ovações e do delírio, q ue erguera o moço escritor às nuvens” [536], e, apenas pela composição dos alexandrinos de A Ceia dos Cardeais lhe adviera a redenção. Quanto à interpretação: Afonso “T eatro : A a ct ua ção d a Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira n o Co l i se u A ve n id a” , Aço r es , 1 0 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 . 533 Ib id e m. 534 “A Co mp a n h ia Ra fael d e Oli ve ira na úl ti ma p eça q u e es treo u no Co l i se u Av e nid a”, Co r re io d o s Aço r es , 0 7 .0 4 .1 9 4 8 : 4 . 535 Ib id e m. 532 168 de Matos desempenhava o seu papel melhor do que o actor Carlos Santos o havia feito, Eduardo de Matos e Geny Frias haviam composto “os estilos que lhes tinham sido destinados”, tal como o restant e elenco, porque a história era retrato “de uma época que, analisada a tanta distância, é tema quase sem interesse, pa ra um paladar que desconhece a guitarra da viela e a varonia fidalga que acamaradaram na rua do Capelão , episódio que as revistas dos teatros do Parque Mayer se não cansam de relembra r” [537]. E mais não disse; não se atreveu ao “morra o Dantas!”, mas pensou -o certamente. Uma situação sem precedentes, nem continuidade, apenas incómoda, tanto mais que o agrado que a Companhia despertara com os seus espectáculos, havia entusiasmado o peri odista do Correio dos Açores que, a propósito da representação de A Rosa do Adro e Casa de Doidos, num assomo de boa vontade, havia publicado as suas impressões críticas com o seguinte título: “O teatro declamado da Companhia Rafael de Oliveira e o ensejo que agora se oferece ao S.N.P. de oferecer à vida rural dos Açores o teatro do povo”. Naquele “registo noticioso”, como lhe chama, lança a sugestão: [Que] considera ser de j ustiça frisar, que a Companhia Rafael de Oliveira merecia ser aj udada pelo Secretariado Nacional de Infor mação e Cultura Popular, como intérprete do teatro do povo, para o efeito devidamente seleccionado. De posse do seu teatro desmontável e respectivas camionetas, a acção artística iria aos nossos meios rurais, que saberiam agr adecer essa iniciativa patrocinada por um organismo do Estado, t al qual como em terras continentais ( 538). Tratava-se, porém, de uma confusão notória entre o Teatro do Povo (SPN) de António Ferro e o teatro popular de Rafael de Oliveira , 536 Ib id e m. Ib id e m. 538 “O te atro d ec la ma d o d a Co mp a n hi a Ra fael d e Oli v eir a e o e ns ej o q ue ago r a se o fe rece ao S.N.P . d e o fe recer à vid a r ural d o s A ço re s, o t eat ro d o p o vo ” , Co r re io d o s A ço r es , 1 6 .0 3 .1 9 4 8 : 1 e 4 . 537 169 por parte de quem não conhecia a forma de funcionamento do Desmontável deste. Certamente, que qualquer das duas estruturas se propunha levar o espectáculo teatr al por todo o país, mas o modo como o faziam era distinto. Enquanto que para António Ferro o teatro não seria um fim, em si mesmo, mas um meio eficaz para um a propaganda ideológica, para Rafael de Ol iveira tratava-se do meio de sobrevivência possível de vários elementos, que de si dependiam, e cujo fim se traduzia em partilhar com o público o mesmo gosto pelo teatro que sentiam. Neste aspecto, tinha seguramente a mesma opinião de Francisco Ribeiro quanto à necessidade de elevação do nível artístico, e o trabalho desenvolvido pelos Artistas Associados, ao longo de tanto anos, foi a prova do amor que tinham pelo Teatro. Quanto à escolha do reportório, não nos parece que Rafael de Oliveira, ou qualquer dos seus directores artísticos, presumisse que o público popular não entender ia um reportório mais erudito. De Júlio Diniz a Manuel Maria Rodrigues , de Braz Martins a Ludovina Frias de Matos, de Júlio Dantas e Ramada Curto, e, posteriormente a Luiz Francisco Rebello, entre tantos nomes nacionais e estrangeiros, o objectivo da Companhia Rafael de Oliveira manifesta-se pela actualização constante de um reportório que permitiss e convocar ao Teatro Desmontável a maior número possível de espectadores de distintas camadas socio -culturais [539]. A confusão do articulista sobre o Desmontável de Rafael de Oliveira resulta obviamente de não o ter visto antes, nem talvez as camionetas e a dimensão diminuta do palco do Teatro do Povo (SPN) . A opinião expressa nas páginas do periódico micaelense não terá tido qualquer outro intuito, senão 539 Ent re 1 9 2 1 e 1 9 7 4 , d a ta d a úl ti ma es tre ia d a Co mp a n h ia Ra fael d e O li ve ira , ver i fi ca - se a e x is tê n cia d e 1 3 5 t ít u lo s le v ad o s à ce na , d e d i fere n te s gé n ero s e au to ri as , e 2 4 tít u lo s , d o s q ua is fo i p ed id a a Lic e nça d e Rep r es en taç ão à In sp e cção d o s Esp ect ác u lo s , ma s q ue n u nca v ira m a l u za d a rib al ta. 170 elogiar os bons serviços que se considerava que a Companhia estava praticando. Que de boas intenções... Os Artistas Associados tinham conquistado o cauteloso público micaelense, que punha “sempre os seus receios nos grandes adjectivos”, pela “sua consciente actuação, pelo seu modesto porte, pela sua honesta vida” (540). A qualidade da cenografia, do guarda roupa “a carácter”, da encenação, e da interpretação produzia um conjunto harmonioso, que contribuia para que os espectáculos se tornassem em convidativas noites de “bom teatro”, cuja fama se espalhou pela ilha. Em final de temporada, deslocaram -se ainda aos teatros de Vila Franca do Campo e de Ribeira Grande, para interpretar As Duas Órfãs e As Duas Causas , respectivamente, antes de rumarem a Angra do Heroísmo (541). O Teatro Angrense assistiu a Duas Causas em noite de estreia , e nas duas semanas seguintes apresentou -se um reportório reduzido, predominando os títulos de agrado certo, em que os mais apelativos foram igualmente exibidos no Teatro Azória (542), na Vila da Praia da Vitória. O Diário Insular, na sua coluna “De Teatro”, assinada por um lacónico A., não se alongou em considerações so bre os espectáculos de Rafael de Oliveira, ainda que manifestasse ter por “norma deixar notícia mais ou menos circunstanciada dos acontecimentos de arte, não se esquivando nunca a dizer o que melhor convém ao público e pugnando sempre pela elevação do nível artístico das diversas F. A., “A Co mp a n h ia Ra fa el d e Ol i vei ra: Os Co l i se u Ave n id a e s tão o b tend o o ma i s cre s ce nte 1 3 .0 3 .1 9 4 8 : 4 . 541 A c id ad e p o ss u ía tr ês sa la s d e esp ect ác u lo p a ra ma io r, p o r s i na l: o Sa lão d a Co zi n ha Eco nó mi ca Art is ta s . 542 T eatro d a B as e Aérea n º 4 , na s Laj es. 540 171 se u s e sp ec tá c ulo s no a mp lo ê x ito ”, Aço rea n o Ori en ta l , alé m d o T eatro An gr en se , a e o Sal ão d o Re creio d o s manifestações” ( 543). Em duas intervenções, afirmou -se agradado pelo “crescente interesse do público”, facto considerado natural dada a qualidade do reportório e do elenco, fe z alguns reparos de circunstância sobre cenários, adereços, uma ou outra interpretação, e elogiou a actuação da Orquestra local de Manuel Reis , durante os intervalos e no acompanhame nto dos actos de variedades. A 1 de Junho, despediu -se a Companhia do público angrense, levando à cena a comédia Moços e Velhos, seguida da apresentação de quadros da revista A Ver Navios Navios , em Fim de Festa. E, sem mais alarde, regressaram a São Miguel . Incialmente prevista uma estadia de mais um mês, a cabou ficar reduzida apenas metade do tempo, presumivelmente devido ao “cansaço financeiro da geral” ( 544) e ao estado de saúde de Afonso de Matos, regressado da ilha Terceira gravemente efermo e obrigado a adiar a festa comemorativa das suas Bodas de Ouro Artísticas , organizada por um grupo de jornalistas de Ponta Delgada , com o patrocínio das autoridades locais. A 18 de Junho, o Coliseu Avenida abriu as suas portas para um “acto solene, em palco, com a presença do homenageado, ilustres Patronos, Comissões de Honra promotora da Homenagem”, que abriu com com “breves palavras alusivas ao acto, proferidas pelo brilhante poeta e distinto jornalista Dr. Oliveira San Bento , seguindo-se a representação da mais subli me de todas as peças espanholas – reportório do antigo D. Amélia , de Lisboa e grande actor Alves da Cunha, A Calúnia , 1 Prólogo e 3 actos do falecido dramaturgo D. José Echegaray”. Em Fim de Festa, Tony de Matos , “Cantor Romântico”, filho do homenageado interp retou os melhores números do seu A., “ De T ea tro : O s Fi d a lg o s d a Ca sa Mo u ri s ca : ma rc ad o ê x ito t eat r al e d ua s i mp ec á vei s i nt erp re taçõ es” , D iá rio In su la r , 2 4 . 0 5 .1 9 4 8 : 1 e 4 . 544 “A Co mp a n h ia R a fa el d e O li v eir a e x ib i u O s M ilh õ e s d o C ri min o so na no i te d e d o mi n go ”, Co r re io d o s Aço r es , 2 8 .0 4 .1 9 4 8 : 5 . 543 172 reportório, acompanhado à guitarra e à viola por Manuel Machado e Manuel Arruda (545). Na hora da despedida, ficou a “saudade de todos os que viram, admiraram e aplaudiram as horas de agradável e sensitivo recreio espiritual que em tão boa hora a Companhia Rafael de Oliveira trouxe ao público micaelense”. “Co li se u Ave n id a : C o mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a”, Co r re io d o s Aço r e s , 1 8 .0 6 .1 9 4 8 : 4 . 545 173 Capítulo V: A m orte de Rafael de Oliveira e o futuro da Companhia Os Encenadores da Cª de Rafael de Oliveira < Ilustração 10 – Ernesto de Freitas (1923-1927) < Ilustração 11 – Afonso de Matos (1929-1948) < Ilustração 12 – Eduardo de Matos (1938-1963) ^ Ilustração 13 – Fernando de Oliveira (1965-1972) Ilustração 14 – Álvaro de 174 Oliveira (1970-1971) > Ilustração 15 – Francisco Ribeiro (Ribeirinho,19 72-73) > 1. Eduardo de Matos : o formador da nova geração de artistas itinerantes. De regresso ao Continente, Eduardo de Matos assumiu a direcção artística da segunda gera ção de actores da Companhia. Com o tempo, as catorze figuras, que constituíam normalmente o elenco artístico da Companhia, estruturaram -se em torno de quatro núcleos: as famílias Oliveira e Frias, coadjuvadas por Matos e Vilelas. A saída de Afonso de Matos, por motivos de saúde, impôs uma primeira reestruturação. O desempenho dos papéis que constituíam o seu reportório passaram a ser titulados por seu irmão, e, progressivamente, t ransmitidos aos elementos mais novos – o casal Fernando e Gisela de Oliveira , e os irmãos Fernando e Lizete Frias -, a quem Geny Frias passara o testemunho de alguns dos seus papéis. Embora a Companhia demonstrasse equilíbrio e homogeneidade, sem que a substituição do actor principal houvesse defraudado as expectativas do público, graças à qualidade interpretativa de Eduardo de M atos, conforme noticiou o Riomaiorense (546), o jovem crítico deste periódico ribatejano não deixou de frisar que a falta de renovação do reportór io “acarreta[va] um aspecto fora de moda, antiquado” ( 547). Opinou Miguel Torga e 546 547 “E sp ec tác u lo s: Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra”, Rio ma io ren se , 1 0 .1 1 .1 9 4 9 : 1 . F. D., “Cr ít ica T eatra l”, Rio ma io ren se , 1 0 .1 2 .1 9 4 9 : 3 . 175 Alfredo Cortez , entre os autores nacionais, ou Bernard Shaw (548), Garcia Lorca e Luigi Pirandello , entre os estrangeiros, como alguns dos nomes capazes de melhorar a dramaturgia da Companhia, chamando ainda a atenção para a n ecessidade de um maior rigor técnico em alguns actores, nem sempre “senhores dos seus papéis”, e para as condições cénicas, a necessitar de um melhor “sentido decorativo” (549). A passagem dos Artistas Associados por Rio Maior indiciava um barómetro de decisões futuras. Durante a década de 40, dos quinze novos espectáculos produzidos pela Companhia, apenas três pertenciam ao século XX, pela p ena de Ramada Curto – A Recompensa (1941), A Fera (1943) e A Cadeira da Verdade (1948). Recuperara-se a trama romanesca de Octave Feuillet , em A Vida de um Rapaz Pobre (1946), e Ludovina Frias de Matos adaptara os amores rurais de As Pupilas do Sr. Reitor (1942), em trinados de opereta musicada pelo maestro Fernando Izidro . Tendo em conta que Três Gerações , de Ramada Curto, A Mentira, de Marcelino Mesquita, e Soror Mariana , de Júlio Dantas , três peças em um acto, apenas tinham subido à cena num único espectáculo, em Festa Artística da actriz Nena Corona (550), as restantes produções resumiam -se a teatro ligeiro de revista e opereta. Peças de agrado certo, que haviam comovido as plateias de gosto simples ao longo de três décadas. Impunha -se, pois, a Eduardo de Matos, uma acção renovadora, tal como seu irmão o fizera vinte anos antes. Pretender cong regar, no corpus de um reportório, o ecletismo das múltiplas sensibilidades existentes nos diversos públicos de norte a sul do país, não se apresentava fácil tarefa, sobretudo 548 A o p i n ião d o crít ico p arece t er s id o to mad a e m co nt a, v i sto q ue a Co mp a n h ia o b te ve u ma l ic e nça d e rep re se nt ação e ap ro v aç ão p ela Co mi s são d e C en s ur a, d e 1 5 .0 6 .1 9 5 6 , p ara a p eç a S a n ta Jo a n a , d e S ha w, e mb o ra e sta n u n ca te n h a s ub id o à ce na. 549 F. D., “Cr ít ica T eatra l”, ib id . . 550 E m 1 3 .0 5 .1 9 4 3 , no T eat ro De s mo n tá ve l , i n s ta la d o e m Ca mp o Ma io r . 176 quando o aparelho censório atingia a dureza máxima no controlo do pensamento dos portugueses, nas diversas áreas de produção de ideias, indexando obras e autores, nacionais e estrangeiros, clássicos ou modernos (551). O lápis azul dos inspectores eliminava sem apelo nem agravo qualquer referência às contingências políticas, económicas, sociais e religiosas do país, mesmo que se apresentassem sob o manto diáfano da subtileza. Para o país pretendia -se uma imagem de gente feliz, tranquila, dócil, conformista, inócua e apagada. Deixando Rio Maior nos primeiros dias de Fevereiro de 1950, os Artistas Associados instalaram -se em Coruche. Eduardo de Matos colocou A Dama das Camélias em ensaios. Não sendo propriamente a modernidade desejada, possuía o condão de fazer sobressair os dotes interpretativos dos novos artistas , como era o caso de Lizete Frias , que dera provas enquanto protagonista em A Vida de Um Rapaz Pobre , e demonstrava apetência para exper iências de maior responsabilidade. Expressava o crítico do Notícias de Évora, que a personagem de Margarida Gautier fornecia às suas intérpretes “excelente posição para transmitirem às plateias as mais belas expressões da arte de representar” (552). Evocando a memória de Italia Vitaliani , a trágica italiana que arrebatara com a mesma personagem a plateia do Teatro Garcia de Resende no princípio do século XX, reconheceu este “espectador” que Lizete Frias preterira a interpretação da imagem esperada da mundana de Dumas Filho , por um desempenho admirável, deliciando a assistência com “as ternuras dum amor que desabrocha, virginal, da menina a quem acabaram de cortar as tranças de colegial, mas que se fez grande, que se fez paixão, que se fez sacrifício” ( 553). 551 O es t ud o d o Ca n to I X d e O s Lu sía d a s e st a va p ro ib id o no s l ice u s, p o r t e mo r d e co n c up i sc ê nci a na s p r át i cas d a s ni n fa s p a gã s. 552 U m e sp e ctad o r , “T e atro De s mo nt á vel : Co mp a n h ia R a fae l d e Oli v eir a: I mp r es sõ es so b r e a rep res e nta ção d a p eç a A Da ma d a s Ca mél ia s ”, No t íc ia s d e Évo ra , 1 9 .0 7 .1 9 5 0 : 2 . 553 Ib id e m. 177 Eduardo d e Matos iniciara a semana com A Fera, êxito dos seus dotes de comediante, e terminava em apoteose de duas récitas consecutivas, demonstrando as suas qualidades de ensaiador, “fazendo teatro com verdadeira probidade artística e manifesto contributo para a cultura” (554). Não se desvanecera ainda o suspiro de Margarida Gautier, e já o Desmontável se aprestava a nova produção, levando à cena Deus lhe pague, de Joracy Camargo, nas interpretações bem marcadas e bem sentidas de Fernando de Oliveira , Fernando Frias e Lizete Frias, secundados pelo restante elenco, encarnando na justa medida a personagem de cada um. Com este assinalado êxito ( 555), a par dos velhos clássicos de bilheteira, se manteve a Companhia em Évora durante quase quatro meses. Rumando a sul, após cinco anos de ausência, fartos aplausos bejenses acolheram, a 29 de Outubro, As Duas Causas, em abertura de temporada. Nos meses seguintes, os novos e velhos êxitos fizeram a delícia de um público que exigia a reposição das peças do seu agrado. Até 11 de Março de 1951, o Desmontável realizou 45 espectáculos do seu reportório, acolheu uma récita extraordinária de um jovem grupo cénico amador «O Disco Aquático », e abriu as suas portas a Estêvão Amarante e à Companhia do Teatro Maria Vitória , que aí apresentou duas revistas, após a digressão pelo Algarve (556). 554 Ib id em. Es te e sp ect ác u lo , p ara alé m d as d u as p ri me ira s réc it as , a 1 5 e 1 6 d e J ul ho d e 1 9 5 0 , fo i rep o s to , a p ed id o , a 2 0 d o m es mo mê s , e ai nd a a 1 3 d e Ago sto e a 1 3 d e Set e mb ro , n u m to ta l d e 5 rep re se n t açõ e s, e m q ua se q ua tro me se s d e te mp o rad a. 555 T al co mo A Da ma d a s Ca m él ia s , fo i ap r es e nta d o e m d ua s réc it as co n s ec ut i va s, a 2 5 e 2 6 d e J ul ho , s e nd o rep o s to a 3 0 d e J ul ho e a 1 5 d e S ete mb ro d e 1 9 5 0 . 556 A Co mp a n h ia d o T eatr o Maria Vi tó ria ap re se n to u - s e a 1 4 e 1 5 d e Fe v ereiro d e 1 9 5 1 . De slo ca va m - s e 3 6 arti s ta s, s e nd o p ri m eira s fi g u ra s E stê v ão A mara n te , T eresa Go me s , Mar ia Sid ó n io , Alb e rto G hir a , Mar ia Al ic e , D eo l i n d a Ab r e u , Ce le st i no Rib e iro , Sara Ab re u e Car lo s Lea l . O gr up o d e b a ile era e n s aiad o p e lo b ail ari no i nt er nac io na l Ra s to (c f. “B ej a d ia - a-d ia : O s d o i s e sp e ct á cu lo s p e la Co mp a n h ia d o T ea tro Mari a V itó r ia ”, Diá r io d o Alen te jo , 0 8 .0 2 .1 9 5 1 : 1 ). In te gra nd o e s te e le nco , en co ntr a va - se T o n y d e Mato s , q ue re g re ss a va a o tab lad o d o De s mo nt á ve l se m ser co mo so ci et ário d o s Art is ta s As so c iad o s . 178 Enquanto is so, Eduardo de Matos , entrevistado pelo Diário do Alentejo, expunha a sua experiência profissional feita de memórias de saudade mal disfar çada. Desfiando “um rosário de lembranças”, evocou o teatro -barraca do pai Constantino, em Beja , da chegada a Lisboa, dos vinte anos pelos diversos elencos dos primeiros teatros citadinos, das digressões ao Brasil, às Colónias, às ilhas, pelo continente, e do regresso a uma companhia de província. Estudioso por natureza, Eduardo de Matos confessava “que re presentar bem é um dever de todo o actor profissional. [...] A sinceridade, a sobriedade são sinónimos da perfeição” ( 557). A sua fixação no Teatro Desmontável correspondia, segundo ele, a uma vontade de não querer ser uma das vítimas da crise do teatro: Os reclamados subsídios do estado não chegam. Os artistas têm que corresponder com o seu brio profissional, com a sua devoção, por vezes com certo espírito de sacrifício. [...] Os artistas que se dão ao luxo de ser artistas – ganhando fabulosos ordenados – não devem queixar-se da crise. Assim com os empresários que se dispõem levianamente a pagar esses exagerados honorários, sem olharem às consequências futuras... Com melhor critério de um e outro lado, nunca se teria chegado ao actual estado de coisas. [...] não esquecendo, claro, a concorrência do cinema, que aliás podia ser aproveitado em favor dos profissionais de teatro ( 558). O Desmontável correspondia a uma iniciativa “de boa visão e de grande honestidade” ( 559), uma ideia de sobrevivência de um grupo de profissionais, vivendo em harmonia e lealdade, trabalhando sem descanso, contactando com o público, sua compensação e estímulo. De Beja, por Aljustrel , em temporada de três meses a convite da edilidade, até Vila Real de Santo António , onde se instalaram no Verão de 1951, e donde partiram para um périplo de quase quatro AIT E , “Dep o i me n to d e in ter es s e: U ma e n tre vi s t a co m Ed uard o d e M ato s, ac to r e e n sai ad o r d o tea tro De s mo nt á ve l”, Diá rio d o A len t ejo , 1 9 .0 2 .1 9 5 1 : 2 e 4 . 558 Ib id e m. 559 Ib id e m. 557 179 anos, apenas em terras algarvias: “A vida é assim: nunca paramos, levando o teatro declamado a todos os pontos do País” ( 560). Os vilarealenses mostraram -se reticentes quanto à Companhia. O “desgracioso barracão”, que se fundia com “a inestética desarmonia de casas e casarões” ( 561), não era convidativo. Com o tempo, as crescentes conversas sobre a atmosfera interior granjearam a afluência desejada, obrigando a Companhia a repor algumas peças com que iniciara a temporada, confirmando o ditado de qu e o hábito não faz o monge, conforme referiu Rafael de Oliveira : “A elite só começou a frequentar o Desmontável , depois de se convencer que se trat ava de um conjunto de valor” ( 562). Tavira via, assim, os seus anseios teatrais protelados por um mês, tempo que a imprensa aproveitou para escrever um breve cartão de visita assinado por Eduardo de Matos , divulgando o seu trabalho, o reportório e os intérpretes, o seu orgulho enquanto “orientador artístico”: Geny Frias, Ema de Oliveira , Idalina de Almeida, Lucinda Trindade, Rafael de Oliveira , António Vilela, Carlos Frias, e este vosso criado são todos artistas experimentados e de longa prática, que consolidam um conjunto onde há savoir-faire!... [...] e os novos , os que constituem um segundo bloco, que eu apartei de propósito, por vaidade ou orgulho de orientador artístico... [...] Lizete Frias , real talento de futura grande actriz, Gisela de Oliveira , uma vocação e uma simpatia , Fernando de Oliveira, galã dramático de soberba intuição e Fernando Frias, actor genérico de rara maleabilidade ( 563). O sucesso da Companhia Rafael de Oliveira cresceu entre o público algarvio, que, em três anos, assistiu às premières de oito produções, a par do restante reportório. A 15 de Janeiro de 1952, a 560 Ib id e m “C art a d e Ol h ão ”, Co r r eio d o S u l , 2 0 .0 8 .1 9 5 3 : 4 . 562 “O Dir ec to r d a Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i ve ira fala - n o s d a s ua v i nd a a T av ira co m o se u T eat ro D es mo nt á ve l”, Po vo A lg a rvio , 3 0 .0 9 .1 9 5 1 : 1 . 561 180 esperada estreia d e O Grande Industrial , de George Ohnet , recebeu os “calorosos aplausos” do público tavirense, obrigando a Companhia a três espectáculos consecutivos ( 564). A 3 de Setembro, Portimão deslumbrou-se com a cenografia de Fernando Frias , enquadrando o “desempenho magnífico” dos artistas que estrearam a obra de Rui Correia Leite, Raça (565). E a 25 de Novembro, o glorioso Teatro António Pinheiro, de Tavira, engalanou -se para a primeira récita de O Marquês de Villemer, de George Sand . Nas palavras de Vítor Castela , a Companhia vincava a sua “seriedade, equilíbrio e dign idade” e prestigiava o Teatro português ( 566). Culminando a primeira fase de apresentação de novos espectáculos, a 17 de Janeiro de 1953, em Faro , o palco do Desmontável acolheu o “Cântico dos Cânticos do Teatro Português” (567), o Frei Luís de Sousa, a que “nada lhe faltou nesta première, desde os oiros de raça do século XVI, decorando as paredes apaineladas do Palácio de Almada, a po der de quadros em que se ilustram as figuras de D. Sebastião, Camões, D. João de Portugal e outros [...], aos ambientes cuidados e à peça vestida rigorosamente dentro dos figurinos da época ( 568). Dois enredos de actualidade e dois de época, com montagens a rigor, no espaço de um ano eram proeza, que se repetiria no ano seguinte. No Desmontável, instalado em Silves, a Companhia estreou, a 20 de Janeiro de 1954, a comédia de Ramada Curto, O Sapo e a Doninha, com direito a reposição na noite seguinte ( 569); a 23 de Fevereiro seguinte, foi a vez de Israel, “Ed uard o d e Ma to s, ac t o r - e ns aiad o r d a Co mp a n hi a Ra fael d e O li v eir a c o nc ed e no s u ma e n t re vi s ta”, Po vo Alg a rv io , 0 7 .1 0 .1 9 5 1 : 1 . 564 “P ela C id ad e: Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, Po vo Alg a r vio , 2 0 .0 1 .1 9 5 2 : 2 . 565 “Co mp a n hia d e T eatro Ra fael d e O li ve ira ”, Co mé rcio d e Po rt imã o , 0 4 . 0 9 .1 9 5 2 : 1. 566 Víto r Ca s tel a , “Ap o n ta me n to s d e T eatro : O Ma rq u ês d e V il le me r ”, Po vo Alg a rvio , 3 0 .1 1 .1 9 5 2 : 4 . 567 Antó n io Au g u s to S a nt o s , “ Fr ei Lu ís d e S o u s a fo i e st read o e m Faro ”, Po vo Alg a rvio , 2 5 .0 1 .1 9 5 3 : 4 e 1 . 568 Ib id e m. 569 T eve u m to tal d e 7 r ep r ese n ta çõ e s d ura n te es se ano . 563 181 drama francês de Henri Bern stein sobre o anti-semitismo, cuja intriga agarrara o interesse do espectador e o jogo histriónico de Geny Frias , Fernando Frias e Eduardo de Matos, nos principais papéis, valorizara a, em encenação “cuidada e escrupulosa” ( 570) deste último. Três meses depois, a Companhia acrescentou novo sucesso, com a pe ça de Dário Nicodemi, O Grande Amor, em que Lizete Frias marcou outro “excelente desempenho”, interpretando a personagem principal de Maria Bini , ao lado de Fernando Frias e Eduardo de Matos . A população lacobrigense queixava-se que raramente assistia a teatro, por falta de companhias que a visitassem. Quando pôde acolher os Artistas Associados, o seu afecto traduziu -se em vontade de os reter (571). Em Outubro de 1953, finda a temporada, quando a Companhia se dispunha a partir para Silves , o público de Lagos solidarizou-se na recolha de assinaturas de uma petição, dirigida a Rafae l de Oliveira e ao Presidente da Câmara de Lagos, solicitando a prorrogação da permanência do Desmontável, pelo bem cultural da cidade ( 572). A deferência do público foi retribuída, na sua segunda e ú ltima estadia em Lagos, quando a Companhia estreou, a 3 de Setembro de 1954, a última das oito novas produções: As Duas Máscaras, de Eduardo Schwalbach. Antó n io Au g u sto Sa n to s , “T ea tro : I s ra e l, ma i s u m ê xi to d a Co mp a n h ia Ra fae l d e O li ve ira ”, Vo z d o S u l , 2 7 .0 2 .1 9 5 4 . 571 E m “C art a d e O l hão ”, Co rr eio d o S u l , 2 0 .0 8 .1 9 5 3 : 4 , me nc io na - se u m c hi st e atrib u íd o a u m fr eq ue nt ad o r a s síd uo d o De s mo n tá ve l, q ue d e mo n str a o cari n ho d e q ue a Co mp a n h ia era al v o : “A mb ula n te s? Não . E st es s ão ... fi xe s !” . 572 O te xto d a p et ição e nco nt ra - se r ep ro d uz i d o e m a n e xo ao p ro ces so d e ca nd id a t ura d a Co mp a n hi a R a fae l d e Ol i ve ira ao ap o io d o S.N.I, at rav é s d as verb a s d o Fu nd o d e T ea tro (MNT , acer vo d e Fe rna nd o Fri as) . Co mp õ e - se d e tr ês p ág i na s, às q uai s se s e g ui ria m o utr as 4 3 d e as s i na t ura s. 570 182 Se António Augusto Santos (573) poetisa os Artistas Associados nas suas crónicas algarvias, o anónimo articulista do Jornal de Lagos sintetiza o seu modelo de «cómicos da arte»: A arte perpetua-se na família, uma necessidade ascendente de habilidade artística e de conhecimentos técnicos, impulsiona ao mesmo tempo o desenvolvimento da personalidade em arte e a transmissão hereditária da experiência adquirida. Assim, a hereditariedade dos componentes desta Companhia é produzida pela própria divisão do trabalho. Divisão adaptada, honesta. A comunidade de sentimento artístico reforça -se com a solidariedade profissional. É digno do mais alto merecimento o seu reportório que exige dos seus componentes uma forte organização mental aliada a um estudo sério e metódico. O contentamento saudável do homem consigo próprio, a intensificação desse sentimento, o crente acordo com a natureza, a dádiva confiante aos desejos, aos sonhos e ao próprio coração, deve existir em todos estes artistas, mercê do pleno conhecimento do seu próprio valor e do lema que os rege, representando para o povo e definindo a beleza que na vida dele se encontra e que e le não sabe exprimir, nem mesmo sentir sem auxílio ( 574). Até 1960, a Companhia fez navegar o Desmontável pelo continente, aportando nos centros urbanos de maior dimensão, e fazendo incursões, a convite, pe los palcos das colectividades locais. De Évora até Guimarães , com passagem, de uma semana, pelo Teatro Sá da Bandeira, no Porto, e retorno a Faro, os Artistas Associados continuaram a alargar o seu reportório. Elvas acarinhou, a 31 de Agosto de 1955, a representação de Prémio Nobel, da parceria Fernando Santos , Almeida Amaral, e Leitão de Barros , aplaudindo, “tanto em cena aberta, como nos finais dos actos, as magníficas interpretações dos artistas [...] sob uma autêntica tempestade de aplausos” (575). No ano seguinte, a 11 de Abril, foi a vez da 573 Ar tic u li s ta d e d i ver so s p erió d ico s al ga r vio s, escre v e u cró nic a s ab u nd a n te s so b re o s e sp ec tá c ulo s e o s el e me n to s d o Art i st as As s o ci ad o s , q ua se se to r na nd o e m o se u “Go me s d e A m o ri m”. 574 “T ea tro : Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a”, Jo rn a l d e La g o s , 1 5 .1 1 .1 9 5 3 : 1 e 4 . 575 “No T eatro De s mo nt á v el co n ti n ua m o s b o n s e sp ec tá c ulo s”, Lin h a s d e Elva s , 0 8 .1 0 .1 9 5 5 : 4 e 2 . 183 “numerosíssima e distinta assistência” de Leiria aplaudir Está lá fora um inspector, de J. B. (John Boytan) Priestley, “obra de grande categoria e de beneméritas intenções psicológicas e sociais” ( 576). A crítica local, em nome da modernidade, instou a direcção artística a expurgar o reportório dos êxitos populares que “não contribu[íam] para a educação artística do público”: O teatro mod erno, se se quer extrair dele tudo quanto tem e pode dar para se tornar um veículo de cultura ao serviço do povo, tem de tratar temas modernos; tem de ser atrevido, oportuno, profundo, e não se perder em temas sentimentais que fizeram sonhar os nossos bisa vós. O homem precisa de estar acordado, atento aos problemas do seu tempo. E a arte (o teatro também) tem a função de esclarecê -lo, orientá-lo, ajudá-lo, tem que ter vida e saber convidar o público a viver com ele, a pensar com ele, e por conseguinte, vive r e pensar a vida e o pensamento do público. Tem de ser uma arte concreta, real e não uma entidade abstracta ( 577). Como agradar a Gregos e a Troianos? Em 1958, Eduardo de Matos encenou três originais para o Desmontável . Começou por O Sapatinho de Vidro, fantasia musical que Ludovina Frias de Matos adaptou do conto infantil e o maestro Alves Coelho, filho , musicou. Na tarde do 1º de Janeiro, o Teatro Aveirense acolheu uma plateia de crianças, obviamente deliciadas com as peripécias de Joaninha, a Gata Borralheira, interpretada por Gisela de Oliveira , mas, também, por dois pequeninos actores: Álvaro de Oliveira e a irmã Maria Leonor, netos de Rafael de Oliveira , a terceira geração de actores do Desmontável . Neto és, actor serás! O teatro moderno, que tantos instavam, chegou pela mão de Luiz Francisco Rebello. Em Guimarães, a estreia de Alguém terá de morrer “E co s e No t í ci as : T eatr o Des mo n tá v el ” , Reg iã o d e Lei ria , 1 2 .0 4 .1 9 5 6 : 1 . Desd e 1 9 3 2 q u e a o b ra d e P ries tl e y t e m v i nd o a ter ver sõ e s c i ne ma to grá fic as e tel e vi si v as . Red i g id a e m 1 9 4 5 , Es tá lá Fo ra u m In sp ec to r p as so u ao ci ne ma , e m 1 9 5 4 , co m d irec ção d e G u y H a mi lto n ( I md b ). 577 M. Gre gó r io , “O T eat r o d a Co mp a n h ia R a fae l d e O li v eir a”, Reg iã o d e L ei ria , 2 6 .0 4 .1 9 5 6 : 2 . 576 184 teve foros de acontecimento sócio -cultural. Na noite de 26 de Abril, o espectáculo foi antecedido pelas considerações do Dr. Santos Simões (578) sobre o Teatro em Portugal e a séria orientação da Companhia Rafael de Oliveira, que estreava um jovem autor, “uma consoladora promessa dentro de um teatro fossilizado e arreigado a obsoletos princípios ideológicos e estéticos”, dominando um diálogo “fluente, lúcido, penetrante e comunicativo” proferido por personagens com “nervos e sangue” ( 579). A última estreia de reportório foi vivida em Santarém , a 17 de Dezembro, com a estreia de A Muralha, de Calvo Sotelo , êxito recente da Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro, subindo à cena no dia em que se comemoravam os 20 anos de labor de Eduardo de Matos na Companhia, e de cuja encenação o Correio do Ribatejo elogiou a forma acertada como evitara o desagradável “final amuralhado” ( 580) da versão da companhia do Teatro Nacional. Na gestão artística de Eduardo de Matos verificam -se aspectos da evolução dos Artistas Associados. Mais do que alargar o reportório com dezasseis novos títulos, foi construindo um campo interpretativo, fértil em potencialidades histriónicas, para o elenco mais novo – Fernando e Gisela de Oliveira , Fernando e Lizete F rias, a sua “vaidade e orgulho de orientador artístico” –, ao mesmo tempo que revitalizava 578 Alé m d e crí ti co t ea tral , co lab o rad o r d o No tí cia s d e Gu ima rã e s , S a nto s Si mõ e s ap arec e re fer e nc iad o co mo p ro fe s so r e d irec to r d o Grup o “R it mo Lo uco ”, q u e, e m 1 4 d e Maio d e 1 9 5 8 , re p res e nto u, no T eatro J o rd ão d u as p e ça s p o rt u g ue sa s : T io Ped ro , d e Marc el i no M e sq ui ta e Ca va lh ei ro R e s p eitá vel , d e An d ré B r u n . 579 Sa n to s Si mõ es , “T ea tr o De s mo n tá ve l: Alg u ém te rá d e mo r re r ”, No tí cia s d e Gu i ma rã es , 0 4 .0 5 .1 9 5 8 : 2 . Es cri to e m 1 9 5 4 , o tex to d e L. F. R e b ello fo r a ap r o v ad o p e lo Co n s el ho d e Lei t ura d o T ea tro Nac io nal e m 1 9 5 5 , e aí se e s treo u e m 2 2 .0 5 .1 9 5 6 . T e ve u m carr eira i n ici al d e 1 0 rep re se n taçõ es , s e nd o rep o s to na ép o ca s e g ui n te, a ti n g i n d o as 5 0 . O el e nco co mp u n ha - s e d e Amé li a Re y - C o laço (Mart a ), P a l mi ra B a sto s ( Au g u st a ), C ar me n Do l o res (G ab rie la ) , M ari a Co r te - Rea l (P al mir a ), R a úl d e Car v al ho (R u i), J o s é d e Ca s t ro ( Víto r M a n uel ), Ro g é rio P au lo (o Des co n hec id o ). A mél ia R e y - C o l aço e Ro b le s Mo n te iro a ss i na v a m a e nc e naç ão , e Luc ie n Do nat a c e no gr afia ( R E B E L L O 1 9 5 9 : 2 2 4 ) 580 “Co mp a n h ia Ra fael d e Oli v eira e m Sa nt aré m” , Co r re io d o Rib a te jo , 2 0 .1 2 .1 9 5 8 : 3 . 185 o elenco mais velho com desafios de risco controlado. O projecto dramatúrgico propunha peças de tese, abordando temas socia is e psicológicos, ao gosto do público mais cultivado, sem descurar o público amante das paixões lacrimejantes, para quem guardava o velho reportório romântico, e o das comédias de boulevard, a quem, em 1959, brindou com a estreia de Daqui Fala o Morto! (581), versão teatral de um filme, em exibição pelo País nesse ano ( 582). Uma luta entre titãs - teatro versus cinema - no campo da bilheteira! A década de 50 marca também o início dos apoios concedidos pelo Estado através das verbas do Fundo de Teatro , do Secretariado Nacional de Informação (SNI) . Em Março de 1954, Rafael de Oliveira recebeu um subsídio extraordinário para restauro do Desmontável , danificado pelo nevão do mês anterior, em Silves . Em Setembro do mesmo ano, endereçou ao Secretário Nacional de Informação) , uma petição assinada por si e pelos restantes associados, solicitando o apoio financeiro do Estado para “prosseguir na sua mi ssão Cultural de levar Teatro, bom, moral, educador e compreensível, às localidades em que não podem chegar Companhias, por falta de casas próprias ou possibilidades de compensação financeira” ( 583). Ainda que não faltasse legitimidade à pretensão, invocando até os princípios ideológicos do projecto de António Ferro para a criação do Fundo de Teatro, os Artistas Associados não estavam conforme a realidade legal. O apoio est atal atribuído a companhias itinerantes, idealizado 581 T ratav a - se d a ad ap ta çã o p o rtu g u e sa d e Car lo s Lo p es d e u m ar g u me n to o rig i n a l d a p arc eri a Car lo s Llo p is e Lu í s Alco r iza , i n tit u lad o E scu e la d e Ra t ero s , u ma p ro d uç ão ci ne mato gr á fi ca me x ic a na, d e 1 9 5 7 , d iri g id a p o r Ro ge lio A. Go nz ále z , co m o a cto r P ed ro I n fa n te i n terp r et a nd o o d up lo p ap el d e Vic to r Vald éz e d e Ra ú l C ue s ta Her na nd ez. Ù lt i mo d e se mp e n ho d e st e a cto r q u e fa lec e u, n es se a no , n u m acid e n te d e a v iaç ão . 582 An u nc iad o no car taz d o s esp ec tác u lo s c i ne m ato grá fico s, e m O A lm o n d a , d e 2 6 .0 2 .1 9 5 9 . 583 Req u eri me n to e m p ap el t i mb rad o , d e 1 4 .0 9 . 1 9 5 4 , as si n ad o p o r Ra fa el d e Oli v eir a e re s ta nt es a sso ciad o s, c uj a s as si n at ur as e st ão r ec o n he cid a s no t ari al me n t e ( Acer vo F ern a nd o Fri as , M NT ). 186 pelos competentes organismos de Lisboa , pensando nas deslocações das empresas que irradiavam da capital, durante os três meses de Verão, colocava na marginalidade as companhias de província existentes. A credibilidade artística, de que a Companhia desfrutava junto dos organismos da classe, parece ter contribuído para a superior apreciação do assunto. Rafael de Oliveira constituiu o processo de candidatura ao Concurso de Apoio ao Teatro Itinerante , endereçado ao Secretariado Nacional) em 14 de Ab ril de 1955. O ofício nº 713, 3ª secção, de 10 de Maio, assinado por Fernando Paiva , Chefe de Repartição de Cultura Popular, notificou, a bem da nação, que, a título excepcional, fora atribuído um subsídio de 30.000$00, pagos ao titular da sociedade artística, enquanto empresário do Teatro Desmontável , e enquanto director de uma companhia itinerante ( 584). Encontrava-se aberto o precedente, legitimando a atribuição de futuros apo ios à Companhia, durante os cerca de vinte anos seguintes, com excepção da temporada de 1958/59. Em 1958, o Conselho de Teatro , em parecer amplamente divulgado pela imprensa nacional, começou por resumir “alguns dos problemas que afecta[vam] o nosso teatro” - dificuldades financeiras nos três concursos anteriores, falta de interesse do público, além de entradas demasiado caras, impossibilidade de apoio ao teatro amador, ausência de novos dramaturgos e de novas salas de espe ctáculos -, para concluir que apenas quatro Companhias, três em Lisboa e uma no 584 Li vro d e Co nt as d a s Co mp a n h ia s S ub s id iad a s ( Ac er vo F u nd o d e T eatro / S NI, MNT ). Es te s ub s íd io r efere - se à te mp o r ad a d e 1 9 5 5 /5 6 , te nd o o Co n se l ho d e T eatro a trib u íd o o me s mo valo r p ar a 1 9 5 6 /5 7 . E m 1 9 5 7 /5 8 , o valo r s ub i u p ara 5 0 .0 0 0 $ 0 0 , e, e m 1 9 5 8 / 5 9 , p ara 6 0 .0 0 0 $ 0 0 . E m 1 9 5 9 , o Co n s el ho d e T eatro to mo u u ma d eci são p o lé mi ca e não co nte mp lo u o s Art is ta s As so c iad o s n a te mp o rad a se g u i nte . O p ró p r io co n cei to d e t e mp o rad a - d e Verão , e ntre J u l ho e S ete mb ro , e d e I n ver no , e nt re O ut u b ro e J u n ho -, gera v a co n fu s ão o fi ci al. P ara Ra fael d e Oli v eir a, o d up lo co n c eito n ão e xi s tia ; a s u a te mp o r ad a co mp r ee n d ia o a no in te iro , e m q ue a s ú n i cas p ara g e ns d o s esp ec tác u lo s s e ver i fic a va m q ua nd o o De s mo nt á vel p ro gred ia p ara o d e s ti no se g u i nt e. 187 Porto, seriam subsidiadas ( 585). A itinerância ficava definitivamente posta de lado. Contra estes factos, outros argumentos se levantaram: corresponderiam os espectáculos ao anseio do público ou valeria a dramaturgia representada uma deslocação ao teatro? Sem dúvida que o público afluía quando lhe propunham bom teatro: peças com verdadeiro interesse, representadas por companhia s de bom nível artístico e uma encenação que não atraiçoasse a criação autoral. Porém, o condicionalismo arbitrário e pouco escrupuloso da classificação etária, e a acção da Censura, eram factores limitadores da actividade teatral: “sem liberdade de repres entação não há possibilidade de criar público, de revelar ou mostrar autores, nem de subsistirem empresários em estado de solvência”, defendia José dos Santos Marques, articulista do Jornal de Rio Maior (586), “A cultura, para ser válida e operante, há -de ser nacional e não regional” ( 587). Neste caso, nem lisboeta, nem portuense, entenda -se! Ausência de público e entradas caras eram argumentos que se não coadunavam com Rafael de Oliveira , que reagiu emocionalmente ao facto; no papel timbrado da Companhia, riscaria manualmente a frase “subsidiada pelo Fundo de Teatro ”, assim como assumiria , com mais veemência, o epíteto de “o mais bem organizado agrupamento que percorre o País desde 1918”. E a luta pelo direito à sobrevivência continuou no terreno. A carta que dirigiu ao Presidente do Conselho Oliveira 585 T eatro Nac io nal P o p u lar , E mp r es a d e Fr a nc i sco Rib eiro , p a ra o T eatro d a T rind ad e (1 8 0 co nto s me n s ai s); T eatro d e Se mp r e , no T . Ave n id a , d iri g id o p o r Gi no S a vio tt i e G i us ep p e B as to s , co mo d ir ecto r fi n a n ce iro (1 4 0 co nto s me n s ai s); T eatro Ger i fal to , d e An tó n io Ma n u el Co uto Vi an a , p ara e sp e ctá c ulo s in fa nt i s e j uv e ni s, e m s es sõ e s à tard e no T . Mo n u me nt al (5 0 co n to s me n sa is) ; T eatro Exp eri me n ta l d o P o rto (T EP ) , d irigid o p o r An tó n io P ed ro , exp lo ra nd o te atro d ecla mad o fi xo , n u m d o s p alco s d o P o rto (9 0 co n to s me n s ai s). C f. “O Co n se l ho d e T eatro acab a d e a trib ui r (a q u atro a gr up a me n to s) s ub s íd io s me n sa i s n o to tal d e 4 6 0 co nto s”, Diá r io d a Ma n h ã , 0 2 .0 9 .1 9 5 8 . 586 J o sé d o s Sa n to s M arq u es , “T eat ro – P ro b le ma Nac io nal ”, Jo rn a l d e Ri o Ma io r , 0 1 .0 1 .1 9 5 9 : 2 e 4 . N a p ág i na 4 , d e s ta ed i ção , ao l ad o d e sta no tíc ia, e m “No t ic iár io ”, d i v u l ga va - se q ue a Co mp a n h ia Ra fa el d e O li v eir a ti n h a d ad o d ua s se s sõ e s d e “b o m tea tro ”, na Ca sa d o P o vo . 188 Salazar (588), solicitando um subsídio reembolsável para construção de um novo Desmontável, acabou por se demonstrar melhor benefício do que o parco apoio que Conselho de Teatro lhe pudesse ter atribuído. Os 250.000$00 recebidos, ainda que a título de empréstimo, criaram condições de trabalho, que de outra forma dificilmente se realizariam. Anunciado para os princípios de Outubro, a inauguração do novo Desmontável, sucessivamente retardada por problemas de construção, apenas aconteceu a 7 de Dezembro de 1960, porém com pompa e circunstância. “Finalmente!”, terá proferido Fernando de Oliveira , antes de agradecer a presença de José Filipe Fialho , Presidente da Câmara Municipal de Lagos, as palavras de elogio à Companhia proferidas pelo Dr. Joaquim de Magalhães , e os telegramas de felicitações do Teatro Aveirense , de Samwell Diniz , Presidente do Sindicato dos Artistas, do Presidente do Grémio das Empresas Teatrais, e do Dr. Júdice da Costa , Chefe de Repartição da Cultura Popular, do S.N.I. ( 589). Alguém terá de morrer subiu, por fim , à cena, com “excelente desempenho” de um elenco revitalizado por novos artistas (590), que perdiam, todavia, o contributo de Eduardo de Matos , a quem uma progressiva diminuição da capacidade visual punha fim à carreira de actor. 2. O herdeiro do Desmontável : Fernando de Oliveira , empresário e director artístico anunciado. 587 Ib id e m. C art a d e Ra fael d e O li ve ira , e m p ap el ti mb rad o d a Co mp a n hi a, e nd ere çad a ao P resid e nte d o Co n se l ho Oli v eir a S ala zar , a 2 9 d e Ma io d e 1 9 5 9 ( Acer vo Fer na nd o Fri as , M u se u Na cio na l d e T eatro ) . 589 J o ão Le al , “O T ea tro D es mo n tá ve l e m Faro ”, F o lh a d e Do m in g o , 1 8 .1 2 .1 9 6 0 : 5 e 8. 590 Lu iz P i n hão e ntr ara e m 1 9 5 5 , e m P o rta le gre , e o ca sal Ar ma nd o Ve nâ n cio e Mari a C u stó d ia , q ue te nd o p ert e ncid o à C o mp a n h ia Dr a má ti ca Lis b o ne n se «M o iro n », e ntr a va a go ra co mo so ci et ário s. 588 189 Se a partir da segunda metade dos anos 40, Rafael de Oliveira passara a delegar competências no seu filho, como secretário da Companhia e representando -o nos discursos de encerramento das temporadas teatrai s das localidades visitadas, a doença de Eduardo de Matos sobrecarregou as responsabilidades de Fernando de Oliveira , que se tornou no herdeiro do legado artístico destes dois timoneiros. Os anos 60 mostrar -se-ão bastante conturbados para a Companhia . Apesar da indesmentível dedicação profissi onal dos artistas, a temporada de Évora , em 1959-60, não foi bafejada pela sorte, não sendo “compensados pelo resultado da bilheteira os seus encargos mais inadiáveis” ( 591). Procuraram-se razões para a ausência do público, outrora tão assíduo: os rigores da invernia (apesar de Rafael de Oliveira ter investido na climatização do Desmontável!), ou talvez a imposição de uma localização desfavorável no Rossio de S. Braz (onde sempre populacional”, se instalara!), agravado pelo local “fora facto de o de mão teatro do se maciço encontrar “escondido, agachado, por detrás do muro da horta dos soldados” (592). As razões soam, sobretudo, a jus tificações para a falência de interesse nas peças que já haviam esgotado “os ânimos do espectador fiel”: Peças vistas dezenas de vezes, quer por profissionais quer por amadores, não despertam, igual interesse, nem tendem a engrossar o número de espectador es, mesmo representadas pelo magnífico conjunto de Rafael de Oliveira . Se existe maturidade técnica e artística no agrupamento, ela perderá, porventura, o melhor dos seus frutos, pisando e repisando coisas ultrapassadas. Exige -se, também, a novidade e o valor do tema – e novos processos, ou, pelo menos, a tentativa, o que já é de louvar ( 593). A.R ., “O e sp ec tác u lo d e d esp ed id a d a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i ve ira”, No t íc ia s d e Évo ra , 0 2 .0 3 .1 9 6 0 : 2 . 592 Ib id e m. 591 190 Na realidade, como reconheceria posteriormente o articulista eborense, o reduzido público interessado nas peç as contemporâneas não oferecia condições financeiras à Companhia . Tratava-se de um público de classe média, possuidor de novas aspirações e de novas exigências de consu mo. O outro público, o que enchia a geral, a maioria dos lugares do Desmontável, reduzira -se por força da migração, para o estrangeiro ou para a periferia das grandes cidades, despovoando os meios rurais e o interior, o campo de acção das companhias de província. E aqueles que mantiveram a ligação à sua origem, assistiam a um novo tipo de espectáculo difundido por uma recém-criada televisão, ampliando progressivamente o seu campo de actuação pelo país, fascinando um novo tipo de plateia, tornando -se o objecto concorrencial dos espectáculos ( 594). O público dividia -se entre a Rádio, o Cinema e a Televisão como modos de entretenimento mais acessíveis: nas colectividades, ou nos cafés, era possível assistir a uma noite de teatro televisionada pelo preço de uma bi ca e de um bagaço. Fernando de Oliveira , respondendo ao articulista M. J. Vaz (595), do Distrito de Setúbal (596), considerava que a cris e se devia aos encargos pesados que asfixiavam a exploração teatral, tornando -a num produto caro, à falta de salas com lotações que permitissem uma melhor defesa da exploração, e à invasão de um tipo de vedetas, com exigências de elevados vencimentos, por vezes em proporcionalidade inversa ao seu valor artístico. Além disso, o progressivo desaparecimento dos grupos amadores das Sociedades de Educação e Recreio, pequenas escolas básicas de formação de novos públicos e de “A Co mp a n h ia R a fae l d e Ol i ve ira e m É vo ra: U ma si t uaç ão q ue me rece s er rev i sta ”, Jo rn a l d e Évo r a , 0 8 .1 1 .1 9 5 9 : 6 e 3 . 594 E m 1 9 6 0 , e xi st ia m cerc a d e 3 1 mi l recep to re s d e T V e m to d o o p aí s ; na d écad a se g u i nte a sce nd erão a 3 8 7 .5 0 0 ( V IE IR A 2 0 0 0 : 1 2 5 ). 595 P ai d a act riz Ali na Va z . 596 M. J . Vaz, “A Co mp a n hi a d e T eatro Ra fael d e Oli v eir a no B ar reiro ”, Di st r ito d e S etú b a , 0 7 .1 1 .1 9 6 1 : 2 . 593 191 artistas, acabara por criar um divórc io entre espectadores e a arte de Talma. A Companhia, que fora procurando a sua razão de sobrevivência nos anteriores locais de sucesso (Évora , Beja e o Algarve), com irregulares resultados de audiência, aproximou -se do litoral estremenho e da periferia lisboeta. Dois anos depois da estreia de Daqui Fala o Morto , subia à cena Um Fantasma Chamado Isabel , no Teatro Desmontável , instalado no Barreiro, em Novembro de 1961. Original de Henrique Santana , a coberto do pseudónimo Miklós Marai , a peça visava o riso “fácil das plateias, agora pouco dispostas a maçar se em procura da ideia, do sentido ou tese, [...] antes querendo, sem esforço, passar umas horas de boa disposição, pois que trabalho e preocupações a vida lhes traz cada vez em mais larga escala” (597). Oscilando entre a farsa e a comédia, o enredo pretendia apenas que o espectador fruísse, “desde o sorriso indulgente até à gargalhada estrepitosa” (598), inscrevendo -se na proposta dramatúrgica do seu autor de um “teatro só para rir”, um teatro alegre, designação que utilizou para uma companhia de comédia que criou. A encenação de Eduardo de Matos retirara a carga clownesca soez na representação farsesca, substituindo graçolas e esgares por uma simplicidade de processos, fazendo sobressair a leveza e a graça natural dos comediantes. Apesar do reconhecido êxito da interpretação, M. J. Vaz observou a ausência do público barreirense, lastimando que este não tivesse compreendido o esforço da Companhia em dar bom teatro. Para que não partissem sem o reconhecimento da “sua mensagem”, o derradeiro espectáculo da Companhia constituiu uma homenagem, M. J . V az , “C rí tic a d e T eatro : Um Fa n ta sma C h a ma d o Isa b el p el a Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i vei ra”, D is tr ito d e S e tú b a l , 2 1 .1 1 .1 9 6 1 : 1 e 4 . 598 Ib id e m. 597 192 organizada pelos amadores locais ( 599), em que Aníbal Pereira Fernandes, decano das Colectividades de Cultura, Educação e Recreio, salientou o espírito de dedicação da Companhia à causa do Teatro, em “oração brilhante que bem colocou o Barreiro [...] para que dele fosse feito o bom e devido juízo pelos artistas” ( 600). Apesar das boas intenções que os amantes de teatro sempre manifestaram à passagem da Companhia , esta viv erá nos anos seguintes momentos cada vez mais difíceis. Depois da estadia bem sucedida no Teatro Avenida de Lisboa, em Fevereiro de 1962, espécie de balão de oxigénio, de que a Companhia tirou dividendos promocionais, o Desmontável instalou -se em Vila Franca de Xira , seguido de uma estadia na Nazaré , na época de veraneio, e regressou a terras ribatejanas. A imprevisibilidade da afluência do púb lico provocou temporadas irregulares, onerando, consequentemente, o orçamento da Companhia em despesas de deslocação. O parco subsídio que o Fundo de Teatro vinha concedendo manifesta -se insuficiente, e Rafael de Oliveira, em carta de 17 de Agosto de 1963, endereçada ao Dr. César Moreira Baptista , Secretário Nacional de Informação e, por inerência do cargo, Presidente do Fundo de Teatro, expõe as dificuldades vividas pela Companhia ( 601). O Conselho de Teatro , em reunião de 21 de Agosto, delibera atribuir um subsídio no montante de oitenta mil escudos, por antecipação do concurso para companhias itinerantes, devido ao facto de Rafael de Oliveira se manifestar interessado em concorrer, e o referido Conselho considerar manter o 599 O Gr up o Cé ni co d a S o cied ad e I n s tr ução e R ecre io «O s P e ni c hei ro s » a b ri u o esp e ct ác ulo co m a rep r e se n taç ão d e u ma co mé d i a i nt it u lad a D ia s Fe li ze s . 600 M. J . Vaz , “A ho me n ag e m p ro mo vid a no B a rreiro à Co mp a n hi a R a fa el d e Oli v eir a”, Di s tr ito d e S e tú b a l , 1 5 .1 2 .1 9 6 1 : 1 e 4 . 601 Se cre tari ad o Nac io na l d a I n fo r ma ção , C u lt ur a P o p ul ar e T uri s mo , N. O . 2 4 7 1 , P ro cº . nº . 3 0 1 0 4 , d e 2 1 . 0 8 .1 9 6 3 . Car ta, e m p ap el ti mb rad o , d a Co m p a n hi a R a fae l d e O li v eir a, Art i sta s As so ci ad o s , r e met id a d a Fi g u eira d a Fo z, e m 1 7 .0 8 .1 9 6 3 , d es ti nad a ao Se cre tár io Nacio n al d e I n fo r ma ç ão e P resid e nte d o Co n se l ho d e T eatro , Dr . Cé sar Mo rei ra B ap t i sta ( Ac er vo d o F u nd o d e T ea tro / SNI , Arq u i vad o r 5 1 , MNT ). 193 subsídio à actividade da Companhia , com um pagamento imediato de 50% da verba atribuída. Dois meses mais tarde, Rafael de Oliveira organiza uma petição (602), à qual anexa o documento laudatório do Presidente da Câmara da Figueira da Foz (603) e uma folha de cálculo demonstrativa prorrogação das do dificuldades prazo de financeiras pagamento da ( 604), solicitando terceira prestação a do empréstimo concedido pelo Fundo de Teatro para a construção do Teatro Desmontável (605), justificada pela falta de liquidez financeira da companhia, em virtude da crise de público que se fazia sentir e da necessidade de proceder a obras urgentes de manutenção do exterior do teatro. Sugerindo que se candidatasse ao concurso para a temporada de 1963/64, o Conselho de Teatro , em 26 de Dezembro, na sequência do valor antecipado em Agosto, concedeu um subsídio de 125.000$00, para um limite de 150 espectáculos realizados no prazo de um ano, acrescido de um subsídio adicional no valor de 25.000$00, para amortização da dívida contraíd a com a construção do Teatro Desmontável (606). 1964 será o annus horribilis dos Artistas Associados . Em princípio de Fevereiro, quando Rafael de Oliveira dirigia a montagem 602 T eatro De s mo n tá ve l. Co mp a n h ia Ra fa el d e Oli v eir a, Art i sta s As so ciad o s. Car ta, e m p ap e l t i mb rad o d a C o mp a n hi a, re met id a d e T o rre s N o va s, e m 2 9 .1 0 .1 9 6 3 , d iri g id a a o Dr. Cé sar Mo r eir a B ap ti st a , S ecre tár io N acio na l d e In fo r ma ção , Li sb o a ( Ac ervo d o F u nd o d e T ea tro /S NI, Arq ui v ad o r 5 1 , M NT ). 603 En ge n h eiro J o s é Co el h o J o rd ão . An e xo d a car t a, re me tid a d e T o rre s N o va s , e m 2 9 .1 0 .1 9 6 3 ( Ac er vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ). 604 T eatro De s mo n tá ve l. C o mp a n h ia Ra fa el d e Oli v eir a, Art i sta s As so ciad o s. Re s u mo d a s re ce ita s ilíq uid a s e l íq uid a s, r e fer e n te s a 1 2 8 e sp ec tác u lo s r eal izad o s p ela Co mp a n h ia Ra fa el d e Oli ve ira , d ur a nte o p erío d o d e 1 d e J ane ir o a 3 0 d e Set e mb ro d e 1 9 6 3 . An e xo à car ta e n vi ad a ao S ec re tário Na cio n al d e I n fo r ma ção , Dr. Cé sar Mo reir a B ap ti st a , e m 2 9 .1 0 .1 9 6 3 ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 5 1 , M NT ). 605 Do mo n ta nt e d e 2 5 0 .0 0 0 $ 0 0 co nc ed id o e m 1 1 d e Maio d e 1 9 6 0 , ap en as se p ag ara m 7 5 .0 0 0 $ 0 0 , no p razo d e u m a no . 606 Secr etar iad o Nac io na l d a In fo r maç ão , O fício n º 2 9 1 3 /3 , 3 0 1 0 4 , d e 2 8 .1 2 .1 9 6 3 (có p ia), r e me tid o p e lo C he fe d e R ep ar tiç ão d e C u lt ura P o p ul ar, B . J úd i ce d a Co st a, d es ti n ad o a Ra fa el d e O li ve ira , T ea tro De s mo nt á vel , Mo nt ij o (Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ). 194 do Desmontável em Coruche , é acometido de doença súbita, sendo conduzido de urgência para o Hospital de S. José , em Lisboa, onde se detecta a ruptura de uma úlcera duodenal ( 607). Posta a hipótese de uma intervenção posteriormente, cirúrgica, transferido tal para não chega Hospital a acontecer, Curry Cabral , sendo, onde permaneceu até ao final do mês ( 608). O estado de saúde de Rafael de Oliveira encontrava-se tão frágil quanto a situação financeira da Companhia, agravando -se com o facto de a família haver, de comum acordo, deixado de pertencer à sociedade. Sem possibilidade de prover dividendos justos, o elenco do Desmontável sofreu a sangria de alguns dos seus elementos mais importantes: Fernando e Gisela de Oliveira , e Fernando Frias , que integram o elenco da opereta Nazaré, no Teatro Maria Vitória. Sempre determinado, Rafael de Oliveira procura o apoio de actores com afinidade ao modelo de teatro itinerante e convida Humberto de Andrade e sua família, da Companhia Lisbonense «Gente Sem Nome». Serão eles, em conjunto com António Vilela e Idalina de Almeida, os pilares que sustentarão a Companhia em Coruche, durante o período de internamento de Rafael de Oliveira . Passado um mês, este regressa ao seu posto de director do Desmontável; no ano anterior reformara -se enquanto actor. Escreve ao S.N.I, agradecendo o apoio prestado e reafirma a sua vontade de prosseguir na missão de levar teatro pela província, apesar da saúde precária e do cansaço ( 609). Para evitar um maior descal abro financeiro, devido à diminuta frequência de público, o número de récitas por semana é reduzido para duas, o que não só agrava o problema da realização dos espectáculos subsidiados, para cumprir o “T ea tro De s mo nt á ve l R afae l d e Ol i v e ira”, O S o r ra ia , 0 8 .0 2 .1 9 6 4 : 8 . “T a l vez vo cê n ão s aib a. ..”, Diá rio Po p u la r , 2 9 . 0 2 .1 9 6 4 : 2 . 609 Sec ret ari ad o N acio n a l d e i n fo r ma ção , N.O . 1 5 7 3 , P ro cº . nº . 3 0 1 0 4 , d e 2 0 .0 4 .1 9 6 4 . Car ta, e m p ap el t i mb rad o , d a Co mp an h ia Ra fa el d e O li ve ira , exp ed id a d e Co r u c he , e m 1 6 .0 4 .1 9 6 4 , d es ti n ad a ao Dr. C ésa r Mo re ira B ap ti s ta ( Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq u i vad o r 5 1 , MNT ). 607 608 195 prazo contratual com o Fundo de Teatro , como dificulta o pagamento das prestações referentes ao empréstimo concedido para construção do Desmontável. Em 8 de Junho, Rafael de Oliveira endereça uma carta ao Dr. César Moreira Baptista, em que expõe, mais uma vez, que os fracos dividendos não permitem o pagamento aos artistas, não lhe restando outra alternativa senão a de entregar o Teatro Desmontável ao Secretariado Nacional , por incumprimento da dívida assumida (610). Nesse mesmo mês candidatar -se-á ao apoio do Fundo de Teatro para o teatro itinerante, e reitera o teor da missiva anterior, propondo que o Fundo de Teatro atribua um vencimento mensal (2.500$00) a cada elemento da Companhia durante um ano, ou, em alternativa, um subsídio por espectáculo no m esmo montante, até ao limite de 160, sob pena de não restar outra alternativa que não fosse a dissolução da Companhia. É um homem amargurado que, contrariando a sua proposta de devolução do Desmontável, solicita agora a possibilidade de o manter e transfor mar em cinema ambulante, para que nele aguarde o fim dos seus dias ( 611). O Conselho de Teatro terá ponderado favoravelmente os argumentos, concedendo à Companhia um subsídio de 200.000$00 para a temporada de 1964/65 ( 612), cujo ofício Rafael de Oliveira recebeu nos primeiros dias de Julho, em Almeirim , onde se encontrava instalado. Alívio de breve duração. A inépcia de um funcionário é causadora do afundamento da plateia do Desmontável, que vê desaparecer o que resta dos poucos frequentadores. A contigência 610 Car ta d e Ra fa el d e Ol i ve ira , e m p ap el ti mb r ad o d a Co mp a n hi a, d e 0 8 . 0 6 .1 9 6 4 , d iri g id a ao Se cre tár io Nac io nal e P re sid e nte d o Co ns el ho d e T eatro , Dr. Cé sar Mo reir a B ap ti st a ( Acer v o d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 5 8 , M N T ). 611 Sec ret ari ad o N acio n al d e I n fo r ma ção , N. O. 2 4 0 5 , d e 2 4 .0 6 .1 9 6 4 : Car ta d e Ra fael d e Ol i veir a , d e Al me ir i m, e m 2 2 .0 6 . 1 9 6 4 , d iri g id a ao P re s id e nt e d o Co n se l ho d e T eatro , Dr. Cé sar Mo re ira B ap ti s ta ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 5 8 , M NT ). 612 Act a nº 1 3 0 , d o Co ns el ho d e T eatro , d e 0 2 .0 7 . 1 9 6 4 (có p ia) ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ). 196 obriga Rafael de Oliveira a solicitar ao Secretariado Nacional da Informação um adiantamento do valor de um trimestre para mudar rapidamente de localidade ( 613). A Companhia regressa à periferia de Lisboa, instalando-se em Moscavide, entre Agosto e Novembro de 1964, e transitando para a Venda -Nova, onde se estreia a 19 de Dezembro, com As Duas Causas , de cujo elenco saíra, entretanto, a família Andrade para dar lugar a elemento s da família Rentini. Apesar de esgotado por uma vida de trabalho insano, em prol da sua paixão teatral, o “cabo de companhia” mantém -se firme todas as noites no seu posto. A 9 de Janeiro de 1965, o Desmontável apresentou a comédia antiga Moços e Velhos , seguida de um Fim de Festa com Zurita de Oliveira e a sua guitarra eléctrica. Nos bastidores, após ter fechado o pano de boca, Rafael de Oliveira mostra-se satisfeito por o espectáculo ter corrido bem; de repente, é acometido por um ataque de tosse, vacila e tomba vitimado por uma trombose. Dentro da sua carteira, um lacónico “testamento”: “Sinto -me muito mal. Temo um desenlace! Declaro a meu filho Fernando, prós devidos efeitos, que possuo neste momento unicamente um conto e seiscentos. Não devo nada a cabrão nenhum!” ( 614). Aos 74 anos, o pano descia inexoravelmente sobre o último acto da vida de um comediant e que, tal como Molière, morria no teatro, no espaço em que sempre desejara que isso acontecesse. A notícia correu célere pela imprensa nacional e regional: morrera o “último abencerragem do teatro ambulante” ( 615). Necrologias, obituários e laudas póstumas reflectiram a derradeira 613 Secr et ariad o Na cio na l d e In fo r maç ão , N .O. 2 7 8 5 , P ro cº . 3 0 1 0 4 , d e 2 7 .0 7 .1 9 6 4 : Car ta d e R a fae l d e O li v eira , d e 2 6 .0 7 .1 9 6 4 , d ir i gid a ao P re sid e nte d o C o n se l ho d e T eatro ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ). 614 Mário Vie g a s, “Al g u n s ap o n ta me n to s p ar a u ma fu t ura hi s tó ri a d a Co mp an h ia d e T eatro – It i ner a nt e Ra fa el d e O li v eir a. «O So n ho d e u ma Vid a »” , Cad er no P ro gra ma nº 9 , Co mp a n hi a T eatr al d o C hiad o , T e mp o rad a te atra l 9 1 /9 2 , p . 