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I58
Inovação em ciência e tecnologia de alimentos 3 [recurso eletrônico] /
Organizadoras Vanessa Bordin Viera, Natiéli Piovesan. – Ponta
Grossa, PR: Atena Editora, 2019. – (Inovação em Ciência e
Tecnologia de Alimentos; v. 3)
Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7247-698-0
DOI 10.22533/at.ed.980190910
1. Alimentos – Análise. 2. Alimentos – Indústria. 3. Tecnologia de
alimentos. I. Viera, Vanessa Bordin. II. Piovesan, Natiéli. III. Série.
CDD 664.07
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
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contato@atenaeditora.com.br
APRESENTAÇÃO
O e-book Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Vol 1, 2 e 3, traz um
olhar integrado da Ciência e Tecnologia de Alimentos. A presente obra é composta
por 86 artigos científicos que abordam assuntos de extrema importância relacionados
às inovações na área de Ciência e Tecnologia de alimentos.
No volume 1 o leitor irá encontrar 28 artigos com assuntos que abordam a
inovação no desenvolvimento de novos produtos como sucos, cerveja, pães, nibs,
doce de leite, produtos desenvolvidos a partir de resíduos, entre outros. O volume
2 é composto por 34 artigos desenvolvidos a partir de análises físico-químicas,
sensoriais, microbiológicas de produtos, os quais tratam de diversos temas
importantes para a comunidade científica. Já o volume 3, é composto por 24 artigos
científicos que expõem temas como biotecnologia, nutrição e revisões bibliográficas
sobre toxinfecções alimentares, probióticos em produtos cárneos, entre outros.
Diante da importância em discutir as inovações na Ciência e Tecnologia de
Alimentos, os artigos relacionados neste e-book (Vol. 1, 2 e 3) visam disseminar o
conhecimento e promover reflexões sobre os temas. Por fim, desejamos a todos
uma excelente leitura!
Vanessa Bordin Viera
Natiéli Piovesan
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 ................................................................................................................ 1
BIOGERAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS
FOTOAUTOTRÓFICO DE Chlorella vulgaris
VOLÁTEIS
A
PARTIR
DE
CULTIVO
Patrícia Acosta Caetano
Pricila Nass Pinheiro
Adrieni Santos de Oliveira
Paola Lasta
Patricia Arrojo da Silva
Karem Rodrigues Vieira
Mariana Manzoni Maroneze
Andriéli Borges Santos
Roger Wagner
Eduardo Jacob Lopes
Leila Queiroz Zepka
DOI 10.22533/at.ed.9801909101
CAPÍTULO 2 ................................................................................................................ 9
EFEITO DAS FASES DO CRESCIMENTO CELULAR E DO FOTOPERÍODO NA LIPIDÔMICA DE
SCENEDESMUS OBLIQUUS
Raquel Guidetti Vendruscolo
Mariane Bittencourt Fagundes
Mariana Manzoni Maroneze
Eduardo Jacob-Lopes
Roger Wagner
DOI 10.22533/at.ed.9801909102
CAPÍTULO 3 .............................................................................................................. 20
PRODUÇÃO DE BENZOTIAZOL EM CULTIVO HETEROTRÓFICO MICROALGAL POR PHORMIDIUM
AUTUMNALE
Patrícia Acosta Caetano
Adrieni Santos de Oliveira
Paola Lasta
Patricia Arrojo da Silva
Pricila Nass Pinheiro
Karem Rodrigues Vieira
Andriéli Borges Santos
Roger Wagner
Leila Queiroz Zepka
Eduardo Jacob Lopes
DOI 10.22533/at.ed.9801909103
SUMÁRIO
CAPÍTULO 4 .............................................................................................................. 28
PRODUÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS A PARTIR DE MICROALGAS CULTIVADAS
EM ÁGUA RESIDUÁRIA
Pricila Nass Pinheiro
Adrieni Santos de Oliveira
Paola Lasta
Patricia Arrojo da Silva
Patrícia Acosta Caetano
Karem Rodrigues Vieira
Andriéli Borges Santos
Roger Wagner
Eduardo Jacob-Lopes
Leila Queiroz Zepka
DOI 10.22533/at.ed.9801909104
CAPÍTULO 5 .............................................................................................................. 36
A CERVEJA E OS PRINCIPAIS CEREAIS UTILIZADOS EM SUA FABRICAÇÃO
Natália Viviane Santos de Menezes
Maryana Monteiro Farias
Aline Almeida da Silva
Cristiano Silva da Costa
Amanda Rodrigues Leal
Jéssica Cyntia Menezes Pitombeira
Cícera Alyne Lemos Melo
Theresa Paula Felix da Silva Meireles
Sansão Lopes de Moraes Neto
Lia Mara de Oliveira Pontes
Indira Cely da Costa Silva
DOI 10.22533/at.ed.9801909105
CAPÍTULO 6 .............................................................................................................. 48
ADITIVOS PREBIÓTICOS E PROBIÓTICOS NA ALIMENTAÇÃO DE PEIXES - IMPLICAÇÕES E
ALTERAÇÕES NA MICROBIOTA E HISTOLOGIA DO TRATO DIGESTÓRIO
Bruna Tomazetti Michelotti
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Bernardo Baldisserotto
DOI 10.22533/at.ed.9801909106
CAPÍTULO 7 .............................................................................................................. 53
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DA SOJA E UM DE SEUS PRINCIPAIS PRODUTOS, O
EXTRATO DE SOJA
José Marcos Teixeira de Alencar Filho
Andreza Marques Dourado
Leonardo Fideles de Souza
Valderez Aparecida Batista de Oliveira
Pedrita Alves Sampaio
Emanuella Chiara Valença Pereira
Isabela Araujo e Amariz
Morganna Thinesca Almeida Silva
DOI 10.22533/at.ed.9801909107
SUMÁRIO
CAPÍTULO 8 .............................................................................................................. 62
APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS DO SORO DE QUEIJO
Adriana Aparecida Bosso Tomal
Maria Thereza Carlos Fernandes
Alessandra Bosso
Ariane Bachega
Hélio Hiroshi Suguimoto
DOI 10.22533/at.ed.9801909108
CAPÍTULO 9 .............................................................................................................. 73
ENZIMAS INDUSTRIAIS E SUA APLICAÇÃO NA AVICULTURA
Felipe Dilelis de Resende Sousa
Túlio Leite Reis
DOI 10.22533/at.ed.9801909109
CAPÍTULO 10 ............................................................................................................ 85
ESTRATÉGIAS DE DESMISTIFICAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DA CARNE DE COELHO NO PAÍS
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
DOI 10.22533/at.ed.98019091010
CAPÍTULO 11 ............................................................................................................ 91
PEPTÍDEOS BIOATIVOS NO DESENVOLVIMENTO DE FILMES ATIVOS E BIODEGRADÁVEIS
PARA ALIMENTOS
Josemar Gonçalves Oliveira Filho
Heloisa Alves de Figueiredo Sousa
Edilsa Rosa da Silva
Mariana Buranelo Egea
DOI 10.22533/at.ed.98019091011
CAPÍTULO 12 .......................................................................................................... 103
PERSPECTIVAS DE APLICAÇÃO DE SOFOROLIPÍDIO MICROBIANO NA INDÚSTRIA DE
ALIMENTOS
Christiane Aparecida Urzedo de Queiroz
Victória Akemi Itakura Silveira
Amanda Hipólito
Maria Antonia Pedrine Colabone Celligoi
DOI 10.22533/at.ed.98019091012
CAPÍTULO 13 .......................................................................................................... 115
POTENCIAL ECONÔMICO DOS SUB-PRODUTOS PROVENIENTES DA INDÚSTRIA DE PESCADO:
ESTUDO DE CASO DA FILETAGEM DE PEIXE NUMA EMPRESA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE
VIGIA-PA
Maurício Madson dos Santos Freitas
Marielba de los Ángeles Rodríguez Salazar
Mirelle de Oliveira Moreira
Geormenny Rocha dos Santos
Nádia Cristina Fernandes Correa
DOI 10.22533/at.ed.98019091013
SUMÁRIO
CAPÍTULO 14 .......................................................................................................... 133
RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE Listeria monocytogenes ISOLADAS DE DERIVADOS
LÁCTEOS E PRODUTOS CÁRNEOS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Luciana Furlaneto Maia
Michely Biao Quichaba
Tailla Francine Bonfim
DOI 10.22533/at.ed.98019091014
CAPÍTULO 15 .......................................................................................................... 144
SCOBY (SYMBIOTIC CULTURE OF BACTERIA AND YEAST): TENDÊNCIAS EM SUCOS E
EXTRATOS VEGETAIS
Daiane Costa dos Santos
Isabelle Bueno Lamas
Josemar Gonçalves Oliveira Filho
Mariana Buranelo Egea
DOI 10.22533/at.ed.98019091015
CAPÍTULO 16 .......................................................................................................... 157
TOXINFECÇÕES ALIMENTARES VIRAIS: CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS VÍRUS,
PREVENÇÃO, TRATAMENTO E MÉTODOS CLÍNICOS DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL POR
QRT-PCR E BIOSSENSORES
Karina Teixeira Magalhães-Guedes
DOI 10.22533/at.ed.98019091016
CAPÍTULO 17 .......................................................................................................... 170
USO DE CULTURAS PROBIÓTICAS EM PRODUTOS CÁRNEOS FERMENTADOS
Nayane Valente Batista
Ana Indira Bezerra Barros Gadelha
Fernanda Keila Valente Batista
Ísis Thamara do Nascimento Souza
Jéssica Taiomara Moura Costa Bezerra de Oliveira
Marcia Marcila Fernandes Pinto
Nicolas Lima Silva
Palloma Vitória Carlos de Oliveira
Scarlett Valente Batista
Vitor Lucas de Lima Melo
DOI 10.22533/at.ed.98019091017
CAPÍTULO 18 .......................................................................................................... 180
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTA EM RESTAURANTE INSTITUCIONAL NO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO – BRASIL
Elvis Pantaleão Ferreira
Maria do Carmo Freitas Nascimento
Patricia Fabris
Barbara Gomes da Silva
Fabiana da Costa Krüger
Maria Veronica Freitas Nascimento
DOI 10.22533/at.ed.98019091018
SUMÁRIO
CAPÍTULO 19 .......................................................................................................... 188
AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DOS PACIENTES EM TRATAMENTO DE UM CENTRO DE
ESPECIALIDADES EM ONCOLOGIA DE FORTALEZA-CE
Danielle Maria Freitas de Araújo
Débora Mendes Rodrigues
Rute Mattos Dourado Esteves Justa
André Penha Aguiar
Caroline Neves Moreira
Fátima Virgínia Gama Justi
Juan de Sá Roriz Caminha
Gabriella Araújo Matos
Leonardo Lobo Saraiva Barros
Ronaldo Pereira Dias
Cássia Rodrigues Roque
Daniel Vieira Pinto
Cristhyane Costa Aquino
DOI 10.22533/at.ed.98019091019
CAPÍTULO 20 .......................................................................................................... 199
ESTADO NUTRICIONAL MATERNO E INDICADORES NUTRICIONAIS ASSOCIADOS AO PESO
AO NASCER EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA
Joana Géssica de Albuquerque Diniz
Hugo Demesio Maia Torquato Paredes
Alice Bouskelá
Camilla Medeiros Macedo da Rocha
Flavia Farias Lima
Fernanda Amorim de Morais Nascimento Braga
Maria Fernanda Larcher de Almeida
Cleber Nascimento do Carmo
Jane de Carlos Santana Capelli
DOI 10.22533/at.ed.98019091020
CAPÍTULO 21 .......................................................................................................... 213
IMC DE PRÉ-PÚBERES DAS REDES DE ENSINO PÚBLICA E PRIVADA EM VITÓRIA DA
CONQUISTA, BA, BRASIL
Taylan Cunha Meira
Ivan Conrado Oliveira
Diego Moraes Leite
Everton Almeida Sousa
Carlos Alberto de Oliveira Borges
Thiago Macedo Lopes Correia
Luciano Evangelista dos Santos Filho
Grazielle Prates Lourenço dos Santos Bittencourt
DOI 10.22533/at.ed.98019091021
CAPÍTULO 22 .......................................................................................................... 221
IMPLANTAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM AGROINDÚSTRIAS QUE PRODUZEM
PANIFICADOS E FORNECEM PARA A ALIMENTAÇÃO ESCOLAR
Carla Cristina Bauermann Brasil
Camila Patricia Piuco
DOI 10.22533/at.ed.98019091022
SUMÁRIO
CAPÍTULO 23 .......................................................................................................... 233
PADRONIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE COLETA DE AMOSTRAS DE ALIMENTOS
PREPARADOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS
Andrieli Teixeira Corso
Carla Cristina Bauermann Brasil
Daiane Policena dos Santos
Emanueli Bergamaschi
Fernanda Copatti
Larissa Santos Pereira
Tauani Lardini Tonietto
Kellyani Souto Peixoto
DOI 10.22533/at.ed.98019091023
CAPÍTULO 24 .......................................................................................................... 241
SABOR, SAÚDE E PRAZER COM CHIA E LINHAÇA: PREPARAÇÕES SIMPLES E PRÁTICAS
PARA O CARDÁPIO
Lilia Zago
Carolyne Pimentel Rosado
Andreia Ana da Silva
Natalia Soares Leonardo Vidal
DOI 10.22533/at.ed.98019091024
CAPÍTULO 25 .......................................................................................................... 257
PERFIL LIPÍDICO DA POLPA E ÓLEO DA MACAÚBA (Acrocomia Aculeata) DO CARIRI CEARENSE
Yoshihide Oliveira de Souza
Guilherme Álvaro Rodrigues Maia Esmeraldo
DOI 10.22533/at.ed.98019091025
SOBRE AS ORGANIZADORAS .............................................................................. 261
ÍNDICE REMISSIVO ................................................................................................ 262
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
BIOGERAÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS
VOLÁTEIS A PARTIR DE CULTIVO
FOTOAUTOTRÓFICO DE Chlorella vulgaris
Patrícia Acosta Caetano
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Pricila Nass Pinheiro
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Adrieni Santos de Oliveira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Paola Lasta
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Patricia Arrojo da Silva
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Andriéli Borges Santos
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Roger Wagner
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Eduardo Jacob Lopes
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Leila Queiroz Zepka
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Santa Maria - RS
Karem Rodrigues Vieira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Mariana Manzoni Maroneze
Universidade Federal de Santa Maria,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: As microalgas são uma fonte potencial
de biomoléculas de interesse comercial devido
ao seu perfil metabólico diversificado, capaz
de sintetizar diferentes classes de compostos
orgânicos. Como resultado, o trabalho avaliou a
produção de compostos orgânicos voláteis com
Capítulo 1
1
descritor de odor por Chlorella vulgaris em cultivo fotoautotrófico. Os experimentos foram
realizados em biorreatores operando em modo descontínuo, alimentados com 2,0 L de
meio sintético BG-11. As condições experimentais foram as seguintes: concentração
celular inicial de 100 mg.L-1, reator isotérmico operando a uma temperatura de 26°C,
densidade de fluxo de fótons de 150 μmol m-2.s-1 e aeração contínua de 1VVM (volume
de ar por volume de cultura por minuto) com a injeção de ar enriquecido com 15% de
dióxido de carbono. Os compostos voláteis foram isolados por microextração em fase
sólida aplicada em headspace a cada 24 horas durante 144 horas, separados por
cromatografia gasosa e identificados por espectrometria de massas (HS-SPME-GC/
MS). As principais biomoléculas encontradas foram álcoois (hexanol, 2-etilhexanol),
aldeídos (hexanal, 2,4-decadienal), cetonas (acetofenona, carvona, β-ionona),
terpenos (limoneno) e sulfurados (benzotiazol). O descritor de odor dos compostos
detectados nos experimentos foi principalmente classificado como frutado, verde,
hortelã e floral. Em conclusão, os resultados mostraram que o cultivo fototrófico da
Chlorella vulgaris pode ser um potencial biotecnológico para produzir aromas naturais.
PALAVRAS-CHAVE: microalgas, biomoléculas, fotoautotrófica
BIOGENERATION OF VOLATILE ORGANIC COMPOUNDS BY Chlorella vulgaris IN
PHOTOAUTROPHIC CULTIVATION
ABSTRACT: Microalgae are a potential source of biomolecules of commercial
interest due to their diversified metabolic profile, able to synthesize different classes of
organic compounds. As a result, the work evaluated the production of volatile organic
compounds with odor descriptor by Chlorella vulgaris in photoautotrophic cultivation.
The experiments were carried out in bioreactors operating on batch mode, fed with
2.0 L synthetic BG-11 medium. The experimental conditions were as follows: initial cell
concentration of 100 mg.L-1, isothermal reactor operating at a temperature of 26°C,
photon flux density of 150 μmol m−2.s−1 and continuous aeration of 1VVM (volume of
air per volume of culture per minute) with the injection of air enriched with 15% carbon
dioxide. The volatile compounds were isolated by solid phase microextraction applied
in headspace every 24 hours during 144 hours, separated by gas chromatography and
identified by mass spectrometry (HS-SPME-GC/MS). The main chemical biomolecules
were alcohols (hexanol, 2-ethylhexanol), aldehydes (hexanal, 2,4-decadienal), ketones
(acetophenone, carvone, β-ionone), terpenes (limonene) and sulfur compounds
(benzothiazole). The descriptor flavor of the compounds detected in experiments
was mainly classified fruity, green, mint, and flowers. In conclusion, the results have
shown that the phototrophic cultivation of the Chlorella vulgaris can be a potential
biotechnological to produce natural flavors.
KEYWORDS: microalgae, biomolecules, photoautotrophic
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
2
1 | INTRODUÇÃO
As microalgas são organismos funcionalmente diversificados, são na sua
maioria eucarióticos, aquáticos e fotossintéticos. Devido essa diversidade, esses
microrganismos têm sido amplamente estudados (MARONEZE et al., 2016).
Elas representam uma enorme biodiversidade da qual cerca de 40.000 já estão
identificadas e/ou analisadas (HU et al., 2008).
A Chlorella vulgaris, é uma microalga unicelular que cresce em água doce que
vem sendo amplamente estudada devido seu alto valor lipídico e proteico, também
pela facilidade de cultivo utilizando nutrientes baratos com uma alta produtividade de
biomassa (SAFI et al., 2014).
Dependendo das espécies, cultura e condições ambientais, as microalgas são
capazes de produzir uma variedade de compostos orgânicos voláteis (COVs) (YE et
al., 2018). A identificação detalhada de tais compostos é muito importante por causa
de seus impactos diretos nas propriedades de aroma do produto final enriquecido
com biomassa de microalgas (SANTOS et al., 2016).
O crescente interesse em produtos naturais estimula o desenvolvimento de
tecnologias que empregam microrganismos, incluindo as microalgas, capazes de
produzir compostos específicos (VIEIRA et al., 2019). Nesse sentido, o objetivo desse
estudo foi avaliar a biogeração de compostos orgânicos voláteis com descritores de
odor a partir do cultivo fototrófico de Chlorella vulgaris.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Microalga e Meio de Cultura
Culturas axênicas de Chlorella vulgaris (CPCC90) foram utilizadas durante o
estudo. As culturas em estoque foram mantidas e propagadas em meio BG11 (meio
Braun-Grunow) (RIPPKA et al., 1979). As condições de incubação foram: temperatura
de 25°C, densidade de fluxo de fótons de 15 µmol.m-2.s-1, e fotoperíodo de 12h.
2.2 Condições Experimentais
O experimento foi realizado em um fotobiorreator de coluna de bolhas
(MARONEZE et al., 2016), operando sob regime de batelada, alimentado com 2L
de meio BG11. As condições iniciais foram: concentração do inóculo de 100 mg.L-1,
temperatura constante de 26°C, uma densidade de fluxo de fótons de 15 µmol.m-2.s-1
e aeração contínua de 1VVM (volume de ar por volume de meio por minuto) com ar
enriquecido com 15% de dióxido de carbono.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
3
2.3 Métodos analíticos
2.3.1 Isolamento dos compostos orgânicos voláteis
Os compostos voláteis foram isolados da matriz por meio de microextração
em fase sólida do headspace do biorreator (HS-SPME) com fibra de divinilbenzeno/
carboxeno/polidimetilsiloxano (DVB/Car/PDMS) (50/30 µm de espessura de película
× 20 mm; Supelco, Bellefonte, PA). Cada porção de 10mL de amostra foi colocada em
um frasco contendo 3 g de NaCl e 10 μL de uma solução padrão interno de 3-octanol
foi adicionado. A fibra de SPME foi exposta no headspace do frasco contendo a
amostra durante 45 min a 40°C, sob agitação constante (400 rpm) com uma barra de
agitação magnética. Após esse período, a fibra foi removida do frasco e submetida
à análise cromatográfica. O procedimento analítico foi realizado duas vezes e
em duplicata. Portanto, os dados referem-se ao valor médio de quatro repetições
(SANTOS et al., 2016).
2.3.2 Análise GC/MS
Os compostos voláteis foram analisados em um cromatógrafo a gás Shimadzu
QP 2010 Plus acoplado a um espectrômetro de massa (Shimadzu, Kyoto, Japão). A
fibra foi dessorvida termicamente por 10 min em um injetor split/splitless, operando
no modo sem divisor (1,0 min divisor desligado) a 250 °C. O hélio foi utilizado como
gás carreador a uma vazão constante de 1,6 mL.min-1. Os analitos foram separados
em uma coluna capilar de sílica fundida DB-Wax, com 60 m de comprimento, 0,25
mm id e espessura de filme de 0,25 μm (Chrompack Wax 52-CB). A temperatura
inicial da coluna foi ajustada a 35°C por 5 min, seguido por um aumento linear de
5°C.min-1 a 250°C, e esta temperatura foi mantida por 5 min. O detector MS foi
operado em modo de ionização por impacto de elétrons +70 eV e os espectros de
massa obtidos por varredura variaram de m/z 35 a 350. Os compostos voláteis foram
identificados por uma comparação de espectros MS experimentais com a biblioteca
informatizada (NIST MS Search). Além disso, o índice de retenção linear (LRI) foi
calculado para cada composto volátil usando os tempos de retenção de uma mistura
padrão de séries homólogas de parafinas (C6-C24) para auxiliar na identificação
(ACREE E ARN, 2019).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 12 compostos orgânicos voláteis (aldeídos, álcoois, cetonas
e sulfurado) com diferentes descritores de odores foram encontrados no cultivo
fototrófico de Chlorella vulgaris e estão apresentados na Tabela 1. Dentre as classes
químicas encontradas, benzotiazol (27,95%), 2-etilhexanol (12,46%) e 2,4-decadienal
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
4
(11,08%) foram os principais compostos identificados. Dos 16 compostos, 5 (hexanal,
6-metil-5-hepten-2-ona, hexanol, geranilacetona e β-ionona) e já foram descritos
em outros estudos sobre a produção volátil da microalga (DURME et al., 2013;
HOSOGLU, 2018).
Composto
LRI*
Descrição de odor
Área relativa (%)
hexanal
1084
grama, gordura
1,73
limoneno
1182
limão, cítrico
0,18
1,8-cineol
1193
especiarias, pungente
0,34
6-metil-5-hepten-2-ona
1327
nd*
1,73
hexanol
1360
flores, verde
1,80
2-etilhexanol
1487
rosa, verde
12,46
mentol
1642
menta
5,87
acetofenona
1645
flores, amêndoas
1,07
2,4-decadienal
1710
algas, gordura
11,08
geranilacetona
1840
flores, verde
4,07
benzotiazol
1896
borracha
27,95
β-ionona
1912
flores, frutas
1,93
Outros Compostos
29,79
Total
100
Tabela 1. Compostos orgânicos voláteis produzidos por Chlorella vulgaris em reator fototrófico.
A descrição de odor apresentada foi extraída da literatura em comparação ao nome do
composto, coluna cromatográfica e índice de retenção (ACREE E ARN, 2019).
*não descrito.
As microalgas são consideradas uma fonte potencialmente nova e valiosa de
compostos biologicamente ativos para aplicações em vários setores da biotecnologia
(LAURITANO et al., 2018). Berger (2009) relatou que aromas obtidos através de
microrganismos podem competir com as fontes tradicionais. A elucidação das vias
metabólicas, precursores e a aplicação da bioengenharia já resultaram em mais de
100 compostos aromáticos comerciais derivados da biotecnologia.
A β-ionona, geranilacetona e limoneno estão entre os principais terpenóides
encontrados nos compostos orgânicos voláteis de microalgas. O limoneno quando
possui uma alta produção, podem apresentar efeito inibitório sobre o crescimento das
microalgas por induzir a degradação do pigmento fotossintético e consequentemente
o declínio da capacidade fotossintética (ZHOU et al., 2016).
Na Figura 1 estão apresentados os compostos voláteis derivados da
degradação de carotenoides (β-ionona, geranilacetona e 6-metil-5-hepten-2-ona)
são classificados como odores frutados e florais, podendo contribuir positivamente
no aroma da biomassa da microalga (ZUO, 2019). A presença destes compostos se
deve a alta concentração de carotenoides na biomassa da C. vulgaris (PATIAS et al.,
2017).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
5
Figura 1. Compostos derivados da degradação de carotenoides.
(Fonte: Chempider – Royal Society of Chemistry).
Derivados de lipídios, como aldeídos e álcoois, contribuem significativamente
para a característica do aroma das microalgas, com isso o controle da oxidação
lipídica deve ser recomendado (DURME et al., 2013; HOSOGLU, 2018). Os aldeídos,
devido seu baixo limiar de odor, podem contribuir substancialmente para aromas
desejáveis (notas verdes) e indesejáveis (gordura) (CZERNY et al., 2008; ZUO, 2019).
Já o benzotiazol, que foi o composto de maior área encontrado, ele é derivado da
degradação enzimática de aminoácidos, não possui um descritor de odor desejável,
mas é muito utilizado nas indústrias químicas e farmacêuticas (VIEIRA et al., 2019;
SRIVASTAVA et al., 2019).
Os avanços na biotecnologia de microalgas são o começo da produção
microbiana como um meio viável de síntese bioquímica, emergindo como um meio
alternativo para produção flexível, eficiente e de baixo impacto para produzir uma
variedade de compostos voláteis industrialmente relevantes. Esta é uma ferramenta
importante para avaliação de seus benefícios potenciais em diferentes aplicações.
4 | CONCLUSÃO
A maioria dos voláteis encontrados contribuem positivamente para o aroma do
reator microalgal, e são derivados principalmente de ácidos graxos e carotenoides.
No entanto, somente a análise qualitativa não será suficiente para saber o seu real
potencial biotecnológico na produção de compostos voláteis, pesquisas adicionais
sobre o perfil de compostos orgânicos voláteis são necessárias para investigar mais
amostras de espécies de microalgas, a fim de identificar os melhores candidatos
potenciais para uso em uma nova geração de alimentos, rações, biocombustíveis,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
6
produtos farmacêuticos e matéria-prima para química fina.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
7
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 1
8
CAPÍTULO 2
EFEITO DAS FASES DO CRESCIMENTO CELULAR
E DO FOTOPERÍODO NA LIPIDÔMICA DE
SCENEDESMUS OBLIQUUS
Raquel Guidetti Vendruscolo
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Tecnologia e Ciência dos
Alimentos
Santa Maria – Rio Grande do Sul
Mariane Bittencourt Fagundes
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Tecnologia e Ciência dos
Alimentos
Santa Maria – Rio Grande do Sul
Mariana Manzoni Maroneze
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Tecnologia e Ciência dos
Alimentos
Santa Maria – Rio Grande do Sul
Eduardo Jacob-Lopes
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Tecnologia e Ciência dos
Alimentos
Santa Maria – Rio Grande do Sul
Roger Wagner
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Tecnologia e Ciência dos
Alimentos
Santa Maria – Rio Grande do Sul
RESUMO:
Microalgas
são
organismos
unicelulares com capacidade de transformar a
energia solar em compostos orgânicos através
da fotossíntese. Assim, o objetivo do presente
trabalho foi determinar o perfil de ácidos graxos
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
(AG) durante as fases do crescimento celular e
o conteúdo lipídico da microalga Scenedesmus
obliquus cultivada com diferentes fotoperíodos.
Os experimentos foram realizados em
fotobiorreator com os fotoperíodos 24:0 e
22:2 (claro:escuro). A extração dos lipídios foi
realizada com a mistura metanol-clorofórmio,
seguida da derivatização por catálise ácida
para obtenção de AG, que foram analisados
em cromatógrafo à gás equipado com detector
de ionização em chama (GC-FID) e separados
em coluna capilar. A máxima concentração
celular obtida no cultivo 24:0 (claro:escuro)
foi de 1318 mg/L e para o fotoperíodo 22:2
(claro:escuro) 1378 mg/L, não apresentando
diferença significativa. Independente da fase de
crescimento celular e do fotoperíodo utilizado, os
perfis de AG apresentaram maior concentração
de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA),
seguido de ácidos graxos saturados (SFA) e
ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), com
os AG majoritários C16:0 e linolênico (C18:3n3).
A biomassa obtida ao final dos cultivos
apresentou valores de lipídios totais de 16,90
e 18,84% para os fotoperíodos 24:0 e 22:2
(claro:escuro), respectivamente. Em termos
de suplementação alimentar, independente
de fotoperíodo, a microalga S. obliquus se
mostrou uma boa alternativa, já do ponto de
vista comercial, o cultivo com fotoperíodo 22:2
(claro:escuro) apresentou maior produção de
Capítulo 2
9
lipídios com menor custo energético pelas duas horas de escuro.
PALAVRAS-CHAVE: lipídios, ácidos graxos, PUFA, ômega-3, microalgas.
EFFECT OF CELL GROWTH PHASES AND PHOTOPERIOD ON THE
SCENEDESMUS OBLIQUUS LIPIDOMICS
ABSTRACT: Microalgae are single-celled organisms capable of transforming solar
energy into organic compounds through photosynthesis. Thus, the objective of the
present work was to determine the fatty acid (FA) profile during the cell growth phases
and the lipid content of the microalgae Scenedesmus obliquus cultivated with different
photoperiods. The experiments were performed in photobioreactor with photoperiods
24:0 and 22:2 (light: dark). Lipid extraction was performed with the methanol-chloroform
mixture, followed by acid catalysis derivatization to obtain FA, which were analyzed in
gas chromatograph equipped with flame ionization detector (GC-FID) and separated
in a capillary column. The maximum cell concentration obtained in the 24:0 (light:dark)
culture was 1318 mg/L and for the photoperiod 22:2 (light:dark) 1378 mg/L, showing no
significant difference. Regardless of the cell growth phase and the photoperiod used,
the FA profiles showed the highest concentration of polyunsaturated fatty acids (PUFA),
followed by saturated fatty acids (SFA) and monounsaturated fatty acids (MUFA),
with major FA C16:0 and linolenic (C18:3n3). The biomass obtained at the end of the
crops presented total lipid values of 16.90 and 18.84% for photoperiods 24:0 and 22:2
(light:dark), respectively. In terms of food supplementation, independent of photoperiod,
microalgae S. obliquus proved to be a good alternative. From a commercial point of
view, cultivation with photoperiod 22:2 (light:dark) presented higher lipid production
with lower energy cost by two hours of dark.
KEYWORDS: lipids, fatty acids, PUFA, omega-3, microalgae.
1 | INTRODUÇÃO
Microalga é um termo livre de valor taxonômico que engloba microrganismos
tanto eucariontes quanto procariontes, dotados de clorofila e outros pigmentos
fotossintéticos (RAJA et al., 2014). As microalgas eucariontes estão distribuídas
nos grupos Glaucophyta, Rhodophyta, Ochrophyta, Haptophyta, Cryptophyta,
Dinophyta,
Euglenophyta,
Chlorarachniophyta
e
Chlorophyta,
enquanto
as
procariontes pertencem ao grupo Cyanophyta ou Prochlorophyta (MUTANDA et al.,
2010). Entretanto, a nível de produção e aplicação biotecnológica se destacam as
cianobactérias (Cyanophyta), clorofíceas (Chlorophyta) e diatomáceas (Ochrophyta)
(MATA et al., 2010).
Esses microrganismos apresentam grande potencial de exploração devido seu
metabolismo versátil, podem assimilar carbono inorgânico através da fotossíntese,
denominado de metabolismo autotrófico ou metabolismo heterotrófico, em que ocorre
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
10
a assimilação de carbono orgânico, ou ainda desempenhar ambos metabolismos,
mixotrófico (WILLIAMS & LAURENS, 2010). Ademais, pode ser mencionada sua
grande adaptabilidade a diversas condições ambientais, inclusive extremas, elevadas
taxas de produtividade sem uso extensível de terra e água e obtenção de biomassa
de interesse comercial (CHEN et al., 2013; SUN et al., 2018).
Por ser constituída por proteínas, carboidratos, lipídios, pigmentos e outros
compostos com bioatividade, a biomassa microalgal apresenta grande aplicabilidade
na indústria de alimentos, aditivos e suplementos (MATOS, 2017). Os lipídios são
compostos majoritários nesses microrganismos, podendo atingir concentrações
superiores a 50% em peso seco (GALLEGO et al., 2018). Muitas vezes essas
moléculas são constituídas por elevadas concentrações de AG ômega-3, como o
ácido linolênico (C18:3n3), além dos AG de cadeia longa, ácido eicosapentaenoico
(EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA), responsáveis por vários benefícios a saúde
humana (CHAUTON et al., 2015).
Diferentes espécies e a manipulação das condições ambientais dos cultivos
microalgais são os responsáveis pela obtenção de biomassa com diferentes
composições. Condições de estresse como privação de luminosidade em cultivos
autotróficos, geralmente, proporcionam um maior acúmulo de lipídios nas células
de microalgas (ZIENKIEWICZ et al., 2016). Assim, o objetivo do presente trabalho
foi avaliar o crescimento da microalga Scenedemus obliquus e determinar o perfil
de AG nas diferentes fases do crescimento celular, como também o conteúdo de
lipídios totais obtido ao fim dos cultivos com iluminação constante (24:0 claro:escuro)
e fotoperíodo 22:2 (claro:escuro).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Microrganismos e meio de cultura
As culturas da microalga S. obliquus (UTCC5) foram propagadas e mantidas em
reator de coluna de bolhas com capacidade total de 2 L, utilizando o meio sintético
BG-11 com composição (mg/L): fosfato de potássio dibásico anidro (3,0), sulfato de
magnésio (75,0), cloreto de cálcio dihidratado (36,0), citrato de amônio e ferro (0,6),
etilenodiaminotetracetato dissódico dihidratado (1,0), cloreto de sódio (0,72), nitrato
de sódio (150,0), ácido cítrico (0,6), carbonato de sódio (15,0), ácido bórico (2,8),
cloreto de manganês tetrahidratado (1,8), sulfato de zinco heptahidratado (0,22),
molibdato de sódio dihidratado (0,39), e sulfato de cobalto hexahidratado (0,04)
(Ripka et al., 1979). O pH inical foi ajustado em 8,0, luminosidade de 30 µmol/m2/s1,
aeração de 1 VVM (volume de ar por volume de meio por minuto) sem enriquecimento
de gás carbônico (CO2) e fotoperíodo de 12:12 (claro:escuro).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
11
2.2 Fotobiorreator e obtenção dos dados cinéticos
Os experimentos foram realizados em um fotobiorreator de coluna de bolhas.
O sistema foi construído em vidro de 4 mm de espessura, com um diâmetro interno
de 7,5 cm e uma altura de 75 cm. O reator foi operado no modo batelada com 2
L de meio sintético BG-11, concentração celular inicial de 100 mg/L, temperatura
constante de 26 °C, intensidade luminosa de 150 µmol/m2/s e aeração de 1 VVM com
enriquecimento de 20% de CO2 industrial. A concentração celular foi determinada a
cada 24 horas gravimetricamente, através da filtração de um volume conhecido de
meio de cultura em filtro de diâmetro 0,45 mm, seco a 60 °C por 24 horas (APHA,
1998). O reator foi iluminado com vinte lâmpadas fluorescentes de 15 W, localizadas
em uma câmara de fotoperíodo e a intensidade luminosa foi monitorada através
de luxímetro digital (MLM-1010, Minipa, BR). A mistura ar/CO2 foi controlada por
três rotâmetros (AFSG 100, Key Instruments, USA) que medem a vazão de CO2,
ar e a mistura entre os gases, respectivamente. Dois fotoperíodos, 24:0 e 22:2
(claro:escuro), foram avaliados. Os experimentos foram conduzidos até as células
atingirem a fase de declínio ou morte celular.
2.3 Parâmetros cinéticos
A produtividade em biomassa (PX) foi determinada através da relação entre a
variação da concentração celular em um determinado intervalo de tempo através
da equação [Px = (Xi - Xi-1)(ti - ti-1)], onde Xi é a concentração celular no ti, Xi-1 é a
concentração celular no ti-1. A concentração celular foi determinada como descrito
na seção anterior. A taxa de crescimento máximo específico (µmáx) foi calculada
considerando a fase exponencial da equação [In(Xi/X0) = μmax x t], onde X0 é a
concentração inicial de biomassa, Xi é concentração de biomassa no tempo ti e t é o
tempo de residência.
2.4 Extração dos lipídios
Os metabólitos foram extraídos pelo método descrito por Bligh e Dyer (1959)
com modificações para biomassa microalgal sugeridas por Vendruscolo et al. (2018).
Cerca de 80 mg de amostra foram adicionados de 3 mL de metanol, 1,5 mL de
clorofórmio e 1,2 mL de água destilada. A extração ocorreu através da agitação das
amostras por 30 min a 250 rpm em mesa agitadora orbital (Q225M, Quimis, BR),
com os tubos dispostos horizontalmente. Posteriormente, foram adicionados 1,5 mL
de clorofórmio e 1,5 mL de água destilada e novamente agitados em mesa agitadora
orbital por 4 min. Então, as amostras foram centrifugadas (MTD III PLUS, Metroterm,
BR) a 1006 ×g por 2 min para separação das fases orgânica e aquosa.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
12
2.5 Determinação dos lipídios e ácidos graxos
Para determinação do conteúdo de lipídios totais 1 mL da fração orgânica foi
seca em estufa com circulação de ar a 105 °C até obtenção de peso constante.
Posteriormente, o solvente de 1,5 mL da fração orgânica foi evaporado em bloco
de aquecimento (Concentrator e Dry, Technal, BR) a 40 °C com fluxo de nitrogênio
e realizada a derivatização de acordo com o método descrito por Hartman e Lago
(1973) para obtenção de ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME). Os FAME
dissolvidos em hexano foram analisados pela injeção de 1 µL em cromatógrafo à gás
equipado com detector de ionização em chama (GC-FID) da marca Varian, modelo
Star 3400 CX (USA) e amostrador automático Varian, modelo 4200 (USA). Os FAME
foram separados em coluna capilar CP-Wax 52 CB (Chrompack, NL) (50 m × 0,32
mm × 0,20 µm). O gás de arraste utilizado foi o hidrogênio à pressão constante de
15 psi. O injetor manteve-se no modo splitless por 0,8 min e temperatura de 250 °C.
A temperatura inicial da coluna foi de 50 °C, onde permaneceu 1 min, aumentando
para 180 °C com taxa de 20 °C/min, após até 200 °C com taxa de aumento de 2 °C/
min e então com taxa de 10 °C/min até atingir 230 °C mantendo-se em isoterma por
8 min. O detector manteve-se na temperatura de 240 °C. A identificação dos FAME
foi realizada por comparação dos tempos de retenção dos analitos com padrões
FAME Mix-37 (Sigma-Aldrich, USA). Os resultados foram expressos em percentual
da área total dos cromatogramas levando em consideração os fatores de correção
do FID e de conversão de ácido graxo em éster (VISENTAINER, 2012).
2.6 Análise estatística
As diferenças entre os tratamentos foram avaliadas pelo teste t de Student (p
<0,05) utilizando o software STATISTICA 7.0 (Statsoft Inc., EUA).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A avaliação dos parâmetros cinéticos da produção de biomassa de
microalgas é um passo fundamental na consolidação do processo. Nesse aspecto,
a Figura 1 apresenta a curva de crescimento da microalga S. obliquus cultivada
fotossinteticamente em ambos fotoperíodos, 24:0 e 22:2 (claro:escuro). As culturas
indicaram a ausência da fase de adaptação, atingindo logo nas primeiras horas de
cultivo a fase de exponencial de crescimento celular, a fase estacionária foi obtida
em aproximadamente 240 horas e o final dos cultivos se deu em 312 horas pelo
início da morte celular.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
13
Figura 1. Curva de crescimento celular da S. obliquus cultivada com diferentes fotoperíodos,
24:0 e 22:2 (claro:escuro).
Ainda em relação aos parâmetros cinéticos, a máxima concentração celular
obtida foi de 1378 mg/L para o cultivo com fotoperíodo 22:2 (claro:escuro), seguida
por 1318 mg/L para o cultivo com iluminação constante (24:0 claro:escuro), o que
não representou diferença estatística (Tabela 1). Também podem ser observados
na tabela 1 os valores de velocidade máxima especifica de crescimento (µmáx) de
0,017 h-1 para o fotoperíodo 24:0 e 0,016 h-1 para 22:2 e uma produtividade celular
(PX) de 4,61 e 4,84 mg/L/h para 24:0 e 22:2 (claro:escuro), respectivamente. Ambos
parâmetros cinéticos por se basearem nos valores de concentração celular também
não apresentam diferença estatística.
24:0
22:2
a
1318 ± 60
1378a ± 34
µmáx (h-1)
0,017a ± 0,00
0,016a ± 0,00
TR (h)
312a ± 0,00
312a ± 0,00
PX (mg/L/h)
4,61a ± 0,21
4,84a ± 0,30
16,90b ± 0,20
18,84a ± 0,48
Xmáx (mg/L)
Lipídios (%)
Tabela 1. Parâmetros cinéticos e teor lipídeos da microalga S. obliquus cultivada em diferentes
com fotoperíodo 24:0 e 22:2 (claro:escuro).
* Resultados expressos em média ± desvio padrão.
* Xmáx – concentração celular máxima; µmáx – velocidade máxima especifica de crescimento; TR – tempo de
residência; PX – produtividade celular.
* Letras diferentes na mesma linha indicam diferença pelo teste t de Student (p <0,05).
Os ciclos de luz têm sido mencionados como fator determinante em cultivos
microalgais fotossintéticos (TAKACHE, PRUVOST E MAREC, 2015), porém foi
verificado que o período de 2 horas de escuro em que o cultivo 22:2 (claro:escuro)
foi submetido não afetou o crescimento celular da cepa S. obliquus, indicando que
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
14
a mesma apresenta capacidade de produzir e armazenar energia suficiente durante
os períodos de luz para uso na ausência da fonte de energia luminosa. Esse mesmo
comportamento já foi verificado em cultivos com fotoperíodo 22:2 (claro:escuro) para
cepa Aphanothece microscopica Nägeli (JACOB-LOPES et al., 2009) e também para
S. obliquus (MARONEZE et al., 2016), esses trabalhos demonstraram também que
períodos de escuro superiores a duas horas afetaram negativamente o crescimento
celular das cepas, porém isso não foi verificado experimentalmente neste estudo.
Os lipídios estão entre os compostos microalgais de maior interesse, assim
foi realizada a caracterização do perfil de AG do inóculo utilizado nos cultivos
fotossintéticos e afim verificar a cinética de produção dessas moléculas foi realizado
um monitoramento nas diferentes fases do crescimento celular. Como as células
não apresentaram a fase de adaptação, foram coletadas amostras em 144 horas
de cultivo para representar a fase exponencial, 240 horas para fase estacionária
e 312 horas que corresponde a fase de declínio ou morte celular, como pode ser
observado na Figura 1.
O perfil de AG do inóculo como pode ser observado na Tabela 2 apresentou
maior concentração de SFA, seguido por MUFA e PUFA, sendo que os compostos
majoritários foram o ácido palmítico (C16:0) (34,30%), o ácido palmitoleico (C16:1)
(26,80%) e o ácido linoleico (C18:2n6c) (19,37%). Apesar da menor concentração
de PUFA os quais são de interesse para nutrição humana, a razão n6/n3 se manteve
inferior a 5 (Tabela 2), valor definido pela Organização Mundial da Saúde (WHO) por
proporcionar benefícios a saúde (KUMARI et al., 2013).
Na análise realizada em 144 horas foi possível observar em ambos os cultivos,
24:0 e 22:2 (claro:escuro), grande aumento na concentração de PUFA, 40,24 e
46,63%, respectivamente. Os valores de SFA se mantiveram semelhantes em relação
ao inóculo, enquanto os MUFA reduziram (Tabela 2). Esse aumento na concentração
de PUFA, principalmente no cultivo com fotoperíodo 22:2 (claro:escuro), e também
nos valores de ômega-3, ocorreu devido ao maior teor do ácido linolênico (C18:3n3),
pelo menos quatro vezes superior ao encontrado no inóculo e também detecção
de outro AG, o EPA. Assim, a razão n6/n3 encontrada foi bastante inferior a do
inóculo (3,45), 0,53 e 0,48 para os cultivos fotossintéticos 24:0 e 22:2 (claro:escuro),
respectivamente.
Além do aumento de C18:3n3 e a detecção de EPA, também foram
detectados nos cultivos 24:0 e 22:2 (claro:escuro) na fase exponencial os ácidos
pentadecanoico (C15:0), araquídico (C20:1) e behênico (C22:1). Por outro lado,
não foram encontrados os ácidos heptadecanoico (C17:0), cis10-heptadecenoico
(C17:1) e esteárico (C18:0). Vale ressaltar que as demais fases do crescimento
celular, estacionária (240 horas) e de declínio (312 horas), apresentaram os mesmos
AG em concentrações similares (Tabela 2). Essa mudança nos perfis de AG na fase
exponencial (144 horas), principalmente aumento do C18:3n3 e aparecimento de
compostos com cadeia carbônica maior ou igual a 20 carbonos, indicam a ocorrência
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
15
de reações de dessaturação e elongação, já apontadas como dependentes de luz e
da fase do crescimento celular na microalga Pavlova lutheri (JÓNASDÓTTIR, 2019).
Ácidos Graxos
Inóculo
C14:0
Exponencial
Estacionária
Declínio
24:0
22:2
24:0
22:2
24:0
22:2
0,67
1,06
0,82
0,79
1,15
0,76
C15:0
0,85
-
0,23
0,22
0,24
0,28
0,33
C16:0
34,30
37,24
32,48
32,31
32,48
33,31
C16:1
26,80
3,47
5,83
32,45
0,25
3,69
3,45
5,32
3,85
C17:0
0,32
-
-
-
-
-
-
C17:1
0,94
-
-
-
-
-
-
C18:0
2,48
-
-
-
-
-
-
C18:1n9c
8,44
17,50
13,72
14,74
15,75
13,34
13,99
C18:2n6c
19,37
12,49
14,24
12,36
13,33
14,64
C18:3n6
0,58
1,50
0,84
2,56
2,05
12,56
2,62
2,50
C18:3n3
5,78
26,09
31,34
32,79
31,49
31,69
30,27
C20:1
-
0,17
0,18
0,18
0,16
0,17
0,15
C20:2
0,31
-
-
-
-
-
-
C20:5n3
-
0,16
0,22
0,21
0,18
0,19
0,21
C22:1
-
0,08
0,09
0,10
0,06
0,14
0,07
∑SFA
37,78
38,54
33,54
33,38
33,52
33,97
34,32
36,18
21,22
19,82
18,70
19,42
18,97
18,06
26,04
40,24
46,63
47,92
47,06
47,06
47,62
3,45
0,53
0,48
0,45
0,49
0,48
0,56
∑MUFA
∑PUFA
n6/n3
Tabela 2. Perfil de AG da microalga S. obliquus cultivada com fotoperíodo 24:0 e 22:2
(claro:escuro) nas diferentes fases do crescimento celular.
*∑SFA - somatório de ácidos graxos saturados; ∑MUFA - somatório de ácidos graxos monoinsaturados; ∑PUFA somatório de ácidos graxos poli-insaturados; n6/n3 - razão de ácidos graxos ômega 6 e ômega 3.
A biossíntese de AG em microalgas ocorre principalmente no cloroplasto e
produz o C16:0 e o C:18-ACP (proteína carreadora de acila). Estes AG serão os
precursores da síntese de lipídios. A síntese é iniciada pela conversão de acetilcoenzima A (CoA) a malonil-CoA, catalisado por acetil-CoA carboxilase (ACCase).
Em seguida, a malonil-CoA- transacilase ACP (MAT) catalisa a transferência de
malonil-CoA para malonil-ACP, doador de carbono para as reações subsequentes
de alongamento de cadeia (RISMANI-YAZDI et al., 2011).
Durante a elongação, o grupo malonil do malonil-ACP participa de uma série de
reações de condensação com o acil-ACP (ou acetil-CoA) catalisadas pelas múltiplas
isoformas da enzima de condensação, cetoacil-ACP sintase (KAS). A primeira reação
de condensação é catalisada pela β-cetoacil-ACP sintase III e resulta na formação
de um produto com quatro carbonos. Outra enzima de condensação é a β-cetoacil-
ACP sintase I (KAS I), que produz cadeias de vários tamanhos (6 a 16 carbonos).
Finalmente, a β-cetoacil-ACP sintase II (KAS II) é responsável pela elongação do
C16:0-ACP e C18:0-ACP. Para a síntese de AG insaturados, uma dupla ligação é
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
16
introduzida no grupo acila esterificado a ACP pela enzima acil-ACP dessaturase
(RISMANI-YAZDI et al., 2011).
Após as células atingirem a fase de declínio ou morte celular (312 horas), além
do perfil de AG, foi determinado o conteúdo total de lipídios da biomassa obtida,
os valores foram de 16,90 e 18,84% para os cultivos 24:0 e 22:2 (claro:escuro),
respectivamente (Tabela 1). O cultivo com período de escuro (22:2 claro:escuro)
apresentou concentração de lipídios superior, diferindo estatísticamente do cultivo
com iluminação constante (24:0 claro:escuro). Como a única fonte de carbono
disponível era inorgânica (CO2), o metabolismo ativo nas células microalgais era
a fotossíntesse (dependente de energia luminosa), então esse período de escuro
pode representar uma forma de estresse e já foi reportado na literatura que esses
microrganismos em condições limitantes armazenarem energia química sob a forma
de óleos, como lipídios neutros ou triglicerídeos (HEXIN et al., 2013).
Apesar do conteúdo superior de lipídios totais obtido na biomassa cultivada
com o fotoperíodo 22:2 (claro:escuro), ao final do cultivo o perfil de AG manteve os
mesmos compostos em ambos os cultivos, com algumas diferenças de concentração.
No cultivo 24:0 (claro:escuro) os AG majoritários foram o C16:0 (32,38%), C18:3n3
(31,69%) e o C18:1n9c (13,34%), já para o cultivo 22:2 (claro:escuro) foram o C16:0
(33,31%), C18:3n3 (30,27%) e o C18:2n6c (14,64%). As concentrações de SFA,
MUFA e PUFA foram similares, enquanto a razão n6/n3 foi inferior para o cultivo 24:0
(claro:escuro), 0,48, quando comparada a 0,56 obtida para o cultivo com fotoperíodo
22:2 (claro:escuro) (Tabela 2).
4 | CONCLUSÃO
A microalga S. obliquus se mostrou atrativa para o uso biotecnológico na obtenção
de lipídios, apresentando vantagens frente as fontes de obtenção tradicionais,
principalmente pela sua grande adaptabilidade, não requerer grandes extensões de
terra cultivável e ser independente de sazonalidade. Além das altas concentrações
de lipídios totais, o perfil de AG obtido em todas as fases do crescimento celular, altas
concentrações de PUFA e ômega-3, se mostra de grande interesse para indústria
de alimentos, principalmente, como suplemento alimentar, pelos efeitos benéficos à
saúde já comprovados desses compostos.
Independe da fase de crescimento, o perfil de AG apresentou as características
de interesse já mencionadas, porém devido a maior concentração celular ter sido
obtida próximo a fase de declínio, recomenda-se que os cultivos fotossintéticos de
S. obliquus sejam conduzidos por mais horas (aproximadamente 240 horas) para
que um maior rendimento desses compostos seja obtido. Ademais, em termos
comerciais, pela similaridade dos parâmetros cinéticos e maior concentração de
lipídios obtidos no cultivo 22:2 (claro:escuro), este se mostra mais viável devido a
economia energética proporcionada pelas horas de escuro.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
17
AGRADECIMENTOS
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) pelas bolsas de
estudo concedidas.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 2
19
CAPÍTULO 3
PRODUÇÃO DE BENZOTIAZOL EM CULTIVO
HETEROTRÓFICO MICROALGAL POR PHORMIDIUM
AUTUMNALE
Patrícia Acosta Caetano
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Adrieni Santos de Oliveira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Paola Lasta
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Patricia Arrojo da Silva
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Roger Wagner
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Leila Queiroz Zepka
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Eduardo Jacob Lopes
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Santa Maria - RS
Pricila Nass Pinheiro
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Karem Rodrigues Vieira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria - RS
Andriéli Borges Santos
Universidade Federal de Santa Maria,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: Microalgas são reconhecidas como
uma fonte muito diversificada de biomoléculas
bioativas. O benzotiazol é um composto de
anel bicíclico, que exibe uma ampla aplicação
industrial.
Em face disso, o objetivo do
estudo foi investigar a obtenção do composto
volátil benzotiazol em cultivo heterotrófico da
microalga Phormidium autumnale utilizando
água residuária como substrato. O experimento
foi realizado em biorreator descontínuo com
água residuária proveniente do abate de aves
Capítulo 3
20
e suínos, as condições de incubação usadas foram 25°C, aeração de 1 VVM (volume
de ar por volume de meio por minuto), pH 7,6, o tempo de residência celular foi de
144 horas com amostragem a cada 24 horas. Os compostos voláteis foram isolados
por microextração em fase sólida no headspace (fibra DVB/Car/PDMS), separados e
analisados por cromatografia gasosa acoplada a um detector de massas (SPME-GCMS). Na fração volátil microalgal o benzotiazol (44,38 μg.L-1) está entre os compostos
voláteis majoritário do experimento. Demonstrando assim potencial biotecnológico
para a obtenção alternativa deste composto.
PALAVRAS-CHAVE: água residuária, benzoatiazol, microalgas, compostos orgânicos
voláteis.
BENZOTHIAZOLE PRODUCTION IN MICROALGAL HETEROTROPHIC CULTIVE
FROM PHORMIDIUM AUTUMNALE
ABSTRACT: Microalgae are recognized as a very diverse source of bioactive
biomolecules. Benzothiazole is a bicyclic ring compound, which exhibits a large industrial
application. In view of this, the objective of the study was to investigate the obtaining
of the volatile compound benzothiazole in heterotrophic culture of the microalgae
Phormidium autumnale using wastewater as substrate. The experiment was carried in a
batch bioreactor with wastewater from poultry and swine slaughterhouse, the incubation
conditions used were 25°C, aeration of 1 VVM (volume of air per volume of medium per
minute), pH 7.6, and cell residence time was 144 hours with sampling every 24 hours.
Volatile compounds were isolated by solid phase microextraction in headspace (DVB/
Car/PDMS fiber), separated and analyzed by gas chromatography coupled to a mass
detector (SPME-GC-MS). In the microalgal volatile fraction, benzothiazole (44.38 μg.L1
) is among the major volatile compounds of the experiment. Thus, demonstrating a
biotechnological potential for an alternative procurement of this compound.
KEYWORDS: wastewater, benzothiazole, microalgae, volatile organic compounds.
1 | INTRODUÇÃO
As microalgas são organismos que produzem compostos valiosos com alto
grau de diversidade devido ao amplo espectro de seus metabólitos secundários e
apresentam estruturas únicas que diferem das plantas superiores. Devido a isso, a
pesquisa sobre bioprodutos de microalgas tem atraído a atenção dos químicos como
um tópico de pesquisa desafiador (RODRIGUES et al., 2015).
Fisiologicamente a forma de crescimento dominante das microalgas é
fotoautotrófica. Porém, algumas espécies, como as cianobactérias, possuem a
capacidade de crescerem heterotroficamente. O gênero Phormidium é uma microalga
verde azulada pertencente ao filo das cianobactérias. Essa espécie apresenta
potencial para ser utilizada como biocatalisadores em processos de biotecnologia
devido à sua robustez e exigências nutricionais simples (FRANCISCO et al., 2015;
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
21
FERNANDES et al., 2016; FAGUNDES et al., 2019).
Os compostos orgânicos voláteis (COVs) são metabólitos secundários obtidos
a partir de microalgas que poderiam ser usados como importante fonte de insumos
em indústria de química fina, com obtenção de diferentes classes de compostos,
tais como álcoois, ésteres, hidrocarbonetos, terpenos, cetonas, ácidos carboxílicos
e compostos sulfurados (NUCCIO et al., 1995; SANTOS et al., 2016). Desta forma,
dependendo das espécies, cultura e condições ambientais, as microalgas são
capazes de produzir uma variedade de compostos orgânicos voláteis (HOSOGLU,
2018).
Um exemplo de composto volátil produzido por microalgas, é o benzotiazol
(HENATSCH & JÜTTNER, 1983; SUGIURA et al., 1998; ZHOU et al., 2017). Este
é um composto utilizado na indústria química e na pesquisa, sendo benéfico para o
desenvolvimento dos vários compostos de ampla aplicação na indústria farmacêutica
na descoberta de medicamentos (SRIVASTAVA et al., 2019).
O composto volátil benzotiazol é a combinação de dois anéis, que contêm
os heterociclos tiazol e benzeno. A estrutura central do tiazol e seus compostos
farmacologicamente e biologicamente ativos são devidos à presença de átomos de
enxofre e nitrogênio presentes no anel (SRIVASTAVA et al., 2019).
Em face disto, o objetivo deste estudo foi investigar a aplicação biotecnologica
de água residuária como substrato em cultivo heterotrófico microalgal para produção
de benzotiazol.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
As culturas de Phormidium autumnale foram originalmente isoladas do deserto
de Cuatro Cienegas (26°59′ n, 102°03′ w - México). Foi mantida e propagada em
ágar-ágar solidificado (20 g.L-1) com meio sintético BG11 (RIPPKA et al., 1979), a
condição de manutenção utilizada foi de 25°C e intensidade luminosa constante de
1 klux.
O experimento foi realizado em um reator de coluna de bolhas com regime de
batelada, alimentado com 2,0 L de água residuária, oriundas do abate e processamento
de aves e suínos. O biorreator juntamente com as unidades filtrantes, foram
esterilizados em autoclave a 121°C durante 20 minutos. As condições experimentais
foram as seguintes: concentração inicial do inóculo de 100 mg.L-1, a temperatura de
25°C, o pH ajustado para 7,6, aeração de 1 VVM (volume de ar por volume de meio
por minuto), ausência de luz e relação C/N (Carbono/Nitrogênio) de 30.
Os compostos voláteis formados no bioprocesso foram isolados pela técnica
de microextração em fase sólida aplicada em headspace (HS-SPME). A amostragem
realizada no tempo zero e a cada 24 h durante o crescimento celular totalizando
um tempo de residência celular de 144 h. A fibra de SPME de revestimento misto
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
22
empregada foi a DVB/Car/PDMS (50/30 μm × 20 mm, Supelco Bellefonte, PA,
USA), pré-condicionada conforme as recomendações fornecidas pelo fabricante. A
temperatura de extração de 40°C, com um tempo de equilíbrio de 5 minutos, após
exposição da fibra por 45 minutos. A análise dos compostos voláteis foi realizada em
um cromatógrafo a gás acoplado a um espectrômetro de massas (GC/MS Shimadzu
QP-2010 Plus). As separações cromatográficas em coluna capilar de sílica fundida
DB-Wax, com 60 m de comprimento, 0,25 mm de diâmetro e 0,25 μm de espessura
de película (Chrompack Wax 52-CB). O gás de arraste utilizado foi o hélio com vazão
constante de 1,6 mL.min-1. A temperatura inicial da coluna de 35°C, permanecendo
por 5 minutos, após elevada até 220°C com gradiente de temperatura de 5°C.min-
1
, mantendo-se isotermicamente por 5 minutos. A interface GC/MS e da fonte de
ionização foram mantidos a 250°C. O detector de massas foi operado no modo de
ionização por elétrons, com feixe de elétrons a +70 eV. O analisador de massas do
tipo quadrupolos foi utilizado no modo de varredura na faixa de 35 a 350 m/z. Os
compostos foram identificados primeiramente por comparação dos seus espectros
de massa com os do banco de dados espectral da própria biblioteca do GC-MS
(NIST MS Search 2.0). A identificação foi confirmada por comparação dos Índices de
Retenção Linear calculados.
A estimativa de produção do composto benzotiazol para produções diárias foi
baseada em indústrias de diferentes capacidades (100, 1000 e 10.000 m3.d-1). Foram
utilizados os dados de concentração de biomassa e benzotiazol, para o cálculo da
produtividade de biomassa [PX = (X-Xi-1) (ti-ti -1) -1, g.m-3.d-1], onde Xi é a concentração
de biomassa no momento ti (g.m-3), Xi-1 é a concentração de biomassa no tempo ti -1
(g.m-3), e produtividade de benzotiazol, [PC = PX.C, g.m-3.d-1], em que C é o teor de
benzotiazol (μg.L-1).
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 mostra a curva de crescimento celular durante o cultivo heterotrófico,
as fases de crescimento exponencial (0h-96h), estacionária (96h-120h) e de declínio
(120h-144h). Os dados cinéticos obtidos durante o experimento foram, densidade
máxima celular de 1050 mg.L-1 obtendo uma produtividade de biomassa de 13,19
mg.L-1.h-1, com uma velocidade máxima específica de crescimento celular 0,02 h-¹.
A Figura 1 também mostra a concentração total benzotiazol produzido durante
as fases de crescimento celular no decorrer do experimento. A produção do composto
volátil foi observada a partir da fase exponencial apresentando a maior concentração
durante a fase de declínio, isso pode sugerir que a concentração e disponibilidade
de nutrientes do meio externo pode afetar o metabolismo secundário das microalgas
(XU et al., 2017).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
23
Figura 1 - Curva de crescimento celular correlacionado com a concentração de benzotiazol ao
longo do experimento.
Concentração celular da biomassa microalgas (Ο); concentração de benzotiazol ( ).
A queda na produção do benzotiazol observada na transição de fase exponencial
para estacionária poderia ser explicada com um descompasso metabólico com
o estado nutricional (POHNERT & VIDOUDEZ, 2012; KOLBER et al., 1988) e a
eficiência na formação voltou após a adaptação do metabolismo celular.
A Figura 2 mostra o impacto da transformação metabólica em função do tempo
na formação do composto benzotiazol no biorreator heterotrófico.
Figura 2 - Cromatograma dos diferentes tempos de cultivo. A= 0 horas; B= 120 horas; C= 144
horas.
O composto volátil predominante foi formado à medida que o tempo de cultivo
aumentou. Dentre os compostos que compõe o perfil volátil do experimento, o
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
24
benzotiazol representa 18% dos voláteis produzidos no tempo de 144 horas.
No decorrer do experimento o tempo de 144 horas apresentou a melhor
concentração 44,38 μg.L-1, comparativamente Santos e colaboradores (2016)
relatam em estudos que utilizando como substrato fontes exógenas de carbono
atingiu a concentração de 0,1 μg.L-1 com o mesmo o tempo de residência celular.
Os compostos tiazólicos são formados principalmente por duas vias:
degradação do ácido tiamínico ou por reações não-enzimáticas de escurecimento
entre açúcares redutores e aminoácidos na presença de sulfeto de hidrogênio
oriundo da degradação de aminoácidos contendo enxofre (CORRAL et al. 2016).
Água residuária de processamento de carne inclui grupos específicos de compostos,
que são produtos derivados da decomposição de carboidratos, proteínas e lipídios
(VIEIRA et al., 2019). Assim, este substrato pode ter contribuído para o aumento na
concentração deste composto.
A Tabela 1 apresenta o balanço de massa da produção de benzotiazol em
diferentes capacidades industriais.
Produção (kg.ano-1)
Capacidade industrial (m³.dia-1)
94,416
100
944,16
1000
9441,6
10000
Tabela 1 - Balanço de massa para a produção de benzotiazol em diferentes capacidades
industriais.
Os resultados indicaram que é possível produzir 94,416, 944,16, 9441,6
kg.ano-1 em uma indústria de pequeno (100 m³.d-1), médio (1000 m³.d-1) e grande
porte (10.000 m³.d-1). No entanto, a produção comercial de benzotiazol obtidos de
forma biotecnológica muitas vezes requer rentabilidade econômica. Para obter altos
rendimentos e produtividade, é importante escolher o design do reator e o sistema
conveniente para a recuperação deste composto (TALAIEKHOZANI et al, 2016).
Em conjunto, este resultado apoia a hipótese da presente pesquisa de que
o benzotiazol é o principal composto orgânico volátil a ser obtido do efluente de
processamento de carne e metabolizado para a produção de bioprodutos à base
de microalgas, exibindo uma ampla gama de propriedades biológicas de interesse
permanente na indústria química.
4 | CONCLUSÃO
A microalga Phormidium autumnale apresentou a capacidade de produzir o
composto benzotiazol quando cultivada heterotroficamente em efluente agroindustrial.
Assim a utilização de água residuária como substrato demonstrou ser uma alternativa
para a obtenção do composto em biorreator microalgal, demonstrando aplicação
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
25
comercial de metabólitos de biotecnologia primários e secundários e legislações
ambientais mais rígidas levaram ao interesse em desenvolver formas renováveis
para produzir esses compostos e aplicar à química fina.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 3
27
CAPÍTULO 4
PRODUÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS
VOLÁTEIS A PARTIR DE MICROALGAS CULTIVADAS
EM ÁGUA RESIDUÁRIA
Pricila Nass Pinheiro
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Adrieni Santos de Oliveira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Paola Lasta
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Patricia Arrojo da Silva
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Roger Wagner
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Eduardo Jacob-Lopes
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Leila Queiroz Zepka
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Santa Maria-RS
Patrícia Acosta Caetano
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Karem Rodrigues Vieira
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Ciência e Tecnologia em
Alimentos
Santa Maria-RS
Andriéli Borges Santos
Universidade Federal de Santa Maria,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: O objetivo do trabalho foi identificar
os compostos orgânicos voláteis (COVs) a
partir de Phormidium autumnale cultivada
em resíduo agroindustrial. Os experimentos
foram realizados em biorreator descontínuo
com aeração contínua 1VVM e ausência de
luminosidade contendo 2 L de água residuária
do abate e processamento de aves e suínos,
com relação C/N 30, pH 7,6, temperatura de
15°C e concentração inicial de 100 mg.L-1.
Os voláteis foram isolados do headspace por
Capítulo 4
28
microextração em fase sólida em diferentes tempos de residência, e analisados por
cromatografia gasosa acoplado ao espectrômetro de massas (SPME-GC/MS). A
amostragem foi realizada durante do tempo de residência celular a cada 24 horas
no período de 144 horas. O perfil de compostos voláteis apresentou um total de 16
compostos voláteis sendo eles terpenos como limoneno (54,52 µg. L-1), álcoois como
1-pentanol (26,27 µg. L-1), cetonas como 2-heptanona (20,85 µg. L-1), e os compostos
sulfurados.
