Copyright O Pierluigi Piazzi, 2007
Copyright desta edição €> Editora Aleph, 2008
ILUSTRAÇÕES DE CAPA E M IOLO:
CAPA:
REVISÃO:
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EDITORAÇÃO:
EDITOR:
Durvaly O dilon Nicoletti
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Delfin
Luiza Franco
Henrique Minatogawa
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Piazzi, Pierluigi
Aprendendo inteligência : manual de instruções
do cérebro para alunos em geral / Pierluigi
Piazzi. - 2. ed. rev. - São Raulo: Aleph, 2008. —(Coleção
neuropedagogia; vol. 1)
ISBN 978-85-7657-060-8
1. Educação 2. Ensino 3. Inteligência
4. Neurologia 5. Pedagogia I. Título. II. Série.
08-07449
CDD-370.152
índices para catálogo sistemático:
1. Inteligência : A prim oram ento: Psicologia educacional 370.152
Sumário
N ota à nova ed ição
In tro d u ção
7
9
P a rte 1
A PROGRAMAÇÃO
DO SEU CÉREBRO
Por que estudar?
Quando estudar?
Quanto estudar?
Como estudar?
13
25
49
57
P a rte 2
ACELERANDO
OS NEURÔNIOS
Como se tornar mais inteligente 69
Os cinco passos
77
Umpouco de cibernética
125
Eagora uma provinha
133
A gradecim entos
R eferên cias
137
139
Nota ànotfa edição
As edições anteriores deste modesto livrinho se esgota
ram com uma velocidade imprevista, obrigando-me a dedicar
mais tempo à presente edição, em detrimento do cronograma do volume 2 (Estimulando Inteligência, dedicado aos pais
dos alunos) e do volume 3 (Ensinando Inteligência, dedicado
aos professores).
Apesar de Aprendendo Inteligência ter sido escrito ten
do em vista um leitor jovem, na fase estudantil, o livro tam
bém foi lido por uma grande quantidade de profissionais
preocupados em tornar a escola brasileira um fator importan
te, senão decisivo, na transformação de nossa sociedade.
Há uma grande diferença entre pessoas sérias que se de
dicam à pedagogia de forma eficaz e ética e pseudoprofissionais que só sabem exibir um "pedagogiquês" vazio, preocupa
dos apenas em manter um cômodo e mediocre status quo.
Muito me orgulha ter recebido o apoio dos profissionais
sérios. E muito me reconforta ter ouvido, por parte deles,
frases como "Professor, é exatamente assim que eu penso".
Pelo menos não estou sozinho!
A esses profissionais e aos pais, que tanto carinho têm
demonstrado pelo meu trabalho, prometo acelerar os tem
pos para dar o acabamento necessário aos outros dois volu
mes desta "trilogia".
Por enquanto, meu MUITO OBRIGADO.
Prof. Pier
Introdução
Ao longo do último meio século, tenho tentado fazer com
que as pessoas que me rodeiam, colegas, amigos, alunos,
filhos, fiquem cada vez mais inteligentes.
Por incrível que pareça... tenho conseguido!
Essa é a razão pela qual reduzi minhas atividades em sala
de aula (mas que nunca irei abandonar: morrerei com um
pedaço de giz na mão) e tenho me dedicado a percorrer es
colas fazendo palestras, de forma a, se não eliminar, pelo
menos reduzir os absurdos cometidos por alunos, famílias,
professores e pedagogas, quando o assunto é ESCOLA.
Algumas noções de neuropedagogia permitem fazer com
que as pessoas percebam os absurdos cometidos em 99%
das escolas brasileiras.
A receptividade tem sido excelente (com, é claro, algu
mas exceções), mas, em minha opinião, insuficiente.
No day after tudo parece mudar para melhor, mas, com o
correr do tempo, velhos vícios retornam e os absurdos vol
tam a ser cometidos.
Além disso, por mais que eu me predisponha a viajar, o
Brasil é imenso e o número de escolas que precisariam re
pensar suas certezas é gigantesco.
A solução é óbvia: escrever um livro para atingir um pú
blico maior. Na realidade são três: um para alunos, outro
para pais e outro para professores.
Este é o primeiro, porque resolvi começar pelo público
mais disposto a mudar: os alunos.
0 livro está dividido em duas partes: na primeira, o leitor
(você) poderá entender o que há de errado na maneira de
encarar a ESCOLA e como, de maneira até fácil e simples,
evitar os erros mais comuns.
Na segunda parte, há uma espécie de receita de como se
tornar mais inteligente.
Pode acreditar... funciona!
Um dos ingredientes da receita é o de obrigar o cérebro a
fazer "musculação mental", ou seja, se há uma forma fácil e
uma difícil, opte pela difícil. Para ser coerente, portanto,
coloquei as citações no começo de cada capítulo, em inglês,
só para ficar um pouco mais difícil1©.
Boa leitura!
1)
Não se preocupe, no rodapé coloquei uma versão em português!
Parte 1
A“PROGRAMAÇÃO”
* DESEU
CEREBRO
POR QUE
ESTUDAR?
Population, when unchecked,
increases in a geometrical ratio.
Subsistence increases only
in an aríthmeticat ratio.2
Thomas Robert Malthus
(1766-1834)
Explosão demográfica
Quando eu tinha uns nove anos, ainda no primário (hoje
Fundamental I), um professor propôs o seguinte problema:
- Dentro de uma garrafa, cheia de um líquido nutri
tivo, cai um micróbio. 0 micróbio se alimenta, cresce e
se divide em dois. Os dois se alimentam, crescem e, por
sua vez, se dividem dando origem a quatro micróbios.
Verificamos que o número de micróbios duplica de mi
nuto em minuto. Sabemos que o primeiro micróbio caiu
na garrafa à meia-noite e que a garrafa chegou a se
encher pela metade de micróbios em quatro horas, ou
seja, ela está pela metade às quatro horas da manhã. A
que horas ela estará totalmente cheia?
2)
População, quando não controlada, cresce em razão geométrica.
Recursos de subsistência crescem, apenas, em razão aritmética.
Etodos nós, trouxas, caímos na armadilha e respondemos
quase em coro: - Às oito horas.
Com muita paciência, o professor nos explicou que, se o
número de micróbios duplicava a cada minuto, em apenas
mais um minuto a garrafa, que já estava pela metade, iria se
encher completamente.
A resposta correta, portanto, seria: - Às quatro horas e
um minuto!
Nesse momento, senti a saudável sensação de ser um ver
dadeiro tonto (sensação essa que se repetiría freqüentemente ao longo de minha existência).
0 episódio, porém, teria sido completamente esquecido
se, muitos anos mais tarde, eu não tivesse lido um artigo
escrito por alguém que, com certeza, conhecia a história
dos micróbios.3
Em resumo, a história começava com a garrafa pela meta
de e um micróbio político fazendo um discurso pela "Rede
Ameba":
Minhas compatríotas e meus compatriotas!
Já faz muito tempo, quatro longas horas para ser exa
to, que nosso ancestral comum chegou nessa garrafa
deserta e, com corajoso espírito pioneiro, a coloni
zou.
Nossa estirpe orgulhosamente cresceu, apesar dos gri
tos de estúpidos ambientalistas que ficam bradando
contra o que eles denominam 'crescimento desordena
do' e 'dilapidação dos recursos naturais'.
3)
Por favor, se algum leitor identificar o autor da história a seguir,
me comunique, já que ele merece o crédito.
Será que eles não enxergam que, no decorrer de toda
nossa históría, só consumimos a metade do espaço e
dos recursos disponíveis?
Toda a outra metade está virgem e intocada para as
gerações seguintes! Além disso, para calar esses pessi
mistas, quero dar uma excelente notícia em prímeiro
pseudópodo
Nossa agência espacial enviou algumas sondas para ex
ploração no espaço extragarrafal e descobriu nas vizi
nhanças seis garrafas idênticas à nossa, completamente
desertas e cheias de líquido nutritivo, para as quais já
transferimos alguns corajosos colonos.
Portanto, se já consumimos o espaço e a comida de
apenas meia garrafa em toda a existência de nossa na
ção, as gerações futuras irão dispor de muitas e muitas
eras antes de começar e se preocupar, dando ouvidos a
esses chatos dos ambientalistas.
Se algum dia nossa garrafa ficar cheia, transferiremos
num instante as duas metades da população em duas
garrafas virgens.4
4)
Se fosse um político humano seria em primeira mão.
3 min.
E, sob aplausos entusiásticos, nos
so personagem desce do palanque,
sorrindo e acenando para a multidão,
6. . .
...três minutos depois, todos os
micróbios de todas as garrafas co
meçam a morrer de fome!
- Bonita história - você dirá. - Mas o que isso tem a ver
comigo?
Pois é, meu caro e jovem leitor, você já deve ter ouvido
algum(a) professor(a) de história dizendo que devemos es
tudar o passado para não cometermos os mesmos erros no
presente.
Acontece que há um erro que jamais foi cometido no pas
sado e que, pela primeira vez na história da humanidade,
está sendo cometido agora.
E não foi por falta de aviso.
Entre no Google e dê uma pesquisada sobre o tal de Malthus, citado no começo deste capítulo:
M ALTH U S
Há uns dois mil anos, alguém repetiu: - Crescei e multi
plicai-vos.
Acontece que, naquela época, toda a população mundial
girava em torno de 100 milhões de seres humanos.
Apenas 100 milhões!
Tente, por favor, imaginar: todos os nativos americanos,
todos os africanos, europeus, asiáticos, aborígenes austra
lianos, polinésios etc. somados, perfaziam um pouco mais
do que a metade da população do Brasil (que, com certeza,
não podemos dizer que esteja "abarrotado").
Se, para cada ser humano daquela época, houvesse uns
dez nos dias de hoje, supondo uma racional distribuição de
renda...
...viveriamos todos com conforto, com eletricidade, água
encanada, moradia, lazer, trabalho e alimentação. Não have
ría fome, miséria, doença e guerras. 0 conselho multiplicaivos, porém, foi levado a sério demais e, em vez de multipli
car por 10, multiplicamos por 70!
Pois é, meu caro e jovem leitor:
BEM-VINDO À EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA!
0 planeta Terra (nossa garrafa que já está quase total
mente cheia!) está se degradando acelerada mente: poluição
nos mares, buraco na camada de ozônio, guerras e terroris
mo, aquecimento global devido ao efeito estufa, fome, epi
demias e miséria generalizada (apenas 4% da humanidade
vive em razoável situação de conforto).
Eas coisas vão piorar! Duvida? Então ouça, a partir desse
alerta, os discursos dos políticos: todos eles falam em "cres
cimento"!
Agora entre no Google e digite:
L E M IN G U E
Leia o que vier e medite um pouco.
Depois de meditar, entre no site da WWF...
^^ ®
WWF
www.wwf.org.br
...e leia alguns relatórios muito esclarecedores!
Obem mais escasso
Todas as escolas, numa falta de originalidade até benéfi
ca, propõem trabalhos sobre o que é considerado o recurso
mais escasso do século XXI: água potável. Na realidade há
tanta água potável no século XXI quanto havia no XX. 0 que
há é excesso de pessoas querendo beber!
0 bem verdadeiramente mais escasso do século XXI não é
A humanidade está sendo imbecilizada cada vez mais.
Os jornalistas que insistem em publicar "pesquisas" que
rendo mostrar que as crianças e os jovens de hoje são mais
inteligentes que os do passado, apenas demonstram que é
nos meios de comunicação que o processo de degradação
intelectual está avançando mais rapidamente.
Meu caro e jovem leitor, o tema deste livro não é a res
peito de perfumarias como "busca da felicidade", "cidadania
responsável" ou "realização profissional".
Este livro não é um dos clássicos manuais de "auto-ajuda"
tão na moda atualmente. Este livro é um manual de...
...SOBREVIVÊNCIA!
Se você ler este livro até o fim, tentando entender e utiLizar os conceitos que nele são apresentados, talvez não en
contre o caminho correto para sua vida profissional, porém
uma coisa eu garanto: vai se tornar, com o passar dos anos,
Você irá entrar num mercado de trabalho em que há cada
vez mais gente e cada vez menos necessidade de mao-deobra.
No momento em que estou escrevendo estas linhas, de
cada três desempregados no Brasil, um apenas é um "de
sempregado" de verdade, ou seja, alguém que tinha um em
prego e o perdeu. Os outros dois são jovens, com diploma
universitário, que ainda não conseguiram nenhum trabalho
porque há máquinas que os substituem com vantagem.
Hoje um chip (transponder), colado no pára-brisa do au
tomóvel, por exemplo, e que funciona 24 horas por dia e
365,25 dias por ano, tira o emprego de quatro jovens que
poderíam se revezar numa cabine (hoje vazia) para dar o
troco no pedágio.
Nesse mundo maluco, que sua geração vai receber como
herança, meu caro e jovem leitor, somente irão sobreviver,
com um mínimo de qualidade de vida, os que conseguirem
penetrar no mercado de trabalho.
E o mercado de trabalho não quer mais diplomas e títu
los. 0 mercado de trabalho quer inteligência, cultura, criati
vidade.
Otítulo desse capítulo é "por que estudar?".
Pois é, se for para estudar como todo mundo estuda, a
resposta para a pergunta do título é "para nada!"
Insisto "por que estudar?"... "para nada!"
Eu sei que você está se perguntando: - Como é estudar
como todo mundo estuda?
Fácil: estudar para as provas, para tirar boas notas e pas
sar de ano. Passar de ano para tirar um diploma.
Ao descobrir que o diploma não é suficiente para arrumar
um bom emprego... conseguir mais diplomas! E, se possível,
fazer também a "onda" da moda chamada MBA.5
E, no fim disso tudo, descobrir que, com certeza, não vai
conseguir um bom emprego.
Mas... por quê?
Porque você usou todo seu tempo e toda sua energia na
direção errada.
Portanto, se alguém lhe der, caro e jovem leitor, o clássi
co conselho: estude mais para vencer na vida... não rlê ouvi
dos! Esse conselho é a maior furada!
Estudo não é questão de quantidade, t qutAuu dc quali
dade!
5)
Pronuncia-se "em-bi-ei": fica mais chique!
Portanto, o conselho correto não é estude mais, mas sim
estude melhor'. Estudando melhor, você irá se tornar cada
vez mais inteligente, mais criativo, mais culto. As boas no
tas e os diplomas serão uma consequência, e não uma fina
lidade.
Com isso, em vez de ser um "enviador" de centenas de
currículos, em vez de bater inutilmente na porta das empre
sas com seu suado "em-bi-ei" embaixo do braço, o mercado
de trabalho é que vai correr atrás de você.
Por quê?
Porque você tem uma coisa preciosa e rara: você tem IN
TELIGÊNCIA.
- Mas como, então, desenvolver minha inteligência? Como
estudar melhor?
Simples: comece a ler o próximo capitulo e aprenda a
usar o melhor computador do mundo: SEU CÉREBRO!
QUANDO
ESTUDAR?
The roots ofeducation
are bitter, but thefruit is sweet.6
Aristóteles
(384-322 a.C.)
RAM & HD d o c o m p u ta d o r
No Brasil, acontece um fenômeno estranhíssimo: o aluno
estuda como um louco para tirar boas notas e terminar, no
terceiro médio, o ciclo básico.