4 4 . 615 “Mo rre u o ac to r R a fae l d e Oli v eir a, ú lt i mo ab e nc erra ge m d o tea tro a m b ul a nt e”, Jo rn a l d e Le t ra s e A rt e s , 1 3 .0 1 .1 9 6 5 . 197 récita de “uma das mais curiosas figuras da cena portuguesa” ( 616), que concretizara o sonho da apregoada descentralização teatral: “o povo gostava dele e ele gostava do povo, que lhe fica a dever muitas horas de sonho, de arte, de lágrimas e risos. Rafael de Oliveira , homem bom, de acção e coragem, merecia a nossa profunda admiração. E deverá ser sempre recordado como exemplo digno de se seguir” (617). Pela câmara ardente na Ig reja Paroquial de Santa Isabel, desfilaram os amigos, os colegas, os representantes oficiais e o público. O corpo foi sepultado no Cemitério de Benfica, a 11 de Janeiro de 1965, mas a memória do Homem de Teatro permane ceu associada à Companhia do Desmontável. 3. Novos modos de sobrevivência da Companhia. A continuidade do Desmontável colocava problemas. Em Outubro de 1964, Fernando de Oliveira admitira a extinção da Compan hia e explicara os motivos que advieram à saída dos vários elementos, que tinham ingressado no elenco do teatro Maria Vitória : Em primeiro lugar a Televisão veio tirar muito púbico aos restantes espectáculos, especial mente na província, nosso meio ambiente. Só no Minho fecharam já vinte e tal cinemas. Depois, o poder económico é hoje menor do que há anos. O gosto pelo teatro mantém -se, mas estes dois factores são decisivos no destino da nossa com panhia. Sempre tivemos subsídios do Fundo de Teatro , mas não eram suficientes para garantir a sobrevivência. Assim, eu e outros elementos do elenco falámos com meu pai e estudámos o problema. Era difícil continuar. Retirámo-nos para prosseguir a nossa carreira em Lisboa , embora com o propósito de regressar logo que a crise se resolvesse. Quem dera que fosse já amanhã! Aquela é a nossa casa, mas as realidades são duras e as perspectivas bem negras ( 618). “F ale ci me n to s: Ac to r Ra fae l d e Ol i ve ira” , Diá rio d e No tíc ia s , Li sb o a, 1 0 .0 1 .1 9 6 5 . 617 “5 ª Co l u n a”, Diá r io Po p u la r , 1 6 .0 1 .1 9 6 5 : 3 . 618 “Dep o is d e c i nq ue nt a ano s d e ac ti v id ad e, a C o mp a n h ia d e Ra fa el d e Oli v eir a es tá p re st es a e xt i n g u ir -s e: Fer na nd o d e Ol i ve ira , fil ho d o co n he c id o acto r 616 198 Com o desaparecimento de seu pai, recaía sobre si “uma centelha de esperança” ( 619). Animado a dar continuidade a uma Companhia cheia de tradições, Fernando de Oliveira pondera a sua viabilidade financeira: “Gostar do Teatro não basta. Temos de viver.” ( 620) O Desmontável mantinha -se instalado na Venda -Nova. Representara -se A Recompensa, em homenagem a Rafael de Oliveir a, a 17 de Janeiro, espécie de ofício teatral de sétimo dia, e a Companhia manteve o ritmo de um espectáculo por semana, até 21 de Fevereiro, derradeira exibição. Com receitas fracas, era impossível exigir o sacrifício dos elementos da Companhia sem um apoio mais substancial do Fundo de Teatro. Em 6 meses, desde 1 de Agosto de 1964, a Companhia realizara apenas 31 espectáculos, muito abaixo da produtividade habitual dos Artistas Associados. Fernando de Oliveira manifesta, então, ao Secretário Nacional de Informação o desejo de prossegui r a obra de seu pai e, expondo as dificuldades vividas através de um relato circunstanciado de despesas permanentes e eventuais, solicita a concessão de um subsídio anual de 420.000$00 ( 621). No Secretariado Nacional, os serviços trocam informações internas sobre a Companhia, remetendo a decisão para o Conselho de Teatro , que, em reunião de 12 de Maio, indefere o pedido da Companhia , embora autorize a sua e mp re sár io , i n gre s sa n o te atro d e re vi s ta e faz - no s o p o rt u na s d e clar açõ e s”, Actu a lid a d e s , 1 7 .1 0 .1 9 6 4 : 5 e 1 3 . 619 C urad o Rib eiro , “D e T eatro : F er na nd o d e Ol i veir a: u ma ce nt el ha d e esp e ra nça ”, An ten a , 0 1 . 1 1 .1 9 6 5 : 3 6 . 620 Ma n uel Vie ira , “T ea t ro Des mo ntá v el Ra fael d e Oli v eir a: F u t uro i nc erto ”, [j o rnal d e sco n h ecid o ], 0 5 .1 1 .1 9 6 5 ( Reco r te p e rte nc e nte ao acer vo d e Ál varo d e Oli v eir a). 621 P ro ces so nº 3 9 9 , d o S. N.I., d e 0 5 .0 2 .1 9 6 5 . Ca rta d e F er na nd o d e O li v eira, e m p ap el ti mb r ad o d a Co m p an h ia Ra fae l d e O li v ei ra, d ir i gid a ao S ecr etár i o Nac io nal d e I n fo r ma ção , Dr . Cé sar Mo re ira B ap t i sta ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 5 8 , M NT ). 199 candidatura ao concurso de apoios do Fundo de Teatro para o ano seguinte (622). Em inactividade desde o final de Fevereiro, Fernando de Oliveira aproveita o recebimento do subsídio remanescente para proceder a melhorias na estrutura do Desmontável, comprometendo -se com o Fundo de Teatro a retomar a sua actividade em Julho, realizando três ou quatro espectáculos por semana, por forma a justificar os termos contratuais do subsídio da temporada anterior ( 623). O Conselho de Teatro, em reunião de 19 de Julho, decide, então, voltar a atribuir um subsídio segundo as mesmas condições do ano anterior, a realizar entre 1 de Agosto de 1965 e 31 de Julho do ano seguinte ( 624). Embora agradecido pela concessão, Fernando de Oliveira redige uma sumária demonstração da impossibilidade de realizar mais do que 130 espectáculos por ano, a um valor unitário de 1.000$00 ( 625), que o Conselho de Teatro aprecia, em 6 de Agosto, deliberando alterar o montante do subsídio unitário (1.500$00), assim como o número total de espectáculos a realizar anualmen te (130) (626). 622 Ofício nº 3 9 0 /6 5 (có p i a), d e 1 3 .0 5 .1 9 6 5 , d o Che fe d e Rep art ição , B . Júd i ce d a Co st a p ar a F er n a nd o d e Oli v eir a ( Ace r vo d o F u n d o d e T ea tro / SN I, Arq ui vad o r 5 8 , MNT ). 623 Se cret ari ad o N ac io na l d e i n fo r ma ção , N. O . 2 1 9 4 , d e 0 2 . 0 7 .1 9 6 5 : Car ta d act ilo gr a fad a d e Fer n a nd o d e O li v eir a p ar a o Secr et ário Na cio na l d e I n fo r ma ção e P res id e nt e d o Co n se l h o d e T eatro , Dr. C és ar Mo reir a B ap t i sta ( Ac er v o d o Fu nd o d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 5 8 , M NT ). 624 Secr eta riad o Nac io na l d e In fo r maç ão , o fí cio n º 1 5 6 7 , 3 0 1 0 4 , d e 2 2 .0 7 .1 9 6 5 , re met id o p o r B . J úd ice d a Co st a , C h e fe d e Rep arti ção , d e s ti nad o a Fer na nd o d e Oli v eir a , R u a d o s So eir o s, Li sb o a . T ratava - s e d e u m mo n ta n te d e 2 0 0 .0 0 0 $ 0 0 , co rre sp o nd e nd o a u m v alo r u ni tário d e 1 .0 0 0 $ 0 0 , até ao li mi te má x i mo d e 2 0 0 esp e ct ác ulo s ( Ac er vo d o F u nd o d e T eatro / S NI, A rq u i vad o r 6 2 a, M NT ). 625 Se cre tar iad o Na cio na l d e I n fo r ma ção , N. O. 2 6 3 5 , P r o cº . nº . 3 0 1 0 4 , 0 4 .0 8 .1 9 6 5 . Car ta, e m p ap el ti mb r ad o , d a Co mp a n hi a R afae l d e Ol i ve ira , re me tid a d e Se si mb ra, a 3 1 .0 7 .1 9 6 5 , d ir i gid a ao Se cre t ário Nac io na l d e I n fo r mação e P resid e nte d o Co n se l ho d e T ea tro , Dr. Cé sar Mo reir a B ap ti s ta , Li sb o a. As s i na m to d o s o s ac to re s. 2 fl s. ( Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / SNI , Arq u i vad o r 6 2 a , MNT ). 626 Secr et ariad o Na cio na l d e In fo r ma ç ão , C ul t ura P o p ul ar e T ur i s mo . I n fo r mação d e ser vi ço nº 5 4 5 /6 5 , d e 1 1 .0 8 .1 9 6 5 , re me t id a p o r M a n ue l H e nriq u es d a Si l va, C he fe d a 3 ª Se cção , p e l o C h e fe d e Rep art ição , d es ti nad a ao Secr etár io Na cio na l ( Acer vo d o F u nd o d e T eatro / S NI, Arq ui v ad o r 6 2 a, M NT ). A Co mp a n hi a acab a p o r so frer u ma l i gei ra p erd a co m a rec ti fic ação ; te n d o sid o a trib u íd o u m s u b síd io d e 200 Reunidas as famílias Oliveira e Frias, fica decidido reiniciar a actividade da Companhia em Sesimbra , durante a época balnear, mas o fantasma da dissolução continua a pairar sobre o Desmontável. A crise de público mantinha-se, dificultando a vida de 14 artistas, 2 carpinteiros e 1 ajudante, 1 secretário e 1 encarregada de bilheteira, em regime societário, ganhando um valor mensal pequeno, acrescido de dividendos finais. O valor atribuído pelo Fundo de Teatro manifestava-se insuficiente para a produção de novas montagens ou admissão de novos elementos. O facto de terem de se bastar a si próprios, com o produto da bilheteira, atemorizava Fernando de Oliveira em regressar à província; a transferência do Desmontável traduzia-se num custo entre 20 e 35 contos, transportado em 10 camiões de 10 toneladas, e correspondia a uma inactividade de 20 dias, o tempo da sua montagem. [O] meio provinci ano, com excepção das cidades mais importantes – e entre estas algumas estão também em condições débeis – não dispõe de possibilidades capazes de assegurarem a permanência prolongada de uma companhia teatral, e muito menos dar -lhes a recompensa material inevitável. População relativamente diminuta, falta de recursos monetários, menor interesse pelo espectáculo, tanto por carência educativa como por hábitos arreigados, e mais ainda a concorrência da TV e do Cinema, tudo isto contribui para tornar extremament e penosa e não menos exigente a deslocação, através do País, de elencos de teatro, mesmo que eles sejam artisticamente valiosos e possam dispor de programas atraentes ( 627). Entre 5 de Outubro de 1965 e 25 de Junho de 1967, o Desmontável executa um périplo pelos arredores lisboetas, começando em Algés, e aí retornando, depois de passar pela Amadora , Costa da Caparica, Sintra, e Queluz; a companhia sobrevive com dificuldade das pequenas receitas e do subsídio do Fundo de Teatro . Para minorar 2 0 0 .0 0 0 $ 0 0 , p as s a a re ceb er 1 9 5 .0 0 0 $ 0 0 , o q u e co rre sp o nd e a , s e ns i v el me n te, o va lo r d e me no s t rê s e sp e ctác u lo s. 627 L.M., “ Co o p er ação me r ecid a ”, O Co m ér cio d o Po r to , 0 4 .1 1 .1 9 6 6 : 1 4 . 201 os gastos, Fernando de Oliveira opta por levar à cena um menor número de peças com maior número de representações ( 628), não obstante solicitar do Dr. César Moreira Baptista o alargamento do número de espectáculos subsidiados, de 130 para 150, nessa temporada (629). Mesmo com o despacho favorável do Secretário Nacional, a 29 de Abril, o equilíbrio económico da Companhia continua instável. Fernando de Oliveira , a exemplo do que fizera seu pai, apela à compreensão do Professor Oliveira Sala zar para a necessidade de duplicar o valor do subsídio, atendendo ao historial da Companhia; a Presidência do Conselho remete a decisão para os serviços competentes e o Secretariado Nacional sugere que a Companhia concorra aos apoios do Fundo de Teatro . Candidatura apresentada, processo form alizado e Conselho reunido, a 17 de Agosto de 1966, o subsídio unitário, para a temporada seguinte, é aumentado para 2.000$00, embora mantendo -se o limite de espectáculos da temporada anterior (130). Apesar das dificuldades económicas, em 1967, Fernando d e Oliveira arrisca a sua primeira encenação, com a revisitação cómica do Frei Luís de Sousa, intitulada Três em Lua de Mel , no Teatro Desmontável , em Queluz, a 7 de Fevereiro. A Companhia continua a investir no “teatro só para rir”, na sequência das comédias estreadas 628 E m 1 9 6 6 , d o rep o r tó r io ex ib id o na A mad o r a (e nt re 1 2 .0 2 e 2 9 .0 6 ), F r e i Lu ís d e S o u sa s ub i u à ce na 1 5 v eze s; O Pa ra lí tico , 1 3 ; Jo sé d o Telh a d o , In ês d e Ca st ro e Du a s Ca u sa s , 5 ; Amo r d e Pe rd i çã o , A Ro sa d o Ad ro e O Ra p to d a P r ima , 4 ; A Ca lú n ia , A s Du a s Ór fã s e Deu s lh e p a g u e , 3 ; A Reco mp en sa , Da q u i fa la o Mo r to , Um Fa n ta s ma Ch a ma d o Isa b el , Ca sa d e Do id o s e A Filh a d o Pa u l in o , 2 ; Pr ém io No b e l , O Tio Rico e A s Pu p ila s d o S r. Re ito r , 1 v ez. No me s mo a no , n a Co st a d a Cap aric a (e ntr e 2 3 .0 7 e 2 5 .0 9 ), ta nto F re i L u ís d e S o u sa co mo O Pa ra lít ico s ub ir a m 5 v eze s à ce n a. Alé m d is so , d o s 1 9 tí t ul o s e xib id o s, 8 es ta va m i se n to s d o p ag a me n to d e d ire ito s a uto rai s, p o r p er te nc ere m ao d o mí n io p úb l ico . 629 Secre tar iad o Na cio n a l d a In fo r ma ção , N.O . 1 1 6 6 , P ro cº . nº 3 01 0 4 , d e 2 7 .0 4 .1 9 6 6 . Car ta e m p ap el t i mb rad o d a Co mp an h ia Ra fa el d e O li ve ir a, Art is ta s As so c iad o s , e mi tid a na A mad o ra , e m 2 1 .0 4 .1 9 6 6 , d iri g id a ao Secr etá ri o Nac io na l d a In fo r ma ção e P re sid e nt e d o Co n sel ho d e T eat ro , Dr. Cé sa r Mo rei ra B ap ti s ta . 2 fls . ( Acer vo d o F u nd o d e T ea tro / S NI, Arq ui v ad o r 6 2 a, M NT ). 202 anteriormente, e com este original de Jorge de Sousa (630) fará a sua primeira «corda» ( 631), durante um mês por diversos pal cos, após quatro anos de ausência da província. Com este tipo de digressão, a Companhia evitava os problemas de climatização que o teatro na época de Inverno acarretava e criava o balanço necessário para a futura itinerância do Desmontável. No início do mê s de Maio, o Diário Popular difundiu a intenção de uma futura temporada em Évora , notícia que a imprensa local retomou a partir do mês de Setembro, referenciando a actualização de reportório, a pa r com os costumeiros êxitos, e a constituição do novo elenco. A Companhia reorganizou -se a partir das famílias Oliveira, Frias, e Vilela, de Luís Pinhão , actordeclamador, societário desde 1955, e do retorno da famíl ia de Humberto de Andrade e de Alexandre Passos (632), societários por pouco tempo, em 1964. Enquanto que o primeiro correspondia às tradições das companhias de prov íncia (633), o segundo representava 630 P seud ó n i mo d a p arc eri a He nriq u e Sa n ta na e Fr an ci sco Rib eiro ( Rib eir i n ho ), d o T eatro d e Var ied ad e s . A est rei a d e T rê s e m Lu a d e Me l o co rre u a 0 3 .1 1 . 1 9 6 1 , p ela Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s (E mp re sa Fra n ci sco Rib e iro - He nr iq u e Sa n ta na) . Do el e nco fa zi a m p ar te: E u n ic e M u ño z ( Mad ale na d e V il he n a ), M ar ia H ele n a Mato s (M ari a d e No r o n ha ) , Aid a B ap ti st a ( Cl ara ), Lu í sa D urão (Do ro t eia ) , Rib eir i n ho (J o ão Ro m eira ), He nr iq ue Sa n ta n a (Ma n ue l d e So u sa Co ut i n ho ), Co st i n ha ( Dr. T el mo P ai s ) e An tó nio Si l va ( Mir a nd a ) . 631 Gír ia te atr al s i g ni fic a n d o a it i nerâ n cia d e u m me s mo e sp e ctá c ulo e m s uc es s i va s lo ca lid ad e s d i fere n te s, d ura n te u m p er ío d o d e te mp o co nt í n uo . 632 Co n tra -re g ra no Gr up o d e T eatro d o Or feão Sca lab ita no , d ir i gid o p elo P ro f. Car lo s d e So u sa , p ert en ce u ao T eatro E xp e ri me n tal d e Li sb o a , c o m J ac i nto Ra mo s, fu nd o u o T eatr o d e E n sa io co m J o ão Sarab a nd o , e o T eatro P o p ul ar d e Al mad a . Fr eq ue nto u o C ur so Li vre d e Ar te d e Rep r es e nta r , d o Co n ser v ató r io Nac io nal . I n gre s so u na Co mp a n h ia d e R a fae l d e Ol i ve ira a 1 9 .1 2 .1 9 6 4 , o nd e p er ma ne ce u ap e na s u m mê s. P ar ti cip o u na ú l ti ma p e ça d o T eatro M o d erno d e Lis b o a, O Ren d e r d o s H eró is . Re gr es so u à Co m p an h ia, q ua nd o e sta se refez co m Fer na nd o d e Ol i ve ira ( “De T ea tro : Ale xa nd r e P as so s fa la a Jo rn a l d e Vi seu ”, Jo rn a l d e V i seu , 0 4 .0 1 .1 9 6 9 : 6 ). 633 Fi l ho , n eto e b i s ne to d e ac to re s, fo i ed u cad o p o r s e us tio s Ar t ur e A mél ia Ro d r i g ue s , a cto r es d a C o mp a n h ia d e R a fae l d e Oli v eir a (1 9 2 5 -3 0 ) . E str eo u - s e ao s 1 5 ano s, na Co mp a n h ia Dra má ti ca Lisb o n e ns e V en â ncio «O s Mo d e sto s » , d o acto r Ar ma nd o Ve nâ n cio , no p ap el d e P icard , e m A s Du a s Ó rfã s , q ue , ma is t ard e, vi ria a d iri gi r (1 9 4 3 -4 7 ) . In te gro u a Co mp a n hi a Dra m áti ca Li sb o ne n se Mo iro n (a no s 3 0 até ca. 1 9 6 0 ), a Co mp a n hi a Dra má t ica Ma r y - Q ui n a (1 9 4 6 -4 7 ), e fo r m o u a s s ua s p ró p ria s Co mp a n hia s : Gr up o Dra má ti co «O s P o p u lare s » (1 9 4 4 ), o Co nj u nto Art ís ti co «D i vi na Ar te » (1 9 4 8 -5 5 ), a So ci ed a d e Art í st ica «G e n te S e m No me » 203 uma nova perspectiva da profissão de actor. Fernando de Oliveira tirou dividendos da sua formação académica, e profissional, ao aceitar a sua colaboração na escrita dos tex tos de apresentação da Companhia. A partir de Julho de 1965, na temporada de Sesimbra , a Companhia passou a mandar imprimir programas em abertura de temporada do Desmontável nas localidades. Desde o simples desdobrável até à versão de oito páginas, estes documentos demonstram uma preocupação em individualizar a promoção da Companhia junto do espectador; neles se inserem as fotos dos actores, com respectiva legenda, a promoção do(s) espectáculo(s) de abertura, sua distribuição, e a discriminação do reportório de originais portugueses e de traduções. Na primeira semana de Setembro de 1967, o Rossio de S. Braz , junto ao Jardim Público foi palco da instalação do Desmontável: “Barracão enorme, desajeitado, cor de tijolo velho. Parece nascido do próprio terreno onde se instalou. Depois uma porta e um letreiro branco, animado e fluorescente: «Teatro Desmontável - Companhia Rafael de Oliveira »” (634). Na noite de 23 desse mês, era com orgulho que a Companhia juntava “sobre o seu palco, três gerações de Artistas: avós, filhos e netos”, esperando que o público correspondesse “em qualidade e quantidade” como era seu hábito, e prometendo retribuir com “boa vontade e honestidade artística”, apresentando “desde a comédia ligeira ao drama romântico – ainda tão do agrado das plateias – passando por autores clássicos ou modernistas” ( 635). Aberta com a (1 9 5 6 -5 8 ), o Co nj u nto Fa mi liar Lisb o n e ns e «G e nt e d e T eatro » (1 9 6 5 ), e a Co o p er at i va d e P ro d uçã o d e Esp e ctá c ulo s «G e n te S e m No me » (1 9 7 7 ). J u nt a me n te co m a s u a fa mí l ia, reg re sso u à Co mp a n hi a R a fae l d e O li v eir a (1 9 6 4 ), p er ma ne ce nd o p o u co te mp o . Ap ó s a mo rt e d o e mp re sár io , reto r n a so b a d irecção d e Fer na nd o d e Ol i ve ir a , e m 1 9 6 5 ( F. R., “D e T eatro : H u mb erto d e And r ad e fa lo u - no s d a s u a car reir a”, Jo rn a l d e V i seu , 0 1 . 0 1 .1 9 6 9 : 1 3 ). 634 Man u el V ie ira , o p . ci t. , 0 5 .1 1 .1 9 6 5 (Reco rte p erte n ce nt e ao acer vo d e Ál varo d e O li ve ira ) . 635 T exto d e ap re s e nta çã o d a Co mp a n hi a, d a a uto ria d e Ale x a nd re P as so s, no p ro gr a ma d e sd o b r á vel d a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i ve ira, Ar ti st as As so c iad o s , 204 mais recente produção da Companhia, Três em Lua de Mel , a temporada de Évora assistiu à estreia de dois novos originais portugueses - a 18 de Novembro, Uma Bomba Chamada Etelvina , e, três meses depois, a 25 de Fevereiro de 1968, Aqui há Fantasmas -, ambos da parceria Henrique Santana e Francisco Ribeiro, da Companhia do Teatro Variedades , que prolongavam o modelo de comédia do início da década, cujo slogan era “só para rir” ( 636). Apesar de evidentes sucessos de bilheteira, da sua difusão nos Tempos de Teatro da Televisão, de evocarem os nomes populares que os haviam estreado no Teatro Variedades , de apresentarem um cabal desempenho dos Artistas Associados, a crítica não lhes deu maior relevo do que o normal reclame, mas referenciou, a propósito da representação de A Muralha, o prazer para o espírito que era ver “bom teatro”, um enredo bem urdido associado a um bom desempenho, formando um todo harmónico, uma mesma expressão de beleza. Os cinco meses de estadia em Évora traduzem-se numa melhoria financeira da Companhia. Para além dos espectáculos no Desmontável, a Companhia realiza um número substancial de repres entações nas colectividades e Casas do Povo das povoações limítrofes. Apesar de Fernando de Oliveira ter manifestado perante o Secretariado Nacional a impossibilidade de realizar mais do que 130 espectáculo s anuais (na realidade, em 1967, verifica -se a existência de 127, embora, em 1966, refere n te ao e sp e ctá c ul o T rê s e m lu a d e me l , e m e str ei a d a Co mp a n h ia, a 2 3 d e Set e mb ro d e 1 9 6 7 , no T eatro De s mo n tá ve l , e m Évo r a ( ac er vo Ál varo d e Ol i ve ira, Vil a Re al d e S a nto An tó nio ). 636 Uma Bo mb a Ch a ma d a Etel vin a e s treo u - se e m 2 4 .0 3 .1 9 6 1 , e m Lisb o a, p el a Co mp a n h ia d o T ea tro V aried ad e s (E mp re sa Fr a nc i sco R ib e iro - H e nriq ue S a nt a na, Lis b o a , co n ta nd o co m a in terp r et ação d e Fra nc i sco Rib eiro ( Ri b eiri n ho ) , Co st i n ha , He nr iq ue Sa n ta na , As s i s P ac h eco , Luí s a D ur ão , M ari a H ele na Ma to s , Aid a B ap ti st a , C arlo s Alv e s , Li li N e ve s , Már io P ereira , Cél ia d e Ab r e u e Lúc ia Mari a no ( D iá rio Po p u la r , 2 4 .0 3 .1 9 6 1 : 2 ). Aq u i h á fa n ta sma s es treo u - se a 0 2 .0 3 .1 9 6 2 , p ela me s m a co mp a n hi a, no me s m o teatro . Do ele n co fa zia m p ar te He nriq u e Sa n ta na , Rib e iri n ho , An tó nio S il v a , Co st i n ha , C ar me n M e n d es, Luí sa D urão , Lil i Ne ve s , He n riq ue S a nto s , Luí s d e Ca mp o s , Car lo s Al v es e He nriq u e Via n a ( D iá rio Po p u la r , 0 2 .0 3 .1 9 6 2 : 2 ). 205 se consigam referenciar 163), em 1968, produz -se um total de 189, um aumento de 45,3%. Em termos percentuais, em 1967, fora do Desmontável , foram realizados 61% dos espectáculos, enquanto que, no ano seguinte, a percentagem se reduz para 32%, em virtude de não se ter processado a digressão pontual da época de Inverno. Os Artistas Associados despedem-se em apoteose, com Aqui há Fantasmas, numa cerimónia, em que Fern ando de Oliveira, em cena aberta, se assume como herdeiro da tradição itinerante, proferindo o tradicional discurso de encerramento, evocando agora a figura de Rafael de Oliveira e historiando o percurso do agrupamento ( 637). O regresso do “Teatro de que o povo gosta”! ( 638), e que Portalegre , conhecedora dos ecos provenientes da capital eborense, ansiava por rever: “Rafael , com a sua figura dominadora, pisa já o palco da Eternidade, onde, esperamos, poderá continuar a sentir o calor das palmas que sempre premiaram o seu trabalho insano de pioneiro do bom teatro, [...] mas todo o seu entusiasmo, inoculado [...] no seu filho Fernando, permanece, como na primeira hora, vivo, arrebatador, empolgante” (639). Permanecendo fiel às directivas de Rafael de Oliveira , a Companhia, na sua temporada em Viseu , recebeu o convite de Alfredo Reis, entusiasta elemento da Sociedade Musical Cultura e Recreio de Paço de Vilharigues , para que aí realizassem uma noite de teatro. A 8 de Novembro, “o teatro foi ao povo e o povo gostou e aplaudiu”; Três em Lua de Mel subiu à cena “num palco apertado e quase improvisado. Com modestos cenários e mobiliário local, sem efeitos de luz. Com as paredes em tosco e a telha à vista, lá no alto. No desconforto da “A Co mp a n hi a Ra fae l d e Ol i veir a d e sp ed i u - s e d e Évo ra ”, No t ícia s d e Évo ra , 2 9 .0 2 .1 9 6 8 : 2 . 638 “De P o rta le gre : T eatro d e q ue o p o vo go s ta”, C a p ita l , 0 6 .0 3 .1 9 6 8 : 7 . 639 “Ve m aí o T eatro De s m o nt á ve l !”, A Ra b e ca , 2 2 . 0 2 .1 9 6 8 : 2 . 637 206 plateia e dos lugares de pé. Mas, com o profissionalismo honesto de uma mão cheia de bons artistas” ( 640). Como remate da bem sucedida temporada de Viseu , Fernando de Oliveira acolheu ainda no Desmontável um espectáculo do Orfeão de Viseu e do seu Grupo Cénico, e estreou, na derradeira noite, a 19 de Janeiro de 1969, a última das cinco novas produções que marcam a década de 60, a comédia húngara, Danúbio Azul, original de Ladislau FEdor, com tradução livre de José Galhardo e Luís Galhardo, filho (641). No final de Janeiro, a Companhia iniciou uma «corda» com Amor de Perdição. Entre 24 de Janeiro e 8 de Fevereiro, realizaram -se sucessivos espectáculos diários, partindo de Manteigas , percorrendo o nordeste transmontano, prosseguindo pela região minhota e terminando em Valadares . A 11 de Fevereiro, o Teatro Aveirense acolheu uma série de espectáculos, numa cooperação empresarial entre teatro e cinema, com deslocações pontuais dos Artistas Asso ciados a outras salas limítrofes. Apenas a partir de 6 de Abril retornaram ao Desmontável, instalado em Braga , cuja recepção desilude Fernand o de Oliveira. Nos três meses de actuação, apesar de uma assistência seleccionada, não superaria “dez a quinze por cento da lotação [...] muito abaixo do um por cento da população da cidade”, que preferia teatro visual a teatro de intelecto, e cuja modificação comportamental dependeria da “criação de grupos experimentais de Teatro, especialmente pela parte de estudantes e tentativas de levar o público a peças gradualmente seleccionadas” ( 642). “O t ea tro fo i ao p o vo .. . a P aço s d e V il h ari g ue s”, No t íc ia s d e Vo u ze la , 1 6 .1 1 .1 9 6 8 : 1 e 2 . 641 Fo i rep re se n tad a e m Li sb o a, no T eatro Var ied a d es , na d éc ad a d e 5 0 , se nd o , e m 1 9 5 9 , ap res e nt ad a na s no i te s d e t ea tro d a RT P (“Eco s d e P a lco ”, R ep ú b li ca , 1 4 .1 0 .1 9 5 9 : 3 ). 642 Man so N u n es , “I nq ué rito ao go s to art í st ico d e B raga ”, Diá r io d o Min h o , 1 2 .0 5 .1 9 6 9 : 1 e 2 . 640 207 A situação económica da Companhia tornou -se mais uma vez instável, levando Fernando de Oliveira a solicitar do Secretariado Nacional de Informação a abertura célere do concurso para o teatro itinerante (643). O Desmontável exibia também sinais de deterioração, obrigando a obras de restauro na estrutura. Com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian , procedeu-se ao revestimento exterior com painéis de alumínio, ao interior com cortinados e o chão foi forrado a estrados de madeira ( 644). Durante os meses de inactividade forçada do Desmontável , a Companhia circulou pelo norte do país, representando algumas peças do reportório, em diversas casas de espectáculo. Apenas em Setembro, retornariam ao seu espaço, instalado na Póvoa do Varzim , para uma curta e inexpressiva estadia, antes de se fixarem em Guimarães , cuja temporada, iniciada a 6 de Novembro, se prolongou até 15 de Fevereiro de 1970. Em 1969, devido aos diferentes percalços ocorridos, a Companhia verifica idêntico número de espectáculos realizados no Desmontável e em outras salas. Na sequência do envio do processo de candidatura aos apoios do Fundo de Teatro , Fernando de Oliveira apresentou ao novo Presidente do Conselho de Teatro , Dr. Caetano de Carvalho , uma estatística sobre os espectáculos realizad os, respectiva frequência de espectadores e aumento de despesas de deslocação/alojamento, dos quais resultava uma situação financeira complicada, para solicitar um aumento do subsídio unitário ( 645). O Conselho de Teatro , reunido em 643 Ca rta d a Co mp a n hia Ra fae l d e O li ve ira (T e atro D es mo ntá v el) Art is ta s As so c iad o s , B r a ga, 0 5 .0 5 .1 9 6 9 , e nd e reçad a ao Dr. C é sar Mo re ira B ap ti s ta . S.E.I .T ., N. O. 1 5 4 2 , P r o cº . nº 3 0 1 0 4 , 1 5 .0 5 .1 9 6 9 . T ran s f. p ara D. G. C .P .E., e m 1 7 .0 5 .6 9 . R e gº . en trad a na DG CP E e m 1 9 . 0 5 .1 9 6 9 . 2 f ls . ( Ac er vo d o F u nd o d e T eatro / SNI, Arq u i vad o r 1 4 , MNT ). 644 E m 1 4 .0 7 .1 9 6 9 , o S er vi ço d e B e la s - Arte s d a F u nd a ção Calo u s te G u lb e n ki a n atrib u i u à Co mp a n hi a u ma verb a d e 1 2 9 .9 9 9 $ 0 0 p ara e s se fi m. O fa ct o ap arec e me n cio n ad o , no a no se g ui te, a p ro p ó si to d e “T e atro p ar a o V erão ” , no Bo le ti m d o Clu b e d a s Do n a s d e Ca s a , 1 5 .0 6 .1 9 7 0 : 9 6 . 645 Ca rta d a Co mp a n hia Ra fae l d e O li ve ira (T eatro D es mo ntá v el) Art is ta s As so c iad o s , re me t id a d e G ui ma rãe s, 1 3 .0 1 .1 9 7 0 e end e reç ad a ao Dr. Ca eta no d e 208 11 de Fevereiro, deferiu o pedido com um aumento de 250$00, correspondente a um acréscimo de 12,5% ( 646). Sem grande margem de manobra por parte de Fundo de Teatro , Fernando de Oliveira produziu o original de Henrique Santana , O Gato, estreada como último espectáculo da temporada de Gui marães, a 8 de Fevereiro de 1970, com direcção de seu filho Álvaro de Oliveira , e assistência de Alexandre Passos . Pretendia-se com esta comédiafantástica criar um ponto de partida para novos processos de trabalho, dando possibilidade aos mais novos de realizarem as suas ideias. A encenação saía dos cânones habituais da Companhia; utilizava uma marcação viva e um ritmo de representação subl inhado por efeitos sonoros e luminotécnicos. A própria cenografia, tradicionalmente concebida por Fernando Frias , tinha agora assinatura de Alexandre Passos, sobre cuja maqueta aq uele executou. “Um teatro para toda a gente” (647), em cujo âmbito a Companhia incluía tanto As Raposas, de Lillian Hellman , como o António, Marinheir o, de Bernardo Santareno, que estaria em ensaios ( 648). Um programa eclético inciad o em 1969, com o anúncio de Ratos e Homens, de John Steinbeck , e os ensaios da comédia de Claude Magnier , A Mala de Bernardete (649), Car v al ho , P r es id e n te d o F u nd o d e T ea tro , Li sb o a. Re gº . d e e n trad a na DG CE e m 1 6 .0 1 .7 0 . 1 0 fl s. ( Ac er v o d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 1 4 , M N T ). 646 Se cre tar ia d e E s tad o d a I n fo r ma ção e T uri s m o . O fício nº 9 9 /D G CE / T MB , d e 0 6 .0 3 .1 9 7 0 (có p ia ), d o Dire cto r G era l d a C ul tu ra P o p u lar e Esp ect á cu lo s, Dr. Ca eta no d e C ar va l ho , p ara Fer n a nd o d e O li ve ir a , T eatro D es mo n tá v el Ra fael d e Oli v eir a, G ui ma rãe s ( Ac ervo d o F u nd o d e T ea tro /S NI, Arq ui v ad o r 1 4 , M NT ). 647 “T eat ro p ara to d a a ge n te”, Bo le ti m d o C lu b e d a s Do n a s d e Ca sa , 0 1 .0 4 .1 9 7 0 : 91. 648 “A Co mp a n h ia Ra fael d e Ol i ve ira e m fo co : D ep o i s d e e st rear O Ga to , en s aia An tó n io , Ma rin h ei ro d e B er nard o S a nt are no e p rep ara A s Ra p o sa s , d e Lil i a n Hel l ma n ”, P la t eia ( R e vi st a), 1 4 .0 4 .1 9 7 0 . 649 T rata -s e d a co méd i a Os ca r , d e Cl a ud e Ma g ni er (P ari s, 2 0 . 0 1 .1 9 2 0 – 2 2 .0 6 .1 9 8 3 ), e stre ad a e m Fra nç a e m 1 9 5 8 , co m P ie rre Mo nd y no p r o ta go ni s ta, cuj o s u ce sso a co nt ece ria ap e n as no a no s e g ui n te, q ua nd o Lo u i s d e Fu n ès in terp r eto u o me s mo p a p el, d a nd o o r i ge m à p o st erio r ad ap t ação ao ci ne ma , e m 1 9 6 7 . E m P o rt u ga l , co m eço u p o r ser a n u n ciad o co m o t ít ulo o ri g i nal , e mb o r a na es trei a se te n ha o p t ad o p o r es te s e g u nd o t ít u lo . Est r eo u no T ea tro Av e ni d a , e m 2 7 d e No v e mb ro d e 1 9 5 9 , co m o se g u i nt e el e nco : Ire ne Izid ro , He nr iq u e Sa nt a na , He nriq u e S a n to s , M aria Hel e na Ma to s , V ir gí lio Mac ieir a , Mar ia Sc h u lt z e , Car me n 209 que apenas veio a estrear no Desmontável , instalado em Torres Vedras, a 1 de Julho de 197 1, em espectáculo único com entradas grátis, sem qualquer repercussão pública ( 650). Apesar da boa vontade da Companhia, não era possível exigir -lhe “um teatro de vanguarda, um teatro experimental, destinado a minorias” ( 651) e as tentativas que foram feitas d estinavam-se, conscientemente, apenas a alguns possuidores de outro tipo de aspirações. Em 1971, em Santarém , Álvaro de Oliveira principiou ensaios da peça de Osvaldo Dragún , Histórias para serem contadas , em tradução de Costa Ferreira . Tratava-se de uma “originalidade” ( 652), destinada a atrair um público jovem, tal como o seu encenador, devendo o espectáculo ser antecedido por uma “explicação prévia”, e seguido por “um colóquio no palco aberto a todos os espectadores que [quisessem] trocar impressões, entre si ou com os elementos da Companhia, sobre as implicações culturais do teatro - no passado e na actualidade” ( 653). Foi promessa que não chegou a ser cumprida, tal como a Primavera marcelista. Em 1972, a 10 de Junho, a Companhia estreou a comédia As Borboletas são Livres, um original de Leonard Gershe , com Me nd e s, Al i na Va z e R ui Lu ís . E nc e naç ão d e Vir g íl io M aci eir a e ce n as d e P i n to d e C a mp o s ( D iá rio d e L isb o a , 2 7 .1 1 .1 9 5 9 : 9 ). 650 Os e sp e ctá c ulo s re al iza d o s co m A s Ra p o sa s o u co m Ra to s e Ho men s a p en as se en co ntr a m d o c u me n tad o s na c arta e nd ere çad a p o r Fer na nd o d e O li ve i ra ao Dr. Ca eta no d e Ca r val ho , e m 1 3 .0 1 .1 9 7 0 . Nã o fo ra m e n co ntr ad o s carta ze s p ub lic it ário s ne m re fer ên cia s j o rn al í st ica s, to d av ia, e n tre 6 d e Ab r i l e 1 0 d e Ag o s to d e 1 9 6 9 , são d e clar ad a s d ua s r éci ta s d e Ra to s e Ho men s (P e na fiel e Vi la P raia d e Ânco ta) e tr ê s d e As Ra p o sa s (Fr ea mu n d e , B arc elo s e V il a P raia d e Ân co ra) , i nd ic a nd o -s e a resp ect i va lo taç ão d e p ú b lico , ma s o mi ti nd o a s u a d a ta d e real iza ção . P o rq uê u ma o mis s ão tão ó b v ia? Au s ên cia d e l ic e nci a me n to o u vo n tad e d e i mp r es s io nar o no vo P resid e nte d o Co n sel ho d e T eatro ? 651 “F i g ura s e fac to s: T ea tr o e m Sa nt aré m” , D iá rio d o Rib a t ejo , 1 1 .1 1 .1 9 7 0 : 1 e 4 . 652 L. R., “H i stó ria s p a ra s ere m co n ta d a s : u ma o r i gi n al id ad e e m S a nt aré m , D iá r io d o Rib a te jo , 1 8 .0 1 .1 9 7 1 . U m p ró lo go e trê s h i st ó ria s p ara s ere m co n tad as p o r trê s acto r es e u ma actr iz, le vad as a ce n a p e lo Cé ni co d e D ire ito , co m e nc en ação d e Fer na nd o G us mão , e p e lo P ri meiro Acto – T ea tro d e Al g és , co m e nce na ção d e Ar ma nd o C ald a s . 653 Ib id e m. 210 tradução de Carlos Wallenstein (654) e encenação de Fernando de Oliveira; um êxito nos Estados Unidos, na Europa, em Lisboa , porém sem maior projecção do que meia dúzia de espectáculos na pr ovíncia. Mesmo com a chancela de teatro popular, que normalmente se atribui a Gil Vicente, não é certo que Alexandre Passos tenha conseguido levar à cena a sua encenação de O Velho da Horta ou de outros autos, tantas vezes anunciados e outras tantas adiados ( 655). O Desmontável vivia indiscutivelmente de um teatro alegre destinado a “ um público ávido A co mé d i a d e Leo nard Ger s he (N Y, 1 9 2 3 – Ca l i fó r nia , 0 9 .0 3 .2 0 0 2 ) Bu t te rf lie s a re f re e fo i p ub l icad a e m 1 9 6 9 , p o r Fr e nc h (N e w Yo r k), e e s tread a a 2 1 .1 0 .1 9 6 9 , no B o o t h T hea tre , d e No va Io rq ue, o nd e p er ma n ece u a té 1 9 7 2 , p er faze nd o u m to ta l d e 1 1 2 8 r ep re se n ta çõ es . D iri g id a p o r Mi lto n Kat s ela s , co m K eir D u lle a (Do n B ak er ), E il e n Hec k art ( Mrs. B a ker ), B l yt h e Da n ner (J i ll T a n ner ) e Mi c ha el Gl a ser (Ra lp h Au st i n ) ( www. i b d b .co m ). E m P o rt u ga l , e str eo u e m p ri n cíp io s d e 1 9 7 1 , co m o t ít u lo S ó a s Bo rb o leta s sã o L iv re s , no T e atro La ura Al v es , e m Li sb o a, co m trad uç ão d e Car lo s W al l en s tei n , n u ma p ro d uç ão d e V as co M o r gad o e e n c en ação d e An tó n io d o C ab o . O ele nco co nta v a co m G uid a Mari a e V a sco Mo r g ad o J ú nio r no s p ap éi s p r i ncip ai s, p ara alé m d e An tó nio Mac h a d o e Mar ia He le na Mat o s , co mo arti s ta co n vid ad a. S e g ui u - se u ma d i gr es sã o d e ver ão p o r d iv er sa s lo ca lid ad es d a p ro v í nci a ( An tó nio Ma c had o fo i s ub st it u íd o p o r Car lo s Q ueir ó s e M ar ia He le na Mato s p o r M a n ue la M a ri a), se nd o rep o s ta, no T eatro Mo n u me n ta l , e m Li sb o a, co mo p r i me ira p arte d e p ro gr a ma d e re ve i llo n d e s se a no ( Ca rlo s Q ue iró s s ub st it uí d o p o r No rb ert o B ar ro ca ) , s e g uid a d e u m “F i m d e F es ta ” co m o ca n to r An tó n io Mo ur ão . (p ub l icid ad e in Diá rio d e No t íc ia s , 3 0 .1 2 .1 9 7 1 ) . Est a p eça es ta va se nd o r ep re se n ta d a p ela E uro p a, co m i g ua l s uce s so s e g u nd o i n fo r ma va a i mp re n sa p o rt u g ue sa d a al t ura. ( Arq u i vad o r 1 1 8 , R eco r te s d e J o rn ai s, acer vo d a E mp r e sa d e Va s co Mo r g ad o , M NT ). 655 A p ro d u ção d e esp ect á cu lo s v ic e nt i no s no D e s mo n tá ve l p are ce - no s e n vo l ta e m al g u ma b r u ma . Na co rr esp o nd ê n ci a tro cad a e nt re Fer na nd o d e O li v eir a e o SNI refere m- s e co mo t e nd o sid o e n sa iad as a s fa rs as d e In ês P er ei ra , d o Velh o d a Ho r ta , e o e xcer to d a Lu s itâ n ea , To d o o Mu n d o e Nin g u ém , s up o s ta me n te p ara ex ib i ção na te mp o rad a d e B raga , e m 1 9 6 9 , ma s ad iad o s p o r ca us a d as fes ta s j o ani n as . (P ro ce s so d e c and id a t ura ao ap o io d o F u nd o d e T eatro p ara a te mp o rad a d e 1 9 6 9 -7 0 , R eq ueri me nto d a tad o d a P ó vo a d o Var zi m , 1 0 .0 8 .1 9 6 9 . Acer vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 1 4 , MNT ). Ex is te, to d a vi a, u ma referê n cia (co n trad itó r ia) so b re u ma p ri me ira ap re se n ta ção , e m Sa n ta na (F. Fo z), se m d ataç ã o p rec i sa, e m fi n ai s d e Ago sto d e 1 9 6 8 , no T eatro S a nta n e n se p ara 2 2 0 esp e ct ad o re s. No úl ti mo tri me str e d e s se m es mo a no , r e fer e m - s e mai s trê s esp e ct ác ulo s, na s v izi n ha n ça s d e V i se u : Ur g e iriç a , Ne la s e Ca stro Dair e . No p ri me iro , s up o s ta me n te co n tra tad o p el a C a sa d e P es so al d o s T rab al h ad o re s d as Mi na s, ter ão a s si s tid o 7 0 8 p es so as, e m d at a i nc ert a. J u nt a me n te co m o s o u tro s d o is, ter ía m a s si s tid o 1 2 0 2 p es so a s. Ap ete ce d izer : P ard e u s !, Me s t re Gi l, e m ép o ca d e cr is e, t a nto s e m tão p o uco s? (Car ta d a Co mp a n h ia Ra fae l d e Ol i veir a (T eatro D es mo ntá v el) Art is ta s As so ciad o s , re me tid a d e G u i marã es , 1 3 .0 1 .1 9 7 0 , end ereç ad a ao Dr. Cae t ano d e C ar va l ho , P res id en te d o F u nd o d e T eatr o , Li sb o a. 654 211 de qualquer coisa que [fizesse] esquecer a luta pela sobrevivência, num mundo de preocupantes inquietações” ( 656), ou, nos seus antípodas, de amores funestos, camilianos Albuquerques e Botelhos, e ingenuidades bucólicas de Rosas minhotas, re inventadas por penas neo-realistas. Romeu Correia, revelado nos anos quarenta, como um escritor preocupado com os anseios e sofrimentos do povo, cuja dramaturgia havia sido representada por artistas consagrados ( 657), adaptara o romance oitocentista de Manuel Maria Rodrigues , A Rosa do Adro, que subia ao palco do Desmontável , em Santarém , a 24 de Janeiro de 1971, em estreia nacional, na encenação de Fernando de Oliveira e cenografia de Fernando Frias . Num teatro que sobrelotara com cadeiras suplementares, o público heterogéneo rendeu -se comovido à interpretação e à montagem criteriosas do popular drama naturalista, “reflexo do erotismo da s gentes do Norte naquela época, e de certo modo na época presente” ( 658), justificando a razão do permanente agrado popular: “uma história, quando idealizada com génio ou genialmente decalcada num realismo de acção e de verdade social, precisa apenas de uma sólida «narrativa» artística, para ser assimilada com avidez pelo espectador que nela sente algo da sua maneira de ser – como pelo que dela conclui por um extracto da beleza plástica de imagens e diálogos” ( 659). Re gº . d e e nt rad a n a DG CE e m 1 6 .0 1 .7 0 . 1 0 fl s. Ac er vo d o F u nd o d e T eatro /S NI, Arq ui vad o r 1 4 , M NT ). 656 L. R., Cr ít ic a d e T ea tr o : U ma b o mb a Ch a ma d a Ete lv in a ”, Diá r io d o Rib a t ejo , 2 7 .1 0 .1 9 7 0 . 657 O Va g a b u n d o d a s Mã o s d e Ou ro fo i rep r es e nt ad o p elo T eatro E xp er i me n ta l d o P o rto (T EP ) , co m J o ão G ued e s no p ro ta go n is ta. A Co mp a n h ia d o T eatr o Nacio n al le vo u à c e na O Ca sa co d e Fo g o , co m Car me n Do lo re s e Au g u s to d e F ig u eir ed o , no s p r i nc ip ai s p ap e is, e O C ra vo E sp a n h o l , en ce nad o p o r P ed ro Le mo s , co m in terp r et ação d e Vare la Sil v a , Ma ria n a R e y M o nt eiro , C arlo s S a nto s , He nriq u et a Mai a e Gló r ia d e M ato s ( “O es cri to r Ro me u Co rreia e m Sa n taré m e a es trei a d a s ua ad ap t ação d e A Ro sa d o A d ro ”, Diá rio d o Ri b a tejo , 2 3 .0 1 .1 9 7 1 : 1 e 6 ). 658 L. R., “C rít ic a d e T ea tr o : A Ro sa d o Ad ro ”, Diá rio d o Rib a te jo , 2 8 .0 1 .1 9 7 1 : 6 . 659 Ib id e m. 212 4. 1973: a sonhada tournée a África. Francisco Ribeiro, director artístico a prazo. O sonho de Rafael de Oliveira materializou-se em Março de 1972, pela mão de Fernando de Oliveira . Tratava-se de um enorme passo para os Artistas Associados , habituados a peregrinar por terras continentais, mas totalmente desconhecedores da realidade colonial. Entre os societários, apenas Idalina de Almeida havia feito na sua juventude uma digressão por Angola , mas certamente em condições tão diferentes das actuais, que se impunha uma mão capaz de gerir a complexidade da almejada deslocação; quem melhor do que Francisco Ribeiro para ser convocado como director artístico da Companhia Rafael de Oliveira? Tendo-se estreado aos dezassete anos (1929), na Companhia de Chaby Pinheiro, no velho Teatro Virgínia , de Torres Novas [660], em A Maluquinha de Arroios de André Brun , Francisco Ribeiro demonstrou ser um actor estudioso [661] e um grande espírito organizador, que marcou a maioria dos actores da sua geração, pelas suas qualidades de encenador e director de actores [662]. Aos 24 anos, assumia a direcção do Teatro do Povo (SPN) (1936-41), do qual se despediu presumivelmente por divergências de conteúdo. Tendo lido e estudado Copeau [663], para Francisco Ribeiro a profissão era um 660 Ac t ua l me n te i ne x is te n t e, a me mó r ia d o T eat ro Vi r gí n ia e nco ntr a - se r eg i stad a n u m p a i nel d e a z ulej o s sit u ad o no lo cal o nd e o utro r a fu n cio no u, no cen tro d e T o rres No v as. 661 Esta fa cet a v ale u - l he ser alc u n h ad o d e «G as tão B ap t is ta », n u ma al u são a Ga sto n B at y ( S A N T O S 2 0 0 4 : 2 1 2 ). 662 Esta s d ua s ca te go ri a s co rresp o nd e m, a nt erio r m en te, à d e e n sa iad o r, a i n d a q ue o ter mo e n ce na ção ap ar eç a j á me n cio nad o no p r i n cíp io d o séc u lo X X, so b ret ud o na ver s ão fra n ce sa, mi se - en - sc èn e . 663 T rata - se d e u ma e sco l a d e acto r es, e m q u e s e d efe nd e o re sp ei to p e lo te xto , u ma ce no gr a fi a mi n i ma l is ta, p r e fer i nd o a p o ét ic a ao e sp e ct ac ul ar e d a nd o ao ac to r o p red o mí nio d a fu n ção tet ara l. T eve co mo s e g u id o re s Lo ui s J o u vet ( fu n d ad o r e m 1 9 2 7 d o Ca rte l d e s Qu a tr e ), C har le s D u ll i n e J e an Da st é ( fu nd ad o r d a C o mp a g n ie 213 sacerdócio, “pelo amor [...] ao Teatro” [664], conforme referiu quando da estreia do projecto ferriano, em 1936. A sua estética gan hou relevo com Os Comediantes de Lisboa (1944-50), companhia que formou com seu irmão António Lopes Ribeiro , e na segunda fase do Teatro do Povo (SNI) (1952-55), ao qual regressou, quando este se intelectualizou e se aproximou da ideia de um teatro popular europeu, evocando um Teatro Nacional Popular francês ou uma Volksbühne alemã. A companhia dos Comediantes era constituída por artistas conhecidos, alguns deles saídos da companhia do Teatro Nacional , cujo reportório se caracterizou por um ecletismo de peças, predominando a dramaturgia inglesa e francesa em detrimento dos autores nacionais, com montagens de gosto apurado e de coesão interpretativa. Francisco Ribeiro , que depreciava o gosto naturalista da cena portuguesa, e o aspecto folclorista da primeira fase do Teatro do Povo (SPN) , caracterizadas por exibia uma agora um equilíbrio nas cénica global, organização encenações, graças à criatividade de colaboradores de grande qualidade. Extinto o Teatro do Povo (SNI) [665], Francisco Ribeiro formalizou um projecto pessoal em que aglutinava a experiência itinerante do SNI com a dos Comediantes. Tratava -se de uma companhia de teatro fixo durante a temporada de Inverno, sediada no Teatro da Trindade (666), e itinerante durante a temporada de Verão (667), na sequência de uma ideia formulada por José Manuel da Costa , d es Qu in z e ), q u e p r at ica rá a d e sce n tra li zaç ão , o u t ro d o s co nce ito s d e fe nd i d o s p o r Co p e a u. 664 “T eatro d o P o vo : U m a i n ic iat i va d o Sec ret a riad o d a P ro p a g a nd a N acio na l”, Diá rio d e No tí cia s , 1 4 .0 6 .1 9 3 6 : 1 1 (e ntr e vi st a d e Fr a nc is co Rib eiro na v ésp e ra d a es trei a d o T ea tro d o P o v o /SP N , no J ard i m d a Es t rela . 665 E m 3 1 d e De ze mb ro d e 1 9 5 5 , p o r De cre to - Le i n º 4 0 2 2 9 , d e J ul ho d e 1 9 5 5 . 666 I n a u g urad o e m 1 9 5 7 co m No it e d e R ei s , d e W i ll ia m S ha ke sp eare . 667 Fra nc i sco Rib eiro co n c eb e u u m d i sp o si ti vo c é ni co p ró p rio p ara it i ner ân cia , a p artir d e u m ca mi ão , q u e fu n cio na v a co mo ar m azé m d e ad ereço s e fi g ur i no s , e m cuj a s tra se ira s se s it ua va m o s b e m eq uip ad o s ca mar i n s, e à fr e nte d o q u al se mo n ta va o p al co , q ue o c ul ta v a to d o e ste d i sp o si t ivo . 214 em 1952, para o S.N.I., e que Ribeirinho retomou a 16 de Julho de 1956, ao solicitar da Inspecção dos Espectáculos a concessão de um alvará de exploração itinerante para o Teatro Nacional Popular (TNP) – empresa Lopes Ribeiro - Francisco Ribeiro (SANTOS 2004: 186). No TNP materializar -se-ão não só as ideias de Jacques Copeau , como as do Théâtre populaire de Jean Vilar [668], de cuja inspiração derivou o próprio nome da companhia. Fernando de Oliveira apoiou-se na experiência artística e organizadora de Francisco Ribeiro para gerir a digressão a Angola , cuja envergadura necessitava de uma inter venção em três planos: na escolha de elenco, na constituição do reportório, e na redefinição física do Desmontável. Para se associarem ao elenco base da Companhia ( 669), foram convidados Rui de Carvalho , Canto e Castro, Tomás de Macedo e a jovem Hermínia Tojal (670), actores com quem Ribeirinho havia trabalhado anteriormente, conhecidos do público angolano, e que serviriam como cabeças de cartaz, para quem desconhecesse a Companhia Rafael de Oliveira . O árduo trabalho realizado durante os quatro meses de ensaio no Teatro Desmontável , instalado em Lisboa, na Avenida do Aeroporto , ao fundo da Rua Rodrigo da Cunha , prolongou-se durante a viagem de barco para Angola . A exigência 668 Cr iad o r d o Fe s ti v al d e Av i n hão (Fr a nça) . Fer na nd o d e O li ve ira , Gi sel a d e Ol i ve ira , Ál varo d e O li ve ira , Ma n ue la Co i mb ra , H u mb er to d e And rad e , M ari a T eres a , An a M aria d e An d r ad e , Ge n y Fri as , F er na nd o Fr ia s , I d ali n a d e Al me id a e Al e xa nd r e P a sso s . 670 Her mí n ia T o j al p o ss u i a u ma só l id a e st r ut ura cu lt ur al e b o a f o r ma ção téc ni ca. Ne sta ép o ca, co m 1 0 a n o s d e carre ira , era u ma actr iz e m a sc e ns ão , q u e ass u mia a s ua p re ferê nc ia p e lo t e atro Gr e go , d e q ue i n te rp retar a Med eia , ma s ta mb é m p o r au to re s co mo P i nte r , K a fka , Alb ee , P ira nd e llo , Sar tre o u T e ne ss ee W il l ia ms , e n tre o ut ro s . P a ss ara p ela s co mp a n h ia s d o T eatro Na c io n al , d o T eatro d o Ger i fal to , d o T eatro d a T rind ad e e n o T eatro Mari a Ma to s i nt e grar a o ele n co d a Re líq u ia , no p ap el d e Ad él ia. Co n h eced o ra d a e xp eri me nt ação t eatr al q ue se p r ati ca va no es tra n ge iro , c it a va a l iç ão d e S vo b o d a , na C h e c o slo v áq uia , e a d e Gro t o ws k y , na P o ló n ia, co mo vi a s d e t rab al ho p ar a so l u cio n ar a cr is e d e p úb lico q ue se se n ti a, cria nd o esp ect ác u lo s q ue r e fl ect i ss e m o s “p r o b le ma s d o p úb lico [ . ..] e l h e 669 215 habitual de Ribeirinho , entrando e saindo do palco, marcando, explicando, apontando, para culminar, por vezes, em assomos de raiva em que espezinhava o seu próprio chapéu, traduzia -se no rigor do tom de representação, na unidade de estilo, na compreensão da dimensão textual, para que o espectáculo surgisse naturalmente como um todo de perfeição, conforme recorda Álvaro de Oliveira , a última geração de actores do Teatro Desmontável . A 4 de Novembro de 1972, a Companhia iniciou os ensaios de quatro peças, em simultâneo, em dois períodos, tarde e noite, embora a preparação tivesse começado em Março desse mesmo ano, pela escolha do reportório, um pot-pourri de peças sobejamente conhecidas de Ribeirinho. De uma proposta inicial, entre comédias, dramas e farsas, seleccionou Noite de Reis, de Shakespeare, À Espera de Godot (671), de Samuel Beckett , Armadilha para um Homem Só, um policial francês de Robert Thomas (672), O Pato, de Georges Feydeau , e os eternos sucessos populares Amor de Perdição e A Rosa do Adro . De fora, ficavam a comédia alemã de Mosget e Oberson, O Sabão nº 13 (673), O p ro p o rcio ne m re ai s s e ns açõ e s d e v i vê nc ia” ( “H er mí n ia T o j al , u m no me d o teatro p o rt u g uê s e m Lu a nd a ”, Diá rio d e Lu a n d a , 2 3 .0 6 .1 9 7 3 : 3 2 ). 671 Fo i es tre ad o a 5 d e J ane iro d e 1 9 5 3 , no T hé â tre d e B ab ylo ne (3 8 , b o ul e vard Ra sp a il, d iri g id o p o r J ea n -Ma rie Serr ea u ), e m P aris, co m e nce n ação d e Ro ger B li n. E le nco : P ierre Lat o ur (E str a go n), Luc ie n Ra mb o u r g ( Vl ad i mi r), Ro ger B l i n (P o zzo ), J ea n Mar ti n ( Luc k y) . 672 P ro d uç ão d a Co mp a n h ia d o T ea tro Var ied ad e s (E mp re sa F r a nci sco Rib eiro He nriq u e S a nta n a) , e str ead a a 2 7 .0 1 .1 9 6 1 , te nd o co mo e le n co : Fra nc i sc o Rib eiro , He nriq u e S a nt a na , Mar ia H ele n a M ato s , Aid a B ap ti st a , M ário P er eir a e As si s P ach eco ( Diá r io Po p u la r , 2 7 .0 1 .1 9 6 1 : 3 ). 673 Fo i rep re se n tad a no T eatro d o G i ná sio p e la Co mp a n h ia d e Luc íl ia Si mõ es – C hab y P i n heiro , na te m p o rad a d e 1 9 3 3 -3 4 , e r e p o st a p e la co mp a n hi a d o T eatro d a T rind ad e , e m 0 6 .0 2 .1 9 4 3 , co m tr ad ução d e Er ic o B rag a , Dr. An tó nio D i as Co st a e An tó n io d e Car v al ho I v o , d e cuj o ele n co faz ia p arte Fr a nci sc o R ib eir o . Da s ua d ig re ss ão s ab e - se q ue o esp ec tá c u lo não ca u s o u b o a i mp r e ss ão n e m no T eatro Garc ia d e Re se nd e , ne m no C i ne -T ea tro El ve n se , d e v id o ao se u to m d e ma s iad o gro s sei ro (c f. “ O S a b ã o n º 1 3 e O Ho mem d a s 5 h o ra s p el a co mp a n h ia d o T eatro d a T rind ad e”, Jo rn a l d e Elva s , 1 1 .0 4 .1 9 4 3 : 4 ). E xi s te e xe mp la r v i sad o p ela I. G.E, e m 1 7 .1 1 .1 9 3 0 , r e gº nº 6 8 6 (B N -M a n us cri to s co d . 1 1 7 2 5 ). 216 Diário de Ann Frank [674], de Albert Hackett e Frances Goodrich , Um Dia de Vida [675], de Costa Ferreira e Uma Bomba Chamada Etelvina , da sua parceria com Henrique Santana . Um ecletismo de reportório, misturando dois projectos distintos, o da Companhia do Teatro Variedades, nos anos 60, com o do Teatro Nacional Popular, nos anos 50: das comédias de boulevard ao “êxito indiscutível” [676] de Noite de Reis, em 1957 [677], e ao “momento charneira do teatro português do século XX” (S A N TO S 2004: 216), vaiado pelos situacionistas, de À Espera de Godot . Como em 1959, Ribeirinho reinterpretou Estragon , tendo a seu lado Canto e Castro (substituindo Fernando Gusmão ), em Vladimir, Humberto de Andrade (substituindo Costa Ferreira ), em Pozzo, Rui de Carvalho (substituindo Armando Cortez ), em Lucky, e Manuela Coimbra (substituindo João Lourenço ), em o Rapaz . Não sendo um espectáculo de grande público, a peça beckettiana, “das mais admiráveis do nosso tempo”, segundo Jorge de Sena (1988: 238), surgia como a “cereja” de uma possível proposta actualizada do reportório da Companhia Rafael de Oliveira . Avesso à cenografia naturalista dos talões pintados, Ribeirinho preferia uma concepção equilibrada do dispositivo cénico e do espaço de representação, utili zando módulos cenográficos e uma iluminação expressionista como linguagem teatral, a que se juntava o rigor da concepção e execução dos figurinos. A qualidade visual dos Artistas 674 P ro d uç ão T NP , T eatro d a T rind ad e , e m 0 7 .1 1 . 1 9 5 8 , co m e n ce na ção d e Gar so n Ka ni n e d ire cção d e F ran ci sco Rib e iro . O te xto re ceb e u o Wr i te rs Gu i ld o f Ame ri ca , e m 1 9 5 9 . 675 P ro d ução T NP , T eat r o d a T rind ad e, e m 2 3 .0 1 .1 9 5 8 , co m e n ce n ação d e Fra nc i sco R ib eiro . T ex t o d is ti n g u id o co m o p ré mi o G il Vi ce n te 1 9 5 8 . 676 Co s ta F erre ira , Uma Ca sa co m Ja n e la s p a r a Den t ro , ci tad o p o r Graç a d o s Sa n to s (2 0 0 4 : 2 1 3 ). 677 Fra n ci sco R ib e iro não só re c up ero u i nt e gral me nt e a s u a e nc e naç ão d e No i te d e Rei s, co n ceb id a p ar a o T NP , e m 2 7 d e No v e mb ro d e 1 9 5 7 , co mo re p ro d uz i u a ce no gra fia d e J o s é B ar b o sa e o s fi g ur i no s d e Ab íl io Ma tto s e Si l va . Ma n ue la Co i mb ra , i nt erp re ta nd o o p ap e l d e Vio la , o s t en tar á u m v is u al id ê n t ico ao d e Eu n ice M u ño z , na ver sã o d e 1 9 5 7 , e Ál varo d e Oli v eira , ao d e R u i d e Car va l ho 217 Associados passou pelo crivo apertado do Mestre, tantos nos cenários novos, como na melhoria da concepção cenográfica de Amor de Perdição (678) e de A Rosa do Adro, da autoria de Fernando Frias , e ainda no guarda -roupa histórico, proveniente da casa Anahory , que garantia plasticamente uma grande qualidade ao espectáculo [679]. Ribeirinho interveio também na estrutura do Desmontável , numa ampliação do palco para 15 metros de largura por 8 metros de fundo, com o consequente alargamento da boca de cena, dos camarins, aumentados para 14, e no embelezamento da sala. Durante a digressão, quando as condições logísticas a penas permitissem a montagem do palco, o desmontável deslocaria a sua estrutura, funcionando a plateia ao ar livre [680], segundo o modelo utilizado pelo Teatro do Povo (SNI). Também o aspecto exterior daquele enorme bar racão, desajeitado, pouco apelativo na sua cor de tijolo velho, que parecia nascer do próprio terreno em que se instalava, sofreu a evocação da commedia dell’arte, com os painéis exteriores pintados em losangos coloridos, como que envolvido pelo manto de A rlequim. A parte técnica foi beneficiada com a construção de uma teia, varanda de manobra e aumento da cabine eléctrica, que passou a dispor de mais dois órgãos de luzes, dado que o número de projectores aumentou de 20 para 60. (cfr. fo to d e No ite d e R ei s , e m V ito r P a v ão d o s Sa n to s , Eu n ice Mu ñ o z, 5 0 a n o s d e Vid a d e u ma A ct ri z , p .1 0 1 ). 678 Ne st a e n ce na ção , R ib ei ri n ho o p to u p el a ut il iz a ção d e ch a rr io t s q u e p e r mit ia m u ma mo b i lid ad e d e mu tação e ntr e a s d i v ers a s ce n as , to r n a nd o o e sp ec tá c ulo d in â mi co , s e m q ueb ra s d e r it mo (c f. V.B ., “ A Cid ad e : T eatro e m Lu a nd a: A p ro p ó si to d e O A mo r d e Per d içã o p el a Co mp a n hi a Ra fael d e Ol i vei ra”, Diá rio d e Lu a n d a , 0 6 .0 5 .1 9 7 3 : 7 ). 679 A Ca s a An a ho r y , d e Li sb o a, u m d o s ma i s a nt i g o s, e ma i s c aro s , g uard a -ro up as, p o s s uía u ma e no r me va ried ad e d e fi g ur i no s, q ue ser vi a m so b r et ud o o ri go r d a s ó p era s d e S. Car lo s e d o T eatro Na cio n al (E mp re sa Re y Co laço – Ro b l e s Mo n te iro ), e mb o r a fo s s e m a l u gad o s p o r o u tra s e mp re s as d e t eatro co m me no s p o s sib ili d ad e s e co nó mi c as. 680 “D ep o i s d as no ve : T ea t ro : Co m 4 5 to nel ad a s d e ma ter ial d e te atro e u m el e nco d e 2 0 art is ta s, a Co mp an h ia Ra fae l d e O li v eir a v ai p ar tir p ara An g o l a”, D iá rio Po p u la r , 1 2 .1 1 .1 9 7 2 : 2 . 218 Foi, portanto, um Desmontáv el renovado por mão de mestre, equivalente a “60 toneladas de carga de má arrumação: teatro, cenários, trajos e adereços” [681] que partiu a 15 de Março de 1973, no paquete Príncipe Perfeito , rumo a Luanda , onde a renovada Companhia Rafael de Oliveira se estreou na noite de 5 de Abril de 1973, com Noite de Reis, numa interpretação de relevo, a que não faltou o público, que, segundo a articulista Maria Augusta Silva , do Província de Angola, demonstrava que o interesse pela Arte de Talma se estava solidificando [682]. A temporada luandina de quatro meses decorreu a um ritmo vertiginoso, apresentando 6 espectáculos diferentes, com um intervalo de 2 dias entre si, únic as folgas durante os primeiros três meses. Noite de Reis realizou 26 espectáculos em 25 dias consecutivos, dando lugar a Amor de Perdição, com 35 espectáculos em 29 dias, e continuando com O Pato, com 29 representações em apenas 20 dias e a cujo derradeiro espectáculo assistiu o Governador -Geral de Angola, Santos e Castro, e esposa. Três sucessos, a que se seguiu um fim de temporada mais equilibrado, distribuído pelas últimas peças do reportório: A Rosa do Adro , com 17 representações, Armadilha para um Homem Só, com 13 e, como remate, À Espera de Godot , com 12. Como era de esperar, contou com uma “assistência pouco numerosa, mas a bastante, pela sua altura, para compensar, à falta de outros estímulos, um núcleo de artistas que nos deu teatro”, afirmava o articulist a do Província de Angola , desejando que a peça conquistasse público, “um público que merece, não só pelo tema como pela “E sp e ct ác ulo : U m S h ak esp eare ta l q u al se fa la a c a mi n ho d e An go l a ”, O S écu lo , 0 1 .0 3 .1 9 7 3 : 2 0 . 682 M. A. S., “T e a tro : No i te d e Rei s e a Co mp a n hi a Ra fa el d e Ol i veir a”, P ro v ín cia d e An g o la , 0 6 .0 4 .1 9 7 3 : 1 5 . 681 219 interpretação honesta e séria, própria a quem quer, sobretudo, fazer arte” [683]. Enquanto o Desmontável atravessava a imensidão angolana para se ir instalar em Nova Lisboa , a Companhia iniciou a sua epopeia africana pelos palcos locais de Cambambe , Salazar, Carmona, Malange, Henrique de Carvalho e Luso. Pelos teatros ou pelas associações recreativas a Companhia faz desfilar as comédias em conjunto com o romantismo camiliano, para um público eclético , mas escasso - falta de hábitos teatrais [684] -, à excepção dos espectáculos destinados às Forças Armadas [685]. Nova Lisboa recebeu a Companhia com avidez de “manifestações artísticas de nível”. As críticas chegadas de Luanda , diversas e contraditórias, aumentaram o “rebuliço cultural”, e levaram a que se perguntasse se o público neolisb oeta saberia “acolher, compreender, e auxiliar, com aplausos ou críticas construtivas, as representações e o trabalho desta Companhia” [686]. Noite de Reis marcou o início do Desmontável , a 30 de Agosto, o qual se manteve até 10 de Setembro, despedindo-se com a reposição, em duas sessões, de Amor de Perdição. Enquanto o teatro se desmontava e partia para o Lobito , sua última estadia, a Companhia transferiu -se para o Estúdio 404 , o teatro local onde levou à cena À Espera de Godot, em três sessões, que registaram “uma adesão extraordinária” [687] do público jovem. O Nova Lisboa patenteou o sucesso da estadia, e o articulista Adelino Lourenço expressou o contentamento de poder ver bom teatro, uma S. G., “T ea tro : À E sp e r a d e Go d o t ”, Pro vín c ia d e An g o la , 2 9 .0 7 .1 9 7 3 : 6 . In cl u i fo to d e ce na. 684 Mar ia na B e n a mo r , “ Mal a n ge: M ala n g e, A go sto 1 9 7 3 ”, Eco s d o No r te , 2 3 .0 8 .1 9 7 3 : 2 . 685 A Co mp a n hia rea li zo u mai s d e vi n te e sp ec tá cu lo s gra t ui to s p ar a a s Fo rç a s Ar mad a s. ( “Fer n a nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fí cio »” , Cin éfi lo , 1 6 .0 3 .1 9 7 4 : 3 5 ). 686 Amé ri co R u i Al v e s , “C o mp a n h ia T eatr al : No va Li sb o a v ai ver” , No va Li sb o a , Ag o s to 1 9 7 3 (r eco r te d o acer vo d e Ál varo d e Oli ve ira). 687 “F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, id . :3 3 . 683 220 “arte que a maioria desconhece, critica e destrói sem bases sólidas para isso” [688]. A Companhia percorreu Silva Porto , Serpa Pinto , Sá da Bandeira , Moçâmedes e Porto Alexandre , divertindo o público com a verve de Shakespeare e de Feydeau , e fazendo brotar a lágrima furtiva com os amores proibidos de Teresa de Albuquerque e Simão Botelho , até que chegou ao Lobito , onde o Desmontável somou êxitos sucessivos, num total de 18 espectáculos, entre 26 de Setembro e 9 de Outubro. Seguiu se a vez de Benguela, que reclamou da pouca permanência da Companhia numa cidade que possuía uma tradição teatral vincada, dado ter sido pioneira no movimento teatral amador angolano, segundo se referia em artigo do jornal O Lobito (689). A temporada angolana aproximava -se do seu termo. O Desmontável foi emalado de regresso à metrópole, enquanto a Companhia correspond ia aos pedidos formulados e, na última semana, realizava um espectáculo diário em Novo Redondo , Porto Aboim, Gabela, Cela, Alto Catumbela e Mariano Machado, que a 19 de Outubro assistiu ao policial francês como derradeiro espectáculo. De regresso a Lisboa, a Companhia trazia na bagagem uma mão cheia de êxitos na sua mais distante digress ão alguma vez praticada em 52 anos de actividade e o desejo de regressar, num futuro périplo por Moçambique , com nova passagem por Angola . Mas, acima de tudo, trazia uma perspectiva de uma realidade angolana, em especial fora da capital, em que a juventude manifesta ra interesse em frequentar o teatro, em que “a promoção social [se estava] a dar mais fortemente na mulher do que no homem”, mostrando vontade de aderir a novas coisas. Fernando de Oliveira espantou-se com a quantidade de Ad e li no Lo ur e nço , “E r ep ete m - s e no vo s ê x ito s tea tra is e m No va Li sb o a ”, No va Li sb o a , Se te mb ro d e 1 9 7 3 : 1 0 e 7 . 