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CUADERNOS DE LA ALFAL No 12 (2) noviembre 2020: 100-125 ISSN 2218- 0761 CONSTRUÇÕES DE TÓPICO MARCADO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO MARKED TOPIC CONSTRUCTIONS IN BRAZILIAN PORTUGUESE AROLDO LEAL DE ANDRADE Universidade Federal de Minas Gerais aroldo.andrade@gmail.com O objetivo deste artigo é descrever e apresentar uma análise tentativa para variadas construções de tópico marcado no português brasileiro, assim como situar essa gramática no contexto românico. Após breves considerações sobre a abordagem teórica que orienta o trabalho, são apresentadas quatro construções de fronteamento quanto às suas propriedades sintáticas e discursivas: a topicalização conectada, o deslocamento à direita, a topicalização pendente e o deslocamento à esquerda, e duas construções de tematização, em que objetos lógicos ou constituintes preposicionados se movem para a posição de sujeito. Os últimos tipos se distinguem dos primeiros exatamente pelo alvo do movimento, ou pela posição em que é gerado o tópico. Em seguida, apresento alguns processos de mudança diacrônica no domínio das construções de tópicos marcados que prepararam o caminho para diferenças importantes entre português brasileiro e português europeu moderno. Finalmente, ofereço algumas reflexões tipológicas sobre a natureza do português brasileiro quanto à sintaxe de constituintes tópicos. Nas conclusões indico a relevância das construções de tópico marcado para a compreensão da gramática do português brasileiro e proponho alguns caminhos para pesquisa futura. Palavras-chave: português brasileiro, tópicos marcados, línguas românicas, mudança linguística The goal of this paper is to describe and present a tentative analysis for various markedtopic constructions in Brazilian Portuguese, as well as to situate this grammar in the Romance context. After brief considerations on the theoretical approach guiding this work, four fronting constructions are presented regarding their syntactic and discursive properties: topicalization, right dislocation, hanging topicalization and left dislocation, and two thematizing constructions moving logical objects or prepositioned constituents to the subject position. The latter types are distinguished from the former ones exactly in terms of the target of the movement, or the position in which the topic is generated. I then present some processes of diachronic change in the domain of marked topic constructions that paved the way for important distinctions between Brazilian Portuguese and Modern European Portuguese. Finally, I offer some typological reflections on the nature of the Brazilian Portuguese grammar regarding the syntax of topical constituents. In the 101 conclusions I indicate the relevance of marked-topic constructions for the comprehension of Brazilian Portuguese grammar and propose some ways for future research. Keywords: Brazilian Portuguese, marked topics, Romance languages, linguistic change Recibido: 11 agosto 2020 Aceptado: 15 octubre 2020 1. INTRODUÇÃO1 objetivo do presente texto é fazer um apanhado sobre as construções de tópico marcado constituintes tópicos em posições deslocadas e não deslocadas. Segundo Féry e Krifka (2008: 126), um constituinte ‘tópico’ identifica a entidade ou conjunto de entidades que se relacionam com informações respectivas no constituinte ‘comentário’, informações essas que devem ser guardadas no conteúdo do conhecimento compartilhado (common ground). Consideram-se como construções de tópico marcado aquelas em que há um constituinte numa posição com destaque da frase, de forma a promover um referente de acessível a ativo na memória de curto prazo (Lambrecht 1994: 183). A noção de tópico é, portanto, muito mais ampla do que a de tópico marcado, o que auxilia na distinção entre uma visão meramente pragmática e outra sintática do fenômeno. Considerando que tópicos marcados precisam ser expressos, não incluo neste texto discussões sobre temas gramaticais relacionados a uma posição de tópico, porém com expressão nula. Apesar de as construções de tópico do PB já serem bem descritas, falta uma discussão sobre o tema em que se apresentem propriedades formais e contextuais de tais construções, a partir de dados reais de fala. Pretendo aqui apresentar propostas para a derivação das construções sob estudo a partir de uma abordagem que separa sua derivação sintática de seu valor pragmático. Apesar disso, incluem-se informações sobre o valor contextual das variadas construções, considerando que eles são cruciais para uma descrição mais completa. Finalmente, pretendo demonstrar em que aspectos a variedade brasileira apresenta novidades no que diz respeito à posição de tópico, a partir de comparações com gramáticas próximas no plano diacrônico e sincrônico. Devido a questões de espaço, não será possível desenvolver a contento todas as implicações de cada análise, muito menos de discutir vantagens e desvantagens, compatibilidades ou incompatibilidades face a análises alternativas, muito menos de descrever todas as possibilidades analíticas propostas já feitas na literatura sobre o PB. Dessa forma, convido o(a) leitor(a) a encarar este texto como um quadro descritivo com análises tentativas, mas minimamente consistentes com os fatos empíricos. O texto se organiza da seguinte forma. Na seção 2 considero algumas balizas teóricometodológicas de tal forma a propor uma classificação para as construções em estudo. Na seção 3 apresento um apanhado descritivo e uma análise tentativa para cada uma das construções sob escopo do trabalho. Na seção 4 situo as idiossincrasias do PB no campo dos tópicos marcados a partir de uma abordagem comparativa com outras línguas românicas e com o português clássico, tido como a gramática de referência para a formação da variedade brasileira. Finalmente, a seção 5 reúne algumas conclusões para o texto. O no português brasileiro (PB), incluindo tanto 1 Agradeço ao CNPq pelo auxílio financeiro (projeto nr. 437100/2018-9), aos editores deste volume pelo convite, e a dois pareceristas anônimos por importantes contribuições para melhoria de uma versão anterior. Eventuais erros e inconsistências são de minha responsabilidade. 102 2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS2 Neste artigo utilizo exemplos de entrevistas do programa Roda Viva, doravante referido como RV (FPA et al. 2008), por apresentarem amostras de fala mais recentes e evitarem discussões ligadas à aceitabilidade de exemplos. O gênero textual entrevista se presta bem ao estudo de construções informacionalmente marcadas, pois apresenta debates e polêmicas, além de troca constante de assuntos, aproximando-se bastante de uma conversa com algum nível de formalidade. Por essa razão, a maioria dos dados reflete o PB falado culto. Nas subseções abaixo, teço alguns detalhes sobre os critérios de classificação das construções de tópico marcado abordadas e sobre a teoria de base adotada para as análises. 2.1. Construções abordadas e sua classificação Diferenciarei duas operações sintáticas como integrantes do conceito de tópico marcado: fronteamentos, i.e. construções que envolvem o movimento de um constituinte qualquer (inclusive o sujeito) para uma posição na periferia esquerda da sentença; e tematizações, que envolvem o movimento para a posição de sujeito. A diferença nem sempre é evidente, porém testes de concordância podem auxiliar na sua identificação. Seguindo a proposta de classificação de estruturas de tópico em Andrade (2015), adoto quatro critérios para distinguir as construções de tópico marcado: a conectividade, a resumitividade, a posição do tópico e a posição do verbo. A conectividade aqui considerada é a sintática, isto é, se resume a identificar uma lacuna na frase à qual o tópico se relaciona3. As construções que envolvem uma lacuna são a topicalização conectada e o deslocamento à direita. Por outro lado, a topicalização pendente e o deslocamento à esquerda (de tópico pendente). Essas construções são classificadas em detalhe quanto à resumitividade e a posição do tópico na sentença4. O critério de posição do verbo diz respeito ao movimento desse elemento para a periferia esquerda, variação que só se expressa em outras variedades (sincrônicas e diacrônicas) do português, e pode ser também denominada de avanço ao primeiro plano (foregrounding). Considerarei a pequena frequência de algumas construções como indício de seu pertencimento à ‘periferia’ da gramática do PB (no sentido de Chomsky 1981), razão pela qual não considero o deslocamento à esquerda clítica como fenômeno típico do PB falado culto. As tematizações são usualmente subclassificadas de acordo com o tipo de constituinte movido: objetos lógicos ou constituintes preposicionados na base. Estes últimos entram na construção usualmente denominada de tópico-sujeito na literatura sobre o PB, termo que prefiro evitar por certa vagueza teórica já que, normalmente, sujeitos são tópicos. Considerando que sujeitos lógicos têm posição bastante fixa no PB, à esquerda do verbo, a variação na posição de 2 3 4 A seguinte lista de abreviações é utilizada nos exemplos sem esquemas parentéticos: AFT = afterthought; ENQ = Enquadre; FOC = Foco; SUJ = Sujeito; TOP = Tópico; TOP:C = Tópico Contrastivo; TOP:T = Tópico Tematizador. Esclarecimentos sobre essas categorias são apresentados na sequência do texto. Como detalhado em Vat (1981) e Duarte (1987), a conectividade apresenta várias dimensões, entre elas a sintática, a casual, a semântica e a referencial. Interpreto que a conectividade casual é um tipo de conectividade sintática mais restrito; o mesmo se pode dizer da conectividade referencial face à semântica. Todos os tipos de construções de tópico marcado têm pelo menos a conectividade semântica, e variam quanto aos demais tipos. Seguem dois detalhes de caráter terminológico. As construções de deslocamento têm por característica a presença de elemento resumptivo, fator que as diferencia das construções de topicalização; se bem que o elemento de retomada não seja necessariamente expresso, o que é um epifenômeno da existência de argumentos nulos. O termo “deslocamento” pode ser tido como anacrônico, se não houver movimento do constituinte tópico para a periferia esquerda. 