Jorge González Aguilera
Alan Mario Zuffo
(Organizadores)
A Preservação do Meio Ambiente
e o Desenvolvimento Sustentável 3
Atena Editora
2019
2019 by Atena Editora
Copyright © Atena Editora
Copyright do Texto © 2019 Os Autores
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
P933
A preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável 3
[recurso eletrônico] / Organizadores Jorge González Aguilera,
Alan Mario Zuffo. – Ponta Grossa, PR: Atena Editora, 2019. – (A
Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento
Sustentável; v. 3)
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-538-9
DOI 10.22533/at.ed.389191408
1. Educação ambiental. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Meio
ambiente - Preservação. I. Aguilera, Jorge González. II. Zuffo, Alan
Mario. III. Série.
CDD 363.7
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
A obra “A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável”
no seu terceiro capítulo aborda uma publicação da Atena Editora, e apresenta, em
seus 25 capítulos, trabalhos relacionados com preservação do meio ambiente e o
desenvolvimento sustentável.
Este volume dedicado à preservação do meio ambiente e o desenvolvimento
sustentável, traz uma variedade de artigos que mostram a evolução que tem
acontecido em diferentes regiões do Brasil ao serem aplicadas diferentes tecnologias
que vem sendo aplicadas e implantadas para fazer um melhor uso dos recursos
naturais existentes no pais, e como isso tem impactado a vários setores produtivos e
de pesquisas. São abordados temas relacionados com a produção de conhecimento
na área de agronomia, robótica, química do solo, computação, geoprocessamento de
dados, educação ambiental, manejo da água, entre outros temas. Estas aplicações
e tecnologias visam contribuir no aumento do conhecimento gerado por instituições
públicas e privadas no país.
Aos autores dos diversos capítulos, pela dedicação e esforços sem limites, que
viabilizaram esta obra que retrata os recentes avanços científicos e tecnológicos na
Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável, os agradecimentos
dos Organizadores e da Atena Editora.
Por fim, esperamos que este livro possa colaborar e instigar mais estudantes
e pesquisadores na constante busca de novas tecnologias para a área do meio
ambiente e o desenvolvimento sustentável, assim, contribuir na procura de novas
pesquisas e tecnologias que possam solucionar os problemas que enfrentamos no dia
a dia.
Jorge González Aguilera
Alan Mario Zuffo
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
A FÍSICA NO COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA DOS MARAJOARAS
Edimara Lima dos Santos
Ananda Michelle Lima
João Marcos Batista de Assunção
Maria Nancy Norat de Lima
Ariane Chaves de Lima
Edilene Santana de Matos
DOI 10.22533/at.ed.3891914081
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................ 8
ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE URBANA NO BAIRRO JARDIM NOVA
ESPERANÇA, EM GOIÂNIA – GO
Simone Gonçalves Sales Assunção
Diego Fonseca dos Santos
Maiara Bruna Carmo Nascimento
Estefany Cristina de Oliveira Ramos
Heloina Teresinha Faleiro
Alisson Neves Harmyans Moreira
DOI 10.22533/at.ed.3891914082
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 19
ANÁLISE DO IMPACTO DO RS MAIS IGUAL NO CAPITAL SOCIAL DOS SEUS BENEFICIÁRIOS
Ana Julia Bonzanini Bernardi
Jennifer Azambuja de Morais
DOI 10.22533/at.ed.3891914083
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 35
ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO BAIRRO CURIÓ-UTINGA NOS LIMITES DA BACIA HIDROGRÁFICA
DO TUCUNDUBA EM BELÉM/PA
Isabela Rodrigues Santos
Fernanda Vale de Sousa
Camille Vasconcelos Silva
Luna Leite Sidrim
DOI 10.22533/at.ed.3891914084
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 48
AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL NA EXTRAÇÃO DE AREIA NOS RIOS CANINDÉ – CE,
PARAÍBA - PB E PIRACANJUBA- GO
Daniellen Teotonho Barros
Marcus Suedyr Gomes Pereira Filho
Samilly Santana da Costa
Vitor Glins da Silva Nascimento
Antônio Pereira Júnior
DOI 10.22533/at.ed.3891914085
SUMÁRIO
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 58
AVALIAÇÃO DE POTENCIAL DE GERAÇÃO DE ENERGIA ÉOLICA DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA:
UM ESTUDO DE CASO DO INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS MACAÉ
Diego Fernando Garcia
Marcos Antônio Cruz Moreira
Augusto Eduardo Miranda Pinto
DOI 10.22533/at.ed.3891914086
CAPÍTULO 7 .............................................................................................................. 72
CAÇA E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE NO BRASIL: ASPECTOS LEGAIS E O EXEMPLO DOS
QUELÔNIOS E CROCODILIANOS
Rafael Antônio Machado Balestra
Marilene Vasconcelos da Silva Brazil
DOI 10.22533/at.ed.3891914087
CAPÍTULO 8 .............................................................................................................. 94
COMPARAÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS PARA DETERMINAÇÃO AUTOMÁTICA DE APP EM
TOPO DE MORRO PARA O MUNICÍPIO DE LAGES/SC
Benito Roberto Bonfatti
Taís Toldo Moreira
DOI 10.22533/at.ed.3891914088
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................. 99
CONSELHOS GESTORES DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO COMO ESPAÇOS EDUCADORES:
MOBILIZAÇÃO DE AGENTES SOCIAIS A PARTIR DE PROBLEMAS DE FISCALIZAÇÃO
Rodrigo Machado
Beatriz Truffi Alves
Wagner Nistardo Lima
Adriana Neves da Silva
Marlene Francisca Tabanez
DOI 10.22533/at.ed.3891914089
CAPÍTULO 10 .......................................................................................................... 117
DESENVOLVIMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS UTILIZANDO RESÍDUOS INDUSTRIAIS
TRATADOS POR HIDROCICLONAGEM
Raquel Rodrigues do Nascimento Menezes
DOI 10.22533/at.ed.38919140810
CAPÍTULO 11 .......................................................................................................... 133
DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE SIMULAÇÃO DE UMA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE GÁS
NATURAL LIQUEFEITO (GNL) NA MODALIDADE REDE ISOLADA PARA A REGIÃO DE LAGES – SC
Cosme Polese Borges
Renato de Mello
DOI 10.22533/at.ed.38919140811
CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 144
ENERGIA E MEIO AMBIENTE: O BIODIESEL COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO, EXTENSÃO E
PESQUISA PARA SUSTENTABILIDADE
Cristine Machado Schwanke
DOI 10.22533/at.ed.38919140812
SUMÁRIO
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 155
ENTOMOFAUNA PRESENTE NA ÁREA DE INSTALAÇÃO DA FUTURA CENTRAL DE TRATAMENTO
E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE VÁRZEA GRANDE – MT
Eliandra Meurer
Ana Carla Martineli
Eduardo Costa Reverte
DOI 10.22533/at.ed.38919140813
CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 161
ESTIMATIVA DA PEGADA DO CARBONO DO USO DE ENERGIA ELÉTRICA EM PROPRIEDADE
CAFEEIRA CERTIFICADA
Marcelo Silva Valdomiro
Geraldo Gomes de Oliveira Júnior
Raphael Nogueira Rezende
Maurício Minchillo
Patrícia Ribeiro do Valle Coutinho
Adriano Bortolottida Silva
DOI 10.22533/at.ed.38919140814
CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 166
ESTUDO DO PROCESSO DE DEGRADAÇÃO DO LIXIVIADO VIA OZONIZAÇÃO CATALÍTICA VIA
EQUAÇÃO ESTOCÁSTICA
Diovana Aparecida dos Santos Napoleão
Adriano Francisco Siqueira
DOI 10.22533/at.ed.38919140815
CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 179
GERENCIAMENTO AMBIENTAL DE ÓLEOS LUBRIFICANTES
Izac de Sousa Vieira
Yuri José Luz Moura
Lívia Racquel de Macêdo Reis
José Weliton Nogueira Júnior
DOI 10.22533/at.ed.38919140816
CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 186
ICMS ECOLÓGICO POR BIODIVERSIDADE COMO INCENTIVO A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
Francelo Mognon
Maria do Rocio Lacerda Rocha
Guilherme de Camargo Vasconcellos
DOI 10.22533/at.ed.38919140817
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 192
LEVANTAMENTO DOS ASPECTOS SOCIAIS, CULTURAIS E ECONÔMICOS DO PERFIL DA
POPULAÇÃO PARA O APROVEITAMENTO DE RESÍDUO SÓLIDO URBANO ORGÂNICO NO
MUNICÍPIO DE INHUMAS-GO
João Baptista Chieppe Júnior
Tharles de Sousa Andrade
Wilhiam Júnior Lemos Gomes
DOI 10.22533/at.ed.38919140818
SUMÁRIO
CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 202
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL DEPUTADO JOÃO EVARISTO
CURVO, JAURU, MATO GROSSO
Lucineide Guimarães Figueiredo
Cláudia Lúcia Pinto
Elaine Maria Loureiro
Valcir Rogério Pinto
Carolina dos Santos
DOI 10.22533/at.ed.38919140819
CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 214
PERFIL DO CONSUMIDOR DE PEIXE DO MUNICÍPIO DE SINOP MATO GROSSO
Thamiris Sosa Santos
Soraia Andressa Dall Agnol Marques
Stephane Vasconcelos Leandro
Paula Sueli Andrade Moreira
DOI 10.22533/at.ed.38919140820
CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 221
PERSPECTIVA AMBIENTAL NA SUBSTITUIÇÃO DO USO DE PAPEL TOALHA POR SECADORES
DE MÃOS EM BANHEIROS PÚBLICOS
Leila Nogueira Rocha Silva
João Gomes da Costa
Jessé Marques da Silva Pavão
Adriane Borges Cabral
Mayara Andrade Souza
DOI 10.22533/at.ed.38919140821
CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 231
PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA BIODIVERSIDADE NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
GOIANAS: PROMOBIO
Paula Ericson Guilherme Tambellini
Caio César Neves Sousa
Maurício Vianna Tambellini
Marcelo Alves Pacheco
DOI 10.22533/at.ed.38919140822
CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 241
PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE REÚSO DAS ÁGUAS CINZAS EM UMA
CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL ALTO PADRÃO
Nathália Gusmão Cabral de Melo
Flávia Telis de Vilela Araújo
Raquel Jucá de Moraes Sales
Ari Holanda Junior
DOI 10.22533/at.ed.38919140823
SUMÁRIO
CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 249
QUINTAIS URBANOS E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM SOBRE A DIVERSIDADE VEGETAL
Elisa dos Santos Cardoso
Uéliton Alves de Oliveira
Ana Aparecida Bandini Rossi
Jean Carlos Silva
José Martins Fernandes
Vantuir Pereira da Silva
Alex Souza Rodrigues
Eliane Cristina Moreno de Pedri
Oscar Mitsuo Yamashita
DOI 10.22533/at.ed.38919140824
CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 259
TRATAMENTO DE ÁGUA POR FILTROS DE BAIXO CUSTO COM DUPLA FILTRAÇÃO
Leonardo Ramos da Silveira
Maycol Moreira Coutinho
Renato Welmer Veloso
DOI 10.22533/at.ed.38919140825
SOBRE OS ORGANIZADORES.............................................................................. 274
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
A FÍSICA NO COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA DOS
MARAJOARAS
Edimara Lima dos Santos
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais- Habilitação em Química,
Salvaterra, Pará. Universidade do Estado do
Pará, edimaralima17@gmail.com
Ananda Michelle Lima
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais- Habilitação em Química,
Salvaterra, Pará. Universidade do Estado do
Pará, anandalima095@gmail.com
João Marcos Batista de Assunção
Graduando do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais- Habilitação em Química,
Salvaterra, Pará. Universidade do Estado do
Pará. joãomarcosxba@gmail.com
Maria Nancy Norat de Lima
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais- Habilitação em Química,
Salvaterra, Pará. Universidade do Estado do
Pará, nancynorat@gmail.com
Ariane Chaves de Lima
Graduada Curso de Licenciatura Plena
em Ciências Biológicas pela Universidade
Federal do Pará, UFPA, campus Soure - Pará,
arianechaves1234@gmail.com
Edilene Santana de Matos
Graduanda do Curso de Licenciatura Plena em
Ciências Naturais- Habilitação em Química,
Salvaterra, Pará. Universidade do Estado do
Pará, edilenesantanamatos@gmail.com
conhecimento dos entrevistados em relação
ao contexto físico presente no comprovante de
residência é vigente em nossa sociedade, o que
faz com que as pessoas passem despercebidas
nos acontecimentos decorrentes dentro do
mesmo. A partir desse pressuposto foi executado
uma pesquisa de cunho quantitativo com coleta
de dados na cidade de Salvaterra-Pará. A o
qual contou com a participação de 80 pessoas
entrevistadas. Este teve como o objetivo coletar
dados reais sobre o reconhecimento da Física
no comprovante de residência dos Marajoaras,
buscando assim, relações dos mesmos com a
Física, fazendo-os reconhecer a realidade vivida
em meio a Física. Os resultados alcançados
revelaram que as pessoas entrevistadas não
identificavam a Física em seu comprovante e
após a aplicação dos questionários observouse que grande parte dos entrevistados não
possuem informações suficientes ao consumo
de energia, pois os mesmos demonstraram não
compreender a fatura de energia e os encargos
presentes.
Palavras-chave: Comprovante de residência.
Física. Cotidiano.
1 | INTRODUÇÃO
Há dois séculos ocorreu a Revolução
Industrial, na Inglaterra essa revolução se
RESUMO: O problema relacionado à falta de
caracterizou a partir do momento que o homem
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
1
começa a manipular as formas de energia. Isso mudou de forma radical as organizações
industriais e se iniciou a mecanização da produção, substituindo o esforço humano.
Após o homem manipular as formas de energia, uma nova forma começa a ser
desenvolvida: a energia elétrica. Em 1878, em Nova Iorque e em Londres constroemse usinas geradoras de energia elétrica. (PINTO, A.B.A, et al 2008.)
Até 1993, havia uma única tarifa de energia elétrica em todo o Brasil. Os
consumidores dos diversos estados pagavam a mesma tarifa pela energia consumida.
Esse valor garantia a remuneração das concessionárias, independentemente de
sua eficiência, e as empresas não lucrativas eram mantidas por aquelas que davam
lucro e pelo Governo Federal. Nessa época, além de ser a mesma em todo o país, a
tarifa era calculada a partir do “custo do serviço”, o que garantia às concessionárias
uma remuneração mínima. Essa modalidade de tarifa não incentivava as empresas a
investimentos, pois todo o lucro pago pelo consumidor só era fornecido para os custos
de serviço. Também nessa ocasião, o sistema elétrico nacional era marcado por um
círculo vicioso, com inadimplência entre distribuidoras e geradoras, incapacidade
financeira prejudicando o aumento da aptidão do setor, dessa forma impedindo novos
investimentos. Nesse contexto, surgiu a Lei nº 8.631/93, pela qual a tarifa passou a
ser fixada por concessionária, conforme características específicas de cada empresa.
Ainda, em 1995, foi aprovada a Lei 8.987 que garantiu o equilíbrio econômico-financeiro
às concessões (ANEEL).
Portanto, a energia elétrica segundo NÓBREGA et al (2013) é um insumo essencial
à sociedade, indispensável ao desenvolvimento socioeconômico das nações. No Brasil,
a principal fonte de geração é a hidrelétrica (água corrente dos rios), que responde
por 65% da capacidade instalada em operação no País, seguida das termelétricas
(gás natural, carvão mineral, combustíveis fosseis, biomassas e nuclear), com 28%.
A restante proveniente de usinas eólica (energia dos ventos) e importação da energia
de outros Países. As geradoras produzem a energia, as transmissoras a transportam
do ponto de geração até os centros consumidores, de onde as distribuidoras a levam
até a casa dos cidadãos. Há ainda as comercializadoras, empresas autorizadas a
comprar e vender energia para os consumidores livres (geralmente consumidores que
precisam de maior quantidade de energia).
Sendo assim, este trabalho objetivou trazer tais informações já descritas e outras
como geração de energia, distribuição, tributos, taxas adicionais, equipamentos
eletrônicos que mais consomem energia entre outros para a população Marajoara
residente na cidade de Salvaterra. Visto que após a análise dos dados obtidos em
campo, por meio de entrevista, pode se perceber certo desconhecimento de informações
que deveriam ser essenciais para com a população, tornando-se imprescindível uma
abordagem esclarecedora.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
2
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Realizou-se uma pesquisa na ilha de Marajó, especificamente na cidade de
Salvaterra-PA. fundada em 10 de março de 1962, com estimativa de 23.096 habitantes
segundo o IBGE, localizada no Arquipélago do Marajó a margem da Baia de Marajó,
com rio Paracauarí, Salvaterra limita-se ao Norte com o Município de Soure, separando
os dois municípios, o rio Paracauarí. Ao Nordeste a leste pela Baía do Marajó. Ao Sul,
Sudeste e Oeste, pelo município de Cachoeira do Arari, separando os dois Municípios,
o Rio Camará e Rio São Miguel. (IBGE, 2010).
A Pesquisa de campo deu-se em função da coleta de dados primários tais como:
entrevistas e questionários relacionados ao conhecimento da física presente no
comprovante de residência aplicados a comunidade Salvaterrense. Esta foi realizada
no dia 19 de setembro de 2017 no horário de 09:00h às 10:30 min h na referida
cidade. Antes do início da realização da atividade proposta, foi decidido juntamente
com a professora da turma, levar a comunidade questionários voltados ao assunto
a ser abordado em sala para assim obter resultados que levassem-nos a verificar o
desconhecimento da física no comprovante de residência. E com isso traçar um convite
aos mesmos que pudessem participar de uma palestra com a temática “De onde vem
a nossa energia elétrica e o que eu pago na minha conta de luz?”, a qual seria de
interesse da comunidade que assim passariam a avaliar e ao mesmo tempo adquirir
conhecimento a respeito do consumo de energia presente em seu comprovante.
A aplicação do questionário na cidade atendeu a um público alvo de 80 pessoas
e este estava dividido em alternativas A, B e C (Tabela 1) e alternativas de Sim e Não
(Tabela 2), ambas correspondentes a física e o conhecimento deles em relação ao
comprovante de residência.
Tabela 1- Distribuição das questões por alternativas.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
3
Tabela 2- Distribuição das questões por alternativas.
Fonte: Dados da pesquisa.
Esse método foi utilizado nos questionários aplicados na cidade para assim
facilitar no momento da pesquisa e da análise dos gráficos por questões. Nesse
processo de análise, os entrevistados foram divididos de acordo com cada questionário
aplicado, distribuído da seguinte forma: Questionário 01- Dispostos de seis perguntas
com alternativas (a, b e c). Questionário 02- com nove questões (Sim e Não).
Posteriormente foram avaliados as respostas de cada questão contidas
nos questionários, para facilitar a contagem e comparação dos dados obtidos nos
questionários, montou-se gráficos de pizza, a estatística utilizada para contabilizar os
resultados foi a percentagem adquirida através da contabilidade das respostas que
estavam adequadas e adversas aos objetivos da pesquisa. Todas as respostas foram
escritas por extenso e procurou-se obedecer na integra os textos dos entrevistados, o
programa utilizado para calcular a percentagem foi o Excel 2010.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com as observações alcançadas na cidade com os entrevistados
verificou-se que o público alvo da pesquisa encontram-se em faixa etárias diversificadas,
em vista que os mesmos eram donas de casa e pais de família. Os mesmos foram
participativos nas entrevistas mostrando-se interessados em responder as questões
propostas no questionário. Com as análises dos dados foi possível chegar a conclusões
quanto ao desconhecimento da física no comprovante de residência das famílias da
cidade.
Perante aos resultados aqui apresentados pode se notar um certo desconhecimento
para com o tema abordado, sendo este um assunto de grande importância e que está
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
4
presente na vida das pessoas. Percebendo-se então a necessidade deste trabalho
em levar para esta comunidade informações que são sem dúvida uteis. Com isso
apresenta-se cada uma das perguntas contidas no questionário aplicado a comunidade
Salvaterrense.
Os três primeiros gráficos referem-se as questões de alternativas (a, b e c) 1- O
que são bandeiras tarifarias? 2- Como e quando as bandeiras mudam de cor? 5 – O
que você faz para economizar energia? 9 – Você acha que sua energia elétrica é
produzida na sua própria região? 11- Você sabe que destinos tem os impostos que
você paga? 15 - Quem é responsável pela iluminação pública?
Gráfico 1: O que são bandeiras tarifarias? Gráfico 2: Como e quando as bandeiras mudam de
cor?
A maioria absoluta dos entrevistados (32%) admitem que bandeiras tarifarias
são as que indicam o tipo de consumo de energia. E mesmo com boa parte dos
entrevistados (48%) afirmam que bandeiras tarifarias são acréscimo aplicado ao preço
de energia outros (20%) relatam que são apenas para enfeite (Gráfico 1).
Em virtude disso, boa parte dos entrevistados (24%) admitem que as bandeiras
tarifarias mudam de cor quando indicam níveis de renda familiar e (69%) dos
entrevistados afirmam que as bandeiras mudam de cor quando indicam mudanças de
preço. Contudo (7%) dizem não ter significância (Gráfico 2).
Gráfico 3: O que você faz para economizar energia?
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
5
Com base nos dados acima, 72% dos entrevistados relatam que desligam os
eletrodomésticos para economizar energia, outros 20% poupam usar os que gastam
mais energia e 8% deles não fazem nada para economizar (Gráfico 3).
Gráfico 4: você acha que sua energia
elétrica é produzida na sua própria
região?
Gráfico 5: você sabe que
destinos tem os impostos que
você paga?
O (gráfico 4) acima mostra que 40% dos entrevistados descrevem que a energia
elétrica é produzida somente no seu Estado, outros 35% afirmam ser em seu estado
e em outras regiões de fora. E somente 25% dizem que a energia é produzida fora de
sua região. Percebe-se no (Gráfico 5) que 46% dos entrevistados não sabem o destino
dos impostos e assim dizem que vai tudo para o governo, 49% afirmam que vai para
iluminação pública, outros seguintes 5% não sabem o destino.
Gráfico 6: Quem é responsável pela iluminac̦ão pública?
Os entrevistados apontam (39%) que a rede Celpa é a responsável pela
iluminação pública, já (44%) relata que o órgão responsável é a prefeitura da cidade e
apenas 17% diz ser o governo do Estado (Gráfico 6)
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
6
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise com coleta de dados deste projeto que envolveu discente da Universidade
do Estado do Pará (UEPA CAMPUS XIX) e a região do Marajó especificamente em
alguns bairros da cidade de Salvaterra, viabilizava-se em uma atividade, onde por meio
de questionário buscou-se coletar dados referentes ao conhecimento das pessoas em
relação ao contexto físico contido no comprovante de residência. Com isso por meio
da pesquisa percebeu-se uma total relevância pela relação da física com o cotidiano
das pessoas quando trata-se do comprovante de residência, observando assim,
pouco conhecimento em relação a física contida no mesmo. Em vista disso e diante
dos resultados analisados em gráfico após a aplicação dos questionários observou-se
que a maioria dos entrevistados não possuem informações suficientes ao consumo
de energia, pois os mesmos demonstraram não compreender a fatura de energia e os
encargos presentes.
REFERÊNCIAS
ANEEL. A agência nacional de energia elétrica: uma breve explicação do caminho por trás
de sua conta de luz. Disponível em: <https://lucasdefreitas.jusbrasil.com.br/artigos/244441705/aagencia-nacional-de-energia-eletrica-uma-breve-explicacao-do-caminho-por-tras-de-sua-conta-deluz> . Acesso em: 25 out. 2017.
IBGE. Instituto Brasileiro de geografia e estatística. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/
painel/historico.php?codmun=150630>. Acesso em 09 set. 2017
NÓBREGA, André Pepitone da; SANTANA, Edvaldo Alves de; COELHO Julião Silveira, por dentro da
conta de luz; Informação de utilidade pública 6ª Ed. agencia nacional de energia elétrica, 2013.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 1
7
CAPÍTULO 2
ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE
URBANA NO BAIRRO JARDIM NOVA ESPERANÇA,
EM GOIÂNIA – GO
Simone Gonçalves Sales Assunção
Universidade Federal de Goiás, Escola de
Agronomia
Goiânia - Goiás
Diego Fonseca dos Santos
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Escola
de Engenharia
Goiânia - Goiás
Maiara Bruna Carmo Nascimento
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Escola
de Engenharia
Goiânia - Goiás
Estefany Cristina de Oliveira Ramos
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Escola
de Engenharia
Goiânia - Goiás
Heloina Teresinha Faleiro
Universidade Federal de Goiás, Escola de
Agronomia
Goiânia - Goiás
Alisson Neves Harmyans Moreira
Universidade Federal de Goiás, Escola de
Agronomia
Goiânia - Goiás
RESUMO: A vigência formal de instrumentos
de controle e regulação do espaço urbano
não impede o seu crescimento desordenado,
exemplo do que ocorreu no bairro Jardim Nova
Esperança. O presente trabalho tem como
objetivo resgatar o histórico de ocupação do
bairro Jardim Nova Esperança, levantar os
aspectos socioculturais e econômicos, analisar
fatores locais, como esporte, lazer, cultura,
saúde, educação, meio ambiente, uso do
solo, ordenação do território e os sistemas de
infraestrutura para a realização de uma análise
comparativa com selo de sustentabilidade
urbana, legislação vigente e Normas Técnicas.
Para isso, foi realizado inicialmente, revisão
bibliográfica, caracterização da área com visitas
in loco, levantamento de informações relevantes
e mapeamento dos dados utilizando ferramentas
computacionais através de softwares de
Sistemas de Informações Geográficas - SIG’s.
O bairro atende minimamente o que rege o
Plano Diretor de Goiânia o Selo Casa Azul (CEF,
2010) e a ABNT 9050 (2015), salvo no que se
refere à educação no nível maternal e ao meio
ambiente. Quanto a educação, é imprescindível
a inserção de novos equipamentos; quanto ao
meio ambiente, se faz necessário a remoção
das pessoas em áreas de risco, implementação
de medidas socioambientais (saúde, malha
viária/pavimentação asfáltica, acessibilidade
e lançamento de resíduos líquidos nas
vias). Recomenda-se a readequação das
vias considerando acessibilidade a espaços
e equipamentos urbanos e a reversão do
lançamento indiscriminado de resíduos líquidos
nas vias provenientes das edificações.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
8
PALAVRAS-CHAVE: Ocupação
sustentabilidade socioambiental.
urbana
irregular,
sustentabilidade
urbana,
COMPARATIVE ANALYSIS OF URBAN SUSTAINABILITY IN THE DISTRICT OF
JARDIM NOVA ESPERANÇA, GOIÂNIA – GO
ABSTRACT: The validity of formal control and regulation instruments of the urban
space does not prevent its disorderly growth, such as it occurred in the district of
Jardim Nova Esperança. Our objective was to retrieve the records of occupation for the
district in question as well as survey its social, cultural and economic aspects, analyze
local factors, such as sport, leisure, culture, health, education, environment, soil use,
organization of territory and infrastructure systems aiming at a comparative analysis
carrying a seal of urban sustainability, current legislation, and technical standards.
For this purpose, we initially conducted a bibliographical review, characterization of
area with in loco visits, survey of relevant information, and data mapping by using
computational tools from softwares of Geographical Information Systems. The district
meets minimally the demands of the Master Plan of Goiânia, the Selo Casa Azul (Blue
House Seal) (CEF, 2010), and ABNT 9050 (2015), except for maternal education level
and environment. Regarding education, it is indispensable to introduce new equipments;
as for the environment, it is necessary to remove people from risk areas, implement
socioenvironmental measures (health, road network/asphalt paving, accessibility, and
release of liquid residues on roads). We recommend the readjustment of the roads
considering the accessibility to spaces and urban equipment in addition to the reversion
of indiscriminate release of liquid residue on roads deriving from buildings.
KEYWORDS: Irregular urban occupation, urban sustainability, socioenvironmental
sustainability.
1 | INTRODUÇÃO
Desde de seu descobrimento, o Brasil sempre foi visto como um país de economia
calcada na produção de matéria-prima, que atua como um dos pilares do setor primário
na economia mundial. Em função disso, a presença da população no campo brasileiro
vem sendo constantemente muito marcante.
A partir da década de 50, a zona rural brasileira vivenciou uma grande
revolução, quando o método tradicional de agricultura familiar cedeu lugar a uma
agricultura intensiva, caracterizada pelo uso de insumos e defensivos agrícolas e
principalmente pela mecanização de atividades antes realizadas por trabalhadores
rurais, diminuindo custos e aumentando significativamente a produtividade. Diante da
falta de oportunidade no campo, grande parte da população rural migrou para grandes
aglomerados urbanos sem que tivessem condições de se estabelecer e acabaram
ocupando áreas à margem das cidades, carentes de planejamento e de condições
para o atendimento das necessidades básicas de seus moradores.
Como fruto do crescimento desordenado, as cidades são marcadas por uma
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
9
profunda desigualdade, provocando o agravamento do quadro de exclusão social,
tornando mais evidentes a marginalização e a violência urbana, o que tem sido motivo
de grande apreensão.
Apesar da vigência formal de instrumentos de controle e regulação do espaço
urbano, Planos Diretores, Leis de Uso do Solo, Códigos de Posturas e Edificações,
ocupações irregulares e os problemas dela advindos caracterizam o cenário atual
vivenciado no Bairro Jardim Nova Esperança, situado na Região Mendanha, em
Goiânia, Goiás.
Assim, o presente trabalho tem como objetivo descrever o histórico de ocupação
do bairro Jardim Nova Esperança, levantar os aspectos socioculturais e econômicos
bem como analisar fatores locais, tais como esporte, lazer, cultura, saúde, educação,
meio ambiente, uso do solo, ordenação do território e os sistemas de infraestrutura.
Esses dados subsidiarão a realização de uma análise comparativa da sustentabilidade
urbana com o que é proposto no Plano Diretor e Código de Obras e Edificações de
Goiânia, o Selo Azul Caixa, a Associação Brasileira de Normas Técnicas, assim como
em outras legislações e bibliografias, a fim de sugerir medidas que possam oferecer
a sustentabilidade socioambiental e urbana aos cidadãos do Bairro Jardim Nova
Esperança.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia empregada envolveu inicialmente uma revisão bibliográfica da
ocupação urbana, as leis vigentes, o Plano Diretor da cidade de Goiânia, o histórico da
ocupação do bairro e a delimitação da área de estudo. Para a caracterização da área,
foram realizadas visitas in loco mapeando e conhecendo a localização, uso do solo,
características físicas, ambientais, socioeconômicas e levantamento de informações
relevantes. Além disso, foram elaborados mapas utilizando ferramentas computacionais
por meio de softwares de Sistemas de Informações Geográficas – SIG’s.
O bairro Jardim Nova Esperança está localizado à margem direita da avenida
Perimetral Norte, sentido leste oeste, estendendo-se ao norte até o limite que coincide
com o leito de um trecho do ribeirão Caveirinha. O bairro faz divisa com os bairros
Cândida de Morais, Santos Dumont, Chácara de Recreio São Joaquim, Chácara
Mansões Rosa de Ouro, Capuava e Vila João Vaz (Figura 1).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
10
Figura 1 - Localização do Jardim Nova Esperança
3 | HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO
Durante a década de 1970, a cidade de Goiânia vivenciou uma grande expansão
populacional que agravou a situação social da população de baixa renda. O movimento
social de luta por moradia e direitos sociais, ao realizar o tempo das ocupações coletivas
e organizadas, transformou a dinâmica das relações sociais em Goiânia, projetando o
sujeito do meio popular ao nível político (OLIVEIRA, 2002, p. 125).
O Jardim Nova Esperança nasceu como integrante da Região Noroeste da cidade
de Goiânia, entretanto, devido à expansão do município, atualmente compõe a Região
Mendanha da capital. A ocupação da Região Noroeste se iniciou com a invasão da
“Fazenda Caveiras”, gleba que deu origem ao bairro Jardim Nova Esperança, em julho
de 1979.
O advento de várias ocupações e a organização de outros movimentos coletivos no
município foram marcos no ano de 1980, além de muitas conquistas para os moradores
do bairro Jardim Nova Esperança, destacando a criação de um órgão chamado de
União das Invasões, que permitiu a acepção ideológica da identidade do posseiro e
cuja referência de luta e organização foi o processo originário do surgimento do bairro
Jardim Nova Esperança. A partir de então, os espaços de ocupação passaram a ser
denominados novamente de “invasões”, pois nessa etapa do movimento popular, a
ênfase no vocábulo “invasão” induzia a identidade dos estratos sociais cujos principais
pontos de luta eram a garantia de que os ocupantes conseguissem permanecer nas
terras, reivindicação de escolas nas ocupações e fornecimento de energia elétrica
(BOLETIM, 1981). De acordo com Moysés (2001), a história do bairro Jardim Nova
Esperança é repleta de fatos marcados por momentos de muita violência imposta por
setores que se contrapunham ao processo de ocupação, mas também por esforços de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
11
resistência na perspectiva de defesa de direitos e da cidadania e busca de soluções
alternativas para a questão da moradia.
O bairro Jardim Nova Esperança é um exemplo básico e enfático dessa
ocupação urbana proveniente da luta por moradia e direitos sociais e sua relação com
as ocupações irregulares que aconteceram ao longo da história da cidade. Assim, as
ocupações do bairro ocorreram por meio de invasões, desobedecendo toda a legislação
vigente à época. Observam-se moradias com características bastante precárias,
sem afastamentos e desconformes ao que rege o Código de Obras e Edificações
do município, Lei n° 177 de 09 de janeiro de 2008 (GOIÂNIA, 2008), vigente desde a
época.
4 | ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE URBANA NO BAIRRO
JARDIM NOVA ESPERANÇA
4.1 Uso do solo no bairro Jardim Nova Esperança
O uso do solo na área de estudo apresenta preponderância de uso residencial
e comercial (Figura 2), entretanto, não atende ao Código de Edificações de Goiânia
no que se refere a recuos, afastamentos e índices de permeabilidade (GOIÂNIA,
2008). Estes são representados predominantemente por pequenos estabelecimentos
destinados ao atendimento das demandas da população local, de uso misto. O
comércio e serviços básicos estão de acordo com as recomendações do Selo Casa
Azul (CEF, 2010): dois pontos de comércio e serviços acessíveis por rota de pedestres
de no máximo 1000 m.
Figura 2 – Mapa de Uso do Solo no Jardim Nova Esperança
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
12
4.2 Equipamentos urbanos e comunitários no Bairro Jardim Nova Esperança
Considerando o cunho de ilegalidade que marcou a ocupação do Jardim Nova
Esperança, questões urbanísticas previstas em lei não foram consideradas durante o
parcelamento do solo, destinando pouquíssimas áreas à inserção de equipamentos
urbanos e comunitários, o que se encontra em desacordo com o Art. 4° da Lei
6.766/1979 (BRASIL, 1979) e a legislação municipal anterior à publicação da Lei
Federal, Lei nº. 4.526, de 20 de janeiro de 1972 (GOIÂNIA, 1972), que preveem área
mínima de 35% para implantação de equipamento urbano e comunitário. O Selo Casa
Azul (CEF, 2010), Guia de Sustentabilidade Ambiental, recomenda as boas práticas
para a qualidade urbana remete à porcentagem de equipamentos urbanos referentes
à Lei 6766/1979 (BRASIL, 1979). Assim, as áreas destinadas a tal fim no Bairro em
questão estão também em desacordo com o Selo Casa Azul.
4.3 Equipamentos de esporte e lazer no bairro Jardim Nova Esperança
No tocante ao lazer, o bairro dispõe apenas de três pequenos parcelamentos em
seu interior destinado a praças, sendo que nenhum atinge a área mínima para esse
tipo de equipamento estipulado pelo Plano Diretor (GOIÂNIA, 2008). Existe um baixo
número de áreas verdes inseridas em seu interior, além disso, a pequena faixa de
passeio observada no bairro impossibilita a arborização. Adicionalmente, não conta
com nenhuma avenida de via dupla com canteiro central, reduzindo ainda mais o
índice de área verde por habitante no local. O bairro é limitado ao norte pelo Córrego
Caveirinha, que apresenta vários problemas ambientais acarretados pela ocupação
irregular: construções em Áreas de Preservação Permanente (APP’s), disposição
indevida de resíduos sólidos e líquidos, erosões e assoreamentos, além de apresentar
supressão de grande parte da vegetação nativa.
Todavia, nos limites do bairro, na divisa com os bairros Chácara de Recreio
São Joaquim e Chácara Mansões Rosa de Ouro, está em processo de construção o
Parque Municipal Jardim Nova Esperança – Parte I. Em relação aos equipamentos de
esportes, o bairro conta atualmente com um ginásio de 1.500 m² destinado à prática de
exercícios. Segundo o Plano Diretor (GOIÂNIA, 2007), Centros de Esportes possuem
um raio de influência máximo de 2000 metros. Devido à sua localização, praticamente
no centro do bairro, o ginásio consegue abranger em seu raio de influência todo o
Jardim Nova Esperança, além de parte dos bairros vizinhos, único quesito de lazer
considerado de acordo com Selo Casa Azul (CEF, 2010).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
13
Figura 3 – Equipamentos urbanos voltados ao esporte no bairro jardim nova esperança
Figura 4 – Equipamentos urbanos voltados ao lazer no bairro jardim nova esperança
4.4 Aspectos culturais no bairro Jardim Nova Esperança
No aspecto cultural, o bairro desfruta de um pequeno equipamento denominado
Sociedade Beneficente Maria Benta e do Educandário Espírita Eurípedes Barsanulfo,
sendo que o primeiro oferece aulas de ballet, dança do ventre, dança de salão, street
dance, taekwondo e ginástica preventiva, enquanto que o segundo oferece aulas de
música (flauta, violão, etc.), teatro e coral. O Plano Diretor de Goiânia estabelece que
o raio máximo de influência para equipamentos culturais é de 2500m, que se estende
ao longo de todo o bairro e parte dos bairros vizinhos.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
14
Figura 5 – Aspectos culturais no bairro Jardim Nova Esperança.
4.5 Equipamentos de saúde e educação no bairro Jardim Nova Esperança
Saúde e educação são tidos como direitos sociais básicos, previstos pela
Constituição Federal de 1988, Art. 6º (BRASIL, 1988). Entretanto, durante o período
da ocupação do bairro, não existia, fosse em âmbito federal, estadual ou municipal,
nenhuma legislação que especificasse os requisitos construtivos mínimos para centros
educacionais. Atualmente, o Plano Diretor de Goiânia estabelece parâmetros tais
como área mínima do terreno, número de alunos por equipamento e raio de influência.
O bairro conta com centro de educação infantil, de ensino fundamental e médio, sendo
eles o CMEI Jardim Nova Esperança, a Escola Municipal Jardim Nova Esperança
e o Colégio Estadual Robinho Martins de Azevedo. Os equipamentos de educação
atendem, respectivamente, aproximadamente 300, 1000 e 1400 alunos durante seu
período de funcionamento. De forma complementar, o bairro conta com o Educandário
Espírita Eurípedes Barsanulfo, mantido pelas Obras Sociais do Centro Espírita
Irmão Áureo – OSCEIA juntamente à Prefeitura de Goiânia, atendendo atualmente
305 alunos com faixa etária entre de 3 e 14 anos. Os equipamentos dados como
Centros de Educação Infantil não abrangem em seu raio toda a extensão do bairro
em comparação às recomendações do Selo Casa Azul (CEF, 2010), deixando alguns
‘vazios’ (Figura 2), situação não observada nos Centros de Ensino Fundamental e Médio.
Suplementarmente, o bairro é beneficiado com Centros Educacionais localizados em
bairros vizinhos, tais como a Escola Direito do Saber – CECOM, no bairro Santos
Dumont, e a Escola Municipal Coronel José Viana Alves, no bairro Cândida de Morais.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
15
Figura 6 – Mapa de Localização das Escolas Públicas no Jardim Nova Esperança
O bairro não conta com nenhum equipamento de saúde público, entretanto,
considerando o raio de influência para Centros de Saúde (1500m) disposto no Plano
Diretor de Goiânia (2008), o equipamento situado no bairro vizinho, Cândida de
Morais, consegue enquadrar sob seu raio toda a extensão do Jardim Nova Esperança.
Para o quesito equipamento de saúde, o Plano Diretor (GOIÂNIA, 2007) é mais
restrito que o Selo Casa Azul (CEF, 2010), cuja recomendação é de no máximo 2500
metros. Entretanto, nas proximidades do bairro está situado o Hospital de Urgências
Governador Otávio Lage de Siqueira, unidade classificada de acordo com o Plano
Diretor como Hospital Regional, com raio de influência regional.
Figura 7 – Equipamentos de saúde no bairro jardim nova esperança.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
16
4.6 Sistema de infraestrutura urbana no bairro Jardim Nova Esperança
O Jardim Nova Esperança apresenta problemas de alagamento tendo como
principais causas o mau planejamento do sistema de drenagem, a impermeabilização
do solo e, consequentemente, a redução das áreas de infiltração. A conservação da
pavimentação das vias se encontra em estado precário, sendo comum a presença de
buracos e remendos. Observam-se despejos de efluentes domésticos diretamente nas
ruas, além de cortes no pavimento para realização de obras públicas retardatárias, como
o esgotamento sanitário. Evidencia-se ainda a completa ausência de acessibilidade a
espaços e equipamentos urbanos conforme recomenda a NBR 9050 (ABNT, 2015).
Em relação ao abastecimento de água e coleta de esgoto (BRASIL, 2015),
todas as edificações do bairro são servidas pela rede pública, bem como por energia.
Entretanto, os moradores reclamam das frequentes quedas de energia, falta de água
e ocasional presença de água com aspecto sujo.
De acordo com a NBR 9284 (ABNT, 1986), o sistema de comunicação é
composto pelas redes de Correios e Telégrafos, de Rádio e Televisão e Telefonia,
atualmente elemento principal do sistema. No bairro em questão, atuam diversas
empresas prestadoras desse tipo de serviço, propiciando para a população o benefício
da liberdade de escolha, onde há a possibilidade de migrar para empresas ou planos
que melhor satisfaçam suas necessidades. Entretanto, no bairro não há agência de
Correios.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise realizada, conclui-se que o bairro, na maior parte dos elementos
descritos, atende minimamente ao que rege o Plano Diretor de Goiânia e o Selo Casa
Azul (CEF, 2010), salvo nos pontos levantados relativos à educação no nível maternal
e ao meio ambiente. Quanto à educação, é imprescindível a inserção de novos
equipamentos nas dependências no bairro. Quanto ao meio ambiente, apesar dos
esforços criados para a preservação das APP’s com a inserção do Parque Ecológico,
faz-se necessário a remoção das pessoas ali residentes de forma a promover
sustentabilidade ambiental, social e segurança, visto que tais locais estão expostos às
enchentes do Córrego Caveirinha, áreas de risco.
Todavia, fica evidente a necessidade da implementação de outras medidas
socioambientais, tais como saúde, malha viária/pavimentação asfáltica, acessibilidade
e lançamento de resíduos líquidos nas vias para promover a sustentabilidade
socioambiental. Entre os problemas relacionados pelos moradores, é notável que,
apesar de estar em conformidade com o Plano Diretor (GOIÂNIA, 2007) e o Selo
Casa Azul (CEF, 2010), a questão de saúde é precária na região, visto que o CAIS
mais próximo ao bairro já trabalha acima de sua capacidade máxima. Recomendase também a readequação das vias considerando questões como o trânsito local,
demandas da população e de acessibilidade a espaços e equipamentos urbanos,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
17
conforme recomenda a NBR 9050 (ABNT, 2015). É necessária ainda a reversão do
lançamento indiscriminado de resíduos líquidos nas vias provenientes das edificações,
que vem causando o deterioramento da pavimentação asfáltica.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9284: Normas para elaboração de
Plano Diretor. ABNT– Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 1990. _______.
NBR 9050: Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. ABNT–
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2015.
BOLETIM, Comunicado aos Moradores do Jardim Nova Esperança: Nº 02 – novembro de 1979.
BRASIL. Lei 6766, de 19 de dezembro de 1979. Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá
outras Providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L6766.htm. Acesso em:
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_______. Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988. Senado Federal. Disponível em: https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88_Livro_EC91_2016.pdf. Acesso em:
10/10/2017.
______. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos –
2015. Brasília: SNSA/MCIDADES, 2017. 212 p.
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF. Selo Casa Azul: boas práticas para habitação mais
sustentável. Coord.: Vanderley Moacyr John, Racine Tadeu Araújo Prado . São Paulo : Páginas &
Letras - Editora e Gráfica, 2010.
GOIÂNIA (Município). Lei n. 4.526, de 20 de janeiro de 1.972. Dispõe sobre loteamentos urbanos e
remanejamentos. Diário Oficial n° 271 de 21 de janeiro de 1972.
_______. Lei 171, de 29 de maio de 2007. Dispõe sobre o Plano Diretor e o processo de
planejamento urbano do Município de Goiânia e dá outras providências. Diário Oficial do Município de
Goiânia, n° 4.147, 26/06/2007.
_______. Lei 177, de 9 de janeiro de 2008. Dispõe sobre o Código de Obras e Edificações do
Município de Goiânia e dá outras providências. Diário Oficial do Município de Goiânia, n° 4.285,
16/01/2008.
MOYSÉS, Aristides. A produção de territórios segregados na Região Noroeste de Goiânia: uma
leitura sócio-política. II Encontro “Democracia, Igualdade e Qualidade de Vida O desafio para as
cidades do século XXI”; Belém-PA, v. 19, 2001.
OLIVEIRA, Adão Francisco de. Posseiros, movimentos sociais e identidade de classe em
Goiânia: espoliação da terra urbana ou sobrevivência. 2002. Monografia (graduação em História).
Departamento de História da UFG. Goiânia, 2002.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 2
18
CAPÍTULO 3
ANÁLISE DO IMPACTO DO RS MAIS IGUAL NO
CAPITAL SOCIAL DOS SEUS BENEFICIÁRIOS
Ana Julia Bonzanini Bernardi
Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Ciência Política (PPGCP-UFRGS)
Porto Alegre, RS.
Jennifer Azambuja de Morais
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pós
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em
Ciência Política (PPGCP-UFRGS)
Porto Alegre, RS.
RESUMO: Este artigo procura conhecer os
efeitos do programa RS mais igual sobre
o capital social e os ideais de cidadania e
inclusão da população beneficiada, através da
análise de discurso nas entrevistas realizadas
ao longo do projeto Observatório de Politicas
Sociais do Estado do RS. Acredita-se que
as considerações dos beneficiários sobre os
efeitos do programa, bem como a análise
de aspectos imateriais presente no próprio
discurso, sejam uma importante fonte para
avaliação da efetividade desta política pública. A
partir das análises de discurso percebeu-se um
incremento da autonomia e noções de cidadania
por parte dos beneficiários, embora não tenha
sido encontrado um maior engajamento em
associações cívicas.
Públicas; RS Mais Igual.
Analysis of the impact of RS Mais Igual on the
social capital of its beneficiaries
ABSTRACT: This article investigates the
major gains in terms of social, political, and
cultural capital as well as ideals of citizenship
and inclusion by the beneficiaries of RS Mais
Igual through the analysis of discourse in the
interviews carried out along the Observatory of
Social Policies of the State of RS. It is believed
that the beneficiaries’ considerations about the
effects of the program, as well as the analysis
of immaterial aspects present in the speech
itself, are an important source for evaluating the
effectiveness of this public policy. In the discourse
analyzes although a greater engagement in
civic associations was not found, we perceived
an increase on the feelings of autonomy and
notions of citizenship by the beneficiaries
KEYWORDS: Social Capital, Public Policies,
RS Mais Igual.
1 | INTRODUÇÃO
No
cenário
atual
de
crise
política
brasileira, passou-se a questionar o modelo
de desenvolvimento social que estava sendo
aplicado ao longo dos últimos anos, sobretudo
no que se dialoga entre políticas sociais e
PALAVRAS-CHAVE: Capital Social; Políticas
inclusão produtiva para eliminação da extrema
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
19
pobreza no País. Desde a eleição de Luiz Inácio da Silva (Lula) em 2002, o País
passou a adotar uma série de políticas sociais, que em formato de rede, articuladas
principalmente a partir do Programa Brasil sem Miséria, sob a liderança do Bolsa
Família, buscaram erradicar a extrema miséria vinculando programas de transferência
de renda focalizados através de uma série de pré-requisitos, afim de atingir as famílias
mais necessitadas (POCHMANN, 2010; LAVINAS, 2007). Nesse sentido, sob mando
do Ministério de Desenvolvimento Social, passaram-se a estabelecer uma série de
acordos com os entes federados, buscando melhor atender as diferentes realidades
do País.
Para além das ações reconhecidas internacionalmente, como o Programa Bolsa
Família e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), ampliou-se a gama de
benefícios concedidos, bem como o gasto público com a área social. O lançamento
do Plano Brasil sem Miséria, em junho de 2011, visou aprofundar os ganhos obtidos
até então no Governo Lula atuando a partir de três principais eixos: 1) transferência de
renda, 2) acesso a serviços públicos e 3) inclusão produtiva, com fins de garantir uma
maior distribuição de renda.
As principais ações do Plano Brasil sem Miséria incluem o Bolsa Família, o
Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC) e o Brasil Carinhoso,
sendo direcionados aos brasileiros que tem renda familiar inferior a R$ 70 reais por
pessoa, dando atenção especial a grupos específicos que têm se mostrado mais
propensos à situação da extrema pobreza, como comunidades tradicionais, indígenas,
negros, crianças e mulheres. A inclusão destes para o recebimento do beneficio se
dá via Cadastro Único e com o auxílio das equipes volantes que realizam busca ativa
desta população, cerca de 687 mil novas famílias foram inclusas até o ano de 2013
(BRASIL, 2013).
A estratégia do Plano Brasil Sem Miséria buscava incluir os estados e municípios
para facilitar a chegada aos beneficiários, de forma a moldar o programa conforme
as necessidades locais. Dentro disso, para melhor operar no Rio Grande do Sul, foi
firmado o Acordo de Cooperação 05/2011 entre o Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS) e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, colocando em prática
o Programa RS Mais Igual com a finalidade de complementar a renda das famílias
beneficiárias do programa Bolsa-Família (PBF) no plano estadual com um valor inicial
de R$50,00 atendendo inicialmente cerca de 18 mil e 500 famílias (CEGOV, 2013).
O Programa RS Mais Igual, que teve início em 2012, foca na complexidade das
famílias gaúchas desde a realidade de pobreza rural como a da urbana, ao também
contemplar as particularidades de grupos minoritários, como indígenas, pescadores,
quilombolas e catadores – possibilitando que estas diferentes famílias pudessem
utilizar esta verba, conforme suas necessidades específicas. Desde então, segundo
dados disponibilizados pela Casa Civil, das 436.585 famílias beneficiárias do Programa
Bolsa Família no RS (totalizando um repasse mensal de R$ 68.562.064,00 até agosto
de 2014) o Programa RS Mais Igual atendeu mais de 100 mil famílias gaúchas. Para
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
20
isso, o estado do Rio Grande do Sul investiu R$ 5 milhões em 2012, R$ 27 milhões em
2013 e R$ 70 milhões em 2014 (CEGOV, 2014). Conforme pronunciamento da Casa
Civil, o RS Mais Igual em setembro de 2015 atendia cerca de 56 mil famílias, uma
vez que a cada mês, cerca de 700 famílias deixam o programa, ou por superarem a
linha da pobreza, ou por não terem mais filhos entre zero e seis anos, acumulando um
desembolso mensal de cerca de R$4,3 milhões por parte do Governo do Estado (RIO
GRANDE DO SUL, 2015). Nesse sentido, tomando as políticas públicas como ações
de governo (PETERS, 1995; DYE, 1984) que são estruturadas para definir prioridades
nos investimentos e gastos do estado, o RS Mais Igual se destaca como uma política
pública de cunho social, ou especificamente uma política social focada na redução da
pobreza.
Desta forma, visando analisar a efetividade do programa e procurar pontos
de melhora, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da casa civil,
estabeleceu-se uma parceria com o Centro de Estudos Internacionais sobre Governo
(CEGOV) ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para buscar
compreender o perfil das famílias beneficiárias, bem como potenciais diferenças
regionais e, sobretudo, a percepção dos beneficiários sobre os impactos do programa
na busca da superação da pobreza. O Observatório de Políticas Sociais do RS foi
efetivamente implementado ao longo do ano de 2014, contando com uma rede de
pesquisadores da UFRGS, e a organização de 13 agentes de campo capacitados para
coletar informações através de questionários semiestruturados, nas nove regiões do
estado (conforme distribuição por COREDES), totalizando cerca de 281 entrevistas
com os beneficiários.
Uma vez esclarecido o contexto geral do programa RS Mais Igual, bem como a
metodologia utilizada pelo Observatório de Políticas Sociais para analisá-lo, este artigo
tem o objetivo de investigar os efeitos desta política pública sobre o capital social e
os ideais de cidadania da população beneficiada. Para alcançar este objetivo serão
analisados os relatos dos beneficiários, com o auxílio do software Nvivo. Acredita-se
que as considerações dos beneficiários sobre os efeitos do programa, assim como
a análise de elementos imateriais presentes nos próprios discursos, se caracterizem
como uma importante fonte para avaliação da efetividade desta política pública.
Dentro deste contexto, a metodologia deste trabalho busca analisar
qualitativamente através dos discursos dos beneficiários, possíveis impactos gerados
pelo Programa RS Mais Igual no incremento da cidadania política e do capital social
destes beneficiários, atentando a aspectos que possam melhorar políticas futuras no
estado, visto que ao longo do ano de 2015 e 2016, com a troca de Governo sabese que os repasses foram diminuídos, e que o programa se encontra em fase de
desmonte.
No que tange à metodologia qualitativa, Minayo (2008, p.86) destaca duas
principais correntes utilizadas na análise de políticas públicas. A primeira delas faz
referência à escala de atitudes, que se baseia no uso de escalas para mensuração de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
21
valores, opiniões e vivências intersubjetivas por meio de atribuição numéricas (MINAYO,
2009, p.85,86). Os problemas desta abordagem residem na homogeneização da
amostra, uma vez que descarta as individualidades dos entes analisados mediante os
critérios pré-estabelecidos pelo pesquisador.
Em contraponto, a segunda abordagem, promove a construção dos indicadores
qualitativos propriamente ditos, considerando-os como únicos a partir de cada
realidade analisada, sendo esta o ponto de origem da construção dos indicadores.
Desta maneira, os indicadores auxiliam na reprodução analítica da realidade de cada
beneficiário, e não como uma forma de “comprovação” (MINAYO, 2009 p.87). Nesse
sentido, considerando-se os indicadores qualitativos como balizas avaliativas, que
permitem mapear com mais profundidade a natureza das mudanças ocorridas e em
processo (DESLANDES, 2002), o uso da análise por narrativa permite uma maior
compreensão dos aspectos intangíveis que se pretende analisar, os quais não seriam
realizáveis por meio do método quantitativo.
Analisando os resultados obtidos no Observatório de Políticas Sociais do RS,
aprofundados neste artigo, cabe não só o questionamento do modelo de políticas
públicas a ser propagado, mas também do modelo de desenvolvimento humano que
se busca implementar, visto o período político de instabilidade democrática e cortes
de gastos nas áreas sociais. As reflexões acerca da validade das políticas sociais
realizadas neste último período se dão no sentindo de questionar a importância da
inclusão cidadã destes que vivem às margens da sociedade, e até que ponto as
políticas de transferência de renda conseguiram ultrapassar o limite da inclusão do
consumo e, de fato, promoveram uma inclusão política destes cidadãos.
2 | POLÍTICAS PÚBLICAS DE REDUÇÃO DA POBREZA E A EXPERIÊNCIA DE
ANÁLISE DO RS MAIS IGUAL
O Observatório de Políticas Sociais do RS foi constituído em 2013 por uma equipe
de onze pesquisadores, entre eles professores, doutorandos, mestrandos e graduandos
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além dos 13 agentes de campo
e a equipe de apoio do RS Mais Igual. O projeto buscou investigar o perfil da pobreza
nas diferentes regiões do estado, levando em conta os diferentes contextos nos quais
as famílias estavam inseridas, assim como questões de pertencimento a comunidades
tradicionais, fatores étnicos e de gênero. Dentro deste objetivo, desenhou-se duas
principais estratégias para o desenvolvimento do projeto, a primeira dizendo respeito
ao estudo do perfil dos municípios e regiões que participam do RS Mais Igual, uma
vez que estas se diferem muito entre si. A segunda estratégia foi de traçar o perfil das
famílias beneficiárias por meio dos questionários e entrevistas realizadas, para além
dos dados quantitativos e características socioeconômicas, possibilitando a análise do
impacto obtido pelo programa no combate à pobreza, observando aspectos simbólicos
como capitais culturais, sociais e políticos, trazidos na fala dos beneficiários.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
22
Quanto ao primeiro objetivo foi realizado uma pesquisa prévia, anterior ao
processo de coleta de entrevista com os beneficiários, na qual buscou-se unificar as
informações socioeconômicas e de benefícios sociais de 496 municípios do Estado,
utilizando diferentes fontes. Desta forma, foram inclusas informações dos municípios
que participam do RS Mais Igual, bem como daqueles que não aderiram ao programa,
construindo um banco de dados que permitiu o mapeamento do perfil dos municípios
participantes, possibilitando a comparação entre os mesmos.
A segunda dimensão da pesquisa incluiu a análise das entrevistas coletadas pelos
agentes de campo, conduzidas por meio de questionário semiestruturado, contando
com uma série de questões fechadas que tratavam majoritariamente de dados
socioeconômicos de cada família, tais como o perfil (rural, urbano, ou comunidades
tradicionais), composição familiar e características de domicílio, dimensões da
cidadania (posse de documentos, e utilização de serviços públicos), sobre o acesso à
educação e trabalho e característica de consumo e aquisição.
Nas questões abertas, abordou-se o conhecimento dos beneficiários sobre os
programas sociais em que estavam atrelados, além da forma de acesso a serviços
públicos disponíveis na região. Buscou-se conhecer mais profundamente quem são
e como pensam os favorecidos pelo programa, investigando como estes veem a
pobreza, se relacionam com ela, e enfrentam suas violências e as vulnerabilidades
às quais estão expostos, além de compreender seu papel na política, movimentos
sociais e exercício de direitos. Além disso, objetivou-se analisar os ganhos materiais
e simbólicos das famílias, nos termos de maior autonomia, e aumento de poder de
compra após o recebimento do benefício e também as suas expectativas acerca
do futuro para si e para seus filhos, em comparação com a situação anterior. Do
mesmo modo foram incluídas questões amplas e subjetivas, para compreender se
o respondente se “sentia feliz” e “seguro” ou se já havia passado por situação de
discriminação (MADEIRA, et al 2015).
Em termos gerais, muito foi construído e avaliado sobre o perfil dos beneficiários e
os alcances do RS Mais Igual dentro dos limites prescritos pelo curto tempo de pesquisa.
Os dados socioeconômicos levantados, bem como o perfil das famílias permitiu uma
melhor compreensão das diferentes facetas da pobreza no estado, fornecendo um
material sólido para o monitoramento e aperfeiçoamento do programa, ou a base para
a fundação de outros. No que tange os ganhos em capital social, político e simbólico,
além dos resultados gerais, serão analisados mais minunciosamente nos próximos
itens. Mas analisando o panorama, sobre o trabalho desenvolvido, acredita-se que as
suas limitações estejam nas dificuldades inerentes ao processo de monitoramento e
avaliação de políticas públicas, sobretudo no que tange “[...] as suas incapacidades de
aferir aquisições materiais, mas especialmente simbólicas, no curto espaço de tempo
em políticas cuja perspectiva e meta são a mudança de padrões de vida, aquisições
de capitais, empoderamento e cidadania geracionais” (MADEIRA et al. 2015, p.108).
Nesse sentido, este trabalho enquadra-se na perspectiva cultural e institucional,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
23
no sentido de compreender a ação do estado na formação de capital social. Assim não
excluindo nenhuma das duas vertentes, mas trabalhando a lógica de que o acúmulo
de capital social propicia melhor desenvolvimento da sociedade e de que a gestão
pública, junto com outros mecanismos, pode estimular, através das políticas públicas,
o engajamento cívico, confiança e cooperação. Ou seja, a construção e fomento de
capital social pode dar-se através das políticas de fomento do estado, principalmente,
as políticas de transferências de renda, pois essas são necessárias para que haja uma
verdadeira emancipação da população desassistida, de fato a realmente incluí-la no
processo democrático como cidadão, aumentando suas capacidades (SEN, 2010),
para além do âmbito da inclusão pelo consumo (D’ARAUJO, 2004; DEMO, 2003;
NÉRI, 2001, 2003).
3 | CAPITAL SOCIAL
O capital social é um conceito que trabalha com a importância da existência e da
qualidade das relações sociais para o desenvolvimento social, econômico e político de
uma comunidade. Essas relações sociais são estabelecidas na forma de redes sociais
ou de normas, e são caracterizadas pelos atributos de reciprocidade, confiança,
solidariedade e cooperação.
Na área da Ciência Política o conceito de capital social, tributário de teóricos
clássicos, como Toqueville, Durkheim e Weber, é debatido por Bourdieu (1980 e 1999),
Coleman (1988 e 1994), Putnam (1996), Portes (1998), Fukuyama (2002), entre
outros. No entanto, ganhou destaque com a obra de Putnam sobre a cultura cívica
e o desenvolvimento regional da Itália. Trazendo para o debate a questão de que
sociedades são mais desenvolvidas quando possuem capital social, na medida em
que “são práticas sociais, normas e relações de confiança que existem entre cidadãos
numa determinada sociedade, bem como, sistemas de participação e associação que
estimulam a cooperação” (PUTNAM, 1996, p.177). Além das relações de confiança e
reciprocidade, Putnam ressalta que o capital social está ligado ao processo histórico e
cultural, “o contexto social e a história condicionam profundamente o desempenho das
instituições” (PUTNAM, 1996, p. 191).
Altos níveis de capital social são positivos para a democracia, pois, segundo
Putnam (1996), colaboram para participação cívica (reconhecimento e a busca do
bem coletivo e público), igualdade política, solidariedade, confiança e tolerância, além
da cooperação mútua. Complementar a isso, Abramovay (2002) defende que a noção
de capital social permite ver que os indivíduos não agem independentemente, assim,
as estruturas sociais devem ser vistas como recursos, como um ativo de capital de que
os indivíduos podem dispor.
Entretanto, por mais que o conceito tente compreender as relações e as estruturas
sociais, observa-se um conjunto de críticas ao capital social e a sua aplicação,
principalmente quando relacionada com o estado. Críticos observam a postura elitista
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
24
do conceito, que vislumbra no estudo de Putnam o bom desempenho institucional, e
também o desenvolvimento regional relacionado às comunidades com acúmulo de
capital social, caracterizando-se como um determinismo cultural. Entre os críticos é
exercida a justificativa de que as comunidades não cívicas e sem volume de capital
social estariam condenadas ao não desenvolvimento econômico e social.
A corrente neoinstitucionalista critica, principalmente, a ligação do contexto
histórico para formação de capital social ou engajamento cívico. Evans (1996) articula
a participação do Estado na criação de capital social, ou seja, o Estado pode promover
a formação do capital social. Segundo Abu-El- Haj (1999, p. 96), Evans assume o
pressuposto básico de que as “instituições públicas, além de terem o monopólio da
coerção, possuem a exclusividade da mobilização dos recursos sociais”, determinando,
em última instância o sucesso das iniciativas voluntaristas.
Especificamente no campo das políticas públicas na América Latina, o conceito
de capital social vem ganhando destaque desde os meados da década de 1990.
Sendo relacionado a um ideal neoliberal de políticas sociais, uma vez que foi incluso
no receituário do Banco Mundial a partir de 1995, com a proposta de incluir outros
setores além do Estado, na luta das melhorias sociais (HIGGINS, 2005). Dentro desta
crítica, a abordagem de fomento do capital social buscava “desonerar” o Estado de
uma participação tão forte na área social, uma vez que debate sobre a construção de
relações sociais entre os cidadãos como forma de organização social baseada em
normas e redes de compromisso cívico de reciprocidade (associativismo), confiança
e responsabilidade social, sendo fatores necessários para o empoderamento das
comunidades pobres e construção de bens coletivos (KLIKSBERG, 2001; D’ARAUJO,
2003).
Na relação mais específica com políticas de redução de pobreza, Demo (2003)
explica que não basta compreender os determinantes do acesso às oportunidades
e o retorno de determinados ativos isolados (como a educação), apresentados aos
miseráveis, mas deve-se olhar de maneira abrangente para todo o contexto. Para
o autor, nesse ponto entra o conceito de capital social, pois a capacidade de uma
comunidade de se organizar frente a uma situação adversa é determinante de sua
consequência de curto e de longo prazo. Esse processo passa não só pela mobilização
interna da comunidade como pela sua capacidade de articulação com outros níveis da
sociedade através do voto, pressão política, etc.
Nesse sentido, a construção de altos níveis de capital social potencializa uma
maior ação democrática e defesa de princípios de igualdade, garantindo que os
investimentos sociais se tornem permanentes e crescentes. A seguir analisaremos
algumas das entrevistas realizadas pelos beneficiários, buscando evidenciar possíveis
mudanças em termos de capital social, reconhecimento e acesso à cidadania, geradas
pelo programa.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
25
4 | ANÁLISE DO IMPACTO DO RS MAIS IGUAL NA FORMAÇÃO DE CIDADÃOS EMPODERAMENTO, CIDADANIA E ACESSO A DIREITOS
Através das análises realizadas na pesquisa podemos observar que as famílias
entrevistadas tinham grandes carências em outras formas de capitais, para além do
capital econômico, sobretudo no que tange a dimensão de capital social. As análises
qualitativas e definição do perfil das famílias beneficiadas deixaram claro os ganhos
em termos de melhorias da qualidade de vida e ampliação das capacidades, sejam
de consumo, ou da própria melhora da autoestima e conhecimento da utilização de
serviços públicos disponíveis.
Embora as carências ainda existam, uma vez após o acesso ao benefício
verifica-se possibilidades de melhora no futuro destas famílias, uma vez que o
acesso ao benefício está atrelado a condições como frequência escolar dos filhos
na escola, acompanhamento médico das crianças e uma maior inclusão dentro dos
benefícios públicos previstos pelo Estado. Especificamente, percebeu-se um maior
empoderamento das mulheres (apenas houve um homem entrevistado), que como
chefe de casas, tendo acesso ao valor, sentiam-se mais seguras e “donas de si”,
quando questionadas como se sentiam em relação ao recebimento do benefício.
Dentro da amostra de 370 entrevistas, apenas 4 foram realizadas com homens. Ao
questionarmos aos entrevistados quem era responsável pela administração do cartão
verificamos que 98% das vezes são as próprias mulheres entrevistadas, conforme
demonstrado no Gráfico 1 abaixo.
Gráfico 1 – Responsável pela administração dos benefícios (% de mulheres)
Fonte: CEGOV, 2014
N 276
Quando questionadas se o recebimento do benefício, fazia com que estas
mulheres se sentissem mais autônomas, grande parte (cerca de 79%) respondeu que
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
26
sim, conforme demonstrado no gráfico abaixo.
Gráfico 2 – Você se sente autônoma? (% de mulheres)
Fonte: CEGOV, 2014
N 366
Neste mesmo sentido, ao analisar os relatos das beneficiárias, é recorrente não
só a afirmação do maior sentimento de autonomia, como também fica implícita, e em
algumas declarações de forma mais explícita, a relação entre o aumento de autonomia
trazido pelo benefício e o acréscimo de sua própria autoestima e sentimento de
cidadania. Ao analisar o Gráfico 3, por exemplo, pode-se observar que 81,4% dos
beneficiários indicaram que antes do recebimento do beneficio não era possível a
compra de artigos que fossem além da cesta básica.
Gráfico 3 - Antes do benefício, sobrava dinheiro para comprar roupas, calçados e artigos de
necessidade pessoal? (% de respondentes)
Fonte: CEGOV, 2014.
N 370
O mesmo também fica explicito nos relatos dos beneficiários, que indicam maior
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
27
autonomia na decisão do que será consumido após o recebimento dos benefícios.
Pois é... eu me sinto bem porque aí tu pode favorece o teu filho. Um tênis melhorzinho,
né? A roupa, uma coisa que eles queiram, né? Não... as vez não pode dá e com o
Bolsa tu tem aquele... todo mês aquele dinheirinho ali que tu pode usa, eu vo dá,
vou consegui te da isso, vou consegui te da aquilo. Como eles pedem, né? Esse
de quinze e a de oi... a de cinco já pedem. Que marca quer, que tipo quer. Aí tu
consegue, né? [...]... bah eu me sinto bem porque, tem coisa as vez assim, né, que
tu precisa mesmo ah, esse mês vo compra isso, sabe, deixo isso que eu preciso
menos pro outro mês.
(Bagé, entrevista 5)
É, esse cartão pra mim foi muito bom, tipo assim. Tu sentir um orgulho de ter um
dinheiro, uma coisa pra poder manter a tua família, né? E, no caso, sou eu que
recebo, né, e compro as coisas. Eu que administro, né?
(Porto Alegre, entrevista 5)
A posse do cartão e a decisão de como utilizá-lo, aumentou o sentimento de
cidadão, possuidor de direitos, conforme relatado por grande parte dos beneficiários
nas entrevistas. Embora se mostre recorrente a dificuldade no acesso a estes serviços
básicos, os beneficiários sentem-se em posse de direitos, e indicam que a integração
ao programa possibilitou uma maior familiaridade com os serviços públicos disponíveis,
conforme pode ser observado nos relatos abaixo:
Sim, eu acho que como todos nós, no caso né, a população tem que se sentir
assim. (...). É, não é muito fácil, né. A gente tem que corre bastante atrás, muitas
vezes a gente leva um não, que não tem, mas eu corro atrás quando eu preciso
alguma coisa. Nem sempre a gente consegue, né, mas...
(Bagé, entrevista 3)
Se eu procura eu vô encontra, né. Eu sei que eles existem.