Assim, com um bom histórico escolar nas mãos, presta
um concurso vestibular em uma universidade pública e fra
cassa de forma vergonhosa!
Nesse momento, ele faz uma escolha: ou se contenta em
ingressar numa dessas faculdades particulares, a maioria das
quais se constitui num verdadeiro estelionato educacional,
ou se matricula num cursinho para tentar novamente entrar
em alguma universidade pública.
Depois de um ano, dois, três, ou até quatro anos de cur
sinho, acaba ingressando na tão almejada escola.
6)
As raízes da educação são amargas, mas seu fruto é doce.
Novamente se mata de estudar durante os quatro ou até
seis anos de estudo superiores e obtém um diploma as
sociado a um bom histórico escolar.
Nesse momento, todo feliz, ele vai prestar um exame de
ingresso em alguma carreira. Pode ser o exame da OAU (Or
dem dos Advogados do Brasil) para obter sua carteira de
advogado, pode ser o exame para obter uma vaga de resi
dente médico ou, talvez, um concurso para uma carreira na
magistratura ou em algum cargo técnico no serviço público.
Pode ser, ainda, um teste para ingressar em uma grande
empresa na qual poderá conseguir um excelente emprego.
E... mais uma vez, fracassa vergonhosamente!
Nesse momento, começa a perceber, tarde demais, algo
que você poderá perceber agora, sem precisar passar por
tantos sofrimentos e decepções.
Ele finalmente percebe que estudou muito, mas muito
mesmo...
...E SEMPRE NA HORA ERRADA!
Mas essa ainda não é a pior parte: além de descobrir que
sempre estudou no momento errado, descobre que isso ocor
reu porque foi induzido a cometer esse erro pela família e
pelas escolas que freqüentou, ou seja, ele é muito mais uma
vítima do que o culpado pelos fracassos.
Como começou essa tragédia?
Tente lembrar: até o 5o ou 6o ano (antigas 4" e 5n série
- mais uma dessas inexplicáveis mudanças de nome, mas
não de qualidade, impostas pelo Ministério da Educação)
você ainda era um ser humano! Em seguida, foi transforma
do num robozinho pela frase pronunciada por algum adulto:
- Filhinho(a) - aLguém disse agora é para valer! Agora
você vai ter de ir bem nas provas, tirar boas notas e passar de
ano.
E você, como bom filhinho (ou boa filhinha) se esforçou
para "ir bem nas provas, tirar boas notas e passar de ano".
E a família ficou feliz? Claro!
- Veja que filhinho(a) maravilhoso(a) eu tenho! Ele(a)
consegue "ir bem nas provas, tirar boas notas e passar de
ano"!
E a escola ficou feliz? Nossa!
- Veja que aluno(a) maravilhoso(a) eu tenho! Ele conse
gue "ir bem nas provas, tirar boas notas e passar de ano"!
Depois, incentivado por todo esse entusiasmo, a pobre
vítima continua se esforçando para "ir bem nas provas, tirar
boas notas e passar de ano"l
Faz isso do 5o para o 6o, do 6o para o 7o e assim por
diante até chegar ao 3o médio...
...e, nesse momento, bate de frente num paredão de con
creto chamado "vestibular" e, se tiver sorte, irá perceber
que durante pelo menos sete anos de sua vida estudou para
"ir bem nas provas, tirar boas notas e passar de ano", e nun
ca, nunca...
...N U N C A ESTUDOU PARA APRENDER!
- Mas como? - você perguntará. - Se alguém tirou boas
notas, isso não signijica que ele aprendeu?
Claro que não! Isso significa que ele se tornou, incentiva
do geralmente pela família e pela escola, um especialista em
tirar boa nota!
0 pior de tudo é que essa especialização, muitas vezes, é
obtida com o recurso da chamada "cola". Mas, se a escola for
séria, a cola não dura muito. Nas escolas sérias, o aluno que
cola pela primeira vez também estará colando pela última.
Portanto, excluído o recurso da cola, sobra uma porqunta: como conseguir tirar uma boa nota, sem aprender? A
resposta é simples:
ESTUDANDO EM CIMA DA HORA!
Todo mundo estuda o mais em cima da hora possível.
Alunos mais previdentes estudam no dia anterior. A maioria,
no mesmo dia. Muitos... minutos antes!
Mas por que estudar o mais em cima da hora possível?
Mais uma vez, a resposta é simples:
PARA NÃO DAR TEMPO DE ESQUECER!
0 esquema, portanto, consiste em estudar em cima da
hora, colocar as informações no cérebro de forma ubsmdamente instável, fazer a prova e, logo em seguida, esquecer
tudo!
Chegar em casa com uma boa nota e completai essa far
sa, essa verdadeira palhaçada, deixando a família leliz.
Mas qual será o motivo desse estranho compoilamento?
Para entender melhor, vamos imaginar um computador no
qual esteja rodando um editor de texto como esse, no qual
minha mulher está pacientemente digitando tudo o que es
creví a máo.7
7)
E não venha com sorrisinho de superioridade pensando "Coitado
desse senhor, ele é tão idoso que não sabe escrever num lompn
tador". Saiba que eu já estava programando compidadoies analó
gicos em 1961 e computadores digitais em 1967, provavelmente
Ao teclar, por exemplo, a letra E, maiuscula, o teclado
envia um código (no exemplo, o código 69 ou, em binário,
1000101) para uma memória de rascunho, chamada memó
ria RAM (Random Access Memory = Memória de Acesso Nãoseqüencial).
Memória RAM:
pequena e
provisória
(rascunho)
Essa memória é muito pequena e muito provisória. Se
faltar energia de repente, todo seu conteúdo será perdido!
Justamente para evitar tragédias desse tipo é que existe
o chamado no-break (sem parada) que, alimentado por uma
batería interna, mantém o fornecimento de energia até que
dê tempo para salvar.
SALVAR?
Pois é, "salvar" significa acionar uma rotina que copia o
antes de seus pais nascerem. Já escreví mais de uma dúzia de
livros de computação e lecionei durante muitos anos "Técnicas
Avançadas de Processamento de Dados". Aliás, graças a esse meu
profundo conhecimento de computação é que descobri que ES
CREVER e DIGITAR são coisas completamente diferentes. Se quiser
escrever, de forma mais lúcida, use caneta!
conteúdo da RAM, para o HD (Hard Disk - Disco Rígido),
uma memória magnética8 e, portanto, permanente.
Memória RAMt
p«quin« e
provlaórla
(rascunho)
Se o computador for desligado, o conteúdo da RAM se
perde, enquanto o do HD é mantido para uso posterior.
Além disso, a capacidade do HD é enorme, ou seja, cen
tenas ou até milhares de vezes maior que o da RAM.
RAM&HDde seu cérebro
Como você já deve ter notado, enquanto lodo mundo
sabe "salvar" no micro, quase ninguém sabe "salvai" uo cé
rebro!
0 que torna o sistema educacional brasileim lao ralas
trófico (é um dos piores do mundo!) é o f.ito da maíoiia das
escolas serem ineficientemente burocrati/adas, nao se pre
ocupam em ensinar seus alunos em realmente aprender,
8)
Não por muito tempo! Já estão fazendo HD em ISIADO SOI IDO!
ou seja, em armazenar o conhecimento de forma per
manente.
Para essas "escolas," basta que a pequena vítima retenha
as informações o tempo suficiente para tirar uma boa nota,
de maneira a deixar os clientes (família) felizes. São escolas
onde alguns alunos, no final do ano, não assistem mais às
aulas porque já "fecharam"!
Para evitar cair nessa armadilha, você deve ter cons
ciência de que, em seu cérebro, você tem os equivalentes a
uma memória RAMe a um HD. Se pudéssemos fazer a radio
grafia mental da cabeça de um aluno, veriamos, basicamen
te, duas estruturas.
No miolo temos o chamado sistema límbico, cheio de es
truturas complexas (tálamo, hipotálamo, amígdala etc.), nas
quais se destaca uma, denominada hipocampo, muito im
portante para a memória de CURTO PRAZO. Envolvendo esse
miolo, como se fosse a casca de uma árvore (em latim, cortex), temos a parte mais "nobre" do cérebro, fundamental na
memória de LONGO PRAZO.
Como você já deve ter percebido, o sistema límbico faz
um pouco o papel da memória RAM de um micro, enquanto
o córtex, entre outras funções, seria o equivalente a um
HD:
"Escrever" nessa RAM é muito fácil...
...mas "apagar" é mais fácil ainda! Você tem, nessa es
trutura, um rascunho relativamente pequeno (no qual ca
bem apenas algumas horas de informação).
Ela é muito, mas muito provisória. (As informações difi
cilmente sobrevivem a uma noite de sono!)
Se alguém lhe disser um número de telefone, por exem
plo, você é capaz de retê-lo por alguns minutos, o tempo em
que ele ainda estiver "ressoando" em sua mente.
Mas, se você não tomar alguma medida para que fique
gravado de forma permanente, no dia seguinte (ou até algu
mas horas depois) o número estará completamente esqueci
do!
Quando essa parte do cérebro está no controle (o que
costuma acontecer assim que você acorda), você passa a ter
um comportamento que, na melhor das hipóteses, podería
ser chamado de "abobado", pois esse rascunho abriga a fra
ção menos inteligente de sua mente.
Em compensação, no HD (córtex) cabe uma quantidade
gigantesca de dados. Se alguém estudasse como um louco
10 horas por dia, todos os dias de sua vida, esgotaria a ca
pacidade de processamento e armazenamento de seu córtex
em, aproximadamente, quatro séculos!
Para poder aproveitar todo esse potencial, porém, você
deve ser capaz de escrever em seu córtex, tarefa nem sempre
muito fácil.
Isso ocorre porque, no HD do cérebro, as informações são
retidas de forma bem diferente do que num computador.
Enquanto no computador a estrutura física (circuitos elé
tricos) fica inalterada e as informações alteram apenas a
estrutura lógica, no cérebro humano uma informação apenas
será retida de maneira permanente se as ligações entre os
neurônios forem alteradas.
Um neurônio, a célula nervosa característica rio réiebro,
tem uma estrutura peculiar: do corpo da célula nas* em rami
ficações (dendritos), cujos terminais podem se mondar aos
outros neurônios.
Uma espécie de cabo de comunicação (axónio), revestido
por uma capa de mielina, transmite, se devidamente estimu
lado, um pulso eletroquímico que vai enviar um sinal para os
dendritos de outro neurônio.
DENDRITOS.
NUCLÉO LO
M IELINA:
S INAP S E S'
OUTRO
NEURÔNIO
Um conjunto de centenas ou ate milhares de neurônios
forma uma rede neural:
Uma informação, portanto, apenas é transformada em
conhecimento se as redes neurais do córtex forem re-configuradas. Sinapses devem ser desfeitas, outras ativadas, dendritos morrem ou nascem, caminhos são refeitos. Portanto,
a estrutura física do cérebro deve ser alterada!
Em "informatiquês" diriamos que a informação, no com
putador, está no software, enquanto no cérebro humano ela
está no próprio hardware.
Escrever no córtex, portanto, implica tantas mudanças
físicas que é como se tentássemos trocar um pneu furado
com o carro em movimento!
Devido a essa dificuldade, só conseguimos escrever, sem
esforço, na RAM do cérebro.
Assim, praticamente todas as informações que absorve
mos durante o dia são colocadas (de forma instável, insisto)
no sistema límbico.
Nossa RAM, porém, além de volátil, é muito pequena.
Conseqüentemente, no fim do dia, o cérebro sente a ne
cessidade de "resetar".
Para isso, você sente sono e adormece.
Durante o sono, alternam-se períodos de sono profundo e
momentos de intensa atividade (que pode ser detectada
pelo eletroencefalógrafo, instrumento que mede a atividade
elétrica do cérebro).
É por isso que você sente sono. Sono não é a conseqüência de um corpo cansado. 0 sono é causado pela necessida
de de esvaziar a RAM.
É o cérebro pedindo: - Porfavor, pare o carro que preciso
trocar o pneu!
Se colocarmos eletrodos em sua cabeça na hora de ir dor
mir, e gravarmos em papel a atividade elétrica do cérebro,
verificaremos uma queda significativa dessa atividade na
passagem da vigília (acordado) para o sono profundo:
Depois de algum tempo, porém, a atividade elétrica volta
a se intensificar, apesar de você ainda estar dormindo*
Se você for acordado nessa fase, provavelmente irá se
queixar de ter tido um sonho interrompido.
Esse padrão irá se repetir durante toda a noite, alternan
do sono profundo e sonho.
Na analogia do automóvel, o sono profundo seria o "parar
o carro" e o sonho é o momento de "trocar o pneu", ou seja,
durante a fase do sonho é que é feita a "manutenção" de
seu cérebro. E, também durante essa fase, uma boa parte do
conteúdo da RAMé simplesmente jogada na lata do lixo:
Essas informações nunca mais serão recuperadas.
Se, porém, houve um preparo prévio durante o sono pro
fundo, uma pequena fração do conteúdo da RAM é enviada
para o córtex, re-configurando redes neurais e sendo, assim,
gravada de forma permanente.
É nesse momento que ocorre o "salvar"!
- Mas, - você podería perguntar - o que vai para o lixo e
o que vai ser salvo?
Pois é, esse é o grande problema!
A decisão do que vai para onde é tomada com base na
carga emocional, associada a cada fragmento de informa
ção e não à carga racional.
Explicando melhor: se você, ao receber aquela informa
ção durante o dia, o fez de maneira alegre, prazerosa ou até
muito triste, trágica, a emoção a ela associada fará com que,
durante o sonho noturno, ela seja gravada de forma perma
nente.
Entretanto, se a informação foi recebida com indiferença,
tédio, de maneira a não abalá-lo(a) nem positiva nem nega
tivamente, com certeza ela será descartada durante a noite.
Você já deve ter notado que algumas das coisas mais te
diosas que ocorrem durante seu dia são justamente suas au
las e por isso que são as primeiras a ir parar na lata do lixo!
Se seu professor de geografia, por exemplo, der uma ma
téria importantíssima e, no meio da aula, contar uma piada,
o que você vai lembrar da aula depois de algumas semanas?
Da piada!
Esse é o motivo pelo qual você é obrigado a estudar toda
a matéria o mais em cima da hora possível para ter alguma
chance de tirar uma nota razoável. 0 irônico é que toda
aquela matéria já esteve em seu cérebro e você, ingenua
mente, a deixou escapar durante a noite.
No fundo, a rotina da esmagadora maioria dos estudantes
brasileiros consiste em...
...assistir à aula de dia... apagar a aula à noite e...
...assistir à aula de dia... apagar a aula à noite e...
...assistir à aula de dia... apagar a aula à noite...!
Dia após dia. De repente... Prova!
Aí, o "esperto" corre nos apontamentos, para os livros e
carrega em sua RAMde forma desordenada e extremamente
provisória um amontoado de informações. Para se garantir
prepara uma cola9e...
...seja o que Deus quiser!
0 pior é que, agindo desse jeito, o "esperto" até conse
gue nota! 0 trágico é que, em seguida, ele esquece tudo!