PALAVRAS-CHAVE: Phormidium autumnale; compostos voláteis; resíduo
agroindustrial.
PRODUCTION OF VOLATILE ORGANIC COMPOUNDS FROM MICROALGAE
CULTIVATED IN WASTEWATER
ABSTRACT: The objective of this work was to identification volatile organic compounds
(VOCs) from Phormidium autumnale cultivated in wastewater. The experiments were
performed in a continuous aeration discontinuous bioreactor with 1VVM and without
light containing 2 L of effluent from slaughter and processing of poultry and swine, with
C/N 30, pH 7.6, 15°C temperature and initial concentration 100 mg.L-1.The volatiles
were isolated by solid phase headspace microextraction at different residence times
and analyzed by gas chromatography associated with mass spectrometry (SPME-GC/
MS). Sampling was performed during the cell residence time every 24 hours at 144
hours. The volatile compounds profile showed a total of 16 volatile compounds, being
terpenes as limonene (54.52 µg. L-1), alcohols as 1-pentanol (26.27 µg. L-1), ketones as
2-heptanone (20.85 µg L-1), and the sulfur compounds.
KEYWORDS: Phormidium autumnale; volatile compounds; wastewater.
1 | INTRODUÇÃO
As microalgas podem desempenhar um papel significativo no gerenciamento
de resíduos, com o potencial de recuperar nutrientes de resíduos agroindustriais,
como águas residuais, e formar uma variedade de substâncias químicas de origem
biológica a partir de sua biomassa (SANTOS et al., 2017).
Dentre as inúmeras espécies estudadas de microalgas, Phormidium é um gênero
de cianobactérias filamentosas, não ramificadas, que é conhecida pela capacidade
de habituar-se em ambientes extremos, como fontes termais, solos desérticos e
locais poluídos, o que tornam robustos e possuem requisitos nutricionais simples
(GUIRY e GUIRY, 2007).
O alto grau de diversidade dos compostos de microalgas é devido ao seu
amplo espectro de metabólitos secundários (FERNANDES et al., 2017). Em termos
de compostos orgânicos voláteis gerados biologicamente, os voláteis representam
metabólitos secundários das microalgas (ACHYUTHAN et al., 2017).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
29
O uso da fração volátil da cultura de microalgas pode representar uma melhoria
no fornecimento de insumos para diferentes setores da indústria, e uma vez que
existe um interesse crescente em produtos naturais que orientam o desenvolvimento
das tecnologias que empregam microorganismos, incluindo microalgas, que podem
sintetizar compostos orgânicos voláteis específicos (SANTOS et al., 2016a).
Diante desse esboço, o objetivo do presente trabalho foi identificar o perfil de
compostos orgânicos voláteis da microalga Phormidium autumnale cultivada em
resíduos agroindustriais.
2 | MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Microalga e meios de cultura
Culturas de Phormidium autumnale usadas nos experimentos foram propagadas
e mantidas em ágar-ágar solidificado (20 g.L-1) contendo meio BG11 sintético (RIPPKA
et al., 1979). As condições de incubação foram de 25°C, a densidade de fluxo de
fótons foi de 15 μmol.m-2.s-1 e o fotoperíodo foi de 12 h (FRANCISCO et al., 2014).
2.2 Águas residuais de processamento de alimentos
O efluente utilizado nos experimentos foi obtido em uma indústria localizada
em Santa Catarina, Brasil (27º14’02”S, 52º01’40”W). Foi coletado no ponto de
descarga de um tanque de equalização ao longo de um ano e analisado quanto ao
pH, demanda química de oxigênio (DQO), nitrogênio total (N-TNK), fósforo total (PPO4-3), sólidos totais (ST), sólidos suspensos (SS), sólidos voláteis (SV) e sólidos
fixos (SF) seguindo os Métodos Padrão para o Exame de Água e Águas Residuais
(APHA, 2005). Esta é a composição média das águas residuais: pH de 5,9 ± 0,05,
DQO de 4,100 ± 874 (mg.L-1), NTK-N de 128,5 ± 12,1 (mg.L-1), P-PO4-3 de 2,84 ± 0,2
(mg.L-1), ST de 3,8 ± 2,7 (mg.L-1), SS de 1,9 ± 0,8 (mg.L-1), SV de 2,9 ± 0,4 (mg.L-1)
e SF de 0,9 ± 0,3 (mg.L-1).
2.3 Biorreator
Os experimentos foram realizados em um biorreator de coluna de bolhas
(FRANCISCO et al., 2014), alimentado com 2,0 L de água residuária. O biorreator,
que incluiu unidades filtrantes, foi previamente autoclavado a 121°C por 30 min.
As condições experimentais foram determinadas da seguinte forma: concentração
inicial de inóculo 100 mg.L-1, temperatura 15°C, pH ajustado para 7,6 e aeração
de 1,0 VVM (volume de ar por volume de cultura por minuto), ausência de luz e
tempo de residência de 144 h. Os experimentos foram realizados duas vezes e em
duplicata. Portanto, os dados referem-se ao valor médio de quatro repetições.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
30
2.4 Métodos analíticos
2.4.1 Isolamento dos compostos orgânicos voláteis
Os compostos voláteis foram isolados da matriz por meio de microextração
em fase sólida do headspace do biorreator (HS-SPME) com fibra de divinilbenzeno/
carboxeno/polidimetilsiloxano (DVB/Car/PDMS) (50/30 µm de espessura de película
× 20 mm; Supelco, Bellefonte, PA). Cada porção de 10mL de amostra foi colocada em
um frasco contendo 3 g de NaCl e 10 μL de uma solução padrão interno de 3-octanol
foi adicionado. A fibra de SPME foi exposta no headspace do frasco contendo a
amostra durante 45 min a 40°C, sob agitação constante (400 rpm) com uma barra de
agitação magnética. Após esse período, a fibra foi removida do frasco e submetida
à análise cromatográfica. O procedimento analítico foi realizado duas vezes e em
duplicata. Portanto, os dados referem-se ao valor médio de quatro repetições. O HS-
SPME foi acoplado com GC/MS para a determinação quantitativa dos compostos
voláteis (SANTOS et al., 2016b).
2.4.2 Análise GC/MS
Os compostos voláteis foram analisados em um cromatógrafo a gás Shimadzu
QP 2010 Plus acoplado a um espectrômetro de massa (Shimadzu, Kyoto, Japão). A
fibra foi dessorvida termicamente por 10 min em um injetor split/splitless, operando
no modo sem divisor (1,0 min divisor desligado) a 250°C. O hélio foi utilizado como
gás carreador a uma vazão constante de 1,6 mL.min-1. Os analitos foram separados
em uma coluna capilar de sílica fundida DB-Wax, com 60 m de comprimento, 0,25
mm id e espessura de filme de 0,25 μm (Chrompack Wax 52-CB). A temperatura
inicial da coluna foi ajustada a 35°C por 5 min, seguido por um aumento linear de
5 °C min-1 a 250°C, e esta temperatura foi mantida por 5 min. O detector MS foi
operado em modo de ionização por impacto de elétrons +70 eV e os espectros de
massa obtidos por varredura variaram de m/z 35 a 350. Os compostos voláteis foram
identificados por uma comparação de espectros MS experimentais com a biblioteca
informatizada (NIST MS Procurar). Além disso, o índice de retenção linear (LRI) foi
calculado para cada composto volátil usando os tempos de retenção de uma mistura
padrão de séries homólogas de parafinas (C6-C24) para auxiliar na identificação
(ACREE e ARN, 2017).
A amostra e a mistura padrão foram injetadas separadamente e em conjunto para
obter os valores experimentais de LRI e espectros de massa para fins de identificação
de compostos por comparação direcionada. Os analitos foram quantificados pela
calibração padrão interna. A concentração relativa dos compostos investigados
foi determinada relacionando a área do padrão interno com uma concentração
conhecida (0,082 µg.mL-1) com a área do composto de interesse. O fator de resposta
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
31
entre padrão interno e analitos foi assumido como um.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 mostra a identificação dos compostos voláteis do experimento. Um
total de 16 compostos voláteis foram identificados na amostra estudada, incluindo 6
álcoois, 3 cetonas, 4 terpenos e 3 pertencentes a outras classes químicas.
LRI DB-Waxa
Compostos
Descritor de aromab
1013
4-Metil-2-pentanona
verde
1051
Propanol
álcool, pungente
1176
Limoneno
limão, laranja
1182
2-Heptanona
sabonete
1186
1,8 Cineole
especiaria
1206
2-Pentilfurano
feijão verde, manteiga
1247
1-Pentanol
frutado
1255
3-Metil-1-butanol
uísque, malte, queimado
1273
2-Octanona
erva, manteiga, resina
1338
Hexanol
resina, flor, verde
1453
Diidromircenol
limão azedo, cítrico, colônia
1484
2-Metil-hexanol
rosa, verde
1640
Mentol
hortelã
1767
Citronelol
rose
1899
Benzotiazole
sulfúrico, vegetal
2434
Benzofenona
balsâmico
Tabela 1 - Compostos voláteis detectados por GC/MS nas amostras de biorreator com índice de
retenção (LRI) e descritores de odor.
A Tabela 2 mostra compostos orgânicos voláteis detectados em função do
tempo no biorreator heterotrófico suplementado com resíduos agroindustriais.
Compostos
24 h
(µg. L-1)
72 h
(µg. L-1)
144 h
(µg. L-1)
4-Metil-2-pentanona
0,62
0,65
nd*
Propanol
3,26
nd*
nd*
Limoneno
1,64
1,17
54,52
2-Heptanona
2,38
nd*
20,85
1,8 Cineole
nd*
1,93
11,54
2-Pentilfurano
nd*
nd*
12,82
1-Pentanol
6,43
nd*
26,27
3-Metil-1-butanol
nd*
1,62
nd*
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
32
2-Octanona
0,64
nd*
20,27
Hexanol
nd*
1,16
15,86
Didromircenol
2,12
3,56
nd*
2-Metil-hexanol
3,88
nd*
nd*
Mentol
8,62
nd*
9,87
Citronelol
2,78
nd*
nd*
Benzotiazole
4,52
nd*
18,43
Benzofenona
nd*
8,51
6,82
Tabela 2 - Perfil quantitativo dos compostos voláteis detectados por GC/MS nas amostras de
biorreator obtidos através de diferentes tempos de residência do experimento.
Álcoois são produzidos através da via 2-cetoácido, onde os correspondentes
aldeídos são convertidos usando uma 2-cetoácido descarboxilase e depois reduzidos
aos álcoois (SANTOS et al., 2016a). No cultivo o álcool majoritário identificado
1-pentanol foi encontrado na concentração de 26,27 μg. L-1, em 144 h de cultivo, o
álcool propanol (0,65 μg. L-1) em 72 h, é considerado como um composto orgânico
volátil de microrganismos com apelo comercial (SANTOS et al., 2016b).
No que diz respeito à indústria petroquímica, os álcoois de cadeia curta são
interessantes para gerar bioenergia (SEVERO et al., 2018). Álcoois alifáticos com
maior comprimento de cadeia de carbono ou igual a cinco são alvos atraentes para
os biocombustíveis que possuem alta densidade energética e baixa solubilidade em
água (ZHANG et al., 2008; SANTOS et al., 2016a).
As cetonas alifáticas podem ser produtos de oxidação lipídica ou podem ser
formadas a partir da clivagem oxidativa de carotenoides (SANTOS et al., 2016a, b). No
cultivo foram identificadas 2-heptanona, benzofenona, 4-metil-2-pentanona (ZHOU
et al., 2016).
Cetonas como, 2-heptanona, 2-nonanona e 2-undecanona, são aromas
empregados em uma ampla gama de aplicações de tempero, especialmente aquelas
relacionadas ao queijo e aroma de fruta (LOGAN et al., 2008).
Os terpenóides são o grupo de compostos orgânicos amplamente distribuídos
em cianobactérias (SINGH et al., 2017), no experimento foram identificados limoneno,
1,8 cineole, mentol e citronelol.
Os terpenos atraem grande atenção devido ao seu amplo espectro de aplicações
que vão desde fragrâncias para cosméticos, produtos alimentícios, produtos
farmacêuticos e biocombustíveis (MELIS, 2017). Monoterpenos como limoneno,
linalol, 1,8-cineole são utilizados para o aroma de bebidas de limão ou lima (TETALI,
2019).
Uma cultura de microalgas contendo águas residuais torna-se um substrato,
rico em carbono e nutrientes para o seu crescimento, e produz novas biomoléculas
como os compostos orgânicos voláteis.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
33
4 | CONCLUSÃO
O cultivo de Phormidium autumnale apresentou a capacidade de produzir
variedade de compostos voláteis industrialmente interessantes sob condições
heterotróficas, indicando seu potencial como fonte renovável destes voláteis.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
34
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 4
35
CAPÍTULO 5
A CERVEJA E OS PRINCIPAIS CEREAIS UTILIZADOS
EM SUA FABRICAÇÃO
Natália Viviane Santos de Menezes
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Instituto de
Cultura e Arte – Curso de Gastronomia
Sansão Lopes de Moraes Neto
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Maryana Monteiro Farias
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Lia Mara de Oliveira Pontes
Fortaleza – Ceará
Universidade Estadual do Ceará – Pós-graduação
em Vigilância Sanitária de Alimentos
Aline Almeida da Silva
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Indira Cely da Costa Silva
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Coordenadoria
dos Restaurantes Universitários
Cristiano Silva da Costa
Fortaleza – Ceará
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Fortaleza – Ceará
Amanda Rodrigues Leal
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Fortaleza – Ceará
Jéssica Cyntia Menezes Pitombeira
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Fortaleza – Ceará
Cícera Alyne Lemos Melo
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Fortaleza – Ceará
Theresa Paula Felix da Silva Meireles
Universidade Federal do Ceará – Pós-graduação
em Ciência e Tecnologia de Alimentos
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: Ao longo dos últimos anos, temse observado um significativo crescimento
na produção de cerveja, inclusive de modo
artesanal, sendo uma tendência mundial.
Com a infinidade de adjuntos que podem
ser incorporados no processo de fabricação
desta bebida e a mudança na legislação que
regulamenta a produção, é possível obter
diferentes produtos com características
peculiares. Visando atender esta nova demanda,
o objetivo do presente trabalho foi fazer um
levantamento bibliográfico dos diversos cereais
que podem ser incorporados à fabricação de
cervejas e entender o impacto deles sobre o
produto final, a fim de desenvolver uma bebida
de alto valor agregado e com características de
Capítulo 5
36
sabor, aroma, cor e textura peculiares.
PALAVRAS-CHAVE: Cereais; Cerveja; Maltagem.
BEER AND THE MAIN CEREAL USED IN THEIR MANUFACTURIN
ABSTRACT: Over the last few years, there has been a significant growth in beer
production, including craft beer, becoming a worldwide trend. With the numerous
adjuncts that can be incorporated into the brewing process of this beverage and the
change in legislation regulation production, it is possible to obtain assorted products
with peculiar characteristics. Aiming to meet this new demand, the aim of this paper was
to make a bibliographic survey of the various cereals that can be incorporated into the
brewing and to understand their impact on the final product, in order to develop a high
value-added beverage with characteristics peculiar flavor, aroma, color and texture.
KEYWORDS: Beer; Cereals, Malting.
1 | INTRODUÇÃO
Estudos apontam que o homem começou a produzir bebidas fermentadas há
cerca de 30 mil anos. Dentre estas, estima-se que a produção da cerveja teve seu
início por volta de 8000 a.C., sendo desenvolvida paralelamente aos processos de
fermentação de cereais (LIMA et al, 2001).
Já na Antiguidade os povos utilizavam diferentes ingredientes para a produção
de cerveja. Os babilônios já fabricavam mais de dezesseis tipos de cerveja de cevada,
trigo e mel há mais de 4000 a.C (HISTORIA DA CERVEJA, 2010; CERVEJAS DO
MUNDO, 2013).
Durante a Idade Média, no século XIII, os cervejeiros germânicos destacaram-
se na arte de fabricar cerveja, sendo os primeiros a empregar o lúpulo, que é
responsável por conferir as características básicas atuais desta bebida (LIMA et al,
2001).
Na Alemanha, a Reinheitsgebot, ou Lei da Pureza, foi proclamada em 23 de
abril de 1516, limitando a sua produção a utilização de apenas quatro insumos: a
água, o malte, o lúpulo e o fermento (HISTORIA DA CERVEJA, 2010; CERVEJAS
DO MUNDO, 2013).
Na segunda metade do século XIX, em 1808, a cerveja foi trazida da Europa
pela família Real Portuguesa quando de sua fuga para o Brasil colônia. Em 1888, foi
fundada na cidade de Rio de Janeiro, a primeira manufatura de cerveja (VENTURINI
FILHO & CEREDA, 2001).
O Brasil está entre os líderes globais em produção de cerveja com 13 milhões
de quilolitros produzidos e cujo consumo per capita é de 66,9 litros (CERVBRASIL,
2016; KIRIN BEER UNIVERSITY, 2016).
O presente trabalho tem sua relevância justamente porque o uso dessa
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
37
diversidade de cereais chega bem no momento em que, no Brasil, ocorre um
aumento considerado de consumo da cerveja devido ao crescente aparecimento de
cervejarias de grande e pequeno porte. Essa explosão das cervejarias fez surgir no
setor a demanda por adição de cereais diversos, além de mel, leite e até lactobacilos
nas cervejas. Mas com a legislação engessada, bebidas com esses componentes
não eram tratadas como cerveja pela legislação e precisavam trazer, no rótulo, o
termo “bebida alcoólica mista”. Assim surge uma mudança, emitida por decreto, com
intuito de simplificar e atualizar as regras para o consumidor e para aos fabricantes.
2 | CERVEJA: DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E TIPOS
No Brasil, o decreto Nº 6.871, de 4 de junho de 2009, que regulamenta a lei n°
8.918, de 14/07/1994 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento define
a cerveja como “a bebida obtida pela fermentação alcoólica do mosto cervejeiro,
oriundo do malte de cevada e água potável, por ação de levedura, com adição de
lúpulo”, sendo que o malte e o lúpulo podem ser substituídos pelos seus extratos.
Segundo a mesma legislação, parte do malte de cevada pode ser substituída por
adjuntos cervejeiros, que não devem exceder 45% em relação ao extrato primitivo,
sendo considerados adjuntos a cevada cervejeira outros cereais malteados ou não
malteados, assim como amidos e açúcares de origem vegetal. Este mesmo decreto
ainda classifica as cervejas quanto a proporção de malte, ao extrato primitivo, à cor,
ao teor alcoólico, ao tipo e à fermentação (BRASIL, 2009). Entretanto, o Decreto nº
9.902, de 8 de julho de 2019, modificou essa Lei e retirou o limite de uso de milho
e outros cereais nas cervejas fabricadas no Brasil. O objetivo foi o de simplificar e
atualizar as regras para facilitar a vida do consumidor e dar agilidade aos fabricantes,
dada a explosão de cervejarias artesanais que fez surgir no setor a demanda pela
utilização de outros produtos na fabricação da bebida (BRASIL, 2019).
3 | MATÉRIAS-PRIMAS
Os ingredientes básicos para a produção da cerveja são: água, malte da cevada,
lúpulo e adjuntos (MORADO,2009).
3.1 Água
A água é o componente majoritário da cerveja e, por isso, suas propriedades
são um dos fatores mais significativos na qualidade final do produto (MEGA et al.,
2011). A água cervejeira deve apresentar requisitos básicos como a potabilidade,
transparência, ausência de cor, odor, sabor estranho, de nitratos, metais pesados e
amoníaco (VENTURINI FILHO, 2000). Deve, ainda, ser dura (com alto teor de cálcio
e magnésio) para servir de nutriente para as leveduras fermentativas (REBELLO,
2009).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
38
O pH e alcalinidade são, também, fatores importantes a serem considerados.
O pH deve-se encontrar na faixa de 4 a 9 (VENTURINI FILHO, 2000), sendo ideal
5,0 para facilitar o crescimento da levedura cervejeira Saccharomyces cerevisae
(FRANCO, 2008) e potencializar o efeito do cloro (que deve estar entre 0,1 a 0,2
ppm de cloro livre, pois acima deste valor poderá haver formação de cloranfenicol)
e a alcalinidade máxima de 50 ppm. Deve-se ressaltar ainda que o pH baixo
favorece a ação enzimática, como α e β amilases e as proteases presentes nos
grãos (REBELLO, 2009), facilita uma mistura uniforme de malte e adjunto durante
a mosturação, promove a extração dos componentes amargos e aromáticos do
lúpulo, e causa uma boa coagulação do trub (resíduo) durante a fervura do mosto,
permitindo uma fermentação asséptica com desenvolvimento de cor, aroma e sabor
característicos do tipo de cerveja a ser fabricada (BERNSTEIN; WILLOX, 1977).
3.2 Malte
O malte é a matéria-prima que passou pelo processo de germinação, que ocorre
sob condições de temperatura e umidade controladas, interrompendo a germinação
antes do grão se tornar uma nova planta. Esse processo, denominado de maltagem,
pode utilizar os cereais de cevada, milho, trigo, aveia e outros (REBELLO, 2009),
consiste em favorecer o desenvolvimento enzimático do grão. Dessa forma, no final
da maltagem, há a formação e ativação de enzimas, além da degradação de amido
e proteínas, que se apresentam em cadeias menores, tornando-se mais solúvel
(SILVA, 2005a). Nessa fase há também a formação de compostos da reação de
Maillard, responsáveis pela cor e sabor da cerveja (DENK et al. 2000).
Dentre os grãos empregados na elaboração da cerveja, a cevada é utilizada
em predominância por apresentar menores dificuldades técnicas no processo de
maltagem, além de apresentar alto teor de amido, com proteínas em quantidade e
qualidade suficiente para nutrição das leveduras. É o cereal responsável por conferir
sabor, odor e corpo característico da cerveja (DENK et al. 2000).
3.3 Lúpulo
O lúpulo (Humulus lupulus) é uma planta que faz parte da família Cannabaceae,
que é uma espécie dióica, ou seja, produtora de flores masculinas e femininas.
Na produção da cerveja são utilizadas as flores femininas, que contêm lupulina,
substância responsável por conferir o amargor e aroma acre característicos do
lúpulo (MATOS, 2011). Na lupulina, as resinas (alfa-ácidos e beta-ácidos) e óleos
essenciais são as frações mais importantes. As resinas podem estar presentes entre
12 a 22 % e os óleos essenciais entre 0,5 a 2 %. Dentre os componentes presentes
nos óleos essenciais, os principais são hidrocarbonetos da família dos terpenos,
ésteres, aldeídos, cetonas, ácidos e álcoois (CEREDA; VENTURINI FILHO, 2005).
Há basicamente três variedades de lúpulos comerciais: a que confere aroma
(exemplos - Hallertau, Spalt e Lublin), aquela que confere amargor (como o
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
39
Target,Galena e Nugget) e, por fim, a variedade que atribui as duas características
- aroma e amargor citando o Perle, o Centennial e o Chinnok (NOGUEIRA, 2006;
SILVA, 2005b).
A forma mais comum de comercialização do lúpulo é em pellets onde ocorre a
prensagem de suas flores. Consegue-se, com isso, reduzir o volume transportado
e conservar as características originais das flores (NOGUEIRA, 2006). Além das
características de sabor, aroma e antimicrobiana atribuídas ao lúpulo, há ainda as
que conferem contribuição na formação da espuma e estabilidade de sabor à bebida
(BOTELHO, 2009; ELENA, 2008).
3.4 Levedura
As leveduras são responsáveis pela fermentação de açúcares, produzindo uma
gama de moléculas, além de etanol e CO2 (BOKULICH; BAMFORTH, 2013). Estas
podem ser classificadas de acordo com seu comportamento durante a fermentação.
As leveduras Ale, Saccharomyces cerevisae, sobem à superfície no decorrer da
fermentação, e são denominadas “de alta fermentação”, já as leveduras Lager,
Saccharomyces uvarum, decantam sendo “de baixa fermentação” (HOUGH, 1985).
Porém, análises de DNA revelaram bases comuns entre as leveduras, fazendo com
que os taxonomistas designassem todas as cepas usadas na produção de cerveja
como Saccharomyces cerevisae (RUSSELL, 2006).
As leveduras tipo Lager atuam melhor em temperaturas variando entre 7 e 15°C,
as quais floculam no final da fermentação primária ou principal (7 a 10 dias), sendo
coletadas na base do fermentador. As leveduras de alta fermentação, utilizadas na
produção de cerveja Ale, fermentam com temperaturas entre 18 e 22°C. No final da
fermentação (3 a 5 dias), as células adsorvidas nas bolhas de CO2, são carregadas
até a superfície do mosto onde são coletadas (VENTURINI FILHO, 2010).
3.5 Adjuntos do malte
Os adjuntos são as fontes de carboidratos que podem ser utilizadas com o
objetivo de substituir parcialmente o malte na produção de cerveja (MORADO, 2009).
Alguns são cereais não-maltados, como aveia, centeio, cevada, trigo, milho e arroz.
Estes são utilizados no setor cervejeiro, por fornecerem extrato a um custo reduzido,
comparado ao malte de cevada (HOUGH, 1991).
O uso de adjuntos cervejeiros pode resultar em um produto com alta estabilidade
físico-química, melhor resistência ao resfriamento e maior brilho, reduzindo a
turvação da bebida (REITENBACH, 2010; POLLOCK, 1979). Vale ressaltar que,
em quantidades elevadas, pode ser desvantajoso, pois pode deixar o mosto com
baixo teor de nitrogênio, e assim, prejudicar o metabolismo da levedura; implicando
em alta viscosidade, dificuldade de filtração; cerveja “aguada” e baixa qualidade de
espuma (BRADEE, 1977).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
40
4 | CEREAIS USADOS NA PRODUÇÃO DE CERVEJA
4.1 Arroz
O arroz (Oryza sativa) é um alimento básico em diversos países da Ásia e
serve como uma valiosa fonte de grãos nos Estados Unidos e Europa (AHMAD et
al., 2016). O grão de arroz, assim como da cevada e da aveia, consiste da cariopse
e de uma camada protetora, a casca. A casca representa o maior volume entre os
subprodutos obtidos durante o beneficiamento do arroz, chegando, em média, a
22% e é composta por duas folhas modificadas, a pálea e a lema, tais estruturas
correspondem a cerca de 20% do peso total do grão. Já a cariopse é formada por
diferentes camadas, as mais externas correspondem ao pericarpo, ao tegumento
e a camada de aleurona, que representam 5 a 8% da massa do arroz integral
(MATSUO & HOSHIKAWA, 1993). Na camada de aleurona há duas estruturas
de armazenamento proeminentes, os grãos de aleurona (corpos proteicos) e os
corpos lipídicos (TANAKA et al., 1973; JULIANO & BECHTEL, 1985). O embrião ou
gérmen localiza-se no lado ventral na base do grão, é rico em proteínas e lipídios,
representando 2-3% do arroz integral. O endosperma forma a maior parte do grão
(89-94% do arroz integral) e consiste de células ricas em grânulos de amido e com
alguns corpos proteicos (JULIANO & BECHTEL, 1985). O arroz branco polido é a
principal forma de consumo do arroz que tem em sua composição 90% de amido,
7,5% de proteína, 0,6% de fibra, 0,5% de minerais e 1,0% de lipídeos (KENNEDY &
BURLINGAME, 2003; LIU et al., 2013; JULIANO, 1993). Apesar dos baixos teores
de gordura, o arroz é rico em ácidos graxos insaturados - oleico (C18:1) e linoleico
(C18:2) (ZHOU et al., 2003). Além destes nutrientes, foram identificados diversos
compostos fenólicos (TIAN et al., 2004; ZHOU et al., 2004).
Os cereais mais utilizados para a fabricação de cerveja são a cevada e o trigo
maltados. Isso pode apresentar um problema para indivíduos que sofrem de doença
celíaca, uma intolerância às proteínas de glúten encontrado na cevada e trigo.
Tais pessoas devem seguir uma dieta sem glúten (HAGER, TAYLOR, WATERS &
ARENDT, 2014). Esta é uma razão pela qual pode ser útil substituir os ingredientes
convencionais na produção de cerveja por arroz, um cereal sem glúten e prontamente
disponível. Uma outra razão é a possibilidade de se produzir cerveja com matériasprimas alternativas, de menor custo, nos países onde a cevada não é cultivada
(MAYER et al., 2016).
O arroz não maltado descascado é frequentemente utilizado como adjuvante
na preparação de cerveja, após uma fase de pré-cozimento. No entanto, há pouca
informação disponível sobre malte e cerveja com 100% de arroz (MAYER et al.,
2016). Assim, a produção de cerveja de arroz é problemática, tanto da maneira
tradicional, usando o cereal maltado e de uma forma mais moderna, adicionando
enzimas exógenas à matéria-prima não maltada (MAYER et al., 2016).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
41
4.2 Aveia
A aveia pertence à família Poaceae, subfamília Pooideae, gênero Avena. O
gênero é composto por aproximadamente 450 espécies. As espécies de Avena mais
cultivadas são A. sativa e A. byzantina (KLAJN, 2011).
A aveia é uma boa fonte de fibras solúveis, especialmente as β-glicanas,
proteínas (albuminas, globulinas, prolaninas e glutelinas), aminoácidos essenciais
(triptofano, lisina e metionina), ácidos gordos insaturados (ácido oléico, linoléico e
linolênico), os carboidratos do grão variam entre 60,4 a 71,3%, sendo o amido o
maior constituinte,vitaminas de maior relevância são as do complexo B e vitamina E,
minerais (fósforo e ferro) e fitoquímicos (avenantramidas) (RADAELLI,et al., 2013;
BUT, et al., 2008).
Os efeitos benéficos à saúde têm sido atribuídos principalmente à fração
altamente viscosa do β-glucano, que tem a capacidade de retardara absorção
intestinal de glicose e reduzir a nível sérico,o perfil lipídico, colesterol total e de
baixa densidade (LDL). Como também auxiliar na diminuição do risco de doenças
cardiovasculares (RADAELLI,et al., 2013; BUT, et al., 2008; KLAJN, 2011).
4.3 Centeio
O centeio (Secale cereale L.) ocupa o oitavo lugar entre os cereais cultivados
no mundo. A cultura destina-se à alimentação animal ou humana, além de servir
como adubação verde. No Brasil, o centeio foi introduzido por imigrantes alemães e
poloneses no século passado, e até hoje o cultivo é realizado, em grande parte, por
descendentes de europeus (NASCIMENTO JUNIOR e LUNARDI, 2011).
Este grão apresenta grande rusticidade e adaptação a solos pobres,
especialmente os arenosos. É tolerante a solos ácidos. Este cereal é utilizado na
alimentação humana como farinha para produção de pães e biscoitos, na produção
de alimentos dietéticos e na indústria de bebidas destiladas claras (NASCIMENTO
JUNIOR e LUNARDI, 2011).
Quanto a sua composição, os percentuais de carboidratos, lipídios, proteínas,
fibras e de cinzas do centeio não se diferenciam muito dos demais cereais. Tal
composição pode variar em função do cultivar, do clima e do solo. Apenas se diferencia
por conter maior concentração de pentoses. Esses polissacarídeos (hemicelulose ou
glicoprotídeos), apresentam influências na digestão. Devido a essa influência é que
a indústria de alimentos integrais e dietéticos observa uma crescente demanda por
subprodutos de centeio (BAIER, 1994).
4.4 Cevada
A cevada (Hordeum vulgare L.) pertence à família das gramíneas Poaceae,
gênero Hordeum. A espécie é originária do Oriente Médio com evidências
arqueológicas que sugerem o início do seu cultivo há cerca de 17.000 anos atrás
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
42
(LIZARAZO, 2003).
O grão de cevada é formado por quatro estruturas: o pericarpo, a camada
de aleurona, o endosperma e o embrião (gérmen). A camada de aleurona e o
embrião controlam os processos fisiológicos de produção e liberação de enzimas,
como também o grau de hidrólise das paredes celulares do endosperma durante
a germinação. O endosperma, composto basicamente de amido envolvido em
uma matriz proteica, é a principal reserva de nutrientes do grão. Este tem muita
importância para a indústria cervejeira, pois proporciona os substratos necessários
para a conversão de açúcares em álcool no processo de fermentação (SOARES,
2003; LIZARAZO, 2003).
O consumo regular de cevada tem sido associado à redução do risco de
doença cardíaca, câncer de cólon, pressão arterial elevada e cálculos biliares. Esses
potenciais terapêuticos são atribuídos as substâncias bioativas presentes na cevada,
especialmente o β-glucano (IDEHEN, et al., 2016).
4.5 Milho
O milho é produzido em quase todos os continentes, sendo sua importância
econômica caracterizada pelas diversas formas de sua utilização, que vão desde a
alimentação animal e humana até a indústria de alta tecnologia, como a produção de
filmes e embalagens biodegradáveis (PAES, 2006).
Os grãos do milho apresentam colorações variando desde o preto até o vermelho.
O peso individual do grão varia, em média, de 250 a 300mg e sua composição
média em base seca é 72% de amido, 9,5% proteínas, 9% fibra e 4% de gordura.
O grão de milho é formado por: endosperma (83% do grão), gérmen (11% do grão),
pericarpo (5%) e ponta (2%), as quais diferem em composição química e também na
organização dentro do grão (PAES, 2006).
O endosperma é composto principalmente de amido (88%). Nele estão
presentes os carotenóides, substâncias lipídicas que conferem a cor aos grãos de
milho. Zeaxantina, luteína, betacriptoxantina, alfa e beta carotenos são os principais
carotenóides nos grãos de milho (PAES, 2006).
Diversos estudos (CASTRO, 2014; CURI et al, 2008; VIROLI et al, 2014)
demonstram que as cervejas artesanais elaboradas a base de milho, normalmente
apresentam características físico-químicas (pH, extrato seco, densidade e acidez
total) dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente que normatiza os
parâmetros de qualidade para a cerveja.
Quanto aos aspectos sensoriais, o estudo de Castro (2014) demonstrou que
formulações de cervejas artesanais elaboradas a base de milho possuíam aceitação
global similar à de cervejas comerciais. Essas formulações apresentaram odor, sabor
e aparência muito parecidos com cervejas comerciais, mas quanto a coloração, as
bebidas contendo milho tinham maior intensidade de cor.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
43
4.6 Trigo
O trigo (Triticumaestivum L.) é considerado um dos grãos mais importantes e
um componente primordial da dieta humana em todo o mundo. Os grãos de trigo
são as principais matérias-primas utilizadas para produzir vários alimentos à base
de cereais, por isso se tem uma preocupação crescente com a qualidade do grão.
A estrutura do grão de trigo é importante para todos os aspectos da utilização, pois
determina o comportamento do grão durante o processamento. Os grãos de trigo
são geralmente de forma oval, constituído, basicamente, por pericarpo (7,8 a 8,6%),
endosperma (87 a 89%) amiláceo envolto por vários tecidos periféricos com diferentes
estruturas e composições químicas (EVERS & BECHTEL, 1988; BELDEROK et al.,
2000; SIEPRAWSKA et al., 2014) e gérmen (2,8 a 3,5%) (QUAGLIA,1991).
O pericarpo, a camada mais externa e protetora do grão, é rico em fibras e sais
minerais (ATWELL, 2001; POPPER et al., 2006). O endosperma consiste numa matriz
proteica, no qual está inserido grande número de grânulos de amido (HADDAD et al.,
2001; HOSENEY, 1991). O endosperma externo, a camada de aleurona, tem uma
estrutura especial: consiste em uma única camada de células cúbicas. A camada
de aleurona é rica em proteínas e enzimas, que desempenham um papel vital no
processo de germinação. Além dos carboidratos, o endosperma contém gorduras
(1,5%) e proteínas (13%): albuminas, glubulinas e as proteínas do glúten (gluteninas
e gliadinas) que formarão o glúten na fabricação de massa. O conteúdo de minerais
e fibras dietéticas são baixas; 0,5% e 1,5%, respectivamente (BELDEROK et al.,
2000). O gérmen é a estrutura onde se encontra grande parte dos lipídeos e dos
compostos fundamentais à germinação do grão, é rico em proteínas (25%) e minerais
(4,5%) (ATWELL, 2001; CORNELL 2003).
Os grãos de trigo possuem, além de quantidades significativas de amido (cerca
de 60-70%), proteína (cerca de 10-18%) e gordura (cerca de 1-1,5%), também possui
quantidades consideráveis de minerais (4-7%), fitoquímicos, vitaminas e fibras que
fazem do trigo um componente valioso para a saúde humana (ANJUM et al., 2008;
ŠRAMKOVÁ et al., 2009; PENG et al., 2011).O amido é constituído, basicamente por
dois polímeros, a amilose e a amilopectina (HOSENEY, 1991), sendo que no trigo
comum a quantidade de amilose corresponde a 25% do amido (ATWELL, 2001).
As cervejas de trigo possuem cor que pode variar de palha à escura (ARAÚJO,
SILVA & MINIM, 2003). Este grão não deve ser utilizado em proporções elevadas, pois
aumenta o teor de arabinoxilanos no mosto, que possuem peso molecular superior
aos encontrados no malte de cevada, o que aumenta sua viscosidade e diminui
a eficiência da filtração (LU & LI, 2006). O desenvolvimento de microrganismos
durante a germinação na superfície do grão é um motivo para não ser utilizado em
larga escala na elaboração de cervejas (HOUGH, 1990). O tempo de malteação e de
germinação do grão devem ser curtos quando este é empregado para produção de
cervejas. De acordo com o estilo, o trigo pode ser maltado (por exemplo, Weissbier
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
44
alemão) ou não maltatado (por exemplo, Witbier belga). Regulamentos alemães
especificam uma quota de pelo menos 50% de malte de trigo para cerveja Weissbier
(REINOLD, 1997).
A temperatura de gelatinização do amido de trigo é similar à do malte e pode
ser adicionado diretamente durante a mosturação. Muitas cervejarias realizam o
aquecimento em local apropriado para o cozimento dos adjuntos e quando forem
adicionados os 10% de malte, recomenda-se que a mistura permaneça a 48ºC
durante 30 minutos para que promova a ação das beta-glucanases sobre os beta-
glucanos, que estão presentes em grande quantidade no trigo (PRIEST & STEWART,
2006).
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 5
47
CAPÍTULO 6
ADITIVOS PREBIÓTICOS E PROBIÓTICOS NA
ALIMENTAÇÃO DE PEIXES - IMPLICAÇÕES E
ALTERAÇÕES NA MICROBIOTA E HISTOLOGIA DO
TRATO DIGESTÓRIO
Bruna Tomazetti Michelotti
Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria – RS
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria – RS
Bernardo Baldisserotto
Universidade Federal de Santa Maria, Santa
Maria – RS
prebióticos e probióticos na nutrição de peixes
é promissor. Trata-se de uma área de grande
potencial para pesquisas, diante da crescente
demanda populacional por produtos piscícolas
e a necessidade de se substituir compostos
danosos para os sistemas produtivos.
PALAVRAS-CHAVE:
morfologia,
nutrição
animal, piscicultura
ADDITIVES PREBIOTIC AND PROBIOTIC
RESUMO: Em virtude do intenso uso de aditivos,
prebióticos e próbioticos na piscicultura,
elaborou-se este capítulo. O mesmo tem como
objetivo expor o conceito destes termos, bem
como, as implicações e alterações na microbiota
e histologia do trato digestório de peixes
submetidos a esses compostos. Os aditivos são
substâncias isentas de valor nutricional mas,
que são utilizadas para otimizar o desempenho
produtivo dos animais. Já os prebióticos, figuram
como compostos não digeridos pelas enzimas
endógenas dos animais, atuando portanto,
apenas como substrato para populações
microbianas benéficas. Assim, a principal ação
dos prebióticos é estimular o crescimento e/ou
ativar o metabolismo de grupos de bactérias
benéficas do trato intestinal. Os probióticos
são compostos vivos – bactérias por exemplo –
que agem otimizando os processos fisiológicos
no metabolismo animal. O uso de aditivos,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
IN FISH FEEDING - IMPLICATIONS
AND CHANGES IN MICROBIOTA AND
DIGESTORY TRACT HISTOLOGY
ABSTRACT: Due to the intense use of additives,
prebiotics and pro-biotics in fish farming, this
chapter was elaborated. It aims to expose
the concept of these terms, as well as the
implications and changes in the microbiota and
histology of the digestive tract of fish submitted
to these compounds. Additives are substances
without nutritional value but which are used to
optimize the productive performance of animals.
Prebiotics, on the other hand, appear as
undigested compounds by animal endogenous
enzymes, acting only as substrate for beneficial
microbial populations. Thus, the main action of
prebiotics is to stimulate growth and / or activate
metabolism of beneficial bacterial groups in the
intestinal tract. Probiotics are living compounds
Capítulo 6
48
- bacteria for example - that act by optimizing the physiological processes in animal
metabolism. The use of additives, prebiotics and probiotics in fish nutrition is promising.
This is an area of great potential for research, given the growing population demand
for fish products and the need to replace harmful compounds for production systems.
KEYWORDS: animal nutrition, morphology, fish farming
1 | INTRODUÇÃO
Grande parte do sucesso na piscicultura intensiva está no controle da infestação
por bactérias e protozoários, responsáveis pelo declínio do desempenho zootécnico
e reprodutivo (GOULART, 2015). Com a finalidade de mitigar esses efeitos, o uso
disseminado de antibióticos e outros tratamentos químicos terapêuticos acarretou
na resistência a drogas na aquicultura. A fim de reduzir o uso desses medicamentos,
houve aumento na busca de produtos nutracêuticos alternativos, como prebióticos,
probióticos e aditivos que contribuem para garantir a saúde e o máximo desempenho
dos organismos aquáticos (HOSEINIFAR et al., 2011; ZHU et al., 2012).
Os prebióticos são compostos abióticos (geralmente fibras) que não são
digeridos pelas enzimas digestivas normais (JUNQUEIRA et al., 2009). Desse modo,
de acordo com Chiquieri et al. (2007), a principal ação dos prebióticos é estimular
o crescimento e/ou ativar o metabolismo de algum grupo de bactérias benéficas do
trato intestinal. Agem intimamente relacionados aos probióticos (compostos bióticos)
e constituem o alimento das bactérias probióticas (CHIQUIERI et al., 2007).
Já os aditivos, são substâncias que não têm valor nutritivo, mas que são
utilizadas para otimizar o desempenho produtivo dos animais (minimizando o estresse
por exemplo). Ainda de acordo com Hernández et al. (2012) tem sido provada a
vantagem do emprego de microrganismos benéficos ou aditivos orgânicos como
promotores de crescimento, substituindo agentes quimioterápicos e antimicrobianos.
Em virtude do intenso uso de aditivos, prébioticos e próbioticos na piscicultura,
elaborou-se este capítulo. O mesmo tem como objetivo expor o conceito destes
termos, bem como, as implicações e alterações na microbiota e histologia do trato
digestório de peixes submetidos a esses compostos.
2 | REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Aditivos
Os aditivos são substâncias isentas de valor nutricional mas, que são utilizadas
para otimizar o desempenho produtivo dos animais. De acordo com Hernández et
al. (2012) tem sido provada a vantagem do emprego de microrganismos benéficos
ou aditivos orgânicos como promotores de crescimento, substituindo agentes
quimioterápicos e antimicrobianos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 6
49
Zeppenfeld et al. (2016) examinaram a morfologia intestinal de bagres (Rhamdia
quelen) alimentados com dietas suplementadas com óleo essencial (OE) extraído de
Aloysia triphylla (0 - controle, 0,25, 0,5, 1,0 e 2,0mL OE por kg de dieta) por 60 dias.
Os referidos autores expuseram que a altura das vilosidades foi significativamente
maior no grupo controle e 0,25mL OE em comparação com aqueles alimentados
com 0,5mL de OE por kg de dieta. Houve ainda aumento significativo no número
de vilosidades nos peixes alimentados com 1,0 e 2,0mL de OE por kg de dieta
comparado ao grupo controle.
2.2 Prébióticos
Os prebióticos figuram como compostos não digeridos pelas enzimas
endógenas dos animais, atuando portanto, apenas como substrato para populações
microbianas benéficas. Assim, a principal ação dos prebióticos é estimular o
crescimento e/ou ativar o metabolismo de grupos de bactérias benéficas do trato
intestinal.
Goulart (2015) estudou o efeito prebiótico de diferentes concentrados de fibra
alimentar (CFA) obtidos de fontes agroindustriais (semente de linhaça, polpa cítrica
e levedura), na morfologia intestinal de juvenis jundiás (Rhamdia quelen). Para tal,
foram utilizados 90 juvenis de jundiá para cada tratamento (30 por tanque e 3 três
tanques) alimentados com dietas isocalóricas e isoprotéicas por 8 semanas. Oito
alimentos mistos foram formulados para o ensaio biológico, contendo farinha de
peixe, amido de milho e celulose: dieta controle (0g/kg de CFA); dieta CP5 (5g/kg de
prebióticos comerciais baseados em oligossacarídeos Bio-Mos® Alltech, Lexington,
Kentucky, EUA); dieta MG 5 (5g/kg de mucilagem); dieta PN 5 (5g/kg de pectina);
dieta βG + M 5 (5g/kg de β-glucana + manana); dieta MG10 (10g/kg de mucilagem);
dieta PN10 (10g/kg de pectina); e dieta βG + M 10 (10g/kg de β-glucana + manana).
De acordo com a referida autora, a altura das vilosidades e a espessura epitelial
do intestino de jundiás foram significativamente afetadas pelas dietas. Peixes
alimentados com dietas suplementadas com CFA, exceto aqueles suplementados
com 5g/kg de proteína bruta, obtiveram maior altura de vilosidade (P <0,05) quando
comparados ao controle. A espessura epitelial intestinal foi significativamente maior
no grupo controle em comparação aos animais suplementados com β-glicana +
manana. Da mesma forma, animais tratados com PC5 apresentaram maior ET quando
comparados aos suplementados com PN 5 ou com βg + M 5 (P <0,05). Goulart
(2015) ainda cita que o efeito dos prebióticos sobre os parâmetros de crescimento
em várias espécies de peixes tem sido intensamente estudado, mas os dados sobre
o efeito dos polissacarídeos não-amiláceos como promotores ecológicos ainda
são limitados. Assim, este estudo foi o primeiro a investigar o efeito de CFA como
prebiótico para jundiás.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 6
50
2.3 Probióticos
Os probióticos são compostos vivos – bactérias por exemplo – que agem
otimizando os processos fisiológicos no metabolismo animal. Poletto (2015) estou
o efeito de uma cepa de bactéria amilolítica potencialmente probiótica isolada do
intestino do jundiá visando melhorar a digestibilidade de carboidratos em peixes.
Duas de 31 cepas isoladas do intestino anterior foram consideradas amilolíticas e
a que produziu maior halo pela secreção da amilase, foi a escolhida. A candidata
probiótica, identificada como Aeromonas veronii mostrou a capacidade de sobreviver
a diversos níveis de pH e sais biliares, além de secretar um interessante perfil
enzimático.
Poleto (2015) cita que a utilização da bactéria amilolítica A. veronii como
suplemento probiótico na dieta foi analisada com relação a histologia do jundiá. A
referida autora não observou alterações histológicas intestinais significativas com a
suplementação da bactéria probiótica (Figura 1).
Figura 1 - Imagem panorâmica da porção mediana (A1 e B1) e detalhe de corte transversal da
porção mediano-distal do intestino de jundiá (Ramdia quelen) (A2 e B2). Dieta controle (A) e
dieta suplementada com bactéria (B). Camada muscular (m), vilosidades (v), lâmina própria (lp),
células caliciformes (cabeça de seta), borda em escova (seta). Coloração: Papanicolau. Barras:
1 mm (panorâmica) e 25 µ (detalhe). Fonte: Poletto (2015).
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de aditivos, prebióticos e probióticos na nutrição de peixes é promissor.
Trata-se de uma área de grande potencial para pesquisas, diante da crescente
demanda populacional por produtos piscícolas e a necessidade de se reduzir o uso
de compostos nocivos - como os antibióticos – para os sistemas.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 6
51
REFERÊNCIAS
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Biochemistry, v.38, n.5, p.1441-1447, 2012.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 6
52
CAPÍTULO 7
ANÁLISE DA COMPOSIÇÃO CENTESIMAL DA SOJA E
UM DE SEUS PRINCIPAIS PRODUTOS, O EXTRATO
DE SOJA
José Marcos Teixeira de Alencar Filho
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE), Faculdade Irecê (FAI)
Recife – PE, Irecê – BA
Andreza Marques Dourado
Faculdade Irecê (FAI)
Irecê – BA
Leonardo Fideles de Souza
Faculdade Irecê (FAI)
Irecê – BA
Valderez Aparecida Batista de Oliveira
Faculdade Irecê (FAI)
Irecê – BA
Pedrita Alves Sampaio
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE)
Recife – PE
Emanuella Chiara Valença Pereira
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE)
Recife – PE
Isabela Araujo e Amariz
Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE)
Recife – PE
Morganna Thinesca Almeida Silva
Faculdade Irecê (FAI)
Irecê – BA
RESUMO: Introdução: Numerosos fatores
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
trazem riscos que podem afetar a qualidade de
vida humana nos dias modernos, visto que a
população necessita conscientizar-se acerca
da seriedade de alimentos que apresentam
substâncias que ajudam na promoção da
saúde, além da sua função nutricional. Um
exemplo desses alimentos é a soja, de nome
científico Glycine max L., a qual se tem
elevado o consumo de leite de soja no Brasil,
combinado com sucos de frutas. O leite de
soja é um produto de elevado valor nutricional,
com alto conteúdo proteico, a fim de satisfazer
as necessidades não somente nutritivas e
sensoriais, mas também pode ser usada como
medida preventiva de doenças e terapêutica.
Este trabalho teve por finalidade abordar o
valor da composição centesimal da soja e do
extrato de soja (leite de soja) trazendo consigo
uma abordagem do valor nutricional desse
alimento de consumo humano. O estudo tratouse de uma pesquisa exploratória de caráter
qualitativo embasado numa breve revisão de
literatura sobre o tema, num recorte temporal
feito do ano de 2003 a 2019 nas principais
bases de dados como SciELO, LILACS e BVS.
De acordo com estudos, o consumo da soja é
eficaz no controle de algumas doenças e de
seus fatores de risco. Pesquisas realizadas ao
longo das últimas décadas vêm comprovando
que as isoflavonas presentes na soja podem
trazer benefícios no controle de patologias tais
Capítulo 7
53
como o câncer, menopausa e osteoporose. Em relação a composição centesimal,
tem-se para a soja, em média, 40% de proteína, 29% de carboidrato, 20% de lipídios
e 5% de fibras. Para o extrato da soja, tem-se em torno de 3-5% de proteína, 1-2% de
lipídeos e 93-96% de umidade. A soja é um alimento com alegação de propriedade
de saúde e sua ingestão deve ser incentivada, visto que a presença de isoflavonas,
proteínas, vitaminas, minerais e fibras são de grande utilidade na promoção da saúde.
PALAVRAS-CHAVE: soja; leite de soja; alimentos funcionais; composição centesimal.
ANALYSIS OF THE CENTESIMAL COMPOSITION OF SOYBEAN AND ONE OF ITS
MAIN PRODUCTS, SOYBEAN EXTRACT
1 | INTRODUÇÃO
Alimentos podem ser definidos como produtos de composição complexa que
são consumidos a fim de satisfazer as necessidades nutritivas e sensoriais. Além
disso, nota-se que a alimentação não é vista somente como meio de prevenir
uma deficiência nutricional, e sim como medida tanto preventiva como terapêutica
para diversos quadros de doenças. Desse modo, os alimentos com alegação de
propriedades funcionais trazem, tanto propriedades nutricionais básicas, como
produzem efeitos benéficos ao organismo, preservando ou restabelecendo a saúde
do indivíduo (SILVA; TASSI; PASCOAL, 2016).
Dentre os alimentos com alegação de propriedades funcionais mais estudados,
destacam-se a soja, o tomate, o peixe, a linhaça, os vegetais crucíferos (brócolis e
repolho), o alho, a cebola, as frutas cítricas, o chá verde, a uva, a aveia, entre outros
(CASÉ; DELIZA; ROSENTHAL, 2005).
A soja (Glycine max L.) é considerada um alimento funcional porque possui
propriedades energéticas básicas além de um elevado teor proteico. Existem estudos
que apontam a utilização da soja na prevenção do câncer e tratamento de doenças
cardiovasculares. Isso se deve ao fato de apresentar em sua composição moléculas
com ação anticarcinogênicos, como isoflavonoides e gliciteína, que são inibidores de
saponinas e tripsina (PAULETTO, FOGAÇA, 2012).
O grão de soja é formado em média por 13% a 20% de lipídeos (que fornecem
energias para a metabolização de proteínas e síntese de novos tecidos), 35% a
40% de proteínas, 30% de carboidratos, 10% a 13% de umidade e cerca de 5% de
minerais (CUNHA; VIANA; SILVA; SILVA, 2015). Além disso, fornecem ácidos graxos
importantes, como é o caso do ácido linoleico e linolênico, e algumas vitaminas
(PAULETTO, FOGAÇA, 2012).
Soja e seus derivados têm sido utilizados há séculos nos países orientais como
alimento básico da dieta, além de ingredientes para produtos industrializados no
ocidente (CASÉ; DELIZA; ROSENTHAL, 2005). No Japão, a soja é consumida de
diferentes maneiras: tofu (“queijo de soja”), natto (soja fermentada), missô (pasta
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
54
de soja fermentada), extrato de soja (“leite de soja”) dentre outros (SILVA; TASSI;
PASCOAL, 2016).
Além do ponto de vista nutricional, com seu alto teor de proteína, além de
minerais, vitaminas do complexo B e vitamina C, a soja apresenta isoflavonas, fitatos,
fitoesteróis, peptídeos, oligossacarídeos e ácidos graxos poli-insaturados, que são
compostos fitoquímicos importantes para a preservação do bom funcionamento do
organismo (SILVA; TASSI; PASCOAL, 2016). A soja contém alta concentração de
isoflavonas, as quais agem inibindo produção de oxigênio reativo e apresentando-se
como antioxidante, e por isso está sendo relacionada à redução do risco de vários
tipos de câncer, osteoporose, deficiência cognitiva, menopausa dentre outras doenças
(SILVA; SÁ, 2012). Estudos epidemiológicos demonstraram que além do câncer
de mama, a osteoporose e os sintomas da menopausa são raros nas sociedades
asiáticas, demonstrando, assim, que a soja tem papel preventivo e terapêutico na
saúde dessas populações (CASÉ; DELIZA; ROSENTHAL, 2005).
O presente trabalho tem por objetivo abordar a importância da composição
centesimal de alimentos, dando ênfase a soja e ao extrato de soja (leite de soja).
De tal modo, traz consigo uma abordagem acerca do valor nutricional dos alimentos
propostos sob o aspecto da composição centesimal do grão e do extrato.
2 | METODOLOGIA
O trabalho tratou-se de uma revisão de literatura de caráter qualitativo, realizada
a partir de artigos científicos e livros que trataram do tema proposto, em um recorte
temporal feito do ano de 2003 a 2019. Para o embasamento teórico do estudo foram
utilizadas pesquisas nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe
em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO),
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nos meses de maio e junho de 2019. Foram
utilizados como descritores as palavras: soja, leite de soja, alimentos funcionais, e
composição centesimal, a partir das quais foi possível obter informações acerca da
composição centesimal do grão da soja e do extrato de soja.
Os trabalhos foram selecionados com base na análise de seu título, resumo
e texto completo, de forma que foram incluídos apenas artigos de interesse da
pesquisa, além de livros relacionados a área de ciência e tecnologia de alimentos.
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tem-se elevado no Brasil o consumo de leite de soja, em desenvolvimento
de novos produtos à base de extrato hidrossolúvel de soja, sendo combinado, por
exemplo, com sucos de frutas. Além disso, estes produtos da indústria possuem um
sabor apreciável, assim, diminui o sabor característico de leite de soja. Portanto,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
55
esse aumento e expansão da linha desses produtos no Brasil, utilizando extratos de
soja de melhor qualidade, com menor intensidade de sabor característico, resulta na
incorporação do leite de soja aos hábitos alimentares e de vida dos consumidores,
os quais mostraram-se bem receptivos aos novos produtos à base de extrato
hidrossolúvel de soja (BEHRENS; SILVA, 2004).
Em 2019 o Brasil comemora 137 anos de introdução da soja em seu território.
Sua entrada no país deu-se em 1882 pelo estado da Bahia, quando fracassou
comercialmente. Isso se deu ao fato de a soja introduzida ser adaptada a climas
temperados ou subtropicais e a região onde a soja foi testada inicialmente na Bahia
apresenta um clima tropical. Em virtude disso, a soja somente obteve êxito no Brasil
cerca de 60 anos depois, quando foi avaliada nas condições de clima subtropical do
estado do Rio Grande do Sul (GAZZONI; DALL’AGNOL, 2018).
O leite de soja é um alimento proteico, nutritivo, de fácil obtenção sendo
considerado como boa opção na alimentação humana. No entanto, não tem uma boa
aceitação devido ao seu sabor que não agrada ao paladar de muitos. Um processo
baseado no branqueamento do grão de soja tem alcançado sucesso na obtenção
do leite de soja com sabor suave e boa solubilidade. Os grãos decorticados são
branqueados em solução de NaHCO3 a 0,25% na proporção de 1:3 de soja:solução,
durante 20 min. Em seguida, a solução de branqueamento é drenada e os grãos
são desintegrados com água em ebulição, em moinho de facas e martelos, com
peneira de 0,5 mm. A mistura resultante, com aproximadamente 11% de sólidos,
é submetida, por duas vezes, à homogeneização em homogeneizador APV Gaulin
e a pressões de 3.000, 4.000, 5.000 e 6.000 psi, sendo designados como A, B, C
e D, respectivamente. Os leites de soja assim obtidos, são secos por atomização
com temperatura de entrada e saída de 200 e 90º C, respectivamente, tendo como
produtos finais leites de soja em pó A, B, C e D (CABRAL et al., 1997). Um fluxograma
resumindo este processo pode ser visualizado na figura 1.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
56
Figura 1 – Fluxograma da obtenção do leite de soja.
Fonte: Cabral e colaboradores, 1997 (adaptado).
Estudos indicam que o consumo da soja seja eficaz no controle de algumas
doenças e de seus fatores de risco. Ao longo das últimas décadas, pesquisas vêm
demonstrando que as isoflavonas presentes em soja, podem trazer benefícios no
controle de doenças crônicas tais como câncer, menopausa e osteoporose (CUNHA;
VIANA; SILVA, 2015).
A soja é fonte de isoflavonas, compostos não esteroides com estrutura
semelhante aos estrógenos naturais e fazem parte da classe dos fitoestrógenos.
Estas são substâncias de origem vegetal que atuam como precursores de hormônios
masculinos e femininos podendo provocar ações farmacológicas semelhantes aos
hormônios endógenos (SILVA; TASSI; PASCOAL, 2016). Na figura 2 está demonstrada
a estrutural geral das isoflavonas.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
57
O
O
Figura 2 – Estrutura química geral das isoflavonas.
Fonte: autoria própria.
As isoflavonas são isoflavonoides, os quais são uma subclasse de flavonoides,
compostos provenientes do metabolismo secundário vegetal. Os flavonoides
representam uma classe bastante diversa de metabólitos secundários polifenólicos,
ocorrendo em flores, frutos, folhas e raízes. Acumulam-se nos vegetais, sobretudo
na forma de glicosídeos, localizando-se principalmente nas células epidermais
superiores de folhas e cascas de frutos (EMERY; MARCGETTI, 2017).
Alguns isoflavonoides, como a gliciteína, são inibidores de saponinas e de
tripsina. Algumas substâncias formadas pela ação de bactérias presentes no
intestino, bem como as fibras presentes nos grãos de soja, estão entre as substâncias
relacionadas à prevenção dos diversos tipos de câncer. Embora existam evidências
dos benefícios da soja na prevenção e no controle do câncer, a comunidade científica
ainda não conseguiu estabelecer totalmente os mecanismos fisiológicos de atuação
e ação preventiva dos compostos da soja (CUNHA; VIANA; SILVA, 2015).
As concentrações de isoflavonas são relativamente altas nas leguminosas, e
em particular na soja. Dentre as principais isoflavonas encontradas em seus grãos
e derivados estão a genisteína, daidzeína, gliciteína, biochanina A e formononetina.
A tabela 1 apresenta o teor de isoflavonas presentes em alguns alimentos derivados
da soja (SIMÃO; BARBOSA; NUNES, 2008).
Alimento
Teor de genisteína (μg/g)
Teor de daidzeína (μg/g)
Grão de soja
200
700
Farinha de soja
800
Leite de soja em pó
570
650
Leite de soja
70
680
40
Tabela 1 – Teor de isoflavonas encontradas em alimentos a base de soja.
Fonte: Simão, Barbosa e Nunes, 2008 (adaptado).
No climatério feminino (fase da vida mais conhecida como menopausa) as
taxas hormonais são bastante reduzidas, aparecendo problemas como sudorese,
ondas de calor, pele seca, podendo ocorrer o aparecimento da osteoporose.
Como as isoflavonas são estruturalmente parecidas com o estrógeno, ligamInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
58
se aos receptores estrogênicos das células evitando o surgimento dos sintomas
indesejáveis da tensão pré-menstrual e do climatério. As taxas de estrógeno no
sangue reduzem acentuadamente após a menopausa, elevando assim, os riscos
de mulheres desenvolverem osteoporose. Sendo assim, uma forma de combater a
osteoporose é através da alimentação, com o consumo de alimentos ricos em cálcio,
como o leite e os derivados, as verduras e a soja, auxiliando assim na sua prevenção
(CUNHA; VIANA; SILVA, 2015).
Leguminosas são grãos conhecidos por seu alto teor proteico (até 40% de sua
base seca). Além disso, de acordo com a espécie, pode haver maior concentração de
lipídeos (soja e amendoim, por exemplo) ou de amido (feijões e favas, por exemplo).
A composição centesimal de algumas leguminosas está representada na tabela 2
(KOBLITZ, 2018).
Grão
Proteínas
(%)
Carboidratos
(%)
Lipídios
(%)
Fibras (%)
Minerais
(%)
Lentilha
29,6
61,7
3,10
3,20
2,40
Soja
40,0
29,0
20,0
6,00
Grão-de-bico
20,6
65,2
5,00
7,00
3,80
3,40
Ervilha
28,8
60,0
1,60
6,70
2,90
Tabela 2 – Composição centesimal (base seca) de alguns grãos de leguminosas.
Fonte: Koblitz, 2018 (adaptado).
Segundo Cunha e colaboradores (2015), o grão de soja é composto em média
por 15% a 20% de lipídeos, 35% a 40% de proteína, 30% de carboidratos, 10%
a 13% de umidade e cerca de 5% de minerais e cinzas podendo variar bastante,
dependendo da variedade e das condições de crescimento.
O extrato hidrossolúvel de soja, mais conhecido como “leite de soja”, é um
dos produtos da soja mais conhecidos. Um quilo de soja fornece cerca de seis a
nove litros de “leite” de soja, restando aproximadamente 700 g de resíduo com alto
teor proteico. Sua composição química varia em função da matéria-prima utilizada
e do processamento empregado. O leite de soja constitui boa fonte de vitamina B,
mas contém somente 29,3% de cálcio em relação ao leite de vaca. No entanto,
apresenta proteína de alto valor nutricional, sendo deficiente apenas em relação aos
aminoácidos sulfurados (metionina e cistina) (TASHIMA; CARDELLO, 2003)
Valores médios da composição centesimal (%) dos extratos de soja obtidos de
soja comum (SC), soja comum branqueada (SCB) e soja livre de lipoxigenase (SLL)
estão expressos na tabela 3 (CIABOTTI; BARCELLOS; MANDARINO, 2006).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
59
Extrato de soja
Umidade
Proteína*
Lipídios
Cinzas
ENN**
SC
93,70 b
1,62 b
0,30 b
0,81 a
SCB
95,18 a
3,56 a
3,12 b
1,48 c
0,18 c
0,05 b
SLL
93,79 b
3,26 b
1,72 a
0,36 a
0,87 a
EP***
0,117
0,090
0,014
0,014
0,101
Tabela 3 – Valores médios da composição centesimal (%) dos extratos de soja obtidos de soja
comum (SC), soja comum branqueada (SCB) e soja livre de lipoxigenase (SLL).
Médias nas colunas seguidas por letras iguais não diferem entre si ao nível de significância de 0,05 (Scott-Knott).
*Proteína = % N X 6,25
**ENN = extrato não nitrogenado.
***Erro padrão da média.
Dados expressos com base em matéria integral.
Fonte: Ciabotti, Barcellos e Mandarino, 2006.
A partir da análise da composição centesimal da matéria-prima (soja) e
do produto acabado (extrato de soja), pode-se perceber a grande variação dos
macronutrientes principais, como é o caso da proteína total, que na matéria-prima
pode chegar a 40% (base seca), e no produto acabado os valorem ficam em torno
de 3 a 5% (base úmida). Outro nutriente que vale ressaltar a alteração é o teor de
lipídeos, que na soja está em torno de 20% (base seca), no entanto, no extrato de
soja está entre 1 e 2% (base úmida). Esse resultado pode justificar a utilização do
leite de soja por pessoas que necessitam fazer dieta com restrição de gorduras,
tendo em vista o baixo teor de lipídios neste produto.
Deve-se levar em consideração que a soja como matéria-prima é um alimento
sólido, seco, com baixa umidade, e por isso o teor de seus macronutrientes em base
seca torna-se elevado. Diferentemente do leite de soja, que é um produto líquido,
com alto teor de umidade (acima de 90%), o que faz com que seus macronutrientes
apresentem-se de forma bastante diluída.
4 | CONCLUSÃO
Diante das exposições, a soja é um alimento com alegação de propriedade
funcional e seu consumo deve ser incentivado, pois além da presença de isoflavonas e
proteínas, este alimento apresenta vários outros nutrientes como vitaminas, minerais
e fibras alimentares que são de grande utilidade na promoção e na manutenção da
saúde.
Pelo fato de o leite de soja não conter lactose e nem colesterol, é ideal para
portadores de intolerância à lactose ou indivíduos com indicação de ingestão de
colesterol reduzida. Além disso, constitui excelente fonte proteica, podendo ser
utilizado na prevenção e correção da desnutrição infantil.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
60
Para além, destaca-se a valor deste produto no aumento da expectativa de
vida da população. Sabendo que o aumento do número de patologias crônicas
como câncer, obesidade, hipertensão, diabetes e osteoporose, sendo que o câncer
e diabetes têm chamado maior a atenção dos indivíduos e dos órgãos públicos de
saúde, torna-se necessário o incentivo ao consumo de alimentos que tem o poder
de prevenir essas doenças. Nesse contexto, a soja insere-se de forma benéfica por
suas propriedades nutricionais e medicinais, sendo considerada um alimento com
alegação de propriedade de saúde, por estar relacionada à redução dos riscos de
algumas doenças crônicas.
REFERÊNCIAS
BEHRENS, J. H.; SILVA, M. A. A. P. Atitude do consumidor em relação à soja e produtos derivados.
Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 24, n. 3, p. 431-439, 2004.