(Santa Maria, Entrevista 12)
olha, eu acho que todo mundo tem direito a tudo, né, só não tem se não quer, se tu
não correr atrás, se eu ficar aqui sentada eu não vou conseguir, se eu for atrás e for
a luta, com certeza, que nem o Bolsa Família, eu fui la e fiz, demorou, demorou de
fato, demorou mas veio né, então é um direito meu, um direito da minha filha, que
se eu tivesse deixado eu não teria hoje, e hoje eu tenho posso usufruir dele porque
eu fui atrás, que nem o colégio, a mesma coisa, que nem tudo na vida da gente é
assim né.
(Santana do Livramento, entrevista 2)
Outra dimensão demarcada pelos beneficiários foi o entendimento que junto
com os direitos, também haviam deveres a serem cumpridos, demonstrando uma boa
compreensão dos ideais do programa dentro do objetivo de prover uma vida melhor à
família como um todo, e especialmente às crianças. Grande parte dos relatos referem
que o valor mensal é investido quase que completamente em prol dos filhos, seja
em alimentação, material escolar ou vestimenta. A entrevistada 12A de Porto Alegre,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
28
quando perguntada se se sente possuidora de direitos, destaca;
Eu... Claro que eu me considero uma pessoa... Eu me sinto, sim, uma pessoa que
tem esse direito. E eu considero que, para minha classe social, esse direito ele
é quase que inexistente, né, de certa forma. Ele até existe, mas é aquela coisa
assim: é pouco, é muito pouco. Mas também tem aquela coisa: as pessoas... Não
adianta também ficar só buscando direito, direito, direito e não cumprir com as
minhas obrigações, né? Então, tudo é uma coisa que eu tenho que pesar. Eu tenho,
meus direitos tão ali. Vai ter pessoas que vão querer passar por cima dos meus
direitos, mas assim também como vão ter pessoas que vão deixar usufruir dos
meus direitos. Mas eu também não posso esquecer das minhas obrigações, né?
(Porto Alegre, Entrevista 12A)
Nesse sentido, podemos relacionar a autonomia e o maior conhecimento dos
seus direitos como uma alavanca para uma maior inclusão cidadã, que inclui um maior
conhecimento dos direitos e deveres cívicos, impulsionando maior interesse na esfera
política para buscar garanti-los. Dentro disso, perguntou-se para os beneficiários, qual
era seu papel nas escolhas políticas e de que forma estas poderiam participar, cobrar e
influir na vida pública. Percebe-se uma certa impotência no discurso dos beneficiários,
que vem a esfera política como distante de si, e um grande descrédito do sistema
político em geral. Em muitos relatos, observa-se a participação política como algo
meramente relacionado à arena eleitoral. Segue alguns destacados abaixo:
Olha pra te falar a verdade no ano passado, o outro, na última eleição eu nem votei
porque vieram aqui, ali na rua, vieram aqui arrumar a rua, botaram todo o barro
aqui, não tinha passada, eu tive que fazer aquela passada ali, bota pedra. Que eles
vêm, em vez deles melhorar eles pioram, então não adianta. A luz mesmo eu pago
iluminação pública mas tu vem aqui de noite tu não enxerga nada. Que não tem (...)
Ai, eu vou, eu cobro, eu peço mas não adianta, né. Então, vota pra que se tu vota e
não te ajudam em nada. Eu acho, pelo menos a mim não me ajudam.
(Dom Pedrito, Entrevista 6)
Tu sabe que eu vejo bem... em quem vota, tu ta dizendo? Tu sabe que eu me
decepcionei bastante com alguns que eu votei e já teve anos que eu votei em
branco mas aí eu vi que em branco não valia a pena aí eu votei naquelas pessoas
que, bom acho que esse aí pode (...)Eu acho que o... meu papel é como cidadã
mesmo, né? Como eu tava te falando porque se tu paga tanto imposto e só porque
tu é pobre ah... aparente mente vão te tratar mal, se fosse...
(Bagé, Entrevista 2)
Não... eu já estou muito desanimada com estas coisa, e eu ai eu penso assim se eu
fosse fazer o meu papel certo de repente, mas só que... como eu pode ter muitas
outras pessoas que falam a mesma coisa que vão lá e votam em branco, e ai a
gente sempre vai deixando os pior, sempre deixando os pior eles podem dizer
assim que tu é um só mas ai do outro lado tem outro também, mais uma mais um
e assim...
(Entrevista 1, Encantado)
Em contraste, outras beneficiárias, apesar de desacreditadas da política, afirmam
que é importante cobrar dos políticos suas promessas eleitorais, mostrando, mais uma
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
29
vez, a temática da percepção dos seus direitos. Porém, como fica claro nos relatos,
muitas não sabem como fazê-lo de forma prática;
O meu papel eu acho que é, tipo, brigar pelos meus direitos e direitos das outras
pessoas também, né? Pra gente ter, poder conviver num mundo melhor, ter as
coisas direitinho, ter... Como é que eu vou te dizer? Acesso livre a muitas coisas
que a gente precisa, né, pra sobreviver... Porque eu acho que a gente já vota
pra, pra ter um... Como é que eu vou te dizer? Uma resposta daquilo ali, né? Tu tá
votando na pessoa pra pessoa fazer melhorias, tentar fazer pelo povo, né? Acho
que é isso.
(Porto Alegre, Entrevista 5B)
Acho que o povo se acomoda um pouco né tinha que cobra um pouco mais
(Palmeira das Missões, Entrevista 19)
Outra beneficiária de Alvorada, conforme relato abaixo, demarca o reconhecimento
dos direitos e da necessidade de cobrá-los, porém pontua a dificuldade de organizar
a comunidade para fazê-lo, com medo de que frente a uma mobilização com maior
número de pessoas venha a envolver ação policial e mesmo violência, frente a
percepção de uma “bagunça”;
No caso, assim: a gente sabe que a gente tem direito, né? Mas e ir lá cobrar daí,
entendeu? Se não for muita gente... Se for uma pessoa só, eu acho que tem uma...
Não vai ter uma aceitação; e se for muita gente lá cobrando ao mesmo tempo, vai
ter... Bagunça. (riso) capaz até de ter... De envolver até a polícia, né? De tomar
outros rumos, né?
(Alvorada, Entrevista 3B)
Quando questionadas sobre a participação em movimentos sociais, organizações
não governamentais, associações comunitárias, ou até mesmo projetos do governo
em sua região, observou-se pouquíssimas respostas positivas, conforme demonstrado
na tabela abaixo. Conforme consta no Gráfico 4, apenas 13%, de um total de 370
entrevistadas mencionou participar de algum movimento ou instituição social.
Gráfico 4 – Participa de algum movimento ou instituição social? (% de respondentes)
Fonte: CEGOV, 2014
N 370
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Capítulo 3
30
Dentro das poucas respostas positivas, encontramos beneficiários que citaram
terem participado do Orçamento Participativo, e também atividades de associações
comunitárias em Porto Alegre. Algumas das referências encontradas dizem respeito as
entidades religiosas, de forma que as associações de cunho político foram, realmente,
muito pouco mencionadas.
Conforme pode ser analisado, não há um grande engajamento em associações
cívicas ou um aprofundamento dos laços de capital social a partir da introdução do
programa. No entanto, percebe-se um aumento da autonomia e noções de cidadania e
cooperação horizontal dos beneficiários, o que sugere, que houve sim, um incremento
nas percepções de cidadania e direitos a partir do programa.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O avanço das políticas públicas de desenvolvimento social no Brasil nos últimos
anos do Governo PT, ao passo que possibilitaram a retirada de uma grande parcela
da população da miséria (POCHMANN, 2010; LAVINAS, 2007), atendendo suas
necessidades básicas, se deram, sobretudo, na esfera da inclusão pelo consumo,
não permitindo a formação de um maior capital social, e por conseguinte, uma maior
emancipação e sociabilização política (PASE e SANTOS, 2011). Embora as políticas
de transferência de renda tenham certos limites quanto à geração de capital social e
político, é necessário refletir que no caso brasileiro, dadas às inúmeras fragilidades e
vulnerabilidades da população desassistida “dar o peixe, é condição necessária para se
aprender a pescar” (NERI, 2003, p.75). Desta forma, a continuidade de projetos como
o RS Mais Igual se mostra necessário para a manutenção do projeto de erradicação
da miséria e redução das desigualdades no Brasil.
A análise do RS Mais Igual demonstra que embora o programa tenha
proporcionado uma grande melhoria na qualidade de vida da população em termos
de retirada de situação da miséria extrema, seu efeito em termos de formação de
capital social e político, não teve o mesmo alcance desejado, muito embora tenha
proporcionado um grande passo para a efetivação destes no longo prazo, através do
empoderamento feminino e do aumento da autonomia e formação de capacidades
das beneficiárias. Acredita-se que o desenvolvimento pleno em termos de capital
social e político foram limitados devido às condições iniciais destes beneficiários, que
se encontravam em grande parte em situações de grande vulnerabilidade, para que
em tão curto tempo fosse possível observar uma modificação nos seus padrões de
participação política efetiva e de capital social. Contudo, o recebimento do benefício se
mostra importantíssimo para o planejamento familiar e, portanto, eleva as perspectivas
de um futuro sem miséria para novas gerações de cada família.
Além disso, o problema da desigualdade no país não é passível de solução
apenas por meio de intervenções sociais pontuais, pois carece, sobretudo, de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 3
31
uma reforma do sistema tributário e político. O crescimento econômico recente no
Brasil foi responsável pelo enriquecimento das velhas elites econômicas, políticas
e administrativas do país não beneficiando completamente os grupos mais pobres
(MIDGLEY, 1995 p.130). Desta forma, pode-se dizer que estas políticas sociais não
tiveram um caráter redistributivo da riqueza do país, mas sim compensatório, não
modificando a estrutura de poder das elites – que continuaram a ser as principais
beneficiadas dentro do jogo político. Desta forma, o desequilíbrio entre diminuição dos
ganhos reais destas políticas sociais frente a desestabilidade econômica, não apenas
aumentou a insatisfação com o governo atual, como também diminuiu o capital social
da população e incidiu sobre uma maior desconfiança das Instituições, e partidos
políticos, principalmente sob o signo da corrupção generalizada (BAQUERO, 2015).
A fins de conclusão, apontamos que os avanços obtidos em matéria de capital
social e político através do RS Mais Igual foram restritos ao sentido de maior
empoderamento e sentimento de inclusão cidadã – sobretudo dentro da ótica de
sentir-se mais autônomo e merecedor de direitos. Entretanto, no que tange a confiança
no sistema político, associativismo e participação não foram registrados dados que
possibilitassem afirmar que houve um avanço nesses termos.
6 | AGRADECIMENTOS
Este artigo foi originalmente publicado na Revista Debates v12, n2 (2018) sob o
título “Políticas públicas e capital social: Uma avaliação do RS Mais Igual”.
REFERÊNCIAS
ABU-EL-HAJ, Jawdah. A mobilização do capital social no Brasil: O caso da reforma sanitária no
Ceará. São Paulo: Editora Annablume, 1999.
ABRAMOVAY, M. (Org.). Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios
para as políticas públicas. Brasilia: Unesco; BID, 2002.
BAQUERO, Marcello. A dimensão oculta da democracia latino-americana: A inércia e formas para
superá-la. 122f. Tese para promoção à Professor Titular – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Programa de Ciência Política, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2015. No
prelo.
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Capítulo 3
34
CAPÍTULO 4
ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DO BAIRRO CURIÓUTINGA NOS LIMITES DA BACIA HIDROGRÁFICA DO
TUCUNDUBA EM BELÉM/PA
Isabela Rodrigues Santos
Eng. Ambiental, Universidade Federal Rural da
Amazônia – UFRA
Mestranda, Programa de Pós-Graduação em
Ciências Ambientais, Universidade do Estado do
Pará – UEPA
Belém – Pará
Fernanda Vale de Sousa
Eng. Ambiental, Universidade Federal Rural da
Amazônia – UFRA
Belém – Pará
Camille Vasconcelos Silva
Eng. Ambiental, Universidade Federal Rural da
Amazônia – UFRA
Belém – Pará
Luna Leite Sidrim
Eng. Ambiental, Universidade Federal Rural da
Amazônia – UFRA
Belém – Pará
RESUMO: A Bacia Hidrográfica do Tucunduba é
uma das maiores bacias do município de Belém
no estado do Pará. A urbanização desordenada,
a dinâmica da bacia e a disposição inadequada
de resíduos sólidos urbanos (RSU) apresentam
influência direta na qualidade de vida dos
moradores deste local. A partir disso, o estudo
objetivou realizar análises socioambientais
do segmento de área do bairro Curió-Utinga
inserido na Bacia do Tucunduba. Além de
verificar a percepção ambiental da população
e propor alternativas para as problemáticas. A
área de estudo localiza-se na Área de Proteção
Ambiental na Região Metropolitana de Belém.
A avaliação realizada foi composta por analises
observacionais em campo, aplicação de
questionários e a utilização de geotecnologias.
Os problemas apontados com maior frequência
pelos residentes foram o descarte inadequado
de resíduos sólidos (29%) e alagamentos
(27%). Em relação a escolaridade, 67% dos
moradores apresetaram Ensino Médio Completo
e apenas 3,2% possuiam pós-graduação.
Quanto a disposição inadequada de RSU as
problemáticas mais citadas foram: alagamentos
(25%), proliferação de vetores de doenças
(23%) e poluição da água (20%). Além disso,
a área analisada apresentou predominância
de cotas altimétricas de 5 a 19,2 metros. Dado
isso, verificou-se a possibilidade de conversão
de áreas degradas em áreas verdes urbanas
como alternativa para mitigar as problemáticas
na área estudada, que irá auxiliar a execução
do Plano Diretor do Município de Belém (Lei nº
8655/2008).
PALAVRAS-CHAVE:
Monitoramento
Ambiental; Resíduos Sólidos; Alagamentos.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
35
SOCIO-ENVIRONMENTAL ANALYSIS OF THE DISTRICT CURIÓ-UTINGA ON THE
LIMITS OF THE TUCUNDUBA HYDROGRAPHIC BASIN IN BELÉM/PA
ABSTRACT: The Tucunduba Hydrographic Basin is one of the largest basins in the
municipality of Belém in the state of Pará. Disorganized urbanization, basin dynamics
and inadequate disposition of urban solid waste (USW) are directly related to the quality
of life of local data. Based on this, the meeting aimed to carry out socio-environmental
surveys of the area segment of the Curió-Utinga neighborhood in the Tucunduba Basin.
Besides that, the environmental assessment of the population and propose alternatives
to the problems. One area of the study is located in the Environmental Protection Area
in the Metropolitan Region of Belém. The evaluation was made through observational
field analyzes, questionnaire applications and the use of geotechnologies. The most
frequently reported problems were garbage (29%) and floods (27%). In relation to
schooling, 67% of the residents are in the High School Completion and only 3.2%
had post-graduation. Concerning the inadequate provision of MSW as the most cited
problems were: floods (25%), proliferation of disease vectors (23%) and water pollution
(20%). Besides that, an area analyzed showed a predominance of altimetric heights of
5 to 19.2 meters. Thus, it was verified the possibility of occurrence of degraded areas
in urban green areas as alternatives to mitigate the problems in the area of schooling,
which are auxiliary to the execution of the Master Plan of the Municipality of Belém
(Law 8655/2008).
KEYWORDS: Environmental Monitoring; Solid Waste; Floods.
1 | INTRODUÇÃO
Segundo a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH), estabelecida pela Lei
9.433/97, a bacia hidrográfica é a unidade adotada para implementar o planejamento
de gestão das águas. Na Política de Recursos Hídricos do Estado do Pará (2012), o
município de Belém se encontra na Região Hidrográfica Costa Atlântica – Nordeste.
A Bacia Hidrográfica do Tucunduba, que abrange parte do bairro Curió-Utinga, é uma
das maiores bacias de Belém, localizada na região sudeste do município. A área total
da bacia é de 10,55 km², sendo o igarapé Tucunduba a drenagem principal com cerca
de 3600 metros de extensão e aspecto hidrográfico dendrítico (SANTOS, 2010).
Segundo Figueiredo (2002), 59% da área da bacia do Tucunduba apresenta
cota altimétrica abaixo de 5 metros, contendo ainda 0,99 km/km³ de densidade de
drenagem. A bacia também inclui parte dos bairros do Guamá, Marco, Universitário,
Terra Firme, Canudos e São Braz, desta forma, a dinâmica da bacia influencia
diretamente a qualidade de vida dos moradores destes bairros. Sabe-se que grande
maioria das cidades brasileiras há o crescimento urbano irregular e desordenado, que
origina o surgimento de habitações desestruturadas e sem planejamento, locais onde
o Poder Público atua de forma ineficaz. Esta forma de ocupação acarreta ausência
de assistência por parte do governo estadual, como os serviços de saúde, educação,
trabalho, segurança e lazer (LEÃO; SOUSA, 2016). Diante disso, a inexistência
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
36
de políticas públicas que tem como objetivo a inclusão das classes mais carentes
da população, assim como o modo irregular de ocupação, foram relevantes para o
desenvolvimento de um cenário de degradação ambiental na cidade de Belém do
Pará.
As regiões da baixada e a planície do Igarapé Tucunduba, localizadas em Belém,
são áreas compostas pela Zona Rebaixada e Terraços Fluviais Inundáveis. Esse
perímetro é característico por apresentar inundações periódicas devido o regime de
mares e o índice de pluviosidade (SANTOS, 2010). Ainda, tem-se que de forma geral
a bacia do Tucunduba apresenta baixa declividade com variações médias de 3 a 18 m
de elevação, logo, a bacia é pouco acidentada com relevo tido como plano (TARGA et
al., 2012; SANTOS, 2010).
Além disso, a disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos também está
relacionada com a qualidade de vida nas cidades e o arranjo geográfico desses resíduos
é um dos reflexos dos aspectos de desigualdade social existente em Belém. Sendo
assim, o estudo teve como objetivo desenvolver análises socioambientais em um
segmento de área, no bairro Curió-Utinga, com o intuito de aprimorar o entendimento
da dinâmica ambiental local e da área de estudo. Além disso, buscou-se verificar
a disposição ambientalmente inadequada de resíduos sólidos na área, observar a
ocorrência de alagamentos e obter resultados acerca da percepção ambiental dos
moradores através da aplicação de questionários. Ademais, foram propostas possíveis
alternativas para as problemáticas analisadas.
2 | METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em um segmento de área, pertencente do bairro do
Curió-Utinga, inserido na Bacia do Tucunduba localizada no município de Belém no
Estado do Pará. A área de estudo encontra-se nas coordenadas UTM, zona 22S, N
9841251 E 783775, apresenta 817678,1 m² ou 81,77 ha sendo a Avenida Perimetral a
via de acesso principal, exposta na Figura 1. Esta encontra-se localizada na Área de
Proteção Ambiental (APA) na Região Metropolitana de Belém (RMB).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
37
Figura 1. Mapa de localização da Bacia Hidrográfica do Tucunduba
Fonte: Autoras, 2018.
A Figura 2 a seguir apresenta a localização dos espaços visitados, os pontos
em amarelo correspondem ao Museu Emílio Goeldi, Ponto de despejo inadequado
de resíduos próximo ao Museu, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária da
Amazônia Oriental (EMBRAPA ORIENTAL), Condomínio da EMBRAPA, Companhia
de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), e dois pontos aleatórios de aplicação de
questionários.
Figura 2. Mapa de localização dos pontos visitados
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
38
Fonte: Autoras, 2018.
Nesse sentido, a avaliação realizada baseou-se em análise observacional
realizada in situ, nos dias 26 de fevereiro e 1 de março de 2018 nos períodos da tarde
e da manhã, respectivamente, além do auxílio das ferramentas de Geoprocessamento.
Assim, caracterizou-se parte do bairro Curió-Utinga, pertencente a bacia do Tucunduba
no município de Belém/PA, e identificou-se as problemáticas ambientais e a influência
antrópica na localidade. Além disso, foi verificada a questão dos resíduos sólidos nos
limites da área de estudo.
Foi realizada a aplicação de 41 questionários nos dois dias de visita técnica, em
diferentes pontos da área analisada. O questionário foi composto por 25 perguntas
que abrangem temáticas como noções sobre o meio ambiente, poluição ambiental,
resíduos sólidos, qualidade da água, alagamentos e criminalidade.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de urbanização do município de Belém intensificou-se a partir da
década de 1990, em decorrência da intensa migração populacional relacionada a um
acentuado fluxo migratório no sentido interior-capital (COSTA, 2015). Como exemplo
desse cenário, a bacia do Igarapé Tucunduba, localizada no município de Belém/PA,
apresenta uma conjuntura de acentuada ocupação desordenada e engloba variados
contextos de degradação ambiental (TARGA et al., 2012).
Tendo em vista que uma das consequências da pressão antrópica é o agravamento
de problemas socioambientais, foi analisada a percepção ambiental dos habitantes do
bairro Curió-Utinga. Obteve-se como resultado que, quando questionados em relação
à noção de que fatores poderiam ser considerados como problemas ambientais,
as respostas foram similarmente distribuídas entre as opções sugeridas, conforme
disposto na Figura 3, desmatamento, poluição da água por despejo de resíduos
sólidos, resíduos sólidos em local indevido, esgoto despejado no rio e outros, sendo o
descarte inadequado de resíduos a alternativa mais citada (27%).
Figura 3. Percepção dos moradores do Curió-Utinga acerca de problemas ambientais
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
39
Fonte: Autoras, 2018.
Somado a isso, a totalidade dos entrevistados afirmou a existência de problemas
ambientais no bairro. Dentre os possíveis impactos, os problemas apontados com
maior frequência (Figura 4) pelos moradores foram o descarte de resíduos sólidos
(29%) e alagamentos (27%), sendo o desmatamento o menos sinalizado (6,4%).
Figura 4. Problemas ambientais observados pelos moradores do Curió-Utinga
Fonte: Autoras, 2018.
Referente à esfera social, a área da Bacia do Tucunduba é considerada periférica
na Região Metropolitana de Belém, com significante concentração demográfica de
famílias de baixa renda, que estão frequentemente submetidas a riscos e conflitos
relacionados ao saneamento básico, à saúde ambiental, às condições inadequadas
de moradia e à criminalidade (MATOS, 2011). Segundo os dados levantados através
dos questionários, o bairro do Curió-Utinga é considerado alto (46,3%) e médio (51%)
em níveis de criminalidade. As principais causas apontadas como contribuintes para
essa conjuntura são a falta de policiamento (38%) e o baixo nível de renda e educação
(32%) – mais da metade (67%) dos moradores e usuários do bairro entrevistados tem
como escolaridade o Ensino Médio Completo, enquanto apenas 3,2% possui pósgraduação.
O Plano Diretor municipal de Belém atribui em seu art. 74º os objetivos relacionados
ao ordenamento territorial do município, visando “evitar e corrigir as distorções do
crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente”, abrangendo
a função social da cidade e a promoção de melhorias estruturais que proporcionem
uma cidade fisicamente ordenada e economicamente e ambientalmente sustentável
(BELÉM, 2008). À medida em que a urbanização cresce de forma mal planejada, a
extensão e a quantidade de possíveis áreas verdes são reduzidas
Outra possível consequência desse processo diz respeito à geração de áreas
degradadas. Sanches (2011) considera áreas urbanas subutilizadas e vazias que
perderam de forma parcial ou total a função ambiental, social e econômica como uma
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
40
categoria de áreas degradadas. As áreas públicas que exercem funções ambientais,
ecológicas e de lazer são consideradas como áreas verdes urbanas. Dessa forma,
os locais degradados e subutilizados observados nas visitas in loco, situados
principalmente na Av. Tancredo Neves, podem ser transformados em áreas verdes, na
medida em que apresentarem finalidades socioambientais e econômicas. Ademais,
os próprios usuários do bairro acreditam que a criação de espaços de lazer e áreas
verdes urbanas podem reduzir os níveis de criminalidade e de problemas ambientais,
com 75% e 85% de respostas afirmativas, respectivamente.
Em vista disso, uma possível alternativa para as áreas subutilizadas verificadas na
pesquisa é a sua conversão em áreas verdes, haja visto que se nota um interesse por
parte da população para esse tipo de empreendimento. Consequentemente, avaliando
a conjuntura de ordenamento espacial da área avaliada, o trecho demonstrado na
Figura 5 apresenta potencial para esse fim.
Figura 5. Área subutilizada na Av. Tancredo Neves
Fonte: Autoras, 2018.
Um possível projeto para essa localidade seria a implantação de uma área de
práticas de esporte – mais especificamente, uma academia ao ar livre, que pode ser
idealizada de forma a utilizar materiais reutilizados, reciclados, e incluir a revegetação
do local, aliando melhorias ambientais a práticas que visem aumentar a saúde e o
bem-estar da população. Essa proposta corrobora com o que é disposto no Plano
Diretor do Município de Belém (Lei nº 8655/2008), em que os mecanismos de estímulo
e incentivos que proporcionem a preservação e melhoria do meio ambiente são
instrumentos imprescindíveis para a efetivação da Politica Municipal de Meio Ambiente.
Em relação ao contexto dos resíduos sólidos, os dados obtidos indicaram a
percepção ambiental da população residente, sobretudo em relação a presença de
disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos (RSU). Nesse sentido, apenas
58% afirmam conhecer a forma correta de manusear e descartar os resíduos sólidos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
41
urbanos. O nível de desinformação sobre o conceito de resíduos perigosos também
é elevado (41,5%), assim como sua forma adequada de descarte (68,3%). Essas
observações indicam necessidade de políticas públicas voltadas à consciência sobre
resíduos sólidos, em especial sobre seus efeitos à saúde ambiental e humana.
Alguns resíduos foram identificados como papel, papelão, plástico polimerizado
e madeira – segundo a NBR 10.004/2004, podem enquadrar-se como não perigosos
– além da ocorrência de sucata de automóveis, que pode conter características que
de resíduos não perigosos inertes. Segundo as informações obtidas por meio dos
questionários, apenas 60,7% dos moradores entrevistados têm acesso à coleta de
resíduos sólidos diariamente – nos demais pontos, as frequências de coleta são de
três vezes por semana (39,3%). Ademais, dados do Censo de 2010 demonstram que
96,72% da população de Belém tem acesso à coleta regular de resíduos sólidos –
entretanto, observa-se que por vezes, nas áreas periféricas, essa coleta ocorre de
maneira pouco eficiente (IBGE, 2010).
No que diz respeito ao ineficiente gerenciamento de resíduos sólidos, destacam-
se como consequências a poluição do solo, do ar e dos recursos hídricos, além
desses resíduos servirem de abrigo para vetores de doenças (MATOS et al., 2011).
Referente a esse tópico, as problemáticas mais citadas pelos moradores do bairro
foram, respectivamente: alagamentos (25%), proliferação de vetores (23%) e poluição
da água (20%) (Figura 6).
Figura 6. Percepção ambiental dos moradores do Curió-Utinga acerca dos problemas
decorrentes da disposição inadequada de resíduos sólidos
Fonte: Autoras, 2018.
Conforme constatado em campo, a problemática agrava-se nas áreas de
“baixada”, especificamente no trecho da Av. João Paulo II, em que se nota um aumento
considerável de resíduos em toda a extensão marginal das vias. Diferentemente do
trecho mais alto da Av. Tancredo Neves, em que as respostas das entrevistas apontaram
menores problemas de alagamento e maior frequência de coleta de resíduos, os
moradores da Av. João Paulo II demonstram estar expostos de forma mais acentuada
aos prejuízos do descarte inadequado. Verificou-se também que, quando questionados
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
42
a respeito da possibilidade da utilização de resíduos sólidos como fonte alternativa de
renda, uma fração expressiva das respostas foi positiva (97,5%), demonstrando que
a compreensão sobre os princípios da reutilização e reciclagem é consideravelmente
satisfatória.
Considerando ações efetivas relacionadas a resíduos sólidos, aproximadamente
27% desses habitantes do Curió-Utinga já reaproveitaram, de alguma forma, materiais
que poderiam ser descartados. Embora essas iniciativas estejam presentes, um efetivo
gerenciamento de resíduos sólidos e incentivo à coleta soletiva solidária poderiam
elevar esse percentual, suscitanto benefícios sociais, econômicos e ambientais.
Nesse sentido, uma medida interessante a ser tomada para a melhoria das
condições ambientais no bairro Curió-Utinga é a adequação do Plano de Gerenciamento
de Resíduos Sólidos (PGRS) do município, com o intuito de otimizar os seus
procedimentos de descarte. De acordo com Machado (2012), a Lei 12.305/2010, art
nº 9, aponta que as disposições preliminares, de gestão e gerenciamento de resíduos
sólidos, estabelecem uma ordem de prioridade, onde o primeiro lugar é ocupado pela
não geração de resíduos, depois a redução dos mesmos, reutilização, reciclagem,
tratamento e finalmente a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
Sendo assim, outra alternativa seria o aprimoramento das áreas de lazer presentes
na localidade, levando em consideração a sustentabilidade da área, podendo haver
instalações de lixeiras e containers para a deposição dos resíduos sólidos gerados
pelos habitantes.
Ainda referente a ocupação desenfreada e ausente planejamento territorial, temse que esses fatores apresentam interferência na dinâmica da bacia e na malha de
drenagem da cidade. No contexto altimétrico, os dados obtidos referentes às cotas
altimétricas podem ser verificados no Mapa de elevação da Bacia do Tucunduba
(Figura 7). A área representada pela cor azul abrange a área da bacia que contém
elevação entre 0 e 5 metros acima do nível do mar. Enquanto as cores verde e amarelo
abrangem as elevações de 5 a 10, e 10 a 14,4 metros, respectivamente. Por fim, as
áreas que apresentam cota de 14,4 a 19,2 metros, são evidenciadas pela coloração
vermelha.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
43
Figura 7. Mapa de elevação da Bacia Hidrográfica do Tucunduba.
Fonte: Autoras, 2018.
Em relação à área de estudo observa-se predominância das colorações verde
e vermelha, o que indica áreas de cotas altimétricas superiores à 5 metros. Segundo
Matos (2010), as regiões com valores altimétricos inferiores a 5 metros são as que têm
maiores riscos de alagamentos, uma vez que as águas das chuvas convergem para os
pontos mais baixos dos centros urbanos e a drenagem ocorre de maneira mais lenta.
A figura 5 expõe um local em que ocorre despejo incorreto e a queima de resíduos.
Neste mesmo local, é frequente a criação de “bolsões” de água que se acumula
principalmente nos períodos de chuva. Outros pontos verificados, correspondem às
áreas próximas à Embrapa Amazônia Oriental e ainda na “baixada” da Avenida João
Paulo II, em que a topografia apresenta um nível mais baixo. Vale ressaltar, que o
mês de fevereiro, período de coleta de dados da presente pesquisa, apresentou altos
índices pluviométricos no município de Belém, cerca de 648,3 mm, segundo o INMET
(2018), sendo assim, grande contribuinte da problemática em questão.
Cerca de 80,45% dos entrevistados relataram que os alagamentos interferem
na qualidade de vida, considerando dificuldade de locomoção, transmissão de
doenças, perda de bens materiais e outros. Ainda, foram relatadas as principais
causas de ocorrências de alagamentos na área, dentre elas estão a deficiência na
rede de drenagem, o despejo incorreto de resíduos sólidos, alto índice pluviométrico
e a diferença de nível das vias públicas. A partir disso, a figura 8 demonstra o item
“Resíduos sólidos despejados incorretamente” como a causa mais citada, com 32%
das respostas.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
44
Figura 8. Causas de alagamentos no bairro Curió-Utinga
Fonte: Autoras, 2018.
No município de Belém, utilizam-se sistemas de drenagem convencionais,
constituindo-se de estruturas de condução e controle das águas pluviais escoadas
das áreas urbanas. Durante a pesquisa constatou-se que os pontos de acúmulo de
resíduos observados apresentam influência na ocorrência dos alagamentos. Isto
ocorre, principalmente com auxílio das chuvas, já que o resíduo disposto de forma
inadequada obstrui as estruturas de drenagem localizadas nas vias públicas, a
exemplo de bueiros.
Logo, a deficiência em sistemas de drenagem e esgotamento, relacionandose à canalização e captação do escoamento de águas no meio urbano, é um dos
agravantes para ocorrência de alagamentos no bairro. Os pontos distribuídos nas
extensões das vias públicas captam as águas contendo os diversos resíduos gerados
no Curió-Utinga, direcionando-as à uma rede de drenagem maior. Sendo assim,
torna-se necessários receptores e estruturas eficientes capazes de atender o índice
pluviométrico relacionado com a questão dos resíduos sólidos urbanos. Somado a
isso, a conversão de áreas degradas, observadas no local estudado, em áreas verdes
urbanas também pode auxiliar a infiltração da água pluvial de maneira adequada,
possibilitando menores impactos ambientais aos moradores do bairro Curió-Utinga.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apartir das análises exercidas, compreende-se a importância da multidisciplinaridade
na avaliação socioambiental. Diante disso, constatou-se a existência de problemáticas
ambientais ocorrentes no segmento de área do bairro Curió-Utinga, pertencente a Bacia
Hidrográfica do Tucunduba, em Belém/PA. Referente a isso, o processo de urbanização,
a disposição irregular dos resíduos sólidos gerados pela população e as propriedades
hidrográficas da bacia relacionada a questões de alagamentos demonstraram-se
como condicionantes para o agravamento dos problemas socioambientais presentes
na área de estudo. Posto isso, foram desenvolvidas alternativas para os impactos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
45
verificados no local.
De forma geral, foi verificado que a área analisada necessita de maior proteção
e investimentos para sua preservação com a finalidade de se obter o uso racional
dos recursos naturais e um desenvolvimento mais sustentável. Para isso, deve-se
haver maior conscientização da população a respeito da preservação e manejo do
meio ambiente em prol do aumento das funções sociais, econômicas e ambientais
que irão gerar maior conforto e lazer para esses indivíduos. Além da necessidade
de maiores ações governamentais voltadas para adequação do bairro as exigências
dispostas pelo Plano Diretor do Município de Belém (Lei nº 8655/2008). Constatouse que a transformação de locais mal utilizados em espaços verdes irá auxiliar o
cumprimento do Plano Diretor. Além da necessidade de políticas públicas no local
voltadas à conscientização sobre resíduos sólidos, em especial sobre seus efeitos à
saúde ambiental e humana.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
46
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 4
47
CAPÍTULO 5
AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL NA EXTRAÇÃO
DE AREIA NOS RIOS CANINDÉ – CE, PARAÍBA - PB E
PIRACANJUBA- GO
Daniellen Teotonho Barros
Universidade do Estado do Pará - UEPA
Paragominas – Pará
Marcus Suedyr Gomes Pereira Filho
Universidade do Estado do Pará - UEPA
Paragominas – Pará
Samilly Santana da Costa
Universidade do Estado do Pará - UEPA
Paragominas – Pará
Vitor Glins da Silva Nascimento
Universidade do Estado do Pará - UEPA
Paragominas – Pará
Antônio Pereira Júnior
Universidade do Estado do Pará - UEPA
Paragominas – Pará
RESUMO : O processo da extração de areia nos
rios Canindé-BA, Paraíba-PB e PiracanjubaCE, em toda e qualquer outra atividade
mineradora, tem como consequência, a geração
de impactos negativos ou positivos, sejam nos
meios físicos, biológicos ou socioeconômicos.
Desta maneira, a justificativa está embasada
no fato de que, na literatura, existem poucos
trabalhos relacionados para a Avaliação
de Impacto Ambiental - AIA, bem como a
aplicabilidade e importância por possibilitar
a mensuração e a dimensão de impactos
ambientais. Essa pesquisa tem como objetivo
identificar os impactos ambientais (efetivos;
potenciais; positivos e negativos; a etapa mais
impactante e o meio ambiental mais impactado)
decorrentes da extração de areia em três corpos
hídricos nas fases de instalação, operação
e desativação. A pesquisa apresenta caráter
exploratório, pois, envolve o levantamento
de dados documentais com recorte temporal
entre 2004 e 2017, complementado com
análise de legislações referentes à extração
mineral. A obtenção de dados foi efetuada
com a aplicação de uma matriz de interação e
a listagem de controle descritiva. A análise dos
dados obtidos na matriz de interação identificou
cento e dezesseis impactos ambientais setenta
(62% efetivos; 38% potenciais; 69% negativos;
31% positivos) e o check-list sete impactos
ambientais (69% negativos; 31% positivos);
a etapa mais impactante foi a de operação
e o meio mais impactado foi o físico. Logo,
a extração mineral de areia é de extrema
importância para o meio socioeconômico,
todavia, produz impactos efetivos, potenciais e
negativos em larga escala, o que compromete
a qualidade ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: Check-list. Matriz de
interação. Meio Ambiente.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
48
EVALUATION OF ENVIRONMENTAL IMPACT IN THE EXTRACTION OF SAND IN
THE RIVERS CANINDÉ – CE, PARAÍBA - PB E PIRACANJUBA- GO
ABSTRACT: The process of sand extraction in the rivers Canindé-BA, Paraíba-PB and
Piracanjuba-CE, in any and all other mining activity, has the consequence of generating
negative or positive impacts, whether in the physical, biological or socioeconomic
environments. In this way, the justification is based on the fact that, in the literature,
there are few related works for the Environmental Impact Assessment (EIA), as well as
the applicability and importance for enabling the measurement and the dimension of
environmental impacts. The objective of this research is to identify the environmental
impacts (effective, potential, positive and negative, the most impacting stage and the
most impacted environment) resulting from the extraction of sand in three water bodies
during the installation, operation and deactivation phases. The research presents an
exploratory character, since, it involves the collection of documentary data with temporal
cut between 2004 and 2017, complemented with analysis of legislation regarding
mineral extraction. Data collection was performed with the application of an interaction
matrix and descriptive control listing. The analysis of the data obtained in the interaction
matrix identified one hundred and sixteen environmental impacts (62% effective, 38%
positive, 69% negative, 31% positive) and the checklist seven environmental impacts
(69% negative, 31% positive) ; the most impacting stage was the one of operation and
the most impacted medium was the physical one. Therefore, the mineral extraction
of sand is of extreme importance for the socioeconomic environment, however, it
produces large-scale effective, potential and negative impacts, which compromises
the environmental quality.
KEYWORDS: Check-list. Interaction matrix. Environment.
1 | INTRODUÇÃO
De acordo como Hornby (2016), o impacto é definido como um choque violento
de um determinado objeto contra outro em movimento, também definido como uma
intensa impressão emocional de um determinado evento ou transmissão ou até mesmo
caracterizado como efeitos de um vento no ambiente físico ou social. Para Sànchez
(2008) esse impacto significa um desequilíbrio provocado pelo choque da relação do
homem com o meio ambiente.
Para o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, Resolução n. 001, art.
1º (BRASIL, 1986):
Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que afetam direta ou indiretamente o meio
ambiente. Todavia, a definição de impacto ambiental está associada diretamente
à alteração ou efeito ambiental considerado significativo pela avaliação do projeto
de um determinado empreendimento que pode ser estabelecido como negativo ou
positivo (CONAMA, 1986, art. 1º).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
49
Em relação ao conceito para a Avaliação de Impacto Ambiental - AIA, Oliveira e
Moura (2009) afirmam que a AIA é definida a partir dos Estudos de Impacto Ambiental
- EIA. Estes estudos são compostos por um conjunto de atividades científicas e
técnicas, entre elas, o diagnóstico ambiental com o intuito de identificar, prevenir, medir
e interpretar, quando possível, os impactos ambientais. Vale ressaltar que o intuito da
AIA é conseguir informações por intermédio do exame sistemático das atividades do
projeto e, desta maneira, permite a maximização dos benefícios ao bem-estar humano
e ao meio ambiente.
Porém, esse bem-estar humano pode sofrer desequilíbrio em função do uso
dos recursos naturais. Para Malaquias e Cândido (2013), a extração incorreta dos
recursos naturais de maneira cada vez mais desenfreada, em função, principalmente,
de ações de desmatamento, práticas agrícolas prejudiciais, atividades de extrativismo
de forma agressiva, a construção excessiva de barramentos, bem como o despejo
de efluentes industriais e domésticos em corpos hídricos, tem causado diversos
problemas ambientais.
Outra atividade altamente impactante ao meio ambiente, de acordo com Guimarães
e Simões (2009), é a exploração mineral, que possui como característica natural, a
tendência de acarretar grandes impactos no meio ambiente como, por exemplo, o
assoreamento de cursos d’água, destruição da biodiversidade, desflorestamento e
prejuízos também para a sociedade em relação a problemas de saúde, infraestrutura
urbana, apropriação de terras, migração, dentre outros.
Esse tipo de exploração é definida por Pereira, Alves e Cabral (2012) como uma
atividade de característica insustentável no meio ambiental, pois, para a realização da
mesma é obrigatoriamente necessário reduzir, do meio, os recursos naturais. Por este
motivo, perseveram procedimentos que são insubstituíveis para a minimização dos
impactos da atividade mineradora, deste modo, preservar a fauna e a flora da região e
o controle sobre a poluição sonora através da manutenção de cobertura vegetal.
Consequentemente, Mechi e Djalma (2010) afirmam que toda atividade de
exploração de areia pratica supressão da vegetação ou impedimento da regeneração
e, na maioria das situações, o solo superficial, que apresenta como característica
de maior fertilidade, é retirado e, os solos remanescente, permanecem expostos
aos processos erosivos, que podem ocasionar, posteriormente, o assoreamento dos
corpos d’água no entorno do empreendimento. Gray e Delaney (2009) corroboram
que as atividades mineradoras, em termos de impactos negativos ao ambiente natural,
podem remover, fragmentar ou degradar diretamente o habitat natural, que variam
entre pequenas e grandes extensões afetadas, em função do tipo de mineral extraído.
Neste contexto, avaliar os danos ambientais causados pela mineração no meio
ambiente é de fundamental importância. Zhou e Guo (2015) ratificam a necessidade
da utilização de métodos (Ex.: Check-List) para avaliar o nível de poluição e/ou
contaminação, provenientes da atividade de extração de areia, estes métodos devem
ser baseados em estudos preliminares sobre as características dos resíduos, os teores
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
50
de metais pesados e a relação com o meio ambiente.
Em virtude destes argumentos, o presente trabalho objetivou identificar, analisar e
comparar qualiquantitativamente, os impactos efetivos, potenciais positivos, negativos,
a etapa mais impactante e o meio mais impactado, utilizando a AIA com o auxílio de
duas ferramentas (Matriz de Interação e o Check-List) quanto ao processo de extração
mineral em três corpos hídricos distintos, localizados em estados diferentes, CanindéBA, Paraíba-PB e Piracanjuba-CE, afim de averiguar e aferir quais são as diferenças e
as similaridades entre os impactos provenientes destes processos de extração.
2 | METODOLOGIA
O método aplicado para a composição dessa pesquisa, foi o dedutivo, pois, de
acordo com Gil (2008), parte-se do geral para o particular, nesse caso, da extração de
areia em corpos hídricos aos impactos ambientais que isso causa em cada um deles.
Quanto ao objetivo da pesquisa ele é exploratório porque envolve o levantamento
de dados documentais (2004 a 2017) e proporciona uma maior familiaridade com o
problema, complementado com análise de legislações referentes à extração mineral.
Foram analisados três corpos hídricos localizados em três estados (Tabela 1).
Artigos
cos
Científi-
1
2
3
Silvania é um municí- Paramoti é um muni- Barra de Santa é
pio localizado no es- cípio situado no es- município localizatado de Goiás – GO tado do Ceára – CE
do no estado da
Paraíba –PB
Região
Centro-Oeste
Nordeste
Nordeste
Extensão dos mu2.345,9 km²
514,3 km²
374,37 km²
nicípios
O rio Piracanjuba
O rio Canindé perLocalização dos
O rio Paraíba
recursos hídricos
pertencente à bacia
tencente à bacia
pertence à bacia
hidrográfica do rio
hidrográfica do rio
hidrográfica do rio
Curu
Paraíba
Paranaíba
Empreendimento
Escavações no leito Escavações no leito
Escavações no
do rio
do rio
leito do rio
Método de explo- Tradicional de draga- Tradicional de dra- Tradicional de draração
gem
gagem
gagem
Área de Estudo
Legendas: 1: Avaliação dos Impactos Ambientais causados pela extração de areia no leito do
rio Piracanjuba – Município de Silvania GO. 2: Impactos da extração de areia no canal ativo do
rio Canindé, Paramoti, Ceará. 3: Avaliação qualitativa da degradação ambiental provocada pela
mineração de areia – região do médio curso do rio Paraíba.
Tabela 1 - Empreendimentos extratores de areia nos leitos dos corpos hídricos de três
localidades distintas.
Fonte: Barros et al. (2017).
A obtenção de dados foi efetuada com o uso de duas ferramentas da AIA: matriz
de interação e check-list descritivo. A justificativa para utilização destas ferramentas,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
51
ocorre em função da grande diferença dos danos encontrados. O check-list é capaz
de complementar, no sentido de explicitar analiticamente, os impactos ambientais
detectados na matriz de interação.
Em seguida, efetuou-se a aplicação da estatística descritiva (frequências:
absoluta –fi; relativa-fr). Finalmente, fez-se análise comparativa das fases de maior
impacto e do meio mais impactado. Foi efetuado ainda a classificação dos principais
impactos (de maior frequência) no decorrer das três fases: instalação, operação e
desativação.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Quanto aos dados obtidos na matriz de interação
A análise dos dados obtidos, para as três etapas (instalação, operação e
desativação), identificou 116 impactos, divididos da seguinte maneira: (1) efetivos,
setenta e dois (62%) e, potenciais, quarenta e quatro (38%); (2) positivos, cento e sete
Físico
Biótico
Riscos à Saúde Humana(-)
Desconforto Ambiental(-)
Impacto Visual(-)
Socioeconômico
Aquisição de bens
INSTALAÇÃO
Trafego de Veículos(-)
Qualidade de vida(+)
Mercado de bem-consumo(+)
Perda de Espécies Aquáticos(-)
Proliferação de Vetores(-)
Perda de Espécies Terrestres(-)
Alteração Qualidade sonora(-)
Alteração Qualidade Solos(-)
Alteração Qualidade do Ar(-)
Alteração das Águas superficiais(-)
FASES
Ações do
empreendimento
E
Contratação de
mão-de-obra
E
E
Abertura de vias de
P
acesso
P E
E
Desmate para
áreas úteis
P
P P
P
Instalação de
Estruturas
P
P P
E
E
E
E
E
E
E E
P
E E
P
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Aumento da Arrecadação (+)
Erosão e assoreamento(-)
(92,2%) e, negativos nove (7,8%), nos três corpos hídricos (Quadro 1).
E
E
E
E
E
P
E
E
P
Capítulo 5
E
52
E
E E
E
Estocagem
E
E
E
Drenagem
E
E
E
OPERAÇÃO
Retirada da Areia
Peneiramento
Carregamento
E
Transporte
E
E E
E
E
E
E P
P
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
E
P P
E
E
E
E
P
P
P
P
P
DESATIVAÇÃO
P
P
P P
P
P
Instalação de
estruturas contra
erosão
P
E
E
Recuperar as áreas
afetadas
Subsolagem de
solos compactadas
E
E
P P
P
E
E
Retirada de objetos
artificializados
Demolição de
instalações
construídas
E
P P
P
P
P
P P
P
E
P
P
P
E
P
Quadro 1 – Matriz de interação para a identificação e caracterização qualitativa dos impactos
ambientais nos rios Canindé, Paraíba e Piracanjuba – fases de instalação, operação e
desativação.
Legendas: (+) Impacto Positivo; (-) Impacto Negativo; E = Impacto Efetivo; P = Impacto
Potencial;
Fonte: Barros et al. (2017).
Esta análise indicou ainda que a etapa de operação é a mais impactante, por
apresentar o maior número de ações (6) causadoras de cinquenta e quatro (46,5%)
impactos, em comparação com a instalação, trinta e seis (31%) e a desativação,
vinte e seis (22,5%). Ao levar em consideração as três fases (instalação, operação
e desativação), o meio físico, concentra a maior quantidade de impactos ambientais
negativos, quarenta e dois (54,5%). Em contrapartida, o meio socioeconômico é o
único que apresenta impactos positivos, nove (7,8%). Os dados obtidos também
indicaram que nos três corpos hídricos, houve a similaridade quanto a ocorrência de
impactos positivos, em especial, a geração de empregos diretos e indiretos.
A pesquisa efetuada em Santa Maria – DF, por Silva (2010), indicou que,
qualiquantitativamente, os impactos ambientais de jazidas de areia são altos, em
todas as fases do empreendimento, bem como, o meio mais afetado é o biótico. Nesta
pesquisa, os dados indicaram também que a ocorrência de impactos ambientais com
mais intensidade na fase de operação. Quanto ao meio mais impactado, identificou-se
o físico. Tais dados contrariam a pesquisa realizada em Santa Maria – DF.
3.2 Método do ckeck-list
Os dados obtidos e analisados na aplicação do check-list indicaram setenta e
sete impactos diferentes nas três fases analisadas: instalação, operação e desativação
(Quadro 2).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
53
Extração mineral de areia
Canindé
Paraíba
Etapa de Instalação
Impactos Positivos
Impactos Negativos
Etapa de Operação
Impactos Positivos
Impactos Negativos
Etapa de Desativação
Impactos Positivos
Impactos Negativos
Piracanjuba
A
B; D
A
B; E
A
B; C
A; H; I
N; O
A; J; K
P; Q
A; F; G
L; M
A
S
A
T
A
R
Quadro 2 - Classificação dos principais impactos ambientais positivos e negativos decorrentes
das fases de exploração mineral de areia nos leitos dos rios Canindé, Paraíba e Piracanjuba.
Legendas: A: Geração de empregos diretos e indiretos, B: Supressão vegetal, C: Diminuição
da infiltração de água no solo, D: Alteração geomorfológica, E: compactação do solo, F:
Contribuição para o crescimento do município, G: Aumento da oferta de areia, H: Economia
mineral/oferta de matéria prima, I: Crescimento do comércio, J: Geração de matéria prima, K:
Diminuição da proliferação de vetores de doenças (insetos), L: Depreciação da qualidade do
ar, M: Aceleração de processos erosivos nos barrancos pelo retorno da água bombeada N:
Compactação do Terreno/alteração geotécnica, O: alteração visual, P: Retirada da mata, Q:
Compactação do solo, R: Depreciação da qualidade do solo, S: Alteração geomorfológica e T:
Depreciação da qualidade do solo.
Fonte: Barros et al. (2017).
Esses dados também indicaram que, dos setenta e sete impactos ambientais
ocorridos ao longo da extração de areia no leito dos corpos hídricos mostraram valores
diferentes em cada uma das etapas. Na etapa de instalação ocorreram trinta e sete
(48,5%); na etapa de operação trinta (39%), e finalmente na etapa de desativação, dez
(12,5%). Do total de impactos nas três fases, cinquenta e três (69%) são caracterizados
como negativos, enquanto que, vinte e quatro (31%) são positivos.
Conforme Krag et al. (2013), no estudo sobre as áreas de reflorestamento, no
município de Paragominas, relatou que, o método do check-list envolve um baixo
custo de aplicabilidade, além de identificar os impactos negativos e positivos de forma
rápida. Nesta análise, os dados obtidos permitiram identificar os principais impactos
negativos e positivos, e apesar, da pesquisa em Paragominas ser em uma área
diferente, ao utilizar-se as mesmas técnicas utilizadas indicaram semelhança nos
resultados encontrados.
3.3 Análise comparativa
Efetuou-se a análise comparativa dos setenta e sete impactos ambientais
identificados nos três rios de onde se extrai a areia (Figura 1).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
54
Figura 1 - Comparação quantitativa dos impactos decorrentes da extração mineral.
Legenda: FR: Frequência Relativa.
Fonte: Barros et al. (2017).
A análise dos dados indicou que, nas atividades de abertura e manutenção de
vias de acesso, extração mineral, estocagem, transporte e comercialização da areia
quanto ao caráter benéfico ou adverso, cinquenta e três (69%) são impactos negativos
e vinte e quatro (31%) são positivos. Desse modo, o rio Canindé apresentou o maior
número de impactos, quarenta e seis (60%), com trinta e quatro (77%) negativos e
nove (23%) positivos, enquanto que o rio Paraíba, vinte e um (27,5%), sendo, quatorze
(67%) negativos, e sete (33%) positivos. Já o rio Piracanjuba, apresentou a menor
quantidade de impactos, dez (13,5%), onde seis (60%) são negativos e, quatro (40%)
positivos.
Em revisão bibliográfica efetuada por Lelles (2004), esse autor conclui que
tanto na fase de instalação quanto na de operação, os valores para os impactos são
similares 48,6%. Todavia, os dados encontrados na presente pesquisa indicaram
valores superiores ao obtidos por Lelles, ou seja, uma análise mais criteriosa acerca
dos impactos pode determinar valores mais altos, como ocorreu neste caso.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A extração mineral de areia é uma atividade que apresenta importância significativa
tanto para o homem, quanto para a economia, uma vez que esta implica na geração
de emprego e renda. Todavia, essa atividade impacta negativamente, principalmente,
os meios físico e biológico o que causa sérios danos ao meio ambiente, como a perda
de espécies aquáticas, alteração da qualidade da água e perda da biodiversidade por
danos ao habitat de diversas espécies.
Além disso, todas as três fases causam impactos ambientais efetivos, potenciais,
negativos e positivos capazes de serem valorados e identificados com a aplicação
da matriz de interação e check-list descritivo, o que permite melhor entendimento e
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
55
contribui para tomada de decisões que mitiguem tais impactos ambientais e permitam
o uso racional dos recursos naturais.
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Capítulo 5
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 5
57
CAPÍTULO 6
AVALIAÇÃO DE POTENCIAL DE GERAÇÃO DE
ENERGIA ÉOLICA DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA:
UM ESTUDO DE CASO DO INSTITUTO FEDERAL
FLUMINENSE CAMPUS MACAÉ
Diego Fernando Garcia
Instituto Federal Fluminense
Macaé - RJ
Marcos Antônio Cruz Moreira
Instituto Federal Fluminense
Macaé - RJ
Augusto Eduardo Miranda Pinto
Instituto Federal Fluminense
Macaé - RJ
RESUMO: O artigo apresenta uma avaliação
de potencial de energia eólica por meio de
um sistema de geração distribuída através
do uso de aerogeradores. O objetivo principal
foi investigar a hipótese da instalação de
aerogeradores a partir da revisão de literatura
em bases de pesquisa e banco de dados.
Também foi avaliado a quantidade de energia
eólica disponível no Instituto Federal Fluminense
Campus Macaé. A metodologia utilizada neste
trabalho foi caracterizada quanto aos objetivos
como pesquisa descritiva pois tem como fim a
descrição das características de determinada
região e, também, caracterizada com pesquisa
exploratória pois tem como objetivo proporcionar
maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito ou a construir
hipóteses. Verificou-se com a pesquisa que
há evidências fortes que o Campus Macaé
possui um grande potencial de geração de
energia elétrica, podendo suprir suas próprias
necessidades energéticas através de fontes
renováveis. A presente pesquisa também tem
como objetivo amenizar o impacto energético,
proporcionar uma redução dos custos com
consumo de energia elétrica e contribuir para a
sustentabilidade do país utilizando os recursos
naturais de forma inteligente.
PALAVRAS-CHAVE: Fontes Renováveis,
Energia Eólica, Geração Distribuída
EVALUATION OF THE POTENTIAL FOR
THE GENERATION OF WIND ENERGY OF
A PUBLIC INSTITUTION: A CASE STUDY OF
THE FLUMINENSE FEDERAL INSTITUTE
CAMPUS MACAÉ
ABSTRACT: The article presents an evaluation
of wind energy potential through a distributed
generation system through the use of wind
turbines. The main objective was to investigate
the hypothesis of the installation of wind
turbines from the literature review in databases.
The amount of wind energy available at the
Fluminense Federal Institute Campus Macaé
was also evaluated. The methodology used
in this work was characterized concerning its
objectives as a descriptive research because
it has as purpose the description of the
characteristics of a certain region. Iy may be
also characterized as exploratory research
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
58
since it aims to provide greater familiarity with the problem, in order to make it clearer or
constructing hypotheses. It was verified with the research that there is strong evidence
that Campus Macaé has a great potential of electric power generation, being able to
supply its own energetic necessities through renewable sources. The present research
also aims to reduce the energy impact, provide a reduction of energy consumption
costs and contribute to the sustainability of the country using natural resources in an
intelligent way.
KEYWORDS: Renewable Sources, Wind Energy, Distributed Generation
1 | INTRODUÇÃO
Atualmente, a geração de energia elétrica a partir de fontes renováveis constitui
uma tendência perceptível em diversos países, inclusive com o crescimento concessão
de incentivos à geração distribuída de pequeno porte. (ANEEL, 2014)
A discussão acerca da geração de energia elétrica revestem-se de grande
relevância na medida em que, ao longo dos anos, a evolução demográfica e o
crescimento da atividade econômica tem resultado num constante aumento do
consumo de energia elétrica no País.
Portanto é necessário pensar em alternativas que respondam à necessidade
de expansão e diversificação matriz elétrica do país – e é nesse contexto que estão
inseridas as pequenas centrais geradoras (micro e minigeração distribuída). (ANEEL,
2014)
A Agência Nacional Energia Elétrica (ANEEL) publicou a Resolução Normativa
(REN) número 482/2012 e, complementarmente, na seção 3.7 do Módulo 3 dos
Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico Nacional –
PRODIST foram estabelecidos os procedimentos para acesso de micro e minigeradores
ao sistema de distribuição. Conforme disposto nesses regulamentos, a micro e a
minigeração distribuída consistem na produção de energia elétrica a partir de pequenas
centrais geradoras que utilizam fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica,
biomassa ou cogeração qualificada, conectadas à rede de distribuição por meio de
instalações de unidades consumidoras. (ANEEL, 2014).
Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) 2017, a participação de renováveis
na Matriz Energética Brasileira manteve-se entre as mais elevadas do mundo em
2016, com pequeno crescimento devido particularmente à queda da oferta interna de
petróleo e derivados e expansão da geração hidráulica, conforme ilustra o Figura 1.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
59
Figura 1 - Participação de Energias Renováveis no Brasil e no Mundo.
Fonte: EPE, adaptado pelo Autor, 2017
A Figura 2 ilustra a matriz de produção de energia elétrica do Brasil em 2016. A
principal fonte de energia elétrica é a hidráulica, seguido do gás natural, biomassa,
eólica, derivados do petróleo, carvão e derivados, nuclear e por último da energia
solar.
Figura 2 - Matriz Elétrica Brasileira.
Fonte : EPE, adaptado pelo Autor, 2017
O presente estudo tem como objetivo principal investigar a hipótese de uma
instalações de um sistema de geração distribuída, através do uso de aerogeradores. O
Instituto Federal Fluminense Campus Macaé situa-se na cidade de Macaé no Estado
do Rio de Janeiro, possui área total de 46.214 m², localiza-se às margens da Lagoa
de Imboassica, próxima empresas ligadas à indústria do petróleo. O consumo total
mensal médio de energia elétrica em 2017 foi de 53.712 kWh.
Frente à crise econômica atual do Brasil e às ações do governo federal de redução
do orçamento público, esta pesquisa visa também contribuir para a diminuição dos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
60
gastos com energia elétrica no Instituto Federal Fluminense, fazendo uma melhor
utilização dos recursos públicos.
2 | REVISÃO DE LITERATURA
Nesta seção serão investigados através de revisão da literatura e documental,
conceitos, práticas e aspectos legais considerados relevantes ao objeto trabalho, tais
como: Geração Distribuída e Energia Eólica.
2.1 Geração Distribuída
A Geração Distribuída (GD) é uma expressão usada para designar a geração
elétrica realizada junto ou próxima do consumidor independente da potência, tecnologia
e fonte de energia. As tecnologias de GD têm evoluído para incluir potências cada vez
menores.
A GD, ilustrada na Figura 3, é caracterizada pela instalação de geradores de
pequeno porte, normalmente a partir de fontes renováveis ou mesmo utilizando
combustíveis fósseis, localizados próximos aos centros de consumo de energia
elétrica. (ANEEL, 2016)
Figura 3: Geração Distribuída. Fonte: autor, 2017
De forma geral, a presença de pequenos geradores próximos às cargas pode
proporcionar diversos benefícios para o sistema elétrico, dentre os quais se destacam
a postergação de investimentos em expansão nos sistemas de distribuição e
transmissão; o baixo impacto ambiental; a melhoria do nível de tensão da rede no
período de ponta e a diversificação da matriz energética.
A Resolução Normativa - REN no 482 da ANEEL estabeleceu as condições gerais
para o acesso de micro e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
61
energia elétrica, e criou o sistema de compensação de energia elétrica correspondente.
Uma importante inovação trazida pela Resolução Normativa no 482/2012 é o
Sistema de Compensação de Energia Elétrica. Esse sistema permite que a energia
excedente gerada pela unidade consumidora com micro ou minigeração seja injetada
na rede da distribuidora, a qual funcionará como uma bateria, armazenando este
excedente. Quando a energia injetada na rede for maior que a consumida, o consumidor
receberá um crédito em energia (kWh) a ser utilizado para abater o consumo em
outro posto tarifário (para consumidores com tarifa horária) ou na fatura dos meses
subsequentes. Os créditos de energia gerados continuam válidos por 60 meses.
Há ainda a possibilidade do consumidor utilizar esses créditos em outras unidades
previamente cadastradas dentro da mesma área de concessão e caracterizada como
autoconsumo remoto, geração compartilhada ou integrante de empreendimentos
de múltiplas unidades consumidoras (condomínios), em local diferente do ponto de
consumo
A Figura 4 ilustra a quantidade de conexões e de consumidores que recebem os
créditos, ressaltando que no caso de geração na própria unidade consumidora (UC)
o sistema atende apenas o próprio local de consumo, e nos outros casos, a geração
destina-se a mais de uma instalação, conforme os requisitos estabelecidos na REN nº
482/2012.
Figura 4: Modalidade de geração distribuída até maio 2017.
Fonte: ANEEL, 2017
A partir da Figura 4, pode-se verificar que 93,2% das conexões destinam-se ao
atendimento de apenas uma unidade consumidora.
Nos momentos em que a central não gera energia suficiente para abastecer a
unidade consumidora, a rede da distribuidora local suprirá a diferença. Nesse caso
será utilizado o crédito de energia ou, caso não haja, o consumidor pagará a diferença.
Quando a unidade consumidora não utiliza toda a energia gerada pela central,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
62
ela é injetada na rede da distribuidora local, gerando crédito de energia
Para as unidades consumidoras que dispõem de tarifa horária, a energia injetada
deve ser utilizada, prioritariamente, para abater o consumo mensal no mesmo período
(ponta ou fora ponta). Caso haja sobra, esse saldo será utilizado para reduzir o
consumo no outro posto tarifário, após a aplicação de um fator de ajuste.
Com relação à participação dos consumidores, destacam-se as classes residencial
(79,5%) e comercial (15%), conforme ilustrado na Figura 5. A classe Serviço Público,
ao qual o Instituto Federal Fluminense se enquadra, possui 0,3%, ainda tem pouca
adesão à geração distribuída.
Figura 5: Classes de consumo dos consumidores. Fonte: ANEEL, 2017
2.2 Energia Eólica
O aproveitamento do vento como um recurso nasce da descoberta da conversão
da energia nele contida em algo útil, através do uso de um instrumento transformador
como os moinhos de vento, que possibilitaram a moagem de grãos ou elevação de
água, ou as velas de um barco que permitiram a navegação. (TOMALSQUIM, 2016).
O uso do vento para fins elétricos é relativamente recente, data de finais do
século XIX na Dinamarca e nos EUA, com a utilização de máquinas que geravam
eletricidade a partir do vento, ou aerogeradores. Vale lembrar que a eletricidade com
fins comerciais, nos moldes similares ao que conhecemos hoje, data também dos finais
do século XIX. Um século depois, quando a eletricidade já era fortemente provida por
combustíveis fósseis, acontece a crise do petróleo de 1973, levando o governo dos
EUA a apoiar a pesquisa e o desenvolvimento da energia eólica. (TOMALSQUIM,
2016)
O primeiro incentivo à fonte eólica ocorreu durante a crise energética de
2001, quando se tentou incentivar a contratação de geração de energia eólica no
país, até então insignificante, através do Programa Emergencial de Energia Eólica
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
63
(PROEÓLICA) (BRASIL, 2001). O programa tinha como objetivo a contratação de
1.050 MW de projetos de energia eólica até dezembro de 2003, contudo, não obteve
resultados. (TOMALSQUIM, 2016)
Em 2002 o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(PROINFA), instituído pela Lei no 10.438/2002, entrou em vigor com o objetivo da
diversificação da matriz energética brasileira, promover a segurança no abastecimento,
a valorização das características e potencialidades regionais e locais, além da criação
de empregos, capacitação e formação de mão-de-obra e redução de emissão de
gases de efeito estufa.(BRASIL, 2002)
Além da criação do PROINFA, a Lei no 10.438/2002 alterou o artigo 26 da Lei
no 9.427 de 26 de dezembro de 1996, instituindo a redução de 50% às tarifas de uso
dos sistemas elétricos de transmissão (TUST) e de distribuição (TUSD) incidindo na
produção e no consumo da energia associado à geração eólica. Esse subsídio cruzado
foi um auxílio adicional à viabilização da geração eólica no Brasil. A Lei no 10.762 de
11 de novembro de 2003 limitou o benefício da redução da TUST e TUSD para fontes
solar, eólica, biomassa e cogeração qualificada cuja potência instalada fosse menor
ou igual a 30 MW. (BRASIL, 2003)
O vento é provocado pelo aquecimento desigual das superfícies da terra pelo sol,
portanto, a energia eólica é uma forma de energia solar. O aquecimento diferenciado
das regiões, e em específico da atmosfera, provoca gradientes de pressão que são
responsáveis por movimentos da massa de ar. Além das diferenças de pressão, o
vento é influenciado por mecanismos complexos que envolvem a rotação da Terra
(efeito Coriolis), os efeitos físicos de montanhas, e outros eventuais obstáculos, e
da rugosidade dos terrenos. Somente uma fração do vento se encontra a uma altura
próxima o suficiente da superfície da terra (até 200 m) para poder ser aproveitada de
forma prática, e desta fração, somente algumas regiões possuem um vento adequado
para a exploração.
Em 2001, foi elaborado o atlas do Potencial Eólico Brasileiro (AMARANTE et
al., 2001) apresentando mapas de velocidades médias anuais e os fluxos de energia
eólica para a altura de 50 m, além de tabelas com os principais detalhes estatísticos
do potencial eólico, tais como diversos parâmetros de interesse usual no setor elétrico
e regimes sazonais diurnos.
A Figura 6 ilustra o potencial dos ventos no Brasil de acordo com o atlas de 2001.
Observa-se que o maior potencial eólico do Brasil encontra-se na região nordeste,
seguido da região Sudeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
64
Figura 6: Cartograma do Potencial Eólico Brasileiro.
Fonte: AMARANTE et al, 2001
Além dos atlas nacionais, alguns estados tomaram a iniciativa de fazerem seus
próprios, os quais surgiram por interesse de conhecimento mais profundo do recurso
nos estados, pelo avanço tecnológico em relação aos modelos físicos e atmosféricos,
novas medições do recurso, além da necessidade de atualização da informação do
atlas de 2001 para ventos em alturas maiores, dado que os aerogeradores passaram
a ser instalados em maiores alturas em busca de melhores ventos.
A Figura 7 apresenta o mapa eólico do Rio de Janeiro, evidenciando que a região
norte fluminense possui o maior potencial eólico do Estado, juntamente com a região
do Lagos.
Figura 7: Mapa do Potencial Eólico do Estado do Rio de Janeiro. Fonte: AMARANTE et al, 2002
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
65
A Potência é, de forma simplificada, a energia sobre o tempo, considerando um
fluxo de ar de massa m movimentando-se a uma velocidade v, pode-se estabelecer
sua energia cinética como :
Por sua vez pode ser escrita como:
Onde ρ é a massa específica do ar e A é área varrida pelo aerogerador. Dessa
equação podem-se perceber três influências fundamentais, sendo a principal, a
variação de ordem cúbica da potência em relação à velocidade do vento. A segunda,
em relação à área varrida pelo aerogerador. E a terceira, em relação à massa
específica do ar. A velocidade é a variável mais importante e vai depender do regime
de ventos da região e das influências de obstáculos e da rugosidade do terreno. Em
geral a influência de obstáculos e rugosidade diminui em função da altura acima do
solo, sendo observadas velocidades maiores quanto maior a altura. Por tal motivo
se procura instalar aerogeradores nas maiores alturas possíveis e/ou em locais com
baixa rugosidade, como próximos de espelhos de água (na costa) e em terrenos
descobertos.
Os aerogeradores possuem uma velocidade mínima (chamada cut-in) para que
o aerogerador seja capaz de produzir trabalho. Somente em velocidades acima deste
valor de cut-in que a conversão em eletricidade começa a acontecer. Há também uma
velocidade máxima (cut-out) ao qual também é chamada de limite de segurança da
máquina. Logo, em velocidades acima deste valor de cut-out, o aerogerador é travado
para que não haja nenhum dano à sua estrutura. Pode-se separar o funcionamento
do aerogerador em três regiões, uma com velocidades abaixo do cut-in e acima do
cut-out, onde não há conversão de energia. Outra, de variação da energia convertida
conforme a velocidade do vento, que se situa entre o cut-in e a velocidade nominal.
E a terceira região, situada entre a velocidade nominal e cut-out, onde o aerogerador
gera eletricidade na sua potência nominal. Gerar sempre nesta região seria o ideal de
funcionamento, pois além de não haver variações de geração, sempre se disponibilizaria
o máximo da máquina.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
66
3 | MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia a ser utilizada neste trabalho pode ser caracterizada quanto
aos objetivos como pesquisa descritiva pois têm como objetivo a descrição das
características de determinada região e, também, pesquisa exploratória pois tem como
objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito ou a construir hipóteses (GIL, 2009).
Quanto ao procedimento técnico utilizado será um estudo de caso, onde será
adotado como caso base o Instituto Federal Fluminense do Campus Macaé propondo
o uso de fontes de energia éolica.