689 “A Co mp a n hi a te atra l Ra fael d e Ol i ve ira e st r eia - se ne s ta c id ad e na p ró x i ma q uar ta - feir a”, O Lo b i to , 0 8 .1 0 .1 9 7 3 : 3 . 688 221 raparigas que em Sá da Bandeira frequentavam o teatro, e que no final dos espectáculos não se coibiam de abordar os actores para lhes pedir explicações sobre os mesmos, ou para que se deslocassem aos liceus para falar sobre teatro ( 690). Tempos de mudança. 5. 1974: cantos de liberdade e o “canto do cisne” dos Artistas Associados e do Desmontável. Consciente do valor que a Companhia adquiri ra ao longo do tempo na divulgação do teatro pelas terras de província , e do salto qualitativo fruto da entrada de actores, com uma técnica mais moderna de representação, responsabilidade Fernando de de Oliveira empresário na sentiu crescer manutenção do a sua nível do agrupamento. As propostas cénicas de Francisco Ribeiro , coadunandose com as suas, tinham contribuido para o aperfeiçoamento da sua técnica de encenação. A escolha de novo repertório, assim como de novos encenadores, teriam de estar de acordo com a dinâmica do teatro mais contemporâneo, sem esquecer a característica fundamental d os Artisras Associados : uma companhia de repertório, de teatro popular que servisse vários tipos de público. Para o director da Rafael de Oliveira, impunha -se tratar Camilo Castelo Branco e D. João da Câmara com o mesmo respeito devido a Beckett ou a Albee. A experiência metrópole. Apesar de África da reflectira qualidade das a mesma comédias condição clássicas ou da da modernidade de Beckett , a grande adesão do público registara -se incondicionalmente com Amor de Perdição e Rosa do Adro . Por que razão? Fernando “absolutamente de Oliveira válido”, como considerava o texto “documento romântico camiliano de uma linguagem romântica”, cujo assunto, embora sem interesse para um 690 “F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, id . :3 5 . 222 público jovem, continha implícito um “grito de contestação à opressão” parental. [691] Argumento igualmente válido para Romeu e Julieta, Rosa do Adro, ou qualquer história de amores proibidos. Apesar do prazer que a interpretação de um autor contemporâneo pudesse estimular os jovens actores da Companhia , na realidade, tinham sido os êxitos de agrado geral que haviam compensado o desequilíbrio financeiro de À Espera de Godot. A complexidade textual não fora impedimento da adesão da juventude , partilhando a ironia beckettiana com o público conhecedor, longe da polémica da sua estreia na Lisboa de 1959. No princípio de 1974, Fernando de Oliveira começou a delinear uma futura digressão a Moçambique , com o mesmo reportório do périplo africano anterior. Porém, sabendo que o grau de exigência artística do público moçambicano era grande, e de uma possível passagem por Angola no regresso a Lisboa, foi colocada a hipótese de acrescentar outros títulos ao reportório da Companhia. A escolha recaiu em As Raposas, de Lillian Hellman, e Ratos e Homens , de John Steinbeck [692], dois textos anunciados, já em temporadas anteriores como estando em ensaios. Do reportório português, a escolha de Santareno, Sttau Monteiro ou Cardoso Pires apresentava-se difícil, por causa do mecanismo censório, e Torga , ou Redol , eram impensáveis por falta de elenco. Dos dezassete elementos que o compunham, apenas dois correspondiam aos papéis de juventude, os outros encontravam -se numa faixa intermédia, próprios para os designados papéis centrais. Inevitavelmente, a atenção de Fernando de Oliveira recairia nos clássicos portugueses, possivelmente em Os Velhos, de D. João da Câmara , a que se associava a qualidade de ter caído no domínio público, não auferindo por isso direitos autorais. 691 “F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, ib id . 223 O elenco adicional contaria com, pelo menos, Canto e Castro e Rui de Carvalho, a que se associariam Joaquim Rosa , Ema Paul e Anna Paula [693], cuja experiência defenderia qualquer tipo de reportório. Fernando de experiência Oliveira angolana, ambicionava criando repetir, espectáculos em Moçambique , exclusivamente a para estudantes, “uma plateia que vá ao chamamento de um espectáculo diferente, que lhe leve qualquer coisa de novo, ou de evolução grande na mecânica teatral” [694], em tardes e noites culturais. Com a saída de Ribeirinho, após o regresso de Angola, e a de Hermínia Tojal e de Tomás de Macedo, após a digressão de O Pato, pelos palcos de província até ao final de 1973, colocou -se o problema de ter de remontar o reportório, além do levantamento de três novas peças. Estimou-se, portanto, em 3 meses e meio, o trabalho necessário para preparar a partida para Lourenço Marques . Álvaro de Oliveira , que acompanhara de perto Francisco Ribeiro nos contactos que haviam contribuído com apoi os financeiros no ano anterior, dispôs -se, juntamente com Canto e Castro , a refazer o périplo das mesmas entidades públicas : O Banco Nacional Ultramarino , a Companhia Nacional de Navegação , as Forças Armadas e o próprio Secretariado Nacional de Informação . Fernando de Oliveira, embora prete ndesse chamar encenadores externos, acabou por confiar a Canto e Castro essa função de preparar o novo reportório. Segundo perspectivou, os ensaios decorreriam a partir de Março, prolongando -se até Maio, embarcando no mês de Junho, por causa da época do cacimbo em Moçambique, onde permaneceriam até Outubro desse ano, e retornando a Angola , para se apresentar em Luanda durante um mês 692 O p ró p rio J o h n S te i nb e ck ad ap to u o se u ro ma n ce (1 9 3 7 ) ao t ea tro , ga n ha nd o o Ne w Yo r k Dra ma Cri ti cs C ircl e A ward d e 1 9 3 8 . 693 Se g u nd o Ál va ro d e Oli v eir a , na p r i me ira fa s e d a p r ep araç ão d a fu t ura d ig re ss ão , no p ri nc íp io d e 1 9 7 4 , est i ver a m ai nd a p rese n te s a s act riz es Lia Ga ma e Mari a J o s é e o ac to r Lu í s Alb er to . 694 “F er na nd o d e O li ve ira «O s O s so s d o O fíc io »”, ib id . 224 apenas, privilegiando em seguida o restante território que os havia recebido com tanto sucesso. Ainda que transportando o Desmontável , propunha-se, sobretudo, evitar o desgaste provocado pelas deslocações de 600 quilómetros, utilizando, para isso, mais os palcos locais. Porém, nem sempre que um homem sonha, se torna o sonho realidade... Os ventos da Liberdade de Abril apanharam todos desprevenidos. Viveram a euforia do momento, saíram à rua, alegraram -se com o fim da repressão, o despertar da liberdade de expressão, o quebrar do lápis azul, a descoberta dos textos esquecidos no fundo das gavetas, um nunca mais de peças proibidas. Descentralização era um conceito sobejamente conhecido pelos Frias e Oliveiras, ti nham nascido e crescido nela. No mês anterior, Fernando de Oliveira chegara a desejar que companhias com maior mobilidade, “de seis ou sete elementos, se constituíssem em grupos -piloto e fossem às aldeia s, aldeolas, vilas e vilórias” [ 695], um campo vasto para lavrar cultura e provar que a crise do teatro apenas existia na cabeça dos que se acomodavam ao meio citadino sem querer sair dele. “O teatro tem de ter comunicação entre o palco e a plateia, ou no meio d a sala com eles à volta, ou com eles por baixo e nós por cima ou ao contrário [...] tem de estar gente para sentir o nosso calor e nós o deles” [696]. Fernando de Oliveira aguentou o sonho moçambicano por mai s um mês ainda. As economias começaram a escassear e as portas dos pretensos apoios financeiros fecharam -se definitivamente. O manifesto do MFA fora claro na definição do projecto político para o Portugal democrático: Desenvolver, Democratizar e Descolonizar. O último D deitava por terra a ambicionada digressão ultramarina e, tal como nos momentos conturbados de 1965, Fernando de Oliveira interrogou-se 695 696 Ib id e m. Ib id e m. 225 sobre a continuidade da Companhia. Era tempo de reestruturação ideológica para toda a gente, principiavam os “anos da metamorfose” (V IE IR A 2000: 64). A vontade de dizer associou -se à vontade de fazer, e a gente de teatro redefiniu a trad ição na forma e no conteúdo, apelando às emoções fortes das peças políticas tornadas panfletos de educação popular. Verificou -se uma avalanche de espectáculos brechtianos, o fruto proibido, uma proposta de teatro documento, pela mão de um autobiografado Sa ntareno em Português, Escritor, 45 anos... , e uma tentativa de revi talização do género revisteiro, o terreno da subversão, na boca das meias palavras insinuadas, com que se pretendera minar a ditadura. Os diferentes profissionais de espectáculo organizaram -se em cooperativas de trabalhadores, desejo democrático de igualda de de oportunidades, contrariando a apregoada divisão elitista das companhias tradicionais. Tempo de renascimento, o Teatro é o objectivo primordial; actores, técnicos e espectadores, meros agentes de uma arte colectiva. Na explosão de novos agrupamentos, 1974 regista Francisco Nicholson que, juntamente com outros profissionais, funda a empresa Adóque – Cooperativa de Trabalhadores de Espectáculo , como reacção à hegemonia dos empresários do Parque Mayer , e como inovação do género Revista. O cenógrafo Mário Alberto , também ele cooperador, contacta a Compan hia Rafael de Oliveira , com uma proposta de aluguer do Desmontável à nova companhia. Esta situação resolvia de alguma forma os problemas financeiros de manutenção daquela estrutura inactiva, e dava -lhe uma continuidade funcional. O teatro barraca, com capa de Arlequim, foi instalado no centro de Lisboa , no Largo de Martim Moniz , quase paredes meias com o solene Teatro de 226 D Maria II, e teve direito a inauguração festiva, a 23 de Setembro, com a Revista Pides na Grelha [697]. Restavam os Artistas Associados ... Fernando de Oliveira volta-se para Bernardo Santareno , amigo de longa data, de quem pretendera encenar o António Marinheiro , e solicita-lhe A Traição do Padre Martinho. A capacidade de renovação a novos estilos de representação e de reportório, assim como a vontade de “contribuir [...] com o seu quinhão honrado no esforço de democratização das gentes mais humildes do país, gentes que eles conhecem e amam como poucos” [698], funcionaram como carta de recomendação da Companhia. Santareno entregou o texto que a censura lhe proibira em 1969; para o encenar ninguém melhor do que Rogério Paulo , homem culto e actorencenador prestigiado, responsável pela sua estreia absoluta, em 1 971, em Havana (Cuba) , com o Grupo Rita Montaner [699], no Teatro El Sótano. Curiosamente, a proposta da Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados , parece-nos reflectir uma originalidade no panorama teatral de então. Enquanto que a maioria das companhias se apropriou da dramaturgia brechtiana, a Rafael de Oliveira reinv entavase através de um autor português, cuja estrutura e objectivos denotam a influência do dramaturgo alemão, “criando no ânimo do espectador a consciência da necessidade de uma mudança social” [ 700]. Esta narrativa dramática, sugestão de teatro documento baseado em facto real, expõe-se através de uma sucessão de cenas, que a leitura de 697 Ori g i na l d e Fra n ci sco Nic ho l so n , Go n ça l ve s P r eto e Már io Alb er to . B ernard o Sa n tare no , t ex to d o P ro gra ma d o e sp ec tá c ulo A T ra içã o d o Pa d re Ma rt in h o , 1 9 7 4 . 699 Gr up o cr ia d o e m Ma rço d e 1 9 6 2 , ma n te m - s e e m act i vid ad e a té ao s no s s o s d i as . Ap e na s a p ar tir d e 1 9 6 8 , se fi xo u e m e sp a ço p ró p rio , o te atro E l Só ta no , e m Ha va na ( C ub a n / La ti no T hea tre Arc h i ve, ht tp : // s c ho lar .l ib rar y. mi a mi.ed u /ar c hi vo tea tra l/ ) (2 0 0 7 .0 8 .3 1 ). 700 Nat i Go nzá lez Fr eir e , R e vi st a Bo h e mia , H av a na, 0 1 .0 1 .1 9 7 1 . E x certo no P ro gra ma d o E sp e ctá c ul o , 1 9 7 4 . (T rad u ção no s s a d o e sp a n ho l). 698 227 Rogério Paulo definiu como “um grupo de actores que se propõe narrar uma história a um público que se reuniu para a ouvir. Entre el es designaram o protagonista à volta de quem se desenrolará a acção. Os restantes serão simultaneamente Povo, personagens da intriga, ambiente onde a intriga decorre e actores consc ientes de um grupo consciente” [ 701]). Ao espectador atribuía -se-lhe o novo p apel de interveniente no processo criativo, como agente receptor do espectáculo teatral, verificada a impossibilidade de “assistir de braços cruzados ao maravilhoso pr ocesso de criar um Mundo Novo” [ 702], e, para que a consciência fosse inteira, inscreveu -se a sua presença na página do programa destinada à distribuição das personagens e intérpretes: “e o público que assiste à representação”. Rogério Paulo não só refez a sua encenação com a Companhia, como recuperou o cenário que Héctor Lechuga concebera em Cuba. Uma cenografia “reduzida à mínima expressão”, utilizando “uma plataforma móvel, simulando o percurso de um camião, ou enquadrando, em diferentes ângulos do espaço cénico, a c asa do padre, o Bispado, o gabinete do deputado”, em que o próprio guarda -roupa, “única nota de cor e de até de adorno”, se apresentava pendurado num dos lados do palco, e ia sendo utilizado pelos actores. A simplicidade da iluminação definindo espaços, e deixando à imaginação do espectador o seu preenchimento cenográfico, e a música, “doce e vigorosa”, de Carlos Paredes , cuja guitarra evocava a terra portuguesa e introduzia a canção de protesto de Zeca Afonso . A Companhia Rafael de Oliveira , composta por 19 figuras [703], o maior elenco de sempre, apresentou -se no palco do Teatro Maria 701 Ro gér io P a ulo , te x to i ntro d u tó rio d o P ro g ra ma d e A T ra içã o d o Pa d re Ma rt in h o , 1 9 7 4 . 702 Ib id e m. 703 O úl ti mo el e nco d a C o mp a n h ia R a fae l d e Ol iv eir a , no T eat ro Mar ia Mato s : Fer na nd o e Gi se la d e Oli v eir a , Ge n y, Fer n a n d o e Li zet e Fria s , Alb erto V i lar , H u mb er to d e An d rad e , Mari a T ere sa , An a Mar i a d e And rad e , Id al i na d e Al meid a , 228 Matos, na noite de 24 de Setembro de 1974, para uma curtíssima temporada de seis dias. Antes de partir para a sua vocação de companhia de província, despediu -se de Lisboa e do Desmontável, num espectáculo realizado a 18 de Outubro, em que terminava quinze dias de coabitação com a companhia Adóque e a revista Pides na Grelha. Seguiu-se uma longa digressão, a derradeira, pelos palcos do país, que se prolongo u pelo ao ano de 1975 [704], apenas interrompida, para uma estadia no Teatro Sá da Bandeira , no Porto, e um breve regresso a Lisboa, ao Teatro Villaret . O súbito e necessário alargamento do elenco criou fricções internas no grupo, a substituição de actores, e consequente desgaste nas relações humanas, e culminou com o seu desmembramento, após o fim da carreira de A Traição do Padre Martinho , o canto do cisne da Companhia Rafael de Oliveira . Terminava, ao fim de mais de cinquenta anos de act ividade ininterrupta, a última das Companhias de Província portuguesas e, segundo se afirmou, a mais antiga do seu género na Europa. Epílogo I - As Pessoas Dez anos passados sobre o fantasma da dissolução, cumpriu -se a separação definitiva de Oliveiras, Frias, Andrades, Passos e Vilela. Da família Oliveira, apenas Fernando se manteve ligado ao teatro, regressando ao seu Desmontável , para integrar o elenco da companhia Adóque em A grande cegada (30.06.1976), Ora vê lá tu! (01.02.1978) Ale x a nd re P a sso s , P ed r o P in he iro , M ário Sar g ed as , J ú lio Cl eto , G ui d a Mari a , Ál varo Fari a , An tó n io Ra ma , J o aq u i m Ro sa e R ui F urtad o . D ura nt e a d i gre s são , G uid a Ma ria fo i s ub s ti tu íd a p o r Ma n ue la Co i mb r a , e e st a p o r Ân g e l a Rib e iro . J o aq u i m Ro s a d e u l u gar a Anto n i no So m mer . P ed ro P i n hei ro e Ál varo Far ia não ch e gara m a p art ic ip ar, te nd o e ste ú lt i no i nt e g rad o o ele nco d o e sp e c tác u lo As Esp in g a rd a s d e Mã e Ca r ra r, na Ca sa d a Co mé d i a . 229 e Roupa velha (10.05.1978). Dedicou -se posteriormente ao teatro de amadores, dirigindo, com seu filho Álvaro, o Grupo António Aleixo , sediado no Glória Futebol Clube de Vila Real de Santo António , refazendo algumas das suas encenaç ões do Desmontável . Em 1992, regressou a Lisboa para interpretar A Arte da Comédia , de Eduardo de Fillipo, na Companhia Teatral do Chiado , de Mário Viegas, amigo de longa data, de cumplicidades poéticas ( 705), e com ele colaborou na montagem de uma exposição evocativa dos percursos itinerantes da Companhia Rafael de Oliveira, Artistas Associados . Geny e Fernando Frias integraram a Cooperativa de Comediantes Rafael de Oliveira, juntamente com outro s elementos que haviam trabalhado anteriormente com os Artistas Associados . Interpretaram A Mãe, de Bertolt Brecht , com encenação de Carlos Wallenstein , no Teatro da Trindade , em 1976, e retiraram -se da vida teatral. Fernando Frias continuou a sua vertente de artista plástico, pintando quadros encomendados pelas Câmaras Municipais e participando em exposições colectivas. Lizete Frias, que saíra da Companhia, acompanhando Alberto Vilar, seu marido, após a morte de seu tio Rafael, reintegrou o elenco quando se tornou necessário unir esforços, mas voltou a sair para trabalhar na Companhia do Teatro Monum ental (1967, A Promessa, de Bernardo Santareno; 1970, Misteriosos até mais não , de Francisco Nicholson), no Teatro do Arco da Velha – Metrul (1970, A Gata Borralheira, de Maria Clara Machado ; 1971, O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna; 1972, A menina e o vento) e no Teatro Experimental de Cascais (TEC) (1973, Fuenteovejuna , de Lope de Vega). Após a 704 T amb é m n es te a no , a 2 1 d e Fev ere iro , o Gr up o d e T eatro d e Car nid e estr eo u A Tra içã o d o Pa d re Ma r tin h o , n u ma e nce n ação d e B e n to M art i ns , na sed e d a So c ied ad e Dr a má tic a d e Car n id e . 705 E m 1 d e De ze mb ro d e 1 9 6 9 , o De s mo nt á v el fo i p alco d e “R u m o No vo ” ( No tíc ia s d e Gu i ma rã e s , 1 0 .0 1 .1 9 7 0 ), u m sar a u p o ético e d e b alad a s, c o m M ário Vie g as , i n te grad o na s fe st as nico li n as vi ma ra ne n se s. 230 dissolução dos Artistas Associados , interpretou Avenida da Liberdade, original de Pedro Pinheiro , na Companhia de Teatro do Povo (1975) e O Encoberto, de Natália Correia , na Reportório – Cooperativa Portuguesa de Teatro . Humberto de Andrade integrou a Cooperativa de Comediantes Rafael de Oliveira em dois espectáculos: A Mãe, de Brecht e em Histórias com grades , de Osvaldo Dragún, no Teatro da Trindade (1976). No ano seguinte, juntamente com alguns elementos da sua família regressou à actividade itinerante, com a sua antiga companhia de província Gente Sem Nome, renomeada Cooperativa de Produção de Espectáculos Teatro «Gente Sem Nome». Idalina de Almeida trabalhou para Vasco Morgado , integrando o elenco de Uma Rosa ao Pequeno Almoço (1977), com Florbela Queiroz. Epílogo II - E o Desmontável? Foi permanecendo no Martim Moniz, enquanto por lá funcionou a companhia Adóque até 1982, depois foi votado ao abandono. Com a reestruturação urbanística da Câm ara Municipal de Lisboa para a zona da Mouraria, plano anunciado pela EPUL já em 1974, a família Oliveira, desde sempre proprietária do Desmontável , foi intimada a retirá-lo do local. Sem solução para o problema, os herdeiros de Rafael de Oliveira colocaram anúncios na imprensa, numa tentativa vã de vender o teatro. Sem resposta, instalou-se o desânimo e o último dos teatros -chalet terminou desmantelado, em 1983, para nunca mais ser “como as antigas escolas móveis, que levavam a base da instrução aos pequenos meios e lhes abriam novos horizontes e possibilidades de valorização” 706 [706]; apenas o eco longínquo de um discurso Ed u ard o Cerq u eir a , “As si m s e ser ve o T eatro ” , Li to ra l , 1 5 .0 2 .1 9 5 8 : 1 e 3 . 231 entrecortado de Rafael de Oliveira , qual memória de um tradicional epílogo dramático: Minhas senhoras, meus senhores: Terminaram os espectáculos da Companhia Rafael de Oliveira; o “Teatro Desmontável ”, esta biblioteca ambulante que há longos anos percorre este nosso lindo Portugal , desde o Marão ao litoral algarvi o, desde a Madeira aos Açores, vai desaparecer... Acabou a nossa missão... entre tantos espectadores devotados ao “Desmontável”, em alguns ficará tanta saudade com aquela que todos nós levamo s. Este é o último acto do nosso reportório – peça ligeira, singela, um pouco enternecedora, tendo por tema reconhecimento... gratidão. As cortinas vão fechar -se pela última vez, ficando depois só a saudade indelével a perguntar a todos: Até quando? Com uma separação dramática de grande efeito, será a saudade quem ditará as últimas palavras do acto final – palavras que ficarão por dizer – que se perderão em longes de reflexão, sentidas por todos quantos estão presentes: nós e vós. Vamo nos embora!... Toda a companhia está presente na interpretação deste acto único desta cena única, sem ficção, sem elenco descriminado, sem protagonistas – peça que não tem título, nem autor, nem ambientes estudados. A peça, em si compreende apenas isto: A Companhia Rafael de O liveira agradecida. Num cenário – o último cenário, guarda -roupa – o de ocasião; personagens – toda a companhia. E uma apoteose sem feerismo, sem turbilhão de cores ou efeitos deslumbrantes, em que os Oliveiras, os Frias, os Matos, Lucinda, Pinhão e os Vilelas, vêm trazer -vos no coração estas sinceras palavras... Até um dia; até um dia se Deus quiser! ( 707) “U ma t e mp o rad a d e te a t ro : Co mo fo i v i st a e ap reci ad a a Co mp a n h ia Ra fa el d e Oli v eir a”, A Vo z d a F ig u ei ra , 1 8 .1 0 .1 9 5 6 : 1 e 2 . 707 232 Capítulo VI: Conclusões: Formas e conteúdos Ilustração 16 – Teatro Santanense: A Filha do Saltimbanco, 31.03.1917 (1º car taz promocional conhecido da Companhia Dramática Societária, de Silva Vale). Ilustração 17 - Cine Teatro S. Pedro de Abrantes: A Traição do Padre Martinho , 09.07.1975 (último cartaz 233 conhecido da Cª Rafael de Oliveira, Artistas Associados). 1. A composição da Companhia Itinerante: um por todos e todos por um. Se, de um modo geral, o modelo comum às companhias de teatro itinerantes se baseia numa noção familiar ( 708), em relação às chamadas companhias de província, essa estrutura psico -social fundamenta indiscutivelmente a interligação entre a vida profissional e a social dos seus componentes. O relato da vida migrante destes agrupamentos teatrais reveste -se de aspectos pícaros c om sabor renascentista. Ainda que as farândulas tenham sofrido a evolução natural a que o tempo obriga, guardaram, sob a capa de sucessivas modernidades, a memória vivencial das suas antepassadas de “cómicos da arte”. A importância da coesão do agrupamento patenteava-se no seu sucesso público; cada componente contribuía para o bem comum, não só com a exibição do seu talento sobre o tablado, mas também na execução de tarefas menos artísticas. Era assim que Mário Viegas recordava “as figuras dos Actores [da Companhia de Rafael de Oliveira] cheios de azáfama, que passavam os «papéis », passavam a ferro os fatos, passavam a ferro os cenários…” ( 709) 708 Ex i ste u ma gr a nd e ma i o ria d e ac to re s q ue s e c asa m e n tre si , o u vi v e m e m u nião d e fa cto , c uj a s e mp r es as ar tí st ic as se no s a fi g u ra m co mo p ro lo n ga me n to d o s co n só r cio s ma tri mo n ia is na c ria ção d e u m p atr i mó n io co mu m. E mp re sa s co mo a d e Mar ia M ato s – Me nd o nç a d e Car va l ho , Re y Co laço – Ro b l es Mo n te iro , B ru n ild e J úd ic e – Al v es d a Co s ta , e ntr e o u tra s, são e x e mp lo d e es tr ut ur as e mp re sar iai s fa mi lia re s q ue p r at icar a m i ti n erâ n cia a rtí s ti ca d ura n te gra n d e p art e d o sé c ulo XX. 709 Mário Vie g a s , “Al g u n s ap o n ta me n to s p ar a u ma fu t ura hi s tó ri a d a Co mp an h ia d e T eatro – I ti ner a nt e R afae l d e Ol i ve ira : O So n ho d e u ma V id a”, Ca d e rn o Pro g ra ma n º9 , Co mp a n h ia T eatr al d o C hiad o , J u lho d e 1 9 9 2 , p .2 . 234 Desde os agrupamentos unifamiliares ( 710) aos plurifamiliares (711), as companhi as de província preferiam organizar -se em sociedades artísticas ( 712), cujas receitas provinham exclusivamente dos espectáculos realizados, condicionando os seus societários, metamorfoses de formigas em fábula de La Fontaine, a uma vida de constante labor de “judeu errante”. Todas as companhias possuíam cenários próprios, correspondentes às peças representadas, embora as “vistas” (713), por causa de uma iconografia tipificada, pudessem ser reutilizadas em mais do que um espectáculo, o mesmo acontecendo com o figurino de cena, propriedade de cada um dos artistas, constituído por peças, com tipologia base, consoante as personagens interpretadas, permitindo a sua multifuncionalidade em espectáculo (714). Qualquer societário deveria ser possuidor de um guarda -roupa base, tanto de uso formal, como de uso quotidiano, incluindo a sapataria a condizer. No caso dos homens, exigia -se a casaca, a sobrecasaca e o fato completo, que permitiam vestir um leque de personagens tipificadas, desde o jovem galã ao pai de família. O mesmo princípio se aplicava às actrizes, cujo guarda -roupa deveria incluir as peças-base correspondentes ao seu “naipe”. Se o enquadramento cenográfico possuía a importância da assinatura de um cenógrafo, a escolha do figurino seguia o padrão tradicional do bom 710 C aso d a T r up e d e Si l v a V ale o u d a T rup e Car mo (a mb a s d o s fi n ai s d o sé c ulo XIX, p ri n cíp io d o X X). 711 Co mp a n hia s co mo a d e Co n st a nt i no d e Mato s ( fi nai s d o sé c ulo XIX , p ri ncíp io d o XX), a d e J u li eta Re nt i ni (1 9 3 0 -1 9 4 5 ) , a d a fa mí l ia Mo iro n (1 9 3 0 - 1 9 6 0 ), e a d e R a fae l d e O li ve ira (1 9 1 8 -1 9 7 5 ). 712 “Ar tí st ica s ” p o r se tra ta re m d e as so c ia çõ e s d e p ro f is s io na is. 713 No me v ul g ar d o s ce nár io s d e te atro , p i nt ad o s so b re tec id o . E x is ti a m vi s ta s d e sa la (b ur g ue sa o u no b r e ), v is ta s d e cárc ere, d e p raça, d e b o sq u e, e d e t ud o o ma i s q ue o i n ve s ti me n to p er m iti s se. 714 Se g u nd o So us a B a sto s (1 9 0 8 : 1 5 4 ), “u ma d a s g rand e s q u al id ad e s d a ac t riz e d o acto r é s ab er v es ti r b e m, q ua lq uer q u e sej a o co st u me q ue te n h a d e ap re se nt ar. Ve st ir co m gr aça , co m n at ura lid ad e e co m b o m go sto é p ar a a v is ta d o esp e ct ad o r me io c a mi n ho a nd ad o . [ ...] Ve s tir b e m à ac t ua li d ad e d ep e nd e mu i to d o b o m go sto e d a ele g â nci a d o art is ta. [...] O ac to r e a ac triz p r eci sa m to r nar - s e mo d e lo s , 235 senso e do bom gosto, consoante os critérios acordados entre o ensaiador e os intérpretes. As pupilas de Júlio Diniz vestiam à moda do Minho, as burguesas de tafetá, a aristocracia de veludo, e um simples vestido, em tecido leve, de cor branca ou rosa pálido, bastava para que se vestisse, semânticamente, uma “ingénua”. O carácter familiar destes agrupamentos fomentava a transmissão da tradição interpretativa, herdando os mais novos, não só os “papéis” , como o respectivo figurino, quando o real envelhecimento do intérprete obstasse ao desempenho convicente dos tipos jovens ( 715). A Sociedade Artística de Rafael de Oliveira cumpria os requesitos comuns às suas congéneres. Ao assumir a direcção da Trupe de Silva Vale, Rafael de Oliveira transformou um agrupamento unifamiliar numa companhia que reproduzia o modelo das companhias itinerantes provenientes dos teatros de Lisboa ou do Porto (716). Inicialmente constituída por diversos casais de actores, a companhia apresenta-se sujeita a um flu xo de entradas e saídas de elementos, consoante as necessidades de mercado ( 717). Com o tempo e, sobretudo, com o casamento das duas irmãs Silva Vale, Ema e Geny , com Rafael de Oliveira e com Carlos Frias , respectivamente, estruturam -se os dois pilares familiares fundamentais ao progresso e longevidade dos Artistas Associados . A coesão da companhia de Rafael de Oliveira passa também pela colaboração em permanência, p o rq ue es tão à l uz d a rib al ta, d ur a nte mu i to t e mp o , e m e xp o si ção p e ran te u m p úb lico i nt eiro , o nd e h á mu i to s ar ti s ta s e mu i ta s p es so a s d e b o m go sto ”. 715 Fala mo s d e co mp a n hi a s d e p ro ví nc ia, o nd e a s cris es d e ved et is mo n ã o ti n ha m cab i me n to . As co n hec i d as hi s tó ri as d e acto r es e a ctr ize s q ue p ers is ti a m e m d ese mp e n har p ap é is p ar a o s q ua i s j á não p o s s uí a m atr ib uto s fí sico s c re d ív ei s tê m o ri ge m no me io ci tad i n o e na s p ar a n go na s q u e o st e nta v a m q ua nd o se d es lo ca v a m e m d i gr es são . 716 A re ferê nc ia à p ro ve ni ê nc ia g eo grá fic a d o s acto r s e nco ntr a - se p at en te e m d iv er so s c art aze s : p are ce tra tar - se d e u ma fo r ma d e cred ib il iz ação ar tí st ica d o gr up o p era n te o p úb lico . 717 As cri s es d e p úb l ico l e va m a q ue o s ac to re s p ro cur e m trab al ho no utro s lo cai s, co n so a n te as s u as cap a cid ad e s h i str ió nic a s. A cri se e co nó mi ca q u e s e v i ve n a 236 mais ou menos duradoura, de outras famílias de artistas ambulantes: os Lima (1918-38), os Matos (1929 -63), os Vilela (1945 -75), os Andrades (1964-75) e os Venâncios (1960 -63); ou de artistas individuais - Luís Pinhão (1955 -?) e Alexandre Passos (1964 -75). Fazendo-se deslocar com “armas e bagagens”, com a ampliação da rede ferroviária, o transporte em galeras de tracção animal caíu em desuso, retirando -lhes o aspecto saltimbanco com que eram descritas. Todavia, a chegada dos “cómicos” aos centros urbanos rurais era sempre motivo de rebuliço ( 718). A primeira etapa da instalação de uma companhia de província consistia no aluguer de habitações para o período de permanência na localidade, consoante as necessidades das famílias societárias, e que se mobilavam com os objectos pessoais, transportados em conjunto com os pertences teatrais. E m seguida, o “cabo de companhia”, ou quem o representasse, procedia aos contactos com as empresas exploradoras dos teatros, para se iniciar a montagem artística, e com as redacções dos periódicos locais, para se proceder a uma primeira abordagem promociona l. Esta tinha seguimento no passacalle, ou seja passeando a companhia pelo Rossio local, numa prospecção do público destinatário. Contacto de grande impacto publicitário, que se prolongava com a feitura dos “programas” ( 719), pelas gráficas locais, e a sua c olocação, bem como dos bilhetes, em locais de maior afluência de público ( 720). De todo este ritual dependia o bom acolhimento e o sucesso da temporada, assim como o co mp a n hi a, q u a nd o d o f alec i me n to d e Er n e sto d e F rei ta s , e m 1 9 2 7 , q ua se le v a à d is so l ução d a Co mp a n h i a d e Ra fael d e Ol i vei ra . 718 O a ned o tário e x is te n t e so b re fu g a s d e p e n sõ es p ara e v itar o p a ga m en to d a ho sp ed a g e m e o u tro s d eli to s a fi n s, co mo r efere C hab y P i n heiro n a s s ua s me mó ri as, o uo o utro s me mo ri al is ta s, n ão p o d eria co rre sp o nd er à p r áti ca d a s co mp a n hi as d e p ro ví n c ia, so b p e n a d e d es tr u íre m o se u p ró p r io mercad o d e trab a l ho . 719 Era d est e mo d o q ue s e d esi g n a va m o s cart az es q ue p ub l ici ta va m as p eças, referi nd o a sa u d i str ib ui ção e o s te nt a nd o p o r ve zes fo to s d o s a cto r es . 720 As lo j a s lo ca i s, d esd e a b arb ear ia ao ca fé, co rre sp o nd i a m a u m si s te m a eq u i va le nt e à s ti cke t l in es o u ao s p o s to s FN AC act ua i s. 237 entrosamento no quotidiano local criava laços afectivos de saudades futuras. A duração da estadia de uma companhia de província dependia da afluência de público. Ganhava, então, particular importância a quantidade e a qualidade do reportório variado que não esquecesse nenhuma parcela de público, garantindo o sustento da companhia: espectáculos c apazes de tocar as diversas inteligências emocionais, valorizando a exibição dos dotes artísticos dos seus intérpretes. Apesar da prática de desdobramento de personagens pelo elenco, as chamadas “peças de grande espectáculo” exigiam, por si só, um elenco adicional de figurantes e de pequenos papéis secundários, que eram recrutados entre os amadores locais, conhecedores do reportório exibido, uma vez que este se representava também nos palcos das suas colectividades. A interdependência entre actores “diletan tes” e “da arte” criava laços artísticos na constituição, e formação contínua, de grupos “amadores dramáticos” e na formação do próprio público local, que assumia uma postura crítica, quantas vezes exacerbada, sempre que qualquer companhia profissional vis itante não cumprisse os requisitos considerados essenciais. A qualidade da permanência social destes forasteiros dramáticos, participando na vida social comunitária, frequentando os ofícios religiosos, levando os filhos à escola, auxiliando com o seu tale nto e arte as isntituições de solidariedade locais, conferia -lhes, à luz do dia, o estatuto de amigos queridos, que sob a luz da representação sofriam a transfiguração provocada pela arte de Talma. Ecce o fascínio do teatro! 2. Os Livros de Contas: uma leitu ra administrativa repleta de pequenos segredos. 238 Na gestão da Companhia, Rafael de Oliveira guardou para si o papel de director da sociedade, confiando a terceiros a direcção artística, a cenografia, a contra-regra e o secretariado. Estamos, pois, perante uma empresa artística cujos societários acumulam a função de actor com outras funções, embora existindo uma separação de competências entre os sectores artítisco e administrativo. Os irmãos Matos e Fernando Frias desempenhavam as funções artísticas de encenação e cenógrafo, respectivamente, enquanto que as competências administrativas pertenciam a António Vilela , Fernando de Oliveira e Rafael de Oliveira , aderecista, secretário e gestor, respectivamente. A este último competia -lhe a promoção da Companhia, através do contacto com as empresas exploradoras dos teatros de província para contratação da companhia. A sua capacidade organizadora encontra -se patente na forma minuciosa como se encontram preenchidos os Livros de Contas, numa caligrafia cursiva francesa, em detalhes de deve e haver, a que apõe, por vezes, comentários oportunos, em notas de rodapé. Qualquer dos três Livros de Contas, que se conhecem, apresentam um breve termo de abertura, nele se inscrevendo o local e data, seguido do role de peças em reportó rio e da discriminação dos societários, comumente desigandos por “elenco”. Em 1936, com a aquisição do Teatro Desmontável , privativo da companhia, Rafael de Oliveira passou a funcionar como empresa exploradora do recinto, auferindo, por isso, uma percentagem das receitas brutas do espectáculo, destinada à sua manutenção e transporte (721). Do mesmo modo, se encontram verbas para a manutenção da cenografia, do guarda -roupa e dos adereços ( 722), para além das despesas quotidianas de funcionamento do espectáculo, como 721 No Li vro d e Co n ta s d e 1 9 4 3 , são d ed uz id o s 1 5 % d a rece it a b r u ta p ar a a “ca s a”. 239 direitos autorais, impressão de bilhetes e programas, pagamento de luz, e do pessoal contratado diariamente: arrumadores, empregados de limpez a, polícias e bombeiros. Da receita líquida apurava -se a distribuição dos dividendos pelos societários. Normalmente constituída por uma média de 14 elementos, a companhia de Rafael de Oliveira reparte diariamente o lucro obtido no espectáculo. Esta divisão determina uma definição de importância funcional dentro do agrupamento, sendo que ao lugar de director artístico, associado ao cargo de encenador, ou ensaiador, corresponde um valor superior ao do próprio director da Companhia. Em 1943, por exemplo, verificamos que, enquanto Rafael de Oliveira recebe uma parte dos dividendos, Afonso de Matos aufere 1,5, e seu irmão Eduardo de Matos aufere 2 partes, embora ambos exercessem funções de ensaiadores. Do mesmo modo, Geny Frias apresenta um rendimento idêntico ao do primeiro, enquanto que o de Nena Corona (723) equivale ao do segundo, o que leva a supor a sua competência enquanto actrizes da Companhia. Um sistema financeiro curios o e equitativo, salvaguardando os societários de alguma eventualidade, na medida em que a própria Companhia se constituía, nessa divisão, como uma parte em si mesma, designada por Cofre, uma espécie de montepio interno, cuja receita se distribuía pelos soc ietários, em complemento, no final de cada temporada local. Pelos Livros de Contas perpassam observações dramáticas e jocosas dos factos quotidianos, que Rafael de Oliveira comenta, aqui e alí, com uma verve peculiar. Desde a nota de partida de Fernando de Oliveira para Tavira, onde se encontrava cumprindo o serviço militar, e cuja licença fora aproveitada para actuar no Desmontável, e m Campo 722 Ne st e c aso , o s va lo re s n ão são p erce n t ua i s, m as fi xo s, so fr e nd o p ro g res si vo s au me n to s co m o te mp o . 240 Maior, passando pela morte do actor Silva Vale , motivado por uma cirose, verificamos admissões e rescisões de trabalho, fugas inesperadas de societários, assoc iadas ao desaparecimento de objectos pessoais de terceiros e a dívidas contraidas em nome de Rafael de Oliveira sem seu conhecimento, deparamo -nos com a notícia de substituições de actores por motiv o de doença, de cataclismos que quase destroiem o teatro, e com a recepção do primeiro subsídio do Fundo de Teatro e a sua distribuição pelos societários. Outro tipo de leitura ressalta também desta contabilidade. Pelas receitas verificamos a afluência de público ao Desmontável e depreendemos o interesse que o reportório teria por parte do público em geral. Sabendo que a plateia do Desmontável, na década de 40, contava com cerca de 700 lugares e se dividia em três zonas Cadeiras, Superior e Geral - com 342, 168 e 200 lugares respectivamente ( 724), a preços unitários diferentes ( 725), o valor de uma lotação esgotada rondaria aproximadamente os 2.800$00, sendo as diferentes zonas mais ou menos preenchidas consoante o tipo de espectáculo que o público frequentava. Na temporada de Campo Maior , de 1942-43, entre 1 de Janeiro e 29 de Abril, a Companhia produziu 66 espectáculos, em que peças como O Conde de Monte Cristo , Santo António , As Pupilas do Sr. Reitor, Rainha Santa Isabel , A Fera, Jesus Nazareno e O Tio Rico realizaram duas récitas sucessivas. O agrado geral manifesta -se pelas peças de cariz religioso: o oitocentista Santo António, de Braz 723 Se g u nd o a act riz M a n ue la M aria , Ne na Co ro na , q ue ha v ia p i s ad o o s p al co s li sb o e ta s, ser ia eq ui v al en te a u ma “A mé li a Re y - C o laço ” d a s co mp an h ia s d e p ro v í nci a. 724 C f. no ta 1 6 3 , Cap ít u lo 4 . 725 Cad e ira s ( A a F), 8 $ 0 0 ; cad eira s (re st a nt es fi la s), 7 $ 0 0 ; S up erio r, 4 $ 5 0 ; Gera l, 2 $ 5 0 ; Cr ia n ça s at é a o s 1 0 a no s, 1 $ 5 0 . I n fo r ma ção co nt id a no cart az d o esp e ct ác ulo d e 1 3 .0 5 .1 9 4 3 , no T eatro De s mo n tá ve l , i n ser id o no Li vro d e Co nt as d e 1 9 4 3 ( MNT ). T rata - s e to d a v ia d a Fe st a Ar tí s tic a d a ac tri z N e na Co r o na , c uj o s p reço s p o d erão e st ar ac i ma d a méd i a. Op tá mo s p o r va lo re s co nj ec t ura is méd io s d e 7 $ 5 0 , cad e ira s, 4 $ 5 0 , s u p erio r e 2 $ 5 0 , ger al. 241 Martins, continuava campeão de audiências, com u ma receita bruta de 4.424$00, relegando a Rainha Santa Isabel e Jesus Nazareno para uma posição a metade do valor. Quanto às peças laicas, as peripécias de Monte Cristo valiam 4.004$50, suplanta ndo as de João Semana, com 3.318$50, enquanto que de Ramada Curto valia mais A Fera (4.084$50) do que O Tio Rico (2.778$50). Se, em Arronches , onde a Companhia produziu, no mesmo ano, apenas 24 espectáculos, sem reposições, com receitas constantes, equivalentes a 50% da presumível ocupação global, indo a preferência dos espectadores para a opereta Viúva Alegre em Cascais , cuja receita (2.724$00) se aproxima do valor proposto para o pleno, em Estremoz (726) verifica-se que D. Inês de Castro, Santo António, Jesus Nazareno, As Duas Órfãs, O Conde de Monte Cristo e As Pupilas do Sr. Reitorrealizam duas récitas sucessiv as, embora a preferência do público tenha recaído nesta última (4.338$50), ficando as restantes a pouco mais de 60% deste valor. A inexistência de cartazes referentes ao ano de 1945 não nos permite avaliar a política de preços praticada, embora seja de pre sumir que, em Vila Viçosa, ela não diferisse muito dos valores expostos anteriormente. Quanto à preferência do público, notamos que nesta cidade se verificam reposições de alguns espectáculos, porém em dias alternados, apresentando Os Fidalgos da Casa Mourisca (2.539$50), As Pupilas do Sr. Reitor (2.485$00), José do Telhado (2.425$50), e as revistas Prata da Casa (2.342$00) e Portugal em Festa (2.226$00) resultados superiores a aproximadamente 80% da presumível lotação do Desmontável. Évora, onde a Companhia iniciou a temporada durante a Feira anual, parece evidenciar preços superiores aos da localidade anterior, dado que José do Telhado 242 regista, em 2ª representação consecutiva, uma receita bruta de 3.420$00, e O Gaiato de Lisboa, em idêntica situação, encaixa 3.433$00, fazendo subir o valor global do Desmontável. Dos 52 espectáculos realizados, O Gaiato de Lisboa subiu à cena por 3 vezes, D. Inês de Castro e O Paralítico foram repostos 2 vezes, e José do Telhado, A Fera, Amor de Perdição, A Recompensa, As Duas Órfãs, A Tomada da Bastilha , Os Milhões do Criminoso , O Conde de Monte Cristo , Jesus Nazareno e As Pupilas do Sr. Reitor tiveram 2 récitas consecutivas. Em Beja , de que apenas se possui a contabilidade referente aos espectáculos realizados a partir de 28 de Outubro até ao fim do ano, as receitas parecem verificar a condição dos preços praticados em Évora . Em 27 espectáculos realiz ados, A Tomada da Bastilha destaca-se com 3 récitas alternadas ( 727), O Gaiato de Lisboa e As Duas Causas com 2 récitas, e As Pupilas do Sr. Reitor , A Fera, Os Milhões do Criminoso e As Duas Órfãs com 2 récitas consecutivas ( 728). Dez anos depois, finalizando a longa permanência por terras algarvias, o Desmontável apresenta uma maior repartição da plateia. As Cadeiras passam a estar divididas em 3 zonas, definidas por letras, correspondendo a uma área maior, implicando, por conseguinte, a redução dos lugares de Superior, se mantivermos a mesma ocupação da Geral (729). O reportório sofreu uma modernização, guardando, 726 O Li vro d e Co nt as d e 1 9 4 3 ap e na s r e fer e o s e sp ec tá c ulo s d e E str e mo z at é ao d ia 2 5 d e Deze mb ro , n u m to tal d e 3 5 , e mb o ra a co mp a n h ia s e te n ha ma nt id o at é J ane iro d o a no se g ui n te, d e q ue se n ão co n h ece co n tab il id ad e. 727 Re ce ita s : 3 .1 2 6 $ 0 0 (1 ª réci ta), 3 .1 3 1 $ 0 0 (2 ª) e 4 .0 7 8 $ 0 0 (3 ª). 728 Co m e x cep ç ão d e A s Pu p ila s d o S r. R ei to r , to d o s o s o u tro s e sp e ctác u lo s ap re se nt a m u m a u me n to d e rec ei ta na 2 ª ré ci ta. 729 O cart az d e A Ro sa d o Ad ro , d e 1 6 .1 1 .1 9 5 2 , e m Faro , i nd i ca co mo p reço s : cad ei ra s A a H, 1 3 $ 0 0 ; I a P , 1 0 $ 5 0 ; re st a nte s, 8 $ 5 0 ; S u p e rio r, 6 $ 5 0 ; G e ral, 4 $ 0 0 . Cri a nça s até 1 2 a no s, 2 $ 5 0 . P arti nd o d o p r í nc íp i o q ue o De s mo n tá ve l p o s s uía u ma lo ta ção d e 7 0 0 l u ga re s s en tad o s, se nd o 2 0 0 d e Gera l, e 5 0 0 d i str ib uíd o s p o r fil a s d e 2 0 cad eira s cad a . A 1 ª p late ia ( A a H) t eri a, p o rtan to , 1 6 0 l u ga re s, a 2 ª (I a P) 1 4 0 , a 3 ª (d e si g n ad a p o r res ta n te s) co rre sp o n d eria a 1 2 0 l u gar es ( Q a V) e a S up er io r, a 8 0 l u ga re s. A rec ei ta b r u ta d o D es mo n tá ve l eq ui v aler ia, e nt ão , a ap ro x i mad a me n te 5 .8 9 0 $ 0 0 . U m acr és ci mo d e r ecei ta s up er io r a 4 0 % e m re la ção à d écad a a nt erio r. 243 todavia, alguns títulos antigos. Em Silves , O Sapo e a Doninha, de Ramada Curto, A Dama das Camélias , de Alexandre Dumas (Filho), O Grande Industrial, de George Ohnet e Jesus Nazareno realizam 2 récitas consecutivas, enquanto Raça, de Rui Correia Leite, Israel, de Henri Bernstein e A Tomada da Bastilha , de Salvador Marques , apresentam duas reposições. Todavia a 2ª récita desta última reg ista a maior receita da temporada (5.700$00), ultrapassando O Sapo e a Doninha (5.100$00), As Duas Órfãs (4.800$00), Jesus Nazareno (4.450$00), Raça (4.300$00) e a velha revista de Ludovina Frias de Matos e Rafael de Oliveira , A Ver Navios Navios (4.200$00). Em Portimão, onde a Companhia se encontra pela segunda vez ( 730), realiza apenas 29 espectáculos, em que Frei Luís de Sousa, Jesus Nazareno, Israel , O Grande Amor e O Sapo e a Doninha verificam duas récitas consecutivas, com receitas abaixo da média, de que se excluem as primeiras representações de Israel (3.300$00), d e O Grande Amor (3.400$00) e de O Sapo e a Doninha (3.350$00). Também Lagos recebeu a segunda e derradeira visita da Companhia (731), para uma curta série de espectácul os (32), com receitas médias idênticas às de Portimão , em que apenas os espectáculos O Grande Amor, A Herdeira de Verneuill (732) e O Conde de Monte Cristo registaram duas récitas consecutivas. Este último verifica uma boa receita na primeira noite (4.200$00) e um descalabro financeiro na segunda (1.800$00). Com excepção do último espectáculo que a Companhia realiza com a apresentação de Casa de Doidos, cuja receita (4.000$00) se aproxima de uma boa lotação, apenas os espectáculos realizados nos arredores de Lagos apresentam receitas que salvam o valor médio global. Ao partir de Lagos , a Companhia regist a uma 730 A Co mp a n hi a i ns ta lo u - se e m P o r ti mã o , p ela p r i mei ra v ez, e ntr e 6 d e J ul h o e 5 d e o ut ub ro d e 1 9 5 2 , rea li za nd o 5 3 e sp e ct ác ulo s d e q u e se d e s co n h ece a co n tab il id ad e. 731 Es ti ve ra a n ter io r me n te e m 1 9 5 3 244 situação financeira deficitária, que apenas a recepção do primeiro subsídio do Fundo de Teatro , do SNI, e a boa temporada que realizarão em Évora, conseguirão minizar o desgaste emocional senti do. Os quadros seguintes reproduzem os valores globais apurados nos respectivos livros de contas, para os espectáculos realizados nas localidades mencionadas e seus arredores. 1943 Local NE RB Dp RL RBM Campo Maior 68 46.611$00 22.022$70 24.588$70 685$455 Arronches 25 31.998$20 16.654$60 15.343$60 1.279$928 Estremoz 40 52.562$00 27.433$10 25.128$90 1.314$05 1945 Local NE RB Dp RL RBM Vila Viçosa Évora 53 52 50.375$50 75.381$50 24.785$60 44.886$10 25.589$90 30.495$40 950$481 1.449$644 Beja 733 27 68.501$50 31.281$70 37.219$80 2.537$093 1954-55 Local NE RB Silves 44 116.550$00 59.124$30 57.425$70 2.648$864 P ortimão 35 72.539$00 47.513$00 25.026$00 2.072$543 Lago s 37 81.213$50 47.249$50 33.964$00 2.194$959 Évora 82 244.907$00 136.461$80 108.445$20 2.986$670 Dp RL RBM Legenda: NE – Número de espectáculos realizados na localidade; RB – Receita bruta; Dp – Despesa; RL – Receita líquida; RBM – Receita bruta média. 732 O utr a d e si g n ação d e A To ma d a d a Ba st ilh a , d e Sal v ad o r Marq ue s . E nco ntr a m- s e co nt ab i l izad o s ap e na s o s es p ec tác u lo s rea li zad o s até fi nal d e Deze mb ro d e ss e a n o , i n scr ito s no Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 , e mb o ra a Co mp a n h ia te n ha p ro lo n gad o a s u a es tad i a a té me ad o s d o a no se g u i nte , d e q ue se n ão co n hec e co n tab il id ad e. O va lo r méd io b r u to d e verá ser l id o co m re ser v a, n a med id a e m q ue co rre sp o nd e à p ri me ir a fa se d e no vid ad e d a Co mp a n h ia e m B ej a . O s d e sa stre s o co rrid o s ne s se me s m o ano ter - se - ão rep er cu tid o no v alo r fi nal , se a ele ti vé s se mo s ace s so . 733 245 3. A promoção da Companhia O aspecto promocional da companhia de Rafael de Oliveira passa por três aspectos, em épocas diferentes: a apresentação gráfica dos cartazes que mandava imprimir, as fotos de cena exibidas no átrio do Desmontável e os progra mas. O primeiro cartaz, em que Rafael de Oliveira aparece referenciado no primeiro lugar da composição do elenco, data de 5 de Maio de 1921, e publicita a estreia da Troupe Dramática União, no Teatro do Clube , na Azambuja. Nele se destaca o facto de ser a estreia da companhia e de esta realizar a “1ª representação [...] da soberba peça em 3 actos do reportório do Teatro Nacional”, Mar de Lágrimas , drama original de João Gouveia e Jorge Santos, estreado no dito teatro em 10 de Outubro de 1907, onde deu apenas 9 representações (S E Q U E IR A 1948: 468), todavia o bastante para constituir chancela de qualidade do produto dramático. Será recorrente na Companhia esta forma de legitimação artística, indicando o local da estreia original do espectáculo ou o número de representações realizadas, referenciando a propriedade repertorial da peça em relação a um determinado intérprete ou a um teatro lisboeta, ou inserindo pequenos rec ortes jornalísticos na mancha gráfica dos cartazes. Na década de 20, os cartazes da Tournée Artística Societária divulgam as fotos dos actores da Companhia, legendadas com o respectivo nome, na tentativa de motivar a deslocação do público ao teatro, não só pelo reconhecimento dos artistas, como pela sublimidade do drama “que conta milhares de representações, sempre com verdadeiro sucesso”, ou pela “chistosa comédia, verdadeira fábrica de gargalhadas”, ou pela peça “de grande espectáculo” com mis-en-scène de Ernesto de Freitas , um melodrama extraído de um 246 romance francês, que, por sinal, os periódicos da época publ icavam em folhetins semanais. Tudo servia para apelar à presença de um público aparentemente retardatário que urgia avisar que “o espectáculo principia” à hora certa. Na década de 30, os cartazes exibem a adjectivação dos espectáculos: “o maior dos sucesso s”, ou a “luxuosa apresentação” em noites de “arte e alegria”. A escritora e poetisa Ludovina Frias de Matos traz consigo o primeiro original dramático destinado à companhia de Rafael de Oliveira , Milagres de Nossa Senhora de Fátima, e, com ele, a divulgação através de entrevista s nos jornais locais. Com a estreia da revista A Ver Navios Navios , original da mesma autora em parceria com Raúl d’Além, em 1933, no Stadium de S. Domingos, em Aveiro, verificamos um primeiro programa a 8 páginas em formato de jornal, contendo excertos das canções e monólogos da revista, entremeados com publicidade de empresas locais, em cujo frontespício Ludovina Frias de Matos se entrevista a si própria sobre o texto e a Companhia. Para além de chamar a atenção para o carácter “harmonioso” do agrupamento, destaca -se, em caixa, a composição do elenco e do reportório em carteira. A partir da década de 40, os cartazes voltam a exibir fotos dos actores, por vezes legendadas com o seus nomes, em pose de estúdio ou em instântaneos de cena. Sublinham -se as virtualidades textuais das obras representadas e dos seus autores, a par das capaci dades histriónicas dos seus intérpretes. Em 1955, após a recepção do primeiro apoio do Estado, a Companhia inscreve o facto de ser subsidiada pelo Fundo Nacional de Teatro. Do ponto de vista de grafismo, os cartazes passam a apresentar uma forma tendencial mente mais uniformizada, com a característica de haver duas impressões do mesmo espectáculo, em papel de cores diferentes, em tiragens que oscilam entre 500 e 1000 exemplares, para cada cartaz. Após a morte 247 de Rafael de Oliveira e reestruturação da Companhia, passa a existir uma forma promocional diferente. Durante as digressões programadas, os cartazes passam a ser impressos antecipadamente, deixando em branco o espaço destinado à inscrição do nome da sala de espectáculos e respectiva data de exibição ( 734). O investimento em divulgação tinha, portanto, uma expressão quantitativa, em relação ao número de material impresso, mas também qualitativa, veiculando mensagens apelativas simples, destinadas a captar o destinatário. Comum a todas os cartazes, independente do seu aspecto formal, verifica -se que o espaço central dos mesmos, o centro óptico do observador, se destina a informar sobre as características do próprio espectáculo: tipologia e autoria da p eça, número de actos (735), localização da acção, existência e duração de intervalos, a distribuição do elenco e os apoios recebidos. O espaço do rodapé é reservado à informação sobre preço dos bilhetes, anúncio de futuros espectáculos, e a referência legal aos motivos de força maior que podem impedir a realização do espectáculo. A partir da existência do teatro Desmontável, a Companhia passou a dispôr de outro espaço promocional, o átrio da bilheteira. Sobre dois cavaletes apresentava -se, por um lado, o elen co, em fotos de arte individuais, e, por outro, fotos de cena, coladas sobre cartões pardos funcionando como passe-partout rectangulares, legendados, supra, com o nome da Companhia, e, infra, com o título da peça correspondente à imagem. Durante a digressã o a Angola, em 1973, a influência de Ribeirinho passou também pela colocação, nas paredes 734 Es ta si t uaç ão o co rr e t a mb é m co m o utr as c o m p an h ia s d e p ro v í nc ia e m ép o ca s an ter io re s. E xi s te m car t aze s d a Co mp a n hia Dra má ti ca Ma r y - Q u i na no acer vo d o acto r H u mb er to d e An d rad e , q ue n ão c he g ara m a s er ut il izad o s e , p o r is so , se en co ntr a m i n co mp l eto s. U ma ve z q ue o r ep o rt ó rio d a s co mp a n hia s se ma nt i n ha co n s ta nt e d ura n te lar g o p erío d o d e t e mp o , c o m ele n co s fi xo s, e ste p ro ce sso trad uz ia - se e m co mo d id ad e eco nó mic a p ar a o s a gr up a me nto s. 735 Na d i v u l gaç ão d o s mel o d ra ma s d o s éc u lo XI X, e m q u e a c ad a co r re sp o nd e u m tít u lo , es te ap are ce me n cio nad o . 248 do átrio do desmontável, das fotos do elenco, de dimensões maiores do que o habitual, segundo a prática utilizada pelas empresas de teatro comercial, como a de Vasco Morgado . Como dito anteriormente, o primeiro programa que se conhece data de 1933 e não corresponde a u ma prática habitual da Companhia. Em 1948, por ocasião da comemoração das Bodas de Ouro Artísticas de Afonso de Matos foi elaborado um programa alusivo, a 4 páginas e 2 cores, em cujo interior, a toda a largura da folha, se criou uma moldura de anúncios de diversas empresas de Ponta Delgada , patrocinadoras do evento. Na capa, no canto superior esquerdo vê-se a foto do homenageado e, a toda a dimensão da página, os nomes ilustres dos altos patrocínios locais e respectiva Comissão de Honra. Para Afonso de Matos sobrou pouco mais de metade da contracapa, para uma “breve nota elucidativa sobre a [sua] personalidade artística”, a que a ostensiva publicidade da Teles Travel Agency parecia apôr a sua chancela, ao ocupar o restante espaço de impressão. Na década de 50, encontramos prog ramas referente a deslocações da Companhia a teatros públicos: Cine -Teatros de Pombal e de Alcobaça, ou o Teatro Stephens , da Marinha Grande. Aqui, em récita oferecida pelos Artistas Associados em Homenagem a Maria do Rosário Miguel Henriques , com o apoio da edilidade local e do jornal Diário de Lisboa, verifica-se um gesto de solidariedade para com uma rapariga da Marinha Grande , que ficara desfigurada ao tentar salvar duas crianças de um fogo doméstico. Durante as temporadas da Companhia no Teatro Aveirense , graças às relações amistosas mantidas com Rafael de Oliveira , a gerência do teatro m anda imprimir pequenos programas em formato A5, em que divulga os espectáculos da Companhia a par da sua programação de cinema. A partir de 1959 e ao longo da década de 1960, a Companhia passou a elaborar programas destinados a assinalar a abertura de 249 temporada nas localidades, em que, para além da divulgação do espectáculo de estreia, se inseriam retratos dos actores, fotos de cena, se discriminava o reportório pronto a representar, o preço dos bilhetes, e excertos de críticas jornalísticas. Sob a gerênci a de Fernando de Oliveira, a partir de 1965, os programas de início de temporada passam a conter um sucinto texto introdutório, da autoria do actor Alexandre Passos , em que se retratava o historial da Companhia e o se apresentava o seu propósito artístico. Nos anos 70, que se saiba, a Companhia elabora ainda três programas especiais. Em 1971, para a estreia da nova versão de A Rosa do Adro , para além do formato habitual, desenhou-se um outro, de maior dimensão, em papel couché, intitulado “Manuel Maria Rodrigues escreveu, Romeu Correia adaptou e a Companhia Rafael de Oliveira estreou em Portugal no dia 24 de Janeiro de 1971”, no qual o adaptador expôs as suas motivações de escrita. Em 1973, desti nada à digressão a Angola , imprimiu-se um programa, por influência de Francisco Ribeiro, segundo o modelo vigente nas empresas de teatro comercial, ou seja, com fotos do elenco artístico e técnico, e a relação das peças ensaiadas, entremeadas com uma profusão de anúncios dos patrocinadores. Em 1974, o derradeiro programa dos Artistas Associados, para a peça de Santareno , A Traição do Padre Martinho , reflecte a pretensão de um tempo que se queria de elucidação e educação popular, em que tanto autor como encenador elaboram textos sobre os seus pontos de vista de criadores, em paralelo com excertos de críticas jornalísticas cubanas , quando da estreia da encenação de Rogério Paulo , em 1970. 4. O reportório como marca de um gosto popular 250 Por comparação dos reportórios exibidos constatamos que as companhias de província representavam os mesmos d ramas e as mesmas comédias: “um teatro do Povo e para o Povo”. Um teatro, cujo conteúdo aborda conflitos humanos de fácil identificação, um teatro catarticamente compreendido, de histórias de vidas sofridas, dramas em gente numa paráfrase pessoana. Mas tam bém um teatro que permitia o acesso de actores amadores, um espaço de exibição comunitária do gosto artístico e do desejo de prestígio local. Entre a cidade e as serras, a crítica teatral, na sua visão cosmopolita e elucidada, lastima a perda de tempo com dramas passadiços, sem interesse de evolução, ma reconhece também que a modernidade do teatro urbano não motiva a maioria da população rural, condicionando, portanto, as companhias a variações de um tema só para poderem sobreviver. Como todas as suas cong éneres, a Companhia Rafael de Oliveira é formalmente uma companhia de reportório, única fórmula de subsistência em meios populacionais pequenos. A dimensão desse reportório rela ciona-se proporcionalmente com o tempo de estadia da companhia na localidade. Quanto menor o reportório, menor a estadia. A transformação dos teatros locais em salões cinematográficos, reduz os dias de actuação das companhias dramáticas. A média do reportó rio das companhias de província, nos anos 40, situava -se em 25 títulos, 20 dramas e comédias de maior dimensão, e 5 peças em um acto ( 736), o que permitia a realização de 20 espectáculos. Deste modo, actuando duas vezes por semana, a companhia permaneceria d urante 10 semanas no mesmo local. O resto dos dias semanais eram aproveitados para deslocações às localidades circunvizinhas. 736 Ut il izad as t a nto co mo re mat e d e réc it a, co mp l e me nt a nd o o utr a p e ça d e me no r d i me n são , co mo fo r ma n d o u m co nj u nto d i ver si ficad o , p ró p r io d e e sp e ct ác ulo s d e Car n a val , o u d e réc it as d e b e ne fíc io d e acto r . 251 A partir da existência do Desmontável, que, por imposição legal, a edilidade licenciava 90 dias de permanência, passível de renova ção, sob pedido apreciado pelas instâncias superiores da Inspecção de Espectáculos, o tempo de estadia dilata -se para 12 semanas e os dias de actuação para 3. O reportório amplia -se para as 40 peças e surge o problema da escolha de peças que congreguem div ersos públicos. Rafael de Oliveira entrega à Direcção Artística da companhia essa tarefa. O reportório apresentado pela Companhia é maioritariamente constituído por êxitos dos principais teatros de Lisboa: Teatro do Ginásio, Teatro do Príncipe Real (ou Apolo), Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Variedades e Teatro Monumental. Os dramas oitocentistas de grande espectáculo de Adolphe D’ Ennery , Pierre Decourcelle, Xavier Montépin, George Ohnet , George Sand e de Dumas, pai e filho, percorrerão o provinciano século XX nacional, a par das portuguesíssimas comédias de Rangel de Lima , Acácio Antunes, Aristides Abranches , Baptista Machado, Ernesto Rodrigues ou do francês Maurice Hennequin . Ramada Curto será o representante nacional dos dramas de tese social, juntamente com Henri Bernstein , Echegaray, Dicenta e Joracy Camargo. Beckett e Santareno surgem pontualmente numa aparente tran sição que se não completa. Rafael de Oliveira (aliás Raúl d’Além) deu asas à sua verve de dramaturgo, escrevendo revistas ingénuas ( 737), adaptações ( 738), imitações ( 739) e também um original, José do Telhado (740). A seu lado, Ludovina 737 Ap li ca - lh e o S e lo (1 9 2 4 ), A Ve r Na vio s (1 9 3 3 ), d e p arc eria co m Lu d o vi na Fr ia s d e Ma to s , S a n ta Co mb a p o r u m Ócu lo (r e vi st a lo cal, 1 9 4 0 ) 738 Amo r d e Pe rd içã o , J es u s Na za r en o , a p ar tir d o Má rti r d o Ca lvá rio , e D. In ê s d e Ca st ro , arr e glo d a C a st ro d e An tó nio Ferr eir a , n a v ers ão d e J ú lio Da nt a s , e d e D. Ped ro , o c ru e l, d e M arce li no Me sq ui ta . 