CABRAL, L. C.; WANG, S. H.; ARAUJO, F. B; MAIA, L. H. Efeito da pressão de homogeneização nas
propriedades funcionais do leite de soja em pó. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 17, n. 3, p.
286-290, 1997.
CASÉ, F.; DELIZA, R.; ROSENTHAL, A.; MANTOVANI, D.; FELBERG, I. Produção de “leite” de soja
enriquecido com cálcio. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 25, n. 1, p. 86-91, 2005.
CIABOTTI, S.; BARCELLOS, M. F. P.; MANDARINO, J. M. G.; TARONE, A. G. Avaliações químicas
e bioquímicas dos grãos, extratos e tofus de soja comum e de soja livre de lipoxigenase. Ciência e
Agrotecnologia, v. 30, n. 5, p. 920-929, 2006.
CUNHA, D.S.; VIANA, J. S.; SILVA, W. M.; SILVA, J. M. Soja para consumo humano: breve
abordagem. Agrarian Academy, v. 2, n. 3, p. 101-113, 2015.
EMERY, F. S.; MARCHETTI, J. M. Farmacognosia. 1ª edição. Ed. Atheneu, Rio de Janeiro, 2017.
GAZZONI, D. L.; DALL’AGNOL, A. Paralelo entre a soja no mundo e no Brasil. Embrapa SojaCapítulo em livro científico (ALICE), 2018.
KOBLITZ, M. G. B. Matérias-primas alimentícias: composição e controle de qualidade. 1ª edição,
Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2011.
SILVA, C. O.; TASSI, É. M. M.; PASCOAL, G. B. Ciência dos Alimentos: Princípios da
Bromatologia. 1ª edição, Rubio, Rio de Janeiro, 2016.
SILVA, I. M. C.; SÁ, E. Q. C. Alimentos Funcionais: um enfoque gerontológico. Revista da Sociedade
Brasileira de Clínica Médica, v. 1, n. 1, p. 24-28, 2012.
SIMÃO, A. N. C.; BARBOSA, D. S.; NUNES, L. B.; GODENY, P.; LOZOVOY, M. A. B.; DICHI, I.
Importância da ingestão de soja nos sintomas do climatério, osteoporose e doenças cardiovasculares.
Arquivos de Ciências da Saúde da UNIPAR, v. 12, n. 1, p. 67-75, 2008.
TASHIMA, E. H.; CARDELLO, H. M. A. B. Perfil sensorial de extrato hidrossolúvel de soja (Glicine max
L. Merril) comercial adoçado com sacarose e com sucralose. Boletim do Centro de Pesquisa de
Processamento de Alimentos, v. 21, n. 2, p. 409-428, 2003.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 7
61
CAPÍTULO 8
APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS DO SORO DE
QUEIJO
Adriana Aparecida Bosso Tomal
Universidade Estadual de Londrina, Departamento
de Ciência e Tecnologia de Alimentos
Londrina – Paraná
Maria Thereza Carlos Fernandes
Universidade Estadual de Londrina, Departamento
de Ciência e Tecnologia de
Alimentos
Londrina – Paraná
Alessandra Bosso
Universidade Pitágoras Unopar, Programa
de Pós-graduação - Mestrado em Ciência e
Tecnologia de Leite e Derivados
Londrina – Paraná
Ariane Bachega
Universidade Pitágoras Unopar, Programa
de Pós-graduação - Mestrado em Ciência e
Tecnologia de Leite e Derivados
Londrina – Paraná
Hélio Hiroshi Suguimoto
Universidade Pitágoras Unopar, Programa
de Pós-graduação - Mestrado em Ciência e
Tecnologia de Leite e Derivados
Londrina – Paraná
RESUMO: O soro de queijo é um subproduto
obtido pelos laticínios após a fabricação
do queijo. O soro é altamente poluente se
descartado incorretamente no meio ambiente.
O aproveitamento adequado desse subproduto
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
é de grande importância em função do seu
valor nutricional, funcional e biológico, além
de proteger o ecossistema. Abordagens
tecnológicas são aplicadas pelas indústrias de
laticínios, biotecnológica e farmacêutica para
converter o soro de queijo em produtos de valor
agregado. Entre os produtos produzidos a partir
do soro de queijo destacam-se a enzima betagalactosidase, o galactooligossacarídeo e os
alimentos funcionais.
PALAVRAS-CHAVE: Alimentos funcionais;
Galactooligossacarídeo; Lactase; Soro de
queijo.
BIOTECHNOLOGICAL APPLICATIONS OF
CHEESE WHEY
ABSTRACT: Cheese whey is a by-product
obtained after cheese production. Whey is
highly polluting if discarted of incorrectly in
the environment.The proper use of this byproduct is of great importance in the function
of its nutritional, functional and biological
value, besides protecting the ecosystem.
Technological approaches are applied by
the dairy, biotechnology and pharmaceutical
industries to convert whey to value-added
products. Among the products produced
from the cheese whey are the enzyme betagalactosidase, the galactooligosaccharide and
the functional foods.
Capítulo 8
62
KEYWORDS: Functional foods; Galactooligosaccharide; Lactase; Cheese whey.
1 | INTRODUÇÃO
O soro de queijo é um subproduto proveniente da fabricação do processamento
de queijo e altamente poluente quando eliminado no meio ambiente (APIL, 2017).
No entanto pesquisas estão sendo realizadas para encontrar alternativas viáveis a
sua utilização considerando seu valor nutricional. A lactose, proteínas, lipídios e sais
minerais são os principais componentes do soro de queijo (RYAN; WALSH, 2016).
O soro tem sido explorado como substrato para a síntese de diferentes produtos
de valor comercial como a enzima beta-galactosidase, os galactooligossacarídeos
(GOS) e como ingredientes para formulações alimentares. A beta-galactosidase é
uma das enzimas mais importantes utilizadas em laticínios devido à sua capacidade
de hidrolisar a lactose presente no leite, soro de queijo e produtos lácteos, a enzima
também é responsável pela reação de transgalactosilação para obtenção de GOS
(KAUR; PANESAR; SINGH, 2015).
A hidrólise da lactose traz inúmeros benefícios para indivíduos intolerantes à
lactose, pois dessa forma a população acometida por essa condição pode ingerir leite
e derivados lácteos sem sofrer com os sintomas causados pela lactose (JOHNSON
et al., 1993). A produção de galactooligossacarídeos ocorre pela reação de
transgalactosilação entre a lactose e a enzima β-galactosidase que são convertidos
em glicose e galactose (TOMAL et al., 2010).
Entre as aplicações do soro de queijo, a adição em alimentos funcionais está
ganhando cada vez mais espaço e aceitação entre os consumidores devido à
atividade biológica exercida pelas substâncias bioativas. O soro de queijo apresenta
características funcionais desejáveis para a indústria de alimentos entre elas,
solubilidade, viscosidade, capacidade estabilizante e emulsificante (HARAGUCHI
et al., 2006). Assim o soro de queijo apresenta aplicações para produção de leites
recombinados, iogurte, bebida láctea, achocolatados, sopas desidratadas, pães,
bolos, fórmulas infantis, bebidas para esportistas, barra de proteínas e suplementos
alimentares (PFLANZER et al., 2010).
2 | METODOLOGIA
O presente trabalho apresenta uma análise e revisão atual e sistemática
da literatura nacional e internacional, reunindo informações sobre as aplicações
biotecnológicas do soro de queijo. As buscas foram realizadas nas bases eletrônicas
PubMed, Science Direct, Periódicos Capes e Google Acadêmico utilizando os seguintes
descritores: soro de queijo, produção de beta-galactosidase, galactooligossacarídeo
e alimentos funcionais.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
63
3 | DESENVOLVIMENTO
3.1 Soro de queijo
O soro de queijo é o líquido residual obtido a partir da coagulação do leite
destinado à fabricação de queijos. Possui coloração amarelo-esverdeado e sabor
ligeiramente ácido ou doce (BRASIL, 2005).
A produção mundial do soro de queijo é estimada em aproximadamente 180 a
190 x 106 ton/ano. (EL-TANBOLY; EL-HOFI; KHORSHID, 2017). No Brasil a produção
em 2016 foi de 2.691 mil toneladas (MAPA, 2017).
O soro representa entre 80% a 90% do volume do leite e contém cerca de 55%
dos seus nutrientes, podendo ser classificado em soro ácido e soro doce. O primeiro
e obtido pela coagulação das proteínas do leite com ácidos orgânicos e o segundo é
adquirido por ação de enzimas proteolíticas (PANESAR et al., 2007).
A composição nutricional varia de acordo com o leite do animal e com o tipo de
queijo do qual foi originado (BRASIL, 2005). A maior parte do soro de queijo gerado é
proveniente do leite de vaca. A composição do soro de queijo dessa espécie contém
aproximadamente 93% de água, entre 4,6% a 6,2 % de lactose, 0,1% a 1% de proteínas,
0,5% de lipídios e 8 a 10% de minerais (JELEN, 2011). Dentre os componentes do
soro de queijo a lactose e as proteínas são os mais importantes para as indústrias.
A lactose é utilizada como material energético para processos biotecnológicos e
as proteínas possuem alto valor nutricional e propriedades funcionais. As principais
proteínas contidas no soro são: β-lactoglobulina, α-lactalbumina e imunoglobulinas
(SILVA; BOLINI; ANTUNES, 2004).
3.2 Problemas Ambientais causados pelo soro de queijo
Devido ao grande volume gerado pelas indústrias de laticínios, o soro de queijo
se tornou um problema ambiental, pois possui elevada taxa de matéria orgânica. Os
problemas ambientais mais comuns causados pelo descarte do soro de queijo são,
geração de odores desagradáveis, comprometimento do solo, poluição de águas,
aumento da demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e o risco de eutrofização das
águas. A lactose contida no soro de queijo é o maior constituinte (70% a 72% do
total de sólidos), e o principal componente que causa os elevados valores de DBO
(PRAZERES; CARVALHO; RIVAS, 2012).
A partir das décadas de 1960 e 1970, as agências reguladoras do meio ambiente
e processadores de lácteos reconheceram e ressaltaram os danos ambientais
causados pelo descarte do soro não tratado. O descarte sem o tratamento adequado
foi proibido pela legislação na maioria dos países produtores de lácteos (SMITHERS,
2015)
As Resoluções 20, de 13 de junho de 1986 (BRASIL, 1986) e 430, de 13 de
maio de 2011 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (BRASIL, 2011)
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
64
do Ministério do Meio Ambiente (MMA) dispõem que todo e qualquer resíduo ou
elemento que altere as características naturais das águas, no caso incluídos os
resíduos da atividade de laticínios, devem ser removidos antes do descarte, ou seja,
é obrigatório o tratamento para seu descarte antes de serem lançados na natureza.
3.3 Valorização do Soro de Queijo
Esforços significativos estão sendo realizados em todo o mundo para encontrar
formas de converter o soro de queijo em produtos comerciais (SMITHERS, 2015).
A secagem e a desmineralização, o refino de lactose e das proteínas através da
filtração em membranas são alguns destinos que estão sendo dados ao soro de
queijo (SILVA; PACHECO; ANTUNES, 2010).
Na valorização do soro duas alternativas podem ser consideradas. A primeira é
recuperar componentes de valor econômico como a lactose e as proteínas, aplicando
tecnologias de recuperação de tais compostos. Outra alternativa é a aplicação do
soro de queijo em processos fermentativos através da conversão da lactose para
obtenção de produtos como, enzimas, galactooligossacarídeos (GOS), bioetanol,
vinagre, ácido lático e propiônico, proteínas (PRAZERES; CARVALHO; RIVAS,
2012). Por ser fonte abundante de lactose o soro de queijo pode ser usado por
microrganismos, como meio de cultivo para produção da enzima β-galactosidase
(BOSSO et al., 2019).
3.4 Soro de queijo na produção de beta-galactosidase
A β-galactosidase também conhecida como lactase hidrolisa a lactose presente
no leite, soro de queijo, permeado de soro de queijo (obtido através de filtração em
membranas) e produtos lácteos. A enzima é mais comumente usada em tecnologia
baseada em processamento de alimentos, particularmente na indústria de laticínios
e indústria farmacêutica (VASILJEVIC; JELEN, 2001). A lactase é utilizada para
produzir leite sem e/ou com lactose reduzida (essencial para indivíduos intolerantes
à lactose), aumentar a solubilidade e evitar a cristalização da lactose em produtos
lácteos, transgalactosilar a lactose promovendo a produção de GOS (LU et al., 2012).
As β-galactosidases podem ser produzidas por vários organismos, incluindo
plantas, animais e microrganismos, senso esse último o mais utilizado. Fontes
microbianas como bactérias, leveduras e fungos filamentosos são os mais utilizados
por serem classificados como Generally Regarded as Safe (GRAS) e seguras para
consumo humano (KOSSEVA et al., 2009). Diversos trabalhos foram realizados
utilizando soro de queijo para produzir beta-galactosidase. You et al. (2017) e Viana
et al. (2018) utilizando levedura e fungo filamentoso respectivamente para produzir
Beta-galactosidase a partir da lactose contida no soro de queijo. Perini e colaboradores
(2013) utilizaram a levedura K. marxianus em soro de queijo e milhocina e alcançaram
produção expressiva de beta-galactosidase. Já Princely et al. (2013), produziram,
caracterizaram e purificaram a enzima beta-galactosidase intracelular através de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
65
Streptococcus thermophilus e concluíram que a enzima produzida a partir do soro
de queijo possui características para aplicações industriais e biotecnológicas. Estes
trabalhos indicam que o soro de queijo é um substrato adequado na produção da
enzima beta-galactosidase.
3.5 Soro de queijo na produção de Galactooligossacarídeos
Além de realizar a hidrólise de produtos lácteos, as beta-galactosidases
catalisam reações de transgalactosilação, através da transferência de uma
unidade de galactose para outro carboidrato. Essa reação é aplicada na síntese de
galactooligossacarídeos (FISCHER; KLEINSCHMIDT, 2018).
Os GOS possuem propriedades prebióticas e estão licenciados como aditivos
de alimentos FOSHU (Foods for Specified Health Use) pelo Ministério da Saúde do
Japão e são preconizados como GRAS pelo FDA, também são reconhecidos em
todos os países da União Europeia como ingredientes alimentares e como aditivos
devido a sua presença de forma natural no leite materno (TZORTZIS; VULEVIC,
2009).
O conceito de prebiótico foi definido pela primeira vez por Gibson e Roberfroid
em 1995 como “ingrediente alimentar não digerível que afeta beneficamente o
hospedeiro, estimulando seletivamente o crescimento e/ou atividade de um ou de
um número limitado de bactérias desejáveis no cólon” (GIBSON et al., 2017).
Desta forma, a Associação Científica Internacional de Probióticos e Prebióticos
(ISAPP) define probiótico como um substrato utilizado seletivamente por
microrganismos hospedeiros conferindo um benefício de saúde (HUTKINS et al.,
2016).
Os prebióticos possuem características específicas como: resistência à
digestão do hospedeiro, ser altamente fermentáveis pelos microrganismos intestinais
e estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de bactérias intestinais
associadas à saúde (PÉRIS; GIMENO, 2008). A estrutura dos GOS pode diferir
na composição dos açúcares, regioquímica das ligações glicosídicas e no grau de
polimerização, dependendo da origem da enzima utilizada (FAI et al., 2014).
A concentração de GOS obtida pode variar amplamente dependendo das
condições reacionais utilizadas. De modo geral, quanto maior a concentração de
lactose no meio de fermentação maior será o seu rendimento (GOSLING et al.,
2011).
A formação de GOS ocorre a partir de um substrato rico em lactose. O uso de
subprodutos de processos industriais como o soro de queijo é uma alternativa que
visa principalmente obter sustentabilidade ambiental e processos economicamente
viáveis (YADAV et al., 2015).
A maior parte das pesquisas tendo em vista a produção de GOS, foram
realizadas utilizando leite concentrado, soro de queijo in natura e/ou reconstituído e
permeado de soro de queijo (FISCHER; KLEINSCHMIDT, 2018), utilizando enzima
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
66
beta-galactosidase originárias de Aspergillus oryzae, Kluyveromyces lactis, Bacillus
circulans e espécies de Lactobacillus.
Lisboa et al. (2012) avaliaram a produção de GOS utilizando β-galactosidase
de K. lactis (Lactozym® 3000L) em soro de queijo contendo 400g/L de lactose e
atingiram o rendimento de 29.9% de GOS em 4 horas de reação. Em 2015, Padilha e
colaboradores descreveram sobre o uso do permeado de soro de queijo contendo 250
g/L de lactose para obtenção de GOS, utilizando β-galactosidase de Kluyveromyces
marxianus e obtiveram 322 g/Kg de GOS. Já Fischer e Kleinschmidt (2015) utilizaram
das β-galactosidase de Aspergillus oryzae e Kluyveromyces lactis na síntese de GOS
com soro de queijo doce e ácido como fonte de lactose. A comparação entre as duas
fontes enzimáticas revelou que a produção de GOS pela enzima Kluyveromyces
lactis apresentou maiores rendimentos, aproximadamente 33% de GOS. Estes
estudos comprovam que o soro de queijo é um substrato adequado na produção de
GOS.
Os GOS produzidos a partir do soro de queijo são utilizados na indústria de
alimentos, em bebidas, adoçantes, formulação de leite em pó infantil, em ração animal
como inibidor de salmonela, além da aplicação medicinal (cosméticos, produtos
farmacêuticos e produtos para diabéticos) e na sua adição em produtos funcionais.
Entretanto, o principal interesse na produção de GOS se encontra nas propriedades
fisiológicas, particularmente no estímulo da produção de bactérias desejáveis no
intestino (BRUNO-BARCENA; AZCARATE-PERIL, 2015).
3.6 Soro de queijo na produção de produtos funcionais
Muitos fatores alteram a qualidade da vida moderna, de forma que a preocupação
com a alimentação faz a sociedade reconhecer cada vez mais a importância dos
alimentos que auxiliam na promoção da saúde. Diante desse quadro os alimentos
funcionais exercem relação direta com a microbiota intestinal, fazendo com que
alimentos que contenham probióticos, prebióticos ou simbióticos (combinação de
probiótico e prebiótico) sejam instrumentos de estudos (UYEDA et al., 2016).
Dentre os alimentos funcionais, aqueles que contêm cepas probióticas
destacam-se por serem amplamente divulgados na mídia e apresentarem estudos
multidimensionais para usos tecnológicos e industriais. Centenas de produtos lácteos
fermentados adicionados de soro de queijo, probióticos, prebióticos e simbióticos,
estão disponíveis no comércio do mundo todo (SAAD, 2006).
O desenvolvimento de bebidas com soro de queijo, principalmente as
fermentadas, proporcionam novos sabores e aromas aos produtos, criando
alternativas para recuperar essa importante fonte de nutrientes para a cadeia
alimentar.
Rigoto et al. (2019) estudaram diferentes concentrações de polpa de açaí,
colágeno hidrolisado e soro de queijo na produção de bebidas lácteas probióticas.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
67
Dentre as formulações testadas, as que contiveram 22,5% de soro de queijo,
receberam os melhores resultados na análise sensorial com índice de aceitabilidade
acima de 70%. Desta forma a formulação mostrou-se uma alternativa para um novo
produto funcional, de qualidade nutricional e aceitabilidade pelos consumidores.
Outras formulações de bebidas lácteas foram testadas por Castro et al. (2013).
As bebidas foram produzidas com diferentes concentrações de soro de queijo e
adicionadas de Lactobacillus acidophilus. O teor de soro apresentou um efeito
significativo sobre a aceitação das bebidas lácteas desenvolvidas, sendo que a
bebida com concentração de 35% de soro de queijo resultou em maior aceitação
pelos consumidores, e bebidas com concentrações entre 65% e 80% apresentaram
maiores rejeições.
Segundo Lievore et al. (2015), o soro de queijo também pode ser utilizado como
um substituto da água na produção de leite fermentado. Em estudo realizado pelos
pesquisadores adicionando soro de queijo ácido na formulação de leite fermentado
com adição de L. acidophilus, L. casei e Bifidobacterium sp., a aceitação global do
produto foi de 90%. Os autores confirmaram que o uso do soro como substituto da
água em uma formulação de leite fermentado é tecnicamente viável.
O desenvolvimento de bebidas funcionais destaca-se como alternativa de
utilização do soro, porém não é a única forma de aproveitamento desse subproduto.
De Castro‐Cislaghi et al. (2012) desenvolveram uma sobremesa contendo
Bifidobacterium Bb-12 utilizando soro de queijo como agente encapsulante. Os
resultados mostraram que o soro de queijo exerceu efeito protetor ao microrganismo.
O soro de queijo também foi utilizado na produção de biofilmes comestíveis. Gagliarin
et al. (2019) desenvolveram biofilme constituído por soro e polissacarídeo de grãos
de Kefiran como matriz para cepas probióticas. Os filmes comestíveis desenvolvidos
apresentaram boas propriedades ópticas e mecânicas para a aplicação em alimentos,
além de garantir a viabilidade dos microrganismos prebióticos testados.
Micke et al. (2012) afirmaram que as proteínas do soro de queijo possuem
propriedades funcionais que contribuem para a modulação do metabolismo e na
defesa dos organismos animais e humanos. Portanto as proteínas do soro de queijo
podem ser incorporadas como ingredientes na formulação de produtos funcionais e
assim contribuir para a diminuição dos impactos ambientas causado pelo descarte
irregular desse subproduto.
4 | CONCLUSÃO
Tendo em vista a qualidade nutricional do soro de queijo e seus inúmeros
benefícios para a saúde, fica evidente que o aproveitamento deste subproduto,
visando a obtenção de produtos de valores econômicos, é uma alternativa para
reduzir impactos ambientais e destinação nobre ao soro de queijo.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
68
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 8
72
CAPÍTULO 9
ENZIMAS INDUSTRIAIS E SUA APLICAÇÃO NA
AVICULTURA
Felipe Dilelis de Resende Sousa
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
Instituto de Zootecnia, DNAP
Seropédica – Rio de Janeiro
Túlio Leite Reis
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
CCG
produtiva da cadeia. Nesta revisão de literatura
serão abordados temas relacionados às
principais enzimas utilizadas na nutrição e seus
efeitos sobre o frango de corte.
PALVRAS-CHAVE: fator antinutricional, fitase,
PNAses, protease.
Campos dos Goytacazes – Rio de Janeiro
INDUSTRIAL ENZYMES AND THEIR
APPLICABILITY IN POULTRY FARMING
RESUMO: As enzimas são moléculas que atuam
na catálise de reações bioquímicas, facilitando
a ocorrência de determinadas reações. A
adição de enzimas exógenas na ração de aves
visa maximizar o uso do alimento pelo animal,
seja pela melhoria da digestibilidade de alguns
nutrientes, das características da digesta ou
da saúde intestinal. A maior parte das rações
são compostas por ingredientes de origem
vegetal, nos quais existe a presença de fatores
antinutricionais, como fitato, polissacarídeos
não-amiláceos e inibidores de enzimas
endógenas, e estes fatores antinutricionais
reduzem o valor biológico do alimento para
as aves. Fitase, enzimas que atuam nos
polissacarídeos não amiláceos (PNAses) e
proteases têm sido as enzimas mais utilizadas
na nutrição animal. Conhecer as enzimas
industriais e seus efeitos na nutrição animal
é de grande importância para formulação de
dietas modernas, buscando a melhor eficiência
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
ABSTRACT: Enzymes are molecules that
act in the catalysis of biochemical reactions,
facilitating the occurrence of reactions. The
addition of exogenous enzymes in poultry
feed aims to maximize the feed use by the
animal, either by improving the digestibility of
some nutrients, the characteristics of digestion
or intestinal health. Diets are composed of
ingredients of plant origin, in which there are
the presence of antinutritional factors such
as phytate, non-starch polysaccharides and
inhibitors of endogenous enzymes, and these
antinutritional factors reduce the biological value
of feed to poultry. Phytase, enzymes that act
on non-starch polysaccharides (NSPase) and
proteases have been the most used enzymes in
animal nutrition. Knowing the industrial enzymes
and their effects on animal nutrition is of great
importance for the formulation of modern diets,
seeking the best productive efficiency of the
Capítulo 9
73
poultry industry. The present review will address topics related to the main enzymes
used in animal nutrition and their effects on broiler chicken.
KEYWORDS: antinutrional factor, NSPase, phytase, protease.
1 | INTRODUÇÃO
O custo com alimentação é a parte mais onerosa da produção avícola.
Diversas são as técnicas empregadas para aumentar a eficiência produtiva a partir
da nutrição animal e dentre essas, destaca-se a utilização de enzimas exógenas, a
utilização dessas visa maximizar o uso do alimento pelo animal, seja pela melhoria
da digestibilidade de alguns nutrientes, das características da digesta ou da saúde
intestinal.
A maior parte das rações para frangos de corte são compostas por ingredientes
de origem vegetal, nos quais existe a presença de fatores antinutricionais, como fitato,
polissacarídeos não-amiláceos, inibidores de enzimas endógenas, entre outros. Os
fatores antinutricionais reduzem o valor biológico do alimento para as aves, por se
complexarem com nutrientes da dieta durante sua passagem pelo trato digestório,
reduzindo a digestão e absorção.
As enzimas são proteínas globulares de estrutura terciária ou quaternária em
sua grande maioria, que quando fornecidas em rações (enzimas exógenas) para
animais são classificadas como aditivos zootécnicos digestivos. Atuam na catálise
de reações bioquímicas, sendo as hidrolases as mais utilizadas na nutrição animal.
Dados do sindicato dos produtores de ração do Brasil, mostram que em 2016 as
enzimas foram os amplamente utilizadas na fabricação de rações, correspondendo
a 41% dos aditivos zootécnicos utilizados em produção de rações, seguidos por
pré e probióticos (31%) e antimicrobianos melhoradores de desempenho (28%)
(SINDIRAÇÕES, 2017).
Conhecer as enzimas industriais e seus efeitos na nutrição animal é de grande
importância para formulação de dietas modernas, buscando a melhor eficiência
produtiva da cadeia. Nesta revisão de literatura serão abordados temas relacionados
às principais enzimas utilizadas na nutrição e seus efeitos sobre o frango de corte.
2 | FITASE
A maior parte das rações para frangos de corte são compostas por ingredientes
de origem vegetal, nos quais o fitato é a principal forma de armazenamento de
fósforo. Apenas uma pequena parte deste fósforo fítico pode ser aproveitada pelas
aves, sendo grande parte desse mineral eliminado nas excretas, aumentando assim
o impacto ambiental causado pela atividade. Ademais, o ácido fítico encontrase carregado negativamente, o que lhe confere alto potencial para se complexar
com moléculas carregadas positivamente como cátions, principalmente minerais
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
74
divalentes, e proteínas (CHERYAN, 1980). Há também a possibilidade de complexação
com amido, bem como a possibilidade de ser um potente inibidor da enzima alfa
amilase (CAWLEY e MITCHELL, 1968). Evidências foram relatadas também por Liu
et al. (2008), de que a ingestão de fitato também pode causar hiperprodução de
mucina e a diminuição da atividade enzimática no trato gastrintestinal. As fitases
(hexafosfato de mio-inositol fosfohidrolases) são enzimas capazes de hidrolisar as
ligações fosfoéster da molécula de fitato, tornando o fósforo hidrolisado disponível
para ser aproveitado pelas aves. Essas ezimas são amplamente encontradas nos
microrganismos, plantas e certos tecidos animais (VATS e BANERJEE, 2004),
funcionam catalisando a reação de desfosforilação do ácido fítico em ésteres de
fosfato de mio-inositol menores (IP6 → IP5 → IP4 → IP3 → IP2 → IP1) através de
uma reação de hidrólise, liberando o fosfato inorgânico e juntamente o nutriente
complexado a sua estrutura para possível absorção pelo animal. Nos vegetais, as
formas IP5 e IP6 têm maior potencial de efeito negativo na biodisponibilidade de
nutrientes, enquanto os demais compostos formados têm baixa capacidade de ligar-
se a minerais, ou os complexos formados são mais solúveis (SANDBERG et al.,
1989).
A atividade dessa enzima é, normalmente, expressa em unidades de atividade
de fitase (FTU), sendo que 1 FTU é a quantidade de fósforo inorgânico liberado
(µmol) durante um minuto de reação em uma solução de fitato de sódio 5,1 mmol/L
em pH 5,5 e temperatura de 37 ºC (ENGELEN et al., 1994).
O pH ótimo de ação da enzima é de extrema importância para sua aplicação
na nutrição animal. O principal local de ação da fitase tanto em aves quanto em
suínos, é anteriormente ao intestino delgado (SELLE e RAVINDRAN, 2007), onde
prevalece a ocorrência de pH ácido, sendo as fitases ácidas as de maior interesse
para aplicação em dietas avícolas.
Gao et al. (2013) encontraram uma redução de IP6 no inglúvio de 38 e 49 %,
quando utilizaram os níveis de 500 e 1000 FTU/kg de ração de galinhas poedeiras.
Resultados similares foram observados em frangos de corte, por Li et al. (2016), ao
avaliarem a concentração de IP6 no proventrículo e moela com o fornecimento de fitase
exógena. Obtiveram 0,348% de IP6 sem o fornecimento de fitase, e 0,194 e 0,141%
de IP6 quando suplementados com 500 e 1000 FTU/kg de ração, respectivamente.
Nesta pesquisa também foram mensuradas as taxas de desaparecimento de IP6
no íleo, sendo observados valores de 17 a 32% sem a inclusão da enzima, de 57
a 78% com a inclusão de 500 FTU/kg de ração, e 75 a 91% com a inclusão de
1000 FTU/kg de ração. Em frangos de corte, a maior parte da ação da enzima se
dá nos segmentos do inglúvio, proventrículo e moela, onde o pH varia de 5,5 a 3
respectivamente (RAVINDRAN, 2013).
Em um estudo de revisão, Selle e Ravindran (2007) mencionam diferentes
estudos de equivalência de fósforo com inclusão de fitase em frangos, encontrando
resultados que variavam de 0,6 g a 2,12 g de P/kg de ração. Tamanha variação deveInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
75
se ao tipo de ingrediente utilizado, nível de fósforo fítico, relação cálcio:fósforo, tipo
de fitase utilizada e nível de inclusão da enzima. Fazendo uma avaliação conjunta
destes dados, os autores concluíram que 766 FTU/kg de ração equivalem a 1g de
P/kg de ração, em dietas contendo 2 g/kg de fósforo disponível, 2,37 g/kg de fósforo
fítico e relação cálcio:fósforo de 1,84:1, o que resultaria em uma taxa de degradação
do fitato de 42%.
O fitato também é considerado um fator antinutricional, devido à capacidade
de complexação com outros nutrientes, tornando parte deles indisponíveis, portanto
mensurar o efeito extra-fosfórico da suplementação com fitase para frangos de corte
tem sido alvo de diversas pesquisas. Os principais efeitos extrafosfóricos relatados
na literatura tem sido sobre a maior digestibilidade de cálcio (RAVINDRAN et al.,
2008), proteínas e aminoácidos e da energia da dieta (LIU et al., 2010).
3 | ENZIMAS QUE ATUAM NOS POLISSACARÍDEOS NÃO-AMILÁCEOS
Os polissacarídeos não-amiláceos (PNAs), são os principais constituintes da
parede celular dos vegetais, consistem de uma série de polissacarídeos solúveis e
insolúveis. As unidades básicas dos PNAs da parede celular são: arabinose e xilose
(pentoses); glicose, galactose e manose (hexoses); as 6-desoxihexoses ramnose e
fucose; e os ácidos urônicos glucurônico e galacturônico (ou seus 4-O-metil éteres).
Embora os PNAs sejam constituídos de apenas dez monossacarídeos comuns, cada
monossacarídeo pode existir em formas de 2 anéis (piranose e furanose), e esses
resíduos podem ser ligados através de ligações glicosídicas em qualquer um de seus
3, 4 ou 5 grupos hidroxila disponíveis e em 2 (α ou β) orientações. Como resultado, os
PNAs podem adotar um grande número de formas tridimensionais e, assim, oferecer
uma vasta gama de superfícies funcionais. Os PNAs também podem estar ligados à
lignina e à suberina, que fornecem superfícies hidrofóbicas (KNUDSEN, 2014).
Dependendo da solubilidade dos seus constituintes, as fibras são classificadas
em solúveis e insolúveis. As propriedades anti-nutricionais dos PNAs estão
principalmente nas fibras solúveis (TAVERNARI et al., 2008), causando principalmente
os seguintes efeitos em dietas fornecidas à aves: encapsulamento dos nutrientes que
se encontram no interior das células vegetais que impedem o acesso das enzimas
endógenas necessárias a sua degradação; formação de gel que dificulta a digestão
e reduz a absorção dos nutrientes; e aumentam a viscosidade do bolo alimentar,
diminuindo a velocidade de transito da digesta pelo intestino, consequentemente
exercendo um efeito negativo sobre o consumo do alimento (BORGES, 1997).
As paredes celulares das plantas consistem tipicamente de 35 a 50% de
celulose, 20 a 35% de hemicelulose e 10 a 25% de lignina por massa seca. A
celulose e a lignina são considerados PNAs insolúveis. Portanto, as hemiceluloses
contém a maior parte dos PNAs solúveis, e são formadas por uma ampla variedade
de carboidratos (PALOHEIMO et al., 2011), dentre eles os arabinoxilanos, betaInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
76
glucanos, mananos, entre outros.
Dentre as principais enzimas que agem sobre os PNAs utilizadas na produção
avícola pode-se citar a xilanase, beta-glucanase e mananase, sendo que mais de
80% do mercado mundial de carboidrases é representado pelas duas primeiras
(ADEOLA & COWIESON, 2011).
3.1 Xilanase
As xilanases são classes de enzimas produzidas por diversos microrganismos
de substrato lignocelulósicos, que hidrolisam as ligações B-1,4 da cadeia principal de
xilanos. Os xilanos são o principal polissacarídeo da hemicelulose, formando junto
com a arabininose os arabinoxilanos, que são os principais constituintes de PNAs de
cereais utilizados na alimentação de aves (KNUDSEN, 2014). A unidade de xilanase
é definida como a quantidade de enzima necessária para que haja a liberação de 1
µmol de xilose por minuto em pH 5,3 a 50ºC.
Os efeitos benéficos da adição de xilanase exógena na dieta de aves são
observados sobre a digestibilidade da dieta, o desempenho dos animais, a degradação
dos PNAs, viscosidade e até mesmo sobre a saúde intestinal dos animais. Alguns
autores relatam como efeitos diretos primeiramente a redução da viscosidade e,
secundariamente, a liberação de açúcares (BAREKATAIN et al., 2013).
Esmaeilipour et al. (2012) relataram que a xilanase diminuiu significativamente
a viscosidade da digesta e melhorou a digestibilidades aparentes total da matéria
seca, proteína bruta e energia em frangos de corte alimentados com dietas à base
de trigo, de 1 a 24 dias de idade. Em um estudo anterior com galos, Gao et al. (2007)
relataram que a adição de xilanase à dieta à base de trigo aumentou a digestibilidade
aparente da gordura total.
Zhang et al. (2014) avaliaram a influência da adição de xilanase em dietas
à base trigo e soja para frangos de corte. Observaram que a digestibilidade ileal
e a digestibilidade total (realizada através da metodologia de coleta de excretas)
da proteína bruta, do amido e dos PNA’s solúveis aumentou com a utilização da
enzima. Além disso, puderam observar concentrações mais elevadas dos açúcares
simples, xilose e arabinose nos segmentos do intestino delgado, bem como melhora
no ganho de peso e conversão alimentar em aves que receberam a suplementação
enzimática.
Estes resultados sugerem que a suplementação de xilanase em dietas à base de
trigo reduz o esqueleto de arabinoxilanos em pequenos fragmentos (principalmente
arabinose e xilose) no íleo, jejuno e duodeno, diminuindo a viscosidade da digesta, e
aumentando a digestibilidade de nutrientes. Pode também reduzir o aprisionamento
(cage-effect) sobre nutrientes, principalmente do amido, da proteína e da gordura,
aumentando a digestibilidade.
Este melhor aproveitamento de nutrientes em específico refletem também na
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
77
melhora do aproveitamento energético da ração. Em estudo conduzido por MasseyO’neill et al. (2012) foi avaliada a inclusão de 16000 unidades de xilanase por kg de
ração em dietas a base de milho e farelo de soja. Foram observados maiores valores
de energia digestível ileal e energia metabolizável aparente nas dietas que foram
suplementadas, o que refletiu também nos parâmetros de desempenho, com melhor
conversão alimentar e maior ganho de peso.
A quebra dos arabinoxilanos em oligossacarídeos menores pela xilanase tem
sido relatada em recentes estudos com potencial efeito sobre a saúde intestinal,
pois pode liberar prebióticos, como o xilo-oligossacarídeos (XOS). Lei et al (2016)
demonstraram in vitro que a ação da xilanase sobre PNAs solúveis foi capaz de
liberar XOS, que favoreceram a maior proliferação de Lactobacillus brevis e Bacillus
subtilis. Em ensaios in vivo, os autores relataram melhor desempenho animal,
redução da viscosidade da digesta e de lesões no intestino delgado das aves que
receberam xilanase.
3.2 Beta-Glucanase
Beta-glucanos, são os componentes mais abundantes nos vegetais, as paredes
celulares das plantas consistem tipicamente de 35 a 50% de celulose (STICKLEN,
2008). A celulose é um beta-glucano insolúvel em água, consistindo de uma molécula
linear de até 15.000 resíduos de D-anidroglucopiranose ligados por uma ligação
β-1,4. Como descrito anteriormente, a celulose é insolúvel, fazendo parte da fração
de PNAs insolúveis, sendo que os mesmos possuem menos características de fator
antinutricional que os PNAs solúveis.
Beta-glucanos presente em cerais apresentam ligações mistas solúveis, (1,3),
(1, 4) -β-D-glucanos. As ligações 1,3 quebram a estrutura uniforme da molécula β-D-
glucana e as tornam solúvel e flexível. Alimentos como aveia e cevada são ricos em
beta-glucanos, onde consiste principalmente de unidades β-1,4 ligadas por ligações
β-1, 3 (PLANAS, 2000). Na cevada, em média, 54% do β-glucano total é solúvel, já
na aveia 80% (ÅMAN e GRAHAM, 1987). As beta-glucanases capazes de agir sobre
as ligações dos beta-glucanos solúveis são a de maior interesse na nutrição de aves.
Dentre as beta-glucanases produzidas pela indústria de nutrição animal, as que
possuem atividade β1,3-1,4, são as que possuem maior afinidade pela quebra das
moléculas de glucanos solúveis. Porém, B1,4-glucanases, também são capazes de
agir sobre as ligações de mesmo nome, reduzindo a concentração de PNAs solúveis
(PALOHEIMO et al., 2011).
A maior parte dos trabalhos disponíveis na literatura avalia a inclusão de betaglucanase em dietas à base de cevada ou aveia, muito pouco utilizadas em rações
comerciais brasileiras (SINDIRAÇÕES, 2017), devido às rações nacionais serem
formuladas utilizando com ingredientes de origem vegetal, principalmente milho e
farelo de soja. Cowieson et al. (2010) avaliaram a inclusão de 30000 unidades de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
78
glucanase/kg de ração em dietas para frangos de corte, à base de milho e farelo de
soja. Encontraram melhor conversão alimentar, melhor digestibilidade da proteína
bruta e também da energia bruta, o que refletiu diretamente na maior energia
digestível pré-cecal das dietas com inclusão da enzima.
Pode ser observada a redução da viscosidade da dieta e a melhora da taxa de
passagem em frangos com maior atividade de beta-glucanase no conteúdo intestinal,
como reportado por Sieo et al. (2005).
A inclusão da β-glucanase em dietas à base de cevada melhora o desempenho,
pode reduzir o peso do aparelho digestivo em até 13%, que representa 1% do
peso total da ave, melhorarando o rendimento da carcaça (RIBEIRO et al., 2011).
Mathlouthi et al. (2011), também relataram maior ganho de peso e melhor conversão
alimentar em aves suplementadas com beta-glucanase. Relatam ainda menor peso
relativo do intestino delgado de aves suplementadas quando comparado a aves não
suplementadas.
Efeitos sobre a modulação da microbiota são observados com a inclusão de
β -glucanase em dietas para frangos de corte, como descrito por Mathlouthi et
al. (2002), que mostraram que a adição de xilanase e beta-glucanase diminuiu o
número de E. coli, mas não o número de lactobacilos no ceco de frangos de corte
alimentados com dietas à base de trigo e cevada.
3.3 Mannanase
Os β-mananos são um grupo de carboidratos complexos, que permanecem
inalterados após tratamentos térmicos como a secagem e tostagem dos grãos de
soja (DALE, 1997). Segundo Dierick (1989), polissacarídeos como os β-mananos são
estruturas lineares compostas por repetidas ligações β-1-4 manoses, 1-6 galactoses
e unidades de glicose unidas a uma cadeia principal β-manana.
Os β-mananos estão principalmente associadas com a casca e a fração de
fibras do farelo de soja e são intimamente relacionadas a efeitos antinutricionais
devido às suas propriedades de aumentar a viscosidade, causando piora na
conversão alimentar das aves (REID, 1985). A concentração de β-mananas no farelo
de soja é de aproximadamente 1,3% a 1,7%, considerarando também o conteúdo
de β-galactomanana, essas concentrações podem se elevar para 1,83 a 2,22%
(DIERICK, 1989).
Os efeitos negativos dessas frações são provocados, principalmente, porque
eles impedem a ação de enzimas digestivas, aumentam o tempo de passagem
do alimento pelo trato gastrintestinal e reduzem a absorção de nutrientes e,
consequentemente, produzem excretas pastosas, motivos pelos quais o desempenho
animal é afetado drasticamente (SORBARA, 2008). Além disso, o aumento da
atividade microbiana promovido pelos PNA’s no intestino delgado pode causar a
desconjugação dos ácidos biliares, prejudicando o retorno dos mesmos ao fígado,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
79
e subsequente reciclagem junto à bile, resultando em uma redução na digestão das
gorduras (SMITS e ANNINSON, 1996).
Endo-β-1,4-mananase é a enzima capaz de realizar a hidrólise das ligações
β-1,4-manano, levando à despolimerização de mananas, galactomananas e galactoglicomananas. (de VRIES e VISSER, 2001). Sua ação provoca uma diminuição na
viscosidade da digesta, aumentando a acessibilidade de outras enzimas. A β-1,4mananase libera cadeias lineares e ramificadas de mananoligossacarídeo (MOS) de
vários comprimentos (KREMNICKÝ e BIELY, 1997).
Efeitos da inclusão da enzima sobre o desempenho e digestibilidade de
nutrientes têm sido relatados por diversos autores. Em experimentos com frangos
de corte utilizando uma dieta a base de milho e farelo de soja, Mcnaughton et al.
(1998), observaram que a inclusão da enzima β-mananase melhorou a energia
metabolizável e o ganho de peso, refletindo na eficiência alimentar, que aumentou
cerca de 3%.
De acordo com Shastak et al. (2015), existem vários mecanismos que podem
explicar os efeitos positivos da suplementação de ß-mananase sobre o desempenho
e a digestibilidade de nutrientes em aves. Os autores propõe que tais mecanismos
podem ser agrupados da seguinte forma: efeito na viscosidade do substrato no
intestino; libertação de D-manose como fonte de energia; supressão da proliferação
de microrganismos nocivos no intestino; efeito sobre a imunidade; e liberação de
nutrientes encapsulados no complexo gelatinoso.
4 | PROTEASE
As proteases, também chamadas de peptidases, proteinases ou enzimas
proteolíticas, são as enzimas responsáveis pela hidrólise da ligação peptídica.
De acordo com a posição de atuação no substrato, podem ser classificadas em
endoproteases (quando sua ação ocorre nas ligações peptídicas do interior das
moléculas) ou exoproteases (quando clivam aminoácidos terminais). Representam
uma família muito ampla de enzimas, com ação em diferentes tipos de oligopeptídeos
e locais de catálise da reação (ALMEIDA, 2012).
Os principais efeitos observados no aproveitamento da proteína da ração, são
a melhora da digestibilidade da dos aminoácidos, e consequentemente da proteína
e também da energia da dieta, seja pela ação suplementar das enzimas exógenas
às endógenas (JIANG et al., 2008), pela ação sobre fatores antinutricionais proteicos
(ex. fatores anti-tripsina da soja) (BARLETTA, 2011), ou pela catálise da reação de
proteínas que não são facilmente hidrolisadas no trato gastrointestinal das aves (ex.
uso de queratinases em farinha de penas) .
A fim de avaliar o efeito da protease sobre a digestibilidade da proteína da dieta,
Freitas et al. (2011) realizaram experimentos com inclusão de protease em dietas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
80
de frangos com redução de proteína e dietas com níveis normais. A suplementação
com protease melhorou a conversão alimentar e a digestibilidade da gordura e da
proteína bruta (p≤0,01), independentemente dos níveis de proteína e energia da
dieta.
Mahmood et al. (2018), utilizando frangos de corte, avaliaram diferentes
proteases, uma ácida, uma neutra e um blend (50:50) ácida e neutra em dietas à base
de resíduo de abatedouro de frangos. Foram observados melhor conversão alimentar,
digestibilidade da proteína bruta, retenção de nitrogênio e energia metabolizável
das dietas suplementadas, quando comparadas as dietas sem suplementação.
Observaram também que a mistura de proteases ácidas e neutras tiveram melhor
efeito que as proteases ácidas ou neutras suplementadas individualmente.
Lee et al. (2018), realizaram uma meta análise para avaliar o efeito da inclusão
de proteases sobre os parâmetros de desempenho e de digestibilidade aparente
de aminoácidos me animais monogástricos. O total de 67 trabalhos foi avaliado,
permitindo a estimativa de melhoria na taxa de conversão alimentar, de 1%, e
maior digestibilidade aparente para a maioria dos aminoácidos, variando de 1,22%
(arginina) à 2,64% (cistina).
Os efeitos benéficos da protease exógena podem estar relacionados tanto à
maior digestibilidade de proteínas e energia quanto à melhora das características
morfológicas do intestino, da dinâmica secretora e absortiva e da resiliência
imunológica (COWIESON, 2016).
5 | CONCLUSÕES
A utilização de enzimas na nutrição de frangos de corte tornou-se prática comum
da indústria, devido a essa prática promover melhor aproveitamento do fósforo e
de outros nutrientes dos ingredientes, a possibilidade de utilização de alimentos
alternativos ao milho e o farelo de soja na alimentação das aves com maior eficiência,
a melhora dos parâmetros produtivos e consequentemente nos custos de produção,
bem como a diminuição do impacto ambiental da atividade. Além disso, tendo em vista
o banimento completo do uso de antibióticos como melhoradores de desempenho, a
utilização de enzimas exógenas aparece como uma das possíveis estratégias a ser
adotada para modulação da microbiota intestinal, como demonstrado por recentes
estudos.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 9
84
CAPÍTULO 10
ESTRATÉGIAS DE DESMISTIFICAÇÃO E
INDUSTRIALIZAÇÃO DA CARNE DE COELHO NO
PAÍS
Ana Carolina Kohlrausch Klinger
Universidade Federal de Santa Maria,
Departamento de Zootecnia, Santa Maria – RS
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo
demonstrar as potencialidades da carne de
coelho e traçar estratégias de desmistificação
e industrialização da mesma. Neste sentido,
é possível aliar o marketing com a crescente
demanda dos consumidores por produtos
saudáveis, junto aos fatos de o coelho
possuir carne branca, rica em proteínas e da
criação poder ser efetuada de forma orgânica.
Adaptar-se à praticidade que o consumidor
deseja também é uma forma de aumentar o
consumo dos produtos cunícolas. Propostas
de produtos processados e pré-cozidos, como
hambúrgueres, pode ser uma alternativa viável
para a cadeia se adaptar às necessidades da
vida moderna. Permitir que o cunicultor possa
comercializar a carne dos animais também
auxiliaria muito na difusão dos produtos, assim
como a formação de cooperativas, em que a
produção pode ser feita em pequena escala.
Introduzir a carne de coelho na merenda escolar
seria outra estratégia para difundir a carne de
coelho à nova geração de brasileiros. Ainda com
a finalidade de fomentar o desenvolvimento da
agricultura familiar local, esses cortes poderiam
ser adquiridos de cooperativas locais, o que
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
incentivaria os agricultores a criar coelhos.
Conclui-se que a cunicultura no Brasil tem
potencial de crescimento. No entanto, a
produção familiar com comercialização local é
o sistema produtivo que em curto prazo poderia
se desenvolver e articular com mais facilidade. A
cunicultura industrial também apresenta grande
potencial, no entanto em médio e longo prazo,
já que, seria necessária maior articulação com
os demais elos da cadeia.
PALAVRAS-CHAVE: Cunicultura, Produtos
cárneos, Tecnologia.
STRATEGIES FOR DEMISTIFICATION AND
INDUSTRIALIZATION OF RABBIT MEAT
ABSTRACT: The aim of this work is to
demonstrate the potentialities of rabbit meat
and the strategies for its industrialization. In
this sense, it is possible to use marketing with
the growing consumer demand for healthy
products, along with the facts that the rabbit
has white meat and is rich in proteins and that
the breeding can be done in an organic system.
Adapting to the practicality that the consumer
wants is also a way to increase the consumption
of the products. Processed and pre-cooked
baked goods, such as burgers, can be a viable
alternative for the chain to adapt to the needs of
modern life. Allowing the rabbit farmer to market
Capítulo 10
85
the meat of the animals would also help greatly in the diffusion of the products, as
well as the formation of cooperatives, where production can be done on a small scale.
Introducing rabbit meat in school meals would be another strategy to spread rabbit
meat to the new generation of Brazilians. In order to further the development of local
family farming, these cuts could be purchased from local cooperatives, which would
encourage farmers to raise rabbits. It is concluded that rabbit breeding in Brazil has
potential for growth. However, family production with local marketing is the productive
system that could develop in the short term and articulate more easily. The industrial
rabbit also has great potential, however in the medium and long term, since it would
require greater articulation with the other links in the chain.
KEYWORDS: Cuniculture, Meat products, Technology.
1 | INTRODUÇÃO
O consumo de carne está relacionado a padrões de vida, dieta, produção
pecuária, preços, à maiores rendimentos e a uma mudança – devido à urbanização –
no consumo de alimentos que favorecem o aumento de proteínas de origem animal
nas dietas. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OECD, 2018), o brasileiro consumiu no ano de 2017, mais de 75kg de
carne (apenas de aves, bovinos, ovinos e suínos), por habitante.
Neste cenário, é cada vez mais importante contar com as possibilidades de
criação racional de animais que possam alcançar altas taxas de reprodução e de
produtividade, mesmo em pequena área útil, como o coelho (MACHADO; FERREIRA,
2011). Desta forma, o coelho pode ser considerado animal estratégico, e a cunicultura
atividade produtiva sustentável.
No entanto, mesmo apresentando elevada prolificidade e produtividade, carne
de altíssima qualidade nutricional, o consumo e a produção da carne de coelho são
pouco expressivos no Brasil. Dentre os fatores para o baixo consumo, destacamse a falta de hábito da população, poucos pontos de distribuição dos produtos,
reduzido número de cortes e o desconhecimento das propriedades deste produto
(SANTOS, 2010). Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo demonstrar as
potencialidades da carne de coelho bem como traçar estratégias de desmistificação
e industrialização da mesma.
2 | DESENVOLVIMENTO
A desmistificação das propriedades da carne do coelho, bem como o marketing,
não se reduz apenas às campanhas publicitárias de determinado produto ou serviço,
carne e pele, por exemplo. Montero, Escribá e Butirago (2015) consideram o marketing
como a união da ciência e da técnica, que, seguindo uma metodologia de trabalho e
objetivos, tende a vender mais.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 10
86
A crescente demanda dos consumidores por produtos saudáveis, junto aos
fatos de o coelho possuir carne branca e rica em proteínas e de a criação poder
ser efetuada de forma orgânica, torna possível pensar no coelho como animal
estratégico (MACHADO e FERREIRA, 2011). No entanto, o consumidor precisa
receber mais informações sobre os benefícios nutricionais desse produto, o que
poderia ser viabilizado através de um trabalho de marketing estratégico, assim como
foi incentivado o consumo da carne suína há alguns anos (SORDI et al., 2016).
Adaptar-se à praticidade que o consumidor moderno deseja também é uma
forma de aumentar o consumo dos produtos cunícolas. Propostas de produtos como
hambúrgueres de coelhos (Figura 1) e coelho pré-pronto (Figura 2) podem ser uma
alternativa viável para a cadeia se adaptar às necessidades de consumidores de
fast-food ou “cozinha-fácil” que hoje representam em torno de um terço da população
(MONTERO, ESCRIBÁ e BUTIRAGO, 2015).
Figura 1- Hambúrguer de coelho.
Fonte: MONTERO, ESCRIBÁ e BUTIRAGO (2015).
Figura 2 Coelho pré-pronto.
Fonte: MONTERO, ESCRIBÁ e BUTIRAGO (2015).
Também é necessário salientar que a cultura brasileira vem nas últimas décadas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 10
87
se afastando da ruralidade e tendo outro olhar (mais limitado) da produção animal.
Por isso, não seria inteligente (do ponto de vista de promoção do produto) colocar
a foto de coelhos nas embalagens dos produtos cárneos cunícolas. Promover os
produtos com slogans como: “produto saudável”, “bom para o coração”, “rico em
proteína” e “não contém carboidratos”; seriam mais apropriados para aumentar a
venda.
Iniciativas como permitir que o cunicultor possa comercializar a carne dos
animais também auxiliaria muito na difusão dos produtos cunícolas. Países como
a Espanha entendem a importância da soberania do produtor sobre seu sistema
produtivo e estão possibilitando que os cunicultores possam abater até 300 coelhos
semanais e comercializar em um raio de até 80km (SÁNCHEZ e CASTELÓ, 2016).
Em conferência, José Alejo Alcántara, chefe dos serviços de inspeção veterinária e
nutrição, se posicionou sobre essa iniciativa dizendo que “os produtores têm direito
de ganhar sua vida dignamente”.
Infelizmente, o Brasil ainda está longe de ceder soberania produtiva aos
cunicultores, burocratizando cada vez mais as atividades rurais. Desse modo, uma
das alternativas seria a formação de cooperativas, em que a produção poderia ser
feita em pequena escala. Existem máquinas capazes de auxiliar os produtores nos
processos mais trabalhosos, como a retirada da pele (Figura 3).
Figura 3 - Extratora de peles da marca MEVIRSA.
Também são válidas estratégias governamentais que viabilizem implantações
da cunicultura como forma de reduzir a pobreza e a desnutrição e, ainda, de promover
o desenvolvimento da cunicultura sustentável. Essas iniciativas já foram testadas
em diversos países como cita Khalil (2010) no seu trabalho:
Na Arábia Saudita, um projeto nacional de produção de coelhos foi estabelecido
para detectar as possibilidades de produzir coelhos de carne sob condições
industrializadas e quentes. [...] Foram dadas especial ênfase à construção de
um programa de melhoramento genético para desenvolver novas linhas de
coelhos de carne convenientes para este país quente em desenvolvimento. [...]
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 10
88
Na Argélia, uma tentativa de introduzir variedades selecionadas e desenvolver
a produção de carne de coelho na década de 80 falhou por causa de muitos
fatores, entre os quais a falta de conhecimento do animal, a ausência de um
alimento industrial adaptado, a ausência de programa profilático. Posteriormente,
a estratégia de desenvolvimento desta espécie foi baseada em o uso e
atualização de populações locais. [...] Assim, desde 1990, a Institut Technique de
l’Elevage (ITELV) e alguns universidades, especialmente a de Tizi Ouzou, criaram
programas de caracterização destes populações e controle de suas performances
produtivas. Eles destacaram os defeitos destas populações, nomeadamente
a sua prolificidade demasiado fraca e o seu baixo peso adulto, mas também
suas qualidades, ou seja, uma boa adaptação às condições climáticas locais.
(KHALIL, 2010).
Introduzir a carne de coelho na merenda escolar seria uma excelente estratégia
para difundir para à nova geração de brasileiros o “gosto” pela carne de coelho.
Nesse viés, mensalmente (ou semanalmente) poderiam ser oferecidos às crianças
pratos contendo carne de coelho. Esses pratos também poderiam ser oferecidos
mais frequentemente às crianças alérgicas a outras fontes proteicas. Ainda com a
finalidade de fomentar o desenvolvimento da agricultura familiar local, esses cortes
poderiam ser adquiridos de cooperativas locais, o que incentivaria os agricultores a
criar coelhos (já que não dependeriam dos frigoríficos para comercializarem seus
produtos). Projetos como o Pró-frango e o Pró-peixe desenvolvidos pela Emater
para o fortalecimento da agricultura familiar e diversificação de renda também
poderiam se estender à cunicultura. Assim, o escoamento da produção seria
garantido, a assessoria técnica seria constante e os entraves para a comercialização
se minimizariam.
3 | CONCLUSÃO
A cunicultura no Brasil tem potencial de crescimento. No entanto, a produção
familiar com comercialização local é o sistema produtivo que em curto prazo poderia
se desenvolver e articular com mais facilidade. A cunicultura industrial também
apresenta grande potencial, no entanto em médio e longo prazo, já que, seria
necessária maior articulação com os demais elos da cadeia.
REFERÊNCIAS
KHALIL, M. H. Sustainable rabbit breeding and genetic improvement programs achieved in
developing countries. In: 9TH WORLD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK
PRODUCTION, 2010, Leipzig, Alemanha. Anais… Leipzig, DE: 2010.
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Acesso em: 01 jun. 2019.
MACHADO, L. C.; FERREIRA, W. M. A Cunicultura e o Desenvolvimento Sustentável. Associação
Científica Brasileira de Cunicultura, 2011. Disponível em: <http://acbc.org.br/site/index.php/notastecnicas/a-cunicultura-e-o-desenvolvimento-sustentavel> Acesso em: 20 abr. 2019.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 10
89
MONTERO, L.; ESCRIBÁ, C.; BUTIRAGO, J. M. El marketing como propuesta para incrementar el
consumo de carne de conejo (III). Boletín de Cunicultura, v. 174, p. 34-42, 2015.
SÁNCHEZ, D.; CASTELLÓ, F. Sacrificio de conejos en la própria expolotácion y venta directa:
“Nadie he solicitado sacrificar más de 300 conejos por semana”. Disponível em: <http://cunicultura.
com/2015/09/preguntas-frecuentes-sobre-el-sacrificio-de-conejos-en-la-propia-explotacion-y-ventadirecta> Acesso em: 20 abr. 2019.
SANTOS, F. B. Cunicultura: análise de viabilidade de gerar uma empresa voltada para criação de 500
coelhos por mês em Feira de Santana, Bahia. 2010. 93p. Monografia (Bacharel em Administração).
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2010.
SORDI, V. F. et al. Estratégia de diversificação em propriedades rurais: o caso da cunicultura. Revista
Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, PB, v. 18, n. 3, p. 325-333, 2016.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 10
90
CAPÍTULO 11
PEPTÍDEOS BIOATIVOS NO DESENVOLVIMENTO
DE FILMES ATIVOS E BIODEGRADÁVEIS PARA
ALIMENTOS
Josemar Gonçalves Oliveira Filho
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - Unesp, Araraquara, São Paulo.
Heloisa Alves de Figueiredo Sousa
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Brasília, Campus Planaltina,
Brasília, DF.
Edilsa Rosa da Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Brasília, Campus Planaltina,
Brasília, DF.
Mariana Buranelo Egea
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde, Rio
Verde, Goiás.
proteínas para liberação de peptídeos bioativos
e a aplicação desses biocompostos em filmes
ativos e biodegradádáveis para alimentos.
Neste capítulo, a hidrólise enzimática é
apresentada como um bioprocesso adequado
para obtenção de peptídeos bioativos, e suas
características antioxidantes e antimicrobianos
desses compostos são discutidas. Por fim,
as embalagens biodegradáveis e ativas são
conceituadas e o estado da arte da aplicação de
hidrolisados proteicos em filmes biodegradáveis
para alimentos é apresentado.
PALAVRAS-CHAVE:
Embalagens
ativas,
Biocompostos, Enzimas
BIOACTIVE PEPTIDES IN DEVELOP ACTIVE
RESUMO: As embalagens de alimentos
derivadas de petróleo representam um sério
problema ambiental, e encontrar soluções
sustentáveis que sejam alternativas é uma
necessidade atual. Embalagens biodegradáveis
e ativas são uma tecnologia que envolve a
impregnação de material de filme biopolimérico
com um aditivo que é liberado durante um
período estipulado para evitar a deterioração
dos alimentos. O aditivo pode ser baseado
em produtos naturais, tornando-se uma
tecnologia verde promissora para a indústria
alimentícia. O objetivo deste capítulo foi
revisar o potencial da hidrólise enzimática de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
AND BIODEGRADABLE FILMS FOR FOOD
ABSTRACT: Packaging of food derived from
petroleum represents a serious environmental
problem, finding alternative sustainable solutions
is a current need. Biodegradable and active
packaging is a promising alternative technology
that involves impregnating biopolymer film
material with an additive that is released
consistently for a period stipulated to prevent
spoilage of food. The additive can be based on
natural products, making it a promising green
technology for the food industry. The objective
of this chapter was to review the potential of the
Capítulo 11
91
enzymatic hydrolysis of proteins for the release of bioactive peptides and the application
of these biocompounds in active and biodegradable films for food. In this chapter,
enzymatic hydrolysis is presented as a suitable bioprocess for obtaining bioactive
peptides, and the antioxidant and antimicrobial characteristics of such compounds are
discussed. Finally, biodegradable and active packaging is conceptualized and the state
of the art of applying protein hydrolysates in biodegradable food films is presented.
KEYWORDS: Active packaging, Biocomposites, Enzymes.
1 | INTRODUÇÃO
As proteínas, além de apresentarem propriedades nutricionais, tecnológicas
e funcionais, podem apresentar propriedades antimicrobianas, antioxidante,
antihipertensivas, imunomoduladoras e outras, associada a peptídeos bioativos que
são somente liberados após o processo de hidrólise proteica (CORRÊA et al., 2011).
Os peptídeos bioativos foram definidos como fragmentos específicos de proteínas
que têm um impacto positivo nas funções ou condições do corpo e podem influenciar
a saúde (SHAHIDI; ZHONG, 2008).
Os peptídeos bioativos são inativos enquanto criptografados na sequência
nativa da proteína, mas podem ser liberados por (a) hidrólise por enzimas digestivas,
(b) micro-organismos proteolíticos e/ou (c) ação de proteases vegetais, animais
ou microbianas (BRANDELLI et al., 2017). Entretanto, a forma mais utilizada
para obtenção de peptídeos bioativos in vitro é através da hidrólise enzimática de
moléculas de proteína (OPHEIM et al., 2015).
Neste bioprocesso, os fatores que mais afetam as propriedades bioativas
dos peptídeos gerados são a fonte inicial de proteína, as condições operacionais
empregadas no processamento de isolados proteicos, o tipo de protease e o grau de
hidrólise (Agyei et al., 2016). Atualmente já foram identificados peptídeos bioativos
a partir de hidrolisados de inúmeras proteínas de origem alimentar, especialmente
derivadas do leite. No entanto, proteínas que exibem essas atividades biológicas
podem também ser encontradas em ovos, na carne e em peixes, bem como em
diferentes fontes vegetais de proteínas, como soja, trigo, entre outras (AGYEI,
APOSTOLOPOULOS; DANQUAH, 2011).
Uma oportunidade inovadora para explorar o potencial dos peptídeos bioativos
é o desenvolvimento de filmes ativos e biodegradáveis para alimentos a fim de
garantir a segurança e qualidade desses produtos (PEREZ-ESPITIA et al., 2012). Os
biopolímeros têm sido amplamente investigados nas últimas duas décadas, podendo
ser uma solução viável para a eliminação de resíduos de materiais de embalagem
plásticos de alimentos. Além disso, os filmes biopoliméricos são excelentes
veículos para incorporar grande variedade de aditivos, como antioxidantes, agentes
antimicrobianos e nutrientes, e esses materiais biodegradáveis podem melhoram
a qualidade dos alimentos e prolongar a vida útil, minimizando a deterioração
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
92
(ABDOLLAHi et al., 2012)
Neste capítulo, a hidrólise enzimática é apresentada como um bioprocesso
adequado para obtenção de peptídeos bioativos, e as características antioxidantes
e antimicrobianos desses compostos são discutidas. Por fim, as embalagens
biodegradáveis e ativas são conceituadas e o estado da arte da aplicação de
hidrolisados proteicos em filmes biodegradáveis para alimentos é apresentado.
2 | HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE PROTEÍNAS ALIMENTARES
Entre os processos utilizados para agregar valor aos produtos e resíduos
com elevado teor de proteínas, a hidrólise pode ser considerada como uma técnica
promissora. Este método consiste na clivagem de moléculas de proteína em
peptídeos de vários tamanhos e composições de aminoácidos diferentes, podendo
ser realizada por ácidos, bases ou enzimas. No entanto, o uso de enzimas permite
um controle melhor e mais eficiente sobre o processo de hidrólise de proteínas
(KRISTINSSON; RASCO, 2000; TONON et al., 2016).
Durante a hidrólise, as proteínas geralmente tornam-se mais solúveis, devido
à clivagem das ligações peptídicas entre os aminoácidos, gerando peptídeos com
um tamanho molecular menor e com mais grupos amino e carboxilo ionizáveis,
que provavelmente contribuem para a solubilidade. Além disso, durante a hidrólise
enzimática propriedades físico-químicas como pI, pKa e momento hidrofóbico também
são afetadas (AGYEI et al., 2016)thereby influencing health positively. These peptides
have attracted high research and consumer interests due to their huge potential of
use in functional foods and other dietary interventions of disease control and health
promotion. However, successful product development is limited by the fact that
current manufacturing processes are either difficult to scale up, high in cost, or have
the potential to affect the structure-activity properties of these peptides. To overcome
these challenges, we have proposed in this review, the use of an integrated ‘-omics’
approach comprising in silico analysis and ‘-omics’ techniques (such as peptidomics.
O processo de hidrólise enzimática é realizado pela atividade de enzimas
em determinadas temperaturas em um intervalo de tempo definido. Muitos fatores
influenciam as propriedades e os constituintes do hidrolisado final, como por exemplo,
composição e variação de matérias-primas, especificidade, tempo de reação,
atividade e concentração de enzimas endógenas, pH e temperatura (OPHEIM et
al., 2015). O tipo de enzima utilizada na hidrólise enzimática de proteínas é muito
importante porque dita os padrões de clivagem das ligações peptídicas (SHAHIDI;
ZHONG, 2008). Muitas proteases de origem animal, vegetal e microbiana podem
ser usadas para a geração de peptídeos bioativos a partir de proteínas (NAJAFIAN;
BABJI, 2012).
A fim de aumentar a eficiência da hidrólise, além de fazer a escolha correta da
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
93
enzima, também é possível aumentar a eficiência da própria enzima ou aumentar a
sua sensibilidade ao substrato por desnaturação (TAVANO, 2013). A desnaturação
implica no desdobramento da molécula de proteína e a exposição dos locais de
ligação. As mudanças nas condições, como temperatura, pressão, pH, sal ou
concentração de solvente podem provocar a desnaturação de proteínas, mas a
desestabilização de proteínas nativas por altas temperaturas é a ferramenta favorita
para desnaturar moléculas de proteína (FRANKS, HATLEY; FRIEDMAN, 1988;
TEDFORD et al., 1998).