Dentre os propósitos apontados por Gil (2009) para se utilizar o estudo de caso,
destacam-se: explorar situações da vida real cujos limites não são claramente definidos;
preservar o caráter unitário do objeto estudado; descrever a situação do contexto em
que está sendo feita determinada investigação; formular hipóteses e testá-las.
3.1 Área de Estudo
O Instituto Federal Fluminense Campus Macaé situa-se na cidade de Macaé
no Estado do Rio de Janeiro, latitude Sul 22,405833° e longitude Oeste 41,843889°
com área total de 46.214 m². Encontra-se às margens da Lagoa de Imboassica, uma
localização contemplada com a proximidade de empresas e multinacionais ligadas ao
setor petrolífero. Por sua referência em educação, a instituição atende à comunidade
local e a municípios vizinhos.
O Campus Macaé é alimentado em alta tensão através da Concessionária
ENEL e está classificado na Modalidade Tarifária Verde A4 Classe Poder Público. A
modalidade tarifária horária verde é aplicada às unidades consumidoras do grupo A,
caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica, de acordo com
as horas de utilização do dia, assim como de uma única tarifa de demanda de potência.
A instalação é classificada no grupo A4 (faixa de 2,3kV a 25kV), pois recebe energia
através da tensão de 13,8 kV. Os consumidores do grupo A têm uma tarifa binomial, ou
seja, são cobrados pela energia consumida e a demanda utilizada, sendo a demanda
fixa contratada de 263 kW.
O campus Macaé possui uma potência de 1.615 kW referente aos 211
condicionadores de ar instalados e uma potência de 173,9 kW referente à iluminação
instalada além de vários outros equipamentos tais como computadores e equipamentos
elétricos.
A Tabela 1 ilustra os valores do consumo mensal do ano de 2017. Destaque para
o mês de Abril que obteve o maior consumo total do ano (73.517 kWh) e, também para
o mês de Agosto que obteve o menor consumo do ano (41.289 kWh).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
67
Mês
Consumo
Ponta
(kWh)
Consumo
Fora Ponta
(kWh)
Consumo Total
(kWh)
Janeiro
4.525
39.501
44.027
Fevereiro
7.154
56.700
63.854
Março
8.435
56.364
64.799
Abril
9.698
63.819
73.517
Maio
6.575
46.872
53.447
Junho
6.010
42.441
48.451
Julho
6.286
42.252
48.538
Agosto
5.694
35.595
41.289
Setembro
6.074
39.270
45.344
Outubro
6.317
44.772
51.089
Novembro
6.459
50.673
57.132
Dezembro
6.081
46.977
53.058
Média
6.609
47.103
53.712
Tabela 1: Levantamento do consumo de energia elétrica. Fonte: Autor, 2018
A Figura 8 ilustra o comportamento dos consumos de ponta e fora ponta ao longo
do ano de 2017.
Figura 8 - Consumo Ponta e Fora Ponta 2017. Fonte: Autor, 2018
4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Produção de Energia Elétrica gerada pela Energia Eólica
Para o cálculo de dimensionamento do sistema de energia eólica fez-se
necessário a utilização de dados como o velocidade do vento, a frequência dessas
velocidades, a curva de potência do aerogerador em função da velocidade do vento e
se há área disponível para instalação das turbinas eólicas.
Os dados da velocidade do vento foram retirados do relatório eólico de Macaé,
elaborado pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e se baseiam em
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
68
uma série temporal de dados de anemômetro a 10 metros por um período de mais de
dez anos. Este anemômetro está localizado nas coordenadas 22o24´21´ de latitude sul
e 41o51´38´´ de longitude oeste bem próximo ao Instituto Federal Fluminense Campus
Macaé. A tabela 2 ilustra a frequência relativa das velocidades do vento dos meses
de Janeiro a Dezembro.
Velocidade do Vento
Frequência relativa
Inferior a 2,0 m/s
51,31%
2,0 a 3,0 m/s
20,63%
3,0 a 4,0 m/s
12,10%
4,0 a 5,0 m/s
6,66%
5,0 a 6,0 m/s
4,35%
6,0 a 7,0 m/s
2,72%
7,0 a 8,0 m/s
1,34%
8,0 a 9,0 m/s
0,53%
9,0 a 10,0 m/s
0,26%
Superior a 10,0 m/s
0,10%
Tabela 2: Velocidade do vento e suas frequências. Fonte: UENF, 2016
Para se obter o potencial efetivo de geração de eletricidade ainda é preciso fazer
o cruzamento dos dados do frequência das velocidades com as curvas de potência
fornecidas pelos fabricantes de turbinas de pequeno porte. A tabela 3 ilustra o fator
de capacidade (FC) obtido da aplicação dos dados frequências das velocidades às
curvas de potência de turbinas de pequeno porte disponíveis no mercado. O fator de
capacidade do aerogerador é calculado através da relação entre a potência produzida
e potência nominal do aerogerador.
Fabricante
Modelo
Potência
Proven
Hummer
Hummer
Bergey
Aria
WT15000
H13.2
H17.0
Excel 10
Libellula 20
15 kW
20 kW
50 kW
10 kW
20kW
Fator de
Capacidade
20,42%
12,59%
11,47%
2,15%
8,66%
Tabela 3 - Fator de Capacidade dos aerogeradores. Fonte: Autor, 2018
O aerogerador selecionado para o dimensionamento foi o modelo WT15000 com
potência nominal de 15 kW do fabricante Proven Energy pois apresentou o melhor
fator de capacidade (20,42%) de acordo com o regime de ventos. A produção diária
de Energia do aerogerador seria de 74,53 kWh e consequentemente uma produção
mensal de 2.236 kWh.
Para atender a consumo mensal médio do Campus Macaé seria necessário 24
aerogeradores resultando numa geração de 53.663 kWh por mês. Sabendo que cada
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
69
aerogerador necessita de uma área de 225m2 para instalação obtem-se que será
necessário uma área de aproximadamente 5.400 m2 para os 24 aerogeradores.
5 | CONCLUSÃO
Este trabalho apresenta uma avaliação do potencial da geração distribuída de
energia aplicada ao uso da fonte eólica no Instituto Federal Fluminense Campus
Macaé. Esta avaliação foi feita a partir do levantamento dos dados de consumo e de
recurso eólico.
Após o estudo e análise de resultados, concluiu-se que o projeto de implantação
de um sistema de energia eólica no Campus Macaé possui potencial para ser instalado,
pois ele irá gerar uma economia considerável nos gastos em energia elétrica no longo
prazo, além de diminuir os impactos energéticos e ambientais da universidade.
Sabe-se que o investimento inicial é elevado como a maioria dos projetos de
geração de energia renovável. É um projeto que deve ser pensado há longo prazo,
pois a relação custo benefício vai além da questão financeira.
A avaliação da geração de energia elétrica através do uso de aerogeradores
confirma a hipótese da
implementação do uso de aerogeradores mas seria de
grande importância um estudo mais aprofundado da localização da instalação dos 24
aerogeradores. Também seria importante realizar uma medição in loco da velocidade
dos ventos em função da possível turbulência ocasionada pelas árvores, prédios,
casas, relevo e também pelo fluxo de veículos na rodovia em frente ao Campus.
Os resultados apresentados neste trabalho ilustram evidências fortes que o local
estudado possui um grande potencial de geração de energia elétrica, podendo suprir
não só as suas próprias necessidades energéticas, mas também beneficiar outros
campis.
O presente trabalho contribui também para disseminar o uso de fontes renováveis
nos órgãos públicos, proporcionando uma solução para redução dos gastos públicos
com energia elétrica e contribuindo para a sustentabilidade do país e utilizando os
recursos naturais de forma inteligente.
REFERÊNCIAS
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 6
71
CAPÍTULO 7
CAÇA E MANEJO DE FAUNA SILVESTRE NO BRASIL:
ASPECTOS LEGAIS E O EXEMPLO DOS QUELÔNIOS
E CROCODILIANOS
Rafael Antônio Machado Balestra
Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios
(RAN). Rua 229, nº 95, Setor Leste Universitário,
Ed. Sede do Ibama/GO, 4º andar, Goiânia-GO,
74605-090. (62) 3225-2797, rafael.balestra@
icmbio.gov.br
Marilene Vasconcelos da Silva Brazil
Secretaria de Estado do Meio Ambiente do
Acre – SEMA/AC, Divisão de Recursos Hídricos
(DRH), Mestre em Ecologia e Manejo de
Recursos Naturais, Discente em Biodiversidade
e Biotecnologia da Amazônia Legal, no núcleo
da Universidade Federal do Acre (BIONORTE/
UFAC), marilene.biologa@gmail.com
RESUMO: A “caça” no Brasil é matéria de
competência legal concorrente e difusa entre
a União e os Estados. Há evidente omissão
legislativa da União quanto a esse tema, inclusive
quanto à modalidade “caça de subsistência”.
Em face dessa fragilidade legal, há margem
interpretativa razoável para conceber que aos
Estados recaia a plena competência sobre esse
assunto, podendo assim regulamentar a caça,
seja ela para subsistência ou outra modalidade
com viés comercial. Neste trabalho, objetivouse defender que o conceito de caça pode ser
entendido como uma estratégia de manejo de
fauna, normatizada em um sistema metodológico
padronizado, como uma modalidade de manejo
adaptativo. São condições elementares para
o sucesso no manejo de recursos de uso
comum, incluindo a caça sustentável, a partir
da implementação de planos de manejo locais,
a definição clara e objetiva dos seus usuários,
das instâncias autorizativas e fiscalizatórias
competentes, sendo que quanto menor for
o processo burocrático envolvido, maior a
eficiência de implementação desses planos. É
importante para o poder público reconhecer que
o manejo da fauna já ocorre, mesmo quando não
é autorizado pelo órgão competente. O quadro
atual que predomina é o de livre acesso, sem
qualquer forma de regulação além de ações de
proteção que ocorrem em frequência totalmente
insuficientes para coibir os ilícitos ambientais,
sendo esse o pior cenário para garantir o uso
sustentável da fauna.
PALAVRAS-CHAVE: Caça; Crocodilianos;
Fauna; Manejo; Quelônios.
HUNTING AND WILDLIFE MANAGEMENT
IN BRAZIL: LEGAL ASPECTS AND THE
EXAMPLE OF THE CHELONIANS AND
CROCODILIANS
ABSTRACT: “Hunting” in Brazil is a matter
of competing and diffused legal competence
between the Union and the States. There is a
clear legislative omission by the Union on this
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
72
issue, including the “subsistence hunting” modality. In the face of this legal fragility, there
is a reasonable interpretative scope to conceive that the State has full competence on
this matter and may regulate hunting, whether for subsistence or other commercial
bias. In this work, we aimed to defend the concept that hunting can be understood as
a strategy of fauna management, standardized in a adaptative methodological system.
They are basic conditions for the success in the management of resources of common
use, including the sustainable hunting, from the implementation of local management
plans, the clear and objective definition of its users, of the competent authorizing and
fiscalizing instances, being that the less the bureaucratic process involved, the greater
the efficiency of implementation of these plans. It is important for the public authority to
recognize that wildlife management already occurs, even when it is not authorized by
the competent authority. The current situation that prevails is that of free access, without
any form of regulation, besides actions of protection that happen in frequency totally
insufficient to curb the environmental illicit, being the worse framework to guarantee the
sustainable use of the fauna.
KEYWORDS: Chelonians; Crocodilians; Management; Hunting; Wildlife.
1 | INTRODUÇÃO
Apresenta-se neste trabalho uma consolidação de alguns elementos constituintes
do sistema legal vigente referente à fauna silvestre no Brasil. Consecutivamente,
objetiva-se provocar uma discussão sobre as diferentes modalidades de manejo
de fauna silvestre no país, considerando exemplos práticos de sucesso, casos
malsucedidos e algumas perspectivas de implementação de novos padrões de
manejo para uso de recursos faunísticos, incluindo a caça neste contexto, tomando
como principais referenciais dissertativos sobre o tema, estudos de casos sobre os
quelônios e crocodilianos no Brasil.
2 | OBJETIVOS DO MANEJO DA FAUNA SILVESTRE E RESPALDO LEGAL
A caça e a pesca de subsistência sempre foram importantes fontes de recursos
alimentares para populações tradicionais, bem como para moradores de áreas urbanas
que são oriundos das zonas rurais e tem a prática de comer “carne de caça” como
parte de sua cultura (Fuccio et al., 2003).
Segundo Caughley & Sinclar, 1994, a fauna silvestre pode ser manejada legalmente
visando atingir um dos seguintes objetivos: i) promover o aumento populacional; ii)
reduzir o tamanho populacional; iii) utilizá-la de modo sustentável e iv) monitorar, sem
interferência nas populações manejadas.
Em suma, a primeira opção utiliza-se de mecanismos que alterem as taxas de
sobrevivência, fecundidade e fertilidade ou que reduzem a mortalidade, dentre outras
possibilidades de interferência na dinâmica populacional ou no manejo das comunidades
e ecossistemas. A segunda opção é aplicável às espécies consideradas pragas, onde
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
73
procura-se tomar iniciativas visando restringir o crescimento populacional. A terceira
opção aplica-se às espécies de valor econômico, quando o interesse é obter a maior
taxa possível de crescimento populacional, visando níveis ótimos de desfrute. Na
quarta opção, o manejo consiste no monitoramento espacial e temporal, visando definir
tendências no tamanho das populações manejadas.
Considerando que essas são as únicas opções em nosso território, é necessário
definir previamente o objetivo a ser atingido manejando a população e as ações mais
apropriadas para alcançá-lo.
Seguindo o manejo para uso de modo sustentável, o manejo do pirarucu
(Arapaima spp.) no Estado do Amazonas tem mostrado que o uso planejado, controlado
e monitorado da espécie, em moldes participativos, é sustentável e ainda capaz de
promover o aumento das populações na natureza (Figueiredo, 2013).
No caso do manejo de jacaré-açu (Melanosuchus niger) na Resex do Lago Cuniã,
o objetivo primário é estabilizar a população da espécie ao mesmo tempo que a
comunidade local comercializa a carne e o couro dos animais (Fernandes, 2014). Com
a premissa de que a estrutura da população dessa espécie é conhecida localmente,
com base no monitoramento populacional realizado pela própria comunidade
beneficiada com o manejo, é definida uma cota de extração anual, em que quantitativos
de espécimes por classes de tamanho e sexo adequados são diretamente retirados
do ambiente e abatidos para processamento da carne e subprodutos (Santesso &
Coutinho, 2010).
A utilização de animais silvestres, suas partes e subprodutos concorrem com
a história do homem e continuam sendo usados para diversas finalidades: recurso
alimentar, animais de estimação, atividades culturais, finalidade medicinal, finalidade
religiosa, roupas, ferramentas etc (Alves et al., 2009, Pezzuti et al., 2010). Na Amazônia,
diversas populações humanas, como comunidades ribeirinhas e povos indígenas,
ainda tem na carne desses animais uma importante fonte de proteína (Fragoso et al.
2011, Cajaiba et al., 2015).
A caça amadora também é uma opção de manejo utilizada em diversos países:
Estados Unidos, França, Portugal e África do Sul são alguns exemplos. A caça na África
subsariana movimenta um valor de aproximadamente 300 milhões de dólares anuais,
sendo que só na África do Sul esse valor é de aproximadamente 100 milhões (Lindsey
et al., 2007). Importante ressaltar que essa caça é regulamentada, com cota de animais
que podem ser abatidos, e uma parcela significativa do valor arrecadado é destinado
para programas de conservação. Nesse sentido, apesar da estranheza que o exemplo
pode causar, é importante ressaltar que a África do Sul é um dos poucos países onde,
mesmo sendo autorizada a caça de leões, sua população não está declinando (Bauer,
2015), o que sugere que mesmo o manejo de caça desses predadores topo de cadeia
alimentar, de relativa pequena população, está funcionando.
O manejo de fauna realizado por comunidades que dependem desse recurso
para subsistência pode ser um importante aliado para a conservação. A estratégia
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
74
conhecida como Manejo Comunitário pode auxiliar as comunidades humanas
locais a utilizar os recursos faunísticos de maneira sustentável e ganhar benefícios
econômicos. Ao se estabelecer um regramento do uso do recurso, envolvendo toda
a comunidade nesse processo, ela passa a protegê-lo como um bem. É importante
para o poder público reconhecer que o manejo da fauna já ocorre, mesmo quando não
esteja autorizado pelo órgão competente. O quadro atual que predomina é o de livre
acesso, sem qualquer forma de regulação além de ações de fiscalização que ocorrem
em frequência totalmente insuficiente para coibir eventuais ilícitos ambientais, sendo
esse o pior quadro possível em termos de garantir a conservação e o uso sustentável
da fauna.
O esquema legal a respeito da caça no Brasil está assim configurado, conforme
síntese extraída do Parecer emanado pela Procuradoria Federal Especializada do
ICMBio - Parecer nº 00176/2017/COMAF/PFE-ICMBio/PGF/AGU, de 20 de dezembro
de 2017:
“a) Caça profissional, proibida na Lei de Fauna de uma forma geral e pela Lei
do SNUC expressamente nos casos de RESEX e RDS;
b) Caça amadora, permitida na Lei de Fauna (dispositivo, contudo, de
recepção/constitucionalidade bastante questionada) e proibida pela Lei do
SNUC expressamente nos casos de RESEX e RDS;
c) Caça de controle, permitida na Lei de Fauna e na Lei de Crimes Ambientais;
d) Caça para pesquisa científica, permitida na Lei de Fauna e Lei do SNUC
(esta, indiretamente); e
e) Caça de subsistência, em relação à qual há omissão legislativa (alguns
argumentam que está prevista no art. 37, I, da Lei de Crimes Ambientais.”
A Lei Brasileira de Proteção à Fauna - Lei Nº 5.197 de 03 de janeiro de 1967,
em seu artigo 1o, proíbe a utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha de
animais de quaisquer espécies da fauna silvestre Brasileira. Nos seus artigos 2o e 3º,
a lei ressalta a proibição do exercício da caça profissional e o comércio de espécimes
da fauna silvestre e de produtos, e objetos que impliquem na sua caça, perseguição,
destruição ou apanha.
Ainda, o artigo 1º dessa lei define que animais e seus ninhos que vivem naturalmente
fora do cativeiro são propriedades do Estado e é proibida a utilização, perseguição,
destruição, caça ou apanha, e assim, determina que: se peculiaridades regionais
comportarem o exercício da caça, o Poder Público Federal deverá regulamentar a
atividade. O artigo 3º proíbe o comércio da fauna quando proveniente da caça ou
apanha, entretanto é aberta uma exceção para ovos, filhotes e larvas mediante licença.
Essa lei define como ato de caça a utilização, perseguição, destruição e apanha da
fauna silvestre. Por fim, o artigo 8º define que o órgão público federal competente
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
75
deverá publicar a lista de espécies, locais, período e quota diária da fauna que poderá
ser caçada ou utilizada.
As leis que tratam de crimes contra a fauna não diferenciam caça de manejo,
porém, tecnicamente a caça é uma forma de manejo. A Constituição da República
Federativa do Brasil, no seu artigo 24, define que compete à União e Estados legislar
sobre a caça. Ainda, a Constituição da República em seu Capítulo VI – Do Meio
Ambiente, determina que incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os
processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas.
A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei No 6.938/1981), no seu Artigo 4º alíneas
I a VII, cita os termos “normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais”
(alínea III); “tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos
ambientais” (alínea IV); “tecnologias de manejo do meio ambiente e necessidade
de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico” (alínea V),
e; “preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização
racional e disponibilidade permanente” (alínea VI).
No entanto, a lei Nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, no artigo 29º, define que
matar, perseguir, caçar, apanhar e utilizar fauna silvestre sem autorização do órgão
competente é crime. O comércio sem a devida autorização também é considerado
crime que incorre nas mesmas penas. O artigo 37 dessa lei estabelece que o abate
de animais é permitido quando em estado de necessidade para saciar a fome, para
proteger lavouras e rebanhos, desde que autorizado pelo órgão competente e quando
a espécie for considerada nociva pelo Poder Público.
Nestas leis e na Constituição Federal há a afirmação de que a caça não é proibida,
com exceção da caça profissional, e cabe ao órgão competente regulamentá-la. A
caça, poderia ser categorizada em quatro tipos: para controle, amadora, científica
e de subsistência, é oportuno destacar aqui a modalidade referente à subsistência,
qual seja:
A caça de subsistência, mesmo sendo permitida pela Lei de Crimes Ambientais, é
alvo de grande debate, especialmente porque sua caracterização é subjetiva. Destacase o artigo 37 dessa lei que permite a prática dessa modalidade de caça na condição
de “estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família”. A análise
do estado de necessidade é subjetiva e seria possível considerar qualquer morador de
áreas rurais na Amazônia como um cidadão em condição de necessidade, haja vista
a ausência de oferta de emprego ou de outras fontes alternativas de renda, de acesso
ao mercado para aquisição de produtos alimentícios básicos, como demonstrado por
Calouro (1995).
Entretanto, infelizmente, é justamente o estabelecido nesse artigo 37 da citada
lei que tem sido utilizado para embasar a orientação dada para a atuação de agentes
de fiscalização, para considerarem como crime qualquer ato de caça, ou consumo de
animais silvestres, se não estiver claro que o ato foi praticado em um contexto em que
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
76
o indivíduo não tinha outra opção para se alimentar. Tendo em vista a subjetividade que
essa norma traz, via de regra o posicionamento que a fiscalização do Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é de autuar toda e
qualquer pessoa flagrada caçando, independentemente da situação. Posteriormente,
caberá ao autuado apresentar defesa para comprovar seu “estado de necessidade”.
Tal procedimento gera um grande transtorno e insegurança para algumas
comunidades, pois elas precisam dos recursos faunísticos, pesqueiros e florestais
para sua subsistência, mesmo que não necessariamente estejam passando fome.
Importante ressaltar que o Decreto Nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que
estabelece a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e
Comunidades Tradicionais, tem entre seus objetivos garantir a segurança alimentar
dessas comunidades por meio do acesso regular e permanente, respeitando sua
diversidade cultural, e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente
sustentáveis.
3 | PLANOS DE MANEJO DA FAUNA SILVESTRE
Uma forma adequada de garantir o acesso das comunidades tradicionais à fauna
como recurso de forma sustentável, do ponto de vista ambiental, seria implementando
planos de manejo locais, obviamente contemplando modalidades de manejo que,
conceitualmente, segundo a discussão anterior, na prática sejam análogas à caça
para uso de subsistência ou comercial, p. ex., o harvesting de jacarés e pirarucus
e o ranching (vide conceito no tópico 4) de quelônios na Amazônia. Tais planos devem
ser construídos em conjunto com as comunidades interessadas, englobando uma ou
um conjunto de espécies e delimitando uma área de atuação. Além destas definições,
Ostrom (1999) estabelece como condição básica para o sucesso no manejo de
recursos de uso comum, a definição clara e objetiva dos seus usuários, das instâncias
autorizativas e fiscalizatórias competentes, sendo que quanto menos instâncias
burocráticas envolvidas, maior a eficiência de implementação desses planos.
A legislação que trata desse assunto é complexa, subjetiva, apresenta muitas
sobreposições, redundâncias e até discordâncias intra e entre as diferentes esferas de
governo, além de ser de difícil compreensão e assim de imprecisa aplicação objetiva
em diversos casos.
Nesse caso, com certo esforço interpretativo é importante definir a quem compete
a atribuição de aprovar planos de manejo de fauna. Assim, ressalta-se que a Lei
Complementar (LC) Nº 140/2011, deixa claro no seu artigo 7º que compete a União
controlar a apanha de fauna silvestre, ovos e larvas de forma geral, enquanto que aos
Estados compete controlar tal apanha quando forem destinados à implantação de
criadouros e para pesquisa científica.
A Lei Nº 7.735/1989, que cria o Ibama, estabelece que dentre suas finalidades
está a de autorizar o uso dos recursos naturais, enquanto que ao Instituto Chico
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
77
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) compete tal atribuição no âmbito
das unidades de conservação - UC de uso sustentável instituídas pela União (Lei Nº
11.516/2007).
O Decreto Nº 7.515/2011, incumbiu ao ICMBio a tarefa de elaborar e implementar
os planos de ação nacional para a conservação e o manejo das espécies ameaçadas
de extinção e outras dependentes de conservação. Para isso foram estabelecidas
diretrizes e estratégias de conservação nos termos da Portaria Normativa MMA Nº
43/2014, que institui o Programa Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas
de Extinção - Pró-Espécies, com o objetivo de adotar ações de prevenção, conservação,
manejo e gestão, com vistas a minimizar as ameaças e o risco de extinção de espécies.
A IN Conjunta Ibama/ICMBio Nº 1/2014, estabelece algumas diretrizes sobre a
gestão da fauna silvestre no âmbito federal e determina que o órgão responsável
pelos programas nacionais de conservação de espécies da fauna silvestre brasileira
é o ICMBio e o órgão responsável pela gestão dos recursos faunísticos no âmbito
da União é o Ibama. Ressalta-se que o art. 2º dessa IN define o termo “planos de
manejo de fauna em vida livre”, como sendo um instrumento de gestão aprovado pelo
Ibama a ser utilizado no ordenamento das ações para o manejo da fauna silvestre não
ameaçada de extinção em vida livre, visando o uso ou o controle populacional das
espécies (...)”.
O artigo 7º da norma determina que cabe ao Ibama a coordenação de planos de
manejo de fauna em vida livre e não ameaçadas de extinção. Quando as populaçõesalvo do manejo ocorrerem em unidades de conservação federais, o Ibama deverá
consultar o ICMBio. No artigo 8º é definido que as ações previstas nos planos de
manejo ou em planos de ação que envolvam a coleta, captura, abate, transporte,
retorno à natureza, introdução, reintrodução e monitoramento de fauna dependerão
de autorização prévia, solicitada ao ICMBio, através do Sistema de Autorização e
Informação em Biodiversidade – SISBIO (IN ICMBio Nº 03/2014).
Atualmente para a implementação de sistemas de manejo de fauna silvestre é
exigido prévia autorização do Ibama, independentemente da modalidade de manejo. A
título de exemplo, mesmo para a implantação do manejo ex situ de base comunitária
de quelônios normatizado pelas recentes Resoluções do Conselho Estadual de Meio
Ambiente do Amazonas - CEMAAM Nº 25 e 26 de 18 de agosto de 2017 (detalhes
a seguir), é imprescindível a autorização do Ibama para que, neste caso, ocorra o
manejo in situ em áreas de reprodução desses animais, que viabilizará o fornecimento
de indivíduos (no caso, filhotes) para o mencionado sistema de manejo comunitário
de engorda e comercialização dos espécimes (ranching). Ainda usando esse
exemplo, somente em fase posterior, o órgão de meio ambiente estadual, que no caso
exemplificado do Estado do Amazonas é o IPAAM – Instituto de Proteção Ambiental do
Amazonas, tem legitimidade para autorizar o uso dos indivíduos originários do citado
manejo in situ para fins do estabelecimento de criadouros ou mesmo para pesquisa
científica (manejo ex situ).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
78
Além do exemplo acima, em muitos Estados já são realizados de forma eficiente
diversificados sistemas de manejo de fauna silvestre, outros poderão desenvolver
e aprimorar suas competências técnicas e operacionais para a realização de
monitoramentos populacionais e manejos in situ, sendo assim, cremos que os Estados
poderiam ter a legitimidade, para realizar diretamente por meio de licenciamento,
permissão ou autorização, o manejo e a apanha de espécimes, ovos e larvas da fauna
silvestre, sob sua jurisdição.
A mencionada IN Conjunta Ibama/ICMBio Nº 1/2014 ressalva a necessidade de
estabelecer procedimentos no âmbito das competências do ICMBio e do Ibama, para
a atuação integrada e ampliada dos dois órgãos no manejo e na conservação de
populações naturais e cativas de espécies da fauna silvestre brasileira.
4 | MANEJO ADAPTATIVO DA FAUNA SILVESTRE
O conceito de manejo adaptativo tem sido desenvolvido e vem sendo amplamente
utilizado em circunstâncias onde prevalecem incertezas técnico-científicas ou onde o
conhecimento exigido para a prática do bom manejo é ainda limitado. Na literatura
ictiológica (e.g. Walters & Hilborn 1976), o termo manejo adaptativo tem sido usado
para advogar os benefícios da aplicação de planos de manejo como tratamentos
experimentais, em que os resultados geram conhecimentos sobre o sistema e valores.
Hilborn & Walters (1992) descrevem três estratégias de manejo adaptativos
aplicáveis às populações de fauna silvestre. São elas: i) manejo adaptativo passivo,
que é caracterizado por situações em que dados históricos sobre o manejo são
utilizados para construir e comparar modelos distintos; ii) manejo adaptativo por
tentativa-erro-acerto, que implica em tentar uma série de possibilidades de manejo,
esperando encontrar a melhor opção e iii) manejo adaptativo ativo, que é definido como
a identificação deliberada e explícita de diferentes alternativas de manejo, testando-as
por meio de experimentos de campo. Em todos os casos, a aplicação de planos de
manejo representa benefícios e aprendizado sobre os sistemas manejados.
5 | CRITÉRIOS TÉCNICOS E AS MODALIDADES DE MANEJO DA FAUNA
SILVESTRE
Uma vez que a Lei de Proteção à Fauna incentivou a construção de criadouros
de animais silvestres para fins econômicos e industriais, permitindo a apanha de ovos,
larvas ou filhotes na natureza para atender os referidos criadouros, criou-se a ideia
de que criadouro (ou cativeiro) é sinônimo de manejo em confinamento. Contudo, o
confinamento representa uma categoria dentre as várias modalidades possíveis de
manejo de fauna silvestre.
Baseado em critérios técnicos tais como o tipo e a intensidade de manejo, as
diferentes modalidades podem ser descritas segundo um gradiente teórico, que
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
79
varia desde o confinamento completo, onde todo o ciclo de vida dos animais ocorre
em cativeiro, até o manejo extensivo, onde a interferência no ambiente ou nos
processos populacionais das espécies envolvidas é restrito à aplicação de técnicas de
monitoramento do tamanho populacional. Assim, o confinamento representa o maior
grau possível de intensidade de manejo, enquanto o manejo extensivo representa o
extremo oposto, com o menor nível de intensidade de manejo.
Segundo esse gradiente teórico, na literatura especializada (p. ex., Webb, Manolis
& Whitehead 1987, Carreira 2014), o manejo de crocodilianos e quelônios tem sido
caracterizado em quatro categorias distintas. São elas: i) confinamento ou farming, ii)
coleta de ovos/filhotes e recria em cativeiro fechado ou ranching, iii) coleta de ovos/
filhotes, recria em cativeiro fechado e engorda em sistema aberto ou headstarting e
iv) manejo na natureza ou harvesting (figura 1).
Figura 1. Categorias de manejo de fauna, ordenadas segundo o gradiente de intensidade de
manejo, conforme descrito na literatura científica especializada.
Todas as categorias de manejo encontram suporte legal na Lei de Proteção à
Fauna, na Política Nacional de Meio Ambiente e na Constituição da República Federativa
do Brasil, desde que estabelecidos os critérios e as normas relativas ao uso e manejo
dos recursos ambientais.
6 | POSICIONAMENTO TÉCNICO DO ICMBIO SOBRE A CAÇA DE SUBSISTÊNCIA
POR POPULAÇÕES TRADICIONAIS EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
É evidente que não há consenso sobre essa questão em um instituto com escopo
funcional tão complexo como o do ICMBio, como demonstrado pela Nota Técnica nº
1/2017/DISAT/ICMBio, que versa sobre a possibilidade de caça no âmbito das UC
Federal, conforme orientação jurídica da Procuradoria Federal Especializada - PFE
vinculada àquele Instituto, chancelada pela Presidência do ICMBio e encaminhada
para o Conselho Nacional de Populações Extrativistas (CNS), além das Diretorias e
outras instâncias do ICMBio que, de forma expressiva e atual, defende fortemente o
posicionamento gerencial superior dessa autarquia sobre o tema, qual seja.
(...) “Na verdade, a caça não é o único fator que provoca variação na abundancia e
distribuição das espécies animais. A perda de habitat, doenças, espécies exóticas
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
80
são outros importantes fatores que podem ter impacto sobre as populações animais,
inclusive mais preocupantes em termos de conservação. De acordo com Iwamura
et al. 2014, a perda de habitat no exterior de uma reserva causa perdas diretas
de fauna e perdas indiretas por causa de mudanças do uso da terra, enquanto
o aumento da população humana dentro da reserva tem pouco impacto. Eles
observam, também, que não há extinção de espécies, mas às vezes as populações
de fauna se estabilizam em um nível mais baixo do que o anterior.
Portanto, a questão que verdadeiramente importa, ao se discutir a aceitabilidade
ou não da prática da caça por uma comunidade tradicional em uma UC (partindose do pressuposto de que é uma atividade tradicional e necessária à segurança
alimentar da comunidade em questão, do contrário, a prática da caça talvez seja,
de fato, inadequada) é se os impactos desta prática são ou não sustentáveis;
recomenda-se que sejam estabelecidas algumas premissas para definir esta
sustentabilidade, cujo cumprimento seria verificado por meio de monitoramento,
quais sejam: (grifo nosso)
a) Espécies constantes de listas oficiais de espécies ameaçadas de extinção como
“em perigo” ou “criticamente em perigo” não sejam caçadas; espécies classificadas
em lista oficial como “vulneráveis” poderiam, mediante avaliação prévia por
especialistas que atestem sua grande abundância local, ser caçadas com cautela,
em níveis controlados estabelecidos no plano de manejo da UC, ou outro instrumento
oficial de gestão;
b) As espécies animais não devem ser extintas, suas populações não devem ser
extintas localmente, nem serem levadas a declínio populacional sistemático e os
ecossistemas devem continuar funcionando em algum nível de “equilíbrio”, ainda que
este equilíbrio possa diferir do verificado em uma situação passada, caso tenham
ocorrido alterações em fatores capazes de influenciar o contexto, como outras
intervenções humanas, que não a própria caça;
c) As comunidades humanas que dependem em alguma medida da caça devem ter
condições de continuar caçando e se alimentando de carne de caça em quantidades
satisfatórias;
d) Que não se criem desnecessariamente dificuldades que possam resultar no êxodo
das comunidades tradicionais das UC que têm entre seus objetivos a garantia do
acesso destas comunidades aos seus territórios tradicionais.
Havendo dúvidas sobre esta sustentabilidade (e em geral não se pode ter de
antemão uma certeza bem embasada), o ideal é que se estabeleçam programas de
monitoramento que tragam pelo menos indícios consistentes, ao final de alguns anos,
sobre a sustentabilidade ou não da prática. Não há como se fazer esta verificação se
a atividade for sumariamente proibida.
Na falta de meios para este monitoramento, não se pode alegar o princípio da
precaução para proibir a caça cautelarmente, porque o mesmo princípio poderia ser
invocado para alegar que a suspensão repentina da caça poderia comprometer a
segurança alimentar da comunidade. E havendo indícios de falta de sustentabilidade,
o correto seria a busca, em parceria com a comunidade (já que se a prática não
estiver sendo sustentável, em pouco tempo deixará de suprir as suas necessidades),
de estratégias de manejo que corrijam o problema, seja pela redução da pressão
sobre determinadas espécies, sobre determinadas áreas ou durante determinadas
épocas (ou de uma combinação adequada destas medidas), de forma gradual,
minimizando os riscos para a segurança alimentar das comunidades tradicionais e
também de prejuízos à biodiversidade.
Já existem iniciativas de monitoramento associado a acordos comunitários de uso da
fauna cinegética, ambos realizados por comunidades tradicionais em áreas protegidas
na Amazônia Brasileira (Constantino et al., 2008, Vieira et al., 2015). Dentro do ICMBio,
temos a iniciativa de monitoramento da caça na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns,
que está incluída no Projeto “Monitoramento da biodiversidade com relevância
para o clima em nível de UC”, coordenado pela Coordenação Geral de Pesquisa e
Monitoramento da Biodiversidade (CGPEQ/DIBIO). Além do monitoramento da fauna
cinegética (aves e mamíferos), que faz parte do protocolo mínimo global adotado por
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
81
todas as UC do projeto, a Resex Tapajós-Arapiuns selecionou a caça como alvo de
monitoramento complementar, dada a relevância da atividade para a comunidade
beneficiária da UC. O desenvolvimento e eventual aperfeiçoamento deste protocolo e
a sua replicação ou adaptação para outras Unidades apresenta-se como o caminho
mais adequado para uma gestão do uso da fauna pelas populações tradicionais na
Amazônia que garanta a necessária sustentabilidade destes usos nas UC federais.
No entanto, até mesmo para o sucesso das iniciativas de monitoramento, é crucial que
o Instituto Chico Mendes se posicione de forma claramente favorável à aceitabilidade
da caça de subsistência e defina os parâmetros para sua legalidade, pois a incerteza
atual gera desconfiança que tem reflexos danosos na indispensável colaboração das
populações tradicionais na coleta de dados relativos à fauna cinegética, podendo
inviabilizar ou distorcer os resultados destas importantes pesquisas.” (...)
Citamos ainda o Parecer da PFE nº 00176/2017/COMAF/PFE-ICMBIO/PGF/
AGU, de 20 de dezembro de 2017, que menciona a Nota Técnica nº 18/2017/COGCOT/
CGSAM/DISAT/ICMBio que também indica o atendimento das orientações jurídicas
daquela Procuradoria, ou seja, a possibilidade de caça de subsistência em Unidades
de Conservação, além da condição da prática da caça em “eventual de estado de
necessidade”, conforme leitura crua do texto constitucional. Argumenta-se no referido
documento:
(...) “Tem defendido esta Procuradoria que não há autorização legal para a caça
de subsistência e que, portanto, essa prática é ilegal e acarreta a incidência no
crime previsto no art. 29 da Lei de Crimes Ambientais e na infração administrativa
fixada no art. 24 do Decreto n. 6.514/2008. Isso porque, segundo a tese até aqui
esposada neste órgão da AGU, o art. 37, inciso I, da Lei de Crimes Ambientais se
aplica apenas para situações de caça em “estado de necessidade” e não de “caça
de subsistência”, que são conceitos distintos (...)”.
Oportunamente, destacam-se outros fragmentos desse parecer jurídico que
respaldam a conduta dissertativa aqui abordada, a saber:
(...) “Ou seja, a respeito da matéria “caça” (incluída a de subsistência), a União
deve estabelecer normas gerais, que, por sua vez, devem ser complementadas
por normas editadas pelos Estados (a “competência suplementar” citada na
Constituição). A Constituição também determina que, caso a União ainda não
tenha editado normas gerais sobre determinada matéria, “os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades” (art. 24, § 3º).
Trazendo para o presente caso, no qual há omissão legislativa da União sobre o
tema (para aqueles que entendem os dispositivos do “estado de necessidade”
e do “porte de arma” não preenchem essa lacuna), abre-se para os Estados a
possibilidade de regulamentar integralmente a matéria (normas gerais e normais
complementares). E isso, inclusive, já é a realidade ao menos em três Estados
brasileiros.
(...) Nesse sentido, a omissão legislativa da União não torna a conduta dessa
modalidade de caça necessariamente ilegal, mas abre flanco à regulamentação
plena por parte dos Estados, como positivamente o fizeram os Estados do Amapá
e do Acre. Nesses dois estados, não há como se defender a ilegalidade da caça de
subsistência, de modo que, ao menos nesses Estados, resta afastada a incidência
das normas repressivas criminais e infracionais.
(...) Assim, ao menos fora das unidades de conservação, ou seja, no regime
ambiental geral, a caça de subsistência é permitida naqueles Estados que, valendo-
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
82
se da omissão legislativa da União, tiverem regulamentado o tema. Isso, claro, para
além da hipótese especial prevista no Estatuto do Índio (art. 24, § 3º, e art. 18, § 1º,
da Lei n.º 6.001/1973), apenas para os indígenas, de abrangência nacional.
Reforça essa ideia de que não há uma vedação geral a essa atividade o fato de
que o Estatuto do Desarmamento (6º, § 5º) expressamente concede o porte de
arma para o desempenho dessa atividade, respeitados alguns requisitos (etário
etc.). Ora, se o Estatuto, lei federal de 2003, concede o porte de arma para essa
atividade, é porque sua licitude lhe é de alguma forma pressuposta por essa lei.
Veja-se, inclusive, que a Lei de Fauna (1967) e a Lei de Crimes Ambientais (1998)
já existiam quando da edição do Estatuto do Desarmamento.
(...) Mas... E nas unidades de conservação federais? O Instituto pode ou não
autorizar a caça de subsistência? Poder-se-ia concluir, de forma superficial, que
a sorte desse tema, mesmo nas UC federais, dependeria da situação do tema no
Estado em que estivessem localizadas. (...)
Entretanto, essa seria uma leitura rasa da questão, que desconsideraria o regime
jurídico especial ao qual estão submetidas as unidades de conservação, por força
do art. 225, § 1º, inciso III, da Constituição e do art. 2º, inciso I, da Lei do SNUC. (...)
Disso decorre que, no âmbito das UC, cabe ao órgão gestor a regulamentação
da caça de subsistência, tendo em conta o regime jurídico próprio da respectiva
categoria de unidade, bem como se considerando a existência de população
tradicional, tudo com o cuidado necessário para se preservar o equilíbrio ambiental
da área protegida, valendo-se dos diversos estudos sobre o tema já realizados
pelo próprio Instituto. (...)
De forma indireta, também cabe destacar que o art. 42, § 2º do SNUC, manda
respeitar “os modos de vida, das fontes de subsistência e dos locais de moradia
destas populações”, enquanto que o art. 28, parágrafo único, determina que
sejam assegurados “às populações tradicionais porventura residentes na área
as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades
materiais, sociais e culturais”. (...)”.
Esse parecer jurídico conclui com a seguinte exposição fática: (grifo nosso)
“a) a “caça” é matéria objeto de competência legislativa concorrente entre a
União e os Estados;
b) há omissão legislativa parcial da União quanto a esse tema, relacionada à
“caça de subsistência” (a Lei de Fauna não cuidou da questão);
c) considerando-se essa omissão legislativa da União, os Estados têm
competência legislativa plena sobre esse assunto, podendo, portanto,
regulamentar a caça de subsistência (como já o fizeram, por exemplo, os
estados do Acre, Amapá e Rio Grande do Sul);
d) no âmbito federal, apenas quanto aos indígenas há previsão expressa
autorizando a “caça de subsistência” (Estatuto do Índio);
e) o art. 37, inciso I, da Lei de Crimes Ambientais não autoriza a “caça de
subsistência”;
f) o art. 10, alíneas h e i, da Lei de Fauna não veda a caça de subsistência em
unidades de conservação;
g) no âmbito das unidades de conservação, cabe ao órgão gestor a
regulamentação da caça de subsistência; e
h) essa conclusão (item g) vale mesmo para as unidades de proteção integral
com população tradicional residente”.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
83
7 | O SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O MANEJO DE
QUELÔNIOS E CROCODILIANOS
De acordo com Wiedmann (2008), o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação - SNUC revogou todos os artigos das leis esparsas que previam a
criação de unidades de conservação - UC e instituiu duas categorias de UC: as de
Uso Sustentável e as de Proteção Integral. As primeiras foram criadas em função da
demanda das populações tradicionais, visando oferecer alternativas de sobrevivência e
adaptando os métodos extrativistas ao uso sustentado dos recursos naturais regionais.
Em 2009, considerando a prática tradicional do manejo extensivo dos jacarés, o
Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN) submeteu às
instâncias superiores do ICMBio, a minuta de Instrução Normativa visando regulamentar
o manejo para o uso sustentado das populações naturais de crocodilianos das espécies
Caiman crocodilus e Melanosuchus niger, em UC de uso sustentado, conforme previsto
no SNUC.
O Estado do Amazonas, utilizando-se de prerrogativas constitucionais, promulgou
a Resolução CEMAAM No 008, de 27 de junho de 2011, que estabelece procedimentos
técnicos de manejo de jacaré, oriundo de UC de Uso Sustentável.
Tal iniciativa se deu em decorrência do Parecer PROGE/COEPA No 044/2003,
referente ao Processo No 02010.005889/2003-89, de interesse do RAN/Ibama, relativo
ao “Projeto Biologia e Manejo de Jacarés”, em que a Procuradoria Federal Especializada
do Ibama se manifestou favorável à execução do projeto experimental, visando estudar
a biologia, conservação e manejo de espécies de jacarés com viabilidade econômica,
em duas UC, uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) e uma Reserva
Extrativista (RESEX).
Consecutivamente, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
do Estado do Amazonas (SEMA) formou um Grupo de Trabalho com especialistas em
quelônios, instituições ambientais, incluindo o ICMBio/RAN e representantes da sociedade
civil para elaborar instrumentos de normatização que reconhecessem oficialmente o
trabalho de proteção e conservação das espécies tartaruga-da-amazônia (Podocnemis
expansa), tracajá (Podocnemis unifilis) e iaçá (Podocnemis sextuberculata) executado
há mais de 40 anos por muitas comunidades ribeirinhas daquele Estado.
No Amazonas, de 1974 a 2017, as comunidades envolvidas com o manejo
participativo conservacionista destas espécies foram responsáveis pela co-gestão de
mais de 78% dos sítios reprodutivos de quelônios e devolveram mais de 23 milhões de
filhotes à natureza. Para definir as áreas prioritárias para conservação de quelônios no
Estado foram estabelecidos critérios biológicos, ambientais, socioeconômicos, culturais
e logísticos dessas áreas, os quais permitiram estabelecer níveis de proteção desde
proteção integral até áreas de conservação com possibilidade de uso.
Paralelo a esse primeiro instrumento, foram definidas regras para um sistema de
criação de quelônios adaptado às comunidades ribeirinhas amazônicas que, mesmo
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
84
protegendo há décadas os quelônios de sua região, não conseguiam atender as
exigências estabelecidas nas Instruções Normativas de criação de fauna do Governo
Federal. Em sua maioria, essas comunidades não possuíam documentação da terra,
nem comprovação de renda e, muito menos, iriam construir tanques escavados para
criação. Estas regras impossibilitavam que aqueles que protegiam sítios de reprodução
e refúgio dessas espécies pudessem também ter uma fonte alternativa de geração de
renda com esses recursos faunísticos. Com a Lei Complementar Nº 140/2011, o Governo
Federal repassou para os Estados a atribuição de normatizar e autorizar os criadouros
de animais silvestres (manejo ex situ).
Finalmente, em 18 de agosto de 2017, foram publicados instrumentos legais
aprovados no pelo CEMAAM, sendo reconhecidas oficialmente como Zonas de Proteção
Temporárias de Quelônios (ZPTQ) mais de 265 sítios de reprodução de quelônios
protegidos com participação comunitária em áreas fora de unidades de conservação
(mais de 80%) e em UC Estaduais, através da Resolução CEMAAM Nº 25/2017. Esta
resolução estabelece critérios para a seleção dessas áreas e as classifica em três
diferentes níveis de proteção e conservação, também define os períodos de proteção e
estabelece regras e restrições durante os meses de proteção comunitária.
Junto com a citada Resolução, foi aprovada uma outra Resolução CEMAAM,
Nº 26/2017, que estabelece os procedimentos técnicos para a criação comunitária de
tartaruga-da-amazônia (P. expansa) e tracajás (P. unifilis) com fins comerciais pelas
comunidades de populações tradicionais ribeirinhas do Amazonas, segundo a qual, para
solicitar a autorização da SEMA-AM, a comunidade deverá comprovar um histórico de
pelo menos cinco anos de proteção da área, ser representada por uma associação ou
cooperativa e apresentar projeto técnico da criação. O sistema de criação será feito
a partir de um percentual de filhotes das praias protegidas pela comunidade (10%
tartaruga-da-Amazônia e 20% tracajás), sendo feito a recria e a engorda desses animais
em tanques-rede, gaiolas ou pequenos lagos naturais.
Com a aprovação dessas Resoluções, as primeiras unidades demonstrativas
deverão ser implantadas na RDS do Uacari, no médio rio Juruá, a partir de 2019. Entre as
ações previstas no Plano de Ação Nacional de Conservação de Quelônios Amazônicos
(PAN Quelônios), pelo Ibama e ICMBio em 2014, foi justamente proposto que se
incentivasse o apoio à implementação de protocolos participativos de monitoramento
populacional de quelônios, bem como, se avaliasse e se implementassem sistemas
comunitários experimentais para criação de espécies de quelônios de uso sustentável.
Essas Resoluções dão um passo imprescindível para a concretização dessas ações
previstas no PAN Quelônios.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
85
8 | BREVE HISTÓRICO SOBRE O MANEJO DE QUELÔNIOS E CROCODILIANOS,
E AS DEMANDAS SOCIAIS
O Programa Quelônios da Amazônia (PQA) é implementado desde a década de
1970. Atualmente é gerenciado pela Coordenação-geral de Fauna (CGFau) do Ibama
e conta com extensa rede de entidades públicas e não governamentais parceiras,
destacando-se o RAN/ICMBio que integra seu Comitê Gestor em caráter consultivo.
Esse Programa tem por objetivo geral conservar os quelônios da região amazônica
por meio da estruturação de modelos de uso sustentável que levem em consideração
os aspectos ambientais, sociais, econômicos e culturais das comunidades ribeirinhas,
assegurando a manutenção dos processos ecológicos básicos e a qualidade ambiental
das áreas de sua abrangência (Portaria Normativa Ibama Nº 15/ 2013).
Visando reduzir a venda ilegal dos quelônios amazônicos nas grandes cidades
da região Norte, a Portaria IBDF Nº 133/1988 foi o primeiro documento publicado,
regulamentando a criação da tartaruga-da-amazônia no Estado do Pará. De acordo
com este instrumento legal, a criação iniciava-se a partir de filhotes cedidos pelo extinto
IBDF, devidamente marcados, que poderiam ser comercializados somente depois de
constatada a reprodução, no criadouro, de matrizes oriundas dos filhotes cedidos,
quando do início das atividades de criação.
Para melhorar a viabilidade dos empreendimentos, quanto aos aspectos técnicos
e legislativos da criação, assim como a inclusão de dados específicos para a criação do
tracajá (P. unifilis), devido à similaridade entre as duas espécies, tartaruga-da-amazônia
(P. expansa) e iaçá (P. sextuberculata), foi proposta uma revisão da Portaria Ibama Nº
133/88, a partir de debates ocorridos no VIII Encontro Técnico e Administrativo sobre
Quelônios da Amazônia, em Belém-PA, em 1991.
O principal avanço se deu com a legislação específica para a criação, na
modalidade farming – sistema fechado (Portaria Ibama Nº 142/92) e comercialização
(Portaria Ibama Nº 70/96) da tartaruga-da-Amazônia e do tracajá, sendo que atualmente
esses dispositivos legais constam com o mesmo teor na Portaria Ibama N° 7, de 30
de abril de 2015, que institui e normatiza as categorias de uso e manejo da fauna
silvestre
em
cativeiro,
e
define,
no
âmbito
do
Ibama,
os procedimentos
autorizativos para as categorias estabelecidas. Desta forma, o Governo Federal passou
a apoiar a modalidade de cultivo desses animais em suas áreas de ocorrência natural,
estabelecendo-se que 10% dos filhotes produzidos em locais naturais de desovas
fossem disponibilizados para a criação em cativeiro e a comercialização somente
poderia ser efetuada quando os animais atingissem 1,5 kg de peso vivo. Nessas últimas
três décadas foram registrados 120 criadouros, com mais de um milhão de animais
em sistema de confinamento e cerca de 200 mil, em fase de abate e comercialização
(Malvasio 2009).
Porém, tal atividade não se mostrou sustentável economicamente devido ao longo
tempo que os animais precisam para atingir um tamanho mínimo de abate (o peso
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
86
mínimo estipulado para comercialização é 1,5 kg de peso vivo por animal), gerando
alto custo de manutenção operacional; sendo um dos gargalos administrativos e legais
que impediram o abate e a comercialização de animais e de carne com a necessária
certificação, e; a precária estruturação das cadeias produtivas e comerciais relacionadas
(Malvasio 2009, Ibama 2016). Em nexo, são demandadas novas metodologias de
sistemas de manejo para esses animais, sendo forte e recorrentemente indicado o
ranching – sistema aberto e o harvesting – sistema extensivo, como modalidade de
manejo a ser implementado para este fim.
O artigo segundo da Portaria Normativa Ibama Nº 15/2013 estabelece, entre os
objetivos do Programa Quelônios da Amazônia - PQA: (...) VII – manter os estoques
populacionais de quelônios por meio de atividades de conservação e uso sustentável
em seu hábitat natural, avaliando o repasse de filhotes para outros sítios a serem
recuperados e ao sistema de criação comercial (...).
Um dos principais objetivos do PQA é implementar sistemas de uso sustentável
dos quelônios amazônicos, por acreditar que essa é uma ferramenta importante
para a conservação dessas espécies, contribuindo com o desenvolvimento social e
econômico em áreas remotas do interior brasileiro, como uma alternativa econômica
adequada aos padrões culturais da sociedade potencialmente interessada.
Em 2014, o Ibama e o ICMBio instituíram o mencionado Plano de Ação Nacional
para Conservação dos Quelônios Amazônicos – PAN Quelônios (Portaria Conjunta
Ibama/ICMBio Nº 1/2015). Nesse plano foram estabelecidas cinco ações relacionadas
diretamente ao manejo para uso de alguma dessas espécies. Sendo consenso entre
os especialistas em quelônios continentais brasileiros e demais representantes
interessados no tema, que é necessário implementar medidas de manejo sustentável
para conservar essas espécies.
O apanhado legal discutido anteriormente de que, apesar de não haver
diferenciação clara e objetiva entre caça e manejo, existe previsão legal para autorizar
a caça como forma de manejo de fauna. A LC Nº 140/2011 define que o controle
de apanha de fauna, quando sua finalidade não seja para pesquisa ou cativeiro,
deve ser feito pela União. Alguns exemplos bem-sucedidos desse tipo manejo que o
Ibama autoriza são o manejo do javali (Sus scrofa) e o do jacaré-do-pantanal (Caiman
yacare). O ICMBio também autoriza o manejo de fauna, porém dentro de unidades de
conservação, como é o caso de Melanosuchus niger (jacaré-açu).
No caso dos quelônios amazônicos é evidente que o manejo comunitário pode
se tornar uma alternativa viável para conciliar a necessidade do uso e a conservação
das espécies. Aliás, algumas comunidades ribeirinhas já realizam esse manejo com
sucesso, porém de maneira informal, ou seja, caçam ilegalmente esses animais no
deficitário e defasado contexto legal vigente. Com vistas a regulamentar o manejo
sustentável de quelônios e estimular outras comunidades para tal, é provável que
a melhor alternativa seja implementar planos de manejo locais, que em muitos
casos poderá prever o uso direto desse recurso da fauna. Os planos de manejo de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
87
fauna silvestre in situ deverão obrigatoriamente estar condicionados às pesquisas
que incluam dados sobre a distribuição das espécies, parâmetros populacionais e
reprodutivos, estado de conservação, potencial para utilização sustentável e programa
de monitoramento de populações.
Assim como outros crocodilianos brasileiros, espécies de quelônios amazônicos,
com potencial utilização sustentável, não constam na lista brasileira de espécies da
fauna ameaçada de extinção. O jacaré-açu e a tartaruga-da-amazônia são citados na
Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas editada pela IUCN, muito embora tenham
sido incluídos na categoria “Lower Risk/Conservation dependent”, ou seja, a espécie
apresenta menor risco de extinção, mas deve continuar sendo objeto de programas de
manejo. Adicionalmente, em 2007, o jacaré-açu foi reclassificado do apêndice I para
o apêndice II da CITES, o mesmo apêndice em que figuram as espécies de quelônios
em questão desde a década de 1970. Com isso, pode ser viabilizado a exportação de
produtos advindos de programas de manejo sustentado dessas espécies na natureza,
quando pertinente.
O conceito de “conservação através do uso sustentado” é reconhecido como uma
das mais importantes estratégias para promover a conservação dos crocodilianos e
quelônios amazônicos e seus respectivos habitats naturais. A ideia é que as espécies
que trazem benefícios tangíveis à sociedade terão maiores chances de serem
manejados de forma correta e, consequentemente, conservados. Por outro lado, os
recursos não valorados pela sociedade terão maiores chances de serem destruídos ou
substituídos por outras formas de utilização (Coutinho et al. 1997, Coutinho & Campos
2002).
Conforme descrito por Wiedmann (2008), com base em informação científica e
em pesquisas desenvolvidas por instituições públicas brasileiras de alta reputação
técnica, foram gerados novos conhecimentos sobre a biologia do jacaré-do-pantanal,
ficando comprovado que tais conhecimentos garantem suporte técnico necessário à
implantação de técnicas inovadoras de manejo sustentável.
Face à necessidade de inovações tecnológicas de manejo sustentável, como
subsídio para formular propostas visando o aperfeiçoamento da legislação referente
à conservação e manejo da fauna brasileira, o RAN/IBAMA (à época) propôs um
procedimento pioneiro de manejo na natureza que se traduziu na Instrução Normativa
Ibama No 63/2005. Foi então implantado o “Projeto Demonstrativo de Viabilidade
Bioeconômica do Uso Comercial de Jacarés do Pantanal, sob o Sistema Aberto de
Produção e Recria (Headstarting)”.
Através da Instrução Normativa ICMBio Nº 28/2012, que normatizou a utilização
sustentável das populações naturais de crocodilianos (harvesting) em Reservas
Extrativistas, Floresta Nacional e Reserva de Desenvolvimento Sustentável, uma
experiência pioneira em manejo de fauna silvestre está ocorrendo na Reserva
Extrativista (Resex) do Lago do Cuniã. Com uma área de 50.850 hectares na margem
esquerda do rio Madeira, nela vivem cerca de 90 famílias distribuídas em quatro vilas
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
88
ao redor do lago, conhecidas por Neves, Silva Lopes Araújo, Pupunhas e Araçá.
Os moradores da reserva são descendentes de migrantes nordestinos que, no
início do século passado, foram trabalhar nos seringais da região, e de índios da etnia
Mura. Nesse período de ocupação e interação com a floresta, vieram a adquirir harmonia
e cumplicidade com o ambiente local. O sustento vem da pesca e do agroextrativismo.
Nos anos de 1980, a perspectiva era de criação de uma Estação Ecológica, UC
de proteção integral, que não pode ser habitada. As comunidades ao redor do lago
rapidamente se organizaram em associação e juntas lutaram por um longo período
para que a área fosse convertida em Reserva Extrativista, o que foi concretizado em
1999.
Com a criação da Resex e um controle maior da caça e pesca na unidade,
um aumento rápido e significativo na população de jacarés veio a ocorrer no lago
Cuniã, com consequentes registros de ataques a moradores, onde o mais grave levou
uma criança a óbito. Revoltados, passaram a cobrar do Ibama, à época, e depois do
ICMBio, ações que reestabelecessem o equilíbrio populacional de jacarés e a paz na
comunidade.
A partir dessa situação de conflito, foi proposta a construção de um projeto de
manejo da população de jacarés, com viés ambiental e econômico. Iniciado pelo Ibama
e pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN), centro
de referência, especializado na geração e na gestão de informações que subsidiam
ações de conservação de répteis e anfíbios. Hoje o projeto está sob a supervisão da
Coordenação de Produção e Uso (COPROD/ICMBio).
De acordo com Santesso & Coutinho (2010), o caso de Cuniã atende dois dos
principais objetivos do manejo de fauna silvestre, que são o de buscar o equilíbrio
ecossistêmico e o de gerar renda por meio da produção sustentável de carne e couro
de jacarés. Os estudos sobre a viabilidade do manejo se iniciaram em 2004, por meio
de expedições de campo para coleta de dados e análises laboratoriais. Com respaldo
científico e técnico, e com recursos financeiros oriundos de compensação ambiental
de uma empresa de energia, o manejo teve início em 2009, quando um pequeno
frigorífico na comunidade Silva Lopes Araújo foi construído e 100 animais capturados.
A COPROD/ICMBio define as cotas anuais de abate, subsidiada por um trabalho
permanente de pesquisa e monitoramento populacional dos jacarés. Em 2014 não
houve captura devido a uma grande cheia no Rio Madeira, para 2015 a cota autorizada
foi de 900 animais, esta última mantida em 2016. Para viabilizar o projeto, os moradores
foram capacitados para realizar desde a captura do jacaré até o processo industrial
de corte, embalagem e transporte do produto final. O frigorífico comunitário possui
registro no Serviço de Inspeção Sanitária (SIM) de Porto Velho-RO, o que permite
à carne ser toda comercializada por uma rede de supermercados da capital. Já o
couro é vendido para empresários de Minas Gerais. A receita mensal de cada uma
das 83 famílias envolvidas no projeto é, em média, de um salário mínimo, durante um
período de safra que varia de 4 a 5 meses. Segundo critérios determinados no plano
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
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de manejo do projeto, para serem abatidos os animais devem ser do sexo masculino
e terem tamanho próximo de dois metros.
O projeto da Resex Cuniã nos confirma que a convivência harmônica de
comunidades tradicionais com o uso dos recursos naturais é possível, viável e
necessária, uma vez que os maiores defensores deste patrimônio natural são os seus
próprios moradores, desde que respaldados por boas políticas públicas.
9 | CONCLUSÃO E PROPOSIÇÃO
A Constituição da República prevê, autoriza e incentiva a prática do manejo
ecológico como mecanismo de preservação e conservação do meio ambiente. Porém,
inegavelmente, ainda há muito o que avançar, tanto no aperfeiçoamento do sistema
legal, quanto na implementação de novos princípios metodológicos que preencham
as lacunas jurídicas e técnicas relacionada ao tema “manejo de uso” de recursos
faunísticos, incluindo uma discussão profunda, com experimentações práticas, sobre
o conceito e uso da caça como modalidade de manejo. É premente o aprimoramento
do sistema legal relacionado à fauna silvestre no Brasil para equilibrar a demanda
social e teoria legal relacionada, com a prática metodológica embasa pelos princípios
do manejo adaptativo.
Os projetos exemplificados nessa abordagem, em especial, os projetos
demonstrativos de viabilidade bioeconômica do manejo de crocodilianos brasileiros,
atendem plenamente as prerrogativas do manejo ecológico das espécies e seus
respectivos ecossistemas e encontram suporte no sistema legal brasileiro vigente
(Andrade & Coutinho, 2007; Andrade et al., 2007; Coutinho ,2010; Mendonça et al.,
2007; Mendonça & Coutinho 2009). No caso dos quelônios amazônicos é evidente que
o manejo comunitário pode se tornar uma alternativa viável para conciliar a necessidade
do uso e a conservação das espécies. Aliás, algumas comunidades ribeirinhas já
realizam esse manejo, porém de maneira informal. Com vistas a regulamentar o
manejo sustentável de quelônios e estimular outras comunidades para tal, é provável
que a melhor alternativa seja implementar planos de manejo locais.
Os planos de manejo de fauna silvestre in situ deverão estar devidamente
condicionados às pesquisas que incluam dados sobre a distribuição das espécies,
parâmetros populacionais e reprodutivos, estado de conservação, potencial para
utilização sustentável e programa de monitoramento das populações.
Com esse foco, a possibilidade e legalidade da implementação de planos de
manejo para uso de fauna silvestre em vida livre, incluindo a caça como modalidade
de manejo, já foi objeto de análise pelo ICMBio, notadamente quanto à avaliação
técnica dos Projetos de Lei Parlamentar Nº. 436/2014 e 6.268/2016. Não vem ao caso
nesta abordagem comentar o teor dos objetivos desses Projetos de Lei, mas sim citar
que ambos provocam discussões oportunas ao despertarem o fato de que o atual
arcabouço legal que rege a fauna e suas interfaces no contexto da legislação ambiental
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
90
no Brasil, além de deficitária e defasada, apresenta sobreposições, redundâncias e
discordâncias intra e entre as diferentes esferas de governo, além de ser de difícil
compreensão e assim de imprecisa aplicação objetiva em diversos casos.
Ainda nesse contexto, é oportuno destacar que esses Projetos de Lei, entre
outros fóruns especializados que tratam dessa questão, propõem a alteração da Lei
Nº 6.938/1981 para tornar a caça, a apanha e o manejo de fauna ações administrativas
dos Estados. Quanto a isso, indubitavelmente, a atuação cooperativa ampliada
e descentralizada entre os entes da Federação, poderá mitigar a fragmentação
de controles, a duplicidade de esforços e a sobreposição de atividades relativas à
gestão de fauna, fatos que categoricamente se exaltam no presente. Esse processo
coaduna com o fato de que o Governo Federal tem se comprometido, através de
acordos de cooperação, a transferir conhecimento, disponibilizar sistemas de gestão
da informação, compartilhar estruturas e atuar de forma integrada com as secretarias
de meio ambiente dos Estados, para o exercício das atribuições estabelecidas pela LC
Nº 140/2011, até que estejam adequadamente estruturados para exercer plenamente
suas atribuições. A transparência às informações e a integração dos sistemas de
controle estadual ao sistema nacional também constam nas cláusulas dos acordos
em questão.
10 |
AGRADECIMENTOS
Agradecemos aos membros do Grupo de Assessoramento Técnico (GAT)
do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Quelônios Amazônicos (PAN
Quelônios Amazônicos) pela revisão, sugestões e repasse de informações para a
realização deste trabalho.
Agradecemos ao Analista Ambiental Roberto Victor Lacava e Silva da
Coordenação-geral de Fauna do Ibama pelo repasse de informações sobre o manejo
de fauna no âmbito daquele Instituto.
Agradecemos à equipe do RAN/ICMBio, em especial à Coordenadora Vera Lúcia
Ferreira Luz, ao Pesquisador cedido ao RAN pela Embrapa, Dr. Marcos Eduardo
Coutinho, e aos membros do GT Quelônios pelas valiosas contribuições sobre o tema
“manejo e caça de fauna silvestre no Brasil”, de forma a contribuir no aprofundamento
da discussão sobre esse polêmico assunto, que é latente em vários processos
finalísticos no escopo técnico atribuído aos servidores do meio ambiente.
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Capítulo 7
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 7
93
CAPÍTULO 8
COMPARAÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS PARA
DETERMINAÇÃO AUTOMÁTICA DE APP EM TOPO DE
MORRO PARA O MUNICÍPIO DE LAGES/SC
Benito Roberto Bonfatti
Doutor em Ciência do Solo. Professor
colaborador na Universidade do Estado de Santa
Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias,
Departamento de Engenharia Ambiental e
Sanitária, e-mail: benito.bonfatti@udesc.br.
Lages/SC
Taís Toldo Moreira
Graduanda em Engenharia Ambiental e
Sanitária, Universidade do Estado de Santa
Catarina, Centro de Ciências Agroveterinárias,
Departamento de Engenharia Ambiental e
Sanitária, e-mail: taistoldomoreira@hotmail.com.
Lages/SC
RESUMO: Para que uma área de topo de morro
seja demarcada como uma Área de Proteção
Permanente é necessário que se enquadre nas
determinações do Código Florestal Brasileiro.
Devido à dificuldade de acesso a grande
maioria desses locais e à falta de equipamentos
adequados, a tarefa de delineamento dos topos
de morro traz consigo várias dificuldades e
limitações. Alguns métodos já foram propostos
para a demarcação automática, mas utilizam de
diferentes softwares e diferentes metodologias.
Nesse contexto, é necessário conhecer as
metodologias e compará-las, no intuito de
conhecer suas limitações e diferenças. Assim,
esse trabalho pretende comparar três métodos
de delineamento de topos de morro, no município
de Lages/SC e salientar suas limitações. Tais
comparações servem como base para que os
modelos sejam aprimorados ou novas técnicas
sejam incorporadas, tornando mais eficaz sua
automatização.
PALAVRAS-CHAVE: topo de morro, APP, Novo
Código Florestal
COMPARISON OF DIFFERENT METHODS
FOR AUTOMATIC DETERMINATION OF
PERMANENT PROTECTION AREA IN TOP
OF MORRO TO THE MUNICIPALITY OF
LAGES / SC
ABSTRACT: In order for a top hill area to be
demarcated as a Permanent Protection Area,
it is necessary to comply with the provisions of
the Brazilian Forest Code. Due to the difficulty
of access to most of these sites and the lack
of adequate equipment, the task of designing
the hilltops brings with it several difficulties and
limitations. Some methods have already been
proposed for automatic demarcation, but use
different software and different methodologies.
In this context, it is necessary to know the
methodologies and compare them, in order to
know the limitations and differences. This work
intends to compare three methods of delineation
of hill tops, in the municipality of Lages / SC and
to emphasize the limitations. Such comparisons
serve as a basis for models to be improved or
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 8
94
new techniques incorporated, making the automation more effective.
KEYWORDS: hill top, Permanent Protection Area, New Brazilian Forestry Code
1 | INTRODUÇÃO
Das áreas de APP definidas no Novo Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651
de 2012), as referentes aos topos de morro estão entre as mais complexas de serem
demarcadas devido à dificuldade de acesso à elevadas altitudes e inclinações íngremes
de encosta. A delimitação automática de topo de morros reduz riscos que poderiam
surgir num levantamento detalhado de campo, além da redução do tempo e recursos
utilizados.
Metodologias já estudadas possuem diferenças que podem ser significativas na
delimitação automática das APP’s em topo de morro. Cabe um estudo comparativo
para investigação da aplicabilidade dos métodos e softwares disponíveis, identificando
suas principais diferenças. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo
comparar três métodos de identificação automática de APP em topo de morro. O
estudo será realizado para o município de Lages.
2 | METODOLOGIA
Inicialmente foi traçado um buffer de 5km ao redor dos limites do município de
Lages, o qual foi utilizado para recorte de um Modelo Digital de Elevação (MDE) SRTM,
com 30 m de resolução espacial.
O primeiro método (Método 1) seguiu os passos delineados no estudo de Oliveira
& Filho (2013), implementado no software ArcGIS. Primeiramente, determinou-se a
base legal dos morros, invertendo-se o MDE e delimitando as bacias de drenagem
para o MDE invertido. Dos limites lineares dessas bacias, os pontos de sela foram
identificados como os pontos de maior altitude das linhas (do MDE original). Os pontos
mais altos destas bacias foram demarcados como pontos de topo de morro. Os pontos
de sela mais próximos a cada topo de morro foram identificados, calculando-se então a
altura dos morros e descartando as áreas inferiores a 100 m. Calculou-se a declividade
máxima para cada pixel. A declividade média foi calculada para os limites das bacias
identificadas, descartando-se áreas com declividade inferior a 25 graus. Determinouse o terço superior de cada topo de morro.