739 A Fi lh a d e Pa u l in o . 740 A p ri me ir a re ferê n ci a a u ma rep re se n ta ção d es ta p eça d a ta d e S et e mb ro d e 1 9 2 2 , no T eatro Lo uza n en se . O fi l me mu d o , co m o me s mo tí t ulo , re al i zad o p o r Ri no Lup o 252 Frias de Matos contribuiu para a criação de um reportório próprio da Companhia, com o original Milagres de Nossa Senhora de Fátima (Transviados ), duas revistas, um libreto de opereta e uma teatralização infantil (741). No quadro seguinte inscreve -se o reportório da Companhia de que foram referenciados espectáculos com mais de 50 récitas, com indicação da data de início e de término de exibição. O bra Auto r/ T ra d uçã o e (o u) a da pta çã o É po ca Réc it a Amor de Perdição A Rosa do Adro Camilo Castelo B ranco / Raú l d ’ Além (pseud . Rafael d e Oliveira) Manuel M. Rodrigues/ H. Macedo Jr.// Romeu Correia Mário Duarte , Alberto Morais 1921 -73 362 1922 -74 1933 -72 213 (742) 151 Jorge de Sousa (parceria de Henrique Santana & Francisco Ribeiro ) Aristid es Abranches Joracy Camargo Adolphe d’Enn ery/ trad. Afonso Magalhães José Echegaray/ trad. Guio mar Torrezão Carlos Llop is / trad. Carlo s Lopes 1967 -72 146 1923 -72. 1950 -72 1923 -72 140 139 134 1933 -72 116 1959 -72 111 Ramada Curto Fernando San to s , Almeida A maral e Leitão de Barros Raul d’Além (pseu d. Rafael de Oliveira) Ramada Curto Júlio Dantas / Marcelino Mesqu ita / Raúl d’A lém (pseud.) 1941 -68 1955 -71 103 93 1930 -71 93 1943 -72 1917 -68 88 82 Bernardo S antareno (p seud. ) 1974 -75 81 As Duas Causas Três em Lua de Mel Casa de Doido s Deus lhe pague As Duas Órfã s A Calúnia Daqui fa la o morto A Recompensa Prémio Nobel Jesus Na zareno O Tio Rico D. Inês d e Castro e D. Pedro, o Cru el A Traição do Padre 741 A o b ra Mi la g r es d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma fo i d ad a à e sta mp a e m 1 9 3 7 so b a fo r ma d e ro ma n ce, e p erte n ce u t a mb é m ao r e p o rtó rio d e o u tra s co m p an h ia s d e p ro v í nci a. As re v is ta s fo ra m es cri ta s d e p arc er ia co m Ra fa el d e Ol i ve ira ( A Ve r Na v io s, 1 9 3 3 ) e co m Ar tu r d e M ato s ( P ra ta d a Ca sa , 1 9 3 3 ); ad ap t o u A s Pu p i la s d o S r. Re ito r (1 9 4 2 ), a lib r eto d e o p er et a, co m mú s ic a d e Fe r na nd o Izid ro , e o co n to trad i cio n al d e A Ga ta Bo r ra lh ei ra , mu s icad o p o r Al ve s Co e l ho , fi l ho ( O S a p a tin h o d e Vid ro , 1 9 5 8 ). 742 Enco n tra m- s e ad i cio nad o s o s valo re s co r resp o nd e nte s à s d ua s ver sõ e s rep re se nt ad a s. 253 Martinho O Paralítico Frei Lu ís de Sousa Um Fantasma Chamado Isabel A Cadeira d a Verdade As Pupilas d o Sr. Re ito r (opereta) O Grande Industria l Uma Bomba Chamada Etelvina A Muralha Milagre s de N ª Sª de Fá tima (Transviad os) A Morgad inha de Valflô r Santo An tón io O Sapatin ho de Vidro A Ver Navio s Navios O Conde de Monte C risto Prata da Casa Isra el O Pato Henri Crisafu lli / Ferreira de Mesqu ita Almeid a Garrett 1923 -69 1953 -69 79 76 Mik los Marai Santana) 1961 -72 76 Ramada Curto 1948 -69 76 Júlio Din iz (p seud. ) / Ludo vina Frias de Matos / Fernando Izidro 1942 -71 75 George Ohnet / Ilda Stichin i 1952 -72 74 H. 1967 -72 62 Calvo So telo / trad . Francisco Marques dos San tos Ludo vina Frias de Matos 1958 -72 61 1930 -65 60 Manuel P inheiro Chagas 1923 -63 60 Braz Martins / Ângelo Frondon i 1917 -60 59 Ludo vina Frias d e Mato s / Alves Coelho, filho Ludo vina Frias de Matos / Raú l d’A lém (pseud .)/ Fernando Izid ro Alexandre Du mas P ai / trad. José António. Mon iz Ludo vina F. Matos / A rtu r de Matos / Jaime Martin s Henri Bernstein / trad. Norberto Lopes George Feydeau / trad. Cunha e Costa 1958 -71 59 1933 -61 55 1927 -63 55 1933 -61 55 1954 -69 1973 53 51 (p seud. Henrique Jorge de Sousa (p arceria Santana & Francisco Ribeiro ) de O drama amoroso de Camilo Castelo Branco encabeça claramente a lista, levando -nos a pensar se não terá sido o cl ássico português que maior número de representações terá realizado ao longo de todo o século XX, já que terá a luz da ribalta por esse país fora, para deleite de profissionais e amadores, e sendo pièce de resistence do reportório das companhias de provínci a. Apesar do epíteto de “passadiço” ou de “sentimentalão”, a verdade é que os amores funestos de Teresa de Albuquerque sensibilizaram plateias, tanto quanto os da Rosa do Adro , 254 ou de Inês de Castro, a galega que o amor naturalizou portuguesa, enfim, lusitanos romeus e julietas . E, quando tudo poderia prever o declínio deste género de enredos, eis que, em 2006, surge uma revisitação camiliana com sabor a modernidade europeia, Goodbye my love goodbye. Terá Camilo o cond ão de se reiventar através do imaginário popular? Que significado terá o ser popular? Um sentimento que se realiza em teatro, representando a vida, apaixonada, vibrante, sincera, interpretando as aspirações e anseios de uma “alma portuguesa”? Seja o que fo r, e como for, constata -se que se trata de uma dramaturgia que tornou os seus intérpretes populares, ou, como se define hodiernamente, do domínio público, muito antes da existência da caixa que transformou o mundo. Tendo em conta o rol anterior, verificamo s que, com mais de 100 representações, entre 1921 e 1950, encontramos três comédias - Casa de Doidos Três em Lua de Mel e Daqui Fala o Morto -, e sete dramas, que correspondem à noção de peça bem feita, de enredo bem urdido, capaz de entusiasmar i ntelectualmente (o QI) e de emocionar (o QE) o público. Amor de Perdição e A Rosa do Adro faziam parte das bibliotecas populares, que, tal como As Duas Órfãs , e outras novelas, tiveram publicação em folhetins semanais nos periódicos, e cujas teatralizações fizeram vibrar a inteligência emocional de homens e mulheres. Em As Duas Causas , A Calúnia, A Recompensa e Deus lhe Pague expõem-se problemas sociais, criam -se situações de empatia intelectual, extraiem -se moralidades, e, além disso , recriam-se personagens que vivem no fio da navalha, tornando -se paradigmas que permitem que o actor patenteie a sua qualidade de intérprete da Arte de representar. Um “teatro feito para o povo e levado à sua audiência constitui um factor de importância n o esclarecimento e na educação”, afirmou Jorge de Sena, a propósito de “Teatro Popular”, defendendo que uma fase de “inciação teatral” correspondia a uma fase de 255 “consciência social”, como forma de aprendizado popu lar de que o “teatro é uma forma elementar, mas decisiva, de desbobramento da consciência”. Advogou uma dramaturgia popular baseada em “textos simples, directos”, inteligentes, “numa correlação directa com as exigências da vida quotidiana”, e “belos em si mesmos”, “cenicamente eficazes como acção teatral e como emoção a ser colhida dos acidentes”, deixando margem ao experimentaliso da “improvisação do momento e do ambiente, e até à participação do público”, e que os seus promotores “tenham conhecimento obj ectivo do público a que se dirigem, tenham amor pelo teatro e experiência técnica dele” ( S E NA 1989: 389 e ss). As companhias de província foram indiscutivelmente responsáveis pela manutenção e desenvolvimento do gosto teatral na província, criando e apoian do agrupamentos amadores e divulgando um reportório basilar de formação de novos públicos, um teatro comercial de qualidade dramática. Sem pretensões de concorrência com as companhias citadinas que, apesar de possuírem melhores recursos técnicos, nem sempr e cumpriam a sua função artística, conforme referem amiúde os periódicos regionais, estes “cómicos da arte” cumpriram um tipo de descentralização cultural, em permanente deambular, essencialmente pelo amor à arte. A Companhia Rafael de Oliveira poderá ter sido “o mais bem organizado agrupamento”, a que maior projecção conseguiu em território nacional, a mais antiga companhia itinerante da Europa, e foi, sem dúvida alguma, a últi ma das companhias de província portuguesas. 256 Bibliografia Anotada 1. Bibliografia primária 1.1. Entrevistas em periódicos (indexação cronológica ): 1. Anon., “Milagres de Nossa Senhora de Fátima: Uma peça escrita por uma senhora – a poetisa D. Ludovina Frias e M atos. S. Ex.ª fala -nos do seu livr o – Para além da morte . O segredo é a al ma do teatro”, Diário do Minho, Braga, 16.02.1930: 1 (entrevista com a autora, Ludovina Frias de Matos, a propósito da estreia da peça na Companhia; refere -se a produção dramática da autora, a moti vação da escrita da peça, e da verosi milhança do enr edo). 2. A. L., “Teatro Desmontável: O Director do Teatro Desmontável fala -nos dos seus proj ectos e faz o elogio do público eborense”, Democracia do Sul, Évora, 05.07.1945: 4 (brevíssi ma entre vista com Rafael de Oliveira no intervalo de um dos espectáculos, em que se aponta a relação entre o teatro e as feiras, o público, as autoridades locais e a concorrência com o cinema no Verão). 3. A. L., “A pri meira entrevista de Lizete Frias”, Democracia do Sul, Évora, 05.08.1945: 6 (entrevista em que Lizete Frias fala do seu gosto pelo teatro, dos géneros, das personagens e dos textos que prefere interpretar, dos actor es mais apreciados, do público eborense, e de planos futuros). 4. Anon., “Teatro de Amadores em Évora: Ouvindo o actor Eduardo de Matos, ensaiador do grupo António Si mões Paquete”, Diário do Alentejo, Bej a, 09.02.1946 (entrevista com Eduardo de Matos). 5. Anon., “Li zete Frias e Fernando Frias vão realizar no Coliseu a sua Festa Artística”, Açoreano Oriental, 24.04.1948: 3 (a propósito da Festa Artística, o articulista transcreve parte da entrevista do Democracia do Sul, Évora, em 05.08.1945; vd. supra). 6. E D G A R D O R O D R I G U E S , “Lizete Frias, o sorriso j uvenil da Companhia Rafael de Oli veira: Diálogo fora d e cena”, A Ilha, Ponta Delgada, 08.05.1948 (entrevista). 7. Anon., “Impressões de Teatro: Os Ir mãos Frias”, O Riomaiorense , Rio Maior, 25.12.1949: 3 (entrevista a Lizete e Fernando Frias). 8. AITE, “Depoi mento de interesse: Uma entrevista com Eduar do de Matos, actor e ensaiador do Teatro Desmontável”, Diário do Alentejo , Bej a, 19.02.1951: 2 e 4 (ent revista com foto). 9. Anon., “O Director da Companhia Rafael de Oliveira fala -nos da sua vinda a Tavira com o seu Teatro Desmontável”, Povo Algarvio, T avira, 30.09.1951: 1 e 3 (entrevista sobre a Companhia e a futura deslocação de Vila Real para Tavi ra). 10. Anon., “Eduardo de Matos, actor -ensaiador da Companhia Rafael de Oliveira concede -nos uma entrevista”, Povo Algarvio, Tavira, 07.10.1951: 1 e 2 (entrevista com foto de Edu ardo de Matos; referência ao elenco e às características da Companhia). 257 11. V Í T O R C A S TE L A , “A Companhia Rafael de Oliveira em Faro: O Artista Fernando de Oli veira fala a O Algarve”, O Algarve, Faro, 23.03.1952: 3 (breve entrevista sobre o historial da companhi a e intenções da estadia em Faro). 12. E U R I C O G A M A , “Ent revista com Fernando de Oliveira do Teatro Desmontável”, Jornal de Elvas, 18.08.1955: 4 (o director do j ornal pretende traçar um breve historial da companhia: elenco e reportóri o). 13. S.E., “A Voz da Marinha Grande: Secção semanal de propaganda e defesa dos interesses do concelho e povo da Marinha Grande: Teatro”, Região de Leiria, 26.01.1956: 3 (breve entrevista nos bastidores do Teatro Stephens em que Rafael de Oli vei ra alude à inviabilidade da tournée a África, em 1953, devido ao abati mento do Teatro Desmontável com o peso de um nevão). 14. V I S O R , “Um êxito mundial no Teatro Rafael de Oli veira: Está lá fora um inspector, por J. B. Pr iestley: Ouvindo o encenador e artista Eduar do de Matos”, Mensageiro, Leiria, 17.03.1956: 2 (entrevista com Eduar do de Matos sobre a peça). 15. V I S O R 1, “Falando de Teatro”, A Voz da Figueira, Fi gueira da Foz, 13.09.1956: 4 (entrevi sta breve a Rafael de Oliveira, em que este fala da estreia do Desmontável, em Alcobaça, a 30 de Abril de 1 936, do tempo de itinerância, dos textos preferidos). 16. S U C E N A P I N TO , “Teatro: Companhia Rafael de Oli veira”, Ecos de Cacia, 01.03.1958: 1, 2 (entrevista com Fernando de Oli veira, na noite da Homenagem à Companhia no Teatro Aveirense). 17. M. P. F., “Lisette Fri as – popular fi gura do nosso teatro – fala -nos da sua vida, dos seus êxitos e das suas predilecções”, Norte Desportivo , Porto, 30.03.1958: 6 ( entrevista). 18. J . S A R AB A N D O , “Artistas do Palco: Fernando de Oli veira – figura assaz popular do nosso teatro – responde a uma série de perguntas mais ou menos indiscretas”, Norte Desportivo, Porto, 27.04.1958: 6 (breve conversa em que Fer nando de Oliveira fala da sua visão da crise do teatro, do reportório da Companhia e do seu gosto pessoal, das leit uras e dos passatempos. 19. F. C., “2) -Temas de Arte: Encontro com o actor Eduardo de Matos: Uma figura do teatro Itinerante Português”, Jornal do Ribatejo , Sant arém, 11.12.1958: 1 e 6 (entrevista continuada no nº seguinte por al tura da comemoração dos seus 20 anos de trabalho na Companhia ). 20. F. C., “3) - Temas de Arte: O Público da Província, embora lá por Lisboa se di ga o contr ário, é mais difícil de contentar, mais exi gente... – diz-nos Eduardo de Matos”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 18.12.1958: 1, 8 e 2 (continuação da entr evista do nº ant erior). 21. H E I T O R R O Q U E , “O Actor Eduardo de Matos fala -nos da temporada que a Companhia Rafael de Oli veira vem f azer a Évora no Teatro Desmontável”, Notíci as de Évora , 29.10.1959: 4 (entrevista a Eduardo de Matos). 22. Anon., “Fernando Frias é um dos bons actores do excelente conj unto do Teatro Desmontável”, Jornal de Évora, 13.12.1959: 6 -5 ( breve entrevista com Fernando Frias). 23. J. A. M., “O benj ami m do Teatro Desmontável: Gostaria de vir a ser um 258 actor capaz de continuar as honrosas tradições da Companhia Raf ael de Oliveira - disse -nos Ál varo de Oliveira”, Diário do Alentejo, Bej a, 17.05.1960:2 e 4 (entr evista, com foto do entrevistado). 24. Anon., “Teatro e Cinemas: Um sonho de muitos anos...: A Companhia Rafael de Oli veira vai ter novo Teatro Desmon tável”, Diário do Alentejo, Bej a, 24.05.1960: 2 (entrevista a Rafael de Oli veira). 25. Anon., “Estreia -se no próxi mo dia 7 a Companhia Rafael de Ol iveira: Um pouco de históri a”, Folha de Domingo, Faro, 04.12.1960: 8 e 4 (entrevista a Rafael de Oliveira, a prop ósito da estreia do novo Teatro Desmontável, em Faro ). 26. Anon., “Dois minutos com..: Fernando Frias”, Folha de Domingo, Faro, 25.12.1960: 5 (entrevi sta em que se traça um esboço de retrato). 27. António Augusto Santos, “ Muito teatro, bom e barato” – eis a “medicação” de Raf ael de Oliveira para convalescença do Teatro Português, O Norte Desportivo, 26.12.1960: 6 (entrevista com Raf ael de Oliveira, após a inauguração da últi ma versão do Teatro Desmontável). 28. A N T Ó N I O A U G U S TO S A N T O S , “Fernando Frias depõe sobre o mom ento teatral português”, Norte Desportivo, Porto, 23.03.1961: 6 (ent revista com Fernando Frias). 29. M. J . V AZ , “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira e o seu Teatro Desmontável no Barreiro”, Distrito de Setúbal, Setúbal, 03.11.1961: 1 e 4 (a partir de uma conversa com Rafael e Fernando de Oliveira, o articulista escreve uma reportagem em que desenvolve o historial da companhia, do desmontável e das condições problemáticas do seu trabalho; referência à constituição do elenco; tem continuação na edição seguinte do j ornal). 30. M. J . V AZ , “A Companhia de Teatro Rafael de Oli veira no Bar reiro”, Distrito de Setúbal, Setúbal, 07.11.1961: 4 (conclusão da reportagem iniciada no número anterior). 31. Anon., “A propósito da próxi ma estreia no Avenida: Al guns aspectos sociais da Companhia de Teatro Itinerante de Rafael de Oli veira”, República, Lisboa, 16.01.1962 (entrevista com Fernando de Oli veira a propósito da companhi a). 32. Anon., “Rafael de Ol iveira um exemplo seguir”, Rádio & Televisão, 24.02.1962: 14 e 19 ( entrevista com elementos da Companhia Raf ael de Oliveira, nos bastidor es do Teatro Avenida, durante um intervalo de um espectáculo). 33. R E I S V I C E N T E e F E R N A N D O D U A R T E , “A Companhia Rafael de Oliveira e os seus valiosos ser viços prestados ao Teatro”, Vida Ribatejana, Vila Franca de Xira, 02.06.1962: 1, 4 (entrevi sta a Fernando de Oliveira sobre a Companhia, a crise teatral e os anseios). 34. R. M., “Uma Grande Companhia de Teatro – Estou satisfeito com o público de Tomar – confessou -nos Rafael de Oliveira”, O Nabão, Tomar, 01.01.1963: 1 (notícia do espectáculo de est reia e cartaz de espetáculos da quinzena – em caixa). 35. Anon., “Depois de cinquenta anos de actividade, a Companhia de Rafael de Oliveira está prestes a extinguir -se: Fernando de Oli veira, filho do conhecido actor empr es ário, ingressa no t eatro de revista e faz -nos oportunas declarações”, Actualidades, Lisboa, 17.10.1964: 5, 13. 259 36. Anon., “Teatro: A Companhia Rafael de Ol iveira – 48 anos ao serviço do Teatro: Ouvindo o titular da Companhia, o actor Rafael de Ol iveira num oportuno e interessante depoi mento”, Boletim da União de Grémios dos Espectáculos, Ano XII, nº 124, Lisboa, Dezembro de 1964: 3 -6. (Derradeira entrevista de Rafael de Oli veira). 37. C U R A D O R I B E I R O , “De Teatro: Fernando d’Oliveira: uma centel ha de esperança...”, Antena , Lisboa, 01.11.1965: 36 (entrevista ao novo director da Companhia sobre as dificuldades sentidas e sobre o novo rumo a tomar). 38. “A Companhia Teatral de Rafael de Olivei ra na nossa Cidade – breve conversa com o seu director Fernando de Oliveira”, O Dever, Figueira da Foz, 13.08.1968: 5. 39. F. R., “Teatro Desmontável, em Viseu: Gosto de trabalhar para o Público Viseense, entendedor de bom teatro – afirmou Fernando de Oliveira, Director da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal de Viseu, 26.10.1968: 8 -2 (entrevista sobre a estadia: após 11 anos de ausência, sua razão de ser, o novo elenco, as digressões pelas aldeias limítrofes e o novo reportório). 40. Anon., “De Teatro: Amanhã Frei Luís de Sousa ”, Jornal de Viseu, 26.10.1968: 5 (opinião de Fernando de Oliveira s obre a razão do espectáculo). 41. F. R., “António Vil ela fala ao nosso j ornal”, Jornal de Viseu, 27.11.1968: 7 por ( entrevista breve com o actor sobre as suas preferências, trabalho na companhia, iníci o de carreira, companhias onde trabalhou). 42. F. R., “De Teatr o: Ouvindo Gisela de Oliveira”, Jornal de Viseu, 04.12.1968: 8, 7 (ent revista com a actriz sobre as suas memóri as de Viseu, as preferências interpretativas, os anseios de mãe, o públi co de Viseu, as apreciações da crítica). 43. F. R., “De Teatro: Ál varo de Oli veira – o actor mais j ovem da Companhia fala ao nosso Jornal”, Jornal de Viseu, 21.12.1968: 6 (entrevista com o actor sobre as suas preferências, os estudos, e o público). 44. F. R., “De Teatro: Humberto de Andrade falou -nos da sua carreira”, Jornal de Viseu , 01.01.1969: 13 (entrevista com o actor sobre o seu percurso artístico, suas preferências e sobre o público viseense). 45. F. R., “De Teatro: Alexandre Passos fala a Jornal de Viseu »”, Jornal de Viseu; 04.01.1969: 6 (entrevista com o actor sobre o seu percurso artístico e preferências e funções na Companhia). 46. M A N S O N U N E S , “Inquérito ao gosto artístico de Braga”, Diário do Minho, Braga, 12.05.1969: 1 e 2 (entrevista a Fernando de Oliveir a, em que este critica a falta de público aos espectáculos e o modo snob como se encara a Companhia). 47. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 14.01.1971: 1 e 4 (entrevista de Fernando Duarte, moderador, directir adj unto do periódico, com o Dr. Pinto da Rocha, professor do Liceu Nacional de Santarém, dir ector das actividades circum -escol ares e dirigente da Secção de Teatro, Florindo Custódio, ensaísta de Teatro e dirigente de grupos teatrais sclabitanos, Alves Castela, colaborador do 260 periódico, Lino Ribeir o, crítico de Teatro e colaborador do periódico, e Fernando de Oli veir a, director artístico da Companhia Rafael de Oliveira, Manuela Coimbra, actriz, Ál varo de Oliveira, actor, Humberto de Andrade, actor, e Alexandre Passos, actor). 48. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 16.01.1971: 4 (continuação da edição anterior). 49. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 16.01.1971: 1 e 4 (continuação da edição anterior). 50. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 17/18.01.1971: 1 e 4 ( continuação da edição anterior). 51. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 19.01.1971: 1 e 4 (continuação da edição anterior). 52. “Mesa Redonda: Vamos Falar de Teatro”, Diário do Ribatejo , Santarém, 20.01.1971: 4 (conclusão da ediçã o anterior). 53. Anon., “De Shakespeare a Beckett ou como se trabalha na «nova» companhia de Rafael de Oliveira”, O Sécul o, Lisboa, 25.11.1972: 17 e 18 (extenso artigo sobre o trabalho de preparação da di gressão a África em 73 e entrevista com o encenador Ribe irinho e outros actor es do elenco). 54. J O Ã O A LV E S D A C O S T A , “Rafael de Oli veira, Teatro ao domicílio”, Rádio & Televisão, 09.12.1972: 31, 33 (entr evista com di verssos actores do elenco a propósito da deslocação a África: Manuela Coimbra, Fernando de Oli veira, Rui de Car valho, Canto e Castro e Tomás de Macedo). 55. A N T Ó N I O R AM O S , “Importa acabar com os mitos: À espera de um milagre: Luanda não vai ao Teatro porquê?”, Diário de Luanda, 08.03.1973: 12, 20 (entrevista à mesa de café com Fernando de Oliveira e Vasco de Lima Couto, em que se fala de teatro e da digressão a Angola). 56. Anon., “Espectáculos: Her mínia Toj al, um nome do teatro português em Luanda, analisa a sua carreira, festivais de teatro e a crise t eatral”, Diário de Luanda, 23.06.1973: 32 (entrevista). 57. S AM M Y S A N T O S , “Benguela: Her mínia Tojal (actriz convidada da Cª Rafael de Oli veira que Benguela em breve verá) – Ofereço -me às personagens que interpreto”, O Lobito, 29.09.1973: 4, 11 (entrevista). 58. ATS (António Tavares da Silva, colunista) e JM (José Martins, redactor), “Fernando de Oliveira: «Os Ossos do Ofício»”, Ci néfilo, Lisboa, 16.03.1974: 31 -37 (entrevista a Fer nando de Oli veira). 59. Anon., “Teatro Rafael de Oliveira vai ser mesmo destruído”, Correio da Manhã, Lisboa, 05.08.1983: 47 (entrevista a Leonor de O liveira, que relata a tentativa de salvar o teatro, através da sua venda. Sem sucesso! E ainda as dificuldades de entendi mento com a empresa Adoque, e um breve historial da Companhia). 1.2. Depoimentos CORREIA, Pal mira 2004 Ruy de Carvalho: O Grande Senhor do Teatro, Lisboa, Publicações Dom Quixote, Colecção Fi guras, 107 páginas (biografia sob a for ma 261 de entrevista ao actor; incluem -se textos individuais sobre o mesmo, escritos por ami gos, profissionais de Teatro; Ruy de Car val ho referencia a Companhia Rafael d e Oli veira, a propósito da di gressão a Angola, em 1973). LÍV IO, Tito 2005 Ruy de Carvalho: Um actor no palco da vida , Lisboa, Novo Imbondeiro, 102 pági nas (revisitação de Ruy de Car valho, em est ilo de reportagem, com as palavras do actor aparecendo como c itações; ilustrações do actor em momentos do seu quotidiano e em pal co; releva -se o curriculo e, inevitavel mente, a opinião de terceiros; R. de Car valho cita a sua passagem pela Companhi a Rafael de Oli veira, em Angola, em 1973). 1.3. Documentos VIEGAS, Mário (or g.) 1991 Caderno-Programa nº 9, 1991 -92, Companhia Teatral do Chiado (roteiro da exposição organi zada por Mário Viegas, em homenagem ao Teatro Desmontável; profusão de material documental: cart azes, programas, recortes j ornalísticos e fotos individu ais e de grupo). 2. Bibliografia crítica 2.1. Gerais ALMEIDA, José Valentim Fialho de (1857 – 1911) 1990a Pasquinadas . Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de Fialho de Al meida, Volume IV . (1ª edição, 1890). 1990b Lisboa Galante . Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de Fialho de Al meida, Volume V. (1ª edição, 1890). 1992 Vida Irónica: (Jornal dum vagabundo) . Lisboa, Círculo dos Leitor es Obras Completas de Fialho de Al meida, Volume V II. (1ª edição, 1892). CLÁUDIO, António 2005 Conhecer Alme irim, Cadernos Culturais, Câmara Municipal de Al meiri m (publicação do pelouro da Cultura da Cãmara Municipal de Al meiri m sobre a hist ória passada e present e da cidade, escrita pelo Director da Biblioteca Municipal Marquesa de Cadaval; o capítulo intitulado O cinema em Almeirim (pp. 22 e 23) descreve a ori gem do gosto cinéfilo dos Almirinenses - ou Al mirantes, como antes se designavam - até ao momento da construção do Cine -Teatro, inaugurado em 1940 com um espectáculo de teatro - A Inimiga, pela companhia de Maria Matos – e um espectáculo de cinema – A serenata de Schubert , com Louis Jouvet). 262 DIAS, Marina Tavares 2000 Lisboa Desaparecida, Lisboa, Qui mera, 9ª edição, 189 pp. (1ª edição, 1987) (particular interesse: a referência ao Teatro Apolo, pp.31 -35; ao Real Coliseu de Lisboa, na Rua da Pal ma, foto, p. 144; e aos diverti mentos lisboetas – as feiras oitocent istas e os seus teatros barracas, pp.125 -129; ampla iconografia). DIAS, Marina Tavares (e MARQ UES , Mário Morais) 2002 Porto Desparecido, Lisboa, Qui me ra, 198 pp. (particular interesse o capítulo dedicado ao Teatro Baquet, com ilustrações de programas, do edifício e do incêndio que o destriui). FONSECA, João José Samouco da 2001 Chamusca e Chamusquenses , colaboração na Revista Chamusca Ilustrada e outros textos, MG Editores, 382 pp. (1ª edição: Maio, 2000); Edição ilustrada (de particular interesse o Cap. VI – Sociedade, Instrução e Cultura: o autor aborda a actividade teatral local e respectivos pal cos). 2002 História da Chamusca III, Chamusca, Edi ção de autor, 298 pp., 3 volumes ilustrados (de particular interesse o Cap. 2 – Tempos Idos: O Cine -Teatro da Chamusca, p.84, e o Capítulo 6 – Teatro: I – História do Teatro Chamusquense; II – À mar gem da História do Teatro Chamusquense). PACHECO, Lui z 1981 Textos de guerrilha 2ª série , Lisboa, Ler, Editora (textos críticos, escritos e publicados na i mprensa entre 1975 e 1980, sobre escritas e autores, denúncias e apologias – mais as primeiras! – dos quais se destaca o da página 125, sob o título A Castração Censória , e m que Luiz Pacheco critica o livro Cinema e Censura em Portugal, desvendando a desor ganização do sistema censorial e desmontando alguma da teoria de Lauro António). VIEIRA, Joaqui m 1999a Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1900 -1910, Lisboa, dos Leitores. 216 pp. 1999b Portugal, Século XX, Crónica em Imagens 1910 -1920, Círculo dos Leitores. 218 pp. 1999c Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1920 -1930, Lisboa, dos Leitores. 216 pp. 1999d Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1 930-1940, Lisboa, dos Leitores. 216 pp. 2000a Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1940 -1950, Lisboa, dos Leitores. 216 pp. 2000b Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1950 -1960, Lisboa, dos Leitores. 216 pp. 263 Círculo Lisboa, Círculo Círculo Círculo Círculo 2000c Portugal Séc ulo XX, Crónica em Imagens 1960 -1970, Lisboa, Círculo dos Leitores. 215 pp. 2000d Portugal Século XX, Crónica em Imagens 1970 -1980, Lisboa, Círculo dos Leitores. 216 pp. VITERBO, Sousa 1912 Cem artigos de jornal , Lisboa, Tipografia Universal (colecção de artigos j ornalísticos sobre teatro, para o Diário de Notícias , escritos entre o fi m do século XIX e o início do XX; releve -se: «A religião e o theatro », 21.04.1897, p. 47; «Vicissitudes do theatro nacional », 10.01.1899, p. 49; «O futuro do theatro », 24.01.1900, p. 52; «O direito de patear », 19.02.1903, p. 54). 2.2. Estudos de Teatro 2.2.1. Sobre o Teatro em Portugal ALMEIDA, José Valentim Fialho de (1857 – 1911) 1993 Actores e Autores, Lisboa, Círculo dos Leitores, Obras Completas de Fialho de Al meida, Volume X IX. ( 1ª edi ção, 1925) (conj unto de artigos publicados na imprensa, entre 1894 e 1907, acrescido de um texto inédito; críticas a espectáculos e ao panorama teatral finissecular). ANÓNIMO 1915 Guia do Forasteiro em Lisboa, Edição Biblioteca Educação Nacional, Lisboa (contém plantas dos teatros de Lisboa, suas moradas, números de telefone e preçário – São Carlos, Teatro Nacional Al meida Garrett, Teatro da Trindade, Teatro Avenida, Teatro Politeama, Éden Teatro, Teatro Gimnásio, Teatro Apolo, Teatro Moderno, Teatro da Rua dos Condes, Coliseu dos Recreios, Praça de Touros do Campo Pequeno. Indica também os cinemas existentes à data) (GEO; Cota: DV 203P). AA. VV. 1923 Os Grandes Comediantes Portugueses: In -Memoriam Ângela , (direcção e prefácio de Nogueira Brito, Associaçã o dos Arqueólogos Portugueses), Lisboa, Empresa “De Teatro”, Colecção Glór ias Passadas, 253pp. (col ecção de laudas com que se pinta o retrato da actriz Ângela Pinto, pela pena de autores, actore e empresários que com ela pri varam). BARATA, José Olivei ra 1991 História do Teatro Português, Lisboa, Universidade Aberta (uma história de teatro que perspectiva, aci ma de tudo, a relação entre o texto escrito e a sua realização teatral; uma abordagem funcional destinada a ver o teatro como uma for ma questionante, por oposição 264 às tradicionais histórias de teatro que preferem fazer incidir o interesse numa visão logocêntrica da Arte de Talma). BASTOS, Glória e VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira de 2004 O Teatro em Lisboa no tempo da Primeira República , Lisboa, MNT, Colecção “Pági nas de Teatro”, Volume III ( análise histórica sobre o panorama teatral neste período lisboeta. Análise da situação política e profissional, dos reportórios e da legislação vi gente, dos profissionais de teatro em geral. Referências bibliogr áficas evidentes. Ser ve, sobr etudo, como ponto de partida para pesquisa). BASTOS, António Sousa 1895 Coisas de Theatro , Lisboa, Anti ga Casa Bertrand – José Bastos (Cap. X, Auctores novos e velhos, p. 77: fala D’Enner y; Cap. XVI, Os direitos de auctor, p. 113; Cap. XVII, Benefícios d’artistas e vendidos, p. 113; Cap. XX III, Machinistas, aderecistas e scenógrafos, p. 151: f ala de Eduardo Machado e outros cenógrafos; Cap. XXV, Outros empregados do theatro: o ponto, o contra -regr a, o iluminador, o cabeleireiro , a cabeleireira, carpinteiros de movi mento, comparsas de cena, alfaiates e costureiras ; Cap. XX IX, Preços dos lugares nos theatros - concorrência do circo; Cap. XXX, Theatros particulares - ou de amadores - p. 185). 1898 Carteira do Artista; Apontamento s para a História do theatro Português e Brazileiro , Anti ga Casa Bertrand – José Bastos, Lisboa (referências a Ernesto de Freitas - Compª do Soares -, p. 636; Aur ora de Freitas, p.622). 1947 Recordações de teatro, Lisboa, Editorial Século. Prefaciada por Eduardo Schwalbach (obra póstuma que preenche e clarifica infor mações das obras anteriores). 1994 Diccionário do Theatro Portuguez , Lisboa, Editorial Minerva, edição fac -si milada; 1ª edição, 1908 (A ler com cuidado. As suas inúmeras entradas nem sempre e stão de acordo umas com as outras, as apreciações podem ser tendenciosas – vej a o que dele refere Chaby Pinheiro nas suas memórias. Se tudo pode falhar, excepto o espaço reservado à sua querida Pal mira!). BENTO, Avelino 2003 Teatro e Animação: outros per cursos do desenvolvimento sócio cultural no Alto Alent ejo , Lisboa, Edições Colibri. 324 pp. CARVALHO, Dr . J. M. Teixeira 1914 A Máscara d’um Actor. Cabeças de expressão , Lisboa, s. n. (o aut or, professor da Faculdade de Medicina e Sócio da Academia das Ciências de Lisboa, escreve sobre as máscaras teatrais de Augusto Rosa, como homenagem no 40º ani versário da sua estreia teatral). 265 1925 Teatro e Artistas . Imprensa Uni versidade de Coi mbra, Coi mbra (crónicas j ornalísticas sobre espectáculos de teatro em Co i mbra, no Teatro Circo, e em outras localidades; cobrem o final do século X IX e princípio do seguinte: Cristiano de Sousa com Lucinda Si mões e Chaby Pinheiro em A Casa da Boneca de Ibsen, 1899, p.52; Sobre João José, 1899, p.55; O Tio Milhões, 1902, p.139; D. César de Bazan (p.157), 1902; O Saltimbanco, 1902, p.157; A Morgadinha de Valflor, Os Fourchamboult, 1908, p.211; O Ladrão [de Bernstei n] , 1909, p.220. Sobre o teatro de Marcelino de Mesquita: “quasi o único em que se fala português agora./ As traduçõe s do francês criar am uma língua nova e, à força de querer traduzir a leveza e a elegância desta bela língua, der am ao calão foros de linguagem corrente./ O que se fala é falso como as elegâncias de figurino que passeiam pelas ruas”, p.246). CRUZ, Duarte Ivo 2001 História do Teatro Português , Editorial Verbo, Lisboa. FERREIRA , Ulisses Pina 2006 Cine-Teatro de Almeirim e as coincidências, Al meiri m, Câmara Municipal de Al meirim; publicação do Pel ouro da Cultura, 16 pp. ( memória do Cine -T eatro, pela mão de alguém que o explorou comercial mente, e que, ainda hoj e, vibra com o relato da sua epopeia ribatej ana. Ulisses Pina Ferreira, amante de teatro e de cinema, possui um acer vo considerável de cartazes e outros documentos referentes a espectáculos de teatro e de cin ema, ao longo de várias décadas). FERRO, António 1950 Teatro e Cinema (1936 -1949), Lisboa, Edições SNI. 141 pp. (compilação de di ver sos discursos de Ant ónio Ferro entre 1936 e 1949: “O sonho vosso de cada noite”: inauguração do Teatro do Povo, 15.06.193 6; “O Teatro do Povo no Alto da Serra” pronunciado em Fol gosinho,em 07.09.1937; “Teatro ligeiro , teatro sério...”: 1ª festa de distribuição dos Prémios de Teatro Ligeiro, em 12.04.1947; “Cinemas ambulantes, car avanas de i magens”: apresentação no Sindica to Nacional dos Caixeiros do Distrito de Lisboa, em 12.02.1935; “Grandeza e miséria do cinema português”: festa de distribuição dos Prémios de 1944 e 1945, em 12.08.1946; “O Estado e o Cinema”: f esta de distribuição dos Prémios de Cinema, em 30.12.1947; “O cinema e o Teatro”: festa da distribuição dos Prémios de Teatro e de Cinema de 1947 e 1948, em 21.11.1949; Documentos – “Lei de protecção ao cinema nacional, seu regulamento e decretos complementares”, e “Proj ecto do Fundo de T eatro”). FONSECA, João José Samouco da 2004 Teatro de Revista 1962 - 1994, Chamusca, Edição de autor, 278 pp. (publicação de textos integrais de quatro revistas da sua autoria, com 266 algumas fotografias de espectáculos, entre 1962 e 1994; exemplos de revistas locais). G A R R E T T , Al meida 1984 Teatro I, Obras Completas de Al meida Garrett, Lisboa, Círculo dos Leitores, 428 pp. “Memória ao Conser vatório Real” (inspiração nascida em modesto teatro barraca de comicos de la legua, Frei Luís de Sousa fez-se Teatro, a 04.07.1843, em palco parti cular da Quinta do Pinheiro, “teatro pequeno, mas [que] acomoda muita gente; e encheu -se do que há mais luzidio e brilhante na «sociedade»” - p.8 -, com o seu autor a “suprir, no papel de Telmo, a falta de um amigo impossibilitado”). GOMES, João Reis 1906 O Theatro e o Actor: Esboço Philosofico da Arte de Represent ar, Lisboa, Li vraria Edi tora Viúva Tavares Cardoso, 2ª edição [1ª edição, 1905] (Membro da Academia de Ciências de Lisboa, Professor do Liceu do Funchal e Director do j ornal Heraldo da Madeira, a sua obra consta de um livr o de contos, uma novela e sua adaptação dramática, e esboços filosóficos sobre a relação entr e a música e o teatro, a voz e o ouvido musical, e sobre Forças Psíquicas, e O Belo Natural e Artístico . O Theatro e o Actor contém cinco capítulos, antecedidos pelo prólogo “Razões do Li vro” : 1 – “A Natureza no Theatro”; 2 – “A inteligência e os dotes físicos” ; 3 – “O comediante é um artista?” ; 4 – “Paradoxo de Diderot” ; 5 – Sem título, aborda a convenção teatral. Fluente e em estilo dir ecto, Reis Gomes expressa o espírito vivido na Europa teatral – daí a reflexão sobre o paradoxo do actor e as suas impli cações na for mação dos profissionais -, não estando distante da essência teórica de Stanislavsky, e da prática de Antoine, em França; de interesse, na 2ª edição, o apêndice fi nal, intitulado Juízo crítico da 1ª edição , em que são inseridas as diversas opiniões publicadas na i mprensa, com particular relevo para a de Teófilo Braga, em O Século, a 13.11.1905). 1928 Figuras de Teatro, Funchal, Edição da Comissão Promotora (colectânea de excertos de algumas das críticas teatrais de Reis Gomes, publicadas em di versos j ornais da Madeira, reunidas por iniciativa da Comissão Promotora da sua Homenagem, constituída por anti gos alunos do Liceu do Fu nchal. Nestas 21 críticas, entre 1905 e 1926, analisa -se o desempenho de artistas que actuaram nos teatros D. Maria Pia (futuro Teatro Municipal Baltasar Dias) e Dr. Manuel Arriaga, do Funchal. São visados: Angela Pinto, Lucília Si mões, Pal mira Bast os, Vit aliani, Duse, Ibsen, Lucinda Si mões, Maria Matos, Júdice da Costa, Lucinda do Car mo, Augusto Rosa, Chaby, Adelina Abranches, Rostand, Alice Pancada, Lomelino Silva, Al ves da Cunha, Amél ia Rey Colaço, Estevão Amarante, Ilda Stichini e Nor ka Rouskaya). 267 GUIM ARÃES , Lui z d’Oliveira 1940 Teatro de Revista. Lisboa, S/editor, 32 pp. (texto da conferência promovida pelo Sindicato Nacional da Crítica e realizada na noite de 10 de Maio de 1940 na Sociedade de Propaganda de Portugal, onde se traça o retrato deste gén ero dramático, apresentando o velho argumento da paternidade vicentina, mas, talvez mais interessante, o autor acrescenta outros dados que fazem remontar o género ao século XIX - o Barão de Roussado e Braz Martins; disserta sobre o valor deste género li gei ro e enumera os nomes de quem a ele esteve li gado ao longo do tempo). JACQUES, Mário e H EITOR, Sil va 2001 Os Actores na Toponímia de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 183 pp. JÚNIOR, Redondo 1955 Pano de Ferro. Crítica – Polémica - Ensaios de Estética Teat ral, Lisboa, Editorial Século. 307 pp. 1958 Encontros com o Teat ro, Lisboa, Editorial Século. 355 pp. (di vidido em duas partes e um apêndice, o autor discorre sobre “Estética Teatral”, na pri meira, e compila 25 ensaios sobre sobre o panoram a teatral entre Fevereiro de 1955 e início de 1956, sob o título “O Pano sobe em Lisboa”, na segunda; no “Apêndice”, o subcapítulo “A Liberdade do Encenador” ganha particular interesse para o estudo do comentário coevo sobr e estética, a partir de depoi ment os de criadores teatrais durante o III Festival Internacional de Arte Dramática de Paris, realizado nos teatros Sarah Bernhardt e Campos Elísios: registam-se as opiniões de Erwin Piscator , Karel Kraus, director literário do Teatro Nacional de Praga, Hans S challe, director do Schauspielhaus de Bochum, Luchino Visconti; transcreve -se um excerto da entrevista do encenador francês Raymond Rouleau ao semário parisiense L’Express sobre a metodologia do encenador; regista -se a discussão em torno do depoi mento “La Mise -en-Scène des Oeuvres du Passé”, de Gabriel Daniel Vierge, presidente da Association des Directeurs de Scène et Regisseurs de Théâtre de France, com a participação de Regnaut, Jousset, Muller, Scherer, Godebert, Bablet, St ewart e Nina Gourfinkel. De bo a nota, uma bibliografia específica sobre estética teatral, que abarca nomes como Eduardo Scarlatti, Fialho de Al meida, João Reis Gomes, Luís Francisco Rebello, Luís da Costa Pereira, Brecht, Gordon Craig, Sílvio d’Amico, Jean -Louis Barrault, Louis Jouvet, Charles Dull in, Salacrou, Jan Doat, André Villiers, Gaston Baty, Jean Vilar, Eric Bentley, Michael Redgrave, Joracy Camar go, e Lee Strasber g, entre outros). MACHADO, Júlio César 2002 Os Teatros de Lisboa, com ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro , Frenesi, Lisboa, confor me a 1ª edição (1874 -1875), 144 pp. ( memória 268 descritiva, bem humor ada, característica do espírito e graça da bela época portuguesa, sobre a vida mundana teatral lisboeta com os seus tipos característicos, os seus gostos e manias, pela mão de quem conhecia o “palco” por dentro e que, associado, ao fino traço de Bordalo Pinheiro, escalpelizou anatómicamente o meio artístico). MATOS-CRUZ, José de 2005 Joaquim de Al meida: Um actor de Montijo, 1838 -1921, Lisboa, Dom Quixote, 189 pp. (r ecorrend o aos periódicos, o autor recolhe testemunhos sobre Joaqui m de Al meida, que lhe permitem historiar o seu percurso e personalidade artística). MOURA, Antonieta 1994 Teatro Eduardo Brazão: Notícias deste e outros palcos, Bombarr al, Cadernos Históricos do Co ncelho de Bombarral, 67pp. ( monografia sobre a origem dest a sala de espectáculos, documentada com a reprodução de documentos notariais, plantas arquitectónicas, ordens de pagamento e cartazes publicitários; citação de notícias recolhidas na imprensa region al; referência à Companhia Rafael de Oliveira, a pp. 39 e 47; a «Gente Sem Nome», na p.37) . NORONHA, Eduardo de 1917 Recordações do Theatro: Peças, auctores e intérpretes, Gui marães & Cª Editores, Lisboa (Capítulo IX – Geor ge Sand – Marquês de Villemer – De como foi escrita a peça.) REBELLO, Luiz Francisco 1959 Teatro: O Mundo começou às 5 e 47, O Dia Seguinte, Alguém tera de morrer”, Lisboa, Edição de autor. 228 pp. ( primeiro volume de uma antologia de teatro, em que o seu autor, no posfácio, expõe a raz ão de publicação dos seus textos, e fornece indicações sobr e a representação dos mesmos; contém fotos referentes aos espectáculos e a maquetes cenográf icas). 1972 História do Teatro Português, Lisboa, Publicações Europa -América, Colecção Saber. 141 pp. 1984 História do Teatro de Revista em Portugal : 1 Da Regeneração à República, Lisboa, Publicações Dom Quixot e. 250 pp. 1985 História do Teatro de Revista em Portugal: 2 Da República até hoje, Lisboa, Publicações Dom Quixote. 331 pp. RODRIGUES, Henrique 1981 Falar de Teatro com Saudade , Lisboa, edição de autor (memória descritiva do início do século XX, em que as companhias de Lisboa faziam a sua itinerância pela província e vi sitavam o Alentej o, terra de origem do autor. No primeiro capítulo, são referid as al gumas das sociedades artísticas de renome da capital, para, a partir do capítulo 269 seguinte, passar a ser feito o panegírico da Companhia de Amélia Rey Colaço – Robles Monteiro). SANTOS, Graça dos 2003 O Espectáculo Desvirtuado: O teatro port uguês sob o rei nado de Salazar (1933 -1968), Lisboa, Editorial Caminho, Colecção Uni versitária (versão portuguesa da tese de doutoramento da autora, trata-se de uma obra incontornável na compreensão das relações entre o Estado Novo e a Cultura teatral portuguesa; demonstr a-se que a política de centralização do poder em Lisboa, por um lado, e uma visão distorcida do restante país, levam a que o proj ecto ideológico de António Ferro se encontre ab initio destinado ao fracasso). SANTOS, Vítor Pavão dos 1979 A Companhia Rosas & Brazão, 1880 -1898, Uma exposição de Teatro no Museu Nacional de Teatro. Lisboa, Edição da Secretaria de Est ado da Cultura, Direcção -Geral do Patri mónio Cultural e do Museu do Teatro, 72 pp.(catálogo ilustrado da exposição sobre a Companhia Rosas & Brazão com t exto introdutorio de V ítor Pavão dos Santos, e excertos de obras de autores vários - Brazão, Rosa, Chaby Pinheiro, Schwalbach; capítulo sobre as principais peças representadas pela Companhia durante os seus dezoito anos no Teatro D. Maria II; profusão de reproduções de caricaruras de Bordalo Pinheiro, de fotos de cena e de actores, de guarda -r oupa da companhia). 1985 Gente de Cultura, Nacional inaugural Santos). Palco (as colecções do museu), Lisboa, Ministério da Instituto Português do Patri mónio Cultural e Museu do T eatro, 36 pp. (catálogo ilustrado da exposição do museu, dedicado a Amélia Rey Colaço por Pavão dos 1987 A Companhia Rey -Colaço Robles Monteiro (1921 -1974), Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura, Instituto Português do Patri mónio Cultural e Museu Nacional do Teatro, 144 pp. (catálogo ilustrado da exposição sobre a Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro; destaca -se o roteiro da Companhia, através dos seus espectácul os desde 1921, assinalando as datas e locais de estreia e respecti va s encenações, o rol de actores que passaram pela Companhia e de autores representados, e respectivas datas). 1991 Eunice Muñoz: 50 anos da vida de uma actriz, Lisboa, Secretaria de Estado da Cultura, Museu Nacional do Teatro, 144 pp. (catálogo ilustrado da exp osição comemorati va dos ci nquenta anos de carreira de Eunice Muñoz, no qual, entre di versos textos panegíri cos assinados por várias personalidades políticas e culturais, se destacam os textos do encenador João Lourenço, A Al quimia de Eunice Muñoz , e o do então Director do Museu do Teatro, Vítor Pavão dos Santos, Eunice, nome de actriz ; o catálogo comport a ainda uma genealogi a e uma cronologia teatral da actriz, inserindo os espectáculos em que 270 participou e respectivos elencos). SAVIO TTI, Gino 1945 Filosofia do Teatro: Tendências estéticas e gosto representativo das origens à formação do Drama Moderno, Li sboa, Editorial Inquérito Li mitada, Cadernos “Inquérito”, Série I – Ar te X. 81 pp. SCARLATTI, Eduardo 1945 A Religião do Teatro , Lisboa, Editorial Ática, 2ª edição. 234 pp. SEQUEIRA, [Gustavo de] Matos 1933 Teatro de outros tempos, Elementos para a História do teatro Português, Depósito Livraria Coelho, Lisboa. 444 pp. (crónicas sobrea teatralidade portuguesa ao longo dos tempos 1955 História do Teatro Nacional D. Maria II , 2 volumes, publicação comemorativa do cent enário (1846 -1946) , Li sboa, s. n. 1967 Depois do Terramot o , Subsídios para a História dos Bairros Ocidentais de Lisboa , 4 volumes, Academia das Ciências de Lisboa; Rei mpressão ( 1ª edição, 1934). SENA, Jor ge de 1988 Do Teatro em Portugal, Lisboa. Edições 70 (conj unto de crónicas sobre espectáculos de teatro) SILVA, José Bento da 2005 Em Cena: Theatro -Cl ub (1904 – 2004). Póvoa de Lanhoso, Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso. 257 pp. (pub licação comemorati va do centenário do Theatro -Club da Póvoa de Lanhoso, amplamente documentada com fotos, em que se traça a importância do movi mento teatral local, e da necessidade de se construir um teatro na vila. São referenciadas companhias itinerantes de pr ovíncia, entre elas, a de Rafael de Oli veira e a de Humberto de Andrade). SOUSA, José Pedro 1908 O Actor António Pedro julgado pela Arte e pelas Letras , Imprensa Libânio da Sil va, Lisboa. 243 pp. (b iografia do actor António Pedro, feita por seu fil ho, e prefaciada por Ramalho Orti gão; desde os primórdios como amador, passando pela sua estreia como profissional, o biografado é apresentado não só pelas palavras do filho, mas, sobretudo pela citação de mat erial crítico da imprensa portuguesa e brasilei r a. A obra está amplamente documentada com fotografias de António Pedro, o próprio e em personagem) . VASCONCELOS, Ana Isabel P. Teixeira de 2003a O Drama Histórico Português do Século XIX (1836 -56), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a C iência e a Tecnologia; Ministério da Ciência e do Ensi no Superior. 271 2003b O Teatro em Lisboa no tempo de Almeida Garrett , Lisboa, MNT, Colecção “Páginas de Teatro”, volume I. (análise histórica sobre o panorama teatral em Lisboa em meados de oitocentos: si tuação política e profissional, reportórios e legislação vi gente, os profissionais de teatro;.referências bibliográficas; interessante o capítulo 5. Tipologia do espectáculo e o 6. Os reportórios ). 2.2.2. Sobre o Teatro em Geral DUCHARTRE, Pierre Louis s/d The Italian Comedy: The Improvisation Scenarios Lives Attributes Portraits and Masks of the Illustrious Characters of the Commedia dell’Arte, New Yor k, Dover publications, Inc. (1ª edição, 1966). 367 pp. (edição baseada na de Geor ge G. Harrap & Co., Ltd., em 1928, acrescentada de um suplemento compilado a partir do Recueil Frossard, publicado por Duchartre e Van Buggenhoudt, em 1929). FO, Dário 2004 Manual Mínimo do Ator, São Paulo, Editora Senac São Paulo, 3ª edição. Or gani zação de Franca Rama. Tradução d e Lucas Baldovino e Carlos David Szlak. 384 pp. MARTIN, Isabelle 2002 Le Théâtre de la Foire. Des tréteaux aux boulevards, Oxford, Voltaire Foundation, 385 pp. (trabalhando a partir da investi gação de diversos fundos nacionais franceses, a autora elabora um historial sobre o teatro de feira em França, tanto do ponto de vista de autores e obras, como das ocndições de produção teatrais; obra ilustrada). RUDLIN, John e CRICK, Oll y 2001 Commedia dell’Arte: A Handbook for Troupes, London and New Yor k, Routled ge. 251 pp. (destinado a companhias de comedia all’improviso, os autores elaboram sucintamente o historial das companhias italianas mais i mportantes dos séculos XVI e XVII, e das suas congéneres na act ualidade, entre os anos 70 – 90). 2.3. Memórias ABRANCHES, Adelina 1947 Memórias de Adelina Abranches – Apresentadas por Aura Abranches, Lisboa, Edição da Empresa Nacional de Publicidade. BRAZÃO, Eduardo 1925 Memórias de Eduardo Brazão, que seu filho compilou e Henri que Lopes de Mendonça prefacia, Lisboa, Empr esa da Revista de Teatro Lda., Editora. 272 CABRAL, Pedro 1923 Relembrando, Lisboa, Livraria Popular. CARMO, Lucinda do 1911 Fóra de Scena (Prosa e Verso), Lisboa, Cernadas & Cª, Li vr aria Editora. FERREIRA, Izidoro Sabino 1876 Memória do Actor Izidoro – Escritas por ele mesmo – precedidas do retrato do autor – e um carta do Exmº Sr. F. Palha, Lisboa, Imprensa de J. G. de Sousa Neves. GAMBOA, José 1949 De Teatro, Lisboa, Edição do Autor. PEDRO, António 1908 O Actor António Pedro julgado pela Arte e pelas letras, organizado por seu filho José Pedro de Sousa, Lisboa, Imprensa Libânio da Silva. PINHEIRO, António 1909 Theatro Portuguez (Arte e Artistas), Li sboa, Edição do Autor, Tipografia do Archi vo Theatral, 131 pp. (considerações críticas, no estilo acutilante de António Pinheiro, sobre A Vida do Teatro , título do pri meiro capítulo. Como em outras obras, Pinheiro reflecte sobre a condição profissional do actor, sempre do ponto de vista de uma ética associada ao conceito de Arte, mesmo quando trata de assuntos de carácter administrativo, como a constituição de entidades destinadas a zelar pelos interesses associativos dos profissionais de espectáculo, ou sobr e os j azigos dos actores no cemitério dos Prazeres. De salientar ainda, os capítulos: Vocação e Arte – Para ser actor não basta ter vocação, é preciso ter arte ; O eterno paradoxo – considerações sobre o estado fisiológico do comediante em cena; Theatro Portuguez , sua decadência, empr esas, artistas, crítica e público). 1923 Coisas da Vida...(Impressões da Vida d e Teatro), Tip. Costa Sanches, Succ. Galhar do & Costa, Ltd, Lisboa. 387 pp. [ 743] (escrito entre 1920 -1921, ser ve como complemento, segundo o seu autor, do livro antecedente, Ossos do Ofício (1912).que Pinheiro que fora pai havia pouco, pretende legar à filha um relato de episódios da sua vida de actor. Em 24 capítulos, mais um de extras, Pinheiro descreve em estilo fluente desde os seus pri mórdios de amador até 1900. Escrita pitoresca, em que se releva, entre outras, a descrição de uma 743 E xi st e u ma d i scr ep â nc i a e nt re a d a taç ão d a ed i ção na cap a (1 9 2 4 ) e na fo l ha d e ro sto (1 9 2 3 ), d o me s mo mo d o q u e o ed ito r ap are ce na fo l ha d e ro s to , e n q ua n to na cap a ap are ce o d ep o s it ár io , J . Ro d ri g u e s & Cª, 1 8 6 , R u a Aur ea, 1 8 8 – Li sb o a. 273 soirée amadora no Teatr o Therpsychore, à Praça das Flores, na qual Pinheiro tomou parte (cap.III -V); a estrei a no Ginásio (cap.VI); sobre o alfaiate em D. Maria – 1887-1891 (cap.V II); a ititnerância pelo Brasil, em 1892 -3 (cap. V II -X I) ;regresso a Lisboa, a sobrevi vência (cap. X I I-XV I); regresso ao Br asil (cap. XVII - X IX); o regresso ao Nacional e passagem para o D. Amélia, e a morte da companheira (cap. X X); uma companhia i nglesa e a di gressão aos Açores (cap. XXI); Ângela Pinto a A Lagartixa (cap.XXII); O San vito (cap. XX III); Cena final (cap. XX IV); Extra: O Pátio das Arcas). 1929 Contos Largos... (I mpressões da Vida de Teatro) , Tip. Costa Sanches, Succ. Galhardo & Costa, Ltd, Li sboa. Prefácio de Rocha Martins da Academia das Ciências. 500 pp. (c ontinuação de Coisas da Vida, os relatos medeiam entre 1900 e 1924, mantendo o est ilo característico de Pinheiro: arguto e irónico; de particular interesse, o relato desmitificador da personalidade do empresário Visconde S. Luiz de Braga. Nesta obra, Pinheiro conti nua a abordar a face ta profissional do actor: disserta sobre a const ituição do Montepio dos actores e o que viria a ser o Sindicato da classe. Pinheiro, como muitas outras vozes, aponta o dedo a uma classe desunida e competitiva, incapaz de se organi zar de f or ma eficaz. Relat o cuja essência manifesta uma actualidade i mpressi onante). REY-COLAÇO, Amél ia 1949 Vinte Anos de Teatro Nacional D. Maria II – 1929/1949, Lisboa, Empresa Rey Colaço – Robles Monteiro. ROSA, Augusto 1915 Recordações de Scena e de Fora de Scena, Lisboa, Li vraria Ferreira. 1917 Memórias e estudos. Lisboa: Li vraria Ferreira. SANTOS, Carlos [c.1927] Poeira de Palco: Opiniões, anecdotas e comentário, Lisboa, Livraria Popular Francisco Franco, 192 pp. SANTOS, Martins dos 1921 Repregos: Contos humorísticos tea traes, Galhardo & Costa, Ltd, Lisboa, 1ª série, 2ª edição, 120 pp. (a vi da t eatral lisboeta pelo olhar bem humorado do actor Martins dos Santos, que relata apontamentos interessantes sobre os teatros de bairro, os palcos particulares e as sociedades recrea tivas; igual mente interessantes, o capítulo Mesa da Anatomia, que relata o quotidiano da vi da laboral no teatro; o capítulo Notas Biográficas , é composto por textos, de sua autoria, publicados no j ornal A Farça, em 1919). 2.4. Artigos em periódicos A. (1) 274 1948 “De Teatro: O Gai ato de Lisboa ”, Di ário Insular, Angra do Heroísmo, 25.05.1948: 4 (crítica ao espectáculo do Teatro Angrense). A. (2) 1970 “Crítica de teatro: O Tio Rico «prognóstico reservado»”, Diário do Ribatejo, Santarém, 24.10.1970: 4 (crítica ao e spectáculo de estreia). A. A. (aliás Ar mando Ávila) 1948 a “Coliseu Avenida: Companhia Rafael de Oliveira: Li geir as impressões críticas sobre as peças Morgadinha de Valflôr, Paralítico e D. Inês de Castro e D. Pedro, o Cruel ”, Açoreano Orient al, 20.03.1948: 2 (crítica). 1948 b “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oliveira: Li geiras impressões críticas sobre as peças O Tio Rico, de Ramada Curto, e Jesus Nazareno , de Raúl d’Além”, Açoreano Orienta, 27.03.1948: 4, 3 (crítica aos espectáculos). 1948 c “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oli veira: Ligeiras i mpressões críticas sobre as peças Rosa s de todo o ano , de j úlio Dantas; Moços e Velhos, de Rangel de Li ma; As Pupilas do Sr. Reitor , de j úlio Diniz; Amor de Perdição, de Camilo Castel o Branco; Duas Causas , de Alberto Morais e Mário Duarte e Infanticida, de Acácio Antunes”, Açoreano Oriental, 03.04.1948: 4, 3 (crítica aos espectáculos). 1948 d “Coliseu Avenida: Compania Rafael de Oliveira: Li geiras impressões críticas sobre as peças A severa, de Júlio Dant as; Recompensa, de Ramada Curto; Os Fidalgos ad Casa Mourisca ¸ de Júlio Diniz”, Açoreano Oriental, 17.04.1948: 12 (crítica aos espectáculos; referência pouco abonatória *à representação de A Severa, por erro de distribuição de personagens). A. C. 1957 “Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira no seu Teatro Desmontável tem proporcionado ao público aveirense noites inolvidáveis de pura arte. Os espectáculos de hoj e e amanhã com a peça Jesus Nazareno (Vida de Cristo ) posta em cena com toda a dignidade”, Correio do Vouga, Aveiro, 14.09.1957: 3 (arti go el ogioso ao trabalho da Companhia, citando o elenco - f oto do mesmo - e o reportório; noticia o espectáculo mencionado supra). A. F. (1) 1961 a “Teatro Desmontável: Companhia Raf ael de Oliveira”, O Setubalense, 29.04.1961: 8 (notícia elogiosa ao desempenho e har monia da Companhia; referência ao guarda -roupa e cenários; releva -se a Muralha, o Marquês de Villemer e Deus lhe pague ). 275 1961 b “Resenha de Teatro: A Cadeira da verdade : O Grande industrial ”, O Setubalense, 10.05.1961: 3 (apreciação crítica). A. F. (2) 1962 a “Pri meiras Representações: Teatro Avenida – Recompensa”, Jornal do Comércio, Lisboa, 17.02.1962: 11 (crítica ao espectáculo). 1962 b “Pri meiras Represent ações: Avenida – Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Comércio, Lisboa, 03.03.1962: 11 (apreciação crítica elogiosa à pr obidade da Companhia). AITE 1945 “Teatro em Bej a: O terceiro espectáculo da Companhia do teatro Desmontável”, Diário do Alentejo , Bej a, 01.11.1945: 1 -4 (crítica a O Paralítico). A.J. 1958 “Companhia Rafael de Oli veira: Festa de homenagem e despedida”, Litoral, Aveiro, 08.02.1958: 7 (notícia a quatro colunas sobr e o espectáculo final da Companhia, em que também inter vier am amadores, e posterior j antar de homenagem no salão d e festas dos Bombeiros de Aveiro). A.L. 1945 a “Teatro Desmontável: A Severa”, 28.06.1945: 4 (crítica elogiosa ao espectáculo). 1945 b “Teatro: A Calúnia”, Democracia do Sul, 02.08.1945: 4 (crítica ao espectáculo; referência ao fi m de festa com o Miúdo d o Chão das Covas interpretando fados; referência aos intervalos demasi ado longos para mutação de cenário e à actuação da orquestra, que introduziu números novos no seu “sonolento” reportório). 1945 c “Teatro: O Tio Rico”, Democracia do Sul, 16.08.1945: 1 -2 (crítica elogiosa ao espectácul o). 1945 d “Teatro: O Ladrão”, Democracia do Sul, 06.09.1945: 4 (crítica ao espectáculo). 1945 e “Teatro Desmontável: Transviados ”, Democracia do Sul, 13.09.1945: 4 (crítica ao espectáculo). ALFERES, Valentim 1950 “A Da ma das Camélias no Teatro Desmontável da Companhia Raf ael de Oli veira”, Democracia do Sul, Évora, 15.07.1950: 4 (referência crítica à actuação da Companhia durante a Feira de S. João, e à mudança de estilo, após esta). AMARAL, Fernando R. 276 1956 “Está lá f ora um inspector ”, O Mensageiro, Leiria, 14.04.1956: 2 (crítica ao espectáculo em Leiria). ANON. 1956 “Companhia Rafael de Oliveira”, Região de Leira , 21.05.1956: 1 (crónica circunstanciada da homenagem pr estada à Companhia em Leiria e da participação do grupo dramát ico amador diri gido por Miguel Franco; citação do discurso). ANTUNES , Pires 1955 “Impressões de Teat ro: Frei Luís de Sousa ”, Jornal de Elvas, 27.10.1955: 1 (análise elogiosa do espectáculo; referência dramatúr gica e de encenação). A. R. 1960 “O espectáculo de despedida da Companhia Rafael de Olivei ra”, Notícias de Évora , 03.03.1960: 2 (reflexão sobre a estadia da Companhia em Évora). ARGOS 1956 a “A Cadeira da Verdade no Desmontável ” , Diário de Coi mbra , 18.11.1956: 9 (apreci ações críticas à Companhia Rafael de Oli veira na sua actuação em Coimbra ). 1956 b “Dois espectáculos do teatro Desmontável” , Diário de Coimbra, 17.12.1956: 5 (crítica elogiosa à actuação equilibrada da companhia e assaz contuindente em relação à presunção do público pseud o intelectual da cidade universitária). ÁVILA, F. 1962 a “Impressões e Críticas: O Marquês de Villemer ”, Diário Popul ar , Lisboa, 24.02.1962: 2 (o articulista elogia a companhia por “não ter enver gado «roupagens» próprias para se luzir em Lisboa. Mostra -se tal qual é – e muito bem”). 1962 b “Impressões e Críticas: Deus lhe pague no Avenida”, Diário Popular, Lisboa, 27.02.1962: 2 (crítica ao espectáculo) 1962 c “Impressões e Notícias: Um Fantasma Chamado Isabel no Aveni da”, Diário Popular, Lisboa, 04.03.19 62: 2 (elogio aos dotes de comicidade da companhia, em especial Fernando Frias). ÁVILA, Humberto d’ 1962 “Arte e Espectáculos: A Companhia Rafael de Oli veira em Lisboa”, Jornal Português de Economia & Finanças, Lisboa, 15.05.1962: 45, 46 (sobre a Companhi a em uma das noi tes de apresentação de Recompensa). AZENHA, Mário 277 1958 “Marginália”, A Voz da Figueira , Fi gueira da Foz, 28.08.1958: 3 (apreciação elogiosa de Lizete Frias). BABO, Alexandre 1970 “A Rosa do Adro”, Jornal de Notícias, Porto, 24.08.1970: 20 (crónica a propósito da encomenda a Romeu Correia da nova adaptação do romance de Manuel Maria Rodrigues para a Companhia Rafael de Oli veira). BARBOSA, José Luís Nazareth 1959 “A Companhia Rafael de Oliveira: mais de 20 anos de teatro ao domicílio pelas terras de Portugal” , O Século de Domingo, Lisboa, 03.05.1959: 1 (coord. de Olavo d’Eça Leal). BETENCOURT, João 1924 “Pelos Teatros: Aplica-lhe o Selo!.. .: Revi sta em 2 actos levada à cena no Salão Central ”, A Regateira, Cartaxo, 30.11.1924: 2 (crítica negati va à qualidade da revista, apesar de ter tido sucessivas reposições e ter sido do agrado do público). C A L A D O , Roberto 1954 “Teatro: Companhia Rafael de Oli veira”, Voz do Sul , 06.02.1954: 4 (apreciação elogiosa da companhia, dentro das suas característi cas: j usteza de encenação e de interpretação – “vi gilância de carácter ético” -, e apreciação i ndividual da característica dos componentes) . CALADO, Valadas 1956 “A questão do Teatro”, Região de Leiria, 12.01.1956: 1 (sucinta análise do valor da arte para o sociedade, da função teatral em particular, resumindo propostas de valores a aplicar, para chegar à conclusão de que a probidade artística da Companhia de Rafael de Oliveira a coloca como “intérprete do melhor teatro que se tem conseguido”, na di vul gaçã o da arte pelo país). CALVIRA 1973 “Silva Porto: Obteve grande êxito a Companhia de Rafael de Oliveira”, O Lobito, 21.09.1973: 5 (breve referência elogiosa à representação de Noite de Reis, Amor de Perdição e O Pato, sem mencionar datas). CÂMARA, D. João da 1902 “A Farândola”, Revi sta do Conservatóri o Real de Lisboa , nº1, Lisboa, pp.5 -6. C. A. Q. T. 1969 “A apresentação em palco do Amor de Perdição ”, Jornal da Lixa, Lixa, 02.05.1969: 3 (referência elogiosa à apresentação da Companhia Rafael de Oliveira no Cine -Teatro Fonseca Moreira). 