103 elementos que podem ser tematizados sugere que, quando ocorrem à esquerda do verbo, configuram-se como um tipo de tópico marcado via movimento. O valor pragmático dos constituintes tópicos é um tema muito pouco explorado na literatura sobre o PB, razão pela qual me limito a recuperar classificações apresentadas na literatura. Uma tentativa de classificação, feita no âmbito do projeto cartográfico, consiste no trabalho de Frascarelli e Hinterhölzl (2007), em que se propõe a diferenciação entre tópicos tematizadores (shifting topics), tópicos contrastivos (contrastive topics) e tópicos familiares (familiar topics). Essa distinção se relaciona em parte àquela entre tipos de POSETs, i.e. conjuntos parcialmente ordenados (Partially Ordered Sets). O POSET identifica o tipo de relação estabelecida entre o tópico em análise e uma âncora no discurso anterior ou no contexto de fala, sendo que o tópico funciona como a ligação entre esse conteúdo e a sentença sob análise (Birner e Ward 1998): 1. Nunca fui fazer um filme dizendo assim: “Como é que esse filme vai entrar [na minha obra Âncora]?”. Eu acho que [obra Ligação=TOP] a gente só tem quando morre. (Cacá Diegues 24/02/2003, RV) O exemplo demonstra que o tópico tematiza o POSET {obra} no sentido de “carreira” e indica uma relação entre uma entidade e seu atributo, porém há outros tipos, como ‘identidade’, ‘todo/parte’ ou ‘tipo/subtipo’. Tópicos familiares apresentam necessariamente um POSET de identidade, enquanto tópicos tematizadores podem apresentar qualquer um dos tipos de POSET referidos. Neste trabalho utilizarei o termo tópico familiar para referir a um tópico que mantém a referência um elemento já proeminente no discurso anterior. Apesar de usualmente serem muito parecidos com tópicos pendentes, não me pronunciarei sobre a posição ocupada por elementos que codificam enquadre (frame-setting), uma categoria informacional distinta do tópico para Féry e Krifka (2008), entre outros: 2. [Naquele tempo ENQ], o Brasil não tinha nem a bossa nova do João Gilberto, nem a batidinha de samba. Era o samba-canção, que é o grande precursor da bossa nova. O Dick Farney cantava: “Ser ou não ser, há de ser sempre, sempre...”. (Carlos Lyra, 31/3/2008, RV) Um fato crucial sobre o enquadre é sua função de ancoragem espaço-temporal do evento expresso na sentença, como se pode prever; porém sua posição de destaque permite que essa ancoragem se estenda para várias sentenças em sequência, o que permite o uso de um verbo no aspecto imperfectivo (cantava), a fim de indicar uma eventualidade que se estende para todo o âmbito temporal expresso nesse bloco. Por essa característica altamente ligada ao discurso, abordagens cartográficas como Benincà e Poletto (2004) costumam situar elementos de enquadre numa posição muito alta da estrutura sintática. 2.2. Abordagem teórica de base Além do trabalho descritivo em termos sintáticos e contextuais, apresentarei uma análise simplificada para as variadas construções mencionadas. Para tal fim, adoto o Minimalismo Sintático (Chomsky 2008), que inclui a noção de fase sintática como mecanismo que organiza a computação, tal que seja mais rápida e eficiente. Além disso, as fases podem restringir os elementos que se movem até posições mais altas da estrutura sintática. Considero, no entanto, que a noção de fase deva considerar uma condição de extensão, que prevê que o movimento de núcleo (do verbo) é capaz de estender a fase vP para IP e mesmo CP 104 (Gallego 2010). Considero que essa propriedade é crucial para permitir a construção de topicalização: 3. a. b. [CP C [IP I [vP v [VP V ] ] ] ] -- fase original -- [CP C [IP V+v+I [vP – [VP – ] ] ] ] ----- fase estendida ----- Esse pressuposto analítico tem especial relevância no âmbito deste texto, pois se assume que algumas construções de tópico marcado envolvem movimento para uma posição de adjunção a IP em vez do movimento para Spec,CP5. A vantagem nessa proposta se baseia em evidências empíricas relacionadas à comparação entre português e outras línguas românicas, detalhadas na seção 4.2. Apresento os seguintes dados sobre essa possibilidade analítica: 4. a. Imagine [que (aquele rapaz) eu vi ontem, depois de muito tempo]. b. Eu duvido [que (*esse rapaz) você veja]. Ao se considerar que topicalização pode ocorrer por adjunção a IP, conforme pensado para o inglês em Lasnik e Saito (1992), não suponho que todos os tópicos marcados se movem para uma projeção TopP na periferia esquerda, que se situaria acima da posição para o complementador em Fin. O dado em (4a) é automaticamente captado nessa abordagem, enquanto (4b) pode ser bloqueado por restrições pragmáticas ligadas ao modo irrealis6. Enfatizo, no entanto, que essa proposta não se pretende verdadeira para a generalidade das línguas e construções. Seguindo propostas como as Chomsky (1977) e Cinque (1990), considero que as construções de deslocamento à esquerda envolvem geração na base do tópico na periferia esquerda, na posição de TopP. Quanto ao detalhamento da periferia esquerda, sigo uma variação da proposta cartográfica de Rizzi (1997) sem a projeção de tópico baixo: ForceP > TopP > FocP > FinP. Apesar de não subscrever à totalidade dos pressupostos teóricos da abordagem cartográfica, não desconsidero a possibilidade de que uma proposta alternativa nessa linha dê conta de vários dos dados apresentados. 3. CONSTRUÇÕES DE TÓPICO MARCADO NO PORTUGUÊS BRASILEIRO 3.1. Construções de fronteamento As subseções abaixo apresentam construções de tópicos marcados em que esses elementos se diferenciam claramente de sujeitos. 5 6 Um parecerista anônimo sugere que a abordagem cartográfica é superior, tendo em vista que permite mapear mais claramente a distinção entre tópico e comentário. Considerando os dados empíricos, nota-se que o constituinte ter um traço de tópico não é suficiente para que ocorra seu movimento, sendo esse somente um requisito necessário para tal. Portanto, o pareamento proposto não se coaduna com a generalidade dos dados, e pode-se considerar que a distinção entre tópico e comentário se dá num módulo pós-sintático (cf. Erteschik-Shir 1997), incluindo, inclusive, elementos que não sofrem movimento na sintaxe. A topicalização conectada, em outros contextos não referenciais, como sentenças com elementos interrogativos, pode ser bloqueada por razões semelhantes, que não poderei detalhar aqui. Para uma discussão a respeito do uso limitado da topicalização em contextos independentes, cf. Bianchi e Frascarelli (2010). 