Para o Método 2, os procedimentos foram executados conforme Santos (2013),
implementando o modelo no software ArcGIS. Diferentemente do Método 1, a base
do morro foi considerada como a altitude da rede hidrográfica adjacente (SANTOS,
2013). A extração de topo de morro foi feita com o MDE invertido, identificando os
seus pontos mais baixos (sink), os quais correspondem aos pontos mais altos no
MDE original. A área de abrangência de cada topo de morro foi então determinada
(bacias invertidas). Obteve-se também a área de abrangência (bacias) de cada ponto
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 8
95
de confluência hidrográfica, utilizando-se o MDE original, atribuindo-se a essas áreas
a mesma altitude do ponto de confluência (altitude da base). A declividade para cada
célula foi obtida com a ferramenta slope, e a declividade média foi calculada como a
média de declividade das células correspondentes às bacias invertidas. Morros com
altura inferior a 100 m e áreas com declividade menor que 25 graus foram descartados.
No Método 3, os procedimentos foram executados com base em Silva et al.
(2017), através do software QGIS. Fez-se primeiramente a inversão do MDE. Os
limites das bacias invertidas foram determinados utilizando-se o comando r.watershed.
Este comando possibilita a demarcação de uma área mínima para o cálculo de bacias
e foi determinado um valor de 100 células (9 ha). Nessas bacias foram identificadas
as altitudes máxima e mínima e sua diferença, a qual determina a altura dos morros.
Alturas inferiores a 100 m foram descartadas e determinou-se o terço superior para
as áreas restantes. Calculou-se a declividade com a ferramenta slope e a declividade
média de cada bacia invertida. Áreas com declividade inferior a 25 graus foram
descartadas.
Para comparação, foram extraídas também as áreas de topo de morro
cadastradas no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural – SICAR (MMA, 2017)
para o município de Lages.
3 | RESULTADOS
Figura 1: Exemplos de áreas de topo de morro identificadas, por diferentes métodos, para o
município de Lages e adjacências.
Os três métodos apresentaram diferentes resultados, como se pode observar na
Figura 1 e na Tabela 1. O Método 1 não identificou áreas de APP em topo de morro para
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 8
96
o município de Lages, porém um polígono foi demarcado nas áreas externas ao limite
do município (correspondente ao município de Bom Jesus, no RS). Dois polígonos
foram identificados utilizando-se o Método 2, um dentro do município de Lages (Figura
1) e outro fora dos limites do município. O Método 3 identificou 13 polígonos de APP
em topo de morro, sendo 3 dentro dos limites do município de Lages. Dos métodos
estudados, a maior área demarcada foi obtida aplicando-se o Método 3 e a menor área
foi obtida aplicando-se o Método 2.
Métodos
Número de
polígonos
Método 1
Método 2
Método 3
CAR
1
2
13
3
Altitude
média dos
topos de
morro (m)
933,92
946,89
996,95
1026,97
Altura média
dos topos de
morro (m)
Área total
(ha)
89
71,5
79,38
48
40,12
11,22
111,75
5,64
Tabela 1. Parâmetros estatísticos para as APP’s de topo de morro identificadas por diferentes
métodos.
Apenas uma área foi identificada ao mesmo tempo por mais de um método
(Método 1 e o Método 2), localizada fora do município de Lages. Nenhum dos modelos
identificou de forma automática as APP´s em topo de morro já cadastradas no SICAR
para o município de Lages, correspondendo a 3 polígonos.
4 | DISCUSSÃO
A utilização de técnicas de geoprocessamento aplicadas a um MDE mostrou-se
apta a calcular áreas de topo de morro, mas limitações ficaram evidentes. O Método
1 identificou pontos de sela e o utilizou para o cálculo da altura dos morros, como
previsto na legislação. Porém, os limites utilizados para identificar pontos de sela
compreenderam áreas contíguas na superfície, não excluindo as áreas de planícies
ou vales, o que poderia levar a identificações errôneas do ponto de sela. Os métodos
2 e 3 não consideraram os pontos de sela, mas apenas as menores altitudes da base.
Nestes, os morros apresentaram maiores alturas, o que resultou em um número maior
de APP´s identificadas. Para se adaptarem à Lei 12.651, esses modelos poderiam
implementar métodos para identificação de pontos de sela.
Quanto à declividade, o Método 1 determina a declividade máxima e depois realiza
a média para os morros. Já os Métodos 2 e 3 calculam primeiramente a declividade
média de cada pixel e seus vizinhos, e posteriormente a declividade média para a área
do morro. A média é calculada sem descartar áreas de planícies ou vales, reduzindo
consideravelmente a declividade média calculada. Há também o fator resolução do
MDE, que já traz consigo uma suavização do terreno. Uma alternativa seria calcular a
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 8
97
declividade média não de todo o morro, mas apenas do terço superior.
Os polígonos cadastrados no SICAR não contam necessariamente com medições
precisas. Contudo, a comparação com a metodologia utilizada sugere incompatibilidade
dos dados. Estudos futuros são necessários para a escolha da metodologia que mais
se adeque ao determinado no Novo Código Florestal, comparando os dados com
medições topográficas ou com MDE de maior resolução.
5 | CONCLUSÕES
•
A automatização da delimitação de topo de morros facilita a demarcação de
áreas de APP.
•
As metodologias utilizadas ainda não estão padronizadas e podem levar a
resultados distintos. Há necessidade de regulamentação técnica.
•
É necessário o uso de MDE´s de maior resolução espacial e remoção das
áreas de planícies e vales, para amenizar os efeitos de suavização do relevo.
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Nacional de Lujan, 2017, v. 1, p. 2161-2172.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 8
98
CAPÍTULO 9
CONSELHOS GESTORES DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO COMO ESPAÇOS EDUCADORES:
MOBILIZAÇÃO DE AGENTES SOCIAIS A PARTIR DE
PROBLEMAS DE FISCALIZAÇÃO
Rodrigo Machado
Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (SMASP)
Beatriz Truffi Alves
Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (SMASP)
Wagner Nistardo Lima
Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (SMASP)
Adriana Neves da Silva
Fundação Florestal (SMA-SP)
Marlene Francisca Tabanez
Instituto Florestal (SMA-SP)
RESUMO: Apresentam-se resultados parciais
decorrentes de intervenção educacional
em Conselhos Gestores de Unidades de
Conservação (UC) no Estado de São Paulo.
Tais resultados derivam de informações e
dados de pesquisa em andamento, sobre
desdobramentos da Formação Socioambiental
no Contexto da Fiscalização em UC (FS).
O método de investigação se desenvolve a
partir do acompanhamento – presencial e a
distância – da agenda de ações propostas pelos
Conselhos Gestores de três UC participantes
da FS: Parque Estadual Aguapeí, Parque
Estadual Rio do Peixe e Núcleo Caraguatatuba
do Parque Estadual Serra do Mar. Como ponto
de partida da pesquisa, a técnica de grupo
focal foi utilizada com gestores e respectivas
equipes, abordando aspectos da intervenção
realizada junto aos Conselhos e visando captar
suas expectativas sobre o relacionamento
destes colegiados com a gestão da UC, após a
FS. As técnicas e procedimentos subsequentes
têm sido a observação sistemática dos
desdobramentos da FS na gestão das UC
em tela e a aplicação de questionários com
questões abertas aos envolvidos (gestores,
conselheiros e demais participantes). A partir
das ações planejadas pelos Conselhos no
âmbito da FS, são observadas as formas
com que os colegiados as executam. Para o
tratamento das respostas obtidas e demais
registros utilizam-se procedimentos inspirad
os na técnica de análise de conteúdo. Os
resultados, por ora, são organizados em
três eixos de análise: 1) expectativas dos
participantes após o trabalho de formação; 2)
impactos específicos na operacionalização
local da política de fiscalização ambiental de UC
e 3) na gestão das unidades pesquisadas, de
modo geral, e, especialmente, no que tange à
interface promovida pelos Conselhos Gestores
com os programas dos planos de manejo das
UC investigadas.
PALAVRAS-CHAVE:
Unidades
de
Conservação;
Fiscalização;
Formação Socioambiental
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
Conselhos;
99
ABSTRACT: This paper presents partial results arising from educational intervention
in Managers Councils of Protected Areas (PA) in São Paulo. These results derived from
information and data associated with the ongoing research about developments of Social and
Environmental Education in Surveillance context in PA. The research seeks to monitor face and distance – the actions proposed by the Management Councils of three PA
participants: Aguapeí State Park, Rio do Peixe State Park and Serra do Mar State Park.
As a starting point of the research, the focus group technique was used with managers
and their teams, addressing aspects of the intervention conducted with the advice and
order to capture their expectations about the relationship of these councils and the
management of PA, after the educational intervention. The techniques and subsequent
procedures have been systematic observation of the developments of Social and
Environmental Education in the PA management screen and the application of
questionnaires with open questions to stakeholders (managers, directors and other
participants). The actions planned by the Councils under the Social and Environmental
Education are observed from the perspective of how they are implemented by the
boards. For the treatment of replies and other records are used procedures based
on the technique of content analysis. The results, for now, are arranged in three lines
of analysis: 1) expectations of the participants after the educational intervention;
2) specific impact on local implementation of the environmental monitoring of PA and
3) impacts on management policy of the surveyed PA, in general, and especially in
the interface promoted by Councils with the programs of the management plans of the
investigated PA.
INTRODUÇÃO
O contexto da pesquisa que serve de base ao artigo é o da fiscalização ambiental
de Unidades de Conservação (UC) geridas por órgãos vinculados à Secretaria de Estado
do Meio Ambiente de São Paulo (SMA-SP). Esta vetoriza a articulação de diferentes
estruturas do Sistema Ambiental Paulista (SEAQUA), visando ao planejamento e
gestão estratégicos da fiscalização ambiental em UC de proteção integral. Assim, a
Coordenadoria de Fiscalização Ambiental (CFA); a Fundação Florestal (FF), o Instituto
Florestal (IF) e o Instituto de Botânica (IBt) – ligados à SMA-SP -, mais a Polícia
Militar Ambiental (PAmb) – ligada à Secretaria de Segurança Pública - reúnem-se
sistematicamente em torno do Sistema Integrado de Monitoramento (SIM)1. Este, por
seu turno, configura-se como o plano de fiscalização de UC, expressão da política de
fiscalização ambiental quanto se trata deste tipo de área protegida.
Inseridos na estrutura do SIM há dois programas de suporte, que se direcionam a
criar condições subjetivas de viabilidade do plano: 1) capacitação e instrumentalização
dos envolvidos (gestores de UC, agentes de fiscalização, agentes administrativos); 2)
formação socioambiental de agentes sociais2 representados nos Conselhos Gestores
1
Para mais informações sobre o SIM, suas características e seus modos de operação, acessar
http://www.ambiente.sp.gov.br/cfa/fiscalizacao/unidades-de-conservacao-sim/
2
Agentes sociais são aqui entendidos como grupos, coletivos, organizações, movimentos, insti-
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
100
das UC que fazem parte do SIM. Formação Socioambiental no Contexto da Fiscalização
em UC (FS) constitui-se, assim, como uma resposta ao reconhecimento e afirmação
dos Conselhos de UC como estratégicos para se alcançar o objetivo de aprimoramento
da gestão do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC),
conforme o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas (BRASIL, 2006).
Embora se trate de um processo visando a uma participação social mais efetiva
na gestão pública a partir da fiscalização ambiental, a utilização do termo “formação”
para definir a iniciativa se deve ao entendimento de que tanto o percurso como os
resultados da FS se relacionam estreitamente com ampliação de repertório e da
capacidade de compreensão, de produção de conhecimento próprio, de articulação
e intervenção na sociedade de que fazem parte – finalidades da própria ideia de
Educação. O uso do termo socioambiental, ainda, se deve a um conjunto de fatores: 1)
busca-se uma compreensão complexa dos problemas de fiscalização, identificandose suas causas sociais, econômicas, históricas, políticas, culturais; 2) dirige-se a uma
postura mais atuante e consciente dos Conselhos nos territórios em que vivem e nos
quais se localizam as UC; 3) busca-se possibilitar a construção, no espaço de um
colegiado como o Conselho de UC, de condições para um maior controle social de
diferentes políticas de gestão pública.
A instituição dos Conselhos Gestores de Unidades de Conservação, pela Lei
Federal n.º 9.985/2000 (BRASIL, 2000), demandou do Estado uma nova perspectiva
para o diálogo com a sociedade na gestão das UC, sobretudo com agentes sociais
relacionados com os territórios de que fazem parte tais áreas protegidas. Essa
responsabilidade passou a ser criar e implantar os Conselhos. A necessidade de se
instituir os Conselhos nas UC estaduais gerou outro desafio aos órgãos gestores: sua
manutenção, seja em termos de permanente acompanhamento e subsídios para que
continuem ativos, seja em se tratando de orientações e capacitações para conselheiros
atuarem na gestão ambiental pública.
Conforme apontam Raimundo et. al. (2002), ao menos desde 1997 o Estado de
São Paulo trabalha com os então denominados “comitês de apoio à gestão”, atualmente
conhecidos, após o advento do SNUC, como Conselhos Consultivos. Portanto, após o
esforço de criar tais espaços públicos de participação na gestão da biodiversidade, e
de outros no sentido de mantê-los e revitalizá-los, observa-se a necessidade constante
de contribuir com perspectivas de dinamização e atribuição de sentidos à participação
nesses colegiados.
Partindo desse entendimento, o segundo programa de suporte do plano de
fiscalização configura-se como uma intervenção educacional (GUIMARÃES, 2005)
nos Conselhos e compõe o “objeto” de investigação de um grupo de trabalho (GT) é
constituído por representantes das instituições envolvidas: órgãos gestores de UC (FF,
IF e IBt) e órgãos de fiscalização (CFA e PAmb). O trabalho do GT tem sido, desde o
início de 2013, desenvolver, implantar e avaliar a FS.
tuições, órgãos, entidades, setores.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
101
Entre maio e dezembro de 2013 a FS realizou 26 encontros (reuniões e oficinas
de trabalho) com gestores, conselheiros e outros participantes das UC e instituições
envolvidas.
Organizadas em polos, as UC que integram a FS foram selecionadas dentre
aquelas já integrantes do SIM, buscando abranger todas as regiões do estado. Dos
9 polos previstos, inicialmente, para o desenvolvimento da FS, em 7 os trabalhos
foram iniciados e, em 5, concluídos, em 2013, conforme quadro 1 e figura 13. Nestes
encontros foram envolvidas 210 pessoas entre representantes do poder público, das
três esferas (municipal, estadual e federal) que, em média, representaram cerca de
74% dos presentes e representantes dos setores produtivos e da sociedade civil,
que alcançaram 26%. Também foram contabilizadas 450 participações, que somam
as presenças na totalidade de encontros realizados em todos os polos trabalhados,
considerando a frequência contínua e a rotatividade dos envolvidos.
Quadro 1 – Polos, unidades de conservação e regiões do SIM onde foi realizada a FS.
3
Nos polos 3 e 9 pólos 3 e 9, Estação Ecológica Angatuba e Parque Estadual Carlos Botelho a
FS não foi iniciada.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
102
Figura 1 – Distribuição dos polos de FS pelo Estado de São Paulo.
Fonte: CFA/SMA-SP, 2014.
Em cada pólo – conforme quadro 1 – foram realizados encontros de FS tendo
como público os conselheiros, os gestores e as equipes (monitores ambientais), além de
agentes sociais convidados por serem atuantes nos territórios das UC. Um dos objetivos
da FS foi desenvolver formas de envolvimento dos Conselhos com a fiscalização
ambiental das UC. Para tanto, o percurso realizado contou com momentos articulados
de reconhecimento, reflexão e debate sobre a problemática socioambiental das UC a
partir das inúmeras compreensões sobre meio ambiente, natureza e UC (REIGOTA,
2002; CARVALHO, 2003, CARVALHO, 2004) e interesses diversos dos diferentes
agentes presentes aos encontros (LOUREIRO, 2012; LOUREIRO e LAYRARGUES,
2013); de compreensão mais aprofundada dos problemas que afetam as UC, a partir
do levantamento e identificação conjunta de causas que motivam as manifestações
dos problemas observados, assim como seus efeitos na UC; de mapeamento dos
agentes sociais que atuam nos territórios dos quais fazem parte as UC trabalhadas; de
construção coletiva de modos de enfrentamento das causas tomadas como prioritárias
e planejamento de ações a comporem a agenda de cada Conselho.
Do processo de FS com os Conselhos de UC pelo Estado de São Paulo emergiram
grandes problemas de fiscalização ambiental, como, por exemplo, as ocupações
irregulares, a pesca continental e a extração ilegal de produtos florestais. Partindo
destes problemas foram levantadas 120 causas de ordem econômica, social, cultural,
política e legal. Destas, doze foram priorizadas e orientaram a construção de 51 ações
de enfrentamento4 que constituem as agendas dos Conselhos em cujos polos a FS
foi concluída (polos 1, 4, 6, 7 e 8). A definição das agendas levou em consideração
as competências e atribuições dos Conselhos e dos(as) conselheiros(as), temas
4
É possível acessar todo o percurso da FS com os registros de todos os mapeamentos, diagnósticos, e planos de ação pelo endereço: http://www.ambiente.sp.gov.br/formacao-socioambiental/
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
103
também abordados e debatidos ao longo da FS. Mais de 140 agentes sociais foram
reconhecidos com potencial de serem articulados pelos Conselhos para se trabalhar
as causas dos problemas de fiscalização que afetam as UC.
Dentre as finalidades previstas para as agendas encontrava-se a expectativa
de que as ações se dirigissem a uma atuação dos Conselhos pelos territórios das
UC (portanto, externos às unidades), articulando-se com diferentes agentes sociais e
mirando causas de problemas que se manifestam no interior e entorno das unidades.
Para tanto, os Conselhos seriam conscientes e atuantes no campo da gestão ambiental
pública (QUINTAS e GUALDA, 1995; QUINTAS, 2002; 2006), seja da biodiversidade
(co-gerindo a UC), seja de outras dimensões mais presentes fora da UC e também
passíveis de articulação com questões ambientais, como as políticas habitacionais,
de saúde, educacionais, culturais, de desenvolvimento, entre outras. Considerandose os resultados auferidos ao longo do desenvolvimento e realização da FS (ALVES,
et al., 2014), é possível observar que as agendas apontam para esse tipo de atuação
dos Conselhos. Contudo, reconheceu-se, também, que a implantação de tais agendas
é tão importante quanto sua construção (mais consciente e planejada) e forma de
elaboração (coletiva e dialogada).
Tais resultados concretos da FS proporcionaram ao grupo de trabalho
interinstitucional identificar as seguintes questões tidas como relevantes e pertinentes:
quais os desdobramentos que as agendas construídas pelos participantes da FS irão
gerar sobre a atuação dos Conselhos, sobre a gestão das UC e sobre a fiscalização
ambiental nessas unidades de proteção integral? Pode-se compreender a FS como
uma estratégia mobilizadora de agentes sociais para sua atuação na gestão ambiental
da UC e do território ao qual se integra? Quais seriam seus impactos na gestão da UC
e na política de fiscalização em nível local?
Com o objetivo de buscar elementos que sustentem respostas às questões
colocadas, uma pesquisa foi organizada de forma a observar sistematicamente o
desenvolvimento de ações dos Conselhos de três UC, organizadas em dois polos
trabalhados pela FS: o pólo 4, composto pelos Parques Estaduais Aguapeí e Rio do
Peixe, e o pólo 6, do Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual Serra do Mar.
MÉTODOS
Ao final da FS em oito das treze UC envolvidas, foi realizado o primeiro movimento
de investigação, com vistas a captar impactos da FS, junto aos gestores e respectivas
equipes. Foi criada uma situação no formato de reunião para aplicação de técnica
conhecida como grupo focal.
Segundo Trad (2009, p.779) “a utilização dos grupos focais, de forma isolada ou
combinada com outras técnicas de coleta de dados primários, revela-se especialmente
útil na pesquisa avaliativa”. A opção ocorreu considerando as intenções de observar a
compreensão de participantes a partir de suas avaliações sobre a FS, assim como a
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
104
validade de opiniões e leituras de profissionais responsáveis pela gestão das UC e da
condução dos Conselhos.
Barbour (2009) chama a atenção ao reconhecimento de que os grupos focais,
assim como outros métodos e técnicas qualitativos, apresentam bom desempenho
no que se refere ao que a autora denomina como insights dos processos, em vez
de resultados. No caso desta pesquisa, o percurso de captação de tais insights já é
relevante, uma vez que o debate entre os presentes, ao revelar suas compreensões
sobre o trabalho feito, configura em resultados da investigação.
Para Iervolino e Pelicioni (2001, p.116),
O grupo focal pode ser utilizado no entendimento das diferentes percepções e
atitudes acerca de um fato, prática, produto ou serviço. O grupo focal, em geral,
não é considerado adequado para estudar a freqüência com que determinados
comportamentos ou opiniões ocorrem. Pode ser considerado uma espécie de
entrevista de grupo, embora não no sentido de ser um processo onde se alternam
perguntas do pesquisador e respostas dos participantes.
O objetivo principal do grupo focal foi captar as leituras que os presentes faziam
da experiência ocorrida com a FS nos Conselhos das UC sob sua gestão, assim como
as expectativas promovidas pela intervenção educacional visando uma participação
mais efetiva dos Conselhos na gestão ambiental pública, partindo de problemas de
fiscalização em UC.
Na sequência da investigação, diante das doze UC nas quais se desenvolveu a
FS considerou-se que observar sistematicamente (MARCONI; LAKATOS, 2003) seus
desdobramentos em termos de impactos na gestão das UC, na fiscalização e sobre a
própria execução das ações planejadas demandava grande aporte de tempo e outros
recursos. Assim, optou-se pela definição de critérios para um recorte de pesquisa.
Este recorte serviria para viabilizar o acompanhamento, ao passo que reuniria apenas
aqueles polos nos quais se observaram condições para continuidade das agendas.
Os critérios foram basicamente:
1) Conclusão da FS e consolidação da agenda de ações do Conselho;
2) Participação do gestor no grupo focal;
3) Representatividade regional, para se evitar o acompanhamento exclusivo
de apenas uma região do estado e buscar, assim, realidades distintas;
4) Realização do retorno ao pólo pela equipe, com informações gerais sobre os
resultados da FS no estado e organização de dados e informações a respeito
do pólo visitado. Na ocasião em que foi realizado o retorno, a equipe já tomava
conhecimento de como o Conselho estava a executar as ações previstas no
próprio plano;
5) Situação do Conselho: estar devidamente formalizado e ativo. Houve polos
nos quais a FS proporcionou movimentação e dinâmica suficientes para animar
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
105
processos de renovação e reativação de Conselhos. Contudo, houve casos
em que os procedimentos formais para o reconhecimento da composição de
alguns Conselhos não permitiu que a equipe acompanhasse os trabalhos,
pelo motivo de paralisação de atividades enquanto não se formalizassem os
Conselhos (com a posse dos conselheiros).
Correspondendo a todos os critérios estabelecidos encontravam-se dois dos
sete polos trabalhados pela FS em 2013: polo 4 (Parques Estaduais Aguapeí e Rio do
Peixe, no extremo oeste do estado, onde há menos UC estaduais protegendo várzeas
ou alagadiços de Mata Atlântica de Interior) e pólo 6 (Núcleo Caraguatatuba do Parque
Estadual Serra do Mar, no litoral norte de São Paulo, onde há grande concentração
de UC devido ao que restou de ecossistemas associados à Mata Atlântica no estado,
especialmente na porção da Serra do Mar).
O quarto critério utilizado para se definir as UC que comporiam o “objeto” da
pesquisa em que se baseia este artigo já serviu de situação na qual a observação
participante foi utilizada como procedimento metodológico (MARCONI; LAKATOS,
2003; GIL, 2002). Nas ocasiões informações foram colhidas junto aos participantes da
FS pelo uso do questionário como instrumento de coleta. O objetivo foi identificar os
efeitos do trabalho desenvolvido na formação e atuação dos conselheiros na gestão
ambiental pública.
Além dos retornos, a participação em reuniões dos referidos Conselhos e,
eventualmente, em grupos de trabalho formados em decorrência das agendas
consolidadas pela FS também foi utilizada, com a intenção de registrar como
os Conselhos estavam executando as próprias ações. Outra forma de registro
e acompanhamento foi definida para ocorrer a distância: a cada reunião de grupo
de trabalho, ou mesmo do Conselho, sua secretaria enviaria a memória ou ata da
reunião, de maneira que se pudesse coletar informações tidas como relevantes sobre
desdobramentos da FS.
As respostas aos instrumentos de coleta utilizados receberam tratamento inspirado
em um “[...] conjunto de técnicas de análise das comunicações” denominada Análise
de Conteúdo (BARDIN, 1977, p. 37), em que “[...] o texto é um meio de expressão do
sujeito, onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras ou frases)
que se repetem, inferindo uma expressão que as representem” (CAREGNATO; MUTTI,
2006, p.682). Ao identificar palavras ou expressões-chave nas informações colhidas, o
tratamento realizado na pesquisa aproxima-se da Análise de Conteúdo. No caso desta
pesquisa houve a opção por destacar palavras, expressões e frases que definissem, na
interpretação do analista, o sentido ou essência da resposta ou depoimento. Definida
a categorização que expressasse um sentido comum a determinado conjunto de
palavras, expressões e frases, mediu-se a recorrência da identificação das categorias
observadas, gerando um dado de mensuração da frequência de cada categoria.
Para Bardin (Id., ibid.), “não se trata de um instrumento, mas de um leque de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
106
apetrechos; ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma
grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto: a
comunicação”.
As aproximações desta técnica com os procedimentos de tratamento das
informações coletadas junto a participantes da FS e gestores das UC investigadas
ocorrem na medida em que se reconhece que
[...] o analista é um intérprete, que faz uma leitura também discursiva influenciada
pelo seu afeto, sua posição, suas crenças, suas experiências e vivências; portanto,
a interpretação nunca será absoluta e única, pois também produzirá seu sentido
(CAREGNATO; MUTTI, 2006, p.682).
O que foi buscado em cada resposta, em cada frase registrada dos participantes
foi o que se compreendeu (se interpretou) como a “essência” de cada opinião,
compreensão, posição. Portanto, assume-se que qualquer interpretação que definiu
o que seria ou não a “essência” das respostas, bem como as próprias categorias
estabelecidas a partir dos padrões observados, é influenciado por posicionamentos,
crenças, experiências. de cada analista/pesquisador envolvido com o tratamento
destas informações.
A figura 2 representa uma síntese dos procedimentos metodológicos utilizados
ao longo da investigação, até o presente momento. Já a figura 3 ilustra esta sequência
de procedimentos no tratamento dos dados e informações.
Figura 2 – Síntese dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa sobre as
decorrências da Formação Socioambiental nos Conselhos das UC.
Fonte: Elaboração própria, 2015.
Figura 3 - Sequência dos procedimentos adotados no tratamento, interpretação e análise dos
dados e informações colhidas.
Fonte: Elaboração própria, 2015.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
107
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são expostos os resultados parciais de pesquisa. A opção de
organização dos mesmos destaca os seguintes aspectos: 1) expectativas criadas nos
participantes após a FS (13 respostas a questionário por participantes de ambos os
polos pesquisados); 2) impactos na operacionalização local da política de fiscalização
de UC; 3) impactos observados na gestão da UC (demais programas do plano de
manejo, para além daquele destinado especificamente à proteção.
Para subsidiar tanto a organização das informações coletadas, como também a
leitura e interpretação, foram utilizados quadros de análise, sendo o quadro 1 unindo
respostas de ambos os Conselhos sobre as expectativas dos participantes e o quadro
2 para cada pólo investigado a respeito das observações registradas pelo GT e
respondidas pelos gestores.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
108
Quadro 2 – Expectativas de gestores, conselheiros e demais participantes após a Formação
Socioambiental (FS).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
109
Quadro 3 – Percepção dos gestores e impactos da FS na gestão e na fiscalização das UC do
Polo 4.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
110
Quadro 4 – Percepção do gestor e impactos da FS na gestão e na fiscalização da UC do Polo
6.
Partindo do primeiro eixo de análise proposto – das expectativas criadas pela
FS -, observa-se que parcela mais expressiva das categorias de respostas – tanto de
gestores (40%) como dos demais participantes (69%) - indicam expectativas passíveis
de ser consideradas “genéricas”, ou seja, apontam para “maior participação” dos
Conselhos na gestão das UC (e para “maior contribuição” dos mesmos). As respostas
evidenciam o que define, na leitura dos Conselhos estudados, “maiores níveis de
participação dos Conselhos”: maior presença e/ou assiduidade às reuniões; maior
assunção de compromissos e “tarefas”; maior integração de comunidades vizinhas
com as UC.
No que tange à expectativa de “maior contribuição” dos Conselhos, as definições
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
111
que qualificam tal possibilidade também podem ser encontradas no interior das
respostas. O aumento da contribuição dos conselheiros e demais participantes, portanto,
teria identificação com ações cujas finalidades estariam diretamente relacionadas à
redução de vetores de pressão à integridade da biodiversidade ali protegida, além de
se esperar que intervenções pautadas pelo modelo de desenvolvimento hegemônico
– e contraditório com a ideia de proteção e conservação da biodiversidade e serviços
ecossistêmicos - sejam objeto de observação constante por tais comunidades e demais
agentes sociais atuantes no mesmo território que a UC e conselheiros (caso dos mega
projetos no litoral norte5).
Quanto às expectativas advindas diretamente dos participantes desvinculados do
órgão gestor das UC (participantes da sociedade civil, de universidades, de prefeituras),
a categoria “maior contribuição” alcança a proporção de 69% das respostas, sendo
definida como desde “maior frequência” às reuniões e “maior compreensão sobre a
problemática das UC”, até “maior autonomia” e “controle sobre a gestão”. Na sequência,
23% das respostas foram categorizadas como vinculadas à esperança por efetividade
dos planos de ação construídos, nos Conselhos, com subsídios da FS, significando,
portanto, o desejo por ações realizadas, postas em andamento ou mesmo concluídas.
Em ambas as perspectivas captadas – de gestores e dos demais participantes –
chama-se a atenção a frações menos preponderantes em termos quantitativos, mas
relevantes em se tratando de impactos da FS. Trata-se de expectativas de gestores
por “co-gestão” dos Conselhos (10%), insinuando abertura da gestão de UC a uma
ampliação na atuação dos Conselhos. Outra expectativa tomada aqui como tão
relevante quanto as mais frequentes dirige-se à intenção de que as ações planejadas
– e o planejamento de outras ações, pelos Conselhos – sejam mantidas (10%).
O que justifica o destaque em termos de resultados e impactos da FS a partir das
expectativas criadas é que, mesmo sendo menos frequentes, tais respostas sugerem
que as intenções existem e foram manifestadas, criando potenciais de também
influenciarem a relação entre gestores e conselheiros ao longo de sua convivência.
Para o planejamento da fiscalização, trata-se de uma abertura importante, já que os
Conselhos podem representar perspectivas distintas que contribuam à orientação da
fiscalização em UC.
Também no caso das respostas menos frequentes por parte dos demais
participantes, destacam-se aqui aquelas que apontam para expectativas de mudanças
de postura do Estado perante a problemática que a fiscalização busca enfrentar.
Embora tenha ocorrido em uma das treze respostas colhidas sobre as expectativas
dos participantes, a que afirma a necessidade de “políticas integradas” também é aqui
destacada, devido tanto à constatação de uma demanda como esta, quanto à relevância
atribuída pela FS à articulação institucional visando ao enfretamento de problemas
5
Conforme Teixeira (et. al., 2012), são os projetos de significativos impactos socioambientais e
econômicos, organizados em três grandes complexos, o Complexo IPG (indústria de petróleo de gás),
o Complexo PPS (Porto São Sebastião) e o Complexo RNT (Nova Tamoios).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
112
ambientais com políticas sociais, econômicas e de proteção da biodiversidade e dos
serviços ecossistêmicos.
Enfim, mesmo considerando tais expectativas como impactos positivos da FS na
leitura e percepção dos gestores quanto às suas contribuições, é preciso reconhecer
que podem e devem ser objeto de maior refinamento, com novos questionamentos a
orientarem a continuidade dessa investigação.
O segundo eixo de análise proposto é dedicado à observação de impactos da
FS na operacionalização local dos planos de fiscalização de UC. Desta perspectiva,
considerando os depoimentos e respostas dos gestores das UC pesquisadas, a
interferência ainda pode ser considerada inicial, já que, até aqui, nota-se a “integração
entre os conselheiros e a equipe das UC buscando soluções para os problemas de
fiscalização”. Compreendendo como parte do plano de fiscalização ações com caráter
preventivo, destaca-se, no mesmo eixo de análise o registro de que as ações previstas
nos planos já apontam para tal contribuição com o SIM (com base nos registros da
equipe e percepções dos gestores), além de, no caso do pólo 4, haver envolvimento
direto dos Conselhos na localização, confecção e implantação de projeto de sinalização
sobre a existência e limites das UC.
O terceiro e último eixo de análise dos impactos da FS é destinado à influência
do trabalho com os Conselhos na gestão das UC. Neste sentido observam alguns
pontos destacados nas respostas, depoimentos e observações feitas até aqui.
Em ambos os polos foram constituídos grupos de trabalho dedicados
essencialmente à realização das ações planejadas a partir da FS. Os GT configuram
expediente comum em Conselhos de UC, mas são aqui considerados resultados
relevantes por terem como objeto questões ligadas à gestão das UC (identificação
visual/sinalização, mobilização e integração, educação ambiental).
No pólo 4, com base em registros da equipe, duas ações constituintes do plano
de ações dos Conselhos dos Parques Aguapeí e Rio do Peixe foram incorporadas
às metas de gestão de ambas as UC6. Já no pólo 6, conforme respostas do gestor
do Núcleo Caraguatatuba do Parque Serra do Mar, observa-se a articulação entre
programas do seu Plano de Manejo (Interação Socioambiental, Proteção, Uso
Público e Educação Ambiental) a partir de um tema central: a ocupação irregular, tida
como problema de fiscalização prioritário pelo Conselho ao longo da FS. Ou seja,
o problema de fiscalização prioritário para o Conselho Gestor daquela UC também
pauta o desenvolvimento da recepção de visitantes, das atividades educativas, de
relacionamento da unidade com as comunidades do entorno e, obviamente, das
operações de fiscalização ambiental.
6
A partir do Decreto Estadual nº 60.302, de 27 de março de 2014, todas as UC do Estado de São
Paulo devem apresentar um plano de metas da unidade, anualmente, com a especificação das ações
a serem desenvolvidas (SÃO PAULO, 2014).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
113
CONCLUSÃO
O artigo tratou de expor algumas evidências sobre os desdobramentos de
intervenção educacional ocorrida em Conselhos gestores de UC paulistas, mais
especificamente três organizadas em dois polos localizados em regiões diversas no
território do Estado de São Paulo. Como tais intervenções alcançaram o resultado
de construir agendas com ações, dos Conselhos, para enfrentamento de causas
e motivações de problemas ambientais que afetam as UC e configuram objeto de
fiscalização, o acompanhamento dos desdobramentos dessas agendas se fez
necessário.
Para sintetizar a discussão sobre os resultados – ainda parciais, mas que
apontam para a FS como estratégia mobilizadora de agentes sociais para atuarem
na gestão pública do meio ambiente - e, com isso, identificar desdobramentos com
base nas informações e dados organizados, recorre-se aos três eixos de análises
já anunciados: 1) expectativas dos participantes após o trabalho de formação; 2)
impactos específicos na operacionalização local da política de fiscalização ambiental
de UC e 3) na gestão das unidades, de modo geral, e, especialmente, no que tange
à interface promovida pelos Conselhos Gestores com os programas dos planos de
manejo das UC investigadas.
As expectativas são marcadas pela intenção de maior envolvimento dos
conselheiros na gestão das UCs, atuando na prevenção àqueles problemas que
impactam a biodiversidade protegida pelas unidades. Para tanto, espera-se que os
planos (agendas) “saiam do papel” e que haja, por parte também do Estado, a adoção
de políticas integradas com vistas também a criar condições objetivas de redução de
pressões à conservação da biodiversidade.
Quanto aos impactos na operacionalização local da política de fiscalização,
destacam-se a integração dos Conselhos no debate sobre a fiscalização das unidades,
além do reforço ao entendimento de que o plano de fiscalização de UC também abriga
as ações de prevenção. Portanto, se observa o reconhecimento de que ações com
viés repressivo são fundamentais para “estancar” a manifestação de problemas nas
UC, mas são insuficientes e demandam uma relação de complementaridade com
ações preventivas. Embora tal raciocínio não seja novo, é importante que haja registro
de evidências sobre sua existência na operacionalização local de uma política de
fiscalização para UC.
Em relação aos impactos na gestão das UC estudadas, identificou-se a articulação
entre programas dos Planos de Manejo, promovida pela definição de “temas centrais”
pelos Conselhos Gestores das unidades a serem abordados ou considerados pelos
seus respectivos programas e subprogramas. Outro destaque são os subsídios
advindos das agendas construídas pelos Conselhos aos planos de metas das UC
demandados por outro instrumento institucional de gestão das UC paulistas: o Sistema
de Informação e Gestão de Áreas Protegidas e de Interesse Ambiental (SIGAP).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
114
Observam-se, portanto, evidências de que o trabalho de Educação Ambiental
a partir do fomento à participação nos Conselhos de UC ultrapassa expectativas
depositadas dentre os objetivos iniciais da FS. Tais objetivos, em princípio, eram
voltados ao envolvimento dos Conselhos com o desenvolvimento de abordagens
aos problemas de fiscalização nas unidades. Além de resultados que expressam
essa expectativa da FS, revelaram-se igualmente evidentes desdobramentos que
influenciam a gestão das UC, articulados a programas dos Planos de Manejo e a
instrumentos de gestão de UC no Estado de São Paulo (como o SIGAP). Nota-se,
assim, que os resultados observados dialogam com expectativas identificadas junto
aos gestores, conselheiros e demais participantes.
Por fim, tais observações finais apontam para a FS, seus resultados e
desdobramentos como estratégia de mobilização de diferentes agentes sociais visando
à gestão da UC e do território de que faz parte, tendo problemas de fiscalização como
tema gerador de processos formativos inspirados pela Educação Ambiental na Gestão
Ambiental Pública.
AGRADECIMENTOS
Nossos sinceros agradecimentos a todos os que tornaram possível a realização
de todo o trabalho até este momento: os gestores e os conselheiros das UC envolvidas,
os demais participantes que, convidados - por não terem assento nos Conselhos -, se
dispuseram a dedicar seu tempo à construção coletiva tanto de uma compreensão
crítica sobre a problemática socioambiental que envolve as UC, como também de
formas de intervir nas diferentes realidades apreendidas. Agradecemos também
às instituições que deram o suporte necessário à evolução dos trabalhos e que, de
diferentes maneiras, têm considerado as contribuições e aprendizados que a Formação
Socioambiental pretendeu trazer ao Sistema Ambiental Paulista, especialmente no
que tange à fiscalização ambiental e à gestão de UC.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
115
Institui o Plano Estratégico Nacional de Áreas Protegidas - PNAP, seus princípios, diretrizes, objetivos
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 9
116
CAPÍTULO 10
DESENVOLVIMENTO DE MATERIAIS CERÂMICOS
UTILIZANDO RESÍDUOS INDUSTRIAIS TRATADOS
POR HIDROCICLONAGEM
Raquel Rodrigues do Nascimento Menezes
Universidade Federal da Paraíba - Programa
de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de
Materiais, João Pessoa – Paraíba
RESUMO:
O
estudo
de
resíduos
industrialmente produzidos vem se tornando
bastante corriqueiro no meio científico,
devido ao fato desses materiais comumente
serem descartados de forma inadequada,
gerando malefícios ao meio ambiente. Dentre
esses resíduos industriais, os resíduos do
beneficiamento do caulim e do granito vem
ganhando cada vez mais destaque, pela larga
escala de fabricação desses materiais. Por isso,
hoje em dia, há muitos estudos envolvendo
a incorporação dos resíduos industriais
novamente no ciclo de produção industrial.
Neste trabalho, analisou-se a potencialidade
da reutilização dos resíduos de caulim e do
granito após passarem por uma etapa de
beneficiamento- a hidrociclonagem, a fim de
promover a separação entre grãos mais grossos
e grãos mais finos presentes nos resíduos, na
incorporação da massa padrão de fabricação de
cerâmicas, visando reduzir custos e manter ou
até mesmo melhorar as propriedades da peça
cerâmica. Para isso, foram feitas caracterizações
por difração de raios X, fluorescência de raios
X, análise granulométrica e análise térmica,
seguidas da produção corpos de prova, os quais
foram submetidos a diferentes temperaturas
de queima, e, analisou-se as propriedades
térmicas dos corpos de prova produzidos. Os
resultados mostraram a formação de materiais
com melhores propriedades a medida do
aumento da temperatura de queima, estando
de acordo com as bibliografias estudadas, e o
esperado ao longo do estudo.
PALAVRAS-CHAVE: Resíduos industriais,
reutilização, caracterização.
ABSTRACT: The study of industrially produced
waste has become quite commonplace in the
scientific environment, due to the fact that
these materials are commonly discarded
in an inadequate way, causing harm to the
environment. Among these industrial residues,
the residues from kaolin and granite processing
have been gaining more and more attention
due to the large scale of the production of these
materials. Therefore, today, there are many
studies involving the incorporation of industrial
waste again in the industrial production cycle.
In this work, the potential of the re-use of kaolin
and granite residues was analyzed after a stage
of beneficiation - hydrocyclone, in order to
promote the separation between coarser grains
and finer grains present in the residues, the
incorporation of the mass standard of ceramic
manufacturing, aiming to reduce costs and
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
117
maintain or even improve the properties of the ceramic part. For this, X-ray diffraction,
X-ray fluorescence, particle size analysis and thermal analysis characterizations were
performed, followed by the production of test specimens, which were subjected to
different firing temperatures, and the thermal properties of the bodies produced. The
results showed the formation of a material with better properties as the increase of the
burning temperature, according to the bibliographies studied, and that expected during
the study.
KEYWORDS: Industrial waste, reuse, characterization.
1 | INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas atuais da humanidade é a geração e gestão de
resíduos, resultantes das atividades industriais. De acordo com o Art. 9º da Lei nº
12.305, de 2 de agosto de 2010, que constitui a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), deve seguir o seguinte ordenamento hierárquico prioritário: (I) não gerar
resíduos sólidos; (II) reduzir a quantidade gerada de resíduos; (III) fazer a reutilização
dos resíduos; (IV) fazer a reciclagem dos resíduos; (V) realizar o tratamento dos
resíduos sólidos; (VI) realizar o descarte adequado sob o aspecto ambiental.
A extração e o beneficiamento do caulim, geram uma quantidade enorme
de resíduos, isso, em virtude do seu processamento possuir apenas 30% de
aproveitamento, sendo o restante a quantidade de resíduos gerados por essa
indústria, cuja grande maioria são descartados de forma negligente, em áreas abertas,
em várzeas de riachos e rios, o que causa a agressão à fauna, flora e à saúde da
população (LEITA, 2017). Esse tipo de descarte, vem então, sendo alvo de árduas
fiscalizações, de acordo com a lei vigente, citada anteriormente, fazendo com que as
empresas produtoras tenham maiores custos para o descarte desse material, e por
esse motivo, a produção do caulim fique limitada. As principais empresas produtoras
de caulim, no Nordeste do Brasil estão nos municípios de Equador (RN), e Junco do
Seridó (PB) (CABRAL, 2009).
O caulim é um agregado mineral de coloração branca, granulometria fina, rico em
material argiloso e com pouco teor de ferro, que possui ampla utilidade na indústria.
A região do Seridó, situada no Nordeste brasileiro, nos estados da Paraíba e do Rio
Grande do Norte, é conhecida por sua vasta reserva de caulim oriunda de pegmatitos,
e sua extração e beneficiamento. O processo de beneficiamento desse mineral gera
anualmente em torno de 15 mil toneladas de resíduo que não é aproveitado. Estimase que cerca de 75 % do caulim extraído é, de certa forma, desperdiçado, o que
gera pilhas de resíduos que têm sido acumulados ao longo de mais de 50 anos de
produção. Além do grande volume acumulado, esse resíduo gera impactos pela
facilidade de ser suspenso no ar, quando seco. O primeiro na mineração, oriundo
da etapa de separação do minério da areia grossa, representando até cerca de 70%
do total produzido. O segundo é gerado na etapa de beneficiamento por via úmido,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
118
originando um resíduo fino na forma de lama.
Atualmente o resíduo de caulim vem sendo largamente utilizado, devido ao
grande impacto ambiental relacionado ao seu descarte indiscriminado na natureza,
e a indústria de cerâmicas é uma das que mais se destacam na reciclagem desse
tipo de material, principalmente por possuir um grande volume de produção, e
consequentemente, um grande volume de utilização de rejeitos para a incorporação
na sua matéria-prima, aliando um melhor custo benefício de produção à produtos mais
tecnológicos e ecológicos, sem que se perca a qualidade dos mesmos.
As rochas ornamentais e de revestimento são classificadas como granitos e
mármores, e correspondem a 90% da produção mundial (PEITER et al, 2001). A pesar
de representar grande potencial econômico, a indústria de rochas ornamentais gera
por ano toneladas de resíduos que são descartados no meio ambiente ou depositados
em aterros de maneira irregular que, segundo (OLIVEIRA 2010), se transformam em
um grave problema urbano. Os processos de extração, serragem e acabamento são os
responsáveis grande parte da produção de resíduos na indústria de rochas ornamentais.
Por isso, com a grande quantidade de resíduos gerada, e tentando contribuir para um
desenvolvimento sustentável, e um maior aproveitamento de resíduos na construção
civil, já há estudos sobre o resíduo resultante do beneficiamento de rochas ornamentais
na produção de argamassas (CALMON et al., 1997), tijolos cerâmicos (NEVES et al.,
1999), peças cerâmicas (LIMA FILHO et al., 1999), e concretos (GONÇALVES 2000).
Porém, a redução de volume de resíduos produzidos apresenta limitações
técnico-operacionais, e as alternativas de reciclagem ou reutilização são as
estratégias mais adequadas no gerenciamento destes, existindo, inclusive, uma busca
de comercialização de resíduos, tendo como premissas: política de reduzir, reciclar,
reutilizar; agregar valores ao resíduo; redução de custo de tratamento e disposição
final; e orientação quanto ao manejo adequado do resíduo (EVANGELISTA, 2011).
Cerâmicas tradicionais como telhas, blocos e revestimento cerâmicos geralmente
apresentam grande variação de composição devido ao largo intervalo de composições
das argilas utilizadas como matérias-primas para sua fabricação, o que possibilita uma
grande tolerância para a incorporação de grandes quantidades de resíduos inorgânicos.
O potencial de incorporação de resíduos nas formulações de cerâmicas tradicionais,
aliado às elevadas quantidades de recursos naturais consumidos a cada dia por esse
segmento industrial, ressalta a importância da reutilização de resíduos como matériasprimas cerâmicas alternativas, racionalizando o uso dos recursos naturais.
De acordo com as características do resíduo, sua influência sobre as
características das formulações e modificações das propriedades finais dos materiais
cerâmicos, pode-se classificar os resíduos sólidos, quando utilizados em formulações
cerâmicas, em: redutores de plasticidade, resíduos fundentes, combustíveis e cinzas
volantes. De acordo com essa classificação, o resíduo pode contribuir diretamente
para o desenvolvimento de um produto cerâmico de qualidade. Além das possíveis
funções específicas do resíduo, a reciclagem e a reutilização provenientes de diferentes
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
119
processos industriais como novas matérias primas cerâmicas visa, principalmente, a
economia de matérias primas e redução de custos de produção.
Para que o uso do resíduo não traga prejuízos na qualidade do produto é
necessário utilizá-lo corretamente, tanto em relação ao tipo de resíduo, quanto à
concentração. Além disso, um tratamento ou purificação no resíduo pode trazer boas
consequências, separando as frações indesejadas do resíduo. Uma das técnicas que
pode ser utilizada na purificação de resíduos é a hidrociclonagem. Os hidrociclones,
equipamentos destinados principalmente à separação de suspensões, caracterizamse por usar o efeito de centrifugação como principal agente de classificação de
partículas, separando-as por tamanho ou densidade (SOUZA et al., 2000). Apesar
dos hidrociclones terem sido inicialmente projetados para separação de líquidos com
sólidos suspensos, tem sido utilizado também em processos de separação sólido/
sólido, líquido/líquido e separação gás/líquido (SOCCOL et al., 2000).
Os hidrociclones são equipamentos que executam a separação das partículas
por tamanho. O material é injetado sob pressão, com porcentagem de sólidos préestabelecidas. O material segue uma trajetória helicoidal, onde as partículas mais
grossas se direcionam para as paredes do ciclone devido à força centrípeta, e os finos
se acumulam no centro do equipamento. O material mais grosseiro sai por baixo do
equipamento (underflow), com pouca quantidade de água. Os finos transbordam do
equipamento, misturados em água (overflow).
Figura 1: (a) Modelo esquemático de funcionamento de um hidrociclone; (b) foto do hidrociclone
utilizado durante o trabalho.
Fonte: Arquivos da autora.
2 | METODOLOGIA
A metodologia seguirá as seguintes etapas:
(i) Coleta dos resíduos: os resíduos serão coletados nas indústrias em que
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
120
são gerados. Pretende-se estudar o resíduo do beneficiamento do caulim, e
resíduo da indústria de mármores e granitos, na incorporação dos materiais da
indústria de revestimentos cerâmicos;
(ii) Preparação dos resíduos: os resíduos originais que não passarão pela
operação de hidrociclonagem, serão secos em estufa a 60 °C por 24 h e,
em seguida, moídos em moinho de discos, para posterior classificação por
peneiramento em granulometria inferior a 74 μm, correspondendo à peneira
nº 200 da ABNT, para os futuros ensaios de caracterização;
(iii) Hidrociclonagem dos resíduos: O hidrociclone a ser utilizado será o de
modelo RWK 42L da Netzsch AKW. O corpo do hidrociclone apresentará
diâmetro externo de 35 mm e interno de 20 mm. A dispersão para a operação
de hidrociclonagem será preparada a partir de aproximadamente 60 % em
concentração de sólidos. Para o diâmetro de vórtex e de ápex será adotado 5
mm e 4 mm, respectivamente;
(iv) Caracterização dos resíduos: Todas as frações dos resíduos serão
caracterizadas física e quimicamente com o uso das seguintes técnicas de
análise: análise mineralógica por difratometria de raios X (DRX). Será utilizado
um difratômetro de Raios X, XRD 6000 da Shimadzu, com radiação Kα do Cu
(40KV/30mA), velocidade do goniômetro de 2°/min, passo de 0,02° e varredura
de 3° a 55°. A análise da composição química por fluorescência de raios X
(FRX) será realizada em modo qualitativo-quantitativo em um espectrômetro
modelo FRX 1800 da Shimadzu, no qual os raios X são gerados por meio
de tubo com alvo de Rh. A análise granulométrica por difração a laser (AG).
Será utilizado um granulômetro da marca CILAS, modelo 1064, podendo ser
utilizado no modo úmido ou seco. A análise do comportamento térmico por
análise térmica diferencial (DTA) e termogravimétrica (TG). Serão estudadas
e observadas as faixas de temperatura em que ocorre perda de massa ou
transformações endotérmicas e exotérmicas nas amostras. As análises serão
realizadas no equipamento TA 60H da Shimadzu, utilizando as seguintes
condições: varredura inicial na faixa de 25 ºC até 1150 ºC, com uma taxa de
aquecimento de 10 ºC/min, em atmosfera contendo ar sintético.
(v) Formulações cerâmicas: Após o tratamento dos resíduos pelo processo de
hidrociclonagem, as diferentes frações hidrociclonadas serão formuladas entre
elas, e se necessário também serão utilizadas formulações de massas com
matérias primas tradicionais já conhecidas, para produzir corpos de prova. A
seguinte sequência será adotada: (a) Secagem e peneiramento: Após secas
em estufa a 60 °C todas as formulações serão classificadas em peneiras de
malha 35 mesh (ABNT nº40); (b) Correção de umidade: será adicionado um
teor de água de 8%, com intuito de promover a plasticidade nas formulações; (c)
Prensagem: será utilizada a conformação por prensagem uniaxial, com carga
de 5 toneladas utilizando uma matriz metálica prismática com seção interna de
6 cm x 2 cm; (d) Medições e secagem: Após a etapa de prensagem de cada
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
121
corpo de prova, os mesmos serão submetidos às medições de dimensões
e pesagem. Em seguida, os corpos serão postos em uma estufa a 110 ºC e
deverão permanecer durante 24 h. Após o período de permanência, os corpos
serão esfriados naturalmente e as mesmas medições serão realizadas para
obtenção das dimensões e peso dos corpos após a secagem; (e) Queima: os
corpos de prova serão submetidos à etapa de queima, utilizando-se uma taxa
de aquecimento de 10 ºC/min e patamar final de 30 min em três temperaturas
a serem definidas de acordo com as etapas anteriores. Após a queima serão
realizadas novas medições dos corpos de prova e nova pesagem, referentes
aos dados após a queima; (f) Determinação das propriedades: após a etapa
de sinterização serão determinadas as propriedades tecnológicas dos corpos
de prova de acordo com as Normas Técnicas da ABNT.
As formulações estudadas foram as seguintes, apresentadas na Tabela 1:
F1
F2
F3
F4
F5
F6
Fração Padrão (massa
argilosa para fabricação de
revestimento cerâmico)
Resíduo de Caulimfração grossa da
hidrociclonagem
95%
95%
90%
90%
90%
80%
5%
0%
10%
0%
5%
10%
Resíduo
de granitofração fina da
hidrociclonagem
0%
5%
0%
10%
5%
10%
Tabela 1: formulações dos corpos de prova a serem estudadas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Composição química por fluorescência de raios-x (FRX)
A composição química está apresentada na tabela abaixo:
Tabela 2: análise de composição química das frações dos resíduos.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
122
Todas as frações do resíduo de caulim, contêm , e como principais constituintes.
O conteúdo dos possíveis óxidos fundentes (, e ) é relativamente baixo. Espera-se
que, devido ao alto teor de alumina em relação aos óxidos de ferro, potássio e sódio,
a fase líquida formada durante o processo de sinterização se comportar como uma
fase líquida de alta viscosidade ou uma fase transiente, o que é desejável para a
obtenção de produtos com propriedades físicas e mecânicas mais elevadas (VARELA
et al.,2009).
Observa-se que a maior fração de é da fração RCR, ou seja, da fração grossa
do resíduo, provavelmente devido a maior quantidade de partículas grossas, como o
quartzo. Outra característica apresentada no comparativo das frações de resíduo é o
maior teor de da amostra RCF, esta fração por conter a fração mais fina do resíduo,
obtida no overflow, provavelmente, contém uma maior quantidade de argilominerais,
resultando com isso a maior perda ao fogo entre todas as frações.
Observa-se que as composições químicas dos resíduos de granito apresentaram
elevadas quantidades de óxido de silício, óxido de ferro e óxido de cálcio.
A elevada quantidade de está associada com a fase cristalina do quartzo. O
óxido de ferro e o óxido de cálcio foram provenientes, provavelmente, da granalha de
ferro e da cal moída, utilizadas nas etapas de corte e polimento de rochas graníticas.
Com relação ao uso cerâmico o elevado teor de ferro () presente no resíduo de granito,
conduzirá, provavelmente após sinterização, a colorações avermelhadas. O conteúdo
de óxidos alcalinos (e ) é relativamente alto, sendo da ordem de 5,79%. Estes óxidos
são muito importantes nas formulações cerâmicas, pois podem atuar como agentes
fundentes ajudando a sinterização das peças cerâmicas. Os óxidos alcalinos são
provenientes principalmente dos feldspatos e mica presentes no resíduo.
3.2 Difratometria de raios-x (DRX)
Para realização das análises, foi utilizado um difratômetro de Raios X, XRD
6000 da Shimadzu. A radiação utilizada foi Kα do Cu (40KV/30mA); a Velocidade do
goniômetro foi de 2°/min e passo de 0,02° e varredura de 3° a 55°, que está apresentado
nas Figuras abaixo:
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
123
Figura 3: análise de DRX, das frações do resíduo de Caulim.
Observa-se que os difratogramas das frações do resíduo de caulim, apresentaram
picos referentes fase mineralógica quartzo (Si), caulinita ( ) e mica (K(Al). Resultados
semelhantes foram identificados Varela et al., (2009) e Castro et al., (2015) em
estudos com resíduos de caulim. Observa-se também que não houve mudanças
qualitativas nos difratogramas das amostras que foram submetidas ao tratamento em
comparação com o resíduo de caulim não tratado RC. No entanto, é possível notar que
o difratograma referente à fração fina hidrociclonada, apresenta picos de caulinita mais
definidos, indicando que após a hidrociclonagem o material caracterizado como fino
possivelmente apresentou uma maior porcentagem de caulinita em sua composição,
já que esse mineral constituía as frações mais finas do resíduo (CAETANO, 2018).
Figura 4: análise de DRX, das frações do resíduo de granito.
Os difratogramas das frações do resíduo de granito, apresentaram picos
referentes ao quartzo (), microclina (feldspato potássico, ), anortita (feldspato cálcico,
), mica muscovita ((Al),e magnésio blenda (Mg,4Al((Al)).
Observa-se que o presente na composição química dos resíduos é oriundo
basicamente de mica muscovita, enquanto que o CaO é oriundo do feldspato cálcico
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
124
e principalmente da adição de granalha e óxido de cálcio como abrasivo e lubrificante
no processo de corte/serragem de rochas ornamentais.
A microclina e a anortita são feldspatos, desempenham a função de fundentes,
sendo, portanto, os componentes formadores de fase vítrea em corpos cerâmicos
e esmaltes, auxiliando no fechamento da porosidade entre as partículas, conferindo
aumento da densidade relativa do material sinterizado.
3.3 ANÁLISE TÉRMOGRAVIMÉTRICA (TG) E ANÁLISE TÉRMICA DIFERENCIAL
(DTA)
Figura 5: (a) curvas da análise termogravimétrica; (b) curvas da análise térmica diferencial para
as frações do resíduo de caulim.
Identifica-se um comportamento térmico semelhante para todas as frações,
as quais apresentaram um pico por volta de 560°C, provavelmente relacionado à
desidroxilação da caulinita e outro em torno de 980°C, possivelmente associado à
nucleação da mulita. Resultados semelhantes foram identificados por Menezes et al.,
(2007) em estudos com resíduos de caulim e resíduos de granito, identificando os
referidos eventos térmicos em temperaturas semelhantes. Constata-se nas curvas
termogravimétricas que as maiores perdas de massa são das frações do resíduo
fino (RCF) e do resíduo original (RC), constituídos pelas maiores quantidades de
argilominerais.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
125
Figura 6: (a) curvas da análise termogravimétrica; (b) curvas da análise térmica diferencial para
as frações do resíduo de granito.
Identifica-se um comportamento térmico semelhante para todas as frações, as
quais apresentaram uma banda endotérmica a 110°C, o que indica perda de água
livre, um pequeno pico endotérmico a aproximadamente a 660 e 760°C provavelmente
relacionados à desidroxilação e recristalização da mica respectivamente e uma banda
de aproximadamente 840 a 950 °C, possivelmente relacionada à decomposição do
carbonato de cálcio. As frações do resíduo de granito apresentaram perdas de massas
variando de 0,15% a 2,10% para o RGR e RGF.
As bandas de perda de massa estão relacionadas provavelmente a desidroxilação
da mica, recristalização da mica e decomposição do carbonato. Resultados semelhantes
foram identificados por Menezes et al., (2007) em estudos com resíduos de caulim e
resíduos de granito.
3.4 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA
Figura 7: curvas granulométricas do resíduo de caulim tratados e não tratados o (a) volume
acumulado passante; (b) distribuição do tamanho de partículas.
Observa-se que o resíduo de caulim não tratado (RC) apresentou tamanhos de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
126
partículas intermediários em relação as demais frações do resíduo, com um tamanho
médio de partículas de 95,42 µm, sendo 10% da massa acumulada com diâmetro médio
equivalente abaixo de 5,92 µm, diâmetro a 50% de 73,07 µm e maior concentração de
partículas entre 73,07 e 210,10 µm. O resíduo de caulim tratado, fração fina (RCF), foi
constatado o de menor diâmetro médio das partículas em relação as demais frações,
com valor de 45,71 µm, sendo 10% de massa acumulada com diâmetro médio
equivalente abaixo de 5,31 µm, diâmetro a 50% de 39,52 µm e maior concentração de
partículas entre 39,52 e 94,80 µm.
Para o resíduo de caulim tratado, fração grossa (RCR), observa-se que o diâmetro
médio das partículas foi de 147,95 µm, apresentando 10% de massa acumulada com
diâmetro médio equivalente abaixo de 31,13 µm, diâmetro a 50% de 110,97 µm e
maior concentração de partículas entre 110,97 e 340,18 µm.
O resíduo de caulim tratado, não hidrociclonado (RCN), o diâmetro médio das
partículas foi de 173,09 µm, apresentando 10% de massa acumulada com diâmetro
médio equivalente abaixo de 29,27 µm, diâmetro a 50% de 135,45 µm e maior
concentração de partículas entre 135,45 e 389,51 µm.
Nota-se que o processo de hidrociclonagem influenciou significativamente
a distribuição do tamanho de partículas do resíduo classificado como fração fina,
diferenciando-o quando comparado às outras frações.
Observa-se uma faixa de distribuição de tamanho de partículas significativamente
mais estreita que as outras frações do resíduo de caulim o que pode reduzir ou evitar
a segregação dos componentes, melhorando o empacotamento das partículas (LOLLI
et al., 2000).
Observa-se que todas as frações do resíduo apresentaram uma distribuição
granulométrica denominada monomodal, mudando apenas o local do pico
granulométrico entre as amostras.
Figura 8: curvas granulométricas do resíduo de granito tratados e não tratados o (a) volume
acumulado passante; (b) distribuição do tamanho de partículas.
A análise granulométrica do resíduo de granito não tratado (RG) apresentou um
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
127
tamanho médio de partículas de 31,76 µm, sendo 10% da massa acumulada com
diâmetro médio equivalente abaixo de 3,48 µm, diâmetro a 50% de 22,73 µm e maior
concentração de partículas entre 22,73 e 73,07 µm. Para o resíduo de granito tratado,
fração fina (RGF), foi constatado o diâmetro médio das partículas de 28,72 µm, sendo
10% de massa acumulada com diâmetro médio equivalente abaixo de 6,20 µm,
diâmetro a 50% de 23,46 µm e maior concentração de partículas entre 23,46 e 59,13
µm.
Observa-se uma faixa de distribuição de tamanho de partículas significativamente
mais estreita que as observadas nas outras frações do resíduo de granito. Este
comportamento deve-se ao processo de hidrociclonagem, que separa a fração
grosseira formadas pelo pó oriundo da serragem e por partículas de granalha, da
fração mais finas.
No resíduo de granito tratado, fração grossa (RGR), observa-se que o diâmetro
médio das partículas é de 50,85 µm, apresentando 10% de massa acumulada com
diâmetro médio equivalente abaixo de 9,41 µm, diâmetro a 50% de 42,95 µm e maior
concentração de partículas entre 42,95 e 103,77 µm.
Para o resíduo de granito tratado, não hidrociclonado (RGN), observa-se que o
diâmetro médio das partículas é de 43,70 µm, apresentando 10% de massa acumulada
com diâmetro médio equivalente abaixo de 7,65 µm, diâmetro a 50% de 35,74 µm e
maior concentração de partículas entre 35,74 e 92,05 µm. Todos as frações do resíduo
de granito apresentaram uma distribuição granulométrica monomodal.
Observa-se uma maior quantidade de partículas finas, comparativamente ao
resíduo de caulim e uma menor proporção de aglomerados (Menezes et al., 2007).
3.5 Propriedades físicas
3.5.1 Retração linear de queima
Figura 9: Retração Linear de Queima (100%) para os corpos de provas com as diferentes
formulações, queimados a 1000, 1100 e 1150°C.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
128
Observa-se que a retração linear dos corpos cerâmicos aumenta à medida que
se aumenta a temperatura de queima, em todas as formulações estudadas.
Também, pôde-se notar, que a 1000°C em todas as formulações estudadas, os
corpos de prova permaneceram praticamente com uma retração linear igual a zero.
Constatou-se que, por um lado, a fração que contém a parte mais fina do resíduo
(F4, F5, e F6) contribui com uma melhor sinterização.
3.5.2 Absorção de água
Figura 10: medidas de absorção de água (100%) para os corpos de provas com as diferentes
formulações, queimados a 1000, 1100 e 1150°C.
Observa-se que a propriedade de absorção de água sofre uma grande redução
com o aumento da temperatura final.
A absorção de água apresenta influências significativas sobre as demais
propriedades finais do produto obtido. Através dela observa-se uma diminuição dessa
propriedade com o aumento da temperatura, tanto para o material tratado quanto para
o sem tratamento. Isso acontece devido ao aumento da temperatura promover uma
maior compactação ao corpo cerâmico, resultando em uma menor quantidade de
poros.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
129
3.5.3 Porosidade aparente
Figura 11: medidas de porosidade aparente (100%) para os corpos de provas com as diferentes
formulações, queimados a 1000, 1100 e 1150°C.
A porosidade aparente sofre uma grande redução com o aumento da temperatura
final.
Isso se dá em consequência da melhor sinterização dos corpos de prova, e a
formação de maior quantidade de fase vítrea, em qualquer uma das formulações,
preenchendo assim, os espaços vazios que existiam.
3.5.4 Tensão de ruptura à flexão
Figura 12: Medidas do ensaio de tensão de ruptura a flexão com corpos de prova de cada
formulação estudada, em suas diferentes temperaturas de queima:
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 10
130
Observa-se que a resistência é crescente com o aumento da temperatura.
Este comportamento está relacionado com os mais baixos valores de porosidades e
absorção de água.
O decréscimo dos valores de absorção de água, e porosidade aparente, e,
consequentemente o aumento da retração linear são diretamente responsáveis pelo
aumento da resistência mecânica, isso se dá, devido aos fundentes presentes na
fração fina do resíduo de granito, e a melhor sinterização apresentada pela formação
da fase vítrea em ambas as frações de resíduo, logo, ocorre um melhoramento das
propriedades mecânicas, com o consequente aumento da temperatura.
4 | CONCLUSÕES
As frações dos resíduos obtidos após a hidrociclonagem apresentaram
composições semelhantes quanto às fases mineralógicas e as composições químicas.
A amostra hidrociclonada denominada por fração fina, tratada por hidrociclonagem,
apresentou, para todos os resíduos estudados, tamanho de partícula médio inferior
às outras frações de amostras obtidas, bem como uma distribuição de tamanhos de
partículas mais estreita que as demais frações.
O resíduo de granito fração fina (RGF) apresentou elevados teores de óxidos
fundentes, podendo contribuir para uma melhor sinterização da formulação cerâmica.
O resíduo de caulim original (RC) e o resíduo de caulim fração fina (RCF)
apresentaram maiores quantidades do argilomineral caulinítica, podendo contribuir
para formação de fase vítrea e mulita, contribuindo para o aumento da resistência
mecânica e redução da deformação piroplástica durante o processo de queima.
Os corpos de prova produzidos com diferentes formulações, obtiveram resultados
de acordo com o esperado, mantendo boas propriedades, e havendo o melhoramento
dessas propriedades de acordo com as diferentes temperaturas de queima utilizadas.
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Capítulo 10
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Capítulo 10
132
CAPÍTULO 11
DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO DE
SIMULAÇÃO DE UMA REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE
GÁS NATURAL LIQUEFEITO (GNL) NA MODALIDADE
REDE ISOLADA PARA A REGIÃO DE LAGES – SC
Cosme Polese Borges
Universidade Federal de Santa Catarina,
Departamento de Engenharia de Produção e
Sistemas
Renato de Mello
Universidade do Estado de Santa Catarina,
Departamento de Engenharia de Produção
RESUMO: A expansão inicial da oferta de gás
natural (GN) atendeu prioritariamente grandes
consumidores, que têm demandas firmes,
requerem ofertas seguras e preços atrativos.
A fase seguinte da oferta vem ocorrendo por
meio do atendimento a pequenos e médios
consumidores. Assim, a utilização de distribuição
isolada torna-se importante alternativa indutora
de desenvolvimento e mercado, antecipando
a infraestrutura da oferta até a chegada do
fornecimento por gasoduto. Este trabalho
apresenta um modelo de simulação para auxiliar
a tomada de decisão quanto às alternativas de
distribuição de GN em uma cidade distante da
malha de gasodutos. Para isso são estimados
os potenciais de consumo, os custos de
implantação e operação do projeto proposto,
resultando em uma taxa de multiplicação a
ser aplicada sobre a tarifa do insumo, visando
o retorno econômico (payback) do sistema
em dois anos. Os resultados indicaram um
consumo de aproximadamente 11.000m³/
dia de GN, podendo ser atendido por apenas
uma estação modular (Cryobox) de liquefação
e um caminhão em viagens diárias. A taxa de
multiplicação da tarifa resultou em 2,24, reflexo
dos altos custos de transporte e liquefação.
Isto torna o modal impraticável, reduzindo a
competitividade da cadeia de suprimento. Como
alternativa de desenvolvimento induzido, estes
custos poderiam ser diluídos na tarifa média de
distribuição de GN no estado, assim distribuindo
os custos de ampliação da rede com os atuais
consumidores da rede do gasoduto.
PALAVRAS-CHAVE: Custos, Gás natural
liquefeito, Rede isolada, Simulação.
