Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Maria Aparecida Lucca Caovilla
(Orgs.)
A extensão
e a pesquisa
um caminho de mão dupla
entre comunidade
e universidade
A EXTENSÃO E A PESQUISA
um caminho de mão dupla entre
comunidade e universidade
Perspectivas
Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Maria Aparecida Lucca Caovilla
(Orgs.)
A EXTENSÃO E A PESQUISA
um caminho de mão dupla entre
comunidade e universidade
Chapecó, 2018
Reitoria
Reitor: Claudio Alcides Jacoski
Pró-Reitora de Graduação e Vice-Reitora: Silvana Muraro Wildner
Pró-Reitor de Pesquisa, Extensão, Inovação e Pós-Graduação: Leonel Piovezana
Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Márcio da Paixão Rodrigues
Pró-Reitor de Administração: José Alexandre de Toni
Diretor de Pesquisa e Pós-Graduação Stricto Sensu: Claudio Machado Maia
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem autorização
escrita do Editor.
E96
A extensão e a pesquisa [recurso eletrônico] : um caminho de
mão dupla entre comunidade e universidade / Lilian Beatriz
Schwinn Rodrigues, Maria Aparecida Lucca Caovilla (Orgs.).
-- Chapecó, SC : Argos, 2018.
281 p.: PDF [e-Book]. -- (Perspectivas, n. 15)
Contém Bibliografia
ISBN 978-85-7897-302-5
1. Pesquisa científica. 2. Ensino superior. 3. Extensão
Universitária. I. Título.
CDD: Ed. 23 -- 001.4072
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Coordenadora: Rosane Natalina Meneghetti Silveira
Conselho Editorial
Titulares: Clodoaldo Antônio de Sá (presidente), Cristian Bau Dal Magro (vice-presidente),
Leonel Piovezana, Rosane Natalina Meneghetti Silveira, Cesar da Silva Camargo,
Hilario Junior dos Santos, Ivo Dickmann, Claudio Machado Maia, André Luiz Onghero,
Gustavo Lopes Colpani, Cleunice Zanella
Suplentes: Rosana Maria Badalotti, Josiane Maria Muneron de Mello, Maria Assunta Busato,
Rodrigo Oliveira de Oliveira, Reginaldo Pereira, Idir Canzi
SUMÁRIO
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Apresentação
Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Introdução
Bernadete Maria Dalmolin
EIXO I
Direitos da cidadania
Laboratório de Línguas da Unochapecó: a contribuição da
extensão universitária para a formação da cidadania
Rosane Natalina Meneghetti Silveira
Luana Blasi da Silva
Maria Tereza Galeazzi Zanella
Pedagogia na Rua: a luta e o enfrentamento pelo direito do
brincar nos espaços comunitários
Aline Fátima Lazarotto
Larissa Henrique
Pesquisa, salvaguarda e comunicação do patrimônio cultural:
três décadas de atuação do Centro de Memória do Oeste de
Santa Catarina
André Luiz Onghero
Mirian Carbonera
Ademir Miguel Salini
Aline Bertoncello
SUMÁRIO
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Projeto de extensão comunitária jurídica:
transformação social com atitude!
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Carmelice Faitão Balbinot
Thalia Noeli Nicaretta
Texturas – aprendizagens com a leitura na educação básica
Márcia de Souza
Felipe Flores Kupske
Júnia Laíse Scheunemann Engel
Natalia Matiazzo
EIXO II
Movimentos sociais e participação
Assentamento Dom José Gomes e as relações comunitárias
Andreza Leticia Tessaro
Kaliandra Dara Marta
Teresinha Rita Boufleuer
Maria Carolina da Silveira Moesch
Desafios para o desenvolvimento da economia solidária
no território oeste catarinense
Graciela Alves de Borba Novakowski
Carlos Eduardo Arns
Andreia Casagrande Begnini
SUMÁRIO
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GTA – Grupo de Trabalho em Agroecologia: um desafio
epistêmico, político e prático
Carlos Eduardo Arns
Luis Henrique Rangrab
Oscar José Rover
Vagner Lopes da Silva
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
da Unochapecó – 13 anos de história
Carlos Eduardo Arns
Graciela Alves de Borba Novakowski
Scheila Girelli
Ana Maria Pereira Puton
Mulheres e cidadania: desafios políticos e emancipação da
condição feminina
Hellen Barella
Murilo Cavagnoli
Cristiane Tonezer
Teresinha Rita Boufleuer
Papel – Programa de Apoio a Processos Participativos
de Desenvolvimento Local e Regional: uma trajetória de
integração ensino-pesquisa-extensão na Unochapecó
Carlos Eduardo Arns
Colmar Domingues
Oscar José Rover
SUMÁRIO
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EIXO III
Educação e saúde
Educação em saúde com crianças e adolescentes:
um relato de extensão
Karen C. K. Andrigue
Alcimara Benedett
Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Curso de graduação em Fisioterapia e a extensão
Mark Andrey Mazaro
Michele Cristina Minozzo dos Anjos
Paula Zeni
Programa Sorriso para a Vida – projeto de saúde bucal
Georgia Verardi Anchieta
Integração da extensão com atividades de pesquisa e ensino
em comunidade: uma ação de arborização
Clarete Trzcinski
Félix Yan Boschetti
Gabriela Borges da Silva
Queila Ramos Giacomini
Ana Cristina Confortin
Adriano Dias de Oliveira
Sobre os autores
Créditos
Apresentação
A universidade é, por excelência, uma instituição social reconhecida como um lugar e tempo designado e privilegiado para a construção,
a reconstrução e a socialização do conhecimento. O processo educativo
que nela ocorre diz respeito à formação de profissionais e pessoas. Marcada pela tríade ensino, pesquisa e extensão (Brasil, 1988; Brasil, 1996)1,
a vida em sociedade reverbera em seu interior, numa dinâmica socialmente referenciada, pois, articulada às demandas emergentes de cada
época.
Inserida em contextos socioeconômicos complexos, a dinâmica
da instituição universitária tanto condiciona quanto é condicionada por
estes. O processo que nela se engendra está voltado à formação de um
determinado tipo de profissional e de um determinado tipo de pessoa.
Como fenômeno complexo e histórico, retrata e reproduz a realidade, assim como projeta uma determinada sociedade na qual vai apostar, por
intermédio do seu pensar e agir acadêmico. Ou seja, ao assumir estas ou
aquelas intencionalidades políticas e pedagógicas, os sujeitos da prática
definem a forma e os caminhos a serem trilhados, com mais ou menos
potencial à transformação e à emancipação humana.
A universidade assume papel preponderante em relação ao desenvolvimento e à transformação da vida; portanto, é preciso romper com
a manutenção do status quo e buscar ressignificar os saberes diante de
uma nova sociedade emergente, que deve reconhecer em cada pessoa um
sujeito de direitos e de compromissos, um cidadão que participa da vida
da comunidade, abrindo possibilidades para a reflexão política e filosófica sobre os acontecimentos e conhecimentos por ela veiculados. Esse
1 Brasil. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
Brasil. Ministério de Educação e Cultura. Lei n. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
desafio torna-se ainda maior no cenário brasileiro, em que vivenciamos
inúmeras ações marcadas pela negação, homogeneização, silenciamento,
marginalização e violências.
O fazer na universidade do século XXI necessita ser renovado,
reinventado; supõe, portanto, construir pontes, articular desejos e necessidades, propor iniciativas e projetos. Exige construir redes com outros,
tecer fios, uma vez que é preciso mais do que discurso, que dogmatismo, que teorias. A “[...] atividade educativa deve criar as possibilidades
de novas formas de compreensão da realidade e de renovadas formas
de interação com as pessoas e o mundo [...]”, destaca Dias Sobrinho
(2000, p. 50)2.
É no bojo desse processo que a extensão universitária vem se
configurando como um importante mecanismo para a consolidação dos
fins de uma universidade comprometida com seu entorno, que no caso
da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), diz
respeito ao seu fazer cotidiano, articulando saberes produzidos e sistematizados no âmbito da universidade às necessidades da comunidade, ratificando sua missão e visão institucional de produzir e difundir
conhecimento, comprometendo docentes e estudantes universitários e
a comunidade, reafirmando o compromisso com o desenvolvimento regional e a sua responsabilidade social.
Criada há mais de quarenta anos, a Unochapecó surge do movimento de diferentes setores da comunidade, motivado pela ausência do Estado na oferta do ensino superior na região. Em seus ordenamentos legais,
a extensão universitária é concebida como “[...] um princípio educativo e
uma estratégia de aprendizagem que deve perpassar os diferentes componentes curriculares e suas interfaces [...]”, objetivando, dessa forma,
“[...] fomentar e aperfeiçoar o diálogo entre o saber acadêmico e o saber
popular, entre a teoria e a prática, entre a comunidade e a universidade.”
2 Dias Sobrinho, José. Avaliação da educação superior. Petrópolis: Vozes, 2000.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
(Unochapecó, 2015)3. Circunscrita aos compromissos éticos, filosóficos,
políticos e pedagógicos dos cursos, deve permitir que os estudantes consigam se aproximar, agir, dialogar e (re)conhecer a realidade de seu futuro campo de trabalho.
Diante da natureza e diversidade do trabalho acadêmico, a extensão também tem assumido diferentes finalidades no plano institucional,
pedagógico e político desde seu surgimento no início do século passado
na Universidade de São Paulo (USP), passando pelo seu reconhecimento
como atividade-fim, até sua validação como preceito legal para a existência do ente universidade. Assegurada constitucionalmente, é cortejada
por alguns e desconsiderada por outros, oscilando entre seu caráter assistencialista, sua capacidade de mediar o processo entre sujeito cognoscente e o objeto a ser conhecido e seu potencial articulador das práticas e
das transformações sociais.
Nessa perspectiva, esta obra reflete as diferentes experiências e atitudes integracionistas, protagonizadas por docentes, técnicos e estudantes
extensionistas e pesquisadores em diferentes comunidades. Os trabalhos
relatam o esforço de um coletivo de pessoas que apostam na extensão e
sua relação, não como a imposição de um determinado conhecimento, mas
como uma forma de compreender o mundo e de construir alternativas aos
problemas reais. Retratam, portanto, a vida como ela é, buscando compreender melhor a sua própria realidade, ou seja, a vida sendo vivida.
Assim, os textos que integram esta coletânea reforçam e fortalecem
os laços articuladores da extensão, com a pesquisa e o ensino, demonstrando as formas, o propósito e a razão de ser e existir de cada projeto.
Além disso, proporciona aos estudantes o sentido do pertencimento, pois
são sujeitos e protagonistas de sua formação, bem como seus principais
socializadores.
3 Unochapecó. Conselho Universitário da Unochapecó. Resolução N. 053/CONSUN/2015.
Dispõe sobre a Alteração da Política de Extensão Universitária da Unochapecó. Chapecó:
Unochapecó, 2015.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
A obra foi dividida em três eixos, quais sejam: Direitos da cidadania;
Movimentos sociais e participação; e Educação e Saúde, reunindo 14 capítulos, produzidos pelos próprios professores, estudantes e técnicos, que
ressoam em múltiplas palavras, vozes e atitudes, que certamente contribuem para uma consciência mais cidadã, justa e humana, na construção
de um caminho de mão dupla entre a universidade e a comunidade.
Fica o nosso convite à leitura!
Prof.a Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Prof.a Maria Aparecida Lucca Caovilla
Organizadoras
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Introdução
A sistematização de experiências de extensão da Unochapecó ressalta o papel das Instituições Comunitárias de Educação Superior (ICES)
no fortalecimento e no resgate daquilo que constitui a gênese desses espaços educacionais: formar pessoas e produzir conhecimento, de forma
comprometida com as necessidades sociais, alavancando o desenvolvimento global e sustentável, em especial, das regiões onde se inserem.
Em um contexto muito diferente daquele que as originou (demarcado por vazios educacionais), as ICES estão mergulhadas em um cenário
cada vez mais competitivo e dominado pela economia global de mercado,
o que impõe a estas enormes desafios, dentre eles, “competir” com instituições mercantis de baixo custo sem abdicar da qualidade acadêmica, da
produção do conhecimento e do compromisso social. Fazer frente a essas
questões requer compreender a universidade na interlocução com o conjunto dos sistemas (educativos, econômico, social, cultural e ambiental),
percebendo a comunidade como expressão da sua cultura e como fator
fundamental para a busca de elementos significativos, traduzindo-os pedagogicamente em uma proposta de universidade e sociedade.
Mergulhados nesse universo, acreditamos que a Universidade Comunitária se faz pela capacidade de apreender, de responder, de inovar
pelo viés da inclusão e da cidadania, de confrontar com lugares pouco
confortáveis de um mundo em transformação – transformações essas que
guardam sutilezas, por vezes difíceis de serem acompanhadas ou decodificadas, sobretudo se não forem mediadas por olhares atentos e múltiplos, capazes de compreender as entranhas da vida e a complexidade dos
coletivos. Para isso, precisamos suplantar currículos burocráticos, elaborados para cumprir requisitos legais, e torná-los documentos “vivos”, em
torno dos quais a vida acadêmica possa acontecer e fazer sentido.
É mergulhado nesse contexto que emergem as “experiências extensionistas” da Unochapecó, que nos instigam a processos formativos
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
implicados e conectados ao território (que reúne o dentro e o fora das instituições, os sujeitos e seus coletivos, suas histórias, culturas e cotidianos,
suas resistências e formas sociais, afetivas, geográficas). Experiências
que, mesmo imersas no “mundo de informação” que captura o tempo e
provoca tantos automatismos, são capazes de bifurcações produtoras de
singularidades, heterogeneidades e pluralidades. A sistematização desses
“mundos vividos” oferecem pistas em direção a uma formação implicada, transversalizada, com novos processos de ensino-aprendizagem, num
momento em que as instituições de educação superior do País discutem a
inserção curricular da extensão (Plano Nacional de Educação 2014-2024).
O momento atual nos instiga a pensar nos desafios que temos, a começar por nós mesmos, trabalhadores da educação: desafios de repensar
nossos saberes, nossos jeitos de aprender e de ensinar, ensejando movimentos em prol de um modo de escapar aos parâmetros consensuais, de
mobilizar desejos, de produzir bens e conhecimento e fazê-los circular.
Essa é cada vez mais a fonte primordial de riqueza, em que podemos ser
“aprendentes” e “ensinantes”. A sabedoria é darmos passagem...
No Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Instituições Comunitárias de Educação Superior do Brasil (Forext), esses movimentos vêm produzindo sinergias potencializadoras, encorajando-nos
a fazer frente a um tempo e espaço-mundo hegemônicos que nos desafiam, cotidianamente, a buscar a superação de concepções fragmentadas
e distanciadas das realidades. Apostamos que as ações extensionistas das
ICES produzam saberes sensíveis e conectados a um conjunto de possibilidades decorrentes dos processos societais, criando, coproduzindo e difundindo conhecimentos e desenvolvimento. Desejamos a ampliação do
diálogo, das trocas e a consolidação de redes de cooperação, fortalecendo
espaços capazes de construir possibilidades em torno da integralidade,
da cidadania, da vida dos nossos povos.
Agradeço às/aos colegas da Unochapecó por partilharem conosco
um pouco das trajetórias percorridas em seus territórios, possibilitando a
maior circulação desses escritos pelas instituições de educação superior
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
brasileiras, na esperança de irmos construindo currículos mais porosos e
mais adequados às necessidades do nosso tempo.
Bernadete Maria Dalmolin
Coordenadora da Câmara Sul do ForExt –
Fórum Nacional de Extensão e Ação Comunitária das Instituições
Comunitárias de Educação Superior do Brasil.
Reitora da Universidade de Passo Fundo
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EIXO I
Direitos da cidadania
Laboratório de Línguas da Unochapecó:
a contribuição da extensão universitária
para a formação da cidadania
Rosane Natalina Meneghetti Silveira
Luana Blasi da Silva
Maria Tereza Galeazzi Zanella
Introdução
O Laboratório de Línguas (Lablin) é um projeto de extensão
do curso de Letras da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), que desenvolve ações de ensino, pesquisa e extensão e prestação de serviços. Aprovado em 2005, o laboratório
foi pensado a partir da construção do projeto pedagógico do curso
de Letras e oferece atividades relacionadas a línguas estrangeiras
e à Língua Portuguesa. Essas atividades incluem cursos de idiomas
em diversas línguas (português para estrangeiros, inglês, espanhol,
francês, alemão e italiano), tradução e versão de textos e aplicação
de provas de proficiência, além de atividades desenvolvidas em escolas públicas de educação básica. Todos esses serviços podem ser
acessados pela comunidade interna e externa.
Em relação aos objetivos do Lablin, desde a sua criação, seu
principal foco de atuação é promover o acesso ao conhecimento de
línguas. Outro propósito importante que fomentou o surgimento do
Lablin e concretiza todas as ações e serviços prestados pelo laboratório é a presença e atuação dos bolsistas e estagiários oriundos,
na sua grande maioria, do curso de Letras. Esses acadêmicos, além
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de contribuírem enormemente com o desenvolvimento das atividades, preparam-se para atuar nesses espaços e ainda fortalecem e
qualificam sua própria formação acadêmica. Esses acadêmicos são
coordenados e supervisionados por professores do curso de Letras,
o que os integra às experiências dos professores.
A estrutura física e de recursos humanos, bem como espaços
de atuação do Lablin, tiveram diversas adequações ao longo desses
mais de dez anos de atuação, sempre com o intuito de atender e adequar-se às demandas emergentes e contemporâneas. Atualmente o
Lablin caracteriza-se por dois segmentos, os quais, de certa forma,
são bastante distintos, pois as ações, os espaços e o público-alvo
são diferentes. Um desses segmentos é o trabalho com a comunidade acadêmica interna e externa; portanto, acontece nas dependências da Unochapecó e caracteriza-se basicamente pela prestação de
serviços (traduções, oferta de cursos de idiomas, aplicação de provas de proficiência) e busca ser autossustentável. Quanto ao outro
segmento, ele ocorre na comunidade externa, por meio de ações
(intervenções didático-pedagógicas, oficinas, produtos culturais,
ensino de Língua Inglesa, ensino de Língua Portuguesa) no ambiente escolar da rede pública de ensino. Para assegurar a execução do
trabalho proposto, o Lablin dispõe de apoio financeiro da própria
universidade para a compra de materiais e outras demandas necessárias para o desenvolvimento e viabilização das atividades.
Assim, o Lablin consolida um espaço que articula e desenvolve, de forma indissociável, atividades de ensino, pesquisa e extensão e considera os princípios descritos na Política de Extensão
da Unochapecó (2015), alinhados à Política Nacional de Extensão
Universitária (2012). Por isso, as ações primam pelo compromisso
com o desenvolvimento regional sustentável, pela troca de saberes,
pela produção do conhecimento científico e cultural, pela busca e
definição coletiva de prioridades identificadas pela vivência na coA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
munidade e pela formação acadêmica continuada dos acadêmicos
oriundos de cursos de graduação.
O histórico do laboratório assegura que há uma demanda latente para esse modelo de projeto, uma vez que proporciona a todos os participantes o aprendizado da língua materna (português)
e/ou línguas e culturas estrangeiras, o que é parte da formação cidadã, do acesso ao saber e da construção do conhecimento. O trabalho desenvolvido pelo Lablin é reconhecido e divulgado por meio
de publicações nacionais e internacionais e comunicações em seminários; foi tema de trabalhos de conclusão de cursos e deu origem a
cursos de pós-graduação lato sensu em tradução em língua estrangeira e ensino de Língua Inglesa.
Ensino-aprendizagem: formação
acadêmica e acesso ao saber
Descrever o Lablin e sua trajetória percorrida nesses mais
de dez anos é uma atividade que requer cuidado e reflexão, uma
vez que esse projeto consolida-se como referência local, regional
e nacional enquanto espaço promotor de ações caracterizadas
como prestação de serviço e contribui para a formação continuada
e acesso ao saber. Essa afirmação é possível, pois se baseia em informações e números – o Lablin recebe semanalmente candidatos
de diversas partes do Brasil, principalmente para a realização de
provas de proficiência (compreensão escrita), e isso só é possível
pela flexibilidade e prestatividade propiciadas.
O laboratório fortalece-se também pelas ações extensionistas desenvolvidas semanalmente nas escolas de educação básica
do sistema regular e público de ensino, as quais são recebidas com
respeito e valorizadas por todos os envolvidos no ambiente escolar.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Importante mencionar que as atividades de extensão desse projeto
estão articuladas com o projeto pedagógico do curso de Letras, o
que cria um impacto na formação dos acadêmicos de Letras, por
meio da inserção destes nas atividades de extensão, e no desenvolvimento dos acadêmicos, pois reconhece o estudante como protagonista de sua formação técnica.
Dessa forma, entende-se também que o Lablin promove e justifica-se pela geração de subsídios técnicos e científicos para o desenvolvimento de políticas de incentivo ao domínio de línguas estrangeiras na região de Chapecó (considerando a formação continuada
dos acadêmicos, o desenvolvimento de trabalhos científicos (TCCs),
criação e oferta de cursos de pós-graduação lato sensu, a participação e promoção de eventos técnico-científicos, entre outros).
Compreende-se, ainda, que o domínio de uma língua estrangeira é um requisito para a apreensão de determinado conhecimento
ou oportunidade profissional, como acessar programas do Governo
Federal que buscam promover capacitação, consolidação, expansão
e internacionalização, principalmente, da ciência e tecnologia, da
inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio
e da mobilidade internacional –, uma vez que esses programas exigem proficiência em línguas estrangeiras, predominantemente a
Língua Inglesa.
O Lablin consolidou-se, ainda, por meio de suas ações voltadas à formação do ser humano, isto é, o processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira não promove apenas o aprendizado de um código linguístico, esse processo amplia a comunicação
e a construção da representação da realidade e contribui para a formação do aprendiz como um todo.
Quando aprendemos uma língua estrangeira, compreendemos
que as palavras comportam significados culturais; assim, aprender
uma língua estrangeira significa atribuir sentido à realidade a parA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tir do conhecimento, da compreensão de cada indivíduo, e é nesse
sentido que o aprendizado de uma língua tem uma função educativa,
que vai além dos aspectos linguísticos, pois contribuiu para a formação da cidadania e da sua própria compreensão cultural.
Sabe-se que o domínio de uma língua estrangeira é um requisito para o sucesso profissional e para o acesso ao saber, considerando que 80% das instruções e dos materiais eletrônicos que
circulam em todo o mundo estão escritos em inglês, que 90% das
empresas no Brasil preferem candidatos com o domínio do idioma
e, ainda, que 80% das entrevistas são realizadas em inglês, segundo
apontou a pesquisa realizada pela Catho (2011).
De acordo com o Jornal do Brasil (2015), o inglês é usado,
atualmente, como nenhum outro idioma foi usado antes, pois somos
parte desse mundo da informação na sociedade global. Percebe-se
que o inglês transforma a vida de diversas pessoas, justamente por
permitir melhores oportunidades de acesso ao saber e ascensão
profissional. O domínio do inglês significa crescimento e desenvolvimento pessoal e profissional, pois promove melhores condições de
acompanhar as rápidas mudanças nesse novo e tecnológico século,
conforme reconhece a matéria do Jornal do Brasil, ao trazer que
[...] independentemente da área de atuação, os
profissionais precisam estar em constante busca pela ampliação de seus conhecimentos para,
assim, serem profissionais globalizados. Hoje em
dia, a fluência em outro idioma é tão importante
quanto à formação acadêmica. (Jornal do Brasil,
2015).
Assim, o aprendizado de uma língua envolve diversos fatores,
entre eles, a identificação das necessidades do aprendiz. Portanto,
toda proposta de ensino deve valorizar o conhecimento prévio dos
participantes e, assim, conduzir a prática pedagógica de modo a suA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
prir essas necessidades e desenvolver a competência comunicativa
dos estudantes, tendo por base estudos teóricos que afirmam que o
ensino a partir da realidade do aprendiz pode ser o caminho mais
bem sucedido em termos de interesse, motivação, criação de sentido para uma aprendizagem eficaz.
Levando em conta o papel social do professor de línguas
como educador e fomentador social e cultural (Richards; Renandya,
2010), a necessidade de uma formação qualificada e a carência do
mercado no tocante a profissionais capacitados, é necessário que o
estudante de línguas transforme-se e continuamente reflita sobre
sua formação docente, desde o momento na sala de aula, bem como
por ocasião da sua formação em outros espaços como projetos de
extensão. Esse movimento de formação e reflexão requer conhecimento sobre os processos socioculturais, educacionais, psicolinguísticos e cognitivos envolvidos na aprendizagem/aquisição de
uma língua estrangeira, o que pode ser identificado na proposta de
trabalho desenvolvida pelo Lablin.
Nessa perspectiva, a comunicação é necessária para a apropriação de conhecimentos historicamente construídos. Sendo assim, quanto mais conhecimento, mais possibilidades de interação
e de ampliação do saber acerca de outros universos culturais e de
contribuição para a transformação social. E a linguagem é por excelência o sistema que permite organizar e desenvolver pensamentos,
é a capacidade humana de comunicar-se e tornar a vida mais sociável. Consequentemente, é por meio das línguas que os povos se
aproximam e conhecimentos são transformados. E é tendo esse entendimento como fio condutor que se pretende, a partir desse momento, contribuir, por meio de uma reflexão teórica, sobre alguns
pressupostos acerca do ensino-aprendizagem de línguas e suas implicações na formação de cidadãos, uma vez que os dois segmentos
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
que constituem o Lablin, com suas características e ações específicas, estão imbricados no processo de construção do conhecimento.
Um dos aspectos inerentes ao processo de ensino-aprendizagem é a interação. Assim, antes de qualquer outra afirmação, reconhece-se que a língua de um país é pertencente a ele, é dissociada
da sua cultura e os nativos têm o dever natural de sabê-la para que
haja comunicação, e isso consequentemente se consolida por meio
da interação/socialização. Sendo assim, o estudante é visto como
um ser social e seu processo de ensino-aprendizagem é individual
e depende de sua interação com o meio social em que está inserido. A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998) baseava-se nos
estudos de Vygotsky, os quais propõem que o processo de aprendizagem de uma língua deve-se ao conceito de mediação que associa
o desenvolvimento mental de uma criança à linguagem, e isto ocorre em um processo sócio-histórico. Fundamentada em Vygotsky, a
Proposta Curricular de Santa Catarina afirma que “[...] é fazendo
sentido que a linguagem opera sobre o sujeito, fornecendo-lhe uma
imagem da história de sua cidade.” (Santa Catarina, 1998, p. 48). Assim, é na interação entre sujeito e sociedade que o aluno associará
o aprendizado de uma língua e da sua cultura.
Ainda em relação à interação do sujeito, conforme proposto
por Vygotsky (Rego, 2000), o grande inspirador e teórico dessa perspectiva mundialmente difundida como teoria sociointeracionista
e/ou sociocultural, tem-se o entendimento de que a aprendizagem
na sala de aula deve ser mediada pelo professor, e ocorre através
da interação dos sujeitos e desses com o texto, atualmente mediados pelos recursos tecnológicos. Isto é, “[...] na interação presencial
ou através da tecnologia e da mídia, revelando-se fundamentais em
interações transnacionais de natureza sociocultural, política e econômica em tempos de globalização.” (Santa Catarina, 2014, p. 106).
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
A interação no ensino de línguas aparece, então, como um dos elementos principais para que a interlocução ocorra como esperado.
Considerando que as ações do Lablin também se caracterizam
como oportunidades para a formação continuada dos estudantes enquanto bolsistas e estagiários desse projeto extensionista, e também
podem, de certa forma, assegurar a permanência desses acadêmicos no curso de Letras por despertar interesse por esses espaços de
atuação prática diferenciados, acredita-se que essa vivência coloca
em prática o conhecimento teórico adquirido durante a graduação.
Enquanto base teórica para o ensino e o aprendizado de
línguas, primeiramente, e conforme mencionado anteriormente,
tem-se a compreensão de que a linguagem se dá unicamente pelo
ato de interação entre os sujeitos e somente por ele, sendo assim,
dinâmico e ininterrupto. O contato entre os interlocutores que dinamicamente interatuam dá-se pela linguagem, que é o principal
sistema simbólico de todos os grupos humanos. Dessa maneira, o
homem só passa a ser cultural (sócio-histórico) com a formação de
suas vivências, que, por sua vez, acontecem do externo para o interno, assim sendo: do social (interpsíquico) para o individual (intrapsíquico) (Rego, 2000).
Nessa perspectiva, o estranhamento que a língua estrangeira causará no indivíduo ainda propiciará uma interlocução extremamente rica para o desenvolvimento do sujeito, que passará
a questionar sua própria língua e cultura face ao diferente que se
lhe apresenta. Para que se chegue à interlocução e à obtenção dos
resultados faz-se necessário que sejam discutidas as formas pelas
quais a língua materna e/ou estrangeira entra em sala de aula, sua
relação com o método do professor de línguas e o objetivo que se
tem em mente ao aplicar o método.
De acordo com Shumin (2010), aprender uma língua requer
muito mais que conhecimento gramatical e saber regras. Deve-se
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compreender como a linguagem é utilizada pelos seus falantes nativos, quais são os contextos e estruturas. “Falar uma língua é especialmente difícil para aprendizes de uma língua estrangeira porque a comunicação oral eficaz requer a habilidade de usar a língua
apropriadamente em interações sociais.” (Shumin, 2010, p. 204,
tradução nossa).
As atividades desenvolvidas pelo Lablin buscam desenvolver
a competência comunicativa dos participantes, isto é, o aprendizado de línguas de forma a preparar o estudante para suas diferentes
necessidades comunicativas, e isso engloba, na maioria das vezes, a
compreensão oral e escrita (listening e reading) e a produção oral e
escrita (speaking e writing). Portanto, quando se fala aqui de leitura
(reading), por exemplo, fala-se de atribuir sentido ao texto lido; e
quando se fala de compreensão escrita, refere-se a uma habilidade
que deve ser ensinada em estágios progressivos e praticada regularmente com bons materiais. “[...] ler significa ler e compreender.” (Ur,
1997, p. 138, tradução nossa). Ou, ainda, “[...] o texto por si só não
carrega significado. O leitor traz informação, conhecimento, emoção, experiência e cultura à palavra impressa.” (Brown, 2000, p. 299,
tradução nossa). Essa interação produz informação e conhecimento.
A leitura, por muito tempo, foi compreendida como uma atividade passiva. Hoje, no entanto, a leitura é reconhecida como um ato
de interação entre o leitor e o texto, uma vez que é por meio desse
diálogo que a informação contida no texto passa a ter existência.
Sendo assim, o leitor é responsável por atribuir sentido ao texto, o
qual, de certa forma, foge ao controle do próprio escritor, em outras
palavras, muitas vezes, o sentido de partes do texto pode ser alterado pelo próprio leitor, e isso decorre por vários fatores, principalmente pelas suas experiências prévias de leituras e conhecimento
de mundo. Quando lemos, precisamos entender o significado do
texto, e não somente o significado de cada palavra.
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Nessa perspectiva, é importante considerar que, na maioria
das vezes, as práticas de leitura ocorrem por meio do uso de diferentes estratégias de leitura (Nunan, 1999) utilizadas pelo leitor ao
longo do processo de compreensão e atribuição de significado ao
texto. Isto é, o leitor utiliza-se de processos mentais e operações
para aprender e então comunicar. Necessário lembrar que algumas
dessas estratégias são usadas de forma inconsciente e algumas podem variar de leitor para leitor. Sob essa concepção, “[...] ao escolher as melhores estratégias para diferentes textos e propósitos, é
possível ao leitor de segunda língua aumentar sua velocidade de
leitura e sua compreensão textual significativamente.” (Nunan,
1999, p. 265, tradução nossa).
Figura 1 – Momento de atividades de leitura
Fonte: arquivo pessoal das autoras.
Entende-se que a leitura é essencial, pois promove a compreensão de mundo e da realidade, sendo assim, a compreensão
textual normalmente é o contexto para desencadear as ações do
Lablin, não em detrimento às demais práticas – produção oral e
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escrita e compreensão oral –, mas por entender que as atividades
de compreensão escrita promovem discussões, interpretação, aquisição de vocabulário, sensibilização, e geram interesse pela busca
autônoma do conhecimento, contribuindo, assim, para a formação
crítica dos estudantes.
Outro elemento presente em quase todas as aulas de língua
estrangeira é a tradução, seja ela oral por parte do professor ou do
estudante, seja ela escrita, muitas vezes solicitada como tarefa ao
estudante pelo professor. Esteve muito presente no início da história do ensino de línguas na década de 1940, isto é, foi reconhecida como um dos primeiros métodos de ensino por muitos estudos teóricos, depois, por muito tempo, foi banida da sala de aula
e, atualmente, de acordo com alguns teóricos, é reconhecida como
a quinta habilidade linguística (as outras seriam a compreensão e
produção escrita e a produção oral e escrita). Nesse sentido, Laranjeira (1993) discute ainda a necessidade de se reproduzir, na
língua de chegada, a “gramática da significância” do texto original
– isto é, a homogeneidade de conteúdo e forma que caracterizam o
trabalho do artista da palavra – o autor/o tradutor. A proposta de
trabalho do Lablin em relação à tradução é reconhecê-la enquanto
possibilidade de ensino-aprendizagem desde que consideradas as
especificidades e objetivos de cada grupo de estudantes. O projeto
reconhece a importância da tradução e, por isso, desenvolve-a sempre que possível e em favor do aprendizado eficaz.
Seria possível discorrer aqui sobre a história, origem e característica dos métodos e abordagens de ensino tentando defini-los
considerando, no entanto, não como um método “correto”, e sim
possibilidades mais assertivas dependendo de cada situação de
aprendizagem. Entendemos que o mais importante aqui é reconhecer que as ações de extensão do Lablin vão promover a formação
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continuada aos estudantes de Letras, pois sabe-se que os métodos
de ensino contribuem para a definição de determinada “atitude pedagógica” e a opção por determinado método ou abordagem para
a execução das atividades do Lablin estarão sempre pautados nas
especificidades dos estudantes (interesses e necessidades).
Desse modo, sabendo-se que não há um “método soberano”
e que a escolha por uma metodologia está fortemente vinculada
às explicações e à compreensão do processo de aquisição da linguagem, utilizam-se conceitos como mediação, interação, zona de
desenvolvimento proximal, isto é, a distância entre aquilo que o
aprendiz é capaz de fazer de forma autônoma e aquilo que realiza em colaboração com os demais indivíduos do seu grupo social
(Lima, 2009) são eixos que constituirão o trabalho com os aprendizes, tanto na Unochapecó quanto na escola de educação básica.
É válido mencionar aqui que, do ponto de vista da perspectiva
sócio-histórica, as preocupações e inovações metodológicas refletem o reconhecimento das mudanças em relação ao que se entende por ser proficiente em Língua Inglesa, isto é, em determinado
momento, a fluência oral era necessária, e, por isso, normalmente fosse atribuída à competência comunicativa ao ato de falar uma
língua estrangeira (Richards; Rodgers, 2001). No entanto, no contexto atual, tem-se, exceto algumas especificidades, a necessidade
de uma formação e apropriação mais ampla do domínio de Língua
Inglesa – fala, escrita, leitura e escuta –, as quais são habilidades
linguísticas a serem desenvolvidas por meio de práticas de linguagem. Retomando que, no tocante às habilidades desenvolvidas, são
propostas atividades de compreensão e produção escrita e compreensão e produção oral, ou seja, o desenvolvimento das quatro
habilidades linguísticas (ler, falar, ouvir e escrever) que abarcam a
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capacitação do estudante para que esse possa de fato adquirir competência comunicativa em Língua Inglesa.
De modo geral, deve-se considerar o contexto histórico-social
em que o aluno está inserido para que seja possível efetuar um trabalho mais significativo. Considerando que o próprio cotidiano da
vida é repleto de modificações físicas e emocionais, as quais devem
ser acolhidas de forma humanizada. Desse modo, as práticas pedagógico-didáticas devem ser pensadas para que o estudante possa
de fato utilizar o conhecimento transformado em sala em um contexto real, isto é, para que haja aprendizagem é necessário que o
ensino seja significativo para aquele que aprende.
Por isso, o trabalho desenvolvido pelo Lablin sofre reflexão
cotidiana – é um redirecionamento pedagógico para assegurar a
formação de seres humanos, com suas necessidades específicas e
que não sofrem somente alterações impostas pelo meio, mas que se
permitem, também, inseridas nesse meio, contribuir para que haja
mudanças significativas na comunidade e na própria vida.
A Proposta Curricular de Santa Catarina (1998) afirma que
algumas habilidades devem ser trabalhadas com mais afinco que
outras considerando o tempo limitado tanto para instrução em
sala quanto para a consolidação fora da sala. Sob esta perspectiva,
a proposta do Lablin é contribuir com um ensino-aprendizado que
contemple, no caso do espaço escolar, as habilidades menos enfatizadas, promovendo práticas de linguagem capazes de transformar
esse conhecimento, aliado, claro, à contextualização. Em relação às
demais ações de ensino-aprendizagem do Lablin, consideram-se
sempre as necessidades dos estudantes.
Nas aulas de língua estrangeira, promovidas pelo Lablin na
Unochapecó e/ou na EEB, a oralidade funciona como meio de interação entre os alunos, eles devem fazer o uso daquilo que aprenA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
deram e testarem seus conhecimentos. Assim como na Língua
Portuguesa, não se pode separar a fala da escrita, visto que uma
habilidade leva ao uso da outra. De acordo com os PCNs de Língua
Estrangeira (1998), a oralidade é um ponto importante na aula, em
que os alunos conseguirão executar o que aprenderam. Considera-se, também, que se forem dados assuntos associados à realidade
do aluno, essa produção de oralidade fluirá melhor, pois terá um
subsídio concreto para assimilar o conhecimento.
Em relação à produção oral, o processamento de fala fornece
importantes percepções no aprendizado de uma língua estrangeira.
Então, em uma situação real de fala na sala de aula, para melhor auxiliar na compreensão, o tempo que os alunos demoram a formular as
frases ou mesmo pensar em outra língua deve ser respeitado. Desse
modo, a audição dos aprendizes é facilitada e faz com que se sintam
confortáveis em compartilhar o que entendem. Isso demonstra o
quão importante é a prática da oralidade – speaking – em sala, para
que o aluno se familiarize com os sons diferentes da outra língua.
Sob a perspectiva do sociointeracionismo, deve-se partir sempre da
realidade do aluno para que se sinta bem à vontade e assim ocorra o
cumprimento do objetivo do professor, que é o aprendizado.
Assim, professor tem de se acostumar a sair de cena, precisa
deixar de ser o centro da aula para desempenhar o papel de mediador, facilitador, guia, de modo que o estudante possa atuar como
o centro da aula e assim tornar-se um sujeito ativo de seu próprio
aprendizado (Brasil, 1998, p. 60).
Considerações finais
Diante da discussão apresentada tanto no que se refere à consolidação do Lablin nesse percurso de mais de dez anos, quanto às
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questões teóricas que norteiam o ensino-aprendizagem de línguas
e a formação acadêmica continuada, pode-se considerar que o ensino, a valorização e o reconhecimento da apropriação de uma língua
perpassam várias questões políticas, culturais e sociais que interferem e podem modificar o ambiente escolar incluindo o próprio estudante. Ou seja, há diversos elementos que demarcam o contexto
de ensino-aprendizagem, e sabe-se que diversas práticas merecem
apoio e reconhecimento. No entanto, algumas carecem de melhorias e, muitas vezes, há ausência de interesses dos mais diversos
atores envolvidos – quando não há qualidade no ensino proposto
–, porém, há falta de comprometimento dos estudantes e de interesses daqueles que poderiam mudar a qualidade da educação por
meio da criação de políticas de investimentos na formação docente
e qualidade do ensino.
Em relação aos propósitos do Lablin, pode-se destacar que o
trabalho realizado tem sido uma intervenção de suma importância
na formação dos acadêmicos de Letras e na formação integral dos
estudantes das escolas públicas de ensino regular e dos demais estudantes e público interno e externo que buscam o Lablin para sua
qualificação ou formação continuada. Essa relevância é reconhecida uma vez que as ações do Lablin fomentam o aprendizado de
línguas o qual permite o acesso à ciência, ao mundo dos negócios,
forma cidadãos críticos e reflexivos e nos permite viajar e conhecer
outras culturas por meio do conhecimento linguístico.
Assim, acredita-se que a extensão torna possível, sim, o desenvolvimento de uma prática indissociável entre o tripé da universidade – ensino, pesquisa e extensão. Percebe-se que o processo de
ensino-aprendizagem possibilita o desenvolvimento de ações de cidadania junto às escolas públicas, levando, assim, aos estudantes a
possibilidade de conhecer a cultura do outro por meio de atividades
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práticas, permitindo a esses estudantes um melhor desempenho
escolar e um aprendizado mais qualificado com o apoio da universidade. Quando esse processo desenvolve-se por meio de ações de
prestação de serviço dentro da própria universidade, confirmam-se
diferentes possibilidades que uma língua pode ter na contribuição
para a formação humana.
A partir desse caminho percorrido – mais de uma década de
promoção do ensino-aprendizado de línguas nos mais diversos formatos –, o Lablin constrói diariamente a sua história extensionista
pautada na responsabilidade e inovação, procurando construir seu
modo único de ver, de entender e de praticar a indissociabilidade
entre os três eixos que nos constituem enquanto universidade.
Por meio de suas ações, o Lablin procura manter-se o mais
próximo da sociedade investigando e auxiliando no atendimento
das necessidades da comunidade na qual está inserido. Assim, os
acadêmicos, por sua vez, também constituem-se em sujeitos sociais
e capazes de dialogar como diferentes espaços sociais.
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Pedagogia na Rua:
a luta e o enfrentamento pelo direito
do brincar nos espaços comunitários
Aline Fátima Lazarotto
Larissa Henrique
Introdução
“Mesmo em Raissa, cidade triste, corre um fio invisível que liga um ser vivo
a outro por um instante e a seguir se desfaz, e depois torna a estender-se
entre pontos em movimento desenhando novas rápidas figuras de modo
que a cada segundo a cidade infeliz contém uma cidade feliz
que nem sequer sabe que existe.” (Ítalo Calvino, 1999).
Tendo como parâmetro o Artigo 207 da Constituição Federal,
que garante que “é princípio da universidade a indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão”, a busca pela garantia deste torna-se tarefa de todos que constituem a universidade. É nesse contexto que os projetos de extensão se configuram enquanto ações
efetivas vinculadas ao processo de formação e de geração de conhecimento. Esse processo é mediado pela relação dialógica entre
os diferentes sujeitos que fazem parte desse processo. Assim, compreende-se o dialógico a partir de Freire (1983, p. 28):
Ser dialógico é não invadir, é não manipular, é
não sloganizar. Ser dialógico é empenhar-se na
transformação constante da realidade. Esta é a
razão pela qual, sendo o diálogo o conteúdo da
forma de ser própria à existência humana, está
excluído de toda relação na qual alguns homens
sejam transformados em ‘seres para outro’ por
homens que são falsos ‘seres para si’. Reiteramos
que o diálogo não pode travar-se numa relação
antagônica. O diálogo é o encontro amoroso dos
homens que, mediatizados pelo mundo, o ‘pronunciam’, isto é, o transformam, e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos.
Na tentativa de construir relações dialógicas entre os diferentes sujeitos, a universidade torna-se um espaço social, que deve
responder a seu meio, e não alguém que apenas serve, deslocado
da sociedade. Nessa direção, destacam-se as contribuições de Sampaio (2005, p. 98):
Assim, pensar em uma universidade socialmente
referenciada em um projeto de sociedade é pensá-la como agente de transformação humana e
social, que supera a pseudoneutralidade do conhecimento, e a situa em sua natureza política,
dentro do contexto geral da sociedade em que
estamos inseridos.
Ao pensar neste projeto, o conceito de indissociabilidade se
destaca enquanto espaço privilegiado que dá sentido aos fazeres
pedagógicos. Nessa direção:
A extensão é uma espécie de ‘tempero ético’ que
pode dar sabor de vida ao ensino e à pesquisa
visando a se ter uma universidade socialmente
referenciada nos princípios da justiça, da igualdade e dignidade. Faço a alusão ao ‘tempero’ porque ele remete à sensação do ‘sabor’, uma palavra que, na língua grega, tem a mesma origem da
palavra ‘saber’. (Sampaio, 2005, p. 104).
No desafio de promover a indissociabilidade, este artigo busca refletir sobre o projeto de extensão Pedagogia na Rua, que desde
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2006 vem realizando experiências extensionistas junto à comunidade na tentativa de dar sentido às ações realizadas pelo curso
de Pedagogia da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó). As discussões em torno da valorização do brincar
e a ressignificação de brinquedos e brincadeiras foram as motivações que levaram os docentes desse curso a pensar em propostas
de articulação entre ensino, pesquisa e extensão, com o objetivo de
realizar uma prática educativa que visa a emancipação dos sujeitos
e acredita na formação como espaço privilegiado para transformações concretas da realidade.
Assim, como o fio condutor da cidade de Raissa, como destaca
Calvino, o curso de Pedagogia acredita que em meio à conjuntura
atual podem existir novos pontos desenhando novas possibilidades
e alegrias, além disso, a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão presente na política desta universidade pode ser o caminho para mudanças profundas na comunidade.
Ao longo de dez anos de atuação, o projeto de extensão Pedagogia na Rua vem tecendo novos fios, com a comunidade local,
e, principalmente, possibilitando aos futuros pedagogos espaços
de formação que ultrapassam a sala de aula. Atualmente, o projeto Pedagogia na Rua tem como objetivo: promover experiências
do brincar em diferentes espaços da comunidade, ressignificando
a cultura lúdica da brincadeira e significando jogos, brinquedos e
brincadeiras clássicas. Dessa forma, promove a valorização da cultura local e regional de comunidades em situação de vulnerabilidade, comunidades que nem sempre têm acesso a espaços de cultura
e lazer, devido às condições econômicas e sociais em que se encontram. Além disso, procura desenvolver ações envolvendo crianças
na garantia de seus direitos, principalmente, o direito de “ser criança”. Esse projeto constitui-se numa ação itinerante de intervenção
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educativa, pois possibilita aos diferentes sujeitos apropriar-se de
novos saberes, experiências, habilidades e, dessa forma, socializar.
Através das brincadeiras, jogos e produção de brinquedos,
crianças e adultos ressignificam suas vivências, aprendizados. Entende-se aqui a brincadeira como processo de inserção e compreensão de mundo, descobertas e de autorrealização, junto a outras atividades que venham a realizar no dia a dia. Na brincadeira, crianças
e adultos criam, produzem conhecimento, experiências e novas formas de perceber o que os cercam. É de fundamental importância
desenvolver ações para garantia dos direitos, além de possibilitar
um projeto que atenda as necessidades de cada comunidade a partir de atividades pedagógicas envolvendo o lúdico e a brincadeira.
O projeto Pedagogia na Rua é vinculado ao programa de extensão “Experiências do Brincar”, que tem como objetivo ressignificar brincadeiras nos diversos espaços e contextos, num processo
de mobilização cultural para a formação humana, emancipatória e
cidadã dos sujeitos. Por meio de atividades lúdicas permeadas por
brincares, o programa dialoga com a comunidade, na tentativa de
interligar, através do brincar, os diferentes saberes dos indivíduos
para permitir a experiência humana de socialização.
Metodologia
O projeto Pedagogia na Rua pretende divulgar a cultura lúdica
do brincar em locais previamente agendados, sendo eles escolas,
praças e centros comunitários, além de caracterizar uma atividade
itinerante que pode ser realizada em espaços diferentes. Para realizar a divulgação do projeto e o agendamento das atividades, são
realizadas visitas nos espaços, a fim de organizar com a comunidade a realização das ações propostas.
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As atividades são primeiramente planejadas entre coordenador do projeto e bolsistas, tendo sempre enquanto fio condutor
a experiência do brincar enquanto uma atividade humana. Assim,
organizam-se espaços, brinquedos e brincadeiras de acordo com os
sujeitos envolvidos. São organizados nos atendimentos, conforme
a especificidade, ateliês de produção de brinquedos, espaços com
jogos clássicos, contação de histórias, brincadeiras ao ar livre, como
pipas, bolas, bolitas, entre outros. Também são organizados espaços com brincadeiras dirigidas, atendendo não somente as crianças, mas todos os sujeitos que estiverem participando.
Os brinquedos e demais materiais utilizados no projeto são
adquiridos conforme as pesquisas e o andamento das atividades,
levando em consideração sempre a necessidade e especificidade
dos envolvidos. Os brinquedos produzidos nos ateliês de produção ficam com os sujeitos. Durante as atividades propostas, são
organizadas rodas de conversa para realização da avaliação contínua das propostas estabelecidas neste projeto. O Pedagogia na Rua
atendeu, no primeiro semestre do ano de 2016, os seguintes espaços: Abrigo Municipal, Centro Comunitário dos Idosos, instituições
de educação infantil e de ensino fundamental municipal e estadual,
praças comunitárias, Seminário de Educação Ambiental para a Infância da Unochapecó, atividades com movimentos sociais, instituições de educação na comunidade Indígena da região, entre outros.