105 3.1.1. A topicalização conectada A topicalização envolve o fronteamento de um constituinte para a esquerda da sentença, deixando uma lacuna. O elemento movido é normalmente definido: 5. Contexto: (Mara: — Você costuma citar um experimento que foi feito com crianças [...] que indica que as crianças mais tolerantes, que esperam mais, tendem a se sair melhor, ter mais sucesso [...]) Eduardo: — Pois é Mara, [esse experimento TOP]i, eu acho _i muito interessante. (Eduardo Gianetti, 28/11/2005, CRV) Na proposta aqui apresentada, a topicalização segue a derivação abaixo (considerando somente o passo relevante para a topicalização)7: 6. a. [IP Eu acho [VP [SC [DP esse experimento] [AP muito interessante]]] b. Fronteamento do DP: [IP Esse experimento [IP eu acho [VP [DP – ] [AP muito interessante]]]] Como há movimento de V-para-I, a fase se estende, o que possibilita o movimento do constituinte esse experimento para a borda da fase estendida IP. Em sentenças em que a lacuna se origina numa oração subordinada, o mecanismo é o mesmo, com a diferença de haver movimento cíclico-sucessivo pelas bordas de fase, como se mostra nos pontos relevantes de uma derivação de uma sentença semelhante àquela em (6): 7. a. [IP [DP esse experimento] é muito interessante] b. Fronteamento do DP para Spec,CP: [CP esse experimento que [IP – é muito interessante]] c. Fronteamento do DP para Spec,IP: [IP Esse experimento [IP eu acho [CP – que [IP – é muito interessante]]] Essa ideia pressupõe que alguns exemplos usualmente considerados como casos de topicalização conectada devem ser reanalisados de outra forma. Note-se que a abordagem aqui proposta supõe que haja adjacência entre tópico e sujeito. Alerto o leitor para o fato de esta não ser a proposta mais aceita atualmente para a topicalização conectada, que considera o movimento para uma projeção da periferia esquerda da sentença, como Spec,TopP, cf. (Kato e Raposo 2007), (Guesser e Mioto 2016), entre outros. No que diz respeito à sua função informacional, a topicalização conectada é utilizada para marcar uma mudança de tópico discursivo (topic shift). Em alguns casos, o tópico pode também assumir um valor contrastivo. Essa questão será trabalhada na seção 3.2. No PB há uma preferên-cia pela topicalização de constituintes oblíquos ou acusativos, com pequena participação de complementos nominais e sujeitos (Orsini 2012: 189). A menor quantidade de 7 No detalhamento dessa proposta encontrado na seção 4.2, sugiro que o sujeito canônico ocupa posição relativamente externa no PB (assim como no português europeu). Nesse sentido, as representações em (6) e (7) estão simplificadas. 106 sujeitos fronteados é, certamente, resultante da falta de marcas que diferenciem tópicos de sujeitos em orações matrizes. Um subcaso de topicalização conectada é aquele que envolve um DP relacionado a uma lacuna dentro de um QP (Sintagma Quantificado): 8. [Restaurante popular TOP]i, não fechamos nenhum _i. (Benedita da Silva, 18/11/2002, RV) A derivação nesse caso envolve o movimento do DP por Spec,QP (igualmente poderia ser um PP como em Dos restaurante populares da cidade, nenhum foi fechado). Sigo aqui em linhas gerais o proposto em Lacerda (2016), que discute dados semelhantes com quantificadores flutuantes. Segundo Orsini (2012), algumas construções de topicalização conectada envolvem o apagamento da preposição esperada8, fenômeno tido como típico do PB falado coloquial. Os exemplos abaixo demonstram casos com preposições com ou sem conteúdo semântico (a fonte dos dados é o Projeto NURC, RJ): 9. a. [Paris TOP], eu não pago hotel _i. (Berlinck et al. 2015: 125) b. [As freiras TOP], a gente morria de rir _i. (Orsini 2012: 196) Apesar de a autora considerar que a queda a preposição seria um caso especial da topicalização conectada, uma análise alternativa para esses exemplos consiste em vê-los como casos de deslocamento à esquerda com resumptivo nulo (uma topicalização espúria), como discuto na seção 3.1.4. 3.1.2. O deslocamento à direita O deslocamento à direita é comumente denominado de ‘antitópico’, a partir do trabalho de Lambrecht (1994), termo que evito por sugerir que o elemento expressaria uma categoria informacionalmente distinta da de tópico. Na verdade, ela só expressa que o tópico está em posição “oposta” ao comum para tópicos, i.e. no fim da sentença, sendo que os dois constituintes estão conectados sintaticamente. O termo ‘deslocamento à direita’, por outro lado, deixa claro que há um pronome (expresso ou nulo) na posição à qual o tópico está conectado9: 10. Contexto: (E este não foi o caso do PT, que, segundo eles, jamais fez um mea-culpa e nunca tentou se alinhar às forças políticas democráticas.) Embora seja exagerado, eci faz muito sentido [esse raciocínio TOP]i. (Coluna de Ascânio Seleme, O Globo, 18/7/2020) 8 9 Em trabalhos sobre o português europeu, esse fenômeno era denominado de ‘topicalização selvagem’, termo que entrou em desuso no Brasil, já que sugere uma operação excepcional se bem que seja muito comum na língua. Outro termo utilizado na literatura é afterthought, que apresenta difícil tradução ao português e se refere mais precisamente a uma unidade sintática fragmentária e não conectada ao resto da sentença, como se observa no seguinte exemplo (Benedita da Silva, 18/11/2002, RV): (i) Contexto: (O sistema de cotas foi um debate muito acirrado, realmente tivemos aí a iniciativa do projeto,) mas [o debate TOP=SUJ] foi extremamente acirrado no estado do Rio de Janeiro, [a compreensão AFT]. 107 Berlinck et al. postulam que o tópico nesse tipo de construção apresenta “uma relação de predicação secundária sobre o sujeito pronominal” (Berlinck et al. 2015: 129). A ideia de predicação secundária sugere que há um tipo de aposição. Por outro lado, a necessária ligação ao sujeito parece ser mais uma restrição informacional que sintática, já que diz respeito à identificação do constituinte que funciona como tópico, sendo que este é normalmente um sujeito. Neste trabalho, sugiro tratar essa construção a partir de uma adaptação da análise de Ott e de Vries (2016), que envolve a justaposição de duas orações independentes com elipse. Em suma, supõe-se que há duas orações/derivações independentes, sendo que numa ocorre adjunção a IP, à maneira de uma topicalização conectada vácua, uma vez que ocorre a partir da posição de sujeito, seguida de elipse do IP na segunda oração: 11. a. [IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse raciocínio] faz [VP [DP muito sentido]]]. b. Fronteamento para adjunção a IP na segunda oração: [IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse raciocínio] [IP [DP –] faz [VP [DP muito sentido]]]]. c. Elipse sentencial do IP: [IP ec faz [VP [DP muito sentido]]]. [IP [DP esse raciocínio] [IP [DP –] faz [VP [DP muito sentido]]]]. Caso o sujeito fosse preenchido na primeira oração, o resultado seria um deslocamento à direita com pronome “resumptivo” expresso (Ele faz muito sentido, esse raciocínio). Essa abordagem apresenta evidência indireta de sua adequação aos dados, como demonstra o trabalho de Cavalcante (2018) para a negação aparentemente tripla no PB10. Outras abordagens para o deslocamento à direita estão disponíveis, como o movimento para o especificador externo de vP (López 2009) ou a abordagem com movimento do IP remanescente para a periferia esquerda da sentença (Frascarelli 2000), no entanto a primeira encontra dificuldades empíricas, e a segunda, de ordem teórica. A função informacional da topicalização à direita é de manutenção do tópico. Nesse sentido, o constituinte tem valor familiar, ligando-se por um POSET de tipo ‘identidade’ à âncora. É comum que essa construção ocorra quando há outros referentes que possam causar ambiguidade na leitura da frase, ou quando se quer esclarecer a referência a um referente proposicional, como se viu no exemplo (10). 3.1.3. A topicalização pendente A topicalização pendente é uma construção que se caracteriza por não apresentar conectividade sintática com a sentença à qual se relaciona. Sua relação com a sentença apresenta, 10 Cavalcante (2018: 74) cita os seguintes dados do Corpus ALiB como evidências indiretas para postular o deslocamento à direita (a eles acrescentei a posição correspondente aos objetos nulos): (i) a. Num tô sabendo eci não [responder essa TOP]i não. b.Tô lembrado eci não [disso aí TOP]i não. Em resumo, o autor sugere que postular que há um deslocamento à direita nesses dados permite evitar uma maior complexidade quanto à gramática da negação, mantendo as categorias de negação simples ou dupla. O fato de o deslocamento à direita normalmente estar conectado a um objeto nulo torna difícil a identificação dessa construção. 108 contudo, uma conectividade semântica. Uma característica muitas vezes associada como típica dessa construção é a possibilidade de inclusão de uma expressão introdutora, normalmente uma preposição ou locução preposicional (12). Quando o tópico não apresenta elemento introdutor, costuma ser um item com leitura genérica, como uma relativa livre (13): 12. Contexto: (71% dos turistas são homens, 29% são mulheres.) [Quanto à idade TOP], 45% têm 25 a 39 anos, 38% estão na faixa de 40 a 59 anos. (Caio Luiz de Carvalho, 19/3/2001, RV) 13. Contexto: (A alegação da Receita Federal, e que eu acho que deve ser procedente [...] (o bom contribuinte) recolhe a CPMF, no final do ano, [...] a pessoa física abate do Imposto de Renda.) [Quem é sonegador TOP] fica mantido o recurso (...) para o governo. (Jorge Bornhausen, 19/5/2003, RV) Por sua falta de conectividade sintática, a discussão que a topicalização pendente normalmente suscita diz respeito à caracterização do constituinte tópico não integrado enquanto parte da sentença ou como um fragmento órfão, que se relaciona à sentença por mecanismos textuais e não sintáticos, como propõe Shaer (2009). Aqui considero que a geração na base em Spec,TopP, juntamente com a falta de um elemento resumptivo, são capazes de codificar a não integração desse constituinte na sentença: 14. a. [IP ec fica [VP [SC [AP mantido] [DP o recurso para o governo]]] b. Concatenação do tópico: [TopP [Quem é sonegador], [IP ec fica [VP [SC [AP mantido] [DP o recurso para o governo]]]] Note-se, no entanto, que o PB é bastante limitado em termos de marcadores de conectividade, sendo a falta da preposição em elementos adjuntos ou oblíquos praticamente a única evidência direta de que se está diante de um tópico pendente, deixando de lado os casos em que há um introdutor. No que diz respeito à pragmática da construção, seus traços gerais haviam sido observados em Duarte (1987), que o considera como elemento de ligação entre tópicos discursivos de sequências independentes. Macedo-Costa e Andrade (2015) confirmaram essa declaração e, além disso, observaram um maior uso da topicalização pendente em textos de registro formal. Esses autores também demonstraram que o uso de introdutores junto ao tópico, do tipo quanto a, com respeito a, entre outros, parece responder a requisitos de organização textual, o que é não é o caso para exemplos como em (13), em que o que está em causa é uma relação entre o tópico e o contexto imediato. 