DEVELOPMENT OF A SIMULATION MODEL
OF A DISTRIBUTION NETWORK OF
LIQUEFIED NATURAL GAS (LNG) IN THE
ISOLATED NETWORK MODEL FOR THE
REGION OF LAGES - SC
ABSTRACT: Initial expansion of natural
gas (NG) supply has primarily served large
consumers, which presents firm demand, require
safe offerings and attractive prices. The next
phase of the offer is occurring through the service
to small and medium consumers. Thus, the use
of isolated distribution becomes an important
market-inducing alternative, anticipating local
infrastructure until the arrival of the supply by
pipeline. This work presents a simulator to aid
decision making of NG distribution in a city
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
133
distant from the main network pipeline. In order to do so, it is estimated a potential
consumption, implementation and operation costs to proposed project, resulting in
a multiplication rate to be applied to the input tariff, aiming at the system’s two-year
payback. Results indicates a consumption of approximately 11,000m³/day, able to
be attended by only one modular station (Cryobox) of liquefaction and one truck in
daily trips. The rate of multiplication of the tariff resulted in 2.24, reflecting the high
costs of transportation and liquefaction. This makes the modal impractical, reducing
competitiveness of the supply chain. Alternatively, by induced development these costs
could be diluted in the average distribution tariff in the state, thus dividing the network
expansion costs with the current consumers next to pipeline supply.
KEYWORDS: Costs, Liquefied natural gas, Isolated network, Simulation
1 | INTRODUÇÃO
O desenvolvimento socioeconômico é fortemente dependente das disponibilidades
e usos da energia. A intensificação do uso de GN, em preços competitivos, induz
significativo desenvolvimento urbano e industrial, beneficiando também setores
da cadeia produção com consumo de médio e pequeno porte. No entanto, este
desenvolvimento em específico fica restrito às regiões atendidas por gasodutos. A
rede de gasodutos tem se expandido lentamente no Brasil, aquém das necessidades
daqueles que não se beneficiam dessa oferta. Uma alternativa para apropriar a matriz
energética de locais não atendidos por GN e estruturar a mudança em equipamentos
e tecnologias, é antecipar a chegada do gasoduto com oferta antecipada do produto
transportado em caminhões. Este é o papel das chamadas redes isoladas, que
disponibilizam esta fonte energética alternativa para estas regiões e instauram a
demanda em locais onde o gasoduto está prestes a alcançar.
A cidade a ser atendida pelo modal simulado é Lages – SC, que faz parte do
caminho de expansão projetado pela Companhia de Gás de Santa Catarina (SCGás)
para rede de distribuição do Estado. O governo de Santa Catarina tem um programa
denominado “Crescendo Juntos”, que visa equalizar os níveis de desenvolvimento no
estado, sendo que um projeto para tornar disponível o GN à estas regiões é uma das
alternativas que podem auxiliar nesta equalização socioeconômica. A cidade de Lages
– SC está inserida em região a ser atendida por este programa.
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado
(ABEGAS, 2015), existem políticas de governo que não reconhecem formalmente o
papel do GN como fator de desenvolvimento. Isto requer então reflexões e intervenções
sobre o modo de atuação dos protagonistas, sobre como conferir maior dinamicidade
e competitividade para o sistema de produção-consumo, sempre inspirados num
objetivo comum: atrair novos investimentos e ampliar a participação do gás natural na
matriz energética do país.
Estudos de DA SILVA et al (2013) apontam que a expansão da oferta de gás
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
134
natural está ocorrendo por meio do atendimento a pequenos e médios consumidores
(média escala). Assim a utilização de distribuição secundária (virtual) torna-se
importante indutora de mercado, antecipando a infraestrutura na forma de rede isolada
até a chegada do gasoduto físico.
O objetivo deste trabalho é apresentar uma simulação da antecipação da oferta
do GN por meio de um gasoduto virtual, com um modelo de distribuição de gás
natural para a cidade de Lages – SC. O propósito do trabalho também visa dar apoio
durante a tomada de decisão de entidades envolvidas de forma direta e indireta na
estruturação de infraestrutura de distribuição desta commodity. O uso de um sistema
simulado busca dar suporte aos decisores do entendimento do comportamento de
redes isoladas, bem como gera capacidade de simular alternativas de funcionamento
do sistema de forma virtual.
A simulação é feita com uso de um software denominado FlexSim®. Este sistema
permite a inserção das variáveis principais de cada atividade, auxiliando a mensurar a
infraestrutura do projeto e a entender o funcionamento dinâmico do sistema simulado.
Usualmente o transporte de GN para consumidores isolados se dá por caminhões,
carregando módulos de cilindros de aço, completos de gás natural comprimido
(GNC). No entanto fazendo seu resfriamento em seu modal liquefeito o volume de
gás transportado por um caminhão aumenta significativamente, cerca de quatro vezes
mais. Também há um aumento do nível tecnológico associado a esta modalidade. O
gasoduto virtual tem como vantagem apresentar a capacidade de gerar flexibilidade
na escolha da localização industrial e comercial mais adequada, possibilitando
empreendimentos a usufruir das vantagens geográficas e alcançar sua melhor relação
entre custos e benefícios.
2 | REVISÃO TEÓRICA
Os pesquisadores BILDIRICI e BAKIRTAS (2013), assim como APERGIS e
PAYNE (2010), realizaram uma ampla análise da disponibilidade de combustíveis
como vetor de desenvolvimento. Estes autores indicam que a intensificação do uso de
GN, em longo prazo, se relaciona de forma bidirecional com o produto interno bruto em
diversos países tais como o Brasil, Rússia e Turquia. Estes países apresentam uma
tendência de crescimento rápido na demanda de GN, boa parte devido a sua eficiência
e baixas emissões de CO2, mas principalmente como fonte transitória, com função de
auxílio, às fontes renováveis de energia.
Diversos estudos foram realizados com uso de modelos para compreensão dos
problemas de ampliação da oferta de gás. DA SILVA et al (2013) estudaram custos
e identificação de cenários de substituição energética para o uso do GN, a partir da
alternativa de distribuição isolada de GN para a região metropolitana do Cariri no
Ceará; FRANCO (2012) analisou a viabilidade do transporte de GN para o município
de barreiras através dos modais GNC e GNL; MELO (2007) realizou avaliação
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
135
mercadológica para o GNC; SHEN e MOREIRA (2006) estudaram a viabilidade técnica
de um ciclo de liquefação de GN de pequena escala; SILVA (2003) analisou alternativas
para a previsão de demanda de GN; ULIANA (2010) desenvolveu um modelo de
programação por metas, como apoio à resolução do problema de distribuição do GN
em regiões que não são atendidas por gasodutos. Ainda, MICHEL et al (2017) propõem
um programa com intuito similar ao buscado neste trabalho.
2.1 Mercado de GN
O gás natural é um combustível fóssil resultado da degradação anaeróbica de
matéria orgânica, pode ser encontrado em grandes quantidades no subsolo, associado
ou não ao petróleo. Também pode ser produzido em menor escala a partir do biogás
purificado em biometano. A composição básica do GN contém hidrocarbonetos
saturados, sendo que após seu refino cerca de 85% de sua composição é metano
(CH4). É o hidrocarboneto mais simples da natureza, sendo o único menos denso
que o ar (0,679 kg/m³) e possui o menor poder calorífico entre os hidrocarbonetos.
Estas características fizeram da exploração do GN ter demorado a evoluir frente às
alternativas energéticas, mesmo sendo o hidrocarboneto mais abundante na terra
(ALMEIDA; FERRARO, 2013).
O transporte de gás canalizado só pode ser realizado por empresas que não
comercializem o produto, podendo estas apenas comprar o GN necessário ao seu
consumo próprio. No Brasil a distribuição de GN é feita por concessão, de forma que
o gás é monopólio da Petrobras. As transportadoras por sua vez vendem o gás para
as distribuidoras, em sua grande maioria com participações acionárias da Petrobras.
O ato de distribuição é fortemente caracterizado pela presença de infraestrutura
de rede, que exige coordenação e suporte para operação. Os custos de implantação
são elevados e demandam tempo para amortização. A tarifação, a regulação pública e
a carta de clientes são fatores decisivos para o sucesso dos empreendimentos. Cerca
de 50 a 70% do custo total de fornecimento está associado aos custos de transporte
e distribuição. Essas atividades são portadoras de grandes economias de escala. O
custo de atendimento de cada consumidor adicional fica menor à medida que a rede
se desenvolve. Desta forma o incentivo público quase sempre se faz necessário para
viabilizar a sustentabilidade econômica da indústria do gás (ALMEIDA; FERRARO,
2013).
A atividade de distribuição de GN corresponde ao segmento downstream, que
compreende além da distribuição, a comercialização, medição e cobrança. Engloba
basicamente tudo que ocorre após a troca de custódia entre transportador e distribuidor
que ocorre nas Estações de Transferência de Custódia (ETC), também chamadas de
citygates. Quando necessário, o GN é neste ponto é odorizado para ser detectado
mais facilmente em caso de vazamentos.
O GNL é o gás natural seco, tratado e submetido à temperatura de 161ºC
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
136
negativos, ainda na pressão atmosférica. Este resfriamento reduz seu volume em
torno de seiscentas vezes, com mudança de seu estado físico. Para o consumo este
líquido deve ser regaseíficado (ALMEIDA; FERRARO, 2013). Neste processo ainda
lhe é conferido uma composição mais pura de metano.
Transformar GN em GNL consome cerca de 10 a 15% da energia do gás para
diminuir a temperatura e liquefazer o gás, sendo que o transporte via gasodutos
consome apenas de 1 a 2% da energia do gás em novas compressões e perdas.
Existe ainda a questão da escala, sendo que em pequenas plantas, para pequenas
distâncias, os altos custos tendem comprometer a viabilidade econômica do produto.
Embora os custos operacionais sejam elevados, os custos de manutenção e mão de
obra são pequenos (ALMEIDA; FERRARO, 2013).
Uma alternativa interessante é a da joint venture feita entre a Petrobras e a
White Martins na cidade de Paulínia (SP), que implementou mudanças no panorama
brasileiro com relação ao GNL. O motivo foi a construção de uma planta de liquefação
de pequena escala, com capacidade de produção de 380 mil m³/dia chamada Gemini.
Este empreendimento atende clientes localizados até no Espírito Santo e concorre
principalmente com o mercado de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), caracterizado
por contratos de curto prazo e pela ausência de fidelidade aos fornecedores (ULIANA,
2010).
Sobre o GNC sua armazenagem se dá por cilindros com cerca de 230bar e a
capacidade de 5.600m³ de GN por reboque, enquanto os tanques criogênicos de GNL
podem carregar até 25.000m³ GN por reboque (FRANCO, 2012). Empresas como a
Cryobox, Wartsila e Linde oferecem plantas de liquefação de pequena escala para GN
com capacidades de produção de 5 a 400 toneladas por dia de GNL. Uma tonelada
de GNL com peso específico de 430kg/m³ representa 2.35 m³ de GNL e quando
gaseíficado, multiplicado por 600, equivale a aproximadamente 1.400m³ de GN. A figura
1 ilustra uma estação de liquefação “plug and play” projetado pela empresa Gelileo,
com capacidade média de produção de 12 toneladas por dia, portanto 27.000m³ de
GN/dia. Nos clientes, é instalada uma Unidade Autônoma de Gás (UAG) onde ocorre
a regaseificação.
Figure 1 Nano estação
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
137
3 | METODOLOGIA
O processo de simulação segue o método científico, ou seja, formula hipóteses,
prepara o experimento, testa as hipóteses através do experimento e valida as
hipóteses através dos resultados obtidos. A simulação não é uma ferramenta que
substitui o trabalho de interpretação humana, mas sim uma ferramenta capaz de
fornecer resultados para análises mais elaboradas a respeito da dinâmica do sistema,
permitindo desta maneira uma interpretação mais profunda e abrangente do sistema
estudado (SOUZA, 2010).
O maior motivo para se criar um modelo de simulação, ou utilizar qualquer outro
método de modelagem, é que esta é a forma de menor custo para se obter importantes
resultados, quando os custos, os riscos ou a logística de manipulação do sistema real
se apresenta proibitiva. Os principais ganhos com a simulação são obtidos com a
identificação e eliminação de problemas e ineficiências, chegando até a verificação
das condições da viabilidade do projeto, antes da implantação.
Além disso, diversos benefícios particulares decorrem da aplicação da simulação
do projeto e da avaliação dos sistemas, sejam eles de produção ou logística. São
alguns benefícios: a maior utilização eficiente de recursos, redução de estoque em
processo, maior velocidade e confiabilidade de entrega, menor necessidade de capital,
menores custos operacionais, maior compreensão do sistema em razão da coleta de
dados requerida pela simulação e finalmente a melhor reflexão sobre determinados
aspectos do sistema de produção graças à construção do modelo (LAW; KELTON,
2000).
Sobre o risco financeiro em investimentos HILLIER e LIEBERMAN (2001) citam a
capacidade da simulação em avaliar uma proposta de investimento com fluxos de caixa
futuros incertos. Gerando-se observações a partir das distribuições de probabilidades
para o fluxo de caixa em cada um dos respectivos períodos, a simulação é capaz
de gerar quantos cenários forem necessários, antevendo resultados operacionais
e financeiros. Isso fornece uma distribuição de probabilidades do retorno sobre o
investimento. Essa distribuição (algumas vezes chamado perfil de risco) permite que
os administradores avaliem o risco envolvido em fazer um investimento.
Neste trabalho foi utilizado o software Flexsim®, classificado como um simulador
de eventos discretos. A plataforma é apropriada para modelar sistemas que mudam
seu estado em pontos específicos de tempo, como resultados de eventos alternativos.
Estados comuns são classificados como ocioso, ocupado, bloqueado, desligado, entre
outros. Como exemplos de eventos usuais temos: ordens de produção; movimento de
produtos; paradas de máquinas, entre outros. O Flexsim® ainda apresenta recursos
tridimensionais, recursos de fluxo de processos e linguagem aberta. É uma plataforma
apropriada para este trabalho, pois é indicada para tratar de problemas de logística, em
termos de atender a necessidade de alocar um produto no tempo correto (FLEXSIM,
2016).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
138
4 | MODELO SIMULADO
O modelo desenvolvido busca obter resultados acerca do potencial de consumo
e alteração da matriz energética da região em estudo, como também pretende estudar
tarifas sobre o recurso que gerem para a empresa distribuidora rentabilidade positiva
do sistema, para o prazo de dois anos. Para tal estudo foi realizado mapeamento do
processo como indica a figura 2.
Figura 2 Mapeamento do processo
Primeiramente o fluído GN entra no sistema e passa por um macroprocesso de
liquefação. Este processo compreende a preparação, que limpa o gás, e em seguida
passa por transformação em GNL por meio da tecnologia Cryobox® da empresa
Galileo Technologies, onde o gás diminui seu volume. Na sequência é estocado em
um reservatório, que na simulação foi representado por “Fila 01”, onde cada item
representa cada 1m³ de GNL, que por sua vez quando atinge 21 itens cria um lote
para transporte.
O próximo fluxo é o “atraso” (denominação da programação) de transporte que
se dará pelo tempo do caminhão em percorrer o caminho designado entre as cidades
de Rio do Sul e Lages, no Estado de Santa Catarina. O GNL é então descarregado em
outra fila ou tanque. Em seguida o GNL passa pelo macroprocesso de gaseificação
em uma unidade autônomas de gás (UAG), também com tecnologia Cryobox®.
Após retornar ao estado gasoso, tem-se o estoque local de GN útil em um tanque
de armazenamento. O GN fica disponível para suprir o consumo por meio da rede
do gasoduto estruturante local. A rede é direcionada para potenciais clientes em três
segmentos distintos: o comercial; industrial e o consumo por postos GNV.
Figura 3 Modelo simulado
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
139
Inicialmente o sistema gera fluido com a taxa de 58,33m³/h ou 14400m³/d. Em
seguida um processador de fluido computa 20% de perdas em volume inerentes ao
processo de liquefação. A estrutura “Fluido para Item” converte 600m³ de GN em 1m³
de GNL em taxa de 1m³ de GNL/h, mesmo que a tecnologia permita atingir 1,45m³/h.
A estrutura denominada “Fila 01” forma os lotes de 21 itens para transporte. Existe a
possibilidade de uso de tanques de transporte para 42m³ de GNL, mas que não são
adequados à infraestrutura rodoviária local. O transportador carrega os itens da cidade
onde é feita a liquefação, em Rio do Sul, até Lages, com velocidade média de 50km/h
por 200km, operando ida e volta com 8h de trabalho por dia. A estrutura “Item para
Fluído” capta um item de GNL e o transforma novamente em fluído, em taxa de 500m³
de GN/h. Por esta razão, são utilizadas duas destas estruturas, a fim de equivaler ao
fluxo de liquefação. As unidades selecionadas para a simulação são tempo em horas
(h) e volume em metros cúbicos (m³).
Para a saída do sistema, tem-se os valores estimados de consumo para
empreendimentos próximos em até 200m do gasoduto estruturante da cidade de Lages.
Este gasoduto é projetado para ter 10km de rede em perímetro urbano, em fase inicial.
O consumo então é divido em três “Sumidouros de Fluido” no sistema, o consumo
veicular estimado em 5.000m³/d, o consumo comercial 1.000m³/d e consumo industrial
5.000m³/d. A figura 4 ilustra o caminho completo do projeto da rede de gasodutos de
Lages. A fase inicial e os dados de consumo compreendem apenas uma parte da rede
ilustrada.
Figura 4 Projeto da rede isolada de Lages
A Figura 3 ilustra o comportamento do tanque reservatório da distribuição local
para a entrega do insumo. Nota-se que o comportamento entregas ocorre conforme as
distribuições lineares do consumo, e que ao longo do primeiro mês após o equilíbrio
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
140
de 5 viagens semanais há a necessidade de mais uma entrega na semana. As quedas
a zero representam os dias em que o transporte não ocorre, como em um domingo ou
dia de parada.
Figura 5 GN disponível em Lages
A formulação dos custos considera os valores de investimento e valores de
operação do sistema. De acordo com a autorização de processo licitatório para a
construção da rede de gás estruturante de Lages-SC divulgada pela SCGÁS (2017), o
valor estimado para construção da primeira fase da rede isolada é de R$4,87 milhões.
O valor da instalação da planta de liquefação é de R$1,08 milhões, sendo que para o
terreno e os caminhões são adicionados R$0,85 milhões, totalizando as despesas de
capital ou investimento em bens de capital (CAPEX).
Para formular o consumo operacional é considerado o custo do gás de forma
isolada, resultado da entrada no sistema de 5,25 milhões de m³/ano multiplicado pela
tarifa (R$0,97/m³) resultando em R$5,11 milhões por ano. Já as despesas operacionais
(OPEX) restantes são contabilizadas de forma unificada e por meio de estimativas, o
que inclui custos com a planta de R$0,48 milhões por ano, logística em R$0,12 milhões
por ano, gasoduto em R$0,12 milhões por ano. Estes dados estão sumarizados na
tabela 1. Para o custo do gás foi utilizado o valor da tarifa base industrial e o volume
de 14.400m³/dia.
Tabela 1 Dados econômicos
Cada segmento de consumo possui sua própria tarifa, que deriva da tarifa
média. Como está previamente estabelecido que o payback do investimento deverá
ser realizado em curto prazo (2 anos), antes da segunda fase de expansão da rede
local, resultou na taxa encontrada para multiplicação da tarifa de 2,24 que deve ser
aplicada sobre cada um destes segmentos. Como mostra a tabela 2. A tabela 3 ilustra
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
141
o payback simples, nota-se que a partir do segundo ano o projeto voltaria a expandir a
rede o que significaria novos custos de capital e novos custos operacionais.
Tabela 2 Faturamento após taxa
Tabela 3 Retorno financeiro simples
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A simulação do comportamento da distribuição do gás conforme o planejamento
pretendido, com a tecnologia, valores financeiros e prazos pretendidos pela companhia
distribuidora, resulta em taxa de 2,24 a ser multiplicada pelo valor de mercado do gás,
que é inviável. O GN precisa ser competitivo em preço para ocupar a posição dos
outros combustíveis como o GLP ou a Gasolina. Esta taxa alta ilustra os altos custos
de transporte e transformação pelos quais o gás é submetido.
Especificamente quanto ao modelo simulado, este foi capaz de atender o consumo
previsto com a utilização de apenas um caminhão para o transporte e uma unidade de
liquefação fabricada pela Galileo Technologies, a qual ainda produz o dobro do previsto
para o consumo da cidade. Como a rede segue um plano de expansão, que segundo
SCGÁS (2017) prevê o consumo potencial de 70.000m³ para a cidade de Lages, o
projeto pode se aproveitar do conceito de economia de escala e ainda agrupar toda a
serra catarinense em seu escopo. Em alternativa pode-se estudar diluição dos custos
no mix que compõem a tarifa do estado e a possibilidade de importar ao invés de
liquefazer.
O modelo de distribuição ainda está em desenvolvimento, com próximos
passos previstos de inclusão de mais varáveis econômicas, de manutenções dos
equipamentos, de informações acerca da redução de gases tóxicos e de melhorias
de desempenho de processos, e a partir deles criar relações mais complexas entre
variáveis. Podem ainda ser incluídas distribuições estatísticas de consumo para
calcular picos de demanda. Em perspectiva este sistema também pode ser otimizado
a compreender todo o estado nos cálculos de distribuição.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
142
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 11
143
CAPÍTULO 12
ENERGIA E MEIO AMBIENTE: O BIODIESEL COMO
ESTRATÉGIA DE ENSINO, EXTENSÃO E PESQUISA
PARA SUSTENTABILIDADE
Cristine Machado Schwanke
Universidade Federal do Pampa
Bagé – Rio Grande do Sul
RESUMO: O biodiesel representa uma sólida
alternativa para atender à crescente demanda
energética da sociedade moderna de forma
sustentável. E, com o uso do óleo residual
de fritura, como matéria-prima, tem-se a tão
desejada sustentabilidade ambiental. Neste
trabalho, demonstra-se, o biodiesel como
estratégia de ensino, pesquisa e extensão
em projetos que vêm sendo desenvolvidos no
âmbito das atividades do Grupo Bio&Energia
(Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em
Energia e Meio Ambiente/UNIPAMPA/Campus
Bagé) com objetivo de conservação do Meio
Ambiente.
PALAVRAS-CHAVE: Biodiesel; óleo residual
de fritura; projetos.
work, biodiesel is demonstrated as a strategy of
teaching, research and extension in projects that
have been developed in the Bio & Energy Group
(Study Group of Energy and Environment), with
Environment conservation objective.
KEYWORDS: Biodiesel, residual oil, projects.
1 | INTRODUÇÃO
O Curso de Produção de Biodiesel e
Educação Ambiental tem origem a partir
da proposta do projeto de INTEGRAÇÃO
UNIVERSIDADE-ESCOLA:
CURSO
DE
ENERGIA (2012 – 2015) com a finalidade de
desenvolver a prática científica, formação
continuada e reflexiva de profissionais na
área de educação básica no que tange a
interdisciplinaridade acerca da temática de
biocombustíveis, meio ambiente e gestão
de resíduos (SANTOS, SCHWANKE, et al.,
2015;
GOULART
e
SCHWANKE,
2018).
O desenvolvimento da proposta abrangeu
ENERGY AND ENVIRONMENT: BIODIESEL
AS A STRATEGY OF TEACHING,
EXTENSION AND RESEARCH FOR
SUSTAINABILITY
ABSTRACT: Biodiesel is a key component
for the establishment of a sustainable energy
matrix. Residual oil, as raw material, produce
desired environmental sustainability. In this
a SEMANA DO MEIO AMBIENTE (2015;
2017) do município de Bagé, no Rio Grande
do Sul. Evento que acontece anualmente
com atividades práticas, palestras e ações
comunitárias
com
intenção
de
incluir
a
comunidade na preservação do patrimônio
natural do país (SANTOS, SCHWANKE, et al.,
2015; SILVA, SCHWANKE, et al., 2016; SOUZA,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
144
SCHWANKE, et al., 2017). As OFICINAS DE BIODIESEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
(2016 – Atual) têm o propósito de aproximar a universidade das escolas, em regiões
de vulnerabilidade social com ênfase na reflexão da preservação ambiental, produção
e utilização de biodiesel gerado a partir do óleo residual de fritura com intuito de
despertar a conscientização da gestão de resíduos sólidos, urbanos e do indivíduo
como ator principal; tais conceitos se estenderam de forma mais prática, através do
projeto #BIORECICLE (2017 – Atual), que permitiu transformar as escolas do ensino
básico do município de Bagé em principais agentes de conscientização, ao torná-las
postos definidos e reconhecidos pela sociedade para coleta de óleo residual através da
disposição de bombonas plásticas em parceria com a empresa Camaquã Distribuidora
que tem o papel de fazer o recolhimento do óleo usado, onde parte é levado para
a produção de biodiesel em sua usina própria; e, outra permanece no laboratório
do Grupo Bio&Energia (Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Energia e Meio
Ambiente/UNIPAMPA) para integrar atividades de pesquisa acerca da sua produção
de biodiesel (SCHWANKE, ALMEIDA e LIMA, 2018; COSTA, SOUZA e SCHWANKE,
2018; COSTA, SCHWANKE, et al., 2018; SCHWANKE e YOUNG, 2019).
Localizado no sudoeste do Rio Grande do Sul, na região da campanha e fronteira
com o Uruguai, o município de Bagé, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE (2010), conta com uma população estimada em aproximadamente
120 mil habitantes – dados referentes ao ano de 2018, totalizando um pouco menos
de 35 mil famílias e considerando em média 3,5 integrantes. A sua frota veicular
corresponde a mais de 37 mil veículos, que respondem por 23% (vinte três por cento)
do consumo de uso de motores a diesel e ou biodiesel.
Segundo a Oil World Annual (2018), o Brasil produz 9 bilhões de litros de óleos
vegetais por ano, resultando, aproximadamente, um terço para fins alimentícios.
Estima-se que, o consumo por indivíduo é de 20 litros por ano; portanto, 3 bilhões
de litros de óleos anuais, apenas no nosso país. O levantamento considera que o
óleo residual coletado para reciclagem não atinge a 1 (um) ponto percentual; o que
significa, em termos gerais, mais de 200 milhões de litros de óleos usados por mês,
principalmente de frituras, descartados de forma incorreta e com grande potencial
de contaminação de solos, rios e lagos, que comprometem o meio ambiente. E, de
acordo com a produção brasileira de B3, o volume não coletado de óleo residual tem
potencial de colaborar com oitenta por cento da produção e com uma redução de
custos de aproximadamente 20% (vinte por cento); sendo que, atualmente o Conselho
Nacional de Política Energética (CNPE) já definiu o cronograma para evolução do B10
(10% de biodiesel adicionado ao diesel) até o B15, com foco na redução do preço do
combustível para o consumidor e ampliação da participação de energia renovável na
matriz energética. Somado a isso, tanto a literatura quanto órgãos de saneamento
básico e organizações não governamentais, destacam o alto potencial de impacto
ambiental, estimando a capacidade de contaminar até 25 mil litros de água potável, se
descartado de forma incorreta. (BIOCOLETA; SABESP)
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
145
Por outro lado, como levar essa informação de forma tão impactante como o
prejuízo do óleo residual no nosso patrimônio natural? Realizar ações extensionistas
de forma que atuem como agente transformador do indivíduo, esclarecendo o seu
papel na comunidade e integrando-o com as instituições; trazê-lo a responsabilidade,
do ser protagonista, isto é preponderante para conservação do meio ambiente,
garantindo a sustentabilidade. Pode-se a análise a um exercício de reflexão, sob a ótica
e influência na comunidade em seu fornecimento de água, considerando, portanto,
que em uma família – explicitando a responsabilidade do público, que o seu consumo
é estimado em média de quatro litros de óleos por mês e que, normalmente, torna a
gerar por volta de um litro de óleo residual em função do processo cotidiano de fritura
de alimentos, adicionaremos a reflexão a condição do consumo doméstico de água
que considera a média nacional de 159 litros por habitante por dia (REDE GLOBO,
2013). Podemos a partir disso, avaliar e aplicar o exercício e a reflexão à perspectiva e
a realidade do município de Bagé, estamos relacionando o potencial de contaminação
de 875 milhões de litros de água e, em paralelo apresentando o consumo mensal da
sua população que apresenta um valor em torno de 600 milhões de litros de água.
Considere a pior situação em que, todo o óleo residual gerado consegue atingir as
matrizes de água que de alguma forma conectam ao fornecimento de água potável da
cidade, isto leva ao comprometimento equivalente a um mês e meio do fornecimento
de água. Em períodos que o município sofre com estiagem, a população sofreria com
um fornecimento precário durante um período de aproximadamente dois meses e
meio.
O fator determinante e de destaque do biodiesel, que o coloca entre os
biocombustíveis de maior importância é, o simples fato da sua empregabilidade e
do óleo residual ser utilizado como sua matéria prima, permitindo o processo de
reciclagem do óleo proveniente do processo de fritura em diversas condições e
atividades, desde a aplicação residencial à indústria e comércio (SILVA, 2014). A
viabilidade econômica diante da crescente demanda no consumo de óleo alimentício e
combustível proporciona um maior volume de matéria prima disponível e o de descarte
inadequado. Se este tipo de descarte puder ser contido, irá evitar a contaminação de
solo, lençóis freáticos e matrizes de água, equilíbrio do ciclo de emissão de CO2 e
diminuição dos gases do efeito estufa, em consonância com as políticas públicas de
inserção de biocombustíveis e a prerrogativa do alto potencial de impacto ambiental.
Lembra-se ainda que, a tecnologia de produção de biodiesel é amplamente disponível,
desenvolvida e aprimorada em termos da literatura, tanto quanto a sua empregabilidade
prática e eficiência comprovada. (ZOT, 2006; COSTA, 2011).
Portanto, os projetos descritos, como o Curso de Produção de Biodiesel e
Educação Ambiental, as Oficinas de Biodiesel e Educação Ambiental e o projeto
#BiORECICLE têm como objetivo repassar conhecimento sobre produção de biodiesel,
as vantagens de sua utilização; além disso, fomentar o pensamento crítico com relação
aos resíduos gerados e reafirmar com cada cidadão a sua responsabilidade ambiental
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
146
e compromisso com a conservação do meio ambiente.
2 | A OFICINA DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL
O projeto OFICINAS DE BIODIESEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL propõe ao
seu público, oficinas que relacionam a produção de biodiesel à educação ambiental.
Este projeto demonstra explicitamente a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e
extensão que tanto se busca no desenvolvimento de projetos dentro das universidades.
As oficinas são realizadas no laboratório de biocombustíveis localizado na Universidade
Federal do Pampa - Campus Bagé onde é realizada a parte teórica e prática da Oficina.
As oficinas são realizadas, tendo como público alvo, estudantes e profissionais
do Educação Básica (Figura 1), estudantes do Ensino Técnico e Superior (Figura 2);
entretanto, com o êxito da ação a sua abrangência se estendeu a comunidade em geral
(Figura 3). A equipe executora do projeto, figura 6, informa sobre as futuras oficinas
por meio de cartazes, panfletos e publicações nas redes sociais. Além disto, já foram
oferecidas oficinas ao público de eventos realizados no campus da Universidade e na
cidade de Bagé. Cabe ressaltar ainda que, muitos que participam das oficinas, ainda
não conhecem a Universidade; assim, é possível oportunizar, além dos conhecimentos
propostos, uma visitação aos laboratórios e demonstração dos projetos desenvolvidos.
Figura 1: Fundamentação teórica. Profissionais da Educação Básica.
Fonte: Autoria própria.
Figura 2: Estudantes do Ensino Técnico e Superior.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
147
Fonte: Autoria própria.
Figura 3: Participantes do curso. Comunidade em Geral.
Fonte: Autoria própria.
Figura 6: Equipe executora da Oficina de Produção de Biodiesel.
Fonte: Autoria própria.
A oficina inicia com uma apresentação teórica (Figura 4) sobre o histórico
e definições do biodiesel, reação de transesterificação, fatores que influenciam no
rendimento da produção de biodiesel, procedimento industrial, um panorama geral
da produção de biodiesel no Brasil e educação ambiental. Durante a apresentação
teórica de forma interativa são realizadas as etapas de produção do biodiesel (Figura
5a e 5b). Disponibiliza-se 25 (vinte e cinco) vagas por oficina, devido ao limitado
espaço físico, número de kits disponíveis no laboratório e EPIs (Equipamentos de
Proteção Individuais), garantindo a segurança. Estes, são divididos em grupos de 5
(cinco) pessoas em média para cada kit de produção de biodiesel.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
148
Figura 4: Fundamentação teórica da Oficina de Produção de Biodiesel.
Fonte: Autoria própria.
(a)
(b)
Figura 5: Procedimento Experimental da Oficina de Produção de Biodiesel.
(a) Prática Experimental, Etapa 1; (b) Prática Experimental, Etapa 2.
Fonte: Autoria própria.
Os grupos recebem os kits que possui os materiais e reagentes necessários para
a realização do experimento. Este kit conta com agitador magnético com aquecimento,
haste de vidro, barra magnética, béquer de 1 (um) litro para banho maria e béqueres
de 250mL, balão de fundo redondo de 250mL, provetas de 250 ml e de 50 ml, funil de
separação, suporte universal e argola para o suporte. São previamente preparadas
soluções pelo técnico químico do laboratório antes de dar início às atividades, como
a solução saturada de cloreto de sódio, a solução de ácido clorídrico 0,5% (v/v) e de
metóxido de potássio. O início da atividade se dá com a adição de 100 ml de óleo ao
balão de fundo redondo e o aquecendo em banho Maria até alcançar a temperatura de
45ºC, após é adicionada a solução de metóxido de potássio com agitação por 10 min.,
onde ocorre a reação de transesterificação. A seguir, a mistura é disposta em funil de
separação para observar a separação das fases até a formação do biodiesel. Então,
retira-se o resíduo de glicerina ao fundo do funil e realizam-se três lavagens: iniciaA Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
149
se com uma solução de ácido clorídrico 0,5% (v/v), e repete-se utilizando a solução
saturada de cloreto de sódio e, em seguida, água destilada.
Ao final da oficina, obtêm-se cidadãos conscientes de sua responsabilidade
social e ambiental, multiplicadores de conhecimento; e, o combustível, o biodiesel. A
partir daí o biodiesel produzido é caracterizado, seguindo para as etapas de estudo e
desenvolvimento de produto e processo realizados pelos estudantes de engenharia de
energia, química e licenciatura em química coordenados pela professora orientadora.
3 | ANÁLISE DO PROJETO
A expansão das atividades econômicas em todo o mundo está impactando a
qualidade do solo e da água em parâmetros sem precedentes. Diversos são os fatores
que determinam a perda da qualidade ambiental, frequentemente associados ao
aumento do consumo em todos os níveis. O óleo de cozinha, largamente empregado
para o preparo de alimentos, pode constituir-se em um grave poluente quando
descartado de modo inadequado como exposto anteriormente.
A poluição causada pelo óleo de cozinha usado tem tomado grandes dimensões,
pois o descarte de óleo residual de frituras em pias ou no solo acaba provocando
sérios danos ambientais, razão pela qual organizações da sociedade civil e
administrações municipais estão buscando soluções e tomando medidas para mudar
esse comportamento, entretanto são ações ainda aleatórias e insuficientes, visto que
muito óleo ainda está indo parar em mananciais hídricos e no solo. Normalmente
não há campanhas ou trabalhos de educação ambiental sistemáticos que atuem na
conscientização da população para o destino adequado desse óleo.
Portanto, é onde entra o papel da Universidade, do ensino, extensão e pesquisa
realizados pela comunidade acadêmica, proporcionando a integração entre sociedadeproblema-universidade em busca de alternativas, debates, soluções.
Nesse contexto, o Grupo Bio&Energia UNIPAMPA/Campus Bagé, preocupado
com a degradação ambiental, tomou a iniciativa de coordenar Projetos de Ensino,
Pesquisa e Extensão através de Oficinas de produção de biodiesel, Formação
continuada para profissionais da Educação Básica e Caracterização de processo,
produto e subprodutos da produção de biodiesel com o óleo residual de cozinha, que
está sendo lançado inadequadamente no ambiente, com o objetivo de instituir um
processo de recolhimento, que poderia ser uma fonte de renda para alguns grupos de
pessoas, como os catadores de resíduos urbanos recicláveis para evitar que ele seja
descartado em locais inadequados e, consequentemente, concorra para o aumento
da degradação ambiental no município. E, se esse óleo, como é o caso dos projetos
executados pelo Grupo Bio&Energia, for destinado à produção de biodiesel, a exemplo
do que vem ocorrendo em diversos municípios brasileiros, se constitui numa fonte de
energia renovável. Com isso, observa-se a importância de inciativas como estas dos
projetos desenvolvidos que orientam e recomendam boas práticas de sustentabilidade
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
150
socioambientais.
Quanto as oficinas de produção de biodiesel, estas já foram realizadas algumas
vezes para os alunos de graduação dos cursos oferecidos na UNIPAMPA - Campus
Bagé, onde para estes, as oficinas agregam conhecimentos, requisitos de componentes
curriculares de seus cursos; e, experiência nas práticas de laboratório. Da mesma
forma, para estudantes do Ensino Técnico, o que promove o aprofundamento dos
conhecimentos teóricos de sala de aula através da prática realizada. E ainda, a oficina
elaborada para profissionais da Educação Básica, que propõe um curso online de
Produção de Biodiesel e Educação Ambiental, sendo que ao final do curso temse a prática experimental, a Oficina de produção de biodiesel; dos quais, esta, é o
último módulo dos seis oferecidos. O curso é organizado de acordo com as novas
tendências educacionais e ministrado através de formação continuada. O que para
os professores serve para aprimoramento e atualizações, para a sociedade, para
Educação, transforma-os em multiplicadores do conhecimento, no momento em que,
os conceitos apreendidos são disseminados nas na comunidade, nas escolas, nas
salas de aula.
A comunidade do entorno também é beneficiada, uma vez que durante os
eventos realizados na Universidade são oferecidas Oficinas, onde a comunidade
pode participar. Além do conhecimento gerado a comunidade tem a oportunidade de
conhecer a Universidade, seus cursos, seus laboratórios despertando o interesse pelo
Ensino Superior, pelas áreas de Engenharias e Ciências Exatas.
Por fim, observa-se a imensa contribuição do projeto, desta proposta de ensino,
pesquisa e extensão para comunidade interna e externa a Universidade e sociedade
através da divulgação, conscientização, disseminação da ciência, tecnologia, ensino,
extensão, pesquisa, educação, profissão, energia e sustentabilidade, surgindo uma
nova visão no conceito de aprendizagem como estratégia para a problematização de
temas atuais como gestão de resíduos na forma contextualizada.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as fontes de biomassa prontamente disponíveis, óleos e gorduras
de origem vegetal e animal têm sido largamente investigados como candidatos a
programas de energia renovável porque possibilitam a geração descentralizada de
energia e um forte apoio à agricultura familiar, criando melhores condições de vida
em regiões carentes, valorizando potencialidades regionais e oferecendo alternativas
a problemas econômicos e socioambientais de difícil solução. Mais do que uma
alternativa ambientalmente correta para países em desenvolvimento como o Brasil,
a adoção de combustíveis derivados de óleos e gorduras em matrizes energéticas
nacionais proporciona um considerável nicho de desenvolvimento socioeconômico
para a região, uma vez que além de fornecer um novo estímulo às cadeias produtivas de
oleaginosas, com a subsequente geração de milhões de empregos diretos e indiretos,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
151
proporciona uma redução gradual dos níveis de importação de derivados de petróleo,
favorecendo assim o equilíbrio de balanças comerciais normalmente deficitárias.
Nesse sentido, os biocombustíveis, quando derivados de matérias-primas
renováveis e produzidos por processos de reconhecida sustentabilidade ambiental,
surgem como alternativas de amplo interesse social e político, particularmente quando
o seu uso não exige adequações significativas na tecnologia atualmente empregada
nos motores de combustão. (CREMONEZ et al, 2015; LOSSAU et al, 2015)
Ainda, nesse cenário, tem-se o conceito tradicional de sustentabilidade, que está
relacionado às ciências biológicas, no sentido do esgotamento dos recursos renováveis
causados pela exploração descontrolada dos mesmos. Desta forma, a utilização
destes recursos deve ser feita de maneira racional, sejam eles renováveis ou não
renováveis, minimizando a geração de poluição e de resíduos (BARBIERI, 2007). Para
tanto, pode-se afirmar que o uso de óleo residual de fritura para produção de biodiesel
está em consonância com a Agenda 2030 (ONU, 2015), ou seja, os 17 Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), tendo a Sustentabilidade permeando todas a
ações realizadas nesta inovadora proposta, o Biodiesel como estratégia de ensino,
extensão e pesquisa.
Assim, a cada oficina ou curso ministrado, os objetivos são alcançados, pois ao
final da ação gera-se um cidadão informado sobre, não só conhecimento de produção
de biodiesel, mas preocupado com a geração de resíduos e conscientizado sobre os
impactos que cada indivíduo tem sobre o meio ambiente.
Além disso, levar à população conhecimento não só dos conteúdos abordados
em cursos e oficinas, mas também de métodos de reciclagem de óleo de fritura como
faz o projeto #BIORECICLE, gera um ganho para todos, por diminuir o impacto que
tantos litros de óleo realizam ao contaminar rios e barragens da cidade. O projeto visita
escolas dos municípios, buscando atingir crianças e adolescentes, conscientizando
sobre reciclagem e formas corretas de descarte de resíduos como o óleo residual de
fritura.
Os ganhos são ainda maiores, quando se trata do projeto de formação
continuada de profissionais da Educação Básica oferecido através do Curso de
Produção de Biodiesel e Educação Ambiental via plataforma Moodle, caracterizandose como uma qualidade de ensino diferenciada num contexto social que se transforma
rapidamente, exigindo desses educadores cada vez mais um senso crítico apurado
no seu fazer pedagógico, disponibilizando a esses, durante os encontros, possíveis e
novas estratégias de multiplicação e contextualização dos saberes; dessa forma, os
professores podem repassar seus conhecimentos e atingir as crianças e adolescentes
das escolas onde atuam e sua comunidade. Através desta interação lhes é dado a
oportunidade de construção do conhecimento, com troca de saberes e experiências
que enriquecem ainda mais o saber individual, sociedade e meio ambiente.
Esta proposta demonstra uma forma de modernizar a educação empregando
metodologias ativas de aprendizagem e estratégias para uma formação eficaz e eficiente
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
152
de estudantes, do educador, da sociedade, percebeu-se também que oportunizou aos
acadêmicos envolvidos, técnicos de laboratório e docentes da UNIPAMPA a cumprir
seu papel como Universidade e dentro da sociedade.
Finalmente, o projeto serviu/serve como meio para gerar trabalho, renda e
chegar ao objetivo principal conservação dos recursos naturais, do bem comum, o
Meio Ambiente.
5 | AGRADECIMENTOS
Aos técnicos do Laboratório de Biocombustíveis, bolsistas e voluntários do
Grupo Bio&Energia. Ao Programa de Fomento à Extensão (PROFEXT), Programa
de Formação Continuada para profissionais da Educação Básica (PROFOR) da PróReitoria de Extensão e Cultura (PROEXT) e Programa de Desenvolvimento Acadêmico
(PDA) da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitário (PRAEC) da Universidade
Federal do Pampa (UNIPAMPA).
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 12
154
CAPÍTULO 13
ENTOMOFAUNA PRESENTE NA ÁREA DE
INSTALAÇÃO DA FUTURA CENTRAL DE
TRATAMENTO E GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
DE VÁRZEA GRANDE – MT
Eliandra Meurer
Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado de Mato Grosso, Tangará
da Serra – MT
Ana Carla Martineli
Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado de Mato Grosso, Tangará
da Serra – MT
Eduardo Costa Reverte
Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado de Mato Grosso, Tangará
da Serra – MT
RESUMO: O levantamento prévio da fauna
existente no local escolhido para implantação
do aterro sanitário permite uma visão ampla
de como manejar esses organismos para que
não traga problemas de saúde pública. Este
trabalho tem como objetivo o levantamento da
entomofauna presente na área da instalação
da Central de Tratamento e Gerenciamento
de Resíduos de Várzea Grande. Utilizaramse armadilhas pitfall com isca de sardinha e
mel, e para o monitoramento de Diptera, foram
utilizadas armadilhas de mosquitos adaptadas.
Foram coletados 740 indivíduos da classe
Insecta. A ordem Coleoptera demonstrou maior
abundância, seguida por Diptera, Blattodea,
Orthoptera e Heteroptera. Para a ordem
Coleoptera foram coletados 546 indivíduos,
tendo como maior representante a família
Scarabaeidae, apresentando 10 espécies,
distribuídas entre cinco gêneros, sendo
Onthophagus gazela, Canthidium cupreum
e Canthon mutabilis os mais abundantes. A
ordem Hymenoptera teve como representante
a família Formicidae, esta apresentou grande
riqueza, sendo o grupo mais representativo
na amostragem, 36 espécies distribuídas em
sete subfamília e 23 gêneros. Solenopsis
invicta apresentou maior ocorrência nas
áreas amostradas (9 ocorrências), seguida
por Camponotus balzani e Forelius pusillus.
A entomofauna coletada apresentou-se
bioindicadora de área com alto grau de
degradação ambiental, demonstrando a perda
de diversidade de espécies pela ação antrópica.
PALAVRAS-CHAVE: Coleoptera; Formicidae;
Indicadores.
ENTOMOFAUNA PRESENT IN THE
INSTALLATION AREA OF THE FUTURE
CENTER OF TREATMENT AND
MENAGEMENT OF WASTE OF VÁRZEA
GRANDE-MT
ABSTRACT: A previous survey of the existing
fauna in the chosen place for implantation of
the sanitary landfill allows a wide view of how
to handle these organisms so that it does not
bring public health problems. This work has as
objective the survey of the entomofauna present
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 13
155
in the area of the installation of the Central of Treatment and Management of Waste
of Várzea Grande. Pitfall traps with sardine and honey baits were used, and for the
monitoring of Diptera, adapted mosquito traps were used. A total of 740 Insecta class
specimens were collected. The Coleoptera order showed greater abundance, followed
by Diptera, Blattodea, Orthoptera and Heteroptera. For the Coleoptera order, 546
specimens were collected, with the Scarabaeidae family as the largest representative,
presenting 10 species, distributed among five genera, being Onthophagus gazelle,
Canthidium cupreum and Canthon mutabilis the most abundant. The Hymenoptera
order had as representative the Formicidae family. This one presented great wealth,
being the most representative group in the sampling, with 36 species distributed in
seven subfamilies and 23 genera. Solenopsis invicta presented the highest occurrence
in the sampled areas (9 occurrences), followed by Camponotus balzani and Forelius
pusillus. The collected entomofauna presented itself as a bioindicator of an area with
a high degree of environmental degradation, demonstrating the loss of diversity of
species by anthropic action.
KEYWORDS: Coleoptera; Formicidae; Indicators.
1 | INTRODUÇÃO
O grande aumento populacional nas grandes cidades e capitais do país gera
uma grande quantidade de resíduos sólidos, que são enviados a aterros sanitários
e lixões. De acordo com Portella (2014), os aterros sanitários são o destino final dos
rejeitos e resíduos sólidos de uma sociedade altamente consumista e incentivada, em
grande parte, pela mídia, pelo menos no que concerne à aquisição de bens e produtos
industrializados das mais variadas formas. A geração desses resíduos acarreta
enormes prejuízos ao meio ambiente se não forem alojados de maneira técnica e
ambientalmente adequada. Como os lixões, que consiste na simples descarga dos
dejetos sobre o solo, a céu aberto, sem medida de proteção a saúde o ao meio
ambiente (D’ALMEIDA, 2000).
Encontrar um local adequado para deposição desses resíduos é um desafio para
a gestão urbana. Pois a área a ser utilizada para esse fim, acaba perdendo valor
comercial, e trazendo alguns problemas sanitários se não tiver um manejo adequado.
O levantamento prévio da fauna existente no local escolhido para implantação do
aterro sanitário permite uma visão ampla de como manejar esses organismos para
que não traga problemas de saúde pública, como proliferação de ratos, e insetos,
como baratas, moscas e formigas.
Diversos invertebrados terrestres possuem importância médica, veterinária ou
agronômica e são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas. O levantamento
da diversidade entomológica é de extrema importância para estudos de equilíbrio
ambiental, porém, a fauna dos invertebrados é pouco conhecida, apesar de os
invertebrados reunirem mais de 95% das espécies animais recentes (ULYSSÉA &
BRANDÃO, 2013).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 13
156
A entomofauna, compostas pelos insetos destacam-se dentre os artrópodes
terrestres, devido sua riqueza e abundância constituindo um grupo considerado hiperdiverso. Coleoptera e Hymenoptera, em particular Formicidae, são considerados
grupos-chave nos diversos ecossistemas, devido à sua megadiversidade e a sua
sensibilidade as alterações do ambiente (OVERAL, 2001). Essas alterações podem
influenciar sua riqueza e distribuição, e são, frequentemente, utilizadas como
parâmetros nos mais variados estudos com intuito de avaliar padrões de ocorrência e
resposta das assembleias frente a estas alterações.
Este trabalho tem como objetivo o levantamento da entomofauna presente na
área da instalação da Central de Tratamento e Gerenciamento de Resíduos de Várzea
Grande – CTGR-VG.
2 | METODOLOGIA
A área localiza-se no município de Várzea Grande pertencente à Região
Metropolitana de Cuiabá no Estado do Mato Grosso. A área está situada nas
coordenadas geográficas S 15º33’37,16” e W 56º18’57,28”, atualmente a área
encontra-se com alta taxa de antropização, predominando a pecuária e com chácaras
ao redor. Esta área está sendo indicada como alternativa locacional para a instalação
da futura Central de Tratamento e Gerenciamento de Resíduos de Várzea Grande –
CTGR-VG.
Para o levantamento da entomofauma da área, utilizaram-se armadilhas pitfall
com isca de sardinha e mel. As armadilhas, contendo 250ml de formalina a 4,0%, foram
instaladas na área respeitando o limite mínimo de 50 metros entre cada armadilha, em
16 pontos amostrais. Para o monitoramento de Diptera possíveis vetores de doenças,
foram utilizadas armadilhas de mosquitos adaptadas (GUIMARÃES & GUIMARÃES,
2003). Todos os indivíduos amostrados foram levados ao laboratório de Ecologia e
Taxonomia de Formicidae (LETFOR) – UNEMAT, e identificados ao nível taxonômico
de gênero, ou espécies com bibliografias especializadas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados 740 indivíduos da Classe Insecta, representada por cinco
ordens. A ordem Coleoptera demonstrou maior abundância (546 ind.; 73,78%), seguido
por Diptera (81 ind.; 10,94%), Blattodea (66 ind.; 8,91%), Orthoptera (32 ind.; 4,32%)
e Heteroptera (15 ind; 2,02%).
A ordem Coleoptera é considerada uma das mais importantes ordens dentre
os organismos que vivem no solo devido à grande riqueza de espécies, distribuição
cosmopolita e papel ecológico desempenhado neste habitat (MELNYCHUK et al.,
2003). Foram coletados 546 indivíduos, tendo como maior representante a família
Scarabaeidae (279 ind.), apresentando 10 espécies, distribuídas entre cinco gêneros,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 13
157
sendo Onthophagus gazela (Fabricius, 1787), Canthidium cupreum Blanchard, 1846
e Canthon mutabilis Lucas, 1857 os mais abundantes. Outra família com grande
representatividade foi Nitidulidae, com 199 individuos coletados, distribuídos em dois
gêneros e quatro espécies. Outra ordem com relativa abundância foi Diptera (81 ind.),
sendo Musca domestica Linnaeus, 1758 a espécie com maior abundância (53 ind.),
seguido por Cochliomyia macellaria (Fabricius) (12 ind.). Blattodea foram amostrados
66 indivíduos, distribuídos por dois gêneros e duas espécies (Blatella germanica
(Linnaeus, 1767), (15 ind.) e Periplaneta germanica (Linnaeus, 1758), (51 ind.)). A
ordem Orthoptera apresentou um abundância baixa com 32 individuos, distribuídos
em cinco gêneros e cinco espécies, sendo Calliptamus barbarus (Costas, 1758) com
maior abundância (18 ind.), seguido por Acheta domesticus (Linnaeus, 1758) (9 ind.).
Heteroptera apresentou baixa abundância com 15 indivíduos, em dois gêneros e duas
espécies. Sendo Podisus nigrispinus (Dallas, 1851) a espécie dominante (10 ind.),
seguido por Thyanta perditor (Fabricius, 1794), (5 ind.).
A ordem Hymenoptera teve como representante a família Formicidae, esta
apresentou grande riqueza. Formicidae foi o grupo mais representativo na amostragem,
36 espécies distribuídas em sete subfamílias e 23 gêneros. Solenopsis invicta
Buren, 1972 apresentou maior ocorrência nas áreas amostradas (9 oc.), seguida por
Camponotus balzani Emery, 1894 (8 oc.) e Forelius pusillus Santschi, 1922 (8 oc.), as
outras espécies tiveram uma frequência de ocorrência variando entre 7 e 1 ocorrência
por local de coleta.
Todos os indivíduos foram identificados ao nível de espécie e ou gênero, sendo
contabilizados 73 espécies/gênero distribuídos entre os 16 pontos amostrais. Sendo
que a maior riqueza foi observada no ponto 5 (27 sp.), seguido pelo ponto 11 (23 sp.)
e os pontos 7 e 10 com a riqueza de 21 espécies (Figura 1.).
Figura 1. Riqueza de espécies por ponto amostral na Área III - Fazenda Santa Rita.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 13
158
Os pontos 5, 11 e 10 encontram-se em área de Cerrado fechado, apresentando
uma grande riqueza de espécies de Formicidae e Coleoptera, indicadores de locais
fechados com vegetação abundante. Para o ponto cinco registamos a única ocorrência
de besouros das espécies de Xyleborus affinis Eichhoff 1868, Athate microelytrata
(Linnaeus, 1758) e Gnathocerus formicetorum Märkel, 1841. No ponto 10 registramos
a única ocorrência de Odontomachus bauri Emery, 1892. O ponto sete esta localizado
em área de Cerrado aberto, e deve uma grande riqueza de espécies de Scarabaidae,
uma subfamília de rola bosta, sendo representados pelas espécies Canthon mutabilis
e Onthophagus gazella adaptados a ambientes abertos e com impacto antrópico,
como observado em campo.
Segundo Dias et al. (2008), diferentes espécies de Formicidae têm requisitos
específicos em relação às condições ambientais, sendo que a estrutura de uma
comunidade de formigas é influenciada pelo comportamento individual das espécies
que a compõem. Fowler et al. (1991) e Kaspari (2000) afirmaram que diferenças
entre a composição e a estrutura da comunidade de Formicidae podem referir-se à
distribuição de recursos e nichos, bem como pelas estratégias utilizadas por esses
organismos para a sua obtenção.
4 | CONCLUSÃO
A entomofauna coletada na área III da Fazenda Santa Maria se apresentou como
sendo bioindicadora de área com alto grau de degradação ambiental. As espécies ali
ocorrentes são espécies adaptadas a esse ambiente, espécies comuns e oportunistas
na sua grande maioria, demonstrando a perda de diversidade de espécies pela ação
antrópica. Dessa forma a instalação do aterro sanitário nesta área não trará grandes
impactos para a entomofauna da região. Porém é necessário um monitoramento para
os insetos vetores de doenças aqui representados pela ordem Diptera. Devendo ter
uma maior atenção para que não ocorra a proliferação descontrolada desses insetos.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 13
160
CAPÍTULO 14
ESTIMATIVA DA PEGADA DO CARBONO DO USO DE
ENERGIA ELÉTRICA EM PROPRIEDADE CAFEEIRA
CERTIFICADA
Marcelo Silva Valdomiro
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
-IFSULDEMINAS, Muzambinho - Minas Gerais
Geraldo Gomes de Oliveira Júnior
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Sul de Minas Gerais IFSULDEMINAS, Muzambinho - Minas Gerais
Raphael Nogueira Rezende
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Sul de Minas Gerais IFSULDEMINAS, Muzambinho -Minas Gerais
Maurício Minchillo
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Sul de Minas Gerais IFSULDEMINAS, Muzambinho -Minas Gerais
Patrícia Ribeiro do Valle Coutinho
Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Sul de Minas Gerais IFSULDEMINAS, Muzambinho -Minas Gerais
Adriano Bortolottida Silva
Universidade José do Rosário Vellano UNIFENAS, Alfenas - Minas Gerais
RESUMO: A cafeicultura contribui para a
emissão de gases de efeito estufa (GEE),
como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4),
e óxido nitroso (N2O). O consumo de energia
elétrica é considerado uma fonte de emissão
indireta em inventários corporativos de GEE.
Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi
estimar a pegada de carbono do uso de energia
elétrica em um grupo de propriedade cafeeira
certificada no Sul de Minas.A estimativa das
emissões de dióxido de carbono equivalente
(CO2eq)ocorreu por meio da quantificação
do consumo de energia elétrica mensal em
quilowatt hora (KWh), no período 2014 a 2016,
sendo convertida em tCO2 MWh-1multiplicandose os valores encontrados pelo fator de emissão
mensal do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Os resultados demonstraram que foi estimada
uma emissão média para o período de estudo
de 35,25 tCO2MWh-1com as maiores emissões
observadas no ano de 2014, com 41,99 tCO2
MWh-1e as menores emissões no ano de 2016
com 23,62 tCO2 MWh-1. A pegada do carbono
média foi de 0,09, 0,08 e 0,05 tCO2eq por
hectare de café, para os anos de 2014, 2015 e
2016 respectivamente.
PALAVRAS-CHAVE: Cafeicultura; Emissões;
Gases de Efeito Estufa.
ESTIMATION OF THE CARBON FOOTPRINT
OF USE OF ELECTRIC ENERGY ON
CERTIFIED COFFEE PROPERTY
ABSTRACT: Coffee cultivation contributes
directly to the emission of greenhouse gases
(GHG),
beingthemainones,
carbondioxide
(CO2), methane (CH4), andnitrous oxide (N2O).
Energy consumption contributes in directly to
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 14
161
the increase of GHG emissions on the planet. In this sense, the objective of the present
study was to estimate the carbon footprint of the electric energy use in certified coffee
plantations in the South of Minas Gerais. The determination of carbon dioxid eequivalent
(CO2eq) emissions was carried out by quantifying the monthly energy consumption
spent in kilowatt hours (KWh) in 2014, 2015 and 2016 and later convertedto megawatt
hour (MWh) and calculated by multiplying the values found by the monthly specifice
mission factor of the Ministry of Science and Technology (MCT), and the total values
were divided by the area cultivated in coffee There sults showed that an average of
35.25 tCO2 MWh-1 was emitted, with the highest emissions observed in 2014 at 41.99
tCO2 MWh-1 and the lowest emissions in 2016 at 23.62 tCO2 MWh-1. The estimate of
the average carbon footprint was 0.09, 0.08 and 0.05 tCO2eq per hectare of coffee, for
the years 2014, 2015 and 2016 respectively.
KEYWORDS: CoffeeProduction, Emissions, Greenhouse Gases.
1 | INTRODUÇÃO
A cafeicultura destaca-se por ser uma das principais culturas agrícolas do país
e contribui direta e indiretamente para a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE),
sendo que os principais gases associados às suas atividades são o dióxido de carbono
(CO2), metano (CH4), e óxido nitroso (N2O)(BELIZARIO, 2013).
Ao longo dos últimos anos, tem-se observado que, a fim de alcançar novos
mercados, tem aumentado consideravelmente o número de propriedades cafeeiras
certificadas. Os distintos modelos de certificação, independente do selo ou apelo
comercial específico, levam em consideração princípios da sustentabilidade e as boas
práticas de produção(PEREIRA, 2013).
Dentre os princípios estabelecidos nos protocolos de certificação, a gestão e
consequentemente o controle do consumo de energia elétrica, apresentam-se como
requisito obrigatório. Segundo Oliveira Junior et al (2015), o consumo de energia
elétrica nos sistemas de produção cafeeira é considerado uma fonte de emissão
indiretade GEE.
A pegada do carbono mede as emissões totais de GEE causadas direta ou
indiretamente por uma organização para obtenção de determinado produto.Desta
forma, a pegada do carbono, apresenta-se como um importanteindicador ambiental
utilizado por empresas para avaliarem e contabilizarememissões de GEE, na realização
de suas atividades (SANTOS et al.,2013).
Portanto, o estudo da pegada do carbono de produtos agrícolas torna-se de
extremarelevância, uma vez que identifica e contabiliza o potencial de emissão de GEE
e possibilita a definição de estratégias para a redução das mesmas.Neste sentido,
o objetivou-seno presente estudo estimar a pegada de carbono do uso de energia
elétrica em um grupo de propriedades cafeeiras certificadas no Sul de Minas.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 14
162
2 | MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo de caso foi realizado em quatro fazendas produtoras de café
pertencentes ao Grupo Fazenda da Onça, apresentando uma áreaaproximada de
1828,58 ha, sendo que 462,94 ha são ocupados pela cultura do cafeeiro, localizadas
nos municípios de Guaranésia, Guaxupé e Monte Santo de Minas.
Para estimar as emissões indiretas de carbono equivalente (CO2eq) do consumo
de energia elétrica na propriedade, foi verificada inicialmente a quantidade de energia
elétrica gasta em quilowatt hora (KWh), referente aos anos de 2014, 2015 e 2016.
Posteriormente foi convertida para megawatt hora (MWh) e calculada a emissão em
dióxido de carbono equivalente (CO2eq), multiplicando-se os valores contabilizados
pelos fatores de emissão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) em tCO2eqMWh-1
para cada mês respectivamente (BRASIL, 2017).
A estimativa da emissão de CO2eqfoi obtida a partir da seguinte equação:
tCO2eq = CEE x FE
Em que:
tCO2eq - Emissão total de CO2 em toneladas;
CEE - Consumo de Energia Elétrica (MWh);
FE - Fator de Emissão mensal nacional do Ministério da Ciência e Tecnologia(tCO2eq
MWh-1).
O conjunto de dados utilizado no presente estudo foi baseado na quantidade
de energia elétrica gasta para a produção de café nas propriedades, sendo aplicada
estatística descritiva de média e frequência relativa percentual fr% para análise dos
resultados.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 1, estão apresentados os resultados das estimativas de emissões de
CO2MWh-1 decorrentes do consumo de energia elétrica para a produção de café no
período de 2014 a 2016. Pode-se observar uma redução das emissões totais de 1,83 e
18,37 tCO2 MWh-1 para os anos de 2015 e 2016 respectivamente, em relação a 2014.
Propriedade
Alvorada
Onça
Rosário
N.Floresta
Total
Consumo Anual
2014
2015
2016
MWh
16,42
20,82
16,50
242,63 259,15 235,26
36,95
36,88
29,41
7,67
7,46
5,66
303,68 324,30 286,83
2014
2,23
33,71
5,02
1,03
41,99
Emissão Anual
2015
2016
tCO2 MWh-1
2,60
1,35
32,04 19,39
4,59
2,41
0,93
0,47
40,16 23,62
Média
fr%(1)
2,06
28,38
4,01
0,81
35,25
5,84
80,50
11,37
2,29
100
Frequência relativa percentual
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 14
163
Tabela 1 - Estimativa da emissão média e total de tCO2MWh-1decorrentes do uso de energia
elétrica para a produção de café no período de 2014 a 2016.
Esta redução está relacionada à maior eficiência no consumo de energia, visto que
as propriedades certificadas são obrigadas a elaborarem planos de gestão energética,
como requisito obrigatório nos protocolos de certificação Utz, Starbucks e Rainforest
Alliance. As maiores emissões foram contabilizadas na propriedade Onça. Isto ocorre
porque a propriedade possui o maior centro de processamento de pós-colheita do
grupo e consequentemente o maior consumo de energia.
AFigura 1 demonstra que as maiores emissões acumuladas anuais ocorreram
nos meses de julho (12,56%) e agosto (12,86%) respectivamente, coincidindo com o
período de colheita do cafeeiro, momento em que ocorre naturalmente maior consumo
de energia nas instalações e utilização de equipamentos nas etapas de lavagem,
secagem e beneficiamento do café.
Figura 2- Representatividade das emissões mensais em % referentes ao período de 2014 a
2016.
Dividindo-se as emissões totais anuais, pela área ocupada de 462,94 ha para
a produção do cafeeiro, pode-se também determinar que a pegada do carbono foi
de 0,09, 0,08 e 0,05 tCO2eq por hectare de café, para os anos de 2014, 2015 e 2016
respectivamente. Oliveira Junioret al (2015), realizando trabalho sobre a emissão de
gases de efeito estufa na cultura do cafeeiro, demonstraram que o consumo de energia
contribuiu com 0,05 tCO2eq ha-1 representando 2,4% do total das emissões.
Ressalta-se que a determinação da pegada do carbono em função da emissão
de GEE, apresenta-se como fator de destaque para estabelecer a sustentabilidade
nos sistemas de produção de alimentos (DREWNOWSKI et al., 2015). Silva et al.
(2013) relataram que uma lavoura de café com 4 anos de idade tem a capacidade de
sequestrar 33,77 tCO2eq ha-1 da atmosfera, a partir dos processos fotossintéticos,
valor que também deve ser levado em conta em estudos de emissões de GEE.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 14
164
4 | CONCLUSÕES
A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que foram emitidos em média
35,25 tCO2MWh-1com as maiores emissões observadas no ano de 2014 com 41,99
tCO2 MWh-1e as menores emissões no ano de 2016 com 23,62 tCO2 MWh-1.A pegada
do carbono média foi estimada em 0,09, 0,08 e 0,05 tCO2eq por hectare de café, para
os anos de 2014, 2015 e 2016 respectivamente
REFERÊNCIAS
BELIZÁRIO, M. Estoque de carbono no solo e fluxo de gases de efeito estufa no cultivo de café.
2013. 143 f. Tese (Doutorado em Ciências) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, São
Paulo, 2013.
BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Fatores de emissão de CO2 para utilizações que
necessitam do fator médio de emissão do Sistema Interligado Nacional do Brasil, como, por
exemplo, inventários corporativos. Brasília, 2017. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/index.php/
content/view/74694.html> . Acessoem: 2 maio 2017
DREWNOWSKI, A.; REHM C. D.; MARTIN, A.; VERGER, E. O.; VOINNESSON, M.; IMBERT, P.
Energy and nutrient density of foods in relation to their carbon footprint. The American Journal of
Clinical Nutrition, p.184-91, 2015.
OLIVEIRA JUNIOR, G.G. de.; SILVA, A. B.; MANTOVANI, J. L.; MIRANDA, J. M.; FLORENTINO, L.
A. Levantamento de emissão de gases de efeito estufa pela metodologia do carbono equivalente na
cultura do cafeeiro. Coffee Science, Lavras, v.10, n. 4, p.412-419, 2015.
PEREIRA, S.P. Caracterização de propriedade cafeeiras com relação as praticas agrícolas:
Aplicação das análises de cluster e discriminantes 2013. 138p. Tese (Doutor em Agronomia e
Fitotecnia) - Universidade de Lavras, Lavras UFLA, 2013.
SANTOS, T. de L.; BARROS, V. da S.; FIGUEIRÊDO, M. C. B. de.; NUNES, A. B. de A.; GONDIM,
R. S.; SILVA, E. de O.; ARAGÃO, F. A. S. de; SOUSA, J.A. de. Pegada de carbono de produtos
agrícolas: estudo de caso do melão. Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical,34 p, 2013.
SILVA, A. B. et al. Estoques de carbono no solo e em plantas de cafeeiro (Coffeaarabica L.).
Interciência, Caracas, v. 18, n. 4, p. 286-291, 2013.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 14
165
CAPÍTULO 15
ESTUDO DO PROCESSO DE DEGRADAÇÃO DO
LIXIVIADO VIA OZONIZAÇÃO CATALÍTICA VIA
EQUAÇÃO ESTOCÁSTICA
Diovana Aparecida dos Santos Napoleão
Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de
São Paulo
Departamento de Ciências Básicas e Ambientais
Adriano Francisco Siqueira
Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de
São Paulo
Departamento de Ciências Básicas e Ambientais
RESUMO: A disposição dos resíduos sólidos
no aterro sanitário de Cachoeira Paulista
não pode ser considerada o ponto final do
tratamento, pois a água oriunda da degradação
dos resíduos e das chuvas, percola, originando
o lixiviado (chorume). O lixiviado apresenta em
sua composição altos teores de compostos
orgânicos e inorgânicos, nas suas formas
dissolvida e coloidal, liberados no processo
de decomposição do lixo. Neste contexto, este
trabalho tem como meta pesquisar o tratamento
do lixiviado in natura do aterro sanitário de
Cachoeira Paulista pelo processo oxidativo via
Ozonização Catalítica que permitirá comparar
e viabilizar os processos de degradação deste
tipo de efluente considerado um grave problema
de poluição ambiental. A avaliação do processo
oxidativo foi constituída de um planejamento
de experimentos Fatorial Fracionado 2k-p,
envolvendo alguns parâmetros específicos do
processo oxidativo selecionado para o estudo
de otimização das condições do processo
utilizando a Metodologia de Superfície de
Resposta. Para os experimentos relacionados
ao processo oxidativo via Ozonização Catalítica
foi determinada a concentração de carbono
orgânico total (TOC) para os experimentos
otimizados, sendo analisados todos os
parâmetros elucidados pelo Artigo 18 da
CETESB e CONAMA.
PALAVRAS-CHAVE: Ozonização Catalítica,
Lixiviado, Planejamento de Experimentos,
Modelagem Estocástica
ABSTRACT:The disposal of solid waste in
the landfill of Cachoeira Paulista can not be
considered the end of the treatment, once
the water that comes from the degradation of
waste and rain, percolates, originating leachate.
Leachate has in its composition high levels
of organic and inorganic compounds, in its
dissolved and colloidal forms, released in the
decomposition process of waste.
In this context, this research aims to understand
the treatment of the leachate in the landfill
in natura of Cachoeira Paulista by Catalytic
Ozonation oxidative processes and that will
allow to compare and enable the process of
degradation of this type of effluent, considered
a serious problem of environmental pollution.
The evaluation of each oxidative process was
consist in designed Fractional Factorial 2k-p
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
166
experiments in the step of the exploratory study, involving some specific parameters of
the oxidative process selected to feed the study of the process conditions optimization
used in the Response Surface Methodology. For experiments related to the oxidative
processes via Catalytic Ozonation, the total organic carbon concentration (TOC) were
determined for the optimized experiments, all parameters elucidated by Article 18 of
CETESB and CONAMA.
