Flávio Ferreira Silva
(Organizador)
Aquicultura e Pesca: Adversidades e
Resultados
2
Atena Editora
2019
2019 by Atena Editora
Copyright © Atena Editora
Copyright do Texto © 2019 Os Autores
Copyright da Edição © 2019 Atena Editora
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Edição de Arte: Lorena Prestes
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(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
A656
Aquicultura e pesca [recurso eletrônico] : adversidades e resultados 2
/ Organizador Flávio Ferreira Silva. – Ponta Grossa, PR: Atena
Editora, 2019. – (Aquicultura e Pesca. Adversidades e
Resultados; v. 2)
Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-716-1
DOI 10.22533/at.ed.161191510
1. Aquicultura. 2. Peixes – Criação. 3. Pesca. I. Silva, Flávio
Ferreira. II. Série.
CDD 639.3
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
A obra "Aquicultura e Pesca: Adversidades e Resultados 2" é composta por
35 capítulos elaborados a partir de publicações da Atena Editora e aborda temas
pertinentes a aquicultura de forma cientifica, oferecendo ao leitor uma visão ampla de
vários aspectos que transcorrem desde sistemas de criação, até novos produtos de
mercado.
No Brasil, ao longo dos anos a piscicultura vem ganhando espaço
progressivamente, mas a caracterização da pesca, bem como o conhecimento de
ictiofaunas, o manejo alimentar em criatórios, os processos genéticos e fisiológicos,
não obstante ao manejo do produto destinado ao consumo humano, têm em comum
a necessidade do aperfeiçoamento de técnicas. Dessa forma, os esforços científicos
têm se voltado cada vez mais para a aquicultura. Sendo assim, apresentamos aqui
estudos alinhados a estes temas, com a proposta de fundamentar o conhecimento
acadêmico e popular no setor aquícola.
Os novos artigos apresentados nesta obra, abordando as demandas da
aquicultura, foram possíveis graças aos esforços assíduos dos autores destes
prestigiosos trabalhos junto aos esforços da Atena Editora, que reconhece a
importância da divulgação cientifica e oferece uma plataforma consolidada e confiável
para estes pesquisadores exporem e divulguem seus resultados.
Esperamos que a leitura desta obra seja capaz de sanar suas dúvidas a luz de
novos conhecimentos e propiciar a base intelectual ideal para que se desenvolva
novas soluções para os inúmeros gargalos encontrados no setor aquícola.
Flávio Ferreira Silva
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
ASPECTOS DA BIOLOGIA PESQUEIRA DE ESPÉCIES DA FAMÍLIA GERREIDAE
CAPTURADAS NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE CANAVIEIRAS, BAHIA
Marcelo Carneiro de Freitas
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
Joana Angélica de Souza Silva
José Rodrigo Lírio Mascena
Nádira Naiane Cerqueira Rocha
Raisa Dias Brito Dionizio
Luiza Teles Barbalho Ferreira
DOI 10.22533/at.ed.1611915101
CAPÍTULO 2 .............................................................................................................. 12
AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO PERÍODO DE DEFESO SOBRE A PESCA DO
CAMARÃO Xiphopenaeus kroyeri EM CARAVELAS NO ESTADO DA BAHIA
Daniela Andrade de Melo
Tiago Sampaio de Santana
José Arlindo Pereira
Tamires Batista de Souza Correia
Ludimila Lima Santana
Frederico Pereira Dias
Eliaber Barros Santos
DOI 10.22533/at.ed.1611915102
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 23
CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DE
CANAVIEIRAS, BAHIA
Marcelo Carneiro de Freitas
Susane Barbosa Vitena Fernandes
José Rodrigo Lírio Mascena
Nádira Naiane Cerqueira Rocha
Vitória Lacerda Fonseca
Deise Cunha Sampaio Pereira
Luiza Teles Barbalho Ferreira
DOI 10.22533/at.ed.1611915103
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 35
COMPOSIÇÃO DE Callinectes bocourti (A. MILNE-EDWARDS, 1879) NA PESCA
ARTESANAL DE CAMARÃO-ROSA EM UM ESTUÁRIO TROPICAL
Thayanne Cristine Caetano de Carvalho
Alex Ribeiro dos Reis
Rayla Roberta Magalhaes De Souza Serra
Ryuller Gama Abreu Reis
Lorena Lisboa Araújo
Sávio Lucas De Matos Guerreiro
Glauber David Almeida Palheta
Nuno Filipe Alves Correia de Melo
DOI 10.22533/at.ed.1611915104
SUMÁRIO
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 47
CONHECIMENTO TRADICIONAL SOBRE A PESCA ARTESANAL EM LIMOEIRO
DO AJURU (PARÁ, BRASIL)
Kelli Garboza da Costa
Benedito Viana Leão
DOI 10.22533/at.ed.1611915105
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 58
ICTIOFAUNA DO RIO VAZA-BARRIS DA CIDADE DE CANUDOS ATÉ JEREMOABO
– BAHIA
Patrícia Barros Pinheiro
Tadeu Souza Ribeiro
Lucemário Xavier Batista
Fabrício de Lima Freitas
DOI 10.22533/at.ed.1611915106
CAPÍTULO 7 .............................................................................................................. 71
O SETOR PESQUEIRO NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO: ESTUDO DE CASO EM AFUÁ,
PARÁ, BRASIL
Érica Antunes Jimenez
Marilu Teixeira Amaral
Daniel Pandilha de Lima
Alexandre Renato Pinto Brasiliense
Zanandrea Ramos Figueira
DOI 10.22533/at.ed.1611915107
CAPÍTULO 8 .............................................................................................................. 83
PESCA ARTESANAL DA LAGOSTA NO LITORAL NORTE DA BAHIA
Jadson Pinheiro Santos
Jonathas Rodrigo dos Santos Pinto
Bruna Larissa Ferreira de Carvalho
Camila Magalhães Silva
Danilo Francisco Corrêa Lopes
DOI 10.22533/at.ed.1611915108
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................. 92
PESCADORES E AGRICULTORES PODEM SER AQUICULTOR?
Fabrício Menezes Ramos
André Augusto Pacheco de Carvalho
Benedito Neto de Souza Ribeiro
Jean Louchard Ferreira Soares
Rosana Teixeira de Jesus
Carlos Alberto Martins Cordeiro
DOI 10.22533/at.ed.1611915109
CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 103
PRODUÇÃO PESQUEIRA E RELAÇÃO PESO X COMPRIMENTO DA Guavina
guavina NO MUNICÍPIO DE CONDE, BAHIA
Jonathas Rodrigo Oliveira Pinto
Kaio Lopes de Lima
Bruna Larissa Ferreira de Carvalho
SUMÁRIO
Ana Rosa da Rocha Araújo
Jadson Pinheiro Santos
DOI 10.22533/at.ed.16119151010
CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 111
AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO AMONIACAL DA ÁGUA EM UM POLICULTIVO
DE CAMARÃO MARINHO E Spirulina platensis
José William Alves da Silva
Susana Felix Moura dos Santos
Illana Beatriz Rocha de Oliveira
Ana Claudia Teixeira Silva
Glacio Souza Araujo
Emanuel Soares dos Santos
Renato Teixeira Moreira
Dilliani Naiane Mascena Lopes
DOI 10.22533/at.ed.16119151011
CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 119
ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO AQUÍCOLA NO LITORAL SUL FLUMINENSE:
UM ESTUDO DE CASO
Fausto Silvestri
DOI 10.22533/at.ed.16119151012
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 126
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE CONDIÇÃO DO SURURU DE PASTA Mytella charruana
(D’ORBIGNY, 1846) CULTIVADO NO MUNICÍPÍO DE RAPOSA -MARANHÃO
Hugo Moreira Gomes
Aleff Paixão França
Derykeem Teixeira Rodrigues Amorim
Thaís Brito Freire
Thalison da Costa Lima
Ana Karolina Ribeiro Sousa
Ícaro Gomes Antonio
DOI 10.22533/at.ed.16119151013
CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 134
ANÁLISE DE CRESCIMENTO DA MICROALGA Nannochloropsis oculata EM
EFLUENTE DO CAMARÃO Penaeus vannamei
Giancarlo Lavor Cordeiro
Daniel Vasconcelos da Silva
Danilo Cavalcante da Silva
Kelma Maria dos Santos Pires Cavalcante
Liange Reck
DOI 10.22533/at.ed.16119151014
CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 141
O EFEITO DE ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS NA PRODUÇÃO DE OVOS E
COMPRIMENTO LARVAL DE DANIO RERIO (ZEBRAFISH)
Fabiana Ribeiro Souza
Nathália Byrro Gauthier
Carla Fernandes Macedo
Leopoldo Melo Barreto
DOI 10.22533/at.ed.16119151015
SUMÁRIO
CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 151
PARÂMETROS PRODUTIVOS DE Mytella charruana CULTIVADO EM MANGUEZAIS
DE MACROMARÉ DA COSTA AMAZÔNICA, BRASIL
Josinete Sampaio Monteles
Paulo Protásio de Jesus
Edivânia Oliveira Silva
James Werllen de Jesus Azevedo
Izabel Cristina da Silva Almeida Funo
DOI 10.22533/at.ed.16119151016
CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 166
RECRIA DE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus) EM TANQUES DE
FERROCIMENTO COM RECIRCULAÇÃO DE ÁGUA
Álvaro Luccas Bezerra dos Santos
Daniel Vasconcelos da Silva
Diego Castro Ribeiro
José Carlos de Araújo
DOI 10.22533/at.ed.16119151017
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 176
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE NAS REGIÕES NORTE
E NORDESTE BRASILEIRAS
João Donato Scorvo Filho
Célia Maria Dória Frascá-Scorvo
Maria Conceição Peres Young Pessoa
Marcos Eliseu Losekann
Rafaella Armentano Moreira
Geovanne Amorim Luchini
Ricardo Borghesi
DOI 10.22533/at.ed.16119151018
CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 196
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUE-REDE NAS REGIÕES SUL,
SUDESTE E CENTRO OESTE BRASILEIRA
João Donato Scorvo Filho
Célia Maria Dória Frascá-Scorvo
Maria Conceição Peres Young Pessoa
Marcos Eliseu Losekann
Rafaella Armentano Moreira
Geovanne Amorim Luchini
Ricardo Borghesi
DOI 10.22533/at.ed.16119151019
CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 215
ELABORAÇÃO DE MEIO DE CULTURA DE BAIXO CUSTO PARA SPIRULINA –
INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DO NACL SOBRE A PRODUTIVIDADE
Fábio de Farias Neves
Francihellen Querino Canto
Gabriela de Amorim da Silva
Cristina Viriato de Freitas
Ricardo Camilo
DOI 10.22533/at.ed.16119151020
SUMÁRIO
CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 224
ATIVIDADE ALIMENTAR DO Serrasalmus brandtii, PIRAMBEBA (LÜTKEN, 1875),
NO RESERVATÓRIO DE MOXOTÓ, BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO
Patrícia Barros Pinheiro
Sávio Benício da Silva
Eduardo Augusto Silva Melo
Lídia Brena de Oliveira Cardoso
DOI 10.22533/at.ed.16119151021
CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 237
MANEJO ALIMENTAR PARA O TAMBAQUI
Jackson Oliveira Andrade
Lian Valente Brandão
Fabrício Menezes Ramos
DOI 10.22533/at.ed.16119151022
CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 248
LARVICULTURA DOS PRIMEIROS DESCENDENTES DA GERAÇÃO PARENTAL
DA CURIMATÃ, Prochilodus sp. DA BACIA DO DELTA DO PARNAÍBA
Karla Fernanda da Silva Freitas
Roberta Almeida Rodrigues
Antônio José Sousa de Moraes
Odair José de Souza
Alessandra Oliveira Vasconcelos
Marlene Vaz da Silva
Josenildo Souza e Silva
Michelle Pinheiro Vetorelli
DOI 10.22533/at.ed.16119151023
CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 256
CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE OSTRAS (Crassostrea brasiliana) DA REGIÃO
DE CAPANEMA - BA, POR MEIO DE MARCADORES ISSR
Leydiane da Paixão Serra
Joemille Silva dos Santos
Vitória Lacerda Fonseca
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Sabrina Baroni
Moacyr Serafim Junior
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
DOI 10.22533/at.ed.16119151024
CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 265
CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO PIRÁ-TAMANDUÁ (Conorhynchos conirostris)
POR MEIO DE MARCADORES MOLECULARES ISSR
José Rodrigo Lírio Mascena
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Ricardo Franco Cunha Moreira
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
DOI 10.22533/at.ed.16119151025
SUMÁRIO
CAPÍTULO 26 .......................................................................................................... 275
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICAS DAS ESPÉCIES Centropomus undecimalis E Mugil
liza – ÊNFASE NO APARELHO DIGESTÓRIO
Bruna Tomazetti Michelotti
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Natacha Cossettin Mori
Bernardo Baldisserotto
DOI 10.22533/at.ed.16119151026
CAPÍTULO 27 .......................................................................................................... 284
MORFOMETRIA DOS OTÓLITOS Sagittae DO PEIXE PEDRA (Genyatremus luteus,
PISCES: HAEMULIDAE) CAPTURADOS NO MUNICÍPIO DE RAPOSA - MA
Ladilson Rodrigues Silva
Yago Bruno Silveira Nunes
Mariana Barros Aranha
Daniele Costa Batalha
Marina Bezerra Figueiredo
DOI 10.22533/at.ed.16119151027
CAPÍTULO 28 .......................................................................................................... 292
ACEITAÇÃO SENSORIAL DE REESTRUTURADOS EMPANADOS DE PESCADA
SEM GLÚTEN, SABOR DEFUMADO E COM REDUÇÃO DE SÓDIO
Norma Suely Evangelista-Barreto
Janine Costa Cerqueira
Tiago Sampaio de Santana
Bárbara Silva da Silveira
Antônia Nunes Rodrigues
André Dias de Azevedo Neto
Aline Simões da Rocha Bispo
Mariza Alves Ferreira
DOI 10.22533/at.ed.16119151028
CAPÍTULO 29 .......................................................................................................... 303
DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO “ESPETINHO DE CAMARÃO RECHEADO
COM QUEIJO PRATO E EMPANADO COM FARINHA DE COCO”
Roosevelt de Araújo Sales Junior
Marcos Vinicius de Castro Freire
Rosane Lopes Ferreira
Maria Gabriela Alves Costa
DOI 10.22533/at.ed.16119151029
CAPÍTULO 30 .......................................................................................................... 314
PROCESSAMENTO DO PESCADO - DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO: PÃO
DE QUEIJO RECHEADO COM CAMARÃO
Roosevelt de Araújo Sales Junior
Marcos Vinicius de Castro Freire
Rosane Lopes Ferreira
Maria Gabriela Alves Costa
DOI 10.22533/at.ed.16119151030
SUMÁRIO
CAPÍTULO 31 .......................................................................................................... 323
PROCESSAMENTO E ACEITABILIDADE DE PÃO DE FORMA ADICIONADO DE
FARINHA DE DOURADO (Coryphaena hippurus)
Dayvison Mendes Moreira
Marcelo Giordani Minozzo
Dayse Aline Silva Bartolomeu de Oliveira
DOI 10.22533/at.ed.16119151031
CAPÍTULO 32 .......................................................................................................... 334
OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE QUITINA A PARTIR DE CARAPAÇAS DE
SIRI-AZUL (Callinectes spp.)
Beatriz Bortolato
Aline Fernandes de Oliveira
Letícia Firmino da Rosa
Isabel Boaventura Monteiro
Cristian Berto da Silveira
DOI 10.22533/at.ed.16119151032
CAPÍTULO 33 .......................................................................................................... 342
CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS E GRAU DE FRESCOR DO PESCADO
COMERCIALIZADO NA FEIRA LIVRE DE ARACI, BAHIA
Norma Suely Evangelista-Barreto
Bárbara Silva da Silveira
Brenda Borges Vieira
Janine Costa Cerqueira
Jessica Ferreira Mafra
Aline Simões da Rocha Bispo
Mariza Alves Ferreira
DOI 10.22533/at.ed.16119151033
CAPÍTULO 34 .......................................................................................................... 353
EFEITO DE CORTES ESPECIAIS NO RENDIMENTO DO CAMARÃO MARINHO
Litopenaeus vannamei
Enna Paula Silva Santos
Elaine Cristina Batista dos Santos
Jadson Pinheiro Santos
Camila Magalhães Silva
Leonildes Ribeiro Nunes
Diego Aurélio Santos Cunha
DOI 10.22533/at.ed.16119151034
CAPÍTULO 35 .......................................................................................................... 364
O COMÉRCIO DE PESCADO NOS RESTAURANTES DE SANTARÉM, PARÁ,
BRASIL
Emanuel Damasceno Corrêa-Pereira
Tony Marcos Porto Braga
Charles Hanry Faria Júnior
DOI 10.22533/at.ed.16119151035
SOBRE O ORGANIZADOR ..................................................................................... 376
ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................................ 377
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
doi
ASPECTOS DA BIOLOGIA PESQUEIRA DE ESPÉCIES
DA FAMÍLIA GERREIDAE CAPTURADAS NA RESERVA
EXTRATIVISTA MARINHA DE CANAVIEIRAS, BAHIA
Marcelo Carneiro de Freitas
Docente do Curso de Engenharia de Pesca, Centro de
Ciências, Agrárias, Ambientais e Biológicas – CCAAB,
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
Docente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
Joana Angélica de Souza Silva
Engenheira de Pesca, Curso de Engenharia de Pesca,
CCAAB, UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
José Rodrigo Lírio Mascena
Engenheiro de Pesca, Curso de Engenharia de Pesca,
CCAAB, UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
Nádira Naiane Cerqueira Rocha
Discente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
Raisa Dias Brito Dionizio
Discente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas, Bahia
Luiza Teles Barbalho Ferreira
Bióloga, Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo
estudar aspectos da biologia pesqueira
de espécies da familia Gerreidae, que são
encontradas na Reserva Extrativista Marinha
de Canavieiras, Bahia. As capturas foram
realizadas com tarrafa no período de abril
de 2016 a março de 2017, no estuário da
RESEX de Canavieiras. No período do estudo
foram capturados 320 indivíduos da família
Gerreidae, pertencentes a 4 espécies. A
espécie Diapterus auratus (55%) teve a maior
representatividade, seguida de Diapterus
rhombeus (26%), Eugerres brasilianus (14%) e
Eucinostomus argenteus (5%). O comprimento
total médio e o peso total médio foram maiores
para a espécie E. brasilianus (19,5cm, 122,6g),
seguida de E. argenteus (17,9cm, 51,4g), D.
olisthostomus (14,2cm, 42,9g) e a D. rhombeus
(12,3cm, 30,5g). A CPUE apresentou padrões
semelhantes, entre as espécies. Devido à
escassez de estudos neste aspecto, para este
grupo de peixes, este estudo contribui para a
dinâmica de populações destas espécies e para
medidas manejo na RESEX de Canavieiras.
PALAVRAS-CHAVE: Diversidade, pescadores,
conservação.
Sustentabilidade – CETENS, UFRB.
Feira de Santana, Bahia
ASPECTS OF THE FISHERY BIOLOGY OF
SPECIES OF THE GERREIDAE FAMILY
CAPTURED AT THE EXTRACTIVE RESERVE
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
1
MARINE OF CANAVIEIRAS, BAHIA
ABSTRAT: The objective of this work was to study aspects of the fishery biology of
species of the Gerreidae family, which are found in the Extractivist Reserve Marine of
Canavieiras, Bahia. The catches were made with a tarrafa from April 2016 to March
2017, in the estuary of RESEX Canavieiras. During the study period, 320 individuals
of the Gerreidae family were captured, belonging to 4 species. The species Diapterus
auratus (55%) was the most representative, followed by Diapterus rhombeus (26%),
Eugerres brasilianus (14%) and Eucinostomus argenteus (5%). The mean total length
and mean total weight were highest for E. brasilianus (19.5cm, 122.6g), followed by
E. argenteus (17.9cm, 51.4g), D. olisthostomus (14.2cm, 42.9g) and D. rhombeus
(12.3cm, 30.5g). CPUE showed similar patterns among species. Due to the scarcity of
studies in this aspect, for this group of fish, this study contributes to the dynamics of
populations of these species and to management measures in the RESEX Canavieiras.
KEYWORDS: Diversity, fisherman, conservation.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca extrativista brasileira apresenta um papel relevante para o progresso
das comunidades costeiras, que contribui para o fornecimento de alimento assim
como o fortalecimento da atividade social e econômica (BEGOSSI et al., 2004). Com
o intuito de reduzir os problemas causados pela exploração excessiva dos recursos
pesqueiros, desenvolveram-se estratégias de proteção de águas interiores e do
ambiente marinho (WORM et al., 2006).
A família Gerreidae é um grupo de peixes característicos dos ambientes
marinhos costeiros, lagoas estuarinas e limnéticos das regiões tropicais e subtropicais
da América (DECKERT; GREENFIELD, 1987), suas caracteristicas morfológicas são
possuem pequenos dentes e escamas grandes, bem como a robustez do segundo
espinhas dorsais e anais, barbatana caudal bifurcada, a cabeça tem escalas, mas
não no topo (SCHMITTER-SOTO, 1998).
Os peixes da familia Gerreidar são peixes relativamente pequenos,
caracterizando-se pela boca bastante protrusiva, uma nadadeira dorsal com
espinhos e raios e uma nadadeira caudal furcada (NELSON, 2016). Sua boca muito
protrátil permite empurrar sua boca dentro do sedimento, podendo se alimentarem de
invertebrados bentônicos, sendo considerados consumidores bentônicos (MENEZES;
FIGUEIREDO, 1980).
São comumente pequenos, de cor prateada, com boca protrátil e em forma de
tubo, cuja função é refere-se à obtenção de uma grande variedade de invertebrados
bentônicos (SHAEFER; ROSEN, 1961 apud CHAVEZ; HAMMAN, 1989).
Os organismos desta família possuem grande importância na pesca comercial,
artesanal e esportiva, inclusive na região Nordeste do Brasil, onde é bastante apreciada
no consumo humano. Esta família está entre as mais abundantes em ecossistemas
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
2
estuarinos e marinhos do litoral brasileiro, estudos ecológicos sobre sua abundância
e distribuição são recorrentes (BEZERRA et al., 2001).
Diante dos poucos estudos de espécies de gerreídeos na Bahia e por ser
uma espécie de interesse para a pesca, este trabalho tem a finalidade de estudar o
crescimento e estrutura populacional de espécies dessa família, contribuindo assim
para o conhecimento da biologia da espécie e medidas manejo para este recurso
pesqueiro.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no município de Canavieiras, nas coordenadas 15º40'40"
S e 38º56'56", localizada no litoral sul da Bahia, limitando-se ao norte com o município
de Una, a noroeste com Santa Luzia, ao sul com Belmonte, a oeste com Mascote e
ao leste com o Oceano Atlântico. A área da unidade territorial do município é de
1.334,295 km², com uma população em 2010 de 33.336 habitantes (IBGE, 2019).
Este município possui significativa riqueza natural (extenso litoral, extenso estuário,
vastas áreas de manguezais, diversidade de espécies da fauna e flora, etc.), tem na
pesca artesanal uma importante atividade econômica - a qual assume importante
representação no estado, de forma que populações tradicionais distribuídas pela
faixa litorânea do território municipal retiram desses recursos o meio de subsistência
(AGUIAR, 2011).
Em Canavieiras encontra-se a Reserva Extrativista Marinha de Canavieiras
com uma área de 100.726,36 hectares, localizada nos municípios de Canavieiras,
Belmonte e Una no estado da Bahia (FIGURA 1). A RESEX foi criada pelo Decreto de
5 de junho de 2006, da Presidência da República, tendo o Conselho Deliberativo da
Reserva Extrativista de Canavieiras criado pelo Presidente do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, através da Portaria nº
71, de 3 de setembro de 2009.
Figura 1. Mapa da localização da RESEX de Canavieiras – Bahia.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
3
As capturas foram realizadas no período de fevereiro de 2016 a março de 2017,
no estuário da RESEX de Canavieiras, em dois dias de coletas mensais, em 28
pesqueiros diferentes, preferencialmente em período de lua crescente e minguante,
em maré vazante. Ao longo do percurso navegado foram obtidas as posições dos
pesqueiros, com auxílio de um GPS manual. O estudo foi autorizado pelo Sistema de
Autorização e Informação em Biodiversidade – SISBIO, do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade – ICMBio, através da autorização nº 52498-1.
A arte de pesca utilizada foi a tarrafa, com uma área de 32,7 m2 e malha 2,
sendo a mais frequente utilizada pelos pescadores da comunidade. A cada dia a
tarrafa era lançada em dois pesqueiros, em três pontos de coleta, com dez lances em
cada, totalizando 60 lances diários.
Os exemplares capturados foram acondicionados em caixa isotérmica contendo
gelo e em no laboratório didático da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
os exemplares foram descongelados para determinação dos dados merísticos e
morfométricos. A identificação taxonômica dos exemplares, foi realizada com auxílio
de manuais de identificação especializados (FISHER; PEREIRA; VIEIRA (2011);
ARAÚJO; TEIXEIRA; OLIVEIRA (2004); BARLETTA; CORRÊA (1992); FIGUEIREDO;
MENEZES (2000); MENEZES; FIGUEIREDO (1985). Também foi pesado o volume
da produção capturada, para permitir o cálculo da CPUE e da biomassa capturada.
Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do Excel, para serem analisados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 320 exemplares de peixes da família Gerreidae foram coletados no
município de Canavieiras – BA, no período de abril de 2016 a março de 2017, sendo
a maioria Diapterus olisthostomus (55%), seguido de Diapterus rhombeus (26%),
Eugerres brasilianus (14%) e Eucinostomus argenteus (5%) (FIGURA 1).
Figura 2. Distribuição percentual por espécie, do número de indivíduos da família gerreidae, na
RESEX de Canavieiras, Bahia.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
4
Os gerreídeos foram capturados em 30 pesqueiros, ao longo do estuário da
RESEX de Canavieiras, sendo que os mais representativos foram Rio da Biribeira,
Barra Nova, Rio Jacaré, Rio da Granja e Riacho da Esperança (FIGURA 3).
Figura 3. Histograma do número de indivíduos da família gerreidae por local de pesqueiro, na
RESEX de Canavieiras, Bahia.
Os maiores índices de captura foram verificados nos meses de agosto e
dezembro de 2016, das espécies Diapterus rhombeus, Diapterus olisthostomus,
respectivamente. Já os menores índices foram verificados nos meses de janeiro,
fevereiro e março de 2017 das espécies Eugerres brasilianus e Diapterus rhombeus,
respectivamente. As espécies Eucinostomus argenteus e Diapterus olisthostomus
tiveram os menores índices em junho e julho de 2016 (Figura 4).
Figura 4. Captura mensal das espécies de gerreideos capturados na RESEX de Canavieiras no
período de abril de 2016 a março de 2017.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
5
As espécies Eugerres brasilianus e Diapterus rhombeus, têm uma elevada
frequência de captura no litoral do nordeste brasileiro, sobretudo pela abundância
e pelo tamanho que podem atingir, tendo assim uma boa representatividade na
pesca artesanal e aceitação no mercado local (BEZERRA et al., 2001). Sendo que
a E. brasilianus é a espécie dentre os gerreídeos que obtém maior representação
comercial, devido a sua maior capacidade de crescimento (BARBOSA, 2012).
O comprimento total médio e o peso total médio foram maiores para a espécie
Eugerres brasilianus (19,5cm, 122,6g), seguida da espécie Eucinostomus argenteus
(17,9cm, 51,4g), Diapterus olisthostomus (14,2cm, 42,9g) e a Diapterus rhombeus
(12,3cm, 30,5g) (TABELA 1).
CT (cm)
CF (cm)
PT (g)
MIN
MAX
MED
MIN
MAX
MED
MIN
MAX
MED
Diapterus olisthostomus
10,5
37,0
14,2
8,6
29,0
11,1
10,0
625,0
42,9
Diapterus rhombeus
9,5
16,5
12,3
7,5
18,0
10,2
12,0
85,0
30,5
Eucinostomus argenteus
14,6
35,0
17,9
11,6
15,6
14,0
12,5
80,0
51,4
Eugerres brasilianus
13,0
36,5
19,5
10,5
30,0
15,9
23,0
585,0
122,6
Tabela 1. Dados de comprimento total (CT) (cm), comprimento furcal (CF) (cm) e peso total (PT)
(g) dos gerreídeos capturados na RESEX de Canavieiras, no período de abril de 2016 a março
de 2017.
No período de estudo os maiores comprimentos totais médios foram verificados
nos meses de abril, maio e junho de 2016, das espécies Diapterus olisthostomus,
Eugerres brasilianus e Eucinostomus argenteus, correspondendo 15cm, 34,5cm e
35cm, respectivamente. Já a espécie Diapterus rhombeus teve maior comprimento
total médio no mês de março de 2017, correspondendo 13,5cm. Os menores
comprimentos totais médios foram de 12,7cm, 11,4cm, e 15,5 cm nos meses de julho,
agosto e outubro de 2016, das espécies Diapterus olisthostomus, Diapterus rhombeus
e Eucinostomus argenteus, respectivamente. E a espécie Eugerres brasilianus, teve
menor comprimento total médio no mês de janeiro de 2017, correspondendo 14,3cm
(FIGURA 5).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
6
Figura 5. Comprimento total médio (cm) mensal dos gerreideos capturados na RESEX de
Canavieiras no período de abril de 2016 a março de 2017.
A estrutura etária e os parâmetros de crescimento consistem na base para
aplicação dos principais modelos de dinâmica populacional que tem como objetivo a
avaliação e gestão sustentável de recursos pesqueiros, além de modelos ecológicos
(ARAÚJO; HAIMOVICI, 2000; WALTERS; MARTELL, 2004; SANTOS, 2004).
Segundo Rodrigues et al. 2017, a relação peso/comprimento da carapeba, E.
brasilianus, indica que ocorre o direcionamento energético para seu crescimento
nos períodos de chuva e de estiagem, sendo este fato reflexo da disponibilidade de
alimento no ambiente. Isto foi observado no presente estudo, pois os exemplares
capturados dessa espécie tiveram os maiores comprimentos, nos períodos de chuva
e estiagem, que corresponde aos meses de maio e junho, fevereiro e março.
Os maiores pesos totais médios foram verificados nos meses de abril e maio de
2016, das espécies Diapterus olisthostomus, Eugerres brasilianus, correspondendo
70,7g e 500g, respectivamente. Já as espécies Eucinostomus argenteus e Diapterus
rhombeus tiveram maiores pesos totais médios no mês de março de 2017,
correspondendo 57,8g e 35g. Os menores pesos totais médios foram de 12,5g, 20g,
e 21,3g nos meses de junho, julho e setembro de 2016, das espécies Eucinostomus
argenteus, Diapterus olisthostomus, Diapterus rhombeus e, respectivamente. E a
espécie Eugerres brasilianus, teve menor peso total médio no mês de janeiro de
2017, correspondendo 30g (FIGURA 6).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
7
Figura 6. Peso total médio (g) mensal dos gerreideos capturados na RESEX de Canavieiras no
período de abril de 2016 a março de 2017.
De acordo com Elliff et al. (2013), que estudou a estrutura de população carapebas
(Diapterus rhombeus) em um sistema estuarino do Sudeste do Brasil, relatou que
comprimento total das espécies variou de 4,6cm a 25cm durante todo o período de
amostragem. Os valores médios dos comprimentos totais foram de 13,7cm no verão,
12,5cm no outono, 11,9cm durante o inverno e 14,3cm na primavera. Os indivíduos
amostrados pesavam um total de 235.7 kg, variando de 1 a 173 g e com um valor
médio de 35,44 g. A menor abundância de espécies foi observada durante o verão
e a primavera, que foram as estações quando os indivíduos maiores (25cm) e mais
pesados (173g) foram capturados, respectivamente.
Leão, 2016, relatou que os exemplares de Eucinostomus argenteus apresentaram
comprimento total variando entre 2,5 e 18cm, com média de 7,11cm. Segundo
Silva et al., 2014, relataram no estudo da espécie Eucinostomus argenteus que o
comprimento total (CT) variou entre 1,1cm e 26,9cm e o peso total variou entre 0,01g
a 147,28g. A abundância de jovens (CT = < 3,0cm) foram registrados de outubro a
agosto, com maiores picos em janeiro, indicando a presença de um amplo período de
recrutamento.
A captura por unidade de esforço (CPUE) constitui um importante indicador da
população explorada pela pesca, sendo uma ferramenta usualmente utilizada em
estudos pesqueiros como forma de compreender a dinâmica e as nuances da pesca
e consequentemente, subsidiar alternativas de manejo (HOGGARTH et al., 2006;
BERKES et al., 2001; WALTERS; MARTELL, 2004; SILVA, 2013).
Analisando a CPUE entre as espécies verificou-se que apresentou padrões
semelhantes (FIGURA 7). A espécie Eugerres brasilianus teve os maiores valores
de CPUE nos meses de junho, agosto e setembro de 2016 e março de 2017. Em
junho pode inferir uma agregação para reprodução, pois este mês apresentou um
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
8
comprimento médio maior, em torno de 25cm, comparado ao período de dezembro e
fevereiro, que está em torno de 15cm, podendo inferir um recrutamento da população.
A espécie Diapterus olisthostomus teve os maiores valores de CPUE, nos meses
de junho e dezembro de 2016 e fevereiro de 2017. O comprimento médio ao longo do
período foi constante, em torno de 15cm, porém o peso total médio foi ligeiramente
maior em junho, em torno de 70g, podendo inferir um peixe com reservas nutritivas
para uma atividade reprodutiva. Enquanto que em dezembro o comprimento total
médio foi em torno de 13cm, podendo inferir um recrutamento.
A espécie Diapterus rhombeus apresentou as maiores CPUE nos meses de
agosto, novembro e dezembro de 2016, enquanto que o Eucinostomus argenteus nos
meses de novembro e dezembro de 2016 e março de 2017.
Figura 7. Variação mensal da CPUE da família Gerreidae durante o período de estudo na
RESEX de Canavieiras, Bahia.
4 | CONCLUSÃO
Espécies família Gerreidae são de importância econômica e servem como
fonte de alimento e renda para muitos pescadores artesanais da RESEX de
Canavieiras. Diante da elevada captura de indivíduos de pequeno porte, torna-se
necessário estudos de dinâmica de populações destas espécies, para que possam
ser estabelecidas medidas protetivas e com isto permitir a sustentabilidade deste
recurso pesqueiro. Devido à escassez de estudos neste aspecto, para este grupo de
peixes, este trabalho contribui para a dinâmica de populações destas espécies e para
medidas manejo na RESEX de Canavieiras.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
9
REFERÊNCIAS
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Capítulo 1
10
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 1
11
CAPÍTULO 2
doi
AVALIAÇÃO DA EFETIVIDADE DO PERÍODO DE DEFESO
SOBRE A PESCA DO CAMARÃO Xiphopenaeus kroyeri
EM CARAVELAS NO ESTADO DA BAHIA
Daniela Andrade de Melo
Especialização em Economia de Empresas –
Universidade Estadual De Santa Cruz, Bahia,
Brasil.
Tiago Sampaio de Santana
Mestrando em Ciência Animal – Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia, Brasil.
José Arlindo Pereira
Professor Associado – Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, Brasil.
Tamires Batista de Souza Correia
Engenheira de Pesca – Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, Brasil.
Ludimila Lima Santana
Engenheira de Pesca – Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, Brasil.
Frederico Pereira Dias
Engenheiro de Pesca – Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, Brasil.
Eliaber Barros Santos
Doutorando em produção vegetal – Universidade
Estadual de Santa Cruz, Bahia, Brasil.
RESUMO: O objetivo desse estudo foi
analisar a população do camarão sete-barbas
Xiphopenaeus kroyeri presente no banco
camaroneiro do Município de Caravelas-BA e
verificar a efetividade dos períodos de defeso
existente para a espécie. Foram realizados
arrastos em estações pré-selecionadas,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
mensalmente, entre os meses de janeiro a
dezembro de 2015, exceto os meses que
correspondem com período de defeso, abril
e outubro, sempre em dias representativos
de pesca, próximos à lua nova. As amostras
coletadas para cada estação foi submetida
a biometria de 150 indivíduos aleatórios,
medindo-se comprimento de cefalotórax-CC
(cm), peso total-PT (g); assim como sexagem
com a identificação dos estágios gonadais
das fêmeas. As amostras foram submetidas
aos testes estatísticos (ANOVA) nível de
significância p<0,05), enquanto que a diferença
na proporção sexual entre os meses foram
verificados mediante o teste do x² (α=5%),
com nível de significância de 5%. As capturas
evidenciaram que a maior parte da produção
do camarão sete-barbas está relacionada a
indivíduos que acabam de entrar da fase adulta,
e na maior parte das vezes são capturados sem
reproduzir ao menos uma vez, sendo assim
necessária uma reformulação do período de
defeso, para que seja viabilizada a reprodução
destes indivíduos recém inseridos na fase
adulta matura sexualmente.
PALAVRAS-CHAVE: Peneídeos; Reprodução;
População.
Capítulo 2
12
EVALUATION OF EFFECTIVENESS OF FISHING DEFENSE PERIOD OF
Xiphopenaeus kroyeri IN CARAVELAS, BAHIA STATE.
ABSTRACT: The objective of this study was to analyze the seven-barbas Xiphopenaeus
kroyeri shrimp population present in the shrimp bank of the city of Caravelas-BA and
to verify the effectiveness of the closed season for the species. Trawls were carried
out at pre-selected stations, monthly, between January and December 2015, except
for the months that correspond to the closed season, April and October, always on
representative fishing days, close to the new moon. The samples collected for each
station were submitted to biometry of 150 random individuals, measuring length of
cephalothorax-CC (cm), total weight-PT (g); As well as sexing with the identification of
the female gonadal stages. The significance level of p <0.05 was statistically significant
(ANOVA), whereas the difference in sex ratio between the months was verified using
the x² test (α = 5%), with a significance level of 5 %. Catches have shown that most
of the seven-beard shrimp production is related to individuals who have just entered
adulthood, and are most often caught without breeding at least once, thus necessitating
a recast of the closed season , So that it is feasible the reproduction of these newly
inserted individuals in the mature adult sexually mature.
KEYWORDS: Penicillin; Breeding; Population.
1 | INTRODUÇÃO
A atividade pesqueira no estado da Bahia, apresenta grande importância
econômica. A pesca de camarões, realizada com embarcações de pequeno a médio
porte e equipadas com redes de arrasto, ocorre desde a década de 1970 sendo,
essencialmente, artesanal (BAHIA PESCA, 1994; MPA, 2012).
As maiores abundâncias dessa espécie estão associadas às águas com
profundidades inferiores a 30 m e fundo de areia e lama (BRANCO et al., 1999). Essa
espécie apresenta rápido crescimento e curto ciclo de vida, durando cerca de 18 a 24
meses (LOPES, 1996; LÓPEZ-MARTÍNEZ et al., 2005; FERNANDES et al., 2011).
Segundo Lopes (1996) o período de maior atividade desse camarão é durante o dia,
quando estão sobre o substrato e podem ser facilmente capturados pelo arrasto de
fundo.
O camarão sete barbas é intensamente explorado ao longo do litoral brasileiro
(MMA & IBAMA, 2008) e apresenta relevância econômica e social devido ao elevado
volume de capturas comerciais e à acessibilidade às comunidades pesqueiras
artesanais (GRAÇA-LOPES et al., 2007). Devido ao seu alto valor comercial tem sido
alvo da pesca de arrasto de pequena escala em todos os estados costeiros, com
exceção do Rio Grande do Sul (ISAAC et al., 2006).
O defeso (paralisação da pesca) é a principal medida de ordenamento da pesca
de camarões da costa nordeste. Este visa proteger as quatro principais espécies
de camarões: o sete-barbas, Xiphopenaeus kroyeri (70% da produção), o branco,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
13
Litopenaeus schmitti (20% da produção) e o rosa, Farfantepenaeus subtilis e F.
brasiliensis (10% da produção), durante o período de recrutamento, oferecendo a
oportunidade dos indivíduos jovens chegarem à fase adulta e reproduzirem, buscando,
assim, manter estável o processo de desenvolvimento e exploração desses recursos.
O defeso do camarão traz benefícios econômicos com a recuperação dos estoques,
gerando ganhos pelo incremento em peso da captura, e ecológicos com a recuperação
do habitat e da biodiversidade, bastante afetados pelas redes de arrasto (CEPENE,
2005).
O período de defeso do camarão na costa nordeste tem sofrido diversas
modificações ao longo do tempo, devido aos ajustes referentes às estratégias de
pesca. Além de se buscar alternativas que proteja algumas espécies da pesca
incidental (CEPENE, 2005).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
As coletas do camarão Xiphopenaeus kroyeri foram realizadas no Litoral Nordeste
em Caravelas, localizado na região do Banco dos Abrolhos, área de maior extensão e
riqueza de recifes de coral do Atlântico Sul (LEÃO et al., 2003; DUTRA et al., 2006). Os
indivíduos foram coletados em quatro pontos de amostragem diferentes, essas áreas
foram divididas em duas subáreas de amostragem a sudoeste do Canal do Tomba
(subárea P2, localizada entre o canal dragado e a costa, e a subárea P3, localizada
ao sudoeste do canal dragado), subárea de descarte do sedimento dragado ao sul do
canal dragado (subárea AD) e a subárea a nordeste do Canal (subárea P1) (Figura 1).
As coletas foram realizadas durante dois dias subsequentes por mês, entre os
janeiro a dezembro de 2015, exceto os meses de abril e outubro, correspondendo ao
período de defeso. As coletas eram realizadas por arrastos de fundo, com petrechos
típicos à frota camaroneira local nos pontos georreferenciados para captura de
camarão (Figura 1), sempre em dias representativos de pesca (períodos próximos à
lua nova).
Os arrastos foram realizados mensalmente em ambiente marinho e estuarino,
sendo que no ambiente marinho, foram realizados cinco arrastos de fundo (estações
E1, E2, E3, E4 e E5), usando uma rede de arrasto típica (Abertura de malhe de 25
mm entre nós) a uma velocidade média de 2,6 nós por 30 minutos em cada estação.
Os arrastos foram dispostos paralelos à linha de costa, distantes respectivamente
500 m, 1.000 m, 1.500 m, 2.000 m e 2.500 m do litoral, em quatro subáreas amostrais
denominadas de P1, P2, P3 e AD (Figura 1).
Na subárea AD, correspondente à área de descarte, foram realizados apenas
3 arrastos mensais com o tempo de 15 minutos dispostos paralelos à linha de costa
(AD1, AD2 e AD3), a uma distância de 3500, 4000 e 4500 do litoral. Essa diferença na
quantidade de arrastos (estações) e o tempo dos mesmos tem por motivo a restrição
de tamanho da área usada para deposição do sedimento dragado (quadrado de 2x2
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
14
km) (Figura 1).
As amostras coletadas em cada estação amostral foram armazenadas em
sacos etiquetados e levados para a Base Avançada do Centro de Pesquisa e Gestão
de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste CEPENE/ICMBio em Ponta de Areia/
Caravelas/BA, onde foram pesadas (total), triados e separados por “Taxons” os quais
posteriormente eram pesados.
Figura 1. Malha amostral usada em 2015 nos arrastos de camarão nas estações fixas
(bandeiras azuis) localizados próximos ao canal dragado (transecto preto) e a área de descarte
do sedimento dragado (quadrado amarelo). Subárea realocada para a sua adjacência pelo de
sua localização, em parte, estar sobre um banco de areia (bandeira vermelha).
As amostras coletadas em cada estação amostral foram armazenadas em
sacos etiquetados e levados para a Base Avançada do Centro de Pesquisa e Gestão
de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste CEPENE/ICMBio em Ponta de Areia/
Caravelas/BA, onde foram pesadas (total), triados e separados por “Taxons” os quais
posteriormente eram pesados.
Para camarões, do montante total de cada estação foi feita a biometria de 150
indivíduos aleatórios, aferiu-se o comprimento de cefalotórax-CC com paquímetro, e o
peso total-PT com balança digital. Respectivamente, foram realizados a identificação
do sexo, determinação do estágio gonadal das fêmeas conforme a metodologia
utilizada por Santos e Ivo (2000).
As amostragens permitiram a estimativa de abundância relativa de camarão
sete-barbas e de outras espécies da fauna acompanhante com base na captura por
unidade de esforço (CPUE).
A diferença na proporção sexual e o estádio de maturação sexual de fêmeas
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
15
dentre os meses foram verificados mediante o teste do x², com nível de significância
de 5%, separadamente para as espécies de interesse comercial.
Na determinação do comprimento médio da primeira maturação das
fêmeas analisadas foi determinado pelo método adaptado por Vazzoler (1996),
categorizando fêmeas em jovens (Imaturas-I) e adultas (em maturação-E, maturas-M
e desovando-D). Seguindo este método, ao correlacionar as frequências de fêmeas
adultas com o comprimento, adotando o tamanho em que 50% das fêmeas estejam
maturas sexualmente pela primeira vez, desta forma ao atingir 100%, será a média
da frequência de tamanho em que todas as fêmeas estejam maturas sexualmente,
conforme realizados por Santos & Ivo (2000).
Os dados relativos ao pico do período de reprodução das fêmeas resultaram
da correlação entre os meses e as frequências das gônadas no estágio M-maturas,
indicando assim os períodos específicos de reprodução da espécie.
As análises da produção foi calculada pela CPUE que constava em dividir o peso
pelo tempo de arrasto (g/h). A CPUE para os camarões foi calculada entre janeiro e
dezembro de 2015, excluindo os meses de abril e outubro, pois se referem ao período
de proibição da captura (defeso).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A proporção sexual pode variar em função do tamanho da espécie (WENNER
1972). X. kroyeri não apresenta estratificação populacional, sendo comum a ocorrência
de juvenis e adultos na mesma área. Entretanto, estudos mostram indícios que esta
espécie apresenta estratificação vertical, com áreas de desova e maturação em
maiores profundidades (> 10 m) e crescimento em profundidades menores ou igual a
10 m (CASTRO et al., 2005).
O teste do X² aplicado para comparar as proporções de machos e fêmeas nas
subáreas amostradas (P1, P2, P3 e AD), indicou para a maioria dos meses uma
superioridade de fêmeas (α=0,05), variando na média geral entre as subáreas de
20% a 75%. Com exceção apenas para os meses de dezembro (60% de machos) na
subárea P1, março (53.7%) e novembro (57.7%) na subárea P3, fêmeas da espécie
X. kroyeri tiveram frequência superior à dos machos durante o resto dos demais
meses (Figura 2). Na subárea AD não houve amostragens nos meses de janeiro
fevereiro de 2015 pelo fato de haver o descarte de sedimento recém-dragado do
canal e assim correr o risco de perder o petrecho de pesca.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
16
Figura 2. Proporção (%) mensal de machos e fêmeas do camarão sete-barbas, Xiphopenaeus
kroyeri capturado nas diferentes subáreas (P1, P2, P3 e AD) próximas ao Canal do Tomba em
Caravelas, Bahia, no período de janeiro a dezembro de 2015.
4 | PROPORÇÕES DO ESTÁDIO DE MATURAÇÃO GÔNODAL
Ao se considerar a frequência (%) de ocorrência de fêmeas por estágio de
desenvolvimento gonadal, foi constatada forte contribuição em fêmeas imaturas
da espécie X. kroyeri durante o período amostral para todas as subáreas (P1, P2,
P3 e AD), com uma média geral de 38,46% do total de fêmeas, inferior aos dados
fornecidos por relatorias anteriores do mesmo monitoramento as quais estavam entre
57,8% e 45,5%.
Foi verificada contribuição de 50% ou mais de fêmeas no estágio-I (imaturas)
nos meses de março (P2= 50.3 % e P3= 59.9 %), maio (P1= 80.5 %), junho (P1= 52
% e AD= 53.1 %) e agosto (P1= 65%, P2= 66.6 % e P3= 50 %) dezembro (P1= 50%).
(Figura 3). O estágio-I teve uma oscilação de contribuição na frequência (%) variando
entre 80,5% (maio) a 16,7% (julho) na subárea P1, entre 60.3 % (março) a 18.3%
(novembro) na subárea P2, entre 59.6% (março) a 25.9% (janeiro) na subárea P3 e
de 53.1% (junho) a 13.3 % (dezembro) na subárea AD, (Figura 3).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
17
Figura 3. Participação relativa (%) mensal de fêmeas de camarão sete-barbas (Xiphopenaeus
kroyeri) por estágio de desenvolvimento gonadal nas subáreas P1, P2, P3 e AD, localizadas
nas proximidades do Canal do Tomba.
Mesmo a frequência de fêmeas no estagio I ser inferior às obtidas em
monitoramentos anteriores, realizados nas estações fixas em Caravelas, esta é
significantemente superior à média obtida em outras regiões do Nordeste que gira
entorno dos 5,7% a 12,4% (SANTOS, 1997). Já Santos et al. (2007) observaram
grande percentual de ocorrência de imaturas para a região costeira de Belmonte - BA,
atingindo 44,7% do total de fêmeas analisadas, superior até mesmo ao percentual
obtido no presente trabalho que foi de 39,46%.
As fêmeas do camarão sete-barbas em estágio E (em maturação), como verificado
para as do estágio I, também foram encontradas ao longo de todo ano (janeiro a
dezembro de 2015), em todas as subáreas das estações fixas monitoradas, com
média geral da porcentagem de 48,5% do total de fêmeas analisadas, corroborando
com estudos realizados por Santos et al. (2007) na costa de Belmonte.
Foi verificada contribuição 50% ou mais na frequência de fêmeas em estagio
E nas amostras dos meses fevereiro (55.3%) e dezembro (50%) na subárea P1;
janeiro (63.8%), maio (58.0%), julho (50%), setembro (55.7%) e novembro (50.2 %)
na subárea P2; janeiro (64.0%), maio (55.2%) e novembro (50,0%) na subárea P3 e
julho (53,5%), agosto (53%), setembro (52%) e dezembro (73,3%) na subárea AD.
Apresentou oscilação na frequência de 55.3% (fevereiro) a 16,7% (março) na subárea
P1, de 63.8% (janeiro) a 29,6% (março) na subárea P2, 64% (janeiro) a 34.2% (março)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
18
na subárea P3 e de 53,5% (julho) a 31.2% (março) na subárea AD (Figura 3).
Com relação a fêmeas no estágio-M do camarão sete-barbas, não foi verificada
ocorrência em maio (P1 e P3) além de junho (P3) e dezembro (P1). A média geral ao
longo do ano de 2015 foi de 10,4% do total de fêmeas analisadas, valor próximo ao
obtido por Santos et al. (2007). Fêmeas no estágio M tiveram contribuição de mais de
50% das amostras apenas no mês de julho na subárea P1, participando com 66,7%
do total de fêmeas analisadas, distinguindo significativamente das demais frequências
deste estágio no demais meses e subáreas analisadas (p<0,05). A frequência do
estágio-M apresentou oscilação significante quanto aos meses de maio e junho frente
aos demais (p<0,05), sendo estes os meses com menores frequências de participação
na média anual. A frequência quando constatada, apresentou oscilação de 66.7%
(julho) a 6,0% (agosto) na subárea P1, de 33% (fevereiro) a 4% (agosto) na subárea
P2, de 31,3% (fevereiro) a 4,4% (agosto) na subárea P3 e de 35,3% (novembro) a
2.8% (setembro) na subárea AD (Figura 3).
Segundo os pescadores da região, deve se realizar maiores estudos para definir
o período de defeso, pois os mesmos observam a baixa ocorrência de camarão antes
de fechar a pesca para o período de defeso.
A frequência de participação de fêmeas no estágio-D de uma forma geral foi
muito baixa, atingindo menos de 2% na média geral durante o período monitorado
em 2015. Apesar de muito baixa, a média percentual atribuída ao estágio-D foi 1,2%
superior ao obtido por Santos e Ivo (2000) na mesma área de estudo que foi de
apenas 0,8%.
Nos meses de janeiro (subáreas P2 e P3), fevereiro, março (subáreas P1 e P2),
maio (subárea P2). Julho (subárea P1), agosto (subárea P2) e dezembro (subárea
P1), não foi verificada presença de fêmeas no estágio-D. A frequência neste estágio-D
referente ao mês de janeiro da subárea P1 (33.3%), variou significativamente para os
demais períodos e subáreas monitoradas (p<0,05). Para os meses com ocorrência foi
verificada oscilação entre 33,3% (janeiro, maior frequência obtida para o estágio-D,) a
0,4% (agosto) na subárea P1, de 4,9% (dezembro) a 0,8% (julho) na subárea P2, de
3,1% (novembro) a 0.2% (maio, junho, agosto-meses com menor frequência quando
constatada) na subárea P3 e de 6,7% (dezembro) a 0,8% (junho) na área de descarte
– AD (Figura 3).
5 | CAPTURA POR UNIDADE DE ESFORÇO - CPUE
A abundância do estoque é uma informação essencial para o manejo de um
recurso pesqueiro, pois reflete a disponibilidade ou escassez deste. O índice de
abundância mais adequado para o monitoramento pesqueiro do camarão sete-barbas
é a “Captura Por Unidade de Esforço - CPUE” (BRANCO, 2005). A média geral das
subáreas monitoradas em 2015 foi de 3.630 gramas por hora de arrasto, ou seja,
3.6 Kg/h, inferior aos anos de 2013 (4,7 kg/h), 2012 (4.2 kg/h) e 2008 (6.3 kg/h).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
19
Em contrapartida, a média em 2015 foi superior a 2011 (2,6 kg/h), 2007 (3,4 kg/h),
2009 (3,5 kg/h) e para a média do período entre 2001 a 2005 (2,9 kg/h). A média
atual somente foi semelhante a obtida para o ano de 2010 com 3,6 kg/h (SANTOS e
FREITAS, 2005) (Tabela 1).
Ano
2001-2005
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2015
CPUE
(kg/h)
2,9
3,4
6,3
3,5
3,6
2,6
4,2
4,7
3,6
Tabela 1. CPUE obtida para camarões nas estações fixas do monitoramento do banco
camaroneiro entre os anos 2001 a 2015.
6 | CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste trabalho permitiram as seguintes conclusões sobre
a captura do camarão sete-barbas Xiphopenaeus kroyeri:
Há presença de fêmeas imaturas do camarão sete-barbas ao longo de todo
o ano. Na subárea P1, esta menos susceptível a influencia estuarina, há maior
frequência de fêmeas desovando, indicando desta forma uma migração reprodutiva,
fato este comum a biologia da espécie.
O período que corresponde à época de defeso deve ser avaliado nos próximos
anos, para que se obtenham resultados significativos, referentes a possíveis erros
no defeso. O mês de novembro para todas as estações de coleta apresenta fêmea
ainda maturas e até mesmo desovando, o que não seria ideal já que a pesca após
período de defeso no segundo ciclo se inicia em novembro. Quando comparada com
o primeiro ciclo que se inicia em março nota-se baixa frequência de fêmeas maturas
ou desovando o que caracteriza que o período de defeso nos primeiros 45 dias do
ano, está apresentando resultados satisfatórios.
A CPUE apresentou diminuição em 2015 quando comparados a 2006, 2012 e
2013, mas foi superior aos demais monitoramentos.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 2
22
CAPÍTULO 3
doi
CARACTERIZAÇÃO DA PESCA NA RESERVA
EXTRATIVISTA MARINHA DE CANAVIEIRAS, BAHIA
Marcelo Carneiro de Freitas
Docente do Curso de Engenharia de Pesca, Centro de
Ciências, Agrárias, Ambientais e Biológicas – CCAAB,
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
Susane Barbosa Vitena Fernandes
Engenheira de Pesca, Curso de Engenharia de Pesca,
CCAAB, UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
José Rodrigo Lírio Mascena
Engenheiro de Pesca, Curso de Engenharia de Pesca,
CCAAB, UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
Nádira Naiane Cerqueira Rocha
Discente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
Vitória Lacerda Fonseca
Discente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
Deise Cunha Sampaio Pereira
Discente do Curso de Engenharia de Pesca, CCAAB,
UFRB.
Cruz das Almas – Bahia
Luiza Teles Barbalho Ferreira
Bióloga, Centro de Ciência e Tecnologia em Energia e
Sustentabilidade – CETENS, UFRB.
Feira de Santana – Bahia
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
RESUMO: Este trabalho teve como principal
objetivo o levantamento de dados da atividade
pesqueira na Reserva Extrativista Marinha de
Canavieiras, Bahia. No período de fevereiro a
setembro de 2016 foi aplicado um total de 65
questionários aos pescadores artesanais que
pescam na RESEX de Canavieiras, através
de um questionário semiestruturado. As
espécies de peixes citadas pelos pescadores
foram coletadas e identificadas ao menor
nível taxonômico, através de manuais de
identificação especializados. De acordo com os
resultados obtidos as embarcações utilizadas
pelos pescadores eram rústicas, sendo que as
canoas de madeira foram citadas pela maioria
(40%), seguida das jangadas (2%), bote (1%) e
algum outro tipo de embarcação (15%). Estas
embarcações eram próprias (74%), podendo ser
de casco de madeira (81%), fibra de vidro (3%)
ou de ferro (2%). A arte de pesca mais citada
pelos pescadores foi a tarrafa (54%), seguida da
rede de emalhe (35%) e da linha de mão (29%).
Um total de 43 espécies de pescados foram
citadas, porém as principais em importância
econômica foram: o robalo (Centropomus
parallelus e Centropomus undecimalis), a
tainha (Mugil curema), o cangoá (Mugil liza)
e os vermelhos (Lutjanus spp.). Além destas
também a pescada (Micropogonias furnieri), a
guaiúba (Ocyurus chrysurus), a ostra, o aratu,
o siri, o caranguejo, entre outras espécies. O
Capítulo 3
23
conhecimento sobre os aspectos pesqueiros poderá servir de dados para o acordo de
gestão e melhor gerenciamento da RESEX de Canavieiras.
PALAVRAS-CHAVE: Extrativismo, estuário, preservação.
CHARACTERIZATION OF FISHERIES IN THE EXTRACTIVE RESERVE MARINE
OF CANAVIEIRAS, BAHIA
ABSTRACT: This work had as main objective the data collection of the fishing activity
in the Extractive Reserve Marine of Canavieiras, Bahia. From February to September
2016, a total of 65 questionnaires were applied to artisanal fishermen who fish in the
RESEX de Canavieiras, through a semi-structured questionnaire. The fish species
mentioned by the fishermen were collected and identified at the lowest taxonomic level
through specialized identification manuals. According to the results obtained, the boats
used by the fishermen were rustic, with wooden canoes being mostly mentioned (40%),
followed by rafts (2%), boat (1%) and some other type of boat %). These vessels were
their own (74%), and may be wooden hulls (81%), fiberglass (3%) or iron (2%). The
fishing gear most cited by the fishermen was the tarrafa (54%), followed by the gillnet
(35%) and the hand line (29%). A total of 43 species of fish were mentioned, but the main
ones of economic importance were: bass (Centropomus parallelus and Centropomus
undecimalis), mullet (Mugil curema), cangoá (Mugil liza) and redfish (Lutjanus spp.).
In addition to these are hake (Micropogonias furnieri), guaiúba (Ocyurus chrysurus),
oyster, aratu, crab, crab, among other species. The knowledge about the fishing
aspects can serve as data for the management agreement and better management of
the RESEX Canavieiras.
KEYWORDS: Extractivism, estuary, preservation.
1 | INTRODUÇÃO
A atividade pesqueira pode ser definida por categorias, que sendo a pesca
extrativa marinha pode subdividir-se em pesca de subsistência, pesca artesanal,
pesca industrial costeira e pesca industrial oceânica (CNISO, 1998).
A pesca extrativista brasileira apresenta um papel relevante para o progresso
das comunidades costeiras, que contribui para o fornecimento de alimento assim
como o fortalecimento da atividade social e econômica (BEGOSSI et al., 2004). Esta
pesca emprega diretamente cerca de 830 mil pessoas, sendo somente na Bahia um
número superior a 105 mil pessoas inteiramente exercendo a atividade pesqueira, o
que representa aproximadamente 27% dos pescadores do nordeste (BRASIL, 2009).
O estado da Bahia possui um dos litorais mais extensos do Brasil. Segundo
o IBGE (2010), este estado possui mais de 1.100 km distribuídos em: 230 km de
litoral norte, 200 km da Baía de Todos os Santos e 673 km do litoral sul e do baixo
sul. A pesca artesanal na região litorânea da Bahia é praticada em mar aberto, nas
proximidades da costa, em estuários ou ambiente recifais (BAHIA PESCA, 2009).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
24
Na Bahia, a pesca é majoritariamente artesanal e/ou de subsistência, explorando
ambientes próximos à costa, pois, as embarcações e aparelhagens são feitas através
de técnicas relativamente simples, estas características fazem com que a pesca
marítima baiana apresente limitada autonomia de mar (BAHIA PESCA, 2009). A
atividade pesqueira extrativista da RESEX de Canavieiras é realizada em quase sua
totalidade de forma artesanal, embora, existam manejos que necessitam se adequar
a critérios de sustentabilidade ambiental (CAVALCANTE et al., 2013).
O conhecimento em relação à dinâmica da pesca local adquirido pelos
pescadores artesanais pode ser de grande utilidade a fim de propor outros tipos
de manejo, desta forma é de extrema importância o levantamento de dados sobre
as comunidades pesqueiras, analisando e catalogando os tipos de artes de pesca
utilizadas, informações socioeconômicas, para que se tenham dados confiáveis
a respeito da pesca artesanal e possa contribuir para planos de manejo de pesca
(JOHANNES, 1998). Diante disto, o objetivo geral deste trabalho foi caracterizar a
pesca artesanal na Reserva Extrativista de Canavieiras, Bahia.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no município de Canavieiras, localizada na região do sul
da Bahia, limitando-se ao norte com o município de Una, a noroeste com Santa Luzia,
ao sul com Belmonte, a oeste com Mascote e ao leste com o Oceano Atlântico. A área
da unidade territorial do município é de 1.334,295 km², com uma população em 2010
de 33.336 habitantes (IBGE, 2019).
Em Canavieiras encontra-se a Reserva Extrativista de Canavieiras com uma
área de 100.726,36 hectares, localizada nos municípios de Canavieiras, Belmonte
e Una no estado da Bahia. A RESEX foi criada pelo Decreto de 5 de junho de 2006,
da Presidência da República, tendo o Conselho Deliberativo da Reserva Extrativista
de Canavieiras criado pelo Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade – Instituto Chico Mendes, através da Portaria nº 71, de 3 de setembro
de 2009.
No período de fevereiro a setembro de 2016, foram realizadas entrevistas, com
pescadores da RESEX de Canavieiras, através de um questionário semiestruturado,
composto de 60 questões, relacionadas com a atividade pesqueira (artes de pesca,
embarcações e espécies capturadas), aspectos sobre a legislação e etnoconhecimento
da pesca e socioeconômico dos pescadores.
Um total de 65 questionários foi aplicado aos pescadores artesanais que
pescavam na RESEX de Canavieiras, através do Plano de Monitoramento e Avaliação
– Programa Pesca Para Sempre Brasil, da ONG Rare, pelo Projeto Dinâmica
Pesqueira no município de Canavieiras – BA, com ênfase na pesca do robalo
(Centropomus spp.). Este projeto foi autorizado pelo Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, pelo Sistema de Autorização e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
25
Informação em Biodiversidade – SISBIO, através do número 52498-1.
Os dados obtidos dos questionários foram tabulados em planilhas do excel,
para serem analisados e permitir a elaboração de gráficos e tabelas, com o intuito de
facilitar e ter uma melhor forma de apresentação dos resultados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Caracterização pesqueira
Na RESEX de Canavieiras são utilizados alguns tipos de embarcações, porém
as canoas foram a maioria (40%), seguidas das jangadas (2%), bote (1%) e algum
outro tipo de embarcação (15%) (Figura 1). Estas embarcações são próprias (74%),
podendo ser de casco de madeira (81%), fibra de vidro (3%) ou de ferro (2%). Conforme
relatos dos pescadores, o comprimento das embarcações variou de 3 a 13 metros e
uma média de 6 metros, com capacidade média de 4 tripulantes. Estas embarcações
podem ser locomovidas a remo, vela e motores de baixa potência (FIGURA 2).
Segundo IBAMA/CEPENE (2002) as canoas são embarcações de madeira
podendo ser construídas com a jaqueira (Artocarpus heterophyllus), podendo ser
movida a remo ou a vela, com fundo chato ou não, variando o comprimento de 3 a 9
metros. A madeira é a matéria prima mais utilizada entre as canoas utilizadas na pesca
marinha da Bahia, as demais podem ser fabricadas de fibra de vidro e a maioria delas
foram distribuídas entre pescadores de algumas comunidades do estado através de
programas governamentais (SEAP; IBAMA; PROZEE, 2005).
No estudo realizado por Pacheco (2006) e Gomes (2010), respectivamente na
Península de Maraú e em Maragogipe na Bahia, a canoa não motorizada também
foi a embarcação mais utilizada, isto pode inferir uma característica comum das
embarcações costeiras da Bahia.
Figura 1. Tipos de embarcações mais utilizadas na RESEX de Canavieiras, Bahia.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
26
Figura 2. Canoa de madeira motorizada, utilizada na pesca na RESEX de Canavieiras, Bahia.
Foto: Marcelo Freitas
As artes de pesca para captura do pescado são bastante diversificadas na área
de estudo, sendo a tarrafa o petrecho de pesca mais utilizado (54%), utilizando com
mais frequência a malha 3, seguida da rede de emalhe (35%) e a linha de mão (29%)
(FIGURA 3 e 4). Este último, utilizando nylon monofilamento com um ou mais anzóis
variando de tamanho (nº 2,5; 3,0; 5,0; 7,0) dependendo da espécie a ser capturada,
utilizando iscas.
Figura 3. Principais artes de pesca utilizadas por pescadores na RESEX de Canaveiras - BA.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
27
Figura 4. Pesca com tarrafa na RESEX de Canavieiras, Bahia.
Foto: Marcelo Freitas
Basílio e Garcez (2014) no estuário do rio Curu no Ceará, identificou que a
tarrafa foi o aparelho de pesca mais utilizado, assim como a rede de espera e a linha
de mão, as características dos aparelhos de pesca, como o comprimento, altura da
rede e largura da malha dependia do período do ano (chuvoso ou estiagem) e com
a espécie-alvo a ser capturada. As tarrafas são artes de pesca, que assim como
as redes de espera podem ser construídas pelos próprios pescadores, possui uma
forma cônica, sendo confeccionada com linha de nylon mono ou multifilamento,
com tamanho da malha variável, a depender da espécie que se pretende capturar
(FREIRE; SILVA, 2008).
Segundo Siqueira (2006) uma das artes de pesca registradas foi a linha de mão,
o espinhel, a rede de emalhar, entre outras. Mas em trabalho de Ramires et al. (2012),
em seu estudo em Ilhabela na cidade de São Paulo, foi a rede de espera. Sendo este
mesmo tipo de rede utilizado na RESEX Tapajós Arapiuns, conforme trabalho de Silva
e Braga (2016), assim como em Mendonça (2015).
Um total de 43 espécies de pescados capturados foi citada pelos pescadores,
sendo que as mais citadas pelos entrevistados foram: robalo (Centropomus parallelus
e Centropomus undecimalis), tainha (Mugil curema), cangoá (Mugil liza), vermelho
(Lutjanus spp.) (FIGURA 5). Além destas também a pescada (Micropogonias furnieri),
guaiúba (Ocyurus chrysurus), a ostra, o aratu, o siri, o caranguejo, entre outras
espécies. No trabalho realizado por Ramires et al. (2012) foi citado como espécies
potencialmente exploráveis pela pesca artesanal a tainha (Mugil sp.), o robalo
(Centropomus sp.) e a pescada (Cynoscionn sp.).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
28
Figura 5. Espécies de peixes citadas pelos pescadores: a. robalo; b. vermelho; c. tainha; d.
cangoá.
Foto Marcelo Freitas
As estações do ano melhores para a pesca foram o verão (37%) e o inverno
(34%) (FIGURA 6). No verão, período de dezembro a março, a água quente permite
uma maior captura de peixes e é melhor de trabalhar comparado ao inverno, conforme
relataram os entrevistados. Segundo Pacheco (2006), na Península de Maraú no
baixo sul da Bahia, o verão também é considerado a melhor época de captura, devido
a água ser quente e por isto ter maior abundância de peixes no estuário, devido à
procura de peixes por águas mais calmas e com grande fornecimento de alimento
para ali se reproduzir.
No trabalho de Alarcon; Costa; et al. (2009), os pescadores entrevistados
também relataram que o verão era a época do ano em que havia uma maior fartura de
pescado, principalmente “peixes boiados” (peixes pelágicos associados à superfície),
que apareciam em cardumes e “ovados” (em período reprodutivo), como “alvacora”
(Thunnus albacares), bonito (Euthynnus alleteratus), cavala (Scomberomorus
cavalla), entre outros.
Entretanto o inverno, período de junho a setembro, também foi considerado um
bom período para realizar a pescaria, conforme relatado por 34% dos pescadores
entrevistados. Os pescadores afirmaram que no inverno, a água clara e o vento
com chuva, propiciam a captura de robalos e a maior abundância de outros peixes.
Alarcon et al. (2009), relataram que no “inverno”, os “peixes de pedra” ou “peixe de
fundo”, como os vermelhos, eram os mais frequentemente capturados, juntamente
com as lagostas e camarões. Outros pescadores informaram que o outono (14%)
e a primavera (13%) também eram estações do ano boas para pescar, porém tudo
dependia do pescado a ser capturado. A melhor captura em uma determinada estação
do ano estava relacionada à sazonalidade dos recursos e, consequentemente,
implicavam na sazonalidade do uso dos petrechos de pesca.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
29
Figura 6. Estações do ano consideradas melhores para atividade pesqueira.
Os pescadores informaram que realizaram pescaria em 47 pesqueiros na
RESEX de Canavieiras, sendo que os mais citados foram: Rio Pardo (10%), Barra do
Albino (10%) e Rio cipó (6%), entre outros (FIGURA 7).
Figura 7. Principais pesqueiros da RESEX de Canavieiras frequentados pelos pescadores.
A forma de localização do pesqueiro era feita através de marcos naturais
(81%), entretanto 5% dos entrevistados relataram utilizar o GPS e através de outros
meios (8%). Isso mostrou que as embarcações não requerem de equipamentos
tecnológicos, pois o senso de orientação dos pescadores foi suficiente para aquela
localidade. Segundo Pacheco (2006), os que pescavam com manzuá eram os que
utilizavam maior número de locais de pesca, certamente por ser arte de pesca de
semifixa e de espera, necessitando conhecer com mais propriedade a área de pesca.
No estudo de Gomes (2010), realizado em Maragogipe – BA, foi verificado que o uso
de equipamentos de navegação e de salvatagem não eram presentes.
A forma de armazenamento do pescado capturado era através de isopor contendo
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
30
gelo (52%), colocados em geladeira (23%), frescos (17%) e mantidos de outra forma
(8%), como em freezer. Segundo Gomes (2010) em Maragogipe- BA, o sistema de
conservação do pescado capturado é feito pelo uso do gelo, e outros declaram não
usar sistema algum para conservar o pescado. Porém no estudo feito por Basílio e
Garcez (2014), o pescado era comercializado rapidamente após o desembarque ou
realizando processos da salga, pois não havia como congelá-los.
Sobre a comercialização do pescado, a maioria é vendida para atravessadores
(59%), sendo ainda comercializado no comércio popular (25%), frigoríficos (4%), outro
tipo de comercialização (9%) (FIGURA 8). Segundo GOMES (2010) em Maragogipe-
BA, quase todo pescado é destinado também para atravessadores. Esse fato se dá
pela dependência do pescador, ao ter que se ocupar com a compra e a manutenção
dos equipamentos de pesca e das embarcações, e até mesmo descansar para poder
voltar à atividade, o que ocasiona falta de tempo disponível para também vender o
pescado, levando-o a ficar destinado somente em capturar o pescado, e não mais na
comercialização do mesmo, diminuindo seu ganho e também ocasionando aumento
do valor para o consumidor (SOUZA, 2006).
Figura 8. Formas de comercialização do pescado capturado.
Na RESEX de Canavieiras foram citados diversos entraves que tem prejudicado
a pesca ao longo dos anos, entre os mais citados estão: a poluição do rio (14,3%),
grande número de pescadores na RESEX (9,5%), falta de fiscalização (9,5%),
pesca predatória (8,3%), desrespeito ao período de defeso (7,1%), presença de
mergulhadores (7,1%), entre outros (FIGURA 9).
Alguns destes entraves foram também relatados no trabalho de Pacheco (2006),
na Península de Maraú, relatando a diminuição do pescado, devido ao aumento
do número de pescadores, pesca predatória ressaltando a utilização de bombas
caseiras e a poluição. Isto coincidiu com o estudo feito por Silva e Braga (2016) no
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
31
Pará, na RESEX de Tapajós Arapiuns, na comunidade Surucuá, onde pescadores
relataram haver diminuição e tamanho do pescado devido ao aumento do número de
pescadores que passaram a atuar na região.
Na pesca artesanal marinha, o panorama de degradação de uma forma geral
dos ecossistemas costeiros ocasionado pela ação humana tem se mostrado como
fator principal para diminuição dos estoques mais explorados pelas comunidades
colocando em risco a continuidade da atividade (HAZIN, 2012).
Segundo Caldasso (2008), torna-se difícil para o pescador manter os recursos,
de tal forma que agem com a mesma racionalidade, presos num mesmo pensamento
que leva a degradação dos recursos, em que todos necessitam. Isso se torna uma
armadilha para todos, em que destroem o bem comum, mesmo não sendo com intuito
de que isso aconteça (FRANCISO, 2012).
Figura 9. Fatores que prejudicam a pesca na RESEX de Canavieiras, Bahia.
4 | CONCLUSÕES
A pesca artesanal na área que abrange a RESEX de Canavieiras é uma atividade
tradicional da região e destinada tanto como fonte de renda, quanto para subsistência
dos pescadores. O presente estudo representa um relevante estudo sobre a atividade
pesqueira na RESEX de Canavieiras, no qual possui dados escassos sobre a
pesca. Além disto, esta publicação pode servir como um importante subsídio para a
elaboração de um plano de manejo e acordo de gestão para esta Reserva Extrativista
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
32
Marinha e como contribuição para o conhecimento da atividade pesqueira do estado
da Bahia.
REFERÊNCIAS
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
33
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Canavieiras. Disponível em:
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de renda da atividade pesqueira artesanal no Rio Grande do Sul. In: ENCONTRO DE ECONOMIA
GAÚCHA. 2006.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 3
34
CAPÍTULO 4
doi
COMPOSIÇÃO DE Callinectes bocourti (A. MILNEEDWARDS, 1879) NA PESCA ARTESANAL DE
CAMARÃO-ROSA EM UM ESTUÁRIO TROPICAL
Thayanne Cristine Caetano de Carvalho
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Laboratório de Ecologia Aquática e Aquicultura
Tropical/Belém-PA
Alex Ribeiro dos Reis
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Laboratório de Genética Aplicada/ Belém-PA
Rayla Roberta Magalhaes De Souza Serra
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Laboratório de Ecologia Aquática e Aquicultura
Tropical/Belém-PA
Ryuller Gama Abreu Reis
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Instituto Socioambiental e dos Recursos
Hídricos- Empresa Projeto Arapaima – Importação
e Exportação de Aquicultura Ltda / Belém-PA
Lorena Lisboa Araújo
Universidade da Amazônia (UNAMA) – Museu
Paraense Emílio Goeldi – Ciências da Terra e
ecologia (COCTE)/Belém-PA
Sávio Lucas De Matos Guerreiro
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
– Laboratório de Genética Humana e médica/
Belém-PA
Glauber David Almeida Palheta
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Instituto Socioambiental e dos Recursos
Hídricos- Laboratório de Ecologia Aquática e
Aquicultura Tropical / Belém-PA
Nuno Filipe Alves Correia de Melo
Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)
- Instituto Socioambiental e dos Recursos
Hídricos- Laboratório de Ecologia Aquática e
Aquicultura Tropical / Belém-PA
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
RESUMO:
Os
estuários
amazônicos
apresentam características favoráveis para
o desenvolvimento de atividades pesqueiras
artesanais, dentre eles destacamos o apetrecho
denominado de puçá de arrasto. Objetivou-se
com este estudo verificar a composição sazonal
de Callinectes bocourti capturados pela pesca
de arrasto no estuário de Guajará-Mirim, no
município de Colares-PA. As amostras eram
realizadas bimensalmente e foram coletadas
utilizando puçá de arrasto em três estações
entre janeiro de 2012 a novembro de 2014,
o monitoramento da temperatura, pH e
salinidade foram aferidos in locu utilizando
uma sonda multiparâmetros. Os indivíduos
foram identificados e aferidos as variáveis
morfométricas de largura da carapaça em cm
(Lc) e peso total em gramas (Pt). Ao longo do
período amostral, o pH apresentou valores
variando entre 5,07 e 7,25, a temperatura entre
27,1°C a 28,99°C e a salinidade de 0,07 a 6,09.
Foram capturados um total de 349 espécimes
do siri Callinectes bocourti, sendo 59,89% na
estação chuvosa e 40,11% na estação menos
chuvosa. A espécie apresentou alometria do
tipo negativa. A proporção sexual difere de
1:1. O estudo demonstrou que a biomassa
de C. bocourti é composta por organismos de
pequeno porte e rejeitados por não possuirem
valor de comercialização. Além disso, foi
possivel observar que os fatores ambientais
Capítulo 4
35
refletem diretamente na abundância de organismos, em especial a salinidade, visto
que as maiores capturas ocorreram no período mais chuvoso.
COMPOSITION OF Callinectes bocourti (A. MILNE-EDWARDS, 1879) IN
ARTISANAL FISHING OF ROSE SHRIMP IN A TROPICAL ESTUARY
The Amazonian estuaries present favorable characteristics for the
development of artisanal fishing activities, among them the aptrecho called drag fishing.
The objective of this study was to verify the seasonal composition of Callinectes bocourti
captured by trawling in the Guajará-Mirim estuary, in the municipality of Colares-PA.
The samples were collected bimonthly and collected with trawl sticks, collected in three
seasons, between January 2012 and November 2014, and the temperature, pH and
salinity were measured on site using a multiparameter probe. The individuals were
identified and gauged the morphometric variables of carapace width in cm (Lc) and
total weight in grams (Pt). During the sample period, the pH presented values ranging
from 5.07 to 7.25, the temperature between 27.1 ° C and 28.99 ° C, and the salinity of
0.07 to 6.09. A total of 349 specimens of the Callinectes bocourti crab were captured,
59.89% in the rainy season and 40.11% in the less rainy season. The species presented
negative allometry. The sex ratio differs from 1: 1. The study demonstrated that the
biomass of C. bocourti is composed of small organisms and rejected because they do
not have commercial value. In addition, it was possible to observe the main factors that
stand out the most, especially the salinity, since the largest catches occurred in the
rainy season.
ABSTRACT:
1 | INTRODUÇÃO
A pesca artesanal está sujeita a diversos fatores internos e externos, presentes
na relação entre os diferentes atores sociais e ambientais que ocupam e fazem uso do
mesmo território. Assim, torna-se necessário compreender a atividade pesqueira para
perceber as modificações dos recursos naturais e sua potencialidade de preservação
(SANTOS; SILVA E CINTRA, 2016).
A Região Norte, apresenta condições favoráveis potencialmente para a pesca
de camarão-rosa Farfantepenaeus subtilis (PÉREZ-FARFANTE, 1967) visto que
esse animal utiliza esse ecossistema para completar o seu ciclo de vida devido ao
aporte de grandes quantidades de nutrientes carreados pela Bacia Amazônica e dos
detritos produzidos nos ecossistemas costeiros de manguezais (ISAAC; DIAS NETO
e DAMASCENO, 1992).
A pesca camaroneira possui baixa seletividade e associado a riqueza faunística
nas regiões costeiras tropicais e sub-tropicais acarreta em captura acidental de outros
organismos (SEVERINO-RODRIGUES; GUERRA E GRAÇA-LOPES, 2002). A fauna
associada à pesca camaroeira é geralmente caracterizada pela alta diversidade e
grande quantidade de biomassa, quando comparada à dos camarões alvo da pesca,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
36
podendo chegar a uma relação que varia de 11:1 (CONOLLY, 1986) a 20:1 (EAYRS,
2007).
Do ponto de vista ecológico, a captura da fauna acompanhante constitui um
potencial risco ao equilíbrio ambiental (GRAÇA-LOPES et al., 2000). O descarte a
longo-prazo das espécies que compõem a fauna acompanhante contribui para a
perda da biodiversidade e a consequente redução da biomassa, comprometendo a
produtividade dos estoques pesqueiros e alterando o caráter das comunidades que
ali residem (HUDSON e FURNESS, 1988; MURRAY et al., 1992; CLUCAS, 1998;
BRANCO e VERANI, 2006).
No Brasil, a cultura alimentícia e/ou o reaproveitamento da carcinofauna
acompanhante se restringe a poucas espécies devido o baixo valor comercial
resultando em desperdício e o não aproveitamento dos organismos capturados
(PEREIRA-BARROS, 1981; PETTI, 1997; BRANCO e FRACASSO, 2004). A ocorrência
de crustáceos decápodes na composição da fauna acompanhante associada à
pesca de arrasto é elevada, superando consideravelmente a biomassa dos camarões
comercializados (COELHO et al., 1986). Por conta desses fatores o objetivo desse
estudo foi avaliar a composição sazonal de Callinectes bocourti.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
As amostragens foram realizadas bimensalmente entre janeiro de 2012 a
novembro de 2014, utilizando uma rede camaroeira de arrasto manual denominado
de puçá de arrasto, com 3 metros (m) de comprimento, 65 centímetros (cm) de altura,
2,20 m de largura ou abertura e malha de 20 milímetros (mm) entre nós opostos, a
rede foi arrastada em horário noturno durante a maré vazante num percurso de 1,418
km compreendido entre a estação 1 (S 00º 52' 55" W 048º 09' 34") e estação 2 (S 00º
52' 41" W 048º 09' 47") (Figura 1).
Figura 1. Mapa da localização das estações de coleta, estuário de Guajará-Mirim.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
37
Após cada arrasto, os indivíduos foram separados da fauna acompanhante e
armazenados em sacolas plásticas de polietileno devidamente etiquetadas de acordo
com a data e local, acondicionados em caixa térmica e conservados em gelo, sendo
conduzidos até o Laboratório de Ecologia Aquática e Aquicultura Tropical – LECAT no
campus da Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA, em Belém-PA.
Os espécimes coletados foram identificados de acordo com MELO (1996). A
identificação do sexo foi baseada na a identificação macroscópica, através da anatomia
do abdômen com o auxílio de lupa binocular. Para cada indivíduo foi registrada a
largura da carapaça (Lc) que compreende a distancia entre os espinhos laterais em
cm usando um paquímetro com precisão de 0,01 mm e peso úmido total (Pt), com
uma balança digital de precisão de 0,01 g.
O monitoramento das principais características hidrológicas foi aferido in situ
utilizando-se uma sonda multiparâmetros da marca HANNA modelo HI9828. Todas
as variáveis coletadas foram linearizadas sendo empregado o teste Shapiro-Wilk
para verificar a normalidade dos dados. A ANOVA a 5% para observar as diferenças
entre os grupos por meio da homogeneidade das variâncias das médias dentro de
cada ano seguida do teste estatistico de Tukey para verificar possiveis diferenças
estatisticas entre abundância de captura e variáveis ambientais, quanto à determinção
pelo pressuposto a normalidade e homogeneidade das variâncias atraves do teste de
Shapiro-Wilk.
Para verificar a frequência do comprimento os indivíduos foram distribuídos em
classes com intervalos de um 1 cm de largura de carapaça (Lc), determinando assim
a frequência relativa (percentual que cada valor de largura de carapaça se repete) de
siris, por centro de classe, em relação ao total de indivíduos e por sexo, amostrados
durante o período de estudo.
A razão sexual (sexo masculino: feminino) entre os meses e o período total da
coleta foi calculada pelo teste do qui-quadrado (χ ²), com nível de significância de
95%, para testar a diferença de 1: 1 (ZAR, 2009).
As relações entre Pt e Lc foram determinadas para a espécie, para machos e
fêmeas separadamente, de acordo com a equação Pt = a.Lcb, onde Pt = peso total;
Lc = largura de carapaça; e 'a' e 'b' = parâmetros de crescimento (WEATHERLEY e
GILL, 1987). A taxa de crescimento de peso foi avaliada pelo grau de alometria como
isométrico (b = 3), alométrico positivo (b> 3) ou alométrico negativo (b <3) (ZAR,
2009). O Teste t de Student (α = 0,05) foi empregado para comparação entre machos
e fêmeas, para verificar diferenças estatísticas entre as médias dos comprimentos e
pesos através do programa PAST 2015 (Hammer, 2015).
3 | RESULTADOS
Os parâmetros físico-químicos (temperatura, pH e salinidade), apresentaram
médias de 28,39 ± 0,61 °C, 6,85 ± 0,93 e 4,21 ± 3,73 respectivamente, para todo
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
38
período amostral no estuário de Guajará-Mirim.
O período menos chuvoso (julho, setembro e novembro) apresentou valores
médios dos parâmetros físicos químicos superiores ao período chuvoso (janeiro,
março e maio) (Tabela 1). O teste t de Student confirmou que não há diferença
estatística na comparação das médias mensuradas de temperatura (p=0,598) e
potencial hidrogeniônico (p=0,78121) nos períodos chuvoso e menos chuvoso. Para
a salinidade foi confirmada diferença estatística, (p=0,00014779) aceitando-se a
hipótese alternativa de que no período menos chuvoso a salinidade é maior do que
no chuvoso.
CHUVOSO
MENOS CHUVOSO
MESES
°C
pH
°C
pH
Salinidade
JAN/12
27,95
6,05
2,73
JUL/12
29,05
6,89
5,28
MAR/12
27,95
6,04
0,30
SET/12
29,13
6,91
5,53
MAI/12
28,99
8,62
0,14
NOV/12
28,69
6,97
12,75
JAN/13
28,91
6,96
6,09
JUL/13
28,56
6,80
4,61
MAR/13
28,73
6,86
1,35
SET/13
28,18
5,07
5,20
MAI/13
28,99
8,62
0,14
NOV/13
29,02
6,72
7,84
JAN/14
27,10
6,71
1,46
JUL/14
27,98
6,85
7,02
MAR/14
27,83
7,25
0,26
SET/14
28,40
7,57
4,87
MAI/14
28,18
5,07
0,07
NOV/14
27,35
7,25
10,21
MÉDIA
28,29±0,65
6,91±1,17
1,39±1,97
28,48±0,58
6,78±0,69
7,03±2,80
Salinidade MESES
MÉDIA
Tabela1. Média das variáveis ambientais no período chuvoso e menos chuvosos e no período
de Janeiro de 2012 a novembro de 2014 no estuário de Guajará-Mirim, Colares-PA
Durante todo período de monitoramento foram capturados 5.358 indivíduos,
sendo que a espécie Callinectes bocourti contribuiu com 6,51% do total amostrado.
Anualmente o siri apresentou uma frequência de 4,61% (2012), 14,74% (2013) e
7,09% (2014).
2012
2013
2014
MESES
CB
FS
CB
FS
CB
FS
Janeiro
60
1049
4
250
97
Março
5
0
31
0
Maio
0
0
0
1
0
Julho
4
7
988
21
90
0
6
104
Setembro
10
804
6
0
0
12
Novembro
20
542
24
126
41
386
Anual
120
2485
65
376
164
2148
0
670
Tabela 2. Frequência absoluta da fauna de C. bocourti e do F. subtilis capturados com arrasto
artesanal no estuário de Guajará-Mirim, Nordeste Paraense. Legenda: CB = Callinectes
bocourti; FS = Farfantepenaeus subtilis
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
39
A captura de C. bocourti com o puçá de arrasto apresentou 38,21% e a espécie-
alvo o camarão-rosa com 61,79% da biomassa total (10,55 Kg) capturada no arrasto
artesanal. As biomassas de camarão-rosa nos arrastos foram superiores ao siri para
os anos de 2012 e 2014, a amostragem de 2013 evidenciou maior captura do siri,
onde para cada 1 kg de F. subtilis foi capturado 1,74 Kg de C. bocourti (Tabela 3).
PESO em Kg
ANO
C. boucorti
F. subtilis
S/CR
2012
1.62
3.33
0.49:1
2013
0.94
0.54
2014
1.47
2.65
TOTAL
4.03
6.52
1.74:1
0.55:1
0.62:1
Tabela 3: Biomassa anual e total da fauna de C. bocourti capturada na pesca de arrasto
artesanal de F. subtilis no estuário de Guajará-Mirim, Nordeste Paraense.
Legenda: S/CR = proporção de siri/camarão-rosa;
Um total de 349 espécimes do siri C. bocourti foram capturados durante o
período de estudo, sendo na estação chuvosa 59,89% (97 fêmeas e 112 machos)
e 40,11% (63 fêmeas e 77 machos) na estação menos chuvosa. A amostragem não
apresentou diferenças significativas (α = 0,05) na comparação da abundância de
capturas sazonais, para a espécie P = 0,35448, machos (P = 0,33882) e para fêmeas
(P = 0,39908) (figura 2).
Figura 2. Composição da captura sazonal total e por sexo do siri Callinectes bocourti no
Estuário de Guajará-Mirim, Colares-PA.
A ANOVA comprovou as diferenças entre os grupos por meio da homogeneidade
das variâncias das médias dentro de cada ano 2012 (F = 5,739 e p = 0,002032),
2013 (F = 4,378 e p = 0,008065) e 2014 (F = 4,188 e p = 0,009883), e a através da
verificação de diferenças significativas entre as médias de abundância e os fatores
abióticos para cada ano pelo teste de Tukey, evidenciou-se que a salinidade no ano
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
40
de 2012 influenciou significativamente na abundância de siri (tabela 4).
ABUNDÂNCIA
FATORES
2014
2012
2013
0.712
0.745
pH
0.830
0.0647
Salinidade
0.031
0.7132
0.078
°C
0.9906
0.958
Tabela 4. Teste de Tukey entre a média dos fatores abióticos e da abundância da amostragem
do C. bocourti, capturado com apetrecho de pesca “puçá de arrasto”, no estuário de GuajaráMirim, Município de Colares, Pará, Brasil.
Legenda: °C=temperatura em graus celsius; pH=potencial hidrogeniônico.
A largura da carapaça dos indivíduos de C. bocourti amostrados variou entre
0,42 a 12,47cm, sendo composta por indivíduos com LC de 1 a 6 cm capturados com
maiores frequências, representando 74,17% (2012), 75,38% (2013) e 85,98% (2014)
da captura nas amostragens (figura 3).
Figura3. Distribuição de frequência anual de C.bocourti amostrados por classe de largura da
carapaça no estuário de Guajará-Mirim, Município de Colares, Pará, Brasil.
A largura da carapaça dos indivíduos variou entre 0,42 a 12,47 cm (média de
4,02 ± 2,63 cm) para os machos e 1,12 a 12,04 cm (média de 4,08 ± 2,55 CM) para
as fêmeas com picos nas classes de 2,5 cm para ambos os sexos. Os indivíduos
com LC de 1 a 5 cm capturados representaram 73,40% (machos) e 73,13% (fêmeas)
(figura 4).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
41
Figura 4. Distribuição de frequência anual de machos e fêmeas de C.bocourti amostrados por
classe de largura da carapaça no estuário de Guajará-Mirim, Município de Colares, Pará, Brasil.
Pela relação entre peso total (g)/largura da carapaça (cm) plotada pode-se
estabelecer que para os anos amostrais de 2012 (Pt = 0.0882Lc2.8408 , r= 0,91), 2013
(Pt = 0.0693Lc2.8921, r= 0,83) e 2014 (Pt = 0.0877Lc2.8797, r= 0,88) a correlação de
Pearson para os pares ordenados evidenciou a existência de correlação direta r >
0,197 (α=0,05), uma vez que as variáveis peso e comprimento sofrem mudanças
durante o processo ontogenético e a regressão da relação para a espécie apresentou
um crescimento, com alometria do tipo negativa (onde b < 3), apresentando um ganho
de massa menor que o crescimento em tamanho, na analise anual do C. bocourti.
Com relação à análise do crescimento para todo o período amostral as fêmeas
(r.= 0,93) e os machos (r= 0,89) capturados, evidenciaram uma correlação direta, com
um crescimento alométrico negativo (tabela 5).
ANO
FÊMEAS
MACHOS
a
b
r
ALOMETRIA
a
b
r
ALOMETRIA
2012
0.068
3.009
0.94
(+)
0.096
2.774
0.90
(-)
2013
0.093
2014
0.091
TOTAL
0.087
2.723
2.809
2.838
0.96
0.91
0.93
(-)
(-)
(-)
0.051
0.087
0.087
3.067
2.922
2.842
0.90
0.89
0.89
(+)
(-)
(-)
Tabela 5: Regressão estatística anual entre comprimento total e peso total para C. bocourti, no
estuário de Guajará-Mirim, Nordeste Paraense.
Legenda: a) interseção de linha; b) Ângulo de inclinação da linha e coeficiente de alometria; (r) coeficiente de
Pearson; (-) = Alometria negativa; (+) = Alometria positiva.
Através do teste T de Student não foi observada as diferenças das médias entre
machos e fêmeas para o peso total (p = 0,54683) e largura da carapaça (p = 0,84666)
para todo o período amostral.