As atividades são mediadas pela bolsista do projeto.
Aproximações teóricas
O brincar constitui-se como produto da sociedade dotado
de traços culturais específicos, um elemento revelador de cultura,
inserido em um sistema social. Desse modo, o brincar está preA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
sente nas sociedades bem antes de tornar-se um objeto científico
e ideológico.
Com os avanços das sociedades em âmbitos culturais, o brincar foi ganhando novas formas e significados. Presente na vida tanto de seres humanos quanto de animais, o “jogo” ganha uma conotação na existência humana muito além do fenômeno fisiológico.
Os humanos não brincam apenas por reflexo, mas como forma de
socialização, ou seja, o brincar é um elemento da vida humana que
se constitui como base da própria civilização. As alterações sociais
que caracterizam a nova sociedade moderna no início do século
XIX, e que serão o ponto de partida para as novas realidades contemporâneas, modificarão profundamente a forma de ver a brincadeira e seu elemento fundamental que é o brinquedo. Walter Benjamin (2002) destaca que a emancipação do brinquedo vai distanciar
decididamente o brinquedo das relações entre crianças e adultos,
tornando-se até estranho para esses.
O autor afirma que:
Por outro lado, ninguém é mais sóbrio em relação
aos materiais do que crianças: um simples pedacinho de madeira, uma pinha ou uma pedrinha
reúnem na solidez, no monolitismo de sua matéria, uma exuberância das mais diferentes figuras.
E ao imaginar para crianças bonecas de bétula ou
de palha, um berço de vidro ou navios de estanho,
os adultos estão na verdade interpretando a seu
modo a sensibilidade infantil. Madeira, ossos, tecidos, argila, representam nesse microcosmo os
materiais mais importantes, e todos eles já eram
utilizados em tempos patriarcais, quando o brinquedo era ainda a peça do processo de produção
que ligava pais e filhos. (Benjamin, 2002, p. 92).
Pode-se considerar que as brincadeiras e brinquedos são,
hoje, elementos primordiais na vida dos seres humanos. Não soA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
mente para a criança, a brincadeira alimenta o prazer e a felicidade
humana, isso porque brincar garante para o sujeito certo distanciamento do real. O brinquedo é marcado por seu valor simbólico
e desempenha uma função na brincadeira. De acordo com Gilles
Brougère (2000, p. 14):
O brinquedo é assim, um fornecedor de representações manipuláveis, de imagens com volume: está aí, sem dúvida, a grande originalidade
e especificidade do brinquedo que é trazer a terceira dimensão para o mundo da representação.
As brincadeiras são mediadas não só por um simples momento de “lazer”, mas refletem uma imagem social da sociedade.
Ao brincar, a criança se apropria de elementos culturais presentes
no meio no qual está inserida. A criança não se encontra fielmente
diante do mundo real, mas de uma imagem cultural; ao manipular os brinquedos, ela manipula significações culturais originadas
numa determinada sociedade (Brougère, 2000, p. 43).
Nessa direção, é possível considerar que a brincadeira é: “[...]
uma mutação do sentido, da realidade: as coisas aí tornam-se outras... é um espaço à margem da vida comum, que obedece a regras
criadas pelas circunstâncias daquilo que aparentam.” (Brougère,
2000, p. 101).
Trazer as brincadeiras para os diferentes espaços da comunidade e ressignificá-la, não só para o público infantil, e sim para diferentes sujeitos, torna-se um desafio em tempos de esvaziamento de experiências significativas. Vive-se hoje em um tempo sempre acelerado,
desse modo, as relações sociais estão cada vez mais marcadas pelo
distanciamento dos sujeitos. Portanto, trazer a experiência do brincar
para junto das pessoas é repensar nossa condição humana e transformar espaços esquecidos em possibilidades de socialização.
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O projeto de extensão Pedagogia na Rua busca em suas ações
redescobrir no brincar uma forma viva de socialização, tão importante para a humanidade. Tem, também, como fio condutor a busca
por experiências significativas na vida dos sujeitos, que possa de
alguma forma repensar a realidade que, muitas vezes, se apresenta
como embrutecedora nas relações sociais.
Amparando-se no conceito de experiência de Benjamin, busca-se uma experiência concreta, enquanto uma forma de apropriação social e individual, permitindo uma relação dialética entre sujeito e mundo, num movimento de transformação simultâneo.
Bondía (2002, p. 2), ao definir experiência, destaca que:
A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que
acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada
nos acontece. Dir-se-ia que tudo o que se passa
está organizado para que nada nos aconteça.
Reconhecendo que o contexto atual se resume, muitas vezes,
em realidades que pouco valorizam espaços de interação e socialização, o autor evidencia a “pobreza de experiência” como identidade cultural dos indivíduos. Pensar nesse fato é pensar nas possibilidades de enfrentamento que, principalmente, a educação precisa
fazer para constituir práticas sociais mais humanas que possibilitem aos sujeitos uma vida repleta de experiências, não uma experiência reduzida a acontecimentos ou experimentos, mas algo que
realmente transforme a subjetividade dos sujeitos.
Bondía (2002) define que, muitas vezes por falta de tempo,
nesta vida sempre frenética, com trabalho demasiado e, principalmente, o excesso de informação, o sujeito acaba por consumir
experimentos, e não o experimentar no sentido profundo da expeA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
riência. Como destaca o autor, a experiência deve ser aquilo que me
passa, algo irredutível, que fica e transforma.
Nessa corrente de pensamento, é importante destacar um dos
princípios da experiência, que é a transformação e pensar na relação desta com a educação. Se compreendemos a educação enquanto
prática social que tem como objetivo mudar as condições concretas
de vida como instrumento de emancipação humana, podemos fazer
dos espaços de formação um lugar efetivo para legitimar transformações sociais.
Ao propor as atividades brincantes enquanto possibilidade de
interação social, socialização, ter-se-á uma experiência relacionada
à formação, uma formação que busca dar lugar à sensibilidade atravessada pela alteridade. Trazer isso para as práticas extensionistas
torna-se um desafio frente às realidades, muitas vezes, desumanas,
burocráticas e que não valorizam as brincadeiras como elemento
da cultura humana e lugar possível para experiências.
Esse é o enfrentamento que a educação tem em tempos de
enfraquecimento das forças coletivas, onde tudo se vende e tudo se
compra, de lutar contra qualquer forma de dominação e opressão,
principalmente, naquilo que nos desumaniza, para que a tarefa da
educação seja a transformação social e emancipatória.
O desafio posto à educação, em tempos tão repletos de barbáries, traz inúmeras reflexões, reconhecemos que as atividades realizadas pelo projeto de extensão Pedagogia na Rua precisam ampliar
para que realmente as transformações ocorram; cada ação planejada é repleta de desafios, porém, reconhecemos o quanto é difícil
pensar e fazer uma educação emancipatória e humana. Nesse percurso, muitas questões surgem, com as contribuições de Kramer
(2000, p. 5):
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Como pensar a formação neste final de século,
numa direção em que se repense o passado, a
mixórdia e os despojos da cultura? Como defender e atuar numa perspectiva de formação cultural crítica, sem perder de vista que a cultura
se construiu e fortaleceu como monumento de
barbárie? Como manter a utopia e a esperança
de tecer solidariedade, generosidade e justiça
social, contra a discriminação do outro, pelo reconhecimento das diferenças de todos os tipos,
a não ser escovando a história a contrapelo, ou
seja, na direção contrária à dominação, à cultura
legitimada como correta, contra a opressão? A
liberdade do diálogo está se perdendo ou se perdeu? Como recuperá-la ou refundá-la?
É fato que o caminho já vem sendo trilhado e que se faz emergente acreditar no fio de alegria possível para que as transformações sociais ocorram. Ao promover o diálogo permanente entre a
formação do pedagogo e a comunidade a qual ele está inserido, almeja-se intervir para que os profissionais da educação estejam próximos dos sujeitos quando desenvolverem suas práticas educativas.
Como destaca Paulo Freire (2004, [s.p.]), reconheçam a educação
como “experiência especificamente humana e uma forma de intervenção no mundo”.
Por uma cultura do brincar
Com base nas atividades extensionistas que o projeto
Pedagogia na Rua vem realizando, pode-se reconhecer a importância que esse tem para a comunidade em geral, que se aproxima da cultura lúdica. Além disso, é evidente a contribuição do programa na formação de futuros educadores, que, posteriormente,
estarão desenvolvendo suas práticas pedagógicas com os diferenA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tes espaços da comunidade. Isso porque, ao desenvolver as ações, o
estudante/bolsista se aproxima do contexto e de realidades diferentes num diálogo contínuo entre teoria e prática. Esse movimento, durante a graduação e a participação nos projetos de extensão,
possibilita “[...] ao acadêmico a experiência do contato entre o
aprendizado na Universidade e a aplicabilidade de sua profissão na
sociedade, conhecendo a prática de sua profissão.” (Manchur et al.,
2013, p. 338).
As atividades desenvolvidas pelo projeto ocorrem durante todos os meses e buscam, principalmente, atender sujeitos que estão
em situação de vulnerabilidade, ou que não possuem outra forma
de aproximação com a cultura lúdica. Dessa forma, percebe-se que
o projeto vem contribuindo de forma efetiva, possibilitando a interação e o diálogo entre os sujeitos em si e os sujeitos com a cultura.
Além disso, contribui ao ressignificar o brincar na sociedade atual
por meio de brincadeiras, produção de brinquedos e produções artísticas, buscando sempre promover a interação e o diálogo entre
os sujeitos envolvidos. Considera-se que o projeto é itinerante, o
atendimento ocorre em diferentes espaços na comunidade, sempre
com um planejamento junto das instituições.
No primeiro semestre de 2016 o Pedagogia na Rua atendeu
o Centro Comunitário dos Idosos, com o projeto “Experiências
Ludo Pedagógicas”, que tem como objetivo promover experiências
ludopedagógicas com idosos na tentativa de ressignificar a autonomia desses sujeitos através da promoção de sua autoestima e
integração social.
É uma atividade socioeducativa na qual se organizam espaços
lúdicos mediados por diversas atividades pedagógicas e culturais.
As atividades realizadas pelo projeto envolvem ateliês de produção
artesanal, vivências de socialização da memória por meio de contaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
ção de histórias (relatos orais), brincadeiras dirigidas envolvendo
expressão corporal, relaxamento e socialização do coletivo, jogos
clássicos, passeios de ressocialização, oficinas de autoestima, qualidade de vida e leituras dinâmicas (conforme figura a seguir):
Figura 1 – Atividades ludopedagógicas com idosos
Fonte: Pedagogia na Rua.
O público atendido é a pessoa idosa, com idade igual ou superior a sessenta anos, em situação de vulnerabilidade social. Um dos
objetivos dessas intervenções extensionistas é qualificar as relações
sociais, garantindo sua integridade humana, buscando mobilizar a
sociedade para construção de “outro olhar” para o envelhecimento.
Além desse grupo de sujeitos, as brincadeiras também são
propostas para o Abrigo Municipal, atendendo crianças de seis meses a 12 anos. Desde 2015, o projeto adentra junto a outros projetos
de extensão da Universidade, com o objetivo de qualificar momenA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tos de interação sempre mediados por contação de histórias, brincadeiras e produção de brinquedos.
As escolas municipais e estaduais também são espaços de socialização de brincadeiras e produção de brinquedos clássicos. Durante o ano, por meio do projeto, bolsistas e voluntários participam
dos encontros das famílias nas instituições de ensino, atividades
culturais e promovem, com a escola, momentos de interatividade
ressignificando a brincadeira com crianças e professores.
Um dos projetos que merecem destaque é o “Brincando no recreio”, que desde 2014 vem sendo realizado pelo projeto de extensão nas escolas de ensino fundamental do município de Chapecó.
Essa atividade é organizada com a coordenação e gestão da instituição, que possibilita um tempo maior de recreio para as diferentes
brincadeiras que são realizadas por bolsistas do projeto.
Pode-se avaliar de forma positiva as atividades realizadas junto às crianças, primeiramente, pela satisfação e entusiasmo que esses demonstram nos encontros na “hora do recreio”. Falas como “Por
que vocês não ficam aqui mais tempo?”, “Viva, hoje tem brincadeira!”
e “Mas a gente brincou só um pouquinho, queria brincar mais” nos
mostram como os momentos de brincadeira são importantes para
as crianças dentro e fora da instituição escolar, sendo esta uma característica da criança e da infância. A alegria representada ao brincar de peteca, amarelinha ou produzindo um brinquedo caracteriza
o quanto o brincar é necessário e que a escola pode ressignificar as
relações entre os pares, por meio de diferentes brincares.
Além disso, vale destacar que a participação efetiva das crianças nos diversos momentos das brincadeiras tradicionais deixa
clara a importância deste projeto e sua relevância enquanto necessidade humana, pois, enquanto a criança brinca, ela interage com
sua cultura. Por meio de seus dizeres, reconhecemos que o tempo
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do brincar na escola é reduzido, e as crianças dizem que acontece
apenas: “No recreio” e “Na aula de educação física”.
Nessa direção, o objetivo do projeto é possibilitar um maior
tempo ao brincar, reconhecendo-o enquanto direito da criança. As
intervenções nas escolas vêm possibilitando reflexões para os próprios acadêmicos/bolsistas futuros professores, para repensar o
espaço da escola enquanto espaço privilegiado da infância.
São organizadas também atividades nas praças do munícipio
e na própria universidade, como é o caso do Seminário de Educação
Ambiental para a Infância, que é realizado bimestralmente e que
busca, por intermédio de atividades lúdicas, aproximar as questões
socioambientais das crianças, buscando a sensibilização dessas
para estas questões.
Durante o ano, nos diferentes espaços de atendimento, o
projeto atende até dois mil sujeitos, sendo crianças, adolescentes,
adultos ou idosos. Levando sempre a ideia de aproximação entre
a formação acadêmica e os espaços da comunidade, as atividades
extensionistas têm possibilitado, ao curso de Pedagogia e demais
cursos que compartilham e participam das atividades, ressignificar
as reflexões teóricas presentes na formação, construindo metodologias significativas para reinventar as práticas educativas. Tem-se
sempre como fio condutor experiências que proporcionam a inter-relação entre a teoria e a prática.
Nesse movimento, acredita-se que: “É preciso que [...], desde o
começo do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e reforma ao formar, e quem
é formado forma-se e forma ao ser formado.” (Freire, 2004, p. 31).
Através de atividades lúdicas permeadas por brincares, o programa dialoga com a comunidade na tentativa de interligar, através
do brincar, os diferentes saberes dos indivíduos para permitir a exA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
periência humana de socialização. Em síntese, as ações contribuem
significativamente para o desenvolvimento social e regional, pois
levam aos espaços atividades que proporcionam para crianças e
adultos momentos lúdicos de participação e, principalmente, ressignificação de brinquedos e brincadeiras. Além disso, percebeu-se
que, ao significar os brincares, esses refletem sobre sua cultura.
Em cada momento que refletimos sobre as atividades propostas, percebemos o envolvimento dos sujeitos, suas alegrias, suas
trocas, redescobertas e, principalmente, suas possibilidades de experiência, ao perceber a brincadeira como uma atividade humana,
criadora e transformadora. Acreditar na beleza dos sorrisos dos
sujeitos ao jogar uma peteca ou produzir uma boneca e reinventar
suas relações faz com que, nós educadores, acreditemos na educação como uma forma de intervenção no mundo. Pautando-se nas
palavras de Freire (2004), “nos faz acreditar na esperança que nos
anima acima de tudo”.
Algumas considerações
Compreende-se que o projeto Pedagogia na Rua possui um
espaço muito importante na inserção do direito do brincar nos espaços comunitários, com base em todas as atividades que vem desenvolvendo com crianças, adultos e idosos, buscando sempre valorizar a cultura lúdica e aproximar os sujeitos da própria cultura.
Além disso, considera-se que essas atividades são de fundamental
importância para o desenvolvimento e aprendizagem desses indivíduos, que, na maioria das vezes, encontram-se em situação de vulnerabilidade, contribuindo, assim, para a formação humana dessas
pessoas.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
A extensão universitária, dessa forma, possibilita uma aproximação entre comunidade e universidade, promovendo a articulação entre teoria e prática e a troca de conhecimentos e experiências
entre ambos. Além disso, oferece a habilitação e a preparação para
que, posteriormente, esses futuros educadores sintam-se preparados para desenvolver suas práticas educativas de forma lúdica e
considerando a importância da valorização dos elementos do brincar que fazem parte da cultura humana e são imprescindíveis no
processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças.
A cada pensar, o projeto considera que é preciso ressignificar
as práticas, para que as experiências realizadas possam realmente
intervir nos processos formativos e alcançar os objetivos da extensão universitária com a sociedade. A extensão universitária deve
assumir um papel significativo na formação dos diferentes sujeitos,
possibilitando mudanças qualitativas nos cenários atuais no que
se refere às práticas emancipatórias que realiza. Comprometer-se
com a sociedade perpassa não somente transformar, mas legitimar
a identidade dos diferentes sujeitos, validando um compromisso de
articulação entre universidade e comunidade.
Referências
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4. ed. São Paulo: Summus, 2002.
BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, n. 19, jan./fev./mar./
abr. 2002.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução de Rosisca
Darcy de Oliveira. Prefácio de Jacques Chonchol. 7. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
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______. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Anca/MST, 2004.
KRAMER, Sonia. Linguagem, cultura e alteridade: para ser possível a educação depois de Auschwitz, é preciso educar contra a barbárie. Rio de Janeiro, 2000.
MANCHUR, Josiane et al. A contribuição de projetos de extensão na
formação profissional de graduandos de licenciatura. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, v. 9, n. 2, jul./dez. 2013.
SAMPAIO, Jorge Hamilton. Extensão universitária como um dos
sentidos necessários para a articulação da indissociabilidade na
construção do currículo. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; NEVES,
Marisa Lomônaco de Paula. Currículo e avaliação na educação
superior. Araraquara: Junqueira & Marin, 2005. p. 97-120.
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Pesquisa, salvaguarda e comunicação
do patrimônio cultural: três décadas
de atuação do Centro de Memória
do Oeste de Santa Catarina1
André Luiz Onghero
Mirian Carbonera
Ademir Miguel Salini
Aline Bertoncello
Introdução
O oeste de Santa Catarina é uma região que apresenta uma
marcada diversidade cultural, e se identifica através de seus traços
culturais e sua história. A transformação das técnicas, dos costumes
e dos modos de viver, que atualmente atinge uma intensidade nunca
antes verificada, já era percebida, mesmo que em outra proporção,
há trinta anos e motivou um grupo de professores universitários
a projetar e desenvolver ações voltadas para reconhecer o patrimônio cultural da região, salvaguardar as memórias e os acervos
históricos e pré-históricos. Neste texto, abordaremos a trajetória
do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM/Unochapecó) e sua atuação em prol da preservação do patrimônio cultural,
por meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão, com
marcante caráter comunitário.
1 A todos os profissionais, estudantes, parceiros, agências de fomento, entidades públicas
e privadas que contribuíram ao longo dessas três décadas de caminhada do CEOM.
O contexto
Com a fixação dos colonizadores europeus e seus descendentes nos sertões do oeste catarinense, ocorreram profundas transformações no modo de vida e na organização social de indígenas
e caboclos. Os povos nativos já viviam na região há milênios, como
atestam as pesquisas arqueológicas (Carbonera; Schmitz, 2011);
estes habitavam tanto as terras frias dos planaltos, como também
as margens do rio Uruguai desde aproximadamente dez mil anos,
até a chegada do homem branco, principalmente a partir do século
XIX (D’Angelis, 1995). Os caboclos que aqui viviam eram uma população rarefeita, que se dedicava à agricultura de pequena escala e a
atividades extrativistas (Renk, 1997).
Um novo processo colonizatório teve início nas primeiras décadas do século XX. Para Werlang (2002, p. 11), colonizar significa
povoar áreas desocupadas e iniciar o processo de desenvolvimento
de uma região. Segundo o autor, foi com esse objetivo que muitas
famílias deixaram o estado do Rio Grande do Sul e vieram morar no
oeste catarinense, a partir de 19172. Os colonos vinham em busca
de novas terras, passaram a explorar e ocupar as áreas de floresta,
ignorando as posses estabelecidas de índios e caboclos (Renk, 1997,
2005). Ainda segundo a autora, a consequência foi a expropriação
das populações indígenas e caboclas que, mesmo habitando essas
terras há muito tempo, não eram reconhecidos como donos legítimos, por não possuírem escrituras; assim foram se dispersando e
desestruturando seu modo de vida tradicional.
2 Momento importante que marca o final da Guerra do Contestado em 1916; já no ano
seguinte tem-se a criação de quatro municípios: Chapecó, Cruzeiro (atual Joaçaba), Porto
União e Mafra.
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Não é nosso objetivo neste trabalho fazer um grande apanhado da história regional, mas pensar como esse processo desencadeou transformações e ressaltou diferenças históricas e culturais
entre os grupos humanos que ocupavam a região antes das novas
levas migratórias ocorridas em princípios do século XX. Assim,
como veremos neste trabalho, a valorização da diversidade cultural
e seu legado tornaram-se objeto de preocupação de um grupo de
professores do interior do estado de Santa Catarina, nos idos da
década de 1980 do século passado.
O conceito de patrimônio cultural está relacionado com as
identidades sociais; ainda nos séculos XVIII e XIX estava associado
à nação, e aquilo que representaria a nacionalidade, monumentos,
edifícios, formas de expressão, objetos novos e antigos (Pelegrini;
Funari, 2008). Com o tempo, o conceito de patrimônio cultural foi
se tornando mais amplo e passou a defender a diversidade. Segundo Rodrigues ([s.d.]), o termo representa o passado e as vivências
dos povos, conjuntos de bens de natureza material e imaterial de
interesse coletivo, relevantes o suficiente para serem preservados.
A trajetória do Centro de Memória
do Oeste de Santa Catarina
O Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM) iniciou suas atividades em 1986 e foi criado em 16 de julho de 1987,
pela portaria n. 15/CES/FUNDESTE, sendo um dos primeiros programas de pesquisa e extensão da Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste (Fundeste). Atualmente, o CEOM é vinculado
à Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) e
está subordinado à Diretoria de Extensão.
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O interesse da Fundeste pelo patrimônio cultural da sua região
de abrangência teve início na década de 1980 e foi materializado
com a criação do Centro de Organização da Memória Sociocultural
do Oeste de Santa Catarina. Na época, a região vivia certa inquietação devido à perda das referências culturais, fenômeno associado
ao acelerado processo de urbanização. Nesse sentido, Nora (1993)
assinala que a curiosidade pelos lugares de memória está ligada
ao momento particular de nossa história; desperta a consciência
de ruptura com o passado. Um exemplo de rupturas traumáticas,
segundo o autor, foi o apogeu da industrialização que representou
uma mutilação para os camponeses.
Assim, a universidade, preocupada com as problemáticas da
sua região de inserção, assumiu, através do CEOM, o compromisso
de gerir o processo de valorização e preservação das histórias locais,
como referências para a construção de identidades. O Centro foi
criado tendo como um dos objetivos principais “[...] coordenar um
amplo, permanente e sólido programa de resgate e sistematização
da memória sócio cultural do Oeste Catarinense [...]” (CEOM, 1986)
e, ainda, recolher e expor material de duas grandes fases da história
da região: a Proto-História e a História. Idealizado por professores
da área de humanidades cientes da importância de analisar criticamente e compreender melhor os processos constitutivos do oeste
de Santa Catarina, o CEOM foi concebido como um programa de ampla participação da comunidade externa, desenvolvendo atividades
de forma interdisciplinar com as Ciências Humanas, especialmente
História, Antropologia, Geografia, Sociologia e Arqueologia.
As primeiras atividades, realizadas entre 1986 e 1989, contaram com apoio financeiro do CNPq (1986/1987), Funarte (1988),
Fundeste e prefeituras municipais. Nesse período, as principais
ações de preservação do patrimônio cultural foram: constituição
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de 15 comissões municipais de Coordenação da Memória Local, engajando professores, autodidatas, autoridades municipais e outros
interessados no processo. O resultado foi significativo, no sentido
de despertar o interesse em relação à preservação, visto que desse processo foram criados museus, casas de cultura ou centros de
memória. Também foram realizadas, junto aos municípios, oficinas
de orientação e capacitação para coleta, preservação, conservação
e organização técnica dos objetos e documentos escritos, fotográficos e museológicos. Destaca-se a realização do I Simpósio de História do Oeste Catarinense, promovido juntamente ao curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina,
realizado entre 25 e 27 de novembro de 1987, e a Oficina de Museologia, promovida de 14 a 21 de dezembro de 1988. Também dessa
época, datam as primeiras publicações: a revista Cadernos do CEOM
e Caderno do CEOM – Série Documento. Além disso, foram reunidas
em torno de quatrocentas fotografias antigas e constituído o acervo
de história oral, composto por depoimentos gravados em fitas cassete e suas respectivas transcrições.
Durante o ano de 1990, o CEOM teve suas atividades interrompidas, devido a uma reestruturação institucional, e o trabalho foi
retomado novamente em 1992. Durante o período, os municípios
continuaram o desafio do “resgate” histórico-cultural, demonstrando a persistência do trabalho iniciado anteriormente.
A partir de 1992, o CEOM foi articulado ao curso de História,
em atividade desde 1990. Em seguida, foi vinculado ao Departamento de Ciências Humanas e Sociais, criado em 1993. Nessa época, a Fundeste se tornou parte da Universidade do Oeste de Santa
Catarina (Unoesc), formando o campus de Chapecó. Os novos vínculos proporcionaram maior participação dos professores do Departamento e do curso de História e, com isso, ampliou-se a preocupação em torno da valorização das expressões culturais da região.
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Ganham destaque, nesse período, a criação da disciplina “Estudo e Preservação dos Bens Culturais” no curso de História, e um
curso de especialização Lato Sensu em “História e Museologia”, em
1995. Essas ações visavam articular os trabalhos do CEOM com o
Departamento de Ciências Humanas e Sociais, além de ampliar a
atuação na área do patrimônio cultural. Em tal período foi desenvolvido o slide “Terra é Vida”, que em 1999 transformou-se num
curta-metragem de 13 minutos, abordando os aspectos culturais
das diferentes etnias que compõem a região oeste de Santa Catarina. Desenvolveu-se também o “Projeto Memória” em parceria com
a Fundação Cultural Plínio Arlindo de Nês e a RBS TV, através do
qual foram veiculadas vinhetas sobre história regional. Somado a
essas atividades, deu-se prosseguimento ao trabalho junto às Casas de Cultura, aos Centros de Memória e Museus da região, principalmente através da viabilização de cursos nas áreas de atuação.
Também houve continuidade na publicação da revista Cadernos do
CEOM e da Série Documento. As ações conjuntas consolidaram o
CEOM como um centro de referência em pesquisas acadêmicas e
em preservação da memória sociocultural da região.
Entre 1998 e 2002, iniciou-se um processo de planejamento estratégico que implicou novos direcionamentos, no qual foram
apontadas as potencialidades e deficiências do CEOM. Ainda em
1998 ocorreu a transferência do Centro de Memória, que até então
funcionava no campus, para o centro da cidade de Chapecó, na rua
Porto Alegre, em prédio alocado pela universidade, onde funcionava também o Escritório Sócio-Jurídico (outro programa de extensão da universidade). Nesse período, o CEOM continuou vinculado
ao Departamento de Ciências Humanas e Sociais, como um Programa de Pesquisa e Extensão, de caráter interdisciplinar, com a finalidade de “Promover, incentivar e apoiar a preservação e difusão da
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memória e do patrimônio sociocultural da região Oeste de Santa
Catarina.”
Em tal viés, a linha de acervo e pesquisa do CEOM foi definida
como “estudos regionais”, tendo como principais áreas temáticas:
colonização, movimentos sociais, patrimônio cultural e socioambiental, subjetividades e etnicidades, política, trabalho, migração,
educação, campo e cidade e memória. A partir desse período, passou a reunir novos acervos em diferentes suportes e gêneros documentais: textual, oral, iconográfico, audiovisual, cartográfico, arqueológico. Além da salvaguarda, o Centro não perdeu de vista seu
compromisso com a comunicação científica e cultural, por meio de
publicações e eventos.
Deve-se ressaltar também para aquele período a constituição
do Centro de Documentação e Pesquisa a partir de 1998; a criação do Programa Patrimônio-Escola-Comunidade (PEC), em 1999;
a reestruturação da revista Cadernos do CEOM, que a partir do ano
2000, volume n. 12, tornou-se semestral e temática, com amplo
recebimento de artigos e não mais apenas regionais. Já em 2001,
surgiu a necessidade de viabilizar um núcleo de arqueologia3 e um
programa de educação patrimonial. No ano seguinte, ocorreu o desligamento do campus Chapecó da Unoesc, com a criação da Universidade Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó), e assim,
em 2003, o CEOM foi vinculado à Vice-Reitoria de Ensino, Pesquisa,
Extensão e Pós-Graduação.
A demanda para salvaguardar acervos, bem como a ampliação das ações educativas, trouxeram a necessidade de um espaço
físico mais amplo, e um aumento do quadro funcional. Para atender à demanda do espaço físico foram aprovados recursos junto
3 Sobre o tema, conferir Carbonera, Onghero e Argenta (2013).
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ao Iphan e à Fundação Vitae. Os recursos advindos contribuíram
para a reforma de parte do segundo andar do terminal rodoviário,
uma área de 1.112m2, cedido pela Prefeitura Municipal de Chapecó
à universidade. Assim, em 2004 o CEOM foi transferido, e com espaço mais amplo foi possível ampliar e melhorar as atividades, com
salas específicas para laboratórios, reservas técnicas, sala multiuso,
espaços expositivos e escritórios.
O aumento do quadro funcional foi fruto de um longo processo de negociação com a gestão da universidade, além das vagas de
coordenador e técnico de pesquisa que já existiam, foram criados
os cargos de técnico em educação patrimonial, técnico em arqueologia e documentalista, um pouco mais tarde também de dois auxiliares administrativos.
A divulgação científica ganhou novas linhas editoriais, a coleção Histórias Locais e a História e Patrimônio, e houve continuidade das linhas já existentes, a Série Documento e a revista Cadernos
do CEOM, que atualmente é publicada somente on-line; no entanto,
todos os números já foram disponibilizados no formato digital. Na
década de 2000, o Centro foi projetado para o cenário nacional, e a
revista Cadernos do CEOM teve papel fundamental, além da aprovação de seus projetos em editais nacionais e da participação da
equipe com apresentações de pesquisas em eventos científicos.
Na segunda década do século XXI, o CEOM mantém como fundamentais características a divulgação científica e a preocupação
com a história e a pré-história regional, mantendo a seguinte estrutura: 1) Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc); 2) Programa Patrimônio-História-Comunidade; 3) Núcleo de Estudos
Etnológicos e Arqueológicos (NEEA); 4) Núcleo de Difusão Cultural
e Educação Patrimonial; 5) Divulgação Científica e Cultural; 6) Biblioteca Setorial; 7) Setor administrativo. Institucionalmente, enA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
contra-se vinculado à Diretoria de Extensão4, entretanto, de forma
ampla, também pode ser caracterizado como um espaço museológico, de acordo com a Lei n. 11.904, que afirma:
Art. 1º Consideram-se museus, para os efeitos
desta Lei, as instituições sem fins lucrativos que
conservam, investigam, comunicam, interpretam e expõem, para fins de preservação, estudo,
pesquisa, educação, contemplação e turismo,
conjuntos e coleções de valor histórico, artístico,
científico, técnico ou de qualquer outra natureza
cultural, abertas ao público, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento. (Brasil, 2009).
Podem-se encontrar muitas outras definições de museu5, segundo o Conselho Internacional dos Museus (ICOM):
O museu é uma instituição permanente sem fins
lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire,
conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu
meio envolvente com fins de educação, estudo e
deleite. (ICOM, 2015).
Parcerias e convênios com instituições públicas e privadas nacionais e estrangeiras acompanham a trajetória do CEOM, para ati4 Atualmente a Unochapecó não conta mais com o curso de História, que formou sua
última turma em 2014. No entanto, o CEOM, que havia sido criado antes mesmo do
curso de História, segue suas atividades; dado o caráter interdisciplinar é um espaço
de pesquisa para os demais cursos de graduação e pós-graduação e para a comunidade
externa à universidade.
5 A origem da palavra museu remonta à antiguidade grega, quando o termo mouseion,
ou “casa das musas”, era uma mistura de templo de instituição de pesquisas voltada,
sobretudo, para o saber contemplativo e filosófico. Vinculados, desde suas origens, às
classes dominantes, o museu enquanto instituição surgiu no século III a.C., em Alexandria
(Tamanini, 2000, p. 109).
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vidades de pesquisa ou extensão. A história do CEOM se confunde
com a história do ensino superior na região, em constante processo
de mudança e transformações, novas necessidades e possibilidades vêm ganhando espaço. Ao mesmo tempo, a quantidade de bens
salvaguardados trouxe novamente a necessidade de ampliação espacial. Assim, a construção de espaço próprio e a sustentabilidade
tem se colocado como grandes desafios ao CEOM quando completa
seus trinta anos de existência.
Um lugar de memória: com e para a comunidade
Para Pierre Nora,
[...] os lugares de memória nascem e vivem do
sentimento que não há memória espontânea,
que é preciso criar arquivos, que é preciso manter aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notariar atas, porque essas
operações não são naturais. (Nora, 1993, p. 13).
O autor afirma que vivemos um período de aceleração da história, que produz, cada vez mais rapidamente, um passado morto
e a percepção geral de algo desaparecido: “Se o que defendem não
estivesse ameaçado, não se teria a necessidade de construí-los. Se
vivêssemos verdadeiramente as lembranças que envolvem, eles seriam inúteis.” (Nora, 1993, p. 13).
Criado em decorrência da percepção dessa aceleração, transformação, eminente perda de memórias e desaparecimento de
conhecimentos e práticas, o CEOM manteve-se voltado para a população da região oeste de Santa Catarina. Sensível às demandas
apresentadas pela sociedade por diferentes interlocutores, como
estudantes, professores, representantes da sociedade civil organiA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
zada, profissionais da área cultural, gestores públicos e instituições,
o CEOM atua intensamente na democratização dos saberes; através
de constante diálogo com a sociedade, tem participado de forma
ativa na comunicação dos conhecimentos reunidos ou produzidos
pelo Centro e instituições parceiras.
Os saberes científicos presentes tanto nos resultados das pesquisas produzidas quanto nos procedimentos adotados nas ações
de preservação desenvolvidos pelo CEOM são difundidos para toda
a comunidade, por meio de palestras, atividades educativas, exposições de longa duração e itinerantes, publicações, entre outros. No
entanto, existe uma relação muito estreita com o público escolar
dos diferentes níveis de ensino, que são o público-alvo prioritário
de uma série de projetos desenvolvidos pelo Centro.
O CEOM também presta serviços à comunidade regional, especialmente em atividades de preservação e valorização do patrimônio cultural, e podem ter como ponto de partida a realização de
pesquisas, produção de publicações, palestras, debates, eventos culturais, assessorias ou consultorias. A valorização considera o papel
dos sujeitos históricos da região como protagonistas, reconhecendo o patrimônio de sua região e percebendo sua importância para
o fortalecimento da identidade. Esse termo remete a identificações
historicamente construídas que dão sentido a um grupo; implica
um sentimento de pertença a um determinado grupo étnico, cultural, religioso, em contraposição às diferenças percebidas nos outros
(Rodrigues, [s.d.]).
Entre as demandas frequentes da comunidade, encontra-se
a produção de obras relacionadas à história local, além de assessorias para criação, revitalização de espaços de memória e gestão
de acervos históricos e arqueológicos. No final da década de 1990,
tais demandas levaram à constituição de um programa específico
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junto ao CEOM, chamado Patrimônio-Escola-Comunidade (PEC).
A execução dos projetos envolvia professores do curso de História
da universidade, estagiários e equipes formadas por professores
de História dos municípios-alvo da pesquisa. Com essa dinâmica
foram realizados trabalhos em Quilombo, Águas de Chapecó, Nova
Itaberaba, São Carlos, Distrito de Colônia Bacia (Chapecó) e Palmitos, dos quais resultaram quatro publicações (Dmitruk; Jagusenski,
2001; Schuh, 2011; Wollf; Schuh, 2000a; Wollf; Schuh, 2000b).
Contudo, alguns projetos não obtiveram o resultado esperado
e motivaram a reformulação da sistemática de trabalho. Assim, a
partir de 2002, as atividades passaram a ser concentradas basicamente na atuação dos técnicos e estagiários do CEOM. Foram desenvolvidos novos projetos nos municípios de Cordilheira Alta, Caxambu do Sul, Nova Erechim, Formosa do Sul e Lindóia do Sul, estes
resultaram em três livros publicados (Onghero, 2012, 2014; Silva;
Oliveira; Schuh, 2003). Também forneceram base para o desenvolvimento de outros projetos culturais nos municípios citados, como
a revitalização de memória, produção de materiais audiovisuais e
exposições.
Além disso, foram realizados dois projetos de maior abrangência. O primeiro chamado “Fios entre memórias”, em que foram
pesquisados municípios que seriam atingidos pela Linha de Transmissão 230 kV Campos Novos/SC – Santa Marta/RS (Schuh, 2005).
E o segundo também foi uma pesquisa de abrangência regional
com o tema “Inventário da Cultura Imaterial dos Luso-brasileiros
do Oeste de Santa Catarina” (CEOM, 2006)6.
Entre 2008 e 2011, também colaboramos em programas compensatórios para os municípios atingidos pela UHE Foz do Chapecó,
6 Este projeto contou também com a participação de professores da Unochapecó e foi
financiado pelas Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), via mecenato.
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nos seguintes subprogramas: Preservação do Patrimônio Histórico,
Cultural e Paisagístico da UHE Foz do Chapecó (Subprograma 21.2),
coordenado pela Scientia Consultoria Científica; e Monitoramento
das Interferências sobre a População Indígena (Subprograma 22.2),
este coordenado pelo Instituto Goio-En.
Tais projetos têm gerado acervos fotográficos, audiovisuais e
documentais que são entregues às instituições contratantes, mas
também cópias que ficam disponíveis no CEOM. As pesquisas têm
abordado temas como colonização, trabalho, religiosidade, sociabilidade, meio ambiente, política, economia e cultura. Para tanto, a
principal metodologia utilizada pelo Centro tem sido a história oral,
que pressupõe a realização de entrevistas temáticas com depoentes
escolhidos de acordo com critérios estabelecidos pelos pesquisadores. A história oral ganhou a simpatia dos historiadores nas últimas
décadas, porque permite dar voz às populações que “não teriam história”, aqueles que os historiadores outrora chamavam de excluídos
da história; a memória como fonte daria a estes sujeitos “o direito à
memória” de adquirir visibilidade (Santiago Júnior, 2015).
Diante da preocupação com as transformações sociais e naturais causadas por obras de impacto ambiental, alguns projetos incluem o registro fotográfico e audiovisual do patrimônio histórico,
cultural e ambiental do município, como o projeto PEC Caxambu do
Sul, desenvolvido durante 2007 e 2008. Caxambu do Sul é um município que teve 5,51% de seu território alagado em decorrência da
instalação da usina hidrelétrica (UHE) Foz do Chapecó. Alguns projetos têm incluído o levantamento e mapeamento de objetos com
potencial museológico, a fim de subsidiar futuras ações voltadas
à criação de espaços de memória ou museus, nesse sentido foram
realizadas ações em Cordilheira Alta e Itá.
Entre os inúmeros projetos desenvolvidos ao longo das três
décadas de atuação, citamos dois que foram desenvolvidos em parA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
ceria e proporcionaram a criação de dois importantes núcleos de
preservação e valorização da história e memória do cooperativismo. O Centro de Memória da Fundação Aury Luiz Bodanese (desenvolvido entre 2008 e 2011), mantido pela Aurora Alimentos; e em
seguida tiveram início as atividades para criação do Centro de Memória da CooperAlfa/Sicoob MaxiCrédito e de seus Associados, este
desenvolvido entre 2010 a 2013 (Salini; Lubenow; Forneck, 2012).
Ambas as instituições detêm acervos significativos e representativos das relações de produção, trabalho e economia na região, em
especial de trabalho agrícola e produção agroindustrial. Depois dos
espaços criados, são dadas as condições de continuidade com capacitação dos funcionários de cada Centro, que prosseguem as atividades de conservação, organização e disponibilização dos acervos.
Por fim, nos últimos anos vem ganhando cada vez mais espaço a prestação de serviço para empresas de arqueologia que realizam projetos de licenciamento ambiental e necessitam de endosso
institucional do CEOM. Esses convênios entre o Centro e as empresas possibilitam, dentre outros aspectos, centralizar os acervos
arqueológicos do oeste catarinense num único espaço, e também
os subsídios pagos pelas empresas para a salvaguarda desses bens
permitem melhorar e ampliar as atividades de preservação, pesquisa e difusão realizadas pelo CEOM no tocante ao patrimônio arqueológico regional.
Ensino, pesquisa e extensão em
prol do patrimônio cultural
O CEOM foi concebido como um centro de organização de fontes para pesquisas sobre as mais diversas áreas de conhecimento
científico. A História, a Antropologia, a Cultura, a Economia e outras
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ciências humanas e sociais encontram no Centro preciosos informes
para argumentar, ilustrar, motivar e exemplificar todo o conjunto de
seus conteúdos de conhecimentos (Centro de Memória Sociocultural
do Oeste de Santa Catarina, Proposta de Projeto, dezembro 1982).
De caráter educacional e participativo, integrando o ensino, a
pesquisa e a extensão, o Centro procurou, desde o princípio, corrigir a lacuna do ensino meramente acadêmico. Na década de 1980,
para dar caráter institucional a tais atividades, a Fundeste criou o
Centro de Organização da Memória Sociocultural do Oeste de Santa
Catarina (CEOM) e o Setor de Educação Permanente (SEP), ambos
concebidos e implantados como unidades operacionais para obtenção de objetivos específicos de toda a instituição. Com base nos
princípios idealizados ainda no momento de criação, o Centro procura, dentro de sua linha de atuação, manter-se articulado com as
políticas institucionais de extensão e pesquisa, como também com
os princípios da universidade de produzir, difundir e contribuir no
desenvolvimento regional e na formação cidadã.
Enquanto espaço museológico, o CEOM procura estar alinhado às políticas públicas, locais, estaduais e nacionais. Além da
salvaguarda e preservação dos acervos, são realizadas diferentes
atividades educativas que promovem a reflexão sobre as relações
temporais, ao problematizar o presente e as representações construídas sobre o passado:
Mostrando relações historicamente fundamentadas entre objetos atuais e de outros tempos, o
museu ganha substância educativa, pois há relações entre o que passou, o que está passando e o
que pode passar. Se aprendemos a ler palavras, é
preciso exercitar o ato de ler objetos, de observar a história que há na materialidade das coisas.
(Ramos, 2004, p. 21).
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Se a citação do autor faz referência aos objetos em um museu,
ao refletir sobre os acervos do CEOM, faz-se necessário considerar
a grande variedade de materiais que contêm informações sobre o
passado, mas que necessitam da problematização, da análise apurada, da leitura atenta, da crítica. As ações educativas são realizadas
principalmente por meio de exposições, visitas mediadas, aulas temáticas e materiais didáticos. O CEOM conta desde 2015 com uma
exposição de longa duração intitulada “Como Era Antes? O Patrimônio Arqueológico Pré-Colonial do Oeste Catarinense7”, que tem
como objetivo sensibilizar a comunidade e socializar o conhecimento produzido sobre o patrimônio arqueológico da região oeste
de Santa Catarina; as atividades acontecem praticamente todos os
dias, e o público varia desde estudantes escolares até universitários. No primeiro ano de atividades, foram atendidas aproximadamente cinco mil pessoas.
O Centro conta com outras nove exposições itinerantes que
abordam temáticas regionais, que além de serem exibidas no CEOM
são disponibilizadas para empréstimo a museus, secretarias da cultura e escolas do oeste catarinense. Também são promovidas amostras de outras instituições, mas que abordam assuntos relacionados
à história e ao patrimônio cultural. O intercâmbio com outras instituições culturais e museológicas permite estimular a preservação e
a valorização da história e do patrimônio cultural regional; potencializar a divulgação das instituições museais e suas ações; estimular o turismo cultural; fortalecer as instituições; otimizar custos e
democratizar o acesso da comunidade ao conhecimento resultante
de pesquisas sobre os bens culturais regionais. A metodologia dessa ação implica a troca de exposições, do material de divulgação e
didático, de conhecimentos dos profissionais de cada instituição.
7 Contemplada pelo Edital Prêmio Modernização de Museus – IBRAM/MinC, Edição 2013.
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Quanto ao trabalho educativo, são realizadas também aulas
temáticas, elaboradas a partir de temas geradores que foram diagnosticados ao longo do período de atuação do CEOM como relevantes para o cenário histórico e cultural regional, como pré-história,
história regional, colonização, patrimônio cultural, memória e identidade local, etnias e questão indígena, bens culturais e ambientais,
movimentos sociais, política cultural, dentre outros. As aulas são
ministradas no auditório do CEOM, atendendo grupos de aproximadamente trinta estudantes, sempre com a presença do professor
que, nesse contexto, se constitui um multiplicador dos conhecimentos, com outros grupos no ambiente escolar.
Quanto à produção do conhecimento, o Centro passou a buscar novos parceiros a fim de ampliar e consolidar o desenvolvimento de pesquisas científicas, especialmente com relação ao patrimônio arqueológico. Assim, destacamos o convênio binacional com o
Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento Latino-Americano, do Ministério da Cultura da Nação Argentina, através do qual
se desenvolve o projeto de longa duração “Arqueologia da Floresta
Atlântica Meridional Sul Americana (ABAMS)”8, que busca pesquisar as ocupações pré-coloniais do oeste catarinense e da Província
de Misiones, na Argentina. As ações foram oficializadas em 2013
e têm previsão de durar pelo menos dez anos. Nesse mesmo ano,
tiveram início as atividades de outro projeto, denominado “Primeiros povoamentos do Alto Rio Uruguai (SC/RS)”, que é uma parceria do CEOM com o Museu de História Natural de Paris, conta com
recursos financeiros do Ministère des Affaires Etrangères (França)
8 Esse projeto, em linhas gerais, visa ampliar o conhecimento sobre o processo de
povoamento pré-colonial da região de “Mata Atlântica”, que inclui grandes unidades da
paisagem, tanto áreas de floresta subtropical (especialmente rios Uruguai e Paraná)
quanto regiões de planalto com presença de mata de araucária.
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e tem como objetivo principal estudar as ocupações do Holoceno
antigo, especialmente em termos de tecnologia lítica.
A respeito do patrimônio arqueológico, cumpre ressaltar que
todas as atividades são desenvolvidas levando em consideração a
legislação federal, que dispõe sobre o patrimônio arqueológico. Entre os objetivos das pesquisas, além de salvaguardar acervos e produzir conhecimento científico, o Centro realiza de forma sistemática a comunicação do conhecimento produzido para a comunidade
local, como já mencionado neste texto.
Através das atividades contínuas e de projetos temporários,
o CEOM dialoga com diversos campos profissionais e apresenta-se
como um espaço de formação para os acadêmicos de diversos cursos
oferecidos pela Unochapecó, como Pedagogia, Arquitetura, Licenciatura Intercultural Indígena, História, Artes Visuais, Jornalismo, Biologia. Uma forma de participação dos acadêmicos ocorre por meio de
bolsas de extensão, permitindo que o bolsista desenvolva atividades
extensionistas acompanhado por profissionais do Centro.
Tendo em vista o espaço privilegiado para a formação profissional que o CEOM representa, são recebidos anualmente estudantes de graduação e de pós-graduação para realização de estágios obrigatórios não remunerados e remunerados. As vagas não se
restringem apenas aos acadêmicos da Unochapecó, mas abrangem
também as instituições de ensino conveniadas com a universidade.
Também existe a possibilidade de ser bolsista de extensão e pesquisa. Os alunos são orientados em atividades relacionadas ao campo
de atuação profissional, resultando em uma formação mais sólida
e que tem contribuído para a sua inserção no mercado de trabalho, bem como para dar continuidade em estudos de pós-graduação
lato e stricto sensu.
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Os vários acervos salvaguardados pelo CEOM fornecem subsídio para o desenvolvimento de pesquisas em diversas áreas, o
que pode ser percebido nos inúmeros trabalhos produzidos por
estudantes de graduação e pós-graduação. Os acervos apresentam
muitas potencialidades de diálogo interdisciplinar, ainda pouco explorados e que estão à disposição dos estudantes e professores de
todos os cursos.