3.1.4. O deslocamento à esquerda O deslocamento à esquerda no PB corresponde basicamente ao fenômeno do ‘deslocamento à esquerda de tópico pendente’, já que os casos com resumptivos clíticos são tidos como traços periféricos na gramática do PB falado culto. Essa construção é bastante semelhante à topicalização pendente, mas além da conectividade semântica, também se verifica a integração referencial 109 com o tópico, por meio de um pronome ou mesmo um DP epíteto ou repetido. O tópico geralmente é um DP definido, como em (15). Por outro lado, em (16) nota-se que a presença de elemento introdutor do tópico também é possível nessa construção: 15. Contexto: (É uma questão de tempo [a população não avaliar bem o governo].) [ A população do estado do Rio de Janeiro analisar um pouco o nosso governo. TOP]i, eu penso que elai já começa agora a (Benedita da Silva, 18/11/2002, RV) 16. Contexto: (História também é objeto de negociação, há versões e versões.) [Quanto à idéia de transação TOP]i, essai é antiga, é do século XIX pelo menos (...) (Carlos Guilherme Mota, 7/8/2000, RV) No entanto, gostaria de sugerir que o PB, assim como outras variedades de português, pode apresentar casos de deslocamento à esquerda sem resumptivo, fato que denominei anteriormente de ‘topicalização espúria’. Na verdade, esses casos correspondem a aparentes divergências entre o inglês e PB citadas em Guesser e Mioto (2016: 95-96), quanto aos casos em que há um tópico que precede uma palavra qu- ou foco. Seleciono somente um dos exemplos dos autores, em que há uma sequência tópico – palavra interrogativa: 17. a. *This book, to which students would you recommend? b. Esse livro de História Antiga, quando você comprou? Os autores sugerem que esse tipo de dado é problemático para a análise unificada em Rizzi (1997) para a topicalização em inglês e português. Eles observam que a topicalização em português se assemelha bastante a casos de deslocamento à esquerda clítica em outras línguas românicas. Gostaria de hipotetizar que, na verdade, não são só semelhantes, mas correspondem, de fato, a casos de deslocamento à esquerda com um objeto nulo na posição de resumptivo. Para tanto, notem-se os seguintes exemplos: 18. a. b. Esse livro de História Antiga, quem gosta? Desse livro de História Antiga, quem gosta? Considerando que é uma exigência da topicalização conectada a presença da preposição no constituinte tópico, somente o caso em (18b) seria um exemplo de topicalização. A sentença em (18a), aceita por vários falantes, seria então classificada como um caso de deslocamento à esquerda sem resumptivo, paralelo a Esse livro de História Antiga, quem gosta dele?, em que a falta de conectividade sintática é uma expressão da ocorrência de um objeto nulo, com o apagamento da preposição regida pelo verbo 11. 11 Algum leitor poderá questionar essa proposta, em vista de os testes de sensibilidade a ilhas e de efeitos de reconstrução em Guesser e Mioto (2016) terem sido feitos sobre dados de topicalização tradicionais. Porém o dado abaixo mostra insensibilidade a ilha, o que está em consonância com a insensibilidade a tais contextos por objetos nulos no PB, notada em Cyrino e Matos (2016): (i) ?Esse livro de História Antigai, quem gostaria de escrever algo [depois que ler _ i?] 110 Proponho que não há diferenças significativas entre a derivação da topicalização pendente e do deslocamento à esquerda. A principal diz respeito à existência de um elemento correferente ao tópico na sentença, como um pronome ou um objeto nulo: 19. a. [IP essa é [VP [SC [DP –] [AP antiga]]] b. Concatenação do tópico: [TopP [Quanto à ideia de transação]i [IP essai é [VP [SC [DP –] [AP antiga]]] Esse exemplo manifesta o tipo mais comum de deslocamento à esquerda, o que envolve o sujeito. Orsini (2012) contou 21 dados dessa construção em dados do século XX, sendo que 18 correspondem à função gramatical de sujeito. Essa distribuição fez com que alguns pesquisadores sugerissem o termo “duplo sujeito”, que não parece ser o mais adequado porque pode sugerir que (i) sua ocorrência seja obrigatória em alguns contextos ou (ii) que haja de fato dois sujeitos, i.e. que o tópico esteja na posição de sujeito e o pronome resumptivo seja um clítico-sujeito. A possibilidade de ocorrer um introdutor demonstra que o constituinte tópico de fato ocupa uma posição marcada. Duarte (1987) tem um posicionamento unificado a respeito do valor pragmático do deslocamento à esquerda de tópico pendente, quando comparado à topicalização pendente. Para ela, a construção pode ocorrer em resposta a uma pergunta sobre o constituinte em posição de tópico ou para chamar a atenção para um assunto relacionado com o tópico discursivo anterior. Macedo-Costa e Andrade (2015), a partir de estudo de corpus sobre dados do PB, notaram que o deslocamento à esquerda serve a esses dois objetivos, e que devido à associação “frouxa” com o contexto, pode, além disso, inserir referentes “novos” no discurso. 3.2. A topicalização de projeções verbais Até aqui tratei de diferentes tipos de construções em que o constituinte tópico corresponde a um DP. Nesta seção, referencio alguns tipos de topicalizações de projeções verbais, isto é, as que incluem uma repetição do verbo na periferia esquerda, acompanhado ou não de seu(s) complemento(s): 20. Contexto: ([...] agora estou aguardando pra ver se ele se dá com a Aveia) [gostar TOP] ele gostou, porque quando acaba ele até reclama12 Bastos-Gee (2009: 172) classifica a topicalização de projeções verbais em três tipos. Enquanto o tipo 1 envolveria somente o movimento do núcleo verbal, os tipos 2 e 3 se distinguiriam em termos da semântica do constituinte tópico, que seria específico no tipo 2, porém genérico no tipo 3, e/ou da presença de resumptivo: possível no tipo 3, mas não no tipo 2 (os exemplos têm adaptações nos trechos entre parênteses, a fim de torná-las mais naturais): 12 Uma consequência dessa proposta é que esse tipo de exemplo deveria ser sensível a ilhas no português europeu, se a descrição para o objeto nulo considerada para essa variedade estiver correta. Infelizmente, não pude verificar essa previsão. Extraído de: https://brasil.babycenter.com/thread/738259/alguem-da-leite-ninho-pro-bb?startIndex=10, com adaptações ortográficas. 111 21. a. [Tocar TOP], ela tocou o saxofone (mas o violino não). (Tipo 1) b. [Comer o bolo TOP], ele comeu (mas lavar os pratos que é bom, nada...). (Tipo 2) c. (Tipo 3) [Jogar tênis TOP], ele joga no fim de semana. Gostaria de sugerir, no entanto, uma tipologia reduzida para duas construções. Primeiro, há ambiguidade entre os tipos 1 e 2, como se vê no exemplo (20), em que se apresenta o contexto da interação. Apesar de só o núcleo verbal aparecer topicalizado, pode-se analisar que há um objeto nulo (‘de aveia’) junto ao tópico. Por outro lado, alguns casos do tipo 1, como no exemplo (21a), parecem apresentar maior proximidade com o tipo 3, pois há mais propriamente uma troca de assunto em tela do que um contraste envolvido na topicalização, considerando a frase que dá sequência ao exemplo em (21a). Os dois grandes tipos corresponderiam a uma topicalização conectada (tipo 2 acima) e a uma topicalização pendente (tipos 1 e 3). Esse último caso em nada difere da análise apresentada mais acima para a topicalização pendente. Quanto ao exemplo anterior, a análise envolveria movimento. Considero a frase de base Gostar da aveia ela gostou, adaptando a frase em (20) com objeto expresso, e uso versalete para indicar uma cópia não visível para a sintaxe: 22. a. [IP ele GOSTOU [VP gostar [PP da aveia]]] b. Fronteamento do VP: [IP [VP gostar [PP da aveia]] [IP ele GOSTOU [VP – ]]]] Uma vez que a cópia do verbo que se move junto com o objeto é aquela presente no sintagma verbal, o verbo gostar, nesse caso, ainda não possui as marcas flexionais. Nessa análise, a ocorrência da cópia do