A proporção sexual para a espécie C. bocourti no total amostrado no Estuário
difere de 1:1. A razão sexual total (machos: fêmeas) foi favorável para os machos
diferindo significativamente (teste χ², P <0,05). A maior proporção de machos de C.
bocourti foi observada para o ano de 2012 e 2014 com proporção igual (Tabela 6).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
42
2012
MESES
M-F
Janeiro
1.4:1
Março
0.67:1
2013
χ²
1.67ns
0.20ns
χ²
M-F
0.33:1
0.50ns
0.9:1
1.82:1
25.81*
2.5:1
7.14*
0.00
2.00ns
0.5:1
1.33ns
1.4:1
8.17*
(-)
Maio
1:1
0.00ns
Julho
6:1
10.71*
2:1
0.80ns
0.71:1
Setembro
2.33:1
Novembro
0.67:1
Anual
1.5:1
1.60ns
4.80*
2014
M-F
(-)
1.17:1
(-)
5.33*
(-)
8.33*
37.69*
1.05:1
1:1
χ²
43.63*
21.51*
82.00*
Tabela 6: Proporção sexual mensal de C. bocourti no estuário de Guajará-Mirim, Nordeste
Paraense. X²: teste qui-quadrado.
Legenda: M-F = proporção machos/fêmeas; *P< 0.05; ns = no statistical difference; (-) = sem ocorrência da
espécie.
4 | DISCUSSÃO
O arrasto de fundo causa um impacto maior quando empregada em regiões
costeiras ou estuarinas, por serem áreas reconhecidas como berçários para diversas
espécies de interesse comercial e ambiental (Lazzari et al., 2003; Branco e Fracasso,
2004).
De acordo com Branco e Fracasso (2004) a contribuição em biomassa da
carcinofauna foi superior à da espécie alvo o X. kroyeri, com a família Portunidae e
Penaeidae em conjunto, contribuíram com 32,1% das espécies e 49,0% do total de
exemplares capturados.
No estuário de Guajará-Mirim a captura de Callinectes bocourti apresentou
38,21% biomassa total capturada no arrasto artesanal, apesar da importância
ecológica e pesqueira, existem poucas informações recentes disponíveis no litoral
brasileiro que analisem a fauna acompanhante na pesca de arrasto de camarões,
(CLUCAS 1997, SEVERINO-RODRIGUES et al. 2002, GRAÇA-LOPES et al. 2002),
principalmente relacionados a relação da biomassa de espécie alvo e fauna associada
da pesca artesanal.
Carvalho (2009) em seus trabalhos no estuário do Rio Cachoeira em Ilhéus (BA)
sugeriu que C. bocourti é encontrado comumente em regiões interiores do estuário. A
espécie apresenta tolerância à baixa salinidade, uma vez que essas regiões sofrem
uma influência maior dos rios, tornando-as adequadas para as populações de siris
(NORSE, 1978; POSEY et al., 2005).
Para os estuários amazônicos Nevis et al. (2009) e Bentes et. al (2013)
registraram maior abundância de C. bocourti na estação chuvosa, enquanto que no
município de Vigia de acordo com Silva et. al (2005) a espécie ocorre principalmente
no período menos chuvoso, sendo os machos foram mais abundantes.
O estuário de Guajará-Mirim pode ser dividido de acordo com o índice de chuvas,
sendo eles o período chuvoso (janeiro a junho) e o período menos chuvoso (de julho
a dezembro) (ARAÚJO, 2013). O período com maior índice pluviométrico resulta
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
43
no aumento da descarga continental influenciando diretamente nos parâmetros da
qualidade das águas estuarinas como visto neste estudo, além de atuar no transporte
de nutrientes e material particulado (GOMES et al., 2013).
A produtividade de um corpo hídrico depende diretamente da disponibilidade
de nutrientes sejam eles de origem natural ou antrópica e isso reflete no ambiente
estuarino, onde abriga grande número de espécimes em geral nas suas formas jovens
(TROUSSELLIER et al., 2004).
A largura do cefalotórax variou de 1,12 a 12,04 cm para as fêmeas e de 0,42 a
12,47 cm para os machos, valores próximos aos encontrados por Silva et. al (2005)
com 1,3 a 11,7 cm (fêmeas) e de 1,1 a 13,7 cm (machos).
Os machos de siris do gênero Callinectes apresentam dimorfismo sexual quanto
à largura da carapaça alcançando tamanhos superiores aos das fêmeas (WILLIAMS,
1974), diferindo do presente estudo onde a diferença do LC a favor das fêmeas não
foi significativa.
No estuário de Guajará-Mirim a proporção sexual favorável para os machos,
diferindo do encontrado por Bentes et. al (2013) em Bragança. A proporção sexual
esperada de 1:1 é comum nos crustáceos e pode estar relacionado a aspectos como
estratégia reprodutiva da espécie, padrão de dispersão, mortalidade e taxas de
crescimento diferenciadas entre os sexos e não somente a migração (MANTELATTO
& FRANSOZO, 1999).
5 | CONCLUSÃO
As biomassas de camarão-rosa nos arrastos foram superiores ao siri, a biomassa
de C. bocourti, é composta por organismos de portes pequenos e rejeitada por não
possuir valor comercial.
A associação dos fatores ambientais com a abundância demonstrou que a
salinidade influencia significativamente, visto que maiores capturas ocorreram no
período mais chuvoso.
6 | AGRADECIMENTOS
Os autores são especialmente gratos à Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior-CAPES.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 4
46
CAPÍTULO 5
doi
CONHECIMENTO TRADICIONAL SOBRE A PESCA
ARTESANAL EM LIMOEIRO DO AJURU (PARÁ, BRASIL)
Kelli Garboza da Costa
Universidade Federal do Pará, Campus
Universitário do Tocantins/Cametá, Faculdade de
Agronomia
Cametá - Pará
Benedito Viana Leão
Universidade Federal do Pará, Campus
Universitário do Tocantins/Cametá, Faculdade de
Educação do Campo
Cametá - Pará
RESUMO: A pesca artesanal na região norte
do Brasil contribui no incremento de renda e
ocupação de mão de obra na economia local, no
fornecimento de proteína animal, na identidade
e fortalecimento social do sistema de crenças
e valores agregados na atividade pesqueira. O
estudo busca registrar o conhecimento tradicional
de pescadores artesanais de Limoeiro do Ajuru
(Pará, Brasil) sobre a atividade pesqueira
local. Os dados foram coletados através da
observação participante e entrevista informal
e semiestruturada nos meses de fevereiro e
março de 2019, com 20 pescadores, utilizando
técnicas da etnotaxonomia e etnobiologia.
Foram registradas 19 espécies de pescado
pertencentes a nove famílias, com destaque
para os ciclídeos em termos de riqueza de
espécies. As espécies mais frequentemente
capturadas pelos pescadores são o mapará,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
a pescada e o camarão. Os apetrechos de
pesca utilizados são malhadeira, caniço, linha
de nylon, tarrafa, matapi, espinhel, arpão e
zagaia, com uma variedade de iscas naturais,
como a minhoca, camarão, peixes menores
(baiacu ou amburé) e o babaçu. Os pescadores
nomeiam e descrevem detalhes morfológicos,
ecológicos e etológicos, contribuindo para o
conhecimento da diversidade local e regional.
O estudo demonstra que os pescadores, além
de serem mantenedores dos recursos naturais,
possuem um significativo conhecimento sobre
a biodiversidade de pescado do rio Limoeiro,
que deve ser igualmente valorizado ao
conhecimento científico.
PALAVRAS-CHAVE:
Região
amazônica,
Populações ribeirinhas, Pescado.
TRADITIONAL KNOWLEDGE ON ARTISAN
FISHING IN LIMOEIRO DO AJURU (PARÁ,
BRAZIL)
ABSTRACT: Artisanal fishing in the northern
region of Brazil contributes to the increase of
income and occupation of labor in the local
economy, in the supply of animal protein, in the
identity and strengthening. The study sought
to record the traditional knowledge of artisanal
fishermen from Limoeiro do Ajuru (Pará, Brazil)
on the local fishing activity and the data were
collected through participant observation and
Capítulo 5
47
informal and semi-structured interviews in the months of February and March of 2019,
with 20 fishermen, using techniques of ethnotaxonomy and ethnobiology. 19 species
of fish belonging to nine families were registered, with cichlids in terms of species
richness. The species most frequently caught by fishermen are mapará, hake and
shrimp. The fishing gear used is a hammer, reed, nylon line, tarrafa, matapi, shank,
harpoon, and spearfish, with a variety of natural baits such as earthworms, shrimp,
small fishes (baiacu or amburé) and babassu. The fishermen name and describe
morphological, ecological and ethological details, contributing to the knowledge of local
and regional diversity. The study showed that fishermen, in addition to being natural
resource maintainers, have a significant knowledge about the biodiversity of fish from
the Limoeiro river, which should be equally valued to scientific knowledge.
KEYWORDS: Amazon region, Riverine populations, Fish.
1 | INTRODUÇÃO
As populações tradicionais da Amazônia brasileira, de modo geral, dependem
diretamente da natureza, devido aos recursos ali presentes serem necessários
para a sua subsistência. Vários autores ao redor do mundo têm estudado como
estas comunidades se relacionam e utilizam os recursos naturais (TOLEDO et al.,
2003; SILVANO; BEGOSSI, 2005; XU et al., 2006; BEGOSSI, 2006; RAMIRES et
al., 2007; BEGOSSI; SILVANO, 2008), demonstrando o riquíssimo conhecimento
que populações tradicionais possuem sobre o ecossistema local. Isso constitui um
precioso patrimônio cultural a ser valorizado, necessário para as discussões sobre
conservação da biodiversidade local (COSTA-NETO; MARQUES, 2000; ROZZI et al.,
2006; ALVES et al., 2007).
A pesca é uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia,
constituindo-se em fonte de alimento, comércio, renda e lazer para grande parte de
sua população, especialmente para as populações ribeirinhas (BERKES et al., 2006;
SILVANO; VALBO-JORGENSEN, 2008). Pescadores discutem sobre a ecologia e
o comportamento dos peixes constantemente, revelando importantes informações
sobre o tamanho e a abundância dos peixes capturados e a situação do recurso
explorado atual e passada (ROCHET et al., 2008; SILVANO; VALBO-JORGENSEN,
2008). Essa interação homem/peixe é tema de investigação da etnoictiologia que
engloba aspectos tanto cognitivos quanto comportamentais (MARQUES, 2001).
Na região de integração do baixo rio Tocantins que envolve cerca de 10
municípios, a pesca artesanal é uma das principais atividades econômica e de
subsistência. Os pescadores dessa região conhecem a melhor época para pescar,
o melhor local, o comportamento sazonal das espécies, ou seja, são detentores de
importantes saberes tradicionais sobre a pesca artesanal (HALWASS, 2011; BRITO,
2018; SILVA, 2019). Esses saberes lhes confere um modo particular de vida e visão
de mundo, que devem ser encarados como um verdadeiro patrimônio cultural da
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
48
Nação, que seria inevitavelmente perdido com a interrupção dessa atividade.
Fazendo parte desta região, está o rio Limoeiro, que juntamente com o rio
Tocantins apresenta elevado volume de desembarque e produção de pescado para
fins de consumo da população local. Sendo assim, a consolidação de bases científicas
é prioritária para o manejo das pescarias, para a conservação da diversidade
ictiológica, já que várias comunidades tradicionais que dependem da pesca como
meio fundamental de renda e alimentação, estão submetidas muitas vezes a situações
de pobreza, riscos sociais e ambientais que, em longo prazo, tendem a comprometer
o desempenho da cadeia produtiva do pescado (SANTOS, 2005).
O conhecimento de populações locais sobre os recursos pesqueiros pode ser
uma importante ferramenta na complementação dos dados gerados por estudos de
manejo e tem demonstrado ser útil no preenchimento de lacunas do conhecimento
científico (HALWASS, 2011). Dentro desse contexto, o estudo busca registrar o
conhecimento tradicional de pescadores artesanais de Limoeiro do Ajuru (Pará, Brasil)
sobre a atividade pesqueira local, abordando questões socioculturais e ambientais.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido com pescadores que vivem nas margens do rio
Limoeiro, onde residem quatro comunidades tradicionais, distribuídas em 320 famílias.
O rio localiza-se ao lado esquerdo do território do município de Limoeiro do Ajuru,
estado do Pará (1°59'36"S, 49°24'06"W), vizinho dos municípios de São Sebastião da
Boa Vista, Cametá e Muaná.
O rio Limoeiro é um dos rios mais importante do território Limoeirense,
devido principalmente a pesca artesanal, além de ser utilizado para o tráfego de
diversas comunidades ribeirinhas até a sede municipal e para escoamento do açaí.
Os pescadores, que dependem do rio, têm como principal atividade econômica a
comercialização do pescado e de produtos da agricultura familiar. Os portos de Limoeiro
do Ajuru, Mocajuba, Baião e Tucuruí apresentam um volume de desembarque entre
100 e 300 toneladas anuais, sendo o porto mais importante o de Cametá, com um
volume de desembarque que ultrapassou 2.000 toneladas no ano de 2000 (MÉRONA
et al., 2010).
Os dados foram coletados através da observação participante e entrevista
informal e semiestruturada nos meses de fevereiro e março de 2019. A pesquisa
de campo foi de fácil compreensão, uma vez que um dos autores é morador da
comunidade estudada, pescador, o que propicia a sensibilidade do pesquisador, como
já descreve Amorozo e Viertler (2008) em estudos de etnobiologia e etnoecologia.
Um total de 20 pescadores foram entrevistados, com auxílio de um roteiro de
perguntas com questões sobre: nome dos peixes, época e local de pesca, técnicas
de pesca, tipo de embarcação, frequência da pescaria, se faz beneficiamento, para
quem comercializa, entre outras. A escolha dos informantes foi aleatória, levando em
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
49
consideração a disponibilidade dos pescadores, pois as entrevistas tiveram duração
de cerca de quatro horas com auxílio de um gravador de voz.
Para definição dos locais de pesca, utilizou-se uma imagem do Google Earth da
área de estudo, o rio Limoeiro, onde os pescadores entrevistados puderam apontar
seus locais de pescaria. A identificação das espécies de peixes ocorreu entre os
próprios pescadores, os quais indicavam os nomes populares de cada espécie.
A técnica utilizada no estudo da etnotaxonomia foi a topografia corporal do
peixe, onde os pescadores fazem a descrição corporal a partir de exemplares vivos
e essas descrições são transcritas para um desenho/fotografia do peixe. Isto permite
uma análise dos termos adotados na linguagem dos pescadores e uma comparação
à terminologia científica (MOURÃO; MONTENEGRO, 2006).
As informações sobre os peixes constam de nome popular, família, sistematizadas
em tabelas, utilizando-se o programa Microsoft Office Excel® (2010). As análises das
informações relativas às temáticas abordadas nos questionários foram agrupadas e
examinadas de forma qualitativa e quantitativa, submetidas à estatística descritiva,
para cálculo de frequência como descreve Triola (2005). A escala empregada como
critério para determinação das espécies capturadas pelos entrevistados foi a seguinte:
> 70 % muito frequente; 70 – 40 % frequente; 40 – 10 % pouco frequente e < 10 %
esporádica.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesca é uma das atividades mais importante na vida dos ribeirinhos do rio
Limoeiro, pois sua relevância não se dá apenas na vivência, mas é o elemento
essencial para sua identidade e cultura local. Do total de informantes, 90% iniciaram
a atividade na pesca quando tinham cerca de 10 anos de idade, sendo seus pais os
principais responsáveis pelo repasse dos saberes tradicionais. O peixe representa
uma fonte importante de subsistência, junto com o camarão, a farinha de mandioca e
o açaí. Estudos desenvolvidos na Amazônia destacam a importância do peixe como
principal fonte de proteína animal na dieta dos ribeirinhos (MURRIETA et al., 2014;
BRITO, 2018; SILVA, 2019).
A pesca artesanal no rio Limoeiro se constitui como uma das principais
atividades produtivas, pois no período de safra gera renda para as famílias que ali
vivem. Seja para fins de subsistência ou comerciais, tanto na entrevista quanto nas
observações de campo, verificou-se que a atividade pesqueira no rio Limoeiro é
repleta por um conjunto de regras e condutas que fazem a dinâmica do cotidiano dos
sujeitos. Segundo Furtado (2018), a pesca é uma atividade econômica, acessível
para sobrevivência dos ribeirinhos, os quais possuem habilidades na confecção
dos apetrechos de pesca, nas semelhanças e diferenças das espécies, sejam por
treinamento ou por observações empiricamente vivenciadas.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
50
No rio Limoeiro 18 espécies de peixes e uma espécie de crustáceo são capturadas
pelos pescadores entrevistados. Essas espécies estão distribuídas em nove famílias
(Tabela 1). As espécies com maior frequência de captura foram o mapará (100%),
a pescada (100%) e o camarão (100%). Mandi (80%), mandubé (80%), jacundá
(80%), dourada (60%) e caratinga (60%) são capturados frequentemente. As demais
11 espécies foram pouco frequentes (30-40%), não havendo espécies de captura
esporádica.
Família
Anostomidae
Characidae
Cichlidae
Nome popular
Aracú
Frequência (%)
30%
Pacu
30%
Caratinga
60%
40%
Curuca
40%
Ituí
80%
Jacundá
Jeju
40%
80%
Mandubé
80%
Mandi
Pirapitinga
40%
Tucunaré
30%
Erythrinidae
Traíra
40%
Heptapteridae
Jundiá
30%
Acareua
40%
Acari
30%
Dourada
60%
Mapará
100%
Sciaenidae
Pescada
100%
Palaemonidae
Camarão
100%
Loricaridae
Pimelodidae
Tabela 1. Espécies de pescado capturadas por pescadores artesanais do rio Limoeiro (Limoeiro
do Ajuru, Pará).
A família Cichlidae foi a mais representativa em termos de riqueza de espécies,
representando 47% do total de espécies identificadas e pelo menos oito gêneros
distintos. Quatro espécies de ciclídeos são capturas frequentemente pelos pescadores,
como mandi, mandubé, caratinga e jacundá. Segundo Kullander (1998), os ciclídeos
são a família de peixes mais rica em espécies em águas doces do mundo, com pelo
menos 1.300 espécies.
As espécies mais frequentes, segundo os pescadores, estão disponíveis no rio
durante todo o período da pesca e em grande abundância (Figura 1). Segundo relato:
“Quando abre a pesca no mês de março a gente pega muito mapará, eles são aí
de fora e quando o sol esquenta muito na baía ele entra no rio e começa aparecer”
(Pescador, 35 anos). O mapará é muito pescado durante os meses de março até
julho, porém a pescada, o camarão e a caratinga são espécies que ocorrem o ano
todo no rio, sendo, portanto, mais consumidos pela população local.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
51
Figura 1. Espécies mais frequentes no rio Limoeiro (Limoeiro do Ajuru, PA). 1 – mapará, 2 –
mandubé, 3 – pescada, 4 – caratinga, 5 – mandi, 6 – camarão, 7 – jacundá, 8 - dourada.
Para captura do pescado os pescadores utilizam diversos instrumentos, alguns
confeccionados por eles próprios, outros adquiridos no comércio local. Cada apetrecho
de pesca tem suas especificidades quanto ao modo de captura do pescado e espécie
(Tabela 2). Os apetrechos registrados foram: malhadeira, caniço, linha de nylon,
tarrafa, matapi, espinhel, arpão e zagaia. A malhadeira é o apetrecho mais comum
na pesca artesanal, utilizada fixa ou à deriva, sendo mais comum na região estudada
a utilização de malhadeiras flutuantes no meio do canal devido a forte influência das
marés, que pode capturar 28 tipos de pescado (MÉRONA et al., 2010). A técnica da
pesca com malhadeira à deriva envolve uma canoa ou entre duas canoas e uma boia
na rede, descendo assim à mercê da correnteza, permitindo a captura, principalmente,
de mapará, tucunaré, pescada, aracu, pacu e acari.
Apetrecho de pesca
Modo de captura
Espécies capturadas
Malhadeira
“Esticamos a malhadeira no meio
ou na beira e depois de algumas
horas a gente começar a revista”
Mapará, tucunaré, pescada,
aracu, pacu, acari
Caniço
Linha de nylon
“Em uma vara feita de um galho
de árvore, colocamos um anzol
na ponta da linha, isca e sai pra
pescar no rio e no igarapé”
Mandubé, jacundá, pescada,
traíra
“Coloco a isca (camarão, minhoca Mandi
ou amburé) no anzol e jogo no rio,
aí é só esperar bater”
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
52
Tarrafa
“Iscamos o lugar com pirão de
Caratinga, camarão, ituí
óleo e farinha depois deixa um
pouco de tempo e depois jogamos
a tarrafa bem aberta”
Matapi
“Tem que iscar com uma poqueca Camarão
que é feita de uma folha de urumã
e babaçu e depois levado a beira
nas varas presa por um fio onde a
gente prende o matapi no começo
da enchente, e vai despescar na
vazante”.
Espinhel
“Tem que iscar com peixes menores os anzol depois soltar as
linhas no rio junto com uma boia,
deixa por algumas horas e depois
vai revistar”
Zagaia
“Com a zagaia na mão
Dourada
tem que Jeju, tucunaré, jacundá, caratinga
ir devagar e em silencio
até ver onde o peixe está e
tentar acertar ele”
Tabela 2. Descrição dos pescadores quanto aos apetrechos de pesca, as técnicas e as
espécies capturadas.
Na pescaria do rio Limoeiro os pescadores utilizam iscas de diferentes modos
para capturar o pescado, sendo as iscas mais utilizadas: minhoca, camarão, peixes
menores (baiacu ou amburé) e o babaçu. A isca de babaçu, que serve para capturar
camarão com o matapi, é comprada no mercado público da sede municipal, pois o fruto
não é encontrado na comunidade. Outras iscas podem ser usadas em comunidades
próximas, como no rio Ovídio em Cametá-PA, que usam além do babaçu, farelo de
arroz e restos de animais para a captura do camarão, colocando armadilhas (p. ex.
matapi) na água na sua ida para um outro tipo de pescaria e despescam na volta
(SILVA, 2019).
O local da pescaria se estende por todo o rio Limoeiro e é de livre acesso para
qualquer pescador da comunidade. A pesca geralmente ocorre em coletivo, na maioria
das vezes pelos homens, com embarcações a remo, sendo o casco mais utilizado
pelos pescadores. Segundo pescador, “a gente usa o casco porque é melhor pra
gente pescar, sempre utilizamos ele há muito tempo” (Pescador, 50 anos). O uso das
canoas representa um investimento mínimo que o pescador de subsistência dedica à
sua atividade, dispondo de poucos equipamentos e pescando em locais próximos a
sua localidade (MÉRONA et al., 2010).
A pescaria geralmente ocorre durante três dias na semana, com duração diária
em torno de 3 a 5 horas. A pesca comercial ou de subsistência é na maioria dos
casos uma atividade masculina, pois quando não há caça para comer, é dos homens
a obrigação de sair todos os dias para buscar o pescado que alimenta a família. Às
mulheres, cabe a tarefa de tratar o peixe trazido pelo companheiro. O quantitativo
de pescado capturado, na maioria das vezes, abrange o suficiente para alimentar a
família. Segundo Barros (2012), toda a família, incluindo as mulheres ou parentes
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
53
mais próximos, participa da atividade pesqueira, onde cada membro realiza uma
função distinta.
O camarão é o principal pescado comercializado pela população local,
principalmente entre os meses de março e junho. Os peixes capturados pelos
pescadores são, em sua maioria, para subsistência, no entanto, o excedente é
comercializado na própria comunidade, no mercado municipal ou nos trapiches
da cidade de Limoeiro do Ajuru para atravessadores ou direto para o consumidor.
A redução da comercialização de peixes pode estar relacionada a diminuição dos
estoques locais de captura e o consequente aumento de preços que desestimulam
os atravessadores, bem como a mudança de hábitos alimentares face à maior oferta
de frango e carne bovina, além dos peixes frescos oriundos de criatórios locais
(MÉRONA et al., 2010).
Os pescadores do rio Limoeiro conhecem as regras do período do defeso e
dizem obedecê-las. Segundo o pescador, “Quando abre a pesca a gente pega os
peixes só pra bóia, e os meses que a pesca tá fechada não pescamos no rio, a gente
respeita e fica pegando só o camarão no matapi que dá o ano inteiro” (Pescador, 22
anos).
O pescador artesanal do rio Limoeiro tem consciência que só podem pescar
quando ocorre a abertura da pesca. Quando fecha a pesca, fica proibida a captura
de peixes, então nesse período os pescadores dependem economicamente da pesca
do camarão, do extrativismo do açaí e da farinha de mandioca. A proibição do uso de
malhadeiras e o estabelecimento do defeso (entre novembro e fevereiro) fez com que
as atividades pesqueiras fossem extremamente limitadas (MÉRONA et al., 2010), no
entanto, no rio Limoeiro a diversificação das técnicas usadas na captura do pescado
faz com que os pescadores contornem a situação restritiva da proibição.
Os pescadores atribuem uma forma própria de dividir o corpo dos peixes,
atribuindo uma nomenclatura local quanto a morfologia externa (Figura 4) e ainda
reconhecem os peixes que apresentam parentescos, quando dizem, por exemplo,
que existem vários tipos de jacundá. O conhecimento desses pescadores sobre os
peixes é uma verdadeira ciência, no sentido da riqueza das verdades científicas
contidas nas informações coletadas. Segundo Mourão e Montenegro (2006), por
meio de relatos orais os pescadores nomeiam e descrevem detalhes morfológicos,
ecológicos e etológicos, contribuindo para o conhecimento da diversidade local e/ou
regional.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
54
Figura 4. Topografia corporal de peixes e termos morfológicos adotados na linguagem dos
pescadores do rio Limoeiro (Limoeiro do Ajuru, PA) comparados à terminologia científica para
peixes.
A atividade pesqueira é marcada por um conjunto de etnoconhecimentos
que os ribeirinhos detêm acerca das espécies que compõem a ictiofauna local.
Esses conhecimentos são utilizados por homens, mulheres, jovens e crianças,
sendo repassados para os mais novos por meio da oralidade e através da troca de
experiências diária.
As cosmologias, os saberes locais e as regras culturais, que demarcam uma
identidade, não constituem meros saberes, mas um patrimônio cultural que deve ser
valorizado no âmbito da gestão dos recursos pesqueiros. Sem este reconhecimento
dificilmente uma comunidade ribeirinha conseguirá alcançar seus reais objetivos,
uma vez que a valorização dos modos de vida das comunidades locais constitui uma
das suas finalidades (BARROS, 2012).
4 | CONCLUSÃO
Os pescadores artesanais do rio Limoeiro capturam 18 espécies de peixes
destinados, principalmente, para subsistência. O excedente desses peixes e o
camarão, além de outros produtos da agricultura familiar, representam a fonte de
renda das famílias desses pescadores. Além do camarão, a pescada e o mapará
são as fontes de proteína mais frequentemente capturadas. São diversos os modos
de pescaria em função da variedade de apetrechos de pesca, com destaque para
o uso da malhadeira e do matapi, que capturam as espécies mais consumidas pela
população local.
O estudo demonstra que os pescadores possuem um significativo
conhecimento sobre a biodiversidade de pescado do rio Limoeiro, sobre os aspectos
morfológicos, ecológicos, além de serem mantenedores dos recursos naturais. Esse
conhecimento deve ser reconhecido como parte do patrimônio cultural local e de
fundamental importância em termos de estratégias para a conservação dos recursos
pesqueiros, devendo ser igualmente valorizados ao conhecimento científico.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
55
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 5
57
CAPÍTULO 6
doi
ICTIOFAUNA DO RIO VAZA-BARRIS DA CIDADE DE
CANUDOS ATÉ JEREMOABO – BAHIA
Patrícia Barros Pinheiro
Universidade do Estado da Bahia, Departamento
de Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia.
Tadeu Souza Ribeiro
Universidade do Estado da Bahia, Departamento
de Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia.
Lucemário Xavier Batista
Universidade do Estado da Bahia, Departamento
de Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia.
Fabrício de Lima Freitas
Universidade do Estado da Bahia, Departamento
de Educação, Campus VIII, Paulo Afonso, Bahia.
RESUMO: O rio Vaza-Barris é reconhecido
pela sua importância no semiárido, sendo
preponderante para o desenvolvimento de
Canudos e Jeremoabo. Isso, ao mesmo
tempo em que se torna num orgulho para a
região local, é também motivo de profunda
preocupação, com as agressões praticadas
na sua bacia. O presente estudo foi avaliar a
estrutura da comunidade e a diversidade da
ictiofauna do rio Vaza-Barris. Foram capturados
730 peixes, com três ordens, cinco famílias e
sete espécies, em três coletas mensais de
março a outubro de 2014. Foram selecionados
três pontos de coleta: próximo ao início da
drenagem das águas represadas pelo açude
de Cocorobó; no curso intermediário e próximo
as imediações de Jeremoabo, utilizando-se
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
rede de espera, puçá, tarrafa e rede de arrasto
de margem (picaré). Analisou-se a frequência
de ocorrência e da abundância relativa das
espécies, o Índice de Biodiversidade de
Shannon (H´) e a Equitabilidade de Pielou (J).
Ocorreu uma maior predominância da Ordem
Characiformes, seguido por Perciformes e
Siluriformes. As espécies mais capturados
foram Astyanax bimaculatus e Serrasalmus
brandtii. Os maiores valores de diversidade
ocorreram nos meses de maio e março, com o
maior número de espécies observado quando
o rio se encontra seco. O rio Vaza-Barris, não
possui uma grande biodiversidade na ictiofauna
amostradas na presente pesquisa. O número de
espécies capturadas nesse trabalho apesar de
ter relativamente baixa, é muito importante para
um diagnóstico da composição ictiofaunística
do rio. Entretanto é de extrema importância
que se possa exercer mais esforços para uma
avaliação completa do rio.
PALAVRAS-CHAVE:
Diversidade,
pesca,
abundância, peixes.
ICTIOFAUNA FROM VAZA-BARRIS RIVER
FROM CANUDOS CITY UNTIL JEREMOABO
– BAHIA
ABSTRACT: The Vaza-Barris river is recognized
for its importance in the semi-arid, being
preponderant for the development of Canudos
Capítulo 6
58
and Jeremoabo. At the same time that it becomes a pride for the local region, is also
cause for deep concern, with the aggressions practiced in its basin. The present study
was to evaluate the community structure and diversity of the ichthyofauna of the VazaBarris River. A total of 730 fish, with three orders, five families and seven species, were
collected in three monthly collections from March to October 2014. Three collection
points were selected: near the beginning of the drainage of the waters dammed by
the Cocorobó reservoir; in the intermediate course and near the surroundings of
Jeremoabo, gill net, landing net, casting net and trawl net of margin. The occurrence
frequency and relative abundance of the species, the Shannon Biodiversity Index (H')
and the Pielou Equitability (J) were analyzed. There was a greater predominance of
the Order Characiformes, Perciformes and Siluriformes. The most captured species
were Astyanax bimaculatus and Serrasalmus brandtii. The highest values of diversity
occurred in the months of May and March, with the highest number of species observed
when the river is dry. The Vaza-Barris River, does not have a great biodiversity in the
ichthyofauna sampled in the present research. The number of species captured in this
work despite being relatively low, is very important for a diagnosis of the ichthyofaunistic
composition of the river. However, it is extremely important that more effort can be
exerted for a thorough evaluation of the river.
KEYWORDS: Diversity, fishing, abundance, fish,
1 | INTRODUÇÃO
O rio Vaza-Barris nasce no município do sertão baiano de Uauá, no pé da Serra
do Macaco, tem sua foz nos limites dos municípios sergipanos de Itaporanga d’Ajuda,
São Cristóvão e Aracaju. Ficou conhecido nacionalmente por ter sido palco da Guerra
dos Canudos no início do século XX, guerra civil promovida pelos estados brasileiros
(CARVALHO e SOUTO, 2011). Compreende uma área de 450 quilômetros, com 80%
do seu trecho em território baiano (NEIVA, 2013). Os indígenas o chamavam-no de
“mel vermelho”, numa alusão às correntezas barrentas que se formam (MARQUES
et.al., 2007). Várias cidades foram formadas ao longo do seu percurso, como: Uauá,
Canudos e Jeremoabo, localizadas no sertão baiano; em Sergipe, as cidades de
Itaporanga d’Ajuda, São Cristóvão e Aracaju. (CARVALHO e SOUTO, 2011). O seu
principal rio nasce na Serra da Canabrava, no município de Uauá, enquadrado no
sistema geral Espinhaço/Diamantina, com direção oeste-leste até sua desembocadura
no Oceano Atlântico. A principal via de acesso para a região da Vaza Barris é através
da BR-116, passando por Euclides da Cunha, indo até Uauá, extremo Oeste da Bacia.
Outra via de acesso é a BR-235, que margeia o rio Vaza-Barris e atravessa a área da
bacia no sentido Oeste-Leste.
Apesar de ser um rio de pequeno porte, o rio Vaza-Barris tem grande importância
socioeconômica para as cidades circunvizinhas, uma vez que diversos pescadores
realizam a pesca artesanal para sua subsistência e alimentação. Informações sobre
o estudo da ictiofauna em rios desse porte ainda são muito raras, mas de muita
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
59
importância para o conhecimento da sua composição, abundância e diversidade. A
riqueza em espécies de peixes de um lago é limitada pela capacidade das espécies
de persistir e coexistir nesse ambiente e resulta do equilíbrio entre colonização e
perdas por extinções locais (BARBOUR e BROWN, 1974). Segundo Halyc e Balon
(1983) a colonização de espécies nesses habitats pode ocorrer durante o período de
inundação, e durante o período seco ocorrem algumas “extinções”. Durante a fase
de seca ocorrem elevados níveis de predação, redução da oferta e da qualidade do
alimento e, em alguns casos, redução na área e disponibilidade de oxigênio (JUNK
et al., 1989).
No Brasil, alguns estudos abordaram aspectos da estrutura das comunidades
de peixes em planícies de inundação. Alguns deles foram realizados no Pantanal
(CATELLA, 1992), no rio Paraná (AGOSTINHO e ZALEWSKI, 1995), na Amazônia
(KNÖPPEL, 1970; JUNK, 1985; GOULDING et al., 1988), no Mogi-Guaçu
(MESCHIATTI, 1992) e no alto São Francisco (SATO et al., 1987).
Segundo Silva (2008) os peixes de água doce podem apresentar migrações
sazonais, devido a sua capacidade de utilizar grande variedade de habitats. Estas
podem ser divididas em movimentos longitudinais (dentro dos corpos principais
de rios) e laterais, entre o rio e sua planície de inundação. Alguns fatores podem
influenciar a distribuição dos peixes, sendo que a variabilidade dos padrões locais
de diversidade é relacionada a complexidades estruturais e funcionais do sistema,
influenciando a disponibilidade de micro-habitats e recursos (ROSSI et al., 2007). O
conhecimento relacionado à distribuição espacial dos peixes pode gerar informações
em torno da relação da ictiofauna com as flutuações do ecossistema, envolvendo
variações sazonais, espaciais, ambientais e relações de interação entre as espécies.
As alterações na paisagem do rio Vaza-Barris e no habitat dos peixes, com
vários barramentos ilegais, usados para agricultura, que traz junto a poluição por
agrotóxicos, tanto no solo como em suas águas, pode resultar em danos para a fauna
de peixes. Ao longo do seu percurso o rio recebe aporte de poluição urbana, industrial
e hospitalar, além da exploração dos recursos aquáticos. Realizar o levantamento
da ictiofauna do rio Vaza-Barris é de grande importância, pois os estudos na região
semiárida que enfocam a ictiofauna em corpos d’água de pequeno porte são raros.
Nesse sentido o presente estudo é uma iniciativa extremamente oportuna, e demonstra
a sensibilidade e preocupação com a conservação da sua diversidade de peixes,
tendo como objetivo avaliar a composição da ictiofauna do rio Vaza-Barris entre a
cidade de Canudos e Jeremoabo no estado da Bahia.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido no rio Vaza-Barris, localizado na latitude 09o51´21.44”S
e longitude 038o57`15.62”W (semiárido do Nordeste), no município de Canudos,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
60
estado da Bahia. Ele encontra-se, em média, a uma altura de 397 metros acima do
nível do mar. No seu entorno observa-se grande atividade de agricultura na qual se
cultiva principalmente banana, feijão, milho, quiabo e tomate. O relevo é de terras
altas com declividade moderada, e sua vegetação é caracterizada pela caatinga,
com clima que apresenta temperatura média anual de 30ºC, com máxima de 37ºC,
em janeiro, e mínima de 23ºC, em julho e a pluviosidade média anual de 450mm
(DNOCS).
O levantamento da ictiofauna foi realizado através de amostragens mensais
durante o período de março a outubro de 2014, abrangendo os períodos de seca e cheia
do rio. Foram definidos três pontos de coletas ao longo do rio após seu represamento. O
ponto 1 localizado a jusante do açude de Cocorobó, nas coordenadas de 09º59’49.0”S
e 039º02’07.0”W, caracterizado pelo início da drenagem das águas represadas do
açude para o rio, apresentando água mais oxigenada e limpa, com profundidade de
1 metro e de 0,5 metro, nos períodos de cheia e seca, respectivamente, e a distância
do ponto 01 para o ponto 2 foi de 43 quilômetros. O ponto 2 encontrava-se na porção
intermediária entre a cidade de Canudos e Jeremoabo, próximo do Povoado de
Água Branca município de Jeremoabo (09º59’46.8”S e 038º36’11.5”W). Apresentou
uma água mais calma devido aos vários barramentos feitos pelos produtores para o
desenvolvimento da agricultura na região, com profundidade de 1,6 m (cheia) e de 0,9
m (seca), sendo a distância entre os pontos 2 e 3 de 41 quilômetros. O ponto 3 estava
localizado nas imediações da cidade de Jeremoabo (010º04’38.8”S e 038º21’07.4” W),
antes do início da área de despejos de esgotos ou área sob influência de poluentes,
caracterizada por apresentar poucas corredeiras e possuir uma profundidade de 1,2m
(cheia) e 0,7m (seca)
Foram realizadas amostragens mensais durante o período seco e chuvoso,
sendo uma coleta em cada ponto totalizando três coletas mensais. Os petrechos de
pesca utilizados foram duas redes de espera (malhas 1,5 cm entre nós) instaladas a
tarde e retiradas pela manhã, distante uma da outra em 20 metros, barrando todo o
volume da água, totalizando uma exposição de 12 horas em corredeira. Também foram
utilizadas tarrafas de dois metros com malha 1,5 cm (20 aplicações por localidade),
rede de arrasto de margem com comprimento de 6 metros e malha de 0,2, 0,5 e 1
cm, picaré (uma aplicação com varredura de 20 metros em cada trecho) e puçá (20
aplicações virando vegetação, pedras por trecho), ficando as redes expostas na água
por um período de aproximadamente de treze horas (das 16:00 às 05:00 horas).
Após a captura os peixes foram levados para o laboratório e realizou-se a
identificação das categorias taxonômicas através de literatura específica (BUCKUP
et al., 2014, MALABARDA et al., 2013, GERALDES, 1999, BRITSKI, SATO e
ROSA, 1984.) De cada indivíduo coletado verificou-se o comprimento total (CT) e o
comprimento padrão (CP) em centímetros e o peso total (PT) em gramas. Em seguia
os espécimes foram fixados em formol a 10% e após 72 horas conservados em álcool
etílico a 75%.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
61
Para a análise da frequência de ocorrência (Fo) e da abundância relativa (Ar)
das espécies foram utilizadas as seguintes fórmulas: Fo = Ci/Ct x 100 e Ar = Ni/Nt x
100, onde: Ci = Número de coletas em que a espécie i foi observada; Ct = Número
total de coletas; Ni= Número de indivíduos da espécie i registrada; Nt= Número total
de indivíduos encontrados.
A classificação utilizada para agrupar as espécies de acordo com a frequência
de ocorrência foi baseada em Feitoza (2001) sendo: muito comum (>80%); comum
(51-80%); ocasional (21-50%); incomum (8-20%) e rara (<8%).
As estruturas das comunidades foram avaliadas pelo Índice de Biodiversidade de
Shannon (H´) e da Equitabilidade de Pielou (J), a diversidade foi analisada utilizando
a seguinte equação: H´= ∑ni/n ln(ni/n); H´=Índice de diversidade de Shannon; Ni=
Número de indivíduos pertencentes a espécie i; N= Número total de indivíduos
(BEGEON et al., 2006):
O índice de equitabilidade de Pielou representa um dos componentes do índice
de Shannon, onde se refere a uniformidade do número de exemplares em cada
espécie (BEGEON et al., 2006), como segue: J’ = H’ / ln(S), onde: J’ = Equitabilidade;
H’ = Índice de diversidade de Shannon; S= Número de espécies observadas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o período de março a outubro de 2014 foram capturados um total de 730
indivíduos, sendo 217 indivíduos no ponto 1 (30%), 325 no ponto 2 (45%) e 188 no ponto
3 (25%), distribuídos em três ordens: Charciformes, Siluriformes e Perciformes, com
cinco famílias e apenas sete espécies. A Ordem Characiformes foi a mais abundante
com 565 indivíduos (77%) e foram identificadas quatro espécies pertencentes a três
famílias. Da Ordem Siluriformes apenas uma espécie foi identificada (Hipostomus
sp.), com 97 indivíduos capturados (13%). Da Ordem Perciformes foram observados
68 de indivíduos (10%), representado por uma família e duas espécies (Tabela 1).
ESPÉCIE
Ordem Characiformes
NOME VULGAR
Família Characidae
Astyanax bimaculatus (Limaeus, 1758)
Serrasalmus brandtii (Lütker, 1875)
Família Curimatidae
Curimatella lepidura (Eigenmann & Eigenmann,
1889)
Família Erythrinidae
Hoplias malabaricus (Bloch, 1974)
Ordem Perciformes
Família Cichlidae
Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Piaba-do-rabo-amarelo
Pirambeba
Agaru; Curimatã
Traíra
Apaiari; Cará-açu
Capítulo 6
62
Cichlasoma sanctifranciscense (Kullander, 1983)
Ordem Siluriformes
Cará; Corró
Família Loricariidae
Hypostomus sp. (Lacepède, 1803)
Cascudo
Tabela 1- Lista das espécies capturadas no período de março e novembro de 2014, no rio Vaza
Barris.
De acordo com as análises de frequência de ocorrência, observou-se apenas
espécies muito comum, comum e ocasional. As espécies muito comuns, foram:
Hypostomus sp. e Serrasalmus brandtii com 100% da ocorrência do total amostrado.
Apenas duas espécies foram comuns Astronotus ocillatus e Astyanax bimaculatus
e três espécies apareceram de forma ocasional sendo: Hoplias malabaricus (50%),
seguidos por Cichlasoma sanctifranciscense e Curimatella lepidura, com 42 e 25% da
ocorrência, respectivamente. (Figura 3).
Figura 3- Classificação das espécies de peixes, de acordo com a frequência de ocorrência,
coletadas no Rio Vaza Barris no período de março a outubro de 2014.
Não foram identificadas nenhuma espécie rara, nem incomum nos meses
amostrados. O que já era esperado devida a pouca variedade de espécies do local.
A frequente ocorrência das espécies Hypostomus sp. e Serrasalmus brandtii, que
aparece em todas as coletas, pode estar relacionada a fatores como a abundância
de recursos alimentares e a disponibilidade de microhabitats, entretanto a espécie
Curimatella lepidura ocorreu no estudo (Figura 4). A abundância de cada espécie
determina a estrutura da comunidade estando, via de regra, relacionada à
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
63
disponibilidade de recursos (NARDINO et al, 2011). Segundo Smerman (2007) uma
interessante forma de medir as comunidades de peixes, é através de estudos que
se refere ao número de famílias e ao número de espécies por famílias. O número de
famílias representadas é relativamente grande em locais onde há grandes valores
de riqueza e poucas famílias reúnem a maioria das espécies. No presente estudo foi
observado um pequeno número de família, com poucas espécies, devido ao baixo
valor de riqueza. Comparando a frequência de ocorrência dos peixes capturados no
presente estudo, com o trabalho realizado por Borges (2008) sobre os peixes mais
capturados pelos pescadores de Canudos no açude de Cocorobó, foram encontradas
quatro das nove espécies mais capturadas no açude (Astrotus ocellatus, Curimatella
lepidura, Hoplias malabaricus e Hypostumos sp).
Entre as famílias a que tiveram um melhor percentual amostrado foi a Characidae
e a Loricaridaeque (68% e 13%), respectivamente (Figura 4). A destacada participação
das Famílias Loricariidae e Characidae, entre os trechos é decorrente da presença de
suas espécies em águas interiores do Brasil (MARINHO et al., 2006).
Estudos realizados por Nardino et. al (2011), também tiveram as famílias
Loricariidae e Characidae apresentando maior frequência nas coletas. A espécie mais
representativa, dentre os Characidae e também no total, foi a Astyanax bimaculatus
que só não ocorreu nas coletas de maio, junho e julho de 2014, com 42% dos
indivíduos, ou seja, com maior ocorrência no período seco. Seguida por Serrasalmus
brandtii, que aparece em todas as amostras do estudo (Figura 5).
Figura 4 – Frequência relativa das famílias da ictiofauna do rio Vaza-Barris, no período de
março a outubro de 2014.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
64
Figura 5- Frequência relativa por espécies pertencentes à ictiofauna do rio Vaza-Barris, no
período de março a outubro de 2014.
Segundo Hirschmann et al. (2008) na maioria das comunidades existem poucas
espécies abundantes e muitas espécies são representadas por poucos indivíduos.
O mesmo foi observado nas análises do presente estudo durante as coletas, porém
verificou-se que as espécies mais abundantes não foram as mesmas. Nos meses
em que o rio se encontra no período seco (março, abril, setembro e outubro) ocorreu
a maior captura de indivíduos totalizando 421 (57,7%), com destaque para o mês
de setembro (142) e outubro (113). No período de cheia do rio foram capturados
um total de 309 indivíduos, sendo as menores capturas no mês de junho (64). A
piaba foi a espécies mais capturada de toda a amostra e mais frequente no período
seco, totalizando 241 indivíduos (Figura 6). A causa mais provável para as menores
capturas terem ocorridas no período de cheia, é que segundo Perone (1990) as
mudanças estacionarias apesar de não se apresentarem tão marcantes, seus efeitos
podem ser notados no ciclo estacional (seca e cheia) sobre a composição de espécies
associados a indicadores como à vegetação marginal, principalmente, pelo aumento
da velocidade da corrente durante o período de cheia.
No presente trabalho foi possível observar que no período de seca do rio Vaza-
Barris, as capturas foram mais constantes. Durante o período da cheia, o aumento
do volume da água induz um aumento na velocidade da corrente provocando uma
desorganização na estrutura da vegetação marginal, principalmente, pelo carreamento
de grandes quantidades de macrófitas aquáticas marginais flutuantes, reduzindo o
ambiente e o número de exemplares de peixes (PERRONE, 1990). Provavelmente
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
65
isso contribuiu para a diferença nas capturas durante os períodos de seca e cheia do
rio, durante o período de estudo.
Figura 6- Número de indivíduos coletados durante o período estudado, do rio Vaza-Barris, no
período de março a outubro de 2014
Os valores referentes ao índice de diversidade de Shannon, apresenta um maior
valor entre as espécies registradas nos meses de maio (0,6341), março (0,6004),
julho (0,5897) e junho (0,5569), já os de menores valores foram observados durante
os meses de agosto (0,5242), abril (0,5054), setembro (0,4813) e outubro (0,531).
Onde podemos observar na (Figura 7).
Figura 7 - Índice de diversidade de Shannon e equitabilidade de espécies no rio Vaza-Barris,
durante o período de março a outubro de 2014.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
66
O índice de equitabilidade do número de amostra de cada espécie, apresentou
uma maior uniformidade em relação ao número de amostras nos meses de maio
(0,8148) e julho (0,8437), sendo registrado a menor em setembro (0,6185). Segundo
Lowe-McConnell (1975), as comunidades de peixes são afetadas por mudanças
estacionais, devido à expansão e à contração no meio aquático durante os períodos de
seca e cheia. Pode ter sido um dos indicadores para a pouca diversidade de espécies
no rio Vaza-Barris nos trechos amostrados. Apesar do rio já vir sofrendo muito, não
apenas devido as mudanças estacionais, mas também com diversas mudanças e
ação antrópica. Para Maltchik (1999) a diversidade de peixes é baixa nos rios do
semiárido, não existindo amostra única de diversidade de peixes nestes ecossistemas,
principalmente devido à mudança no fluxo de água superficial. A ictiofauna de
pequenos rios exibe baixa riqueza específica, por isso ficam mais suscetíveis à perda
de espécies e a redução da diversidade por alterações na qualidade da água ou no
regime hidrológico e estão em risco devido a impactos provenientes do meio urbano
(CUNICO et al., 2006). De acordo com Tilman (2000), uma riqueza elevada, leva a um
maior aproveitamento das condições do hábitat, aumentando a eficiência do uso dos
recursos. Apesar de não existir informações sobre a ictiofauna anterior, as alterações
ambientais sofridas pelo rio Vaza-Barris em relatos de pescadores locais sobre o
desaparecimento de algumas espécies, mostra o quanto é necessária uma mudança
de condição sobre a conservação da ictiofauna regional.
4 | CONCLUSÕES
O rio Vaza-Barris, não possui uma grande representação em ictiofauna no
que diz respeito às espécies amostradas no presente estudo, embora haja algumas
dificuldades já mencionadas. O número de espécies capturadas nesse trabalho
apesar de ter sido pequena, não deixa de ser menos importante para um diagnóstico
da composição ictiofaunística do rio. Entretanto é de extrema importância que se
possa exercer mais esforços para uma avaliação completa do rio.
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Capítulo 6
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TILMAN, D. 2000. Causes, consequences and ethics of biodiversity. Nature, v. 405, p.208-211.
ANEXO
Peixes capturados no rio Vaza-Barris durante as coletas realizadas entre os
meses de março e outubro de 2014 (Fonte – RIBEIRO, 2014).
Hoplias malabaricus (Traíra)
Serrasalmus brandtii (Pirambeba)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Hypostomus sp. (Cari)
Astronotus ocellatus (Apaiari)
Capítulo 6
69
Curimatella lepidura (Agaru)
Cichlasoma sanctifranciscense (Corró)
Astyanax Bimaculatus (Piaba)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 6
70
CAPÍTULO 7
doi
O SETOR PESQUEIRO NO ESTUÁRIO AMAZÔNICO:
ESTUDO DE CASO EM AFUÁ, PARÁ, BRASIL
Érica Antunes Jimenez
Mestre em Biologia Ambiental, Universidade
Federal do Pará. Analista de Meio Ambiente
Agência de Pesca do Amapá
Macapá - AP
Marilu Teixeira Amaral
Mestre em Biologia Ambiental, Universidade
Federal do Pará. Professora, Universidade do
Estado do Amapá
Macapá – AP
Daniel Pandilha de Lima
Mestre em Biodiversidade Tropical, Universidade
Federal do Amapá
Macapá -AP
Alexandre Renato Pinto Brasiliense
Mestre em Biodiversidade Tropical, Universidade
Federal do Amapá
Macapá -AP
Zanandrea Ramos Figueira
Geógrafa, Universidade Federal do Amapá
RESUMO: A região costeira amazônica é rica
em recursos pesqueiros que são amplamente
explorados pela pesca comercial. Existem
nessa área condições abióticas propícias para
que a variedade de espécies seja abundante,
entre tanto, há na região uma carência
histórica de informações sobre os recursos
pesqueiros e a pesca. Esse fator é preocupante
devido ao fato de que essas informações são
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
preciosas para realizar o manejo adequado da
atividade pesqueira. Diante disso o presente
trabalho procurou descrever o desembarque
e comercialização pesqueira no município de
Afuá, considerando os anos de 2013 e 2014,
com o objetivo de disponibilizar informações
sobre a pesca na região. Para isso foram
aplicados formulários semiestruturados e
também foram consultadas as organizações
sociais locais. O desembarque de pescado na
sede do município de Afuá concentra-se na
Feira do Produtor Rural (FPR) e no Mercado
Municipal (MM). Nos anos de 2013 e 2014 foram
desembarcados 189.563,5 kg e 194.446,0 kg
de pescado no município, respectivamente,
sendo que aproximadamente 81% da produção
total desse período foi desembarcada na FPR.
No ano de 2013 foi observado o desembarque
de 33 táxons, enquanto em 2014 foram 25.
O camarão regional foi o principal produto
desembarcado no município, correspondendo
a 62% da produção no ano de 2013 e 58%
em 2014. Espera-se que um monitoramento
pesqueiro seja efetuado na região do litoral
amazônico no intuito de contribuir para o manejo
da pesca e gestão dos recursos pesqueiros.
PALAVRAS-CHAVE: Marajó; pesca artesanal;
comercialização do pescado
Capítulo 7
71
THE FISHERY SECTOR IN THE AMAZON ESTUARY: CASE STUDY IN AFUÁ,
PARÁ, BRAZIL
ABSTRACT: The Amazon coastal region is rich in fishery resources that are extensively
exploited by commercial fishing. In this area there are abiotic conditions that contribute
to the rich variety of species that inhabit this region, but there is a historical lack of
information on fishery resources and fishing in Amazon. This factor is worrisome due
to the fact that this information is important to carry out the proper management of
the fishing activity. Therefore, the present work sought to describe the landing and
commercialization of fishery in the municipality of Afuá, based on the years of 2013 and
2014, in order to provide information on fishing in the region. For this purpose, semistructured forms were applied, and local social organizations were also consulted. The
fish landing at the municipality of Afuá focuses on the Rural Producer Fair (FPR) and
the Municipal Market (MM). In the years 2013 and 2014, 189,563.5 kg and 194,446.0
kg of fish were landed in the municipality, respectively, and approximately 81% of the
total production of this period was landed in the FPR. In 2013, the landing of 33 taxa
was observed, while in 2014 it was 25. Regional shrimp was the main product landed
in the municipality, corresponding to 62% of production in 2013 and 58% in 2014. It is
expected that a Fisheries monitoring is carried out in the region of the Amazonian coast
in order to contribute to the management of fishing and fishing resources.
KEYWORDS: Marajó island.; artisanal fishing; fish marketing
1 | INTRODUÇÃO
O estuário amazônico é uma região que apresenta características meteorológicas
e oceanográficas peculiares, incluindo elevada precipitação anual, altas temperaturas,
baixa variação térmica, regime de macromarés semidiurnas e, sobretudo, alta
descarga de água doce proveniente do rio Amazonas (PEREIRA et al., 2009), além da
influência da Corrente Norte do Brasil. A área abriga ainda o cinturão de manguezais
de macromarés mais extenso e contínuo do mundo (SOUZA FILHO, 2005).
Nesta região a matéria orgânica e os nutrientes provenientes das florestas e
campos alagados, aliada à ação dos rios carreando sedimentos para a plataforma
continental e à presença de extensas áreas de manguezais, são as principais fontes
de energia primária para a cadeia trófica (PUTZ, JUNK, 1997; GOULDING, 1980).
Essas condições fazem com que o litoral amazônico seja rico e diverso em espécies
de peixes muitas delas de grande importância para a economia pesqueira, embora o
conhecimento sobre essas espécies seja limitado. O conhecimento sobre as pescarias
também é limitado a algumas frotas, áreas e/ou recursos.
De modo geral as pescarias apresentam caráter de subsistência e comercial
(artesanal e industrial) e são direcionadas à estoques demersais e pelágicos
dulcícolas, estuarinos e marinhos, incluindo uma grande variedade de embarcações
e técnicas de captura com padrões variados, abrangendo desde métodos simples,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
72
como linha e anzol, até grandes redes de arrasto. De acordo com Figueiredo - Silva
et al. (2012), no litoral amazônico são observados diversos sistemas de produção
pesqueira, entretanto, as pescarias artesanais são predominantes e frequentemente
realizadas em associação com outras atividades, como o extrativismo vegetal e a
agricultura.
No município de Afuá (PA), no arquipélago do Marajó, a pesca é uma atividade
com elevada importância sociocultural e econômica, constituindo-se em uma das
principais atividades produtivas da região ao lado do extrativismo vegetal (SILVA; DIAS,
2010). Apesar disso, são raras as informações disponíveis sobre o setor pesqueiro
local. Nesse sentido, o presente estudo visa descrever as características do setor
pesqueiro deste município a fim de contribuir para o aumento do conhecimento sobre
a atividade pesqueira na foz do Amazonas, assim como orientar futuras medidas de
gestão e desenvolvimento das pescarias na região.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O município de Afuá, localizado no arquipélago do Marajó (PA), na foz do rio
Amazonas, apresenta uma população estimada de 37.004 habitantes e unidade
territorial de 8.372,795 km² (IBGE, 2014). A ocupação do município é fragmentada,
sendo que a população se encontra distribuída ao longo dos inúmeros canais, furos,
igarapés e rios da região.
Além da sede do município, foram visitadas 10 localidades divididas em dois
setores de acordo com a proximidade e relação de interdependência entre elas, são
eles: i) Setor 1: inclui a sede do município e as localidades de Ilha das Pacas, Nossa
Senhora de Nazaré, Santa Luzia, São José, Igarapé Tabocal e São Sebastião, e ii)
Setor 2: abrange localidades de Santo Antônio, São Benedito, São José do Pirarucu
e Virgem de Nazaré.
Foi realizado o levantamento de dados secundários através de consulta aos
acervos físicos e digitais de instituições públicas e não-governamentais ligadas ao setor
pesqueiro. Em seguida foi realizada coleta de dados primários a partir de entrevistas
semiestruturadas junto às organizações sociais e governamentais e demais atores
do setor pesqueiro local, em janeiro de 2015. Para a seleção dos entrevistados foi
utilizada a metodologia de “bola de neve”, uma técnica de amostragem não-aleatória,
baseada em informantes-chave (BUNCE et al., 2000). As entrevistas foram orientadas
por um formulário semiestruturado contendo informações gerais sobre a atividade
pesqueira, tais como: tecnologia de captura (frota e apetrechos), principais recursos,
sazonalidade, beneficiamento de pescado e infraestrutura de apoio.
As áreas de pesca foram identificadas a partir da utilização de cartas náuticas
nas quais os entrevistados foram convidados a indicar a localização dos pesqueiros,
a profundidade das áreas e a distância em relação a pontos referenciais, como
faróis, bóias de sinalização náutica, rios, entre outros. Posteriormente foi realizada
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
73
a identificação e registro fotográfico da infraestrutura de apoio à atividade pesqueira
na região.
Os dados sobre os pescadores cadastrados no Registro Geral da Atividade
Pesqueira (RGP) foram coletados através do Sistema Informatizado do Registro Geral
da Atividade Pesqueira (SisRGP), integrante do Sistema Nacional de Informações da
Pesca e Aquicultura (SINPESQ) do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Enquanto
os dados sobre o seguro-defeso foram coletados no Portal da Transparência do
Governo Federal, da Controladoria Geral da União, que divulga informações sobre os
recursos federais destinados ao Seguro Defeso do Pescador Artesanal pelo Ministério
do Trabalho e Emprego.
Os sobre a comercialização de pescado na sede do município foram
disponibilizados pela Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca (SEMAPE), a qual
realiza o monitoramento dos desembarques na Feira do Produtor Rural e no Mercado
Municipal. Os dados correspondem aos desembarques ocorridos nos anos de 2013 e
2014. Todos os dados coletados foram analisados a partir de uma abordagem quali-
quantitativa e descritiva. A frota pesqueira foi classificada em 4 tipologias, a partir de
uma adaptação da metodologia proposta por Espírito-Santo e Isaac (2012) (Tabela
1).
Tipo
Descrição
Montaria
Embarcação movida a remo, com casco de madeira; vulgarmente
conhecida como bote a remo, casquinho, canoa ou montaria.
Canoa motorizada
Embarcação movida a motor (centro ou polpa) ou a motor e vela, com
casco de madeira; vulgarmente conhecida como rabeta, bote com motor
de centro ou bote com rabeta.
Catraio
Embarcação movida a motor de centro, com cobertura completa ou
parcial; conhecida vulgarmente como catraio ou lancha.
Barco pesqueiro
Embarcação movida a motor de centro, com casco de madeira, convés
fechado ou semifechado e com casaria.
Tabela 1 – Descrição das tipologias de embarcações da frota pesqueira do município de Afuá,
Estado do Pará.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Colônia de Pescadores Z-85 constitui-se na única organização social ligada ao
setor pesqueiro do município de Afuá. De acordo com o presidente desta entidade, há
2.200 cadastrados, sendo que 1.672 pescadores possuem RGP e recebem o segurodefeso. Entretanto, os dados oficiais disponíveis no SisRGP apontam a existência
de apenas 622 pescadores com cadastro ativo. É importante destacar o fato de que
há muitos pescadores colonizados nas cidades de Macapá e Santana, no Estado do
Amapá, principalmente quando consideradas as comunidades situadas no Setor 2.
Há ainda na região diversas associações de agroextrativistas, normalmente ligadas
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
74
aos assentamentos de reforma agrária, das quais alguns pescadores fazem parte,
em geral, aqueles cuja principal atividade produtiva não é pesca.
De acordo com dados do SisRGP, os pescadores cadastrados apresentam uma
média de 37,6 anos, sendo praticamente igual o quantitativo de homens e mulheres
(Tabela 2). Segundo Silva e Dias (2010), apesar de as mulheres apresentarem
grande importância no desenvolvimento de atividades da cadeia produtiva da pesca
no Amapá, como o beneficiamento da produção, o constante aumento do número
pessoas cadastradas como pescadoras profissionais é preocupante, uma vez que
essa profissão é tipicamente masculina e não são observadas mulheres tripulando
embarcações de pesca, além de inexistirem marisqueiras e catadeiras na região.
No município de Afuá, entretanto, é comum a presença de mulheres na captura
e beneficiamento do camarão regional (Macrobrachium amazonicum) com fins
comerciais, enquanto a captura de peixes realizada por elas é predominantemente
de subsistência.
Todos os cadastrados são da categoria artesanal e as áreas de pesca estão
situadas predominantemente em águas interiores (98,7%) (Tabela 2), com destaque
para as capturas realizadas ao longo dos rios da região (89,1%). Somente um
pescador cadastrado atua exclusivamente no mar (0,2%) (Tabela 2). O principal tipo
de pescado capturado são os peixes (81,8%). É importante destacar ainda que na
ocasião do cadastro junto ao MPA muitos pescadores cuja atividade é direcionada à
captura de camarão informam que têm os peixes como recurso principal, pois assim
podem ter acesso ao seguro-defeso, uma vez que não há legislação reguladora para
as capturas dos camarões regional e pitu, importantes recursos pesqueiros para as
comunidades locais.
Atributo
Descrição
Idade
18 a 65 anos (média de 37,6 anos)
Sexo
Feminino (49,5%)
Masculino (49,8%)
Sem Informação (0,6%)
Categoria
Artesanal (100%)
Ambiente
Água interiores (98,7%)
Mar (0,2%)
Mar e águas interiores (0,5%)
Sem Informação (0,6%)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
75
Atributo
Descrição
Pescados
Peixes (81,8%)
Peixes e outros (10,3%)
Crustáceos (6,6%)
Mariscos (0,3%)
Mariscos e Crustáceos (0,8%)
Sem Informação (0,2%)
Tabela 2 - Descrição dos atributos dos pescadores profissionais cadastrados com Registro
Geral da Atividade Pesqueira (RGP). Fonte: SisRGP/SINPESQ/MPA (2015).
De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), no ano de 2014
o número total de beneficiários do seguro-defeso foi de 1.281 pessoas, totalizando
R$ 3.674.300,00 sendo que para o período de 01/01 a 30/04 foram contemplados
1.268 pescadores, enquanto para o período de 15/11/2014 a 15/03/2015 houveram
13 pessoas beneficiadas (MTE, 2015). Ambos os períodos são estabelecidos pela
portaria n° 048, de 05 de novembro de 2007, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), sendo que o primeiro se refere à
proibição da pesca nos rios da Ilha do Marajó, enquanto o segundo refere-se aos
demais rios do Estado do Pará.
As embarcações pesqueiras de Afuá são de pequeno porte, construídas com
madeira, movidas a remo ou motor e com comprimento de 2,5 a 12 metros (Tabela
3). As canoas motorizadas são notadamente as principais embarcações empregadas
na atividade pesqueira e é comum a existência de mais de uma embarcação por
residência, sendo que, algumas vezes, cada membro da família pode apresentar uma
montaria ou canoa motorizada. É importante destacar que somente na sede municipal
os barcos pesqueiros foram observados e citados pelos entrevistados.
Tipo de embarcação
Comprimento
Montaria
2,5 a 5 m
Canoa motorizada
3 a 10 m
Catraio
6 a 12 m
Barco pesqueiro
11 a 12 m
Tabela 3 – Comprimento de embarcações pesqueiras do município de Afuá, Estado do Pará.
As artes de pesca utilizadas incluem espinhel, redes de emalhar e de arrasto
(camaroeira), matapi, tarrafa, linha de mão e, em menor escala, cacuri (armadilha
fixa semelhante a um curral) (Tabela 4). Resultados semelhantes foram encontrados
por Vieira e Araújo Neto (2006) nas comunidades da Ilha do Pará, no município de
Afuá (PA), e Bailique (AP). Considerando-se as redes de emalhar, foi observado que
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
76
no Setor 2 é mais é mais comum a utilização de redes com menores tamanhos de
malha entre nós opostos, como 30 e 40 mm. É importante destacar que há um acordo
entre os pescadores locais que impõe restrições aos apetrechos utilizados nas áreas
de pesca do município de Afuá, na área compreendida entre os rios Anajás e Afuá.
Tal acordo proíbe a utilização de redes e matapis nos igarapés e limita o número
de matapis que podem ser empregados por cada família, assim como estabelece
o comprimento e o tamanho das malhas das redes permitidas. Destaca-se que não
foram encontradas evidências sobre a legalidade de tal acordo, entretanto, o mesmo
é reconhecido pela população local.
As capturas são direcionadas a recursos de águas interiores e estuarinas, sendo
que no primeiro caso a produção é voltada principalmente para consumo, enquanto
a produção de recursos estuarinos tem caráter predominantemente comercial. De
modo geral o principal recurso pesqueiro do município de Afuá é o camarão regional
(M. amazonicum), entretanto, para as comunidades do Setor 1 a captura de peixes
também apresenta relevante importância. M. amazonicum é a espécie nativa de
camarão de água doce com maior ocorrência nas águas interiores da Amazônia
(ODINETZ-COLLART, 1993).
Os matapis se constituem no principal apetrecho empregado na captura de
camarões, sendo que a despesca ocorre diariamente de acordo com as marés. Após
a despesca, os camarões são acondicionados em caixas de madeira flutuantes,
com formato retangular ou quadrado e com abertura na parte superior, localmente
denominadas de “viveiros”. Estas estruturas normalmente são mantidas nos cursos
d’água, em frente às residências. Os camarões permanecem nos viveiros até que haja
uma quantidade suficientemente lucrativa para ser comercializada, sendo que esse
período pode durar até 15 dias. Também é observada a manutenção dos camarões
nos viveiros para engorda. Enquanto permanecem nos viveiros, os camarões são
alimentados com babaçu.
O uso de matapis para a captura de camarão regional é comum também na
Ilha do Pará (PA). Nas pescarias com este tipo de apetrecho é comum a participação
de crianças, uma vez que se trata de um método relativamente fácil e as capturas
normalmente são realizadas em áreas próximas às moradias (VIEIRA; ARAÚJO
NETO, 2006).
No município de Afuá a utilização de gelo para conservação de pescado a
bordo é mais comum nos barcos pesqueiros, sendo que normalmente as demais
embarcações desembarcam o pescado in natura nas residências, onde realizam o
processo de evisceração e acondicionamento em caixas de poliestireno expandido
(EPS) ou em freezers e geladeiras antigas, utilizadas como caixas térmicas, contendo
gelo. O pescado permanece armazenado até que haja uma quantidade suficientemente
lucrativa, compensando o deslocamento até às áreas de comercialização. Em algumas
localidades também ocorre o processo de salga do pescado, assim como observado
em outras comunidades na foz do Amazonas como Sucuriju e Bailique, no Estado do
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
77
Amapá (SILVA; DIAS, 2010).
Método de conservação
Apetrechos
Principais recursos
- Espinhel com 30 a 400 anzóis (n° 3,
4, 5 e 6);
Gelo, salga e in natura
- Rede de emalhar (30 a 75 mm entre
nós opostos);
- Rede de arrasto (camaroeira);
- Outros: matapi, tarrafa, linha de mão
e cacuri.
Águas interiores: acará, aracu,
acari, anujá, tucunaré, aruanã,
piau, tamoatá, jiju, tambaqui e
traíra.
Estuário: filhote, dourada,
piramutaba, pescada branca e
camarão regional e pitu.
Tabela 4 - Métodos de conservação do pescado, apetrechos e principais recursos capturados
pelos pescadores do município de Afuá (PA).
Após a captura, quatro processos distintos de beneficiamento e conservação
são observados para o camarão regional, sendo que todos são realizados de forma
familiar nas residências dos pescadores, com o envolvimento principalmente das
mulheres. O primeiro processo consiste no resfriamento do camarão com gelo;
enquanto o segundo consiste no cozimento e posterior descascamento e salga.
O terceiro processo incide no cozimento e descascamento, e o último consiste no
cozimento com grandes quantidades de sal (localmente chamado de camarão frito).
No município de Afuá a pesca ocorre ao longo do ano todo e as capturas são
direcionadas à recursos pesqueiros dulcícolas e/ou estuarinos. Considerando o Setor
1, as áreas de pesca incluem desde pequenos igarapés situados nos arredores das
residências até alto mar, sendo que os pesqueiros estendem-se desde a Ponta do
Curuá, no arquipélago do Bailique (AP), até próximo ao banco Maguari, na costa leste
da ilha do Marajó (PA), incluindo as áreas da Baía do Vieira Grande e dos canais do Sul,
Perigoso e do Norte. Por outro lado, os pescadores do Setor 2 realizam suas pescarias
principalmente em rios e igarapés próximos às residências e, secundariamente, na
Baía do Vieira Grande e nas proximidades do rio Anajás.
Em ambos os setores nas pescarias realizadas nas áreas próximas às
residências são utilizados apetrechos como matapi, tarrafa e rede de arrasto
camaroeira, para a captura de camarão, e rede de emalhar, tarrafa e caniço, para a
captura de peixes de águas interiores. Em algumas localidades é possível observar
alguns cacuris próximos à foz de pequenos igarapés. Nas pescarias com rede de
emalhar de “bubuia” realizadas na Baía do Vieira Grande, as áreas de pesca estão
localizadas em profundidades de 2 a 29 m e os principais recursos capturados são o
filhote e a dourada. Enquanto as pescarias com espinhel são desenvolvidas em áreas
com profundidade de 18 a 20 m, podendo alcançar 73 m no canal.
Nas
pescarias
em
áreas
distantes
das
localidades,
realizadas
predominantemente pelos pescadores do Setor 1, são utilizadas redes de emalhar
e espinhel em profundidades de até 73 m. Os pesqueiros estão situados nas
proximidades das ilhas dos Camaleões, Machado, Mexiana, Caviana e Ilha Nova,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
78
além de áreas próximas às duas primeiras bóias do Canal Grande do Curuá, no
arquipélago do Bailique (AP).
De modo geral, a sede do município de Afuá concentra a maioria das estruturas
de apoio à atividade pesqueira, sendo que estas são utilizadas principalmente pelos
moradores do Setor 1. Nela há inúmeros pontos de comercialização de gelo produzido
artesanalmente e uma empresa que armazena e revende gelo em escama fabricado
em Macapá (AP). Em ambos os casos, os pescadores reclamam da má qualidade do
produto. Na sede do município há ainda dois postos de combustível, sendo que este
insumo também pode ser adquirido nas próprias localidades através de pequenos
revendedores, assim como gelo artesanal. No caso do Setor 2, a aquisição de
insumos pelos pescadores ocorre principalmente nas cidades de Macapá e Santana
(AP), embora haja pequenos revendedores de gelo e combustível nas localidades.
Normalmente os embarques e desembarques são realizados em trapiches de
madeira próximos às residências dos pescadores e não há uma estrutura específica
para beneficiamento de pescado, sendo que todo o processamento é realizado nas
residências. Considerando o Setor 1, normalmente os pescadores comercializam o
pescado no Mercado Municipal e na Feira do Produtor Rural, na sede do município,
sendo que também ocorre comercialização a atravessadores ou diretamente nas
cidades de Macapá e Santana (AP), sendo que no período de safra a comercialização
nas cidades amapaenses é intensificada, uma vez que o mercado local é incapaz
de consumir toda a produção. Os pescadores do Setor 2, por sua vez, realizam
a comercialização da produção principalmente em Macapá e Santana (AP) e,
secundariamente, a atravessadores da cidade de Belém.
Os pequenos reparos e manutenções nas embarcações são realizados em
estruturas informais nas próprias localidades, entretanto, quando reparos mais
complexos são necessários, os pescadores do Setor 1 utilizam os estaleiros e oficinas
da sede do município e os pescadores do Setor 2 recorrem às estruturas das cidades
de Macapá e Santana (AP).
O desembarque de pescado na sede do município de Afuá concentra-se na Feira
do Produtor Rural (FPR) e no Mercado Municipal (MM). Nos anos de 2013 e 2014
foram desembarcados 189.563,5 kg e 194.446,0 kg de pescado no município (Tabela
5), respectivamente, sendo que aproximadamente 81% da produção total desse
período foi desembarcada na FPR. No ano de 2013 foi observado o desembarque de
33 táxons, enquanto em 2014 foram 25 (Tabela 5).
O camarão regional foi o principal produto desembarcado no município,
correspondendo a 62% da produção no ano de 2013 e 58% em 2014. O produto é
desembarcado e comercializado predominantemente cru e com cabeça (Figura 2),
correspondendo a 81% da produção em 2013 e 70% em 2014. Além do camarão
regional, destaca-se em menor escala o desembarque de dourada, filhote e pescada
em ambos os anos (Tabela 5).
Foi observado que as principais atividades produtivas desenvolvidas na área
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
79
de estudo são o extrativismo vegetal, notadamente de açaí e palmito, a agricultura
e a pesca, com ênfase na captura de camarão, sendo que é comum ocorrer uma
combinação destas atividades em diferentes períodos do ano. Resultados semelhantes
foram observados por Vieira e Araújo Neto (2006), na Ilha do Pará, e Bentes et al.
(2012), na Ilha de Mosqueiro (PA).
Nome comum
Acari
Anujá
Produção 2013 (kg)
FPR
MM
177,0
-
145,0
Apaiari
Aracu
Aruanã
1.485,0
1.366,0
54,0
Bacu
-
Bagre
-
Camarão regional
Camarão pitu
Curimatã
Dourada
Filhote
Jiju
Mandubé
Mapará
Pescada
Tamoatá
Traíra
Tucunaré
Outros
Total
615,0
74,0
74,0
230,0
1.247,0
127,0
357,0
1.723,0
-
300,0
2.970,0
-
-
-
-
-
-
300,0
898,0
1.298,0
-
1.298,0
1.609,0
100,0
330,0
5.311,0
8.968,0
-
1.565,0
6.920,0
14.258,0
100,0
938,0
1.605,0
2.543,0
330,0
768,0
1.098,0
545,0
7.370,0
-
Tambaqui
615,0
500,0
-
-
Piranha
Sardinha
500,0
-
898,0
1.235,0
-
Sarda
564,0
4.116,0
-
113.363,0
Piranambu
Pirarucu
510,0
2.750,0
-
5.576,0
-
Pirarara
2.023,0
MM
107.787,0
Piramutaba
Pirapitinga
538,0
FPR
116.586,5
63,0
Piaba
1.018,0
PT 2014
(kg)
3.049,0
1.046,0
Pacu
177,0
Produção 2014 (kg)
113.537,5
5.290,0
Jaraqui
873,0
PT 2013
(kg)
1.237,0
44,0
55,0
11,0
1.220,0
1.111,0
633,0
5.118,0
233,0
487,0
240,0
225,0
493,0
141,0
824,0
71,0
12.488,0
296,0
487,0
240,0
225,0
1.730,0
185,0
879,0
82,0
960,0
9.203,0
1.502,0
10.705,0
-
-
-
750,0
270,0
1.020,0
10.031,0
3.399,0
1.488,0
7.432,0
298,0
2.578,0
12.609,0
497,0
3.896,0
689,0
2.177,0
1.620,0
2.850,0
1.620,0
10.282,0
-
298,0
-
-
-
-
-
-
-
-
-
7.277,0
3.269,0
10.546,0
862,0
862,0
500,0
1.656,0
-
10,0
367,0
10,0
367,0
1.252,0
1.156,0
1.457,0
1.920,0
3.529,0
1.629,0
5.158,0
415,0
132,0
-
132,0
2.125,0
911,0
872,0
415,0
1.679,0
10,0
32,0
347,0
463,0
1.656,0
950,0
-
2.472,0
1.783,0
850,0
3.154,0
2.806,0
620,0
3.656,0
3.774,0
5.599,0
3.194,0
8.769,0
3.242,0
3.114,0
6.356,0
146.490,5
43.073,0
189.563,5
163.453,0
30.993,0
194.446,0
Tabela 5 - Produção (kg) de pescado desembarcada nos anos de 2013 e 2014 no município de
Afuá, Estado do Pará. FPR = Feira do Produtor Rural; MM = Mercado Municipal; PT = Produção
Total.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
80
Figura 1 – Produção (kg) e tipo de beneficiamento do camarão regional desembarcado nos
anos de 2013 e 2014 no município de Afuá, Estado do Pará. CC = Com Cabeça; SC = Sem
Cabeça.
4 | CONCLUSÃO
A pesca na região do estuário amazônico ocorre de forma artesanal durante
o ano todo e as capturas são direcionadas à recursos pesqueiros dulcícolas e/ou
estuarinos. Os recursos pesqueiros exploradOs abrangem por volta de 30 táxons,
sendo o camarão regional (Macrobrachium amazonicum) o principal produto pesqueiro
explorado em Afuá-PA.
Apesar de a pesca ser uma atividade de grande importância econômica
no município, foi observado que na região existe a realização de atividades
complementares à renda dos pescadores como o extrativismo de açaí e produção
de palmito. Entretanto, a pesca desempenha um importante papel na economia
do município de Afuá e contribui ativamente na absorção de mão-de-obra pouco
qualificada no município.
Para se elaborar um diagnóstico completo da pesca na região é necessário que
se realizem mais estudos que contemplem a dinâmica dos estoques pesqueiros e
monitoramento do desembarque pesqueiro, pois somente de posse de um histórico
de dados estatísticos sobre a produção pesqueira será possível conhecer o status
atual da pesca e recursos pesqueiros no estuário amazônico, e com isso, será
possível elaborar planos de manejo e políticas de gestão dessa importante atividade
econômica.
5 | AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amapá
(FAPEAP) e às empresas BP Energy do Brasil, Total E&P e Queiroz Galvão E&P pelo
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
81
financiamento do trabalho de campo deste estudo.
À SEMAPE pela disponibilização dos dados.
REFERÊNCIAS
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(PA). Boletim do Laboratório de Hidrobiologia, 25(1):21-30, 2012.
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REEF MANAGEMENT. Australian Institute of Marine Science, Townsville, Queensland, Australia, 2000.
ESPIRÍTO-SANTO, R. V.; ISAAC, V. J. Desembarques da pesca de pequena escala no município de
Bragança – PA, Brasil: Esforço de produção. BOLETIM DO LABORATÓRIO DE HIDROBIOLOGIA,
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FIGUEIREDO-SILVA, S. L.; CAMARGO, M.; ESTUPIÑAN, R. Fishery management in a conservation
área. The case of Oiapoque River in northern Brazil. Cybium 36 (1): 17-30, 2012.
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IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA). Afuá. Brasília: IBGE, 2014.
Disponível em: http://cod.ibge.gov.br/3JQ. Acessoem: 14/08/2015.
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(Eds.) Bases Científicas para Estratégias de Preservação e desenvolvimento da Amazônia (2). INPA.
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PEREIRA, L. C. C.; DIAS, J. A.; CARMO, J. A.; POLETTE, M. A Zona Costeira Amazônica Brasileira.
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HIDROBIOLOGIA, 19(1). 2006
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 7
82
CAPÍTULO 8
doi
PESCA ARTESANAL DA LAGOSTA NO LITORAL NORTE
DA BAHIA
Jadson Pinheiro Santos
Universidade Estadual do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, São Luís – Maranhão
Jonathas Rodrigo dos Santos Pinto
Universidade Federal de Santa Catarina,
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura,
Florianópolis – Santa Catarina
Bruna Larissa Ferreira de Carvalho
Carvalho Consultoria em Pesca e Aquicultura,
Aracaju – Sergipe
Camila Magalhães Silva
Universidade Estadual do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, São Luís – Maranhão
Danilo Francisco Corrêa Lopes
Universidade Federal do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, Pinheiro – Maranhão
RESUMO: O presente estudo teve como
objetivo principal caracterizar a pesca artesanal
da lagosta na comunidade de Poças, localizada
no município de Conde, litoral norte da Bahia.
Foram realizadas coletas de dados primários a
partir de conversas informais com pescadores
e do acompanhamento de pescarias diurnas
e noturnas, no período de novembro de 2015
a fevereiro de 2016. O período mais propício
para a captura das lagostas foi na “maré de
lançamento”, período influenciado pelas luas de
quarto crescente ou minguante, quando estão
crescendo para marés de lua cheia ou nova.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Foram identificadas 3 formas de captura de
lagostas, sendo o mergulho no período diurno
e na maré baixa a principal (50%), seguido da
pesca manual noturna com atrativos luminosos
(37,5%), e a última com tarrafas no período
diurno (12,5%). As espécies de lagostas
observadas foram a lagosta pintada, Panulirus
echinatus Smith, 1869 (71,4%) e a lagosta
verde, Panulirus laevicauda (LATREILLE, 1817)
(28,6%). A grande procura por lagostas e o seu
alto valor econômico tornam a atividade uma
alternativa viável para pescadores artesanais
no extremo norte da Bahia. A regulamentação
das capturas e o estabelecimento de período
de defeso para a lagosta pintada apresenta-se
como atividades de gestão essenciais para a
continuidade da atividade pesqueira e para a
preservação da espécie.
PALAVRAS-CHAVE:
Artes
de
pesca,
Crustáceos, Palinuridae, Recurso Pesqueiro.
LOBSTER ARTISANAL FISHING IN THE
NORTH COAST OF BAHIA
ABSTRACT: This study aimed to characterize
the artisanal fishing lobster in Poças community,
in the municipality of Conde, north coast of
Bahia. Primary data collection from informal
conversations with fishermen and monitoring of
day and night fisheries were conducted in the
period from November 2015 to February 2016.
Capítulo 8
83
The best season for catching crayfish was the “launch tide” period influenced by moons
waning or waning quarter, when they are growing to full or new moon tides. Three
ways to lobsters capture were identified, the dip during the day and at low tide the main
(50%), followed by nocturnal manual fishing with bright attractive (37.5%), and the last
with cast nets during the day (12.5%). Of all the ways to catch only performed manually
at night used personal protective equipment. The observed lobster species were
painted lobster, Panulirus echinatus Smith, 1869 (71.4%) and green lobster, Panulirus
laevicauda (LATREILLE, 1817) (28.6%). The high demand for lobsters and its high
economic value make the activity a viable alternative to traditional fishermen in the
far north of Bahia. The regulation of catches and the establishment of closed season
for lobster painted presents as essential management activities for the continuation of
fishing activity and the preservation of the species.
KEYWORDS: Fishing gear, Crustaceans, Palinuridae, Fishing resource.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca artesanal é uma das atividades mais praticadas por populações costeiras
em todo o litoral brasileiro, demonstrando grande importância não só pelo aspecto
econômico, mas, também, por sua função social (RODRIGUES e GIUDICE, 2011).
Os peixes, moluscos e crustáceos, formam o conjunto de recursos pesqueiros mais
importantes para a manutenção de populações humanas em ecossistemas costeiros
(SEVERINO-RODRIGUES et al., 2009).
Dentre os crustáceos mais apreciados e procurados pela pesca extrativista,
temos como grupos mais familiares os organismos pertencentes aos Decápodas,
contendo uma grande diversidade de caranguejos, camarões (CASAL e SOUTO,
2011) e as lagostas, sendo este último um dos produtos pesqueiros de maior
valor comercial para a Região costeira do Nordeste brasileiro, principalmente com
a finalidade de abastecer o mercado exportador para países com elevado poder
aquisitivo (IGARASHI, 2007).
Os primeiros registros de pescaria comercial da lagosta no Brasil demonstram que
predominava a frota pesqueira de caráter industrial, com embarcações estruturadas
com cascos de ferro e com comprimentos em torno de 24 metros, executando as
pescarias utilizando como arte de pesca o manzuá, armadilha com estrutura de
madeira coberta por uma malha de polietileno autorizada para a finalidade pelo Instituto
Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis - IBAMA (IBAMA, 1994;
ARAGÃO, 2013). Com o passar do tempo, e um maior pressionamento dos estoques
pesqueiros no final da década de 70, a frota industrial passou a ser gradativamente
substituída por barcos de madeira, com comprimento médio de14 metros, além de
grande número de embarcações a vela (FONTELES-FILHO et al.,1985; CARVALHO
et al., 1996; CASTRO e SILVA e ROCHA, 1999).
Na costa da Bahia, Aragão (2013) descreve que as pescarias se expandiram a
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
84
partir dos anos 1980 por conta dos baixos rendimentos obtidos pelas pescarias na
principal área destinada a esta prática no Brasil, que fica situada entre os estados de
Ceará e Pernambuco, tendo como principal porto de desembarque a cidade de Ilhéus
na região sul do estado. Por conta do direcionamento da pesca da lagosta no entorno
do porto de Ilhéus, os estudos sobre a captura de lagosta na costa da Bahia ficaram
restritos a região sul, não sendo verificado relatos dessa atividade na região norte,
que apresenta grande potencial turístico e boa parcela da população dependente da
pesca artesanal. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi caracterizar a
pesca artesanal da lagosta no litoral norte da Bahia.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado entre os meses de novembro de 2015 e fevereiro de 2016
com visitas realizadas a comunidade de Poças (Figura 1), localizada no município de
Conde-BA, distante 187 km da capital Salvador, nas coordenadas 11º48’49” sul e
37º36’38” oeste. Esta comunidade está situada em uma região intermediária entre
o rio Itapecuru de um lado e de uma faixa com aproximadamente 10 km de terraços
marinhos do outro (Figura 2).
Os dados coletados foram de natureza primária e a pesquisa foi realizada de
forma exploratória a partir do acompanhamento de pescarias diurnas e noturnas
realizadas na praia de Poças. As pescarias foram caracterizadas de acordo com a
prática adotada na região, descrevendo o ambiente de captura, o período e arte de
pesca utilizada.
Figura 1 - Local de realização do estudo na comunidade de Poças, Conde-BA. Fonte: Adaptado
de https://pt.wikipedia.org/wiki/Conde_(Bahia); GoogleEarth
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
85
Figura 2 - Terraços marinhos nas margens da comunidade de Poças, Conde-BA. Fonte:
Arquivos pessoais.
A classificação adotada para as espécies encontradas foi realizada utilizando
a descrição de Silva e Fonteles-Filho (2011). Para cada espécie são fornecidas
informações sobre distribuição geográfica, ecologia e, quando existentes, os registros
prévios para a costa da Bahia. Os dados foram tabulados e analisados em software
de visualização e análise de dados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A comunidade de Poças está situada numa região litorânea do município de
Conde-BA, estando inserida numa feição peninsular estreita, com praias compostas
litologicamente de arenitos de praia e apresenta expansão sobre regiões dunares
e terraços marinhos (MENEZES, 2015). Devido à sua importância no cenário
paisagístico-ecológico e social, a região foi transformada em uma Área de Proteção
Ambiental (APA) em março de
1992, com posterior elaboração de seu Plano de
Manejo em 1995 (COSTA-NETO, 2001).
Ocupada por populações tradicionais que possuem a pesca e o extrativismo
como atividades geradoras de renda, a comunidade de Poças apresenta ainda o
turismo de segundas residências que atende a uma demanda local e regional (JESUS
e OLIVEIRA, 2017). Segundo Araújo et al. (2016), o município de Conde apresentou no
ano de 2014 uma população pesqueira estimada em 599 pescadores e marisqueiras,
dos quais 455 atuam na região as margens do rio Itapicuru, principalmente nas
comunidades de Sítio do Conde, Siribinha, Cobó, Sempre Viva e Poças.
A partir dos dados coletados, foram identificados oito (8) pescadores realizando
a atividade de pesca da lagosta, tendo como período mais propício para a captura
das lagostas os dias de “maré de lançamento”, período influenciado pelas luas de
quarto crescente ou minguante, quando estão crescendo para marés de lua cheia ou
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
86
nova. Foi observado que a captura de lagostas é realizada de três formas diferentes,
sendo a principal realizada no turno da manhã (50%), de forma manual por meio de
mergulho em apneia (figura 3) na maré baixa ao longo da borda externa dos terraços
marinhos, local de arrebentação das ondas. Após ciclos de transgressão-regressão
do mar, os terraços marinhos foram formados pelo retrabalhamento dos sedimentos
do Grupo Barreiras e dos Leques Aluviais, constituindo um sistema de drenagem
nestes Terraços (ALMEIDA et al., 2003), com fendas e formações calcárias propícias
ao abrigo de diversas espécies de crustáceos, principalmente lagostas, siris e aratusde-pedra.
Figura 3 – Áreas de captura de lagostas em zona de arrebentação de ondas próximo aos
terraços marinhos na comunidade de Poças, Conde-BA. Fonte: Arquivos pessoais.
A outra forma utilizada pelos pescadores da região de estudo é executada no
período noturno, de forma manual (37,5%), utilizando atrativos luminosos (figura 4)
que auxiliam os pescadores na busca das lagostas que sobem pedras e se alojam
entre as fendas nos terraços marinhos quando o ciclo da mare começa e subir. As
lagostas são crustáceos decápodas que apresentam hábito alimentar noturno, com
caráter essencialmente carnívoro de predação ativa e oportunista, que incluem
incluem em sua dieta grupos de organismos sedentários ou de movimentos lentos
que possibilitam uma captura mais fácil pelas lagostas, principalmente de pequenos
crustáceos, anelídeos, equinodermas e fundamentalmente moluscos gastrópodos
(DIAS-NETO, 2008), que se alojam nas fendas rochosas dos terraços marinhos
também para se alimentar e reproduzir nos períodos de maré cheia. Atrelado ao
hábito alimentar, foi observada uma fotossensibilidade das lagostas a intensidade
luminosa repentina dos artefatos utilizados pelos pescadores, fato que possibilita
uma imobilidade temporária com facilitação para a captura por parte dos pescadores.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
87
Figura 4 – Captura de lagostas noturna manualmente com artefatos luminosos sobre os
terraços marinhos na comunidade de Poças, Conde-BA. Fonte: Arquivos pessoais.
O uso de tarrafa foi a terceira forma de pescaria de lagostas, mas com menor
incidência (12,5%), executada no mesmo período descrito para a pesca manual com
auxílio de lanterna. As tarrafas são lançadas nos terraços marinhos de modo a cercar
e capturar o máximo possível de indivíduos através da contenção das mesmas no
interior das tarrafas. A tarrafa é uma arte de pesca ativa confeccionada em nylon com
malhagem variada, apresentando formato circular, e é utilizada principalmente para a
captura de peixes e crustáceos em locais rasos, a partir das margens das praias ou
estuários de toda a região nordeste do país (SOARES et al., 2009). Especificamente
para a captura de lagostas, as técnicas mais praticadas utilizam o manzuá ou covo,
rede de espera ou caçoeira, e mergulho com compressor, das quais apenas a primeira
seria uma arte de pesca legalmente permitida (IBAMA – Instrução Normativa nº 138,
de 6 de dezembro de 2006). O uso de tarrafa para captura de lagosta não é corriqueiro
no Brasil, sendo este o primeiro relato do uso dessa arte para esta finalidade.
Observou-se a ocorrência de duas espécies de lagosta da família Palinuridae:
lagosta-pintada, Panulirus echinatus Smith, 1869 e a lagosta-verde, Panulirus
laevicauda (LATREILLE, 1817), respectivamente com 71,4% e 28,6% dos indivíduos
identificados nas pescarias. De acordo com Dias Neto (2008), as espécies de lagostas
com maior representatividade em capturas nas regiões Norte e Nordeste são a lagosta
vermelha, Panulirus argus (LATREILLE, 1804) e a lagosta verde Panulirus laevicauda
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
88
(LATREILLE, 1817). Entretanto, nas pescarias atuais de lagostas, outras espécies
têm se tornado bastante representativas nas capturas, sendo possível verificar a
ocorrência da lagosta-pintada Panulirus echinatus em capturas conjuntas com a
pesca da lagosta verde, como observado no estado do Espírito Santo (DIAS-NETO,
2008) e Paraíba (OLIVEIRA et al., 2014).
A Panulirus echinatus habita preferencialmente as cavidades dos recifes de
corais e substratos rochosos, que vão desde as regiões mais costeiras até 35 m,
porém preferencialmente menos que 25 m de profundidade (MELO, 1999; FAO, 1991)
e exige uma pesca mais direcionada para a sua captura (DIAS-NETO, 2008), como
a praticada pelos pescadores no litoral Norte da Bahia descritos no presente estudo.