Segundo Tavano (2013), o tratamento térmico pode alterar a acessibilidade
do substrato para hidrólise, melhorando a velocidade de proteólise e também pode
alterar o perfil de hidrolisados. As proteínas da carne de peito de frango tratadas
termicamente apresentaram diferentes frações proteicas após hidrólise com
Alcalase® (CUI et al., 2009).
3 | PEPTÍDEOS ANTIMICROBIANOS
Os peptídeos antimicrobianos (PAMs) são geralmente definidos como peptídeos
com peso molecular menor do que 100 kDa, de caráter básico devido à presença
de aminoácidos carregados positivamente, tais como lisina e arginina, juntamente
com uma porção substancial dos resíduos hidrofóbicos. As propriedades estruturais
e físico-químicas dos PAMs desempenham um papel essencial na determinação da
sua especificidade para as células alvo (PUSHPANATHAN et al., 2013).
Curiosamente, muitos PAMs mostram bioatividades adicionais tais como
atividades antioxidantes, imunomoduladoras e atividade de cicatrização de feridas.
Estas propriedades dos PAMs os tornam melhores alternativas para antibióticos
convencionais que têm registrado muita resistência entre bactérias patogênicas
(DALIRI et al., 2017).
Os PAMs podem agir contra uma ampla variedade de microrganismos
patogênicos, tais como bactérias, fungos e vírus (TREFFERS et al., 2005). O
mecanismo de ação dos PAMs geralmente envolve mudanças nas membranas
biológicas. Inicialmente, ocorre atração eletrostática entre as moléculas de peptídeos,
geralmente carregadas positivamente, e os lipídeos aniônicos encontrados na
superfície da membrana plasmática microbiana. Em seguida, devido à estrutura
anfipática destes peptídeos, a interação entre os peptídeos e a superfície da
membrana ocorre, com posterior degradação estrutural da membrana plasmática
através da formação de canais de íons ou por produção de poros transmembranares.
Este processo provoca um desequilíbrio de conteúdos celulares, desregulando
desse modo o processo de replicação, transcrição e tradução da sequência de DNA
através da ligação a alvos intracelulares específicas, evitando a multiplicação e o
crescimento das células microbianas (NAGHMOUCHI et al., 2007; ZHAO et al.,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
94
2012).
A maioria dos PAMs que geram benefícios à saúde são sintetizados pelas
células do próprio organismo e outros são produzidos a partir da hidrólise de
proteínas alimentares in vitro por proteases de diferentes origens (animais, plantas
e microrganismos) ou in vivo por enzimas proteolíticas no trato gastrointestinal
(BIZIULEVIČIUS et al., 2006, FRANCO, 2011).
A hidrólise das proteínas Scorpaena notata com uma protease neutra de
Trichoderma harzianum liberou peptídeos com atividades antibacterianas notáveis.
O peptídeo FPIGMGHGSRPA foi isolado do hidrolisado e os autores verificaram
que ele inibe Bacillus subtilis, Bacillus cereus, Listeria innocua, Salmonella sp. e E.
coli (TANG et al., 2017). Em outro estudo, o peptídeo CgPep33 isolado a partir do
hidrolisados de ostra do Pacífico (Crassostrea gigas) apresentou elevada atividade
inibitória contra Botrytis cinerea, agente etiológico do mofo cinzento em morangos.
Estes resultados sugerem que esse peptídeo deve fornecer uma alternativa aos
fungicidas para o controle de doenças pós-colheita (LIU et al., 2007).
4 | PEPTÍDEOS ANTIOXIDANTES
A oxidação de lipídios mediada por radicais livres, o estresse oxidativo e os
antioxidantes são amplamente discutidos em muitas áreas de pesquisa atuais.
A geração descontrolada de radicais livres que atacam lipídios da membrana,
proteínas e moléculas de DNA esta envolvida em muitos transtornos de saúde como
Diabetes mellitus, câncer, doenças neurodegenerativas e inflamatórias. Além disso,
a deterioração de alguns alimentos foi relacionada a oxidação de lipídios e pela
formação de produtos secundários de peroxidação lipídica (SILA; BOUGATEF, 2016).
Os antioxidantes são utilizados para atrasar, controlar ou inibir a oxidação
e a deterioração da qualidade dos alimentos (SHAHIDI, 2015). Os antioxidantes
sintéticos tais como hidroxianisol butilado (BHA), hidroxitolueno butilado (BHT), galato
de propilo (PG) e terc-butilhidroquinona (TBHQ) foram utilizados como antioxidantes
primários para estabilizar os radicais livres e controlar a oxidação e o desenvolvimento
de sabor desagradável. No entanto, um interesse mais recente se concentrou no
estudo de antioxidantes naturais devido à toxicidade e aos efeitos cancerígenos
de alguns antioxidantes sintéticos (SHAHIDI, 2015, WANG, ZHAO; WANG, 2013).
Portanto, nos últimos anos, há um grande interesse em encontrar novos compostos
antioxidantes seguros e de fontes naturais para seu uso em alimentos e fármacos
para substituir os antioxidantes sintéticos (SILA; BOUGATEF, 2016).
Nas últimas décadas, vários estudos relataram que os hidrolisados de proteínas
de diferentes fontes alimentares, além de suas propriedades nutricionais, exibiram
várias funções biológicas, incluindo antioxidantes (VAŠTAG et al., 2011; SAIDI et al.,
2011; ZAREI et al., 2012; VIEIRA et al., 2017).
A digestão enzimática é o método mais eficiente e confiável para produzir
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
95
peptídeos com atividade antioxidante. Uma ampla variedade de peptídeos
antioxidantes e misturas de peptídeos foram obtidas a partir da hidrólise enzimática
de proteínas de soja, milho, batata, amendoim, leite, soro de leite, ovo e proteínas
de carne. A ação antioxidante dos hidrolisados proteicos depende da fonte das
proteínas, do pré-tratamento do substrato proteico, do tipo de proteases utilizadas e
das condições de hidrólise aplicadas. As enzimas puras e brutas podem ser usadas
para produzir peptídeos antioxidantes. No entanto, para reduzir o custo de produção,
preferem-se as misturas de enzimas brutas (ZAREi et al., 2012).
Segundo Liu e colaboradores (2016), a maioria dos peptídeos antioxidantes
possui entre 4 e 16 aminoácidos, com massa molecular de cerca de 400-2000 Da.
O peso molecular afeta as rotas usadas para alcançar os locais alvo e a capacidade
de sofrer digestão adicional por enzimas gastrointestinais que poderiam aumentar a
capacidade antioxidante in vivo (LI et al., 2004).
O tipo de aminoácido desempenha um papel importante na determinação da
atividade antioxidante dos peptídeos. A este respeito, os aminoácidos aromáticos
como Tyr, His, Trp e Phe podem doar prótons contribuindo para as propriedades de
eliminação de radicais. Por outro lado, os aminoácidos hidrofóbicos foram descritos
como relevantes por aumentar a presença de peptídeos na interface água-lipídio e,
em seguida, acessar os radicais livres de eliminação da fase lipídica. Finalmente, os
aminoácidos carregados utilizam grupos carbonilo e amino da cadeia lateral como
quelantes de íons metálicos (TOLDRÁ et al., 2017).
5 | FILMES BIODEGRADÁVEIS E ATIVOS PARA ALIMENTOS
As contaminações associadas à embalagem de alimentos e as preocupações
crescentes atuais relacionadas ao impacto ambiental negativo dos materiais de
embalagem derivados do petróleo geraram um interesse significativo da indústria em
materiais de fontes naturais e biodegradáveis (MEDINA-JARAMILLO et al., 2017).
Os filmes biodegradáveis são camadas finas de materiais biológicos, que
uma vez formados podem ser colocados em - ou entre - os componentes de
alimentos. Os materiais mais comuns para a formulação de filmes biodegradáveis
são polissacarídeos, proteínas e lipídios, e a combinação destes permite produzir
misturas com características melhoradas (FABRA et al., 2009).
A demanda atual dos consumidores por produtos alimentícios com maior vida
de prateleira torna necessário o desenvolvimento de materiais de embalagem que
também sejam funcionais, como embalagens com compostos ativos que podem
melhorar a qualidade dos produtos, contribuindo ainda mais para o valor nutricional
do alimento. Neste sentido, vários pesquisadores investigaram o uso de antioxidantes
(SHOJAEE-ALIABADI et al., 2013; SIRIPATRAWAN; HARTE, 2010), ou agentes
antimicrobianos em matrizes poliméricas (PIRES et al., 2008; SIVAROOBAN et al.,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
96
2008; SANTIAGO-SILVA et al., 2009), obtendo a chamada “embalagem ativa”.
Embalagens ativas são atualmente uma das tecnologias mais dinâmicas usadas
para preservar a qualidade dos alimentos através da liberação de agentes ativos por
uma embalagem. A liberação de agentes ativos pode ser controlada por um longo
período de tempo para manter ou aumentar a qualidade e vida de prateleira de
produtos, sem a necessidade de adição direta de quaisquer substâncias ao alimento
(AHMED et al., 2017).
Estudos recentes têm relatado a incorporação de peptídeos como ingredientes
ativos diretamente em materiais biopoliméricos, especialmente as bacteriocinas,
como a nisina, que são peptídeos antimicrobianos produzidos por algumas bactérias
(PEREZ ESPITIA et al., 2012). Polímeros como acetato de celulose, alginato,
quitosana e proteína de soja, entre outros, tem sido amplamente utilizados para
desenvolver filmes com incorporação direta destes antimicrobianos (MARCOS et al.,
2008; PIRES et al., 2008; SIVAROOBAN et al., 2008; SANTIAGO-SILVA et al., 2009).
6 | APLICAÇÃO DE HIDROLISADOS PROTEICOS COMO AGENTES BIOATIVOS
EM FILMES BIODEGRADÁVEIS E ATIVOS
Pesquisas tem se concentrado em disponibilizar peptídeos bioativos como
agentes ativos em embalagens ativas de alimentos. A adição desses compostos pode
conferir atividade antioxidante e antimicrobiana aos filmes e ter um efeito positivo ou
negativo nas várias propriedades do sistema (como óptica, tração, etc.) (ROSTAMI
et al., 2017; OLIVEIRA FILHO et al. 2019; SALGADO et al., 2011; GIMÉNEZ et al.
2009).
Rostami, Motamedzadegan, Hosseini, Rezaei e Kamali (2017) observaram
que a adição de hidrolisado protéico de carpa prata em filmes de gelatina de peixe
aumentou a atividade antioxidante medida pelos métodos DPPH e ABTS, e a potência
antioxidante redutora de ferro (FRAP), o alongamento na ruptura, a diferença de cor,
a permeabilidade ao vapor de água e opacidade, enquanto a resistência à tração,
módulo de elasticidade e ângulo de contato diminuíram acentuadamente (p<0,05).
Filmes preparados com 20% de hidrolisado apresentaram menor temperatura
de transição vítrea e estrutura mais homogênea, em comparação com o filme de
controle. Além disso, a espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier
(FTIR) confirmou o aumento de grupos livres de hidrolisados e menor interação entre
cadeias de filmes incorporados ao maior teor de hidrolisado. Assim, os resultados
indicaram que o hidrolisado potencializou as atividades antioxidantes e afetou
algumas características devido à menor interação com a gelatina.
Em outro estudo, Oliveira Filho et al. (2019), demonstraram que a adição do
hidrolisado proteico de subproduto do algodão em filmes de alginato aumentou as
propriedades de barreira contra a luz visível, e a cor do filme tornou-se mais escura,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
97
avermelhada e amarelada. O conteúdo fenólico total e a atividade antioxidante
(testados pelos métodos DPPH, FRAP e ABTS) também aumentaram. Os filmes com
hidrolisado mostraram efeito inibitório sobre Staphylococcus aureus, Colletotrichum
gloeosporioides e Rhizopus oligosporus mas não contra Escherichia coli. Em testes de
migração em meio aquoso, os filmes ativos liberaram mais de 60% de seus peptídeos
em 30 min. Entretanto, houve uma difusão controlada e gradual dos compostos
incorporados no simulador de alimentos gordurosos. Os resultados mostraram que
os filmes de alginato com hidrolisado proteico de subproduto do algodão apresentam
potencial para aplicação como embalagem ativa para preservação de alimentos
gordurosos.
A adição de hidrolisados de plasma bovino também melhorou as propriedades
antioxidantes de filmes à base de proteínas de soja e girassol (SALGADO et al.,
2011). Giménez et al. (2009) demonstraram que a incorporação de porcentagens
crescentes de hidrolisados de gelatina em filmes de gelatina de pele de lula aumentou
a atividade antioxidante dos filmes, medida pela capacidade de redução de ferro
(método FRAP) e a capacidade de eliminação do ABTS radical.
Filmes compósitos de quitosana e hidrolisado proteico de colza com 12% de
grau de hidrólise apresentaram melhor atividade antibacteriana contra Escherichia
coli, Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis comparados com o filme de quitosana.
Este estudo criou a possibilidade para a aplicação prática de filme composto de
quitosana e hidrolisado proteico de colza em embalagens antimicrobianas de
alimentos (ZHANG et al., 2019).
7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hidrólise enzimática mostrou-se como uma técnica eficiente para obtenção
de peptídeos com atividade antioxidante e antimicrobiana que apresentam potencial
para aplicações na área de alimentos. Os hidrolisados proteicos representam
um ingrediente interessante para embalagens biodegradáveis de alimentos,
principalmente devido à sua origem natural e propriedades funcionais (antioxidantes/
antimicrobianas), fornecendo materiais ativos visando prolongar o prazo de validade
e agregar valor ao produto. No entanto, a sua inclusão em filmes comestíveis/
biodegradáveis para embalagem de alimentos pode causar algum impacto positivo
ou negativo nas várias propriedades do sistema (como óptica, tração, etc.) e, por
sua vez, afetar a aceitabilidade do consumidor. Apesar dos resultados promissores,
pesquisas utilizando sistemas alimentares, são necessárias para confirmar o efeito
desses materiais nas propriedades físico-químicas e sensoriais dos alimentos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
98
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 11
102
CAPÍTULO 12
PERSPECTIVAS DE APLICAÇÃO DE SOFOROLIPÍDIO
MICROBIANO NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Christiane Aparecida Urzedo de Queiroz
Departamento de Bioquímica e Biotecnologia,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina –
PR
Victória Akemi Itakura Silveira
Departamento de Bioquímica e Biotecnologia,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina –
PR
Amanda Hipólito
Departamento de Bioquímica e Biotecnologia,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina –
PR
Maria Antonia Pedrine Colabone Celligoi
Departamento de Bioquímica e Biotecnologia,
Universidade Estadual de Londrina, Londrina –
PR
RESUMO: Devido à crescente preocupação
ambiental, a procura por alternativas de produtos
naturais que possam ser utilizados como
aditivos alimentares tem aumentado, abrindo
uma nova oportunidade aos surfactantes
produzidos por microrganismos. O soforolipídio
é um biossurfactante produzido principalmente
pela levedura Starmerella bombicola, que se
destaca por apresentar alta produtividade. O
soforolipídio tem capacidade emulsificante,
atividade antimicrobiana e antiadesiva, que são
características com potencial para aplicação na
indústria de alimentos. Sendo assim, o objetivo
dessa revisão foi descrever a produção e
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
caracterização de soforolipídio e as potenciais
aplicações na indústria de alimentos.
PALAVRAS-CHAVE: soforolipídio, Starmerella
bombicola,
alimentos,
antimicrobiano,
emulsificante.
ABSTRACT: Due to an environmental
concern, a search for alternatives and natural
products that can be utilized as food additives
has increased, opening a new opportunity
for surfactants produced by microorganisms.
Sophorolipid is a biosurfactant produced by
the yeast Starmerella bombicola, highlighting
its high productivity, emulsifying capacity,
antimicrobial and antiadhesive activities, which
are characteristics with potential applications
in the food industry. Therefore, the aim of
this review was to describe the production
and characterization of sophorolipid and the
perspective applications in the food industry.
KEYWORDS:
sophorolipid,
Starmerella
bombicola, food products, antimicrobial,
emulsifier.
1 | INTRODUÇÃO
A
indústria
de
alimentos
está
em
constante procura por novos aditivos com
capacidades de atuar como espessante e
estabilidade para seus produtos, buscando
Capítulo 12
103
também outras propriedades de valor agregado, como alimentos funcionais com
atividades antioxidantes e antimicrobianas (BARROS et al., 2007).
Um composto de bastante utilidade no setor, são os surfactantes. Esses
compostos são capazes de alterar as propriedades superficiais e interfaciais de um
líquido, o que permite que óleos possam ser solubilizados em água ou vice-versa,
formando emulsões (CAMPOS et al., 2013). Tal propriedade garante ampla aplicação
industrial, como emulsificantes, detergentes, capacidade de formação de espuma e
retenção de umidade (DESAI; BANAT, 1997).
A maioria desses compostos disponíveis comercialmente são derivados
da indústria petrolífera. Com a crescente preocupação ambiental, a procura por
alternativas tem aumentado, levando à um maior destaque para os surfactantes
microbianos (KAUR et al., 2017). Estes são chamados de biossurfactantes e possuem
inúmeras vantagens sobre os derivados químicos, como biodegradabilidade, baixa
toxicidade, alta seletividade e eficiência de operação em condições ambientais
extremas (MAKKAR; CAMEOTRA; BANAT, 2011).
Um biossurfactante de destaque é o soforolipídio, pois apresenta alta
produtividade e propriedades químicas e biológicas de interesse, como capacidade
emulsificante, atividade antimicrobiana e antiadesiva, todas de grande relevância
para a indústria de alimentos. Apesar disso, seu uso no setor ainda é escasso e
poucos trabalhos científicos têm explorado essas características.
Dessa forma, este capítulo tem como objetivo discutir as perspectivas de
aplicações dos biossurfactantes na indústria de alimentos, destacando o soforolipídio,
os parâmetros da biossíntese, suas propriedades físico-químicas e bioativas com
potencial aplicação nesse setor.
2 | BIOSSURFACTANTES EM ALIMENTOS
Biossurfactantes são moléculas anfipáticas, que apresentam grupos hidrofílicos
e hidrofóbicos em sua estrutura, sendo originados como subprodutos do sistema
metabólico de seus microrganismos produtores (CAMEOTRA; MAKKAR, 2004). São
classificados em baixa massa molecular, tais como os glicolipídios, lipopeptídeos
e fosfolipídios e em agentes poliméricos de massa molecular elevada (SHARMA;
OBEROI, 2017).
A preocupação com o uso de produtos sintéticos e oriundos de culturas
geneticamente modificadas, como a soja, que é a principal fonte do emulsificante
alimentício lecitina, intensificou a busca por compostos alternativos. Isso resultou
num aumento de interesse pelos biossurfactantes, moléculas naturais seguras que
combinam propriedades desejáveis e apelo ecologicamente correto (MILES et al.,
2006; CAMPOS et al., 2013).
Os biossurfactantes podem ser utilizados como emulsificantes, agentes anti-
adesivos e antimicrobianos. A emulsificação tem papel importante na formação
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
104
da consistência e textura, dispersão de fase e solubilização de aromas (ARAUJO;
FREIRE; NITSCHKE, 2013). Essa molécula tensoativa promove a estabilidade
da emulsão através da redução da tensão interfacial, o que diminui a energia na
superfície entre as duas fases e minimiza a coalescência de partículas (BARROS et
al., 2007).
Podem ser empregados para aumentar a vida de prateleira e modificar as
propriedades reológicas, como melhora da consistência, textura e redução do
envelhecimento de produtos (GANDHI; SKEBBA, 2007; MNIF et al., 2012; ZOUARI
et al., 2016). Ramnolipídio, liposan e outro biossurfactante de Candida utilis têm
sido empregados em produtos de panificação (MUTHUSAMY et al., 2008), produtos
cárneos e laticínios, óleos comestíveis (FREIRE et al., 2009), molhos de saladas
(DESAI; BANAT, 1997) e maionese (CAMPOS et al., 2015).
Também tem sido explorada sua aplicação antimicrobiana. A combinação
de nisina, natamicina e ramnolipídio resultou em vida de prateleira prolongada e
inibição de microrganismos indesejáveis em produtos como leite de soja UHT e
queijos (FREIRE et al., 2009). Soforolipídio também tem sido relatado como agente
antimicrobiano de diversos microrganismos patogênicos de origem alimentar,
como Salmonella spp., Listeria monocytogenes e Escherichia coli (ZHANG et al.,
2016a;2016b).
Outra propriedade de grande importância na indústria alimentícia é a atividade
antiadesiva, fundamental para evitar a formação de biofilmes microbianos. É possível
reduzir esse problema utilizando biossurfactantes como agentes de revestimento
para utensílios e superfícies (ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013).
Há relato do uso de um biossurfactante produzido por Streptococcus sp. como
antiadesivo em placas de trocadores de calor de pasteurizadores, muito utilizadas
no processamento de produtos lácteos e grande alvo de contaminação (BANAT;
MAKKAR; CAMEOTRA, 2000). Surfactina e ramnolipídio também foram descritos
contra a adesão de Listeria monocytogenes, Staphylococcus aureus e Micrococcus
luteus em superfícies de poliestireno (ZERAIK; NITSCHKE, 2010).
Essas propriedades sugerem que os biossurfactantes são candidatos em
potencial para uma diversidade de aplicações na indústria de alimentos, na busca
de produtos de alto valor agregado com diferentes funcionalidades.
3 | PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO SOFOROLIPÍDIO
Soforolipídio é um biossurfactante pertencente à classe dos glicolipídios
extracelulares, composto por um dissacarídeo soforose (O β-D-glicopiranosil-2→1β-D-glicopiranose) unidos por ligação β-glicosídica entre o carbono 1’ e o carbono
terminal (ω) ou sub-terminal (ω-1) de uma cadeia de ácido graxo de 16 ou 18 carbonos
(ASHBY; SOLAIMAN, 2010).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
105
São produzidos na forma de uma mistura de diferentes moléculas divididas em
dois grupos principais: lactônica e acídica (Figura 1). Na forma acídica, a extremidade
do ácido carboxílico é livre, apresentando uma cadeia aberta. Já a estrutura lactônica
é internamente esterificada na posição 4” da soforose, apresentando uma estrutura
de anel fechado (ASMER et al., 1988).
Podem ainda sofrer outras variações estruturais em termos de acetilação em
sua porção da soforose e de diferenças na estrutura do ácido graxo (número de
carbonos, insaturações e hidrogenação), de acordo com os parâmetros do processo
fermentativo, que influenciarão em suas futuras aplicações (RIBEIRO et al., 2015;
VAN BOGAERT et al., 2011).
Figura 1. Formas estruturais do soforolipídio: A – lactônica B – acídica
O soforolipídio é sintetizado em altas concentrações e geralmente por cepas
não patogênicas, como a levedura Starmerella bombicola, tornando esse grupo de
moléculas particularmente atrativo para produções comerciais e futuras aplicações,
considerando os aspectos de segurança (PAULINO et al., 2016).
A biossíntese do soforolipídio ocorre no final da fase exponencial e início da
fase estacionária, em condições de nitrogênio limitantes. Os substratos normalmente
empregados na síntese dessa molécula são carboidratos e ácidos graxos, destacando
a glicose e ácido oleico (ZHOU; KOSARIC, 1993; RAU et al., 2001).
A via metabólica do soforolipídio tem início pela hidroxilação dos ácidos
graxos ou alcanos, pela enzima citocromo monooxigenase P450 (NADP), sendo
convertidos a ácidos graxos hidroxilados. Após, duas moléculas de glicose uridina
difosfato ativada (UDP-glicose) são adicionadas ao grupamento hidroxila do ácido
graxo pelas glicosiltransferases I e II, obtendo-se a estrutura acídica não-acetilada
(VAN BOGAERT et al., 2011).
Outras modificações podem ocorrer, como esterificação interna (lactonização)
por esterase lactônica específica ou acetilação da soforose nas posições 6’ e/ou 6’’
pela acetil transferase (ASMER et al., 1988).
Estudos têm buscado a otimização dos processos fermentativos do soforolipídio,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
106
pois a produção em larga escala e seu custo relativamente elevado, ainda são um
desafio. Assim, para torná-lo economicamente competitivo, a adoção de algumas
medidas se faz necessário, como a utilização de substratos de baixo custo,
cepas geneticamente modificadas com maior capacidade produtiva e ferramentas
estatísticas de otimização (SATPUTE; PŁAZA; BANPURKAR, 2017).
Após a produção, são necessárias as etapas de separação, purificação e
caracterização, afim de viabilizar e direcionar a aplicação do soforolipídio produzido.
A obtenção dessa biomolécula do caldo fermentado é normalmente realizada por
extração com solventes como acetato de etila, hexano e metanol (MINUCELLI et al.,
2017), combinada ou não com técnicas de filtração (SOLAIMAN; ASHBY; CROCKER,
2015).
A identificação e quantificação pode ser realizada por gravimetria (DAVEREY;
PARKSHIRAJAN, 2010), cromatografia líquida de alta eficiência (JADHAV; PRATAP;
KALE, 2019) e pelo método colorimétrico de antrona (SCOTT; MELVIN, 1953).
As técnicas utilizadas na purificação e caracterização envolvem cromatografia
de camada fina (PEKIN et al., 2005), cromatografia líquida com espectrômetro
de massa (HU; JU, 2001), espectroscopia de infravermelho com transformada de
Fourier e ressonância magnética nuclear (KAUR et al., 2019).
4 | PROPRIEDADES DO SOFOROLIPÍDIO PARA USO EM ALIMENTOS
Soforolipídio apresenta grande perspectiva de aplicação como ingrediente
ativo a ser aplicado em formulações de alimentos. Apesar de apresentar inúmeras
propriedades de interesse, o seu uso nesta área ainda é escasso. Algumas
propriedades físico-químicas e biológicas do soforolipídio os tornam interessantes
para o setor, destacando sua biodegradabilidade e eficiência em condições extremas
de temperatura e pH, capacidade emulsificante, antimicrobiana e antiadesiva.
4.1 Emulsificante
Utilizados como ingrediente de diminuição da tensão de superfícies na
formulação de alimentos, promovendo a formação e estabilização de emulsões. No
controle da aglomeração de glóbulos de gordura, melhoria de textura e vida útil de
produtos com amido, modificador de propriedades reológicas da massa de trigo,
melhorador da consistência e textura de produtos de base gorda e na prevenção
de formação de partículas de gelo em produtos transportados e armazenados
sob sistemas de ar refrigerado (KACHHOLZ; SCHLINGMANN, 1987; NITSCHKE;
COSTA, 2007; AKARI; AKARI, 1987; MASARU et al., 2001).
4.2 Atividade antimicrobiana
Aspectos gerais de higiene sanitárias e qualidade são importantes na aceitação
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
107
de um produto alimentício, pois, a contaminação dos alimentos por fungos e
bactérias traz uma enorme preocupação relacionada à segurança alimentar e saúde
do consumidor (OLIVEIRA et al., 2015).
Existe uma gama de produtos alimentícios como carnes, produtos agrícolas,
pães, frutas e hortaliças contaminados por microrganismos deteriorantes e causadores
de toxinfecções alimentares (SILVA, 1998). Essa contaminação pode ocorrer ainda
no solo, durante a formação das sementes e também no armazenamento, devido ao
elevado teor de água livre presente nos alimentos em geral, tornando-os altamente
perecíveis (ROSSETTO et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2015).
Nessa vertente, uma das principais propriedades investigadas são atividades
antimicrobianas de compostos alternativos, haja vista a importância da descoberta
de possíveis substituintes de germicidas e sanitizantes convencionais por compostos
naturais e biodegradáveis (GUPTA, 2012)stearic acid, palmitic acid and different
vegetable oils. To our knowledge, there is no such report on the analysis of individual
SL molecule produced using pure α-linolenic acid (ALA.
Soforolipídio apresenta grande perspectiva de aplicação explorando sua ação
antimicrobiana (Tabela 1). Essa propriedade é relacionada à natureza anfifílica
desse biossurfactante, sendo capaz de diminuir a tensão interfacial e superficial de
compostos e materiais, e assim promover alterações da adesão de microrganismos
(PONTES et al., 2016). Envolve mecanismos de desestabilização e alteração da
permeação da membrana, o que leva a ruptura e extravasamento do conteúdo
celular (VALOTTEAU et al., 2017).
Os efeitos da atividade antimicrobiana do soforolipídio dependem de diversos
fatores como, suas formas acídicas e lactônicas, o microrganismo que o produz e a
espécie de patógeno que é empregado, ressaltando que, formas lactônicas possuem
melhor atividade antimicrobiana que as estruturas acídicas (ZHANG et al., 2016a).
Embora apresentem resultados de inibição contra bactérias Gram-negativas,
possuem melhor ação em cepas Gram-positivas, pois nelas a parede celular é
constituída por uma membrana citoplasmática circundada por uma espessa camada
de peptidoglicano, enquanto que em Gram-negativas é composta de uma fina camada
de peptidoglicano e duas membranas, tornando este envelope celular mais complexo
de interagir (DENGLE-PULATE et al., 2014; ZHANG et al., 2016a)researchers have
developed biosurfactants for industrial, pharmaceutical and medical applications
revealing the promising biological activities of these biomolecules. One of the best
studied microbial surfactants are glycolipids, especially sophorolipids (SLs.
Dengle-Pulate et al. (2014) testaram o efeito antimicrobiano do soforolipídio de
Candida bombicola para a limpeza de frutas e vegetais, verificando que o tratamento
resultou em 90% de redução das células de Salmonella typhimurium ATCC 23564 e
99% em Escherichia coli ATCC 8739 após 10 minutos. Erwinia chrysanthemi ATCC
11663 e Xanthomonas campestris ATCC 13951 foram reduzidas totalmente após 10
minutos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
108
Olanya et al. (2018) também reportaram ação antibacteriana do soforolipídio
de C. bombicola in vitro e aplicados em tomate pós colheita, obtendo resultados
de inibição de Listeria monocytogenes, Salmonella enterica e Escherichia coli em
concentrações a partir de 50 mg/L. Outros autores investigaram seu efeito em folhas
de espinafre contaminadas com Escherichia coli O157:H7, obtendo reduções de 1,4
log UFC/folha logo após tratamento com 1% de soforolipídio e 3.6 log UFC/folha
após 7 dias de armazenamento a 4°C (Zhang et al., 2016b).
Sen et al. (2017) avaliaram a atividade antifúngica de soforolipídio produzido por
Rhodotorula babjevae YS3 e observaram um bom efeito inibitório contra um grupo
amplo de fungos patogênicos, tais como: Colletotrichum gloeosporioides, Fusarium
verticilliodes, Fusarium oxysporum f. sp. pisi, Corynespora cassiicola e Trichophyton
rubrum verificados através do MIC numa faixa de concentração de 62-1000 μg/mL.
Diante disso, é possivel observar que o soforolipídio apresenta um grande
potencial como agente antimicrobiano no controle de microrganismos deteriorantes
e patogênicos de origem alimentar, o que os torna uma forte alternativa para a
substituição parcial ou total de germicidas e sanitizantes químicos utilizados nesse
setor.
Microrganismos
Tipos de soforolipídio
CIM
(µg/ml)
Contaminação
alimentar
Staphylococcus
aureus
Lactônico diacetilado
75% lactônico e 25%
acídico;
4.500
400
alimentos de grande
Hoa et al. (2017);
manipulação: carnes,
Joshi-Navare et al.
ovos, molhos,
(2013);
cremes
Listeria spp.
Lactônico
1.000
Carnes e derivados,
laticínios
Zhang et al. (2016a)
Escherichia coli
Escherichia coli
O157:H7
75% lactônico e 25%
acídico;
Lactônico diacetilado
Lactônico
1.000
750
10.000
Água e alimentos
não processados
com contaminação
de origem fecal
Joshi-Navare et al.
(2013);
Pontes et al. (2016)
Zhang et al. (2016b)
Salmonella spp.
Salmonella
typhimurium
Acídico não acetilado
Lactônico
50
10.000
Carnes, ovos e leite
Valotteau et al.
(2017)
Zhang et al. (2016a)
Colletotrichum
gloeosporioides,
Mistura acídica e lactônica
62
Frutas
Sen et al. (2017)
125
Milho, feijão e
sementes em geral
Sen et al. (2017)
Fusarium
verticillioides
Mistura acídica e lactônica
Fusarium
oxysporum f. sp. pisi
Referências
Tabela 1. Concentrações inibitórias mínimas (CIM) de diferentes tipos de soforolipídio contra
microrganismos.
5 | PERSPECTIVAS DE APLICAÇÃO NA INDÚSTRIA
O soforolipídio é um metabólito diferenciado a ser aplicado na indústria, pois
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
109
apresenta ausência de patogenicidade, elevado rendimento e características físicoquímicas desejáveis para diversas aplicações, sendo o maior destaque a sua
potencialidade como agente antimicrobiano alternativo contra uma série de cepas
bacterianas e fúngicas.
Exemplos de sua ação já foram evidenciados no aumento do rendimento
de plantações por seu emprego no controle de pragas (VAUGHN et al., 2014),
componente de misturas germicidas para a limpeza de frutas e vegetais (DENGLEPULATE et al., 2014)researchers have developed biosurfactants for industrial,
pharmaceutical and medical applications revealing the promising biological activities
of these biomolecules. One of the best studied microbial surfactants are glycolipids,
especially sophorolipids (SLs e ações antibacterianas contra bactérias contaminantes
de carne de aves (ZHANG et al., 2016b)
Nosso grupo de pesquisa desenvolveu um sanitizante à base de soforolipídio
para aplicação na indústria avícola. O metabólito foi sintetizado pela levedura
Starmerella bombicola e aplicado diretamente em carne de frango.
Esse processo foi desenvolvido e testado de forma pioneira, gerando as patentes
BR 10 2018 072522 0 (Aplicação de soforolipídio para redução de contaminação
de aeróbios mesófilos em cortes de frango) e BR 10 2019 004754 2 (Aplicação
de soforolipídio como sanitizante no sistema lavagem de carcaças de frango por
aspersão para redução de contaminação de aeróbios mesófilos).
Os resultados obtidos nesses processos foram promissores, apresentando
eficácia antimicrobiana contra esses patógenos avícolas, com reduções de mais de
50% das unidades formadoras de colônia (UFC) em relação ao tratamento com água
de torneira clorada a 1ppm, atualmente único método de descontaminação aprovado
pela legislação brasileira.
Não restrito ao segmento da indústria avícola, o soforolipídio poderia ser
empregado em outros produtos cárneos, laticínios, frutas e vegetais, explorando as
mesmas propriedades, assim como sua capacidade emulsificante e antiadesiva.
Comercialmente o soforolipídio já é produzido por algumas empresas, incluindo
a Kao Co Ltd. (Japão) que trabalha com produtos cosméticos, de limpeza e cuidados
pessoais, Soliance (França) com cosméticos, Ecover (Bélgica) com produtos de
limpeza e higiene pessoal e Synthezyme (EUA) com a produção de diferentes
produtos biotecnológicos.
As informações acima demostram que a busca por moléculas de origem
natural, que não interfiram no meio ambiente está aumentando nos últimos anos,
evidenciando o interesse dos consumidores por produtos que sejam mais seguros e
sustentáveis, assim o soforolipídio possui características importantes e inovadoras
para aplicação na indústria de alimentos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
110
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 12
114
CAPÍTULO 13
POTENCIAL ECONÔMICO DOS SUB-PRODUTOS
PROVENIENTES DA INDÚSTRIA DE PESCADO:
ESTUDO DE CASO DA FILETAGEM DE PEIXE NUMA
EMPRESA LOCALIZADA NO MUNICÍPIO DE VIGIA-PA
Maurício Madson dos Santos Freitas
Universidade Federal do Pará, Programa de Pósgraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Instituto de Tecnologia, Belém-Pará.
Marielba de los Ángeles Rodríguez Salazar
Universidade Federal do Pará, Programa de Pósgraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Instituto de Tecnologia, Belém-Pará.
Mirelle de Oliveira Moreira
Universidade Federal Rural da Amazônia –
Médica Veterinária
Geormenny Rocha dos Santos
Universidade Federal do Pará, Programa de Pósgraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Instituto de Tecnologia, Belém-Pará.
Nádia Cristina Fernandes Correa
Universidade Federal do Pará, Programa de Pósgraduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos,
Instituto de Tecnologia, Belém-Pará.
RESUMO: A industria beneficiadora de pescado
é responsável por gerar grandes quantidades
de resíduos sólidos orgânicos, que são
descartados de maneira inadequada, e causam
diversos problemas ambientais e sociais. Vale
ressaltar que a maioria desses subprodutos são
fontes, principalmente, de proteína e lipídeos
que podem ser utilizados como matéria-prima
para a elaboração de diversos produtos de valor
agregado. Diante disso, o presente trabalho tem
como objetivo, buscar na literatura as possíveis
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
alternativas de destinação dos subprodutos
que são gerados pela indústria pesqueira.
Através do estudo de caso realizado em uma
indústria localizada no município de Vigia-PA,
identificar as principais etapas do processo de
filetagem que são responsáveis por gerar esses
resíduos e propor as possíveis alternativas para
a destinação correta desses subprodutos.
PALAVRAS-CHAVE:
Industria,
Peixe,
Resíduos, Processamento.
ABSTRACT: The fish processing industry is
responsible for generating large quantities
of organic solid waste, which are disposed of
inappropriately, and cause various environmental
and social problems. It is worth mentioning that
most of these by-products are sources of protein
and lipids that can be used as raw material
for the elaboration of several value-added
products. Therefore, the present work aims to
search the literature for possible alternatives
for the destination of the by - products that are
generated by the fishing industry. Through the
case study carried out in an industry located
in the municipality of Vigia-PA, identify the
main stages of the filleting process that are
responsible for generating these residues and
propose the possible alternatives for the correct
destination of these by-products.
KEYWORDS: Industry, Fish, Waste, Processing.
Capítulo 13
115
1 | INTRODUÇÃO
As indústrias de beneficiamento de peixe geram diariamente grandes
quantidades de subprodutos (resíduos sólidos orgânicos), que muitas vezes não
são aproveitados devido ao restrito conhecimento deste setor sobre procedimentos
tecnológicos e sanitários para utilização destes resíduos (PIRES et al., 2014). Neste
contexto, é preciso dispor de alternativas para o gerenciamento e minimização
dos resíduos que são gerados, que torna o diferencial das empresas, garantindo a
diversificação da linha de produtos, o crescimento sustentável e a responsabilidade
socioambiental (PIRES et al., 2014).
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(IBAMA) editou a Instrução Normativa nº 13, em dezembro de 2012, criando a Lista
Brasileira de Resíduos Sólidos, com a finalidade de padronizar as informações
acerca dos resíduos gerados e permitir seu monitoramento, controle, fiscalização,
avaliação da gestão e do gerenciamento dos resíduos provenientes da aquicultura e
pesca (IBAMA, 2012).
Apesar de existir legislação para o gerenciamento dos resíduos industriais,
historicamente, os resíduos da produção industrial pesqueira são dispostos
indiscriminadamente no meio ambiente, podendo ocasionar problemas diversos
como a poluição dos rios, consequentemente a redução da fauna e flora, aumento
do número de vetores de transmissão de doenças, prejuízos nos aspectos visuais do
meio ambiente, restringindo a sua utilização sustentável.
Assim, há a necessidade do aproveitamento dos resíduos e minimização da
problemática da disposição indevida dos resíduos da indústria pesqueira em rios e
efluentes. De acordo com uma visita à indústria localizada no município de Vigia-PA,
foram observadas a etapas do processamento de filetagem, sendo constatado que
de 40 toneladas diárias produzidas, são geradas 10 toneladas diária de resíduos
sólidos que são majoritariamente destinadas para consumo animal.
Segundo Fogaça et al. (2013) o rendimento de filé de peixe é muito baixo, assim
é considerado que a filetagem industrial gera quantidades significativas de resíduos.
O desenvolvimento de tecnologia para recuperação de proteína de resíduos de
filetagem e elaboração de subprodutos oferece muitos benefícios, porque permite
a utilização mais responsável dos recursos disponíveis para a alimentação humana
e reduz o impacto ambiental. A proteína muscular recuperada pode ser usada
para fabricar produtos de valor agregado, como surimi, empanados, formatados
(fishburger), embutidos (salsicha), entre outros.
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo fazer uma revisão sobre
o potencial dos resíduos provenientes da indústria de pescados, especificamente dos
resíduos gerados do processo de filetagem de uma empresa localizada no município
de Vigia-PA, com a finalidade de propor alternativas tecnológicas disponíveis para
o aproveitamento destes resíduos, como maneira de agregar valor a este material.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
116
2 | PRODUÇÃO E CONSUMO DE PESCADO NO BRASIL E NA REGIÃO NORTE
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO - Food and agriculture organization), no período entre 2013 e 2014, a produção
mundial de pescado variou de 162,9 a 167,2 milhões de toneladas. Com as melhorias
no modelo de pesca, o incentivo de avanços tecnológicos e o aumento da procura de
peixe, a produção pesqueira total no mundo deverá aumentar durante o ano 2025 a
196 milhões de toneladas (FAO, 2016).
Em 2011, a produção brasileira de pescado foi de 1,4 milhão de toneladas, sendo
a pesca responsável por 803,2 mil toneladas e a aquicultura por 628,7 mil toneladas,
o que lhe rendeu a 23ª e a 12ª colocação nos rankings mundiais, respectivamente. A
maior parte da produção ficou concentrada na região Nordeste, seguida das regiões
Sul, Norte, Sudeste e Centro-Oeste, respectivamente (BRASIL, 2013; BRABO et al.
2016).
O estado do Pará produz cerca de 10 mil toneladas de pescado de aquicultura,
que representam menos de 2% da produção nacional aquícola. Segundo o IBGE
(2015) as principais espécies produzidas são tambaqui (Colossoma macropomum)
(9.098.068 kg), pirapitinga (Piaractus brachypomus) (552.245 kg) e Tilapia
(Oreochromis niloticus) (384.014 kg).
O setor de pesca e aquicultura desempenha um papel importante na segurança
alimentar do Brasil. Assim, o consumo interno de peixe e produtos de pescado
aumentou de forma estável graças ao crescimento da produção de pesca e às
importações. O consumo aparente per capita cresceu de 6,0 kg/p em 2005, para 9,9
kg/p em 2014. Esse crescimento também é resultado de campanhas realizadas no
país para promover o consumo de peixe. Existem variações regionais significativas,
com maior consumo no estado do Amazonas. Sendo que o consumo aparente de
peixe per capita deve expandir-se na próxima década, atingindo 12,7 kg/p em 2024
(FAO, 2015; LOPES et al., 2016).
Segundo Sartori & Amancio (2012) as regiões Norte e Nordeste possuíram
os maiores consumo de pescado pela população brasileira, sendo que a região
Norte, apresenta elevada disponibilidade do alimento em relação às demais
regiões brasileiras, considerando as espécies de peixes mais consumidas: jaraqui
(Semaprochilodus insignis), tucunaré (Cichla ocellaris), dourada (Brachyplatystoma
flavicans) e da pescada (Plagioscion squamosissimus) são destaque na região Norte.
Lopes et al. (2016) avaliaram o panorama atual do consumo de peixes pela
população brasileira, por meio da utilização de dados socioeconômicos e de
preferência de consumo. Os resultados apontam preferência por carnes bovinas
(48,5%) antes da escolha por peixes (19,2%), sendo que a população consome
peixes em frequências discrepantes em diferentes regiões, mas em geral em baixa
frequência, independentemente da origem do pescado e do poder aquisitivo da
mesma.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
117
3 | COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO MÚSCULO DO PESCADO E O VALOR
NUTRICIONAL DOS RESÍDUOS
A carne de peixe se destaca por apresentar uma composição química peculiar
que lhe confere alto valor biológico, proteína de alta digestibilidade, rico em
aminoácidos essenciais, possuem proteínas com valor nutritivo ligeiramente superior
das carnes vermelhas, além de serem fonte rica de ácidos graxos poli-insaturados
de cadeia longa (ômega 3 e ômega 6) (SOARES & GONÇALVES, 2012; BURGER
et al., 2014; MPA, 2014).
Quando se compara a carne bovina e a carne do pescado, esta última
matriz alimentar é fonte de ácidos graxos poli-insaturados benéficos a saúde,
principalmente, os alfa-linolênico 18:3 n-3 (ALA), eicosapentaenoico 20:5 n-3 (EPA)
e Docosaexaenoico 22:6 n-3 (DHA) da família ômega-3. A ingestão desses ácidos
graxos está correlacionada a diminuição dos níveis séricos de colesterol e fatores
de risco para doenças como câncer, psoríase, cardiopatias e artrite (DECKELBAUM
& TORREJON, 2012).
A carne do pescado é composta principalmente de água (50 a 85%), proteína
(12 a 24%) e lipídios (0,1 a 22%), os 2% restantes são constituídos por minerais
(0,8 a 2%), glicídios (0,1 a 3%) e vitaminas (BRITTO et al., 2014). Essa diferença
na composição do músculo do pescado está relacionada aos tipos de espécies,
tamanho, sexo, estado nutricional dos pescados, época do ano, quantidade e
qualidade do alimento consumido, idade e da parte do corpo analisada (CORRÊIA et
al., 2012; COSTA et al., 2014; YARNPAKDE et al., 2014).
Adames et al. (2014) avaliaram a composição centesimal de diferentes tamanho
e cortes de Barbado (Pinirampus pirinampu) e foi constatado que houve diferença
significativa entre os tamanhos e os tipos de cortes do peixe, a composição variou
no que diz respeito ao teor de proteínas com valores oscilando de 18,80 a 20,37%
para filés e de 15,89 a 15,45% para filés do abdominal, e o teor de lipídeos variou de
9,87 a 13,92% e 15,20 a 21,78%, para filés e filés do abdominal, respectivamente.
No entanto, nas indústrias beneficiadoras de pescado apenas 40% da produção
é destinada para o consumo humano, e os outros 60% são responsáveis pela geração
de subprodutos, como cabeças, vísceras, peles, cartilagens e nadadeiras, que muitas
das vezes são descartadas no próprio meio ambiente, sem nenhuma destinação,
causando graves problemas ambientais (CHALAMAIAH et al., 2012; GJERDE et al.,
2012; THODESEN et al., 2012; MONTANHINI NETO & OSTRENSKY 2013).
Estes subprodutos possuem alto valor nutricional, que em alguns casos chega
a ser superior até mesmo do que o próprio músculo do pescado. Santos (2016),
estudou a composição centesimal de subprodutos como cabeças, vísceras, ossos,
nadadeiras e outros de peixe, e obteve resultados para conteúdo de água (65,55 a
81,85%), proteínas (9,85 a 22,04%), lipídios (1,55 a 6,98%) e cinzas (2,52 a 6,50%),
isso mostra que esses subprodutos são fontes de proteínas, lipídeos e minerais, e
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
118
que podem ser aproveitados de alguma forma para a alimentação humana.
Oliveira & Damasceno (2014) avaliaram a composição centesimal do filé e do
resíduo da piramutaba (Brachyplastystoma vaillantii) a composição centesimal para o
filé mostrou valores de umidade (78,03%), proteína (15,72%), lipídeo (5,83%) e cinza
(0,74%). Já para os resíduos observou-se umidade (70,33%), proteína (14,32%),
lipídeo (10,76%), cinza (1,54%). Portanto, a composição química entre o resíduo e o
filé foi similar, a diferença observada foi relacionada ao teor de lipídeos, no entanto,
a piramutaba é considerada uma espécie com alto teor lipídico.
4 | POTENCIAIS USOS E APROVEITAMENTOS DE RESÍDUOS GERADOS NO
BENEFICIAMENTO DE PESCADO
Durante a etapa de beneficiamento do pescado são gerados quantidades
significativas de subprodutos, desde a produção até a comercialização, que muitas
das vezes são descartas no próprio meio ambiente, provocando graves problemas
ambientais. Isto é reflexo de um setor que ainda é bastante carente de técnicas
de processamento que visem o aproveitamento para a obtenção de co-produtos
de qualidade, minimizando assim os impactos ambientais (AGUIAR et al., 2015;
BATISTA et al, 2019).
A destinação correta, como o aproveitamento do material residual do pescado
gerado durante o beneficiamento do mesmo, além de sanar o grande problema
da destinação dos resíduos orgânicos, material poluente e de difícil descarte, traz
vantagens econômicas para a indústria, pois seu aproveitamento agrega valor a
estes subprodutos, que antes não tinha valor e era descartado (LEITÃO & FAVACHO,
2015; SILVA et al., 2015).
Os subprodutos sólidos gerados durante a etapa de beneficiamento do pescado
podem ser classificados em três grupos, o primeiro grupo são os resíduos que se
destinam para a alimentação animal, o segundo se destinam para a alimentação
humana e o terceiro se destinam para aplicações tecnológicas.
4.1 Destinação animal
A maioria dos resíduos gerados pela indústria pesqueira são destinados a
produção de farinha, óleo e silagem, advindos dos subprodutos como as vísceras,
escamas, pele e esqueleto, incluindo a cabeça, que constituem o primeiro grupo que
é comumente usada na alimentação animal (HIGUCHI, 2015; OLIVEIRA, 2015).
Higuchi (2015) produziu farinhas e óleos de resíduos de peixes neotropicais,
para utilização em dietas da Tilápia do Nilo. E demonstrou que as farinhas estudadas
podem ser utilizadas em dietas para juvenis de tilápias do Nilo, sem prejudicar o
desempenho produtivo e hematológico.
Oliveira (2015) extraiu óleos de diferentes tipos de resíduos da filetagem de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
119
tilápias por meio de silagem ácida e desenvolveu farinhas. Assim, concluiu que o
método utilizado de silagem ácida foi eficiente para a extração de óleo bruto de
resíduos de peixe, a farinha obtida, teve umidade inferior a 9% e os resultados
microbiológicos não detectaram presença de microrganismos nas silagens, óleos
e farinhas dos tratamentos estudados. Por fim, o autor afirma que o óleo e as
farinhas obtidas no processo são de alta qualidade, apresentando aplicabilidade na
alimentação humana e animal, além de valorizar os coprodutos da pesca e reduzir
praticamente a zero a geração de resíduos.
Silva et al. (2014) avaliaram o uso de resíduos de processamento de tilápias do
Nilo (Oreochromis niloticus), como fonte de proteínas para a produção de hidrolisado
de proteínas de peixe (FPH). A composição de aminoácidos e o perfil lipídico,
sugeriram que todos os FPHS experimentais poderiam ser empregados como fonte
de proteínas em dietas para organismos aquáticos e outros animais de criação.
4.2 Destinação humana
O segundo grupo, é constituído principalmente pela carcaça com carne aderida
após a retirada do filé e pelas aparas obtidas durante filetagem, estes são submetidos
a processos para obtenção da polpa de peixe, principal ingrediente na fabricação de
empanados e embutidos, para uso na alimentação humana (BATISTA et al., 2019).
A carne mecanicamente separada é uma alternativa para o desenvolvimento
de novos produtos, agregando valor nutricional no produto final, como é o caso dos
“fishburger”, empanados, patê, embutidos, reestruturados, dentre outros (PIRES et
al., 2014).
Fogaça et al. (2013) obtiveram surimi a partir de carne mecanicamente separada
de Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), para a elaboração de fishburger, o surimi
apresentou teores de 75,44%, 14,81% e 7,15%, de umidade, proteína e lipídeos,
respectivamente, demostrando que o subproduto é uma boa fonte de proteína e
lipídeos, e que podem ser utilizado na elaboração de fishburguer por apresentar os
atributos sensoriais, nutricionais e microbiológicos desejáveis, além de estimular o
aproveitamento dos coprodutos gerados na filetagem da Tilápia.
Monteiro (2013) desenvolveu farinhas e sopas instantâneas a partir de resíduos
do processamento da Tilápia (Oreochromis niloticus), tanto as farinhas obtidas de
diferentes subprodutos, quanto a formulação de sopa apresentaram valores que
variaram de 38,52-49,22% de proteínas, 10,98-51,62% de lipídeos, 3,54-4,67%
de cinzas, 3,02-7,84% de umidade e 0,85-21,84 de carboidratos. Os resultados
demonstraram que tanto a farinha quanto a sopa instantânea, apresentaram elevados
valores nutricionais e características tecnológicas promissoras, ressaltando que
a utilização dessas matérias primas são alternativas viáveis para a produção de
novos produtos com valores agregados e maximizando assim, o lucro da indústria
pesqueira.
Oliveira et al. (2015) obtiveram a carne mecanicamente separada da etapa
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
120
da filetagem do bagre brasileiro (Brachyplatystoma vaillantii), para a elaboração de
farinha deste subproduto. Os resultados sugeriram que a utilização do resíduo da
filetagem do bagre brasileiro para a confecção de farinhas de peixe resultaram em
um produto de alto valor nutricional, composto principalmente de ácidos graxos, os
principais (palmítico, oleico, esteárico, palmitoliico e mirístico) e aminoácidos como
(ácido glutâmico, aspártico, arginina, lisina e leucina) e que este subproduto pode
ser incrementado em outros alimentos para a suplementação de proteínas, além de
contribuir para a redução de produção de resíduos na indústria de peixe.
Secci et al. (2017) estudaram a aplicação do processo da carne mecanicamente
separada (CMS), para valorização do peixe Carapau (Trachurus trachurus), que
geralmente é descartado para a elaboração de hamburguês do músculo picado.
Assim, concluíram que a carne mecanicamente separada de Carapau pode ser um
ingrediente de alta qualidade para adicionar em carnes de outras espécies de peixes,
afim de obter novos produtos de peixes, como hamburguês, Nuggets ou até mesmo
molhos, que representem um caminho para a valorização das espécies de descarte.
Villamil et al. (2017) realizaram uma revisão sobre a produção, potenciais
aplicações e propriedades funcionais e bioativas de hidrolisados de proteína de
vísceras de peixe. Os hidrolisados demonstraram ser produtos com alto valor
agregado, devido às suas propriedades funcionais, bioativas e nutricionais, tendo
potenciais aplicações, principalmente nas indústrias alimentícias e farmacêuticas.
Sales et al. (2015) fabricaram duas formulações de hambúrgueres utilizando a
polpa de pescado de baixo valor comercial, para avaliar a aceitação e a preferência
dos produtos. As duas formulações apresentaram percentual de intenção de compra
superior a 80%, indicando que os produtos poderiam ser facilmente comercializados.
Noleto et al. (2017) utilizaram a proteína de peixe de baixo valor comercial
como fonte proteica para a elaboração de biscoito do tipo caseiro. A análise sensorial
obteve uma aceitação bastante satisfatória. As propriedades nutricionais do produto
se apresentaram dentro do padrão para alimentos de alto valor proteico, como
teores de umidade (13,42%), cinzas (0,67%), lipídeos (1,38%), proteínas (12,38%) e
carboidratos (72,15), demostrando condições higiênico-sanitárias, que proporcionam
sua elaboração, além de ter obtido uma aceitação bastante satisfatória.
Mattos (2017) produziu salsichas a partir de filé e da carne mecanicamente
separada de tilápia com a adição de extrato de bagaço de uva (Alicante bouschet)
em pó, para verificar a qualidade microbiológica e estabilidade oxidativa do produto
armazenado sob refrigeração durante 60 dias e foi verificado que não houve
a ocorrência de oxidação lipídica em todas as amostras ao longo do tempo de
armazenamento.
4.3 Aplicações tecnológicas
Dentre os estudos abordados sobre aproveitamento de resíduos para a
destinação humana e animal, vale ressaltar a utilização desses resíduos para a
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
121
aplicação tecnológica, que é uma vertente que vem sendo muito explorada atualmente.
Resíduos como a pele de peixe, proveniente da etapa de beneficiamento do pescado,
vem sendo utilizada como matéria prima para a extração de gelatina. A produção de
gelatina de peixe correspondeu apenas 1,5% do total produzido em 2007, embora
cerca de 30% dos resíduos de processamento de peixe, pele, escamas e ossos
sejam muito ricos em colágeno, precursor da gelatina (SILVA et al., 2017).
A gelatina é uma proteína fibrosa proveniente da hidrólise térmica parcial do
colágeno que possui a capacidade de formar géis físicos termoreversíveis. Sua
extração geralmente é realizada a partir de pele e ossos de bovinos e suínos, como
também pode ser extraída de peles de peixes, como os resíduos provenientes da
indústria pesqueira (BUENO et al., 2011).
Este material tem alto potência tecnológico para a aplicação, principalmente na
indústria alimentícia, como na produção de embalagens ativas e filmes biodegradáveis
(YAO et al., 2017; NILSUWAN et al., 2018; SILVA et al., 2018). Assim como, na
indústria farmacêutica, no uso da gelatina como transportador e/ou em mecanismos
de liberação controlada de fármacos, que está baseada na fraca antigenicidade,
biodegradabilidade, biocompatibilidade, bioatividade, ótimos agentes gelificantes,
cinética de liberação eficiente e rentabilidade (CARO et al., 2016; CEBI et al., 2016;
OLIVEIRA, 2017c).
O campo da ciência e engenharia de materiais também vem explorando o
colágeno a partir de peles de peixe, pois utilizam para construções de matrizes/
estruturas ou biomateriais. Jiang et al. (2016), estudaram o efeito da ultra-sonografia
na formação de fibrila e propriedades do gel de colágeno da pele da Carpa-do-limo
(Ctenopharyngodon idellus). Foi observado no estudo que a taxa fibrologênica do
colágeno pode ser aumentada durante o processamento por ultra-som. Além disso,
em comparação com géis de fibrilas de colágeno não tratados, os géis de colágeno
tratados ultrassonicamente eram de textura mais macia e tinham um tamanho de
poros maior, juntamente com maior capacidade de promover a proliferação celular.
Li et al. (2017) desenvolveram uma estrutura de colágeno a partir da pele
do “weever fish”, como substituto dural de tecidos. A estrutura demonstrou que
teve uma porosidade e elasticidade adequados para evitar vazamento de fluídos,
sugerindo potenciais aplicações em tecidos manipulados. Além disso, a estrutura
mostrou excelente biocompatibilidade para a atividade e proliferação de células de
fibroblastos embrionários de camundongos. Assim, a estrutura de colágeno de peixes
como substituto dural, demostrou uma capacidade de uso no campo da engenharia
de tecidos.
Elango et al. (2016) realizaram a avaliação reológica, de biocompatibilidade e de
esteogênese de andaimes/estruturas de colágeno a partir da cartilagem do tubarão
azul (Prionace glauca). No estudo, tentou-se encontrar uma alternativa ao colágeno
de mamíferos com melhor capacidade de esteogenese. E foi possível concluir, que
a estrutura preparada a partir do colágeno de peixe possuía maior rigidez, menor
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
122
taxa de biodegradação, melhor biocompatibilidade e propriedades de esteogênese
foram biomateriais adequados para a aplicação de engenharia de tecidos ósseo
como alternativa as estruturas de colágeno de mamíferos.
Pal et al. (2016) estudaram a potencialidade de esponjas de colágeno como
substituto de pele, a partir de escamas da carpa branca (Cirrhinus cirrhosus). Foi
observado que a cultura celular in vitro sobre as esponjas de colágeno extraído
mostraram crescimento e proliferação celular eficientes. Além disso, a co-cultura
com células de fibroblastos e queratinócitos mostrou o desenvolvimento da camada
epidérmica estratificada in vitro. Assim, o colágeno extraído mostrou potencial
aplicação de cicatrização de feridas, podendo ter aplicabilidade como substituto
dérmico.
Martins et al. (2015) avaliaram a produção e o índice de acidez de óleo obtido
de diferentes tipos de resíduos da tilápia para a produção de biodiesel. Os resíduos
utilizados foram as vísceras, nadadeiras, cabeça, pele, escama e a mistura desses
resíduos. Os maiores valores de rendimentos de óleos foram de 22,02%, para
vísceras e de 9,23% para as cabeças, sendo um rendimento considerável quando
se trata de materiais que seriam descartados. O óleo obtido das vísceras apresentou
acidez inadequada para a produção de biodiesel por transesterificação, exigindo um
processo de neutralização para ser transformado em biodiesel. Os demais resíduos,
com exceção do mix de resíduos, foram adequados para a transesterificação ácida e
produção de biodiesel. O óleo de peixe tem potencial para a produção de biodiesel a
partir de resíduos de processamento de tilápia, mostrando que é possível converter
resíduos em biodiesel, que podem substituir total ou parcialmente o uso de diesel.
Martins et al. (2015) avaliaram o óleo obtido a partir de resíduos da tilápia que
foi produzido por transesterificação, catalise básica e rota metílica e foi comparado
com os parâmetros obrigatórios regulados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP)
para a comercialização do biodiesel. O biodiesel de peixe apresentou resultados para
massa especifica de 877 Kg/m3, os valores estabelecidos pela ANP é de (850-900
Kg/m3), para o conteúdo de água o valor obtido foi de 95 mg/Kg, a ANP estabelece
valores até 500 mg/Kg, para valores de acidez o óleo apresentou 0,19 mg KOH/g, o
máximo permitido é de até 0,50 mg KOH/g. Assim, o biodiesel de peixe apresentou
características para ser usado em motor a diesel, e que está de acordo com as
especificações estabelecidas pela ANP. O estudo mostrou a potencialidade dos
resíduos de tilápia, para ser utilizada como matéria prima de qualidade na produção
de biodiesel.
5 | GERAÇÃO DE RESÍDUOS COMESTÍVEIS E NÃO COMESTÍVEIS NO
BENEFICIMENTO DE PESCADO NA INDÚSTRIA EM ESTUDO
A industrialização do peixe envolve, basicamente, a sua obtenção, conservação,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
123
processamento, embalagem, transporte e a comercialização. Os resíduos gerados
no beneficiamento do peixe (cabeça, vísceras, nadadeira, cauda, coluna vertebral,
barbatana, escamas e restos de carne) podem representar 20-80% da matéria-prima
utilizada, variando conforme as espécies e o processamento (GHALY et al., 2013).
Os tipos de processamento dos peixes são variáveis, podendo ser comercializado
em filé, postas, eviscerado e inteiro ou processado em produtos prontos para o
consumo (congelamento ou enlatamento). No estudo realizado por Lopes et al.
(2016) sobre a preferência de processamento do pescado na hora da compra, os
consumidores indicaram um 44,5% de aceitação do pescado fresco em filé e um
26,3% para o pescado congelado em filé, indicando a alta preferência do peixe
processado em forma de filé.
Segundo Lima et al. (2012) a técnica de filetagem torna-se uma alternativa de
beneficiamento, além de promover uma agregação de valor ao peixe. No entanto, por
não existir um padrão desse processamento, há divergência em relação ao melhor
método a ser empregado, ou seja, qual método proporciona o maior rendimento de
filé e menor porcentagem de resíduos gerados, assim é considerado que a filetagem
gera quantidades significativas de resíduos.
Diante do exposto, é apresentado na Figura 1, o fluxograma de processo
de filetagem de peixe congelado, de uma indústria, em Vigia/PA, no qual foram
levantadas todas as etapas do processamento primário e secundário do processo
de filetagem do pescado (indicado com setas contínuas) e identificadas a etapas
geradoras de resíduos (indicado com setas pontilhadas).
Na descarga/recepção, o peixe é colocado em sacos plásticos com capacidade
para 500 kg e descarregados no trapiche, a temperatura do peixe, deve ser inferior
a 5°C. Durante a descarga, são classificados, sendo identificados e separados por
espécies e tamanho. As espécies majoritárias de peixe beneficiados são: dourada
(Brachyplatystoma rousseauxii), pescada amarela (Cynoscion acoupa) e piramutaba
(Brachyptalystoma vaillantii). Após a classificação, o peixe é pesado e levado para
a linha de processamento e o excedente e levado até a câmara de espera, onde
permanecerá a 5°C, por no máximo 24 h.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
124
Figura 1. Fluxograma de processo de filetagem de peixe congelado, de uma indústria, em
Vigia/PA, com a indicação do processamento (setas contínuas) e dos resíduos gerados (setas
pontilhadas)
Depois de pesado, o peixe é colocado em uma mesa de aço inoxidável, onde
e feito o corte dos ferrões, escamas, guelras e barbatanas. É uma etapa onde todas
as atividades são realizadas manualmente utilizando facas, na qual é gerado uma
grande quantidade de resíduos sólidos do beneficiamento do pescado (1° resíduo
sólido não comestível gerado), e é colocando em seguida no cilindro giratório, onde o
peixe recebe uma lavagem exaustiva com água gelada e clorada, com uma pressão
suficiente para retirar a carga microbiana da superfície do pescado (2° resíduo solido/
líquido não comestível gerado).
Após a lavagem, o pescado é colocado sobre uma esteira rolante. A decapitação
é realizada com serras de aço inoxidável acopladas à linha de processamento. As
cabeças são recolhidas, lavadas e colocadas em bandejas e levadas para o túnel de
congelamento, sendo que a cabeça do pescado não é considerada como resíduos,
devido serem vendidas para servirem como iscas para a pesca.
Logo após a etapa de decapitação, o peixe é transportado para a mesa de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
125
filetagem de aço inoxidável, dotada de torneiras individuais, onde manipuladores
de alimentos executam os cortes necessários para extração da massa muscular do
pescado (3° resíduo solido/ líquido comestível e não comestível gerado). Os filés
após o acabamento são colocados na esteira superior e conduzidos até um tanque
contendo água gelada. Em seguida, a pele é retirada em máquinas de aço inoxidável
de forma mecânica (4° resíduo solido não comestível gerado). Os resíduos resultantes
nas diferentes etapas são eliminados através de calhas localizada abaixo da linha
de processamento, onde são conduzidos até o setor de recolhimento e tratamento
de resíduos.
Em seguida, os filés são acondicionados em filme plástico, para proteção do
produto contra a desidratação provocada pelo frio, e posteriormente são colocadas
em prateleiras sobre rodas e levadas para a pesagem. Onde é realizada a verificação
do rendimento de cada produto. Em seguida, o congelamento é realizado em túneis
de ar forçado, a temperatura de -20 a -30 °C. Esta etapa ocorre em até 8h. A seguir,
os filés são transportados por carrinhos metálicos para a sala de embalagem, onde a
temperatura máxima do ambiente é 15 °C, em seguida são acondicionados em mesa
de aço inoxidável, colocados em sacos plásticos e imersos em um tanque de aço
inoxidável contendo água e gelo por um tempo inferior a 30 s para seu glazeamento
(5° resíduo líquido não comestível gerado), para a proteção contra a desidratação
durante a estocagem.
Na embalagem, os filés são acondicionados em sacos plásticos, com rotulagem,
e acondicionado em caixas de papelão parafinada, com capacidade de peso líquido
de 10 a 35 kg. Uma vez concluída a embalagem final, as caixas são transportadas
para a câmara de estocagem e expedição do produto final, empilhadas a uma
altura máxima de 10 (dez) caixas, para melhor circulação do ar frio. A temperatura é
mantida entre -18 e -25°C. Finalmente, para a expedição dos produtos são utilizados
caminhões isotérmicos frigorificados, que transportam a carga até o local de destino.