verbo no infinitivo segue da expectativa de que a raiz se apresente com essa flexão básica, e porque a cópia do verbo movido para I não está visível para a sintaxe, por ter sofrido fusão na morfologia com esse núcleo. Por essa razão, seguindo Corver e Nunes (2007), ela não pode ser apagada. Compreendo que a topicalização de projeção verbal tem valor necessariamente contrastivo. O valor de tópico contrastivo pode ser observado em (20), pois a situação em saliência é dar-se com, à qual se contrapõe gostar. Para Lee (2003), tópicos contrastivos respondem a uma questão conjuntiva, e não disjuntiva, como se dá com focos contrastivos. Em outras palavras, a resposta oferecida satisfaz só em parte a pergunta contextual, e a repetição do verbo permite também diferenciar a expressão do Foco e do Tópico: 23. A:—O bebê se deu com a aveia? B:—[Gostar da aveia TOP:C] ele [gostou FOC] (quanto ao organismo dele aceitar, já não sei). Rosa da Silva (2019) apresenta uma reflexão baseada em dados do PB que confirma um fato importante sobre tópicos contrastivos, isto é, que seu movimento para a periferia esquerda da sentença não é determinada pelo valor [+CONTRASTE]: este é, na verdade, só um prérequisito; a construção de tópico marcado indica que o falante faz uso de uma estratégia para responder parcialmente a uma pergunta mais ampla do que a dada no diálogo. O outro tipo de topicalização de projeção verbal, que também envolve contraste, se aproxima mais do conceito “clássico” de tópico contrastivo, isto é, em que o contexto fornece pares de respostas com tópicos e focos: 112 24. A: — O Pedro pratica todos esses esportes mesmo? B: — [Jogar tênis amigos). TOP:T], ele joga nos fins de semana (jogar futebol, só quando vêm os Note-se que uma leitura de lista se manifesta. No exemplo acima, a repetição do verbo não é de todo necessária, fato que responde a necessidades de expressividade do falante. Alternativamente, seria possível dizer Tênis, ele joga nos fins de semana. 3.3. Construções de tematização As subseções abaixo exploram dois tipos de tematizações, isto é, construções em que há promoção de argumentos para a posição de sujeito, sendo que há isomorfia entre tópico e sujeito. 3.3.1. Tematização de objetos lógicos O PB apresenta uma ordem de palavras bastante rígida SV(O), porém construções existenciais, inacusativas e passivas apresentam mobilidade quanto à presença do sujeito em posição pré ou pós-verbal. Por essa razão, esse fenômeno é aqui denominado de tematização de objetos lógicos. O fenômeno que perpassa todos esses contextos é a definitude. Constituintes indefinidos tendem a permanecer em posição pós-verbal, e chegam a ter posição necessariamente pós-verbal em algumas línguas e contextos, o que se denomina de Efeito de Definitude13. Essa variação é comumente compreendida como reflexo da estrutura informacional14. A partir de um estudo sobre dados de peças teatrais brasileiras, Santos (2008: 28) reporta que a posição pré-verbal é ocupada em 33% dos casos de DPs com referentes novos, em 68% dos casos de DPs com referentes acessíveis, e em 62% dos casos de DPs com referentes evocados15. Essa distinção acompanha a diferença entre DPs definidos e indefinidos: 60% dos DPs definidos ocorrem na posição pré-verbal, enquanto somente 33% dos DPs indefinidos são tematizados (Santos 2008: 72). Os dados a seguir ilustram bem a relação entre o caráter de evocação e a tematização; e por outro lado, também se nota o caráter de novidade e o foco (os dados abaixo são do Corpus de Peças Teatrais Brasileiras da UFRJ, citados em Santos 2008: 60)16: 25. a. Contexto: (A nossa luta é pela igualdade de oportunidades, igualdade de salários, igualdade de direitos, enfim.) E [essa luta TOP=SUJ]tem que começar aqui. 13 14 15 16 (Carlos E. Novaes 1975, VI) Castilho (2010: 286ss), trabalhando em outra abordagem teórica (Teoria Multissistêmica), relaciona a ocorrência do Efeito de Definitude à atribuição de um Caso absolutivo abstrato. Na versão inicial da Teoria de Princípios e Parâmetros, o traço EPP era universal, obrigando ao movimento do sujeito para a posição pré-verbal. No minimalismo, o traço EPP pode ser visto como associado aos traços-phi, que na verdade requerem somente a operação Concordar (Agree). O traço EPP, no entanto, parece refletir questões semânticas ou informacionais, como alguns autores já sugeriram. O valor apresentado para os referentes acessíveis é apresentado separadamente no texto citado, em que foi feita a distinção entre inferíveis e “disponíveis” (elementos de conhecimento geral). Esses dados estão subestimados, pois agregam informação de vários períodos históricos, sem levar em conta o progressivo aumento relativo da ordem Sujeito-Verbo no PB. 113 b. Contexto: (A sobrinha de uma amiga minha, tem uma amiga que foi ao Pathé) e aconteceu [uma coisa horrível FOC=SUJ]! (Miguel Falabell, 1992, VII) Quando o constituinte nominativo fica na posição pós-verbal, expressa-se a chamada construção apresentacional. Também associada ao chamado juízo tético de Kuroda (1972), essa construção não está associada à existência de um tópico, e sim de um enquadre. Este pode, no entanto, ocorrer nulo, caso em que indica um vínculo espaço-temporal com a unidade discursiva anterior. Os dados abaixo foram retirados de Pezatti e Camacho (1997): 26. a. [ ec ENQ] saíram uns, uns temperos mais, mais novos (NURC D2, POA, 355) b. [aqui ENQ] entra o meu ponto de vista (NURC EF, POA, 278) Essa explicação parece ser mais efetiva pois, como se vê nos exemplos em (25), o elemento focal não necessariamente é indefinido. Alguns trabalhos observaram que a construção tética não é unicamente encontrada com verbos da classe dos inacusativos, quando costumam ser identificados como casos de inversão locativa (Pilati 2006), (Avelar 2009). No entanto, uma possibilidade é integrar a construção apresentacional à inversão locativa. Isso envolveria repensar a posição de marcadores de enquadre: uma possibilidade é que eles também possam ocorrer na posição canônica de sujeito (Spec,IP) em PB. A construção passiva também permite a tematização, limitada aos casos de passiva com ser (denominada de passiva analítica na Gramática Tradicional), já que a passiva com se apresenta ordem fixa com sujeito pós-verbal17. O estudo de Hawad (2004) aponta uma forte relação entre o estatuto informacional do referente e a posição do DP nominativo em dados de notícias de jornais escritos: DPs com referente ativado tematizam 98% das vezes, enquanto DPs com referente não ativado (“novo”) tematizam só em 43% das ocorrências. Como já bastante discutido na literatura, o fato de um DP ser indefinido não impede sua tematização, desde que o referente se refira a uma entidade específica ou a um subconjunto de um conjunto já mencionado. Os dados abaixo foram extraídos de Hawad (2004: 103-4), citando o Jornal do Brasil: 27. a. [Um ato público TOP=SUJ] está sendo preparado para a semana que vem, em Brasília. b. [outros nove sequestros meses. TOP=SUJ] foram registrados na mesma região nos últimos dois Certamente haverá diferenças quanto ao gênero textual e ao próprio uso da construção de passiva com ser, que têm sido aventados como menos frequentes em línguas ou variedades com maior uso de construções de tópico marcado. A expectativa é que a gramática do PB falado tenha um uso mais consistente de tópicos nesse contexto. 17 Cavalcante (2016) analisa a passiva com se no PB como construção ativa, e atribui várias de suas idiossincrasias ao seu caráter de “fóssil” linguístico. 114 3.3.2. Tematização de constituintes preposicionados na base Sem dúvida a tematização de constituintes preposicionados na sua posição de base é um dos temas mais debatidos no que se refere ao PB falado. Por ser uma característica destoante face a premissas da norma padrão, o fenômeno demorou a ser observado no português falado. Há um debate permanente sobre o estatuto do elemento normalmente denominado de ‘tópicosujeito’; alguns pesquisadores situam-no numa posição deslocada (Spec,TopP), como Nunes (2016), outros numa posição canônica de sujeito (Spec,IP), como Andrade e Galves (2014), outros ainda numa posição intermediária Spec,SubjP, como Quarezemin e Cardinaletti (2017). Esse fenômeno se relaciona de perto com a inacusatividade, assim como os discutidos na seção anterior. Há dois tipos de constituintes relacionados a essa construção, genitivos e locativos, sendo que os dois perdem preposições (usualmente de ou em) quando ocorrem tematizados. Há diferentes análises gerativistas para a sua ocorrência, unificadas ou não, e específicas aos tópicos-sujeito ou mais amplas (Lunguinho 2006), (Negrão e Viotti 2008), (Avelar e Galves 2011), (Toniette 2013), (Pilati et al. 2017), além das citadas acima e outras mais. Os exemplos abaixo, retirados de anúncios do sítio Reclame Aqui, foram citados em Sampaio (2013: 212) e Andrade (2017: 38): 28. a. Contexto: (Há um ano e meio comprei um aparelho Nokia.) Após alguns meses