Conta um antigo cardeal brasileiro, dom Helder Câmara,
que, ao passar por um grupo de alunos debruçados sobre
9)
Examinando colas preparadas por alunos, verifica-se que muitos
nem colas sabem preparar! Não sabem diferenciar o essencial do
acessório. Outros, então, chegam ao extremo de "xerocar" a cola
de um colega!
cadernos e livros no pátio da PUC de São Paulo (Pontifícia
Universidade Católica), foi interpelado por um dos estudan
tes que pediu:
- Eminência, por favor, reze por nós para que não esque
çamos de nada na hora da prova!
Sorrindo, dom Helder acenou que sim com a cabeça e, em
seguida, foi surpreendido pelo pedido de outro estudante:
- ...e reze para que a gente esqueça tudo depois da
prova!
Dessa forma, estude apenas e exclusivamente para tirar
nota numa prova e tente não abarrotar seu cótebro com in
formações que, em sua gigantesca ignorância, você conside
ra inúteis!
Depois, não venha se queixar de que não conseguiu em
prego, apesar de seu "EM-BI-EI"!
- Tá bom! Tá bom - já ouço você exclamar , você me
convenceu! Como faço, então, para não jogai as aulas de
hoje na lata do lixo?
Simples!
ESTUDE POUCO!
- Você está louco? - já ouço você gritar. - Estudar pouco?
Mas meu pai, minha mãe, meus professores dizem o tempo
todo que devo estudar mais!
Exatamente! Esse é um dos motivos pelo qual o sistema
educacional do Brasil é um dos piores do mundo!
Estudo não é questão de quantidade, mas de qualidade.
Você não deve estudar mais, deve estudar melhor.
A começar pelo titulo deste capítulo.
Quando?
A resposta é "pouco... mas todo dia"!
Assim, as aulas do dia devem ser estudadas no mesmo
dia, antes que se passe uma noite de sono!
Durante anos vi alunos fracassarem em seus estudos (e
em sua vida profissional) e vi alunos terem sucesso tanto
durante sua fase de estudante quanto depois, no ambiente
de trabalho.
Qual a diferença? Contrariamente ao que pensa a maioria
das pessoas, os que têm sucesso não são, necessariamente,
os mais inteligentes. Aliás, é bom adiantar que essa história
de que existem pessoas com um maior ou menor grau de
inteligência é besteira!
0 que há, na realidade, são pessoas que aprendem a usar
seu cérebro e outras que o utilizam mal.
- Mas - você dirá -, o que diferencia o vencedor do fracas
sado?
A resposta é complexa, pois são vários os fatores, mas se
nos limitarmos apenas à fase dos estudos, poderiamos ima
ginar o seguinte:
Existe o momento da aula...
...e o momento do exame:
aula:
0 vencedor é o que estuda pouco, pois é apenas o conteú
do de uma manhã (ou uma tarde) de aula que o seu cérebro
deve absorver.
Ao estudar antes da fase do sono, ele está avisando seu
cérebro de que aquele assunto foi alvo dt atenção; conseqiientemente, não deverá ser jogado na lata do lixo na hora
de limpar o sistema límbico.
0 fracassado, por sua vez, é o que estuda o mais perto
possível do exame:
0 lema do vencedor é:
AU LA ASSISTIDA HOJE É AU LA ESTUDADA...
HOJE!
Se você assistir à aula pela manhã, deverá estudar à tar
de. (E não num outro dia!)
Se você assistir à aula à tarde, deverá estudar à noite. (E
não na manhã seguinte!)
Se você assistir à aula à noite, deverá ir dormir uns 40
minutos mais tarde; mas, em qualquer caso, não durma an
tes de estudar as aulas daquele dia.
Se você estiver estudando em uma escola ou faculdade
que tenha um mínimo de seriedade, nenhuma aula será
dada sem que os alunos recebam uma orientação do que
estudar para poder fixar o essencial da aula. Essa "tarefa"
não é uma forma de sadismo para estragar suas horas de
folga. É, ao contrário, uma parte tão essencial do processo
que eu ousaria dizer que é tão ou até mais importante que
a própria aula!
momento da AULA
aluno INTELIGENTE
e stu d a o m ais p e rto
possív el da AULA
momento da PROVA
alu n o DESORIENTADO
estu d a o m ais p erto
possív el da PROVA
Se você criar esse hábito (estudar pouco, mas TODO DIA),
irá verificar, em pouco tempo, que o que você estudou não
fica retido apenas o tempo suficiente para, mal e porcamen
te10, descarregar num papel na hora da pro
va.
Você vai perceber que as informações e as
habilidades que adquiriu estudando nesse
ritmo irão ficar em sua mente PARA 0 RESTO
DAVIDA!
Agora imagine, por exemplo, que você
queira, daqui a três anos, tornar-se governa
dor da Califórnia.
Para se preparar para esse ob
jetivo, você entra numa academia
de musculação. Seu treinador o
informa que, para adquirir um fí
sico como o do Mister Schwarzenegger, terá de fazer mil horas de
musculação. Entretanto, o fisiote
rapeuta o alerta de que seu corpo
só irá aguentar 1 hora de muscu-
É claro que se trata de algo para daqui a uns três anos.
0 que uma pessoa inteligente e determinada faria? Come
çaria hoje para estar pronta daqui a três anos!
0 que um idiota faria?
0 idiota esperaria mais de dois anos sem fazer nada e, nos
10) Essa expressão, a rigor, é "mal e parcamente", ou seja, mal e de
forma insuficiente. Agradeço aos leitores das edições anteriores,
que me alertaram, mas, na realidade, o porcamente (de "porco",
"porcalhão") foi intencional.
últimos cem dias, tentaria fazer dez horas de musculação por
dia! Claro que isso acarreta num resultado desastroso.
Qual a diferença?
Um deles respeitou os limites de seu corpo e conseguiu o
resultado planejado. 0 outro não quis nem saber de seus li
mites, apesar dos alertas.
Pois é, seu cérebro é um instrumento fantástico, capaz de
armazenar uma quantidade imensa de informações, capaz de
adquirir as habilidades que você desejar, capa/ de se tornar
cada vez mais inteligente, MAS...
...U M POUCO DE CADA VEZ!
Repito: Aula assistida hoje é aula estudada... hoje!
HOJE, ou seja, antes que se nas' uuc. nunr de .miu, ou
antes que se passe um longo período de '.ono.
Quero deixar isso bem claro, pois se vor e e uma daquelas
pessoas que assiste à aula pela rnanlta, almoça, e dá um
cochilo de 15 ou 20 minutos, não lenho nada contia!
Agora, se você for uma daquelas pessoas que tem o pés
simo hábito de dormir uma, duas, ou até mais limas à tar
de... esqueça o estudo depois! As aulas já foram parar no
lixo!
Resumindo, então: estudar pouco, mas todo dia!
- Todo dia? - já ouço as lamúrias e os gritos de protesto.
Calma, a rigor não é todo dia. Existe um dia no qual você
nunca deve estudar!
- Quando? No sábado? No domingo?...
Não!
NUNCA NA VÉSPERA DA PROVA!
QUANTO
STUDAP?
It is possible to store the mind
with a millionfacts and still be entirely uneducated.11
A lec B o u rn e
Esta é a parte mais difícil. Se você entendeu que tem de
estudar todo dia, já sabe "quanto" estudar:
Pouco!
- Mas quanto é esse pouco? Dez minutos, uma hora, cinco
horas?
A resposta pode parecer estranha, mas é a que realmente
funciona:
Quanto?... Você vai descobrir. Ou seja, ao criar o hábito
de estudar todo dia, você irá perceber, ao se auto-avaliar
algumas semanas depois, que houve dias em que estudou
demais ("choveu no molhado") e outros nos quais estudou
de menos.
Em poucos dias ou, no máximo, em poucas semanas, você
vai encontrar o ritmo correto.
11) É possível abarrotar a mente com milhões de fatos e, mesmo as
sim, ser completamente iletrado.
Com certeza, porém, será pouco estudo quando compara
do com aquelas "rachações" de véspera de prova que alguns
costumam fazer.
No fundo, você deve se perguntar, ao encerrar um perío
do de estudo: - Daqui a alguns anos, quando meu filho tiver
uma dúvida nessa matéria, vou poder ajudã-lo ou vou passar
vergonha?
Porque, lembre-se, aprender é reter para sempre e não
para daqui a pouco.
Éclaro que, se num momento de insegurança, você pegar
nos livros na véspera da prova, sentirá a enorme diferença
entre "rachar" e "revisar".
Agora, dois cuidados importantes devem ser tomados.
As armadilhas
Em primeiro lugar, lembre-se de que todos nê: temos a
tendência de nos dedicarmos mais àquilo que mai5 gostamos
e no qual nos sentimos cada vez mais seguros.
No entanto, temos a tendência de deixar de lado justa
mente aquilo em que temos mais dificuldade.
Conseqüentemente, se não tomarmos cuidado, teremos a
tendência de nos tornarmos cada vez melhores naquilo em
que já somos bons e cada vez piores naquilo em que já te
mos deficiências.
0 dia em que você ouvir frases do tipo:
- Eu não preciso saber matemática: eu sou da área de
humanas!
Ou então:
- Odeio ler literatura, mas não me preocupo com isso, e
nem preciso disso, afinal sou de exatas!
Saiba que você está lidando com pobres coitados que
caíram nessa armadilha.
Q u an tos roundsí?
Em segundo lugar, é bom saber que as células do cérebro,
encarregadas de formar os circuitos que permitem reter co
nhecimento, são os neurônios.
Um neurônio, no fundo, é um fantástico dispositivo eletro-químico que funciona como uma chave que permite, de
pendendo de determinadas condições, a passagem de um
pulso elétrico para outros neurônios, abrindo ou fechando
circuitos.
Ele recebe informações através dos dendritos e, depen
dendo da intensidade com a qual elas chegam, dispara um
pulso elétrico, através do axônio, para ativar os dendritos de
um outro neurônio por meio de ligações denominadas sinapses.
No neurônio há algumas substâncias químicas essenciais
ao seu funcionamento que, em caso de utilização intensa,
podem se esgotar em 30 ou 40 minutos.
Para que possa continuar desempenhando seu papel no
cérebro, é necessário que tenha tempo para se recompor, ou
seja, se reabastecendo daquelas substâncias, cuja falta o
haviam tornado ineficiente.
Essa ineficiência pode ser percebida por um fenômeno
muito freqüente: você já está estudando há um bom tempinho e, de repente, começa a ler um texto qualquer.
Sem que você perceba sua atenção é desviada para outra
linha de pensamento, mas, paradoxalmente, você continua
lendo!
Mas, ao chegar ao final do texto, você o olha perplexo e
se pergunta: - Céus, o que eu li?!
Éque, antes da leitura, já estava na hora de um pequeno
descanso.
- Mas - você pergunta - quanto tempo devo descansar?
Bem, você poderia começar com meia hora de estudo e
uns dez minutos de intervalo.
Na meia hora de estudo se concentrar ao máximo, fazen
do a tarefa e não se livrando dela!
Nos dez minutos de intervalo, entre uma meia hora e a
seguinte, o ideal é uma atividade física como, por exemplo,
um alongamento ou uma curta caminhada ou, quem sabe,
um pouco de ginástica ou ainda tocar algum instrumento
musical.
Porém, em hipótese alguma, utilize algum equipamento
que tenha tela!
Sim, sim, estou falando em televisão, videogame e
computador.
Nunca, nunca deixe essas três coisas interferirem em seus
estudos.
- Mas - já ouço perguntar - se eu precisar usar o compu
tador para uma pesquisa na internet?
Sobre isso, nós vamos ter uma conversa muito séria num
capítulo mais adiante!
0 ritmo correto, portanto, será:
Meia hora de estudo
Dez minutos de intervalo...
Meia hora de estudo...
Dez minutos de intervalo...
...e assim por diante.
Com o correr do tempo, após criar esse hábito, você po
derá fazer alguns ajustes.
Como cada pessoa tem um ritmo próprio, pode ser que
essa meia hora possa ser esticada para 40 ou até 50 minu
tos. (Mas não passe disso!)
Pode ser que o intervalo possa ser ampliado para uns 15
ou 20 minutos. (Mas, insisto, não passe disso!)
Tome consciência de que essa é a parte realmente impor
tante de sua vida escolar.
No Brasil, infelizmente, criou-se uma cultura estranha
que focaliza a aprendizagem na sala de aula.
Isso é um equívoco.
NA AU LA VOCÊ NÃO APRENDE...
NA AU LA VOCÊ ENTENDE
Você só consegue aprender de verdade quando estiver so
zinho!
Existe um velho ditado chinês que diz:
"Quando você vir um homem com fome, não lhe dê um
peixe... ensine-o a pescar!"
E é justamente nos momentos de isolamento, estudando
sozinho, sem nenhum professor por perto que possa lhe dar
um peixe... que você aprende a pescar!
Por incrível que possa parecer, é mais importante o tem
po que você passa estudando sozinho do que aquele que
você passa assistindo às aulas!
COMO
ESTUDAR?
Training is everything.
The peach was once a bitter
almond; cauliflower is nothing but
cabbage with a college education.12
Mark Twain
(1 8 3 5 -1 9 1 0 )
Ao longo de minha carreira como professor, já me defron
tei com muitos alunos que, mesmo tendo o hábito salutar de
estudar diariamente, apresentavam grandes dificuldades
para reter a matéria.
Por quê?
A razão é simples: eles sabiam quando e quanto estudar,
mas não sabiam como!
Vamos descobrir, agora, "como" estudar.13
Neste capítulo, vamos discutir o estudo pós-aula.
Como já vimos, ele deve ocorrer entre a aula e o sono
noturno.
12) Treinamento é tudo. 0 pêssego já foi uma amêndoa amarga; a
couve-flor nada mais é do que um repolho com nível universitá
rio.
13) Antes de mais nada, é importante fazer uma distinção: assistir à
aula é uma coisa, estudar é outra.
As distrações
Você deve estar em um local sossegado, confortável e
que permita concentração.
Por isso... nada de TVe rádio!
- Mas não posso estudar ouvindo música?
Pode, mas vamos entender algo muito importante com
relação ao funcionamento de seu cérebro: a transmissão de
um pulso elétrico, de um neurônio para outro, é absurda
mente mais vagarosa do que na fiação de um computador.
Conseqüentemente, para superar essa "lerdeza", o nosso
cérebro usa um truque que, em informática, é chamado de
"processamento paralelo".
Isso significa que várias partes do cérebro conseguem
realizar tarefas diferentes e ao mesmo tempo. Um ser hu
mano consegue guiar um automóvel, mascando chiclete, ou
vindo música no rádio e ainda conversando com o pas
sageiro.
Analisando com detalhes o cérebro de um ser humano
não-canhoto14vemos que cada uma das metades (denomina
das "hemisférios cerebrais") se especializou em realizar ta
refas especificas.
Imagine um crânio visto de cima: no hemisfério
esquerdo, temos os módulos cognitivos Lingüístico e o
Lógico-matemático; no direito localizam-se o Musical e o
Espacial:
14) Em alguns canhotos, a distribuição das funções pode ser um
pouco diferente.
1: L in g ü ístico
2: L ó g ico -m a tem ática
3: M usical
4 : Espacial
Como você já deve ter suspeitado, ao estudar as matérias
da escola você utiliza mais os módulos 1, 2 e 4.