Considerações finais
Santiago Júnior (2015) salienta que a partir da década de
1990 a historiografia se apropriou do patrimônio por meio da noção dos lugares da memória. Segundo ele, o patrimônio tem sido
incorporado à esfera pública e às humanidades como forma social
de afirmação pública de comunidades variadas. Dentro desta perspectiva é que o CEOM procura orientar suas ações do trabalho com
os diferentes tipos de patrimônio e da problematização do passado, refletindo sobre o sentido de desenvolvimento historicamente
adotado, contrapondo-o com suas consequências em se tratando
de sociedade, cultura e meio ambiente, buscando ao mesmo tempo
propostas de desenvolvimento sustentável para a região.
A análise retrospectiva das ações realizadas pelo CEOM no
oeste catarinense ao longo das últimas décadas permite constatar um avanço significativo nas ações de pesquisa, salvaguarda e
difusão dos bens culturais, especialmente a partir de quatro pontos centrais: a) A qualificação da gestão de acervos e a ampliação
do acesso aos documentos salvaguardados, a partir da adoção de
diferentes estratégias de extroversão; b) O aumento das pesquisas
tanto históricas quanto pré-históricas, a partir da qualificação da
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equipe e da sistematização das ações; c) A ampliação da área de
abrangência e dos números de público alcançados pelo CEOM, mediante a oferta de ações educativas no espaço-sede do CEOM e nos
espaços externos; e d) Manutenção das linhas, especialmente da
revista Cadernos do CEOM que se aproxima da casa dos cinquenta
números publicados.
Percebe-se, assim, que o CEOM é um importante agente para a
consolidação da Unochapecó como uma universidade comunitária,
principalmente na produção e difusão dos conhecimentos relacionados a sua área de atuação. Ao longo de seus trinta anos, o Centro configurou-se numa das principais instituições de salvaguarda,
pesquisa e difusão do patrimônio histórico e arqueológico no estado de Santa Catarina, contribuindo para formação de profissionais, publicando mais de sessenta obras bibliográficas, produzindo
e exibindo mais de cinquenta exposições, e salvaguardando, até o
momento, quatrocentos metros lineares de acervo histórico e aproximadamente cem mil peças arqueológicas que remontam a dez mil
anos de história.
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Projeto de Extensão Comunitária Jurídica:
transformação social com atitude!
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Carmelice Faitão Balbinot
Thalia Noeli Nicaretta
Introdução
O Projeto de Extensão Comunitária Jurídica (PECJur), ao longo
de sua existência (desde outubro de 2003), atende a uma população
que historicamente não teve acesso aos seus direitos da cidadania.
Atuando nas áreas de Direitos Humanos, Justiça e Educação, o PECJur
tem o objetivo de orientar os cidadãos sobre seus direitos e deveres,
para o exercício da cidadania, promovendo a interação entre professores, estudantes e comunidades, por meio de um serviço de cunho
social e voluntário, preparando os estudantes para a atuação profissional independente, como agentes transformadores da sociedade,
ao mesmo tempo que complementa a formação profissional.
As atividades se desenvolvem em escolas de ensino fundamental e médio, associações de bairros, grupos de idosos, entidades e instituições públicas e privadas da sociedade civil, parceiros e
outros programas e projetos da Unochapecó.
Relação ensino, pesquisa e extensão
O PECJur tem como objetivo geral informar e orientar a população sobre direitos e deveres, como uma forma de exercício da
cidadania, visando uma formação profissional integral e autônoma
dos estudantes do curso de Direito da Unochapecó.
Na formação qualificada para o exercício da cidadania, os estudantes voluntários participam diretamente de todo o processo,
desde a decisão sobre qual tema trabalhar, na elaboração do material de divulgação (como folders e cartilhas), assim como na divulgação/informação dos direitos e deveres, nos encontros realizados
com a comunidade.
A metodologia adotada pelo projeto garante o incremento no
processo de transformação acadêmica e tem como impacto maior a
transformação social, por meio do envolvimento tanto da comunidade acadêmica quanto da comunidade externa.
Foi nessa metodologia e nesse movimento interno, a partir da
percepção da realidade em que a comunidade acadêmica está inserida, pelas diversas discussões e oficinas do projeto, que surgiram
novas demandas a serem desenvolvidas pela equipe de trabalho.
As atividades desenvolvidas pelo PECJur orientam-se pelos
pressupostos teóricos da educação popular, com a finalidade de desenvolver a informação para o exercício de direitos e deveres. Nessa
perspectiva, as atividades são construídas conjuntamente entre os
docentes e estudantes voluntários, comprometidos com o projeto,
tendo como horizonte a busca da transformação social e a conquista da cidadania. Faz parte da metodologia a aproximação/investigação da realidade social para proposição de ações que direcionem e
potencializem os objetivos do projeto.
As ações do PECJur estão articuladas com o Projeto Pedagógico do Curso de Direito, que tem como objetivo geral a formação
humanista e cidadã de seus estudantes. Além disso, também estão
vinculadas às disciplinas específicas na matriz curricular do curso,
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tais como Direitos Humanos, Direito Constitucional e Seminários
que tratam sobre Cidadania e Justiça.
Fundamentação teórica
A extensão universitária está descrita na Unochapecó com a
finalidade de organizar ações comunitárias, com prioridade na área
social, objetivando elaborar e difundir conhecimentos e outros produtos acadêmicos.
O objetivo de formação voltada para a defesa dos direitos
humanos, da cidadania e da democracia pressupõe o respeito aos
princípios fundamentais da vida pública e da dignidade do ser humano. A formação em seu sentido amplo e pleno requer o compromisso dos atores envolvidos no processo educacional, voltados
para o exercício da cidadania e conduta ética.
Acrescenta-se que esse papel político também é atribuição
das instituições de educação superior, uma vez que estas devem
estar fortemente sintonizadas com as necessidades históricas das
comunidades de sua inserção. Com base nesse ponto de vista, o
Projeto de Extensão Comunitária Jurídica (PECJur) constitui-se
em dimensão privilegiada “de” e “para” a formação cidadã, ética e
emancipatória. A trajetória do projeto PECJur, reservadas as suas
peculiaridades e especificidades, sempre pautou suas ações em
consonância com a missão da Unochapecó.
O PECJur está alicerçado nos seguintes pressupostos teóricos:
a) Formação cidadã: a universidade, independentemente de
sua natureza jurídica, é o espaço socioinstitucional voltado ao
exercício do pensamento de maneira que sua finalidade ética
se define na liberdade da reflexão. Como instituição social,
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requer-se que a universidade cultive uma posição crítica em
relação à realidade social, configurando seu compromisso
ético-político com a formação dos sujeitos, com a sociedade,
com os interesses coletivos, com os processos democráticos
e de cidadania, ou seja, com a construção da esfera pública.
Portanto, seus processos devem assegurar uma formação
construída e mediada pela reflexão teórica, social, política
e filosófica. Cabe destacar que democracia e cidadania são
conquistas, e esta última se constitui, particularmente,
pela criação de espaços sociais que explicitam e atribuem
visibilidades às lutas da sociedade. Nesse sentido, a
extensão universitária comprometida com a formação
cidadã tem como horizonte práticas sociais que priorizem o
fortalecimento desses espaços de reflexão-ação.
b) Vulnerabilidade social: os grupos sociais vulneráveis são
facilmente definidos por sua imediata associação com a
pobreza, ou seja, definidos como conjunto ou subconjunto
da população situada na linha da pobreza. A complexidade
do fenômeno, no entanto, tem exigido avanço nas análises
abarcando-o para além da carência material, em vista da
necessidade de capturá-lo na multidimensionalidade de
sua manifestação. No movimento de buscar elementos que
descrevam a vulnerabilidade social, constata-se que os
grupos sociais vulneráveis não são portadores, mas se tornam
vulneráveis pela ação de outros agentes sociais. A análise, de
imediato, remete ao fato de não se tratar de um conjunto de
indivíduos passivos, mas são resultado de um amplo processo
de discriminação social. O PECJur como instrumento auxiliar
dessa transição da condição de não cidadania de grande parte
de sua população abrangida, visa dotar os sujeitos sociais de
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recursos, notadamente de informação, que minimizem sua
exposição aos riscos, à vulnerabilidade social e contribua no
acesso aos direitos sociais.
c) Direitos humanos e justiça: direitos humanos são
considerados como
[...] o conjunto institucionalizado de direitos e
garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de
sua proteção contra o arbítrio do poder estatal e
o estabelecimento de condições mínimas de vida
e desenvolvimento da personalidade humana.
(Morais, 2003, p. 39).
Atualmente, há grande convergência para a união de esforços na reconstrução dos direitos humanos, como parâmetro ético a
orientar as Constituições dos países.
No que se refere à categoria Justiça, tem-se que historicamente é definida em várias concepções, influenciada por um juízo de valor inerente à conduta humana, e nesta seara, questões culturais e
religiosas contribuíram e contribuem para uma definição mais clara e específica. Nesse processo de compreensão do que é justiça, é
importante o estudo de casos e problemas reais, os quais permitem
uma melhor percepção e desenvolvimento de habilidades e competências necessários para a concretização do conceito de Justiça.
A experiência da extensão nessa área permite uma construção
coletiva do conceito de Justiça, e, portanto, diferente de um ensino ou
de uma prática de estágio convencional, que isola tal conceituação no
universo do curso, diante de pré-conceitos definidos por uma norma
positivada fria e distante. Havendo estreita ligação com a natureza
humana, o entendimento do significado de justiça possui influência e
interferências em todos os setores da sociedade, sejam eles políticos,
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econômicos e sociais. Por essa razão, ante a necessária multidisciplinaridade, tais conhecimentos e ensinamentos aplicam-se e influenciam nas áreas de formação do Estado e da sociedade e, portanto,
desenvolverão um conceito, se não padrão, mas de fácil percepção e
compreensão a todos os setores de Justiça, pois, dessa forma, acredita-se que a vida em sociedade torna-se mais equilibrada.
d) Cidadania, democracia e acesso à justiça: a informação
para o exercício da cidadania e o conhecimento dos direitos
para o efetivo exercício destes constitui-se na possibilidade
de acesso à justiça, considerado o mais básico dos direitos
humanos. O acesso à justiça não é apenas um direito
social crescentemente reconhecido e assegurado, mas
que deve ser efetivo para alcançar a ordem jurídica justa
para toda a população. Numa sociedade que se pretende
justa e equilibrada, as pessoas devem exercer plenamente
seus direitos e deveres, atuando como sujeitos de direito.
Do contrário, só haverá exclusão, desinformação sobre
direitos e deveres, desequilíbrio e injustiça social. A
pessoa economicamente carente não pode viver à margem
da justiça, acumulando incontáveis danos à sua dignidade.
Se a economia de mercado está auxiliando para criar mais pobreza e exclusão social, cabe ao Estado a execução de tarefas indispensáveis como a educação/orientação/informação, para garantir
a efetividade dos direitos individuais e coletivos, assegurados pela
Constituição Federal. Os valores de democracia enunciados pela
Constituição brasileira irradiam sobre a estruturação do Estado,
atinge a ordem jurídica e deve produzir reflexos nos anseios da população, ou seja, os valores democráticos devem absorver a von-
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tade popular e ajustar-se ao interesse da coletividade, à condição
precípua de cidadão.
e) Emancipação humana: contemporaneamente o uso
do termo emancipação tem experimentado um sensível
aumento, e seu emprego vem sustentado argumentos e
discursos de diversas tendências e orientações teóricas.
Na tentativa de buscar seu sentido e contexto, é possível
perceber uma longa caminhada. Os fundamentos da
emancipação humana residem na possibilidade de
os seres humanos obterem o controle da história de
maneira consciente e planejada e, fundamentalmente, a
materialização da emancipação humana ocorrerá se os
homens concretos estiverem dispostos a fazê-lo.
Público-alvo
O público-alvo do PECJur é representativa da parcela de brasileiros que sofrem as desigualdades sociais, a qual não se limita a descapitalização econômica, mas, sobretudo, descapitalizada em termos
de informação, de noções e acesso aos direitos da cidadania, ou seja,
trata-se de uma população em situação de vulnerabilidade social.
A atuação permite identificar a necessidade que a população
tem de conhecer seus direitos e deveres e poder acessá-los, muitas
vezes os mais básicos dos direitos do ser humano, como os direitos
que envolvem a saúde, as questões previdenciárias, as de gênero
(mulher, criança, adolescente, idoso), o direito do acesso à justiça,
particularidades dos conflitos familiares, as quais apresentam interface com inúmeras outras problemáticas, o que tem exigido dos
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professores e acadêmicos novas e contínuas interlocuções teóricas,
tendo em vista a qualificação dos atendimentos.
O atendimento destina-se à comunidade em geral, seja ela
na forma de sujeito individual, coletivo, organizacional, escolar ou
social, no contexto da demanda interna (Unochapecó) ou externa
(comunitária). O público-alvo específico são estudantes da rede
pública municipal e estadual (crianças, adolescentes e adultos da
Educação de Jovens e Adultos), com atuação direta nas escolas, associações de bairros e comunidades do município de Chapecó (SC),
bem como grupos de idosos do município de Chapecó (SC).
Atuação na comunidade externa (em nível local e regional)
junto aos órgãos de proteção dos idosos, criança e adolescente (associações, entidades não governamentais, grupos ligados ao público-alvo), escolas de ensino fundamental e médio e outros ambientes em que seja possível o desenvolvimento das atividades.
Destaca-se que desenvolvem e conduzem essas atividades
professores e estudantes que integram o Projeto de Extensão Comunitária (PECJur).
Metodologia e avaliação
Na proposta metodológica, utiliza-se de:
Estudos dirigidos, essa ferramenta de trabalho é fundamental para a capacitação de professores, estudantes e técnicos que
estejam envolvidos diretamente no projeto de extensão. O desenvolvimento responsável desse projeto requer grande dedicação
de professores e estudantes na compilação dos direitos e deveres
constantes do material de divulgação do PECJur. Considerando a
interdisciplinaridade do tema, muito há para ser pesquisado, e o
estudo deve ser direcionado a responder as perguntas mais recorrentes nesse enorme universo em que o projeto se insere.
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Capacitações e palestras: para a capacitação dos docentes,
discentes e técnicos envolvidos no presente projeto, haverá o envolvimento e participação de muitos cursos da instituição, dentre
os quais podemos citar os cursos de: Direito, Educação, Psicologia,
Serviço Social. Elaboração de cartilha e material vinculados ao tema.
Ações internas e externas: capacitação de professores, técnicos e estudantes que vão atuar diretamente no projeto, realização
de palestras e oficinas com profissionais da área da psicologia, pedagogia, serviço social e direito.
Atuação na comunidade interna e a divulgação do projeto em
todos os cursos da instituição. Atuação junto aos demais projetos
de extensão da Universidade Comunitária da Região de Chapecó
(Unochapecó).
A proposta avaliativa das ações desenvolvidas pelo PECJur
está vinculada ao atendimento de pessoas e/ou famílias, especialmente crianças, adolescentes e idosos, que se encontram em situação de vulnerabilidade social e demandam a informação sobre
direitos e deveres para o exercício da cidadania. A avaliação é realizada de forma gradativa com todos os envolvidos na dinâmica das
atividades desenvolvidas.
Visando ser coerente com a concepção filosófica apresentada,
o desenvolvimento permanente de pesquisa avaliativa visa produzir conhecimentos sobre o processo de formação profissional e de
atendimento/resolução das problemáticas apresentadas pelos envolvidos no projeto, possibilitando rever e desenvolver novas práticas, considerando a dinâmica da sociedade.
Para realização de um processo permanente de avaliação, para
além da possibilidade da coleta de informações quantitativas, a qual
pode ser obtida via sistema de controle dos atendimentos realizados, se pretende lançar mão de pesquisa qualitativa de tipo históriA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
co-estrutural dialética. Esse tipo de pesquisa parte da descrição que
intenta captar, não só da aparência do fenômeno, como também da
sua essência. Busca as causas da existência dele, procurando explicar
sua origem, suas relações, suas mudanças, e se esforça por intuir as
consequências que terão para a vida humana (Triviños, 1987, p. 129).
A avaliação do processo de intervenção junto à comunidade
por meio das ações de ensino e extensão possibilita retorno no que
se refere a transformações que possam ter ocorrido, tanto a partir da visão dos beneficiários da ação, quanto dos estudantes que
se constituíram como sujeitos do processo e que de uma forma ou
outra, essa ação refletiu na sua formação profissional. A devolutiva
possibilita reorganizar a dinâmica de ensino, bem como a própria
gestão do Programa, na perspectiva de superação dos desafios e manutenção dos processos que se colocam afirmativos.
Produtos e observações
Estudos dirigidos, essa ferramenta de trabalho é fundamental
para a capacitação de professores, estudantes e técnicos que estejam envolvidos diretamente no projeto de extensão.
Capacitações e palestras: para a capacitação dos docentes,
discentes e técnicos envolvidos no presente projeto, haverá o envolvimento e a participação de muitos cursos da instituição.
Elaboração de cartilha e material vinculados ao tema. Destaca-se que PECJur já elaborou as seguintes cartilhas:
•
•
•
•
Criança e Adolescente em Conflito com a Lei: qual o caminho?
Violência se Combate com Direitos
Cartilha do Idoso
Educação Previdenciária.
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Nas atividades desenvolvidas, a divulgação é feita por meio
das Cartilhas.
Elaboração de folders para divulgação do Projeto e das temáticas trabalhadas.
Elaboração de artigos pelos bolsistas de extensão vinculados às temáticas do PECJur.
Criação de vídeos feitos pelos estudantes, professores e bolsistas.
Publicação de artigos e pesquisas científicas realizadas
pelos pelos estudantes, professores e bolsistas.
Considerações finais
O Projeto de Extensão Comunitária Jurídica (PECJur) objetiva atender os requisitos da Política de Extensão da Unochapecó,
quanto à organização das atividades extensionistas, as quais se organizam especialmente em torno de programas e projetos permanentes, possibilitando dessa forma uma ação efetiva junto à comunidade local/regional.
O PECJur vincula-se com a comunidade da sua área de abrangência, pois atende uma população que historicamente não teve
acesso e/ou acessou de forma muito precária os seus direitos para
o exercício da cidadania.
Quanto à construção de conhecimento e formação profissional, o PECJur está em consonância com os compromissos da Unochapecó, possibilitando a construção de um conhecimento referenciado nos problemas da comunidade regional, contribuindo na
formação de profissionais comprometidos com a cidadania, entendida esta como processo individual e coletivo de superação das deA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
sigualdades e acesso à justiça, para o qual o conhecimento e acesso
a direitos é condição fundamental.
Dessa forma, toda a ação do PECJur está voltada à defesa dos
direitos humanos, da cidadania e da democracia, que pressupõe
respeito aos princípios fundamentais da vida pública e da dignidade do ser humano. Compreende-se que a formação, em seu sentido amplo e pleno, requer o compromisso dos atores envolvidos
no processo educacional, voltados para o exercício da cidadania e
conduta ética.
Referências
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MORAIS, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria
geral, comentários aos arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 3. ed. São Paulo: Atlas,
2003.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o
pensamento. Tradução de Eloá Jacobina. 9. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
______. Método 5: A humanidade da humanidade: a identidade e humanidade. Porto Alegre: Sulina, 2002.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 2001.
SOARES, Maria Victoria Benevides. Cidadania e direitos humanos.
In: CARVALHO, José Sérgio (Org.). Educação, cidadania e direitos
humanos. Petrópolis: Vozes, 2004.
TRIVIÑOS, Augusto. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a
pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
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Texturas – aprendizagens com a
leitura na educação básica
Márcia de Souza
Felipe Flores Kupske
Júnia Laíse Scheunemann Engel
Natalia Matiazzo
Introdução
Evidencia-se na atualidade, por parte dos profissionais da
educação e da comunidade não escolar, certa inclinação para se discutir alternativas que superem o índice de não leitores no País. O
cenário propõe ainda que a leitura seja um campo de atuação para a
ampliação dos processos e condições de inclusão social da população. Se por um lado o momento sugere perspectivas para o trabalho
com práticas de leitura que fortaleçam o desejo coletivo em prol
da formação de leitores, por outro, coloca aos professores, aos cursos de formação de professores, principalmente da área de Letras,
o desafio e a responsabilidade de apresentar propostas viáveis que
considerem o protagonismo do leitor.
A necessidade de trabalharmos com a leitura em espaços formais e informais de educação é tema em pauta nas esferas públicas
e privadas, uma vez que impactos dessa atividade estão diretamente
relacionados à questão do desenvolvimento social e cognitivo. Devemos compreender a leitura como um direito, fundamentado no
marco legal da Lei n. 10.753, de 30 de outubro de 2003, a qual institui a Política Nacional do Livro e aponta como uma das diretrizes a
promoção e o incentivo ao hábito da leitura. Desde a publicação da
Lei, na esfera pública, são inúmeros os editais de estímulo a projetos
na área e leis de incentivo. Esses indícios sobre a necessidade de
ampliação das estratégias voltadas à formação de leitores são reiterados, melhor compreendidos e se tornam fundamentais, ao analisarmos os resultados obtidos nas avaliações da educação básica
propostas pelo Ministério da Educação (MEC), dados das pesquisas
Retratos da Leitura no Brasil, realizadas desde 2001 pelo Instituto
Pró-Livro (IPL), e relatórios do Instituto Paulo Montenegro com o
Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) no mundo do trabalho.
Com o olhar nesses índices, desenvolvemos o projeto Bolsa
Amarela: cidadania e formação de leitores, vinculado ao curso de
Letras, Área de Ciências Humanas e Jurídicas e à Diretoria de Extensão da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). As ações ancoram-se na proposta do Projeto Político Pedagógico do curso e buscam a orientação da prática educativa voltada
à formação de professores capazes de intensificar os saberes de
línguas e literaturas no cotidiano da sala de aula, de modo a tornar
próxima a produção do conhecimento perpassada pelo ensino, pesquisa e extensão.
As intervenções do projeto tiveram início em março de 2009
e, até julho de 2012, aconteceram na Escola Municipal Santa Terezinha, em Xaxim (SC). Durante esses quatro anos, as atividades
tiveram como base a literatura infantil, uma vez que o público envolvido era o de crianças dos anos iniciais. As experiências desse
período foram socializadas em eventos, estão registradas em artigos e podem ser consultadas em materiais impressos e on-line
(Souza; Capitanio; Souza, 2012).
A partir de então, o projeto foi reestruturado e, na atualidade, efetiva-se na Escola Estadual de Educação Básica Tancredo de
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Almeida Neves, Chapecó (SC), atendendo de modo permanente as
turmas do ensino médio. O trabalho com a leitura nesse nível escolar é fundamental para o bom desempenho do estudante nas avaliações nacionais, uma vez que a nota do Enem também é usada
na obtenção de bolsas de estudos em faculdades particulares pelo
Programa Universidade Para Todos (ProUni) e para o financiamento estudantil federal (Fies). Além disso, serve para certificação do
ensino médio e para participação no programa Ciência Sem Fronteiras, de bolsas no exterior.
A atenção para o Enem na área das Linguagens leva em consideração o ranking das escolas públicas estaduais. Nas avaliações
de 2014, divulgadas em 2015, a melhor nota em âmbito nacional
nessa área foi para uma escola de São Paulo, com média de 631,8, e
esse estado também obteve o melhor resultado com as instituições
particulares, 661,1. Em Santa Catarina, a melhor nota foi para uma
escola estadual da capital, com 568,4. A cidade de Chapecó aparece
em terceiro lugar com o desempenho da Escola de Educação Básica Bom Pastor, 535,04. Em relação às demais escolas estaduais
do município, a escola Tancredo de Almeida Neves ficou em sexto lugar com 513,11. Esse índice é muito próximo do mínimo, uma
vez que com 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento
e quinhentos pontos na redação, interessados com no mínimo 18
anos receberão diploma de conclusão do ensino médio, sem haver
a necessidade de frequência às aulas.
Neste capítulo, então, discutiremos as ações do projeto em
suas perspectivas teóricas e metodológicas, suas implicações na
prática da sala de aula da escola pública, sua relação com o currículo do curso de Letras e, consequente, com a formação acadêmica.
Não perdemos de vista sua dimensão na pesquisa, sobretudo no
que concerne ao projeto em andamento, Educação Superior e ForA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
mação Leitora/Escritora: Índices do oeste de Santa Catarina, aprovado em 2015, por meio de edital de financiamento, com recursos
do artigo 171, do Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (Uniedu).
Pensar a formação do leitor
O que mencionamos até agora em relação às estatísticas está
correlacionado à lógica sobre a qual se constituiu a história do leitor e da leitura no Brasil. Lajolo e Zilberman (1996) discutem como
os fatos históricos mudaram e propiciaram a disseminação desse
indivíduo tão escasso e minoritário. A obra A Formação da Leitura
no Brasil será referência para este trabalho, uma vez que abre um
panorama histórico e conceitual entre leitura e leitor e nos mostra
de que maneira ambos devem se relacionar.
O leitor como conhecemos é resultado do surgimento da prensa móvel de Gutemberg, no século XV. Esse mecanismo técnico levou
à ampliação do mercado e do livro, o poder de consumo das massas,
a urgência da noção de lazer e o recente papel que a leitura desempenharia dentro do novo préstimo da família e da privacidade do lar.
Se é certo que leitores sempre existiram em todas as sociedades nas quais a escrita se consolidou enquanto código, como se sabe a propósito
dos gregos, só existem o leitor, enquanto papel
de materialidade histórica, e a leitura, enquanto
prática coletiva, em sociedades de recorte burguês, onde se verifica no todo ou em parte uma
economia capitalista. Esta se concretiza em empresas industriais, comerciais, e financeiras, na
vitalidade do mercado consumidor e na valorização da família, do trabalho e da educação. (Lajolo; Zilberman, 1996, p. 16).
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A leitura sempre esteve viva em todas as sociedades, a começar pela oralidade. Uma pessoa era encarregada de contar histórias
para outras, que se acomodavam para ouvir. Esses contos populares recebiam sempre modificações com o passar do tempo, uma vez
que a forma oral não possui um registro fixo como o da imprensa.
Sem dúvida, o processo de transmissão afeta as
histórias de maneiras diferentes, em culturas
diferentes. Alguns conjuntos de tradições folclóricas podem resistir à ‘contaminação’, embora
absorvendo novo material de maneira mais efetiva que outros. Mas as tradições orais parecem
ser tenazes e altamente duráveis quase em toda
parte, entre os povos sem escrita. Também não
se desmantelam com sua primeira exposição à
palavra impressa. (Darnton, 1986, p. 35).
No Brasil, a adesão da leitura popular foi realmente visível no
Segundo Reinado com o Romantismo. Os autores dispendiam tratamentos pessoais para aquele que lesse a obra, havia a retomada dos
acontecimentos dos últimos capítulos, explicação da participação
de novos personagens, simulação de reações à obra etc.
Num gesto em tudo semelhante, superestima o
saber prévio do leitor, o que também acaba por
conferir-lhe alguma superioridade. [...] Porém ao
mesmo tempo em que lisonjeia seu leitor, reconhecendo-lhe os pré-requisitos necessários para
a leitura, ao anunciar estratégias narrativas voltadas para sua preservação, parece encolher um
pouco a competência anteriormente creditada a
ele, atribuindo-lhe agora fôlego curto, ao qual facilmente cansa a repetição das informações. (Lajolo; Zilberman, 1996, p. 20).
O momento da circulação do setor já era uma realidade em
meio aos mecanismos formuladores para o mercado da literatura:
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impressão, livrarias e bibliotecas presentes na sede do Rio do Janeiro. Essa forma cuidadosa, compreensiva e paternalista de tratar
o leitor se dava devido à iniciação do público ainda inexperiente
nessa atividade, e sem dúvida, às táticas mercadológicas.
Para Lajolo e Zilberman (1996), havia também a construção
do leitor nas obras, no caminho de idealizá-lo; representá-lo como
espectador e participante sabido da trama que se desenrolava. Machado de Assis foi um pouco além e, em seu conto Questão de Vaidade, narrador e leitor compartilham do mesmo espaço e de intimidade na descrição da cena. Essa relação se desenvolveu bem e
surtiu efeito no que se pretendia por parte dos artistas românticos.
Um fato curioso é o de que o aumento do leitorado não foi tanto em
razão da compra do livro, e sim ainda do folhetim de jornal em que
eram publicadas cada capítulo das ficções. Isso aguçava a curiosidade pelo enredo e pela compra da edição seguinte.
A Literatura Brasileira é farta de escritores que se preocuparam com o aspecto da recepção e, em suas produções, motivaram a
constituição de sentidos e de diálogos entre leitor e narrador, prioritariamente nas narrativas do fim do século XIX para o XX, e do momento presente. Desde o surgimento do romance até a atualidade,
o narrador passa a falar mais na direção do leitor, busca encurtar
o espaço entre eles para criar uma relação comum entre os fatos
narrados. Essas estratégias, consequentemente, reconstituem a relação entre o escritor e mercado editorial.
Ao mesmo tempo que se configura a estética contemporânea
da literatura para a venda, vem com ela um reafirmado coleguismo
entre a dupla narrador e leitor nessas engrenagens do mercado editorial, este último aprendendo cada vez mais com o primeiro, afinal,
só há mais produções caso continue havendo identificação atrativa
para consumi-las.
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Dentre as discussões que envolvem a preocupação com a formação de leitores no Brasil, destacam-se os últimos dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a qual apontou, em 2016, que
44% da população brasileira, com mais de cinco anos de idade, não
é leitora ou, ainda, se observarmos os resultados do Indicador de
Alfabetismo Funcional (Inaf), em 2015, apresentou que o total de
27% da população brasileira no mercado de trabalho deve ser considerada analfabeta funcional. Ser alfabetizado não significa somente reconhecer e juntar letras, mas ser capaz de inferir, decodificar,
compreender palavras, as pausas corretas na pontuação, processar
significados, e, por fim, o sentido final do enunciado para análise.
A cena literária na sala de aula
Por que ler é importante? Ou por outra, porque ler é fundamental? Há inúmeras justificativas para essas perguntas e respostas, mas, neste caso, essencialmente fala-se da leitura a partir de
um curso de licenciatura em Letras e das questões que implicam
à formação de professores. Nem sempre o currículo universitário
consegue suprir, em alguns casos está longe de suprir, o que se
entende necessário para essa atividade profissional docente. Os
projetos sociais de extensão universitária têm sido aliados nessa
trajetória. Por um lado, são considerados espaços decisivos para o
aperfeiçoamento profissional e, por outro, fazem o movimento imprescindível à universidade, a relação com a comunidade.
No caso do Bolsa Amarela, essa relação se faz com a inserção
dos acadêmicos na escola, na vivência e percepção desse espaço. O
diálogo com alunos e professores propicia alternativas viáveis de
trabalho com a leitura, para além do currículo escolar. A opção pela
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literatura traz essa perspectiva, por meio da qual se enfatizam conteúdos nem sempre discutidos no cotidiano das aulas, como os conteúdos do Enem e as obras literárias solicitadas nos vestibulares.
A obstinação que move o planejamento das atividades é a de
modificar uma rançosa ideia, comum no cotidiano da sala de aula:
“eu não gosto de ler”. Infelizmente, essa noção perpassa todos os
níveis de educação e não se apresenta apenas na linguagem dos alunos. Possenti (1994, p. 28), por exemplo, identificou essa trágica
situação e a discutiu em um texto chamado Pragas da Leitura. Nele,
o autor apresenta dois sentidos para esse título: num a leitura é
objeto e noutro é agente das pragas. A leitura tem sido atacada por
algumas pragas, entre elas a enfadonha opinião acima mencionada
e que pode ser reiterada quando a sala de aula e o espaço escolar
não são compreendidos como locais propícios para ela: professores
não adotam a leitura em suas aulas, pois sentem receio de serem
nominados de preguiçosos. Isso mostra que a leitura, equivocadamente, não é entendida como trabalho.
Na escola, praga mesmo não é professor que não
manda ler, é professor que não lê. Quem não lê
[...] não tem por que aconselhar ou criar oportunidades para que outros leiam. A experiência de
leitor é intransferível. Se alguém lê e consegue
com isso que outro se impressione e tente também, esta já será uma outra experiência. (Possenti, 1994, p. 33).
Mencionar que se atua na formação de leitores pode ser considerado “politicamente correto”. No entanto, para Azevedo (2004,
p. 38):
Infelizmente, não poucas crianças têm contato
com adultos – pais, professores e outros – que
recomendam a leitura, [...] mas, na verdade, não
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são leitores [...]. Apesar de bem intencionadas,
essas pessoas [...] costumam descrever a literatura de forma bastante idealizada. Falam em algo
‘mágico’, num prazer ‘indescritível’, referem-se
a ‘viagens’ e coisas assim. Raramente, porém,
talvez por não terem experiência, lembram-se
de comentar, por exemplo, que a leitura, como
muitas coisas boas da vida, exige esforço e que o
chamado prazer da leitura é uma construção que
pressupõe treino, capacitação e acumulação. O
contato com adultos pseudoleitores e com idealizações infelizes a respeito da literatura e da leitura, de qualquer forma, tenho certeza, não tem
contribuído para a formação de novos leitores.
É a desconstrução desse ideário que fortalece o Bolsa Amarela. Temos como princípio reflexões sobre leitura e escrita em diferentes situações: formação de leitores, formação continuada do
professor, dinamização da leitura e da escrita, interação com novas
tecnologias de apoio à formação de leitores, articulação com políticas públicas de incentivo à leitura e atividades que estimulam o
protagonismo acadêmico no cotidiano escolar.
O leitor protagonista – experiências
com a literatura no ensino médio
Encontramos na Literatura de Tradição Oral um ponto de partida para iniciarmos um diálogo que fosse ao encontro das experiências e dos interesses dos alunos. Foram trabalhados conceitos e
saberes e elaborada uma estratégia para o envolvimento dos alunos
na produção e coleta de narrativas na comunidade do bairro Efapi.
Com essa temática, foi possível observar conteúdos nem sempre
previstos no tradicional currículo escolar.
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Primeiramente, discutimos com os grupos: qual a importância que o hábito de ler tem em nossas vidas? Com o intuito de conhecer os adolescentes, indagamos sobre seus hábitos de leitura, o
que leem, com que periodicidade e se eles têm gosto pela leitura.
Com esse breve diagnóstico iniciamos as demais atividades. Os alunos foram interpelados sobre o que significava para eles a literatura
oral e o que conheciam sobre esse tipo de narrativa. Com o intuito
de despertar a atenção dos discentes, em um primeiro momento,
foi proposto o tema “Lendas Urbanas”. Solicitamos que lembrassem
algumas dessas histórias, as quais eles conhecem somente por registros orais e que são repassadas para outras pessoas da mesma
forma. Muitas histórias foram lembradas, as contadas e ouvidas na
escola, entre amigos e, principalmente, de pessoas da família, avós,
tios, pais etc. Os mitos e histórias fantásticas compostas nesse subgênero são conhecidos por meio da tradição oral.
Em seguida, foi feita a contação da lenda “A verdadeira história da Loira do Banheiro”, conhecida no meio escolar. Como estímulo à produção e ao trabalho coletivo, as turmas foram organizadas
para que criassem uma lenda oral. Alguém começava a história e,
sucessivamente, os outros davam continuidade, fazendo com que a
história tivesse sentido. Para contribuir com a história, cada participante retirava de uma caixa uma palavra. Então, naquele momento, o “contador” deveria inserir a palavra na história. Os estudantes que finalizavam os textos precisavam criar um final condizente
com a trama desenvolvida ao longo da contação. Em um segundo
momento, foi realizada uma produção escrita individual. Os alunos
deveriam criar uma lenda urbana, baseando-se nas histórias que
já conheciam. Para auxiliá-los, foram colocados objetos diversos
dentro de uma bolsa amarela, e a lenda deveria ser composta pelo
nome dos objetos retirados de dentro da bolsa. A intenção dessas
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atividades era instigar o protagonismo e proporcionar aos alunos
momentos em que eles próprios produzissem histórias orais e percebessem que eram capazes dessa produção. Assim, foi possível inseri-los, efetivamente, no universo da literatura oral. Houve a compreensão de que a literatura oral pode estar em diferentes lugares
e surgir de diferentes pessoas. Como faz parte de uma tradição, é
também passada de geração para geração. Nesse contexto, não se
pôde deixar de mencionar e conhecer Luís da Câmara Cascudo, um
dos mais respeitáveis pesquisadores do folclore e da etnografia do
nosso país.
Eu gostaria de saber qual o traço mais marcante da cultura popular brasileira. Gostaria de saber, pelo seguinte, porque uma cultura popular é
milenária e contemporânea. É de todas as épocas
e do momento. A nossa vem das fontes mais antigas e variadas. Das indígenas, de onde vieram
os nossos indígenas, quais as fontes étnicas culturais deles; quantas raças a África exportou nos
navios negreiros para o Brasil. Cada grupo étnico
era uma cultura, uma memória, uma projeção na
nascente cultura brasileira, que era a miscigenação. Portugal é um tabuleiro de raças. Ali estavam
todos os romanos, os celtas, os árabes e tudo isso
veio para o Brasil, e naturalmente, logicamente,
desse atrito a forma foi a mais inesperada, e a
força de concentração mantém os elementos perenes, mas o tempo vai diferenciando, aculturando todas essas coisas. (Cascudo, 1978).
Foi necessário contextualizar o que era tradição oral e como
era difundida. E o que de fato os alunos sabiam a respeito de lendas
urbanas, o que era esse subgênero literário? A partir das explicações, eles fizeram anotações no próprio caderno de Língua Portuguesa, foram instigados a pesquisar sobre o assunto e aprofundar
os conhecimentos.
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Como o objetivo era trabalhar a Literatura de Tradição Oral, foi
preciso apresentar aos grupos conceitos e também teoria sobre esse
gênero. Foram feitas apresentações em slides, salientando que sua
definição é de um testemunho transmitido oralmente de uma geração a outra e que suas principais características são o verbalismo e
sua maneira de transmissão, diferindo-se das fontes escritas. Para
essa conceituação e planejamento das atividades, a leitura da obra
O Grande Massacre dos Gatos, de Robert Darnton, foi fundamental.
Devido à complexidade do tema, foi explicado ainda que não
há uma definição para tradição oral que dê conta de todos os seus
aspectos. Um documento escrito é um objeto: um manuscrito. Mas
um documento oral pode ser definido de diversas maneiras, pois um
indivíduo pode interromper seu testemunho, corrigir-se, recomeçar
etc. Toda literatura oral tem sua própria divisão em gêneros literários. O historiador não só tentará apreender o significado desses gêneros para a cultura que está estudando, mas, também, colherá ao
menos uma amostra representativa de cada um, pois em todos eles
pode-se esperar encontrar informações históricas, além do que, as
tradições que o interessam particularmente são mais fáceis de compreender quando analisadas no contexto geral (Vansina, 2008).
Durante as atividades, destacamos que a literatura oral é a antiga arte de exprimir eventos reais ou fictícios em palavras, imagens
e sons. Histórias têm sido compartilhadas em todas as culturas e
localidades como um meio de entretenimento, educação e preservação da cultura. A literatura oral é frequentemente considerada
como um aspecto crucial da humanidade. Os seres humanos têm
uma habilidade natural para usar comunicação verbal para ensinar,
explicar e entreter, o que explica o porquê da literatura oral ser tão
preponderante na vida cotidiana, uma vez que ela depende da experiência pessoal e da imaginação.
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O maior obstáculo é a impossibilidade de escutar
as narrativas, como eram feitas pelos contadores
de histórias. Por mais exatas que sejam, as versões escritas dos contos não podem transmitir os
efeitos que devem ter dado vida às histórias no
século XVIII: as pausas dramáticas, as miradas
maliciosas, o uso dos gestos para criar cenas –
uma Branca de Neve com uma roda de fiar, uma
Cinderela catando os piolhos de uma irmã postiça – e o emprego de sons para pontuar as ações
– uma batida à porta (muitas vezes obtida com
pancadas na testa de um ouvinte) ou uma cacetada, ou um peido. Todos esses dispositivos configuravam o significado dos contos e todos eles escapam ao historiador. (Darnton, 1986, p. 32-33).
Também foi descrito aos grupos que a história contada e recontada no transcorrer de diversas gerações sofre modificações ao
longo do tempo e que muitas destas histórias são contadas e adaptadas para os contos populares. Os personagens, na maioria das vezes, são mitológicos ou descritos dentro da simplicidade do homem
da sociedade na qual a narrativa é contada. Há também a ocorrência de fatos fantásticos e miraculosos.
Para que os alunos compreendessem de forma mais eficaz as
transformações que as histórias orais sofrem ao serem recontadas,
propusemos uma atividade simples e prática, o “telefone sem fio”.
Uma breve frase era contada a um aluno, fazendo alusão a uma história, e esse por sua vez contava para o colega, que contava para outro e assim sucessivamente. Ao final, o último ouvinte contava para
o grupo o que havia ouvido. Geralmente, o tema central da frase era
mantido, mas muitas modificações eram feitas e a frase final nunca
era igual ao do início. Foi possível fazer a relação com as histórias
orais e as modificações que elas sofrem ao serem recontadas por
diferentes pessoas.
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O surgimento da escrita e a oficialização da história auxiliou
o homem a registrar os fatos antes passados oralmente. Nesse sentido, destacamos o escritor francês Charles Perrault, importante
pesquisador de tradições orais que as transformava em livros. Os
alunos também conheceram dois expressivos coletadores de histórias orais de todos os tempos: os irmãos Grimm. Muitos não tinham ouvido falar em Jacob e Wilhelm Grimm, conhecidos em todo
o mundo pela grande quantidade de contos populares que recolheram na Alemanha, desde o início do século XIX, os quais escreviam
as histórias que ouviam de parentes, amigos e camponeses.
Durante séculos, as histórias conhecidas por diferentes povos
eram transmitidas apenas oralmente. Eram contadas pelos mais velhos aos mais novos, percorrendo gerações. Na Idade Média, muitas
delas ganharam versões escritas, feitas principalmente pelos padres
que moravam nos monastérios. O registro desses contos em texto
escrito tornava mais fácil a preservação dessas histórias. Sabendo
disso, os irmãos Grimm passaram a pesquisar relatos em documentos antigos e recolher contos entre a população da Alemanha para
preservar as histórias tradicionais do seu povo. Reiteramos que os
irmãos Grimm são os escritores/coletadores de histórias infantis
famosas, como Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca
de Neve, Cinderela, Rapunzel, entre outras. Contudo, enfatizamos
que a maioria dessas histórias não trazia a perspectiva do mundo
infantil, mas eram contadas como histórias de terror para adultos.
Os irmãos Grimm foram responsáveis pela adaptação dessas histórias para o público infantil.
Apesar de ocasionais toques de fantasia, portanto, os contos permanecem enraizados no mundo
real. Quase sempre acontecem dentro de dois contextos básicos, que correspondem ao cenário dual
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da vida dos camponeses nos tempos do Antigo Regime: por um lado, a casa e a aldeia; por outro, a
estrada aberta. A oposição entre a aldeia e a estrada percorre os contos, exatamente como se fazia
sentir nas vidas dos camponeses, em toda parte,
na França do século XVIII. (Darnton, 1986, p. 54).
Na sequência, trabalhamos com os grupos uma conhecida
história escrita pelos Irmãos Grimm, porém não a versão coletada
por eles, mas a versão de Charles Perrault. A história era Chapeuzinho Vermelho, que na versão de Perrault não tem um final feliz,
pois tanto a vovó quanto a menina são devoradas pelo lobo. Essa e
outras versões eram contadas em épocas passadas com o intuito de
assustar e inibir adultos e crianças quanto a comportamentos e hábitos. Na versão adaptada de Chapeuzinho Vermelho pelos irmãos
Grimm, a vovó e a menina são salvas e ficam bem.
Os estudantes tiveram também a oportunidade de fazer adaptações de outras histórias dos irmãos Grimm. Em um dos momentos, organizados em trios, os alunos construíram as suas adaptações, escolheram um conto e o adaptaram de forma criativa. Essa
atividade teve como princípio instigar protagonismo. Além disso,
os alunos receberam orientação com relação à coleta de histórias
que eles fariam. Organizados em trios, cada grupo ficou responsável por encontrar uma pessoa que tivesse uma história, daquelas
que são passadas de geração a geração, para que eles pudessem
coletar. Nesse primeiro momento, deveriam gravar ou escrever a
história sem efetuar alterações, respeitando a originalidade e trazer esse material para o encontro seguinte. As histórias foram coletadas como atividade extraclasse para que os alunos pudessem
visitar e interagir com familiares, vizinhos ou conhecidos. Além da
história, eles deveriam organizar uma pequena biografia do narrador/contador.
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No encontro seguinte, os grupos trouxeram as histórias que
foram organizadas para que tivessem coesão e coerência, além de
torná-las textos escritos, e não mais apenas orais. A atividade foi
realizada em dois momentos para que o trabalho fosse benfeito e
organizado. Esse momento finalizou o trabalho acerca da Literatura de Tradição Oral com as turmas de primeiro ano do ensino
médio, as quais puderem obter conhecimento teórico quanto ao
assunto e colocar em prática o que foi estudado e discutido durante
os encontros. Teoria e prática foram assumidas igualitariamente.
Além das atividades sobre Tradição Oral com as turmas de
primeiro ano do Ensino Médio, foram realizadas atividades com o
gênero textual “crônica”. Foi elaborada uma produção escrita baseada na crônica “Eu sei mas não devia” da escritora Marina Colasanti,
a fim de questionar os alunos sobre questões do seu cotidiano que
não lhes agradam, mas que juntos eles podem buscar as devidas
soluções.
Com as turmas de segundo ano do ensino médio, foi trabalhada
a poesia “Amor é fogo que arde sem se ver”, de Luís de Camões. Alguns alunos foram responsáveis por pesquisar vida e obra do autor e compartilhar com a turma. Foi feita a relação da poesia com a
música “Monte Castelo” da banda Legião Urbana, a qual usa trechos
da poesia para a composição da música, mostrando, assim, que a
literatura vai além de textos e está em constante intertextualidade.
Em decorrência do vestibular e do Enem com as turmas do
terceiro ano, são trabalhados escritores relevantes para a literatura
brasileira, tais como Carlos Drummond de Andrade, os poemas: “E
agora José? Poema de sete faces” e “No meio do Caminho”; Vinicius
de Moraes, “Soneto da fidelidade”; de Cecília Meirelles, “Tu Tens um
Medo” e “Despedida”; de Clarice Lispector a obra “A Hora da Estrela”.
Pesquisamos sobre a vida e obra de cada um dos autores, contexto
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histórico no momento da produção, desenvolvemos análises, discussões, bem como foram resolvidas questões de vestibulares e Enem.
Considerações finais
A manifestação de qualquer expressão intelectual por meio da
palavra deve ser compreendida no âmbito da literatura, a qual não
se restringe apenas ao texto escrito, apesar dele ser a forma mais
comum de reconhecê-la, tendo em vista a relação entre literatura e
letras. No entanto, a palavra pronunciada, falada, é uma forma de
expressão independente da escrita, e isso designa o fenômeno literário, mais amplo e complexo, anterior ao alfabeto. Se isso não
fosse considerado, estaríamos negando a literatura dos iletrados,
daqueles sem instruções literárias.
Mesmo desconhecendo as disciplinas de ler e escrever, os povos primitivos e alguns grupos de pessoas na atualidade produziram
e produzem cânticos, lendas, mitos, histórias; demonstram suas
experiências e regras de conduta com provérbios, adivinhações,
dramatizações, o que nos faz pensar na existência de um patrimônio
que, desde a antiguidade, vem se difundindo de memória em
memória e sobrevivendo por meio da Literatura de Tradição Oral.
Com essas experiências, o grupo de alunos do ensino médio
da Escola Estadual de Educação Básica Tancredo Neves de Chapecó
(SC) percebeu a literatura sob duas particularidades, a escrita e a
oral. Entenderam que a cultura popular é milenar e ainda assim
contemporânea. Valorizaram as histórias contadas pelos mais velhos e na comunidade. Conheceram pesquisadores, folcloristas,
dedicados ao estudo da Literatura de Tradição Oral de diferentes
povos e culturas, a qual sobrevive no folclore brasileiro para, a par-
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tir daí, compreenderem a importância de conhecermos as obras literárias em sua totalidade e de nos tornarmos leitores.
Referências
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Nacional do Livro. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
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e veja lista das melhores e piores. Folha de S.Paulo, São Paulo, 5 ago. 2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
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SOUZA, Márcia de; CAPITANIO, Alana; SOUZA, Ana Cristina Pereira
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ampliação da cidadania. Porto Alegre: Publicação da Pró-Reitoria
de Extensão da UFRGS, 2012. Disponível em: <https://issuu.com/
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VANSINA, Jan. A Tradição Oral e sua Metodologia. 2008. Disponível em: <http://afrologia.blogspot.com.br/2008/03/tradio-oral-e-sua-metodologia.html>. Acesso em: 12 fev. 2013.