de uso, [ele TOP=SUJ] começou a descascar [a parte cromada FOC]. b. Contexto: (Comprei nas lojas Americanas um guarda-roupa da Móveis Rodial de 3 portas de correr branco.) [O guarda-roupa TOP=SUJ] não cabe [cabides FOC]. Estudos sobre a estrutura argumental de verbos inacusativos observaram a existência de uma subclasse de verbos inacusativos biargumentais (Munhoz e Naves 2012), como caber e bater (no seu significado existencial), que apresentam um argumento tema e outro locativo. As autoras notaram que os verbos que permitem a tematização de genitivos são alternantes, e os que tematizam locativos, não. Apesar dessa diferença, Andrade e Galves (2014) argumentaram que é possível apresentar uma análise unificada para as construções de ‘tópico-sujeito’: as duas se baseariam numa estrutura de predicação secundária com um predicador abstrato R (as representações descrevem as frases A mesa quebrou o pé e Esse carro cabe muita gente, numa fase não final da derivação): 29. a. [VP [V' quebrou [DP o [SC=RP [DP a mesa] [R' R [NP pé ] ] ] ] ] ] b. [VP [V' cabe [SC=RP [DP muita gente] [R' R [PP nesse carro ] ] ] ] ] A partir daí uma análise possível é que o movimento para a posição de sujeito ocorre por meio de uma operação de movimento desencadeada por um traço EPP, relacionado à valoração de traços-phi, que ocorre atrelada à verificação de Caso abstrato, cf. Chomsky (2008). Na verdade, os elementos, exatamente por poderem ser desprovidos de suas preposições18, precisam 18 No caso em (29a), a preposição só é necessária se ocorrer o processo de inversão de predicado, pelo qual o complemento de RP (Sintagma Relator) se move acima do especificador dessa projeção. Em (29b), considera-se 115 ser licenciados, e para tanto se movem para Spec,IP por razões de valoração de um traço de Caso. Mecanismo semelhante é capaz de explicar a ocorrência de locativos em posição de sujeito de verbos meteorológicos19 (exemplos de Berlinck et al. 2015: 115): 30. a. b. São Paulo chove. O Rio faz sol. (fala no rádio) Petrópolis é uma coisa! Aquilo chove demais! (fala espontânea) A análise comentada em torno de (29) não deixa claro, no entanto, que a motivação primordial do movimento se relaciona ao estatuto informacional do elemento genitivo ou locativo. Estudos baseados em corpora, como Sampaio (2013) e Andrade (2017), mostraram que deve haver um descompasso informacional entre o constituinte tematizado e os demais, mesmo no âmbito do mesmo sintagma nominal. O segundo trabalho, que se dedica à tematização de locativos, apresenta um quantitativo quanto à sua estrutura informacional: DPs com referente dado foram tematizados em 77% das ocorrências; DPs com referente acessível, 23%, e elementos novos, 0%. Os seguintes exemplos ilustram casos de construções com o DP genitivo ou locativo ocorrendo juntos com o constituinte com que têm predicação (no caso do genitivo em (31a), ele se move junto com o elemento temático para a posição pré-verbal; os exemplos foram retirados do sítio Reclame Aqui, citados em Sampaio 2013: 218 e Andrade 2017: 38): 31. a. [Comprei um tênis da marca Bull Terrier, usei duas vezes,] e a presilha do cadarço arrebentou. b. [Comprei fritadeira AIR FRYER AF-03 127V,] após setes meses de uso apareceu dois furos na lateral (...) A ocorrência de elementos novos (em posição pós-verbal), segundo Sampaio (2013), está usualmente relacionada a subpartes do constituinte tematizado, no caso de genitivos. No caso de locativos, uma locação interna ao constituinte topicalizado favorecer sua posição na base, como em (31b). Uma resolução alternativa para captar mais diretamente a distribuição de tópicossujeito envolveria postular a presença de um traço [TÓPICO] não interpretável em I, nos casos em que ocorre o movimento. CONSIDERAÇÕES TRANSLINGUÍSTICAS No que diz respeito às construções de tópico, boa parte dos trabalhos no Brasil segue a intuição apresentada em Pontes (1987) a respeito da caracterização do PB enquanto língua de proeminência de tópico, o que o aproximaria do chinês (Li e Thompson 1976). Os trabalhos relacionados a mudanças no sujeito nulo, na esteira de Duarte (1995), reforçam essa conclusão, apesar de demonstrarem uma tendência ao preenchimento da posição de sujeito. 19 que a preposição locativa é opcionalmente nula, caso em que incorpora ao núcleo R. Uma alternativa mais interessante que resolve a limitação exposta no parágrafo seguinte envolve postular que p é um núcleo que só se manifesta como em para licenciar o DP no seu complemento, se ele permanecer na posição em que é gerado. A diferença crucial tem a ver com a falta de uma predicação secundária; assim, a preposição nula teria de se incorporar ao próximo núcleo, no caso, o verbo. 116 Um dos principais problemas com essa tipologia diz respeito à sua formulação pouco precisa. Trata-se de proposta classificatória surgida no âmbito da abordagem funcionalista. Por essa razão, há quem proponha que o PB seria uma língua de proeminência de sujeito e de tópico (Duarte e Kato 2008), enquanto outros realmente negam essa classificação como sendo apropriada ou útil (Costa 2010). Apesar de o termo usado para esse tipo de línguas ter sido atualizado no âmbito da Gramática Gerativa como ‘línguas voltadas para o discurso’ (discourseconfigurational languages, cunhado por Katalin É. Kiss), aparentemente a classificação mantém tonalidades funcionais, nas quais a frequência é um aspecto relevante. Nesse ponto, não é claro se a maior variedade ou frequência de construções marcadas deve ser levada em consideração, ou ambas. Considerando a ideia comumente aceita de que o PB, mas não o português europeu, seria uma língua voltada para o discurso, gostaria de discutir a seguir, tendo essa discussão como fulcro, mudanças na sintaxe dos tópicos do português clássico ao PB e ao português europeu. A partir daí, analiso alguns distanciamentos face ao português europeu e outras línguas românicas, para finalmente retornar ao debate tipológico ora iniciado. Esse debate se mostra relevante pois se espera que mesmo diacronicamente haja pontos gramaticais que indiquem uma mudança que indicie a formação de uma ‘língua voltada para o discurso’. 4.1. Tópicos marcados no português clássico Na literatura sobre sintaxe diacrônica desenvolvida no Brasil, é muito corrente a assunção de que estágios anteriores da gramática do português como o português antigo e o português clássico correspondem a gramáticas próximas ao tipo V2 (Ribeiro 1995; Antonelli 2011; Galves 2020, inter alia). Como consequência, construções que envolviam a inversão Sujeito-Verbo eram bastante frequentes. Essa, aliás, é uma das principais evidências para se postular o caráter V2: há uma queda de 28% para 10% na proporção de ordens VS entre o português clássico e o português europeu moderno (cf. Andrade e Galves 2019 e referências lá citadas). A postulação do caráter V2, se bem que “flexível” no português clássico, isto é, permitindo que mais de um constituinte ocorra na posição pré-verbal, também apresenta outra consequência, menos lembrada nos estudos da área: uma maior quantidade de elementos fronteados, seja por topicalização ou focalização. Galves e Paixão de Sousa (2017: 166-7) mencionam que no século XVI a quantidade de ordens XV é de 43%, enquanto a ordem SV ocorre só em 16% das sentenças independentes. Andrade e Galves (2019) explicam essa preferência por meio do atributo de delimitação (boundedness), usualmente relacionado a línguas V2. Esse atributo requer que uma categoria informacional marcada ocupe a periferia esquerda da oração a fim de que seja feita a “ancoragem” da sentença com outras no contexto discursivo, seguindo trabalhos propostos na literatura para o inglês. Em outras palavras, o português clássico era uma língua com movimento obrigatório do verbo para C, fazendo com que qualquer elemento pré-verbal correspondesse a um constituinte marcado. A correspondência prosódica entre os elementos pré-verbais como “internos” ou “externos” à sentença tem reflexos em especial para a sintaxe dos pronomes clíticos. Nesse sentido, podem-se apontar dois tipos de topicalização da gramática clássica: a tematizadora, que impõe a próclise; e a contrastiva, que requer a ênclise. Os exemplos a seguir foram extraídos de Gibrail (2010), e Galves (2002), respectivamente, e citam textos do Corpus do Português Histórico Tycho Brahe, doravante referido como CTB (Galves et al. 2017): 117 32. a. b. [Semelhante instrução TOP:T] lhe dá o Tridentino, referindo-se a este Cartaginense. (M. Bernardes, Nova Floresta – séc. XVII, CTB) [Dos outros TOP:C] salvar-se-á a metade; e [dos grandes e poderosos TOP:C] quantos? (A. Vieira, Sermões – séc. XVII, CTB) Nos dois tipos de topicalização, a ordem VS é requerida, como os exemplos acima apontam, apesar de numa ocorrer a próclise, e noutra, a ênclise. Andrade (2015) apresenta um estudo baseado em corpus sobre peças teatrais portuguesas comparando autores nascidos nos séculos XV e XVI com