KEYWORDS: Catalytic Ozonation, Leachate, Experimental Design, Stochastic
Modeling
1 | INTRODUÇÃO
Um dos grandes problemas enfrentados pela sociedade moderna é a geração de
resíduos sólidos que está diretamente relacionada ao desenvolvimento das atividades
humanas. Mundialmente, o avança da tecnologia e a urbanização conduzem ao
aumento do consumo de produtos pela população e consequentemente contribui com
o volume de resíduos que são descartados anualmente (COSTA et al, 2019).
Mais de 1 bilhão de resíduos são produzidos anualmente e este volume aumentará
nos próximos anos, alcançando 2,2 bilhões de toneladas em 2025. Aproximadamente
215 toneladas de resíduos sólidos são gerados no Brasil, equivalendo a 1.033 kg
por habitantes/dia (ABRELPE, 2017). Em torno de 59,1% deste resíduo destina-se
a aterros sanitários, enquanto 40,9% dos resíduos coletados no território brasileiro,
correspondente a 80 mil ton/dia descartadas inadequadamente em aterros sanitários
ou lixões abertos.
Com o estabelecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos e a
implementação de ações relacionadas à disposição correta dos resíduos sólidos,
pretende-se alcançar as seguintes metas:
i. Proteção à saúde pública
ii. Redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final dos resíduos
sólidos
iii. Estímulo de padrões sustentáveis de produção e consumo
iv. Adoção e aprimoramento de tecnologias limpas
Os resíduos sólidos depositados em aterro sanitário são submetidos a processos
de decomposição química e biológica, dando origem a efluentes líquidos e gasosos.
As fases gasosas, compostas por CH4, CO2 e vapor de água, são liberadas para o
meio ambiente, podendo ser queimadas ou aproveitadas como energia (El FADEL et
al., 2002). A fração líquida, denominada chorume, é formada pela umidade contida nos
resíduos e pelo aporte das precipitações e outros tipos de infiltrações que percolam no
aterro, carregando os produtos de degradação (BAUN et al., 2003).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
167
O impacto produzido pelo chorume no meio ambiente é acentuado principalmente
em relação à poluição das águas, podendo causar redução do teor de oxigênio
dissolvido e, consequentemente, alteração da fauna e flora aquática (CHRISTENSEN
et al., 2001; FENT, 2003). Estudos realizados demonstram que efeitos adversos podem
ser observados no solo, mesmo a distâncias superiores a 100 m do aterro, assim
como alterações na biota aquática, principalmente nas imediações da descarga. Por
este motivo, a implementação de sistemas de coleta e tratamento para este efluente
é absolutamente essencial.
De maneira geral, para chorume as tecnologias integradas envolvem a utilização
de processos biológicos e físico-químicos, estes últimos objetivando o aumento da
biodegradabilidade da matriz (pré-tratamento) de acordo com as normas da legislação
ambiental vigente (HOLKAR et al., 2016; GARCIA-SEGURA et al., 2016). De acordo,
com a crescente preocupação com as questões ambientais, torna-se imprescindível o
desenvolvimento de tecnologias ecologicamente corretas e economicamente viáveis
para o tratamento dos efluentes.
Neste trabalho, a potencialidade do processo oxidativo avançado mediante
a utilização do sistema de Ozonização Catalítica para maximizar a degradação do
efluente é avaliado, principalmente, considerando-se a sua contribuição relacionada
ao aumento da biodegradabilidade da matriz orgânica.
1.1 Processo de ozonização catalítica
Esta tecnologia pode ser considerada como um processo homogêneo, que é
baseado na ativação do ozônio por íons metálicos presentes em solução aquosa, ou
como um processo heterogêneo se na presença de óxidos metálicos ou óxidos metálicos
suportados. São reportados pela literatura reações do ozônio molecular com grande
número de compostos inorgânicos (mais de 50 espécies), apresentando cinéticas de
segunda ordem constantes. Alguns destes são muito reativos, independente do pH
(como sulfito, sulfeto e nitrito), enquanto outros exibem constante cinética baixa em
meio ácido e um aumento significativo na reatividade com o aumento do pH (como
ácido hipocloroso, ácido hipobromoso e amônia). Fe(II) e Mn(II), que estão presentes
em águas naturais, podem ser prontamente oxidadas por ozônio gerando óxidos
insolúveis facilmente removíveis por filtração.
A ozonização catalítica homogênea constitui uma importante tecnologia de
tratamento para a remoção de compostos refratários ao processo de ozonização, seja
pelo processo direto ou indireto. É capaz de atingir elevadas taxas de mineralização da
matéria orgânica, principalmente em meio ácido, o que não é observado pelo processo
de ozonização convencional devido à formação de compostos refratários. Além
disso, compostos sequestradores de radicais hidroxila não interferem no processo
de ozonização catalítica, provavelmente devido à formação do complexo entre o íon
metálico e o contaminante, que por fim será oxidado pelo ozônio. Como resultado, os
processos catalíticos apresentam maior eficiência de remoção de carga orgânica e
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
168
reduzido consumo de ozônio. No entanto, algumas considerações devem ser feitas,
quando da aplicação do processo catalítico:
i) a solubilidade do catalisador no meio racional;
ii)a dificuldade de reuso dos catalisadores empregados;
iii) necessidade de utilização de técnicas de remoção dos íons utilizados
devido ao caráter tóxico dos mesmos e/ou efeitos adversos não desejados
(ASSALIN, 2004).
PEIXOTO (2008) estudou o efeito dos metais Fe2+, Fe3+, Mn2+, Ni2+, Cr3+, na
ozonizacão catalítica homogênea do chorume proveniente do antigo aterro sanitário
da cidade de Guaratinguetá - SP. Além das concentrações dos metais Fe2+, Fe3+, Mn2+,
Ni2+, Cr3+, o pH do meio reacional , vazão de ozônio, presença e ausência de fonte de
radiação UV (254 nm) também foram os fatores estudados. Obteve uma degradação
máxima da demanda química de oxigênio (DQO) da ordem de 50%. Neste processo
os fatores que apresentaram resultados consideráveis foram a vazão de O3 (589,9 mg
L-1 O3), a concentração de Fe2+ (10 mg L-1) e de Fe3+ (5 mg L-1 e o pH 5.
SOUZA (2011) estudou o efeito do íon Fe3+ na catálise do processo de ozonização
do lixiviado proveniente do aterro sanitário da cidade de Cachoeira Paulista – SP.
Avaliou a potência do ozonizador, a vazão do ozônio e a concentração do íon Fe3+ no
processo. Obteve uma degradação máxima da demanda química de oxigênio (DQO)
da ordem de 62% e carbono orgânico total (COT) de 77%. As condições otimizadas do
processo foram a vazão da corrente de O2 alimentada ao gerador em 2 L h-1, potência
do ozonizador em 50 W e a concentração do íon férrico igual a 100 mg L-1.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Amostra e condições de preservação
O chorume foi coletado do aterro sanitário de Cachoeira Paulista, homogeneizado
e acondicionado a 4 ºC, em uma câmara fria, durante todo o tempo de desenvolvimento
do estudo (BILA et al., 2005; MORAIS e ZAMORA, 2005).
2.2 Caracterização analítica do lixiviado segundo parâmetros descritos pela
legislação
Com o propósito de reduzir a interferência causada pela matéria orgânica e
converter íons e metais associados com partículas para uma forma capaz de ser
caracterizada por métodos espectrofotométricos e pela técnica espectrométrica de
absorção atômica, é necessário um tratamento prévio (destilação, extração e digestão
ácida) do efluente (chorume) antes de qualquer procedimento analítico. Desta forma,
um pré-tratamento específico do lixiviado (calcinação, digestão ácida, extração/
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
169
destilação ou combinação destes procedimentos) foi realizado e validado antes de
qualquer determinação dos elementos, segundo Standard Methods (20ª Edição;
APHA, 1999).
As análises de DBO (5 dias) a 20 ºC e de DQO, de materiais sedimentáveis,
de óleos e graxas, e de fenol também serão analisados segundo procedimentos
descritos pelo Standard Methods. Para a validação das metodologias empregadas,
testes de recuperação de cada elemento metálico e íons específicos serão realizados,
otimizando, assim, a melhor técnica de preparação e determinação analítica, em
virtude da complexidade da composição do lixiviado
2.3 Modelagem de degradação do processo oxidativo do lixiviado via processo
estocástico
Alguns
trabalhos
sobre
POA (MONJE-RAMIREZ,
VELÁSQUEZ,
2004;
GUIMARÃES et al., 2008; NAPOLEÃO et al., 2016) a modelagem das variações de
fatores respostas de planejamentos de experimentos, como o caso de DQO e TOC,
em função das diversas condições experimentais, tem sido realizada com técnicas de
planejamento de experimentos, redes neurais artificiais e análise multivariadas. Por
outro lado, o estudo de equações diferencias estocásticas (EDS) encontra-se bastante
desenvolvido na literatura com a publicação de trabalhos como DURRETT (1996) e
KLEBANER (1999) citando várias aplicações práticas das EDS. Um bom modelo de
EDS, que consiga simular a variação da DQO e TOC pode ser usado para previsões
e validações das condições ótimas definidas no estudo estatístico.
Outro ponto importante é que a partir da identificação das variáveis mais
significativas para o tratamento por POA, obtidos pelo planejamento de experimentos,
pode-se desenvolver um estudo sistemático para identificar como os parâmetros do
modelo da EDS variam em função das condições experimentais. Isto será útil para
uma melhor compreensão de como os fatores e variáveis estudados influenciam
no processo de degradação do lixiviado. Esta proposta apresenta uma continuação
da abordagem no estudo das variações de variáveis respostas (DQO e TOC) pelas
equações diferencias estocásticas SIQUEIRA et al. (2013). Para isso, consideraremos
as funções f e g apresentadas na Equação 1:
Além disto, será considerado o W(t) um Wiener Process, com uma descrição
matemática do movimento Browniano proposto por Norbet Wiener. O Wiener
Process foi definido com sendo um processo Gaussiano contínuo com incrementos
independentes com:
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
170
Onde E(w(t))=0 e Var(w(t)-w(s))= t-s, t >s. A distribuição de probabilidade de w(t)w(s) é uma normal com média zero e variância t-s. Para o desenvolvimento deste
Projeto será utilizada a equação diferencial estocástica de Itô que apresenta a forma
expressa na Equação 2. De acordo com KLEBANER (1999), a Equação 2 possibilita
interpretar a função f como sendo um valor médio da variável xt e g com sendo uma
medida do desvio padrão das variações de xt. A partir de dados experimentais obtidos
por um processo oxidativo de lixiviado, uma proposta EDS, apresentada em SIQUEIRA
et al. (2013), para o estudo da variação da taxa de carbono orgânico (COT) é expressa
pela Equação 3.
As constantes a, b, c, k e p são os parâmetros do modelo dependentes das
condições experimentais e serão estimadas de acordo com a metodologia apresentada
por Siqueira et al. (2013). Assim, nesta proposta verificou-se a adequação e as alterações
necessárias deste modelo para que seja possível descrever satisfatoriamente as
variações de COT durante o tratamento do lixiviado.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Caracterização analítica do chorume in natura do aterro sanitário de
Cachoeira Paulista-SP
A Tabela 1 apresenta alguns dos resultados das análises físico-químicas do
chorume in natura da cidade de Cachoeira Paulista-SP e os valores de descarte
permitidos pelas legislações estabelecidas no Artigo 18 – CETESB e CONAMA. O
resultado encontrado para o valor de DQO (5335,8 mg/L) é considerado elevado e
deve estar relacionado a fatores correspondentes ao tipo de resíduo, clima e a forma
de disposição final do resíduo, bem como o tempo de funcionamento do aterro.
O pH do chorume sofre grandes variações dependendo das fases de degradação
dos resíduos. A alcalinidade pode ser devido à presença de bicarbonatos, carbonatos
ou hidróxidos e representa a capacidade do meio em resistir a possíveis oscilações do
pH. Em relação aos óleos e graxas existe limite máximo segundo a legislação federal.
Óleos minerais até 20 mg/L e óleos animais e vegetais até 50 mg/L. O valor encontrado
para o chorume analisado está acima do limite máximo permitido, provavelmente, em
função da adsorção da gordura vegetal de uso doméstico.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
171
A quantidade de Nitrogênio Amoniacal monitorada está elevada, acima do
permitido, podendo ocasionar vários problemas, quando descartada diretamente
nos corpos receptores sem tratamento prévio, ocasionando o crescimento de algas,
decréscimo de oxigênio dissolvido e tóxico para a biota aquática, sendo este fenômeno
denominado de eutrofização.
CONAMA
357/05 e 430/11
Remoção
mínima de 60%
2300,5
CETESB
Artigo 18
Até 60 ou remoção
mínima de 80%
-
2102,1
-
20
232,6
-
-
471
5711,4
8,5
302
20
5,0 a 9,0
40
50
75
5,0 a 9,0
100
Parâmetros
Valores
DQO (mg O2/L)
5335,8
DBO5 (mg O2/L)
208,5
COT (mg C/L)
Nitrogênio Amoniacal
(mg N-NH3/L)
Nitrogênio Orgânico
(mg Norg/L)
Óleos e graxas (mg/L)
Cor (Pt-Co/mg/L)
pH
Turbidez (NTU)
Tabela 1- Valores dos parâmetros analíticos do chorume do aterro sanitário de Cachoeira
Paulista – SP
3.2 Avaliação do modelo estocástico no tratamento químico do chorume em
relação ao COT - Processo de Ozonização Catalítica
As Figuras 1, 2 e 3 apresentam o ajuste do modelo em algumas condições
experimentais realizadas no processo de Ozonização Catalítica para tratamento do
chorume. Nas condições experimentais consideradas foi possível observar o ajuste do
modelo e também o bom comportamento das simulações estocásticas para reproduzir
as variações experimentais da conversão de COT no processo de Ozonização
Catalítica.
Figura 1- Conversão do COT para o nível inferior da vazão de ar e concentração de Fe2+ e nível
superior para o pH
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
172
Figura 2- Conversão de COT para o nível central da vazão de ar, concentração de Fe2+ e pH
Figura 3- Conversão de COT para o nível superior da vazão de ar e nível inferior para a
concentração de Fe2+ e pH
3.3 Análise do parâmetro a associado a conversão do COT no processo de
Ozonização Catalítica
Aplicando a técnica proposta por (SIQUEIRA et al., 2013, SIQUEIRA et al., 2016)
é possível obter a Equação 4 para o parâmetro a:
De acordo com o modelo estocástico os valores do R2 calculados foram de
93,92% e do R2 ajustado correspondente a 90,88% para o COT. A Tabela 2 apresenta
os coeficientes da regressão referentes à Equação 4.
Coeficientes
0,0010011
-0,0003626
0,0004210
Termos
Constante
3
A*C
4
A
1
1
2
T
18,2597
-5,5560
6,4519
P
0,000
0,005
0,003
T Student; 2P-valor; 3A*C = vazão de ar*pH; 4A = vazão de ar
Tabela 2- Coeficientes de regressão referentes ao parâmetro a
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
173
Com base no P-valor apresentado na Tabela 9 tanto a vazão de ar como o pH
influenciam na inclinação do patamar. A Equação 4 evidencia que os maiores valores
do parâmetro a são encontrados para a vazão de ar num nível superior e o pH num
nível inferior. Além disso, observou-se também uma interação significativa entre as
variáveis vazão de ar e pH.
3.4 Análise do parâmetro b associado a conversão do COT no processo de
Ozonização Catalítica
De acordo com o parâmetro b relacionado ao modelo estocástico para o processo
de degradação do COT, o modelo auxiliar foi descrito através da Equação 5:
Os valor do R2 calculado foi de 97,69% e do R2 ajustado corresponde a 95,38%
para o parâmetro b, apresentando um ajuste satisfatório para a conversão do COT. A
Tabela 3 apresenta os coeficientes da regressão referentes à Equação 5.
Termos
Constante
3
A*B
4
C*C
5
B
Coeficientes
0,310997
-0,053429
0,096084
0,034743
1
2
T
29,2310
-7,6709
7,5559
4,9882
P
0,000
0,005
0,005
0,015
T Student; 2P-valor; 3A*B= vazão de ar*concentração de Fe2+; 4C*C= pH*pH; 5B= concentração
de Fe2+
1
Tabela 3- Coeficientes de regressão referentes ao parâmetro b
No parâmetro b as variáveis consideradas foram a concentração de Fe2+ e o pH,
conforme a análise do P-valor apresentado na Tabela 3. Para este parâmetro os maiores
valores obtidos na condição experimental estão relacionados com a concentração do
Fe2+ no nível superior e o pH no nível inferior de acordo com a Equação 3.
3.5 Análise da otimização da degradação do COT por Ozonização Catalítica
Com o objetivo de otimizar o processo, as Equações 4 e 5 sugerem que o aumento
da vazão de ar possibilitaria uma conversão maior do COT no processo de tratamento
do chorume por Ozonização Catalítica. A análise estatística também evidenciou que
para a conversão do COT os maiores valores de degradações ocorreram no nível
superior da vazão de ar no planejamento experimental executado.
De acordo com os resultados anteriores, foi realizado um experimento teste em
duplicata para avaliar os efeitos da conversão de COT, utilizando o dobro da vazão
de ar (no início utilizou-se 0,75 L/min e para o experimento teste considerou-se 1,5
L/min), a concentração de Fe2+ no nível superior e o pH no nível inferior. Com esse
experimento foi possível também avaliar a capacidade de extrapolação do modelo
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
174
estocástico para prever a conversão do COT, após 60 minutos.
Baseado no estudo do planejamento experimental, a análise dos parâmetros a
e b do modelo estocástico indicou ser a melhor condição para obter um aumento na
conversão da degradação do COT. As Equações 4 e 5 do modelo auxiliar apontaram
que o aumento da vazão de ar poderia elevar a conversão da degradação de COT no
processo do tratamento do chorume. Esse experimento auxiliou também para avaliar
a capacidade de extrapolação das Equações 4 e 5 em condição experimental fora
da região experimental estudada anteriormente. Os resultados das estimativas dos
parâmetros a e b obtidos para a condição experimental em estudo são apresentados
na Tabela 4, bem como a margem de erro dessas estimativas.
Parâmetros a e b
Valores
a
0,00256832 ± 0,0007
b
0,4952075 ± 0,08
Tabela 4- Previsão dos valores para os parâmetros a e b com o dobro da vazão de ar
O ajuste do modelo nos dados obtidos nas condições do experimento teste é
apresentado na Figura 4, evidenciando um bom ajuste do modelo estocástico nas
condições de estudo para o processo de Ozonização Catalítica referente ao tratamento
do chorume. Os valores calculados dos parâmetros a e b para este experimento são
apresentados na Tabela 5.
Figura 4- Conversão de COT para o dobro da vazão de ar, nível superior para a concentração
de Fe2+ e nível inferior para o pH
Parâmetros a e b
a
Valores
0,0025 ± 0,0005
b
0,59 ± 0,04
Tabela 5- Previsão dos valores reais para os parâmetros a e b com o experimento
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
175
Considerando as informações dos parâmetros a e b, do valor médio de k que foi
de 0,58, possibilitando fazer uma estimativa para a conversão após 60 minutos nas
condições do experimento teste. Este valor calculado através da Equação 6 foi de
0,64, considerando a margem de erro do modelo entre 0,52 e 0,83.
Os valores experimentais de conversão após 60 minutos foram 0,73 e 0,77,
portanto, dentro da margem de erro estimada para a conversão obtida na extrapolação
do modelo estocástica referente às condições do experimento teste. Dessa forma,
o estudo teste apresentou evidências de que o aumento da vazão de ar propicia o
aumento na conversão da degradação de COT.
4 | CONCLUSÃO
Para o processo de Ozonização Catalítica a análise estatística evidenciou que para
a conversão do COT os maiores valores ocorreram com a vazão de ar e concentração
de Fe2+ no nível superior. O estudo do modelo estocástico conseguiu reproduzir
as variações dos dados experimentais para a conversão do COT, identificando a
concentração de Fe2+ como significativa de acordo com a análise estatística realizada.
De acordo com as equações do modelo auxiliar foi observado que o aumento da vazão
de ar resultou numa conversão maior do COT em torno de 64% no meio reacional
estudado.
5 | AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo – FAPESP pelo suporte financeiro que possibilitou a execução desta pesquisa
(Proc. 2014/21364-3; Proc. 2017/19211-2). Ao Laboratório de Análises Ambientais
e Hídricas da Escola de Engenharia de Lorena – EEL/USP que contribuiu com a
execução das atividades vinculadas ao estudo.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 15
178
CAPÍTULO 16
GERENCIAMENTO AMBIENTAL DE ÓLEOS
LUBRIFICANTES
Izac de Sousa Vieira
Faculdade Integral Diferencial – Facid Wyden
Teresina-PI
Yuri José Luz Moura
Faculdade Integral Diferencial – Facid Wyden
Teresina-PI
Lívia Racquel de Macêdo Reis
Faculdade Integral Diferencial – Facid Wyden
Teresina-PI
José Weliton Nogueira Júnior
Faculdade Integral Diferencial – Facid Wyden
Teresina-PI
RESUMO: Este trabalho apresenta um
estudo bibliográfico sobre os destinos dados
aos resíduos e efluentes gerados pelos
óleos lubrificantes, apresentando às normas,
regulamentos e diretrizes estabelecidas pelos
órgãos competentes baseados na resolução do
CONAMA 362/2005 e Associação Brasileira de
Normas Técnicas - ABNT, em sua NBR-10004, o
qual dispõe sobre o gerenciamento de descarte
do óleo lubrificante de forma correta, uma vez
que, a partir da adequada gestão de resíduos,
estar-se-á contribuindo de forma efetiva para o
controle e preservação ambiental.
PALAVRAS-CHAVE: Óleo Lubrificante, Meio
Ambiente, Gerenciamento Ambiental
ENVIRONMENTAL MANAGEMENT OF
LUBRICATING OILS
ABSTRACT: This work presents a bibliographic
study on the destinations given to residues
and effluents generated by lubricating oils,
presenting the rules, regulations and guidelines
established by the competent bodies based
on the resolution of CONAMA 362/2005 and
the Brazilian Association of Technical Norms
- ABNT, in its NBR-10004, which provides on
the management of disposal of lubricating oil
in a correct way, since, from the proper waste
management, it will be contributing effectively to
the control and environmental preservation.
KEYWORDS:
Lube
Oil,
Environment,
Environmental Management
1 | INTRODUÇÃO
Sabe-se que óleo lubrificante é um
derivado de petróleo que possui diversas
utilidades em várias atividades, como em
sistemas
hidráulicos,
motores,
turbinas,
ferramentas de corte, entre outros. E, no
decorrer de sua utilização, ocorre a degradação
termoxidativa e o acúmulo de contaminantes,
tornando-se necessária à sua troca. Assim, o
descarte do óleo usado ou contaminado deve
ser descartado de forma correta, uma vez que
não havendo o gerenciamento correto desse
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
179
descarte, pode acarretar prejuízos ambientais irreversíveis devido aos resíduos
perigosos que contém, tais como metais pesados, ácidos orgânicos, hidrocarbonetos
policíclicos aromáticos e dioxinas, todos classificados como perigosos como afirma
SINDIRREFINO (2014).
Verificar qual é o destino dado aos resíduos e efluentes gerados pelos óleos
lubrificantes tornou-se um ponto relevante no que tange viver de forma harmoniosa
com o meio ambiente. Pois, ainda que as questões relativas aos problemas ambientais
serem tão antigas, é perante essa situação, de degradação do meio ambiente, que
hoje pode-se observar nos noticiários, diariamente, as mais variadas catástrofes
naturais, que ocorrem em todo o mundo como por exemplo as enchentes, as secas,
terremotos, o efeito estufa, deslizamentos, rios contaminados e mortes devido ao
descarte inadequado dos resíduos (Pires, 2004)
De acordo com a resolução do CONAMA 362/2005 que dispõe sobre o óleo
lubrificante usado ou contaminado, é um resíduo perigoso pois apresenta toxicidade
como afirma Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, em sua NBR-10004,
e, portanto, deve ser recolhido, coletado e ser descartado de forma adequada, uma
vez que o produtor e o importador de óleo lubrificante são os responsáveis pela coleta
ou garantia de que a coleta tenha sido feita bem como dada destinação final ao Óleo
Lubrificante Usado ou Contaminado (OLUC).
Em 2010 foi promulgada a Lei nº. 12.305, que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) e apresenta disposições referentes aos princípios, objetivos
e instrumentos, bem como diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento
de resíduos sólidos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos
instrumentos econômicos aplicáveis.
Para efeito das resoluções citadas acima, o acompanhamento e a aplicação e
implementação da regulamentação sobre o óleo lubrificante usado ou contaminado, a
resolução do CONAMA 362 de 2005 rege um Grupo de Monitoramento Permanente
(GMP) que desenvolve encontros técnicos regionais, afim de que sejam executadas
as políticas ambientais conforme é pautada pelo complexo sistema de legislações e
regulamentações instituídas.
Assim, Keohane (1998) diz que a política ambiental deve ser estabelecida a partir
de duas questões: qual o nível de proteção ambiental desejado e qual o instrumento
político que deve ser aplicado para realizar tal proteção. Além dos mais que as políticas
públicas e as ações governamentais de cunho ambiental são norteadas pelo Poder
Público, a fim de regulamentar através de diretrizes normativas e regulação de uso e
preservação de recursos naturais.
Este estudo mostra a questão ambiental quanto a preocupação com os elementos
poluentes e com os consequentes danos que os óleos lubrificantes podem causar ao
ambiente, devido a ações de descarte de forma errada e apresenta propostas que
torna possível a pratica de atitudes que podem mitigar os impactos gerados ao meio
ambiente, visando à importância da aplicação da gestão ambiental, que através de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
180
políticas públicas e as ações governamentais de cunho ambiental gerenciadas pelo
Poder Público, regulamentam através de diretrizes normativas e regulação de uso e
preservação de recursos naturais.
2 | OBJETIVOS
Diante da necessidade com relação aos destinos dados aos resíduos e
efluentes gerados pelos óleos lubrificantes, este estudo visa apresentar às normas,
regulamentos e diretrizes estabelecidas pelos órgãos competentes, uma vez que, a
partir da adequada gestão de resíduos, estar-se-á contribuindo de forma efetiva para
o controle e preservação ambiental.
3 | METODOLOGIA
Baseado na resolução do CONAMA 362/2005 que dispõe sobre o óleo lubrificante
usado ou contaminado e a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, em sua
NBR-10004 que dispõe sobre o gerenciamento de descarte do óleo lubrificante de
forma correta, foi realizada uma revisão da literatura bibliográfica por meio de consulta
às normas internacionais da série ISO 14000 e fontes acadêmicas como livros, teses,
dissertações, monografias, artigos e etc, sobre o tema proposto assim como, foram
realizados acessos à internet e em sites de órgãos públicos, onde foram retiradas
informações buscando melhor embasamento técnico e teórico para o estudo.
4 | CONTEXTUALIZAÇÃO E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Na composição dos óleos lubrificantes usados ou contaminados (OLUC),
encontram-se contaminantes como poeira, combustível, água e metais tais como
zinco, ferro, chumbo, níquel e cobre que apresentam grande potencial de impactos
ambientais quando não gerenciados adequadamente. Como exemplo, Oliveira e
Temoteo (2011) afirma que um litro de óleo é suficiente para contaminar um milhão
de litros de água e um litro lançado ao solo pode formar uma película de 5.000 m2,
deixando o solo impróprio para a agricultura.
Uma das técnicas mais utilizadas no Brasil, tem sido a atividade de rerrefino, pois
além de ser preventivo apresenta impactos econômicos positivos segundo o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA (2008)
O processo de rerrefino consiste basicamente na remoção de contaminantes
que compõe o OLUC, incluindo metais pesados, água, poeira e materiais particulados,
possibilitando obter novos óleos lubrificantes básicos prontos para nova utilização
como afirma o Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais –
SINDIRREFINO (2012). Assim com a utilização dessa técnica obtêm-se menor
consumo de petróleo, podendo ser reutilizado diversas vezes e, além disso, apresenta
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
181
propriedades melhores do que o óleo de primeiro refino, cuja característica de oxidação
é maior em comparação ao óleo rerrefinado (Udonne, 2011).
4.1 Monitoramento e controle ambiental
A cadeia de óleo lubrificante no Brasil é fortemente legislada e monitorada por
órgãos de controle públicos. Dentre eles está o Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA nº 362/2005, que altera a resolução anterior nº 09 de 1993 e institui o Grupo
de Monitoramento Permanente (GMP), constituído pelo MMA, MME, Ministério das
Cidades, IBAMA, ANP, ABEMA, ANAMMA, SINDICOM, SINDIRREFINO, SIMEPETRO
e ONGs Ambientalistas, os quais regulamentam as diretrizes de descarte do OLUC,
estabelecendo como destinação final correta deste resíduo e seu encaminhamento
para o rerrefino.
Como já é de conhecimento da sociedade, os principais poluentes de origem
industrial que são capazes de degradar o meio ambiente estão o petróleo e seus
derivados, visto que em contato com a água, formam uma emulsão de fácil propagação
e difícil remoção. Uma vez que o óleo presente na água forma na superfície do corpo
d’água é um filme flutuante insolúvel que impede a transferência de oxigênio do ar
para a água, aumentando a carga orgânica e corpos d’água e degradando-os (Silveira,
Caland, Moura & Moura, 2006).
Para controle e armazenamento dessas substâncias perigosas como o óleo
lubrificante, a NBR 12235/1992 define que é necessária uma contenção temporária
autorizada pelo órgão ambiental competente para ser encaminhado a reciclagem,
recuperação ou disposição final adequada, atendendo as condições básicas de
segurança. Ou seja, não se deve descartar em qualquer lugar o óleo lubrificante seja
ele de motor diesel, sistema hidráulico, transmissões mecânicas, entre outros.
Gerhadt et al. (2014), afirma em seus estudos que tais lubrificantes apesar
de serem uteis na indústria e em seus derivados segmentos, devem portanto, ser
rigorosamente regidos e regulamentados de acordo com as normas e diretrizes
regulamentadoras específicas, às quais possam regularizar seu destino final sem
causar danos e impactos ao meio ambiente.
4.2 Consumo de óleos lubrificantes
De acordo com a Resolução CONAMA nº 362/2005, todos os agentes da cadeia
logística do OLUC têm responsabilidades em relação a eficiente logística reversa do
OLUC e de seus resíduos periféricos e, ainda, prevê o recolhimento total do OLUC no
País.
Segundo o Boletim de Lubrificantes - Ano 3 / n° 13 / março de 2018 publicado
pela Superintendência de Distribuição e Logística (SDL), que tem por objetivo fornecer
informações atualizadas, mensalmente, sobre o mercado brasileiro de lubrificantes, nos
mostram que a cada dia que se passa a quantidade de lubrificantes usados aumenta.
Como exemplo a tabela 01 nos mostra valores que foram coletados no período de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
182
janeiro/2018 a fevereiro/2018 dado volumes em litros (L).
Tabela 01- Coleta vs Certificado de Recebimento/fonte: Boletins ANP – 2018
Diante dos números apresentados na tabela acima, fica explicito que o
gerenciamento tem que existir, uma vez que a produção de óleo contaminado ou
usado cresce a cada dia q se passa. E, como se sabe, a NBR-10.004/2004 afirma
que o óleo lubrificante usado (OLUC) é classificado como resíduo perigoso por conter
contaminantes como ácidos orgânicos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, metais
pesados e dioxinas, justificando o aparato normativo que regula o manejo e destinação
ambientalmente adequada.
Portanto BRASIL (2013) reafirma determina que todo óleo usado tenha como
destino o rerrefino, considerando como o método ambientalmente mais seguro para a
reciclagem do óleo usado, sendo, portanto, a melhor alternativa de gestão ambiental
deste tipo de resíduo.
5 | RESULTADOS E DISCUSÃO
Com base nos indicadores apresentado na tabela 01, é possível perceber um
crescimento de óleo lubrificante usado ou contaminado apenas em um período de
dois meses. Assim, fica evidente que se não tiver o devido controle gerencial do
descarte desses resíduos, o meio ambiente será o elemento que sofrerá as agressões
degradantes em seu sistema. Além dos mais, a reciclabilidade do óleo usado é um
elemento importante não somente do ponto de vista ambiental, pois evita novas
extrações e descartes inadequados, mas também econômico, pois, os resíduos
ainda possuem valor a ser extraído e recuperado. Como por exemplo, a utilização do
processo de rerrefino do óleo usado que objetiva na remoção de contaminantes que
compõe o OLUC, incluindo metais pesados, água, poeira e materiais particulados,
possibilitando obter novos óleos lubrificantes básicos prontos para nova utilização
têm sido bastante utilizados. Ficando claro que existem normas regulamentadoras
e diretrizes estabelecidas por órgãos públicos, como o Conema, GMP, IBAMA,
entre outros que regem as políticas públicas e as ações governamentais de cunho
ambiental e norteiam pelo Poder Público as diretrizes normativas e regulação de uso
e preservação de recursos naturais e, que devem ser seguidas fielmente.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
183
6 | CONCLUSÃO
A partir das evidências apresentadas é possível concluir que políticas públicas
e ações governamentais relacionadas a questões ambientais integradas com o setor
produtivo e participação da sociedade civil, no que refere ao tratamento e disposição
de resíduos possuem potencial para interferir positivamente na gestão dos resíduos
no país. Uma vez que a atual crise ambiental leva a sociedade a cobrar de seus
dirigentes ações, a fim de mitigar os impactos ao meio ambiente, tornando possível
a sociedade um anseio por sustentabilidade, por viver mais harmoniosamente com o
meio ambiente. Afinal, é de todo esse meio ambiente que retiramos nossas fontes de
alimento, trabalho, energia para se viver. Portanto, destruí-lo não é uma atitude sabia,
e sim egoísta.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 16
185
CAPÍTULO 17
ICMS ECOLÓGICO POR BIODIVERSIDADE
COMO INCENTIVO A CRIAÇÃO DE UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
Francelo Mognon
Maria do Rocio Lacerda Rocha
Guilherme de Camargo Vasconcellos
RESUMO: Unidades de Conservação são
estratégias de conservação ambiental praticadas
em várias partes do mundo. Entretanto, demais
interesses, dificultam o aumento de áreas
protegidas. Desta forma, políticas públicas
são fundamentais para proporcionar proteção
ambiental com percepções econômicas,
estabelecendo a compensação financeira, como
forma de incentivo a práticas conservacionistas,
sendo o Estado do Paraná pioneiro na
regulamentação. Assim, o objetivo deste
estudo foi avaliar a evolução da criação de UC
Municipais, por meio do Cadastro Estadual de
Unidades de Conservação e Áreas Protegidas
(CEUC) utilizando informações dos últimos 20
anos. Observou-se que em 1997 já existiam 54
UC municipais em 29 municípios, sendo 89%
de Proteção Integral, mantendo essa proporção
para o ano de 2016, que resultou 140 UC
em 76 municípios. Em termos de superfície
protegida, as UC com gestão municipal em
1997 correspondiam em 21,8 mil ha, ocorrendo
um incremento médio anual próximo de 5
mil ha, atingindo 114,8 mil ha em 2016. Com
esses resultados, observou-se a eficácia desta
política publica com base no crescimento da
superfície de UC com gestão municipal no
Paraná, bem como a maior distribuição em
número de municípios, gerando benefícios
econômicos e socioambientais para diferentes
regiões do Estado. Contudo, o aperfeiçoamento
do programa deve ser condicionante desta
política pública, visto a dificuldade desses
recursos voltarem para as UC. Assim,
legislações municipais destinando recurso do
ICMS Ecológico para as UC caracterizariam
o aperfeiçoamento do programa, visto que o
município teria regramento na aplicação desses
recursos, independente da vontade de seu
representante legal.
ABSTRACT: Protected Areas, are conservation
strategies practiced in many countries of the
world. However, different interests may difficult
the increasing of these areas. In this way, public
policies are essential to link environmental
protection
with
economic
perceptions,
establishing compensations due to financial
incentive, being State of Paraná a pioneer in
it´s regulation. Thus, the goal of this study was
evaluate the evolution of municipal Protected
Areas, through the State Register of Protected
Areas (CEUC), using the past 20 years data. We
notice, that in 1997, already existed 54 municipal
protected areas in 29 municipalities, 89% of
full protection, maintaining these proportion in
2016, which resulted in 140 protected areas,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
186
in 76 municipalities. In terms of size increment, the protected areas with municipal
management in 1997 had 21.8 thousands ha, occurring an annual average increase
around to 5 thousand ha, reaching 114.8 thousands ha in 2016. With these results,
we observed the efficiency of this public policy notices the growth of the municipal
protected areas in Paraná, as the wider distribution along the counties, generating
economics and socio-environmental benefits to different regions of the State. Yet, the
program improvement must be condition to this public policy, due to the difficulty of
investment return to the protected areas. Thus, municipal laws allocating ICMS Ecologic
funds to protected areas would characterize an improvement of this program, since the
county would have a rule to invest these resources, irrespective of the will of your legal
procurator.
CONTEXTUALIZAÇÃO E MÉTODOS
Os recursos naturais, em especial as áreas florestais, estão se transformando
de forma rápida e contínua (SANQUETTA et al., 2014). Essas alterações, muitas com
finalidades produtivas, ocorrem de forma antagônica ao uso racional e sustentável dos
recursos naturais promovidos pela expansão exponencial da população humana em
todas as partes do mundo. Entretanto, a sociedade contemporânea, vem incorporando
conceitos ambientais, compreendendo e convivendo com os efeitos das mudanças
climáticas, bem como as consequências da perda de biodiversidade, que lentamente
estão sendo contabilizadas.
Assim, ocorreu uma onda de consciência ambiental, iniciada ainda no século
XIX, objetivando proteger espaços representativos do território para preservar e
conservar recursos e belezas cênicas para as futuras gerações, compatibilizando o
desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente (PANASOLO et al., 2016). Desta
forma, foram introduzidas ações e diferentes políticas públicas voltadas ao meio
ambiente. Dentre essas, destaca-se a Política Nacional do Meio Ambiente sancionada
pela Lei Federal 6938 de 1981, a qual dentre outros, atende os princípios de proteção
dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas. Assim destacam-se
as Unidades de Conservação (UC), onde inúmeros países adotam essa estratégia,
criando e ampliando áreas protegidas nas mais diferentes formas de manejo.
No Brasil, por meio do ato legal instituído no ano de 2000 pela Lei 9.985, estabeleceu
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Entretanto, a experiência
do Estado do Paraná, de maior relevância ocorreu em 1991 com a aprovação da Lei
Complementar nº 59 conhecida como a Lei do ICMS Ecológico. Conforme Loureiro
2008, o ICMS Ecológico é um instrumento que aproveita a oportunidade criada pelo
federalismo fiscal brasileiro, o qual permite repasse de recursos financeiros a entes
federados, sem que a instituição que recebe tais recursos perca sua autonomia
político-administrativa. Com base no artigo 158 da Constituição Federal, o qual delega
aos Estados o poder de legislar sobre até um quarto do percentual a que os municípios
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
187
têm direito de receber do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Ainda segundo Loureiro 2008, no caso das Unidades de Conservação
municipais, é avaliado o empenho direto do município na gestão da área protegida.
Desta forma, pode representar um bom negócio, com oportunidade de melhora nas
receitas municipais. Isso porque, existe possibilidade do município lucrar várias vezes
mais, caso a avaliação da UC municipal receba nota elevada em relação a variável
qualitativa.
Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a evolução da criação e ampliação de
unidades de conservação municipais em função dos benefícios proporcionados pela
Lei do ICMS Ecológico no Estado do Paraná. Para tal, observaram-se os dados dos
últimos 20 anos disponibilizados pelo Cadastro Estadual de Unidades de Conservação
e Áreas Protegidas (CEUC), regulamentado pela Portaria IAP nº 263/1998. Após uma
análise e consistência dos dados, pode ser observada a evolução do número de novas
Unidades de Conservação Municipais, assim como, o aumento da área superficial
protegida com gestão municipal, bem como o número de novos municípios que criaram
Unidades de Conservação durante o período de 1997 a 2016.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pode-se observar, conforme o CEUC do Paraná no ano base de 1997, que
existiam 54 unidades de conservação Municipais, divididas em, 88,9% de Proteção
Integral e 11,1% de Uso Sustentável. Essas UC, a época, localizadas em 29 municípios
correspondendo a 21,8 mil ha de área protegidas com gestão municipal. Já os
resultados para o último ano de avaliação deste estudo (2016), revelaram que ocorrem
140 unidades de conservação municipais, divididas em, 88,6% de Proteção Integral
e 11,4% de Uso Sustentável, localizadas e 76 municípios correspondendo a 114,8
mil ha de área protegidas. A evolução das áreas protegidas por meio de Unidades de
Conservação com gestão municipal pode ser observado no Gráfico 1.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
188
GRAFICO 1 – Evolução das Unidades de Conservação Municipais no Estado do Paraná
Fonte: Site do Instituto Ambiental do IAP (2017).
Os resultados revelaram que, de forma geral, o Estado do Paraná tem um
incremento médio anual de 4,8 mil ha de UC municipais. Analisando o referido gráfico,
pode-se observar que ocorreram momentos de estabilidade no comportamento da
curva de crescimento, durante o período avaliado, mais precisamente intervalos
médios de quatro anos. Isso pode ser correlacionado, embora não seja regra, nem
tampouco convencional, pelo ciclo da gestão municipal. Como o processo para
inclusão de áreas no CEUC necessita ser aprovado e homologado até 31 de maio do
ano de apuração, para que o município receba os benefícios da Lei Complementar do
ICMS Ecológico no ano ambiental subsequente, muitos municípios procuram realizar
ações de criação e ampliação de Unidades de Conservação e seu respectivo cadastro
do CEUC nos primeiros anos da gestão municipal. Esse comportamento é motivado
pelos benefícios fiscais que serão usufruídos pela atual gestão municipal durante o
restante do respectivo mandato.
Cabe destacar, que para as Unidades de Conservação municipais, os Fatores
de Conservação Básicos (Fbc) para as categorias de manejo de conservação, bem
como os intervalos de escores máximos para definição dos níveis de qualidade das
Unidades de Conservação, são superiores aos comparados com as gestões estaduais
ou federais, conforme Portaria IAP nº 139/1997. Esse maior Fator de Conservação
Básico e a significativa diferença nos escores de qualidade foram estabelecidos como
incentivo aos municípios para estimular a criação de UC municipais.
Ademais, quando aplicada a Tábua de Avaliação ao município, ferramenta esta,
onde o Estado avalia anualmente a gestão do município frente à UC, compondo a
variável qualitativa integrante nos cálculos que compõem o Índice Ambiental do
Município, as ações que resultam na melhora da qualidade ambiental da UC municipal
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
189
receberá contribuição direta na composição do referido índice, podendo chegar até
30 vezes mais comparada com a gestão estadual ou federal. Assim, dependendo da
arrecadação do Estado, resultará em aumento do repasse dos valores referente ao
ICMS Ecológico.
Outra questão que corrobora com a afirmativa de que o ICMS Ecológico incentiva
significativamente a criação de Unidades de Conservação Municipais é a crescente
demanda ao IAP pela simulação dos benefícios financeiros gerados pela criação e
ampliação de UC municipais. Este quesito é frequentemente inserido nos estudos
de viabilidade técnica que são pré-requisitos a criação da Unidade de Conservação,
conforme a Lei do SNUC.
Com essa política pública exitosa no Paraná e em vários Estados da Federação,
os benefícios das Unidades de Conservação ultrapassam a proteção da biodiversidade.
Sem entrar no mérito dos benefícios proporcionados pelos serviços ecossistêmicos que
as Unidades de Conservação proporcionam a toda a sociedade, existe uma percepção
financeira concreta que atrai os gestores municipais. Contudo, o aperfeiçoamento do
Programa do ICMS Ecológico deve ser condicionante desta política pública para o
Estado e Municípios. Isso porque, embora a Unidade de Conservação proporcione o
benefício da Lei Complementar, o Município tem autonomia na aplicação do recurso,
o que em muitos casos, não retorna para a UC.
Assim, ações que incentivem os municípios a estabelecerem legislações
municipais, objetivando e direcionando a aplicação desses recursos nas Unidades
de Conservação, teriam êxito como aperfeiçoamento, caracterizando ações concretas
deste importante instrumento de políticas públicas. Ademais, vantagens da legislação
municipal destinando recurso do ICMS Ecológico para as UC proporcionariam melhor
planejamento, execução e a continuidade programas socioambientais, visto que o
município teria regramento na aplicação desses recursos, independente da vontade
do representante legal municipal.
REFERÊNCIAS
Brasil, Lei n 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1, incisos I, II, III e IV da
Constituição Federal. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 19 de julho de 2000.
Loureiro, W. 2008. ICMS Ecológico, uma experiência brasileira de pagamentos por serviços
ambientais / Wilson Loureiro. – Belo Horizonte: Conservação Internacional – São Paulo: Fundação
SOS Mata Atlântica – Curitiba: The Nature Conservancy (TNC).
Panasolo, A.; Peters, E. L.; Nunes, M. S. 2016. Áreas Verdes Urbanas á Luz da Nova Legislação
Florestal: proteção, Intervenção, Hipóteses de Uso e Regularização Fundiária / Alessandro panassolo,
Edson Luiz Peters, Melina Samma Nunes / Curitiba: Ambiente Juris.
Paraná, Assembleia Legislativa, Curitiba. Lei Estadual Complementar nº 59, de 1º de outubro de 1991.
Dispõe sobre a repartição de 5% do ICMS, que alude o art. 2º da Lei nº 9491/90, aos municípios
com mananciais de abastecimento e unidades de conservação ambiental, assim como adota outras
providências. Diário Oficial do Estado do Paraná, Curitiba, (s.d.).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
190
Paraná, Instituto Ambiental do Paraná, Curitiba. Portaria nº 137, de 28 de dezembro de 1997.
Estabelece os Fatores de Conservação Básicos para as Categorias de Manejo de Conservação,
bem como os intervalos de escores mínimos e máximos para definição dos níveis de qualidade das
Unidades de Conservação. Diário Oficial do Estado do Paraná, Curitiba, (s.d.).
Paraná, Instituto Ambiental do Paraná, Curitiba. Portaria nº 263, de 28 de dezembro de 1998. Cria e
organiza o Cadastro Estadual de Unidades de Conservação e Áreas Protegidas (CEUC). Diário Oficial
do Estado do Paraná, Curitiba, (s.d.).
Sanquetta, C. R.; Corte, A. P. D.; Rodrigues, A. L.; Mognon, F. 2014. Mudanças climáticas e sequestro
de carbono. In: Sanquetta, C. R.; Corte, A. P. D.; Rodrigues, A. L.; Mognon, F. (orgs.). Floresta com
Araucária e suas transições: pesquisas ecológicas de longa duração. 1° ed. Curitiba: Multi-Graphic,
Pp. 165-184.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 17
191
CAPÍTULO 18
LEVANTAMENTO DOS ASPECTOS SOCIAIS,
CULTURAIS E ECONÔMICOS DO PERFIL DA
POPULAÇÃO PARA O APROVEITAMENTO DE
RESÍDUO SÓLIDO URBANO ORGÂNICO NO
MUNICÍPIO DE INHUMAS-GO
João Baptista Chieppe Júnior
Professor Doutor Departamento de Áreas
Acadêmicas, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Inhumas,
Avenida Universitária, s/n, Vale das Goiabeiras,
75400-000, Inhumas – Goiás – Brasil. jrchieppe@
gmail.com;
Tharles de Sousa Andrade
Alunos bolsistas Curso Bacharelado em
Sistema de Informação Departamento de Áreas
Acadêmicas, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Inhumas,
Avenida Universitária, s/n, Vale das Goiabeiras,
75400-000, Inhumas – Goiás – Brasil. tharles.
andrade@academico.ifg.edu.br; wilhiam_junior@
hotmail.com.
Wilhiam Júnior Lemos Gomes
Alunos bolsistas Curso Bacharelado em
Sistema de Informação Departamento de Áreas
Acadêmicas, Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Goiás, Campus Inhumas,
Avenida Universitária, s/n, Vale das Goiabeiras,
75400-000, Inhumas – Goiás – Brasil. tharles.
andrade@academico.ifg.edu.br; wilhiam_junior@
hotmail.com.
RESUMO: Esse estudo teve por objetivo
desenvolver um procedimento preliminar com
o Levantamento do Perfil da População do
Município de Inhumas-GG, para promover o
aproveitamento de resíduos sólidos urbano
orgânico, fornecendo aos responsáveis pela
administração pública, subsídios para que
desenvolvam as atividades ligadas à triagem e
compostagem desses resíduos, de forma ética
e planejada. A metodologia em questão, foi
realizada de agosto 2015 à julho 2016 utilizando
as técnicas de pesquisa com aplicação de
questionários e entrevistas nos domicílios. A
análise do perfil da população do município, em
relação aos aspectos culturais, econômicos e
sociais, foi realizada em 39 bairros da cidade
Inhumas-GO alcançando 80 domicílios. Os
resultados mostraram que a maioria dos
entrevistados possui como escolaridade do
ensino médio ao ensino superior e que a
maior parcela dos domicílios possui como
renda familiar de 1 a 3 salários, demonstrando
portanto o nível econômico dos entrevistados.
Em relação ao descarte identificamos que a
maioria das pessoas entrevistadas afirmam que
descartam os resíduos sólidos recicláveis, essa
consequência é gerada pela falta de uma coleta
seletiva que atenda o município de forma integral.
podemos concluir que foram alcançados,
onde perfil da população de Inhumas-GO, em
relação aos aspectos culturais, econômicos
e sociais, foi obtido pelas técnicas pesquisa
aplicadas os entrevistados. Podemos concluir
da pesquisa, que ficou evidente a necessidade
da implementação de um coleta seletiva de
maneira efetiva na cidade de Inhumas-GO.
Pois há um enorme desperdício de resíduos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
192
que poderiam ser reutilizados e estão sendo descartados.
PALAVRAS-CHAVE: Coleta, Compostagem, Triagem, Reciclagem.
SURVEY OF THE SOCIAL, CULTURAL AND ECONOMIC ASPECTS OF THE
POPULATION PROFILE FOR THE USE OF SOLID URBAN ORGANIC WASTE IN
THE COUNTY OF INHUMAS - GO
ABSTRACT: This study aimed to develop a preliminary procedure with Profile of the
Municipality of Inhumas-GG, to promote the use of waste Solid urban organic resources,
providing public administration officials with subsidies for Activities related to the sorting
and composting of Technical and planned. The methodology in question was carried
out from August 2015 to July 2016 Using research techniques with the application of
questionnaires and interviews in the households. The analysis of the population profile
of the municipality, in relation to cultural, economic and social aspects, was carried out
in 39 neighborhoods of the city of Inhumas-GO reaching 80 households. The results
showed that the majority of respondents Education to higher education and that the
greater part of the households has amily income of 1 to 3 salaries, thus demonstrating
the economic level of interviewed. With regard to disposal we have identified that
most people nterviewees say they discard recyclable solid waste, this consequence
is generated by the For the lack of a selective collection that meets the municipality
in an integral way. We can conclude that Reached, where the profile of the population
of Inhumas-GO, in relation to cultural aspects, Economic and social, was obtained by
the applied research techniques the interviewees. We can conclude from the research,
that it was evident the need to implement a selective collection in an effective manner
in the City of Inhumas-GO. For there is a huge waste of waste that could be Reused
and are being discarded.
KEYWORDS: Collection. Composting. Screening. Recycling.
1 | INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o tema “resíduos sólidos” tem ganhado grande espaço nas
discussões em vários eventos ligados ao meio ambiente, tornando-se um dos grandes
problemas da humanidade. Com o avanço da globalização, aumentou-se o consumo
desenfreado por produtos de ultima geração fazendo com que ocorra um descarte
inadequado dos antigos produtos (Bagnara, et al.,2012).
De acordo com a norma brasileira NBR10004/2004 - Resíduos Sólidos –
Classificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004), os resíduos
sólidos são aqueles que resultam de atividade de origem industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola, serviços e varrição.
Já faz parte do senso comum, principalmente nos grandes centros, a percepção
de que o resíduo sólido (domiciliar, industrial ou agrícola) é uma das mais sérias formas
de desperdício de matéria prima, energia e água no país.
De acordo com Silva et al. (2009), o gerenciamento público do resíduo sólido
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
193
urbano, da coleta, tratamento até a sua destinação final, sempre foi uma preocupação dos
municípios e principalmente das organizações governamentais e não governamentais
ligadas à área de saneamento ambiental. Na maioria dos municípios brasileiros de
pequeno porte, a administração se limita a varrer os logradouros e recolher o lixo
domiciliar de forma nem sempre regular, depositando-o em locais afastados da
vista da população, sem maiores cuidados sanitários. Esta situação é provocada
ou pela falta de consciência e comprometimento das autoridades municipais com a
problemática do lixo urbano ou pelas dificuldades financeiras que impedem a aquisição
de equipamentos necessários e disponíveis no mercado para a coleta, compactação,
transporte e destinação do resíduo sólido.
As consequências desses procedimentos inadequados são graves como, por
exemplo, o assoreamento de rios e canais, devido ao lançamento de detritos nesses
locais, a contaminação de lençóis de água comprometendo seu uso domiciliar, a
poluição da atmosfera com o desprendimento de gases e o mau cheiro, a proliferação
de vetores como insetos e roedores transmissores de doenças, além do problema
social pela presença de catadores nos locais, onde o resíduo sólido é depositado a
céu aberto, o conhecido “lixão” (Silva et al., 2009).
Pesquisas recentes apontam um expressivo crescimento na produção de lixo no
Brasil, porém a destinação correta destes résiduos não acompanhou este crescimento.
Em 2010, o País produziu 195 mil toneladas de resíduos sólidos por dia, um aumento
de 6,8% em relação a 2009, quando foram geradas 182.728 toneladas de resíduo
(ABELPRE, 2009).
No decorrer do referido ano de 2010, o montante chegou a 60,8 milhões de
toneladas de lixo, desse total 6,5 milhões de toneladas não foram coletadas e acabaram
em rios, córregos e terrenos baldios.
De acordo com Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais) somente pouco mais da metade deste lixo (57,6%)
teve destinação adequada, sendo encaminhado para aterros sanitários ou reciclado,
enquanto que em 2009 esse índice era de 56,8%.
Segundo Chermont (2000), em função das sérias dificuldades financeiras que
os municípios de pequeno porte vêm enfrentando, os mesmos não podem desprezar
as oportunidades de gerar recursos para o cenário público e bem-estar da população,
levando-se conta a questão do resíduo que tem enorme potencial de renda. No
entanto, de acordo com Barreira (2005), devem-se analisar formas de tratamento mais
simplificadas e eficientes que levem em consideração as características básicas do
resíduo sólido na produção de compostagem, evitando assim, custos elevados para o
seu tratamento sanitariamente adequado. Entretanto, nem todos os resíduos sólidos
servem para a produção de compostos orgânicos de boa qualidade.
No resíduo sólido urbano, os materiais orgânicos, comumente encontrados e
mais adequados para o processo de compostagem, são os restos de frutas, verduras,
de processamento de alimentos em geral e restos da atividade de jardinagem, ou seja,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
194
excelentes matérias-primas para o processo. A preocupação, no caso da compostagem
desses materiais, é que os mesmos não são coletados seletivamente e acabam
chegando às usinas de forma misturada, juntamente com materiais inertes ou mesmo
contaminantes, como pilhas e baterias. A qualidade da matéria-prima destinada ao
processo é o principal fator que influencia a produção de um bom composto, assim
como também os métodos de processamento (Lopez-Real, 1994; Savage, 1996).
Além dos domicílios, onde normalmente o orgânico é misturado a plástico, vidro e
outros materiais que contribuem para a sua contaminação, outras fontes geradoras de
resíduo orgânico ocorrem no meio urbano. São exemplos os restos vegetais gerados
em podas, capinas e roçadas, os resíduos de centrais de abastecimento, cozinhas
industriais, restaurantes, agroindústrias entre outras que, na maioria das vezes, se
diferem do resíduo sólido domiciliar por serem materiais homogêneos reconhecidos
com resíduo orgânico limpo (Silva et al., 2009). Ainda de acordo com os autores,
esses materiais compõem mais de 50% em peso de resíduo sólido urbano e, quando
disposto inadequadamente, causa impactos significativos no solo, na água (geração de
chorume) e no ar (geração de gases), entre outros (desvalorização da área, diminuição
da afluência turística, etc.).
Segundo D Almeida e Vilhena (2000), levantamentos realizados em usinas
de triagem e compostagem de resíduo sólido apontam que, em média, depois de
devidamente processado, chega-se a uma produção de composto orgânico da ordem
de 40% da quantidade inicial de resíduo enviado à usina. Mesmo que a composição
do resíduo varie de município para município, se uma parte desse material for utilizada
em produção de composto orgânico e outra reciclada em indústrias de papel, metal,
plástico e vidro, o volume final com destino a aterro será bastante reduzido.
De acordo com Silva et al. (2009), o material orgânico que pode ser compostado
classifica-se de uma forma simplificada em castanho e verde. O castanho é aquele
que contém maior proporção de carbono como palha, serragem e folhas secas, e o
verde é o de maior proporção de nitrogênio, como restos de cozinha e folhas frescas.
Para que a compostagem ocorra sem problemas, convém ter a maior diversidade de
resíduos possível, numa proporção aproximadamente igual a do castanho e verde.
Campbell (1999), salienta o fato de não ser aconselhável juntar carne, peixe,
ossos, lacticínios e gorduras ao material que será decomposto, com o intuito de não
atrair vetores de importância epidemiológica, como baratas, ratos e moscas. Da mesma
maneira, restos de animais também não devem ser compostados, pois podem conter
microrganismos patogênicos que podem sobreviver ao processo de compostagem,
assim como resíduo de jardim tratado com pesticidas que pode contaminar o produto
final.
Como toda iniciativa de aproveitamento de resíduo sólido urbano requer análise
prévia para implantação pela administração pública, esse estudo tem por objetivo
desenvolver um procedimento preliminar com o Levantamento do Perfil da População
do Município de Inhumas Go, para promover o aproveitamento de resíduo sólido
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
195
urbano orgânico, fornecendo aos responsáveis pela administração pública, subsídios
para que desenvolvam as atividades ligadas à triagem e compostagem desse resíduo,
de forma técnica e planejada.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Entende-se que a avaliação da gestão de resíduos é uma forma regular de
verificação de qualquer processo, que precisa ser visto como um projeto específico,
com metodologia própria e etapas definidas. Com base nessas considerações, foi
estabelecida uma pesquisa, para compreender e caracterizar
a disposição dos
resíduos sólidos gerados no Município de Inhumas-GO.
Área de estudo
O município possui uma área territorial de 613,349 Km², está localizado
geograficamente no oeste brasileiro, no planalto central, possui o bioma cerrado
e limita-se ao norte com Itauçu; ao sul com Goianira; ao leste com Brazabrantes e
Caturaí; e a oeste com Araçu e Itauçu. A densidade demográfica é de 78,6 habitantes
por km² no território do município. Situado a 742 metros de altitude, de Inhumas tem as
seguintes coordenadas geográficas: Latitude: 16° 21’ 19’’ Sul, Longitude: 49° 29’ 35’’
Oeste. Com 48.500 mil habitantes, segundo o último senso do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2010), o município insere-se na região de planejamento:
pólo sucroalcooleiro , sendo que seu IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – tem
valor de 0,765, valor este que, é listado como um dos 20 melhores do estado.
Gerenciamento dos resíduos sólidos no município
A organização da coleta, do transporte, do tratamento e da disposição final dos
resíduos sólidos do município não seguem diretrizes de nenhum Plano Gerenciamento
de Resíduos Sólidos, no qual a coleta não é seletiva e realizada na modalidade porta
a porta contemplando 100% da população urbana.
Desenvolvimento da metodologia
Foi feito um estudo analítico-descritivo (aleatoriamente), para levantamento
dos principais locais (bairros da cidade), para realização da pesquisa domiciliar. A
partir do levantamento concluído, foi utilizada as técnicas de pesquisa com aplicação
de questionários e entrevistas nos domicílios. Conforme demonstrado na (Figura 1)
abaixo.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
196
A pesquisa domiciliar foi realizada 3 vezes por semana e de forma aleatória nas
residências dos principais bairros do município levantados anteriormente. Nos locais
pontuados, seus moradores foram argumentados com base em um questionário com
perguntas estruturadas. Esse levantamento do perfil da população de Inhumas-GO, foi
focado nos aspectos sociais, culturais e econômicos.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados das pesquisas realizadas em bairros brevemente selecionados
e estratégicos, foram tabulados e analisados em forma de gráficos, em que foram
realizadas entrevistas domiciliares em algumas casas de bairros, considerados de
padrões medianos (padrão de vida média/baixa) em primeiro momento, e posteriormente
em bairros de padrão de vida alto.
Nas entrevistas realizadas, categorizou-se que a recepção para realização das
pesquisas/entrevistas em bairros de padrão de vida mediano possui maior receptividade
por parte dos moradores do que em padrões de vida alto. Os dados isolados obtidos
em cada padrão de bairros foram agrupados, tabulados e analisados em conjunto.
Através da análise prévia do perfil da população do município, em relação aos
aspectos culturais, econômicos e sociais, poderemos apresentar alguns dados, da
pesquisa que foi realizada em 39 bairros da cidade Inhumas-GO alcançando 106
domicílios.
Na pesquisa realizada, inicialmente foi questionada a escolaridade das pessoas
entrevistadas, onde podemos obter o nível educacional dos residentes conforme
apresentados na (Figura 2).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
197
Figura 2. Gráfico da escolaridade dos entrevistados
No gráfico apresentado acima demonstra que, a maioria dos entrevistados possui
como escolaridade do ensino médio ao ensino superior. Observamos também que
25% dos entrevistados não concluíram o ensino médio e fundamental e que 2% ainda
não tiveram acesso a alfabetização.
Logo em seguida foi perguntado para os entrevistados qual a renda familiar dos
integrantes da residência, que é obtida pela soma da renda de cada integrante da
família, como dispostos na (Figura 3), abaixo.
Por meio da figura 3 acima, podemos perceber que, a maior parcela dos
domicílios possui como renda familiar de 1 a 3 salários, demonstrando portanto o nível
econômico dos entrevistados. Foi questionado para os residentes quais as destinações
dos resíduos sólidos recicláveis produzidos pela família, foi estabelecido as seguintes
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
198
opções: descarta, doa ou vende, conforme demonstrados na figura 4 a seguir.
De acordo com a figura 4 acima podemos identificar que a maioria das pessoas
entrevistadas afirmam que descartam os resíduos sólidos recicláveis, esse resultado
é consequência gerada pela falta de coleta seletiva que atenda o município de forma
integral.
Na figura 5 a seguir apresentaremos as demais perguntas aplicadas aos
entrevistados, onde procuramos saber se os residentes sabem fazer a seleção dos
resíduos sólidos e, se sabem, fazem a seleção dos resíduos sólidos; no bairro em
que residem há a presença de catadores de residuos sólidos recicláveis e se existem
representantes sociais que atuem no bairro.
Pode-se observar uma equivalência e uma alto índice de conhecimento da
população entrevistada sobre o manejo e o aproveitamento dos resíduos sólidos
gerados. Constatou-se também uma grande incidência de catadores de resíduos
sólidos nos bairros pesquisados, que sobrevivem na informalidade devido a falta de
entidades sociais do município, que atua de forma efetiva na coleta seletiva.
Foi feito um levantamento de dados sobre os estabelecimentos empresariais com
cadastro ativo, junto à Secretária Fazendária Estadual - Agência de Inhumas-GO, com
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
199
o objetivo de conhecermos quais tipos empresas atuam em Inhumas, apresentados
na figura 6 a seguir.
Observou-se que grande parte dos resíduos sólidos produzidos no município,
vem do comércio varejista seguido do setor industrial e das empresas prestadoras
de serviço. Já os setores do comércio atacadista e do transporte em geral, produzem
menor quantidade de resíduos.
4 | CONCLUSÕES
Concluimos que ficou evidente a necessidade da implementação de um coleta
seletiva de maneira efetiva na
cidade de Inhumas-GO. Visto que há um enorme desperdício de resíduos que
poderiam ser
reutilizados e estão sendo descartados. Salvo no caso dos catadores que coletam
alguns materias
recicláveis para a sua sobrevivência.
5 | AGRADECIMENTOS
Ao IFGoiás e Cnpq pelo apoio e financiamento da pesquisa
REFERÊNCIAS
Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) Grappa
Editora 2011. 2. Disponível em http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/lixo/producao-destinacaoresiduos-solidos-brasilpanorama-2010-abrelpe-625938.shtml. Acesso em 08 de março de 2013.
Associação brasileira de normas técnicas - ABNT. NBR 10004 – resíduos sólidos classificação. Rio de
janeiro: ABNT, 2004.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
200
BARREIRA, L. P. Avaliação das usinas de compostagem do Estado de São Paulo em função da
qualidade dos compostos e processos de produção. 2005. Tese (Doutorado em Saúde Pública) –
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
CAMPBELL, S. T. U. Manual de compostagem para hortas e jardins: como aproveitar bem o lixo
orgânico doméstico. São Paulo: Nobel, 1999.
CHERMONT, L. Educação ambiental e fontes de financiamento. In: SIMPÓSIO SOBRE A
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Belém: Embrapa Amazônia Ocidental, 2000. p.201-2.
D , ALMEIDA, M. L.; VILHENA, A Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado. 2.ed. São
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LOPES – REAL, J. M. Composting through the ages. Down to earth composting. Dundee, 1994.
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municípios. Botucatu: FEPAF, 2009. p. 69-91.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 18
201
CAPÍTULO 19
PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ALUNOS DA ESCOLA
ESTADUAL DEPUTADO JOÃO EVARISTO CURVO,
JAURU, MATO GROSSO
Lucineide Guimarães Figueiredo
Universidade do Estado de Mato Grosso.
Cáceres – MT.
Cláudia Lúcia Pinto
Universidade do Estado de Mato Grosso.
Cáceres – MT.
Elaine Maria Loureiro
Universidade do Estado de Mato Grosso.
Cáceres – MT.
Valcir Rogério Pinto
Universidade do Estado de Mato Grosso.
Cáceres – MT.
Carolina dos Santos
Universidade do Estado de Mato Grosso.
Cáceres – MT.
RESUMO: O meio ambiente tem passado por
profundas transformações com a constante
degradação dos recursos naturais decorrentes
de atividades humanas. Nesse contexto, a
Educação Ambiental é um instrumento efetivo
para minimizar os danos ambientais e evitar
desastres ainda maiores, sua inserção no
contexto escolar é de extrema importância
para que as crianças sejam motivadas a ter
uma consciência ambiental crítica na busca
da conservação dos recursos naturais. Esta
pesquisa objetivou analisar a percepção de
alunos de uma escola pública de Jauru-MT
sobre a importância da conservação do meio
ambiente e contribuir com o desenvolvimento
da consciência ambiental crítica dos alunos.
A pesquisa qualitativa, com análise descritiva,
foi desenvolvida com alunos do 7º ano do
ensino fundamental da Escola Estadual
Deputado João Evaristo Curvo em Jauru-MT.
Um questionário estruturado foi aplicado aos
alunos antes e depois de uma atividade de
Educação Ambiental sobre a importância da
conservação do meio ambiente. Observouse que os alunos possuem uma percepção
diferente sobre o conceito de meio ambiente,
porém todos mostraram preocupação com a
conservação dos recursos naturais. Após a
atividade de Educação Ambiental, notou-se
avanço na percepção ambiental dos alunos. Os
resultados da pesquisa mostram a importância
da Educação Ambiental, que deve auxiliar no
desenvolvimento da percepção ética dos alunos
acerca de todas as formas de vida que fazem
parte do planeta, por meio do uso sustentável
dos recursos naturais.
PALAVRAS-CHAVE: Meio ambiente, Educação
Ambiental, escola pública.
ABSTRACT: The environment has suffered
severe transformations due to the continuous
degradation of natural resources caused
by human activities. In this respect, the
Environmental Education is an effective tool
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
202
to minimize the damages and avoid even greater disasters; its insertion into the
school context is extremely important so that children get motivated to have a critical
environmental awareness in the search for preserving the natural resources. This study
aimed to analyze the perception on the importance of preserving the environment, as well
as to contribute to develop the critical environmental awareness to students of a public
school in Jauru, state of Mato Grosso, Brazil. The qualitative research with descriptive
analysis was conducted with the students of the seventh grade in the elementary
level at the Deputado João Evaristo Curvo State School. The students answered a
structured questionnaire before and after an Environmental Education activity about
the importance of preserving the environment. It was noticed that the students have
a different sense when it comes to the concept of environment, although all of them
showed concern over the natural resources preservation. After the Environmental
Education activity, the students had progress in the environmental perception. The
study’s results indicate the importance of the Environmental Education, which must
help the development of the students’ ethic perception regarding all the life forms that
are part of this planet, by means of the sustainable use of natural resources.
KEYWORDS: Environment, Environmental Education, public school.
1 | INTRODUÇÃO
Uma das características que mais se ressalta entre os cidadãos é o interesse
sobre a conservação do meio ambiente, o que passa a ser uma grande preocupação,
tanto das comunidades sociais e escolares, como das organizações governamentais
e não governamentais, levando estas a repensarem e reformularem estratégias que
amenizem tanta devastação, começando pela informação e sensibilização sobre os
assuntos relacionados ao meio ambiente (PEDRINI, 1997).
Atualmente, estamos vivendo sobre uma ameaça eminente à sobrevivência
humana, devido à ampla e constante degradação dos recursos naturais, ocasionando
a extinção de espécies da fauna e da flora, além do temido e real aquecimento global,
com a elevação considerável da temperatura devido à emissão de gases poluentes.
Todos estes fatores fizeram com que a questão ambiental ocupasse um lugar de
destaque em todo o planeta. Acrescenta-se também a estes fatores, o crescimento
desordenado da população humana, que possui grande impacto sobre o meio ambiente.
Tais mudanças, iniciadas em décadas anteriores, estão alterando o relacionamento
das organizações com os recursos naturais (CAVALCANTI, 1996).
