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GARATUJA ESCOLINHA DE ARTE: UMA EXPERIÊNCIA Laise Mendes Gomes Celestino 1 - Garatuja Escolinha de Arte Célia Rodrigues 2 - Garatuja Escolinha de Arte Ana Emidia Sousa Rocha3 - Garatuja Escolinha de Arte Simpósio de apresentação: Pesquisa em Arte e Educação Contextualizadora: desafios e possibilidades Resumo Este trabalho apresenta as experiências vividas pelos arte/educadores na Garatuja Escolinha de Arte, localizada na cidade de Petrolina-PE, desde seu surgimento, em Agosto de 2017. Um espaço da arte inspirado no Movimento Escolinhas de Arte (MEA), com o intuito de contribuir para o reconhecimento do ensino de Arte na região por meio de aulas de arte de livre expressão, discussões contextualizadas com o cotidiano regional e a teoria e história da arte. Palavras-chave: Arte/educação; arte/educadores; arte; ensino; contextualização. Tipos de ensino Existem três tipos de ensino: o informal, onde aprendemos com a família, com os vizinhos do bairro, pelas ruas; o formal, que fica nas escolas disponibilizados nos níveis Infantil, Fundamentais I e II e Ensino Médio, assim como nos institutos federais de ensino com os cursos técnicos, tecnólogos e superiores e nas universidades públicas com os cursos superiores e especializações; e por fim, o mais interessante para este trabalho, o ensino não formal, que ocorre em praças, museus, galerias, ONGs, entre outros espaços públicos (GOHN, 2006, p. 28). Por quê “escolinha” Augusto Rodrigues, Lúcia Alencastro e Margaret Spencer criaram no ano de 1948 na cidade do Rio de Janeiro/RJ a Escolinha de Arte do Brasil (EAB). E a partir desta criação, surgiu o Movimento Escolinhas de Arte (MEA) em 1952, com o intuito de –por meio da arte– construir o conhecimento com as crianças que participavam das mesmas. Elas eram uma suplementação das escolas regulares e formais e funcionavam para que as crianças desenvolvessem a sua cognição e criatividade por meio de aulas libertadoras, diferentemente das aulas dadas no ensino formal nas escolas comuns. Licenciada em Artes Visuais pela UNIVASF e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional pela UCAM Pró Saber. Arte/educadora na Garatuja Escolinha de Arte, em Petrolina/PE. Educadora das séries iniciais no Vivência Centro Educacional, em Petrolina/PE. Professora no IFBA, em Juazeiro/BA. E-mail: laisedesenhista@gmail.com. 2 Licenciada em Artes Visuais pela UNIVASF e pós-graduada em Arte/Educação pela UCAM Pró Saber. Arte/educadora na Garatuja Escolinha de Arte, em Petrolina/PE e professora de Arte na rede estadual da Bahia. E-mail: rodriguesc90@gmail.com 3. Licenciada em Artes Visuais pela UNIVASF, arte/educadora na Garatuja Escolinha de Arte e professora de Arte na rede estadual da Bahia e de Pernambuco. Membro do Grupo de Pesquisa MITA/CNPq/UNIVASF. E-mail: filhadeishtar@hotmail.com 1 E com o passar dos anos, foram surgindo escolinhas de arte por todo o país. Ainda hoje existe da escolinha de Arte do Recife, que infelizmente corre o risco de fechar por falta de apoio e verba para mantê-la. Quanto ao nome no diminutivo, segundo Rodrigues (apud BRASIL, 1980, p. 39, apud NAKASHATO, 2009, p. 30-31): Quando a Escolinha realmente começou, creio que a tendência era ela se chamar Escolinha Castro Alves, porque estava na Biblioteca Castro Alves. Mas não quis dar nome à Escolinha. Estávamos realmente fazendo uma experiência em aberto, até o momento em que começamos a sentir que precisava de um nome. Aí é que surgem as crianças que começavam a dizer: ‘amanhã eu venho à Escolinha’, e elas só chamavam de Escolinha. Percebi de imediato que elas faziam uma distinção entre a escola institucional e aquele lugar que elas passaram a chamar de Escolinha. Escolinha, no diminutivo, com componente afetivo. Uma era a escola onde ela ia aprender, a outra onde ela ia viver experiência, expandir-se, projetar-se. Então foram elas mesmas que deram o nome. Então, naturalmente as crianças que iam para as aulas acabaram por diferenciar a escola regular – onde elas aprendiam conteúdos padronizados, disciplinados – da escola de arte, um espaço que não havia limites de pensamento, de ideias, de expressão. Esta ideia confundiu muitas pessoas que davam aulas de Artes no ensino formal brasileiro, pois pensavam que a livre expressão era aula de fazer qualquer coisa. Só depois do Movimento Arte/Educação foi que as pessoas começaram a compreender a importância do ensino de Artes nas escolas, assim como a capacitação/profissionalização dos arte/educadores. Sobre a proposta da escolinha A proposta da Garatuja em Petrolina-PE e também atendendo Juazeiro-BA, é a de por meio da livre expressão artística das obras, os alunos demonstrem situações, pensamentos, sentimentos nos seus desenhos, pinturas, cerâmicas e gravuras. Mas antes, os alunos recebem noções das técnicas, teoria e história da arte para compreender como dar início aos trabalhos. Ao mesmo tempo em que ocorrem as aulas, os conteúdos são contextualizados com a cultura, costumes e tradições locais. O público-alvo do espaço são pessoas com idade entre 6 e mais de 60 anos. O grupo de arte/educadores que compõe a escolinha conheceu-se no curso de Artes Visuais e desde o ano de 2014, quando os quatro graduandos