aqueles nascidos nos séculos XIX e XX, em que demonstra que a topicalização com ordem SV (denominada “moderna”) surge como reflexo da mudança para o português europeu moderno, que pode ser resumida em torno da perda do movimento V-para-C. Segundo esse trabalho, a topicalização moderna decorre da mudança gramatical que levou à fixação do movimento de V-para-I no português; portanto, ela é herdeira “direta” da topicalização clássica, o que se verifica inclusive em termos de suas propriedades informacionais. Quanto ao deslocamento à esquerda clítica, Gibrail (2010) observa que na maior parte dos dados ocorre a ênclise, exceto se houver outro constituinte na periferia esquerda que requeira a próclise. Os exemplos abaixo, de F. de Holanda, Da Pintura Antiga – séc. XVI, extraído do CTB, e citado em Gibrail (2010: 122; 118), ilustram essa afirmação20: 33. a. E [a arquitectura matérias grossas. TOP] [eu SUJ] a comparo e lhe chamo pintura encorporada em b. E [isto TOP] sabe-o Deos e sabe-o Roma. Considerando que há uma posição mais baixa na periferia esquerda que abriga elementos contrastivos (tópicos ou focos) que implica movimento, os exemplos acima sugerem que a análise de geração na base do tópico marcado na construção de deslocamento à esquerda clítica faz a previsão correta também para o português clássico, pois o tópico é atribuído a um constituinte prosodicamente externo à sentença. Nesse caso, não é preciso postular uma alteração gramatical até o PB, exceto na restrição ao uso dessa construção, devido à substituição dos clíticos de 3ª. pessoa por pronomes plenos. Essa breve revisão demonstra que, considerando a frequência de uso da periferia esquerda, o português clássico pode ser considerado como gramática mais voltada para o discurso que o PB e o português europeu (PE) atuais. Isso se manifesta numa maior frequência de topicalizações, o que em parte reflete requerimentos sintáticos, e em parte, informacionais. A ordem de palavras era, igualmente, mais flexível. A topicalização moderna (com ordem SV) é um fenômeno que o PB compartilha com o PE, mas que não era encontrado no português clássico. 4.2. Tópicos marcados no Português Brasileiro face a outras línguas românicas Nesta seção teço algumas comparações, primeiramente entre construções que diferenciam o português de outras línguas românicas. Em seguida, entre PE e PB. Finalmente, incluo uma nova reflexão sobre as construções de tópico marcado típicas do PB. 20 Segundo Charlotte Galves (c.p., 10 jun. 2020), os dados de próclise com construções de deslocamento à esquerda que não se explicam por um elemento interveniente podem ser explicados independentemente. 118 No que tange às construções de tópico, a diferença crucial entre o português e as demais línguas românicas é exatamente a topicalização conectada. Textos sobre sintaxe diacrônica demonstram que línguas como o francês e o espanhol, hoje desprovidas da construção, apresentavam-na em períodos anteriores de sua história gramatical. Andrade (2018) sugere que isso é um reflexo de uma mudança estrutural da topicalização enquanto um tipo de scrambling, derivada por meio da adjunção do tópico ao IP. Essa ideia, ainda não desenvolvida plenamente, parte do pressuposto de que o movimento para a periferia esquerda é limitado pelo alcance da fase, que é IP nas línguas românicas. O português, como indicam Costa e Galves (2002), é uma língua com sujeito distante do verbo, se bem que não em posição deslocada, por razões que se relacionam à posição de advérbios (e de clíticos, no PE). A diferença pode ser formulada em linhas gerais como a seguir: 34. Línguas românicas, exceto o português [IP Sujeito V+I [VP Objeto ]]] ----- fase estendida ---35. Língua portuguesa [IP-1 Tópico [IP-1 Sujeito I-1 [IP-2 – V+I-2 [VP Objeto ]]]] ----- fase estendida ---- Nas línguas românicas em geral, o movimento desencadeado por I conta como movimento A', uma propriedade de núcleos de fase (Pesetsky 2007). O movimento de um tópico para uma posição acima de Spec,IP violaria a condição de minimalidade relativizada (Rizzi 1990), considerando que as duas posições envolvidas ‒Spec,TopP e Spec,IP‒ apresentam o mesmo traço relevante, [TÓPICO]. Isso faz com que a única construção de tópico marcado à esquerda possível nessas línguas seja aquela em que o tópico é gerado na periferia esquerda, i.e. por deslocamento à esquerda. Já em português, Spec,IP2 não é preenchido, podendo assim servir como válvula de escape (escape hatch) para a próxima projeção IP1, tanto para o sujeito (por movimento A) quanto para o tópico (por movimento A')21. No que diz respeito à comparação entre PB e PE, podem-se apresentar diferenças tanto em construções não aceitas em PB, quanto aquelas que aparecem de maneira muito restrita. Um exemplo do primeiro caso é a topicalização conectada com ordem VS. Essa construção é típica do PE enquanto resquício de uma gramática com movimento V-para-C (cf. Andrade e Galves 2019), e acabou ficando identificada a algum valor contrastivo (o exemplo (36a) está citado em Andrade 2015: 29): 36. Português Europeu a. Contraste: (Rui: ‒(...) Acredite, Augusta, a Gabriela, para mim, não constitui problema.) Augusta: ‒Já [o mesmo TOP:C] não posso EU dizer. (Rebello 1999: 115) b. Contraste: (Que me importa a mim ter juízo?!) [Juízo TOP:T] têm ELES! 21 (Régio 1968: 224) Essa abordagem não explora algumas diferenças entre PB e PE quanto à topicalização. Cf. Kato e Raposo (2007) para uma abordagem unificada para construções de tópico conectado e de deslocamento à esquerda com retomada clítica nas duas variedades, envolvendo também diferenças quanto a restrições de ilhas. 119 Nas duas construções, nota-se uma preferência pela retenção de VS com elementos pronominais na posição de sujeito. A construção é interpretada em termos de um contraste inerente ao sujeito pós-verbal. Em (36a), o tópico é contrastivo, pois está em causa uma declaração de uma personagem, em contraposição à de outra, e há também foco contrastivo na posição pós-verbal. Em (36b) demonstra-se, no entanto, que o tópico pode ser tematizador, havendo contraste só no foco pós-verbal. Os dois tipos de exemplos parecem ser inexistentes em dados de corpora do PB, seja na modalidade falada ou na escrita. Considerem-se agora construções que o PB apresenta como resquício de períodos gramaticais anteriores, de maneira limitada. Quanto a esse ponto, há duas construções dignas de menção. A primeira e mais lembrada é o deslocamento à esquerda com retomada clítica. Essa construção está presente na generalidade das línguas românicas. No PB essa construção, se bem que também presente, é típica da linguagem escrita, na qual os pronomes clíticos de 3 a. pessoa sobrevivem: 37. Contexto: (Eu sou otimista, mas eu sempre digo: não é um otimismo a Pangloss.) [Esse otimismo TOP]i, hoje, eu oi submeto a um crivo mais sério. (Armênio Guedes, 11/8/2008, CRV) Os exemplos acima demonstram que há conectividade casual entre tópico e pronome de retomada. Essa característica é a única que distingue essa construção da deslocação à esquerda de tópico pendente. No Minimalismo essa distinção pode ser assegurada pela aplicação da operação Concordar (Agree) entre tópico e clítico no primeiro caso, mas não no segundo22. Uma possível consequência da perda dos clíticos seria a menor possibilidade de empilhamento de tópicos, fenômeno que se manifesta mais claramente em outras línguas românicas, por efeitos de conectividade. Em outra construção o PB se diferencia somente das línguas ibéricas do subgrupo ocidental (PE e galego). Conforme Andrade (2018), o deslocamento à esquerda de tópico pendente contrastivo é uma construção presente nesse último grupo de línguas, assim como na maior parte das línguas germânicas, exceto o inglês. A construção se caracteriza por apresentar um pronome resumptivo demonstrativo, e opcionalmente um clítico, se o elemento topicalizado for de uma função gramatical diferente da de sujeito (exemplo de Andrade 2018: 90): 38. Português Europeu (dado de intuição) A: — Que fizestes aos teus irmãos? B: — [O João TOP]i, a essei prendi(-oi) no quarto. No PB essa construção se manifesta muito raramente. Algumas exceções podem ser encontradas, como em (39), porém são típicas de situações mais formais, em jornais televisivos: 39. Contexto: (Existem várias tentativas de reaproveitamento de funcionário público, também, que seria uma boa ideia, mas é marginal e tem um problema moral.) 22 Segundo a proposta de fases, isso pode ser garantido pela associação de traços-phi à posição de tópico. O clítico, por estar junto ao complexo verbal em I, estaria disponível para sofrer essa operação, por se encontrar na borda da fase (cf. Chomsky 2008). 