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EIXO II
Movimentos sociais
e participação
Assentamento Dom José Gomes
e as relações comunitárias
Andreza Leticia Tessaro
Kaliandra Dara Marta
Teresinha Rita Boufleuer
Maria Carolina da Silveira Moesch
Introdução
A trajetória do Programa de Apoio a Processos Participativos
de Desenvolvimento Local (Papel) esteve envolvida na coordenação
de processos integrados à sustentabilidade e articulação com movimentos sociais. Buscando a superação das desigualdades sociais,
promovia a inclusão social e contribuindo com o desenvolvimento
sustentável.
Desde o segundo semestre de 2014, atuou na comunidade do
Assentamento Dom José Gomes, localizado no município de Chapecó, oeste de Santa Catarina. O Papel passou a atuar nesse espaço
após a demanda de algumas lideranças e relatos de que “o espírito
comunitário estava se perdendo”, causando o afastamento dos moradores de seus objetivos coletivos.
A partir dessa demanda, iniciaram-se as atividades de pesquisa-intervenção com o propósito não apenas de coletar informações,
mas de contribuir para o desenvolvimento local através da promoção de trabalhos com o objetivo de desenvolver autoanálise e autogestão, visando a construção de projetos coletivos de fortalecimento do grupo e dos vínculos comunitários. Em dezembro de 2015 foi
aprovado projeto de extensão da Universidade Comunitária da ReA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
gião de Chapecó (Unochapecó), via Fundação de Apoio à Pesquisa e à
Extensão (Fapex), para viabilizar recursos e continuidade das ações
que já vinham sendo realizadas no assentamento. Com vigência até
dezembro de 2017, esse projeto foi denominado “Fortalecendo a Integração Comunitária no Assentamento Dom José Gomes”. Seu objetivo era construir, junto com os moradores do assentamento, iniciativas de organização na comunidade, contribuindo com a promoção
do espírito comunitário como condição para o desenvolvimento sustentável e a agregação de novas práticas coletivas. Essa aproximação
com a universidade permitiu a realização de diversas atividades com
variados cursos, integrando ensino, pesquisa e extensão.
Metodologia
O projeto se delineou como uma pesquisa-intervenção, tendo
em vista:
O processo de formulação da pesquisa-intervenção aprofunda a ruptura com os enfoques
tradicionais de pesquisa e amplia as bases teórico-metodológicas das pesquisas participativas,
enquanto proposta de atuação transformadora
da realidade sócio-política, já que propõe uma
intervenção de ordem micropolítica na experiência social. (Rocha; Aguiar, 2003, p. 67).
Dessa maneira, a pesquisa-intervenção ajuda-nos a pensar
ações de transformação no assentamento, e este preza inicialmente
por se fazer uma mobilização e sensibilização dos atores envolvidos, e posteriormente envolver e organizar os processos participativos de gestão social gestados pela própria comunidade, na relação
com os organizadores da intervenção.
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Para tanto, partiu-se da elaboração de diagnósticos participativos para a elaboração de propostas estratégicas e eixos aglutinadores de desenvolvimento e, então, finalmente alcança-se a efetivação dos projetos e ações.
Como método específico para o levantamento de informações
no assentamento, utilizou-se observações participantes e entrevistas, de modo que este modelo vem ao encontro da lógica proposta
por Baremblitt (2002), que diz respeito ao processo de estar junto
à comunidade para identificar a demanda, as verdadeiras necessidades do grupo.
No decorrer da pesquisa, buscou-se investigar o máximo possível quais eram os modos de organização e gestão utilizados na
comunidade do assentamento. Foram levantados, junto aos moradores e lideranças, as principais necessidades, visando planejar
intervenções específicas. Esse processo coletivo, partindo de uma
dialética de autogestão e autoanálise, em que o profissional e a
comunidade trabalham juntos, possibilita encontrar e analisar as
demandas, para a atuação, também coletiva, sobre suas reais necessidades.
A intenção foi de abarcar, por meio do referencial teórico da
Análise Institucional (Baremblitt, 2002), a construção de estratégias que visem ao fortalecimento dos laços sociais e de cidadania.
Por meio de um planejamento participativo, possibilitando o diálogo entre os sujeitos, promovendo um espaço de escuta e compreensão, fortalecendo os laços sociais, autonomia e promoção de saúde
mental, pautadas sempre na ética profissional.
A intervenção se faz com o intuito de que a comunidade reflita e analise tais questões que atravessam significativamente o seu
cotidiano, pois somente o coletivo tem a autonomia de decisão e
efetivação de qualquer plano.
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Assentamento Dom José Gomes:
movimento de resistência
Frente a essa breve trajetória, busca-se neste estudo descrever a inserção do Papel no Assentamento Dom José Gomes, as ações
até então realizadas, as conquistas e os entraves desse processo,
assim como as perspectivas futuras dessa parceria.
Localizado no município de Chapecó, oeste de Santa Catarina,
onde residem quarenta famílias, cultivando e tendo como meio de
subsistência a agricultura familiar e o trabalho no meio urbano. A
área total desse assentamento é de 372,3508 hectares. Para conseguirem chegar a essa extensão, foi um longo período de lutas, desde
23 de abril de 2002, quando mais de duzentas famílias ocuparam
a Fazenda Seringa, permanecendo em condição de acampamento
por sete anos, até que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) toma a posse da área, destinando-a para Reforma Agrária (Sigra, 2015). Desde então, o programa Papel passou a
atuar nesse espaço, após a demanda de algumas lideranças e relatos de que o espírito comunitário estava se perdendo e causando o
afastamento dos moradores de seus objetivos coletivos.
De acordo com o Plano de Desenvolvimento do Assentamento
(2009), o ideal de organização dos assentamentos, proposto pelo
MST, é o sistema cooperativo, no qual a terra, os meios de produção
e outras riquezas sejam do coletivo organizado através do cooperativismo. No entanto, são poucos os assentamentos que conseguem
organizar-se de forma cooperativa, ficando a maioria deles como
organizações semicoletivas ou individuais.
Entende-se que o espírito coletivo de luta deva permanecer
na base da organização dos assentamentos para promover o desenvolvimento econômico e social das famílias como uma forma de
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prevenir o total individualismo, reforçado pelos modelos econômicos vigentes na sociedade. No caso desse assentamento, algumas
lideranças têm demonstrado preocupação com a diminuição desse
senso comunitário e o surgimento de conflitos, fragilizando a organização social e desfocando dos objetivos iniciais do assentamento.
A exemplo do que vem ocorrendo nos núcleos do assentamento,
pois, a princípio, reuniam-se numa frequência de uma vez por mês
e tinham o propósito de ter um trabalho semicoletivo da atividade
agropecuária, apoiados pela Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Através da fala de um líder do assentamento,
este aponta que está no momento dos grupos voltarem aos seus encontros e da coordenação, pois a articulação nesses espaços diminuiu, e o espírito de trabalho se voltou à individualidade, aos lotes
e ao trabalho externo.
O programa Papel, através do projeto “Fortalecendo a Integração Comunitária”, realizou diagnóstico e coletou informações
de demandas até o presente momento para contribuir no fortalecimento da comunidade e promover o desenvolvimento econômico
e social das famílias, de forma a conscientizar sobre a conquista de
benefícios e objetivos que só podem ser alcançados por intermédio
da coletividade.
O programa Papel, através do projeto “Fortalecendo a Integração Comunitária”, iniciou suas atividades realizando diagnóstico
situacional, em pareceria com a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) e com o curso de Psicologia, este último
através da realização de uma prática acompanhada em Psicologia
Social Comunitária no primeiro semestre de 2015. Ações estas com
vistas a contribuir com o fortalecimento da comunidade, já intervindo através da metodologia da pesquisa intervenção na reflexão
acerca da coletividade, da retomada das memórias comunitárias
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sobre a conquista de benefícios e objetivos que só podem ser alcançados por intermédio da coletividade.
Como o objetivo do projeto é construir junto com os moradores do Assentamento Dom José Gomes iniciativas de organização
na comunidade, contribuindo com a promoção do espírito comunitário como condição para o desenvolvimento sustentável e a agregação de novas práticas coletivas, compreende-se que este aproxima a universidade e integra ensino, pesquisa e extensão, seguindo
a metodologia do programa Papel, que preza inicialmente por se
fazer uma mobilização e sensibilização dos atores envolvidos, e
em decorrência envolver e organizar os processos participativos
de gestão social. Só então, inicia-se a elaboração de diagnósticos
participativos para então partir para a elaboração de propostas estratégicas e eixos aglutinadores de desenvolvimento e, finalmente,
alcança-se a efetivação dos projetos e ações (Unochapecó, 2016).
Colaborando com essa perspectiva tanto da extensão universitária, como das diretrizes do Papel, o diagnóstico que foi e que é
realizado no Assentamento Dom José Gomes pelo projeto “Fortalecendo a Integração Comunitária” parte da premissa da constante
observação dos processos e participação nas ações coletivas, haja
vista ser um processo coletivo e dinâmico, o qual exige o (re)conhecimento da história e memória do assentamento, da análise da
situação atual, tendo como horizonte que esta análise é dinâmica,
e, portanto, um processo contínuo de investigação-intervenção. Reconhecer como se deu o processo de assentamento das famílias foi
primordial para a aproximação com o campo e elaboração do projeto, bem como sua continuidade e, portanto, passaremos agora a
contextualizá-lo.
Tendo em vista que o “Movimento dos Sem Terra (MST) é um
movimento de trabalhadores do campo que lutam para conquistar
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a posse da terra, à qual nunca tiveram acesso, ou de onde foram expropriados [...]” (Poli, 1999, p. 32), cabe destacar seu contexto histórico marcado profundamente por experiências capitalistas e que,
junto a diversos outros movimentos sociais do campo, buscaram se
organizar e fortalecer suas bandeiras contra o sistema hegemônico
que induzia a exclusão social. Desse modo, “[...] na busca por uma
sociedade mais justa e igualitária, os movimentos sociais reestruturaram a camada popular, fortaleceram a base e construíram uma
comunidade alternativa.” (Pereira et al., 2014, p. 629).
A comunidade abrange “[...] todas as formas de relacionamento caracterizado por um grau elevado de intimidade pessoal, profundeza emocional, engajamento moral [...] e continuado no tempo.” (Sawaia, 1999, p. 13). Nessa perspectiva, percebem-se alguns
pontos nodais que fazem com que aquelas famílias que lá residem
não consigam se desenvolver de forma significativa, nem mesmo
estabelecer laços de comunhão.
Através das observações no campo identificou-se como uma
problemática a ser trabalhada o modo como circula o diálogo entre
as famílias, onde se percebeu que o coletivo em si não decide, quem
delibera são alguns poucos, na maioria das vezes os responsáveis
pelos setores, ou mesmo os representantes do assentamento. Conforme narrativas de alguns moradores, a deliberação dos rumos a
serem tomados pela comunidade acaba ocorrendo de forma arbitrária, rompendo com a ideia de comunidade e democracia. A organização social do assentamento, que deveria estar mais para a eclosão
de um dissenso, para a ascensão da política, acaba por ser restringida, ficando limitada a uma ordem policial consensual, o que afeta diretamente na relação comunitária, gerando imobilidade e enfraquecendo os projetos coletivos. Quando falamos aqui em política, não
nos referimos aos modos de gestão, mas ao processo de produção
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de novos sentidos sobre o comum. Política, na perspectiva de Rancière (1996), é produção de dissensos, de desentendimentos sobre
o instituído e de produção de atores sociais que se desidentifiquem
com suas posições anteriores, reconhecendo novas possibilidades
coletivas e questionando os determinantes anteriores.
O que precisa ser considerado é que os problemas não se restringem apenas na não circulação do diálogo, mas também em questões de ordem interna de caráter relacional, e que surgem desde a
distribuição dos lotes, feita pelo Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra), até fatores demográficos que envolvem o
distanciamento de famílias que comumente interagiam no período
de acampamento, sofrem um distanciamento após a constituição
do assentamento.
Outro fator são as influências externas devido à proximidade com o centro urbano do município de Chapecó. Os moradores
são envolvidos com oportunidades de trabalho e atrativos urbanos,
considerando que o modo de viver em sociedades capitalistas modifica o olhar sobre o que é viver em comunidade coletiva. De certo
modo, os assentados não podem ser culpabilizados pelas mudanças ocorridas no contexto comunitário. O que chama a atenção é o
contexto hegemônico atual, que influencia não apenas a comunidade do assentamento de Chapecó, mas também outros tipos de comunidade. Na medida em que as questões da economia capitalista
ganham força e espaço no cotidiano das famílias assentadas, os moradores passam a dar mais atenção à propriedade privada e produção de riqueza, deixando em segundo plano os objetivos coletivos,
ocasionando o enfraquecimento dos espaços e vivências coletivas,
bem como de suas lideranças.
Portanto, pode-se perceber que existem movimentos de criação, mas mesmo com esses movimentos, a resistência dos moradoA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
res ainda é muito grande, pois os conflitos internos do assentamento têm gerado o afastamento das pessoas dos grupos e reuniões que
são feitas pelo projeto para a promoção do espírito comunitário.
E este é o cenário atual que o projeto encontra para o desenvolvimento de suas atividades, onde há a necessidade de uma inserção
que compreenda este cenário como potencializador de novas experiências, com cuidado e sutiliza na abordagem, com o intuito de não
entrave para a efetivação do projeto.
Nesse sentido, “[...] a criação, na verdade, não existe apenas
quando se criam grandes obras históricas, mas por toda parte em
que o homem imagina, combina, modifica e cria algo novo...” (Vygostki, 1990, p. 15 apud Zanella et al., 2012, p. 250).
Percebe-se que existe uma resistência sobre os moradores,
mesmo com movimentos de criar o novo, no qual se propõe que
“ReXistências que reinventam a vida de cada um e, ao mesmo tempo, contribuem para a reinvenção da vida de todos.” (Zanella et al.,
2012, p. 252).
Considerações finais
Conclui-se que essas ações realizadas contribuíram para o
envolvimento da população em atividades de grupos com foco a
fortalecer a comunidade na busca de soluções de problemas e na
melhora das suas condições de vida. De modo que a elaboração de
produtos acadêmicos, como este e-book, possibilitou a comunicação e divulgação dos resultados em diversos espaços, contribuindo
com a expansão da produção do conhecimento voltado para a realidade dos contextos regionais.
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Apesar de algumas limitações, em especial de acesso às famílias em função de suas atividades de trabalho, as ações desenvolvidas pelo Papel e pelo projeto “Fortalecendo a Integração Comunitária” estão concatenadas com a perspectiva das diretrizes gerais da
Política de Desenvolvimento de Extensão, de modo a possibilitar o
acesso e a troca dos conhecimentos disponíveis na universidade ao
conjunto mais amplo de segmentos sociais e culturais.
Nesse processo, é viabilizada à comunidade acadêmica e regional o contato com as inovações científicas e tecnológicas, sociais,
econômicas, culturais e ambientais, socializando os resultados das
investigações produzidas. Esse projeto possibilitou o envolvimento
de variados cursos e áreas do conhecimento contemplando atividades de extensão nos projetos pedagógicos dos cursos e incrementando a participação dos acadêmicos nas atividades de extensão.
Não resta dúvida sobre o valioso espaço que a Unochapecó
conquistou e tem sido reconhecida pelos moradores como verdadeiro apoio através dos diversos programas (Papel, ITCP, entre outros). E a riqueza pedagógica desse espaço favorece a inserção dos
estudantes e pesquisadores numa realidade que busca construir
modos de vida baseado no senso comunitário. E ainda, compreende-se que este trabalho está apenas iniciando um processo, onde
outras áreas de conhecimento são convidadas a contribuir para o
fortalecimento dos vínculos comunitários e o desenvolvimento sustentável do Assentamento Dom José Gomes.
Referências
BAREMBLITT, Gregorio F. Compêndio de análise institucional e
outras correntes: teoria e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos
Tempos, 2002. 235 p.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
PLANO de desenvolvimento do Assentamento Dom José Gomes
Chapecó-Santa Catarina. Convênio INCRA/COOPTRASC nº 627.837.
Cooperativa dos trabalhadores da Reforma agrária de Santa Catarina. Chapecó, 2009.
PEREIRA, Eliane et al. Epistemologias da terra e práticas educativas: estratégias do MST para uma luta emancipatória frente ao
modelo de globalização hegemônico. Colóquio Internacional de
Educação e Seminário de Estratégias e Ações Multidisciplinares, v. 2, n. 1, p. 621-634, 2014.
POLI, Odilon. Leituras em movimentos sociais. Chapecó: Grifos,
1999.
RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. Tradução de Ângela Leite Lopes. São Paulo: Editora 34, 1996.
ROCHA, Marisa Lopes de; AGUIAR, Katia Faria de. Pesquisa-intervenção e a produção de novas análises. Rio de Janeiro: Psicologia
Ciência e Profissão, 2003. p. 64-73.
SAWAIA, Bader Burihan. As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 1999.
SIGRA. Retrato do Assentamento Dom José – Chapecó (SC).
Apresentação em slides. Sistema Integrado de Gestão Rural da
ATER/ATES. Organização de Teresinha M. R. da Silva, ATP SIGRA,
Lote I. 2015. (No prelo).
ZANELLA, Andréa Vieira et al. Sobre ReXistências. Psicologia Política, São Paulo, v. 12, p. 247-262, 2012.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Desafios para o desenvolvimento
da economia solidária no
território oeste catarinense
Graciela Alves de Borba Novakowski
Carlos Eduardo Arns
Andreia Casagrande Begnini
Introdução
As transformações que vêm ocorrendo nas últimas décadas
nas esferas social e econômica suscitaram impactos na realidade e
vida da população. O crescimento das taxas de desemprego, o êxodo rural, a organização da produção e comercialização e a configuração do sistema capitalista fortalecem as desigualdades e excluem
uma parcela da população.
Em virtude dessa realidade, desde os anos de 1990, grupos de
trabalhadores, organizações formais e informais buscam alternativas no trabalho cooperado e associativo, formando um movimento
que aos poucos começou a ser conhecido como Economia Solidária.
A Economia Solidária é uma forma de participação social e
desenvolvimento das potencialidades locais, uma vez que alia práticas econômicas e solidárias, pautadas pelo trabalho associativo
e autogestionário, com propriedade coletiva e respeito às diversidades e ao meio ambiente. Possui como princípio a solidariedade
e valorização do ser humano, da natureza, considerando o coletivo
como essencial.
Considerando que a Economia Solidária se apresenta como
uma alternativa para o fortalecimento do desenvolvimento, o presente artigo é resultado de estudo desenvolvido para o projeto
“Fortalecimento da Economia Solidária no Território Oeste de Santa Catarina”, do CNPq, e executado pela Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó), que tem por objetivo apresentar
o quantitativo, bem como as características dos Empreendimentos
de Economia Solidária (EES) existentes no território oeste catarinense.
Em 2003, com a implantação da Senaes, uma das primeiras
demandas identificadas foi a busca e organização de informações
sobre os empreendimentos de Economia Solidária, existentes no
País. Para tanto, foi constituído em 2004 o Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES), que realizou o primeiro
mapeamento da Economia Solidária no período de 2005 a 2006,
cujos dados foram publicados em 2007. No período de 2009 a 2011
foi realizada nova pesquisa para a ampliação de dados e publicada
em 2013. De acordo com o SIES, os EES podem ser definidos como
organizações coletivas (cooperativas, associações, grupos, clubes
de troca, redes, empresas autogestionárias), que dispõem ou não
de registro legal e fundamentam-se nos princípios da cooperação,
autogestão, solidariedade e ação econômica (Brasil, 2009).
Em todo Brasil até o ano 2007 foram identificados 21.859
EES. De 2007 até 2013 foram identificados mais 11.663 novos EES,
totalizando 33.518 EES, aspecto relevante para a análise da atuação
dos EES no País. O envolvimento e a participação de diferentes atores nos empreendimentos tende a possibilitar um fortalecimento
das potencialidades locais, ou seja, o desenvolvimento endógeno
ocorre também por meio de ações da Economia Solidária.
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O artigo está estruturado em cinco partes, sendo a primeira
a presente introdução, a segunda trata sobre a Economia Solidária
no território oeste catarinense, a terceira sobre a metodologia, a
quarta apresentação dos resultados e discussões e a quinta as considerações finais.
Economia solidária no território
oeste catarinense
Ao longo do século XVIII, após a revolução industrial, novas
alternativas e práticas econômicas começam a ser pensadas em diversos países, uma vez que o modelo capitalista apresentava fragilidades com relação ao modo de trabalho. A geração de desemprego
ocorrida diante da mecanização levou ao aumento da informalidade em um contexto no qual os trabalhadores chegam a abrir mão de
seus direitos para garantir a sobrevivência.
Para superar os obstáculos que surgiram com o capitalismo
industrial, os trabalhadores começaram a se organizar na ideia de
cooperativismo, criando sindicatos, associações. Movimento esse
que impulsionou os trabalhadores a assumirem as empresas, e na
forma de autogestão superar as dificuldades para garantir a geração de renda (Benini et al., 2012).
No Brasil, as iniciativas relacionadas ao cooperativismo iniciaram no século XX. Ao longo da década de 1990 surge o movimento de Economia Solidária no Brasil, resultado do movimento social
e sindical em resposta ao desemprego estrutural (Favarin, 2010).
No ano de 1996, Paul Singer utiliza de modo pioneiro a expressão
Economia Solidária, e essa prática foi sendo articulada com diversos atores: organizações sindicais, ONGs, acadêmicos e universidades, religiosos, gestores públicos, entre outros.
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Para Singer (2002), a Economia Solidária no Brasil ressurge na década de 1980 com os movimentos sociais e trabalhadores
atingidos pela crise do desemprego que iniciou em 1981 e se agravou em 1990 com a abertura do mercado interno para as importações. Nessa visão de um modelo que se opõe ao capitalismo, a
Economia Solidária é considerada como uma nova forma de geração de trabalho, distribuição de renda e organizações geridas pelos
trabalhadores.
Em um movimento de luta contra a exclusão e a desigualdade,
representantes dos movimentos: dos Trabalhadores, das Centrais
Sindicais, dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Associação Nacional de Trabalhadores em Empresas Autogestionárias e de Participação Acionária, Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares, Igreja Católica, entre outros, saíram em defesa da Economia
Solidária, organizando em janeiro de 2011 na cidade de Porto Alegre o I Fórum Social Mundial (I FSM), constituindo ali o Grupo de
Trabalho Brasileiro de Economia Solidária (GT – Brasileiro).
A Economia Solidária passou a fazer parte da agenda do governo federal brasileiro e a ser incluída nas ações de políticas públicas, a partir de 2003, sendo entendida como uma alternativa para a
geração de trabalho e renda. E para atender a esse grupo e constituir, enquanto lei, as iniciativas locais, o governo implantou a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), e esta, vinculada ao
Ministério do Trabalho, implantou o programa Economia Solidária
em Desenvolvimento (Singer, 2002).
Com a criação da Senaes, uma necessidade que surgiu foi de
obter informações sobre os empreendimentos existentes no País.
Para tanto, foi iniciado um trabalho e criado o banco de dados nacional chamado de Sistema Nacional de Informações de Economia
Solidária (SIES).
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De 2007 a 2010, a Economia Solidária ganhou espaço em diversos editais e chamadas públicas, que possibilitaram por meio
de projetos o desenvolvimento de ações com os empreendimentos,
bem como a instituição de políticas públicas para consolidar agenda política das três esferas de governo (Senaes, 2012).
No ano de 2013 foi finalizado o segundo mapeamento da Economia Solidária no Brasil, disponibilizado no ano de 2014, apresentando aspectos relevantes para a análise da atuação dos empreendimentos de Economia Solidária no País (Senaes, 2012). O
envolvimento e a participação de diferentes atores nos EES tende a
possibilitar um fortalecimento das potencialidades locais, ou seja, o
desenvolvimento endógeno ocorre por meio de ações da Economia
Solidária.
No Brasil, o debate sobre a abordagem territorial e fortalecimento das potencialidades locais vem avançando nos últimos oito
anos, considerando o território como unidade básica para a gestão das políticas públicas. Sendo assim entendido o território como
um conceito que vai além do espaço físico, envolvendo o social, o
cultural, o ambiental e o econômico (Senaes, 2012). A Secretaria
do Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (SDT/MDA) planejou como forma de aproximação dos municípios a divisão desses em territórios geográficos, para que com
uma área menor fosse possível a aproximação dos demais aspectos
que envolvem o desenvolvimento.
Como estratégia para o alcance das metas, a SDT/MDA promove a articulação entre políticas públicas que atuam nas diferentes organizações e segmentos sociais que envolvem os territórios,
dentre essas a Senaes, que atua no fortalecimento dos EES que surgem nos diferentes municípios e expressam as potencialidades e diversas identidades existentes no território. No ano de 2003 foi criaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
da a Secretaria de Desenvolvimento Territorial, e a Senaes passou a
integrar suas ações no Programa de Desenvolvimento Sustentável
de Territórios Rurais (Pronat), estabelecendo uma comunicação
entre a Economia Solidária e a agricultura familiar (Senaes, 2012).
O trabalho com os territórios rurais continuou, e em 2010 foi
desenvolvido o Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), com o objetivo de promover o desenvolvimento com
igualdade, inclusão, seguindo as diretrizes das políticas públicas do
Governo Federal (SDT, 2010). A Economia Solidária é incluída na
pauta dos territórios rurais pela proximidade nos princípios, público-alvo comum e alinhamento nas políticas públicas.
A área de estudo é o território oeste catarinense, sendo esse
um recorte no estado de Santa Catarina.
Santa Catarina, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), possui um território de 95.703,487
km², que representa 1,12% do território nacional, com uma população de 6.248.436 de habitantes em 2010, dos quais 5.247.913
(83,99%) se encontram na área urbana e 1.000.523 (16,01%) na
área rural. O estado se diferencia de outras Unidades da Federação
pela grande diversidade de ecossistemas, processos de ocupação
territorial, composição étnico-cultural e de sistemas produtivos.
Santa Catarina possui 295 municípios, organizados em 21 associações municipais e 36 secretarias de Desenvolvimento Regional.
De acordo com os dados do IBGE, Santa Catarina possui uma
população estimada de 6.634.254, em uma área de 95.736,165 km²
e 295 municípios. Se comparado a outros estados brasileiros, pode-se dizer que Santa Catarina se encontra em uma situação privilegiada por obter 1,12% de todo território nacional e possuir um
processo de industrialização distribuído por todas as suas regiões,
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além de um dos maiores Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
do Brasil (IPEA, 2013).
O território oeste catarinense por decisão do Colegiado de Desenvolvimento Territorial (Codeter) é composto por 27 municípios
situados entre os territórios do meio oeste contestado e do extremo oeste compondo a região da Grande Fronteira do Mercosul, que
integram a mesorregião oeste de Santa Catarina, conforme divisão
regional do IBGE.
O TOC pode ser considerado rural, pois todos os 27 municípios possuem população rural, e a identidade dos empreendimentos de Economia Solidária está fortemente ligada à agricultura familiar. Esse território apresenta também nos últimos anos o êxodo
rural como um elemento preocupante, mas que parece ser possível
de recuperar se as ações de valorização da região puderem ser planejadas e o desenvolvimento endógeno incentivado.
Nesse sentido, é possível identificar que a história do início da
colonização do território oeste catarinense não valorizou o capital
social existente, o que gerou a perda de uma riqueza cultural e a
falta de sentimento de pertencimento. Além do processo de colonização não ter sido realizado de forma justa e igualitária, anos mais
tarde a forte presença da agroindústria tirou a autonomia dos agricultores em suas próprias terras.
A busca pela resistência a esse sistema que defende os interesses privados é impulsionada pelos movimentos sociais, dentre
esses a Economia Solidária, que buscam alternativas ao modelo de
modernização.
A identidade do território catarinense ligada à valorização
dos saberes locais e ao desenvolvimento endógeno ainda é um processo em construção que vem sendo apoiado via políticas públicas.
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Metodologia
O presente estudo tem como base o objeto empírico, utilizaram-se os dados do Mapeamento da Economia Solidária no Brasil,
disponível no banco de dados do Sistema Nacional de Informações.
A abordagem é qualitativa, uma vez que não se fez uso de técnicas
quantitativas para análise dos dados.
Quanto aos fins, pode ser classificado como exploratório, de
acordo com Triviños (2009), permite ao pesquisador intensificar
sua experiência em torno da problemática. E também pode ser classificado como descritivo, pois descreve características de determinado fenômeno ou população, estabelecendo relação entre as variáveis (Gil, 2002).
Quanto aos meios, a pesquisa pode ser classificada em bibliográfica e documental, considerando a literatura existente sobre o
tema e os documentos formalizados e que estão à disposição para
serem utilizados.
Resultados e discussões
O território oeste catarinense possui uma população rural
muito expressiva em todos os municípios, o que pode classificá-lo
como rural. Conforme a tabela 1, 17 dos 27 municípios possuem
menos de cinco mil habitantes, ou mesmo 25 do total dos municípios possuem menos de 15 mil habitantes. Apenas um município
possui a população acima de cem mil habitantes, sendo considerado polo da região.
Do ano 2000 para 2010 ocorreu uma redução na população
em 17 municípios. A maior parte dos municípios que tiveram aumento da população destaca-se por possuir uma área urbana que
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nos últimos anos tem recebido novas empresas, o que tem gerado
maior oferta de empregos.
Com relação ao comparativo entre rural e urbano, de acordo
com o Censo de 2010, na área de estudo, 16 municípios possuem a
população rural superior à população urbana.
Tabela 1 – Evolução populacional e população rural e urbana
Município
População População
Urbana
2000
2010
Águas de Chapecó
5.782
Campo Erê
Chapecó
Águas Frias
Caxambu do Sul
Cordilheira Alta
Coronel Freitas
Formosa do Sul
Guatambu
Rural
6.109
3.236
981
1.443
10.353
9.370
6.252
3.118
146.967
183.561
10.535
10.213
4.702
4.675
2.525
5.263
3.093
2.725
2.424
4.406
3.767
2.601
2.873
2.150
2.256
1.468
2.319
1.084
1.517
168.159 15.402
6.067
2.202
2.096
1.749
4.146
2.926
Jardinópolis
1.994
1.766
449
799
967
Nova Itaberaba
3.543
4.256
4.275
1.064
3.101
4.267
3.211
2.750
1.829
16.335
13.618
Planalto Alegre
12.356
921
1.593
Quilombo
10.736
10.284
1.066
5.749
2.706
Santa Terezinha do Progresso
3.416
2.896
1.255
Irati
Nova Erechim
Novo Horizonte
Pinhalzinho
Saltinho
2.452
4.196
2.679
3.961
1.530
539
1.647
2.737
2.717
4.502
2.357
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
650
Santiago do Sul
1.696
1.465
São Bernardino
3.140
2.677
719
1.960
9.364
10.284
6.899
3.385
Serra Alta
8.324
9.016
São Carlos
São Lourenço do Oeste
Saudades
19.647
21.797
16.885
3.285
1.835
Sul Brasil
3.330
3.116
2.766
União do Oeste
3.391
2.910
Fonte: elaboração própria, com base em IBGE (2010).
5.123
1.011
1.107
815
4.912
3.893
1.450
1.755
1.803
No primeiro mapeamento do SIES foram cadastrados 19.708
EES em todo País, dos quais 16,7% (3292 EES) localizavam-se no
Sul do Brasil (PR, SC, RS), e, destes, 23,27% (766 EES) encontravam-se em Santa Catarina. Por sua vez, o território oeste catarinense (TOC) conta com 11,75% dos EES de SC, no período do levantamento. De acordo com a tabela 2, no mapeamento finalizado em
2007, o território possuía cem EES; e no mapeamento finalizado em
2013 foram localizados noventa EES.
Com relação à área de atuação dos EES, os dados do SIES
(2013) mostram um comportamento de organização semelhante
no Brasil, na região Sul, em Santa Catarina e no território oeste catarinense, o espaço rural.
Nessa categoria de análise percebe-se uma mudança de comportamento entre os dados dos dois levantamentos (SIES, 2007 e
SIES, 2013) para os EES do estado e do território. Enquanto em
2007 havia uma distribuição mais equilibrada entre os EES, onde
36%, 30% e 34% do estado e 34%, 31% e 35% dos EES do TOC
atuavam na área rural, urbana e rural-urbano, respectivamente. No
entanto, em 2013, 56%, 25%, 19% e 50%, 24%, 26% dos EES atuavam no rural, urbano e rural-urbanos no estado de SC e território
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oeste catarinense, respectivamente. Ou seja, no segundo levantamento amplia a participação dos EES de atuação na área rural em
detrimento dos EES de atuação no espaço urbano e rural-urbano
em ambos os casos (SC e território oeste catarinense).
Esse fortalecimento dos EES com atuação rural pode estar
relacionado à força da participação agropecuária e da agricultura
familiar em sua diversidade e versatilidade na geração de trabalho
e renda.
Com relação à forma de organização, a análise dos dados do
SIES 2013 mostra que SC e o TOC apresentam comportamento semelhante, estando boa parte dos EES organizados em forma de associações, seguidos por cooperativas e grupo informal. Conforme
tabela 2 no mapeamento de 2013, apenas 1% estava organizado
como sociedade mercantil.
A análise dos dados do SIES de 2013 com relação à forma de
organização dos EES mostra que SC e o território oeste catarinense
apresentam comportamento diferente da média do País. Enquanto
no País 30,54%, 59,99%, 8,88%, 0,64% dos EES são grupos informais, associações, cooperativas e sociedades mercantis, respectivamente, em Santa Catarina os dados mostram que 31%, 43%,
25%, 1% e, por sua vez, no território oeste catarinense 17%, 43%,
39%, 1% dos EES são grupos informais, associações, cooperativas
e sociedades mercantis, respectivamente. Essa diferenciação pode
ser explicada pela significativa ampliação dos EES rurais em Santa
Catarina, entre os dois levantamentos, pois em 2007, o estado e o
território oeste catarinense possuíam 17%, 50%, 30%, 3% e 14%,
49%, 34%, 3% de grupos informais, associações, cooperativas e sociedades mercantis, respectivamente.
Autores, dentre os quais se destacam Arns (2010), Poli
(2006), Bach (2000), Massi (1999) e Prim (1996), já demonstraram
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a histórica tradição da região oeste catarinense na cooperação
agrícola e solidária. A cooperação rural é fortemente estruturada
pelos movimentos sociais (MST, MMC, MPA, MAB), bem como pelo
movimento sindical dos trabalhadores da agricultura familiar. Também tem contribuído nesse sentido um conjunto de políticas públicas, que estimulam a organização dos camponeses em cooperativas
para acessarem o mercado institucional.
Na mesma direção da análise dos dados sobre os motivos que
levaram à cooperação solidária, os dados mostram que questões ligadas ao aumento ou complemento da renda familiar, bem como a
alternativa ao desemprego foram a motivação principal para o início dos EES, tanto no estado quanto no TOC.
Tabela 2 – Características dos EES no TOC e em SC
Características
dos EES
Território
Estado de
Santa Catarina
Ano
oeste
catarinense
Quantidade
2007
de EES
2013
100
690
2.228
91.853
1.306
46.183
Número de
sócios homens
Número de
sócias mulheres
2013
90
766
Rural: 36%
2007
Rural: 34%
Urbana: 31%
Rural e Urbana: 35%
Urbana: 30%
Rural e Urbana: 34%
2013
Rural: 50%
Urbana: 24%
Rural e Urbana: 26%
Rural: 56%
Urbana: 25%
Rural e Urbana: 19%
Área de atuação
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2007
Forma de
organização
2013
Grupo Informal: 14%
Associação: 49%
Grupo Informal: 17%
Associação: 50%
Cooperativa: 34%
Sociedade Mercantil: 3%
Cooperativa: 30%
Grupo Informal: 17%
Sociedade Mercantil: 3%
Associação: 43%
Cooperativa: 39%
Sociedade Mercantil: 1%
Associação: 43%
Cooperativa: 25%
Sociedade Mercantil: 1%
Uma alternativa ao
desemprego: 17%
Obter maiores ganhos
em um empreendimento
associativo: 33%
Uma fonte complementar
de renda para os
associados: 23%
Desenvolver uma
atividade na qual todos
Motivação
para iniciar
2007
são donos: 1%
Condição exigida para ter
acesso a financiamentos e
outros apoios: 4%
Motivação social,
filantrópica e religiosa: 4%
Desenvolvimento
comunitário de
capacidades e
potencialidades: 4%
Alternativa organizativa e
de qualificação: 9%
Outros: 8% (não citam
motivos)
Grupo Informal: 31%
Uma alternativa ao
desemprego: 10%
Obter maiores ganhos
em um empreendimento
associativo: 27%
Uma fonte complementar
de renda para os
associados: 14%
Desenvolver uma
atividade na qual todos
são donos: 10%
Condição exigida para ter
acesso a financiamentos e
outros apoios: 4%
Motivação social,
filantrópica e religiosa: 5%
Desenvolvimento
comunitário de
capacidades e
potencialidades: 6%
Alternativa organizativa e
de qualificação: 19%
Outros: 5% (não citam
motivos)
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Uma alternativa ao
desemprego: 8%
Obter maiores ganhos
Uma alternativa ao
desemprego: 17%
Obter maiores ganhos
em um empreendimento
associativo: 33%
Uma fonte complementar
de renda para os
associados: 23%
Desenvolver uma
atividade na qual todos
são donos: 1%
Motivação
para iniciar
2013
em um empreendimento
associativo: 17%
Uma fonte complementar
de renda para os
associados: 21%
Desenvolver uma
atividade na qual todos
são donos: 16%
Condição exigida para ter
acesso a financiamentos e
outros apoios: 3%
4%
Condição exigida para ter
Motivação social,
acesso a financiamentos e filantrópica e religiosa: 4%
outros apoios: 4%
Desenvolvimento
Motivação social,
comunitário de
filantrópica e religiosa: 4%
capacidades e
Desenvolvimento
potencialidades: 10%
comunitário de
Alternativa organizativa e
capacidades e
de qualificação: 8%
potencialidades: 1%
Outros: 13%
Alternativa organizativa e (organização econômica
de qualificação: 9%
de beneficiários de
Outros: (não citam
motivos): 8%
políticas públicas,
fortalecimento de grupo
étnico, produção ou
comercialização de
produtos orgânicos ou
ecológicos)
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Venda direta ao
consumidor final: 63%
Venda a revendedores e
atacadistas: 26%
Venda a órgão
Venda direta ao
consumidor final: 76%
Venda a revendedores e
2007
atacadistas: 20%
Venda a órgão
governamental: 4%
Venda para empresas
privadas de produção: 0%
governamental: 5%
Venda para empresas
privadas de produção
(essa alternativa não
constava no questionário
2007)
Venda ou troca com
outros EES: 1%
Outros: 5% (Venda em
Venda ou troca com outros feiras livres; autoconsumo
EES: 8%
e doação a carentes;
Consumo familiar; venda
a atravessadores; unidade
Para quem
é feita a
comercialização
de fabricação de produtos
de laticínios; através
da Cooarpa; doação a
carentes; autoconsumo).
Venda direta ao
consumidor final: 43%
Venda a revendedores e
2013
Venda direta ao
consumidor final: 59%
atacadistas: 25%
Venda a revendedores e
Venda a órgão
atacadistas: 22%
governamental: 12%
Venda a órgão
Venda para empresas
governamental: 13%
privadas de produção: 9%
Venda para empresas
Venda ou troca com
privadas de produção: 8%
outros EES: 2%
Venda ou troca com outros
Outros: 4% (motivos não
EES: 5%
citados)
Fonte: elaboração própria, com base em SIES (2007, 2013).
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A tabela 2 também traz dados relacionados à comercialização
indicando para quem é feita. A forma de organização também incide na comercialização; no primeiro mapeamento, 70% da comercialização era realizada de forma direta ao consumidor final e 18%
a revendedores e atacadistas. A venda direta ao consumidor permanece no segundo mapeamento como responsável por boa parte
da comercialização (50%), sendo possível identificar 15% da comercialização sendo realizados para órgãos governamentais, dados
esses que não representavam expressão no primeiro mapeamento.
No estado, bem como no TOC, a maior parte das vendas é direta
ao consumidor final, seguida por venda aos revendedores e atacadistas. Um dado relevante é com relação à comercialização para órgãos
governamentais que, no primeiro mapeamento, era uma porcentagem baixa, no segundo mapeamento apresenta uma porcentagem
significativa. Isso reforça que ao fazer parte da agenda de Governo, a
Economia Solidária começou a fazer parte de editais e ser conhecida.
Quanto à questão de gênero, o mapeamento de 2013 apresenta o território oeste com a maior parte dos sócios sendo homens,
apresentando média de 2.228, enquanto as mulheres possuem
média de 1.306 sócias. Em relação ao estado, esse mesmo mapeamento apresenta um total médio de 91.853 homens e um total médio de 46.183 mulheres. No País também o predomínio de associados é de homens (56,4%) em relação às mulheres (43,6%).
Em relação às atividades econômicas, segundo a Classificação
Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), a seção com predominância no território oeste catarinense no mapeamento de 2007 é
a de 31% de EES com atividades ligadas à agricultura e à pecuária.
24% a indústria da transformação, 22% ao comércio, 10% atividades financeiras, seguros e outros serviços relacionados, 9% outras
atividades, entre elas o ramo de salão de beleza, construção civil e
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associações de preservação ambientais, sendo 4% atividades ligadas à reciclagem e limpeza urbana.
De acordo com Buzzatti (2007), a produção e comercialização
conforme ocorre no Brasil, em sua maioria está relacionada a produtos oriundos das atividades agropecuárias, extrativistas, pesca,
alimentos, bebidas e diversos produtos artesanais.
Com relação à categoria social dos sócios e sócias do EES, o
questionário de 2013 apresentava como alternativa dez opções:
agricultores familiares; artesãos; técnicos profissionais de nível
superior; artistas; assentados da reforma agrária; catadores de
material reciclável; garimpeiros e mineiros; trabalhadores autônomos/por conta própria; desempregados/desocupados. Os EES existentes no TOC são, em sua maioria, 64% de agricultores familiares,
seguido por 11% de artesões e 11% que se identificaram como trabalhadores autônomos. No estado, 72% são agricultores familiares,
13% artesões e 7% trabalhadores autônomos.
Essa realidade presente nos municípios do TOC não difere dos
dados nacionais.
Uma constatação interessante que emerge desses resultados é a de que a grande maioria dos
integrantes entrevistados tem seu trabalho diretamente associado aos recursos naturais, como
os agricultores familiares, assentados da reforma agrária, pescadores e marisqueiros. (Senaes,
2012, p. 4).
Considerações finais
Cabe salientar que algumas diferenciações identificadas podem ser explicadas pela significativa ampliação dos EES rurais em
Santa Catarina, especialmente no TOC, entre os levantamentos de
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2007 e 2013, que por sua vez repercute na ampliação da participação das cooperativas solidárias. Vários autores, dentre os quais
destacam Arns (2010) e Poli (2006), já demonstraram a histórica
tradição da região oeste catarinense na cooperação agrícola, especialmente cooperação solidária, concebida e praticada de modo
geral pelos diversos movimentos sociais atuantes no TOC. Isso, de
certa forma, explica o baixo índice de grupos informais e a maior
participação e percentual de associações e cooperativas.
A cooperação rural é fortemente estruturada pelos movimentos sociais (MST, MMC, MPA, MAB), bem como pelo movimento sindical dos trabalhadores da agricultura familiar. Também tem
contribuído nesse sentido um conjunto de políticas públicas, que
estimulam a organização dos camponeses em cooperativas para
acessarem o mercado formal institucional. A forma de organização
também incide na comercialização, realizada de forma direta ao consumidor final e a revendedores e atacadistas, sendo possível identificar o aumento da comercialização para órgão governamental.
Quanto à questão de gênero, o mapeamento apresenta o território oeste e o estado com a maior parte dos sócios sendo homens.
Com relação à categoria social dos sócios e sócias do EES, o questionário de 2013 apresentava como alternativa nove opções: agricultores familiares; artesãos; técnicos profissionais de nível superior; artistas; assentados da reforma agrária; catadores de material
reciclável; garimpeiros/mineiros; trabalhadores autônomos/por
conta própria; e desempregados/desocupados. Os EES existentes
no território oeste e no estado são, em sua maioria, de agricultores
familiares, seguido por de artesãos, que se identificaram como trabalhadores autônomos. Essa realidade presente nos municípios do
território oeste não difere dos dados nacionais.
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Dentre as principais atividades econômicas realizadas pelos
empreendimentos no território oeste catarinense, a maior porcentagem tem como atividade a produção e/ou produção e comercialização. Outros dedicam-se somente à comercialização ou organização da comercialização.
Dentre os principais desafios dos EES existentes no TOC é
possível citar: a manutenção econômica, a busca por formas de viabilização econômica, estruturação para logística, trabalho em redes, bem como a geração de uma renda adequada aos sócios.
Outro desafio é a interação e a articulação dos EES do TOC
com a própria economia solidária no TOC, e o País se estruturando
junto aos demais movimentos sociais.
Referências
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no Território Alto Uruguai Catarinense (SC) Brasil. 2010. 278 f.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Programa
de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade de
Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul, 2010.
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transformações contemporâneas no mundo do trabalho. 2007.
121 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais e Humanas) –
Programa de Pós-Graduação em Integração Latino-Americana, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.
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associativas no oeste de catarinense. 2006. 336 f. Tese (Doutorado
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SDT – Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Plano Tipo Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) do
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SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Perseu Abramo, 2002.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 2009.
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GTA – Grupo de Trabalho
em Agroecologia: um desafio
epistêmico, político e prático
Carlos Eduardo Arns
Luis Henrique Rangrab
Oscar José Rover
Vagner Lopes da Silva
Introdução
O presente trabalho traz um breve relato da trajetória de
aproximadamente 15 anos (1998 a 2012) de atuação do Grupo de
Trabalho em Agroecologia (GTA), enquanto projeto/programa de
extensão universitária, elaborado em conjunto por ex-coordenadores, a partir dos relatórios anuais enviados a Diretoria de Extensão
(DEX) e materiais, documentos e registros de posse dos autores,
bem como de registros de memória destes.
O Grupo de Trabalho em Agroecologia (GTA) foi constituído
em 1998, em resposta à necessidade dos acadêmicos e professores
do curso de Agronomia da Unochapecó para praticarem a agroecologia a partir de demandas de organizações e grupos sociais no
oeste do estado catarinense. O GTA se transformou em programa
permanente de extensão em 12 de fevereiro de 2004 e encerrou
suas atividades em dezembro de 2012 (Unochapecó, 2004).
O programa desenvolveu suas atividades de acordo com a política de extensão universitária da Unochapecó, no eixo temático
meio ambiente e tecnologia apropriada, tendo como área temática
principal o meio ambiente e secundária a tecnologia. Enquanto linha programática esteve categorizado na linha de desenvolvimento
rural e questão agrária, desenvolvendo também projetos nas linhas
de saúde, educação ambiental e segurança alimentar. Isso demonstra uma de suas principais características, que é o trato das questões de forma complexa, e por isso sua transversalidade a diversas
áreas.
Enquanto princípios, o GTA se orientou pelo respeito e valorização do “protagonismo” dos sujeitos sociais com os quais interage;
promoção da “autonomia” na determinação de seu destino político
e a garantia da “participação” no desenvolvimento dos trabalhos.
Suas diretrizes de trabalho estiveram orientadas pela “educação
popular”, que buscava a construção do desenvolvimento rural sustentável e solidário, a promoção do processo de transição agroecológica na produção de alimentos e gestão dos recursos naturais e
a busca permanente da integração ensino-pesquisa-extensão. Por
isso, o GTA sempre esteve fortemente integrado com as ações do
Grupo de Pesquisa em Agroecologia e Agricultura Familiar (GPAAF),
da Unochapecó.
O objetivo geral do programa visava contribuir com o fortalecimento e ampliação da agroecologia na universidade e na sociedade regional, a partir do apoio e implementação de ações práticas,
tendo como objetivos específicos: oportunizar e/ou capacitar acadêmicos em processos e práticas agroecológicas, para além da dimensão exclusivamente produtiva, mas também em novas relações
sociais; apoiar e contribuir na capacitação de lideranças e agricultores locais na implementação de trabalhos agroecológicos; desenvolver ações para expandir as práticas agroecológicas e viabilizar a
implementação de empreendimentos de geração de renda na perspectiva solidária e sustentável; promover um maior envolvimento
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da universidade com o conjunto das organizações regionais que
atuam com a agricultura familiar, agroecologia e desenvolvimento rural sustentável; contribuir para o desenvolvimento de novas
tecnologias a partir dos princípios da agroecologia (Unochapecó,
2004).
Enquanto lócus de gestão político-administrativa, o Grupo de
Trabalho em Agroecologia (GTA) esteve inicialmente localizado no
Departamento de Ciências Agrárias, que posteriormente integrou o
Centro de Ciências Agroambientais e, mais recentemente, na Área
das Ciências Exatas e Ambientais. Nesse último período, a relação
de articulação, decisão e vínculo administrativo foram ficando cada
vez mais atreladas/vinculadas à Diretoria de Extensão (DEX), embora sua origem estivesse formada fundamentalmente por um grupo de professores e acadêmicos do curso de Agronomia, mesmo
que sempre estivesse aberto a todos os cursos da Unochapecó, por
sua característica temática e de atuação interdisciplinar. Em sua
trajetória, em diferentes momentos e ações houve participação de
professores e acadêmicos de outros cursos, especialmente dos cursos de Biologia, Nutrição, Direito e Economia.