O embarque é realizado de forma contínua, e a temperatura interior do peixe, no
momento do embarque, obedece ao limite de -18°C.
6 | GERENCIAMENTO, TRATAMENTO E DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS NO
BENEFICIMENTO DE PESCADO NA INDÚSTRIA EM ESTUDO
O setor de pesca e aquicultura ainda é carente de técnicas de processamento
que visem o aproveitamento dos resíduos para a obtenção de subprodutos de
qualidade, minimizando o impacto da produção de resíduos no ambiente. A criação
de alternativas tecnológicas, que permitam o gerenciamento desses resíduos, pode
resultar na geração de empregos, desenvolvimento sustentável e contribuir no
combate à fome (PIRES et al., 2014; FAO, 2016). Na Figura 2 é apresentada a área
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
126
de tratamento dos resíduos gerados no processo de filetagem de peixe congelado
de uma indústria, em Vigia/PA.
Figura 2. Esquema do tratamento dos resíduos solido (A) e líquido (B) gerados no processo de
filetagem de peixe congelado, de uma indústria, em Vigia/PA
Os resíduos gerados no processamento do pescado são incialmente separados,
assim os resíduos são depositados em um tambor rotatório, que separa os resíduos
líquido, do sólido. Portanto, este último é transportado através de um transportador
helicoidal ou caracol até o silo de resíduos sólidos, onde são armazenados e
diariamente são retirados da empresa, utilizando para transporte um caminhão tipo
“caçamba” e são levados até uma empresa, onde são utilizados para elaboração de
ração para consumo animal.
Depois da separação dos resíduos sólidos/líquido, os efluentes líquido
(combinação dos líquidos e resíduos arrastrados pela agua) são transportados até
um tanque pulmão principal, logo vão até uma caixa auxiliar, que leva os efluentes
até o tanque equalizador, para finalmente ser depositados em um flutuador, onde
é realizado um tratamento físico, utilizando um sistema baseado no princípio de
flutuação por ar dissolvido (Dissolved air flotation - DAF) que é comumente usada
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
127
no tratamento de efluentes líquido, em condições de ausência de agitação, a técnica
baseia-se na diferença de densidade dos efluentes para separar a gordura da água
por flotação. Normalmente é retirado entre 60 a 70% de gordura do rejeito líquido
gerado. Então, finalmente o efluente é despejado no rio local e a gordura gerada é
armazenada e utilizada na elaboração de subprodutos.
Geralmente esta técnica trazem a resultados interessantes, sendo que as
características dos efluentes líquidos tratados cumprem as normas legais de descarga
no meio ambiente. A DAF também é utilizada para tratar efluentes de águas da indústria
de papel, a fim de remover as fibras perdidas no processo de produção. Manago et
al. (2018) em seu estudo indicaram que a adição de um tratamento primário por DAF
com o auxílio do coagulante melhorou as características do efluentes líquido, com
uma eficiência de até 98% para remoção de sólidos em suspensão.
7 | CONCLUSÕES
Verificou-se que apesar da indústria em estudo apresentar tratamento dos
resíduos, é importante adquirir um mecanismo eficiente no que diz respeito a
separação desses subprodutos durante o processamento, como cabeça, pele,
cartilagem, vísceras, o que facilitaria a destinação e a utilização dos mesmos nos
diversos seguimentos abordados.
Segundo as propostas apresentadas é possível aproveitar de maneira integral o
pescado, agregando valor a este subproduto, gerando maior renda a setor pesqueiro.
Além de minimizar os impactos ambientais, decorrente do despejo indevido no meio
ambiente.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 13
132
CAPÍTULO 14
RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA DE LISTERIA
MONOCYTOGENES ISOLADAS DE DERIVADOS
LÁCTEOS E PRODUTOS CÁRNEOS: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA
Luciana Furlaneto Maia
Docente do Programa de Pós- Graduação
em Tecnologia em Alimentos – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná Campus Londrina.
Michely Biao Quichaba
Discente Programa de Pós- Graduação em
Tecnologia em Alimentos – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná Campus Campo
Mourão.
Tailla Francine Bonfim
Discente Programa de Pós- Graduação em
Tecnologia em Alimentos – Universidade
Tecnológica Federal do Paraná Campus Campo
Mourão.
RESUMO: Listeria monocytogenes é uma
bactéria gram-positiva que pode ser isoladas
de diferentes alimentos como, leite cru e
pasteurizado, queijos, carne bovina, produtos
cárneos crus e também de equipamentos e
utensílios. Quando ingerida, pode causar a
listeriose, levando inclusive à morte. O tratamento
para listeriose consiste na antibioticoterapia e
para se ter um bom prognóstico é importante
que o tratamento seja eficaz. O objetivo do
presente estudo foi compilar e analisar as
publicações científicas sobre a ocorrência
de resistência antimicrobiana de cepas de L.
monocytogenes isoladas de derivados lácteos
e produtos cárneos. Para isso foi realizado
uma revisão de literatura sistemática sobre
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
e um total de 15 artigos foram incluídos
nesta revisão. Nos estudos analisados, 60%
desses verificaram que mais da metade das
cepas isoladas dos alimentos, apresentaram
resistência antimicrobiana a um ou mais
antibióticos testados. Muitos estudos vêm
indicando a resistência de L. monocytogenes, o
que indica que este patógeno aparenta adquirir
uma ampla variedade de genes de resistência
a antibióticos, indicando um problema de saúde
pública em termos de morbidade, mortalidade e
custo dos tratamentos.
PALAVRAS-CHAVE: Listeriose; Resistência à
antibióticos, Contaminação de alimentos.
ANTIMICROBIAL RESISTANCE OF LISTERIA
MONOCYTOGENES ISOLATED FROM
DAIRY PRODUCTS AND MEAT PRODUCTS:
A SYSTEMATIC REVIEW
ABSTRACT: Listeria monocytogenes is a grampositive bacterium that can be isolated from
different foods such as raw and pasteurized
milk, cheese, beef, raw meat products as well
as equipment and utensils. When ingested, it
can cause listeriosis, even leading to death.
Treatment for listeriosis is antibiotic therapy and
to have a good prognosis it is important that the
treatment be effective. The aim of the present
study was to compile and analyze the scientific
Capítulo 14
133
publications on the occurrence of antimicrobial resistance of L. monocytogenes strains
isolated from dairy products and meat products. For this, a systematic literature review
was performed and a total of 15 articles were included in this review. In the studies
analyzed, 60% of these found that more than half of strains isolated from food had
antimicrobial resistance to one or more tested antibiotics. Many studies have been
indicating resistance of L. monocytogenes, indicating that this pathogen appears to
acquire a wide variety of antibiotic resistance genes, indicating a public health problem
in terms of morbidity, mortality, and cost of treatments.
KEYWORDS: Listeriosis; Antibiotic resistance, Food contamination.
INTRODUÇÃO
Listeria monocytogenes é uma bactéria gram-positiva e anaeróbica facultativa.
Foi reconhecido como um patógeno em alimentos no ano 1981, após um surto
canadense ligado a salada de repolho contaminada (ALLEN et al., 2016). Alimentos
contaminados com L. monocytogenes quando ingeridos por humanos suscetíveis
podem levar à listeriose. Grupos de risco, que podem vim a desenvolver listeriose
após ingestão do alimento contaminado, incluem: Idosos, gestantes, neonatos e
indivíduos imunocomprometidos (YAN et al. 2019).
Nos últimos anos houve um aumento em indivíduos imunocomprometidos
devido ao uso de terapias intensivas contra o câncer, terapias imunossupressoras,
transplantes de órgãos e aumento do número de idosos. Em alguns países, a
incidência de listeriose vem aumentando e a letalidade chega em até 30% dos casos
(LUNGU, 2011).
Segundo MUÑOZ-GALLEGO et al. (2017) as manifestações clínicas da
listeriose variam entre indivíduos, desde infecções moderadas, como diarreia, até
infecções graves, como septicemia, meningite e aborto. Em pacientes perinatais,
pode-se ocorrer a listeriose neonatal e a taxa de mortalidade é relativamente alta e
chega de 20-40%.
L. monocytogenes possui tolerância a concentrações extremas de pH,
temperatura e sal, podendo assim sobreviver a muitos processos de fabricação de
alimentos. (SOSNOWSKI et al., 2019). Além disso, cepas vêm sendo isoladas de
diferentes alimentos como, leite cru e pasteurizado, queijos, produtos cárneos e
também de equipamentos e utensílios (NOVAES et al., 2014)
O consumo de alimentos prontos para consumo vem aumentando, devido ao
estilo de vida da maioria da população, onde são preferíveis alimentos que sejam
de fácil e rápido consumo, com isso, são consumidos crus ou com o minimamente
processados. L. monocytogenes pode tolerar temperaturas frias e, portanto, possui
um risco para a saúde, pois esses alimentos são normalmente armazenados em
temperaturas de refrigeração. (JAMALIA e THONGA, 2014).
O aumento do uso de temperaturas de refrigeração para conservação de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
134
alimentos permite o prolongamento da proliferação de L. monocytogenes em
alimentos, por isso os derivados cárneos são alimentos sujeitos a proliferação
(LUNGU et al., 2011). Assim como os derivados lácteos, como queijo e leite, estão
sujeitos a atingir níveis potencialmente infecciosos, pois também possuem como
temperatura de armazenamento, a refrigeração (MELERO et al., 2019).
A inativação térmica, como a pasteurização, é um dos principais processos
comumente empregados para controlar a presença de L. monocytogenes durante o
processamento de alimentos (KOMORA et al., 2017).
O tratamento para listeriose consiste na antibioticoterapia e para se ter um
bom prognóstico é importante que o tratamento seja eficaz. A primeira escolha são
os antibióticos β-lactâmicos, como ampicilina ou penicilina G, que podem ser de
escolha única ou associados à aminoglicosídeos ou outras classes, dependendo de
cada caso e conduta médica. Isolados de L. monocytogenes são suscetíveis a uma
ampla gama de antibióticos, porém, ultimamente vem sendo observado um aumento
na resistência antimicrobiana em cepas de origem alimentar (HAUBERT et al, 2015).
A resistência aos antimicrobianos vem aumentando e sendo causada pelo
extensivo uso de antibióticos como promotor de crescimento em animais de criação
e no tratamento médico de humanos ou animais. Essa resistência se da por alguns
mecanismos celulares primários e incluem o transporte ativo do antibiótico para
fora da célula bacteriana, através de bombas de efluente, permeabilidade reduzida
da membrana celular, modificação do sítio alvo ou inativação do antibiótico por
degradação enzimática (ANNALEISE et al., 2018).
O objetivo do presente estudo foi avaliar publicações científicas sobre a
ocorrência de resistência antimicrobiana de cepas de L. monocytogenes isoladas de
alimentos derivados lácteos e produtos cárneos.
METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão de literatura sistemática sobre a resistência de L.
monocytogenes em produtos lácteos e alimentos cárneos. O recurso prático de
análise foi a coleta de artigos disponibilizados na plataforma Science Direct e no
banco de dados PubMed. A busca foi conduzida no período de Abril a Maio de
2019, utilizando a combinação dos descritores Listeria monocytogenes, resistência
antimicrobiana, carne, derivados lácteos, leite e queijo e seus correpondentes na
língua inglesa.
As publicações foram pré-selecionadas a partir dos títulos que mencionassem
resistência antimicrobiana em L. monocytogenes presentes em alimentos cárneos ou
lácteos. Em seguida, procedeu-se com a leitura da metodologia dos diversos estudos,
a fim de selecionar aqueles que atendessem aos seguintes critérios, previamente
especificados: estudos experimentais cuja metodologia envolvesse determinação
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
135
do perfil de sensibilidade da L. monocytogenes através de disco-difusão ou MIC,
publicados no período de 2010 a 2019. Foram excluídos estudos repetidos entre as
bases de dados, que não estivessem em inglês, que foram publicados em modelo
de revisões, e analisaram outros tipos de alimentos que não fossem cárneos ou
laticínios.
A análise dos estudos foi realizada a partir da sumarização das informações
em instrumento contendo os itens: título, ano de publicação, amostra, local e período
de coleta, metodologia utilizada, antibióticos testados, e principais resultados
encontrados.
RESULTADOS
Através da pesquisa foram identificadas 189 publicações científicas relacionadas
à L. monocytogenes em alimentos. Cento e setenta e quatro artigos foram excluídos
por abordarem outros tipos de alimentos, porque eram cartas, dissertação ou notas.
Assim, um total de 15 artigos foram incluídos nesta revisão.
Uma sumarização está demonstrada na Tabela 1. Os estudos analisados foram
desenvolvidos na Jordania, Irã, India, Brasil, Polonia, China, Tailândia, Espanha,
Malasia, Canada e Turquia, sendo a maioria realizados no Irã (4/15; 26,6%) e China
(3/15; 13,3%).
As taxas de contaminação dos alimentos por L. monocytogenes encontradas nos
estudos foram 50%; 1,09%; 9,30%; 18,60%; 11,70%; 10,40%; 5,50%; 5,30%; 15,40%;
3,80%; 16,40%; 20%; 33,30% e 5,30% para os estudos 1,2,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14
e 15 respectivamente (Gráfico 1). O estudo 3 não apresenta uma taxa de contaminação
pois as cepas testadas foram cedidas Laboratório Nacional Agropecuário do Rio
Grande do Sul, e não isoladas de alimentos disponíveis para compra. Em relação
a metodologia utilizada, 80% (12/15) dos estudos optaram pela disco-difusão para
determinação do perfil de sensibilidade da L. monocytogenes.
Verificou-se que em 40% (6/15) dos estudos menos da metade ou nenhum dos
isolados encontrados nos alimentos apresentaram resistência antimicrobiana. Dessa
forma, 60% (9/15) dos estudos verificaram que mais da metade das cepas isoladas
dos alimentos apresentaram resistência antimicrobiana a um ou mais antibióticos
testados.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
136
Gráfico 1. Taxas de contaminação encontradas nos artigos (enumerados de 1 a 15).
Dentre os antibióticos testados verificou-se uma prevalência no uso de
Tetraciclina; seguido por Ampicilina, Penicilina e Penicilina G, Sulfametoxazol +
Trimetroprima, Cloranfenicol, Gentamicina; Eritromicina e Vancomicina (Figura 1).
Figura 1. Antibióticos com maior prevalência nos estudos analisados.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
137
Título / Ano
Alimento / Local de coleta / Período
Prevalence of listeria spp. And
antibiotic susceptibility of Listeria
Frango cru em um matadouro na
monocytogenes isolated from raw Jordânia e frangos prontos pra comer em
chicken and ready-to-eat chicken
pontos de vendas e restaurantes
products in jordan
Não especificado
2011
Prevalence, virulence potential,
and antibiotic susceptibility
profile of Listeria monocytogenes
isolated from bovine raw milk
samples obtained from rajasthan,
india
Leite cru bovino / Fazenda da Índia
Maio de 2014 a Novembro de 2015
Metodologia
Resultados
MIC
50% das cepas
resistentes foram
resistentes a tetraciclina
MIC
100% dos isolados foram
resistentes a penicilina
g, ceftriaxona, oxacilina,
piperaciclina.
Disco-difusão
todos os isolados foram
sensíveis a todos os
antibióticos
Disco- difusão
mais de 50% foram
resistentes ao ácido
nalidíxico
Disco-difusão
menos de 50% foram
resistentes a penicilina g
e tetraciclina
Disco-difusão
mais de 50% foram
resistentes a tetraciclina,
cloranfenicol e penicilina
Disco-difusão
menos de 50% foram
resistente a penicilina e
eritromicina
Disco-difusão
menos de 50%
foram resistentes a
cloranfenicol e amicacina
Disco-difusão
100% foram resistentes
ao sulfametoxazol
trimetoprima ; menos de
50% foram resistentes
ao cloranfenicol,
ciprofloxaxina e
tetraciclina
2017
3.
Antimicrobial resistance and
investigation of the molecular
epidemiology of Listeria
monocytogenes in dairy products
Produtos lácteos / Laboratório Nacional
Agropecuário do Rio Grande do Sul Brasil
Não especificado
2010
4.
Prevalence and antimicrobial
resistance of Listeria species
isolated from milk and dairy
products in iran
Leite e produtos lácteos / pontos de
venda no Irã
Março de 2007 a Setembro de 2009
2010
5.
Prevalence, characterisation,
and antimicrobial resistance
of Listeria species and Listeria
monocytogenes isolates from raw
milk in farm bulk tanks
Leite cru / Fazendas do Iran
Setembro de 2008 a Agosto de 2010
2013
6.
The prevalence and antimicrobial
resistance of Listeria spp in raw
milk and traditional dairy products
delivered in yazd, central iran
(2016)
Leite e produtos lácteos / pontos de
venda no Irã
Não especificado
2018
7.
Drug-susceptibility, biofilmforming ability and biofilm survival
on stainless steel of Listeria spp.
Strains isolated from cheese
Queijos/supermercados na Polonia
Período de 2 meses (ano não
especificado)
2019
8.
Prevalence, antimicrobial
resistance and genetic diversity
of Listeria
monocytogenes isolated from
chilled pork in nanjing, china
Carne de porco refrigerada / mercado a
céu aberto e supermercados na China
Não especificado
2015
9.
Prevalence, genetic diversity and
antimicrobial resistance of Listeria
monocytogenes isolated from
ready-to-eat meat products in
nanjing, china
Carnes prontas pra consumo/ mercados
na China
Abril de 2013 a dezembro de 2013
2014
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
138
10.
Prevalence of Listeria
monocytogenes in raw meats
marketed in Bangkok and
characterization of the isolates
by phenotypic and molecular
methods.
Amostras de carne crua / mercados em
Bangkok - Tailândia
Disco-difusão
todos os isolados foram
sensíveis a todos os
antibióticos
Disco-difusão
menos de 50% das
amostras testadas foram
resistentes amicacina,
sulfametoxazol
trimetoprima , tetraciclina,
cefalotina, ciprofloxacina
e vancomicina
Disco-difusão
100% dos isolados foram
resistentes a penicilina
g e ampicilina; mais de
50% foram resistentes a
tetraciclina e rifampicina
Disco-difusão
mais de 50% dos
isolados foram
resistentes a cefoxitina,
ácido nalidixico e
clindamicina
Disco-difusão
mais de 50% dos
isolados foram
resistentes a ampicilina e
penicilina
Disco- difusão
mais de 50% das cepas
testadas foi sensível a
todos os antibióticos
Abril a novembro de 2007
2011
11.
Prevalence and antimicrobial
resistance of Listeria
monocytogenes and Salmonella
strains isolated in ready-to-eat
foods in eastern Spain
Produtos lácteos e cárneos / Espanha
2006 e 2012
2015
12.
Mpn-PCR detection and
antimicrobial resistance of Listeria
Produtos cárneos / mercados na Malasia
monocytogenes isolated from
raw and ready-to-eat foods in
Malaysia
Não especificado
2012
13.
Occurrence and characterization
of Listeria spp. In ready-to-eat
retail foods from Vancouver,
British Columbia
Carnes prontas pra consumo e peixe /
Canada
Setembro a outubro 2010
2012
14.
Prevalence and antimicrobial
resistance patterns of Listeria
species isolated from poultry
products marketed in iran
Produtos avícolas crus, prontos para
cozinhar (rtc) e prontos para consumo
em pontos de venda no Irã
Abril de 2010 a março de 2011
2012
15.
Presence and antibiotic
resistance of Listeria
monocytogenes in raw milk and
dairy products
Leite cru, queijo branco e manteiga /
Turquia
Outubro de 2012 e março de 2013
2018
Tabela 1. Sumarização dos estudos incluídos nesta revisão.
DISCUSSÃO
A primeira cepa de L. monocytogenes resistente a antimicrobianos foi detectada
em 1988, e desde então vem sendo identificada com mais frequência (WANG et al.,
2013).
A metodologia utilizada por praticamente todos os estudos, exceto dois
estudos, foi disco-difusão, que é uma metologia eficaz, e alternativa aos métodos
automatizados. A taxa de difusão do antimicrobiano através do ágar depende das
propriedades de difusão e solubilidade do fármaco em ágar Mueller-Hinton e do peso
molecular do composto antimicrobiano. Cada antimicrobiano assim resulta, tendo
um tamanho de zona de inibição único. Sendo assim, possível por esse método,
avaliar a resistência de microorganismos a antimicrobianos (HUDZICKI, 2010).
Pode-se observar que 60% dos estudos apresentados na tabela 1, verificaram
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
139
que mais da metade das cepas isoladas dos alimentos apresentaram resistência
antimicrobiana a um ou mais antibióticos testados. O uso dos antimicrobianos vem
aumentando a cada dia, sendo utilizados para profilaxia e tratamento de controle
de doenças infecciosas em animais e humanos, assim como para o aumento do
crescimento de animais, por produtores de alimentos na maioria dos países, incluindo
o Japão, o que causa grande preocupação, pois a população está cada dia mais
exposta aos antibióticos, seja pela necessidade de tratamento ou pela presença na
carne consumida (MAUNG A et al., 2018).
A antibioticoterapia necessária para o tratamento da listeriose tem como escolha
de uso inicial os medicamentos, Ampicilina e Penicilina e podem ser utilizados em
associações com os antimicrobianos gentamicina ou sulfametoxazol + trimetoprima
(VASCONCELOS et al., 2016). Ambos, antimicrobianos foram testados em 86,6% dos
estudos apresentados na tabela 1. O antimicrobiano Gentamicina não apresentou
cepas resistentes em nenhum estudos, sendo um resultado muito satisfatório, os
antimicrobianos Ampicilina e Sulfametoxazol + Trimetropina apresentaram cepas
resistentes em apenas dois estudos (13%). Porém, o antimicrobiano Penicilina,
apresentou cepas resistentes em seis estudos (40%), sendo um dado preocupante
por ser um dos antibióticos de primeira escolha para o tratamento da listeriose.
O antimicrobiano vancomicina é um dos tratamentos de primeira escolha para
gestantes (WANG et al., 2013). Foi testado em 10 dos estudos citados na tabela
1 e em apenas um estudo foram encontradas cepas resistentes, sendo em menos
que 50% das cepas. Apesar de ter sido encontrado em apenas um estudo, o dado
já é preocupante pelo fato de ter sido encontrada resistência antimicrobiana a esse
antibiótico.
O antimicrobiano Tetraciclina foi investigado em 93,3% dos estudos e
apresentou resistência em 50% desses. Segundo GOMEZ et al. (2014), a incidência
de resistência à tetraciclina é comumente encontrada. A eficácia da tetraciclina vem
diminuindo nas últimas décadas, devido à existência generalizada de genes de
resistência, possivelmente devido ao uso prolongado desses antimicrobianos em
seres humanos e como promotores de crescimento em animais.
Segundo DESAI et al. (2019), L. monocytogenes tem a capacidade de formar
biofilmes e crescer em temperatura de refrigeração, o que pode explicar o crescimento
desse microrganismo nos alimentos estudados, derivados lácteos e carnes, que
são armazenados em temperatura refrigerada. Gerando grande preocupação, pois
mesmo sendo armazenados na temperatura correta para conserva-los, os mesmo
estão sujeitos à contaminação e proliferação desse patógeno.
Muitos estudos vêm indicando a resistência de L. monocytogenes isoladas
em todo o mundo, o que indica que este patógeno aparenta adquirir uma ampla
variedade de genes de resistência a antibióticos, muitos dos quais podem vir de
organismos comensais encontrados em alimentos e áreas de cultivo de alimentos e
processamentos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
140
Esse achado é preocupante e sugere que a resistência em isolados humanos
clínicos possa surgir em um futuro próximo (LUNGU et al., 2011). A resistência
antimicrobiana em patógenos bacterianos e a proliferação de patógenos resistentes
através da cadeia alimentar indica um problema de saúde pública, em termos de
morbidade, mortalidade e custo dos tratamentos (MAUNG A et al., 2018).
CONCLUSÃO
A resistência antimicrobiana de cepas de L. monocytogenes em derivados
lácteos e carnes é preocupante, principalmente por serem alimentos de alto consumo
por toda a população. Representa um problema de saúde pública a nível mundial,
visto que os estudos foram feitos em vários países. Ações devem ser realizadas por
órgãos governamentais para controle do uso de antimicrobianos para crescimento
de animais e uso não racional pela população a fim profilático e terapêutico para
infecções. Há grande necessidade de programas de vigilância em todo mundo para
monitorar informações epidemiológicas sobre esse patógeno.
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Capítulo 14
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 14
143
CAPÍTULO 15
SCOBY (SYMBIOTIC CULTURE OF BACTERIA AND
YEAST): TENDÊNCIAS EM SUCOS E EXTRATOS
VEGETAIS
Daiane Costa dos Santos
Universidade Federal de Goiás, UFG, Goiânia,
Goiás.
Isabelle Bueno Lamas
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde, Rio
Verde, Goiás.
Josemar Gonçalves Oliveira Filho
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” - Unesp, Araraquara, SP.
Mariana Buranelo Egea
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Goiano, Campus Rio Verde, Rio
Verde, Goiás.
fermentativos que alteram positivamente as
características sensoriais do substrato, assim
como sua composição química. O objetivo deste
capítulo foi fornecer informações científicas
sobre o processo fermentativo, a composição
nutricional e os potenciais efeitos benéficos do
kefir e da kombucha.
PALAVRAS-CHAVE:
kefir,
kombucha,
potencial probiótico, desenvolvimento de novos
produtos
SCOBY (SYMBIOTIC CULTURE OF
BACTERIA AND YEAST): TRENDS IN JUICES
AND VEGETABLE EXTRACTS
RESUMO: Culturalmente, o SCOBY (Symbiotic
Culture of Bacteria and Yeast) tem sido
cultivado e consumido por pessoas entre
suas residências mostrando que o baixo
custo e a praticidade estão entre as suas
principais vantagens. Dentre os SCOBYs mais
conhecidos, estão o kefir (“grãos”) e a kombucha
(“chapéu”). Ambos, são uma simbiose de
micro-organismos (bactérias e leveduras) que
estão aprisionados em uma matriz polimérica,
a kefirana no caso do kefir e a celulose para
o kombucha. Além dos efeitos benéficos que
eles podem promover ao serem incluídos
na dieta humana que tem sido discutidos na
literatura, eles também promovem processos
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
ABSTRACT: Culturally, the Symbiotic Culture
of Bacteria and Yeast (SCOBY) has been
cultivated and consumed by people in their
residences showing that low cost and practicality
are among its main advantages. Among the
most well-known SCOBYs are kefir (“grains”)
and kombucha (“hat”). They are a symbiosis
of microorganisms (bacteria and yeast) that
are trapped in a polymeric matrix, kefiran for
kefir and cellulose for kombucha. In addition
to the beneficial effects they can promote by
being included in the human diet that has been
discussed in the literature, they also promote
fermentative processes that positively alter
the sensory characteristics of the substrate as
Capítulo 15
144
well as its chemical composition. The purpose of this chapter was discuss scientific
information about fermentation process, nutritional composition and potential beneficial
effects of the kefir and kombucha beverages.
KEYWORD: kefir, kombucha, potential probiotic, new product development
1 | INTRODUÇÃO
É indiscutível que a má escolha no momento da alimentação é um dos fatores
que pode contribuir para o aparecimento de doenças crônico-degenerativas no
ser humano. Enquanto isso, estudos epidemiológicos mostram que o aumento do
consumo de alimentos de origem vegetal influencia positivamente à saúde, enquanto,
estudos in vitro e in vivo elucidaram os mecanismos pelos quais compostos bioativos,
presentes nos alimentos, atuam na manutenção da saúde e na redução do risco
de doenças (BASTOS; ROGERO; AREAS, 2009). Isso faz com que atualmente os
consumidores busquem alimentos que contenham propriedades funcionais, ou seja,
quando consumidos produzem efeitos metabólicos, fisiológicos e/ou benéficos à
saúde sendo classificados conforme a presença de componentes bioativos (PANDEY;
NAIK; VAKIL, 2015).
Os probióticos são micro-organismos vivos que quando consumidos em
quantidades adequadas, conferem benefício à saúde, como melhora na absorção de
nutrientes, na funcionalidade ao sistema imunológico pela excreção de subprodutos
funcionais no organismo humano como substâncias antimicrobianas (DOGAN;
TEIKINER; DEMIRKESENBIÇAK, 2019), aumentam a proteção ao trato gastrintestinal
(resistência ao suco gástrico ácido, suco pancreático básico, lisozima e ácido biliar),
e a capacidade de auto agregação e formação de flora normal de sustentação não
patogênico (GUT et al., 2018), entre outras.
A fermentação microbiana é um processo amplamente conhecido e quando
realizado além de contribuir com a preservação também resultam em sabor agradável,
aroma, textura, valores nutritivos melhorados, e boa manutenção da qualidade sob
condições ambientais (LAW et al., 2011).
SCOBY (ou SCOBAY) é uma simbiose que contém bactérias e leveduras
vivendo em sinergia e são utilizadas para a produção de alimentos e bebidas. O
alimento produzido poderá conter micro-organismos que tem mostrado ações
benéficas no organismo humano. A fermentação com SCOBY é importante na
produção de características sensoriais como aroma e sabor atrativos no produto final
como acontece no kefir e na kombucha. O kefir tem sido utilizado na fermentação
de substratos como sucos e leite, enquanto a kombucha tradicionalmente é utilizada
para fermentar chás. Os grãos (estrutura de polissacarídeo chamada kefiriana)
de kefir contém bactérias de ácido lático, bactérias de ácido acético, leveduras e
fungos (FIORDA et al., 2017; ERDOGAN et al., 2019). Enquanto isso, a kombucha
contém espécies de Gluconacetobacter, incluindo Gluconacetobacter xylinum e
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
145
várias leveduras, tais como os gêneros de Brettanomyces, Zygosaccharomyces,
Saccharomyces e Pichia. As mais importantes dessas espécies são aquelas
que produzem celulose bacteriana, como o Komagataeibacter xylinus, que foi
recentemente reclassificado de Gluconacetobacter xylinus (conhecido anteriormente
como Acetobacter xylinum (MARSH et al., 2014).
O objetivo deste capítulo foi esclarecer a produção e as características de
bebidas de origem vegetal utilizando kefir e kombucha.
2 | KEFIR
2.1 Composição e processo fermentativo
Kefir, também conhecido como quefir, tibicos e cogumelos tibetanos, é uma
mistura de micro-organismos que teve sua origem das montanhas Caucasianas
da Rússia. A biomassa (ou “grãos”) é descrita como uma associação simbiótica de
bactérias ácido-láticas e ácido-acéticas, fungos e leveduras, que são envolvidas por
polissacarídeo denominado kefirana. O tamanho dos “grãos” pode variar de 0,5-3,5
cm de diâmetro, com formato irregular e, são de cor amarelado ou esbranquiçado
dependendo do substrato onde foi cultivado (leite, açúcar mascavo ou suco) (Figura
1A) (GAWARE et al., 2011).
Figura 1. Biomassa (“grãos”) (A), bebida sendo fermentada por kefir (B), biofilme (“chapéu) (A)
e bebida fermentada (B) de kombucha
A composição microbiana da biomassa pode diferir conforme a região de
origem, o tempo de utilização, a manipulação, o meio de cultivo e o substrato utilizado
para proliferação da biomassa (WITTHUHN; SCHOEMAN; BRITZ, 2005). Embora
a biomassa contenha micro-organismos probióticos, a literatura não o relata como
tal, já que para isso, a espécie responsável pela ação benéfica deveria ser isolada,
identificada e sua ação comprovada. Na biomassa pode conter espécies dos gêneros
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
146
Leuconostoc, Lactococcus e Acetobacter com produção de ácido láctico, etanol e
dióxido de carbono. Lactococcus lactis é um importante micro-organismo probiótico
e que geralmente compõe a cultura kefir (CHEN; WANG; CHEN, 2008; WITTHUHN;
SCHOEMAN; BRITZ, 2005).
O kefir de água ou kefir açucarado é preparado com uma solução de sacarose
(Figura 1B) com ou sem extrato de frutas (SCHNEEDORF, 2012). Neste meio, o
metabolismo de Saccharomyces e outras leveduras fermentativas são estimuladas,
e isso pode aumentar o teor de álcool no produto final e estimular o crescimento de
bactérias ácido-acéticas que beneficiam o aumento da produção de etanol para o
metabolismo do ácido acético (FIORDA et al., 2017).
A Figura 2 demonstra o fluxograma para produção da bebida e a multiplicação
da biomassa que pode ser realizada em recipiente de vidro coberto com tecido de
voal, ou coberto com filme plástico e incubado a temperatura ambiente (~25 °C) por
24 horas. Na fermentação de bebidas, o tempo e a quantidade de inóculo irão variar
em diferentes substratos, sendo importante o estudo para otimização de condições
específicas (SABOKBAR; KHODAIYAN, 2015, SANTOS et al., 2019; GAO et al.,
2012).
Água previamente
fervida
Suco de frutas
Extratos vegetais
Açúcar mascavo
Mistura
Inoculação
Fermentação
25°C/24 horas
Separação
Bebida
Famentada
Biomassa de kefir
Figura 2. Fluxograma da produção da bebida fermentada e da biomassa de kefir
A busca pelo consumo de frutas e vegetais para diminuir o risco de doenças tem
aumentado pelos consumidores e o desenvolvimento de bebida fermentada à base
de extratos vegetais pode apresentar grandes vantagens como: ampliar a escolha
para o consumo desses produtos; estimular novos métodos para o processamento
de frutas e vegetais reduzindo as perdas da produção e gerando mais lucros ao
introduzir novos produtos; oferecer efeitos benéficos provenientes do kefir e das
frutas e vegetais; e proporcionar a estes produtos características sensoriais únicas,
com um sabor refrescante (devido à presença de etanol), aroma frutado (presença de
ésteres), corpo e textura (presença de glicerol) que são atrativos aos consumidores
(RANDAZZO et al., 2016; PUERARI; MAGALHÃES; SCHWAN, 2012; FIORDA et al.,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
147
2016; CORONA et al., 2016).
A bebida de kefir a base de uva, apresenta um sabor ácido, refrescante,
presença de ácido acético e baixo teor alcoólico e é comumente consumido no sul
da Itália (FIORDA et al., 2017; GAWARE et al., 2011). A mistura de suco de romã e
soro de leite pode ser um potencial substrato para o crescimento de kefir e produção
de ácidos orgânicos como ácido lático e ácido acético quando a fermentação é
conduzida de 19 a 25 °C, com 5 a 8 % m/v de inóculo e por 32 horas (SABOKBAR;
KHODAIYAN, 2015).
Durante a fermentação alguns grãos podem precipitar para superfície devido a
produção de gás carbônico no meio. Geralmente durante as fermentações de bebidas
à base de frutas, ocorre o consumo de açúcar e a produção de etanol. Para ser um
bom veículo para os micro-organismos, os sucos devem conter altas concentrações
de açúcares e outros componentes de alto valor nutricional, como polifenóis que
são benéficos a saúde e por isso, os tornam de fácil aceitação para o consumidor.
Outra alternativa é adição de açúcares e por se tratar de micro-organismos, o açúcar
usado no cultivo deve ser isento de aditivos químicos (RANDAZZO et al., 2016;
FIORDA et al., 2016).
Corona et al. (2016) avaliaram a composição microbiana e as características
físico-química e sensoriais de sucos extraídos de vegetais (cenoura, erva-doce, melão,
cebola, tomate e morango) após a fermentação de kefir. Os resultados indicaram que
houve um aumento de compostos orgânicos voláteis, como os ésteres que estavam
presentes em quantidades elevadas no morango, cebola e melão, e os terpenos
encontrados na cenoura e na erva-doce. Estes sucos fermentados apresentaram
alta atividade antioxidante e a análise sensorial indicou que entre eles, a bebida
fermentada de cenoura foi o produto mais apreciado.
A cerveja de gengibre é amplamente conhecida na Grécia onde é feito como
especialidade local e no leste da África onde é considerada uma bebida muito popular.
Na produção de cerveja os grãos de kefir realizam a fermentação mais lentamente e
ao final demonstram um maior teor de etanol (FIORDA et al., 2017).
Uma vantagem da biomassa de kefir é que após ser utilizada na fermentação do
substrato, ela terá aumentado e poderá ser recuperada por separação e reutilizada
em outro processo fermentativo (SATIR; GUZEL-SEYDIM, 2016). Ao mesmo tempo,
a produção padronizada da bebida é irregular devido à complexidade da sua
composição microbiológica e por isso, tentativas têm sido realizadas para normalizar
esta produção usando as culturas starters (ROMANIN et al., 2010).
Outra dificuldade da indústria de alimentos é aplicar o processo realizado de
forma caseira para a produção industrial. Neste sentido, Fiorda et al. (2016) estudaram
parâmetros cinéticos variando o tempo, temperatura e concentração de mel para
produzir a bebida. Estes autores concluíram que a produção em larga escala da
bebida é possível e nenhum custo adicional é envolvido para suplementação do
meio com nitrogênio e a temperatura 30 °C é requerida.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
148
A adaptação dos grãos de kefir em diferentes substratos mostra potencial
para produção de bebidas com características sensoriais distintas e propriedades
funcionais. Essas novas bebidas não-lácteas são alternativas como veículo para
micro-organismo com potencial probiótico principalmente para pessoas com
intolerância à lactose e alergia a produtos lácteos ou consumidores veganos. No
entanto, ainda existem algumas lacunas de conhecimento para a indústria de
produção de kefir, que permanece em um processo tradicional e empírico. Informações
suficientes não são conhecidas sobre a relação entre os micro-organismos e os
aspectos tecnológicos e funcionais para criar produtos uniformes. Vale lembrar que
composição microbiológica é bastante variável, o que resulta em distintos perfis de
bioprodutos e consequente diferentes ações benéficas no organismo humano. Tanto
a biologia como a química do processo fermentativo utilizando kefir são complexos,
e elas precisam de uma análise abrangente de todos os aspectos em condições de
processo controlado (FIORDA et al., 2017, CORONA et al., 2016, BOAKYE et al.,
2016, NIKOLAOU et al., 2017).
2.2 Efeitos benéficos do kefir
O consumo de kefir tem sido associado a benefícios no tratamento de problemas
gastrointestinais, hipertensão, alergias, cânceres e doenças cardíacas. Além disso,
propriedades antibacterianas contra bactérias patogênicas, como Salmonella, têm
sido relatadas (ZAVALA et al., 2016). Essas propriedades profiláticas e terapêuticas
estão associadas às interações dos micro-organismos do kefir com o trato
gastrointestinal e aos metabólitos bioativos que são produzidos quando estes microorganismos habitam a microbiota humana, incluindo ácidos orgânicos, bactericidas,
dióxido de carbono, peróxido de hidrogênio, etanol e diacetil (OLIVEIRA LEITE et al.,
2013).
Estudos tem comparado as propriedades da biomassa de kefir com as culturas
staters. Culturas iniciais de kefir usadas em produções comerciais não contêm
bactérias como Lactobacillus kefirianofaciens, Lactobacillus kefiri e Lactobacillus
parakefiri além de conter poucas bactérias de ácido láctico e leveduras (ENDORGAN
et al., 2019), mas também podem demonstrar benefício à saúde (BOURRIE;
WILLING; COTTER, 2016). Em um estudo utilizando a biomassa e a cultura starter na
produção da bebida, esta última não inibiu o micro-organismo Trichoderma koningii
na microbiota intestinal dos camundongos, enquanto a bebida a partir da biomassa
demonstrou sua atividade antifúngica (ENDORGAN et al., 2019).
Isso acontece provavelmente por que, a diversidade microbiana do kefir é
importante para a produção de diversos metabólitos. Também, o exopolissacarídeo
produzido a partir de L. kefiranofaciens presentes na biomassa de kefir tem
demonstrado atividade anti-inflamatória e anti-ulcerogênica (JEONG et al., 2017).
Rodrigues et al. (2016) avaliaram o potencial da cerveja fermentada com quefir
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
149
contra inflamações e úlcera. Para isto foram utilizados o modelo de edema de pata de
rato e de úlcera gástrica, sendo encontradas diminuições acentuadas nas respostas
inflamatórias e anti-ulcerogênicas no grupo tratado com cerveja de kefir comparado a
cerveja controle. Os autores relatam ainda que esta é a primeira vez que uma cerveja
produzida com kefir como fermentador único, mostrou funcionalidades aprimoradas
e propriedades contra inflamação e úlcera gástrica em comparação com os seus
constituintes sozinhos.
Embora ainda não se saiba o mecanismo que promove o efeito benéfico na
saúde humana, os trabalhos científicos concordam que a inclusão deste alimento na
dieta pode ser positiva para a saúde.
3 | KOMBUCHA
3.1 Composição e efeitos benéficos à saúde
Kombucha é uma bebida não alcoólica fermentada a partir de chá e levemente
ácida que se originou no nordeste da China (Manchúria) e tem ganhado significativa
popularidade no ocidente (CHAKRAVORTY et al., 2016; CHAKRAVORTY et al.,
2019). Esta bebida tem sabor doce de cidra de maçã, enquanto uma fermentação
prolongada resulta no desenvolvimento de sabor ácido semelhante ao vinagre ou de
espumante (DUTTA; PAUL, 2019).
Os micro-organismos fermentadores da kombucha ficam aprisionados ao
biofilme de celulose e as principais cepas bacterianas identificadas no SCOBY
são:
Acetobacter
xylinoides,
Komagataeibacter
xylinus,
Gluconacetobacter
xylinus, Acetobacter aceti, and Acetobacter pasteurianus. Enquanto isso, as
principais espécies de leveduras identificadas são: Schizosaccharomyces pombe,
Saccharomycodes ludwigii, Kloeckera apiculata, Saccharomyces cerevisiae,
Torulaspora, Zygosaccharomyces bailii, Brettanomyces bruxellensis, Brettanomyces
lambicus, Brettanomyces custersii, Candida e Pichia (DUTTA; PAUL, 2019).
A grande vantagem da simbiose entre micro-organismos é a relação benéfica
existente entre eles. Algumas cepas de Acetobacter xylinum tem a capacidade de
sintetizar celulose que aumenta a associação dos micro-organismos no biofilme
fazendo com que ele flutue no meio fermentado (JOHNSY et al., 2005). A sacarose
é hidrolisada em glicose e frutose que são substratos da enzima invertase produzida
pelas leveduras e este açúcares são utilizados como fonte de carbono e também
para a produção de etanol. Bactérias acéticas utilizam glicose e etanol para produzir
ácido glicônico e ácido acético. A glicose também se transforma em ácido glicurônico
pela oxidação na posição C-6 da sua molécula (DUTTA; PAUL, 2019). No organismo
humano, o ácido glicurônico pode se conjugar com moléculas lipossolúveis e promover
a eliminação dessas moléculas do organismo humano pela urina ou bile. Por isso,
a ingestão da bebida fermentada de kombucha tem sido associada a diminuição de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
150
colesterol total e LDL-c (Lipoproteína de baixa densidade) (ADRIANI, MAYASARI;
ANGGA, 2011; ALOULOU et al., 2012).
Ainda durante a fermentação utilizando kombucha, o ácido lático é formado
a partir de glicose e sacarose pelas bactérias ácido-láticas. Quando a bebida é
armazenada em um longo período de tempo, o etanol pode ser útil para a produção
de ácido acético combinado ao aumento das bactérias do ácido acético. O ácido
acético estimula as leveduras a produzirem etanol por diminuição de pH. O etanol e o
ácido acético são importantes agentes antimicrobianos do meio, enquanto os demais
ácidos impossibilitam o crescimento de outros micro-organismos deteriorantes ou
patogênicos pelo baixo pH da solução (DUTTA; PAUL, 2019).
O baixo pH e a produção de ácidos pelos micro-organismos presentes na
kombucha pode estar relacionada a sua atividade antimicrobiana que tem sido
demonstrada contra Bacillus subtilis, Campylobacter jejuni, Escherichia coli, Shigella
sonnei, Salmonella typhimurium, Salmonella enterica Serovar Enteritidis, Serratia
marcescens, Staphylococcus aureus e Pseudomonas aeruginosa. O ácido acético
foi considerado responsável pelo efeito inibitório combinado ao baixo pH, e também
a presença de compostos antimicrobianos (SREERAMULU; ZHU; KNOL, 2000;
VOHRA et al., 2018).
A presença de hidroxi-derivados do ácido benzoico e hidroxicinâmico,
flavonoides, flavonóis e flavanonas, já foi relatada na bebida de kombucha e estes
compostos estão relacionados a sua capacidade antioxidante. O consumo metabólico
de flavan-3-ols e derivados do ácido hidroxibenzóico, bem como a produção de ácidos
orgânicos (ácido succínico) pode diminuir a adstringência e amargura, melhorando a
qualidade e a aceitabilidade do produto (VÁZQUEZ-CABRAL et al., 2014). Quando o
processo fermentativo ocorre em chás, que possuem compostos fenólicos como as
caínas e as xantinas, pode acontecer o estímulo da síntese de celulose por bactérias
(DUTTA; PAUL, 2019).
A kombucha tem sido estudada como agente hiperglicêmico por ser inibidor da
α-amilase que pode estar associada a presença das catequinas glicosiladas na bebida
após a fermentação (ALOULOU et al., 2012). As atividades inibitórias da ɑ-amilase e
ɑ-glicosidase aumentaram à medida que o processo fermentativo progrediu e após
o processo de digestão in vitro, mostrando que os chás fermentados mostram esta
atividade (WATAWANA et al., 2015).
Tradicionalmente, o SCOBY de kombucha é utilizada para a fermentação de chá
verde e preto e nestes substratos tem demonstrado grande potencial antioxidante
(FU et al., 2014) que foi menor na primeira semana de fermentação (AMARASINGHE;
WEERAKKODY; WAISUNDARA, 2018; VOHRA et al., 2018).
3.2 Inovação e desafios na produção da bebida fermentada de kombucha
O chá fermentado por kombucha é normalmente preparado utilizando o biofilme
(Figura 1C) e de 10 a 15% de caldo previamente fermentado (para manter o pH
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
151
baixo) em chá verde (Camellia sinensis var. sinensis) ou preto (Camellia sinensis var.
assamica após o processo de oxidação de polifenóis). A fermentação é geralmente
feita em recipiente de vidro coberto com pano limpo que deverá ser incubado a
temperatura ambiente (28 a 30 °C) por 7 a 12 dias (CHAKRAVORTY et al., 2019)
(Figura 1D). Atualmente, a bebida de kombucha tem sido preparada em diferentes
tipos de substratos, entre chás e sucos, e muitas vezes adicionado de açúcares ou
mel e por isso, está cada vez mais adaptado ao paladar dos consumidores ocidentais.
A Figura 3 apresenta o fluxograma de produção de bebida fermentada a partir
de kombucha. Durante o processo fermentativo ocorre o aumento da turbidez e o
aumento da massa do biofilme que, estão relacionadas com a quantidade de celulose
produzida pelas bactérias do ácido acético. O aumento da turbidez indicaria uma
maior quantidade de celulose e outras matérias fibrosas sendo liberadas para o
caldo (AMARASINGHE; WEERAKKODY; WAISUNDARA, 2018).
Chá ou suco
Açúcar (50g/L)
SCOBY
Mistura
Chá ou suco
fermentado
Acondicionar
Incubar (28-30°C)
1ª fermentação
SCOBY
Separação
Chá ou suco
fermentado
Saborização
2ª fermentação
Figura 3. Fluxograma de processamento da bebida fermentada utilizando kombucha
A produção de kombucha esbarra no que se considera também a sua maior
vantagem: a produção artesanal. Um dos grandes desafios na produção da bebida
fermentada de kombucha é isolar e identificar os micro-organismos presentes no
biofilme e com isso, encontrar condições ideais de produção da bebida para que
o processo seja realizado em escala industrial (LIMA et al., 2019). A falta de uma
cultura starter comercial e a necessidade de utilização de biofilme que, assim
como o kefir, pode apresentar composições variadas quanto aos tipos de cepas
de micro-organismos dependendo das condições de cultivo, substrato, e por isso,
levar a produtos finais com defeitos ou até mesmo fora do padrão esperado. Por
exemplo, a quantidade o ácido glucurônico produzido depende de uma determinada
linhagem bactérias de ácido acético e leveduras, e é por isso que a seleção de
micro-organismos e das condições de fermentação são importantes (MALBAŠA et
al., 2011; NGUYEN et al., 2015). Uma solução para este problema é a uma seleção
dos biofilmes que produzem as melhores características sensoriais e nutricionais
no substrato, e a partir dele realizar o isolamento das cepas responsáveis pela
fermentação (SANTOS, 2016).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
152
Outro problema da falta de padronização do processo fermentativo é que o
produto final nem sempre tem as características que atendam a expectativa do
consumidor. O tempo de fermentação também altera o produto final. Neffe-Skocińska
et al. (2017) avaliaram a temperatura (20, 25 e 30°C) durante 10 dias sobre as
características químicas (composição em ácido glicurônico), microbiológicas e
sensorial de chá verde e preto no processo fermentativo. Estes autores encontraram
maior conteúdo de ácido glicurônico quando utilizaram a temperatura de 25 °C e
maior crescimento de bactérias do ácido acético e láctico, e leveduras à 30°C, e as
características sensoriais mostraram-se satisfatórias em todas as temperaturas e
tempos avaliados. Também, os três tipos de bebidas mostraram os aromas de chá,
limão e ácido, sabor de limão, chá e ácido e aparência clara e tom semelhante. Por
outro lado, Jayabalan et al. (2010) indicaram que todos os parâmetros químicos
(macronutrientes, minerais, aminoácidos, e contagem de micro-organismos)
aumentaram com o tempo de fermentação.
Em chá de plantas de carvalho (Quercus resinosa) onde foram avaliadas as
concentrações de açúcar, inóculo, temperatura e tempo de fermentação, a bebida que
demonstrou maior aceitabilidade era proveniente de fermentação com menor tempo
e maiores adições de açúcares (>10%). O consumo metabólico de flavan-3-derivados
de ácido isobenzóico e hidroxibenzóico pelos micro-organismos da kombucha, bem
como a produção de ácidos orgânicos (ácido succínico) diminuiu a adstringência e
amargura, melhorando a qualidade e aceitabilidade da bebida (VÁZQUEZ-CABRAL
et al., 2014). Esta é uma característica importante já que kombucha é uma bebida
apreciada pelo sabor ácido e sensação refrescante.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os SCOBYs mais utilizados para produção de bebida fermentada são o kefir e
a kombucha. Eles podem ser utilizados em pequena escala e produzir uma bebida
que tenha sabor refrescante, ácido e potencial de benefícios a saúde.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 15
156
CAPÍTULO 16
TOXINFECÇÕES ALIMENTARES VIRAIS:
CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS VÍRUS,
PREVENÇÃO, TRATAMENTO E MÉTODOS CLÍNICOS
DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL POR QRT-PCR E
BIOSSENSORES
Karina Teixeira Magalhães-Guedes
Departamento de Análises Bromatológicas,
Faculdade de Farmácia, Universidade Federal
da Bahia (UFBA), Rua Barão of Geremoabo,
s/n, Ondina, CEP: 40171-970, Salvador, BA,
Brasil. E-mail: karynamagat@gmail.com; karina.
guedes@ufba.br
RESUMO: Os vírus transmitidos por alimentos
foram reconhecidos entre as principais
prioridades de segurança alimentar e se
tornaram uma preocupação maior para a
indústria de alimentos nos últimos anos.
Especialistas
em
segurança
alimentar
concordaram que são necessárias medidas de
controle de vírus em toda a cadeia alimentar.
Este manuscrito fornece uma descrição dos
vírus transmitidos por alimentos (Rotavírus,
Adenovírus, Norovírus, Astrovírus, Hepatite A,
Hepatite E e Poliovírus) e suas características
e tecnologias desenvolvidas para detecção e
controle viral. Uma pesquisa bibliográfica foi
realizada para coletar dados e informações
sobre doenças virais dos últimos dezenove
anos. Os sites de pesquisa acessados foram:
livros, teses e banco de dados Scielo, Google
Scholar, Medline, Pubmed, Science Direct,
portal periódico CAPES e biblioteca virtual de
saúde. Este estudo foi realizado para esclarecer
aos profissionais de saúde a importância da
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
necessidade de maior notificação e atualização
dessas toxinfecções alimentares virais, a fim
de reduzir o número de casos dessas doenças.
A prevenção e tecnologias biológicas eficazes
para garantir o controle de vírus na cadeia
alimentar, podem reduzir significativamente
as toxinfecções transmitidas por alimentos
causadas por vírus.
PALAVRAS-CHAVE: Vírus entéricos, vírus em
alimentos, qRT-PCR na detecção de vírus.
VIRAL FOOD TOXI-INFECTIONS:
CHARACTERISTICS OF THE MAIN
VIRUSES, PREVENTION, TREATMENT AND
CLINICAL METHODS OF LABORATORY
DIAGNOSIS BY QRT-PCR AND
BIOSENSORS
ABSTRACT:
Foodborne
viruses
were
recognized among the top-rated food safety
priorities and have become a greater concern to
the food industry over the past few years. Food
safety experts agreed that control measures for
viruses throughout the food chain are required.
This manuscript provides a description of
foodborne viruses (Rotavirus, Adenovirus,
Norovirus, Astrovirus, Hepatitis A, Hepatitis E,
and Poliovirus) and their characteristics, and
technologies developed for viral detection and
Capítulo 16
157
control. A bibliographical research was carried out to collect data and information on
viral diseases of the last nineteen years. The research sites accessed were: books,
theses and the database of Scielo, Google Scholar, Medline, Pubmed, Science Direct,
CAPES periodical portal and virtual health library. This study was carried to clarify
to the health professionals the importance of the need for a greater notification and
update of these viral food toxinfections, in order to reduce the cases number of these
diseases. Effective prevention and biological technologies to ensure control of viruses
in the food chain can significantly reduce foodborne toxinfections caused by viruses.
KEYWORDS: Enteric viruses, Virus in food, qRT-PCR in virus detection.
1 | INTRODUÇÃO
Surtos e doenças causadas por microrganismos em alimentos, em específico
os vírus, representam um grande ônus para a saúde, não apenas por causarem
doenças, mas também através dos custos associados às medidas tomadas para
reduzir os impactos nas populações mundiais. No mundo de hoje com seu global
alcance, o potencial para a propagação de doenças virais transmitidas por alimentos
em todos os continentes, são imensas (CDC, 2016; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Quando fora de seus hospedeiros, os vírus são apenas partículas inertes, e seu
risco associado depende muito em manter sua capacidade de infecção causando
viroses (TRABULSI & ALTERTHUM, 2008). Em sua constituição há, geralmente,
só um tipo de ácido nucléico, ou DNA ou RNA, de fita simples ou fita dupla. Pode
ter também proteínas, glicoproteínas e/ou glicolipídios (TRABULSI & ALTERTHUM,
2008).
Toxinfecções alimentares virais são predominantemente transmitidas por via
fecal-oral através da ingestão de alimentos e/ou água contaminados ou através
de uma via secundária de infecção e/ou contato pessoa a pessoa. Os principais
patógenos causadores de doenças transmitidas por alimentos (DTAs) de origem
viral são o Rotavírus, o Adenovírus Entérico, o Norovírus, o Astrovírus, o Vírus da
Hepatite A, Vírus da Hepatite E, Vírus da Poliomielite e o Vírus do Ebola (XAVIER
et al., 2009; KOKKINOS et al., 2015; POLO et al., 2015; BERGERON et al., 2016;
JACXSENS et al., 2017; MÜLLER et al., 2017; SARNO et al., 2017).
As formas de prevenção das toxinfecções alimentares virais são as aplicações
das boas práticas de higiene pessoal, de utensílios, a higienização correta dos
alimentos e o tratamento adequado da água para limpeza e consumo (POLO et al.,
2015; BERGERON et al., 2016; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Tal assunto precisa
ser mais divulgado para que a comunidade conheça melhor as formas de contágio,
prevenção, diagnóstico e tratamento das toxinfecções alimentares virais.
A maioria dos métodos usados atualmente para a detecção de vírus de origem
alimentar são baseados em técnicas de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e
suas variantes. Desenvolvimentos técnicos recentes oferecem oportunidades para
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
158
melhorar a detecção, quantificação e identificação de vírus de origem alimentar como
PCR digital. A precisão das tecnologias baseadas em PCR pode ser aprimorada pelo
conhecimento das sequências do genoma viral (SEDLAK & JEROME, 2013).
Os objetivos desta revisão constituem a finalidade de um trabalho acadêmico,
pretendendo contribuir com o conhecimento das principais toxinfecções alimentares
virais, suas formas de transmissão, prevenção, tratamento e métodos clínicos
de diagnóstico laboratorial. Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre as
toxinfecções alimentares virais, mundialmente, para esclarecer aos profissionais de
saúde a importância da necessidade de uma maior notificação e atualização dessas
toxinfecções alimentares virais, a fim de reduzir o número de casos dessas doenças.
2 | METODOLOGIA
Foi realizado um trabalho de pesquisa bibliográfica para coletar dados e
informações sobre doenças alimentares de origem viral, dos últimos dezenove anos.
Os locais de pesquisa acessados foram: livros, teses e a base de dados do Scielo,
do Google Acadêmico, Medline, Pubmed, Science Direct e portal periódicos CAPES
e da biblioteca virtual em saúde. Os termos de indexação utilizados para buscas
isoladas foram Rotavírus, Adenovírus, Norovírus, Astrovírus, Hepatite A, Hepatite E,
e Poliovírus. A busca combinada de palavras foram doenças alimentares de origem
viral, gastroenterites virais, toxinfecções alimentares virais, e métodos clínicos de
diagnóstico laboratorial de toxinfecções alimentares de origem viral. Os trabalhos
que não combinavam as palavras pesquisadas foram excluídos, assim como, os
que não se enquadravam nos anos pré-selecionados de 2000 a 2019. O critério de
exclusão também se aplica para os artigos que após leitura que não se referiam
ao objetivo principal da presente pesquisa. No total foram recrutados 31 trabalhos,
dentre eles 27 em inglês 4 em português.
3 | DESENVOLVIMENTO
3.1 Vírus causadores de toxinfecções alimentares
Rotavírus
Um gênero de vírus de ácido ribonucleico (RNA) de cadeia dupla, pertencentes
à família Reoviridae, são transmitidos predominantemente por via fecal-oral e foram
encontrados em vários alimentos (KITTIGUL et al., 2015; JONES & MUEHLHAUSER,
2017). O rotavírus (FIGURA 1) é uma das principais causas de gastroenterite
infecciosa e mortalidade em lactentes e crianças pequenas em todo o mundo,
especialmente naqueles com menos de 5 anos de idade, apesar de sua ocorrência
ocasional como patógenos em adolescentes e adultos (MIZUKOSHI et al., 2015;
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
159
BWOGI et al., 2016;). Não existe um medicamento específico para tratar infecções
por rotavírus.Medicamentos anti-virais inespecíficos e administração de uma
variedade de líquidos são utilizados para aliviar os sintomas clínicos para infecções
por rotavírus (XIAO et al., 2014).
A transmissão pode ocorrer pela ingestão de água e/ou por alimentos
contaminados, contato pessoa a pessoa, objetos contaminados e por secreções
respiratórias (JONES & MUEHLHAUSER, 2017). Os principais sintomas causados
pela toxinfecção por rotavírus são diarreia, vômito, náuseas, anorexia, câimbras e
mal-estar (XIAO et al., 2014).
O diagnóstico da toxinfecção por rotavírus é realizado através da detecção
direta dos vírus rotavírus nas fezes. A prevenção é realizada por medidas higiênicas
como lavagem correta das mãos e tratamento adequado da água (XIAO et al., 2014).
O principal tratamento para a toxinfecção por rotavírus é a reidratação oral (XIAO
et al., 2014). Outra forma de prevenção é a vacinação, uma vez que esta faz parte
do calendário brasileiro de imunização, sendo administrada gratuitamente para a
população em duas doses, aos 2 e aos 4 meses de vida (BRASIL, 2009).
FIGURA 1: Rotavírus
Adenovírus
Uma família de vírus de ácido desoxirribonucleico (DNA) de fita dupla
icosaédricos, sem envelope, com diâmetros que variam de 65 a 80 nm (HUR et al.,
2013). Adenovírus (FIGURA 2) normalmente causam infecções leves envolvendo o
trato respiratório superior ou inferior, o trato gastrointestinal ou a conjuntiva (HUR
et al., 2013). A infecção por adenovírus do tipo entérico pode aumentar o apetite e
a ingestão de alimentos, diminuindo os níveis do hormônio leptina (efeito sobre o
controle do apetite e massa corpora), aumentando assim a prevalência de obesidade
(HUR et al., 2013).
A infecção por adenovírus entérico apresenta como sintomas diarréia, vômito
e febre. O diagnóstico é realizado através do isolamento do vírus adenovírus em
cultura de células ou por detecção de aumento no número de anticorpos (HUR et al.,
2013).
Não há terapia antiviral. Há vacinas somente contra o vírus adenovírus que
atinge o trato respiratório. A prevenção é feita através de boas condições sanitárias
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
160
e por medidas higiênicas pessoal. O principal tratamento da infecção é a reposição
de líquidos e eletrólitos para evitar a desidratação (HUR et al., 2013).
FIGURA 2: Adenovírus
Astrovírus
Vírus pertencentes à família Astroviridae, que compreende dois dois gêneros:
Mamastrovirus e Avastrovirus . O Mamastrovirus inclui os astrovírus que infectam
os humanos e animais. Os Avastrovirus incluem os astrovírus que infectam aves
(GEONG et al., 2012). É classificado em oito tipos humanos clássicos (HAstV-1/8)
e sete outros tipos menos prevalentes, descritos como HAstV VA1, VA2, VA3, VA4,
MLB-1, MLB-2 e MLB-3. O astrovírus (FIGURA 3) possui capsídeo icosaédrico, com
cerca de três proteínas e é formado por RNA de fita dupla (GEONG et al., 2012).
Durante os surtos por astrovírus, os idosos e as crianças são os mais afetados,
e a disseminação do vírus está associada ao contato de pessoa a pessoa, ingestão
de alimentos e água contaminada. A infecção por astrovírus possui como principal
sintoma diarreia aquosa leve, cefaleia, náuseas, vômitos e mal-estar generalizado
(GEONG et al., 2012). O infectado mais grave pode apresentar também anorexia,
dores abdominais, febre e desidratação branda (MEDICI et al., 2015).
O diagnóstico da toxinfecção causada por astrovírus é realizado através da
detecção de partículas virais ou espécimes viras nas fezes ou swabs retais (GEONG
et al., 2012). A prevenção contra a toxinfecção por astrovírus é o saneamento
básico, ingestão de alimentos bem cozidos e a higienização pessoal, dos alimentos
e utensílios (GEONG et al., 2012). Não há vacina nem terapia antiviral contra o vírus
e o tratamento consiste em prevenir a desidratação ou reidratar o doente, em casos
mais graves (GEONG et al., 2012; MEDICI et al., 2015).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
161
FIGURA 3: Astrovírus
Hepatite A
Vírus da Hepatite A (FIGURA 4) apresenta dimensão de 27 nm e pertence à
família dos Picornavírus, tal como o vírus da poliomielite. O seu genoma é composto
por RNA e não possui envelope (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Encontra-se
por todo o mundo, especialmente em lugares onde as condições de higiene são
escassas. Espalha-se através da via fecal-oral através da água, alimentos e objetos
contaminados e por contato pessoa a pessoa. Raramente ocorrem casos de
transmissão percutânea (inoculação acidental) e parenteral (transfusão) do contato
direto ou indireto com material fecal. A hepatite A possui 7 genótipos nomeados de I
a VII, sendo os genótipos I, II, III e IV capazes de infectar os humanos (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018).
O vírus da hepatite A se instala na mucosa intestinal. Posteriormente os
hepatócitos são infectados pelo vírus procedente da viremia primária (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018). O vírus se replica nos hepatócitos, gerando inflamação
no fígado pela ativação do sistema imunológico. O vírus é excretado nas fezes,
podendo sobreviver em condições ambientais por um longo período. A toxinfecção
por astrovírus apresenta como sintomas diarreia aquosa leve, cefaleia, náuseas,
vômitos e mal-estar generalizado (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Em casos mais
graves o infectado pode apresentar também anorexia, dores abdominais, febre e
desidratação.
A transmissão do astrovírus se dá de forma fecal-oral, por contato íntimo com
pessoas infectadas e pela ingestão de água e alimentos contaminados (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018). O diagnóstico da doença é feito através da detecção de partículas
virais nas fezes e/ou, swabs retais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). A prevenção
contra a toxifecção por astrovírus é o saneamento básico, ingestão alimentos bem
cozidos e a higienização correta das mãos, alimentos e utensílios (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018). Não há vacina nem terapia antiviral contra o vírus da hepatite A, e o
tratamento consiste em prevenir a desidratação ou reidratar pacientes mais graves
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
162
FIGURA 4: Vírus da Hepatite A
Hepatite E
O vírus Hepatite E (FIGURA 5) é pequeno (27-34 nm) não envelopado, com
um genoma de RNA. Pertence ao gênero Hepevirus, da família Hepeviridae (LU
et al., 2006; AHMAD et al., 2011). A hepatite E é uma toxinfecção transmitida por
ingestão de água, alimentos contaminados e/ou por dejetos humanos e de animais.
A transmissão pode ocorrer também de forma vertical (de mãe para filho) (LU et al.,
2006). O vírus replica primeiramente no trato gastrointestinal, depois migra para
o fígado, multiplicando-se nos hepatócitos. As partículas do vírus são excretadas
pelas fezes (LU et al., 2006; AHMAD et al., 2011). Os principais sintomas da
infecção são dor abdominal, náuseas, vômitos, anorexia e icterícia (LU et al., 2006;
AHMAD et al., 2011). A hepatite E pode acontecer também de forma assintomática
(KRAWCZYNSKI et al., 2011). A mortalidade, em geral, é baixa, mas em mulheres
grávidas, principalmente no terceiro trimestre de gestação, essa porcentagem pode
chegar a 25% (AHMAD et al., 2011; KRAWCZYNSKI et al., 2011).
O diagnóstico da Hepatite E é realizado por detecção de anticorpos
(imunoglobulinas M [IgM] e imunoglobulinas G [IgG]) no soro. Não há vacina
comercializada para a hepatite E. Normalmente a cura da doença é espontânea,
porém o tratamento sugere-se repouso e proibição do uso de bebida alcoólica
(AHMAD et al., 2011). A prevenção é através das condições adequadas de higiene e
saneamento público (AHMAD et al., 2011).
FIGURA 5: Vírus da Hepatite E
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
163
Poliovírus
Poliovírus (FIGURA 6) pertence ao gênero Enterovirus, da família Picornaviridae.