Apresenta distribuição desde o Atlântico Central (Ilhas Ascensão e Santa Helena),
Atlântico Oriental (Ilhas Canárias e Cabo verde) e no Atlântico Ocidental (Brasil – do
Ceará ao Rio de Janeiro e Santa Catarina) e nas Ilhas oceânicas como o Arquipélago
de São Pedro e São Paulo, Atol das Rocas, Fernando de Noronha e Trindade (MELO,
1999; GAETA, 2011).
Já a lagosta Panulirus laevicauda, apresenta ampla distribuição nas costas
tropicais americanas do Oceano Atlântico, desde Cuba até o Brasil (Rio de Janeiro),
em áreas sobrepostas com a P. argus, entretanto, sua ocorrência é do entre-maré
até 50 m de profundidade (MELO, 1999). Apesar de ser a segunda espécie mais
capturada no Norte e Nordeste, sua importância comercial a nível mundial é mais
expressiva apenas no Brasil (DIAS-NETO, 2008).
Geralmente, esses crustáceos são comercializados por unidade, podendo ser
encontrado também a comercialização por quilograma de acordo com o tamanho dos
indivíduos. Nas pesquisas, foi observado um valor de comercialização de R$ 30,00 a
dúzia, variando nos períodos de maior fluxo turístico na região, principalmente entre
os meses de janeiro a março, onde o preço médio pode chegar até R$ 50,00 a dúzia,
a depender do tamanho das lagostas.
Durante anos a atividade pesqueira no Brasil tem sido negligenciada levando ao
julgamento e a tomada decisões errôneas levando a crer que a atividade vinha sendo
exercida de forma sustentável (ARAGÃO, 2013). Em 24 de agosto 1978, foi publicada
uma portaria de número 15 por parte da Superintendência de Desenvolvimento da
Pesca – SUDEPE (SUDEPE, 1978), atualizada pela Instrução normativa 206 do
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA com o
objetivo de disciplinar a pesca de lagosta e dar outras providências com vistas a
preservação do recurso pesqueiro.
Apesar da existência de um Plano de Gestão para o Uso Sustentável de
Lagostas no Brasil (DIAS-NETO, 2008), a atividade continua sendo exercida por
meio de padrões de pesca predatórios e de forma majoritariamente ilegal em todo
o Brasil (SILVA e FONTELES-FILHO, 2011; ARAGÃO, 2013). Esse fato é agravado
na região de estudo, tendo em vista que tanto as instruções normativas quanto o
plano de Gestão para o uso sustentável da lagosta no Brasil não protegem a espécie
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
89
Panulirus echinatus, principal espécie encontrada na área de estudo, ficando apenas
protegidas as espécies Panulirus argus e a Panulirus laevicauda.
4 | CONCLUSÕES
A grande procura por lagostas e o seu alto valor econômico torna atrativa a
atividade de exploração destes recursos em toda a costa do Nordeste Brasileiro. O
recurso pesqueiro lagosta se apresenta como uma alternativa viável para pescadores
artesanais no extremo norte da Bahia, desde que seja respeitada a instrução normativa
nº 206 de 14 de novembro de 2008, que proíbe a captura destes crustáceos em toda
a costa Brasileira no período de 1º de dezembro a 31 de maio de cada ano.
Estudos devem ser dirigidos para identificação e caracterização da biologia
reprodutiva e dos hábitos alimentares da lagosta pintada Panulirus echinatus na costa
norte do estado da Bahia com vistas a elaboração de planos de manejo e períodos de
defeso que possibilitem a preservação da espécie.
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Capítulo 8
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 8
91
CAPÍTULO 9
doi
PESCADORES E AGRICULTORES PODEM SER
AQUICULTOR?
Fabrício Menezes Ramos
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará
André Augusto Pacheco de Carvalho
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará
Benedito Neto de Souza Ribeiro
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará
Jean Louchard Ferreira Soares
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará
Rosana Teixeira de Jesus
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará
Carlos Alberto Martins Cordeiro
Universidade Federal do Pará (UFPA), Faculdade
de Engenharia de Pesca. Bragança-Pará
RESUMO: A pesca é uma atividade econômica
importante, porém encontra-se em declínio
devido ao manejo inadequado dos recursos
pesqueiros. A aquicultura pode ser uma
alternativa tanto para suprir a demanda por
peixe para alimentação como para gerar
renda. O presente trabalho visa conhecer as
estratégias apontadas para implementação de
Projetos que objetiva transformar pescadores
e agricultores em aquicultores. Para tal, foram
coletados dados qualitativos e quantitativos
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
através da pesquisa bibliográfica. Foram
encontrados 61 Projetos, nestes os organismos
trabalhados foram peixes (tilápia e tambaqui),
moluscos (ostras e mexilhões), crustáceos
(camarão branco do pacífico) e algas. Foram
desenvolvidos no litoral (51%) e na região
continental (49%). Na região nordeste do Brasil
(65%), Sul (16%), Norte (11%), Sudeste (5%)
e Centro-Oeste (3%). O “governo” iniciou os
Projetos (66%) e aplicou recursos em 58% dos
casos. A principal motivação para a realização
dos Projetos foi a geração de renda (89%). Os
problemas enfrentados estão relacionados com
a mudança da cultura pesqueira para a cultura da
aquicultura, devido ao descompasso de tempo
necessário para o sucesso, dos projetos e agencia
de fomento, que precisa ser lenta e gradativa.
Para alcançar o sucesso necessariamente
não se deve trabalhar apenas com ações
assistencialista e capacitação para o processo
produtivo, deve ser realizado diagnóstico
da situação, envolver parceiros, trabalhar a
gestão mercado e envolver a comunidade e
diversificar as atividades, conjugando produção
com sustentabilidade ambiental. Conclui-se
assim que Projetos destinados a transformar
pescadores e agricultores em aquicultores deve
ser estimulado pois pode favorecer a inclusão
social e gerar renda.
PALAVRAS–CHAVE:
Pesca
extrativista,
Projeto social, recursos pesqueiros.
Capítulo 9
92
FISHERMEN AND FARMERS CAN BE AQUACULTURE FARMERS?
ABSTRACT: Fishing is an important economic activity, but it is in decline due to
inadequate management of fishing resources. Aquaculture can be an alternative
both to meet the demand for fish for food and to generate income. The present work
aims to know the strategies pointed to the implementation of projects that aims to
transform fishermen and farmers into aquaculture. For this, qualitative and quantitative
data were collected through bibliographic research. Sixty-one projects were found.
These organisms were fish (tilapia and tambaqui), mollusks (oysters and mussels),
crustaceans (Pacific white shrimp) and algae. They were developed on the coast (51%)
and in the continental region (49%). In the northeast region of Brazil (65%), South
(16%), North (11%), Southeast (5%) and Midwest (3%). The “government” initiated
the projects (66%) and invested funds in 58% of the cases. The main motivation for
carrying out the Projects was income generation (89%). The problems faced are related
to the shift from fishing culture to aquaculture culture due to the time lag required for
success, projects and funding agency, which needs to be slow and gradual. To achieve
success, one must not only work with assistance actions and training for the production
process, a diagnosis of the situation, involvement of partners, market management
and community involvement and diversification of activities, combining production with
environmental sustainability. Thus, it is concluded that Projects aimed at transforming
fishermen and farmers into aquaculture farmers should be stimulated as it may favor
social inclusion and generate income.
KEYWORDS: Extractive fishing, social project, fishing resources.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca extrativista no mundo encontra-se em crise, o aumento da produção a
qualquer custo, reduziu a abundância dos recursos pesqueiros pelo o aumento do
esforço de pesca. A pesca é uma atividade econômica importante, principalmente
para pequenas comunidades locais.
A aquicultura surge como uma alternativa para pescadores artesanais e
agricultores familiares, tanto para suprir a demanda por peixe para alimentação, tendo
em vista a queda do pescado oriundo da pesca, como também uma alternativa de
renda para a entressafra dos produtos agrícolas. Sendo uma prática além de melhorar
a alimentação, a renda e a qualidade de vida destes, pode também contribuir para a
permanência deles em suas propriedades e culturas. A produção de pescado também
auxilia no enriquecimento nutricional, na segurança alimentar e na subsistência de
muitas famílias em regiões remotas e/ou zonas rurais pobres, em todo o mundo
(SUBASINGHE, 2005; FAO, 2012). A tendência mundial é de investimentos na
aquicultura para o abastecimento regular dos mercados e diminuição da pressão de
pesca sobre os estoques nativos (CAMARGO et al., 2004).
É uma atividade muito diversificada, podendo ser realizada em tanques
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
93
escavados, tanques redes para o aproveitamento de grandes corpos de água, junto a
cultivos de arroz e nas águas costeiras, tanto na produção de pescado destinado ao
consumo ou abastecer o mercado de organismos ornamentais.
Torna-se, portanto, urgente a criação de oportunidades para o pescador e o
agricultor possa se integrar a algum processo produtivo, sem que perca os laços com
sua comunidade, nem tampouco com a cultura das águas. Neste contexto, este trabalho
objetivou conhecer quais estratégias podem ser apontadas para implementação de
Projetos que visem transformar pescadores e agricultores em aquicultores.
2 | METODOLOGIA
Este trabalho consistiu numa pesquisa bibliográfica sobre Projetos de
aquicultura para pescadores e agricultores. Para tanto, foi realizada uma pesquisa
na Rede Mundial de Computadores para levantar informações relativas aos Projetos.
A pesquisa também foi realizada em Anais de Eventos de Pesquisa e Divulgação
Cientifica na área de “Zootecnia e Recursos Pesqueiros”, para auxiliar na identificação
dos Projetos de aquicultura.
Este levantamento visou à obtenção de dados qualitativos e quantitativos,
possibilitando a identificação das características dos Projetos. Desta forma, optou-se
por seguir os procedimentos recomendados por Godoy (1995) e de interpretação dos
dados segundo o método de análise de conteúdos (Triviños 1994).
Todas as anotações foram organizadas e tabuladas em planilha do software
Microsoft Excel® 2007, gerando uma base de dados a partir da qual foi possível
organizar as referências técnicas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontradas informações relativas a 37 Projetos de aquicultura destinados
a pescadores e agricultores, na Rede Mundial de Computadores e em 24 Anais de
Eventos de Pesquisas e de Divulgação Científica. Nestes Projetos, os grupos de
organismos trabalhados são bastante diversos (Figura 1), sendo que a maioria é
representada pelos peixes (53%), com destaque para a tilápia (Oreochomis niloticus)
e o tambaqui (Colossoma macropomum). Não foi encontrado relato de trabalho com
peixes ornamentais, nem tampouco trabalhos com peixes marinhos. Os trabalhos
encontrados realizados com peixes foram desenvolvidos no litoral (51%) e na região
continental (49%). Os moluscos vêm em segundo lugar (36%), sendo representado
pelas ostras e mexilhões. Nos crustáceos (8%), somente o camarão branco do pacífico
apareceu nos relatos. Já o grupo das algas (3%), apareceu em somente 01 trabalho,
o das mulheres marisqueiras da praia de Flecheiras no Ceará.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
94
Figura 1 - Principais grupos de organismos trabalhados nos Projetos destinados a trabalhar a
aquicultura com pescadores e produtores.
Os Projetos, na sua maioria, localiza-se na região nordeste do Brasil (Figura 2)
com 65% do total encontrado, seguido da região Sul (16%), Norte (11%), Sudeste
(5%) e Centro-Oeste (3%). Esta diferença pode está relacionada com a quantidade de
estados na região no caso do nordeste, e no Sul, pelo pioneirismo das Universidades
em desenvolver pesquisas e Projetos na área de Aquicultura (DIEGUES, 2006), a
exemplo da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis) e Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (Rio Grande). Vale ressaltar também a questão cultural,
na região sul, a cultura de associativismo e cooperativismo é bem mais antiga e
marcante, se destacam como referência e eficiência, em relação à região norte e
nordestes do Brasil.
Figura 2 - Região do Brasil onde se localizam os Projetos de aquicultura destinados a
pescadores e produtores.
Os Projetos encontrados mais antigos são o Programa Estadual de Cultivo de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
95
Mexilhões, de Camarões Marinhos e de Ostra, de 1980, 1984 e 1985, respectivamente.
Ambos os Projetos foram iniciados no Estado de Santa Catarina e até hoje estão
desenvolvendo novas estratégias para alavancar o setor. Este contínuo trabalho pode
ser o fator que tornou o estado o maior produtor de ostra do país e o que mais
se produz camarões marinhos na região Sul (BOSCARDIN, 2008). Paralelamente a
este fato a empresa estadual de extensão (EPAGRI) se mostra bastante ativa junto
aos produtores, desempenhando um importante papel na difusão de tecnologias e
treinamento de aquicultores (DIEGUES, 2006).
O Projeto de Cultivo de Mexilhões iniciou com a espécie Perna perna e no
ano de 2000, a produção já alcançava 5 mil toneladas, com o envolvimento de 600
pescadores (ANDREATTA, 2000). Em 2006, este número aumentou para mais de
1000 produtores, 18 associações e 04 cooperativas, distribuídos em vários municípios
do litoral catarinense, produzindo mais de 10 mil toneladas (DIEGUES, 2006). Já
o Cultivo de Camarões iniciando com várias fazendas instaladas e um laboratório
construído. Em 1998, provocou um acelerado crescimento da atividade em termo
de área, produção e produtividade (BRASIL, 2001). Culminando em 2004 com uma
produção de 4.189 toneladas em 106 fazendas, totalizando 1.563 hectares de viveiros
(COSTA, 2004).
O Projeto de Cultivo de Ostra iniciou com a importação de sementes da ostra
do pacífico, Crassostrea gigas e com a implantação do laboratório para produção
de sementes, distribuídas aos produtores. Resultando numa produção de 2.500
toneladas em 2006 (DIEGUES, 2006), que são comercializadas em todos os grandes
centros urbanos que possuem aeroportos.
Segundo Diegues (2006) este três Projetos do estado de Santa Catarina,
chegaram neste nível, a partir da Universidade Federal que detectou a necessidade de
implementar a Agenda 21, nas lagunas costeiras do Estado, auxiliados com Projetos de
organização e gestão. Houve um esforço de cooperação entre a pesquisa, a extensão
e a organização dos pescadores, enfrentando-se não somente problemas técnicos,
mas também sociais, culturais e de comercialização dos produtos. Um dos aspectos
mais importantes foi à transformação gradativa de pescadores em aquicultores,
processo complexo num país com experiências incipientes em produção aquícola.
Em alguns casos, os pescadores combinam as atividades extrativistas de pesca com
as de aquicultura, em outros eles passam a viver exclusivamente das áreas de cultivo
que, em geral, estão situadas em frente às suas residências.
Estas afirmações são reforçadas por Jomar Carvalho Filho, editor da Revista
Panorama da Aquicultura no artigo Intitulado ALGA: Uma Alternativa para as
Comunidades Pequeiras (2004), destaca que os Projetos de Cultivo de Ostra e
Mexilhões no Sul do País, são uns dos poucos Projetos que tentaram transformar
pescadores em aquicultores que lograram êxito. Os estados do Sul foram também
pioneiros na elaboração de políticas públicas de desenvolvimento da atividade (SILVA,
2005).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
96
Em geral os Projetos tiveram seu início na década de 80 (9%) (Figura 3), com
um aumento na década seguinte (22%). No período de 2000 a 2009 foram os anos
em que mais Projetos foram encontrados (47%). Voltando a diminuir o volume de
Projeto encontrado na década atual (22%).
Figura 3 - Ano de início dos Projetos destinados a trabalhar a aquicultura com pescadores e
produtores.
Com relação à situação dos Projetos, a metade deles está em andamento, 35%
já fora finalizados e 15% iniciaram ou projetados para iniciar em 2012 (Figura 4). Dos
Projetos em andamentos apenas 03 deles possuem mais de 20 anos de atividade
(Projetos de Cultivo do Estado de Santa Catarina), 05 mais de 10 anos e 03 Projetos
apresentam menos de 10 anos de atividade. O mais novo possui 05 anos e o mais
velho 28 anos. Já os Projetos da categoria finalizados, todos possuem menos de 10
anos de atividade, destes, 50% possuem mais de 05 anos e 50% menos de 05 anos
de idade. O de menor tempo possui 01 ano e o mais velhos desta categoria 08 anos
de duração do Projeto. Pelas informações encontradas, não existe relação entre as
espécies com a duração dos Projetos, geração de renda e o valor agregado de cada
pescado.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
97
Figura 4 - Situação dos Projetos destinados a trabalhar a aquicultura com pescadores e
produtores.
Os Projetos foram iniciados por diversos grupos, divididos nos setores
governamentias, terceiro setor e particulares (Figura 5). As Universidade Públicas
foram os que mais iniciaram Projetos (38%) seguida pelas Agências de Fomento
(20%), tais como, SEBRAE, EMBRAPA, EPAGRI, EMATER, DNOCS e CODEVASF.
As Organizações Não Governamentais sem fins lucrativos também tiveram um papel
importante na iniciativa de desenvolver Projetos (16%). As Instituições Internacionais,
principalmente do Governo Canadense apareceram em 10% dos Projetos. As iniciativas
dos Governos Estaduais e de Prefeitura em 8% dos casos. E em menor porcentagem
(2%) as iniciativas de empresas privadas, instituição religiosa, associações e políticos.
Somando as Universidades, Agência de Fomento, Governo Estadual e Prefeitura,
temos a maioria das iniciativas com 66%, fazendo deste grupo o principal interessado
em promover Projeto de aquicultura para pescadores e agricultores.
Figura 5 - Principais iniciativas que promoveram os Projetos destinados a trabalhar a
aquicultura com pescadores e produtores rurais.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
98
Relacionando a Situação dos Projetos com os Grupos que tiveram Iniciativa, 11
(61%) dos Projetos em Andamentos foram iniciados pelas Universidades Públicas
e 07 (39%) pelas Agências de Fomento. A parceria entre estes dois grupos resultou
em 04 Projetos, 22% do total em Andamentos, destes a maioria são de Projetos
com maior duração. Relacionando a categoria em Andamento com Finalizados com
grupos das Universidades, temos 11 (58%) dos Projetos em Andamento contra 8
(42%) dos Finalizados. No grupos das Agências, essa relação aumenta de 7 (87,5%)
dos Projetos em Andamento para 1 (12,5%) dos Finalizados. Desta forma, em parceria
ou individualmente, a atuação destes grupos resulta numa continuida dos Projetos.
Com uma grande vantagens para os Projetos iniciados com as Agência de Fomento.
As fontes dos recursos (Figura 6) aplicados nos Projetos são oriundas do Governo
(58%), como o CNPq e Governos Estaduais, de organismos Internacionais (24%),
principalmente do Governo Canadense, e do setor privado (18%), representados pela
Companhias Hidroeletricas, 03 Projetoes, Empresas de Mineração e Celulose, 02
Projetos encontrados (1%).
Com relação as Companhias hidrelétricas, dois tipos de Projetos aparecem, o
primeiro e mais utilizados por Companhias nas décadas passada, são os trabalhos de
repovoamento, a exemplo da Hidrelétrica de Furnas, com a instalação de laboratórios
para desenvolver pesquisas de reprodução com peixes nativos, para produzir alevinos
e realizar repovoamento. Os demais Projetos são realizado através de doações de
tanques redes, rações e alevinos para geração de renda dos pescadores que viviam
da pesca antes da barragem. O exemplo mais recente é o da Eletronorte, em Tucuruí/
PA.
Figura 6 - Fonte de recurso dos Projetos destinados a trabalhar com pescadores e produtores.
Analisando as iniciativas e fonte de recurso, podemos relacionar à contribuição
do Governo Brasileiro e Canadense ao interesse que o setor da Aquicultura tem
como uma importante fonte de proteína para consumo humano e de gerar receitas.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
99
Já a contribuição do setor Privado destaca-se o interesse estratégico da publicidade
gerada (Marketing) e na Compensação Ambiental. Embora somente 06 Projetos
tenha declarados os valores gastos, com o menor valor de 365 mil reais e o maior de
1 milhão e 40 mil reais, média de 510 mil reais investido. Vale ressaltar que muitos
Projetos devem ultrapassar a casa de dezenas de milhões de investimentos, uma vez
que existem Projetos de mais de 10 ou 20 anos, que construíram instalações para
produção de formas jovens e/ou beneficiamentos e tiveram diversos patrocinadores/
investidores no decorrer dos trabalhos.
A principal motivação para a realização dos Projetos foi a geração de renda
(89%), o restante (11%) representa Projetos para melhorar a atividade já existente,
como o Projeto Isqueiros - MS, onde a pesca de peixes já existia para a venda de
isca-viva. O avanço se deu a partir de estudo da atividade e posterior cursos de
capacitação para criação e manutenção dos mesmos em cativeiro.
Alguns problemas enfrentados pelos Projetos está relacionada com a mudança
de uma cultura pesqueira que vive de conhecimentos “empíricos” para realizar suas
atividades, e transformar numa cultura digamos mais “tecnificada” e que precisa de
realizar atividades programadas diariamente. Pois como afirma a pescadora Marizelha
Lopes, Ilha da Maré/BA, “Não se pode obrigar o pescador a se transformar em
aquicultor, sou pescadora, não sei fazer outra coisa, e não quero” (TERRAMÉRICA,
2012). Os Projetos mal sucedidos em geral realizam o chamado “assistencialismo”
doam “os materiais” realizam treinamentos para a atividade produtiva e após um ou dois
anos vão embora literalmente. A transformação do pescador em aquicultor deve ser
gradativa (DIEGUES, 2006) por isso os Projetos não podem ter prazos determinados,
como exemplos os recursos do CNPq, onde os editais são para recurso de no máximo
04 anos, incluindo bolsas para pesquisas e recursos financeiros para a atividade. O
desafio é transformar uma atividade extrativista em produtores organizados até então
sem nenhuma experiência de gestão administrativa e de comercialização através
de uma associação/cooperativa. O sucesso passa também pelo desenvolvimento de
outras atividades produtivas para as mulheres e jovens das comunidades beneficiadas
com o Projeto, como artesanatos e o turismo.
Um bom exemplo de Projeto exitoso na transformação de pescadores em
aquicultores envolvendo a comunidade e realizando uma diversificação de atividades,
conjugando produção com sustentabilidade ambiental é o Projeto CULTIMAR,
desenvolvido pelo Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Ambientais (GIA) em
parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). A proposta é bastante
inovadora, conciliando ações no campo da aquicultura, turismo, educação ambiental
e cultura. O cultivo passou a ser realizado com as “Boas Práticas” através da
assistência técnica continuada, obtiveram certificação sanitária e estruturam melhor a
cadeia produtiva, possibilitando o consumo das ostras em mercados mais exigentes,
como os requintados restaurantes da Capital, Curitiba. Através de trabalhos
de educação ambiental realizaram o resgate da cultura, história e tradições da
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
100
comunidade litorânea, aumentando assim o elo do homem com o meio. A criação da
identidade através da marca “CULTIMAR” tornou possível desenvolver um programa
de comunicação e divulgação, agregando valor aos artesanatos desenvolvido pela
comunidade resultando em um trabalho socialmente mais justo e gerando renda.
“Vincular a marca Cultimar aos produtos que comercializo aumentou em 20% minhas
vendas na temporada de 2005-2006”. Comentário do ostreicultor e proprietário do
restaurante Sítio Sambaqui, Sr. Nereu de Oliveira (Fonte: Revista GIA, 2006).
Com relação às atividades realizadas e resultados alcançados relatados pelos
Projetos podemos dividir estes em dois grupos com características distintas. O
primeiro grupo são aqueles onde os Projetos doaram equipamentos, como tanques
redes, aparelhos de medição da qualidade de água, balanças e demais instrumentos
para o manejo diário, como também rações e alevinos, e promoveram a capacitação
na atividade produtiva. Este grupo representa a maioria (70%) dos Projetos. São
também os Projetos que apresentam as maiores dificuldades como: Deficiência
técnica, falta de matéria prima no decorrer do Projeto, problemas de gerenciamento
e de comercialização. Caracterizam também como os Projetos de menor impacto
social e menor tempo de atividade, muitas vezes após o término de vigência do
Projeto, os atendido deixam de levar o Projeto adiante, principalmente por falta de
gestão pessoal, ocorrem brigas internas que promovem o abandono das atividade.
Estes resultados são semelhante aos encontrado no DIAGNÓSTICO PROPOSITIVO
“PROJETO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA PESCA E AQUICULTURA
ALAGOANA”, realizado em 2008, que encontraram poucas experiências perenes de
sucesso, motivado pela sobreposição e/ou descontinuidade de ações e maximizado
pela grande dispersão e pulverização dos recursos e esforços.
O segundo grupo, 30% dos Projetos encontrados, são aqueles que vão além das
doações e de capacitação do processo produtivo, realizam um diagnóstico da atividade
na região atendida pelo Projeto, trabalham com várias parcerias, como o SEBRAE
e Universidades. Capacitam os grupos em gestão da atividade, análisam mercado
e trabalham com Educação Ambiental. De uma forma geral estes Projetos são os
que obtem resultados além do econômico, produzem resultados sociais, ambientais
e possuem mais tempo de envolvimento com os atendidos, muitas vezes ampliam
a área de atuação devido a outros fatores estarem influenciando nos resultados do
Projeto, como falta de interesse e sustentabilidade do mesmo ao longo do tempo.
Dos Projetos encontrados, 38% utilizam nome “Fantasia” para o Projeto, os
demais (62%) usam apenas denominações do tipo Projeto, Programa ou Cultivo,
juntamente com o nome do local ou região que o mesmo foi realizado ou nome da
empresa que o financia, a exemplo de: Projeto Piscicultura em Cururipe, Piscicultura
da Suzano e Cultivo de ostra do Ceará. O nome Fantasia pode ser utilizado como
uma estratégia de Marketing, associando o mesmo a um organismo cativante e de
desejo, ou mesmo uma sigla ou logomarca que pode ser facilmente ser memorizada
e aceita pela comunidade.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
101
4 | CONCLUSÃO
A implantação de Projetos destinados a transformar pescadores e agricultores
em aquicultores se mostra como uma prioridade nacional e o seu desenvolvimento,
além de favorecer a inclusão social destes atores também terá implicações sobre a
melhoria da competitividade do país, movimentando a economia regional, gerando
empregos diretos e indiretos, e atuando como fator na melhoria da qualidade de vida.
REFERÊNCIAS
ANDREATTA, E. A experiência de Santa Catarina no Desenvolvimento da Maricultura. In:
Conferências selecionadas na VI Reunião anual do Instituto de Pesca, Serie Relatórios M. 2000.
BOSCARDIN, N.R. A produção aqüicola Brasileira. In: OSTRENSKY, A.; BORGHETTI, J. R.; SOTO,
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BRASIL. DEPARTAMENTO DE PESCA E AQUICULTURA. Plataforma tecnológica do camarão
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TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a Pesquisa Qualitativa em
Educação. Editora Atlas, São Paulo, 1994.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 9
102
CAPÍTULO 10
doi
PRODUÇÃO PESQUEIRA E RELAÇÃO PESO X
COMPRIMENTO DA Guavina guavina NO MUNICÍPIO DE
CONDE, BAHIA
Jonathas Rodrigo Oliveira Pinto
Universidade Federal de Santa Catarina,
Programa de Pós-Graduação em Aquicultura,
Florianópolis – Santa Catarina
Kaio Lopes de Lima
Universidade Estadual do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, São Luís – Maranhão
Bruna Larissa Ferreira de Carvalho
Carvalho Consultoria em Pesca e Aquicultura,
Aracaju – Sergipe
Ana Rosa da Rocha Araújo
Universidade Federal de Sergipe, Departamento
de Engenharia de Pesca e Aquicultura, São
Cristóvão – Sergipe
Jadson Pinheiro Santos
Universidade Estadual do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, São Luís – Maranhão
RESUMO: O objetivo do presente estudo foi
avaliar a produção pesqueira e a relação peso x
comprimento da amoreia G. guavina capturada
no município de Conde, Bahia. Foram analisados
os dados de produção pesqueira da amoreia
Guavina guavina no município de Conde-Ba
disponíveis no Boletim da Estatística Pesqueira
da Costa de Sergipe e Extremo Norte da Bahia,
entre os anos de 2011 a 2014. Para análise
da variação mensal da produção pesqueira da
amoreia foi proposto o uso da equação polinomial
de 2° grau. Foi realizada uma pescaria em abril
de 2015 onde foram capturados um total de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
100 indivíduos para avaliação do comprimento
total (cm) e do peso total (g) com uma balança
semi-analítica com precisão 0,01. A relação
peso-comprimento foi determinada utilizando o
modelo potencial, estabelecido pela equação:
PT= a.CTb. Observou-se que o volume de
amoreia reduziu em cerca de 35% entre os anos
de 2011 e 2013, saindo de 7.619,8 kg em 2011
para 4.940,0 kg em 2013. No entanto, em 2014
houve um aumento consubstancial na produção
pesqueira da amoreia, alcançando 30.797,5 kg
estimados. A produção pesqueira da amoreia
G. guavina concentra-se no período entre
abril e agosto, onde a maioria dos indivíduos
apresentaram tamanho entre 8 e 14 cm e com
crescimento isomérico. Novos trabalhos devem
ser conduzidos para identificar os períodos
reprodutivos para a espécie estudada, bem
tamanho de primeira maturação.
PALAVRAS-CHAVE: Amoreia; Eleotridae;
Pesca artesanal.
FISHERIES PRODUCTION AND WEIGHT
X LENGTH RELATIONSHIP OF Guavina
guavina IN THE MUNICIPALITY OF CONDE,
BAHIA
ABSTRACT: The objective of the present study
was to evaluate the fishery production and the
relation weight and length of the amoreia G.
guavina captured in the city of Conde, Bahia.
Capítulo 10
103
The data of fishery production of Guavina guavina amoreia in the municipality of CondeBa were analyzed in the Fishing Statistics Bulletin of the Coast of Sergipe and Extreme
North of Bahia between the years 2011 to 2014. For analysis of the monthly variation of
the fishery production of the amoreia was proposed the use of the polynomial equation
of 2nd degree. A fishery was carried out in April 2015, where a total of 100 individuals
were evaluated for total length (cm) and total weight (g) with a semi-analytical balance of
0.01. The weight-length relation was determined using the potential model, established
by the equation: PT = a.CTb. It was observed that the volume of amoreia reduced by
about 35% between the years 2011 and 2013, rising from 7,619.8 kg in 2011 to 4,940.0
kg in 2013. However, in 2014 there was a consubstantial increase in fishing production
of the amoreia, reaching an estimated 30,797.5 kg. The fishery of the G. guavina
amoreia is concentrated in the period between April and August, where the majority
of the individuals presented size between 8 and 14 cm and with isomeric growth. New
work should be conducted to identify reproductive periods for the species studied, as
well as size of first maturation.
KEYWORDS: Amoreia; Eleotridae; Artisanal fishery.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca artesanal no Brasil possui um grande valor cultural e sócio – econômico
e é o principal modelo de pesca utilizado pelas comunidades litorâneas do Brasil, que
se utilizam dessa atividade como oportunidade de gerar emprego e renda. No entanto,
esta atividade tem apresentado elevada fragilidade pela diminuição dos estoques dos
principais recursos pesqueiros (VASCONCELLOS et al., 2007), fato evidenciado pelo
baixo nível de gestão pesqueira dos estoques em toda a costa brasileira.
Os recursos pesqueiros das zonas estuarinas do Nordeste brasileiro têm mostrado
grande importância por se tratar de uma das únicas formas de subsistência e fonte
alimentar para diversas comunidades ribeirinhas (CASTRO, 1997). A determinação
do potencial de exploração sustentável de um recurso pesqueiro fundamenta-se em
estudos de dinâmica de populações e avaliação de estoques.
A diversidade de recursos pesqueiros distribuída nos diferentes ecossistemas
aquáticos explorados pelos pescadores relaciona-se diretamente com os diferentes
métodos de exploração dos organismos aquáticos, de modo que as informações sobre
o recurso determinam a arte de pesca a ser utilizada para a sua captura (SOUZA, 2004;
DIEGUES, 2004). A pesca com armadilhas, conhecidas no nordeste brasileiro como
covo ou manzuá, é uma das formas mais utilizadas na pesca artesanal desenvolvida
em comunidades ribeirinhas para a captura de peixes e crustáceos (VIEIRA et al.,
2009).
A utilização do covo para captura de peixes no litoral norte do estado da Bahia,
principalmente nos municípios de Conde e Jandaíra, é direcionada totalmente a captura
da Guavina guavina, espécie de peixe teleósteo da família Eleotridae, popularmente
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
104
conhecida como “amoreia”, que se distribui do México ao sul do Brasil (CARVALHO
et al., 2015). Entretanto, ainda são escassas informações sobre a produtividade e
parâmetros de crescimento que fornecem informações fundamentais para a avaliação
e manejo da amoreia.
Estimativas confiáveis dos parâmetros populacionais são essenciais para o
entendimento da dinâmica das pescarias, fornecendo a base necessária para as
ações de monitoramento e manejo da pesca. Um grande esforço tem sido concentrado
no sentido de desenvolver metodologias apropriadas para estudos de dinâmica com
espécies de peixes de regiões tropicais, enfocando, principalmente, os métodos
que utilizam frequências de comprimento, que se fundamenta na dificuldade da
determinação da idade através da leitura dos anéis etários em otólitos (VAZZOLER,
1996).
A relação peso-comprimento tem sido descrita como rápida e simples de
descrever o crescimento, sem necessariamente levar em conta a idade dos indivíduos
(GOMIERO et al., 2010). Além disso, tem possibilitado a criação de estimativas do
fator de condição, estado de desenvolvimento, peso e biomassa, o que favorece
a compreensão da biologia e ecologia de comunidades de peixes, podendo ainda
inferir comparações de crescimento entre diferentes espécies ou entre populações
diferentes de uma mesma espécie tanto em ambiente natural como em cativeiro.
Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a produção
pesqueira e a relação peso x comprimento da amoreia G. guavina capturada no
município de Conde, Bahia.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no munícipio de Conde, localizado no litoral
norte da Bahia, cujas coordenadas geográficas são 11o48’S e 37o37’W. A região
apresenta diversas comunidades pesqueiras, entre elas está o povoado Cobó,
localizado próximo ao Rio Itapicuru (11o46’S e 37o32’W), que possui como um dos
principais tipos de pescaria a utilização de armadilhas do tipo covo (CARVALHO, et
al., 2015).
Foram analisados os dados de produção pesqueira da amoreia (G. guavina –
figura 1) no município de Conde-Ba disponíveis no Boletim da Estatística Pesqueira
da Costa de Sergipe e Extremo Norte da Bahia, entre os anos de 2011 a 2014, série
histórica publicada pelo Projeto de Monitoramento Participativo do Desembarque
Pesqueiro – PMPDP, coordenado pelo Departamento de Engenharia de Pesca e
Aquicultura da Universidade Federal de Sergipe (THOME-SOUZA et al., 2013; 2014a;
2014b; ARAÚJO et al., 2016). Para análise da variação mensal da produção pesqueira
da amoreia foi proposto o uso da equação polinomial de 2° grau, que pode ser escrita
na forma:
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
105
ax² + bx + c
Em que: a é o coeficiente angular, b é o intercepto do eixo y e c é um valor real.
Figura 1 - Exemplar de amoreia, Guavina guavina (Fonte: DEDA, M. S.).
Duas expedições foram realizadas em novembro de 2014 e abril de 2015,
acompanhando os pescadores durante toda atividade de captura da amoreia, desde a
preparação dos covos até o beneficiamento, como descrito por Carvalho et al. (2015).
Durante as pescarias, um total de 100 indivíduos foram capturados e utilizados para
avaliação do comprimento total, expresso em centímetros (cm) com o auxílio de um
paquímetro, e do peso total, expresso em gramas (g) com uma balança semi-analítica
com precisão 0,01.
A relação peso-comprimento foi determinada utilizando o modelo potencial,
estabelecido pela equação: PT= a.CTb (IVO & FONTELLES-FILHO, 1997; ZAR,
2010), onde “PT” corresponde ao peso total, “CT” ao comprimento total, “a” ao fator
relacionado pelo grau de engorda dos indivíduos e “b” ao coeficiente de alometria
relacionado com o crescimento dos indivíduos.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesca de peixes com covos no município de Conde, assim como em diversas
regiões estuarinas no nordeste brasileiro, é voltada para a pesca de subsistência,
onde os peixes capturados são beneficiados e consumidos pela própria família do
pescador (CARVALHO et al., 2015). Em alguns casos, o excedente é comercializado
ou trocado por outros produtos na própria comunidade.
A partir da análise dos dados de produção pesqueira publicados pelo PMPDP, foi
possível observar que a o volume de amoreia reduziu em cerca de 35% entre os anos
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
106
de 2011 e 2013, saindo de 7.619,8 kg em 2011 para 4.940,0 kg em 2013. No entanto,
em 2014 houve um aumento consubstancial na produção pesqueira da amoreia,
alcançando 30.797,5 kg estimados. Possíveis mudanças na metodologia de coleta
dos dados, bem como inclusão de novos portos de desembarque pesqueiro podem
ter influenciado diretamente no volume de amoreia registrado e consequentemente
estimado para o município de Conde. Mesmo assim, diversos fatores ambientais e
sociais podem ter influenciado para a variação da produção, como variações nos
níveis de pluviosidade, temperatura, ou até mesmo uma mudança de espécie alvo
nas pescarias. De acordo com Rocha et al. (2015) a produção de sardinha está
inversamente relacionada com a pluviosidade, onde maiores produções foram
observadas em períodos com menores índices pluviométricos.
Analisando-se a variação média mensal na produção pesqueira da amoreia entre
2011 e 2014 foi possível observar que os dados seguiram uma equação polinomial
com r²= 0,73, onde observou-se uma elevação da produção a partir do mês de abril
e reduzindo no mês de agosto (figura 2). Este fato pode estar relacionado com a
elevação da pluviosidade nesse mesmo período para a região estudada, hipótese
também levantada para o aumento substancial da produção pesqueira da amoreia no
ano de 2014 em relação aos anos anteriores estudados.
Figura 2. Variação mensal da produção de amorei G. guavina entre os anos 2011 e 2014.
A relação peso x comprimento para G. guavina é representada pela equação: PT
= 0,0089.CT3,0738 (Figura 3). Pequenas variações no valor de b e no valor determinado
para crescimento podem existir de acordo com o incremento em peso durante a fase
da vida, condição dos exemplares e época de coleta (FROESE, 2006). Apesar de
apresentar um b= 3,0738 podemos assumir que a amoreia capturada em Conde
cresce isometricamente.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
107
Figura 3. Relação peso x comprimento da amoreia G. guavina.
A relação peso-comprimento é frequentemente utilizada nos estudos sobre
crescimento, em comparações morfométricas entre populações e variações
relacionadas ao fator de condição (BOLGER e CONNOLLY, 1989) que apresenta-se
como um importante indicador do grau de higidez de um indivíduo e seu valor reflete
as condições nutricionais recentes e/ou gastos das reservas em atividades cíclicas,
sendo possível relacioná-lo às condições ambientais e aos aspectos comportamentais
das espécies (VAZZOLER, 1996). No presente estudo o valor de K (fator de condição)
não pôde ser definido pois as coletas aconteceram em apenas um período no ano e
não foi possível identificar o sexo dos indivíduos analisados.
As capturas de Guavina guavina apresentaram indivíduos com amplitude de
Comprimento Total entre 8,0 e 20,0 centímetros, com 89% dos indivíduos nas classes
de 8,0 a 14,0 centímetros (Figura 4), seguindo uma distribuição norma e unimodal. Não
se tem registros na literatura para o tamanho de primeira maturação da espécie, não
podendo inferir qual o período de reprodução em que os indivíduos se encontravam.
Figura 4. Frequência relativa de amplitude para G. guavina.
Este é um dos primeiros trabalhos que apresenta detalhes sobre a captura de
amoreia G. guavina por pescadores artesanais no Nordeste Brasileiro, relatando
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
108
sobre a variação de produção ao longo do ano, relação peso x comprimento e sobre
a amplitude de tamanho. Esses dados servem como base para trabalhos futuros
de ecologia e biologia reprodutiva de modo a auxiliar em programas de gestão do
recurso pesqueiro.
4 | CONCLUSÃO
A produção pesqueira da amoreia G. guavina concentra-se no período entre
abril e agosto, coincidindo com o período chuvoso para a região.
A relação peso-comprimento indica um crescimento isomérico da amoreia em
Conde.
A maioria dos indivíduos de amoreia capturados em Conde encontram-se na
faixa de tamanho entre 8 e 14 cm.
Novos trabalhos devem ser conduzidos para identificar os períodos reprodutivos
para a espécie estudada, bem como tamanho de primeira maturação.
5 | AGRADECIMENTOS
Ao senhor Nivaldo e dona Ivailde por nos acolher na comunidade e por toda
receptividade, paciência e atenção durante todas as visitas de campo.
REFERÊNCIAS
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da Costa do Estado de Sergipe e Extremo Norte da Bahia 2011. 01. ed. São Cristóvão: Editora da
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analysis of fish condition. Journal of Fish Biology, Southampton, v. 34, n. 2, p. 171-182, 1989.
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CONBEP 2015, São Luís In: Anais... 2015.
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UPAUB: CEC/USP, 2004. 382p.
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artesanais e esportivos no Vale do Ribeira. 2004. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia de
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Brasil. XIX Congresso Brasileiro de Engenharia de Pesca – CONBEP 2015, São Luís In: Anais...
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
109
THOME-SOUZA, M. J. F.; DEDA, M.; SANTOS, J. P.; CARVALHO, B. L. F.; ARAUJO, M. L. G.;
GARCIOV FILHO, E. B.; FÉLIX, D. C. F; SANTOS, J. C. Estatística Pesqueira da Costa do Estado
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THOMÉ-SOUZA, et al. Estatística Pesqueira da Costa do Estado de Sergipe e Extremo Norte da
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VAZZOLER, A.E.A.M. 1996. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática.
Nupélia, Maringá, 169 p.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 10
110
CAPÍTULO 11
doi
AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO AMONIACAL DA ÁGUA
EM UM POLICULTIVO DE CAMARÃO MARINHO
E Spirulina platensis
José William Alves da Silva
Professor Doutor do IFCE – Aracati. CEP. 62800-000,
Aracati – CE
Susana Felix Moura dos Santos
Graduanda Eng. Aquicultura do IFCE – Aracati. CEP.
62800-000, Aracati – CE
Illana Beatriz Rocha de Oliveira
Graduanda Eng. Aquicultura do IFCE – Aracati. CEP.
62800-000, Aracati – CE
Ana Claudia Teixeira Silva
Graduanda Eng. Aquicultura do IFCE – Aracati. CEP.
62800-000, Aracati – CE
Glacio Souza Araujo
Professor Doutor do IFCE – Aracati. CEP. 62800-000,
Aracati – CE
Emanuel Soares dos Santos
Professor Doutor do IFCE – Aracati. CEP. 62800-000,
Aracati – CE
Renato Teixeira Moreira
Professor Doutor do IFCE – Morada Nova. CEP.
62940-000, Morada Nova – CE
Dilliani Naiane Mascena Lopes
Doutoranda RENORBIO/UFC. CEP; 60356-000,
Fortaleza – CE
os compostos nitrogenados em águas residuais.
O objetivo do trabalho foi avaliar os níveis
de amônia em um policultivo com diferentes
concentrações de S. platensis e camarão
Litopenaeus vannamei. A pesquisa consistiu
em quatro tratamentos, com três repetições
cada. No primeiro foi ofertada apenas ração
comercial, no segundo ração e S. platensis com
concentração de 0,5 mL, no terceiro ração e S.
platensis com concentração de 1,0 mL e, no
quarto ração e S. platensis com concentração
2,0 mL. A densidade de estocagem inicial foi
de 1 pl/L, resultando em 30 Pl’s22 por repetição,
estocadas em aquários de 40 L com volume útil
de 30 L e alimentadas, ad libitum, três vezes ao
dia. Os dados foram submetidos a uma análise
de variância (ANOVA) e teste de Tukey, ambos
com 5% de significância. Os teores de amônia
no tratamento com a maior concentração da
microalga apresentaram os menores níveis.
PALAVRAS-CHAVE:
Concentração;
Densidade; Toxicidade.
EVALUATION OF AMMONIA WATER
CONCENTRATION IN A MARINE SHRIMP
RESUMO: A amônia ionizada é uma das
AND Spirulina platensis POLICULTIVE
variáveis mais importantes da qualidade
da água, pois em elevadas concentrações,
esta pode causar mortalidade a organismos
aquáticos devido a sua alta toxicidade. A alga
azul Spirulina platensis é conhecida por reduzir
ABSTRACT: Ionized ammonia is one of the
most important variables of water quality,
because at high concentrations it can cause
mortality to aquatic organisms due to its high
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
111
toxicity. Blue algae Spirulina platensis is known to reduce nitrogenous compounds
in wastewater. The objective of this work was to evaluate the ammonia levels in a
polyculture with different concentrations of S. platensis and Litopenaeus vannamei
shrimp. The research consisted of four treatments, with three repetitions each. In the
first, only commercial ration was offered, in the second ration and S. platensis with
concentration of 0.5 mL, in the third ration and S. platensis with concentration of 1.0 mL
and, in the fourth ration and S. platensis with concentration 2, 0 mL. The initial stocking
density was 1 pl/L, resulting in 30 Pl’s22 per repetition, stocked in 40 L aquariums with
30 L volume and fed ad libitum three times daily. Data were subjected to analysis of
variance (ANOVA) and Tukey test, both with 5% significance. Ammonia contents in the
treatment with the highest microalgae concentration presented the lowest levels.
KEYWORDS: Concentration; Density; Toxicity
1 | INTRODUÇÃO
A carcinicultura é o ramo da aquicultura que mais cresceu no mundo nos
últimos anos, principalmente no que diz respeito ao fator econômico (NUNES,
2000), e atualmente ocupa o segundo lugar em escala mundial, tendo aumentado
consideravelmente no período de 2002 – 04, só perdendo para a piscicultura de água
doce (FAO, 2007).
As águas oriundas dos cultivos de organismos aquáticos têm alta concentração
de material orgânico em suspensão e nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo
(JONES et al., 2001; BURFORD et al., 2003), resultado, basicamente, dos restos
de alimento fornecido na forma de ração, excreção, fitoplâncton e fertilizantes, que
geram um potencial para a eutrofização das águas costeiras (JACKSON et al., 2003).
Segundo Briggs and Funge-Smith, (1994), cerca de 80% da ração utilizada não é
aproveitada pela biomassa de camarão, servindo como um fertilizante de elevado
custo, que estimula o crescimento da biota natural. A baixa retenção do nitrogênio
pode ser causada por vários fatores: qualidade dos ingredientes, quantidades
desnecessárias de ração durante o arraçoamento e baixa estabilidade da ração na
água (LAWRENCE AND LEE, 1997).
Microalgas realizam um papel dominante na estabilidade da qualidade da água
em viveiros de aquicultura. Entretanto, a principal desvantagem do uso das microalgas
é o fato de que as mesmas não são facilmente removidas do sistema. Se as células
algais não são removidas, os compostos nitrogenados são liberados de volta pra a
água (VAN RIJN, 1996). Alem disso, elevadas concentrações de fitoplâncton podem
causar depleções do oxigênio dissolvido durante a noite devido as elevadas taxas
respiratórias (KUBITZA, 2003).
Spirulina platensis é uma microalga marinha conhecida por ser uma rica fonte
de proteínas, vitaminas, aminoácidos essenciais, minerais, ácidos graxos essenciais
(EPA e DHA) e pigmentos antioxidantes, como por exemplo os carotenóides (BELAY
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
112
et al.,1996; DE LARA ANDRADE et al., 2005). Para a produção de S. platensis é
necessário apenas um meio aquático com nutrientes inorgânicos e luz solar,
diminuindo, dessa forma, os custos com insumos (ANDRADE et al., 2005). Alem
disso, a S. platensis quando cultivada juntamente com camarões marinhos pode
reduzir significativamente os compostos nitrogenados, resultando em uma excelente
qualidade da água (CHUNTAPA et al., 2003). Diante do exposto, a presente pesquisa
teve como objetivo avaliar os níveis de amônia e a sobrevivência de pós-larvas (Pl’s)
do camarão Litopenaeus vannamei em um policultivo com diferentes dosagens de S.
platensis.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Aquisição das Pós-larvas de Litopenaeus vannamei
As Pós-larvas foram adquiridas durante um povoamento na fazenda Salina Nova
Vida pertencente a empresa Ceara Aquacultura Ltda. (CEAQUA), no município de
Beberibe-CE. Os animais foram fornecidos pela empresa AQUATEC Ltda., situada no
município de Canguaretama-RN. As Pl’s, com 11 dias de vida, foram transportadas de
Beberibe-CE para o Centro de Tecnologia em Aquicultura, pertencente ao Departamento
de Engenharia de Pesca do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal
do Ceará (CTA/DEP/CCA/UFC) em Fortaleza-CE. Estas foram transportadas em
sacos plásticos com água e oxigênio. A ração utilizada foi a Poli-Camarão 400 PL da
Polinutri Alimentos obtida na mesma fazenda. As Pl’s foram mantidas no laboratório,
em condições adequadas, durante 11 dias ate o inicio do experimento.
2.2 Cultivo da Spirulina platensis
A cepa da microalga S. platensis foi adquirida no cepário do CTA. Para o
seu cultivo, utilizou-se o meio de cultura elaborado com água doce proveniente do
fornecimento urbano (CAGECE), sal grosso (30 g L-1), bicarbonato de sódio (10 g
L-1) e os fertilizantes químicos NPK − nitrogênio, fósforo e potássio − (1 g L-1), e
superfosfato triplo (0,1 g L-1). Inicialmente, os sais foram completamente dissolvidos
na água e, em seguida, os fertilizantes foram macerados em um gral e adicionados
à mistura, a qual foi submetida a uma aeração constante por 24 h, com a finalidade
de promover a homogeneização dos solutos, evaporação do cloro e ajuste do pH.
O inóculo inicial de S. platensis foi obtido transferindo-se 300 mL de um cultivo préexistente para um erlenmeyer de 1 L, posteriormente para outro erlenmeyer de 3 L.
A cada dois dias, o volume do meio de cultivo foi duplicado até completar o volume
do recipiente, o qual foi submetido à iluminação constante e agitado manualmente
diariamente. Após este procedimento a cultura foi transferida para um recipiente de
20 L juntamente com 10 L do meio de cultivo, foi colocado sobre uma bancada no CTA
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
113
sendo submetido à iluminação contínua fornecida por uma lâmpada fluorescente de 40
W com aeração constante. Ao completar o recipiente de 20 L, a cultura foi transferida
novamente para um recipiente final de 500 L com iluminação constante fornecida
por uma lâmpada alógena de 400 W sob aeração constante. Este procedimento
foi mantido até que a cultura completasse o volume útil de 250 L do recipiente e
apresentasse uma densidade celular de 300 nm, a qual foi acompanhada através
da densidade óptica a 680 nm (DO680), utilizando-se um espectrofotômetro HACH
2000 de leitura direta. Antes de alcançar a fase de redução do crescimento relativo,
a biomassa de S. platensis foi filtrada em malha de 60 μm, através de sifonamento e,
em seguida, as microalgas foram lavadas com água doce e ofertadas para as pl’s em
diferentes dosagens.
2.3 Aquisição da água do mar utilizada no cultivo experimental das Pl’s de L.
vannamei
A água do mar utilizada para o cultivo experimental das Pl’s de L. vannamei foi
obtida na praia da Beira Mar, Fortaleza – CE, sendo acondicionada em bombonas
de 60 L e, então, transportada até o CTA e transferida para caixas de 2000 L. Para a
realização do experimento, a água do mar foi diluída até atingir uma salinidade de 10
com água doce proveniente do fornecimento urbano (CAGECE), previamente aerada
para evaporação do cloro residual.
2.4 Delineamento experimental
Inicialmente foi retirada uma amostra com 20 Pl’s que foram pesadas. O peso
médio foi mensurado com uma balança digital onde foram pesadas de uma só
vez todas as Pl’s da amostra e calculado o valor médio. Após 09 dias de cultivo
experimental, todas as Pl’s foram induzidas ao teste de resistência com o corte de
aeração durante 24 horas, observando a taxa de sobrevivência. Foram distribuídas
360 Pl’s22 de camarão L. vannamei (0,004 g) em 12 aquários de 40 L com volume
útil de 30 L e estocadas na densidade de 1 Pl/L, resultando em 30 Pl’s por aquário.
Os referidos aquários foram dispostos em uma bancada no laboratório e submetidos
a uma aeração constante e iluminância média de 600 lux. A ração foi fornecida às
Pl’s ad libitum, 3 vezes ao dia, diretamente nos aquários, enquanto a microalga S.
platensis foi ofertada viva em forma de pasta concentrada, com uma densidade óptica
de 300 nm, conforme as seguintes estratégias alimentares: o tratamento 1 (T1) teve
como estratégia alimentar o uso exclusivo de ração comercial; no tratamento 2 (T2),
foram utilizadas ração comercial e 0,5 mL do concentrado da microalga S. platensis;
no tratamento 3 (T3) foram fornecidas ração comercial e 1,0 mL do concentrado da
microalga S. platensis; e no tratamento 4 (T4) foram utilizadas ração comercial e 2,0
mL do concentrado da microalga S. platensis. Após o primeiro e o último arraçoamento,
foi observada a densidade óptica nos tratamentos em que foi ofertada a S. platensis,
com a finalidade de avaliar o consumo da mesma pelas Pl’s de L. vannamei.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
114
Os parâmetros físico-químicos da água foram monitorados diariamente, sendo a
amônia a cada dois dias. Utilizou-se um oxímetro digital YSI 550 A para a determinação
do oxigênio dissolvido (O2D) e temperatura e um medidor de pH MARCONI PA 200.
Para a medição da DO680 e amônia, foi utilizado o espectrofotômetro HACH 2000
de leitura direta. O experimento constou de 4 tratamentos (T1= ração comercial;
T2= ração comercial + 0,5 mL de S. platensis; T3= ração comercial + 1,0 de mL S.
platensis; T4= ração comercial + 2,0 mL de S. platensis) com 3 repetições em um
Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Parâmetros físicos e químicos da água
Na Tabela 1 são apresentados os valores médios dos parâmetros físico-químicos
da água monitorados durante o experimento. De acordo com os resultados obtidos,
não houve variações expressivas e todos os parâmetros se mantiveram dentro das
faixas adequadas para a espécie L. vannamei (BARBIERE JÚNIOR; OSTRENSKI
NETO, 2002).
Tratamento
Variáveis
pH
O2 D
T˚C
T1
7,65
6,57
27,50
T2
7,69
6,61
27,49
T3
7,66
6,51
27,63
T4
7,67
6,61
27,76
Tabela 1 - Valores médios das variáveis físico-químicas da água para cada tratamento
Fonte: Autor
3.2 Amônia
A concentração de amônia foi menor no tratamento 4 em relação aos demais
tratamentos durante o experimento (Figura 1). Do primeiro ao terceiro dia houve um
aumento na concentração da amônia em todos os tratamentos, possivelmente devido
à liberação de amônia pela ração e excretas dos camarões (VINATEA, 2004). Do
terceiro ao quinto dia, os tratamentos 1,2 e 3 apresentaram concentrações de amônia
maiores do que o tratamento 4. Isto pode ser explicado pela maior quantidade de S.
platensis ofertada na dieta deste último tratamento, a qual reduziu significativamente
os níveis de amônia na água que serviu como fonte de nutriente para a microalga.
Chuntapa et al., (2003) analisou o comportamento dos compostos nitrogenados em
um cultivo integrado de S. platensis com L. vannamei e verificou que a amônia foi
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
115
reduzida eficientemente pela microalga. Do quinto ao sétimo dia houve um aumento na
concentração de amônia em todos os tratamentos, provavelmente pela sua liberação
através da morte da microalga e a decomposição da microbiana (KUBITZA, 2003).
Figura 1 – Concentração da amônia nos tratamentos durante o experimento
Fonte: Autor
3.3 Densidade óptica
Os resultados da densidade óptica em diferentes horários de alimentação estão
representados na tabela 2. Não houve diferença estatisticamente significativa entre
os valores de densidade óptica no horário inicial de arraçoamento diário (08:00) entre
os tratamentos 2 e 3. Entretanto houve diferença significativa entre o tratamento 4
e os demais. As densidades ópticas no horário final de arraçoamento diário (16:00)
mostrou diferença estatisticamente significativa apenas no tratamento 4 em relação
aos tratamentos 2 e 3, semelhante ao que ocorreu no primeiro horário de alimentação
(P ≤ 0,05). O tratamento 4 apresentou maiores valores de densidade óptica por ter
sido ofertado uma maior quantidade de S. platensis (2,0 mL) durante a alimentação
das Pl’s.
Tratamento
Horário
08:00
16:00
T2
0,042 ± 0,025 a
0,034 ± 0,020 a
T3
0,045 ± 0,025 a
0,038 ± 0,021 a
T4
0,071 ± 0,035 b
0,064 ± 0,028 b
Tabela 2 – Densidade óptica dos tratamentos onde houve oferta de S. platensis nos horários
inicial e final de arraçoamento diário. Tratamentos seguidos de letras minúsculas iguais, não
diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade
Fonte: Autor
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
116
3.4 Sobrevivência
Após 24 horas sem aeração, houve diferença estatisticamente significativa na
taxa de sobrevivência do T1 em relação aos T2, T3 e T4, bem como na taxa de
sobrevivência entre os T2 e T3. O T4 não apresentou diferença estatisticamente
significativa em relação aos T2 e T3 (Figura 2, P ≤ 0,05). Embora o fitoplâncton
tenha a capacidade de produzir oxigênio para o consumo dos camarões, a taxa de
respiração da S. platensis pareceu ser maior do que a taxa fotossintética, devido a
baixa iluminância incidente nos aquários, havendo maior mortalidade pela falta de
oxigênio nos tratamentos onde foi ofertada a microalga. Boyd (1990) confirma que
a respiração do plâncton pode ser responsável pelo consumo entre 50 a 80% do
oxigênio dissolvido na água.
Figura 2 – Taxa de sobrevivência de L. vannamei nos diferentes tratamentos. Letras diferentes
indicam diferença estatisticamente significativa (P ≤ 0,05).
Fonte: Autor
* Não houve desvio padrão entre as repetições deste tratamento.
4 | CONCLUSÃO
O policultivo de Litopenaeus vannamei com Spirulina platensis mostrou
eficiência no que diz respeito a qualidade da água, já que os níveis de amônia foram
significativamente reduzidos no tratamento 4. Após suspender a aeração, aliada a
baixa iluminância incidente nos aquários, os tratamentos com oferta de S. platensis na
alimentação apresentaram baixos níveis de sobrevivência inviabilizando o policultivo
nessas condições. Entretanto são necessárias pesquisas para avaliar o nível ótimo
de iluminância para o sucesso do policultivo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
117
REFERÊNCIAS
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VINATEA, L. A. Princípios químicos de qualidade da água em aqüicultura. Florianópolis: EDUFSC
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 11
118
CAPÍTULO 12
doi
ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO AQUÍCOLA NO
LITORAL SUL FLUMINENSE: UM ESTUDO DE CASO
Fausto Silvestri
Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de
Janeiro - FIPERJ
Escritório Regional da Costa Verde, Angra dos
Reis – RJ
RESUMO: Este estudo objetivou analisar a
efetividade das ações de assistência técnica e
extensão rural (ATER) no âmbito da aquicultura
no litoral sul Fluminense, considerando três
eixos específicos, em concordância com a
Política Nacional de Assistência Técnica e
Extensão Rural (PNATER): fortalecimento
institucional (1), políticas públicas (2) e formação
e construção de conhecimentos (3). Para isso
foram analisadas as ações desempenhadas e
os indicadores de ATER gerados pela Fundação
Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro
- FIPERJ através do Escritório Regional da
Costa Verde ao longo do triênio 2014-2016. Os
resultados indicaram uma tendência favorável
ao fortalecimento institucional na região por
meio da incorporação de quadro técnico efetivo
e da participação institucional em conselhos,
fóruns e comitês. Por outro lado, foi observada
a necessidade de aquisição de bens materiais
essenciais para a prestação de ATER. Aspectos
legais relacionados ao licenciamento ambiental,
certificações
sanitárias,
autorizações
e
questões fundiárias refletiram de forma negativa
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
para o acesso e difusão de políticas públicas
na região. Nesse sentido, o quantitativo de
Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAP) e
projetos de crédito de custeio e investimento
para aquicultores foi expressivamente menor
quando comparado às atividades de pesca
artesanal e agricultura familiar. Apesar da
disponibilidade de palestras e eventos setoriais,
a oferta de cursos e capacitações voltadas para
produtores e agentes de ATER ainda é escassa
na região, devendo essas atividades serem
priorizadas pelos tomadores de decisões para
a formação e construção de conhecimentos.
Independentemente da atuação regional,
verificou-se que o nível de efetividade das ações
de ATER voltadas para aquicultura no litoral sul
Fluminense está condicionado principalmente à
viabilização de planos e instrumentos de gestão
estaduais e federais.
PALAVRAS-CHAVE: aquicultura; extensão
rural; políticas públicas; Rio de Janeiro.
TECHNICAL ASSISTANCE AND
AQUACULTURAL EXTENSION IN THE
SOUTHERN FLUMINENSE COAST: A CASE
STUDY
ABSTRACT: This study aimed to analyze the
effectiveness of technical assistance and rural
extension (ATER) services in aquaculture
sector at southern coast of the Rio de Janeiro
Capítulo 12
119
State, considering three specific themes according the National Policy of Technical
Assistance and Rural Extension (PNATER): institutional development (1), public
policies (2) and training and building knowledge (3). In order to achieve the objectives,
the actions and the ATER indicators performed by the of Regional Office of Fisheries
Institute of Rio de Janeiro State - FIPERJ in the triennium 2014-2016 were analyzed.
The results indicated a favorable trend towards institutional development through the
incorporation of technical civil servants and institutional participation in councils, forums
and committees. On the other hand, the need of essential equipment to perform ATER
was observed. Legal aspects related to environmental licensing process, sanitary
certifications, permits and land issues reflected negatively on the access and diffusion
of public policies. In this sense, the number of DAP “rural credit authorizations” and
investment credit projects for aquaculture producers was significantly lower when
compared to small-scale fishing and family farming activities. Despite the availability of
lectures and sectoral events, the provision of courses and training aimed to producers
and extensionists is still scarce and should be prioritized by stake holders to support of
professional training and building knowledge. Regardless of the regional performance,
it was found that the level of effectiveness of ATER actions in aquaculture sector on the
southern coast of Rio de Janeiro State is mainly dependent on the feasibility of state
and federal management plans and instruments.
KEYWORDS: aquaculture; rural extension; public policies; Rio de Janeiro.
1 | INTRODUÇÃO
Assegurar o acesso a um serviço de assistência técnica e extensão rural (ATER)
público, gratuito, de qualidade e em quantidade suficiente é uma diretriz fundamental
para o desenvolvimento territorial. Após a desestruturação da Embrater, muitos
estados brasileiros deixaram de possuir instituições prestadoras de ATER pública
ou passaram a ter instituições precárias (CASTRO, 2015). Este cenário agrava-se
ainda mais quando levamos em consideração atividades específicas como a pesca
artesanal e a aquicultura que necessitam de uma assistência técnica diferenciada.
A análise de desempenho das ações de ATER pode ser uma ferramenta útil no
processo de implementação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento
territorial. Sistemas de medidas de desempenho são uma parte integral do controle
da gestão de processos (NEELY et al., 1995), atuam por meio de indicadores como
forma de acompanhar os objetivos traçados pelo planejamento estratégico. Um efetivo
sistema de indicadores deve propiciar aos gestores de uma organização meios para
determinar se as atividades programadas ocorrem de fato, na direção do atendimento
dos objetivos da instituição.
Ao longo dos últimos anos, o estado do Rio de Janeiro buscou o fortalecimento do
setor aquícola através da restruturação da Fundação Instituto de Pesca do Estado do
Rio de Janeiro - FIPERJ com ênfase na prestação de serviços de assistência técnica e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 12
120
extensão pesqueira e aquícola. No estado do Rio de Janeiro, o litoral sul Fluminense,
destaca-se pela sua expressiva produção aquícola representada principalmente pela
atividade de maricultura (ABELIN et al., 2016) e pela implantação, a partir de 2012,
de um serviço de ATER voltado especificamente para a pesca e aquicultura. Nesse
sentido, este estudo objetivou analisar a efetividade das ações de assistência técnica
e extensão rural no âmbito da aquicultura no litoral sul Fluminense, desempenhadas
ao longo do triênio 2014-2016, considerando três eixos específicos, em concordância
com a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER:
fortalecimento institucional (1), políticas públicas (2) e formação e construção de
conhecimentos (3).
2 | METODOLOGIA
Foram analisadas as ações desempenhadas entre janeiro de 2014 a dezembro
de 2016 com base nos indicadores de ATER em aquicultura gerados pela FIPERJ,
através do Escritório Regional da Costa Verde. Para isso, como área de estudo
considerou-se toda a extensão do território Rural da Baía da Ilha Grande, área de
atuação do escritório regional da FIPERJ, abrangendo os municípios de Paraty, Angra
dos Reis, Mangaratiba, Itaguaí e Seropédica (Figura 1).
Figura 1. Representação geral da área de estudo.
No litoral sul Fluminense, a aquicultura é caracterizada pela presença de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 12
121
fazendas marinhas e empreendimentos terrestres. As fazendas marinhas são
pequenas unidades produtivas onde prevalece o sistema de produção familiar voltado
para vieiras, mexilhões, ostras, algas e peixes pelágicos (ROMBENSO et al., 2015).
Os empreendimentos terrestres são em geral pequenas propriedades rurais, com até
01 ha, que apresentam viveiros escavados com pequenas dimensões direcionados
para a prática da piscicultura em sistema semi-intensivo como fonte complementar de
renda (SILVESTRI, 2015).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados indicaram uma tendência favorável ao fortalecimento institucional
no litoral sul Fluminense (Figura 2). A incorporação de quadro técnico efetivo dentro
do período analisado contribuiu positivamente com este cenário tendo em vista que a
falta de recursos humanos ou de cobertura no trabalho de extensão rural é apontada
como um dos principais problemas para o desenvolvimento e o trabalho de extensão
com pequenos produtores (LANDINI, 2015). Outro aspecto relevante foi a participação
regular da entidade de ATER em conselhos, fóruns e comitês. A participação efetiva
do poder público nestes espaços reforça o intercâmbio de ideias e a necessidade de
convergir os interesses dos atores envolvidos em prol do desenvolvimento sustentável
do setor produtivo (MOREIRA et al., 2016).
Aparentemente, a aquisição de bens materiais contribuiu com o fortalecimento
institucional voltado para as ações de ATER. Apesar do aumento de bens materiais,
ocorrido nos anos de 2015 e 2016, não houve um repasse regular de recursos voltados
para a aquisição de itens de custeio e de bens materiais essenciais para a prestação
de assistência técnica, o que impossibilitou o acesso dos extensionistas junto às
áreas de produção aquícola.
Fatores como a ausência de diálogo entre as entidades executoras de ATER, a
falta de um mapeamento e sistematização das ações e a precariedade de infraestrutura
vêm dificultando o cumprimento das metas estabelecidas nos planos estadual e
federal de ATER (SILVA et al., 2018). Além disso, a própria estrutura burocrática e a
descontinuidade destes planos e programas dificultam o acesso das instituições de
ATER aos recursos e convênios, podendo causar o descrédito junto aos produtores e
um entrave ao desenvolvimento setorial.
Figura 2. Indicadores de ações de ATER no litoral sul Fluminense: fortalecimento institucional.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 12
122
Aspectos legais relacionados ao licenciamento ambiental, certificações sanitárias,
autorizações e questões fundiárias refletiram de forma negativa para o acesso e a
difusão de políticas públicas na região. O quantitativo de Declarações de Aptidão ao
Pronaf (DAP) e projetos de crédito de custeio e investimento para aquicultores foi
expressivamente menor quando comparado às atividades de pesca artesanal (Figura
3). A morosidade nos processos de licenciamento ambiental, outorga e cessão de
áreas aquícolas impediram o acesso a políticas públicas de fomento a produção como
o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF. Fatores
como o atraso na emissão de licenças ambientais, assistência técnica insuficiente e
pouco especializada em aquicultura, baixo nível de organização dos produtores, além
da relativa burocracia ao longo do processo de contratação das operações de crédito
dificultam o acesso ao credito e o desenvolvimento da cadeia produtiva da aquicultura
(ARAÚJO et al., 2015)
Figura 3. Indicadores de ações de ATER no litoral sul Fluminense: políticas públicas.
Apesar da oferta de palestras e eventos setoriais, a disponibilidade de cursos
e capacitações voltadas tanto para produtores quanto para os agentes de ATER
ainda é escassa na região (Figura 4). Essas atividades devem ser priorizadas pelos
tomadores de decisões na formação e construção de conhecimentos tendo em
vista a problemática da ausência de profissionais capacitados para a prestação de
assistência técnica e extensão pesqueira e aquícola para atuar no setor (SOUZA et
al., 2017).
O esforço coordenado entre pesquisa e extensão tem gerado resultados
promissores na cadeia produtiva aquícola, sobretudo no desenvolvimento tecnológico
(ANDRADE, 2016). No litoral sul Fluminense, o desenvolvimento de pesquisas
conjuntas envolvendo aquicultores, pesquisadores e extensionistas promoveu
importantes avanços na otimização da produção de organismos aquáticos, sobretudo
de vieras Nodipecten nodosus. Ao longo do período de estudo foi observada uma
regularidade na produção técnico-científica gerada a partir da formação e construção
de conhecimentos locais e coletivos.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 12
123
Figura 4. Indicadores de ATER aquícola no litoral sul Fluminense – formação e construção de
conhecimentos.
4 | CONCLUSÃO
Independentemente da atuação territorial, a efetividade das ações de ATER
voltadas para aquicultura no litoral sul Fluminense está condicionada principalmente
com a viabilização de planos e instrumentos de gestão estaduais e federais. A
escassez de recursos direcionados para o fortalecimento da ATER, a ineficiência na
difusão de políticas públicas de fomento e comercialização e a ausência de políticas
comprometidas com a formação e a construção de conhecimentos voltadas para
produtores e extensionistas podem comprometer o desenvolvimento sustentável da
aquicultura na região.
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Capítulo 12
125
CAPÍTULO 13
doi
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE CONDIÇÃO DO SURURU DE
PASTA Mytella charruana (D’ORBIGNY, 1846) CULTIVADO
NO MUNICÍPÍO DE RAPOSA -MARANHÃO
Hugo Moreira Gomes
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Aleff Paixão França
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Derykeem Teixeira Rodrigues Amorim
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Thaís Brito Freire
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Thalison da Costa Lima
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Ana Karolina Ribeiro Sousa
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
Ícaro Gomes Antonio
Universidade Estadual do Maranhão – UEMA,
São Luís – Maranhão.
RESUMO: O estudo sobre as características
dos aspectos reprodutivos da maturação
gonadal são de extrema importância quando
o organismo possui um interesse econômico.
Existem vários métodos que são utilizados
para analisar o ciclo reprodutivo em bivalves
como índice de condição, análise histológica
e observação macroscópica das gônadas. O
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
objetivo do trabalho foi analisar e correlacionar
as variações do índice de condição do “sururu de
pasta” Mytella charruana cultivado no município
de Raposa – MA com as variáveis ambientais,
pois é um método de fácil medição, sendo um
parâmetro útil que fornece informações para a
identificação do estado fisiológico de organismos
aquáticos. Mensalmente, 10 exemplares foram
coletados do cultivo para avaliar o seu índice
de condição (IC), que apresentou as maiores
médias em dezembro com 158,61 ± 55,35 e
outubro no valor de 155,49 ± 32,26, períodos
com variações significativas de temperaturas
e salinidades e os menores resultados foram
observados no mês de maio com 87,30 ±
10,71 e fevereiro com 101,84 ± 24,45,14.
Os maiores valores de IC de M. charruana,
evidenciam que estes organismos estão em
estado de maturação, onde suas gônadas estão
parcialmente ou totalmente repletas de gametas
e os menores valores de Índice de Condição
indicam gônadas esvaziadas, que significam
momentos de desova desses organismos.
O uso do índice de condição é eficiente para
indicar as mudanças do ciclo gametogênico nos
sururus, porém não é completamente seguro
na determinação dos períodos de desova,
necessitando de uma complementação com
métodos qualitativos como a histologia, que
avaliam as mudanças celulares.
PALAVRAS-CHAVE: Interesse econômico,
Capítulo 13
126
Maturação, variáveis ambientais.
EVALUATION OF THE CONDITION INDEX OF CHARRU MUSSEL Mytella
charruana (D’ORBIGNY, 1846) CULTIVATED IN RAPOSA - MARANHÃO
ABSTRACT: The study on the characteristics of the reproductive aspects of gonadal
maturation is of great importance when the organism has an economic interest. There
are several methods that are used to analyze the reproductive cycle in bivalves such as
condition index, histological analysis and macroscopic observation of the gonads. The
objective of this work was to analyze and correlate the variations of the condition index
of Mytella charruana in the municipality of Raposa - MA to the environmental variables,
since it is a method of easy measurement, being a useful parameter that provides
information for the identification of the physiological state of aquatic organisms. Monthly
10 specimens were collected from the mussel culture and taken to the laboratory to
evaluate their condition index (IC), what presented the highest averages in December
with 158.61 ± 55.35 and October 155.49 ± 32.26, periods with significant variations of
temperatures and salinities and the lowest results were observed in May with 87.30
± 10.71 and February with 101.84 ± 24.45.14. The highest values of the IC of M.
charruana show that these organisms are in a maturation stage, where their gonads
are partially or totally replete with gametes and the lowest values of Condition Index
indicate empty gonads, which means spawning moments of these organisms. The use
of the condition index is efficient to indicate the changes of the gametogenic cycle in
the mussels, but it is not completely safe in the determination of spawning periods,
requiring a complementation with qualitative methods such as histology, which evaluate
cellular changes.
KEYWORDS: economic interest, maturation, environmental variables.
1 | INTRODUÇÃO
O extrativismo de moluscos bivalves é uma importante atividade econômica
em várias comunidades costeiras no nordeste brasileiro (Monteles et al., 2009). De
acordo com Prost & Loubry (2000), os manguezais exercem funções primordiais
como berçário, meio nutritivo, centro de multiplicação de numerosas espécies
animais e fonte de recursos para comunidades costeiras, contribuindo assim para o
desenvolvimento de moluscos em geral.
No município de Raposa, os moluscos são recursos de extrema importância
na pesca artesanal que auxiliam como complemento da alimentação da população
litorânea como também por apresentarem papel importante gerando complemento da
renda familiar. A extração desse recurso, de forma geral, é feita por mulheres e filhos
de pescadores, denominados de marisqueiros (Freitas et al., 2012).
As principais espécies de moluscos comestíveis capturadas nos municípios de
Raposa são: a ostra nativa (Crassostrea gasar), os sururus (Mytella guyanensis e Mytella
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
127
charruana), o sarnambi (Anomalocardia flexuosa) e a tarioba (Iphigenia brasiliensis)
(Monteles et al., 2009). A captura ocorre em níveis acima do máximo sustentável,
desequilibrando a dinâmica natural dessas populações e consequentemente, afetando
a qualidade de vida das comunidades exploradoras deste recurso e de acordo com
Marques (1998), uma medida que pode ser utilizada para a diminuição da pressão
sobre os estoques naturais é o cultivo desses organismos.
A implantação da aquicultura utilizando espécies nativas pode diminuir a pressão
sobre as populações naturais e, consequentemente, elevar a produtividade das áreas
costeiras. Além de gerar ingresso econômico às comunidades, a atividade beneficia
os pescadores artesanais, promovendo a sua fixação no local de origem através da
geração de empregos e renda (Vélez, 1974; Pereira et al., 2000; Buitrago et al., 2005).
O “sururu de pasta” Mytella charruana (d’Orbigny 1846) é uma das espécies que
habita os estuários do Maranhão sendo muito extraído pelas marisqueiras na Ilha
do Maranhão, entretanto, pouco se sabe sobre esta espécie. Essa extração ainda
é realizada de uma forma bastante rudimentar pelas comunidades tradicionais, sem
que existam medidas de manejo que garantam o uso sustentável destes recursos
(Monteles et al., 2009).
O estudo sobre as características dos aspectos reprodutivos da maturação
gonadal são de extrema importância quando o organismo possui um interesse
econômico. Existem vários métodos que são utilizados para analisar o ciclo reprodutivo
em bivalves como o índice de condição, análise histológica, tamanho dos ovócitos,
amostragem de ovos, observação das gônadas para determinação de seus estágios
e liberação de gametas.
O IC é o resultado das relações de uma série de parâmetros gravimétricos e/
ou volumétricos. São utilizados para acompanhar as variações sazonais de reservas
de nutrientes ou indicar a diferença na qualidade comercial de uma população de
bivalves em função do rendimento. Também são empregados para o monitoramento
de poluentes e doenças (Crosby & Gale, 1990)
Esses estudos de reprodução de bivalves marinhos podem ser utilizados como
a base para o estabelecimento de programas de manejo para estes organismos, uma
vez que podem promover a manutenção das reservas naturais e assim contribuir para
o desenvolvimento da mariscagem de uma forma sustentável (Araújo 2001, Arruda e
Amaral 2003, Boehs et al. 2004, Aneiros et al. 2014).
Desta forma, o objetivo do trabalho foi analisar e correlacionar as variações do
índice de condição do “sururu de pasta” Mytella charruana cultivado no município
de Raposa – MA com as variáveis ambientais, uma vez que é um método de fácil
medição, sendo um parâmetro útil que fornece informações para a identificação do
estado fisiológico de organismos aquáticos.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
128
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado no município de Raposa-MA entre os meses de
abril de 2016 a março de 2017. Os organismos para avaliação do índice de condição
do “sururu de pasta” M. charruana cultivados no município de Raposa-MA, foram
coletados do cultivo em sistema de cordas que foram colocados em uma estrutura
de balsa flutuante localizada sob as coordenadas geográficas latitude 2°25’38,01’’S
e Longitude 44°4’8,97’’O. As variáveis ambientais, temperatura e salinidade, foram
aferidas mensalmente, afim de associá-las com a variação do índice de condição.
Mensalmente 10 exemplares foram coletados do cultivo e levados ao laboratório
para avaliar o seu índice de condição, onde utilizou-se a fórmula descrita por Walne
e Mann (1975), a qual se calcula como: IC = (P1 x 1000) /P2. Onde P1 é o peso
seco das partes moles de 10 sururus e P2 é o peso seco das valvas dos mesmos
10 sururus. O peso seco foi alcançado através da secagem em estufa a 40ºC até
alcançar peso constante.
Figura 1. Localização da área de estudo da biologia reprodutiva de Mytella charruana.
Fonte: Nugeo.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
É de extrema importância a análise ou estudo da variação de temperatura e da
salinidade da água do ambiente onde são coletadas as amostras, pois a temperatura
influencia no metabolismo das espécies, como também sua sobrevivência e
desenvolvimento. Já a salinidade influencia no controle osmótico dessas espécies.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
129
De acordo com os dados obtidos em relação as variáveis ambientais, a
temperatura aferida entre os meses coletados teve média de 28,5°C, sendo que o
mês de abril obteve o maior valor de temperatura no valor de 32°C, seguido do mês de
maio e junho com os valores 31°C e 30°C, respectivamente. A temperatura mostrouse baixa nos meses de agosto (23°C), seguido dos meses de setembro e outubro no
valor de 27°C (Figura 2).
A salinidade obteve média de 34, sendo elevada no mês de junho e setembro
com valor de 38, seguido dos meses de agosto e outubro, ambos com salinidade no
valor de 37. O menor valor de salinidade foi no mês de março e julho no valor de 31
e 30, respectivamente (Figura 2).
Figura 2. Variáveis ambientais, nos meses de abril de 2016 a março de 2017 em Raposa- MA.
O índice de condição é um parâmetro útil na identificação do estado fisiológico
de organismos aquáticos, sendo um índice de fácil medição e de grande utilização em
trabalhos de biologia reprodutiva de moluscos bivalves.
O índice de condição teve uma variação significativa entre os meses de coleta
(P<0,05, ANOVA, Duncan). As maiores médias significativas para os valores do IC
foram registradas em dezembro com 158,61 ± 55,35, outubro no valor de 155,49 ±
32,26, setembro com 141,67 ± 19,87 e abril com valor de 133,57 ± 25,53. Os valores
do índice de condição apresentaram uma diminuição significativa (P<0,05, ANOVA,
Duncan), onde seus menores resultados foram observados no mês de maio no valor
de 87,30 ± 10,71, fevereiro com 101,84 ± 24,46 e março com o valor de 103,17 ±
17,05 (Figura 3).
Sousa (2015) estudando a ostra nativa Crassostrea rhizophorae na Ilha do
Maranhão, encontra constante crescimento no índice de condição entre os meses de
março e maio, tendo o mês de maio com maior valor e em seguida uma diminuição
no mês de junho, resultados diferentes aos obtidos no referente estudo com o M.
charruana, uma vez que o mês de maio se destaca com o menor valor do índice de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
130
condição. Bayne et al. (1985), relatam que as variações nas medidas do Índice de
condição de moluscos bivalves traduzem mudanças ocorridas ao longo do seu ciclo
no estado nutricional, já que a redução desse índice pode indicar período de estresse
que envolve o uso de reservas ou eliminação de gametas.
Figura 3. Evolução do índice de condição entre os meses de abril de 2016 a dezembro de 2017.
Os resultados obtidos podem indicar que os valores do Índice de Condição de M.
charruana, estão associadas as variações de temperatura e salinidade, onde observa-
se que os menores valores se encontram nos períodos em que as mesmas mostram
grandes variações entre si, períodos com altas temperaturas e baixas salinidades. No
entanto os valores do Índice de Condição mais elevados estão relacionados à baixa
temperatura e salinidade ou períodos em que estão com valores praticamente iguais
sem grandes variações entre si.
De acordo com Grotta (1983), as diferentes fases do ciclo sexual são influenciadas
por mudanças ambientais sazonais de acordo com o tipo característico de cada
espécie. Segundo Orton (1920) a precocidade da maturidade sexual está relacionada
a condições ambientais favoráveis, especialmente da temperatura em regiões que o
organismo se desenvolve tanto em regiões temperada como tropicais. Paixão (2012),
relata que estudos relacionados ao efeito da salinidade em moluscos bivalves são
bastante importantes para a compreensão da influência dessa variável ambiental no
desenvolvimento e sobrevivência de embriões e larvas para aquicultura.
Para Pereira-Barros (1972), a salinidade também influencia no ciclo sexual dos
organismos, onde salinidades próximas de zero podem causar desova em massa da
população. Já Thompson (1984), afirma que os ciclos reprodutivos estão controlados
por ritmos endógenos específicos sincronizados por fatores externos, dentre os quais
a temperatura e a alimentação parecem ser os mais importantes.'
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
131
4 | CONCLUSÃO
A variação do Índice de condição nos meses amostrados apresenta uma relação
direta com a temperatura e salinidade, que são fatores importantes para a espécie,
pois agem de forma positiva na indução e produção de gametas.
Os maiores valores do Índice de Condição do M. charruana, evidenciam
que estes organismos estão em estado de maturação, onde suas gônadas estão
parcialmente ou totalmente repletas de gametas e os menores valores de Índice de
Condição indicam gônadas esvaziadas, que significam momentos de desova desses
organismos.
Portanto índice de condição é eficiente para indicar as mudanças do ciclo
gametogênico em M. charruana, porém não é um parâmetro totalmente seguro na
determinação de épocas de desova, necessitando de uma complementação com
métodos qualitativos como a histologia, que avaliam as mudanças celulares.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
132
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 13
133
CAPÍTULO 14
doi
ANÁLISE DE CRESCIMENTO DA MICROALGA
Nannochloropsis oculata EM EFLUENTE DO CAMARÃO
Penaeus vannamei
Giancarlo Lavor Cordeiro
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca, Fortaleza – Ceará
Daniel Vasconcelos da Silva
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca, Fortaleza – Ceará
Danilo Cavalcante da Silva
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca, Fortaleza – Ceará
Kelma Maria dos Santos Pires Cavalcante
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca, Fortaleza – Ceará
Liange Reck
Universidade Estadual do Ceará, Departamento
de Biotecnologia, Fortaleza – Ceará
GROWTH ANALYSIS OF MICROALGAE
Nannochloropsis oculata IN SHRIMP
EFFLUENT Penaeus vannamei
RESUMO: A aquicultura é considera uma
atividade
potencialmente
poluidora
do
ambiente devido ao descarte inadequado
de efluentes, necessitando de medidas
afim de mitigar os impactos ambientais. As
microalgas, organismos fitoplanctônicos, são
potencialmente removedores de compostos
nitrogenados e fosforados, podendo vir a ser
uma alternativa para a diminuição da carga
orgânica dos efluentes aquícolas. Diante do
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
exposto, o objetivo do trabalho foi analisar o
crescimento da microalga Nannochloropsis
oculata em efluente de carcinicultura da espécie
Penaeus vannamei comparando a um cultivo
em meio padrão. Realizou-se 1 tratamento, em
efluente (E) e um controle em meio Guillard f/2
(G), ambos em salinidade 20, com 3 repetições
cada. O experimento durou desde a inoculação
até a fase estacionária, um total de 12 dias. O
crescimento foi acompanhado por densidade
celular (câmara de Neubauer) e densidade
óptica (espectrofotometria λ = 680 ηm). As
correlações apresentaram valores satisfatórios
para E e G com coeficiente de correlação (R)
0,9677 e 0,9976 e coeficiente de determinação
(R²) 0,9365 e 0,9953, respectivamente,
mostrando ter uma correlação positiva forte
entre as variáveis em ambos cultivos e um
R² com valor expressivo. De acordo com os
resultados obtidos no presente experimento
pode-se concluir que o cultivo da microalga N.
oculata é viável em efluente de carcinicultura da
espécie P. vannamei, entretanto com resultado
de crescimento abaixo quando comparado ao
meio padrão f/2.
PALAVRAS-CHAVE: Aquicultura; Fitoplâncton;
Efluente.
Capítulo 14
134
1 | INTRODUÇÃO
Aquicultura é uma atividade que consiste no cultivo de organismos aquáticos ou
que passam ao menos uma fase da vida na água. Nela estão inseridas algumas áreas
específicas tais como piscicultura, que é o cultivo de peixes e a carcinicultura, cultivo
de crustáceos, sendo o camarão o mais cultivado. São as áreas mais exploradas
mundialmente, inserida nessa atividade, e que trazem vários benefícios, gerando
emprego, renda e alimento, no entanto algumas desvantagens, como a produção de
efluentes, mas principalmente seu descarte inadequado em corpos d’água (HENRYSILVA E CAMARGO, 2008).
A produção de efluentes aquícolas e sua carga orgânica aumentam
progressivamente de acordo com o sistema de cultivo que está diretamente
relacionado com a densidade de estocagem e taxa de arraçoamento, podendo-se
definir a periodicidade e o quanto de renovação de água (SHILO E RIMON, 1982). Os
efluentes providos da aquicultura são ricos em compostos nitrogenados e fosforados,
e geralmente, devem passar por tanques ou bacias de sedimentação de modo
que os sólidos suspensos e grande parte da carga orgânica seja precipitada para
posteriormente serem descartados ou reaproveitados
Muitas inovações e metodologias têm sido adotadas nessa atividade para a
remoção parcial e completa desses compostos, com o intuito de reaproveitamento
dessa água ou apenas o descarte adequado. Umas das alternativas tem sido a
biorremediação, que é o processo pelo qual organismos vivos reduzem ou removem
contaminações do meio. Um dos organismos que tem sido bastante explorado nessa
área, para remoção de poluentes em meios aquosos é o fitoplâncton, com relatos de
ocorrência de intensa redução na concentração de poluentes.
Fitoplâncton é o conjunto de microrganismos aquáticos com capacidade
fotossintética, que constitui a base da cadeia trófica aquática, chamados de produtores
primários. São amplamente estudados por serem organismos ricos em proteínas,
ácidos graxos poliinsaturados, carboidratos além de seus metabólitos apresentarem
propriedades antioxidantes, dependendo do gênero e espécie (Derner et al. 2006).
A microalga Nannochloropsis oculata, por exemplo, pertence à classe das
Eustigmatophyceae, que agrupa as espécies que contém a maior quantidade de
ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs), principalmente ácido eicosapentaenóico
(EPA), ácido araquidônico (ARA) e docosahexaenoico (DHA) de grande importância
para nutrição de animais marinhos, especialmente no crescimento e desenvolvimento
de larvas de peixes, moluscos e crustáceos (Otero et al., 1997; Brown et al, 1999).
Outros estudos, também com fitoplâncton, tem sido realizado visando a produção
da biomassa algal em efluentes aquícolas como substituição de meios padrões, de
modo a reduzir os custos com a produção de um produto de valor agregado. No
entanto, vários aspectos devem ser levados em consideração, como a presença
de químicos no meio, que inviabilizaria a utilização dessa biomassa para oferta em
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
135
larvicultura, por exemplo.
2 | OBJETIVO
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi analisar o crescimento da
microalga Nannochloropsis oculata em efluente de carcinicultura da espécie Penaeus
vannamei comparando a um cultivo em meio padrão.
3 | MATERIAL E MÉTODOS
A cepa da microalga N. oculata foi cedida pelo Laboratório de Planctologia
do Centro de Biotecnologia Aplicada à Aquicultura (CEBIAQUA), da Universidade
Federal do Ceará (UFC), local onde também foi realizado o trabalho. O efluente do
camarão foi cedido pelo Centro de Estudos Ambientais Costeiros (CEAC), também da
UFC. Com volume inicial de 5 ml, a cepa foi expandida gradualmente para 25, 50, 250
e 1.000 ml em meio padrão Guillard f/2. Em seguida, foi dividida em reatores distintos
com 500 ml de cepa sendo completado para 1.000 ml com meio padrão f/2 e efluente
previamente filtrado e autoclavado afim de adaptar a microalga para o meio.
Após atingirem a absorbância (λ = 680 ηm) almejada de 0,800, reatores tipo
Erlenmeyer de 3.000 ml foram inoculados, em triplicata, com 10% do volume total útil
de 2.000 ml (LOURENÇO, 2006), sendo um tratamento com meio efluente (E) e o
controle com meio padrão Guillard f/2 (G), ambos com salinidade 20 (Figura 1).
Figura 1 – Microalga Nannochloropsis oculata cultivada em meio padrão Guillard f/2 (a) e em
efluente do camarão Penaeus vannamei (b).
O crescimento foi acompanhado por densidade óptica, por intermédio de
espectrofotometria (λ = 680 ηm; HACH, modelo DR 2000), e densidade celular,
utilizando a câmara de Neubauer. O experimento durou 12 dias, com iluminação
constante, até a fase de morte do cultivo. Diariamente, no mesmo horário, uma
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
136
alíquota de 25 ml de cada reator foi retirada para aferir a absorbância, e em seguida
o número de células. As curvas de crescimento foram elaboradas e estabelecido as
correlações com as médias de cada parâmetro, de modo que em análises futuras,
com apenas um dos parâmetros possa se obter o valor do outro por intermédio da
equação de regressão.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A curva de crescimento da microalga N. oculata foi traçada para ambos os
cultivos. Verificou-se que o controle em meio Guillar f/2 atingiu a absorbância máxima
de 1,112 (Figura 2), no entanto, o tratado com efluente chegou ao pico de 0,899
(Figura 3). Apesar de um crescimento inicial melhor, o cultivo em efluente apresentou
absorbância maior que o controle em f/2 até o 3º dia, em seguida ocorreu um
desaceleramento no crescimento o que pode está relacionado à carência nutricional
do meio.
Figura 2 – Curva de crescimento da microalga Nannochloropsis oculata cultivada em meio
padrão Guillard f/2.
Figura 3 – Curva de crescimento da microalga Nannochloropsis oculata cultivada em efluente
do camarão Penaeus vannamei.
Segundo Sánchez-Torres et al. (2008), o cultivo de N. oculata em diferentes
resíduos de pescado apresentou ótimo crescimento, sendo o melhor resultado
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
137
observado em resíduo não hidrolisado, no entanto, sem diferença significativa na
produtividade máxima, quando comparado aos meios Guillard f/2 e Yashima.
Já Galindro et al. (2016), obtiveram melhor crescimento de N. oculata em
efluente de cultivo superintensivo de P. vannamei, quando comparado ao meio padrão
Guillard f/2 e ao meio elaborado com 50% de Guillard f/2 e 50% de efluente, tendo
ainda maior produtividade por área (T/ha/ano), demonstrando não só a capacidade
de biorremediação e reutilização de efluentes aquícolas, mas também possibilitando
uma maior produção de biomassa.
Os resultados de correlação foram bastante satisfatórios, no que concerne a
relação entre os parâmetros absorbância e número de células/ml, devido ao alto
coeficiente de correlação (R) e determinação (R²), ratificando uma forte relação entre
os parâmetros (Figuras 4 e 5).
Figura 4 – Correlação Absorbância680 ηm (x103) x Número de células/ml (x104) da microalga
Nannochloropsis oculata cultivada em meio padrão Guillard f/2.