Portanto, se estudar ouvindo música instrumental (sem
que alguém cante num idioma que você conheça), não ape
nas o módulo 3 não vai interferir com os outros, como até
ajudará a abafar outros ruídos do meio ambiente que pode
ríam atrapalhar sua concentração.
- Mas... e se eu quiser ouvir uma banda de rock que tenha
um vocalista?
Que seja rock húngaro, pois se o vocalista cantar num
idioma compreensível (húngaro é absolutamente incompre
ensível, a não ser para os próprios húngaros...e mesmo as
sim com ressalvas!), a letra da música irá interferir no mó
dulo 1, distraindo sua atenção daquilo que você possa estar
lendo ou escrevendo.
- Bem, até agora vi o que não é para fazer.
Mas, então, o que devo fazer?
Ovelho ditado chinês
Para saber o que fazer, basta Lembrar um antigo provérbio
chinês:
Se eu e s c u to ...
esq u e ço !
Se eu v e jo ...
e n te n d o !
Se eu FAÇO...
a p re n d o !
Todo segredo está aí!
Para estudar, é indispensável estudar fazendo.
Não adianta nada ficar olhando para um livro aberto de
forma passiva ou, quando muito, marcando com uma canetinha "amarelo-fosforescente" os trechos de um texto que
você tenha achado interessantes.
Nunca estude sem ter um lápis em atividade sobre um
pedaço de papel.
Se o objeto de estudo for um texto de história, por exem
plo, não se Limite a lê-lo ou, pior, em tentar decorá-lo.
Ao contrário, descubra quais os conceitos e fatos mais
importantes (aqueles que você marcaria com a canetinha
amarela) e escreva-os numa folha de papel.
0 próprio ato de escrever é que permite uma maior fixa
ção posterior durante a noite.
A rigor, o papel pode ser jogado no lixo em seguida, pois
o que importa não é o que está gravado nele, mas sim o que
foi gravado em sua mente. Se você não quiser ser ecologica
mente incorreto, pode substituir o lápis e papel por giz e
uma pequena lousa.
Importa o ato de escrever e não o que está escrito.
Se você estiver estudando na praia, escreva na areia.
A maré, ao subir, apagará o que está na areia, mas não o
que você gravou no cérebro no ato de escrever.
Agora, um cuidado! Como já vimos:
DIGITAR NÃO É ESCREVER!
Não adianta nada ficar fazendo resuminhos no editor de
texto! Eles ficarão gravados no HD do computador e não no
seu HD!
Você já se perguntou qual a matéria mais fácil de
aprender?
Pense um pouco...
...isso mesmo: matemática!
Se você não concorda com isso releia, por favor, a
pergunta. Não perguntei qual a matéria mais fácil de en
tender.
Aliás, em certos assuntos, matemática é até bem difícil
de ser entendida.
Mas, uma vez entendida, se torna fácil de ser aprendida!
Estudar matemática é fazer, fazer e fazer!
Por outro lado, há pessoas que acham que o estudo de
História é simples porque, durante as aulas, entendem tudo.
Depois se queixam de que não conseguem guardar o que
aprenderam.
Na realidade, não aprenderam, só entenderam.
Para realmente aprender História, não basta assistir à
aula e, depois, ler um capítulo do livro. É necessário ter lá
pis e papel e escrever as palavras-chave, os trechos mais
significativos.
Não há necessidade de se fazer um resumo completo, mas
é importante escrever, de forma até esquemática, os pontos
mais importantes.
Oautodidata
Mas vamos agora recordar um instante o velho ditado:
Se eu escuto,
esqueço!
Se eu vejo,
entendo!
Se eu FAÇO.
aprendo!
Agora, pense um pouco no que você faz (ou deveria fa
zer) nas horas de aula e nas horas de estudo.
Note que, durante as aulas, normalmente você ouve e vê
e pouco faz. Isso significa que, durante a aula, se muito,
você entende.
Depois, no momento do estudo, é que você tem a chance
de fazer.
Fazer por ocasião da resolução de problemas, fazer en
quanto estiver elaborando o resumo de um texto, fazer ao
escrever e desenhar.
Por isso, é no momento do estudo que você aprende, ou
seja, prepara as condições para que suas redes neurais, na
quela mesma noite, se re-configurem alterando fisicamente
a estrutura de seu cérebro.
Suponho que nesse momento você tenha percebido qual
o verdadeiro papel de um professor.
0 bom professor não dá aula para fazer o aluno aprender.
Ela dá aula para fazer o aluno entender a matéria e, principalmente, para fazê-lo gostar do que está sendo apresen
tado.
Na realidade, o único professor capaz de fazer um aluno
aprender... é o próprio aluno!
Lembre-se: ninguém aprende coisa alguma se não for au
todidata, ou seja, professor de si mesmo.
Quando, em conversa com mães de alunos, ouço frases do
tipo:
- Minha filha estuda de manhã e vai à escola aprender.
Eu costumo corrigir dizendo:
- A senhora acaba de cometer dois equívocos: sua filha
não estuda de manhã. Ela assiste às aulas pela manhã! Além
disso, ela não freqüenta as aulas para aprender! Ela as assis
te para entender.
No outro período é que a senhora podería dizer:
- Minha filha estuda à tarde e vai para casa aprender.
Repito: para aprender de verdade, só sendo autodidata!
Se você conseguir se transformar em autodidata, nunca
mais vai ter dificuldade com qualquer assunto.
- Qualquer assunto, hein? E matemática? Que não me
entra na cabeça de jeito nenhum!
Ora, se matemática não entra na sua cabeça é porque
você estudou de forma errada até hoje.
E a matemática é a matéria que mais sofre com a forma
errada com a qual todo mundo estuda. Vamos entender
isso.
Digamos, por exemplo, que eu esteja dando um curso de
história.
Faça de conta que isso signifique construir, na cabeça
dos alunos, um condomínio de casas.
Se a forma errada de estudar na véspera das provas fizer
uma das casas ruir (a do Egito Antigo, por exemplo), nada
impede de construir, no terreno ao lado, uma boa Revolução
Francesa.
No entanto, em um curso de matemática, também tenta
mos construir um condomínio. Porém, em matemática, o
condomínio é de apartamentos.
Se o 6o andar, da álgebra, por exemplo, não for construí
do, jamais conseguiremos levar adiante o 7o, o 8o etc.
Em matemática, as pessoas não têm dúvidas... têm
dívidas!
Sempre há algum ponto, no passado, em que a constru
ção parou.
- Quando parou?
Quando você deixou de estudar para aprender e começou
a estudar para tirar nota numa prova... o prédio parou!
0 pior erro que alguém pode cometer é desistir de apren
der o que quer que seja apenas porque encontrou alguma di
ficuldade. Matemática não consegue entrar em sua cabeça?
Procure ajuda de alguém, principalmente para descobrir
em que andar seu "prédio" parou, e retome as coisas a partir
desse ponto. Você verá que conceitos que pareciam grandes
mistérios se tornam até banais!
Portanto, agora que você entendeu:
1. POR QUE ESTUDAR;
2. QUANDO ESTUDAR;
3 . QUANTO ESTUDAR;
4 . COMO ESTUDAR;
já está de posse de uma das mais importantes ferramen
tas para se tornar cada vez mais inteligente.
- 0 quê? Tem mais? Só isso não é suficiente?
Claro que não! Vamos, na próxima parte deste livro, avan
çar um pouco mais, vendo outras ferramentas.
Parte 2
ACELERANDO^ OS
NEURONIOS
COMO SE
TORNAR MAIS
IHTELIGENTE?
The test of a first-rate intellingence is
the ability to hold two opposed ideas in
the mind at the same time, and still ratain the ability to function.ls
F. Scott Fitzgerald
(1896-1940)
Antes de discutir se é possível, e como se comportar para
conseguir um aumento no seu nível de inteligência, há uma
pergunta que deve ser formulada:
Oque é Inteligência?
Inteligência é uma qualidade de nosso cérebro um pouco
difícil de ser definida. Numa primeira tentativa de definição,
poderiamos defini-la como a "habilidade em descobrir re
gras", mesmo que elas estejam ocultas.
Vamos exemplificar para entender melhor.
Se alguém lhe fornecer a sequência:
1,3,5,7,9,...15
15) 0 teste para uma inteligência de primeira linha consiste na ha
bilidade de reter na mente duas idéias opostas e( mesmo assim,
conservar a habilidade de funcionar.
e perguntar o que colocar no lugar das reticências (...),
com certeza você responderá 11!
Agora, se alguém perguntar "Por que 11?", você pode dar
várias respostas:
1) A seqüênda é de números ímpares e o próximo ímpar,
depois do 9, é o 11.
2) Os números pulam de 2 em 2; portanto, o próximo é
9+2=11.
3) 0 n-ésimo número da seqüênda é dado pela expressão:
2 n -l
0 "9", por exemplo, é o 5o número da seqüênda; portan
to, como n=5, então:
2 n - l= 2 ( 5 ) - l= 9
As reticências estão no lugar do 6o, então: n=6. Portan
to:
2 n - l= 2 ( 6 ) - l= 1 2 - l= ll
...e assim por diante.
Note que a explicação do "porquê" depende de conherimento, enquanto o fato de responder 11 depende da inteli
gência.
Pode até acontecer que uma pessoa muito inteligente,
mas de baixo nível de conhecimento, responda corretamente
a uma série de perguntas do tipo exemplificado e que, ape
sar disso, não saiba dizer o porquê de suas respostas!
É claro que as situações a respeito das quais você deve
ser capaz de descobrir as regras não são, necessariamente,
seqüêndas numéricas.
Pode ser que você acabe descobrindo que, por exemplo,
não conversar durante a aula e prestar atenção no que o
professor está explicando, por incrível que pareça (!!), faz
com que você entenda melhor o assunto (incrível, não é ?!);
ou, talvez, depois de levar vários "foras", pode ser que aca
be descobrindo qual a melhor regra para arrumar um(a)
namorado(a).
Essa habilidade é o que costumamos chamar de inteligên
cia, virtude essa que, como estamos vendo, pode ter vários
aspectos.
Inteligências múltiplas
Na realidade, hoje em dia, fala-se muito em "inteligên
cias múltiplas" Chega-se, até, a enumerar sete. (E há fortes
suspeitas de que existam mais!)
"Inteligência", porém, é uma só, desenvolvida, harmo
niosamente, em todas as suas facetas, sejam elas quais e
quantas forem.
0 mais correto seria falar em "módulos cognitivos" e não
em "inteligências".
Se você está curioso em saber quais são as sete facetas
básicas da inteligência humana, vamos enumerá-las e des
crevê-las rapidamente.
Linguística
Éa que permite a recepção e
transmissão da "palavra", seja
ela falada, escrita ou até "gesti
culada," como é o caso dos si
nais utilizados pelos deficientes
auditivos.
Quem consegue, por exem
plo, entender o "internetiquês" está usando (muito mal, di
ga-se de passagem) seu módulo cognitivo lingiiístico.
Lógico-matemática
É a que permite estabelecer relações de causa e efeito,
possibilitando a manipu
lação, inclusive, de rela
ções numéricas, como a
que foi citada há pouco.
Muitos pensam que a
matemática é difícil. Na
realidade, o que complica
a vida das pessoas é a fal
ta de lógica.
Musical
É a faceta da inteligência
humana que faz com que se
jamos capazes não apenas
de produzir boa música, seja
tocando um instrumento ou
cantando, mas faz, princi
palmente, com que possa
mos ouvi-la, aprimorando
cada vez mais nosso gosto.
E lembre-se: talento se
aprende! Inclusive o talen
to musical!
Espacial
É a habilidade em se
orientar no espaço, ima
ginar objetos e saber re
lacionar uma planta ou
um mapa com o objeto
real nela representado.
Qualquer pessoa deve
saber, no mínimo, para
onde aponta o norte, em
qualquer momento e em
qualquer lugar. Se ela
não souber, é uma "des
norteada"!
Psicocinética
É a habilidade que permi
te dominar o próprio corpo e
seus movimentos. Você é ca
paz de escrever tanto com a
mão esquerda quanto com a
direita?
Você tem boa pontaria?
Sabe andar de bicicleta ou de
patins? Em quanto tempo
você é capaz de separar as
cartas pretas das vermelhas
de um baralho?
Você consegue fazer uma
mão girar no sentido horário
e a outra no anti-horário?
Interpessoal
É a faceta da inteligência
que permite seu relaciona
mento com outras pessoas.
Se você já ouviu ex
pressões como "liderança",
"carisma", "trabalho em
equipe" etc., saiba que elas
se referem justamente a esse
tipo de módulo cognitivo.
Intrapessoal
A famosa frase usada pelos filó
sofos gregos:
rvcoGi
Eearnóv
"conheça a si mesmo" refere-se
justamente a esse tipo de habilida
de.
Essa última faceta é, talvez, a mais importante, pois
quanto mais você se conhecer, mais vai poder se desenvol
ver.
Como você deve lembrar, já comentamos a armadilha na
qual caiu o(a) pobre coitado(a) que diz absurdos do tipo "eu
não gosto de matemática e nem preciso dela; eu sou da área
de humanas!"
Pois se trata de alguém que achou muito mais cômodo e
gratificante dedicar-se mais àquelas facetas de sua inteli
gência, nas quais encontrava mais facilidade, negligencian
do as que requeriam algum esforço.
Esse tipo de preguiça (sim, trata-se de preguiça mental e
não "falta de trabalho", "falta de vocação" ou outra descul
pa esfarrapada qualquer) produz pessoas com deficiências
mentais permanentes.16
Portanto... cuidado! Não caia nessa armadilha!
16) Não confunda, como muitas pessoas fazem, infelizmente, deficiên
cia mental (cérebro sadio e mente mal-estruturada) com defi
ciência neurológica (tecido cerebral com problema).
Conversei, uma vez, com uma pedagoga (cujo nome omi
tirei por compaixão) que teve um papel importante numa
das frequentes (e ineficientes) reestruturações que o Minis
tério de Educação (MEC) promove periodicamente.
Lá pelas tantas ela me sai com a seguinte pérola:
- Eu nunca consegui aprender matemática, física e quími
ca, e isso não me fez a menor falta, pois hoje, apesar disso,
sou uma mulher extremamente bem sucedida!
Além de admitir ser uma deficiente mental... tem orgulho
disso! E o pior é que a educação brasileira está na mão de
pessoas desse tipo!
Portanto, lembre-se: você deve desenvolver todas as fa
cetas de sua inteligência, sem deixar nada de lado. Por isso
é que o módulo intrapessoal, ou seja, a habilidade da autoanálise, talvez seja o mais importante, pois é o que desen
cadeia a melhoria dos outros.
Afinal, ao se auto-analisar, é que você pode tomar cons
ciência de suas falhas, onde se localiza sua deficiência. E,
conseqüentemente, poderá planejar as medidas necessárias
para diminuí-la.
Acho que, a essa altura, você já percebeu que se tornar
mais inteligente, no fundo, é se tornar menos burro!17
Agora, uma coisa que você deve colocar em sua cabeça
como a mais importante de todas:
SÓ DEPENDE DE VOCÊ!
17) Ignorante é o que não sabe... burro é o que não quer saber!