O GTA tinha como público e parceiros prioritários as prefeituras municipais, os sindicatos da Agricultura Familiar, as cooperativas
e associações de pequenos agricultores e o Núcleo de Agroecologia
da Rede Ecovida da região oeste catarinense. Contudo, no desenvolvimento dos seus trabalhos articulou ações com uma diversidade
de entidades e segmentos sociais como: grupo de idosos, indígenas,
escoteiros, polícia ambiental, Embrapa, entre outros1.
1 Para mais informações, ver Arns (2004).
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Elementos de contexto do desenvolvimento
da agroecologia no Brasil
O mundo, aqui entendido também como o mundo do trabalho, vive em permanente transformação, mas se encontra especialmente em um período de transformações mais profundas e determinantes da vida e agora não mais só humana, mas de toda a vida
do planeta. Isso vem sendo apresentado por diversas personalidades (estudiosos, especialistas e militantes), a exemplo do teólogo
Leonardo Boff, do físico Fritjof Capra, do linguista e filósofo Noam
Chomsky, do sociólogo Emanuel Castells, do antropólogo David
Harvey e tantos outros, mesmo que em perspectivas diferentes e
pressupostos diversos.
O mundo rural não é diferente e não está indiferente às mudanças em curso. A partir de meados dos anos 1990, de modo mais intenso e determinado, vários estudos mais estruturantes se debruçaram
para promover esse desvelamento e contribuir para a construção de
sua compreensão mais profunda, a exemplo do projeto Rurbano, da
USP, coordenado pelos pesquisadores Clayton Campanhola e José
Graziano da Silva; do projeto integrante do Pronex Desenvolvimento,
Agricultura, Sociedade e História Social, do CPDA/UFRRJ, desenvolvido em parceria com o Laboratório de Estudos do Tempo Presente
(Tempo/UFRJ). Desses e de outros estudos mais amplos em sintonia
com estudos de outras partes do mundo surgem novos conceitos e
noções em construção, para ajudar na compreensão de diversos fenômenos como o próprio conceito e processo de desenvolvimento
rural, multifuncionalidade, pluriatividade, neo-rural, recampesinização, mas dentre os quais cabe destacar a agroecologia.
No Brasil, a partir do estudo desenvolvido pela FAO em parceria com o Incra e publicado em 1994, como “Diretrizes de polítiA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
ca agrária e desenvolvimento sustentável” (FAO/Incra, 1994), duas
novas questões se colocam no debate do rural: uma é o Desenvolvimento Rural propriamente dito, como contraponto ao Desenvolvimento Agrícola subsidiário ao desenvolvimento urbano industrial,
compreensão tradicional e predominante até então. Outra questão
é a agricultura familiar como estratégia para outro modelo de desenvolvimento (sustentável), que se contrapõe ao modelo da modernização capitalista promovido pela denominada Revolução Verde (Abramovay, 1992; Guanziroli; Cardin, 2000; Veiga, 2000).
A “modernização dolorosa” (Graziano da Silva, 1982), ou “modernização conservadora” (Brum, 1985), tornaram o Brasil o maior
consumidor de agrotóxicos do mundo (Carneiro et al., 2015); porém, no ano de 2013, estava entre os cinco primeiros produtores
de carnes (bovina, ave e suína), mas não configurava entre os cinco
maiores produtores de cereais (FAO, [s.d.]).
Para além do campo acadêmico, na sociedade brasileira a partir da resistência e enfrentamento ao longo do período (1964-1985)
de ditadura midiática-civil-militar (Fernandes; Chagas, 2014) foram se forjando fortes movimentos sociais que, além da discussão
e proposição, construíram ricas, diversas e complexas experiências
nos mais diversos campos da vida social (saúde, educação, agricultura, dentre outros) na perspectiva de um novo modelo de desenvolvimento para o País (Arns; Zuniga; Rover, 2004).
Com o fim da ditadura em 1985, inicia-se o processo de redemocratização, com o País mergulhado em uma enorme crise econômica (chamada década perdida). Em 1988 foi aprovada a nova
Constituição Federal, que dentre seus vários avanços produzidos
pela sociedade civil organizada, pode-se destacar a orientação pela
descentralização política e administrativa do Estado. Esse processo
fortaleceu e viabilizou o movimento de municipalização (aproximaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
ção ao sujeito de direitos) de um conjunto de direitos e serviços ao
cidadão. Nesse sentido, pode-se destacar a saúde, através da implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), a educação com divisão de atribuições entre os três níveis do Estado (União nível superior; Estados nível médio e Município formação inicial). Mais tarde,
a assistência social se organizou em um sistema nacional, Sistema
Único da Assistência Social. O mesmo ocorreu com a agricultura,
mas de modo diferenciado, sem o suporte institucional de um sistema de integração das ações nos diferentes níveis federativos, sem
diretrizes claras, sem a destinação de recursos humanos, físicos e
financeiros, sem capacitação e apoio para gestores e sociedade civil
organizada. Esse processo ficou a cargo de cada estado e município,
para tomar a decisão, definir a forma, estabelecer o grau de atendimento e participação social, se constituindo em um processo de
“prefeiturização” e não de descentralização (Gregolin, 2000).
Por sua vez, a sociedade civil do campo se organizou na luta
de resistência e na construção de sua pauta de reinvindicação e
participação, que tem início em 1975 com a criação da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), em um Encontro de Bispos e Prelados da
Amazônia (Comissão Pastoral da Terra, 2016). Nos anos seguintes,
surgiu um conjunto de movimentos sociais com sua organização
e projetos próprios, vinculados à temática do meio rural, como o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na questão
da terra, Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) na questão
de gênero e direitos das mulheres camponesas e o Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB) na questão ambiental e energética.
No período de abertura democrática brasileira, uma visão e propostas de agricultura alternativas começaram a ser protagonizadas
pelas federações de agrônomos e de estudantes de agronomia do
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Brasil, assim como por ONGs, o que culminou com a construção
atual do termo agroecologia (Bianchini; Medaets, 2013).
Com esses movimentos, as críticas ao modelo tecnológico de
produção e de desenvolvimento rural aumentaram, e a agroecologia tornou-se uma bandeira de luta dos movimentos sociais agrários, que reivindicavam condições adequadas para o trabalho, com
terra e investimento em pesquisas tecnológicas apropriadas à realidade da agricultura familiar e camponesa.
É nesse contexto que a agroecologia se colocou como outro
modo de produção, de vida e de relacionamento com o meio, articulando-se ao debate do desenvolvimento rural e da agricultura
familiar e camponesa, visando abarcar uma ampla diversidade de
sujeitos sociais do espaço rural (Caporal; Azevedo, 2011) e, consequentemente, as várias agroecologias que fazem parte da característica biocultural do espaço agrário brasileiro (Toledo; Barrera-Bassols, 2014).
Essa característica tem sua essência na agricultura familiar
e camponesa, e influencia o principal ato cultural do ser humano,
o de comer (Mintz, 2001), tanto na produção como na elaboração
das comidas. Assim, a agricultura familiar e camponesa e suas organizações denotam um espaço agrário complexo (Ploeg, 2013), por
praticar sua essência biocultural (Toledo; Barrera-Bassols, 2014).
É nesse contexto que se produz o debate do desenvolvimento
rural sustentável e das tecnologias adaptadas à agricultura alternativa e agroecológica, que culmina na aprovação da Lei da Agricultura Familiar, na criação do Pronaf e na nova Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), no Plano Nacional
de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo), além de outras
regulamentações que vão constituindo um ambiente institucional
mais favorável a mudanças do modelo de desenvolvimento rural
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(Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica,
2013; Simoni, 2013).
Nesse sentido, o oeste catarinense – área de abrangência da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó – constitui-se em
um grande laboratório de experiências em construção, que necessitam ser compreendidas e apoiadas.
Elementos de contexto do
desenvolvimento do programa GTA
A constituição do GTA está relacionada a um amplo e complexo conjunto de fatores, mas aqui serão destacados, de forma sucinta, apenas alguns que podem ser considerados de maior relevância
e abrangência.
A região oeste catarinense, a partir da densa organização social
existente (MST, MMC, MAB, Movimento Sindical Rural e ONGs), protagonizou um conjunto de experiências no campo do desenvolvimento
local/rural, realizando processos de Planejamento Estratégico Participativo (PEP) de desenvolvimento local; nas finanças, organizando
uma rede de cooperativas de crédito de interação solidária; na agregação de valor, com a organização de redes cooperativas e associações de pequenas agroindústrias familiares; na produção sustentável, onde se constituiu vários núcleos da Rede Ecovida, com feiras e
circuitos de comercialização da produção agroecológica e orgânica.
A Unochapecó (antiga Unoesc – campus Chapecó) iniciava
um processo de reconfiguração institucional, saindo da Fundação Unoesc, reativando a Fundeste e constituindo a Unochapecó
(2002), no qual buscou reestabelecer o seu posicionamento no
contexto regional. Com intuito de atender as demandas regionais
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propõe, em 2003, a constituição de um instituto de desenvolvimento (Instituto Regional para o Desenvolvimento Sustentável – Inredes), readaptando as estruturas do Colégio Agrotécnico 25 de Julho
(Prédio administrativo/escolar, Granja de produção e Estação de
Piscicultura), localizado no município de São Carlos, que em 2009
passou a ser denominado de Instituto Goio-En2. Nessa reconfiguração, o prédio seguiu mantendo a finalidade administrativa e de
formação; a Estação de Piscicultura organizou suas atividades em
três projetos: “Preservação dos peixes migratórios da bacia do Rio
Uruguai”, “Preservação de espécies florestais nativas” e “Educação
ambiental”; a granja de produção agropecuária, por apresentar características típicas de unidades familiares da região oeste catarinense, foi reestruturada e passou a ser denominado Laboratório
Agroecológico, organizado em subsistemas de produção integrados
entre si, conformando um sistema de produção tipicamente familiar, na perspectiva da reconversão agroecológica.
No curso de Agronomia, constituiu-se um grupo de professores oriundos e engajados nas lutas sociais como a luta da terra,
agroecologia, do desenvolvimento local, dentre outras, que buscaram internalizar suas experiências e interagir com os movimentos
sociais, através do compartilhamento dos conhecimentos científico
e empírico.
O curso de Agronomia da Unochapecó, em seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC), propõe a formação de um profissional para
desenvolvimento rural sustentável, respeitando e valorizando as
dinâmicas regionais em suas dimensões econômica, social, ambiental e cultural. Portanto, um profissional com capacidade de atuar
2 Mantido pela Fundeste, que tem como ações prioritárias a realização de estudos,
pesquisas e prestação de serviços na região do oeste catarinense. Disponível em: <http://
www.institutogoioen.org.br>.
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como agente de desenvolvimento, dentro e fora da unidade de produção, na construção de conhecimentos e na troca de saberes, ou
seja, muito além da formação tecnicista e difusora de conhecimento exógeno – pronto e acabado – ainda predominante na formação
profissional do País.
Nesse sentido, o GTA como grupo/projeto de extensão colaborou no debate sobre o projeto político pedagógico (PPP) do curso
de Agronomia da Unochapecó e sua relação com os atores sociais
da região na qual está inserida a universidade. Esse tipo de ação
tem importância, pois traz ao debate qual tipo de modelo produtivo
queremos: um modelo petro-dependente ou um modelo que visa à
agricultura sustentável. Se a escolha é pela opção que visa o desenvolvimento sustentável, essa vai demandar a formação de um novo
profissional de ciências agrárias, com uma abordagem holística e
sistêmica, além de uma forte base ética (Sarandón, 2008), e, para
isso, o grupo/projeto de extensão tem papel fundamental (Fagundes; Romanini Netto, 2016).
Para a formação desse tipo de profissional, o GTA sempre defendeu que o enfoque deveria ser agroecológico, por este propiciar
o diálogo de saberes entre os conhecimentos local e científico, proporcionando um conhecimento híbrido, que auxiliaria na organização e gestão de territórios, além de assegurar sua autonomia (Toledo; Barrera-Bassols, 2014).
Principais ações desenvolvidas
na trajetória do GTA
No desenvolvimento dos seus projetos, o GTA integrava suas
atividades com as ações do Grupo de Pesquisa GPAAF, consolidando
o processo de indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. No
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entanto, cabe observar que ainda era frágil a inserção do processo
de formação acadêmica junto às ações de extensão e pesquisa.
O GTA esteve fundamentado em metodologias que fomentam
o local e o rural, embora algumas ações refletissem no urbano, por
entender a grande conexão existente entre campo-cidade, sendo
essa conexão algo necessário à existência desses ambientes.
Nesse sentido, sempre promoveu a participação e protagonismo dos atores locais e, por essa razão, trabalhava com metodologias já conhecidas na abordagem agrária de investigação e extensão
rural, como a “campesino a campesino” (Santana; Duarte; Fontes,
2011) e o “diálogo de saberes” (Sousa; Garavello, 2015). Essas metodologias sempre colaboraram para um debate entre o agrícola e
o agrário, e a divulgação de práticas agroecológicas, que colaboram
com o desenvolvimento regional e a sustentabilidade sócio-cultural-econômica (Moreira, 2002).
Além disso, a base de seu debate foi o enfoque agroecológico,
sendo este necessário para a agronomia ao trabalhar com comunidades e atores agrários, por incorporar as dimensões agrárias, que
passam pelo econômico, social e ecológico, ao cultural, político e
ético (Caporal; Costabeber, 2002), sendo esses os pilares estruturais do desenvolvimento histórico do oeste catarinense.
Porém, discutir ideias e enfoques diferentes dos praticados e
concebidos pela opinião pública e fomentados por governos não foi
uma tarefa muito fácil. Em nenhum momento o GTA deixou de praticar o diálogo e firmar suas posições em busca da autonomia dos
agricultores, pois estes buscavam um modo de produção diferente
ao agroexportador, perseguiam uma forma de produzir comida em
que a saúde do consumidor e do produtor fosse preservada.
Nesse sentido, o GTA utilizou muitas estratégias, trabalhando
na organização dos produtores, comercialização, desenvolvimento
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de tecnologias, unidades de referência técnica, educação ambiental, certificação e eventos, que favorecessem o desenvolvimento da
agroecologia.
O apoio às feiras ocorreu como forma de uma abordagem sistemática de estudo e de troca de experiências; a promoção desses
espaços pode ser considerada como um contraponto ao modelo
agroexportador que visa a especialização da agricultura (Araújo; Maia, 2012). Não significa dizer que todos os agricultores que
participavam das feiras eram de base ecológica, mas que estavam
buscando a autonomia produtiva, e essa atitude interessava ao
GTA. Além disso, a aproximação entre consumidores e produtores
fomenta relações de confiança que promove uma produção ética
(Araújo; Maia, 2012; Caporal; Costabeber, 2002).
O apoio a feiras em construção no município de Chapecó e a
relação com agricultores, realizado pelo GTA, culminou com a inserção destes na Unochapecó, realizando a comercialização direta,
inicialmente nos corredores dos blocos. Posteriormente, foi construído um espaço, pelos próprios feirantes, como parte do projeto
paisagístico institucional e de acordo com suas normas, carinhosamente chamado de “Feirinha”, dedicado a comercializar produtos
produzidos pelas famílias agricultoras agroecológicas e empreendimentos de economia solidária da região. Participavam da feira
agricultores, grupos de cooperação, escolas agrotécnicas, assim
como o próprio Inredes, que em seus processos produtivos se encontravam em transição ou em produção agroecológica. No início, a
comercialização era com toda gama de produtos da agricultura familiar, realizada duas vezes por semana. Porém, com o aumento do
número de estudantes, grande parte originários de famílias agricultoras e com forte identidade rural, percebeu-se espaço para outros
tipos de produtos na universidade. Com isso, houve incremento na
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demanda de produtos, principalmente panificados, que induziu os
agricultores a iniciarem a comercialização de pães, pastéis, bolachas, bolos, entre outros produtos, com sua identidade cultural e
atendendo à demanda dos consumidores3.
A presença da feira ampliou a possibilidade de que outros
cursos pudessem agregar-se ao projeto coordenado pelo GTA, tornando assim a experiência mais rica em sua multidisciplinaridade,
inclusive com atividades culturais (música, teatro, exposições etc.).
Além da comercialização direta em feira, outros projetos também
foram desenvolvidos, tais como: “Feira de trocas”, “Moeda social”
e “Entrega direta de Cestas” – com desenvolvimento de software,
“Boas práticas de produção e comercialização”, “Rotulagem”, entre
outros.
O GTA atuou fortemente no apoio à organização dos agricultores agroecológicos para a ampliação e fortalecimento da Rede Ecovida, através de projetos de extensão e pesquisa, que buscavam dar
suporte ao processo de construção da Certificação Participativa4.
Nesse sentido, desenvolveu, junto à Associação dos Produtores Feirantes de Chapecó (Aprofec) e Núcleo da Rede Ecovida de Chapecó,
uma proposta metodológica de troca de experiência e certificação
participativa, que consistia em um encontro por mês, sempre aos
domingos, envolvendo os membros do núcleo, agricultores interessados no processo de reconversão agroecológica e consumidores
das feiras do município. O encontro era precedido do estudo de uma
unidade de produção familiar agroecológica do núcleo, realizado
por acadêmicos da agronomia que, utilizando a abordagem sistêmica, elaboravam em conjunto com a família um mapa da propriedade
3 Para mais informações, ver Rangrab (2003).
4 É o processo em que a certificação ocorre baseado na confiança, sem hierarquias e é
potencialmente econômico, pois um agricultor fiscaliza ao outro (Santos, 2012).
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identificando e descrevendo cada parcela e seu histórico, um fluxograma do conjunto dos subsistemas e suas inter-relações, as técnicas e práticas agroecológicas adotadas e perspectivas (planos). No
dia do encontro, as atividades iniciavam com a acolhida e apresentação dos participantes, a apresentação do estudo, seguido de uma
travessia (caminhada) na propriedade, e no retorno era servido um
almoço comunitário. Após o almoço era realizado uma reflexão conjunta sobre os avanços, limites e sugestões dos participantes. Foram
realizados 12 encontros entre abril de 2004 e junho de 20055.
Concomitantemente ao processo de comercialização, o GTA
apoiou e promoveu a constituição de hortas comunitárias na perspectiva agroecológica. Esses projetos foram desenvolvidos junto a
escolas, comunidades carentes e, inclusive, junto ao Hospital Regional em Chapecó. No processo associativo de gestão da feira e dos
grupos de cooperação, o GTA atuava em parceria com o programa
permanente de extensão Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares (ITCP).
Na compreensão do grupo, o desenvolvimento de tecnologias
sustentáveis era um instrumento fundamental de sua atuação no
fortalecimento da agroecologia, para o qual implementou estratégias de desenvolver unidades de referência técnica, em duas direções: no Inredes, através do Laboratório agroecológico, e outra
diretamente em sistemas de produção da agricultura familiar dos
municípios do oeste.
O Laboratório Agroecológico foi concebido pela gestão do
Instituto, juntamente com o GTA e GPAAF, para produzir e demonstrar tecnologias de produção de base agroecológica adequados aos
agroecossistemas da agricultura familiar e suas organizações, bem
5 Para mais informações, ver Arns, Kilian e Munarini (2006).
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como instituições de ensino da região. Na produção pecuária eram
desenvolvidos os projetos de “Produção de leite à base de pasto”,
“Produção de frangos de corte e galinhas de postura em sistemas
agroecológicos”, “Apicultura” e “Produção de suínos”. Na produção
vegetal foram implantados os projetos de “Produção de milho crioulo”, “Produção de morango orgânico” e “Produção de Hortifrutigranjeiros”. Além dos subsistemas pecuários e de cultivo, foi desenvolvido o subsistema de transformação, no qual eram produzidos doces,
panificados (pão, bolacha, cuca, entre outros) e conservas (pepinos,
cenoura, beterraba, entre outros), que eram comercializados em São
Carlos e também participavam da Feirinha, na Unochapecó6.
Na perspectiva de implementação de unidades de referência
técnica foram realizados projetos com produtores de municípios e
organizações, com o objetivo de constituir uma rede de unidades de
referência como apoio à assistência técnica local e articulados com
o Laboratório Agroecológico. Nesse sentido, foram desenvolvidas
unidades de produção de leite e aves nos municípios de Quilombo,
Planalto Alegre e São Carlos7.
O Laboratório Agroecológico, juntamente com os projetos da
estação de piscicultura, realizava atividades práticas e de conscientização junto à comunidade regional, especificamente através de
dias de campo, visitas e ciclo de conscientização ambiental, onde
recebia várias instituições para comporem um circuito a ser percorrido por visitantes previamente agendados em evento específico8.
Outra estratégia utilizada pelo GTA foi a promoção de eventos
com temáticas agroecológicas. Nesse caso, houve a participação na
6 Para mais informações, ver Arns (2004) e Rangrab, Arns e Abreu (2006).
7 Para mais informações, ver Rangrab, Tambosi e Hans (2008).
8 Para mais informações, ver Rangrab (2004).
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organização de seminários, encontros e congressos tanto no nível
local como no nível regional. Nesse sentido, podem-se citar os Encontros Estaduais de Agroecologia e o I Encontro Pan-Americano
sobre manejo agroecológico de pastagens.
Esses espaços foram organizados com o intuito de promover
a discussão e divulgar técnicas apropriadas à realidade da agricultura familiar. No caso dos Encontros Estaduais de Agroecologia,
o último em que o GTA participou da organização foi em 2012, o
qual ocorreu no município de Pinhalzinho e participaram 2,5 mil
pessoas. Entre o público participante estavam agricultores familiares, estudantes, professores e pesquisadores de várias regiões do
Brasil. Já no I Encontro Pan-Americano sobre manejo agroecológico
de pastagens houve a participação de mais de setecentas pessoas,
entre as quais estavam agricultores familiares, estudantes, professores e pesquisadores de diversas regiões do Brasil, além de outros
países como: Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos,
Panamá, Paraguai e Venezuela.
Com isso, o GTA implementou projetos sempre na ótica da
agricultura familiar e camponesa e suas organizações, por considerar esta complexa e detentora de muitas agroecologias, da mesma
maneira que é a principal produtora de comida para a população.
Considerações finais
O GTA foi um programa permanente de extensão universitária
que enfrentou, desde o início, o desafio da afirmação de um contraponto/alternativa em três campos: um técnico, a produção sem
usos de insumos convencionais; um epistêmico, apresentar agroecologia como uma base científica na academia; e um político, busca
de espaço em um ambiente fortemente hegemonizado pelo agroA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
negócio vinculado a corporações internacionais, com interesse nas
áreas de sementes, adubos químicos e agrotóxicos.
Mesmo assim se constituiu em um espaço privilegiado de
atuação de diversos professores e acadêmicos, através de bolsas de
extensão e de pesquisa, sendo também espaço para o desenvolvimento de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), dissertações de
mestrado, produção e publicação de mais de dez artigos, participação em eventos internacionais, nacionais, estaduais, regionais e
municipais sobre agroecologia9.
Na relação com os produtores, produziu parceria efetivas com
organizações e famílias de agricultores de Chapecó e região, através da Associação dos Produtores Feirantes de Chapecó (Aprofec),
Núcleos da Rede Ecovida, Cooperativa de Produtores de Leite de
Quilombo (Cooplequil), dentre outros.
As propostas discutidas e realizadas pelo GTA sempre foram
construídas com o foco nos pilares da educação superior da indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão, e com o objetivo de
fomentar a autonomia das comunidades e famílias assessoradas.
Dessa maneira, o programa colaborou para o cumprimento dos deveres de uma universidade comunitária comprometida com o desenvolvimento mais justo e sustentável de sua região.
Contraditoriamente, no entanto, enquanto na região oeste catarinense o movimento e a organização da agroecologia cresceram
e se fortaleceram significativamente, na Fundeste e suas mantidas
(Unochapecó e Instituto Goio-En) o caminho foi inverso, com gradativamente perda de força, capacidade de trabalho e importância
para ações voltadas à agroecologia.
9 Nas Referências são apresentadas algumas das principais bibliografias, resultado de
trabalhos vinculados ao GTA.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Na região oeste catarinense são identificados atualmente três
núcleos de produtores organizados e atuantes, com novos núcleos
em discussão e processo de constituição. Em Chapecó e seu entorno
próximo já são mais de dez propriedades agroecológicas e dezenas
de produtos agroecológicos e orgânicos certificados, mesmo diante
de um ambiente institucional, político e cultural, ainda amplamente desfavorável. Mesmo assim, é de fundamental importância que se
reconheça o avanço no Brasil, especialmente a partir de 2003, na regulamentação da produção agroecológica e orgânica, na certificação,
da priorização da agricultura familiar e conversão agroecológica na
Politica Nacional de Ater (PNAter), da instituição e fortalecimento
das políticas de Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional (SAN),
todas conquistas do processo de redemocratização, e do esforço e
participação das organizações da sociedade civil organizada.
Por outro lado, na Fundeste houve uma mudança organizacional do Inredes para a configuração atual do Instituto Goio-En,
mudando também o enfoque, abordagens e prioridades, a agroecologia perdeu força e consequentemente o GTA. Na Unochapecó,
a mudança pode ser atribuída a fatores como a saída de um significativo conjunto de professores (concursos federais) que participaram do processo de construção e defesa do PPC do curso de
Agronomia. Mudanças organizacionais (de Departamento, para
Centro e atualmente Área) também contribuíram na redefinição de
prioridades. Contribuíram ainda, de forma decisiva, as sucessivas
mudanças curriculares da Agronomia, na busca de ajuste econômicos às diretrizes institucionais e do ensino superior do Ministério
da Educação (MEC). Esse processo tornou-se mais sensível e difícil,
pois se trata de uma instituição comunitária que até pouco tempo
não encontrava amparo legal no MEC, sendo tratada como uma insA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tituição de ensino privada. Esse contexto levou à finalização do GTA
e eliminação do espaço da Feirinha, em 2013.
No entanto, ficam registradas algumas das contribuições desse programa e proposição para o avanço nas discussões sobre a
agroecologia e extensão universitária, para o qual o presente trabalho se propôs a trazer alguns elementos que, com certeza, precisam e serão mais bem aprofundados e esclarecidos, contraditados,
como é do caráter das universidades.
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Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares da
Unochapecó – 13 anos de história
Carlos Eduardo Arns
Graciela Alves de Borba Novakowski
Scheila Girelli
Ana Maria Pereira Puton
Breve relato da origem da ITCP-Unochapecó
Este trabalho está construído no estilo ensaio ou relato de
experiência, pois tem o objetivo de apresentar elementos da trajetória da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó (ITCP-Unochapecó) a partir de dados e ações realizadas registrados nos relatórios anuais apresentados à Diretoria de Extensão e dos relatórios
anuais e semestrais apresentados às entidades parceiras e financiadoras desse programa permanente de extensão. Mas também é
resultado da observação participante e da compreensão construída
pelos autores, como sujeitos da ação, fruto das reflexões conjuntas
com todos os envolvidos no desenvolvimento do trabalho da ITCP-Unochapecó, da vida cotidiana nesses 13 anos de atuação (2003 a
2015), que fez e faz história em uma universidade comunitária no
oeste catarinense.
A ITCP-Unochapecó surgiu das discussões de um grupo de
professores e estudantes que constituíam o Núcleo da Rede Unitrabalho (Fundação Interuniversitária de Estudo e Pesquisa sobre
o Trabalho) já existente desde agosto de 1999, atuando inicialmente junto à Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação no
campus da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc)1, cidade de Chapecó.
As discussões do grupo fomentaram a realização de pesquisas
cujos resultados passaram a apontar algumas soluções ou possíveis
alternativas mediante as mudanças ocorridas nos últimos anos no
“mundo do trabalho”, já observadas à época, projetando ações que
modificassem a situação de exclusão e vulnerabilidade de significativa parcela da população da região oeste, impactada pela implementação das políticas neoliberais hegemônicas.
Considerando esses aspectos, o Núcleo Local da Unitrabalho
procurou fortalecer cada vez mais os laços com parceiros sociais –
prefeitura, associações, sindicatos etc. – e envolver o maior número
de funcionários, professores e acadêmicos da universidade. Nesse
ínterim, seu trabalho foi se configurando como grande fomentador
de trabalhos de caráter interdisciplinar, do qual passaram a participar diversas áreas: Psicologia, Serviço Social, História, Administração, Economia, Educação, Agronomia, Direito, entre outras.
Cabe salientar que, desde sua criação, o Núcleo da Unitrabalho acompanhou vários grupos ou empreendimentos. De acordo
com o levantamento de dados e informações das práticas de incubação, cerca de 25 empreendimentos faziam parte das atividades
de incubação, envolvendo diretamente cerca de seiscentas pessoas
nesse processo. Os grupos se localizavam prioritariamente na ci1 As atividades de ensino iniciaram em 1972, e até 2001 o campus de Chapecó fazia parte
dos polos da Unoesc, que era a sua mantenedora, juntamente com a Fundeste, que na
época era comantenedora. Diante da aspiração de constituição de uma universidade
em Chapecó, no segundo semestre de 2000, começaram os encaminhamentos para
sua reativação; em março de 2001, a Fundeste foi reativada operacionalmente e, em
27 de agosto de 2002, assumiu integralmente as atividades do campus Chapecó, que se
transformou na Unochapecó (Unochapecó, [s.d.]).
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dade de Chapecó, dedicando-se especialmente ao ramo dos materiais recicláveis, confecção, artesanato, construção civil, prestação
de serviço e produtos agroecológicos. As atividades de apoio eram
coordenadas pelo programa Ecoss2, pelo curso de Agronomia e pelo
programa Comunidade do Futuro3.
O custeio das ações do Núcleo Unitrabalho dava-se por meio
da aprovação de projetos de pesquisa através do fundo de miniprojetos da Unitrabalho, Pibic/CNPq4, FAPE5 e Funcitec6, e pela
parceria com a Unochapecó, que assumia o pagamento das horas
disponibilizadas pelos professores, além de disponibilizar a infraestrutura necessária para o funcionamento do núcleo. Alguns
grupos assessorados conseguiram apoio do Fundo de Miniprojetos
Alternativos7.
Um dos resultados desse processo foi a criação da Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Um dos motivos de
sua criação esteve ligado ao próprio objetivo da Rede Unitrabalho:
2 Programa de Extensão Universitária do Curso de Serviço Social, cuja proposta central
voltava-se ao trabalho na perspectiva da educação e organização popular. Tinha como
parceira, desde 1999, a Política de Ação Comunitária (PAC) da região do CAIC, na região
do bairro São Pedro (considerado um dos mais pobres de Chapecó). As atividades da
PAC eram operacionalizadas através de quatro grupos de trabalho: geração de renda;
organização popular; meio ambiente; violência e segurança.
3 O programa Comunidade do Futuro foi instituído pela Prefeitura Municipal de Chapecó
em 1998. Seu objetivo era criar um ambiente de diálogo e articulação permanente dos
atores sociais, visando promover o desenvolvimento econômico, social, ambiental,
político, institucional, tecnológico e cultural para a melhoria da qualidade de vida da
população. Era coordenado por um comitê interinstitucional formado por 19 entidades
parceiras, envolvendo poder público local, universidade, ONGs e entidades sindicais.
4 Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
5 Fundo de Apoio à Pesquisa Unochapecó.
6 Fundação de Ciências e Tecnologia do Estado de Santa Catarina.
7 Iniciativa do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) e do Conselho
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), beneficia pequenos projetos para compra de
equipamentos de uso frequente nas atividades desenvolvidas pelos empreendimentos.
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contribuir para o resgate da dívida social e política que as universidades brasileiras têm para com os(as) trabalhadores(as), socializando os conhecimentos produzidos para além dos espaços acadêmicos. Além disso, a iniciativa visava desenvolver ações concretas
de apoio aos grupos sociais “excluídos” ou “em risco de exclusão”
(expressões usadas na época).
Portanto, além do exposto, podem-se apontar alguns elementos de contexto que contribuíram na constituição da ITCP como um
programa de extensão universitária:
• a crise econômica dos anos de 1990: o Brasil enfrentava
nos anos 90 do século passado o impacto das políticas
neoliberais, como medidas de superação da crise
econômica, que davam suporte ao processo de globalização
do capital, especialmente através da financeirização da
economia e a reestruturação produtiva, denominada
“terceirização”, que conduz a uma profunda precarização
das condições de trabalho e desemprego em massa;
• os Comitês de Entidades no Combate à Fome e pela
Vida – COEPs: nesse contexto dos anos de 1990, surgiram
ações de geração de trabalho e renda, fruto da mobilização
social nacional produzida pelos COEPs idealizados
pelo Betinho (Herbert de Sousa)8, que reuniam órgãos
públicos, empresas privadas, organizações sociais –
dentre essas, as universidades;
8 Herbert de Sousa foi um sociólogo e ativista dos direitos humanos brasileiros. Dentre
outros projetos que criou, fundou e dedicou-se ao projeto Ação e Cidadania Contra a
Fome, desde 1993, programa de luta pela vida e contra a miséria, combatendo a fome e
o desemprego através da democratização da terra. Herbert era hemofílico e acometido
do vírus HIV; faleceu em 1997, aos 61 anos. Apesar da doença, nunca deixou da luta
incansável rumo aos direitos humanos (Pandolfi; Gazir; Corrêa, 2012).
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
• os Núcleos da Unitrabalho nas universidades: tratou-se
da constituição de uma rede de núcleos nas universidades
do País discutindo as mudanças no mundo do trabalho e
propondo ações práticas para a solução dos empregados
(terceirização), a exemplo das cooperativas populares;
• as lutas sociais no oeste catarinense: a forte organização
da sociedade construída pelos movimentos sociais na
região, em diferentes demandas sociais – como as lutas
pela terra (MST), pelos direitos das mulheres camponesas
(MMC), pela questão ambiental e energética (MAB), pela
descapitalização dos pequenos agricultores (MPA) –,
esta forte organização foi fundamental para a construção
de uma Constituição Federal que produziu processos
de descentralização e participação nos espaços rurais
e urbanos, sempre trabalhando a cooperação como
elemento estratégico nas ações;
• iniciativas do governo popular em Chapecó: houve a
articulação de programas de extensão da Unochapecó com
programas e projetos do governo popular (1987-2004),
bem como o desenvolvimento de programas em conjunto,
a exemplo do programa Comunidade do Futuro: o
desenvolvimento de Chapecó nas mãos dos chapecoenses,
uma parceria da Prefeitura com a Unochapecó, que foi
premiada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) como uma
boa prática na geração de trabalho e renda, e a constituição
do Programa de Geração de Trabalho e Renda na Secretaria
da Assistência Social, que buscou alternativas de renda
para a população mais pobre e desassistida do município;
• o movimento de economia solidária: a partir das
discussões do Fórum Social Mundial de 2003, em Porto
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Alegre (“outro mundo é possível e outra economia já existe”),
articulou-se o movimento de economia solidária do Brasil,
composto por inúmeras experiências de cooperação de
diferentes matizes, que constituem o Fórum Brasileiro de
Economia Solidária (FBES) e garantiram, junto ao Governo
Lula, a organização da Secretaria Nacional de Economia
Solidária (Senaes);9
• a tradição/vocação extensionista da Unochapecó: a
Unochapecó, desde sua origem, sempre manteve uma forte
relação com a comunidade regional através de programas e
projetos de extensão, a exemplo do Programa de Extensão
Comunitária em Serviço Social – ECOSS, EPPEPL (Serviço
Social), Programa de Apoio a Projetos de Desenvolvimento
Local (Papel), Grupo de Trabalho em Agroecologia (GTA),
bem como a constituição do Núcleo da Unitrabalho, dentre
outras iniciativas, contribuindo decisivamente para a
implantação e frutificação da ITCP.
A discussão da missão, objetivos, organização e funcionamento da ITCP-Unochapecó pautaram-se em materiais e exemplos de
incubadoras de outras universidades, como USP, UFRJ, PUCPEL,
dentre outras. Essas discussões foram sistematizadas num projeto
encaminhado à Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação, posteriormente aprovado pelo Conselho Universitário (Consun). O projeto também serviu de base para a construção do regi-
9 Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) foi criada no âmbito do Ministério do
Trabalho e Emprego com a publicação da Lei n° 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída
pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho de 2003. Em consonância com a missão do Ministério
do Trabalho e Emprego, tem o objetivo viabilizar e coordenar atividades de apoio à
Economia Solidária em todo o território nacional, visando à geração de trabalho e renda, à
inclusão social e à promoção do desenvolvimento justo e solidário (Munarin, 2007).
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
mento interno, sob trâmites que culminaram com a instalação da
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Unochapecó
no início de 2003.
Organização e funcionamento
da ITCP-Unochapecó
A ITCP-Unochapecó constituiu-se como um programa permanente de extensão universitária, enquadrado na política de extensão da instituição na área “Trabalho”, linha “Emprego e Renda”,
que tem por finalidade promover a inserção na economia formal
de grupos sociais excluídos ou em situação de risco, a partir de sua
organização para o trabalho, na perspectiva da autogestão. Procura
garantir a autonomia e independência tanto do sujeito/indivíduo
como do empreendimento/coletivo. Sua missão é apoiar iniciativas
de economia solidária, cooperativas, associações de produtores e
outras formas de organização econômica autogestionárias, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico do oeste catarinense. Visa, também, auxiliar na formulação e execução de políticas
públicas, destinadas ao fomento dessas experiências, articulando
sua ação com a de outros atores sociais comprometidos com a elevação da qualidade de vida e com a ampliação da cidadania (Unochapecó, 2003a). O seu projeto de constituição está firmado sobre
os princípios da economia solidária: a cooperação, a autogestão, a
educação popular e o cooperativismo e/ou associativismo popular
– alicerces de suas ações.
De uma maneira geral, as experiências, a discussão teórica e
ideológica e os estudos realizados sobre a economia solidária buscam contrapor-se ao modo capitalista de produção e repensar as relações entre conceitos como “trabalho”, “modo de produção”, “merA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
cado”, “capital”, “emprego”/“desemprego”, “distribuição de renda”,
“exclusão social” etc. Nessa perspectiva, justificam-se as origens da
economia solidária como uma construção dos movimentos sociais
e dos trabalhadores engajados nessas lutas.
O processo metodológico de trabalho apropriado e desenvolvido pela ITCP constitui-se em um de seus diferenciais na atuação
extensionista da Unochapecó. É organizado a partir de quatro grandes fases: pré-incubação, incubação, encerramento e pós-incubação – praticamente comuns a toda a rede das mais de cem incubadoras universitárias do País.
A fase da pré-incubação refere-se a todas as atividades necessárias à identificação das demandas até a seleção das iniciativas
a serem incubadas. Essa fase abrangente envolve dois momentos
distintos ou subfases: no primeiro momento, são contempladas
questões de caráter mais técnico-operacional, elencadas as demandas do grupo interessado, construída a aproximação entre as partes, proporcionada através das problematizações sobre a natureza ou o tipo de empreendimento (associação, grupo de produção,
cooperativa) existente ou pretendido e as dificuldades encontradas
pelo grupo. Compreendida a natureza e definido o tipo de empreendimento desejado pelo grupo, inicia-se o momento seguinte, mais
sociopolítico, que consiste na realização participativa do estudo
prévio da realidade, balizando tanto a equipe quanto o grupo interessado a fazer uma análise mais próxima das reais condições da
ideia inicial do grupo, para seguir na constituição de um empreendimento na perspectiva da economia solidária e no estabelecimento dos acordos e compromissos entre as partes.
A seleção dos empreendimentos a serem incubados pela ITCP
parte da análise dos diagnósticos apresentados ou levantados, os
quais são, então, confrontados com os critérios adotados e com as
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condições efetivas de atendimento da ITCP. Os critérios de seleção
contemplam
[...] viabilidade técnica e econômica do empreendimento, interação social do grupo, clareza da
área geográfica de atuação, viabilidade territorial
de incubação, ‘extensão científica’, impacto acadêmico, interesse social, técnico, científico, inovação, clareza do público a ser atendido, real interesse do público em trabalhar na perspectiva da
economia solidária. (Unochapecó, 2003a, p. 8-9).
Embora esse ordenamento seja de fundamental importância
para avalizar a passagem para a segunda grande fase, a fase da incubação, o processo não é rígido nem estático, isto é, essa metodologia é sensível à heterogeneidade do estágio dos grupos, podendo
(re)construir os critérios a partir das potencialidades e limitações
identificadas durante os trabalhos. Assim, o trabalho a ser desenvolvido na fase inicial de acompanhamento do empreendimento
pode contemplar tudo o que foi descrito, ou somente alguma parte.
Essa fase da incubação geralmente tem uma duração prevista de
um a três anos, tempo necessário para avaliar/analisar a viabilidade econômica e social do empreendimento, o qual pode variar de
acordo com as especificidades de cada grupo. As ações envolvidas
nesta fase incluem elaboração do projeto do empreendimento, desenvolvimento do plano de ação adotado pela equipe e, até, assessoria ao empreendimento em seu processo de gestão (planejamento,
organização, tomada de decisão e controle) – presta-se assessoria/
acompanhamento a questões mais específicas, como as contábeis,
administrativas e jurídicas, nas relações interpessoais, nos processos de aprendizagem, no envolvimento com o movimento de economia solidária, demandados pelos empreendimentos e propostas
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pela incubadora. Pode-se afirmar que as atividades de formação ou
o processo de capacitação propriamente dito perpassam todas as
fases da incubação. É nesta fase que o processo produtivo é abordado com mais profundidade, buscando contemplar a visão estratégica de negócio, os parâmetros de produção e produtividade, as
necessidades tecnológicas dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES). É o período das modificações, da acomodação dos
conhecimentos e das possíveis retomadas, de encarar a realidade e
as dificuldades que começam a surgir à medida que a proposta vai
tomando vida e se consolidando como empreendimento. Isso geralmente produz uma concentração maior de ações, tanto por parte da
equipe técnica como dos integrantes que começam a dar visibilidade ao empreendimento.
A terceira grande fase do processo é denominada de pós-incubação. Envolve os empreendimentos que passaram pelas fases
anteriores ou incubadas já identificadas em estágio mais avançado,
não mais demandando um processo intensivo e periódico de assessoramento e apoio. Nesta fase, a ITCP pode disponibilizar atividades de formação, com focos específicos de capacitação, de caráter
eventual, de acordo com as emergências surgidas e demandadas
pelos próprios empreendimentos – uma assessoria específica e de
curto prazo, realizada por especialistas dos quadros da incubadora,
mobilizados na universidade ou em programas de extensão parceiros, mas muitas vezes contratados a partir de recursos dos projetos de apoio. A partir deste estágio, a ITCP pode prestar assessoria
em atividades mais pontuais e esporádicas, em demandas comuns
e ações conjuntas ou coletivas de apoio, contemplando momentos
de análise de problemas, planejamento e avaliação dos resultados.
Também se busca a avaliação da efetividade da incubação, verifiA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
cando o alcance de sua missão e objetivos, na perspectiva do cumprimento da função social da universidade.
A equipe técnica da ITCP-Unochapecó, neste período, sempre
foi constituída por professores, técnicos de extensão e acadêmicos
(bolsistas ou estagiários), organizados em equipes flexíveis de trabalho junto a grupos de EES, por tipo de atividade ou tipo de trabalho a ser desenvolvido. Para sua qualificação no desenvolvimento
das atividades de pesquisa e extensão no trabalho da incubadora,
organizam-se em Grupos de Estudo e Pesquisa em Economia Solidária (Gepes), em que são discutidas e desenvolvidas as bases teóricas e metodológicas da ação e da investigação sistematizadas e
socializadas nas produções acadêmicas. Anualmente, são planejadas as atividades formativas e investigativas em processos de reflexão e elaboração participativas de forma grupal.
Estruturalmente, a ITCP conta com uma sede, com espaço
para atividades dos acadêmicos e técnicos de extensão; uma secretaria; um almoxarifado e depósito, constituído de cinco salas – além
de espaço para reuniões de uso comum com outros programas e
projeto de extensão. Possui os equipamentos básicos para o trabalho de extensão.
Todas as ações da incubadora são refletidas e planejadas participativa e conjuntamente em diferentes níveis interdependentes e
complementares, mas também concomitantes. O nível mais estratégico é realizado em dois momentos, seguidos de avaliação e de
planejamento, geralmente de 16 horas, duas vezes ao ano (início e
meio), envolvendo toda a equipe. Outro nível é o da realização de
atividades de planejamento e avaliação por projetos financiados,
que são mais frequentes e geralmente previstos na metodologia de
execução. Mas toda a equipe da ITCP geralmente realiza quinzenalmente uma reunião para socialização da organização das atividades
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por equipe flexível e conjunto de EESs, de forma intercalada com
as atividades dos Gepes. Ainda, há as reuniões semanais da equipe
de coordenação (técnicos de extensão, coordenadores de projetos
e coordenador geral) para a organização das atividades semanais e
eventuais; e, finalmente, as reuniões das equipes para planejamento das atividades semanais/diárias.
A captação de recursos como estratégia
na extensão universitária
As ações da ITCP sempre contaram com custeios de projetos
e chamadas transversais e editais específicos para ações de economia solidária em diversas fontes financiadoras. No início, as ações
foram custeadas com recursos da Funcitec, mas já no ano de 2004 a
ITCP realizou convênio com a Prefeitura Municipal de Chapecó para
incubação e assessoria de empreendimentos de economia solidária
vinculados ao Programa Municipal de Geração de Trabalho e Renda.
Esse trabalho ficou entre os vinte melhores do Brasil, segundo avaliação da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, na premiação do
Programa Gestão Pública e Cidadania, como experiência inovadora.
Enviado em 2003, o projeto foi aprovado; sua execução teve início com o Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares/Financiadora de Estudos e Projetos (Proninc/Finep), no valor
de R$ 120.000,00. Em 2006, novamente a incubadora firmou parceria com o projeto da Petrobras Fome Zero, sendo o único aprovado
em Santa Catarina, no valor de R$ 80.000,00. Esses projetos possibilitaram a estruturação física e pessoal para a ITCP-Unochapecó.
No ano de 2007, a incubadora aprovou, em parceria com a Finep, dois projetos: um para execução de 2008 a 2010, objetivando a
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inserção da ITCP na região, no valor de R$ 287.000,00; outro, no valor de R$ 100.000,00, para implementação de uma nova incubadora
na região, na cidade de Xanxerê, junto à Unoesc. No ano de 2010,
a ITCP aprovou novo projeto para execução em 2011 e 2012, com
apoio da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), para o fortalecimento das
ações da incubadora, no valor de R$ 298.000,00. No final de 2011,
aprovou outro projeto, com recursos na ordem de R$ 940.000,00,
para execução até 2013, também com apoio da Senaes/MTE; os objetivos eram fomentar a formação da rede de catadores de material
reciclável e fortalecer os empreendimentos econômicos solidários
atuantes com resíduos sólidos, constituídos, principalmente, por
catadores de materiais recicláveis em situação de extrema pobreza.
Em 2013, aprovou novo projeto via CNPq/Proninc, na modalidade linha A (de fortalecimento às incubadoras), para execução até
este ano de 2016, cujo objetivo é fortalecer o processo de incubação
universitária através da integração de ensino, pesquisa e extensão
para a produção de tecnologias sociais, promovendo o desenvolvimento territorial sustentável. O orçamento é de R$ 249.900,00,
para custeio de atividades com empreendimentos, grupos oriundos
do Assentamento Dom José Gomes, de Chapecó (SC), fortalecimento à Cesol e aproximação com as ações dos Territórios Rurais do
oeste catarinense. Em 2015, também aprovou, junto ao Programa
de Extensão Universitária MEC/SESu (Proext), o projeto de fortalecimento do programa permanente de extensão ITCP e apoio aos
empreendimentos de economia solidária na região do oeste de Santa Catarina, no valor de R$ 298.531,52 – este projeto a ser executado em 36 meses.
Todos esses recursos possibilitaram à ITCP-Unochapecó aprimorar seu trabalho, ampliar e qualificar suas ações, também envolA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
ver mais a comunidade acadêmica no trabalho com os empreendimentos econômicos solidários.
A prática transformadora de 13 anos de
extensão educadora da ITCP-Unochapecó
Esses 13 anos de atuação da ITCP-Unochapecó (2003 a 2015)
foram aqui brevemente apresentados com alguns dados compilados a partir dos relatórios anuais submetidos à Diretoria de Extensão da universidade, bem como dos relatórios de prestação de
contas dos projetos aprovados junto a diversas entidades financiadoras. Soma-se, aqui, o conhecimento construído pela observação
e atuação da equipe e pelos autores, que têm longa trajetória de
atuação junto à incubadora.