Figura 5 – Correlação Absorbância680 ηm (x103) x Número de células/ml (x104) da microalga
Nannochloropsis oculata cultivada em efluente do camarão Penaeus vannamei.
Além de ter alcançado maior absorbância, o cultivo em Guillard f/2 apresentou
ainda maior número de células/ml (x104), chegando a 3.019, enquanto o tratamento
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
138
em efluente chegou ao pico de 2.312.
Campaña-Torres et al. (2012) cultivaram N. oculata em fertilizantes agrícolas e
aquícolas, utilizando Guillard f/2 como padrão. O experimento, dos referidos autores,
durou 15 dias e o número de células/ml (x106) alcançado, em fertilizante aquícola, foi
de 1,26, valor dezoito vezes inferior ao observado no presente trabalho, em efluente
do camarão Penaeus vannamei.
5 | CONCLUSÃO
Pode-se concluir com o presente trabalho que o cultivo da microalga N. oculata é
viável em efluente de carcinicultura da espécie P. vannamei, entretanto com resultado
de crescimento abaixo quando comparado ao meio padrão f/2. No experimento os
parâmetro de densidade óptica e celular apresentaram uma forte correlação.
Ademais, se faz necessário uma análise de rendimento, bem como da
composição nutricional da biomassa produzida, afim de verificar se há diferença
significativa na produção, assim como saber se o efluente influencia na composição
nutricional da biomassa. Análises microbiológicas também são necessárias, afim de
saber se o efluente está incrementando algum contaminante, para assim determinar
se a biomassa poderá ser usada para nutrição animal.
A microalga Nannochloropsis oculata é um organismo já amplamente estudado
no processo de biorremediação, e com grande potencial, sendo uma alternativa para o
reaproveitamento de efluente aquícola afim de mitigar os impactos ambientais, como
também produzir um produto nutritivo, de valor agregado e de grande importância na
nutrição animal aquática, que é a biomassa algal.
REFERÊNCIAS
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microalgae used in aquaculture. Journal of Applied Phycology, v. 11, p. 247 - 255, 1999.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 14
140
CAPÍTULO 15
doi
O EFEITO DE ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS NA
PRODUÇÃO DE OVOS E COMPRIMENTO LARVAL DE
Danio rerio (ZEBRAFISH)
Fabiana Ribeiro Souza
Graduanda em Engenharia de Pesca,
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e
Biológicas (CCAAB), Núcleo de Engenharia de
Pesca e Aquicultura (NEPA), Cruz das Almas,
Bahia.
souza.fabiribeiro@gmail.com
Nathália Byrro Gauthier
Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Aquicultura, Universidade Federal do Rio Grande
(FURG), Instituto de Oceanografia (IO), Rio
Grande, Rio Grande do Sul.
nathy_byrro@hotmail.com
Carla Fernandes Macedo
Professor Adjunto no curso de Engenharia de
Pesca, Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais
e Biológicas (CCAAB), Núcleo de Engenharia de
Pesca e Aquicultura (NEPA), Cruz das Almas,
Bahia.
cfmacedo@ufrb.edu.br
Leopoldo Melo Barreto
Professor Adjunto no curso de Engenharia de
Pesca, Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, Centro de Ciências Agrárias, Ambientais
e Biológicas (CCAAB), Núcleo de Engenharia de
Pesca e Aquicultura (NEPA), Cruz das Almas,
Bahia.
leopoldo.barreto@ufrb.edu.br
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
RESUMO: O presente trabalho verificou
o efeito de estratégias reprodutivas no
desenvolvimento do paulistinha. Dos 40 peixes
adquiridos comercialmente, foram selecionados
12 exemplares com tamanho médio de 4,94
para fêmeas e 4,6 cm para machos O período
experimental foi de 25 dias e foram formados
grupos na proporção de 3:1 (fêmeas e macho),
distribuídos em três aquários de 15 L com
densidade 0,3 peixe/litro alimentados com ração
comercial duas vezes ao dia. Os tratamentos
foram T1: Gaiola; T2: Gaiola e esferas de vidro;
TC: Musgo de Java (Taxiphyllum barbieri)
e brita ao fundo do aquário. Após a desova
os ovos foram retirados e lavados com água
destilada e azul de metileno (0,00003%). Foi
realizada contagem, medição e observação dos
ovos e das larvas com estereomicroscópio. Foi
realizada análise de variância (ANOVA) e teste
de Tukey ao nível de 5% de significância com o
programa R. Houve maior quantidade de ovos
viáveis no T1 (207). O tempo de desenvolvimento
dos ovos até eclosão variou de 3 a 5 dias para
todos os tratamentos. O diâmetro e o espaço
perivitelino foram maiores no TC, com 4,9 mm
e 1,80 mm, respectivamente, sendo o espaço
perivitelino significativamente maior do que nos
outros tratamentos. O maior comprimento total
larval no presente estudo ocorreu no T2 (13,0
mm), porém não houve diferença significativa
entre os tratamentos. O aquário apenas com a
Capítulo 15
141
gaiola como estratégia reprodutiva favoreceu uma maior quantidade de ovos e maior
porcentagem de ovos viáveis, sendo recomendada para reprodução do paulistinha.
PALAVRAS-CHAVE: paulistinha, estratégia reprodutiva, peixe ornamental,
canibalismo, gaiola.
THE EFFECT OF REPRODUCTIVE STRATEGIES ON THE EGG PRODUCTION
AND LARVAL LENGTH OF Danio rerio (ZEBRAFISH)
ABSTRACT: The present study verified the effect of reproductive strategies on the
development of zebrafish. Forty animals were obtained commercially from a pet store,
and 12 of them were selected, with mean length of 4.94 cm and 4.6 cm for females and
males, respectively. The experimental period lasted for 25 days, and small fish groups
were formed with a sex ratio of 3 females: 1 male. Groups of fish were kept in three 15L
aquariums, with a stocking density of 0.3 fish/liter and the animals were fed twice per
day with commercial feed. The treatments tested were T1: cage; T2: cage and marbles;
and TC: gravel and Java moss. After the fish spawned, eggs were collected and rinsed
with distilled water and methylene blue (0.00003%). Eggs and larvae were counted,
measured and observed using a stereomicroscope. An analysis of variance (ANOVA)
and a Tukey test (p<5%) were performed using the R program. There was a greater
quantity of viable eggs (207) in T1. The period for the egg development until hatching
varied from 3 to 5 days in all treatments. The egg diameter and perivitelline space were
greater in TC with 4.9 mm and 1.80 mm, respectively, with the perivitelline space being
significantly greater in TC compared to the other treatments. In the present study, the
greater total larval length was in T2 (13.0 mm). However, there were no significant
differences among treatments. The aquarium that had only the cage as a reproductive
strategy produced a larger quantity of eggs and a higher percentage of viable eggs,
being recommended as a favourable reproduction strategy for zebrafish.
KEYWORDS: zebrafish, reproductive strategy, ornamental fish, cannibalism, cage.
1 | INTRODUÇÃO
O teleósteo Danio rerio, conhecido como zebrafish ou paulistinha, é um dos
modelos biológicos mais estudados mundialmente, principalmente por apresentar
desenvolvimento rápido, reprodução exclusivamente externa, fácil fertilização,
elevada fecundidade e grande transparência dos embriões (GRUNWALD; EISEN,
2002; HSU et al., 2007; NASIADKA; CLARK, 2012; WYATT et al., 2015; LIN; CHIANG;
TSAI, 2016). Desse modo diversas pesquisas têm sido realizadas visando protocolos
de manutenção e reprodução (GOOLISH; OKUTAKE, 1999; GRUNWALD; EISEN,
2002; BOYLE et al., 2010; PORTUGUES et al., 2014).
Para uma reprodução mais eficiente do paulistinha se faz necessária a
compreensão do comportamento natural da espécie, assim como de características
abióticas favoráveis (MATTHEWS et al., 2002; TSANG et al., 2017). Temperatura
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
142
e qualidade da água, quantidade e tipo de alimento disponível, disponibilidade de
esconderijos, tamanho do tanque de reprodução e fotoperíodo são alguns fatores
que influenciam na reprodução e eclosão dos ovos (SPENCE et al., 2007; GEFFROY;
SIMON, 2013; TSANG et al., 2017).
Em laboratório algumas estratégias reprodutivas são utilizadas, como, adição
de pequenas esferas de vidro maciço no fundo dos aquários ou tanques, visando
impedir o canibalismo pelos reprodutores, sendo essa uma técnica simples que
facilita a coleta dos ovos, porém não viável em larga escala (WESTERFIELD, 1995;
LAWRENCE, 2007). Além disso, há uma diversidade de produtos disponíveis no
mercado (LAWRENCE, 2007) que podem ser utilizados para melhoria na reprodução,
como por exemplo, verificar o efeito da variação de tamanho das gaiolas utilizadas na
desova e produção de ovos desses animais (GOOLISH et al.,1998).
Uma gaiola ou tanque-rede de plástico com volume de 1L, com uma malha
ou grade no fundo, inserida em um recipiente maior com água, é uma estratégia
reprodutiva comum, pois a passagem dos ovos pela abertura da malha desfavorece
o canibalismo dos ovos pelos reprodutores (LAWRENCE, 2007). Além disso, quando
comparadas à adição de pequenas esferas de vidro maciço no fundo do aquário, as
gaiolas ou tanques-rede de plástico são mais convenientes para a coleta dos ovos
(NASIADKA; CLARK, 2012).
Uma questão importante é a compreensão dos fatores que possibilitam uma
produção favorável em condições controladas, pois a manutenção dos reprodutores
em condições inadequadas de laboratório pode estressar os animais e impactar
negativamente na reprodução do paulistinha (CARFAGNINI et al., 2009; NASIADKA;
CLARK, LAWRENCE; MASON, 2012; KIM et al., 2017).
O tamanho da fêmea também influencia no número de ovos produzidos na
reprodução (UUSI-HEIKKILA et al., 2010), assim como as instalações refletem
diretamente na reprodução, fazendo com que as fêmeas ajustem o investimento
reprodutivo e produzam ovos maiores em menores quantidades (UUSI-HEIKKILA et
al., 2010). Outro fator de impacto na quantidade de ovos é a quantidade e qualidade
da alimentação fornecida, podendo ocorrer maior produção de ovos com uma dieta
mista de zooplâncton (KARGA; MANDAL, 2016). Os ovos considerados saudáveis e
de melhor qualidade são os que apresentam uma aparência translúcida e amarelada
(PELEGRI, 2002), onde se considerados viáveis são fertilizados e desenvolvem-se
até eclosão das larvas (SALMITO-VANDERLEY et al., 2015).
Apesar de existirem protocolos bem estabelecidos para o paulistinha (GEFFROY;
SIMON, 2013), ainda são necessários estudos para melhor conhecimento das
condições desejáveis para uma reprodução mais favorável. Desta maneira, o presente
trabalho objetivou verificar o efeito de diferentes estratégias reprodutivas na produção
de ovos e reflexo no comprimento larval do paulistinha.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
143
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de Cultivo de Microalgas e Produção de
Plâncton e na área experimental do Núcleo de Estudos em Pesca e Aquicultura (NEPA)
do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas (CCAAB) da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), campus de Cruz das Almas, BA (12°40’39”S
39°06'23”W).
Foram separados 40 animais por sexo (machos e fêmeas), esses obtidos
comercialmente e mantidos inicialmente em dois aquários de 36 litros (40 cm de
comprimento x 30 cm de largura x 30 cm de altura) na densidade de 0,7 peixe/litro e
alimentados com ração comercial três vezes ao dia (8h, 13h e 18h). Os parâmetros
físico-químicos da água foram aferidos com sonda multiparâmetros HANNA modelo
HI-9146 e a temperatura controlada com utilização de termostato. No decorrer
do período experimental os valores médios foram mantidos de acordo com o
recomendado para a espécie (temperatura 26-28°C, pH 6,8-7,5 e oxigênio dissolvido
6mg/L) (SCHNEIDER, 2009). O fotoperíodo foi mantido em 14h claro e 10h escuro,
com temporizadores e lâmpadas fluorescentes (40 W).
O período experimental foi de 25 dias (agosto a setembro de 2017) incluindo
reprodução, desova e desenvolvimento inicial da larva. Para reprodução foram
formados grupos na proporção de 3:1 (fêmeas e macho) (PIERCE; HADIKUSUMSH,
1995), sendo selecionados os 12 maiores peixes do plantel, com tamanho médio
de 4,94 para fêmeas e 4,6 cm para machos. Os procedimentos para manutenção
e reprodução dos peixes foram adaptados de Westerfield (1994), Reed e Jennings
(2010) e National Research Council (2011). Nessa fase os animais foram distribuídos
em três aquários de 15 L (40 cm de comprimento x 20 cm de largura x 25 cm de
altura), com densidade 0,3 peixe/litro e alimentados com ração comercial 2 vezes ao
dia (8:00h e 17:00h).
Em virtude dos ovos serem demersais, não adesivos e os animais não terem
cuidado parental, foram testadas duas estratégias para melhorar a desova e
fertilização, evitando também o canibalismo. Assim os tratamentos testados foram:
T1 - Gaiola revestida por telas com abertura de 3–4 mm; T2 - Gaiola contendo
pequenas esferas de vidro maciço ao fundo e revestidas por telas com abertura de
3–4 mm; e TC (Tratamento controle) configurado como um aquário com musgo de
Java (Taxiphyllum barbieri) e brita ao fundo, ambiente similar ao natural (Figura 1).
Primeiramente os machos foram colocados nos aquários, seguido das
fêmeas. Os grupos reprodutores permaneceram nos tratamentos por 16 horas e,
após a desova, os ovos foram transferidos, cuidadosamente com ajuda de uma
pipeta de Pasteur, para placas de Petri (Figura 2), as quais posteriormente foram
devidamente identificadas. Após a coleta os ovos foram lavados com água destilada
e azul de metileno (0, 00003%) visando diminuir a probabilidade de contaminação
por protozoários e/ou fungos. Posteriormente a triagem dos ovos foi realizada para
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
144
contagem, medição e observação do desenvolvimento em placas de Petri, com água
destilada sob estereomicroscópio óptico binocular Olympus CX31.
Cinco horas após a fertilização dos ovos, foram retiradas quatro amostras de cada
tratamento, realizando as medidas do: diâmetro do ovo (DO), diâmetro do vitelo (DV)
e espaço perivitelino (EPV). Decorrido 24 horas da eclosão das larvas foram retiradas,
novamente, quatro amostras de cada tratamento para medições do comprimento total
(CT) e comprimento do vitelo (CV). Para manipulação dos indivíduos foram utilizadas
pinça, seringa subcutânea e pipeta de Pasteur.
Os dados foram analisados através da estatística de variância (ANOVA) e teste
de Tukey ao nível de 5% de significância com o programa R.
Figura 1: Tratamentos T1: Gaiola, T2: Gaiola e bolas de gude e TC: Musgo e brita ao fundo.
Figura 2: Ovos coletados de uma unidade experimental após a desova.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
No presente estudo as estratégias de reprodução do paulistinha possibilitaram
isolamento dos reprodutores da prole e obtenção de um número de ovos aceitável
para a espécie. Após 10 horas do início do experimento foram contabilizados 280 ovos
no T1 (Tabela 1), maior quantidade de ovos dentre os tratamentos, valor superior ao
encontrado por Goolish et al. (1998), onde conseguiram 217 unidades. Esses valores
estão de acordo com o encontrado na literatura, a qual cita variando, geralmente,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
145
de 150 a 400 ovos (GOOLISH et al 1998) e dependente, entre outros fatores, do
intervalo entre as desovas (NIIMI, 1974). A quantidade de ovos no presente estudo
também foi similar a outras espécies de peixes reproduzidas em cativeiro, como
Paracheirodon axelrodi (154 a 562 ovócitos), Pristella maxillaris (300 a 400 ovócitos)
e Hyphessobrycon rosaceus (50 a 300 ovócitos) (TAPHORN, 1992; BAENSCH, 1997;
ANJOS, 2003 e 2006).
T1
TC
(Gaiola)
(Gaiola + esferas de
vidro maciço)
(Musgo + Brita)
280
250
120
207 (73,9%)
170 (68%)
70 (55,3%)
Desova total (UND)
Ovos Viáveis (UND/%)
T2
Tabela 1. Número de ovos e viabilidade, por tratamento.
O menor número de ovos encontrados no T2 justifica-se, provavelmente, pelo
fato de que as esferas de vidro dispersas dentro das gaiolas favoreceram a retenção
dos ovos e, consequentemente, a ocorrência de canibalismo. Já no TC, a permanência
dos reprodutores diretamente no aquário sem barreiras entre os ovos, favoreceu um
maior canibalismo, demonstrando a importância de estratégias reprodutivas para
uma melhor viabilidade reprodutiva.
No presente trabalho a maior quantidade de ovos viáveis, que se desenvolveram
até eclosão das larvas foram encontradas no T1 (73,93%), possivelmente devido ao
isolamento total entre os peixes na gaiola e os ovos depositados, fato que facilitou a
coleta subsequente dos mesmos. De maneira contrária foi menor no TC (55,33%),
devido ao fato dos peixes não estarem isolados da prole facilitou a ocorrência do
canibalismo. Assim, no presente trabalho, o aquário contendo apenas a gaiola foi a
estratégia mais favorável, apresentando diferença significativa entre os tratamentos
(p<0,05) (Tabela 2).
Estudos que possibilitem comparação da eficiência de diferentes estratégias
reprodutivas em cativeiro são importantes, pois podem favorecer maior produção de
ovos e ao mesmo tempo melhor conhecimento sobre a reprodução e desenvolvimento
da espécie em questão. Em razão da alta diversidade de espécies e da ocupação dos
mais variados tipos de ambientes, os peixes desenvolveram imensa variedade de
estratégias reprodutivas no ambiente natural (GODINHO, 2007). A grande maioria
dos peixes teleósteos não possuem cuidado parental e desovam em substrato aberto
(VAZZOLER, 1996).
Em relação ao tempo de desenvolvimento dos ovos até eclosão, no presente
estudo, o tempo variou de 3 a 5 dias em todos os tratamentos (72 a 120 horas).
Kimmel et al. (1995) obtiveram valores menores (em torno de 50 horas) para a
mesma espécie, já Bădiliţă et al. (2010) obtiveram tempo maior para Cyprinus carpio
(76 horas) do que parcela de nossos resultados. Quanto às medidas morfométricas
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
146
do ovo, o diâmetro (DO) e o espaço perivitelino (EP) foram maiores no TC, com 4,9
mm e 1,80 mm respectivamente, sendo que o EP obteve dados significativos entre os
tratamentos (Tabela 2) (Figuras 3 A e B).
Tratamento
DO
DSV
EP
CV
T1
4,62 ±0,36a
3,15±0,57a
0,90±0,24b
T2
4,60±1,05a
2,77±0,27a
0,85±0,10b
2,1±0,14a
13±0,14a
TC
4,90±0,10a
2,85±0,34a
1,80±0,14a
1,92±0,10a
9,3±3,80a
1,97±0,38a
CT
11,05±0,40a
Tabela 2. Médias morfométricas do ovo e da fase larval: diâmetro do ovo (DO), diâmetro do
saco vitelo (DSV), espaço perivitelino (EP) e comprimento do vitelo (CV) e comprimento total
(CT) larval (unidade em mm) (n=4).
Valores médios ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma linha representam diferença estatística significativa
(p < 0,05). Letras iguais na mesma linha indicam ausência de diferenças significativas (p≥0,05).
Andrade (2015) observou que o diâmetro dos ovos é importante para uma
maior taxa de fertilização, indicando condições reprodutivas do peixe e influência
na sobrevivência das larvas. Apesar disso, UUSI-HEIKKILA et al. (2010) consideram
o diâmetro dos ovos dos paulistinhas varáveis. No presente estudo o diâmetro do
ovo variou de 4,60 a 4,90 mm, sendo maior que o obtido por outras espécies, como
Garra rufa (1,69 mm) (GOMES 2015), Paracheirodon axelrodi (0,9 mm) (ANJOS;
ANJOS, 2006) e Hyphessobrycon pulchripinnis (variação de 0,74 a 0,9 mm) (COLE
et al.,1999).
Figura 3: Ovo com maior média em relação ao diâmetro do ovo e o espaço perivitelino (4,9mm
e 1,8 mm) (A). Ovo com maior média em relação ao diâmetro do vitelo (3,1mm) (B).
Em relação ao diâmetro do vitelo (DVT) (Figura 3 B), não houve diferença
significativa entre os tratamentos, apesar de esse ser maior nos ovos do T1 (Tabela 2).
Esse diâmetro indica a reserva energética do ovo e os recursos nutritivos fornecidos
ao embrião, podendo favorecer uma maior taxa de sobrevivência das larvas dos
paulistinhas (UUSI-HEIKKILA et al., 2010). De acordo com Souza (2014) existe uma
relação direta do tamanho do ovo e do saco vitelínico com a sobrevivência da larva.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
147
Os diâmetros do vitelo no presente estudo foram menores do que os obtidos por UusiHeikkila et al. (2010) para ovos da mesma espécie (5,2 mm). Em relação ao espaço
perivitelino, os resultados no presente estudo foram superiores aos do Paracheirodon
axelrodi (0,1 a 0,2 mm) (ANJOS; ANJOS 2006). O maior comprimento total (CT)
larval no presente estudo ocorreu no T2 (13,0 mm), porém não houve diferença
significativa entre os tratamentos. As larvas apresentaram saco vitelino com formato
elíptico e relativamente grande, pigmentação em toda extensão do corpo (Figura 4).
O comprimento das larvas de Hemisorubim platyrhynchoso variou de 3,47 a 11,85
mm (ANDRADE et al., 2014).
O tamanho dos reprodutores no presente estudo provavelmente não influenciou
nos resultados, pois foram selecionados animais com tamanhos usualmente utilizados.
Uusi-Heikkila et al. (2010) não encontraram diferença significativa entre o tamanho
das fêmeas e ovócitos liberados e constataram que peixes pequenos produzem
ovos com diâmetros maiores compensando a redução da fecundidade e frequência
de desova com ovo maiores. O tamanho maior de fêmeas na reprodução do Tetra
cardinal (P. axelrodi) é mais vantajoso, pois o número de ovos por desova aumenta
exponencialmente com o comprimento das fêmeas (ANJOS; ANJOS 2006).
Figura 4. Larva com media relação ao comprimento total e diâmetro do vitelo ( 13 mm e 2,1
mm).
Os ovos demersais do paulistinha, depositados ao fundo do aquário, propicia
ocorrência de fungos e parasitas, os quais podem torná-los inviáveis (KIMMEL et al,
1995; GOMES, 2015) além do que, favorece formação de substrato e propagação
da contaminação dos ovos no aquário. Desta forma, é necessária à coleta dos ovos
em curtos intervalos de tempo após a desova. Para minimizar a incidência de fungos,
estudos demonstram a eficiência do azul de metileno como fungicida, reduzindo a
probabilidade de desenvolvimento de patógenos nos ovos (DAMMSKI et. al., 2011;
GOMES, 2015). No presente estudo, mesmo com a utilização do azul de metileno
(0,00003%) foi verificada ocorrência de fungos em média 35% dos ovos coletados,
o que provavelmente influenciou no número de ovos não viáveis. Desta maneira,
são necessárias outras investigações em diferentes condições de temperatura e
luz, fatores esses determinantes na proliferação desses patógenos, visando garantir
o aumento de ovos viáveis. Além disso, também são importantes estudos para
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
148
acompanhamento do desenvolvimento da larva até a fase juvenil, visando maior
conhecimento biológico da espécie estudada.
4 | CONCLUSÃO
A gaiola como estratégia reprodutiva favoreceu uma maior quantidade e maior
porcentagem de ovos viáveis, sendo recomendada para uma reprodução favorável
do paulistinha.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 15
150
CAPÍTULO 16
doi
PARÂMETROS PRODUTIVOS DE Mytella charruana
CULTIVADO EM MANGUEZAIS DE MACROMARÉ DA
COSTA AMAZÔNICA, BRASIL
Josinete Sampaio Monteles
Licenciatura em Biologia. Núcleo de Maricultura
(NUMAR) do Instituto Federal do Maranhão
(IFMA) – Campus São Luís Monte Castelo. São
Luís, Maranhão
Paulo Protásio de Jesus
Licenciatura em Ciências Agrárias. Núcleo de
Maricultura (NUMAR) do Instituto Federal do
Maranhão (IFMA) – Campus São Luís Maracanã.
São Luís – Maranhão
Edivânia Oliveira Silva
Aluna do Curso Técnico em Aquicultura. Núcleo
de Maricultura (NUMAR) do Instituto Federal do
Maranhão (IFMA) – Campus São Luís Maracanã.
São Luís – Maranhão
James Werllen de Jesus Azevedo
Doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia
da Amazônia Legal - Rede Bionorte. São Luís –
Maranhão
Izabel Cristina da Silva Almeida Funo
Doutora em Recursos Pesqueiros e Aquicultura.
Núcleo de Maricultura (NUMAR) do Instituto
Federal do Maranhão (IFMA) – Campus São Luís
Maracanã. São Luís – Maranhão.
RESUMO: Ao longo da costa brasileira, muitas
espécies de moluscos bivalves vêm sendo
amplamente explorados como fonte de proteína
e no incremento da renda familiar, dentre elas
a Mytella charruana e Mytella guyanensis.
Devido a produção, ainda não significativa
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
desse bivalve, a pesquisa visou contribuir para
o desenvolvimento da mitilicultura, oferecendo
alternativa aos impactos ambientais da extração
destes organismos, além de proporcionar
maior produção alimentar à população. Para
isso, os parâmetros produtivos (crescimento e
sobrevivência) da M. charruana e ambientais
foram avaliados em cultivo experimental sob
regime de macromarés no nordeste do Brasil.
Os indivíduos de Mytella charruana utilizados no
experimento foram adquiridos no local do estudo
e o encordoamento realizado segundo método
francês. Os coletores ficaram por 60 dias fixos
ao sistema flutuante do tipo balsa e após esse
período os sururus foram transferidos para o
cultivo experimental. Foram confeccionadas
18 cordas de 50 cm de comprimento, com 420
sementes cada, cujo tamanho inicial médio era
de 20,3 mm. Os resultados apontaram que o
crescimento do sururu M. charruana foi de cerca
de 20,2 mm para altura da concha ao longo do
experimento e que o crescimento mensal foi de
3,36mm. Já o ganho de peso foi de 3,9 g o que
representou um ganho de peso mensal de 0,65
g. Em suma, o crescimento da M. charruana
pode ser considerado satisfatório quando
comparado com estudos pretéritos e contribuem
para o desenvolvimento da atividade também
em regiões sob regimes de grandes marés.
PALAVRAS-CHAVE:
Mytella
charruana.
Mexilhão. Malacocultura. Macromarés.
Capítulo 16
151
PRODUCTIVE PARAMETERS OF Mytella charruana FARMED IN MACROTIDAL
MANGROVES ON THE AMAZONIAN COAST, BRAZIL
ABSTRACT: Over the Brazilian coast, many species of bivalve molluscs have been
widely explored as a protein source and increase of family income, among them Mytella
charruana and Mytella guyanensis. With still not significant production, the research
aimed to contribute to the development of the mussel farming, offer an alternative
to the environmental impacts of extraction and provide greater food production for
the population. For this, M. charruana productive parameters (growth and survival)
and environmental were evaluated in experimental farming under macrotidal regime
in northeastern Brazil. The individuals of M. charruana used in the experiment were
recruited in site and the stranding performed according to the French method. The
collectors were fixed for 60 days to the floating raft system type and thereafter mussels
recruited were transferred to the experimental farming. 18 ropes with 50 cm in length,
containing 420 seeds each, and having a mean initial size of 20.3mm were made. The
results showed that M. charruana growth was about 20.2mm for shell height during the
experiment and that the monthly growth was 3.36mm. Already the weight gain was 3.9
g which represented a monthly weight gain of 0.65g. In short, M. charruana growth can
be considered satisfactory when compared to previous studies and contribute to the
development of activity also in regions under large tidal regimes.
KEYWORDS: Mytella charruana. Mussel. Malacoculture. Macrotidal.
1 | INTRODUÇÃO
A mitilicultura ou cultivo de mexilhões constitui-se como um dos mais expressivos
segmentos da Maricultura, tendo se destacado no cenário aquícola por seu baixo
custo e pela facilidade de desenvolvimento. No Brasil, o estado de Santa Catarina é
o maior produtor de mexilhões, colocando o país na segunda posição em produção
desse organismo na América Latina, com 18 mil toneladas em 2014 (SUPLICY, 2017).
O mexilhão Perna perna é o principal mitilídeo cultivado no Brasil. Contudo,
segundo Onodera (2012) esta espécie não é a única economicamente importante,
uma vez que há outros mitilídeos nativos no país como o Mytilus edulis platensis, no
Rio Grande do Sul; Mytella guyanensis, com distribuição do Pará a Santa Catarina;
e Mytella falcata (= Mytella charruana), encontrado nos estuários de toda costa
brasileira (ONODERA, 2012). Porém, cabe ressaltar que ainda inviáveis do ponto de
vista produtivo até aquele momento.
A exploração de sururu (espécies do gênero Mytella) em zonas entremarés,
águas rasas costeiras, manguezais e estuários ocorrem tanto por sua abundância,
quanto pela facilidade de captura. No entanto, sua exploração desordenada levou à
exaustão de alguns bancos naturais e à preocupação com a sustentabilidade destes
(MONTELES et al., 2009). Como alternativa para minimizar os impactos ambientais
e para proporcionar maior produção alimentar a população cada vez mais numerosa,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
152
torna-se imperativo o desenvolvimento de tecnologias que levem ao desenvolvimento
de sistemas de cultivo, entre eles àqueles destinados a mitilicultura.
A espécie M. guyanensis tem sido estudada por diversos pesquisadores que
avaliaram desde a biologia reprodutiva, o recrutamento de sementes e o crescimento
até a taxa de sobrevivência em condições de cultivo (BOLAÑOS, 1988; CRUZ;
VILLALOBOS, 1993; LEONEL; SILVA; 1988; NISHIDA, 1988). Já para a M. falcata
(d'Orbigny, 1846) (=M. charruana), Pereira e Graça-Lopes (1995) avaliaram a captação
e crescimento de sementes num experimento que buscava obtenção de sementes
e engorda. Nos anos seguintes, a taxa de crescimento dessa espécie foi avaliada
por Costa e Nalesso (2002) e Sousa (2004). As pesquisas com a M. charruana têm
seguido ao longo dos anos em diferentes linhas. Para o litoral maranhense, o estudo
realizado recentemente em manguezais de macromarés apresentaram resultados
positivos no que diz respeito ao recrutamento de M. charruana em coletores artificiais
o que reforça o potencial de cultivo da espécie na região (MONTELES et al., 2017).
O litoral maranhense com seus 640 km de extensão apresenta potencial para o
desenvolvimento da malacocultura (FSADU, 2010; FRANÇA et al., 2013). No entanto,
o estado ainda não apresenta produção significativa de mitilídeos, o que demostra
a necessidade de investimentos que viabilizem o processo produtivo de moluscos
bivalves no litoral do estado do Maranhão.
É visando contribuir com o desenvolvimento da mitilicultura no Maranhão
que esta pesquisa se estruturou, intencionando avaliar os parâmetros produtivos
(crescimento e sobrevivência) e ambientais em cultivo experimental de M. charruana
em manguezais de macromarés da costa amazônica (Raposa, Maranhão), Brasil,
como forma de contribuir para o aprimoramento de metodologias de cultivo adequadas
à referida espécie, levando em consideração as características ambientais da região.
2 | METODOLOGIA
O estudo foi realizado em um estuário do município de Raposa - Maranhão,
conhecido como Igarapé das Ostras, localizado sob as coordenadas geográficas 02º
21’ a 02º 32’ de latitude sul e 44º 00’ a 44º 12’ de longitude oeste, pertencente à Bacia
Hidrográfica do Rio Paciência (Figura 1). A região estuarina de Raposa faz parte
da Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia (CMMA), a qual se estende
da Baía de Marajó (Pará) até a Ponta de Tubarão, Baía de São José (Maranhão),
perfazendo cerca de 650 km de litoral em linha reta (FILHO, 2005).
As sementes de M. charruana utilizadas no experimento foram adquiridas no
próprio local do estudo. Para isso, foram utilizados coletores artificiais confeccionados
a partir de polietileno tereftalato conhecido popularmente como plástico do tipo PET.
Para a construção do coletor, foram recortadas e sobrepostas placas de PET que
serviram como substrato para que as sementes transportadas pelas correntes se
fixassem. Uma vez instalados os coletores no ambiente estuarino, foram necessários
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
153
60 dias para que houvesse a fixação das sementes que, posteriormente, foram
transferidas para o cultivo experimental.
Figura 1: Igarapé das ostras, localizado em manguezais de macromarés da costa amazônica
(Raposa, Maranhão), Brasil
No presente trabalho, foram confeccionadas 18 cordas com 50 cm de
comprimento, e em cada corda foram acondicionadas 420 sementes de sururu, com
tamanho inicial médio de 20,3 mm. O encordoamento foi realizado de acordo com o
método francês, no qual os indivíduos são ensacados em um conjunto composto de
duas redes tubulares de 60 mm, formando dois sacos de rede, um dentro do outro. A
primeira rede é de algodão e a externa é de poliamida. No interior das redes tubulares,
passa um cabo central de nylon de 5 milímetros, esses materiais servem para garantir a
sustentação das cordas no final do cultivo (Figura 2). Para facilitar o ensacamento
do sururu (povoamento da corda) foi utilizado um cano PVC posteriormente retirado.
As cordas foram fixadas no sistema de cultivo flutuante (balsa), onde permaneceram
por 180 dias, 90 dias em cada período (estiagem e chuvoso).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
154
Figura 2: Ensacamento das sementes para a formação das cordas de cultivo: A – Cano PVC; B
– Redes tubulares (algodão e poliamida) com cabo central de nylon; C – Povoamento da corda
e D – Corda de sururu preparada para ser fixada no sistema de cultivo.
Para que fosse possível analisar o desenvolvimento do cultivo experimental
em função das variáveis ambientais, foram medidas mensalmente a temperatura e
a salinidade da água do local do cultivo, usando um multiparâmetro (modelo YSI
Multiprobe 556MPS); a transparência da água, mensurada por meio do disco de Secchi
e a clorofila a, mensurada em laboratório a partir de amostras de água armazenadas e
transportadas em caixas térmicas segundo o método descrito por Jeffrey e Humphrey
(1975). Os dados de precipitação pluviométrica para o município de Raposa foram
cedidos pelo Núcleo de Geoprocessamento da Universidade Estadual do Maranhão.
O procedimento de análise para determinar o crescimento mensal (altura
e peso) e a sobrevivência dos sururus M. charruana em cultivo experimental foi
realizado mensalmente. A cada mês, três cordas de cada tratamento foram retiradas
da água. De cada corda, foram retiradas subamostras de 50 indivíduos medidos em
relação à altura da concha (mm), com auxílio de um paquímetro de precisão 0,1 mm,
e pesados para determinação do peso total (g) em uma balança digital com precisão
de três decimais. A padronização das medidas de biometria das valvas dos sururus
durante o experimento baseou-se no método proposto por Galtsoff (1964). A taxa de
sobrevivência foi realizada pela contagem do número de sururus sobreviventes em
cada corda.
Durante o período experimental, foi feita uma análise qualitativa da fauna
incrustante e vágil associada presentes nas estruturas de cultivo. O material foi fixado
em formalina a 4% por 24 horas para posterior identificação em laboratório.
Ao término do período de amostragem, foram feitas análises estatísticas para
avaliar os parâmetros de crescimento mensal a altura, o peso e o desempenho
em sobrevivência do sururu M. charruana. Para avaliar a significância entre as
taxas de crescimento e de sobrevivência para período de estiagem e chuvoso foi
utilizado o teste t student com aplicação do teste de Monte Carlo. A normalidade
dos dados foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk. Já para a correlação entre os
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
155
parâmetros biológicos (sobrevivência, crescimento da concha, do peso) e ambientais,
foi empregada uma regressão linear visando identificar relação entre uma ou mais
variáveis preditoras e a variável resposta. As análises estatísticas foram realizadas
com auxílio dos programas estatísticos PAlaeontological STatistics (PAST) versão
3.25 e Microsoft Excel 2016.
3 | RESULTADOS
3.1 Parâmetros produtivos da espécie Mytella charruana
Das cordas retiradas para amostragem, durante o período experimental, foi
verificada boa fixação do sururu no cabo de nylon central, justificada pela uniformidade
na distribuição dos mitilídeos ao longo da corda de cultivo (Figura 3).
Figura 3: Cordas de sururu Mytella charruana manejadas durante o período experimental, em
manguezais de macromarés da costa amazônica (Raposa, Maranhão), Brasil
A figura 4 apresenta a evolução dos dados de crescimento das conchas e peso
total de Mytella charruana durante o período experimental. Os resultados obtidos
nesta pesquisa apontam que o crescimento de Mytella charruana foi de 20,2 mm para
a altura da valva (3,36 mm/mês) e de 3,9g para o peso (0,65 g/mês).
Figura 4: Média e desvio padrão dos dados de crescimento (altura da concha, peso total)
e sobrevivência de Mytella charruana cultivada em manguezais de macromarés da costa
amazônica (Raposa, Maranhão), Brasil
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
156
Avaliando o crescimento por meio da comparação de médias foi observado
que em função da sazonalidade houve crescimento significativo da altura da
concha no período de estiagem em comparação ao período chuvoso (4,0 e 2,7 mm,
respectivamente) com valor de p=0,0001 para o teste t student. O ganho de peso
seguiu o mesmo padrão sazonal da altura da concha (p=0,0001; teste t student),
com o período seco apresentando ganho significativamente maior de peso quando
comparado ao chuvoso (0,8 e 0,5 g, respectivamente).
A sobrevivência média nos primeiros 30 dias de experimento foi 90%, o que
representa aproximadamente 378 dos indivíduos de um total de 420. Ao término
do experimento, após 180 dias, a média de sobrevivência foi de apenas 66%
(aproximadamente 277 indivíduos por corda de cultivo), conforme pode ser observado
na figura 4. Em termos estatísticos, a comparação de médias do número de sururus
mortos mensalmente apontou mortalidade significativamente superior (p=0,0001;
teste t student) no período chuvoso.
3.2 Variáveis ambientais e desempenho de Mytella charruana
De acordo com os resultados, foi verificado que durante o período do
experimento, as variáveis ambientais não influenciaram significativamente sobre o
crescimento e a sobrevivência da M. charruana (Tabela 1). Sendo a precipitação
a variável que apresentou melhor correlação, embora não tenha sido significativa
(p>0,05). Na tabela 2, estão dispostos os dados ambientais e sua variação ao longo
do período experimental. O gráfico apresentado a seguir evidencia o comportamento
do crescimento e mortalidade em função da sazonalidade (Figuras 5 e 6).
Coeficiente de Regressão e Estatística
Coeficiente
Sobrevivência (%)
Altura (mm)
Peso (g)
Erro Padrão
t
p
R^2
Constante
1,915
0,026
74,347
0,000
Precipitação
-0,027
0,036
-0,762
0,525 0,468
Salinidade
0,013
0,091
0,149
0,895 0,410
Temperatura
0,018
0,082
0,213
0,851 0,363
Clorofila
-0,005
0,144
-0,032
0,977 0,438
Constante
1,480
0,050
29,580
0,001
Precipitação
0,076
0,069
1,091
0,389 0,506
Salinidade
-0,017
0,176
-0,096
0,932 0,215
Temperatura
-0,028
0,160
-0,172
0,879 0,167
Clorofila
0,035
0,280
0,126
0,911
Constante
0,378
0,130
2,909
0,101
Precipitação
0,209
0,180
1,158
0,367 0,491
Salinidade
-0,021
0,457
-0,045
0,968 0,158
0,117
0,729
0,160
0,888 0,168
Temperatura
Clorofila
-0,097
0,415
-0,235
0,213
0,836 0,149
Tabela 1: Relação entre variáveis ambientais e o crescimento de Mytella charruana cultivada
em manguezais de macromarés da costa amazônica (Raposa, maranhão), Brasil
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
157
Coleta
Transparência
(dias)
(cm)
0
39,0±0,7
30
60
90
120
150
180
Temperatura
Chl-a
Precipitação
(Cº)
(mg.m-3)
(mm)
31,2±2,8
29,6±0,3
4,4±1,1
0,0
43,0±0,7
32,3±3,7
29,5±1,1
4,8±3,3
0,0
29,0±8,5
32,0±0,7
29,1±0,8
4,3±0,4
253,0
3,5±0,2
199,5
40,0±2,1
40,0±3,3
25,0±3,5
24,0±3,5
Salinidade
32,0±4,6
33,0±5,8
30,0±2,1
29,2,±0,5
28,3±0,5
30,0±0,0
28,5±1,1
28,1±0,4
4,2±2,6
5,0±2,8
3,9±1,0
0,0
0,0
531,2
Tabela 2: Média e desvio padrão das variáveis ambientais registradas no cultivo de Mytella
charruana em manguezais de macromarés da costa amazônica (Raposa, Maranhão), Brasil
Chl-a (mg.m-3) = Clorofila a.
Figura 5: Relação entre a precipitação pluviométrica (mm) e a taxa de crescimento mensal
(altura; peso) de Mytella charruana cultivada em manguezais de macromarés da costa
amazônica (Raposa, Maranhão), Brasil
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
158
Figura 6: Relação entre a precipitação pluviométrica (mm) e a taxa de mortalidade mensal de
Mytella charruana cultivada em manguezais de macromarés da costa amazônica (Raposa,
Maranhão), Brasil
3.3 Organismos incrustantes e fauna vágil associada ao cultivo
Ao longo do período de experimento, foi observado para o período seco a
presença de organismos incrustantes tais como cracas das espécies Amphibalanus
amphitrite e Amphibalanus improvisus, sementes de ostras das espécies Ostrea
equestris e Crassostrea spp. Assim como da fauna vágil composta por poliquetas do
gênero Polydora sp. e ascídias.
Já o período chuvoso foi marcado por maior aglomeração do gastrópode liso
Stramonita haemastoma (Linnaeus, 1767) (caramujo). Além destes, podemos citar a
elevada ocorrência de Mytella charruana e pequenos caranguejos do gênero Eriphia
sp. ocorrendo ao longo de todo período experimental.
4 | DISCUSSÃO
O estudo realizado teve a pretensão de avaliar os parâmetros produtivos
(crescimento e sobrevivência) e ambientais em cultivo experimental de M. charruana
em regiões sob regimes de grandes marés. Ao término do experimento constatou-se
que os parâmetros produtivos (altura da valva e peso final) e sobrevivência foram
significativamente superiores no período de estiagem. Uma vez que a análise de
regressão não apontou influência significativa das variáveis ambientais sobre
crescimento e sobrevivência, a hipótese para a diferença observada entre o período
de estiagem e chuvoso pode estar relacionada à fauna incrustante e vágil associada.
Contrapondo com os dados disponíveis na literatura, é possível perceber que
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
159
os valores observados para o crescimento da M. charruana na região estuarina do
estudo têm se mostrado satisfatórios. Isto porque, estudos pretéritos como o de Costa
e Nalesso (2002), que avaliaram crescimento em M. falcata (=M. charruana) e M.
guyanensis, obtiveram taxa de crescimento de apenas 1,8 mm/mês, valor abaixo do
observado nesta pesquisa. Todavia, Câmara et al. (2018), avaliando o crescimento
das espécies M. falcata (=M. charruana) e M. guyanensis no litoral maranhense,
apontaram em seu estudo crescimento da valva de 3,0 e 5,7 mm/mês, e peso total
de 0,6 e 0,9 g/mês, respectivamente. Os resultados do referido estudo, sobretudo
da espécie M. charruana, são semelhantes aos obtidos na presente pesquisa, cujo
crescimento médio mensal foi de 3,36 mm (altura da concha) e 0,65g (peso total).
Cabe ressaltar que a maior taxa de crescimento da M. guyanensis em relação a M.
charruana deve-se a biologia da espécie que naturalmente tem altura de valvas maior.
Os resultados do presente estudo demonstram que a sobrevivência da espécie
M. charruana variou entre o período chuvoso e de estiagem com a maior mortalidade
de sururu registrada no período chuvoso. O que coincide com os meses onde foram
determinadas as menores taxas de crescimento para este mitilídeo.
Estudo realizado por Freitas et al. (2012) revela a ocorrência de mortalidade
de grande parte dos mariscos no período chuvoso. Este fato é justificado por outros
autores como Boehs et al., (2008) que atribuem às chuvas a ressuspensão de material
do fundo tendo como consequência aumento da carga de sedimentos na coluna de
água, ou seja, a diminuição da transparência. Contudo, não só a transparência da
água foi afetada pela carga de sedimentos, mas também os valores de clorofila a que
representam a biomassa fitoplanctônica. Os valores da clorofila a variaram de 3,5 a
4,3 mg.m-3 no período chuvoso, enquanto no período de estiagem de 4,2 a 5,0 mg.m3
. Este comportamento apresenta-se em oposição ao que foi observado por Castro et
al. (2012), cujos valores de clorofila a apresentaram-se maiores no período chuvoso.
Maior concentração de clorofila a também foi observada por Monteles et al.
(2018) no município de Bequimão, Maranhão (15,41 a 19,34 mg.m-3) no período
chuvoso. A maior disponibilidade da clorofila a no período de precipitação decorre do
maior aporte de nutrientes do compartimento terrestre em direção ao meio aquático.
A diminuição da clorofila a no período chuvoso pode ter sido um dos fatores que levou
não só a diminuição do crescimento como também a diminuição da taxa sobrevivência
nesse período. Mitilídeos em geral, são filtradores não seletivos o que implica que o
aumento de material particulado em suspensão e a diminuição da clorofila a levem a
diminuição da eficiência alimentar pelo alto gasto de energia o que afeta o crescimento
(BAYNE, 2002; WARD et al., 2003).
No entanto, Azevedo et al. (2008), estudando diversos estuários do Golfão
Maranhense, encontrou relação positiva entre a clorofila a e a sazonalidade. Os
autores observaram maior concentração da clorofila no período de estiagem. Uma
das explicações para o fato é a luz ser a principal variável para a produção primária.
Uma vez que com as precipitações ocorre a diminuição da transparência da água,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
160
se espera que a redução da luz seja fator limitante para o fitoplâncton nos meses de
maior pluviometria (PASSAVANTE; KOENING 1984; SASSI 1991, AZEVEDO et al.,
2008).
Temperatura (28 a 30 Cº) e salinidade (29,2 a 33) foram variáveis que pouco
oscilaram ao longo do período de experimento, no entanto este padrão é característico
da região como mostram França et al., (2013). De acordo com os autores, a região
apresenta pequena variação tanto para temperatura quanto para salinidade. Em
termos de temperatura, as variações vão de 28,3ºC no período chuvoso a 30,9ºC no
período de estiagem, enquanto a salinidade registrada variou entre 22 para o período
chuvoso e 32,9 na época de estiagem.
Variações similares foram observadas ao longo deste experimento. Funo et
al (2019), para a mesma região, encontrou temperatura e salinidade superiores no
período seco em relação ao chuvoso com máxima de salinidade de 40,5 e temperatura
de 29,6°C. Embora, não se constituam como fatores limitantes ao desenvolvimento
do cultivo de M. charruana no município de Raposa-Maranhão, Yuan et al. (2010)
relatam que a melhor faixa de sobrevivência da M. charruana está entre a faixa de
salinidade de 2 e 23 sendo seus extremos fator de elevação da mortalidade.
No que diz respeito a organismos incrustantes e fauna vágil, observa-se que
no período de estiagem o cultivo do sururu M. charruana foi infestado tanto por
organismos incrustantes representados por cracas (Amphibalanus amphitrite e
Amphibalanus improvisus) e por sementes de ostras (Ostrea equestris e Crassostrea
spp.), quanto por fauna vágil, poliquetas do gênero Polydora sp. como ascídias. No
período chuvoso, foi observado maior aglomeração do caramujo liso Stramonita
haemastoma (Linnaeus, 1767) e sururus da espécie Mytella charruana se associando
ao sistema de cultivo.
Estudo realizado no Golfão Maranhense por Feres (2010), visando avaliar a
ameaça de organismos exóticos, identificou 24 espécies para a Ilha das Ostras,
localizada no município de Raposa, Maranhão. Entre as espécies identificadas, o
autor citou a ocorrência de alguns incrustantes encontrados no sistema de cultivo
tais como Amphibalanus amphitrite e Amphibalanus improvisus, M. falcata (= Mytella
charruana) e representantes do gênero Ostrea sp. De acordo com os estudos de
Feres (2010), a espécie M. falcata (= M. charruana) apresenta maiores ocorrências no
período de estiagem enquanto Amphibalanus amphitrite e Amphibalanus improvisus
ocorrem o ano todo. A ocorrência desses organismos no sistema de cultivo torna-se
um problema, uma vez que podem afetar o desenvolvimento da espécie cultivada por
meio da competição.
No período de estiagem, um dos problemas relacionados ao cultivo foi a elevada
ocorrência do poliqueta Polydora sp. Radashevsky e Migotto (2009) encontraram
que representantes de Polydora hoplura levam ao desequilíbrio no desenvolvimento
de moluscos, assim como na saúde destes. Em geral, estes anelídeos tornam-se
prejudiciais aos cultivos porque conseguem adentrar o interior do molusco bivalve. O
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
161
que levará a um aumento no gasto de energia para a produção de material calcário
que recobrirá a perfuração feita pelo invasor. A energia gasta é desviada de funções
vitais, como alimentação e reprodução o que acaba por afetar o desempenho produtivo
em sistema de cultivo de moluscos. Por outro lado, no período chuvoso, houve a
infestação de outros indivíduos da espécie M. charruana que se fixaram externamente
à corda de cultivo. O elevado número de indivíduos ocupando o mesmo espaço e,
portanto, competindo por alimento e espaço pode ter sido um dos fatores que elevou
a mortalidade e reduziu o crescimento no período chuvoso.
Estudar especificamente a M. charruana e descobrir seu potencial para emprego
em sistemas de cultivo proporcionará o desenvolvimento da atividade na região,
que poderá produzir não só a M. guyanensis como também a M. charruana. Mas,
sobretudo, proporcionará aprimoramento de metodologias de cultivo adequadas para
a referida espécie mediante as condições ambientais específicas da região.
5 | CONCLUSÃO
O cultivo da Mytella charruana em manguezais de macromarés da costa
amazônica (Raposa, Maranhão), mostrou-se viável quando comparado aos poucos
trabalhos existentes para a espécie. No entanto, foi observado que o desempenho
produtivo foi melhor no período que coincide com a estiagem das chuvas na região.
Ao que diz respeito as variáveis ambientais, ficou evidenciado que estas não
apresentaram correlação significativa para o crescimento e a sobrevivência da espécie
M. charruana. Contudo, foram percebidas variações entre o período chuvoso e de
estiagem para algumas variáveis tais como transparência da água, pH e Clorofila a.
Deste modo, sugere-se que o crescimento e a sobrevivência significativamente
maior no período de estiagem esteja relacionado a menor interferência da fauna
incrustante e vágil associada nesse período do cultivo.
6 | AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Instituto Federal do Maranhão (IFMA), Campus São Luís Maracanã
pelo financiamento da pesquisa (Processo 23249.012106.2019-67) e à Fundação
de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Científico do Maranhão (FAPEMA), pela
bolsa de iniciação científica concedida a Josinete Sampaio Monteles (Processo BIC04330/18).
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 16
165
CAPÍTULO 17
doi
RECRIA DE TILÁPIA DO NILO (Oreochromis niloticus) EM
TANQUES DE FERROCIMENTO COM RECIRCULAÇÃO
DE ÁGUA
Álvaro Luccas Bezerra dos Santos
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca Fortaleza – Ceará
Daniel Vasconcelos da Silva
Universidade Federal do Ceara, Departamento de
Engenharia de Pesca Fortaleza – Ceará
Diego Castro Ribeiro
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia de Pesca Fortaleza – Ceará
José Carlos de Araújo
Universidade Federal do Ceará, Departamento de
Engenharia Agrícola Fortaleza – Ceará
RESUMO: Este estudo teve como objetivo
realizar uma recria de tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) em tanques de ferrocimento usando
água recirculada. Três módulos foram
construídos utilizando a tecnologia ferrocimento
e materiais de baixo custo para recirculação e
aeração da água. Foi avaliado o desempenho
zootécnico, com densidade de 30 peixes/m³,
alimentados com diferentes taxas de ração e
aguapés (Eichhornia crassipes). Além disso,
foram medidos parâmetros físico-químicos da
água de interesse aquícola. Um módulo de
cultivo era formado por dois tanques (criação
e filtração), um sistema de recirculação e outro
de oxigenação da água. De acordo com dados
biométricos, observou-se que o tratamento
com dieta de ração em consórcio com
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
aguapés é o mais adequado para obtenção
de peixes na recria, com os vegetais ajudando
a manter a qualidade da água em condições
adequadas dentro de limites tolerados para a
espécie. Assim, o ferrocimento permite a fácil
construção e operação em pequena escala,
com baixos riscos ambientais, poucos recursos
e pequeno volume de efluente gerado. Seu
emprego na recria de tilápia do Nilo foi bastante
satisfatório, facilitando o manejo com os peixes,
principalmente na despesca com a manutenção
da água para cultivo posterior.
PALAVRAS-CHAVE: Aquicultura; Juvenis;
Aguapé;
NILE TILAPIA (Oreochromis niloticus) REFARMING IN FERROCEMENT TANKS WITH
RECIRCULATION OF WATER
ABSTRAT: This study aimed to perform a
rearing of Nile tilapia (Oreochromis niloticus)
in ferrocement tanks using recirculated water.
Three modules were built using ferrocement
technology and low cost materials for
recirculation and aeration of water. It was
evaluated the zootechnical performance, with
density of 30 fish/m³, fed with different ration
rates and water hyacinth (Eichhornia crassipes).
In addition, physico-chemical parameters of
water of aquifer interest were measured. A
culture module consisted of two tanks (breeding
Capítulo 17
166
and filtration), a recirculation system and a water oxygenation system. According to
biometric data, it was observed that the treatment with feed diets in a consortium with
water hyacinths is the most suitable for obtaining fish in the rearing, with vegetables
helping to maintain water quality under suitable conditions within tolerated limits for
the species. Thus, ferrocement enables easy construction and small-scale operation,
few resources and small volume of effluent generated. His employment in the Nile
tilapia farm was quite satisfactory, facilitating management with fish, especially in the
maintenance of water for later cultivation.
KEYWORDS: Aquaculture. Juveniles. Aguapé
1 | INTRODUÇÃO
A tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é um peixe que se adapta facilmente ao
confinamento em sistemas intensivos de criação, tolerando baixos níveis de oxigênio
e elevadas concentrações de amônia (MOREIRA et al., 2001). Tais características
também as levaram a ser cultivadas em águas salobras ou salgadas (CRUZ; RIDHA,
1991; SURESH; LIN, 1992; KUBITZA, 2005), trazendo ganhos econômicos, sociais
e ambientais.
Destaca-se também, por apresentar rápido crescimento, alta produtividade e
grande capacidade de filtrar partículas do plâncton. Tolera condições ambientais
adversas, com níveis de oxigênio dissolvido (1,0 mg/L), sendo que, em viveiros de
recria, alevinos pesando entre 10 e 25 g podem suportar concentrações de oxigênio
dissolvido entre 0,4 e 0,7 mg/L por três a cinco horas e quatro manhãs seguidas
(KUBITZA, 2000); suportam ainda altos níveis de amônia não ionizada (2,4 a 3,4
mg/L) e pH entre cinco e onze (WATANABE et al., 2003).
O estímulo do cultivo de espécies de tilápia e variedades híbridas, envolvendo
diversas práticas e sistemas de produção, acompanha a crescente demanda por
proteína animal (WATANABE et al., 2002). A evolução da tilapicultura brasileira nos
últimos anos vem ganhando preferências nos mercados nacionais e internacionais
(KUBITZA, 2003). No entanto, a intervenção do homem no processo de produção
(reprodução, estocagem, alimentação, proteção contra predadores etc.) é
extremamente importante para alcançar melhores ganhos de produtividade (FAO,
1990).
A produção comercial de tilápias envolve sistemas e estratégias diferentes de
cultivo, bem como o cuidado com a qualidade do ambiente aquático onde a atividade
é realizada, a qual depende da quantidade de peixes cultivados (KUBITZA, 2005). O
cultivo da espécie em tanques-rede também pode resultar em diferentes desempenhos
em relação em ferrocimento. O uso de tanques de ferrocimento como alternativa
estrutural de baixo custo para a produção de tilápia na agricultura, além de poder ser
reutilização da água no cultivo plantas por meio da aquaponia (HUNDLEY, 2013) e
além de possuir característica estrutural de alta durabilidade diminuindo custos com
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
167
manutenção do mesmo.
Sistemas de recirculação para aquicultura propiciam a produção de peixes
com a conservação dos recursos hídricos. Eles permitem a redução do uso da
água, higienização com profilaxia e remoção de predadores, o descarte adequado
de efluentes e da ciclagem de nutrientes, além da possibilidade de produtos mais
rentáveis (WIK et al., 2009; BADIOLA et al., 2012; LÓPEZ-LUNA et al., 2013; LI et al.,
2014; LUO et al., 2014).
Entre possíveis soluções sustentáveis para obtenção de proteína oriunda do
pescado, as alternativas tecnológicas a serem adotadas devem incluir a conservação
ambiental e sua aplicação em um contexto social adequado (SAMUEL-FITWI et al.,
2012). Para tanto, pode-se utilizar a tecnologia do ferrocimento na construção de
tanques de cultivo (HELMREICH e HORN, 2009; MANSUR et al., 2010).
O potencial plástico, a construção simples com mão-de-obra pouco qualificada
e custo relativamente baixo tornam o ferrocimento uma alternativa promissora na
área da construção (IBRAHIM, 2011), justificando sua utilização, especialmente,
em regiões com problemas sociais (AHMED e FLAHERTY, 2014; PANT et al., 2014;
TOUFIQUE e BELTON, 2014).
Assim, um experimento foi realizado para avaliar a recria de tilápia do Nilo
(Oreochromis niloticus) consorciada com aguapé (Eichhornia crassipes) em tanques
de ferrocimento com recirculação de água.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Sistema de cultivo
O experimento foi realizado em uma fazenda na região semiárida do Nordeste
do Brasil. Durante 30 dias, exemplares revertidos de tilápia do Nilo (Oreochromis
niloticus) com peso inicial 5,0 ± 0,4 g foram cultivados com densidade de 30 peixes/
m³ em três módulos. Tais estruturas foram construídas como sistemas de recirculação
de água independentes (Figura 1).
Cada módulo era composto por um tanque de criação (8 m³ de água) e um
tanque de filtração (2 m³ de água), ambos feitos de ferrocimento com desnível de 10
cm entre si, além de uma caixa d’água de polietileno (0,5 m³ de água).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
168
Figura 1 - Representação espacial dos módulos de cultivo.
Fonte – Acervo dos Autores.
Para a recirculação da água entre os componentes, foi elaborada uma tubulação
de PVC com conexões e válvulas para controle de vazão e drenagem do módulo. Na
retirada da água do tanque filtro e elevação para a caixa d’água, foi utilizada uma
eletrobomba de 32 W (vazão observada ≈ 0,64 m3/h), ligada a uma boia de micro
chave e trabalhando com altura manométrica de 1,5 m.
Com a recirculação (Figura 2), a água foi forçada a passar dentro do filtro pelas
raízes dos aguapés (Eichhornia crassipes) e por tampas de garrafas PET (0,7 m3),
ocorrendo assim filtração mecânica e biológica. Após a elevação para a caixa d’água,
a água retornou ao tanque de criação com vazão de 0,32 m3/h, renovando seu volume
a cada dia.
Figura 2 - Fluxo de água no módulo e posicionamento da eletrobomba.
Fonte – Acervo dos autores.
Além disso, um compressor de ar com membrana diafragma (250 W) foi acoplado
a um timer analógico para aeração noturna com difusão central de fundo usando um
chuveiro de PVC (φ=22,9 cm).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
169
2.2 Índices de desempenho zootécnico
Avaliou-se o desempenho entre três dietas ofertadas aos peixes cultivados: M1)
apenas ração comercial em quantidade recomendada pelo fabricante (100%); M2)
50% de ração comercial + consórcio com E. crassipes; M3) 100% de ração comercial
+ consórcio com E. crassipes.
Nas dietas consorciadas, os exemplares de E. crassipes eram retirados dos
filtros e inseridos nos tanques de criação, recobrindo 30% da superfície da água.
Tal prática era condicionada aos horários de arraçoamento (quatro vezes ao dia),
servindo para repor a biomassa de perifíton aderida às raízes e consumida pelos
peixes.
Assim, realizou-se biometrias quinzenais nos peixes, com amostragem de 30%
para cada tanque de criação, obtendo-se valores de peso e comprimento corporal
usados para obter os seguintes índices de crescimento:
1) Ganho em peso total (kg/módulo) = W2 – W1
2) Fator de Condição (FC) = (W / L3) × 100
3) Taxa de sobrevivência (%) = (Nf − Ni) / Ni × 100
(kg)
4) Conversão Alimentar (CA) = ração ofertada (kg) / biomassa de peixe obtida
5) Taxa de Crescimento Específico (SGR) = [(lnW2 − lnW1) / (t2 − t1)] × 100
Onde W é o peso e L é o comprimento total; W2 e W1 são os pesos nos respetivos
tempos(t2 e t1); Nf e Ni é o número de peixes final e inicial, respetivamente.
2.3 Parâmetros de qualidade de água
Temperatura da água, oxigênio dissolvido e pH foram medidos diariamente entre
08:00 e 08:30 usando a sonda HI-9828 (HANNA Instruments, Carrollton, TX, USA).
Amônia total, nitrito (NO2--N), nitrato (NO3--N) e fosfato (PO43--P) foram analisados
utilizando um método padrão (APHA et al., 2012).
2.4 Análises estatísticas
Os dados de qualidade de água e de desempenho zootécnico foram analisados
estatisticamente através do software STATISTICA 12.0 para Windows 8. Como critério
para diferenciação, adotou-se um nível de significância P < 0,05.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Qualidade de água
Durante o período experimental, a temperatura da água manteve-se entre 27-
28°C, com pH oscilando entre 7,5-8,0 nos três módulos de cultivo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
170
Inicialmente, os sistemas foram abastecidos com água subterrânea e areados
até atingir OD = 6,0 ± 0,2 mg/L, havendo uma leve diminuição de OD em águas claras.
Após o desenvolvimento do fitoplâncton, os níveis de OD tenderam à estabilização
em 6,8 ± 0,1 mg/L.
Quanto às concentrações das demais variáveis limnológicas analisadas, a
amônia total chegou ao máximo de 10 µg/L em M3, NO2--N = 30 µg/L em M3, NO3--N
= 48 µg/L em M2 e PO43--P = 1,4 µg/L em M2. Ainda assim, tais variáveis mostraramse adequadas para a espécie, indicando condições favoráveis para a obtenção de
melhores desempenhos zootécnicos, menores impactos ambientais e maior bemestar animal (BIANCA, 2009).
O desempenho do biofiltro esteve associado intrinsecamente com o seu manejo
(AZIM e LITTLE, 2008). Para tanto, foram retiradas partículas sólidas decantadas e
removido o excesso de E. crassipes do sistema. Seu dimensionamento pode sofrer
variações, contudo, deve-se considerar a capacidade de suporte para as substâncias
nocivas aos peixes, como amônia total e NO2--N (ZHANG et al., 2011).
Ridha e Cruz (2001) testaram em um sistema de recirculação, por 172 dias, dois
tipos de material filtrador (φ = 6,3 e 4,0 cm) no biofiltro de 0,43 m³ e observaram em
ambos os casos que é possível uma produção de até 200 kg de tilápia utilizando um
volume de 1,0 m³ de materiais filtrantes utilizados.
A quantidade de amônia total ficou mais elevada em M3 devido ao aporte de
matéria orgânica (ração e aguapé) ser mais acentuado. A absorção de NO3--N e PO43-
-P foi proporcional a quantidade de E. crassipes em cada módulo, onde M2 alcançou
maiores concentrações por haver aguapés apenas no filtro.
Assim, tanto os compostos nitrogenados quanto fosfatados obtiveram valores
inferiores comparados a outros trabalhos de recirculação de água e bioflocos (KLAS
et al., 2006; AVNIMELECH, 2007; LUO et al., 2013; LUO et al., 2014).
3.2 Desempenho zootécnico
Os índices de desempenho zootécnicos estão apresentados na Tabela 1. No final
do experimento, M1 (somente ração comercial) apresentou melhor ganho em peso
com valores maiores do que M2 (metade da ração recomendada + E. Crassi pes) e
M3 (ração recomendada + E. crassipes). Tal fato também foi observado quando se
analisou a relação peso/comprimento, com tendência linear nos três casos e sendo
maior em M1 (Figura 3).
Parâmetros
M1
M2
Comprimento inicial (cm/peixe)
8,4 ± 0,2
a
M3
8,4 ± 0,3
a
8,5 ± 0,3a
Comprimento final (cm/peixe)
12,5 ± 0,5b
12,6 ± 0,7b
13,0 ± 1,0a
Peso final (g/peixe)
37,2 ± 3,5b
37,9 ± 2,8b
44,2 ± 3,0a
30
30
30
Peso inicial (g/peixe)
Densidade de estocagem (peixe/m³)
Sobrevivência (%)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
5,4 ± 0,1a
95,1
c
5,5 ± 0,1a
97,0
b
5,1 ± 0,2a
98,8a
Capítulo 17
171
Ganho em peso total (kg/módulo)
FC
CA (kg peixe/kg ração)
TCE (%/dia)
9,91b
10,11b
53,06
1,28 ± 0,1
11,77a
50,48
c
2,30 ± 0,07b
1,07 ± 0,8
a
2,30 ± 0,10b
49,20
1,16 ± 0,3b
2,57 ± 0,15a
Tabela 1 - Parâmetros de desempenho zootécnico nos módulos de cultivo com diferentes
dietas: M1: ração (100%); M2: ração (50%) + E. crassipes; M3: ração (100%) + E. crassipes.
Figura 3 - Relação peso/comprimento da tilápia durante o cultivo.
Fonte – Acervo dos Autores
Devido à oferta de ração integral e ao alimento natural possibilitado pela adição
de E. crassipes no tanque de criação em M3, os peixes apresentaram os maiores
ganhos em peso. Já em M2, a alimentação natural no sistema foi suficiente para
compensar a redução de ração, quando comparado ao M1 (Figura 4).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
172
Figura 4 - Ganho em peso da tilápia durante o cultivo.
Fonte – Acervo dos Autores
Os valores da Tabela 1 foram semelhantes ou até melhores aos encontrados
em outros sistemas. Little et al. (2003), realizando experimento com mono-sex tilápia
em viveiros, aos 120 dias, obtiveram valores de TCE inferior (1,83 ± 0,13), com
sobrevivência de 57,1 ± 1,6%. Valores maiores de FC foram encontrados por AbdelTawwab et al. (2010) para tilápias afetadas por níveis de proteína na dieta e diferentes
pesos iniciais.
Assim, a pequena escala dos módulos propostos faz com que os resultados
alcançados sejam naturalmente inferiores ao desempenho em sistemas intensivos,
mas satisfatórios se comparados a viveiros escavados ou com recirculação em
ambientes controlados.
4 | CONCLUSÃO
A estrutura de cultivo desenvolvida apresentou construção e operação
relativamente simples, ocorrendo a recirculação da água e a filtragem de compostos
orgânicos decorrentes da produção. Materiais e equipamentos utilizados foram de
fácil aquisição e custo reduzido.
O melhor desempenho zootécnico foi obtido com oferta integral de ração
recomendada pelo fabricante em consórcio com Eichhornia crassipes, onde a
conversão alimentar e a taxa de crescimento específico em peso foram preponderantes
comparadas aos demais tratamentos testados. A substituição de 50% da ração
comercial por raízes de E. crassipes obteve resultados equivalentes ao grupo controle.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
173
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 17
175
CAPÍTULO 18
doi
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUEREDE NAS REGIÕES NORTE E NORDESTE
BRASILEIRAS
João Donato Scorvo Filho
Zootecnista, Consultor autônomo
Monte Alegre do Sul, SP.
Célia Maria Dória Frascá-Scorvo
Pesquisadora da APTA Regional Leste Paulista
Monte Alegre do Sul, SP.
Maria Conceição Peres Young Pessoa
Pesquisadora Embrapa Meio Ambiente
Jaguariúna, SP
Marcos Eliseu Losekann
Pesquisador Embrapa Meio Ambiente
Jaguariúna, SP
Rafaella Armentano Moreira
Bolsista PIBIC/CNPq-Embrapa/Graduanda em
Medicina Veterinária UNIFAJ;
Jaguariúna/SP
Geovanne Amorim Luchini
Bolsista PIBIC/CNPq-Embrapa/Graduando
Ciências Biológicas PUCCamp (período: ago/2018
a dez/2018);
Jaguariúna/SP
Ricardo Borghesi
Pesquisador Embrapa Agropecuária Oeste
Dourados, MS
RESUMO: A produção mundial de tilápia é
expressiva e o Brasil ocupa a quarta colocação
no ranking mundial. O sistema de produção
intensivo dessa espécie em tanque-rede no
Brasil vem sendo autorizado gradativamente
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
nos últimos anos, ampliando a possibilidade
de sua produção em várias regiões e fazendo
essa cadeira produtiva gerar emprego, renda
e oportunidades para atender demandas
de consumos interna e externa. Porém, é
igualmente importante assegurar estratégias
de sustentabilidade ambiental desse sistema
de produção, provendo Boas Práticas de
Manejo compatíveis com as demandas das
áreas produtoras. Desse modo, é importante
identificar em que localidades ele vem sendo
prioritariamente realizado e em que condições.
Este capítulo disponibiliza informações sobre a
presença do sistema de produção de tilápia em
tanque-rede (TTR) nas unidades da federação
das regiões Norte e Nordeste do Brasil, bem
como seus principais entraves e aspectos
legais. Diversas fontes de referências nacionais,
entre elas literaturas técnico-científicas e
comunicações disponibilizadas por diferentes
fontes (incluindo as governamentais e de
associações de produtores), foram consultadas
para organizar e apresentar as informações
sobre o assunto. Os resultados do levantamento
indicaram a ocorrência de TTR prioritariamente
nos estados do NE.
PALAVRAS-CHAVE: aquicultura; piscicultura;
peixe exótico; Oreochromis sp.
Capítulo 18
176
PRODUCTION SYSTEM OF TILAPIA IN NET CAGE IN BRAZILIAN NORTH AND
NORTHEAST REGIONS
ABSTRACT: The worldwide production of tilapia is expressive and Brazil ranks the
fourth place in the global ranking. The intensive production system of this species
in net cages in Brazil has been gradually authorized in recent years, increasing the
possibility of its production in several regions, as well as making this productive chain
generates employment, income and opportunities toward domestic and international
consumption demands. However, it is equally important to ensure the environmental
sustainability strategies of this production system, providing Best Management
Practices in accordance with demands of the producing areas. Thus, it is important
to identify in which Brazilian places it has been prioritized and under what conditions
are performed. This chapter provides information on the presence of tilapia production
system (TTR) in Brazilian Federal Units of North and of Northeast regions, as well as
their respective main lacks and legal aspects. Several sources of national references,
among them technical-scientific literature and communications made available
(including by government and producer associations) were consulted to organize and
present information about the presented issue. The results indicated the predominant
occurrence of TTRs in the Northeast region.
KEYWORDS: aquaculture; pisciculture; exotic fish; Oreochromis sp.
1 | INTRODUÇÃO
O crescente aumento de concessões de licenças ambientais e outorgas para
uso de águas estaduais e da União em atividade de aquicultura vem ampliando,
gradativamente, a produção de tilápia (Oreochromis sp.) no Brasil. O país ocupa a
quarta colocação no ranking mundial de produção dessa espécie, que é a segunda
mundialmente produzida. Contudo, sabe-se que as diferentes regiões brasileiras
possuem condições distintas de acesso aos insumos (alevinos, ração, etc.), logística
de transporte/processamento, recursos humanos/gerenciais capacitados, entre
outras, necessários para a produção sustentável dessa cadeia produtiva. Acrescentase, ainda, que os locais de criação de tilápia em tanques-rede (TTR), bem como
seus aspectos legais e demandas específicas, nem sempre são apresentados
conjuntamente. Além disso, esperam-se ampliações de áreas de criação à medida
que aspectos legais impeditivos sejam minimizados.
Desse modo, aventa-se um maior processamento de tilápia advindo das criações
em tanques-rede (TR) para que atendam às demandas de mercados nacionais e
internacionais. Vê-se, portanto, que o conhecimento de informações sobre as
principais localidades produtoras de TTR permitirá um delineamento mais preciso
das Boas Práticas de Manejo (BPM) e de gestão ambiental para seus diferentes
segmentos produtivos e públicos locais.
O sistema informatizado de BPM e de Gestão Ambiental da Aquicultura (Aquisys
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
177
v.1.3), desenvolvido pela Embrapa e Apta Regional do Leste Paulista, abordou o
sistema de produção de tilápia em viveiro. Sua nova versão, em desenvolvimento
(Projeto BRS Aqua/PCMAN), incluirá o sistema de produção de tilápia em tanquerede (TTR), demandando conhecimento sobre TTR no País. Moreira et al. (2019)
realizaram um levantamento expedito das áreas estaduais brasileiras com esse
sistema de produção e já constataram sua ocorrência em todas as regiões do Brasil.
O aprofundamento desse levantamento, considerando recentes atualizações nas
Unidades da Federação e especialistas em TTR, favoreceria retratar a situação atual
existente nas principais áreas produtoras nacionais.
Este capítulo disponibiliza informações sobre o sistema de produção de TTR
nas Unidades da Federação das regiões Norte e Nordeste do Brasil, indicando
suas principais áreas produtoras, principais gargalos/demandas e aspectos legais.
Diferentes fontes de informação foram utilizadas, a saber: a) literatura técnicocientífica nacional; b) diferentes mídias de programas agrícolas e jornais; c) materiais
disponibilizados por associações de produtores; d) consultas às informações
governamentais em suas diferentes esferas (nacional, estadual e municipal) e órgãos
públicos, e aos empreendimentos privados; e e) especialistas que trabalharam em
áreas com TTR, entre outras.
2 | TTR NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO DA REGIÃO NORTE
Áreas com o sistema de produção de TTR na região Norte do Brasil foram
identificadas nos estados do Amapá, Pará e Tocantins.
O estado do Amapá produziu 1.030 t de peixes em 2018, sendo 80 t de tilápia
(MEDEIROS, 2019). Gama (2008) apontou que a criação de TTR encontravase dispersas pelo estado, sendo que metade concentrando-se no município de
Porto Grande, na presença de importantes nascentes (rio Matapi e rio Pedreira)
no estuário Amazônico. Oliveira (2017) registrou que os TR ainda permanecem no
mesmo município, na localidade de Cupixi. Entre os principais problemas para os
piscicultores do Amapá elencam-se: falta de treinamento, preço da ração, assistência
técnica, produção de alevinos, falta de financiamento, de transporte e de conservação
(incluindo gelo), como também distância do consumidor, falta de cooperativa, poluição
da água, organização profissional e licenciamento ambiental (OLIVEIRA, 2017;
TAVARES-DIAS, 2011).
Em 2018, foi iniciada a instalação da primeira fábrica de rações no estado (entrega
prevista para o 1° semestre de 2019) (MEDEIROS, 2019). Segundo a coordenação de
Desenvolvimento de Pesca e Aquicultura da Agência de Pesca do Estado do Amapá
(PESCAP), que atua na Política de desenvolvimento do setor pesqueiro no Amapá,
o número de piscicultores no estado vem aumentando, mesmo que ainda modesta
a produção registrada no ano de 2018. Também apontou a ocorrência de acordos
de cooperação técnica entre a PESCAP e prefeituras para conclusão de cursos e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
178
projetos ambientais, além de projetos e financiamentos de assistência técnica.
Em termos legais mais recentes, cita-se a Portaria DIAGRO Nº 239 de
14/11/2017 (Publicado no DOE–AP em 23/11/2017), que “Implementa o Programa
Nacional de Animais Aquáticos de Cultivo, no âmbito do Estado do Amapá, e dá outras
providências” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=352920).
Já no estado do Pará, Medeiros (2019) indica uma produção de 23.720 t de
peixes em 2018, sendo 1.000 t de tilápia. O sistema de TTR ocorre no estado em
TR de pequeno volume na mesorregião do Nordeste paraense (BRABO, 2014).
Também há relatos de ocorrência desse sistema de produção (pequeno volume) no
Sudeste Paraense, comercializada (viva ou fresca) ou usada como peixe forrageiro
na alimentação de peixes carnívoros (pirarucu e tucunaré). Nas microrregiões de
Tucuruí, Paragominas e Conceição do Araguaia são encontrados os maiores Polos
da atividade (BRABO, 2014).
Ainda, de acordo com Brabo (2014) os principais problemas enfrentados pelos
piscicultores do estado do Pará são: baixa qualidade genética, número de espécies e
regularidade no fornecimento de formas jovens, insuficiência de assistência técnica/
capacitação de produtores para adotar BPM, dificuldade de legalização (Licenciamento
Ambiental), crédito, carência de maior organização social dos piscicultores; aquisição
de insumos (incluindo ração), comercialização, falta de escalonamento na produção,
concorrência com os peixes do extrativismo, falta de planejamento de despesca e
administração inadequada (planejamento, controles zootécnico e/ou econômico).
Em relação aos aspectos legais mais recentes, constam: a) Resolução SEMA Nº 7
de 12/02/2019 (Publicada no DOE–PA em 18/02/2019), que visa “Estabelecer normas
e critérios para o licenciamento ambiental da atividade de aquicultura e maricultura”
(Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=374938); b) Portaria ADEPARA
Nº 1 de 04/01/2018 (Publicada no DOE–PA em 05/01/2018), que “Dispõe sobre os
procedimentos para o transporte e comercialização de pescado fresco em todo o
território paraense” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=355169).
No estado do Tocantins a produção de peixes alcançou, em 2018, 14.600 t, sendo
100 t de tilápia (MEDEIROS, 2019). Nesse mesmo ano deu-se a regulamentação da
produção de TTR em lagos artificiais, tais como no Reservatório da hidrelétrica do
Rio Tocantins (com outorga para produzir 200 mil t) (MEDEIROS, 2019), com vários
processos de licença em tramitação (G1.TV Anhanguera TO. Jornal do Campo TO,
2019).
A Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) aponta que, com a aprovação
da produção de TTR nos reservatórios estaduais espera-se movimentar cerca de 1,4
bilhões/ano, favorecidas também por incentivos fiscais do governo estadual e pela
estrutura logística já disponível (ferrovia Norte-Sul) (SANTANA JR, 2019). Santana
Jr (2019) também relatou que a emissão do licenciamento de criação de tilápia será
de responsabilidade do Instituto Natureza do Tocantins (NATURATINS), do Governo
do Estado do Tocantins, e iniciada no Reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
179
Luís Eduardo Magalhães (também conhecida como UHE do Lajeado), localizada
no rio Tocantins entre os municípios de Miracema do Tocantins e Lajeado (G1.TV
Anhanguera TO. Jornal do Campo TO, 2019).
O NATURATINS exige a adoção de processo de reversão sexual (machos) para
a liberação de licenças de TTR nos lagos do estado (G1.TV Anhanguera TO. Jornal
do Campo TO, 2019). A Associação de pescadores de Brejinho do Nazaré, município
de Brejinho do Nazaré (situado à margem esquerda do rio Tocantins e à direita do
córrego Brejinho - região Central do estado), também direcionará as atividades de
piscicultura para TTR (G1.TV Anhanguera TO. Jornal do Campo TO, 2019).
Em Brejinho do Nazaré encontra-se a Fazenda Aquabel Piscicultura que, em
parceria com a multinacional norueguesa, GenoMar Genetics, viabiliza alevinos de
tilápia para diferentes regiões produtoras do país e exterior (G1.TV Anhanguera TO.
Jornal do Campo TO, 2019; GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS. PORTAL
TOCANTINS, 2019). A mesma multinacional está negociando com o governo estadual
a instalação de um centro de melhoramento genético de tilápia no município de Monte
do Carmo (região Central do estado) (GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS.
PORTAL TOCANTINS, 2019).
O maior entrave para a piscicultura no estado é a liberação de licenças.
Considerando os aspectos legais estaduais mais recentes, citam-se: a) Resolução
COEMA/TO nº 88 de 05/12/2018 (Publicado no DOE – TO em 07/12/2018), que “Dispõe
sobre o Licenciamento Ambiental da Aquicultura no Estado do Tocantins” (Fonte:
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=370992); b) Portaria NATURATINS Nº 97
de 02/04/2018 (Publicado no DOE – TO em 10/04/2018) que “Estabelece normas
e procedimentos de licenciamento ambiental para o trânsito e comercialização de
pescado” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=358869).
Nos estados do Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima não foram encontrados
registros de ocorrência do sistema de produção de TTR.
3 | TTR NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO DA REGIÃO NORDESTE
Na região Nordeste o sistema de produção de TTR foi encontrado em todas as
unidades da federação.
O estado do Alagoas produziu 8.250 t de peixes, sendo 6.600 t tilápia, em 2018
(MEDEIROS, 2019). A atividade de criação de TTR foi iniciada em dezembro de 2003
pela Associação dos Trabalhadores Rurais da Fazenda Nova Esperança, no Alto
Sertão Alagoano, gerando fonte de renda para famílias do município do Olho d'Água
do Casado; utilizando água do Rio São Francisco e contando com investimento inicial
do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) (233 TR,
150 mil alevinos, ração, instalação e assistência técnica) e com a primeira despesca
realizada em fevereiro/2004 (23 t) (CARNEIRO, 2004).
Trombeta et al. (2011) sinalizaram atividades do Projeto ALAGOAS MAIS PEIXE
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
180
(SEAGRI/AL), cujo objetivo foi a "diversificação da atividade econômica e a redução
das desigualdades e conflitos sociais, por meio da estruturação de uma cadeia
produtiva sinérgica e complementar à atividade sucroalcooleira, com a utilização
da tecnologia de cultivo da tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) em tanques-rede
nos reservatórios hídricos destinados a irrigação da cultura canavieira". As áreas
indicadas para a atuação desse projeto foram locais com barragens (capacidade de
suporte: 60 TR/barragem).
Segundo a Secretaria de Estado da Agricultura do Estado de Alagoas (SEAGRI),
as maiores barragens do estado se encontravam no litoral e na Zona da Mata
Alagoana (BRASIL. GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS, 2019). O Governo
estadual incentivou a produção de TTR para ribeirinhos, via Programa de criação de
peixes em módulos de TR e em 2015 já haviam sido entregues 27 mil alevinos de
tilápia revertidas sexualmente para os módulos Santa Clotilde, Santo Antônio e São
João, localizados, respectivamente, nos municípios de Rio Largo, Boca da Mata e
Limoeiro de Anadia (BRASIL. GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS, 2015).
Em relação aos principais gargalos da atividade no estado, citam-se:
regularização ambiental, escoamento (estradas) e reversão sexual (MEDEIROS,
2019; CARNEIRO, 2004). No tocante à legislação mais atual citam-se: a) Resolução
CEMACT Nº 7841 de 30/11/2016 (Publicado no DOE – AL em 19/12/2016) que
“Dispõe sobre os procedimentos para o cadastro e para a obtenção de licença para as
atividades de uso e manejo de fauna silvestre nativa e exótica em condição ex situ, a
serem observados dentro das políticas de gestão, controle e manejo de competência
do Estado de Alagoas” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=333776).
No estado da Bahia foram produzidas 30.460 t de peixes, sendo 24.600 t de tilápia
(MEDEIROS, 2019). Destacam-se os dois Polos produtores com predominância de TTR
encontrados em: a) Itaparica (Nordeste do estado) com região preponderantemente
de pequenos e médios empresários e alguns produtores familiares (associações);
e b) Lago Sobradinho (Norte do estado) (MEDEIROS, 2019). O município de
Glória, localizado na divisa dos estados da Bahia, Pernambuco e Alagoas, possui
concentração de TTR (SEBRAE, 2016).
No rio São Francisco, a criação estadual de TTR vem sendo realizada
principalmente em reservatórios, tais como Itaparica, Paulo Afonso, Xingó e
Xingozinho, construídos para geração de energia (SUSSEL, 2010). A região de Paulo
Afonso vem sendo referenciada como dispersora do sistema de TTR no Nordeste
(KUBITZA, 2011).
Atividades de TTR também foram realizadas pela Associação de criação de
tilápia (cadastradas pela Empresa BAHIA-PESCA S/A no Programa Boa Pesca), no
município de Casa Nova (distrito de São Luiz) no Submédio São Francisco, em área
de rápido crescimento da atividade (SANTOS, 2010) realizada no reservatório de
Sobradinho; área indicada para a criação pela Companhia de Desenvolvimento dos
Vales do São Francisco e do Parnaíba (SANTOS, 2010).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
181
Registrou-se também a implantação do projeto de piscicultura na barragem
de Ribeirão do Saloméa, no município de Floresta Azul (SAMPAIO; BRAGA, 2005).
Recentemente, o distrito de Ipauçú, na zona rural do município de Feira de Santana
(Centro-Norte Baiano), vem direcionando atividades para a criação de TTR no rio
Jacuípe, em parceria entre a Associação dos produtores rurais e pescadores do
distrito de Ipauçú, a Prefeitura Municipal de Feira de Santana e a Fundação Alphaville,
como alternativa de renda para 20 famílias de pescadores ribeirinhos (G1. TV Bahia
BA. Bahia Rural, 2018).
Entre os principais entraves estaduais, citam-se: tributação, fornecimento
alevinos, licenciamento ambiental, processamento, insumos variáveis, ração, frete e
materiais de manutenção, acesso ao crédito e a programas do governo e incerteza
dos custos (MEDEIROS, 2019; SANTOS, 2010). Em relação à legislação estadual
mais recente, destacam-se: a) Decreto Nº 18.218 de 26/01/2018 (Publicado no DOEBA em 27/01/2018), que “Altera o Regulamento da Lei nº 10.431, de 20/12/2006, que
instituiu a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da
Bahia, e da Lei nº 11.612, de 08/10/2009, que dispõe sobre a Política Estadual de
Recursos Hídricos e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
aprovado pelo Decreto nº 14.024, de 06/06/2012” (Fonte: https://www.legisweb.com.
br/legislacao/?id=356119); b) Decreto Nº 17.921 de 04/09/2017 (Publicado no DOE–
BA em 05/09/2017), que “Altera o Regulamento da Lei nº 10.431, de 20/12/2006, que
instituiu a Política de Meio Ambiente e de Proteção à Biodiversidade do Estado da
Bahia, e da Lei nº 11.612, de 08“/10/2009, que dispõe sobre a Política Estadual de
Recursos Hídricos e o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
aprovados pelo Decreto nº 14.024, de 06/06/2012” (Fonte: https://www.legisweb.com.
br/legislacao/?id=350048).
O estado do Ceará foi responsável pela produção de 4.900 t de peixes em
2018; toda de tilápia (MEDEIROS, 2019). A produção de TTR no estado prevalece
nos reservatórios de Castanhão (na Bacia do Médio Jaguaribe) e de Orós (no Alto
Jaguaribe), ambos no rio Jaguaribe e importantes Polos nacionais, utilizados como
açudes de dessedentação humana.
Entre os principais municípios produtores de TTR citam-se Jaguaribara e Orós
(SEBRAE, 2016). Porém, a atividade no reservatório do Castanhão encontra-se
comprometida, pelo baixo volume de água desse açude (5,45% do volume total, em
12/06/2019) (BRASIL. GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ, 2019a), consequência
de severas estiagens sofridas recentemente e pela eutrofização existente (BARROSO
et al., 2018), gerando drástica diminuição da produção (superior a 90%) (MEDEIROS,
2019).
O reservatório de Orós conta com volume atual de 9,08% (BRASIL. GOVERNO
DO ESTADO DO CEARÁ, 2019b). Entre as principais demandas estaduais, citamse: novas tecnologias de reúso de água e de produção em sistemas Bioflocos e
recuperação dos reservatórios (MEDEIROS, 2019). O principal problema é: migração
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
182
de piscicultores (escassez de água, ausência de monitoramento da qualidade da água
e de assistência técnica, processamento, comercialização/mercado, licenciamento
ambiental e acesso) (BARROSO et al., 2018). Barroso et al. (2018) relata possibilidade
da retomada da produção nos açudes pelo aumento do volume de água esperado
pela transposição do Rio São Francisco para o Rio Jaguaribe.
O sistema de TTR também ocorre em áreas do município de Pentecoste (100150 TR) (DNOCS, 2013). Detalhamentos das atividades nos Polos do estado do Ceará
foram disponibilizados por Barroso et al. (2018). Quanto aos aspectos legais mais
recentes do estado, citam-se: a) Resolução COEMA Nº 2 DE 11/04/2019 (Publicado no
DOE – CE em 17/05/2019), que “Dispõe sobre os procedimentos, critérios, parâmetros
e custos aplicados aos processos de licenciamento e autorização ambiental no
âmbito da Superintendência Estadual do Meio Ambiente- SEMACE” (Fonte: https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=377738); b) Decreto Nº 32.322 de 05/09/2017
(Publicado no DOE – CE em 06/09/2017), que “Dispõe sobre a outorga para obras de
interferência hídrica para a construção de poços na vigência do Ato Declaratório nº
01/2015/SRH de situação crítica de escassez hídrica em todo o estado do Ceará, e
dá outras providências” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=369090).
O estado do Maranhão foi responsável por 39.050 t de peixes em 2018, sendo
3.500 t de tilápia (MEDEIROS, 2019). O Governo do estado, por meio da Secretaria
de Agricultura, Pecuária e Pesca (SAGRIMA), está realizando a montagem de TR do
projeto Piscicultura Familiar em cinco municípios do estado, beneficiando cerca de 90
famílias (GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2016). Os TR dos municípios de
Pindaré-Mirim, Magalhães de Almeida, Estreito e Pastos Bons, Tuntum e Joselândia
já estão em funcionamento (GOVERNO DO ESTADO DO MARANHÃO, 2016).
Existe expansão da atividade em todo o estado, destacando-se os municípios
de Grajaú, Pastos Bons, Tuntum, Joselândia, e Magalhães de Almeida (MEDEIROS,
2019). Ações entre a Prefeitura Municipal de Grajaú, CODEVASF e o Governo
Estadual (Programa “Mais Produção”) incentivam a produção de TTR no município
de Grajaú, com cerca de 36 TR na Lagoa das Flores que beneficiam 15 famílias de
assentados associados (Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rVo_5d3MiVc).
Entre os principais problemas, citam-se: licenciamento ambiental, qualidade,
mercado, conhecimento técnico e custo de produção (MEDEIROS, 2019; SILVA, 2016).
No relacionado aos aspectos legais mais recentes, citam-se: a) Resolução CONSEMA
Nº 024/2017 (Publicada no DOE - MA em 02/03/2017), que “Revoga a Resolução n°
19/2016 e define as atividades, obras e empreendimentos que causam ou possam
causar impacto ambiental local, fixa normas gerais de cooperação federativa nas
ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à
proteção das paisagens notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição
em qualquer de suas formas em conformidade com o previsto na Lei Complementar
nº 140/2011 e dá outras providências”, com atenção à aquicultura no especificado em
seu Anexo 1 “Atividades de Impacto Ambiental Local Nível I - USO DE RECURSOS
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
183
NATURAIS” (Fonte: http://www.sema.ma.gov.br/arquivos/1487960937.pdf).
Em 2018, o estado da Paraíba respondeu por 2.930 t de peixes, com 2.900
t de tilápia (MEDEIROS, 2019). No estado registrou-se criação em TTR na sua
maioria realizada por microempreendimentos. O empreendimento da Associação dos
Piscicultores e Aquicultores do Município de Araçagi, às margens do açude Araçagi
(Assentamento Santa Lúcia), possui 168 TR e conta com 10 pescadores e assistência
tecnológica, gerencial e comercial da PEASA/UAEAg/UFCG-ATECEL (MELO et al.,
2015).
Gorlach-Lira et al. (2013) indicaram a presença de TTR no reservatório Padre
Azevedo, no Distrito Municipal de Sape, o qual é utilizado principalmente para irrigação
de plantações de cana-de-açúcar, sendo a piscicultura em TR uma atividade extra.
Há ocorrência de 300 TR (V = 4 m3 cada) no Município de Santa Helena, no sertão
Paraibano, onde o sistema de produção TTR também vem sendo adotado pelos
piscicultores da Associação dos Criadores de Peixe Tanque de Rede, servindo como
modelo para agricultores familiares de Cajazeiras (GORLACH-LIRA et al., 2013; PB
Agora, 2014). A Associação dos Piscicultores e Pescadores de Mãe d’Água, do Distrito
de Santa Maria Goreti (Município de Mãe d’Água), contava com oito piscicultores e
25 TR (produção de 5 t de tilápia/ciclo (6-7 meses)), e previam expansão da atividade
(SENAR/PB, 2015).
