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João Baptista da Costa Aguiar: um decodificador O designer João Baptista nasceu em São Paulo em 1948. Estudou arte na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Em 1970 iniciou as atividades em artes gráficas na Editora Abril e em 1973 montou seu próprio estúdio. Foi diretor de arte da revista Vogue Brasil de 1976 a 1979. A partir de 1982 passou a atuar em projetos culturais, criando cartazes, peças gráficas e identidades corporativas para instituições e eventos. Nessa época iniciou o trabalho com desenho editorial e criação de capas de livros para diversas editoras: Brasiliense, Nova Fronteira, LP&M, Senac, Agir e principalmente a Companhia das Letras. Criou o logotipo e participou da implantação da identidade visual da editora Companhia das Letras, em 1986. Fez o projeto gráfico de capa para a série de livros policiais e iniciou o desenho de coleções de diversos autores consagrados. Desenhou também os logotipos dos selos Companhia das Letrinhas e Cia. Das Letras. Para a Prefeitura de São Paulo (1989-1992), criou a logomarca da cidade, a identidade visual da Secretaria Municipal de Cultura e a padronização visual da frota de ônibus de transporte público. O designer João Baptista da Costa Aguiar desenvolveu vários projetos gráficos para editoras como capista de livros, além de peças gráficas para prefeitura de São Paulo. O seu trabalho é reconhecido pela grande habilidade na interação entre tipografia, ilustração e imagem e como elas se arranjam sobre os seus projetos. Segundo Ethel Leon muitos dos seus trabalhos “ [...] têm uma espécie de obviedade difícil, a obviedade reconhecível depois de alguns segundos, depois de instantes de estranheza [...]” (AGUIAR, 2006) Os seus trabalhos como capista apresentam muitas soluções gráficas que exploram os contrastes de tipografias, imagens e cores que aludem a um determinado escritor, muito mais do que ao livro. Aqui pode-se citar as capas para escritores como Paul Auster, Sérgio Sant´Anna, John Updike e Nelson Rodrigues, todos pela editora Companhia das Letras. É como se cada uma das capas destacasse para os leitores um produto que é característico do escritor, associando a elas detalhes como molduras, ilustrações e ornamentos. O professor e designer Chico Homem de Melo destaca em seu livro que João Baptista tem como uma das suas marcas a frequente utilização de ornamentos e citações iconográficas, “[...] pode-se dizer que uma das facetas mais marcantes de sua trajetória como designer seja o empenho na exploração e’ atualização do léxico da linguagem gráfica pré-moderna”. (MELO, 2013, p. 533) Já na década de 1990 João Baptista se apropria das novas possibilidades tecnológicas que se apresentam aos designers com a utilização mais acentuada do computador e do scanner. Algumas de suas obras tem nas capas grandes imagens de flores, frutos, objetos, mãos e pés gerados do scanner. Ao comentar o processo de trabalho do designer João Baptista, Ethel Leon lembra que a sua “[...] familiaridade com os meios faz desaparecer certa distância entre instrumentos técnicos e o próprio corpo da imagem almejada. “ (AGUIAR, 2006, p.125). Apesar de ser considerado como um designer gráfico, ele não se entende como tal porque se contrapõe ao uso racionalista que tal conotação lhe causa. “Sou um decodificador. Uso meu repertório técnico para ordenar informações em camadas sucessivas. Design me parece exato demais, cartesiano, preciso. Não estou preso a relações áureas. Design tem ou simula exatidão. O mundo visível não pode se resumir a grelhas” (AGUIAR, 2006, p.127) Análise de obras Dentre a sua grande produção, destacarei para análise duas capas de livros que contêm elementos característicos de seus trabalhos: Honra teu Pai de 2011; e A Senhora Simpson de 1989 . Ambos publicados pela editora Companhia das Letras. Honra teu Pai O livro foi lançado em 2011 pela Companhia das Letras, sendo do selo Jornalismo Literário. fotografia 1 Fonte: Companhia da Letras O designer João Baptista optou por trabalhar uma capa somente com elementos tipográficos - all type - criando blocos de texto com contraste de tamanho e cores sobre um fundo vermelho. A cor vermelha dá a conotação de força e energia contrastando com a pala PAI, que por si só já nos remete a figura patriarcal de domínio e poder. Nota-se uma hierarquia nos blocos de texto, onde as informações mais importantes estão numa escala maior do que as outras. Acima das cores de fundo e da palavra PAI, está HONRA TEU como um bloco texto branco contrastante em tamanho, e servindo de um ponto de atração visual. Estabelece-se uma relação de figura/fundo onde os tipos criam imagens bem delimitadas, e os blocos de texto trabalham com equilíbrio e simetria na área da capa. A Senhorita Simpson O livro foi lançado em 1989 pela Companhia das Letras, sendo um dos mais antigos trabalhos realizados por João Baptista para a editora. fotografia 2 Fonte: Companhia das Letras Nesta capa o autor trabalha com imagens sobre um padrão como fundo. As imagens remetem a relação ambígua entre professora/aluno, e suas conotações sexuais. Aqui se encontra uma característica da obra de João Baptista quando trabalha com determinados escritores: moldura com o título do livro e nome do autor. Ele utilizou deste artifício em vários livros de Sérgio Santa’Anna editados pela Companhia das Letras. O equilíbrio da capa se dá pelo eixo vertical, com os elementos principais na parte inferior da página, dando o sentido de movimento, ao deixar o lápis sobre duas fotografias justapostas. O padrão da imagem de fundo marmorizado complementa as cores das imagens e, ao mesmo tempo, também dá uma sensação visual de movimento. O contraste das fotografias colorida e preto e branco cria um ritmo de leitura para que o olhar tenha como foco a parte inferior da capa. As fontes utilizadas no título do livro são contrastantes nas formas, uma manuscrita e outra serifada e maiúscula. Nesse pequeno quadro, o vermelho delimita as informações e este está quase centralizado na imagem da capa. Estes contrastes entre imagem e tipografia são uma constante na obra de João Baptista da Costa Aguiar, deixando como característica marcante e reconhecível em suas obras. Bibliografia: AGUIAR, João Baptista da Costa. Desenho Gráfico, 1980-2006. São Paulo: Senac, 2006. MELO, Chico Homem de; RAMOS, Elaine. Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil. São Paulo: Cosacnaify, 2013. DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 2014. AGUIAR, João Baptista da Costa. Capista, editora Companhia das Letras. Disponível em : < http://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=02176 >. Acesso em: 26 maio 2014. CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Pós-graduação em Design Editorial Disciplina: Design Experimental Docente: Regina Cunha Wilke João Baptista da Costa Aguiar: um decodificador Aluno: Sérgio André Nicodemo São Paulo, 25 de maio de 2014 7