278 CARLOS, Fernando 1957 “A últi ma noite da Companhia Rafael de Oliveira em terras de Viriato”, Política Nova, Viseu, 03.08.1957: 7. CASTELA, Al ves 1971 “Motivação XX: Um amor que vem do frio: TEATRO!”, Diário do Ribatejo, Santarém, 23.01.1971: 6 (crónica de quem assistiu ao ensaio de Rosa do Adro, na versão de Romeu Correia). CASTELA, Vitor 1952 a “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O Algarve, 20.04.1952: 3 (apreciação crítica de O Paralítico; referência à reposição de As Duas Causas e a estreia de A Ver Navios). 1952 b “Companhia Rafael de Oli veira: Depois das pancadas de Molière”, O Algarve, 27.04.1952: 4 (apreciação crítica de Recompensa). 1952 c “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O Algarve, 11.05.1952: 4 (apreciação crítica ao espectáculo A Morgadinha de Valflôr ). 1952 d “Companhia Rafael de Oli veira: Depois das pancadas de Molière”, O Algarve, 18.05.1952: 4 (referência crítica aos espectáculos A Mouraria e Milagres d e Fátima) 1952 e “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière”, O Algarve, 25.05.1952: 2 (referência crítica elogiosa ao espectácul o A Vida de um Rapaz Pobre ). 1952 f “Companhia Rafael de Oliveira: Depois das pancadas de Molière...”, O Algarve, Faro, 02.11.1952: 4 (notícia da estreia da Companhia, no regresso a Faro, com o espectáculo A Raça). 1961 “A Fita da Cidade: Teatro”, O Algarve, Faro, 26.03.1961: 1 (soneto dedicado a Rafael de Oliveira). CASTRO, A. Ribeiro de 1958 “A Voz dos leitores . Desabafos!...”, Notícias de Guimarães , 01.06.1958: 1 (crítica à má recepção que o Grémio do Comércio de Gui marães fez ao recital de poesia de Luís Pi nhão). CASTRO, Martinho de 1973 “Dia a dia: do teatro e do seu «ní vel »”, Diário de Luanda, 23.05.973:13 (breve artigo de opinião sobre o panorama teatral luandino). CERQUEIRA , Eduardo 279 1958 “Assi m se ser ve o TEATRO”, Litoral, Avei ro, 15.02.1958:1 -3 (ar tigo de opinião; considerações sobre a função do teatro e longo elogio da Companhia, que ser á citado, em exc er tos, pelo Notícias de Guimarães , 23.02.1958, quando a Companhi a aí se deslocar). C. I. P. 1955 “Linhas de Elvas em Campo Maior: Companhia Rafael de Oliveira”, Linhas de Elvas , 03.12.1955: 2 (elogio da Companhia no últi mo espectáculo realizado em Campo M aior; r eferência à qualidade de Luís Pinhão enquanto declamador). C. M. 1955 “De Teatro: O Sapo e a Doninha ”, A Rabeca, Portalegre, 18.05.1955: 6 (crítica). COROA, Emílio de Campos ( Dr.) 1952 “A Companhia Brasileira no Cine -teatro Farense”, O Algarve, 13.04.1952: 2 (a propósito da crítica ao s espectáculos apresentados em Faro, refere o articuista a ptresença de Lizete Frias na assistência, e a subida ao palco, em final de espectáculo, para entregar um ramo de flores à actriz Dulcina Morais). 1960 a “O Teatro Desmontável de novo em Faro”, Correio do Sul, Faro, 15.12.1960: 6 -5 (crónica sobre a Companhia Rafael de Oliveira, com especial destaque para Eduardo de Matos, de quem se refere o problema de saúde ocular que o afecta; referência a espectáculos da companhia). 1960 b “O Teatro Desmontável de novo em Faro”, Correio do Sul , Faro, 15.02.1961: 6 -5 (crónica biográfica da Companhia; referência à “marca” de Eduardo de Matos como f or mador do estilo da Companhia; apreciações críticas aos espectáculos, Alguém Terá de Morrer e Daqui Fala o Morto ). 1960 c “Apelo”, Correio do Sul , Faro, 02.03.1961: 1 -6 (notícia com foto de Rafael de Oliveira; referência à concorrência da televisão; anúncio da ideia de uma festa de Homenagem à Companhia). COSTA, Ino 1969 “Ecos de Viseu: Outra vez o cinema”, Folha de Tondela, 04.01.1969: 6 (crónica sobre a pobreza cultural da ci dade, devido à falta de espaços apropriados; r eferência ao teatro de amadores e a Rafael de Oliveira). CORREIA, Gomes 1962 a “A Companhia Rafael de Oliveir a”, O Templ ário, Tomar , 16.12.1962: 2 (notícia de apresentação da Companhia; referência à estadia em Lisboa, com citação de críticas da capital; historial, elenco e reportório, relembra -se a estadia de 1937). 280 1962 b “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário, Tomar, 30.12.1962: 5 (crítica de Daqui fala o morto, Fantasma chamado Isabel e Prémio Nobel ). 1963 a “A Companhia Rafael de Oli veira”, O Templ ário, Tomar, 06.01.1963 (crítica detalhada de Amor de perdição , a 30 de Dezembro anterior, e a Prémio Nobel, a 4; r eferência sem mais val or a Casa de Doidos ). 1963 b “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário , 20.01.1963: 3 (crítica de Deus lhe pague, Inês de Castro ). Tomar, 1963 c “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 27.01.1963: 4 (crítica de O Grande Industrial, O Sapo e a Doninha ). 1963 d “A Companhia Raf ael de Oli veira”, O Templário , 10.02.1963: 6 (crítica de Frei Luís de Sousa, Transviados ). Tomar, 1963 e “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 17.02.1963: 4 (crítica de O Marquês de Villemer; referência aos espectácul os seguintes). 1963 f “Teatro”, O Templário, Tomar, 24.02.1963: 4 (crítica de O Conde de Monte Cristo, Alguém terá de morrer ) . 1963 g “Teatro”, O Templário , Tomar, 10.03.1963: 2 (apreciação crítica de O Tio Rico, em récita de benefício do Hospital da Misericórdia de Tomar). 1963 h “Tê...vadas!”, O Templário, Tomar, 24.03.1963: 3 (apreciação crítica de Daqui fala o Morto em teatro t eleviso, com comparação benéfica para a interpr etação da Companhia Rafael de Oli veira). 1963 i “II Dia Mundial do teatro em Tomar”, O Templário , Tomar, 21.03.1963: 1 -4 (notí cia da comemoração no teatro Desmontável, com a representação de A Cadeira da Verdade ). 1963 j “Outros espectáculos”, O Templário, Tomar, (apreciação crítica de Raça, A Dama das Camélias ). 21.03.1963: 4 1963 l “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 14.04.1963: 2 (crítica de Jesus Nazareno). 1965 “Rafael de Oliveira”, O Templário, Tomar, 24.01.1965: 2 (elogio póstumo). C. P. 1967 “Cidade: Teatro Desmontável: O Tio Ri co”, Jornal de Évora, 26.11.1967: 7 (apreciação crítica ao espectáculo). 281 CRISTIANO , Mi guel 1961 “Últi mas i mpressões de uma Companhia Recompensa”, O Algarve, Faro, 26.03.1961: 1 -4 (apreciação crítica do espectáculo). CRÍTICO (O) 1957 “Espectáculos: Época de Teatro”, Política Nova, Viseu, 27.07.1957: 7 (resenha crítica da estadia da Companhia, com ressal va do reportório, em conj unto, e do elenco individual mente. Pedido de desculpas pela não i nclusão de uma crónica sobra a companhia , assinada por Fernando Carlos). CRUZ, Duarte Ivo 1962 “Para uma descentr alização do Teatro Português”, Renovação, Lourenço Marques, Moçambique, 11.04.1963: 4 -9 (crónica sobre a crise do Teatro em Portugal e a centralização nos centros urbanos de Lisboa e Port o). CRUZ, Gastão 1975 “Panorama: O povo tem direito à qualidade artística”, Vida Mundial, 06.03.1975: 38 - 39 (cr ítica ao espectáculo). CRUZ, Marques da 1975 “Lourosa dez anos depois, a propósito de A traição do Padre Martinho”, O Comércio do Porto , 12.01.1975: 7 (artigo, com fotos de António Fernandes, sobre a situação que deu origem ao texto de Santareno; dez anos volvidos, recolhe -se a opinião do Padre Damião Olindo Bastos, ex -coadj utor de Lourosa, o ficcionado Padre Martinho, que assistiu à representaç ão da peça no Porto). CUNHA, Vaz da 1957 “Vida Regional: Viseu: Teatro para o povo”, Diário de Coimbra, 20.07.1957: 2 (notícia sobre a actuação da Companhia em Viseu). 1963 “Vida Regional: Viseu: O Teatro Desmontável em Viseu”, Diário de Coimbra, 20.08.1963: 2 (notícia curta sobre a possibilidade de temporada da Companhia em Viseu, caso a Câmara disponibilize local adequado; referência como sendo “a única organi zação teatral a quebrar a monotonia tr iste nas terras sem teatro”). 1965 “Vida Regional: Viseu: A Morte de Rafael de Oli veira”, Diário de Coimbra, Coi mbra, 13.01.1965: 2 (elogio póstumo de Rafael de Oliveira e lembra as estadas em Viseu). 1968 a “Vida e Aspectos Regionais: Viseu: Viseu Vai ter Teatro Declamado!”, Diário de Coimbra, 24.10.1968: 2 ( o articulista congratula -se com a estadia da Companhia em Viseu, e faz um breve historial do passado teatral da cidade, nos anos 1920s). 282 1968 b “Notícias de Viseu: Vamos ter Teatro”, Primeiro de Janeiro, Por to, 25.10.1968: 2 (ainda que não assinado, o tex to é o mesmo de Vaz da Cunha na edição do Diário de Coimbra , de 24 do corrente: o articulista congratula -se com a estadia da Companhia em Viseu, e faz um breve historial do passado teatral da cidade, nos anos 1920s). CUSTÓDIO, Florindo 1958 a “Quatro repr esentações da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 06.11.1958: 1, 4 (crítica aos espectáculos Israel, Paralítico, Amor de Perdição e Está lá fora um inspector , no Desmontável, em Sant arém). 1958 b “Teatro: Companhia Rafael de Oli ve ira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 13.11.1958: 6 (crítica aos espectáculos Marquês de Villemer, Deus lhe pague, Pupilas do Senhor Reitor e Duas Causas). 1958 c “Teatro: Temporada “Rafael de Oliveira ”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 20.11.1958: 1, 6 (crít ica aos espectáculos Frei Luís de Sousa, Raça e Inês de Castro). 1958 d “As peças desta semana da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 27.11.1958: 6 (crítica ao espectáculo Alguém terá de morrer ) . 1959 a “Teatro: Espectáculos da C ompanhia Rafael de Oli veira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 01.01.1959: 2 (crítica a Prata da Casa ). 1959 b “Teatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 08.01.1959: 5 (crítica a Vida de um Rapaz Pobre, Santo António e O Sapo e a Doninha ). 1959 c “Crítica de T eatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 15.01.1959: 5 (breve crónica ao espectáculo Transviados). 1959 d “Teatro: Mais algumas representações da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 05.02.1959: 6, 4 (crítica). 1959 e “Teatro: Uma e streia da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 12.02.1959: 5 (críticas aos espectáculos de Carnaval: O Rapto da Prima, Infanticida e Daqui Fala o Morto!... ) . 1959 f “Teatro: Últimos espectáculos da temporada da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 26.02.1959: 6 (not as críticas de A Dama das Camélias e de Daqui Fala o Morto!... ). DUARTE, Rolo 1962 “Comentários: Cenas e Fitas de Rolo Duarte”, Rádio & Televisão , Lisboa, 24.02.1962: 4 (elogio de Rafael de Oli vei ra feito no programa “Meia -noite”, transmitido nos emi ssores do RCP). 283 DUBINI, Carlos 1926 “Gente de Teatro: Rafael de Oli veira”, Jornal dos Teatros , Lisboa, 25.04.1926: 5 -6 (primeira biografia conhecida de Rafael de Oliveira). 1927 “Cenário de morte”, Jornal dos Teatros , Lisboa, 05.06.1927: 4 (biografia póstuma de Ernesto de Freitas). E. 1968 a “De Teatro: Amor de perdição no Teatro Desmontável”, Jornal de Viseu, 18.12.1968: 2 ( crítica ao espectáculo). 1968 b “De Teatro: As Duas Órfãs no Teatro Desmontável”, Jornal de Viseu, 21.12.1968: 8 -6 (crítica ao espectáculo). 1968 c “De Teatro: A Rosa do Adro no Desmont ável”, Jornal de Viseu, 25.12.1968: 10 -8 (crítica ao espectáculo). 1968 d “De Teatro: O Sapatinho de Vidro no desmontável”, Jornal de Viseu, 28.12.1968:8 -3 (análise detalhada do enredo, e referência crítica às interpretações). 1968 e “Um fantasma chamado Isabel ”, Jornal de Viseu, 28.12.1968:3 (apreciação crítica do espectáculo). ENEPÊ 1948a “Companhia Rafael de Oli veira: Um conj unto artístico homogéneo e honesto”, Eco do Funchal , Madeira, 04.01.1948: 1 e 4 (apreciação crítica da Companhia, referenciando indi vidualmente os actores). 1948b “A Companhia Rafael de Oliveira continua em pleno êxito”, Eco do Funchal, Madeira, 15.01.1948: 4 (reflexão crítica ao p reconceito em relação à Companhia). 1948c “No Teatro Municipal de Baltazar Dias A Morgadinha de Valflôr pela Companhia Rafael de Oli veira”, Eco do Funchal , Madeira, 29.02.1948: 3 (crítica). ESPECTADOR ( UM) (1) 1950 a “Impressões sobre a representação da peça A Fera”, Notícias de Évora, 18.07.1950:2 ( crítica). 1950 b “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oli veira: Impressões sobre a peça A Dama das Camélias ”, Notícias de Évora , 18.07.1950:2 (crítica). 1950 c “Impressões sobre a apresentação da revista Notícias de Évora , 22.07.1950: 2 (crítica). 284 Prata da Casa ”, 1950 d “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: Impressões de Teatro”, Notícias de Évora , 04.08.1950:1 (crítica a Cadeira da Verdade). 1950 e “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: A Calúnia”, Notícias de Évora , 10.08.1950: 2 (crítica). 1950 f Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: A Vida de Um Rapaz Pobre ”, Notícias de Évora , 23.08.1950: 3 (crítica). 1950 g “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oli veira: Im pressões sobre As Pupilas do Senhor Reitor ”, Notícias de Évora , 26.08.1950: 3 (crítica). 1950 h “Teatro Desmontável : Companhia Rafael de Oli veira: Nazareno”, Notícias de Évora , 03.09.1950: 2 (crítica). Jesus 1950 i “Teatro Desmontável: Companhia Rafael d e Oliveira: O Tio Rico”, Notícias de Évora , 13.09.1950: 2 (crítica). 1950 j “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: As Duas Causas”, Notícias de Évora , 20.09.1950: 3 (crítica). 1950 l “Teatro Desmontável : Companhia Rafael de Oli veira: António”, Notícias de Évora , 23.09.1950: 2 (crítica). Santo 1950 m “Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira: O Paralítico”, Notícias de Évora , 29.09.1950: 2 (crítica). ESPECTADOR ( UM) (2) 1955 “Tribuna do Leitor: Di ga de sua j ustiça: Carta pública a Ra fael de Oliveira”, Linhas de Elvas, 16.07.1955: 4 -2 (elogio público da Companhia, relevando nomes e funções dos diferentes elementos, e da sua actuação artísti ca e social). ESPECTADOR (O) DA FILA H – nº 5 1953 “Teatro: Companhia Rafael de Oliveir a”, Jornal de Lagos, 30.10.1953:1 -4 (notí cia elogiosa à actuação da Companhia; a irregularidade do j ornal não per mite maior relevo, segundo refere o articulista; entusiasmo do público que rar as vezes aprecia teat ro; referência à vertente social da actuação da Compa nhia; ter mina com duas notas: estreia de Eduardo Matos, em Causa Célebre , aos 6 anos, na Companhia de Constantino de Matos, no Teatro Gil Vicente; Fernando Frias, em Inês de Castro ¸ no Cine -Teatro Ideal, de Lagos, aos 2 anos e meio) . F. 285 1963 “O últi mo esp ectáculo”, O Templário, Tomar, 21.04.1963: 1 -2 (crónica elogiosa da Companhia, em derradeira récita da temporada, com Alguém terá de morrer ). F. A. 1948 “A Companhia Rafael de Oli veira: Os seus espectáculos no amplo Coliseu Avenida estão obtendo o mais cr escente êxito”, Açoreano Oriental, 13.03.1948: 4 (extenso elogio a três colunas sobre a actuação da Companhia na pri meira semana de estadia no Coliseu Avenida de Ponta Del gada) . F. A. P. 1963 “Teatro Português: A comédia A Barraca (que está longe de ser u ma «barraca») estreou -se no Monumental”, (recorte não identificado pertencente ao acervo de Ál varo de Oli vei ra), Lisboa, 01.04.1963 (referência aos teatros desmontáveis “que apesar de tudo são ainda afinal os que conseguem na província admiradores da Arte de Talma”). F. C. 1961 “Cartas ao Director: A Companhia do Teatro Desmontável de Rafael de Oliveira em Sesi mbra”, O Sesimbrense, 30.07.1961: 2 (carta aberta de um leitor elogiando o trabalho da Companhia, criticando a falta de apoio na di vulgação do seu t rabalho e apelando à adesão do público, enchendo o Desmontável). F. C. C. 1956 “Do Concelho: Buarcos: Teatro pela Companhia Rafael de Oli veira”, A Voz da Figueira , Figueira da Foz, 23.08.1956: 3 (notícia de apresentação da companhia em Buarcos, no Teatro das Caras Direitas, com Deus lhe pague , a 17, e Prémi o Nobel , a 24). F. D. 1949 ”Crítica teatral”, O Riomaiorense , 10.12.1949: 3 (apreciação crítica sobre o trabalho e as qualidades da Companhia). FERNANDES , Vasco da Gama 1956 “Teatro – Elemento de Cultura”, República, (2ª série), 27.03.1956: 1 2 (artigo de opinião sobre o valor da Companhia na divulgação da Arte j unto das populações; nota crítica sobre o Teatro que então se fazia no resto do País). F. F. 1962 “Espectáculos. Avenida – Recompensa”, Diário de Notícias, Lisboa, 15.02.1962: 5 (historial da companhia - e breve crítica ao espectáculo - a partir da apresentação de Luís de Oliveira Gui marães, na estreia da Recompensa). FIALHO, Alberto 286 1946 a “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: A Fera”, O Setubalense, 24.04.1946: 4 (crítica). 1946 b “Teatros: Companhia Rafael de Setubalense, 27.04.1946: 2 (crítica). Oli veir a: O Paralítico”, O 1946 c “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Duas Causas e Mourari a”, O Setubalense , 01.05.1946: 2 (crítica). 1946 d “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Tomada da Bastilha ”, O Setubalense, 08.05.1946: 2 (crítica). 1946 e “Teatros: Companhia Rafael de Setubalense, 08.05.1946: 3 (crítica). Oli vei ra: O Tio Rico”, O 1946 f “Teatros: Companhia Rafael de Oli veir a: A Morgadinha de Valflôr ”, O Setubalense , 11.05.1946: 2 (crítica). 1946 g “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: O José do Telhado ”, O Setubalense, 15.05.1946: 2 (crítica). 1946 h “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Viúva Alegre em Cascais”, O Setubalense, 22.05.1946: 2 (crítica). 1946 i “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Os Milhões do Criminoso ”, O Setubalense , 29.05.1946: 4 (crítica). 1946 j “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: O Conde de Monte Cristo ”, O Setubalense , 05.06.1946: 3 ( crítica). 1946 l “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: Moços e Velhos ”, O Setubalense, 08.06.1946: 4 (crítica). 1946 m “Teatros: Companhia Rafael de Oliveira: A Vida de Um Rapaz Pobre”, O Setubalense , 15.06.1946: 3 (crítica). 1946 n “Teatros: Companhi a Rafael de Setubalense, 19.06.1946: 3 (crítica). Oli veira: Transviados , O 1946 o “Teatros: Companhia Rafael de Oli veira: Os Dois Garotos de Paris”, O Setubalense , 22.06.1946: 4 (crítica). FONSECA, Roma da 1942 “Eduardo de Matos: Ami go e Artista”, 31.01.1942: 3 (retrato do actor). A Rabeca, Portalegre, F. R. 1968 a “De Teatro: Prémio Nobel ”, Jornal de Vi seu, 13.11.1968: 6 e 2 (crítica ao espectáculo). 287 1968 b “De Teatro: Israel no Teatro Desmontável”, Viseu,20.11.1968: 6 e 5 (crítica ao espectácu lo). Jornal de 1969 a “De Teatro: Casa de Doidos no Desmont ável”, Jornal de Viseu, 04.01.1969: 8 (crítica ao espectáculo). 1969 b “Recordando factos vi vidos este ano”, Jornal de Viseu, 31.12.1969: 1, 16, 3 (resenha de efemérides ocorridas em Viseu, com referência ao espectáculo O Sapatinho de Vidro , patrocinado pela Câmara Municipal da cidade em favor das crianças pobres das escolas e instituições de assistência social). GAMA, Eurico (aliás E.G., Director do Jornal de Elvas ) 1955 a “Perfis do Desmontável: 1 – Rafael de Oliveira”, Jornal de Elvas, 25.08.1955: 2 (perfil biográfico). 1955 b “Perfis do Desmontável: 2 – Eduardo de Matos”, Jornal de Elvas, 01.09.1955: 1 (perfil biográfico). 1955 c “Perfis do Desmontável: 3 – Lucinda Trindade”, Jornal de Elvas, 08.09.1955: 4 (perfil biográfico). 1955 d “Perfis do Desmontável: 4 – António Vilela”, Jornal de Elvas, 06.10.1955: 1 (perfil biográfico). 1955 e “Perfis do Desmontável: 5 – Li zete Fri as”, Jornal de Elvas, 13.10.1955: 1 (perfil biográfico). 1955 f “Perfis do Desmontável: 6 – Gisela de Oli veira”, Jornal de Elvas , 20.10.1955: 1 (perfil biográfico). 1955 g “Perfis do Desmontável: 7 – Fernando Frias”, Jornal de Elvas, 27.10.1955: 4 (perfil biográfico, em que se fazem comparações com outros nomes de nomeada do teat ro português). 1955 h “Perfis do Desmontável: 8 – Fernando de Oliveira”, Jornal de Elvas, 04.11.1955:1 (perfil biográfico). 1955 i “Perfis do Desmont ável: 9 – 11.11.1955: 4 (perfil biográfico). Geni Fr ias”, Jornal de Elvas , 1955 j “Notas de Teatro”, Jornal de Elvas, 17.11.1955: 1, 4 (análise do trabalho em prol do t eatro português desenvol vido pela Companhia, em extenso artigo de opinião; fotos de Li zete e Carlos Frias). 1955 l “Pefis do Desmontável: 10 – Ema de Oliveira”, Jornal de Elvas, 24.11.1955: 1 (perfil biográfico). 288 1955 m “Perfis do Desmontável: 11 – Idalina de Al meida”, Jornal de Elvas, 01.12.1955: 1 (perfil biográfico). 1956 “Conte -nos uma anedota: Minha senhora, fuj a que eles vão matá -la!”, Jornal de Elvas, 17.08.1956: 6 (relato de duas peripécias durante as actuações da Companhia Rafael de Oliveira). GARDO 1963 “Teatro”, Região de Leiria, 18.05.1963: elogiosa da Companhi a e da sua actuação). 4 (apreciação crítica G. C. 1969 “O Orfeão de Viseu vai actuar no Desmontável”, Comércio do Por to, 07.01.1969: 2 (notícia da actuação do órfeão no Desmontável a 14 de Janeiro, com a peça O Oiro, de Alfredo Cortês, e do grupo coral; texto igual ao da notícia do Diário de Coimbra , na mesma data). GOMES, Fernando (aliás F. G.) 1969 a “Teatro em Braga” , Diário do Minho, 03.05.1969: 2 (crónica lastimosa sobre a ausência de público ao Desmpntável, por preconceito em relação à sala). 1969 b “Pela Cidade: Companhia de Teatro Rafael de Oli veira”, Diário do Minho, Braga, 08.05.1969: 2 (referência elogiosa ao teatro Desmontável, em noit e de representação de Um Fantasma Chamado Isabel). 1969 c “Teatro Desmontável”, Diário do minho, 13.05.1969: 4 (referência ao espectáculo O Grande industrial e Uma bomba Chamada Etelvina ). 1969 d “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 15.05.1969: 2 (notícia sobre o espect áculo Uma Bomba Chamada Etelvina ). 1969 e “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 18.05.1969: 2 (br eve apreciação crítica de O Tio Rico; anúncio dos espectáculos do dia, O Sapatinho de Vidro e Aqui há Fantasmas!... ). 1969 f “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 22.05.1969: 2 (br eve apreciação de O Sapatinho de Vidro e Aqui há Fantasmas; anúncio de A Muralha). 1969 g “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 24.05.1969: 2 (breve apreci ação crítica de A Muralha; anúncio de Casa de Doidos ). 1969 h “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 25.05.1969: 5 (breve notícia sobre Casa de Doidos, com fr aca assistência; anúncio de Danúbio Azul , a 25). 289 1969 i “Teatro Desmontável”, Diário do Minho, Br aga, 27.05.1969: 2 (br eve referência crítica a O Danúbio Azul ; anúncio de Prémio Nobel ). 1969 j “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 05.06.1969: 2 (notícia sobre reposição de Prémio Nobel e anúncio de Um fantasma chamado Isabel ). 1969 l “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho, Braga, 07.06.1969: 2 (notícia sobre o cancelamento de um espectáculo por falta de público e anúncio de As Duas Órfãs, em que se estreia Maria Tavares). 1969 m “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho , Braga, 17.06.1969 : 2 (notícia sobre a reposição de Uma Bomba Chamada Etelvina , em penúlti mo espectáculo da Companhia Rafael de Oli veira; frequência reduzida, apesar da boa interpretação; anúncio de Um Fantasma Chamado Isabel, a 17, em últi mo espectácul o). 1969 n “O Teatro Desmontável vai abandonar Braga”, Diário do Minho, 18.06.1969: 1, 2 (artigo de opinião cáustico sobre a indiferença do público bracarense ao teatro desmontável; referência à grande afluência nas di gressões pelas localidades limítrofes; agradeci mento público pelo trabalho desenvol vido pela companhia). 1969 o “Teatro Desmontável ”, Diário do Minho , Braga, 20.06.1969: 2 (notícia sobre o ulti mo espectáculo da Companhia em Braga). GORTLER, Alberto 1962 “Panorama Teatral: Porque não apresenta a R.T.P. a Compan hia Rafael de Oliveira?”, Jornal de Almada , 04.03.1962: 4 (o articulista interroga porque razão a Companhia Rafael de Oli veira não apresenta o seu reportório na Televisão, se outras o têm feito). GREGÓRIO, M. 1956 a “Teatro visto da «geral »”, Região de Leiria, 09.02.1956:1 (br eve artigo sobre a recepção do teatro por parte do público popular; sugestões para a melhoria da qualidade artística desse mesmo público). 1956 b “O Teatro da Companhia «Rafael de Oli vei ra»”, Região de Leira , 26.04.1956: 2 (pequeno ensaio sobre a Companhia, sobre a sua actuação em Leiria: análise estética do seu modus operandi teatral). GUIMARÃES , Querubi m 1957 “O Teatro Desmontável”, Correio do Vouga, Aveiro, 26.10.1957: 3 (artigo de opinião sobre a Companhia). H. R. 1969 “Últi ma hora: A M uralha pelo teatro do pessoal da Sacor”, Novidades, Lisboa, 29.11.1969: 8 (a pr opósito do espectáculo 290 dirigido por Ruy Furtado, pelo Grupo de Teatro do Pessoal da Sacor, no Teatro da Trindade, em 28 e 29 de Novembro, o articulista ref ere a Co mpanhia Rafael de Oliveira como di vul gadora do texto de Calvo Sotelo pela província, após a sua estreia no Teatro D. Maria II). I. C. 1962 “Crítica de espectáculos: Companhia Rafael de Oliveira – A Muralha”, Novidades, 04.03.1962: 2 (apontamento crítico e logioso ao espectáculo e à Companhia). J. A. (1) 1953 “Teatro”, Jornal de Lagos, 15.11.1953:1 -4 (notícia, com foto de Rafael de Oli veira; apreciações críticas do elenco). J. A. (2) 1962 a 1962 “Crítica: Avenida: Deus lhe Pague”, Diário 27.02.1962: 2–3 (crítica elogiosa ao espectáculo). Ilustrado , 1962 b “Crítica: Avenida: A Muralha pela Companhia Rafael de Oliveira”, Diário Ilustrado, 02.03.1962: 6 (crítica ao espectáculo). 1962 c “Crítica: Avenida Um Fantasma Chamado Isabel “, Diário Ilustrado, Lisboa, 04.03.1962: 2 (crítica ao espectáculo). J. A. C. (aliás J. A.) 1959 a “Luzes da Ribalta: Uma noite de verdadeiro Teatro”, Brados do Alentejo, Estremoz, 06.12.1959: 3 (crítica a Deus lhe pague ). 1959 b “Luzes da Ribalta: Alguém Terá de Morrer de Luís Francisco Rebelo no Bernardim Ribeiro”, Brados do Alentejo, Estremoz, 13.12.1959: 3 (notícia do regresso da Companhia, a 16; historial de Luiz Francisco Rebell o e resumo do enredo) . 1959 c “Luzes da Ribalta: Alguém Terá de Morrer na interpretação da Companhia Rafael de Oliveira”, Brados do Alentejo, Estremoz, 27.12.1959: 3 (crítica ao espectáculo). J. M. 1961 a “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 26.02.1961: 1 -4 (anúncio do fi m de temporada que se par oxi ma; apreciação crí tica elogiosa ao trabalho des envol vido pela Companhia; apreciação crítica aos espectáculos: Tio Rico , Inês de Castro, Isarel, Paralítico ; referência à homenagem que o Círculo Cultural do Algar ve prepara à Companhia Rafael de Oliveira, a 9 de Março). 1961 b “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 05.03.1961: 1 -4 (foto de Luís Pinhão; notícia da homenagem promovi da pelo Círculo Cultural do Al gar ve à Companhia; apreciações críticas a: Dama das Camélias, Calúnia, Cadeira da verdade ). 291 1961 c “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 12.03.1961: 1 -4 (notícia da alteração de data da homenagem promovi da pelo Círculo Teatral do Algar ve, por motivo de luto do Dr. Campos Coroa; apreciação crítica de A Muralha). 1961 d “A Semana Teatral em Faro”, O Algarve, Faro, 19.03.1961: 1 -4 (apreciação crítica a Jesus Nazareno, Conde de Monte Cristo, Deus lhe pague; relato da Homenagem à Companhia). JOSÉ, Aníbal 1955 “Coisas de Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira mais uma vez em Estremoz”, Brados do Alentejo, 16.01.1955: 3, 4 (crítica elogiosa à actuação da Companhia Rafael de Oli veira, em 05.01.1955, com a peça O Grande Industrial , de Geor ge Ohnet). JUDEX 1958 “A Companhia Rafael de Oliveira esteve em Aveiro”, Litoral, Aveiro, 25.10.1958: 7 (crítica ao espectáculo Alguém terá de morrer , no Teatro Aveirense; notícia da deslocação da companhia ao cemitério em homenagem a José Christo). 1959 “Teatro antigo? Teatro moderno?”, Democracia do Sul, Évor a, 12.12.1959:4 (respost a ao arti go de Heitor Roque, “De Teatro: A Arte, em Teatro, não pode parar, antes tem que acompanhar a evolução dos povos e o progresso em geral”, em que se constata que a realidade do nível cultural do público contradiz as aspirações dos críticos no desej o de evolução). JÚNIOR, Rocha 1957 “Riscos na areia: Lembranças da Morgadi nha”, Diário de Lisboa , 15.08.1957 (crónica breve sobre teatro, e o de Pinheiro Chagas, a propósito da Companhia Rafael de Oliveira). J.V. 1959 “Teatro: Obrigado por terem vindo!”, O Eco de Estremoz, 29.11.1959: 4 (breve apreciação crítica de Deus lhe pague e, sobretudo do valor artística da Companhia Rafael de Oliveira em comparação com outras oriundas de Lisboa, menos apreciadas) . K. 1945 “Impressões de teatro: A Calúnia no Teatro Desmontável”, Notícias de Évora, 02.08.1945: 2 (crítica ao espectáculo ). L. 1973 “Espectáculos: Parte no dia 15 para Luanda a Companhia Teatral Rafael de Oliveira”, Diário de Luanda, 08.03.1973:5 (com foto de Fernando de Oli veira; referência à partida de Lisboa, a 15, no paquete Infante D. Henrique (CNN), á deslocação pelo território 292 angolano, tipos de espectáculo – gratuitos para Forças Ar madas e matinées para escolas; discriminação do elenco e lotação do Desmontável). LAGOA, Vera (aliás Maria Ar manda Falcão) 1975 “Depois das nove: Teatro: A Traição do Padre Martinho, obra de um homem que nunca traíu”, Diário Popular, 25.09.1974:2 (crítica; caricatura de Bernardo Santareno por Teixeira Cabral). LEAL, João 1960 a “O teatro desmontável em Faro” , Fol ha de Domingo, Faro, 18.12.1960: 5 -8 (sobre a inauguração do novo Teatro Desm ontável) . 1960 b “O Teatro Desmontável em Faro”, Fol ha de Domingo, Far o, 25.12.1960: 8, por (apreciações elogiosas à Companhia; referência à recepção da mesma pelo público; referência à homenagem a Eduar do de Matos; apreciações críticas aos espectáculos, Deus lhe pague, Amor de Perdição, O Sapo e a Dominha e A Calúnia; anúncio dos espectáculos do dia de Natal, Sapatinho de Vidro e Casa de Doi dos , seguida de Fi m de Festa, com apresentação do “tenor Ál varo de Oliveira”). 1960 c “Crónica de Faro: O Teatro Desmontável”, Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 28.01.1961: 2 (apreciação do valor do Teatro Desmontável). 1960 d “O Al gar ve vai homenagear a Companhi a Rafael de Oli veira”, Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 25.02.1961: 5 (notícia da homenagem a ser prestada à Companhia pelo Grupo de Teatro do Círculo Cultural do Algar ve, com a representação de Ratos e Homens, de Steinbeck). 1971 “Crónica de Faro: Teatro na Cidade”, Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 04.03.1972: 2 (not ícia da chegada da Companhia a Faro; referência ao passado, ao acolhi mento, à renovação). L. M. 1966 “Cooperação merecida”, O Comércio do Port o, Porto, 04.11.1966: 14 (análise sintética sobre a itinerância e o val or da Companhia Rafael de Oliveira; elogi o do governo, pelo subsídio atribuído à Companhia). L. R. 1970 a “Crítica de Teatro: Uma Bomba Chamada Etelvina ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 27.10.1970: 6 (crítica ao espectáculo). 1970 b “Crítica de Teatro: A Muralha”, Diário do Ribatejo, Santarém, 29.10.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 293 1970 c “Crítica de Teatro: Um Fantasma Chamado Isabel ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 02.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 1970 d “Crítica de Teatro: Amor de perdição ”, Diário do Ribat ejo, Santarém, 04.11.1970: 4 (crítica do espectáculo). 1970 e “Crítica de Teatro: Prémio Nobel ”, Diário do Ribatejo , Santarém, 06.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 1970 f “Crítica de Teatro: Três em Lua de Mel ”, Diário do Ribatejo , Santarém, 09.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo ). 1970 g ““Crítica de Teatro: O Grande Industrial ”, Diário do Ribatej o , Santarém, 11.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 1970 h “Crítica de Teatro: A Calúnia”, Diário do Ribatejo, Santarém, 12.11.1970: 6 -4 (crítica ao espectáculo). 1970 i “Crítica de Teatro: Casa de Doidos ”, Diário do Ribatejo, Santar ém, 15/16.11.1970: 4 (críti ca ao espectáculo). 1970 j “Crítica de Teatro: Deus lhe pague ”, Diári o do Alentejo, Santarém, 19.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 1970 l “Crítica de Teatro: Danúbio Azul ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 22/23.11.1970:4 (críti ca ao espectáculo). 1970 m “Crítica de Teatro: Daqui fala o morto ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 26.11.1970: 4 (crítica ao espectáculo). 1970 n “Crítica de Teatro: Duas Causas ”, Diário do Ribatejo , Santarém, 28.11.1970: 8 (crítica ao espectáculo). 1970 o “Crítica de Teatro: Aqui há Fantasmas ”, Diário do Ribatej o , Santarém, 03.12.1970: 4 (critica ao espectáculo). 1970 p “Crítica de Teatro: As Duas Órfãs ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 05.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo). 1970 q “Crítica de Teatro : As Pupilas do Sr. Reitor ”, Diário do Ribatejo , 10.12.1970: 6 (crítica ao espectáculo). 1970 r “Crítica de teatro: Está lá fora um inspector ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 14.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo). 1970 s “Crítica de teatro: Jesus Nazareno ”, Diário do Ribatejo, Santarém, 31.12.1970: 6 e 4 (crítica ao espectáculo). 294 1971 a “Histórias para serem contadas : Uma originalidade teatral em Santarém”, Diário do Ribetajo , Santarém, 18.01.197 1: 6 (notícia da estreia da peça de Osvaldo Dagrun, com encenação de Ál varo de Oliveira; referência ao conteúdo do espectáculo a estrear dentro de dias). 1971 b “Crítica de Teatro: A Rosa do Adro ”, Diário do Ribatejo , 28.01.1971: 6 (crítica à estreia da n ova versão de Romeu Correia, em 24 de Janeiro, em Sant arém). L. S. 1956 “A Voz da Marinha Grande: Obj ectiva: Caridade e Cultura”, Regi ão de Leiria, 09.02.1956: 3 (breve crítica à recepção do espectáculo de homenagem a Rosário Henriques; o periodista apont a o dedo à f alta de interesse do públi co abastado, que pagou e faltou, em contr aste com o mais modesto, que preencheu os lugar es de oferta). M. 1959 “A Semana Caldense”, Gazeta das Cal das , Caldas da Rai nha, 14.04.1959: 6 (referência à quantidade e qualida de de di verti ment os nas Caldas, entre eles os espectáculos da Companhia). M. de A. 1963 “A Barraca no Monumental”, (recorte não identificado pertencente ao acer vo de Ál varo de Oli veira), Lisboa, 01.04.1963 (crítica ao espectáculo escrito por Ribeirinho e Henri que Santana estreado no Teatro Monumental; alusão à parceria, que por vezes assina com o pseudóni mo de Jorge de Sousa; alusão à Companhia Rafael de Oliveira como tema do enredo da peça). MARTINS , Rocha 1928 “A Consagração de Adelina Abranches” , Revista ABC, Ano V III, nº 399, 08.03.1928: 3 -4 (tem foto de Adelina Abranches enquanto Gaiato de Lisboa na peça do mesmo nome). MATTA, Bravo da 1944 “A Companhia Rafael de Oliveira”, Not ícias do Alentejo, Vila Viçosa, 25.12.1944: 3 -4 (notícia de homenagem à Companh ia, em 07.12, na Sociedade União Borbense; elogio da companhia e do reportório). 1945 “Correspondência: Borba”, Notícias do Alentejo , Vila Viçosa, 18.02.1945: 2 ( notícia do espectáculo de Benefício, realizado no Teatro municipal de Borba, a 22.01, com a repres entação de Calúnia). 1955 “Teatro Desmontável”, Brados do Alentejo , 03.04.1955: 6 (notícia da estadia da Companhia em Portalegre, com afluência de público). 295 M. C. (1) 1959 “Teatro: A Companhia Rafael de Oliveira alcançou j á o direito à mais alta consagr ação nacional ”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 12.03.1959: 1 e 4 (elogio na despedida da Companhia de Santarém). M. C. (2) 1962 “Cinema, TV, Rádio: A Companhia Rafael de Oliveira”, Juvent ude Operária, Lisboa, Março.1962: 7 (referência biográfica da Companhia e ao seu tr abalho em prol do Teatro). M. C. (3) 1962 a “Recompensa de Ramada Curto”, Jornal de Letras e Artes, Lisboa, 21.02.1962: 6 (crítica ao espectáculo). 1962 b “O Marquês de Villemer no Avenida”, Jornal de Letras e Artes, Lisboa, 28.02.1962: 6 ( crítica ao espectáculo). MENDES, Maria Juliete Oehen 1969 “Cartas ao Director: As cidades estão doentes”, Flama, Lisboa, 23.05.1969: 12 (carta resposta a um artigo com o memo título Flama 02.05.1969. A leitora denuncia a retrógrada mentalidade bracarense, cuj o ambi ente cultural denota pobreza: mau cinema na época de Inverno, desapareci mento progressivo da acti vidade teat ral amadora. Invoca a necessidade de rej uvenescer a mentalidade, através de exposições, colóquios sobre arte, da criação de um grupo de teatro amador, a exemplo do de Aveiro, por forma a eliminar a rotina quotidiana. Agradece publicamente o trabalho da Companhia Rafael de Oli veira). MESQUITA, Maria Helena Dá 1975 “Um Padre Martinho demagógico 27.09.1974:19 (crít ica). e superficial”, A Capital, MORAIS, José Domingos 1962 “Teatro Aberto: Coisas e Coisas de Teatro”, Flama, Lisboa, 02.03.1962: 13 (apresentação sumária da Companhia Rafael de Oliveira; foto com legenda: Rafael de Oliveira: sonho de aventura e teatro). M. R. C. 1955 a “Prémio Nobel. Uma peça famosa representada por uma excelente companhia”, Linhas de Elvas , 15.10.1955: 1 -2 (crítica entusiástica ao espectáculo realizado em Campo Maior, escr ita em 11.10.1955). 1955 b “Frei Luiz de Sousa . Coroa de glória da Companhia Rafael de Oliveira”, Linhas de Elvas , 29.10.1955: 2 ( crítica ao espectáculo). M. T. R. 296 1962 “Avenida: Recompensa”, Mundo Desportivo , Lisboa, 16.02.1962: 6 (notícia da estreia da Companhia; referência à apresentação de Luís de Oli veira Gui marães, ao enredo, à interpre tação – “desi gual numa Companhia que vi ve nas condições desta” – e à aceitação do público). M. V. 1962 “Crítica dos Espectáculos: A Companhia Rafael de Oliveira no Avenida”, Novidades, Lisboa, 25.02.1962: 6 (breve relato analítico da génese e obj ectivos d a Companhia, referindo estética interpretativa). M de V 1948 “Uma temporada de T eatro: Como foi vista e apreciada no Funchal a Companhia Rafael de Oli veira”, Eco do Funchal , Madeira, 26.02.1948: 1 e 2 (apreciação crítica da Companhia). M. V. de A. 1962 “Da nossa cadeira...: Recompensa – de Ramada Curto, no Avenida, pela Companhia Rafael de Oliveira”, República, Lisboa, 15.02.1962 (elogio do trabalho da companhia, enquanto factor de cultura na província, e leve crítica positiva ao espectáculo, com reticê ncias para o texto, que se considera desactualizado para “um público dito civilizado”). N O R O N H A , Eduardo de 1919 “Folheti m: Teatro: Barracas de Feira”, Diário de Notícias, Lisboa, 21.10.1919: 1 (artigo circunstanciado sobre os teatro de feira e sobre os Dallot). NUNES , Luís de Oli veira 1975 “Vida Artística: A Traição do Padre Marti nho, notável espectáculo de exemplar di gnidade artística”, Diário de Notícias, 27.09.1974: 6 (crítica). NUNES , Manso 1969 “Inquérito ao gosto artístico de Braga”, Diário do Minho, Braga, 12.05.1969: 1, 2 (entrevista a Fernando de Oli veira, em que este critica a falta de públ ico aos espectáculos e o modo snobe com que se encarava a Companhia). OBJECTIVA 2 1973 “A Cidade: Estreias: Armadilha para um Homem Só no Rafael de Oliveira”, Diário de Luanda, 14.07.1973:6 ( apreciação crítica). OLIVEIRA, Carlos 1959 “Crítica de Teatro”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 15.01.1959: (crítica da revista A Ver Navios). 297 6 O. P. 1962 “Crítica de Teatro: A Muralha no Aveni da”, Diário da Manhã , Lisboa, 03.03.1962 (cr ítica condescendente ao espectáculo). O. P. R. 1959 “Teatro: A Companhia Rafael de Oli veira apresentou no Teatro Virgínia a esplêndida peça em 3 actos Prémio Nobel ”, O Almonda, Torres Novas, 31.01.1959: 2 (crítica). O. R. 1959 “A Companhia Rafael de Oliveira e os Organismos Operários da A.C.”, Jornal do Ribat ejo , Santarém, 19.02.1959: 6. ORLEM 1958 a “As peças desta semana da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 27.11.1958: 6 (crítica aos espectáculos O Grande Amor, As Duas Órfãs e O Tio Rico). 1958 b “Teatro: O que vi mos esta semana no teatr o Desmontável”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 04.12.1958: 1, 6 e 4 ( crítica). 1958 c “Teatro: Continuam com o maior êxito as actuações da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 11.12.1958: 6 -5 (crítica). 1958 d “Os espectáculos da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 18.12.1958:8 (crítica). 1958 e “Teatro: A estreia da Muralha pela Companhia Rafael de Oliveira constituiu um grande êxito”, Jornal do Ribatejo , Santar ém, 25.12.1958:8 (crítica). 1958 f “Teatro: Espectáculos da Companhia Rafael de Oli veira”, Jornal do Ribatejo, Santarém, 01.01.1959: 2 (crítica aos espectáculos A Muralha, Sapatinho de Vidro e Moços e Velhos). O. S. 1963 “Leiria: Abertura”, Di ário de Coimbra , 08.05.1963 (notícia elogiosa ao regresso da Companhia a Leiria, ao agrado com que é recebida e ao prazer intelectual que proporciona aos habitantes). P. (1) 1956 a “Teatros e Cinemas: Primeiras representaçõe s”, O Primeiro de Janeiro, 19.05.1956: 4 (crítica ao espectáculo O Marquês de Villemer). 1956 b “Teatros e Cinemas: Primeiras representações”, O Primeiro de Janeiro, 22.05.1956: 5 (crítica ao espectáculo A Calúnia). 298 1956 c “Teatros e Cinemas: Sá da Bande ira: Israel, peça em três actos de Henr y Bernstein”, O Primeiro de Janeiro , 23.05.1956 (crítica ao espectáculo, e anúncio ao Prémio Nobel , par a o próprio dia). 1956 d “Teatros e Cinemas: Pri meiras Represent ações”, O Pri meiro de Janeiro, 24.05.1956: 7 (ref erência elogiosa à qualidade da Companhia e breve crítica de Prémio Nobel ). P. (2) 1971 “Companhia de Teatro Rafael de Olivei ra”, Badaladas, Torr es Vedras, 03.07.1971 (notícia da estadia da companhia, referindo a falta de adesão do público “ao bom teatro ”; fugaz interrogação sobre o valor da cultura nesse tempo). PAIVA, Américo 1942a “Teatro em El vas”, Jornal de Elvas, 03.05.1942: 1 (elogio da Companhia pelo redactor -chefe do j ornal, que transcreve parte de um artigo de A Rebeca, de Portalegre). 1942b “Teatro”, Jornal de Elvas, 02. 08. 1942: 1 (elogio do Teatro versus Cinema, da Companhi a; incitamento à frequência do Desmontável) . PASSOS, Alexandre 1965 “Morreu Rafael de Oliveira: carta abert a de Alexandre Passos”, 13.03.1965 (recorte não identificado, pert encente ao acervo de Ál varo de Oli veira, de uma revista dirigida por João Abrantes; foto de Rafael de Oli veira, e nquanto Jan-Jan, de O Tio Rico, de Ramada Curto). 1973 “Crónica de Luanda” , Teatro em Moviment o , Revista nº 4, Lisboa, Setembro/ Outubro de 19 73: 42 (Crónica sobre a digressão da Companhia Rafael de Oliveira pelo território de Angola, entre Abril e Outubro. Definição do reportório, elenco e localidades). PESSANHA, Camilo 1954 “Os 7 dias da semana: Israel”, O Algarve, 02.05.1954 (notícia do espectáculo realizado no Cine -Teatro Santo António, em benefício da Casa dos Rapazes de Faro). PINHÃO, Leonor 1983 “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira: a poeira final”, Expresso, Lisboa, 13.08.1983: 22R -23R, (a propósito da futura demolição do Desmontável, instalado no Marti m Moni z, pela Câmara Municipal de Lisboa, a articulista faz um breve historial da Companhia. Talvez o derradeiro!). PINTO, Sucena 299 1958 “Teatro: Companhia Rafael de Olivei ra”, Ecos de Cacia, 01.03.1958:1 -2 (entr evista com Fernando de Oli veira, na noite da Homenagem à Companhia no Teatro Aveirense). PISCARRETA , Joaquim de Sousa 1960 a “De Lagos: Companhi a Rafael de Oliveira”, Jornal do Algarve, Vila Real de Santo Antóni o, 06.08.1960: 4 (referência à representação de Daqui Fala o Morto, e anúncio de Muralha, a 10). 1960 b “De Lagos: Homenagem à Companhia Raf ael de Oli veira”, Jornal do Algarve, Vila Real de Santo António, 04.03.1961: 4 por (congratulação com o evento). 1972 a “Correio de Lagos: A Companhia Rafael de Oliveira em Lagos”, Jornal do Algarve, 15.07.1972: 7 (referênci a a estreia da Companhia em Lagos e lembrança de êxitos de outros tempos). 1972 b “Correio de Lagos: Bom teatro em Lagos”, Jornal do Algarve, 22.07.1972: 7 (notícia da actuação da companhia em Lagos; referência aos espectáculo – 3ª, 5ª, sábado e domingo; anúncio de As Borboletas São Livres, a 22 e 23). 1972 c “Correio de Lagos: O teatro e a afluência de público”, Jornal do Algarve, 29.07.1972: 9 (notícia da fraca adesão de público; referência ao preço dos bilhetes; anúnico de A Rosa do Adro , a 29 e 30). 1972 d Correio de Lagos: Grande sucesso da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Algarve, 05.08.1972: 6 (notícia do sucesso de Rosa do Adro ; anúncio de O Grande Industri al , a 5 e 6). 1971 e “Correio de Lagos: Vamos ter saudades da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Algarve, 30.09.1972: 5 (notícia do último espectáculo da companhia em Lagos, As Borboletas São Livres ). P. L. 1962 “Impressões: No Avenida – Um Fantasma Chamado Isabel ”, A Voz, Lisboa, 05.04.1962 ( notícia sobre a despedida da Companhia de Lisboa e elogio pós -temporada). P. M. 1952 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Impressões de teatro, O Algarve, 23.03.1952: 3 (i mpressões críti cas sobre a estreia da companhia em Faro; o a rticulista revela a sua impressão presencial favorável confir madora das opiniões veiculadas pelo público de Vila Real de Santo António e de Tavira). 300 1952 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Domi ngo – A Fera”, O Algarve, 06.04.1952: 2 (apreciação c rítica ao espectáculo do dia 30 anterior). 1952 c “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Deus l he pague”, O Algarve, 13.04.1952: 1, 2 (apreciação crítica ao espectáculo do dia 3 anterior). 1952 d “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana : Terça -feira – Recompensa”, O Algarve, 27.04.1952: 4 (fugaz apreciação crítica do espectáculo, de quem não considera o texto como das melhores obras literárias do seu autor) 1952 e “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Terça -feira – A Dama das Caméli as”, O Al garve, 04.05.1952: 3 (apreciação crítica do espectáculo). 1952 f “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Domingo – Amor de perdição”, O Algarve, 11.05.1952: 4 (apreciação crítica ao espectáculo). 1952 g “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana : Quinta -feira – Ladrão”, O Algarve, 18.05.1952: 1 (fugaz apreciação crítica ao espectáculo, por parte de quem não apreciou o texto). 1952 h “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Outro mer gulho”, O Algarve, 25.05.1952: 1, 2 (br eve refer ência crítica ao espectáculo Os Fidal gos da Casa Mourisca ; apelo à memória do desempenho de Il da Stchini, Brazão, José Ricardo, Maria Matos e Samwell Dini z). 1952 i “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Teatro e História”, O Algarve, 08.06.1952 (apreciação crítica do espectáculo Inês de Castro ) . 1952 j “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Sábado – Deus lhe pague”, O Agarve, 15.06.1952: 2 (referência ao espectáculo, em reposição; referênciaa o elogio em cena aberta do Provedor da Sa nta Casa da Misericórdia, agradecendo o espectáculo de benefício; considerações sobre o valor social do teatro) . 1952 l “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Os Milagres de Santo antónio ”, O Algarve, 22.06.1952: 1 (apreciação crítica ao espectáculo; referência à participação de Ál varo de Oliveira [4 anos] como Menino Jesus). 1952 m “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana: Sexta -feira – despedida”, O Algarve, 29.06.1952: 3 (referência ao último espectáculo da companhia em Faro; apreciaç ão do seu valor). 301 1952 n “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Sexta -feira – Outra vez o Desmontável”, O Al garve, 19.10.1952: 2 (o ariiculista regozij a -se pelo regresso da Companhia, preenchendo uma lacuna de cultura teatral no panorama algar vio). 1952 o “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Boas Vindas”, O Algarve, 09.11.1952: 1 -2 (apontamento críticco da estr eia da Companhia, com Raça, de Rui Correia Leite). 1952 p “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinta -feira – Em foco”, O Algarve, 16.11.1952: 2 (apontamento crítico sobre o modo de actuação da companhia, relevando o equilíbrio na distribuição do protagonismo pelo elenco, sej a em papéis principais ou em secundários). 1952 q “O Nosso Calendári o: Os 7 Dias da Semana: Quart a-feira – Umaestreia auspiciosa”, O Algarve, 30.1.1952: 1 -2 (apontamento crítica à estreia de O Marquês de Villemer; referência elogiosa ao estilo derepresentação dos actores, à cenigrafia e fi gurinos, e à tradução, a merecer actualização de linguagem). 1952 r “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Quinat -feira – A verdade da mentira”, O Algarve, 07.12.1952: 1 -2 (apontamento críticode A Cadeira da Verdade ). 1960 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Notícias de Teatro”, O Algarve, Faro, 25.09.196 0: 4 (referência do regresso a Faro do Teatro Desmontável). 1960 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Impressões de Teatro”, O Algarve, Faro, 18.12.1960: 1 (apreciação crítica do modo de trabalho da Companhia -percebe -se que se trata de alguém que conhece bastante bem o conj unto - e dos espectáculos Muralha, Daqui Fala o Morto e Israel). 1961 a “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Eduardo de Matos”, O Algarve, Faro, 12.03.1961: 1 -4 (notícia do regresso de Eduardo de Matos ao Desmontável, embor a sem poder trabalhar, devido à convalescença). 1961 b “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: Atenção leitor”, O Algarve, Faro, 12.03.1961: 4 (num arremedo de Kipling, o articulista equaciona vários ses que deveriam conduzir o público a estar presente na festa de homenagem à Companhia, no dia 16). 1961 c “O Nosso Calendário: Os 7 Dias da Semana: O Teatro partiu”, O Algarve, Faro, 02.04.1961: 1 -4 (referência ao fim da temporada e à espera de mais 8 a 10 anos para que volte: tempo de j ej um). 302 POMBEIRO, B. Gomes 1961 “A Companhia Rafael de Oli veira em Al mada”, Diário do Alentejo, Bej a, 05.12.1961 (testemunho i mportante de um serpense, i mi grado em Al mada, sobre a actividade da Companhia trinta anos antes, em Serpa, onde representou num modesto cinema com um palco improvisado). 1962 a “De Al mada”, Jornal de Moura, 06.02.1962 (notícias da estadia da Companhia em Al mada). 1962 b “De Al mada: Al mada e o Teatro”, Jornal de Moura , 10.02.1962 (crónica breve sobre a actuação da Companhia em Al mada e da ausência de público, o que “entristece” o art iculista). POMBO, Rui (aliás R. P.) 1963 a “Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, 13.01.1963: 4 (artigo em que se agradece a estadia da companhia na cidade e em que se elogia o elenco através das interpretações que mais marca ram o articulista). 1963 b “Teatro em Tomar: Inês de Castro de Raul d’Além: Deus lhe pague: A Calúnia”, Cidade de Tomar, 20.01.1963: 2 (breves referências críticas aos espectáculos). 1963 c “Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, 27.01.1963: 4 (crónica breve sobre a indisciplina de certo tipo de espectadores que vai ao teatro). 1963 d Teatro em Tomar”, Cidade de Tomar, Tomar, 03.02.1963: 1 -4 (referências críticas aos espectáculos: Israel, Duas Causas, Paralítico). 1963 e “Teatro em Tomar, Jesus Nazareno (Vi da de Cristo)”, Cidade de Tomar, 14.04.1963: 4 (crítica entusiástica ao espectáculo de 7 de Abril, no Desmontável ). PORTO, Carlos 1975 “Crítica de Teatro: As boas ideias e o mau t eatro”, Diário de Lisboa, 02.10.1974:6 (crítica). P. S. G. 1959 “O Milagr e da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal do Ribatejo , Santarém, 15.01.1959: 1 -4 (retrato da Companhia enquanto conj unto social e enquanto empresa). R. 1959 a “Teatro Desmontável: O Sapatinho de Vidro ”, Notícias de Évora , 10.12.1959: 3 (crítica ao espect áculo). 303 1959 b “Teatro Desmontável: Está lá fora um i nspector ”, Notícias de Évora, 13.12.1959: 3 (crítica ao espectáculo). 1959 c “Teatro Desmontável: O Sapatinho de Vidro sobe à cena no dia de Natal”, Notícias de Évora , 24.12.1959: 2 (notícia anunciando o espectáculo). 1959 d “A Dama das Caméli as hoj e no Teatro Desmontável”, Notícias de Évora, 12.01.1960: 1 -2 (evocação da representação da peça, no Teatro Garcia de Resende, na noite de 8 de Julho de 1913, interpretada por Italia Vitaliani; elogio da comp etência artística de Lizete Frias para a interpretação do personagem de Mar gar ida Gautier, sem comparações com a di va de 46 anos antes). 1967 “A Cadeira da Verdade no Teatro Desmontável”, Notícias de Évora , 11.10.1967:1 -2 (o articulista começa por definir o conceito de “bom teatro”, para depois passar a análise crítica do espectáculo). RAMALHO 1924 “Pelos Teatros: Prefácio duma Crítica ou Crítica num Prefácio”, A Regateira, Cartaxo, 05.10.1924: 2 (crítica negati va à representação de Amor de Perdição; em estilo de crónica, o autor descreve com mi núcia o serão no Salão Central). RAPAZ (O) DA GERAL 1942 “Teatro Desmontável: Breves referências às suas representações”, A Rabeca, 17.01.1942: 3 (retrato de uma Companhia itinerante). RIBALTA 1956 “Teatro em Leir ia”, O Mensageiro, 21.01.1956: probidade artística e humana da companhia). 2 (elogio da RIBEIRO, Curado 1965 “De Teatro: Terminará a mais anti ga companhia teatral portuguesa?”, Antena, Lisboa, 15.10.1965: 36 -37 (breve hi storial da Companhia (6 colunas), em que Fernando Curado Ribeiro releva as dificuldades vi vidas no momento). RIBEIRO, D. 1933 “Teatro Gil Vicente”, Notícias de Guimarães, 05.02.1933: 1 (veemente crítica às más condições físicas do Teatro, invocando o seu encerramento). RICO, Gabriel 1965 “Carta de Lisboa”, Jornal da Madeira , Funchal, 23.01.1965 (a propósito do elogio fúnebre de Rafael de Oliveira, faz -se uma síntese contundente da crise da classe teatral em Por tugal). R. M. (1) 304 1963 “Companhia Rafael de Oliveira”, O Nabão, Tomar, 15.01.1 963: 1 -4 (apreciação crítica ao trabalho da Companhia; relevo para Fernando de Oli veira e Fernando Frias). R. M.(2) 1963 “Raul Solnado fala de Tomar”, O Templ ário, Tomar , 20.04.1963 (entrevista em que Sol nado se refere com respeito à companhia). RODRIGUES, Fausto 1965 “Morreu Rafael de Ol iveira”, Jornal de Viseu, 13.01.1965 (evoca -se a memória do ami go Rafael e das conversas de camari m) . RODRIGUES, Lourenço 1962 “Teatro de Outros T empos”, Rádio & Televisão, 03.03.1962: 16 (crónica sobre o Teatro do Prínc ipe Real, ou Apolo, segundo os tempos, e do espectáculo A Galdéria, com Adelina Abranches, em que se menciona o nome de Elisa Aragonez, oriunda dos teatro de feira dos irmãos Dallot, que trabalhou no Teatro do Rato e no Teatro Chalet da Rua dos Condes). RODRIGUES, Urbano Tavares 1974 “A Traição do Padre Martinho no Maria Matos”, Século, 26.09.1974: 4 (crítica). 1975 “Antes e depois do 25 de Abril: O Teatro em Portugal”, Século, 01.01.1975: 16 (resenha do panorama teatral português pós revolução) . ROQUE, Heitor 1945 a “Teatro Desmontável: A FERA em estreia da Companhia Rafael de Oliveira”, Democraci a do Sul, 19.06.1945: 2 (crítica ao espectáculo de estreia). 1945 b “Teatro Desmontável: 12.07.1945: 4 (crítica distribuição). A Mouraria”, Democracia do Sul, elogiosa ao esp ectáculo; referência à 1945 c “Teatro Desmontável : As Duas Causas ”, Democracia 14.07.1945: 2 (crítica elogiosa ao espectácul o). do Sul, 1954 “Atenção ao Teatro Desmontável”, Democracia do Sul, 26.09.1954 (elogio do trabalho em prol do teat ro levado a cabo pela Companhia de Rafael de Oli veira; faz -se referência aos êxitos de épocas passadas, como incent ivo de afluência de público). 1955 “Representando levam a Arte a toda a parte: Em louvor da Companhia Rafael de Oliveira”, Jornal de Elvas , 10.11.1955: 1 (artigo de opinião, com foto de Rafael de Oliveira, sobre a «lendária» crise do teatro e de como a Companhia Rafael de Oli veira 305 é merecedora do estí mulo e apreço pelo trabalho que vem realizando ao longo de vários anos). 1959a “Teatro: A Art e, em Teatro, não pode parar, antes tem que acompanhar a evolução dos povos e o progresso em geral”, Democracia do Sul, Évora, 28.11.1959: 4 (a nálise crítica sobre a necessidade de evolução de reportórios das companhias que praticam itinerância pela provín cia). 1959b “Crónica Teatral: A Arte é a Vida”, Brados do Alentejo, Estremoz, 20.12.1959: 3 (crónica a propósito da representação de Deus lhe pague, pela Companhia Rafael de Oli veira; o autor reflecte sobre teatro a partir do prefácio desta obra de Joracy Camar go). 1962 “Crónica Teatral: A Companhia Rafael de Oli veira em Lisboa”, Brados do Alentejo , Estremoz, 04.03.1962: 3 (crónica em que se relembra a Companhi a trinta anos antes, na mudança de reportório, que o articulista espera ver ainda mais renovado, lasti mando a apresentação de O Marquês de Villemer , demasiado antiquado). 1969 “Frei Luís de Sousa no Teatro Capitólio”, Novidades, Lisboa, 05.02.1969 (a propósito da reposição do texto de Garrett pela Companhia de Rey Colaço – Robles Monteiro, refere -se a Companhia Rafael de Oliveira como tendo representado durante vários anos este mesmo texto). RUFO, Quico 1923 “Ressurreição!”, A Voz da Serra, Seia, 16.12.1923: 2 (crítica aos espectáculos da Companhia no Teatro Senense: A Filha do Saltimbanco e A Rosa do Adro). S. 1948 “Teatro: Festa artística de Ema de Oliveira e Fernando de Oli veira” , Açores, 01.05.1948:4 ( crítica). SANTOS, António Augusto 1953a “Frei Luís de Sousa foi estreado em Faro pela Companhia Rafael de Oliveira”, Povo Algarvio, Tavira, 25.01.1953: 4 e 1 (apreciação da representação em Far o; elogio da Companhia, com referência a uma apreciação de Barreto Poeira, a pr opósito da estreia de Raça , em Porti mão). 1953b “Frei Luís de Sousa em Tavira”, Povo Algarvio, Tavira, 01.02.1953: 4 (apreciação crítica). 1954 “Teatro: Israel, mais um êxito da Companhia Rafael de Oli veira”, Voz do Sul, 20.03.1954: 4 (crítica elogiosa ao espectáculo). 306 1956 “Carta à Companhia Rafael de Oli veir a”, Região de Leiria , 29.03.1956: 2 (carta datada de 20/3/1956, expre ssando a saudade de voltar a ter a Companhia em terras algar vias; apreciação encomiástica da Companhia e do seu trabalho em prol do Teatro). 1960 “Uma página de crítica teatral: Alguém terá de morrer do Dr . Luís Francisco Rebelo, em estreia da Companhia R afael de Oliveir a”, Povo Algarvio, Tavira, 18.12.1960: 1 e 3 (crítica ao espectáculo de estreia do “novo” Desmontável). 1962a “Arabescos Literários (14): O Teatro Português”, Povo Algarvi o, Tavira, 18.02.1962: 1 e 2 (crónica sobre a estreia da companhia do “desmontável” no Teatro Avenida, num “exame 100% oral” para Rafael de Oliveira, que despiu o “casaco de 50 toneladas, em que se envol vera como provinciano, anos e anos incontáveis, e subiu a avenida a pedir... Teatro. E deram -lhe Teatro”). 1962b “Inter mezzo (31): Teatro -Saudade”, Folha do Domingo , Far o, 25.02.1962 (uma apreciação crítica ao teatro contemporâneo, com dedicatória «ao Rafael de Oli veira, como uma saudade desfolhada...”, feita em tom nostál gico por un amant de théâtre , que quase se tornava em “Gomes de Amori m” do Desmont ável). SANTOS, A. Fi gueiredo 1963a “Teatro”, O Templário , Tomar, 13.01.1963: 1 e 4 (crítica de As Duas Órfãs). 1963b “A Companhia Rafael de Oliveira”, O Templ ário, Tomar , 20.01.1963: 3 (crítica de A Calúni a). S. E. 1956 “A Voz da Marinha Grande : Secção semanal de propaganda e defesa dos interesses do concelho e povo da Marinha Grande: Teatro”, Região de Leiria , 26.01.1956: 3 (artigo sobr e o espectáculo O Sapo e a Doninha, em homenagem a Maria do Rosário Henriques). SÉRIO, Mário 1975 “Teatro: Santareno, o catolicismo e os «padres -operários»”, República, 07.10.1974: 7 e 19 (crítica ao espectáculo). S. G. 1973 “Teatro: À Espera de Godot ”, A Província de Angola, 29.07.1973: 6 (apreciação crítica ao espectáculo; foto de cena) . SILVA, Maria August a (aliás M.A.S.) 1973a “Ribeirinho de novo em Angola, como arti sta convidado e director artístico da Companhia Rafael de Oliveira: Brevemente, espectáculo de estreia em Luanda”, A Província de Angola , 30.03.1973: 5 307 (crónica com fotos da istalação do Desmontável, e da entrevist a a Francisco Ribeiro). 1973b “Teatro: Noite de Reis e a Companhia Rafael de Oliveira”, A Província de Angola, 06.04.1973: 15 (breve apontamento crítico ao primeiro espectáculo da companhia; referência a deficiên cias de som; foto de cena durante o espectáculo). 1973c “Janela indiscreta: Amor de perdição na casa desmontável da Companhia Rafael de Oliveira”, A Provínci a de Angola, 13.05.1973: 5 (crítica ao espectáculo). SIMÃO, José Duarte 1957 “A Companhia Rafae l de Oli veira”, Litoral , Aveiro, 24.08.1957: 8 (apreciação crítica elogiosa à Companhia, relevando o “equilíbrio de conj unto” que não é habitual ver -se, e destacando a figura de Eduardo de Matos, do qual se publica a foto) . SIMÕES, Santos 1958a “O teatro Desmontável de Rafael de Oliveira”, Notícias de Guimarães, 30.03.1958: 1 (a propósito da Companhia, reflecte -se sobre a crise do teatro em Portugal: autores, encenadores, actores, empresários). 1958b “Pelo teatro: Uma nova série de actuação brilhante da C ompanhia Rafael de Oliveira”, Notícias de Guimarães, 30.03.1958: 1 (crítica elogiosa à representação de Frei Luís de Sousa e de Está Lá Fora um Inspector). 1958c “Teatro Desmontável: Alguém terá de morrer ”, Notícias de Guimarães , 04.05.1958: 2 (crítica ao espectáculo em questão, e a Inês de Castro e Transviados). SOROMENHO, Amíl car 1959 “Teatro em Évora: Alguém terá de morrer – Mais um êxito da Companhia Rafael de Oliveira”, Democracia do Sul, Évora, 26.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo). SOUSA, Faustino dos Reis 1962a “Noites de Teatro: A Compania Rafael de Oliveira em Vila Franca”, Vida Ribatejana, Vila Franca de Xira, 31.03.1962: 1 (recordações das companhias de província; apreciação crítica elogiosa à Companhi a, no espectáculo Recompensa; espectáculo concorrido; indicação do reportório). 1962b “Uma peça sempre nova: O Marquês de Vil lemer ”, Vida Ribatejana, Vila Franca de Xira, 05.05.1962: 1 e 8 (crítica elogiosa ao espectáculo). 