Melo et al. (2015) indicaram que o maior gargalo para o sistema de produção de
TTR no estado é a obtenção de alevinos. Quanto aos aspectos legais mais recentes
do estado, citam-se: a) Decreto Nº 38774 de 31/10/2018 (Publicado no DOE–PB em
01/11/2018), que “Institui o Cadastro de Estabelecimento de Produtor Rural, e dá
outras providências”, que em seu Art. 4º trata da piscicultura. (Fonte: https://www.
legisweb.com.br/legislacao/?id=368911); b) Resolução Nº 1 DE 18/12/2017, que
“Dispõe sobre o estabelecimento de restrições ao uso da água do rio Paraíba e dá
outras providências” (Fonte: http://www.aesa.pb.gov.br/aesa-website/wp-content/
uploads/2018/02/Resolu%C3%A7%C3%A3o-N%C2%BA-01-de-18-de-Dezembrode-2017.pdf).
No estado de Pernambuco foi registrada, em 2018, a produção de 23.470 t de
peixes, destes 23.000 t de tilápia (MEDEIROS, 2019). O estado é também pertencente
à área de influência do Polo de tilapicultura do Submédio São Francisco (BARROSO
et al., 2018). Áreas com TTR são encontradas nessa região, como as do Polo de
Itaparica, localizado no Lago de Itaparica (UHE Luiz Gonzaga), que conta com os
seguintes municípios produtores: Petrolândia, Jatobá, Itacuruba, Belém do São
Francisco e Floresta (MEDEIROS, 2019; DIÁRIO DE PERNAMBUCO, 2017; VIDAL,
2016; BARROSO; ANDRÉS, 2014).
Nesse Polo também estão presentes grandes projetos de piscicultura (Pescanova
(espanhola) e Netuno (nacional)), com fazendas de criação com TR de grande volume
(240 m3), como também médios e pequenos produtores de base familiar (MEDEIROS,
2019; BARROSO; ANDRÉS, 2014). A TTR vem sendo criada por produtores da
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
184
Associação dos Piscicultores de Serrote Preto, no Semiárido Pernambucano,
município de Petrolândia, no âmbito do Programa Estadual ao Pequeno Produtor
Rural (ProRural) (Banco Mundial e o Governo de Pernambuco) (EcoFarm, 2015).
Outro Polo produtor de TTR está localizado na Zona da Mata, com grande número de
pequenos produtores (MEDEIROS, 2019).
Os grandes investimentos são facilitados também pela presença do Porto de
Suape (BLOG DE JAMILDO, 2006). Com o problema hídrico ocorrido no reservatório
Castanhão (CE), piscicultores tem migrado desse local para o estado (BARROSO et
al., 2018). No final de 2017 registrou-se produção de TTR na barragem localizada no
Riacho do Sal (Agreste Meridional de Pernambuco), onde produtores familiares de
Tupanatinga receberam suporte do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA) (IPA,
2017).
O ProRural, a Associação de Aquicultura do Rio São Francisco (PEIXE SF) e o
Instituto Agronômico de Pernambuco, indicam como meta para 2019 a construção de
uma Unidade de Processamento de Pescado de âmbito regional (MEDEIROS, 2019).
A produção estadual está voltada para o interior e para Fortaleza (CE) e Recife (PE)
(MEDEIROS, 2019). Com a produção da pesca estagnada no Estado, a aquicultura é
alternativa de emprego e renda (ALEPE, 2019).
Entre os principais gargalos do estado, relatam-se: falta de política pública
de apoio ao desenvolvimento das atividades de aquicultura; acesso ao crédito;
organização/estrutura da cadeia produtiva; sanidade; sustentabilidade da atividade;
licenciamento ambiental; cessão de uso das áreas aquícolas (outorga) (ALEPE, 2019;
SANTOS, 2019; MEDEIROS, 2019). No primeiro semestre de 2019 foi instalada
a Comissão Especial de Incentivo ao Desenvolvimento da Política Estadual da
Aquicultura, visando estabelecer política para atender às demandas de produtores
do estado (ALEPE, 2019). Outras ações estaduais para apoiar a assistência técnica,
financiamento e comercialização, entre outras políticas públicas para a aquicultura,
também encontram-se em andamento em 2019 (SANTOS,2019).
No que tange aos aspectos legais mais recentes, citam-se: a) apresentação do
Projeto de Lei n° 31/2019, que “Visa estabelecer regras específicas de licenciamento
desta atividade” (ALEPE, 2019) - viabilizará legislação estadual abordando também
os aspectos de licenciamento ambiental (SANTOS, 2019); b) Decreto nº 47.541 (de
03/06/2019) (Publicado no DOE de 04/06/2019) que “Modifica o Decreto nº 44.650,
de 30/06/2017, que regulamenta a Lei nº 15.730, de 17/03/2016, que dispõe sobre
o ICMS, relativamente à base de cálculo do imposto antecipado devido na aquisição
de mercadoria em outra Unidade da Federação.” (Fonte: https://www.sefaz.pe.gov.
br/Legislacao/Tributaria/Documents/Legislacao/Decretos/2019/Dec47541_2019.
htm); c) Decreto nº 44.650 (de 30/06/2017) (Publicado no DOE de 01/07/2017)
(alterado posteriormente por vários decretos, sendo o mais recente Decreto nº
47.541 (de 03/06/2019))-que regulamenta a Lei nº 15.730, de 17/03/2016, que
dispõe sobre o ICMS (Fonte: https://www.sefaz.pe.gov.br/Legislacao/Tributaria/
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
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Documents/legislacao/44650/texto/Dec44650_2017.htm); d) Lei Nº 16.001, de
18/04/2017 (Publicado no DOE - PE em 19/04/2017), que “Altera a Lei nº 13.361,
de 13 de dezembro de 2007, que institui o Cadastro Técnico Estadual de Atividades
Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e a Taxa de
Controle e Fiscalização Ambiental do Estado de Pernambuco-TFAPE.” (Fonte:
http://www.cprh.pe.gov.br/ARQUIVOS_ANEXO/Lei%20n%2016.001_2017%20
-%20Destinacao%20de%2035_%20da%20TFAPE%20para%20Incentivo%20a%20
Fiscalizacao.pdf;140202;20170830.pdf).
A produção de peixes no estado do Piauí foi de 19.310 t, em 2018, sendo 10.000 t
de tilápia (MEDEIROS, 2019). Os alevinos vêm sendo adquiridos predominantemente
da empresa AQUABEL (ROTTA et al., 2017). A piscicultura em TR foi iniciada no
estado em 2000 (em barragens de maior porte, por associações e/ou cooperativas
utilizando baixa tecnologia e TR de pequeno volume (PV)) e se mantém predominante,
e em enorme tendência de expansão nas barragens, açudes e lagos naturais.
Especialmente na barragem de Boa Esperança, em Guadalupe, espera-se maior
produção (capacidade de suporte de 24 mil t/ano, estimada pela Agência Nacional de
Águas (ANA)) (MEDEIROS, 2019; ROTTA et al., 2017).
Segundo Passador et al. (2009) o fortalecimento da base produtiva da Piscicultura
no Vale do Parnaíba foi prospectado pela CODEVASF, que previu ações abrangendo
reforma e ampliação de Estações de pisciculturas públicas do estado e a implantação
de sete projetos de piscicultura em TR (com assistência técnica) para os municípios
de Campo Maior (Barragem de Corredores), Valença do Piauí (Barragem Mesa de
Pedra), São Francisco do Piauí (Barragem de Salinas), São João do Piauí (Barragem
Jenipapo), São Raimundo Nonato (Barragem Petrônio Portela), Bocaina (Barragem
Bocaina) e São Miguel do Fidalgo (Lagoa do Fidalgo).
Rotta et al. (2017) indicaram como fonte da água do sistema de produção de TTR
as barragens/açudes, com uso de TR de PV (4 m3), produtividade média de 200 kg/
TR, tamanho comercial da tilápia de 600-800 g e ciclo de 6 meses (até 2 ciclos/ano, na
disponibilidade de alevinos). Neles, predominam a ausência de BPM (monitoramento
da qualidade da água, troca/reposição de água) (ROTTA et al., 2017). Identificaramse áreas produtoras de alevinos nos Territórios de Entre Rios e dos Cocais, sendo
o município de Nazária seu maior produtor, e a presença de uma indústria de ração
(Fri-Ribe) no estado (ROTTA et al., 2017).
Na região sudeste do Piauí, nos municípios de Bocaina e Sussuapara, também
foi encontrado TTR (ARAÚJO; MORAES, 2010). Segundo esses autores, em
Bocaina a criação vem sendo praticada por piscicultores da Cooperativa Aquícola
Regional de Picos (COAP; cooperativa com fins lucrativos cujo principal objetivo é a
ampliação da piscicultura na região de Bocaina), com a assistência da CODEVASF.
Os mesmos autores relataram que no município de Sussuapara os piscicultores não
recebem assistência técnica. O sistema de TTR também foi registrado no âmbito das
atividades de agricultores familiares do Projeto Viva o Semiárido, no município de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
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Dom Inocêncio (comunidade Moreira), Semiárido Piauiense (CIDADE VERDE.COM,
2017). O projeto conta com TR de terminação, TR berçários e plataforma de manejo,
tendo sido iniciado pela CODEVASF com 30 TR; atualmente possui parcerias das
EMATER, Prefeitura Municipal, Banco do Nordeste e Governo do Estado (CIDADE
VERDE.COM, 2017).
De forma geral, entre as principais demandas/problemas observados no estado
(ROTTA et al., 2017; ARAUJO; MORAES, 2010), citam-se: custos de insumos (alevinos
em formas jovens, ração, produtos veterinários), fornecedores de equipamentos/
materiais, legalização, inspeção sanitária (abate e comercialização), crédito, custo
inferior dos peixes provenientes de outros estados, assistência técnica.
Quanto aos aspectos legais mais recentes, citam-se: a) Lei Nº 7193 de 08/04/2019
(Publicado no DOE - PI em 08/042019) que “Dispõe sobre o consumo de matériaprima florestal e as modalidades de cumprimento da reposição florestal obrigatória no
Estado do Piauí, previstos no art. 33, § 1º, da Lei Federal nº 12.651, de 25/05/2012”
(Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=376537); b) Decreto Nº 17557 de
21/12/2017 (Publicado no DOE-PI em 21/12/2017) que “Institui a Licença Ambiental
por Declaração e estabelece critérios para agilizar e simplificar os procedimentos de
licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos que implementem planos
e programas voluntários de gestão ambiental no âmbito do Programa Ativo Verde,
com fundamento no art. 7º da Lei Estadual nº 6.947, de 09 de janeiro de 2017 e na
Lei Estadual nº 7.033, de 28/08/2017, e dá outras providências.” (Fonte: https://www.
legisweb.com.br/legislacao/?id=354251); c) Lei Estadual nº 7.033, de 28/08/2017 que
“Institui o Programa Ativo Verde e dá outras providências.“ (Fonte: http://servleg.al.pi.
gov.br:9080/ALEPI/sapl_documentos/norma_juridica/4193_texto_integral);
d)
Lei
Estadual nº 6.947, de 09 /01/2017 (Publicado no DOE-PI em 10/01/2017) que “Dispõe
sobre as diretrizes do licenciamento ambiental estadual, estabelece os prazos e
procedimentos para a emissão de licenças, declarações e autorizações ambientais e
dá outras providências.” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=335723).
No estado do Rio Grande do Norte, em 2018, foram produzidas 2.300 t. de
tilápia, das 2.410 t de peixes produzidas (MEDEIROS, 2019). As criações de tilápia em
TR e em viveiros estão estabelecidas em açudes do Norte riograndense (CORTEZ;
MAGALHÃES, 2017). A piscicultura em TR foi iniciada em 1997 pelo programa Própeixe, da EMPARN, como opção para o agricultor familiar (geração de emprego e
renda, qualidade de vida, desenvolvimento local) (BARBOSA; MOURA; SANTOS,
2010; EMBRAPA, 2007). Nesse programa foram iniciadas criações experimentais de
TTR nos municípios São Rafael e Apodi, com posterior consolidação neste último
(AGÊNCIA SEBRAE DE NOTICIAS, 2013; BARBOSA; MOURA; SANTOS, 2010).
A Associação de Aquicultores de Apodi (AQUAPO), que conta com piscicultores
de TTR da Barragem de Santa Cruz, em Apodi, vêm fornecendo peixes para merendas
escolares, no âmbito de ações do SEBRAE/RN em conjunto com as Secretarias
Municipais de Ensino de municípios da região Oeste do Estado (AGÊNCIA SEBRAE
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
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DE NOTICIAS, 2013). Ainda, considerando ações de TTR no mesmo município, citamse as do Sítio Carpina, que implantaram um sistema consorciado (piscicultura (TTR)
– fruticultura – grãos) com suporte do SEBRAE, indicando potencial reúso de 70% da
água dos TR para a atividade agropecuária (plantação e pastagem), com redução no
consumo de água (50%) e energia (SEBRAE, 2018); provavelmente decorrente de
ações no Projeto de Piscicultura do Sebrae/RN, que estimulou um sistema integrado
de criação de peixes com a agropecuária (AIRES, 2014).
A Estação de Piscicultura Estevão de Oliveira, município de Caicó e subordinada
a Coordenadoria Estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS) no Rio Grande Norte (CEST/RN), vinha disponibilizando alevinos de tilápia
para produtores do estado (DNOCS, 2007). A mesma estação promoveu a difusão
de tecnologias de criação em TTR (revertidas), com ações técnicas realizadas pela
Coordenação de Pesca e Aquicultura da Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico e
Produção do DNOCS (DNOCS, 2007).
Rocha (2006) avaliou a sustentabilidade e a capacidade de suporte de quatro
reservatórios do estado, a saber de Gargalheiras, Cruzeta, Itans e Boqueirão
de Parelhas, localizados na Bacia de Piranhas-Assú na região do Seridó (região
Semiárida), identificando condições favoráveis para TTR somente para o reservatório
de Boqueirão de Parelhas.
Para o licenciamento ambiental da atividade de piscicultura em TR para
projetos experimentais no estado, citam-se documentos especificados pelo Instituto
de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) (Disponíveis em: http://
adcon.rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000193050.PDF;
revisado
em 25/01/2019). O IDEMA também tornou acessível as instruções técnicas para
apresentação de projetos de piscicultura em TR, conforme o tipo de licença, em
documentos emitidos em 28/11/2014 (sujeitos a revisões periódicas).
Em se tratando dos aspectos legais ambientais mais recentes, citam-se: a) Lei
Complementar nº 641, de 17/12/2018, que “Altera a Lei Complementar Estadual nº
272, de 03/03/2004, que regulamenta os artigos 150 e 154 da Constituição Estadual,
revoga as Leis Complementares Estaduais nº 140, de 26/01/1996, e nº 148, de
26/12/1996, dispõe sobre a Política e o Sistema Estadual do Meio Ambiente, as
infrações e sanções administrativas ambientais, as unidades estaduais de conservação
da natureza, institui medidas compensatórias ambientais, e dá outras providências”
(Fonte:
http://www.adcon.rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000195625.
PDF); b) Lei Compl. nº 590, de 21/02/2017, que “Altera da Lei Complementar nº 272,
de 03/03/2004, que institui a Política Estadual do Meio Ambiente para revogar o §2º
do art.50, acrescer o art.50-A e dá outras providências” (Fonte: http://www.adcon.
rn.gov.br/ACERVO/idema/DOC/DOC000000000195624.PDF).
No estado de Sergipe, em 2018, foram produzidas 3.550 t de peixes, sendo
1000 t tilápia (MEDEIROS, 2018). A piscicultura realizada na região do Baixo São
Francisco (Polo com áreas também em Alagoas) vem sendo sinalizada como a de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
188
maior potencial para o sistema superintensivo de TR (DESTAQUE COMUNICAÇÃO,
2015; INFONET, 2002). Desde 1999 a atividade de piscicultura já havia sido apontada
como uma alternativa para a atividade nessa região, apresentada como opção pelo
Projeto “Emergência para o Baixo São Francisco”, contratado pela CDVSF (ARAÚJO;
SÁ, 2008).
De forma geral, os municípios mais propícios para as atividades de aquicultura,
em sistemas de produção em viveiro ou TR, são os localizados às margens do Rio
São Francisco (entre eles, Amparo do São Francisco, Brejo Grande, Canindé do São
Francisco, Gararu, Ilha das Flores, Neópolis, Nossa Senhora de Lourdes, Porto da
Folha, Poço Redondo, Propriá) e os localizados em distritos de irrigação/perímetros
irrigados (entre eles, Itabaiana) (COHIDRO, 2019; SANTOS et al., 2017; DESTAQUE
COMUNICAÇÃO, 2015; TV SERGIPE, 2012).
A CODEVASF manteve seis estações de piscicultura, com pacotes tecnológicos
para reprodução/alevinagem, em apoio ao Programa de Desenvolvimento da
Aquicultura do Estado (DESTAQUE COMUNICAÇÃO, 2015). Entre elas, a estação
de Piscicultura do município de Neópolis (povoado Betume) já dispunha, em 2002, de
fábrica de ração e TR para a reprodução de tilápias (INFONET, 2002).
Os relatos sobre piscicultura e a produção e comercialização de mais de 400
t de peixes (incluindo TTR) se intensificaram a partir de 2012 (TV SERGIPE. 2012).
A produção atual de TTR do estado decorre também das atividades do Projeto
de Piscicultura, desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento de Recursos
Hídricos e Irrigação de SE (COHIDRO),vinculada à SEAGRI (Governo do Estado de
Sergipe), que elaborou projetos para todo o estado, incluindo para áreas do interior,
onde acompanhou pequenos produtores, prestando assistência técnica/treinamentos,
orientando uso de novas tecnologias e comercialização (GOVERNO DO ESTADO DE
SERGIPE. COHIDRO, 2019; 2018; DESTAQUE COMUNICAÇÃO, 2015).
Inicialmente a atividade de piscicultura foi apresentada como alternativa para
pequenos produtores (fonte de renda alternativa a problemas com a pesca artesanal)
(PASSADOR et al., 2006), crescendo muito em todo o estado. No âmbito desse
projeto de piscicultura relatou-se a participação inicial de 58 famílias com TTR, que
continua sendo realizada pelo Projeto de produção de tilápias da Associação de
Pescadores da Barragem de Campo do Brito (ASPEBRITO), localizado em Serra das
Minas (município de Campo do Brito) na barragem Poção da Ribeira (originada pelo
barramento do Rio Traíras) às margens do Rio das Pedras (COHIDRO, 2019; SANTOS
et al., 2017; TV SERGIPE, 2012). Nessa localidade há registros de usos múltiplos,
onde a atividade de piscicultura é compartilhada com as de irrigação (principalmente
para o perímetro irrigado de Poção da Ribeira (município de Itabaiana) no Território
Agreste Central -importante centro produtor de hortifrutigranjeiros do estado), com as
de dessedentação humana e lazer (SANTOS et al., 2017; MENDONÇA, 2013).
A produção de TTR foi igualmente encontrada na lagoa do Sangradouro
(município de Pirambu), onde 25 famílias da comunidade de Lagoa Redonda, que
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
189
já haviam iniciado a atividade de criação de TTR com apoio da Secretaria de Estado
da Inclusão e Desenvolvimento Social (SEIDES) do Governo do Estado e assistência
técnica da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (EMDAGRO -
escritório Japaratuba), encontravam-se conduzindo 54 TR juntamente com a atividade
principal (agricultura) (INFONET, 2014).
De forma geral, o peixe produzido no estado de Sergipe vem sendo comercializado
em feiras livres ou supermercados, como também junto à Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB) e prefeituras municipais para uso nas merendas escolares
(DESTAQUE COMUNICAÇÃO, 2015). O estado possui produção de insumos básicos
para uso na atividade (calcário, fertilizantes químicos, fábrica de ração) em Propriá),
como também unidades de beneficiamento de pescado (DESTAQUE COMUNICAÇÃO,
2015; PASSADOR et al., 2006).
Entre os principais gargalos, citam-se: burocracia para cessão de uso,
licenciamentos e regulamentação (DESTAQUE COMUNICAÇÃO, 2015). Espera-se
para 2019 que seja fomentada a produção em pelo menos 1.000 t. (MEDEIROS,
2019). No relacionado aos aspectos legais mais recentes, citam-se: a) Lei Nº 8497 de
28/12/2018 (Publicado no DOE–SE em 04/01/2019), que “Dispõe sobre o Procedimento
de Licenciamento Ambiental no Estado de Sergipe e dá outras providências”. (Fonte:
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=373636).
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações obtidas apontaram desafios e gargalos em todos os estados das
regiões avaliadas, sendo a principal dificuldade, a legalização da atividade. Entre os
principais desafios destacaram-se a deficiência de assistência técnica e extensão
especializada, crédito específico, necessidade de aumentar produção e minimizar
custos, diversificação de canais de comercialização, capacitação e marketing.
O uso do software Aquisys tornar-se-á um instrumento com potencial para
atender a parte das necessidades apontadas, contribuindo principalmente como
apoio para a capacitação e tomada de decisões para os pequenos produtores.
Acrescenta-se ainda que outras informações mais detalhadas sobre licenciamentos
ambientais, entre outros aspectos legais, não foram aqui apresentadas por Unidades
da Federação, por se encontrarem disponíveis, até 2016, em BRASIL. MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE (2016).
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 18
195
CAPÍTULO 19
doi
SISTEMA DE PRODUÇÃO DE TILÁPIA EM TANQUEREDE NAS REGIÕES SUL, SUDESTE E CENTRO OESTE
BRASILEIRA
João Donato Scorvo Filho
Zootecnista, Consultor autônomo
Monte Alegre do Sul, SP.
Célia Maria Dória Frascá-Scorvo
Pesquisadora da APTA Regional Leste Paulista
Monte Alegre do Sul, SP.
Maria Conceição Peres Young Pessoa
Pesquisadora Embrapa Meio Ambiente
Jaguariúna, SP
Marcos Eliseu Losekann
Pesquisador Embrapa Meio Ambiente
Jaguariúna, SP
Rafaella Armentano Moreira
Bolsista PIBIC/CNPq-Embrapa Meio Ambiente
(PCMAN/Projeto BRSAqua)/ Graduanda em
Medicina Veterinária UNIFAJ;
Jaguariúna/SP
Geovanne Amorim Luchini
Bolsista PIBIC/CNPq-Embrapa Meio Ambiente
(PCMAN/Projeto BRSAqua) Graduando Ciências
Biológicas PUCCamp (período: ago-dez/2018);
Ricardo Borghesi
Pesquisador Embrapa Agropecuária Oeste
Dourados, MS
RESUMO:
Este
capítulo
disponibiliza
informações sobre o sistema de produção de
tilápia em tanque-rede (TTR) nas regiões Sul,
Sudeste e Centro Oeste do Brasil, indicando a
presença ou não desse sistema de produção,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
seus principais gargalos/demandas e aspectos
legais. Foram utilizadas diversas fontes de
referências nacionais (literatura técnicocientífica, vídeos de programas agrícolas, entre
outras de interesse ao tema-alvo) e consultas
estaduais para informações em diferentes
esferas governamentais (órgãos, associações,
empresas e instituições nacionais, estaduais,
municipais), como também aos especialistas
do sistema de produção alvo, acrescentando e/
ou validando informações disponibilizadas em
levantamento já realizado.
PALAVRAS CHAVE: aquicultura; Oreochromis
sp.; piscicultura
PRODUCTION SYSTEM OF TILAPIA IN NET
CAGE IN BRAZILIAN SOUTH, SOUTHEAST
AND MIDWEST REGIONS
ABSTRACT: The present chapter provides
information about the production system of
Tilapia in net cage (TTR) in the Southeast,
South and Mid-West regions of Brazil, indicating
the presence, or not, of this production system,
as well as its main lacks/demands and legal
aspects. Several sources of national references
(like technical-scientific literature, videos of
agricultural programs, among others of interest
for the proposal theme) were consulted.
Information enabled by the states in theirs
different governmental levels (like associations,
Capítulo 19
196
enterprises (including municipality ones)) and national institutions were also explored.
On the same way, specialists on production system were also consulted in other to add
and/or validate information already carried out by another preliminary survey.
KEYWORDS: aquaculture; Oreochromis sp.; pisciculture.
1 | INTRODUÇÃO
A tilápia (Oreochromis sp.) é a segunda espécie de peixe mais criada
mundialmente e a mais produzida no Brasil. A produção nacional atende basicamente
ao consumo interno, resultante de vendas diretas ou indiretas, porém com forte
tendência de expansão para vendas internacionais de filés e para a exploração de
seus subprodutos/resíduos, em decorrência de expansão de áreas de criação em todo
o país. Entretanto, para que o país se organize e tenha sucesso na sustentabilidade
da cadeia produtiva da tilápia é necessário o conhecimento sobre as áreas de criação,
seus gargalos e aspectos legais, para a exploração sustentável de seus diferentes
sistemas de produção.
A produção de tilápia em tanques-rede (TTR) é um sistema intensivo que provê o
confinamento dos peixes em tanques-rede de tamanho (volume) e materiais adequados
e variados, dispostos de forma compatível com as características do recurso hídrico,
assegurando condições propícias para obtenção de boa produtividade, a partir da
maior troca de água com o ambiente externo e retenção da ração no seu interior (para
garantir a alimentação adequada) ao mesmo tempo em que permite a remoção de
dejetos. Por essa razão, Boas Práticas de Manejo (BPM) e de Gestão Ambiental são
indispensáveis para garantir não só a eficácia do sistema de produção, mas a sua
sustentabilidade ambiental em diferentes áreas produtoras.
O sistema informatizado de Boas Práticas de Manejo (BPM) e de Gestão
Ambiental da Aquicultura (Aquisys v.1.3) foi desenvolvido pela Embrapa e APTA
Regional do Leste Paulista, considerando o sistema de produção de tilápia em viveiro
escavado. Um novo projeto de pesquisa está em andamento para disponibilizar uma
nova versão do Aquisys, que considerará o sistema de produção de tilápia em tanquerede.
Um levantamento preliminar expedito de áreas estaduais brasileiras produtoras
neste sistema de produção já foi realizado (MOREIRA et al., 2019), no qual constatou-
se a presença do sistema de produção de tilápia em tanque-rede em todas as regiões
brasileiras. Entretanto, esse levantamento deve ser ampliado e atualizado com novas
informações, detalhando as áreas produtoras presentes nas Unidades da Federação.
Este capítulo disponibiliza informações sobre o sistema de produção de tilápia
em tanque-rede (TTR) nas regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
197
2 | A ATIVIDADE DE TTR NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO DA REGIÃO SUL
O Paraná é o maior produtorde peixe de criação, onde em 2018 produziu 123.00
t de tilápia. Nesse estado, Brol e Molinari (2017) citam o Polo localizado no Norte
do estado, constituído por 65municípios, atendidos pelo Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural, os quais produziram em tanques-rede (TR)
(geralmente, de 6m³ de volume (V)) 14% da produção total de tilápia do estado, em
2015 (11.599,7 t), nas represas do rio Paranapanema (apud EMATER, 2016).
Considerando o potencial em espelhos d´água das usinas hidrelétricas do
estado, onde somente no Reservatório da Usina Hidrelétrica de Itaipu é estimada
uma capacidade de suporte (CS) para produção de 400 mil t de peixes, o estado
tende a ampliar sua produção de TTR (FAEP, 2019). Conforme Feiden et al. (2015),
a região do Centro de Desenvolvimento e Difusão de Tecnologia (CDT) IguaçuReservatório de Salto Caxias (Reservatório do Rio Iguaçu) é propícia para a atividade
de TTR. Cavallieri (2016) confirmou a viabilidade econômica e financeira da produção
de TTR, constatando retorno financeiro à capacidade máxima da Cooperativa de
Piscicultores de Nova Prata do Iguaçu (período < 1 ano). Viana (2003) também
indicou a existência de viabilidade técnica para a criação de TTR de pequeno volume
na região Metropolitana de Curitiba (municípios de Pinhais e Mandirituba).
Entre os principais desafios para o desenvolvimento da piscicultura em tanque-
rede no Paraná citam-se: melhorar a distribuição da atividade em todas as regiões,
assistência técnica, extensão e profissionalização e procedimento para obtenção do
licenciamento ambiental, que facilitará oportunidades ao crédito (MEDEIROS, 2019;
BROL; MOLINARI, 2017).
Entre os aspectos legais mais recentes vigentes no estado relatam-se: a) Portaria
IAP Nº 57 de 12/03/2018 (Publicado no DOE – PR em 13/03/2018), que “Dispõe
sobre a localização das atividades de aquicultura e adota outras providências”.
(Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=357579); b) Portaria IAP Nº 215
de 21/08/2018 (Publicado no DOE – PR em 23/08/2018), que “Estabelece normas
e critérios para o licenciamento ambiental da atividade de aquicultura em águas
doces, salobras e salinas, para os demais organismos aquáticos e semiaquáticos
nas diferentes formas de desenvolvimento, nos termos que especifica.” (Fonte:
https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=366475); c) Resolução SEMA Nº 7 de
12/02/2019 (Publicado no DOE – PR em 18/02/2019), que visa “Estabelecer normas
e critérios para o licenciamento ambiental da atividade de aquicultura e maricultura”.
(Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=374938). O Instituto Ambiental
do Paraná (IPA, 2012) apontou reunião realizada para definição de condicionantes
para a criação de TTR em reservatórios do Rio Iguaçu.
O estado de Santa Catarina está entre os cinco maiores produtores de peixes
de cativeiro do país e a tilápia é a espécie mais criada (70%). Destacam-se entre as
principais regiões produtoras de tilápia do estado aquelas com temperaturas mais
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
198
elevadas, a saber, Rio do Sul, Joinville, Tubarão, Blumenau, Palmitos, São Miguel
do Oeste e Chapecó (SILVA et al., 2017). Na região Oeste Catarinense, onde são
encontrados pequenos produtores (muitas vezes familiares, exercendo atividade
agropecuária) foi iniciado, em dezembro de 2011, o primeiro projeto de criação de
TTR, com cerca de 70 piscicultores da comunidade de Pinheiro Preto (município de
Concórdia): contando com 48 TR (de V= 6 m3), adquiridos com recursos dos governos
federal e municipal, disponibilizados no Reservatório da Usina Hidrelétrica de Itá, que
possui 103 km2 (MATOS; MATOS, 2018; DEBONA, 2014). Essa área, além de receber
a primeira Unidade Demonstrativa do estado, atualmente conta com uma cooperativa
com 70 cooperados e 168 TR (grande maioria com V = 18 m3 e alguns produzidos
pelos próprios associados com V= 9 m3), além de frigorífico próprio (MATOS; MATOS,
2018; DEBONA, 2014). A ração representa 60% do custo total de produção (apesar
da orientação do projeto de manter a taxa de conversão alimentar ideal (1,5kg de
ração: 1,0kg de biomassa de peixe) (MATOS; MATOS, 2018).
Matos e Matos (2018) também apontam o potencial de aplicação do conhecimento
já obtido para outras áreas do estado, tais como as encontradas nas pequenas centrais
hidrelétricas presentes no Rio Uruguai, nas Usinas Hidrelétricas de Machadinho
(municípios de Piratuba e Maximiliano de Almeida (RS)), de Enercan-Campos Novos,
de Anita Garibaldi e de Foz do Chapecó (municípios de Águas do Chapecó e Alpestre
(RS)). A assistência técnica e capacitação aos produtores, entre outras atividades,
vêm sendo feita pela Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa
Catarina (EPAGRI) (SILVA et al., 2017).
Em levantamento concluído sobre os principais desafios tecnológicos da
piscicultura catarinense, Zimath (2018) destacou o controle da qualidade da água,
que tem influência direta sobre as demais práticas de produção, e a ração, como
item de maior custo da piscicultura. Além disso, o autor enfatizou ser essencial o
desenvolvimento de softwares, que produzam as informações necessárias para a
tomada de decisão, e de equipamentos, que viabilizem melhorias na qualidade do
trabalho e segurança, a um custo compatível com a realidade de pequenas áreas
de modo a permitir sua incorporação ao processo de produção. Para atendimento
a essas demandas foi aprovado, em 2018, o Plano de Gestão Estratégica do
Programa de Aquicultura e Pesca da EPAGRI, como forma de garantir maior rigor ao
controle higiênico sanitário, de impactos ambientais, viabilizar sistemas alternativos e
mecanização de sistemas de criação, como também favorecer a análise de processo
e gestão da produção, a avaliação de linhagens com potencial genético/zootécnico e
o melhoramento genético de organismos aquáticos (MEDEIROS, 2019).
Entre os aspectos legais vigentes, cita-se a alteração na Lei estadual n. 15.736
de 11/01/2012, para sua adequação à Lei n. 14.675 de 13/04/2009 (Código Estadual
do Meio Ambiente) e à Lei n. 12.621 de 25/05/2012 (Código Florestal Brasileiro),
viabilizando o licenciamento ambiental da atividade. A nova Lei da Piscicultura foi
elaborada em conjunto pela Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, Instituto
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
199
do Meio Ambiente (IMA), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico
Sustentável, EPAGRI e Polícia Militar Ambiental (EPAGRI, 2019). Citam-se também:
a) Resolução CONSEMA nº 98 de 05/07/2017 (Publicado no DOE – SC em 6/07/2017),
que “Aprova, nos termos do inciso XIII, do art. 12, da Lei nº 14.675, de 13/04/2009,
a listagem das atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, define os estudos
ambientais necessários e estabelece outras providências”. (Fonte: https://www.
legisweb.com.br/legislacao/?id=345935); b) Lei nº 15.736 de 11/01/2012 (Publicado
no DOE – SC em 1/01/2012), que “Dispõe, define e disciplina a piscicultura de águas
continentais no Estado de Santa Catarina e adota outras providências”. (Fonte: https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=163921).
O estado do Rio Grande do Sul foi o único da região Sul, que não apresentou
dados oficias da atividade de criação de TTR.
3 | A ATIVIDADES DE TTR NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO DA REGIÃO
SUDESTE
Áreas com sistema de produção de TTR foram identificadas em todas as
unidades da federação da região Sudeste.
O estado do Espírito Santo concentra aproximadamente 80% da sua produção
aquícola na criação de tilápia e, no ano de 2018, produziu 13.190 t de peixes
(MEDEIROS, 2019). De acordo com o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural (INCAPER), as associações de piscicultores e pescadores
do estado estão concentradas nos municípios de Linhares, São Mateus, Aracruz,
Serra, Anchieta, Boa Esperança, entre outros.
Áreas com criação de TTR foram identificadas nos municípios de Linhares,
Itapemirim do Sul, Viana, Santa Leopoldina, São Mateus, Cachoeiro do Itapemirim,
entre outros (G1. TV Gazeta ES. Jornal do Campo ES, 2016, 2015, 2014, 2013;
PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA LEOPOLDINA, 2012). Linhares é o município
com maior concentração de produção de TTR (SEBRAE, 2016). Em 2015, o Polo de
Linhares recebeu destaque como maior produtor estadual em lagoa com atividade de
TTR exercida pela Associação dos Piscicultores do Guaxe (G1. TV Gazeta ES. Jornal
do Campo ES, 2015). Desde 2011, áreas de tradicional produção rural, tais como de
lavouras de café, vêm incorporando a criação de TTR ou substituindo a piscicultura
em viveiro, tais como as localizadas no rio Itapemirim, no Sul do estado (G1. TV
GAZETA ES, 2013); entre elas, as que se encontram no município de Cachoeiro do
Itapemirim (com 13 produtores de tilápia), onde também são produzidas em TTR e
tilápia em viveiros no distrito de São Vicente (G1. TV GAZETA ES, 2017). A atividade
de TTR, no rio Cricaré, movimentava a renda de 42 famílias em São Mateus, porém,
a falta de maior número de licenças aos pescadores impacta mais de 284 famílias
de baixa renda (G1. TV GAZETA ES. Jornal do Campo ES, 2016), uma vez que, são
relatados problemas com a qualidade da água (salobra ou com rejeitos de minérios),
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
200
que impedem a pesca tradicional como fonte de renda (G1. TV GAZETA ES. Jornal
do Campo ES, 2017). O INCAPER também auxilia os piscicultores do estado no
domínio de tecnologias de produção, na assistência técnica por meio dos programas
de governo.
O gargalo maior concentra-se na demorada obtenção de licença para a
criação (G1. TV GAZETA ES. Jornal do Campo ES, 2016). Em 2016 o governo do
estado simplificou as regras de licenciamento ambiental para o setor de aquicultura,
apresentando critérios para o licenciamento simplificado e para a dispensa de licenças,
como também tornando de responsabilidade do Instituto Estadual do Meio Ambiente
(IEMA) a emissão das licenças ambientais.
Com relação aos aspectos legais mais recentes, citam-se: a) Resolução Portaria
SEFA Nº 3 – R de 04/02/2019 (Publicado no DOE – ES em 5/02/2019), que “Autoriza a
inscrição do pescador e armador de pesca do cadastro de produtor rural na condição
que especifica.” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=374776); e b)
Decreto Nº 3831 – R de 09/07/2015 (Publicado no DOE – ES em 10//2015), que
“Dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura no Estado do Espírito Santo e
dá outras providências.” (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=286793).
No estado de Minas Gerais a produção de peixes foi de 33.150 t em 2018,
sendo 31.500 de tilápia (>90%) e a sua maiorprodutora a região do Triângulo
Mineiro (MEDEIROS, 2019). Segundo Cardoso (2011), citando dados da Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER/
MG), dos cerca de 14 mil produtores, somente 54 estavam legalizados na época.
Com particular atenção ao sistema de TTR, os maiores produtores mineiros são os
municípios de Felixlândia, Diamantina, Nova Porteirinha, Ituiutaba, Pompéu, Abaeté,
Pirapora e Januária (RORIZ, 2016; CARDOSO, 2011). Além desses, os municípios de
Paineiras, Três Marias, Morada Nova de Minas, São Gonçalo do Abaeté e Biquinhas,
localizados no Vale do rio São Francisco (na região do Reservatório de Três Marias),
concentram pequenos produtores de TTR (RORIZ, 2016).
O fortalecimento do setor deverá ser impulsionado pela presença de associações
e de cooperativas, acrescido do potencial das criações em reservatórios no estado -
CEMIG (área: 321.909 ha), CODEVASF (área: 8.365 ha) e Furnas (área: 311.180 ha)
(CARDOSO, 2011; MEDEIROS, 2019).
Segundo a Emater/MG, na região de Passos se encontram cerca de 125
piscicultores em 23 municípios, beneficiados pela grande disponibilidade de água,
oferecidas pelos reservatórios de Furnas - 1.240 km2 e Peixoto 250 km2 (Agência
Minas, 2019). A mesma fonte destaca a instalação de um frigorífico de peixes
(capacidade de abate= 4,5 t de tilápia/dia) no município de Cássia, no Sudoeste mineiro;
potencializando a geração de emprego e renda local. Tais ações são resultados da
parceria entre a empresa, a prefeitura do município e a Cooperativa dos Pescadores
e Aquicultores do Médio Rio Grande (COOPAMORG) (Agência Minas, 2019).
O importante papel da piscicultura no estado vem sendo ressaltado pelo
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
201
governo estadual (SEMAD, 2018). Em 2018, 45 técnicos da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) foram capacitados
sobre a legislação estadual referente à piscicultura, em treinamento realizado pela
parceria da SEMAD e Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(SEAPA) (SEMAD, 2018). Outras ações foram previstas para início em 07/2019,
junto ao Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), para produtores rurais
que integram a área de atuação da Regional do Sistema FAEMG - SENAR/Minas,
no município de Passos; em parceria entre os Sindicatos dos Produtores Rurais e
o SENAR/Minas. Em evento recente (06/2019), o coordenador do programa ATeG
o apresentou para os piscicultores de tilápia de Capitólio, Carmo do Rio Claro,
Alpinópolis e São José da Barra (SISTEMA FAE, 2019).
Apesar de todo esse potencial, existem dificuldades, tais como na legalização
da atividade (demora na outorga de uso em águas da União) (MEDEIROS, 2019),
como também na baixa capacitação da mão de obra, assistência técnica deficiente,
ausência de monitoramento dos mananciais hídricos explorados, baixa qualidade
e disponibilidade de alevinos, alto custo de produção (ração), distribuição e
comercialização deficientes com falta de integração entre os elos da cadeia produtiva
(CARDOSO, 2011).
Quando considerados os aspectos legais estaduais, Roriz (2016) destaca que
a autorização de uso dos espaços físicos em corpos d’água de domínio da União
para fins de aquicultura foi estabelecida através do Decreto nº 4.895, de 25/11/2003
e da Instrução Normativa Interministerial nº 06, de 31/05/2004. Entre os aspectos
legais mais recentes citam-se: a) Resolução Conjunta SEMAD/IEF nº 2.394 de
29/07/2016 (Publicado no Diário do Executivo -MG em 30/07/2016), que “Dispõe
sobre cadastro e registro para as pessoas físicas e jurídicas que exerçam a atividade
de aquicultura no estado de Minas Gerais”. (Fonte: http://www.siam.mg.gov.br/sla/
download.pdf?idNorma=41755); e b) Resolução CEMACT Nº 22111 de 11/05/2016
(Publicado no DOE – MG em 12/05/2016), que “Institui o Polo de Excelência em
Piscicultura Ornamental na região da Zona da Mata”. (Fonte: https://www.legisweb.
com.br/legislacao/?id=320407).
No estado do Rio de Janeiro a piscicultura de água doce é muito diversificada,
predominando a criação da tilápia (CARVALHO-DA-SILVA et al 2011). Em 2018 a
produção de peixes, segundo Medeiros (2019), foi de 4.580 t., sendo 3.700 t de
tilápia. Na piscicultura continental, a Fundação Instituto de Pesca do Estado do
Rio de Janeiro (FIPERJ), por meio do programa de melhoramento (PEIXEGEN) da
Universidade Estadual de Maringá (UEM), adquiriu alevinos de tilápias da linhagem
GIFT, para formação de seu plantel de reprodutores com melhor qualidade genética.
As unidades de produção da FIPERJ já iniciaram a produção desses alevinos para os
aquicultores fluminenses (FIPERJ, 2019).
Burla, Batista e Oliveira (2012) referenciam o município de Varre-Sai, região
Noroeste do RJ, no Sítio Panorama II, o qual vem demonstrando aptidão para a
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
202
criação de TTR; os mesmos foram instalados em uma área represada, que recebe
água de várias pequenas nascentes, resultando em um crescimento satisfatório dos
alevinos.
Os principais gargalos do setor, com base em Carvalho da Silva et al (2011),
Instituto Estadual do Ambiente (INEA) (INEA, 2014) e Medeiros (2019), são: a
ausência de apoio técnico especializado, legislação, burocracias, crédito para os
pequenos produtores, pouca coparticipação do setor na política ambiental, elevados
custos de produção e falta de insumos (ração).No contexto legal mais recente, cita-se
a Resolução CONEMA nº 49 de 02/08/2013 (Publicado no D.O – RJ em 14/08/2013)
que “Aprova a Revisão 1 da NOP-INEA-04-Licenciamento Ambiental de Aquicultura
Continental”
(Fonte:
http://www.fiperj.rj.gov.br/resources/legislacao/aquicultura/
RESOLUCAOCONEMA492013.pdf.).
O estado de São Paulo produziu, em 2018, 73.200 t de peixe sendo 69.500 t de
tilápia (MEDEIROS, 2019). A criação de TTR no estado foi iniciada no final dos anos
90, em reservatórios de usinas hidrelétricas (UHE), e favorecida pela disponibilidade
de alevinos (AYROZA; FURLANETO; AYROZA, 2006). São Paulo tem como principais
regiões produtoras o Noroeste Paulista, o Médio Paranapanema e o Vale do Paraíba
(AYROZA et al., 2011).
Várias associações de produtores piscícolas são encontradas no estado,
sendo, atualmente, a de maior destaque a Associação de Piscicultores em Águas
Paulistas e da União (PEIXE SP), que surgiu a partir da Associação de Piscicultores
de Três Fronteiras e Região (APROPESC) do noroeste paulista, para representar
interesses de piscicultores com atividades em águas do estado e da União (divisa
do estado de São Paulo com os estados do Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e
Paraná) (PEIXE SP, 2016). Na região Noroeste Paulista se encontram os grandes
reservatórios com potencial para grande exploração, tais como os reservatórios dos
rios Paraná e Grande e do Baixo Tietê (MENDES; CARVALHO, 2016; SUSSEL, 2011;
SCORVO et al., 2010). Nessa região predominam TR de volume variados (V= 6-20
m3), embora algumas pisciculturas já estejam se adaptando a tecnologia com uso
de TR de grande volume (V= 240-300 m3) (SUSSEL, 2011). O Noroeste Paulista já
havia sido apontado, em estudos realizados na UHE de Ilha Solteira, localizada no
Rio Paraná, os quais delimitaram quatro Parques Aquícolas (Córrego da Anta, São
José dos Dourados, Ponte Pensa e Córrego Parobi) com capacidade de produção
de 51.902,6 t a.a. (AYROZA et al, 2011). De acordo com a PEIXE SP (2016), nela foi
instalada a primeira Unidade Demonstrativa de sistema de criação em TR do país, em
2003, , com apoio da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da
República (SEAP/PR), que geraram mais oportunidades para os municípios da região
(Nova Canaã Paulista, Três Fronteiras, Santa Fé do Sul, Santa Clara d’Oeste, Santa
Rita d’Oeste e Rubinéia), com a posterior organização do Consórcio Intermunicipal
para o Desenvolvimento Sustentável da Piscicultura da Região de Santa Fé do Sul
(CIMDESPI). Assim, nessa região já foram demarcadas áreas do Parque Aquícola
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
203
do Reservatório da UEH de Ilha Solteira (INFORMA MAIS.COM.BR - SANTA FÉ DO
SUL E REGIÃO, 2018). Os municípios de Santa Fé do Sul e Santa Clara d'Oeste se
destacam pela concentração de produção de TTR (SEBRAE, 2016). Santa Fé do Sul
respondeu por cerca de 30 mil t a.a. de peixes, em 2018, sendo destaque nacional
no sistema de produção em TR (INFORMA MAIS.COM.BR - SANTA FÉ DO SUL E
REGIÃO, 2018).
Ayroza et al (2011) também apontaram que no Vale do Paranapanema, localizado
no Sudoeste do estado, há potencial para a demarcação de parques aquícolas em
oito reservatórios do rio Paranapanema (185.235 ha). A produção de TTR é também
realizada no reservatório de Promissão, rio Tietê, onde o ciclo de produção dos peixes
é de aproximadamente 4-5 meses, até atingirem peso mínimo de 700g, exigido pelas
empresas que processam e exportam a produção (BORGHETTI; SILVA, 2008).
Ayroza et al. (2011) destacaram o avanço estadual nos sistemas intensivos
de TR em reservatórios de UHE em águas estaduais e da União, como também
em reservatórios de menor escala (açudes e represas utilizados em atividades
agropecuárias).
Furlaneto et al. (2010) destacaram a criação intensiva de TTR na região do
Médio Paranapanema, até então com 2,5 ha (629 TR, predominando V= 6 m3, mas
com presença de TR de V=18 m3) e produtividade de 60-150 kg/m3/ciclo, indicando os
principais destinos da produção (indústrias de filetagem (70%) e venda direta (feiras/
pesqueiros/peixarias) (30%)). Pisciculturas expressivas na criação de TTR também
são encontradas na represa da UHE de Chavantes, localizada no rio Paranapanema
(entre os estados de São Paulo e Paraná), tanto na região da barragem (TR de V=
6,0 m3) quanto a montante do reservatório (TR de V= 4-36 m3) com área total de 400
km2 (AYROZA, 2012; AYROZA et al, 2011).
Existem atividades de criação de TTR também no Vale do Paraíba, nos municípios
de São José dos Campos e de Taubaté (SUSSEL, 2011).
A assistência técnica e as capacitações e orientações aos piscicultores do estado
de São Paulo vem sendo dadas, predominantemente, pela Secretaria de Agricultura
e Abastecimento pela APTA (Agência Paulista de Tecnologia e Agronegócios) e CATI
(Coordenadoria e Assistência Técnica e Integral).
Entre os principais impedimentos ao avanço da piscicultura no estado citamse: processo de licenciamento ambiental (regularização), sanidade, incremento
da aquicultura marinha, logística, menor competitividade do produto frente às
outras carnes, câmbio desfavorável às exportações, necessidade de aumentar
produção e minimizar custos para incrementar consumo, diversificação de canais de
comercialização, aumentar parcerias (associações, cooperativas), crédito, tecnologia,
capacitação, marketing (MEDEIROS, 2019; AYROZA et al., 2011; PINHEIRO, 2011).
No que se refere aos aspectos legais mais recente, citam-se: a) Decreto nº
62.243 de 01/11/2016 (Publicado no DOE – SP em 01/11/2016) que “Dispõe sobre
as regras e procedimentos para o licenciamento ambiental da aquicultura, no estado
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
204
de São Paulo, e dá providências correlatas”. O Decreto simplificou aspectos legais
do licenciamento ambiental, já existente no estado, no intuito de retirar produtores
da informalidade e insegurança jurídica. (Fonte:https://www.al.sp.gov.br/repositorio/
legislacao/decreto/2016/decreto-62243-01.11.2016.html).
4 | A ATIVIDADES DE TTR NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO DA REGIÃO CENTROOESTE
O estado de Goiás teve produção de peixes, em 2018, de 30.630 t (MEDEIROS,
2019), sendo a produção de tilápia a mais expressiva no estado (cerca de 40% do
total). Segundo a Comissão de Aquicultura da Federação da Agricultura e Pecuária
de Goiás (FAEG) a produção de peixes em Goiás tende a triplicar com a utilização
de TR em reservatórios da União ou de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH),
como também em represas em propriedade particulares (LIMA; MELLO, 2018). As
atividades de TTR vêm sendo realizadas nas PCH, de responsabilidade estadual
(BATISTA, 2018).
A criação de peixes no sistema de TR foi autorizada em junho de 2018 no Parque
Aquícola de Serra da Mesa (extremo Norte Goiano) e outorgada no reservatório
de Serra da Mesa (localizado no rio Tocantins - o maior reservatório da bacia do
Tocantins e, em volume de água, o maior do país) e em Canabrava (no rio Tocantins)
(ALVES, 2018; LIMA; MELLO, 2018; BATISTA, 2018), representando um potencial de
incremento de 60% na produção estadual (LIMA; MELLO, 2018). Um projeto piloto
(“Unidade Demonstrativa de Criação de Peixes em Tanques-Rede no Complexo de
Reservatórios de Serra da Mesa“), parceria da Secretaria Especial de Aquicultura
e Pesca (SEAP/PR) e o Consórcio de Desenvolvimento Serra da Mesa (CIDISEM),
utilizou alevinos de tilápia-do-nilo revertidos sexualmente, em TR (V= 6m3) nos
municípios de Uruaçu (em 2005), Minaçu (em 2008) e em Niquelândia (em 2008)
(SILVEIRA FILHO, 2011;MARTINS, 2008). Porém, houve atrasos nas liberações de
licenças ambientais para explorar a atividade (G1.TV Anhanguera GO. Jornal do
Campo GO., 2016; RODRIGUEZ, 2013).
Em 2013 foi lançado o “Programa da Pesca e Aquicultura do Estado de Goiás”,
coordenado pela Secretaria de Gestão e Planejamento (SEGPLAN), no intuito
promover alternativas aos principais entraves da piscicultura estadual, a saber:
licenciamento ambiental, ausência de assistência técnica especializada na área de
aquicultura, excessiva carga tributária, ausência de linhas de crédito, treinamento de
mão de obra e pouca organização da atividade (GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS/
SEFAZ/SEAGRO, 2013).
O estado conta com fábricas de ração (em Anápolis, Inhumas, Porangatu e
Bonfinópolis), frigoríficos (em Aparecida de Goiânia, Quirinópolis, Itauçu, Anápolis,
Uruaçu, Alexânia e Niquelândia), facilidade para transporte, entre outras (GOVERNO
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
205
DO ESTADO DE GOIÁS/SEFAZ/SEAGRO, 2013).
O Projeto Lago Azul, no município de Três Ranchos, localizado no extremo
Sudeste do estado às margens do rio Paranaíba, foi o primeiro a consolidar a
atividade de TTR no estado, inicialmente com 20 TR em atividade familiar realizada
pela Colônia de Pescadores de Três Ranchos (PORTAL CATALÃO, 2011).
Quanto aos aspectos legais mais recentes cita-se a Instrução Normativa SEMAD
Nº 2 DE 15/04/2019 (Publicado no DOE - GO em 16/04/2019), que “Dispõe sobre a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura e da Pesca, regula as
atividades pesqueiras”. (Fonte: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=376749).
A produção de peixes no estado do Mato Grosso, em 2018, foi de 54.510 t
(MEDEIROS, 2019). A criação de TTR foi autorizada no estado no início de 2018,
a partir da publicação da Lei Nº 10.669/2018. Nela, estão estabelecidos os critérios
para a dispensa de licenciamento ambiental e outorga, bem como de pagamento de
taxas de registro e outorga de água, entre outras obrigações legais para a realização
da atividade no estado.
Em 2018 já se iniciava a criação de TTR no Reservatório de Manso, na Chapada
dos Guimarães (MEDEIROS, 2019). Nessa região, a Empresa Mato-Grossense de
Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (EMPAER) já vinha capacitando, em 2016,
piscicultores para o sistema de produção em TR, com a participação de 25 piscicultores
interessados em explorar o Reservatório de Manso (GOVERNO DO ESTADO DO
MATO GROSSO. EMPAER, 2016).
Espera-se um aumento significativo na expansão desse sistema de produção
no estado, principalmente em 2019, com a produção de TTR na UHE Rio Teles Pires
(UHE Sinop), além dos já existentes na UHE Teles Pires (no rio São Manuel - divisa
de Mato Grosso e Pará), em Paranaíta (MT), e na UHE Colíder (rio Teles Pires), nos
municípios de Nova Canaã do Norte e Itaúba, ambos no estado (MEDEIROS, 2019).
Segundo a Associação dos Aquicultores de Mato Grosso, a demanda de TTR
vem sendo para peixes abatidos entre 800- 900 g. (BLOG CANAL RURAL MT, 2018).
Entre as demandas apresentadas pela associação citam-se: entraves para garantir
exportações do produto e realização de um plano nacional de sanidade (diretrizes e
garantias aos mercados) (BLOG CANAL RURAL MT, 2018).
Quanto aos aspectos legais mais recentes foi identificada a Lei Nº 10.669
(Publicado no DOE – MT em 16/01/2018) que “Altera e revoga dispositivos da Lei nº
8.464, de 04/04/2006, altera dispositivo da Lei nº 9.408, de 01/07/2010, e dá outras
providências”. (Fonte: https://www.al.mt.gov.br/storage/webdisco/leis/lei-10669-2018.
pdf).
O estado do Mato Grosso do Sul produziu no ano de 2018, 25.850 t de peixes,
sendo 20.500 t de tilápia predominando no sistema de produção de TR eidentificado
a Leste do estado (especialmente nos grandes reservatórios) (MEDEIROS, 2019),
onde é esperado aumento de produção em áreas de Aparecida do Taboado e em
Três Lagoas (MEDEIROS, 2019). O estado encerrou 2018 como o maior exportador
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
206
de carne de tilápia brasileira (com 88,9% da exportação nacional) e tem projeção de
crescimento de produção em cerca de 15% (G1. MORENA MS, 2019). A outorga, de
2017, foi para instalação de 554 TR de tilápia nos lagos das UHEs Souza Dias (Jupiá)
e Ilha Solteira, ambas no rio Paraná (G1. MORENA MS, 2017). A criação de TTR de
grande volume vem sendo realizada na região de Três Lagoas pela empresa Tilabrás
(G1. MORENA MS, 2019), o município de Tres Lagoas, no reservatório de Jupiá, e
no município de Selvíria, no reservatório de Ilha Solteira (G1. MORENA MS, 2019;
PROGRAMA VALE AGRÍCOLA, 2019; AGRO JORNAL, 2019; CAMPO GRANDE
NEWS, 2017). Atualmente contam com cerca de 30 TR circulares de grande volume
(V= 1.885 m3 cada) , com capacidade total para produzir 100 t peixe/mês (PROGRAMA
VALE AGRÍCOLA, 2019; AGRO JORNAL, 2019), onde essa empresa multinacional
formada pela americana (Reagal Springs) e pela brasileira (Axial) pratica o sistema
de terminação em TR para produção de filés (provenientes de peixes abatidos com
peso médio de 1,1 kg). Seus investimentos continuam em expansão no estado, em
diferentes setores da cadeia produtiva, incluindo a implantação de frigorífico próprio
(com capacidade de processamento de 10 mil t peixe/ano) e criação de alevinos
(estes, atualmente adquiridos da empresa AQUABEL (do grupo EW)) até 2021, para
atingir a meta de implantação de 500 TR (PROGRAMA VALE AGRÍCOLA, 2019;
ANDRADE, 2019). No Município de Aparecida do Taboado a atividade de criação
de TTR vem sendo realizada pela GeneSeas, empresa nacional que participa de
todos os segmentos da cadeia produtiva de TTR e conta com frigorífico, no mesmo
município, com expectativa de aumento no processamento diário em dois anos (de
50 t para 90 t) (CORREIO DO ESTADO, 2018). Também, vem sendo esperada a
inclusão de pequenos produtores no sistema produtivo (MEDEIROS, 2019), como
as que pretendem também apoiar a Tilabrás, pela inclusão de pequenos produtores
cooperados participando no fornecimento de peixes para seu futuro frigorífico
(PROGRAMA VALE AGRÍCOLA, 2019).
Entre os principais gargalos, de forma geral e de acordo com a PEIXE BR
(PROGRAMA VALE AGRICOLA, 2019), citam-se problemas com o marco regulatório
ambiental e com a cessão de águas da União.
Quanto aos aspectos legais foi identificada a Portaria IAGRO Nº 3.588 de
10/01/2018 (Publicado no DOE – MS em 12/01/2018), que “Aprova as diretrizes e
padroniza os procedimentos referentes ao Programa Nacional de Sanidade de Animal
Aquático, no estado do Mato Grosso do Sul e dá outras providências”. (Fonte: https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=355448).
A criação de TTR é uma forma mais recente de piscicultura na região do Distrito
Federal (DF) e entorno, já que nela predominam sistemas de produção em viveiros
(SCHULTER, 2018), com o aproveitamento do potencial regional dos reservatórios
e grandes lagos (BORGES, 2009). No DF, em 2018, registrou-se uma produção
total de peixes de 1.500 t, exclusivamente de tilápia (MEDEIROS, 2019). Gomes
(2017) indicou que 90% dos 400 piscicultores do Distrito Federal (predominantes em
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
207
Brazlândia, Alexandre Gusmão, Gama e Sobradinho) criam tilápia, não conseguindo,
porém, atender à demanda local por peixes (consumo de 14 kg per capita/ano, que é
superior à média nacional (10 kg per capta/ano) e à recomendada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) (12 kg per capta/ano)). Schulter (2018) cita existência de
laboratório de reprodução, para a produção de alevinos de peixes nativos e exóticos,
da SEAGRI/DF (Granja-Modelo do Ipê), para produtores atendidos pela EMATER/
DF (responsável pela extensão rural no Distrito Federal). O Núcleo de Tecnologia
em Piscicultura e Pecuária (NUPISC) também fornece cursos de capacitação em TR
(SCHULTER, 2018).
Entre os impedimentos à maior expansão da atividade citam-se os apontados
por Medeiros (2019) e Gomes (2017): insegurança na legislação ambiental, lentidão
da emissão de novas outorgas para a Bacia do Descoberto, mudança constante do
órgão governamental responsável, falta de crédito e burocracias.
Existe demanda para a redução de tributação de insumos de peixes
comercializada entre DF e Goiás (MEDEIROS, 2019). Entre outros aspectos legais
mais recentes cita-se o Decreto Nº 37.330 de 12/05/2016 (Publicado no DOE – DF
em 13/05/2016), que “Dispõe sobre incentivo econômico para as atividades do setor
agropecuário, no âmbito do Distrito Federal, e dá outras providências”. (Fonte: https://
www.legisweb.com.br/legislacao/?id=320597).
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desafios e gargalos de todas as Unidades da Federação das regiões Sul, Sudeste
e Centro-Oeste foram apresentados, indicando que a legalização da atividade vem
sendo a principal dificuldade apontada. Entre os principais desafios destacaram-se a
deficiência de assistência técnica e extensão especializada, crédito, custo de produção,
menor competitividade do produto frente às outras cadeias de proteína animal,
necessidade de aumentar produção e minimizar custos para incrementar consumo,
diversificação de canais de comercialização, capacitação e marketing. A necessidade
de softwares para apoiar a tomada de decisão e acompanhamento dos custos de
produção também foi sinalizada, principalmente para uso em pequenas áreas de
produção. Nesse contexto, a nova versão do software Aquisys, em desenvolvimento,
tornar-se-á um instrumento que poderá contribuir para o atendimento dessa demanda.
Acrescenta-se
ainda
que
outras
informações
mais
detalhadas
sobre
licenciamentos ambientais, entre outros aspectos legais, das unidades da federação
não foram aqui apresentadas por se encontrarem disponíveis, até 2016, em BRASIL.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (2016).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
208
REFERÊNCIAS
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AGRO JORNAL. Tilápia brasileira. 26 mai. 2019, Disponível em: https://www.youtube.com/
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até maio de 2019, Agencia Nacional das Aguas (ANA)-Noticias, 10 dez. 2018. Disponível em: https://
www.ana.gov.br/noticias/barragem-da-hidreletrica-de-serra-da-mesa-go-tera-reducao-da-defluenciaminima-ate-maio-de-2019 Acessado em 15/07/2019.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 19
214
CAPÍTULO 20
doi
ELABORAÇÃO DE MEIO DE CULTURA DE BAIXO CUSTO
PARA SPIRULINA – INFLUÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO
DO NACL SOBRE A PRODUTIVIDADE
Fábio de Farias Neves
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Centro de Educação Superior da Região Sul,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna- SC
Francihellen Querino Canto
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Centro de Educação Superior da Região Sul,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna - SC
Gabriela de Amorim da Silva
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Centro de Educação Superior da Região Sul,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna- SC
Cristina Viriato de Freitas
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Centro de Educação Superior da Região Sul,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna- SC
Ricardo Camilo
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Centro de Educação Superior da Região Sul,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna- SC
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
RESUMO: Os custos envolvidos com a
elaboração do meio de cultura para microalgas
variam conforme o reagente/nutriente utilizado,
bem como sua concentração. Cultivos massivos
de Spirulina, reduzir a concentração adicionada
de um determinado reagente pode representar
diminuição significativa dos custos de produção
de biomassa. Sendo assim, o objetivo
desta pesquisa foi avaliar os parâmetros de
crescimento da microalga Spirulina Arthrospira
platensis sob diferentes concentrações de
cloreto de sódio (NaCl). Quatro tratamentos
foram realizados, cada qual com três repetições,
totalizando doze unidades experimentais,
com meio de cultura comumente utilizado no
LCBA/UDESC (NaCl: 30 g L-1, NaHCO3: 10
g L-1 e NPK (Solução Hidropônica): 1 g L-1).
Os tratamentos T1, T2 e T3 foram realizados
com concentrações de cloreto de sódio de 0 g
L-1, 10 g L-1 e 20 g L-1, respectivamente. Já o
tratamento controle (T4) foi o que apresentou
concentração padrão utilizada (30 g L-1). Nos
quatro tratamentos, os parâmetros de pH não
apresentaram diferenças estatísticas, mantendo
sua média em 9,87 ± 0,07, porém a salinidade
nos tratamentos T1 (18,71 ± 4,68) e T2 (27,23
± 3,84) apresentou diferenças estáticas dos
tratamentos T3 (49,42 ± 19,82) e T4 (49,90 ±
11,93). Quando comparados os parâmetros de
crescimento entre cada tratamento não foram
encontradas diferenças significativas. O mesmo
Capítulo 20
215
ocorreu para os resultados de produtividade, sendo de 0,26 ± 0,02 (T1), 0,21 ± 0,02
(T2), 0,35 ± 0,23 (T3) e 0,23 ± 0,01 (T4) g L-1 dia-1. Já a concentração em massa seca
final, apresentou valores de 4,26 ± 0,27 (T1), 3,5 ± 0,32 (T2), 5,59 ± 3,48 (T3) e 3,80
± 1,17 (T4) g L-1, não ocorrendo diferenças significativas. Com os resultados obtidos,
constata-se que a redução da concentração de NaCl adicionado ao meio de cultivo,
apesar de influenciar na salinidade do meio do cultivo, não prejudica a produtividade
da Spirulina.
PALAVRAS-CHAVE: Arthrospira platensis; microalga; Spirulina.
LOW COST CULTURE MEDIUM FOR SPIRULINA – INFLUENCE OF NACL
CONCENTRATION ON PRODUCTIVITY
ABSTRACT: The variation on the reagents and nutrients used to prepare microalgae
culture medium, as well as its concentrations influence on algae biomass production
costs. In massive Spirulina cultures, the reduction some nutrients concentration
may represent a significant decrease in these costs. Therefore, the objective of this
research was to evaluate the growth parameters of microalga Spirulina Arthrospira
platensis under different concentrations of sodium chloride (NaCl). Four treatments
were performed with three replicates each, totaling twelve experimental units, using
as culture medium a commonly formula used in the LCBA / UDESC (NaCl: 30 g L-1,
NaHCO3: 10 g L-1 and NPK (Hydroponic Solution): 1 g L-1). The treatments T1, T2 and
T3 were carried out with concentrations of sodium chloride of 0 g L-1, 10 g L-1 and 20 g
L-1, respectively. The control treatment (T4) was the one that presented the standard
concentration used in the culture medium (30 g L-1). In the four treatments, the pH
parameters did not present statistical differences, maintaining its mean in 9.87 ± 0.07,
but the salinity in treatments T1 (18.71 ± 4.68) and T2 (27.23 ± 3.84 ) presented static
differences of treatments T3 (49.42 ± 19.82) and T4 (49.90 ± 11.93). When comparing
the growth parameters between each treatment, no significant differences were found.
The same occurred for the productivity results, being 0.26 ± 0.02 (T1), 0.21 ± 0.02
(T2), 0.35 ± 0.23 (T3) and 0.23 ± 0, 01 (T4) g L-1 day-1. Meanwhile, the final dry mass
concentration presented values of 4.26 ± 0.27 (T1), 3.5 ± 0.32 (T2), 5.59 ± 3.48 (T3) and
3.80 ± 1, 17 (T4) g L-1, with no significant differences. With these results, it is verified
that the reduction of NaCl concentration added to the culture medium, even influencing
the salinity of the culture medium, does not affect the productivity of Spirulina.
KEYWORDS: Arthrospira platensis; microalga; Spirulina.
1 | INTRODUÇÃO
As microalgas são elementos de um grupo muito heterogêneo de organismos,
predominantemente aquáticos, procariontes ou eucariontes, dotados de pigmentos
responsáveis de coloração variada e metabolismo autotrófico fotossintetizante. São
responsáveis por mais de 50% da produção primária e podem ser distinguidas,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
216
principalmente, pela sua pigmentação, ciclo de vida e estrutura celular. Já a sua
biomassa possui potencial para ser empregada na obtenção de biocompostos,
suplemento alimentar humano e animal, entre outros. Desta forma, as microalgas têm
despertado interesses de diversos segmentos industriais e de pesquisadores, quando
relacionada a sua diversidade de aplicações no mercado (RAVEN et al., 2007).
O crescimento de uma população de microalgas é o resultado da interação entre
fatores biológicos, químicos e físicos (RAVEN et al., 1999). Os fatores biológicos
referem-se ás próprias taxas metabólicas da espécie cultivada, quanto aos fatores
físico-químicos, os principais que afetam o crescimento das microalgas são luz,
temperatura, pH, salinidade e disponibilidade de nutrientes, onde requerem maiores
estudos. Não existe um meio de cultivo único para todas as espécies de microalgas,
uma vez que cada uma tem suas necessidades específicas (RICHMOND, 2004).
O metabolismo principal da microalga Arthrospira platensis (Spirulina) é a
fotossíntese, sendo a luz solar, sua principal fonte de energia. Por meio da fotossíntese,
converte os nutrientes em matéria celular e libera oxigênio. Os nutrientes de que
necessita são uma fonte de carbono, nitrogênio, fósforo, potássio, ferro e outros
oligoelementos (VONSHAK, 1997). Alguns fatores positivos incentivam a produção e
o estudo desta espécie de microalga, como o fato de apresentarem alta concentração
de proteína, baixo custo de extração de substâncias bioativas e secagem da biomassa,
tolerância a ambientes alcalinos, bem como, o tamanho relativamente grande
dos filamentos o que facilita o processo de separação da biomassa por filtragem
(HENRIKSON, 1989; MORIST et al., 2001).
A resistência desta a meios de cultura altamente salinos possibilita seu
desenvolvimento em cultivos, tanto laboratoriais quanto comerciais, com diversas
concentrações de sais. Zeng e Vonshak (1998) estudaram a variação da velocidade
específica de crescimento e da atividade fotossintética, entre outros, de A. platensis,
e determinaram que estes parâmetros decaem conforme o aumento da intensidade
luminosa e da concentração de cloreto de sódio (NaCl) no meio. Concluíram, no
entanto, que a Spirulina recupera satisfatoriamente sua velocidade de crescimento
e sua capacidade fotossintética após um período de adaptação, quando do aumento
da concentração salina em até 30 g L-1. Concentrações superiores a esta, mesmo
com intensidades luminosas baixas (100 µmol fótons m-2 s-1), intensificam o efeito da
fotoinibição, com consequente degradação das proteínas e redução da concentração
de clorofila, inviabilizando o crescimento satisfatório de Spirulina e a recuperação de
uma biomassa de boa qualidade (alto conteúdo proteico e de pigmentos).
Considerando tais fatores, é importante salientar que a A. platensis apresenta em
sua composição altos teores de proteínas (64 – 74%), ácidos graxos poli-insaturados
e vitaminas (COHEN, 1997), além de compostos antioxidantes (COLLA et al., 2007).
Onde sua produção em massa teve início na década de 1970, sendo que 70% da
produção mundial destinam-se ao consumo humano. Concomitante à sua produção
em massa, pesquisas foram realizadas a fim de determinar o efeito das condições
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
217
ambientais e do meio de cultura na produtividade e na obtenção de produtos químicos
de interesse (MATSUDO et al., 2009).
Quando se trata de cultivo com meio de cultura sintético, este torna-se um dos
fatores limitantes para a produção de Spirulina, devido que alto custo com nutrientes,
representando um fator importante na viabilização da produção em larga escala
(TROTTA, 1978). Sendo assim, estudos sobre a nutrição de microalgas que permitam
avaliar o papel dos vários elementos químicos no seu crescimento e produtividade, são
de fundamental importância para a viabilização dos cultivos de algas, pois definem os
componentes que devem ser acrescentados em maiores ou menores quantidades nos
meios de cultura para proporcionar melhor desenvolvimento das espécies. Também
possibilita identificar os componentes efetivamente desnecessários para determinada
espécie, podendo ser removido do meio de cultura sem qualquer prejuízo à microalga
e acarretando economia ao cultivador (LOURENÇO, 2006).
O Laboratório de Cultivo e Biotecnologia de Algas (LCBA) da Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC) está adaptando a tecnologia de cultivo de
Spirulina para às condições ambientais encontradas no sul do estado de Santa
Catarina. O meio de cultura atualmente utilizado nos cultivos é composto por insumos
de baixo custo e de fácil acesso ao produtor (NaCl: 30 g L-1, NaHCO3: 10 g L-1 e NPK
(Solução Hidropônica): 1 g L-1). Estudos estão sendo realizados com o objetivo de
avaliar a real necessidade das concentrações e insumos utilizados. Sendo assim, o
objetivo desta pesquisa foi avaliar os parâmetros de crescimento e produtividade da
microalga Spirulina Arthrospira platensis sob diferentes concentrações de cloreto de
sódio (NaCl).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Microrganismos e o meio de cultivo
Foi utilizada a microalga Arthrospira platensis, mantida no banco de cepas
do Laboratório de Cultivo e Biotecnologia de Algas (LCBA), do Departamento de
Engenharia de Pesca (DEP) da Universidade do Estado de Santa Catarina. (UDESC).
Para manutenção do inoculo foi utilizado o meio de cultura comumente utilizado no
(LCBA/UDESC), (NaCl: 30 g L-1, NaHCO3: 10g L-1, e NPK (Solução Hidropônica): 1 g
L-1), diluído com água destilada.
Condições de experimentais
O experimento ocorreu na sala de cultivo do LCBA com temperatura controlada,
aeração e iluminação (130 µmols m-2s-1) constante, durante um período de 15 dias. Os
cultivos foram realizados em frascos de erlenmeyers de vidro de 1L, sendo utilizado o
volume de 900mL de cultivo, com quatro tratamentos, cada qual com três repetições,
totalizando doze unidades experimentais.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
218
No Tratamento 1 (T1), o meio de cultura foi elaborado sem a adição do cloreto
de sódio (NaCl), enquanto os outros componentes permaneceram com as mesmas
concentrações (NaCl: 0 g L-1, NaHCO3: 10g L-1, e NPK (Solução Hidropônica): 1 g
L-1). Já o Tratamento 2 (T2) foi elaborado com 10g L-1 de NaCl; o Tratamento 3 (T3)
com 20g L-1 (NaCl), e por fim, o Tratamento 4 (T4), foi considerado o controle, onde
permaneceu com as mesmas concentrações do meio de cultura padrão (NaCl: 30
g.L-1). Assim como no T1, os tratamentos T2, T3 e T4, também permaneceram com
as mesmas concentrações dos outros componentes encontrados na solução padrão.
Análise de crescimento e produtividade
Diariamente foram coletadas amostras dos cultivos experimentais através
de seringas com um volume de 20mL por unidade experimental. A contagem de
filamentos foi realizada em microscópio com o auxílio da câmara de Neubauer. Onde
foi possível obter dados como de densidade máxima de filamentos (DMF), taxa de
crescimento especifico (µ), tempo de cultivo, velocidade de crescimento, tempo de
duplicação (T/2).
Foram monitorados diariamente também os parâmetros de pH, realizado com o
auxílio de um pHmetro, salinidade com o auxílio de um refratômetro e a temperatura
da sala de cultivo com termômetro de mercúrio de máximas e mínimas.
Para determinar a produtividade, a massa seca foi estimada por teste gravimétrico
no início e no final do experimento.
Para cálculo de Biomassa Seca Total Produzida, foi filtrado no final do
experimento, todo o volume final de cada tratamentos utilizando tela de 90µm. A
biomassa total coletada foi seca em estufa com temperatura de 50°C durante 19h e
pesada ao final do processo.
Análise Estatística
Os resultados foram submetidos à análise de variância (ANOVA, α< 0,05).
Quando detectadas diferenças significativas, foi aplicado o teste de Tukey para
comparação entre as médias dos tratamentos.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os parâmetros de pH e salinidade medidos ao longo do experimento nos
quatro tratamentos estão apresentados na Figura 1. Para o pH (Figura 1a) os
tratamentos apresentaram valores parecidos, não havendo diferenças estatísticas
entre eles, mantendo sua média em 9,87 ± 0,07. Sendo que a faixa ótima de pH
para o crescimento da microalga Spirulina é de 9,5 a 10,5 (PELIZER et al., 2003;
RICHMOND & GROBBELAAR, 1986). Já para a salinidade, o esperado era que cada
tratamento apresentasse salinidades distintas. Entretanto, como pode ser visto na
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
219
Figura 1b, os tratamentos T1 (18,71 ± 4,68) e T2 (27,23 ± 3,84) não apresentaram
diferenças estatísticas entre si, contudo foram diferentes dos tratamentos T3 (49,42 ±
19,82) e T4 (49,90 ± 11,93), os quais também não diferiram entre si. Possivelmente,
a salinidade elevada no T1, bem como, as similaridades estatísticas apresentadas
entre T1 e T2, e entre o T3 e T4, deve-se ao fato de o meio de cultura utilizado ter em
sua formulação, elevadas concentrações de bicarbonato de sódio, e haver cloreto de
sódio residual junto ao inoculo utilizado no início dos experimentos (o percentual do
volume utilizado como inoculo nos cultivos foi de 20%).
Quanto à temperatura, as médias das máximas e mínimas atingidas ao longo
do experimento foram de 35,26 ± 0,64 °C e 32,32 ± 3,31 °C, respectivamente. Estes
valores segundo Tomaselli et al. (1993), estão entre a faixa de temperatura ótima (30
e 35°C) para o cultivo da Spirulina.
Figura 1. Variação do pH (a) e da salinidade (b) para T1, T2, T3 e T4 ao longo do tempo (dias).
Cada linha refere-se à média entre as três repetições de cada tratamento.
Na Figura 2 são apresentadas as curvas de crescimento de cada tratamento,
formada pelos valores de densidade de filamentos ao longo dos dias de cultivo,
sendo cada linha a média entre as triplicatas. Apesar de que a curva de crescimento
demonstra uma maior densidade de filamentos atingida no tratamento T3, não há
diferença significativa entre os resultados de Densidade Máxima de Filamentos.
Também, nenhum dos parâmetros de crescimento apresentou diferenças significativas
entre os tratamentos (Tabela 1). Este resultado sugere que o produtor de Spirulina,
desde que os outros insumos estejam nas concentrações padrões, poderá optar em
não adicionar cloreto de sódio (NaCl) ao meio de cultura proposto e utilizado no LCBA/
UDESC para cultivos massivos, sem que haja diminuição do crescimento. Isto poderá
ser realizado como alternativa para diminuir os custos de produção, bem como, em
situações de ausência do insumo.
Ainda, comparando os resultados apresentados na Tabela 1 com os dados de
salinidade apresentados na Figura 1, sugere-se que o cultivo de A. platensis pode ser
realizado em salinidade mesohalina (cerca de 25ºC) ou hiperhalina (próximo à 50ºC)
sem influenciar os parâmetros de crescimento. Entretanto, vale realçar que meios de
cultivo hiperhalinos podem ser favoráveis para cultivos massivos, pois diminuem as
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
220
probabilidades de contaminação por outros microrganismos (ANDERSEN, 2005).
Figura 2. Variação da densidade de filamentos (104 filamentos/mL) versus o tempo (dias) para
T1, T2, T3 e T4. Cada linha refere-se à média ± desvio padrão entre as três repetições de cada
tratamento.
Parâmetro de Crescimento
Tratamento 1
Tratamento 2
Tratamento 3
Tratamento 4
Densidade Máxima de
Filamentos (filamentos.
mL-1)
38,99 ± 0,53 a
32,73 ± 3,65 a
68,46 ± 43,67 a
31,94 ± 4,51 a
Tempo de Cultivo (dias)
14,66 ± 0,57 a
14,33 ± 1,15 a
15 ± 0 a
13,66 ± 2,31 a
Velocidade de Crescimento
0,21 ± 0,01 a
0,19 ± 0,01 a
0,26 ± 0,04 a
0,22 ± 0,06 a
Tempo de Duplicação
(dias)
4,58 ± 0,28 a
5,26 ± 0,12 a
3,91 ± 0,61 a
4,81 ± 1,18 a
Taxa de Crescimento
Específico (dia-1)
0,15 ± 0,01 a
0,13 ± 0,01 a
0,18 ± 0,03 a
0,15 ± 0,04 a
Produtividade (g.L-1.dia-1)
0,26 ± 0,02 a
0,21 ± 0,02 a
0,35 ± 0,23 a
0,23 ± 0,01 a
Tabela 1. Valores de Densidade Máxima de Filamentos, Tempo de Cultivo, Velocidade de
Crescimento, Tempo de Duplicação, Taxa de Crescimento Específico e Produtividade nos
diferentes tratamentos. Valores expressos como média ± desvio padrão.
Os resultados de massa seca final estão apresentados na Figura 3, foram
atingidos valores médios de 5,59 ± 3,48 g L-1 (T3); 4,26 ± 0,27 g L-1 (T1); 3,80 ± 1,17
g L-1 (T4) e; 3,5 ± 0,32 g L-1 (T2). Seguindo a tendência dos outros parâmetros de
crescimento, estes valores não diferiram estatisticamente entre si. O mesmo é válido
para os valores médios de produtividade em gramas por litro por dia (g L-1 dia-1),
apresentados na Tabela 1 e para os resultados de biomassa acumulada em g L-1
também apresentados na Figura 3. Estes resultados são superiores aos reportados
para o cultivo de Chlorella sp. anteriormente cultivada no LCBA/UDESC (NEVES et
al. 2015; CANTO et al. 2016) o que demonstra o potencial do cultivo de Spirulina no
meio de cultura utilizado como um processo promissor de produção de biomassa de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
221
microalgas.
Ainda, na Figura 3 são apresentados os dados de biomassa úmida. O processo
de secagem em estufa adotado no LCBA/UDESC reduz cerca de 80% de umidade.
Uma alternativa ao produtor de Spirulina A. platensis seria a comercialização da
biomassa úmida para consumo da biomassa fresca. Entretanto o tempo de prateleira
se reduziria a poucos dias, necessitando análises microbiológicas e obtenção dos
devidos registro exigidos para comercialização do produto in natura.
Figura 3. Concentração de massa seca (g.L-1) para T1, T2, T3 e T4 ao final do experimento.
Cada coluna refere-se à média ± desvio padrão entre as três repetições de cada tratamento
(esquerda). Concentração de biomassa úmida e seca (g.L-1) para T1, T2, T3 e T4 ao final do
experimento (direita).
4 | CONCLUSÃO
Com os resultados obtidos, podemos constatar que a redução da concentração
de NaCl adicionado ao meio de cultivo proposto no LCBA/UDESC para cultivos
massivos de Spirulina A. platensis, apesar de influenciar na salinidade do meio do
cultivo, não prejudica o crescimento e produtividade da Spirulina. Isto pode significar
a redução nos custos com o preparo dos meios de cultura. Porém, pesquisas
futuras devem ser realizadas para investigar em volumes maiores, se tal diminuição
nas concentrações de cloreto de sódio (NaCl) no meio de cultura podem alterar
negativamente a composição bioquímica e microbiológica da biomassa produzida.
5 | AGRADECIMENTO
Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) pelo fomento desta pesquisa através de bolsa de iniciação
científica e, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa
Catarina (FAPESC).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
222
REFERÊNCIA
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 20
223
CAPÍTULO 21
doi
ATIVIDADE ALIMENTAR DO Serrasalmus brandtii,
PIRAMBEBA (LÜTKEN, 1875), NO RESERVATÓRIO DE
MOXOTÓ, BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO
Patrícia Barros Pinheiro
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Paulo Afonso - BA
Sávio Benício da Silva
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Paulo Afonso - BA
Eduardo Augusto Silva Melo
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Paulo Afonso - BA
Lídia Brena de Oliveira Cardoso
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Paulo Afonso - BA
RESUMO: Estudos realizados sobre a
dinâmica alimentar de uma espécie é de grande
importância para o conhecimento da ecologia
e da estrutura trófica ao qual ela pertence.
O presente estudo objetivou avaliar a dieta
alimentar do Serrasalmus brandtii (pirambeba)
no reservatório de Moxotó, bacia do Rio São
Francisco. Os exemplares foram adquiridos
diretamente com os pescadores artesanais no
período de agosto de 2016 a fevereiro de 2018.
Foram analisados 280 estômagos, dos quais
220 (78,58%) apresentaram algum conteúdo
alimentar. Foram identificados 25 itens
alimentares divididos em quatros categorias:
Teleósteos, Mollusca, Insecta e Diversos.
Através da análise do Diagrama de Costello,
pode-se observar que o grupo Teleósteos ganha
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
destaque ao ser relacionado com o peso dos
itens alimentares, possuindo uma tendência a
classificação de especialista. Os indivíduos foram
divididos em seis classes de tamanho, notandose que existe uma relação de ontogenia trófica,
onde os indivíduos com comprimento padrão a
partir de 20,6cm (IRi 26,65) começam a ter um
crescimento na alimentação para a categoria
teleósteos, na última classe de tamanho 23,6
a 26,0cm o (IRi 67,06). De acordo com o Índice
de Importância Alimentar, a categoria teleósteos
foi a que mais se destacou (IAi 0,529). Desta
forma, Serrasalmus brandtii possui um hábito
alimentar carnívoro com tendência a piscívoro,
classificada como uma espécie generalista por
consumir diversos recursos alimentares.
PALAVRAS-CHAVE: carnívoro, generalista,
ontogenia trófica, Serrasalmidae.
FOOD ACTIVITY OF Serrasalmus brandtii,
PIRAMBEBA (LÜTKEN, 1875), AT THE
MOXOTÓ RESERVOIR, SÃO FRANCISCO
RIVER BASIN
ABSTRACT: Studies on the dynamics of
food of a species are of great importance for
the knowledge of the ecology and the trophic
structure to which it belongs. The present study
aimed to evaluate the diet of Serrasalmus
brandtii (pirambeba) in the Moxotó reservoir, in
the São Francisco River. The specimens were
Capítulo 21
224
purchased directly from artisanal fishermen from August 2016 to February 2018. A
total of 280 stomachs were analyzed, of which 220 (78.58%) presented some food
content. 25 food items were identified in four categories: Teleosteos, Mollusca, Insecta
and others. Through the analysis of the Costello Diagram, it can be observed that the
Teleosteos group gains prominence when being related to the weight of food items,
having a tendency to be classified as a specialist. Individuals were divided into six
size classes, with a trophic ontogeny relationship, where individuals with a standard
length of 20.6 cm (IRi 26.65) began to grow in the diet for the teleosts category, in the
last size class 23.6 to 26.0cm (IRi 67.06). According to the Index of Food Importance,
the teleosteos category was the one that stood out the most (IAi 0.529). In this way,
Serrasalmus brandtii has a carnivorous food habit with a piscivorous tendency, classified
as a general species because it consumes several food resources.
KEYWORDS: carnivore, generalist, Serrasalmidae and trophic ontogeny.
INTRODUÇÃO
O rio São Francisco, referindo-se ao seu sentido amplo, compreende uma área
de 645.067,2 km². Na classificação mundial é o 34° rio de maior vazão (média anual:
2.800 m³/s), e correspondendo à terceira bacia hidrográfica do Brasil, a primeira
situada inteiramente em território brasileiro (GOLDINHO e GOLDINHO, 2003). Em
um estudo realizado por Barbosa e Soares (2009) foram listadas 244 espécies, sendo
214 nativas, número superior as listas anteriormente divulgadas (BRITSKI et al., 1988;
ALVES e POMPEU 2001). Barramentos de rios são empreendimentos que tem como
função o desenvolvimento de reservatórios. Anteriormente, os reservatórios foram
desenvolvidos para facilitar atividades de irrigação e reserva de água e, em seguida,
para outros usos, incluindo a navegação, o abastecimento de água potável, o aumento
da pesca, o abastecimento hídrico urbano e industrial, e, por último, a geração de
energia e recreação (TUNDISI e MATSUMURA-TUNDISI, 2008). Com o barramento
de um rio, a hidrologia central é bastante alterada, passando de um comportamento
lótico para um estado lêntico, o que resulta nas modificações das condições químicas
e físicas da água, assim como a quantidade e qualidade de habitats para a ictiofauna
são alteradas (AGOSTINHO et al., 2007). Em virtude dos represamentos nas
grandes bacias hidrográficas, como é o caso do rio São Francisco, resulta na origem
de diversas alterações ambientais, os conhecimentos das variações sazonais, que
acabam sendo impostas pelos barramentos, alteram as interações de acordo com
a partilha de recursos, nichos tróficos, sobreposição alimentar e disponibilidade de
recursos nestes ambientes (LUZ-AGOSTINHO et al., 2008, 2009).
Análises sobre dinâmica alimentar vêm se tornando um importante meio
de estudos sobre a dinâmica de ecossistemas, visto que permite avaliar relações
nas cadeias tróficas, determinar hábitos alimentares e nichos tróficos (MOTA e
UIEDA, 2004). Estudos realizados sobre o hábito alimentar de uma espécie é de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
225
fundamental importância para o conhecimento da ecologia e da estrutura trófica ao
qual ela pertence (RODRIGUES e BEMVENUTI, 2001). Dentre os grupos na ecologia
trófica encontram-se os piscívoros, que se alimentam preferencialmente de peixes,
entretanto outros itens alimentares podem ser utilizados, devido a mudanças em sua
disponibilidade (ROCHA et al., 2011).
Os indivíduos da família Serrasalmidae são peixes da ordem dos Characiformes,
representado pelos “pacus” e “piranhas”, conhecidos por possuir hábitos alimentares
herbívoros e carnívoros, respectivamente (ANDRADE et al., 2015). Uma das espécies
desta família é o Serrasalmus brandtii (LÜTKEN, 1875), espécie nativa do rio São
Francisco, chegando a medir 22 cm de comprimento padrão, sendo caracterizado
como carnívoro de corpo mediano, fortemente comprimido e alto, outra característica
acentuada do grupo são seus dentes cortantes, capazes de arrancar pedaços das
presas (BRITSKI et al., 1988). Desta forma, o intuito deste trabalho foi avaliar a dieta
alimentar do Serrasalmus brandtii (Lütken, 1875) pirambeba, adquirido no reservatório
de Moxotó, bacia do rio São Francisco.
MATERIAL E MÉTODOS
Os exemplares foram adquiridos já abatidos, com os pescadores que atuam com
a pesca artesanal no reservatório de Moxotó, onde os indivíduos foram capturados
utilizando como petrecho de pesca a rede de emalhar simples, com tamanhos variados
de malha, durante o período de agosto de 2016 a fevereiro de 2018. Os pescadores
informaram que os equipamentos de pesca foram alocados no crepúsculo e retirados
ao amanhecer ficando expostos durante o período aproximado de 12 horas. Após
a coleta, os indivíduos foram acondicionados individualmente em sacos plásticos
com gelo, sendo transferido para o Laboratório de Biologia Pesqueira (LABIPESQ),
localizado no Centro de Desenvolvimento e Difusão de Tecnologia em Aquicultura
(CDTA), situado na Universidade do Estado da Bahia, Campus VIII.
No LABIPESQ, os indivíduos foram medidos (cm) e pesados (g), observando o
comprimento total e padrão (CT e CP, respectivamente) e os pesos total e eviscerado
(PT e PE, respectivamente). Os estômagos foram removidos por meio de incisão
abdominal ventral longitudinal, percorrendo do orifício anal até a altura da inserção
das nadadeiras pélvicas. Para avaliar a intensidade alimentar dos indivíduos foi
utilizado o Índice de Repleção (IR) dos estômagos, classificando-os de acordo quanto
ao grau de repleção estomacal, o qual foi observado de acordo com a seguinte escala
proposta por Gomes e Verani (2003): grau 0 (zero) para estômagos vazios, grau I para
estômagos parcialmente vazios, grau II para estômagos parcialmente cheios e III para
estômagos completamente cheios. Logo em seguida, os conteúdos estomacais foram
retirados, pesados e armazenados individualmente em frascos plásticos devidamente
etiquetados e conservados em solução de álcool a 70%, de acordo com a metodologia
sugerida por Zavala-Camin (1996), modificado para a presente pesquisa. A seguir,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
226
as amostras foram analisadas em esteriomicroscópio e os itens alimentares foram
classificados ao menor nível taxonômico possível (BRITSKI, 1984; SIMONE, 2006;
SAMPAIO, 2009; MUGNAI et al., 2010), observando o volume e peso de cada item.
Para a análise de frequência de ocorrência, utilizou-se o método proposto por
Bowen (1992): FO = 100 (ni / n). Onde: FO: Frequência de Ocorrência do item “i” na
dieta dos indivíduos da amostra; ni: número de estômagos da amostra contendo o
item “i”; e n: número total de estômagos com conteúdo na amostra. Com relação a
análise volumétrica, os valores percentuais em volume de cada item alimentar para
o conteúdo total foram estimados visualmente. Na presente pesquisa, o conteúdo
estomacal dos exemplares foi analisado como sugerido por Meschiatti (1995),
colocando-se todo o conteúdo do estômago em uma placa de Petri, onde os itens
foram separados e suas proporções avaliadas.
As estratégias alimentares da pirambeba foi analisada por meio do método
gráfico de Costello (1990), modificado por Bennemann et al., (2000), relacionado no
gráfico o peso e volume das categorias alimentares de acordo com a importância de
cada grupo. Foi utilizado para análise da composição alimentar o Índice de Importância
Alimentar (IAi) segundo a proposta de Kawakami e Vazzoler (1980) que possibilita
apontar mais adequadamente a importância relativa de cada item, qualquer que seja
sua condição quanto a frequência de ocorrência e volume do item. IAi = FO x Vi
/ ∑ (FO x Vi). Onde: IAi: Índice de Importância Alimentar do item “i” na dieta dos
indivíduos da amostra; FO: Frequência de Ocorrência do item “i” na amostra; e Vi:
Índice de Análise Volumétrica do item alimentar “i” na amostra.