estavam prestes a concluírem a graduação, pensavam em realizar trabalhos e projetos voltados para a arte/educação na região. Pois, eles perceberam o quão carente é este ensino nas escolas e em espaços não formais de educação. Duas das arte/educadoras da escolinha, realizaram pesquisa de campo em projetos de extensão e monografia relacionados as aulas de artes em espaços formais e não formais de ensino nas cidades de Petrolina/PE e Juazeiro/BA. Elas constataram que na maioria das escolas públicas das duas cidades nas aulas de artes não existem educadores formados na área e nos espaços não formais de educação também não existem aulas de Artes Visuais – com o intuito de desenvolver a criticidade dos alunos por meio da fruição da arte e criação de obras de arte. Garatuja Escolinha de Arte Foi a partir do ano de 2017, em agosto precisamente, que eles resolveram abrir a escolinha de arte como espaço não formal de ensino, como uma das maneiras de conscientizar a sociedade da região a importância da arte no cotidiano de todos. Inicialmente, entre os meses de setembro e dezembro de 2017, a escolinha teve duas turmas: uma de Cerâmica com alunos entre 35 e 45 anos de idade e uma de Desenho com alunos coma faixa etária de 10 anos de idade. Os arte/educadores antes de iniciarem as aulas nos cursos, realizaram o planejamento dessas aulas e definiram cronogramas e técnicas a serem dadas. Mas no decorrer das aulas, perceberam que os alunos naturalmente decidiam quais técnicas eles gostariam de seguir e assim foi o andamento das aulas: os alunos tinham a liberdade de, depois de conhecer o básico das técnicas tanto de desenho quanto de cerâmica, escolher como iriam desenvolver as suas obras e qual seria sua temática. Colônia de férias artística Em janeiro de 2018, os educadores da escolinha resolveram experimentar 10 dias de colônia de férias com crianças entre 2 e 6 anos de idade, pois muitas pessoas perguntavam e tinham interesse em levar suas crianças para fazer arte na escolinha. Durante esses dez dias, foram realizadas atividades somente durante as manhãs, das 08h às 11h. Eram atividades que mesclavam a pintura mural, os desenhos e pinturas no papel, a literatura por meio da contação de histórias, a música. Em cada dia, os arte/educadores tomaram o cuidado em planejar as atividades diárias de maneira contextualizada com a cultura e costumes locais: as lendas, sobre educação ambiental e preservação do rio São Francisco, os monumentos da cidade, a fruição da arte local. Sempre de maneira lúdica e algumas vezes com o apoio de imagens por meio de projetor e exibição de filmes. Continuidade dos cursos de longa duração A partir do mês de março de 2018, a escolinha retornou às atividades nos cursos de longa duração. Desta vez, com uma turma de pintura aquarela e outra de desenho. Na turma de pintura, as alunas são as mesmas que realizaram o curso de desenho no ano de 2017, mais duas alunas que chegaram posteriormente. A faixa etária delas é de 11 anos de idade. Para que as aulas ficassem mais dinâmicas e mais contextualizadas com o cotidianos dessas alunas, algumas aulas ocorreram ao ar livre pelas ruas de Petrolina-PE. Por enquanto, as aulas ocorreram na orla da cidade e na praça Dom Malan. As alunas realizaram suas pinturas livres de observação. Pessoas vinham observar e perguntar do que se tratava, e as alunas já tinham a consciência de falar que era uma aula de artes ao ar livre. Os arte/educadores aproveitaram quando os curiosos procuravam saber do que se tratava tal movimentação para falar um pouco da escolinha e dos projetos desta. Foco no principal objetivo: ser alfabetizadores visuais Para que os arte/educadores mantenham o foco nos ideais da escolinha eles buscam diariamente trabalhar a questão da mediação. O professor não deve ser o detentor de todo o conhecimento e técnicas adquiridas durante a vida ou sua formação, mas sempre pensar que é aquele que está entre o conhecimento e o educando. “mediar é estar entre, no meio [...] é estando no meio que se pode, mais facilmente, perceber as necessidades dos polos e interceder no sentido de garantir um equilíbrio, uma conciliação” (CHIOVATTO, 2000, s.p.). É preciso a cada dia buscar essa sensibilidade para que a transformação intelectual e o desenvolvimento crítico de cada aluno que passar pela Garatuja torne-se possível e que a cada ano que passe, a sociedade de Petrolina/PE e Juazeiro/BA conscientizem-se da importância de se conhecer a sua cultura, os seus costumes as suas tradições por meio da arte na tentativa de mantê-las vivas. REFERÊNCIAS CHIOVATTO, Milene. Professor mediador. Arte na Escola, São Paulo, v. 24, out/nov 2000. Disponível em: http://artenaescola.org.br/sala-de-leitura/artigos/artigo.php?id=69320. Acesso em 20 de maio de 2018. GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio, Rio de Janeiro, v.14, n.50, p. 27-38, jan./mar. 2006. NAKASHATO, Guilherme. A educação não-formal como campo de estágio: contribuições na formação inicial do arte/educador. 2009. 150f. Dissertação (Mestrado em Artes) Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". São Paulo: 2009. Disponível em: http://www.ia.unesp.br/Home/Pos-graduacao/Stricto-Artes/guilherme_nakashato.pdf. Acesso em 20 de maio de 2018.