308 SOUSA, Neves de 1961 “Na Companhia Rafael de Oli veira, Filho és, actor serás”, Flama, Lisboa, 22.09.1961: 23 e 25 (reportagem sobre a Companhia e o desmontável; amplamente ilustrada com fotos de Lobo Pi mentel). SOUSA, Rocha de 1960 “Homenagem à Companhia Rafael de Oliveira”, Voz do Sul, Sil ves, 11.03.1961 (notícia da realiz ação da festa, no dia 9, que o articulista não assistiu, porque disserta sobre a peça Ratos e Homens , que não chegou a reali zar -se por moti vos i mprevistos). S. P. (aliás Ar mando Santos Pereira, director e editor do Jornal de Viseu ) 1968a “Arte para Jovens ”, Jornal de Viseu, 23.10.1968: 1 (sob a consideração de que a j uventude coeva carecia de “sensibilidade, de gosto e de respeito por tudo o que [fosse] de elevada ou até média espiritualidade”, o articulista apresenta di ver sas opções para mi nor ar o problema, usando os recursos artísticos existentes; artigo com interesse, de uma modernidade confrangedor amente actual !!). 1968b “Teatro de Sempre ( A Companhia Rafael de Oli veira)”, Jornal de Viseu, 23.10.1968: 6 (auspicioso acolhimento da Companhia; evocação de Rafael de Oli veira e do desmontável). 1968c “Teatro: Três em Lua de Mel no Desmontável”, Jornal de Viseu, 30.10.1968: 6 -2 (apreciação crítica de um espectáculo a que assistiram o Governador Civil e o President e da Câmara Municipal e família). 1968d “De Teatro: As Duas Causas no Teatro Desmontável”, Jornal de Viseu, 02.11.1968: 8 -2 (crítica ao espectáculo, com análise dramatúr gica). 1968e “De Teatro: A Muralha no teatro Desmontável”, Jornal de Viseu, 06.11.1968: 6 (crítica ao espectáculo). 1968f “De Teatro: Daqui Fala o Morto ”, Jornal de Viseu, 13.11.1968: 2 (crítica ao espectáculo). 1968g “De Teatro: O Grande industrial ”, Jornal de Viseu, 20.11.1968: 5 (crítica ao espectáculo). 1968h “De Teatro: Frei Luís de Sousa no Desmontável”, Jornal de Viseu, 27.11.1968: 8 -7 (crítica ao espectáculo). 1968i “De Teatro: Uma Bomba Chamada Etelvina no Teatro Desmontável”, Jornal de Viseu ¸ 30.11.1968: 10 (cróitica ao espectáculo). 309 1968j “De Teatro: As Pupilas do Sr. Reitor no Teatro Desmontável”, Jornal de Viseu, 11.12.1968:7, 2 (analiza -se o género opereta em Portugal, como introdução, de uma apreciação crítica ao espectáculo). 1968l “De Teatro: A Calúnia”, Jornal de Viseu, 18.12.1968: 2 (crítica ao espectáculo). 1969 “Espectáculo do Órfeão de Viseu no Teatro Desmo ntável”, Jornal de Viseu, 18.01.1969 (crónica do espectáculo realizado a 14). SPECTATOR 1955a “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 26.03.1955: 5 (breves críticas a Raça, a 11.03, Fidalgos da Casa Mourisc, a 16.03, Tio Rico, a 18.03, e O Ladrão, a 23.03). 1955b “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 09.04.1955: 2 (breves críticas a Jesus Nazareno, a 03 e 04.04, e Frei Luís de Sousa, a 06.04). 1955c “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 23.04.1955: 2 (breves crítica a Dama das Camélias, a 20.04). 1955d “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 14.05.1955: 2 (breves críticas a Marquês de Villemer, a 29.04, Grande Amor, a 04.05, e Sapo e a Doni nha, a 11.05). 1955e “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 21.05.1955: 2 [breve crítica a Ver Navios, a 13.05). 1955f “Teatro Desmontável ”, O Distrito de Portalegre , 04.06.1955: 2 (breve resenha dos espectáculos apresentados, com críticas a Prata da Casa, a 25 e 26.05, e Casa de Doidos, a 27.05) 1955g “Teatro Desmontável ” , O Distrito de Portalegre , 11.06.1955: 4 (crítica a Recompensa) . 1955h “Teatro Desmontável”, O Distrito de Portalegre , 25.06.1955: 4, 2 (breves críticas a Frei Luís de Sousa , Duas Máscaras e Santo António). VAZ, M. J. 1961a “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira e o seu Teatro Desmontável no Barreiro”, Distrito de Setúbal, Setúbal, 03.11.1961: 1, 4 (historial desenvol vido da companhi a, do desmontável e das condições problemáticas do seu trabalho; referência à constituição do elenco; tem continuação na edição seguinte do j ornal). 310 1961b “A Companhia de Teatro Rafael de Oliveira no Barreiro”, Distrito de Setúbal, 07.11.1961: 4 (conclusão da reportagem iniciada no número anterior). 1961c “Crítica de Teatro: Um Fantasma Chamado Isabel pela Companhia de Rafael de Oliveira”, Distrito de Setúbal, 21.11.1961: 1 (crítica ao espectáculo de estreia da Companhia no Barr eiro). 1961d “Festa de Homenagem à Companhia de Teatro Rafael de Oliveira no Barreiro”, Distrito de Setúbal, 01.12.1961: 1, 6 (notícia da festa, a 2 de Dezembro, promovida pelo agrupamento cénico da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense, em cuj o programa o Grupo Céni co dos Penicheiros representou Dias Felizes , de Claude -André Puget , e a Companhia Rafael de Oli veira, O Sapo e a Doninha ) . 1961e “A homenagem promovida no Barreiro à Companhia Rafael de Oliveira”, Distrito de Setúbal, 15.12.1961: 1, 4 (crónica da homenagem, a 2 de Dezembro, promovida pelo Grupo Cénico da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense (Os Penicheiros) à Companhia Rafael de Oli veira, em que o Grupo Cénico dos Penicheiros representou Dias Felizes , de Claude -André Puget, e a Companhia O Sapo e a Doninha ) . VAZ, M. R 1973 “Companhia Rafael de Oliveira”, Diário de Luanda, 07.04.1973: 7 (crítica a Noite de Rei s). V. B. 1973 “A cidade: Teatro em Luanda: A propósito de O Amor de Perdi ção pela Companhia Rafael de Oli veira”, Diário de Luanda, 06.05.1973: 7 (crítica). V. C. 1952 “Companhia Rafael de Oliveira”, O Alfarve, 21.12.1952: 4 (breve nota elogiosa sobre a di ginidade de monta gem de qualquer espectáculo na Companhia; referência ao espectáculo O Ladrão e à cedência do Desmontável para uma récita de beneficência). V. C. F. 1959a “Página dos Espectáculo: A Companhia Rafael de Oli veira em Torres Vedras”, República, Lisboa, 07.07. 1959: 3 (crítica elogiosa ao espectáculo Cadeira da Verdade ). 1959b “Prémio Nobel em Torres Vedras”, República, Lisboa, 11.07.1959: 3 (crítica ao espectáculo). 1959c “Página dos Espectáculo: Deus lhe pague em Torres Vedras”, República, Lisboa, 15.07.195 9: 3, 11 (crítica ao espectáculo). 311 1959d “Página dos Espectáculo: Teatro em Torres Vedras”, República, Lisboa, 19.07.1959: 3, 11 (apreciações sobre a crise de Teatro). 1959e “Página dos Espectáculos: Rafael de Oliveira em Torres Vedras”, República, Lisboa, 21.07.1959: 3 -10 (apreciação crítica aos elementos da Companhia). 1959f “Página dos Espectáculos: Teatro em Torr es Vedras”, República, Lisboa, 25.07.1959: 3 -11 (crítica a Alguém terá de morrer ). 1959g “Página dos Espectáculos: O Grande Amor em Torres Vedras”, República, Lisboa, 26.07.1959: 3 -10 (crítica). 1959h “Página dos Espectáculos: A Calúnia em Torres Vedras”, República, Lisboa, 01.08.1959: 3 (crítica ao espectáculo; referência às fracas condições do teatro, que prej udicam a exibição; necessidade da existência de outros gr upos congéneres). 1959i “Página dos Espectáculo: O Marquês de Villemer em Torres Vedras”, República, Lisboa, 03.08.1959: 3, 5 (crítica ao espectáculo). 1959j “Página dos Espectáculos: o Tio Rico em Torres Vedras”, República, Lisboa, 04.08.1959: 3 (crítica ao espectáculo). 1959l “Recompensa de Ramada Curto em Torres Vedras”, Repúbli ca, Lisboa, 02.10.1959: 3, 4 (crítica ao espectáculo e referência ao modo de vida dos elementos da Companhia). 1959m “Teatro em Torres Vedras”, República, Lisboa, 13.10.1959: 3 (crónica do penúltimo espectáculo da Companhia em Torres Vedras, patrocinada pela Casa Hipólito, a favor dos seus funcionários, com a representação de Casa de Doidos , seguida de, em fi m de festa, de uma fantasia musicada e de poemas declamados por Luís Pinhão). 1959n “Página dos Espectáculos: A companhia Rafael de Oliveira despede se de Torres Vedras”, República, Lisboa, 16.10.1959: 3 (crónica do último espectáculo da companhia, em que se representou Calúnia e O Infanticida, e m fi m de festa; seguiu -se a homenagem da praxe e a oferta de lembranças, com discurso de despedida). VIDIGAL, Rogério 1966 “Cinema, Teatro – O Alentej o”, República, Lisboa, 29.11.1966: 4, 13 (análise da situação do espectáculo em Por tugal, e no Alentej o e m particular, nos anos de 65 e 66. Apontam -se dados estatísticos referentes ao cinema, teatro e televisão; referência à Companhia Rafael de Oli veira). VIEIRA, Manuel 312 1965 “Teatro Desmontável Rafael de Oli veira: fut uro incerto” (recorte não identificado pe rtencenta ao acervo de Ál varo de Oli vei ra), 05.11.1965 (reportagem com fotos de J. Nunes Correia. Fotografias do Desmontável em Al gés, de Fernando de Oliveira, do interior do Desmontável com público e da Companhia. Fernando de Oliveira faz o historial da Companhia, fala dos problemas financeiros, do pagamento de actores e funcionários, etc.) (Recorte pertencente ao acervo de Álvaro de Oliveira). VISOR 1956a “Teatro Desmontável: Empresa Rafael de Oliveira, O Mensagei ro, Leiria, 07.01.1956: 2 (crítica à estr eia da Companhia em Leiria, com O Grande Amor ; ao espectáculo As duas Órf ãs ). 1956b “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia, 14.01.1956: 1 (crítica aos espectáculos Cadeira da verdade, Israel, Amor de Perdição e Prémio Nobel ). 1956c “Teatro no Largo da Feira”, O Mensageiro, Leiria, 14.01.1956: 3 (anúncio de A Rosa do Adro e Marquês de Vi llemer ). 1956d “Teatro”, O Mensagei ro, Leiria, 14.01.1956: 3 (apreciação crítica de A Rosa do Adro e Marquês de Villemer ) . 1956e “Teatro”, O Mensagei ro, Leiria, 28.01.1956: 1 (apreciação crítica de Inês de Castro, Calúnia e Duas Causas; anúncio de Milhões do Criminoso e Fidalgos da Casa Mourisca ). 1956f “Teatro: Pavilhão desmontável no Campo da Feira”, O Mensageiro, Leiria, 04.02:1956: 1 (apreciação crítica de Milhões do Criminoso, Fidalgos da Casa Mourisca e Fera; anúncio de O Paralítico). 1956g “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia, 18.02:1956: 1 (após uma semana de apresentação de comédias, a companhia regressa ao “teatro s ério e educat ivo”). 1956h “Teatro: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leir ia, 03.03.1956: 3 (referência à paragem da Companhia por moti vo de doença de um dos soci etários). 1956i “Teatro Desmontável”, O Mensageiro, Leiria, 07.03.1956: 2 (lasti ma se a partida da Companhia, apesar da pouca afluência sentida, que se j ustifica com o estado do tempo) . 1956j “Frei Luís de Sousa pela Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensageiro, Leiria, 21.04..1956: 2 (referência elogiosa ao espectáculo e solicitação de reposição em matinée escolar). 313 1956l “A Companhia Rafael de Oli veira vai actuar no Sá da Bandeira do Porto”, O Mensageiro, Leiria, 12.05.1956: 2. 1956m Teatro Desmontável: Companhia Rafael de Oliveira”, O Mensagei ro, Leiria, 26.05.1956: 2 ( notícia sobre o êxito da Companhia no Porto, e anúncio do seu regresso a Leiria). VISOR 1 1956a “Teatro:À guisa de crítica...”, A Voz da Figueira , Fi gueira da Foz, 26.07.1956: 3 (crítica ao espectáculo Cadeira da Verdade ). 1956b “Teatro:À guisa de crítica...”, A Voz da Figueira, Fi gueira da Foz, 23.08.1956: 3 (crítica ao espectáculo O Tio Rico). 1958a “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz, 18.09.1958: 4 (notícia elogiosa ao regresso da Companhia à Figueira, e crítica a Alguém t erá de mo rrer, de L. F. Rebelo; em N.R., anuncia -se Transviados, em Récita de Beneficência, a 22 de Setembro). 1958b “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz, 25.09.1958: 2 (apontamento crítico a Deus l he pague ). 1958c “Teatro: À guisa de crítica...”, A Voz da Fi gueira, Fi gueira da Foz, 02.10.1958: 3 (a propósito da Companhia Rafael de Oliveira, o articulista percorre as opções teatrais em Lisboa, onde se deslocou; referência desastrosa à revista Ai mexe e remexe , no Coliseu). X. (1) 1959a “Teatro Desmontável da Companhia Rafael de Oli veira”, Notícias de Évora, 30.10.1959: 2 -3 (biografia da Companhia com votos de êxito). 1959b “Teatro Desmontável: A Muralha e Prémio Nobel ”, Notícias de Évora, Évora, 01.11.1959: 2 (crítica do primeiro e anúncio do segundo). 1959c “Teatro Desmontável: As Duas Causas e Israel”, Notícias de Évora , 03.11.1959: 2 (crítica do pri meiro e anúncio do segundo) . 1959d “Teatro Desmontável: Prémio Nobel ”, Notícias de Évora , 04.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo de 1 de Novembro; anúncio de Cadeira da Verdade , a 5). 1959e “Teatro Desmontável: Israel e Amor de Perdição ”, Notícias de Évora, 06.11.1959: 2 (crítica do pri meiro e anúncio do segundo). 1959f “Teatro Desmontável: O Grande Industrial ”, Notícias de Évora , 19.11.1959: 3 (crítica ao espectáculo). 314 1959g “Teatro Desmontável : As Duas Órfãs ”, 25.11.1959: 2 (crítica ao espectáculo). Notícias de Évora , 1959h “O Maestro Al ves Coelho da Companhia Rafael de Oli vei ra”, Notícias de Évora , 06.12.1959: 1 (biografia de Al v es Coelho, filho; curiosidade: o maestro participava como figurante nos espectáculos!). X. (2) 1963 “Nota à mar gem: De Teatro”, Região de Leiria, 18.05.1963: 4 (considerações sobre teatro a propósito da estadia da Companhia em Leiria). X. F. 1973a “Teatro: O Pato pela Companhia Rafael de Oliveira”, A Província de Angola, 02.06.1973: 6 (apreciação crítica ao espectáculo). 1973b “Teatro: A Rosa do Adro no Desmontável dos Combatentes”, A Província de Angol a, 28.06.1973: 15 (apreciação crítica ao espectáculo). Z. 1956 “A Voz da Marinha -Grande: Prémio Nobel pela Companhia do Teatro Desmontável Rafael de Oliveira”, Região de Leiria, 08.03.1956: 3 (referência crítica ao espectáculo e à falta de interesse do públ ico local “por coisas do espírito”; referência ao cinema, que sobrelotao recinto, e a qualidade do gosto do públi co, preferindo o Parque Mayer). 2.5. Sitiograf ia CAMARGO, Robson Corrêa de ( Prof.) (Universidade Federal de Goiás – UFG) 2006 “A Pantomi ma e o Teatro de Feira na for mação do espectáculo teatral: o texto espectacular e o palimpsesto”, Fenix, Revista de História e Estudos Culturais, Outubro/Novembro/ Dezembro 2006, Vol. 3, Ano III, nº 4, ISSN 1807 -6971 (www.revistafenix.pro.br/PDF9/7.Dossie.Robson_Correa_%20de_Ca mar go.pdf ) (2007.07.18) CAMPARDON, Émile 1877 Les Spéctacles de la Foire . Théâtres, Acteurs, Sauteurs et Danseurs de corde Monstres, Géants, Nains, Ani maux curieux ou savants, Marionnettes Automates, Fi gures de cire et Jeux mécaniques des Foires Saint -Ger main et Saint -Laurent, des Boulevards et du Palais Royal depuis 1595 j usqu’à 1791. Documents inédits recueillis aux archives nationaux. Introduction. (historial do teatro de fei ra) (http://foires.net/campint.sht ml ) (2007.07.18). 315 LE SAGE & D’ORNÉVAL 1723 Le Théâtre de la Foire ou l’Opéra Comique, contenant les meilleurs pièces qui ont été représentées aux Foires de Saint -Germain & de Saint-Laurent (no prefácio desta obra, é traçado um breve historial do teatro de feira e das suas peças) ( http://foires.net/lesage.sht ml ) (2007.07.18). NOVELLÓN, Victor 2001 Principios del teatro: el Siglo de Oro español, in Can Fusté (pági na de curiosidades sobre história antiga, lendas e tradições, história local e do quotidiano; revista em 2007) (http://www.tinet.or g/ ~vne/ H_teatro_1.ht m ) (2007.07.18) RUSSELL, Barr y (hipertexte de) Le Théâtre de la Foire à Paris. Textes et documents (1. Teatros; 2. Cenografia; 3. Admi nistração; 4. Relações sociais; 5. Trupes; 6. Relações artísticas; 7. Peças; 8. Biografias; 9. Iconografia; 10.Glossário; 11. Bibliog rafia; 12. Cronologia; 13. Di versos) (http://foires.net/ ) (2007.07.18). SCHLABACH -WALIIS, Michael Comédie et Théâtre -de-Foire. De la Comédie – fragments – portrai ts (historial, iconografia, textos dos teatros de feira franceses - Al ain René Lesage: Arlequin Roi de Serendi b, Arlequim Mahomet, Colombine- Arlequin, Querelle des Théâtres ) (www.liensdeslettres.net/ ) (2007.07.18) . STRO UD, Matthew D. 2002 Indice de textos de c omedias (página de ver sões textuais on line da responsabilidade da Association of Hispanic Classic Theatre, Inc. (http://www.coh.arizona.edu/spanish/comedi a/intext.html ) (2007.07.18) TROTT, David 2002 Théâtres de foire à l’ époque révolutionaire: rupture ou continuit é? , prépublication de l’article à paraître dans les actes du colloque international, «Révolution française et arte de la scène» 13 -15 June 2002, château de Vizille, France (histo ri al e caracterizção deste género dramático e teatral (www.chass.utoronto.ca/~trott/foire_rv_web.ht m ) (2007.07.18) VELEZ- SAINZ, Júlio (Assist.Prof.) (Uni ver sity of Massachussets Amher st/ Depart ment of Spanish and Portuguese) 2000 “El Recueil Frossard, la compañia de los Gelosi y la génesis de Don Quijote”, in Cervantes: Bulletin of the Cervantes Society of America 20.2 (2000). The Cer vantes Societ y of Amer ica; 31 -51 (as marcas da commedia dell’arte na obra cer vantina) 316 (http://www.h -net.or g/~cervantes/csa/articf00/velez.pdf ) (2007.07.18). ZAMPELLI, Father Michael A. (SJ) (Associate Professor; Santa Clara Uni versity) [ 744] 2002 “Trent revisited: A Reappraisal of Early Modern Catholicism’s Relationship with the Commedia Italianna” , in The Journal of Religion and Theatre, Vol. 1, nº 1, Fall 2002 (as relações entre teatro e religião explicadas à luz do Concílio de Trento ) (www.rtj ournal.org/ vol_1/no_1/zampelli.ht ml ) (2007.07.18).       744 Centro de Estudos de Teatro (Cetbase) (base de dados sobre o teatro em Portugal i mplementado pelo Cent ro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras, da Uni versidade Clássica de Lisboa) (http://www.fl.ul.pt/CETbase/ ) (2007.07.18). César. Calendrier électronique des spéctacles sous l’ancien régime et sous la révolution ( Le site offre de ux principales sources d'infor mation liées entre elles — une base de données et une banque d'i mages — mais aussi des ressources supplémentaires - version en ligne de l 'i ntégralité des anthologies des Frères Parfaict et de Léris, sélection de comptes -r endus de l 'époque, rapports de police et text es théoriques). Tous ces documents peuvent être consultés à partir de la base de données ou de la banque d'i mages. (http://www.cesar.or g.uk/cesar2/ ) (2007.07.18). Internet Movie Database ( IMDB) (base de dados sobre cinema, televisão) ( http://www.i mdb.com) (2007.07.18). Internet Broadw ay Database ( IBDB) (base de dados sobre os teatros da Broadway: espectáculos, e elencos técnicos e ar tísticos) (http://www.ibdb.com) (2007.08.18). I Sebastiani : The greatest commedia dell’Arte troupe in the entire world (sítio pertencente à trupe Sebast iani, fundada por Jeff Hatalsky, em 04.06.1990, Boston, EUA; para além do historial da companhia, relação dos actores e dos espectáculos, permite investi gação sobre commedia dell’arte ; bastante mat erial iconográfico) ( http://www.isebastiani.com/i ndex.ht m ); para tabel as cronológicas sobre o assunto vej a -se em “Resources: Ti melines” (2007.07.18). Theatre Database (base de dados sobre teat ro) (http://www.theatredat abase.com)(2007.07.18). U ni v ers id ad e J e s ui ta e m Si li co n V al le y. 317 4 Índice Remissivo ALB U QUE R QU E, He nri q ue d e (a cto r) ..................................................................... 184 Alc â nta ra ( Li sb o a, to p o ní mia ) .28, 56, 59, 87, 104 Alco b aça (lo c al id ad e) .........33, 35, 148, 160 ALC O RI ZA, Lu í s (1 9 1 8 -1 9 9 2 , ci nea s ta) .................................................. 254 ALE AN DR O, Giro la mo (1 4 8 0 -1 5 4 2 , Card eal ) ..................................................... 22 ALE GR IM, Si l ve s tre (1 8 8 1 -1 9 4 6 , acto r) .........................................118, 119, 125 Ale n tej o (re g ião ) ........... 33, 10, 71, 203, 212 Al fa ma ( Li sb o a, to p o ní mi a) ............. 44, 47 Alg a rve (O ) (p erió d ico ) 112, 114, 115, 116 Al gar v e (re g ião ) ... 33, 71, 111, 210, 243, 261 Alg a rve I lu st ra d o (p erió d ico ) .....111, 112 ALI CE, Mar ia ( actr iz) ............................ 243 Alj us tre l (lo ca lid ad e) .....................109, 245 Alma Alg a rv ia (p er ió d i c o ) .................... 115 Alma No va (p er ió d i co ) ... 79, 80, 81, 82, 83, 84, 86, 91 Alma Po p u la r (p erió d ic o ) .....121, 122, 123 Al mad a ( lo ca lid ad e) ............................ 38, 70 ALME ID A, An tó nio J o s é d e (1 8 8 6 1 9 2 9 , p o lí ti co ) ........................................ 38 ALME ID A, B ea tr iz d e ( actr iz) ........... 118 ALME ID A, Car lo s d e ( a cto r a mad o r) 64 ALME ID A, Id a li n a d e ( 1 9 1 4 , act riz) 15, 34, 70, 204, 206, 246, 266, 292, 296, 316, 321 ALME ID A, J o aq ui m d e (1 8 3 8 -1 9 2 1 , acto r) ................................................... 39, 105 ALME ID A, M at ia s d e (? -1 8 9 6 ) ............ 30 ALME ID A, M i g ue l d e ( arti c ul is ta) . 195, 196 Al me ir i m (lo ca lid ad e) ...................... 12, 268 Almo n d a (O ) (p erió d ico ) ....................... 255 Alt er d o C h ão (lo cal id a d e) ..................... 10 Alt o Cat u mb el a (lo ca lid ad e) ............... 306 ÁLV AR E S, Afo nso (s éc. XVI, a uto r) . 7 Au to d e S ã o Vi cen t e ............................... 7 ALV ES, Amé rico R ui ( a rtic u li s ta) ... 304 ALV ES, C arlo s ( ac to r) ........................... 280 ALV ES, Fr ed er ico (a rt ic ul i st a) .137, 158, 159 ALV ES, He nr iq ue (ac to r ) ....................... 33 ALV ES, T in a (a ctr iz) ............................... 58 A mad o ra (lo c al id ad e ) .....................274, 275 AM AR AL, Al meid a ( 1 9 0 1 -1 9 6 4 , au to r) .................................................250, 353 AM AR AL, Mar ia J o sé G o d i n ho d o ... 169 AM AR ANT E, E s tê vão ( 1 8 8 9 -1 9 5 1 , acto r) .................................................186, 243 A AB E L (1 8 2 4 , ac to r) ................................... 31 AB R AN C HE S, Ad el i na (1 8 6 6 -1 9 4 5 , actr iz) ................................... 31, 18, 126, 162 AB R AN C HE S, Ari st id e s (1 8 3 2 -1 8 9 2 , au to r) ................................ 127, 136, 350, 352 Ca sa d e Do id o s ( al iá s C a sa d e Ora te s) ...... 108, 127, 136, 137, 160, 231, 275, 339, 352, 358 Ca sa d e O ra te s ...............................34, 127 Filh o s (O s ) d e Ad ã o ............................. 34 Ga ia to (O ) d e Li sb o a ( a liá s Jo s é Nin g u ém, i mi t ad o d e J . - F. B a yard ) ...... 126, 162, 163, 166, 180, 216, 217, 335, 336 Tio (O ) Ra fa e l (a li ás Ca sa d e Ora te s) ................................................ 127 AB R EU, C él ia d e (ac tri z) ..................... 280 AB R EU, D eo li nd a (a ctr i z) .................... 243 AB R EU, Sa ra (a cto r) .............................. 243 Acad e mia Le ai s A mi go s (Li sb o a, as so c iaç ão re crea ti v a) ................... 51, 99 Acad e mia Lúc io d e So u s a (a sso ci ação ) ....................................................................... 47 Acad e mia Recr eat i va d e Li sb o a (Li sb o a, as so c ia ção re cr eat i va) ....... 52 Acad e mia T ab o rd a ( Lisb o a, a s so ci ação recrea ti v a) ................................................. 49 Acca d e mia d eg l i In t en t i (P av ia) .......... 16 Aço r ea n o O r ien ta l (p eri ó d ico ) ........... 234 Aço r es (p er ió d ico ) .. 226, 227, 228, 229, 230 Aço re s (r e gi ão i n s ul ar) .... 2, 215, 229, 230, 231, 322 Actu a lid a d e s (p erió d ico ) ....................... 271 ADE LAI DE, Her mí n i a ( actr iz) ............. 34 Ad ó q ue – Co o p e rat i va d e T r ab alh ad o re s d e E sp ec t ác ulo (Li sb o a) ............................................313, 318 Ad r iã o , q u e ro v e r o p a p á ! (tí t ulo ) .... 207 AF ON SO , Ze ca (1 9 2 9 -1 9 8 7 , mú s ico ) ..................................................................... 316 ÁG UED A, J o sé ( a uto r) ............................. 97 Ma n g a (A ) d o F ra d e ............................. 97 AIT E (art ic u li st a) .................... 204, 205, 244 ALB EE, Ed wa rd (1 9 2 8 , au to r) ....296, 307 ALB E RG AR I A, M aria L uí s a So are s d e ..................................................................... 170 ALB E RT O, J o s é (a li ás Alb er to Vi lar, acto r) ........................................................... 70 ALB E RT O, Lu ís (ac to r) ........................ 310 ALB E RT O, M ário (ce nó gra fo ) ...313, 314 4 AR NI CH ES , Car lo s (1 8 6 6 -1 9 4 3 , a uto r) ............................................................... 80, 167 El p u ñ á s d e ro sa s (co m Ra mó n As se n cio Má s, zarz u ela ) ................ 80 Yo q u i ero ................................................. 167 Aro na ( lo ca lid ad e) ..................................... 22 AR RI AG A, Ma n ue l d e ( 1 8 4 0 -1 9 1 7 , p o lít ico ) ..................................................... 38 Arro nc he s ( lo c al id ad e) ...........193, 333, 339 AR R UD A, Ma n ue l ( v io l a) .................... 236 Arte d e Rep r e se nt ar (d i s cip l i na cur ric u lar) ........................................... 50, 53 Art ur, e sto fad o r (p er so n ag e m d e Mo u ra r ia ) ................................................ 165 As s is P a c heco (1 9 0 3 -? , acto r) ...214, 280, 298 As so c ia ção d o s J o r na li st as d e B ra ga ..................................................................... 128 AT AÍ DE, Al fred o d e (1 8 3 4 -1 9 0 7 ) Tio (O ) To rq u a to ( le ve r d e r id ea u ) .................................................................. 32 Au g u s ta (p er so na ge m d e Alg u é m t er á d e mo r re r ) ......................................... 11, 253 Au to d o s S á t i ro s (s ec. X VI) ..................... 7 Av eiro (lo c al id ad e ) ...... 33, 12, 71, 121, 133, 134, 143, 146, 148, 343 AVE LAR , An tó n io (a cto r) ...................... 34 Av e nid a d a Lib erd ad e ( Lis b o a, to p o ní mi a) ................................................. 26 Av e nid a d e Ál v are s Cab ral ( Li sb o a, to p o ní mi a) ................................................. 43 Av e nid a d e An tó n io Au g u sto d e Ag u iar (to p o n í mi a, Lisb o a) ............... 16 Av e nid a d e D. A mé lia ( act ua l Al mi ra n te Re i s, Lisb o a, to p o ní mi a) ....................................................................... 62 Av e nid a d e D. Ca rlo s ( Lisb o a, to p o ní mi a) ................................................. 50 Av e nid a d o Aero p o r to ( Lis b o a, Av . d e Ga go Co ut i n ho ) .................................... 297 Av e nid a d o M ar ( F u nc ha l, to p o n í mi a) ............................................ 215, 216, 220, 221 ÁVI LA, H u mb er to d e (a rtic u li s ta) ...... 73 Aza mb uj a ( lo c al id ad e) ..................... 75, 342 AZE VED O, Ale x a nd re d e (ac to r) 33, 118 AZE VED O, Art ur (1 8 5 5 -1 9 0 8 , a uto r) Amo r p o r An e xin s .................................. 33 Do te (O ) ( co méd i a) ............................... 51 AZE VED O, Cr uz (a liá s A mad o r Aze ved o ) ................................................. 114 Amo r d e Pa i ( tí t ulo ) ................................ 203 A mo re ira s ( Li sb o a, to p o ní mia ) 42, 44, 56 Amo re s d e Ro s in a (o p er eta) ................. 143 An ad i a (lo ca lid ad e) ................................... 33 An a stá cio ( p er so na ge m d e Ro sa s d e No ssa S en h o ra ) ....................................... 92 An ato mi a Ar tí st ica (d i sc ip li n a cur ric u lar) ................................................. 53 AN DR AD E, An a Mari a d e (ac tri z) .. 296, 316 AN DR AD E, Au g u s to d e (acto r) ......... 219 AN DR AD E, H u mb er to d e (1 9 1 5 -1 9 8 5 , acto r - e mp re sár io ) 80, 266, 277, 278, 296, 300, 316, 320, 344 AN DR AD E, P a i va d e (e xp l o rad o r) ..... 38 An d ré (p erso n a ge m d e J o ã o Jo s é ) ...... 88 AN DR EINI , F ra nce s co ( 1 5 4 8 -1 6 2 4 , acto r, ca p o co mm ico ) ...................... 14, 17 AN DR EINI , G io va n B at ti st a (ca .1 5 7 6 1 6 5 4 , acto r, d ir ec to r) ........................... 17 AN DR EINI , I sab e ll a (1 5 6 2 -1 6 0 4 , actr iz) ..............................................14, 16, 17 La p a zz ia d ’I sa b e lla (1 5 8 9 ) .............. 15 Let te re (1 6 0 7 ) ......................................... 16 Mi ti la (1 5 8 7 , d r a ma p as to ral) .......... 15 Rim i (1 6 0 1 ) .............................................. 16 ÂN GE LO, Art ur ( m ú s ic o ) ..................... 119 An g o la (co ló n ia) 34, 111, 292, 295, 297, 302, 303, 306, 308, 310, 311, 345, 347 An g ra d o Hero ís mo (lo c alid ad e) 225, 234 ANJ O S, J ú lia (ac tri z) ............................... 57 AN OUI LH, J e a n (1 9 1 0 - 1 9 8 7 , a uto r) 139 A Co to v ia ( L'Alo u et te, 1 9 5 2 ) ......... 139 An ten a (p erió d ico ) ................................... 271 ANT UN ES, Ac ác io (1 8 5 3 -1 9 2 7 , a uto r) ...............................................................41, 350 An o (O ) Pa s sa d o (1 9 0 6 , rev i sta , T . P rín cip e R ea l, Lisb o a) .................... 41 In fa n t icid a (O ) (1 9 1 3 ) ................... 32, 81 AR AG O NE Z, El iza (? -1 9 0 2 , act riz) .... 4 AR AÚJ O ( fi g uri n is ta) .............................. 57 AR AÚJ O, Fra n ci sco d e (au to r ) ............ 69 AR AÚJ O, Lu iz d e (1 8 3 3 -1 9 0 8 , a uto r) ....................................................................... 49 Ciú me, Amo re s e Co zin h a (co méd ia) .................................................................. 49 AR AÚJ O, Ma n ue l (a cto r ) ........................ 32 Arch ivo Th ea t ra l (p erió d ico ) .......... 32, 78 Ar ga ni l ( lo ca lid ad e) ............. 91, 92, 95, 100 AR IO ST O, Lud o v ico (1 4 7 1 -1 5 3 3 ) ...... 17 ARJ ON A, Art ur (ac to r) ................12, 13, 85 ARJ ON A, J ú l ia ( al iá s J u lie ta R e nt i ni) ....................................................................... 12 AR M ANI, Vi n ce nz a (a ct riz) .................. 10 B B airro Al to ( Lisb o a, to p o ní mia ) .......... 45 4 Beb é e to tó ..................................................... 34 B EC KET T , Sa mu e l (1 9 0 6 -1 9 8 9 , a uto r) ............................................ 297, 307, 308, 350 À Esp e ra d e Go d o t .... 297, 300, 303, 305, 308 B eirã ( lo c al id ad e) ....................................... 30 Bei ra - Dã o (p er ió d ico ) .. 161, 162, 163, 164, 165, 166, 167, 168, 169, 170, 178 B ej a (lo ca lid ad e) .... 179, 203, 206, 207, 243, 244, 245, 261, 336, 340 B elé m ( Li sb o a, to p o n í m ia) ............. 56, 104 Bel isá r io s (t ít u lo ) ..................................... 164 B EN AMO R, Ál v aro (a ct o r) .................. 214 B EN AMO R, Mar ia na (ar tic u li s ta) .... 304 B en a ve nt e (lo ca lid ad e) ............................ 67 B EN AVENT E, Al i na ( ac triz) ................ 32 Ben a ven ten se (p erió d ico ) .............. 2, 67, 68 B en cat el ( lo c al id ad e) .............................. 198 B en g u ela (lo c al id ad e ) ............................. 305 B en to Ca st a n ho (p er so n ag e m d e As Du a s Ca u sa s ) .........................135, 136, 162 B ENT O, Dr . O li v eira S a n (j o r na li st a) ..................................................................... 236 B EO LCO , Ân g elo (d ito R uz za nt e, c a. 1 4 9 5 -1 5 4 2 , ac to r) .................................. 10 B ER NST EIN , H e nri (1 8 7 6 -1 9 5 3 , au to r) ................ 187, 196, 248, 337, 350, 357 Is ra el ................................ 248, 337, 338, 357 La d rã o (O ) (1 9 0 6 ) ...............187, 196, 206 B ET ÂMI O, Ál v aro (d i re cto r d o gr up o d ra mát ico d o C l ub e Ar tí st ico , B en a ve nt e) ................................................ 67 B ET ENC OU RT , J o ão (a rtic u li s ta) ... 100, 102 B IB B IEN A, B er nard o D o vi zi, d e La Ca la n d ra ............................................. 18 B ib lio te ca Nac io na l ( Li s b o a) ........ 69, 103 B IEST ER , Er ne s to (1 8 2 9 -1 8 8 0 , a uto r , trad uto r ) ............................................. 94, 105 B ÍV AR, B erta d e ( actr iz ) ...................... 139 B LI N, Ro ger (ac to r, e nc en ad o r) ........ 297 B lo i s à la Co ur (lo c al id a d e) .................. 13 B o d as d e O uro Ar tí st ica s (e fe mér id e) ............................................ 173, 225, 235, 345 Bo h em ia (p er ió d i co c ub ano ) ................ 315 Bo le ti m d a Un iã o d e G r émio s d o s Esp e ctá cu lo s (p ub l ic açã o ) ......... 30, 159 Bo le ti m d o Clu b e d a s D o n a s d e Ca sa (p erió d i co ) ......................................285, 286 B o mb e iro s Vo l u nt ário s ( B ej a) ............ 179 Bo n eq u in h o (O ) ( ca nço n eta) ................ 117 B o o th T hea tre (No va Io r q ue) .............. 289 B o rb a (lo c al id ad e) ................................... 196 Bo rd a - d ’á g u a (p ub li caç ão ) .................... 39 B alt azar Co u ti n ho (p er s o na g e m d e Amo r d e P e rd içã o ) .......................... 84, 85 B an co N acio n al Ul tra ma ri no (B N U, LI sb o a ) ..................................................... 310 B and a Ar tí s tic a M u s ica l (d it a So c ied ad e d o P a u T eso , as so c iaç ão ) ....................................................................... 47 B AND EI R A, P ed ro (1 8 7 1 -1 9 4 5 , a uto r) Po m- p o m ( et a l., 1 9 2 6 , r ev i sta , Sal ão Fo z) .......................................... 119 B AP T IST A, Aid a (ac tr iz ) .... 277, 280, 298 B AP T IST A, Dr. Cé s ar Mo reir a ( SNI) .... 263, 264, 265, 267, 268, 272, 273, 275, 284 B ARB OS A, Alb erto (1 8 9 1 -1 9 6 0 , au to r, e mp re sár io ) ............................... 167 S emp re F ixe ( e t a l. , 1 9 2 6 , re vi s ta, T . Maria Vi tó ri a) ............................ 119 B ARB OS A, An tó n io (a c to r e mp re sár io ) ............................................... 79 B ARB OS A, J o sé (1 9 0 0 - 1 9 7 7 , ce nó gra fo ) ............................................... 299 B AR C A, Ca ld eró n d e l a (1 6 0 0 -1 6 8 1 , au to r) ........................................................... 12 B AR LAC H I, Do me ni co (acto r) ............ 18 B aro n es a d e Va l mo r (p e rso na g e m d e O Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 218 B arreiro (lo c al id ad e) .......................262, 263 B AR R O C A, No rb erto ( a cto r) .............. 289 B AR R OS , J o s é Le it ão d e (1 8 9 6 -1 9 6 7 , j o rnal i sta , c i nea s ta) .. 152, 153, 213, 250, 353 Ca mõ e s (1 9 4 6 , c i ne ma ) ..................... 213 In ês d e Ca st ro (1 9 4 5 , ci ne ma ) ...... 213 S eve ra (A ) (1 9 3 1 , c i ne m a) ............... 153 B AS C HET , Ar ma nd ............................. 19, 24 Le s Co m éd i en s Ita lien s a la Co u r d e Fra n c e .................................................... 23 B AST O S, A. So u s a (1 8 4 4 -1 9 1 1 , a uto r , e mp re sár io ) . 29, 30, 32, 38, 62, 69, 77, 106, 138, 325 Câ ma ra Óp t ica ........................................ 30 Rein o d a s Mu lh e re s (1 8 9 0 , re vi s ta, T . d a rua d o s Co nd e s) ..................... 38 Ti m- t im p o r ti m - t im (1 8 9 0 , re vi s ta, T . Ave n id a) ......................................... 38 B AST O S, G i u sep p e (e m p res ário ) ...... 256 B AST O S, Ho lb e c he (a ct o r) .................. 119 B AST O S, M ari a J o s é (a ctri z) .............. 310 B AST O S, P al mira (1 8 7 5 -1 9 6 7 , ac triz ) ........................................ 20, 34, 185, 186, 253 B AT Y, Ga s to n (1 8 8 5 -1 9 5 2 , a uto r) ... 293 B AY AR D, C arlo s (a cto r ) ........................ 30 B AY AR D, J e a n -F ra nço i s (1 7 9 6 -1 8 5 3 ) ....................................................................... 69 4 C AB R AL, P ed ro Cab ra l (? -1 9 2 7 , acto r) ........................................................... 17 Cad a val (lo c al id ad e ) ........................... 77, 85 C AEI RO, I grej a s(ac to r, en ce nad o r , e mp re sár io ) ............................................... 21 C ALAZ AN S, J o ão (a cto r) ..................... 184 Ca lçad a d e Sa n to An d ré (to p o ní mi a) . 41 Ca ld a s d a R ai n h a (lo cal i d ad e) ....... 33, 87, 103, 182 C ALD AS , Ar ma nd o (a ct o r, e nce n ad o r) ..................................................................... 288 C ALDE IR A, Fer n a nd o ( 1 8 4 1 -1 8 9 4 ) Ma n t ilh a (A ) d e Ren d a (1 8 8 0 ) ....... 34 C ALM O, An d rea (1 5 1 0 - 1 5 7 1 , acto r) . 10 Câ ma ra M u ni cip a l ( Co r u ch e) ................ 16 Câ ma ra M u ni cip a l ( Fi g u eira d a Fo z) ..................................................................... 264 Câ ma ra M u ni cip a l ( F u nc ha l) .......221, 222 Câ ma ra M u ni cip a l ( Go u ve ia) .............. 171 Câ ma ra M u ni cip a l ( Li sb o a) ........... 58, 321 C ÂM AR A, D. J o ão d a ( 1 8 5 2 -1 9 0 8 ) . 2, 4, 6, 17, 131, 307, 309 Fa râ n d o la (A ) (1 9 0 2 ) ............................ 2 Ro sa (A ) En jei ta d a (1 9 0 1 , d ra ma) ........................................................107, 131 Velh o s (Os ) ............................................. 309 Ca ma r go , J o ra c y (1 8 9 8 - 1 9 7 3 , a uto r) .....................................................242, 350, 353 Deu s lh e Pa g u e (1 9 3 3 ) .... 242, 275, 353, 359 Ca mb a mb e ( lo c al id ad e) ......................... 304 C AMÕ ES, Luí s Vaz d e ( c. 1 5 2 4 1 5 8 0 , a uto r) ........................................ 3, 7, 8 Au to d e El - R ei S el eu co ( sec . X VI) . 3, 7 Lu s ia d a s (O s ) (s ec. XVI ) ................. 241 Ca mp o d e Vir iato (V i se u, to p o ní mi a) ............................................................... 12, 176 Ca mp o Gr a nd e ( Li sb o a, to p o ní mi a) ... 56 Ca mp o Ma io r ( lo ca lid ad e) .. 192, 193, 240, 331, 332, 339 C AMP O S J r., An tó n io ( au to r) .......... 4, 39 To rp e za (1 8 9 0 ) ................................... 4, 39 C AMP O S, Au g u s ta d e (a ctr i z) .............. 10 C AMP O S, Lu í s d e ( acto r) ..................... 280 C AMP O S, P i n to d e (1 9 0 8 – 1 9 7 8 , ce nó gra fo , fi g ur i ni st a) ..............152, 287 Ca n ta n hed e (lo ca lid ad e) .................... 87, 90 C ANT O E C AST RO, He nr iq ue (a cto r) .................................... 296, 300, 309, 310, 311 Ca p i ta l (p er ió d ico ) ............................ 60, 282 Car aco l d a Graç a ( Lisb o a, to p o n í mi a) ....................................................................... 47 C AR AC O LES (p se ud . C ruz Mo re ira) 61 B OR GE S, Car lo s (1 8 4 9 - 1 9 3 2 , a uto r) 34, 88 Fid a lg o s (O s ) d a Ca sa Mo u ri sca (ad ap t.) ................. 87, 107, 109, 112, 334 No n o , n ã o d e seja rá s (co méd ia) ....... 34 B OR R OME O, C ard ea l C arlo ( Arceb i sp o d e Mi lão ) ...............22, 23, 24 Bo u leva rd d u T emp le (P ari s) ........... 4, 204 Bra d o s d o A len tejo (p er i ó d i co ) ...6, 7, 15, 194, 195, 196, 197 B rag a (lo ca lid ad e) ........... 127, 130, 284, 290 B R AG A, Er ico (a cto r) ..............20, 117, 298 B R AG A, F ra nc is co Co st a (1 8 9 3 -1 9 6 2 , au to r) ........................................................... 61 O Cr im e d o B en fo rmo so ..................... 61 B R AG A, T eó filo (1 8 4 3 - 1 9 2 4 , a uto r) . 54 B R AG AN Ç A, J eró ni mo (au to r) ............ 21 B R AN CO, Ca mi lo Ca s te lo (1 8 2 5 -1 8 9 0 (au to r) As sa ss in o d e Ma cá r io (1 8 8 6 ) ........... 34 B R AN CO, Ca mi lo Ca s te lo (1 8 2 5 -1 8 9 0 , au to r) .................... 38, 77, 135, 307, 351, 357 As sa ss in o d e Ma cá r io (1 8 8 6 ) ..... 33, 34 Me mó r ia s d o Cá rce re ........................ 351 B R AN CO, Ca ste lo ( fi g u ri ni st a) ........... 57 B R AND ÃO , P i n he iro (a cto r,d irec to r d e ce na ) ...................................................... 58 B R AND ÃO , Ra ú l (a u to r ) ...................... 139 B ras il (p aí s) ..... 36, 13, 34, 147, 185, 186, 244 Bra si l- Po rtu g a l (p e rió d i co ) ............. 60, 76 B R AVO (ac to r) ............................................ 58 B R AZÃO , Ed u ard o J o aq ui m (1 8 9 6 1 9 6 6 , acto r) ..............................88, 186, 219 B R AZÂO , G u i ma rãe s ( c asa l d e acto r es) ....................................................... 11 B RE C HT , B erto l t (1 8 9 8 -1 9 5 6 , a uto r) ..................................................................... 319 Mã e (A ) .................................................... 319 B RIT O, Vi to ri no ( ac to r) ........................ 124 B RU N, An d ré (1 8 8 1 - 1 9 2 6 , a uto r) .... 153, 252, 293 A Ma lu q u in h a d e A r ro io s ( 1 9 1 6 ) .. 293 Ca va lh e iro Re sp e itá v el (ca.1 9 1 6 ) 252 S a lã o (O ) d o T eso u ro V elh o (1 9 0 8 , rev i sta , T . D. A mé li a) .................... 33 B uar co s (lo cal id ad e ) ........................... 33, 52 B UON AR R OT I, M ic h ela n ge lo (1 4 7 5 1 5 6 4 ) ........................................................... 17 B URB AG E, J a me s (? -1 5 9 7 , acto r) ...... 14 C C AB O, An tó n io d o (e n c en ad o r) ......... 289 C AB R AL, C arlo s Mo ura (1 8 5 2 -1 9 2 2 , au to r) ......................................................... 128 4 C AS S AR, Cap i tão Al me id a (co mad a n te d o s b o mb eir o s Vo l u n tári o s d e B ej a) .......................... 179 C AST E LA, V íto r (art ic u li st a) ............ 247 Ca s telo B r a nco ( lo c al id ad e) .................. 34 Ca s telo d e Sa nto Ân g elo ........................... 9 Ca s telo d e Vid e (lo c al id ad e) ........... 30, 98 Ca s tro D air e (lo cal id ad e ) ............... 33, 290 C AST R O, I sab el d e (1 9 3 1 -2 0 0 5 , actr iz) ......................................................... 21 C AST R O, J o sé d e (ac to r ) ...................... 253 Ca va le iro ( O ) d a Ro ch a Ver me lh a ..... 62 Ce la ( lo ca lid ad e) ...................................... 306 Ce mi t ério d e B e n fica ( Lisb o a) ........... 270 Cé n ico d e D ire ito ( gr up o a mad o r, Lis b o a) ..................................................... 288 CE R QUEI R A, Ed u ard o ( arti c ul is ta) 321 Ce sár ia (p er so na ge m d e Mo u ra r ia ) .. 165 Car act eri zaç ão (d i s cip l i na c urri c ul ar 53 C AR DIM , J o s é (c e nó gra fo a mad o r) ... 51 C AR DO S O, A. (a cto r) ............................ 184 C AR DO S O, An tó nio Ma ria (exp lo rad o r ) ............................................. 38 C AR LO S I X (re i d e Fra nç a) ............ 10, 13 C AR MO, Au g u st a d o ................................. 11 C AR MO, Fr a nc is co d o ( acto r e mp re sár io ) ........................................... 9, 10 C AR MO, J ú li a d o (a li á s J úl ia M u ño z o u Mi mi M u ño z, a ctr iz) ...................... 11 C AR MO, Ma ria d o (p o nt o ) ..................... 15 Car mo n a ( lo ca lid ad e) .............................. 304 Ca rn e iro s e Pe rú s ( tí t ul o ) ...................... 68 C ARP I NT EIR O, M ar gar id a (1 9 4 6 , actr iz, a uto r a) ........................................ 3, 4 Um Na v io n a Ga ve ta (2 0 0 5 ) ............... 3 Carr e ga l d o Sal (l o c al id ad e) ................ 163 Carr iço (p er so na ge m d e Ro sa s d e No ssa S en h o ra ) ....................................... 92 Car ta xo ( lo c al id ad e) ..........................98, 103 Car v al ho Ara új o ( na v io me rca n te) ... 215 C AR V ALH O, Al fr ed o (1 8 5 4 -1 9 1 0 , acto r) ........................................................... 32 C AR V ALH O, B ap ti st a d e (art ic u li s ta) ....................................................................... 63 C AR V ALH O, Dr. Ca eta no d e (S NI) 285, 286, 288, 290 C AR V ALH O, Ra ú l d e (1 9 0 5 -1 9 8 4 , acto r) ...................................................20, 253 C AR V ALH O, R ui d e (1 9 2 7 , acto r) .. 296, 299, 300, 309 C AR V ALH O, Sa n to s (ac to r) .................... 8 C AR V ALH O, Se ver i no d e (ac to r) ....... 54 Ca sa Ana ho r y ( Li sb o a) .......................... 301 Ca sa d a Ca ld e ira (T ea tr o , C h a mu s ca) ..................................................................... 148 Ca sa d a Co méd ia ( Li sb o a) .................... 317 Ca sa d e P a sto d a s Co l u n as ( Li sb o a) .. 47 Ca sa d e P e s so al d o s T ra b al had o r es d a s Mi na s ( Ur ge iri ça) ................................ 290 Ca sa d o P o vo ( Rio Maio r) .................... 257 Ca sa d o P o vo (S a nto An tó n io , Mad e ira) ..........................................218, 224 Ca sc ai s ( lo ca lid ad e) ............... 105, 106, 333 C ASI MI RO, Mi ri ta (1 9 1 6 -1 9 7 0 , ac triz ) .............................................................166, 213 Ca s i no Eto il e (T eatro , Lisb o a) ............. 66 Ca s i no F u nd a ne n se ( al iá s T eatro C irco F u nd a ne n se , F u nd ão ) ........................... 97 C AS ON A, Alej a nd ro (1 9 0 3 -1 9 6 5 , au to r) As Á r vo r es Mo r re m d e P é (1 9 4 9 ) ... 20 C AS QUI LH O, An tó nio ( ind u s tri al) .... 16 Ch CH AG AS , M a n ue l P i n he iro (1 8 4 2 1 8 9 5 ) .....................................88, 99, 224, 356 Mo rg a d in h a (A ) d e Va l fl ô r ...88, 94, 99, 126, 173, 178, 205, 207, 209, 219, 223, 356 C ha le t T he atro (J ú li a M end es ) ....... 59, 60 C ha mu s c a ( lo ca lid ad e) .............90, 103, 148 CH AP LIN , C har le s (1 8 8 9 -1 9 7 7 , ac to r) ....................................................................... 25 Ch a v e d e Ou ro (t ít u lo ) ........................... 120 CH I ADO, An tó n io R ib ei ro (se c. XVI) ..................................................................... 7, 8 Au to d a Na t u ra l In v en çã o (se c. XVI) .......................................................... 7 C Cid a d e d e To ma r (p er ió d ico ) .............. 161 Ci n e J ard i m (E mp r e sa J o ão J ard i m, Mad e ira) ......................... 215, 216, 218, 219 Ci n e Mo n ça ne n se (Mo nç ão ) ................. 125 Cin éf ilo (p erió d ico ) ................................. 304 Ci n e ma B elé m ( Lisb o a) ......................... 103 Ci n e ma I mp ér io ( Lisb o a ) ........................ 21 Ci n e ma J o ão J ard i m (F u nc h al) ........... 215 Ci n e ma T i vo li ( Li sb o a) ............................ 26 Ci n e ma tec a P o rt u g ue s a (1 9 4 4 ) ........... 214 Ci n e -T eatro ( Alco b a ça) ......................... 346 Ci n e -T eatro ( Al me iri m) ........................... 11 Ci n e -T eatro (P o mb al) ............................. 346 Ci n e -T eatro Ar ga n il e ns e ( Ar ga n il) ... 90, 91 Ci n e -T eatro d a B a nd a d o s B o mb e iro s (P o rtale g re) .............................................. 98 4 Bo jig a n g a .................................................... 2 Bu lu lú ........................................................... 2 Ca mb a leo ..................................................... 2 Fa rá n d o la ................................................... 2 Ga n g a r ilh a ................................................. 2 Ga rn a ch a ..................................................... 2 Ña q u e ............................................................ 2 Co mi s sa riad o d o D es e m p rego ( Li sb o a) ..................................................................... 181 Co mo s e en g a n a m mu lh e re s (co méd i a) ....................................................................... 63 Co mp a g n ia d e i Co mic i Acce si ........ 18, 19 Co mp a g n ia d e i Co mic i Co n f id en ti (1 5 7 4 -1 6 2 1 ) .............................................. 14 Co mp a g n ia d e i Co mic i De sio si ............ 18 Co mp a g n ia d e i Co mic i Fed el i .............. 17 Co mp a g n ia d e i Co mic i Gelo s i .12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 22 Co mp a g n ia d e i Co mic i I n tro n a ti ......... 18 Co mp a g n ia d e i Co mic i Un i ti ( Cª d e Dr us ia no Mar ti n ell i, 1 5 7 4 -? ) ........... 18 Co mp a n h ia ( g é nero p o p ul ar) d e Op ere ta, Co mé d i a, D ra m a e Re v is ta (Ra fae l d e Ol i ve ira, C ª d e P ro ví n cia) ................................120, 132, 144 Co mp a n h ia Al v e s Re nt e ........................... 38 Co mp a n h ia Da llo t ( Cª d e P ro v í nc ia) 39, 40, 2, 4, 8, 194 Co mp a n h ia d e Ad el i na Ab ra nc h es (Li sb o a) ...................................................... 78 Co mp a n h ia d e Afo nso T av eir a (P o rto ) ....................................................................... 78 Co mp a n h ia d e Ale x a nd r e d e Aze ved o – Es ter Leão ( Li sb o a) ........................ 118 Co mp a n h ia d e Alo n so V elá sq ue z ........ 11 Co mp a n h ia d e Al ve s d a C u n ha ........... 147 Co mp a n h ia d e Al ve s d a C u n ha – B ert a d e B í var ( Li sb o a) ................................. 139 Co mp a n h ia d e An tó nio P ared e s (it i nera n te) ................................................ 67 Co mp a n h ia d e Au g u s to d e And rad e (Li sb o a) .................................................... 219 Co mp a n h ia d e Car lo s D allo t ( Cª d e P ro ví n cia) .................................................... 3 Co mp a n h ia d e Car lo s d e Ol i vei ra (Li sb o a) .................................................... 118 Co mp a n h ia d e C hab y P i n he iro ............ 147 Co mp a n h ia d e Co rre ia P ei xo to ........... 111 Co mp a n h ia d e Do me ni c o B arla c hi (Flo r e nça) .................................................. 18 Co mp a n h ia d e D r us ia no Mart i ne ll i (ali ás I Co m mi ci Un i ti ( 1 5 7 4 -? ) ...... 19 Co mp a n h ia d e Er n es to d e Fr ei ta s ( Li sb o a) .................................................... 118 Ci n e -T eatro d a M i ser icó rd ia (C ha mu s c a) ............................................. 149 Ci n e -T eatro El v e ns e (E l va s) .......193, 298 Ci n e -T eatro Fa re n se ( Fa ro ) ..........113, 115 Ci n e -T eatro P o r ta le gre n se (P o r tal e gre) ..................................................................... 190 Ci n e -T eatro Vi a ne n se ( Via n a d o Ale n tej o ) .................................................. 148 Cir co d o Sa li tre ( Li sb o a ) ........................ 39 Cir co M ad rid (a mb u la nt e) ...................... 39 Cir co M u ño z (a mb ula n te ) ....................... 10 Cir co P ri ce (a mb ula n te) .......................... 39 Cl ara (p er so na ge m d e T r ês em Lu a d e Me l) ............................................................ 277 C LET O, J ú lio (ac to r) .............................. 316 Cl ub e d e F u teb o l U n ião (F u nc ha l) .... 223 Cl ub e d o s G al ito s ( Av e i ro ) .................. 147 Cl ub e E st e fâ n ia ( Li sb o a ) ........................ 52 Cl ub e Lu si ta no ( Li sb o a) .......................... 99 Cl ub e P o rt u g u ês d e Ci n e ma to gra fia (1 9 4 5 , C i ne cl ub e d o P o rto ) ............. 214 Cl ub e Rec rea ti vo ( Li sb o a)) .................... 63 Cl ub e T au ri no Ma n ue l d o s Sa nto s (1 9 0 0 , Li sb o a) ......................................... 99 CO E LH O, Al v es ( fi l ho ) ........ 251, 351, 356 CO E LH O, Ar ma nd o (ac t o r) .................... 58 CO E LH O, C arlo s (a cto r) ......................... 21 CO E LH O, Lat i no (1 8 2 5 - 1 8 9 1 , p o lít ico ) ..................................................... 38 CO E LH O, Ma gd a (ac tri z ) ..................... 222 Co i mb ra ( lo ca lid ad e) ..... 12, 37, 38, 71, 316 CO IMB R A, Ma n u el a (1 9 4 8 , act riz) . 296, 299, 300 Co l i se u Av e n id a (a li ás T eatro Circo , P o nt a D el gad a, Aço re s) .... 25, 119, 225, 226, 227, 229, 236 Co l i se u d a B eir a ( G uard a) ...................... 96 Co l i se u d o s Re cre io s (1 8 9 0 , Li sb o a) 14, 39, 101 Co ma r ca (A ) d e A rg a n i l (p erió d ico ) . 92, 93, 94, 95 Co ma r ca d e A lco b a ça (p erió d i co ) ... 149, 157 Co mb a te (O ) (p erió d ico ) ......................... 96 Co med ia n te s ( Os) d e Li s b o a (1 9 4 4 -5 0 , e mp re sa A. Lo p es R ib e i ro Fra nc i sco R ib eiro ) ......................214, 294 Co m éd i e F r a n ça is e (P ar is) ................... 177 Co m éd i en s d u Ro i (P ari s ) ....................... 11 Co m é rcio (O ) d o Po rto ( p erió d i co ) .. 274 Co m é rcio d e Gu i ma rã es (p erió d ico ) .... 130, 131, 132, 134, 137, 139, 141, 142, 143 Co m é rcio d e Po r ti mã o ( p erió d i co ) ... 247 Co m ico s d e la leg u a .................................... 2 4 Co mp a n h ia d o T eatro M o n u me n ta l (E mp re sa d e V as co Mo r gad o , Lis b o a) ..................................................... 319 Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s (E mp re sa d e Fr a nc is co Rib eiro He nriq u e Sa nt a na) ...............276, 280, 298 Co mp a n h ia d o T eatro V aried ad e s (Li sb o a) ............................................149, 299 Co mp a n h ia d o s S il va s ( a liá s o s Si l va s d e É vo ra, s éc. XIX) ............................... 36 Co mp a n h ia Dra má t ica Alia n ça ( Cª d e P ro ví n cia) .................................................... 2 Co mp a n h ia Dra má t ica Lisb o n e ns e Mo iro n (P a u lo Mo iro n, Cª d e P ro ví n cia) ............... 14, 15, 16, 35, 259, 278 Co mp a n h ia Dra má t ica Lisb o n e ns e Ve nâ nc io «O s Mo d e s to s » ( Ar ma nd o Ve nâ nc io , C ª d e P ro v í nc ia) ............. 278 Co mp a n h ia Dra má t ica M ar y - Q u i na (Mário Li ma – Q ui na Li ma , Cª d e P ro ví n cia) .......................................... 16, 278 Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia (Ra fae l d e Ol i ve ir a, C ª d e P ro ví n cia) ................................................ 111 Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia (Si l va Va le, Cª d e P ro ví nc ia) .... 68, 69, 75, 86, 87, 171 Co mp a n h ia Dra má t ica S o cie tár ia Est re mo z ( Co ns ta n ti no d e Ma to s, Cª d e P ro v í nc ia) ..................................... 6, 117 Co mp a n h ia Eq ue str e d e Enr iq ue Dí az (Esp a n h a) .................................................. 38 Co mp a n h ia i n fa n ti l d e C re mi ld a T o rres ( Li sb o a) ....................................... 34 Co mp a n h ia Li sb o ne n se «G e nt e Se m No me » ( H u mb er to d e And rad e, Cª d e P ro v í nc ia) ................................... 80, 266 Co mp a n h ia Li sb o ne n se Ve na nc io ( Ar ma nd o Ve n â ncio , Cª d e P ro ví n cia) .................................................... 4 Co mp a n h ia Li sb o ne n se Ve nâ nc io «O s Mo d e sto s » ( H u mb er to d e And rad e, Cª d e P ro ví n cia) ....................................... 4 Co mp a n h ia Lu cí li a Si mõ es – C h ab y P in h eiro ( Li sb o a) ................................. 298 Co mp a n h ia Lu so -B ra si le ira (co mp a n hi a d e v ari ed ad es, it ner a nt e) ................................................. 101 Co mp a n h ia Na cio na l d e Na ve ga ção (C NN, Li sb o a) ....................................... 311 Co mp a n h ia R e nt i ni (J u li eta R e nt i ni, C ª d e P ro v í nc ia) .........................2, 12, 14, 208 Co mp a n h ia Ro sa s & B ra zão ( Lisb o a) 39 Co mp a n h ia d e Fra nc i sco Ma scar e n ha s (Li sb o a) .................................................... 110 Co mp a n h ia d e G io va n n i T ab o rino ....... 19 Co mp a n h ia d e La u ra Al ve s ( Li sb o a) . 70 Co mp a n h ia d e Li na De m o el ( Li sb o a) ..................................................................... 118 Co mp a n h ia d e Luc íl ia S i mõ e s – Eri co B rag a ( Lisb o a) ..............................118, 147 Co mp a n h ia d e O li v eir a T aín h a (a mb ula n te) ................................................ 5 Co mp a n h ia d e Op ere ta ( tip o lo g ia) ...... 79 Co mp a n h ia d e Op ere ta d e Al meid a Cr uz ( Li sb o a ) ........................................ 119 Co mp a n h ia d e Op ere ta s d e C re mi ld a d e O li ve ira ( Li sb o a) ........................... 185 Co mp a n h ia d e Op ere ta s d e J u li eta So are s ( Li sb o a) ....................................... 34 Co mp a n h ia d e P iero B er nard o n (Li sb o a) ...................................................... 13 Co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra, Art is ta s As so c iad o s (1 9 1 8 -7 5 , C ª d e P ro ví n cia) 15, 16, 17, 22, 24, 27, 28, 29, 31, 35, 72, 73, 89, 105, 144, 146, 148, 149, 161, 163, 164, 172, 173, 183, 188, 190, 191, 209, 216, 221, 222, 226, 227, 228, 230, 231, 233, 236, 239, 241, 246, 248, 249, 252, 257, 259, 260, 261, 263, 264, 265, 267, 271, 272, 273, 278, 279, 281, 282, 283, 284, 285, 290, 292, 300, 301, 302, 307, 313, 314, 315, 316, 317, 318, 319 Co mp a n h ia d e Ra fael d e Ol i vei ra, Art is ta s As so c iad o s ( C ª d e P ro ví n cia) ...... 227, 228, 229, 243, 249, 256, 264, 275, 320, 327, 346, 347, 348, 360 Co mp a n h ia d e Re v is ta ( t ip o lo gi a) ...... 79 Co mp a n h ia d e Re y Co la ço - Ro b le s Mo n te iro (1 9 1 9 -7 5 , Li sb o a) ............ 139 Co mp a n h ia d e Ro sa s & B razão (Li sb o a) ..............................................88, 139 Co mp a n h ia d e T eatro d o P o vo (E mp re sa P ed ro P i n hei r o - Ar ma n d o Ve nâ nc io , Li sb o a) .........................16, 320 Co mp a n h ia d e T eatro Li sb o ne n se (Do mi n go s C. S il va – S a nto s Car v al ho , C ª d e P ro v í nc ia) .............. 8, 9 Co mp a n h ia d e V ic e nzo Go nza g a (D uq ue d e Mâ n t ua) ............................... 19 Co mp a n h ia d e z arz ue la d e Lac arra (esp a n ha) ................................................... 38 Co mp a n h ia d o C o s ta ( se c. XI X, Cª d e P ro ví n cia) ) ................................................ 30 Co mp a n h ia d o Éd e n -T ea tro ( Lisb o a) . 78 Co mp a n h ia d o So are s (c a.1 8 6 5 -1 8 8 5 , Cª d e P ro ví n cia) .........................30, 36, 17 4 Co rra l d e la s Co me d i as d el P ri n cip e (1 7 4 5 -1 8 0 2 /1 8 0 7 -1 8 4 8 , Mad rid ) ..... 11 CO R R EI A ( ac to r) ....................................... 58 CO R R EI A Na tál ia (1 9 2 3 -1 9 9 3 , a uto r a) ..................................................................... 320 En co b e rto (O ) ....................................... 320 CO R R EI A, E mí lio (ac to r) ....................... 21 CO R R EI A, J o sé S eb a st i ão Ma c had o (1 8 6 1 -1 9 3 5 , s ecre tár i o , p o n to ) ........ 41 S imã o , S imõ es & C ª (1 8 9 0 , zarz u el a trad ., T . P rí n cip e R ea l, Lis b o a) . 39 CO R R EI A, Ro me u (1 9 1 7 -1 9 9 6 , a uto r) ........................................ 73, 79, 291, 347, 352 Ca sa co (O ) d e Fo g o (1 9 5 6 ) ............ 291 C ra vo (O ) E sp a n h o l ........................... 291 Ro sa (A ) d o Ad ro (1 9 7 1 , T . De s mo nt á vel , S a nt aré m) .....291, 298, 301, 303, 308, 347, 352, 359 Va g a b u n d o (O ) d a s Mã o s d e Ou ro (1 9 6 2 ) .................................................. 291 Co rr eio (O ) De sp o rt ivo (p erió d i co ) 216, 218, 220 Co rr eio d o Rib a te jo (p e rió d ico ) 253, 254 Co rr eio d o S u l (p erió d ic o ) ......25, 26, 111, 113, 245, 248 Co rr eio d o Vo u g a (p e rió d ico ) ............ 137 Co rr eio d o s Aço re s (p er ió d ico ) ..25, 226, 227, 228, 229, 230, 231, 232, 235, 236 CO RT E - RE AL, Mar ia (a ctri z) ............ 253 CO RT E Z, Al fred o (1 8 8 0 -1 9 4 6 , a uto r) ..................................................................... 239 CO RT E Z, Ar ma n d o (1 9 2 7 -2 0 0 2 , ac to r, en ce nad o r , tr ad uto r) ..................... 86, 300 Co r uc h e (lo ca lid ad e) ..... 161, 241, 265, 266, 267 Co s me (p e r so na ge m d e O Ga ia to d e Li sb o a ) ..................................................... 218 Co st a d a Cap ari ca ( lo ca l id ad e) ..274, 275 Co st a d o Ca st elo ( Li sb o a, to p o n í mi a) ....................................................................... 49 CO ST A, An tó n io D ia s ( t rad u to r) ...... 298 CO ST A, B e atr iz (1 9 1 0 - 1 9 9 6 , act riz) .............................................................152, 153 CO ST A, C u n ha e ( a uto r) ....................... 357 CO ST A, Dr. B . J úd ice d a Co s ta ( SN I ) ............................................ 258, 265, 272, 273 CO ST A, E l vi ra (a ctr iz) ............................ 33 CO ST A, Geo r g i na ( actr i z) ...................... 34 CO ST A, I sab el ( ac tri z) ............................ 58 CO ST A, J o sé Ma n ue l d a ........................ 295 CO ST A, Lic í nio ( mú s ic o ) ..................... 227 CO ST A, Ve lo so d a (a u t o r) ..................... 89 CO ST INH A ( Au g u s to C o st a, 1 8 9 1 1 9 7 6 , acto r) ....................................277, 280 Co mp a n h ia So c ie tár ia d e De cla maç ão (Ra fae l d e Ol i ve ira, C ª d e P ro ví n cia) ............... 104, 105, 113, 115, 120 Co mp a n h ia T ea tra l d o C hi ad o ( Cª d e Mário V ie ga s, Li sb o a) ...... 144, 269, 318 Co mp a n h ia( s) d e P ro ví n cia .............. 36, 38 CO N CEI Ç ÃO, Mar ia d a ........................... 37 Co n c elh o d e Rio Ma io r (p erió d i co ) . 137, 159, 161 Co nc íl io d e T re n to (1 5 4 5 - 1 5 6 4 ) 20, 21, 22 Co nc ur so d e Ap o io ao T eatro Iti ner a nt e ( SNI) .................................... 255 Co nd e d e M ari al va (p er s o na g e m d e A S eve ra ) .............................................147, 153 Co n d e s sa (A ) d e S en n ec ey (t ít u lo ) ...... 99 CO N FEIT EIR O, J o aq u i m ( clo wn ) ....... 40 Co n frad ía d e l a So ci ed a d y d e l a P as sió n ( Mad r id ) .................................... 11 Co n f ra ir ie d e la Pa ss io n (P ari s) ......... 10 Co nj u n to Art ís ti co «D i v in a Arte » (H u mb er to d e An d rad e, Cª d e P ro ví n cia) ................................................ 278 Co nj u n to Fa mi l iar Li sb o ne n se «Ge n te d e T eatro » ( H u mb er to d e And rad e, Cª d e P ro ví n cia) ................................... 278 Co n se l ho d e T ea tro ( SN I) ... 183, 256, 257, 258, 264, 265, 268, 272, 273, 285, 288 Co n ser va tó r io Rea l d e L isb o a ................. 2 Revi s ta d o Co n se rva tó r i o Rea l d e Li sb o a ...................................................... 