Para relacionar as presas com o tamanho dos indivíduos foi calculado o Índice de
Importância Relativa (IIR) modificado de Pinkas et al., (1971), obtido a partir dos dados
de porcentagem em número, peso e frequência de ocorrência dos itens, de acordo
com a fórmula: IIR = (%N + %P) x %F.O. Onde: IIR = Índice de Importância Relativa;
%N = Porcentagem em número de presas; %P = Porcentagem em peso de presas;
%F.O. = Porcentagem em frequência de ocorrência de presas. Após ser calculado o
IIR também foi transformado em porcentagem (IIR%) para melhor interpretação dos
dados em conformidade com as recomendações da literatura (CORTÉS, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram analisados no total 280 estômagos do S. brandtii, dos quais 220 (78,58%)
apresentavam conteúdo estomacal e 60 estavam vazios (21,42%). O comprimento
padrão dos indivíduos variou de 16,0 a 26,0 cm, com uma média de 19,92cm e o
peso total entre 149 a 726g, com uma média de 332g, e foram identificados 25 itens
alimentares (Figura 1). A pirambeba caracterizou-se como uma espécie carnívora,
que alimenta-se principalmente de organismos vivos. Segundo Zavala-Caminn (1996)
esta classificação é atribuída a indivíduos que possuem um hábito alimentar a base
de itens de origem animal.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
227
Figura 1: Imagens capturas de alguns dos itens alimentares consumido pelo Serrasalmus
brandtii no reservatório de Moxotó. (A) Serrasalmidae; (B) Partes de peixe digerido; (C)
Escama; (D) Estrutura calcificada (nadaderias/raios); (E) Gastrópode (opérculo); (F)
Aylocostoma tuberculata; (G) Asolene spixii; (H) Biomphalaria straminea: (I) Limnoperna
fortunei; (J) Odonata; (K) Insetos digeridos; (L) Palaemon sp. (M) Camarão digerido; (N) e (O)
Vegetal.
Na análise do Índice de Repleção, observou-se que a grande parte dos meses foi
representada pelo o Índice de Repleção II e III, ou seja, estômagos quase cheio e cheio,
respectivamente, apresentando maiores ocorrência durante o período de estudo (12
meses) (Figura 2). Essa alta presença de estômagos quase ou cheios, provavelmente
está relacionada à característica generalista da pirambeba, apresentando uma ampla
diversidade em sua alimentação, sempre tendo algum recurso disponível.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
228
Figura 2: Índice de Repleção de acordo com os meses de agosto de 2016 a fevereiro de 2018,
da pirambeba (Serrasalmus brandtii), coletado no período de agosto de 2016 a fevereiro de
2018 no reservatório de Moxotó.
A análise da importância das categorias alimentares, através do Diagrama de
Costello (1990), modificado por Bennemann et al., (2000) (Figura 3), revelou que para
alguns grupos alimentares existe uma divergência com o peso e volume. A categoria
Teleósteos obteve um destaque maior quando relacionado ao peso, com uma tendência
a classificação de especialista, desta forma, sendo um item de grande importância
alimentar para Serrasalmus brandtii, uma vez são itens que possuem maior peso
e maiores valores nutricionais para o indivíduo. As categorias Mollusca e Insecta,
mesmo havendo uma diferença de valores, demonstra uma alimentação generalista,
pois houve uma frequência de alimentação maior, entretanto com pesos menores
do que comparado com o Teleósteos, os grupos Vegetal e Penaeiodae (categoria
Diversos) apresentaram uma frequência, volume e peso menores, o que representa
uma importância alimentar menor, comparado aos demais. A diferença que resultou
em algumas categorias em relação ao peso e volume pode estar interligada ao fato
de que, quando se utiliza o peso do conteúdo, os Teleósteos ganham destaque por
serem itens maiores em relação a outras categorias. Na análise volumétrica, todos os
itens presentes no estômago foram mensurados em porcentagem, desta forma itens
de estômagos diferentes podem ter o mesmo valor em porcentagem do volume, mas
pesos diferentes.
Algumas espécies da família Serrasalmidae (piranhas e pirambebas) são
indivíduos que possuem uma estrutura dentária adequada para arrancar pedaços de
suas vítimas, que são engolidas sem mastigar (PIORSKY et al.,2005), e isso destaca
os Teleósteos no diagrama de Costello. Esse mesmo autor realizou um estudo no
lago de Viana, estado do Maranhão, com duas espécies de Serrasalmidae, dentre
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
229
elas a S. brandtii, e ao relacionar o Diagrama de Costello ele também observou a
ênfase para os peixes, no entanto ele utilizou na sua metodologia a abundância. Após
a análise dos resultados ele caracterizou a espécie como generalista, por apresentar
uma ampla largura do nicho trófico. Durante as análises na presente pesquisa foi
observado o mesmo comportamento e tendência (Figura 3).
Figura 3: Diagrama de Costello mostrando a relação gráfica entre a frequência de ocorrência
e o Peso (▲) e Volume (●) do Serrasalmus brandtii, coletado no período de agosto de 2016 a
fevereiro de 2018 no reservatório de Moxotó.
Frequentemente observa-se que uma espécie pode apresentar uma atividade
alimentar variada de acordo com o seu estágio de desenvolvimento, devido à diferente
necessidade energética e suas limitações morfológicas, resultando em uma dinâmica
alimentar variada durante o seu ciclo de vida (ABELHA et al., 2001). A ontogenia
trófica não é um fenômeno raro entre espécies piscívoras, e foi possível observar no
presente estudo (POMPEU, 1999). Na presente pesquisa observou-se um aumento
pela preferência de presas maiores à medida que os indivíduos analisados tinham
classe de comprimento maiores. Os indivíduos nas classes de comprimento padrão
menores (16,0-17,5; 17,6-19,0; e 19,1-20,5cm), apresentaram em seus estômagos
os grupos Mollusca e Insecta como preferência na alimentação (Figura 4). Um estudo
realizado por Piorsky et al., (2005), no qual eles fizeram uma relação ecomorfologica de
duas espécies de piranhas, observaram que a medida que os peixes vão crescendo e
as relações morfológicas alterando, é possível identifica três fatores importantes para
a mudança de preferência alimentar: agilidade natatória, tamanho potencial da presa
consumida e posição da coluna d´água. Já a partir de 20,6 cm de CP os indivíduos
começam a se alimentar com maior preferência de Teleósteos e, consequentemente,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
230
Mollusca e Insecta começa a apresentar valores mais baixos, regredindo a sua
presença na alimentação, finalizando com o grupo Teleósteos sendo consumido com
uma alta frequência (Figura 4). Essa variação na alimentação já foi observada por
alguns autores, como Pompeu (1999) que analisou o hábito alimentar da pirambeba
em quatro lagoas marginais (lagoas Feia, Cajueiro, Curral de Vara e Juazeiro) na
região do médio São Francisco, bem como Oliveira et al., (2004), fazendo a relação
comprimento do corpo com a dieta da pirambeba no Reservatório de Cajuru, bacia
do rio São Francisco, entretanto, ambos trabalhos possuíram classes de tamanho
abaixo da presente pesquisa (8,0-16,0 cm e 1,5 a 13,5 cm de comprimento padrão,
respectivamente), mesmo com valores de comprimento inferiores, ambos os trabalhos
observaram a ontogenia trófica durante o estudo, essa divergência com relação a
mudança na alimentação pode estar relacionada aos recursos alimentares presentes
no reservatório de Moxotó, onde a espécie possui uma maior oferta de alimento.
Todavia, Costa et al., (2005) que observaram da mesma forma a ontogenia trófica,
entretanto para o Serrasalmus spilopleura (Kner, 1858), em um reservatório do Sudeste
brasileiro, com classes de tamanho de 6,0-28cm de CP tornando sua alimentação
preferencialmente piscívora com 22 cm, dados similares com a presente pesquisa.
Todos esses trabalhos observaram que nas primeiras classes de comprimento o item
preferencial das espécies era insetos aquáticos mudando para peixe, no entanto no
reservatório de Moxotó, as primeiras classes de tamanho apresentaram preferência
tanto por moluscos quanto por insetos, essa alta predominância.
O surgimento de uma dieta variável é característica marcante da ictiofauna fluvial
tropical, em que grande parte das espécies pode modificar de um item alimentar para
outro tão logo ocorram variações na abundância relativa do recurso alimentar em uso
(ABELHA et al., 2001).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
231
Figura 4: Porcentagem dos grupos alimentares consumidos por diferentes classes de tamanho
do Serrasalmus brandtii, coletado no período de agosto de 2016 a fevereiro de 2018 no
reservatório de Moxotó.
Devido à alta digestibilidade dos itens alimentares e da alimentação do S. brandtii
se tratar principalmente de Partes de Peixe digerido (0,203 IAi) que são representados
por partes da musculatura, escamas (0,202 IAi) e estruturas calcificadas (nadadeiras/
raios) (0,119 IAi) torna-se bastante difícil a identificação dos Teleósteos (Tabela 1),
não foi possível identificar nenhuma espécies dos item analisados. Foi possível
identificar apenas Acestrorhynchus sp., as espécies deste gênero possuem corpo
alongado e comprimido, boca grande com dentes cônicos e/ou caniniformes. No rio
São Francisco, espécies da família Acestrorhynchidae não possuem valor comercial,
entretanto possuindo importância como controladora de populações de peixes
forrageiros (PERET, 2004).
Com relação à identificação das famílias, foram observadas apenas duas:
Characidae e Serrasalmidae (Tabela 1). Characidae apresentou valor de IAi baixo
(0,000086), devido a sua baixa frequência e peso dos itens, entretanto a família
Serrasalmidae teve leve destaque no valor de IAi (0,002), devido aos altos valores de
peso. A família Serrasalmidae é composta por piranha e pirambeba (ANDRADE et al.,
2015), um estudo realizado por Barbosa e Soares (2009) sobre o levantamento da
ictiofauna do reservatório de Sobradinho e Baixo São Francisco, observou a presença
de cinco espécies da família Serrasalmidae, estando os gêneros Metynnis, Myleus,
Piaractus e Serrasalmus. Durante o período de análise foi observado que algumas
espécies de Serrasalmus brandtii apresentavam-se com sinais de mutilação (Figura
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
232
5), principalmente na nadadeira anal, o que possivelmente estaria relacionado a
um ataque da própria espécie. Sazima e Machado (1990) realizaram um estudo de
observação subaquática na região do Pantanal, Mato Grosso, com três espécies
de Serrasalmidae: Serrasalmus marginatus (VALENCIENNES, 1837), Serrasalmus
spilopleura (KNER, 1858) e Pygocentrus nattereri (KNER, 1858), relataram que S.
marginatus realiza captura através da tática de emboscada ou espreita, atacando
preferencialmente as nadadeiras posteriores.
Esse tipo de tática possivelmente, pode ter sido realizado pelo S. brandtii no
presente trabalho para investir contra indivíduos da própria espécie. Desta forma,
de acordo com a Tabela 1, durante o período de estudo não foi observado espécies
de alto valor comercial para as comunidades pesqueiras na atividade alimentar da
pirambeba, identificando apenas indivíduos que não possuem valor comercial ou de
baixo valor, no caso os Serrasalmidae, Oliveria et al., (2004) observou no reservatório
de Cajuru uma elevada mutilação na nadadeira caudal para a espécie Tilápia rendalli
(BOULENGER, 1896), entretanto ao analisar as nadadeiras encontradas não pode
identificar qual presa tinha sido capturada.
FO
Peso
(g)
Teleósteos
(%)
49,3
209,015
0,529
Estruturas Calcificadas (nadadeiras/
raios)
15,0
38,528
0,119
Item Alimentar
Partes de Peixe digerido
Escamas
Serrasalmidae
Acestrorhynchus sp.
IAi
10,0
98,587
0,203
0,7
14,796
0,002
19,6
2,1
49,888
5,979
0,202
0,003
Larva Characiforme
0,4
0,044
0,000
Otólitos
1,1
0,018
0,000
Characidae
0,4
1,175
0,000
Mollusca
59,6
32,160
0,214
Gastrópode
40,7
24,677
0,207
1,8
0,636
0,000
Biomphalaria straminea
Melanoides tuberculatus
Aylocostoma tuberculata
Asolene spixii
Pomacea sp.
Ovo de Molusco
Bivalvia
Diplodon rhuacoicus
Pisidium sp.
4,3
1,1
7,1
0,970
0,744
3,783
0,001
0,000
0,006
0,7
0,020
0,000
0,4
0,109
0,000
0,4
0,4
2,1
0,065
0,024
1,063
0,000
0,000
Limnoperna fortunei
0,7
Insecta
30,4
30,620
0,147
Insetos digeridos
26,1
26,761
0,144
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
0,069
0,000
Capítulo 21
0,000
233
Odonata
4,3
3,859
0,003
Diversos
27,5
40,837
0,110
Camarão digerido
9,3
11,152
0,021
15,7
27,046
0,088
Palaemon sp.
Vegetal
Sementes
1,4
1,1
2,619
0,020
0,001
0,000
Tabela 1: Frequência de Ocorrência (FO), Peso e Índice de Importância Alimentar (IAi) dos itens
alimentares consumido pelo S. brandtii, coletado no período de agosto de 2016 a fevereiro de
2018 no reservatório de Moxotó.
Figura 5: Serrasalmus brandtii com sinais de mutilações (A) Pirambeba com marcas de ataques
nas nadadeiras dorsal e caudal; (B) Marcas de ataques na nadadeira caudal, indivíduos
coletados no período de agosto de 2016 a fevereiro de 2018 no reservatório de Moxotó.
CONCLUSÕES
Durante o período de estudo o Serrasalmus brandtii apresentou uma plasticidade
trófica em sua dieta alimentar no reservatório de Moxotó, possuindo uma grande
diversidade de recursos alimentares, indicando ser uma espécie carnívora com
tendência a piscívora, devido a sua tendência a classificação especialista para
Teleósteos. Sendo desta forma uma espécie nativa controladora populacional,
possuindo grande importância para ecologia no local de estudo, justificando a sua
grande abundância no reservatório.
Possivelmente os fatores ambientais impostos pelo reservatório influencia
diretamente na dieta da pirambeba, uma vez que a categoria molusco possui uma
alta representatividade na atividade alimentar. Observa-se que a pirambeba realiza
um deslocamento vertical na coluna d’água para se alimentar, fato evidenciado pela
posição dos itens alimentares no ambiente.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 21
236
CAPÍTULO 22
doi
MANEJO ALIMENTAR PARA O TAMBAQUI
Jackson Oliveira Andrade
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará.
Lian Valente Brandão
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Castanhal. Castanhal-Pará.
Fabrício Menezes Ramos
Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus de
Cametá. Cametá-Pará.
RESUMO: A piscicultura é uma das atividades
produtivas que tem apresentado crescimento
nos últimos anos no mundo. O Brasil tem
potencial para se tornar um grande produtor
mundial nesta atividade sendo o tambaqui uma
das principais espécies produzidas no país. O
manejo alimentar é um procedimento essencial
para se obter sucesso na produção, porém
existem algumas divergências em relação a
esse aspecto para a espécie. Desse modo
este trabalho tem por objetivo reunir estudos
envolvendo manejo alimentar para esclarecer
divergências existentes, fornecer orientação e
contribuir para pesquisas futuras.
PALAVRAS-CHAVE: Piscicultura, restrição,
frequência, hiperfagia.
FOOD MANAGEMENT FOR TAMBAQUI
ABSTRACT: Fish farming is one of the
productive activities that has shown growth
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
in recent years in the world. Brazil has the
potential to become a major world producer
in this activity, with tambaqui being one of the
main species produced in the country. Food
management is an essential procedure to be
successful in production, but there are some
divergences regarding this aspect for the
species. In this way, this work aims to gather
studies involving food management to clarify
existing divergences, provide guidance and
contribute to future research.
KEYWORDS:
Fish
farming,
restriction,
frequency, hyperphagia
INTRODUÇÃO
Aquicultura é uma atividade definida
como o cultivo de organismos cujo ciclo de vida
se dá total ou parcialmente em meio aquático
(BRASIL, 2014). Possui vários ramos de
atuação como carninocultura; malacocultura;
algocultura; piscicultura; entre outras. A maior
parcela da produção aquícola nacional é oriunda
da aquicultura continental, na qual se destaca
a piscicultura continental representando 86,6%
da produção total (BRASIL, 2011).
O Brasil possui grande potencial ao
desenvolvimento da aquicultura, dispondo de
uma Zona Econômica Exclusiva de 3,5 milhões
de km². Em águas continentais possui mais de
Capítulo 22
237
dez milhões de hectares de lâmina d’água, o que representa aproximadamente 13%
do total da reserva de água doce disponível no mundo. Outros aspectos favoráveis
são o clima e a diversidade de espécies nativas que apresentam potencial para o
cultivo (Sidonio et al., 2012).
Esta atividade vem ganhando destaque, pois o pescado é a carne mais
demandada mundialmente e a de maior valor de mercado (Sidonio et al., 2012). Em
2013, as previsões de consumo se aproximaram de 20 kg/habitante/ano (FAO, 2013).
No Brasil, esse consumo foi de 11,17 kg/habitante/ano em 2011, aumentando 14,5%
em relação ao ano anterior (BRASIL, 2013), é um valor ainda abaixo do mínimo
recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 12 kg/habitante/ano
(FAO, 2012). Entretanto uma exceção é a região norte onde o consumo foi de 30 kg/
habitante/ano em 2011 (BRASIL, 2014).
Apesar do aumento da produção, segundo estimativas do Ministério da Pesca e
Aquicultura e da Food and Agriculture Organization o Brasil está muito aquém de seu
potencial produtivo. Isto se deve a algumas dificuldades que a aquicultura enfrenta
no Brasil, como, obtenção de licenças, carência de assistência técnica, manejo
inadequado, falta de padronização, insuficiência de pacotes tecnológicos e grande
necessidade de capital de giro (Sidonio et al., 2012).
Vale destacar que os gargalos podem ser analisados como as oportunidades para
desenvolver o setor. Cabendo incentivos em pesquisa, desenvolvimento e inovação
para elevar o patamar tecnológico e favorecer a competitividade e a sustentabilidade
da aquicultura brasileira (Rocha et al., 2013).
O tambaqui, Colossoma macropomum pertencente à classe Actinopterygii,
ordem Characiformes e família Characidae, ocorre naturalmente nas bacias do rio
Amazonas e Orinoco (Araujo-Lima et al., 2010). É uma espécie reofílica, de grande
rusticidade e bastante resistente à hipóxia, suportando valores abaixo de 1 mg L-1 de
oxigênio dissolvido na água, graças à capacidade de expansão do lábio inferior em
condições extremas de falta de oxigênio, que lhe permite captar e direcionar a água
das camadas mais superficiais, rica em oxigênio, para as brânquias (Baldisserotto,
2009). Esta espécie apresenta seu melhor crescimento em águas ácidas, com pH
entre 4 e 6 (Aride et al., 2007)
Constitui a principal espécie nativa produzida no Brasil (Paula, 2009), por
questões climáticas, seu cultivo no país se concentra nas regiões Norte, CentroOeste e Nordeste, com ampla aceitação pelo mercado (Kubtiza, 2004). Dentre as
principais razões que justificam o aumento na produção da espécie, destacam-se a
facilidade de obtenção de juvenis, bom potencial de crescimento, alta produtividade e
rusticidade e grande aceitação pelo mercado consumidor (Gomes et al., 2010). Outra
vantagem é que por ser onívoro, com tendência à herbivoria, filtrador e frugívoro
(Nunes et al., 2006), aceita facilmente rações artificiais e adapta-se bem ao cativeiro
(Santos et al., 2010).
Nesta revisão serão abordadas as principais formas de manejo alimentar para
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
238
a espécie.
BOAS PRÁTICAS DE MANEJO (BPM’S)
O grande desafio da aquicultura moderna é atender à crescente demanda
por pescado, minimizar os impactos ambientais e contribuir para aliviar a pressão
sobre os estoques pesqueiros, atendendo aos princípios da sustentabilidade que
segundo a FAO (2014) compreende a “gestão e conservação dos recursos naturais
e a mudança da orientação tecnológica e institucional que assegure o alcance e a
continua satisfação das necessidades humanas para as gerações atuais e futuras”.
Igualmente a qualquer outra indústria, a aquicultura apresenta impactos sociais
e ambientais potencialmente adversos, entretanto, os efeitos prejudiciais não se
encontram generalizados. Quando estão presentes, tendem a ser localizados e
podem ser minimizados ou até mesmo ser evitados completamente com a adoção de
gestão básica e procedimentos adequados de manejo (Silva et al., 2015).
Nesse sentido, a aquicultura começou a desenvolver e adotar códigos de
conduta, BPM’s, padrões de operação entre outros, a partir da década de 90 em um
esforço para mitigar seus impactos (Boyd et al., 2008).
O objetivo das BPM’s na aquicultura é prover um sistema que diminua o impacto
negativo social e ambiental, reduza o custo de produção e aumente a lucratividade,
reduza os resíduos e a poluição, ganhe ou mantenha o acesso a novos mercados
e promova a regularização dos empreendimentos aquícolas (Clay, 2008). As BPM’s
descrevem um conjunto de técnicas simples e de fácil adoção que podem ser
selecionadas pelos produtores de uma região.
Desse modo, motivados com o aumento da atividade aquícola no cenário mundial
e também nacional, as pesquisas científicas buscam sempre definir novas formas
de manejo que contribuam para aumentar a eficiência do setor, tanto no aspecto
econômico, quanto no ambiental e social, buscando: novas espécies para o cultivo,
melhoramento genético nas espécies já estabelecidas no mercado, minimizar os
impactos ambientais da atividade, identificar as melhores características ambientais
para o cultivo, entre outras.
MANEJO ALIMENTAR
A busca de um manejo eficiente é constantemente objeto de pesquisa nas
diversas áreas da aquicultura, e quando tratamos da piscicultura, um dos setores
mais relevantes na atividade, esse manejo é muito voltado para a alimentação. Uma
vez que a ração é um dos itens mais onerosos nos diversos sistemas de produção de
peixes, com 50% do custo total (Andrade et al., 2005), é necessário adotar medidas
que visem à redução deste custo, por meio de um adequado manejo alimentar.
Um manejo alimentar adequado é um dos fatores determinantes no sucesso do
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
239
processo produtivo, uma vez que além de compor boa parte do custo de produção, o
consumo de alimentos também influencia diretamente o crescimento e a conversão
alimentar dos peixes (Mohseni et al., 2006).
A adoção de estratégias alimentares adequadas, nas diferentes fases de vida
dos peixes, permite melhorar o seu crescimento, conversão alimentar e, contribuindo
para reduzir o desperdício de ração, que quando ocorre prejudica a qualidade da água
de cultivo e a produção (Goddard, 1996; Cho et al., 2003). O fato de que essas sobras
de ração decorrentes do manejo inadequado ou oriundos da baixa digestibilidade das
rações podem comprometer a qualidade da água também é corroborado por Jana et
al. (2006) e Mohanta et al. (2008).
A eficiência do manejo alimentar é baseada em dois componentes: redução das
perdas e sobras da ração e otimização da conversão alimentar (Belle e Nash, 2008).
Sendo que está diretamente relacionada ao fornecimento da ração e à utilização da
mesma pelos peixes, pois quando os peixes são alimentados insuficientemente ou
em excesso, seu crescimento e eficiência alimentar são afetados (Luz e Portella,
2005).
Além disso, um manejo bem planejado e executado, diminui os custos da
mão de obra, item responsável por parcela significativa do custo fixo da atividade,
portanto, a eficiência do manejo está diretamente ligada à viabilidade econômica de
um empreendimento aquícola (Chagas et al., 2007).
Entretanto para melhorar o manejo principalmente entre os agricultores
familiares, o acesso a assistência técnica é fundamental, pois as boas práticas da
atividade ainda são pouco disseminadas entre os produtores. Como saída, buscamse profissionais que lidem genericamente com diferentes animais e em virtude da
falta de conhecimento específico sobre cada espécie, surgem problemas de manejo,
como o excesso ou falta de ração (Sidonio et al., 2012).
FREQUÊNCIA ALIMENTAR
A frequência do fornecimento do alimento ou frequência alimentar é uma
estratégia de manejo alimentar, pois estimula o peixe a procurar pelo alimento em
momentos pré-determinados, além de contribuir na melhora da conversão alimentar
e incrementar o ganho de peso (Carneiro e Mikos, 2005).
Informações sobre a frequência alimentar das espécies de peixes têm
importantes implicações nos resultados produtivos. Altas taxas de alimentação
interferem no metabolismo digestivo e leva a deteriorização da qualidade da água,
e a subalimentacão pode levar a uma competição por alimento causando uma
heterogeneidade no tamanho dos animais (Castagnolli, 1979).
Do ponto de vista ambiental a implementação de uma frequência alimentar ideal,
aliada a um alimento de qualidade, promove uma menor lixiviação dos nutrientes,
reduzindo a carga poluente lançada no ambiente (Souza et al., 2014). Além disso, a
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
240
frequência ideal de alimentação é importante para o melhor aproveitamento da mão
de obra, uma vez que esse item contribui significativamente nos custos contabilizados
na produção de peixes (Jomori et al., 2005; Souza et al., 2014).
Na determinação da frequência alimentar alguns fatores devem ser considerados,
como espécie, idade do animal e temperatura da água (Hayashi et al., 2004). Outros
aspectos importantes a serem considerados, são citados por Frascá-Scorvo (1999)
como: anatomia, fisiologia, comportamento e hábito alimentar dos animais.
Na maioria das pesquisas realizadas com diversas espécies e hábitos
alimentares, podem-se encontrar animais que se desenvolvem bem com uma, duas,
três ou mais alimentações diárias (Hayashi et al., 2004; Ferreira et al., 2007; Corrêa
et al., 2009; Corrêa et al., 2010).
Para o tambaqui, especificamente, ainda não foi proposto um modelo de
frequência de alimentação e os existentes não são unânimes quanto à frequência
utilizada. Desta forma, é necessário determinar a frequência ideal nas várias fases
de criação, considerando-se as diferenças na idade dos animais, a composição das
rações, a qualidade da água e as condições experimentais (Souza, et al., 2014). Pois
esses fatores podem variar até na mesma espécie e nos diversos sistemas de cultivo
(Sampaio et al., 2007).
RESTRIÇÃO ALIMENTAR
A restrição alimentar é caracterizada como o período de tempo (em dias) em
que os animais ficam sem alimentação (Carneiro e Mikos, 2005). Na piscicultura,
a exploração adequada desta prática pode resultar em melhoria na produção, com
aumento na taxa de crescimento, eficiência alimentar e redução do custo com
alimentação e mão-de-obra (Wang et al., 2000; Maclean e Metcalfe, 2001).
Segundo Weatherley e Gill (1987), durante o jejum os processos essenciais
e vitais são mantidos por meio de reservas energéticas endógenas, resultando em
perda de peso. Este fato acontece em vários órgãos, especialmente no fígado, o qual
desempenha papel central no metabolismo como a síntese de glicogênio (Souza et
al., 2000).
Algumas espécies de peixes preservam os estoques de glicogênio no fígado,
enquanto são mobilizadas grandes quantidades de lipídeos. Já outras espécies, os
estoques de glicogênio são conservados, enquanto quantidades de proteínas são
mobilizadas (Sheridan e Mommsen, 1991). No entanto, a tendência geral entre as
espécies é conservar a proteína corporal, utilizando-se dos estoques de lipídeos e
glicogênio (Souza et al., 2000).
Após o período de privação alimentar, os peixes desenvolvem mecanismos
capazes de reverter processos de mobilização das reservas para suprir o catabolismo.
Na fase de realimentação, primeiramente, eles utilizam o alimento para superar as
necessidades energéticas para manutenção dos processos vitais e para repor o
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
241
catabolismo do tecido. Somente a partir dessa condição satisfeita, o destino da dieta
será para o crescimento (Hepher, 1988).
Essa capacidade do animal para o crescimento mais rápido do que o normal
após um período de restrição ou privação alimentar, recuperando o peso original
ou aumentando a taxa de crescimento é definida como crescimento compensatório
(Jobling et al., 1993; Nicieza e Metcalfe, 1997).
Essa compensação no ganho de peso durante a realimentação pode ser integral,
significa que o peixe privado recupera a trajetória de peso indicado por peixes de
controle, ou compensação parcial, o crescimento acelerado mostrado pelos peixes
privados durante os períodos de realimentação não é suficiente para restaurar o peixe
privado para a trajetória de peso de peixes de controle (Jobling, 1994; Ali et al, 2003).
O crescimento compensatório é uma estratégia bem documentada usada para
enfrentar o problema do alto custo de produção dos peixes, podendo ser empregado
para melhorar sua taxa de crescimento, eficiência alimentar e ao mesmo tempo
diminuir os custos com alimentação (Hornick et al., 2000; Wang et al., 2000; Maclean
e Metcalfe, 2001). Alguns estudos têm avaliado ciclos repetidos de restrição alimentar
e realimentação em relação ao crescimento compensatório (Mélard et al., 1997; Ali e
Wootton, 2001).
Estudos já realizados verificaram que o crescimento compensatório pode ser
obtido por hiperfagia (Wang et al., 2000; Xie et al., 2001), que pode ser constatada
pelo aumento do consumo de alimento nos dias de realimentação (Ali et al., 2003) ou
de uma combinação de hiperfagia e aumento na eficiência de crescimento (Jobling et
al., 1993; Hayward et al., 1997; QIAN et al., 2000).
MANEJO ALIMENTAR PARA O TAMBAQUI
Quanto aos estudos sobre as técnicas de manejo aplicadas ao tambaqui foram
divididas em frequência alimentar (Tabela 1) e restrição alimentar (Tabela 2).
Segundo Souza et al. (2014), frequências alimentares maiores não são
recomendadas, por demandarem maior mão de obra, afirmando que duas alimentações
diárias para o tambaqui são suficientes para manter os parâmetros de desempenho e
fisiológico avaliados. Concluindo que a frequência alimentar não afetou o desempenho
do tambaqui no período estudado.
Van Der Meer et al. (1997) verificou que altas frequências de alimentação
resultaram em maior consumo alimentar, maiores taxas de crescimento e menor
eficiência de utilização do alimento para juvenis de tambaqui com peso médio inicial
de 0,87 g
Resultado parecido foi descrito por Ituassú et al. (2006), verificando que não
há melhorias dos índices zootécnicos (ganho de peso, eficiência alimentar, taxa de
crescimento específico) aumentando a frequência alimentar após privação alimentar.
A duração da hiperfagia diminui quando se aumenta a frequência alimentar, indicando
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
242
que duas alimentações diárias é a melhor frequência alimentar para juvenis de
tambaquis durante o crescimento compensatório.
Tabela 1. estudos que avaliam o uso de diferentes frequências alimentares para o cultivo de
tambaqui (Colossoma macropomum).
*tratamento recomendado pelos autores.
Entretanto Corrêa et al. (2009) concluiu que juvenis de tambaqui (100 g a 500
g) produzidos em tanques-rede alimentados três vezes ao dia têm melhor ganho de
peso, com menor conversão alimentar.
Resultado semelhante ao encontrado por Silva et al. (2007) mostrando que uma
taxa de alimentação de 10% biomassa dividida em 3 refeições diárias é a estratégia
de alimentação mais eficiente para tambaqui durante a primeira fase produzidos
em gaiola, porque fornece maior crescimento e produção, com baixo custo para
alimentação.
Se tratando da técnica de restrição alimentar como forma de melhorar o manejo
alimentar da espécie, Ituassú et al. (2004) verificou que o tambaqui exibe crescimento
compensatório quando submetido à privação alimentar e que a compensação do
crescimento é total quando os peixes são submetidos à privação alimentar até 14
dias. O tambaqui apresenta maior deposição de proteína corporal quando passa a ser
alimentado à vontade após ser submetido à privação alimentar.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
243
Tabela 2. Estudos que avaliam o desempenho do tambaqui (Colossoma macropomum)
submetido à restrição alimentar.
*tratamento recomendado pelos autores.
Santos et al. (2010) também ao avaliar juvenis de tambaqui, submetidos à
privação alimentar, constatou a ocorrência de crescimento compensatório quando
realimentados, indicando que a privação alimentar pode ser usada na prática da
criação desta espécie. Juvenis de tambaqui apresentam melhor desempenho, melhor
composição de carcaça e maior duração da hiperfagia quando alimentados com 36%
de proteína bruta na ração após à privação alimentar.
Entretanto Santos et al. (2013) percebeu que o período de 14 dias de privação de
alimentos não afetam o perfil fisiológico do juvenil de tambaqui e melhora a qualidade
da água, mas tem influência negativa em relação ao ganho de peso animal após
a realimentação. Verificou ainda que a demanda protéica e energética de juvenis
de tambaqui não aumenta devido à privação alimentar e 10,5 kcal g-1 de energia
digestível por proteína pode ser recomendada para a dieta dos juvenis.
CONCLUSÂO
É notável a existência de divergências quanto a definição da frequência de
alimentação ideal para a espécie, e que ainda cabem estudos para que se defina
a melhor estratégia deste manejo para a espécie nas diferentes fase e sistemas
produtivos, visto que ainda são escassas estas informações em sistema de viveiros
escavados. De acordo com a revisão,a espécie apresentou melhor desempenho
zootécnico com a frequência alimentar de 02 alimentações ao dia em sistema de baixa
renovação de água e 03 alimentações ao dia em sistemas com maior renovação.
Quanto à restrição alimentar ainda os estudos são escassos, porém apresentaram
resultados satisfatórios visto que a espécie apresenta ganho de peso compensatório
após o período de jejum, cabendo ainda estudos que descrevam melhor a implicação
desta técnica nos custos de produção para a espécie e ainda testarem novos ciclos
e intervalos de privação.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 22
247
CAPÍTULO 23
doi
LARVICULTURA DOS PRIMEIROS DESCENDENTES DA
GERAÇÃO PARENTAL DA CURIMATÃ, Prochilodus sp. DA
BACIA DO DELTA DO PARNAÍBA
Karla Fernanda da Silva Freitas
Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE
Toledo / PR
Roberta Almeida Rodrigues
Universidade Estadual Paulista - UNESP
Jaboticabal / SP
Antônio José Sousa de Moraes
Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE
Toledo / PR
Odair José de Souza
Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE
Toledo / PR
Alessandra Oliveira Vasconcelos
Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFPI-UFDPar)
Parnaíba / PI
Marlene Vaz da Silva
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UEMS
Aquidauana / MS
Josenildo Souza e Silva
Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFPI-UFDPar)
Parnaíba / PI
Michelle Pinheiro Vetorelli
Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFPI-UFDPar)
Parnaíba / PI
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
RESUMO: Dentre os organismos naturais
que suprem a demanda proteica, energética e
nutricional, o plâncton é de grande relevância
para assegurar êxito durante a fase de
desenvolvimento larval. O objetivo deste estudo
foi estabelecer mecanismos de produção,
captura, identificação de alimento vivo para
alimentação durante a fase larval da curimatã
(Prochilodus sp.) para atender a demanda
nutricional das larvas em cultivo. Foram utilizadas
297 larvas oriundas da desova induzida de
curimatã, em um período de larvicultura de dez
dias. As larvas foram estocadas em tanques
experimentais de caixas de polietileno de 500L,
com a densidade de 1,34 larvas/L em sistema de
cultivo aberto. A alimentação foi ofertada quatro
vezes ao dia com zooplâncton selvagem e duas
vezes ao dia com náuplios de Artêmia eclodidos
em laboratório. Os zooplânctons identificados
na alimentação foram os rotíferos da espécie
Brachionus havanensis (ROUSSELET, 1911)
e copepoditos em fase não identificada, de
acordo com a disponibilidade do ambiente. A
oferta combinada dos dois tipos de alimento
vivo proporcionou a sobrevivência.
PALAVRAS-CHAVE: Alimento natural, Fase
larval, Zooplâncton.
LARVICULTURE OF THE FIRST
DEPENDENTS OF PARENTAL GENERATION
Capítulo 23
248
OF CURIMATÃ, Prochilodus sp. PARNAÍBA DELTA BASIN
ABSTRACT: Among the natural organisms that supply protein, energy and nutritional
demand, plankton is of great importance to ensure success during the larval development
phase. The objective of this study was to establish mechanisms of production, capture
and identification of live food for feeding during the larval phase of curimatã (Prochilodus
sp.) To meet the nutritional demand of cultivated larvae. We used 297 larvae from the
induced spawning of curimatã, in a ten days larviculture period. The larvae were stored
in experimental tanks of 500L polyethylene boxes, with the density of 1.34 larvae / L in
open culture system. The diet was offered four times a day with wild zooplankton and
twice a day with laboratory hatched Artemia nauplii. The zooplankton identified in the
diet were the rotifers of the species Brachionus havanensis (ROUSSELET, 1911) and
copepodites in an unidentified phase, according to the availability of the environment.
The combined offer of both types of live food provided survival.
KEYWORDS: Natural food, Larval phase, Zooplankton.
1 | INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, com o crescimento populacional, o interesse pelo consumo
de alimentos mais saudáveis e a demanda mundial por pescado vem aumentando
consideravelmente (BRABO et al., 2016). Em 2016 foram produzidas mundialmente
171 milhões de toneladas de pescado, sendo a aquicultura responsável por 47% do
total, evidenciando crescimento ao longo das últimas décadas (FAO, 2018). Dentre
os países com maior potencial para a aquicultura, o Brasil tem se destacando pela
disponibilidade hídrica, clima favorável e ocorrência natural de espécies aquáticas de
interesse zootécnico e mercadológico (BRASIL, 2013).
A aquicultura contribuiu com R$ 4,61 bilhões, a piscicultura continental contribuiu
com 507 milhões de toneladas, representando 40,9 % da produção total nacional de
pescado, destacando-se o cultivo de tilápia, tambaqui e de híbridos, principalmente a
tambatinga e o tambacú (IBGE, 2017). A produção da aquicultura do Piauí, segundo
IBGE (2018) foi de 13,8 mil toneladas, as espécies continentais mais produzidas
foram o Tambaqui, Colossoma macropomum (CUVIER, 1816) com 5,9 mil toneladas
e a Tilápia do Nilo, Oreochromis niloticus (LINNAEUS, 1758) perfazendo 4,1 mil
toneladas, as espécies representam um pouco mais de 72% da produção total da
aquicultura. Quanto as espécies nativas da região Nordeste no Piauí, destacam-se a
curimatã (Prochilodus) com 67,4 toneladas, colocando o estado como o quinto maior
produtor brasileiro, surubim/pintado (Pseudoplatiystoma) perfazendo 64,5 toneladas
e o piau (Leporinus) contribuindo com 30,6 toneladas, segundo IBGE (2017).
Buscando atender as demandas dos pescadores de águas interiores (rios,
riachos, lagos, lagoas e reservatórios) com peixamentos e piscicultores da Bacia do
Rio Parnaíba com a domesticação de espécies locais, a UFPI/UFDPar, encetou o
Projeto de Propagação de Peixes Nativos da Bacia do rio Parnaíba, desenvolvido na
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 23
249
Estação de Aquicultura, utilizando incialmente a curimatã, “por ser o mais apreciado
comercialmente na Apa do Delta do Parnaíba, Territórios dos Cocais e da Planície
Litorânea e pela importância ecológica para as coleções de água da região”, (SILVA,
2017).
A curimatã pertence à Família Prochilodontidae, a espécie Prochilodus brevis
(antiga P. cearensis), conhecida vulgarmente, como curimatã comum, é caracterizada
como migradora autóctone, que se desloca ao longo dos rios durante os períodos
chuvosos para realizar sua reprodução, fenômeno denominado piracema (RESENDE
et al., 1995; ZANIBONI–FILHO & WEINGARTNER, 2007). Em geral apresentam hábito
alimentar iliófago, consumindo algas filamentosas e matéria orgânica depositada no
fundo dos açudes e viveiros (DE PAULA, 2006; GODINHO & GODINHO, 2003). Para
LOPES et al., (2006), a curimatã permite o manejo da larvicultura, pois em ambiente
natural se alimentam de frutas, sementes e organismos aquáticos de pequeno porte,
sobretudo por serem onívoras.
Um dos desafios da produção de espécies nativas é a determinação de dieta
mais apropriada para as larvas (PEZZATO et al., 2004), pois a maioria das espécies
depende do alimento natural na fase inicial da vida (SIPAÚBA-TAVARES & ROCHA,
2003; FURUYA, 2001), exigindo nutrição adequada para garantir a qualidade e
sobrevivência dos animais manejados (HAYASHI et al., 2002). Dentre os organismos
naturais que suprem a demanda proteica e energética, o plâncton (fitoplâncton e
zooplâncton) se destaca por atender a demanda nutricional ao desenvolvimento larval
(FURUYA et al., 1999; FERMIN & BOLIVAR, 1991; WEBSTER et al., 1991; FURUYA
et al.,1999). A utilização do zooplâncton na alimentação das larvas se justifica ainda
pelo fato de se locomoverem de forma limitada, estimulando e facilitando a predação
alimentar pelas larvas cultivadas (CESTAROLLI; PORTELLA; ROJAS, 1997; BARGUIL
et al., 2004; PAES et al., 2011).
Nessa etapa os principais problemas inerentes a mortalidade das larvas
estão associados ao esgotamento rápido da reserva de vitelo e o tamanho da boca
relativamente pequena para se alimentar de zooplâncton (CORTÊS & TSUZUKI,
2010). Outro aspecto observado, é que o trato digestivo das larvas de algumas
espécies de peixes é muito rudimentar nos primeiros estágios de evolução, sobretudo
entre a fase do vitelo e de larva, principalmente na transição de alimento endógeno
para alimento exógeno (RANDÜNZ-NETO, 1999).
Nesse contexto, o trabalho se reporta a estabelecer mecanismos de produção,
captura, identificação de alimento vivo para alimentação durante a fase larval da
curimatã , para atender a demanda nutricional das larvas em cultivo da primeira
desova de curimatã da Bacia do Parnaíba, da Estação de Aquicultura da UFPI para
produção da geração F, buscando responder perguntas que estavam sem respostas,
as quais abordamos nesse estudo: Qual a proporção ótima de zooplâncton por larva
para garantir a sobrevivência e a sanidade animal? E qual a sobrevivência larval
utilizando um mix alimentar composto de zooplâncton com Artêmia na alimentação?
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 23
250
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
Este estudo foi desenvolvido na Estação de Aquicultura da UFPI - UFDPar,
na cidade de Parnaíba-PI, realizado no mês de fevereiro de 2017, com duração
de dez dias de Larvicultura. Foram utilizados três machos com peso médio 700 g
e três fêmeas com peso médio de 820 g de curimatã Prochilodus sp oriundos do
projeto de domesticação de espécies nativas da Bacia do Delta do Parnaíba, que
foram submetidos a reprodução induzida pela primeira vez depois de retirados do
ambiente natural. Foram obtidas dessa reprodução, duzentas e noventa e sete larvas
de curimatã, a qual foram estocadas em caixa d’água circular de polietileno com
capacidade de 500 L (volume útil de 400 L) com vazão de água de 134,82 L/h com
sistema de renovação de água aberta. A densidade de estocagem foi de 1,34 lavas/L,
e as variáveis de oxigênio dissolvido de 6,7mg/L, pH 7,5 e temperatura de 30,7°C na
água.
A alimentação foi ofertada quatro vezes ao dia com zooplâncton selvagem e
duas vezes ao dia com náuplios de Artêmia eclodidos em laboratório ao dia, às 8, 11,
14, e 17 horas. Os zooplâncton selvagem foram coletados diariamente ás 6 horas da
manhã em um viveiro com fundo de argila de 635 m2 de águas verdes, utilizando uma
rede de plâncton de 500 micras de malha e filtrada em outra malha de 125 micras. Os
táxons da comunidade zooplânctonica foram identificados com o uso de bibliografia
específica (por exemplo Rousselet, C F 1911 dentre outras), no qual obtiveram a
predominância dos grupos de copepoda e rotíferos, observado em microscópio optico
e quantificados em câmara de Sedgewick-Rafter. Os peixes foram alimentados com
zooplâncton diluído em 20 L de água por alimentação nas seguintes proporções:
copepoditos, 20.960 indivíduos/L e rotíferos, 42.160 indivíduos/L. Na alimentação
com Artêmia sp. foram eclodidos em água salgada do mar com salinidade 30‰, 10
g ao longo do experimento na proporção de 168.518,5 indivíduos/L por alimentação.
Ao final da última alimentação, os detritos acumulados no fundo do tanque eram
sifonados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados na comunidade zooplânctonica a abundância de dois
grupos dominantes, os rotíferos da espécie Brachionus havanensis (ROUSSELET,
1911) com maior densidade (65,9%) e Copepoda na fase de Copepodito espécie não
identificada com menor densidade (34,1%) (gráfico 1). A abundância de rotíferos, pode
ter ocorrido devido ao período chuvoso que ocasiona aumento na disponibilidade
de nutrientes (LANDA et al., 2002). Essas duas espécies de zooplânctons foram
fornecidas na alimentação diariamente em densidade média de 212,4 organismos
por larva de curimatã (gráfico 2).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 23
251
Gráfico 1: Densidade da comunidade zooplânctonica por grupo de espécie.
Gráfico 2: Densidades de zooplâncton e Artêmia fornecidos diariamente para cada larva de
curimatã.
Gráfico 3: Sobrevivência das larvas de curimatã no final da larvicultura.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 23
252
Na larvicultura o sucesso ou o fracasso depende, principalmente, do fornecimento
de alimento vivo em qualidade e quantidade adequadas imediatamente após as larvas
iniciarem a alimentação exógena (SOARES et al., 2000). Nesse contexto, a Artêmia
foi utilizada como complemento alimentar, devido ao seu valor nutricional, podendo
reduzir a incidência do canibalismo e elevar a sobrevivência (KESTEMONT et al.,
2007). Com densidade média de 567,4 de náuplios de Artêmias por larva de curimatã
ao dia, foi possível observar que a associação complementar de zooplâncton com
Artêmia (gráfico 2), que garantiu a sobrevivência das larvas de curimatã em 92%
(gráfico 3). Os resultados confirmam a afirmação de opuszynski et al., (1984), quanto
ao uso de alimento vivo na primeira dieta alimentar dos peixes, contribui com nutrientes
essenciais para o crescimento e sobrevivência das larvas. Também corrobora com as
recomendações de kolkovskI (2001), sobre a importância da introdução de alimento
vivo na fase inicial de vida dos peixes, no qual contribuiu para a digestão, devido as
enzimas presentes nesses organismos.
4 | CONSIDERAÇÕES
Atribuímos a elevada sobrevivência das larvas a ação associada da larvicultura
e do manejo alimentar com a oferta de zooplâncton e Artêmia, nas primeiras fases
larvais de curimatã.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 23
255
CAPÍTULO 24
doi
CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DE OSTRAS (Crassostrea
brasiliana) DA REGIÃO DE CAPANEMA - BA, POR MEIO
DE MARCADORES ISSR
Leydiane da Paixão Serra
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
Joemille Silva dos Santos
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
Vitória Lacerda Fonseca
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
Sabrina Baroni
Universidade de São Paulo, São Paulo-SP
Moacyr Serafim Junior
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Cruz das Almas-BA
RESUMO: O presente trabalho teve como
objetivo caracterizar, através de marcadores
moleculares ISSR, a espécie de ostra Crassostrea
brasiliana, coletadas do ambiente submerso
na comunidade de Capanema/MaragogipeBA, a fim de obter maior conhecimento da
diversidade genética dessa população. Foram
coletados um total de 41 indivíduos da espécie
C. brasiliana, na região de Capanema-BA. Os
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
espécimes foram levados vivos para análise
no Laboratório de Genética de Organismos
Aquáticos (LAGOA), na Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB). Foram realizados
os procedimentos para as extrações do DNA
total através do protocolo de extração de Fenol
Clorofórmio tendo como material biológico
o musculo adutor de cada individuo, e em
seguida análise com marcadores moleculares.
Foram utilizados um total de 6 primers ISSR.
As análises dos padrões de bandas obtidas a
partir destes marcadores foram transformadas
em matriz binária de presença/ausência. As
análises foram realizadas através do programa
estatístico Darwin6, utilizando o agrupamento
de similaridade pelo método das medias
não ponderadas das distâncias gênicas. A
similaridade dos indivíduos baseou-se no
coeficiente de Jaccard. Pelas comparações
realizadas averiguou-se as relações de
parentesco entre os genótipos de C. brasiliana,
sendo os indivíduos 38 e 10 (0.92) aqueles que
apresentaram genótipos mais distantes e os
indivíduos de 21 e 18 (0.07) que apresentaram
genótipos mais próximos. Tendo essa
população uma distância média de 61%. Desse
modo, podemos concluir que há uma moderada
variabilidade genética nessa população,
podendo acarretar a diminuição da adaptação
desses indivíduos do decorrer dos anos.
PALAVRAS-CHAVE: Genética de populações;
Capítulo 24
256
Variabilidade genética; Moluscos Bivalves; DNA.
1 | INTRODUÇÃO
O Brasil destaca-se mundialmente por sua extensa área de manguezal. Muitas
comunidades retiram seu sustento deste ambiente por meio da pesca artesanal e de
subsistência como fonte de renda necessária à sua sobrevivência (SILVA, OLIVEIRA
e NUNES, 2007). No Nordeste brasileiro, a extração de moluscos bivalves representa
importante papel social para boa parte da população estuarina, a atividade é
desenvolvida geralmente por trabalhadores autônomos (em sua maioria mulheres), ou
organizados em associações e cooperativas que vivem da captura e beneficiamento
dos mariscos, e que detém conhecimento sobre a fauna e flora do mangue (FAO,
2010; BEZERRIL, 2012).
Segundo Silva (2015), espécimes do gênero Crassostrea ocorrem nas regiões
estuarinas de baixa e média salinidade do litoral do Brasil e recebem o nome popular
de ostra do mangue. Destas, duas espécies se destacam por sua relevância no
extrativismo e na aquicultura brasileira: Crassostrea rhizophorae (GUILDING, 1828)
e Crassostrea brasiliana (LAMARK, 1819). Souto e Martins (2009) em um estudo
etnoecológico na mariscagem de moluscos bivalves no manguezal do Distrito e Acupe,
Santo Amaro-BA, evidenciou por meio de entrevistas às marisqueiras da região que
os indivíduos são denominados de acordo com o local de coleta, “ostras de mangues”
para aquelas encontradas nas raízes de manguezais e “ostra de laje” para aquelas
que são encontradas aderidas as pedras.
De acordo com Ignacio et al., (2000) e Melo et al., (2010b) evidências genéticas
bioquímicas e moleculares suportam a existência de duas espécies nativas de
Crassostrea, identificadas como C. brasiliana e C. rhizophorae. Por serem animais
de profundo interesse econômico, suas relações vêm sendo estudadas por vários
pesquisadores das mais diversas áreas, pois ainda não são conhecidas ao certo suas
distribuições geográficas e nem mesmo suas afinidades filogenéticas.
Os métodos moleculares são os mais indicados para avaliar e caracterizar a
diversidade genética de determinadas populações, além disso, são imprescindíveis
para estabelecer as pequenas diferenças entre as espécies (THORPE & SOLÉ-
CAVA, 1994; GUO et al., 2012, IGNACIO et al., 2000). A genética molecular é um
dos métodos mais confiáveis para resolver este dilema, tendo já sido utilizada para
questões semelhantes em estuários de outras regiões (THORPE & SOLÉ-CAVA,
1994; PIE et al., 2006; LUDWIG et al., 2011; KONG et al., 2013).A estruturação
genética das populações da ostra do mangue no litoral brasileiro merece estudos
aprofundados, uma vez que são importantes para preservação e conhecimento dos
estoques naturais e servirão de base para estudos que se aplicarão no processo de
cultivo das mesmas.
A existência de diferentes morfotipos com crescimentos diferenciados pode
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
257
incrementar a produtividade dos cultivos e solidificar a malacocultura no nordeste,
produzindo novos empregos e promovendo o desenvolvimento das regiões de cultivo,
além de permitir a exportação da tecnologia desenvolvida para outras regiões do país
(LEGAT et al, 2009).
Segundo Rodrigues (2010) marcadores moleculares do tipo ISSR é recomendado
para análises genéticas obtendo-se resultados confiáveis com rapidez em seus
resultados e com custos menores. Esse marcador tem sido utilizado com diferente
espécies aquáticas como peixes, moluscos, crustáceos (VIEIRA at al., 2017 OLIVEIRA
et al., 2019).
Dessa forma, espera-se que o levantamento realizado neste trabalho possa
contribuir com informações consistentes sobre á população de ostras estudadas,
permitindo a preservação e o cultivo de forma mais efetiva. Com isso, esse trabalho
tem como objetivo caracterizar, através de marcadores moleculares ISSR, a espécie
Crassostrea sp, coletadas do ambiente submerso com o objetivo de obter maior
conhecimento da diversidade genética dessa população.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletados 41 espécimes de ostra do gênero Crassostrea de um ambiente
totalmente submerso aderidas a substrato rochoso, na comunidade de Capanema,
localizada na cidade de Maragogipe – BA. A coleta ocorreu no mês de Junho de 2016,
onde os exemplares foram transportados vivos até o Laboratório de Genética de
Organismos Aquáticos (LAGOA), localizado na Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia, na cidade de Cruz das Almas-BA. Cada indivíduo foi aberto individualmente
com o auxílio de uma faca apropriada, tendo cuidado para não ocorrer contaminação
entre os indivíduos. Com auxílio de pinças e tesouras devidamente esterilizadas, foi
retirada uma porção do músculo adutor de cada indivíduo e armazenada em micro
tubos devidamente etiquetados, fixando com etanol absoluto. Após esta etapa, foram
realizados os procedimentos para as extrações do DNA.
Extração e quantificação de DNA
Do material amostrado, foi retirada uma alíquota do tecido para realizar a extração
do DNA. As amostras foram deixadas por 2h na estufa a 37º C para a retirada do
excesso do álcool. O DNA total dos exemplares foi extraído de acordo com o protocolo
fenol:clorofórmio descrito por Sambrook et al. (1989). O DNA foi estocado em tampão
TE (TRIS+EDTA) e posteriormente estocadas em freezer a -20ºC. A concentração e
a qualidade do DNA isolado foram avaliadas por eletroforese em gel de agarose 1%,
corado com brometo de etídio (1,5 µL). Para a corrida eletroforética foi utilizado uma
voltagem de 70 V e amperagem de 500 mA, por 1 hora. A foto-documentação do gel
foi efetuada através do transluminador UV L.PIX Loccus Biotecnologia – Molecular
Imaging acoplado a um computador contendo o Software com o mesmo nome,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
258
obtendo-se desta forma a concentração em ng/L a partir da quantificação visual,
utilizando-se um programa Excel com dados fixos.
Caracterização molecular
Logo após a quantificação, o DNA obtido de cada amostra foi diluído em água
ultra pura (µQ) e padronizado para concentração aproximada de 25 ng/µL. O DNA
total foi submetido às amplificações pela reação em cadeia de polimerase (PCR). O
DNA molde (20 ng) foi amplificado, em um volume final de 30µL contendo 20 ng de
DNA genômico, 20 mM de TrisHCl (pH 8,4), 50 mM de KCl, 1,5 mm de MgCl2, 0,2
mM de cada dNTPs, 0,3 mM do iniciador e 1,0 U de Taq DNA polymerase (Invitrogen).
Esse processo foi realizado com a utilização do Termociclador Veritti da marca Applied
Biosystems, empregando-se iniciadores (primers) tetranucleotídicos de sequência
repetitiva simples (ISSR - Inter Simple Sequence Reapets). Foram testados um total
de 14 iniciadores diferentes, destes foram selecionados sete que apresentaram
melhores resultados para as análises.
O processo de amplificação do DNA foi realizada em termociclador Veritti 96.000,
Applied Biosystems, As condições iniciais de amplificação foram: desnaturação a 94 °
C durante 4 min, seguido por 35 ciclos de 40s a 94 ° C. Para a seleção de iniciadores
de ISSR, utilizaram-se 14 primers com temperatura de anelamento variando entre
45º C a 65º C durante 50s, alongamento a 72 ° C durante 3 min e alongamento final
a 72 ° C durante 10 min. Destes14 primers ISSR foram escolhidos sete para estudo
por apresentar melhor grau de polimorfismo e maior nitidez dos padrões de bandas
conduzindo melhor analise. Os produtos de amplificação foram separados em gel de
agarose 2% e corados com brometo de etídio 3 µL. A visualização dos padrões foi
feita sob luz ultravioleta e os géis fotografados em sistema de fotodocumentação de
gel, molecular Imaging L.PIX, Loccus.
As bandas de ISSR reproduzidas foram montadas tabelas de códigos binários
sendo ausente (0) ou presente (1) para cada um dos indivíduos analisados. Com
a posse de todas as fotografias obtidas no processo de fotodocumentação, das
amostras coletadas, foi montado as tabelas de códigos binários que foram utilizadas na
estatística molecular. O loco foi considerado polimórfico quando o alelo foi visualizado
em uma frequência não superior a 0,99. As diferenças de acordo com a qualidade
na intensidade das bandas não foram consideradas.Para a caracterização molecular
dos espécimes trabalhados, foi calculada a distância de Jaccard. A avaliação do fluxo
gênico (Nm), a diversidade genética (GST), a Diversidade de gene de Nei (H), o índice
de Shannon (I) e a Porcentagem de bandas polimórficas (PBP) foram realizadas no
programa POPGENE versão 1.32 (YEH & BOYLE, 1997). O dendrograma foi obtido
com base na distância genética de Nei (1978) pelo método par a par de médias
ponderadas (UPGMA), com 1000 permutações de bootstrap com o uso do programa
computacional MEGA 6.06 (TAMURA et al, 2013).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
259
3 | RESULTADOS E DISCURSÃO
Durante as amostragens foi observado que as ostras amostradas permaneciam
100% submersas durante as 24 horas do dia. Os resultados para extração e corrida
eletroforética apresentaram resultados positivos para extração do DNA dos indivíduos.
Dos 14 primers testados, foram selecionados os que apresentaram melhor eficiência,
sendo eles (GA)8C, (CT)8RA, (AC)8YG, (AACC)4, (GACA)4, (AAGC)4, os primers
apresentaram um padrão de bandas polimórfico, tornando estes ótimos candidatos
a marcadores para estudos genéticos populacionais na espécie estudada. Estes
resultados estão coerentes com a pesquisa de Vieira (2017), que trabalhou com o
mesmo gênero e também foi constatado que a técnica ISSR resulta em elevado grau
de polimorfismo e apresenta alta reprodutibilidade.
Na Figura 1 é possível observar o resultado da fotodocumentação da eletroforese
em gel de agarose a 2% utilizando o primer 21 em 24 amostras de Crassostrea
brasiliana coletadas na comunidade de Capanema.
Figura 1: Gel de agarose 2%, utilizando o iniciador 21 nas amostras de 1 a 24.
Fonte: Serra (2018)
Reação de PCR
Os seis iniciadores selecionados geraram um número total de 66 fragmentos
(55 polimórficos e 11 monomórficos). O número total de loci variou de acordo com os
iniciadores, sendo o maior número de loci produzidos pelo ISSR21 e o menor pelo
ISSR 11 (Tabela 1).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
260
N° do primer
Sequência de bases
do Primer
Nº de locus monomórficos
Nº de locus polimórficos
ISSR04
(GA)8C
1
9
ISSR11
(CT)8RA
1
6
ISSR12
(AG) 8YG
5
8
ISSR16
(AACC)4
1
10
ISSR19
(GACA)4
1
7
ISSR21
(AAGC)4
2
15
11
55
Total
Tabela 1. Iniciadores ISSR selecionados na análise de variabilidade genética entre ostras do
gênero Crassostrea.
A similaridade dos indivíduos baseada no coeficiente de Jaccard averiguou as
relações de parentesco entre os genótipos de Cassostrea sp. , sendo os indivíduos
38 e 10 (0.92) aqueles que apresentaram genótipos mais distantes e os indivíduos de
21 e 18 (0.07) que apresentaram genótipos mais próximos, sendo o valor médio de
similaridade fornecido pelo programe estatístico foi de 0,61. Daltro (2013) encontraram
valores de 1,0 para indivíduos de maior distancia e 0,33 para os indivíduos mais
semelhantes, em estudos com ostras na cidade de São Francisco do Conde.
Neste estudo os valores de alelos observados não foi inferior ao número efetivo
de alelos. Vieira et al. (2017) em seu estudo observou resultados semelhantes, Como
o numero de alelos efetivo foi inferior ao numero de alelos observados, pode-se
concluir que nessas populações existe a possibilidades de melhorias na presença de
alelos nessa espécie.
TABELA 2. Caracterização da população de C. brasiliana amostrada.
* na = número de alelos observados; * ne = Número efetivo de alelos; *H = diversidade genética de Nei (1972); I =
índice de informação de Shannon. NLP= numero de loci polimórficos; PLP %= percentual de loci polimórfico.
A média de diversidade genética de Nei (H) foi de 0,2007 (σ±0,18), valores
inferiores encontrados por Vieira et al. (2017). Com relação ao índice de Shannon (I)
foram encontrados valores de 0,3142 (σ±0,25), Daltro (2013) encontraram valores do
índice de Shannon variando de 0,33 a 1,0 nos indivíduos estudados, no estuário do
rio Subaé, utilizando o mesmo marcador. Este índice pode variar de 0 a 1, no qual a
menor diversidade genética é representada por valores mais próximos de zero.
Do ponto de vista molecular, a diversidade genética é o polimorfismo entre
indivíduos de uma população, em um ou mais fragmentos de DNA demonstrado pela
presença e ausência de bandas, no caso de marcadores dominantes (RAMALHO et
al., 2012). Neste sentido a análise do percentual de loci polimórfico foi superiores a
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
261
80% o que demostra uma alta variabilidade genética dentro da população.
A relação de similaridade genética fica evidente através do método de
agrupamento UPGMA onde foi gerado um dendograma (figura 2). Na referida figura
é possível observar os indivíduos mais próximos circulados na cor azul e os mais
distantes geneticamente circulados na cor vermelha.
FIGURA 2. Dendrograma baseado no índice de similaridade de Jaccard e método de
agrupamento UPGMA para os genótipos de Crassostrea brasiliana.
Através das análises realizadas neste estudo, pode-se observar uma grande
variabilidade genética intrapopulacional. Esse dado corrobora com o analisado por
Daltro et al. (2013), que constataram características polimórficas que tornam alguns
indivíduos distantes geneticamente de outros na mesma população. Assim pelos
parâmetros usados de base para essa análise genética observou-se que as ostras
coletadas na comunidade de Capanema apresentam alta variabilidade genética.
4 | CONCLUSÕES
Pode-se concluir que há uma alta variabilidade genética nesta população, com
distância média de 61% de similaridade entre os espécimes. A mesma merece uma
devida atenção em função do grau de proximidade encontrado entre alguns indivíduos
o que poderá acarretar diminuição da adaptação desses organismos do decorrer dos
anos.
Contudo, a realização de novos estudos genéticos/moleculares, sequenciamento
de genes, com as espécies do gênero Crassostrea presentes no estuário da
comunidade de Capanema-BA necessitam ser realizados, para que se obtenham
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
262
resultados mais acurados. Novos estudos são de suma importância para a aquisição
de informações que auxiliarão programas de monitoramento das populações de
ostras, permitindo a preservação do potencial genético dos exemplares nos bancos
estudados, bem como, auxiliando a estabilidade da população ribeirinha que utiliza
esse recurso como principal fonte de subsistência.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
263
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 24
264
CAPÍTULO 25
doi
CARACTERIZAÇÃO GENÉTICA DO PIRÁ-TAMANDUÁ
(Conorhynchos conirostris) POR MEIO DE MARCADORES
MOLECULARES ISSR
José Rodrigo Lírio Mascena
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
Cruz das Almas - Bahia
Claudivane de Sá Teles Oliveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
Cruz das Almas - Bahia
Ricardo Franco Cunha Moreira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
Cruz das Almas - Bahia
Soraia Barreto Aguiar Fonteles
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB
Cruz das Almas - Bahia
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi
a utilização de técnicas moleculares de
caracterização genética, através de marcadores
ISSR, em espécimes de Conorhynchos
conirostris da bacia do rio São Francisco.
Foram coletados 32 exemplares de pirátamanduá (Conorhynchos conirostris), 23 do
rio Paracatu, em Minas Gerais, e 9 do rio São
Francisco, na Bahia. O DNA total de todos os
exemplares amostrados foi extraído de acordo
com o protocolo Fenol: Clorofórmio. Os primers
(GGAC)4 C, (GGAC)4 T, (AACC)4, (GGAC)4 e
(AAGC)4 amplificaram na temperatura de 52ºC
para as espécies de C. conirostris. Através
da visualização dos géis de agarose a 2% foi
possível obter uma matriz de dados binários, os
espécimes foram analisados com base em 75
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
locus obtidos a partir dos cinco primers ISSR.
A matriz de dados binários foi a base para o
cálculo do índice de similaridade genética
entre todos os 32 sujeitos do estudo. O valor
médio de similaridade encontrado entre todas
as comparações foi de 0,45. O maior valor de
similaridade (0,88) foi entre os indivíduos de
18 e 19 do rio Paracatu e o menor valor (0,07)
entre os indivíduos 6 e 17 do mesmo local.
Através da matriz de dados de similaridade,
foi realizada uma análise de coordenadas
principais (PCoA), que resultou em dois grupos
distintos coincidindo com o local de captura.
O grupo 1 foi composto por espécimes dedo
rio São Francisco , enquanto o grupo 2 foi
formado por indivíduos do rio Paracatu. Os
exemplares apresentaram um bom índice de
similaridade e a população amostrada no rio
Paracatu apresentou o maior e o menor índice
de similaridade de dois exemplares de C.
conirostris.
PALAVRAS-CHAVE: Conservação, família
pimelodidae, espécie endêmica.
GENETIC CHARACTERIZATION OF PIRÁTAMANDUÁ (Conorhynchos conirostris)
THROUGH ISSR MOLECULAR MARKERS
ABSTRACT: The objective of this work was
the utilization of molecular technique of genetic
characterization, through ISSR markers, in
Capítulo 25
265
specimens of Conorhynchos conirostris from São Francisco River basin. 32 exemplars
of pirá-tamanduá (Conorhynchos conirostris) were collected, 23 from Paracatu river,
in the Minas Gerais state, and 9 from São Francisco river close to Xique-xique city, in
the Bahia state. The total DNA of all sampled exemplars was extracted according to
Phenol:Chloroform protocol. The primers (GGAC)4 C, (GGAC)4 T, (AACC)4, (GGAC)4
and (AAGC)4 amplified at the temperature of 52º C for C. conirostris species. Through
the visualization of agarose gels 2% it was possible to obtain a binary data matrix, the
specimens were analyzed based in 75 locus obtained from the five ISSR primers. The
binary data matrix was the basis for calculating the genetic similarity index among all 32
study subjects. The average value of similarity found among all comparisons was 0,45.
The highest similarity value (0,88) was between individuals 18 and 19 from Paracatu
river and the lowest value (0,07) was found between individuals 6 and 17 from the
same location. Through the data matrix of similarity, a major coordinates analysis was
accomplished, that resulted in two distinct groups coinciding with the capture location.
The group 1 was composed by specimens from Xique-xique, while group 2 was formed
by Paracatu’s river individuals. The specimens presented a good index of similarity
and the population sampled from Paracatu river showed the highest and the lowest
similarity index of two specimens of C. conirostris.
KEYWORDS: Conservation, pimelodidae, endemic.
1 | INTRODUÇÃO
A bacia do Rio São Francisco e sua ictiofauna têm sido estudadas desde as
primeiras expedições científicas no país. Apesar disso, existem poucos trabalhos
amplos sobre esta ictiofauna (BARBOSA; SOARES, 2009).
Segundo Martins-Pinheiro e Sarmento-Soares (2007), conhecer a diversidade
ictiofaunística, sua distribuição, relações e com base nestas informações averiguar
possíveis associações pretéritas entre as áreas geográficas, constituem passos
necessários para o estabelecimento de metodologias mais eficientes.
Conorhynchos conirostris é considerada símbolo do rio São Francisco por ser
endêmica da bacia e monoespecífica, pertence à ordem siluriforme e é popularmente
conhecido como pirá-tamanduá ou simplesmente pirá, nas regiões onde é encontrado,
seu período reprodutivo é curto e a desova é do tipo total (RIBEIRO, 2002). É
um peixe de piracema, de interesse comercial e foi incluído na lista de espécies
presumivelmente ameaçadas de extinção na bacia do Rio São Francisco (LINS et
al., 1997). Devido a este comportamento migratório (GODINHO; GODINHO, 2003)
e atual transformação do sistema lótico em lêntico na bacia, há poucos registros de
presença de pirá em diversos trechos do São Francisco (MACHADO; DRUMMOND;
PAGLIA, 2008).
Os marcadores moleculares são instrumentos básicos para os estudos que
envolvem a genética, uma vez que permitem a caracterização da variabilidade e
estrutura genética nas populações. Entre os marcadores moleculares baseados na
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
266
técnica de Reação de Polimerização em Cadeia (PCR), o método de sequências
simples repetidas (ISSR) é amplamente utilizado em estudos de diversidade e
variabilidade genética por não necessitar de informação prévia da sequência de DNA
(RAMALHO et al., 2016). Além disso, esta técnica pode resultar em elevado grau
de polimorfismo, apresentar alta reprodutibilidade e ter baixo custo (BRAGA, 2013).
Este marcador possui potencial para fornecer dados sobre a variabilidade genética
de populações naturais ou cativas, sem a necessidade do conhecimento prévio da
sequência-alvo (MAGALHÃES; MARTINEZ; GAIOTTO, 2007).
A perda da variabilidade genética reduz a capacidade que uma população possui
para se adaptar a diferentes condições ambientais, por isso é necessário estimar a
variação genética da população (TAVARES, 2010). No presente estudo pretende-se
estudar a variabilidade genética de C. conirostris em dois trechos do rio São Francisco.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Coleta de material biológico
Foram coletados 32 exemplares de pirá-tamanduá (Conorhynchos conirostris),
23 do rio Paracatu, no estado de Minas Gerais, e 9 do rio São Francisco próximo a
cidade de Xique-xique, no estado da Bahia, de todos os indivíduos foram retirados uma
porção de aproximadamente 1 cm² da nadadeira caudal. O material foi identificado,
numerado, e estocado em álcool etílico absoluto, na proporção de 1:3, em temperatura
ambiente, e acondicionada em tubos tipo Eppendorf. Após isso o material foi levado
para laboratório de genética de organismos aquáticos (LAGOA) da Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), onde ocorreram as extrações de DNA.
Extração de DNA
O DNA total de todos os exemplares amostrados foi extraído de acordo com o
protocolo Fenol: Clorofórmio descrito por Sambrook, Fritsch e Maniatis (1989). Após
a extração foi colocado 100 µl de tampão TE (Tris-EDTA) e deixado no banho-maria
a 37ºC, durante 48 horas, para diluir o DNA. No dia seguinte todas as amostras
foram estocadas no freezer a –20ºC, para a sua conservação e composição do banco
genético “in vitro”. A concentração e a qualidade do DNA isolado foram avaliadas em
gel de agarose 1,0%.
Testes de Primer
O DNA total foi submetido à PCR, empregando-se primers tetranucleotídicos
(iniciadores) de sequência repetitiva simples. Foram realizados testes preliminares
com um total de dezoito primers diferentes, em um volume final de 30 µL (TABELA 1).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
267
Reagentes
Volume (μL)
H2O Mili-Q
14,75
MgCl2
2,5
MgCl2 Buffer
2,5
dNTPs
5,0
Taq DNA polymerase (Invitrogen, Carlsbad, CA)
0,25
Primer
2,5
Solução DNA (Diluição de 1:25)
3,0
Total
30
TABELA 1. Reagentes componentes da mistura de reação de PCR utilizada e seus volumes
respectivos.
A amplificação das amostras foi realizada utilizando-se condições determinadas
apresentadas na Tabela 2. Os produtos de amplificação foram separados em gel de
agarose 2% e corados com brometo de etídio (3 µL). A visualização dos padrões foi
sob luz ultravioleta e os géis foram fotografados em sistema de fotodocumentação de
gel L-PIX.
Etapas
Temperatura
Tempo
N° de ciclos
Desnaturação inicial
94°C
240 segundos
1
Amplificação
--
--
--
Desnaturação
94°C
40 segundos
35
Anelamento
56°C
30 segundos
35
Extensão
72°C
90 segundos
35
Extensão final
72ºC
420 segundos
1
Resfriamento
4°C
Indeterminado
∞
TABELA 2. Estágios do termociclador para realização do PCR das amostras de DNA.
Foram testados dezoito primers ISSR (iniciadores) em diferentes temperaturas
(TABELA 3) para identificar se haveria amplificação das bandas nos indivíduos da
espécie Conorhynchos conirostris e qual apresentaria melhor reprodutibilidade para
caracterização genética da população amostrada.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
268
Número do Primer
Sequencia de bases do Primer
Temperatura 0C
ISSR 5
CTCTCTCTCTCTCTCTG
50, 52, 54 e 56
ISSR 6
AGAGAGAGAGAGAGAGYC
50, 52, 54 e 56
ISSR 8
GAGAGAGAGAGAGAGAYT
49, 50, 51, 52, 52.8 e 54
ISSR 9
GAGAGAGAGAGAGAGAYC
50, 52, 54 e 56
ISSR 10
GAGAGAGAGAGAGAGAYG
50, 52, 54 e 56
ISSR 11
CTCTCTCTCTCTCTCTRA
49, 50, 51, 52 e 54
ISSR 12
ACACACACACACACACYC
50, 52, 54 e 56
ISSR 13
GGACGGACGGACA
50, 52, 54 e 56
ISSR 14
GGACGGACGGACC
50, 52 e 54
ISSR 15
GGACGGACGGACT
50, 52, 54 e 56
ISSR 16
AACCAACCAACCAACC
50, 52 e 54
ISSR 17
GGACGGACGGACGGAC
50, 52, 54 e 56
ISSR 18
TAGGTAGGTAGGTAGG
50 e 52
ISSR 19
GACAGACAGACAGACA
49, 50, 51, 52, 52.8, 54 e 56
ISSR 20
GGATGGATGGATGGAT
49, 50, 51, 52, 52.8, 54 e 56
ISSR 21
AAGCAAGCAAGCAAGC
50, 52, 54 e 56
ISSR 22
CACTCACTCACTCACT
49 e 51
ISSR 23
GGGTGGGTGGGTGGGT
50, 52, 54 e 56
TABELA 3. Relação dos primers ISSR testados e das temperaturas de anelamento utilizadas.
Após a reação de amplificação as amostras foram coradas por azul de bromofenol
e 4 μL de brometo de etídio para que se tornassem visíveis refletindo parte da luz
branca na faixa do azul marinho. Na sequência foram aplicadas em gel de agarose a
2% e levadas a corridas eletroforéticas na cuba de eletroforese, contendo 200 ml de
tampão TBE 1x. As corridas eletroforéticas ocorreram com voltagem de 80 V e 100
mA durante duas horas e trinta minutos. Depois dessa etapa as placas do gel de
agarose uma por vez foram expostas à luz ultravioleta e fotografadas em sistema de
foto documentação de gel L-PIX.
Os resultados obtidos a partir da visualização das bandas de DNA nos géis
foram transformados em matrizes numéricas binárias com presença (1) e ausência
de banda (0), para os fragmentos amplificados. A avaliação de polimorfismos foi de
acordo com Falconer e Mackay (1996), onde um loco para ser considerado polimórfico
deve apresentar a frequência do alelo mais comum inferior a 0,95.
A similaridade genética foi calculada por meio do coeficiente de Jaccard,
utilizando o programa DARWIN. As similaridades obtidas foram agrupadas segundo
o método UPGMA (método de média aritmética não ponderada) e construído um
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
269
dendrograma e com base na matriz de similaridade genética foi calculada a análise
de componentes principais.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos na verificação da presença de DNA nas amostras
realizada por meio da corrida eletroforética foram positivos. Verificou-se que é
possível extrair DNA dos tecidos de Conorhynchos conirostris utilizados no trabalho
validando, portanto, o método proposto por Sambrook, Fritsch e Maniatis, (1989) para
a espécie. Este resultado coincide com o trabalho de Garcia et al., (2010) que testou o
protocolo de Fenol: Clorofórmio e outros protocolos para extrair DNA de Odontesthes
bonariensis e percebeu que o protocolo de Fenol: Clorofórmio apresentou visualmente
a boa qualidade e quantidade de DNA extraído, sem degradação e contaminação por
proteína.
Na amplificação dos dezoito primers em temperaturas diferentes, os primers 14,
15, 16, 17 e 21 amplificaram na temperatura de 52° (FIGURA 1 E 2), o restante não
apresentaram resultados aceitáveis. Evidenciou-se que os primers que amplificaram
apresentaram um padrão de bandas polimórfico, tornando estes ótimos candidatos
a marcadores para estudos genéticos populacionais na espécie estudada. Estes
resultados estão coerentes com a pesquisa de Gharbawi (2015), que trabalhou com
Plectropomus areolatus e também foi constado que a técnica ISSR resulta em elevado
grau de polimorfismo e apresenta alta reprodutibilidade. Nas Figuras 1 e 2 pode-se
observar os perfis de eletroforese em gel de agarose a 2% utilizando os primers 15
e 16 em 23 amostras de Conorhynchos conirostris coletados no rio Paracatu, Minas
Gerias.
FIGURA 1. Perfil de eletroforese em gel de agarose a 2% utilizando o primer 15 em 23
amostras de Conorhynchos conirostris coletados no rio Paracatu, Minas Gerias.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
270
FIGURA 2. Perfil de eletroforese em gel de agarose a 2% utilizando o primer 16 em 23
amostras de Conorhynchos conirostris coletados no rio Paracatu, Minas Gerias.
Através das visualizações dos géis de agorase 2% (FIGURAS 1 e 2) foi possível
a obtenção de uma matriz de dados binários. Os indivíduos foram analisados com
base em 75 locus obtidos a partir dos 5 primers ISSR (TABELA 4). Posteriormente os
dados foram submetidos ao programa DARWIN, que gerou a matriz de coeficiente de
similaridade.
Nº do primer
Sequência de bases do Primer
Nº total de
locus
ISSR 14
GGACGGACGGACC
ISSR 15
GGACGGACGGACT
ISSR 16
AACCAACCAACCAACC
ISSR 17
16
GGACGGACGGACGGAC
12
7
ISSR 21
AAGCAAGCAAGCAAGC
15
12
75
51
Total
16
Nº de locus polimórficos
16
11
9
12
TABELA 4. Primers de ISSR selecionados para caracterizar indivíduos da espécie
Conorhynchos conirostris e o número de locus gerados.
A matriz de dados binários foi base para o cálculo de índice de similaridade
genética (Jaccard) entre todos os 32 indivíduos do estudo. O valor médio de
similaridade encontrado entre todas as comparações foi de 0,45. O maior valor de
similaridade (0,88) foi entre os indivíduos 18 e 19 do rio Paracatu, MG e o menor valor
(0,07) foi encontrado entre os indivíduos 6 e 17 do mesmo local. Hatanaka e Galetti
Jr (2003), ao analisar indivíduos do gênero Prochilodus em três locais ao longo do rio
São Francisco próximo a barragem de Três Marias-MG, encontraram valor mínimo
do coeficiente de similaridade 0,44, mostrando a pouca similaridade dos indivíduos,
diferenciando do resultado desse trabalho.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
271
A relação de similaridade genética revelada pelo índice de Jaccard entre os
indivíduos do estudo permitiu a construção de um dendrograma (UPCMA) (FIGURA
3).
FIGURA 3. Dendrograma baseado no índice de similaridade de Jaccard e método de
agrupamento UPGMA para os genótipos de Conorhynchos conirostris
Através da matriz de dados de similaridade foi realizado analise de coordenadas
principais (PCoA) que resultou em dois grupos distintos (FIGURA 4) coincidindo com o
local de captura. O grupo 1 foi composto por espécimes de Xique-xique, BA, enquanto o
grupo 2 se formou com indivíduos do rio Paracatu, MG. As duas populações estudadas
apresentaram similaridade genética intrapopulacional e diferenças interpopulacionais
entre os indivíduos coletados nas duas localidades.
FIGURA 4. Coordenadas principais e analise estrutural de 32 Conorhynchos conirostris de
oriundos da Bacia do rio São Francisco.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
272
4 | CONCLUSÕES
•
Através desde trabalho foi possível montar um banco genético “in vitro” de
DNA preservado de 32 exemplares de Conorhynchos conirostris, capturados em pontos de regiões estratégicas do rio São Francisco.
•
O protocolo Fenol: Clorofórmio mostrou-se eficiente para a extração de DNA
dos exemplares de C. conirostris.
•
Dos dezoito primers testados, cinco conseguiram amplificar o DNA dos
exemplares C. conirostris. Assim poderão ser úteis para detectar variabilidade genética em populações nativas ou cultivadas desses indivíduos.
•
Os indivíduos apresentaram um bom índice de similaridade, e a população
amostrada do rio Paracatu, apresentou maior e menor índice de similaridade
de espécimes de C. conirostris.
•
As duas populações estudadas apresentaram similaridade genética intrapopulacional e diferenças interpopulacionais entre os indivíduos coletados nas
duas localidades.
REFERÊNCIAS
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
273
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Federal de Pelotas. Pelotas, p. 68, 2010.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 25
274
CAPÍTULO 26
doi
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICAS DAS ESPÉCIES
Centropomus undecimalis e Mugil liza – ÊNFASE NO
APARELHO DIGESTÓRIO
Bruna Tomazetti Michelotti
Universidade Federal de Santa Maria, Programa
de Pós-graduação em Zootecnia, Santa Maria –
RS.
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Zootecnia, Santa Maria – RS.
Natacha Cossettin Mori
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Fisiologia e Farmacologia,
Santa Maria – RS.
Bernardo Baldisserotto
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Fisiologia e Farmacologia,
Santa Maria – RS.
RESUMO: O objetivo deste trabalho é descrever
a morfologia do trato digestório dos peixes
robalo-flecha (Centropomus undecimalis) e
tainha (Mugil liza), sendo o primeiro de hábito
alimentar carnívoro e o segundo, detritívoro,
iliófago, zooplanctófago, onívoro ou fitófago,
dependendo do estágio de vida. Neste sentido,
o desenvolvimento completo do sistema
digestório de ambos está completo 60 dias
após a eclosão e mudanças e particularidades
dos ambientes físicos influenciam diretamente
no hábito alimentar das larvas e juvenis.
Anatomicamente, o trato gastrintestinal do
robalo-flecha segue a mesma organização
encontrada na maioria dos peixes carnívoros,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
enquanto a tainha apresenta maior flexibilidade
na morfologia. Percebe-se que a característica
mais evidente de modulação morfofisiológica
em peixes é a variação do comprimento do
trato gastrintestinal. Deste modo, peixes como
a tainha têm maior flexibilidade adaptativa do
trato digestório por terem uma dieta bastante
variável, ao contrário dos carnívoros, como
o robalo, que tem alimentação mais restrita e
menor capacidade de modulação. No entanto,
mesmo em indivíduos da mesma espécie,
ocorrem mudanças na morfometria do trato em
resposta às alterações na composição da dieta.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentação, Morfologia,
Piscicultura
ABSTRACT: The aim of this study is to describe
the morphology of the digestive tract of the fishes
common snook (Centropomus undecimalis)
and mullet (Mugil liza). The first is carnivorous
and the second is detritivore, iliophagus,
zooplanktivore, omnivore or phytophagous
depending on the life stage. In this sense, the
complete development of the digestive system
of both is complete 60 days after hatching and
changes and particularities of the physical
environments directly influence the feeding
habit of larvae and juveniles. Anatomically, the
gastrointestinal tract of the common snook
follows the same organization found in most
carnivorous fish, while mullet presents greater
Capítulo 26
275
flexibility in morphology. The most obvious characteristic of morphophysiological
modulation in fish is the variation in the length of the gastrointestinal tract. Thus, fish
such as mullet have a more flexible digestive tract because they have a very variable
diet, unlike carnivores such as common snook, which has more restricted feeding and
modulatory capacity. However, even in individuals of the same species, changes in the
morphometry of the tract occur in response to changes in diet composition.
KEYWORDS: Animal feeding, Morphology, Fish culture
1 | INTRODUÇÃO
A maioria dos peixes apresenta certa flexibilidade em seu hábito alimentar, que
pode variar de acordo com a disponibilidade de substratos dietéticos no ambiente.
Sendo assim, são oportunistas e consomem o que estiver disponível no meio em que
se encontram, o que acarreta em variações na estrutura do seu trato gastrintestinal
(NRC, 2011). As estruturas dos vários órgãos do trato digestório estão, portanto,
diretamente relacionadas à natureza do alimento e à maneira como ele é ingerido, de
modo que os nutrientes possam ser eficientemente utilizados pelo animal (CHAVES
E VAZZOLER, 1984).
Os hábitos alimentares estão estritamente relacionados com as características
anatômicas e morfológicas do sistema digestório de cada espécie, as quais devem
ser consideradas para o desenvolvimento de dietas adequadas. Desta forma, dados
sobre a morfologia ajudam na escolha dos ingredientes (concentração de nutrientes)
para a ração; e dados sobre a estrutura bucal e o comportamento de captura, são
uteis no desenvolvimento de grânulos alimentares adequados (FRACALOSSI E
CYRINO, 2013).
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é descrever a morfologia do trato
digestório do robalo-flecha (Centropomus undecimalis) e da tainha (Mugil liza).
Elegeram-se as referidas espécies piscícolas pois, recentemente diversos estudos
têm se voltado para peixes de água salgada, visando o alto valor agregado que os
mesmos tem no mercado. Essas espécies têm grande potencial de produção no
Brasil, devido à grande extensão da costa. Entretanto, ainda não existe produção
comercial de piscicultura marinha em nosso país, e um número reduzido de estudos
acadêmicos em relação às espécies de água doce.
2 | REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Robalo-flecha
Os robalos possuem hábito alimentar carnívoro composto preferencialmente por
crustáceos e pequenos peixes, mas são considerados predadores oportunistas que
variam a alimentação de acordo com a disponibilidade de alimento (CERQUEIRA E
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
276
TSUZUKI, 2009). Neste sentido, pesquisas sobre o conteúdo intestinal destes peixes,
verificaram grande variedade de itens, tais como: peixes, crustáceos, moluscos,
ovos de peixe e insetos (VANACOR BARROSO et al., 2002). No estágio inicial, as
larvas de robalo sobrevivem consumindo microalgas e, após o crescimento mudam a
alimentação para pequenos crustáceos até se consolidarem como peixes carnívoros
(CERQUEIRA, 2005).
2.1.1 Composição do trato digestório
É possível verificar trato digestório completo nos animais, três dias após a
eclosão, pois, tem-se então a abertura da boca e do ânus, momento em que é iniciada a
alimentação exógena (YÚFERA E DARIAS, 2007). Neste sentido, o desenvolvimento
completo do sistema digestório se dá dos 30 a 60 dias após a eclosão, com o
desenvolvimento dos dentes da boca, glândulas gástricas e cecos pilóricos (TELES,
2012).
Quanto à alimentação das larvas, diversos estudos demonstraram que o
sucesso da mesma é influenciado pelo desenvolvimento do aparato de sucção do
peixe, sendo o aparato primário utilizado para capturar presas – modo dominante de
alimentação de robalos juvenis e adultos – (WAINWRIGHT et al., 2006). Assim, em
larvas de robalo-flecha, o desenvolvimento de todo o conjunto de ligações músculoesqueléticas necessárias para a alimentação por sucção só está completo cerca de
31 dias após a eclosão (WITTENRICH et al., 2009).
As cavidades bucais e faríngeas estão associadas com a apreensão e seleção
dos alimentos. Indivíduos de Centropomus spp. apresentam boca terminal, dentes
caniniformes e rastros curtos, fortes, em número reduzido e presentes em todos
os arcos (ARAUJO, 2008). Os rastros branquiais possuem a finalidade de reter,
por filtragem, alimentos pequenos que poderiam escapar entre os arcos branquiais
juntamente com a água usada na respiração.
2.1.2 Anatomia e histologia do trato digestório
Segundo estudo realizado por Machado et al. (2013), o esôfago, o estômago e o
intestino dos robalo-flecha e robalo-peva (C. parallelus) tanto apreendidos na natureza
como criados em cativeiro, seguem a mesma organização histológica encontrada na
maioria dos peixes com dieta carnívora. O esôfago é um órgão curto e seu epitélio é
do tipo pavimentoso estratificado com presença de grande quantidade de glândulas
mucosas e células claviformes. Essas células de defesa, do sistema de “alarme”
do organismo, garantem a proteção do esôfago contra abrasão e lesão no epitélio
provocada pela passagem de alimentos. Como o robalo se alimenta de presas vivas,
como camarões e outros peixes, a passagem desses alimentos é facilitada pelo muco
produzido que lubrifica a parede do esôfago.
O estômago é o órgão do sistema digestório que mais chama atenção pois,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
277
quando está cheio, ocupa mais da metade da cavidade abdominal, sendo dividido em
três porções: cárdica, fúndica e pilórica. As regiões cárdica e fúndica possuem pregas
espessas que têm a função de armazenar o grande volume de alimento ingerido
(MENIN E MIMURA, 1992). Segundo Machado et al (2013) também foi possível
confirmar a existência destas regiões, assim como uma túnica muscular bastante
desenvolvida na região pilórica, que facilita o esvaziamento gástrico e a expulsão do
alimento para o intestino anterior.
As principais funções do estômago são o armazenamento de alimentos, a defesa
contra microrganismos – pela produção de ácido clorídrico – e iniciar a digestão. O
robalo-flecha apresenta no estômago grande quantidade de glândulas gástricas, que
são compostas por células oxintopépticas, secretoras de H+ e Cl- e pepsinogênio
(MACHADO et al., 2013).
O intestino é curto, típico de peixes carnívoros, com epitélio intestinal sendo do
tipo simples cilíndrico a prismático e presenças de células caliciformes. Estende-se
para dentro da cavidade abdominal, formando três segmentos: o proximal – que se
liga ao ceco pilórico –; o medial; e o distal – que forma a parte final do último segmento
– terminado em um esfíncter (na região cranial do intestino) (MACHADO et al., 2013).
As células absortivas possuem numerosos microvilosidades, onde se encontram
enzimas que atuam na absorção de lipídios, aminoácidos e carboidratos (STRUM,
GARTNER E HIATT, 2007). As células caliciformes são cilíndricas, produtoras de
muco, e estão distribuídas entre os enterócitos do epitélio intestinal. Essas células
contem glicoproteínas que são liberadas por exocitose. Em todos os segmentos do
intestino proximal há presença abundante de linfócitos intraepiteliais encontrados
infiltrados no espaço intercelular desse segmento, sendo também encontrados
macrófagos intraepiteliais ao longo do intestino proximal e médio (MACHADO et
al., 2013). Também foi relatado pelo referido autor a presença de macrófagos no
estômago pilórico, o que pode indicar a existência de um processo celular que atua
como barreira celular de defesa, atuando como um componente imunológico dessas
regiões.
2.2 Tainha
A tainha, peixe integrante dos mugilídeos, apresenta grande capacidade de
adaptação a alimentos de diversas origens, variando seus hábitos alimentares de
acordo com a fase do ciclo de vida, sendo classificada como: detritívoro (BAUTISTA
PAREJO, 1991), iliófago (VIEIRA E SCALABRIN, 1991), zooplanctófago (DE
SILVA, 1980), onívoro e fitófago (FRANCO E BASHIRULLAH, 1992). Neste sentido,
mudanças e particularidades dos ambientes físicos influenciam diretamente o hábito
alimentar de juvenis de tainha. Em localidades onde a plataforma continental é mais
larga e as praias possuem caráter dissipativo, juvenis de mugilídeos têm menos
dependência de ambientes estuarinos, podendo fazer a transição do hábito alimentar
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
278
de zooplanctófago para iliófago no ambiente marinho costeiro, como ocorre com a
tainha na costa Sul do Brasil (BLABER, 1987).
Uma vez que a tainha adota o hábito alimentar iliófago, este permanece até
o estágio adulto. Sua estratégia alimentar permite então a ingestão de diversos
itens, como, plantas, detritos, microalgas, microfauna, muitos deles com alto grau de
indigestibilidade. Ainda, as partículas de sedimento ingeridas (como areia) auxiliariam
o processamento mecânico da digestão de diatomáceas e restos vegetais (VIEIRA
E SCALABRIN, 1991). Em virtude dessas peculiaridades, as tainhas estão entre os
poucos peixes de médio e grande porte capazes de se alimentar sobre níveis tróficos
baixos (GAUTIER E HUSSENOT, 2005), desempenhando papel importante nas teias
alimentares costeiras (OLIVEIRA et al., 2014).
2.2.1 Anatomia e histologia do trato digestório
A tainha possui boca terminal ou subterminal com presença de dentes pequenos
no pré-maxilar e mandíbula para a raspagem de filmes microbianos (MENEZES et al.,
2015). Além disso, possui dentes faringeanos no palato, que auxiliam na trituração e
reconhecimento do alimento (NIELSEN et al., 1999). Possui rastros branquiais densos
que retém as partículas finas, sendo que o quinto arco branquial juntamente com
a almofada faringeana classificam e rejeitam partículas mais grosseiras presentes
no sedimento. A cavidade oral é revestida por epitélio estratificado com abundantes
células mucosas, e pregas complexas e ramificadas no esôfago (GALVÃO et al.,
1997).
O esôfago é relativamente curto e desemboca no estômago, que é dividido em
duas porções: cárdica e pilórica. A primeira faz a digestão enzimática e a segunda
– análoga à moela –, desempenha função estritamente mecânica na digestão
(NELSON, 2006). Ainda é válido citar, a presença de cecos pilóricos localizados ao
final da porção pilórica (CARDONA, 2015).
É também importante destacar, que além da maceração do substrato presente
no piloro, supõe-se que frações de areia – ingeridas pelo peixe – colaborem com a
digestão dos componentes presentes no intestino, pois a distensão da musculatura
do estômago ocasiona aumento no fluxo sanguíneo intestinal, desencadeando a
liberação de enzimas digestivas (SANTIGOSA et al., 2008).