É o agente que causa a poliomielite nos humanos. É um vírus simples, com apenas
um RNA de cadeia simples, sem envelope e com uma cápside de proteína icosaédrica
de 30nm (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
O vírus da poliomielite é transmitido, geralmente, pela via fecal-oral (pela água,
alimentos ou objetos contaminados), pela via direta (pessoa a pessoa) E/ou pela via
oral-oral, por gotículas de secreções ao falar, tossir ou espirrar (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018). O poliovírus se replica na orofaringe, posteriormente migra para o
intestino delgado. Na poliomielite paralítica, o poliovírus é disseminado na corrente
sanguínea, até o sistema nervoso central, destruindo principalmente os neurônios
motores, gerando no doente, fraqueza muscular e paralisia flácida. A letalidade da
poliomielite varia de 2 a 10% (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
As formas paralíticas da poliomielite são pouco frequentes, ocorrendo em 1 a
1,6% dos casos. Quando a poliomielite é sintomática, apresenta-se dividida em três
classes: Primeira classe, poliomielite absortiva - há o aparecimento de febre, sem sinais
de localização no sistema nervoso central. Na segunda classe há o aparecimento de
febre e meningite asséptica com recuperação rápida e completa. Na terceira classe,
poliomielite paralítica, o infectado apresenta febre associada a irritação na meninge
e a paralisia flácida assimétrica. Nas partes afetadas surgem câimbras e espasmos
musculares. Na toxinfecção aguda da poliomielite paralítica, o poliovírus invade o
sistema nervoso central, gera uma lesão total ou parcial dos neurônios motores
espinais, interrompendo algumas inervações de fibras musculares, causando a
paralisia flácida (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Pessoas que tiveram poliomielite
paralítica podem apresentar sintomas de alterações neurológicas, fraqueza, fadiga,
atrofia muscular, dor muscular e articular, distúrbios do sono, intolerância ao frio,
dificuldade respiratória e de deglutição e aumento de peso. Esses sintomas são
denominados como “Síndrome Pós-poliomielite” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
No Brasil, a vacina contra a poliomielite faz parte do calendário de vacinação,
tendo sua distribuição gratuita, sendo esta administrada em quatro doses, aos 2
meses, depois 4 meses, 6 meses e 15 meses de vida (vacina de reforço) (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2018). O diagnóstico é feito através do isolamento do poliovírus em
material da garganta, fezes ou pelo aumento de anticorpos. A quarentena dos
infectados pelo poliovírus é ineficaz, pois a excreção do poliovírus nas fezes, ocorre
antes do aparecimento dos sintomas. Não há terapia antiviral para a poliomielite. O
tratamento baseia-se em aliviar os sintomas, auxiliar na respiração, e fisioterapia
dos músculos afetados (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
164
FIGURA 6: Poliovírus
3.2 Detecção de vírus em alimentos
Métodos baseados em cultura celular podem ser usados para detectar alguns
vírus transmitidos por alimentos, usando uma série de etapas de concentração e
purificação para eluir o vírus da matriz alimentar, tomando cuidado especial para
evitar a redução da infectividade do vírus. Métodos baseados em cultura de células
têm sido usados para amplificar inicialmente os ácidos nucléicos virais, e remover
inibidores, antes da detecção por PCR em Tempo Real (qRT-PCR). Este ensaio de
qRT-PCR tem sido usado para detectar Rotavírus, Adenovírus, Norovírus, Astrovírus,
Hepatite A, Hepatite E, e Poliovírus em alimentos (SÁNCHEZ et al., 2012; STALS et
al., 2013; PERRIN et al., 2015).
A quantificação de vírus representa um avanço nas investigações de surtos
e no monitoramento de rotina, pois pode fornecer dados para desenvolver níveis
de aceitação em produtos alimentícios e o desenvolvimento de avaliações de risco
quantitativas (SÁNCHEZ et al., 2012). A quantificação por qRT-PCR pode ser feita
usando uma curva padrão gerada a partir de quantidades conhecidas da sequência
alvo representada por RNA ou DNA transcrito sintético ou in vitro (SÁNCHEZ et al.,
2012; STALS et al., 2013; PERRIN et al., 2015). Independentemente do método
utilizado, o passo mais crítico é a reação de transcrição reversa (RT) (VIMONT et
al., 2015). Entretanto, a quantificação de vírus pode variar com o uso de diferentes
materiais padrão por cada laboratório de análise. Isso sugere que o uso de reagentes
padrão certificados, pode reduzir a variação (VIMONT et al., 2015). É importante
ressaltar que os vírus geralmente são distribuídos de forma desigual em um lote
de alimentos, tornando necessário testar réplicas ou um conjunto de amostras para
obter os resultados qualitativos ou quantitativos mais confiáveis (SÁNCHEZ et al.,
2012; STALS et al., 2013; PERRIN et al., 2015).
Atualmente, não existem critérios microbiológicos reguladores (por exemplo,
padrões, diretrizes ou especificações) aplicados a vírus. A maioria das empresas e
autoridades alimentares solicitam principalmente resultados qualitativos como parte
dos testes de higiene de produção ou investigações de surtos (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2018). Para confirmação de um sinal positivo de presença de vírus por qRTInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
165
PCR e para auxiliar estudos epidemiológicos, recomenda-se a tipagem sistemática
de cepas ligadas a surtos de doenças e vigilância de vírus em alimentos “saudáveis”,
ou seja, sem a contaminação viral (SÁNCHEZ et al., 2012; STALS et al., 2013;
PERRIN et al., 2015).
3.3 Detecção de vírus em amostras clínicas
O diagnóstico das infecções virais emergiu nas últimas décadas como uma
importante ferramenta na medicina, contribuindo de forma efetiva na identificação
do patógeno, direcionando o tratamento da doença (TAVARES et al., 2005; SEDLAK
et al., 2013; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). Até recentemente o diagnóstico das
viroses não era realizado em laboratórios clínicos ou hospitais, pois as técnicas
utilizadas eram muito lentas e caras, os reagentes não estavam disponíveis e não
se tinha ainda tratamento para as infecções virais, limitando a utilidade dos testes
diagnósticos (SEDLAK et al., 2013; WYLIE, K.M. et al., 2018).
O diagnóstico laboratorial das viroses tem sido dividido em diagnóstico clássico,
que inclui as técnicas e identificação de vírus, e a sorologia e o diagnóstico rápido
das viroses, que visa à demonstração direta do vírus, de antígenos ou de ácidos
nucleicos virais em amostras clínicas. Algumas técnicas para a identificação de
vírus não são imunológicas e não dependem da ligação de antígeno e anticorpo.
Estas técnicas são baseadas na biologia molecular dos vírus, especificamente
na identificação de sequências únicas do ácido nucleico. As técnicas de biologia
molecular são imprescindíveis como ferramentas para a detecção de doenças virais,
para o monitoramento da carga viral, para o acompanhamento da terapia antiviral
e para a genotipagem de diversos vírus (LIU et al., 2018). O desenvolvimento da
PCR em tempo real permitiu a aplicação de um método quantitativo no diagnóstico
laboratorial das infecções virais (DONIA, 2018; WYLIE, K.M. et al., 2018).
Atualmente outra técnica apresenta uma demanda notável para identificar
vírus de amostras clínicas de maneira rápida, seletiva e precisa, é o uso de
biossensores (MOKHTARZADEH et al., 2017). Vários biossensores foram projetados
e comercializados para detecção de vírus patogênicos em amostras clínicas. No
entanto, eles apresentam muitos desafios quanto a precisão de resultados
(MOKHTARZADEH et al., 2017). A nanotecnologia supera esses desafios e realiza a
detecção direta de alvos moleculares em tempo real. Nesta visão geral, estudos sobre
biossensores, baseados em nanotecnologia para detecção de vírus patogênicos
estão sendo estudados e aplicados em análises de amostras clínicas. Dentre as
tecnologias estão as nanotecnologias baseadas em nanotubos (carbono, ouro, prata
e zinco) e nanopartículas magnéticas (MOKHTARZADEH et al., 2017).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
166
4 | CONCLUSÃO
Com base nos resultados apontados pela presente pesquisa foi possível
concluir que: As viroses alimentares ocupam um lugar de destaque, causando
grandes problemas na saúde da população mundial. Através desta pesquisa
bibliográfica foi possível verificar as diferentes toxinfecções causadas por vírus em
alimentos, demonstrando que há a necessidade de uma maior notificação dessas
viroses alimentares, a fim de reduzir o número de casos dessas patogenias. A
propagação do vírus se deve a inadequadas condições sanitárias, uma vez que a
principal via de transmissão dessas toxinfecções é a via fecal-oral, sendo os países
em desenvolvimento os mais atingidos. A prevenção contra a contaminação de
alimentos se faz necessário, garantindo o controle das transmissões virais, reduzindo
significativamente as toxinfecções. A metodologia qRT-PCR oferece uma vantagem
do uso da biologia molecular para detecção de diferentes tipos de vírus em amostras
clínicas e de alimentos. Melhorias tecnológicas de protocolos, instrumentos e
estratégias biológicas determinam uma maior popularidade da metodologia qRT-PCR
para a detecção de vírus em amostras clínicas e de alimentos. Espera-se que em um
futuro próximo, todas as tecnologias aplicadas na detecção de vírus em amostras
clínicas, possam também serem eficientes na detecção de vírus patogênicos em
amostras de alimentos.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 16
169
CAPÍTULO 17
USO DE CULTURAS PROBIÓTICAS EM PRODUTOS
CÁRNEOS FERMENTADOS
Nayane Valente Batista
Limoeiro do Norte- CE
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Vitor Lucas de Lima Melo
Mossoró- RN
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Ana Indira Bezerra Barros Gadelha
Mossoró- RN
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Mossoró- RN
Fernanda Keila Valente Batista
Instituto Federal do Ceará-IFCE
Limoeiro do Norte- CE
Ísis Thamara do Nascimento Souza
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Mossoró- RN
Jéssica Taiomara Moura Costa Bezerra de
Oliveira
Mossoró-RN
Marcia Marcila Fernandes Pinto
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Mossoró- RN
Nicolas Lima Silva
Universidade Federal do Ceará- UFC
Fortaleza-CE
Palloma Vitória Carlos de Oliveira
Universidade Federal Rural do Semi-áridoUFERSA
Mossoró- RN
Scarlett Valente Batista
Instituto Federal do Ceará-IFCE
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: Alimentos saudáveis e funcionais
ganham cada vez mais a preferência dos
consumidores em detrimento de alimentos
altamente industrializado. Neste contexto, a
indústria de alimentos é instigada a buscar
alternativas visando atender a nova exigência
do seu público. A inclusão de cepas probióticas
já é bastante significativa em produtos derivados
do leite, porém ainda são escassos produtos
cárneos que tenham em sua composição
organismos vivos que caracterizem tal alimento
como funcional. Uma alternativa para a indústria
de processamento de carne, seria a aplicação de
culturas probióticas em produtos fermentados,
substituindo as culturas starters, utilizadas
tradicionalmente no processo fermentativo, por
cepas com função probiótica. Portanto, nessa
revisão, objetiva-se fornecer uma visão ampla
sobre o emprego de culturas vivas benéficas
em produtos cárneos fermentados, tendo
como embasamento relatos científicos sobre o
assunto em questão.
PALAVRAS-CHAVE: alimentos funcionais,
cepas probióticas, fermentação.
Capítulo 17
170
ABSTRACT: Healthy and functional foods are gaining more and more consumer over
highly to the detriment processed foods. In this context, the food industry is instigated
to look for alternatives to meet this new requirement of its public. The inclusion of
probiotic strains is already quite significant in dairy products, but there are still few
meat products that have in their composition living organisms that characterize such
food as functional. An alternative to the meat processing industry would be to apply
probiotic cultures to fermented products, replacing starters cultures traditionally used in
the fermentative process with probiotic function strains. Therefore, this review aims to
provide a broad view on the use of beneficial live cultures in fermented meat products,
based on scientific reports on the subject in question.
KEYWORDS: functional foods, probiotic strains, fermentation.
1 | INTRODUÇÃO
Grande parte dos processos aplicados, atualmente, na indústria da carne para
conservação, bem como para melhorar o perfil sensorial, foram descobertos por
acaso, como, por exemplo, o processo de fermentação utilizado na elaboração dos
embutidos crus curados, também conhecidos como produtos cárneos fermentados
(Mendes et al., 2017).
Inicialmente, a fermentação de alimentos se dava de forma espontânea e sem
a intervenção direta do homem, a partir da ação dos microrganismos presentes
naturalmente na matéria prima (Roselino, 2016). A fundamentação científica do
processo de fermentação e o crescente interesse na conservação de alimentos
proporcionou um avanço nas técnicas aplicadas na indústria, e hoje, na elaboração
de produtos fermentados utilizam-se culturas iniciadoras, starters, de forma
controlada, visando tanto prolongar a vida útil do alimento, como atribuir aos produtos
características sensoriais diferenciadas (Ordonez, 2005a).
Contundo, a necessidade em atender exigências do consumidor moderno, que
busca produtos mais saudáveis e funcionais, a substituição de culturas iniciadoras
tradicionalmente utilizadas na fermentação por culturas com potencial probiótico nos
embutidos cárneos fermentados, tornou-se objeto de diversos estudos tendo em
vista que esta microbiota funcional já é utilizada com sucesso em produtos lácteos
(Novello e Pollonio, 2015; Grando et al., 2016; Roselino, 2016).
Grando et al. (2016) citam os inúmeros efeitos benéficos ao organismo,
resultantes da adição de probióticos em alimentos, dentre eles, um maior equilíbrio
da flora intestinal, controle dos níveis de colesterol, ação em diarreias e redução do
risco de desenvolvimento de câncer, produção de vitaminas e aumento da resposta
imune, aumento da absorção de minerais, alívio da constipação e redução da
intolerância à lactose.
Diante de tais benefícios e dada a importância desse assunto, o objetivo nesta
revisão é abordar os principais aspectos relacionados a aplicação de culturas com
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
171
potencial probiótico na elaboração de produtos cárneos, tendo como embasamento
os relatos científicos sobre o assunto em questão.
2 | FERMENTAÇÃO
A fermentação, é utilizada para conservação de alimentos há mais de 6000
anos, e juntamente com a salga e secagem, é considerada uma das mais antigas
técnicas empregadas com o objetivo de preservar alimentos e bebidas, devido a sua
efetividade em aumentar a vida de prateleira, por meio da ação de microrganismos e
de seus metabólitos, que inibem o crescimento e a sobrevivência de microrganismos
indesejáveis e, adicionalmente, conferem atributos sensoriais agradáveis ao paladar
(Karlsson e Semberg, 2011; Ross et al., 2002).
Ordonez (2005a) define fermentação como a modificação intencional dos
alimentos, pelo favorecimento da atividade de certos microrganismos de forma
controlada, para obter produtos de sabor agradável, saudáveis e estáveis, aplicandose em vários ramos da indústria de alimentos, desde bebidas alcoólicas, produtos
lácteos, produtos de panificação e até mesmo em produtos cárneos.
Existem vários tipos de fermentação, destacando-se na indústria dos alimentos
a fermentação láctica, cujo substrato são os monossacarídeos, e o produto final é
apenas ácido láctico quando a fermentação é por microrganismos homofermentativos,
já a utilização de microrganismos heterofermentativos permite a formação de ácido
láctico, etanol e CO2 (Ordonez, 2005a).
A adoção desse método na indústria de processamento de alimentos traz
inúmeras vantagens, dentre elas, destacam-se a preservação das propriedades
nutricionais e, às vezes, sensoriais, devido as condições brandas de temperatura
e pH impostas, modificação da matéria prima com obtenção de produtos com novo
aroma, sabor e textura, reduzido consumo de energia para sua execução, baixo
custo de investimento e operação e tecnologia considerada simples (Fellows, 2006).
As alterações nos alimentos provenientes do processo de fermentação,
decorrem da ação de leveduras e bactérias, que convertem os açúcares em ácidos
orgânicos, gases e álcool na ausência de oxigênio ou de um sistema de transporte
de elétrons, para obtenção de energia, ampliando, assim, a vida de prateleira e a
segurança do produto final (Kumar et al., 2015).
A inibição de microrganismos patogênicos e deteriorantes nos alimentos
fermentados, ocorre por um conjunto de mecanismos, dentre eles, cita-se a ação de
vários metabólitos antimicrobianos produzidos durante a fermentação, destacandose nesse aspecto os ácidos orgânicos, lático, acético e propiônico, que causam
acidificação do meio, interferem na manutenção do potencial de membrana e
reduzem o pH intracelular (Roselino, 2016). A produção desses metabólitos,
dependerá, dos tipos de microrganismos utilizados, da matéria-prima, das condições
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
172
de processamento, etc. (Kumar et al., 2015).
Um aumento na vida útil dos alimentos fermentados, também é possibilitado pela
competição entre os microrganismos pelo substrato do alimento, pela diminuição do
potencial redox e pela redução da atividade de água em consequência do processo
de maturação ao qual alguns alimentos passam (Ordonez, 2005a).
Fellows (2006), relata os principais efeitos da fermentação nos alimentos do
ponto de vista sensorial, atribuindo o aroma próprio dos alimentos fermentados, à
formação de componentes químicos voláteis e a interação desses componentes nos
processos de fermentação e maturação.
A alteração da cor, ainda segundo Fellows (2006), pode ocorrer devido à
elevação de temperatura, a estabilidade dos pigmentos proporcionada pelo pH, e
pela formação de novos pigmentos gerados por reações químicas. Quanto ao sabor,
ele atribui as mudanças que ocorrem, à produção dos ácidos orgânicos, na glicólise,
que confere uma diminuição do pH do produto, à adição de sal pela indústria, para
minimizar essa acidez em alguns produtos, além da ação de enzimas que retiram o
componente amargo e modificam o sabor.
Durante o processo de fermentação, ocorre ainda alterações na composição
química do alimento. A hidrólise de proteínas e carboidratos pelos microrganismos
para produção de substrato para o crescimento celular, proporcionam um aumento
da digestibilidade desses componentes (Fellows, 2006). Além disso, alguns
microrganismos possuem a capacidade de secretar vitaminas, tornando assim, o
alimento mais nutritivo (Ordonez, 2005a).
3 | PRODUTOS CÁRNEOS FERMENTADOS
Os produtos cárneos fermentados ou embutidos cárneos fermentados, são
elaborados com carne crua triturada e gordura, com ou sem miúdos, com adição de
especiarias, submetidas ao processo de fermentação lática que causa o acumulo de
ácido láctico com a crescente queda do pH (Ordonez, 2005b), que varia entre 4,6 e
5,2 (Price e Schweigert 1994). A segurança e qualidade dos alimentos fermentados,
são garantidos pela adição de sal, de nitrito, bem como pelo pH e o controle da
temperatura na fermentação (Ruusunen e Puolanne, 2005).
Na
aplicação
da
fermentação
em
produtos
cárneos,
objetiva-se
o
desenvolvimento de um produto com características sensoriais próprias, com textura
firme para fatiabilidade, e com prolongamento da vida de prateleira da carne, através
da inibição de bactérias deteriorantes e patogênicas (Mendes et al., 2017).
Dentre os gêneros de microrganismos utilizadas na produção de alimentos com
culturas vivas benéficas, predominam as bactérias ácido-lácticas, que se destacam
como culturas iniciadoras na elaboração de produtos cárneos fermentados, devido
à sua atividade metabólica segura e capacidade de produzir ácidos orgânicos
rapidamente (Kumar et al., 2015).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
173
Os produtos fermentados são muito apreciados pelos consumidores, mas,
apesar disso, estes produtos têm sido duramente criticados devido ao elevado teor
de gordura e de sal, presença de nitrito residual e de compostos potencialmente
tóxicos, como destacam Coloretti et al. (2008).
Atualmente, existe uma enorme gama de produtos cárneos fermentados, como
chouriços, salames, linguiças fermentadas, etc., estes diferem em função da matériaprima, dos ingredientes utilizados, do tamanho das partículas, tempo de fermentação
e perfil sensorial (Lücke, 2000).
4 | PROBIÓTICOS
A Organização Mundial de Saúde (OMS), define probióticos como “organismos
vivos, que quando administrados em quantidades adequadas conferem benefícios
para a saúde do hospedeiro” (FAO/WHO, 2001). A inclusão de probióticos na
alimentação é conhecida desde o início do século XX, e a partir daí sua adição nos
alimentos se deu em produtos consumidos diariamente, como os derivados lácteos
(Molin, 2001).
Para garantir a segurança do consumidor e a eficiência dos probióticos, foram
estabelecidos alguns critérios. As cepas probióticas devem trazer benefícios à saúde
do hospedeiro, sobreviver ao processamento do alimento e a passagem por todo o
trato gastrointestinal, para isso devem ser tolerantes ao baixo pH do suco gástrico,
aos sais biliares e as enzimas digestivas, além de ter sua origem conhecida, com
histórico de não patogenicidade e a ausência de genes que determinem resistência
a antibióticos e exercer atividade antimicrobiana em relação aos patógenos (Ammor
e Mayo, 2007; Stanton et al., 2003).
Além do que, para um alimento ser considerado probiótico, é exigido que o
número de células bacterianas vivas, em todos estágio, até seu consumo, deve estar
entre 106-108 UFC/g-1 (Shah, 2001; Libudzisz, 2006).
Do consumo regular de alimentos probióticos, decorrem inúmeros benefícios,
dentre eles, vale citar, a modulação do sistema imune, a restauração da integridade
do cólon, a diminuição da incidência e da duração das infecções intestinais, a melhor
digestão dos alimentos, diminuição nos níveis séricos de colesterol no sangue,
redução do risco de doenças atópicas e alergias, efeitos anticarcinogênicos e alívio
dos sintomas causados pela intolerância à lactose (Jahreis et al., 2002; Karlsson e
Semberg, 2011; Maia, 2018).
A imunomodulação proporcionada pelos probióticos, advém da capacidade
desses em interagir com as células epiteliais intestinais, impulsionando a resposta
do sistema imunológico (Damião et al., 2009; Ramos, 2006).
O auxílio dos probióticos no tratamento de infecções intestinais, se dá através
da exclusão de microrganismos indesejáveis pela indisponibilidade do substrato,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
174
pelo bloqueio dos sítios de adesão, e pela produção de substâncias que inibem as
bactérias patogênicas, as bacteriocinas (Mendes, 2017).
O consumo de produtos fermentados que contenham cepas de Lactobasillus
delbrueckii bulgaricus e Streptococcus thermophilus, por indivíduos que apresentam
intolerância a lactose, auxiliam na digestão e absorção de lactose, pela ação da
enzima β- galactosidase, que atua durante a fermentação e no intestino (Savaiano,
2014).
Atualmente, sabe-se da existência de inúmeros microrganismos probióticos,
destacando-se na produção de alimentos funcionais as bactérias ácido-lácticas
(BAL) dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium (Solanki et al., 2013). As BAL
estão presentes naturalmente em produtos lácteos, em vegetais, em grãos, carnes
e seus derivados, e nos tratos gastrintestinal, respiratório e urogenital de diferentes
espécies animais (Resende et al., 2011).
Além de exercer função de probiótico, as atividades metabólicas desempenhadas
pelas BAL e seus produtos desenvolvem características sensoriais desejáveis, além
da produção de agentes antimicrobiano que aumentam a vida de prateleira e a
qualidade sanitária dos alimentos (Nascimento, 2017).
É importante salientar que nem todo alimento fermentado deve ser considerado
um probiótico, pois nem toda cultura iniciadora tem as características de um probiótico,
como ressalta Sanders (2009).
Dentro da indústria de laticínios os produtos lácteos funcionais, com adição
de culturas probióticas é bastante difundido, como iogurtes, leites fermentados e
bebidas lácteas fermentadas, porém, ainda são escassos no mercado produtos
cárneos que dispõe desses benefícios (Rosselino, 2016).
5 | USO DE PROBIÓTICOS EM PRODUTOS CÁRNEOS FERMENTADOS
Estudos vêm demostrando que a carne é um excelente meio para inoculação
de bactérias probióticas, e dentre os produtos cárneos processados, os fermentados
ganham destaque pelas características intrínsecas ao seu processamento. Diante
da ideia que para se incluir uma cultura probiótica a qualquer alimento este deve ser
adaptado às condições impostas pelo produto, sugestiona-se a união de produtos de
carne fermentados com inoculação da cepa probiótica (Jaworska et al., 2011).
Neste sentido, destaca-se dentre os produtos fermentados, o salame, tendo
em vista que este alimento, tem como característica o seu consumo sem prévio
aquecimento, o que causaria a morte dos microrganismos (Erkkilä et al., 2001).
Outro produto que ganha notoriedade nesse sentido, são as salsichas
fermentadas a seco, as quais não são submetidas a processamento térmico, sendo
assim um veículo adequado para cultura bacteriana viva benéfica (Kumar et al.,
2015).
Jaworska et al. (2011), estudaram a sobrevivência de cepas probióticas em
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
175
lombo de porco submetidos a fermentação, e ao submeter o produto a avaliação
microbiológica após 3 semanas do processo de maturação e 6 meses de
armazenamento (4 ± 1 ºC), obtiveram bom crescimento e sobrevivência das cepas
probióticas. Os autores ainda sugerem a adição de 0,2% de glicose ao lombo de
porco fermentado, tendo em vista que esta adição proporcionou um aumento no
número de LAB em relação às amostras sem açúcar.
Apesar dos resultados positivos obtidos em estudos desenvolvidos nesse
âmbito, a utilização de culturas probióticas em derivados cárneos possui um grande
entrave, a sensibilidade dessas bactérias ao sal e aos agentes de cura utilizados
como ingredientes nos produtos fermentados, o que não permite que as cepas
permaneçam viáveis até o consumo do produto, perdendo assim a característica de
alimento funcional (Macedo et al., 2005).
Assim, existe a necessidade de seleção de bactérias probióticas resistentes
ao nitrito, ao nitrato e ao cloreto de sódio para a elaboração de produtos cárneos
fermentados funcionais (Pamanoli et al., 2003).
Nesse contexto, em trabalho desenvolvido por Macedo et al. (2005), avaliando a
resistência a sais de cura de três espécies probióticas de Lactobacillus, Lactobacillus
casei, Lactobacillus paracasei ssp. paracasei, Lactobacillus casei ssp. rhamnosus,
obteve-se resultados satisfatórios, demonstrando que estas cepas têm potencial
para serem utilizadas no desenvolvimento de produtos cárneo fermentados com
ação probiótica.
O pH, o peróxido de hidrogênio, oxigênio, temperatura de armazenamento, são
fatores que podem afetar negativamente a viabilidade dos probióticos, diante disso,
sugere-se a utilização da microencapsulação, para manutenção de sua viabilidade
(Barreto et al., 2015). A microencapsulação consiste no revestimento de materiais
bioativos com outros materiais de proteção ou suas misturas (Huq et al., 2013).
Turhan et al. (2017), selecionaram materiais possíveis de serem utilizados no
revestimento de microrganismos para serem usados como probióticos na produção
de linguiça seca fermentada, a sucuk, alimento tradicional na Turquia, e relataram
que os materiais de revestimentos usados ofereceram maior proteção para os
probióticos, pois a mistura de agentes prebióticos, como peptídeo e alginato de sódio
e gelatina, elementos da microcápsula utilizada, melhorou a viabilidade das cepas,
efeitos esses já confirmados por Chen et al. (2005).
Outra forma de superar essa questão, é a adição de inóculos muitos altos no
momento da preparação, de modo que o nível mínimo de população bacteriana
probiótica no alimento no momento do consumo possa ser obtido (Lucke, 2000), como
comprovado por Burdychova et al. (2008) ao desenvolveram salsichas fermentadas
com maior contagem inicial de bactérias probióticas, na mistura com duas culturas
iniciadoras diferentes (Staphylococcus carnosus e L. curvatus; ou Pediococcus
acidilactici), que após 28 dias relataram contagem de 104 UFC / g da cepa probiótica.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
176
6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das inúmeras vantagens atribuídas aos probióticos, e buscando atender
a um público com novas exigências, a aplicação de culturas probióticas em produtos
cárneos pode representar um novo ramo a ser explorado pela indústria. Os estudos
desenvolvidos na área, ressaltam as vantagens atribuídas aos probióticos, bem
como demonstram a aplicabilidade dessas cepas em produtos cárneos fermentados.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 17
179
CAPÍTULO 18
AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE RESTO-INGESTA EM
RESTAURANTE INSTITUCIONAL NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO – BRASIL
Elvis Pantaleão Ferreira
Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes campus
Santa Teresa
Especialização em Saúde e Meio Ambiente –
IFES
Mestre em Engenharia Ambiental – UFRPE
Santa Teresa – ES
Maria do Carmo Freitas Nascimento
Instituto Federal do Espírito Santo – Ifes campus
Santa Teresa
Nutricionista – UFF
Especialização em Nutrição Clínica – UFF
Santa Teresa – ES
Patricia Fabris
Nutricionista – UNESC
Especialização em Nutrição Clínica – UGF
Santa Teresa – ES
Barbara Gomes da Silva
Nutricionista – UNESC
Especialização em Vigilância Sanitária – Uninter
Santa Teresa – ES
Fabiana da Costa Krüger
Nutricionista – UNESC
Colatina – ES
Maria Veronica Freitas Nascimento
Química Industrial – UFRRJ
Mestre em Ciência e Tecnologia de Polímeros –
UFRJ
Rio de Janeiro – RJ
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: O Brasil é tido como um dos países
mais férteis para o cultivo do desperdício.
É comum em estabelecimentos e ou em
unidades de alimentação e nutrição a geração
de sobras e restos no processo de produção e
consumo de refeições. Quando os resultados
apresentam valores acima de determinados
índices, pressupõe-se que os cardápios estão
inadequados, por serem mal planejados ou mal
executados. Para tanto, o objetivo desta pesquisa
foi verificar a ocorrência do desperdício, na
forma de sobras de alimentos e resto-ingesta,
no Restaurante Institucional do Ifes campus
Santa Teresa. Como respaldo metodológico,
a pesquisa inicialmente realizou entrevista
semiestruturada junto aos nutricionistas do
restaurante visando conhecer o tipo de cardápio
padrão servido; para a mensuração da sobra
de ingestão “resto-ingestão”, foram realizadas
pesagens líquidas diárias ao final dos dois turnos
de alimentação. A pesquisa ocorreu por um ano
letivo, conforme cronograma de funcionamento
do setor de alimentação do campus. Almejase com esta pesquisa oportunizar um pioneiro
levantamento no tocante ao desperdício
de alimentos no Restaurante Institucional e
subsidiar a necessidade de campanhas contra
o desperdício de alimentos. A pesquisa aponta
a necessidade de rever o tipo de corte de carne
bovina, suína e a oferta de uma nova espécie
de peixe, com características organolépticas
Capítulo 18
180
desejáveis, proporcionando um menor índice de desperdício.
PALAVRAS-CHAVE: Geração de resíduos; Desperdício; Alimentos.
EVALUATION OF THE RESTO-INGESTA INDEX IN AN INSTITUTIONAL
RESTAURANT IN THE STATE OF ESPÍRITO SANTO – BRAZIL
ABSTRACT: Brazil is considered one of the most fertile countries for the cultivation of
waste. It is common in establishments and or in food and nutrition units to generate
leftovers and remains in the process of production and consumption of meals. When
the results present values above certain indexes, it is assumed that the menus are
inadequate because they are poorly planned or poorly executed. Therefore, the
objective of this research was to verify the occurrence of waste, in the form of food
leftovers and rest-ingestion, in the university restaurant of Ifes campus Santa Teresa. As
a methodological support, the research initially conducted a semi-structured interview
with the restaurant’s nutritionists in order to know the type of standard menu served; for
the measurement of surplus intake, daily liquid weighings were performed at the end
of the two feeding shifts. The research took place for one academic year, according to
the schedule of operation of the campus food industry. It is hoped by this research to
provide a pioneer survey on food waste in the university restaurant and subsidize the
need for campaigns against food waste. The research points out the need to review
the type of cuts of beef, pork and the supply of a new species of fish, with desirable
organoleptic characteristics, providing a lower rate of waste.
KEYWORDS: Waste generation; Waste; Foods.
1 | INTRODUÇÃO
Desperdiçar é o mesmo que extraviar o que pode ser aproveitado para benefício
de outrem, de uma empresa ou da própria natureza (VAZ, 2006). Para Borges (1991)
o Brasil é considerado um dos países mais férteis para o cultivo do desperdício.
Onde os recursos naturais, financeiros e até alimentos são literalmente atirados na
lata do lixo, sem possibilidade de retorno.
O desperdício está incorporado à cultura brasileira, portanto, difícil de ser
modificado, afetando a produção do país como um todo, resultando em sintomas
perniciosos para toda a sociedade (BORGES, 1991). Conforme Fernandes (2001) o
Decreto Lei nº 2.848 de 1940, impede que restaurantes deem as sobras de comida
para quem precisa, responsabilizando os restaurantes no caso de uma pessoa
passar mal com o alimento doado. A quantidade de alimentos jogada no lixo poderia
alimentar mais de 10 milhões de brasileiros diariamente (BORGES, 1991).
É importante definir ”sobras” e “restos” no processo de produção de refeições.
As sobras são alimentos produzidos e não distribuídos. Uma avaliação diária é uma
das medidas mais utilizadas no controle de uma Unidade de Alimentação e Nutrição
(UAN). A quantidade de sobras deve estar relacionada ao número de refeições
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
181
servidas e à margem de segurança definida na fase de planejamento. Para Ribeiro
& Justo (2003), os registros destas quantidades são fundamentais, pois servem
como subsídios para implantar medidas de racionalização, redução de desperdícios
e otimização da produtividade.
O percentual de sobra varia muito de restaurante para restaurante. O trabalho
para reduzi-lo e chegar a um valor aceitável deve basear-se em valores apurados
no próprio estabelecimento. Admitem-se como aceitáveis, de sobras, percentuais de
até 3% ou de 7 a 25g por pessoa.
O resto é a quantidade de alimentos devolvida no prato ou bandeja pelo cliente,
e deve ser avaliado não somente do ponto de vista econômico, como também da
falta de integração com o cliente. Na mesma direção, Castro et al. (2003) definem
que resto-ingesta é a relação entre o resto devolvido nas bandejas pelo comensal
e a quantidade de alimentos e preparações alimentares oferecidas, expressa em
percentual. O tamanho do prato ou a quantidade e tamanho das vasilhas utilizadas
podem induzir os clientes a se servirem uma quantidade maior que a possibilidade
de consumo e, consequentemente, gerar restos (VAZ, 2006). O percentual de restoingesta deve manter-se abaixo dos 10%, conforme discutido por CASTRO et al.,
(2003); Augustini et al. (2008).
Há serviços que conseguem taxas inferiores ao preconizado pela literatura,
perfazendo valores entre 4 e 7%.Quando o resultado apresenta-se acima de 10%
em coletividades sadias e 20% em enfermas, pressupõe-se que os cardápios estão
inadequados, por serem mal planejados ou mal executados (CASTRO, 2003). No
entanto, segundo ABREU, (2003) o restaurante deverá mensurar o resto-ingesta ao
longo do tempo e estabelecer um parâmetro próprio para a unidade.
Vaz (2006) adverte que a análise de quantidade de per capita do resto por cliente
reflete melhor a realidade do restaurante do que o percentual de resto-ingesta, por
não estar relacionada com a quantidade produzida. Esse valor é o que realmente
reflete a atitude do cliente. O objetivo desta pesquisa foi verificar a ocorrência do
desperdício, mediante o per capita por cliente e resto-ingesta, no Restaurante
Institucional do Ifes campus Santa Teresa/ES.
2 | METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada no Restaurante Institucional do Ifes campus Santa
Teresa, o qual atende aproximadamente, 800 usuários (estudantes, servidores
e visitantes) servindo cerca de 1.200 refeições diariamente em quatro turnos de
alimentação, a saber, café da manhã, almoço, lanche vespertino e jantar.
A pesquisa foi desenvolvida durante os meses de outubro, novembro e dezembro,
abrangendo cerca de 500 refeições servidas no almoço e 250 no jantar. O trabalho
inicialmente contou com Entrevista Semiestruturada (ESE) junto aos nutricionistas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
182
do RI no tocante ao cardápio servido durante os dias da semana, diagnosticando
assim o cardápio padrão servido, conforme Hirschbruch (1998).
Os colaboradores da Unidade de Alimentação e Nutrição – UAN foram
orientados a separarem os ossos e cascas de frutas dos alimentos devolvidos nos
pratos, haja vista esses itens como não deverão participar da pesagem do resto
ingesta (AMORIM et al, 2005). Na UAN existem 3 lixeiras com capacidade para 50
litros e uma de 10 litros, destinadas ao descarte de copos descartáveis, guardanapos
e cascas de frutas, respectivamente, com acionamento por pedal.
Para a mensuração da sobra de ingestão (resto-ingestão), realizaram-se
pesagens líquidas diárias em balança digital com carga máxima de 300kg, carga
mínima de 2kg e divisão de 100g. Ao final de cada dia os dados como data, número
de refeições servidos no dia, Resto-ingestão – RI em quilos e per capita de restos
foram anotados em uma planilha específica.
Para as determinações do Resto-Ingesta per capita (g); Índice resto-ingesta –
I.R (%) e Índice de aceitabilidade – I.A (%) utilizaram-se respectivamente as seguintes
equações abaixo conforme recomendado pelo Programa Nacional de Alimentação
Escolar (PNAE, 2017).
3 | ESULTADOS
Inicialmente é oportuno destacar que a pesquisa faz parte das ações do
Projeto Esplanada Sustentável do Governo Federal (Brasil, 2012), cujos objetivos
são incentivar órgãos e instituições públicas a adotarem um modelo de gestão
estruturado no combate ao desperdício, na sustentabilidade ambiental e valorização
de boas práticas, entre outros.
O cardápio no almoço e jantar é composto por feijão em caldo, arroz branco,
arroz integral, como fonte proteica carnes suína, bovina, frango e peixe, além
de opção para os vegetarianos (ovo mexido, frito e proteína de soja), saladas e
guarnições como feijão tropeiro, batata sautê, macarrão à bolonhesa, macarrão ao
sugo, batata dorê assim como salpicão, o sistema de distribuição da refeição do
tipo self-service, no entanto, a carne e a guarnição são servidos por funcionários,
conforme rege o contrato do serviço de alimentação.
Sempre que se fez necessário entrar nas dependências internas do restaurante
para a pesagem dos alimentos, foram disponibilizadas toucas tipo rede para
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
183
contenção dos cabelos. No Gráfico 01 é apresentado Resto ingesta per capta – R.I
per capta (g) e Índice de aceitabilidade – I. A (%) nos dias avaliados. Observa-se de
maneira geral o R.I per capta assume um comportamento inversamente proporcional
ao I.A, haja vista que quando há uma maior aceitação do alimento serviço, logo
reflete uma baixa no resto de ingesta por pessoa.
Gráfico 01 – Resto ingesta per capta (g) e índice de aceitabilidade (%) nos dias avaliados.
Registra-se, portanto, no Gráfico 01 que os limites superiores do resto de ingesta
oscilaram entre 33 a 40 gramas por pessoa, os maiores valores relacionaram-se aos
dias 07 de dezembro (39g); 18 de outubro (38g) e 22 de novembro (40g). Acredita-se
que esses comportamentos estejam atribuídos ao tipo de cardápio ofertado nesses
dias, os quais os dois primeiros foram compostos por carne assada bovina e último
por carne suína. O que corresponde a cerca de 20 Kg/dia no almoço e 10Kg/dia no
jantar, respectivamente.
Neste contexto, Augustini et al. (2008) comenta que o rejeito alimentar pode
estar associado a qualidade da preparação, temperatura do alimento servido, apetite
do cliente, utensílios de servir inadequados ou pratos grandes que podem levar os
clientes a se servirem de quantidades que não vão consumir, falta de opção de
porções menores, entre outras. No tocante ao índice de aceitabilidade (%) os limites
superiores variaram entre 90 a 94% ou seja, momentos em que os clientes aderiram
com satisfação ao cardápio servido.
O Gráfico 02 registra o comportamento de rejeição alimentar dos clientes (Índice
de resto-ingesta) frente às fontes proteicas fornecidas, observou-se que os maiores
índices de rejeição ocorreram no almoço, haja vista o maior número de refeições
servidas. As fontes proteicas com maiores taxas de rejeição foram nos cardápios
que continham carne assada bovina, peixe frito, churrasco misto e carne suína, com
limites superiores do Índice de resto-ingesta oscilando entre 9,1 a 10,7%.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
184
Gráfico 02 – Índice de resto-ingesta (%) das fontes proteicas.
Legenda: Estrog. Frango – Estrogonofe de franco; C.A. Bovina – Carne assada bovina; Frango A – Frango
Assado; Churrasco M. – Churrasco misto; C. Suína – Carne suína.
Durante a pesquisa os cardápios que apresentaram menores índices de resto-
ingesta foram quando servidos fontes proteicas composta por estrogonofe de frango
e frango assado com valores oscilando entre 6,4 a 6,3% (Gráfico 02). Abreu et al.
(2003), comentam que se os alimentos servidos forem de primeira qualidade e
estiverem bem preparados, o Índice de resto-ingesta deverá ser bem próximo ao
zero.
Para as demais fontes proteicas o comportamento registrado reflete certa
rejeição, o que pode estar associado ao tipo do corte escolhido para essas carnes,
associado também a forma de preparo. No tocante ao peixe frito entende -se que
o comportamento esteja relacionado ao tipo de peixe servido, que tem atribuído
certa resistência ao consumo deste e dos anteriormente citados (Gráfico 02). A
carne assada bovina, servida no dia 07 de dezembro, foi a única que apresentou um
índice rejeição de 10,7% acima do aceitável (10%), e os demais valores dos limites
superiores estão próximos do limite aceitável, o que requer atenção, no tocante ao
índice de rejeição do cardápio servido.
Desta forma, o cenário registrado acaba gerando um prejuízo financeiro para
o restaurante e para a instituição que paga pela refeição servida a cada aluno, uma
vez que, as fontes de proteínas são o fator que mais encarece a refeição. Contudo, é
preciso salientar que por características sócio culturais o ser humano erroneamente
tende a desperdiçar tudo que não lhe agrega valor financeiro, conforme discutido
por Ribeiro, (2002) e Silva et al. (2010). Para tanto, a realização de campanhas de
educação pode contribuir para uma redução efetiva contra o desperdício alimentar.
Outra observação registrada nos dias que foram servidas carne suína, além
da rejeição desta, observou-se também rejeição do feijão tropeiro. Isso pode estar
atribuído aos alunos que por características culturais, preceitos religiosos, por
problemas de saúde e/ou por preferência não consomem carne de porco que também
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
185
é componente do feijão tropeiro. Sugere-se para os dias em que houver carne suína
que não seja servido acompanhamento que contenha essa carne.
Ressalta-se então a necessidade da prestadora de serviço na área de
alimentação leve em conta, ao estipularem suas metas de índice de resto ingesta,
fontes proteicas com características organolépticas desejáveis e as práticas adotadas
para a confecção das preparações destas. Assim como, é importante averiguar se as
fontes proteicas mencionadas estão sendo satisfatórias em relação ao preço pago
pela instituição ao restaurante e o consumo pelos usuários.
4 | CONCLUSÃO
A pesquisa aponta a necessidade de rever o tipo de corte de carne bovina e
suína e a oferta de uma nova espécie de peixe, com características organolépticas
desejáveis e as práticas adotadas para a confecção das preparações destas,
proporcionando um menor índice de desperdício, e assim, poupar recursos
financeiros.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 18
187
CAPÍTULO 19
AVALIAÇÃO DO PERFIL NUTRICIONAL DOS
PACIENTES EM TRATAMENTO DE UM CENTRO DE
ESPECIALIDADES EM ONCOLOGIA DE FORTALEZACE
Unifametro, Fortaleza – Ceará.
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Débora Mendes Rodrigues
Cássia Rodrigues Roque
Danielle Maria Freitas de Araújo
Unifametro, Fortaleza – Ceará.
Rute Mattos Dourado Esteves Justa
Unifametro, Fortaleza – Ceará.
André Penha Aguiar
Faculdade de Medicina, Universidade Federal do
Ceará, Fortaleza – Ceará.
Caroline Neves Moreira
Departamento de Farmacologia, Faculdade
de Farmácia, Fisioterapia, Odontologia e
Enfermagem, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Departamento de Farmacologia, Faculdade
de Farmácia, Fisioterapia, Odontologia e
Enfermagem, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Daniel Vieira Pinto
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Cristhyane Costa Aquino
Unifametro, Fortaleza – Ceará.
Fátima Virgínia Gama Justi
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Juan de Sá Roriz Caminha
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Gabriella Araújo Matos
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Leonardo Lobo Saraiva Barros
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
de Medicina, Universidade Federal do Ceará,
Fortaleza – Ceará.
Ronaldo Pereira Dias
Departamento de Medicina Clínica, Faculdade
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: O câncer provêm de mutação
que provoca um crescimento exacerbado
das células. Uma das complicações mais
frequentes entre os pacientes oncológicos é a
desnutrição, fator determinante para a redução
da qualidade de vida. O presente estudo tem
como objetivo avaliar o estado nutricional dos
pacientes oncológicos atendidos em um centro
de referência em tratamento. Trata-se de um
estudo descritivo, quantitativo e de caráter
transversal realizado em um centro de referência
em tratamento oncológico de Fortaleza - CE,
entre outubro a novembro de 2018. O estudo foi
realizado com 36 pacientes, maiores de 18 anos
que estavam em tratamento quimioterápico e/
ou radioterápico. Na avaliação antropométrica
Capítulo 19
188
foi avaliado Índice de Massa Corpórea (IMC) e a adequação da circunferência do braço
(CB). Para coletas de dados socioeconômicos e clínicos foi utilizado um questionário
e pesquisa no prontuário. No IMC a prevalência foi de eutrofia, com total de 62,47%
(n=21), seguidos por sobrepeso e obesidade grau I com 25,31% (n=8) e cerca de
10,7% (n=6) com obesidade grau II e 1,51% (n=1) com magreza grau II. Em relação
ao %CB a prevalência foi de eutrofia em 39,29% da amostra, 28,57% com sobrepeso,
17,86% em obesidade, 10,71% em desnutrição leve e 3,57% em desnutrição grave.
São primordiais mais estudos na área oncológica que destaque os aspectos que mais
interferem no estado nutricional, com foco na melhoria da qualidade de vida.
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação antropométrica. Câncer. Diagnóstico nutricional.
Desnutrição.
EVALUATION OF THE NUTRITIONAL PROFILE OF PATIENTS IN TREATMENT OF
A CENTER OF SPECIALTIES IN ONCOLOGY OF FORTALEZA-CE
ABSTRACT: The cancer comes from mutation that causes an exacerbated growth of
cells. One of the most frequent complications among cancer patients is malnutrition, a
determining factor for the reduction in quality of life. The present study aims to evaluate
nutritional status of cancer patients treated at a referral center under treatment. This is
a descriptive, quantitative and cross-sectional study conducted at a referral center for
cancer treatment in Fortaleza - CE, between October and November 2018. The study
was conducted with 36 patients, over 18 years old who were undergoing treatment.
chemotherapy and / or radiotherapy. In the anthropometric evaluation, Body Mass
Index (BMI) and adequacy of arm circumference (CB) were evaluated. For collecting
socioeconomic and clinical data, a questionnaire and research in the medical records
were used. In BMI the prevalence was eutrophic, with a total of 62.47% (n = 21),
followed by overweight and grade obesity I with 25.31% (n = 8) and about 10.7% (n =
6). obesity II and 1.51% (n = 1) with grade II thinness. Regarding% CB, the prevalence
was eutrophic in 39.29% of the sample, 28.57% overweight, 17.86% in obesity, 10.71%
in mild malnutrition and 3.57% in severe malnutrition. Further studies in the cancer area
are essential, highlighting the aspects that most affect the nutritional status, focusing
on improving the quality of life.
KEYWORDS: Anthropometric evaluation. Cancer. Nutritional diagnosis. Malnutrition
1 | DADOS SOBRE O CÂNCER
O câncer é definido como um conjunto de mais de cem doenças que têm em
comum o crescimento desordenado de células com perda ou redução da diferenciação,
que sofrem alterações de genes ou proteínas que regulam sua multiplicação (FILHO,
2016).
Atualmente, o câncer é considerado um grave fator de saúde pública tanto em
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
189
países desenvolvidos como em desenvolvimento, o qual é responsável por mais de
seis milhões de óbitos por ano, totalizando cerca de 12% de todas as causas de
mortes no mundo (GUERRA et al., 2005). Dessa forma, estima-se que haverá cerca
de vinte e seis milhões de casos novos, com dezessete milhões de mortes por ano
até 2030 (INCA, 2017). Destaca-se que pelo menos um terço dos novos casos no
mundo poderia ser evitado com a prevenção, sendo um componente essencial no
tratamento e controle do câncer (INCA, 2012).
No Brasil, os tipos de câncer mais frequentes são os de próstata, pulmão, reto,
colo do útero, estômago e esôfago, tem-se a estimativa para os anos de 2018-2019 a
ocorrência de 600 mil novos casos de câncer a cada ano. Sendo os mais incidentes
em homens, o de próstata (31,7%), pulmão (8,7%), intestino (8,1%), estômago
(6,3%) e cavidade oral (5,2%). Já nas mulheres, os cânceres de mama (29,5%),
intestino (9,4%), colo do útero (8,1%), pulmão (6,2%) e tireoide (4,0%) figurarão
entre os principais (INCA, 2017).
2 | CÂNCER E NUTRIÇÃO
O câncer pode apresentar diferentes causas, como fatores ambientais, culturais,
socioeconômicos, genéticos e o estilo de vida, incluindo os hábitos alimentares
(OLIVEIRA et al., 2015). Além disso, uma das complicações frequentes ocorridas
entre os pacientes oncológicos é a desnutrição, fator este determinante para a
redução da qualidade de vida, aumento do risco de infecções, tempo de internação
e morbimortalidade, além da diminuição da resposta positiva ao tratamento
(FERREIRA; GUIMARÃES; MERCADENTI, 2013).
O comprometimento do estado nutricional e alterações metabólicas são outros
aspectos recorrentes nos pacientes em tratamento oncológico, pois interferem no
desenvolvimento e progressão do câncer, piorando o seu prognóstico (PELISSARO
et al., 2016). A avaliação nutricional deve fazer parte de todo o tratamento oncológico
pelo qual o paciente com câncer será submetido. Destacando que, para alcançar
bons resultados é fundamental a intervenção nutricional precoce, planejamento
e acompanhamento terapêutico adequado permanecendo após o término do
tratamento, melhorando assim a qualidade de vida do paciente (OLIVEIRA et al.,
2015; PELISSARO et al., 2016).
O ganho de peso em pacientes com neoplasia mamária após o diagnóstico,
durante e após tratamento quimioterápico é um fenômeno amplamente estudado. De
acordo com Oliveira et al. (2015) e Pelissaro et al. (2016), mulheres com câncer de
mama, em tratamento quimioterápico adjuvante, apresentam tendência progressiva
ao ganho de peso, o que, porém, segundo Vale et al. (2015), a causa não é clara e
pode ser associada com: ingestão alimentar aumentada, decréscimo da atividade
física, alteração da taxa metabólica basal ou estado de menopausa.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
190
Nessa perspectiva, o suporte nutricional e a intervenção precoce são de
fundamental importância para pacientes com diagnóstico de câncer, em virtude
do impacto negativo da desnutrição/obesidade sobre a evolução fisiopatológica da
doença e do tratamento quimioterápico, reduzindo, portanto, o risco de complicações
e a necessidade do tempo de internação hospitalar, melhorando a tolerância ao
tratamento e o estado nutricional do paciente com diferentes tipos de câncer (VALE
et al., 2015). Para tanto, este trabalho teve como objetivo principal avaliar o estado
nutricional dos pacientes oncológicos atendidos em um centro de referência em
tratamento.
3 | MÉTODOS
O presente estudo caracteriza-se como descritivo, quantitativo e de caráter
transversal, sendo realizado no Centro Regional Integrado de Oncologia (CRIO),
situado em Fortaleza – CE, no período de outubro a novembro de 2018, após
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Metropolitana da Grande
Fortaleza – UNIFAMETRO (parecer n° 2.924.150).
Neste contexto, estudou-se o universo amostral para as avaliações
antropométricas e físicas, durante os meses de outubro e novembro na coleta
de dados, totalizando 36 pacientes, todos maiores de 18 anos, que estavam em
tratamento quimioterápico e/ou radioterápico, e que concordaram em participar da
pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice
B).
Na avaliação antropométrica, utilizou-se para a análise do estado nutricional:
Índice de Massa Corporal (IMC) com classificação segundo a Organização Mundial
da Saúde - OMS (1995), e adequação da circunferência do braço (%CB) que compara
a circunferência do braço atual à recomendada para a idade (BLACKBURN, 1977).
O peso e altura foram retirados dos prontuários dos pacientes e a circunferência
do braço (CB) foi aferida com uma trena antropométrica inelástica da marca Sanny®
de dois metros de comprimento. A adequação da CB foi calculada a partir dos
percentis propostos por Frisancho (1990).
Foi utilizado um formulário de pesquisa para a obtenção de dados
socioeconômicos, antropométricos e clínicos, no intuito de investigar o perfil dos
pacientes em tratamento oncológico, incluindo possíveis sintomas relacionados à
doença e ao tratamento (Apêndice A).
Os dados coletados foram incluídos em um banco de dados elaborado através
da Planilha Microsoft Excel® 2016, para organização e tabulação dos dados, com
obtenção dos resultados através do Programa Estatístico R Core Team® 2018
demonstrados através de gráficos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
191
4 | RESULTADOS
O estudo foi realizado com um total de 36 pacientes, sendo 86,47% do sexo
feminino (n=32), e 13,53% (n=4) do sexo masculino, com faixa etária de 19 a 57
anos, com idade média de 42 anos.
Da amostra total, entre os sítios tumorais mais prevalentes destaca-se o câncer
de mama que representou 46,4% com (n=13) diagnósticos e o câncer de ovário, ânus
e linfoma não Hodgkin configuraram em seguida com 7,14% (n=2) demonstrados na
figura 1.
Estratificando pelo estadiamento do tumor, que verifica a sua extensão e taxa
de crescimento, foi possível observar que o estágio III foi o mais predominante com
metade dos diagnósticos avaliados, e os estágios II e IV representaram 21,43%
(n=6) da amostra final.
Figura 1. Sítios tumorais mais prevalentes encontrados na amostra total
Fonte: Elaborado pelos autores
Em relação à avaliação antropométrica, o IMC revelou que a maioria dos
pacientes avaliados estavam eutróficos, no total de 62,47% (n=21), seguidos por
sobrepeso e obesidade grau I, ambos com 25,31% (n=8) pacientes, e cerca de
10,7% (n=6) encontravam-se com obesidade grau II e 1,51% (n=1) classificado com
magreza grau II (Figura 2).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
192
Figura 2. Classificação do estado nutricional segundo o IMC
Fonte: Elaborado pelos autores
Na classificação da adequação da CB, foi possível destacar novamente o
diagnóstico de eutrofia como parâmetro mais prevalente, com representatividade
de 39,29% dos pacientes no total da amostra. Cerca de 28,57% dos pacientes
apresentou sobrepeso, 17,86% obesidade, 10,71% desnutrição leve e 3,57% em
desnutrição grave (Figura 3).
Figura 3. Classificação da Adequação da CB
Fonte: Elaborado pelos autores
Foram realizadas as seguintes correlações: dados do IMC e o percentual de
adequação da CB (gráfico 1) e os sintomas relacionados ao tratamento/doença com
IMC e com o percentual de adequação da CB, demonstrados nos gráficos 2 e 3
respectivamente. A melhor correlação foi IMC vs %CB (r² maior) em comparação
com as outras que obtiveram baixas correlações. Isso demonstra que quanto maior
o IMC maior o % de CB, fazendo sentido e descartando, por exemplo, que pacientes
com muitos sintomas parecem não estar relacionados com IMC ou %CB.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
193
Gráfico 1. Correlação IMC vs % CB
Fonte: Elaborado pelos autores
Gráfico 2. Correlação Sintomas vs IMC
Fonte: Elaborado pelos autores
Gráfico 3. Correlação Sintomas vs % CB
Fonte: Elaborado pelos autores
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
194
5 | DISCUSSÃO
O presente estudo demostrou que o sexo feminino compôs a maior parte da
amostra estudada, sendo o câncer de mama a neoplasia com maior incidência na
população, com 46,4% da amostra final. O câncer de mama corresponde ao tipo de
neoplasia maligna que mais acomete o sexo feminino, onde foram diagnosticadas
no mundo, no ano de 2012, cerca de 1,67 milhões de mulheres, representando 25%
de todos os cânceres. Se diagnosticado e tratado precocemente, o prognóstico
é relativamente bom. O envelhecimento, a vida reprodutiva da mulher, o período
da sua primeira gestação, o uso de anticoncepcional oral, dentre outras são, são
consideradas como fatores de risco. No Brasil, o panorama epidemiológico se
assemelha ao mundial, sendo estimado para o biênio 2018/2019, o surgimento de
57,9 mil casos de câncer de mama entre as mulheres. Desses, 11,8 mil serão na
região nordeste (FERLAY, 2014; INCA, 2017).
Mais de 40% dos indivíduos apresentavam estadiamento tumoral III, o que
demonstra, segundo Vale et al. (2015), uma parcela importante de diagnóstico tardio
e prognóstico reservado. O tipo de tratamento antitumoral de maior prevalência foi a
quimioterapia, diferente de um estudo feito por Santos et al. (2017), que encontrou
o tratamento cirúrgico como o mais comum entre os tipos de tratamento realizados.
O estado nutricional é um dos aspectos mais relevantes que deve ser avaliado
em pacientes oncológicos, pois está relacionado à tolerância ao tratamento e
ao prognóstico da doença. Aproximadamente 80% dos pacientes apresentam
comprometimento do estado nutricional, seja por alterações metabólicas decorrentes
da patologia ou efeitos colaterais do tratamento oncológico, interferindo diretamente
na qualidade de vida e no aumento da morbimortalidade desses pacientes
(WANDERLEY et al., 2011).
Um dos sintomas apresentados pelo paciente com câncer são as aversões
alimentares decorrentes da relação entre o mal-estar acarretado pelo quimioterápico
e o sabor do alimento consumido. Tal efeito é produzido pela droga antineoplásica
que prejudica as células sensoriais do paladar, possibilitando a diminuição da
sensibilidade e dos sabores. (WANDERLEY et al., 2011).
Analisando os sintomas mais descritos pelos pacientes no presente estudo, em
relação à doença e ao tratamento, destacam-se a disgeusia, mucosite, xerostomia,
anorexia, vômitos e constipação, porém não houve correlação significativa com o
estado nutricional e as variáveis de adequação da CB e IMC. Já em um estudo
realizado por Brito et al. (2012), que encontrou entre os sintomas mais recorrentes
relatados pelos pacientes náuseas, vômitos, dor, inapetência e lesões na mucosa
oral, a avaliação antropométrica permitiu identificar através do IMC, uma prevalência
de 21,8% de desnutrição, correlacionando, entre outros fatores para a desnutrição,
o surgimento de sintomas gastrointestinais.
Em um estudo realizado por Dallacosta et al. com 70 pacientes do sexo
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
195
feminino e masculino, com idade média de 63,2 anos, atendidos em um ambulatório
de oncologia de um Hospital Universitário do Meio Oeste de Santa Catarina, entre
outubro e novembro de 2016, foi relatado que como causa da má alimentação, o
sintoma de náuseas foi o principal em 21,4% (n=15) da amostra, disgeusia em 5,7%
(n=4), xerostomia em 5,7% (n=4), anorexia em 5,7% (n=4), diarréia em 4,3% (n=3)
e vômitos em 4,3% (n=3). Pacientes bem nutridos não referiram nenhuma queixa ou
dificuldade para se alimentar (p=0,03).
Além das avaliações de peso e altura, a CB é um dos parâmetros importantes
para a avaliação e para o diagnóstico nutricional, pois exprime a soma dos tecidos
ósseo, muscular e adiposo que constituem a área do braço, e em conjunto com outras
medidas de avaliação, avalia possíveis alterações da massa muscular total de um
indivíduo (CALDEIRA et al., 2016). No estudo foi possível encontrar a prevalência de
eutrofia na população estudada, o que difere do estudo multicêntrico realizado por
Waitzberg, Caiaffa e Correia (2001), o IBRANUTRI, com 4.000 pacientes no ano de
2001, internados na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), que identificou 66,95%
dos pacientes oncológicos em algum grau de desnutrição.
Segundo Wanderley et al. (2011), a prevalência e o grau da desnutrição estão
relacionados ao sítio tumoral, estadiamento clínico, tratamento antineoplásico
envolvido e a resposta do paciente à patologia. Em neoplasias malignas que
acometem o trato gastrointestinal geralmente encontra-se o perfil nutricional de
desnutrição segundo o IMC, diferentemente de neoplasias malignas que acometem a
mama, útero e cólon, onde o excesso de peso e a obesidade são predominantemente
diagnosticados nesta população.
No atual estudo, pacientes diagnosticadas com câncer de mama apresentaram
diagnóstico nutricional de sobrepeso, segundo a média de IMC e adequação da CB,
o que corrobora com o estudo de Oliveira et al. (2014), que encontraram excesso de
peso nas mulheres com neoplasias malignas mamárias. Foi observado ainda que
o ganho de peso é intensificado pela quimioterapia, uso de corticóides, inatividade
física, hábitos alimentares inadequados e com o próprio processo de envelhecimento
(CORDEIRO; FORTES, 2015).
De acordo com Rubin et al. (2010), a obesidade é um fator relevante do
prognóstico negativo para a sobrevida de mulheres com câncer, pois tem associação
ao avanço da doença ou recidiva da mesma. Já Ribeiro et al. (2009), relata que
o aumento de peso nas pacientes com neoplasia mamária maligna não tem
causa definida e pode estar relacionado, direta ou indiretamente, à quimioterapia
(CORDEIRO; FORTES, 2015).
6 | CONCLUSÃO
Diante do que foi encontrado, destaca-se a importância de programas de políticas
públicas voltadas para a prevenção do câncer, em especial ao câncer de mama,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
196
que figurou como a neoplasia mais prevalente. Importante ressaltar que o estado
nutricional é um aspecto fundamental a ser considerado no tratamento oncológico,
visto que os pacientes estudados apresentaram diferentes diagnósticos nutricionais,
indicando que uma assistência adequada para cada perfil pode corroborar para a
melhora do quadro clínico do indivíduo.
A prevalência no estudo de um estado de eutrofia nos pacientes em tratamento
oncológico se dá pela diversidade do grupo estudado e pela amostra reduzida, onde
se pôde observar que o estado de obesidade é mais presente no câncer de mama,
não havendo correlação com os sintomas mais referidos que foram disgeusia,
mucosite, xerostomia, anorexia, vômitos e constipação.
São primordiais mais estudos publicados na área oncológica destinados
ao estado nutricional dos pacientes com câncer e seu impacto no quadro clínico
dos mesmos, de modo que identifiquem e avaliem as deficiências nutricionais,
promovendo, assim, uma assistência nutricional qualificada que visa a melhora da
resposta do paciente ao tratamento, reduzindo a morbimortalidade e melhorando a
sua qualidade de vida.
Um dos pontos limitantes do estudo foi o fato de alguns dados terem sido
preenchidos por diversos profissionais no prontuário dos pacientes, além da ausência
de informações clínicas e bioquímicas importantes, o que dificultou a coleta final.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 19
198
CAPÍTULO 20
ESTADO NUTRICIONAL MATERNO E INDICADORES
NUTRICIONAIS ASSOCIADOS AO PESO AO NASCER
EM UM HOSPITAL DE REFERÊNCIA
Joana Géssica de Albuquerque Diniz
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Hugo Demesio Maia Torquato Paredes
Curso de Enfermagem e Obstetrícia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro/Campus
UFRJ-Macaé Professor Aloísio Teixeira, Macaé,
Rio de Janeiro.
Alice Bouskelá
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Camilla Medeiros Macedo da Rocha
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Flavia Farias Lima
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Fernanda Amorim de Morais Nascimento
Braga
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Maria Fernanda Larcher de Almeida
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
Cleber Nascimento do Carmo
Departamento de Epidemiologia e Métodos
Quantitativos em Saúde. Escola Nacional de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Saúde Pública Sérgio Arouca/Fundação Oswaldo
Cruz, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Jane de Carlos Santana Capelli
Curso de Nutrição da Universidade Federal do
Rio de Janeiro/Campus UFRJ-Macaé Professor
Aloísio Teixeira, Macaé, Rio de Janeiro.
RESUMO: O estudo visa avaliar o estado
nutricional de puérperas e indicadores
nutricionais associados ao peso ao nascer
em um hospital de referência de Macaé/RJ.
Trata-se de um estudo descritivo, transversal
com puérperas e seus neonatos, em uma
maternidade de referência de Macaé, entre
agosto e dezembro de 2014. De um total de 115
puérperas, 72,0% apresentaram idade entre 20
e 49 anos. Detectaram-se 48,7% com peso prégestacional adequado e 40,9% com ganho de
peso adequado na gestação. No entanto, 34,8%
tiveram ganho de peso excessivo. Dos recémnascidos, 7,0% apresentaram baixo peso ao
nascer. Houve associação estatisticamente
significativa do peso ao nascer com o ganho de
peso gestacional (p-valor=0,000) e o IMC prégestacional (p-valor=0,03). Pode-se concluir
que a maioria das puérperas apresentou peso
adequado pelo IMC pré-gestacional e o excesso
de peso (obesidade e sobrepeso) foi elevado. A
maioria das participantes apresentou o ganho
de peso na gestação, porém o excesso de
Capítulo 20
199
peso foi cerca de 1/3. As associações entre O IMC pré-gestacional, o ganho de peso
gestacional e o peso ao nascer foram estatisticamente significativas.
PALAVRAS-CHAVE: Antropometria. Avaliação Nutricional. Estado Nutricional.
MATERNAL NUTRITIONAL STATUS AND NUTRITIONAL INDICATORS
ASSOCIATED WITH WEIGHT AT BIRTH IN A REFERENCE HOSPITAL
ABSTRACT: This study aims to evaluate the nutritional status of women postpartum
and nutritional indicators associated with birth weight in a reference hospital in Macaé/
RJ. It is a cross-sectional descriptive study with women postpartum and their neonates
in a reference maternity hospital in Macaé between August and December 2014. Of a
total of 115 women postpartum, 72.0% were aged between 20 and 49 years, 48.7% with
adequate pre-gestational weight and 40.9% with adequate weight gain during gestation
were detected. However, 34.8% had excessive weight gain. Of the newborns, 7.0%
presented low birth weight. There was a statistically significant association of birth weight
with gestational weight gain (p-value=0.000) and pre-gestational BMI (p-value=0.03). It
is possible to conclude that the majority of the women postpartum presented adequate
weight by the pre-gestational BMI and the excess weight (obesity and overweight) was
elevated. The majority of the participants presented the weight gain during pregnancy,
but the excess weight was about 1/3. The associations between pre-gestational BMI,
gestational weight gain and birth weight were statistically significant.
KEYWORDS: Anthropometry. Nutritional Assessment. Nutritional Status.
1 | INTRODUÇÃO
A avaliação do estado nutricional da mulher no início e no decorrer da gestação
é uma conduta fundamentar para verificar desvios nutricionais com importância
no prognóstico do desenvolvimento fetal, bem como para permitir a prevenção da
morbimortalidade perinatal, baixo peso ao nascer e peso insuficiente do neonato,
promovendo a saúde do binômio mãe-filho (PADILHA et al., 2007; BRASIL, 2012).