A biodiversidade possui valor inigualável devido a sua grandeza e importância
para um efetivo desenvolvimento e manutenção dos ecossistemas, os quais possuem
processos vitais para a vida humana. Este papel está ligado, diretamente, a todos
os fatores que regulam, protegem e mantêm os recursos naturais da biodiversidade
(SECCO; SANTOS, 2011)
Os autores Secco e Santos (2011, p. 65) afirmam ainda que “as funções
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
203
ecológicas desempenhadas pela biodiversidade são ainda pouco compreendidas e
valorizadas pelas pessoas, principalmente por aqueles habitantes das cidades que
não veem e sentem a biodiversidade em suas vidas”. Dessa forma, é de grande valia
o desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental, sobretudo, nas escolas.
1.1 Meio ambiente e Educação Ambiental
Para Pedrini (1997) em decorrência do crescimento dos problemas com a
degradação de ecossistemas, da poluição, e consequentemente, dos danos causados
à saúde, tendo como resultado uma clara expectativa do compromisso com a nossa
qualidade de vida, os governantes sentiram-se intimidados a interferir no assunto,
criando ideias e até mesmo pondo em prática alguns procedimentos de administração
pública ambiental, no que se refere à conservação e recuperação do meio ambiente,
com o envolvimento de toda comunidade, principalmente as escolas, onde todo
processo educacional deve ser iniciado.
Desde a década de 90, Pedrini (1997) já orientava que era necessário tomar
medidas urgentes e eficientes, em todo planeta, no que se refere à sensibilização dos
indivíduos, fazendo com que estes desenvolvam novos conceitos sobre a extrema
importância da conservação do meio ambiente em nosso cotidiano. Surge, assim, a
Educação Ambiental, uma grande aliada no alcance destes objetivos.
De acordo com o Art. 1º da Lei 9.795/99 entendem-se por Educação Ambiental:
os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).
Dias (2004, p. 523) ainda ressalta que a Educação Ambiental é um
processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência
do seu meio ambiente e adquirem novos conhecimentos, valores, habilidades,
experiências e determinação que os tornam aptos a agir e resolver problemas
ambientais, presentes e futuros.
Podemos concluir então que a conservação do meio ambiente e a
sustentabilidade devem estar ligadas intimamente à Educação Ambiental, à escola e
à família. Sabemos que, desde cedo, na criança deve ser desenvolvido o sentimento
de proteção da natureza, como por exemplo, molhar as plantas durante o dia,
proteger as flores, além de outros. Sentimento este que deve ser aprimorado com o
amadurecimento da criança, para que posteriormente, a mesma desenvolva, através
de incentivos escolares e externos, a necessidade de conservação do meio ambiente
em que vive, este tipo de educação é de extrema importância, pois responsabilizará
estas crianças por toda sua vida (DIAS, 2004).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
204
1.2 Educação Ambiental na escola
O desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental com alunos da
educação básica corrobora com a proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Ambiental, uma das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica.
A inserção da Educação Ambiental na escola é de extrema importância, pois as crianças
devem ser motivadas desde cedo, a desenvolverem em si a necessidade de participar
na conservação dos recursos naturais disponíveis. É necessária a integração escolasociedade-meio ambiente, pois a interação destes fará com que cada um haja para o
bem comum, pois os alunos devem ser motivados e conscientizados sobre a limpeza
e a conservação do meio em que vive e convive, mantendo-o limpo e conservado
(BRASIL, 1998; 2013).
O papel pedagógico com relação à questão ambiental deve ter como prioridade o
desenvolvimento de hábitos e posturas éticas e o controle dos procedimentos práticos
e reais, e não somente na aprendizagem apenas de conceitos. O educador deve
trabalhar de forma que contribua para a atuação efetiva do educando nos assuntos
relacionados à questão ambiental. Com isso, espera-se que haja uma interação das
disciplinas das diferentes áreas de estudo, os quais tragam informações essenciais ao
entendimento das temáticas ambientais, pois é comum a troca de informações, mesmo
quando o assunto surge inesperadamente é possível que alguém contribua com algum
conhecimento que outro indivíduo não tinha. Exemplo disto seria o professor de língua
portuguesa trabalhar com textos sobre o meio ambiente, em que os alunos terão
que interpretar o texto, independente de qual seja a atividade de língua portuguesa
passada pelo professor (BRASIL, 1998).
Nesse contexto, surgiu a motivação de realizar uma pesquisa com alunos do
município de Jauru, em Mato Grosso, com foco na importância da conservação do
meio ambiente e restauração de recursos ambientais, direcionados ao consumo
racional dos recursos naturais, visando à manutenção do equilíbrio ecológico, que é
vital para nossa vida. De acordo com Singh e Rahman (2012), sem a educação da
juventude nas escolas e do público em geral, não existe um conhecimento suficiente
das questões ambientais, e sem conhecimento, não há nenhuma ação, e sem ação,
não há mudança. Ou seja, os problemas ambientais dizem respeito a todos os cidadãos
e só podem ser solucionados mediante uma postura ativa e coletiva.
A presente pesquisa teve, portanto, o objetivo de analisar a percepção de alunos
de uma escola pública de Jauru – MT sobre a importância da conservação do meio
ambiente e contribuir com o desenvolvimento da consciência ambiental crítica destes
alunos.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
205
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Área de estudo
A pesquisa foi realizada no município de Jauru, em Mato Grosso. Conforme a
“Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas
Intermediárias 2017”, o município de Jauru (Figura 1) localiza-se na Região Geográfica
Intermediária “Cáceres” e na Região Geográfica Imediata “Mirassol d’Oeste”. O
município ocupa uma área territorial de 1.301,894 km², compreendendo áreas dos
biomas Cerrado e Amazônia. De acordo com a estimativa populacional para 2018,
possui uma população de 9.006 habitantes e densidade demográfica de 8,03 hab/km²
(IBGE; 2018).
Figura 1. Localização geográfica do município de Jauru, Mato Grosso.
2.2 Método de estudo
A pesquisa foi realizada com uma abordagem qualitativa, conforme Oliveira et
al. (2013). A pesquisa qualitativa, com análise descritiva, possibilita o entendimento
do comportamento dos indivíduos em questão, facilitando a melhor compreensão das
situações vivenciadas por estes indivíduos em grupos sociais.
A pesquisa foi realizada, incialmente por meio de pesquisa bibliográfica em
livros, revistas, artigos e sites da internet, com a finalidade de analisar estudos já
publicados relacionados a este tema. As atividades foram desenvolvidas na Escola
Estadual Deputado João Evaristo Curvo como componente das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Ambiental (BRASIL, 2013).
Para atingir o objetivo proposto neste trabalho, uma das turmas do 7º ano da
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
206
referida escola foi sorteada para participar da pesquisa, tendo em vista que estes alunos
já estudaram conteúdos sobre o meio ambiente no 6º ano. Um questionário estruturado
foi utilizado, constituído por cinco questões abertas e três questões fechadas, aplicado
antes e depois de uma atividade de Educação Ambiental (OLIVEIRA et al., 2013).
Os alunos quais tiveram em torno de 40 minutos para responder o questionário.
Este instrumento de coleta de dados foi utilizado por ter a vantagem de não exercer
pressão sobre o indivíduo, permitindo tempo para reflexão sobre as respostas
(CASTOLDI; BERNARDI; POLINARSKI, 2009).
Posteriormente, foi ministrado um minicurso de Educação Ambiental, com
enfoque na conservação do meio ambiente e, uma semana após o minicurso, o
questionário foi aplicado novamente com o intuito de realizar uma análise comparativa
dos mesmos, em relação à percepção dos alunos antes e depois da atividade de
Educação Ambiental.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa contou com a participação de 13 alunos do 7º ano do ensino
fundamental com idade entre 12 e 13 anos, sendo 38% do sexo masculino e 62%
do sexo feminino. Os resultados obtidos com esta pesquisa permitiram avaliar o
conhecimento dos alunos sobre o meio ambiente e sua conservação.
Todos os alunos entrevistados afirmaram já ter estudado conteúdos sobre o meio
ambiente, porém quando questionados sobre o conceito de meio ambiente, antes da
atividade de Educação Ambiental, os alunos responderam de forma vaga e semelhante,
demonstrando conceitos parecidos sobre meio ambiente, conforme tabela 1. Após o
minicurso sobre o meio ambiente e conservação, observou-se que a resposta dos
alunos foi um pouco mais elaborada, como exemplos os alunos A e B.
Aluno
Antes
Depois
A
“Floresta, ruas, lagos, rios, etc.”
“É a natureza, árvores, plantas,
animais e cidades e etc.”
B
“Cuidado com o ambiente como
cuidar da natureza, cuidar de rios e
lagos e etc.”
“A natureza, o que faz as pessoas
sobreviver, também é uma coisa bem
importante, devemos preservar para
nosso futuro”.
Tabela 1. Conceito de meio ambiente antes e depois da atividade de Educação Ambiental.
Estas respostas evidenciam o quanto é importante que haja uma integração
entre as práticas pedagógicas e o estudo do meio ambiente nas escolas, pois quanto
mais discutido menor será as divergências conceituais. Nesse sentido, Bezerra e Gonçalves (2007) ressaltam que o termo meio ambiente, frequentemente utilizado nos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
207
meios de comunicação e nos discursos políticos, livros didáticos, etc. evidenciam uma
grande diversidade conceitual, que pode levar a diferentes interpretações, na maioria
das vezes, influenciadas pela experiência pessoal, profissional e pelas informações
veiculadas na mídia. Dessa forma, este assunto deve ser trabalhado constantemente
para que não haja uma acomodação em massa, principalmente por parte dos alunos,
e interpretações equivocadas.
Questionados quanto à importância da conservação do meio ambiente, tanto
antes como depois do minicurso, a resposta foi unânime e todos responderam que
a conservação é importante. Tal afirmativa nos mostra que os valores aprendidos
e alimentados, corretamente, tendem a acompanhar o indivíduo por toda vida. Na
sequência desta pergunta, os entrevistados responderam o motivo da afirmativa, e
as respostas foram bastante distintas, principalmente após a atividade de Educação
Ambiental quando é observado um maior conhecimento sobre o assunto questionado,
conforme demonstrado na tabela 2.
Aluno
Antes
Depois
C
“Porque sem elas não
sobrevivemos”.
“Sim, importante por causa que
prejudica a saúde dos humanos, não
só os rios e florestas”.
“Porque o meio ambiente é
importante para todos”.
“Porque é a natureza que muda o
nosso mundo, é o que nos dá o ar,
alimento, nos dá a vida”.
D
Tabela 2. Motivo da conservação do meio ambiente, antes e depois da atividade de Educação
Ambiental.
Diante disso, é possível identificar a preocupação dos alunos em relação
à conservação do meio ambiente. Antes do minicurso, nota-se que eles possuíam
consciência ecológica, porém ainda estão com uma concepção mais inocente, pois
relatam mais preocupação com a proteção das plantas, rios e animais. Após o minicurso,
os alunos incorporaram também a preocupação com a qualidade de vida humana.
Essa mudança de pensamento só foi possível quando estes foram sensibilizados de
que um meio ambiente saudável e equilibrado é direito de todos, conforme define a
Constituição Federal de 1988:
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações (BRASIL, 1988, art. 225).
Quando questionados se o meio ambiente está sendo destruído, 100% dos alunos
afirmaram que sim, tanto antes quando depois da atividade de Educação Ambiental. E,
em relação às causas desta destruição, quase todos os alunos citaram queimadas e
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
208
desmatamento como as principais causas. Além desses, outros fatores foram citados,
conforme tabela 3.
Aluno
Antes
Depois
E
“Lixo na rua, queimadas,
desmatamento etc.”
“Desmatamento, lixo nas ruas,
poluição nos rios, lagos, cachoeiras,
queimadas, destruição de árvores e da
natureza”.
F
“Poluição, desmatamento,
queimadas, os lixos e etc.”
“O desmatamento, queimada, a
construção de empresas que causa o
mal ao meio ambiente.”
G
“Queimadas, lixo etc.”
“Lixo na rua, queimadas,
desmatamento etc.”
H
“Desmatamento, queimadas,
poluição etc.”
“Poluição de tudo, desmatamento,
queimadas, os lixos e etc.”
Tabela 3. Causas da destruição do meio ambiente, antes e depois da atividade de Educação
Ambiental.
A presença destes dois fatores, queimadas e desmatamento, na maioria das
respostas, principalmente após a atividade de Educação Ambiental, pode ser em virtude
de ter sido apresentado a eles no minicurso, a realidade local, onde estes elementos
se fazem presentes no cotidiano. No entanto, também foram apresentados aos alunos
outros fatores que levam a destruição do meio ambiente em geral, principalmente em
grandes polos industriais.
Segundo estudo realizado pelo IBAMA (2015) há várias consequências do
desmatamento, como a destruição da biodiversidade, acúmulo de gases nocivos,
diminuição na capacidade de rendimento do solo, além de tudo isso, ainda pode
causar a extinção de algumas espécies nativas da área devastada.
As queimadas e os incêndios florestais estão entre os principais problemas
ambientais enfrentados pelo Brasil. As emissões resultantes da queima de biomassa
vegetal colocam o país entre os principais responsáveis pelo aumento dos gases
de efeito estufa do planeta. Além de contribuir com o aquecimento global e as
mudanças climáticas, as queimadas e incêndios florestais poluem a atmosfera,
causam prejuízos econômicos e sociais e aceleram os processos de desertificação,
desflorestamento e de perda da biodiversidade (IBAMA, 2015, p. 1).
Os alunos foram questionados sobre o que faz para ajudar a conservar o meio
ambiente. Todos os alunos, em ambos os questionários, responderam que realizam
alguma ação relacionada ao lixo, tanto em casa quanto em outros ambientes (tabela
4).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
209
Aluno
Antes
Depois
A
“Junto lixo e coloco no lixo, e etc.”
“Recolho lixo, cuido das minhas
plantas e planto árvores.”
B
“Não jogo lixo no chão, nas ruas.”
“Planto árvores, não jogo lixo no chão
economizo água, não queimo.”
Tabela 4. Ações desenvolvidas pelos alunos para ajudar na conservação do meio ambiente
antes e depois da atividade de Educação Ambiental.
Acredita-se que a unanimidade se deve ao fato de ser um ato simples, eficaz
e fácil de realizar, contudo, deve ser sempre incentivado tanto na escola quanto
nos ambientes não escolares, principalmente do ambiente familiar. Isso reforça a
importância deste assunto ser aplicado nas séries iniciais, para que os alunos tenham
esta consciência ambiental desde pequenos.
Quando questionados sobre o que gostariam de fazer para ajudar a conservar
o meio ambiente, as respostas em ambas às aplicações do questionário foram
surpreendentes, pois foram respostas espontâneas, onde os mesmos refletiram que
são as pequenas mudanças que podem fazer a grande diferença. Antes do minicurso,
as respostas foram mais simples, porém, após a atividade de Educação Ambiental, as
respostas foram mais completas e desafiadoras, conforme mostra a tabela 5.
Aluno
Antes
Depois
A
“Tentar expressar o quanto é
importante.”
“Acabar com a poluição, proibir
queimadas, protestar e etc.”
B
“Não gastando muita água, não jogar
lixo na sala, não praticar queimadas
motivar pessoas a não fazer isso.”
“Gostaria de criar projetos que ajudassem
a resolver uma parte desse problema.”
Tabela 5. Ações propostas pelos alunos para ajudar na conservação do meio ambiente, antes e
depois da atividade de Educação Ambiental.
Por fim, na última questão, os mesmos deviam informar, caso a resposta fosse
afirmativa, de que forma se sentem motivados a ajudar na conservação do meio
ambiente. Todos os alunos responderam que se sentem motivados a ajudar a conservar
o meio ambiente. As respostas de um determinado aluno (aluno A) chamaram a
atenção, pois o mesmo mencionou a família como fonte de inspiração e incentivo na
conservação do meio ambiente (tabela 6).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
210
Aluno
Antes
Depois
A
“Sim, meu pai me motiva a cuidar do
meio ambiente.”
“Sim, não desmatar e queimar nada porque
minha família não faz isso, é por isso etc.”
Tabela 6. Motivação para ajudar conservação do meio ambiente, antes e depois da atividade de
Educação Ambiental.
As respostas deste aluno evidenciam que a Educação Ambiental vai muito mais
além que os muros da escola, ela deve começar na família, através de bons exemplos
e de incentivos, pois a criança é o reflexo da família. A destruição dos recursos naturais,
não é só resultado da maneira como nossa espécie se interage com nosso planeta, mas
também da forma como se relaciona consigo mesma. Ao desmatar, queimar, poluir,
desperdiçar recursos naturais, cada indivíduo está refazendo o que lhe foi transmitido
através da cultura da comunidade em que vive. No entanto, esta ação maléfica não é
um ato singular de um ou outro indivíduo, mas sim, uma reprodução fiel das relações
culturais, sociais e tecnológicas do meio em que vive (SEGURA, 2001).
Neste contexto, pode-se dizer que a percepção sobre o meio ambiente está
diretamente ligada à cultura, e o estudo sobre o meio ambiente deve colaborar
principalmente para o exercício da cidadania, instigando a ação transformadora, além
de ampliar os conhecimentos sobre as questões ambientais (BEZERRA; GONÇALVES,
2007).
Bezerra e Gonçalves (2007, p.8) defendem ainda que a Educação Ambiental é o
ensino para a cidadania, onde o educador ambiental deve procurar propor aos alunos
situações que sejam formadoras de conceitos, pois cada indivíduo observa, reage e
responde de diferentes maneiras, às ações propostas sobre o ambiente em que vive.
Assim, será possível avaliar a real necessidade de cada um sobre a percepção do
meio ambiente, que muitas vezes, é superficial.
Estudos semelhantes com análises da percepção antes e depois de atividade
de Educação Ambiental têm demonstrado resultados positivos quanto ao avanço da
sensibilização dos alunos (PEREIRA et al., 2006; SILVA; MANFRINATO; ANACLETO,
2013). Estas pesquisas indicaram que os alunos são capazes de apontar os principais
problemas ambientais, porém, necessitam de uma abordagem de maior dimensão, e
defendem a necessidade de uma abrangência mais ampla, para que possam construir
uma visão mais contextualizada e real entre homem e ambiente.
De acordo com Silva, Manfrinato e Anacleto (2013), o desenvolvimento desse
tipo de atividades possibilita aos alunos um crescimento conjunto de respeito ao meio
ambiente e o aumento da responsabilidade individual em atuar, no meio em que vive,
em busca de melhorias.
Bezerra e Gonçalves (2007) ressaltam que a Educação Ambiental deve ser
alvo de esforços por parte de entidades governamentais e não governamentais que
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 19
211
visem ações educativas formais e informais relativas ao meio ambiente. Certamente, a
Educação Ambiental sozinha não conseguirá transformar a sociedade, mas é o ponto
de partida para reflexões e ações em prol ao meio ambiente. Além disso, as instituições
escolares são espaços propícios para instigar reflexões que levem a construção de uma
visão crítica sobre os atuais padrões de consumo e, consequentemente, a mudanças
no comportamento, a fim de amenizar os danos ambientais (FERREIRA, 2013).
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa de percepção ambiental e a aplicação de atividades voltadas para a
conservação do meio ambiente possibilitaram aos indivíduos envolvidos na pesquisa
aquisição de novos conhecimentos e reflexões para que, individual ou coletivamente,
se tornem agentes transformadores, colocando em prática princípios éticos e atuando
efetivamente na defesa do meio ambiente.
Mediante o avanço na percepção dos alunos após a atividade de Educação
Ambiental, reforça-se a importância desse tipo de atividade como um processo
pedagógico, que deve auxiliar o desenvolvimento de uma percepção ética dos alunos
acerca de todas as formas de vida que fazem parte de nosso planeta, respeitando
assim o meio ambiente, por meio do uso sustentável dos recursos naturais disponíveis.
A Educação Ambiental é, assim, um instrumento educacional primordial para alcançar
tal objetivo, pois ela fornece meios que permitem que escolas, entidades não escolares,
ou mesmo empresas, criem vínculos com o meio ambiente, na formulação e execução
de projetos sociais ambientais, voltados para a conservação ambiental.
A pesquisa deixou clara a necessidade de um maior envolvimento das escolas
em práticas envolvendo a Educação Ambiental, tendo em vista a percepção bastante
incipiente demonstrada por muitos alunos. É preciso que as escolas desenvolvam
atividades mais abrangentes e racionais sobre aspectos que envolvam o meio ambiente,
que haja interação escola-sociedade-órgãos ambientais, repassando, assim, a estes
alunos informações corretas, acerca do mal-uso dos recursos naturais, bem como,
sua real ameaça aos seres vivos, sobretudo, os seres humanos.
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Capítulo 19
213
CAPÍTULO 20
PERFIL DO CONSUMIDOR DE PEIXE DO MUNICÍPIO
DE SINOP MATO GROSSO
Thamiris Sosa Santos
Estudante do Curso de Zootecnia do Instituto/
Departamento de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Mato Grosso – campus
Sinop; E-mail: thamiris_ths@hotmail.com
Soraia Andressa Dall Agnol Marques
Doutoranda do programa de Ciência Animal da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
campus Campo Grande; E-mail: soraia.agnol@
hotmail.com
Stephane Vasconcelos Leandro
Estudante do Curso de Zootecnia do Instituto/
Departamento de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Mato Grosso – campus
Sinop: phane.ster@gmail.com
Paula Sueli Andrade Moreira
Professora Doutora do Instituto-ICAA da
Universidade Federal do Estrado do Mato GrossoUFMT; E-mail: paula_moreirara@ufmt.br
RESUMO: Este trabalho foi realizado no
município de Sinop-MT. O objetivo desse
estudo foi caracterizar o perfil de consumo
e consumidor de pescado deste município.
Foram aplicados 490 questionários em locais
de intenso fluxo diário de pessoas e através do
questionário on line. O questionário continha 16
questões descritivas com os seguintes pontos
de interesse: características socioeconômicas
do entrevistado, determinantes do consumo e
preferências de consumo. A coleta de dados foi
realizada no período de 06 dezembro de 2017
a 20 de abril de 2018. O perfil do consumidor
de peixe de Sinop foi formado pelos fatores
sexo, idade, estado brasileiro de origem,
escolaridade e renda familiar. De modo geral
os resultados indicaram que o percentual dos
entrevistados que afirmaram consumir peixe foi
maior que 90%. O consumo de peixe em Sinop
é influenciado diretamente pela renda familiar
dos consumidores, influência cultural e hábitos
alimentares, uma vez que os colonizadores do
município são sulistas e não consomem pescado.
As espécies preferidas são; tilápia, tambaqui,
matrinxã e salmão. A cor é considerada um
fator de escolha para o pescado, contudo o
consumidor não está disposto a pagar a mais
por esse atributo.
PALAVRAS-CHAVE: Pescado, Preferências,
Qualidade, Influência, Cor.
INTRODUÇÃO
O pescado é uma das carnes mais
produzida e consumida no mundo. A produção
mundial
de
pescado
vem
apresentando
crescimentos satisfatórios ano após ano, onde
à produção de 2013/15 foi de 166,8 milhões de
toneladas, com uma previsão de crescimento
de 17% até 2025. Em 2014 a aquicultura
representou 73, 8 milhões de toneladas de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 20
214
proteína animal (FAO, 2016).
Em 2013 os países industrializados apresentavam uma média per capita de
consumo equivalente a 26,8 kg, já no Brasil o consumo per capita é de 10,0 quilos
de pescado por pessoa/ano, metade da média mundial (FAO, 2016), mostrando
assim que uma parcela significativa dos brasileiros não possui o hábito de consumir
pescado, ocupando a quarta posição em relação ao consumo de proteína animal no
pais (KUBITZA, 2009)
Atualmente o Brasil está entre os 25 maiores produtores de pescado do mundo,
neste cenário os países líderes são China, Indonésia e Índia. O Brasil posiciona-se no
14o lugar no ranking mundial de produção de pescado (FAO, 2016). O país fechou o
ano de 2017 com um total de produção de 691.700 mil toneladas de peixes de cultivo,
com crescimento de 22,8% em relação ao ano de 2014 (AQUACULTURE, 2018).
A utilização de antioxidantes naturais vem se tornando popular entre os
consumidores mundiais, e com isso as indústrias de alimentos juntamente com a ciência
de alimentos estão buscando mais avanços na elaboração e posterior comercialização
de produtos que contenham esses aditivos (MARTINS et al., 2016), levando em conta
que uma das funções mais apreciadas desses aditivos carotenóides é a de pigmentar
o músculo de pescado (KUBITZA, 2000). Com isso as pesquisas investigam os efeitos
reais das moléculas a curto e longo prazo, para fornecer garantia de um produto final
saudável, seguro e funcional (MARTINS et al., 2016).
Para investir em um determinado produto é preciso analisar o perfil do consumidor,
o meio em que está inserido, o motivo, a finalidade com que compra o produto, a
quantidade e a frequência, além de suas preferências (MCCARTHY; PERREAULT,
1997).
Esse trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil de consumo e dos
consumidores de peixe
no município de Sinop, Mato Grosso. Analisar quais os
indicadores do consumo, quais os fatores que influenciam na decisão de escolha, se a
cor do alimento é uma influência no momento da compra para os moradores de Sinop.
METODOLOGIA
A coleta de dados foi realizada no no município de Sinop-MT no período de
06 dezembro de 2017 a 20 de abril de 2018. Foram aplicados 490 questionários da
área urbana do município, abrangendo os mais populosos e com maior circulação
de pessoas, devido à presença de instituições de ensino, e também através do
questionário on line.
O questionário foi elaborado baseado nos seguintes pressupostos: se consome
pescado, o que leva ou impede o consumo de pescado na região e a frequência; se há
preferência em relação a espécies, se a coloração interfere ou não na escolha, se há
preferência por cor do pescado, a forma que esse consumidor prefere o peixe; o preço;
a qualidade; conhecimento sobre a origem do peixe que consomem, com o objetivo de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 20
215
descobrir de que forma a comunidade pesquisada de Sinop consome essa proteína.
Para o cálculo do número de entrevistados, utilizou-se fórmula de Amostragem
Aleatória Simples (RYAN, 2012), considerando a população do município de Sinop de
113.099 pessoas, com intervalo de 95% de confiança e erro padrão de 5%.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram submetidos a uma análise descritiva, onde observou-se a média
e frequência das observações, e transformados em percentagem pelo software de
edição de planilha eletrônica Microsoft Office Excel 2013®. A partir dos resultados da
análise, gráficos foram gerados para facilitar a leitura.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O perfil do consumidor e o de preferência de consumo no município de Sinop,
Mato Grosso, foram obtidos com a aplicação de questionários com os seguintes
fatores: sexo, idade, estado brasileiro de origem, escolaridade e renda familiar.
Dos 490 indivíduos que participaram da pesquisa, constatou-se que destes
54,29% eram do sexo feminino e 47,71% do sexo masculino com a média de idade
de 28 anos, com idade mínima de 16 anos e máxima de 68 anos. Dos entrevistados
41,92% são de origem do Mato Grosso, 9,41% do estado de Paraná e os demais de
outros estados brasileiros, onde em relação a escolaridade cerca de 51,43% possuem
ensino superior incompleto, 30,0% ensino superior completo e 15,92% médio completo.
A renda de 1 a 3 salários-mínimos correspondeu a mais da metade dos entrevistados
equivalente 51,12% e 23,72% acima de 5 salários mínimos.
Dos 490 entrevistados, 96,53% alegam consumir pescado, de acordo com o
estudo de Soares (2015), 87% dos entrevistados do município de Porto Velho-RO
consomem pescado, e segundo Silveira (2012) em sua pesquisa no município de Rio
Grande, 64,3% dos participantes consomem carne de pescado.
Sobre os motivos de não consumir com tanta frequência a carne de pescado, os
fatores mais observados foram associados ao fato de preferência por outras carnes
27% e preço elevado com 24%. A rejeição pelo fator espinha (19 %) foi representativo
pelos participantes, pois a espinha presente na carne pode causar desconforto durante
a mastigação. Dos 24% que alegaram o motivo preço elevado, 21,43 % possuíam
renda familiar acima de 5 salários mínimos.
No município de Rio Grande, Silveira et al., (2012), encontraram dados
semelhantes, onde a preferência por outras carnes (15%) como a carne bovina,
frango, suína e a ovina foram maiores. Outros trabalhos apontaram o preço como o
fator chave por não consumir tanto pescado. Arbex (2017) constatou que na região
metropolitana de Cuiabá-MT e De Barcelos et al (2016) na cidade de Sobral - CE, que
o fator preço elevado para aquisição do pescado era o principal ponto, sendo 40,5%
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 20
216
e 29,89% respectivamente.
As espécies preferidas em Sinop, a maior preferência foi a Tilápia (Oreochromis
sp) 15,23%, tambaqui (Colossoma macropomum) com 12,92% (peixes com grande
quantidade de espinhas intramusculares ou espinhas em “Y”), matrinxã (Brycon
falcatus) 11,17% e Salmão (Salmo salar)10,56%. A tilápia está entre as espécies mais
preferidas pelos consumidores, já as duas espécies nativas (tambaqui e a matrinxã),
segundo dados do MPA (2011), estão entre as mais cultivadas no estado de Mato
Grosso. Dutra et al., (2014), mostraram que os consumidores da cidade de DouradosMS também apontam a tilápia como a espécie preferida para consumo, tendo em vista
que os consumidores buscam alimentos com facilidade na hora do preparo. Contudo,
nos Municípios de Belém–Pá (MANGAS et al., 2016), Maceió- AL (SANTOS et al.,
2017), Lavras Minas- MG (MELO et al., 2015) os dados mostram que há preferência
maior pela Dourada, Salmão e surubins (Pseudoplatystoma sp.), diferentes da região
de Sinop- MT.
Com relação à influência da cor no momento da aquisição do pescado, mais
da metade (68,97%) dos consumidores levam a cor como um importante atributo na
escolha do pescado. Esse resultado já era esperado com essa representatividade
no momento de aquisição, pois a cor pode ser considerada um dos atributos mais
impressionantes de um alimento, e influência diretamente a preferência, a seleção e
os desejos alimentares dos consumidores (DELGADO-VARGAS E PAREDES-LOPEZ,
2003; SHIM et al., 2011, MARTINS et al., 2016), ainda mais levando em consideração
que o modo de aquisição de pescado e na forma in natura (BEUREN E DOS SANTOS
CARDOSO, 2012).
Mesmo com mais da metade dos intrevistados alegando que a cor é uma
influência no momento da compra, 62% afirmaram que não pagariam mais pela
coloração,quando questionados. Leandro (2017) em seus estudos na região de SinopMT mostrou que seus entrevistados pagariam mais por peixe produzido de forma
responsável no município. Portanto o dado obtido neste pode ser explicado pela renda
salarial dos entrevistados onde a maioria é estudante, levando em consideração que
proteína de origem animal está atrelada ao alto preço (BARROS et al. 2012).
Quanto à preferência de coloração do pescado, notou-se uma expressividade
pouco maior da cor branca (34,50%), perante a cor rosada (34,11%), isso se deve ao
fato de a maioria dos consumidores relacionarem o peixe à cor branca, a carne mais
saudável. Segundo estudo realizado por Barros et al., 2012, o significado “carne” entre
os entrevistados estava atribuído a cor vermelha, onde em algumas situações durante
as entrevistas carne de frango e peixe não foram consideradas como carne. O autor
explica que essa informação é devido a coloração da carne branca, sendo que alguns
casos os entrevistados excluíam o peixe da categoria carne, e ainda sim denotando ao
pescado ser mais saudável pela questão da coloração branca.
Observar os fatores que levam a escolha do pescado é importante para chegar
ao consumidor de forma mais precisa. Os consumidores avaliados neste estudo
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 20
217
indicaram que o fator qualidade (51%) é o maior fator de influência na escolha, e em
seguida, o tipo de pescado com 21 %. Estes dados mostram que mesmo o preço
sendo um motivo forte na influência da compra, quando o consumidor vai escolher o
pescado ele opta mais por qualidade que pelo preço. Esses dados corroboram com
os encontrados por Dutra et al, (2014) no município de Dourado MS, onde 75% dos
entrevistados indicaram a qualidade como fator chave, e 11% pelo preço. O mesmo
foi relatado por Mangas et al (2016) na cidade de Belém – PA onde o preço foi o fator
mais considerado.
O fator cor (13%) apresentou também valor significativo, onde os consumidores
avaliam um conjunto de fatores para determinar a compra do pescado, o que corrobora
com os estudos de Mangas et al., 2016, em Belém- PA, onde a cor teve expressão de
18,79 % entre os entrevistados.
Martins et al (2016) explicam que corantes naturais têm sido exigidos e estão se
tornando populares entre os consumidores mundiais, e que as indústrias de alimentos
vêm junto com a ciência de alimentos buscando mais avanços na elaboração e posterior
comercialização de produtos mais naturais, mais saudáveis, seguros e funcionais.
Este estudo buscou reconhecer as necessidades do mercado de peixes no
município de Sinop, além das exigências do consumidor e suas preferências no
momento de aquisição de pescado.
CONCLUSÕES
O perfil do consumidor de pescado em Sinop é influenciado diretamente pela
preferência por outras carnes, devido ao preço e cultura advinda da colonização. A cor
é considerada um padrão de escolha no momento de aquisição do pescado na cidade,
contudo os consumidores não estão dispostos a pagar por cor, mesmo que os tons
rosado e salmonado da carne tenham expressividade na preferência de coloração pelos
consumidores. A aparência, cheiro, preço, validade e cor são atributos expressivos no
momento da aquisição, mostrando assim que os consumidores avaliam um conjunto
de fatores para determinar a compra do pescado no município.
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 20
220
CAPÍTULO 21
PERSPECTIVA AMBIENTAL NA SUBSTITUIÇÃO DO
USO DE PAPEL TOALHA POR SECADORES DE MÃOS
EM BANHEIROS PÚBLICOS
Leila Nogueira Rocha Silva
Centro Universitário Cesmac, Programa de PósGraduação em Análise de Sistemas Ambientais,
Maceió-AL
João Gomes da Costa
Centro Universitário Cesmac, Programa de PósGraduação em Análise de Sistemas Ambientais,
Maceió-AL
Jessé Marques da Silva Pavão
Centro Universitário Cesmac, Programa de PósGraduação em Análise de Sistemas Ambientais,
Maceió-AL
Adriane Borges Cabral
Centro Universitário Cesmac, Programa de PósGraduação em Análise de Sistemas Ambientais,
Maceió-AL
Mayara Andrade Souza
Centro Universitário Cesmac, Programa de PósGraduação em Análise de Sistemas Ambientais,
Maceió-AL
RESUMO: A preocupação com a forma
de destinação final dos resíduos sólidos
gerados tem despertado interesse de estudos
pela comunidade científica na busca de
dimensionar o impacto sobre o planeta. O termo
sustentabilidade está diretamente relacionado
à ação humana no meio ambiente, propondo
um equilíbrio para que as futuras gerações não
sejam afetadas negativamente a respeito da
disponibilidade de recursos naturais. Com isto,
a fim de minimizar a quantidade de resíduos
gerados pela secagem das mãos em banheiros
públicos, a pesquisa teve por objetivo analisar
por meio de perspectiva ambiental, a substituição
do uso de papel toalha por secadores de
mãos em banheiros públicos do Centro
Universitário Cesmac, Maceió, AL. A pesquisa
foi desenvolvida em banheiros do Cesmac, no
período entre maio e junho de 2017, nos turnos
amanhã, tarde e noite, antes e após a instalação
dos secadores de mãos. Como parâmetros
para o cálculo da pegada ecológica (PE) foram
utilizados o consumo de água, consumo de
energia e consumo de papel toalha, também
foram analisados a conversão do consumo em
emissão de CO2. A substituição do uso de papel
toalha por secadores de mãos em banheiros
públicos é uma medida efetiva para redução dos
impactos ambientais por promover diminuição
da PE, emissões de CO2 e produção de lixo ao
meio ambiente. Fica evidente a necessidade de
conscientização ecológica ao invés de somente
sua viabilidade econômica na execução de
projetos promovendo a implantação de medidas
sustentáveis nos banheiros públicos, de modo
a reduzir os impactos ambientais gerados pela
sociedade atual.
PALAVRAS-CHAVE:
Pegada
ecológica,
Sustentabilidade, Impacto ambiental, Resíduos
Sólidos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
221
ENVIRONMENTAL PERSPECTIVE OF THE ENVIRONMENTAL REPLACEMENT OF
PAPER TOWELS USE BY HAND DRYERS IN PUBLIC TOILETS
ABSTRACT: The concern with the final destination of solid waste generated has
aroused interest of studies by the scientific community in the search of dimensioning
the impact on the planet. The term sustainability is directly related to human action
in the environment, proposing a balance so that future generations are not adversely
affected regarding the availability of natural resources. Thus, in order to minimize the
amount of waste generated by hand drying in public toilets, the aim of this research was
to analyzing, through an environmental perspective, the replacement of paper towels
use by hand dryers in public toilets at Centro Universitário Cesmac, Maceió, AL. The
research was developed in Cesmac bathrooms between May and June 2017, in shifts
as tomorrow, afternoon and evening, before and after the installation of hand dryers.
As parameters for the calculation of the ecological footprint (EF) were used water
consumption, energy consumption and paper towel consumption, the conversion of
consumption into CO2 emissions. The replacement of paper towel use by hand dryers
in public toilets is an effective measure to reduce environmental impacts by promoting
EF reduction, CO2 emissions and the production of garbage to the environment. It is
evident the need for ecological awareness rather than just its economic viability in the
execution of projects promoting the implementation by sustainable measures in public
toilets, in order to reduce the environmental impacts generated by current society.
KEYWORDS: Ecological Footprint, Sustainability, Environmental Impact, Solid Waste.
1 | INTRODUÇÃO
A sustentabilidade tem assumido importante papel nas pautas de discussões
mundiais, em virtude das necessidades de se compreenderem tanto os instrumentos
fundamentais para a preservação do planeta, como a integração entre a eficiência
energética e sua relação com o uso de materiais sustentáveis, visando promover a
segurança das pessoas e a viabilidade econômica (GALLI, 2007).
Construir hoje é uma palavra muito relacionada ao consumismo e a vida
capitalista que tem imperado em todo o planeta. Porém, não obstante, todo ato de
consumir e construir tem se tornado uma combinação catastrófica no que diz respeito
a conservação da vida na Terra. A sustentabilidade construtiva tem sido abordada
diante do crescimento econômico em países em desenvolvimento como o Brasil
que, segundo o último Censo do IBGE registrou mais de cento e noventa milhões de
habitantes em todo o território nacional (IBGE, 2015).
Relatório sobre a demanda energética esclarece que a relação entre consumo
e consciência ecológica ainda está distante para o consumidor final (MME 2014).
Sob o ponto de vista da oferta, destaca-se a produção de novos equipamentos com
diferentes níveis de serviço final e índices de eficiência energética. Se, por um lado,
pode-se induzir a melhoria desses índices ao longo do tempo, através de políticas
de eficiência energética, por outro lado, a escolha do consumidor final nem sempre
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
222
evolui no sentido de utilizar equipamentos com menor consumo energético. O cenário
econômico adotado e as projeções demográficas, assim como a correspondente
projeção do consumo total de energia elétrica, para o período decenal (2017-2026),
resultam em um crescimento continuado do consumo per capita de eletricidade,
concomitantemente a um aumento da intensidade elétrica (EPE, 2017).
Para quantificar a sustentabilidade ambiental, muitos instrumentos quantitativos
e qualitativos foram desenvolvidos, destacando-se os indicadores de sustentabilidade,
que permitem verificar o cenário atual de um ambiente (QUIROGA, 2001).O método da
pegada ecológica tem sido uma ferramenta muito utilizada para medir e comunicar o
desenvolvimento sustentável, mensurando a sustentabilidade de sócios-ecossistemas
urbanos à medida que contrasta o consumo dos recursos humanos pelas atividades
humanas com a capacidade suporte da natureza, mostrando se seus impactos no
ambiente global são sustentáveis em longo prazo (LISBOA; BARROS, 2010).
Pesquisas em contextos universitários tem sido realizadas na busca de quantificar
a pegada ecológica (SILVA, 2015; PIRES; MORALES; SANT`ANA, 2017). Amaral
(2010) reforçam que o cálculo da pegada ecológica em ambientes universitários
fomenta seu potencial de sensibilização e educação ambiental devido aos dados
gerados, promotores de discussões e passíveis de socialização a fim de comunicar os
limites ambientais e orientar medidas mitigadoras.
A proposta principal do presente estudo se destina a analisar os banheiros públicos
de uma instituição de ensino superior, especialmente utilizado por jovens universitários
e como subsídio para uma futura proposta do uso de materiais sustentáveis, alterandose esses ambientes para um novo padrão estético/funcional, com mais segurança,
higiene, conforto e economia dos recursos ambientais, tais como água, papel e energia
elétrica.
Diante desse contexto, a pesquisa teve como objetivo analisar por meio de
perspectiva ambiental, a substituição do uso de papel toalha por secadores de mãos
em banheiros públicos do Centro Universitário Cesmac, Maceió, AL.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Área de Estudo
A pesquisa foi desenvolvida no campus I do Centro Universitário CESMAC,
localizado na cidade de Maceió, Estado de Alagoas. Atualmente o centro oferece vinte
e seis cursos de graduação, além de mestrado, doutorado e cursos de especialização
em várias áreas do conhecimento, distribuídos em seus quatro campus na capital
alagoana e agreste alagoano.
O centro universitário possui um alto número de estudantes e possui 20 banheiros
distribuídos em 5 pavimentos, em que foram selecionados para pesquisa 2 banheiros
no piso com maior fluxo de pessoas.
De modo a analisar a preferência das pessoas para enxugar as mãos com papel
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
223
toalha ou em utilizar o secador de mãos em banheiros do centro universitário do
CESMAC, foram instalados suportes de papel toalha tipo branco para papel toalha
interfolhado nos banheiros masculino e feminino do pavimento térreo do Campus I.
Parâmetros utilizados para cálculo da Pegada ecológica
Para o cálculo da pegada ecológica dos banheiros foram utilizados os
parâmetros: Consumo de Água; Consumo de Energia e Consumo de Papel Toalha.
Esses parâmetros foram computados antes e após instalação de secadores de mãos.
De modo a quantificar as emissões de CO2 para consomo de água, energia elétrica
e papel toalha virgem, foram extraídas da literatura os fatores de emissão, como
observado na Tabela 1.
Parâmetro
Fator de emissão
de CO2
Consumo de Água
0,50 kgCO2/m³
Consumo de Energia Elétrica
0,57 kgCO2/kWh
PIRES; MORALES;
SANT`ANA (2017)
PIRES; MORALES;
SANT`ANA (2017)
Consumo de Papel Toalha
Virgem
0,70 kgCO2/kg
CARVALHO; LIMA (2018)
Fontes
Tabela 1. Fatores de emissão de CO2 para os parâmetros analisados no estudo com base na
literatura.
A conversão do consumo em emissão de CO2 é calculada pela equação: Emissão
(kg CO2) = consumo x fator de emissão, conforme a metodologia descrita por Mendes
(2014). Os cálculos emissão de CO2 foram realizados para cada parâmetro e os
resultados extrapolados para os 20 banheiros da instituição.
O consumo de energia elétrica foi quantificado antes da instalação dos secadores,
levando em consideração apenas as lâmpadas e após a instalação dos secadores,
o consumo foi calculado pelo uso das lâmpadas + secadores. Para o cálculo foi
considerado a potência dos equipamentos e feita a conversão de potência (W) para
Kilowatts hora/dia (KWh/dia), utilizando a seguinte equação: Consumo (KWh/dia) =
((potência real x tempo de uso)/ 1000).
O consumo da água dos banheiros foi quantificado pela quantidade de água
utilizada e tempo de uso das torneiras. Para isso, previamente foi computada a
quantidade de água com auxílio de um becker por determinado tempo. Nos banheiros
feminino e masculino foram realizadas observações durante período de 1 hora
contabilizando o tempo de uso das torneiras, para posterior cálculo do consumo diário
em m3.
A análise do uso do papel toalha e do secador de mãos foi realizada em duas
etapas, durante o período de maio a novembro de 2017, em horários aleatórios, nos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
224
turnos manhã, tarde e noite, com a finalidade de alcançar maior número de pessoas,
tendo como público alvo estudantes de graduação, docentes e servidores.
A primeira fase correspondeu a avaliação do consumo de papel toalha, antes da
aquisição dos secadores de mãos. A segunda fase, de posse da compra dos secadores
de mãos da marca LP do Brasil – Linha FIT S15-05, cujas as especificações estão
apresentadas no (Quadro 01), e feito o tombamento pelo patrimônio da instituição, os
equipamentos foram instalados nos dois banheiros.
Tensão
Fase
200V
Monofásico
Entrada
Velocidade do vento
1400W
105 m/s
Potência de
aquecimento
800W
Motor
Distância de
detecção
Classe de proteção
Tamanho do
equipamento
Peso
Motor com escova
9-15 cm
IPX1
250x175x488mm
4,3 Kg
Quadro 1. Especificação do fabricante do Secador Linha FIT S15-05 LP.
Fonte: LP do Brasil, 2017
O consumo do Papel toalha foi feito pela quantidade de pacotes (1.000 folhas)
utilizados por banheiro durante o tempo da pesquisa, extrapolando esses dados
para o número de banheiros do campus. Calculando seu consumo antes e após a
instalação do secador de mãos. Para cálculos do consumo mensal em quilogramas,
considerou-se o peso do pacote de papel toalha, de acordo com o fabricante (1293
gramas/pacote).
Cálculo da Pegada Ecológica
A Pegada Ecológica foi calculada por meio da equação PE (ha)=emissão de
CO2/ taxa de absorção de carbono, utilizando-se a Taxa de Absorção de Carbono
fixada em 6,27 tCO2/ha/ano (MENDES, 2014). A equação foi aplicada para cada um
dos parâmetros e, posteriormente, os resultados somados para determinar a Pegada
Ecológica do objeto de estudo.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
O consumo de Energia Elétrica nos banheiros é realizado por 08 lâmpadas
tubulares e 04 lâmpadas redondas por banheiro com funcionamento em média de 12
horas por dia. O consumo de energia elétrica foi calculado antes e após instalação dos
secadores de mãos nos banheiros, como apresentados na Tabela 2. Os resultados
obtidos mostraram que houve maior consumo de energia após instalação dos
secadores, o que já era esperado. Porém esse valor apresentou um custo mensal
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
225
próximo aos banheiros sem secador, de modo a ter um aumento de 51,00 reais por
mês, o equivalente a 612 reais ao ano.
Banheiro
Feminino
Masculino
TOTAL
Feminino
Masculino
TOTAL
Tipo
CU
TU
CTD
CTM
CD
Whats/h hora
KW
KW
R$
Antes da instalação dos Secadores de mãos
Lâmpadas
32,00 12,00
3,07
79,87
1,94
(tipo 1)
Lâmpadas
20,00 12,00
0,96
24,96
0,61
(tipo 2)
Lâmpadas
32,00 12,00
3,07
79,87
1,94
(tipo 1)
Lâmpadas
20,00 12,00
0,96
24,96
0,61
(tipo 2)
48,00
8,06
209,66
5,10
Após instalação dos Secadores de mãos
Lâmpadas
32,00 12,00
3,07
79,87
1,94
(tipo 1)
Lâmpadas
20,00 12,00
0,96
24,96
0,61
(tipo 2)
Secador
28,00 12,00
0,28
8,40
0,85
Lâmpadas
32,00 12,00
3,07
79,87
1,94
(tipo 1)
Lâmpadas
20,00 12,00
0,96
24,96
0,61
(tipo 2)
Secador
28,00 12,00
0,28
8,40
0,85
160,0 72,00
8,62
226,46
10,68
CM
R$
50,56
15,80
50,56
15,80
132,72
50,56
15,80
25,50
50,56
15,80
25,50
183,72
CU =Consumo unitário, TU=Tempo de uso, CTD=Consumo total diário, CTM=consumo total
Mensal, CD=Custo diário e CM=Custo mensal.
Tabela 2. Consumo de energia elétrica nos banheiros antes e após instalação dos secadores de
mãos no centro universitário Cesmac, Campus I.
O consumo de água nos banheiros, corresponde ao uso das torneiras para
lavagem de mãos (Tabela 3). Verifica-se que o consumo de água nos dois banheiros
totalizou no consumo de 707,76 m³/ano o equivalente a um custo anual de 11.501,76
reais.
Banheiro
Nº Torneiras
GU
CTD
CTM
CD
CM
(m3)
20,51
(R$)
12,82
(R$)
333,35
Feminino
05
0,53
(m3)
0,79
Masculino
04
1,23
1,48
38,47
24,04
625,13
TOTAL
09
1,76
2,27
58,98
36,86
958,48
GU =Gasto por usuário, CTD=Consumo total diário, CTM=Consumo total mensal, CD=Custo
diário e CM=Custo mensal.
Tabela 3. Consumo de água nos banheiros do Campus I.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
226
Analisando o consumo diário e mensal de papel nos banheiros antes e após o
secador de mãos (Tabela 4), constata-se que o uso do secador reduziu o consumo de
papel toalha, e consequentemente os custos em 935,86 reais mensais, correspondendo
a uma economia de 11.230,32 reais ao ano.
Banheiro
CTD
(PC)
CTM
(PC)
CTM
(Kg)
CU
(R$)
CM
(R$)
Antes da instalação dos Secadores de mãos
Feminino
Masculino
TOTAL
3,21
2,52
5,73
Feminino
Masculino
TOTAL
0,73
0,97
1,70
83,46
107,91
30,66
65,52
84,717
24,07
148,98
192,65
54,73
Após instalação dos Secadores de mãos
21,90
28,32
6,97
29,10
37,62
9,26
51,00
65,94
16,23
797,04
625,72
1.422,76
209,10
277,80
486,90
CTD=Consumo total diário, CTM=Consumo total mensal, CD=Custo diário e CM=Custo mensal.
Tabela 4. Consumo de Papel Toalha antes e após a instalação dos secadores de mãos nos
banheiros do Campus I.
O uso de papel toalha nos banheiros universitários tem possibilitado uma crescente
produção na geração de resíduos, que consequentemente acarretará impacto ao meio
ambiente. Bezerra et al. (2007) mencionam que o desperdício de papel toalha é maior
que o secador elétrico, devido normalmente os usuários utilizarem mais folhas de papel
do que o necessário, e que os mesmos acabam jogando fora folhas secas. Enquanto
que no secador os usuários raramente ficam mais tempo do que o necessário para
secar suas mãos.
O uso do secador de mãos, segundo os mesmos autores permitem aos usuários a
secagem de mãos sem contato, o que o torna muito mais higiênico quando comparado
ao uso do papel toalha, que pode conter fungos e bactérias. Afirmam ainda que o
investimento inicial devido a aquisição dos secadores é alto, porém o retorno não
demora a vir possibilitando uma economia de dinheiro, além de não ter despesas com
o transporte do lixo.
No que diz respeito a contribuição desses parâmetros (energia elétrica, água
e papel toalha) para emissões de CO2 na atmosfera (Tabela 5), ficou evidente que a
substituição do uso do papel toalha pelo secador de mãos, reduziu consideravelmente
a produção do gás, o que torna essa prática sustentável. Carvalho e Silva (2018)
estudando as emissões de CO2 relacionadas ao desenvolvimento do estágio de iniciação
científica proveniente do consumo de combustíveis fósseis, de energia elétrica, do
consumo de água e do consumo de papel, verificaram que maiores emissões ocorre
no setor de transporte (99,53%) e consumo de papel (0,42%), com contribuição do
papel toalha de 2,825 Kg CO2.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
227
Fiorni, Souza e Mercante (2013) mencionam que as ações antrópicas, reforçadas
pelo consumo exacerbado de bens e serviços distribuídos nos setores econômicos,
tecnológicos e demográficos, estão diretamente relacionadas com as mudanças
climáticas globais. Salientam ainda que caso nenhuma política seja adotada para
mitigar o desequilíbrio ambiental, a crescente emissão de gases na atmosfera,
provenientes de fontes diversas, chegará a níveis muito alto no futuro e isso dificultará
a capacidade natural de proteção do planeta.
Atrelado a esses valores, após o cálculo da Pegada ecológica, observou-se
redução dos valores para o parâmetro papel toalha após uso do secador nos banheiros,
demonstrando a necessidade de utilização dessa prática.
Parâmetros
Energia Elétrica
Água
Papel Toalha
TOTAL
Energia Elétrica
Água
Papel Toalha
TOTAL
Emissão de CO2 (t CO2/ano)
Antes dos Secadores
Após Secadores
14,34
15,48
3,58
3,58
16,18
5,53
34,1
24,59
Pegada Ecológica (ha)
2,28
2,46
0,56
0,56
2,58
0,88
5,42
3,90
Tabela 5. Emissão de CO2 liberado e pegada ecológica para o consumo de energia elétrica,
água e papel toalha, antes e após instalação de secadores de mãos em banheiros do Campus
I/Cesmac.
É notório que a diminuição no consumo de papel foi o fator de maior contribuição
para redução da pegada ecológica. Segundo a literatura a redução da pegada ecológica
pode ocorrer em detrimento de algum parâmetro avaliado e não necessariamente
todos os parâmetros. Entretanto, alguns autores fazem análise dos componentes
separadamente, permitindo que os resultados sejam observados com maior clareza,
sem deixar margem para dúvidas com relação a interpretação, como visto por Amaral
(2010) e Mendes (2014).
Em estudo realizado no Campus de São Carlos da Universidade de São Paulo
por Amaral (2007) o parâmetro mais representativo na composição da PE total do
Campus de São Carlos foi o consumo de energia elétrica. Para Pires, Morales e
Sant’ana (2016), dentre os parâmetros avaliados, o consumo de energia contribuiu
com cerca de 25% desse indicador.
A adoção de técnicas sustentáveis a fim de minimizar o consumo de energia
elétrica são alternativas viáveis, de modo a reduzir a pegada ecológica, a exemplo da
substituição por equipamentos mais sustentáveis (lâmpadas de LED, sensores para
acender e desligar as lâmpadas), redução dos resíduos sólidos (substituição do papel
toalha pelo secador de mãos), uso consciente da água (vazão das descargas com
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
228
opção de 03 e 06 litros) reduzindo seu impacto ao meio ambiente. Para Ribeiro et
al. (2016) a disseminação do conhecimento na sociedade brasileira sobre a pegada
ecológica é fundamental para que haja uma tomada de consciência da população em
relação aos hábitos de consumo e impactos que estes podem desencadear no planeta.
4 | CONCLUSÃO
A substituição da utilização de papel toalha por secadores elétricos de mãos nos
banheiros públicos da instituição é uma alternativa viável do ponto de vista ecológico e
econômico, com redução nos valores da Pegada ecológica. É sabido que o consumo
de energia elétrica implica em diversos impactos ambientais, entretanto o consumo
de energia dos banheiros não apresentou aumento significativo após instalação dos
secadores de mãos. Em contrapartida, a redução no uso de papel toalha foi significativa
para a redução da Pegada ecológica dos banheiros. A redução no consumo do papel
implicará na redução do desmatamento e do consumo de água e energia necessários
para fabricação do papel; adicionalmente implicará na redução de geração de resíduos
sólidos e todos os impactos ambientais relacionados a estes.
REFERÊNCIAS
AMARAL, R. C. Análise da aplicabilidade da Pegada Ecológica em contextos
Universitários: estudo de caso no campus de São Carlos da Universidade de São Paulo. 2010.
110f. Trabalho de Graduação (Graduação em Engenharia Ambiental), Universidade de São Paulo,
São Carlos, 2010.
BEZERRA, A. S.; BRITO, D. D.; SOUZA, G. U.; MAROSTI, M. P. Análise da viabilidade econômica
da substituição de papel toalha por secadores de mãos elétricos em banheiros públicos.
Revista Ciências do Ambiente On-Line, v.3, n.1, p.1-6, 2007.
CARVALHO, P. G. M.; LIMA, J. L. A Pegada Ecológica: breve panorama do estado das artes
do indicador de sustentabilidade no Brasil. 2003. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/
areadoinstituto/pibic/anais/2010/Artigos/RE10403.pdf > Acesso em: 20 de Fevereiro de 2018.
CINTRA, L. Até 80% do consumo de água nas casas, vem das descargas. Disponível em: <http://
www.super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/ate-70-do-consumo-de-agua-em-edificioscomerciais-vdas-descargas>. Acessado em: 05 de Maio de 2017.
EPE, E. de P.E. (2017). Projeção de demanda de energia elétrica. Disponível em: http://DEA%20
001_2017%20-%20Proje%C3%A7%C3%B5es%20da%20Demanda%20de%20Energia%20
El%C3%A9trica%202017-2026_VF[1].pdf. Acesso em Abril de 2019.
FIORINI, A. J. C. E.; SOUZA, C. C.; MERCANTES, M. A. A pegada ecológica como instrumento
de avaliação ambiental da cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Sustentabilidade em
Debate, v.4, n.1, p.231-248, 2013.
GALLI, A. Educação Ambiental como instrumento para o Desenvolvimento Sustentável. Curitiba,
2007.
IBGE. Brasil em números, Biblioteca do IBGE, 2015.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
229
LISBOA, C. K.; BARROS, M. V. F. A pegada ecológica como instrumento de avaliação ambiental
para a cidade de Londrina. Confins, n.8, p.1-20, 2010.
MME, Ministério de Minas e Energias. “Demanda de Energia 2050”, Nota Técnica DEA 13/14,
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MENDES, B. J. Pegada Ecológica da Faculdade de Economia do porto. Dissertação de Mestrado.
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PIRES, L. F.; MORALES, A. G.; SANT`ANA, R. C. G. Análise da Pegada Ecológica no Campus de
Tupã da Universidade Estadual Paulista. Multitemas, v. 22, n.51, p.23-48, 2017.
RIBEIRO, A. G. A.; RIBEIRO, R. M.; FREITAS, C. H.; SILVA, J. F. A pegada ecológica dos alunos do
1° período do curso de pedagogia do Uniaraxá. Evidência, v.12, n.12, p.227-236, 2016.
SILVA, G. J. P. Modelagem para avaliação da pegada ecológica em instituições de ensino. 2015.
124f. (Dissertação de Mestrado) – Universidade Candido Mendes, Campos-RJ, 2015.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 21
230
CAPÍTULO 22
PROGRAMA DE MONITORAMENTO DA
BIODIVERSIDADE NAS UNIDADES DE
CONSERVAÇÃO GOIANAS: PROMOBIO
Paula Ericson Guilherme Tambellini
Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável do Estado de Goiás (SEMAD)
Caldas Novas, Goiás
Caio César Neves Sousa
Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável do Estado de Goiás (SEMAD)
Goiânia, Goiás
Maurício Vianna Tambellini
Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável do Estado de Goiás (SEMAD)
Caldas Novas, Goiás
Marcelo Alves Pacheco
Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável do Estado de Goiás (SEMAD)
Goiânia, Goiás
RESUMO: O PROMOBio foi criado pela
Gerência de Áreas Protegidas e Compensação
Ambiental para tornar efetivo o manejo
das unidades de conservação goianas, e
para integrar as áreas protegidas com as
comunidades. Até o momento, publicamos o
Rappam de dez áreas protegidas e treinamos
sessenta e quatro funcionários. O programa
está conduzindo o monitoramento da fauna em
três unidades, experimentalmente: o Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas, o Parque
Estadual Altamiro de Moura Pacheco e o Parque
Estadual da Mata Atlântica. Os resultados do
programa poderão ser replicados para todo o
Sistema Estadual de Unidades de Conservação
e amplamente divulgados para a sociedade.
PALAVRAS-CHAVE:
manejo,
parques,
monitoramento, fauna.
BIODIVERSITY MONITORING PROGRAM IN
PROTECTED AREAS OF GOIÁS: PROMOBIO
ABSTRACT: PROMOBio was created by the
Gerência de Compensação Ambiental e Áreas
Protegidas to make effective the management
of Goiás protected areas, and to integrate
protected areas with communities. So far, we
have published the Rappam of 10 protected
areas and trained sixty-four employees. The
program is leading the monitoring of fauna in
three parks, experimentally: Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas, Parque Estadual
Altamiro de Moura Pacheco and Parque
Estadual da Mata Atlântica. The Results of
this program can be replicated throughout the
State System of Protected Areas and widely
disseminated to society.
KEYWORDS: management, parks, monitoring,
fauna.
1 | INTRODUÇÃO
O PROMOBio constitui uma iniciativa da
Gerência de Áreas protegidas e Compensação
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
231
Ambiental, que visa tornar efetivas as práticas de manejo nas unidades de conservação
no Estado de Goiás; contribuindo também para integrar as áreas protegidas com as
comunidades dos municípios onde elas se inserem. O programa será implantado em
caráter experimental em três UCs da categoria proteção integral: Parque Estadual
da Serra de Caldas Novas (PESCaN), Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco
(PEAMP) e Parque Estadual da Mata Atlântica (PEMA).
São objetivos gerais do PROMOBio: i) instituir um programa de monitoramento
de caráter contínuo nas UCs goianas e ii) incorporar os resultados do monitoramento
ao manejo das unidades de conservação. São objetivos específicos do programa:
i) efetuar o diagnóstico da gestão das UCs; ii) treinar os funcionários (técnicos e
operacionais) para lidarem com questões relacionadas ao manejo e à proteção da
biodiversidade e iii) tornar públicos os resultados do programa.
2 | MATERIAIS E MÉTODOS
O Programa de Monitoramento e Promoção da Biodiversidade das UCs Goianas
é composto por cinco COMPONENTES. A cada um dos componentes atribuímos uma
META. Para verificar o alcance das metas, foram propostos os INDICADORES. A
Tabela1 resume estas informações.
COMPONENTES
METAS
INDICADORES
A: DIAGNÓSTICO
A1: elaboração do Rappam
A1: publicação dos
resultados
B: TREINAMENTO
: capacitação de pessoal
B1: somatória do número
de participantes de cada
curso oferecido
C: PESQUISA
C1: financiamento de
pesquisas
C1: número de publicações
derivadas das pesquisas
direcionadas de acordo
com as prioridades de cada
unidade
D: MONITORAMENTO
D1: Monitoramento de fauna
D1: listagem e número das
espécies inventariadas;
com enfoque para as
ameaçadas de extinção
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
232
E: EDUCAÇÃO
AMBIENTAL E
PUBLICIDADE
E1: Exposição didática dos
resultados do Componente
“D”
E1: Número de exposições
realizadas
E2: Divulgação dos
resultados do programa
E2: Número de
publicações relacionadas
ao PROMOBio, tanto no
site da SECIMA quanto
nas mídias sociais e na
imprensa escrita (jornais,
revistas, etc).
Tabela 1. Síntese dos componentes, metas e indicadores do PROMOBio.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
COMPONENTE A: Rappam
O diagnóstico da gestão das UCs goianas foi feito em colaboração com a WWF
Brasil nos dias 04 a 07 de dezembro de 2012, e publicado em 08 de agosto de 2014 no
site da SEMARH (atual SEMAD). Os resultados referem-se à avaliação de metade das
unidades que compõem o SEUC: oito (08) Parques Estaduais e duas (02) Áreas de
Proteção Ambiental. A média da efetividade de gestão da categoria proteção integral
foi de 31,6%, enquanto as UCs de uso sustentável avaliadas atingiram 34,6%. A média
geral (32,2%) evidenciou o estado precário em que se encontra o Sistema Estadual de
Unidades de Conservação.
Dentre as ações estratégicas citadas pelos técnicos como essenciais para a
melhoria destes índices, destacamos as três (03) opções mais votadas, em ordem
de prioridade. 1. No eixo das Ações de Governo/Políticas Institucionais: motivar a
criação de uma secretaria, agência, fundação ou instituto de unidades de conservação.
2. No eixo Gestão e Manejo: criar (e consequentemente; cumprir) planos de trabalho.
3. No eixo Recursos Humanos: estabelecer quadro de funcionários com qualificação
e em quantidades suficientes para a gestão das UCs.
Neste contexto, há que se considerar necessidade urgente a realização de
concurso público para cada uma das unidades de conservação; uma vez que os
técnicos admitidos no último processo seletivo estão em quantidade insuficiente.
Ademais, poucos deles estão exercendo suas funções diuturnamente NAS unidades
(onde a maioria do quadro funcional é composta por funcionários comissionados).
COMPONENTE B: TREINAMENTO
A concepção primária deste componente foi proposta para lidar com um sério
problema institucional: funcionários com pouca ou nenhuma qualificação voltada para
o manejo das unidades de conservação.
Ao longo do tempo em que o Programa se desenvolve e até o presente momento;
foram promovidos dois cursos de capacitação, a saber: i) “O Sistema Estadual de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
233
Unidades de Conservação”, para os funcionários de todas as unidades de conservação
e ii) “Curso Introdutório de Gestão de Unidades de Conservação”, para o corpo técnico
da GCAAP.
O mini-curso “O Sistema Estadual de Unidades de Conservação” foi ministrado
em 31 de janeiro de 2013, abrangendo temas comuns relacionados ao trabalho nas
unidades de conservação; com o objetivo de apresentar informações básicas para os
funcionários que atuam diretamente nas unidades, visto que a vasta maioria deles
não detinha o conhecimento necessário para desempenhar as ações inerentes ao
monitoramento e à proteção da biodiversidade.
A apresentação foi ministrada por Analistas Ambientais da GCAAP. De fato,
entendemos que o treinamento dos agentes envolvidos na conservação do patrimônio
natural não depende de recursos financeiros e humanos externos; podendo ser
efetivado com a colaboração do quadro funcional da própria instituição/Secretaria de
Estado.
O “Curso Introdutório de Gestão de Unidades de Conservação” foi realizado na
semana de 11 à 14 de junho de 2013 para o corpo técnico da GCAAP, e ministrado
por profissionais vinculados ao IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas). Os temas
abordados foram: educação e envolvimento social na gestão, uso público, fogo e
espécies invasoras, aspectos administrativos e operacionais, captação de recursos,
legislação aplicada à gestão e planejamento/monitoramento da gestão. O objetivo
primário deste treinamento foi municiar os Analistas e Assistentes Ambientais advindos
do último concurso público com ferramentas que visam auxiliar a tomada de decisões
e a implementação de ações-chave para que a gestão das unidades de conservação
goianas seja bem-sucedida.
Ao todo, foram capacitados 64 (sessenta e quatro) funcionários; número que à
época correspondia quase à totalidade do quadro funcional da Superintendência de
Unidades de Conservação.
COMPONENTE C: PESQUISA
O incentivo à pesquisa científica nas UCs goianas visa preencher as “lacunas” do
conhecimento necessário para o planejamento da gestão.
Atualmente existem pesquisas em condução em algumas unidades, enquanto
outras permanecem sem estudos e com status de conservação desconhecido.
Tais pesquisas referem-se à “demanda espontânea”, ou seja; são propostas pelos
membros da comunidade científica e realizadas às custas dos mesmos (normalmente,
por instituições de fomento à pesquisa).
O que o PROMOBio pretende instituir é a “demanda induzida”, elencando
pesquisas prioritárias que devem ser realizadas nas UCs e financiando-as. Para tanto,
foi necessário garantir uma parcela de recursos advindos de compensação ambiental;
no valor inicial de um milhão de reais (R$ 1.000.000,00).
Por determinação do (à época) Secretário de Estado, o recurso disponível devia
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
234
ser repassado à FAPEG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás), que
lançaria o edital para financiar as pesquisas propostas pelo corpo técnico da GCAAP.
Durante as consultas à Advocacia Setorial e às instâncias competentes da
FAPEG sobre como firmar o instrumento jurídico entre as instituições, as negociações
falharam. Portanto, este componente não alcançou os resultados pretendidos. Medidas
alternativas para o alcance da meta ainda estão em estágio embrionário.
COMPONENTE D: MONITORAMENTO DE FAUNANo PESCaN – Parque
Estadual da Serra de Caldas Novas
No PESCaN–Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
Com 12.000 ha, o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas foi a primeira
unidade de conservação criada pelo Estado de Goiás, em 1970.
A criação da unidade objetivou garantir a proteção da principal área de recarga
do aquífero termal que sustenta as atividades turísticas nos municípios de Caldas
Novas e Rio Quente/GO, e consequentemente; da biodiversidade local.
Embora o monitoramento esteja em andamento no PESCaN, foram identificadas
10 espécies sob ameça de extinção na unidade: lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),
raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), onça-parda (Puma concolor), gato-mourisco
(Puma yagouaroundi), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-mato (Leopardus sp.),
tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), tatu-canastra (Priodontes maximus),
veado-campeiro
(Ozotocerus
bezoarticus)
e
cervo-do-pantanal
(Blastocerus
dichotomus).
Figura 1. Onça-parda no PESCaN (imagem cedida por Caio Cesar Neves Sousa).
No PEAMP – Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco
O Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP), teve o seu Inventário
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
235
Faunístico realizado no ano de 2006, anterior a implantação da barragem da bacia de
acumulação do Ribeirão João Leite.
O parque teve sua área reduzida em função da implantação da barragem da
bacia de acumulação do ribeirão João Leite. Passando de uma área de 3.183 ha para
os atuais 2.132 ha, representando uma redução de 33% da área total da unidade de
conservação.
A implantação desse programa vem de encontro a uma necessidade iminente
de avaliar o impacto do empreendimento sobre a biodiversidade da unidade de
conservação, além de contribuir para o nosso conhecimento da fauna protegida pelo
Sistema Estadual de Unidades de Conservação.
O monitoramento da mastofauna de médio e grande porte iniciou-se no Parque
Estadual Altamiro de Moura Pacheco em 01 de abril de 2014 e está em andamento
até a presente data. Para a amostragem desse grupo foram utilizadas 04 armadilhas
fotográficas (câmeras TRAP), marca: BUSHNELL/Modelo: 119436C.
As armadilhas foram dispostas em áreas propícias à movimentação da mastofauna,
tais como trilhas e estradas que dão acesso ao reservatório do Ribeirão João Leite e
às margens de outros cursos d’água. Nesses locais também foram utilizadas “iscas”,
compostas por frutas, sardinha enlatada e bacon, como atrativo para a fauna.
Todas as armadilhas fotográficas foram visitadas pelo menos uma vez ao mês
para a substituição das pilhas, visualização das imagens e adição das iscas. Também
houve o remanejamento de armadilhas ao longo do período amostral, para que
pudéssemos amostrar uma maior área possível da UC. Cada local de amostragem foi
georeferenciado.