Em parceria com o projeto Fome Zero, em 2004, a ITCP contribuiu para a profissionalização e qualificação do artesanato e dos
trabalhos manuais em Chapecó, desenvolvidos na perspectiva de
geração de trabalho e renda. Contemplou-se a participação de aproximadamente cem mulheres, distribuídas em núcleos localizados
no espaço geográfico do município.
No que tange à cadeia da reciclagem, os trabalhos iniciaram
ainda em 2005, por meio de uma pesquisa sobre a Cadeia Produtiva
de Material Reciclável do município de Chapecó, realizada em parceria com um grupo de pesquisa. Desde então, mesmo com ações
intermitentes, a ITCP foi construindo um know-how nessa cadeia
produtiva e na atuação junto aos catadores, constituindo-se em uma
das principais referências na região, no estado e no País. Em 2010,
com o auxílio da incubadora, constituiu-se o Fórum de Resíduos Sólidos de Chapecó (FRSC), espaço agregador para a articulação das
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entidades e ações de fortalecimento da cadeia produtiva e apoio à
resolução de entraves. As ações se ampliaram e intensificaram com
a aprovação de projeto específico em 2011, junto à Senaes/MTE,
para estudo da cadeia produtiva e apoio à construção da Rede Regional Oeste de Catadores de Material Reciclável.
Em 2004, a ITCP também atuou com uma das equipes de avaliação do Plano Nacional de Qualidade (PNQ), trabalho realizado
através do projeto chamado Implementação do Sistema de Planejamento, Monitoramento e Avaliação das ações de qualificação social
e profissional do Plano Nacional de Qualificação (PNQ/2004).
Em parceria com outras entidades de Santa Catarina, a ITCP-Unochapecó realizou o mapeamento dos empreendimentos de economia solidária no oeste e no extremo oeste do estado (nos anos
de 2005/2006 e 2009/2010), cadastrando e visitando in loco empreendimentos distribuídos em 106 municípios. Os dados desses
mapeamentos podem ser encontrados na página da Senaes/MTE,
bem como em artigos elaborados por técnicos e acadêmicos da Unochapecó e divulgados em vários eventos nacionais e internacionais.
A incubadora assessorou, apoiou e acompanhou, nos seus
primeiros anos de atuação, 12 assentamentos da reforma agrária,
em parceria com a Cooperativa Central de Reforma Agrária (CCA)
e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em
Santa Catarina, através de convênio firmado em agosto de 2006. O
trabalho voltou-se ao desenvolvimento dos Planos de Desenvolvimento dos Assentamentos (PDAs). Esses PDAs envolveram 430 famílias na discussão, totalizando um número de atingidos diretos
de, aproximadamente, 1.290 pessoas, além daquelas que vivem nos
assentamentos das respectivas regiões. O PDA é um diagnóstico da
realidade do assentamento, a partir de levantamento de informações e reconhecimento da situação. Após esse diagnóstico, é efetuaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
do um plano de ação para o desenvolvimento sustentável do assentamento, através do estabelecimento de propostas, ações e tomada
de decisões. Essas discussões são realizadas de forma participativa,
considerando quatro dimensões: territorial/geográfica, econômico-produtiva, social/cultural e política/organizativa. Nesse caso, os
planos foram realizados sob a coordenação da Equipe de Pesquisa
e Desenvolvimento formada por técnicos da Cooperativa dos Trabalhadores na Reforma Agrária em Santa Catarina (Cooptrasc), em
parceria com o Incra.
Outra importante contribuição prestada ao movimento de
economia solidária foi a interlocução realizada entre os diferentes
atores regionais para a constituição, em 2004, da Central de Empreendimentos Solidários (Cesol). Trata-se de uma organização
sem fins lucrativos, constituída sob os princípios da economia solidária, do associativismo e do cooperativismo popular, que visa
contribuir no processo de organização social, assessorar empreendimentos solidários, representar política e economicamente os
empreendimentos filiados, promover o desenvolvimento sustentável através do comércio justo de produtos e serviços, desenvolver
planos e redes de negócios, viabilizar projetos, intercâmbio e/ou
parcerias com entidades públicas e privadas, praticar a responsabilidade social em todos os seus níveis e fortalecer os princípios e
plataformas da economia solidária.
Outro campo de atuação e contribuição da ITCP-Unochapecó foi a criação, em dezembro de 2005, do Fórum Regional de Economia Solidária do Oeste Catarinense (FRES-Oeste), que tem como
finalidades o debate, o fomento e a articulação da economia solidária na região oeste de Santa Catarina e a representação dos empreendimentos de economia solidária perante as esferas públicas
nos âmbitos municipais, estadual e nacional.
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Uma das grandes ações da ITCP-Unochapecó na região oeste
foi a mobilização e articulação para a realização, no primeiro semestre de 2006, da Feira de Trocas Solidárias com Moeda Social, da
Feira Estadual de Economia Solidária; posteriormente, em conjunto com o FRES, realizou diversas feiras regionais, microrregionais e
municipais, principalmente localizadas em bairros da cidade, onde
mobilizam a população local, a interação entre empreendimentos e
entidades parceiras, possibilitando a divulgação, comercialização,
troca de experiências e saberes, unificando o público em torno dos
objetivos do movimento da economia solidária.
Na estratégia de fortalecimento do movimento de economia
solidária no campo universitário, a ITCP-Unochapecó sempre esteve integrada à Rede Unitrabalho e também à Rede Universitária
de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (Rede ITCPs), tendo assumido a coordenação nacional por uma gestão de
três anos, até 2013. Também sempre atuou nos espaços de luta e
fortalecimento do movimento de economia solidária, fazendo parte
dos seus fóruns, desde o Fórum Municipal de Chapecó e do Fórum
Regional Oeste (FRES-Oeste). Do Fórum Catarinense, sempre fez
parte como representante das Entidades de Apoio e Fomento (EAF)
da região oeste; no Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES),
foi representante da Rede de ITCPs durante quatro anos, até 2013.
Também atuou como representante no Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES), até 2014. Sempre esteve à frente do Fórum
de Resíduos Sólidos de Chapecó (FRSC), na composição ou coordenação desde a sua constituição, em 2010, até o presente.
Com relação à incubação de EES, como seu foco de ação, no
período considerado aqui analisado (2003 a 2015), todo o trabalho
realizado foi registrado nos relatórios anuais de prestação de contas apresentados para a Coordenação de Extensão da Unochapecó,
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bem como às entidades financiadoras. Nesses relatórios, encontram-se descritos os gastos, as ações realizadas e o público beneficiado – a média anual de pessoas atendidas alcançou o número de
850 pessoas.
O trabalho de incubação vem se desenvolvendo ao longo desse período; foi estabelecido a partir das demandas dos empreendimentos em suas diferentes fases, sem uma observância mais rígida
do processo previsto na metodologia de incubação, ou seja, de pré-incubação, incubação, encerramento e pós-incubação.
Nesse período, houve oscilações significativas dos recursos
disponíveis, da equipe técnica disponível e, consequentemente, do
número de ações desenvolvidas, embora tenha ocorrido menos oscilação no número de empreendimentos assessorados. Os dados
apontam que, nesse período de 13 anos de existência da incubadora (2003 a 2015), foram incubados 85 EESs, dos quais 28 eram
rurais, representando 32,94%, e 57 eram urbanos, representando
67,06%, com uma média de aproximadamente seis novos EES por
ano, enquanto a média anual de EESs incubados ficou em 16, registrando-se um tempo de incubação de aproximadamente 2,8 anos
por empreendimento, em média. Os anos com menor número de
EESs incubados foram 2003 e 2011, com nove e 11 EESs respectivamente, enquanto os anos com maior número de EES incubados
foram 2005 e 2007, com 27 EESs cada.
Os dados do SIES registram que mais de 60% dos EESs da região oeste de Santa Catarina estão localizados no meio rural, enquanto que, dos incubados pela ITCP-Unochapecó, apenas 32% são
rurais. Isso pode ser compreendido pelo fato de que, no meio rural
desta região, já existe uma longa tradição de organização da cooperação através dos movimentos sociais e várias organizações de
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apoio, enquanto no espaço urbano, os EES permaneciam desamparados/desassistidos até o surgimento da incubadora.
Quanto às áreas de atuação dos empreendimentos, verifica-se
uma grande variação: desde a prestação de serviços – qualificação
profissional de portadores de necessidades especiais, construção
civil; à produção/comercialização – agropecuária, confecção, artesanato, reciclagem, entre outros.
Considerações finais
Nesse período de 13 anos de sua atuação, percebe-se que a
ITCP-Unochapecó desempenhou importante papel na construção e
no fortalecimento da economia solidária na universidade, no município de Chapecó, na região oeste catarinense, no estado de Santa Catarina, assim como no País, constituindo-se em referência no
conjunto da Rede de ITCPs e no movimento de economia solidária.
Em sua trajetória, a ITCP-Unochapecó apresenta uma evolução
semelhante à da economia solidária no Brasil, por sua intensa e profunda inserção nesse processo de construção social e histórica de alternativas para as mazelas do desenvolvimento capitalista brasileiro.
Assim como o movimento da economia solidária, a ITCP iniciou sua atuação no período entre 2003 e 2006, numa perspectiva de
geração de trabalho e renda, tendo a organização cooperativa como
unidade de atuação; mas, no período seguinte, de 2007 a 2009, avançou para o processo de construção e implementação de políticas sociais junto a grupos sociais vulnerabilizados, tendo como sujeito da
ação não apenas a organização, mas os grupos sociais em suas especificidades, necessidades e interesses. No período seguinte, de 2010
a 2012, já se colocou de forma mais ampliada, pois a própria economia solidária se colocou como uma estratégia de desenvolvimento,
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compreendendo as organizações e os grupos sociais como sujeitos
de sua própria história. Nesse período mais recente, de 2013 a 2015,
incorporaram-se à estratégia de desenvolvimento, para além das dimensões social e econômica (do buen vivir), a dimensão territorial
nos projetos e ações e, com elas, o conjunto das demais dimensões do
processo de desenvolvimento sustentável – as dimensões ambiental,
da soberania e segurança alimentar e nutricional, da multiculturalidade, das tecnologias limpas e de produção da vida.
Para tanto, nesse processo de ampliação da compreensão e da
prática, nela também vai se forjando e se agrega necessariamente
uma nova concepção de extensão: educadora e libertadora, e não
mera difusora, com a clara articulação do ensino e pesquisa no fazer da extensão.
Nesse fazer da extensão, a ITCP sempre buscou a atuação multidisciplinar e interinstitucional, articulando parcerias e diferentes
áreas do conhecimento potencializado pela prática dos princípios da
economia solidária. Assim, sempre envolveu vários cursos das grandes áreas do ensino da universidade, como a Agronomia, a Biologia,
a Engenharia de Alimentos, da Área das Ciências Exatas e Ambientais; a Economia, a Administração, a Contabilidade e a Comunicação,
da Área das Ciências Sociais e Aplicadas; os cursos de Nutrição e Psicologia, da Área das Ciências da Saúde; o Serviço Social, a Pedagogia
e o Direito, da Área das Ciências Humanas e Jurídicas.
Diante do ora exposto, pode-se compreender que a ITCP-Unochapecó, como programa permanente de extensão, praticou o princípio universitário da indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão
e realizou diretrizes da extensão universitária ao estabelecer uma
relação de compromisso com autonomia em sua atuação na sociedade regional.
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Referências
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SENAES: Superação do Capitalismo? 2007. Disponível em: <http://
docplayer.com.br/7556387-Secretaria-nacional-de-economia-solidaria-senaes-superacao-do-capitalismo.html>. Acesso em: 24 set.
2016.
PANDOLFI, Dulce; GAZIR, Augusto; CORRÊA, Lucas (Org.). O Brasil
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A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
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A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Mulheres e cidadania:
desafios políticos e emancipação
da condição feminina
Hellen Barella
Murilo Cavagnoli
Cristiane Tonezer
Teresinha Rita Boufleuer
Introdução
O projeto de extensão Mulheres e Cidadania surgiu a partir de
uma ação da Diretoria de Extensão (DEX) da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) denominada UnoVerCidade, que propunha atividades nos bairros do seu entorno. Essa
ação vinha ao encontro da missão da Unochapecó, que é profundamente identificada com o desenvolvimento regional e atenta às necessidades da população e das organizações situadas em sua região
de abrangência.
No ano de 2015, o Programa de Apoio a Processos Participativos de Desenvolvimento Local (Papel) sintonizou com essa proposta e elaborou diagnóstico com a comunidade do bairro Efapi,
Chapecó, a fim de levantar as principais demandas da população,
surgindo questionamentos como: por que apenas homens participam de associações e decisões que dizem respeito à comunidade?
Buscando respostas a esses questionamentos, a continuidade
do diagnóstico atentou para as necessidades e desejos das mulheres, já com boa organização com clube de mães e grupos nos quais
o foco central é o serviço à comunidade. Em conjunto, percebeu-se
certa desvalorização desses grupos, dirigidos apenas à produção de
artesanato e outras atividades entendidas como do universo feminino. O grupo em questão conta ainda com o apoio de uma professora disponibilizada pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Segundo as integrantes, a não participação da mulher
na gestão das questões comunitárias se dá pelo fato de que estas
necessitam ficar em casa cuidando dos filhos e das tarefas domésticas, definidas como lavar, passar, cozinhar, entre outras.
No final de 2015, após o diagnóstico, foi elaborado e aprovado
projeto de extensão para atender a demanda identificada. O projeto
conta com uma bolsista, estudante do curso de Enfermagem, envolvendo ainda cinco professores dos cursos de Psicologia e Agronomia e do mestrado em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais.
Assim iniciam as ações do projeto Mulheres e Cidadania: desafio
para sua participação comunitária, com ações no grupo já existente
no Loteamento Colatto, pertencente ao bairro Efapi, que conta com
cinquenta mulheres ativamente participantes.
Mulheres e cidadania
A condição experienciada pelo sexo feminino, no Brasil, é inquestionavelmente cerceada por uma série de problemáticas que
denunciam os poucos avanços referentes à participação social e a
garantia de equidade a esta parcela da população. Alguns dados
nos permitem visualizar questões estreitamente relacionadas aos
lugares de gênero constituídos historicamente no País, que relegam
a mulher ao lugar de sujeito desapropriado de qualquer potência
emancipatória.
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O Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA) expostos por Alvez e Canevaghi (2009), apresenta
alguns dos piores índices de participação de mulheres em instâncias decisórias e deliberativas. O número verificado expõe um contingente de menos de 9% de mulheres nos cargos legislativos e executivos. Dentre as mulheres que conseguem alcançar a condição de
participante ativa nos cenários de deliberação política, mesmo que
informais, verificamos ainda o acúmulo de funções que acarreta em
dupla jornada, como constatado na pesquisa de Moura (2015). A
pesquisadora percebe, junto a um grupo de parlamentares do sexo
feminino, a responsabilização destas por todas as tarefas domésticas consideradas do âmbito privado, como o cuidado e a educação
dos filhos, o acompanhamento das atividades escolares, a manutenção do lar e a alimentação da família. Tais tarefas são assumidas
pela maioria delas de modo naturalizado, sem que se questionem
as desigualdades que o acúmulo de funções pode promover.
Jacques Donzelot, em A polícia das famílias (1986), já constatava, ainda no século XIX, a construção social do lugar de guardiã
do lar e de cuidadora atribuído ao gênero feminino, num complexo
entrecruzamento de práticas médicas emergentes e do plano patriarcal e religioso instituído. Ao compreender o instituído como
conjunto de valores que implicam na manutenção de lógicas (manifestas ou não em forma de lei) que regulam a produção e a reprodução da vida (Baremblitt, 1996), faz-se evidente a maneira como,
historicamente, vem se produzindo modos de subjetivação que assujeitam o sexo feminino.
Sabe-se que atualmente uma série de movimentos sociais lutam para que as mulheres passem a ser vistas como cidadãs, pessoas com direitos e deveres e não mais como sombras dos homens.
Nesse caminho, as mulheres conquistaram um grande espaço no
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mercado de trabalho, nas decisões frente à família e na comunidade, porém precisam sempre estar em busca de uma melhor qualidade de vida, lutando e contribuindo para as decisões na comunidade, nos conselhos e entre tantos outros espaços.
A mulher atual passou a conduzir suas ações e
se tornou multifuncional, bem resolvida, tendo
em primeiro lugar sua liberdade e uma melhor
condição de vida, sem deixar de lado sua feminilidade. Mais que isso, assegurou seu direito à cidadania, legitimando seu papel enquanto agente
transformador. Sua participação nas últimas seis
décadas tem sido um dos fatos mais marcantes
ocorridos na sociedade brasileira: Entre os brasileiros que trabalham, as mulheres são quase
a metade, e são responsáveis pelo sustento de
aproximadamente 33% das famílias no Brasil.
(Santos; Sacramento, 2011, p. 8).
Foi por esse motivo que o projeto de extensão Mulheres e Cidadania buscou escutar essas mulheres, a fim de pensar ações e
opções para que se sintam à vontade em participar de associações,
conselhos e decisões tomadas na comunidade na busca por bem-estar e autoestima.
Metodologia
O projeto se delineia como uma pesquisa-intervenção. Esta
se caracteriza, segundo Rocha (2003, 2006), como uma concepção
de pesquisa que visa superar as dicotomias clássicas entre pesquisador/pesquisado e objetividade/subjetividade. Na pesquisa-intervenção, o conhecimento é compreendido como indissociável de
uma construção dialógica participativa e colaborativa, na qual os
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delineamentos iniciais do trabalho são constantemente negociados
a partir dos significados coletivos que os participantes atribuem
à proposta. Nesse sentido, o conhecimento é gestado a partir de
processos grupais, nos quais são problematizadas junto aos participantes, demandas do grupo e se desenham ações com vistas a
transformar a realidade em função das necessidades encontradas.
Para tanto, as atividades vão sendo construídas coletivamente, a
fim de atingir os objetivos propostos.
Para trabalhar com as mulheres, um conjunto de atividade
vem acontecendo, como: rodas de conversas em torno das questões
comunitárias, de gênero, da própria organização do grupo de mulheres e da participação social. A expressão por meio da linguagem
oral dos sentimentos, ideias e valores permitem a aproximação e
conhecimento sobre suas realidades. Além de dinâmicas que fortalecem o vínculo entre elas, são organizadas palestras e oficinas
lúdicas que são planejadas conforme as demandas e visitas domiciliares que possibilitam conhecer um pouco das famílias, motivando
e explicando a participação na comunidade.
No dia 20 de abril de 2016, iniciou-se a participação efetiva
no grupo das mulheres Laços da União, do bairro Colatto, Chapecó,
que acontece semanalmente nas quartas-feiras à tarde, por volta
das 13h30, e conta com a participação de cinquenta mulheres, de
27 a setenta anos de idade. Destaca-se na organização o recurso de
formação de grupo numa rede social através dos aparelhos celulares e que serve de elemento de comunicação, interação e animação
diária, podendo ser fortalecida como um fator de proteção por possibilitar rápida comunicação e organização para o enfrentamento
de alguma situação de vulnerabilidade.
As primeiras intervenções foram dedicadas a conhecer as participantes, sua rotina, e suas expectativas em relação à participação
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da Universidade no grupo. A escuta das demandas foi base para a
preparação das atividades coletivas. Ações já realizadas, como oficina de maquiagem e seção de fotos, permitiram mostrar a força e
poder da mulher com sua personalidade, beleza e forma de agir.
A escuta diagnóstica contínua durante as atividades proporciona a discussão e o planejamento das atividades seguintes, e estão
previstas ainda: construção do livro de receitas que, além de receitas, fale sobre a importância da mulher na sociedade, palestra sobre
gênero e sexualidade, divulgação das atividades junto ao restante da
comunidade, inserção em outros espaços de deliberação como os
conselhos locais. O projeto poderá desenvolver ações ainda não pensadas até aqui que vão possibilitar a continuidade das atividades.
Resultado e discussões
Em relação aos resultados das atividades já realizadas, estas
podem ser divididas em três etapas. A primeira, que teve como objetivo escutar as mulheres, confirmou o que já se tinha em mente,
ou seja, a figura feminina limita-se à casa e à família. As questões
que nortearam as discussões deste primeiro encontro foram as seguintes: O que é felicidade para você? Quais ações você gostaria que
fossem oferecidas em sua comunidade? Essas questões foram lançadas no grupo, porém todas as mulheres responderam individualmente. Os resultados surpreenderam no sentido de que felicidade
para a maioria das mulheres é “ver um filho feliz”, “acordar cedo”,
“poder conviver em família”, “trabalhar”. Por sua vez, em relação ao
segundo questionamento, a maior parte delas responderam que
gostariam de ter na comunidade mais cursos de artesanato, corte
e costura, culinária, anseios que pouco se expandiram para além
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disso. Como continuidade dessa primeira etapa, buscou-se em um
segundo momento elencar temas a partir das sugestões das mulheres a fim de pensar ações mais concretas. As atividades dividiram-se em: alimentação, artesanato, teatro, fotografia, música e horta.
As ações elencadas para cada atividade foram as seguintes:
para culinária, houve consenso entre as mulheres de que estas gostariam de curso de culinária, alimentação saudável, reaproveitamento de alimentos. Para o artesanato, foram muitas as demandas,
dentre elas pintura, lembranças de papel, flores de EVA, entre outros. Para a música e o teatro, as mulheres sugeriram aprender um
pouco mais de como se expressar e através disso transmitir o que
pensam. A segunda etapa teve como objetivo concretizar uma ação
solicitada pelo grupo e, para isso, utilizou-se a autoimagem buscando, através da fotografia, valorizar a beleza natural de cada mulher.
As fotografias foram expostas em uma janta organizada pelas próprias mulheres na comunidade e teve como principal objetivo mostrar a força da mulher para além da casa e da família.
A terceira etapa teve como particularidade ocorrer para além
do território da comunidade. As mulheres visitaram o Viveiro Florestal na Unochapecó, onde participaram de uma oficina sobre ervas medicinais. Apesar de parecer simples, a oficina ofereceu como
diferencial um vídeo e uma palestra sobre o papel da mulher na
preservação das tradições e do patrimônio biológico da região. As
discussões e o debate proporcionado evidenciou a contribuição do
grupo nessas questões. Na mesma atividade, tiveram a oportunidade de compartilhar experiências no trabalho na agricultura e em
suas casas, discutindo ainda a tomada de decisão com sua família e
o que move elas a fazerem coisas diferentes. No decorrer dessa atividade, perceberam-se sentimentos de valorização que se materializavam através das falas. Algumas traziam a realidade de que seus
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filhos e netos estudavam no lugar em que agora elas estavam, mas
que nunca tinham tido a oportunidade de “pisar” na Universidade,
apesar do dinheiro do pagamento das mensalidades serem provenientes dos “seus bolsos”.
Novas atividades já estão sendo pensadas: atividade sobre
culinária com a construção do livro de receitas que abordará assuntos importantes que dizem respeito à participação da mulher na
comunidade e às relações de gênero.
O projeto de extensão, baseado nos princípios de uma democracia participativa e atenta aos modos de subjetivação referentes
à questão de gênero, busca, junto ao grupo de mulheres, o desenvolvimento de atividades que desnaturalizem polaridades identitárias. Assim, o grupo, enquanto projeto coletivo, busca a expressão
de um logos próprio, de modos de reconhecer a própria história,
de compreender as demandas que atravessam o cotidiano das mulheres participantes e de promover ações coletivas que afirmem o
direito de participação e suas efetivas possibilidades, no território
da comunidade.
Considerações finais
A cada encontro observam-se mudanças na forma de agir e
pensar das mulheres inseridas no projeto. Passada a resistência
inicial, vão percebendo o quanto são importantes também para
a comunidade e não apenas para a família. Termos como “união”,
“companheirismo”, “coletividade” estão sendo cada vez mais utilizados por elas nos grupos de conversa, o que possibilita perceber
que juntas elas desempenham um papel importante e são capazes
de atingir objetivos antes inimagináveis.
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Se nesse primeiro momento busca-se, de forma cautelosa,
discutir, através de suas práticas cotidianas a valorização da mulher frente a sua comunidade, espera-se também, em um futuro
próximo, expandir essas atividades para além da culinária, dos chás
medicinais, do artesanato, adentrando em questões mais “delicadas”, como a violência contra a mulher (machismo) e a sexualidade,
aguardando o tempo de amadurecimento e a manutenção de vínculos mais concisos.
Por todos esses motivos, embora o papel da mulher na sociedade venha se tornando cada vez maior e melhor, ainda existem
muitos desafios a serem enfrentados. É preciso melhorar o acesso das mulheres a postos de trabalho e cargos elegíveis, promover
melhores salários, efetivar o direito da mulher sobre o seu próprio
corpo e sobre a sua liberdade individual. Percebe-se que o debate coletivo e o desenvolvimento de ações voltadas à participação
das mulheres no território local e no contexto familiar podem atuar
como fonte de potencialização de diálogo e fortalecimento do grupo, promovendo, futuramente, a inserção dessas mulheres em instâncias decisórias e participativas de nível municipal.
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Papel – Programa de Apoio a Processos
Participativos de Desenvolvimento Local
e Regional: uma trajetória de integração
ensino-pesquisa-extensão
na Unochapecó
Carlos Eduardo Arns
Colmar Domingues
Oscar José Rover
Origem, organização e funcionamento do Papel
O Programa de Apoio a Processos Participativos de Desenvolvimento Sustentável Local e Regional (Papel) é um programa permanente de extensão universitária que visou apoiar, técnica e metodologicamente, agentes públicos e da sociedade civil na construção
de processos participativos de desenvolvimento local/territorial.
Iniciou suas atividades na universidade a partir do início de
1999, com base nas experiências contemporâneas de desenvolvimento sustentável local, nacional e internacional, articulado por
conjunto de professores dos cursos de Agronomia e Serviço Social,
majoritariamente. O programa se organizou para atender a demanda regional e contribuir na consecução dos projetos político-pedagógicos desses cursos, visando uma interação mais efetiva deles
com as políticas públicas.
No diálogo entre os autores para a construção deste texto,
Colmar Domingues assim relata:
Lembro que o nome surgiu de algo que parecia
uma anedota com certa ironia: falei para o Oscar
que todo mundo falava que o programa deveria
ser algo que nunca iria sair do papel. Fazer planos para ficar na gaveta, para ficar no papel. O
Oscar riu e disse que o nome devia ser, então, Papel... [risos].
O Papel sempre esteve cadastrado na Unochapecó como um
programa/projeto permanente de extensão, dentro da área temática de Trabalho e Desenvolvimento e da linha de extensão Desenvolvimento Regional. Entretanto, sempre dialogou com as linhas
de Desenvolvimento Rural e Questões Agrárias, Desenvolvimento
Urbano e Gestão Pública.
Em sua trajetória, envolveu os cursos de Agronomia, Biologia,
Direito, Serviço Social, Economia e Psicologia. No entanto, as áreas
e cursos variaram de acordo com o projeto/ação em implementação, o edital e a fonte de recursos envolvidos.
As ações do Papel sempre partiram das prioridades
locais/regionais definidas com a participação ativa dos atores locais, conforme preconizado nos princípios norteadores da Política
Nacional de Extensão Universitária do Fórum de Pró-Reitores de
Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras (Forproex, 2012), em seu inciso primeiro. Essa forma de extensão visa não impor um saber pronto e acabado, mas construir a interação da prática de ensino, pesquisa e extensão com os outros
saberes, todos como sujeitos igualmente protagonistas das ações.
Também, as ações do Papel sempre demandaram o envolvimento dos movimentos sociais, visando à superação das desigualdades e à promoção da inclusão social das populações cujos
problemas se tornam objeto da pesquisa e ensino da comunidade
acadêmica envolvida. Assim, tais ações são encaradas como trabaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
lho social que visa à promoção de melhorias em realidades sociais
de exclusão e desigualdade (Forproex, 2012).
A articulação com as diretrizes da Política de Extensão no
fazer extensionista do Papel sempre atendeu às diretrizes da extensão universitária brasileira: “[...] interação dialógica, interdisciplinaridade e interprofissionalidade, indissociabilidade do ensino-pesquisa-extensão, impacto na formação do estudante [...]”
(Forproex, 2012, p. 16), buscando transformações estruturais nas
realidades sociais locais. Ao definir o desenvolvimento local como
seu foco de atuação, o programa traz a imediata implicação entre
interdisciplinaridade e interprofissionalidade, amplamente consensuada na literatura sobre o tema.
Ao orientar-se por processos participativos, o Papel se pauta
pela diretriz da interação dialógica em sua intervenção, garantindo autonomia e protagonismo aos sujeitos implicados no processo.
Por sua vez, acadêmicos, técnicos ou docentes envolvidos com os
problemas sociais de realidades concretas, que lá estejam de livre e
espontânea vontade e comprometidos com os sujeitos de sua ação,
são profundamente impactados em sua formação técnica e cidadã.
Isso se dá pelo necessário uso e pela construção permanente de
práticas e técnicas que garantem a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão, indispensável para a transformação visando justiça
social, finalidade da extensão universitária.
O programa adotou como princípios a abordagem territorial,
estratégia de desenvolvimento sustentável e promoção da qualidade de vida; a abordagem sistêmica e interdisciplinar, concepção técnico-científica nas ações de planejamento dos processos de
desenvolvimento local; e a educação popular, estratégia pedagógica
para promoção do protagonismo e autogestão local.
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Quanto a diretrizes de atuação, destacam-se a participação e
o envolvimento dos atores/sujeitos locais em todas as etapas dos
processos de gestão, para promoção da autogestão e protagonismo;
a articulação e a integração das políticas públicas em seus diversos níveis (municipal, estadual e federal; setorial e territorial), para
fortalecer a eficiência, efetividade e eficácia dos processos; e a sustentabilidade das ações para a promoção da segurança e soberania
alimentar, e preservação dos recursos naturais.
No projeto do programa aprovado nas instâncias da universidade, o Papel apresentou como seu objetivo geral
[...] apoiar processos participativos de desenvolvimento local/regional que gerem o protagonismo dos atores e melhorem a qualidade de
vida da população envolvida, possibilitando à
universidade concretizar sua função social, compreendida enquanto produção e difusão de conhecimento voltado às demandas da sociedade,
prioritariamente grupos sociais excluídos, fortalecendo o caráter comunitário da Unochapecó.
(Unochapecó, 2004a).
Para alcançar esse seu objetivo geral, o programa estabeleceu
como objetivos específicos viabilizar a produção e socialização do
conhecimento de projetos de pesquisa que subsidiem a intervenção
na realidade, possibilitando a interação universidade/comunidade,
através das diversas áreas do conhecimento; capacitar as organizações da sociedade civil, poder público e agentes sociais, para o
desenvolvimento local/regional; realizar estudos e diagnósticos
de territórios rurais e locais, setores econômicos e sociais e/ou cadeias produtivas; acompanhar processos de desenvolvimento rural
e local em andamento na região oeste de Santa Catarina; assessorar
a elaboração de planos estratégicos e operacionais no âmbito de
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comunidade, município e região, em entidades locais e órgãos públicos; assessorar comunidades, organizações, entidades e instituições
na superação de necessidades identificadas participativamente, em
diferentes setores da vida social; estruturar projetos setoriais e territoriais em parceria com os atores sociais locais e regionais; possibilitar espaços de aprendizado significativo aos acadêmicos dos
diferentes cursos da Unochapecó (Unochapecó, 2004a).
A metodologia dos trabalhos do Papel pressupõe negociações
quanto a que tipos de apoio serão oferecidos a cada território e/ou
ator social envolvido. As etapas metodológicas das ações de extensão para a gestão do desenvolvimento local são as seguintes: ações
preparatórias com identificação de atores sociais parceiros e potenciais interessados; sensibilização e mobilização da comunidade
local para envolvimento em um processo de gestão social; capacitação dos atores sociais envolvidos; elaboração de um diagnóstico
participativo local; elaboração de um plano de desenvolvimento
local; estruturação de programas e projetos com seus grupos de
trabalho, derivados das prioridades estabelecidas pelo plano; monitoramento e avaliação participativa da dinâmica de gestão social
estabelecida. Cada projeto, convênio ou ação desenvolvida pelo Papel usava essa estrutura básica e adequada/ajustada/construída e
acordada previamente com os proponentes. Podem, ainda, surgir
propostas de trabalho que não se enquadram nessa estrutura básica, sendo necessárias construções específicas, desde que respeitados os princípios e diretrizes do programa (Unochapecó, 2016a).
Ao longo do seu percurso, o Papel foi aperfeiçoando sua proposta metodológica de acordo com a demanda e os desafios encontrados. O mesmo ocorreu com sua proposta avaliativa, que, componente estruturante da concepção do programa e instrumento
fundamental, se constituiu na consolidação e redimensionamento
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político e pedagógico das ações. É um processo contínuo e permanente que abarca o conjunto das atividades, desde sua concepção
à implantação e resultados (impactos quantitativos e qualitativos),
possibilitando a leitura e releitura da realidade.
O Papel tem como suporte os instrumentais metodológicos
referenciais da metodologia do Planejamento Estratégico Participativo (PEP), do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP), da Metodologia de Animação de Processos de Desenvolvimento Local da Rede
de Organizações Não Governamentais (ONGs) de Santa Catarina,
da Metodologia de Gestão Participativa (Gespar) e do Sistema de
Informação Gerencial do Programa de Desenvolvimento Local do
Oeste de Santa Catarina, desenvolvido na parceria da Rede ONGs/
SC com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) (Unochapecó, 2016a).
O Papel atua a partir da multidimensionalidade sociocultural, educacional, socioeconômica, socioambiental e político-institucional, construindo participativamente seu modo de intervenção
em realidades locais, gerando protagonismo e aproximação orgânica entre os atores sociais locais e a universidade. Nesse sentido,
o programa é um instrumento (tecnologia social) de articulação e
interação para o desenvolvimento e a gestão do conhecimento, que
contribui e se complementa com outras atividades, a exemplo das
disciplinas de Estudo de Realidade Rural e Estágio de Vivência do
Curso de Agronomia, e com outros projetos ou programas de extensão, como a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares
(ITCP) e o Grupo de Trabalho em Agroecologia.
Para a constituição de cada equipe de trabalho demandada
pelo programa em seus projetos e ações, eram seguidos os trâmites
da Unochapecó para atribuição de horas aos professores envolvidos, bolsas de estudo aos acadêmicos necessários e, sempre que
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possível, a contratação de outros profissionais a partir de horas técnicas previstas nos projetos.
Cada novo processo implementado pelo programa se constituiu em momento privilegiado de aprendizagem social, tanto interno (equipe) quanto externo (com parceiros e público-alvo das
ações), permitindo aos atores uma apropriação reflexiva da ação
empreendida. As atividades sempre buscaram envolver o nível estratégico (missão, valores, princípios, diretrizes, objetivos), assim
como o tático/operacional (metas, ações, atividades), identificando
e analisando os resultados almejados e efetivamente alcançados.
Para isso, sempre se fez uso de indicadores avaliativos e processos
participativos de acompanhamento e monitoramento das ações.
O público-alvo do programa envolveu os órgãos colegiados de
políticas públicas (estaduais, regionais, territoriais); os Conselhos
Municipais (de Desenvolvimento Rural ou Agricultura, Meio Ambiente, Educação, Saúde e outros); as equipes técnicas das secretarias municipais (Agricultura, Educação, Saúde, Assistência Social,
Infraestrutura e outras); as entidades e lideranças locais (sindicatos, cooperativas, associações, igrejas/cáritas, Sebrae, Senac, dentre outras); os segmentos e/ou categorias específicas (jovens, idosos, mulheres, micro e pequenos empreendedores, dentre outros);
os grupos sociais específicos (caboclos, indígenas, pescadores); e
outros públicos específicos dos acordos, contratos e/ou convênios
firmados com os proponentes de outros programas e projetos internos (Unochapecó) ou externos. O público sempre variou conforme o tipo de ação e os acordos firmados. As ações de capacitação variaram quanto a serem grupos dirigentes e técnicos (dez a
quarenta pessoas) e segmentos sociais diversos, geralmente com
atividades com mais de cem pessoas – em alguns casos, atingindo
número até maior.
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Nesses quase vinte anos de atuação do Papel, constituíram-se como parceiros o Ministério da Educação (MEC); Ministério da
Integração Nacional (MIN); Ministério do Desenvolvimento Social
e Combate à Fome (MDS), atual Ministério do Desenvolvimento
Social e Agrário (MDSA); Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA); Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); Fundação Nacional
do Índio (Funai); Fundação Nacional de Saúde (Funasa); Conselho
Indigenista Missionário (CIMI); Empresa de Pesquisa e Extensão
Rural de Santa Catarina (Epagri); Associação de municípios, especialmente a Associação dos Municípios do Oeste de Santa Catarina
(Amosc) e a Amoc; prefeituras municipais de Planalto Alegre, Caxambu do Sul, Quilombo, Irati, Guatambu, Santiago do Sul e Formosa do Sul; Movimentos Sociais (MST, MPA, MMC e MAB); ONGs,
como a Associação de Pequenos Agricultores do Oeste de Santa Catariana (Apaco) e a Rede Ascooper (Cooperativa de Produtores de
Leite do Oeste de Santa Catarina); Instituto de Estudos e Apoio em
Desenvolvimento Territorial (Ceades).
Contexto de constituição do Papel
Nos anos de 1980, o Brasil se encontrava mergulhado em uma
prolongada crise econômica, a chamada “década perdida”. Porém,
foi nessa crise que se constituiu uma forte organização social que
diferenciou o Brasil de outras nações no mesmo período. No meio
urbano, estruturou-se um forte movimento operário, trabalho desenvolvido inicialmente por igrejas com as Comunidades Eclesiais
de Base (CEBs), culminando com a constituição da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), em 1983. No meio rural, igualmente, foi
forte a atuação das igrejas Católica e Luterana, esta especialmenA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
te; surgiu o movimento sindical de oposição filiado à CUT (1983),
depois se constituiu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), em 1985.
Nesse período, surgiram muitas lutas e mobilizações a partir
de demandas de diferentes segmentos do campo, em vários estados da federação, que mais tarde se assumiram como movimentos
sociais de âmbito nacional, como o Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB, 1991), o Movimento dos Pequenos Agricultores
(1996) e o Movimento das Mulheres Camponesas (MMC, 2003) –
este, constituído como Articulação Nacional das Mulheres Agricultoras desde 1995 (Baron, 2012; Arns, 2010; Cadoná, 2004).
Essa organização social se articulou aos partidos de oposição à
ditadura ao fim desta, em 1985. Com isso, o País promulgou a Constituição Federal de 1988, que incorporou um significativo conjunto
de avanços. Dentre estes, merece destaque, para o caso do Papel, o
processo de descentralização das políticas, em sua decisão, execução e gestão, assim como a ampliação da participação da sociedade
na gestão pública, o que passou a exigir novas posturas e competências dos poderes públicos e das organizações da sociedade civil.
Para tanto, a capacitação dos setores sociais, especialmente os mais
desfavorecidos, se constituiu como um componente estratégico.
Nos anos de 1990, apesar de se intensificarem políticas neoliberais sob a égide da globalização econômica mundial, o Brasil
passou a ser palco de inúmeras experiências sociais, em diferentes
abrangências (municipal, regional, estadual e nacional), que buscavam desenvolver ou implementar políticas públicas, bem como
aperfeiçoar os mecanismos de participação social, especialmente
em conselhos de políticas públicas da Saúde (Sistema Único de Saúde – SUS) e da educação (para a construção dos sistemas municipais e estaduais de educação, através das conferências e conselhos
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setoriais). Mais tarde, esse processo se estendeu também para os
serviços de assistência social, com a criação do Serviço Único da
Assistência Social (SUAS), dentre outras políticas que se seguiram
(De Toni, 2000).
É nesse contexto que o planejamento participativo, como ferramenta e como prática, passou a fazer parte do cotidiano dos gestores públicos dos diferentes níveis de governo, mas também das organizações sociais. Esse processo demanda novas institucionalidades,
com capacidade de promover a gestão de conflitos, a definição de
estratégias prioritárias, a realização de controles, transparência e
participação na gestão de políticas públicas (Buarque, 1999).
Também nesse período ampliou-se um aprendizado social
importante: muitos atores sociais perceberam a necessidade de
superar a visão e as práticas fragmentárias e setorializadas, para
buscar uma compreensão e ações integradas em torno de suas experiências. Nesse contexto, proliferaram-se experiências de desenvolvimento local e gestão participativa.
Nas dinâmicas de trabalho do Papel, o desenvolvimento local
é compreendido como
[...] um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capaz de promover o dinamismo econômico
e a melhoria da qualidade de vida da população.
Representa uma singular transformação nas bases econômicas e na organização social em nível
local, resultante da mobilização das energias da
sociedade, explorando as suas capacidades e potencialidades específicas. (Buarque, 1999, p. 8).
O envolvimento dos atores sociais, econômicos e políticos na
construção de alternativas de desenvolvimento local pode ser um
importante diferencial comparativamente a formas centralizadas e
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diretivas de governo. Ele ativa formas de capital social e estimula
pessoas e organizações a encontrar elementos de reciprocidade em
suas ações (Putnam, 1996). Esse tipo de capital é caracterizado por
diferentes formas de organização, institucionalidades, dinâmicas
de cooperação, dentre outras configurações que possam, utilizando adequadamente recursos econômicos e ambientais, promover o
desenvolvimento local. A participação se apresenta como elemento
central para a produção e reprodução desse capital social, gerando
autonomia e protagonismo dos atores sociais envolvidos (Arns; Rover; Zuniga, 2004).
Saliente-se, aqui, que as dinâmicas de desenvolvimento local
propostas e discutidas no ambiente do Papel não são vistas como
espaço exclusivo de construção dos processos de desenvolvimento.
Há dinâmicas supralocais e regionais que se processam e para as
quais há a necessidade de se construir intervenções qualificadas.
Assim, o desenvolvimento local/regional é visto como parte integrante de processos mais amplos, que transcendem esses territórios e assumem contribuição nos seus rumos (Buarque, 1999; Rover, 2006, 2007, 2011).
Nos processos de desenvolvimento local, é marca importante a participação dos sujeitos, com conhecimento e apropriados de
seus saberes, que gerem o protagonismo dos atores e melhorem a
qualidade de vida da população envolvida, possibilitando à universidade concretizar sua função social e explorar esse rico espaço pedagógico. Na universidade, existem pessoas e grupos com qualificação técnica, científica e filosófica, elemento essencial para o avanço
de qualquer processo de desenvolvimento que tenha o conhecimento como uma de suas bases centrais. Gerar desenvolvimento
social não é possível sem a expansão da base de conhecimentos das
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pessoas, grupos e atores sociais, sem ampliação do já mencionado
capital social local e regional.
Com forte ação participativa, atividades de extensão ligadas
ao Papel vêm sendo desenvolvidas, orientadas pelo signo da gestão
social nos processos de desenvolvimento. Assim, várias demandas
de atuação para a universidade foram sinalizadas em fóruns participativos estruturados na região oeste de Santa Catarina, evidenciando que apoios e assessorias dessa instituição poderiam dar grande
contribuição aos processos de desenvolvimento local e regional.
Orientado a responder às necessidades de uma sociedade para
a promoção de seu desenvolvimento, o tripé ensino-pesquisa-extensão pode ter formulado sua atuação a partir daquilo que os agentes
sociais regionais trazem como demanda. Assim, um programa como
esse pode alimentar a universidade com várias demandas de pesquisa e extensão, visando melhor responder às expectativas da sociedade regional, para que suas produções científicas e técnicas não
estejam descontextualizadas das questões centrais da sociedade em
que a própria universidade está inserida. O programa auxilia, nesse
contexto, a abrir perspectivas de atuação de professores e estudantes que queiram dar à atuação acadêmica uma vinculação com as
necessidades e demandas de sua sociedade abrangente.
Nesse sentido, a atuação do Papel se deu na capacitação dos
atores sociais da região para a construção de um desenvolvimento endógeno e alternativo, capaz de incluir em vez de excluir, de
preservar em vez de destruir, de promover saúde em vez de fazer
adoecer, de distribuir em vez de concentrar. Essa concepção e ação
derivam da compreensão de que, para haver desenvolvimento, não
basta o crescimento econômico: é preciso que haja avanços também nas dimensões cultural, social, política e ambiental. Isso exige
uma visão holística, uma prática multidisciplinar e ações interinstitucionais/intersetoriais.
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A trajetória, principais projetos e
ações desenvolvidas pelo Papel
A trajetória do programa permanente de extensão Papel passou por diferentes momentos ou fases, que podem ser brevemente
categorizadas como segue.
• Primeira fase: criação e inserção do Papel nas dinâmicas
de desenvolvimento local – período que se estende desde
a sua constituição, em 1999, até aproximadamente final
de 2002. Nesse período, o programa se direcionava
fundamentalmente para ações de desenvolvimento local
apoiadas pelo Programa Nacional Comunidade Solidária, do
governo federal. O foco principal desse período de atuação
foi o suporte à elaboração e gestão de Planos Municipais
de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável
(PMDLIS). Os municípios com mais baixos indicadores de
desenvolvimento humano do oeste foram selecionados;
foram elaborados PMDLIS em sete municípios, com
subsequente suporte à gestão de sua implementação.
• Segunda fase: das ações locais ao desenvolvimento
regional – esse período se estendeu de 2003 a 2009 e, nele,
os esforços foram direcionados para o fortalecimento do
Instituto de Desenvolvimento Regional (Inredes)1 como
1 O Instituto Regional para o Desenvolvimento Sustentável (Inredes) foi constituído pela
Unochapecó (antes conhecida como Unoesc campus Chapecó) como uma iniciativa em
seu processo de reconfiguração institucional – saída da Fundação Unoesc, reativação da
Fundeste e constituição da Unochapecó em 2003 –, no qual buscou restabelecer o seu
posicionamento no contexto regional. Com a finalidade de atender as demandas regionais,
o Inredes passou a readaptar as estruturas do Colégio Agrotécnico 25 de julho (prédio
administrativo/escolar, granja de produção e estação de piscicultura), localizado no
município de São Carlos, que em 2009 passou a ser denominado Instituto Goio-En. Para
mais detalhes, ver Rangrab, Arns e Abreu (2006).
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espaço de discussão das grandes obras, especialmente
as hidroelétricas, e do modelo tecnológico de produção
agropecuário, seus impactos ambientais e sociais. Para
tanto, no Inredes, foram criados os projetos “Preservação
dos peixes migratórios da bacia do rio Uruguai”,
“Preservação das espécies florestais nativas” e “Educação
Ambiental”, além do Laboratório de Agroecologia2.
Cabe salientar que esse processo de discussão também
acontecia no Grupo de Pesquisa em Agroecologia e
Agricultura Familiar (GPAAF), a atuação do Papel se
realizava com a sua participação, na construção dos
estudos e investigações envolvidas, realizando-se várias
publicações e participações em eventos.
Essas discussões acompanhavam o movimento iniciado pela
Amosc em seu Fórum de Desenvolvimento Regional Integrado
(FRDI), iluminadas pelas experiências da Terceira Itália, a partir da
segunda metade dos anos de 1990. Mas também se articulavam fortemente às discussões promovidas pela, então, recente criação da
Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministério de
Desenvolvimento Agrário (MDA), a partir de 2003.
2 O laboratório agroecológico constituía uma das unidades do Inredes, concebido
juntamente pelo instituto com o programa de extensão Grupo de Trabalho em Agroecologia
(GTA) e o Grupo de Pesquisa em Agroecologia e Agricultura Familiar (GPAAF). Localizava-se na antiga granja da Escola Agrotécnica 25 de julho, no município de São Carlos (SC).
Sua finalidade era produzir e demonstrar tecnologias de produção de base agroecológica
adequados aos agroecossistemas da agricultura familiar e suas organizações, bem como
a instituições de ensino da região. Na produção pecuária, eram desenvolvidos os projetos
de produção de leite à base de pasto, produção de frangos de corte e galinhas de postura
em sistemas agroecológico, apicultura e produção de suínos. Na produção vegetal, foram
implantados os projetos produção de milho crioulo, produção de morango orgânico e
produção de hortifrutigranjeiros. Para mais informações, ver Arns (2004).
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Nessa fase, o Papel participou da coordenação regional do
Levantamento Agropecuário Catarinense (LAC) nas regiões oeste e extremo oeste de Santa Catarina, promovido pelo governo do
estado e conduzido pelo então Instituto CEPA (Comissão Estadual
de Planejamento Agropecuário). Esse trabalho constitui-se em um
censo da produção agropecuária de Santa Catarina e encontra-se
publicado na página da Epagri-CEPA. O Papel representou a Unochapecó na Comissão Regional formada também por Epagri e Cidasc; sua principal atribuição foi na mobilização e organização da
capacitação das equipes técnicas e no acompanhamento da execução das suas atividades.