Os cecos pilóricos possuem mucosa altamente pregueada. O intestino, por sua
vez, é disposto em várias espirais e seu comprimento, via de regra, é sempre maior
que o corpo (1,6 à 4,5 vezes), variando em função do ambiente e alimento (CARDONA,
2015). Além disso, todo esse órgão é envolto em tecido conjuntivo adiposo que atua
como um armazenador de gordura (CARDONA, 2015).
Com relação ao desenvolvimento do sistema digestório, Galvão et al. (1997)
citam que o mesmo é bastante lento, com o trato tubular e reto e sem glândulas
gástricas na fase larval, sendo, portanto, a digestão alcalina (na qual a absorção de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
279
proteínas é realizada por meio de pinocitose). Três dias após a eclosão, tem-se a
abertura da boca e do ânus e o aparecimento do fígado, vesícula biliar e pâncreas. As
células gástricas surgem no 40º dia, quando as áreas do estômago já estão distintas
e a região pilórica faz a digestão mecânica (sem glândulas gástricas). As células
caliciformes se apresentam no 48º dia e aos 60 dias o trato está completo (GALVÃO
et al., 1997).
A digestão ocorre por meio químico e mecânico. O alimento passa primeiramente
pela cárdia e a secreção gástrica decompõe parcialmente os alimentos, tornando-
os mais macios, facilitando assim a trituração na porção subsequente (piloro) com
auxílio de areia (WILSON; CASTRO, 2010). Apesar de haver produção de enzimas
digestivas no estômago, de modo geral, vários autores reportam que esta espécie tem
uma digestão predominantemente alcalina (CARDONA, 2015; WILSON E CASTRO,
2010).
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A característica mais evidente de modulação morfofisiológica em peixes é a
variação do comprimento do trato gastrintestinal (FRACALOSSI E CYRINO, 2013).
A plasticidade intestinal é um mecanismo apresentado por esses indivíduos frente
à diversificada alimentação para adequar o trato a fim de obter melhor absorção
(DABROWSKI E PORTELLA, 2005). Deste modo, os detritívoros são considerados
mais aptos à flexibilidade adaptativa do trato digestório por terem uma dieta bastante
variável, ao contrário dos carnívoros que têm uma alimentação mais restrita e uma
menor capacidade de modulação. Os peixes detritívoros tendem a possuir intestinos
estreitos relativamente longos que são enrolados e bastante uniformes em sua
estrutura, enquanto os intestinos de espécies carnívoras são muito mais curtos,
grossos e retos com um maior grau de dobramento da mucosa (FERRARIS E AHEARN,
1984; KAPOOR, SMIT E VERIGHINA, 1976; KRAMER, BRYANT, 1995). Os intestinos
longos levam a maior tempo de retenção do alimento, permitindo digestão mais eficaz
de grandes quantidades de alimentos fibrosos de baixa qualidade, fornecendo um
aumento da duração da exposição a enzimas intestinais, transportadores e microbiota
(CHOAT, ROBBINS E CLEMENTS, 2004; POLUNIN, HARMELIN‐VIVIEN E GALZIN,
1995). Neste contexto, as tainhas apresentam, por via de regra, um longo intestino,
que varia entre as espécies e entre os indivíduos de uma mesma espécie em diferentes
fases e habitats (EGGOLD E MOTTA, 1992), refletindo as diferenças na capacidade
de assimilar o material vegetal e de menor degrabilidade (CARDONA, 2015).]
Assim, a maior concentração de nutrientes (proteína e gordura) de uma dieta
carnívora tende a permitir que os peixes foquem na qualidade e não na quantidade,
resultando em uma menor ingestão de alimentos mais facilmente digeridos e
absorvidos, explicando os intestinos mais curtos dos carnívoros (BENAVIDES,
CANCINO E OJEDA, 1994; KARASOV E DEL RIO, 2007). A função intestinal também
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
280
está correlacionada com a dieta natural entre os peixes: peixes herbívoros/detritívoros
possuem maior capacidade intestinal para processar e absorver glicose que peixes
carnívoros (DAY; TIBBETTS; SECOR, 2014; GERMAN; HORN; GAWLICKA, 2004;
HIDALGO; UREA; SANZ, 1999; HORN et al., 2006), enquanto também exibem
taxas mais baixas de captação intestinal de prolina em comparação com espécies
carnívoras (BUDDINGTON; HILTON, 1987). Por isso, é devido aos diferentes hábitos
alimentares que o trato gastrintestinal das espécies de peixes apresentam tantas
diferenças morfológicas e fisiológicas.
No entanto, mesmo em indivíduos da mesma espécie, ocorrem mudanças na
morfometria do trato em resposta às alterações na composição da dieta (OLSSON
et al., 2007). Por exemplo, os herbívoros e os detritívoros com dietas que contém
mais carboidratos apresentam um trânsito mais rápido do alimento e alongamento
intestinal, já os carnívoros que possuem um aporte maior de proteínas (alimentos
de maior valor biológico) na sua dieta, têm um aumento na área de absorção e um
trânsito mais lento.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 26
283
CAPÍTULO 27
doi
MORFOMETRIA DOS OTÓLITOS Sagittae DO PEIXE
PEDRA (Genyatremus luteus, PISCES: HAEMULIDAE)
CAPTURADOS NO MUNICÍPIO DE RAPOSA - MA
Ladilson Rodrigues Silva
Universidade estadual do maranhão
São Luís – MA
Yago Bruno Silveira Nunes
Universidade estadual do maranhão
São Luís – MA
Mariana Barros Aranha
Universidade estadual do maranhão
São Luís – MA
Daniele Costa Batalha
Universidade estadual do maranhão
São Luís – MA
Marina Bezerra Figueiredo
Universidade estadual do maranhão
São Luís – MA
RESUMO: O objetivo desse trabalho foi
analisar a dinâmica do crescimento do peixe
pedra (Genyatremus luteus) na costa do
município de Raposa – MA através do estudo
da morfometria dos otólitos sagittae. A espécie
foi obtida mensalmente através da pesca
comercial no município de Raposa, para
obtenção de dados morfométricos e retirada
dos otólitos em laboratório. Aplicou-se os
dados analisados em laboratório nas relações
propostas na metodologia: Wt x Lt; Lo x Lt; Wo
x Lo. Obteve-se como resultado da relação Wt x
Lt: alometria positiva (b > 3) para o peixe pedra,
com R2 1. A relação Lo x Lt, resultou em uma
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
alometria negativa (b < 3) para a população
estudada. Por fim, a relação entre Wo x Lo,
apresentou resultados para o coeficiente de
determinação, medianos para o peixe pedra R2
= 0,5340. Constatou-se também, elevado nível
de incerteza na utilização dos otólitos sagittae
para estudos de crescimento de G. luteus.
PALAVRAS-CHAVE:
alometria,
sagittae,
otólitos.
ABSTRACT: The objective of this work was
to analyze the growth dynamics of the stone
fish (Genyatremus luteus) on the coast of
the municipality of Raposa - MA through the
study of the morphometry of the sagittae
otoliths. The species was obtained monthly
through commercial fishing in the municipality
of Raposa, to obtain morphometric data and
withdraw the otoliths in the laboratory. The data
analyzed in the laboratory were applied in the
relations proposed in the methodology: Wt x Lt;
Lo x Lt; Wo x Lo. It was obtained as a result of
the relationship Wt x Lt: positive allometry (b>
3) for the stone fish, with R2 ≈ 1. The relation Lo
x Lt, resulted in a negative allometry (b <3) for
the studied population. Finally, the relationship
between Wo x Lo, presented results for the
coefficient of determination, medians for fish
stone R2 = 0.5340. It was also observed a high
level of uncertainty in the use of the sagittae
otoliths for growth studies of G. luteus.
Capítulo 27
284
KEYWORDS: allometry, sagittae, otoliths.
1 | INTRODUÇÃO
O Estado do Maranhão possui uma grande diversidade de espécies de peixes com
importância econômica capturados ao longo de toda a costa litorânea, principalmente
em cidades como a capital São Luís e os municípios de São José de Ribamar e
Raposa (ALMEIDA et al., 2005). Dentre a grande variedade de organismos, o peixe
pedra (Genyatremus luteus), espécie alvo deste estudo, também possui seu papel de
destaque no mercado consumidor do Estado.
Segundo Fernandes et al. (2015), o Genyatremus luteus (Figura 1) é uma
espécie de pequeno a médio porte que vive principalmente em regiões de estuário,
alimentando-se de algas, bivalves, poliquetas, crustáceos e peixes. Sua distribuição
abrange regiões abaixo das Antilhas até a Costa Norte da América do Sul (NOLETOFILHO et al., 2012; ALMEIDA et al., 2005).
Figura 1: Exemplar de peixe pedra (Genyatremus luteus).
Fonte: Silva, 2017.
Os peixes teleósteos como, o peixe pedra, possuem três pares de otólitos, um
par sagittae, um par de astericii e um par lapillii (OLIVEIRA et al., 2014). Os otólitos
são estruturas cristalinas e concêntricas constituída principalmente de carbonato de
cálcio situados na cápsula auditiva dos peixes ósseos. Estas estruturas mostram
uma sequência de zonas concêntricas, opacas e translúcidas (hialinas), constituindo
os anéis diários que permitem fazer a estimativa da idade dos peixes (VAZ-DOSSANTOS et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2014).
Poucos são os estudos que abordam análises morfométricas dos otólitos
em peixes tropicais, entretanto, devido à importância destes, julga-se necessário
aplicá-los para validação de sua eficiência quando utilizados como ferramenta de
determinação de idade e crescimento e posterior avaliação das populações de peixes
e preservação das mesmas (CASTRO, 1998; SEYBOTH et al., 2011; OLIVEIRA et
al., 2014).
Dessa forma, o objetivo desse trabalho foi analisar a dinâmica do crescimento
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
285
do peixe pedra (Genyatremus luteus) na costa do município de Raposa – MA através
do estudo da morfometria dos otólitos sagittae.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A espécie Genyatremus luteus, foi capturada no município de Raposa que fica
localizado a 30 km do centro de São Luís, capital do estado do Maranhão, entre as
coordenadas de 02o 25’ 22” S e 44o 05’ 21” W (Figura 2).
Figura 2: Mapa com a localização do município de Raposa, Maranhão, Brasil.
Fonte: Núcleo de Geoprocessamento (UEMA), 2017.
A região que compreende ao município, é considerada como um dos pontos
estratégicos para escoamento da produção pesqueira do estado (ALMEIDA, 2008).
A atividade pesqueira realizada na região, caracterizada como artesanal, tem como
objetivo principal, a captura e comercialização de peixes, crustáceos e moluscos
(PEREIRA et al., 2010).
2.2 Coleta e processamento dos dados
Foram realizadas coletas mensais durante o período de um ano (ago./16 e
jul./17). A obtenção dos organismos deu-se através da pesca comercial da região.
Após coletados, os indivíduos foram analisados em laboratório, onde foram
aferidos o comprimento total (Lt) e padrão (Ls) e o pesos total e eviscerado (Wt e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
286
Wg respectivamente), além disso foi feita retirada dos otólitos (Figura 3), que foram
medidos (comprimento total - Lo) e pesados (peso total - Wo). Os dados analisados
foram usados para estabelecimento das relações: Wt x Lt (regressão não-linear); Lo
x Lt (regressão linear); Wo x Lo (regressão não-linear). Além disso, os dados foram
utilizados para construção de gráficos de classe de comprimento por frequência
relativa.
Figura 3: Otólitos sagittae do peixe pedra (G. luteus), após a retirada.
Fonte: Silva, 2017.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
O coeficiente de alometria (b) resultante da relação entre o peso total (g) –
(Wt) e o comprimento total (cm) – (Lt) do peixe pedra, indica um crescimento
alométrico positivo. Segundo Araújo et al., (2011), o crescimento nesse caso é maior
em peso do que em comprimento. O valor obtido pelo coeficiente de determinação
(R2) que foi de 0,876 demostra que as variáveis apresentaram uma boa relação de
proporcionalidade entre si, ou seja, a variável dependente consegue ser explicada
pela variável independente presente no modelo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
287
Figura 4: Relação peso total (Wt)/comprimento total (Lt) do peixe pedra (Genyatremus luteus),
capturados no município de Raposa - MA.
Segundo Silva et al. (2005), o valor apresentado pelo coeficiente de alometria
(b) na figura 4, se caracteriza como crescimento alométrico positivo devido ao fato do
mesmo ter apresentado valores acima de 3.
A relação morfométrica entre o comprimento do otólito (Lo) e o comprimento
total dos organismos (Lt) ilustrada na tabela 1, demonstrou valores de coeficiente de
determinação (R2) baixos para o peixe pedra (R2 = 0,3541).
Espécie
Equações
R²
Peixe Pedra
Lo = 2,146 x 0,028 x (Lt)
0,3541
Tabela 1: Resultados das equações da relação Comprimento do Otólito x Comprimento Total
Legenda: R² - Coeficiente de determinação; Co - Comprimento do Otólito; Ct - Comprimento Total da Espécie.
Os gráficos de dispersão mostrados a seguir ilustram melhor o resultado dessa
relação para peixe pedra (figura 5).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
288
Figura 5: Modelo linear da relação comprimento do otólito (Lo) x comprimento total (Lt) do peixe
pedra.
O resultado apresentado pelo coeficiente de determinação (R2) na figura 5, indica
que as variáveis analisadas possuem uma baixa relação entre si, ou seja, à medida
que o peixe pedra cresce, o depósito de microincrementos diários não acompanha
essa tendência de crescimento. Sendo assim, é possível que se tenha indivíduos
pequenos com otólitos grandes, e organismos maiores com otólitos pequenos.
A relação entre o peso do otólito e o seu comprimento (tabela 2), mostrou-se
ajustada para ao modelo de relação peso-comprimento (Peso = a Comprimentob),
com os valores dos parâmetros: a= 0,0001 (Erro Padrão=0,00001); b= 2,20 (Erro
Padrão= 0,11) – para o peixe pedra. O valor do teste t-Student para o parâmetro b foi
significativo (P-value = 8,685 x 10-8), estabelecendo que a relação é alométrica, com
valor de b para o peixe pedra de 2,2008, com intervalo de confiança de 95%.
Parâmetros
Espécie
Peixe Pedra
A
b
CI (2.5 - 97.5%) b
P-value
Growht
0,000106
2,20
1,92 – 2,48
8,68 x 10-8
Alometrico (-)
Tabela 2: Resultados das equações da relação peso (Wo) x comprimento do otólito (Lo).
Legenda: CI – Intervalo de Confiança do parâmetro b.
A relação entre o peso (Wo) e o comprimento dos otólitos (Lo), exibida na tabela
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
289
2, resultou em um coeficiente alométrico negativo (b < 3) para o peixe pedra.
Os gráficos de dispersão apresentados abaixo (Figura 6), ilustra o resultado
obtido para o coeficiente de determinação (R2) dessa relação. O valor apresentado
pelo coeficiente de determinação (R2) para o peixe pedra, resultou em valores baixos,
indicando que baixa relação entre as variáveis peso e comprimento das estruturas
calcificadas.
Figura 6: Modelo linear da relação comprimento do otólito (Lo) x comprimento total (Lt) do peixe
pedra.
De acordo com os resultados obtidos por Silva (2013) e Silipandre (2009) em
seus estudos com otólitos, considera-se que o modelo linear proposto, não apresentou
ajuste esperado para o peixe pedra nas relações entre comprimento dos exemplares
(Lt) e o comprimento dos otólitos (Lo).
Levando em conta os resultados obtidos, seria possível afirmar que a relação
proposta para o G. luteus, sugere que os otólitos não são eficientes para indicar o
crescimento do peixe em função do tempo.
4 | CONCLUSÃO
A relação morfométrica dos otólitos, indicou crescimento alometrico negativo na
relação entre o Lt x Lo, com baixos valores de coeficiente de determinação (R2) para
o G. luteus. A relação entre o Wo x Lo, indicou incertezas no uso dos otólitos para
estudos de crescimento em peixe pedra. Ressalta-se, a importância deste estudo,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
290
devido a este ser o primeiro a focar no estudo da morfometria dos otólitos do peixe
pedra no mundo.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 27
291
CAPÍTULO 28
doi
ACEITAÇÃO SENSORIAL DE REESTRUTURADOS
EMPANADOS DE PESCADA SEM GLÚTEN, SABOR
DEFUMADO E COM REDUÇÃO DE SÓDIO
Norma Suely Evangelista-Barreto
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Janine Costa Cerqueira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Tiago Sampaio de Santana
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Bárbara Silva da Silveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Antônia Nunes Rodrigues
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
André Dias de Azevedo Neto
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Aline Simões da Rocha Bispo
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Mariza Alves Ferreira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
RESUMO: A diversificação do processamento
de pescado por meio da elaboração de novos
produtos, como empanados é uma alternativa
viável que agrega valor ao produto e facilita
o preparo. Este estudo teve como objetivo
desenvolver um reestruturado cárneo de
pescada (Cynoscion spp.) sabor defumado do
tipo nuggets sem glúten e teor reduzido de cloreto
de sódio. Foram elaboradas quatro formulações
do reestruturado: F1 (sal comum), F2 (sal
comum + fumaça líquida), F3 (sal light) e F4 (sal
light + fumaça líquida). Foram determinados os
parâmetros: composição centesimal, qualidade
microbiológica, valor calórico e análise sensorial.
Os reestruturados apresentaram composição
centesimal e características microbiológicas
em conformidade aos padrões exigidos pela
legislação vigente para esse tipo de produtos.
Os nuggets de pescada apresentaram valor
calórico médio (168,56 Kcal/100g) inferior
aos empanados comerciais de frango (250
Kcal/100g). No teste de aceitação, todos
Capítulo 28
292
os atributos analisados com exceção do aroma se mostraram estatisticamente
significativos (p>0,05), e os nuggets contendo sal comum foram mais aceitos pelos
provadores (média de 7,30), com intenção de compra de aproximadamente 70%.
Apesar dos nuggets sabor defumado terem apresentados nota de aceitação inferior a
6,21 não foram rejeitados pelos provadores, que sinalizaram que o fator determinante
para a aceitação foi a quantidade de sal utilizado. A elaboração de reestruturados
cárneos sabor defumado à base de pescado e com redução de sódio apresentou
bons atributos nutricionais e sensoriais, podendo ser inserido no mercado consumidor,
contribuindo para a diversificação de produtos à base de pescado.
PALAVRAS-CHAVE: fumaça liquida; nuggets de peixe; sal light.
SENSORY ACCEPTANCE OF RESTRUCTURED FISH WITHOUT GLUTEN,
SMOKE FLAVOR AND WITH SODIUM REDUCTION
ABSTRACT: The diversification of data processing for the production of new products,
as it is a viable alternative that adds value to the product and facilitates the preparation.
This study aimed to develop a restructured hake meat (Cynoscion spp.) flavor smoky of
the gluten-free nuggets type and reduced sodium chloride content. The four formulations
of the restructured were: F1 (common salt), F2 (common salt + liquid smoke),
F3 (light salt) and F4 (light salt + liquid smoke). The parameters were determined:
centesimal composition, microbiological quality, caloric value and sensorial analysis.
The restructured had a centesimal composition and microbiological characteristics
in accordance with the standards required by the legislation in force for this type of
products. The hake nuggets had a mean caloric value (168.56 Kcal/ 100g) lower than
commercial chicken patties (250 Kcal/ 100g). In the acceptance test, all the attributes
analyzed with the exception of the aroma were statistically significant (p > 0.05), and
the nuggets containing common salt were more accepted by the tasters (average of
7.30), with an intention to purchase approximately 70%. Although the smoked-flavored
nuggets presented an acceptance score lower than 6.21, they were not rejected by the
tasters, who indicated that the determining factor for acceptance was the amount of
salt used. The elaboration of restructured hake meat flavor smoke and reduced sodium
showed good nutritional and sensorial attributes, and can be inserted in the consumer
market, contributing to the diversification of fish products.
KEYWORDS: liquid smoke; fish nuggets; light salt.
1 | INTRODUÇÃO
A carne de pescado constitui uma fonte de proteína de alto valor biológico,
sendo a proteína de origem animal mais consumida em diversos países da Europa e
Ásia (SOARES; GONÇALVES, 2012). A produção mundial de pescado tem registrado
crescimento nos últimos anos superando o crescimento populacional. O consumo
mundial per capita de pescado atingiu 20,5 kg por ano em 2017 com aumento médio
de 1,5% ao ano (FAO, 2018). No Brasil, o consumo médio de pescado ainda é baixo
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
293
variando de 5 a 10 kg por ano, dependendo da região (FAO, 2018).
Em 2016, a produção brasileira de pescado foi de 1,286 milhões de toneladas
para a pesca, com estimativa para 2030 de 1,885 milhões de toneladas (FAO, 2018).
A maior parcela da produção ficou concentrada na região Nordeste, seguida das
regiões Sul, Norte, Sudeste e Centro-Oeste. O pescado é um alimento benéfico à
saúde por apresentar proteínas, peptídeos e aminoácidos, além do elevado teor
de ácidos graxos poli-insaturados, vitamina D, selênio, fósforo e cálcio (TILAMI;
SAMPELS, 2017). A composição química do pescado pode variar de acordo com
as características ambientais, tipo de dieta, espécie e a idade do peixe. Além disso,
fatores ambientais como a temperatura e salinidade apresentam forte influência em
seu valor nutricional (TILAMI; SAMPELS, 2017). Nos últimos anos se tem observado
um aumento no incentivo ao consumo de pescado devido à mudança no perfil
nutricional da população que busca produtos com maior qualidade nutricional (SILVA
et al., 2015). Com isso, as indústrias de alimento tem desenvolvido novos produtos
à base de pescado buscando agregar valor ao produto e que sejam de fácil preparo
(VEIT et al., 2011).
Os produtos reestruturados empanados apresentam sabor, textura e aparência
agradáveis aos consumidores. Além disso, o revestimento funciona como barreira
contra a perda de umidade, garantindo as características de qualidade do produto
final, mantendo a crocância externa e suculência interna (KANG; CHEN, 2014). A
qualidade da matéria prima, tempo e temperatura da pré-fritura são de fundamental
importância para as características sensoriais dos empanados, bem como o tipo de
cobertura. A agregação de valor dos empanados se dá pelo aumento no rendimento
do produto final, bem como a melhoria na aparência e diversificação de sabor. O
aumento do prazo de validade do produto final tem sido obtido principalmente pelo
retardamento da oxidação e por conferir uma proteção contra desidratação e queima
pelo frio durante o congelamento (DILL et al., 2009).
Como incremento a diversidade de sabores se tem a aplicação da defumação.
A defumação convencional é uma técnica de preservação que tem sido substituída
pelo emprego do aroma líquido de fumaça (fumaça líquida) por evitar a presença
de compostos cancerígenos e por apresentar o mesmo perfil aromático da fumaça
tradicional, empregadas com finalidades preservativas e obtenção de um produto
característico por suas qualidades sensoriais (GONÇALVES; CEZARINI, 2008),
principalmente na cor, que é um indicador de aceitação ou rejeição para determinados
alimentos (KUMAR; MITTAL, 2010).
A procura dos consumidores por produtos que se adequem a sua rotina agitada
e que sejam de fácil preparo (DILL et al., 2009) tem contribuído para uma maior
ingestão de alimentos processados que apresentam elevado teor de sódio, como
hambúrgueres e empanados de origem animal em geral (BUZZO et al., 2014). Nas
últimas décadas o consumo de sal na maioria dos países tem sido excessivo, variando
de 9 a 12 g por pessoa/ dia (BROWN et al., 2009). De acordo com a Organização
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
294
Mundial de Saúde (OMS) é recomendada uma ingestão diária de sal, para adultos,
de no máximo 5 g (WHO, 2012). O consumo excessivo de sal está diretamente
relacionado ao desenvolvimento de doenças crônicas, desde hipertensão arterial e
doenças cardiovasculares até câncer de estômago e doenças renais (LAZIC et al.,
2015; ALHASSAN et al., 2017).
A farinha de trigo é um ingrediente comumente utilizado na composição de
diversos alimentos e a principal fonte de glúten. No entanto, o consumo de glúten
não pode ser realizado por algumas pessoas que possuem predisposição genética
a doença celíaca, que é uma intolerância definitiva ao glúten (MARIANI et al.,
2015). A troca de alimentos com glúten por aqueles que sejam isentos do mesmo
é o tratamento mais eficaz para a doença celíaca, devendo o consumidor buscar
alternativas para readequação, como a farinha de milho, soja, tapioca, arroz, dentre
outros (EVANGELISTA-BARRETO et al., 2016).
Diante desse panorama, o presente trabalho teve como objetivo a elaboração
de empanado de peixe sem glúten sabor defumado e com teor reduzido de sódio,
com determinação da composição centesimal, qualidade microbiológica e a avaliação
sensorial.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração das formulações dos reestruturados, quatro quilos de filés de
pescada (Cynoscion spp.) congelada foram adquiridos na rede de supermercado de
Feira de Santana. Os peixes foram descongelados em refrigerador a temperatura de
10°C e triturados em moedor de carne manual. Foram elaboradas quatro formulações
de reestruturados do tipo nuggets com relação ao tipo de sal utilizado (7,2%) e adição
de fumaça líquida (0,3%): Formulação F1 (com sal comum); Formulação F2 (sal
comum + fumaça líquida); Formulação F3 (sal light) e Formulação F4 (sal light +
fumaça líquida). O sal light utilizado apresentava composição reduzida de cloreto de
sódio (NaCl) de 66%, sendo substituído por cloreto de potássio (KCl) e o iodato de
potássio (KI).
Os demais ingredientes foram utilizados nas mesmas concentrações para
as quatro formulações: polpa de peixe (68,75%), cebola (15,19%), cream cheese
(6,87%), proteína de soja (2,75%), urucum (0,93%), orégano (0,34%), manjericão
(0,34%), pimenta branca (0,17%), cebolinha, coentro e alho (4,66%). O sistema de
empanamento consistiu de farinha de arroz (predust), emulsão de ovos (bater) e
farinha de milho (breading). Os nuggets foram moldados em forma circular, peso
médio de 15 g por porção e após empanados foram pré-fritos a 180ºC por imersão
durante 30 segundos. Uma porção de cada formulação dos nuggets foi separada
para as análises físico-químicas e microbiológicas antes e após a pré-fritura.
A composição centesimal e valor calórico dos nuggets de pescada foram
determinadas de acordo com as normas do manual do Instituto Adolfo Lutz (2005) com
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
295
determinação dos parâmetros de umidade, cinzas, lipídeos, proteína e carboidratos.
O valor calórico total expresso em Kcal foi calculado por meio dos coeficientes de
Atwater (carboidrato: 4 kcal g-1, Proteína: 4 kcal g-1 e lipídeos: 9 kcal g-1) (BONACINA;
QUEIROZ, 2007).
As análises microbiológicas dos nuggets de pescada foram realizadas segundo
a metodologia descrita no manual de Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos
e Água (SILVA et al., 2010). Foram quantificadas bactérias mesófilas cultiváveis, grupo
coliformes e estafilococos coagulase positiva. Todas as análises foram realizadas em
duplicata.
Para a análise sensorial os nuggets de pescada foram fritos (10 minutos a 180ºC)
e servidos para avaliação a 42 provadores não treinados. Foi disponibilizado biscoito
de água e sal e água com gás com o objetivo de limpeza das papilas gustativas entre
a degustação das amostras. No teste de perfil de características foram analisados
os atributos de aparência, cor, aroma e sabor de cada uma das amostras, com a
utilização de escala hedônica de 1 (péssimo) a 5 (excelente). Para avaliação da
aceitação dos empanados foi aplicado o teste de aceitabilidade com escala de nove
pontos, com extremos 9 (gostei extremamente) e 1 (desgostei extremamente). Por
fim, a intenção de compra foi avaliada aplicando o teste de atitude com a utilização
da escala de atitude, com extremos de 7 (nunca compraria) e 1 (compraria sempre)
(SILVA et al., 2015).
Os resultados das análises foram transformados em dados estatísticos e
analisados utilizando o programa Sisvar versão 5.6. Foi aplicado teste de Tukey para
comparação das médias das formulações a 5% de significância.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A composição centesimal e o valor calórico das formulações dos empanados
de pescada antes e após a pré-fritura estão dispostos na Tabela 1. De acordo com a
instrução normativa n° 6 (BRASIL, 2001), os nuggets de pescada se enquadram nos
padrões exigidos pela legislação, que estabelece concentração máxima de 30% para
carboidratos e mínimo de 10% para proteína, sendo permitido o acréscimo de não
mais do que 4% de proteína não cárnea.
Parâmetro
(g/100g)
pH
Umidade
Lipídios
Cinzas
Proteínas*
Carboidratos*
Formulações
Após pré-fritura
Antes pré-fritura
F1
6,43
F2
a
6,40
F3
a
6,33
F4
a
6,12
F1
a
6,43
F2
a
6,51
F3
a
6,48
F4
a
6,49a
74,15a
75,44a
73,40a
74,60a
63,56a
61,92a
64,96a
61,32a
2,77a
2,19a
2,98a
2,32a
2,82a
2,21a
2,87a
2,49a
2,65a
13,43a
6,97a
2,76b
13,88a
4,92a
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
2,68a
13,15a
8,57a
2,96c
13,48a
6,63a
5,72a
16,08a
11,12a
6,39b
16,82a
9,98a
5,95ab
16,35a
14,39a
Capítulo 28
6,27b
16,12a
13,17a
296
Valor calórico
105,47a
100,16a
111,09a
107,17a
160,15a
163,10a
176,77a
174,23a
Tabela 1. Média da composição centesimal e valor calórico das quatro formulações de nuggets
de pescada antes e após a pré-fritura.
*Limite Legislação (BRASIL, 2001). Proteínas 10% (min). Carboidratos 30% (máx.).
Em uma mesma linha, médias seguidas de letras iguais não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey
a 5% de significância. (F1) Sal comum sem adição de fumaça líquida; (F2) Sal comum com adição de fumaça
líquida; (F3) Sal light sem adição de fumaça líquida; (F4) Sal light com adição de fumaça líquida.
Os parâmetros umidade e lipídeos dos nuggets de pescada nas quatro
formulações antes da pré-fritura variaram de 73 a 75% e 2,65 a 2,96%, respectivamente.
A pescada amarela é uma espécie que apresenta teor de umidade ao redor de 80%,
valores estes que podem variar entre espécies, habitat e estação do ano (CORRÊA et
al., 2016). Após a pré-fritura foi observado redução no teor de umidade e aumento de
lipídios (Tabela 1). Durante a fritura ocorre perda de água em virtude da temperatura
de aquecimento e absorção de óleo, fase que se estende até o resfriamento dos
nuggets. Esta etapa está relacionada a microestrutura da região da crosta do
empanado (BORDIGNON et al., 2010).
A determinação da umidade nos alimentos está relacionada com a sua
estabilidade, qualidade e composição, fator que influencia diretamente na estocagem,
embalagem e processamento do alimento (IZIDORO et al., 2008).
A variação no teor de lipídeos nas amostras (Tabela 1) pode ser explicado
pela falta de padronização dos nuggets que foram moldados de forma manual. O
mesmo aconteceu no trabalho de Bordignon et al. (2010) ao observarem diferenças
significativas entre os valores médios de lipídios das formulações de croquetes
elaborados com carne mecanicamente separada e aparas do corte em “V” de filés de
tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) e justificam tal diferença pela decorrente falta
de padronização.
Com relação ao valor calórico (Tabela 1), os nuggets de pescada apresentam
menor valor calórico quando comparado aos nuggets comerciais de carne de frango
(250 Kcal/100g). Isso confirma que a elaboração de produtos à base de peixe contribui
para o consumo de proteína com alto valor biológico, atendendo as necessidades dos
consumidores que buscam uma alimentação de baixo valor calórico (EVANGELISTABARRETO et al., 2016).
A qualidade microbiológica dos nuggets de pescada antes e após a pré-fritura
se encontra na Tabela 2. Todas as amostras se encontravam dentro dos padrões
microbiológicos estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (BRASIL,
2001a), ou seja, contagem máxima de estafilococos coagulase positiva de 103 UFC
g-1 e de coliformes a 45ºC, 102 NMP g-1.
Com relação a análise sensorial, do total de 42 participantes, 29 foram mulheres
e 13 homens, dentre professores e estudantes da Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia. A Tabela 3 apresenta os resultados do teste de perfil de características e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
297
aceitação global dos nuggets de pescada.
Formulações
Microg.
Após pré-fritura
Antes pré-fritura
F1
F2
F3
F4
F1
F2
F3
F4
Aeróbios
3,1x104
Mesófilos
7,3x104
3,8x104
4,8x104
4,0x103
3,8x103
3,3x103
8,1x102
Coliformes
3,0
a 35oC
7,4
7,4
16,0
<3,0
<3,0
<3,0
<3,0
Coliformes
<3,0
a 45ºC*
<3,0
<3,0
<3,0
<3,0
<3,0
<3,0
<3,0
E. coli
-
-
-
-
-
-
-
Staphylo3,5x102
coccus spp.
3,0x102
3,0x102
3,6x102
3,5x101
4,0x101
2,0x101
4,7x101
Estaf. coag.
+*
-
-
-
-
-
-
-
-
Tabela 2. Avaliação microbiológica das formulações dos nuggets de pescada antes e após a
pré-fritura.
*Limite Legislação (BRASIL, 2001a). Coliformes 45oC (102). Estafilococos coagulase positiva (103). Microg. =
Microrganismos. Estaf. coag. + = Estafilococos coagulase positiva
Formulações
Atributos
F1
Aparência
3,00a
3,19ab
3,24ab
a
a
ab
Cor
Aroma
Sabor
Aceitação
F2
3,24
3,76a
3,83a
7,30a
3,31
F3
3,93a
3,69a
6,95ab
3,41
F4
3,81a
3,38ab
6,40b
3,48b
3,69b
3,74a
3,14b
6,21b
Tabela 3. Valores médios do teste de perfil de características e aceitação das quatros
formulações de nuggets de pescada (n = 42).
Médias seguidas de letras iguais nas linhas, não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey a 5%
de significância. Formulações: F1 (Sal comum sem adição de fumaça líquida); F2 (Sal comum com adição de
fumaça líquida); F3 (Sal light sem adição de fumaça líquida); F4 (Sal light com adição de fumaça líquida).
Dentre os atributos analisados o único que não apresentou diferença significativa
entre as formulações foi o aroma. Este fato pode ser associado a dois fatores, a
temperatura e a adição de ervas aromáticas. Como as amostras foram apresentadas
frias, os avaliadores não perceberam diferença entre o defumado e o não defumado,
da mesma forma, a presença de orégano e manjericão, podem ter mascarado o
aroma defumado.
Os atributos aparência e cor, apenas a formulação F4 (sal light + fumaça líquida)
diferiu (p > 0,05) das demais formulações (Tabela 3). Acredita-se que o fato dos
provadores não serem treinados e a falta de padronização dos nuggets interferiu
nessa diferença, uma vez que a formulação F2 adicionada de fumaça líquida não
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
298
apresentou diferença significativa. Para o atributo sabor, a formulação F4 apresentou
menor média (3,14), diferindo (p > 0,05) das formulações F1 e F2 (Tabela 3). A adição
de fumaça líquida não foi um fator determinante para os valores médios atribuídos
ao sabor dos nuggets, visto que apesar do formulado F4 apresentar a menor média,
a formulação F2 apresentou média superior a formulação F3 (sal light sem adição de
fumaça líquida), demonstrando que o sal foi o fator que mais influenciou na escolha
do sabor pelos avaliadores.
Para Nilson et al. (2012) devido o consumo excessivo de sal ser um hábito
dos brasileiros, produtos com redução do mineral apresentam certa restrição pelos
consumidores. Este fato foi comprovado por meio dos comentários dos avaliadores,
que sinalizaram que os nuggets de pescada contendo sal light em sua composição
(F3 e F4) eram bons, mas apresentavam pouco sal.
Com o teste de aceitação (Tabela 3), foi possível verificar que as quatro
formulações foram aceitas pelos provadores, visto que as médias obtidas se encontram
entre os escores 6 e 7 da escala hedônica, e que corresponde a “gostei ligeiramente”
e “gostei moderadamente”, respectivamente.
Com relação ao teste de atitude (Figura 1), 35,71% dos avaliadores
comprariam frequentemente os nuggets de pescada da formulação F1, a mais aceita
sensorialmente. Se somadas as notas obtidas nos itens “1 - compraria sempre”, “2 compraria muito frequentemente” e “3 - compraria frequentemente”, as porcentagens
obtidas seriam de 69,05%, 54,76%, 52,38% e 47,61% para as formulações F1, F2, F3
e F4, respectivamente. Portanto, os produtos com maior porcentagem de intenção de
compra foram os que apresentavam sal comum em sua composição (F1 e F2).
Figura 1. Valores percentuais da escala de atitude de intenção de compra das quatro
formulações dos empanados de pescada. F1 (sal comum); F2 (sal comum com adição de
fumaça líquida); F3 (sal light); F4 (sal light com adição de fumaça líquida). (1) Compraria
sempre; (2) Compraria muito frequentemente; (3) Compraria frequentemente; (4) Compraria
ocasionalmente; (5) Compraria raramente; (6) Compraria muito raramente e (7) Nunca
compraria.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
299
As formulações F2 e F4 com adição de fumaça apresentaram maiores
percentuais 38,10% e 26,19%, respectivamente, para a média 4 que corresponde a
“compraria ocasionalmente” na escala de atitude. Isso mostra que o produto não foi
totalmente rejeitado e que a adição de fumaça líquida em reestruturados de peixe é
uma alternativa viável para a diversificação de produtos industrializados. A formulação
F3 contendo sal light apresentou a segunda maior intenção de compra com 30,95%
dos provadores (3 - comprando frequentemente) os nuggets de pescada. A utilização
de sal light é uma boa alternativa para a redução do teor de sódio nos alimentos
uma vez que há uma tendência das industrias alimentícias brasileiras que estão se
enquadrando no âmbito de redução de sódio, gorduras e açúcares nos produtos
devido a recomendação da OMS tem como uma de suas metas a redução de níveis
mínimos de sódio em alimentos industrializados até 2020 (WHO, 2012).
4 | CONCLUSÃO
A elaboração dos nuggets de pescada sabor defumado e com teor reduzido de
sódio, demonstrou ser uma boa alternativa para a diversificação dos produtos à base
de pescado, por apresentar características nutricionais e sensoriais aceitáveis. No
entanto, apesar do sal ter sido o fator determinante para a aceitação dos reestruturados,
a utilização de sal light é uma alternativa viável para a redução do teor de sódio em
empanados, visto que as formulações que continham este mineral, também foram
aceitas e apresentaram intenção de compra pelos avaliadores. Sendo assim, para
melhores resultados, a utilização de novos ingredientes que associados ao cloreto
de sódio possam minimizar a percepção do sabor salgado e do sabor defumado do
produto sejam necessários.
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Capítulo 28
300
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Capítulo 28
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 28
302
CAPÍTULO 29
doi
DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO “ESPETINHO
DE CAMARÃO RECHEADO COM QUEIJO PRATO E
EMPANADO COM FARINHA DE COCO”
Roosevelt de Araújo Sales Junior
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
Marcos Vinicius de Castro Freire
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
Rosane Lopes Ferreira
Universidade Federal do Paraná, Departamento
de Zootecnia.
Palotina-PR.
Maria Gabriela Alves Costa
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
RESUMO: O objetivo do trabalho foi
desenvolver e avaliar sensorialmente um novo
produto, o espetinho de camarão recheado
com queijo prato e empanado com farinha
de coco, por meio da aplicação do teste
afetivo de aceitação, com uso de uma escala
hedônica de nove pontos, que variava de gostei
muitíssimo (9 pontos) até desgostei muitíssimo
(1 ponto). Inicialmente obtivemos o camarão
cinza, Litopenaeus vannamei, no mercado
de pescado da cidade, pesado, lavado com
água clorada (5ppm), drenado e mensurado
para determinarmos o número de peças/quilo,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
descascado, pesado, imerso em uma salmoura
2% + Tripolifosfato de sódio 5% por 30 minutos
e armazenado em refrigeração. Incorporação
dos temperos e posteriormente o preparo dos
espetos para, o empanamento. Foi calculado
os custos do produto, e aplicado os testes
afetivos de preferência e de aceitabilidade.
Durante a análise sensorial foi realizado o teste
de intenção de compra. A análise sensorial
ocorreu no LAPESC (Laboratório de Qualidade
e Processamento de Pescado) da Universidade
Federal do Semi-Árido (UFERSA), com 50
provadores. Os resultados obtidos foram
Rendimento do Camarão de 50,5%. O espeto
de camarão com queijo empanado saiu com
12,66 g. Com rendimento final do produto de
83%. Com valor unitário de R$ 0,46. O Índice
de Aceitabilidade: foi de 94,4%. A Intenção
de compra: 82% certamente eu compraria.
Com isso concluímos que, a reformulação de
um produto já consolidado no mercado com
alta aceitabilidade, unido a novos hábitos
alimentares, torna um produto inovador com
boa aceitação, tendo potencial para conquistar
o mercado consumidor.
PALAVRAS-CHAVE: Carcinicultura, Novos
produtos, Tecnologia do Pescado.
Capítulo 29
303
DEVELOPMENT OF THE PRODUCT "SHRIMP SPOON STUFFED WITH CHEESE
PRATO AND PIE WITH COCONUT FLOUR"
ABSTRACT: The objective of this work was to develop and evaluate a new product,
the shrimp skewer stuffed with cheese and breaded with coconut meal, by means
of the affective acceptance test, using a nine point hedonic scale, which varied
I liked it very much (9 points) and I really disliked it (1 point). We initially obtained
gray shrimp, Litopenaeus vannamei, at the city fish market, weighed, washed with
chlorinated water (5ppm), drained and measured to determine the number of pieces /
kilo, peeled, weighted, immersed in a brine 2% + Tripolyphosphate 5% sodium for 30
minutes and stored under refrigeration. Incorporation of the seasonings and later the
preparation of the skewers for the empanamento. Product costs were calculated, and
affective preference and acceptability tests were applied. During the sensory analysis,
the intention to buy test was performed. Sensory analysis took place at the LAPESC
(Laboratory of Quality and Fish Processing) of the Federal University of the Semi-Arid
(UFERSA), with 50 tasters. The results obtained were Camarão's yield of 50.5%. The
shrimp skewer with breaded cheese came out with 12.66 g. With final product yield
of 83%. With a unit value of R$ 0,46. The Acceptability Index was 94.4%. Intention to
buy: 82% would certainly buy. With this we conclude that the reformulation of a product
already consolidated in the market with high acceptability, coupled with new eating
habits, makes an innovative product with good acceptance, having the potential to
conquer the consumer market.
KEYWORDS: Shrimp farming, New products, Fish Technology.
1 | INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de novos produtos com pescado nas industrias tem se
fundamentado na ampliação e inovação de produtos no mercado. A preocupação de
desenvolver novos produtos não está apenas associada a competição estrangeira,
mas também ao ritmo crescente das inovações tecnológicas, consumidores mais
exigentes e com novos valores, a relação de vendas e participação do mercado
e a diferenciação e segmentação do mercado (JÓNSDÓTTIR; VESTERAGER;
BØRRESEN, 2000).
A empresa que busca o desenvolvimento e inovação de produtos se
baseia em diversas funções, que começa na busca de oportunidades e geração
de ideias, seguida de uma avaliação no mercado, determinação do novo produto,
desenvolvimento e então comercialização. Todas as essas etapas estão associadas a
uma equipe, com diferentes funções, que vai desde a buscar de ideias e informações
com consumidores, fornecedores, concorrentes à determinação do novo produto,
estratégia de marketing, formulação do produto e decisões de Quando, Onde, Quem
e como investir no mercado (BUENO, BALESTON, 2012).
Porém, os desenvolvimentos de novos produtos apresentam ainda alguns
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
304
desafios visto que apenas 20% das inovações lançadas no mercado são validadas
com sucesso. Dentre esses desafios, podemos destacar: Reduzir as chances de
insucesso, educação do cliente, assegurar a qualidade do projeto, direcionamento
correto das atividades, coordenar de forma efetiva as atividades e planejar cada
um dos passos, a marca do produto define o caráter do produto, passar a ideia e
estratégia para os diversos níveis (BUENO, BALESTON, 2012).
Nessa busca de informações e ideias para desenvolver um novo produto que
atenda um amplo mercado de consumidores, pensou-se em utilizar o pescado de
forma mais elaborada. No presente trabalho, agregamos valor ao camarão com a
presença do queijo prato e empanamento na farinha de coco, que oferece praticidade
na culinária doméstica pois depois de retirado da embalagem só precisa ser frito ou
assado. Além disso, o sabor do camarão juntamente com o queijo e o contraste do
leve adocicado da farinha de coco formam uma combinação muito apreciada pelos
consumidores, estimulando, desta forma, o seu consumo. Atualmente, o consumidor
tem se preocupado se os novos produtos podem proporcionar praticidade, nutrição
e qualidade sensorial. Assim, o objetivo do trabalho foi desenvolver e avaliar
sensorialmente espetinho de camarão recheado com queijo prato e empanado com
farinha de coco por meio da aplicação do teste afetivo de aceitação, com uso de uma
escala hedônica de nove pontos, que variava de gostei muitíssimo (9 pontos) até
desgostei muitíssimo (1 ponto).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Material
2.1.1 Equipamentos e materiais
Balança, cadinhos e bandejas plásticas;
Facas e colheres;
Tábuas para corte e peneira;
Liquidificador e refrigerador;
Fogão e Panela;
2.1.2 Insumos, aditivos alimentares e reagentes
Glutamato monossódico + Tripolifosfato de sódio;
NaCl;
Sistema de empanamento: pré-dust, batter e breading;
Condimento;
Farinha de coco;
Panko;
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
305
Queijo prato;
Óleo girassol.
2.1.3 Formulação
Ingredientes
Quantidade (g)
%
Camarão cinza descascado
1000
-
Queijo Prato
300
30
Pré-dust
200
20
Breading (Farinha de coco 25% + Panko 75%)
200
20
Batter
100gà1L
10
Tripolifosfato de sódio
50
5
Glutamato monossódico
20
2
NaCl
20
2
Condimento
5
0,5
Tabela1: Formulação do espetinho de camarão recheado com queijo prato e empanado com
farinha de coco
2.1.3.1 Funcionalidade dos ingredientes
Camarão Cinza (Litopenaeus vannamei)
Camarão é o crustáceo mais importante comercializado a nível mundial
(OETTERER; REGITANO; SPOTO, 2006). O pescado constituiu a matéria-prima
base principal para a obtenção do produto.
Nacl
O Cloreto de Sódio é um sal inorgânico mineral presente na natureza, na água e
no mar. Trata-se de um composto iônico isento de iodo, essencial para os organismos
biológicos, onde apresenta importante papel em vários processos fisiológicos,
incluindo o transporte de nutrientes, funções do sistema nervoso. Além de fornecer
eletrólitos para a manutenção da tonicidade do plasma, umidificar as membranas
mucosas, confere sabor ou gosto aos produtos (DOMINGOS, 2011).
Tripolifosfato de sódio
Os fosfatos de sódio são empregados em soluções de injeção de carne
para melhorar a capacidade de retenção de água (CRA), além de atuarem como
antioxidantes, minimizando as taxas de oxidação lipídica na carne (KIJOWSKI &
MAST, 1988).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
306
Glutamato de sódio
É empregado nos produtos alimentícios como realçador de sabor (JINAP &
HAJEB, 2010).
Condimentos
As especiarias são adicionadas no processamento tecnológico do alimento
com a finalidade de conferir sabor, cor, com ação antioxidante, aumentando a vida
comercial do produto, permitindo sua diversificação no mercado. Possuem importância
tecnológica e podem trazer benefícios à saúde de quem os consome (CARRIJO,
2012).
Queijo prato
Durante a produção e a maturação do queijo estão envolvidos diversos eventos
bioquímicos consecutivos e concomitantes, que, quando ocorrem em sincronia e de
maneira balanceada, dão origem a produtos com sabor, aroma e textura desejáveis
(FOX et al., 1993).
Empanamento
Os
sistemas
de
empanamento
tradicionais
são
compostos
de
pré-
enfarinhamento (predust), líquido ou solução de empanamento (batter) e farinhas de
cobertura (farinhas de pão ou rosca, breaders /breadings) (LUVIELMO; DILL, 2008)
Predust ou pré-enfarinhamento é a primeira camada de um sistema de cobertura.
Seu objetivo principal é promover a ligação entre o substrato e o batter, absorver a
umidade da superfície do substrato, além de favorecer a manutenção de aroma e
sabor característicos (UEMURA; LUZ, 2003)
O batter é uma mistura em pó de diversos ingredientes funcionais tais como,
amidos, gomas e farinhas, podendo ser condimentado ou não. Quando hidratado,
apresenta uma suspensão de sólidos em líquido, a qual forma tanto a camada de
cobertura externa completa para o produto alimentício, como também, age como uma
camada ligante entre o substrato e a camada mais externa, o breading (DILL; SILVA;
LUVIELMO, 2009)
O breading ou farinha de cobertura também pode ser definido como sendo uma
base de cereal, geralmente obtida através de processamento térmico, podendo ser
condimentado ou não. É manufaturado com granulometria consistente, densidade,
umidade, potencial de absorção de umidade e gordura, taxa de escurecimento e é
produzido para cobrir aves, peixes, frutos do mar, carnes, vegetais e frutas (DILL;
SILVA; LUVIELMO, 2009).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
307
2.2 Metodologia
2.2.1 Fluxograma operacional
Camarão inteiro
|--------------- pesagem
Lavagem com água clorada (5ppm)
|
Drenagem
|--------------- contagem
Descasque
|--------------- pesagem
Lavagem com água clorada (5ppm)
|
Drenagem
|--------------- pesagem
Imersão em salmoura + Tripolifosfato de sódio (30min)
|
Drenagem
|--------------- pesagem
Incorporação dos temperos
|------------------ espeto
Empanamento
(Pré-enfarinhamento + Líq. Cobert. + Cobertura)
|--------------- pesagem
Embalagem
|
Congelamento
2.2.2 Etapas da produção
Inicialmente obtivemos o camarão cinza, Litopenaeus vannamei, no mercado
de pescado da cidade, afim de desenvolver o produto do presente estudo. Ao chegar
no Laboratório de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado (LAPESC), o
camarão foi pesado, lavado com água clorada (5ppm), drenado e mensurado para
determinarmos o número de peças/quilo.
Posteriormente foi devidamente descascado, pesado, lavado, drenado e
novamente pesado. Após a obtenção do camarão descascado o mesmo foi imerso
em uma salmoura 2% + Tripolifosfato de sódio 5% por 30 minutos e armazenado
em refrigeração. Logo após o tempo de incorporação dos aditivos o camarão foi
novamente drenado e pesado, deste modo podemos acompanhar todas as percas
em cada etapa durante o processo de preparação da matéria prima.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
308
O camarão segue para a incorporação dos temperos e posteriormente o preparo
dos espetos para, só então, chegar a etapa de empanamento e por fim pesado,
embalado e congelado.
2.2.3 Custo
A Tabela 2 expressa a quantidade e o valor dos ingredientes comerciais do
Espetinho de camarão recheado com queijo prato e empanado com farinha de coco.
Ingredientes
Quantidade (g)
R$
Camarão cinza descascado
1000
35,00
Queijo Prato
600
20,09
Breading (Farinha de coco 25% + Panko 75%)
400
5,84
Pré-dust
200
3,75
Batter
100gà1L
0,69
Tripolifosfato de sódio
50
0,75
NaCl
20
0,03
Glutamato monossódico
20
0,21
Condimento
5
0,48
Tabela 2: Lista de ingredientes e valor de mercado proporcional ao utilizado.
2.2.4 Análise sensorial
Os testes afetivos podem ser classificados em duas categorias:
Testes de preferência: Quando objetiva-se avaliar a preferência do consumidor
quando ele comparado entre dois ou mais produtos.
Testes de aceitabilidade: Quando objetiva-se testar e avaliar o grau de quanto
os consumidores gostam ou desgostam de um produto.
Diante disso, a técnica sensorial utilizada no trabalho foi um teste afetivo, por
meio da aplicação do teste de aceitação, que consistiu de uma escala hedônica de
nove pontos, que variava de gostei muitíssimo (9 pontos) até desgostei muitíssimo (1
ponto) (DUTCOSKY,2007).
Durante a análise sensorial também foi realizado o teste de intenção de compra
utilizando-se a escala de categoria mista com cinco pontos (5=certamente compraria
a 1=certamente não compraria), de acordo com o método citado em Stone e Sidel
(1985).
A análise sensorial ocorreu no LAPESC (Laboratório de Qualidade e
Processamento de Pescado) da Universidade Federal do Semi-Árido (UFERSA).
Para as análises foi servido inicialmente um copo com água para que o provador
pudesse limpar a boca antes da degustação do produto, em seguida foi servido o
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
309
espetinho de camarão recheado com queijo prato e empanado com farinha de coco,
servidos em pratos descartáveis, o teste foi realizado com 50 provadores.
Os provadores foram instruídos a avaliarem a amostra em relação a aceitação
global, utilizando a escala hedônica de nove pontos, e a indicar na escala o quanto
gostou ou desgostou da amostra.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Cálculo do rendimento
onde:
Pi = Peso inicial (g);
Pf = Peso final (g)
3.1.1 Rendimento do camarão
O peso inicial foi 1000g de camarão fresco inteiro, após o descabeçamento e
descasque do mesmo obtivemos 505g de matéria prima.
R Camarão = 50,5%
R Resíduo = 49,5%
A matéria prima passou por uma imersão em salmoura (5% TPF + 2% NaCl)
durante 30 minutos e em seguida foi drenada e devidamente pesado.
Pi = 505g
Pf = 550g
R Salmoura = + 8,91% (Acréscimo após imersão em salmoura)
Ao chegar para o preparo do espeto o camarão possuía peso médio de 6 g,
após adicionado o queijo e preparado o espeto o mesmo pesava 8,67g. Em seguida o
mesmo foi direcionado para etapa de empanamento, onde o espeto de camarão com
queijo empanado saiu com 12,66 g.
R espeto de camarão = +44,5% (Acréscimo após espeto)
R espeto de camarão empanado = +46,02 (Acréscimo após o empanamento)
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
310
3.1.2 Rendimento do produto final
Pi = 505 g Camarão descascado (73 peças/quilo);
Pf = 924,18 g Espetinho de camarão empanado com farinha de coco;
R Final = + 83% (Acréscimo na pesagem inicial).
3.2 Custo
Eis abaixo a lista dos ingredientes, quantidades utilizadas no processamento do
produto, valores e custo da formulação.
Ingredientes
Quantidade
Comercial (g)
Valor Comercial (R$)
Quantidade
Formulação
(kg)
Valor Formulação (R$)
Camarão cinza descascado
1000
60
1
35,00
NaCl
1000
Tripolifosfato de sódio
1,5
1000
15
Batter
1000
Breading (Farinha de coco 25%
+ Panko 75%)
6,9
1000
1000
Queijo Prato
0,03
0,05
0,75
0,1
0,69
15,20+14,40
0,1+0,3
5,84
33
0,6
20,09
0,21
800
Pré-dust
Glutamato monossódico
0,02
7,5
0,5
100
10,8
0,02
Condimento
50
9,74
0,05
TOTAL
Peças/kg =
146
R$ 66,84/146
3,75
0,48
Valor unitário
0,46
Tabela 3: Cotação dos ingredientes e cálculo do custo final do produto
3.3 Análise sensorial
Teste Afetivo - Escala hedônica de 9 pontos é amplamente utilizado para
estudos de preferência com adultos. Para o nosso teste esses pontos variaram desde
gostei extremamente (9) até desgostei extremamente (1).
Com base no exposto determinamos o produto preferido e mais aceito por
determinado pelo público, em função de suas características sensoriais.
PONTUAÇÃO
Escala Hedônica
PONTUAÇÃO
1
Desgostei extremamente
0
2
Desgostei muito
0
3
Desgostei moderadamente
0
4
Desgostei ligeiramente
0
5
Indiferente
0
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
311
6
Gostei ligeiramente
0
7
Gostei moderadamente
3
8
Gostei muito
19
9
Gostei extremamente
28
Número total de avaliadores (N)
50
Índice de Aceitabilidade (IA): O mesmo é calculado a partir dos resultados da escala hedônica
(IA = [média notas/maior nota] x 100), sendo que se o resultado for superior a 70%, indica que o
produto teve aceitação dos provadores.
Intenção de compra: Na ficha de avaliação do produto determinamos 5 pontos
para escolha dos provadores (Certamente eu compraria; provavelmente eu compraria;
talvez eu compraria /talvez eu não compraria; provavelmente eu não compraria;
certamente eu não compraria) após a análise podemos trabalhar os dados obtidos.
N
%
Certamente eu compraria
41
82
Provavelmente eu compraria
9
18
Talvez eu compraria | Talvez eu não compraria
0
0
Provavelmente eu não compraria
0
0
Certamente eu não compraria
0
0
Total
50
100
Intenção de compra
4 | CONCLUSÃO
Com isso concluímos que, a reformulação de um produto já consolidado no
mercado com alta aceitabilidade, unido a novos hábitos alimentares, possibilita seu
lançamento, tornando-o um produto inovador com boa aceitação, tendo potencial
para conquistar o mercado consumidor.
REFERÊNCIAS
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desenvolvimento de novos produtos. Rae - Revista de Administração de Empresas, São Paulo,
v. 52, n. 5, p.517-530, set. 2012.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
312
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1985.
UEMURA, C. H; LUZ, M.B. Sistema de cobertura. Aditivos & Ingredientes, v., p. 81-82, 2003.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 29
313
CAPÍTULO 30
doi
PROCESSAMENTO DO PESCADO DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO: PÃO DE QUEIJO
RECHEADO COM CAMARÃO
Roosevelt de Araújo Sales Junior
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
Marcos Vinicius de Castro Freire
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
Rosane Lopes Ferreira
Universidade Federal do Paraná, Departamento
de Zootecnia.
Palotina-PR.
Maria Gabriela Alves Costa
Universidade Federal Rural do Semi-árido, Centro
de Ciências Agrárias – CCA.
Mossoró-RN.
RESUMO: O objetivo do trabalho foi desenvolver
um novo produto a base de pescado, o “Pão de
queijo recheado com camarão”, utilizando-se
testes de aceitação e intenção de compra para
validar o mesmo. O produto foi desenvolvido
no Laboratório de Tecnologia e Controle
de Qualidade do Pescado - LAPESC, da
Universidade Federal Rural do Semi-Árido UFERSA. Após os cálculos de rendimento, foi
realizada a análise sensorial utilizando-se o
teste afetivo - Teste de Aceitação Global com
escala hedônica, com nove pontos que variaram
de “Gostei extremamente” até “desgostei
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
extremamente”. A análise foi realizada com
50 provadores (n = 50). Calculou-se também
a intenção de compra do produto, usando o
Teste de Escala de Atitude. Os resultados
obtidos foram: rendimento do recheio (camarão
descascado) de 49,05% e rendimento total do
produto foi 1,942g. O peso médio dos pãezinhos
foi de 36g cada com custo unitário de R$ 1,26.
O teste revelou uma boa aceitação para o
produto, obtendo índice de aceitabilidade de
84,44%. A intenção de compra foi de 96% dos
provadores, confirmando que o trabalho de pré
marketing é favorável para medir a aceitação
de um produto antes de inseri-lo no mercado.
Com isso concluímos que, a reformulação de
um produto já consolidado no mercado com
alta aceitabilidade, faz com que seja possível
o lançamento de um novo produto inovador
com potencial para conquistar o mercado
consumidor.
PALAVRAS-CHAVE:
Aquicultura,
Novos
produtos, Processamento de Pescado.
PROCESSING OF FISH - PRODUCT
DEVELOPMENT: CHEESE BREAD WITH
SHRIMP
ABSTRACT: The objective of the work was
to develop a new product based on fish, the
"cheese bread stuffed with shrimp", using
acceptance tests and purchase intention to
Capítulo 30
314
validate the same. The product was developed in the Laboratory of Technology and
Quality Control of Fish - LAPESC, Federal Rural Semi-Arid University - UFERSA. After
the income calculations, the sensorial analysis was performed using the affective test
- Global Acceptance Test with hedonic scale, with nine points that ranged from "I liked
very much" to "extremely disliked". The analysis was performed with 50 testers (n =
50). The intention to purchase the product was also calculated using the Attitude Scale
Test. The results obtained were: yield of the stuffing (peeled shrimp) of 49.05% and total
yield of the product was 1.942g. The average weight of the buns was 36g each with a
unit cost of R $ 1.26. The test revealed a good acceptance for the product, obtaining
an acceptability index of 84.44%. The intent of the purchase was 96% of the testers,
confirming that the premarketing work is favorable to measure the acceptance of a
product before inserting it in the market. With this we conclude that the reformulation
of a product already consolidated in the market with high acceptability, makes possible
the launch of a new innovative product with potential to conquer the consumer market.
KEYWORDS: Aquaculture, New products, Fish processing.
1 | INTRODUÇÃO
As atividades de pesca e aquicultura tem se desenvolvido muito nas últimas
décadas em função da demanda alimentar, investimentos no setor e melhorias na
cadeia produtiva. São atividades capazes de gerar volumes consideráveis de renda,
tanto em países desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento (GONÇALVES
& SILVA, 2017). Segundo dados da FAO (2018), a produção de pescado mundial
em 2016, alcançou aproximadamente 171 milhões de toneladas. Tornando o setor
aquícola uma atividade de renda que compete com outras fontes proteicas, e busca
alcançar o objetivo de suprir a insegurança alimentar.
O consumidor tem exigido cada vez mais novos produtos seguros, saudáveis,
inovadores e nutritivos que cheguem ao mercado, atendam e supram a demanda
alimentar. Tentando diversificar e agregar valor a oferta de produtos à base de
pescado, pesquisadores têm estudado a produção de novos produtos, que apresentam
aceitação (GONÇALVES & SILVA, 2017) dos consumidores, sendo uma opção de
inclusão na alimentação do consumidor.
Dentre essa diversificação, a reestruturação e adaptação de novos produtos
já existentes no mercado, agrega valor e utiliza uma fonte proteica saudável que é
o pescado. Nesse contexto, abre-se uma oportunidade no mercado nacional para a
agregação de valor aos produtos oriundos da carcinicultura brasileira (GONÇALVES
& GOMES, 2008), que tem aumentado sua produção e o setor alimentício tem voltado
seu olhar para o camarão marinho, um produto nobre, de qualidade nutricional que é
bem apreciado.
O camarão marinho, Litopenaeus vannamei, segundo Chamberlain (2003),
tornou-se uma das espécies de maior importância das fazendas de camarão,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
315
despertando forte crescimento e investimento no Brasil a nível de exportações e
comercialização no mercado interno. O crescente avanço na sua produção devido a
avanços no setor, gera oportunidade de renda e desperta o interesse do consumidor.
O pão de queijo é um produto tradicional de Minas Gerais, que possui grande
aceitação no mercado interno e tendência acentuada de expansão no mercado
externo (MINIM et al, 2000), é apreciado na culinária brasileira e se expandiu em todo
o Brasil. A sua formulação envolve a mistura de amido de mandioca, queijo e outros
ingredientes que conferem ao produto sabor, aroma e textura característicos (SILVA
et al, 2003).
Considerando o aumento do consumo do pescado, a busca por hábitos
alimentares alternativos cada vez mais saudáveis da população brasileira, esse
trabalho foi realizado como forma de ser mais um incremento alimentar, buscando
um alimento já existente no mercado o pão de queijo, com inclusão do camarão,
agregando mais sabor e valor ao produto, tendo por objetivo o desenvolvimento de
um novo produto a base de pescado, o “Pão de queijo recheado com camarão”,
utilizando testes de aceitação e intenção de compra, para avaliação de aceitação no
mercado.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Área experimental
O produto “pão de queijo recheado com camarão” foi desenvolvido no Laboratório
de Tecnologia e Controle de Qualidade do Pescado - LAPESC, da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA.
2.2 Formulação e produção do pão de queijo recheado com camarão
Para o processo de fabricação do pão de queijo recheado com camarão (Figura
3) foram utilizados os matérias, insumos, aditivos e reagentes como mesa Inox,
bandejas plásticas para pescado, luvas, facas, colheres, peneiras, tábua em PVC
para corte do pescado, balança analítica, geladeira, fogão e panelas, processador de
alimentos, ultra freezer, sacos plásticos para embalar, embaladora a vácuo, Beckers,
cadinhos, camarão descabeçado e descascado, polvilho doce + azedo, água, leite
pasteurizado, óleo de girassol, creme de ricota, queijo parmesão, ovos, temperos
(cebola, alho, pimenta do reino) e NaCl refinado. A preparação da massa (Figura
1) e do recheio (Figura 2) foi baseada no fluxograma operacional desenvolvido em
laboratório, e a formulação da massa (Tabela 1) e do recheio (Tabela 2). Os dados
sobre os custos para produzir o pão de queijo recheado com camarão estão expressos
em uma tabela (Tabela 3).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
316
Figura 1: Fluxograma da preparação da massa do pão de queijo.
Figura 2: Fluxograma da preparação do recheio do pão de queijo
Ingredientes
Quantidade (g)
%
Polvilho doce + azedo
1000
-
Água
400
40
Leite
400
40
Óleo
400
40
Queijo Parmesão
200
20
Ovos
160
16
NaCl
10
1
Tabela 1: Formulação da massa do pão de queijo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
317
Ingredientes
Quantidade (g)
%
Camarão
1000
100
Creme de Ricota
200
20
Cebola
100
10
Alho
20
2
NaCl
10
1
Pimenta do reino
5
0,5
Tabela 2: Formulação do recheio do pão de queijo.
Ingredientes
Quantidade (g)
R$
Camarão
1000
35,00
Polvilho doce + azedo
1000
14,50
Água
400
-
Leite
400
1,20
Óleo
400
1,78
Creme de Ricota
200
7,19
Queijo Parmesão
200
3,60
Ovos
160
1,20
Cebola
100
0,38
Alho
20
0,30
NaCl
20
0,05
Pimenta do reino
5
1,50
Tabela 3: Custos de produção de 53 pães de queijo recheados com camarão.
Figura 3: A - ingredientes utilizados na fabricação do produto (queijo parmesão ralado, polvilho,
pimenta do reino em pó, ovo, leite e alho); B – Mistura dos ingredientes (óleo, água e leite após
fervura antes de escaldar a massa); C - Massa durante a sovagem (polvilho, queijo, ovos e sal);
D - Camarão refogado com alho, cebola e pimenta do reino; E - Recheio pronto após a adição
do creme de ricota; F - Massa crua pós formatação e adição do recheio; G - Pão de queijo
durante forneamento; H - Pão de queijo recheado com camarão após sair do forno.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
318
2.3 Análise sensorial do pão de queijo recheado com camarão
Na análise sensorial, realizada no próprio Laboratório de Tecnologia e Controle
de Qualidade do Pescado - LAPESC, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido –
UFERSA, foram aplicados o Teste Afetivo - Escala hedônica de 9 pontos é amplamente
utilizado para estudos de preferência com adultos. Para o nosso teste esses pontos
variaram desde gostei extremamente (9) até desgostei extremamente (1). Baseado
nisso determinamos o produto preferido e mais aceito por determinado público-alvo,
em função de suas características sensoriais. E foi avaliado os seguintes índices:
Índice de Aceitabilidade (IA): O mesmo é calculado a partir dos
resultados da escala hedônica, caso o resultado seja superior a 70% o produto
teve aceitação dos provadores. Método citado por Dutcosky (2007).
Intenção de compra: Na ficha de avaliação do produto determina-
mos 5 pontos para escolha dos provadores (Certamente eu compraria; Prova-
velmente eu compraria; Talvez eu compraria/Talvez eu não compraria; Prova-
velmente eu não compraria; Certamente eu não compraria) após isso podemos
trabalhar os dados obtidos. Utilizando o método citado em Stone e Sidel (1985).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Rendimento do camarão
O rendimento do camarão foi baseado na formula: R%= ((Pi-Pf)/Pi)∗100, onde
Pi = Peso inicial (g) e Pf = Peso final (g).
O peso inicial de camarão fresco inteiro foi de 1000 g, após o processo de
limpeza (descabeçamento e descasque) restou 495 g de camarão fresco, em seguida
foi calculado o rendimento do camarão limpo (descascado).
R% = ((1000−495) / 1000) ∗ 100
R% = 49,05% (Camarão descascado)
3.2 Rendimento do produto final
Massa pão de queijo: 1.210 g
Recheio (camarão + ingredientes): 732 g
Total: 1.942 g rendeu 53 pãezinhos com peso médio de 36 g.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
319
3.3 Custo
Com o total de ingredientes comprados produziu-se 53 pães de queijo recheados
com camarão, com um valor final gasto de R$ 66,70 para a produção, dessa forma o
valor unitário para produzir cada pão de queijo foi de R$ 1,26 (Tabela 4).
Ingredientes
Quantidade
comercial (g)
Valor comercial (R$)
Quantidade Formulação (g)
Valor formulação (R$)
1000
50
1000
1000
250
1000
35,00
14,99
3,75
14,67
8,99
2,50
1000
5
100
20
200
20
35,00
1,50
0,38
0,30
7,19
0,05
1000
14,50
1000
900
1590
1000
3,00
3,99
12,00
18,00
1000
400
400
400
160
14,5
1,20
1,78
1,20
Camarão
Pimenta do reino
Cebola
Alho
Creme de Ricota
NaCl
Polvilho doce +
azedo
Água
Leite
Óleo
Ovos
Queijo Parmesão
3,60
200
TOTAL
66,70
Tabela 4: Cotação dos ingredientes e cálculo do custo final do produto
3.4 Análise sensorial
O teste foi realizado com 50 participantes, sendo os mesmos submetidos a um
questionário de teste afetivo de escala hedônica de 1 a 9 pontos (Tabela 5) e após
análise dos dados foi realizada uma distribuição de frequência com intervalo de classe
com a faixa etária dos participantes sem distinção de sexo (Figura 4).
PONTUAÇÃO
Escala Hedônica
PONTUAÇÃO
1
Desgostei extremamente
-
2
Desgostei muito
1
3
Desgostei moderadamente
-
4
Desgostei ligeiramente
-
5
Indiferente
-
6
Gostei ligeiramente
3
7
Gostei moderadamente
16
8
Gostei muito
21
9
Gostei extremamente
9
Número total de avaliadores (50)
Tabela 5: Teste afetivo de escala hedônica
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
320
Dados
1
2
3
4
5
6
total
Avaliadores Desgostei Muito Gostei Ligeiramente Gostei Moderadamente Gostei Muito Gostei Extremamente Total
18/---25
25/---31
31/---37
37/---43
43/---49
49/---55
31
12
3
0
1
3
50
3,23
0
0
0
0
0
6,45
8,33
0
0
0
0
29,03
50,00
33,33
0
0
0
45,16
33,33
33,33
0
100,00
33,33
16,13
8,33
33,33
0
0
66,67
100,00
100,00
100,00
0
100,00
100,00
%
Figura 4: Distribuição de frequência com intervalo de classe com a faixa etária dos participantes
De acordo com a figura 5, a classe entre 18 e 24 anos foi a maior, sendo
representando por 31 dos 50 provadores enquanto que a classe entre 37 e 42 não
possuiu provadores. Na figura a resposta “gostei muito” representou 45,16% dos
31 participantes da faixa etária de 18 a 24 anos e o “desgostei muito” com 3,23%. O
Índice de Aceitabilidade (IA) foi calculado a partir dos resultados da escala hedônica.
IA = (média notas/maior nota)x100), sendo que se o resultado for superior a
70%, indica que o produto teve boa aceitabilidade, o mesmo ficou dentro do limite
recomendado pela literatura, acima dos 70%..
IA(pão de queijo recheado com camarão) = 7,6 ∗100= 84,44% 9
Dos 50 provadores do produto, 52% certamente comprariam o produto analisado,
e 44% Provavelmente comprariam, com isso confirma-se que o pré-marketing é
favorável para medir a aceitação ou não de um produto antes de inseri-lo no mercado
(Tabela 6).
N
%
Certamente e compraria
26
52
Provavelmente eu compraria
22
44
Talvez eu compraria/Talvez eu não compraria
2
4
Provavelmente eu não compraria
0
0
Certamente eu não compraria
0
0
Total
50
100
Escala Hedônica
Tabela 6: Intenção de compra
4 | CONCLUSÃO
Com isso concluímos que, com a reformulação de um produto já consolidado no
mercado com alta aceitabilidade, unido as tradições nordestinas, é possível que haja
o lançamento de um produto inovador com jeitinho mineiro e alma nordestina, tendo
potencial para conquistar o mercado consumidor.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
321
REFERÊNCIAS
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Brazil. 2003.
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SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS. ROMA. 2018.
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Pesca. 3(1), Janeiro. 2008.
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Nuggets de camarão recheado com queijo provolone. Aquaculture Brasil. 30 de setembro de 2017.
MINIM, V. P. R. et al. Perfil sensorial e aceitabilidadede diferentes formulações de pão de queijo.
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STONE, H.S, SIDEL, J.L. Affective testing, in: sensory evaluation practices. Orlando: Academic;
1985.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 30
322
CAPÍTULO 31
doi
PROCESSAMENTO E ACEITABILIDADE DE PÃO DE
FORMA ADICIONADO DE FARINHA DE DOURADO
(Coryphaena hippurus)
Dayvison Mendes Moreira
Instituto Federal do Espírito Santo
Piúma –Espírito Santo
Marcelo Giordani Minozzo
Instituto Federal do Espírito Santo
Piúma –Espírito Santo
Dayse Aline Silva Bartolomeu de Oliveira
Instituto Federal do Espírito Santo
Piúma –Espírito Santo
RESUMO:Este trabalho tem como objetivo o
desenvolvimento de pães de forma enriquecido
com farinha de dourado (Coryphaena hippurus)
e caracterizá-lo sensorialmente utilizando os
testes aceitabilidade e perfil de atributos. O
trabalho foi conduzido no âmbito do GEPP
– Grupo de Estudos em Processamento de
Pescados do Instituto Federal do Espírito
Santo - IFES Campus Piúma, onde ocorreu
sua trituração em multiprocessador, e
submetidos a três etapas de lavagem da carne
(tendo como objetivo a retirada das proteínas
sarcoplasmáticas e estromáticas, concentrando
apenas as proteínas miofibrilares), sendo
submetidos à secagem em estufa de circulação
de ar forçada a 60ºC, por aproximadamente 7
horas, trituradas e peneiradas para obtenção
da polpa em pó (farinha de dourado). Foram
elaboradas três formulações de pão de forma
(0%, 7,5% e 15%), em substituição à farinha
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
de trigo. O teste de aceitação e o perfil de
atributos, aroma, sabor, textura, aparência e
cor, foram avaliados utilizando escala hedônica
de 9 pontos, empregando 50 julgadores não
treinados com idades entre 15 a 50 anos, de
ambos os sexos. A avaliação sensorial, não
houve diferença significativa no índice de
aceitabilidade para os pães acrescidos de
farinha de dourado. O pão de forma com maior
concentração de farinha de dourado (15%)
apresentou diferença significativa quanto
ao atributo de aroma. Dessa maneira, nas
condições experimentais realizadas, pode-se
concluir que a adição de farinha de pescado
em pães pode ser uma alternativa viável para
o incremento de consumo de pescado sob a
forma processada.
PALAVRAS-CHAVE:
Pescado;
Processamento; Aceitação Sensorial.
PROCESSING AND ACCEPTABILITY OF
BREADS ENRICHED WITH MAHIMAHI
(Coryphaena hippurus)
ABSTRACT: The objective of this study aimed
to elaborate breads enriched with Mahimahi
(Coryphaena hippurus) and to characterize it
sensorially using the tests acceptability and
attributes profile. The work was carried out in
the framework of the GEPP - Fish Processing
Study Group of the Instituto Federal do Espírito
Capítulo 31
323
Santo - IFES Campus Piúma, where it was crushed in multiprocessor, and subjected to
three stages of meat washing (aiming at the removal of (10%), which were submitted
to forced air circulation at 60 ° C for approximately 7 hours, crushed and sieved to
obtain the pulp powder (golden flour). Three formulations of bread loaf (0%, 7.5% and
15%) were made in substitution of wheat flour. Acceptance test and attribute profile,
aroma, flavor, texture, appearance and color were evaluated using a 9-point hedonic
scale, employing 50 untrained judges aged 15 to 50 years, of both sexes. The sensorial
evaluation, there was no significant difference in the acceptability index for breads plus
golden flour. The elaborate breads enriched with Mahimahi with greater concentration
(15%) presented significant difference as to the flavor attribute. Thus, in the experimental
conditions carried out, it can be concluded that the addition of fish meal in bread can be
a viable alternative for the increase of fish consumption in the processed form.
KEYWORDS: Fish; Processing; Sensory Acceptance.
1 | INTRODUÇÃO
O dourado (Coryphaena hippurus) é uma espécie epipelágica e cosmopolita
que sustenta importantes pescarias comerciais, artesanais e recreacionais em todo
o mundo e é capturado, na maioria dos casos, com o uso de atrativos flutuantes e
petrechos como redes de espera, cerco e espinhéis de superfície. É uma espécie
que realiza grandes migrações alimentares e reprodutivas com picos de captura
observados durante a época de verão (KRAUL, 1999; MAHON, 1999; ZAOUALI e
MISSAOUI, 1999). Esse peixe apresenta amplo espectro trófico e hábitos alimentares
estritamente ligados com o ambiente epipelágico, alimentando-se principalmente
de peixes, crustáceos e cefalópodos (GIBBS; COLLETTE,1959; MENEZES;
FIGUEIREDO, 1980; MANOOCH et al., 1984; PALOMINO et al., 1998; OXENFORD,
1999; FIQUEIREDO et al., 2002; NELSON, 2006).
A partir do ano de 2001 a indústria de pescado para exportação, com sede em
Itajaí no estado de Santa Catarina, passou a comprar capturas de dourado para suprir
a demanda do mercado externo. Observou-se a partir daí um incremento significativo
no volume desembarcado da espécie no porto pesqueiro de Itajaí (DALLAGNOLO e
ANDRADE, 2008).A produção total de dourado descarregada no porto pesqueiro de
Itajaí, capturada na costa sul do Brasil, atingiu um máximo de 711 t no ano de 2003,
cerca de 10% da produção nacional, que nesse mesmo ano também atingiu o pico
(IBAMA, 2004). Em 2004 as capturas retornaram a patamares comparáveis aos de
2001 e 2002 (< 400 t) (DALLAGNOLO e ANDRADE 2008).
A percentagem comestível do pescado varia conforme a espécie, ficando entre
55-60%, sendo caracterizada por conter alto valor nutricional, destacando-se o
elevado teor proteico, presença de minerais como cálcio, fósforo e ferro e gordura
(GODOY et al., 2010; GALVÃO e OETTERER, 2014). Segundo a ATUM DO BRASIL
CAPTURA, INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA.(2017), a informação nutricional para
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
324
uma porção de 85g do dourado Coryphaena hippurus se encontra na TABELA 1.
INFORMAÇÃO NUTRICIONAL (Porção de 85g)
Valor Energético
Carboidratos
Proteínas
Gorduras Totais
Gorduras Saturadas
Gordura Trans
Fibra Alimentar
Sódio
Dourado (Coryphaena hippurus)
Qtde.
%VD*
117Kcal /491Kj
6%
0
0%
18g
24%
4,9g
9%
0,8g
4%
0
**
0
0%
562mg
23%
Tabela 1. Informação nutricional do dourado
A farinha de peixe é pouco valorizada na nutrição humana, tendo-se
poucos estudos diante desse assunto. O alto valor nutricional encontrado em sua
composição agrega valor ao produto bem como incentiva a um desenvolvimento
sustentável (GODOY et al., 2010).Estudos de alimentos enriquecidos com farinha de
polpa de peixe têm sido desenvolvidos, Centenaro et al. (2007), que investigaram o
enriquecimento de pão com proteínas de pescado e concluíram que os pães formulados
apresentaram boa aceitação sensorial, apesar das características tecnológicas terem
sido prejudicadas quando se adicionou mais de 3% de polpa seca nos pães.
Segundo o RIISPOA (BRASIL, 1952), as farinhas de peixe para alimentação
animal podem ser classificadas de primeira e de segunda qualidade de acordo com
o teor de proteína, devendo apresentar no mínimo 60 % para ser classificada de
primeira qualidade. A utilização de farinha de peixe na alimentação humana agrega
valores nutricionais tendo uma infinidade de possibilidades de industrialização como
em biscoitos, salgadinhos de milho, bolos, macarrão, pães, bolacha e outros produtos
(SILVA, 2012).
Com a elaboração de pães de forma enriquecidos com farinha de dourado
(Coryphaena hippurus), podemos atingir consumidores de diversos níveis econômicos
e sendo aceito em especial por crianças em idade escolar e os idosos que temem em
ingerir peixes devido à presença de espinhos, facilitando e aumentando desta maneira
o consumo da carne do pescado sob a forma processada. O pão é um produto bem
popular no Brasil devido, ao excelente sabor, preço e disponibilidade, com consumo
per capita de 27 kg por ano, podendo ser consumido como lanche ou até mesmo
junto com as refeições (AZEVEDO et al., 2011).
Os pães estão presentes nas diferentes classes sociais devido ao sabor,
preço e disponibilidade (ESTELLER, 2004) e vem sendo alvo de muitos estudos de
enriquecimento (ILYAS, et al.,1996). Diferentes métodos com o alimento processado
vêm sendo empregado desde a metade do século XX, fortificando os alimentos com
nutrientes de forma a ser aceita pelo consumidor (REILLY, C.,1996; BRASIL, 1998).
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
325
O pão constitui uma fração altamente significativa na produção de alimentos,
portanto é necessária a formulação de pães contendo proteínas de origem animal
que possam estar presentes na mesa do consumidor de todas as classes sociais. O
pão é considerado um alimento deficiente em proteínas (rico em carboidratos), assim
a aplicação de tecnologia para a conversão de pescado em uma fonte proteica é
transformando em uma nova fonte alimentar (PIZZINATTO. et al.1993). Nas dietas
em geral o pão se destaca devido ao fato de ser um dos mais antigos produtos de
manufatura e apresentar boa propriedade sensorial (CENTENARO et al, 2007).
O presente estudo objetivou o desenvolvimento, e caracterização sensorial
de pães de forma enriquecidos com farinha de dourado (Coryphaena hippurus),
bem como a oferta de um produto de prático, que possa ser introduzido nas dietas
alimentares que sejam acessíveis a uma grande parcela da população estimando o
custo das formulações desenvolvidas.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
A matéria prima consistiu em filés de dourado (Coryphaena hippurus). Os filés
foram obtidos congelados de uma indústria pesqueira local, na cidade de Piúma-
ES, e transportados para o laboratório de Processamento de Pescados do Instituto
Federal do Espírito Santo - IFES Campus Piúma, sendo armazenada em freezer com
temperatura de aproximadamente -200c.
Para elaboração da farinha, os filés foram descongelados em temperatura de
resfriamento (-7oC) por aproximadamente 30 minutos. Após o descongelamento
da matéria prima os filés foram cortados em cubos com aproximadamente 4cm de
largura e colocados em um multiprocessador de alimentos por 5 minutos até obter
consistência pastosa.
Após o processamento, a pasta homogeinizada foi submetida a 3 etapas de
lavagem e prensadas ao final de cada etapa em peneira de alumínio com malha
de 0,85mm. Esta etapa de lavagem tem como objetivo a retirada das proteínas
sarcoplasmáticas, concentrando as proteínas miofibrilares, após o processo de
lavagem a poupa de pescado foi dividida em duas partes e colocadas sobre duas
bandejas de metais higienizados e acomodadas com o auxílio das mãos para
distribuir uniformemente a polpa sobre as bandejas formando uma fina camada até
ser submetidos à secagem em estufa com circulação forçada de ar, a 60ºC, por
aproximadamente 7 horas. Após a secagem o produto foi triturado e peneirado sobre
uma malha de 0,85mm de acordo com a metodologia descrita por Centenaro et al.
(2007).
Para formulação dos pãesforam elaboradas três formulações de pães de
forma enriquecidas com farinha de dourado: 742 (0%), 351 (7,5%) e 869 (15%), em
substituição à farinha de trigo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
326
Ingredientes
742
351
869
Farinha de trigo
100%
92,5%
85%
Farinha de peixe
0%
7,5 %
15%
Açúcar
7,5%
7,5%
7,5%
Sal
2,5%
2,5%
2,5%
Óleo
5,0%
5,0%
5,0%
Fermentobiológico
3,75%
3,75%
3,75%
Leite
60 %
60%
60%
21,25%
21,25%
21,25%
Ovosinteiros
Tabela 2. Formulação de pão de forma, enriquecida com proteína de pescado expressa em
porcentagem.
Para elaboração do pão de forma, os ingredientes foram pesados e misturados
os ovos, açúcar, sal, óleo e homogeneizados por 2 minutos em liquidificador industrial.
Foi acrescentado o fermento e leite morno à 30oC, e homogeneizados por mais 2
minutos. Após a homogeneização dos ingredientes, a massa líquida foi acomodada
em bacia plástica onde foi acrescentada as farinhas e homogeneizada utilizando uma
colher até obter uma consistência homogenia. A massa foi levada para estufa á uma
temperatura de 28°C por 45 minutos para o processo da 1ª fermentação, em seguida,
a massa foi retirada e misturada com auxílio da colher de pau por 1 minuto e levada
novamente à estufa por 30 minutos para 2ª fermentação. Após, a 2ª fermentação as
formulações foram colocadas em fôrma untada com óleo e levadas a estufa até dobrar
de tamanho completando o processo da 3ª fermentação, processo aproximado entre
35 minutos. Logo após as formulações foram levadas para assar em forno a gás entre
180 – 200°C, durante 15 minutos.
3 | AVALIAÇÃO SENSORIAL
A avaliação sensorial dos pães foi realizada mediante o uso do teste de escala
hedônica de 9 pontos, e teste de perfil de atributos, sendo eles, aroma, sabor, textura,
aparência e cor, utilizando-se um teste afetivo que indica o quanto gostou ou desgostou
de cada formulação preparada segundo ABNT (1998); IAL (2008).
Participaram 50 julgadores no Ifes. Todos julgadores eram consumidores diários
de pão, com idade de 15 a 50 anos, de ambos os sexos, escolhidos de modo aleatório,
sem conhecimento sobre a composição das amostras. Os resultados dos testes foram
avaliados por meio da análise de variância univariada (ANOVA),conduzida para os
resultados das avaliações para determinar significância e efeitos principais entre
amostras e julgadores, seguido do teste de Tukey HDS (α = 0,05) (MONTGOMERY,
2002).
Os materiais necessários para a realização da análise sensorial foram: água
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
327
filtrada natural, material descartável, copos e pratos. Para selecionar a equipe de
julgadores foi elaborado um convite para as pessoas presentes na instituição, com
disponibilidade e interesse em participarem dos testes. Todo o material utilizado foi
descartável, isento de odor estranho, na apresentação das amostras aos julgadores.
Antes de iniciar os testes, os julgadores receberam orientação do método e
procedimento das avaliações. Em todos os testes, foi oferecida água à temperatura
ambiente para todos os julgadores com o intuito de enxaguarem e promover a
limpeza das papilas gustativas. As amostras foram servidas em pratos de plástico,
devidamente identificados com números aleatórios de três algarismos.
Foram desenvolvidas três formulações onde a variação ocorreu na porcentagem
de farinha de dourado presente no pão de forma, sendo estas 0%, 7,5% e 15% de
farinha de dourado.
Para avaliar o perfil sensorial das amostras aplicou-se o teste de perfil de atributos,
avaliando; aparência, cor, odor, sabor, e textura, e solicitou-se que a degustação das
amostras fosse feita avaliando cada amostra em relação aos atributos especificados
na ficha, utilizando uma escala numérica, onde 1 representa péssimo e 5 excelente.
Para o perfil de atributos a análise de dados foi feita através de comparação
dos valores obtidos em cada atributo, para cada amostra analisadas. As médias
obtidas representados em gráfico aranha, para mostrar as diferentes similaridades,
(TEIXEIRA, 1987). A aceitabilidade dos pães de forma foi avaliada, utilizando o teste
de aceitação, que indica o quanto gostou ou desgostou de cada formulação preparada
utilizando escala hedônica estruturada de nove pontos, segundo a ABNT (1998).
A análise estatística dos resultados foi feita, utilizando análise de variância
(ANOVA) e cálculo das médias por Tukey. Foram consideradas como tratamentos as
três formulações de pães de forma, avaliadas por 50 julgadores no Instituto Federal
do Espírito Santo – campus Piúma.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A polpa moída antes da lavagem, e a poupa lavada, apresentou uma diminuição
do odor característico a pescado, comparada com a polpa antes da lavagem, enquanto
que a polpa seca após o processo de estufa apresentou a aparência de uma farinha
de cor levemente amarelada.
A Tabela 3 mostra os valores de rendimento das etapas do processo de obtenção
da polpa seca em relação ao filé inteiro. Os resultados obtidos com os cálculos de
rendimento mostraram que a polpa seca, apresentou um rendimento de 8% em
relação ao filé inicial, considerado baixo quando comparado ao rendimento da polpa
úmida e do filé moído, esse resultado foi maior ao demonstrado por Centenaro (2007)
na elaboração de polpa seca de cabrinha, tal diferença pode ser devido as partes da
matéria prima utilizada, a cabrinha possui aproximadamente um terço de sua estrutura
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
328
formada pela cabeça, o que diminui o rendimento em todas as etapas da obtenção da
polpa. O baixo rendimento da polpa seca, comparadas com o filé úmido, também se
deve a perdas durante algumas operações do processo.
Porção
Rendimento (g. 100 g-1)
Pescado inteiro
100
Filé moído
100
Polpa lavada úmida
62,5
Polpa lavada seca
8,0
Tabela 3. Rendimento das etapas do processo de obtenção da polpade dourado.
A partir do teste abaixo, verificou-se que não houve diferença significativa
naaceitação global para os pães acrescidos de farinha de dourado, resultado
semelhante ao de Tavares et al. (2010) utilizando farinha de matrinxã na elaboração
de pães de forma, onde a formulação com substituição de 5% da farinha de trigo, foi a
preferida pelos provadores em todos os parâmetros sensoriais, com melhor aceitação
do que a formulação padrão. A formulação com maior concentração de farinha de
dourado 869 apresentou diferença significativa quanto ao atributo do odor, resultado
este semelhante ao descrito por Centenaroet al. (2007) na utilização da cabrinha para
elaboração de pães. A formulação 351 não diferiu significativamente da formulação
869 para os atributos aparência, cor, sabor e textura,e nem em sua aceitação global,
resultado semelhante ao de Fukishinha et al. (2012) utilizando farinha com resíduos
de tilápia na elaboração de pães, onde os resultados dos pães com 5% e 15% de
farinha tiveram melhor aceitação do que os pães com 10% de farinha de tilápia.Foi
observado que com aumento da farinha de dourado nas formulações a massa final
ficava mais pesada com menor crescimento, indicando que uma concentração maior
que 15% de farinha de dourado na formulação levasse a um resultado significativo na
textura devido as altas concentrações de ácidos graxos.
Os pães foram submetidos ao teste da escala hedônica de 9 pontos para avaliar
a aceitação dos 50 julgadores. Através dos dados obtidos na análise sensorial pode-
se dizer que a farinha de dourado apresenta propriedades que podem substituir,
em partes, a farinha de trigo de pães de forma sem alterar negativamente suas
características sensoriais, podendo substituir em até 7,5% do total da farinha de trigo
usada para a fabricação de pães de forma, acima desse percentual, características
como o odor podem ser afetadas.
Atributos
742
351
869
Aparência
3,96a
3,86a
3,90ª
cor
4,00a
3,94a
3,86ª
odor
3,88a
3,44a
3,06b
Sabor
3,62a
3,44a
3,28ª
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
329
Textura
3,78a
3,76a
3,48ª
Aceitação Global
6,4a
5,8a
5,8ª
Tabela 4. Avaliação sensorial dos atributos e aceitação global.
*Letras iguais indicam que não há diferença significativa entre as médias pelo teste de Tukey (p < 0,05).
Figura 1. Frequência das respostas do teste de aceitação
A maioria dos julgadores “gostou moderadamente” das três amostras avaliadas
e nenhum “desgostou extremamente”. A formulação 742 de pão obteve o maior
número de respostas para ”gostei muito” (40%) e maior índice de aceitabilidade
(64%). As outras amostras não tiveram diferença no índice de aceitabilidade. A
amostra 869 apresentou maior número de respostas para “gostei moderadamente”
(34%) e a amostra 351 resultou no maior valor para “gostei extremamente”(16%).
Os pães também foram submetidos a realização do teste de perfil de atributos. A
formulação 869 apresentou uma diferença significativa da formulação 742 referente
ao odor e textura, resultados estes semelhantes aos descritos por Sidwell e Hammerle
(1970) utilizando concentrado proteico de tilápia (Oreochromis niloticus) também na
elaboração de pães, que concluíram que uma adição de 10% ou mais de concentrado
proteico alterou a textura dos pães tornando a massa grosseira e compacta com
maior odor característico de pescado.