Isto porque, o diagnóstico nutricional inicial permite traçar a recomendação de
ganho de peso gestacional, bem como intervir de maneira adequada para cada caso
(INSTITUTE OF MEDICINE, 2009; SATO; FUJIMORI, 2012; BRASIL, 2004).
No Brasil, pesquisas de amostragem representativa da população brasileira
apontam que o sobrepeso e a obesidade estão em grande ascensão. A prevalência
de obesidade na população feminina adulta cresceu de 8,0% para 18,4% nas últimas
quatro décadas INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1977;
2011). Tal incremento é preocupante, uma vez que o excesso de peso tanto antes
quanto durante a gestação impacta no desfecho da gestação e aumentam a retenção
de peso no puerpério (DREHMER et al., 2010) que é estimada na literatura entre
0,29Kg (HUANG et al., 2010) e 8,4Kg (ROONEY; SCHAUBERGER, 2002) podendo
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
200
chegar até 33,0Kg se não houver atenção pré-natal adequada (GUYTON; HALL,
2011).
No que tange o desfecho da gestação, pode-se destacar o peso ao nascer, que
é uma variável que reflete as condições sociais, econômicas e ambientais, às quais
a mulher se encontra no período gestacional, sendo considerado um importante
indicador de saúde no campo da saúde pública (CAPELLI et al., 2014; LIMA;
SAMPAIO, 2004).
Dentre fatores associados ao peso ao nascer, pode-se destacar o peso prégestacional e o ganho de peso total ao final da gestação. O peso pré-gravídico
parece ser o fator de maior importância quanto à predição de intercorrências
gestacionais, desfechos perinatais e Baixo Peso ao Nascer (BPN), uma vez que
influencia diretamente a saúde materna após o parto e a saúde do lactente (PADILHA
et al., 2007). O Institute of Medicine recomenda que o ganho de peso ideal seja
avaliado durante as consultas do pré-natal, de acordo com o estado nutricional inicial
da gestante, sugerido a partir do Índice de Massa Corporal (IMC) (INSTITUTE OF
MEDICINE, 1990).
Os estudos no campo da saúde materno infantil no município de Macaé ainda
são escassos. Assim, a presente pesquisa permitirá que a realidade local seja
conhecida e entendida, e contribuirá com as políticas públicas voltadas a assistência
pré-natal oferecida pelo Sistema Único de Saúde no âmbito local, em consonância
a Política de Atenção Integral a Saúde da Mulher (PAISM) (BRASIL, 2004) e aos
princípios norteadores do SUS (ARRETCHE, 2005).
O presente estudo visa avaliar o estado nutricional de puérperas e indicadores
nutricionais associados ao peso ao nascer em um hospital de referência de Macaé/
RJ.
2 | MÉTODOS
Realizou-se um estudo descritivo, transversal, de base primária e secundária
com puérperas adultas, atendidas na maternidade do Hospital Público Municipal Dr.
Fernando Pereira da Silva (HPM), localizado em Macaé, um município da região
Norte Fluminense, com estimativa populacional de 206.728 habitantes (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2016) e registro de 4.174 nascidos
vivos filhos de mães residentes no município, segundo o Sinasc/DataSUS, no de
2014 (BRASIL, 2014).
Os seguintes critérios de elegibilidade das puérperas (e seus recém-natos)
foram definidos: residir no município de Macaé, ter à época do estudo a idade entre
20 e 49 anos. Os critérios de exclusão adotados foram: registro de complicações no
parto, gestação de alto risco (com doença obstétrica na gestação atual, tais como
exemplo de pré-eclâmpsia, eclâmpsia, e diabetes gestacional), bem como os recémInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
201
nascidos prematuros com baixo peso ou peso insuficiente para a idade gestacional
(para que possíveis vieses fossem evitados).
A amostra foi calculada tendo em vista uma população finita de 2500 partos
por ano, com prevalência estimada para o baixo peso ao nascer de 10%, margem
de erro de 5%, intervalo de confiança de 90%, acrescentando 10% para possíveis
perdas, estimando-se uma amostra de 103 puérperas.
A coleta de dados foi feita por meio de um entrevistador, previamente treinado
para aplicação do questionário, que entrevistou as puérperas nas primeiras 48 horas
após admissão no alojamento conjunto, no período entre agosto e dezembro de
2014, em três turnos semanais. Os dados antropométricos e aqueles desconhecidos
pelas puérperas foram coletados nos prontuários médicos e no cartão da gestante.
As puérperas foram primeiramente esclarecidas sobre o estudo e assinaram do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Cabe ressaltar que não houve recusas
neste estudo.
Para a coleta de dados foi utilizado um questionário estruturado contendo
informações sobre a puérpera e seu recém-nascido (RN), contendo as seguintes
variáveis: (a) dado demográfico – idade materna (em anos: 20 – 29, 30 – 39, ≥40); (b)
dados socioeconômicos – estado civil [solteira, casada, união livre (tem companheiro,
mas não mora na mesma casa) e outros], escolaridade (anos de estudo: < 9 e ≥ 9)
e renda familiar (Salário mínimo, R$: < 1, 1 – 2, 3 – 4, ≥ 5 e Ignorado); (c) dados
antropométricos – estatura (m), peso pré-gestacional (Kg), índice de massa corporal
pré-gestacional (Kg/m²), peso ao nascer em gramas do recém-nascido; (d) indicadores
nutricionais – classificação nutricional pré-gestacional e ganho de peso gestacional
total (ao final da gestação); e) dados assistência pré-natal – idade gestacional (em
semanas) na primeira consulta, frequência ao pré-natal (número de consultas); f)
dados pós-natal – classificação do peso ao nascer e data de nascimento do recémnascido.
A análise descritiva das variáveis foi realizada por meio de frequências absolutas
e relativas, médias, desvio padrão, valores mínimo e máximo. Para comparar médias
entre os grupos foi aplicado o procedimento de análise de variância (ANOVA) para
amostras independentes. O nível de significância de 5% foi considerado em todas as
análises. Para todas as análises foi utilizado o programa estatístico computacional
SPSS versão 20.0®.
A classificação do estado nutricional pré-gestacional foi determinado pelo
Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pela relação peso (Kg)/estatura (m)²; com
classificação pelos pontos de corte do National Academy of Sciences do Institute of
Medicine (2009), no qual o IMC <18,5= baixo peso; entre 18,5–24,9 é peso adequado;
entre 25,0 – 29,9 classifica como sobrepeso; e ≥ 30,0 obesidade.
A classificação do ganho de peso gestacional ideal foi realizada segundo
recomendação do Institute of Medicine (2009), que preconiza para gestantes em
baixo peso entre 12,5–18 Kg; com peso adequado entre 11–16 kg; com sobrepeso
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
202
entre 7–11,5 kg; e com obesidade entre 5–9 kg.
Para a classificação do peso ao nascer seguiu-se o critério recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (PUFFER; SERRANO, 1987), com os seguintes
pontos de corte: Baixo peso: <2500g; Peso insuficiente: 2500 a 2999g; Peso
adequado: 3000 a 3999g; Excesso de peso: ≥4000g.
Este trabalho faz parte do projeto de pesquisa matriz intitulado como “Fatores
demográficos, socioeconômicos, assistência pré-natal e nutricional relacionados ao
baixo peso ao nascer: um estudo transversal realizado em um hospital municipal de
Macaé, RJ”, e está em atendimento à Resolução do Conselho Nacional de Saúde
(CNS) no 466, de 12 de dezembro de 2012, sendo aprovado pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Campos dos Goytacazes-RJ, com o
CAAE no 32809614.1.0000.5244.
3 | RESULTADOS
Um total de 115 puérperas participaram do estudo. Detectou-se que 72,0%
apresentaram idade entre 20 e 29 anos e média de idade de 26,71±5,22 anos; 33,9%
eram solteiras, 33,9% casadas, 30,4% apresentaram união livre; 85,2% escolaridade
maior ou igual a 9 anos de estudo; enquanto que 49,6% relataram possuir renda
familiar entre 1 a 2 salários mínimos, seguida de 3 a 4 (20,0%), ≥ 5 (7,0) e < 1
(4,3%). Destaca-se ainda para a variável renda familiar que 19,1% das puérperas
ignoram a renda. Quanto ao número de consultas de pré-natal, detectou-se que
72,2% realizaram 6 ou mais consultas (Tabela 1).
Variáveis
N
(%)
Idade (anos)
20 – 29
30 – 39
81
32
70,4
27,8
2
1,8
39
39
35
2
33,9
33,9
30,4
1,7
16
13,9
≥9
98
85,2
Ignorada
1
0,9
5
57
23
8
22
4,3
49,6
20,0
7,0
19,1
≥40
Estado Civil
Solteira
Casada
União Livre
Outros
Escolaridade (anos)
<9
Renda Familiar (SM) 1
<1
1–2
3–4
≥5
Ignorado
Nº consultas pré-natal
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
203
<3
3–5
≥6
3,5
24,3
72,2
4
28
83
Tabela 1. Distribuição percentual de variáveis demográfica, socioeconômicas, e assistência prénatal das puérperas assistidas em uma maternidade de Macaé. Agosto a dezembro de 2014.
(n=115)
1
SM: Salário Mínimo.
Detectou-se que a média±DP de idade materna foi de 26,71±5,2 anos e a
idade gestacional na primeira consulta foi de 13,72±5,8 semanas. As médias±DP do
peso pré-gestacional e da estatura das puérperas corresponderam a 63,55±13,88
kg e 1,59±0,08 m, respectivamente, sendo o IMC pré-gestacional médio±DP de
25,15±5,19 kg/m2. O ganho de peso ao longo da gestação foi em média±DP de
12,04±5,58 kg, variando de -4,0 kg a 26 kg. Quanto ao peso ao nascer do neonato,
observou-se que a média± DP foi de 3217,0±555,0 g (Tabela 2).
Variáveis
Média±DP
Mínimo
Máximo
Idade materna (anos)
26,71±5,22
20
41
Idade gestacional (semanas)2
13,72±5,8
4
40
63,55±13,88
38
104
1,588±0,078
1,46
1,76
17,12
-4,0
1150,0
41,14
26,0
4335,0
Peso Pré-Gestacional (kg)
Estatura (m)
IMC Pré-gestacional (kg/m )
Ganho de peso total (kg)3
Peso ao Nascer RN (g)
25,15±5,19
12,04±5,58
3217,0±555,0
2
Tabela 2. Valores médios, desvio padrão, mínimo e máximo, das variáveis demográfica,
indicadores nutricionais, assistência pré-natal de puérperas e peso ao nascer de RN1 em uma
maternidade de referência de Macaé. Agosto a dezembro de 2014. (n=115).
1
2
RN: Recém-nascido.
na primeira consulta.
3
na gestação.
A maioria das puérperas apresentou peso adequado pelo IMC pré-gestacional
(48,7%), seguido de obesidade (26,1%), sobrepeso (15,6%) e baixo peso (9,6%).
Quanto ao ganho de peso na gestação, a maioria (40,9%) apresentou um ganho
adequado, seguido de excesso (34,8%) e baixo ganho de peso na gestação (24,3%)
(Tabela 3).
Em relação à idade gestacional do recém-nascido, detectou-se que 11,3%
nasceram pré-termo e 87,0% a termo. Enquanto o peso ao nascer apresentou-se
adequado para 64,3% dos recém-nascidos, insuficiente para 20,9%, baixo para
7,0%, e excesso de peso em 6,1% (Tabela 3).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
204
N
(%)
Baixo Peso
11
9,6
Peso Adequado
56
48,7
Sobrepeso
18
15,6
Obesidade
30
26,1
Baixo
28
24,3
Adequado
47
40,9
Excesso
40
34,8
Pré-termo
13
11,3
A termo
100
87,0
Ignorado
2
1,7
Baixo peso
8
7,0
Peso insuficiente
24
20,9
Peso adequado
74
64,3
Excesso de peso
7
6,1
Ignorado
2
1,7
Variáveis
Classificação do peso pré-gestacional1
Ganho de peso gestacional1
Idade gestacional do RN
Peso ao nascer (g)
Tabela 3. Estado nutricional de puérperas, idade gestacional e peso ao nascer de recémnascidos (RN) assistidos em uma maternidade de referência de Macaé. Agosto a dezembro de
2014. (n=115)
1Institute of Medicine (2009).
Quando analisada a associação dos indicadores nutricionais com o peso ao
nascer, verificou-se a associação estatisticamente significativa do ganho de peso
gestacional (p valor=0,000) e o IMC pré-gestacional (p valor=0,03) com o peso ao
nascer (Tabela 4).
Indicadores Nutricionais
Total
(n)
Peso ao nascer
Média
IMC Pré-gestacional3 (Kg/m2)
Baixo Peso
Desvio Padrão
0,03
11
2764,09
Eutrofia
Sobrepeso
55
18
512,24
3240,36
3221,67
468,86
706,73
Obesidade
29
3341,21
571,31
Total
113
3216,90
557,89
Ganho de Peso Gestacional
Baixo
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
p valor2
0,000
28
2895,00
591,75
Capítulo 20
205
Adequado
46
3214,35
462,13
Excesso
39
3451,03
531,99
Total
113
3216,90
557,89
Tabela 4. Valores médios e desvio padrão de peso ao nascer e sua associação com indicadores
nutricionais de puérperas assistidas em uma maternidade de referência de Macaé. Agosto a
dezembro de 2014. (n=113).1
1Houve 2 missing.
2Análise de variância ANOVA.
3Institute of Medicine (2009).
4 | DISCUSSÃO
Os resultados revelam que a maioria das puérperas possui companheiro,
escolaridade a partir de nove anos de estudo, renda familiar menor que dois salários
mínimos e realizou seis ou mais consultas pré-natal. No que tange ao estado
nutricional, segundo IMC pré-gestacional, verificou-se que aproximadamente a
metade das puérperas apresentou peso adequado, seguido de obesidade, e pouco
menos da metade teve um ganho de peso adequado ao final da gestação. A maioria
das puérperas teve o recém-nascido apresentando peso adequado. Além disso, as
associações entre o IMC pré-gestacional, o ganho de peso gestacional e o peso ao
nascer foram estatisticamente significativas.
As características socioeconômicas das participantes do estudo foram similares
àquelas encontradas por Lima e Sampaio (2004), que analisaram a influência dos
fatores obstétricos, socioeconômicos e nutricionais sobre o peso do recém-nascido,
de 277 puérperas em uma maternidade de Teresina – PI, no período de janeiro a maio
de 2003, no qual encontraram idade média de 25±3,8 anos, a maioria (88,8%) com
companheiro, em união oficializada ou não e 53,8% tinham um nível de instrução de
oito ou mais anos de estudo formal.
Capelli e cols. (2014) realizando um estudo seccional, descritivo, conduzido no
Hospital Maternidade Herculano Pinheiro (HMHP), Rio de Janeiro, entre dezembro
de 2008 e fevereiro de 2009, analisando fatores relacionados ao peso ao nascer com
137 puérperas entre 20 e 34 anos, encontraram média de idade de 24,99 ± 4,4 anos;
que três quartos das puérperas viviam com companheiro e quase a metade tinha de
oito a 11 anos de estudo.
Knob e cols. (2016) em um estudo descritivo, transversal, analisaram a correlação
entre o estado nutricional de recém-nascidos (RN) com os dados antropométricos
maternos pré-gestacionais e ao término da gestação, no Hospital Geral e Maternidade
de Lages (SC), entre janeiro e fevereiro de 2013. Os autores analisaram dados de
168 mães e seus respectivos filhos, que apresentaram a média±DP de idade de
26,1±6,2 anos, variando entre 18 e 42 anos. A média de idade foi similar ao presente
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
206
estudo, contudo, a idade mínima foi de 18 anos, divergindo do nosso estudo, cujo
ponto de corte foi acima de 20 anos.
Melo e cols. (2007) descreveram as características de uma coorte de 115
gestantes atendidas pelo Programa de Saúde da Família em Campina Grande,
Paraíba, a partir da classificação do estado nutricional inicial, ganho de peso ponderal
gestacional e a resistência nas artérias uterinas, entre março de 2005 a 2006, e
encontraram idade média de 24±5 anos, similar aos nossos achados (26,71±5,22
anos).
Meller e Santos (2009), em estudo retrospectivo realizado em uma instituição
hospitalar de Porto Alegre/RS, visando verificar a influência do estado nutricional
da gestante na saúde do recém-nascido, em 260 prontuários de mulheres que
realizaram pelo menos uma consulta de assistência pré-natal e o parto no hospital,
entre agosto de 2006 e janeiro de 2007, encontraram a idade média de 29,2±3,8
anos. Os autores observaram que 98,1% das mulheres estudaram mais de oito anos
e 59,6% estavam com companheiro, em união oficializada ou não.
A faixa etária entre 20 e 30 anos é considerada adequada, do ponto de vista
reprodutivo, uma vez que está associada ao menor risco perinatal (COSTA; GOTLIEB,
1998) Estudos apontam desvantagem psicológica em ser mãe solteira e a ausência
do pai, que pode impactar na estabilidade econômica da família e acarretar no baixo
peso ao nascer (LIMA; SAMPAIO, 2004). Quanto a escolaridade, verificou-se neste
estudo, que 85,0% das mulheres estudaram acima de nove anos, proporção superior
àquelas encontradas nos estudos supracitados. Esse dado é relevante uma vez que
a escolaridade é considerada um fator protetor para o desfecho positivo do peso ao
nascer (KNOB et al, 2016; MELO et al. 2007; MELLER; SANTOS, 2009). Quanto à
renda, cerca de 19,0% de dados foram ignorados, justificados pelo desconhecimento
das puérperas sobre essa informação; e cerca de 54,0% apresentaram renda inferior
a dois salários mínimos.
Neste estudo, a maioria das puérperas realizou seis ou mais consultas de prénatal, onde a média da IG da primeira consulta foi de aproximadamente 14 semanas,
ou seja, a partir do segundo trimestre. Todavia, a recomendação preconizada pelo
Ministério da Saúde é que sejam feitas no mínimo seis consultas durante o pré-natal,
sendo a primeira ainda no primeiro trimestre, duas no segundo e três no terceiro
trimestre gestacional (BRASIL, 2005).
Meller e Santos (2009) verificaram que a média de idade na primeira consulta
pelas gestantes foi de 12,9±5,3 semanas e 93,1% foram atendidas seis ou mais
vezes durante o pré-natal. Capelli e cols. (2014) encontraram resultados similares em
seu estudo, no qual a média da IG na primeira semana foi de 13,32±7,49 semanas
e a média de consultas durante o período de pré-natal foi de 6,5±2,3. Já Lima e
Sampaio (2009) observaram que a média da idade gestacional na primeira consulta
foi de 12,6±2,9 semanas e 63,9% das gestantes foram atendidas seis ou mais vezes
durante o pré-natal. Sabe-se que a adequada assistência durante o período préInovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
207
natal garante o parto de recém-nascido saudável, sem prejuízos à saúde materna.
O progresso nesta assistência se correlaciona com a sua qualidade, facilidade de
acesso e, também, com o cuidadoso acompanhamento de cada gestante, favorecendo
desfechos gestacionais positivos tanto para a puérpera como para o recém-nascido
(MELLER; SANTOS, 2009).
O estudo detectou também que a maioria das puérperas iniciou a gestação com
o peso adequado, segundo o IMC pré-gestacional. Melo e cols. (2007) encontraram
resultado similar, no qual a maioria das gestantes iniciou a gestação com IMC indicativo
de eutrofia. Já Meller e Santos (2009) constataram que a maioria das gestantes iniciou
a gestação com má nutrição, sendo esta relacionada a excesso ou déficit nutricional.
Amorim e cols. (2009) ao determinarem a frequência de macrossomia nos recémnascidos vivos em um serviço obstétrico de referência em Campina Grande, Paraíba,
associando aos fatores de risco maternos em 551 puérperas, no período de agosto
a outubro de 2007, encontraram 73,9% das participantes iniciando a gestação com
adequação ponderal, assim como Padilha e cols. (2007), ao analisarem a associação
entre o estado nutricional pré-gestacional materno e os desfechos maternos com
433 puérperas adultas atendidas na Maternidade Escola da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), encontraram 68,2%.
Verificou-se que maioria das puérperas participantes deste estudo apresentou
ganho de peso gestacional adequado, diferente do encontrado por Melo e cols. (2007),
onde as gestantes apresentaram ganho de peso gestacional excessivo tanto no
segundo quanto no terceiro trimestres gestacionais, 44,0% e 45,0%, respectivamente.
Enquanto Rocha e cols. (2005) ao avaliarem o estado nutricional e a prevalência de
anemia durante a gestação e correlacionar com o peso do recém-nascido, em 168
gestantes usuárias do serviço público de Viçosa, Minas Gerais, detectaram 60,0%
das puérperas apresentando ganho de peso gestacional insuficiente.
Kac e Velásquez-Meléndez (2005) também encontraram o resultado similar ao
estudo supracitado, ao identificarem as co-variáveis potencialmente associadas à
macrossomia, incluindo o ganho de peso gestacional excessivo em uma coorte com
230 pares de mães e filhos no município do Rio de Janeiro, entre maio de 1999 e
abril de 2001. Os autores verificaram que 36,5% das puérperas apresentaram ganho
de peso gestacional insuficiente, correspondendo à maioria da amostra.
É relevante ressaltar que inadequações quanto ao ganho de peso gestacional
influenciam diretamente no desfecho perinatal de modo a impactar no peso ao nascer
do recém-nascido. Um ganho de peso gestacional insuficiente está relacionado com
o retardo no crescimento intrauterino e aumento da mortalidade perinatal, enquanto
que um ganho de peso gestacional excessivo se relaciona com diabetes gestacional,
macrossomia fetal, dificuldades durante o parto e hipoglicemia no neonato (BRASIL,
2012). Além disso, o peso pré-gestacional inadequado acompanhado de ganho
de peso gestacional insuficiente, aumenta as chances de inadequações no que
diz respeito ao déficit ponderal no neonato. Por estes fatores, atentar-se quanto
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
208
ao adequado ganho de peso gestacional é de suma importância para prevenir
intercorrências gestacionais e perinatais tanto para a mãe quanto para o lactente
(BRASIL, 2012).
Acerca do peso ao nascer, Melo e cols. (2007) verificaram que um terço
dos recém-nascidos do estudo nasceu com inadequação ponderal, de modo que
o percentual de peso insuficiente e BPN somados atingiram o valor de 24,0%,
semelhante ao presente estudo, onde 27,9% dos neonatos nasceram com peso
insuficiente e BPN, embora a maioria tenha atingido adequação. Knob e cols. (2016)
encontraram resultados semelhantes analisando a associação do estado nutricional
de recém-nascido com os dados antropométricos maternos pré-gestacionais e ao
término da gestação, no qual 72,6% dos neonatos nasceram com peso adequado,
porém 23,2% destes se encontravam com inadequação por déficit ponderal.
Analisando a associação entre o IMC pré-gestacional, ganho de peso gestacional
e peso ao nascer, Knob e cols. (2016) verificaram a correlação entre o peso pré-
gestacional e o peso pós-gestacional (final) com peso (Kg), perímetro cefálico (cm)
e comprimento (cm) do recém-nascido (p<0,01). Detectaram também as correlações
do IMC pré-gestacional e final, do ganho ponderal e da altura materna com o peso do
recém-nascido (p<0,01). Os autores observaram que o peso final materno e a idade
gestacional foram as variáveis que apresentaram maior correlação com o estado
nutricional do recém-nascido. Da mesma forma, Lima e Sampaio (2004) encontraram
associação positiva entre o estado nutricional materno e peso ao nascer (p=0,013).
Rocha e cols. (2005) observaram que tanto o IMC pré-gestacional quanto o
ganho de peso gestacional se associaram com significância estatística com o
peso ao nascer do recém-nascido (p<0,05 e p<0,0001, respectivamente), porém a
variável antropométrica da gestante que mais se correlacionou com este desfecho
foi o ganho de peso gestacional, corroborando, portanto, com o presente estudo, no
qual o ganho de peso gestacional foi a variável que possuiu relação estatisticamente
significativa com o peso ao nascer do recém-nascido.
Meller e Santos (2009) encontraram associação estatisticamente significativa
entre o ganho de peso gestacional e a adequação de peso dos bebês para a idade
gestacional, assim como na relação do ganho de peso gestacional e peso ao nascer
(p=0,000). De forma similar, o estudo de Eleutério e cols. (2013) avaliando a influência
do estado nutricional materno no peso ao nascer de neonatos, em um hospital no
município de Pará de Minas, Minas Gerais, nos anos de 2009 a 2010, encontraram
a associação estatisticamente significativa e diretamente proporcional entre o peso
dos neonatos e ganho de peso gestacional (p<0,05).
Fonseca e cols. (2014) encontraram resultado semelhante ao associarem
o sobrepeso e obesidade pré-gravídica e gestacional com o peso ao nascer, em
712 gestantes internadas para o parto no hospital da Faculdade de Medicina de
Jundiaí, no período de setembro de 2009 a dezembro de 2012, onde puérperas com
excesso de peso pré-gravídico tiveram maior percentual de recém-nascido com peso
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 20
209
adequado (sobrepeso 66,1%; obesidade 68,4%), da mesma forma para as gestantes
com excesso de ganho de peso gestacional total (69,6%). Contudo, as gestantes
com baixo peso pré-gravídicos foram as que apresentaram maior frequência de
recém-nascido com peso inadequado (baixo peso 22,4%; insuficiente 32,7%); assim
como o risco de baixo peso (OR=2,85) e peso insuficiente (OR=2,15) para neonatos
de puérperas com ganho de peso gestacional total insuficiente.
Meller e Santos (2009), por sua vez, não encontraram relação estatisticamente
significativa entre o IMC pré-gestacional e o peso ao nascer, somente do ganho de
peso gestacional e o peso ao nascer, assim como Sato e Fujimori4 ao caracterizarem
o estado nutricional e o ganho de peso de 228 gestantes atendidas em um centro de
saúde do município de São Paulo, avaliando a influência destas variáveis no peso
da criança ao nascer, observaram também que o ganho de peso gestacional se
correlacionou com o peso ao nascer, corroborando com os achados deste estudo.
Neste estudo, o IMC pré-gestacional e o ganho de peso gestacional se
associaram positivamente com o desfecho gestacional, impactando no peso ao
nascer do recém-nascido. Além disso, apresentou um percentual elevado (cerca de
28,0%), quando analisados em conjunto, para o peso insuficiente e BPN, merecendo
cuidadosa atenção.
Cabe destacar que o presente estudo é representativo das puérperas de baixo
risco atendidas na principal maternidade pública do município de Macaé, não sendo
possível generalizar seus resultados para populações com outras características.
Todavia, seus dados são pioneiros, uma vez que não há estudos epidemiológicos
associando os indicadores antropométricos gestacionais ao peso ao nascer no
município de Macaé.
5 | CONCLUSÃO
Conclui-se que a maioria das puérperas apresentou peso adequado pelo
IMC pré-gestacional, e o excesso de peso (obesidade e sobrepeso) foi elevado
na amostra estudada, o que é um dado preocupante. A maioria das participantes
apresentou o ganho de peso na gestação, porém o excesso de peso foi cerca de 1/3.
As associações entre o IMC pré-gestacional, o ganho de peso gestacional e o peso
ao nascer foram estatisticamente significativas.
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Capítulo 20
212
CAPÍTULO 21
IMC DE PRÉ-PÚBERES DAS REDES DE ENSINO
PÚBLICA E PRIVADA EM VITÓRIA DA CONQUISTA,
BA, BRASIL
Taylan Cunha Meira
Mestrando em Ciências Fisiológicas pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Profissional de Educação Física, Faculdade de
Tecnologia e Ciências FTC/VIC. Bahia (Ba),
Brasil. E-mail: taylan.meira@hotmail.com
Ivan Conrado Oliveira
Discente do curso de Educação Física, Faculdade
de Tecnologia e Ciências FTC/VIC. Bahia(Ba),
Brasil. E-mail: conradofiit@gmail.com
Diego Moraes Leite
Discente do curso de Nutrição, Faculdade de
Tecnologia e Ciências FTC/VIC. Bahia(Ba), Brasil.
E-mail: diegoleitenutricao@gmail.com
Everton Almeida Sousa
Profissional de Educação Física, Faculdade de
Tecnologia e Ciências FTC/VIC. Bahia (Ba),
Brasil. E-mail: evertonh102@hotmail.com
Fisiológicas pelo Programa Multicêntrico de Pósgraduação, Sociedade Brasileira de Fisiologia,
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharel
em Nutrição pela Universidade Federal da
Bahia (UFBA). Bahia (Ba), Brasil. E-mail:
lucianofilho_19@yahoo.com.br
Grazielle Prates Lourenço dos Santos
Bittencourt
Doutorando em Ciências Fisiológicas pelo
Programa Multicêntrico de Pós-graduação,
Sociedade Brasileira de Fisiologia, Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Ciências
Fisiológicas pelo Programa Multicêntrico de Pósgraduação, Sociedade Brasileira de Fisiologia,
Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bacharel
em Nutrição pela Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Bahia (Ba), Brasil. E-mail: grazi_pls@
yahoo.com.br
Carlos Alberto de Oliveira Borges
Mestre em Educação Física pela Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro (2012) e
Graduado em Educação Física pela Universidade
Católica do Salvador. Bahia (Ba), Brasil. E-mail:
oliveiratu@hotmail.com
Thiago Macedo Lopes Correia
Bacharel em Enfermagem pela Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Bahia (BA), Brasil.
E-mail: thiagomlc_94@yahoo.com.br
Luciano Evangelista dos Santos Filho
Doutorando em Ciências Fisiológicas pelo
Programa Multicêntrico de Pós-graduação,
Sociedade Brasileira de Fisiologia, Universidade
Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Ciências
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
RESUMO: A utilização demasiada da tecnologia
têm acarretado impactos negativos a saúde dos
jovens, por exemplo a ocorrência de doenças
crônicas não transmissíveis, geradas pelo
sedentarismo. Diante disso o objetivo desse
estudo foi analisar o IMC de pré - púberes das
redes ensinos público e privado de Vitória da
Conquista, Ba. Foi realizado estudo transversal
descritivo, que adotou uma amostragem não
probabilística intencional, com a escolha de
uma (01) escola da rede pública (municipal) e
uma (01) da escola da rede privada da região
Capítulo 21
213
urbana do respectivo município. A amostra foi composta por 193 alunos das redes de
ensino pública e privada. Esses números corresponderam (52,3%) do sexo masculino
e (47,7%) do sexo feminino de ambas as redes de ensino, com a faixa etária de
8 á 10 anos. Em relação ao sobrepeso e a obesidade, teve o total de (18,6%) em
ambas redes de ensino. Observando os sexos os meninos apresentaram (21,8%) de
sobrepeso e obesidade e as meninas (15,2%). Quanto o baixo IMC obteve (32,1%), já
o IMC adequado teve (49,2%), enquanto o sobrepeso e obesidade apresentou (9,3%)
cada um em ambas redes de ensino. Comparando às redes de ensino observou maior
baixo IMC entre pré-púberes da rede de ensino pública, enquanto maior sobrepeso e
obesidade na rede de ensino privada.
PALAVRAS-CHAVE: IMC. Pré-Púberes. Rede Ensino.
EVALUATION IMC OF PRE-POVERIES OF PUBLIC AND PRIVATE EDUCATION
NETWORKS IN VITÓRIA DA CONQUISTA, BA, BRAZIL
ABSTRACT: Too much use of technology has had negative impacts on the health of
young people, for example the occurrence of non-communicable chronic diseases,
generated by the sedentary lifestyle. Aiming at this, the objective of this study was
to analyze the BMI of prepubescent of the public and private teaching networks of
Vitória da Conquista, Ba. A descriptive cross - sectional study was carried out, which
adopted an intentional non - probabilistic sampling, with the choice of one (01) public
school (municipal) and one (01) private school in the urban region of the respective
municipality. The sample consisted of 193 students from public and private education
networks. These numbers corresponded to 52.3% of males and 47.7% of females of
both education networks, with ages ranging from 8 to 10 years. In relation to overweight
and obesity, it had a total of (18.6%) in both education networks. Observing the sexes,
the boys presented (21.8%) of overweight and obesity and the girls (15.2%). When the
BMI was low (32.1%), the appropriate BMI had (49.2%), while overweight and obesity
presented (9.3%) each in both teaching networks. Comparing to teaching networks
observed higher low BMI among prepubescent of the public school network, while
higher overweight and obesity in the private education network.
KEYWORDS: BMI. Pre-pubescent. Network Teaching.
INTRODUÇÃO
A Revolução Industrial, no século XVIII, junto ao advento da tecnologia, contribuiu na
mudança de brincadeiras em ruas e praças das crianças por vídeo games, computadores
e televisores. Logo, essa utilização demasiada da tecnologia têm acarretado impactos
negativos a saúde dos jovens, por exemplo a ocorrência de doenças crônicas não
transmissíveis, geradas pelo sedentarismo (CRAEMER, DECKER, 2012).
Percebe-se então que o excesso de peso corporal na fase pré-púbere
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
214
ocasionado pelo sedentarismo têm provocado a ocorrência doenças cardiovasculares
e metabólicas na infância até a fase adulta (HALFON, 2012). Diante desse fato, o
processo de crescimento e maturação biológica nesta fase poderá ser prejudicado
de forma imediata, ou, a longo prazo. Dentre umas das causas agravantes para
ocorrência desse evento, destaca - se os desequilíbrios calóricos gerados por padrões
alimentares inadequados, como a ingestão de alimentos altamente calóricos e estilo
de vida sedentário (DIAS et al., 2014).
Nesse contexto o sobrepeso e a obesidade é demonstrado em vários estudos
que evidenciaram um aumento significativo da mortalidade e morbidade, por conta
do excesso de peso corporal em diferentes fases da vida, além disso, maiores são os
gastos com remédios e procedimentos cirúrgicos, utilizados como formas paliativas
no controle de doenças crônicas não transmissíveis provocadas pelo excesso de
peso corporal (SICHIERI, SOUZA, 2008; MIRANDA; NAVARRO, 2016).
Rafraf et al. (2013) considerou que os níveis socioeconômicos podem
influenciar na composição corporal de pré - púberes, através do sexo, faixa etária,
renda familiar, rede de ensino, escolaridade dos pais e fatores comportamentais
como baixas práticas de atividade física. Essa relação, é evidenciada pelos dados
da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN, 2010) que analisaram maiores
índices de sobrepeso em jovens com rendas mais elevadas.
Conforme esta situação apresentada observa-se que a prevalência do sobrepeso
e a obesidade têm ocorrido no Brasil inteiro entre escolares da rede ensino público
e privado. No estudo de MELLO et al. (2010) foi demonstrado um elevado grau do
peso corporal entre estudantes de 6 a 10 anos nas escolas públicas da região Sul
do país.
No estudo de Sousa et al. (2018) os resultados foram diferentes, observou
que os níveis socioeconômico influenciou significativamente na composição corporal
de crianças com idades de 8 á 10 anos, através da rede de ensino privada que
apresentou uma maior ocorrência da obesidade em relação a rede de ensino pública.
É importante considerar que o baixo e o excesso de peso corporal na infância,
pode ser avaliado pelo Índice de Massa Corpórea, pois esse método de avaliação
tem a capacidade de indicar estado nutricional e o risco de mortalidade num contexto
mundial (SCHMITZ, 2010). O índice de massa corporal por idade (IMC/idade acima do
percentil 85 e obesidade acima do percentil 95, segue os padrões determinados pelo
National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES II-III). Esse método de
avaliação é possível adoção de limites do IMC em valores absolutos, sendo por várias
faixas etárias durante o período de crescimento, sem nenhum comprometimento da
especificidade e sensibilidade do diagnóstico (DUMITH et al., 2010).
Dessa forma esse estudo tem como objetivo analisar e comparar o Índice de
Massa Corporal (IMC) de pré - púberes das redes de ensino público e privado na
cidade de Vitória da Conquista, Ba.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
215
MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho verificou o índice de massa corporal (IMC) de escolares de
diferentes faixas etárias e sexos da cidade de Vitória da Conquista, Ba. A amostra
foi dividida em dois grupos, um de escolas públicas e o outro de escolas privadas.
Foi realizado um estudo transversal descritivo, não controlado. O procedimento
adotado segue as normas de ética em pesquisas com humano conforme a resolução
nº 251, de 07/08/1997 do Conselho Nacional de Saúde e da resolução nº. 196,
de 10/10/1996 que são as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa
envolvendo seres humanos, em concordância com os princípios éticos contidos na
Declaração de Helsinki (1964, reformulada em 1975, 1983, 1989, 1996 e 2000),
da “World Medical Association. Sendo o estudo aprovado pelo comitê de ética e
pesquisa da respectiva instituição com parecer 2.956.804.
A participação foram de escolares constituídas de ambos os sexos, com idade
de 08 (oito) a 10 (dez) anos, tendo como referencial o modelo de Gallahue e Ozmu
, no estágio de transitório da fase motora especializada de crianças na fase pré
-púbere (GALLAHUE et al., 2013). Os pais ou responsáveis foram esclarecidos
sobre o estudo e assinaram o Termo de Livre Consentimento e Esclarecido. Para o
desenvolvimento do estudo os procedimentos de seleção da amostra obedeceram a
uma sequência de etapas, a amostragem não probabilística intencional, que pudesse
efetivamente representar a população escolar considerável.
Foi escolhida uma escola do ensino fundamental da rede pública (municipal)
e uma da escola da rede ensino privada da região urbana do município de Vitória da
Conquista, Ba, sendo classificada separadamente por sexo, idade, série e segundo
a escola em que estavam matriculados no ano letivo 2018.
Dentre os critérios adotados para a exclusão de algum escolar foram: (a)
recusa em participar do estudo; (b) não ter autorização dos pais ou responsáveis; (c)
ausência às aulas no dia agendado para a coleta dos dados; e (d) algum problema
físico que o impedisse, temporária ou definitivamente, de realizar o peso e estatura
(IMC).
A mensuração de massa e estatura corporal em pré-púberes da rede de ensino
pública e privada foi realizada através da balança portátil, digital da marca FWB, com
capacidade de 150 kg e graduação de 100g e o estadiômetro, fixo à parede, do tipo
compacto de 2 metros da marca WISO (Wiso, China), com precisão de 1 mm.
Os dados coletados foram analisados através da estatística descritiva, com
tabulação cruzada de qui – quadrado de Pearson considerando como variáveis o
sexo, IMC, idade, Redes de ensino público e privado. Os valores de confiança de
5% (p<0,05), foram considerados estatisticamente significativos. As informações
estatísticas foram obtidas com o auxílio do programa estatístico SPSS® Base 22.0
(SPSS Inc., Chicago, IL).
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
216
RESULTADOS
Foram avaliados 193 escolares, sendo 101 da rede ensino pública (52,3%) e 92
da rede de ensino privada (47,7%). Esse número corresponde a 101 alunos do sexo
masculino (52,3%) e 92 do sexo feminino (47,7%) de ambas as redes de ensino.
Quanto a faixa etária dos alunos de 8 á 10 anos, foram avaliados (21,8%) com
idade de 8 anos, (34,7%) com 9 anos e (43,5%) 10 anos. Na Tabela 1, mostra-se o
Índice de Massa Corpórea de crianças (pré - púberes) de ambas as redes de ensino.
Destacou-se que o baixo IMC teve (32,1%), já o IMC adequado obteve (49,2%),
enquanto o sobrepeso e obesidade apresentaram (9,3%) cada um em ambas redes
de ensino. Em relação ao sexo os meninos tiveram (30,7%) de baixo Índice de Massa
Corpórea, (47,5%) apresentaram seu Índice de Massa Corpórea como adequado,
em relação ao sobrepeso e obesidade observou que (8,9%) foram classificados
com sobrepeso e (12,9%) com obesidade. Enquanto o sexo feminino foi possível
notar que o baixo Índice de Massa Corpórea atingiu (33,7%), já o Índice de Massa
Corpórea adequado obteve (51,1%), e o sobrepeso (9,8%), sendo maior entre as
meninas comparado aos meninos, por último a obesidade foi constatada com menor
frequência entre o sexo feminino (5,4%) do que o masculino. Na tabela 2 compara
Índice de Massa Corpórea de pré - púberes das redes de ensino pública e privada.
Diante disso comparado IMC das redes de ensino observou maior frequência de
baixo IMC na rede de ensino pública com (38,6%), e maior sobrepeso (15,2%) e
obesidade (12%) na rede de ensino privado em relação à rede de ensino público.
Índice de Massa
Corpórea (IMC)
Meninos (101)
N
%
Meninas (92)
N
%
Todos (193)
N
%
31
30,7
31
33,7
62
32,1
IMC adequado
48
47,5
47
51,1
95
49,2
Sobrepeso
9
8,9
9
9,8
18
9,3
Obesidade
13
12,9
5
5,4
18
9,3
Baixo IMC
Tabela 1 – Frequências e porcentagens do estado nutricional de pré-púberes das redes de
ensino público e privado. Os valores entre parênteses referem-se ao número de escolares das
redes de ensino pública e privada.
Pública (101)
N
%
Privada (92)
N
%
Todos (193)
N
%
Baixo IMC
IMC adequado
39
51
38,6
50,5
23
44
25,0
47,8
32,1
49,2
Sobrepeso
4
4,0
14
15,2
62
95
18
9,3
Obesidade
7
6,9
11
12,0
18
9,3
Índice de Massa
Corpórea (IMC)
Tabela 2 – Comparação do estado nutricional de pré – púberes das redes de ensino público
e privado. Os valores entre parênteses referem-se ao número de pré - púberes das redes de
ensino pública e privada.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
217
DISCUSSÃO
Os resultados desse estudo demonstraram que o Índice de Massa Corpórea de
pré - púberes das redes de ensino pública e privado tiveram diferentes classificações
quanto ao IMC. Observado maiores índices de baixo IMC na rede de ensino pública
e valores maiores de sobrepeso e obesidade na rede de ensino privada comparado
à rede de ensino público. Pondera-se que os fatores socioeconômicos podem
influenciar no Índice de Massa Corpórea de Pré-Púberes na educação, renda,
ocupação e culturalmente.
Neste estudo observou-se maior taxa de baixo IMC entre pré-púberes da rede
de público comparado à privada, de acordo a Eickhoff (2014) essa situação ainda
é apresentada no Brasil de forma severa, sendo mais grave nas regiões Norte e
Nordeste como resultado da desigualdade social e da distribuição de renda no país.
Segundo o estudo de Pontes (2017) destaca dados significativos no diagnóstico
de baixo peso (23,14%) em escolares da rede de ensino pública, o que reforça
a relação da desnutrição infantil está associada a diversos fatores como nível de
desenvolvimento econômico, distribuição de riquezas, estabilidade política e padrão
sociocultural (FELBERG, 2018).
Em relação ao sobrepeso e obesidade nesse estudo, observou maior ocorrência
na rede de ensino privada, o que constata num estudo publicado em fevereiro de
2014, no jornal “New England Journal of Medicine”, que a obesidade em crianças
nos Estados Unidos começa desde o jardim de infância. Na idade de 14 anos, quase
metade das pessoas que se tornaram obesas já eram aos cinco anos. Este estudo
também revelou que mais de 12,4% das crianças americanas que entram no jardim
de infância eram obesas e 14,9% estavam acima do peso.
Considera-se que as classes mais altas têm o maior poder aquisitivo comparado
as classes inferiores, possibilitando maior acesso tecnologia, que irão reduzir as
oportunidades de lazer e de uma vida fisicamente ativa, proporcionando maiores
atividades sedentárias, tais como assistir a televisão, jogar videogames e utilizar
computadores (BORGES,2012).
De acordo o estudo de Macedo (2016), foi analisado a partir dos resultados
obtidos, que a rede de ensino particular obteve um número maior de alunos com
excesso de gordura do que a escola pública. Nos estudos (LEÃO et al, 2003; SANTOS
et al, 2012; TAVARES et al, 2014) os resultados não foram diferentes quanto a
prevalência sobrepeso e obesidade nas redes de ensino privadas comparadas rede
de ensino público, sendo demonstrado maiores índices na rede particular em relação
a púbica, chegando a ser três vezes acima do esperado.
No estudo de Miranda (2015), considera que o desenvolvimento do sobrepeso
e obesidade infantil está relacionado ao fator socioeconômico, podendo por sua
vez, levar à um estado mais próximo de um polo negativo de saúde favorecendo
precocemente no desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Além
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
218
disso, pondera-se que o IMC é um importante índice para diagnosticar o estado
nutricional de crianças, correlacionando-se positivamente com o percentual de
gordura.
A partir desse contexto o uso do IMC, é um importante indicador de baixo
peso corporal, de sobrepeso e obesidade de pré - púberes, ao qual ele vem sendo
utilizado em vários estudos (DUMITH et al., 2010; SCHMITZ, 2010 ). No nosso meio,
considerando o aspecto multirracial do povo brasileiro, os limites propostos parecem
ter boa concordância com a adiposidade, pelo menos em escolares. Diante disso
o presente estudo, utilizou esse método duplamente indireto para estimativa de
gordura corporal, sendo observado que os índices mais baixos do peso corporal de
pré-púberes foram maiores na rede ensino pública, enquanto os maiores índices de
sobrepeso e obesidade foram constatados na rede de ensino privada.
CONCLUSÃO
Considera diante do exposto um maior baixo peso corporal entre pré-púberes
da rede de ensino pública, enquanto maior sobrepeso e obesidade na rede de ensino
particular. Entretanto os fatores socioeconômicos e culturais estão interligados na
maior ocorrência de baixo peso corporal, sobrepeso e obesidade em pré-púberes
das rede ensino público e privado na cidade de Vitória da Conquista/BA, Brasil.
REFERÊNCIAS
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Capítulo 21
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 21
220
CAPÍTULO 22
IMPLANTAÇÃO DE BOAS PRÁTICAS DE
FABRICAÇÃO EM AGROINDÚSTRIAS QUE
PRODUZEM PANIFICADOS E FORNECEM PARA A
ALIMENTAÇÃO ESCOLAR
Carla Cristina Bauermann Brasil
Camila Patricia Piuco
a alimentação escolar por sua vez, devem
atender ao disposto na legislação sanitária
vigente de alimentos. Sendo assim, o controle
higiênico parte de ações que visam melhorar
1 | INTRODUÇÃO
e controlar a contaminação dos alimentos,
De acordo com a política estadual da
implementando as boas práticas de fabricação
Agroindústria Familiar do Estado do Rio
(BPF). Desta forma, as BPFs abrangem
Grande do Sul, criada pela Lei nº 13.921 de 17
um conjunto de medidas que devem ser
de Janeiro de 2012, considera agroindústria
familiar,
aquele
empreendimento
que
adotadas pela indústria de alimentos e pelos
é
serviços de alimentação, para garantir a
propriedade ou posse de agricultor (es)
qualidade sanitária e a conformidade com os
familiar (es), possui a finalidade de beneficiar
e/ou transformar matérias-primas oriundas de
explorações agrícolas. Acrescenta-se ainda,
produtos
através
com
de
características
processos
de
regulamentos técnicos visando segurança dos
alimentos ofertados aos escolares (SILVA JR,
2012; BRASIL, 2019).
peculiares,
transformação
diferenciados que lhes confiram identidade
(RIO GRANDE DO SUL, 2012).
Instituída em 2009, a Lei n° 11.947, de
2 | JUSTIFICATIVA
Este estudo se justifica devido às refeições
escolares precisarem fornecer alimentos em
16 de junho, que trata do Programa Nacional
condições
de Alimentação Escolar (PNAE), formaliza
para a proteção e promoção da saúde. Para
uma conexão entre a agricultura familiar e a
algumas famílias, as refeições na escola são
alimentação escolar. Do total dos recursos
a única fonte alimentar das crianças durante o
financeiros repassados pelo Fundo Nacional
dia, assim preocupar-se com a qualidade dessa
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para
alimentação é um dos aspectos determinantes
o PNAE, no mínimo 30% deve ser destinado
para uma vida futura saudável (BALDO, 2013).
para a aquisição de gêneros alimentícios da
agricultura familiar (BRASIL, 2009a).
Os produtos alimentícios adquiridos para
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
higiênico-sanitárias
adequadas
Para a área da nutrição, este tema é
relevante, visto que o profissional nutricionista
tem um papel fundamental em planejar um
Capítulo 22
221
cardápio nutritivo, com produtos de qualidade para a alimentação escolar. Com a
compra da agricultura familiar, tem condições de adquirir produtos frescos, saudáveis,
respeitando a cultura e a vocação agrícola local (BRASIL, 2016).
3 | OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Implantar boas práticas de fabricação nas agroindústrias familiares que
produzem panificados e fornecem para o PNAE em municípios do norte do Rio
Grande do Sul.
3.2 Objetivos específicos
a. caracterizar as agroindústrias quanto à sua criação, localização, estrutura
física, produção e comércio;
b. Avaliar as condições higiênicas através da lista de verificação das boas práticas de fabricação em estabelecimentos produtores/industrializadores de
alimentos;
c. Identificar as principais conformidades e não conformidades encontradas
através da lista de verificação;
d. Propor um plano de ação individualizado para as não conformidades encontradas;
e. Ministrar capacitações aos manipuladores de alimentos de acordo com as
não conformidades;
f. Reavaliar as agroindústrias quanto aos aspectos higiênicos propostos na
legislação sanitária.
4 | METODOLOGIA
Trata-se de um estudo tipo relato de caso, com abordagem quali-quantitativa,
na qual fez-se a inspeção e observação de duas agroindústrias familiares rurais,
localizadas na região norte do Rio Grande do Sul. As mesmas fabricam produtos de
panificação que são comercializados para a alimentação escolar dos municípios de
abrangência da Cooperativa.
Incluiu-se no presente estudo somente estabelecimentos classificados como
agroindústrias familiares, que produzem panificados destinados à alimentação
escolar, sócias da cooperativa e que aceitaram participar do estudo após a assinatura
do Termo de Autorização Institucional. Exclui-se as agroindústrias familiares que
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
222
produzem outros produtos destinados a alimentação escolar, a não ser os panificados
e agroindústrias não associadas à Cooperativa.
A coleta de dados ocorreu em dois momentos distintos caracterizados na
apresentação dos dados em 1ª aplicação e 2ª aplicação, concluídos em um período
de seis meses. Sendo assim, em um primeiro momento foi realizada duas visitas
técnicas no mês de outubro de 2018 em cada uma das agroindústrias com a
finalidade de verificar as BPF por meio da aplicação de uma lista de verificação
baseada na Resolução - RDC nº 275 de 21 de outubro de 2002 e adaptada por
Feltrin (2017), que trata da lista de verificação das boas práticas de fabricação para
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos apresentando 128 itens
(BRASIL, 2002; FELTRIN, 2017). Após um processo de adequações propostas para
as não conformidades, ocorreu nova aplicação do checklist em uma visita no mês de
maio de 2019, acompanhando a evolução das agroindústrias neste período.
Os dados coletados foram digitados e tabulados com o auxílio do programa
Microsoft Office Excel®, versão 2007, e as figuras formuladas através do programa
GraphPad Prism versão 5.0. Os dados foram submetidos à análise estatística
descritiva simples (média e percentual de conformidade), com auxílio do programa
Statistica versão 7.0.
Para a classificação dos resultados, seguiu-se a recomendação da Resolução -
RDC nº 275/2002, na qual a agroindústria familiar que obteve índice de conformidade
superior a 76% foi classificada como pertencente ao Grupo 1 (G1), o que significa
que apresentou boas práticas de fabricação implantadas. Aquela que apresentou
conformidade de 51% a 75% foi classificada no Grupo 2 (G2) e a que apresentou de
0 a 50% ao Grupo 3 (G3). Estas últimas classificações revelam a necessidade de
adotar ações corretivas para posterior implantação de BPFs em seu estabelecimento
(BRASIL, 2002).
Os estabelecimentos foram identificados nos resultados desta pesquisa
como agroindústria A e B de modo a não as identificar. A coleta de dados ocorreu
somente após autorização institucional e os pesquisadores se comprometeram com
a confidencialidade dos dados obtidos no presente estudo.
5 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Caracterização das agroindústrias
A agroindústria A foi criada no ano de 1989, com uma pequena produção de
panificados. Atualmente conta com uma estrutura ampliada, sete funcionários em
dois turnos (manhã e tarde), e produzem panificados para a alimentação escolar por
intermédio da Cooperativa, e de forma individual entregam para escolas estaduais.
Seu público alvo, porém, são os mercados da região, a qual contempla seis municípios.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
223
A agroindústria familiar B foi criada no ano de 1991 e sua estrutura foi
disponibilizada pela prefeitura do município contemplando vários itens que são
preconizados legislação sanitária. Conta com nove funcionários, trabalhando em três
turnos (manhã, tarde e noite). Seu principal público é a alimentação escolar, na qual
lhe traz maior lucratividade, com intermédio da Cooperativa e de forma individual
para o município. A produção de ambas as agroindústrias se encontra na Tabela 1.
Alimentos produzidos
Cuca (unidade)
Produção
Agroindústria A
Agroindústria B
5.200
1.200
Bolacha (pacote)
3.500
6.000
Pão de milho
(unidade)
620
-
Merengue (pacote)
1.300
-
Pão francês (unidade)
-
6.000
Pão caseiro (unidade)
-
200
Pão cachorro – quente
(unidade)
-
2.100
Sonho (unidade)
-
4.400
Grostoli (unidade)
-
5.000
Bolo (unidade)
-
170
Massa caseira (Kg)
-
50
Tabela 1. Caracterização da produção mensal das agroindústrias A e B avaliadas.
Fonte: Autores, 2019.
5.2 Plano de ação
A partir da sistematização dos dados obtidos, definiu-se e priorizaram-se
estratégias institucionais de intervenção para as não conformidades encontradas
em cada categoria, elaborando-se um plano de ação individual para as duas
agroindústrias. Grande maioria das ações corretivas demandou recursos financeiros,
quanto à responsabilidade, grande parte das ações ficou a cargo do proprietário do
estabelecimento e da acadêmica devido à coordenação de capacitações e elaboração
de documentos para posterior adaptação nas agroindústrias.
Realizaram-se capacitações junto aos manipuladores como ação corretiva aos
itens que se julgou necessário, após a aplicação da lista de verificação. As categorias
que envolveram capacitações se referiram a manipuladores, onde se desenvolveram
duas capacitações referentes a higiene e asseio pessoal; e higienização das
mãos. Na categoria de equipamentos, móveis e utensílios, aplicou-se capacitação
quanto aos processos de higienização e na categoria produção e transporte do
alimento, uma capacitação referente a alimento seguro. As mesmas objetivaram
ser uma ferramenta útil para implantação de BPF nas agroindústrias estudadas. As
mesmas foram trabalhadas de forma dinâmica utilizando meios didáticos de ensino,
favorecendo a participação ativa dos manipuladores com carga horária de duas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
224
horas cada capacitação realizada, sendo aplicadas em dias distintos, totalizando
três dias de capacitações, com participação dos manipuladores que estavam no
estabelecimento na referida data.
Muitos dos itens trabalhados nas capacitações apresentaram melhoras na
2° aplicação do checklist, principalmente quanto a questões de higiene e asseio
pessoal, frequência e correta higienização das mãos, e quanto à higienização
dos equipamentos, móveis e utensílios, se notou o preenchimento de planilhas de
higienização e a utilização correta de produtos de limpeza, seguindo as orientações
das instruções de trabalho demonstradas nas capacitações. Outras melhorias serão
abordadas ao longo das categorias analisadas.
Quanto às demais atividades desenvolvidas, as mesmas foram propostas de
acordo com as não conformidades observadas durante as visitas técnicas, pensando
em ações/atividades aplicáveis nas agroindústrias. Estas atividades foram individuais,
pensadas em cada particularidade da unidade. Alguns dos exemplos de ações
desenvolvidas se referiram a instruções de trabalho para higienizações, planilhas
de controle, cartazes orientativos, frequência de higienizações, cronogramas de
capacitações, organização da rotina diária, incluindo organização do estoque e
compra de matéria-prima.
5.3 Diagnóstico das boas práticas de fabricação
Segundo a RDC n° 275/2002 é recomendado que os atributos avaliados tenham
porcentagens de conformidade maiores que 76% com o objetivo de minimizar
cada vez mais os riscos das toxi-infecções alimentares (BRASIL, 2002). A Figura 1
apresenta o percentual geral de adequação das agroindústrias A e B em ambas as
aplicações da lista de verificação.
Figura 1. Percentual geral de adequação das agroindústrias A e B.
Fonte: Autores, 2019.
Constata-se que da 1ª aplicação para a 2ª aplicação a agroindústria A teve um
acréscimo de 12,10% de adequação, já na agroindústria B teve-se um aumento de
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
225
9,92%, o que revela ter ocorrido parte das melhorias propostas no plano de ação.
Precedente a 2ª aplicação do checklist, as agroindústrias em sua classificação geral
eram pertencentes ao grupo G2, atendendo de 51% a 75% de adequação. Após as
ações de melhoria implantadas, a agroindústria B passou a fazer parte do grupo 1
(>76%) e a agroindústria A mesmo com uma melhora expressiva, continuou a fazer
parte do grupo 2. As melhorias observadas nas agroindústrias neste período serão
abordadas ao longo da discussão.
Guimarães e Figueiredo (2010) ao avaliarem as condições higiênico-sanitárias
de três panificadoras, localizadas no município de Santa Maria do Pará – PA, utilizando
a lista de verificação baseada na RDC nº 275/2002, mostraram que todos os itens
foram classificados no grupo 3 (0 a 50 % dos itens atendidos). Comparando-se com
os dados obtidos no estudo, vê-se que as agroindústrias analisadas atendem em
grande parte o que se espera da qualidade higiênica dos estabelecimentos, diferente
dos dados supracitados.
Do mesmo modo, Silva e Oliveira (2009) avaliaram as condições higiênicosanitárias de duas padarias de São José dos Campos, por meio da lista de verificação
da RDC nº. 275/2002 (BRASIL, 2002). A adequação dos estabelecimentos foi de
51% e 55%, percentuais relativamente baixos comparados ao do estudo realizado.
Nota-se considerável distinção entre as agroindústrias em questão. A
agroindústria A procede de uma sucessão familiar arraigada há anos, na qual se faz
muito ativa a presença dos antecessores no processo produtivo, motivo este que
dificulta melhorias ao longo da produção. Já na agroindústria B, que apresentou
maior percentual de adequação, ocorreu da mesma forma a sucessão familiar, porém
quem está à frente das decisões são os sucessores, adeptos sempre a melhorias,
além do estabelecimento possuir estrutura física nova e equipamentos modernos e
adequados para a produção dos panificados.
Deste modo, se identificou a dificuldade da realização de mudanças mais
consistentes, o que reflete da falta de conscientização dos proprietários e funcionários,
que muitas vezes não acreditam na necessidade de mudanças para se conseguir
melhorias na qualidade do processo produtivo. Além disto, o intervalo das aplicações
da lista de verificação ocorreu em um período relativamente curto de tempo, e
sabe-se que muitas mudanças propostas exigem tempo e organização da rotina,
adequações maiores e até mesmo orientações em como proceder com o controle de
qualidade, item este desconhecido pelos donos do estabelecimento.
A Tabela 2 apresenta os percentuais de conformidade encontrados na 1° e 2°
aplicação da lista de verificação nas categorias, bem como os respectivos percentuais
de melhoria.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
226
1°
Aplicação
(%) (Grupo)
2° Aplicação
(%) (Grupo)
A
56,5 (G2)
71,58 (G2)
B
71,8 (G2)
90,0 (G1)
A
36,9 (G3)
52,38 (G2)
B
68,4 (G2)
72,62 (G2)
A
38,9 (G3)
66,7 (G2)
B
50,0 (G3)
61,11 (G2)
A
44,9 (G3)
52,22 (G2)
B
53,7 (G2)
63,6 (G2)
A
50,0 (G3)
50,0 (G3)
Categorias
Agroindústria
Edificações e
instalações
Equipamentos,
móveis e
utensílios
Manipuladores
Produção e
transporte do
alimento
Documentação
B
50,0 (G3)
55,6 (G2)
Tabela 2. Percentual de conformidade nas categorias para as agroindústrias A e B na 1° e 2°
aplicação.
Fonte: Autores, 2019.
Quanto a categoria “edificações e instalações”, nota-se que da 1ª aplicação
para a 2ª aplicação ocorreram melhoras relevantes de 15% para a agroindústria A e
de 18,2% para a agroindústria B, mostrando-se com um dos melhores desempenhos
de todas as categorias analisadas no estudo. Sabe-se que a parte estrutural possui
considerável dificuldade de ser adequada, em virtude dos gastos e recursos
financeiros que devem ser destinados a esta finalidade, mas mesmo assim estas
agroindústrias se revelaram eficientes neste quesito em um curto espaço de tempo.
Repara-se também que estas reformas ocorreram em um período de 6 meses,
demonstrando uma quantidade de adequações expressivas neste tempo.
Silva e Oliveira (2009) analisaram as condições higiênicas–sanitárias de
duas panificadoras de São José dos Campos, SP, e verificaram o mesmo dado
para esta categoria, ou seja, apresentou os maiores percentuais de adequação. Já
Bodanesi, Fatel e Simm (2006) ao avaliarem o item edificações e instalações em uma
panificadora de Cascavel (PR), observaram adequação de 95,6%, dado semelhante
à adequação da agroindústria B (90%).
Quanto às subcategorias, os itens acesso, leiaute, esgotamento sanitário e
abastecimento de água apresentaram conformidade total. Já na área externa
identificou-se a presença de sujidades acumuladas. As paredes e divisórias
apresentavam rachaduras e em alguns pontos estavam descascadas, a ventilação e
climatização não era capaz de garantir conforto térmico, a higienização das instalações
não seguia a frequência estipulada no Procedimento Operacional Padronizado
(POP) e quanto ao manejo de resíduos, as lixeiras se apresentavam quebradas e
sem identificação, necessitaram adequações para ambas as agroindústrias.
Algumas das melhorias nesta categoria se referiram à pintura/reforma de
paredes, tetos e piso; instalação de exaustores; compra de lixeiras novas e adequadas,
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
227
identificação das mesmas; retirada de equipamentos em desuso; dedetização do
local, frequência de higienização e registro em planilhas, instruções de trabalho
disponíveis em pasta especifica para funcionários bem como a tabela de frequência
de higienização, sendo estes últimos itens pontuados em capacitação realizada.
Na categoria “Equipamentos, móveis e utensílios”, o percentual identificado na
1ª aplicação na agroindústria A revelou-se relativamente baixo, sendo este o menor
para todas as categorias, chegando a fazer parte do grupo G3 (<50%), mostrando
a necessidade de melhorias urgentes. Porém a partir das melhorias sugeridas e
implementadas se teve um aumento relevante (15,48%), passando a fazer parte
do G2. Por outro lado, na agroindústria B teve-se poucas melhorias realizadas
(4,22%), devido a mesma apresentar um atendimento considerável das adequações
necessárias já anteriormente.
No estudo de Guimarães e Figueiredo (2010) ao avaliarem as condições
higiênico-sanitárias de três panificadoras, utilizando a lista de verificação baseada
na RDC - nº 275/2002, a categoria supracitada apresentou a maior porcentagem de
adequação às boas práticas de fabricação, bem como em estudo de Bodanesi, Fatel
e Simm (2006) onde a panificadora de Cascavel/PR atendeu 100% de adequação
neste item. Dados estes correlativos ao percentual encontrado na agroindústria B
que alcançou um de seus maiores percentuais de adequação na referida categoria.
Quanto às não conformidades encontradas nesta categoria, notou-se
equipamentos antigos, que necessitavam ser trocados, instalados em locais de difícil
higienização, sem comprovante de manutenção periódica, além da não ocorrência de
registro de higienização, pouca disponibilidade de produtos específicos destinados
a esta finalidade, bem como de utensílios apropriados para determinado fim e
diluição incorreta de produtos, principalmente do hipoclorito de sódio. Os itens que
apresentaram melhorias se referiram ao uso de produtos adequados a higienização
bem como utensílios, diluição correta de produtos higiênicos, troca rotineira de
esponjas. Salienta-se que estas adequações foram promovidas por meio de
capacitação aplicada referente a higienização dos equipamentos, sendo elaboradas
instruções de trabalho especificas a cada equipamento, móvel ou utensílio.
Na categoria “manipuladores” encontrou-se percentuais relativamente baixos
para ambas as agroindústrias na 1ª aplicação, enquadrando-se no G3, necessitando
adequações. Por apresentar este percentual preocupante, as capacitações
realizadas voltaram-se aos manipuladores, sendo estes os principais atores na
produção segurança do alimento. Após as adequações ocorreu aumento da 1ª
aplicação para a 2ª aplicação nas agroindústrias, de 27,77% para A, sendo este o
item com maior percentual de melhorias encontradas na avaliação, e de 11,11% para
a agroindústria B, mostrando assim que as medidas propostas (capacitações) foram
efetivas, evoluindo para o G2.
Os itens em não conformidade se referiram à vestuário, hábitos higiênicos,
programa de controle de saúde, EPIs e programa de capacitação e supervisão.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
228
Apenas o item “estado de saúde” obteve conformidade total para ambas. Foi
constatada durante a inspeção que os manipuladores possuíam adornos, barba não
aparada, além de cabelos aparentes devido à má utilização da touca de proteção.
Sob o mesmo ponto de vista, notou-se a não ocorrência da higienização cuidadosa
das mãos na interrupção de serviços e falta de cartazes de orientação referente
a este procedimento. Quanto ao uso de sapato de segurança, na agroindústria A
o mesmo é oferecido, entretanto nem todos os manipuladores o utilizam. Já na
agroindústria B os manipuladores utilizam calçados normais, sendo estes utilizados
somente dentro da área de produção. Quanto às capacitações, os manipuladores
não as recebem periodicamente, na agroindústria B recebem apenas “orientações
de manipulação” somente no momento de admissão, não ocorrendo nem um registro
das mesmas. Itens melhorados após as capacitações se referiram a uso correto
de touca de proteção dos cabelos, higienização rotineira das mãos, sem uso de
adornos e presença de cartazes de orientação de higienização das mãos.
Guimarães e Figueiredo (2010) ao avaliar três panificadoras de Santa Maria
do Pará, as panificadoras atenderam de 20 a 40% dos itens relacionados aos
manipuladores, sendo item com menor adequação na verificação. Dados semelhantes
ao estudo foram identificados por Belle et al. (2004), nas panificadoras avaliadas
em Ijuí (RS), dentre as não conformidades encontradas, os maiores problemas
se referiram a uso de uniforme não higienizado, uso de adornos, ausência de
higienização das mãos antes e durante o processo produtivo, além de não oferecer
treinamento aos manipuladores.
É de fundamental importância que se realizem treinamentos aos manipuladores
de alimentos a fim de disseminar conhecimento para melhorar as condições higiênico–
sanitários dos estabelecimentos. Fato este que foi comprovado após reaplicação do
checklist (SILVA et al., 2013).
A categoria “Produção e transporte do alimento”, apresentou-se como uma
das categorias com menor percentual de adequação para ambas as agroindústrias,
pertencendo ou chegando muito próximo de não conformidades pertencentes ao G3
(0 á 50% de adequação). Em estudo realizado por Massarollo (2014), identificou que
seis das agroindústrias pertencem ao G2 e duas ao G3 nesta categoria, mostrando
que nenhuma conseguiu atingir mais que 76% de adequação, informação está em
conformidade com dados do estudo realizado.