OS CINCO
Ajourney of a thousand miles
begins with a single step.18
Lao-tzu
(604 a.C. - 531 a.C.)
Vamos ver agora quais são os cinco passos que podem
torná-lo cada vez mais apto a sobreviver nesse maluco sécu
lo XXI.
Primeiro passo: ACREDITAR
- Acreditar? 0 que isso
significa? - você pergunta.
ACREDITAR que dizer,
em primeiro lugar, acre
ditar nas próprias falhas
mentais.
Em segundo Lugar, sig
nifica acreditar que seja
possível eliminá-las.
18)
Uma jornada de mil milhas começa com um único passo.
Acreditar que seu cérebro é o mais fantástico e poderoso
computador que existe na face da Terra.19
Acreditar que qualquer pessoa neurologicamente saudá
vel (ou até razoavelmente saudável) é capaz de desenvolver
qualquer tipo de habilidade e competência.
É claro que se você for daltônico, jamais conseguirá um
emprego na indústria da moda para decidir sobre cores que
combinam.
Existem algumas limitações intransponíveis.
As mais terríveis e nocivas, porém, são as que são autoimpostas ("jamais vou conseguir me orientar") ou as que
foram colocadas por um professor imbecil ("filho, vai fazer
engenharia, pois vocêjamais será capaz de escrever um texto
que preste" ou, então, "esqueça entrar para a vida artística,
você é muito desafinada").
19) Três pesquisadores, James Frye, Rajagopal Ananthanarayanan e Dharmendra S. Modha, do IBM Almaden Research Lab e da Universidade
de Nevada, para simular o funcionamento de meio cérebro de camundongo no supercomputador BlueGene L, tiveram de utilizar, para
tanto, mais de 4 mil microprocessadores de alta velocidade com
um quarto de gigabyte de memória cada um. Tudo isso para MEIO
CÉREBRO DE CAMUNDONGO. Imagine a que fantástica rede de compu
tadores equivale SEU cérebro!
Livre-se dessas horríveis etiquetas que você mesmo, ou
alguém, colocou em sua testa.
Lembre-se: você e seu cérebro são capazes de qualquer
coisa!
É só querer.
Por exemplo, quando comecei, há muitos anos, a dar aula
num curso pré-vestibular em Campinas (SP), os alunos me
pediram para, além de dar aula de física, lecionar outra dis
ciplina.
Para minha surpresa, a outra disciplina, muito importan
te para os vestibulares da época, não era nem química (além
de físico, sou químico industrial) nem matemática (todo fí
sico sabe quase tanta matemática quanto um matemático).
Nada disso! Eles queriam que eu os preparasse para o
exame de nível mental!
Esse exame media, justamente, o nível de inteligência do
candidato com questões como a que está a seguir:
Aceitei a tarefa e comecei a trabalhar nisso com alguns .
alunos.
Meus colegas me chamaram de lou
co!
- Imagine! - tive de escutar. - Um
burro sempre será um burro! Seus es
forços não vão dar em nada.
Pois deram! Consegui fazer alunos
adquirirem raciocínio cada vez mais
rápido, ágil e criativo!
Questões como esta...
...passaram a ser respondidas de maneira cada vez mais
rápida e correta! Aqueles alunos, posteriormente, se saíram
muito melhor que o esperado no exame de nível mental.
Apesar dessa experiência, que me convenceu de que era
possível, passei várias décadas sendo uma voz clamando no
deserto! Apenas recentemente, com o avanço do estudo em
neurociências, o mundo acadêmico começou a admitir a
possibilidade de aumentar e re-configurar a inteligência de
um ser humano.20
20) Pesquise a respeito do trabalho, entre outros, do psicólogo Anders
Ericsson, da Universidade da Flórida (EUA)
Portanto, acredite, é possível!
Aproveite para matar esta também:
Segundo passo:
EVITARBURRICE
Existem algumas coisas que, além de não
estimularem a inteligência, a embotam!
Veja as mais importantes.
Drogas:
Além das proibidas (maconha,
cocaína e companhia), você deve
evitar ao máximo as "permitidas"
(álcool e tabaco).
Além de reduzirem, de forma
mais ou menos intensa, a rapidez
e lucidez do raciocínio, elas produzem danos permanentes.
Isso significa não só que o funcionamento do cérebro é
seriamente afetado enquanto a pessoa está sob o efeito da
droga, mas também que a deficiência mental vai se transfor
mando numa deficiência neurológica irreversível!
Há um provérbio chinês que diz:
"Todo prazer vem associado a uma dor. 0 verdadeiro
prazer é aquele no qual a dor vem antes".
Pense um pouco.
Você se esforça e se sacrifica (dor antes) para corrigir al
gumas deficiências. Ao obter o que queria, você começa a
ter sucesso onde antes fracassava (prazer depois).
Agora vamos ver o oposto.
Você fuma maconha (prazer antes) e se torna um imbe
cil que só não baba no olho graças à lei da gravidade (dor
depois).
Captou a mensagem?
Televisão:
Na segunda metade do
século XX, um laboratório
farmacêutico alemão (Grünenthal) inventou um re
médio fantástico para evi
tar o enjôo que acomete
algumas mulheres no início
da gravidez. 0 remédio cumpriu o que tinha prometido: as
grávidas não sentiram enjôo. Passados alguns meses, porém,
descobriu-se uma coisa horrível! As crianças começaram a
nascer sem braços, sem pernas ou sem olhos!
Esse remédio chama-se Talidomida e, até hoje, existem
hospitais que abrigam as "vítimas da Talidomida".
Aquilo, que parecia ser um remédio fantástico, acabou se
revelando o pior dos pesadelos!
Pois bem: nessa mesma época, começou a se disseminar
um meio de comunicação fantástico: a televisão. Ela surgiu
para divertir, educar, informar, entreter e... imbecilizar, da
forma mais absoluta!
A televisão é a talidomida mental do século XX!
Observe que não estou falando do nível e do conteúdo da
programação. Estou falando da televisão em si, como instru
mento de comunicação. 0 mais instrutivo documentário do
canal educativo pode vir a ser tão imbecilizante quanto um
"teste de fidelidade" ou outra baixaria qualquer!
Eu sei que isso parece paradoxal, mas a explicação é sim
ples: esse efeito imbecilizante se deve, primordialmente, a
dois fatores.
Um é comportamental: como a televisão, infelizmente,
está o tempo todo ligada nos lares e nos locais públicos, as
pessoas se sentem no pleno direito de não prestar atenção
nela e até de conversar entre si enquanto alguém, na telinha, está se esforçando para captar sua atenção.
Instintivamente, esse comportamento acaba sendo ado
tado sempre, seja num cinema, num templo, numa conferên
cia ou numa aula. É muito comum ouvir pessoas conversan
do em uma sessão de cinema e falando alto!
Durante algumas palestras que realizei em escolas, por
exemplo, já me aconteceu, várias vezes, de ver um pai ou
uma mãe atendendo ao celular e conversando em voz alta
enquanto estou falando!
No meio de uma palestra para vários secretários munici
pais de educação, no sul do Brasil, bem no meio do ponto
mais importante de uma explicação, duas pedagogas come
çaram a bater papo em voz alta sobre assuntos particulares!
Já que podemos ser mal-educados com a televisão (pois
ela não se ofende), passamos a ser mal educados sempre.
Isso faz com que, por exemplo, minidondoquinhas fúteis
e estúpidas se permitam conversar e fofocar durante uma
aula como se estivessem no sofá de sua sala.
E nem sequer têm consciência de quão vulgar e imbecil é
esse seu comportamento. Isso faz com que as vidiotas pro
duzam interrupção da aula, já que o professor é obrigado a
chamar a atenção ou, pior ainda, se o professor também for
um vidiota que não se importa com o zunzunzum do ruído
de fundo, irá permitir a fútil fofoca, prejudicando o nível de
atenção dos outros alunos.
0 segundo fator é mental. A televisão substituiu a mais
útil, divertida, fantástica e maravilhosa forma de lazer:
leitura.
É muito mais fácil ligar a TV do que abrir um livro. Moral
da história: já foram criadas, pela TV, pelo menos três gera
ções com grandes porcentagens de analfabetos funcionais.21
Como todo analfabeto funcional é, por definição, alguém
com sérias deficiências em sua formação, acabamos de de
monstrar o efeito extremamente maléfico da TV.
Um exame mundial, realizado em 2003, demonstrou que
os estudantes brasileiros tinham, basicamente, um único
problema que justifica o catastrófico resultado obtido:
NÃO SABEM LER!
Existem outros, mas
acho que, por enquanto,
esses dois fatores são su
ficientemente preocupan
tes para que você pense
bem, antes de tocar na
quele botãozinho do con
trole remoto.
Games:
Existem alguns jogos que ro
dam no computador ou num
console de videogame que po
dem até estimular o desenvolvi
mento de algumas habilidades.
21) Um analfabeto funcional é alguém que consegue transformar le
tras em sons, mas não em idéias.
Por exemplo, você é o Teseu da mitologia grega e está
percorrendo o labirinto à procura do Minotauro.
Ao se sentir perdido, você tecla F1 (ajuda) e aparece uma
planta do labirinto indicando onde você está, para onde está
olhando, quais os pontos cardinais e onde está o monstro.
Nesse momento, você começa a melhorar sua inteligência
espacial.
Com certeza, depois de jogar várias vezes, poderá ler um
mapa rodoviário durante uma viagem com muito mais com
petência.
Além disso, sua cultura geral recebeu um pequeno acrés
cimo de mitologia grega que, se você tiver um milímetro de
curiosidade, irá levá-lo, por exemplo, até Ariadne, Dédalo,
Egeu e ícaro.
- Bom! Então posso jogar videogame à vontade!
Claro que não! 0 exemplo que dei é uma exceção e não
uma regra.
Aesmagadora maioria dos jogos consiste, porém, de com
petições malucas em que você arrisca tudo para ultrapassar
um adversário.
Bateu? Capotou? Tudo bem, no jogo você tem meia dúzia
de vidas.
Aí o desgraçado compra uma carteira de habilitação (isso
mesmo: compra!) e sai pelo mundo dirigindo como se, na
vida real, também tivesse chances adicionais de recomeçar o
jogo depois de morrer num acidente.
Além de colocar sua vida em risco (ou seja, correr "risco
de vida" e não "risco de morte," como dizem alguns vidiotas), ele se torna uma ameaça pública.
0 jogo também pode consistir numa missão de combate
com matanças desenfreadas numa orgia de violência incontida.
Resultado: na maioria das escolas, a frequência de brigas
entre alunos aumentou assustadoramente.
Não só o videogame estimula a agressividade, como a
moda que surgiu entre pais desorientados de colocar o filho
para treinar "artes marciais" com professores mal-preparados, contribui para esse ressurgir da pancadaria. Tudo isso
ajudado pelo cinema e pela TV.
Uma vez, numa danceteria localizada numa ilha do litoral
de São Paulo, surgiu uma briga por algum motivo banal, do
tipo "alguém mexeu com a minha namorada".
Resultado: um adolescente deu uma cadeirada na cabeça
de outro e o matou!
Na delegacia, ainda em estado de choque pelo horror de
ter se tornado um assassino, declarou:
- Mas nos filmes não é a cabeça que quebra! £ a cadeira!
Pois é: nos filmes!
Além de todos esses estímulos negativos, o game tem
outra característica extremamente nociva: como é jogado
durante horas, faz a vítima sair gradativamente do mundo
real, prendendo-a num mundo virtual com outras regras, ou
tros valores e até outras leis físicas.
Essa perda da sensação de realidade vai transformando a
vítima num "autista cibernético", cada vez mais fechado
num mundo interior.
E, ao contrário do verdadeiro autista, cuja mente está
encerrada num mundo interior próprio, com pouca comuni
cação com o mundo exterior, o "autista cibernético" precisa
da muleta mental do videogame.
Internet:
0 computador pessoal e as redes de comunicação que
acabaram se integrando numa grande rede mundial chamada
internet são algumas das coisas mais maravilhosas que já
surgiram no final do século passado.
Agora, temos um mundo maravilhoso de informações à
nossa disposição num piscar de olhos.
Toda medalha, porém, tem um reverso!
0 grande humorista brasileiro Millôr Fernandes, um dos
raros gênios deste país, certa vez escreveu:
"Toda vez que você projetar algo que possa ser usado até
por idiotas, provavelmente vai ser usado de maneira idiota".
Foi o que aconteceu com o computador pessoal e com a
internet.
No século passado, até a década de 60, os computadores
eram máquinas enormes, que custavam milhões de dólares.
No fim da década de 70, surgiram os primeiros microcom
putadores pessoais. Seus preços eram tão reduzidos que po
deríam ser adquiridos até por pessoas e não só por institui
ções.
Acontece que esses computadores, como foi o caso do
Sinclair, eram brinquedinhos fantásticos que, além de custar
pouquíssimo, obrigavam o usuário a pensar:
- Quer umjoguinho? Escreva o programa!
/ io INPUT "Qual seu nome?:
U$
* / 20 PRINT "Oi
U$
* / 30 REM
* / 40 INPUT "Quantas estrelas você quer?:
*
* / 50 S$ = ""
* / 60 FOR I = 1 TO N
* / 70 S$ = S$ +
* / 80 NEXT I
* / 90 PRINT S$
N
* / 100 REM
* / 110 INPUT "Quer mais estrelas?
fl$
* / 120 IF LEN(A$) = 0 THEN GOTO 110
* / 130 fl$ = LEFT$(fl$, 1)
* / 140 IF (fl$ = "S") OR (fl$ = "s") THEN GOTO 40
* / 150 PRINT "Tchau!";
* / 160 FOR I = 1 TO 200
* / 170 PRINT U$; "
* / 180 NEXT I
* / 190 PRINT
0 próprio fato de ser obrigado a programar para depois
poder brincar (Lembra? Dor antes, prazer depois!) estimula
va tanto a inteligência que hoje alguns dos melhores profis
sionais da área de informática confessam que pegaram gosto
pela coisa lendo, quando crianças, os livros que escrevi e
editei naquela época sobre esses "brinquedinhos".
Hoje, o usuário do micro é um ser passivo que não cria
coisa alguma e opta por um software (pronto) em vez de
outro (pronto) usando como argumento "esse é mais fácil de
usar"!
Antigamente, um professor ou um palestrante tinha de
preparar meticulosamente o que iria dizer e armazenar tudo
em sua mente.
Hoje?
Hoje ele monta um "Power Point" e vai apresentando o
conteúdo Lendo, como se a platéia fosse constituída de anal
fabetos que não sabem ler sozinhos (o que, em alguns ca
sos, infelizmente é verdade).
No fundo, se você pensar bem, ele está "colando"!
No entanto, com a chegada da internet, um mundo gi
gantesco de possibilidades se abriu.
Infinitas possibilidades de pesquisa, cruzamento de in
formações e troca de conhecimento passaram a estar ao al
cance de qualquer pessoa com um mínimo de inteligência e
curiosidade.
Eu disse: "...um mínimo de inteligência...": esse é o pro
blema!
Com toda essa sabedoria ao seu alcance, o que os idiotas
fazem? Instalam o ICQ ou MSN! Usando a internet para fofocar22 dessa forma idiota, passam, imediatamente, a ter três
sérios problemas.