2 Co nt ra Re fo r ma ........................................... 22 Co o p er at i va d e Co med ia nt e s Ra fa el d e Oli v eir a ( Lisb o a) .........................319, 320 Co o p er at i va d e P ro d u çã o d e Esp e ctá c ulo s «G e n te Se m No me » (1 9 7 7 , H u mb e rto d e And rad e, Cª d e P ro ví n cia) ........................................278, 320 COP E AU , J acq ue s (1 8 7 9 -1 9 4 9 , ac to r, en ce nad o r) ......................................293, 295 CO QU E LI N, B e nô it - Co n st a nt (Co q ue li n ai n é, 1 8 3 0 -1 9 0 9 , acto r) . 54 Art e (A ) e o Co med ia n te ..................... 53 CO R D ÁLI A (ac tri z) .................................. 57 CO R DEI R O, Au g u s to (a cto r) .......... 34, 78 CO R DEI R O, Lu ci nd a (a ctri z) ............... 34 CO R MO N, E u g è ne (1 8 1 1 -1 9 0 3 , a uto r) ................................................................. 93, 94 CO R O A, Dr . Ca mp o s (a rtic u li s ta) 25, 26 CO R ON A, Ne na (ac tri z) 114, 240, 331, 332 Co rra l d e la C r uz (1 5 7 9 - 1 7 3 6 , Mad r id ) ....................................................................... 11 Co rra l d e la P ac he ca (1 5 6 8 - c.1 7 4 5 , Mad rid ) ....................................................... 11 4 D ALLOT , J o sé (ac to r -e mp r es ário ) 39, 2, 6 D ALLOT , J ú li a (a ctr iz -e mp r es ári a) .. 39, 2 D AM AS C EN O, Ro sa (1 8 4 9 -1 9 0 4 , actr iz) ................................................. 88, 105 Da ni el, o “t ri st e -so rte ” ( p erso n a ge m d e A F ilh a d o S a lt imb a n co ) ........ 69, 91 D ANNE R, B l yt h e (1 9 4 3 , actr iz) ........ 289 D ANT AS, J ú lio (1 8 7 6 -1 9 6 2 , a uto r) .. 10, 82, 90, 137, 147, 153, 169, 185, 230, 233, 240, 351, 354 Ce ia (A ) d o s Ca rd ea i s ...............107, 230 C ru c ifi ca d o s (O s ) ................................ 230 Do m Jo ã o T en ó r io ( ad ap t.) ............. 185 Ma t er Do lo ro sa (1 9 0 8 ) ....................... 10 Ro sa s d e to d o o a n o (1 9 0 7 ) .....90, 180, 195 S a n ta In q u i s içã o (1 9 1 0 ) ..................... 66 S eve ra (A ) ...................... 137, 147, 169, 230 S o ro r Ma r ia n a ...................................... 240 D AST É, J ea n (1 9 0 4 -1 9 9 4 , acto r, d irec to r) ................................................... 293 Deb a t e (O ) (p er ió d i co ) .......................... 121 Dec la ma ção (d i scip li n a cur ri c u lar) .... 53 DE CO U R CE LLE, P ier re Ad ri e n (1 8 5 6 1 9 2 6 ) .................................................115, 349 Ab a d e (O ) Co n s ta n t in o ( L’ Ab b é Co n sta n tin , 1 8 9 1 ) ............................. 33 Do i s (Os ) Ga ro to s d e P a ri s ( al iá s Os Do i s Ga ro to s ) ............................ 115 Do i s Ga ro to s ( L e s D eu x Go s s es, 1 8 8 8 , al iá s O s Do i s Ga r o to s d e Pa r is) ...................................107, 109, 126 Def esa (A ) .................................................... 198 Del fi na ( ac tri z) .......................................... 105 Demo cra cia d o S u l (p eri ó d ico ) ...16, 177, 178, 198, 199, 200, 201, 202 Demo cra ta (O ) (p er ió d i co ) ......4, 121, 123, 134, 146, 147 DEM OE L, Li n a (1 8 9 7 -1 9 8 2 , act riz) 118, 152 De sco n he cid o ( O) (p ers o na g e m d e Alg u é m t erá d e mo r re r ) .................... 253 DEU S, J o ão d e (1 8 3 0 -1 8 9 6 , a uto r) ... 114 DEV O RE, Ga sto n (1 8 5 9 -? ) S a cr if ica d a (A ) ( La sa cr ifi ée ) , 1 9 0 7 ) ...................................................... 33 Diá rio d a Ma n h ã (p er ió d ico ) .............. 257 Diá rio d e Li sb o a (p e rió d ico ) ......287, 346 Diá rio d e Lu a n d a (p er ió d ico ) .....297, 301 Diá rio d e No t íc ia s (F u n ch al, p erió d i co ) ............... 216, 220, 221, 223, 224 CO U CEI R O, Dr. (e mp re s ár io ) .............. 61 CO UT INH O, P e n h a (1 8 5 4 -1 9 3 7 , a uto r , en sa iad o r) ....................................57, 58, 105 Tí mb a l es (O s ) d o Dia b o (co m Est e ve s Graç a, re v i sta , 1 9 0 4 , T . C ha le t P al h are s, Alc â nt a ra) ......... 57 Co vi l hã ( lo c al id ad e) ................................ 211 CO VÕ ES , Ric ard o (e mp res ário , a uto r) ....................................................................... 37 Cre z y a nd J a no u (b a ilar i no s) .............. 119 C ria n ço la s (Os ) ........................................... 33 C RI S AFU LLI, He nr i ............................... 354 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 204 Pa ra lít ico (O ) ...... 106, 108, 126, 139, 175, 204 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 205 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 275 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 275 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 335 Pa ra lít ico (O ) ........................................ 354 C RI ST IN A, A má li a (a ct riz) ................. 124 C RU Z, Al me id a (ac to r) .......................... 119 CU NH A, Al v es d a (1 8 8 9 -1 9 5 6 , ac to r) ...118, 122, 125, 136, 137, 138, 139, 156, 160, 162, 186, 209, 210, 236 CU NH A, An tó n ia B árb a ra d a ................ 62 C ur so Li vre d e Ar te d e Rep r es e nt ar (Co n ser v ató r io N acio n al , Li sb o a) 277 CU RT O, A mí lc ar Ra ma d a (1 8 8 6 -1 9 6 1 ) ..... 22, 24, 27, 32, 33, 137, 154, 187, 196, 207, 209, 214, 233, 239, 240, 247, 333, 337, 350, 353, 354, 355 Ca d e i ra (A ) d a Ve rd a d e (1 9 3 2 ) ... 187, 240, 355 Fera (A ) (1 9 2 2 ) .. 187, 196, 198, 208, 209, 228, 240, 242, 333, 335, 336 Reco mp en sa (1 9 3 8 ) 22, 24, 27, 32, 33, 70, 137, 187, 239, 271, 275, 335, 353, 359 S a p o (O ) e a Do n in h a ....... 248, 337, 338 Tio (O ) R ico .......... 207, 214, 275, 333, 354 Tr ê s G era çõ e s ....................................... 240 CU ST ÒDI A, Mar ia ( actr iz) ............70, 259 C u stó d io (p er so na g e m d e A S e ve ra ) 147, 169 CU ST ÓDI O, F lo ri nd o ( a rtic u li s ta) .. 184, 186 D D. AF ON SO VI ( R ei d e P o rtu g al) ....... 25 Da fu nd o ( lo ca lid ad e) .................................. 3 D ALLOT , Carlo s ( ac to r - e mp re sár io ) 39, 40, 3, 121, 146 D ALLOT , E str ela (ac tri z) ................... 2, 13 4 Co sta (O ) d o Ca s telo (1 9 4 3 , ci ne ma ) ................................................ 213 Men in a (A ) d a Rá d io (1 9 4 4 , ci ne ma) ................................................................ 213 DU ART E, Már io (1 8 9 0 - 1 9 3 4 ) .....135, 352 Du a s ( A s ) Ca u sa s (co m Alb er to Mo rai s) ...... 135, 136, 137, 149, 160, 162, 175, 176, 188, 195, 197, 203, 216, 234, 243, 269, 275, 336, 352, 359 DUB I NI, Car lo s (ac to r, arti c ul is ta) .... 5, 65, 66, 106, 110 DU CH ART RE, P ierr e - Lo ui s (a uto r ) . 11, 17, 19 Th e I ta l ia n Co m ed y .............................. 39 DU LL E A, Ke ir (1 9 3 6 , a cto r) .............. 289 DU LLIN, C h arl es (1 8 8 5 -1 9 4 9 , ac to r, d irec to r) ................................................... 293 DUM AS , Ale x a nd re ( fil ho ) ....88, 242, 350 Da ma (A ) d a s Ca m élia s ....241, 243, 337 DUM AS , Ale x a nd re (p ai ) .......31, 350, 357 DU R ÃO, Lu í sa ( ac triz ) ..................277, 280 DU SE, Ele a no ra ( act riz) .......................... 38 Diá rio d e No t íc ia s ( Li sb o a, p er ió d ico ) .... 2, 3, 20, 22, 49, 60, 151, 154, 270, 289, 293 Diá rio d o Al en te jo (p eri ó d ico ) ..179, 180, 203, 204, 205, 206, 207, 208, 243, 244 Diá rio d o M in h o (p e rió d ico ) ......110, 127, 128, 129, 284 Diá rio d o Rib a te jo (p er i ó d ico ) ..288, 291, 292 Diá rio In su la r (p er ió d i c o ) ...........234, 235 Diá rio Po p u la r (p o p u lar ) 71, 72, 266, 270, 277, 280, 298, 302 DI AS (a cto r) ................................................. 31 Dia s F eli z es (co méd ia) .......................... 263 DI CENT A, J o aq u í n (1 8 6 3 -1 9 1 7 ) ..88, 89, 350 Jo ã o Jo sé (d r a ma) .................88, 108, 112 DIDE R OT , De n is (1 7 1 3 - 1 7 8 4 , filó so fo ) ..................................................... 53 Pa ra d o xo (O ) d o Co med ia n te (1 7 7 3 , p ub . 1 8 3 0 ) ............................................ 53 DINI Z, Ed uard o B ap t i st a (1 8 5 9 -1 9 1 3 ) ....................................................................... 66 Vete ra n o (O ) d a L ib e rd a d e ............... 10 DINI Z, J úl io (p se ud .) ..... 88, 105, 153, 233, 326, 355 As Pu p ila s d o S en h o r Re ito r (co méd i a) .......................... 104, 107, 109 DINI Z, S a m we l l (1 8 8 8 - 1 9 7 8 , acto r, P resid e nte d o Si nd ica to d o s Art is ta s) ................................................... 258 Di sco ( O) Aq uát ico ( gr u p o d ra má tico a mad o r, ´B ej a) ...................................... 243 Di st r ito d e S etú b a l (p eri ó d ico ) .261, 262, 264 DO LO RE S, Car me n (1 9 2 4 , act riz) ... 214, 253, 291 Do n B a ker (p er so na ge m d e A s Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289 DO N AT , Luc ie n ( ce nó gr afo ) ............... 253 Do ro te ia (p er so na ge m d e O Ga ia to d e LI sb o a ) ..................................................... 218 Do ro te ia (p er so na ge m d e T rê s em Lu a d e M el ) ..................................................... 277 DO VI ZI, B er nard o d a B i b b ie na ........... 18 Dr. T el mo P a i s (p er so na ge m d e T rê s em Lu a d e Me l ) ..................................... 277 DR AG Ú N, O s va ld o (1 9 2 9 -1 9 9 9 , a uto r) .............................................................288, 320 Hi stó r ia s co m g ra d es ......................... 320 Hi stó r ia s p a ra se r em co n ta d a s ..... 288 Dro gar ia Vie g as (co mé r cio ) ................ 173 DU ART E, Art ur (1 8 9 5 -1 9 8 2 , acto r, ci nea s ta) ................................................... 213 E EC HEG AR AY , J o sé (1 8 3 2 -1 9 1 1 , au to r) ................ 138, 172, 176, 236, 350, 353 Ca lú n ia (A ) (a liá s O Gr a n d e Ga leo to ) .... 137, 139, 172, 176, 196, 197, 201, 203, 206, 219, 236, 275, 353, 359 Gra n d e (O ) Ga leo to (a li ás A Ca lú n ia ) .............................................. 138 Eco d o Fu n ch a l (p erió d i co ) 215, 216, 220, 221, 222, 223, 224 Eco s d o Al cô a (p er ió d i c o ) .................... 149 Eco s d o No r te (p erió d ic o ) .................... 304 Éd e n -T eatro ( Li sb o a) .............................. 184 Éd ito d e N a nt es ........................................... 13 Ed ito r Fr a nci sco Fr a nco (Li sb o a) ....... 76 Ed u ard o Sar me n to (p e rs o na g e m d e O Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 218 El Ca no (p er so na ge m d e Jo ã o Jo sé ) .. 88 El va s ( lo ca lid ad e ) ... 105, 190, 191, 192, 250 E mp r e sa d e B r u ni ld e J ú d ice – Al v e s d a Co s ta ( Li sb o a) .......................... 78, 324 E mp r e sa d e J aci n to G ui ma rãe s (G ui ma rãe s) ............................................ 130 E mp r e sa d e Luc íl ia Si m õ es - Eri co B rag a ( Lisb o a) ........................................ 78 E mp r e sa d e Mar ia Ma to s – Me nd o nç a d e C ar va l ho ( Lisb o a) ................... 78, 324 E mp r e sa d e R e y Co l aço – Ro b le s Mo n te iro (1 9 1 9 -1 9 7 5 , Lisb o a) .. 24, 78, 253, 301, 324 4 F ALC OT , J o ão (ca n to r e xc ê ntr ico ) .. 223 Fa n ta sma s d o Ca st elo N eg ro ( tí t ulo ) ..................................................................... 108 F ARI A, Ál varo (ac to r) ...................316, 317 Faro ( lo ca lid ad e) 33, 67, 110, 111, 114, 115, 183, 247, 250, 337 FED O R, Lad i s la u (1 8 9 8 -1 9 7 8 , a uto r) ..................................................................... 283 Da n ú b io A zu l ......................................... 283 Fei ra d a Ave n id a ( Li sb o a) .................... 152 Fei ra d a s A mo re ira s ( Li sb o a) ..29, 40, 56, 110 Fei ra d e Alcâ n tar a ( Li sb o a) ........... 56, 110 Fei ra d e B el é m ( Li sb o a) 30, 55, 56, 59, 60, 110 Fei ra d e Mar ço ...........................2, 3, 121, 146 Fei ra d e S. J o ão (É vo r a) ................177, 198 Fei ra d e S. Ma te u s ( Vi s eu) ............ 12, 176 Fei ra d e S. M i g uel (P o rt o ) ............... 2, 225 Fei ra d e S ai n t G er ma i n (P aris ) ...... 19, 39, 177 Fei ra d e S ai n t La ur e nt ( P aris) ........ 3, 177 Fei ra d e S a ntar é m ................................... 2, 79 Fei ra d e S et úb a l (o u d e Sa n tia go ) ......... 2 Fei ra d e V ila V iço sa ............................... 198 Fei ra d o Ca mp o Gr a nd e (Li sb o a) .... 6, 59 FE LIP E I ( Rei d e P o rt u g al) ..................... 7 FE RN AN DE S, Ab í lio Po r fa l ta d e ro u p a n o va , p a s se i o fe rro n a ve lh a (co méd i a ) .............. 13 FE RN AN DE S, Ad e li na ( 1 8 9 6 -1 9 8 3 , ca nto r a) .................................................... 222 FE RN AN DE S, An íb al P ereir a ............. 263 FE RN AN DE S, J o ão (ac t o r) .................... 76 FE RN AN DE S, Na sc i me nto (1 8 8 1 1 9 5 5 , acto r) ............................................ 118 Ferr ara ( lo ca lid ad e) ................................... 10 FE R R AR A, D uq ue d e ................................ 13 FE R REI R A, An tó nio (a u to r) ......... 82, 351 FE R REI R A, An tó nio Co st a (1 9 1 8 1 9 9 7 , acto r, a u to r) ..............288, 299, 300 Ca sa (U ma ) co m Ja n ela s p a ra Den t ro (1 9 8 5 ) ................................... 299 Dia (Um ) d e V id a (1 9 5 8 ) ................. 299 FE R REI R A, B ap ti st a (a cto r) ............... 133 FE R REI R A, B er n ard o ( mú s i co ) ......... 214 FE R REI R A, E mí l ia ( act riz a mad o ra) . 51 FE R REI R A, Fra nc i sco ( mú s i co a mad o r) ...................................................... 81 FE R REI R A, G il (ac to r) ............................ 35 FE R REI R A, Li no (1 8 8 4 - 1 9 3 9 , a uto r) Ca b a z d e Mo ra n g o s ( e t a l., 1 9 2 6 , rev i sta , Éd e n -T ea tro , Li sb o a) ... 119 E mp r e sa d e Va s co Mo r g ad o ( Li sb o a ) ..................................................................... 289 En ep ê (p se ud . , ar tic u li s t a) .. 215, 220, 224 C AST R O ....................................................... 303 ENN ER Y, Ad o lp h e d ’ (1 8 1 1 -1 8 9 9 , au to r) .................................. 93, 227, 349, 353 Du a s (A s ) Ó r fã s (co m E u gè n e Co r mo n, 1 8 7 4 ) ..... 93, 94, 97, 107, 109, 111, 121, 126, 127, 226, 227, 228, 234, 275, 278, 334, 335, 336, 337, 353, 359 ENN ES, An tó nio ( a uto r) ......................... 17 En g ei ta d o s (O s ) ...................................... 17 ENVI A, Ma n ue l (a u to r) ............................. 2 Esc ad i n ha s d e S. Cri sp i m ( Li sb o a) ..... 47 Esc ra va tu ra (A ) (t ít ulo ) .......................... 68 ES CU LÁP IO (p s e u d . Ed uard o Fer na nd e s) ................................................ 61 Es g ue ira ( lo c al id ad e) .............................. 133 Esp a n h a (p a í s) ................. 2, 11, 13, 18, 39, 37 ESP E CT AD OR (U m) (p s eud ., arti c ul is ta) .............................................. 242 Esp e ct ro s (t ít u lo ) ...................................... 113 Esp e r te za s d e a c to r (co méd ia) ............. 49 Esp i n ho (lo cal id ad e) ................................. 33 Est ad o No vo (re g i me p o lít ico ) ....32, 150, 151, 158, 212 Est arrej a ( lo c al id ad e) ............................... 29 EST E, Lucr éc ia d e ..................................... 10 Est ét ica T eatra l (d is cip l in a c urr ic u lar) ....................................................................... 53 EST EVE S, Ca rla O li ve ir a (art ic u li s ta) ......................................................................... 2 Est o r il Jo rn a l (p erió d ic o ) ............105, 106 Est rad a d e E n tre mu ro s d e C a mp o l id e (Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 43 Est ra go n (p erso n a ge m d e À E sp e ra d e Go d o t ......................................................... 300 Est rel a ( Lisb o a, to p o ní mi a) ............. 44, 66 Est re mo z (lo c al id ad e ) ... 6, 7, 117, 194, 195, 196, 333, 339 Est re mo z F u teb o l Cl ub e (cl ub e d esp o r ti vo ) .............................................. 195 Est ú d io 4 0 4 ( No va Lis b o a, An g o l a) .................................... 305 Et no gra fia (d i scip li n a c urr ic ul ar) ....... 53 Évo r a (lo ca lid ad e) ...... 34, 35, 177, 198, 199, 203, 243, 250, 259, 261, 277, 280, 281, 335, 336, 339, 340 Évo r a T erra ss e (re ci n to ) .......................... 34 F F AB RI, Di e go (1 9 1 1 -1 9 8 0 ) .................... 21 S ed u to r (O ) (1 9 5 1 ) ................................ 21 Fáb r ica d as S ed a s ( Li sb o a) .................... 43 4 FO NS E C A, E s tác io d a ................................ 7 FO NS E C A, J o ão J . S a m o uco d a (h is to ri ad o r lo ca l) ............................... 148 FO RT ES, An na (ac tri z) ............................ 57 Fra nç a (p a í s) .............. 10, 13, 18, 53, 177, 287 F R AN CES C O D A LA LI R A (ac to r) ..... 9 F R AN CES C O MO S CHI AN ( acto r) ....... 9 F R AN CO J ú n io r, F. So a res ( Có n e go ) Ra in h a S a n ta Isa b el .... 18, 133, 332, 333 F R AN CO, H u mb e rto ( ac to r a ma d o r) .. 51 Fra ter na l Co mp a n h ia d e Ser Map h io (Sec . X VI) ................................................... 9 Fre g ue s ia d e S a nta I sab el ( Li sb o a) .... 42 F REI RE, Co r i na (ac tri z) ........................ 152 F REI RE, Na ti Go nz ále z (arti c ul i sta) ..................................................................... 315 F REIT AS (p ia n i st a) ................................... 11 F REIT AS , Auro r a d e ( ac triz) 90, 107, 114 F REIT AS , Er ne s to d e ( c a.1 8 5 1 -1 9 2 7 , acto r - e mp re sár io , e ns aia d o r) ..... 79, 89, 90, 91, 92, 103, 105, 106, 107, 110, 112, 113, 114, 116, 120, 123, 124, 125, 126, 171, 184, 327, 343 F REIT AS , Urb i no d e ................................. 38 F RI AS, Ca rlo s (1 9 0 1 -1 9 8 0 , acto r) ..... 70, 79, 81, 107, 124, 128, 129, 131, 140, 168, 202, 204, 206, 246, 327 F RI AS, Fer n a nd o (1 9 2 4 - 2 0 0 2 , acto r) ..... 70, 124, 131, 169, 202, 204, 207, 210, 218, 243, 246, 248, 255, 266, 286, 291, 296, 301, 319, 329 Imp ru d ên c ia Ca s tig a d a (co méd i a) ................................................................ 169 F RI AS, Ge n y (1 9 0 5 -1 9 9 3 , act riz) ...... 70, 107, 124, 126, 138, 165, 166, 202, 204, 206, 217, 231, 238, 246, 248, 296, 316, 319, 327, 331 F RI AS, Liz ete (1 9 2 8 -1 9 9 5 , act riz) .... 70, 170, 202, 204, 207, 217, 223, 238, 241, 242, 243, 246, 248, 254, 316, 319 F RI AS, Lu ci nd a (a ctr iz) ..............80, 81, 84 F RO ND AIE, P ierre (al iá s Re n é Fra ud e t, 1 8 8 4 -1 9 4 8 , a u t o r) ............. 185 Mo n t ma rt re ............................................. 185 F RO ND ONI, Ân ge lo (1 8 0 9 -1 8 9 1 , mú s i co ) .................................96, 97, 109, 356 Fro nt eira (lo cal id ad e) ............................... 15 F ul a no , Sicr a no e B el tra no ... vd E r ne sto Ro d r i g ue s F u nc ha l ( lo ca lid ad e) ..... 215, 218, 221, 223, 226 F u nd aç ão Ca lo us te G ulb en k ia n (Li sb o a) ............................................284, 285 F u nd ão ( lo ca lid ad e) ................................... 97 Mo u ra r ia ( e t a l., 1 9 2 6 , o p eret a, T eatro Ap o lo , Lisb o a) 120, 123, 125, 133, 134, 146, 164, 165 FE R REI R A, M a n uel Ma rq ue s ( mú s ico ) ..................................................................... 141 FE R REI R A , O lí mp ia (ac triz) ................ 58 FE R REI R A, U li s se s ( e m p res ário ) ....... 11 FE R RO, An tó nio (1 8 9 5 - 1 9 5 6 , j o rnal i sta , p o l ít ico ) ... 151, 154, 213, 221, 232, 255 FEU I LLET , O cta v e (1 8 1 2 -1 8 9 0 , a uto r) .................................................... 187, 207, 240 Vid a (A ) d e Um Ra p a z P o b re (1 8 5 8 ) ............................... 187, 207, 219, 240, 241 FEY DE AU, Geo r g e s (1 8 6 2 -1 9 2 1 , au to r) ........................................ 298, 305, 357 Pa to (O ) (1 8 9 6 ) ........... 298, 303, 310, 357 FI ALH O, Alb er to (ar ti c ul i st a) ....209, 210 FI ALH O, J o s é Fi lip e (a ut arc a d e La go s) ....................................................... 258 Fid al go d a P re sa (p e rso na g e m d e Fera s à S o lta ) ....................................... 142 Fi g u eira d a Fo z ( lo ca lid ad e) ....33, 35, 52, 87, 181 FIG UEI R A, Ali ce ( act ri z) ...................... 58 FIG UEI RE DO , Au g u sto d e (ac to r) .... 20, 291 FIG UEI RE DO , Dr. Ar t u r Marq ue s d e (acto r e mú s i co a ma d o r) ...........167, 168 FIG UEI RE DO , Ma ria n a (actr iz) ........ 184 Fi g ur as d a Co m med ia d e ll'A r te B ura ti no ..................................................... 15 Cap it ão Card o na ..................................... 15 Fra nc atr ip a ................................................ 15 Fra nc i sq ui n h a .......................................... 15 Grac ia no .................................................... 15 P an tal ão ..................................................... 15 P red o li no ................................................... 15 Za n ni ........................................................... 15 Fi lar mó n ica S a nta co mb a d en se (o ct eto mu s i ca l d e Sa n ta Co mb a Dão ) ....... 169 Filh a (A ) d o Co n se rv ei r o (tí t ulo ) ..... 108 Filh o (O ) d a s On d a s (t ít ulo ) .........91, 108 FI LIP P O, Ed uard o d e (1 9 0 0 -1 9 8 0 , acto r, a uto r , c i nea s ta) ..................26, 318 Art e (A ) d a Co m éd ia (1 9 6 4 ) ........... 318 FIN O, J o r ge (ac to r) .........................107, 124 FI RMI NO (ac to r) ........................................ 31 Fla ma (p erió d ico ) ..................................... 181 Fla mi n go ( a gr up a me n to mu s i ca l) ...... 223 Flo r d e S ed a (t ít u lo ) ............................... 185 Flo r Ra ra (o p er eta ) ................................. 142 Fo lh a d e Do m in g o (p eri ó d ico ) ......67, 70, 158, 258 4 GI L, Cr e mi ld a ( actr iz) ............................. 20 GIS H, Do ro t h y (1 8 9 8 -1 9 6 8 , act riz) .. 93, 94 GIS H, Lil ia n (1 8 9 3 - 1 9 9 3 , act riz) .. 93, 94 G LASE R, Mi c hae l (1 9 4 3 , acto r) ....... 289 Gló r ia F ut eb o l C l ub e ( a s so ci ação , V. R. Stº An tó nio ) ..................................... 318 GO DIN ( F u nd ad o r d a R eal Fáb r ic a d a s Sed a s, Li sb o a) ......................................... 43 GOM ES , Amé ri co (a cto r ) ....................... 34 GOM ES , J o ão Re i s (a u t o r) ............. 54, 224 Fig u ra s d e Tea t ro (1 9 2 8 ) ................. 224 Tea tro (O ) e o A c to r Esb o ço Fi lo só fi co d a A r te d e Rep r es en ta r (1 9 0 5 ) ..................... 54 GOM ES , T eres a (1 8 8 2 -1 9 6 2 , act riz) 14, 71, 243 GO N ZÁLE Z, Ro g el io A. (1 9 2 0 -1 9 8 4 , ci nea s ta) .................................................. 254 Go o d b ye my lo v e g o o d b ye (t ít u lo ) .... 358 GO OD RI C H, Fra nc es (1 8 9 0 -1 9 8 4 , au to r) ......................................................... 299 GO UC H A, M a n uel Luí s (ap re se nt a d o r d e te le v is ão ) ............................................ 16 Go u vei a (lo ca lid ad e) ........ 96, 171, 172, 174 GO UVEI A, J o ão (1 8 8 0 - 1 9 4 7 , a uto r) 75, 342 Ma r d e Lá g ri ma s (co m J o rge Sa n to s) ........................................... 75, 342 GR AÇ A, E st e ve s ( mú s i c o ) ..................... 57 GR AÇ A, M ila (a liá s C a mi la d a Graç a Fri as , ac tri z) ......... 167, 204, 207, 217, 226 Gra n d e (O ) El ia s (p er ió d ico ) ...51, 57, 59, 63, 64 GR AV E, J o r ge ( ac to r) .............................. 67 GR EG Ó RIO, M. ( art ic u l is ta) ............... 251 GR EG OS E T R OI ANO S (p arcer ia d e Ro d r i g ue s, B er mu d e s, B as to s , Gal h ard o , B arb o s a) Ra ta p la n ( re vi s ta) ............................... 119 Gré mi o d a s E mp re sa s T eatra is ........... 258 Gré mi o E str ela (a s so ci a ção re crea ti v a) ....................................................................... 65 Gré mi o Recr ea ti vo ( C a n ta n hed e ) .. 87, 90 Gré mi o S e si mb r e ns e ( Se si mb ra, as so c iaç ão ) ............................................. 106 GR IF FIT H, D. W . (1 8 7 5 -1 9 4 8 , ci nea s ta) .................................................... 94 Orp h a n s o f th e S to r m (1 9 2 1 , ci ne ma ) .................................................. 94 GR OT OW S KY , J erz y (1 9 3 3 -1 9 9 9 , P o ló n ia, e nce n ad o r, p ed ago go ) ..... 296 F u nd o d e T ea tro ( SNI) ..... 23, 28, 144, 249, 254, 255, 256, 257, 263, 264, 265, 267, 268, 270, 271, 272, 273, 274, 276, 285, 286, 290, 332, 339 FU NÈ S, Lo u is d e (1 9 1 4 - 1 9 8 3 , acto r) ..................................................................... 287 FU RT AD O, R u i (a cto r) .......................... 316 G Gab e la ( lo ca lid ad e) ................................. 306 Gab i n ete d o P re sid e nte d o Co n se l ho (Li sb o a) .................................................... 183 Gab ri el a (p er so na g e m d e Alg u ém te rá d e mo r re r ) ............................................... 253 G AI AR R E (t e no r) ....................................... 38 Gal h ard o ( fil ho ), Luí s ( ali ás Luí s Herc u la no ) ......................................167, 283 G ALH AR DO, J o sé (1 9 0 5 -1 9 6 7 , a uto r , trad uto r ) ................................................... 283 Alto lá co m o ch a ru to ( e t.a l, 1 9 4 5 , rev i sta , T eatro Var ied ad es) .......... 13 Ch á d e Pa rr ei ra ( et a l., 1 9 2 9 , rev i sta , T . Var ied ad e s) ................. 123 G ALH AR DO, Luí s (p ai) (e mp re sár io , au to r) ......................................................... 184 G ALI LEI, Ga li leo ....................................... 17 G AM A, E urico (ar tic u li st a) ................... 30 G AM A, J o aq u i m Ca rlo s (1 8 4 0 -1 9 0 3 , acto r) ........................................................... 30 G AM A, Lia (ac tri z) ................................. 310 Ga mb ia r ra (A ) (p er ió d i c o ) ............... 37, 38 G AN ASS A, Za n (a li á s Alb erto Na se li , acto r) ...............................................10, 11, 12 G AR CI A, E lia s (p o lí ti co ) ....................... 38 G AR RET T , Al me id a ........... 38, 64, 164, 354 Alfa g eme d e S a n ta r ém .................20, 164 Fa la r Ve rd a d e a M en t i r ...................... 64 Fre i Lu í s d e S o u sa (1 8 4 3 ) 38, 247, 275, 276, 338, 354 Me mó r ia a o Co n se rva tó rio (1 8 4 3 ) 38 Via g en s Na Min h a T er ra .................. 200 Ga ta (A ) B ra n ca .......................................... 62 Ga z eta d a Fig u ei ra (p er ió d ico ) ........... 69 Ga z eta d e Ca n ta n h ed e ( p erió d i co ) 88, 91 G AZU L, Fre it a s (1 8 4 2 -1 9 2 5 , mú s ico ) ..................................................................... 113 O Ho me m d a Bo mb a (o p eret a) ....... 113 Ge ner al Sar me n to (p er s o na g e m d e O Ga ia to d e Li sb o a ) ................................ 217 GE RS HE, Leo nard (1 9 2 3 -2 0 0 2 , a uto r) ..................................................................... 289 Bo rb o leta s (As ) sã o L iv r es (1 9 6 9 , Bu tt er fl ie s a re f ree ) ...................... 289 GHI R A, Alb er to (1 8 8 8 - 1 9 7 1 , acto r) 243 4 H AM I LT ON, G u y (1 9 2 2 , ci ne a sta) .. 251 H ARD Y, Ol i ver (1 8 9 2 -1 9 5 7 , acto r) ... 26 Ha va na ( C ub a) ........................................... 314 HE CK ART , E il e n (1 9 1 9 -2 0 0 1 , ac triz ) ..................................................................... 289 HE LÉ VY, Lud o vi c H el é v y (1 8 3 4 1 9 0 8 ) ........................................................... 34 HE L LM AN, Lil li a n (1 9 0 5 -1 9 8 4 , au to ra) ......................................286, 287, 309 As Ra p o sa s (1 9 3 9 ) ..... 286, 287, 288, 309 HEN NE QUI N, M a uri ce (1 8 6 3 -1 9 2 6 ) .............................................................128, 350 Ne ll y - Ro sie r ( co m P a u l Ri l ha ud ) ... 33 Via g e m d e Nú p cia s (a li á s A leg ria s d o La r, ” Le s Jo ie s d u F o yer ” ) ........................................................127, 168 He nriq u e d e C ar va l ho ( l o cal id ad e) ... 304 HEN RI QU E III ( Re i d e Fra nç a) ..... 13, 14 HEN RI QU E IV ( Rei d e Fra nç a) .... 13, 16, 19 HEN RI QU ES, An tó nio J o sé (1 8 5 1 1 9 2 2 , a uto r) .............................................. 61 Fei ra (A ) d a La d ra ( co m P e n h a Co ut i n ho , r e vi st a, T . d o Ra to ) .... 61 HEN RI QU ES, Mar ia d o Ro sár io Mi g ue l ...................................................... 346 HIE RO NIM O D A S. LU C A (ac to r) ....... 9 Hi stó r ia d o T eatro (d is c ip li n a cur ric u lar) ................................................. 53 HO LT R EM AN, R e née (a ctri z) .............. 58 HOM EM DO P AN O (p se ud ., arti c ul is ta) .......................................... 51, 99 Ho sp it al C urr y C ab ra l ( Lis b o a) ......... 266 Ho sp it al d a M is eri có rd i a (B o rb a) ..... 197 Ho sp it al d e S . J o s é ( Lis b o a) ................ 265 Ho sp it al d e T o d o s o s Sa nto s ................. 24 Hô te l d e Bo u rg o g n e (P a ris) ................... 10 Hô te l d e C lu n y (P a ri s) ............................. 18 HU GO, Vi cto r .............................................. 31 Gr up o An tó nio Al ei xo ( gr up o d ra mát ico a mad o r, V. R . Stº An tó n io ) ................................................... 318 Gr up o Ar tí s tico Re nt i ni (Ca mi lo Re n ti n i, Cª d e P ro ví n cia ) ................... 13 Gr up o Cara s Dir ei ta s (1 9 0 7 , B u arco s, as so c iaç ão re crea ti v a) ......................... 52 Gr up o d e T ea tro «O s Ve nâ n cio s » (Leo nel Ve n â nc io , Cª d e P ro ví n ci a) 5 Gr up o d e T e a tro d e C ar nid e ( Li sb o a) ..................................................................... 317 Gr up o d e T ea tro d o Or fe ão Sca lab ita no (S a nt aré m) ..................... 277 Gr up o Dr a má ti co «O s P o p u lare s » (H u mb er to d e An d rad e, Cª d e P ro ví n cia) ................................................ 278 Gr up o Dr a má ti co Carlo s Sa n to s (Li sb o a, a mad o r) .............................. 51, 98 Gr up o Dr a má ti co F a mi li ar ( Li sb o a , a mad o r) ...................................................... 50 Gr up o Dr a má ti co M i g ue l Le it ão (Leir ia, a mad o r) ..................................... 52 Gr up o G il Vi ce n te ( Li sb o a, gr up o d ra mát ico a mad o r) ................................ 48 Gr up o M u si ca l E sp er a nç a ( Cart a xo ) 103 Gr up o Ri ta Mo nta n er ( C ub a) ............... 315 GU ALDI NO , Câ nd id o (p o nt o ) .............. 33 G uard a (lo c al id ad e) .....................96, 97, 227 GUE DE S, J o ão (1 9 2 1 - 1 9 8 3 , acto r) .... 21, 291 G uerra Co lo ni al ........................................... 32 GUE R R A, E l vir a (a ma z o na) .................. 38 G uia s d e P o rt u ga l (o r g a ni zaç ão ) ....... 223 G ui ma rãe s ( lo ca lid ad e) 8, 9, 130, 131, 132, 134, 137, 141, 142, 143, 250, 252, 285, 286, 290 GUI M AR ÃES , D el fi m ( au to r) .....142, 143 Fera s à S o lta (tr a géd i a r ú st ica) .... 142 GUI M AR ÂES , Ho r ác io d e C a stro (SNI) .......................................................... 144 GUI M AR ÃES , J úl io (ac t o r) ................... 57 GUI M AR ÃES , J úl io ( fi g ur i ni st a) ........ 58 GUI M AR ÃES , Lu ís d e Oli v eir a (a u to r) .....................................................26, 27, 31, 33 GUI M AR ÃES , Q u er ub i m ( art ic u li st a) ..................................................................... 137 GU SM ÃO, F er na nd o (1 9 1 9 -? , ac to r) 71, 288, 300 I Íl ha vo ( lo ca lid ad e) ..................................... 33 Inê s d e Ca stro (p er so na ge m d e In ês d e Ca st ro ) ................................................. 13, 82 INF ANT E, P ed ro (1 9 1 7 - 1 9 5 7 , acto r me x ic a no ) ................................................ 254 In fe rn o p o r Meio To stã o ......................... 34 In g lat erra (p aí s) .................................... 39, 37 In sp e cção d o s Esp ect ác u lo s (S NI) ... 144, 233, 295 Itál ia (p aí s) ........................................10, 17, 18 IVO, An tó n io d e Car va l ho ( trad u to r) ..................................................................... 298 H H ACK ET T , Alb ert (1 9 0 0 -1 9 9 5 , a uto r) ..................................................................... 299 Diá rio (O ) d e An n F ra n k (1 9 5 6 , co m Fra nc e s Go o d r ic h) .......................... 298 4 107, 108, 109, 110, 111, 112, 115, 118, 119, 154, 155, 156, 184, 185 Jo rn a l Po rtu g u ês d e E co n o mia e Fin a n ça s (p e rió d i co ) ...................... 72, 73 J o sé So are s (p er so na ge m d e O Ra p to d a Pr ima ) .................................................. 69 J o sé, o g ai ato (p erso n a g e m d e O Ga ia to d e LI sb o a ) ..... 107, 126, 162, 166, 217 J OUV ET , Lo u i s (1 8 8 7 -1 9 5 1 , acto r, d irec to r) ................................................... 293 J OYE USE , Mo n s ie ur d e ( Al mi ra n te d e Fra nç a) ....................................................... 19 Ju d eu E r ra n te (t ít u lo ) ............................ 110 J Ú LIO II I (p o nt í fi ce) ................................ 20 J úl io Lab i ne (p er so na ge m d e O s Mi lh õ e s d o C ri min o so ) ...................... 167 IZI D RO , F er na nd o ( ac to r a mad o r, mú s i co , co mp o s ito r) ..... 51, 98, 102, 103, 105, 143, 169, 187, 210, 240, 351, 355 IZI D RO , Ire n e (ac tr iz) .............51, 152, 287 J J AC OB ET T Y, Fra n ci sco (a uto r, e mp re sár io ) .....................................29, 4, 61 Mi cró b io (O ) ( 1 8 8 4 , r e v is ta, T . C ha le t d a R. d o s Co nd es ............... 61 Nin ich e (A ) Li sb o n en s e (1 8 7 9 , p aró d ia, T . d a R. d o Ol i va l) ........ 29 Rein a d o (O ) d o Pr io r (c o m Mi g u el d o s Sa nto s, 1 8 7 9 , re v i st a, T . d a R. d o Ol i va l) ....................................... 29 J acq u e s G ara ud (p erso n ag e m d e O s Mi lh õ e s d o C ri min o so ) ...................... 167 J AC QUE S, Már io (a cto r ) ........................ 21 J ard i m d a E stre la ( Li sb o a, to p o n í mi a) ..................................................................... 294 J AR DIM, J o ão (e mp re sá rio d e ci ne ma mad eir e ns e) ....................................215, 216 J AR DIM, J o ão (e mp re sá rio d e ci ne ma) ..................................................................... 215 J azz A map o l a (a gr up a m en to mu s i ca l) ..................................................................... 195 J eró n i mo P e irá s (p er so n ag e m d e O Pa ra lít ico ) ......................................106, 126 J eró n i mo , o sa lt ead o r (p erso n a ge m d e A Fi lh a d o sa l ti mb a n co ) ..................... 69 J ill T a n ner (p er so na ge m d e A s Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289 J o an i n ha, a G ata B o rral he ira (p erso n a ge m d e O S a p a t in h o d e Vid ro ) ........................................................ 251 J o ão d a Cr uz (p er so na ge m d e A mo r d e Perd içã o ) ............................................. 84, 85 Jo ã o Da rlo t ................................................... 34 J o ão J o sé (p er so na ge m d e Jo ã o Jo sé ) 88 J o ão Ro me ir a (p er so na g e m d e T rê s e m Lu a d e Me l ) ............................................ 277 J OR D ÃO, E n gº J o s é Co el ho (a u tar ca d a F. d a Fo z) .......................................... 264 Jo rn a l d e E lva s (p erió d i co ) . 30, 179, 190, 191, 192, 193, 194, 298 Jo rn a l d e É vo ra (p er ió d ico ) ................ 260 Jo rn a l d e La g o s (p er ió d ico ) ........249, 250 Jo rn a l d e Le t ra s e A rt e s (p erió d ico ) 269 Jo rn a l d e R io Ma io r (p e rió d ico ) ....... 257 Jo rn a l d e V i seu (p erió d i co ) ................. 278 Jo rn a l d o R ib a te jo (p eri ó d ico ) ....16, 184, 186 Jo rn a l d o s T ea t ro s (p er i ó d ico ) 35, 5, 7, 8, 9, 34, 41, 52, 62, 63, 65, 66, 97, 99, 104, 106, K K AFK A, Fra n z (1 8 8 3 -1 9 2 4 , a uto r) ... 296 K ANIN, Gar so n (1 9 1 2 - 1 9 9 9 , a uto r) . 299 K AT SE LAS , M il to n (1 9 3 3 , e nce n ad o r) ..................................................................... 289 K LEI ST , He i nri c h vo n ( 1 7 7 7 -1 8 1 1 , au to r) ........................................................... 21 O P rín cip e d e Ho mb u rg o (1 8 0 9 ) .... 20 KY D, T ho ma s (1 5 5 8 -1 5 9 4 , a uto r) ........ 5 Th e S p a n is h T ra g ed y .............................. 5 L LAG O, J a ci n to ( mú s i co ) .......................... 58 La go s (lo c al id ad e) .... 34, 249, 338, 339, 340 LAL AN DE, Mari a (1 9 1 3 -1 9 6 8 , ac to r) ..................................................................... 214 La me go ( lo ca lid ad e) .................................. 33 Lar go d a Gra ça ( Li sb o a, to p o ní mi a) .. 41 Lar go d a Mi ser icó rd ia ( Vi se u) ........... 174 Lar go d a R ep úb l ica ( Sa n ta Co mb a Dão , to p o ní mi a) ................................... 161 Lar go d e Mar ti m Mo ni z (Li sb o a, to p o ní mi a) ............................................... 313 Lar go d e Sa n ta C atar i na (B ej a, to p o ní mi a) ............................................... 205 Lar go d o Ca l vár io ( Lisb o a, to p o n í mi a) ..................................................................... 104 Lar go d o C ha fari z d e De nt ro ( Lisb o a, to p o ní mi a) ................................................. 47 Lar go d o Ra to ( Lisb o a, t o p o n í mia ) ... 43, 61 LAT OU R, P i erre (ac t o r) ........................ 297 LAU RE L, St a n (1 8 9 0 -1 9 6 5 , acto r) ..... 25 LE AL, Carlo s ( ac to r) ......................155, 243 LE AL, J o ão (ar ti c ul is ta) ....................... 258 LE AL, Me nd es (a u to r) ............................. 61 4 200, 210, 211, 223, 244, 255, 256, 268, 271, 290, 297, 306, 308, 313, 317, 318, 326, 349 Lis b o a Gi ná s io (a s so c ia ção d esp o r ti va ) ................................................ 62 Li to ra l (p erió d ico ) ............................. 55, 321 Li vro d e Co n ta s 1 9 4 3 ( C ª R a fae l d e Oli v eir a) ................. 192, 194, 330, 332, 333 Li vro d e Co n ta s d a s Co mp a n h ia s S ub s id i ad a s ( SNI) ................................ 256 Li vro d e Co n ta s M 1 9 4 5 (C ª Ra fa el d e Oli v eir a) ....................................15, 198, 340 Li vro d e Co n ta s V (1 9 5 4 -5 5 ) ( C ª Ra fael d e Ol i vei ra) ............................. 180 Ma rt ír io e Gló r ia , o u To rq u a to , o S a n to ...................................................... 61 LE ÃO , E st er (a ctr iz) ............................... 118 LEB R E, Ab el ( mú s ico ) ........................... 147 LE Ç A, Ar ma nd o ( mú s ic o ) .................... 214 LE C HU G A, H écto r (ce n ó gra fo ) ......... 316 Le gião P o rt u g ue sa d e V i se u (o rg a niz ação ) ......................................... 176 LE H AR , F ra nz (1 8 7 0 - 1 9 4 8 , co mp o s ito r) ............................................ 174 Leir ia ( lo ca lid ad e) .......................33, 53, 250 LE IT E, Ar na ld o (a u to r) ......................... 213 Ale lu ia ( co m H ei to r Ca mp o s Mo n te iro , 1 9 4 2 , re vi s ta, T . d a T rind ad e ) ............................................ 213 LE IT E, R u i Co rre i a ( a ut o r) ..........247, 337 Ra ça .......................................... 247, 337, 338 LE M A, Ar t uro ( ce nó gra fo ) ..................... 97 LE MO S, P ed ro (ac to r, e nc e nad o r) .... 291 LE N OR M AND , H e nri - R en é (1 8 8 2 1 9 5 1 , a uto r) ............................................ 139 LE R OY , N ico la u T . (a u t o r) ................. 174 Bo ca cc io n a ru a ... (o p er eta) ............. 68 Ca rvã o e Bo la s (o p ere ta i mi tad a ) .. 67 Ju í zo Na r ci so ........................................... 68 Ka l k - Wa lk (ca n ço net a) ........................ 68 Viú va (A ) A leg re e m Ca sca is ( mú s ica d e Fra nz Le har , o p eret a p aró d ia) ............................................... 174 Li ma ( n a vio merc a nte ) ........................... 225 LI M A, Ad o l fo (a cto r) ............................... 54 LI M A, Cé sar d e (e mp r es ário ) ............... 30 LI M A, F ilo me n a (1 8 9 3 - 1 9 4 7 , act riz) ..................................................................... 119 LI M A, Ild a (ac tri z) .................................... 80 LI M A, Már io (1 8 9 5 -1 9 4 5 , acto r e mp re sár io ) .................... 16, 79, 85, 86, 169 LI M A, Ra n ge l d e ( a uto r ) ....................... 350 Do n Qu it ér ia q u e re ca sa r (a li ás Mo ço s e Ve lh o s ) .............................. 108 Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ................. 34 Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 194 Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 206 Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 235 Mo ço s e Ve lh o s (co méd i a) ............... 269 Lí n g ua P o rt u g u e sa (d is c ip li n a cur ric u lar) ................................................. 53 LI NO , H e nriq ue (ar tic u l is ta) ............... 184 Li nz ( lo ca lid ad e) ........................................ 19 Lis b o a ( lo ca lid ad e) .. 7, 8, 25, 28, 30, 36, 37, 5, 10, 20, 21, 22, 25, 27, 31, 32, 35, 36, 37, 39, 41, 43, 44, 45, 50, 55, 56, 66, 68, 70, 72, 76, 78, 80, 86, 90, 94, 103, 104, 112, 115, 126, 135, 147, 152, 159, 168, 169, 185, 189, 194, Ll LLOP IS , Car lo s (1 9 1 2 -1 9 7 0 , a uto r) 254, 353 Escu ela d e Ra te ro s (1 9 5 7 , co m Lu ís Alco r iz a) ............................................. 254 L LOB AT O, Ger v ás io (1 8 5 9 -1 8 9 5 ) 38, 153 Co mi s sá rio d e P o lí cia (1 8 9 0 , co méd i a) ............................................... 38 Co n d e s sa H elo í sa .................................. 34 Lo b ito ( lo c al id ad e) ..........................304, 305 Lo b i to (O ) (p er ió d i co ) ............................ 306 Lo nd r es (lo cal id ad e ) ........................... 14, 19 LOP ES , Car lo s (a uto r ) ...................254, 353 Da q u i Fa la o Mo rto ! ... ... 254, 262, 275, 353, 358 LOP ES , N ico la u J o sé ................................ 89 LOP ES , No rb erto ( a uto r ) ...................... 357 LO R AN, B er ta ( ac triz ) ............................. 21 LO R C A, Gar ci a (a u to r) .......................... 239 LO REN A, C hr i st i ne d e ............................ 15 Lo u lé ( lo ca lid ad e) ............................114, 115 LOU R DE S, S us a na d e (a ctri z) .............. 15 Lo ur e nço Marq ue s ( lo c a lid ad e) ... 37, 310 LOU RE N ÇO , Ad el i no (a rtic u li s ta) ... 305 LOU RE N ÇO , J o ão (a cto r, e nce n ad o r) ..................................................................... 300 Lo ur es (lo c al id ad e ) .................................. 116 Lo u sã (lo c al id ad e) ...................79, 87, 91, 99 Lu a nd a ( lo ca lid ad e) 118, 296, 302, 304, 311 LU CI ANO (ca.1 8 5 0 - 1 8 8 1 , acto r ) ........ 30 Lu c k y (p er so na g e m d e À Esp era d e Go d o t ) ....................................................... 300 Lu c réc ia Bo rg ia .................................... 32, 34 Lu í s F er na nd e s (p er so na ge m d e A Mo rg a d in h a d e Va l flô r ) ................ 94, 99 Lu í s Mo n tei ro (p er so na g e m d e O Ra p to d a P r ima ) ..................................... 69 LUÍ S, R ui (ac to r) ..................................... 287 4 Ma r d e An g ú s tia s ................................. 142 Ma jo r ................................................................ 33 Mal a n ge ( lo ca lid ad e) .............................. 304 M ALDO N ADO, Au g u sto (e mp re sár io ) ....................................................................... 46 Mal h ão (p er so na g e m d o Pro c es so d o Ra sg a ) ......................................................... 40 M ALHEI RO , An tó nio P i nto (p o nto ) .. 33 Mal v eira (lo cal id ad e) ............................. 152 Ma n h a s d e A fo n so (t ít u l o ) ...................... 68 Ma nt ei ga s ( lo c al id ad e) ........................... 283 M ÂNT U A ( D uq ue d e) ............................... 19 Mâ nt u a (lo cal id ad e) ......................12, 17, 19 Ma n ue l d e So u sa Co u ti n ho (p erso n a ge m d e F re i Lu í s d e S o u sa ) ............................................................... 38, 277 M AN UE L, J o s é d a C â ma ra (1 8 6 1 1945) Est á cá o Au g u s to .................................. 34 Filh o (O ) P ró d ig o (1 9 0 8 ) ................ 108 Mã o e sq u e rd a ............................................... 33 M AR AI , M i kló s (p se ud . , He nr iq ue Sa n ta na) ...........................................262, 355 Marão ( re gi ão ) ........................................... 322 M AR CE LO, Art ur (ac to r ) ..................... 119 Mar gar id a Ga u tier (p er s o na g e m d e A Da ma d a s Ca mél ia s ) ..................241, 242 Mari a B i n i (p er so n a ge m d e O G ra n d e Amo r) ........................................................ 248 Mari a d e No ro n ha (p er s o na g e m d e Tr ê s e m Lu a d e Me l ) .......................... 277 M ARI A, G u id a (1 9 5 0 , a ctri z) .....289, 316 M ARI A, I sa ura (j o ve m a ctri z a ma d o ra) ..................................................................... 170 M ARI A, M a n uel a (1 9 3 8 , actr iz) .86, 289, 331 M ARI A, M ar gar id a (j o v e m ac tri z a mad o ra) .................................................. 170 Mari a na (p erso n a ge m d e Amo r d e Perd içã o ) ............................................. 84, 85 Mari a no M ac had o (lo c al id ad e) ........... 306 M ARI AN O, Lúc ia ( ac tri z) .................... 280 Mari n h a Gr a nd e ( lo ca lid ad e) ........ 33, 346 M ARQ UE S, J o ão Ma ur í cio (a u to r) .. 215, 223 M ARQ UE S, J o sé d o s Sa nto s (arti c ul i sta) ............................................ 257 M ARQ UE S, Ra fae l (a ct o r) ..................... 33 M ARQ UE S, Sa l vad o r ( a uto r, e mp re sár io ) .............................112, 337, 339 He rd ei ra (A ) d e Ve rn eu i ll ( al iá s A To ma d a d a Ba st ilh a ....................... 338 To ma d a (A ) d a Ba s ti lh a .. 112, 122, 175, 228, 335, 336, 337, 339 LUÌ S A, Mar ia ( art is ta) ........................... 100 LUP O, R i no (c i nea s ta) ........................... 351 Lu so ( lo ca lid ad e) ......................6, 63, 64, 304 LUS O, J o ão (ar tic u li s ta) ....................... 185 LU Z J ú nio r ( mú s i co ) ................................. 59 LU Z, Ho rt e n se (a ctr iz) ........................... 214 LU Z, Mar ia d a (ac tri z) ............................. 33 Lyo n (lo c al id ad e) ................................. 17, 18 M M AÇ ANO , E st er (j o v e m actr iz a mad o ra) .................................................. 170 M AÇ ANO , M ar gar id a (j o ve m ac tri z a mad o ra) .................................................. 170 M ACE DO ( ac to r) ........................61, 310, 352 M ACE DO J r. , H e nriq ue (au to r) ........... 79 Ro sa (A ) d o Ad ro (1 8 7 0 , ad ap t ação ) 79, 104, 107, 126, 127, 133, 231, 275, 337, 352 M ACE DO T o má s d e (ac t o r) ................. 296 M ACH AD O, An tó n io (a cto r) ............... 289 M ACH AD O, B er nard i no (1 8 5 1 -1 9 4 4 , p o lít ico ) ................................................... 150 M ACH AD O, Ed u ard o B ap ti s ta Mac had o (a uto r) ............................... 4, 350 FF e R R (re v i sta , T . d a Ale gr ia, Lis b o a) .................................................... 4 M ACH AD O, J ú lio Cé s ar (a uto r) .......... 38 M ACH AD O, Ma n ue l ( g u itarr i st a) ..... 236 M ACH AD O, Mar ia C lar a (a uto r a) .... 319 Ga ta (A ) Bo r ra lh e i ra ......................... 319 M ACH AD O, Ro g ério ( c enó gr a fo ) 66, 97, 103, 106, 112, 127, 210 M ACH AD O, Va sco ( mú si co ) ................. 80 M ACIEI R A, Vir g íl io (a cto r) ............... 287 Mad a le na d e V il h e na (p erso n a ge m d e Tr ê s e m Lu a d e Me l ) .......................... 276 Mad e ira (r e gião i n s ul ar) .. 2, 215, 216, 220, 221, 223, 224, 225, 322 M AD EI R A, H u mb erto ( a cto r) ............... 21 Mad rid (lo c al id ad e) .......................11, 88, 89 M AG ALH ÃE S, Afo n so d e (trad u to r) 93, 227 M AG ALH ÃE S, An tó nio d e (b ib lió filo , «o se n ho r e sp ec tad o r ») ....................... 90 M AG ALH ÃE S, Dr. J o aq ui m d e (arti c ul i sta) ............................................ 258 M AG NIE R, Cla ud e (1 9 2 0 -1 9 8 3 ) ........ 287 Ma la (A ) d e Be rn a rd et te .................. 287 Os ca r ......................................................... 287 M AI A, H e nriq u eta (ac tri z) ................... 291 M AI NT ENO N, Fr a nço i s e d ’Aub i g né, Marq ui se d e (1 6 3 5 -1 7 1 9 ) ................... 39 M AI OR , E uc lid es So to ( au to r) ........... 142 4 M AT OS , Ed uard o d e (1 8 9 6 -c a.1 9 7 2 , acto r, e n sai ad o r, d irec to r art ís ti co ) 7, 34, 35, 140, 147, 148, 173, 174, 183, 184, 185, 186, 196, 201, 204, 206, 210, 231, 238, 239, 240, 241, 242, 244, 245, 248, 251, 253, 259, 262, 331 Po r tu g a l e m F e sta .......................206, 334 M AT OS , E s mer ald a d e ( j o ve m a ctr iz a mad o ra) .................................................. 170 M AT OS , G ló ri a d e ( ac tr iz) .................. 291 M AT OS , Leo n ti n a d e ( a ctri z ) ................. 7 M AT OS , Lud o vi n a Fri as d e (1 8 9 5 1 9 8 1 , a uto r a) 105, 128, 131, 134, 140, 143, 187, 233, 240, 251, 338, 343, 350, 351, 355, 356, 357 A Ve r Na v io s (1 9 3 3 , re v is ta, T . Gil Vic e nte , G u i mar ãe s ..... 143, 214, 235, 338, 343, 357 Ab en ço a d a Ro sa (1 9 3 0 , T . Gil Vic e nte , G u i mar ãe s) ...................... 131 Mi la g re s d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma (1 9 3 0 , Sa lão R e crea ti vo , B rag a) ................. 128, 130, 140, 343, 356 Mi la g re s d e No s sa S en h o ra d e Fá ti ma (1 9 3 7 , ro ma nc e) .............. 351 Pra ta d a Ca sa (1 9 3 3 , r e vi s ta, T . Gil Vic e nte , G u i mar ãe s) .... 134, 162, 334, 351, 357 Pu p ila s (A s ) d o S en h o r Rei to r (1 9 4 2 , o p ere ta, T . D e s m o nt á ve l) ....... 187, 240, 275, 332, 334, 336, 351, 355 S a p a tin h o (O ) d e Vid ro (1 9 5 8 , mu s i ca l i n fa nt il, T . Av e ire n se) 251, 356 Tra n s via d o s (a li ás M ila g re s d e N ª S ª d e Fá t ima ...........................206, 219, 351 M AT OS , Ma ria (ac tri z) . 119, 125, 149, 317 M AT OS , Ma ria He le n a ( actr iz) .277, 280, 287, 289, 298 M AT OS , T o n y d e (p o nto , ca nto r) .... 168, 176, 206, 207, 220, 236, 243 M AT OS - C R U Z, J o sé (a u to r) ............... 105 M ÁX IM O, Cé sar (ac to r, ce nó gra fo ) .. 57 M ÁX IM O, J . (p r io r d e S an ta I sab el, Lis b o a) ....................................................... 37 MEDI CI, F erd i n a nd o (D u q ue d e Flo r e nça) ................................................... 15 MEDI CI, G ia n Ân g elo ( ali ás P ap a P io IV) ................................................................ 22 MEDI CI, Mar ia d e ( Ra i n ha d e Fra nç a) ................................................................. 16, 19 MEG A (a cto r) ............................................... 58 MEI LLAC , He nri (1 8 3 1 - 1 8 9 7 ) Mart a (p er so na g e m d e A lg u ém te rá d e mo r re r) ..................................................... 253 Mart a (p er so na g e m d e R o sa s d e No s sa S en h o ra ) .................................................... 92 M ART IN, J ea n (ac to r) ............................ 298 M ART INE LLI, Ân g el a ( actr iz) ............ 18 M ART INE LLI, Dr u s ia no (acto r ) ... 18, 19 M ART INE LLI, T ris ta no (1 5 5 7 -1 6 3 0 , acto r) ........................................................... 19 Co mp o s it io n s d e ré th o r i q u e d e M. Arl eq u in ................................................ 19 M ART INH O, Ed u ard o Ant u n e s (a u to r) Ro sa s d a V i rg em (1 9 2 4 , d ra ma) ...... 80 M ART INÓ, Mar g arid a ( actr iz) ............. 48 M ART INS , Amé l ia ( act r iz) .................... 58 M ART INS , Au g u s to (ac t o r) ................... 57 M ART INS , B e nto (e nc e nad o r ) ........... 317 M ART INS , B raz (1 8 2 3 - 1 8 7 2 , acto r, au to r) 31, 29, 96, 97, 135, 175, 233, 333, 356 S a n to An tó n io (a li á s Ga b ri el e Lu sb el, o u o Ta u ma tu rg o , 1 8 5 4 ) ...... 18, 29, 96, 97, 108, 109, 175, 332, 333, 334, 356 M ART INS , Cla ud i na (ac triz) ................ 58 M ART INS , J ai me ( mú s i co ) .................. 357 M ART INS , No b r e (a u to r ) ..................... 139 Vo lta (A ) .................................................. 139 Má rt ir .............................................................. 34 Mar vão ( lo c al id ad e) .................................. 30 M ARX , Ir mão s ( ac to re s) ......................... 26 M ÁS, Ra mó n As se nc io ( au to r) ............. 80 M AS C ARE NH AS , Fra nc is co (ac to r) 111 M AT A, B ra vo d a (a rt ic u li st a) ......16, 196, 197 M AT A, Lu í s d a ( acto r) ............................ 54 Mat a nça d e São B ar to lo me u .................. 13 M AT I AS II (I mp erad o r d a Au str ia) .... 19 M AT OS E SI LV A, Ab í li o (1 9 0 8 -1 9 8 5 , fi g uri n is ta) .............................................. 299 M AT OS , Ad el i na d e (ac triz) ................... 7 M AT OS , Afo n so d e (1 8 9 3 -c a.1 9 7 3 , acto r, e n sai ad o r, d irec to r art ís ti co ) 7, 116, 117, 118, 119, 120, 124, 125, 126, 133, 135, 136, 137, 138, 139, 142, 143, 147, 148, 160, 165, 172, 173, 175, 176, 191, 196, 201, 203, 204, 206, 217, 219, 222, 225, 226, 230, 235, 238, 331, 345, 346 M AT OS , An tó nio d e (1 9 2 4 -1 9 8 9 , al iá s T o n y d e M at o s, p o n to , c an to r) ...... 167 M AT OS , Ar t ur d e (a uto r ) .... 134, 351, 357 M AT OS , B ea tri z (a ctr iz ) ......................... 58 M AT OS , Co ns ta n ti no d e (acto r e mp re sár io ) .. 6, 7, 9, 34, 117, 184, 194, 325 4 MIST R AL, Fr éd ér i c (P r é mio No b el d a Lit erat u ra, 1 9 0 4 ) .................................. 138 Mo ça mb iq ue ( co ló n ia) ... 306, 308, 310, 311 Mo çâ me d e s (lo ca lid ad e) ........................ 305 Mo i me n ta d a B e ira ( lo ca lid ad e) .......... 33 MOI RO N, An i ta ( ac triz ) .......................... 15 MOI RO N, Cr e mi ld e ( ac t riz) .................. 15 MOI RO N, E mí lio ( ac to r ) ........................ 15 MOI RO N, F ilo me no W e b er (ac to r) .... 15 MOI RO N, Lo ui s ( fo tó gr afo , e mp re sár io c i ne ma to grá fico ) ............ 14 MOI RO N, Lu í s (a cto r) ............................. 15 MOI RO N, P a u lo Gab ri el (acto r e mp re sár io ) ...................................15, 16, 35 MOI RO N, P ep ito d o s P r azere s ( ac triz ) ....................................................................... 15 MOI RO N, Sc h ub ert Gab riel (ac to r) ... 15 MOI SÉ S ( mú s i co a ma d o r) .................... 176 Mo li ère d e B ee t ho v e n (p se ud ., arti c ul is ta) .............................................. 102 MO LI N A, T irso d e (a u t o r) ..................... 12 MON D Y, P ier re (1 9 2 5 , acto r) ............ 287 MON I Z, J o sé An tó n io ( 1 8 4 9 -1 9 1 7 , acto r, a uto r , p ro fe s so r) ............... 54, 357 Art e d e Di z er (1 9 0 3 ) ............................ 54 Co n d e d e Mo n t e Cr i sto ( ad ap .) ...... 62, 108, 332, 334, 335, 339, 357 Co n d e d e Mo n t e Cr i sto ( ad ap .) ..... 109 MONT ALT O, C ard e al ( me ce na s) ........ 18 MONT EI RO , H ei to r Ca mp o s (1 8 9 9 1 9 6 1 , a uto r) ............................................ 213 MONT EI RO , Lu ís S tta u (1 9 2 6 -1 9 9 3 , au to r) ......................................................... 309 MONT EI RO , Ro b l es (1 8 9 0 -1 9 5 8 , acto r) ......................................................... 253 MONT EN EG R O, Re g i na (actr iz) ....... 184 MONT ÉP IN, Xa v ier d e ( 1 8 2 3 -1 9 0 2 , au to r) .........................................112, 166, 349 Mi lh õ e s (Os ) d o Cr i min o so ....112, 121, 127, 132, 166, 167, 335, 336 Mo n tij o ( lo ca lid ad e) ............................... 105 MO R AI S, Alb erto (1 8 7 5 -1 9 3 2 ) ..135, 352 MO REI R A, Da ni el Ca rta a Po rtu g a l (co m H u go V id a l, 1 9 0 6 , re vi s ta, T . C hal et P al hare s, Fei ra d o P arq u e, Li sb o a ) ............... 58 MO RG AD O J r., Va sco ( acto r, e mp re sár io ) ............................................. 289 MO RG AD O, Va sco ( e m p res ário ) . 22, 26, 31, 70, 289, 321, 345 Mo s ca vid e (lo ca lid ad e) .......................... 268 MO SGET (a u to r) ....................................... 298 S a b ã o (O ) n º 1 3 (co m O B erso n) ... 298 Ove lh a s d e Pa n ú rg io ( L es Mo u to n s d e Pa n u rg e, 1 8 6 3 ) ............................ 34 ME LO , Au g u s to d e (1 8 5 3 -1 9 3 3 , ac to r) ...............................................................34, 184 MEN DE S, C ar me n (a ctr i z) ...........280, 287 MEN DE S, E s me rald a ................................ 13 MEN DE S, I ld a ............................................. 13 MEN DE S, J úl ia ( act riz) ........................... 60 MEN DE S, Leó nia (ac tri z) ................. 13, 14 MEN DO N Ç A, He nr iq ue Lo p es d e (1 8 5 6 – 1 9 3 1 ) ............................................. 81 Amo r lo u co (1 8 9 9 , a li á s Do Amo r à Lo u cu ra ) ............................................... 81 Do Amo r à Lo u cu ra (al i ás Amo r Lo u co , 1 8 9 9 ) ....................................... 81 MENE SE S, An tó n io d e ( «Ar g u s ») Tu t ti- li- Mu n d i ( e t a l. , 1 8 8 1 , re vi s ta, T . d a R. d o s Co nd es) ....................... 62 MES QUIT A, Cri st ia no ( acto r) ...107, 124, 129, 140 MES QUIT A, F erre ira d e (trad u to r) .. 354 MES QUIT A, Mar ce li no (1 8 5 6 -1 9 1 9 , au to r) .......................... 82, 240, 252, 351, 354 D. Ped ro , o Cru el ( 1 9 1 6 ) ................... 82 Men ti ra (1 9 0 7 ) ........................................ 34 Tio Ped ro ................................................. 252 MES QUIT A, V ir gí lio ( a cto r) .....124, 142, 143, 146, 148 MES QUIT A, Zi n a (a ctr i z) ... 107, 124, 138 Met al úr g ica d o Cart a xo ........................... 16 Mil a (p er so n a ge m d e O Ga ia to d e Li sb o a ) ..................................................... 217 Mi la g re s d e S a n to F in g i d o (tí t ulo ) ..... 68 Mil ão (lo ca lid ad e) ..........................13, 22, 23 MI LLE R, Ar t h ur (a u to r) ............................ 6 Me n sa ge m I nte r nac io nal d o 2 º Dia Mu nd ia l d o T eat ro .............................. 6 Mí mi ca (d i sc ip l i na c ur ri cu lar) ............. 53 Mi n ho (r e gião ) ............ 38, 129, 132, 270, 326 Mira nd a (p er so na g e m d e T rê s e m Lu a d e M el ) ..................................................... 277 MIR AN D A, Ar ma nd o d e (real iz ad o r) Jo sé d o T elh a d o (1 9 4 5 , ci ne ma ) ... 223 MIR AN D A, Fra nc i sco Luí s Co u ti n ho d e (? -1 8 8 3 ) Ca sa r p a ra n ã o mo r re r ....................... 34 Ca sa r p a ra N ã o Mo r re r (co méd i a) ................................................................ 174 Mir u nd e la (p er so na ge m d o Pro ce sso d o Ra sg a ) .................................................... 8 Mi ser icó rd i a ( C ha mu s c a ) ...................... 148 Mi ser icó rd i a, Ho sp it al d a ( Alco b a ça) ..................................................................... 149 4 No t íc ia s d e Gu i ma rã e s ( p erió d i co ) . 138, 143, 144, 252, 318 No t íc ia s d e Vo u ze la (p er ió d ico ) ........ 283 No t íc ia s d o A len t ejo (p e rió d ico ) ...... 179, 197, 198 No va Li sb o a ( lo ca lid ad e ) ...................... 304 No va L isb o a (p er ió d ico ) ................304, 305 No vo Red o nd o ( lo ca lid a d e) ................. 306 No vo T eatro d e V ari ed a d es ( al iá s T eatro d o Ra to , Lisb o a) ...................... 61 NU NES , Ar t ur ( acto r ) ............................... 77 NU NES , J o r ge Ca rd o so (acto r) .......... 222 NU NES , M a nso (ar tic u li st a) ................ 284 Mo ta d a G u it arra ( p er so na g e m d e Mo u ra r ia ) ................................................ 165 MOU R A, Art ur (a u to r) ...................113, 114 Ao Pin ta r d a Fa n e ca ( m ú si ca d e Ma n ue l Rib e iro , 1 9 2 7 , r ev i sta , Ci n e -T eatro Fa re n se) ............113, 114 MOU R ÃO , An tó nio (ca n to r) ................ 289 MOU R ÃO , Car va l ho ( ar tic u li s ta) ..... 156 Mo u rari a ( Li sb o a, to p o n í mia ) ......44, 169, 321 MOU RI S C A,V as co d e L e mo s (arti c ul i sta) .............................................. 55 MOUT IN HO , Car lo s (ac to r ) .................. 32 MOUT IN HO , J o ão (p o n t o ) ................... 