Para o índice de aceitabilidade foi realizado o somatório das três maiores notas
da escala hedônica (7, 8 e 9). As formulações acrescentadas farinha de dourado 742
e 869 não tiveram diferença entre si em sua aceitabilidade com um total de 58%.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
330
Figura 2. Gráfico aranha dos atributos avaliados dos pães.
A Tabela 5, mostra a estimativa de custo de cada formulação. A formulação 742
foi a mais barata, pois não continha a farinha de dourado, matéria prima utilizada no
desenvolvimento das formulações. As formulações 351 e 869 não tiveram diferençaem
seu índice de aceitabilidade, tornando a formulação 351 economicamente mais viável
para elaboração de pães de forma com farinha de dourado, aumentando seu teor de
proteínas e reduzindo seu teor de carboidratos.
Ingredientes
742
869
351
Farinha de trigo
R$ 0,67
R$ 0,61
R$ 0,57
Farinha de Peixe
R$ 00,00
R$ 11,35
R$ 22,65
Açúcar
R$ 0,10
R$ 0,10
R$ 0,10
Sal
R$0,011
R$ 0,011
R$ 0,011
Óleo
R$ 0,055
R$ 0,055
R$ 0,055
Fermento biológico
R$ 0,87
R$ 0,87
R$ 0,87
Leite
R$ 0,60
R$ 0,60
R$ 0,60
Ovos inteiros
R$ 1,50
R$ 1,50
R$ 1,50
Total
R$ 3,80
R$ 15,10
R$ 26,36
Tabela 5. Estimativa de custo das formulções desenvolvidas.
5 | CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como eixo central o processamento e aceitabilidade de
pães de forma enriquecidos com farinha de dourado, nas condições do presente estudo,
obtiveram-se as seguintes conclusões. O rendimento da farinha de dourado foi de
8%. Nos testes de aceitação global em Piúma-ES, as formulações não apresentaram
diferença significativa. A avaliação sensorial apresentou resultados diferentes no
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
331
atributo do odor na formulação 869 (15%). Com o índice de aceitabilidade e estimativa
de custo a formulação 351 (7,5%) se torna-se mais viável para elaboração de pães
de forma enriquecidos com farinha de dourado.. Dessa maneira, nas condições
experimentais realizadas, pode-se concluir que a adição de polpa de pescado em
pães pode contribuir na alimentação tanto de jovens quanto adultos em produtos de
panificação.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 31
333
CAPÍTULO 32
doi
OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE QUITINA A PARTIR
DE CARAPAÇAS DE SIRI-AZUL (Callinectes spp.)
Beatriz Bortolato
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Faculdade de Engenharia de Pesca
Laguna, Santa Catarina
Aline Fernandes de Oliveira
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna, Santa Catarina
Letícia Firmino da Rosa
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Faculdade de Engenharia de Pesca
Laguna, Santa Catarina
Isabel Boaventura Monteiro
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Faculdade de Engenharia de Pesca
Laguna, Santa Catarina
Cristian Berto da Silveira
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Departamento de Engenharia de Pesca e
Ciências Biológicas
Laguna, Santa Catarina
RESUMO: A pesca artesanal é uma prática
muito comum na cidade de Laguna- SC, o que
pode gerar muitos resíduos, que são, na maior
parte descartados de forma inadequada. Dessa
forma, o objetivo desse estudo foi aproveitar
esses resíduos para obtenção de um subproduto
com alto valor agregado, para isso utilizou-se as
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
carapaças de siri-azul (Callinectes spp.) para a
extração de quitina. A quitina é um biopolímero
abundante na natureza encontrado em fontes
naturais renováveis como: parede celular de
alguns fungos, exoesqueleto de insetos, algas
diatomáceas, e exoesqueleto de crustáceos.
Possui ampla aplicação, principalmente quando
convertido em quitosana. Para o processo de
extração o material foi submetido a etapas
de desmineralização, desproteinização e
despigmentação. Para caracterização foram
realizadas análises de Infravermelho e
Difração de Raio-X. De acordo com as análises
realizadas, o processo de extração mostrouse eficiente, com um rendimento de 16% em
relação a matéria-prima. As técnicas utilizadas
na caracterização também se mostraram
eficientes, sendo possível a comprovação da
qualidade da quitina obtida no processo de
extração desenvolvido.
PALAVRAS-CHAVE:
pesca,
crustáceo,
resíduo, subproduto.
CHITIN EXTRACTION AND
CHARACTERIZATION FROM BLUE CRAB
SHELLS (Callinectes spp.)
ABSTRAT: Craft fishing it is a very common
practice in Laguna - SC, which may produce a
lot of waste, what are discarded in most times in
an inappropriate way. Thus, the objective of this
Capítulo 32
334
study was using this material to obtain a valuable sub product, for this it was used bluecrab shells (Callinectes spp.) for chitin extraction. Chitin is a very abundant biopolymer,
it is found in natural and renewable sources as fungal cell wall, insects and crustaceans
exoskeleton, also diatoms algae. It has a lot of applications, mainly if convert to
chitosan. The extraction process has three steps: demineralization, deproteinization
and despigmentation. After that, it was made a characterization with infrared and X-ray
diffraction analysis. In accord of the results obtained, this process has showed efficient,
with a yield of 16% from crab shells. The techniques used to characterization also have
showed efficient, which had proven the quality of the chitin that was obtain.
KEYWORDS: fishing, shellfish, waste, sub product.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca de crustáceos, que equivale a aproximadamente 30% das pescarias
de alto valor no mundo, é uma atividade importante para diversos países, sendo
considerada como uma das mais valiosas do planeta, principalmente em relação ao
comércio de fração dos animais (SIMÕES e CIPÓLLI, 2009).
O Brasil apresenta grande potencial pesqueiro para as espécies do gênero
Callinectes, eles apresentam vasta aceitação no mercado, dessa forma são bastante
explorados. Esta aceitação se dá por seu sabor agradável, sendo bastante comuns
em cardápios de restaurantes e bares, além de serem comercializados “in natura”
(RODRIGUES e BATISTA-LEITE, 2015).
A Lagoa Santo Antônio dos Anjos localizada no município de Laguna, ao sul do
estado de Santa Catarina, possui ligação com o oceano pelos molhes da barra e, o
aporte de água doce proveniente, principalmente do rio Tubarão, o que confere uma
característica particular a este estuário, proporcionando assim, uma diversidade de
espécies de peixes e invertebrados. Muitas famílias residem às margens da lagoa e,
dela retiram o seu sustento. A pesca artesanal, dessa forma, é uma das principais
atividades econômicas do setor primário de Laguna, além do mais, o beneficiamento
desses pescados é feito de maneira tradicional com poucos investimentos.
Nessa região, o siri-azul (Callinectes sapidus e Callinectes danae) é um dos
recursos de maior importância econômica e bem explorada, pois o método de captura
não demanda equipamentos sofisticados, nem grandes embarcações ou altos
investimentos de capital.
A cidade de Laguna possui clara influência gastronômica açoriana nos pratos
elaborados com frutos do mar, eles são apresentados em caldos, fritos, assados ou
grelhados. Dentre esses, encontra-se a casquinha de siri. É constituído da carne do
siri servida sobre sua a carapaça. Na maior parte das vezes, essa é a única serventia,
dada a esse recurso, que, na verdade, possui um potencial expressivo.
Entre os indivíduos que o beneficiam, estão às mulheres conhecidas como
desfiadeiras, que realizam o processamento do siri para complementação da renda
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
335
familiar e, em alguns casos, para subsistência. De forma geral, o que não é aproveitado
por elas acaba sendo descartado, muitas vezes de maneira imprópria e as margens
da lagoa.
É comum as atividades realizadas no cotidiano das pessoas, gerarem grandes
quantidades de resíduos, assim também ocorre nas atividades pesqueiras e de
criação de animais, o que muitas vezes torna os trabalhos inviáveis ambientalmente,
em virtude da acumulação ou da falta de destino adequado. Assim, buscam-se cada
vez mais opções para utilização desses resíduos, os quais podem gerar subprodutos
com valor agregado e consequentemente rendas complementares.
Os conhecimentos que os pescadores possuem sobre os recursos naturais e
a forma como se dá a exploração deles são informações importantes para formular
programas de manejo e conservação dos recursos (SILVA, 2009). Podendo assim,
melhor aproveitá-los e gerar o mínimo de resíduo possível.
As carapaças de siri e camarão, assim como os gládios de lula, por exemplo,
possuem, em grande parte de sua composição, um polímero linear conhecido como
quitina. A quitina é o segundo biopolímero mais abundante – o termo biopolímero é
definido como um agrupamento de macromoléculas de origem biológica – depois
da celulose. Esse polímero é atóxico, biodegradável, biocompatível e produzido por
fontes naturais renováveis como: parede celular de alguns fungos, exoesqueleto de
insetos, algas diatomáceas, e exoesqueleto de crustáceos (camarão, caranguejo, siri,
lagosta e krill) (Moura et. al., 2006; Campana-filho et. al., 2007).
Segundo WESKA (2007), o siri apresenta em sua composição 15 a 20%
de quitina. Logo, a disponibilidade local deste subproduto, aliada ao potencial de
aproveitamento na produção de quitina, fazem da utilização da carapaça de siri uma
opção viável e ecologicamente correta.
A quitina é composta por uma unidade repetitiva do dissacarídeo formado por
2-acetamido-2-desoxi-D-glicopiranose e 2-amino-2-desoxi-D-glicopiranose unidos
por ligação glicosídica, é insolúvel na maioria dos solventes já testados.
A quitosana é obtida através da desacetilação da quitina, em que predominam
as unidades 2-amino-2-desoxi-D-glicopiranose. O que define suas propriedades é o
grau de desacetilação obtido no processo. O termo quitosana é utilizado em conjuntos
que possuam grau médio de acetilação menor ou igual a 50%, e que sejam solúveis
em soluções aquosas diluídas de ácidos. A solubilidade apresentada pela quitosana
é atribuída à presença de grupos amino na sua estrutura, os quais são protonados
em meio ácido, resultando em cargas positivas distribuídas ao longo de suas cadeias
e conferindo a hidrossolubilidade ao polissacarídeo (BATTISTI e CAMPANA-FILHO,
2008).
Segundo Azevedo et al. (2007), em termos de disponibilidade, a quitina pode
ser obtida numa extensão de mais de dez gigatoneladas anualmente. O potencial de
aplicação da quitina, e ainda mais da quitosana, é multidimensional, principalmente
devido ao fato de serem substâncias orgânicas, podendo interagir com diferentes
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
336
compostos. A quitosana é biodegradável, biocompatível e atóxica. Algumas das
principais áreas de aplicação são: agricultura (mecanismos defensivos e adubo
para plantas), tratamento de água (floculante para clarificação, remoção de íons
metálicos, polímero ecológico e redução de odores), indústria alimentícia (fibras
dietéticas, redutor de colesterol, conservante para molhos, fungicida e bactericida,
recobrimento de frutas), indústria de cosméticos (esfoliante para a pele, tratamento de
acne, hidratante capilar, creme dental) e biofarmacêutica (imunológico, antitumoral,
hemostático e anticoagulante). Porém sua maior aplicação é na área biomédica sendo
utilizadas em suturas cirúrgicas, implantes dentários, reconstituição óssea, lentes de
contato e em dispositivos de liberação controlada de drogas em animais e humanos
(AZEVEDO et al., 2007).
Essa gama de opções no uso da quitosana aumenta cada dia mais com
o aperfeiçoamento das técnicas de obtenção do polímero. Visto que possui
aplicações nas mais diversas áreas devidas as características químicas, além da
biodisponibilidade, já que são produzidas por fontes naturais renováveis.
O objetivo desse trabalho foi a obtenção de quitina a partir de carapaças de
siri azul (Callinectes spp.), bem como a otimização dos processos, visando ainda,
em trabalhos futuros, a conversão de quitina em quitosana e a aplicação do material
obtido em processos de adsorção.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Laboratório de Reaproveitamento de Resíduos e
Desenvolvimento de Materiais (LRRDM) do Departamento de Engenharia de Pesca
da Universidade do Estado de Santa Catarina – DEP/UDESC, Laguna.
As carapaças foram adquiridas de pescadores da região, sendo primeiramente
lavadas e secas em estufas, em seguida foram trituradas até atingirem o tamanho
entre 335μm e 1mm de diâmetro. Após o processo de lavagem e homogeneização
do tamanho de partícula foram realizadas as etapas necessárias para a obtenção da
quitina. Os processos seguem descritos.
Desmineralização
Para o processo de desmineralização utilizou-se o ácido clorídrico (HCl) 1M, na
relação 1:15 (m/v). A combinação foi mantida em temperatura ambiente, sob agitação,
durante 2 horas. Em seguida, foram lavadas com água destilada, até atingir o pH
neutro, e levadas em estufa durante 24 horas, a uma temperatura de 50ºC.
Desproteinização
Na etapa de desproteinização, foi utilizado o hidróxido de sódio (NaOH) 1M,
com relação 1:15 (m/v). A mistura foi aquecida a 80°C (±5ºC) e mantida sob agitação
constante por 2 horas. Na sequência, as amostras foram lavadas, com água destilada,
até atingir a neutralidade, seguidas de uma nova secagem em estufa durante 24
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
337
horas a 50ºC.
Despigmentação
Para a etapa de despigmentação utilizou-se o hipoclorito de sódio (NaClO), na
relação 1:10 (m/v), sob agitação constante por 1 hora. A mistura foi, então, lavada
com água, para remover os vestígios do reagente, até pH neutro. Logo após, foi
levada a estufa para secagem a 50ºC, durante 24 horas. Obtendo-se assim a quitina.
Caracterização
A caracterização do processo de extração da quitina das carapaças de siri foi
realizada utilizando a técnicas de Infravermelho (IR) e de Difração de Raios-X.
Infravermelho
A caracterização por infravermelho, da quitina obtida através do processo de
extração, foi realizada no Centro de Ciências Agroveterinárias, CAV/UDESC. O
espectro de infravermelho foi obtido em espectrofotômetro Perkin - Elmer FT-IR 1600,
com sistema de registro computadorizado. A amostra foi dispersa em KBr e o espectro
obtido na região de 4000 a 400 cm-1.
Difração de Raios-X
A caracterização por Difração de Raios-X foi realizada no Instituto de Engenharia
e Tecnologia – IPARQUE – UNESC. Para a realização do ensaio as amostras foram
maceradas, em gral, com pistilo para que fossem adequadamente depositadas sobre
no porta amostra. No DRX as varreduras foram realizadas de 3 a 80Θ com velocidade
de 1,2ºm-1.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta a variação, em porcentagem de massa, a partir da matéria-
prima inicial (resíduos) obtida nas diferentes etapas de extração adotadas neste
trabalho.
O processo de obtenção de quitina a partir das carapaças de siri mostrou-se
eficiente, pois o rendimento em relação à matéria prima inicial foi de 16%, estando
dentro da faixa citada por Weska et al. (2007). Esse rendimento é também similar ao
obtido por Moura et al. (2005) que alcançaram aproximadamente 17% de quitina.
Processos
Matéria prima inicial
Minerais
Proteínas
Quitina
Desmineralização
100%
83,0%
-
-
Desproteinização
-
1,0%
-
Despigmentação
-
-
16,0%
Tabela 1. Variação em porcentagem de massa para extração de quitina.
O resultado obtido, diverge do encontrado por Assis & Britto (2008) o qual obteve
um rendimento de 24% de quitina. O motivo para o ocorrido, certamente foi alteração
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
338
da metodologia, a qual no processo de desmineralização houve um aumento na
temperatura, o que no nosso caso, manteve-se ambiente.
Segundo Moura et al. (2005), o tratamento com soluções diluídas de HCl, por
tempos curtos e à temperatura ambiente assegura a completa remoção dos sais
minerais sem promover a degradação das cadeias, mas a otimização do processo
deve levar em conta a determinação prévia do teor de minerais da matéria-prima.
Infravermelho
A Figura 1 ilustra os espectros de infravermelho obtidos para a quitina comercial
e para a quitina extraída das carapaças de siri. Torna-se evidente a semelhança entre
o espectro da quitina comercial e da quitina extraída neste trabalho.
Figura 1. Espectros de infravermelho da ( ) quitina comercial e da quitina (
carapaças de siri.
) extraída de
A comparação entre os espectros mostra as relações de bandas presentes
na estrutura da quitina comercial frente a quitina extraída no presente trabalho. Por
exemplo, as bandas em torno de 3260cm-1 e 3100cm-1 podem ser atribuídas aos
grupos N–H da acetamida em ligações intermoleculares de hidrogênio, presente na
estrutura da quitina. Ainda, as bandas de deformação axial de C–H, correspondente
ao intervalo 3000cm-1 a 2800cm-1, também foram observados. No intervalo 1700cm-1
a 1500cm-1, são observadas as bandas denominadas de amida I e de amida II.
Os resultados obtidos concordam com os descritos por Campana-filho et al.
(2007) e por Battisti e Campana-filho (2008).
Difração de Raio-X
A Figura 2 abaixo, ilustra os difratogramas obtidos através da técnica de Difração
de Raios-X das carapaças de siri (A) da quitina extraída da carapaça (B) e da quitina
comercial (C), respectivamente.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
339
Figura 2. Difratogramos de Raio-X da (A) carapaça de siri, da quitina (B) obtida a partir da
carapaça de siri e da quitina comercial (C).
A análise da Figura 2 (A) mostra que a carapaça de siri apresenta picos de
cristalização referente à calcita, que é um mineral com composição química CaCO3,
presente na estrutura. A Figura 2 (B) mostra a quitina extraída, e percebe-se a ausência
dos picos atribuídos a calcita, mostrando que o processo de desmineralização
realizado foi eficiente. A Figura 2 (C) ilustra o difratograma obtido a partir de uma
amostra de quitina comercial, que evidencia a eficiência do processo de extração
proposto.
A análise DRX obtida da quitina (Figura 2. B) está de acordo com a caracterização
de quitina extraída de gládios de lulas feita por Campana-Filho et al. (2007), onde
mostra um pico próximo a 8 e a 20 graus. Esses valores são dependentes de diversos
fatores, como a natureza do organismo e o processo de extração do polímero, o
que fica claro quando se comparam os picos obtidos em relação a quitina comercial
(Figura 2.C).
Os resultados descritos para a quitina extraída neste trabalho estão de acordo
também com a caracterização obtida por Battista e Campana-filho (2008).
4 | CONCLUSÃO
O teor de quitina obtido a partir de carapaças de siri ficou dentro da faixa
citada pela literatura, com rendimento de 16,0%. Os processos de desmineralização
e desproteinização reduzem significativamente o teor de cinzas e de proteínas,
respectivamente. As técnicas utilizadas na caracterização da quitina obtida mostraramse eficientes, sendo possível a comprovação da qualidade da quitina obtida no
processo de extração desenvolvido.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
340
5 | AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UDESC e à FAPESC.
REFERÊNCIA
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produção de quitosana a partir de resíduos da carcinicultura. Revista Brasileira Agrociências,
Pelotas, v.14, n.1, p.91-100, jan-mar, 2008.
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BATTISTI, Marcos Valério; CAMPANA-FILHO, Sergio P. Obtenção e caracterização de α-quitina e
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CAMPANHA-FILHO, Ségio P.; BRITTO, Douglas; CURTI, Elisabete; ABREU, Fernanda R.;
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MOURA, Catarina Motta de; MUSZINSKI, Patrícia; SCHMIDT, Cristiano; ALMEIDA, Janaína; PINTO,
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Luiz Antonio Almeida. Obtenção de quitina a partir de carapaças de siri (Maia squinado): uso de um
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RODRIGUES, Aline Alves; BATISTA-LEITE, Luciana de Matos Andrade. A pesca artesanal dos
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WESKA, Raquel Farias; MOURA, Jaqueline de Motta; RIZZI, Jaques, Pinto, Luiz Antonio de
Almeida. Obtenção de quitosana a partir de carapaças de siri. Revista Brasileira de Tecnologia
Agroindustrial, Ponta Grossa – Paraná, v.01, n.01, p.48-52, 2007.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 32
341
CAPÍTULO 33
doi
CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS E GRAU DE
FRESCOR DO PESCADO COMERCIALIZADO NA FEIRA
LIVRE DE ARACI, BAHIA
Norma Suely Evangelista-Barreto
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Bárbara Silva da Silveira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Brenda Borges Vieira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Janine Costa Cerqueira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Jessica Ferreira Mafra
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Aline Simões da Rocha Bispo
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
Mariza Alves Ferreira
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
Centro de Ciências Agrarias, Ambientais e
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Biológicas, Núcleo de Estudos em Pesca e
Aquicultura, Cruz das Almas, Bahia.
RESUMO: O peixe é considerado um alimento
com alto valor nutricional pelo seu elevado
conteúdo de proteínas, vitaminas, ácidos graxos
essenciais e sais minerais, e por isso de suma
importância para a dieta da população. Este
estudo teve como objetivo avaliar a qualidade
higiênicossanitária do pescado in natura
comercializado na feira livre do município de
Araci, BA. A coleta dos dados foi realizada
durante o período de outubro de 2016 a janeiro
de 2017. A cada visita in loco era realizada
uma inspeção visual das condições sanitárias
de comercialização do pescado e análises do
grau de frescor dos peixes usando o método
do índice de qualidade (MIQ) e análises
microbiológicas. De acordo com os resultados
obtidos na inspeção visual se verificou falhas
de higiene durante a manipulação dos peixes,
com abuso do binômio tempo x temperatura. As
contagens de Staphylococcus spp. variaram de
7 x 104 a 3,6 x 105 UFC g-1, coliformes a 35oC de
<3,0 a >1,1 x 103 e coliformes a 45ºC de <3,0 a
2,9 x 10 NMP g-1. Não foi observada a presença
de Staphylococccus coagulase positiva, E.
coli e Pseudomonas spp. O MIQ dos peixes
variou de 4 a 15, se encontrando dentro do
limite máximo da escala usada que foi de 22
Capítulo 33
342
pontos. A feira livre do município de Araci, Bahia apresenta condições de infraestrutura
inadequadas para a comercialização de pescado, expondo os peixes a contaminações
microbiológicas.
PALAVRAS-CHAVE: contaminação microbiológica, peixes, MIQ, coliformes,
segurança alimentar.
HYGIENIC SANITARY CONDITIONS OF THE FISH MARKETED IN THE FREE FAIR
OF ARACI, BAHIA
ABSTRACT: Fish is considered a food with high nutritional value because of its high
content of proteins, vitamins, essential fatty acids and minerals, and therefore of
paramount importance to the diet of the population. The objective of this study was
to evaluate the hygienic and sanitary quality of in natura fish commercialized in the
free fair of the city of Araci, Bahia. Data were collected during the period from October
2016 to January 2017. Each on-site visit was performed a visual inspection of the
fish commercial sanitary conditions and analysis of the freshness degree of the fish
using the quality index method (QIM) and microbiological analyzes. According to the
results obtained in the visual inspection, hygiene failures were observed during the fish
manipulation, and binomial time and temperature abuse. The counts of Staphylococcus
spp. ranged from 7 x 104 and 3,6 x 105 UFC g-1, coliforms at 35ºC from <3,0 a >1,1 x
103 and coliforms at 45ºC from <3,0 a 2,9 x 10 NMP g-1. The presence of coagulasepositive Staphylococcus, E. coli and Pseudomonas spp. was not observed. The QIM
of the fish varied from 4 to 15, meeting within the maximum limit of the used scale that
was 22 points. The free fair of the city of Araci, Bahia presents inadequate infrastructure
conditions for the commercialization of fish, exposing the fish to microbiological
contaminations.
KEYWORDS: microbiological contamination, fish, QIM, coliforms, food safety.
1 | INTRODUÇÃO
A feira livre é caracterizada como um dos lugares mais tradicionais de
comercialização de alimentos a varejo, sendo considerada uma forma de comércio
móvel, com a comercialização de alimentos in natura, grande abundância de produtos
e diversidade de preços (GOMES et al., 2012). Prática vivenciada em quase todas as
cidades brasileiras, as feiras livres têm uma grande vinculação com a região Nordeste
do Brasil, visto que é a partir destas que acontece o fornecimento das mercadorias
destinadas a atender às necessidades da população. Em virtude disso, as feiras
livres se tornaram mercados periódicos, típicos de países subdesenvolvidos, que
atraem consumidores de cidades circunvizinhas e causa fluxos de pessoas, capitais
e mercadorias (SILVA et al., 2009).
A preferência dos consumidores pelas feiras livres é a de que os alimentos são
sempre frescos e de qualidade superior aos alimentos armazenados nas redes de
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
343
supermercado. No entanto, as feiras livres, em especial as com comercialização de
produtos de origem animal, se encontram expostos a vários fatores que contribuem
para a sua contaminação, como falhas na manipulação, exposição e condições de
acondicionamento e armazenamento inadequados (EVANGELISTA-BARRETO et al.,
2017). Outro fator que contribui para esta preferência é a facilidade de escolha e a
aquisição dos produtos, além de preços baixos (MOURA, 2007).
O pescado se destaca nutricionalmente dos demais alimentos de origem
animal (RUXTON, 2011) por ser uma excelente fonte de nutrientes e conter baixo
valor calórico, com proteína de alta qualidade, ácidos graxos poli-insaturados do tipo
ômega-3, vitaminas e minerais (REGITANO-D’ARCE, 2006). Com isso, a inclusão de
proteínas de pescado na dieta alimentar aumentou consideravelmente nos últimos
anos, levando ao aumento da produção aquícola (SILVA et al., 2008). Apesar do
excelente valor nutricional, o pescado é um produto suscetível à deterioração, devido
ao pH próximo da neutralidade, elevada atividade de água e nutrientes em seus tecidos
necessitando de condições sanitárias adequadas desde a captura, manipulação e
comercialização para que seja ofertado ao consumidor um produto seguro e de boa
qualidade microbiológica (ABREU et al., 2008).
Tendo em vista a problemática que a contaminação proveniente de
microrganismos pode causar a saúde humana, se faz necessário o monitoramento
microbiológico do pescado comercializado em feiras livres, como é o caso de Araci,
BA, uma vez que o município possui atividade de aquicultura e comercialização do
pescado, mas que não apresenta estudos relacionados a esta realidade. Apesar
da feira livre ser uma atividade antiga, os problemas enfrentados com este tipo de
comércio (problemas estruturais e higiênicossanitários) põem em risco a permanência
da feira, uma vez que contrariam a legislação sanitária, pois afetam a qualidade dos
produtos e coloca em risco a saúde do consumidor (COUTINHO et al., 2008).
Como a comercialização de peixes em feiras livres e mercados públicos é uma
atividade que merece atenção, com monitoramento periódico, este estudo teve como
objetivo avaliar a qualidade higiênicossanitária e avaliação sensorial e microbiológica
do pescado in natura comercializado na feira livre do município de Araci, Bahia, Brasil.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O município de Araci (Figura 1) está localizado à 210 km da capital, Salvador. A
cidade possui uma área de 1.495,554 km² e uma população estimada de habitantes
de 55.637 pessoas (IBGE, 2015). Mensalmente, as amostras foram adquiridas as
segundas-feiras em cinco barracas da feira livre, que comercializavam pescado,
sendo adquiridos três peixes por barraca, totalizando a análise de 45 peixes. O estudo
foi realizado de outubro a janeiro de 2017.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
344
Figura 1. Mapa de localização do município de Araci no Estado da Bahia.
Para a avaliação das condições higienicossanitárias da feira livre foi utilizado
registros fotográficos e a aplicação de uma lista de verificação observacional (check
list) conforme a Portaria no. 368 (BRASIL, 1997) e a RDC no. 216 (BRASIL, 2004). O
check list foi aplicado no momento da aquisição das amostras. Foram avaliados 10
itens em relação ao local de comercialização, edificações e instalações; 15 em relação
aos manipuladores e 4 em relação ao pescado comercializado. Para avaliação dos
dados os itens avaliados foram enquadrados em “sim”, “não” e “não se aplica”.
O grau de frescor dos peixes foi avaliado quanto as características sensoriais
utilizando os parâmetros estabelecidos pelo Protocolo de Avaliação de Corvina
usando o Método de Índice de Qualidade (MIQ) adaptado de Teixeira et al. (2009). O
MIQ apresenta um escore que varia de 0-22. As amostras de peixe foram avaliadas
quanto as suas características sensoriais (aparência, cor, odor, pele, mucosidade,
opérculo, olhos, membranas que revestem as guelras, brânquias, abdômen, músculos
e escamas).
As análises microbiológicas para Staphylococcus coagulase positiva, coliformes
a 35ºC e a 45ºC, e Pseudomonas spp. foram realizadas no Laboratório de Microbiologia
de Alimentos e Ambiental (LABMAA) do Núcleo de Pesquisa em Pesca e Aquicultura
da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB, de acordo com Manual de
Métodos de Análise Microbiológica de Alimentos e Água (SILVA et al., 2010).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A feira livre de Araci-BA acontece as segundas e quintas-feiras da semana. Está
localizada nas ruas do centro da cidade e ocorre paralelamente com a comercialização
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
345
de frutas, verduras, hortaliças, especiarias, roupas e artesanatos.
A maioria dos peixes comercializados são de água doce e provenientes da
região Norte do Estado da Bahia e do Rio São Francisco mais especificamente da
região de Paulo Afonso. As espécies encontradas durante as visitas foram Tilápia
(Oreochromis niloticus), Traíra (Hoplias malabaricus), Tucunaré (Cichla ocellarise) e
Tambaqui (Colossoma macropomum). A Tilápia é a espécie mais frequente entre os
feirantes.
A partir da inspeção visual do local pôde-se observar problemas de infraestrutura,
manipulação e qualidade dos produtos. A comercialização é realizada em barracas
rústicas, montadas em chão de cascalho e cobertas por lonas plásticas. Os peixes
são expostos a temperatura ambiente, sobre bancadas de madeira (Figura 2).
Algumas barracas são revestidas por uma lâmina de zinco ou alumínio. A exposição
dos peixes ao ar, contato direto com os consumidores, trânsito de animais e lixo
orgânico depositado durante a comercialização são condições que propiciam
maior contaminação dos peixes a microrganismos deteriorantes e patogênicos,
apresentando risco de intoxicação e infecção alimentar aos consumidores. Essa
realidade tem sido observada na maioria das feiras livres nos municípios brasileiros
como relatado por Evangelista-Barreto et al. (2012), na feira livre do município de
Cruz das Almas, em Cachoeira, Bahia (EVANGELISTA-BARRETO et al., 2017), e em
Bragança, PA (FREIRE et al., 2011).
Figura 2. Aspecto da bancada em madeira e exposição dos peixes a temperatura ambiente
durante a comercialização na feira livre de Araci, Bahia.
Falhas na manipulação dos peixes durante a comercialização e a falta de
higienização dos equipamentos, utensílios e limpeza das bancadas foram observadas.
Tais inconformidades influenciam na qualidade do pescado comercializado. Segundo
Juliano (2007), equipamentos e utensílios não higienizados, superfícies contaminadas,
podem formar um ambiente não estéril e úmido, no qual a água se acumula em
cavidades e outros lugares, criando condições propícias para que grandes populações
de microrganismos cresçam e se torne uma forma direta ou indireta de contaminação
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
346
do pescado.
Segundo a RDC no. 216 (BRASIL, 2004) a manipulação do alimento requer
cuidados específicos para adquirir qualidade higiênicossanitária satisfatória. De
acordo com este regulamento é necessário evitar ausência de asseio pessoal e
práticas básicas como não lavar as mãos, falar, tossir, espirrar, manipular dinheiro
próximo aos alimentos, não usar proteção nos cabelos, entre outros. Na feira de Araci,
foi observada a ausência de equipamentos básicos de higiene para quem manipula
alimentos como avental, touca, luvas e máscaras.
Silva et al. (2008), ao analisarem as feiras livres da grande São Paulo, observaram
que as mesmas não atendiam aos aspectos higiênicossanitários exigidos pela
legislação. Ainda segundo os autores, as práticas analisadas nas feiras, de modo
geral, tornam-se um risco a saúde do consumidor, tendo em vista a precariedade da
manipulação dos produtos, bem como a conservação e asseio dos utensílios.
A legislação recomenda que a água utilizada para a limpeza de utensílios e
alimentos seja de fonte diferente daquela usada para higiene das mãos, prática não
observada em nenhuma das barracas analisadas. Em todas as barracas havia um
recipiente único de água (Figura 3), o que se pode inferir que a água possa ser de
natureza duvidosa. Para Cardoso et al. (2006) a água tem sido um dos principais
pontos críticos em feiras públicas.
Figura 2. Uso de baldes contendo água para higienização das bancada, peixes e mãos e uso
de flanela de algodão para limpeza das bancadas e mãos.
Em algumas barracas foi possível observar o uso de caixas de isopor com gelo,
embora algumas se encontrassem bastante danificadas e sujas. Este fato compromete
a qualidade dos peixes uma vez que as condições de higiene precárias das caixas
contribui para a contaminação do gelo e consequentemente a contaminação dos
peixes. Realidade diferente foi relatado por Beiró e Silva (2009) ao analisarem as
condições higiênicossanitárias de alimentos comercializados em feiras livres do
Distrito Federal e observarem que mais de 50% dos feirantes usavam refrigerador e
freezer, sendo menos de 5% os feirantes que ainda usavam caixas de isopor.
Na avaliação visual observou-se que a maioria dos peixes apresentaram MIQ
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
347
menor que 15, com exceção de uma amostra na barraca 5, que apresentou os maiores
valores, principalmente na terceira coleta (Tabela 1). Por mais que as barracas 1, 2
e 3 tenham apresentado uma média geral do MIQ de 7 a 9, houve período entre as
coletas que este variou de 10 a 14. O MIQ apesar de ser uma ferramenta útil na
inspeção visual do pescado, necessita de experiência por parte do analista para uma
avaliação segura.
Método do Índice de Qualidade (MIQ)
1
2
3
4
5
Limite de aceitabilidade1
Coleta 1
5
11
8
15
22
Coleta 2
14
6
13
10
22
Coleta 3
10
13
16
22
Média
9
11
13
-
Coletas
6
9
7
4
7
7
Tabela 1. Determinação do Índice de Qualidade (IQ) dos peixes comercializados na feira livre
de Araci, Bahia.
1
Teixeira et al. (2009).
As falhas higienicossanitárias observadas na feira de Araci com abuso do
binômio tempo x temperatura contribuem para a variação de frescor observada entre
os peixes comercializados. Outro fator é que não se sabe há quanto tempo o peixe
se encontra na feira, podendo ficar exposto e ser recolhido, para ser exposto à venda
no dia seguinte.
Dentre os atributos avaliados no MIQ, os olhos (49%) e as brânquias (56%)
foram os escores que mais apresentaram sinal de inicio de deterioração, ou seja,
foram pontuados com escore 1. Segundo Araújo et al. (2010), no processo avançado
de deterioração os peixes exibem olhos cada vez mais opacos e côncavos, e as
guelras perdem a cor vermelho vivo, obtendo, progressivamente, tonalidades marrons
acinzentadas, com o cheiro ou odor se tornando fortes e desagradáveis.
Com relação as análises microbiológicas as amostras de peixes apresentaram
baixa densidade de coliformes a 35oC, com exceção da coleta 3 onde os valores em
quatro das barracas foi acima de 1100 NMP g-1 (Tabela 2). Para os coliformes a 45oC
a maior densidade obtida foi de 43 NMP g-1. A legislação brasileira não estabelece
parâmetros para estes indicadores em pescado. No entanto, este grupo é importante
na área de alimentos por se encontrar associado a enterobactérias patogênicas e
ser indicador de contaminação de origem fecal (SOARES et al., 2011). De acordo
com a International Commission on Microbiological Specifications for Foods – ICMSF
(1986), a quantidade máxima de coliformes a 45oC em pescado in natura é de 103
NMP g-1, e nesse caso, o pescado de Araci se encontrava próprio para o consumo.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
348
Coleta
Amostras
B1
B2
1
2
Coliformes
a 45oC
(NMP g-1)
(NMP g-1)
< 3,0
43
B3
93
B4
< 3,0
B5
240
B1
< 3,0
9,2
43
< 3,0
E. coli
Staphy.
spp.
(UFC g-1)
S. coag.
+
A
550
A
A
9000
A
8500
A
A
A
14000
A
43
A
360000
A
93
29
A
135000
A
B2
21
3,6
A
265000
A
B3
93
B4
43
B5
23
B1
>1100
B2
B3
B4
3
Coliformes
a 35oC
B5
>1100
>1100
75
>1100
9,2
A
23
A
9,2
A
20
17
24
17
1,8
180000
140000
A
A
70000
A
A
140000
A
A
300000
A
A
970000
A
A
90000
A
A
330000
A
Pseudomonas
spp.
(UFC g-1)
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
< 3,0
Tabela 2. Análise microbiológica dos peixes in natura comercializados na feira livre do
município de Araci-BA.
A = ausência. P = presença. Syaphy. = Staphylococcus spp. Staphy. coag. + = Staphylococcus coagulase
positiva.
Em locais de grande comercialização de alimentos, atividades como o
recebimento de dinheiro e o manuseio do alimento, bem como o uso de panos
de limpeza, principalmente em algodão (Figura 2) tem sido reconhecidas como
potenciais fontes de contaminação em feiras livres (ROCHA et al., 2013). Os peixes
comercializados em Araci apesar de apresentarem elevadas densidades de bactérias
do gênero Staphylococcus, com contagens variando de 550 a 970.000 UFC g-1 (Tabela
2) não apresentaram presença de Staphylococcus coagulase positiva, se encontrando
dentro do padrão estabelecido pela legislação brasileira para este microrganismo,
que estabelece limite máximo de 103 UFC g-1 (BRASIL, 2001). Este gênero tem sido
um bioindicador importante na área de alimentos porque entro do grupo coagulase
positivo se encontram espécies patogênicas para humanos, como as espécies S.
hyicus, S. intermedius e S. aureus, frequentemente associadas em surtos de doenças
estafilocócicas (ROCHA et al., 2013).
Não foi observado a presença das bactérias E. coli e Pseudomonas spp.
Resultados contrários foram relatados por Boari et al. (2008) ao observarem a
presença de Pseudomonas spp. em amostras de tilápia fresca, mesmo em baixas
contagens.
Segundo Silva Junior et al. (2016) as inconformidades encontradas nas feiras
livres ao longo dos municípios brasileiros deveriam ser alvo de maior controle
higiênicossanitário por parte dos órgãos competentes, por representar um risco
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
349
a saúde dos consumidores e porque a feira pública representa um dos pontos de
comercialização de alimentos mais procurados pela população por suas características
socioculturais e econômicas. Ainda segundo os autores, esses problemas poderiam
ser evitados, casos os feirantes tivessem um programa continuo de qualificação
e educação sobre boas práticas de fabricação e conhecimentos básicos sobre as
legislações brasileiras.
4 | CONCLUSÃO
A comercialização de pescado na feira livre de Araci-BA apresenta pontos
críticos de inadequação, com falhas de infraestrutura, manipulação e comercialização.
Este fato faz com que os peixes fiquem expostos a bactérias contaminantes que
afetam sua vida útil. Apesar das condições higienicossanitárias observadas não foi
encontrado a presença de bactérias patogênicas como S. coagulase positiva e E. coli.
Com base nos resultados, perceber-se a urgência em se implantar políticas públicas
que orientem os feirantes, para que o pescado seja comercializado em melhores
condições de forma a oferecer um produto de boa qualidade e seguro a população.
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 33
352
CAPÍTULO 34
doi
EFEITO DE CORTES ESPECIAIS NO RENDIMENTO DO
CAMARÃO MARINHO Litopenaeus vannamei
Enna Paula Silva Santos
Universidade Estadual do Maranhão, Curso de
Engenharia de Pesca, São Luís - Maranhão
Elaine Cristina Batista dos Santos
Universidade Estadual do Maranhão,
Departamento de Engenharia de Pesca, São Luís
- Maranhão
Jadson Pinheiro Santos
Universidade Estadual do Maranhão,
Departamento de Engenharia de Pesca, São Luís
- Maranhão
Camila Magalhães Silva
Universidade Estadual do Maranhão,
Departamento de Engenharia de Pesca, São Luís
- Maranhão
Leonildes Ribeiro Nunes
Universidade Estadual do Maranhão,
Departamento de Engenharia de Pesca, São Luís
– Maranhão
Diego Aurélio Santos Cunha
Universidade Estadual do Maranhão, Mestrado
em Recursos Aquáticos e Pesca, São Luís Maranhão
RESUMO: O objetivo deste trabalho foi analisar
os efeitos de cortes especiais e apresentação
diferenciada no rendimento do camarão L.
vannamei. Os camarões foram adquiridos
em comercio varejista local, após minuciosa
avaliação sensorial in sito das condições de
frescor do mesmo. O processamento ocorreu
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
no Laboratório de Tecnologia do Pescado LABTEP, primeiramente com a pesagem e
divisão em lotes. Foram atribuídos cortes tipo filé
com telson, borboleta e cowboy em porção crua,
seguindo de empanamento dos submetidos
aos cortes borboleta e cowboy e rendimento de
filé cru e pré-cozido. O camarão descabeçado
apresentou rendimento de 65,96%, decaindo
para 56,88% após a remoção da carapaça,
demonstrando as perdas significativas. Os
camarões empanados no corte do tipo butterfly
e cowboy apresentaram 87,36 e 75,87% de
rendimento, 29,75 e 19,54% de incremento,
respectivamente. Concluindo que organismos
maiores obtêm rendimento menor, devido
ao tamanho da cabeça que aumenta com o
tamanho do animal, e aumento da quantidade
de resíduos. Onde o camarão com 8,33g
apresentou maior rendimento. Produtos com
valor agregado são essenciais, devendo ser
aplicadas boas práticas de manejo desde o
início da cadeia, para obtenção da qualidade
do produto final.
PALAVRAS-CHAVE: agregação de valor,
praticidade, sofisticação.
EFFECT OF SPECIAL CUTS ON THE YIELD
OF MARINE SHRIMP Litopenaeus vannamei
ABSTRACT: The objective of this work was
to analyze the effects of special cuts and
Capítulo 34
353
differentiated presentation on the yield of shrimp L. vannamei. The shrimp were
purchased from local retailers after careful evaluation of the conditions of freshness of
the shrimp. The processing took place at the Laboratory of Fish Technology – LABTEP
firstly with weighing and division into lots. Fillet-type cuts were given with telson, butterfly
and cowboy in a raw portion, followed by fattening of those submitted to the butterfly
and cowboy cuts and yield of raw and precooked fillet. The headless shrimp showed
yield of 65.96%, decreasing to 56.88% after removal of the carapace, demonstrating the
significant losses. The shrimp breadcrumbs of the butterfly and cowboy type presented
87.36 and 75.87% yield, 29.75 and 19.54% increase, respectively. Concluding that
larger organisms obtain lower yield, due to the size of the head that increases with
the size of the animal, and increase the amount of residues. Where the 8,33g shrimp
presented higher yield. Value-added products are essential, and good management
practices must be applied from the beginning of the chain to obtain the quality of the
final product.
KEYWORDS: value addition, practicality, sophistication.
1 | INTRODUÇÃO
A pesca encontra-se estagnada, devido à grande exploração dos recursos
naturais, poluição, dentre outros fatores. Para suprir a demanda mundial de
alimentos, a Aquicultura apresenta papel fundamental. É definida como, o cultivo de
várias espécies aquáticas, em água doce ou salgada sob condições controladas,
possui divisões para cada espécie de organismo cultivado (SEBRAE, 2015). Dentre
os ramos da aquicultura, está inserido a carcinicultura, criação de camarões em
cativeiro, um fator importante para economia mundial, devido ao volume de produção
comercializado.
Os países da Ásia (China, Indonésia, Vietnã, Índia), são os maiores produtores
de camarão. Segundo a Organização das Nações Unidades para a Agricultura e
Alimentação (FAO) em 1974 apresentaram 95% da produção e países da América
apenas 5%. Já em 2015 houve aumento da produção para países da América que
aparecem nas estatísticas com 15% da produção de camarão cultivado (Rocha,
2017).
Este acréscimo para a América, em relação à Ásia, ocorreu devido aos
problemas com a qualidade da água, disponibilidade de material para ração,
insuficiência na infraestrutura. O Brasil possui uma costa litorânea de 8,4 mil km,
boa disponibilidade hídrica, terra em abundancia, clima favorável e mercado interno
e externo em crescimento (Bachi, 2015). Rede de infraestrutura básica, em termos
de vias de acesso, energia elétrica e comunicações, proximidade dos mercados da
União Europeia e dos EUA, sendo assim classificado como promissor potencial para
a exploração da carcinicultura marinha (Rocha, 2017).
Em 2014, a produção brasileira chegou a 90.000 t, sendo exportada apenas 277
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
354
t, o escoamento ocorreu à maior parte no país, elevando a participação do camarão no
mercado interno (Rocha, 2014). Devido aos problemas gerados pelos patógenos do
vírus da mancha branca, e de outras doenças no camarão, foram tomadas medidas
para proteger a produção brasileira. Uma delas foi estabelecida pelo MAPA, onde
foram criadas barreiras sanitárias contra a importação e exportação de produtos e
subprodutos de crustáceos (MAPA, 1999). Devido a esses problemas, o que se tem
desejado é desenvolvimento imediato de bloqueadores virais, linhagens resistentes,
rapidez nos diagnósticos e o desenvolvimento de boas práticas de cultivo para evitar
os problemas ocasionados pelas enfermidades (Seiffert et al., 2006).
Dentre as regiões do Brasil com importância para o agronegócio do camarão
cultivado, a região Nordeste apresenta 99% da produção nacional desse setor,
contando com 2.400 produtores, em áreas de 23.000 hectares, gerando empregos
diretos e indiretos (Rocha, 2014). Sendo considerada uma atividade com viabilidade
técnica, econômica e social por essa Região.
Há diferentes espécies de camarão sendo cultivados, com destaque para o
Litopenaeus vannamei, conhecido como camarão-branco-do-pacifico, a principal
espécie cultivada no Brasil. Segundo a ABCC (2016), devido seu desempenho em
cativeiro, essa espécie está presente nas maiores transações mundial.
Diante da produção que é realizada com o camarão cultivado, abre-se a demanda
para outro elo da cadeia, o beneficiamento, que tem como objetivo à agregação de
valor, aumento da diversidade de produtos para a comercialização, e a utilização dos
resíduos. O camarão apresenta valor comercial alto, comparado com outros tipos
de pescado. E com a aplicação de beneficiamento, esse produto tem o seu valor de
aquisição diferenciado.
Nessa área de estudo a Aquicultura vem apresentando papel fundamental, para
o aumento da produção do pescado. Pois hoje se faz necessário adentrar essa área
de estudo para que sejam conhecidas dentro da tecnologia do pescado, as grandes
inovações e métodos de agregação de valor ao camarão que são encontrados no
mercado mundial.
Considerando a produção de camarões em cativeiros e a necessidade de
atrativos para o alcance de diferentes mercados, questiona-se como agregar valor ao
camarão, apresentando diferentes cortes ao consumidor e deixando um produto que
já é nobre ainda melhor? Diante dessa problemática elabora-se esta pesquisa, tendo
como tema avaliação do rendimento do camarão Litopenaeus vannamei submetido a
diferentes cortes e processamentos, na Universidade Estadual do Maranhão, onde se
espera através de estudos voltados para analises de rendimento, após os processos
de beneficiamento, levar ao mercado o camarão de acordo com maior tamanho,
melhor rendimento e com valor agregado.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
355
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Os camarões da espécie Litopenaeus vannamei foram adquiridos em comércio
varejista da cidade de São Luís- MA, após avaliação sensorial in situ do grau de
frescor. Amostras foram transportadas em caixa isotérmica para o Laboratório de
Tecnologia do Pescado – LabTep, localizado na Fazenda Escola, no Campus Paulo
VI da Universidade Estadual do Maranhão- UEMA.
Foram descongelados e selecionados por tamanhos aproximados e divididos
em lotes. O primeiro lote foi destinado a análise de rendimento in natura, e o segundo
para uma análise de rendimento após a cocção conforme Figura 1.
Figura 1.
Classificação (tamanho)
Pesagem
Camarão cozido
Camarão In Natura
Descascado (Filé)
Descascado (Filé)
Pesagem
Pesagem (Final)
Cocção
Descabeçamento
Pesagem
Filé com Telson
Corte Cowboy
Pesagem
Pesagem
Empanamento
Corte Butterfly
Pesagem (Final)
Figura 1. Fluxograma do Processamento do camarão.
O segundo lote foi dividido em duas partes, onde o primeiro passou pelo processo
de cocção inteiro, ou seja, não foi retirada a carapaça, somente após o cozimento
este foi descascado para obtenção do filé e o segundo obteve-se primeiro o filé (sem
a carapaça) seguido pelo processo de pré-cozimento em água a 90°C por 5 min. Após
drenagem do excesso de liquido do cozimento e resfriamento da amostra, a mesma
foi submetida ao descabeçamento e remoção da carapaça.
Do primeiro lote realizou-se a pesagem, em seguida retirou-se a cabeça, e
novamente foi realizada a pesagem, logo após retirou-se os segmentos da carapaça,
deixando o último segmento e o telson, pesando-os e dividindo em dois lotes para
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
356
aplicação de dois tipos cortes diferentes.
Os cortes atribuídos foram do tipo butterfly e cowboy. Após a pesagem, os
camarões que passaram pelo processo de cortes, foram empanados e pesados. O
empanamento foi feito por meio de duas etapas: 1) aplicação do butter (líquido de
empanamento), composto por trigo, água e realçador de sabor, formando assim uma
mistura homogênea, 2) empanamento em farinha de cobertura (breading), especifica
para elaboração de camarão empanado (Figura 2 a, b e c).
a
c
b
Figura 2. Cortes (a- borboleta, b- cowboy, c- camarão nos cortes borboleta e cowboy
empanado).
A separação dos lotes foi aleatória, os dados obtidos dos procedimentos
analíticos foram organizados no programa Microsoft Office Excel 2010 e analisados
programa SysEapro 2.0, onde foram submetidos aos parâmetros de estatística
descritiva de medidas de localização relativa (máximo e mínimo), tendência central
ou de posição (média) e dispersão (desvio-padrão e coeficiente de variação), nas
quais foram expressos em formas descritivas, tabelas e gráficos.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
O rendimento do Litopenaeus vannamei in natura e após a cocção, apresentaram
diferenças expressivas (Tabela 1). Foi observado uma redução de peso após o précozimento e embora tenha ocorrido esta redução o percentual de rendimento após
o descabeçamento do camarão pré-cozido (68,69%) apresentou-se superior ao
camarão cru descabeçado (65,96%).
Camarão cru
Apresentação
Camarão pré-cozido
Peso (g)
Rendimento (%)
Peso (g)
Rendimento
(%)
Inteiro
1001,34
100
818,00*
100
Descabeçado
660,50
65,96
561,92
68,69
Filé com Telson
600,21
60,21
-
-
Filé
569,58
56,88
416,58
50,92
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
357
Resíduo 1**
357,26
35,67
124,82
24,82
Resíduo 2***
73,88
7,37
61,47
12,22
Total de resíduo
431,14
43,04
186,29
37,04
Tabela 1. Rendimento do L. vannamei in natura e pré-cozido submetido à diferentes cortes e
forma de apresentação.
*Obtido a partir de 1005,78g de camarão cru, **carapaça, ***segmento abdominai.
O peso inicial do camarão in natura foi de 1001,34, após o beneficiamento
obtiveram-se 569,58 g de filé, que correspondeu a 56,88% de rendimento cárneo.
Moura (2004), encontrou 45,8% e 58% de rendimento de filé (carne pura) para
o camarão L. vannamei e F. schimitti, respectivamente, diferindo dos valores
encontrados neste estudo. Para o camarão rosa (Farfantepenaeus brasiliensis), este
mesmo autor, obteve carne pura (filé) variando entre 30 e 33%. O Macrobrachium
rosenbergii (Gigante da Malásia) apresentou rendimento de 31% de carne limpa em
estudo realizado por Guzmán (1994).
Pode-se observar que o valor encontrado para o rendimento de filé, foi um
pouco maior, comparado com os dados da literatura. Isto ocorreu devido à diferença
nas espécies estudadas, o tamanho e peso dos exemplares. Camarões maiores,
apresentam cefalotórax maior que a parte comestível, diminuindo assim o rendimento
de filé.
No processo de descabeçamento do camarão, observa-se uma perda de 34,04%
do camarão inteiro cru e para o pré-cozido de 31,31%. Em relação ao M. rosenbergii,
o cefalotórax e a carapaça da cauda (resíduo) correspondem a 61,36% do peso total
e apenas 38,64% da cauda limpa (filé) (Lobão et al., 1988).
O rendimento do camarão “saburica” M. jelskii de filé in natura foi de 29,69%
e salgado/cozido 27,15% encontrados por Cirilo et al. (2011). No presente trabalho,
para L. vannamei in natura obtiveram-se 56,88% e cozido 50,92%. Há uma diferença
em relação ao camarão in natura e após a cocção, para o M. jelskii uma perda de
2,54% e para o L. vannamei de 5, 96%. De acordo com Rodrigues (2009), o processo
de cozimento pode alterar as características do produto in natura, como: a perda
de água, ocasionando na concentração dos nutrientes e incorporação de substancia
provenientes da cocção. O P. brasiliensis em estudos elaborados por Pedroza &
Cozzolino (1999) teve um percentual de perda de 39% e foi o marisco que mais
concentrou proteínas (cru = 10,6 para cozido = 16,8%).
Na figura 3, observamos a quantidade que foi utilizada para cada etapa de
processamento, seus respectivos percentuais de rendimento e as perdas ocasionadas
pela filetagem. Com cada segmento retirado há uma perda no peso, e aumento da
agregação de valor. Segundo Almeida & Abdallah (2013), o camarão chega até o
primeiro comprador por um valor muito abaixo e após o processamento é possível ter
uma perda de 50% no peso e 100% no valor de aquisição.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
358
Figura 3. Pesos e percentual de perdas pelo processamento
Camarões em filé, dentre outros produtos de conveniência são procurados devido
sua praticidade e por não ter resíduos, como o camarão inteiro que apresenta quase
50% de resíduos no seu preparo. As indústrias que trabalham com o beneficiamento
do camarão, têm buscado formas de reutilização das sobras, onde são aproveitados
para a elaboração de farinha, enriquecendo assim subprodutos com proteínas
provenientes do pescado e diminuindo assim problemas como poluição.
O processo de empanamento conferiu ao camarão submetido aos cortes
especiais tipo borboleta “butterfly” e cowboy o rendimento total de 87,36 e 75,87%,
sendo atingidos os valores de incremento de 29,75 e 19,54%, respectivamente (Tabela
3). O uso de cobertura de empanamento aumenta o rendimento do file do camarão, o
valor de aquisição e possibilita diversificar a forma de preparo.
Corte cowboy
Corte borboleta
Parâmetro
Natural
A
B
Peso (g)
500
288,43
Rendimento (%)
100
57,61
Empanado
Natural
Empanado
A
B
374,24
500
281,65
336,70
29,75*
100
56,33
19,54*
Tabela 3. Rendimento e percentual de incremento do camarão em contes borboleta e cowboy
natural e empanado.
*Percentual de incremento proveniente do processo de empanamento. A-camarão inteiro, B-camarão processado
Gonçalves & Gomes (2008), utilizou o filé do camarão para agregação de valor
com o empanamento, e obteve 86,83% para rendimento do filé e 210,2% para o
camarão empanado. Valores maiores comparados com os resultados obtidos pelo
presente trabalho. Isso ocorreu devido à utilização de três etapas no empanamento:
pré-empanamento, imersão no batter e farinha de cobertura. Diferente deste trabalho
que se utilizou somente duas coberturas, visando a não incorporação excessiva
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
359
de massa. Esta minimização de incremento confere melhor aparência e sabor dos
produtos empanados favorecendo a aceitabilidade pelos consumidores. Mas ao
ser elaborado deve-se ter atenção para algumas exigências, principalmente com a
cobertura, que é realizada em etapas.
A classificação do camarão observada neste estudo, considerando o peso médio
e a quantidade necessária para completar 1 kg encontrou valores entre 100 e 180
unidades (Tabela 4).
INTEIRO
FILÉ
CLASSES
Peso médio (g/
uni.)
Quantidade em 1
kg (uni.)
Peso médio (g/
uni.)
Quantidade em 1
kg (uni.)
1
10,16 ±0,96
100
5,60±0,67
178
2
8,33±0,44
120
6,02±0,19
166
3
5,55±0,43
180
2,90 ±023
191
Tabela 4. Classificação do camarão.
Segundo o Boletim Técnico nº 02/2016 (Santos et al., 2016) realizado numa
empresa do Ceará a classificação dos camarões inteiros é feita por tamanho, em
que para obtenção de 1 Kg de camarão há um número de peças ideal, mínimo ou
máximo, já o camarão descabeçado e filé os valores de peças é quantificando em
uma libra, que equivale a 454 g. Essa classificação obedece a padrões internacionais
(Santos et al., 2016).
Os camarões com peso médio de 8,33g obtiveram maior rendimento de filé,
resultando em 6,02g e o camarão maior de 10,16g apenas 5,60g. Segundo Silveira
(2002) o rendimento da cauda limpa diminui com o crescimento do animal, devido à
cabeça (cefalotórax) apresentar um tamanho maior comparado com a cauda, o que
ficou bastante evidente neste estudo.
O estudo demonstrou que o descabeçamento e descasque do camarão após
o pré-cozimento aumentam as perdas (Tabela 5). Foram encontrados os valores
de 41,47% de rendimento para o camarão pré-cozido inteiro e depois descascado,
enquanto que, para o camarão pré-cozido já descascado (filé) 44,41%, denotando um
ganho de 2,94. O processo de cozimento pode ocasionar mudanças no conteúdo e
no valor nutritivo do camarão (Pedroza & Cozzolino, 1999), perdas ou até a retenção
de líquidos, dependendo de como é feito o pré-cozimento.
Apresentação
Pré-cozido inteiro
Pré-cozido descascado
Peso (g)
Rendimento (%)
Peso (g)
Rendimento (%)
Inteiro
502,89
100
500
100
Filé
208,29
41,47
222,05
44,41
Tabela 5. Percentual de rendimento do filé de camarão pré-cozido descascado cru e póscozimento.
*Camarão inteiro in natura; **Camarão inteiro pré-cozido
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
360
No Manual do Camarão (2007) são listadas algumas alterações no cozimento
devido ao congelamento inadequado, como alta redução de tamanho, pois este perde
a água que foi incorporada ao serem colocados apenas em gelo, e nesse processo
perde também o sabor, diminuição também da vida de prateleira, se deteriorando
bem mais rápido.
A amostra de camarão que passou pelo processo de cozimento apresentou
diferença no formato do corpo, em que o pré-cozido inteiro teve uma pequena
curvatura, já o pré-cozido escascado (filé) apresentou curvatura total, isso ocorreu
devido a ausência da carapaça, já que esta é responsável por promover resistência
a carne.
A cor também apresentou diferença, onde o camarão cozido só o filé ficou mais
claro (tom de alaranjado mais fraco). Isso ocorre devido à desnaturação de uma
proteína (ovovidina) da carapaça que libera astaxantina vermelha alterando a cor do
camarão cozido inteiro (Martínez-Alvarez et al., 2009).
4 | CONCLUSÃO
A aplicação de cortes especiais do tipo borboleta e cowboy atribuídos ao
camarão marinho Litopenaues vannamei além de possibilitar formas diferenciadas de
oferta dos produtos não difere substancialmente no rendimento quando comparados
a modalidade tradicionalmente comercializada (filé). O processo de empanamento
favorece ganho em percentual de rendimento, e consequentemente maior retorno
econômico, demonstrando ser uma opção inovadora de comercialização.
Camarões com peso médio de 8,0 g são os mais indicados para o processamento
em termos de rendimento.
O descasque prologal ao pré cozimento propicia maior rendimento, o que tornase bastante representativo economicamente quando aplicados em escala industrial.
O estudo frequente sobre o rendimento desses produtos e a aplicação de novas
tecnologias são ferramentas mercadológicas de suma importância, principalmente
para o consumidor que busca constantemente produtos variados e inovadores que
apresentem boa relação de custo/ beneficio.
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Capítulo 34
361
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 34
363
CAPÍTULO 35
doi
O COMÉRCIO DE PESCADO NOS RESTAURANTES DE
SANTARÉM, PARÁ, BRASIL
Emanuel Damasceno Corrêa-Pereira
Univers. Federal do Oeste do Pará, Inst. de
Ciências e Tecnologia das Águas
Santarém – Pará
Tony Marcos Porto Braga
Univers. Federal do Oeste do Pará, Inst. de
Ciências e Tecnologia das Águas
Santarém – Pará
Charles Hanry Faria Júnior
Univers. Federal do Oeste do Pará, Inst. de
Ciências e Tecnologia das Águas
Santarém – Pará
quantidades de pescado comercializadas por
restaurantes de diferentes portes. O tambaqui
(Colossoma Macropomum) é espécie de
pescado mais comercializada. Recomenda-se
mais estudos nesta temática a fim de obter-se
mais conhecimento a respeito destes agentes
da cadeia produtiva do pescado e suas reais
contribuições para a economia local.
PALAVRAS-CHAVE: Preferência alimentar.
Cadeia
produtiva.
Mercado.
Economia
pesqueira.
THE FISH TRADE IN THE RESTAURANTS
RESUMO: O objetivo deste trabalho
foi diagnosticar o comércio do pescado
realizado nos restaurantes localizados na
zona urbana do município de Santarém/PA.
Foram realizadas entrevistas com auxílio de
formulário semiestruturado entre os meses de
agosto/2016 e agosto/2018. A Feira do Pescado
e os caminhões frigoríficos são os principais
meios de aquisição do pescado que abastecem
os restaurantes, sendo que 51,67% destes
estabelecimentos são classificados como micro
restaurantes e 61,67% estão localizados na
Zona Norte do município. O intervalo entre
as compras de pescado que abastecem
estes estabelecimentos não ultrapassa o
período de uma semana e não foi observada
diferença estatística significativa entre as
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
OF SANTARÉM, PARÁ, BRAZIL
ABSTRACT: The objective of this study was to
diagnose fish trade in restaurants located in the
urban area of the municipality of Santarém / PA.
Interviews with semi - structured form help were
carried out between August / 2016 and August
/ 2018. The Fish Fair and the refrigerated
trucks are the main means of acquiring the
fish that supply the restaurants, with 51.67%
of these establishments being classified as
micro-restaurants and 61.67% located in the
Northern Zone of the municipality. The interval
between purchases of fish that supply these
establishments does not exceed a period of
one week, and among the quantities of fish
marketed by restaurants of different sizes there
is no significant statistical difference. Tambaqui
Capítulo 35
364
(Colossoma Macropomum) is a more commercialized fish species. More studies are
recommended in this area in order to obtain more knowledge about these agents of the
fish production chain and their real contributions to the local economy.
KEYWORDS: Food Preference. Productive chain. Marketplace. Fishing economy.
1 | INTRODUÇÃO
A atividade pesqueira desempenha um papel fundamental na economia da
região amazônica e dentre os benefícios da pesca, a utilização do pescado como
fonte de alimentação é uma das mais importantes, sendo o consumo per capita
girando em torno de 400 g/dia nas comunidades ribeirinhas desta região (BATISTA
et al., 2004; MURRIETA et al., 2008; ALMEIDA et al., 2010; COSTA et al., 2013;
JESUS et al., 2014; LOPES et al., 2016). Em pesquisas realizadas com a população
das comunidades da Ilha de Ituqui, localizada a jusante do município de Santarém e
Caxiuanã, na região sul da Ilha do Marajó, por exemplo, o peixe representa 61,6% e
54,3% de toda proteína consumida, respectivamente nestas localidades (MURRIETA
et al., 2008). Este consumo elevado de pescado é atribuído por muitos autores a
fatores culturais e sociais (MURRIETA et al., 2008; MACIEL et al., 2015; COELHO et
al., 2017)
No mercado, o pescado depende de critérios elegidos pelos clientes para
aceitação do produto, como espécie, coloração, consistência, sabor, cheiro, quantidade
de gordura, entre outros (SILVA, 2007; COELHO et al., 2017). De acordo com estes
autores, os fatores mencionados são importantes, pois determinam a demanda
por algumas espécies alvos e estas precisam manter as características desejáveis
pelos consumidores. Além dos critérios anteriormente mencionados, a sazonalidade
também influencia na captura e consequente disposição de determinadas espécies
aos consumidores (ISAAC e RUFFINO, 2000).
Uma das formas para solucionar as dificuldades em manter a oferta de pescado
com a qualidade desejada durante todo ano ao consumidor é a aquicultura, sendo
que esta atividade funciona como alternativa técnica, sustentável e economicamente
viável (FAO, 2014). Desde a década de 80 a piscicultura implantou-se definitivamente
na região amazônica e com isso, nos últimos anos, têm-se observado a forte presença
de pescado originário desta atividade na região sem que se tenha um diagnóstico
completo de sua participação no comércio regional (FERNANDES, 2005).
O município de Santarém, por sua vez, recebe pescado de uma ampla região, na
qual podemos destacar cidades como Almerim, Óbidos e Monte Alegre, tornando-se
um importante porto de desembarque de pescado (BATISTA et al., 2007). Além disso,
por apresentar uma demanda elevada por pescado em decorrência da preferência
alimentar dos consumidores, o município é destino das produções oriundas da
aquicultura do próprio município e até mesmo de outros estados (ZACARDI et al.,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
365
2017).
Dentre os estabelecimentos que ofertam o pescado ao consumidor final estão
os restaurantes. Sendo assim, estes estabelecimentos são conceituados como
“estabelecimentos comerciais onde se preparam e servem refeições”, podendo ser
subdividos em comerciais e coletivos (FONSECA, 2006). Segundo este autor, os
restaurantes comerciais são representados por aqueles que cobram diretamente
pelas refeições fornecidas e os coletivos, por sua vez, são compostos por aqueles
que não cobram diretamente por seus serviços, funcionando por meio de subsídios
(CASTELLI, 2003).
Tendo em vista que o pescado é uma importante fonte proteica para a região de
estudo e os restaurantes são importantes agentes para a economia local, assim como
um importante fornecedor de refeições a base de pescado para o consumidor final,
este trabalho visou diagnosticar o comércio de pescado nestes estabelecimentos
no município de Santarém/PA, considerando a carência de estudos a respeito deste
setor mesmo diante de sua importância econômica.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no período de agosto de 2016 a agosto de 2018 na área
urbana do município de Santarém, estado do Pará (54º42’36” W; 2º24’52” S) (Figura
1). O município possui uma população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) no ano de 2018 em 302 667 habitantes (IBGE, 2018), distribuídos
em 50 bairros devidamente reconhecidos perante a Prefeitura Municipal da cidade, os
quais estão divididos em 5 zonas urbanas: Zona Norte, Zona Sul, Zona Leste, Zona
Oeste e Zona Central (Figura 2), sendo que este estudo abrangeu todas estas zonas.
Figura 1 – Localização do município de Santarém.
Fonte: Braga et al., 2016.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
366
Figura 2 – Zoneamento urbano do município de Santarém.
Fonte: Secretaria Municipal de Infraestrutura – Prefeitura Municipal de Santarém (2018).
Inicialmente foi realizada uma consulta a Divisão de Vigilância Sanitária (DIVISA)
do município de Santarém para identificar a quantidade de restaurantes localizados
em suas zonas urbanas. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas
cujos questionamentos estavam contidos em formulário semiestruturado junto aos
proprietários dos restaurantes, possibilitando ao pesquisador questionar sobre outras
informações caso houvesse necessidade (NETO, 2002). As informações coletadas
basearam-se em: informações de identificação do restaurante, local de aquisição
de pescado, frequência de compra do pescado, quantidade de pescado adquirido,
espécies comercializadas e as mais vendidas, modificação na oferta de pescado
durante o ano, elaboração de produtos derivados do pescado, formas de consumo
preferenciais, dificuldades enfrentadas na comercialização de refeições à base de
pescado e possíveis reclamações dos consumidores. As unidades amostrais foram
selecionadas ao acaso, considerando o critério de vender pelo menos uma refeição
elaborada a partir do pescado.
Os restaurantes foram classificados quanto ao tipo de serviço oferecido e quanto
ao porte do estabelecimento. Com relação ao porte, considerou-se a quantidade de
funcionários do estabelecimento para realizar a classificação. A delimitação pode ser
observada abaixo:
•
Micro restaurante: os estabelecimentos que possuem até um funcionário
contratado, independente da forma de contrato trabalhista utilizada;
•
Pequeno restaurante: os estabelecimentos que possuem 2 ou 3 funcioná-
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
367
rios contratados, independente da forma de contrato trabalhista utilizada;
•
Médio restaurante: os estabelecimentos que possuem 4 ou 5 funcionários
contratados, independente da forma de contrato trabalhista utilizada;
•
Grande restaurante: os estabelecimentos que possuem 6 ou mais funcionários contratados, independente da forma de contrato trabalhista utilizada;
As informações coletadas foram armazenadas em um banco de dados relacionais
construído na Plataforma Access e, em seguida, foram submetidos a consultas para
posterior análises com o uso da estatística descritiva, como descrito em Gonzáles et
al. (2006).
Os dados referentes às quantidades de pescado comercializadas pelos
restaurantes foram organizados em tabelas, de acordo com seu porte e, em seguida,
foram submetidos ao teste de Shapiro-Wilk para verificar se os dados apresentaram
distribuição normal, para em seguida serem submetidos ao teste não paramétrico de
Kruskal-Wallis para verificar a existência de diferença estatística significativa entre os
dados (α=0,05) (CALLEGARI-JACQUES, 2003; MARCONI e LAKATOS, 2012).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente foi solicitado à Divisão de Vigilância Sanitária (DIVISA) uma
listagem com os restaurantes em atividade no município e suas informações,
como endereço e produtos que comercializavam. O órgão repassou uma listagem
de apenas oito estabelecimentos, sendo que quatro não estavam localizados
no endereço fornecido e três não comercializavam nenhuma refeição à base de
pescado. Mediante estas informações, foi verificado que órgãos públicos municipais
responsáveis pela fiscalização de restaurantes não possuem controle efetivo sobre
estes estabelecimentos.
No total foram catalogados 60 estabelecimentos nas 5 zonas urbanas da cidade,
sendo que 61,67% destes restaurantes estão localizados na Zona Norte de Santarém,
20,00% na Zona Oeste, 10,00% na Zona Sul, 5,00% na Zona Leste e 3,33% na Zona
Central. Os estabelecimentos localizados nas zonas urbanas de Santarém também
foram classificados quanto ao seu porte, sendo que 51,67% dos restaurantes são
considerados micro empreendimentos, 21,67% são pequenos restaurantes, 13,33%
são classificados como médios e também 13,33% são grandes restaurantes.
Os locais ou formas de aquisição do pescado utilizado nos restaurantes
localizados nas zonas urbanas de Santarém são variados e é comum um mesmo
estabelecimento ter mais de uma forma de adquirir o pescado. De modo geral, a Feira
do Pescado é o local mais citado pelos entrevistados como local de aquisição de
pescado, sendo mencionado por 33 entrevistados (55,00%), seguido dos caminhões
frigoríficos (36,67%) que abastecem feiras, mercados e outros estabelecimentos,
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
368
como os próprios restaurantes, com pescado proveniente de criações, sendo citados
por 22 entrevistados.
Com relação a frequência de aquisição de pescado, foi observado que não é
comum o período entre compras ser maior que uma semana, visto que trata-se de um
produto perecível e muitos dos proprietários dos restaurantes não possuem meios de
estocar grandes quantidades. De modo geral, a compra diária do pescado é a mais
frequente, sendo citada por 21 entrevistados (35%), seguido da aquisição realizada
uma vez por semana, citada por 18 entrevistados.
De acordo com o teste de Shapiro-Wilk, os dados referentes as quantidades
de pescado comercializadas nos micros (W=0,572; P=0,006), pequenos (W=0,679;
P=0,009), médios (W=0,688; P=0,009) e grandes restaurantes (W=0,705; P=0,009)
não apresentaram distribuição normal ao nível de significância 0,05, sendo necessária
a utilização de um teste não parámetrico. Os resultados referentes ao teste de KruskalWallis demonstram que não há diferença estatística significativa entre as quantidades
de pescado comercializadas (H=1,55; P=0,67; α=0,05) (Figura 3), ou seja, um
micro restaurante especializado em pescado, mesmo apresentando características
físicas e tipo de serviço oferecido distintos pode vender quantidades próximas ao
que comercializa um grande restaurante com estruturas mais complexas. Isto está
relacionado a especialização do comércio de refeições, visto que o pescado não é a
principal ou a única fonte de proteínas para a maioria dos estabelecimentos, o que
proporciona uma grande amplitude de variação das quantidades comercializadas.
Figura 3 - Quantidades médias de pescado comercializado nos restaurantes localizados nas
zonas urbanas de Santarém/PA.
Com relação ao sistema de armazenamento, todos os estabelecimentos possuem
algum mecanismo de conservação do pescado, sendo o freezer o mais comum,
citado por 51 informantes dentre os 60 consultados nas zonas urbanas do município
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
369
de Santarém (Figura 4). Além disso, também foram citados como mecanismos de
conservação o refrigerador (8 citações), a geleira (3), o isopor (2) e a câmara frigorífica
(1). A geleira mencionada nesta pesquisa refere-se a uma estrutura construída com
madeira ou outros materiais que dão o suporte externo e internamente possuem um
revestimento isotérmico, as quais são preenchidas com gelo, principalmente do “tipo
escama” para conservar o pescado até ser beneficiado para o preparo dos pratos e
comercializados (SILVA et al., 2016).
A respeito das etnoespécies de pescado comercializadas nos restaurantes, foram
citados pelos entrevistados 18 peixes e 5 crustáceos (Tabela 1), sendo o tambaqui
(Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas), o curimatã (Prochilodus
nigricans), o tucunaré (Cichla spp.), o mapará (Hypophthalmus spp.) e o surubim
(Pseudoplatystoma punctifer) como os seis peixes mais comuns comercializados nos
restaurantes. Destes, o tambaqui foi citado em 55 formulários (91,67%) e seguido
do pirarucu que aparece em 32 formulários (53,33%), independente do porte do
restaurante. Entre os crustáceos mencionados pelos entrevistados, o camarão regional,
ou Camarão da Amazônia, (Macrobrachium amazonicum), citado em 13 formulários
(21,67%), sendo utilizado principalmente em molhos para acompanhamento dos
pratos à base de pescado.
O tambaqui e o pirarucu foram as duas etnoespécies citadas como preferenciais
pelos consumidores, de acordo com os entrevistados, sendo que estas são as
mesmas citadas por outros trabalhos sobre preferências alimentares em Santarém e
em diversas pesquisas elaboradas na região amazônica, sejam elas realizadas com
consumidores finais ou com outros agentes da cadeia produtiva (BRAGA et al., 2016;
COELHO et al., 2017).
A preferência por “peixes de escama” foi observada em pesquisa realizada
no município de Parintins/AM, onde 85,3% tinham a preferência por esses peixes
(COSTA et al., 2013). Ressalta-se que todos esses trabalhos objetivaram descrever
as preferências dos consumidores sem levar em conta o local de consumo, como
realizado neste trabalho. A preferência por “peixes de escama” também foi observada
por Braga et al. (2016) ao realizarem pesquisa em Santarém/PA com objetivo de
registrar o uso atual dos recursos pesqueiros pelos moradores do município estudado
e analisar os aspectos associados as preferências e tabus alimentares no consumo
de certas espécies, onde os motivos alegados por mais de 80% dos informantes
estava relacionado ao sabor e por serem consideradas espécies mais saudáveis.
Ordem/Família
Peixes
Acanthuriformes
Scianidae
Characiformes
Anostomidae
Nome científico
Nome vulgar
Plagioscion squamosissimus Heckel 1840
Pescada branca
Leporinus spp.
Schizodon spp.
Aracu
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
370
Characidae
Brycon amazonicus Spix & Agassiz, 1829
Colossoma macropomum Cuvier, 1818
Mylossoma spp.
Myleus spp.
Piaractus brachypomus Cuvier, 1818
Hemiodos spp.
Prochilodus nigricans Agassiz, 1829
Semaprochilodus spp.
Pirapitinga
Charuto
Curimatã
Jaraqui
Cichla spp.
Tucunaré
Pellona spp.
Apapá
Arapaima gigas Schinz, 1822
Pirarucu
Hoplosternum litoralle Hancock, 1828
Pterygoplichthys spp.
Brachyplatystoma filamentosum Lichtenstein, 1819
Brachyplatystoma rousseauxii Castelnau,
1855
Hypophthalmus spp.
Tamoatá
Acarí
Mapará
Pseudoplatystoma punctifer Linnaeus, 1766
Surubim
Crustáceos
Decapoda
Ocypodidae
Ucides cordatus Linnaeus, 1763
Palaemonidae
Macrobrachium amazonicum Heller, 1862
Penaeidae
Sergestidae
Farfantepenaeus spp.
Acetes paraguayensis Hansen, 1919.
Caranguejo Uçá
Camarão da Amazônia
Camarão rosa
Aviúm
Hemiodontidae
Prochilodontidae
Cichliformes
Cichlidae
Clupeiformes
Pristigasteridae
Osteoglossiformes
Arapaimatidae
Siluriformes
Callichthyidae
Loricariidae
Pimelodidae
Matrinchã
Tambaqui
Pacu
Filhote/Piraíba
Dourada
Tabela 1 - Espécies de pescado comercializadas nos restaurantes de Santarém/PA.
Observou-se que conforme o porte dos restaurantes aumenta, há menor
variedade na oferta de etnoespécies de peixes e maior variedade de crustáceos,
sendo que não foi observada comercialização de crustáceos em micros restaurantes.
Nos restaurantes de menor porte houve uma maior diversidade de etnoespécies
citadas, onde é possível destacar, por exemplo,o acarí como preferencia entre os
consumidores (Pterygoplichthys spp.), sendo que esta etnoespécie não foi listada como
preferencial no trabalho de Braga et al. (2016), que analizou os aspectos associados
a preferências e tabus alimentares dos consumidores santarenos. A presença deste
pescado como preferência nos restaurantes de menor porte pode estar associada
a fatores culturais e sociais, visto que estes estabelecimentos são comumente
frequentados por pessoas de menor poder aquisitivo e também por moradores de
comunidades ribeirinhas, devido a localização destes estabelecimentos.
Quando questionados sobre possíveis modificações na oferta de pescado
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
371
durante o ano, 63,33% dos entrevistados informaram que existem modificações nas
quantidades e nas etnoespécies disponíveis para comércio nos estabelecimentos.
Estas modificações são atribuídas principalmente ao período do defeso, ao período
de entressafra de determinada etnoespécie de pescado ou a datas comemorativas
onde são consumidos mais pescado, como a Semana Santa (MAIA, et al., 2016).
Consequentemente, variações nos preços do pescado ocorrem elevando o valor de
compra, visto que quanto maior a demanda de determinado produto, o preço tende
ao aumento (FILHO, 2011; VASCONCELLOS, 2011).
Com relação as formas e preferencias de consumo do pescado nos restaurantes,
foi observado que, entre os estabelecimentos de diferentes portes, são comercializadas
três formas básicas de preparo: o assado, o cozido e o frito. Os pratos elaborados
podem ser acompanhados de molhos e outras guarnições, muitas vezes elaboradas
a partir de outro pescado, como o camarão. A forma assada correspondeu a 65,57%
da preferência entre os consumidores que frequentam os restaurantes, de acordo
com os entrevistados. As formas frito e cozido corresponderam a 29,51% e 3,28%,
respectivamente e apenas 1,64 % não informaram sobre quais as formas preferenciais
de consumo por parte dos consumidores.
Em Parintins, município localizado no estado do Amazonas, foi observado que
a forma assada comercializada em bares e restaurantes foi a mais mencionada
com 28,20%, seguido pelo cozido e frito (COSTA et al., 2013). Já em Belém, em
pesquisa com o objetivo de caracterizar o perfil dos consumidores, foi constatado que
a preferência são as formas cozida ou frita (BARBOSA et al., 2007; MANGAS et al.,
2016).
Com relação as dificuldades enfrentadas pelos proprietários dos restaurantes
para trabalhar com o pescado, 50,00% afirmaram que enfrentam dificuldades, 48,33%
informaram não haver dificuldades e 1,67% não souberam informar. As dificuldades
mencionadas pelos entrevistados estão relacionadas a diversos fatores, sendo as
principais: elevação ou variação do preço devido a sazonalidade na oferta, falta de
determinadas etnoespécies de pescado junto aos fornecedores, falta de mão de obra
qualificada para trabalhar com beneficiamento do pescado nos restaurantes, a falta
de qualidade do pescado comercializado nas feiras e mercados locais, a proveniência
desconhecida da matéria prima, visto que o consumidor comumente pergunta sobre
a procedência do produto.
Com relação a existência de reclamações por parte dos consumidores, foi
observado que 58,33% dos entrevistados responderam não existir. Já os que
responderam existir reclamações (38,33%), atribuíram principalmente ao preço elevado
dos pratos elaborados a partir do pescado, irregularidade na oferta de determinadas
etnoespécies de pescado, procedência de peixes oriundos de piscicultura, falta de
frescor do pescado ou a qualidade do serviço oferecido pelos estabelecimentos.
Trabalhos realizados em outras localidades da região amazônica também
identificaram o preço elevado do pescado com um fator limitante na aquisição dos
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
372
mesmos. Isto pode ser observado entre consumidores da região do Alto Rio Negro/AM
(JESUS et al., 2014), na região de Belém/PA (MANGAS et al., 2016) e em Santarém
(COELHO et al., (2017). O fato da não preferência dos peixes oriundos de criação
por parte de alguns consumidores pode estar relacionado ao off-flavour, que consiste
no sabor e o aroma atribuídos ao pescado em caso de manejo inadequado durante
o processo de criação. Embora haja essa aversão por parte dos consumidores,
os entrevistados informaram que a maior parte do tambaqui comercializado nos
estabelecimentos é proveniente de piscicultura.
4 | CONCLUSÕES
Os dados obtidos permitem indicar que atualmene o extrativismo ainda é forma
de suprimento da demana dos restaurantes do município de Santarém preferencial
pelos consumidores. Por outro lado, a piscicultura tem papel fundamental no
desenvolvimento da atividade de restaurantes, visto que mantem a oferta constante
de pescado para estes estabelecimentos.
As
quantidades
de
pescado
comercializadas
entre
os
restaurantes
não apresentam diferença estatística significativa independente do porte do
estabelecimento, sendo o tambaqui a etnoespécie de peixe mais comercializada
entre os restaurantes de todos os portes e o pirarucu a segunda espécie mais
comercializada. Além disso, não dovergindo de outras pesquisas realizadas na região
amazônica, o tambaqi (C. macropomum) foi ocnsiderado como a etnoespécie mais
apreciada pelos consumidores. O pirarucu (A. gigas) também foi considerada como
muito apreciada, porém essa preferência foi observada de forma mais expressica em
restaurantes de grande porte, demonstrando que seus consumidores são pessoas
com poder aqusitivo mais elevado. Entre os mecanismos de conservação do pescado
nos restaurantes, o freezer é o mais utilizado.
De modo geral, existem dificuldades para trabalhar com o pescado nos
restaurantes, onde a elevação ou variação do preço e a falta de determinadas
etnoespécies de pescado são as mais enfrentadas pelos proprietários dos
estabelecimentos. Em sua maioria, não são comuns reclamações por parte dos
consumidores, todavia quando ocorrem, estão relacionadas ao preço dos pratos ou
a qualidade do pescado.
Recomenda-se que o estudo sobre estes agentes econômicos tenham
continuidade, visto sua importância tanto para a economia pesqueira, quanto para
o desenvolvimento do turismo na região. É importante buscar a compreensão da
dinâmica econômica dentro de cada porte e de cada tipo de restaurante, fazendo
análises econômicas para demonstrar quais as contribuições financeiras deste setor
para a economia e o desenvolvimento local.
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
373
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Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Capítulo 35
375
SOBRE O ORGANIZADOR
Flávio Ferreira Silva - Possui graduação em Nutrição pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais (2016) com pós-graduação em andamento em Pesquisa e
Docência para Área da Saúde e também em Nutrição Esportiva. Obteve seu mestrado
em Biologia de Vertebrados com ênfase em suplementação de pescados, na área
de concentração de zoologia de ambientes impactados, também pela Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (2019). Possui dois prêmios nacionais em
nutrição e estética e é autor do livro "Fontes alimentares em piscicultura: Impactos na
qualidade nutricional com enfoque nos teores de ômega-3”, além de outros capítulos
de livros. Atuou como pesquisador bolsista de desenvolvimento tecnológico industrial
na empresa Minasfungi do Brasil, pesquisador bolsista de iniciação cientifica PROBIC
e pesquisador bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) com publicação relevante em periódico internacional. É palestrante
e participou do grupo de pesquisa “Bioquímica de compostos bioativos de alimentos
funcionais”. Atualmente é professor tutor na instituição de ensino BriEAD Cursos, no
curso de aperfeiçoamento em nutrição esportiva e nutricionista no consultório particular
Flávio Brah. E-mail: flaviobrah@gmail.com ou nutricionista@flaviobrah.com
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Sobre o Organizador
376
ÍNDICE REMISSIVO
A
Aceitabilidade 296, 303, 309, 312, 314, 319, 321, 323, 328, 330, 331, 332, 360
Aceitação sensorial 292, 325
Agricultores 92, 93, 94, 98, 102, 184, 186, 193, 240
Amostragens 15, 16, 37, 41, 61, 260, 375
Análise sensorial 292, 296, 297, 303, 309, 311, 314, 319, 320, 327, 329, 332, 333
Anatomia 38, 241, 277, 279, 281, 283
Aquicultura 10, 11, 20, 33, 35, 38, 69, 74, 83, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 101,
102, 103, 105, 111, 112, 113, 119, 120, 121, 123, 124, 125, 128, 131, 134, 135, 136,
139, 141, 144, 149, 151, 163, 164, 166, 168, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 183,
185, 188, 189, 191, 193, 195, 196, 197, 198, 199, 201, 202, 203, 204, 205, 206, 209,
210, 213, 226, 237, 238, 239, 244, 245, 246, 247, 249, 250, 251, 253, 257, 281, 282,
292, 314, 315, 342, 344, 345, 354, 355, 362, 363, 365, 375
Assistência técnica 100, 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 178, 179, 180, 183, 185,
186, 187, 189, 190, 198, 199, 201, 202, 204, 205, 208, 238, 240
Atividades pesqueiras 35, 54, 206, 336
C
Capturas 1, 4, 12, 13, 36, 40, 44, 51, 65, 66, 75, 77, 78, 81, 83, 88, 89, 108, 228, 324
Carcinicultura 112, 134, 135, 136, 139, 303, 315, 341, 354
Cepa 113, 136
Comércio 31, 48, 52, 191, 324, 335, 343, 344, 356, 362, 364, 365, 366, 369, 372, 374, 375
Comprimento larval 141, 143
Concentração de amônia 115, 116
Cortes especiais 353, 359, 361
Cultivo 91, 95, 96, 97, 100, 101, 113, 114, 115, 118, 126, 128, 129, 134, 135, 136,
137, 138, 139, 140, 144, 151, 152, 153, 154, 155, 156, 157, 158, 159, 161, 162, 163,
165, 166, 167, 168, 169, 170, 172, 173, 174, 179, 181, 191, 194, 195, 210, 212, 216,
217, 218, 219, 220, 221, 222, 223, 237, 238, 239, 240, 241, 243, 246, 248, 249, 250,
253, 257, 258, 281, 354, 355, 363
D
Defeso 12, 13, 14, 16, 19, 20, 22, 31, 54, 74, 75, 76, 83, 90, 91, 372
Desenvolvimento 10, 14, 17, 18, 33, 35, 57, 58, 61, 69, 73, 75, 82, 89, 90, 96, 100, 101,
102, 105, 120, 122, 123, 124, 125, 127, 128, 129, 131, 133, 135, 141, 142, 144, 145, 146,
148, 149, 150, 151, 152, 153, 155, 161, 162, 163, 171, 178, 181, 185, 187, 188, 189, 190,
191, 192, 193, 194, 198, 199, 200, 202, 203, 205, 206, 208, 213, 217, 218, 222, 225, 226,
230, 237, 238, 246, 247, 248, 250, 255, 258, 264, 275, 276, 277, 279, 295, 303, 304, 312,
314, 315, 316, 322, 323, 325, 326, 331, 337, 351, 352, 355, 362, 373, 376
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Índice Remissivo
377
E
Economia 11, 12, 34, 47, 72, 81, 102, 193, 195, 211, 218, 354, 364, 365, 366, 373, 374
Encordoamento 151, 154
Estuário 1, 3, 4, 5, 21, 24, 28, 29, 33, 35, 37, 39, 40, 41, 42, 43, 44, 45, 71, 72, 78,
81, 82, 91, 132, 153, 163, 164, 178, 261, 262, 285, 335, 341, 375
F
Formulações 292, 295, 296, 297, 298, 299, 300, 322, 323, 326, 327, 328, 329, 330, 331
G
Grupos alimentares 229, 232
H
Histologia 126, 132, 277, 279, 282
I
Ictiofauna 45, 55, 58, 59, 60, 61, 64, 65, 67, 69, 225, 231, 232, 235, 266, 273
Índice de condição 126, 128, 129, 130, 131, 132
L
Larvicultura 136, 246, 248, 250, 251, 252, 253, 254, 255
Litoral 3, 6, 10, 13, 14, 15, 20, 21, 22, 24, 34, 43, 45, 46, 71, 72, 73, 83, 84, 85, 89,
90, 91, 92, 94, 96, 104, 105, 119, 121, 122, 123, 124, 153, 160, 164, 181, 257, 291
M
Manejo alimentar 237, 238, 239, 240, 242, 243, 253
Manguezais 3, 36, 72, 82, 127, 133, 151, 152, 153, 154, 156, 157, 158, 159, 162,
163, 164, 257
Meio de cultura 113, 215, 218, 219, 220, 221, 222
Microalga 111, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 134, 135, 136, 137, 138, 139, 140, 215,
216, 217, 218, 219, 223
Modelos biológicos 142
Morfometria 275, 281, 284, 286, 291
O
Otólitos 105, 233, 284, 285, 286, 287, 289, 290, 291
P
Pesca artesanal 3, 6, 24, 25, 28, 32, 33, 34, 35, 36, 43, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 52, 56, 57,
59, 71, 82, 83, 84, 85, 90, 103, 104, 119, 120, 123, 127, 164, 189, 226, 257, 334, 335, 341
Pescado 27, 29, 30, 31, 32, 47, 49, 51, 52, 53, 54, 55, 71, 73, 74, 75, 77, 78, 79, 80,
90, 93, 94, 97, 137, 140, 168, 179, 180, 185, 190, 238, 239, 249, 253, 291, 292, 293,
294, 300, 301, 302, 303, 304, 305, 306, 308, 309, 313, 314, 315, 316, 319, 323, 324,
325, 326, 327, 328, 329, 330, 332, 342, 343, 344, 345, 346, 347, 348, 350, 351, 352,
353, 355, 356, 359, 362, 364, 365, 366, 367, 368, 369, 370, 371, 372, 373, 374, 375
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Índice Remissivo
378
Pescadores 1, 4, 9, 10, 11, 19, 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 47, 48,
49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 59, 64, 67, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 81, 82, 83, 86, 87, 89,
90, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 100, 102, 104, 106, 108, 109, 127, 128, 180, 182,
184, 189, 200, 201, 206, 224, 226, 235, 249, 254, 273, 336, 337, 341
Piscicultura 101, 102, 112, 122, 135, 176, 179, 180, 182, 183, 184, 186, 187, 188,
189, 191, 192, 193, 194, 195, 196, 198, 199, 200, 201, 202, 203, 204, 205, 207, 208,
209, 210, 211, 212, 213, 214, 237, 239, 241, 245, 249, 254, 275, 276, 281, 365, 372,
373, 374, 376
Produção pesqueira 73, 81, 91, 103, 105, 106, 107, 109, 286
Produto 71, 79, 81, 135, 139, 204, 206, 208, 222, 292, 294, 300, 303, 304, 305, 306,
307, 308, 309, 311, 312, 314, 315, 316, 318, 319, 320, 321, 322, 325, 326, 344, 350,
353, 355, 358, 362, 365, 369, 372
Q
Quitina 334, 336, 337, 338, 339, 340, 341
R
Recria 166, 167, 168
Regiões brasileiras 177, 197
Reprodução 8, 12, 16, 22, 99, 108, 110, 128, 142, 143, 144, 145, 146, 148, 149, 150,
162, 167, 189, 208, 250, 251, 255
Reserva extrativista 1, 23
Reservatório 179, 181, 182, 184, 185, 188, 195, 198, 199, 201, 204, 205, 206, 207,
209, 210, 211, 213, 224, 226, 228, 229, 230, 231, 232, 233, 234, 235, 291
S
Sistema de produção 122, 176, 178, 179, 180, 184, 186, 196, 197, 200, 204, 206
Spirulina 111, 112, 113, 117, 118, 149, 215, 216, 217, 218, 219, 220, 221, 222, 223
T
Tanque-rede 143, 176, 178, 191, 195, 196, 197, 198, 210, 212, 245
Tanques de ferrocimento 166, 167, 168
Z
Zooplâncton 143, 248, 250, 251, 252, 253, 255
Aquicultura e Pesca Adversidades e Resultados 2
Índice Remissivo
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