Primeiro problema: acham que fazer uma pesquisa na
internet é copiar trabalhos elaborados por outros, sem se
dar sequer ao trabalho de lê-los completamente.
Control+C e Control+V resolvem rapidamente o problema
de entregar o trabalho no prazo.
Existem até sites que têm trabalhos prontos!
Você crê que o idiota que faz isso aprendeu alguma coisa?
Segundo problema: na tentativa de serem "diferentes",
nivelam-se no baixo nível da maioria. Está certo escrever
“vc" no lugar de "você" se estiver com pressa, mas escrever
"aki naum" no lugar de "aqui não" já demonstra um avança
do estado de debilidade mental!
Há pessoas que argumentam que essa forma distorcida de
escrever é uma "variante dialetal", ou seja, uma espécie de
22) "Grandes pessoas conversam sobre idéias, pessoas médias conver
sam sobre coisas, pessoas medíocres conversam sobre pessoas!"
(Eleanor Roosevelt /1884-1962)
gíria, de código entre companheiros de uma mesma tribo e
que, na hora de escrever corretamente, os "internetígrafos"
voltam à chamada "norma culta".
Mentira!
Os pobres idiotas já estão escrevendo "naum" em reda
ções de vestibular ou concursos públicos!
Além disso, é óbvio que, de tanto ler palavras grafadas de
forma errada, o coitado acaba achando que aquela é a forma
certa!
Repare um pouco nas estradas: é muito comum vermos
placas com uma tremenda crase indevida porque quem as
escreveu já viu tantas crases erradas que acaba achando que
o errado é o certo!
Dá vontade de parar, pegar um spray e corrigir como se
fosse uma prova!
Talvez,'se todos os professores do Brasil fizessem isso, a
propagação das crases seria controlada!
Terceiro problema: pesquisas sérias e recentes revelam
fatos assustadores: a internet e, em particular, o MSN (ou
similares), viciam tanto quanto drogas químicas.
Vemos, hoje, jovens se transformando em "autistas ciber
néticos" que passam horas em salas de bate-papo, em lan
houses, em webmaib, deixando de fazer esportes, deixando
de se relacionar socialmente com outras pessoas, deixando
de estudar, em resumo...
...D EIXAN D O DE VIVER!
Já vi, num cyber café, um jovem conversando com um
amigo sentado três computadores à sua esquerda, pelo
MSN!
Já me contaram casos arrepiantes, como os de uma mãe,
com rede wireless em sua casa, usando o MSN para chamar o
filho para jantar!
Nas empresas, podemos ver a triste cena de dezenas de
funcionários robotizados sentados à frente de seus termi
nais, conversando (conversando?) com seus colegas de tra
balho via intranet.
Resultado?
Prósperos negócios!
- Prósperos negócios? - você pergunta, perplexo.
Sim, prósperos negócios para os proprietários de clínicas
de desintoxicação da internet, instituições sérias e que rela
tam casos clínicos preocupantes. Jovens que, afastados do
modem, têm crises de abstinência como se fossem depen
dentes químicos.
Psiquiatras descobrem nos jovens que utilizam compulsivamente a internet para se comunicar um rebaixamento de
QI que é o dobro do causado pelo uso da maconha!23
E agora, o que me diz? Que tal "maneirar" um pouco?
Terceiro passo:
ESTUDARPOUCO
No fundo, toda a primeira parte deste livro foi dedicada
a este terceiro passo: criar o hábito de estudar pouco... mas
TODO DIA!
23) Leia algo sobre os trabalhos do Dr. Glenn Wilson, psiquiatra do
King' s College de Londres, e fique assustado.
Além disso, você deve ter consciência de que a escola é
útil, ou seja, o motivo pelo qual estão tentando ensinar algo
não é porque esse algo "cai na prova".
A frase mais catastrófica que um professor pode pronun
ciar é: - Preste atenção que isso cai na prova!
Você está na escola para aprender e não para tirar nota e
passar de ano.
Resumindo: você está na escola, ou freqüentando algum
curso, para se tornar cada vez mais inteligente e não para
obter um diploma.
Pense um pouco no exemplo a seguir...
Imagine um estudante universitário que cursa, DURANTE
CINCO ANOS, uma boa faculdade de direito.
Durante cinco longos anos, ele tem centenas de aulas,
centenas de provas, discussões, debates e, principalmente,
muitos e muitos textos para ler.
Terminados os cinco anos, ele recebe um diploma e se
forma bacharel em direito.
Como ele resolve ser advogado, se inscreve para prestar
exame na OAB, no qual é solicitada apenas uma pequena
fração de tudo aquilo que foi ensinado na faculdade.
Ele presta o exame e...
FRACASSA VERGONHOSAMENTE!
Era o esperado: no Brasil inteiro cerca de 80% dos candi
datos ao exame da OAB são reprovados!24
Mas qual a causa dessa vergonha?
24) No exame 126 da OAB paulista, apenas 7,6% dos candidatos foram
aprovados!
Equivocadamente, tanto as autoridades de ensino do Mi
nistério da Educação quanto os dirigentes da OAB culpam a
má qualidade das inúmeras faculdades de direito dissemina
das pelo país.
Não é essa, porém, a principal causa dessa situação.
Muitos dos reprovados são oriundos de faculdades tradi
cionais, consideradas verdadeiros exemplos de excelência.
0 verdadeiro responsável, no fundo, é o próprio aluno!
0 motivo?
Passou cinco anos se esforçando para tirar boas notas,
passar de ano e obter um diploma. Nunca, em momento al
gum, passou pela sua cabeça estudar para aprender.
E, como já vimos, estudar para aprender significa estudar
pouco, mas todo dia.
Para isso você deve se organizar, deve ter método.
Precisa de um local tranqüilo, sem barulhos que distraiam
sua atenção, sem televisão ligada e, principalmente, uma
agenda de horários a serem respeitados.
Assim fazendo, seu dia vai render muito mais, sobrando
tempo para o esporte e o lazer.
Lembre-se: durante a aula, você entende; quando está
sozinho com suas tarefas é que você aprende; após o estudo
solitário, ao dormir, é que você fixa.
- Mas - você dirá -, será que ninguém percebe isso? Será
que aquele estudante de direito não sabia que estava equivo
cado estudando daquela forma?
Infelizmente, quando a esmagadora maioria das pessoas
comete o mesmo equívoco, dificilmente ele será percebido. As
pessoas fazem as coisas por costume e, raramente, se questio-
n.tm sobre os feais motivos de seu comportamento.25
Uma vez, para dar um exemplo disso, peguei um táxi na
esquina da escola em que leciono e o motorista, um jovem
lapaz, que já havia me transportado antes, perguntou:
- Professor, na sua escola, à noite, existe um cursinho que
prepare para o exame da OAB?
Fiquei curioso e perguntei por que motivo ele estava à
procura desse tipo de cursinho.
- Sabe o que é, professor - respondeu o rapaz -, é que
meus colegas normalmente terminam o curso e fazem o cursi
nho no ano seguinte, podendo obter a carteira de advogado,
se passarem no exame, apenas um ano depois de formados.
Eu pretendo fazer o cursinhojunto com o último ano dafacul
dade. Assim, eu tenho chance de passar no exame logo que
me formar.
25) Anatole France já escreveu: "Se 50 mil pessoas repetirem a mesma
imbecilidade, nem por isso deixará de ser uma imbecilidade".
- Formar em quê? - perguntei, me fazendo de ingênuo.
- Ué! Em direito!
- E nesse curso de direito que você está fazendo - conti
nuei me fazendo ainda mais de ingênuo - você aprende recei
tas de culináría vegetariana?
- Claro que não, professor!
- Talvez você esteja aprendendo como calcular uma viga
de concreto para que ela agüente um determinado esforço
estrutural...
- Não, professor - responde o jovem, cada vez mais intri
gado.
- Bem, então o que você estuda nesse tal curso de direito
que você está fazendo?
- Direito, ora bolas!
- E no tal exame da OAB cai que matéria? - retruquei le
vantando a voz.
- Direito - disse ele baixinho, quase sussurando.
Aí eu completei:
- Será que você não percebeu que o curso de direito £ UM
CURSINHO PARA 0 EXAME DA OAB COM DURAÇÃO DE CINCO
ANOS?!
Não, não tinha percebido. E quase nenhum de seus cole
gas também.
A deformação mental do estudante brasileiro é tão disse
minada que dificilmente as pessoas percebem. Quando todo
mundo erra, errar se torna procedimento normal!
Por isso... CUIDADO!
Não caia nessa armadilha. Seu cérebro, seu maravilhoso
cérebro, é capaz de se tornar cada vez mais inteligente, de
senvolvendo cada vez mais habilidades e conhecimentos.
Porém, o processo é lento e nada no mundo pode acelerá-lo.
A dose de crescimento diário é muito pequena. Esse é o mo
tivo pelo qual devemos estudar pouco, mas sem perder um
dia sequer.
Deixar de estudar o pouco daquele dia o transforma em
um dia perdido na sua escalada para se tornar mais inteli
gente.
Quarto passo:
PROCURARDESAFIOS
Esse, por definição, é o mais di
fícil. Sabe por quê? Porque o quarto
passo consiste, justamente em...
enfrentar desafios!
Explicando melhor: o cérebro,
tanto quanto o corpo, precisa prati
car esporte.
Só que, no caso do cérebro, trata-se de uma ginástica
mental.
Isso significa que, toda vez que você puder optar entre
uma maneira fácil e uma maneira difícil, o que desenvolve a
inteligência é escolher a difícil.
Palavras cruzadas, quebra-cabeças, charadas, problemas
de matemática, livros policiais e de suspense etc. são instru
mentos que permitem uma boa "musculação mental".
Você, com certeza, já deve ter assistido a filmes que, em
sua propaganda, pediam: "não revele o final para seus ami
gos". Assistindo a um filme desses, sem saber o final, exis
tem dois tipos de espectadores.
Há os que assistem ao filme entretidos com o enredo e
que, no final, têm uma tremenda surpresa, o que já garante
um Oscar de melhor roteiro. Mas há, também, uma minoria
que passa o filme inteiro se perguntando "se eu fosse o rotei
rista, qual seria a surpresa que teria preparado para o final?"
Agora veja, por exemplo, o que é fazer "musculação men
tal". Uma vez, meu professor de matemática nos contou a
seguinte história:
Um professor de história chegou para o professor de
matemática e disse:
- Tenho três filhas. Qual a idade de cada uma?
- Faltam dados - respondeu o matemático.
No intuito de dar mais informações, o professor de his
tória completou:
- Multiplicando a idade das três, o resultado dá 36!
- Ainda faltam dados! - retrucou o matemático.
- Por coincidência, somando suas idades, o resultado é
igual ao número daquela casa - completou o pai das três
misteriosas filhas.
0 professor de matemática olhou na direção apontada,
sacudiu a cabeça e insistiu:
- Ainda faltam dados!
Então, num lance de inspiração, o professor de história
afirmou:
- A mais velha toca piano!
- Ah! Bom! Agora dá para resolver - disse com um
sorriso o matemático.
Meu professor encerrou a história, olhou para a classe e,
com um sorrisinho irônico, declarou: - Vocês têm até ama
nhã para descobrir a idade das três filhas.
É claro que deu para perceber, logo a seguir, a divisão da
turma em três categorias:
Primeira categoria: os eternos idiotas. Nem prestam
atenção na história e nem sentem a menor curiosidade em
saber como ela termina.
Normalmente, são pessoas fúteis, muito mais preocupa
das com a marca da roupa que usam ou em saber o que
aconteceu no último capítulo de uma novela da TV.
Segunda categoria: os preguiçosos. Estes partem logo
em busca de alguém que tenha resolvido o problema.
Em favor deles, porém, podemos dizer que, normalmente,
além de quererem saber a resposta, querem saber como se
chegou até ela.
Sem perceber, são salvos pela curiosidade e começam a
imitar algumas formas de raciocínio.
Essa curiosidade os coloca vários degraus acima dos idio
tas da primeira categoria, já que estes se preocupam apenas
em saber a resposta para entregá-la ao professor no dia se
guinte.
E, ainda por rima, se entreolham com ar de superiorida
de, apontando com enfado para o aluno que resolveu o pro
blema chamando-o de "nerd".
Terceira categoria: os "nerds". São os alunos inteligen
tes que, até sem querer, se tornam cada vez mais inteligen
tes.26
26) No próximo segmento, você irá descobrir o porquê.
Encaram o problema como um desafio, como um mistério
a ser desvendado. Se algum deles exclamar: "consegui!",
imediatamente o outro pede "então, não conta!" pois que
rem conseguir sozinhos.
Sentem um prazer enorme (prazer depois) ao resolver
um problema que exigiu esforço mental (dor antes).
É claro que os "nerds" são, infelizmente, uma minoria e,
como toda minoria, sofrem discriminações.
Ser "nerd", no Brasil, é ser a segunda espécie mais discri
minada entre adolescentes. A primeira é constituída pelos
negros e a terceira pelos homossexuais, o que mostra o
imenso grau de burrice e de mau caratismo de muitos jo
vens.
E adivinhe quem são os que mais discriminam?
BINGO!
Os da primeira categoria, os eternos idiotas.
Eternos idiotas que são os que mais consomem drogas,
financiando a compra da arma que poderá assassiná-los,
amanhã, num assalto.
Eternos idiotas que só usam o computador como terminal
para trocar fofocas via ICQ ou MSN, reduzindo seu QI pro
gressivamente!
Eternos idiotas que dão audiência às imbecilidades da TV
e sonham em frequentar uma escoLa que não os obrigue a
estudar e que tenha, no uniforme, uma gravata vermelha!
Eternos idiotas que alimentam uma das formas mais odio
sas com as quais um ser humano pode tratar outro ser huma
no: o chamado bullyingP
Pois é. Ao escrever este livro, o fiz na esperança de dar
um cutucão nos da segunda categoria (preguiçosos) para ver
se conseguem virar "nerds".
Minha experiência como professor mostra que isso é mais
que possível.
Minha outra esperança é a de dar um apoio aos "nerds"
(solidariedade de um "nerd" assumido para todos os outros
"nerds"), mostrando mais caminhos para serem trilhados e
incentivando-os a não ceder às pressões dos eternos idiotas.
Agora, com relação aos eternos idiotas, poucas esperanças
me restam, afinal, eles são, justamente, eternos!
- Mas como você sabe que eu não sou um eterno idiota?
- você poderia perguntar.
Fácil! Se você chegou até aqui, neste livro, certamente
não é. Um eterno idiota jamais conseguirá passar da página
10 !
E como se tornar um "nerd" saudável e bem-humorado?
0 ideal é fazer com que o mais difícil se torne, também,
o que dá maior prazer.
Vou exemplificar: o que dá mais prazer, assistir a um filme
muito bom no DVD lá de casa ou ir até a aula de inglês?27
27) Trata-se do comportamento que impõe apelidos degradantes, ex
clui pessoas de um grupo e tiraniza os mais fracos e tímidos.
Se você optou pelo DVD, você é uma pessoa normal, fez
uma boa escolha.
Outra pergunta.
Se você é fraquinho em inglês, o que cria maior dificulda
de: assistir com o áudio em inglês ou em português?