Outro esforço foi direcionado externamente: em apoio ao processo de construção da Política Nacional de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Professores
e técnicos contribuíram de forma decisiva nessa construção, promovendo a Unochapecó como parceira estratégica da SDT/MDA, a partir do acúmulo teórico-metodológico da equipe do Papel à época, na
construção metodológica dos Estudos Propositivos de Dinamização
Econômica dos Territórios Rurais (EP) para 96 territórios rurais; do
Plano Safra Territorial (PST), para 120 territórios; e da metodologia dos Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável
(PTDRS). Nesse processo, o Papel desenvolveu, juntamente com a
Incubatec, um software de apoio às Bases de Serviço em Comercialização, denominado de Sistema de Informações de Comercialização
para a Agricultura Familiar e Economia Solidária (Sicafes), numa
parceria entre o SDT/MDA e o Senaes/MTE. Esse esforço reuniu atores rurais e urbanos ligados a dois importantes setores organizativos: os agricultores familiares do estado e suas organizações, e as
organizações e empreendimentos que atuam com economia solidária. O Papel teve importante atuação na elaboração do Sicafes, cujo
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objetivo final foi organizar um Sistema Estadual de Comercialização
da Agricultura Familiar e Economia Solidária (Secafes).
• Terceira fase: a crise do Papel – esse período se estendeu
de 2010 a 2013, quando o programa ficou sem recursos
e sem um coordenador. O curso de Agronomia, que
era o maior promotor das dinâmicas organizativas do
Papel, perdeu significativas referências de seu quadro de
professores e passou por uma reforma curricular com a
finalidade principal de redução de custos. Nesse período, a
extensão da Unochapecó também passou por um processo
de reestruturação, com a “nucleação da extensão” – todos
os programas foram transformados em projetos. Apesar
das dificuldades e controvérsias desse processo, foram
constituídos nove núcleos de extensão – um núcleo agregava
vários programas e projetos permanentes existentes –,
dentre eles, o Núcleo Trabalho e Desenvolvimento (NTD).
O NTD foi composto pelos projetos permanentes Chapecó
2030, Educação Econômica, Cesta Básica, Hortas Agroecológicas,
Habitação e Qualidade de Vida (HQV) e pelos programas Grupo de
Trabalho em Agroecologia (GTA), Programa de Apoio a Processos
Participativos de Desenvolvimento Local (Papel) e Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Nesse período, o NTD
oportunizou avanços significativos na integração de ações, com
atuações conjuntas e complementação de ações em um mesmo
município dos programas ITCP, GTA e Papel, bem como do projeto
HQV3. Esses programas e ações se encontravam assentados e arti-
3 O HQV tinha como propósito trabalhar com as técnicas tradicionais de construção,
capacitar profissionalmente os envolvidos no projeto (acadêmicos, técnicos, agricultores
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culados especialmente por professores e acadêmicos de disciplinas
dos cursos de Agronomia, Biologia, Nutrição, Arquitetura, Psicologia, Serviço Social, Pedagogia e Economia.
Nesse período, o programa permanente Hortas Comunitárias,
o Grupo de Trabalho em Agroecologia e o projeto Habitação e Qualidade de Vida deixaram de existir, no processo de reestruturação
interna da extensão na Unochapecó. O período também coincidiu
com a crise da política territorial do governo federal e da SDT, na
transição de governo.
• Quarta fase: integração do ensino e pesquisa à extensão no
desenvolvimento local – abrange o período que se estende
de meados de 2013 até o presente (finais de 2016), em que o
Papel retoma suas atividades como programa permanente
de extensão universitária. Esse processo é desencadeado
pelo acesso a uma bolsa do Art. 171, disponibilizando
uma bolsista 20h, e 2h de professor orientador. Isso
possibilitou o desenvolvimento de um projeto de trabalho,
na perspectiva do desenvolvimento comunitário, junto ao
Assentamento Dom José Gomes, inaugurando uma nova
fase, com desdobramento para várias iniciativas.
O problema apresentado pelas lideranças do assentamento
era a crescente dificuldade encontrada no processo de participação e engajamento das famílias nas ações da vida comunitária e de
interesse comum. Isso lhes parecia um contrassenso: à medida que
e moradores) através da educação popular e promover o desenvolvimento local por
meio de uma visão holística e sustentável. Para mais informações sobre o HQV, consultar
Scherer e Kech (2016); Scherer, Fujita e Rigon (2012); Rigon, Fujita e Scherer (2014);
Scherer, Anschau e Fujita (2011).
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melhoraram as condições econômicas e materiais, foram perdendo
o interesse pelo comunitário, diferentemente do período de acampamento e dos primeiros anos de assentados. Portanto, a demanda
apresentada pelo assentamento ao Papel era de apoio no desenvolvimento de ações de resgate do espírito e fortalecimento dos vínculos comunitários. Para isso, o Papel desenvolveu um longo processo
de aproximação com as famílias para a realização de um diagnóstico em busca das causas do problema4.
Dentre as iniciativas desencadeadas nessa fase, cabe descrever, mesmo que de forma breve, o movimento de integração do Papel
junto ao curso de Agronomia da Unochapecó. Trata-se de um esforço
para integração do ensino com a pesquisa e a extensão. Disciplinas
existentes há mais tempo tiveram um esforço maior de integração
entre si, com as práticas de extensão do Papel como articuladoras.
As principais disciplinas que se integraram foram Estudo da Realidade Rural (RR), Planejamento Rural (PR), Estágio de Vivência Ativa
I e II (EVA), Administração e Economia Rural I e II (ADM), Sistemas
Agrários (SA), Comunicação e Extensão Rural (CExR).
O projeto pedagógico do curso (PPC), constituído de dez semestres letivos (cinco anos), sempre esteve alicerçado no compromisso da formação de um perfil profissional voltado para o
desenvolvimento rural sustentável, no qual a agricultura familiar
se constitui elemento estratégico e central. Para tanto, ao longo do
tempo, foi constituindo um conjunto de disciplinas – integrantes
de pesquisa e extensão universitária no ensino – que possibilitam
ao conjunto da comunidade acadêmica vivenciar e construir uma
compreensão acerca da realidade do meio rural, da agricultura fa4 O resultado desse diagnóstico pode ser verificado no artigo “Assentamento Dom José
Gomes e as relações comunitárias”, de Tessaro e colaboradores (2016), integrante desta
obra.
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miliar e suas organizações, dos sistemas de produção existentes,
das práticas e tecnologias adotadas nos diversos sistemas produtivos, aliando teoria e prática no processo de ensino-aprendizagem.
Portanto, o curso de Agronomia já possuía uma caminhada de articulação do tripé universitário e o fazia em forte associação a dois
programas de extensão a ele ligados: o GTA e o Papel.
No âmbito do ensino, o esforço produzido de integração da
pesquisa e extensão passou pela constituição de disciplinas que pudessem incorporar em sua estrutura uma proposta teórico-metodológica integradora do ensino-pesquisa-extensão. Assim, inicialmente, foi constituída uma disciplina denominada Estágio de Vivência
Ativa (EVA), trabalhada em dois semestres consecutivos, em que o
educando permanece por um período morando com uma família de
agricultores. O EVA I sempre é realizado no segundo semestre letivo, para se aproximar ao início do ano agrícola, com uma duração
de duas semanas de convivência; de modo geral, os acadêmicos se
encontram no 4º período do curso, elaborando um relatório de sua
experiência, com os registros da história da família, da trajetória da
unidade de produção (sistema de produção = propriedade), a partir
do preenchimento de um guia de enquete.
O EVA II sempre ocorre no primeiro semestre letivo subsequente (5º período do curso), buscando aproximar-se do fechamento do ano agrícola, e a vivência tem a duração de uma semana.
Nesse momento do estágio, os acadêmicos realizam a coleta de informações sobre as diversas atividades produtivas da unidade de
produção, a fim de elaborar seu diagnóstico técnico e econômico.
Concomitantemente, esses mesmos acadêmicos cursam a disciplina de Administração e Economia Rural (ADM I), na qual analisam
e interpretam os dados coletados em campo, elaborando o relatório do EVA II (diagnóstico técnico e econômico das unidades proA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
dutivas), durante o semestre. No semestre seguinte (6º período),
os acadêmicos cursam a disciplina de Planejamento Rural, em que
cada acadêmico, de posse dos estudos anteriormente realizados,
elabora um projeto de melhoria para a unidade de produção da família vivenciada. Colaboram, ainda, para esse processo as disciplinas de Comunicação e Extensão Rural e Sistemas Agrários, que dão
suporte aos acadêmicos de modo que disponham dos elementos
básicos necessários à realização apropriada das etapas de campo.
Mais recentemente, em 2006, foi introduzida uma nova disciplina, denominada Estudo da Realidade Rural (ERR), buscando
ampliar e complementar as proposições e objetivos anteriores. A
disciplina ERR, cursada no 7º período, consiste na realização do
diagnóstico do meio rural de um município, tendo por objetivo possibilitar aos acadêmicos a construção de uma visão mais ampla da
realidade rural, ou seja, ir além dos sistemas de produção (propriedade), das atividades agropecuárias (milho, suínos etc.) ou, simplesmente, das tecnologias, aspectos em que, ainda hoje, se concentram as atenções dos profissionais das ciências agrárias. Busca-se,
portanto, construir uma visão do rural e não apenas do agrícola, de
sistemas locais de produção e não de propriedades rurais apenas.
A partir do diagnóstico, os acadêmicos formam grupos de trabalho
para elaborar propostas de programas de desenvolvimento rural,
voltando a dialogar com as disciplinas de Sistemas Agrários, Extensão Rural, Planejamento Agrícola, bem como com todas as disciplinas das ciências agronômicas (Grandes Culturas, Silvicultura e Paisagismo, Suinocultura, Avicultura, Gado de Leite, Nutrição Animal,
Solos, dentre tantas outras).
Portanto, através de atividades de ensino curricular, produzem-se diagnósticos do meio rural dos municípios, propõem-se
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programas de desenvolvimento rural (ERR)5, elaboram-se relatórios (diagnósticos) de propriedades rurais (EVA I e EVA II) e projetos de melhoria das propriedades rurais (Planejamento Rural) –
perfazendo quatro produtos apresentados a cada município, num
período de quatro semestres de trabalho, ou seja, o curso permanece em parceria com um município por 24 meses (dois anos).
No entanto, cabe ressaltar que a finalidade precípua é o ensino, buscando desenvolver espírito e habilidade investigativa, analítica (pesquisa) e propositiva, para o que o processo tem apresentado bons resultados. Entretanto, isso não vinha dando conta de
integrar adequadamente as atividades do ensino ao conjunto das
ações da pesquisa e da extensão universitárias. O ensino, a pesquisa e a extensão no desenvolvimento das disciplinas seguem limitados pela fragmentação no tempo e espaço (disciplina-semestre),
limitando igualmente o atendimento das demandas sociais locais.
É nessa fragilidade que o Papel atua: na construção de continuidades e construção de espaços e momentos de integração das disciplinas, complementando, aprofundando e qualificando elementos de
interesse prioritário dos atores locais, promovendo discussões em
reuniões, seminários, cursos. É também nessa perspectiva que os
núcleos de pesquisa podem trazer uma grande contribuição, à medida que se integrem, identificando ou acolhendo as demandas de
novos estudos, de forma mais articulada com o ensino e a extensão.
Portanto, é a partir desse processo amplo, denso e complexo,
porém inacabado, produzido para o ensino no curso de Agronomia,
que se busca inserir e dar sentido à pesquisa, através dos grupos
e linhas de pesquisa definidos para os Trabalhos de Conclusão de
Curso (TCC), complementando e/ou aprofundando estudos sobre
5 Para mais informações, ver Padilha, Ogliari e Arns (2016).
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a realidade vivenciada pelos acadêmicos, pela observação ou pela
demanda de atores locais. Esses esforços são articulados pela ação
de extensão do Papel.
Esse período também tem sido marcado pelas discussões sobre
a revitalização da extensão no meio universitário – ou a “curricularização da extensão”, como vem sendo denominada popularmente, e
pela Unochapecó –, influenciando editais internos (Fapex/Unochapecó-2015) e de algumas fontes externas (ProExt/MEC-2014)6.
Outro processo que contribuiu de forma decisiva para a revitalização do Papel foi o projeto UnoVerCidade7, coordenado pela
Diretoria de Extensão, em relação ao qual o Papel atuou como parceiro. Dessa iniciativa, surgiu um conjunto de demandas das comunidades da região da Efapi, que a equipe do Papel (até então
voluntária de professores e acadêmicos) transformou em projetos
6 “O Programa de Extensão Universitária (ProExt) tem o objetivo de apoiar as instituições
públicas de ensino superior no desenvolvimento de programas ou projetos de extensão
que contribuam para a implementação de políticas públicas. Criado em 2003, o ProExt
abrange a extensão universitária com ênfase na inclusão social.” Disponível em: <http://
portal.mec.gov.br/index>. Acesso em: 3 set. 2016. Também internamente vários editais
mais recentes (Fapex-2015, por exemplo) têm trazido em seus termos de referência
critérios de valorização de propostas com integração ensino-pesquisa-extensão.
7 O projeto de intervenção UnoVerCidade foi criado pela Diretoria de Extensão (DEX) da
Unochapecó com o objetivo de fortalecer o vínculo entre a universidade e as comunidades
a partir da construção coletiva de tempos e espaços voltados à formação cidadã, à
qualificação do viver individual e coletivo e ao desenvolvimento regional sustentável.
Criado em 2014, o projeto definiu como território de atuação a região da grande Efapi,
que conta com mais de quarenta mil habitantes (onde a universidade está localizada)
e iniciou as atividades de pactuação dos objetivos e estratégias com os atores locais
(lideranças das comunidades). Em 2015, o projeto iniciou as atividades de campo
realizando a capacitação de lideranças e o levantamento das demandas das comunidades.
Essas demandas foram apresentadas aos programas, projetos e grupos de pesquisa da
instituição, que propuseram projetos de intervenção junto ao Fundo de Apoio a Projetos
de Extensão (recursos próprios), bem como puderam fazê-lo em relação a outras fontes
de financiamento. Para isso, o UnoVerCidade articulou alguns programas (Papel, ITCP
e outros), várias disciplinas de cursos de graduação (Arquitetura, Agronomia, Biologia,
Jornalismo, Educação Física, Enfermagem, dentre outros), bem como o Grupo de Pesquisa
Trabalho, Sociedade e Políticas Sociais, em processos e projetos que integrassem
ensino-pesquisa-extensão.
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submetidos ao edital do Fundo de Apoio a Projetos de Extensão
(Fapex) – três foram aprovados.
Atualmente, o Papel está organizado para o desenvolvimento
de cinco frentes de atuação que denominamos “projetos”, alguns já
viabilizados, com apoio financeiro do Art. 171 da Constituição de
Santa Catarina8 e Fapex, outros ainda não.
1. Projeto Desenvolvimento Rural: consiste em apoio e
articulação das ações junto às disciplinas do curso de
Agronomia. A atuação do Papel, nesse processo, ocorre
a partir da mobilização de acadêmicos, voluntários e
interessados no aprofundamento da análise dos dados
levantados, na qualificação dos produtos das disciplinas
envolvidas, bem como na socialização das informações,
através de publicações de artigos científicos e eventos nos
município parceiros (cursos, seminários, palestras, dias
de campo etc.).
2. Projeto Autoabastecimento na Agricultura Familiar no
Oeste Catarinense: consiste na articulação interinstitucional de longo prazo entre o Papel, o curso de Agronomia
– através das disciplinas ERR e EVA –, a Epagri (unidade
8 O Art. 171 e o Art. 170 da Constituição Estadual e a Lei do Fundo Social fundamentam o
Uniedu, um programa do Estado de Santa Catarina, executado pela Secretaria da Educação,
que agrega todos os programas de atendimento aos estudantes da educação superior.
Anualmente, o Estado de Santa Catarina firma convênio com a Unochapecó para concessão
de bolsas de estudo com recurso do Programa de Bolsas do Fundo de Apoio à Manutenção
e ao Desenvolvimento da Educação Superior (Fumdes). As bolsas do Uniedu favorecem
a inclusão de jovens no ensino superior com dificuldades de realizar os seus estudos, e
que atendem aos requisitos estabelecidos na regulamentação dos programas, com bolsas
de estudo e de pesquisa e extensão, integrais e parciais, para estudantes matriculados
em cursos de graduação e pós-graduação presenciais, nas instituições de ensino superior
habilitadas pelo MEC ou pelo Conselho Estadual de Educação e cadastradas na Secretaria
de Estado da Educação de Santa Catarina para participarem do Programa Uniedu.
Disponível em: <http://www.uniedu.sed.sc.gov.br/uniedu/>. Acesso em: 3 set. 2016.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
de Pesquisa e Extensão) e o Grupo de Pesquisa Trabalho,
Sociedade e Políticas Sociais9. Esse projeto tem por objetivo
atuar na investigação, reflexão e formação sobre o tema junto aos técnicos, acadêmicos e organizações sociais. Iniciou
ainda no final de 2014, e já realizou diversas reuniões, além
de duas oficinas sobre o tema autoabastecimento e segurança alimentar e nutricional com um conjunto de extensionistas da Epagri, professores e acadêmicos dos cursos de
Agronomia e Nutrição. Encontra-se em fase de elaboração
conjunta de um projeto de pesquisa interinstitucional para
captação de recursos, a fim de impulsionar essa linha de
trabalho que conta com a coordenação do Papel.
3. Projeto Assentamento Dom José Gomes: este trabalho
iniciou com o apoio do Art. 171. Conforme apresentado
anteriormente, visa apoiar o desenvolvimento e
revitalizar os vínculos comunitários no referido projeto de
assentamento rural. O resultado desse diagnóstico pode
ser verificado no artigo “Assentamento Dom José Gomes
e as relações comunitárias”, de Tessaro e colaboradores
(2016), integrante desta obra.
9 O Grupo de Pesquisa Trabalho, Sociedade e Políticas Sociais está constituído por equipe
multidisciplinar de diferentes áreas de conhecimento, dele participando professores
e estudantes de graduação, pós-graduação lato sensu e stricto sensu. O grupo possui
como objetivo geral analisar as transformações/reconfigurações ocorridas no mundo do
trabalho na contemporaneidade, suas repercussões na vida em sociedade e em relação às
políticas públicas sociais. A equipe de docentes e discentes tem desenvolvido pesquisas de
diferentes naturezas – iniciação científica, trabalhos de conclusão de curso, monografias de
especialização, dissertações de mestrado e teses de doutoramento; dentro das seguintes
linhas de pesquisa: Estado, Sociedade e Mundo do Trabalho; Trabalho, Desenvolvimento
Regional e Agricultura Familiar; Trabalho e Saúde; Trabalho, Educação e Economia
Solidária; Trabalho, Gênero e Subjetividades. Parte dos integrantes do grupo atua também
em programas e atividades de extensão da Unochapecó, tais como: Pró-Saúde/PETI/
Saúde, ITCP e projeto de mediação familiar (Unochapecó, 2016b).
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
4. Projeto arborização no loteamento Alice I: tem o objetivo
de aproximar a universidade do seu entorno e gerar
protagonismo social através de processos de integração
entre ensino, pesquisa e extensão, na concepção,
estudo e implementação do processo de arborização do
loteamento.
5. Projeto Mulheres e Cidadania: Desafios para sua
Participação Comunitária: tem o objetivo de promover
o debate sobre a participação comunitária das mulheres
da associação de moradores do bairro Colato de Chapecó
(SC), visualizando a criação de grupos de reflexão-ação
a impulsionar o exercício de sua cidadania. Esse projeto
pretende ser o início de um trabalho que, em longo prazo,
impulsione o fortalecimento do capital social, através
da reflexão-ação sobre a participação das mulheres nas
comunidades da região da Efapi, no referido município.
Mais detalhes podem ser encontrados no artigo “Mulheres
e cidadania: desafios políticos e emancipação da condição
feminina”, de Barella e colaboradores (2016), integrante
desta obra.
Portanto, essa fase caracteriza-se pela ampliação da articulação de forma mais efetiva do ensino – através dos PPCs, de diferentes cursos e algumas de suas disciplinas, especialmente os cursos
de Psicologia, Arquitetura, Biologia, Jornalismo, Agronomia, Nutrição dentre outros – com a extensão praticada no Papel e outros programas de extensão parceiros. Mas também é marcada pelo avanço
na articulação com grupos de pesquisa e programas de pós-graduação da própria universidade.
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Considerações finais
A partir do exposto, o programa permanente de extensão Papel revela dois aspectos importantes na compreensão da extensão
universitária, especialmente quando se trata de uma instituição de
ensino superior de caráter comunitário.
O primeiro refere-se à sua relação com a comunidade do entorno da universidade. A trajetória do Papel revela que sua caminhada
ocorre em permanente consonância com a dinâmica dos processos
da sua região de abrangência, bem como com processos mais amplos, especialmente de âmbito nacional, ampliando as compreensões, incorporando novos conceitos, estratégias e metodologias no
fazer desenvolvimento (rural-local-regional-territorial). Como é
próprio da academia, contribui com o conhecimento científico, com
o processo pedagógico da reflexão, mas, especialmente, o Papel revela uma profunda imbricação e participação concreta na construção das experiências, ao mesmo tempo que constrói a sua própria
experiência. Sua participação não se restringiu a simples presença
em eventos e debates, estendeu-se à formação dos sujeitos do processo, a atividades cotidianas em que as contradições e dificuldades
são permanentes e exigem o comprometimento com as mudanças
priorizadas pelos atores sociais locais. Também, o programa atuou
entre a grande diversidade de sujeitos da região, cooperando e desenvolvendo parcerias com vistas a potencializar as oportunidades.
O segundo aspecto refere-se às suas relações internas na universidade, isto é, no ensino em seus diversos cursos e suas disciplinas, nos grupos de pesquisa e na organização da extensão através
dos programas, projetos permanentes e ações de extensão. Aqui se
evidencia sua compreensão e prática quanto a atuar em conjunto
com outros programas e projetos institucionais, inclusive para além
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
da extensão, a exemplo do GTA, ITCP, HQV, Inredes, GPAAF, Programa
de Pós-Graduação em Dinâmicas Regionais e Políticas Sociais (PPGDRPS), dentre outros; também a interdisciplinaridade promovida
pela sua visão sistêmica no desenvolvimento das ações. Nesse sentido, o Papel contribuiu na perspectiva de constituição e consolidação
de um novo jeito de fazer universidade no Brasil, inserida nos processos de desenvolvimento regional e aproximando a comunidade
do conhecimento e dos saberes que se processam na universidade.
No entanto, internamente, evidencia-se a fragilidade da extensão no
tripé do fazer da universidade. A trajetória revela que a universidade
também sofre do mesmo mal que os projetos de desenvolvimento do
País, com uma visão que se restringe ao curto prazo. Mesmo diante
das dificuldades e limitações aqui apontadas, e outras que precisariam ser incorporadas ao processo de reflexão, o Papel promoveu
significativos avanços na experimentação do processo de integração
ensino-pesquisa-extensão no fazer da extensão universitária.
O Papel construiu espaços de interação universidade-sociedade, entre diferentes disciplinas (interdisciplinaridade), entre diferentes sujeitos do processo de transformação social (comunidade
organizada, gestores públicos, professores e acadêmicos), amparado teórica e metodologicamente no esforço da integração ensino-pesquisa-extensão.
Dessa trajetória de quase vinte anos de extensão, o Papel apresenta significativos resultados mensuráveis em TCCs, artigos, participações em eventos; mas são ainda mais importantes os resultados
não mensuráveis ou de difícil mensuração, resultados “intangíveis”
– para usar um conceito de Edgar Morin – para os quais se faz necessário esforço especial em tempo, recursos, materiais e métodos.
Portanto, por sua trajetória e suas características, o Papel
apresenta um grande potencial de contribuição na articulação, inA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tegração e complementação de ações de projetos e programas em
processos de desenvolvimento local, diminuindo os riscos da fragmentação, pulverização e dispersão das ações. Externamente, o Papel encontra um cenário repleto de oportunidades para auxiliar o
desenvolvimento de know-how, diante da conhecida carência dos
municípios da região (quanto a processos de desenvolvimento rural, programas para a sucessão na agricultura familiar, agregação
de valor, soberania e segurança alimentar, dentre outros), das múltiplas escalas territoriais (Mesorregião da Fronteira do Mercosul,
Territórios Rurais, Secretaria de Desenvolvimento Regional, atualmente Agência de Desenvolvimento Regional, dentre outras) em
construção na região oeste catarinense.
“Queria tempo, tempo para dizer muitas coisas neste artigo. O ‘destinar-se’ no tempo, ao longo destes anos, deste programa, talvez seja
muito maior do que estamos conseguindo dizer neste texto.”
(Colmar Domingues, setembro de 2016).
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EIXO III
Educação e saúde
Educação em saúde
com crianças e adolescentes:
um relato de extensão
Karen C. K. Andrigue
Alcimara Benedett
Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Introdução
A Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) se caracteriza como uma instituição comunitária, pública não
estatal e tem sua identidade institucional construída a partir de sua
identificação com as demandas da população e o desenvolvimento
regional.
Nesse cenário institucional, seus cursos de bacharelado em
Enfermagem e Medicina, comprometidos como as necessidades
em saúde do território ao qual estão adscritos, desenvolvem suas
atividades de ensino-aprendizagem. Para isso, consideram a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão, pois entendem
a extensão universitária como um processo educativo, cultural e
científico, que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável, possibilitando uma relação transformadora entre universidade
e sociedade. Essa relação enriquece o processo pedagógico socializando o saber formal com a participação da comunidade na vida
acadêmica. Os resultados desse processo atingem não só os alunos,
mas também profissionais dos serviços e comunidade, além de
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
realimentar o ensino e ser fundamental para a pesquisa científica
(Carneiro, 2011).
Reconhecendo-se a importância de cunho social da extensão
universitária, bem como de sua utilização enquanto ferramenta de
ensino-aprendizagem, no ano de 2011, os cursos de Enfermagem,
com o projeto Enfermagem Educando para a Saúde, e de Medicina,
com o projeto Doenças Transmissíveis, inseriram-se ao programa
permanente de extensão universitária Atenção e cuidado à criança
e adolescente “Sorriso para a Vida”, o qual coloca a criança e o adolescente em seu espaço social e em situação de hospitalização, tratamento oncológico, vulnerabilidade e risco social e seu núcleo familiar
no centro da cena, implicado com ações de promoção à saúde.
A inserção dos cursos de Enfermagem e Medicina nesse programa de extensão, o qual tem enfoque na infância e adolescência,
embasou-se na literatura nacional, a qual relata que esses períodos
têm enfrentado uma série de vulnerabilidades associadas a problemas relacionados ao alcoolismo, conflitos entre casais, divórcios,
que por vezes têm exposto a criança a situações de agressões e de
violência. Além disso, têm-se os riscos relacionados ao lugar de moradia, à precariedade da oferta de instituições e serviços públicos,
à inexistência de espaços destinados ao lazer e às relações de vizinhança com a proximidade da localização dos pontos de venda
controlados pelo tráfico de drogas. Também têm destaque os riscos
do trabalho infantil e o da exploração da prostituição de crianças
(Fonseca et al., 2013; Souza et al., 2015; Gomes et al., 2015).
O curso de Enfermagem, por meio do projeto Enfermagem
Educando para a Saúde, iniciou suas atividades no ano de 2011,
envolvendo discentes e docentes. Na busca por promover ações de
educação em saúde a fim de diminuir estas vulnerabilidades, delinearam-se seus objetivos. O projeto Enfermagem Educando para a
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Saúde tem entre seus objetivos empoderar as crianças e os adolescentes ao autocuidado e à autonomia na construção do seu estado
de saúde, qualidade de vida no espaço social onde estão inseridos,
despertando o interesse na promoção e na prevenção, evitando
possíveis agravamentos e reduzindo a necessidade de intervenções
para a reabilitação.
No mesmo ano, iniciaram as atividades do projeto Doenças
Transmissíveis, em que objetiva promover ações de prevenção de
doenças transmissíveis com crianças e adolescentes hospitalizados. Isso por meio da interação com estas e seus acompanhantes,
qualificando o tempo e o espaço de sua internação, bem como contribuir com o processo de formação dos acadêmicos envolvidos.
A operacionalização dos projetos se vincula às matrizes curriculares dos cursos por meio de ações inseridas em suas práticas
de ensino. As matrizes destes cursos se embasam na integração
dos conteúdos por intermédio de módulos ou núcleos, nos quais os
componentes curriculares se unem em grandes temáticas dentro
de cada fase. Na Enfermagem, a inserção ocorre em atividades nos
núcleos de cuidado de enfermagem à mulher e ao recém-nascido
e cuidado de enfermagem à criança e ao adolescente, enquanto na
Medicina as ações ocorrem nos módulos de saúde da criança e do
adolescente.
A proposta dos projetos delimitou-se em consonância às matrizes curriculares, pois se compreende que o exercício de formação
teórico-prático, embasado na curricularização da extensão, possui
papel importante no que diz respeito às contribuições que pode
trazer frente à sociedade. A partir do momento em que há esse contato entre o aprendiz e a sociedade beneficiada por ele, acontecem,
por parte dos dois lados, benefícios. Aquele que está na condição
do aprender acaba aprendendo muito mais quando há esse contaA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
to, pois se torna muito mais gratificante praticar a teoria recebida
dentro da sala de aula (Rodrigues et al., 2013).
Metodologia
Este relato de extensão trata da experiência vivenciada pelos
acadêmicos e docentes dos cursos de Enfermagem e de Medicina
como integrantes do programa permanente de extensão universitária Atenção e cuidado à criança e adolescente “Sorriso para a Vida”,
o qual surge da necessidade de aproximar o processo de formação
acadêmica com o futuro campo de atuação profissional do estudante, tendo as demandas da realidade como ponto de partida para a
construção do conhecimento e o despertar da consciência e compromisso social (Unochapecó, 2015).
Esse programa objetiva a (re)significação do tempo, dos espaços e dos sujeitos do processo saúde-doença, em vulnerabilidade e
risco social, numa perspectiva interdisciplinar e interprofissional.
Suas ações são permeadas pela metodologia dialética, favorecendo o protagonismo e a autonomia, tendo os princípios da pesquisa-ação como referência para o planejamento, a implementação, o
registro e a avaliação. Os impactos resultam na produção social de
uma infância e adolescência mais qualificada, possibilitando uma
formação acadêmica mais coaduna com as necessidades da vida
concreta, a partir da identificação de problemas da comunidade e
possíveis soluções e o despertar da consciência e compromisso social (Unochapecó, 2015).
Dessa forma, relatam-se algumas das ações desenvolvidas nos
últimos cinco anos pelos dois cursos por meio dos projetos Educando para a Saúde e Doenças Transmissíveis. A construção dos projeA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tos ocorreu conforme a proposta descrita pelo programa e com a
utilização da metodologia dialética.
A preocupação em aproximar-se de um modelo de educação
em saúde de construção coletiva, sob a perspectiva do cuidado, da
educação e da formação em saúde, embasou-se na possibilidade de
utilizar-se do intercâmbio de saberes com a população, fortalecendo a autonomia, a participação social e o cuidado em saúde com
base nos conhecimentos populares (Rotolo et al., 2015).
Continuamente, as ações são avaliadas por meio de rodas de
conversa com estudantes e público atingido. Também são oferecidos aos cuidadores instrumentos de avaliação acerca da satisfação
das ações extensionistas oferecidas.
Resultados e discussões
Ao longo dos anos, diversas ações foram desenvolvidas com
intuito de promoção à saúde com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade com base na realidade epidemiológica atual.
As atividades mudaram do enfoque centrado em doenças infecciosas, parasitárias e de desnutrição para um perfil de adoecimento
relacionado a novas situações de morbidades, como exposição à
violência, uso de drogas por seus pais, aumento da obesidade e sedentarismo, assim como a permanência de constantes iniquidades
em saúde (Silva et al., 2013).
Nesse sentido, para realizar ações que rompam com o modelo
educacional biomédico, buscam-se sempre ações que possibilitem
a problematização respeitando o conhecimento individual. Isso
porque a hegemonia da racionalidade biomédica descreve a saúde
e a doença, traçando causalidades lineares que fragmentam a razão
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da emoção, a mente do corpo, o individual do coletivo, o biológico
do social. Dicotomiza e separa em partes, esquarteja o humano e
os processos da vida, sem haver preocupação ou compromisso de
“reconstituí-las” para tentar compreendê-las (Rotolo et al., 2015).
Dessa forma, os projetos são, permanentemente, operacionalizados através de várias metodologias e cenários e, nesse período,
algumas experiências em particular obtiveram resultados de maior
destaque e as quais são constantemente executadas.
A exemplo disso, desde a implantação do projeto Doenças
Transmissíveis são mantidos bolsistas em um hospital infantil, os
quais realizam, prioritariamente, atividades de educação em saúde,
focados na orientação quanto ao controle de infecções em âmbito
hospitalar e à prevenção de doenças de maior incidência na comunidade ou de interesse de controle epidemiológico.
Quanto ao controle de infecções hospitalares, o enfoque nestas emerge enquanto eixo prioritário do projeto, pois se sabe que
estas são um dos agravos de preocupação sanitária desde que foram criados os primeiros hospitais. São agravos de causa infecciosa
adquiridos pelo paciente após sua admissão no hospital. Na hospitalização infantil, a educação em saúde é uma estratégia importante
para trabalhar a temática infecção hospitalar com os acompanhantes, uma vez que o conhecimento construído poderá auxiliar na prevenção. Sendo assim, fazer com que as famílias compreendam as
orientações transmitidas e as coloquem em prática pode significar
a redução dos índices de infecção hospitalar, o que trará benefícios
tanto para os pacientes quanto para o hospital (Bretas et al., 2013).
Diante ao exposto, as crianças e familiares são orientados
acerca de medidas voltadas à segurança do paciente, dentre elas,
lavagem das mãos, acondicionamento de alimentos e higiene corporal, bem como a utilização de espaços coletivos de forma segura.
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Para isso, os acompanhantes recebem orientações escritas, as quais
são discutidas entre esses e a criança, onde esses tópicos são abordados. Respeita-se que muitos participantes têm diferentes níveis
de escolaridade, dessa forma, busca-se que o material informativo
seja de fácil compreensão. Nas visitas subsequentes do bolsista à
unidade de internação da criança, o tema é retomado e buscam-se
sanar dúvidas que possam ter surgido.
Quanto ao controle de infecções, estudos nacionais têm apontado que as orientações transmitidas para os acompanhantes, na
maioria das vezes, são realizadas pela equipe de enfermagem que,
por sua vez, tem papel preponderante no controle e prevenção da
infecção hospitalar, pois é o grupo mais numeroso e que dispensa
maior tempo com o doente internado. No entanto, o cotidiano da
atividade de prevenção tem demonstrado que tais ações educativas, por si só, não garantem que as orientações sejam colocadas em
prática pelos acompanhantes, nem de que elas, quando executadas,
sejam colocadas em prática adequadamente (Bretas et al., 2013; Pires et al., 2015).
Portanto, a inserção dos estudantes de Medicina nessa prática
visa colaborar com a equipe de trabalho do referido hospital, especialmente com a enfermagem, a qual é incumbida a maior parte
dessas ações. Anualmente, a avaliação institucional vem apontando
a importância dessa ação e solicitando sua continuidade. Ainda, os
instrumentos de avaliações preenchidos pelos pais apontam a importância da ação extensionista.
Compõem, ainda, nas atividades desenvolvidas pelo projeto,
as orientações acerca das doenças de maior ocorrência regional, as
quais são elencadas mensalmente, considerando incidência, sazonalidade e demanda direcionada pelo público. A abordagem quanto
a estas contempla, além das crianças e acompanhantes, a equipe de
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trabalho. A aproximação ocorre de forma individual na brinquedoteca institucional, nos leitos de internação e nos postos de trabalho.
Para ambas as ações de educação em saúde na prevenção de
doença são utilizadas estratégias diversas, como a utilização de vídeos, histórias, músicas, pinturas, teatro, fantoches etc. São apresentados teatros que problematizam acerca da importância do cuidado
com a higiene e do estabelecimento de um ambiente saudável, seja
em casa, seja na escola ou no hospital, reforçando a necessidade da
lavagem das mãos na profilaxia da infeção hospitalar e das doenças
transmissíveis, utilizando-se de fantoches e exposição dialogada.
A prática, na avaliação dos estudantes, colabora na construção de seu currículo e fortalece o processo de ensino-aprendizagem beneficiando sua aproximação à prática profissional. Contudo, considera-se que, mesmo a educação em saúde sendo atividade
inerente ao cenário curricular, esta somente alcança a efetividade
quando os conteúdos abordados sofrem a internalização dos sujeitos, transformando-se em moduladores das práticas individuais
(Pereira; Santos, 2011).
No desenvolvimento do ser humano, seja ele social, emocional e pessoal, as fases da infância e adolescência influenciam e repercutem no comportamento ao longo da vida, como também, caracteriza-se como a de maior vulnerabilidade. Tal vulnerabilidade
vai além do âmbito de saúde do organismo em si, mas atinge dimensões em toda a sociedade, visando isso é que a atenção deve ser
mantida, e se possível redobrada, em foco nessa fase da vida.
Como a criança é um ser vulnerável e com responsabilidades
já predefinidas para o futuro, é válido interromper o ciclo de marginalização, e evitar a quebra do ciclo vital desse indivíduo, proporcionando o desenvolvimento em todas as esferas em que ela se
insere, de modo saudável e sem pular etapas.
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Frente a isso, levando em conta a bagagem de conhecimento
adquirida nos anos já cursados na graduação e a posição social que
ocupamos, é válida uma intervenção, já que é negligência ser passível a essa realidade apática e egoísta em relação aos problemas que
são do interesse coletivo.
O projeto Enfermagem Educando para a Saúde atua em cenários diversificados e desenvolve ações com enfoque na promoção da saúde e na ressignificação da infância. O objetivo é discutir a
saúde a partir da realidade local incorporando o conhecimento das
crianças e adolescentes.
Dessa maneira, uma de suas ações de grande relevância ocorre em uma entidade de assistência social filantrópica não governamental, a qual atende anualmente a cem crianças e adolescentes.
No espaço, inicialmente, se constrói com as crianças o conceito de
saúde e doença a partir de atividades lúdicas. Debate sobre os conceitos de saúde, promoção de saúde, qualidade de vida e educação
em saúde, relacionando-os com os aspectos sociais e físicos da infância, como higiene pessoal, higiene bucal, alimentação e atividades recreativas.
O referido projeto emerge da necessidade da promoção da
saúde desde a infância, pois é nessa fase em que o desenvolvimento
e o crescimento têm lugar de destaque, facilitando a compreensão
e entendimento de questões ligadas ao conceito de saúde e do processo saúde-doença.
As avaliações indicaram que as ações desenvolvidas permitiram a articulação do ensino e da extensão com a assistência. Ademais, trabalhar em prol da promoção da saúde, por meio da dialogicidade em grupos, permite a reflexão e conscientização, além disso,
os sujeitos tornam-se copartícipes da construção do conhecimento
coletivo (Wild et al., 2014).
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Considerações finais
Ao longo dos anos, com a implementação dos projetos, tem-se
observado significativa adesão às atividades propostas, bem como
as avaliações de uma forma geral demonstram-se muito positivas e
apontam potencialidades dos programas.
Os participantes sempre demonstraram interesse nas informações abordadas, interagindo e apresentando suas dúvidas. Uma
das grandes potencialidades dos projetos é a capacidade de disseminar conhecimento de forma dialética, aproximando o estudante
dos cenários de prática profissional.
Nessa interação, pode-se oportunizar a vivência da realidade na prática, possibilitando a transformação pela reflexão crítica e
construtiva. Pesquisar, aprender sobre temas relacionados e estender o conhecimento adquirido à comunidade é a tríade que sustenta a formação universitária.
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A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Curso de graduação em
Fisioterapia e a extensão
Mark Andrey Mazaro
Michele Cristina Minozzo dos Anjos
Paula Zeni
A extensão apresenta-se como uma possibilidade histórica e
real de concretização da função social da universidade, via fortalecimento do ensino e da pesquisa, por meio de vínculos e compromissos sociais. Com o objetivo de fomentar e aperfeiçoar o diálogo
entre o saber acadêmico e o saber popular, entre a teoria e prática,
entre a comunidade e a universidade, é concebida como princípio
educativo e estratégia de aprendizagem que devem perpassar os
diferentes componentes curriculares e suas interfaces. O princípio
educativo desejável deve ser permeado por uma metodologia que
contemple o processo de construção do conhecimento de forma
mediada, tanto na sala de aula, quando as atividades de ensino, de
forma indissociável, articulam-se às ações de extensão e pesquisa,
quanto nos efetivos momentos de inserção na comunidade regional,
seja para conhecer, seja para intervir na comunidade, ampliando o
enfoque interprofissional e interdisciplinar, promovendo o pensamento crítico e reflexivo e um fazer comprometido com a construção da cidadania (Frantz; Silva, 2002).
As características atribuídas à extensão somente adquirem
sentido quando possibilitam que o processo de desenvolvimento
humano e material seja marcado pela inclusão de pessoas e instituições nos benefícios resultantes do processo formativo que imA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
plementa e busca. Essa responsabilidade diz respeito à formação e
à transformação dos sujeitos, espaços e processos que tangenciam
a universidade (Oliveira; Garcia, 2009).
O curso de Fisioterapia da Unochapecó desenvolve diversas
ações que integram o ensino à extensão através dos diversos componentes curriculares ao longo do curso, tais como as seguintes
abordagens: avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor, construção de diagnóstico funcional e interpretação de exames complementares nas áreas de atuação neurológica, pediátrica, geriátrica,
oncológica, cardiopulmonar, ortopédica e hospitalar, vinculadas ao
programa Sorriso para a Vida, em concordância com os princípios
institucionais e com o projeto pedagógico do curso de Fisioterapia
da Unochapecó. Essas atividades representam um olhar para a realidade que pretende abastecer de significado o ensino, consolidando o movimento teoria e prática e proporcionando ao acadêmico a
vivência prática da fisioterapia na direção da formação profissional
crítica afirmada pelo projeto institucional.
Ao se apresentar como um espaço de articulação entre extensão, ensino e pesquisa, e especialmente em torno de uma temática que diz respeito à atenção à saúde, essas ações dialogam com
a missão e a visão institucional da Unochapecó, que declaram o
compromisso com a produção e a difusão do conhecimento para
um desenvolvimento regional sustentável e uma formação cidadã,
consolidando-a, assim, como uma universidade comunitária de referência, reconhecida pela produção de conhecimento, pela qualidade acadêmica e pela atuação na sociedade (Santos, 2010).
A população atendida pelas referidas ações é composta de escolares da rede pública municipal e estadual, crianças e adolescentes hospitalizados (Hospital Regional do Oeste – HRO – e Hospital
da Criança) e em situação de risco e vulnerabilidade social (Serviço
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de Acolhimento Municipal, Fundação Aury Bodanese, Programa Viver, Centro Associativo de Atividades Psicofísicas Patrick – CAPP).
Os componentes curriculares que integram o ensino às atividades
de extensão incluem, no seu programa de aprendizagem, metodologias para o desenvolvimento e ponderamento dessas ações, que são
realizadas pelo acompanhamento da entrega das avaliações solicitadas correspondendo ao percentual descrito na disciplina.
Os projetos de extensão desenvolvidos pelo curso de Fisioterapia, vinculados ao programa Sorriso para a Vida, são Intervenção
Motora, Reabilitação Virtual, Escola Postural, Fisioterapia na Promoção da Saúde e Atenção Fisioterapêutica às Crianças e Adolescentes em Situação de Vulnerabilidade.
O projeto Intervenção Motora tem como objetivo colaborar
para a promoção, prevenção e recuperação da saúde do bebê de
risco nos primeiros anos de vida, detectando e intervindo precocemente nas alterações do desenvolvimento global da criança, por
meio de ações educativas e terapêuticas, realizadas pelos estudantes e orientadas pelos professores, visando minimizar atrasos que
possam vir a surgir no processo evolutivo a fim de prevenir incapacidades. Para tanto, realiza a avaliação das crianças de risco junto
às instituições colaboradoras do projeto – Serviço de Acolhimento
Municipal, Hospital da Criança e Programa Viver. Nos indivíduos em
que são detectadas alterações no processo de desenvolvimento habitual, o atendimento fisioterapêutico apropriado é conduzido, bem
como o acompanhamento por diferentes áreas da saúde e da educação (Psicologia, Pedagogia, Nutrição, Medicina e Odontologia).
Também fazem parte do projeto ações educativas preventivas destinadas aos pais, que são orientados sobre a evolução do
recém-nascido, incentivando o vínculo familiar e a necessidade de
um ambiente promissor, facilitador do desenvolvimento da criança.
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A Reabilitação Virtual (RV) utiliza jogos de esportes, realizados por meio do instrumento Nintendo Wii®, que estimulam de
maneira prazerosa a participação das pessoas com deficiência, com
o intuito de melhorar equilíbrio, consciência corporal, propriocepção e amplitude de movimento.
A RV utiliza o videogame para criar uma interface interativa que
a partir de uma imagem possibilita ao usuário realizar um feedback
visual através do dispositivo de vídeo (Balista, 2013). A população do
projeto constitui-se de pacientes com idade entre quatro e 32 anos,
que frequentam o CAPP de Chapecó (SC) e a Clínica Escola de Fisioterapia Sabrina Fiorentin Sfreddo (CEFSFS). O atendimento é semanal.
As atividades de equilíbrio e coordenação motora são elaboradas pelos estudantes e professores e têm duração de trinta minutos por paciente. As intervenções desenvolvidas nas instituições
parceiras mostraram resultados significativos para a melhora das
atividades de vida diária relacionadas à independência e funcionalidade, devido ao desenvolvimento do equilíbrio e das funções
motoras decorrente do treinamento com o console Nintendo Wii®.
A Escola Postural tem a finalidade de avaliar as características posturais das crianças em idade escolar participantes do
Programa Viver e da Fundação Aury Luiz Bodanese, através de
avaliação postural, teste de encurtamento muscular e medidas antropométricas (peso, altura). A partir das informações levantadas,
é possível intervir, por meio de ações da metodologia da Escola Postural, na educação do autocuidado com a coluna vertebral e postura, contribuindo para o desenvolvimento saudável dessas crianças e
adolescentes, para que sejam descartados ou reduzidos os riscos de
prejuízos funcionais nesses indivíduos. A metodologia prevê que as
condutas sejam definidas em conjunto com os participantes do projeto, estudantes e professores. Além de avaliação postural e orienA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
tações educativas em saúde, especialmente relacionadas à postura,
também são realizados, de modo sistematizado, exercícios voltados
ao alongamento e fortalecimento muscular, à correção postural e à
postura adequada para a realização das atividades diárias.
O projeto Fisioterapia na Promoção da Saúde realiza atividades de promoção de saúde e prevenção de doenças com crianças,
visando promover o adequado desenvolvimento neuropsicomotor
ao longo da vida. Busca desenvolver bons hábitos de vida, alertar
para a importância da prática de exercícios posturais e alongamentos, estimular a adoção de posturas adequadas nas atividades rotineiras, como deslocamento de peso, agachamentos, rotações de
coluna, entre outros. Tem como objetivos: orientar e sensibilizar
crianças e adolescentes quanto ao cuidado em saúde e bons hábitos
de vida, boa postura e importância dos alongamentos; promover
a prática de atividades psicomotoras; capacitar crianças e adolescentes para serem multiplicadores de informações sobre o corpo
humano saudável; proporcionar aos estudantes do curso de Fisioterapia a experiência da atuação interdisciplinar.
As atividades, realizadas por acadêmicos de Fisioterapia,
bolsistas e voluntários, orientados por um professor coordenador,
acontecem semanalmente, em turnos alternados (matutino e vespertino), na Fundação Aury Bodanese, no Programa Viver, no CAPP
e no Serviço de Acolhimento Municipal. Nos atendimentos são empregadas técnicas fisioterapêuticas de alongamento, melhora da
postura, desenvolvimento neuropsicomotor, realizadas a partir de
materiais como bolas, rolos, bambolês, brinquedos para estimulação, jogos psicomotores.
A Atenção Fisioterapêutica às Crianças e Adolescentes em
Situação de Vulnerabilidade acontece no HRO e no Hospital da
Criança e tem por objetivo estimular no estudante de fisioterapia o
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desenvolvimento da autonomia, da criatividade, da capacidade de
solucionar problemas, promovendo ações educativas e lúdicas, visando à ressignificação do processo de hospitalização da criança e
do adolescente.
Essas ações são realizadas com pacientes em internação e em
tratamento oncológico, e incluem atenção às famílias. Para o estudante de Fisioterapia, a experiência tem se mostrado eficaz no desenvolvimento da habilidade de planejamento e intervenção com
enfoque interdisciplinar e multiprofissional, tornando-o capaz de
produzir, divulgar e socializar o conhecimento, bem como o compromisso com o desenvolvimento regional sustentável, proporcionando, dessa maneira, a indissociabilidade entre o ensino e a prática.
São realizadas atividades lúdicas-educativas, com objetivos
diferenciados e direcionados à necessidade e ao quadro clínico de
cada criança e adolescente, sob orientação docente. A família do
paciente também recebe cuidados, uma vez que se encontra igualmente fragilizada.