Os resultados compõem os dados obtidos no período de abril a setembro de
2014.
Após 183 dias de monitoramento foram registradas 268 ocorrências de mamíferos
de médio e grande porte no PEAMP. Desse total, foi possível identificar 17 espécies de
mamíferos, além de outras espécies de mamíferos de pequeno porte, aves e répteis,
que não foram o foco desse estudo.
Segundo o Inventário Faunístico do PEAMP, há nesta unidade um total de 52
espécies de mamíferos, sendo 23 destas consideradas de médio e grande porte.
O total de espécies registrado até o momento representa 32,69% das espécies de
mamíferos do PEAMP e 73,91% das que são consideradas de médio e grande porte;
indicando que já registramos nessa primeira fase boa parte da mastofauna de médio
e grande porte com ocorrência confirmada para a UC.
Dentre as espécies registradas, quatro merecem destaque: Leopardus pardalis
(jaguatirica), Myrmecophaga tridactyla (tamanduá-bandeira), Puma yagouaroundi
(gato-mourisco) e Puma concolor (suçuarana), pois são espécies que estão na lista
vermelha da fauna brasileira ameaçada de extinção, todas na categoria Vulnerável
(VU).
No PEMA – Parque Estadual da Mata Atlântica
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
236
O Parque Estadual da Mata Atlântica (PEMA) foi criado em 2006, resultado de um
esforço consciente para proteger os últimos resquícios do bioma no Estado de Goiás.
Não há nenhuma outra unidade de conservação inserida no polígono do Bioma Mata
Atlântica no Estado; exceto esse fragmento de quase 1.000 ha situado no Município
de Água Limpa/GO.
Àquela época (da criação), não havia parâmetros instituídos pela Secretaria
do Meio Ambiente para a realização dos estudos técnicos. Assim, o estudo técnico
produzido não apresentou inventários que pudessem indicar exatamente o quê a área
delineada por georreferenciamento continha; em termos de diversidade biológica.
Durante os anos que se seguiram, pouca atenção foi dada ao PEMA no sentido
de estabelecê-lo como uma unidade de conservação que contribua efetivamente para
a conservação do bioma mais ameaçado do Brasil.
A regularização fundiária ainda não foi completada, muito embora os recursos
advindos de compensação ambiental já estejam destinados. Atualmente, somente
29,6% da unidade está sob posse e domínio do Estado.
Em virtude de haverem
fazendas contidas na pequena área que constitui o parque, o gado tornou-se um
problema crônico que contribui de forma importante para a degradação dos hábitats
em detrimento de sua utilização pela fauna silvestre.
Some-se isto à i) ausência do Plano de Manejo, ii) inaptidão da área para visitação
pública (devido ao difícil acesso), iii) ausência de pesquisas científicas e iv) pequeno
número de técnicos qualificados no local; e pode-se ter uma ideia do panorama geral
da UC.
Em termos práticos, o que temos é um parque sem vocação para uso público
e ao mesmo tempo uma área provavelmente crucial para a conservação da Mata
Atlântica, mas com uma composição biótica pouco conhecida.
Neste estudo, direcionamos nossos esforços para produzir a lista de mamíferos
de médio e grande porte, utilizando como ferramenta principal 05 (cinco) armadilhas
fotográficas (BUSHNELL/Modelo: 119436C). O esforço de captura proveniente da
utilização das armadilhas foi superior à 6.000 (seis mil) horas.
Em nossos caminhamentos para instalar/desinstalar/iscar (cevar) ou trocar os
cartões de memória das traps, iniciamos concomitantemente o inventário das aves
(embora este não fosse nosso objetivo principal).
O monitoramento de fauna no PEMA foi realizado ao longo de seis meses,
abrangendo tanto a estação seca como a chuvosa. As câmeras foram fixadas em dez
(10) pontos diferentes.
A escolha destes pontos levou em consideração fatores como: prováveis trilhas
de deslocamento animal, proximidade de mananciais para dessedentação, locais
onde foram encontrados vestígios, dificuldade de acesso, densidade vegetal e grau
de antropização. Periodicamente, os locais onde estavam instaladas as armadilhas
mais próximas eram cevados, enquanto as localidades mais distantes permaneciam
sem atrativos a maior parte do tempo.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
237
Durante o período de setembro/2014 a abril/2015 foram inventariadas 129
espécies, das quais 32 são mamíferos.
Considerando a diversidade de mamíferos de médio e grande porte esperada para
a área (de 33 espécies, incluindo as naturalmente raras como Speothos venaticus),
foram inventariadas 28 (vinte e oito) delas; das quais 09 (nove) com alta probabilidade
de extinção (Tabela 2).
Espécie
Categoria de ameaça
(segundo MMA,2014)
Priodontes maximus (Tatu-canastra)
VU
Mymercophaga tridactyla (Tamanduábandeira)
VU
Leopardus sp. (Gato-do-mato)
VU
Leopardus pardalis (Jaguatirica)
VU
Puma concolor (Onça-parda)
VU
Puma yagouaroundi (Gato-mourisco)
VU
Chrysocyon brachiurus (Lobo-guará)
VU
Lycalopex vetulus (Raposa-do-campo)
VU
Tapirus terrestris (Anta)
VU
Tabela 2. Espécies de mamíferos sob alta ameaça de extinção no PEMA
Isto significa que 32% dos mamíferos de médio/grande porte listados estão
ameaçados, uma situação muito preocupante; considerando que esta unidade de
conservação é a única reserva de Mata Atlântica do Estado.
É interessante notar que, no caso dos mamíferos, 68% das espécies foram
inventariadas através de métodos indiretos de coleta de dados (vestígios); ressaltando
a importância de pessoal na UC treinado para reconhecer rastros e outras pistas
indicativas da presença destes animais. Contudo, as armadilhas fotográficas
acrescentaram espécies que de outro modo não foram identificadas; como: gambá,
tamanduá-mirim, gato-mourisco, ouriço, jaguatirica e anta. O gato-mourisco, a anta e
a jaguatirica estão ameaçados de extinção; o que destaca a importância da utilização
de armadilhamento fotográfico quando lidamos com animais de hábitos furtivos.
A lista da avifauna indicou a presença de 87 espécies distribuídas em 37 famílias.
Uma delas está sob ameaça de extinção: a águia-cinzenta (Urubitinga coronata);
categorizada como “Em Perigo” tanto pela União Internacional para a Conservação da
Natureza, como pelo Ministério do Meio Ambiente.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
238
A maioria das aves (58%) foi avistada em dois pontos: ao redor da sede e
às margens da represa. O restante foi listado “acidentalmente” durante nossos
deslocamentos para monitorar a unidade e/ou efetuar instalação/coleta das armadilhas
fotográficas.
Considerando que não houve um esforço sistemático para identificar as espécies
de aves do PEMA, podemos inferir que a diversidade de espécies na região é grande;
o que justifica a execução de um estudo com enfoque específico para a avifauna e
endemismos de Mata Atlântica.
COMPONENTE E: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E PUBLICIDADE
Entendemos que a educação ambiental seja parte essencial integrante de
qualquer programa que vise, em última instância; a conservação da biodiversidade.
Para tanto, pretendemos organizar exposições com as fotos dos animais junto às
comunidades inseridas em cada unidade de conservação e nas suas respectivas
zonas de amortecimento. Apostamos na fauna como um componente carismático
capaz de mobilizar os diversos atores sociais para a defesa dos parques. Como
estes animais raramente são vistos (devido aos seus hábitos crepusculares/noturnos/
furtivos), compartilhar a existência deles pode ser uma oportunidade ímpar para
angariar parceiros para a proteção de nosso patrimônio natural.
No caso do PEAMP e do PEMA, muitos dos resultados tem sido compartilhados nas
mídias sociais, como o Facebook. Torna-se necessário então, promover em diferentes
veículos de publicidade a consecução dos objetivos propostos pelo PROMOBio.
4 | CONCLUSÕES
Instituído desde dezembro de 2012, o PROMOBio cumpriu até a presente data
parte das metas estipuladas. O monitoramento de fauna em andamento nos três
parques escolhidos como modelo tem produzido resultados notáveis, por confirmar a
presença de espécies ameaçadas de extinção mesmo após muitos anos decorridos
da implantação das unidades e das inúmeras pressões a que estão submetidas. No
caso do Parque Estadual da Mata Atlântica, não existiam estudos prévios que nos
permitissem saber o mínimo a respeito da composição biótica deste fragmento de
bioma altamente ameaçado; mas agora temos subsídio técnico-científico inclusive
para pleitear uma mudança de categoria da UC.
O diagnóstico Rappam apresentou resultados coerentes com as décadas em que
a gestão ambiental do Cerrado permanece priorizando a agricultura e a pecuária, em
detrimento da efetiva proteção de seus remanescentes naturais. Goiás não só precisa
tornar mais efetivas a gestão e consequentemente a conservação da biodiversidade
nas unidades de conservação; mas também estabelecer novas prioridades e expandir
as áreas protegidas; enquanto ainda existe possibilidade de fazê-lo.
A capacitação dos funcionários constitui um ponto crucial para o desenvolvimento
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
239
do manejo e da efetividade de gestão; porém a alta rotatividade do quadro funcional
nas UCs (onde predominam os funcionários comissionados) tornou-se um problema
crônico grave, de modo que mesmo que os programas de treinamento sejam repetidos
inúmeras vezes; enquanto não houver lotação de pessoal qualificado nas UCs, não
haverá melhora significativa na efetividade de gestão a curto e médio prazos.
A publicação dos resultados do programa visa destacar não só o aspecto
educacional importante de divulgar as UCs e buscar parcerias para protegê-las, mas
também tornar transparentes as ações desenvolvidas pela GCAAP; num esforço
coletivo para melhor gerir o patrimônio público natural. Neste contexto, são igualmente
importantes a exposição de dados científicos e o compartilhamento da responsabilidade
pela conservação da biodiversidade.
Em adição, resta destacar que os resultados alcançados (apesar de parciais) são
promissores; e que nenhum esforço para monitorar e proteger nossas unidades de
conservação foi ou será em vão.
5 | AGRADECIMENTOS
À WWF, representada pela pessoa do Sr. Júlio César Sampaio da Silva e a
todos da equipe que contribuíram de alguma forma para a realização/publicação do
RAPPAM/GO.
Ao Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) que, por interveniência da WWF;
ministrou o “Curso Introdutório de Gestão de Unidades de Conservação”.
Aos Analistas e Assistentes Ambientais, Gestores de Recursos Naturais e
outros funcionários da GCAAP, comprometidos com a gestão das UCs goianas.
Especialmente, ao colega Caio César Neves Sousa, pela persistência, dedicação,
entusiasmo e competência na condução do componente “Monitoramento (de fauna)”
no PESCaN e no PEAMP.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, F. C. et al. Rastros & Pistas: Guia de Mamíferos de Médio e Grande Porte do
Triângulo Mineiro e Sudeste de Goiás. Uberlândia: Grupo de Mídia Brasil Central. 2012.
BORGES, P. A. L.; TOMÁS, W. M. Guia de rastros e outros vestígios de mamíferos do Pantanal.
Corumbá: Embrapa Pantanal. 2008.
GOIÁS (Estado). Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás.
Implementação da Avaliação Rápida e Priorização da Gestão de Unidades de Conservação
(Rappam) em Unidades de Conservação Estaduais em Goiás. Goiânia, 2012. 105p.
GWWYNE, J. A. et al. Aves do Brasil Vol 1: Pantanal & Cerrado. São Paulo: Editora Horizonte.
2010.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Portaria n° 444 de 17 de dezembro de 2014. Diário Oficial [da]
República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 18 dez. 2014. Seção 1, p. 121.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 22
240
CAPÍTULO 23
PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE
REÚSO DAS ÁGUAS CINZAS EM UMA CONSTRUÇÃO
RESIDENCIAL ALTO PADRÃO
Nathália Gusmão Cabral de Melo
Universidade de Fortaleza – Curso Engenharia
Civil
nathaliagusmao@hotmail.com
Flávia Telis de Vilela Araújo
Universidade de Fortaleza – Curso Engenharia
Civil
aparelhos sanitários, lavagem de carros, rega
de jardins e lavagem de roupas, possibilitando
uma economia de 34% de água potável
proveniente da concessionária local tornando o
sistema uma alternativa viável.
PALAVRAS-CHAVE: Reúso. Águas Cinzas.
Esgoto.
Raquel Jucá de Moraes Sales
Universidade de Fortaleza – Curso Engenharia
Civil
Ari Holanda Junior
Universidade de Fortaleza – Curso Engenharia
Civil
1 | INTRODUÇÃO
A técnica do reúso de água vem sendo
indicada como uma das opções mais inteligentes
para racionalizar os recursos hídricos, mas
ainda depende da aceitação popular e vontade
RESUMO: Devido à crescente demanda por
água potável e a sua escassez nos grandes
centros urbanos, este trabalho foi desenvolvido
visando propor a implantação de um sistema
de reúso de águas cinzas em uma residência
unifamiliar de alto padrão na cidade de
Fortaleza/CE, a economia no consumo desse
insumo. A partir da quantificação dos efluentes
gerados, foi possível estabelecer a oferta de
águas cinzas, que são os esgotos originados
nos lavatórios, chuveiros e máquina de lavar
roupas, correspondentes a, aproximadamente,
43% do esgoto residencial. Foi elaborada uma
proposta de coleta, tratamento, armazenamento
e distribuição dessas águas com potencial para
serem reutilizadas no uso de descargas de
política para se efetivar.
Bazzarella (2005, p. 36) expõe o conceito
de saneamento ecológico, que visa a separação
dos efluentes de diferentes aparelhos, com
a intenção de minimizar ou reutilizar esse
material. E classifica as águas cinzas como
sendo os efluentes de lavatórios, chuveiros e
máquinas de lavar roupas.
A reutilização de águas cinzas tratadas
em residências contribuem com a economia do
consumo de água potável, reduzindo também o
volume de contaminantes do solo e dos corpos
d’água. Em alguns casos, como em edificações
de grande porte, a prática do reúso apresentase como uma alternativa mais atrativa, em
termos econômicos, do que a utilização de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
241
águas pluviais (ALVES et al., 2009, p. 274).
2 | METODOLOGIA
O presente trabalho foi iniciado por pesquisas relacionadas ao tema através de
trabalhos científicos, artigos, teses, livros e normas técnicas onde foi possível fazer
um levantamento sobre o assunto e definir quais eram as referências bibliográficas a
serem usadas para um maior entendimento sobre o assunto.
O trabalho visa estudar uma proposta de implantação de um sistema de reúso de
águas cinzas em uma residência unifamiliar de alto padrão que está sendo construída
em Fortaleza / CE, onde a mesma é determinada como o estudo de caso.
A proposta foi elaborada a partir da estimativa dos efluentes gerados e do possível
consumo de águas cinzas tratadas. Sendo proposto um sistema de reúso de águas
cinzas, um sistema hidro sanitário independente para reaproveitar as águas cinzas
tratadas que terão como finalidade o uso nas descargas dos vasos sanitários, na rega
de plantas e na lavagem de roupas.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objeto de estudo deste trabalho compreende a concepção de uma proposta de
sistema de reúso de águas cinzas em uma unidade residencial unifamiliar alto padrão,
a ser localizado na cidade de Fortaleza/CE.
Trata-se de apenas um pavimento, de padrão alto luxo, construído em alvenaria,
com 540m² de área construída, onde foi locado 1 sala escritório, 1 sala intima, 1 sala
de jantar, 1 sala de estar, 1 sala home, 1 cozinha, 1 área de serviço, 1 área de roupas,
5 varandas, sendo 1 gourmet, 4 suítes ,2 banheiros sociais, garagem com 45 m² (até
9 carros), área de jardim e passeio de 220m². De acordo com a figura 10.
Para que o sistema de reúso e conservação de água seja implantado é exigido
dos moradores residenciais o comprometimento com as questões relacionadas ao uso
racional dos recursos naturais e com a proteção do meio ambiente.
Para elaboração do projeto foram considerados:
•
8 habitantes na residência;
•
zeladores.
3.1 Estimativas de consumo de água potável na residência
Para elaboração do projeto foram considerados:
•
- 8 habitantes na residência;
•
- 4 zeladores.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
242
Quantidade
Consumo de água Consumo de água
/ dia / pessoa
/ dia / residência
(litros)
(litros)
Consumo de água
/ mês / residência
(litros)
Habitantes
8
360
2880
86400
Zeladores
4
100
400
12000
TOTAL
3280
98400
Tabela 1: Consumo de água na residência alto padrão
Fonte: Autor (2016).
Sendo assim o consumo estimado de água potável é de aproximadamente 98.400
litros/mês, ou seja, 98 m³/mês, conforme a Tabela 1.
3.2 Estimativas de geração de esgoto na residência
A partir do consumo total é possível prever a geração de esgotos. Segundo a
Norma Técnica de nº 9649 (ABNT, 1986) o coeficiente de retorno é de 0,8.
Consumo de água
= 3280 litros / dia
Consumo
diário %
Geração de esgoto
(litros/dia)
Vaso sanitário
951,2
29,00%
760,96
Chuveiro
918,4
28,00%
734,72
Lavatório
196,8
6,00%
157,44
Lava roupa
295,2
9,00%
236,16
Pia
557,6
17,00%
446,08
Lava louça
164
5,00%
131,2
Rega e lavagem
196,8
6,00%
157,44
TOTAL
3280
100,00%
2624
Tabela 2: Consumo de água x Geração de Esgoto
Fonte: Autor (2016)
Conforme a Tabela 2, a geração de esgoto é de aproximadamente 2.624 litros/
dia;
3.3 Estimativa de oferta de água cinza
Os efluentes provenientes dos chuveiros, lavatórios e lavagem de roupas
representam as águas cinzas. Esses efluentes somam 43% do volume do consumo de
água potável e geram 1.128,32 litros/dia de esgoto de águas cinzas a serem tratados,
armazenados e reutilizados.
3.4 Estimativa de economia de água
Estimando que serão tratados 1.128,32 litros/dia de águas cinzas e que o destino
do reúso será a lavagem de roupas, rega de plantas, lavagem de carros e calçadas,
isso representa 34,40% do consumo de água potável diário.
Ao longo do mês será economizado 33.849,60 litros, aproximadamente, 33,84
m³ de água potável.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
243
3.5 Proposta do sistema de reúso das águas cinzas
Uma edificação que objetiva implantar o sistema de reúso das águas cinzas deve
executar a separação de seus efluentes, encaminha-lo para o sistema de coleta, logo
após ao sistema de tratamento e em seguida para o sistema de reservação, para
então ser distribuída aos pontos da casa onde será utilizada as águas servidas.
Propôs-se um sistema de coleta das águas cinzas separando os aparelhos que
fornecem efluentes, junto com o número de Unidades Hunter de Contribuição (UHC)
de cada dispositivo, dispondo o diâmetro referente aos ramais de descarga.
O reservatório deve atender no mínimo 1,5 a 2 vezes o volume do dia de maior
consumo. Sendo assim o mesmo deverá ter a capacidade mínima 1,7 m³.
O sistema de tratamento proposto irá fornecer uma estação de tratamento de
água por filtração automática com ozônio, onde as bombas dosadoras serão utilizadas
para injetar na sua água sulfato de alumínio, barrilha e cloro. Depois está água será
direcionada para os floculadores aglutinando os contaminantes da água, na saída
dos floculadores teremos o filtro de carvão ativado e areia para retirar os sólidos e
finalmente o gerador de ozônio é necessária para esterilizar sua água. Conforme a
ilustração pela Figura 1.
Figura 1- Estação de tratamento de água por filtragem automática
Fonte: Proposta Comercial (2016).
O investimento para aquisição do sistema de tratamento é de R$ 9.000,00.
Após o tratamento, as águas cinzas para serem reutilizadas devem cumprir os
parâmetros da Classe 1 conforme Quadro 1.
Classe
Uso previsto
Parâmetros de qualidade da água de reúso
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
244
Classe 1
Lavagem de carros, lavagem
de pisos, lavagem de roupas e
outros usos que requerem contato
direto do usuário com a água com
possível aspiração de aerossóis pelo
operador incluindo chafarizes.Nível
de tratamento sugerido: tratamento
aeróbio (filtro aeróbio submerso
ou LAB) seguido por filtração
convencional (areia e carvão ativado)
e cloração.
Turbidez
< 5 NTU
Coliformes fecais
< 200 NPM / 100 mL
Sólidos dissolvidos totais
< 200 mg/L
pH
6a8
Cloro residual
0,5 a 1,5 mg/L
Quadro 1 – Parâmetros básicos para água de reúso.
Fonte: ABNT (1997).
Na figura 2, tem-se a proposta de coleta e tratamento das aguas cinzas, onde foi
locado e dimensionado o projeto de esgoto a partir das unidades Hunter de contribuição
(UHC), direcionando os efluentes para o tratamento proposto, onde o mesmo está
locado em um lugar estratégico próximo ao armazenamento.
Figura 2 – Proposta para Coleta e Tratamento de águas cinzas
Fonte: Autor (2016).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
245
O sistema de distribuição das águas de reúso restringe-se na distribuição das
tubulações de PVC que vão do reservatório de armazenamento das águas tratadas
aos pontos de torneiras de jardins ao abastecimento dos vasos sanitários e da máquina
de lavar roupas, conforme Figura 3.
Figura 3 – Proposta para Reservação e Distribuição das águas cinzas tratadas.
Fonte: Autor (2016).
Os efluentes gerados serão utilizados nas bacias sanitárias, torneiras de jardins
e na máquina de lavar roupas, eles serão apontados pelas abreviaturas BS e TJ e
serão numerados. Nas torneiras de jardins haverá placas indicativas informando sobre
o reúso.
3.6 Cuidados com o sistema de reúso das águas cinzas
O sistema de água de reúso, bem como o sistema de coleta de água cinza, deve
ser concebido e executado de forma independente dos demais sistemas hidráulicos
da edificação
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
246
O reservatório de armazenamento deve ser específico para água de reúso e
todos os pontos de acesso à água de reúso devem ter acesso restrito.
Todo o sistema deverá ser identificado, podendo ser usada uma tubulação na cor
roxa, ou a tubulação pintada escrita ¨cuidado: água de reúso¨.
4 | CONCLUSÃO
Foi prevista uma geração diária de 1.128 litros de águas cinzas provenientes dos
chuveiros, lavatórios e máquinas de lavar roupas que correspondem a 43% do volume
de geração de esgoto. A demanda prevista para serem reutilizadas é ainda superior
alcançando 1.443 litros através das descargas dos vasos sanitários, da máquina de
lavar roupas e da rega de plantas e lavagem de carros, que representa 44% do volume
do consumo de água potável.
O sistema proposto envolve uma rede de coleta de esgoto independente para
as águas provenientes dos chuveiros, lavatórios de banheiros e máquina de lavar
roupas; um sistema de tratamento de água por filtração automática com ozônio; um
reservatório independente com capacidade para 1700 litros de água; e uma rede de
distribuição independente para abastecer os vasos sanitários, a máquina de lavar
roupas e as torneiras de jardim.
A economia mensal estimada é de 33.849 litros de água, representando 34% do
volume de água potável proveniente da CAGECE.
Em tempos de escassez, crise hídrica e poluição de mananciais, o reúso de
águas cinzas se tornou uma alternativa eficaz e acessível de economizar.
REFERÊNCIAS
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13969: tanques sépticos –
unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos – projeto, construção e
operação. Rio de Janeiro, 1997.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626: instalação predial de água
fria. Rio de Janeiro, 1998.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8160: sistemasprediais de
esgoto sanitário – projeto e execução. Rio de Janeiro, 1999.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9649: projetos de rede de esgoto
sanitário. Rio de Janeiro, 1986.
ALVES, W. C.; KIPERSTOK, A.; ZANELLA, L.; PHILIPPI, L. S.; SANTOS, M. F. L.;
VALENTINA, R. S. D.; OLIVEIRA, L. V.; GONÇALVES, R. F. Tecnologias deconservação em sistemas
prediais. In: GONÇALVES, R. F. (Coord.). Conservação de água e energia em sistemas prediais e
públicos de abastecimento de água. Rio de Janeiro: ABES, 2009. p. 219-294. Programa de Pesquisa
em Saneamento Básico. Disponível em:<www.finep.gov.br/prosab/livros/prosab5_tema%205.pdf>.
Acesso em: 03 Mar. 2010.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
247
BAZZARELLA, B. B. Caracterização e aproveitamento de água cinza para uso não potável em
edificações. 2005. 165 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental) – Programa de PósGraduação em Engenharia Ambiental, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória. Disponível em:
< http://portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_6573_Bazzarella_BB_2005.pdf >. Acesso em: 27 Fev.
2016.
UNESCO. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Recursos Hídricos. Itália,
2015. 8p.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 23
248
CAPÍTULO 24
QUINTAIS URBANOS E O PROCESSO DE
APRENDIZAGEM SOBRE A DIVERSIDADE VEGETAL
Elisa dos Santos Cardoso
Vantuir Pereira da Silva
Universidade do Estado de Mato Grosso
Carlos Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT),
Programa de Pós Graduação em Biodiversidade
e Biotecnologia/Rede Bionorte (PPG-Bionorte),
Secretaria de Estado de Educação de Mato
Grosso (SEDUC/MT)
Secretaria de Estado de Educação de Mato
Grosso (SEDUC/MT)
Alta Floresta, Mato Grosso
Alex Souza Rodrigues
Alta Floresta, Mato Grosso
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Programa de Pós Graduação em
Genética e Melhoramento de Plantas (PGGMP)
Uéliton Alves de Oliveira
Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro (UENF), Programa de Pós-Graduação em
Biotecnologia Vegetal (PPGBV)
Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro
Ana Aparecida Bandini Rossi
Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos
Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT), Faculdade
de Ciências Biológicas e Agrárias, Curso de
Ciências Biológicas, Programa de Pós Graduação
em Biodiversidade e Biotecnologia (PPG –
Bionorte), Programa de Pós Graduação em
Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos
(PPGBioAgro) e Programa de Pós Graduação em
Genética e Melhoramento de Plantas (PGMP)
Eliane Cristina Moreno de Pedri
Universidade do Estado de Mato Grosso
Carlos Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT),
Programa de Pós Graduação em Biodiversidade
e Biotecnologia (PPG – Bionorte), Alta Floresta,
Mato Grosso
Oscar Mitsuo Yamashita
Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos
Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT), Faculdade
de Ciências Biológicas e Agrárias, Curso de
Agronomia, Programa de Pós Graduação em
Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos
(PPGBioAgro)
Alta Floresta, Mato Grosso
Jean Carlos Silva
Secretaria de Estado de Educação de Mato
Grosso (SEDUC/MT)
Alta Floresta, Mato Grosso
José Martins Fernandes
Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos
Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT), Faculdade
de Ciências Biológicas e Agrárias, Curso de
Ciências Biológicas
RESUMO: O presente estudo objetivou
utilizar quintais urbanos como um espaço
de aprendizagem promovendo a associação
entre os saberes e a dinamização das práticas
pedagógicas por meio do levantamento da
biodiversidade vegetal, bem como estabelecer
uma relação de parceria entre as instituições de
educação básica e ensino superior, por meio de
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
249
intercâmbio entre os agentes educacionais. A coleta de dados ocorreu em junho de
2018, sendo realizada por meio de visitas em quintais urbanos de alunos do ensino
médio regular da Escola Estadual Rui Barbosa, município de Alta Floresta/MT. Durante
a visita, por meio de conversa informal, realizou-se a identificação das etnoespécies
ali presentes e sua utilização. Os dados obtidos foram tabulados em planilhas do
Excel (2007), sendo registradas 50 etnoespécies vegetais para fins ornamentais,
medicinais e alimentícios, classificadas em 31 famílias botânicas. Neste estudo, as
famílias com maior representatividade foram Myrtaceae, com seis etnoespécies,
seguida por Anacardiaceae, Araceae, Rutaceae e Solanaceae, com três etnoespécies
cada. Embora os quintais analisados se localizem na área urbana do município de
Alta Floresta, a variedade de espécies vegetais encontradas indica que a comunidade
mantém uma relação com a natureza, evidenciando a importância dos quintais para
conservação e propagação da diversidade de espécies vegetais e utilização como
espaços não formais de aprendizagem.
PALAVRAS-CHAVE: Etnobotânica. Saber ambiental. Conservação da biodiversidade.
URBAN BACKYARDS AND THE LEARNING PROCESS ON PLANT DIVERSITY
ABSTRACT: This study aimed to use urban backyards as a learning space promoting
the association between knowledge and the dynamization of pedagogical practices
through the survey of plant biodiversity, as well as establishing a relationship of
partnership between the institutions of basic education and higher education, through
exchanges between educational agents. Data collection occurred in June 2018, and
was carried out through visits in urban backyards of regular high school students of the
Rui Barbosa State School, municipality of Alta Floresta/MT. During the visit, by means
of informal conversation, carried out the identification of the ethnospecies present and
its use. The data obtained were tabulated in Excel spreadsheets (2007), and 50 plant
ethnospecies were registered as ornamental, medicinal and food purposes, classified
in 31 botanical families. In this study, the families with the highest representativeness
were Myrtaceae, with six ethnospecies, followed by Anacardiaceae, Araceae, Rutaceae
and Solanaceae, with three species each. Although the analyzed backyards are located
in the urban area of the municipality of Alta Floresta, the variety of plant species found
indicates that the community maintains a relationship with nature, evidencing the
importance of the backyards for the conservation and propagation of the diversity of
plant species and learning spaces non-formal.
KEYWORDS: Ethnobotany. Environmental know. Biodiversity conservation.
1 | INTRODUÇÃO
Os quintais são considerados como áreas produtivas localizadas ao redor da
casa e definidos como a porção de terra próxima à residência, de acesso fácil e
favorável, na qual se cultivam ou se mantêm múltiplas espécies vegetais que atendem
parte das necessidades nutricionais da família (BRITO; COELHO, 2000; CHAGAS et
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
250
al., 2014). Jacobucci (2008) afirma que os quintais podem ser caracterizados também
como espaços não formais de aprendizagem, onde é possível desenvolver práticas
educativas que visem a interação entre a ciência, tecnologia e educação com o
propósito de motivar e envolver o aluno no processo de construção do conhecimento.
De acordo com Freire et al. (2005) e Seniciato e Cavassan (2004), este espaço é
um laboratório de vida que além de contribuir com a oferta de alimentos é um excelente
depositário de germoplasma, abrigando
várias espécies de animais, vegetais e
microrganismos mantenedoras de serviços ambientais, que interagem como uma
unidade funcional, sendo, portanto, propícios para realização de aulas de ciências e
biologia, promovendo o contato direto entre o aluno e o objeto de estudo, contribuindo
para construção do conhecimento de forma que aluno crie sua própria concepção do
ambiente natural.
A composição florística dos quintais amazônicos é influenciada pela cultura dos
moradores, pois expressam seus conhecimentos sobre o uso dos recursos naturais,
como por exemplo, as espécies de uso principal, formas de plantio e manejo adequado
(ROSA et al., 2007; MARTINS et al., 2012). Nesse contexto, os conhecimentos
relacionados a biodiversidade nos quintais evidenciam a importância das plantas para
a comunidade, além de fornecer dados que auxiliam os estudos em diferentes áreas de
conhecimento e contribuem para com a manutenção e propagação da biodiversidade
(DIEGUES, 1994; CARNEIRO et al., 2010).
O presente estudo objetivou realizar um levantamento da biodiversidade vegetal
presente nos quintais urbanos e, assim, promover uma dinamização do processo de
ensino aprendizagem por meio da utilização de espaços não formais.
2 | METODOLOGIA
O estudo foi realizado junto com a comunidade da Escola Estadual Rui Barbosa,
localizada no município de Alta Floresta, norte do estado de Mato Grosso, onde os
alunos indicaram seis (06) quintais urbanos, sendo estes visitados pelos mesmos.
Anteriormente à visita, os alunos participaram de uma aula de laboratório na
Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado (UNEMAT),
onde foram orientados quanto a classificação e identificação dos vegetais comuns
em quintais urbanos, abordando aspectos de importância ecológica e etnobotânica
(Figura 1).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
251
Figura 1. Intercâmbio entre agentes educacionais: aula de identificação e classificação vegetal
na Universidade do Estado de Mato Grosso Carlos Alberto Reyes Maldonado. Fonte: os
autores.
Em junho de 2018, alunos do ensino médio, acompanhados por professores e
acadêmicos da UNEMAT, realizaram as visitas aos quintais (Figura 2), sendo esta
realizada por meio da técnica da turnê-guiada, na qual o responsável pela manutenção
da propriedade é convidado a fazer uma caminhada pelo quintal e, durante o processo,
fornece informações sobre as plantas presentes como, por exemplo, a finalidade de
uso (ALBUQUERQUE et al., 2010).
Figura 2. Visita aos quintais urbanos: levantamento e estudo da biodiversidade vegetal. Fonte:
os autores.
As informações repassadas pelo mantedor do quintal foram registradas em
caderno de campo pelos alunos, com auxílio do professor, que também discutia, de
uma forma superficial, aspectos da morfofisiologia das plantas e sua classificação
informal. Durante a visita foram confeccionados esboços com a fisionomia horizontal
dos quintais, identificando e localizando espacialmente cada etnoespécie (Figura 3).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
252
Figura 3. Material de apoio produzido durante as visitas aos quintais urbanos: esboço da
fisionomia dos quintais visitados e registro da biodiversidade vegetal.
Os dados obtidos e os registros realizados se constituíram em material de apoio
para continuidade do processo de aprendizagem no espaço formal: a sala de aula. A
pesquisa foi realizada utilizando-se de abordagem qualitativa por meio de observação
direta e, mediante autorização do proprietário, foram feitos registros fotográficos
para informações adicionais. Os dados anotados em campo, posteriormente, foram
tabulados em planilhas do Excel (2007).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nos seis quintais urbanos visitados foi encontrada grande variedade de plantas,
sendo contabilizados 173 indivíduos, identificados como 50 etnoespécies (Figura 4)
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
253
Figura 4. Fisionomia horizontal dos quintais urbanos visitados, Alta Floresta, MT (2018).
(1) Graviola; (2) Coentro; (3) Rosa do deserto; (4) Copo de leite; (5) Taioba; (6) Babosa; (7)
Mostarda; (8)
Salsa; (9) Pepino; (10) Boldo; (11) Cebolinha verde; (12) Goiabeira; (13)
Jabuticabeira; (14) Rosa; (15) Ixora; (16) Camapu; (17) Avenca; (18) Flor da Amazônia; (19)
Samambaia; (20) Cajueiro; (21) Mangueira; (22) Coqueiro; (23) Cupuaçuzeiro; (24) Abacaxi;
(25) Mamão; (26) Mandioca; (27) Limoeiro; (28)
Kiwi; (29) Cajá do mato; (30) Seriguela;
(31) Ipê; (32) Colorau; (33) Abacateiro; (34) Acerola; (35) Cacaueiro; (36) Jabuticabeira olho de
boi; (37) Jabuticabeira Paulista; (38) Jambo; (39) Pitangueira; (40) Maracujá; (41) Romã; (42)
Laranjeira; (43) Mexerica; (44) Comigo ninguém pode; (45) Pinhão; (46) Ingá; (47) Espada de
São Jorge; (48) Pimenta; (49) Tomateiro; (50) Amora.
As etnoespécies identificadas são utilizadas para fins alimentícios, ornamentais
e medicinais, sendo que dentre elas, 47 foram agrupadas em 31 famílias botânicas,
enquanto avenca, flor da Amazônia e samambaia, não foram classificadas nesse táxon
(Tabela 1).
Família
Actinidiaceae
Amaryllidaceae
Anacardiaceae
Annonaceae
Apiaceae
Etnoespécie
Avenca
Flor da Amazônia
Samambaia
Kiwi
Cajueiro
Mangueira
Cajá do mato
Seriguela
Graviola
Coentro
N
2
1
2
1
2
3
1
1
1
1
Utilização
Ornamental
Ornamental
Ornamental
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
P.U
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Folha
254
Apocynaceae
Arecaceae
Asphodelaceae
Rosa do deserto
Copo de leite
Comigo ninguém pode
Taioba
Coqueiro
Babosa
3
2
1
2
4
3
Bignoniaceae
Ipê
1
Bixaceae
Colorau
1
Brassicaceae
Bromeliaceae
Caricaceae
Mostarda
Abacaxizeiro
Mamão
1
3
2
Convolvulaceae
Salsa
2
Cucurbitaceae
Pepino
Pinhão
Mandioca
Ingá
Boldo
Abacateiro
Cebolinha verde
Espada de São Jorge
Acerola
Cupuaçuzeiro
Cacaueiro
Amora
3
1
7
1
2
1
6
1
2
3
2
1
Araceae
Euphorbiaceae
Fabaceae
Lamiaceae
Lauraceae
Liliaceae
Malpighiaceae
Malvaceae
Moraceae
Ornamental
Ornamental
Ornamental
Alimentícia
Alimentícia
Ornamental
Ornamental e
Medicinal
Alimentícia e
Medicinal
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia e
Medicinal
Alimentícia
Medicinal
Alimentícia
Alimentícia
Medicinal
Alimentícia
Alimentícia
Ornamental
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Folha
Fruto
Folha
Folha e
Semente
Folha
Fruto
Fruto
Folha
Fruto
Folha
Raiz
Fruto
Folha
Fruto
Folha
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Conclusão.
Goiabeira
3
Jabuticabeira
Jabuticabeira olho de boi
Jabuticabeira paulista
Jambo
4
15
43
1
Pitangueira
1
Passifloraceae
Maracujá
1
Punicaceae
Romã
1
Rosaceae
Rubiaceae
Rosa
Ixora
Limoeiro
Laranjeira
Mexerica
Camapu
Pimenta
Tomateiro
3
4
3
2
1
7
1
1
Myrtaceae
Rutaceae
Solanaceae
Alimentícia e
Medicinal
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia e
Medicinal
Alimentícia
Alimentícia e
Medicinal
Ornamental
Ornamental
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Alimentícia
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Folha
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Fruto
Tabela 1. Etnoespécies vegetais identificadas nos quintais da comunidade escolar da Escola Estadual
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Capítulo 24
255
Rui Barbolsa, Alta Floresta-MT. N.: Número de indivíduos nos quintais; P.U.: Parte vegetal utilizada;
Segundo Pasa et al. (2005) é comum que os mantedores dos quintais atribuam
várias categorias de uso para a mesma espécie, o que de fato foi constatado nas
conversas com os mantenedores de quintais, quando das 50 espécies identificadas, 32
foram citadas para fins alimentícios, cinco como alimentícias e medicinais, duas como
medicinais, 10 como ornamentais e apenas uma, o ipê, como medicinal e ornamental.
As plantas são utilizadas de acordo com a necessidade de cada pessoa, assim
as alimentícias, principalmente as frutíferas, são as que se destacam na produção
domiciliar, pois constituem alternativa econômica e fonte de nutrientes para a família
(VALADÃO, 2006; ALARCÓN et al., 2015). Neste estudo, as famílias botânicas
com maior abundância de espécies foram Myrtaceae, com seis etnoespécies,
Anacardiaceae, Araceae, Rutaceae e Solanaceae, com três etnoespécies cada.
A prevalência das espécies encontradas nos quintais está relacionada à sua
utilização, sendo as jabuticabeiras e o abacaxi, com 62 e 14 indivíduos, respectivamente,
a mandioca e o camapu, ambos com sete indivíduos, as mais abundantes. As
etnoespécies utilizadas para fins alimentícios representam um complemento na dieta
e foram as mais representativas nesse estudo (Figura 5).
Figura 5. Registro fotográfico realizado pelos alunos e representando as etnoespécies
encontradas nos quintais urbanos analisados no município de Alta Floresta, MT(2018). (A)
Jabuticabeiras; (B) Abacaxizeiro; (C) Camapu; (D) Mandioca; (E) Cebolinha Verde; (F) Taioba;
Durante as visitas, os alunos atuaram de forma participativa, questionando,
informando e construindo o conhecimento, o que atende a necessidade de um
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
256
processo de aprendizagem dinâmico que, por sua vez, exige diferentes metodologias
pedagógicas, dentre as quais está a pesquisa e/ou aula de campo, que tem se
mostrado eficaz por permitir que o aluno relacione saberes empíricos e científicos e
ressignifique-os (STECANELA; WILLIAMSON, 2013; LIMA; BRAGA, 2014). Partindo
desse pressuposto, após as visitas aos quintais, aula na UNEMAT e conclusão das
atividades relacionadas ao estudo, os alunos foram convidados a emitir suas opiniões
quanto ao conjunto de atividades e o impacto das mesmas no processo de ensino/
aprendizagem.
Na percepção dos alunos, as atividades contribuíram para a aprendizagem
pois permitiram a associação entre a teoria abordada previamente em sala de aula,
ou abordada durante as atividades, e como ela se apresentam na natureza, assim
como proporcionaram conhecimento quanto à etnoespécies antes desconhecidas
por parte de alguns e promoveram a troca de saberes entre os professores, alunos
e mantenedores dos quintais urbanos. A maioria dos alunos concorda que este tipo
de atividade é importante tanto para o processo de aprendizagem como para o
relacionamento interpessoal. A relevância do estudo pode ser confirmada nas frases
de alguns alunos:
“Foi uma ótima experiência, tão boa que deveria ser levada para as demais
instituições de ensino.”
“Sim, a experiência foi boa. Como eu disse, adquirimos bastante conhecimento. A
minha sugestão seria que outras pessoas tivessem a oportunidade de conhecer e
ter a aula de vocês.”
“Foi bom, pois saiu da rotina.”
“O relacionamento se molda em sala de aula. A experiência foi legal por mostrar de
perto tudo que nós precisamos saber.”
4 | CONCLUSÕES
Os quintais urbanos avaliados neste estudo comportam uma variedade de
espécies vegetais, indicando que a comunidade urbana mantém uma relação com a
natureza, evidenciando a importância dos quintais para conservação e propagação
da diversidade de espécies vegetais, bem como a sua utilidade como espaços não
formais de aprendizagem.
5 | AGRADECIMENTOS
Ao PPG-Bionorte, à SEDUC/MT, a PROEC/UNEMAT e ao Projeto de Extensão:
Quintais Urbanos: espaço de aprendizagem multidisciplinar, preservação da
biodiversidade e do patrimônio cultural.
REFERÊNCIAS
ALARCÓN, R.; PARDO-DE-SANTAYANA, M.; PRIESTLEY, C.; MORALES, R.; HEINRICH,
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
257
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A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 24
258
CAPÍTULO 25
TRATAMENTO DE ÁGUA POR FILTROS DE BAIXO
CUSTO COM DUPLA FILTRAÇÃO
Leonardo Ramos da Silveira
Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de Goiás. Campus Águas Lindas.
leonardo.silveira@ifg.edu.br
Maycol Moreira Coutinho
Universidade de Brasília - Programa de Pós
Graduação em Ciências Mecânicas. maycol.
coutinho@gmail.com.
Renato Welmer Veloso
Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de Goiás. Campus Águas Lindas.
renatowv@gmail.com
RESUMO: Com a dificuldade crescente de se
ter água potável em pequenas comunidades ou
emlocais isolados, há a necessidade de se buscar
novas tecnologias mais eficientes e econômicas
para o tratamento da água, visto que não é
viável economicamente a implantação de uma
estação de tratamento de Água para pequenos
grupos. Então o presente trabalho tem como
objetivo a construção de dois filtros em escala
piloto, o Filtro de Pedregulho (FP) e o Filtro de
Múltiplas Camadas (FMC), formando assim uma
Dupla Filtração. Portanto, o presente trabalho
visa apresentar sua aplicação na remoção
principalmente do parâmetro físico da turbidez,
visando um baixo custo de implantação da
tecnologia. Visto que o modelo de filtração a ser
usado é a Dupla Filtração (FP+FMC), o modelo
trouxe benefícios na remoção de parâmetros
físico-químicos como: sólidos, turbidez e pH.
Os resultados obtidos mostram eficiência na
remoção de turbidez, sendo que para a carreira
de 60 L as análises demonstraram eficiência
média de 63,8% na remoção de turbidez, e a
carreira de 120 L demonstrou eficiência média
de 88,2%. Os resultados mostram um alto
índice de remoção de turbidez, trazendo uma
eficiência alta em relação as taxas de turbidez
utilizadas para os ensaios em escalapiloto.
PALAVRAS-CHAVE: Filtração, filtro múltiplas
camadas, filtro pedregulho, dupla filtração.
WATER TREATMENT BY LOW COST
FILTERS WITH DOUBLE FILTRATION
ABSTRACT: With the increasing difficulty of
having drinking water in small communities or
inisolated places, there is the need to seek new,
more efficient and economical technologies for
water treatment, as it is not economically viable
the implementation of a water treatment plant
for small groups. So, this paper aims to build two
filters on a pilot scale, the Gravel filter (GF) and
the Multiple Filter Layers (MFL), thus forming
a Double Filtration. Therefore, this paper aims
to present its application in removal of mainly
physical parameter of turbidity, seeking a low
cost of deployment of the technology. Since the
filter template to use is the Double Filtration (GF
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
259
+ MFL), the model was beneficial in removing physical and chemical parameters such
as solids, turbidity and pH. The results show efficient removal of turbidity, and for the
60L career analyzes showed average efficiency of 63.8% in removing turbidity, and the
career of 120 L showed average efficiency of 88.2%. The results show a high turbidity
removal rate, bringing a high efficiency relative turbidity rates used for testing on a pilot
scale.
KEYWORDS: Filtration, multilayer filter, gravel filter, double filtration.
1 | INTRODUÇÃO
O Brasil tem passado por períodos preocupantes de escassez hídrica nesta
última década. Além da problemática do risco de racionamento, a qualidade da
água também é uma questão bastante relevante. A poluição dos recursos hídricos
causa alterações das características físicas, como turbidez, cor, número e tamanho
de partículas, temperatura, condutividade e viscosidade; químicas, como Demanda
Biológica de Oxigênio (DBO), pH, alcalinidade); e biológicas, como microrganismos
em geral, cianobactérias e espécies de fitoplâncton e zooplâncton. A qualidade de
água consumida, foras dos níveis estabelecido pela Organização Mundial da Saúde
(OMS), é um dos principais fatores associado a proliferação de doenças endêmicas nos
países em desenvolvimento, tais como: cólera, febre tifóide, salmoneloses, disenteria
baciliar, viroses, hepatite, entre outras (MARNOTO, 2008).
Segundo Marnoto (2008), a filtração é um processo imprescindível para a produção
contínua de água potável. O processo de filtração lenta consiste na passagem de uma
solução por um meio poroso com a finalidade de remoção de sólidos suspensos ou
precipitados químicos. A remoção de sólidos suspensos através da filtração envolve
mecanismos de transporte e aderência como retenção (coagem), intercepção, difusão,
adsorção e outros fenômenos. A eficiência do filtro não depende apenas destes
fenômenos. Além disso, outros fatores afetam o processo de filtração, tais como: as
características físicas e químicas da água, a concentração dos sólidos em suspensão,
as características do meio filtrante (granulometria, porosidade e profundidade), a taxa
de aplicação e o método de operação do filtro.
O desenvolvimento de novas tecnologias para o tratamento da água de
abastecimento culminou no surgimento de importantes aprimoramentos na etapa de
filtração. Entre os principais aprimoramentos no tratamento de água estão a filtração
rápida descendente precedida da filtração direta ascendente a dupla filtração. Estes
processos de tratamento apresentam menor custo comparado ao tratamento em ciclo
completo. Além disso, a dupla filtração permite o tratamento de água com menor
qualidade.
Na filtração ascendente, há a possibilidade da aplicação de taxas de filtração
mais elevadas, o que oferece maior segurança do ponto de vista operacional devido às
variações bruscas de qualidade da água bruta com maior remoção de microrganismos
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
260
e ganho de segurança em relação à desinfecção final, além de outras vantagens
quando comparada à filtração direta ascendente (DI BERNARDO, 2003).
A filtração lenta é o sistema de tratamento de água mais antigo utilizado. É
operacionalmente simples, de baixo custo e efetivo desde que projetado de forma
apropriada e aplicado nas especificações de projeto. Essa tecnologia não requer a
adição de coagulante. Nos países em desenvolvimento, essa filtração tem sido uma
solução no tratamento de água, especialmente na zona rural e comunidades de
pequeno e médio porte (PERALTA, 2005).
O processo de potabilização da água para consumo humano é considerado
simples e eficiente, difundiu-se muito rapidamente pela Europa e América. Entretanto,
sua expansão foi refreada pelo desenvolvimento de outras técnicas de tratamento e
pela deterioração da qualidade da água dos mananciais, uma vez que, é limitada pelas
características físico-químicas da água afluente (MARNOTO, 2008).
As pesquisas voltadas ao desenvolvimento de tecnologiaspara tratamento de
água em pequenas comunidades, onde o tratamento de água ainda, é escas so são
de grande importância e devem se correlacionar com aspectos econômicos, como o
baixo investimento inicial.
1.1 A importância do tratamento de água
Segundo Bastos (2007), os padrões de potabilidade da água no Brasil são
definidos pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria 2914/2011 (MS 2914/2011)
atualmente definidos pela Portaria de Consolidação n°5 de 2005. Estes padrões
correspondem os “valores máximos permissíveis, das características das águas
destinadas ao consumo humano”. A filtração lenta da água através de camadas em
areia é uma forma simplificada de tratamento de água para atender às exigências
estéticas e sanitárias do homem. Este processo baseou-se na percolação de águas
através do perfil de solo até alcançar os aqüíferos (HELLER; MURTHA, 1998).
Segundo Marnoto (2008), o atendimento aos parâmetros de potabilidade é o
fator determinante para a seleção da tecnologia de tratamento de água adotada.
Outros fatores relevantes são a qualidade da água do manancial e as características
do local atendido pelo tratamento, pois algumas comunidades rurais e em países
em desenvolvimento, não dispõem de recursos financeiros para construir estações
de tratamento sofisticadas. Dessa forma, torna-se necessário o desenvolvimento
de tecnologias adequadas às peculiaridades de cada local, em consonância com
aviabilidade econômica. As águas de mananciais com elevada turbidez são compostas
por material sólido em suspensão, bactérias, algas e outros microrganismos. Dessa
forma, é necessária a remoção desses materiais para atender os padrões de qualidade
estabelecidos na Portaria de Consolidação n°5 de 2017. Os sistemas de tratamento
de água convencionais são sistemas que requerem mão-de-obra qualificada e a
utilização de produtos químicos, como o sulfato de alumínio. Todavia, estes requisitos
são indisponíveis a um preço razoável para pequenascomunidades.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
261
2 | PROPRIEDADES DOS MATERIAIS USADOS
2.1 Brita
Segundo Bolonha (2015), a brita é classificada como um agregado artificial, pois
é produzida a partir de outra fonte, as rochas de maior granulometria, que são extraídas
de pedreiras e fragmentadas após um processo de qualificação industrial (Figura 1).
As britas são classificadas de acordo com o tamanho na qual é fragmentada. Assim,
cada granulometria é aplicada para um propósito específico no ramo da construção
civil. Para que seja comercializada ela deve ter qualidade comprovada, seguindo as
especificações de resistência.
Figura 1 – Tipos de Britas com diferentes granulometrias.
Fonte: Bolonha, cimento Itambé (Pormin), 2015.
2.2 CarvãoAtivado
O carvão ativado é um material poroso de origem orgânica, com propriedades
adsorventes aplicado na filtração e purificação de vários materiais. Ele possui uma
área superficial interna formada por milhares de poros, que soma uma área interna
de 500 a 1200 m²/g. As moléculas de poluentes são removidas pela interação físicoquímica e se concentram sobre a superfície do carvão ativado. O carvão é utilizado
em processo de filtração em que se deseja purificar, descolorir, recuperar e remover
odores do efluente em processo de tratamento (NATURALTEC, 2015).
Segundo a NaturalTec (2015), os carvões ativos são na sua maioria de origem
vegetal, obtidos a partir de fontes renováveis. O carvão ativo está disponível na
forma granulada e pulverizada. As aplicações em fase líquida podem requerer os
tipos pulverizados (pó) ou granulados de carvão ativado. A seleção do tipo do carvão
ativado para a filtração envolve uma série de considerações operacionais como o tipo
de líquido a se filtrado, regeneração do carvão, temperatura e custo.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
262
2.3 Areia
Segundo Areia e Pedra (2015), a areia é constituída por fragmentos de minerais
ou de rochas. A sílica (dióxido de silício) é constituinte mais comum, usualmente na
forma de quartzo de granulação fina, e dependendo da rocha-fonte e das condições
locais, essas partículas apresentam composições altamente variáveis cujo tamanho
(granulometria) também variam. No Brasil, segundo a ABNT, o tamanho dos grãos
divide-se em:
•
Areia fina - (entre 0,06 mm e 0,20mm)
•
Areia média - (entre 0,20 mm e 0,60mm)
•
Areia grossa - (entre 0,60 mm e 2,00mm)
2.4 Manta Sintética nãoTecida
As mantas sintéticas não tecidas (MSNT) são estruturas compostas por fibras
cortadas ou filamentos contínuos distribuídos aleatoriamente e consolidadas por
processo mecânico (fricção) e/ou químico (adesão) e/ou térmico (coesão) e combinação
destes (COSTA et al., 2008).
As mantas são constituídas por fibras poliéster, poliamida, propileno, polietileno
e polivenil. As mantas com predominância de fibras de polipropileno apresentam
mais resistência à abrasão, ao calor, à radiação ultravioleta, ao ataque de ácidos,
alcalinizantes e agentes oxidantes (DI BERNARDO & DANTAS, 2005).
2.5 Seixo Rolado
Seixo rolado também denominado de seixo de rio, ou cascalho, ou pedregulho
ou seixo é o fragmento mineral ou de rocha que dentro da geologia caracteriza-se pelo
diâmetro entre 04 mm e 64 mm, podendo ser encontrado em tamanhos diversos e
várias granulometrias. O seixo rolado é um sedimento fluvial de formato arredondado
e superfície lisa, que confere um aspecto ovalado. Os seixos são utilizados para
confecção de concreto, em áreas para minimizar a erosão do solo e como subleito
para pistas de tráfego, bases, drenagens, entre outras aplicações (AREIA E PEDRA,
2015).
3 | MATERIAIS EMÉTODOS
A pesquisa consiste na montagem de dois filtros em escala piloto para avaliar
a eficiência do conjunto no tratamento de água com variações da turbidez. Para o
desenvolvimento deste trabalho o mesmo foi dividido em: montagem dos filtros, e em
escala piloto dos filtros.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
263
3.1 Construção dos filtros em escalapiloto
Os filtros foram construídos com tubos cilíndricos de PVC de 150 mm dediâmetro
(Figura 2), nos quais as camadas de filtração foram dispostas ao interior do tubo. Dois
filtros foram construídos, sendo que um destes filtros foi preenchido por uma camada
de pedregulho (FP) de 1,5 m e aplicada uma altura da coluna de água de 0,6 m. O
segundo filtro foi preenchido por múltiplas camadas (FMC) dispostas com uma altura
total de 1,76 m e altura da coluna de água de 0,48 m. A disposição das camadas em
ambos os filtros está descrita na Figura 2.
Figura 2 – Disposição Dos Filtros
3.2 Filtro de pedregulho (FP)
O FP teve uma altura de 1,5m, e com granulometria crescente dos materiais
utilizados, e leito filtrante de 80 cm (Figura 2). Seu leito filtrante foi composto por
seixos rolados com granulometria variada, devido a melhor disposição deste no leito
filtrante. Antes da confecção do leito filtrante, foi determinada a curva granulométrica
dos seixos por meio de ensaio granulométrico, (Figura 3).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
264
Figura 3 – Curva Granulométrica Pedregulho.
A partir da curva granulométrica e da disposição dos seixos foi obtido a seguinte
disposição de camadas: a primeira camada teve altura com 2 cm e pedregulhos retidos
na peneira #4,8mm,a segunda com 8 cm e retidos em #9,5 mm, terceira com 27 cm
e retidos em #12 mm, quarta com 36 cm e retidos em #19 mm e a quinta e última
camada com 7 cm, retido em #25 mm (Figura3).
3.3 CONSTRUÇÃO DAS CAMADAS DOS FILTROS
O filtro de múltiplas camadas (FMC) possui uma altura de 1,76 m sendo que nos
pr imeiros 10 cm (Camada Suporte) foi composta de seixos rolados , entre a camada
suporte e a camada de areia foi colocada uma manta sintética não tecida. Em seguida,
a próxima camada foi composta de areia lavada, com 40 cm de altura, e essa camada
foi dividida em 3 subcamadas. A primeira subcamada era constituída de 10 cm com
a areia retida na peneira de 250 mm/μm, a segunda de 15 cm com areia retida na
peneira de 400 mm/μme a terceira de 15 cm com areia retida na peneira de 600 mm/
μm, totalizando os 40 cm da camada de areia. A curva granulométrica da areia pode
ser visualizada no Gráfico 1.
O FMC teve uma altura de 1,76 m sendo que nos primeiros 10 cm (Camada
Suporte) foi composta por seixos rolados, entre a camada suporte e a camada de
areia foi colocada uma manta sintética não tecida. Em seguida, a próxima camada
foi composta de areia lavada, com 40 cm de altura, e essa camada foi dividida em
3 subcamadas. A primeira subcamada era constituída por 10 cm com a areia retida
na peneira de 250 mm/μm, a segunda de 15 cm retida em 400 mm/μm e a terceira
de 15 cm retida em 600 mm/μm, totalizando os 40 cm da camada de areia. A curva
granulométrica da areia pode ser visualizada na Figura 4.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
265
Figura
4 – Curva granulométrica da Areia
Acima da sub camada de areia de 600 mm/µm, foram dispostos 10 cm de uma
camada de brita 1. Em seguida, foi adicionada uma de carvão ativado, 4 cm,do tipo
granular do tipo Filtrona A 3x6 (Figura 3). A última camada adicionada foi de uma manta
sintética (geotêxtil) acima da camada de carvão, com a função de reter da camada de
areia, que será disposta imediatamente a cima da manta. Esta manta geotêxtil é do
tipo não-tecido possui as seguintes características: porosidade de 93,81%, superfície
específica de 3,645m²/m³, gramatura de 300g/m² e espessura de 2mm.
Concluída a seqüência de camadas descrita acima, o mesmo processo de
adição das camadas de areia, de brita, de carvão ativado e a manta geotêxtil repetido
acima do primeiro. Assim, foi constituída uma dupla camada de cada material no leito
filtrante, constituindo um filtro de Múltiplas Camadas, com leito filtrante com espessura
de 1,28m.
3.4 Avaliação da eficiência dos filtros
A água utilizada no experimento foi coletada na Universidade Paulista, campus
de Brasília, e para a produção de turbidez, foi utilizado o horizonte B de solo com
Latossolo Vermelho-Amarelo com argiloso, coletado em Brasília. Os testes de turbidez
buscaram avaliar a eficiência dos filtros em relação ao período chuvoso, no qual a
turbidez nas águas de captação aumentam abruptamente.
Foi aplicada a relação 3,5 g de solo para um litro de água para estabelecer a
turbidez da solução e misturado em um dispersor desolo.
Diante do exposto, o experimento buscou avaliar os filtros de dupla filtração (DF),
onde o filtro de pedregulho será o filtro de suporte para o filtro de múltiplas camadas
formando uma dupla filtração.
As análises físico-químicas foram realizadas no Laboratório de Saneamento da
Universidade de Brasília – UnB. Além disso, as análises foram realizadas de acordo
com Standard Methods for the Examination of Water and Waste water Alpha, (2005).
Sendo todas as coletas e procedimentos adotados de acordo com a NBR 9898/1987.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
266
Os parâmetros analisados foram: pH, condutividade elétrica(CE), sólidos dissolvidos
e turbidez.
4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES
Neste tópico serão apresentados os resultados e discussões da eficiência da DF
(FP+FMC), em escala piloto para avaliação de parâmetros físico-químicos. Para duas
taxas de filtração 60L e 120L.
Avaliação para taxa de 60L alta turbidez
Os gráficos a seguir mostram os resultados obtidos com o uso da DF para a
taxa de 60L. A dupla filtração promoveu a remoção de turbidez após a passagem pelo
filtro de pedregulho (FP), o que não demonstrou eficiência, devido às partículas de
sólidos presentes na água serem menores que a granulometria do filtro. Todavia, após
passar pelos dois filtros, há uma grande diminuição de turbidez, sendo que aos 30 s
houve diminuição de 1850 UNT para 370 UNT utilizando a dupla filtração (Figura 5).
Houve a colmatação do filtro de múltiplas camadas ao longo do tempo, em função da
elevada turbidez aplicada. Nesse sentido, foi realizado a retrolavagem do FMC para a
realização da próxima carreira.
Figura 5 – Análises dos Valores de Turbidez.
Os valores de pH variaram entre 6,9 e 7,4, o que está de acordo da faixa de
pH, 6,0 a 9,5, estabelecida pela portaria de Consolidaçãon°5 (Figura 6). O valor de
pH aumentou ligeiramente após a filtração pelo FP, porém, apresentou um aumento
médio de 0,5 unidade após a filtração pelo conjunto FD+FMC.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
267
Figura 6 – Valores de pH para a filtração 60L.
O teor de sólidos dissolvidos na água bruta foi próximo a zero, mas após a filtração
pelo FP, os sólidos aumentaram para 1200 mg/L (Figura 7). Após a filtração pelo FMC,
foi observado picos de sólidos ao longo da filtração, e o valores se estabilizaram em
40 mg/L a partir dos 50 minutos de filtração.
Figura 7 – Valores de sólidos dissolvidos para a filtração de 60L
A CE apresentou valor médio de 50 µS/cm após o FP e durante a passagem pelo
FMC, a CE apresentou picos com valor máximo de 1133 µS/cm (40 min). Demonstrando
que algumas amostras apresentavam maior quantidade de íons devidos aos picos
de sólidos, pois a condutividade e os sólidos são proporcionais, quanto mais sólidos
presentes na água maior será sua condutividade (Figura 8).
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
268
Figura 8 – Valores de CE para a filtração de 60 L.
Figura 9 – Valores de eficiência para a filtração de 60 L.
A eficiência na remoção de turbidez do FP foi de 7%. Por outro lado, a eficiência
de remoção após o do FMC apresentou uma eficiência aos 30 s de 80% (Figura 9),
mas ao longo do tempo a eficiência decaiu devido à colmatação do FMC, necessitando
assim a realização da retrolavagem, após o final da filtração. Dessa forma, a dupla
filtração apresentou ao fim da carreira uma eficiência média de 63,8% de remoção
deturbidez.
Avaliação para taxa de 120 L alta turbidez
Os gráficos a seguir mostram os resultados obtidos com o uso da DF para a taxa
de 120 L com elevada turbidez, o efluente do FP demonstrou diminuição da turbidez
de 2200 UNT para 1800UNTem relação à água bruta. A turbidez após a passagem pela
combinação FP+FMC foi de 20 UNT (Figura 10). Todavia, a eficiência na remoção de
partículas diminuiu ao longo do tempo de filtração e a turbidez aumentou, ao máximo
de 394 UNT (110 min), indicando a colmatação do filtro, que requereu a retrolavagem.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
269
Figura 10 – Valores de turbidez para a filtração 120 L.
Figura 11 – Valores de pH para a filtração de 120 L.
Pode-se observar na (Figura 11), que o pH variou muito pouco em relação a água
bruta. O valor de pH da água bruta foi em média de 7,2, e após a dupla filtração variou
de 7 a 7,45. Indicando a ausência de reações química durante o processo de filtração.
Sendo assim, o pH ainda está de acordo com a Portaria n°5 de consolidação de 2017,
que estabelece limites de pH (6,0 a 9,5).
Figura 12 – Análise dos valores de sólidos.
De acordo com a (Figura 12), os sólidos na água bruta foi de aproximadamente
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
270
59 mg/L, e após a passagem pelo FP, os sólidos dissolvidos diminuíram a 29 mg/L. Ao
passar pelo FMC, os valores apresentaram picos de sólidos, com valor máximo de 529
mg/L (120 min). Assim, os sólidos dissolvidos sofreram acréscimos, principalmente ao
final da carreira após a utilização da dupla filtração.
Figura 13 – Valores de CE para a filtração de 120L.
Os valores de CE diminuíram após a água bruta passar pelo FP e aumentaram a
pós a passagem pelo FMC, variando de 46.7 a 916 µS/cm, (Figura 13). Assim como na
carreira com 60L (Figura 8), também algumas amostras apresentavam maior quantidade
de íons juntamente com os picos de sólidos. A CE e o teor de sólidos dissolvidos
apresentaram comportamento similares, pois quanto mais sólidos presentes na água,
maior foi a CE.
Figura 14 – Valores de eficiência ao longo da filtração dupla de 120 L
De acordo com a (Figura 14), pode-se verificar que a eficiência do FP foi de 14%
na remoção de turbidez. A remoção após o FP apresentou baixa eficiência, devido a
maior granulometria das partículas do FP, este filtro seria recomendado para remoção
de partículas com maior granulometria. Porém, com a integração do FP ao FMC, podeA Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
271
se notar que promoveu um aumento na eficiência para 99%, e mesmo apresentando
perca de eficiência ao longo do tempo, a dupla filtração demonstrou eficiência média
de 88,2%, demonstrando uma leve colmatação do filtro.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dupla filtração (FP+FMC) apresentou elevada eficiência na remoção de
turbidez, especialmente para taxa de 60 L. Esta taxa apresentou grande eficiência
inicial de remoção da turbidez, porém a eficiência diminuiu ao longo do tempo, devido
à colmatação do FMC, devido alta concentração de sólidos na água bruta. Esta
carreira(60L) demonstrou uma eficiênciamédiade 66,8 %, no qual se apresenta
com uma boa eficiência de remoção, uma vez que a unidade não era precedida de
coagulação, floculação e decantação.
Na taxa de 120 L, a dupla filtração apresentou maiores eficiência na remoção
de turbidez na carreira de 60 L, eficiência na casa dos 99%. Esta carreira apresentou
diminuição da eficiência ao longo do tempo em decorrência da colmatação dos filtros,
porém a eficiência foi maior que 80%. Ao fim da carreira apresentou uma eficiência
média de 88,2% na remoção de turbidez.
O FP apresentou valores eficiência de remoção da turbidez, mas com o uso
da dupla filtração os resultados do conjunto foram satisfatórios, sendo que a dupla
filtração remete a resultados melhores a alta turbidez.
Em suma, a dupla filtração tem potencial para a utilização no tratamento de água
para a aplicação em pequenas estações de tratamento. A utilização destes filtros em
maior escala poderá trazer resultados ainda melhores, pois aumentará a taxa de filtração,
e em decorrência de um leito filtrante de maior espessura e, consequentemente, o
tempo de colmatação dos filtros também aumentada.
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PERALTA, C. C. Remoção Do Indicador Clostridium Perfringens E De Oocitos De Crytospridium
Parvum Por Meio Da Filtração Lenta - Avaliação Em Escala Piloto. 2005. 97f. Dissertação
(Mestrado em Tecnologia E Recursos Hídricos) - Universidade De Brasília, Ptarh.Dm, 2005.
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Capítulo 25
273
SOBRE OS ORGANIZADORES
Jorge González Aguilera: Engenheiro Agrônomo (Instituto Superior de Ciências
Agrícolas de Bayamo (ISCA-B) hoje Universidad de Granma (UG)), Especialista em
Biotecnologia pela Universidad de Oriente (UO), CUBA (2002), Mestre em Fitotecnia
(UFV/2007) e Doutorado em Genética e Melhoramento (UFV/2011). Atualmente,
é professor visitante na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) no
Campus Chapadão do Sul. Têm experiência na área de melhoramento de plantas e
aplicação de campos magnéticos na agricultura, com especialização em Biotecnologia
Vegetal, atuando principalmente nos seguintes temas: pre-melhoramento, fitotecnia
e cultivo de hortaliças, estudo de fontes de resistência para estres abiótico e biótico,
marcadores moleculares, associação de características e adaptação e obtenção de
vitroplantas. Tem experiência na multiplicação “on farm” de insumos biológicos (fungos
em suporte sólido; Trichoderma, Beauveria e Metharrizum, assim como bactérias em
suporte líquido) para o controle de doenças e insetos nas lavouras, principalmente de
soja, milho e feijão. E-mail para contato: jorge.aguilera@ufms.br
Alan Mario Zuffo: Engenheiro Agrônomo (Universidade do Estado de Mato
Grosso – UNEMAT/2010), Mestre em Agronomia – Produção Vegetal (Universidade
Federal do Piauí – UFPI/2013), Doutor em Agronomia – Produção Vegetal (Universidade
Federal de Lavras – UFLA/2016). Atualmente, é professor visitante na Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS no Campus Chapadão do Sul. Tem experiência
na área de Agronomia – Agricultura, com ênfase em fisiologia das plantas cultivadas
e manejo da fertilidade do solo, atuando principalmente nas culturas de soja, milho,
feijão, arroz, milheto, sorgo, plantas de cobertura e integração lavoura pecuária. E-mail
para contato: alan_zuffo@hotmail.com
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Sobre os Organizadores
274
ÍNDICE REMISSIVO
A
Alagamentos
APP
C
Caça
Capital Social
Comprovante de residência
Conselhos
Conservação da biodiversidade
Cor
Cotidiano
Crocodilianos
D
dupla filtração
E
Educação Ambiental
Energia Eólica
escola pública
Etnobotânica
F
Fauna
Filtração
Filtro Múltiplas Camadas
Filtro Pedregulho
Fiscalização
Física
Fontes Renováveis
Formação Socioambiental
G
Geração Distribuída
I
Impacto Ambiental
Influência
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Índice Remissivo
275
M
Manejo
Matriz de interação
Meio ambiente
Monitoramento Ambiental
N
Novo Código Florestal
O
Ocupação urbana irregular
P
Parques
Pegada Ecológica
Pescado
Políticas Públicas
Preferências
Q
Qualidade
Quelônios
R
Resíduos Sólidos
RS Mais Igual
S
Saber Ambiental
Sustentabilidade Socioambiental
Sustentabilidade Urbana
Sustentabilidade
T
Topo de Morro
I
Unidades de Conservação
A Preservação do Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável 3
Índice Remissivo
276