O item matéria–prima, ingredientes e embalagens apresentou-se inadequado
quanto a não inspeção da mercadoria recebida, não se observando prazo de validade
e nem ocorrendo a retirada da embalagem primária em alguns casos para ambas
as agroindústrias. Na elaboração de alguns produtos, utiliza-se ainda matéria-prima
produzida pela própria família, como o leite in natura, não estabelecendo critérios
para escolha de fornecedor. O armazenamento ocorre em estrados e prateleiras de
madeira na agroindústria A. Referente ao controle de qualidade do produto final,
o mesmo não se realiza em nenhuma das agroindústrias. O transporte acaba por
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
229
alterar características sensórias de alguns panificados em dias com temperatura
elevada, além de transportar outras mercadorias no mesmo veículo, situações
estas que podem ocasionar uma contaminação microbiológica, física ou química,
pelo contato com outras superfícies. Observou-se a falta de controle de qualidade
do produto final e transporte inadequado igualmente em estudo de Massarollo em
agroindústrias de Francisco Beltrão/PR (2014).
Melhorias observadas se referiram à observação das datas de validade dos
gêneros, troca de estrados de madeira por outros de material apropriado e etiquetagem
de embalagens abertas. Nota-se que nesta categoria não ocorreu grande quantidade
de melhorias, sendo 7,32% para a agroindústria A e de 9,86% para a agroindústria
B, pois vários itens a serem mudados exigem controles em planilhas, o que ambos
relataram ser inviáveis de se realizar após ser sugerido tal ação corretiva, além
da questão do controle de qualidade e uso do veículo de transporte para outras
finalidades, na qual também referiram ser inexecutáveis no estabelecimento.
Não ocorreram mudanças significativas na categoria “documentação”. Isto se
deve a vários itens que ainda não estão em conformidade com o que o Procedimento
Operacional Padronizado POP descreve, mesmo tendo ocorrido melhorias. Apenas
a agroindústria B obteve aumento de 5,56% da 1ª para 2ª aplicação, por apresentar
melhoria no POP 6 referente ao controle integrado de vetores e pragas urbanas.
Nesta categoria a agroindústria A pertence ao grupo 3, e a agroindústria B ao grupo
2, o que revela que ambas necessitam realizar melhorias a fim de se adequar as
normas exigidas.
As duas agroindústrias possuem o manual, sendo este elaborado
juntamente com a EMATER do seu referido município, porém o mesmo se encontra
desatualizado e necessita de adequações.
As oito agroindústrias analisadas por Massarollo (2014), apresentaram 52,9%
de não conformidade neste item, semelhante ao encontrado no estudo. Muitas
das agroindústrias neste item apresentam conformidade zero ou nem apresentam
o manual de boas práticas de fabricação como verificado por Belle et al. (2004),
onde em todos os estabelecimentos ocorreu a falta de documentação e registro,
evidenciando não haver monitoramento escrito das atividades.
É de fundamental importância estabelecer e cumprir os POPs descritos,
pois estes são a garantia das condições higiênico-sanitárias necessárias ao
processamento ou industrialização de alimentos.
6 | CONCLUSÃO
É possível concluir que os estabelecimentos analisados apresentaram evoluções
relevantes após as sugestões de melhoria aplicadas, revelando de acordo com a
classificação da lista de verificação proposta que a implantação de boas práticas de
fabricação mostrou resultados mais expressivos na agroindústria B. A agroindústria
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
230
A por sua vez, necessita maior adesão as adequações propostas para posterior
implantação de BPFs em suas unidades, pois nota-se o potencial da mesma em
aumentar este resultado devido a melhora expressiva durante o período de análise.
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
231
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Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 22
232
CAPÍTULO 23
PADRONIZAÇÃO DO PROCEDIMENTO DE COLETA
DE AMOSTRAS DE ALIMENTOS PREPARADOS EM
UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA
IDOSOS
Andrieli Teixeira Corso
Acadêmica do curso de Nutrição da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) – Rio Grande do
Sul, Brasil. E-mail: andri_corso@hotmail.com
Carla Cristina Bauermann Brasil
Docente do curso de Nutrição da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) – Rio Grande
do Sul, Brasil. Endereço residencial: Rua Antônio
Sangói Netto, 85 – Santa Maria, Rio Grande do
Sul, CEP: 97035-090. Telefone: (55) 9.9973-3165.
E-mail: carlacristina@brturbo.com.br.
Daiane Policena dos Santos
Acadêmica do curso de Nutrição da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM) – Rio Grande do
Sul, Brasil. E-mail: daianepolicena@hotmail.com
Emanueli Bergamaschi
Nutricionista, egressa do curso de Nutrição da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
– Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: leli.berga@
hotmail.com
Fernanda Copatti
Nutricionista, egressa do curso de Nutrição
da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) – Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail:
fernandakruger19@hotmail.com
Larissa Santos Pereira
Nutricionista, egressa do curso de Nutrição da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) –
Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: larissadarold@
yahoo.com.br
Tauani Lardini Tonietto
Nutricionista, egressa do curso de Nutrição
da Universidade Federal de Santa Maria
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
(UFSM) – Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail:
tauanilardinitonietto22@gmail.com
Kellyani Souto Peixoto
Nutricionista, Especialista em Gerontologia pela
Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul. E-mail: kellyanipx@mksnet.
com.br
RESUMO: As Instituições de Longa Permanência
para Idosos, além de propiciar um ambiente
seguro e agradável, devem oferecer uma
alimentação que respeite os aspectos culturais e
nutricionais e as condições higiênico-sanitárias,
a fim de garantir a segurança alimentar aos
residentes. Além de auxiliar na identificação de
surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos
e Água, a coleta de amostras das preparações
é um dos métodos que assegura a qualidade
dos alimentos ofertados e garante que análises
microbiológicas sejam realizadas de acordo
com a legislação. A coleta de dados foi realizada
em uma Unidade de Alimentação e Nutrição
de uma Instituição de Longa Permanência
para Idosos localizada em um município da
região Noroeste do estado do Rio Grande do
Sul, durante o período de março a junho de
2017. No estudo realizado, foram pesadas
as preparações quentes e frias referentes às
principais refeições ofertadas na instituição,
tais como: desjejum, lanche da manhã, almoço,
Capítulo 23
233
lanche da tarde e jantar. Na Instituição de Longa Permanência para Idosos, não existia
a padronização de medidas caseiras e não era realizado o procedimento de coleta
de amostras das preparações prontas para o consumo. Portanto, essa intervenção
mostrou aos manipuladores o quanto é importante esta ferramenta para o controle
higiênico-sanitário dos alimentos produzidos na unidade de alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Amostras de alimentos. Segurança e qualidade dos alimentos.
Alimentos preparados. Legislação sobre alimentos.
STANDARDIZATION OF PROCEDURE OF SAMPLE COLLECTION OF FOOD
PREPARED IN A LONG STAY INSTITUTIONS FOR ELDERLY
ABSTRACT: The Long Stay Institutions for Elderly, besides providing a safe and
pleasant environment, should provide food that respects cultural and nutritional aspects
and hygienic-sanitary conditions, in order to ensure food safety for residents. Besides
help in the identification of outbreaks of Foodborne diseases and water, the collection of
samples of the preparations is one of the methods that assures the quality of the foods
offered and guardian that microbiological analyzes are carried out according with the
legislation. The data collection was carried in a Food and Nutrition Unit of a Long Stay
Institution for Elderly located in a municipality of the Northwest region of the state of Rio
Grande do Sul, during the period of March to June 2017. In the study accomplished,
were heavy the hot and cold preparations regarding to the main meals offered at the
institution, such as: breakfast, morning snack, lunch, afternoon snack and dinner. In the
Long Stay Institution for Elderly, did not exist the standardization of home measures
and did not carried the procedure for collecting samples of preparations ready for
consumption. Therefore, this intervention showed the manipulators how important this
tool is for hygienic-sanitary control of food produced in the food unit.
KEYWORDS: Food samples. Food safety and quality. Prepared foods. Food law.
INTRODUÇÃO
As Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) são instituições
governamentais ou não governamentais, de caráter residencial e foram criadas com
a finalidade de servir de domicílio coletivo para pessoas com idade igual ou superior
a 60 anos, com ou sem suporte familiar e em condição de liberdade, dignidade
e cidadania1. De modo geral, são consideradas residências coletivas que buscam
atender idosos em situação de carência familiar e/ou de renda, como também
aqueles que necessitam de cuidados prolongados2.
As ILPIs, além de propiciar um ambiente seguro e agradável, devem oferecer
alimentação que respeite os aspectos culturais e nutricionais e as condições
higiênico-sanitárias, a fim de garantir e assegurar aos residentes desses locais,
uma alimentação equilibrada em quantidade e qualidade3,4. Ainda, destaca-se que
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
234
os idosos são indivíduos mais susceptíveis a ocorrência de Doenças Transmitidas
por Alimentos e Água (DTAs), devido a alterações metabólicas ocasionadas pelo
processo de envelhecimento5.
Dessa maneira, a alimentação oferecida deve ser composta por alimentos
seguros, ou seja, alimentos que não apresentam riscos ao consumidor6. Para
isso, todas as etapas de manipulação, preparo, fracionamento, armazenamento e
distribuição dos alimentos ofertados, devem seguir os padrões estabelecidos pela
Resolução da Diretoria do Colegiado nº. 216, de 15 de setembro de 20045, que
dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação
e ainda pela Portaria nº. 78 de 30 de janeiro de 20097.
A fim de avaliar e assegurar a qualidade do alimento, o procedimento de
coleta de amostras dos alimentos ofertados é um dos métodos mais utilizados.
É considerada uma importante ferramenta para o controle higiênico-sanitário dos
alimentos produzidos na unidade de alimentação, além de auxiliar na identificação
de surtos de DTAs5,8. Segundo a RDC nº. 216/20045 e Portaria nº. 78/20097, as
amostras guardadas devem ser provenientes de preparações elaboradas em
cozinhas industriais de empresas, restaurantes comerciais por quilo, bufê, cozinhas
e restaurantes de escolas, creches, instituições de longa permanência para idosos,
presídios e hospitais5,7.9.
Para realizar a coleta de amostras de preparações em Unidades de Alimentação
e Nutrição (UANs) são necessários alguns cuidados essenciais, pois a contaminação
do alimento pode ocorrer também durante a coleta da amostra. Dessa maneira,
é imprescindível a atenção e cuidado do manipulador para a realização deste
procedimento5,7,9.
Diante disso, o objetivo deste estudo foi padronizar e implantar a coleta de
amostras de alimentos preparados em uma instituição de longa permanência para
idosos.
MÉTODO
A pesquisa caracteriza-se por um estudo do tipo descritivo quali-quantitativo.
A coleta de dados foi realizada em uma Unidade de Alimentação e Nutrição de uma
Instituição de Longa Permanência para Idosos, com 56 idosos institucionalizados,
localizada em um município da região Noroeste do estado do Rio Grande do Sul,
durante o período de março a junho de 2017.
O procedimento de coleta de amostras não era realizado na ILPI, portanto,
foram avaliadas as preparações quentes e frias da dieta livre dos idosos referentes
às principais refeições ofertadas, tais como: desjejum, lanche da manhã, almoço,
lanche da tarde e jantar, sob a supervisão de uma nutricionista. Os alimentos foram
classificados conforme a frequência em que foram servidos no cardápio da ILPI,
sendo considerados as preparações servidas diariamente e as com maior repetição
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
235
entre os idosos. As preparações foram divididas em grupos: carnes e derivados,
saladas cozidas e cruas, acompanhamentos, guarnições, bebidas e sobremesas.
Os utensílios utilizados para a coleta das amostras foram os mesmos utilizados
pelos manipuladores, sendo: colher de servir, concha, colher de sopa, pegador
universal, xícara de chá e copo americano.
A embalagem destinada para a coleta de amostras foi identificada com uma
etiqueta, contendo o nome do estabelecimento, da preparação, data, horário e nome
do responsável pela coleta. Após o preenchimento da etiqueta de identificação, foi
realizado a higienização correta das mãos dos manipuladores com água e sabonete
líquido, utilizando álcool 70% ao final do processo. Posteriormente, com o auxílio de
luvas descartáveis e os mesmos utensílios da distribuição, abriu-se a embalagem de
primeiro uso, sem tocá-la ou soprá-la na parte interna, evitando a contaminação no
momento da coleta. A quantidade de alimento coletado foi de no mínimo 100 gramas
(g) de todas as preparações sólidas ou 100 mililitros (mL) de amostra dos líquidos
servidos5,7,9.
As preparações foram pesadas individualmente em uma balança digital de
precisão 0,1 grama, da marca Eletronic Kitchen Scale, portátil e com capacidade de
7 Kg por acadêmicos do curso de Nutrição da Universidade Federal de Santa Maria.
De acordo com Portaria nº. 78/2009, após a coleta, as amostras foram armazenadas
em temperatura de refrigeração (até 4 ºC), por um período de 72 horas, equivalente
a três dias. Após esse período, foi realizado o descarte das amostras armazenadas
em lixo específico localizado na área externa da UAN5,7.
Durante a implantação do procedimento foi realizada uma capacitação com
os manipuladores, abordando as temáticas relacionadas: higienização das mãos e
utensílios e a quantidade de alimentos que deve ser coletado até o momento de
armazenamento e posterior o descarte adequado das amostras.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante a implantação e padronização da coleta de amostras de acordo com a
RDC nº. 216/20045, foram verificadas 290 refeições, na qual foram pesadas todas as
preparações elaboradas na ILPI.
Na Tabela 1 estão descritas as preparações servidas na ILPI e suas respectivas
medidas caseiras e o peso aproximado.
Preparações
Utensílios/
Unidade
Medida caseira
Peso médio (g/
mL)
Carnes e derivados
Bife de fígado (Carne, bovina,
fígado, grelhado)
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Pedaço
1 unidade média
Capítulo 23
110±4
236
Bisteca suína (Carne, bisteca,
suína, grelhada)
Pedaço
2 unidades pequenas
117±3
Carne bovina com batata inglesa
(Carne, bovina, coxão mole,
grelhada)
Colher de
servir
1 colher de servir cheia
132±6
Carne bovina moída com molho
(Carne, bovina, acém, moído,
cozido)
Concha
1 concha cheia
129±8
Carne bovina moída Jardineira
(Carne, bovina, acém, moído,
cozido)
Colher de
servir
1 colher de servir cheia
104±5
Carne de panela com molho
vermelho (Carne, bovina, coxão
mole, sem gordura, cozida)
Pedaço
1 unidade
140±4
Carne de panela com molho
vermelho (Carne, bovina, coxão
mole, grelhada)
Pedaço
3 unidades pequenas
120±2
Carne de panela com molho
vermelho (Carne, bovina, coxão
mole, sem gordura, grelhado)
Pedaço
2 unidades pequenas
138±6
Coxa de frango com molho
(Frango, coxa, com pele, cozida)
Pedaço
1 unidade média
105±9
Coxa e sobrecoxa
(Frango, coxa e sobrecoxa, com
pele, grelhada)
Pedaço
2 unidades pequenas
145±2
Língua (Strogonoff)
(Carne, bovina, língua, cozida)
Pedaço
1 unidade média
117±8
Saladas cozidas e cruas
Alface
Pegador
universal
4 pegadores cheios
100±7
Beterraba, cozida, cubos
Colher de
servir
3 colheres de servir
140±3
Cenoura cozida, rodelas
Pegador
universal
4 pegadores cheios
100±4
Cenoura cozida com chuchu
Colher de
servir
2 colheres de servir
116±5
Cenoura cozida com tomate
Pegador
universal
2 pegadores cheios
107±9
Couve-flor com tomate picado
Pegador
universal
2 pegadores cheios
116±2
Rúcula
Pegador
universal
3 e ½ pegadores
cheios
100±5
Salada Campeira (cenoura
cozida, batata cozida, ovo,
tomate, tempero verde)
Colher de
servir
2 colheres de servir
cheia
116±6
Chuchu cozido
Pegador
universal
3 pegadores cheios
170±6
Radite
Pegador
universal
4 pegadores cheios
116±9
Salada mista
(chuchu, pimentão e cebola)
Colher de
servir
1 colher de servir cheia
107±2
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
237
Salada mista
(radite, tomate e cebola)
Pegador
universal
3 pegadores cheios
120±1
Salada Mista
(cenoura cozida, repolho cozido,
tomate)
Pegador
universal
2 pegadores cheios
102±4
Salada mista
(repolho cozido, tomate,
pimentão, tempero verde)
Colher de
servir
2 colheres de servir
cheias
140±5
Salada mista (alface e rúcula)
Pegador
universal
5 pegadores cheios
105±8
Salada mista (repolho, tomate,
pimentão)
Pegador
universal
2 pegadores cheios
130±3
Salada mista (tomate e cebola)
Pegador
universal
2 pegadores cheios
104±2
Tomate em rodelas
Pegador
universal
3 pegadores cheios
110±7
Arroz branco
Colher de
servir
1 e ½ colher de servir
cheia
105±4
Arroz com Cenoura
Colher de
servir
1 colher de servir cheia
122±3
Caldo de ervilha
Concha
1 concha cheia
115±7
Carreteiro de carne bovina
Colher de
servir
1 e ½ colher de servir
cheia
110±4
Ervilha
Concha
1 concha cheia
169±5
Feijão Branco
Concha
1 concha cheia
161±7
Feijão carioca
Concha
1 concha cheia
174±3
Acompanhamentos
Feijão preto
Concha
1 concha cheia
160±2
Feijão vermelho
Concha
1 concha cheia
152±4
Lentilha
Concha
1 concha cheia
150±9
Guarnições
Abóbora cabotin caramelada
Pedaço
1 unidade média
130±2
Batata doce caramelada
Pedaço
1 unidade média
123±5
Chuchu com molho branco
Colher de
servir
1 colher de servir cheia
108±7
Lasanha de berinjela com carne
moída
Colher de
servir
1 fatia colher de servir
cheia grande
140±2
Massa com molho branco
Colher de
servir
2 colheres de servir
cheia
149±5
Massa sem molho
Colher de
servir
2 colheres cheias
170±8
Panqueca de carne moída
Unidade
1 unidade grande
107±2
Polenta
Colher de
sopa
4 colheres de sopa
cheia
108±9
Purê de abobrinha
Colher de
servir
1 colher servir cheia
111±2
Purê de batata
Colher de
Servir
1 colher de servir cheia
120±8
Risoto de frango
Colher de
servir
1 colher cheia
114±8
Torta de legumes
Colher de
servir
1 colher cheia
182±9
Café com Leite
Xícara
½ xícara
100±2
Bebidas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
238
Chá misto de frutas
Xícara
½ xícara
Suco industrializado
Copo
½ copo
100±5
1 e ½ unidade
111±6
100±2
Sobremesa
Banana caturra
Unidade
média
Tabela 1 – Principais preparações ofertadas aos idosos, utensílios e medidas caseiras usadas
em uma ILPI da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
Após a padronização do procedimento de coleta de amostras, foi entregue a
nutricionista a planilha com todas as preparações, contendo o nome da preparação,
os utensílios/unidade utilizados e a medida caseira.
Em um estudo realizado por Vargas em uma unidade de alimentação e nutrição
hospitalar foi observado que após a capacitação de implantação de medidas caseiras
realizado com manipuladores responsáveis pela distribuição de dietas hospitalares
todos os trabalhadores aderiram o procedimento de padronização compreendendo
a importância dessa tarefa10.
Durante o acompanhamento de acadêmicos do curso de nutrição houve
uma resistência dos manipuladores em relação a implantação do procedimento
operacional na ILPI, devido a quantidade de alimento coletado e o horário da coleta,
em virtude de ser realizada antes da distribuição das preparações aos idosos.
A coleta de amostras é uma importante etapa no controle higiênico-sanitário em
serviços de alimentação7, porém não recebe total atenção dos manipuladores. Outra
questão relevante em uma UAN é o desperdício de alimentos ocasionada pela falta
de capacitação do manipulador em retirar maior quantidade de amostras do alimento
do que o necessário. Assim, a padronização dos alimentos em medidas caseiras
torna-se importante para que os manipuladores possam implantar o procedimento
obrigatório de coleta de amostras11.
CONCLUSÃO
A metodologia presente neste estudo foi eficaz, uma vez que a padronização de
medidas caseiras para a coleta de amostras utilizando utensílios usuais da UAN e o
acompanhamento da nutricionista e de acadêmicos do curso de nutrição facilitaram
a implementação do procedimento na ILPI.
Salienta-se que a quantidade mínima de 100 g/mL, exigida pelas legislações
sanitárias vigentes, garante análises microbiológicas e controle de qualidade dos
alimentos produzidos no local, evitando possíveis surtos de DTAs e proporcionando
aos idosos residentes da instituição uma alimentação adequada e segura.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
239
CONFLITO DE INTERESSE
Os autores informam não haver qualquer potencial conflito de interesse com
pares e instituições, políticos ou financeiros deste estudo.
REFERÊNCIAS
1. Jacob WF, Gorzoni ML. Geriatria e gerontologia: o que todos devem saber. São Paulo: Roca,
2008.
2. Camarano AA, Kanso S. As instituições de longa permanência para idosos no Brasil. Revista
brasileira de Estudos de População, v. 27, n. 1, p. 233-235 jan./jun. Rio de Janeiro, 2010.
3. Ministério da Saúde (BR). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RDC Nº 283,
de 26 de setembro de 2005. Regulamento técnico para o funcionamento das instituições de longa
permanência para idosos.
4. Blanc PA, Azeredo DRP. A segurança de alimentos no contexto do idoso. Revista Brasileira de
Tecnologia Agroindustrial, v. 08, n. 02: p. 1336-1347. Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR Campus Ponta Grossa – Paraná, 2014.
5. Ministério da Saúde (BR). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de
15 de setembro de 2004. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de
Alimentação.
6. Lopes JA. Instituições de Longa Permanência: Avaliando a dieta de idosos e as condições
estruturais e higiênico-sanitárias das unidades de alimentação e nutrição. 2014. 117 f. Dissertação
(Mestrado) - Curso de Nutrição, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.
7. Secretaria da Saúde (RS). Portaria nº 78, de 30 de janeiro de 2009. Aprova a Lista de Verificação
em Boas Práticas para Serviços de Alimentação, aprova Normas para Cursos de Capacitação em
Boas Práticas para Serviços de Alimentação e dá outras providências. Porto Alegre, 2009.
8. Bauer CC. Proposta de padronização de medidas caseiras para coleta de amostras em serviço de
alimentação. 2014. 41 f. TCC (Graduação) - Curso de Nutrição, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, 2014.
9. Silva Júnior EA. Manual de Controle Higiênico-Sanitário em Serviços de Alimentação. 7.ed. São
Paulo: Editora Varela; 2015.
10. Vargas VS. Padronização de medidas caseiras como ferramenta à Dietoterapia. Vittalle, v. 19, n. 1,
p. 29-34, 2007.
11. Bauer CC, Strasburg VJ. Adequação da coleta de amostras em um serviço de alimentação
coletiva. Disciplinarum Scientia. Série: Ciências da Saúde, Santa Maria, v. 17, n. 3, p. 413-422, 2016.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 23
240
CAPÍTULO 24
SABOR, SAÚDE E PRAZER COM CHIA E LINHAÇA:
PREPARAÇÕES SIMPLES E PRÁTICAS PARA O
CARDÁPIO
Lilia Zago
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Instituto de Nutrição
Rio de Janeiro – RJ
Carolyne Pimentel Rosado
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Instituto de Nutrição
Rio de Janeiro – RJ
Andreia Ana da Silva
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Instituto de Nutrição
Rio de Janeiro – RJ
Natalia Soares Leonardo Vidal
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Instituto de Nutrição
Rio de Janeiro – RJ
RESUMO: Dentro do contexto da Segurança
Alimentar e Nutricional, o tema Alimentos
Funcionais sob uma perspectiva de Saúde
Coletiva, respalda o desenvolvimento de
preparações com alto teor de compostos
bioativos, o que representa a possibilidade de
elaboração de documentos com orientações
dietéticas destinadas a grupos específicos,
que sirvam como coadjuvantes na prevenção
e controle de doenças crônicas não
transmissíveis. Dentre os alimentos funcionais,
as sementes de chia (Salvia hispânica L.) e
de linhaça (Linum usitatissimum L.) têm sido
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
utilizadas na alimentação humana devido as
suas propriedades benéficas para a saúde.
Muitas dessas propriedades são atribuídas ao
elevado teor de ácidos graxos poliinsaturados,
particularmente ácido graxo α-linolênico
pertencente a família dos ácidos graxos omega-3.
Foram desenvolvidas dez preparações, dentre
as quais, cinco inéditas e cinco são releituras,
sendo duas opções para compor o prato
proteico, três para compor acompanhamento e
cinco para compor a sobremesa de um cardápio.
Todas as preparações foram adicionadas de
chia ou linhaça, nas formas de semente íntegra,
semente triturada ou farinha, em quantidades
que variaram entre 4 e 12% em relação ao peso
total preparado.
PALAVRAS-CHAVE:
ácidos
graxos
ômega-3; prevenção; doenças crônicas não
transmissíveis.
ABSTRACT: Within the context of Food and
Nutrition Security, the theme Functional Foods
from a Public Health perspective, supports the
development of preparations with high content
of bioactive compounds, which represents the
possibility of preparing documents with dietary
guidelines for specific groups, which could be
a strategy in the prevention and control of noncommunicable diseases. Among the functional
foods, chia (Salvia hispânica L.) and flaxseed
(Linum usitatissimum L.) have been used in
Capítulo 24
241
human diet due to their beneficial health properties. Many of these properties are
attributed to the high content of polyunsaturated fatty acids, particularly α-linolenic fatty
acids belonging to the omega-3 fatty acid family. Ten preparations were developed,
among which five inedited and five are re-reading recipes, being two options to
compose the protein plate, three to compose side dish and five to compose the dessert
of a menu. All preparations were added of chia in whole seed, crushed seed or flour in
amounts ranging from 4 to 12% relative to the total weight.
KEYWORDS: omega-3 fatty acids; prevention; non-communicable diseases.
1 | INTRODUÇÃO
Ainda que de forma empírica o conceito de dieta como fator de prevenção
de doenças e de promoção da saúde vem sendo aplicado há cerca de 2500 anos
quando já dizia Hipócrates “que teu alimento seja teu remédio e que teu remédio seja
teu alimento”. A condição ambiental e nutricional da população brasileira contribui
para um perfil epidemiológico e nutricional sedento de estratégias de intervenção
no sentido de promover, recuperar e manter a saúde nutricional da população. É
importante que o planejamento das estratégias envolva ações de caráter tanto
individual quanto coletivo realizadas por meio do primeiro nível de Atenção à Saúde
do Sistema, a Atenção Básica, no qual se pode resolver grande parte dos problemas
nutricionais da população. É imprescindível que para o desenvolvimento integral do
ser humano, esse tenha acesso à alimentação não somente em quantidade, mas
também em qualidade, e que esse acesso seja, sobretudo, permanente. Dentro do
contexto da Segurança Alimentar e Nutricional, o tema Alimentos Funcionais sob uma
perspectiva de Saúde Coletiva, respalda o desenvolvimento de preparações com
alto teor de compostos bioativos, o que representa a possibilidade de elaboração de
documentos com orientações dietéticas destinadas a grupos específicos, que sirvam
como coadjuvantes na prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis
e que sejam, acima de tudo, acessíveis à população no que diz respeito ao custo
de preparo e/ou aquisição (ALISSA; FERNS, 2012; SEGALL-CORREA; PEREZESCAMILLA, 2008; SEGALL-CORREA et al, 2008; PINHEIRO, 2005; ASSIS et al.,
2002;).
Ácidos graxos omega-3 promovem benefícios para a saúde, principalmente
aqueles relacionados com o sistema cardiovascular. Segundo estudos realizados por
uma indústria alimentícia americana cerca de 60 % dos consumidores já ouviram falar
de ácidos graxos omega-3 e acreditam que seu consumo é importante para a saúde.
De acordo com a mesma pesquisa 80 % dos consumidores associam este ácido
graxo com peixes, que são as principais fontes alimentares destes ácidos graxos. Ao
mesmo tempo em que a importância da relação positiva entre consumo de alimentos
fontes de ácidos graxos omega-3 e prevenção de doenças cardiovasculares esteja
disseminada, no Brasil, ao levar em consideração os resultados das Pesquisas
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
242
de Orçamento Familiar dos últimos anos, observa-se que o consumo da principal
fonte destes ácidos graxos, os peixes, diminuiu significativamente, sendo esta
redução de aproximadamente 40% (em termos de participação relativa no total
de energia determinada pela aquisição alimentar domiciliar). Vale ressaltar que
embora o consumo de peixes tenha diminuído, a participação relativa de ácidos
graxos poliinsaturados no total de energia determinada pela aquisição alimentar
domiciliar no mesmo período aumentou cerca de 16%. É importante ressaltar que os
ácidos graxos omega-3, neste caso o ácido α-linolênico, são encontrados também
em quantidades significativas na sementes de chia e de linhaça, fator que atribui
a estes alimentos a denominação de alimento funcional (IBGE, 2012; OHR, 2005;
PSZCZOLA, 2005; SIRÓ et al., 2008; SLOAN, 2005) .
Dentro do contexto dos alimentos funcionais, as sementes de chia (Salvia
hispânica L.) e de linhaça (Linum usitatissimum L.) têm sido utilizadas na alimentação
humana devido as suas propriedades benéficas para a saúde. Muitas dessas
propriedades são atribuídas ao elevado teor de ácidos graxos poliinsaturados,
particularmente ácido graxo α-linolênico pertencente a família dos ácidos graxos
omega-3. Devido ao elevado valor nutricional e a presença de compostos bioativos
as sementes de chia e linhaça têm sido investigadas quanto ao seu potencial como
agente de prevenção e controle do excesso de peso e doenças associadas como
doenças cardiovasculares e diabetes. Dentro desse contexto muitas pesquisas
investigam a possibilidade de incorporar essas sementes na dieta por meio do
desenvolvimento de produtos alimentícios que contenham como ingrediente principal
a própria semente ou produtos derivados dela como o gel, a farinha e o óleo.
As receitas que compõem esse capítulo são resultantes das atividade de um
Projeto de Pesquisa desenvolvido no Laboratório de Técnica Dietética, do Instituto de
Nutrição, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ. O Projeto intitulado
“Desenvolvimento e padronização de preparações a base de Chia (Salvia hispânica
L.) e Linhaça (Linum usitatissimum L.) com alto teor de ácido graxo omega-3 com
vistas a auxiliar ações de Segurança Alimentar e Nutricional” teve apoio financeiro
da Fundação Carlos Chagas de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
– FAPERJ (Processo no E-26/111.841/2012), foi coordenado por mim, Lilia Zago,
e contou com a colaboração da mestranda do Programa de Pós-graduação em
Alimentação, Nutrição e Saúde da UERJ Carolyne Pimentel Rosado e das alunas de
Iniciação Científica do Instituto de Nutrição da UERJ Andreia Ana da Silva e Natalia
Soares Leonardo Vidal.
A chia
(Salvia
hispanica
L.)
é
uma
planta
herbácea
da
família
das lamiáceas (mesma família do alecrim e da sálvia), nativa da Guatemala e
das regiões central e austral do México. Atualmente, a cresce comercialmente no
México, Bolívia, Argentina, Equador e Guatemala. A produção de chia no Brasil
vem crescendo nos últimos anos e se concentra na região Sul, principalmente no
Rio Grande do Sul. Suas propriedades benéicas para a saúde são resultantes da
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
243
excelente composição em nutrientes, como o ácido graxo omega-3 α-linolênico,
proteínas, fibras, cálcio, magnésio, manganês e fósforo, e compostos bioativos com
ação antioxidante, como os compostos fenólicos kaempferol e os ácidos caféico e
clorogênico. A chia tem grande aplicabilidade culinária devido suas propriedades
fisico-químicas, especialmente a de formação de um gel espesso conferindo coesão
e emulsificação em preparações como pudins, tortas, cremes, quiches, mousses,
cremes, patês, risotos, farofas e batidos de frutas (IXTAINA et al., 2008).
A linhaça é a semente do linho (Linum usitatissimum L.). Existem relatos de
uso da linhaça datados de 5000 a.C, na Mesopotâmia. A linhaça é uma herbácea
originária da Ásia que já está difundida pelo mundo, e é muito consumida na América
do Norte e países da Europa. No Brasil a linhaça é uma cultura de inverno, e o
principal estado produtor é o Rio Grande do Sul. Os efeitos benéficos para a saúde
da linhaça são atribuídos ao seu excelente valor nutricional, especialmente o seu
alto conteúdo de ácido graxo omega-3 α-linolênico, fibras, vitaminas do complexo
B, ferro e zinco, e a presença de compostos bioativos com ação antioxidante, como
os compostos fenólicos e ação anticancerígena, como o fitoestrógeno lignana. A
linhaça tem grande aplicabilidade culinária devido suas propriedades fisico-químicas,
especialmente a de formação de um gel espesso que confere coesão e emulsificação
em preparações como pães, saladas, bolos, tortas, cremes, suflês, farofas e biscoitos.
Embora existam duas variedades de linhaça, marrom e dourada, não há diferenças
nutricionais e de compostos bioativos entre elas (MADHUSUDHAN, 2009).
2 | MATERIAL E MÉTODOS
Considerando os tipos de pratos que irão compor um determinado cardápio
(ABREU, SPINELLI; PINTO, 2007), as preparações foram escolhidas de forma a
caracterizar três categorias de pratos: prato principal/protéico; acompanhamento e
sobremesa. Foram desenvolvidas dez preparações, dentre as quais, cinco inéditas
e cinco são releituras, sendo duas opções para compor o prato proteico, três para
compor acompanhamento e cinco para compor a sobremesa de um cardápio. Todas
as preparações foram adicionadas de chia, nas formas de semente íntegra, semente
triturada ou farinha, em quantidades que variaram entre 4 e 12% em relação ao peso
total preparado.
Foram desenvolvidas no Laboratório de Técnica Dietética do Instituto de Nutrição
da UERJ e padronizadas utilizando Modelo de Receita Padrão próprio. Para o
estabelecimento do tamanho da porção das preparações, tomou-se como referência
a Resolução RDC n° 359, de 23 de dezembro de 2003 da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária que dispõe sobre Regulamento Técnico de Porções de Alimentos
para Fins de Rotulagem Nutricional (BRASIL, 2003), levando em consideração o valor
energético médio por porção do Grupo de Alimento ao qual normalmente pertencem
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
244
os pratos principal/protéico, os acompanhamentos e as sobremesas. O cálculo do
valor energético para o porcionamento foi feito com o auxílio da Tabela Brasileira
de Composição de Alimentos – TACO, versão 4 (NEPA, 2001). Os ingredientes das
receitas foram listados em medidas caseiras, utilizadas em sua capacidade máxima,
e unidade de massa (g) para os alimentos sólidos e volume (mL) para os alimentos
líquidos, sempre referente a porção comestível do alimento.
3 | RESULTADOS
3.1 Receitas Inéditas
3.1.1 Pudim de chia com calda de damasco
Grupo do cardápio: sobremesa (100 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: utensílios para mexer e forma própria para pudim
nas dimensões 20 cm de diâmetro e 12,5 cm de altura.
Tempo de preparo: 3 horas.
Ingredientes
Pudim
1 copo de iogurte natural integral (140 g)
½ xícara de chá de semente de chia (30 g)
1 pacote de gelatina em pó sem sabor (12 g)
1 colher de chá de farinha de chia (3 g)
1 fava de baunilha (quantidade de sementes de uma vagem)
Calda
½ xícara de chá de suco de laranja pera (50 g)
5 colheres de sopa de água (40 g)
2 colheres de sopa de mel (30 g)
2 unidades de damasco seco (15 g)
Técnica de preparo:
Calda: Cortar os damascos em cubos pequenos. Levar ao fogo baixo com o
suco de laranja, a água e o mel. Deixar reduzir. Desligar o fogo. Reservar.
Pudim: Misturar a semente e a farinha de chia com o iogurte. Acrescentar a
fava de baunilha (usar as sementes de dentro da vagem) e a gelatina dissolvida em
água conforme orientações do fabricante. Misturar lentamente até obter uma mistura
homogênea. Colocar em uma forma própria para pudim e levar à geladeira até obter
consistência firme (mínimo 2 horas). Desenformar. Despejar a calda de damasco por
cima. Servir gelado.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
245
Rendimento total (g)
Número de porções
280
4
Tamanho da porção
g
Medida caseira
70
1 fatia média com 1
colher de sopa de
calda
3.1.2 Muffim de abóbora com aveia e linhaça
Grupo do cardápio: entrada ou acompanhamento (30 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais, utensílios
para mexer, bowls para reservar e fomas individuais nas dimensões 5 cm (fundo) x
7 cm (boca) x 4 cm (altura) próprias para forno.
Tempo de preparo: 2 horas.
Ingredientes
4 xícaras de chá de abóbora sergipana cortada em cubos pequenos (500 g)
½ unidade média de cebola cortada em cubos pequenos (110 g)
2 colheres de sopa de farinha de aveia (22 g)
2 colheres de sopa de semente de linhaça marrom (20 g)
2 dentes de alho cortado em cubos pequenos (8 g)
3 colheres de sopa de salsa fresca picada (12 g)
2 colheres de café de canela em pó (3 g)
Cominho a gosto
Pimenta do reino a gosto
Sal a gosto
Azeite de oliva extra virgem para untar
Técnica de preparo:
Cozinhar a abóbora em água com um pouco de sal até que fique com consistência
bem macia. Escorrer a água e amassar a abóbora com um garfo. Acrescentar todos
os demais ingredientes e misturar até obter uma massa homogênea. Colocar em
formas individuais untadas com azeite de oliva e levar ao forno médio (180°C) pré
aquecido por 20 minutos, ou até dourar levemente a superfície. Desenformar. Servir
quente ou em temperatura ambiente.
Rendimento total (g)
Número de porções
500
10
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Tamanho da porção
g
Medida caseira
50
1 unidade pequena
Capítulo 24
246
3.1.3 Bolo de frango com chia
Grupo do cardápio: fonte protéica do prato principal (125 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais e carnes,
utensílios para mexer, bowls para reservar, forma para bolo inglês e multiprocessador
de alimentos.
Tempo de preparo: 2 horas.
Ingredientes
1 peito de rango sem osso e sem pele (500 g)
1 unidade grande de cebola (200 g)
1 unidade média de cenoura (115 g)
1 ovo (50 g)
¼ de xícara de chá de farinha de trigo (22 g)
¼ de xícara de chá de farinha de chia (15 g)
1 colher de sopa de semente de chia (9 g)
2 dentes de alho (8 g)
½ xícara de chá de salsa picada (24 g)
½ xícara de chá de manjericão picado (30 g)
Noz moscada moída a gosto
Pimenta síria a gosto
Sal a gosto
Azeite de oliva virgem para untar
Técnica de preparo
Misturar todos os ingredientes em multiprocessador de alimentos até obter uma
massa bem homogênea. Reservar. Untar uma forma de bolo inglês com o azeite.
Despejar a massa na forma (preencher totalmente a forma e deixar a superfície bem
lisa). Levar ao forno médio (180°C) pré aquecido por 30 a 40 minutos, até que doure
levememente a superfície. Desenformar. Servir.
Rendimento total (g)
Número de porções
640
8
Tamanho da porção
g
Medida caseira
1 fatia pequena
80
3.1.4 Farofa funcional com linhaça
Grupo do cardápio: acompanhamento protéico (125 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais, utensílios
para mexer, bowls para reservar e frigideira média (20 cm de diâmetro).
Tempo de preparo: 40 minutos.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
247
Ingredientes
3 ovos (150 g)
½ unidade média de cebola picada em cubos pequenos (100 g)
4 colheres de sopa de semente de linhaça marrom (40 g)
4 colheres de sopa de gergelim claro (35 g)
3 colheres de sopa de germen de trigo (42 g)
4 colheres de sopa de azeite de oliva virgem extra virgem (32 g)
½ xícara de chá de coentro picado (28 g)
Pimenta do reino a gosto
Sal a gosto
Técnica de preparo
Triturar a semente de linhaça, o gergelim e o gérmen de trigo no liquidificador até
obter uma farofa grossa. Reservar. Bater os ovos com o sal, a pimenta e o coentro.
Reservar. Em uma frigideira refogar a cebola com o azeite até que fique levemente
dourada. Acresentar os ovos batidos. Mexer durante 2 ou 3 minutos. Acrescentar as
sementes trituradas e mexer por mais 1 minuto. Desligar o fogo. Servir.
Rendimento total (g)
Número de porções
400
8
Tamanho da porção
g
Medida caseira
50
3 colheres de sopa
3.1.5 Gelado de abacaxi com aveia e chia
Grupo do cardápio: sobremesa (100 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais, utensílios para
mexer, bowls para reservar, ralador pequeno e panela média (20 cm de diâmetro).
Tempo de preparo: 2 horas.
Ingredientes
2 xícaras de chá de abacaxi pérola picado em cubos pequenos (200 g)
1 ½ xícara de leite desnatado (300 mL)
6 colheres de sopa de aveia em flocos (91 g)
2 gemas de ovo (37 g)
4 colheres de sopa de semente de chia (36 g)
2 colheres de sopa de açúcar demerara (32 g)
3 colheres de sopa de gengibre fresco ralado (9 g)
1 fava de baunilha (quantidade de sementes de uma fava)
2 bagas de cardamomo (quantidade de sementes de 2 bagas)
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
248
Técnica de preparo
Misturar o abacaxi com o gengibre. Reservar. Misturar a aveia em flocos com
a semente de chia. Reservar. Preparar um creme inglês da seguinte forma: ferver
o leite. Reservar. Bater as gemas com o açúcar, o cardamomo (usar apenas as
sementes que ficam dentro da baga) e a fava de baunilha até obter uma mistura
lisa e branca. Despejar o leite quente sobre as gemas batidas mexendo sempre.
Despejar em uma panela e cozinhar em fogo baixo, por aproximadamente 10
minutos, até obter consistência firme, mexendo regularmente. Desligar o fogo e
mexer regularmente até que esfrie. Reservar. Montar o gelado, em camadas, em
pequenas taças individuais e transparentes, conforme a seguinte ordem: abacaxi
com gengibre, mistura de aveia com chia, creme inglês, abacaxi com gengibre e
mistura de aveia com chia, finalize com o abacaxi com gengibre (mas em menor
quantidade que as camadas anteriores). Servir gelado.
Rendimento total (g)
Número de porções
585
14
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Tamanho da porção
g
Medida caseira
50
1 taça pequena
Capítulo 24
249
Figura 1. Imagens das prepreparações (receitas inéditas): Pudim de chia com calda de
damasco (PUD), Muffim de abóbora com aveia e linhaça (MUF), Bolo de frango com chia
(BOL), Farofa funcional com linhaça (FAR) e Gelado de abacaxi com aveia e chia (GEL).
3.2 Receitas Releituras
3.2.1 Pudim de pão com linhaça
Grupo do cardápio: sobremesa (100 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para corte pães, utensílios para
mexer, bowls para reservar, liquidificador e forma própria para pudim nas dimensões
20 cm de diâmetro e 12,5 cm de altura.
Tempo de preparo: 4 horas.
Ingredientes
Pudim
2 ½ xícaras de chá de leite desnatado (500 mL)
3 unidades de pão francês adormecido (150 g)
½ xícara de chá de farinha de linhaça marrom (40 g)
3 ovos (150 g)
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
250
½ xícara de chá de açúcar mascavo (80 g)
½ xícara de chá de açúcar demerara (80 g)
Canela a gosto
2 bagas de cardamomo (quantidade de sementes de 2 bagas)
Calda
2 xícaras de chá de açúcar demerara (320 g)
1 xícara de chá de água (240 mL)
2 unidades de anis estrelado
Técnica de preparo
Calda: Em uma panela adicionar o açúcar, a água e o anis estrelado. Deixar
ferver até caramelizar (evitar mexer para não cristalizar). Desligar o fogo e retirar o
anis estrelado. Despejar a calda em uma forma própria para pudim (cobrir toda a
parede e fundo da forma). Reservar.
Pudim: Bater, no liquidificador, todos os ingredientes (usar apenas as sementes
de dentro das bagas do cardamomo) do pudim até obter uma mistura homogênea.
Despejar a mistura na forma e levar ao forno médio (180 °C) pré aquecido, em banho
maria, por 60 a 90 minutos, até que doure levemente a superfície. Levar a geladeira
por 1 hora e desenformar. Servir gelado.
Rendimento total (g)
Número de porções
920
34
Tamanho da porção
g
Medida caseira
25
1 fatia pequena
3.2.2 Torta de limão com linhaça
Grupo do cardápio: sobremesa (100 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: utensílios para mexer, bowls para reservar,
liquidifcador e forma própria para torta com fundo removível (25 cm de diâmetro).
Tempo de preparo: 3 horas.
Ingredientes
Massa
1 xícara de chá de farinha de trigo (88 g)
½ xícara de chá de gel de linhaça marrom (40 g)
1 xícara de chá de semente de linhaça marrom triturada (70 g)
4 colheres de sopa de manteiga sem sal (96 g)
Recheio
Suco de 3 limões tahiti (150 mL)
1 xícara de chá de adoçante em pó para culinária (30 g)
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
251
2 xícaras de chá de leite em pó desnatado (100 g)
2 colheres de sopa de margarina light (64 g)
1 xícara de chá de água fervente (240 mL)
Técnica de preparo
Massa: Para fazer o gel de linhaça colocar 1 colher de sopa de sementes de
linhaça em um recipiente com 5 coheres de sopa de água e deixar hidratar por 30
minutos. Misturar a manteiga com a semente de linhaça triturada e o gel de linhaça.
Acrescentar a farinha de trigo aos poucos até obter uma massa homogenea e firme.
Cobrir o fundo e as laterais de uma forma para tortas de fundo removível. Levar ao
forno pré-aquecido (180°C) para pré assar por 7 minutos. Reservar.
Recheio: Bater todos os ingredientes no liquidificador em velocidade máxima
até obter uma mistura homogenea. Despejar o recheio sobre a massa pré assada e
fria e levar à geladeira por no mínimo 2 horas. Servir gelada.
Rendimento total (g)
Número de porções
894
30
Tamanho da porção
g
Medida caseira
25
1 fatia pequena
3.2.3 Brownie de cacau e chia
Grupo do cardápio: sobremesa (100 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: utensílios para mexer, bowls para reservar, batedeira
e forma retanguar para bolo (34,5 cm x 24,5 cm x 3 cm).
Tempo de preparo: 1 hora e 30 minutos
Ingredientes
3 xícaras de chá de extrato hisrossolúvel de soja reconstituído (720 mL)
2 colheres de sopa de manteiga sem sal (48 g)
2 xícaras de chá de farinha de trigo (176 g)
1 xícara de chá de adoçante em pó para culinária (30 g)
2 ovos (100 g)
1 xícara de chá de farinha de chia (60 g)
1 ½ xícara de chá de cacau em pó sem açúcar (45 g)
¼ de xícara de chá de semente de chia (15 g)
1 colher de sopa de fermento químico (12 g)
Técnica de preparo
Misturar os ingredientes secos exceto o fermento. Reservar. Bater os ovos, o
adoçante e a manteiga até obter um creme homogeneo e claro. Acresentar o extrato
hidrossolúvel de soja e misturar. Acresentar a mistura de ingredientes secos e bater
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
252
até obter uma massa homogenea. Acresentar o fermento e bater por mais 2 minutos.
Despejar na forma retangular untada e assar em forno médio (180°C) pré aquecido
por 30 minutos. Servir quente ou em temperatura ambiente.
Rendimento total (g)
Número de porções
1000
40
Tamanho da porção
g
25
Medida caseira
1 pedaço pequeno
3.2.4 Suflé de alho poró com chia
Grupo do cardápio: acompanhamento (150 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais, utensílios
para mexer, bowls para reservar, batedeira, panela média (20 cm) e ramequins (160
mL).
Tempo de preparo: 2 horas.
Ingredientes
2 xícaras de chá de leite desnatado
2 xícaras de chá de alho poró cortado em rodelas finas
4 ovos
3 colheres de sopa de farinha de trigo (60 g)
3 colheres de sopa de farinha de chia (36 g)
1 colher de sopa de manteiga sem sal (24 g)
1 dente de alho picado em pequenos cubos (4 g)
Pimenta do reino a gosto
Noz moscada moída a gosto
Sal a gosto
Técnica de preparo
Refogar o alho poró com o alho e um fio de azeite. Temperar com sal e pimenta
do reino. Reservar. Em seguida preparar um molho bechamel: numa panela derreter
a manteiga, acrescentar a farinnha de trigo e mexer vigorosamente por 2 minutos.
Acrescentar o leite e com o auxílio de fouet mexer bem até levantar fervura. Abaixar
o fogo e cozinhar por 8 minutos. Temperar com noz moscada e sal. Reservar.
Misturas as gemas, a farinha de chia e o alho poró refogado e juntá-los ao bechamel.
Reservar. Bater as claras em neve e acrescentar delicadamente a mistura de alho
poró. Despejar em ramequins individuais e levar ao forno pré aquecido para assar
por 30 minutos, até que a superfície fique dourada. Servir imediatamente.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
253
Rendimento total (g)
Número de porções
540
5
Tamanho da porção
g
Medida caseira
100
1 ramequim
3.2.5 Estrogonofe de filé mignon com linhaça
Grupo do cardápio: fonte protéica do prato principal (125 kcal/porção)
Utensílios e equipamentos: tábua e facas para cortes de vegetais e carnes,
utensíios para mexer, bowls para reservar, panela grande (27 cm de diâmetro).
Tempo de preparo: 2 horas.
Ingredientes
2 xícaras de chá de de filé mignon cortado em pequenos cubos
2 xícaras de chá de cogumelo paris fresco cortado em fatias
½ cebola média cortada em pequenos cubos
½ xícara de chá de vinho branco seco
2 dentes de alho picados em pequenos cubos
½ xícara de chá de extrato de tomate
½ xícara de chá de semente de linhaça marrom (35 g)
2 colheres de sopa de mostarda de dijon
1 xícara de chá de creme de leite (sem soro)
3 colheres de sopa de azeite de oliva extra virgem
Tomilho fresco a gosto
Pimenta do reino a gosto
Noz moscada moída a gosto
Sal a gosto
Técnica de preparo
Temperar o filé mignon com sal, pimenta do reino e o tomilho. Reservar.
Refogar a cebola e o alho no azeite. Acrescentar o filé e deixar dourar. Acrescentar o
cogumelo. Acrescentar o vinho e deixar reduzir um pouco. Acrescentar a mostarda e
o extrato de tomate. Misturar. Deixar mais 3 minutos no fogo. Desligar. Acrescentar o
creme de leite e as sementes de linhaça. Finalizar com a noz moscada moída. Servir
imediatamente.
Rendimento total (g)
Número de porções
965
19
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Tamanho da porção
g
Medida caseira
52
3 colheres de sopa
Capítulo 24
254
Figura 2. Imagens das prepreparações (receitas releituras): Pudim de pão com linhaça (PAO),
Torta de limão com linhaça (TOR), Brownie de cacau e chia (BRO), Suflé de alho poró com chia
(SUF) e Estrogonofe de filé mignon com linhaça (EST).
REFERÊNCIAS
Abreu, E. S., Spinelli, M. G. N., Pinto, A. M. S. Planejamento de cardápio e receituário padrão. In:
ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; PINTO, A. M. S. Gestão de Unidades de Alimentação e Nutrição:
um modo de fazer. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Metha, 2007. p. 113-112.
Alissa, E.M.; Ferns, G.A. Functional foods and nutraceuticals in the primary prevention of
cardiovascular diseases. J Nutr Metab, 2012: 1-16, 2012.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
255
Assis, A.M.O. et al. O Programa Saúde da Família: contribuições para uma reflexão sobre a inserção
do nutricionista na equipe multidisciplinar. Rev Nutr, 15(3): 255-266, 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 359, de
23 de dezembro de 2003. Regulamento Técnico de Porções de Alimentos Embalados para Fins
de Rotulagem Nutricional. Disponível em <http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/
res0359_23_12_2003.pdf/76676765-a107-40d9-bb34-5f05ae897bf3> Acesso em 28 novembro 2017.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002/2003:
aquisição alimentar domiciliar per capita, Brasil e Grandes Regiões. Rio de Janeiro: IBGE, 2004.
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 30 maio 2012.
Ixtaina, V.Y. et al. Physical properties of chia (Salvia Hispanica L.) seeds. Ind crops prod, 28: 286-293,
2008.
Madhusudhan, B. Potencial benefits of flaxseed in health and disease – a perspective. Agric conspec
sci., 74(2): 67-72, 2009.
NEPA. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Nutrição. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos.
4th ed. Campinas: Nepa-Unicamp, 2011.
Ohr, L.M. Nutraceuticals & functional foods. Food Technol, 59(4): 63-65, 2005.
Pinheiro, A.R.O. A alimentação saudável e a promoção da saúde no contexto da segurança alimentar
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Pszczola, D.E. Making fortification functional. Food Technol, 59(4): 44-61, 2005.
Segall-Correa, A.M. et al. Transferência de renda e segurança alimentar no Brasil: análise dos dados
nacionais. Rev Nutr, 21(supl): 39s-51s, 2008.
Segall-Correa, A.M.; Perez-Escamilla, R. Indicadores e medidas de insegurança alimentar. Rev Nutr,
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Siró, I. et al. Functional food. Product development, marketing and consumer acceptance - a review.
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Sloan, A.E. Top 10 global food trends. Food Technol, 59(4): 20-32, 2005.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 24
256
CAPÍTULO 25
PERFIL LIPÍDICO DA POLPA E ÓLEO DA MACAÚBA
(Acrocomia Aculeata) DO CARIRI CEARENSE
Yoshihide Oliveira de Souza
Faculdade de Juazeiro do Norte-FJN
Juazeiro do Norte-CE
Guilherme Álvaro Rodrigues Maia
Esmeraldo
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará-IFCE
Crato-Ce
Cariri Cearense possuem um baixo e alto teor
lipídico, respectivamente.
PALAVRAS-CHAVE: Lipídios, Biotecnologia,
Macaúba, Cariri Cearense.
LIPID PROFILE OF PILP AND OIL OF
MACAUBA (Acrocomia Aculeata) OF CARIRI
CEARENSE
RESUMO: Atualmente, com o crescimento
populacional, as pessoas têm tido maior acesso
ao alimento industrializado. Há um tempo atrás,
era comum que crianças brincando nas ruas,
ao sentirem fome, na maioria dos lugares,
sempre tinham fácil acesso a fruteiras como
a castanhola, jambo, macaúba, catolé, etc.
A macaúba tem forte interação com a fauna
silvestre, seus frutos integram a dieta de araras,
capivaras, antas, emas, entre outros animais.
A polpa da macaúba, também conhecida como
mesocarpo, possui um alto valor nutricional,
sendo matéria prima para diversos tipos
de utilização gastronômica, sobretudo da
produção de óleos vegetais. De acordo com a
ANVISA, os parâmetros de identidade, pureza
e qualidade de um material vegetal deverão
ser estabelecidos mediante detalhado exame
visual, macroscópico e microscópico. Neste
trabalho, constatou-se que, a partir de amostras,
a polpa e o óleo das macaúbas da Região do
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
ABSTRACT: Nowaday, with population growth,
people have had greater access to processed
food. Some time ago, it was common for
children playing in the streets, when hungry, in
most places, always had easy access to fruit
such as castanets, jambo, macauba, catolé,
etc. Macauba has a strong interaction with
wildlife, its fruits are part of the diet of macaws,
capybaras, tapirs, rheas, among other animals.
Macauba pulp, also known as mesocarp, has a
high nutritional value and is a raw material for
various types of gastronomic use, especially
the production of vegetable oils. According to
ANVISA, the parameters of identity, purity and
quality of a plant material should be established
by detailed visual, macroscopic and microscopic
examination. In this work, it was found that, from
samples, the pulp and oil of macaúbas Cariri
Cearense Region have a low and high lipid
content, respectively.
Capítulo 25
257
KEYWORDS: Lipids, Biotechnology, Macauba, Region of Cariri.
1 | INTRODUÇÃO
Atualmente com o crescimento populacional, as pessoas têm tido maior acesso
ao alimento industrializado e, desta maneira, tendem cada vez mais a procurar formas
mais fáceis e rápidas de preparo de alimentos. Por esse motivo, cresce a cada dia a
procura por polpas de frutas, achocolatados, sucos prontos, refrigerantes, etc.
O Nordeste brasileira possui uma grande variedade de frutas, tais como,
manga, caju, melancia, abacate, etc. Há um tempo atrás, era comum que as crianças
brincando nas ruas, ao sentirem fome, na maioria dos lugares, sempre tinham fácil
acesso a fruteiras como a castanhola, jambo, macaúba, catolé, etc. Principalmente
as crianças da zona rural, as quais faziam uso desses frutos diariamente.
Na microrregião do Cariri Cearense, a macaúba não é aproveitada de maneira
útil por falta de conhecimento de suas propriedades nutricionais e físico químicas.
A macaúba tem forte interação com a fauna silvestre, seus frutos integram a dieta
de araras, capivaras, antas, emas entre outros animais, os quais são os dispersores
das sementes (Pott & Pott, 1994). A polpa da macaúba, também conhecida como
mesocarpo, possui um alto valor nutricional, sendo matéria prima para diversos
tipos de utilização gastronômica, além sobretudo da produção de óleos vegetais.
É relatado dentro da literatura que há uma variação na composição das macaúbas,
mesmo aquelas da mesma região.
Este trabalho, teve como objetivo, através de análises físico-químicas, determinar
o perfil lipídico da polpa e do óleo de macaúba da região do Cariri Cearense e
realizar um comparativo para uma possível comercialização dos produtos como
complemento alimentar.
2 | METODOLOGIA
O trabalho aqui apresentado consistiu em avaliar as propriedades nutricionais e
físico-químicas do óleo e subproduto da macaúba para aproveitamento de substancias
e o efeito das substancias nos animais e em seres humanos. De acordo com a
ANVISA (2010), os parâmetros de identidade, pureza e qualidade de um material
vegetal deverão ser estabelecidos mediante detalhado exame visual, macroscópico
e microscópico. Para determinação da aparência, examinou-se o produto antes de
qualquer tratamento, conforme preconizado pela ANVISA (2010), observando seu
estado físico (sólido, líquido ou semi – sólido). Para determinação da cor, examinou-
se o produto antes de qualquer tratamento, à luz do dia, conforme preconizado pela
ANVISA (2010). A cor da amostra foi comparada com a especificação do produto. Para
determinação do odor, colocou-se uma pequena amostra do produto em recipiente
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 25
258
de vidro e inalou-se devagar e repetidamente, conforme preconizado pela ANVISA
(2010). O odor da amostra foi comparado com a especificação do produto. Utilizando
o aparelho extrator de Soxhlet e os reagentes Éter de Petróleo, Ácido Clorídrico e
Areia Diatomácea foi analisado o perfil lipídico das amostras.
3 | ANÁLISE DOS RESULTADOS
Analisando os resultados, foi possível constatar que as amostras da polpa
tiveram uma variação de lipídios entre 10,62% e 11, 69%. As amostras do óleo
extraído à pressão tiveram um teor lipídico entre 94,58% e 95,35%. Logo, parcebese que a polpa e o óleo das macaúbas da região Caririense têm um baixo e um alto
teores lipídicos, respectivamente.
4 | CONCLUSÕES
Com esta pesquisa atingimos as expectativas em relação a qualidade do óleo
extraído da macaúba colhida na safra de 2019 na região do Cariri Cearense. O
óleo apresentou qualidade semelhante a de outras regiões do país, sendo utilizada
a metodologia de análise físico química de alimentos de Adolf Lutz. Este trabalho
poderá ser ampliado no sentido de analisar outros aspectos mais específicos como
tipos de lipídios predominantes e outros. Assim este óleo poderá ser utilizado com
alto índice de eficiência na indústria de cosméticos e alimentícia.
REFERÊNCIAS
ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 270 de 22 de setembro
de 2005. dispõe sobre “Regulamento Técnico para óleos vegetais, gorduras vegetais e
creme vegetal. Brasília: Ministério da saúde, 2005. Disponível em http://portal.anvisa.gov.br/
documents/33880/2568070/RDC_270_2005.pdf/c27660a1-b6ac-4a38-aadc-956929c80b7b. Acesso
em: 18 fev 2019.
BEEFPOINT. Carne e Saúde. Ácido esteárico: uma gordura saturada única. Publicado em
30/03/2006. Disponível em: http://www.beefpoint.com.br/acido-estearico-uma-gordura-saturadaunica-28295/. Acesso em: 22 mar. 2019.
QUEIROGA V. P. Tecnologias do plantio da macaubeira na região do nordeste e aproveitamento
energético. Associação da revista eletrônica a barriguda. Campina grande, 2016.
RAMALHO V. C. Química Nova. Departamento de Engenharia e Tecnologia de Alimentos, Instituto de
Biociências, Letras e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rua Cristóvão Colombo, 2265,
15054-000 São José do Rio Preto – SP.Quím. Nova vol.29 no.4 São Paulo July/Aug. 2006.
RESUMO ESCOLAR. Ácidos graxos: Saturados e insaturados. Copyright © 2014–2017. Disponível
em: https://www.resumoescolar.com.br/quimica/acidos-graxos-saturados-e-insaturados/. Acesso em:
22 set. 2018.
ZANATTA, Samuel. Caracterização da macaúba (casca, polpa e amêndoa) e análise sensorial
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 25
259
através da Educação do Gosto. 2015. (Dissertação de Mestrado em Programa de Pós-Graduação
em Ciências) – Universidade de São Paulo (USP), Piracicaba.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Capítulo 25
260
SOBRE AS ORGANIZADORAS
VANESSA BORDIN VIERA bacharel e licenciada em Nutrição pelo Centro Universitário
Franciscano (UNIFRA). Mestre e Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Docente do Curso de Nutrição e da PósGraduação em Ciências Naturais e Biotecnologia da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). Editora da subárea de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Journal of bioenergy
and food science. Líder do Grupo de Pesquisa em Ciência e Tecnologia de Alimentos da
UFCG. Possui experiência com o desenvolvimento de pesquisas na área de antioxidantes,
desenvolvimento de novos produtos, análise sensorial e utilização de tecnologia limpas.
NATIÉLI PIOVESAN Docente no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), graduada
em Química Industrial e Tecnologia em Alimentos, pela Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). Possui graduação no Programa Especial de Formação de Professores para
a Educação Profissional. Mestre e Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atua principalmente com o desenvolvimento
de pesquisas na área de antioxidantes naturais, desenvolvimento de novos produtos e análise
sensorial.
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Sobre as organizadoras
261
ÍNDICE REMISSIVO
A
Ácidos graxos 6, 9, 10, 13, 16, 19, 41, 54, 55, 106, 118, 121, 241, 242, 243, 259
Água residuária 20, 21, 22, 25, 28, 30
Alimentos 1, 6, 9, 11, 17, 19, 20, 28, 30, 36, 42, 44, 45, 46, 47, 50, 53, 54, 55, 58, 59, 61, 62,
63, 65, 66, 67, 68, 71, 78, 81, 86, 91, 92, 93, 95, 96, 97, 98, 103, 104, 105, 107, 108, 109, 110,
111, 115, 121, 126, 133, 134, 135, 136, 140, 141, 145, 148, 154, 157, 158, 159, 160, 161, 162,
163, 164, 165, 166, 167, 168, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 177, 178, 179, 180, 181, 182, 183,
185, 186, 187, 215, 220, 221, 222, 223, 224, 229, 230, 231, 233, 234, 235, 236, 239, 240, 241,
242, 243, 244, 245, 247, 256, 258, 259, 261
Alimentos funcionais 54, 55, 61, 62, 63, 67, 104, 170, 175, 241, 242, 243
Antimicrobiano 103, 105, 108, 109, 110, 139, 140, 175
B
Benzoatiazol 21
Biocompostos 91
Biomoléculas 1, 2, 20, 33
C
Cepas probióticas 67, 68, 170, 174, 175, 176
Cereais 36, 37, 38, 39, 40, 41, 42, 44, 77
Cerveja 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 45, 46, 47, 148, 149, 150
Composição centesimal 53, 54, 55, 59, 60, 118, 119, 128
Compostos orgânicos voláteis 1, 3, 4, 5, 6, 21, 22, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 148
Compostos voláteis 2, 4, 5, 6, 21, 22, 23, 29, 31, 32, 33, 34
Contaminação de alimentos 133, 167
Cunicultura 85, 86, 88, 89, 90
D
Desenvolvimento de novos produtos 55, 120, 144, 156, 261
E
Embalagens ativas 91, 97, 122
Emulsificante 63, 103, 104, 107, 110
Enzimas 39, 41, 43, 44, 48, 49, 50, 63, 64, 65, 73, 74, 75, 76, 77, 79, 80, 81, 82, 91, 92, 93,
95, 96, 173, 174
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Índice Remissivo
262
F
Fator antinutricional 73, 76, 78
Fermentação 37, 38, 39, 40, 43, 66, 145, 147, 148, 150, 151, 152, 153, 170, 171, 172, 173,
174, 175, 176
Fitase 73, 74, 75, 76
Fotoautotrófica 2, 21
G
Galactooligossacarídeo 62, 63
K
Kefir 144, 145, 146, 147, 148, 149, 150, 152, 153, 154, 155, 156, 177
Kombucha 144, 145, 146, 150, 151, 152, 153, 154, 155, 156
L
Lactase 62, 63, 65
Leite de soja 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 105
Lipídios 6, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 25, 41, 42, 54, 59, 60, 63, 64, 95, 96, 118, 257, 259
Listeriose 133, 134, 135, 140
M
Maltagem 37, 39
Microalgas 1, 2, 3, 5, 6, 9, 10, 11, 13, 16, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29, 30, 33
Morfologia 48, 50
N
Nutrição animal 48, 73, 74, 75, 78
O
Ômega-3 10, 11, 15, 17, 118, 241
P
Phormidium autumnale 7, 20, 21, 22, 25, 26, 28, 29, 30, 34
Piscicultura 48, 49
Potencial probiótico 144, 149, 171, 172
Produtos cárneos 85, 88, 105, 110, 133, 134, 135, 139, 170, 171, 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178
Protease 73, 74, 80, 81, 82, 83, 92, 95
Pufa 9, 10, 15, 17
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Índice Remissivo
263
R
Resíduo agroindustrial 28, 29
Resistência à antibióticos 133
S
Soforolipídio 103, 104, 105, 106, 107, 108, 109, 110
Soja 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 77, 78, 79, 80, 81, 92, 96, 97, 98, 104, 105, 183, 252
Soro de queijo 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69
Starmerella bombicola 103, 106, 110
T
Tecnologia 1, 9, 20, 28, 36, 43, 45, 46, 47, 55, 61, 62, 65, 71, 85, 91, 115, 116, 133, 144, 172,
177, 178, 180, 213, 214, 218, 231, 240, 257, 259, 261
Inovação em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3
Índice Remissivo
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