Os programas de intervenção contam com a utilização de jogos
e atividades orais, no intuito de estimular memória, propriocepção
e cognição, trabalhando ainda movimentos corporais e motricidade
fina, orientações aos cuidadores e ao público atendido em relação à
conscientização postural, respiração, cuidados com a saúde, entre
outros temas, visando à promoção da saúde, prevenção de futuras
enfermidades e a recuperação da saúde do paciente acometido.
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para avaliação e reabilitação de déficit motor. In: SBGAMES, 12.,
2013, São Paulo. Anais... São Paulo: SBC, 2013. p. 16-20.
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Programa Sorriso para a Vida –
projeto de saúde bucal
Georgia Verardi Anchieta
Introdução
O programa de extensão de atenção e cuidado à criança e ao
adolescente “Sorriso para a Vida” promove ações de promoção à
saúde e iniciou suas atividades no Hospital Regional do Oeste
(HRO), localizado em Chapecó (SC), em 2001. Surgiu de atividade
de aprendizagem realizada em componente curricular do curso
de Educação Física da Unochapecó, passando a compor o rol de
propostas permanentes de extensão da instituição. Objetiva a (re)
significação do tempo, dos espaços e dos sujeitos do processo saúde-doença, em vulnerabilidade e risco social, numa perspectiva
interdisciplinar e interprofissional. Sob responsabilidade da Área
de Ciências da Saúde, as ações são implementadas por docentes e
discentes dos cursos de Educação Física, Fisioterapia, Odontologia,
Nutrição e Medicina, em parceria com os profissionais dos cenários
da prática, por intermédio das seguintes ações: Educação Permanente, Fórum Didático-Pedagógico, Brincando no Hospital, Oficina
de Práticas Corporais, Escola Postural, Reabilitação Virtual, Cinoterapia, Intervenção Motora Precoce, Alimentação Saudável, Prevenção de Doenças Transmissíveis e Saúde Bucal, que ocorrem com
regularidade semanal.
A proposta deste texto é fazer um recorte das ações do programa Sorriso para a Vida, destacando as atividades desenvolvidas
pelo projeto Saúde Bucal.
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A higiene bucal é fruto de hábitos que devem ser introduzidos e estimulados o mais precocemente possível (Gonçalves; Silva, 1992). O sucesso na prevenção das doenças periodontal e cárie dependem que o paciente esteja suficientemente preparado,
consciente e motivado para a prática de higiene bucal, utilizando
de forma efetiva e eficiente os recursos destinados a esse fim (Gil;
Moraes, 1992; Gonçalves; Silva, 1992; Moimaz et al., 1994). Os pais
ou responsáveis também devem ser orientados e esclarecidos, para
incentivarem as crianças a manter uma higiene bucal satisfatória
(Saba-Chujfi et al., 1992).
De acordo com estudos realizados no Brasil, as crianças mantêm um número elevado de extrações dentárias prematuras, não preservando o espaço perdido e, consequentemente, contribuindo para
o desenvolvimento de más oclusões dentárias, e a manutenção de
altos índices de cárie também persiste. Diante desses problemas, há
necessidade de realizar o controle da cárie dentária e outros agravos.
A forma mais eficaz é a promoção de saúde e da incorporação de hábitos saudáveis, pois, quando motivadas, as crianças tendem a tornar
o comportamento resistente a mudanças, e isso se dá por meio da
escovação dentária e do uso do fio dental, eliminando assim a placa
bacteriana (agente causador da cárie dentária e diversos agravos).
Essas condições devem ser implantadas, trabalhadas e controladas,
contribuindo para o desenvolvimento da autonomia em saúde de
uma forma geral e não apenas bucal (Carvalho et al., 2013).
Diante do exposto, tornam-se imprescindíveis a criação e o
incentivo de programas educativos que ampliem a promoção de
saúde, uma vez que atividades como essas são capazes de motivar
as crianças, em fase pré-escolar, para mudança de hábitos, estimulando-as para o cuidado com a sua saúde bucal. É importante enfatizar que esse processo educativo ocorre de forma lenta; por isso,
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deve ser contínuo para que alterações precoces de maus hábitos e
comportamentos sejam capazes de transformar essa realidade (Migliato et al., 2008).
Segundo a Carta de Ottawa (1986), a promoção da saúde caracteriza-se como um “[...] processo de capacitação da comunidade
para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo
uma maior participação no controle deste processo.”
Outros fatores a serem considerados são a falta de informação
quanto às práticas de higiene bucal e a necessidade de programas
de educação e promoção de saúde para crianças, adolescentes e
seus responsáveis, no sentido de não negligenciar os autocuidados.
Nesse sentido, o projeto Saúde Bucal tem como objetivo a
promoção, a prevenção e a educação em saúde bucal de crianças e
adolescentes, nos diversos cenários em que atua, visando à melhoria das condições de saúde bucal em geral, tornando-os aptos para
manter sua saúde sorrindo novamente, tanto nas relações interpessoais quanto para a vida.
Objetivos específicos do projeto Saúde Bucal:
• reconhecimento das comunidades e problematização da
realidade;
• planejamento das atividades;
• interlocução com os demais projetos do programa;
• interlocução com os componentes curriculares implicados;
• instrumentalização da equipe;
• demonstrações das técnicas com material didático de apoio;
• escovação com macro modelo para explicar como deve ser
feita a correta higienização;
• utilização de bonecos, jogos e desenhos relacionados à
odontologia;
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• elaboração e distribuição de encartes informativos;
• teatro tematizado sobre saúde bucal;
• realização de palestras para crianças, adolescentes e seu
núcleo familiar;
• elaboração de material didático com as crianças.
Metodologia
O projeto de extensão aqui relatado, desde o seu início, tem
sido mantido de maneira ininterrupta, contando sempre com bolsistas de extensão e vários alunos voluntários, todos do curso de
Odontologia da Unochapecó, sob supervisão da professora coordenadora. As atividades são realizadas semanalmente durante todo o
ano. A população-alvo do referido projeto é composta por crianças e
adolescentes de zero a 16 anos de idade que se encontram hospitalizadas no Hospital Regional do Oeste e no Hospital da Criança, participam do Programa Viver ou são residentes no Abrigo Municipal.
Metodologia das ações realizadas nos hospitais
Em ambos os hospitais há a brinquedoteca, local onde os bolsistas e voluntários dos diversos cursos que compõem o programa
Sorriso para a Vida desenvolvem atividades lúdicas com as crianças. Além disso, realizam-se visitas nos quartos dos pacientes internados, momento em que é executada a educação em saúde bucal de
uma maneira lúdica, ensinando a correta escovação e o uso do fio
dental. Escova, creme dental e fio dental são doados para crianças e
adolescentes internados que não os possuem. O momento também
é oportuno para a avaliação da cavidade bucal, verificando a
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necessidade de tratamento odontológico. Caso seja indicado algum
procedimento odontológico, os pais ou responsáveis são orientados sobre a possibilidade de realizar esse tratamento na Clínica
Odontológica da Unochapecó.
Metodologia da avaliação de saúde
bucal realizada no programa Viver
A ação teve como finalidade avaliar a condição geral de saúde bucal, identificando a necessidade de tratamento odontológico,
de 44 crianças com idades entre um e dez anos, que participam do
programa Viver. Foram realizadas avaliações de saúde bucal, com
o auxílio de palitos específicos para essa finalidade, por meio de
fichas de avaliação, que serviram para classificar as crianças e estabelecer a prioridade de atendimento. Cada avaliação resultou em
um valor final, indicando a urgência do tratamento. As crianças que
necessitavam de assistência foram encaminhadas para a Clínica
Odontológica da Unochapecó.
Metodologia das ações realizadas no
programa Viver e Abrigo Municipal
Nesses espaços são desenvolvidas atividades diversificadas,
adaptadas à idade dos participantes (palestras, jogos, teatro, leitura de livros de histórias, desenhos), de conteúdo informativo sobre práticas de higiene bucal, prevenção das doenças periodontal
e cárie, com a finalidade de reforçar as orientações passadas, conscientizando as crianças e adolescentes participantes sobre a importância de uma higiene bucal adequada e motivando-os a incluir na
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sua rotina diária a escovação e o uso do fio dental. O quadro abaixo
descreve as atividades realizadas e a metodologia empregada.
Atividade
Metodologia
Atividade “conhecendo
a nossa boca”
Uma história foi contada para as crianças através
de imagens e desenhos em relação à boca. Após
isso, as crianças deveriam formar duplas e “examinar” a boca um do outro, de modo a reconhecê-la.
Na sequência, elas desenharam a boca conforme
sua compreensão. Após a atividade foi realizada
uma colagem de figuras com as partes da boca,
em formato de desenho, acompanhadas de explicações sobre cada componente e sua importância.
Atividade “como
é o bicho da cárie”
As crianças desenharam o “bicho da cárie” como
imaginavam. Após isso, imagens lúdicas de dentes
cariados e não cariados foram demonstradas. O
mecanismo de desenvolvimento da cárie foi apresentado, seguido de explicação sobre a importância de combatê-la.
Brincadeira passa dente
É da mesma forma que a brincadeira do passa anel, porém com o dente no lugar do anel. As
crianças passam o dente de um para o outro e uma
criança fica no meio e tenta adivinhar com quem
está o dente. O dente utilizado estará representando um dente saudável em boca, fixando os conhecimentos das atividades anteriores em relação à
boca e à cárie.
Atividades com balões
Dentro de cada balão havia frases em relação à
saúde bucal. Os balões foram amarrados nos pés
das crianças e elas deviam proteger seu balão e
tentar estourar os dos colegas. Conforme o balão
estourava, a criança devia pegar a frase e sentar-se. Ao final da brincadeira as frases foram unidas,
cada um leu sua frase e as explicações foram feitas.
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Passa escova
As crianças formaram uma roda e foi colocado um
som musical educativo sobre odontologia, elas
iam passando a escova uma para outra. Quando
a música parava, aquele que estava segurando a
escova teria que realizar uma atividade proposta
pelas outras crianças, podendo ser perguntas relativas ao conteúdo aprendido no dia anterior às
brincadeiras e em todas as outras visitas.
Amarelinha
odontológica
É semelhante à amarelinha convencional, porém
cada “casa” do jogo é composta por “amigos” ou
“inimigos” da saúde bucal, como por exemplo, escova, creme dental, frutas, doces etc. O vencedor
foi o primeiro a chegar ao final sem passar pelos
itens prejudiciais aos dentes.
Colagem educativa
As crianças deviam formar palavras em relação à
saúde bucal conforme iam sendo solicitadas pelas
professoras. Essas palavras eram formadas através do recorte de letras em revistas e colagem em
papel ofício. Além da formulação de palavras em
relação à saúde bucal, dificuldades com o português foram encontradas e corrigidas.
Parceiros
As crianças recebiam imagens que sugeriam ações
(exemplo: criança escovando os dentes). Eram
distribuídas várias ações e as crianças deveriam
encontrar seus pares e se sentar. Outras atividades foram sendo realizadas conforme a necessidade (exemplos: confecção de desenhos, colagens
educativas, vídeos, minipalestras sobre higiene
bucal, pinturas etc.).
Fonte: elaboração da autora.
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Desenvolvimento
O fato de a universidade produzir e repassar conhecimentos,
indo ao encontro das necessidades da comunidade, tem relevante
alcance social, como é observado neste projeto de extensão. A extensão realizada atendeu e continua a atender uma parcela da população que é desassistida devido à vulnerabilidade social ou que
se encontra debilitada devido ao estado de saúde geral. Ainda, por
meio das atividades desenvolvidas possibilitou-se a melhoria das
condições de saúde bucal e geral dessa população.
Durante todo esse processo observou-se que na maioria dos
casos de pacientes internados nos dois hospitais, os cuidados com
a saúde bucal eram deixados em segundo plano pelos responsáveis,
muitas vezes por conta da preocupação com a saúde geral. Entretanto, a saúde geral e a saúde bucal constituem dois elos de uma
mesma corrente.
Sabe-se que a hospitalização está associada à piora das condições de saúde bucal, principalmente nos pacientes em intubação
orotraqueal (Terezakis et al., 2011), levando a crer que indivíduos
hospitalizados necessitam de intervenção odontológica de caráter
curativo e preventivo (Maestrelli et al., 2010).
Em relação à metodologia de avaliação e encaminhamento
para tratamento odontológico, verifica-se a potencialidade dessa
ação na obtenção de um padrão da real situação de saúde bucal das
crianças através das avaliações realizadas e demonstração da necessidade de atendimento odontológico. Essa realidade foi constatada
e tratada com atenção na prática clínica após os encaminhamentos.
A fragilidade das atividades encontra-se na falta de apoio por parte
de alguns pais na manutenção da saúde bucal dessas crianças após
o atendimento clínico. Alguns pais não autorizaram a ida de seus
filhos até a Clínica Odontológica da Unochapecó ou não assinaram
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o termo de consentimento para que os procedimentos odontológicos pudessem ser realizados de forma ética. Observa-se, assim, a
urgência de uma conscientização coletiva com pais/responsáveis
da necessidade do tratamento e manutenção da saúde bucal, principalmente na fase de desenvolvimento das crianças.
Dentre os fatores associados à prevalência de maus-tratos na
população infantil, está a falta de cuidados dos pais ou responsáveis
legais com a saúde do menor que está sob sua tutela. Essa negligência pode ser observada com relação à saúde bucal das crianças
(Massoni et al., 2014), como nos casos em que não houve retorno
do termo de consentimento assinado para a execução do tratamento odontológico.
As consequências provenientes da realização de programas
preventivos são observáveis não apenas clinicamente, através da
redução dos índices de cárie, mas também pela modificação da
consciência popular, quanto aos cuidados com os dentes, hábitos
de higiene bucal e dieta alimentar. É consenso que programas preventivos proporcionam, comparativamente às ações curativas, menores custos de implantação e operacionalização, ofertando, em
função da baixa complexidade dos procedimentos, uma cobertura
maior da população (Oliveira et al., 2011).
Segundo Garcia e colaboradores (2004), a educação em saúde
representa uma estratégia fundamental no processo de formação
de comportamentos que promovam e mantenham a saúde.
A mudança de hábitos é um processo extremamente difícil
para qualquer indivíduo, por isso, o paciente deve estar muito motivado e ciente de que deve abandonar hábitos nocivos à saúde, pois
essa é uma condição essencial para ter sucesso no processo. Procura-se estabelecer novas rotinas nos hábitos já adquiridos e, dessa
forma, facilita-se um pouco o processo.
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Considerações finais
A importância deste projeto de extensão para a formação
acadêmica e pessoal deve-se ao fato de este permitir a aplicação
prática dos conhecimentos teóricos sobre prevenção das doenças
bucais obtidos em sala de aula, proporcionando a interação entre
profissionais da odontologia, crianças e adolescentes. Possibilitou,
ainda, a atuação de alunos de graduação em Odontologia junto a
uma população com necessidades odontológicas especiais e considerada de alto risco para o desenvolvimento de diversas patologias,
contribuindo para uma melhor formação acadêmica. Finalmente,
permitiu aos acadêmicos o reconhecimento de uma realidade social do nosso país, no panorama da saúde.
Os resultados obtidos mostraram a importância e a necessidade da continuidade deste programa junto a essa população, tão
carente de cuidados, sob pena de perda dos benefícios alcançados.
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A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Integração da extensão com atividades
de pesquisa e ensino em comunidade:
uma ação de arborização
Clarete Trzcinski1
Félix Yan Boschetti2
Gabriela Borges da Silva3
Queila Ramos Giacomini4
Ana Cristina Confortin5
Adriano Dias de Oliveira6
Introdução
A Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) é uma instituição identificada com o desenvolvimento regional e muito atenta às necessidades da população e das organizações situadas em sua região de abrangência. O desenvolvimento do
processo de integração da pesquisa e extensão ao ensino faz parte
da história da constituição da Unochapecó. Partindo dessa com1 Doutora em Engenharia de Produção (UFRGS), docente do Programa de Mestrado
Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (Unochapecó).
2 Graduando em Arquitetura e Urbanismo (Unochapecó).
3 Mestranda em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (Unochapecó), docente do curso
de Arquitetura e Urbanismo (Unochapecó).
4 Mestranda em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (Unochapecó), docente do curso
de Arquitetura e Urbanismo (Unochapecó).
5 Mestre em Engenharia de Produção, área de gestão ambiental (UFSC), docente do curso
de Ciências Biológicas (Unochapecó).
6 Doutor em Botânica (UFRGS), docente do curso de Ciências Biológicas (Unochapecó).
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
preensão, a Diretoria de Extensão (DEX) desenvolveu/promoveu
uma ação denominada “UnoVerCidade” junto à comunidade do seu
entorno, a “região da Efapi”, visando ao levantamento de demandas
para possível intervenção, a partir da elaboração de projetos planejados por grupos de extensão da Universidade em articulação com o
ensino e a pesquisa. As atividades do “UnoVerCidade” contaram com
o envolvimento de equipes de vários programas de extensão, dentre
eles o Programa de Apoio a Processos Participativos de Desenvolvimento Local e Regional Sustentável (Papel), que se envolveu e se
responsabilizou pela demanda da arborização urbana, apresentada
pelo loteamento Alice I, localizado no bairro Efapi, que possui uma
população de 26.543 habitantes (Chapecó, 2016). Estabelecido em
2010, não tem informações sobre suas características em sites oficiais, sendo os dados aqui apresentados de levantamento feito com
os líderes da comunidade, que informam da necessidade de empoderamento desta, pois “vontade eles têm, mas não sabem o que fazer,
como buscar no órgão municipal”7. Hoje a liderança mais atuante
está ligada à Associação de moradores, que estima uma população
do loteamento de aproximadamente quinhentas famílias. Os equipamentos públicos comunitários existentes e utilizados pela comunidade são aqueles pertencentes ao bairro Efapi, como: Centro Integrado de Saúde da Família; Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS) Efapi, escolas municipais, Cidade do Idoso.
O empoderamento aqui entendido é aquele que se refere ao
processo de mobilizações e práticas que objetivam promover e impulsionar grupos e comunidades na melhoria de suas condições de
vida, aumentando sua autonomia (Gohn, 2004).
7 Informação apresentada pelo líder comunitário, na fase preparatória desde estudo.
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O empoderamento possui três níveis: pessoal, grupal e estrutural, níveis que garantem consistência ao processo. Se, por um lado,
esse processo concretiza-se no cotidiano dos indivíduos, no tempo
e espaço nos quais estes reconhecem e experienciam necessidades e
potencialidades que os despertam e viabilizam o crescimento de habilidades individuais e coletivas, por outro lado, ele se concretiza no
contexto social, espaço e tempo de desenvolvimento de estratégias
de apoio mútuo e de auto-organização, “[...] que reforçam a consciência política através de ações sociais e viabilizam a participação coletiva nas decisões sociais e políticas.” (Stark, 1996 apud Kleba, 2009,
p. 738). Dessa forma, estão intimamente ligados, interferindo e exercendo pressões mútuas. Para Gohn (2004), o empoderamento pessoal
e/ou individual tem como indicadores a autoestima, a autoconfiança
e a autoafirmação, tendo como foco a melhoria nas condições de vida.
Empoderar a comunidade do Alice I, através de ações de educação ambiental, é uma ação que fortalece o exercício da cidadania, que
pode ser resumido pela compreensão e prática, pelas pessoas, dos
seus direitos e deveres na convivência na cidade e na comunidade.
Na perspectiva da arborização urbana, o respeito e o cuidado com as
áreas verdes e com as árvores plantadas em espaços públicos e privados constituem direito e dever e expressam o saber viver na cidade.
A arborização exerce papel de vital importância
para a qualidade de vida nos centros urbanos.
Por suas múltiplas funções, a árvore urbana atua
diretamente sobre o microclima, a qualidade do
ar, o nível de ruídos, a paisagem, além de constituir refúgio indispensável à fauna remanescente
nas cidades. (SBAU, 2015, [s.p.]).
É fato conhecido o papel exercido pela vegetação na redução do
calor gerado no ambiente urbano, proporcionando um microclima
com condições de conforto térmico mais favoráveis. Os efeitos na
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absorção da radiação solar, através de folhas e ramos, são perceptíveis pela população por meio do sombreamento propiciado pela
copa das árvores, pela ventilação e pela redução da luminosidade
(Gonçalves; Camargo; Soares, 2012). Dessa forma, possibilitam
maior proximidade e convivência do homem com a natureza no espaço construído promovendo a sensibilização para a importância
do papel das árvores nas cidades, sobretudo na promoção da saúde
e do bem-estar humano.
Nesse sentido, a falta de arborização pode estar ligada com o
fenômeno da urbanização que é crescente no município de Chapecó
(SC). Nas últimas décadas, a cidade apresenta grande crescimento
da população, mudanças na ocupação do espaço e seu uso, transformando drasticamente tanto o ambiente natural como o ambiente
construído. Esse novo ambiente construído vem sofrendo significativa alteração microclimática, com prejuízo para a qualidade de
vida da população. A comunidade do loteamento Alice I percebe e
relata a situação de falta de arborização urbana, o que originou este
projeto de extensão aprovado pelo Fapex em 2016.
A metodologia apresentada tem como foco a interdisciplinaridade entre componentes curriculares dos cursos de Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas, Jornalismo, o mestrado
em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais e o Viveiro Florestal da
Unochapecó, bem como a liderança comunitária do loteamento,
pois se entende que a formação profissional remete à interligação
entre as áreas do saber, entre diferentes disciplinas, conseguida
através do processo da interdisciplinaridade. Esta é definida por
Jantsch e Bianchetti (1995) como um princípio da máxima exploração das potencialidades de cada ciência, da compreensão dos seus
limites, da diversidade e da criatividade. Nos apontamentos de Paviani (2008), é a condição básica para a formação profissional fleA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
xível e adequada ao exercício de novas profissões, principalmente
na atualidade. De acordo com o autor, uma área do conhecimento
tende a se construir a partir de certa autonomia teórica; entretanto, o bom desempenho de um profissional vai além de qualidades
pessoais, de conhecimentos de matemática, economia, direito, psicologia, sociologia. Por isso, a formação profissional pressupõe
ação interdisciplinar, em um primeiro momento na aquisição de
conhecimentos para a sua formação científica e intelectual, e em
um segundo momento a aplicação de conhecimentos na solução de
problemas reais.
Operacionalmente, a proposta de ação definida compreende
reuniões na comunidade; oficinas de educação ambiental; levantamento e mapeamento das condições existentes e do interesse da
comunidade; anteprojeto de arborização urbana e blog composto
por mídia social e vídeo. Nessas ações, participaram, até o presente
momento, em torno de duzentos acadêmicos, um bolsista, dois técnicos e sete docentes, incluindo a abrangência direta e indireta de
aproximadamente quinhentos moradores.
O projeto de arborização do Alice I tem por objetivo promover
o fortalecimento da comunidade e o empoderamento das lideranças
locais através de ações que integrem ensino, pesquisa e extensão,
aproximando a Universidade ao seu entorno.
Atividades desenvolvidas
Levantamentos/mapeamentos
O ponto de partida foi a realização de saídas a campo para a
coleta de dados e levantamento da área. Essas visitas in loco abrangeram entrevistas aos moradores e levantamento físico e territorial
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das moradias e espaços públicos, a fim de se obter um retorno da
comunidade sobre carências relativas ao ambiente e qualidade de
vida dos moradores. Estudantes de arquitetura e urbanismo visitaram a área, e, nessa etapa, verificou-se que a comunidade tem grande interesse pelo projeto de arborização urbana, pois os passeios
públicos do loteamento possuem pouca vegetação, além de não
cumprirem com normas de acessibilidade, tornando esses espaços
pouco atrativos aos moradores.
O principal objetivo da etapa elaborada pelo curso de Arquitetura e Urbanismo foi entender como cada dado levantado contribuiu para a compreensão das características do local, buscando
a elaboração de um projeto de arborização urbana no loteamento.
Os moradores foram questionados sobre a falta de atividades de lazer na comunidade, se têm interesse em um projeto de
arborização para as ruas do bairro, entre outras perguntas que se
destinam ao levantamento físico-territorial e do público-alvo do loteamento Alice I. Foi realizado um levantamento da infraestrutura
urbana no loteamento, incluindo levantamento fotográfico, análise
da topografia, legislação urbana, sistema viário, transporte público,
entre outros. Os alunos se dividiram em pequenos grupos para fazer um levantamento o mais detalhado possível sobre as características socioespaciais do local, bem como o público-alvo da pesquisa,
tendo como resultado um levantamento das condicionantes, potencialidades e deficiências da área de estudo.
Através do levantamento foi criado um mapa com a locação
da vegetação existente e identificadas as espécies arbóreas. Foram
levantados os dados dos passeios públicos das 11 quadras que fazem parte do loteamento, locando as árvores em um mapa base disponibilizado pela Prefeitura do município. Para a identificação das
espécies, a equipe contou com o apoio dos acadêmicos do curso de
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Ciências Biológicas e do Viveiro Florestal da Unochapecó. Depois do
levantamento e da identificação das espécies, os acadêmicos, com
auxílio e orientação dos professores, elaboraram propostas para os
passeios públicos, além de uma das turmas ter feito uma proposta
de anteprojeto de praça em área verde.
O levantamento florístico e a identificação das espécies arbóreas presentes nos passeios públicos do loteamento foram feitos
pelos acadêmicos do curso de Ciências Biológicas, a partir do mapa
disponibilizado pelos acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo, e
registrou 252 plantas de cerca de 55 espécies, sendo 19 destas não
identificadas, geralmente por ausência de material biológico como
folhas ou estruturas reprodutivas.
Das espécies registradas, 26 (47%) podem ser consideradas
nativas no Brasil e, dessas, 19 nativas no oeste de Santa Catarina
(35%). Em termos de número de plantas, a presença de espécies
exóticas é ainda maior, sendo apenas 59 delas (23%) nativas no
Brasil e 45 (18%) no oeste catarinense. O número de plantas de
diferentes origens geográficas na arborização estabelece sua relação com os transeuntes e a identificação, ou não, destes e do espaço
urbano com a flora regional. Essa predominância de espécies exóticas e uma baixa diversidade se evidenciam com os números da
espécie Cinnamomum verum (canela-doce, família Lauraceae), com
76 indivíduos, e de Ligustrum lucidum (ligustro ou sempre-verde,
família Oleaceae), com 21 indivíduos, ambas de origem asiática e
somando sozinhas 38% das plantas identificadas no levantamento.
Essas informações repetem alguns padrões esperados em
arborização urbana, como: a predominância de espécies exóticas;
o maior número absoluto de plantas exóticas (quase quatro vezes
mais que as nativas), ao território brasileiro e especialmente à região; a baixa diversidade geral expressa na alta concentração de inA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
divíduos em algumas espécies, especialmente as exóticas. No caso
do loteamento Alice I foi menos evidente que o esperado a predominância de exóticas e a baixa diversidade, provavelmente devido à
iniciativa particular de parte dos moradores, provenientes de áreas
rurais, e seus conhecimentos e desejo de ter espécies da flora regional, especialmente com frutos comestíveis, como a pitanga (Eugenia uniflora, família Myrtaceae) e a cereja-do-mato (Eugenia involucrata, família Myrtaceae).
Figura 1 – Visão Panorâmica através da rua Palmitos com visão do loteamento Alice I, localizado no bairro Efapi, no município de Chapecó (SC)
Fonte: elaborada pelos autores.
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Figura 2 – Acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo da Unochapecó, conhecendo e situando a área de intervenção do loteamento Alice I
para a realização do mapeamento
Fonte: elaborada pelos autores.
Oficinas socioeducativas
As oficinas de Educação Ambiental buscam ações participativas, para o fortalecimento e o fomento da responsabilidade socioambiental individual e coletiva, baseadas na valorização local
e no conceito de sustentabilidade. Foram desenvolvidas duas oficinas:
Oficina 1 – “A importância de áreas verdes em espaços urbanos” – realizada no dia 01/06/2016, das 19h20 às 22h, no Museu
de Ciências Naturais da Unochapecó. Contou com um público de
aproximadamente vinte lideranças da comunidade do loteamento
Alice I. A abordagem da oficina foi teórico-prática, sobre a importância de espécies arbóreas nativas e os impactos causados pelas
espécies arbóreas exóticas.
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No primeiro momento, os participantes foram divididos em
dois grupos que se alternaram na Trilha dos Sentidos e em visita ao
Museu de Ciências Naturais da Unochapecó. A trilha dos sentidos
teve como objetivo a sensibilização e aproximação ser humano-natureza. Essa atividade é realizada de olhos vendados e pés descalços, o que permite ao participante perceber o ambiente de forma
diferente, estimulando o uso dos sentidos, exceto a visão. No Museu
de Ciências Naturais, o grupo conheceu os animais taxidermizados,
as coleções biológicas e os animais vivos do acervo. Na sequência,
foram encaminhados para o laboratório de Zoonoses da Universidade, onde foi realizada a discussão sobre a trilha, momento de reflexão em que cada participante expressou os sentimentos aflorados a partir da vivência desta.
Após a reflexão sobre a trilha, foi realizada uma apresentação
sobre os seguintes temas: distinção de espécies exóticas e nativas;
incentivo ao plantio de espécies nativas (frutíferas para atração de
animais); e a importância das árvores e da presença de áreas verdes no espaço urbano.
A apresentação foi de aproximadamente quarenta e cinco minutos, sendo que durante a mesma foram disponibilizados exemplares de plantas, com diferentes estruturas, incluindo folha, fruto
e semente.
Após a oficina, foi aplicado um questionário, com o objetivo de verificar a percepção que os moradores possuem acerca da
vegetação urbana. Os resultados mostram que: 73% deles conhecem as espécies florestais nativas da nossa região; 93% sabem o
que é uma espécie nativa; 80% responderam que possuem alguma
espécie nativa cultivada em suas residências; 46% responderam
que possuem dificuldade no manejo dessas espécies; e 46% optam
pelo plantio de espécie nativa, em virtude da sombra que oferecem.
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Oficina 2 – “Identificação de espécies arbóreas e métodos de
plantio”, realizada no dia 18/06/2016, das 9h às 12h, no loteamento Alice I, na casa do senhor João.
A oficina teve por objetivo sensibilizar os moradores do loteamento sobre a importância da arborização urbana, identificando e
diferenciando as árvores nativas e exóticas, destacando a importância das espécies florestais nativas, bem como dos métodos de plantio e poda, dando ênfase na importância das características físicas
das árvores. Na sequência, os participantes foram convidados a
identificar nas vias públicas do loteamento as árvores exóticas e nativas do local. A última atividade dessa oficina envolveu a discussão
referente às árvores nativas e seu potencial para a urbanização. A
partir de slides foram apresentadas imagens das espécies florestais
nativas com algumas informações básicas (tamanho, flores, frutos,
modo de manejo, importância ecológica, importância para a fauna
nativa) de cada espécie. Além dos slides, foram apresentadas as mudas das espécies trabalhadas para visualização e posterior distribuição aos participantes da oficina para o plantio nas vias públicas
do loteamento, sendo registradas através de materiais e métodos
midiáticos todas as atividades realizadas pelos acadêmicos do curso de Jornalismo da Unochapecó.
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Figura 3 – Moradores do loteamento Alice I fazendo a visitação no Museu
de Ciências Naturais da Unochapecó junto com os estudantes de Ciências
Biológicas
Fonte: elaborada pelos autores.
Figura 4 – Saída a Campo pelo loteamento Alice I, com a participação do
líder da comunidade, moradores, alunos de Ciências Biológicas, bolsista e
coordenadora do projeto realizando o plantio de espécies arbóreas
Fonte: elaborada pelos autores.
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Considerações finais
Esta proposta tem viabilizado a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, valorizando a troca de experiências e a confluência de saberes entre alunos, professores e comunidade, de forma
que todos os envolvidos sejam sujeitos ativos nesse processo de
ensino-aprendizagem. A interdisciplinaridade refere-se aos cursos de Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Ciências Biológicas,
Jornalismo, mestrado em Políticas sociais e Dinâmicas Regionais e
o Viveiro Florestal da Unochapecó. No que se refere às atividades
com os componentes curriculares, houve a plena participação de
acadêmicos e professores.
Houve a preocupação de atender as expectativas, necessidades dos moradores, e foram empregadas algumas técnicas buscando estabelecer um movimento inicial de acolhimento a todos e promover ativamente o conhecimento mútuo. Entretanto, temos ainda
um grande desafio que é a baixa participação da comunidade nas
oficinas socioeducativas. Cabe ressaltar esse importante desafio a
ser superado nas próximas etapas, que é a dificuldade de realizar
uma proposta educativa fora do espaço universitário.
Referências
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chapeco.sc.gov.br/>. Acesso em: 13 set. 2016.
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GONÇALVES, Andréia; CAMARGO, Larissa Siqueira; SOARES, Paulo Fernando. Influência da vegetação no conforto térmico urbano:
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PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceitos e distinções. 2.
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www.sbau.org.br/img-sbau/EPAU1.pdf>. Acesso em: 30 out. 2015.
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Sobre os autores
Organizadores
Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues
Mestre em Educação (Ensino e Formação de Professores) pelo
Centro Universitário Católico do Sudoeste do Paraná (Unics),
graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente nos cursos de Educação Física (licenciatura e bacharelado) da Universidade Comunitária da Região
de Chapecó (Unochapecó). Coordenadora do programa de atenção e cuidado à criança e ao adolescente Sorriso para a Vida:
E-mail: <schwinn@unochapeco.edu.br>.
Maria Aparecida Lucca Caovilla
Doutora em Direito, Política e Sociedade pela Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Docente do Programa de Mestrado em Direito
da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
Integrante do Projeto de Extensão Comunitária Jurídica (PECJur).
Coordenadora do grupo de pesquisa Direitos Humanos e Cidadania.
E-mail: <caovilla@unochapeco.edu.br>.
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Colaboradores
Ademir Miguel Salini
Mestrando em História na Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS). Documentalista do CEOM/Unochapecó.
E-mail: <adesalini@unochapeco.edu.br>.
Adriano Dias de Oliveira
Doutor em Botânica (UFRGS), docente do curso de Ciências Biológicas
da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <adriano.oliveira@unochapeco.edu.br>.
Alcimara Benedett
Doutora em Ciências pelo Programa Interunidades de Doutoramento
em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São
Paulo (EEUSP). Docente da Área de Ciências da Saúde desde 2002.
Responsável técnica do curso de Enfermagem da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Coordenadora dos
projetos de extensão “Enfermagem Educando para Saúde” e “Doenças Transmissíveis”, ligados ao programa Sorriso para a Vida. Membro
atuante no Comitê de Mortalidade Materna Infantil de Chapecó (SC).
E-mail: <alcimara.benedett@gmail.com>.
Aline Bertoncello
Pós-graduanda em Arqueologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Educadora patrimonial do CEOM/
Unochapecó.
E-mail: <alinebert@unochapeco.edu.br>.
Aline Fátima Lazarotto
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente do curso de Pedagogia da UniA extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
versidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Coordenadora do projeto de extensão Pedagogia na Rua.
E-mail: <alinel@unochapeco.edu.br>.
Ana Cristina Confortin
Mestre em Engenharia de Produção, área de gestão ambiental
(UFSC), docente do curso de Ciências Biológicas (Unochapecó).
E-mail: <anac@unochapeco.edu.br>.
Ana Maria Pereira Puton
Especialista em Gestão de Pessoas e graduada em Pedagogia pela
Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Técnica de extensão da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) – Unochapecó.
E-mail: <anampp@unochapeco.edu.br>.
Andreia Casagrande Begnini
Mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais, bolsista ITCP/
Unochapecó. Docente da Faculdade de Tecnologia Senac Chapecó.
E-mail: <andreiabegnini@gmail.com.br>.
André Luiz Onghero
Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Historiador do CEOM/Unochapecó.
E-mail: <andreo@unochapeco.edu.br>.
Andreza Leticia Tessaro
Psicóloga graduada pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) e especializanda em Terapias Cognitivo-Comportamentais pela mesma universidade.
E-mail: <andresatessaro@gmail.com>.
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Carlos Eduardo Arns
Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa
Cruz do Sul (Unisc). Professor no curso de Agronomia da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) de 1994 a 2016.
Professor membro do grupo fundador da Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares (ITCP) em 2003 e coordenador da ITCP no
período de 1997 a julho de 2016. Membro do grupo de pesquisa Trabalho, Sociedade e Políticas Sociais. Membro do Instituto de Estudos
e Assessoria ao Desenvolvimento (Ceades). Membro do Núcleo de
Extensão em Desenvolvimento Territorial (Nedet) no território oeste
catarinense (CNPq/UFFS).
E-mail: <tche@unochapeco.edu.br>.
Carmelice Faitão Balbinot
Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Mestranda do Programa
de Pós-Graduação da Unochapecó. Integrante do Projeto de Extensão
Comunitária Jurídica (PECJur).
E-mail: <carmeliceb@hotmail.com>.
Clarete Trzcinski
Doutora em Engenharia de Produção (UFRGS), docente do Programa
de Mestrado em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <clarete@unochapeco.edu.br>.
Colmar Rodrigues Domingues
Graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel)
(1989) e Especialização em Literatura Contemporânea Brasileira
Moderna pela UCPel (1999).
E-mail: <colmar@unochapeco.edu.br>.
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Cristiane Tonezer
Doutora em Desenvolvimento Rural como bolsista Capes pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS); doutorado sanduíche
como bolsista CNPq na Universidade do Algarve (Portugal); Mestre
em Desenvolvimento Rural como bolsista CNPq pelo Programa de
Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS) e bacharel em Desenvolvimento Rural e Gestão Agroindustrial pela Universidade Estadual do Rio
Grande do Sul (UERGS). Atuou como gestora executiva do Arranjo
Produtivo Local (APL) das agroindústrias familiares do Vale do Taquari. É professora titular da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó). Atua principalmente nos temas referentes às
políticas públicas para o desenvolvimento rural, segurança alimentar
x complexos agroindustriais e velhices rurais.
E-mail: <tonezer@unochapeco.edu.br>.
Felipe Flores Kupske
Doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Docente do curso de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Membro do grupo de pesquisa Estudos
Linguísticos e Literários, da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <kupske@unochapeco.edu.br>.
Félix Yan Boschetti
Arquiteto e Urbanista pela Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <felixyan@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Gabriela Borges da Silva
Mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (Unochapecó), docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <gabi@unochapeco.edu.br>.
Graciela Alves de Borba Novakowski
Mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais pela Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Assistente social e
técnica de extensão da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Unochapecó.
E-mail: <gracielan@unochapeco.edu.br>.
Hellen Carolina Barella
Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Comunitária
da Região de Chapecó (Unochapecó) (2017). Participou como bolsista do projeto de extensão “Mulheres e cidadania: desafios para
sua participação comunitária”, veiculado ao programa Papel (2016).
Atuou como voluntária no programa permanente de extensão universitária “Atenção e cuidado à criança e adolescente Sorriso para a
Vida”. Foi membro da Diretoria de Ensino da Liga Acadêmica de Saúde da Família (LASF) na Unochapecó. Enfermeira no Hospital Nossa
Senhora da Saúde.
E-mail: <karolhb@unochapeco.edu.br>.
Júnia Laíse Scheunemann Engel
Acadêmica de Letras. Atuou no projeto de extensão “Bolsa amarela:
cidadania e formação de leitores”.
E-mail: <juniaengel@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Kaliandra Dara Marta
Acadêmica de Psicologia da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó). Estagiária do POP Unochapecó. Ex-bolsista
de extensão pela Unochapecó.
E-mail: <kaliandra.marta@unochapeco.edu.br>.
Karen Cristina Kades Andrigue
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Professora do curso de Enfermagem
da Unochapecó desde 2013. Coordenadora do curso de Enfermagem.
Membro do grupo de pesquisa Formação e Trabalho. Coordenadora
do projeto de extensão Gestão Documental no HRO.
E-mail: <karenandrigue@unochapeco.edu.br>.
Larissa Henrique
Acadêmica do curso de Pedagogia da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó) e bolsista de extensão do projeto
Pedagogia na Rua.
E-mail: <larissahenrique@unochapeco.edu.br>.
Luana Blasi da Silva
Acadêmica de Letras da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <luanablasi@unochapeco.edu.br>.
Luis Henrique Rangrab
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (1993) e mestrado em Zootecnia
pela UFRGS (1997). Tem experiência na área de Zootecnia, com ênfase em nutrição de ruminantes.
E-mail: <rangrab@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Márcia de Souza
Mestre em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC); cursa doutorado na mesma instituição. Docente do curso de
Letras na Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Coordenadora do projeto de extensão Bolsa Amarela: cidadania e formação de leitores. Membro do grupo de pesquisa Estudos
Linguísticos e Literários, da Unochapecó.
E-mail: <marcias@unochapeco.edu.br>.
Maria Carolina da Silveira Moesch
Mestre pelo Programa de Mestrado Profissional em Políticas Sociais
e Dinâmicas Regionais da Universidade Comunitária da Região de
Chapecó (Unochapecó). Cursando especialização em Avaliação Psicológica pelo Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Possui pós-graduação (especialista) em Psicologia: Práticas Sociais e Desafios Contemporâneos, pela Unochapecó (2009). Graduada em Psicologia pela
mesma instituição (2004). Coordenadora do curso de Psicologia da
Unochapecó. É docente da Unochapecó. Tem experiência profissional
em Psicologia nas emergências, desastres e catástrofes; Política Pública da Assistência Social; ética e legislação em Psicologia; Políticas
Sociais e Dinâmicas Regionais. Temas: Psicologia Social Comunitária,
Ética e Legislação em Psicologia, Psicologia e Políticas Públicas. Psicologia nas Emergências, Desastres e Catástrofes.
E-mail: <mariasilve@unochapeco.edu.br>.
Maria Tereza Galeazzi Zanella
Acadêmica de Letras da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <mariazanella@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Mark Andrey Mazaro
Especialista em Fisioterapia na Oncologia pelo Hospital Erasto Gaertner de Curitiba (PR); especialista em Saúde Pública pela Universidade do Contestado (UnC), Concórdia (SC); especialista em Magistério
Superior pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Atualmente é professor titular nos cursos de Fisioterapia e
Educação Física da Unochapecó.
E-mail: <mark@unochapeco.edu.br>.
Michele Cristina Minozzo dos Anjos
Mestre em Biociências e Reabilitação pelo Centro Universitário Metodista – IPA. Especialista em Ortopedia e Traumatologia pela Associação Catarinense de Ensino com formação no Conceito Neuroevolutivo Bobath (Abradimene). Atualmente é professora titular dos
cursos de Fisioterapia e Medicina da Universidade Comunitária da
Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <micheleminozzo@unochapeco.edu.br>.
Mirian Carbonera
Doutora em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) e
coordenadora do CEOM/Unochapecó.
E-mail: <mirianc@unochapeco.edu.br>.
Murilo Cavagnoli
Psicólogo, mestre e doutor em Psicologia pela Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Atualmente é professor na Universidade
Comunitária Regional de Chapecó (Unochapecó), onde atua no ensino, pesquisa e extensão. Tem experiência na área de Psicologia, com
ênfase em Psicologia Social, atuando principalmente nos seguintes
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
temas: psicologia social, estética, política e processos de criação, produção de subjetividade, música, arte e intervenção psicológica no
contexto das políticas públicas de assistência social e saúde.
E-mail: <murilocavagnoli@unochapeco.edu.br>.
Natalia Matiazzo
Acadêmica de Letras. Bolsista do projeto de pesquisa Educação Superior e Formação Leitora/Escritora: Índices do Oeste de Santa Catarina.
E-mail: <natalia.m@unochapeco.edu.br>.
Oscar José Rover
Possui graduação em Agronomia (1992), mestrado em Sociologia
Política (1999) e doutorado em Desenvolvimento Rural (2007). Subcoordenador do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e líder do grupo
de pesquisa em Agroecologia e Circuitos de Comercialização de Alimentos. Atua principalmente com os seguintes temas: comercialização de alimentos, desenvolvimento rural, agricultura familiar e
agroecologia.
E-mail: <oscar.rover@gmail.com>.
Paula Zeni
Fisioterapeuta. Especialista em Reabilitação Cardiopulmonar pelo
Centro Universitário de Maringá (UniCesumar); mestre em Saúde
pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali); doutora em Fisiologia
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é
professora na área de Ciências da Saúde da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <paulazeni@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Queila Ramos Giacomini
Mestre em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais (Unochapecó), docente do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó).
E-mail: <queila_arqui@hotmail.com>.
Rosane Natalina Meneghetti Silveira
Possui graduação em Letras – Português/Inglês e respectivas literaturas pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc) (1996);
especialização em Literatura Brasileira, pela Universidade do Oeste
de Santa Catarina (Unoesc) (1998); e mestrado em Literatura, área
de concentração Teoria Literária, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (2005). É professora titular da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó). Tem experiência na
área de Letras, com ênfase em Concepções Teórico-Metodológicas do
Ensino de Línguas e Literaturas, atuando principalmente no ensino-aprendizagem de língua inglesa e tradução.
E-mail: <rosanems@unochapeco.edu.br>.
Scheila Girelli
Graduada em Psicologia pela Universidade Comunitária da Região
de Chapecó (Unochapecó); mestre em Psicologia pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Docente do curso de Psicologia da
Unochapecó.
E-mail: <sheilapsi@unochapeco.edu.br>.
Teresinha Rita Boufleuer
Graduada em Psicologia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos
(Unisinos) (1992); especialista em Saúde Coletiva e Magistério Superior pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) (2006); mestre em Ciências da Saúde pela Unochapecó, com
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
dissertação na área de saúde e ambiente, estudando essa relação em
atingidos por implantação de usinas hidrelétricas sob a perspectiva ecossistêmica de saúde e análise de vulnerabilidades em saúde.
Membro do grupo de pesquisa Ambiente e Saúde da Unochapecó.
Trabalhou com Recursos Humanos e Psicologia Organizacional e do
Trabalho. Como docente na Unochapecó, atua com componentes curriculares de Psicologia na Área da Saúde e Trabalho.
E-mail: <terebou@unochapeco.edu.br>.
Thalia Nicaretta
Acadêmica de graduação em Direito. Foi bolsista do artigo 171, da
Constituição do Estado de Santa Catarina, e integrante do Projeto de
Extensão Comunitária Jurídica (PECJur).
E-mail: <thalia.nicaretta@unocapeco.edu.br>.
Vagner Lopes da Silva
Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) (2006); mestrado em Ciências do Solo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) (2009). Atualmente candidato ao título de
doutor pelo Programa de Doutorado em Agroecologia da Universidad de Antioquia. Tem experiência na área de Agronomia e Geociências, com ênfase em produção ecológica e desenvolvimento agrário.
E-mail: <vagnerlopes@unochapeco.edu.br>.
A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade – ISBN 978-85-7897-302-5
Argos Editora da Unochapecó
www.unochapeco.edu.br/argos
www.facebook.com/EditoraArgos
Título: A extensão e a pesquisa: um caminho de mão dupla entre comunidade e universidade
Organizadoras: Lilian Beatriz Schwinn Rodrigues e Maria Aparecida Lucca Caovilla
Colaboradores: Ademir Miguel Salini, Adriano Dias de Oliveira, Alcimara Benedett,
Aline Bertoncello, Aline Fátima Lazarotto, Ana Cristina Confortin, Ana Maria Pereira Puton,
Andreia Casagrande Begnini, André Luiz Onghero, Andreza Leticia Tessaro,
Carlos Eduardo Arns, Carmelice Faitão Balbinot, Clarete Trzcinski,
Colmar Rodrigues Domingues, Cristiane Tonezer, Felipe Flores Kupske, Félix Yan Boschetti,
Gabriela Borges da Silva, Graciela Alves de Borba Novakowski, Hellen Carolina Barella,
Júnia Laíse Scheunemann Engel, Kaliandra Dara Marta, Karen Cristina Kades Andrigue,
Larissa Henrique, Luana Blasi da Silva, Luis Henrique Rangrab, Márcia de Souza,
Maria Carolina da Silveira Moesch, Maria Tereza Galeazzi Zanella, Mark Andrey Mazaro,
Michele Cristina Minozzo dos Anjos, Mirian Carbonera, Murilo Cavagnoli,
Natalia Matiazzo, Oscar José Rover, Paula Zeni, Queila Ramos Giacomini,
Rosane Natalina Meneghetti Silveira, Scheila Girelli, Teresinha Rita Boufleuer,
Thalia Nicaretta, Vagner Lopes da Silva
Coleção: Perspectivas, n. 15
Coordenadora: Rosane Natalina Meneghetti Silveira
Assistente editorial: Caroline Kirschner
Assistente comercial: Luana Paula Biazus
Editor de textos: Carlos Pace Dori
Divulgação: Julia Aparecida Fortuna
Distribuição e vendas: Luana Paula Biazus e Jiane Zorzi
Projeto gráfico: Caroline Kirschner
Capa: Caroline Kirschner
Diagramação: Caroline Kirschner
Preparação dos originais: Emanuelle Pilger Mittmann
Revisão: Emanuelle Pilger Mittmann e Carlos Pace Dori
Formato: PDF
Publicação: 2018