Se você escolheu assistir ao filme dublado, acaba de fazer
uma péssima escolha! Afinal, sempre procure, dentro do que
é mais gostoso, o que é mais difícil.
Mudou de idéia e resolveu configurar o DVD para áudio
em inglês e legendas em português?
Outra péssima escolha!
- Mas, afinal, o que você quer? - você deve estar se per
guntando.
Nada de especial, apenas quero que você assista ao filme
com trilha em inglês e legendas também em inglês!
- Mas, assim, eu não vou entender nada!
Vai, sim! Vai ser mais difícil, mas vai conseguir. Afinal,
quando você era bebê e começou a aprender português, na
parte de baixo das pessoas aparecia alguma legenda tradu
zindo para os "gu-gu, da-dá" que eram todo seu vocabulário
na época?
Assistir a um bom filme, gostoso, divertido, mas se im
pondo esse maior grau de dificuldade, irá trazer mais benefí
cios para seu inglês do que dezenas de aulas.
Para facilitar um pouco sua vida, posso fazer uma conces
são: leia antes o livro em português que conte a mesma
história para entender melhor o filme. Isso vai facilitar um
pouco, mas não é muito aconselhável porque também vai
eliminar um pouco de seu prazer no DVD. Afinal, o filme é
sempre muito pior que o livro.
Aliás, por falar em livros, cabe aqui uma pergunta: - 0
que é mais fácil e o que é mais difícil: ler 0 Senhor dos Anéis
ou assistir ao filme?
É claro que assistir ao filme é mais fácil!
Portanto, é lendo o livro que você se torna mais inteli
gente!
Por isso, vou dedicar um passo a parte para os livros.
Antes de terminar este passo, porém, duas observações:
1) "Nerd" não é "aluno estudioso", é "aluno inteligente"!
Não confunda. '•
2) Se quiser saber a idade das três filhas... descubra so
zinho!
There are three kinds of intelligence:
one kind understands thingsfor
itself the other appreciates what
others can understand, the third
understands neitherfor itself nor
through others. Thefirst is excellent,
the second good, and the third
useless.28
Niccoló Machiavelli
(1 4 6 9 -1 5 2 7 )
Quinto passo: LERMUITO
No fundo, o quinto passo é uma conseqüência do quarto
e consiste num único conselho: ler, ler e ler!
28) Existem três tipos de inteligência: um deles entende as coisas por si
mesmo, o outro aprecia o que os do primeiro tipo conseguem entender
Só obtém algo interessante da vida, da escola, do traba
lho, quem lê muito. E só lê muito quem lê por prazer!
0 grande problema é que as pessoas não sentem muito
prazer em ler, o que é causado por dois fatores: um deles é
a falta de habilidade de alguns professores que, na tentativa
de fazer o aluno ler, acabam causando o ódio pela leitura.
Como?
Obrigando o coitado a ler um livro que não foi escolhido
por ele. Ora, qualquer pessoa que lide com animais conhece
o velho ditado: "Você pode levar o cavalo até a água, mas
não pode obrigá-lo a beber". Se você quiser que o cavalo
beba, deve fazê-lo ficar com sede.
E, se você enfiar o focinho do cavalo no balde, ele não só
não vai beber como vai ser tomado por uma permanente
aversão pelo balde!29
0 outro fator da falta de prazer pela leitura é a pura e
simples preguiça mental (causada, principalmente, por falta
de exercício).
e o terceiro não entende, nem por si próprio, nem através dos outros.
0 primeiro tipo é excelente, o segundo é bom e o terceiro é inútil.
29) E se você levar um coice será mais que merecido!
Por exemplo, os eternos idiotas, já comentados no passo
anterior, têm cãibras nos miolos ao enfrentar a leitura de um
álbum de figurinhas!
Os preguiçosos são obrigados a escolher um livro, e sem
pre optam pelo "mais fino"
Os "nerds"já são leitores mais corajosos. Porém, às ve
zes, mal-orientados pela escola, partem para "leituras de
bom nível" quando deveríam optar pelas "mais divertidas" já
que...
LER É LAZER!
Não apenas lazer, como uma das maneiras mais diverti
das, mais gostosas e, estranhamente, mais úteis que um ser
humano tem de passar algumas horas.
Muita gente acha estranho o fato de que alguém possa se
divertir (e muito!) lendo um livro.
Já ouvi frases do tipo:
- Para que ler as Crônicas de Nárnia? Já assistí ao filme!
Em contrapartida, qualquer leitor, ou seja, qualquer pes
soa que tenha descoberto o prazer de ler dirá:
- Li o livro e assistí ao filme, mas... o livro é muito me
lhor!
É claro que o livro é melhor.
Ao ler o livro, você cria o seu próprio filme, muito mais
criativo do que podería ser o filme concebido por um produ
tor preocupado em agradar os "anti-nerds" para obter bilhe
teria.
Infelizmente, porém, a quantidade de pessoas capazes de
"montar seu próprio filme" é cada vez mais reduzida, porque
isso exige imaginação.
Muita imaginação!
Ouvir rádio e ler livros, por exemplo, exercita a ima
ginação.
Assistir à TV, no entanto, reduz a capacidade de imaginar,
pois a imagem já vem pronta.
0 hábito de colocar os filhos na frente de uma TVdesde a
mais tenra infância transformou boa parte das atuais crian
ças e adolescentes (e adultos, por que não?) em semi-anal
fabetos, desprovidos de imaginação.
Na realidade, a mente humana tem uma característica
muito interessante.
Todo mundo aceita que o ser humano "fala porque pen
sa". Na realidade, "o homem pensa porque fala".
Éo ato de falar, ou seja, é a capacidade de encadear sím
bolos para se comunicar que faz com que o ser humano seja
capaz de concatenar o raciocínio, o pensamento abstrato.
A palavra "falar" é colocada aqui no seu sentido mais
amplo, no sentido simbólico, tanto da transmissão quanto
da recepção dos sinais.
Dois surdos gesticulando um para o outro estão falando e
isso faz com que estejam raciocinando. Mas, para isso, os
dois devem conhecer o mesmo código.
Quando seu celular toca...
"bip, bip, bip"
"biiip, biiip"
"bip, bip, bip"
...está "falando" com você.
Se você não conhece o có
digo, vai simplesmente perce
ber que o celular está tocando,
mas não irá entender o que ele
quis dizer.
Porém, se você conhece um pouco do código Morse usado
em telégrafos, percebe que o primeiro e o último conjunto
de três toques curtos (bip, bip, bip) corresponde à letra S
(...)/ enquanto o conjunto do meio (biiip, biiip) de dois
toques longos corresponde à letra M(------).
Portanto, seu celular está insistentemente dizendo:
. . . ------- ... = S MS
. . . ------- ... = S MS
. . . -------... = S MS
Ou seja: "Short Message Service", que significa: "Serviço
de Mensagens Curtas".
Daí, você percebe a importância de conhecer o código.
As duas linguagens que você utiliza no seu estudo são a
matemática e o português.
Se você não conhecer o código da matemática, por exem
plo, não terá a menor idéia de como responder à pergunta:
4 1,5 = ?
Se você conhecer o código, porém, saberá que deverá
elevar 4 ao cubo:
4 x 4 x 4 = 64
e, depois, extrair a raiz quadrada do resultado:
a /6 4
= 8
ou seja:
4 1 ,5
=
4 3 /2
=\f^ =
8
Da mesma forma, 0 código de português permite decifrar
um texto sabendo que ele quis dizer.
0 fato de boa parte das crianças e dos jovens ter sido
criada na frente de uma TV, não descobrindo 0 prazer da
leitura, faz com que tenham uma dificuldade muito grande
para decifrar o código de seu próprio idioma.
Saber transformar Letras em sons não é suficiente para
dizer que o sujeito está alfabetizado de verdade.
Se, de repente, você vir a frase:
"CONSUETUDINIS MAGNA VIS EST "
será capaz de lê-la em voz alta.
Se alguém, conhecedor do idioma latim, ouvi-lo, vai en
tender tudo e vai ter a sensação de que você disse algo com
sentido.
Na realidade, por não conhecer o código (no caso, o la
tim) você se limitou em transformar letras em sons, sem ter
a mais pálida idéia do que estava dizendo.
Dessa forma, em latim você é um analfabeto funcional.
0 grande problema é que toda uma geração de jovens
brasileiros, graças à falta de leitura de livros, se tornou uma
geração de analfabetos funcionais não em latim, mas no
próprio português!
0 hábito de ver TV, aliás, o péssimo hábito de ficar "gru
dado" na TVe afastado dos livros é que criou essa catástrofe.
Por sinal "consuetudinis magna vis e sf é uma frase de
Cícero que significa "grande é a força do hábito"!
Como consequência desse analfabetismo funcional, os
alunos que recebo no curso pré-vestibular apresentam qua
tro problemas básicos:
Primeiro problema: Falta de vocabulário - Basta apa
recer um texto com coisas do tipo "claudicante", "ineren
te", "insípido", "inócuo" etc., ou seja, palavras que jamais
frequentam os bate-papos da internet, para que o texto se
torne imediatamente misterioso. Falta de código! Está ocor
rendo um verdadeiro "verbicídio"\
Como enriquecer o vocabulário, ressuscitando palavras
indispensáveis ao raciocínio?
Não precisa decorar o dicionário, basta ler muito. Ao sur
gir uma "palavra difícil" no texto, muitas vezes seu signifi
cado acaba se evidenciando sem que haja necessidade de
recorrer ao "pai dos burros".
É claro que, de vez em quando, uma olhadinha no dicio
nário não vai produzir uma hérnia mental em ninguém! Essa
olhadinha pode evitar pérolas do tipo:
"Apóstrofo é um dos doze amiguinhos de Jesus";
ou então:
"Glândula é um menino que fica atrás do gol para pegar
bolas perdidas".
Lembre-se, quanto mais rico for seu vocabulário, mais
"ferramentas" você terá na oficina de seu cérebro.
Segundo problema: Interpretação de texto - Os alunos
que passaram sua infância e ou adolescência à frente de
uma TV, de um vídeo game ou num bate-papo na internet,
têm imensa dificuldade em extrair informações de um texto,
mesmo que ele não contenha as tais "palavras difíceis".
0 aluno aprende, por exemplo, química e não consegue
resolver um problema simples porque não consegue enten
der a diferença entre:
"...a pressão do gás foi reduzida de 20%..."
e
"...a pressão do gás foi reduzida a 20%.
Se você der uma figura e pedir para produzir um texto
que a descreva, muitos conseguem, mesmo com alguma di
ficuldade para articular as palavras.
Agora experimente o caminho inverso: dê um texto que
contenha a descrição e peça para esboçar a figura.
Catástrofe geral!
Por quê?
Porque, em frente a uma tela, seja ela de TV, game ou
internet, o cidadão está acostumado a receber as imagens
prontas, sem precisar fazer o menor esforço para criá-las.
Qual a solução?
Ler muito porque quem lê cria a habilidade de criar ima
gens a partir de um texto, imagens infinitamente melhores e
mais fascinantes do que as criadas por outra pessoa. (Lem
bra? 0 livro é sempre muuuito melhor que o filme!)
0 próprio Einstein (1879-1955) dizia: "A imaginação é
muito mais importante que o conhecimento"!
Terceiro problema: Produção de texto - A dificuldade
em elaborar uma redação é uma doença crônica na geração
atual de jovens.
Enão apenas uma redação: até para formar uma pergunta
muitos têm dificuldade. Por brincadeira, proibi, uma vez,
falar a expressão "tipo assim" no começo de uma pergunta.
Muitos alunos chegaram a gaguejar ou até a ficar totalmente bloqueados.30
As redações, que deveriam ter começo, meio e fim, são
totalmente desarticuladas e inconcludentes.
E note que não estou falando de erros ortográficos: estou
discutindo o próprio conteúdo e a maneira segundo a qual
ele foi articulado.
A razão dessa catástrofe é óbvia: imagine que você colo
que uma moeda na caneca de um pedinte que tem uma ta
buleta com os dizeres "surdo-mudo". Ao receber a moeda,
ele agradece emitindo sons desarticulados "ahn...ahn...
ahn".
30) Um pesquisador japonês descobriu que o fato dos jovens ficarem
"plugados" num MP3 player o tempo todo produz uma dificuldade
séria para a articulação coerente da fala.
Éclaro que se trata de um surdo que não é mudo. Tornouse mudo, pois, ao ser criado sem canal de entrada (e por não
ter condições de ser tratado por uma fonoaudióloga), aca
bou não conseguindo elaborar um canal de saída.
A mudez foi provocada pela surdez!
Sendo assim, quem não lê não treina o canal de entrada;
conseqüentemente, tem péssimos resultados ao tentar utili
zar o canal de saída quando escreve ou fala.
Só escreve bem quem lê bem e só lê bem quem lê mui
to e só lê muito quem lê por prazer.
Quarto problema: Lentidão - Se você ficar na porta de
saída de um exame ouvindo as queixas dos que acabaram de
prestar um concurso, raramente ouvirá a queixa: "A prova foi
difícil!" e o que mais se ouve é: "Até que a prova foi fácil,
mas... não deu tempo!"
É claro que não deu. 0 cidadão é um semi-analfabeto
funcional que é obrigado a ler e reler várias vezes o mesmo
texto para ver se entende alguma coisa.
Por que essa lentidão?
Acho que você mesmo já encontrou a resposta.
Isso mesmo! Falta de hábito de leitura.
Quanto mais você lê, mais seu cérebro cria habilidades
para entender o código (mais vocabulário, mais interpreta
ção, mais raciocínio... mais inteligência!); portanto, mais
rapidez na leitura.
E, quanto mais rapidez, mais você consegue ler.
E, quanto mais você lê... mais rápido fica.
Entendeu a bola de neve?
Entendeu por que todo teste de Q.I., de nível mental, de
inteligência é cronometrado?
Testes como aqueles a que você será submetido quando
for procurar emprego.
Nos concursos públicos (incluindo os vestibulares) o tem
po sempre será intencionalmente curto.
A finalidade de um concurso honesto é selecionar os me
lhores e esses sempre são os mais rápidos!
- Como irei conseguir, então, desenvolver essa rapidez? você perguntará nessa altura do campeonato.
Trata-se, é claro, de uma pergunta retórica (isso, vá cor
rendo para o dicionário para ver o que é "retórica").
Você já sabe a resposta!
- Mas, como você mesmo disse, só lê muito quem lê por
prazer e eu não sinto o menor prazer em ler. Este livro, por
exemplo, só o estou lendo porque a escola mandou!
Para descobrir o prazer de ler, você deve tomar duas ati
tudes básicas.
Em primeiro lugar, reduzir (não eliminar... reduzir) o
tempo que você passa em frente a uma telinha (TV, game,
computador). Se você não fizer isso, não se sentirá compeli
do a buscar uma forma alternativa de diversão e nem terá
tempo para isso.
Em segundo Lugar, começar uma busca que, se você tiver
sorte, poderá ser até muito curta.
Como você sabe, foram escritos milhões de livros nesse
mundo. Com certeza absoluta, muitos deles foram escritos
para você. 0 truque consiste em descobrir o primeiro deles.
Ao descobri-lo, você descobrirá, ao mesmo tempo, que um
livro pode ser divertido, fascinante e muito, muito agradá
vel.