120 Agora, [o problema do Gilberto TOP], essei eu acho que eci é grave (...) (Luiz Carlos Bresser Pereira, 22/6/1997, CRV) Em PB, os falantes testados em sua generalidade só aceitam a variante da construção em que o tópico está conectado ao sujeito sentencial, como no exemplo (16), apresentado anteriormente, que pode ser reinterpretado como um deslocamento à esquerda de tópico pendente. O uso dessa construção está fortemente associado à enunciação de tópicos contrastivos, como se pode ver pelos contextos em (37) e (39). Na verdade, o constituinte inicial é um tópico pendente que não está saliente no momento da enunciação, e a ele se acrescenta o valor contrastivo via retomada pelo demonstrativo. Já a segunda retomada, pelo pronome clítico, só é requerida por razões formais, como se propôs em torno da distinção tipológica em (34)-(35), sendo opcional em PE e obrigatória em galego23. Passemos agora a uma visão comparativa de construções de tópico marcado típicas do PB, começando pelo deslocamento à esquerda de sujeito. Desde o trabalho de Duarte (1995), a relativamente alta frequência de uso dessa construção foi atribuída a um reflexo da mudança no parâmetro do sujeito nulo. Em consequência de tais descobertas, a maioria dos gerativistas tendeu a interpretar o deslocamento à esquerda de sujeito como estrutura não marcada: Britto (1998) chega a sugerir que seria a estrutura típica de expressão de juízo categórico, e Tavares Silva (2006) que o tópico não seria expresso por um constituinte deslocado. No entanto, essas análises não estiveram pautadas por um trabalho empírico a fim de mensurar sua taxa de uso face aos sujeitos simples. Rocha e Raso (2013), trabalhando com outra abordagem teórica (Teoria da Língua em Ato), demonstraram que o deslocamento à esquerda permanece como fenômeno marcado em PB24. Trabalhos baseados em corpus têm, aqui e ali, apresentado diferentes valores discursivos para o deslocamento à esquerda, o que reforça o ponto de vista de que se trata de mecanismo de sinalização de transições na estrutura discursiva ao interlocutor. Em segundo lugar, notam-se as construções identificadas como de tópico-sujeito, que têm recebido, muito recentemente, algumas considerações de ordem comparativa, sobretudo face ao PE. Nesta última gramática, enquanto os genitivos apresentam a possibilidade de licenciamento como dativos de posse, os locativos parecem ter seu Caso oblíquo necessariamente licenciado por uma preposição expressa, o que faz com que aqueles possam se mover mais alto na estrutura, enquanto estes, não: 40. Português Europeu a. Caíram as folhas às árvores. a’. Às árvores caíram as folhas. b. *Bate sol essa casa b’. *Essa casa bate sol. A maior dificuldade de análise por movimento dos elementos locativos fez com que alguns pesquisadores postulem que o tópico-sujeito é, na verdade, um tópico pendente, licenciado por 23 24 A construção já estava disponível no português clássico, conforme Andrade e Galves (2019). A intuição de vários autores de que o deslocamento à esquerda de sujeitos tornou-se corriqueiro pode ter relação com um diferente uso dessa construção a depender da região do Brasil. No entanto, essa é uma intuição própria que depende de confirmação. 121 Caso default (Orsini 2012; Kato 2012)25. No entanto, uma análise alternativa é que, de fato, ocorre o movimento. Evidências para isto dizem respeito à disponibilidade de preposições locativas (e eventualmente temporais) nulas, com uma variação interlinguística quanto à sua manifestação26. A decisão entre tais possibilidades de análise tem de levar em conta, igualmente, o conjunto de dados observados, já que há claras diferenças entre registros e classes sociais. Notam-se maiores restrições à tematização de genitivos e locativos no PB culto do que no PB popular, cf. (Andrade 2018). 4.3. Voltando à tipologia Dois grandes fatos incontestes sobre a história do PB dizem respeito à progressiva fixidez da ordem Sujeito-Verbo e à perda de distinções de concordância verbal e nominal, assim como de categorias funcionais relacionadas a distinções de Caso (preposições funcionais e pronomes clíticos). Assim, uma possibilidade é que o PB se mantenha como uma língua com proeminência de sujeito que apresenta algumas inovações decorrentes dessas mudanças morfossintáticas, especialmente em sua sintaxe de concordância, que criaram construções de tópico marcado, sobretudo aquelas ligadas ao preenchimento da posição de sujeito. A análise de que o PB seria uma língua voltada para o discurso, ainda uma possibilidade analítica muito em voga, demonstra uma preocupação dos pesquisadores sobre o PB em situá-lo no plano tipológico, primeiramente face ao PE e a outras línguas românicas; e, mais recentemente, face às línguas crioulas e/ou africanas. Têm sido apresentadas aproximações do PB ao francês, ao chinês ou a uma das línguas bantas (Avelar e Cyrino 2008). Essa última vertente de pesquisas foi alavancada a partir de descrições mais acuradas sobre o português afro-brasileiro (Araújo 2009) e sobre variedades africanas do português, como a angolana (Ferreira dos Santos 2011). Uma das descobertas desses trabalhos é a presença de construções paralelas a tópicos-sujeito em outras variedades do português (Melo 2015). Vários desses trabalhos têm provavelmente razão ao atribuírem ao contato linguístico o surgimento de tais estruturas. Por exemplo, a maior frequência de tópicos pendentes, trata-se de tendência esperada em contexto de interlíngua (Fuller e Gundel 1987). Essa observação, no entanto, pode se adequar tanto à análise que supõe uma mudança tipológica menos ou mais drástica. Mais elementos empíricos devem ser apresentados e analisados antes de se tomar uma decisão a respeito. 5. CONCLUSÕES As construções de tópico marcado no PB apresentam interessantes questões de pesquisa, que ultrapassam os pesquisadores que se dedicam mais de perto a essa gramática. Há uma extensa literatura sobre elas, razão pela qual só pude abordar uma parte das questões presentes na literatura, dando maior ênfase à interface entre sintaxe e discurso. Apresentei análises tentativas para as variadas construções, tendo em conta uma visão razoavelmente unificada. Os dois grandes tipos de construções descritas (fronteamentos e tematizações) divergem, nessa análise, quanto à distinção entre posições deslocadas e não deslocadas. Construções de tematização envolvem movimento para Spec,IP, sem que seja possível diferenciar o tópico de 25 26 Essa análise implica também considerar que os casos de concordância observados entre tópico e verbo seriam marginais ou atribuíveis a “erros de performance”. Terzi (2010), por exemplo, apresenta uma análise com dados do grego moderno. 122 um sujeito. Em alguns casos, como nos genitivos e locativos, o movimento é analisado como sendo relacionado também à valoração de traços-phi e do traço de Caso abstrato. Por outro lado, as construções de fronteamento envolvem ou o movimento para uma posição de adjunção a Spec,IP ou a geração na base em Spec,TopP. No caso do deslocamento à direita, haveria também um processo de elipse relacionado à justaposição entre orações com conteúdo semelhante. Em complemento à visão descritiva com propostas tentativas de análise, apresentei uma análise comparativa entre PB e outras línguas românicas. Essa discussão mostrou-se relevante em vista da agenda de pesquisas sobre o PB, com uma preocupação claramente tipológica. O presente texto sugere analisar as singularidades do PB com maior cautela, de forma a caracterizá-lo como uma gramática singular, mas não necessariamente excêntrica. No plano diacrônico, espero ter demonstrado que não só surgiram novas construções de tópico, mas que também outras se perderam no curso do tempo. Em grande parte, tais alterações refletem perdas morfológicas e a maior fixidez da ordem básica de palavras no PB. Não obstante algumas divergências analíticas mencionadas neste texto, há consenso em torno da ideia de que as construções de tópicos marcados no PB são um componente importante para a compreensão das particularidades dessa gramática. Por essa mesma razão, ainda há pontos que merecem análises mais detalhadas. O reconhecimento das questões de pesquisa atuais permitirá que triangulações entre sintaxe comparativa (incluindo histórica), aquisição da linguagem e estrutura informacional ofereçam novos caminhos de análise, em torno de questões como:  diferenças quanto à frequência e à distribuição de construções inovadoras;  os contextos de ocorrência das várias construções;  os limites sintáticos à realização das várias construções. Certamente maiores interações entre dados de intuição e de corpora de variados tipos serão capazes de enriquecer tais reflexões de maneira bastante frutífera. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, Aroldo de. 2015. On the emergence of topicalization in Modern European Portuguese: a study at the Syntax-Information Structure Interface, em Estudos Linguísticos, 11: 13-34. Andrade, Aroldo de. 2017. Tópicos-sujeito locativos no português brasileiro: análise de hipóteses sintáticas e semântico-pragmáticas, em Letras Escreve, 7: 11-47. Andrade, Aroldo de. 2018. 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