133 Mo v i me n to d a s Fo rç a s Ar mad a s ( M F A, 1 9 7 4 ), ........................................................ 312 Mrs. B a ker (p er so na ge m d e A s Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289 MUÑ O Z, Alzir a (ar ti s ta ) ......................... 10 MUÑ O Z, E u ni ce (1 9 2 8 , actr iz) .....10, 12, 13, 214, 276, 299 MUÑ O Z, Her n a ni ( art i st a) ................. 10, 12 Mu s e u N a cio n al d e T eat ro ( Li sb o a) .. 10, 77, 144, 182, 258 O OB E RS ON (a uto r ) .................................... 298 Ob ra d a Ge ra çã o Hu ma n a (se c. XVI) . 7 OH NET , Geo r g e (1 8 4 8 - 1 9 1 8 , a uto r) ............................................ 246, 337, 349, 355 Gra n d e (O ) In d u st ria l .......246, 337, 355 Ol hão .............................................................. 113 Ol hão (lo c al id ad e) ..................................... 34 Oli v eir a d e Az e mé is (lo cal id ad e) ........ 33 Oli v eir a d o B a irro ( lo ca lid ad e) .122, 125, 133 Oli v eir a d o Ho sp it al ( lo cal id ad e) ..... 187 O LIV EI R A, F er na nd o d e (1 9 2 2 -2 0 0 4 , acto r) ..... 26, 70, 79, 124, 132, 173, 180, 181, 182, 202, 242, 246, 258, 259, 261, 271, 272, 273, 274, 275, 276, 278, 281, 283, 284, 285, 286, 288, 290, 291, 292, 296, 306, 308, 312, 314, 329, 331 O LIV EI R A, Alb ert i na d e (ac tri z) 32, 184 O LIV EI R A, Ál v aro d e ( 1 9 4 6 , acto r, en ce nad o r) ...... 70, 252, 279, 286, 288, 296, 297, 299, 310 O LIV EI R A, An tó n io Câ nd i d o d e (au to r) ......................................................... 69 Fa mí lia (A ) d o Pa lh a ço (ali ás A Filh a d o S a l ti mb a n co ) ............ 87, 105 Filh a (A ) d o S a lt imb a n c o (d ra ma) 69, 87, 91, 105 Filh a (A ) P erd id a (a li ás A Fi lh a d o S a lti mb a n co ) ....................................... 87 S a lti mb a n co (O ) ( al iá s A Fi lh a d o S a lti mb a n co ) ...........................6, 87, 108 O LIV EI R A, Au z e nd a d e (1 8 8 9 -1 9 6 0 , actr iz) ................................................... 5, 118 O LIV EI R A, B ea triz d e ( actr iz) ............ 13 O LIV EI R A, C a mi lo d e ( 1 9 0 2 -1 9 8 2 , acto r) ........................................................... 13 O LIV EI R A, C a mi lo d e ( 1 9 2 4 , acto r) 13, 14 O LIV EI R A, C arlo s d e (a cto r) ...33, 35, 78 N N ASE LI, Alb er to (a liá s Za n G a na ss a, acto r) ........................................................... 10 Naza ré ( lo ca lid ad e) .......................7, 87, 263 Na za r é (o p er et a) ....................................... 266 N AZAR ET H (a cto r) ................................. 184 Nel as (lo c al id ad e ) .................................... 290 NEV ES, C ec íl ia (a ctr iz) .......................... 34 NEV ES, C u n h a (a ctr iz) ............................ 58 NEV ES, Li li (ac tri z) ............................... 280 NI CH O LS O N, Fra nc i sco (1 9 3 8 ) 314, 319 Mi s te rio so s a t é ma i s n ã o ................. 319 Pid e s n a Gr elh a ( et a l., 1 9 7 4 , T . De s mo nt á vel , Li sb o a) ................... 314 NI CH O LS O N, Fra nc i sco (1 9 3 8 , ac to r e mp re sár io , a u to r, e n ce n ad o r) ....... 313 NI CO DEMI, D ário ( a uto r) .................... 248 Gra n d e (O ) Amo r .........................248, 338 NOB RE, Már io (ad vo g a d o ) .................. 172 NO RB E RT O, Lurd e s (ac triz) ................. 20 NO RO N H A, Ed uard o d e (a uto r) .40, 2, 3, 60 NO RO N H A, E var is to d e (acto r ) .......... 80 No rt e D esp o r tivo (p er ió d ico ) ................ 25 No t íc ia s d e É vo ra (p er ió d ico ) ...198, 199, 201, 203, 241, 242, 260, 282 No t íc ia s d e Go u ve ia ( p e rió d ico ) .96, 171, 172, 174 4 Ra ú l d ' Al é m) 30, 82, 83, 108, 127, 275, 333, 335, 350, 354 Filh a (A ) d o Leã o (1 9 3 6 ) ................. 220 Filh a (A ) d o Pa u lin o (1 9 3 6 , i mi t., T . Des mo n tá ve l, R io M a io r) ..... 275, 351 Jesu s Na za ren o (Vid a d e C ri s to ) (1 9 3 0 , T . Gi l V ice n te, G ui marã es ) ............... 131, 333, 334, 335, 337, 338, 353 Jo sé d o T elh a d o . 110, 180, 275, 334, 335, 351 S a n ta Co mb a p o r u m Ó c u lo (1 9 4 0 , rev i sta lo c al, T . De s mo n tá ve l, Sa n ta Co mb a Dão ) .......................... 350 O LIV EI R A, Ro b erto d e (acto r) ........ 2, 13 O LIV EI R A, Vi cto r d e (a cto r) ................. 5 O LIV EI R A, Zu ri ta d e (c an to ra) .... 13, 14, 269 Op é ra - Co m iq u e gé n ero t eatr al) ............ 39 Or feão «T o ma z Alca id e » ( Es tre mo z) ..................................................................... 196 Or feão d e Vi se u ( Gr up o Cé n ico ) ....... 283 Orq ue str a d e Ma n ue l Re is (ag r up a me n to mu s i ca l, An g ra d o Hero í s mo ) ............................................... 235 Orq ue str a Ro us s ea u (B e j a, agr up a mn e to mu s i cal ) ........................ 180 Orq ue str a V i mar a ne n se (ag r up a me n to mu s i ca l) ................................................... 141 Os t rê s d ra g õ e s (o p e ret a ) ....................... 67 ÓS C AR , P ed ro ( a uto r) Ou ro s, p a u s, co p a s e es p a d a s .......... 34 OT T ONE LLI, Gi a n Do m en ico .............. 24 OT T OT ELLI .................................................. 24 O var ( lo ca lid ad e) ........................................ 33 O LIV EI R A, C ar me n d e ( actr iz) ............. 5 O LIV EI R A, Deo li nd a d e (actr iz) ... 80, 84 O LIV EI R A, E gíd ia d e (a ctri z) ................ 5 O LIV EI R A, E ma d e (1 8 9 7 -1 9 8 2 , actr iz) 70, 76, 80, 85, 93, 107, 124, 202, 217, 246 O LIV EI R A, E mí li a d e ( actr iz) ............ 214 O LIV EI R A, Fe li ci a no d e (ac to r) ......... 58 O LIV EI R A, Fe r na nd o d e (1 9 2 2 -2 0 0 4 , acto r) ................ 207, 270, 295, 307, 310, 311 O LIV EI R A, Gi s ela d e (1 9 2 5 -1 9 8 0 , actr iz) . 70, 238, 246, 252, 254, 266, 296, 316 O LIV EI R A, G ui l her mi n a(ac triz ) ......... 58 O LIV EI R A, He ld er d e ( acto r) ............... 13 O LIV EI R A, He nr iq ue d e (acto r ) .... 5, 118 O LIV EI R A, J o aq ui m An tó n i o d e (au to r) ......................................................... 61 O LIV EI R A, J o aq ui m d e ........................... 37 O LIV EI R A, J o aq ui m d e (acto r) ............. 5 O LIV EI R A, J o aq ui m J o s é d e (a li ás Oli v eir a T aí n ha, ac to r, d irec to r) ...... 5 O LIV EI R A, J o sé d e (a ct o r) ...................... 5 O LIV EI R A, Lu í s d e (ac t o r) ..................... 5 O LIV EI R A, Mar ia Leo n o r (1 9 5 1 , actr iz, p o n to ) ......................................... 252 O LIV EI R A, M ar ia Ro sa d e (ac tri z) .... 13 O LIV EI R A, Ma t hi as d e (acto r) ............ 58 O LIV EI R A, Ol í vi a d e (a ctri z) .............. 14 O LIV EI R A, R a fae l d e ( 1 8 9 0 -1 9 6 5 , acto r - e mp re sár io ) .... 7, 23, 25, 26, 28, 29, 31, 32, 33, 35, 42, 51, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 84, 85, 86, 87, 90, 91, 94, 96, 98, 100, 103, 104, 107, 109, 114, 115, 116, 120, 121, 122, 124, 125, 126, 128, 130, 136, 139, 143, 144, 149, 157, 158, 159, 160, 162, 166, 170, 171, 173, 176, 177, 178, 180, 181, 182, 186, 193, 195, 198, 199, 200, 202, 204, 207, 208, 212, 215, 217, 218, 223, 232, 233, 234, 237, 245, 246, 249, 252, 254, 255, 256, 257, 259, 260, 263, 264, 265, 266, 267, 268, 269, 270, 271, 282, 292, 296, 321, 324, 325, 326, 327, 329, 330, 331, 338, 342, 343, 344, 346, 349, 350, 351 A Ve r Na v io s (1 9 3 3 , re v is ta, T . Gil Vic e nte , G u i mar ãe s) ...................... 350 Amo r d e P e rd içã o (ad ap tação ) .77, 79, 84, 100, 101, 105, 107, 109, 163, 275, 283, 298, 301, 303, 304, 308, 335, 350, 351, 358 Ap li ca - lh e o selo (1 9 2 4 , re vi st a, Sal ão Ce n tra l, Car ta xo ) 98, 102, 108, 112, 122, 128, 176, 350 D. In ê s d e Ca s t ro e D. P ed ro , o C ru e l (1 9 2 2 , a rre glo so b p se ud . P P AC HE CO, I sab e l ...................................... 11 P aco (p er so na ge m d e Jo ã o Jo s é ) ......... 88 P AI S, Ge ne ral S id ó nio ( 1 8 7 2 -1 9 1 8 , p o lít ico ) ................................................... 150 P AI V A, Amé ri co (ar ti c u li st a) ....190, 191, 192 P AI V A, F er na nd o ( S NI) ........................ 255 P AI X ÃO, J o ão An tó n io (e mp re sár io ) ..................................................................... 103 P ALH A, Fer na nd o (p o lí t ico ) ................. 38 P ALH A, Fra nc is co (e mp res ário ) ....... 109 P ALLAV I CINI ............................................. 17 P al mir a (p er so na g e m d e Alg u é m t erá d e mo r re r ) ............................................... 253 P a mp u l ha ( Li sb o a, to p o ní mia ) ............ 104 P an to mi ma (d i sc ip l i na c urr ic ul ar) ...... 53 P ARE DE S, An tó n io (a ct o r) .................... 67 4 P INH ÃO, Lu í s (a cto r) .............................. 70 P INH ÃO, Lu iz ( ac to r) ............................ 259 P INHEI R O, An tó nio (ac to r, en ce nad o r , p ro fe s so r) 32, 35, 36, 40, 41, 46, 48, 49, 52, 53, 54, 60, 63, 65, 316, 327 Co n to s La rg o s ................................... 32, 54 Os so s d o Of ício ...................................... 32 P INHEI R O, C hab y (1 8 7 3 -1 9 3 3 , a c to r) .................................... 118, 125, 186, 210, 293 P INHEI R O, P ed ro ( acto r) ............... 16, 317 P INHEI R O, P ed ro ( acto r -e mp re sár io ) ..................................................................... 320 Aven id a d a L ib e rd a d e ........................ 320 P INHO, J o s é d e ( ma q ui n is ta) .............. 124 Pin ta s si lg o (O ) (p er ió d i co ) .................. 102 P INT ER, Haro ld (1 9 3 0 , au to r) ........... 296 P INT O, Al e xa nd re ( fad i st a) ................. 223 P I NT O, Ân ge la (1 8 6 9 -1 9 2 5 , act riz) .... 6, 39, 195 P INT O, Geo r g i na ( ac triz ) ....................... 81 P INT O, Serp a (e xp lo rad o r) .................... 38 P IO IV (p o n tí fic e) ...................................... 22 P IO V (p o n tí fice ) ........................................ 21 P IR ANDE LLO , Lu i gi (1 8 6 7 -1 9 3 6 , au to r) .........................................139, 239, 296 P IRE S, Alb er to (a cto r , p o nt o ) ............ 124 P IRE S, J o s é Card o so (1 9 2 5 -1 9 9 8 , au to r) ......................................................... 309 P IRE S, J o s é Card o so ( a uto r) O Ren d er d o s He ró is .......................... 278 P IRE S, J o s é d ’ Ol i ve ira ( mú s ico a mad o r) .................................................... 167 P IZI A, Ali ce ................................................... 9 La Co m med ia d e ll' Ar te Tea tro ita lia n o t re 6 0 0 e 7 0 0 ........ 9 Pla t eia (p erió d ico ) ................................... 287 P o lít ica d o E sp ír ito (p ro gra ma p o lít ico - c ul t ura l) ................................. 221 Po lí ti ca No va (p erió d ic o ) ......12, 175, 176, 177 P o nt a D el gad a (lo ca lid a d e) ...25, 118, 225, 236, 346 P ONT I, Di a na ( act riz) .............................. 18 P o rtale gr e ( lo ca lid ad e) .... 25, 98, 178, 187, 189, 190, 191, 282 P o rti mão ( lo c al id ad e) .............246, 338, 340 P o rto (lo c al id ad e) 28, 30, 31, 36, 37, 2, 3, 38, 64, 68, 78, 173, 250, 256, 257, 326 P o rto Ab o i m (lo cal id ad e ) ..................... 306 P o rto Al e xa nd r e (lo cal i d ad e) .............. 305 P ORT O, Cé s ar (a cto r) .............................. 54 P o rtu g al (p aí s) ... 24, 36, 39, 40, 4, 18, 24, 40, 66, 71, 94, 151, 152, 153, 154, 177, 185, 200, 211, 287, 289, 312, 322 P ARE DE S, Car lo s (1 9 2 5 -? , mú s ico ) 316 P ARE DE S, J úl ia ( ac tri z) ......................... 67 P aris (lo c al id ad e) . 11, 13, 16, 19, 39, 4, 152, 153, 287 P arq ue Ed uard o VII ( Li s b o a, to p o ní mi a) ................................................. 58 P arq ue Ma ye r ( Li sb o a) ..... 23, 25, 152, 231, 313 P arq ue M u n icip al d e Al co b aça ........... 149 P AS S ALAQ U A, J úli a R en é (p ro fe s so ra d e ca n to ) ..........................................168, 169 P AS S ALAQ U A, V iri ato (j o ve m acto r a mad o r) .................................................... 170 P AS SO S, Ale x a nd re ( ac to r) 277, 278, 286, 290, 296, 316, 347 P átio d a s Arc as (rec i nto ) .................. 24, 49 P átio d e D. Fr ad iq ue ( Li sb o a, to p o ní mi a) ................................................. 46 P atriar ca l Q u ei ma d a ( ac tu al Lar go d o P rín cip e R ea l, Lisb o a, t o p o n í mia ) . 56 P AU L, E ma ( act riz) ................................. 309 P AU LA, An n a (a u to r) ............................. 310 P AU LO III (p o n tí fice) .............................. 20 P AU LO IV (p o nt í fic e) .............................. 21 P AU LO , Ro gér io (1 9 2 7 - 1 9 9 3 , acto r) .................................... 253, 314, 315, 316, 348 P AU LO S, An tó nio Ab re u (p o eta) ...... 223 A Ilh a d e S o n h o (p o e ma ) .................. 223 P av ia ( lo ca lid ad e) ...................................... 16 P av il hão -P a ri s ( F u nc ha l ) ....................... 219 P ed ro mal u co (p er so na g e m d e F era s à S o lta ) ......................................................... 142 P EDR O, (d e So u s a) An t ó ni o (1 8 3 6 1 8 8 9 , acto r) ........................... 106, 126, 139 P EDR O LI NI .................................................. 14 P ed ro uço s ( lo c al id ad e) ............................... 2 P EIXOT O, Co rr eia (ac to r) ............111, 118 P EIXOT O, I n ácio (ac to r ) ................34, 185 P ena fie l ......................................................... 288 P ena fie l (lo ca lid ad e) ................................. 33 P EREI R A, An a (a ctr iz) ............................ 88 P EREI R A, Ara új o (ac to r ) ..................... 184 P EREI R A, J eró n i mo J o s é (p ro p rie tário ) ........................................... 66 P EREI R A, M ário (ac to r) .........21, 280, 298 P rín cip e d e Ho mb ur go ( p erso n a ge m d e K lei s t) .............................................. 21 P rín cip e d e Ho mb ur go ( p erso n a ge m) .................................................................. 20 P IMENT A, J o sé ( ma q ui ni s ta) ............. 107 P IMENT E L (a cto r) ..................................... 58 P IN A, Au g u s to ( ce nó gra fo ) ................... 66 P IN A, Ma n ue l (a cto r) ............................... 33 P INH ÃO, Lu í s (1 9 1 9 -2 0 0 4 , acto r) .... 277 4 Ra ma l ho (p s e ud ., a rti c ul is ta) .............. 100 R AMB O U RG, Luc ie n ( a cto r) .............. 298 Ra mo (O ) d e Ou ro ( má g ica) .................... 3 R AMO S, J aci n to (a cto r) .................. 20, 277 R AP AZ ( O) D A GE R AL (p se ud ., arti c ul is ta) .............................................. 188 Rap az (p e rso n a ge m d e À Esp era d e Go d o t ) ....................................................... 300 R AP OS O, P a i va ( acto r ) ........................... 20 R AST O (b a il ari no ) ................................... 243 Ra ú l d ’ Alé m (p se ud ., R afae l d e Oli v eir a) ..vd . R a fae l d e Ol i ve ira , v d . Ra fael d e Ol i vei ra , vd . R afae l d e Oli v eir a Re al Co lé gio d a s M a n u fact ur as (Li sb o a) ...................................................... 43 Re al Co li se u ( Li sb o a) ............................... 38 REB E LLO, L ui z Fra nc i s co (1 9 2 4 , au to r) ........................ 7, 38, 81, 233, 252, 253 Alg u é m t erá d e mo r re r ..............252, 258 Re creio s d a G raça (a liá s T eatro G il Vic e nte , Lisb o a, G raç a) ...................... 34 RE DO L, Al ve s (1 9 1 1 -1 9 6 9 , a uto r) ... 309 Red o nd o (lo c al id ad e) ......................139, 196 RE DO ND O J r. ( crí tico , en sa i sta ) ...... 139 Reg a te i r a (A ) (p erió d ico ) .......99, 101, 102 Reg iã o d e L ei ria (p er ió d ico ) .......181, 251 Re g i sto s P aro q u iai s, Fr e g ue s ia d e Sa n ta I sab e l .............................................. 37 Reg r es so (O ) (d u eto ) ................................. 68 Re g u eirão d e Val v erd e ( Lis b o a, to p o ní mi a) ................................................. 44 Re g u e n go s (lo c al id ad e) ........................... 16 REI S, Al e xa nd re (ac to r a mad o r) ......... 51 REI S, Al fr ed o ( Vi l hari g ue s) ............... 282 REI S, Ed uard o (p ai) ( ce nó gra fo ) ........ 97 REI S, J o sé ( ac to r a ma d o r) ...................... 64 RE NT INI, Do lo re s ( ac tr iz -e mp r e sári a) ....................................................................... 12 RE NT INI, J ul ie ta (a ctr i z - e mp re sár ia) .........................................................12, 13, 325 RE NT INI, O li nd a Go d fr o y ( actr iz) .... 13 RE NT INI, Sal úq u ia Go d fro y ( ac triz ) 13 Rep o r tó rio – Co o p era ti v a P o rt u g ue sa d e T eatro ( Li sb o a) ............................... 320 Rep ú b l ica (p e rió d ico ) ...............13, 150, 284 Res su r rei çã o ( tí t ulo ) ............................... 164 RE Y - CO LAÇ O , Amé l ia (1 8 9 8 -1 9 9 0 , actr iz) ...........................................20, 33, 253 RE Y -M ONT EI RO, Mar i an a (a ctr iz, au to ra) ...................................................... 291 Rib a l ta (A ) (p erió d ico ) ...................... 51, 52 Rib at ej o (p ro v í n c ia) ................................ 186 Rib at ej o (re gi ão ) ................................. 10, 212 P ORT U G AL, Lui z (a u to r) ....................... 61 P ORT U LÊ S (1 8 6 1 , ac to r ) ....................... 31 P ORT U ZUE LOS, Ma ria (actr iz) .......... 58 Po vo (O ) d o No r te (p eri ó d ico ) ........... 132 Po vo Alg a r vio (p erió d ic o ) ............246, 247 Po vo d e A ve iro (O ) (p er ió d ico ) ............ 12 P ó vo a d e V arzi m (lo cal i d ad e) 33, 38, 285, 290 P o zzo (p er so na ge m d e À Esp era d e Go d o t ) ....................................................... 300 P raça d a R ep úb l ica (S et úb a l) ......208, 209 P raça d a s A mo re ira s ( Li sb o a, to p o ní mi a) ........................................... 43, 55 P raça d a s Flo r e s ( Lisb o a , to p o ní mi a) 48 P raça d o Ca mp o d e Sa n t an a ( Lisb o a, reci n to e sp e ctá c ulo s) ........................... 39 P R AT A, J o aq u i m ( acto r ) ................... 32, 78 P resid ê nci a d o Co n se l ho d e M i ni stro s (Li sb o a) .................................................... 276 P RET O, Go n ça l ve s (a u t o r) ................... 314 P RIE ST LE Y, J o h n B o yt an (1 8 9 4 -1 9 8 4 , au to r) ......................................................... 250 Est á lá fo ra u m in sp ec to r (1 9 4 5 ) 250, 251 P ri meiro Ac to – T ea tro d e Al gé s ( Al gé s) ...................................................... 288 P rín cip e P er fe ito ( n a vio merca n te) .. 302 Pro v ín c ia d e An g o la (p e rió d ico ) ...... 302, 303 P sico lo gi a (d i sc ip l i na c urr ic ul ar) ....... 53 P UC K (ar ti c ul is ta) ..................................... 37 P UERT O C AR R E RO, P e d ro (Co n se l heir o Rea l) ................................ 18 Pu p ila s (A s ) d o S en h o r Rei to r (car taz p ub lic it ário ) ........................................... 104 Q QUEI R ÒS , Car lo s (ac to r ) ..................... 289 QUEI R O Z, F lo rb el a (a ct riz) ..........21, 321 Q uel u z (lo ca lid ad e) .........................274, 276 Qu em mo r re... mo rr e .................................. 32 QUI NT ER O, Ir mã o s (S e rafí n,1 8 7 1 1 9 3 8 , e J o aq uí n , 1 8 7 3 -1 9 4 4 , Al var ez) ................................................... 185 Pip io la ...................................................... 185 R Ra b eca (A ) (p er ió d ico ) .... 25, 98, 188, 189, 190, 191, 282 Rá d io & T e lev i sã o (p er i ó d ico ) ....... 71, 73 R AF AE L (1 4 8 3 -1 5 2 0 , p i nto r) ............... 17 Ra lp h Au s ti n (p er so n a ge m d e A s Bo rb o leta s sã o Li vr e s ) ...................... 289 R AM A, An tó nio (ac to r) ......................... 316 4 RO D RIG UE S, Ma n ue l Mari a (1 8 4 7 1 8 9 9 ) .................................................135, 233 Ro sa (A ) d o Ad ro (ro ma nc e) ....79, 291, 347 RO D RIG UE S, Már io ( m ú si co ) ...124, 163, 169 RO D RIG UE S, A mé lia (a ctri z) ....114, 124, 278 RO D RIG UE Z, J o s é (ed it o r) ................... 89 Ro ma (lo c al id ad e ) ............................ 9, 12, 21 RO N C AG LI, S il v ia ( act riz) ................... 18 RO RI Z, P e. Ga sp ar d a C o st a (a u to r) 141 He ró i (O ) Min h o to .............................. 141 Ro sa (p erso n a ge m d e Jo ã o Jo s é ) ......... 88 Ro sa (Uma ) a o Peq u en o Almo ço (tí t ulo ) ...................................................... 321 Ro sa d o Ad ro (p erso n a g e m d e A Ro sa d o Ad ro ) ................................................... 100 RO S A, Au g u s to (1 8 5 0 -1 9 1 8 , acto r) ... 81 RO S A, Ce le st i no (a u to r) Du a s Ga ta s (1 8 9 8 ) ................................ 34 RO S A, J o ão ( acto r) .................................... 88 RO S A, J o aq u i m (a cto r) ..........309, 316, 317 Ro ss io d e S. B raz (É vo r a, to p o n í mi a) .....................................................198, 260, 279 Ro ss io , Lar go d o ( Li sb o a, to p o n í mi a) ...........................................................38, 44, 45 Ro t u nd a ( Li sb o a, to p o ní mi a) ........... 56, 60 R ua d a Arráb id a ( Li sb o a , to p o ní mi a) 63 R ua d a Co nce iç ão (a ct ua l r ua Marco s d e P o rt u ga l, Lisb o a, to p o ní mia ) ..... 48 R ua d a P al ma ( Li sb o a, t o p o n í mia ) ..... 50 R ua d a Vo z d o Op erár io (Li sb o a, to p o ní mi a) ................................................. 35 R ua d e S. B e n to ( Lisb o a , to p o ní mi a) 43, 66 R ua Di rei ta d a F áb ri ca d as Sed as (act u al E s co la P o li téc n i ca, Lisb o a, to p o ní mi a) ................................................. 43 R ua d o Cap e lão ( Li sb o a, to p o ní mi a) 231 R ua d o S al itre ( Li sb o a, to p o ní mi a) .... 44 R ua d o s C aet a no s ( Lisb o a, to p o n í mi a) ....................................................................... 53 R ua d o s C e go s ( Li sb o a , to p o ní mi a) ... 46 R ua J o ão Ma ria d a Si l va Co rr eia (B en a ve nt e, to p o ní mi a) ....................... 67 R ua No va (B e na ve n te, t o p o n í mia ) ...... 68 R ua No va d a Ale gr ia ( Li sb o a, to p o ní mi a) ................................................... 4 R ua Ro d r i go d a C u n ha ( Lis b o a, to p o ní mi a) ............................................... 297 R ui (p er so na g e m d e Alg u ém te rá d e mo r re r) ..................................................... 253 RU I, E tel v i na ( ac tri z) ............................... 15 Rib eir a Gr a nd e ( lo ca lid ad e) ................ 234 RIB EI R O (t e no r) ......................................... 66 RIB EI R O, Ân g el a (a ctr i z) .................... 316 RIB EI R O, An tó n io Lo p e s (1 9 0 8 -1 9 9 5 , ci nea s ta, a uto r, e mp r es á rio ) ..212, 213, 294 Amo r d e P e rd içã o (1 9 4 3 , ci ne ma) 213 Pa i (O ) T i ra n o (1 9 4 1 , ci ne m a ) ...... 212 Viz in h a (A ) d o La d o (1 9 4 5 , ci ne ma) ................................................................ 212 RIB EI R O, Ce le st i no (a c to r) ................. 243 RIB EI R O, Fé li x ......................................... 214 RIB EI R O, Fer na nd o C ur ad o (1 9 1 9 1 9 9 5 , acto r) ......................................20, 271 RIB EI R O, Fra nc i sco ( ac to r, e n sa iad o r a mad o r) ...................................................... 51 RIB EI R O, Fra nc i sco ( R i b eiri n ho ) (1 9 1 1 -1 9 8 4 , ac to r, e n ce nad o r , ci nea s ta, e mp re sár io ) . 79, 158, 213, 232, 276, 277, 280, 292, 293, 294, 295, 296, 297, 298, 299, 300, 301, 307, 310, 345, 347 Pá tio (O ) d a s Ca n tig a s (1 9 4 2 , ci ne ma ) ................................................ 212 RIB EI R O, M a n ue l ( mú s i co ) .........113, 114 RI C AR DO , J o s é (a cto r) ........................... 80 Rid í cu lo s (Os ) (p er ió d ic o ) ...................... 31 Rio Ma io r ( lo ca lid ad e) ... 87, 160, 161, 239, 241 Rio ma io ren se (p erió d ico ) ..................... 239 RI QUE LME ( Mar ia o u Da mi a na, actr iz) .......................................................... 25 ROB Y, Sc h iap a Ro b y (a mad o r d e tea tro ) ......................................................... 64 RO C H A, D al ila (ac tri z) ........................... 21 RO C H A, J úlio (a u to r) Ro d a Viva ( e t a l. , 1 8 9 7 , rev i sta , T . Av e nid a, Li sb o a ) .............................. 41 RO C H A, Lui z (a cto r a m ad o r) ............... 51 RO D RIG UE S, A. ( acto r ) ....................... 184 RO D RIG UE S, A mé li a (a ctri z) ............ 107 RO D RIG UE S, Art ur (ac t o r) 107, 124, 278 RO D RIG UE S, Er ne sto ( au to r) Art e d e Mo n te s ...................................... 168 Em á g u a s d e b a ca lh a u ( F ul a no , Sic ra no e B el tra no , 1 9 0 6 , re vi s ta, T . C hal et Av e n id a, feir a d o P arq ue , Li sb o a) ................................. 58 Ra ta p la n ( «G re go s e T ro ia no s », rev i sta , 1 9 2 5 , T . M aria Vit ó ria) ................................................................ 119 Zig - Za g ( et a l ., r e vi st a, 1 9 1 0 , T . J úl ia Me nd e s, feir a d e A lcâ n tara) .................................................................. 60 RO D RIG UE S, J o sé ( ac t o r) ..................... 80 4 S ANT AN A, V as co (1 8 9 8 -1 9 5 8 , ac to r) ............................................ 152, 153, 166, 213 Sa n taré m (lo c al id ad e ) ...... 79, 253, 288, 291 S ANT AR EN O, B er n ard o (p se ud ., An tó n io Ma rt i n ho d o Ro sár io , 1 9 2 4 1 9 8 0 ) 287, 309, 312, 314, 319, 348, 350, 354 An tó n io , Ma r in h ei ro ...........286, 287, 314 Po r tu g u ê s, E sc r ito r, 4 5 a n o s... ..... 312 Pro me ssa (A ) ......................................... 319 Tra içã o (A ) d o Pa d r e M a rt in h o (1 9 6 9 ) ......................... 314, 317, 348, 354 Sa n to An tó nio (p er so na ge m d e B ra z Mart i n s) ..................................................... 29 S ANT OS, Al fred o ( acto r) ................. 32, 88 S ANT OS, An tó nio Au g u sto (arti c ul i sta) ............................247, 248, 249 S ANT OS, C ard o so d o s ( co ro n el, a uto r ) ..................................................................... 162 C ru z d e Gu e r ra (ac to e m v er so ) ... 162 S ANT OS, C arlo s ( acto r) ..........51, 231, 291 S ANT OS, F er na nd o (1 8 9 2 -1 9 6 6 , au to r) ......................................................... 250 Ba te o p é ( e t a l ., 1 9 6 2 , rev i sta , T . Mª V itó ria) .......................................... 21 Pré mio No b el (1 9 5 5 , co m Al me id a A mara l e Le itão d e B ar r o s) ....... 250, 275, 353 Tra ve s sa d a E sp e ra (1 9 4 6 , re vi s ta, T . Mª V itó r ia) .................................... 14 S ANT OS, F er na nd o ( a ut o r) .................. 353 S ANT OS, Gra ça d o s ( i n ve s ti gad o r a) .............................................................151, 299 S ANT OS, He nr iq ue (ac t o r) ..........280, 287 S ANT OS, Izid o r o (ac to r a mad o r) ........ 51 S ANT OS, J o rg e (1 8 7 9 -1 9 5 9 , a uto r) .. 76, 342 S ANT OS, J o sé d o s ( g ui t arri st a) ........ 223 S ANT OS, La ura (ac tri z) .......................... 34 S ANT OS, Mar ti n s d o s ( acto r) ............... 41 S ANT OS, Na ti v id ad e (a ctri z a ma d o ra) ....................................................................... 51 S ANT OS, V íto r P a v ão d o s (a u to r) ..... 10, 12, 88 Eu n ice Mu ñ o z, 5 0 a n o s d a vid a d e u ma a c tr i z ............................................ 10 S ANT OS, V ito r P a v ão d o s (i n ve st i gad o r) ........................................ 300 São Mi g ue l (I l ha d e, Aç o res) .............. 235 S AR AB AND O, J o ão ( ac to r) ................. 277 S AR DO U, Vic to ri e n (1 8 3 1 -1 9 0 8 ) 17, 88, 106, 185, 205 Divo rc ie mo - n o s ................................ 34, 17 Fed o ra ...................................................... 185 S AR GED AS , M ário (ac t o r) .................. 316 RU IV O, J a n uár io (a cto r) ....................... 119 S S. B er n ard o ( lo ca lid ad e) ....................... 147 Sá d a B a nd e ira ( lo c al id a d e) .........305, 306 S AC HET T I, J ua n B a u ti s ta (1 6 9 0 -1 7 6 4 , arq u it ec to ) ................................................ 11 Sal ão Ap o lo ( Ol h ão ) ............................... 113 Sal ão B o l a nd er ( a ni ma tó gra fo ) ............ 59 Sal ão Ce n tra l ( Car ta xo ) ...........98, 100, 101 Sal ão Ce n tra l ( Lisb o a) ............................. 28 Sal ão d a C ai x a Eco nó mi ca ( Lisb o a) .. 35 Sal ão d a Co zi n h a Eco nó mi ca ( An gra d o Hero ís mo , T erce ira, Aço re s) .... 234 Sal ão d o Re cre io d o s Ar ti st as ( An gr a d o Her o ís mo , T erce ira, Aço re s) .... 234 Sal ão Fa nt á st ico ( Li sb o a) ....................... 28 Sal ão Lib erd ad e ( Li sb o a ) ........................ 28 Sal ão P ro mo to ra Lis b o a ) .................87, 104 Sal ão Re crea ti vo (B ra ga ) ..............110, 127 Sal ão Re creio d o P o vo ( Set ú b al) ....... 208 Sal ão Re creio P o p u lar ( Se si mb ra) .... 106 Sal aza r (lo cal id ad e) ................................. 304 S ALAZ A R , An tó nio d e Oli v eir a (1 8 8 9 -1 9 7 0 , p o l ít ico ) 150, 151, 164, 182, 212, 258, 276 S ALOM ON A, Ân g e la ( a ctri z) ............... 18 S AMUE L (a cto r) ......................................... 30 S AND, Geo r ge (1 8 0 4 -1 8 7 6 , p se ud .) 247, 350 Ma rq u ê s (O ) d e V il le me (1 8 6 4 ) r ... 39, 247 S ANDE , Car lo ta (ac tri z) ....................... 184 Sa n ta Co mb a Dão (lo c a l id ad e) ..161, 162, 163, 164, 168, 169, 171, 178, 187 Sa n ta M art a ( Lisb o a, to p o n í mia ) ......... 44 Sa n ta na ( lo c al id ad e) ....................69, 87, 290 S ANT 'AN A, Ar ma nd o (a cto r, p o n to ) ..................................................................... 107 S ANT AN A, H e nriq u e (1 9 2 2 -1 9 9 5 , acto r, a uto r , e mp r es ário ) 262, 276, 277, 280, 286, 287, 298, 299 Aq u i h á Fa n ta sma s (1 9 6 2 , co m Fra nc i sco R ib eiro , T . V aried ad e s) ........................................................280, 281 Bo mb a (Uma ) Ch a ma d a Ete lvin a (1 9 6 1 , al ía s J o r ge d e So u sa, T . Vari ed ad e s) ...................... 280, 299, 355 Fa n ta sma (Um ) Ch a ma d o Isa b e l (ali ás M i kló s M ara i) .... 262, 275, 355 Ga to (O ) ...........................................286, 287 Tr ê s e m Lu a d e Me l (1 9 6 1 , al iá s J o rge d e So us a, T . Var ie d ad es ) ............................... 276, 279, 282, 352, 358 4 SI LV A, Ag o st i n ho (a cto r) ...................... 58 SI LV A, An tó n io (1 8 8 6 - 1 9 7 1 , acto r) 152 SI LV A, An tó n io ( Si l va B ate Ca s aca s, en sa iad o r a mad o r) ................................. 49 SI LV A, An tó n io J o sé d a (1 7 0 5 -1 7 3 9 , au to r) ........................................................... 39 SI LV A, An tó n io Mari a d a (1 8 8 6 -1 9 7 1 , acto r) .................. 71, 153, 213, 214, 277, 280 SI LV A, Ar ma nd o S il v es tre T a vare s d a (g u itar ri st a a ma d o r) ............................. 81 SI LV A, C ele s ti no Ga sp a r d a Ca ch a lo t e (1 9 0 7 -0 8 ) ..................110, 111 Ou Va i o u Ra ch a (1 9 0 8 ) ................... 110 SI LV A, Co s ta e (ac to r) ............................ 58 SI LV A, Do mi n g o s C â nd id o d a ( acto r e mp re sár io ) ......................................... 8, 143 Acto r (O ) E r ra n te (p er ió d ico tea tra l) ................................................. 8, 9 SI LV A, Fer reir a d a (ac t o r) ............... 31, 88 SI LV A, Fer reir a d a (p o n to ) ................. 155 SI LV A, Her mí n i a ( fad i s ta) ................... 152 SI LV A, J o aq u i m ( ac to r) ............................ 5 SI LV A, J o sé (ac to r) .................................. 80 SI LV A, J o sé J o aq ui m d a (a uto r) 2 0 0 0 0 Es cu d o s (al iá s O Ra p to d a Pri ma ) .................................................... 69 Ca u t ela co m a Fe rn a n d a (al iá s O Ra p to d a P r ima ) .............................. 108 Ra p to (O ) d a P ri ma ( co méd ia) ..... 170, 174, 275 SI LV A, Lib â n io d a (a u t o r) ..................... 61 SI LV A, Mar ia Au g u s ta ( arti c ul is ta) 302 SI LV A, Már io (e lec tr ici st a) .................. 58 SI LV A, Mo nt eiro e (ar ti cu li s ta) ........ 154 SI LV A, P er eir a d a ( ac to r) .................... 184 SI LV A, T eo d o ro ( acto r) ........................ 222 S eg red o (O ) (1 9 4 8 , c i ne ma ) ........... 223 SI LV A, Var ela (ac to r) ............................ 291 Si l ve s ( l o ca lid ad e) . 180, 247, 249, 254, 337, 340 Si mã o B o t el ho (p ers o na ge m d e A mo r d e Pe rd i çã o ) ......................84, 85, 185, 305 SIM ÔE S, Lu cí lia (1 8 7 9 - 1 9 6 2 , act riz e mp re sár ia) .....................................117, 214 SIM ÔE S, Lu ci nd a (1 8 5 0 -1 9 2 8 , ac triz ) .............................................................139, 186 SIM ÕE S, Sa nto s (art ic u l is ta) .............. 252 SIN CE R O (a rt ic ul i sta ) ...........107, 115, 184 Si nd ica to d o s Art is ta s ....................181, 258 Si n tra ( lo ca lid ad e) ...........................106, 274 SO AR E S, J ul iet a (1 8 9 8 - ? , actri z) ....... 35 SO AR E S, Lu iz So ar es ( acto r) ............... 32 SO AR E S, M a n uel Ma ria , o La me g aç as (acto r - e mp re sár io ) ................................. 17 S AR MENT O, An tó n io ( acto r) ............... 33 S AR MENT O, E mí li a (a c triz) ................ 33 S ART R E, J ea n -P a u l (1 9 0 5 -1 9 8 0 , au to r) ......................................................... 296 S AT AN E LA, Lu ís a (a ctr iz) ............14, 152 S AVIOT T I, Gi no (e mp r esá rio ) ........... 256 S C ALA, Fl a mí n io ...........................12, 14, 17 S CH U LT ZE, M ari a (a ctr iz) .................. 287 S CHW ALB AC H, Ed u ard o Fred erico (1 8 4 6 -1 9 4 6 ) ............................................ 249 Du a s (A s ) Má s ca ra s (1 9 4 5 ) ............ 249 S C RIB E , E u g è ne (1 7 9 1 - 1 8 6 1 , a uto r) ..................................................................... 205 Secr et ariad o Na cio n al d a I n fo r ma ção , C ul t ura P o p u lar e T ur is mo ( S NI) .. 23, 183, 232, 254, 255, 264, 265, 267, 268, 272, 273, 275, 276, 284, 286, 311 S écu lo (O ) (p erió d ico ) .....................54, 302 Revi s ta l it erá r ia , a rt ís ti ca e cien tí fica .............................................. 54 Sei a ( lo ca lid ad e) ......................................... 96 SE LV AGEM , Car lo s (1 8 9 0 -1 9 7 3 , p se ud ., a uto r) .......................................... 20 An jo Reb eld e ............................................ 20 S ema n a (A ) Ilu st ra d a (p erió d i co ) ....... 59 SEN A, J o r ge d e (1 9 1 9 -1 9 7 8 , a uto r) 300, 359 SEQ UEI R A, G us ta vo d e Mato s ( a uto r) ....................................................................... 39 SE R M AP HI O (a li ás Za ni n i d a P ad o va, acto r) .................................................9, 10, 20 Ser p a P i nto (lo c al id ad e) ........................ 305 SE R RE AU, J e a n -M ari e ( d irec to r d e tea tro ) ....................................................... 297 Se si mb ra ( lo ca lid ad e) ............ 106, 273, 278 S es imb ren se (O ) (p erió d ico ) ................ 107 SET T E, Al fred o (e n sa ia d o r, p o n to ) ... 56 Set ú b al (lo c al id ad e) ..... 32, 6, 208, 210, 211 S etú b a l n a Red e ( sí tio n et) ....................... 2 S etu b a l e n s e (O ) (p er ió d i co ) . 14, 208, 209, 210, 211, 214 SH AKE SP E AR E, W il lia m (1 5 6 4 - 1 6 1 6 , au to r) ................................ 6, 9, 295, 297, 305 No i te d e Re i s 295, 297, 299, 302, 303, 304 S o n h o d e U ma No i te d e Verã o ........... 9 SH AW , B er n ard (1 8 5 6 -1 9 5 0 , a uto r) 239 S a n ta Jo a n a ............................................ 239 SH O RE, Ca rlo s (a cto r) ............................. 89 SID ÓNI O, Mar ia ( actr iz ) ...................... 243 Si l va P o rto (lo c al id ad e ) ........................ 305 SI LV A V ALE (a li ás J o s é Marq u es d a Si l va, acto r) . 66, 67, 68, 70, 75, 76, 79, 85, 86, 87, 107, 124, 325, 326, 331 SI LV A, A. Vi eira d a ( co n str u to r) ....... 66 4 SO US A, I vo n e d e ( ac tri z) ..................... 115 SO US A, J a i me d e ( vo c al is ta d o co nj u nto F la mi n g o ) ............................. 223 SO US A, J o r ge d e (p se ud ., He nr iq ue Sa n ta na - Fr a nci s co Rib eiro ) .276, 352, 355 SO US A, J o sé C arlo s d e (acto r) ..... 76, 85, 204, 206, 218 SO US A, Lu cí li a d e ( ac tr iz) .................... 76 SO US A, Ne ve s d e (ar ti c ul i st a) ...181, 183 SO US A, R a yra d e (ac tri z) ...................... 11 So us el (lo c al id ad e) .................................... 15 Sp o rt B eir a M ar ( Av eiro ) ...................... 147 S ta d iu m d e S. Do mi n go s ( Ave iro ) ... 134, 146, 343 ST EINB E CK , J o h n (1 9 0 2 -1 9 6 8 , a uto r) .............................................................287, 309 Ra to s e Ho m en s (1 9 3 8 ) .....287, 288, 309 ST ICH INI, Ild a (ac tri z) .........184, 219, 355 ST RIN DB E R G, Au g u s t ( 1 8 4 9 -1 9 1 2 , au to r) ........................................................... 21 C red o re s (1 8 8 8 -8 9 , Cr e d ito r s ) ........ 21 SU AS S UN A, Aria no (a u to r) ................ 320 S a n to (O ) e a Po r ca ............................ 320 S u rp re sa (U ma ) ( tí t ulo ) ........................... 68 SV OB O D A, , J o s e f (1 9 2 0 -2 0 0 2 , ce nó gra fo c heco s lo vaco ) .................. 296 SO AR E S, T ei xe ira ( ac to r) .................... 184 So c ied ad e Ar tí st ic a «G e n t e Se m No me » ( H u mb er to d e And rad e, Cª d e P ro v í nc ia) ......................................... 278 So c ied ad e d e Au to r es ( Lisb o a) .......... 216 So c ied ad e d e E sc ri to re s e Co mp o si to re s T ea trai s ( Lis b o a) ...... 26 So c ied ad e d e I n st r ução T avared e ns e (1 9 0 4 , T avar ed e, a sso ci ação recrea ti v a) ................................................. 52 So c ied ad e Dr a má tic a d e Car n i d e ....... 317 So c ied ad e I n str uç ão e R ecre io «O s P en ic he iro s » (B arr eiro ) .................... 263 So c ied ad e M u si cal C ul t ura e Re cre io (P aço d e Vi l hari g u e s) ........................ 282 So c ied ad e M u si cal S es i mb r e ns e (Se si mb ra, as so c ia ção ) ...................... 106 So c ied ad e P ro mo to ra d e Ed u caç ão P o p ul ar ( Lisb o a) .................................. 104 So c ied ad e Ra fa e l Cro n e r ( Li sb o a, as so c iaç ão ) ............................................... 48 So c ied ad e Recr eat i va d o s E mp r e gad o s d o s Ca mi n h o s -d e - ferro d o Le ste e No rte ( Li sb o a) ......................................... 50 So c ied ad e Recr eio Se s i mb r e ns e (Se si mb ra, as so c ia ção ) ...................... 106 So c ied ad e U n ião B o rb e n se (B o rb a, as so c iaç ão ) ............................................. 197 SO LE R, J o ão (1 8 5 0 -? , a cto r, a u to r) ... 80 Ho te l Lu o s - B ra s il ei ro (c o méd ia i mi tad a) ................................................. 63 Ro sa s d a V i rg em (a liá s Ro sa s d e No ssa S en h o ra ) ..........................80, 206 Ro sa s d e No s sa S en h o ra (i mi ta ção d e zar z uel a E l p u ñá s d e ro sa s, d e Car lo s Ar n ic h es) . 80, 89, 92, 107, 148, 165, 166 Um Pu n h a d o d e Ro sa s ( ali ás Ro sa s d e No s sa S en h o ra ) ............................ 80 SO LN AD O, Ra ú l (a cto r) ......................... 21 SO MME R, An to ni no ( ac to r) ................ 317 S o r ra ia (O ) (p e rió d ico ) ......................... 265 SOT E LO , J o aq uí n C al vo (1 9 0 5 -1 9 9 3 ) .............................................................253, 356 Mu ra lh a (A ) (1 9 5 4 ) ........... 253, 281, 356 SOT T O, Mad ale n a (a ctr i z) ..................... 21 SO US A, Av e li no d e (a u t o r) ...........62, 184 Gu e rra ..............................................177, 184 SO US A, C arlo s d e (ac to r) .................... 115 SO US A, C arlo s d e (d ir e cto r d o Gr up o d e T Eatro d o Or fe ão S ca lab i ta no ) 277 SO US A, Co n có rd ia d e ( actr iz) ............. 76 SO US A, Cr e mi ld a d e (a ctri z) .............. 119 SO US A, Ed mu n d o d e ( a cto r) ................. 76 T T AB O R D A, Fr a nci s co Alv e s d a Si l va (1 8 2 4 -1 9 0 9 , ac to r) .............................. 105 T AB O RI NO, G io va n ni ( acto r) .............. 19 T aça Vi r g íl io Me sq ui ta (1 9 3 3 , Ave iro ) ..................................................................... 147 T ad eu d ’ Alb uq u erq ue ( p erso n a ge m d e Amo r d e P e rd içã o ) .......................... 84, 85 T AÍN H A, O li v eira (ac to r) ........................ 2 T ALAS SI ( Ca tar i na e C arlo t a, actr ize s) ..................................................... 31 T AM AY O y B a u s, Ma n u el (1 8 2 9 -1 8 9 8 , au to r) Jo a n a , a Do id a (a li á s L o u cu ra d e Amo r, 1 8 5 5 ) ...................................... 149 T AS S O, T o rq u ato ( a uto r ) ........................ 13 Amin ta (d ra ma p a s to ra l) ..................... 13 T avare s, S il va (1 8 9 3 -1 9 6 4 ) ................. 170 Mi la g re (O ) d a s Ro sa s ( q uad ro d e Ro sa s d e Po r tu g a l , 1 9 2 7 , re vi st a ................................................................ 170 Ro sa s d e Po r tu g a l , 1 9 2 7 , re vi st a . 170 T AV EI R A, Afo n so d o s Re i s (ac to r e mp re sár io ) ................................................. 9 T avira .............................................245, 247, 331 T avira (lo cal id ad e ) .................................... 34 4 T eatro d e D. A mél ia (1 8 9 4 -1 9 1 0 , Lis b o a ........................ 29, 33, 34, 49, 81, 236 T eatro d e D. Lu iz ( Li sb o a, te atro ch ale t) ......................................................... 56 T eatro d e D. M ari a II (1 8 4 3 -1 9 6 4 , Lis b o a) 29, 34, 24, 33, 39, 45, 49, 63, 76, 94, 136, 139, 184, 253, 291, 294, 296 T eatro d e D. M ari a P ia ( F u nc ha l) ..... 224 T eatro d e E n sa io ( Li sb o a, p ro j ecto tea tra l) ...................................................... 277 T eatro d e Ol i vei ra d o B airro ............... 123 T eatro d e S. Car lo s ( Lis b o a) .......139, 301 T eatro d e Se mp r e (e mp r esa G i no Sa v io tt i - Gi u se p p e B a st o s) ............ 256 T eatro d e Var ied ad es (a nt i go T . d o Sal it re, Li sb o a) ....................................... 31 T eatro d e Var ied ad es ( Lisb o a) ........... 276 T eatro De s mo n tá v el ( C ª Ra fael d e Oli v eir a) .. 23, 25, 35, 70, 79, 105, 109, 116, 149, 157, 158, 160, 163, 164, 165, 167, 170, 171, 174, 177, 178, 179, 180, 182, 183, 186, 187, 188, 190, 193, 195, 205, 218, 220, 224, 233, 240, 244, 245, 247, 250, 251, 252, 254, 256, 259, 262, 265, 267, 276, 279, 281, 285, 287, 290, 291, 296, 297, 301, 302, 303, 304, 305, 306, 307, 311, 313, 317, 318, 321, 322, 330, 332 T eatro d o Alj ub e ( Lisb o a) ...................... 30 T eatro d o Ar co d a Ve l ha – Me tr ul (Li sb o a) .................................................... 319 T eatro d o Ca st il ho ( Li sb o a, S tª I s ab el, p arti c ul ar) ........................................... 63, 64 T eatro d o Cl ub e ( Aza mb uj a) ......... 75, 342 T eatro d o Cl ub e ( Cl ub e Art ís ti co , B en a ve nt e) ............................................ 2, 67 T eatro d o G i ná sio (1 8 5 2 , Li sb o a) 29, 31, 63, 69, 139, 298 T eatro d o G i ná sio ( Li sb o a) .................. 118 T eatro d o M ald o nad o ( Lisb o a) ............. 46 T eatro d o P o vo (1 9 3 6 -4 1 , SP N) 158, 159, 164, 232, 233, 293, 294 T eatro d o P o vo (1 9 5 2 -5 5 , S NI) ..294, 302 T eatro d o P o vo (SP N) ............................. 164 T eatro d o P rí nc ip e R eal (Li sb o a) . 28, 30, 34, 4, 38, 41, 48, 50 T eatro d o Ra to (1 8 8 0 -1 9 0 7 , o u C h al et d o Ra to , Li sb o a) ................................ 4, 61 T eatro d o S al itr e ( no vo , ali á s T . Vari ed ad e s, 1 8 5 8 -1 8 7 9 , Lis b o a) ..... 29 T eatro d o s Anj o s ( Li sb o a) ................ 30, 62 T eatro d o s B o mb ei ro s V o lu n tár io s (Vi la P ra ia d e Ânc o ra) ...................... 133 T eatro El Só ta no ( Ha va n a, C ub a) ..... 315 T eatro E sp a n ho l (1 8 4 9 , Mad rid ) .......... 11 T CHEK OV , An to n (a u to r) Ped id o d e Ca sa men to ......................... 164 T eatro Agr e ns e ( An g ra d o Hero ís mo , T erceira, Aço r e s) .........................225, 234 T eatro Al me id a Garre tt (Li sb o a, St ª Isab el, p art ic u lar) .................................. 62 T eatro An tó nio P i n h eiro (T avir a) ..... 247 T eatro Ap o lo (1 9 1 0 -1 9 5 6 , Li sb o a, e x T eatro d o P rí nc ip e R eal ) 112, 123, 152, 227, 228 T eatro Asc ê ncio ( Lo ul é) ........................ 115 T eatro Ave ire n se ( Av eir o ) ......6, 121, 147, 251, 258, 283, 346 T eatro Azó ria ( Laj e s, P r aia d a V itó r ia, T erceira) .................................................. 234 T eatro B er nard i m R ib ei r o Es tre mo z) .............................................................195, 196 T eatro Ca mõ e s (P o r to ) ............................. 31 T eatro Carlo s Go me s (B ras il) ............... 13 T eatro C hal et Ara új o (1 8 8 1 , Ma n ue l J o sé d e Ara új o , Li sb o a) ...................... 29 T eatro C hal et Ara új o (M an u el J o sé d e Ara új o , Li sb o a) ...................................... 29 T eatro C hal et Av e n id a ( tea tro -b arr aca) ................................................................. 57, 58 T eatro C hal et d a R ua d o s Co nd e s (ali ás T eatro C h ale t Ara új o , 1 8 8 1 1 8 8 7 , Li sb o a) ........................................... 30 T eatro C hal et P a l har es ( tea tro b arraca ) ..........................................56, 57, 58 T eatro C hal et R ecre at i v o ( Luso ) ........... 6 T eatro C hal et R ecre io G ló ria ( Carlo s Dal lo t) .......................................................... 3 T eatro C hal et T ri nd ad e (tea tro b arraca ) ...................................................... 57 T eatro Circo (V il a Rea l) ....................... 132 T eatro d a Ale g r ia (1 8 9 0 -1 8 9 2 , te atro b arraca , Lisb o a) ................................. 4, 39 T eatro d a Av e nid a (1 8 8 8 -1 9 6 7 , Lis b o a) 28, 30, 22, 23, 26, 27, 34, 38, 39, 41, 45, 71, 72, 139, 152, 184, 256, 263, 287 T eatro d a c al çad a d o Ca b ra ( Li sb o a ) . 29 T eatro d a r u a d o O li v al (Li sb o a) ......... 29 T eatro d a r u a d o s Co nd e s (1 8 8 8 , Lis b o a) .............................................28, 4, 38 T eatro d a r u a d o s Co nd e s (c a. 1 7 6 5 1 8 8 1 , Li sb o a) ..................................... 30, 31 T eatro d a T ri nd ad e (1 8 6 7 , Li sb o a) .... 28, 20, 105, 109, 213, 256, 295, 296, 299, 319, 320 T eatro d a T ri nd ad e ( Lis b o a) ................ 113 T eatro d a T ri nd ad e (P o r to ) .................... 31 T eatro d a s Car me l it as (t eatro -b arrac a, P o rto ) ...................................................... 31, 3 4 T eatro Recr eio M us ic al Es g ue ire n se (Es g ue ira) ................................................ 133 T eatro S á d a B a nd eir a ( P o rto ) .....25, 250, 317 T eatro S a nta n e n se ( Sa n t an a -F erre ira) .........................................................69, 87, 290 T eatro S e ne n se ( Se ia) ......................... 35, 96 T eatro S tep he n s ( Mar i n ha Gra nd e) .. 346 T eatro T ab o rd a ( Lisb o a) ................... 41, 49 T eatro T eo d o rico ( Li sb o a) ..................... 41 T eatro T herp s ico re ( Li s b o a) ............ 48, 63 T eatro Va ried ad e s ( Li sb o a) .123, 281, 284 T eatro V il lare t ( Li sb o a) ........................ 317 T eatro V ir gí n ia (T o rre s No va s) ......... 293 T EIXEIR A, Dio go ( ac to r) ....................... 58 T EIXEIR A, Li ma (ac to r ) ......................... 34 T EIXEIR A, Vir g íl io T ei xe ira ( ac to r) .............................................................222, 223 T ELE S, Lí gi a (ac tr iz) ............................... 21 P rin ce sa Na tál ia d e Or a n ge (p erso n a ge m d e K le is t) .................. 21 T ELM O, J o sé Ân g elo C o tti n el i (1 8 9 7 1 9 4 8 , arq ui tec to , ci ne as t a) ......153, 154 Ca n çã o (A ) d e L isb o a (1 9 3 3 , ci ne ma ) ........................................153, 212 T erceira ( Il ha d a, Aço re s) ............225, 235 T eresa (p er so na ge m d e Amo r d e Perd içã o ) .....................................84, 85, 305 T ERES A, Mar ia (a ctr iz) ................296, 316 Te r ra (A ) M in h o ta (p eri ó d ico ) ........... 125 T héâtr e d e B ab ylo n e (P a ris) ................ 297 T heatro S alão (a liá s T ea tro d a B a nd a d o s B o mb e iro s, P o rt ale g re) ............... 98 T HOF AN O DE B AST I AN (ac to r) ......... 9 T HOM AS, Ro b ert ( a uto r ) ..................... 298 Ar ma d i lh a o p a ra u m Ho mem S ó .... 298 Ar ma d i lh a p a ra u m Ho m em S ó ...... 303 T io J o ão (p erso n a ge m d e Ro sa s d e No ssa S en h o ra ) ....................................... 92 T io Ra fael (p er so na ge m d e Ca sa d e Do id o s) ..................................................... 136 T ó b is (E st úd io s) ........................................ 153 T OJ AL, He r mí n ia ( ac tr i z) ............296, 310 T ORG A, M i g ue l (p se ud . , 1 9 0 7 -1 9 9 5 , au to r) .................................................239, 309 T OR RE, Fer n á n D íaz d e la (e mp re sár io ) ............................................. 24 T o rres No v as (lo c al id ad e) ............264, 293 T o rres V ed ra s (lo ca lid a d e) ...........103, 287 T OR RE ZÃO, G uio mar ( au to ra) .115, 138, 353 T OSC AN O, A mé li a (a li ás A mé li a Mo iro n, act riz) ........................................ 15 T OT Ó (acto r) ................................................ 25 T eatro E xp er i me n ta l d e Ca sc ai s (T E C, Cª d e Car lo s Av ile z) .......................... 320 T eatro E xp er i me n ta l d e Lis b o a (T E L, LI sb o a , p ro j ecto te atr al) ................... 277 T eatro E xp er i me n ta l d o P o rto (T EP ) (co mp a n hi a) .............................21, 257, 291 T eatro Fo ito (C h a mu s ca ) .................90, 148 T eatro Ga rci a d e R es e nd e (É vo ra) ... 242, 298 T eatro Ga rret t ( Li sb o a, Anj o s, p arti c ul ar) ................................................. 63 T eatro Ge ri fa lto ( An tó ni o M. Co uto Via n a) ...............................................256, 296 T eatro G il Vi ce nt e ( Al fa ma , Lisb o a) . 47 T eatro G il Vi ce nt e ( Ca s cai s) ............... 105 T eatro G il Vi ce nt e ( Gra ça, Lisb o a) ... 34 T eatro G il Vi ce nt e ( G ui ma rãe s) 130, 141 T eatr o G il Vi ce nt e ( Li sb o a, Al fa ma ) 48 T eatro He r mí n io (Go u v e ia) .................. 171 T eatro I n fa n ti l d a s A mo reira s ( C ª Dal lo t, Cª d e P ro v í nc ia) ................. 40, 5 T eatro J o rd ão ( G ui ma rã es) ................... 252 T eatro La ur a Al ve s ( Li s b o a) ............... 289 T eatro Le t he s ( Faro ) .......................111, 113 T eatro Li vr e (p ro j ec to t eatr al) ............. 54 T eatro Lo u sa ne n se ( Lo u sã) .............. 87, 91 T eatro Luí sa T o d i (S et ú b al) ........208, 214 T eatro Mar ia Ma to s ( Li s b o a) .............. 296 T eatro Mar ia Vi tó r ia ( Li sb o a) .......14, 21, 142, 243, 266, 270 T eatro Me tá li co Re nt i ni (tea tro c h ale t) ...............................................................14, 176 T eatro M ica ele n se (P o n t a De l gad a ) 119, 225 T eatro Mo d er n o ( Li sb o a ) ................62, 278 T eatro Mo n u me n ta l ( Li s b o a) ..21, 71, 257, 289 T eatro Mo uz i n ho d a S il ve ira ( C as te lo d e V id e) ..................................................... 98 T eatro M u n icip al (B o rb a) ..................... 197 T eatro M u n icip al d e B a l taza r D ia s (F u nc ha l, a nt i go T eatro d e Mar ia P ia) ............................................ 215, 218, 223 T eatro Na cio n al d e Al m eid a Garr et t (ali ás T eatro D. Mari a I I) ................ 118 T eatro Na cio n al P o p ul ar (Fra n ça) ..... 294 T eatro Na cio n al P o p ul ar (T NP , e mp re sa d e A. Lo p e s Ri b eiro Fra nc i sco R ib eiro ) ......................256, 295 T eatro Op e rário (E str e m o z) ................. 117 T eatro P o p u lar d e Al ma d a (T P A, Al mad a, p ro j ec to tea tra l ) ................. 277 T eatro P o rta le gre n s e (P o rtal e gre) ....... 98 T eatro Recr eio ( C ad a va l ) ........................ 77 4 V AS CO N CE LOS, T ei xei ra d e (a u to r) Den t e (O ) d a Ba ro n e sa ( 1 8 7 0 , co méd i a) ............................................... 49 V AZ (ac to r) ...................................58, 262, 264 V AZ, Ali na (a ctr iz) ................................ 287 V AZ, Ali na (ac tri z) ................................. 261 V AZ, M. J . (art ic u li s ta) ......................... 261 VEG A, Lo p e d e ( a uto r) .................... 12, 320 Art e n u e vo d e h a ce r co med ia s en es te tie mp o ........................................... 12 Fu en teo ve ju n a ....................................... 320 VEIG A, He nr iq uet a (a ct riz) ................... 66 VE LOS A, Car lo s (a cto r) ....................... 222 VE LOS O, Lu z (a ctr iz) ........................ 33, 20 VEN ÂN CI O (a cto r, a uto r) ........................ 4 VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( ? -ca. 1 9 3 1 , acto r) ......................................................... 278 VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( 1 9 2 5 , acto r) .. 4, 15, 16, 70, 259 VEN ÂN CI O, Ar ma nd o ( sec .XI X, acto r) ............................................................. 4 VEN ÂN CI O, J a i me (ac t o r, a uto r) ......... 4 Pro c es so (O ) d o Ra sg a ............ 40, 4, 6, 8 VEN ÂN CI O, Leo ne l (ac to r) .................. 15 VEN ÂN CI O, Lu í s (a cto r ) ....................... 15 VEN ÂN CI O, Mar ia (a ct riz) ................... 15 VEN ÂN CI O, Vir g íl io (a cto r) ................ 15 Ve nd a - No va ( lo c alid ad e ) ..............269, 271 Via n a d o Ale n tej o (lo ca l id ad e) .......... 148 VI AN A, An tó nio Ma n ue l Co uto Vi a na (acto r, e nc e nad o r, e mp re sár io ) . 21, 256 VI AN A, He nr iq ue (ac to r , ? -2 0 0 7 ) .... 280 VI CENT E, Gi l ( sec. X V I, a uto r) .... 3, 22, 164, 290 Ama d i s d e Ga u la ...................................... 3 In ês Pe rei ra ........................................... 290 Lu s itâ n ea , To d o o Mu n d o e Nin g u é m ................................................................ 290 Va q u ei ro (O ) (1 5 0 2 ) ........................... 164 Velh o d a Ho rta ..................................... 290 VI CT OR ( ac to r) ..................................... 58, 66 Vic to ri a Sp o rt C l ub (c l u b e vi mara n e ns e) .......................................... 141 VID AL, H u go ( mú s i co ) ............................ 58 VIEG AS , M ár io (1 9 4 8 -1 9 9 6 , acto r) 144, 182, 318, 324 VIEI R A, Do r a (a ctr iz) .............................. 11 VIEI R A, J o ão ( v io la) .............................. 223 VIEI R A, Ma n u el (art ic u li st a) .....271, 279 Vie n a d e Áu s tr ia ( lo ca li d ad e) ............... 19 Vil a d a Fe ira (lo c al id ad e) ....................... 33 Vil a d a P r aia d a Vi tó ria (lo ca lid ad e) ..................................................................... 234 Vil a d o Co nd e (lo c al id a d e) .................... 38 To u rn ée Al ma P o rt u g u es a ( Cª d e Ho lb e c he B a s to s ) ................................. 119 To u rn ée Art í st ica So c ie t ária ( R a fae l d e O li ve ira, C ª d e P ro v í nc ia) ....77, 78, 83, 87, 89, 90, 95, 98, 342 Tra n s ta g a n o (O ) (p er ió d ico ) ............... 148 T rás -o s - Mo nt es (re g ião ) ........................ 132 T rave s sa d a F á b ric a d o s P en te s (Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 43 T rave s sa d a s T erra s d e Sa n ta na (Li sb o a, to p o ní mi a) .............................. 63 T rave s sa d e S a nta Q u ité ria ( Li sb o a, to p o ní mi a) ........................................... 36, 42 T RIND AD E, Luc i nd a (a ctri z) .......70, 246 Tro u p e Au g u s to Co rd e ir o ( Li sb o a) ..... 34 T ro up e Car lo s d ’O li v eir a ( Li sb o a) ..... 33 Tro u p e Car mo ( Cª d e P ro ví n ci a) ... 10, 11 Tro u p e D ra má ti ca U niã o (R a fae l d e Oli v eir a, Cª d e P ro ví n ci a) ....75, 76, 77, 342 T R O U P E J O A Q U IM P R A T A ( L IS B O A ) ...... 32 Tro u p e Si l va Val e ( Cª d e P ro v í nc ia) . 67 T rup e d e Fl a mí n io ...................................... 12 T rup e d e Ga na s sa ........................................ 13 T rup e d e P a sq ua ti ....................................... 12 T rup e M i mi M u ño z ( Cª d e P ro v í nc ia) 11 T un a d e Sa n ta Ce cí li a ( S. B er n ard o ) ..................................................................... 147 U U nião Na cio na l (p art id o p o lí tico ) ...... 12, 150, 175 U ni ver s id ad e d e P a v ia ( Itál ia) .............. 22 Ur gei riç a (lo ca lid ad e) ............................ 290 V Val ad are s ( lo c al id ad e) ........................... 283 V ALE, E ma (a liá s E ma d e O li ve ira, actr iz) .......................................................... 70 V ALE, G e n y (a li ás Ge n y Fri a s, 1 9 0 5 1 9 9 3 , act riz) ...........................80, 81, 85, 93 V ALE, J o s é An tó nio (1 8 4 5 -1 9 1 2 , acto r) ...................................................38, 118 V ALE, La u ri nd a (ac tri z) .. 76, 80, 107, 124 V ALE, Luc íl ia ( al iá s Ge n y Fri a s, 1 9 0 5 -1 9 9 3 , ac triz ) ................................. 76 V ALLE R AN - LE C OMT E (acto r ) .......... 11 V ALOI S, M ar gar id a ( Ra ín h a d e Fra nç a) ....................................................... 11 Valp ere iro ( Lisb o a, to p o ní mia ) ............ 44 V ARE LA, Fer n a nd a ( act riz) ................ 119 V ARG AS , Zu l mir a (a ctr iz) .................. 119 V AS CO N CE LOS, Mo ta d e (p ub l ici s ta) ..................................................................... 226 4 Vít o r M a n uel (p er so na g e m d e A lg u é m te rá d e mo rr e r) ..................................... 253 P IISSI MI .................................................. 14, 17 Vlad i mi r (p er so na g e m d e À E sp e ra d e Go d o t ) ....................................................... 300 Vo lk sb ü h n e ( Al e ma n h a) ......................... 294 Vo z (A ) d a F ig u ei ra .................181, 182, 322 Vo z (A ) d a S e r ra (p er ió d ico ) ................. 96 Vo z (A ) d o Op e rá r io (p e rió d ico ) ......... 47 Vil a Fra nc a d e Xir a ( lo c alid ad e) ....... 263 Vil a Fra nc a d o Ca mp o (l o cal id ad e) .. 234 Vil a No va d e F a mal ic ão (lo ca lid ad e) 35 Vil a Re al ( lo ca lid ad e) ............................ 132 Vil a Re al d e S tº Antó n i o (lo ca lid ad e) .............................................................245, 318 Vil a Viço sa (lo c al id ad e ) ...... 197, 334, 340 VI LAR, Alb er to (a liá s J o sé Alb erto , acto r) .................................................316, 319 VI LAR, J ea n (1 9 1 2 -1 9 7 1 , acto r, en ce nad o r) .............................................. 295 VI LAR, Mar ia n a (a ctr iz ) ......................... 21 Vila rea len se (O ) (p erió d ico ) ......130, 132, 133 VI LE LA, An tó n io (1 9 0 4 -1 9 7 1 , ac to r) .......................... 15, 35, 70, 206, 246, 266, 329 VI LLAR ET , J o ão (1 9 1 3 - 1 9 6 1 , acto r) ..................................................................... 214 VIN CE NT IO D A VEN E T IA (a cto r) ..... 9 Vin t e (A s ) Mu lh er e s d o Rei (1 8 9 0 , T . Av e nid a) .................................................... 39 Vio la (p er so n a ge m d e N o ite d e R ei s ) ..................................................................... 299 Vi se u ( lo ca lid ad e) .... 12, 174, 175, 176, 178, 278, 282, 283, 290 VIT ALI ANI, I ta lia (ac tr iz) .................. 242 W W ALLE NST EI N, Car lo s (1 9 2 5 -1 9 9 0 , acto r, a uto r ) ...................................289, 319 Wa to a ............................................................... 34 W ILLI AMS, T en es se e ( 1 9 1 1 -1 9 8 3 , au to r) ......................................................... 296 Z Zacar ia s ( mú s i co a mad o r) ..................... 176 ZAMP E LLI, M ic h ael A. (a uto r) ..... 21, 23 ZE N ÓG LI O, J a i me (ac to r) ..................... 34 ZIT T E, P au lo (p se ud . Al b erto Ca le ia) 7 ZO LA, É mi l e Te re sa Ra q u in ......................................... 17 ZU AND OM ENE GO (a li ás R izzo , acto r) ............................................................. 9 ZU ANE D A T REVI XO ( acto r) ............... 9 4