- Mas... como descobrir o primeiro?
Simples! Pegue um livro qualquer que conte uma história,
seja ela de ficção ou não.
Não pegue, obviamente, um livro técnico (manual de ins
truções de bombas hidráulicas) ou de referência (dicionário
de termos filosóficos).
Nada disso!
Pegue um romance sem preconceitos do tipo "o autor
deve ser brasileiro!" Insisto, existem excelentes contadores
de histórias e todo mundo adora ouvir histórias. 0 problema
é descobrir que tipo de história vai encantar você!
Comece a ler um romance qualquer.
Está chato? Pare!
- Parar? Mas não devo lê-lo até o fim?
Claro que não! Sua tarefa não é ler um livro (quem tem
essa mania são as escolas). Sua tarefa é descobrir o seu li
vro. Se ele está chato, não é seu livro.
Comece a ler outro. Está chato? Pare!
- Outra vez?
Sim, outra vez e tantas quantas forem necessárias.
Para entender por que você não deve desistir, leia a his
tória a seguir:
Imagine que você esteja viajando de ônibus por Mato
Grosso do Sul e que ele faça uma parada, digamos, na rodo
viária de uma simpática cidadezinha chamada Maracaju.31
Você desce para esticar as pernas e vê que o segurança é
careca.
Vai ao sanitário e o faxineiro que cuida da limpeza é ca
reca.
Vai tomar café e é atendido por uma moça muito bonita.
Ao pagar, você verifica que o caixa é careca.
Vai comprar uma revista e a moça que o atende é muito
bonita.
Aí você sobe no ônibus e, ao olhar pela janela, vê passar
um careca.
31)
Eu já estive lá e a cidade é, realmente, muito simpática.
Ao voltar para sua cidade você pode afirmar "olha, fui a
uma cidade estranha: todas as moças são bonitas e todos os
homens são carecas"?
Claro que não. Generalizações apressadas são um perigo.
Da mesma forma, se você repetir o
"ESTÁ CHATO? PARE!"
uma meia dúzia de vezes, pode vir a ter a falsa sensação
de que todos os livros são chatos.
Nada disso! Não desista!
Vale a pena insistir. Sem dúvida haverá um que vai, final
mente, fasciná-lo! Vai contar uma história tão interessante
que você não vai conseguir desgrudar do livro.
Nunca vou esquecer uma tarde de verão na praia (eu ti
nha uns 10 anos e ainda morava na Itália) quando meu pri
mo fechou com um estalo o grosso livro que estava lendo e
exclamou "pena que acabou".
Eu levantei a cabeça da minha pista de areia, onde esta
va se realizando uma corrida de bolas de gude, e perguntei:
"É bom?"
Meu primo esticou a mão e me entregou o pesado volume
dizendo "teste você mesmo".
À noite, quando fui deitar, peguei no pesado livro e olhei
o título: II Conte di Montecrísto (0 Conde de Montecristo).
Comecei a ler.
Minha leitura foi subitamente interrompida por uma luz
muito forte.
Era o Sol nascendo! Eu tinha passado a noite inteira len
do sem parar!
Com certeza haverá um livro (não necessariamente do
Alexandre Dumas) que vai ter esse efeito em você.
Que seja Harry Potter; Assassinato no Oríent Express; 0
senhor dos anéis; Pássaros feridos; Eu, Robô; Sabrina; Neuromancer; sei lá, não interessa qual.
Com certeza existe! Éo seu livro!
Ache-o e você estará salvo!
- Mas um único livro vai produzir todo esse efeito?
Sim, mas não pelo livro em si, mas pela sua descoberta
do prazer de ler.
Em Piracicaba (cidade do estado de São Paulo onde há
muitas moças bonitas e muitos carecas, entre outras coisas)
há um ditado que diz: "Se abrir a porteira, não passa um
boi... passa a boiada"!
Uma vez descoberto o prazer da leitura, as coisas vão
andar sozinhas. Você vai ler cada vez mais, cada vez mais
rapidamente, interpretando cada vez melhor, adquirindo um
vocabulário cada vez mais rico, escrevendo cada vez melhor
UM POJJCO DE
CIBERNÉTICA
0 termo "cibernética" vem do grego Kyber que significa
"Leme", "direção de uma embarcação" Esse mesmo termo
deu origem à palavra "governo" que deveria justamente, sig
nificar "rumo", "direção a seguir".
A cibernética é, portanto, a arte (e ciência) de governar
máquinas, pessoas, sociedade, em suma, qualquer coisa, in
clusive a si mesmo. Uma das ferramentas básicas dessa ciên
cia é o mecanismo da retroalimentação.32
0 exemplo mais clássico de retroalimentação (muito usa
do nos livros de biologia) é o da bóia da caixa d'água. Na
caixa d'água há um cano do qual jorra água (CAUSA). Conseqüentemente, o nível da água na caixa sobe (EFEITO). Se
não houver "governo", a caixa fatalmente transbordará.
CAUSA ( água jorrando)
Para isso, usamos um mecanismo de retroalimentação, ou
seja, fazemos o efeito retroagir sobre a causa, colocando
uma bóia que comanda um registro na saída do cano.
32) Que muitos chamam defeedback, pois fica mais "chiquitoso".
Quando o efeito exagera (o nível sobe muito) a bóia é
impulsionada para cima fechando a entrada da água, ou
seja, bloqueando a causa.
EFEITO retroagindo
sobre a CAUSA
Chamamos esse tipo de retroalimentação de "regulado
ra," pois um aumento no efeito tende a diminuir a causa.
EFEITO
reduzindo a
CAUSA
retroalimentação REGULADORA
Existe, também, a retroalimentação "incentivadora", ou
seja, aquela na qual um aumento do efeito tende a aumen
tar a causa.
EFEITO
aumentando a
CAUSA
retroalimentação INCENTIVADORA
Nas palestras a que você já assistiu, normalmente existe
um equipamento de som para que possa ser usado o micro
fone.
Quando uma pessoa coloca inadvertidamente o microfone
em frente ao alto-falante, qualquer pequeno ruído que acio
ne o microfone será amplificado e sairá muito mais intenso
pela caixa acústica.
0 ruído amplificado (efeito) vai acionar o microfone (cau
sa) muito mais intensamente, aumentando ainda mais o
efeito.
Resultado? Aquele horrível uivo chamado microfonia.
- Mas por que você está discutindo tudo isso?
Porque em seu cérebro, no que diz respeito ao desenvolvi
mento da inteligência, há um mecanismo do segundo tipo.
Traduzindo: as pessoas mais inteligentes tendem a se tor
nar cada vez mais inteligentes e as pessoas menos inteligen
tes vão, com o tempo, se tornando cada vez menos inteli
gentes.
Pense um pouco: quanto mais inteligente (causa) você
for, mais curioso você será, mais interesse terá em aprender,
aceitar desafios etc. (efeitos). Acontece que todos esses
efeitos tendem a aumentar a causa que, por sua vez, aumen
tará os efeitos e assim sucessivamente.
Entretanto, quanto menos inteligente a pessoa for, maior
será sua preguiça mental, seu desinteresse por atividades
que estimulem o raciocínio, mais tendência ela terá de ficar
se imbecilizando à frente de uma TV, reduzindo seu nível de
inteligência e, portanto, incentivando cada vez mais os efei
tos negativos.
Imagine os indivíduos Fulano (F), Beltrano (B) e Sicrano
(S), cujos níveis iniciais de inteligência estão no gráfico:
tempo
Digamos que Beltrano (B) esteja num ponto de equilíbrio
em que os efeitos favoráveis contrabalancem os desfavorá
veis fazendo com que seu nível de inteligência não se altere
com o correr do tempo.
É claro então que, em Fulano (F) a retro-alimentação incentivadora agirá no sentido de aumentar seu nível intelec
tual (pois os efeitos favoráveis ultrapassam os desfavorá
veis), enquanto em Sicrano (S) o resultado vai ser o
oposto:
Seja você Fulano, Beltrano ou Sicrano, lembre-se de que
esse esquema retrata a realidade das pessoas que não fazem
nenhum esforço para aumentar seu nível de inteligência.
As escolas, normalmente, se preocupam muito mais em
descobrir se o aluno teve 74,9 ou 75,7% de presenças ou se
"já fechou" (um dos grandes absurdos da escola brasileira) e
não têm o menor interesse em desenvolver a inteligência
das crianças e dos jovens.
Esse esquema levou gerações de psicólogos a acreditar
que a inteligência de uma pessoa seja uma característica tão
fixa quanto a cor dos olhos.
Na realidade, seja você o Fulano, o Beltrano ou o Sicrano,
saiba que o desenvolvimento de seu nível mental depende
muito mais de seu esforço do que de onde você está partindo.0
truque é simples: aprenda a usar cada vez melhor as duas
ferramentas indispensáveis para poder se desenvolver:
PORTUGUÊS E MATEMÁTICA.
Se faltar qualquer uma das duas (ou ambas), você é um
deficiente mental (não confunda, repito, com deficiente
neurológico).
Se assumir que seu esforço deve priorizar a aquisição
dessas duas ferramentas, 90% do caminho estarão andados!
Pode acreditar!
Ao longo de minha longa carreira como professor, tenho
visto muitos Sicranos ultrapassarem muitos Fulanos apesar
da aparente vantagem inicial que estes apresentavam sobre
aqueles:
Lembre-se: nunca é tarde demais.
Várias vezes já fui procurado, depois de uma palestra, por
alunos com frases do tipo: "Professor, eu já estou no tercei
ro médio e percebi que, até hoje, fiz tudo errado! Ainda es
tou em tempo de consertar algo?" e a resposta é SIM!
Sempre estamos em tempo, mesmo na terceira idade! É
claro que a velocidade de transformação em uma criança é
muito maior do que em alguém da terceira idade, mas sem
pre dá tempo.
E só começar, sofrendo talvez um pouco no começo (dor
antes) e colhendo os saborosos frutos de seus esforços mais
tarde (prazer depois).
«•*
Além disso, é bom ressaltar que se tornar cada vez mais
inteligente não é somente uma garantia de sucesso em sua
vida escolar e profissional. Esses, aliás, são apenas agradá
veis efeitos colaterais (bônus, como diriam os viciados em
games). 0 principal efeito vai ser ter uma vida mais inte
ressante, mais rica, mais intensa.
Se você seguir os conselhos contidos neste livro, não vai
precisar assistir à novelas para viver a vida dos outros ape
nas porque a sua própria é cinzenta e medíocre.
Vai, isso sim, transformar sua vida em uma novela fantás
tica, cujo roteiro você mesmo vai escrever.
Insisto: você vai escrevê-lo! Pare de esperar que as coisas
venham de sua família e de sua escola.
Seja o autor do roteiro da sua própria vida, sem medo de
ser chamado de "nerd" ou estranho.
Num mundo repleto de pessoas medíocres, ser estranho
não é um defeito: é uma grande virtude. Seja estranho, pois
talvez assim você possa acabar ajudando um monte de pes
soas "normais".
E AGORA» UMA
PROVINHA
A seguir, você tem algumas questões na forma de teste
que dão um bom exemplo das que normalmente são utiliza
das em testes de inteligência. Tente resolvê-las em menos
de dez minutos.
Se quiser as respostas, não apenas destes testes, mas
dos que aparecem ao Longo do texto (inclusive o da idade
das três filhas), envie um e-mail para
a p re n d e n d o in te lig e n d a @ g m a il.c o m
Estarei aguardando!
Qual número melhor substitui o ponto de interrogação?
Um dos hexágonos tem uma característica que o
torna diferente dos outros. Qual é o "diferente"?
O oestá oo assim o oo está
0 oo
o oo o
o opara como ooo para
o
o o o
o
o
o o
o
o o o
o oo
a
b
c
d
e
Teste 5
Um mergulhador participa de uma prova de mergulho em
apnéia, ou seja, mergulhando sem respirar por aparelhos,
simplesmente prendendo o fôlego. A ansiedade gerada pela
iminência da competição pode produzir taquicardia, fazen
do seu coração ultrapassar as 150 batidas por minuto. A
ingestão de um beta-bloqueador pode reduzir o problema,
chegando até a produzir bradicardia, baixando as batidas
para perigosas 30 batidas por minuto. Se você, portanto, se
defrontar com um acidentado com problemas de bradipinéia, isso significa que:
A) Ele parou de respirar.
B) Seu coração parou de bater.
C) Ele está respirando muito lentamente.
D) Ele está ofegante, respirando rapidamente.
E) Ele está se afogando.
Referências
Se seus pais, professores ou orientadores, ao lerem este
livro enquanto aguardam os volumes 2 e 3, quiserem mais
informações sobre as afirmações que fiz neste volume, é
bom que saibam que cheguei às conclusões apresentadas
por caminhos normalmente não trilhados pelo pessoal da
pedagogia, como, por exemplo, os dos livros citados a se
guir: The computational brain (Patrícia S. Churchland, Terence J. Sejnowski), 0 pensamento artificial: introdução à
cibernética (Pierre de Latil), Neural networks: a comprehensive foundation (Simon Haykin), In the palaces of memories: how we build the words inside our heads (George Jo
hnson); The making of memory: from molecules to mind
(Steven Rose).
Agradecimentos
Em primeiríssimo lugar, queria agradecer à minha amada
esposa Nádya ("Esperança", em russo) pela paciência com
que digitou este manuscrito, pela primeira leitura critica (e
bota crítica nisso!) e por ter me obrigado a escrever outro
livro no lugar do que eu tenho na gaveta e que, provavel
mente, teria gerado um processo movido pelo SPB (Sindica
to das Pedagogas Brasileiras - se é que isso existe!).
Em segundo lugar, queria agradecer ao meu "sobrinho"
Assaf por ter providenciado uma edição "beta" deste e que
tanto me ajudou a expurgar muitos defeitos (com certeza
não todos). Muitas correções foram feitas graças aos alertas
dos primeiros leitores desta versão, aos quais também agra
deço de coração.
Um agradecimento muito especial ao Fernando (e equi
pe) de São João da Boa Vista (SP), ao Euclides (e equipe)
de Campinas (SP), à Marlise de Estrela (RS) e aos prefeitos
(e equipes) de Poço das Antas (RS), Fazenda Vilanova (RS),
Travesseiro (RS), Capitão (RS) e Colinas (RS) que acredita
ram na utilidade deste livro e tornaram possível esta reedi
ção.
Nesta edição, não podería deixar de lembrar, com grati
dão, do Dorival (e equipe) de Piracicaba (SP), do Fábio (e
equipe) de Itu (SP), da Célia (e seu time) de São José do
Rio Preto (SP) e do dinâmico Gilberto (e equipe) de Soroca
ba (SP) e Itapetininga (SP).
Um agradecimento especial ao meu bando de filhos e fi
lhas que gostaram do texto (se bem que o Daniel disse:
"Pai, se eu ainda fosse estudante, depois de ler este livro,
teria vontade de fugir da escola!") e, em particular, ao
Adriano pela assessoria editorial.
Além disso, gostaria de agradecer a todos os alunos,
pais, professores, coordenadores, orientadores e diretores
que me convenceram a escrever este livro perguntando, no
final de cada uma das centenas de palestras que já fiz por
esse gigantesco Brasil: "Como é, o livro está pronto?"
Pois é... está!